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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


A HORA SECRETA / Scott Westerfeld
A HORA SECRETA / Scott Westerfeld

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

A Hora Secreta, coisas estranhas acontecem à meia-noite, na cidade de Bixby, em Oklahoma.
O tempo para. Ninguém se mexe.
Todas as noites, durante uma hora secreta, a cidade pertence às criaturas sombrias que habitam nas sombras. Apenas um pequeno grupo de pessoas conhece à hora secreta - apenas eles estão livres para se mover no tempo da meia-noite.
Essas pessoas chamam a si mesmos de Midnighters.

 

 


 

 


1

8h:11min da manhã

REX

As paredes da escola Bixby High eram sempre terrivelmente brilhantes no primeiro dia da escola. Luzes fluorescentes zumbiam sobre as cabeças, suas brancas esquadrias de plástico limpas das formas dos insetos mortos. Os novos pisos brilhantes ofuscavam, na forte luz de setembro que entrava pelas portas abertas da frente da escola.

Rex Greene caminhou lentamente, se perguntando como os estudantes se acotovelando em torno dele podiam se apressar neste lugar. Cada passo seu era um esforço, uma luta contra o irritante esplendor de Bixby High, contra estar preso aqui por mais um outro ano.

Para Rex, férias de verão era um lugar para se esconder, e a cada ano este dia dava a ele o profundo sentimento de ter sido descoberto, preso, trancado como um prisioneiro fugitivo de um holofote. Rex apertou os olhos na claridade e empurrou seus óculos com um dedo, desejando que ele pudesse usar tom escuro sobre sua armação grossa. Mais uma camada entre ele e a escola Bixby High.

Os mesmos rostos estavam todos lá. Timmy Hudson, que tinha espancado ele cada um dos dias da quinta série passou, não dando a Rex uma segunda olhada. A multidão surgindo estava cheia dos velhos torturadores, colegas de sala e amigos de infância, mas nenhum pareceu reconhecê-lo. Rex puxou seu longo casaco ao redor de si mesmo e se agarrou a fileira de armários ao longo da parede, esperando que a multidão dissipasse, se perguntando exatamente quando ele tinha se tornado invisível. E por que. Talvez isso fosse porque o mundo na luz do dia significava muito pouco para ele agora.

Ele abaixou sua cabeça e avançou em direção a sala de aula.

Então ele viu a nova garota.

Ela era de sua idade, talvez um ano mais nova. Seu cabelo era ruivo escuro, e ela estava carregando uma mochila verde sobre um ombro. Rex nunca tinha visto ela antes, e em uma escola tão pequena quanto Bixby High, aquilo era incomum o suficiente. Mas a novidade não era a coisa mais estranha sobre ela.

Ela estava fora de foco.

Um fraco borrão aderido a seu rosto e mãos, como se ela estivesse ficando atrás de um vidro espesso. Os outros rostos no salão lotado eram claros na brilhante luz solar, mas o dela não se firmava não importasse o quão forte ele encarasse. Ela parecia existir fora do alcance do foco, como música tocada da cópia de uma cópia de uma velha fita cassete.

Rex piscou, tentando limpar seus olhos, mas o borrão permanecia com a garota, a seguindo enquanto ela deslizava mais adiante para a multidão. Ele abandonou seu lugar junto à parede e empurrou seu caminho atrás dela.

Isso foi um erro. Agora, aos dezesseis, ele era bem mais alto, seu cabelo preto tingido mais óbvio do que nunca, e sua invisibilidade o deixou, enquanto ele se empurrava propositadamente através da multidão.

Um empurrão veio por detrás, e o equilíbrio de Rex se alterou sob ele. Mais mãos o mantiveram cambaleando, quatro ou cinco garotos trabalhando juntos até que ele veio a uma súbita parada, seu ombro batendo na linha de armários revestindo a parede.

"Fora do caminho imbecil!"

Rex sentiu um tapa contra o lado de seu rosto. Ele piscou enquanto o mundo ficava embaçado, a parede se dissolvendo em um redemoinho de cores e pontos se movendo. O doentio som de seus óculos escorregando pelo chão alcançou suas orelhas.

"Rex perdeu seus spex{1}!", veio uma voz. Então Timmy Hudson lembrava de seu nome. Risadas se arrastaram pelo salão.

Rex percebeu que suas mãos estavam em frente a ele, apalpando o ar como um homem cego. Ele podia também estar cego. Sem seus óculos, o mundo era um borrão cheio de cores sem significado.

O sino tocou.

Rex desmoronou contra os armários, esperando o salão esvaziar. Ele nunca alcançaria a nova garota agora. Talvez ele tivesse imaginado ela.

"Aqui", veio uma voz.

Enquanto ele levantava seus olhos, a boca de Rex caiu. Sem óculos os fracos olhos de Rex podiam vê-la perfeitamente. Atrás dela a parede ainda era uma bagunça de formas borradas, mas seu rosto se sobressaía, claro e detalhado. Ele percebia agora os olhos verdes dela, pontilhado de dourado à luz.

"Seus óculos", ela disse, os estendendo.

Mesmo tão perto, o forte enquadramento ainda era nebuloso, mas ele podia ver a mão estendida da garota com uma clareza cristalina. O foco se agarrava a ela.

Finalmente disposto a se mover, Rex fechou sua boca e tomou seus óculos. Quando ele o pôs, o resto do mundo pulou para dentro do foco, e a garota embaçou novamente. Assim como os outros sempre faziam.

"Obrigado," ele disse.

"Então, tudo bem." Ela sorriu, deu de ombros, e olhou em volta para o salão quase vazio. "Eu acho que agora nós estamos atrasados. Eu nem mesmo sei onde eu estou indo."

Seu sotaque soava do meio oeste, mais preciso do que o arrastado de Oklahoma de Rex.

"Não, esse foi o sinal de oito e quinze", ele explicou. "O último sinal é às oito e vinte. Aonde você vai?"

"Sala T-29." Ela segurava fortemente um cartão de horário em uma mão.

Ele apontou para trás na entrada. "Essa é nas temporárias. Lá fora à direita. Aqueles barracões que você viu na entrada."

Ela olhou para fora com uma careta.

"Ok," ela disse hesitando, como se ela nunca tivesse tido aula em um prédio de tábuas antes. "Bem, é melhor eu ir."

Ele acenou. Enquanto ela se afastava, Rex retirou seus óculos de novo, e de novo ela saltou para nitidez enquanto o resto do mundo se tornava um borrão.

Rex finalmente se permitiu acreditar nisso e sorriu. Mais um outro, e de algum lugar além de Bixby, Oklahoma. Talvez este ano fosse ser diferente.

Rex viu a nova garota algumas vezes antes do almoço.

Ela já estava fazendo amigos. Numa pequena escola como Bixby, havia algo de excitante em um novo estudante - as pessoas esperavam descobrir sobre ela. As crianças mais populares já estavam reclamando o direito sobre ela, fofocando sobre o que eles descobriram dela, tirando proveito da amizade dela.

Rex sabia que as regras de popularidade não permitiriam que ele se aproximasse dela de novo, mas ele pairava nas proximidades, escutando, usando sua invisibilidade. Não invisível de verdade, é claro, mas tão bom quanto. Em sua camiseta preta e jeans, com seu cabelo preto tingido, ele podia desaparecer nas sombras e cantos. Não havia muitos estudantes como Timmy Hudson em Bixby High. A maioria das pessoas estava feliz em ignorar Rex e seus amigos.

Não demorou muito a Rex para descobrir algumas coisas sobre Jessica Day.

Na cafeteria ele encontrou Melissa e Dess em seus lugares de sempre.

Ele se sentou no outro lado de Melissa, dando a ela espaço. Como sempre, as mangas dela estavam puxadas para baixo, quase cobrindo suas mãos contra qualquer toque acidental, e ela usava fones de ouvido, o zumbido dos poderosos acordes de metal audível deles com um insistente sussurro. Melissa não gostava de aglomerações, qualquer número considerável de pessoas comuns, deixavam-na louca. Mesmo uma sala de aula cheia testava seus limites. Sem os fones de ouvido ela encontrava o tamborilante caos rompendo no refeitório, insuportável.

Dess não comeu nada, nem mesmo afastou sua comida, apenas dobrou suas mãos e espreitou o teto através dos óculos escuros.

"Lá vamos nós de novo aqui em outro ano", Dess disse. "O quanto é uma droga?"

Rex automaticamente começou a concordar, mas parou. Todos os verões ele tinha temido outro ano de almoços horríveis, escondendo-se das janelas resplandecentes aqui no canto mais obscurecido. Mas desta vez ele estava realmente excitado por estar no refeitório de Bixby High.

A nova garota estava só a algumas mesas à distância, cercada por novos amigos.

"Talvez, talvez não", ele disse. "Vê aquela garota?"

"Mmm", Dess respondeu, seu rosto ainda levantado para o teto, provavelmente contando as telhas lá em cima.

"Ela é nova. Seu nome é Jessica Day", Rex disse. "Ela vem de Chicago."

"E eu estou interessada nisso por quê?" Dess perguntou.

"Ela acabou de se mudar a poucos dias atrás. Secundanista."

"Ainda chata."

"Ela não é chata."

Dess suspirou e abaixou sua cabeça para espiar através de seus óculos escuros a nova garota. Ela bufou. "Primeiro dia em Bixby e ela já está bem no meio da turma da luz. Nada de interessante sobre isso. Ela é exatamente o mesmo que as outras cento e oitenta e sete pessoas daqui.

Rex balançou sua cabeça, começando a discordar, mas parou. Se ele estava indo dizer isso alto, ele tinha que estar certo. Como ele fez uma dezena de vezes naquele dia, ele levantou seus grossos óculos um centímetro, olhando para Jessica Day apenas com seus olhos. A cafeteria se dissolveu em um brilhante borrão agitado, mas mesmo daquela distancia ela permanecia nítida e clara.

Era tarde, e o foco dela não tinha diminuído. Ele era permanente. Só havia uma explicação.

Ele tomou um profundo fôlego. "Ela é uma de nós."

Dess olhou para ele, finalmente permitindo uma expressão de interesse cruzar sua face. Melissa sentiu a mudança entre seus amigos e olhou acima inexpressivamente. Escutando, mas não com seus ouvidos.

"Ela? Uma de nós?" Dess disse. "Sem chance. Ela podia competir como a maioral dos normais, Oklahoma. "

"Me escuta, Dess." Rex insistiu. " Ela tem o foco."

Dess apertou seus olhos, como se tentasse ver o que só Rex podia. "Talvez ela foi tocada noite passada ou algo assim."

"Não. É muito forte. Ela é uma de nós."

Dess olhou de volta para o teto, sua expressão deslizando de novo para o total aborrecimento com a facilidade de longa prática. Mas Rex sabia que ele tinha conseguido sua atenção.

"Tudo bem," ela se apiedou. "Se ela é uma secundanista, talvez ela esteja em uma de minhas aulas. Eu a checarei."

Melissa acenou também, sacudindo ligeiramente sua cabeça para a música sussurrada.


2

2h:38min da tarde

DESS

 

Quando Jessica finalmente desmoronou atrás de uma mesa para sua última aula do dia, ela estava completamente exausta. Ela forçou o horário amassado em seu bolso, mal se importando se ela estava na sala certa, e gratamente derrubando sua mochila no chão. Todo o dia ela esteve ganhando peso como uma nova empregada da Bashin-Robbins{2}.

Nenhum primeiro dia escolar era tão fácil. Mas pelo menos em Chicago, Jessica tinha tido os mesmos velhos rostos e familiares paredes da escola pública 141 para ansiar. Aqui em Bixby tudo era um desafio. Esta escola podia ser menor do que a escola pública 141, mas ela era toda disposta ao nível do chão, um labirinto de módulos e trailers. A cada cinco minutos a mudança de salas tinha sido traumática.

Jessica odiava estar atrasada. Ela sempre usava um relógio, que ela colocava pelo menos dez minutos adiantado. Hoje, quando ela já tinha se destacado como a nova garota, ela tinha temido o arrastar dentro de uma sala atrasada, todos os olhos sobre ela, parecendo embaraçada e muito lerda para encontrar seu caminho. Mas ela tinha feito isso de novo. O sino não tinha tocado ainda. Jessica tinha conseguido chegar a tempo o dia todo.

A sala se preencheu lentamente, todos desejando o fim do confuso primeiro dia. Mas mesmo em seus cansaços uns poucos notaram Jessica. Todos eles sabiam sobre a nova garota vinda da cidade grande, assim pareceu. Na sua velha escola, Jess tinha sido apenas só uma estudante dentre dois mil. Mas aqui ela era praticamente uma celebridade. Todos eram amigáveis sobre isso, pelo menos. O dia inteiro ela tinha sido conduzida, sorrido, pedida para se levantar e se apresentar. Ela tinha um discurso memorizado agora.

"Eu sou Jessica Day, e acabei de me mudar para cá de Chicago. Nós viemos por que minha mãe conseguiu um emprego em uma Aerocompanhia de Oklahoma, onde eles desenham aviões. Não o avião todo, só o formato da asa. Mas esta é a parte que faz dele um avião, minha mãe sempre diz. Todos em Oklahoma parecem muito legais, e é muito mais animado do que Chicago. Minha irmã de treze anos reclamou um pouco por duas semanas antes de nós nos mudarmos, e meu pai está ficando maluco, por que ele não achou um emprego em Bixby ainda, e a água tem um gosto engraçado aqui. Obrigada."

É claro, ela nunca tinha dito alto aquela última parte. Talvez para sua turma ela tivesse, só para se despertar.

O último sinal tocou.

O professor se apresentou como Sr. Sanchez e fez a chamada. Ele parou um pouco quando ele pegou o nome de Jessica, olhando para ela por um segundo. Mas ele deve ter visto a expressão enfadada dela. Ele não pediu por um discurso.

Então era hora de distribuir livros. Jessica suspirou. Os livros do Sr. Sanchez estavam empilhados em cima de sua mesa parecendo aterrorizantemente grossos. Começando com trigonometria. Mais peso para sua mochila.

Mamãe tinha falado ao conselheiro em colocar Jessica em todas as aulas avançadas aqui, caindo de volta ao nível normal se ela precisasse. A sugestão tinha sido lisonjeira, mas depois de ver o gigante livro de física, a pilha de clássicos de bolsos de inglês, e agora este segurador de porta, Jessica percebeu que ela tinha sido enganada. Mamãe tinha sempre tentado colocar ela em classes avançadas em Chicago, e agora aqui estava Jessica, enrolada em trigonometria.

Enquanto os livros estavam sendo passados para trás, um estudante atrasado entrou na sala. Ela parecia mais jovem do que os outros na sala. Ela estava vestida toda em preto, usando óculos escuros e um monte de colares de metal reluzente. Sr. Sanchez olhou para ela e sorriu, genuinamente feliz.

"Bom ver você, Desdemona."

"Hey, Sanchez", a garota soava tão cansada quanto Jess se sentia, mas com um pouco mais de prática.

Ela observou a sala com um desgosto aborrecido. Mr. Sanchez estava praticamente radiante por ela, como se ela fosse um famoso matemático que ele tinha convidado para cá, para falar sobre como trigonometria podia mudar nossas vidas.

Ele se voltou para a passagem dos livros, e a garota escaneou a sala por um lugar para se sentar. Então algo de estranho aconteceu. Ela tirou os óculos escuros e espiou Jessica, e fez seu caminho propositadamente para a mesa vazia próxima a ela.

"Hei", ela disse

"Oi, eu sou Jessica."

"Yeah", a garota disse, como se aquilo fosse terrivelmente óbvio. Jessica se perguntou se ela já a tinha encontrado em alguma outra aula. "Eu sou Dess."

"Oi." Ok, este foi um oi duplo. Mas o que era para ela dizer?

Dess estava olhando para ela atentamente, tentando descobrir alguma coisa. Ela apertava os olhos, como se a sala estivesse muito reluzente para ela. Seus dedos pálidos brincavam com as contas amareladas translúcidas de um de seus colares, deslizando eles de um jeito e depois de outro. Elas estalavam suavemente enquanto ela as posicionava em padrões ilegíveis.

Um livro chegou à mesa de Jessica, quebrando o encanto que os dedos de Dess tinham lançado.

"Quando você receber seu livro", Sr. Sanches anunciou, "cuidadosamente preencha o formulário anexo a capa. É cuidadosamente pessoal. Qualquer dano que você não registre é de sua responsabilidade."

Jessica tinha estado através desta prática o dia todo. Aparentemente livros eram uma espécie em extinção aqui em Bixby, Oklahoma. Os professores tinham feito todo mundo ir através deles, página por página, registrando cada marca ou fissura. Supostamente seria um terrível cômputo no final do ano para qualquer criminoso o suficiente para danificar seus livros.

"Um erro?" Dess olhou acima para ela com a testa franzida.

"Alguns, eu acho."

Dess olhou abaixo para o livro e balançou sua cabeça. De algum modo Jessica sentiu como se ela tivesse dito algo errado. Ela se perguntou se esta não era a forma de Dess chatear a nova garota. Ou algum jeito estranho de se exibir para seu próprio bem.

Jessica se voltou para seu próprio livro. Quem tinha possuído ele no último ano tinha largado a aula ou tinha simplesmente perdido o interesse. As páginas estavam intactas agora. Talvez a classe inteira tivesse só chegado ao meio do livro. Jessica esperou então - só folheando através das páginas finais de densas fórmulas e gráficos que estavam começando a assustá-la.

Dess estava murmurando novamente. "Uma bela versão do lindo Sr. Sanches, página 214." Ela estava rabiscando no canto de uma página, marcando o livro e então registrando o dano.

Jessica rolou seus olhos.

"Sabe, Jess", Dess disse, "A água de Bixby não é só engraçada. Ela dá a você sonhos engraçados."

"O que?"

Dess se repetiu lenta e claramente, como se falando para algum conferidor -idiota-de-respostas-de-livro.

"A água em Bixby - ela dá a você sonhos engraçados. Você não percebeu?"

Ela olhou para Jessica intensamente, como se esperando a resposta para a mais importante pergunta do mundo.

Jessica piscou, tentando pensar em alguma coisa genial para se dizer. Ela estava cansada dos jogos de Dess, de qualquer modo, e balançou sua cabeça.

"Não, de verdade. Com a mudança e tudo mais, eu tenho estado muito cansada para sonhar."

"Sério?"

"Sério."

Dess deu de ombros e não disse outra palavra a ela a aula inteira.

Jessica ficou grata pelo silêncio. Ela se esforçou para acompanhar Sr. Sanchez, enquanto ele se apressava através do primeiro capítulo como se fossem velhas notícias e determinava a primeira lição noturna de casa do segundo.

Todo ano, por lei, havia pelo menos uma matéria em seu horário designada a dar a certeza que a escola não se tornaria por acaso divertida. Jess estava quase certa que começar trigonometria era o pesadelo corrente do ano.

E para fazer as coisas piores, ela podia sentir os olhos de Dess sobre ela o período inteiro. Jessica estremeceu quando o último sinal tocou e saiu para se pressionar ao ruidoso e tumultuado corredor com alívio.

Talvez nem todos em Oklahoma fossem legais.


3

12h:00min da manhã

A TEMPESTADE SILENCIOSA

 

Jessica acordou por causa do som da chuva que... parou.

Ela tinha mudado de uma vez. O som não tinha diminuído, gotejando até o nada, como chuva era para ser. Um momento o mundo inteiro estava trepidando com o aguaceiro, embalando seu sono. No outro, o silêncio caiu pesado, como se alguém tivesse clicado no mudo de um controle remoto.

Os olhos de Jessica se abriram, o súbito silêncio a ecoar ao seu redor como batida de uma porta.

Ela se sentou, olhou ao redor do quarto em confusão. Ela não sabia o que a tinha acordado - levou uns poucos segundos para se lembrar onde ela estava. O quarto escuro estava uma desordem de coisas familiares e não familiares. Sua velha mesa estava em um canto errado, e alguém tinha adicionado uma claraboia ao teto. Havia também muitas janelas, e elas eram maiores do que elas deveriam ter sido.

Mas então a forma de caixas empilhadas em todo lugar, roupas e livros em torno dos seus semiabertos ventres, trouxe tudo de volta. Jessica Day e seus pertences eram estranhos aqui, mal assentados, como pioneiros em uma planície nua. Este era seu novo quarto, sua nova casa. Ela vivia em Bixby, Oklahoma, agora.

"Oh, sim", ela disse triste.

Jessica tomou um fôlego profundo. Ele cheirava a chuva. Aquilo estava certo - tinha estado chovendo forte a noite toda... mas agora estava subitamente quieto. O luar preenchia o quarto. Jess deitava-se quieta, paralisada pelo quão estranho tudo parecia. Isso não era apenas por uma casa diferente; a noite de Oklahoma por si mesma parecia de algum modo errada. As janelas e a claraboia cintilavam, mas a luz parecia vir de toda parte, azul e fria. Não havia sombras, e o quarto parecia nivelado, como uma velha e apagada fotografia.

Jessica ainda se perguntava o que a tinha acordado. Seu coração batia rapidamente, como se algo surpreendente tivesse acontecido a um momento atrás. Mas ela não podia se lembrar do que.

Ela sacudiu sua cabeça e deitou-se, fechando seus olhos, mas o sono não viria. Sua velha cama parecia desconfortável, de algum modo errada, como se ela não estivesse aqui em Bixby.

"Beleza", Jessica murmurou.

Só o que ela mais precisava: uma noite sem sono para começar com seus dias exaustivos de desempacotamento, brigas com sua irmãzinha Beth, e tentar encontrar sua posição no labirinto de Bixby High. Pelo menos sua primeira semana na escola estava quase no fim. Seria finalmente sexta feira amanhã.

Ela olhou para o relógio. Ele dizia 12h07min, mas ele estava adiantado, para o tempo de Jessica. Era provavelmente cerca de meia-noite. Sexta finalmente.

Um azul radiante preenchia o quarto, quase tão brilhante como quando a luz estava acesa.

Quando que a lua tinha aparecido?

Altas e escuras nuvens tinham se estendido sobre Bixby o dia todo, obscurecendo o sol. Mesmo debaixo de um teto de nuvens, o céu era imenso aqui em Oklahoma, o estado inteiro tão plano quanto um pedaço de papel. Naquela tarde seu pai tinha dito que os flashes de luzes no horizonte estavam se estendendo por todo o caminho até o Texas. (Ser desempregado em Bixby tinha feito ele assistir o canal do tempo.)

O luar frio e azul parecia mais brilhante a cada minuto.

Jessica deslizou para fora da cama. As ásperas madeiras do piso estavam quentes sob seus pés. Ela andou cuidadosamente sobre a desordem, o luar distinguindo cada caixa semi-empacotada claramente. A janela brilhava como um sinal de neon.

Quando ela olhou para fora, os dedos de Jessica se apertaram e ela emitiu um grito suave.

O ar lá fora brilhava, cintilando como um globo de neve cheio de gliter.

Jessica piscou e esfregou seus olhos, mas a galáxia de diamantes flutuando não foi embora.

Haviam milhares deles, cada um suspenso no ar como se por suas próprias pequenas cordas invisíveis. Elas pareciam brilhar, preenchendo a rua e seu quarto com a luz azul. Algumas estavam a apenas alguns centímetros da janela, esferas perfeitas, não maiores do que as mais pequenas pérolas, translúcidas como contas de vidro.

Jessica deu alguns passos para trás e se sentou em sua cama.

"Sonho estranho", ela disse alto, e então desejou que não tivesse.

Não parecia certo dizer aquilo. Imaginar se ela estava era sonhando, tinha feito ela se sentir ainda mais... acordada, de algum modo.

E isso já era tão real: o não pânico inexplicado, não ver a si mesma de cima, não sentir como se ela estivesse em uma peça e não saber suas falas - apenas Jessica Day sentada em sua cama e ficando confusa.

E o ar lá fora cheio de diamantes.

Jessica deslizou para debaixo de suas cobertas e tentou voltar a dormir. Sono inconsciente. Mas por trás de suas pálpebras fechadas ela se sentia ainda mais acordada. Ela sentia os lençóis, o som de sua respiração, o calor do corpo lentamente se instalando dentro das cobertas, eram exatamente certo. A realidade de tudo a atormentou.

E os diamantes eram lindos. Ela queria vê-los mais de perto.

Jessica se levantou de novo.

Ela vestiu um casaco de moletom e vasculhou ao redor por seus sapatos, levando um minuto para encontrar um par certo entre as caixas. Ela se arrastou para fora de seu quarto e desceu para sala. A ainda não familiar casa pareceu estranha na luz azul. As paredes estavam descobertas e a sala de estar vazia, como se ninguém vivesse aqui.

O relógio na cozinha mostrava exatamente meia noite.

Jessica parou na porta da frente, ansiosa pelo momento. Então ela a puxou.

Isso tinha que ser um sonho: milhões de diamantes preenchiam o ar, flutuando acima do asfalto molhado e brilhante. Só a poucos centímetros afastados, eles se estendiam tão longe quanto Jessica podia ver, abaixo na rua e acima para o céu. Pequenas gemas azuis não maiores do que lágrimas.

Não havia lua visível. Espessas nuvens ainda perduravam sobre Bixby, mas agora elas pareciam tão duras e imóveis quanto pedra. A luz pareceu vir dos diamantes, como se uma invasão de vaga-lumes azuis tivessem sido congelados em suspensão.

Os olhos de Jessica se alargaram. Era tão bonito, tão sereno e fantástico, que sua ansiedade foi instantaneamente embora.

Ela levantou uma mão para tocar uma das gemas azuis. O pequeno diamante oscilou, então correu em seu dedo, frio e molhado. Ele desapareceu, nada deixando a não ser um pouco de água.

Então Jessica percebeu o que o diamante tinha sido. Uma gota de chuva! Os diamantes flutuando eram a chuva, de algum modo pendendo imóvel no ar. Nada se movia na rua ou no céu. O tempo estava congelado em torno dela.

Em um deslumbramento, ela andou na chuva suspensa. As gotas beijavam seu rosto friamente, tornando água enquanto colidia com elas. Elas dissolviam instantaneamente, pontilhando seu moletom enquanto ela caminhava, molhando suas mãos com água, não mais fria do que a chuva de setembro. Ela podia cheirar a fragrância da chuva, sentir a eletricidade do trovão recente, a vitalidade surpreendente da tempestade ao redor dela. Seus cabelos pinicavam, a risada borbulhando dentro dela.

Mas seus pés estavam frios, ela percebeu seus sapatos ensopados. Jessica se ajoelhou para olhar para calçada. Salpicos imóveis pontilhavam o concreto, onde gotas de chuva tinham sido congeladas no instante que elas tinham acertado o chão. A rua inteira brilhava com o formato dos salpicos, como um jardim de flores de gelo.

Uma gota de chuva pairava bem em frente a seu nariz. Jessica se inclinou mais próximo, fechando um olho e espreitando dentro da pequena esfera de água imóvel. As casas na rua, o céu suspenso, o mundo inteiro estava lá dentro, de cima abaixo e envolvido em um círculo, como olhar através de uma bola de cristal. Então ela deve ter chegado muito perto - a gota de chuva estremeceu e saltou ao movimento, caindo em sua bochecha e correndo abaixo como uma lágrima fria.

"Oh", ela murmurou. Tudo estava congelado até que ela o tocasse, como que quebrando um feitiço.

Jessica sorriu enquanto ela permanecia em pé olhando em volta por mais maravilhas.

Todas as casas na rua pareciam estar brilhando, suas janelas preenchidas com luz azul. Ela olhou de volta para sua própria casa. O teto estava faiscante com os respingos, e uma imóvel corrente de água jorrava do encontro de duas caneletas em um canto. As janelas brilhavam vagamente, mas não havia tido nenhuma luz lá dentro. Talvez não fossem só as gotas de chuva. As casas, o teto ainda acima, tudo parecia estar incandescente com a luz azul.

De onde vêm esta luz fria?, ela se perguntou. Havia mais para este sonho do que o tempo congelado.

Então Jessica viu que ela tinha deixado uma trilha, um túnel através da chuva, onde ela tinha libertado a chuva flutuante. Era o formato de Jessica, como um buraco deixado por um personagem animado, imergindo através de uma parede.

Ela sorriu e rompeu em uma corrida, estendendo a mão para agarrar um bocado de gotas de chuva do ar, totalmente só em um mundo de diamantes.

Na manhã seguinte Jessica Day acordou sorrindo.

O sonho tinha sido tão lindo, tão perfeito quanto às gotas de chuva suspensas no ar. Talvez ela significasse que Bixby não era, depois de tudo, um lugar assustador.

O sol brilhava em seu quarto, acompanhado pelos sons de água gotejando das árvores para o teto. Mesmo pilhado com caixas, ele parecia como seu quarto, finalmente. Jessica deitava-se na cama, deleitando-se em um sentimento de alívio. Depois de meses de se costumar a ideia de mudança, e semanas de despedidas, e dias de empacotar e desempacotar, ela finalmente se sentia como se o redemoinho estivesse em declínio.

Os sonhos de Jessica não eram geralmente tão profundos. Quando ela estava nervosa com um teste. Ela tinha pesadelos de testes infernais. Quando sua irmãzinha estava deixando Jessica louca, a Beth de seus sonhos era um monstro imenso que a perseguia. Mas Jessica sabia que esse sonho tinha um significado mais profundo. O tempo tinha parado em Chicago, sua vida congelou enquanto ela esperava deixar todos seus amigos e tudo o que ela conhecia, mas agora isso estava acabado. O mundo podia começar de novo, uma vez que ela o deixou.

Talvez ela e toda sua família fossem felizes aqui depois de tudo.

E era sexta.

O alarme tocou.

Ela se empurrou de debaixo das cobertas e se moveu para fora da cama.

No momento que seus pés tocaram o chão, um arrepio correu por sua espinha. Ela estava em pé sobre seu moletom, que descansava ao lado de sua cama em uma pilha amarrotada.

Ele estava ensopado.


4

8h:02min da manhã

MELISSA

 

Enquanto Melissa se aproximava, o sabor da escola começou a nausear a sua boca.

Nesta distância ele era azedo e frio, como café preso debaixo da língua por um sólido minuto. Ela podia provar a ansiedade da primeira semana e o inescapável tédio misturado juntos em um borrão monótono, junto com a amarga bile do tempo desperdiçado, que escoava para fora das paredes do lugar. Mas Melissa sabia que o sabor mudaria enquanto a escola se aproximava. Em uma outra milha, ela seria capaz de distinguir os sabores individuais de ressentimentos, vitórias insignificantes, rejeições e raiva pouco acobertada pela dominação. Um par de milhas após isso e Bixby Hight se tornaria quase insuportável, um zumbido visto em sua mente.

Mas por enquanto ela apenas fez uma careta e aumentou sua música.

Rex estava em pé em frente à casa de seu pai, alto e magro, seu casaco preto envolvido ao redor dele, o gramado morrendo sob seus pés. Mesmo os tufos de ervas daninha pareciam estar lutando com alguma força maligna, invisível. Todo ano, desde o acidente do velho, a casa tinha caído ainda mais em decadência.

Servia ao velho bem.

Melissa levou seu carro até o meio fio. Entre a grama marrom do jardim e o longo casaco de Rex, ela quase esperou que o ar frio invernal corresse para dentro do carro, quando ele abriu a porta. Mas o odioso sol já tinha aquecido o breve frio da tempestade da noite passada.

Era ainda cedo para cair, ainda no início do ano escolar. Três meses à frente antes do inverno, nove meses do penúltimo ano.

Ele saltou para dentro e fechou a porta, cuidadoso para não ficar muito perto. Quando Rex fez uma careta para o volume da música, Melissa suspirou e abaixou um ponto. Seres humanos não tinham o direito de se preocupar com música de nenhuma espécie. O pandemônio que ia em suas cabeças a cada hora passada era uma centena de vezes mais barulhenta que qualquer banda de trash metal, mais caótico do que um bando de moleques de 10 anos em debandada com cornetas. Se eles pudessem ouvir a si mesmos.

Mas Rex não era tão mal. Ele era diferente, em um canal separado, livre da comoção da multidão do dia. Ele tinha sido o primeiro pensamento individual que ela tinha filtrado entre a repugnante multidão, e ela podia ainda lê-lo melhor do que qualquer um.

Melissa podia sentir sua animação claramente, sua ânsia de saber. Ela podia provar de sua impaciência, acentuada e insistente acima de sua calma costumeira.

Ela decidiu mantê-lo esperando. "Bela tempestade noite passada."

"Sim. Eu fui à procura de um relâmpago por um tempo."

"Eu também . Apesar de só conseguir me encharcar."

"Qualquer noite nós conseguiremos um, vaqueira."

Ela bufou para o apelido de infância, mas murmurou. "Claro. Qualquer noite."

Quando eles eram criancinhas, quando eram apenas dois deles, eles tinham sempre tentado descobrir um raio de relâmpago. Um raio que tinha atingido exatamente o momento certo e ido ao chão, perto o suficiente para o alcançar, antes que o tempo se esgotasse. Uma vez, anos atrás, eles gastaram uma hora inteira de bicicleta em direção a um brilhante aguilhão denteado sobre o horizonte. Eles nem tinham feito todo o caminho, nem mesmo perto. Tinha sido o mais de perto que eles tinham olhado. Pedalar de volta na chuva despencando demorou muito mais, é claro, e no momento que eles tinham chegado em casa, eles estavam ensopados.

Melissa nunca tinha tido certeza do que eles iriam fazer com um raio, uma vez que eles encontrassem um. Rex nunca tinha dito muito sobre isso. Ela podia sentir que ele mesmo não estava totalmente certo sobre isso. Mas ele tinha lido alguma coisa em algum lugar em uma de suas viagens.

A escola se aproximava, a colisão da luta e apreensão de cedo de manhã elevando do sabor da luta, a amargura de sua língua expandindo para a cacofonia que assaltava toda sua mente. Melissa sabia que ela tinha que colocar seus fones logo, apenas para fazê-lo até as aulas começarem. Ela diminuiu o velho Ford. Era sempre difícil dirigir, especialmente no início do ano. Ela esperava que sua vaga estivesse livre, através de uma lixeira no terreno vazio do outro lado da rua de Bixby High. Estacionar em qualquer outro lugar levaria a refletir. O estacionamento da escola por si mesmo era muito perto do redemoinho para uma direção segura.

"Eu odeio este lugar." Ela soltou.

Rex olhou para ela. Seus pensamentos focados e claros fizeram as coisas melhores por um momento, e ela quase foi capaz de respirar fundo.

"Há uma razão para tudo isso", ele disse.

Uma razão para o jeito que ela era? Para a agonia que ela sentia todo dia? "Sim. Fazer minha vida uma merda."

"Não. Algo realmente importante."

"Obrigada."

A suspensão do Ford guinchou embaixo deles enquanto ela fazia uma curva muito fechada. A mente de Rex hesitou, mas não por causa da direção dela. Ele odiava feri-la, ela sabia.

"Eu não quis dizer que sua vida não era -"

"Tanto faz", Melissa interrompeu. "Não se preocupe com isso, Rex. Eu só não consigo suportar o começo do ano. Melodramas demais todos ligados ao máximo."

"Sim. Eu sei o que você quer dizer."

"Não, você não sabe."

O estacionamento estava vazio, e ela foi a ele, desligando o rádio enquanto ela diminuía. Melissa podia dizer que eles estavam quase atrasados - a multidão pairando dentro do prédio estava atormentada, nervosa. Um garrafa explodiu debaixo de um de seus pneus enquanto o Ford parava. As pessoas escapavam para cá, para beber no almoço às vezes.

Rex começou a perguntar, então ela o antecipou nisso.

"Eu senti ela noite passada. A garota nova."

"Eu sabia", ele disse, batendo no painel em frente a ele, sua animação cortando através do barulho da escola com uma nota clara e pura.

Melissa sorriu. "Não, não sabia."

"Ok", Rex admitiu. "Eu estava com 99 por cento de certeza."

Melissa acenou, saindo e puxando sua mochila atrás dela. "Você estava totalmente assustado que você pudesse estar errado. Esse é o como eu sabia quanto certeza você tinha."

Rex piscou, sem entender a lógica dela. Melissa suspirou. Após anos escutando os pensamentos dele, ela entendia umas coisinhas sobre Rex, que ele não sabia de si mesmo. Coisas, das quais parecia, que ele nunca perceberia.

"Mas sim, ela estava lá fora noite passada", ela continuou. "Acordada e..." Algo mais. Ela não tinha certeza do que mais. Esta nova garota era diferente.

Enquanto eles caminhavam em direção a Bixby High, o último sinal tocou. O som sempre silenciava o rugido na cabeça de Melissa, suavizando ele a um baixo ruído enquanto os professores estabeleciam o controle e pelo menos alguns estudantes tentavam se concentrar. Durante as aulas ela podia quase pensar normalmente.

Ela se lembrou da noite passada, no maravilhoso silêncio da hora azul. Mesmo na morte da noite normal ela tinha se levantado com o barulho de sonhos e terrores noturnos, mas à hora azul estava absolutamente intacta. Esta era a única hora que Melissa se sentia inteira, completamente livre do caos da luz do dia. Por aquela única fatia de cada dia ela na verdade sentia como se ela possuísse um talento, um dom, ao invés de uma maldição.

Melissa tinha sabido o que Rex esperava que ela fizesse no momento que ele tinha entrado na cafeteria no primeiro dia da escola. Todas as noites desta semana ela tinha rastejado para fora de sua janela e acima, para o telhado. Procurando.

Poderia levar uns poucos dias para acordar pela primeira vez. E ela não sabia onde a nova garota morava. Dess levou um longo tempo no encalço dela, lá fora na selvagem margem de terrenos ruins.

Na noite passada não havia tido nenhum relâmpago, não que ela pudesse ver. Só uma congelada centelha atrás das nuvens imóveis. Então Melissa tinha limpado seu poleiro no alto dos respingos de água e se sentado.

Ela tinha acalmado sua mente - tão simples a se fazer na meia noite - e entrou em contato através de Bixby. Os outros foram fáceis o suficiente para se sentir. Melissa conhecia suas assinaturas, o modo que cada um deles encontravam-se com a hora secreta, com alívio, excitação, ou calma. Todos eles estavam em seus lugares habituais, e as outras coisas que viviam na hora azul estavam escondidas, atemorizadas pelas energias da tempestade.

Uma noite perfeita para fusão.

Noite passada ela não tinha tido muito tempo. A nova garota morava muito perto dela ou era muito forte. Melissa podia sentir ela claramente, a nova forma dela brilhava contra a noite vazia. Melissa provou o lampejo de surpresa primeiro, e então longos momentos de desconfiança, e então um construir lento de uma torrente de alegria que tinha durado fortemente dentro da hora. Finalmente a garota tinha voltado ao sono, despreocupada em duvidar.

Algumas pessoas tinham isso tão fácil.

Melissa não sabia exatamente o que pensar da nova garota. Por baixo de suas inconstantes emoções estava um sabor inesperado, um acentuado gosto metálico, como uma moeda pressionada contra a ponta da língua de Melissa. O cheiro de energia desenfreada estava em toda parte, mas talvez tivesse sido apenas a tempestade. E, é claro, algo novo estava sempre cheio de sabores desconhecidos, poderes inesperados. Depois de tudo, cada um dos amigos de Melissa parecia diferente.

Mas Jessica Day parecia... mais do que diferente.

Melissa se lembrou de puxar seus fones de sua mochila. Ela precisaria deles para se chegar através das paredes da sala. Enquanto eles cruzavam a rua, Rex colocou uma mão em seu antebraço, cuidando para não tocar na pele nua, firmando-a, como ele sempre fazia perto das distrações da escola.

Ele a puxou para parar, enquanto um carro passava.

"Cuidado."

"Ela é esquisita, Rex."

"A nova garota?"

"Sim. Estranha, até mesmo para um de nós. Ou talvez ela seja pior."

"Pior como?"

"Normal."

Melissa ligou seu disc player enquanto eles continuavam, subindo o volume para afastar o maciço rugido da escola, puxando suas mangas para baixo para cobrir suas mãos.

Rex se virou para ela enquanto eles alcançavam a porta da frente. Ele apertou seus ombros e esperou até que ela estivesse olhando para ele. Só Rex sabia que Melissa podia ler lábios.

"Você pode encontrar ela?"

Ela respondeu com deliberada suavidade - ela odiava pessoas que gritavam acima da música de seus fones. "Sem problema."

"Logo", os lábios dele formaram.

Era uma pergunta ou uma ordem? Ela se perguntou. Algo na expressão dele, e a preocupação em sua mente, a perturbou.

"Qual é da pressa?"

"Eu acho que há perigo. Mas do que o de sempre. Há sinais."

Melissa franziu as sobrancelhas, e então deu de ombros.

"Não se preocupe. Eu a rastrearei."

Ela se afastou de Rex, perdendo a resposta dele, incapaz de se concentrar com a escola - com sua rajada de ansiedade, tédio, desejo, energia mal direcionada, preocupação, competição, animação de líderes de torcida, raiva sufocada, um pouco de alegria, e muito medo instantâneo - que a engoliram.


5

11h:35min da manhã

LENDAS RURAIS

 

"Ok, dez coisas estranhas sobre Bixby..."

Constanza Grayfor folheava seu caderno para uma página em branco e o colocava recatadamente sobre seus joelhos. As outras garotas na biblioteca esperavam em silêncio enquanto ela escrevia os números de um a dez em uma coluna no lado esquerdo.

"Eu tenho uma", Jen disse. "A dois invernos atrás, quando eles descobriram o carro do xerife Michael no deserto{3}." Ela se virou para Jessica com uma sobrancelha levantada. "Mas sem o xerife Michaels."

"Número um: o desaparecimento do xerife Michaels", Constanza pronunciou cuidadosamente enquanto ela escrevia.

"Eu ouvi dizer que ele foi morto por traficantes de drogas", Liz disse. "Eles têm uma pista de pouso secreta no deserto para quando eles trazem coisas do México. Ele deve ter descoberto onde isso estava."

"Ou eles o estavam subornando e o traíram." Constanza disse.

"Sai dessa", Jen disse. "Eu ouvi dizer que eles descobriram o uniforme, o distintivo e a arma."

"E daí?"

"E também seus dentes e cabelo. E as unhas dele. O que quer seja que há no deserto é muito pior do que traficantes."

"Isso é o que traficantes querem que você pense."

"Oh, como você soubesse."

Liz e Jen olharam para Jessica, como se fosse para ela resolver o assunto.

"Bem", Jessica ofereceu, "o deserto parece...ruim."

"Totalmente."

"Garotas", uma voz chamou da mesa da frente da biblioteca. "Era para ser um período de estudo, não um período de conversinha."

"Eu só estou trabalhando no meu artigo para o jornal, Sra. Thomas," Constanza explicou. "Eu sou a editora deste ano."

"E todo mundo na biblioteca tem que fazer o trabalho com você?"

"Sim, eles têm. Eu estou escrevendo sobre as dez coisas que fazem Bixby... especial. O Sr. Honório disse que eu preciso de uma grande variedade de dados. É assim como eu deveria escrever, então eu estou trabalhando, não papeando."

Sr. Thomas levantou uma sobrancelha. "Talvez os outros tenham seus próprios trabalhos a fazer?"

"É a primeira semana de escola, Sra. Thomas", Jen apontou. "Ninguém tem nenhum estudo a sério ainda."

A bibliotecária passou seus olhos pelas cinco, então se voltou para a tela de seu computador. "Ok. Só não façam disso um mau hábito." Ela cedeu. "E tentem manter a algazarra baixa."

Os olhos de Jessica caíram em seu livro de trigonometria. Ela na verdade já tinha alguns trabalhos sérios a fazer. A aula do Sr. Sanches tinha passado através do primeiro capítulo com a velocidade de um relâmpago, como se eles tivessem começado o livro no ano passado. Jessica estava bastante certa que ela entendia o que Sanchez tinha tratado no capítulo dois, mas alguns conceitos que se mantinham pipocando, eram simplesmente incompreensíveis. O Sr. Sanchez parecia convencido que Jessica tinha estado em uma classe avançada em Chicago e que ela só permanecia quieta por que ela estava muito a frente do resto deles. Não exatamente.

Jessica sabia que ela deveria estar estudando, mas ela se sentia, muito inquieta, muito cheia de energia. Seu sonho da noite anterior tinha feito algo com ela. Ela não tinha certeza do que. Ela não estava nem certa de que tinha sido um sonho. Ela realmente tinha saído caminhando sonâmbula? O moletom de Jessica tinha ficado molhado de algum modo. Mas você realmente poderia andar por ai na chuva sem acordar? Talvez ela estivesse ficando levemente louca.

Mas o que quer que tenha acontecido na noite passada, foi maravilhoso. Sua irmã, Beth, tinha atirado seu habitual mau humor do café da manhã, gritando que ela nunca poderia começar de novo em Bixby, depois de passar os treze anos de sua vida em Chicago. Papai, sem nenhum trabalho para ir, não tinha se levantado. E mamãe tinha estado em uma imensa pressa para chegar a seu novo trabalho, deixando para Jessica a ingrata tarefa de levar sua irmãzinha porta a fora. Mas de algum modo os dramas matinais não a tinham incomodado. O mundo parecia estar ajustado hoje. Jess finalmente sabia o caminho de todas as suas aulas, e sua combinação do armário, tinha girado como sem dedos, sem nenhum raciocínio. Tudo parecia de repente familiar, como se ela tivesse vivido aqui em Bixby por anos.

Em qualquer caso, Jessica estava muito agitada para estar lendo um livro de matemática.

E escutar seus novos amigos falarem sobre a estranha história de Bixby era muito mais interessante que trigonometria. Constanza Grayfoot era bonita, com cabelo liso e preto e pele cor de oliva e só um traço de um sotaque. Ela e suas amigas eram todas juniores, um ano mais velha que ela, mas Jessica não se sentia mais jovem em torno delas. Era como se ser a nova garota da cidade grande tivesse adicionado misteriosamente um ano a sua idade.

"Eu tenho outra", Maria disse. "Como há um toque de recolher aqui?"

"Numero dois: Toque de recolher irritante", soletrou Constanza.

"Toque de recolher?" Jessica perguntou.

"Sim." Jen rolou seus olhos. "Acima, em Tulsa, e mesmo no condado de Broken Arrow, você pode ficar fora tão tarde quanto você queira. Mas em Bixby, se é depois das onze, você está proibida. Até que você tenha mais de dezoito. Você não acha isso estranho?"

"Isso não é estranho, só é pouco convincente" Disse Liz.

"Tudo em Bixby é estranho."

"Tudo em Bixby é pouco convincente."

"Você acha que Bixby é estranha, Jessica?" Jen perguntou.

"Bem,não na verdade. Eu gosto daqui."

"Você está brincando", Liz disse. "Depois de viver em Chicago?"

"Sim, é legal aqui." Jessica se sentia estranha em dizer as palavras, mas elas eram verdade. Ela tinha estado feliz esta manhã, pelo menos. Mas as outras quatro garotas estavam olhando para ela como se elas não acreditassem nela. "Eu aposto que haja alguma coisa mais estranha em Bixby. Como a água. Ela tem gosto engraçado. Mas vocês já sabem disso."

Elas olharam para ela como expressões pasmas.

"Mas vocês sabem, eu acho que uma vez que eu me acostume a isso - " Jessica começou.

"E quanto aos poços de cobra?" Interrompeu Maria.

Um momentâneo silencioso caiu sobre a mesa. Jessica viu a Sra Thomas olhar para cima, seu interesse provocado no momento pelo súbito silêncio, então voltou para sua tela.

Constanza acenou. "Numero três: Poço de cobra." Sua voz estava apenas acima de um sussurro

"Ok." Jessica disse. "Eu vou supor que este poço de cobras é mais do lado estranho que o pouco convincente?"

"Sim", Liz disse. "Se você acredita em toda aquela coisa."

"Que coisa?" Jessica perguntou.

"Lendas idiotas", Liz disse. "Como, supostamente as panteras que vivem lá."

"Ela escapou de um circo que veio há muito tempo atrás", Jen disse. "Há artigos sobre isso na biblioteca, vinda do cartório de Bixby nos anos de 1930 ou algo assim."

"Artigos que você na verdade leu?" Liz perguntou.

Jen rolou seus olhos. "Talvez eu não tenha, mas todo mundo -"

"E esta pantera é, tipo, de oitenta anos?" Liz interrompeu.

"Bem, talvez não em 1930..."

"De qualquer modo, Jessica", Liz disse. "O poço de cobras é apenas este lugar brega onde você encontra velhas pontas de flechas. Dos indígenas. Grande coisa."

"Nós o chamamos de nativos americanos." Constanza corrigiu.

"Mas isso vem dos verdadeiros velhos tempos", Maria disse, "antes dos anglos mudarem todas as outras tribos daqui para o leste. Era uma vila onde os nativos originais de Oklahoma costumavam viver - povos das cavernas da idade da pedra, não os nativos americanos que vivem aqui agora."

"Você está certa, isso não é brega", Jessica disse. "Mas é difícil imaginar Bixby da idade da pedra."

"Não são só pontas de flechas", Jen explicou séria. "Há esta pedra grande que se projeta do chão, bem no meio do poço das cobras. As pessoas vão lá à meia noite. E se você fizer um certo símbolo de rochas, ele mudará bem em frente a seus olhos, exatamente na badalada das doze."

"Mudar no que?"

"Bem... as pedras não mudam em nada", Jen disse. "Elas ainda são rochas. Mas elas se movem."

"Folclore", Liz declarou.

"Meu irmão mais velho fez isso um ano atrás", Maria disse. "Isso o assustou horrivelmente. Ele nem mesmo fala sobre isso agora."

Jen se inclinou a frente, ainda falando em uma silenciosa voz de história de fantasmas. "E mesmo embora os arqueólogos tenham estado trabalhando lá a muito tempo, você ainda pode encontrar pontas de flechas se você procurar. Elas são, tipo, de uma centena de anos."

"Dez mil anos você quer dizer."

Jessica e as outras se viraram para olhar através da biblioteca. Era Dess, a garota da aula de matemática de Jessica, sentada sozinha em um canto.

"Ok..." Liz disse lentamente, seus olhos rolando um pouco para as outras garotas na mesa. Então ela sussurrou, "Falando em brega."

Jessica olhou de volta para Dess, que não parecia ter escutado. Ela tinha descido sua cabeça de volta a seu livro, lendo através dos óculos escuros, como se não estivesse mais interessada na conversa delas. Jessica não tinha notado Dess, mas ela deve ter estado lá o período inteiro, acampada em seu canto na biblioteca, livros e papéis espalhados em torno dela.

"Número quatro..." Constanza começou, sua caneta verde pousada acima do papel. Jen soltou uma risadinha, e Maria fez um gesto de silêncio, abafando.

Jessica olhou abaixo para seus livros, especialmente para o pesado volume de trigonometria. Sua energia estava começando em seu costumeiro desvanecer pré-almoço. Ela gostava de Constanza e seu grupo, mas o modo que elas tinham caçoado de Dess, deixara um gosto ruim em sua boca. Ela se lembrou de como as coisas tinham sido para ela em Chicago, antes dela se mudar para cá e se tornar a senhorita popular.

Jessica olhou para Dess de novo. Um de seus livros sobre a mesa era Iniciação à Trigonometria. Se Dess fosse metade do quão inteligente ela fingia ser, podia valer à pena pedir por sua ajuda.

"Eu na verdade devia ter alguns trabalhos feitos", Jessica disse. "Minha mãe ficou maluca e me colocou em todas essas aulas avançadas. Trigonometria já está me matando."

"Ok", Constanza disse. "Mas se você pensar em algo mais estranho sobre Bixby, se certifique de me dizer. Eu quero ter a perspectiva da nova garota."

"Eu manterei você informada."

Jessica reuniu seus livros e foi para o canto. Ela se sentou do outro lado da mesa baixa de Dess. Os pés da garota estavam apoiados sobre a mesa, brilhantes anéis de metal decorando seus tornozelos acima da meia-calça preta.

Jess pensou ter escutado um sussurro da mesa de trás, mas o ignorou.

"Dess?"

A garota olhou para ela inexpressiva. Sem impaciência ou aborrecida, só estranhamente neutra atrás dos óculos.

Os dedos de Jessica começaram a puxar seu livro de trigonometria da pilha de livros.

"Você acha que..." Sua pergunta titubeou. O olhar de Dess era tão frio e direto. "Eu só queria perguntar a você", Jess começou de novo, "Umh... você sempre usa óculos escuros quando você lê?"

"Nem sempre. Eles me fazem tirá-los na aula."

"Oh. Mas por que - "

"Eu sou fotofóbica{4}. A luz do sol machuca meus olhos. Muito."

"Ow. Eles então deviam deixar você usar óculos escuros na sala."

"Eles não deixam. Não há regra. Mas eles não deixam."

"Talvez se você conseguir um atestado de seu médico."

"E quanto a você?" Dess perguntou.

"Quanto a mim, o quê?"

"Seus olhos doem na luz?"

"Não", Jessica disse.

"Isso é estranho."

Jessica piscou. Ela estava começando a desejar que ela tivesse ficado na outra mesa. Dess tinha sido interessante para conversar na aula de trigonometria, mas não interessante de um modo divertido. As garotas na mesa de Constanza deviam estar se perguntando o que ela estava fazendo aqui, falando com esta garota. Jessica certamente estava.

Mas ela tinha que perguntar: "Como isso é estranho?"

Dess colocou seus óculos para baixo, metade de um centímetro, e fitou dentro dos olhos de Jessica, uma expressão concentrada em seu rosto. "É só que algumas pessoas, certas pessoas, que andam em Bixby descobrem que a luz do sol aqui é terrivelmente brilhante. Elas de repente precisam de óculos de sol e de usá-los o tempo todo. Você não?"

"Eu não. Isso realmente acontece com muitas pessoas?"

"Uma seleta quantidade." Dess empurrou seus óculos de volta. "Esta é uma das dez coisas estranhas em Bixby."

Jess se inclinou de volta a cadeira e murmurou. "Dez mil, você quer dizer."

Dess sorriu de volta para ela, acenando em concordância. Vendo a expressão satisfeita, fez Jessica se sentir melhor. De certo modo ela lamentava por Dess. As outras garotas tinham sido grossas, e Dess não era tão mal.

"Então, Jessica, você quer sabe uma coisa realmente estranha sobre Bixby?"

"Claro. Por que não?"

"Olha só", Dess empurrou um livro da biblioteca ao acaso de uma prateleira atrás dela e o estendeu para Jessica.

"Hmm. Vanity Fair, exceto que não é uma revista, é um livro de cento e cinquenta páginas. Assustador."

"Não, na lombada. O selo de Bixby."

Jessica olhou para o pequeno adesivo branco que marcava o livro de propriedade da biblioteca de Bixby High. Debaixo do código de barras estava um logotipo: um sol radiante.

"O que, o solzinho?"

"Não é um sol, é uma estrela."

"O sol é uma estrela. Eu ouvi em algum lugar."

"No espaço, a mesma coisa. Na simbologia, eles são diferentes. Vê as pontinhas saindo dele? Conte-os."

Jessica suspirou e apertou os olhos para o adesivo. "Treze?"

"Isso mesmo, Jess. É uma estrela de treze pontas. Parece familiar?"

Jessica apertou seus lábios. Isso parecia familiar. "Sim, na verdade há uma placa como essa em nossa casa. Uma antiga. O corretor disse que nos velhos tempos ela mostrava se você possuía seguro. Os bombeiros não apagariam um incêndio, se sua casa ao menos tivesse um."

"Isso é o que todo mundo diz. Mas há uma placa como esta em cada casa em Bixby."

"Então as pessoas não queriam que suas casas sofressem um incêndio. O que há de estranho sobre isso?"

Dess sorriu de novo, estreitando seus olhos. "E há uma grande estrela na entrada da prefeitura. E uma no topo do cartório de Bixby e pintado sobre o chão dentro de cada entrada desta escola. Todas aquelas estrelas tem treze pontas também." Ela se inclinou para frente, falando rápido e silenciosamente. "O conselho da cidade tem treze membros, quase cada lance de escadas na cidade tem treze degraus, e Bixby, Oklahoma tem treze letras.

Jessica balançou sua cabeça. "Que quer dizer?"

"Que quer dizer que Bixby é a única cidade que eu tenha ouvido de onde o treze é considerado um número de sorte. E não é só sorte, mas necessidade."

Jessica tomou um fôlego. Ela olhou acima para as prateleiras atrás da cabeça de Dess. Agora que Dess tinha apontado elas, ela podia ver adesivinhos brancos claramente, fileiras após fileira pairavam sobre as duas. Centenas de estrelas de treze pontas.

Ela deu de ombros. "Eu acho que é bem estranho, Dess."

"Você ainda acha sonhos engraçados?", a garota perguntou.

Um calafrio percorreu lentamente acima pela espinha de Jessica. "O que?"

"Lembra em trigonometria? Eu disse a você que a água daqui daria a você sonhos engraçados. Eles já começaram?"

"Oh, sim", A mente de Jessica começou a correr.

Por alguma razão, ela não queria dizer a Dess sobre seu sonho. Ele parecia tão perfeito, tão acolhedor. E então ela teve certeza de que Dess diria algo para arruinar o sentimento que aquele sonho tinha deixado a ela. Mas a garota estava olhando para ela tão intensamente, os olhos exigindo uma resposta.

"Talvez", Jess disse lentamente. "Eu meio que tive um sonho estranho. Mas talvez não fosse um sonho. Eu não tenho certeza."

"Você descobrirá em breve o suficiente." Dess olhou acima para o relógio da biblioteca e sorriu. " Em 43.207 segundos, para ser exata."

Sete segundos depois o sinal tocou para o almoço.


6

12h:01min da tarde

JONATHAN

 

Jessica se moveu em direção ao almoço, um punhado de nervos cerrados em seu estômago.

Dess tinha dado arrepios de novo, como naquele primeiro dia em trigonometria, Jessica podia ver o porquê de Dess não ter muitos amigos. Toda vez que Jess sentia como se elas estivessem começando a se conectar, a garota fazia alguma estranha observação astuta, como se ela quisesse convencer Jessica que ela tinha poderes psíquicos. Tudo o que Jessica queria era um pouco de ajuda com trigonometria, não um curso nos ocultos modos de Bixby, Oklahoma.

Jessica suspirou enquanto ela fazia seu caminho em direção à cafeteria. Agora que ela pensou sobre isso, Dess não era realmente todo aquele mistério. Só triste. Ela estava repelindo Jessica sob um propósito. O desnorteante, ir e voltar de suas conversar era, provavelmente, querendo excluir as pessoas. Brincar com a cabeça das pessoas era mais fácil do que conhecer e confiar nelas. Talvez ela tivesse medo.

Mas Dess nunca parecia assustada, só calma e confiante. Entretanto suas palavras estavam fora do muro, ela sempre as entregava de maneira inteligente. Dess falava como se ela vivesse em um mundo alienígena com regras completamente diferentes, tudo o que fazia perfeito sentido para ela.

Que era outro jeito de dizer que ela era louca.

Por outro lado, algo dentro de Jess sentia como se Dess estivesse na verdade tentando se comunicar com ela. Estava tentando ajudá-la a entender sua própria cidade, ou talvez mesmo alertá-la sobre algo. Dess tinha estado totalmente correta sobre o sonho estranho. É claro, o que não necessariamente fazia de Dess uma leitora de mentes e não significava que o suprimento de água de Bixby tinha causado isso. Um monte de pessoas tinha sonhos engraçados quando elas iam para novos lugares. Dess provavelmente percebeu que Jessica estava assustada sobre se mudar e tinha decidido que seria engraçado assustá-la um pouquinho mais.

E tinha funcionado.

Enquanto Jess alcançava a lanchonete, o leve cheiro rançoso de fritura varreu através das portas duplas abertas, junto com o rugido de centenas de vozes. O passo de Jessica diminuiu enquanto ela cruzava o limiar. Como a nova garota, ela ainda experimentava uns poucos segundos de pânico enquanto tentava descobrir onde se sentar, não querendo ofender os novos amigos ou se enfiar com pessoas que ela não tinha certeza.

Por um momento Jessica quase desejou que seu pai não tivesse decidido começar a fazer almoços para ela. Esperar na fila pela gororoba oficial da escola de Bixby High, teria dado a ela mais tempo para saber onde se sentar. O que, talvez, era a razão dos almoços de escola terem sido inventados. Certamente não tinha sido por seu valor nutricional. Ou seu sabor.

Enquanto seus olhos estudavam a sala, as borboletas no estômago de Jessica começaram a flutuar de novo. Lá estava Dess, olhando direto para ela. A garota deve ter usado alguma rota mais rápida para a lanchonete através do labirinto de Bixby High. Ela se sentava em uma mesa, em um canto distante, com dois amigos. Como ela, eles estavam todos de preto. Jess reconheceu o garoto do primeiro dia da escola. Ela se lembrou do momento de ansiedade ao entrar em Bixby High pela primeira vez, aterrorizada de que ela estivesse atrasada. A memória era estranhamente clara, a imagem dos óculos dele arremessados para fora, estava cimentada em sua mente. Jessica se perguntou o porquê dela não tê-lo visto por ali desde então. Com seu longo casaco preto, o garoto deveria chamar atenção em Bixby. Havia tido um bando de garotos como ele e Dess na escola pública 141, mas só havia três ou quatro aqui. Era muito quente e ensolarado em Oklahoma para fazer a coisa toda de vampiro.

Ao menos, é claro, você fosse "fotofóbico", se Dess tinha estado falando a verdade sobre isso.

Agora, o garoto estava olhando para Jessica também, como se ele e Dess estivessem esperando que ela se juntasse a eles. A outra garota na mesa estava olhando para o espaço, os fones sobre as orelhas.

Jessica olhou ao redor, por qualquer lugar onde se sentar. Ela não estava pronta para nenhum jogo mental hoje. Ela procurou por Constanza e Liz, mas ela não podia vê-las, ou a nenhuma das outras garotas da mesa da biblioteca. Seus olhos procuraram por um rosto familiar, mas Jess não reconheceu nenhum. As hordas de rostos borraram-se em uma confusa massa. A cafeteria deslizou para fora do foco, um vertiginoso rugir de vozes a assaltando por todos os lados. Seu momento de hesitação se prolongou, subitamente transformado em total confusão.

Mas de alguma forma seus pés mantiveram caminhando, trazendo ela mais perto da mesa de Dess. A garota e seus amigos eram a única parte estável da sala. O instinto carregou Jessica em direção a eles.

"Jessica?"

Ela se virou, reconhecendo um rosto fora do borrão. Um rosto muito atraente.

"Eu sou o Jonathan da aula de física. Se lembra?"

O sorriso dele atravessou a névoa envolvendo ela. Seus olhos castanhos escuros estavam muito em foco.

"Claro. Jonathan. Física." Ela tinha notado ele na aula. Qualquer um teria.

Jessica ficou lá, incapaz de dizer algo mais. Mas pelo menos ela tinha parado de andar em direção à mesa de Dess.

Um olhar de preocupação cruzou o rosto dele. "Você quer se sentar?"

"Sim. Isso seria ótimo."

Ele guiou Jessica a uma mesa vazia, no canto oposto ao de Dess. Sua tontura começou a diminuir. Ela, agradecida, largou sua mochila e o saco de almoço sobre a mesa, enquanto se sentava.

"Você está bem?" Jonathan perguntou.

Jessica piscou. A cafeteria tinha voltado ao seu normal: barulhenta, caótica, e um pouco fedida, mas não mais uma montanha russa. Sua desorientação tinha desaparecido tão de repente quanto tinha chegado. "Muito melhor."

"Você pareceu como se fosse tomar um tombo."

"Não, eu... Sim, talvez. Semana difícil." Jessica queria adicionar que ela geralmente não agia como um zumbi em frente a caras bonitos, mas de algum modo não podia descobrir as palavras certas. "Eu acho que só preciso comer."

"Eu também."

Jonathan virou sua sacola de almoço, derramando os conteúdos sobre a mesa. Uma maça rolou perigosamente perto da beira da mesa, mas ele a ignorou. Ela parou por pouco de cair ao chão. Jessica levantou uma sobrancelha enquanto ela via a pilha de comida dele. Ela incluía três sanduíches, um saco de fritas, uma banana, e um copo de iogurte e mais a maça instável.

Jonathan era magro como um comboio. Uma fome de comboio{5}. Ele agarrou um sanduíche da pilha, puxou o plástico que o envolvia, e o rasgou.

Jessica olhou para seu próprio almoço, como sempre, seu pai tinha estado entediado noite passada e criado algo elaborado. Queijo ralado, carne moída, alface picada e tomate, todos ocupados em seus próprios cantinhos da divisão do recipiente. Um par de tacos duros era visível através do plástico de outro recipiente. Os tacos já estavam quebrados. Jess suspirou e abriu os recipientes, atirando todos os ingredientes e começando a misturá-los.

"Mmm, salada de taco", Jonathan disse. "Cheira bem."

Jessica acenou. O aroma apimentado vinha da carne, que tinha suavizado o cheiro de frituras da cafeteria da escola. "Meu pai está se envolvendo com a cozinha do sudoeste muito bem."

"Sanduíches sovados."

"Aquele parece bom."

"Eles tem manteiga de amendoim no pão de banana. Todos os três. Isso é uma economia de tempo. Eu acho."

"Economiza fatiar bananas. Eu não posso acordar cedo o suficiente para fazer qualquer coisa enfeitada."

"Mas os três?", ela perguntou.

Ele deu de ombros. "Isso não é nada. Alguns pássaros comem seu próprio peso corporal a cada hora."

"Desculpe, eu senti falta das penas em você."

Jonathan sorriu. Ele parecia com sono. Seus olhos nunca estavam bastante abertos, mas eles piscaram quando ele sorriu.

"Ei, se eu não conseguir calorias o suficiente, sou eu quem vai desmaiar." Ele abriu o segundo sanduíche e deu uma enorme mordida, como se falar tanto deixasse ele atrasado.

"Isso me lembra", Jessica disse, "obrigada por me salvar. Teria sido um boa jogada, cair de cara em frente a escola inteira na minha primeira semana aqui."

"Você sempre pode culpar a água de Bixby."

O garfo de Jessica parou a poucos centímetros de sua boca. " Você também não gosta dela?"

"Eu me mudei para cá a mais de dois anos, e eu ainda não posso bebê-la." Jonathan deu de ombros.

Jessica sentiu o punho de nervos em seu estômago abrir um pouco. Ela tinha começado a pensar que todo mundo na cidade tinha nascido e se educado aqui, e que ela era a primeira de fora que eles tinham visto. Mas Jonathan era outro estranho neste estranho lugar.

"De onde você vem?", ela perguntou.

"Philadelfia. Bem, de fora de qualquer maneira."

"Eu venho de Chicago."

"Eu ouvi."

"Oh, certo. Todo mundo sabe tudo sobre a nova garota."

Ele sorriu, dando de ombros. "Nem tudo."

Jessica sorriu de volta para Jonathan. Eles comeram em silêncio, por enquanto, ignorando o rugir da cafeteria em torno deles. Sua salada de taco realmente estava boa, agora que ela prestou atenção nisso. Talvez ter um pai dono de casa não fosse tão mal. E o quieto banquetear de Jonathan em seus sanduíches era de algum modo reconfortante. Jessica se sentia confortável de um jeito que ela não tinha, desde que chegou a Bixby. Ela se sentiu... normal.

"Então, Jonathan", ela disse depois de uns minutos. "Posso te perguntar uma coisa?"

"Claro."

"Quando você chegou aqui, você achava que Bixby era de algum modo estranha?"

Jonathan mastigou pensativamente.

"Eu ainda acho Bixby estranha", ele disse. "E não só um pouco - muito. Não é só a água. Ou um covil de cobras ou todos aqueles rumores engraçados. É..."

"O que?"

"É só que Bixby é realmente... psicossomática."

"É o que?", ela perguntou. "Isso significa que „tem algo em sua cabeça ou alguma coisa assim?"

"Sim. Como quando você fica doente, mas seu corpo esta ok de verdade. Sua mente tem o poder de fazer você ficar doente. Essa é Bixby, totalmente: psicossomática. O tipo de lugar que dá a você sonhos estranhos."

Jessica quase engasgou com o garfo cheio de salada de taco.

"Eu disse alguma coisa?" Jonathan perguntou.

"Mm-mm", ela falou, limpando sua garganta. "Pessoas ficam dizendo coisas estranhas que não fazem..." Jess parou. "Que não faz muito sentido."

Jonathan olhou para ela cuidadosamente, seus olhos castanhos se estreitando ainda mais.

"Ok, eu acho que isso pode soar um pouco louco", Jess admitiu. "Mas algumas vezes parece que as pessoas daqui de Bixby sabem o que esta acontecendo dentro da minha cabeça. Ou, pelo menos, eu acho que uma pessoa sabe. Tem essa garota - metade do tempo ela fala maluquices, mas a outra metade é como se ela lesse a minha mente."

Jessica percebeu que Jonathan tinha parado de comer. Ele estava olhando para ela atentamente.

"Estou parecendo maluca?", ela perguntou.

Ele deu de ombros. "Eu tive um amigo em Filadélfia, Julio, que ia ver uma vidente cada vez que ele tinha cinco dólares para torrar. Ela era uma idosa que vivia em uma loja no centro da cidade, com uma mão roxa neon na janela."

Jessica riu. "Nós tínhamos leitores de palmas como esses em Chicago."

"Mas ela não lia palmas ou olhava em uma bola de cristal", Jonathan disse. "Ela apenas falava."

"Ela era psíquica de verdade?"

Jonathan balançou sua cabeça. "Eu duvido disso."

"Você não acredita nessa coisa?"

"Bem, não tão longe quanto isso vai." Jonathan deu uma mordida, mas continuou falando. "Eu fui com Julio uma vez para assistir, e eu acho que descobri como funcionava. A mulher dizia estranhas coisas aleatórias, uma após a outra, até que algo tocou um sino, com o que Julio e seus olhos se iluminaram. Ela tinha continuado naquela direção, e ele começou a falar e dizer a ela tudo. Seus sonhos, o que o preocupava, sei lá. Ele pensou que ela estava lendo sua mente, mas ela só estava fazendo ele lhe dizer o que estava acontecendo em sua cabeça.

"Parece um bom truque."

"Eu não tenho certeza se era um truque", Jonathan disse. "Quero dizer, ela realmente parecia ajudar Julio. Quando ele ia fazer algo idiota, ele não escutava mais ninguém, mas ela podia sempre botar juízo nele. Como quando ele tinha decidido fugir de casa uma vez, foi ela que falou para ele sair dessa."

Jessica abaixou seu garfo. "Então ela não estava apenas afanando ele."

"Bem, a coisa engraçada é que eu não tenho certeza do que ela estava fazendo. Talvez isso fosse instintivo e ela realmente pensava que fosse psíquica, sabe? Mas ela não era psíquica de verdade, só psicossomática."

Jessica sorriu, dando uma mordida pensativa em sua salada. A mulher que Jonathan tinha descrito soava muito como Dess. Suas estranhas e sondantes perguntas, e as declarações aleatórias, tudo entregue com total autoridade, tinha quase feito Jessica começar e acreditar que Dess tinha algum tipo de poder especial. Ou pelo menos, eles tinham enganado ela o suficiente para assustá-la. Talvez estivesse tudo em sua cabeça. Se Jessica acreditava que Dess tinha algum tipo de poder especial, então de certo modo, ela o tinha.

Em qualquer caso, Dess certamente colocava a loucura para trás em psicossomatismo.

"Então isso é possível", Jonathan continuou, "essa garota que você conhece não é completamente maluca. Ela deve ter um diferente modo de se comunicar, mas talvez ela tenha algo importante a dizer."

"Sim, talvez", Jessica disse. "Mas o que quer que seja, eu só desejo que ela venha e diga."

"Talvez você não esteja pronta para ouvir."

Jessica olhou para Jonathan com surpresa. Ele piscou seus sonolentos olhos castanhos para ela, inocentemente.

"Bem, talvez você esteja certo", ela disse, encolhendo os ombros. "Mas até então, eu não vou me preocupar sobre isso."

"Faz sentido."

Jessica sorriu para aquelas duas palavras enquanto Jonathan atacava seu último sanduíche. Essa coisa sobre tempo fazia sentido.


7

12h:00min da noite

LUA ESCURA

 

Naquela noite o sonho azul voltou.

Jessica tinha estado deitada acordada e olhando para o teto, aliviada por ser finalmente final de semana. Amanhã, ela estava determinada a finalizar o desempacotamento. Procurar através das quatorze caixas pilhadas, em torno de seu quarto, estava ficando antiquado. Talvez organizar suas coisas, faria ela se sentir um pouco mais sob controle.

Ela devia ter estado mais cansada do que ela tinha percebido. O sono roubado dela tão silenciosamente que, sonhar, pareceu colidir com a consciência. Era como se ela piscasse e tudo mudasse. Subitamente o mundo era azul, o baixo zumbido do vento de Oklahoma engolido pelo silêncio.

Ela se sentou, de repente alerta. O quarto estava preenchido com a familiar luz azul.

"Ótimo", ela disse suavemente. "Isso de novo."

Hoje à noite Jessica não perderia tempo tentando voltar ao sono. Se este era um sonho, ela já estava dormindo. E isso era um sonho. Provavelmente.

Exceto o assunto do moletom ensopado, é claro.

Ela deslizou de debaixo dos cobertores e vestiu um jeans e uma camiseta. A chuva sem movimento tinha sido maravilhosa, então ela poderia muito bem ver que maravilhas que sua subconsciência tinha inventado desta vez.

Jessica olhou ao redor cuidadosamente. Tudo estava acentuado e claro. Ela se sentia muito calma, sem nada nebulosamente doidão. Ela se lembrou de uma aula louca, que ela tinha tido no ano passado, que foi chamada de "sonho lúcido".

A luz era exatamente a mesma, como em seu sonho da noite anterior, um profundo índigo que brilhava de cada superfície. Não havia sombras, nenhum canto escuro. Ela espreitou em uma de suas caixas e pôde ver tudo dentro dela com igual e perfeita claridade. Cada objeto parecia brilhar suave interiormente.

Ela olhou para fora da janela. Não havia diamantes flutuando dessa vez, só uma rua quieta, tão imóvel e plana quanto uma pintura.

"Isso é chato." Ela murmurou.

Jessica se arrastou até a porta e a abriu cuidadosamente. Algo neste sonho, a fez querer respeitar o profundo silêncio; na luz azul o mundo parecia secreto e misterioso. Um lugar para se esgueirar.

A meio caminho da sala a porta de Beth estava entreaberta. Jess a colocou aberta temporariamente.

O quarto de sua irmã estava iluminado no mesmo azul profundo como o dela próprio. Ele estava envolvido no mesmo silêncio e insipidez, porém ele estava preenchido caoticamente com as roupas de Beth em torno do piso. Sua irmã tinha feito ainda menos, do desfazer de malas que Jess.

Uma forma preenchia a cama. A pequena forma estava enrolada desconfortavelmente nas cobertas.

Desde a mudança Beth não tinha estado dormindo bem, o que a mantinha em um constante estado de irritação.

Jessica cruzou até a cama e se sentou gentilmente, pensando em quão pouco tempo ela tinha gastado com Beth, desde que elas tinham chegado a Bixby. Mesmo nos meses anteriores a mudança, as birras de sua irmãzinha, tinham tornado impossível ficarem juntas. Beth tinha lutado com a ideia de deixar Chicago a cada passo no caminho, e todos na família tinham tomado o hábito de evitá-la quando ela estava de mal humor.

Talvez este fosse o porquê, que este sonho a tinha levado ali. Tendo que se acostumar a Bixby, Jessica não tinha pensado muito sobre os problemas de sua irmã.

Ela estendeu e descansou uma mão suavemente sob a forma dormindo de Beth.

Jessica jogou-se para trás, um calafrio correndo através dela. O corpo embaixo das cobertas parecia errado. Ele estava duro, tão inflexível quanto um manequim de plástico em uma vitrine de loja.

Subitamente a luz azul pareceu fria ao redor dela.

"Beth?" Sua irmã não se moveu. Jess não podia ver nenhum sinal de respiração.

"Beth, acorde." Sua voz falhou de um sussurro para um choramingar. "Pare de brincar. Por favor?"

Ela balançou sua irmã com ambas as mãos.

A forma sob as cobertas não se moveu. Ela era pesada e dura.

Jessica alcançou os cobertores de novo, incerta se ela queria revelar o que estava por baixo, mais incapaz de parar a si mesma. Ela se levantou, dando um passo nervoso para longe do lado da cama, enquanto ela estendia e puxava as roupas de cama para longe com uma frenética sacudida.

"Beth?"

O rosto de sua irmã era um giz branco, tão imóvel quanto uma estátua. Os olhos semiabertos brilharam como mármore verde. Uma mão branca e congelada apertava os lençóis bagunçados como uma garra pálida.

"Beth!" Jessica soluçou.

Sua irmã não se moveu.

Ela se aproximou e tocou a bochecha de Beth. Ela estava tão fria e dura quanto uma pedra.

Jessica se virou e correu através do quarto, quase tropeçando nas pilhas de roupas. Ele jogou a porta aberta e correu pelo corredor e em direção ao quarto de seus pais.

"Mãe! Pai!" Ela gritou.

Mas enquanto Jessica tropeçava em hesitação em frente, para o quarto de seus pais, o grito morreu em sua garganta. A porta fechada estava fria e imóvel perante ela. Não havia som lá dentro. Eles deviam tê-la escutado.

"Mãe!"

Não houve resposta.

Se ela abrisse e seus pais estivessem como Beth? A imagem de sua mãe e pai tão brancos, estátuas congeladas - coisas mortas - a paralisaram. Sua mão tinha quase alcançado a maçaneta, mas ela não podia fazer seus dedos se fecharem sobre ela.

"Mamãe?", ela chamou, suavemente.

Nenhum som veio de dentro do quarto.

Jess se afastou da porta, subitamente aterrorizada que ela abrisse, que algo pudesse sair. Este pesadelo podia ter qualquer coisa armazenada para ela. A casa não familiar parecia completamente estranha agora, azul e fria e vazia de qualquer coisa viva.

Ela se virou e correu para seu próprio quarto. A meio caminho de lá, ela passou pela porta de Beth, ainda escancarada. Jessica virou seus olhos para longe tarde demais, e viu um terrível flash da forma branca exposta sem vida de sua irmã sobre a cama.

Jessica se trancou em seu quarto e fechou bem a porta atrás dela, caindo em um monte de soluços sobre o chão. O primeiro sonho tinha sido tão bonito, mas este pesadelo era completamente horrível. Ela só queria acordar.

Lutando contra seu terror, ela tentou pensar o que o sonho devia significar.

Jessica tinha estado tão envolvida em seus próprios problemas, ela não tinha visto o óbvio. Beth precisava dela. Ela tinha que parar de agir como se a raiva da irmã fosse apenas um inconveniente.

Ela abraçou seus joelhos em seu peito, suas costas na porta, prometendo a si ser mais legal com Beth amanhã.

Jessica esperou pelo sonho terminar.

Esperando que desta vez, nada mais dele houvesse sido deixado no mundo real. Nenhuma Beth congelada, nenhum moletom ensopado. Só a manhã ensolarada e o fim de semana.

Lentamente, gradualmente, as lágrimas de Jessica se esgotaram, e o sonho azul por si mesmo a envolveu. Nada mudou ou se moveu.

A silenciosa luz fria brilhava em toda parte e de lugar nenhum, o silêncio deitava-se total e absoluto. Nem mesmo os rangidos e estalos de uma casa a noite podia ser escutado.

Então quando o arranhar veio, Jessica levantou sua cabeça de uma vez.

Havia uma forma na janela, uma silhueta de forma pequena escura contra o continuo brilho da rua. Ela se moveu suave e sinuosamente, dando passos felinos para frente e para trás da moldura da janela, então parou para arranhar contra o vidro.

"Gatinho?" Jessica disse, sua voz rouca pelo choro.

Os olhos do animal capturaram a luz por um momento, refletindo um roxo profundo.

Jessica ficou tremendo, suas pernas como agulhas e alfinetes. Ela se moveu lentamente, tentando não assustar o gato. Pelo menos algo mais estava vivo aqui nesse odioso pesadelo. Pelo menos ela não estava mais sozinha com a forma sem vida no quarto de Beth. Ela foi até a janela e olhou lá fora.

Era insinuante e fina, brilhante e preta. Músculos ondulavam embaixo de sua pele cor de meia-noite, o animal parecia tão forte quanto um gato selvagem de alguma espécie, quase como uma miniatura de chita negra. Ela se perguntou por um momento se era mesmo um gatinho. Seu pai tinha dito que lá havia linces e pequenos felinos selvagens, na zona rural em torno de Bixby. Mas a besta parecia muito mansa e ela andava impacientemente no parapeito da janela, olhando para ela com suplicantes olhos índigo.

"Ok, ok", ela disse.

Ela empurrou a janela, a abrindo, e desistindo do significado para esta parte do sonho. O gato pulou pesadamente contra ela, enquanto saltava para o quarto, seus músculos sólidos contra sua coxa.

"Você é um pugilista de verdade", ela murmurou, se perguntando que raça ele era. Ela nunca tinha vista nenhum gato tão forte.

Ele pulou para sua cama, cheirando seu travesseiro, correu em círculo sobre as cobertas enrugadas, então pulou em cima de uma das caixas. Ela ouviu o vasculhar de coisas dentro da caixa.

"Ei."

O gato saltou da caixa e olhou acima para ela, de repente cauteloso. Ele se afastou lentamente, os músculos tensos e tremendo como se estivesse pronto para saltar.

"Está tudo bem, gatinho." Jessica começou a se perguntar que se depois de tudo ele não era um gato selvagem. Ele não estava agindo como nenhum gato doméstico que ela tenha encontrado.

Ela se ajoelhou e ofereceu uma mão. O gato veio para mais perto e cheirou.

"Está tudo bem." Jessica estendeu um dedo e esfregou levemente o topo da cabeça dele.

"Rrrrrrrr." O baixo e terrível barulho brotou da criatura, tão profundo quanto um rosnar de tigre, e ele se afastou com sua barriga pressionada no chão.

"Ei, relaxa." Jessica disse, puxando sua mão para uma distância segura.

Os olhos negros do gato estavam cheios com o terror. Ele se virou e correu para porta do quarto, zunindo lamentosamente. Jessica ficou de pé e deu uns passos cuidadosos em direção a ele, alcançando a porta aberta.

O gato saltou para a sala e desapareceu em um canto. Ela o ouviu reclamando na porta da frente. Não foi um miar como um gato normal. Os gritos agudos soavam mais como um pássaro ferido.

Jessica olhou de volta deslumbrada para a janela aberta. "Por que você simplesmente não...?", ela começou, então balançou sua cabeça. Selvagem ou não, este gato era louco.

Cuidadosamente para não olhar para o quarto de Beth, ela seguiu os barulhos da criatura angustiada lá embaixo no hall e na porta da frente. O gato se encolheu enquanto ela se aproximava, mas não escapuliu. Jessica cuidadosamente alcançou e girou a maçaneta. No segundo que a porta estava aberta em uma fenda, o gato se apertou através dela e saiu.

"Te vejo depois", ela disse suavemente. Isso era perfeito. A única outra coisa viva neste pesadelo estava aterrorizada com ela.

Jessica puxou a porta o resto do caminho e foi para a varanda.

A madeira velha rangeu sob seus pés, o som reconfortante neste mundo silencioso. Ela tomou fôlego, então saiu para caminhar, feliz em deixar a casa sem vida e estranha atrás dela. A lua azul pareceu clarear, de algum modo mais saudável aqui fora. Embora ela estivesse sentido falta dos diamantes. Ela olhou ao redor por alguma coisa - uma folha caindo, uma gota de chuva - suspensa no ar. Nada. Ela olhou para o céu para procurar por nuvens.

Uma lua gigante estava se elevando.

Jessica engoliu em seco, sua mente girando enquanto ela tentava dar sentido a maravilhosa visão. A imensa esfera consumia quase um quarto do céu, esticando-se através do horizonte, tão grande quanto um por do sol. Mas ele não era vermelho, ou amarelo, ou qualquer outro tom que Jessica pudesse nomear. Ele era como um ponto escuro queimando em sua visão, como se ela tivesse olhado para o sol por muito tempo. Ele suspendia-se sem cor no céu, um carvão preto e cegantemente brilhante ao mesmo tempo, implacável contra seus olhos.

Ela protegeu seu rosto, então olhou para baixo em direção ao chão, a cabeça doendo e os olhos lacrimejando ferozmente. Enquanto ela piscava para longe as lágrimas, Jessica viu que a cor normal da grama tinha voltado. Mas apenas uns poucos segundos do gramado parecendo verde e vivo, então o azul frio correu de volta, como uma gota de tinta preta espalhada em um copo de água.

Sua cabeça ainda martelava, e Jessica pensou em eclipses, em que o sol era escurecido, mas ainda poderoso, cegando pessoas que inadvertidamente olhavam para ele. Uma imagem posterior de uma imensa lua queimava em seus olhos, mudando os tons da rua inteira. Vislumbres de cores normais - verdes, amarelos, vermelhos - piscavam nos cantos de sua visão. Então lentamente sua dor de cabeça diminuiu, e os calmos tons de azul se assentaram sobre a rua de novo.

Jessica olhou para a lua de novo e com um lampejo de compreensão viu a sua verdadeira cor: uma escuridão brilhante, um negridão árida, um absorver de luz. A luz azul neste sonho não vinha dos objetos em si mesmos, como ela tinha pensado primeiro. E ela não vinha diretamente da lua gigante acima. Antes, o frio azul sem vida era uma sobra, o último remanescente de luz que se mantinha perante a lua escura, que tinha drenado todas as outras cores do espectro.

Ela se perguntou se a lua - ou o sol negro, ou estrela, ou seja lá o que isso fosse - tinha estado no céu no último sonho, escondido entre as nuvens. E o que ele significava? Até o momento Jessica tinha pensado que estes sonhos eram a adição de algo. Mas este era bizarro.

Um uivo veio rua abaixo.

Jessica girou em direção ao som. Era o gato de novo, desta vez guinchando na estridência de um macaco. Ele estava no fim da rua, olhando para ela.

"Você de novo?", ela disse, estremecendo com o som. "Você é muito estridente para um gatinho pequeno."

O gato guinchou uma vez mais, quase soando como um gato agora. Um infeliz. Lá fora, na luz da lua seus olhos lampejavam em índigo e seu pelo era ainda mais enegrecido, tão rico e escuro quanto o céu vazio da noite.

Ele guinchou de novo.

"Tudo bem, eu estou indo", Jessica murmurou. "Não jogue toda disfunção mental e física em mim."

Ela andou após a criatura. Ela a esperou até que teve certeza de que a estava seguindo, então caminhou. Enquanto eles caminhavam, ele ficou olhando por cima de seu ombro para ela, fazendo guinchos e arfares ou ruídos rosnando. Ele ficou bem à frente, muito assustado por Jessica para deixá-la se aproximar, mas tomando cuidado para não a perder de vista.

O gato a guiou através de um outro mundo vazio. Não havia nuvens no céu, sem carros ou pessoas, apenas a vasta lua lentamente se elevando. As luzes da rua estavam escuras, exceto pelo brilho azul uniforme que vinha de tudo. As casas pareciam abandonadas, e um silêncio mortal pairava sobre elas, perfurado apenas pela estranha variação de barulhos do gato ansioso.

Primeiro, Jessica reconheceu algumas das casas de sua rota para a escola, mas a vizinhança parecia estranha nesta luz, e ela rapidamente esqueceu quantas voltas ela e o gato tinham tomado.

"Eu espero que você saiba para onde nós estamos indo." Ela falou para o animal.

Como se em resposta, ele parou e farejou o ar, fazendo um som gorgolejante quase como uma pequena criança humana. Sua cauda estava em pé no ar, balançando nervosamente de um lado para o outro.

Jessica se aproximou do gato lentamente. Ele se sentou no meio da rua, tremendo, os músculos debaixo do pelo contorcendo com pequenos espasmos.

"Você está bem?" Jess perguntou.

Ela se ajoelhou próxima a ele e pôs uma mão nele cuidadosamente. Ele virou para ela com selvagens olhos frenéticos, e Jessica a removeu.

"Ok. Sem toques."

Seu pelo estava ondulando agora, como se houvessem cobras rastejando sobre sua pele.

As pernas do gato curvaram-se firmemente contra seu corpo estremecendo, sua cauda estirada rigidamente atrás.

"Oh, pobre coisinha." Ela olhou ao redor, instintivamente procurando por ajuda. Mas é claro que não havia nenhuma.

Então a mudança começou a intensificar.

Enquanto Jessica observa em horror petrificado, o corpo do gato ficou maior e mais fino, a cauda mais espessa, como se o gato estivesse sendo espremido para seu próprio rabo. Suas pernas estavam absorvidas dentro do corpo. A cabeça começou a encolher e achatar, dentes protuberando de sua boca, como se eles não pudessem se encaixar em sua cabeça mais. Ele se esticou mais e mais, até que finalmente a criatura era uma longa coluna de músculos.

Ele virou para encará-la, longas presas cintilando na luz da lua negra.

Ele tinha se tornado uma cobra.

Seu pelo preto lustroso ainda brilhava, e ele ainda possuía os grandes e expressivos olhos de um mamífero, mas isso era tudo o que foi deixado do gato que ela tinha confiantemente seguido até aqui.

Ele piscou seus olhos de gato e sibilou, Jess foi finalmente libertada de seu terror paralisante. Ela gritou e se arrastou para trás com suas mãos e pés. A coisa ainda estava tremendo, como se não estivesse ainda totalmente em controle de seu novo corpo, mas seu olhar a seguiu.

Jessica saltou em pé e se afastou ainda mais. A criatura começou a se contorcer agora, torcendo-se em círculos e fazendo terríveis barulhos que soavam entre um sibilar e um gato sendo estrangulado. Ele soava como se o gato estivesse dentro da cobra, tentando lutar para sair.

Um calafrio passou pelo corpo inteiro de Jessica. Ela odiava cobras. Afastando seu olhar da criatura, ela freneticamente procurou pelas casas ao redor, tentando se lembrar de onde ela estava. Ele tinha que ir para casa e voltar a dormir. Ela já tinha tido o suficiente deste sonho. Tudo nele se transformava em algo horrível e chocante. Ela tinha que terminar o pesadelo antes que ele ficasse pior.

Então, outro sibilar veio de detrás dela, e o coração de Jessica começou a pular.

Pretas, quase formas invisíveis, deslizavam da grama para a rua em torno dela. Mais cobras, dezenas delas, todas como a criatura que ela tinha seguido até ali. Elas tomaram suas posições em círculo, ao redor dela.

Num momento ela estava cercada.

"Eu não acredito nisso." Ela disse alto, lenta e claramente, tentando fazer das palavras verdade.

Ela deu uns poucos passos em direção de onde ela tinha pensado que estava a sua casa, tentando não olhar para as formas deslizando na rua em seu caminho. As cobras sibilavam e se afastavam nervosas. Como o gato, elas estavam desconfiadas dela.

Por um louco momento Jessica se lembrou do sermão de sua mãe sobre animais selvagens antes deles terem deixado a cidade. "Lembre-se, eles estão mais assustados que você está por eles."

"Sim, certo", ela murmurou. Não havia espaço em um cérebro de cobra para o quanto ela estava assustada.

Mas ela se manteve andando, dando lentos e deliberados passos, e as cobras abriam espaço para ela. Talvez elas estivessem realmente muito mais assustadas do que ela estava.

Mais uns poucos passos, e ela estaria fora do círculo. Ela caminhou rapidamente, até que ela tinha deixado as cobras na metade de uma quadra para trás.

Ela se virou e falou. "Não me admira que vocês sejam do mesmo tipo. Vocês são uns covardes."

O novo som veio de detrás dela.

Era um profundo rugir, como um trem se elevando enquanto passava a uma quadra a distância de sua velha casa. Jessica não tinha só ouvido como sentido ele através das solas de seus pés.

O som pareceu viajar por sua espinha antes que ele se partisse em um audível rosnar.

"O que é agora?" ela disse, se virando.

Ela congelou quando o viu no fim da rua.

Ele parecia como o gato, mas muito maior, seus ombros quase da altura do nível dos ombros de Jessica. Seu pelo negro ondulando com grandes músculos, como se uma centena de cobras rastejassem sob o revestimento meia noite.

Uma pantera negra. Ela se lembrou da história de Jen na biblioteca, mas esta criatura não parecia como se tivesse escapado de algum circo.

Jessica escutou as cobras atrás dela, um coro crescente de sibilares. Ela se virou para olhar para trás dele. As formas negras se contorcendo estavam se agitando, como se reunindo em direção ao gato.

Eles não pareciam mais ter medo dela.


8

12h:00min da madrugada

GRUPO DE BUSCA

 

"Algo ruim está acontecendo."

As palavras de Melissa foram faladas suavemente e preencheram o silêncio da hora azul, como um sussurro urgente. Dess olhou para a extremidade do ferro velho onde seus amigos estavam. Os olhos de Melissa captaram a luz da lua da meia-noite. Rex, como sempre, pairava perto dela, focado em seu próprio mundo.

Dess esperou por mais, mas Melissa apenas olhava para o céu, escutando com todo seu ser, provando o ar inerte.

Dess deu de ombros e retornou seu olhar para o chão, examinando a pilha de metal que Rex tinha pegado para ela. De acordo com ele, todos eles eram intocados por mãos humanas. Se ele estivesse certo esta noite, havia a possibilidade de um sério conflito, e ela iria necessitar de aço limpo para trabalhar.

É claro, Rex poderia estar errado. Não parecia uma noite ruim para Dess. Sexta, 5 de setembro, o quinto dia do nono mês. A combinação de nove e cinco não era particularmente desagradável: os números faziam quatro, quatorze ou quarenta e cinco (quando subtraídos, adicionados ou multiplicados) que era um tipo de padrão bonito, se você gostasse de quatros, o que Dess gostava, mas dificilmente eram perigosos. Principalmente, "c-i-n-c-o-s-e-t-e-m-b-r-o" soletrado tinha treze letras, que era tão seguro quanto qualquer número deveria ser. O que havia para se preocupar sobre isso?

Mas Rex estava preocupado.

Dess olhou para cima. A lua negra parecia normal, surgindo como sempre em seu ritmo habitual e resplandecente com sua habitual linda luz azul pálida. Até agora, Dess não tinha escutado sons de nada grande vagando. Nem tinha visto muitos slithers. Nem um único, na verdade, nem mesmo no canto de seu olho.

Isso era estranho, na verdade. Ela olhou ao redor no ferro velho. Havia carros enferrujando, um enrugado barraco de ferro achatado por algum tornado antigo, e um pilha de pneus misturados - vários lugares para deslizar por debaixo e observar deles, mas nem uma centelha de movimento em nenhum lugar. E nem mesmo quando eles não podiam ser vistos, os silvos e chamados dos slithers eram geralmente audíveis. Mas nenhum dos carinhas estavam observando esta noite.

"Quase quieto demais", ela disse para si mesmo em um sotaque de vilão.

Do outro lado do ferro velho Melissa gemeu, e apesar do constante calor da hora azul, um arrepio atravessou Dess.

Era hora de começar.

Ela se agachou e começou a separar através dos pedaços de metal, procurando por um aço brilhante não corrompido pela ferrugem. Inoxidável era melhor, sem pintura e brilhante. As formas torcidas e irregulares de metal também representavam uma parte em seu processo de seleção. O longo percurso da fábrica até o ferro velho tinha alterado alguns pedaços para certas proporções, pequenas hastes com elegantes proporções de comprimento e espessura, marcados por velhos parafusos com harmoniosos espaços entre seus denteados. Dess organizou seus achados, feliz. O aço vinha à vida, aqui na hora azul. Ela viu as veias iridescentes do raio do luar atravessar o metal e então desaparecer, como se o aço fosse refletido em um show de fogos de artifício no céu pálido acima.

Enquanto ela escolhia os pedaços de metal, Dess trazia cada um para sua boca e soprava um nome nele.

"Atraentemente{6}."

Alguns dos pedaços grandes eram bonitos, mas ela precisava ser capaz de carregar todos eles facilmente, possivelmente enquanto corria para se salvar. Ela selecionou uma pequena, mas perfeita anilha, rejeitando um pesado cano longo.

"Ardorosamente{7}", ela sussurrou para ele.

Palavras tropeçavam através de sua cabeça, algumas que ela nem mesmo sabia o significado, pedaços de uma linguagem que tinha prendido em sua mente, por causa dos números, ou do arranjo de suas letras. Palavras não eram realmente seu negócio, exceto quando elas colidiam com números e padrões, como se esticando através de um jogo de tabuleiro{8} para conseguir uma pontuação de palavras tripla.

O que ela queria esta noite era bastante óbvio: palavras com treze letras para aumentar o poder destas peças de aço.

"Fossilizações{9}", ela nomeou um longo e fino parafuso, a rosca que girava exatamente trinta e nove vezes ou redor de seu eixo.

O ranger das botas de Rex vieram bem por trás dela. Ela não tinha escutado ele se aproximar, perdida como estava nos prazeres do aço.

"Se você fosse um slither, você teria me mordido", ela murmurou. As coisinhas nojentas não mordiam exatamente, é claro, mas próximo o suficiente.

"Melissa a encontrou", Rex disse.

Dess levantou uma velha calota para perto de seus lábios.

"Hipocondríaco", ela sussurrou para ela.

"Pronta?" Rex perguntou.

"Sim. Todas essas coisas estão armadas."

"Vamos lá então."

Ela se levantou, apertando a calota em uma mão e derrubando os pequeninos pedaços de metal em seus bolsos. Rex se virou e correu para a extremidade do ferro-velho, onde suas bicicletas estavam guardadas. Ele pulou na sua e pedalou atrás de Melissa, que já guiava na estrada em direção à cidade. È claro, Dess pensou. Jessica Day era uma garota da cidade. Seus pais podiam arcar em viver cercados, longe dos desertos e dos cheiros das plataformas de petróleo e dos animais atropelados nas estradas.

Dess caminhou calmamente e puxou sua bicicleta, montou nela, e começou a pedalar atrás dos dois. Ela não tinha pressa. Melissa podia se mover tão rápido sem perder seu caminho, enquanto ela cuidadosamente sentia os fios estremecidos na tênue teia psíquica da meia-noite. E mesmo com a droga de suas velocidades constante, Dess podia superar os dois em uma corrida. Não seria nenhum problema alcançá-los antes do começo dos fogos de artifício.

Ela só esperava que isso não fosse um procurar cabelo em ovo. Um sintoma da paranóia-de-começo-de-ano de Rex. Claro, havia um novo midnighter na cidade, mas isso tinha acontecido antes, e as consequências não tinham sido exatamente um fim do mundo.

Embora Rex tivesse parecido bastante assustado ao telefone. Então Dess tinha calçado sapatos confortáveis. Sapatos de corrida.

A calota sacudia satisfeita na cestinha da bicicleta de Dess. Ela sorriu. O que quer que haja lá fora, ela não teria que fugir rapidamente. O peso confortante do metal tinia pesadamente em seus bolsos, e Dess sabia, sem contar, quantas armas ela tinha feito esta noite.

"Treze da sorte", ela disse.

Eles se aproximaram mais da cidade, os grandes espaços vazios de lotes vagos e novos desenvolvimentos dando lugar a shoppings, postos de gasolina e, é claro, sua loja favorita: 7-eleven, uma fração também conhecida como zero ponto meia três, meia três repetido ao infinito. À frente, Melissa estava indo mais rápido agora, não mais sentindo seu caminho, aparentemente certa da direção. Alguma coisa hoje a noite estava realmente emitindo más vibrações. Dess pedalou um pouco mais, desviando sua bicicleta dos ocasionais carros imóveis que cortavam a estrada.

Rex estava bem atrás de Melissa, para ter certeza de que ela não bateria em um carro enquanto ela tinha seu nariz no ar. Melissa era muito mais funcional aqui na hora azul, mas Rex ainda pairava. Oito anos como babá era um hábito difícil de se quebrar.

Dess viu a forma no céu. Silencioso e planador - um slither alado. Contra a lua quase totalmente cheia ela podia ver os dedos em uma asa. Como um morcego, a asa do slither era realmente uma mão: quatro longos ossos de dedos articulados espalhados como amortecedores, com uma pele fina de papel membranosa entre elas.

O slither fez um gorjear, um ruidinho estrangulado que soava como um último grito de um rato esmagado.

Respostas soaram. Havia mais deles lá em cima, um bando inteiro de doze. Eles estavam indo na mesma direção, como Dess e seus amigos.

Dess engoliu em seco. Era provavelmente uma coincidência. Ou talvez os carinhas estivessem saindo para um passeio. Havia sempre alguns ao redor, curiosos sobre a pequena tribo de humanos que visitava a hora azul. Eles geralmente não davam problema.

Ela olhou para cima. Outro bando tinha se arrastado para se juntar ao primeiro grupo. Ela contou as escuras formas translúcidas numa olhada: Vinte e quatro deles agora.

Dess começou a contar alto para acalmar seus nervos. "Uno, dos, três..." Ela sabia como contar em vinte e seis línguas e estava aprendendo um pouco mais. Os sons rítmicos das palavras numeradas a tranquilizavam, e ela sempre descobria os diferentes modos de lidar com o divertimento dos adolescentes espertinhos.

Ela trocou nervosamente para o inglês antigo. "Ane, twa, thri, feower, fif..."

O quinto de setembro. Nada grande estava acontecendo esta noite. Ela tinha certeza. Nove mais cinco eram quatorze, e era o 248º dia do ano, e dois mais quatro, mais oito também faziam quatorze. Não tão bom quanto treze, mas não havia nenhum carma ruim. Havia ainda mais formas no céu. Seus chamados vieram zombeteiramente de todas as direções.

"Um, deux, trois, quatre." Ela mudou para o francês, contando alto para abafar os slithers.

Dess decidiu ir até os oitenta, que era quatro vintes em francês. "Cinc, six, sept..."Sept!" ela disse alto, freando sua bicicleta até parar.

Sept significava sete em francês e em um punhado de outras línguas também. (Um septagono tinha sete lados, seu cérebro inutilmente informou para ela) Sete como em setembro. Ela relembrou agora - de volta aos velhos tempos, a centenas de anos atrás. Setembro tinha sido o sétimo mês, não o nono.

O quinto de setembro tinha sido uma vez, o quinto dia do sétimo mês.

E sete mais cinco eram doze.

"Oh, merda", Dess disse.

Ela se levantou de seu assento na bicicleta, empurrando seu pé direito com força contra seu pedal enquanto ela puxava o guidão, se esforçando para colocar a bicicleta em movimento de novo. Melissa e Rex estavam a caminho, muito longe à frente. Em uma noite séria dessas, ela e suas armas deveriam estar liderando o grupo.

Um longo grito penetrante soou acima dela, e outra palavra de treze letras veio espontaneamente na cabeça de Dess.

"Aterrorizante", ela sussurrou e continuou a pedalar.


9

12h:00 da madrugada

RUGIR

 

A pantera negra rosnou de novo.

O som veio alto o suficiente para impelir Jessica para trás, mas seus pés estavam congelados no lugar. Ela esperou para se virar, correr, mas algum medo antigo tinha tomado seus músculos, os deixando paralisados. Era o medo das enormes presas do felino, de seu rosnar faminto, da fina linha cruel da língua rosa que agitava de sua mandíbula.

"Sonhando ou não", Jessica disse suavemente. "Ser comido seria uma droga."

Os olhos da besta piscaram o roxo brilhante ao luar. Sua boca começou a torcer e mudar de forma, as duas longas presas se estendendo até que elas fossem tão longas quanto facas. Ele se agachou, se reunindo em um monte de músculos, cabeça baixa e calda levantada, como um corredor se preparando para começar uma corrida. Seus músculos tremeram, a patas enormes no chão. O arranhar das garras raspando o asfalto alcançaram os ouvidos de Jessica, enviando calafrios em sua espinha. Quando o gato saltou em direção a ela, ele veio de repente tão certeiro e rápido quanto uma flecha.

No momento que ele se moveu, Jessica tinha se libertado de seu feitiço. Ela se virou e correu para trás em direção as cobras.

Seus pés descalços bateram dolorosamente contra o asfalto, e o arco de cobras estava ordenado de um lado ao outra da rua, diretamente em frente a ela. Então ela mudou para a lateral, para a suave faixa de grama. As cobras se moveram para bloqueá-la, deslizando para a alta grama sem corte em frente a uma desmoronada casa antiga. Jessica trincou seus dentes enquanto ela corria, imaginando afiadas presas picando as solas de seus pés a cada passo. Quando ela alcançou o ponto onde ela imaginou que as cobras estariam, Jessica se lançou em um grande salto. O ar correu ao redor dela, e o salto pareceu carregá-la incrivelmente longe. Ela saltou mais duas vezes, dando passos delimitados, até que ela alcançou a margem da próxima garagem.

Jessica tropeçou dolorosamente no concreto enquanto ela aterrissava, mas ela conseguiu se manter correndo. As cobras estavam definitivamente para trás dela agora, e ela percebeu com alivio que não tinha sido mordida. Mas os passos da pantera negra estavam ainda se aproximando. Ela podia ser rápida neste sonho, mas a criatura atrás dela era mais rápida.

Imagens de um milhão de determinadas naturezas passaram por sua cabeça: grandes felinos pegando suas presas, agarrando gazelas com seus dentes e as desentranhando com garras selvagens que cortavam como lâminas de um liquidificador. Chitas eram os animais mais rápidos do mundo; panteras provavelmente não estavam muito atrás. Não havia jeito que ela pudesse vencer a besta em uma linha reta. Mas ela recordou como um antílope escapava de chitas: por giros e curvas, que o mais pesado e menos ágil dos gatos ultrapassava e tropeçava ao chão, antes que eles pudessem se corrigir para outro ataque.

O problema era, Jessica não era um antílope.

Ela arriscou um olhar por sobre seu ombro. A pantera estava só a uma pouca distância atrás, terrivelmente enorme de perto. Jessica se dirigiu a um salgueiro em frente à próxima casa, uma imensa árvore velha que encobria o jardim inteiro. Ela fez contagem regressiva do cinco, enquanto corria para ela, escutando os passos do gato rasgando a grama cada vez mais perto.

No um, Jessica se jogou para o chão, atrás do velho tronco.

O salto da pantera foi parar acima dela, uma sombra escura escondendo a lua gigante por uma fração de segundo. Um som rasgante veio com o vento na passagem da criatura, como se o ar por si mesmo tivesse se fendido.

Jessica levantou sua cabeça. O grande gato estava lutando para parar na próxima garagem, suas patas traçando um assustador chiado no asfalto. Então ela identificou as marcas a centímetro de seu rosto e engoliu em seco. O tronco da árvore sofreu três longos cinzelados cruéis, pouco acima de onde sua cabeça tinha estado, a madeira recém exposta, branca por um momento, antes que a lua borrasse com seu azul.

Ela ficou em pé e correu.

Havia uma estreita lacuna entre as duas casas, um canal de mato alto e formas escuras. Jessica se arremeteu instintivamente para o espaço estreito. Ela caiu na grama alta, pulando a forma enferrujada de um velho cortador de grama apoiado contra a parede, então tropeçou em uma parada.

No final da lacuna havia uma cerca de arame.

Jessica correu em direção a ela. Não havia nenhum lugar mais para se ir.

Ela pulou tão alto quanto podia, dedos se enganchando na trama de metal, puxando-se para cima. Seus pés lutando para se içar, dedos dos pés agarrando melhor do que sapatos, mais muito mais dolorosamente. Pelo menos a cerca era nova, o metal liso e livre de ferrugem.

Enquanto Jess subia, ela podia ouvir a respiração estrondosa da pantera gigante atrás dela, reverberando entre as duas casas. A criatura se empurrou através do mato alto com barulho da corrida, como vento nas folhas. Ela alcançou o topo da cerca e oscilou, vindo de repente, a ficar cara a cara com seu perseguidor.

A besta estava só a pouco mais que alguns metros de distância. Seus olhos presos aos dela. Naquelas profundas piscinas de índigo, Jessica pensou ter reconhecido uma inteligência antiga, remota e cruel. Ela sabia absolutamente, além de qualquer argumento, que este não era um mero animal; ele era algo muito pior.

Exceto, é claro, que isto tinha sido um sonho: aquele puro mal a olhando de volta, estava tudo em sua cabeça.

"Psicossomatismo." Ela sussurrou suavemente.

A criatura levantou uma pata enorme para golpear os dedos agarrados de Jessica, ainda expostos através dos buracos na cerca. Ela soltou seu aperto e se empurrou para trás. Enquanto ela caia, uma chuva de fagulhas azuis explodiu à sua frente, iluminando as presas brilhantes do gato e com as casas se elevando em ambos os lados. A cerca inteira pareceu pegar fogo, fogo azul correndo ao longo de cada centímetro do metal. O fogo pareceu repuxar para tocar a besta, girando para dentro, em direção as longas garras emaranhadas por um momento entre os elos.

Então a criatura deve ter se libertado; o mundo ficou escuro.

Jessica bateu no chão suavemente, sua queda amortecida pela grama mal cuidada. Ela piscou cegamente; a trama da cerca estava queimada em sua visão, deslumbrantes formas de diamante azul formando tudo que ela via. O cheiro de pelo chamuscado quase a tinha feito sufocar.

Ela olhou para suas próprias mãos espantada. Elas não se machucaram, exceto pelas marcas vermelhas triangulares de se suspender. Se a cerca tinha estado eletrificada, por que ela não tinha a queimado como tinha feito com o gato? Não havia faíscas agora, exceto os ecos em sua visão, e a cerca tinha um buraco diante dela. Ela estava surpresa que a pantera não tivesse rasgado ela abaixo com um único golpe de sua pata.

Jessica espreitou através do metal por seu perseguidor, piscando para clarear a visão. A pantera estava sacudindo sua cabeça em confusão, se afastando para a extremidade da lacuna, ligeiramente mancando. Ela ergueu uma pata e a lambeu, a língua rosa serpenteando entre os dois dentes longos. Então os olhos cor de índigo se prenderam em Jessica. A inteligência fria ainda estava lá. O gato se virou e caminhou para fora da vista. Ele estava procurando por outro caminho.

O que quer que a cerca tenha feito a pantera, ela estava grata. A besta podia ter pulado a cerca, que não era mais que dois metros e meio de altura, mas as faíscas tinham assustado ela.

Entretanto sua trégua não duraria muito. Ele tinha que se mover. Jessica rolou sobre suas mãos e joelhos e começou a se levantar.

Um som sibilado veio do chão em frente a ela. Através da grama alta ela vislumbrou dois olhos roxos piscando ao luar.

Sua mão veio em frente de seu rosto na hora certa. Um tiro frio a atravessou, da palma ao cotovelo, como se longas e geladas agulhas tivessem sido empurradas profundamente em seu braço. Jessica saltou de pé e se afastou de onde a cobra tinha estado se escondendo.

Seus olhos se esbugalharam com o medo, enquanto ela olhava abaixo para sua mão.

A cobra tinha atacado pelos filamentos negros que se envolvia ao redor de seus dedos e pulsos, sua mão presa por um frio se espalhando. Os filamentos vieram da boca da cobra, como se sua língua tivesse se dividido em uma centena de fios negros, e giravam fortemente ao redor dela. O frio estava se movendo lentamente de seu braço em direção ao seu ombro.

Sem pensar, Jessica agitou a cobra contra a cerca. Os elos da cadeia se iluminaram de novo, embora muito menos explosivos do que quando o gato tinha a atingido. Um fogo azul se atirou em direção a sua mão, então correu abaixo pelo comprimento da cobra. A criatura se inchou por um momento, sua lustrosa pele negra ficando em pé. Os filamentos desfilados, e a cobra caiu sem vida no chão.

Jessica se inclinou contra a cerca, exausta.

O metal era quente e pulsante contra suas costas, como se o aço tivesse se tornado vivo. Sensibilidade correndo de volta dentro de seu braço dolorosamente, junto com imaginários alfinetes e agulhas, como o sangue retornando, depois dela ter dormido sobre ele a noite toda.

Jessica afundou com o alívio, deixando o metal apoiar seu peso por um momento.

Então do canto de seu olho, ela viu movimento. Havia uma estreita lacuna na cerca, como um cachorro cavaria. Mais cobras estavam vindo através dela.

Jessica se virou e correu.

O quintal desta casa era pequeno, cercado de cercas altas. Ela poderia estar segura da pantera com elas, mas na grama sem corte as cobras podiam se esconder em qualquer parte. Ela subiu pelo portão fechado na parte de trás, largando-se para o chão em um beco estreito pavimentado.

O grande gato tinha ido pelo caminho que Jessica tinha vindo, então ela correu abaixo no beco, na direção oposta. Ela se perguntou como ela chegaria em casa.

"Só um sonho", Jessica se lembrou. As palavras não trouxeram a ela nenhum conforto.

A adrenalina em seu sangue, a dor aguda em seus dedos da subida nos elos da cerca, seu coração martelando em seu peito - a experiência toda parecia absolutamente real.

O beco dava para uma estrada larga. Uma placa de rua estava na próxima esquina, e Jess correu em direção a ela, lançando seus olhos ao redor a procura da pantera.

"Kerr e Division", ela leu. Aquele era o caminho para a escola. Ela não estava tão longe de casa. "Se eu puder passar pelas cobras peludas e o predador gigante, eu estarei bem", ela murmurou, "sem problema."

A lua estava totalmente cheia agora. Ela estava se movendo muito mais rápido do que o sol fazia durante o dia, Jessica percebeu. Parecia muito como por meia hora, desde que seu sonho tinha começado. Ela viu quão grande a lua estava agora. Ela preenchia tanto do céu que só um risco do horizonte permanecia visível em torno dela. O enorme volume suspenso acima fazia o mundo parecer menor, como se alguém tivesse posto um teto no céu.

Então Jessica viu as formas contra a lua.

"Ótimo", ela disse. "Tudo o que eu precisava."

Havia criaturas aladas de alguma espécie. Elas pareciam como morcegos, suas asas corpulentas e translúcidas, lentamente planando, ao invés de batendo elas. Elas eram mais largas que a de morcegos, embora seus corpos mais compridos, como se um bando de ratos tivesse asas brotadas.

Vários deles giraram acima dela, fazendo baixos sons de gorjeio.

Eles tinham localizado ela? Eles estavam, como tudo o mais neste sonho, à caça de Jessica Day?

Olhar para a esfera escura estava dando a Jessica dor de cabeça de novo, fazendo ela se sentir presa numa armadilha em sua luz absorvente. Ela virou seus olhos para a terra, procurando a pantera enquanto ela corria em direção a sua casa.

As formas voadoras içaram acima, seguindo-a.

Não demorou muito para que ela sentisse o estrondoso rosnar da pantera de novo.

A forma negra deslizou para a placa em frente a ela, a poucas quadras a distância, diretamente entre Jessica e sua casa. Ela se lembrou da inteligência nos olhos da pantera quando tinham se encarado um ao outro, através da cerca. O gato parecia conhecer onde ela vivia e como a impedir de chegar lá. E suas amiguinhas deslizantes estavam provavelmente já em formação para prevenir qualquer escapada.

Era desesperador.

A criatura começou a caminhar em direção a ela, não rompendo em seu passo máximo desta vez. Ele sabia agora o quanto rápida ela podia correr, e entendeu que tinha que ir só um pouquinho mais rápido para alcançá-la. Ela não ultrapassaria sua presa novamente.

Jessica olhou ao redor por um lugar para se esconder, qualquer lugar para escapar. Mas as casas aqui nas ruas principais eram mais afastadas, com grandes faixas de grama de cada lado. Não havia espaços apertados para se rastejar, sem cercas para subir.

Então ela viu sua salvação, a uma quadra na direção oposta da pantera. Um carro.

Ele estava situado imóvel no meio da rua, as luzes apagadas, mas ela podia ver que alguém estava dentro dele.

Jessica correu em direção a ele. Talvez quem quer que estivesse ao volante, pudesse levá-la em segurança, ou talvez a pantera não pudesse entrar no carro. Era a única esperança que tinha.

Ela olhou por cima de seu ombro para o gato. Ele estava correndo agora, ainda não a toda velocidade, mas rápido o suficiente para se aproximar a distância, com toda segurança. Jessica correu tão rápido quanto ela podia. Seus pés descalços doíam do bater no concreto, mas ela ignorou a dor.

Ela sabia que ela podia fazer isso até o carro.

Ela tinha que fazer.

A áspera respiração do gato e os passos alcançaram suas orelhas, os sons carregados como sussurros através do silencioso mundo azul, mais e mais perto.

Jessica se lançou para os últimos metros, alcançando o lado da porta do passageiro, e puxou a maçaneta.

Ela estava fechada.

"Você tem que me ajudar!", ela gritou. "Deixe-me entrar!"

Então Jessica viu o rosto do motorista. A mulher tinha cerca da idade de sua mãe, seus cabelo loiro e um leve franzir em seu rosto, como se ela estivesse se concentrando na estrada a frente. Mas sua pele estava tão branca quanto papel. Seus dedos imóveis apertados no volante. Como Beth, ela estava congelada, sem vida.

"Não!" Jessica gritou.

Um sibilo veio de debaixo. Cobras embaixo do carro.

Sem pensar, Jessica saltou para a capota.

Ela se virou para encarar a motorista através do para-brisa, os olhos vazios olhando de volta para ela como uma estátua.

"Não", Jessica soluçou, batendo no capô do carro.

Ela rolou para encarar a pantera, exausta e vencida.

A besta estava só há poucos passos de distância. Ela parou, rosnando, e as duas grandes presas brilharam no luar escuro. Jessica sabia que ela estava morta.

Então algo aconteceu.

Um minúsculo disco voador passou chiando por Jessica, em direção a pantera. O objeto deixou um rastro de faíscas azuis e ar eletrificado. Jessica sentiu seu cabelo se levantar, como se um relâmpago tivesse atingido por perto. Os olhos da pantera piscaram grandes e em pânico, refletindo o dourado ao invés do índigo.

O projétil explodiu em uma chama azul que se envolveu ao redor do gato gigante. A criatura girou e saltou para longe, o fogo se agarrando ao seu pelo Ele saltou para mais distante na rua, uivando uma mistura de dor - rugir de leões e pássaros atingidos, gatos sendo torturados.

A besta passou da placa em torno da esquina, seu lamento finalmente diminuindo em um odioso escárnio atormentado, como de uma hiena ferida.

"Wow", veio uma voz familiar, "O hipocondríaco matou o gato", as palavras sem sentido foram seguida por uma risadinha.

Jessica virou para encarar a voz, piscando as lágrimas e a descrença. A alguns metros distante, de algum modo invadindo seu sonho, estava Dess.

"Hey, Jess", ela chamou. "Como vai indo?"

Jessica abriu sua boca, mas nenhum som veio.

Dess estava montada em uma raquítica bicicleta velha, um pé descansando sobre o asfalto, o outro em um pedal. Ela usava uma jaqueta de couro sobre seu vestido preto de costume e estava lançando o que parecia uma moeda no ar.

Jessica ouviu um barulho sibilar de debaixo. Uns poucos riscos estavam ziguezagueando seu caminho em direção a Dess.

"Cobras", ela conseguiu coaxar.

"Slithers, na verdade." Dess disse, e jogou a moeda nas formas escuras.

Ela silvou no chão entre elas, levantando uma única fagulha azul brilhante, e com um coro de finos ruídos de guincho, as cobras escaparam de volta para debaixo do carro.

Mais duas bicicletas rolaram dentro da visão.

Elas eram guiadas pelos amigos de Dess da cafeteria. O garoto com os óculos grossos apareceu primeiro, só que ele não estava usando óculos agora. Seu longo casaco ondulando em torno dele enquanto ele parava, e ele estava sem fôlego. Então a outra garota que tinha estado na mesa de Dess, a quem Jessica nunca tinha conhecido, apareceu.

Jessica olhou para os três, inexpressivamente. Este sonho estava ficando cada vez mais estranho.

"Vocês são bem vindos", Dess disse.

"Cala a boca", o garoto disse, sem fôlego. "Você está bem?"

Levou um instante para Jessica perceber que a pergunta era dirigida a ela. Ela piscou de novo e acenou em silêncio. Seus pés doíam e ela estava ofegante, mas ela estava bem. Fisicamente, pelo menos.

"Claro, eu estou bem, eu acho."

"Não se preocupe com o gatinho psicótico; ele se foi por esta noite", Dess disse, procurando a pantera que se foi. Ela se virou para o garoto. "O que era, Rex?"

"Algum tipo de Darkling." Ele disse.

"Bem, não brinca", ela disse.

Ambos olharam para a outra garota. Ela balançou sua cabeça, esfregando seus olhos com uma mão. "Eu senti algo antigo, até mesmo talvez antes da Separação."

Rex assobiou. "Isso é velho, certo. Ele deve estar louco agora."

A garota concordou. "Não muito inteligente. Mas ainda engenhoso."

Dess derrubou sua bicicleta no chão e caminhou para onde o gato tinha estado. "O que quer que fosse, não foi páreo para o poderoso poder do Hipocondríaco."

Jessica se ajoelhou e arrancou um disco preto de metal do chão.

"Ai!" Dess passou ele de uma mão para a outra, sorrindo. "Ainda vivo."

Ele parecia com uma calota velha, enegrecida pelo fogo. Essa era o disco voador ofuscante há um minuto atrás?

Jessica sacudiu sua cabeça, confusa, mas lentamente se acalmando. Ela estava respirando uniforme agora. Tudo estava se movendo para um campo de sonho mais familiar: uma loucura total.

Rex descansou sua bicicleta na rua e andou para a lateral do carro. Jessica se encolheu um pouco diante dele, e levantou ambas as palmas.

"Está tudo bem", ele disse suavemente, "mas você provavelmente deveria sair do carro. Parece que está indo bem rápido."

"Vamos lá", Dess disse, olhando para o céu. "Ela está como um quarto minguante."

"Não é um bom hábito, Dess", ele disse. "Especialmente quando você é novo."

Ele ofereceu sua mão, Jessica olhou desconfiadamente para o chão, mas não haviam cobras aparentemente. Ela viu a mesma tornozeleira brilhante que Dess usava enrolada em torno das botas de Rex. A outra garota as tinha também, anéis de metal empilhados ao redor dos seus tênis negros.

Ela olhou para seus próprios pés descalços.

"Não se preocupe, os slithers se foram. "

"Eles partiram com um pouco do Ardorosamente."

Dess disse, dando risadinhas. Seus olhos estavam arregalados, como se o encontro com a pantera tivesse sido um emocionante passeio no parque de diversões.

Jessica ignorou a mão de Rex e deslizou para fora do capô do carro em direção a frente. Ela se empurrou do para-choque e deu uns poucos passos rápidos a distancia, espreitando as sombras debaixo dele. Mas as cobras pareciam ter desaparecido.

"Eu não ficaria em pé em frente a ele também", Rex sugeriu suavemente. Ele olhou para os pneus. "É provável que esteja indo a oitenta quilômetros por hora. "

Jessica seguiu o olhar dele e viu que os pneus não estavam redondos. Eles estavam ovais, comprimidos, fora de forma e ligeiramente inclinados à frente. Elas pareciam como as rodas em movimento que eram desenhadas nas revistas em quadrinhos. Mas o carro estava absolutamente imóvel. O motorista ainda usava exatamente a mesma expressão, alheia aos estranhos acontecimentos ao redor dela.

Rex apontou para a lua negra. "E quando aquele bad boy baixar, ele voltará ao movimento regular. Sem pressa como Dess disse, mas é bom manter isso em mente."

Algo na voz calma de Rex irritou Jessica. Possivelmente o fato de que nada que ele dizia fazia algum sentido.

Ela olhou para a lua. Ela ainda estava se movendo através do céu, rapidamente, quase no quarto minguante.

Um arfar veio dos outros três. Ela jogou seu olhar para eles. Eles olhavam de volta para ela.

"O que foi?" Jessica perguntou rispidamente. Ela já tinha tido o suficiente das esquisitices deles.

A garota cujo nome ela não sabia, deu um passo para mais perto de Jess, olhando de perto para seu rosto com uma expressão horrorizada.

"Seus olhos estão errados." A garota disse.


10

12h:00 da madrugada

MIDNIGHTERS

 

"Meus olhos estão o que?"

"Eles estão..." A garota deu um passo para mais perto, olhando dentro dos olhos de Jessica. Jessica levantou uma mão para seu próprio rosto, e a garota vacilou, como se com medo de ser tocada, então olhou acima no céu, com uma expressão intrigada.

"Quando seus olhos encontraram a lua", Jessica gritou. "Eles lampejaram em um índigo profundo, como o da pantera."

Jessica deu um passo para trás dos três. Aqueles olhos refletindo pertenciam aos gatos ou guaxinins, raposas, corujas ou coisas que caçavam no escuro. Não de pessoas. Os olhos da garota pareciam normais agora, mas depois daquele momentâneo reflexo, ela pareceu menos humana.

"Melissa está certa", Dess disse.

Rex silenciou as outras duas com um aceno de sua mão. Ele deu um passo se aproximando, olhando dentro dos olhos de Jessica com uma calma intensa.

"Jessica", ele disse, silenciosamente, "olhe para a lua, por favor."

Ela o fez só por uns poucos segundos, mas jogando seus olhos de volta para Rex, suspeita.

"Que cor ela é?", ele perguntou.

"Ela é..." Ela olhou acima de novo, dando de ombros. "Sem cor. E ela me dá dor de cabeça."

"Seus olhos estão errados", repetiu a outra garota, que Dess tinha chamado de Melissa.

Dess discordou. "Hoje ela disse que o sol não a incomodava. Eu disse que ela era totalmente do dia. Sem óculos escuros ou outra coisa."

"Do que por Deus vocês estão falando?" Jessica gritou de repente, surpreendendo a si mesma. Ela não quis gritar, mas as palavras tinham se arremessado por si mesmas.

Os olhares assustados nas caras dos outros eram de algum modo gratificante.

"Quero dizer -", ela falou apressadamente. "O que está acontecendo? Do que vocês estão falando? E o que vocês estão fazendo em meu sonho?"

Rex afastou-se e colocou suas mãos acima. Dess sorriu, mas se virou como se embaraçada Melissa inclinou sua cabeça.

"Desculpe", Rex disse. "Eu deveria ter dito a você: isto não é um sonho."

"Mas -" Jessica começou, mas suspirou, sabendo de repente que ela acreditava nele. A dor, o medo, a sensação do seu coração martelando em seu peito tinham sido bem reais. Isto não era um sonho. Era um alivio não ter que fingir para si mesma mais.

"O que é então?"

"Isso é a meia-noite."

"Como é?"

"Meia-noite", ele repetiu, lentamente. "São 12h:00 da madrugada. Desde que o mundo mudou de cor, isso tudo tem acontecido em um único momento."

"Um único momento..."

"O tempo para, para nós, a meia-noite."

Jessica espreitou através do para-brisa do carro a mulher congelada ao volante. O olhar de concentração em seu rosto, as mãos apertadas ao volante... ela parecia como se estivesse dirigindo, mas envolta em um instante congelado.

Dess foi a próxima a falar, sua voz sem seu costumeiro tom mal criado.

"Não há realmente vinte quatro horas no dia, Jessica. Há vinte e cinco. Mas uma delas está envolvida fortemente em outra para se ver. Para a maioria das pessoas ela passa em um instante. Mas nós podemos vê-la, viver nela."

"E o "nós" inclui "eu"?" Jessica disse silenciosamente.

"Onde você nasceu?" Rex perguntou.

"Huh? Você quer dizer por que eu sou de Leão?"

"Não, seu aniversário, a que horas do dia?"

Jessica ponderou a pergunta, se lembrando de quantas vezes sua mãe e seu pai tinham dito esta história.

"Minha mãe entrou em trabalho de parto a tarde, mas eu não nasci até trinta e poucas horas mais tarde. Não até a próxima noite."

Rex acenou. "Meia noite, para ser exato."

"Meia noite?"

"Claro. Uma a cada 43.200 pessoas nasce dentro do um segundo da meia noite."

Dess disse, sorrindo alegremente. "É claro, nós não temos exatamente certeza do quanto próxima você nasceu. E nós estamos falando da verdadeira meia noite aqui."

"Sim. Minha certidão de nascimento diz 1 da manhã." Melissa disse sombriamente. "Trabalho mal feito de dia, economiza tempo."

Rex olhou para a luz, seus olhos captando sua falta de luz com aquele inumano pestanejar. "Em muitas culturas acredita-se que aqueles que nascem no soar da meia noite, podem ver fantasmas."

Jessica assentiu. Aquilo na verdade soava familiar. Um daqueles livros piratas que ela tinha lido para Inglês no ano passado - Sequestrado? Ou a Ilha do Tesouro? - tinha sido sobre isso. Algum garoto que era para encontrar um tesouro por ver fantasmas de homens mortos enterrados com o ouro.

"A história real é um pouco mais complicada", Rex continuou.

"Eu diria", Jessica disse. "Se aquela pantera era um fantasma, nós sinceramente precisamos de novas decorações para o Halloween."

"Midnighters não podem ver fantasmas, Jessica", Rex continuou. "O que nós vemos é uma hora inteira secreta na hora azul, que foge de todos os outros."

"Midnighters", Jessica repetiu.

"Que é a palavra para nós. A meia noite é só nossa. Nós podemos perambular nela enquanto tudo o mais no mundo inteiro está congelado."

"Não tudo", Jessica disse.

"Verdade", Rex admitiu. "Os Darkling e slithers, e outras coisas, vivem na hora azul. Para eles o tempo azul é como a o dia e vice versa. Eles não podem entrar nas outras vinte e quatro horas, como a maioria dos humanos não podem entrar na vigésima quinta."

"Só os midnighters podem viver em ambas", Dess disse feliz.

"Yay", Jessica disse, "Eu estou emocionada."

"Vamos lá, você nunca quis ter uma hora extra no dia?" Rex perguntou.

"Não uma hora extra totalmente esquisita! Não uma extra, onde tudo tenta me matar! Não, eu não acho que sequer desejei por isso."

"Wow, você é tão dia", Melissa disse.

"Ok."

"E não se preocupe, Jessica. Nós iremos descobrir o que aconteceu hoje a noite. Nós vamos garantir que você esteja segura aqui."

Jessica olhou nos olhos de Rex, vendo a preocupação lá. Ele parecia confiante que pudesse descobrir o que quer que tenha dado errado. Ou talvez ele só estivesse tentando fazer ela se sentir bem. Era estranho. Mesmo apesar de que nada que ele dissesse fizesse sentido, Rex conseguiu soar como se ele soubesse do que estava falando. Aqui na hora azul ele estava ereto, e seus óculos grossos não escondiam seus calmos, olhos sérios. O cara parecia muito menos perdedor do que ele parecia de dia.

"Então, você não precisa de óculos realmente, precisa? É uma atuação, como Clark Kent?"

"Temo que não. De dia eu sou tão cego quanto um morcego. Mas aqui na hora azul eu posso ver perfeitamente. Melhor que perfeitamente..."

"Deve ser legal."

"Yeah. É ótimo. E eu posso ser mais que...", ele parou. "Nós explicaremos isso tudo amanhã."

"Ok."

Jessica olhou para os três. Dess circulando feliz com sua bicicleta, os olhos de Rex claros e confiantes, Melissa silenciosa, mas sem seus fones costumeiros e expressão de dor. Todos eles pareciam realmente gostar desta hora de meia noite.

É claro, por que eles não gostariam? Não parecia como se suas vidas fosse ótimas durante as horas do "dia". Aqui não havia ninguém para zoar com eles ou notar o quão estranhos eles eram. Por esta hora no dia, o mundo todo era seu clube privado.

E agora ela estava no clube. Legal.

Eles levaram Jessica direto para sua porta. Ela percebeu que a luz estava lentamente mudando. A lua negra estava quase se pondo, agora a maior parte escondida atrás das casas do outro lado da rua.

"Então vocês estão indo para casa?" Ela perguntou.

"O caminho de sempre. Durante a hora normal." Rex disse, montando em sua bicicleta e alcançando dentro do bolso de sua blusa. Ele puxou para fora seus óculos.

Jessica olhou ao redor, seus olhos procurando por qualquer sinal da pantera.

"E você tem certeza que essa coisa azul está quase acabando?"

"Acontece toda noite, tão habitual quanto o nascer do sol." Rex disse.

Jessica percebeu que eles deviam estar a quilômetros de suas casas. "E quanto ao toque de recolher? Quero dizer, todo mundo vai acordar, certo? E se a policia ver vocês?"

Melissa rolou seus olhos. "Nós temos lidado com o toque há anos. Não se preocupe com a gente."

"Mas nós deveríamos ir indo", Rex disse. "Você estará bem aqui, Jessica. E isso tudo fará mais sentido de manhã." Ele pedalou pela calçada e então para a rua. "Vemos você amanhã à tarde."

A bicicleta de Dess retiniu do outro lado do gramado. "Te vejo em 43.200 segundos, Jess", ela falou enquanto passava. "E calce sapatos da próxima vez!" Ela riu e pedalou para alcançar Rex. Jessica olhou abaixo seus pés descalços e teve que sorrir.

Melissa ficou por um instante mais longo, seus olhos se estreitando.

"Você não faz parte", ela disse suavemente, sua voz quase um sussurro. "Essa é a razão que o Darkling quis matar você."

Jessica abriu sua boca, então deu de ombros.

"Eu não pedi para ser um midnighter", ela disse.

"Talvez não", Melissa disse. "Não uma de verdade de qualquer modo. Algo sobre você é tão... 11h:59min. Você não pertence."

Ela se virou e pedalou para longe, sem esperar uma resposta.

Jessica encolheu os ombros. "Ótimo, a maioral dos esquisitos do clube dos esquisitos diz que eu não faço parte."

Ela se virou e foi para dentro de casa. Mesmo na estranha luz da lua negra, ela pareceu atraente, como ela nunca tinha antes. Simplesmente como lar.

Mas Jessica suspirou enquanto ela caminhava pelo corredor em direção a seu quarto. As palavras de Melissa ainda estavam com ela. O Darkling não tinha parecido como os animais selvagens para ela - mais como algo que a odiava com todo seu coração. O Slither tinha guiado ela para uma armadilha por que ele queria sua morte.

"Talvez Melissa esteja certa."

Esta hora azul não parecia como um lugar que era para estar. A luz estranha pulsava em cada canto da casa, assustadora e errada. Seus olhos doíam à uma hora nisso, como se ela estivesse prestes a chorar.

Jessica passou pela porta de Beth. Sua forma branca ainda estava lá, imóvel, espalhada sobre a cama em uma posição ansiosa.

Ela entrou e se sentou perto de sua irmã, se forçando a olhar, a esperar pelo fim da meia noite. Ela tinha que saber que Beth não estava morta. Se Rex tinha estado falando a verdade, ela era a única presa por um momento no tempo.

Jessica puxou o lençol ao redor do pescoço de sua irmã, e se estendeu para tocar a bochecha imóvel, estremecendo quando seus dedos encontraram sua superfície fria.

O momento terminou.

As caixas e cantos desbotados de volta da escuridão, não mais iluminados pela sua própria luz. As turvas luzes dos postes inclinaram-se através das janelas, fazendo sombras em ziguezague no piso bagunçado. O mundo parecia certo agora.

As bochechas de Beth ficaram mais quentes, e um músculo nela agitou levemente sob a mão de Jessica.

Seus olhos se abriram preguiçosamente.

"Jessica? O que você está fazendo aqui?"

As bochechas de Beth ficaram mais quentes, subitamente relembrando que uma Beth acordada poderia estar tão assustada quanto uma congelada.

"Hei, eu, hum, queria ter dizer uma coisa."

"O que? Eu estou dormindo Jessica."

"Eu só tinha que dizer que eu lamento por evitar você. Quero dizer, eu sei que é duro aqui", Jessica disse. "Mas... eu estou do seu lado, ok?"

"Oh, Jessica", Beth disse, se retorcendo, se afastando e se enrolando ainda mais nas cobertas. Então ela virou sua cabeça para olhar acusadoramente. "Mamãe te disse para fazer isso? É tão ridículo."

"Não, é claro que não. Eu só queria..."

"Ser a miss madura. Para mostrar o quanto tempo teria para mim, mesmo que você seja a miss popular daqui. Tanto faz. Obrigada por esse papo estimulante, Jess. Posso dormir agora?"

Jessica começou a responder, mas parou a si mesma e então teve que reprimir um sorriso, Beth estava de volta ao normal. Ela tinha descongelado da hora azul, sem nenhum dano visível.

"Durma enrolada", Jessica disse, indo para a porta.

"Yeah, sem percevejos debaixo da cama e tudo o mais." Beth se rolou irritada, puxando a coberta por cima de sua cabeça.

Jessica fechou a porta. Enquanto ela ficava sozinha no corredor, as últimas palavras de sua irmã rastejaram em torno de sua cabeça. "Não deixe os percevejos debaixo da cama te morderem", ela sussurrou.

Ela foi para seu próprio quarto e fechou bem a porta, de repente sentindo como se a hora azul não tivesse realmente terminado. A luz estava de volta ao normal, e o som do vento constante de Oklahoma tinha retornado, mas tudo parecia diferente para ela agora. O mundo que Jessica tinha conhecido - o mundo da noite e do dia, da certeza e razão - tinha sido completamente apagado.

Em outras vinte quatro horas o tempo azul viria novamente. Se Rex tinha dito a verdade, ele viria toda noite.

Jessica Day deitou em sua própria cama e puxou suas cobertas para cima até o seu nariz. Ela tentou dormir, mas com os olhos fechados, Jess sentia como se alguma coisa a mais estivesse em seu quarto. Ela se sentou e espreitou em cada canto, tendo a certeza mais e mais que nenhuma forma não familiar ocultava-se lá.

Era como ser pequena de novo, quando a noite era a hora do perigo, quando coisas viviam debaixo da cama, coisas que queriam a comer.

Havia coisas piores do que percevejos, e elas mordiam.


11

09:28 da manhã

MARCAS DA MEIA NOITE

 

Beth estava em boa forma na manhã seguinte, no café da manhã.

"Mãe, Jessica estava espreitando dormindo noite passada."

"Andando dormindo?"

"Não. Espreitando dormindo. Ela estava se arrastando pelo meu quarto, me espreitando enquanto eu estava dormindo."

Os pais de Jessica olharam para ela, levantando suas sobrancelhas.

"Eu não estava te espreitando", Jessica disse. Ela mergulhou seu garfo nos huevos rancheros - queijo e ovos - que o pai tinha feito, desejando que este tópico da conversa não rendesse muito. Ela deveria saber que Beth não se manteria calada sobre sua visita noite passada.

Quando Jessica olhou para cima, todos ainda estavam olhando para ela. Ela encolheu seus ombros. "Eu não conseguia dormir, então eu fui ver se Beth estava acordada."

"E para dar um pequeno discurso", Beth disse.

Jessica sentiu seu rosto corar. Sua irmãzinha sempre descobria instintivamente a rota para a vergonha máxima. Ela queria que cada fato desconfortável estivesse a par do conhecimento público. Cada momento embaraçoso precisava desesperadamente de seu comentário.

"Um discurso?" Seu pai perguntou. Ele se sentava do outro lado da mesa em uma de suas camisetas de dormir. A camisa estava adornada com o logotipo de alguma companhia de software que ele costumava trabalhar, as cores brilhantes apagadas. Seu cabelo estava bagunçado, e ele não vinha se barbeando há alguns dias.

A mãe estava comendo em pé, já vestida para trabalhar em um terninho, o colarinho de sua blusa cegantemente branco, em uma cozinha iluminada pelo sol. Ela nunca tinha se produzido esse tanto para trabalhar em Chicago, mas Jessica apostava que ela estava tentando impressionar seus novos chefes. A mãe nunca trabalhou no sábado antes, também.

"Por que você não podia dormir?"

Jessica percebeu que não tinha jeito de contar a verdade a ninguém. Antes que ela tomasse banho naquela manhã, as solas de seus pés tinham estado quase pretas, muito parecido com os pés de alguém que tinha caminhado um quilômetro no asfalto, descalço. Suas mãos ainda tinham apagadas marcas vermelhas nas palmas, e ela tinha uma escoriação na mão onde o slither tinha mordido.

É claro, havia ainda a reduzida chance que tudo isso tivesse sido um sonho, completo com a andança e escalada da cerca, dormindo. Ela estaria checando aquela possibilidade em algumas horas.

"Jessica?"

"Oh, desculpe. Eu acho que eu estou cansada hoje. Eu venho tendo esses sonhos esquisitos, desde que nos mudamos. Eles me acordam."

"Eu também." O pai disse.

"Sim, pai", Beth disse, "mas você não vem até meu quarto e me faz pequenos discursos."

Todos os três olharam para Jessica com expectativa. Beth sorrindo cruelmente.

Normalmente Jessica teria feito uma piada ou saído da sala, qualquer coisa para escapar da vergonha. Mas ela já tinha mentido sobre a razão de ela não poder dormir. Ela decidiu fazer as pazes no departamento da verdade.

"Eu só pensei em dizer a Beth", ela disse hesitante, "que eu sabia que se mudar foi duro para ela. E que eu estava aqui para ela."

"Isso é tão podre", Beth disse. "Mãe, diz a Jessica para não ser tão podre."

Jessica sentiu os dedos de sua mãe levemente na sua nuca. "Eu acho que isso foi realmente doce, Jessica."

Beth fez um ruído de ugh e escapuliu da cozinha com seu café da manhã. Os sons de desenhos animados vieram da sala de estar.

"Isso foi muito maduro da sua parte, Jess." O pai disse.

"Eu não fiz isso para ser madura"

"Eu sei, Jessica", a mãe disse. "Mas você esta certa - Beth precisa de nosso apoio agora mesmo. Continue tentando."

Jessica deu de ombros, ainda um pouco embaraçada. "Claro."

"A propósito, eu tenho que ir", a mãe diz. "Eu vou experimentar o túnel de vento esta tarde."

"Boa sorte, mãe."

"Tchau, queridos."

"Tchau", ela e seu pai disseram juntos.

No momento que a porta da frente tinha se fechado, eles levaram seus cafés da manhã para frente da tv. Beth patinou para um lado do sofá para Jessica, mas não disse uma palavra.

No primeiro intervalo dos desenhos, Beth pegou seu prato vazio para levá-lo, hesitou, e olhou abaixo para o prato de Jessica.

"Você terminou?"

Jessica olhou para cima. "Yeah..."

Beth se agachou e empilhou o prato de Jess com o seu próprio, então os carregou, sacudindo em suas mãos, para a cozinha.

Jessica e seu pai trocaram olhares surpresos.

Ele sorriu. "Eu acho que ser podre funciona às vezes."

Uma hora depois o pai decidiu ser o sr. Responsável. Ele ficou de pé e se alongou, então colocou a tv no mudo. "Então, vocês duas vão terminar a arrumação as malas hoje, certo?"

"Sim, claro", Beth disse. "Vai levar o dia todo."

"Nós deveríamos deixar alguma coisa pronta antes que sua mãe chegue em casa", o pai disse.

"Na verdade", Jessica disse, "eu tenho que ir a um museu no centro da cidade. O museu da era Clovis ou algo assim. Trabalho de casa."

"Trabalho de casa, já?", o pai perguntou. "Nos meus tempos eu não recebia nenhum trabalho na primeira semana. Nós só tínhamos que fazer um pouco o que queríamos por um tempo, então eles lentamente nos reintroduzia ao conceito de trabalho."

"Então não mudou muito para você, não é, pai?" Beth disse.

O pai deu seu novo suspiro derrotado. Ele não se colocava mais em um briga com Beth.

Jessica a ignorou. "De qualquer jeito, pai, não é muito longe. Eu acho que vou de bicicleta."

As ruas e a casa da noite passada ainda estavam lá, reconhecíveis a luz do dia. Ela olhou seu relógio. Sem chance de estar atrasada - ela ainda tinha uma hora para chegar ao Museu de Clovis.

Haviam tantas perguntas em sua mente. O que eram os Darklings e os slithers, e de onde eles vinham? Como Dess tinha assustado a pantera gigante com uma calota? Por que Jessica nunca tinha visto a hora azul antes de vir para Bixby? E a propósito, como Rex e suas amigas sabiam sobre essas coisas?

Jessica pedalou lentamente, retraçando seus passos por partes, onde tudo tinha acontecido na noite passada. A rota de sua casa para a rua onde ela tinha visto pela primeira vez a pantera era a parte mais vaga em sua memória. Ela tinha estado seguindo o gatinho-slither da Kerr e Division e, daqui, do local onde o carro congelado tinha estado.

É claro, ele se foi agora. Jessica tentou imaginar ele pulando de repente em movimento, enquanto a hora secreta terminava, a motorista calmamente continuando estrada abaixo, como se nada tivesse acontecido. Não havia marcas na rua, nenhuma calota queimada, nada para mostrar que uma luta tinha tomado lugar ali, há apenas onze horas atrás.

De lá ela traçou seu caminho de volta, se lembrando claramente do caminho que ela tinha feito enquanto a pantera a estava seguindo. Ela descobriu um beco estreito e foi por ele, para a cerca do quintal, que ela tinha escalado e escapado por ela. Jessica não ia escalá-la de volta durante o dia, e o pensamento de estar em pé no mato alto ainda fazia ela nervosa, então ela circulou em torno da rua para o outro lado da casa.

O velho salgueiro dominava a quadra, como um guarda-chuva gigante encobrindo o sol. Jessica desmontou e caminhou com sua bicicleta sobre o gramado malcuidado até a árvore. Na escuridão abaixo de sua sombra ela viu três riscos cinzelados no tronco, as marcas da pata da pantera gigante.

Sua pele formigou, enquanto ela traçava os cortes com um dedo trêmulo. Era mais do que um centímetro de profundidade, tão largo quanto seu polegar. Seu dedo voltou pegajoso. Ela brincou com o traçado de seiva entre seus dedos, percebendo que a árvore tinha sangrado ao invés dela.

"Desculpe por isso", ela disse suavemente ao salgueiro.

"Hei!"

Jessica pulou, procurando ao redor a voz.

"O que você está fazendo na minha grama?"

Ela viu um rosto na janela da casa decrépita, mal visível através da luz refletida da tela antimosquitos.

"Desculpe", ela falou. "Só olhando a árvore." Ok, Jessica pensou, aquilo soou esquisito.

Ela empurrou sua bicicleta de volta para rua e subiu nela, fazendo sombra em seus olhos com uma mão por um momento, enquanto ela olhava de volta. O rosto tinha desaparecido, mas Jessica reconheceu uma estrela de treze pontas na placa pregada perto da porta. Dess tinha estado certa: elas estavam em toda parte de Bixby.

E uma velha surgiu da casa, usando só um robe fino agarrado a sua frágil estrutura na brisa leve. Ela estava segurando alguma coisa contra o peito, um objeto longo e fino que brilhava ao sol.

"Fique longe da minha casa", a mulher gritou em uma voz maior que seu corpo minúsculo.

"Ok, desculpe." Jess começou a pedalar se afastando.

"E não volte hoje à noite também", um grito final a seguiu pela rua.

Voltar hoje à noite? Jess se perguntou enquanto ela pedalava. O que a velha queria dizer com isso?

Jessica balançou sua cabeça, olhando seu relógio. As marcas na árvore provavam que a hora secreta era real. Ela tinha que encarar o fato de que algo realmente tinha tentado matá-la noite passada. E ela tinha de descobrir um jeito de se proteger antes que a hora azul viesse de novo.

Jessica pedalou rápido em direção ao centro.

Ela odiava estar atrasada.


12

11h:51min da manhã

PONTAS DE FLECHAS

 

Enquanto eles se aproximavam do centro de Bixby, Rex pode sentir o carro desacelerando. Ele olhou para Melissa, cujas mãos apertavam o volante.

"Está tudo bem, vaqueira", ele murmurou. Ele tentou pensar com calma, esperando que isso ajudasse.

Não era um centro de verdade, como em Tulsa ou Dallas tinham, é só um punhado de cinco ou seis prédios que incluem a prefeitura, a biblioteca, e um par de prédios de escritórios. No sábado os locais comerciais estão vazios. Haveria umas poucas pessoas nas lojas caras na rua principal e alinhada para as apresentações no restaurado cinema dos anos de 1950. Só isso.

Mas lotado ou não, o centro da cidade estava situado bem no meio de Bixby, cercado por anéis de casas em expansão. Enquanto eles se aproximavam, a parte mais concentrada da população os circulou. Não era tão ruim quanto a escola, mas sempre levava um minuto ou mais para Melissa se ajustar ao acumulado peso daquelas mentes.

Logo seus nós dos dedos relaxariam ao volante.

Rex respirou fundo e se inclinou no seu assento.

Ele olhou para fora da janela, tirando seus óculos para olhar as placas.

Elas estavam lá. Um monte delas.

Normalmente elas eram bastante claras, tão afastado do deserto. Com seus óculos retirados, a cidade teria sido um grande borrão tranquilizador. Mas Rex podia ver marcas de visitantes em toda parte - uma casa que chamava a atenção com uma estranha claridade em relação a suas vizinhas, uma placa de rua que ele podia facilmente ler com olhos sem auxílio, um caminho deslizando do outro lado da rua que brilhava com o foco, as margens acentuadas que revelavam o toque de mãos não humana.

Ou patas, ou de barrigas rastejando.

Os sinais da meia noite estavam lá, onde eles não deveriam estar, movendo-se próximos em direção as brilhantes luzes do centro. Rex se perguntou o que os Darklings e seus amiguinhos queriam. Eles estavam testando seus limites? Crescendo em número? Mostrando um súbito interesse na humanidade?

Ou estavam procurando por alguma coisa?

"O que você acha que ela é, Rex?" Dess perguntou de seu banco na parte de trás.

"Talento para o conhecimento?" Ele encolheu os ombros. "Pode ser qualquer coisa. Pode ser outro gênio{10}?

"Nah", Dess disse. "Eu estou em trigonometria com ela, lembra-se? Ela é lerda. Sanchez teve que explicar as medidas radianas para ela três vezes esta semana."

Rex se perguntou o que eram medidas radianas. "Trigonometria não é na verdade parte da erudição, Dess."

"Ela será um dia", Dess disse. "Cedo ou tarde a aritmética vai perder a força. Como a obsidiana{11}."

"Isso foi há muito tempo atrás", Rex respondeu. Ele esperava, de qualquer modo, trigonometria estava bem além dele também. "De qualquer modo, Jessica acabou de chegar aqui. Ela poderia levar um tempo para encontrar seu talento."

"Por favor", Dess disse, "vocês me encontraram quando eu tinha onze, certo? Naquele tempo minha mãe e meu pai estavam me deixando fazer os impostos para eles. Jessica tem quinze anos, e ela não pode lidar com trigonometria da escola? Ela não é um gênio."

"Ela também não é uma telepata{12}." Melissa disse.

Rex olhou para sua velha amiga. Ao contrário do painel embaçado e passando ao fundo, o rosto de Melissa estava no perfeito foco de um midnighter. Sua expressão era de dor e suas mãos apertavam o volante de novo, como se o velho Ford estivesse passando por um ônibus lotado de crianças de cinco anos gritando.

"Provavelmente não", ele disse suavemente.

"Definitivamente, não. Eu poderia provar isso, se ela fosse."

Rex suspirou. "Não tem importância discutir sobre isso agora. Nós iremos descobrir o que ela é breve o suficiente. Ela pode ser uma vidente, pelo que sabemos."

"Hei, Rex, talvez ela seja uma acrobata", Dess disse.

"Sim, uma substituição", Melissa se juntou a isso.

Rex olhou para ela, então colocou seus óculos de volta. O rosto de Melissa era uma um pequeno borrão, enquanto o resto do mundo tomava forma, e ele se virou para olhar pela janela do carro.

"Nós não precisamos de um acrobata."

"Claro, Rex", Dess disse. "Mas um grupo completo não seria melhor?"

Ele deu de ombros, não mordendo a isca.

"Recuperar todos eles", Melissa adicionou.

"Olha", Rex disse rispidamente. "Há muitos mais talentos do que os quatro que nós temos visto, ok? Eu tenho lido sobre todo tipo de coisa, voltando há tão distante quanto a Separação."

"Ela pode não ser nada", Melissa disse.

Rex deu de ombros de novo e não disse outra palavra, até que eles alcançassem o museu.

O museu do período Clovis{13} de escavação era um prédio longo e baixo. A maior parte do museu era no subsolo, enterrado em um frio e escuro abrigo na terra vermelha de Oklahoma. Com sua única fileira de minúsculas janelas, ele parecia para Rex, como um daqueles abrigos que cientistas de foguetes encolhiam-se enquanto eles testavam algum novo míssil, que podia explodir a plataforma de lançamento.

Este era o primeiro final de semana do ano escolar, então o estacionamento estava quase vazio. Mais tarde poderia haver uns poucos turistas, e em um mês ou mais, as viagens escolares começariam. Cada estudante dentro de 160 quilômetros de Bixby fazia a visita pelo menos três vezes durante seu período escolar. Tinha sido na viagem de quinta série que Melissa e Rex tinham vindo pela primeira vez aqui e começado o processo de descobrir quem e o que eles eram.

Anita não estava na mesa de bilheteria e informações. A mulher que estava sentada lá era nova e olhou acima desconfiada enquanto os três caminhavam através da porta.

"Posso lhes ajudar?"

Rex mexeu em seu bolso, esperando que ele tivesse se lembrado de trazer seu cartão de membro. Ele o encontrou depois de alguns momentos ansiosos. "Três, por favor."

A mulher pegou o cartão amassado dele e o olhou de perto, uma sobrancelha levantada. Houve a espera de sempre enquanto ela os olhava, seus olhos traçando seus casacos escuros e as roupas das garotas, tentando descobrir uma razão para mantê-los fora.

"A qualquer momento, este ano." Dess disse.

"Desculpe me?"

"Ela disse que o cartão de membro dever ser válido ao longo deste ano, senhora", Rex disse.

Então a mulher acenou, seus lábios puxados, como se todas as suas suspeitas tivessem sido confirmadas, e disse," bem, estou vendo."

Ela apertou uma tecla, e três bilhetes surgiram de uma fenda na mesa. "Mas vocês se cuidem, escutaram?"

Dess arrebatou os bilhetes e estava prestes a dizer algo, mas um velho em um terno de tweed veio através da porta dos funcionários para trás da mesa, interrompendo ela bem na hora.

"Ah, são as pontas de flechas", Dr. Anton Sherwood disse com uma risada.

Rex sentiu a tensão deixar ele. Ele sorriu para o diretor do museu. "Bom te ver, Dr. Sherwood."

"Tem alguma coisa para mim hoje, Rex?"

Rex sacudiu sua cabeça, levando um momento para se divertir com a confusão no rosto da mulher na bilheteria. "Desculpe, nós só estamos aqui para uma rápida visita. Alguma coisa nova para se ver?"

"Mmm. Nós temos uma nova ponta de bifacial{14} de Cactus Hill, na Virgínia. Parece como uma boa candidata para uma ligação Solutrean. É no caso do período pré-Clovis neste andar. Me deixe saber o que você acha."

"Eu ficaria feliz", Rex disse. Ele sorriu polidamente para a mulher desnorteada atrás da mesa de bilhetes e guiou Dess e Melissa para o museu.

"Maluca, fora", Dess disse suavemente. Mesmo Melissa estava sorrindo. Rex se permitiu um pouco de orgulho. Pelo menos suas duas amigas não estavam mais irritando ele sobre acrobatas.

A baixa iluminação do museu se colocou em torno deles, e aliviou do ofuscante sol do meio dia. Rex respirou o cheiro fresco e reconfortante da terra vermelha exposta. Uma das paredes do museu era aberta para a escavação original de Bixby, as passagens suspensas a uns poucos metros da terra crua. Colocada em uma terra dura, como se nunca totalmente escavada, onde ferramentas feitas de ossos, implementos de madeira fossilizados, lascas obsidianas em formato de setas de flechas, e o esqueleto de um tigre dentes de sabre. (Tigre dente de sabre era o que dizia o rótulo). Rex estava certo que suas próprias teorias e as do Dr. Sherwood se divergiam sobre exatamente de que animal tinha sido.

Enquanto eles se dirigiam para a rampa inclinada que levava aos andares no subsolo, Rex olhou seu relógio. Eram poucos minutos do meio dia; Jessica já poderia estar esperando. Mas no caminho ele parou para uma rápida olhada na caixa de vidro do achados do período pré-Clovis.

A caixa estava cheia de pontas de flechas brutas, variando de 0,76 cm a 12,5 cm de comprimento. Algumas eram longas e finas, outras largas e mal afiadas, como a extremidade de uma pá. A maioria era pontas de lança, ao invés de setas de verdade. Os criadores tinham unido projetando o eixo nelas, mas a madeira tinha apodrecido a doze mil anos atrás. As recém descobertas pontas eram fácil de se localizar. Eram quase de 20 centímetros e meio de comprimento, uma fatia fina e proporcional como um folha estreita. Ela sustentava os sinais reveladores que um martelo tinha feito na pedra suave e todos os sinais de um trabalhador habilidoso. Ele puxou seus óculos para mais perto.

Ele se dissolveu em um borrão; nenhum foco se agarrando a ele. O rosto de Rex se contorceu com o desapontamento, e ele continuou rampa abaixo. Até agora ele não tinha visto nada de fora de Bixby que mostrasse sinais da hora azul.

No mundo inteiro, ele e suas amigas estavam realmente sozinhos?

Jessica Day já estava lá. Esperando no nível mais baixo, seu olhar perdido em um modelo de uma caça a mastodontes. Minúsculas figuras da idade da pedra cercavam o animal imenso, atirando lanças em seu couro grosso, em todas as direções. Um dos personagenzinhos estava prestes a ser empalado por um dente comprido.

"Bem corajoso, heim?" Rex disse.

Jessica se remexeu, como se ela não tivesse escutado a aproximação deles. Ela se recuperou, então encolheu os ombros.

"Na verdade, eu estava pensando em vinte contra um."

"Dezenove", Dess disse. Jessica levantou uma sobrancelha.

Isso já esta começando bem, Rex pensou. Ele tinha um discurso inteiro planejado, um habitual mostre-e-fale. Ele tinha ensaiado isso em sua mente muitas vezes antes de ir dormir na noite passada. Mas Jessica parecia exausta. Mesmo com seus óculos fazendo ela um pouco indistinta, seus olhos verdes carregavam as marcas de uma noite sem sono. Ele decidiu jogar fora seu discurso.

"Você deve ter um monte de perguntas", ele disse.

"Sim, eu tenho."

"Por aqui", eles guiaram Jessica para um pequeno aglomerado de mesas contra a parede. Eram onde os grupos escolares comiam seus almoços. Os quatro se sentaram, Melissa retirando seus fones, Dess inclinando-se para trás precariamente em sua cadeira de plástico.

"Manda", Rex disse, entrelaçando suas mãos sobre a mesa.

Jessica tomou um profundo fôlego, como se estivesse prestes a falar, mas então uma expressão impotente cruzou seu rosto. Rex podia ler isso, mesmo com seus óculos postos. Era o olhar de alguém com muitas perguntas, para saber por onde começar. Rex se forçou a ser paciente enquanto Jessica botava em ordem seus pensamentos.

"Uma calota?"

Rex sorriu.

"Não é só uma calota", Dess disse. "Era de um Mercury de 1967."

"1967 é múltiplo de treze?" Rex perguntou.

"Não tanto", Dess caçoou. "Mas eles faziam calotas de aço de verdade na época. Não essa porcaria de alumínio."

"Intervalo", Jessica disse.

"Oh, desculpe", Rex disse timidamente. "Explique Dess, mas mantenha isso simples."

Dess puxou seu colar para fora de sua camiseta. Uma estrela de treze pontas pendurada em sua corrente. Na luz fraca do museu ela captou os refletores sobre as exibições, piscando como se com sua própria luz.

"Lembra-se disso?"

"Sim, eu notei todos em Bixby, desde que você me disse sobre eles."

"Bem", Dess falou. "Este colar é a proteção dos Darklings 101; Há três coisas que os Darklings não gostam. Um é aço", ela pinçou a estrela com um de seus dedos. "A descoberta de um tipo de metal é o que mais surta os Darklings."

"Aço", Jessica disse silenciosamente para si mesma, como se isso fizesse sentido para ela.

"Basicamente os Darklings são realmente antigos", Dess explicou. "E como um bando de pessoas velhas, eles não gostam de coisas que mudaram desde que eles eram nascidos."

"Eles costumam ter medo de pedras cortadas", Rex disse. "Então esqueça metais: bronze e ferro. Mas gradualmente eles se acostumaram a eles. O aço é mais recente."

"O aço não tem estado por ai há muito tempo?" Jessica perguntou. "Como espadas e essas coisas?

"Yeah, mas nós estamos falando de aço inoxidável, uma invenção moderna", Dess disse. "É claro, um dia eu gostaria de por minhas mãos em algum eletrolítico de titânio ou..."

"Ok", Jessica interrompeu, "então eles não gostam de metais novos."

"Especialmente ligas metálicas", Dess disse, "que significa uma mistura de metais. Ouro e prata são elementos. Eles vem direto da terra. Os Darklings não se assustam com eles."

"Mas eles são assustados por ligas. Então eles não poderiam ir através de algo feito de metal?" Jessica perguntou.

"Isso não é tão simples", Dess disse. " A coisa número dois que os Darklings temem é... matemática."

"Matemática?"

"Bem, um certo tipo de matemática." Dess explicou. "Há certos números e padrões e proporções que basicamente enlouquecem eles."

A expressão de Jessica permaneceu em uma de incredulidade.

Rex tinha se preparado para isso. "Você já ouviu falar de epilepsia?"

"Uh, claro. É uma doença, certo? Você cai e começa a espumar pela boca."

"E morde sua própria língua." Adicionou Dess.

"É uma coisa cerebral." Rex disse. "As crises são geralmente desencadeadas por uma luz intermitente."

"Não importa o quão forte ou bem você esteja." Dess disse. "Uma luz intermitente e de repente você está indefeso. Como Superman e a kriptonita. Mas a coisa é, a luz tem que estar piscando a uma certa velocidade. Números agem desse jeito sobre os Darklings."

"E este é o porquê Bixby tem essa coisa sobre o treze?" Jessica perguntou.

"Você sacou. Proteção garantida contra os Darklings e seus amiguinhos. Algo sobre aquele número os deixa totalmente loucos. Eles não podem suportar símbolos que significam o treze ou grupo de treze coisas. Até mesmo palavras de treze letras fritam suas cabeças."

Jessica soltou um baixo sibilo. "Psicossomático{15}."

"Yeah, essa é uma boa", Dess disse. "Então eu dei a aquela velha calota uma palavra de treze letras. Hipocondríaco, e o gato psicopata foi queimado."

"Claro", Jessica disse.

"Apenas se lembre de sempre manter um tridecalogismo fresco em mente."

"Um o quê, fresco?"

"Tridecalogismo é uma palavra de treze letras que quer dizer uma palavra de três treze letras." Dess disse, sorrindo satisfeita.

"Sério?"

"Bem, eu tipo fiz isso para mim mesma. Então não tente usar para sua proteção. E lembre-se, quando você realmente usar um tridecalogismo em um Darklings, tenha certeza que venha a você uma palavra nova para a noite seguinte."

"Eles se acostumam com as palavras mais rápido do que com os metais." Rex disse.

"Quem sabe?" Dess continuou. "Talvez um dia eles se acostumem com o número treze. Então nós procuraremos por palavras de trinta e nove letras."

Rex hesitou com a ideia. "Isso não vai acontecer tão rápido."

"Então eu tenho que fazer isso de carregar uma peça de metal com o nomes de treze letras, ao redor de mim, "Jessica perguntou como descrença em sua voz," e eu estarei bem?"

"Bem, há mais para isso", Dess disse. " Primeiro, o metal deve estar limpo."

"O que, eles tem medo de sabão também?"

"Não esse tipo de limpeza", Rex disse. "Não tocado pela meia noite. Veja, quando algo do mundo do dia é perturbado durante a hora azul, ele se torna parte do mundo deles. Isso o muda para sempre."

"Então como você pode dizer o que é limpo?"

Rex tomou fôlego. Era a hora de assumir a posição de Dess. "Você já se perguntou em como nós sabemos que você é um midnighter, Jessica?"

Ela pensou bem por um segundo, então deu um suspiro derrotado. "Eu só não posso controlar todas as coisas em que eu estive pensando ultimamente. Mas sim, Dess pareceu saber algo no momento que nós nos encontramos. Eu só pensei que ela fosse psíquica."

Melissa concordou silenciosamente, seus dedos batendo com sua música.

"Bem, quando coisas tem sido mudadas pela hora secreta, elas parecem diferentes. Para mim, de qualquer modo. E você é uma midnighter, então você sempre parecerá diferente. Você é naturalmente parte daquele mundo." Rex retirou seus óculos.

O rosto de Jessica tornou completamente nítido para ele. Rex podia ver as linhas de exaustão embaixo dos olhos dela e sua expressão alerta de questionamento, pronta para absorver o que quer que eles pudessem dizer a ela.

"Eu também posso ler as tradições, marcas deixadas para trás pelos outros midnighters. Há alguns sinais, por toda Bixby, alguns deles deixados a mais de cem anos atrás."

Jessica olhou para ele com atenção, possivelmente se perguntando se ele estava louco. "E só você pode vê-los?"

"Até agora." Ele engoliu em seco. "Nós podemos tentar uma coisa, Jessica?"

"Claro."

Ele a guiou para um gabinete no museu pelo muro escavado. Sob o vidro estava uma coleção de pontas da era Clovis, todas da área de Bixby e todas cerca de dez mil anos de idade.

Embora a etiqueta não dissesse isso, uma das flechas tinha sido recuperada de dentro das costelas de um esqueleto de dentes de sabre, incorporado na parede. O resto delas tinha sido encontrado em antigos acampamentos, colinas de túmulos, e o poço das cobras. Com seus óculos retirados, Rex podia ver instantaneamente a diferença.

Aquela ponta de lança ficava fora do resto com ardente clareza, cada face tão distinta que ele podia imaginar quão o antigo martelo tinha cortado de cada camada de pedra. O foco tinha se agarrado a aquele pedaço de obsidiana por milênios, e ao seu primeiro vislumbre dele, Rex tinha sabido instintivamente que ele tinha perfurado o coração da besta na parede.

Esta ponta tinha matado um Darklings.

Os olhos desnudados de Rex podia também ver sutis diferenças no modo que ela tinha sido fabricada - a ranhura meridiana onde a flecha tinha estado anexada era mais profunda e resistente, a ponta muito afiada. Dez mil anos esta ponta de lança tinha sido uma peça de alta tecnologia, tão avançada quanto um caça aéreo futurístico.

"Alguma dessas... te chama a atenção?", ele perguntou.

Jessica olhou para as pontas cuidadosamente, suas sobrancelhas cerradas em concentração. Rex sentiu sua respiração prender. Noite passada, ele tinha se permitido se perguntar, o que seria, se Jessica fosse outra vidente, alguém que pudesse ver sinais e ler a tradição. Finalmente Rex teria alguém para ajudá-lo a filtrar as infinitas coleções de objetos do conhecimento midnighter, para comparar interpretações de confusas e contraditórias histórias, para ler ao lado dele.

Alguém para dividir a responsabilidade quando as coisas dessem errado.

"Esta é de uma espécie diferente."

Jessica estava apontando para uma colher de escavar, uma ferramenta de mão que não era uma ponta de flecha. Rex deixou sua respiração sair lentamente, não querendo que seu desapontamento aparecesse, sem querer sentir o peso inteiro disso ainda.

"Yeah, é diferente. Eles costumavam escavar os vegetais podres."

"Vegetais podres?"

"Grandes fãs de batata doce, os da Idade da Pedra. " Ele colocou seu óculos de volta.

"Então isso é uma colher de escavar. Não é por isso que você me trouxe aqui, não é?"

"Não", ele admitiu. "Eu queria saber se você podia ver alguma coisa."

"Você quer dizer, ver a hora secreta como você pode?"

Rex concordou. "Eu posso dizer que estas pontas de flecha mataram um Darklings. O toque que se perdeu com o tempo. Eu posso vê-lo."

Jessica olhou para a caixa e fez uma careta. "Talvez meus olhos sejam errados."

"Não, Jessica. Diferentes midnighters tem diferentes talentos. Nós não sabemos qual é o seu ainda."

Ela deu de ombros, e então apontou. "Este é um esqueleto Darkling, lá em cima, não é?"

Ele ficou surpreso por um momento, então concordou, percebendo que ela tinha visto uma criatura como aquela em carne e osso.

"Wow. Então estas coisas estão realmente por aí a dez mil anos", ela disse. "Elas não deveriam estar extintas ou algo assim? Como os dinossauros?"

"Não em Bixby."

Uma de suas sobrancelhas se levantou. "Rex, não há nenhum dinossauro em Bixby, há?"

Ele teve que sorrir. "Não que eu tenha visto."

"Bom, isso é alguma coisa."

Rex silenciosamente a guiou de volta em direção a mesa. Podia ter mudado tudo se Jessica tivesse se tornado uma vidente. Ele engoliu, incapaz de falar por um momento, então descobriu a parte do discurso da noite passada na ponta de sua língua.

"Darklings quase foram extintos, Jessica, mas ao invés disso eles se escondem na hora azul. Tem sido há muito tempo, desde que eles viveram em um mundo com o resto de nós."

"Isso deve ter sido excitante, ser perseguido por ai por aquelas coisas, por vinte quatro horas, sete dias por semana."

"Vinte e cinco horas, e sete dias por semana." Rex a corrigiu. "Humanos não estavam no topo da cadeia alimentar até então. As pessoas tinham que lidar com tigres, ursos e lobos terríveis. Mas os Darklings eram os piores. Eles não eram fortes e rápidos, eles eram mais espertos do que nós. Por um longo tempo fomos completamente indefesos.

"Como alguém sobreviveu?" Jessica perguntou.

Dess se inclinou a frente. "Os Darklings são predadores, Jessica. Eles não querem apagar os seres humanos, só tomar o suficiente para se manterem alimentados."

Jessica estremeceu. "Que pesadelo."

"Exatamente", Rex disse. Um pequeno grupo de turistas estava descendo a rampa, e ele abaixou sua voz. "Imagine, vagar toda noite se eles estivessem vindo para se alimentar. Imagine não ter como pará-los. Eles são os pesadelos originais, Jessica. Cada monstro do folclore, cada monstro mitológico, mesmo nossos instintivos medo da escuridão, todos eles estão embasados nas antigas memórias dos Darklings."

Os olhos de Dess se estreitaram enquanto ela se inclinava a frente, também abaixando sua voz. "Nem todos Darklings se parecem como panteras, Jessica. Você nem mesmo encontrou os assustadores de verdade ainda."

"Oh, maravilha", Jessica disse. "E todos eles vivem em Bixby agora?"

"Nós não temos certeza sobre isso", Dess disse. "Mas, Bixby é o único lugar com a meia noite que nós conhecemos. Mesmo em Tulsa, a trinta e dois quilômetros daqui, a hora azul não vem."

"Por alguma razão, Bixby é especial." Rex disse.

"Ótimo", Jessica disse. "Mamãe não estava brincando quando ela disse que se mudar para cá ia requerer alguns ajustes."

Ela se afundou em sua cadeira.

Rex tentou se lembrar dos tópicos de seu discurso. "Mas não se esqueça, nós humanos vencemos. Gradualmente eles descobriram meios para se protegerem. Descobriu-se que novas ideias assustam os Darklings."

"Ideias? Assustaram aquela coisa? "Ela olhou para o outro lado da sala para o esqueleto Darklings.

"Novas ferramentas, como metal forjado e ligas de metal." Dess disse. "E novos conceitos, como matemática. E os Darklings sempre tiveram medo da luz."

"Fogo era a primeira defesa", Rex disse. "Eles nunca conseguiram se acostumar a ele."

"Bem, é um alívio", Jessica disse. "Eu vou me certificar de ter um lança chamas próxima vez que a hora secreta vier."

Dess sacudiu sua cabeça. "Isso não ajudará você. Fogo, coisas eletrônicas, motores de carros, nenhuma dessas tecnologias funcionam na hora da meia noite. Você acha que nós pedalamos bicicletas na estrada para Bixby na noite passada por exercício?"

"Esse é o porquê da hora azul ser criada", Rex disse. "A poucas centenas de anos atrás, quando os Darklings foram sendo empurrados para a floresta profunda pela armas de metal e o fogo, eles criaram como um santuário para si mesmos."

"Eles fizeram a hora azul?" Jessica perguntou.

Rex concordou. "A tradição diz que eles tomaram uma hora do dia, e a fecharam em um instante, para que os seres humanos não pudessem vê-la mais."

Jessica disse suavemente. "Exceto aqueles que foram nascidos exatamente naquele instante."

"Você sacou", Dess disse. "Isso tem que acontecer para algumas pessoas, sabe? Só uns tantos minutos em um dia."

Dess estava olhando para Jessica em expectativa.

"O que?" Jessica perguntou.

Rex suspirou. "Ela quer que você diga quantos minutos são em um dia."

Jessica encolheu os ombros. "Um monte?"

"Sessenta segundos por minuto", Dess forneceu. "Sessenta minutos por hora. Vinte e quatro horas por dia."

"Que seria..." Jessica olhou acima para o teto em enlevada concentração. "Um total montão?"

"Oitenta e seis mil, quatrocentos", Dess disse quietamente. "Eu pensei que você soubesse, sabe, realmente boa matemática. Além do mais, você está em trigonometria."

Jessica bufou. "Isso foi ideia de minha mãe. Quando nós mudamos de escolas, ela decidiu me promover a gênio mal compreendido."

"Falta de sorte", Dess disse. Ela encolheu os ombros para Rex.

Melissa riu de novo, cantando suavemente com seus fones. Rex mal captava as palavras.

"Sabor de... baunilha."


13

11h:55min da noite

ACROBATA

 

Ano passado na escola pública 141 havíamos tido uma experiência realmente nojenta em Biologia...

A sala de Jessica tinha criado dois punhados de platelmintos em terrários, que eram basicamente aquários, mas cheios de terra ao invés de água. Os platelmintos eram na verdade achatados, com cabecinhas triangulares do tipo como as pontas de lança que Rex era tão aficionado. Eles tinham dois pequenos pontos que pareciam com olhos, mas não eram. Embora eles pudessem detectar a luz.

Em um terrário a classe sempre colocava a comida de verme no mesmo canto, debaixo de um pouco de luz que eles acendiam na hora da alimentação. A luz era como uma placa de restaurante: Entre, estamos abertos.

No outro terrário a classe apenas espalhava a comida ao acaso no topo da terra.

Os platelmintos no primeiro terrário não eram burros. Logo, eles descobriram o que a luz significava. Você podia apontar uma lanterna em qualquer lugar do terrário, e os vermes iam procurar por comida. Eles até mesmo seguiam a luz ao redor em círculos, se corrida de vermes era o que você queria.

Então, enquanto isso acontecia em toda aula de biologia, o momento da parte nojenta veio.

Usando uma lanterna como isca, a sala coletou todos os vermes mais espertos que amavam a luz do primeiro terrário. Então a professora, Srta. Hardaway, as colocou em uma tigela e as esmagou em forma de pasta de verme. Ninguém foi forçado a olhar, mas umas poucas crianças viram. Jessica não.

No caso que isso não fosse nojento o suficiente, Srta. Hardaway então alimentou os outros vermes, de vermes esmagados. Um por um, os vermes levantavam suas pequenas cabeças achatadas, famintos por comida. Eles tinham aprendido sobre a luz de restaurante por comida, dos vermes do outro terrário, como aprender francês por comer batatinhas fritas{16}, exceto que infinitamente mais nojento.

Hoje a noite, sentada em sua cama, esperando pela meia noite, cercada por caixas não desfeitas, Jessica Day tinha o resíduo de midnighter em sua boca.

Rex e Dess tinham mantido ela no museu por horas, comprimindo o cérebro dela com cada coisa que eles sabiam sobre os Darklings, a hora azul, midnighters e seus talentos, e a história secreta de Bixby, Oklahoma. Eles tinham por base de anos de experiências incríveis e descobertas inacreditáveis, e que serviu a eles como uma refeição gigantesca. E é claro, Jessica não teve escolha, a não ser alimentar de cada mordida. A hora secreta era perigosa. O que ela não sabia, podia feri-la de verdade.

No final, até mesmo Melissa tinha tirado seus fones para se juntar, explicando seu próprio estranho talento. Mostrando que ela, e não Dess, era a psíquica - uma verdadeira psíquica, não do tipo psicossomática - mas em um jeito que soava completamente horrível. Ela tinha descrito em como estar em uma sala com cinquenta rádios explodindo, todos ligados em diferentes estações. E Rex tinha alertado a Jessica para não tocá-la; contato físico aumentava muito o volume.

Não era à toa que Melissa era divertida de se estar por perto.

Enquanto Jessica observava o braço dos segundos do relógio lentamente varrendo os últimos minutos remanescentes, ela descansou uma mão em seu estômago fazendo barulho. Ela tinha essa sensação sempre antes de uma prova. Esta era uma prova o bastante. Isso incluía matemática, mitologia, metalúrgica, ciência, e história antiga. E obter a resposta errada podia significar vir a ela mesma ser comida de verme.

O dia tinha provavelmente sido muito mais divertido para Rex, Dess e Melissa. Por anos os três tinham mantido um inteiro mundo em segredo. Eles tinham que encarar o terror e alegrias da meia noite sozinhos. Então é claro que eles tinham estado ansiosos para compartilhá-lo com alguém novo.

Jessica apenas desejou que ela pudesse se lembrar mais do que eles tinham dito. Depois da primeira ou terceira hora, sua noite sem sono tinha começado a produzir seus efeitos, suas vozes se tornando um zumbir competitivo. Finalmente ela tinha dito a eles que ela estava indo para casa.

Era maravilhoso o quão rapidamente um novo e misterioso mundo poderia ir do totalmente inacreditável ao completamente insuportável.

Ela tinha voltado para casa a tempo para o jantar, Jessica podia dizer que a mãe tinha tudo pronto para gritar com ela sobre as caixas não desfeitas ainda. Mas um olhar para o rosto exausto de Jessica e sua mãe tinha instantaneamente ligado as engrenagens.

"A amorzinho, você tem feito dever de casa o dia todo, não tem? Isso é minha culpa por colocar você em todas aquelas classes avançadas, não é?"

Jessica não se incomodou em discordar. Ela tinha meio que cochilado durante o jantar e foi direto para cama. Mas ela colocou seu alarme para onze e meia. Hoje a noite ela queria estar completamente acordada e vestida, quando o tempo azul chegasse.

Embora ela não pudesse se lembrar da metade do que os outros midnighters tinham ensinado a ela, ela não tinha esquecido as coisas importantes, Jessica estava armada com as três novas armas: Atraentemente, Fossilização, e Doutrinamente{17}, que eram uma bobina de arame, um longo parafuso, e uma antena de carro quebrada. Elas não eram muito ao se olhar, e Dess tinha dito que nenhuma era tão formidável quanto o poderoso Hipocondríaco, mas ela tinha garantido que elas tocariam fogo em uma cauda de Darklings. Ou pelo menos, uma faísca azul de um show de fogos de artifício. Jessica tinha também pegado emprestado umas pequenas receitas de Dess, para criar suas próprias armadilhas. Seu quarto era a prova de slithers agora.

Em contrapartida, não tinha jeito dela ir para fora hoje a noite.

Os outros três midnighters eram guiados pelo o que Rex tinha chamado de um "Local da tradição". Aparentemente, lá tinha havido midnighters em Bixby, tanto quanto tinha havido a hora secreta, alguns nasceram aqui e outros, como Jessica, que tinham tropeçado na cidade. Gerações de sábios como Rex, tinha lentamente coletado conhecimento sobre o tempo azul e os Darklings, e gravado suas descobertas onde só outros videntes poderiam as encontrar. Lá fora, na imensa imutabilidade do deserto, antigas pedras eram marcadas com runas invisíveis, que diziam antigas histórias.

Rex disse que ele procuraria até que descobrisse por que os Darklings estavam tão interessados em Jessica. "Mas talvez noite passada foi uma coincidência", ele tinha dito sem convencer.

"Talvez eles apenas gostem de você", Melissa tinha dito, estalando seus lábios, "Como em, "eu gosto de pizza"."

Faltavam dois minutos.

Jessica engoliu, e levantou seus pés do piso. Os slithers não podiam estar aqui ainda, mas a noite passada tinha trazido todos os seus medos de infância de volta para ela. Haviam coisas debaixo da cama. Talvez no momento elas fossem coisas psicossomáticas, mas ela ainda podia as sentir lá embaixo.

Ela olhou para seu relógio, que estava marcado na hora de Bixby agora. Dess tinha explicado que a "meia noite de verdade" acontecia em diferentes momentos em cada cidade. Os fusos horários apenas os disfarçavam. Mas agora quando seu relógio batesse doze, Jessica Day estaria tão afastada do sol quanto ela poderia estar.

Faltava um minuto.

Jessica catou Doutrinamente e a puxou para fora em todo seu comprimento. Ela a passou através do ar como uma espada. A antena de rádio era de um Chevy feito em 1976 um ano que aparentemente foi um múltiplo de treze. Dess tinha estado guardando ela para algo especial.

Jessica sorriu. Ela era o presente mais estranho que ela tinha recebido, mas ela tinha que admitir que parecia boa em sua mão.

A hora secreta chegou.

A luz acima pareceu piscar, substituída pelo familiar brilho azul em cada canto do quarto. O som do vento entre as árvores cessou abruptamente. Sua primeira vez completamente acordada para a mudança, Jessica podia sentir tão bem quanto ver e escutá-la. Algo invisível parecer empurrá-la, forçando ela para frente, como se ela estivesse terminando uma descida de montanha-russa, o carro gradualmente vindo a uma parada. Uma sensação de leveza veio sobre ela, e ela sentiu um delicado tremor de movimentos presos por todo seu corpo.

O latejar do mundo inteiro, parando ao redor dela.

"Ok", Jessica disse para si mesma. "Aqui vamos nós, de novo."

Ela caminhou ao redor do quarto, tocando coisas para se reassegurar. As bordas ásperas das caixas de papelão pareciam às mesmas, as tábuas de pinho do chão eram suaves e frias como sempre.

"Real, real e real." Ela afirmou silenciosamente enquanto seus dedos tocavam as roupas, a mesa e a lombada dos livros.

Agora que a meia noite estava lá, Jessica se descobriu imaginando o que ela iria fazer com esta hora extra. Uns poucos minutos atrás e ela tinha ouvido seus pais falando na cozinha. Mas ela não queria vê-los pálidos e congelados; ela iria ficar em seu próprio quarto.

Havia um monte de desempacotamento para se fazer. Ela abriu umas poucas caixas e olhou dentro de suas caóticas profundidades. Mas a luz azul sem sombras pareceu muito esquisita para algo tão mundano. Ela se sentou em sua cama, pegou o dicionário que ela havia desempacotado quando ela chegou em casa, e o abriu para procurar por tridecalogismos.

Ela tinha descoberto só um - Esplendorosos Splendiferous - Esplendoroso mas coloquei no plural para se tornar uma palavra de 13 letras{18} - quando sua cabeça começou a doer pela luz. Os outros midnighters podiam provavelmente ler muito bem na hora azul. Talvez Melissa estivesse certa; os olhos de Jessica pareciam errados; pelo menos aqui na hora secreta.

Ela olhou pela janela para o mundo imóvel, então estremeceu e se afastou. O pensamento de alguma coisa relembrando-se dela, era muito assustador.

Ela tirou seus pés do chão, deitou e olhou para o teto.

Jessica suspirou. Isso podia ficar muito chato.

Não muito depois ela ouviu um barulho.

Era um suave thud, mal audível mesmo no absoluto silêncio. Jessica imediatamente pensou nas patas da pantera, e pulou fora de sua cama.

Ela pegou o Doutrinamente, e chacoalhou o Fossilização e o Atraentemente, para checar se eles ainda estavam em seu bolso. Do final da cama de Jessica não dava para se ver muito da rua, mas ela estava muito assustada para chegar mais perto das janelas. Ela se manobrou ao redor da cama, tentando alcançar um vislumbre do que quer que estivesse lá fora.

Uma forma escura se moveu na calçada da frente. Jessica se afastou de sua visão e apertou forte a antena de carro. Rex e Dess tinham prometido que ela estaria a salvo aqui. Eles tinham dito que ela sabia o suficiente para defender a si mesma.

E se eles estivessem errados?

Suas costas estavam pressionadas contra a parede agora. Ela imaginou o grande felino arranhando a porta da frente e abaixo, nos corredores da casa, furtivamente atrás dela. Parecia incrivelmente improvável que as treze tachinhas presas na madeira de sua porta seriam páreo para seus poderosos músculos.

Mais nenhum som veio de fora. O que quer que fosse, ainda estava lá fora?

Ela tinha que dar uma olhada.

Jessica desceu suas mãos e joelhos e se arrastou pelo chão contra a parede até que ela estivesse bem embaixo da janela. Ela se sentou lá, escutando tão atentamente quanto ela podia. O silêncio total pareceu soar silenciosamente, como o som do oceano envolvido em uma concha.

Ela levantou sua cabeça para espreitar sobre o parapeito da janela.

Um rosto olhou de volta para ela.

Jessica pulou se afastando, balançando Doutrinamente em um arco diante dela, então com isso ela a chicoteou contra o vidro. Ela se rastejou de volta, até que ela bateu contra sua cama. A janela começou a se abrir.

"Está tudo bem, Jessica. Sou só eu", uma voz veio através da abertura.

Sua antena de carro empurrada à frente dela como uma espada, Jessica piscou, forçando seu cérebro a colocar juntos a voz familiar e o rosto que ela tinha vislumbrado. Depois de uns poucos segundos, o reconhecimento veio, com uma onda de alívio e surpresa.

Era Jonathan.

Jonathan se sentou na janela, evidentemente um pouco relutante em vir para dentro. Ele pareceu pensar se Jessica iria se afastar de novo dele. Doutrinamente estava ainda sobre seu aperto, passada nervosamente de uma mão para outra.

Jonathan se sentou com uma perna dobrada embaixo dele, seu outro joelhou puxado para debaixo de seu queixo. Ele com certeza não parecia muito assustado agora.

Ele não tinha dito muito desde que chegou a janela. Ele parecia estar esperando para ela se acalmar. Diferente da sala de almoço da escola, os olhos de Jonathan pareciam estar abertos. Ela não parecia com sono de modo algum. Talvez ele fosse fotofóbico durante o dia também.

Ela estava feliz que ele não escondesse seus olhos atrás de óculos escuros. Eles eram olhos muito bonitos.

Ele observou enquanto Jessica lentamente ganhava o controle de sua respiração, seu olhar atento, mas em silêncio.

"Eu não sabia que você era um midnighter." Ela finalmente conseguiu falar.

"Eles não disseram a você?" Ele riu. "Que figuras."

"Eles sabem sobre você?"

"Claro. Desde o dia que eu me mudei para cá."

Jessica sacudiu sua cabeça em descrença. Seis horas de tradições de midnighter e nem Rex, Dess ou Melissa tinham se incomodado de mencionar o quinto midnighter na cidade.

"Espere um segundo", Jess disse como se algo ocorresse a ela. "Você é o único que eles não me disseram? Quantos são de vocês?"

Jonathan sorriu. "Apenas um de mim", ele disse.

Ela olhou de volta para ele, ainda muito estupefata para fazer sentido em alguma coisa.

"Não, não há nenhum outro", ele disse mais sério. "Eu sou a única pessoa que eles não mencionaram."

"O que, eles não gostam de você?"

Ele encolheu os ombros. "Eu não sou do clube, sabe? Quero dizer, Rex é ok, eu acho, e Dess é na verdade bem legal", ele parou, obviamente não querendo começar com Melissa. "Mas eles levam essa coisa toda muito a sério."

"Muito a sério?"

"Yeah. Eles agem como se estivessem em uma missão do Conselho Mundial dos Midnighters ou algo assim."

"Existe um Conselho Mundial de Midnighters?"

Ele riu. "Não, mas eu aposto que Rex desejaria que houvesse. Ele acha que essa coisa toda de meia noite tem algum significado mais profundo e misterioso."

Jessica piscou. Não tinha ocorrido a ela duvidar que houvesse forças mais profundas e misteriosas agindo. Isso tudo parecia muito profundo e misterioso para ela.

"Então o que você acha, Jonathan?"

"Eu acho que nós temos sorte de termos o mundo inteiro para nós mesmos. Para se divertir, explorar, fazer o que quer que queiramos. Por que bagunçar isso para um algo de grande propósito."

Jessica acenou. Desde que o Darklings tinha atacado ela, a hora secreta tinha vindo a uma crise, um desafio mortal. Mas aquele primeiro e bonito sonho tinha sido algo mais integral. Algo mais... fácil.

"Para Rex", Jonathan continuou. "A hora azul é como um grande livro, e ele está sempre estudando para uma prova final. Para mim, é o intervalo."

Ela deu a ele um olhar amargo. "Há alguns grandes valentões no playground."

Ele deu de ombros. "Eu sou mais rápido do que aqueles valentões. Sempre tenho sido."

Jessica se perguntou em como isso podia ser verdade. Mas Jonathan parecia perfeitamente relaxado. Seu pé balançando fora da janela, nunca olhando por cima de seu ombro, sem medo.

"Todos vocês parecem se divertir com a hora secreta", ela disse triste. "Todos vocês acham ela excitante, por alguma razão ou outra. Para mim, tem sido apenas um pesadelo. Esta coisa - estas coisas tentaram me matar na noite passada."

"Foi o que Dess me disse."

"Ela falou sobre mim."

"Yeah, quando Rex te viu pela primeira vez. E esta manhã ela me deu seu endereço. O que, você pensou, que eu usei superpoderes para te encontrar?"

"A lista telefônica na verdade."

Ele sorriu. "Você não está nela ainda. Eu olhei. Mas Melissa se transformou na psíquica 411{19} na noite passada, então Dess me ligou."

"Dess te deu o meu endereço, mas ela não me falou sobre você?"

"Ela teria, mas não na frente do Rex. Ele e eu temos esse... conflito de personalidades. Ou seja, acho que ele deve querer um novo. Mas Dess prefere ficar fora disso."

"Oh", Jessica se inclinou contra a parede. "Isso esta ficando mais complicado a cada minuto."

"Yeah, é horrível que você tenha encontrado um Darklings tão cedo", Jonathan disse. "Mas a noite passada foi estranha em toda a cidade. Provavelmente foi a festa de ano novo dos Darklings ou algo assim. Foi a sua primeira vez lá fora?"

Ela começou a concordar, mas então ela balançou sua cabeça. Ela quase tinha se esquecido da primeira noite. Com Rex e Dess enchendo sua cabeça com a conhecimento dos midnighters e a história o dia todo, ela só tinha pensado sobre os perigos da hora azul, não no esplendor da tempestade congelada.

"Deve ser legal", ela disse silenciosamente. "Ser feliz por ser um midnighter."

"Sai dessa de me chamar assim", ele censurou levemente. "Eu não sou um "midnighter". Isso é uma palavra de Rex."

Jess franziu sua testa. "Ela pareceu bastante apropriada para mim. Do tipo que vai ao ponto e soa melhor do que "medidor das doze"."

"Eu acho que sim", Jonathan teve que admitir com um sorriso. "E eu gosto da palavra meia noite. De qualquer modo, desde que me mudei para Bixby."

Jessica respirou fundo e se atreveu a olhar além dele, para a iluminação azul da rua. Mesmo antes da hora secreta ter vindo, tinha sido uma noite bonita, tempestuosa e dramática. Ela podia ver a queda das folhas de outono deixando o rastro dos carvalhos gigantes, como um bando de pássaros escuros e congelados. Seus vermelhos brilhantes e amarelos tinham se tornado negros na luz azul.

Ela se lembrou das gotas de chuva da primeira noite, e como suas pontas dos dedos tinham libertado elas da contenção da meia noite. As folhas também cairiam ao seu toque? Ela queria correr entre elas, acertando um monte para fora do ar. Em Chicago, ela nunca tinha sido capaz de resistir a tirar pingentes de gelo, quebrando o feitiço do inverno.

Mas entre as folhas negras Jessica podia ainda imaginar o Darklings que a tinha atacado. Sua forma cruel poderia estar escondida em qualquer lugar entre as formas congeladas lá fora.

Ela estremeceu e se afastou da janela.

Seu quarto ainda parecia esquisito. Ele parecia descorado na luz azul, como uma memória apagada. Poeira imóvel pendurada no ar.

"A meia noite é bonita", ela disse, "mas fria, também."

Jonathan franziu as sobrancelhas. "Ela nunca pareceu fria para mim. Ou quente. Ela é mais como uma perfeita noite de verão."

Jessica sacudiu sua cabeça. "Eu não quis dizer esse tipo de frio."

"Oh, estou vendo", Jonathan disse. "Yeah, ela parece vazia as vezes. Como se nós fossemos as últimas pessoas na Terra."

"Obrigada. Isso me faz sentir bem melhor."

"Você não deveria estar assustada pela meia noite, Jessica."

"Eu só estou com medo de ser comida."

"Aquilo foi falta de sorte."

"Mas Rex disse -"

"Não se preocupe com o que Rex diz, "Jonathan interrompeu. "Ele está a caminho da paranoia. Ele acha que ninguém deveria explorar o tempo azul, até que eles saibam tudo dos dez mil anos da tradição midnighter. Isso é como ler um manual de VCR inteiro só para assistir a um filme. A propósito, é o que eu já vi Rex fazendo na verdade.

"Você não deve ter visto o Darkling que me atacou", Jessica disse.

"Eu tenho visto Darkling. Um monte deles."

"Mas -"

Jonathan desapareceu da janela, e a respiração de Jessica encurtou. Ele tinha deslizado para fora da vista tão rapidamente, tão graciosamente, rolando para trás como um mergulhador saindo de um barco. Um momento depois a cabeça e ombros reapareceram.

Ele estendeu sua mão através da janela. "Vamos. Deixe-me tirar o medo de você."

Jessica hesitou. Ela olhou para a fileira de treze tachinhas que Dess tinha dito para ela alinhar embaixo da janela. Enquanto Jessica tinha enfiado elas nas molduras da janela, e porta de seu quarto, ela tinha se sentido incrivelmente estúpida. Tachinhas eram para proteger ela das forças do mal.

Mas o tipo de objeto não importava, Dess tinha explicado, mas o número.

Jonathan viu para onde ele estava olhando. "Deixe-me adivinhar. Você está protegida pelo poderoso poder dos clipes de papel?"

"Uh, não. Poderoso poder das tachinhas, na verdade." Jessica se sentiu começando a corar e esperou que isso não aparecesse na luz azul.

Jonathan concordou. "Dess conhece algumas coisas bem legais. Mas eu conheço uns poucos truques também. Você está a salvo comigo, eu prometo."

Ele estava sorrindo de novo. Jessica decidiu que ela gostava do sorriso de Jonathan.

E ela percebeu que estava totalmente sem medo. Ela considerou a oferta dele. Ele tinha vivido aqui em Bixby por mais do que dois anos e tinha conseguido sobreviver, até mesmo se divertir. Com certeza ele devia entender da meia noite tão bem quanto Rex ou Dess.

E antes de ele ter aparecido, ela tinha estado assustada só por se sentar aqui em seu quarto. Agora ela se sentia segura. Ele estava provavelmente mais a salvo com um midnighter experiente - ou seja lá o que ele chamava a si mesmo - do que por ela própria.

Jessica encurtou Doutrinamente para seu comprimento mais curto, colocou-a em seu bolso, então colocou seus tênis.

"Ok, tire meu medo."

Ela colocou um pé no peitoril da janela e alcançou a mão de Jonathan.

Quando a palma da mão dele pressionou a dela, a respiração de Jessica encurtou. Ela sentiu de repente a cabeça leve... o corpo leve, como se todo seu quarto tivesse se tornado um elevador e fosse para o porão.

"O que -", ela começou.

Jonathan não respondeu, apenas puxou Jessica gentilmente pela janela. Ela flutuou para cima e para fora facilmente, como se ela estivesse cheia de hélio. Seus pés aterrissaram suavemente, ficando instável um pouco antes de se fixar suavemente no chão.

"O que é que está acontecendo?", ela terminou

"Gravidade da meia noite", Jonathan disse.

"Uh, isso é novo", ela disse. "Como eu nunca -"

Jonathan soltou sua mão, e o peso voltou. Seus tênis empurrados para a terra suave.

Jessica alcançou a mão de Jonathan de novo. Quando ela a tocou, a sensação flutuante retornou.

"Você está fazendo isso acontecer?", ela disse.

Jonathan acenou. "Rex tem a tradição. Dess os números. Melissa tem... suas coisas." Ele encarou a casa do outro lado da rua. "E eu tenho isso."

Ele pulou. Jessica foi puxada atrás dele, como um balão de criança amarrado a uma bicicleta. Mas ela não sentia como se estivesse sendo arrastada. Isso dificilmente parecia como se eles estivessem se movendo. O mundo suavemente se afastou gradualmente, o chão rolando embaixo deles. O ar passou por baixo, folhas congeladas tocando contra eles, a casa vizinha deslizando para mais perto como algum e imponente navio entrando no cais.

"Você... voa?" Jessica conseguiu falar.

Eles se assentaram no telhado do vizinho, ainda leves como pena. Ela podia sentir toda a imobilidade da rua agora, duas fileiras paralelas de telhados se estendendo em qualquer direção. Mas estranhamente não havia nenhuma sensação de peso, nenhum medo de cair. Era como se seu corpo não acreditasse mais em gravidade.

Jessica descobriu uma folha presa em sua mão livre. Ela deve tê-la agarrado no ar enquanto eles passavam através do redemoinho de folhas congeladas.

"Está tudo bem", Jonathan disse. "Eu seguro você."

"Eu sei", ela sussurrou "Mas... quem segura você?" As solas dos sapatos de Jonathan mal tocavam a ardósia do telhado, como se ele fosse um balão de ar quente, ansioso para sair do chão.

Em resposta ele tomou a folha da mão dela. Ele a segurou com dois dedos e a soltou. Ela não caiu, apenas ficou onde Jonathan a tinha colocado no ar.

Jessica estendeu sua outra mão. Quando as pontas de seus dedos tocaram a folha, ela caiu suavemente no telhado, então ela sacudiu abaixo em um ângulo íngreme. Como tinham as gotas de chuva, seu toque as libertava. Mas o de Jonathan era diferente.

"A gravidade para quando o tempo para," Jonathan disse. "O tempo tem que passar por alguma coisa, para cair."

"Eu acho que sim."

"Lembra do capítulo de introdução do nosso livro de física? A gravidade é só uma distorção no tempo-espaço."

Jessica suspirou. Outra aula avançada que ela já estava para trás.

"Então", Jonathan continuou, "eu aposto que eu sou um pouco mais fora do tempo do que o resto de vocês. A gravidade da meia noite não tem uma contenção de verdade sobre mim. Eu peso alguma coisa, mas não muito."

Jessica tentou colocar sua cabeça em torno das palavras dele. Ela achava que se as gotas de chuva podiam pairar no ar, fazia sentido que uma pessoa também pudesse. Por que qualquer um dos midnighters devia pesar?, ela se perguntou.

"Então, você pode voar."

"Não, o super-homem voa", Jonathan disse. "Mas eu posso pular a grandes distâncias e aterrissar em qualquer - hei!"

Sem pensar, Jessica tinha largado a mão dele. O peso normal a atingiu de uma vez, como se alguém tivesse derrubado de repente um colar de tijolos ao redor de sua cabeça. A casa se elevou embaixo dela, e ela caiu sobre sua instantânea ladeira traiçoeira. Ela não era mais feita de penas, mas de sólidos ossos e carne. Um terror repentino de altura a golpeou como um soco no estômago.

Suas mãos se estenderam instintivamente, enquanto ela deslizava abaixo, suas unhas agarrando as telhas de ardósia. Ela meio rolou e meio deslizou em direção a beira do telhado.

"Jonathan!"

A beira assomou em direção a ela. Um pé para fora no espaço. O dedo de seu outro tênis prendeu em uma calha de chuva, e ela parou por um segundo. Mas ela tinha só uma tênue contenção sobre as telhas no telhado. Seus dedos, seu pé, tudo estava escorregando.

Então a gravidade a deixou de novo.

Jessica sentiu as mãos de Jonathan gentilmente segurando em seus ombros. Os dois flutuaram para o chão juntos.

"Eu lamento tanto", ele disse.

O coração dela ainda martelava, mas ela não estava mais assustada. A sensação de leveza de pluma tinha retornado tão rapidamente, como uma onda de alívio quando algum teste horrível acaba.

Seus pés se posicionaram no chão.

"Está tudo bem." Ela disse, balançando sua cabeça; "Eu deveria ter percebido. Eu só estava pensando que é uma pena que todos nós não podemos voar."

"Não, só eu. Embora quando você se soltou, eu meio que estava esperando."

Ela olhou para Jonathan. Os olhos deles ainda estavam arregalados como o alarme. E Jessica podia ver também o desapontamento dele por ela ter caído, que ela não fosse como ele.

"Yeah, eu meio que estava esperando também, eu acho. "Ela pegou a mão dele firmemente. "Mas me leva para cima de novo. Por favor?"

"Você não está assustada?"

"De certo modo", ela admitiu. "Então me tire meu medo."

Eles voaram.

Era verdade, Jonathan não era o super-homem Voar era um trabalho difícil. Jessica descobriu que eles iam muito mais alto se ela pulasse com ele, se empurrando tão forte quanto ela podia. O timing era traiçoeiro - se um deles empurrasse muito rápido ou muito forte, eles voariam além e seriam empurrados em uma parada brusca do comprimento de um braço, em seguida, girando impotentes ao redor um do outro, rindo, até que o chão os segurasse de novo. Mas eles ficavam melhores a cada salto, coordenando seus pulos para se elevar mais alto.

Ela apertava a mão de Jonathan forte, nervosa e animada, aterrorizada pelos Darklings e assustada por estar no céu.

Voar era lindo. As ruas azuis pálido brilhavam como rios embaixo deles, enquanto eles iam ao encontro das altas, colunas trazidas pelo vento de folhas de outono. Havia pássaros lá também, suas asas se esticando num voo interrompido e anguloso para alcançar os ventos congelados. A lua negra brilhava sobre eles, quase erguida por todo o caminho, mas ela não parecia encher o céu tão opressiva quanto ela tinha, na noite passada. Aqui de cima, Jessica podia ver uma faixa de estrelas que se estendiam ao redor do horizonte, pontos cintilantes, cuja luz branca não tinha sido borrada de azul pela lua.

O formato de Bixby não era ainda familiar para ela, mas agora que Jessica podia ver a cidade de cima, traçada como num mapa, ela começou a fazer sentido. Dos altos pulos nas casas e árvores ela parecia pequena e perfeita, uma cidade de casas de bonecas. Jonathan devia ver o mundo completamente diferente de todo mundo, ela percebeu.

Eles se aproximaram do limite da cidade, onde as casa diminuíram e o descampado invadiu a cidade. Era mais fácil saltar daqui, não tendo que transpor casas, lojas e ruas alinhadas com árvores. Logo Jessica pode ver todo o caminho pelas árvores baixas pontilhadas pelas acidentadas colinas baixas.

O deserto.

Enquanto eles se aproximavam do deserto, seus olhos nervosamente observaram o terreno por qualquer movimento, imaginando as formas esquivas dos Darklings embaixo de cada árvore. Mas tudo abaixo parecia imóvel, minúsculo e insignificante enquanto eles pairavam sobre ele. Ela percebeu que eles estavam se movendo muito mais rapidamente do que a pantera poderia a toda velocidade, dando saltos, tão imensos, umas centenas de vezes, quanto de um felino gigante.

Jonathan era realmente mais rápido do que os agressores.

Ele a levou para uma das grandes torres de água fora da cidade. Eles desceram sobre ela, a cidade de um lado, o deserto escuro do outro. Ela era plana no topo, com um parapeito baixo ao redor da beirada.

"Ok, hora do descanso-de-mão." Ele disse.

Eles se soltaram. Jessica estava preparada dessa vez, dobrando seus joelhos enquanto o peso normal se assentava de volta a ela.

"Ow", ela disse, esfregando seus dedos. Ela percebeu que cada músculo em sua mão estava dolorido. Jonathan esticou sua própria mão com uma expressão de dor. "Oops, desculpe-me. Não era para ser tão grudento."

Ele riu. "Melhor grudento do que esmagado."

"Sim, totalmente." Ela andou cuidadosamente para a margem da torre, mantendo uma mão sobre a grade. Quando ela olhou para abaixo, seu estômago deu uma cambalhota. "Ok, medo de altura ainda está na ordem de serviço."

"Ótimo", Jonathan disse. "Eu me preocupo que um dia, eu esqueça que não é meia noite e pule de um telhado ou algo assim. Ou eu esqueça que horas são e ainda esteja voando por aí quando a gravidade voltar."

Jessica virou em direção a ele, colocando uma mão sobre seu ombro, e a leveza retornou. "Por favor, não."

Ela corou e o soltou. Sua voz tinha soado tão séria.

Ele sorriu. "Não irei, Jessica. Sério."

"Me chame de Jess."

"Claro, Jess." Seu sorriso ficou maior.

"Obrigada por me levar para voar."

"De nada."

Jessica se virou envergonhada.

Ela ouviu um crunche. Jonathan estava comendo uma maça.

"Quer uma?"

"Uh, está tudo bem."

"Eu tenho quatro."

Ela piscou. "Você já parou de comer alguma vez?

Jonathan deu de ombros. "Como eu disse, eu tenho que comer meu próprio peso todo dia."

"Sério?"

"Não. Mas voar me deixa faminto."

Jessica sorriu e olhou por cima da torre, se sentindo segura pela primeira vez, desde o "sonho" da última noite que tinha dado errado.

Seus olhos seguiram um pássaro voando no horizonte, iluminado por trás pela lua, que tinha começado a se fixar. Ela estava tão feliz, ainda leve por dentro, que levou um momento para seu estômago afundar.

O pássaro estava se movendo.

"Jonathan, o que tem de errado com esta imagem?"

Ele seguiu o olhar dela. "Oh, aquilo. Isso costuma ser um slither voador."

Ela concordou, engolindo em seco. "Eu vi alguns noite passada."

"Isso é como Dess os chama, de qualquer modo", Jonathan disse. "Embora, slither{20} voador soa como uma contradição para mim. Mas os alados e os rastejantes são a mesmas criaturas. Elas mudam suas formas, você sabia?"

"Sim, eu sei."

Ela se lembrou do slither com forma de gatinho que tinha guiado ela para tão longe de casa, antes de se tornar uma cobra. O slither voador os estava circulando, lentamente, sua asas de couro transparentes contra a lua fria. "Ele me dá arrepios."

"Não se preocupe Essas coisas nunca incomodam ninguém." Ele alcançou sua camiseta e puxou um colar de elos espessos de aço. "E se um desses decidir, eu tenho trinta e nove elos do Embaraçamento{21} para nos proteger.

Jessica estremeceu. "Um slither me mordeu noite passada. Ou seja lá como você o chama. Me picou."

"Ouch. Você estava mexendo em um ninho ou algo assim?"

Ela olhou para Jonathan com amargura. "Não, eu não estava fazendo nada idiota. Um bando deles estava ajudando a um Darkling a me caçar. Ele se esgueirou para cima de mim e me deu esse troço de slither." Ela lhe mostrou a marca.

"Eco. Elas são criaturinhas nojentas. Mas elas não nos incomodarão, eu prometo, Jess."

"Eu espero que não." Ela se abraçou. De algum modo era mais frio aqui em cima, como se o suspenso vento desolador soprando no deserto, tivesse deixado um traço de si mesmo. Jessica desejou que ela tivesse trazido uma blusa de moletom

Jonathan colocou uma mão sobre o ombro dela. A leveza retornou, a sensação de segurança e calor. Seus pés se desconectaram por um momento da torre, tão flutuante como uma rolha na água. Ela estremeceu de novo, mas não com o frio desta vez.

"Jessica?" Jonathan disse.

"Eu te disse, me chame de Jess,"

"Jess! Sua voz soou estranha. Ele estava olhando para o outro caminho, em direção ao deserto ao lado da torre. Ela seguiu o olhar dele.

Um Darkling estava vindo.

Ele não era como aquele da noite passada. Ele se deslocava enquanto ele voava, músculos ondulando enquanto se transformava de uma forma para outra - primeiro uma cobra, então um tigre, em seguida uma ave de rapina, escamas e pele e penas, todas borrando-se juntas em sua pele rastejante, as imensas asas batendo como o som de uma bandeira chicoteada pelo vento.

Ele podia voar também, rapidamente. E estava se guiando direto para eles.

Mas Jonathan tinha visto um monte de Darklings antes, Jessica lembrou a si mesma. Ele tinha estado fora na meia noite, uma centena de vezes. Ele era mais rápido que os agressores.

Ela olhou de volta para o rosto dele. A boca de Jonathan tinha caído aberta.

Jessica sabia instantaneamente que ele nunca tinha visto um Darkling como aquele.


14

12h:00min da madrugada

MONSTROS DE RAPINA

 

Junto com a inundação do terror, algumas partes do dia inteiro de enviar informações na cabeça de Jessica escorreram dentro de sua mente.

"Jonathan esta torre é feita de aço, não é?"

Ele sacudiu sua cabeça. "Ela não é pura. Nada tão distante da cidade é."

"Oh, certo. Então nós..."

"Pule."

Eles prenderam as mãos e foram para a beira da torre de água. Jonathan colocou um pé determinadamente sobre o parapeito e puxou levemente para cima. Eles flutuaram para o equilíbrio precário na grade fina.

"Um, dois..."

Mesmo que ela estivesse quase sem peso, os tênis de Jessica estavam instáveis. Ela dobrou seus joelhos enquanto ela e Jonathan lentamente declinavam para frente, não vendo nada abaixo além do chão duro.

"... três."

Eles saíram quase em linha reta em relação à torre. Jessica percebeu que Jonathan tinha desejado que isso funcionasse exatamente daquele jeito. A terra coberta de arbustos aumentou embaixo deles mais rápido do que nunca, a dinâmica carregando eles a frente em vez de para cima. Eles desceram ao chão rapidamente.

"O estacionamento", Jonathan disse, apontando com sua mão livre. "Se mantenha pulando, baixo e rápido."

O estacionamento da fábrica era perfeito para aterrizar. Uns poucos caminhões estavam agrupados no meio, mas por outro lado ele estava nítido. Enquanto eles moviam-se em forma de arco para baixo nele, Jess ousou uma olhada por sobre seu ombro. O Darkling ainda os perseguia.

Eles tocaram o asfalto e deram um passo limitado que os carregou por cima dos caminhões e quase para a outra extremidade do estacionamento.

"Por aqui", Jonathan girou enquanto eles voavam, puxando a mão dela na direção que ele pretendia.

Eles pularam de novo, se lançando em direção a uma vazia extensão da estrada que guiava para a fábrica. Seguindo a liderança de Jonathan, Jessica manteve sua trajetória baixa. Eles não queriam perder o esforço de subir para o céu. Só a velocidade importava.

Eles desceram em direção à estrada, indo para um ponto que era mais vazio de carros. Eles ainda estavam bem à frente do Darkling.

"Por onde?"Jessica gritou.

"Abaixo pela estrada!"

Quando eles aterrizavam, a mão de Jonathan apertava, deixando ela saber exatamente quando impulsionar de novo.

Eles deram mais dois saltos abaixo pela estrada, a larga estrada de quatro pistas fazendo disso um alvo fácil. Eles estavam se movendo rápido, Jess olhou de relance por sobre seu ombro de novo, o Darkling parecia realmente estar ficando para trás.

Mas quando a estrada os guiou para mais longe de Bixby, ela se estreitou para duas faixas, e mais carros começaram a aparecer nela. Jonathan estava hesitando em seus saltos agora, como se ele calculasse freneticamente como descer em um ponto vazio.

Seus saltos ficaram mais tímidos. Eles estavam se movendo cada vez mais lentamente.

Um salto errante os carregou em direção a uma casa, e para seu traiçoeiro telhado inclinado. Jonathan deslizou, enquanto eles se afastavam, e eles foram girando. Quando eles aterrissaram o Darkling estava mais perto.

Eles saltaram de novo, tentando voltar para a estrada.

"Está muito cheio aqui", ele gritou. "Nós temos que nos afastar da cidade."

"Em direção ao deserto?"

"Sim. O deserto aberto é perfeito."

"Não é de onde os caras maus vem?", ela perguntou.

"Sim. Mas eles são muito lentos lá."

Jessica olhou para o monstro atrás deles. Ele tinha parado para mudar de forma, mudando em uma fina forma como de cobra, com a cabeça pontiaguda. A extensão da asa da criatura tinha aumentado, como se a massa da coisa tivesse sido transferida de seu corpo para suas asas. Ela parecia mais rápida agora, e estava se aproximando.

"Ok."

No próximo pouso eles se viraram, angulando em direção a margem da cidade. De repente Jessica reconheceu onde eles estavam.

"Minha mãe trabalha perto daqui. Próximo pulo: por ali!"

"O que? Sua mãe não vai nos ajudar, Jessica."

"Cala a boca e me siga."

Jessica sentiu a mão de Jonathan enrijecer, resistindo a ela por um momento, mas quando o próximo salto veio, ele seguiu a liderança dela. Quando eles alcançaram o topo do arco do pulo, eles se encontram se elevando por cima de uma alta cerca no terreno da Aerospacial de Oklahoma. Sua mãe tinha levado Jessica lá no primeiro dia da escola, quase a deixando atrasada. O complexo era imenso, pontilhado com grandes hangares de aeroplanos e baixos prédios de escritórios, a maior parte de pistas e de vastos espaços vazios. Eles testavam asas novas, trem de pouso e motores de jato aqui, e a mãe de Jessica tinha dito que eles até mesmo tinham um velho Boeing 747, que eles de vez em quando incendiavam para praticar combate a incêndios.

Tudo isso requeria um monte de espaço.

Eles pularam mais três vezes, longos e rápidos, tomando um comprimento inteiro de uma pista com a velocidade de uma aeronave. Então eles aterrissaram sobre um imenso hangar e descobriram outra pista longa. O Darkling ficou muito para trás.

O grito do monstro alcançou seus ouvidos. Ao contrário do urro da pantera, seu grito era alto e esganiçado, torturou as orelhas de Jessica como um assobio de uma chaleira fervendo.

Um coro de gritos veio em resposta, gorjeios altos agudos vindo de algum lugar em frente a eles.

"O deserto é à frente."

Jessica acenou e disse suavemente. "Eles estão esperando por nós."

A lua no céu preenchia o horizonte agora, e ela podia ver uma nuvem de slithers voadores contra sua face sem luz e ofuscante. Havia uma centena deles, movendo-se numa massa caótica, e duas formas maiores, Darklings em asas.

"Isso é muito estranho", Jonathan disse. "Eu nunca tinha visto -"

"Por aqui", Jessica interrompeu enquanto eles acertavam o chão.

Ela o puxou para um lado, angulando para longe da armada de criaturas à frente. Mas sua decisão veio tarde. As mãos deles sacudiram tensamente contra a outra, e ela sentiu seus dedos deslizarem. Ela estendeu sua outra mão para ele, mas o movimento dinâmico deles os afastou.

"Jess!", ela ouviu Jonathan gritar.

Quando eles se desconectaram, ela sentiu a gravidade tomar posse de seu corpo. Eles tinha acabado de deixar o chão, e não havia muito para se cair, embora o asfalto estivesse se movendo embaixo dela rapidamente. Foi como olhar para uma rua através das janelas de um carro acelerando. Ela rolou em uma bola.

Um pouco antes de Jessica bater no chão, o asfalto pareceu mudar de textura, subitamente escuro e desnivelado. Quando ela bateu na terra, ela estava coberta por algo inesperadamente suave. Ela rolou e rolou, o chão golpeando ela em todas direções.

Jessica finalmente parou, contundida e sem fôlego. Ela ficou deitada lá por um segundo, se sentindo terrivelmente pesada. Quando ela pôde respira, o cheiro de grama preencheu seu nariz.

Isso era o que tinha amparado sua queda.

Jessica se sentou, lentamente. Ela olhou ao redor.

Ela tinha perdido a pista, aterrissado aonde a espessa grama de Oklahoma conduzia para sua margem. Havia um gosto metálico de sangue em sua boca, e ela estava tonta, mas seus braços e pernas pareciam capazes de se mover.

O som dos slithers veio à frente e por trás, se aproximando dela. Há distância suas formas se moviam contra a vasta, lua negra como uma nuvem de mosquitos. Jonathan não estava em lugar nenhum para ser visto.

Seu peso normal parecia tão pesado quanto chumbo, agora que ela só podia correr, não voar. Ela ficou de pé lentamente. Começando dolorosamente a andar.

"Jess!"

Jonathan estava planando ao longo do chão em direção a ela, uma mão estendida.

Ela estendeu sua mão direita. Enquanto ele passava, Jonathan agarrou seu pulso e ela foi transformada em um balão de brinquedo novamente, puxada na trilha dele. Seus machucados em suas mãos doeram, e ela gemeu.

"Você está bem?"

"Sim. Só machucada."

"Eu pensei que você estava morta!"

Ela riu, um pouco histérica. "Eu pensei que você estava a meio caminho para o Texas."

Jonathan não disse nada, apenas apertou mais forte seu pulso.

"Obrigada por voltar", Jessica disse. Ela podia ouvir o som febril de sua própria voz e se perguntou se ela tinha batido sua cabeça. Era difícil dizer se seu atordoamento era seu cérebro danificado ou o efeito do toque de Jonathan.

"Eles estão nos três lados ao nosso redor agora." Ele disse.

Jessica piscou, tentando limpar sua mente. Ela podia ver uma nuvem de slithers a sua direita, e um Darkling isolado a esquerda deles, e presumiu que havia mais de cada, atrás. No espaço aberto eles estavam se movendo rapidamente de novo, um de seus tornozelos latejando com a dor, sempre que eles pulavam. Embora, eventualmente, eles seriam levados para o deserto, e se outro grupo de perseguidores aparecesse diante deles, eles não teriam nenhum lugar para ir.

De repente Jessica viu uma rede de vigas a direita. Se elevando no céu uns poucos andares, uma construção novinha que ia para a margem do complexo.

"Aço", ela disse.

„O que?"

Ela apontou. "Aço novo, não tocado pela meia noite."

"Espero que sim."

O som de seus perseguidores veio ao redor agora. Gorjeios, silvos e grasnares, como sendo presos dentro de algum santuário louco de pássaros. Enquanto eles se angulavam em direção ao novo prédio, um bando de slithers voadores se aproximou.

Jessica puxou Doutrinamente com sua mão livre e usou seus dentes para puxar a antena a todo comprimento. O prédio estava só há alguns saltos.

Ela viu o slither pouco antes da batida.

As asas de couro bateram primeiro, envolvendo eles ao redor de seu rosto, Jessica açoitou com Doutrinamente, e faíscas azuis preencheram sua visão. Então a criatura se foi.

"Eles estão tentando nos separar." Ele gritou.

Jessica sentiu um frio rastejar em seu ombro, A coisa tinha atingido a mãos deles entrelaçadas. Eles sabiam que ela não poderia voar por si mesma.

Outro slither se aproximou, mas ela o golpeou com a antena ainda soltando faíscas e ele bateu as asas para longe.

Um último pulo os levou para a rede de vigas de aço. Eles pousaram forte sobre uma barra amarrada com cabos.

"Eu vou soltar", Jonathan avisou.

Jessica conseguiu se firmar com só um segundo para se poupar. O peso colidiu sobre ela, e ela se ajoelhou, se agarrando a barra.

Jonathan puxou o colar por cima de sua cabeça, o envolvendo em torno de seu punho.

"Esplendorosos", Jessica sussurrou para o aço.

"Se nós pudermos aguentar um pouco mais - " Jonathan começou, mas sua voz ficou sufocada com a confusão, "O que -"

A floresta de aço ao redor deles floresceu com a luz - branca, não azul. O mundo substituído em cores reais, as vigas de metal de repente em um vermelho cinzento. O rosto e a mão de Jessica tornaram rosa, os de Jonathan castanhos.

De repente havia formas em pânico ao redor deles, gritando como foguetes furiosos. Os slithers estavam voando para o local do prédio, chiando e deixando uma trilha de faíscas quando eles golpeavam a luz branca, recuando para trás da margem das vigas de aço.

A nuvem de slithers reagruparam e se envolveram ao redor do prédio, o circulando, como se Jessica e Jonathan estivessem presos no olho de um tornado.

Sons feridos vieram de todo os lados deles, mas nenhum ousava entrar na grade de aço.

Jessica podia ver três Darklings juntos na beira da luz, suas silhuetas pulsando através de horríveis formas meio iluminadas. Seus olhos relampejaram em um profundo índigo.

Um baixo urro veio de um deles, longo e cheio de uma variedade de sons, como se ele estivesse tentando fazer palavras e significado. Mas não era mais compreensível que unhas em um quadro.

Então os três Darklings se viraram e voaram para longe. Os slithers voadores lentamente se reuniram em uma nuvem irregular, uma massa inteira se guiando de volta em direção ao deserto.

"A lua está se pondo", Jonathan disse.

Jessica concordou, incapaz de falar.

"É melhor nós descermos."

É claro, Jessica pensou. Em poucos minutos Jonathan não seria capaz de voar mais. Eles estariam presos aqui.

Ela estendeu sua mão, e ele a segurou. Eles pularam da viga de aço, caindo suavemente no chão. A luz branca ao redor deles lentamente se apagou, retornando a plácida luz azul da hora secreta.

"O que foi aquilo?", ela disse. "O que nos salvou?"

"Eu não tenho certeza", ele disse. "Talvez o aço?"

"Eu dei a ele um nome de treze letras", ela sugeriu.

Jonathan soltou uma risadinha. "Ao prédio inteiro?"

"Eu acho que sim. Pelo menos a parte que nós estávamos em pé."

Ele sacudiu sua cabeça. "Você pode por carga em um anel ou um colar, e Dess pode fazer coisas maiores se isso for do tamanho certo, mas não um prédio inteiro. Talvez este lugar seja feito de algum novo metal louco. O que sua mãe faz aqui?"

"Pesquisa de aeronaves."

"Hmm", Jonathan acenou. "Nós devíamos examinar isso. Isso foi realmente legal." Ele olhou acima, para o prédio sobre suas cabeças. "Não me importaria algumas soqueiras feitas desse troço. Ou talvez isso fosse apenas o fim da hora azul. Um monte de aço em conjunção com o pôr da lua."

Jessica deu de ombros. Este era outro mistério para Rex, era como soava.

Então um terrível pensamento a atingiu.

"Quanto tempo nós temos?" Ela perguntou.

Jonathan olhou para lua. "Menos de um minuto ou mais, até que a hora azul acabe. Eu acho que nós teremos que ir caminhando hoje à noite."

"Não até que saiamos daqui."

"O que?"

"Eles fazem um trabalho de defesa confidencial aqui, Jonathan", ela disse apressadamente. "Minha mãe teve seus dados levantados, foi entrevistada pelo FBI e tirada a impressões digitais duas vezes. Há guardas de segurança e uma grande cerca em volta."

"Beleza", ele disse, examinando o horizonte. Ele apontou e agarrou a mão dela.

"Para o lado da cerca de Bixby, agora!"

Ela concordou. "Três, dois..."

Eles pularam, indo em direção a cidade.

Levou vários saltos para os carregar para dentro da vista da cerca, Ela era de pelo menos 10 metros.

"Opa", Jonathan disse.

"O que? Nós podemos tranquilamente."

Ele engoliu em seco, apertando a mão dela forte. "Eu geralmente não pulo tudo isso tão perto do pôr da lua. Não é engraçado encarar toda a gravidade quando você está na altura."

"Você que me diga." Jessica disse.

"Oh, sim."

Eles se aproximaram da cerca. Jessica podia ver o rolo de arame farpado que o limitava, como uma longa mola esticada ao longo de seu topo. A luz estava mudando lentamente, um pouco de cor de volta ao mundo.

"Não tem muito tempo agora", Jonathan disse.

Jessica engoliu. Se ela fosse pega passando dos limites aqui, eles culpariam sua mãe. O novo trabalho estaria no espaço.

"Só mais um salto", ela gritou. "Vai!"

Eles dispararam no ar e por cima da cerca, transpondo o arame farpado em pelo menos seis metros.

"Ah, não!" Jonathan disse. "Eu acho que foi um pouco..."

"Forte demais?", ela perguntou.

Eles continuaram a navegar para cima

A lua estava deslizando para trás das colinas. Na distância à frente as árvores se tornando verdes. Jessica percebeu que era como o por do sol, direto no meio do dia e noite, quando a luz se movia do leste para o oeste, através do planeta. O pôr da lua e a hora normal - e a gravidade - estavam correndo em direção a eles.

"Isso não é bom", Jonathan disse.

Eles plainavam indefesos para o céu.

Jessica pensou furiosamente. Eles só precisavam de algo que os puxassem para baixo.

Se eles tivessem algo pesado...

Então ela percebeu. Eles tinham algo pesado: ela.

"Me dê sua corrente." Ela ordenou.

"O que?"

"Faça!" ela gritou.

Jonathan desenrolou Embaraçamento de seu pulso. Ela o arrebatou dele. Os elos de aço inoxidável pareciam fortes o suficiente. Ela segurou uma extremidade em sua mão livre. "Agarre a outra ponta. Forte."

Ele a agarrou.

Com sua outra mão, ela se soltou de Jonathan.

"Jess, não!"

Ela caiu, agarrando a corrente esticada e puxando Jonathan para baixo, atrás dela.

"Jess!" Os olhos dele estavam cheios de terror.

Em poucos segundos eles estavam baixando rápido o suficiente, e ela puxava a corrente para trazê-lo para mais perto dela de novo. Eles freneticamente agarraram a mão um do outro, e com o calor da carne dele, a falta de peso se envolveu em torno de Jessica de novo.

A dinâmica os levou abaixo em direção ao chão rapidamente, mas com uma suave pressão da gravidade da meia noite.

Jonathan envolveu seus braços ao redor dela. Jessica percebeu que ela estava tremendo.

"Eu nunca soltei ninguém antes", ele disse silenciosamente. "E agora eu tive que soltar você duas vezes em uma noite."

A grama abaixo deles se tornou verde. Eles estavam no nível do topo de uma árvore, e então seus pés tocaram o chão levemente.

O peso normal se colocou sobre eles poucos segundos depois.

"Bem, a terceira vez é um atrativo", Jessica disse. Ela ainda estava tremendo.

Eles ficaram ali, olhando um para o outro.

Finalmente eles soltaram suas mãos.

"Ouch", ele disse suavemente.

Jessica riu, esfregando sua mão. "Ouch é bom."

Jonathan riu alto. "Você tem uma força do inferno, Jess. Minhas mãos parecem como se uma porta batesse nela. Me fale sobre ser grudenta."

"Eu?", ela respondeu, rindo também. "Parece como se um caminhão atropelasse minha mão."

Ambos estavam rindo quando um carro da polícia parou.


15

12h:01min da madrugada

TOQUE DE RECOLHER

 

O carro da polícia triturou a margem da estrada, o cascalho saltando de debaixo de seus pneus enquanto ele deslizava em uma parada.

Jonathan agarrou a mão de Jessica e, instintivamente dobrou seus joelhos para saltar, vendo em sua mente o pulo preciso que os levaria seguramente sobre o carro, e para o telhado da casa do outro lado da rua. Ele podia ver o ângulo correto da aterrissagem e como o próximo passo os levaria para a próxima quadra e fora da vista. Longe para a liberdade.

Mas suas pernas se dobraram embaixo dele, e Jonathan se lembrou que estava pesado, lento, preso à terra.

Os músculos exaustos das pernas de Jonathan mal podiam empurrá-lo atrás, para ficar ereto de novo. Ele duvidou que ele pudesse até mesmo correr. Pelos próximos poucos minutos seu corpo cairia como uma pedra, enquanto ele lentamente se reajustava ao peso normal. Até mesmo respirar tomava esforço nesses horríveis instantes depois do fim da hora secreta.

Uma conhecida sensação de claustrofobia caiu sobre ele. Ele estava preso aqui, na hora normal. Preso pela polícia, pelo toque de recolher de Bixby, pelo sufocante e inevitável cobertor que era a gravidade. Preso como um inseto se afogando em cola.

Tudo o que Jonathan podia fazer era apertar a mão de Jessica.

As portas do carro da polícia se abriram, e um refletor disparou, ferindo-o nos olhos.

Ele se virou, cobrindo seu rosto com suas mãos.

"Pensa que pode se esconder, Martinez?" Uma voz profunda chamou, rindo. "Eu reconheço seu rosto bonito."

O coração de Jonathan afundou, mas ele tentou fazer sua resposta soar corajosa. "Vire essa coisa, St. Claire. Nós não vamos a lugar nenhum."

Ele ouviu o mastigar das botas, então sentiu a mão do Xerife St. Claire cair sobre seu ombro. Ela parecia como um bloco de chumbo cabeludo por si mesmo em Jonathan, o empurrando para baixo na areia movediça que o chão tinha se tornado.

"Jonathan Martinez, você nunca falou palavras mais verdadeiras."

"Hei, Clancy, onde você acha que Martinez conseguiu uma namorada?"outra voz veio do carro.

"Hmm, agora isso é um quebra-cabeça." Então a voz de St. Claire suavizou. "Caraca! O que aconteceu a você, garota?"

Jonathan conseguiu abrir seus olhos, apertando os olhos contra o clarão. Jessica parecia confusa e surrada, seu rosto mortalmente pálido sob o refletor. Os joelhos de seus jeans estavam manchados com grama e sangue, seu cabelo selvagem da uma hora de voo

"Eu cai", ela disse, debilmente.

"Você caiu? Claro que sim." Jonathan sentiu a mão do Xerife apertar seu ombro. "Eu não acredito que eu conheça você, querida."

"Jessica Day."

"E quantos anos você tem?"

"Quinze."

"Então, Jessica Day. Eu não acho que seus pais saibam onde você está?"

O refletor ficou escuro, e Jonathan ficou cego por um momento na súbita escuridão. Ele ouviu a respiração de Jessica prender, enquanto ela tentava pensar em um jeito de evitar a pergunta. Havia uma derrota no tom de sua voz quando ela finalmente respondeu.

"Não. Eles pensam que eu estou em casa na cama."

"Bem, querida, é onde você provavelmente deveria estar."

Eles sentaram Jessica na parte de trás do carro de polícia, enquanto St. Claire falava no rádio por enquanto, esperando por mais policiais chegarem. A polícia em Bixby sempre gostava de fazer as coisas em grandes números.

Jonathan desejou que ele pudesse falar com Jessica, mesmo por poucos momentos. Ele queria explicar que isso não era grande coisa na verdade. Os policiais só levavam você para casa e acordava seus pais. Ele tinha estado nesse processo sete vezes, nos últimos dois anos, e não parecia ficar pior que isso. Seu pai estaria mal-humorado, mais do que o de sempre, por alguns dias, mas ele diria também muitas histórias sobre seus próprios dias desenfreados, para ficar com raiva de seu filho.

"Eu nunca estive preso, pai, só detido e transportado para a custódia dos pais." Aquelas eram as palavras mágicas. O pai não podia dizer o mesmo.

No entanto, Jonathan tinha a sensação de que Jessica nunca tinha tomado uma carona em um carro da polícia antes. Ela se sentava no banco de trás com sua cabeça em suas mãos, abandonada e imóvel, sem olhar acima para ele.

Foi horrível, estar preso aqui no chão, incapaz de levá-la para longe. Eles tinham sobrevivido de serem caçados por três dos maiores Darklings que ele tinha visto, só para ser pego por um estúpido e incompetente como St. Claire. Ele se sentiu impotente. E pior, ele sentia a culpa, como se ele tivesse largado Jessica de novo. Três vezes em uma noite.

Tinha sido maravilhoso antes dos Darklings terem aparecido. Ele nunca tinha se divertido tanto voando com mais ninguém. Jessica parecia saber instintivamente como pular, como se ela mesma fosse uma acrobata, como se eles estivessem conectados. O pensamento deles nunca mais voarem juntos de novo, caiu como gelo em seu estômago. Ele duvidava que Jessica sequer fosse querer falar com ele depois dessa noite.

Ele respirou fundo, dizendo a si mesmo para ser calmo. Ele iria até ela amanhã a meia noite e se certificaria que ela estava bem.

Finalmente outro par de faróis se moveu. Dois oficiais levaram Jessica para casa, e St. Claire empurrou Jonathan para trás do segundo carro se apertando ao lado dele.

O peso do homem grande achatou as molas do assento traseiro. Jonathan se sentiu pequeno ao lado dele. O oficial na frente ligou o motor, e o carro pulou para a estrada.

"Você e eu vamos ter uma conversa, Jonathan."

"Yeah, foi há muito tempo St. Claire."

O xerife suspirou, ajustando seu volume. Ele se mexeu e olhou para Jonathan atentamente.

"Agora, garoto, uma coisa é quando você vai vagabundear por aí toda noite. Eu não me importo se acontecer alguma coisa com você ai fora."

"Por mim está bem."

"Mas levar uma garotinha como aquela para problemas, é negócio sério."

Jonathan suspirou com frustração. "Eu só a estava levando para casa. Nós estávamos bem até que vocês apareceram."

A mão rechonchuda do xerife prendeu seu ombro de novo, empurrando ele no banco com uma gravidade extra. A sensação de claustrofobia se construiu dentro de Jonathan.

"Ela não parecia bem, Jonathan."

"Aquilo foi um acidente, como ela te disse."

"Bem, se ela disser alguma coisa diferente, ou os pais dela, você será um hombre infeliz, Martinez."

Jonathan se virou e olhou pela janela. A primeira vez que ele tinha levado Jessica para voar, e eles tinham se enrolado indo para casa em carros de polícia. Ele não podia imaginar estar mais infeliz do que ele já estava.

Sua costumeira fome pós meia noite desceu sobre ele. Jonathan checou os bolsos de sua jaqueta, mas as maças se foram. Elas devem ter caído durante a perseguição. Ele decidiu comer um pote inteiro de manteiga de amendoim quando ele chegasse em casa.

A cerca ao redor da Aeroespacial Oklahoma estava passando pela janela do carro policial, o arame farpado pulsando na iluminação da rua que passava. Se eles tivessem saltado um pouco mais longe ou descido mais rápido, eles teriam aterrissado em alguma outra rua. O carro de polícia nunca teria visto eles.

Ele viu uma placa de rua e começou.

"Hei, que caminho nós estamos indo?"

St. Claire riu. "Que bom que você notou, Jonathan. Veja, eu já tive um papinho com seu pai, e ele e eu entramos em um acordo."

Uma sensação doentia começou a cair sobre Jonathan. Respirar se tornou mais difícil, como se a força da gravidade estivesse aumentando gradualmente.

"Veja, no estado de Oklahoma, se os pais se sentem incapazes de cuidar de seus filhos delinquentes, eles podem requisitar que a criança permaneça sob a custódia da polícia."

"O que?" Jonathan gritou. "Mas meu pai-"

"Não pode aparecer aqui para fazer isso hoje à noite. Compromisso prévio, eu acho.

"Por quanto tempo?"

"Não se preocupe. É só até que um oficial judicial escute os particulares no caso. Seu pai tem que aparecer para isso, e eu tenho certeza que ele levará você para casa tão logo você tenha encontrado o JHO{22} e prometido ser bom.

"Você está brincando?"

O homem riu fortemente, o som tão alto quanto um latido de cachorro no assento apertado. "Martinez, eu nunca brinco. Está na hora de você aprender uma liçãozinha sobre os perigos de transgredir o toque de recolher."

A sensação de claustrofobia começou a inundar Jonathan. O carro pareceu minúsculo e quente demais, a barreira da partição entre a frente e os bancos de trás tornando-se uma gaiola. Seu estômago se agitou com os nervos e a fome. "Você quer dizer que eu vou passar a noite na cadeia?", ele perguntou suavemente.

"A noite? Não só uma, Jonathan. Veja, ao contrário do seu amigável departamento do xerife, oficiais judiciais não trabalham nos finais de semana."

"O que?"

"Seu traseiro é meu até segunda de manhã."


16

1h:16m da manhã

CASTIGADA

 

A coisa estranha era, o pai de Jessica estava muito mais chateado que sua mãe.

A mãe tinha respondido a porta em suas roupas desembaladas - ela deve ter ainda estado trabalhando na cozinha. Ela tinha falado com a polícia silenciosamente e agradecido a eles por me trazer para casa. Nunca levantou sua voz, ela tinha dito a Jessica para esperar na cozinha enquanto ela acordava seu pai.

Ele ainda estava com os olhos arregalados, seu cabelo em pé do correr frenético de suas mãos através dele. A mãe tinha dito repetidamente a ele para não acordar Beth, mas Jessica não conseguia imaginar sua irmãzinha dormindo com a gritaria dele. O que o enlouqueceu mais foi a contusão em seu rosto, que ela podia sentir que estava só começando a aparecer.

Havia vezes, no entanto, quando era bom ter uma mãe como engenheira. A mãe tinha rapidamente notado que cada pancada e galo em Jessica, estava acompanhado por uma mancha de grama. Mesmo o trecho de pele em seu cotovelo era marcado por um círculo verde. Havia ainda grama em seu cabelo.

Ela parecia como uma menina de dez anos de idade, depois de um longo dia de verão.

"Então, você realmente caiu, não caiu, querida?"

Jessica acenou. Ela ainda não confiava em si mesma para falar. Ela tinha sido um bela de uma covarde quando a policia chegou, berrando com seus olhos na parte de trás do carro.

Jonathan tinha estado totalmente calmo.

Ela tinha bagunçado tudo. Sendo o pior imã do mundo para Darkling, não segurando na mão de Jonathan e caindo do salto deles, parecendo assim quando os tiras chegaram.

"Você parece que rolou uma colina, Jessica."

"Yeah", ela conseguiu dizer. "Só de brincadeira."

"Só de brincadeira", Papai repetiu alto. Ele começava de novo, cada vez que ela dizia alguma coisa, como se ele não pudesse suportar ouvir sua voz.

"Don." A voz da mãe às vezes tinha um tom com o pai que ela nunca tinha usado em Jessica ou Beth. Ele não disse outra palavra, exceto ficando sentado lá, puxando o cabelo dele.

Jessica respirou, olhando para seus joelhos. Eles doíam. A dor que abrangia seu corpo estava agora se dividindo em dores individuais. Uma das pancadas machucaria por um tempo, então descansaria um pouco enquanto outra tomava conta, como um bando de times de lutadores surrando um dos caras grandes{23}. Agora mesmo a contusão em sua bochecha estava pulsando com seu batimento cardíaco, fazendo seu rosto se sentir torto e grotesco. Ela a tocou gentilmente.

A mãe pulverizou um pouco de treco para dor em um pano de prato e esfregou de novo.

"Jessica, me diz o que aconteceu. Quando você saiu?"

Jessica engoliu em seco. A última vez que ela tinha visto seus pais foi logo depois do jantar. "Jonathan veio me buscar perto das dez. E pensei que nós íamos sair só para andar um pouco."

"Mas a policia disse que você estava perto da Aeroespacial por volta de meia noite. As pessoas não andam mais do que alguns quilômetros em uma hora."

Jessica suspirou. Tinha horas que ter uma mãe como engenheira podia ser um saco. Bixby não era grande, mas sua mãe trabalhava do outro lado da cidade. Jessica não sabia exatamente a quantos quilômetros de distância.

Ela deu de ombros. "Eu não sei, foi logo depois que eu fui para a cama."

"Isso foi bem antes das dez, Jessica. Logo depois do jantar", seu pai disse. "Eu pensei que foi estranho, o quão cedo você foi para a cama. Você sabia que ele ia aparecer?"

"Não. Ele apenas veio."

"E você só saiu para caminhar com ele?"

"Ele está na minha aula de física."

"A polícia disse que ele é um ano mais velho que você." Mamãe disse.

"Minha aula avançada de física."

Aquilo a calou. Mas papai continuou.

"Por que você foi para a cama tão cedo?"

"Eu estava cansada do trabalho de hoje."

"Você realmente estava no museu o dia todo? Ou com ele?"

"Eu estava no museu. Ele não estava lá."

Ele acenou. "Fazendo um trabalho que vale um dia inteiro, na primeira semana de escola? Nós podemos ver este trabalho?"

Ela engoliu em seco. Não tinha nenhum trabalho para mostrar a eles. Ela tinha tomado algumas notas, mas tinha solenemente prometido a Rex nunca mostrá-las a ninguém. Quando ela tinha começado a mentir para seus pais? Talvez quando o mundo tinha parado de fazer sentido.

"Eu estava fazendo pesquisa."

"De que?"

"Nas possíveis conexões entre as técnicas de fazer ferramentas da cultura da idade da pedra da era Solutrean no sudeste da Espanha e determinadas pontas de lanças do pré-Clovis descobertas em Cactus Hill, Virginia." Ela botou para fora.

A boca de papai escancarou.

Ela piscou, surpresa com suas próprias palavras. Aparentemente um pouco da sua dieta dos conhecimentos midnighter tinham conseguido se enfiar em sua cabeça. Ela se lembrou de Rex mostrando a ela a longa caixa da evolução gradual das pontas de flechas e o buraco no meio, onde tudo tinha mudado de uma só vez.

"Houve um salto tecnológico nas pontas do Novo Mundo cerca de doze mil anos atrás", ela disse em uma silenciosa concentração.

Pelo menos falar sobre essas coisas não a faziam querer chorar. Faziam ela ficar sob controle. "Uma melhorada do canal meridiano e uma vantagem acentuada. Algumas pessoas pensam que a técnica avançada de algum modo veio da Europa."

"Tudo bem, querida. Nós acreditamos em você." Mamãe disse, dando pancadinhas em sua mão. "Você tem certeza que Jonathan não levou você a algum lugar em um carro?"

"Tenho certeza. Nós só seguimos caminhando mais longe do que eu pensei que nós iríamos. De verdade."

"Você sabia que este garoto tem estado em problemas com a polícia antes."

Jessica sacudiu sua cabeça. "Eu não sabia disso."

"Bem, você sabe agora. E você nunca mais vai sair dessa casa de novo sem nos dizer, ok?"

"Ok."

"E você não vai a lugar nenhum, exceto a escola, pelo próximo mês." Papai adicionou.

Mamãe pareceu infeliz com isso por uma fração de segundo, mas ela concordou.

"Eu gostaria de ir para a cama agora." Jessica disse.

"Ok, docinho."

A mãe a levou de volta ao seu quarto e lhe deu um beijo de boa noite.

"Eu estou feliz que você esteja bem. É perigoso lá fora, Jessica. "


17

11h:59min da noite

REVELAÇÕES

 

As paredes eram pintadas num roxo forte que se tornava preto durante a hora secreta. Um quadro negro pendurado, onde Dess fazia seus cálculos em giz vermelho, em um daqueles raros momentos quando ela não podia fazê-los em sua cabeça. Na outra parede estava um autorretrato que Dess tinha feito com peças de Legos, encaixando elementos cinza, preto e branco juntos, como os pixeis de uma tela de computador. Ela tinha estado querendo fazer uma melhora na imagem, agora que ela tinha pintado seu cabelo e cortado ele mais curto, mas o pensamento de separar todos aqueles Legos e começar de novo era muito desencorajador. Além do mais, ao contrário de uma imagem de computador, não tinha como salvar o original.

No centro do quarto tinha uma caixa de música, na qual uma bailarina imóvel repousava. O frufru rosa da bailarina tinha sido substituído por uma gaze roxa escura, seu cabelo loiro pintado de preto, e minúsculas bijuterias de metal adicionadas para completar o traje, que Dess tinha feito de clipes de papel soldados. O nome da bailarina era Ada Lovelace. As entranhas da caixa de música estavam abertas, com isso, Dess podia mudar os movimentos de Ada pelo interruptor em torno das engrenagens. Ela também tinha mantido afastado alguns minúsculos botões no tambor rotativo que tocava a música, fazendo ela um pouco menos doce e previsível. A melodia alterada não tinha começo ou fim, só uma série aleatória de toques para combinar com qualquer coreografia.

Esta noite o quarto cheirava a metal queimado.

Dess tinha estado trabalhando o dia todo em uma arma. Ela tinha dado vida a um microfone de pedestal, que ela tinha encontrado em uma loja de música. Ela tinha parado pelas cordas de aço do violão, para traçá-las em padrões de proteção em suas portas e janelas. Mas quando ela viu o pedestal, Dess tinha decidido torrar todas suas economias do trabalho das férias de verão. Comprar metal novo em folha e garantido que ele era limpo, não tocado por mãos inumanas, embora um monte de garotos de treze anos tinham provavelmente brincado de estrela do rock com ele. (a própria Dess tinha feito mímica de uma música com ele em frente a seu espelho, antes de começar o trabalho).

O pedestal podia ser ajustado para cantores baixos e altos, de 1.82m a 91 cm{24}, e ele era muito leve sem sua pesada base removida. Dess nunca tinha nomeado nada tão grande antes, mas suas proporções eram matematicamente perfeitas. Estendido em todo o seu comprimento, ele parecia mais com uma arma de verdade do que qualquer coisa que ela tinha feito antes.

Ela se perguntou se os Darklings ainda tinham pesadelos por causa das pontas, as armas que os humanos da Idade da Pedra tinham usado contra eles. Melissa sempre dizia que os Darklings tinham longas memórias.

Dess tinha passado o domingo adicionando pequenos símbolos para o bastão do pedestal, hieróglifos matemáticos e conjuntos de pontos cuidadosamente padronizados. Ela tinha até mesmo copiado umas formas de uns rabiscos da caverna local, supostamente para lembrar uma bem sucedida caçada há dez mil anos atrás. Ela tinha trabalhado até ela completar trinta e nove figurinhas juntas, o número perfeito anti Darklings.

Ela soldou o ferro ainda amolecido em um canto, uma faixa branca de fumaça subindo para o teto de sua ponta. Como um castiçal em seu quarto apagado pela meia noite azul ao redor dela, Dess observou a fumaça congelar no lugar, como uma cobra com ondulações subitamente interrompidas. Na luz azul, ela brilhou contra as paredes pretas, tão delicada e luminescente quanto o fio de uma teia de aranha pego por raios do sol.

Dess estendeu um dedo e a tocou. Um segmento da largura do dedo de fumaça destacou de si mesmo e viajou acima para o teto.

"Hmm", ela disse. "Faz sentido."

Como qualquer coisa tomada na brisa da meia noite, as partículas de fumaça foram soltas por seu toque. Mas a fumaça quente era mais leve que o ar, então ela subiu ao invés de cair.

Ela ergueu o pedestal. Na lua azul ele parecia como uma arma elegante. Se hoje a noite a hora secreta fosse qualquer coisa como a da noite passada, ela ia precisar dela.

Só mais um passo: Dess queria dar um nome de trinta e nove letras, mas um que funcionasse. Uma palavra simples não ia funcionar. Ela só tinha descoberto uns poucos nomes químicos de peso, palavras usadas só por cientistas, e ela não parecia ser muito estimulante na hora azul. Nem mesmo os slithers eram assustados com nomes como benzohydroxypentalaminatriconihexadrene, possivelmente por causa de que eles eram geralmente encontrados entre os ingredientes dos Twinkies. Mas talvez uma frase feita de palavras de três trezes daria conta do recado. Dess se sentou olhando as minúsculas figuras ao longo do comprimento do pedestal do microfone por uns minutos, letras rolando em sua mente.

Os outros midnighters tinham usado dicionários, mas para um gênio da matemática era automático. Para ela, palavras de treze letras tinham seu próprio cheiro, sua própria cor, se elevavam como LETRAS GARRAFAIS em sua cabeça. Levou só uns poucos instantes antes do perfeito trio de tridecalogismos viesse em sua mente.

Ela segurou a arma perto e sussurrou para ela, "Resplandecida Incandescente Simbolizações{25}.

Como acordado, Dess foi se encontrar com Rex em sua casa. Ele morava perto de Jess, e se um deles fosse pego sozinho, ela podia lidar com isso melhor. Melissa estava ficando em casa hoje à noite, observando a paisagem psíquica para tentar descobrir uma impressão do que estava acontecendo no deserto.

"Você está bem?" Rex disse enquanto Dess ia para cima do gramado desgastado. Ele tinha estado esperando em um pequeno círculo de treze pedras empilhadas.

"Yeah. Esta noite não está tão má quanto à passada. Pelo menos, não aqui na cidade."

O lugar das tradições onde eles tinham estado na noite passada era muito velho, distante no deserto. Os slithers tinham os seguido no começo, pelo ar e no chão. Eles tinham parecido crescer em número, da última vez que Dess olhou. Todas as espécies de Darklings voadores tinham feito suas aparições, suas odiosas e estranhas silhuetas assomando a lua. Dois Darklings tinham até mesmo tentado mexer com eles, testando suas defesas, as que ela tinha colocado ao redor do local da tradição. As coisas poderiam ter ficado feias, mas cerca de quinze minutos antes do por da lua, eles todos tinham saído, como se subitamente se lembrando de um compromisso. Isso tinha sido muito estranho e inquietante.

"Vamos indo", ela apressou Rex. Dess não tinha gostado da idéia de Jessica abandonada. As tachinhas poderiam não servir esta noite.

É claro, ela poderia não estar sozinha. Dess pensou com um sorriso quieto.

Não seria uma surpresinha legal para Rex.

Rex deu uma boa olhada ao redor antes de pegar sua bicicleta.

"Eu só espero que eles permaneçam quietos. Eu me pergunto de onde todos aqueles Darklings vieram. Eu não tinha idéia que havia tantos grandões."

Dess concordou. "Eu tenho estado pensando sobre isso. Quer ouvir uma teoria?"

"Claro."

"Ok. Darklings parecem com panteras e tigres, certo? Exceto quando eles ficam loucos como eles estavam noite passada."

"Sim. A tradição diz que eles são relacionados a felinos grandes - leões e tigres - como nós somos aos macacos."

"Ok", Dess continuou. "Bem, meu conhecimento, que seria no Discovery Channel, diz que os gatos gastam uma grande porcentagem do dia dormindo. Veja os leões. Eles dormem vinte e duas horas por dia, relaxando por aí, a cauda balançando para afastar as moscas, talvez bocejando o ocasional rugido territorial, mas basicamente semiconscientes."

"Vinte duas horas de sono por dia? Isso parece com o gato do meu pai."

"Então o que deixa só duas horas acordado, certo? Para uma daquelas horas eles fazem a manutenção do gatinho: se lambem, brincam de lutar com outros membros por orgulho, tanto faz. Eles caçam só por uma hora das vinte e quatro."

Rex assobiou. "Isso é que é vida. Uma semana de trabalho de cinco horas."

"Sete." Dess corrigiu. "Eles não tem finais de semana."

"Dureza."

"Então aqui é que está a coisa. Se os Darklings são como felinos grandes, então eles provavelmente só caçam uma hora por dia."

"Claro", Rex concordou.

"Mas o que é um dia para um Darkling?"

Rex ponderou enquanto pedalava, relembrando do seu precioso conhecimento. "Bem, os Darklings só vivem uma hora nas vinte e cinco, da hora secreta. Eles estão congelados pelo resto, como pessoas normais estão congeladas na hora azul. Então leva a eles vinte e cinco horas de nossos dias para viver um único dia em sua vida. Essa é a parte do por que eles vivem por tanto tempo."

"Certo", Dess disse. "Então, um Darkling provavelmente dorme por vinte e três dos nossos dias sucessivamente."

A bicicleta de Rex vacilou. Ela podia dizer que ele não tinha pensado nesta idéia antes. Ela sacudiu sua cabeça. A vida das pessoas seria muito mais simples se todos de vez em quando se incomodassem em fazer cálculos.

"E que significa", ele disse lentamente, "que eles só caçam cerca de uma vez por mês. Como um lobisomem na mitologia."

"Exatamente. Que deve ser onde a coisa toda da lua cheia vem. Exceto que os Darklings caçam a cada 3.571.429 semanas, não a cada quatro. Mas quem está contando? Em qualquer caso, isso significa que há um montão a mais de Darkling do que nós pensávamos, por que a maioria deles está dormindo a maior parte do tempo. Nós só temos visto a ponta do iceberg. Para cada um caçando, outros vinte e três estão dormindo."

Dess deixou Rex absorver a informação por enquanto.

Finalmente ele disse. "Então a pergunta não é, De onde que todos eles vem?"

"Certo", ela respondeu. "A pergunta é, Por que todos não acordam?"

Quando Jessica respondeu a batida em sua janela, ela parecia desapontada em ver eles.

"Esperando por alguém mais?" Dess perguntou.

"Tipo assim", Jessica disse silenciosamente.

Rex não notou ou pensou que ela e Jess estavam brincando. Dess se perguntou exatamente o que tinha acontecido noite passada.

Ela tinha ligado para a casa de Jonathan hoje, para ver se ele tinha seguido em sua ameaça de visitar Jess durante a hora azul. Mas ninguém tinha respondido ao telefone o dia todo.

Ela não estava preocupada - Jonathan podia tomar conta de si mesmo melhor do que qualquer um deles. - mas Dess queria ouvir em primeira mão.

"Bem, nós temos grandes notícias para você." Ela disse.

"Entrem." Jessica disse, deslizando aberta a janela.

Dess pulou através dela e se voltou para dar a Rex uma mãozinha. Ocorreu a ela que eles poderiam muito bem tem usado a porta da frente, mas alguma coisa na hora azul fazia todo mundo querer sussurrar, planejar e se esgueirar.

Jessica desmoronou em sua cama. Ela parecia cansada e deprimida. Aparentemente não tinha sido um dos melhores primeiros encontros. Talvez os Darklings tivessem estragado a festa.

Dess notou que Jess estava esfregando sua mão direita, como se ela estivesse um pouco dolorida. Ela sabia por experiência o que isso significava: as coisas não podiam ter dado completamente errado.

Dess pôs suas questões de lado. Ela podia perguntar a Jess no período de aulas amanhã, quando Rex não estivesse por perto para ficar pau da vida.

"Nós fomos ao local da tradição, noite passada", ele disse.

"Foi uma viajem bem cabeluda", Dess disse. "A cidade dos Darklings lá fora."

"Mas podemos ter encontrado o que está acontecendo."

Jessica olhou para cima. "É tudo minha culpa, não é?"

Rex pareceu surpreso por um momento, então deu de ombros. "Não é sua culpa, exatamente."

"Mas é por minha causa. Aquelas coisas não costumavam incomodar vocês. Desde que eu apareci, eles estão por toda parte. Certo?"

"É verdade", Rex admitiu. "As ações mais fortes dos Darklings podem estar relacionadas a você ter vindo a Bixby. Mas só talvez."

"Talvez definitivamente", Jessica disse. "Vocês tem um mundo privado, uma hora secreta toda sua, e eu baguncei com tudo."

"Você não bagunçou com ela. Os Darklings já estavam lá, e nós estávamos enrolados com eles antes, " Rex disse. "Mas é possível que você tenha assustado eles."

"Assustado?"

Dess se sentou perto de Jessica. "Cada midnighter tem seu próprio talento, Jessica."

"Então eu notei. Todos menos eu, tem."

Rex andou pelo quarto. "A tradição diz que os Darklings sentem quando um novo midnighter chega a seu território, como Melissa pode. Eles podem sentir nossos talentos, e eles sabem quando alguém novo é um perigo para eles."

"Eu, um perigo para eles?" Jessica riu. "Você deve estar brincando. De longe, meu maior talento parece ser de imã para desastre. Um atraente caminhar de má sorte."

"Isso é por que eles estão assustados", Dess disse. "Eles ainda são animais, de certo modo - gatos selvagens."

"E você mexeu com o ninho deles."

Dess rolou seus olhos. "Gatos não tem ninhos, Rex."

"Bem você mexeu com a... casa de gatos deles. Mas qualquer que seja seu talento virá à tona, Jessica, ele deve ser importante. Para nós."

Ela olhou acima, para ele. "Você tem certeza?"

"Se eles querem você, nós precisamos de você", Dess disse.

"Mas eles me querem morta."

"Essa é a razão que nós precisamos descobrir exatamente o que você é", Rex disse. "Você vai nos ajudar a fazer isso?"

Jessica olhou para ambos, então olhou com mau humor para a janela na hora azul. Dess viu as cuidadosas fileiras de tachinhas alinhadas em cada janela e se perguntou como seria estar presa em seu próprio quarto na hora secreta, com o mundo inteiro vazio esperando por você lá fora.

O quarto de Jessica tinha uma delicadeza louca nele, como se ela tivesse limpado o dia todo. Como Dess tinha imaginado, os pais dela não eram pobres. Jessica tinha um aparelho de som de verdade e uma tonelada de cds. Mas o quarto não parecia de jeito nenhum vivo. Ele parecia com um quarto solitário.

Jessica suspirou antes que ela respondesse. "Claro. O que é que eu tenho que fazer?"

Rex sorriu. "Nós temos que levar você a um certo terreno de tradições durante a hora secreta. Há meios de ler sobre seu talento lá, te testar para descobrir o que você é."

"Ok, exceto o que acontece quando os Darklings estão na reta?

"Eles irão tentar." Dess disse. "Mas eu posso colocar defesas com antecedência, deixar tudo pronto durante o dia. Vai ser totalmente seguro na hora da meia noite rolando.

Jessica olhou ao redor, claramente infeliz com a ideia de que seu quarto não era totalmente seguro. "Então o único problema é chegar lá." Ela disse.

"Nós vamos ter essa cobertura também", Rex disse. "Você pode dizer a seus pais que vai passar a noite com Dess. Ela mora mais perto do deserto. Você pode escapar e chegar lá antes -"

"Esquece."

"Por quê?" Rex perguntou.

"Eu não posso passar a noite toda com ninguém, não até o próximo mês. Eu estou de castigo. Muito."

"Oh", Rex pareceu como se ele não tivesse esperado nada tão comum para atrapalhar seus planos. "Bem, se você escapulir por sua conta, Melissa pode levar você e dirigir -"

"Não", Jessica disse a palavra sem hesitação. "Eu menti para meus pais o suficiente. Eu sai as escondidas por aí o suficiente. Esquece."

Rex abriu sua boca, e então a fechou.

Dess estava morrendo de vontade de falar com Jessica longe do Rex. O que tinha acontecido noite passada? Ela se perguntou se o castigo de Jess tinha alguma coisa haver com Jonathan.

"Quero dizer", Jessica continuou, "eu não me importo de sair na hora secreta, mas eu não vou deixar essa casa durante a hora normal. Se meus pais descobrirem, eles ficariam realmente chateados. Eu não quero fazer isso com eles de novo."

"Você quer esperar um mês inteiro?" Rex discutiu. "Se eles estão tão assustados quanto eles parecem, os Darklings poderiam tentar algo realmente mais sério em breve."

"A que distância é esse lugar?" Jessica perguntou.

"Bastante longe", Rex disse. "Mesmo indo a partir de Dess, você mal pode ir lá e voltar em uma hora em uma bicicleta."

"E sobre voar?"

A boca de Rex escancarou, e seus olhos se viraram friamente em direção a Dess. Ela suspirou e esticou suas mãos com um pequeno encolher de ombros. Não havia como evitar a culpa. Rex sabia que Melissa nunca teria falado a Jonathan onde Jess morava.

Até onde importava, se Dess não tivesse fofocado, Jonathan não podia nem mesmo ter adivinhado que havia um novo midnighter na cidade. Ela tentou parecer sem graça.

Mas por dentro Dess sorriu. Ocasionalmente Rex precisava ser lembrado que ninguém tinha elegido ele o vidente.

Ele se concentrou e se voltou em direção a Jessica.

"É muito perigoso. Vocês dois sozinhos, no deserto, vocês estariam voando direto a uma armadilha mortal."

"Yeah", Jessica admitiu, "foi bem ruim noite passada. E nós mal passamos pela fronteira da cidade."

"Vocês passaram -" Rex se enfureceu de novo, mas se manteve controlado. "Nós vamos pensar em alguma coisa", ele disse. "Algum jeito de levar você lá antes da meia noite."

"Afinal onde fica exatamente este lugar de tradição?" Jessica perguntou.

Dess observou Rex cuidadosamente e pensou que ela viu um momento de prazer enquanto ele respondia, agora que ele tinha outra razão para Jessica Day estar assustada pela meia noite.

"Ele é chamado de poço da cobra."


18

11h:06min da manhã

NOTÓRIA

 

Na segunda de manhã não tinha levado muito tempo para descobrir onde Jonathan tinha passado o resto do fim de semana. Jessica primeiro não acreditou nisso - soava muito mais como um rumor para ser verdade - mas a mesa vazia dele e os olhares no segundo período de física diziam tudo.

Era verdade. Ele estava na cadeia, e era tudo por sua culpa.

Haviam um monte de versões circulando, mas todos pareciam saber que Jonathan tinha sido preso na companhia de Jessica Day. Ela tinha ido de nova garota para garota má em tempo recorde. A maioria das pessoas pareciam surpresas de ver Jessica aqui na escola, como se esperassem que ela estivesse apodrecendo em sua própria cela na cadeia. Ela causava um burburinho em toda parte que ela ia, com todo mundo (exceto aqueles poucos professores ingênuos, que eram eternamente imunes a fofoca) esperando saber o que tinha acontecido.

Felizmente, Constanza veio ao seu socorro, conduzindo Jessica entre suas aulas da manhã e a colocando por dentro.

" É como isso: A tia ou mãe de alguém, trabalha como despachante, ou policial, no departamento do xerife e estava lá no sábado a noite quando Jonathan foi trazido. As notícias correm rápido em Bixby. Afinal, o que vocês dois estavam fazendo?"

"Só caminhando."

Constanza acenou. "Violando o toque de recolher. Foi o que eu imaginei. Mas algumas pessoas estão dizendo que você foi presa por arrombar um carro, ou uma farmácia, ou ambos."

"Nenhuma das acima. Mas por que eles me levariam para casa e ele para a cadeia?"

"Bem, todo mundo sabe - pelo menos até esta manhã - que Jonathan tinha estado com problemas com a polícia antes. Tipo um milhão de vezes. Seu pai também. Na verdade, eu ouvi que Jonathan, ou seu pai, talvez, eram procurados por assalto a mão armada em Filadélfia, ou talvez homicídio culposo, que é o porque os dois tiveram que se mudar para cá, em primeiro lugar."

"Você tem certeza absoluta sobre tudo isso?"

"Absoluta, não. Mas você tem que saber o que as pessoas estão dizendo, Jessica."

"Yeah, é claro. Desculpe."

Algumas calouras estavam em pé perto do armário de Jessica, e Constanza as enxotou, enquanto Jessica pegava seus livros para ir à sala de estudos. Jessica encolhida em seu armário, sentia os olhares das pessoas passando, tentando decidir se ela estava mais atrasada em trigonometria ou física.

Ela ainda podia ver a mesa vazia de Jonathan, a confirmação final que ele não tinha ido para casa aquela noite. Jessica não podia acreditar em como as coisas se mantinham ficando pior. Tudo que podia ter dado errado, com a possível exceção de ser comida, deu.

Jessica Day: Imã de Darkling, imã de policia, caráter duvidoso.

Ela agarrou seu livro de trigonometria e bateu fechando o armário.

"Eu ouvi que vocês dois estavam se beijando quando os policiais apareceram." Constanza disse.

"Não, nós não estávamos."

"O que, vocês só estavam de mãos dadas?"

"Não." Jessica parou. "Bem, na verdade, nós tipo estávamos segurando as mãos." Ela esfregou seu pulso, que estava ainda dolorido. Se segurar firmemente pela preciosa vida requeria músculos que normalmente não exigiam muito exercício.

"Então você e Jonathan são um casal?"

Jessica sentiu seu rosto esquentar. "Não. Eu não sei. Talvez..." Ela mal conhecia Jonathan, mas ela nunca tinha sentido uma conexão com nenhum cara antes, do jeito que ela teve com ele sábado à noite. É claro, depois do jeito que a noite tinha terminado... "Provavelmente não, depois do que aconteceu", ela terminou.

Constanza colocou seu braço ao redor de Jess, guiando ela em direção a biblioteca.

"Por mim, eu acho que o toque de recolher é uma lei idiota. Eu acho que eu vou escrever um artigo sobre isso para o jornal da escola, talvez até mesmo para o Register, "JOVENS AMANTES PRESOS POR DAREM AS MÃOS".

"Só me deixe fora disso, por favor."

"Eu não usaria seu nome real, é claro."

Jessica teve que rir. "Ótima ideia, Constanza. Ninguém ira adivinhar. Só mude meu nome para Jess Shady."

Constanza riu. "Nada mal. Gostei."

Elas entraram na biblioteca, enquanto o último sinal tocava. A Srª Tomaz olhou acima de seu computador.

"Bom dia", ela disse, uma sobrancelha levantada. Ela parecia como se esperasse uma boa sessão de fofoca para animar o período de estudos hoje.

"Dia", Jessica respondeu, então gemeu por dentro quando ela viu a mesa longa. O resto da turma de Constanza já estava sentada, prontas para ouvir o furo.

Ela se virou para Constanza e disse. "Eu realmente tenho que estudar trigonometria. O que com minha carreira criminal, eu não pude fazer nada neste fim de semana."

Constanza disse. "Oh, eu não diria isso, Jess Shady. Parece que você teve diversão. Mas não se preocupe. Você vai terminar seus estudos e eu irei trabalhar em colocar os fatos verdadeiros."

"Obrigada, Constanza. Eu realmente aprecio isso. Mas, um, que fato você vai usar"?

"Que tal um médio? Segurando as mãos, mas sem beijar? E sem prévio registro criminal?"

"Bem, obrigada, eu acho. Embora tente não me fazer parecer muito má? Eu poderia estar vivendo aqui em Bixby por enquanto."

"Sem problema, Jess. Um dramazinho ganha mais amigos do que chateia. O que não significa que você estava... chateada."

"Obrigada."

"Na verdade, o que você vai estar fazendo esta sexta?"

"Sendo castigada."

"Isso é mau. Alguns amigos meus, da turma dos seniores, estarão tendo uma festa na Rustle’s Bottom."

"Rustle’s o que?" Jessica disse.

"É um leito de lago seco. Um bom lugar para dar festas, sabia? É acima na região de Broken Arrow, oficialmente fora da terrível zona do toque de recolher. Eu não tenho certeza se Jessica Day iria querer vir, mas Jess Shady se divertiria."

"Desculpe. Ambas estão de castigo até outubro."

"Que pena. A propósito, te vejo no almoço." Constanza a abraçou. "E não se preocupe, está história é só notícia de horário nobre esta semana, no máximo."

Ela escorregou de volta a longa mesa, e Jessica afundou na cadeira do canto, grata por que Constanza estaria preenchendo por ela o circuito de fofoca. Pelo menos alguém estava ao seu lado.

Jess percebeu que Dess estava em seu lugar de sempre do outro lado da mesa.

"Oh, ótimo. Eu estava esperando que você estivesse aqui."

"Eu não perderia meu período favorito." Dess disse.

"O que, o período de instruir-Jessica-em-Trigonometria?" Jessica perguntou esperançosa.

Dess sorriu. "Hoje, qualquer aula vai te custar."

Jessica rosnou. "Você também não."

"Não se preocupe. Eu não quero ouvir do como você foi presa. Seu vergonhoso registro criminal não me interessa. Tudo o que eu quero saber é, você voou?"

Jess olhou para a longa mesa. Constanza tinha todos eles fascinados.

Ela se virou de volta a Dess e acenou.

"Não é excelente?" Dess disse.

Uma minúscula e inesperada punhalada de aborrecimento atravessou Jessica. Quase ciúmes. Mas é claro que Jonathan teria levado pelo menos um dos outros midnighters para voar.

De que modo mais ele saberia como isso funcionava? Ainda assim, voar tinha parecido como uma coisa privada entre os dois.

"Yeah, foi ótimo."

"Eu pensei que você iria gostar. Esse é o porquê eu disse a Jonathan onde você morava."

Jessica acenou e sorriu para Dess. "Fico feliz por você ter feito."

"Alguém tinha que fazer."

Você não esta tomando lados nesta coisa de Rex e Jonathan, está?"

Dess suspirou. "Isso é meio que sem sentido, sério. Rex está bem. Eu não saberia o que fazer sem ele. Mas ele às vezes tem essa de vidente-que-conhece-o-melhor-jeito. E Jonathan é ótimo, mas ele pode ser independente, não que eu o culpe. A coisa entre eles vem desde o início, mas de dois anos atrás."

"Então vocês quatro nunca trabalharam juntos"

"Por cerca de duas semanas. Quando Jonathan chegou, ele tinha só começado a descobrir seu poder, seu sonho se tornou realidade, quando Rex e Melissa apareceram. Rex, é claro, queria passar toda noite checando a tradição."

Jessica acenou. Deve ter sido bastante mais fácil para Rex sair para seu precioso local de conhecimento com a ajuda de Jonathan. E ainda seria.

"Mas Melissa e Jonathan [nunca] se deram bem." Dess adicionou. "Ela nunca voou com ele."

"Sério?"

"Ela não poderia suportar. Ela tem essa coisa sobre... segurar mãos."

Jessica piscou. Ela tinha estado com ciúme de Dess há um instante atrás, mas agora ela não podia se impedir de se lamentar por Melissa. Voar com Jonathan era a melhor parte da meia noite.

"Então Melissa ficou de fora de todas aquelas viagens para o deserto. Jonathan ficou cansado de ser o personal piloto de voo de Rex e o inferno veio abaixo."

Jessica engoliu. "Eu aposto que posso ver de onde deve vir um conflito de personalidade ou de duas."

"Tudo ficou bagunçado desde então, sério", Dess olhou abaixo para o chão. "Bem, talvez tudo tenha sempre sido uma bagunça."

"Então, Dess, por que você não me disse sobre Jonathan, se Rex não iria?"

"Eu não quis dizer nada na frente de Rex. A mera ideia de Jonathan deixa ele todo zangadinho."

"Você podia ter me ligado."

Dess deu de ombros. "Talvez eu quisesse que isso fosse uma surpresa."

Jessica espreitou através dos óculos escuros e dentro dos olhos de Dess, e notou que ela estava dizendo a verdade. Por mais estranha que ela pudesse ser, Dess tinha sempre sido honesta com ela. Ela tinha tentado deixar claro desde o começo que as coisas iam ser diferentes aqui em Bixby. É claro, Dess nunca tinha sido capaz de apenas colocar para fora e explicar tudo, mas o que não era exatamente sua culpa. As coisas tinham sido muito complicadas para isso.

Jessica sorriu. Mesmo que o sábado à noite a tivesse irritado horrivelmente, ela estava feliz por Dess ter dito a Jonathan sobre ela.

"Eu acho que foi bem surpreendente. E sim, excelente." Jessica suspirou. "Até que um carregamento de Darklings apareceu, cortesia minha. E cinco minutos depois que nós demos a eles a fuga, a policia estava lá. Ele provavelmente acha que eu sou uma caminhante desastrosa."

"Não se preocupe tanto sobre Jonathan, Jess. Todos nós estivemos na traseira do carro de Clancy St. Claire. Isso é um acidente de percurso."

"Oh, isso me faz sentir melhor. Meus pais já estão bem chateados. Se eu trouxer para casa os policiais de novo, eu estou ferrada. Queimada, frita, atolada em apuros."

"Nós teremos de ter a certeza que isso não acontecerá." Dess disse.

"Então, temo em perguntar, se vocês tem um plano? Para me levar ao poço de cobras?"

"Você não pode esperar, não é?" Dess disse, sorrindo. "Nós ainda estamos trabalhando nisso. É uma pena que você não possa ir à festa em Rustle’s Bottom."

Jessica fez uma careta. Por mais que ela gostasse de Constanza, não tinha soado como o seu tipo de festa. "Por quê?"

"O poço de cobras é o nome para a parte mais funda do Bottom. Você estaria a cinco minutos de caminhada. E eu tenho o pressentimento que esta festa vai pelo menos até a meia noite. Você tem certeza que não tem jeito de você falar com seus pais em fazer uma exceção para essa coisa do castigo?"

"Certeza absoluta."

"Que pena", Dess se inclinou de volta na sua cadeira. "Bem, vamos para assuntos mais prazerosos."

"Como o que, cirurgia de canal na raiz?"

"Não, como Trigonometria."

Depois da escola Jessica esperou por seu pai na frente. O pai estava pegando ela até aviso prévio, sua teoria de que ela poderia se perder e/ou ser presa no caminho para casa. Como o membro desempregado da família, ele não tinha nada melhor a fazer do que se preocupar e exagerar na reação. É claro, ele ia se atrasar por ter que parar na Bixby Juniot High, a meio caminho da cidade. Beth não ia pegar carona no ônibus se sua irmã senhora-do-crime estava ganhando um motorista.

Multidões de estudantes se derramaram da escola secundária, todos eles dando uma última olhada. Jessica estava emocionada por todo mundo que estava recebendo outra chance de ficar pasmo pela nova garota má na cidade. Pode ser, por pouco tempo, que eles pudessem encarar ela de novo. Como amanhã de manhã.

Ela olhou de volta para um par de meninos calouros, e eles hesitaram e correram para o ônibus esperando. Um dia em seu castigo e humilhação pública, Jessica Day tinha tido o suficiente.

Ela não tinha pedido para ser uma midnighter, tinha tentado não entrar em problemas. Tanto quanto ela podia dizer, seu grande erro tinha sido não parar para explicar para os Darklings que Bixby tinha um toque de recolher.

Por milhares de vezes naquele dia, ela reveu em sua mente a fantasia onde os Darklings tinham pegado ela, e seu corpo, cortado em pedacinhos, fosse presenteado aos seus pais com uma notinha:

Mamãe e Papai

Não pude escapar por causa do toque de recolher.

Morta, mas não castigada.

- Jess.

Ela estava compondo uma alternativa, uma nota muito mais irônica quando uma voz veio por detrás dela.

"Jess?"

Ela se virou. Era Jonathan.

"Você... saiu?" Ela sentiu um enorme sorriso crescendo em seu rosto.

Ele riu. "Yeah. Bom comportamento."

"Desculpe-me. Quero dizer, é bom ver você." Ela deu um passo à frente.

"Você também."

O som da escola ao redor deles pareceu sumir por um instante, como se a hora azul tivesse de algum modo chegado no meio do dia. Desta vez, Jessica sabia que não estava sonhando.

Ela olhou para Jonathan, tentando avaliar o que ele estava pensando. Ele parecia cansado, mas relaxado, aliviado em vê-la. O cabelo dele estava um pouco úmido, como se ele tivesse acabado de tomar um banho. Jessica percebeu que ele podia ter vindo à escola só para vê-la, e seu sorriso aumentou.

"O que aconteceu?"

"St. Claire, o xerife aqui em Bixby, só queria marcar um ponto." Jonathan disse. "Não é grande coisa. Ele falou com meu pai sobre essa coisa de que eles pudesse me trancar todo final de semana, até que meu pai me pegou esta manhã. Mas tudo foi uma piada. Eu não estava nem mesmo preso, não de verdade. Apenas detido em custódia."

Jessica estremeceu. Ela tinha imaginado ele "detido" o dia todo. Nenhuma das imagens tinha sido reconfortante.

"Como foi?"

Jonathan estremeceu. "Completamente sem céu. E sem comida suficiente. Passei a hora secreta saltando para o teto. Mas o resto do tempo foi na maior parte... fedorento. Eu tenho estado tomando banho o dia todo e escutando meu pai se desculpar."

"Mas você está bem?"

"Claro. Como você está?"

Jessica abriu sua boca, esperando dizer a Jonathan sobre o plano de Rex, perguntar mais a ele sobre a cadeia, sobre a gravidade da meia noite, sobre como eles tinham escapado dos Darklings. Então ela viu o carro de seu pai se arrastando através dos ônibus e crianças gritando, e decidiu resumir.

"Bem, eu estarei esperando para ir voar de novo." Ela sorriu esperançosa. Ele sorriu de volta.

"Ótimo. Que tal hoje à noite?"


19

11:49 da noite

TELEPATA

 

"Aguardando um jeito de zumbido?"

Melissa tirou uma mão do volante e apontou a sua direita, em direção a grande massa de humanidade dormindo. O centro da cidade tinha o gosto defumado e doce, pulsando com o ritmo de sonhos lentos e monótonos, entrelaçado com alguns acentuados pesadelos como pedaços de sal não dissolvidos. Uma coisa boa sobre Bixby era que as pessoas iam para cama cedo. Numa noite de quarta o barulho das mentes começava a se apagar cerca das dez, e pelas onze e meia os poucos pensamentos errantes estavam meramente aborrecidos como mosquitos à beira do ouvido.

Rex resmungou, espalhando o mapa com ambas as mãos e prendendo uma pequena lanterna com seus dentes. Tinha sido ideia dele pegar o carro hoje a noite.

"Eu sei como chegar lá", Melissa reclamou. "Vamos apenas seguir a Division. Nós só temos dez minutos."

"Nãoprecisaparar", ele murmurou ao redor da lanterna.

Melissa suspirou.

Aos dezesseis em Oklahoma, ela estava presa com uma licença válida só para ir e voltar da escola (e trabalho, no improvável caso que ela tenha até mesmo encontrado um trabalho que não a deixaria louca). Era também depois das onze horas, então Rex estava sendo ultracauteloso e a guiando através das ruas detrás. Ele não queria encontrar nenhum policial, no caso do xerife St. Claire ter decidido se jogar em algum tipo de sanção ao toque de recolher.

A viagem de Jonathan para cadeia tinha assustado Rex. De certo modo, Clancy St. Clary o assustava mais que qualquer coisa na hora da meia noite. Quando tinha haver com gordos e desagradáveis xerifes, não havia conhecimento a se recorrer.

O desaparecimento de Jonathan no final de semana tido alarmado Melissa também, mas por diferentes razões. Todos os domingos na hora secreta ela tinha estado projetando sua mente em seu telhado, na maioria das vezes observando o crescimento das atividades Darklings, mas em parte se perguntando por que Jonathan nunca tinha aparecido. Normalmente, ela podia sentir o sabor dele se atirando através da paisagem. Ele era fácil de se localizar, mais rápido do que qualquer outra coisa no terreno psíquico da meia noite, até mesmo de um Darkling voador.

Sua falta a tinha preocupado mais do que ela teria imaginado. Quando ela descobriu na segunda de manhã que ele tinha estado na cadeia, cercado por aço opaco, isso tinha sido um alívio. Rex podia ter sua xerifobia, mas haviam coisas piores do que ser preso.

Ela sorriu. Uma noite no chão pode até mesmo ter feito a Jonathan algo de bom. Ele tinha o sabor um pouco menos orgulhoso esta semana.

"Viladieita"

Melissa virou à direita.

Ela estava começando a reconhecer a vizinhança. "Ok, não estamos longe. Eu vou estacionar em algum lugar."

Rex olhou acima para ela, acenando em concordância.

"Ow! Me cegue, por que não?"

Rex puxou a lanterna de sua boca. "Desculpe." Ele começou a dobrar o mapa.

Agora eles que estavam quase lá, Melissa estava grata por eles estarem dirigido. Pedalar suas bicicletas na hora azul não teria levado muito tempo, mas eles ficariam expostos a quaisquer dos Darklings que se jogasse neles. Sem uma pilha de armas de qualidade de Dess não teria sido seguro, e esta era uma viagem que ela e Rex queriam manter em segredo.

Eles nunca tinham dito a Dess todo o conhecimento sobre um telepata. Seria difícil para qualquer outro entender os erros que eles tinham feito quando eles eram jovens. Dess sempre andava por aí pensando que ela tinha sido deixada de fora, nunca apreciando o quanto mais fácil tinha sido para ela. No passado quando tinha sido só Rex e Melissa, eles tinham tido que aprender as regras da meia noite do jeito mais difícil. Aqueles anos não tinham sido todos de diversão e jogos.

Melissa estremeceu e trouxe sua mente de volta ao presente.

Ela trouxe o seu velho Ford a uma parada há uma quadra, ou mais de distancia, e puxou sua manga direita para cima para checar seu relógio. Três minutos de sobra.

Rex notou suas mãos com luvas negras. "Você está parecendo muito militar."

Ela sorriu. "Então de novo, qual o nome da garota?"

"Constanza Grayfoot. Você não ouviu falar dela?"

Melissa suspirou, balançando sua cabeça. Mesmo Rex não entendia completamente como insuportável a escola era para ela. Melissa não sabia os nomes de metade de seus professores, muito menos de cada roda social.

"De qualquer modo, o nome dela não importa", ele disse. "Contanto que você tenha a idéia geral. Limpe o caminho e irá acontecer por si só."

"Sem problema."

Melissa olhou para seu relógio de novo, se acalmando, e fechou seus olhos. O zumbido de mentes andando estava próximo, alguns descerebrados vagando absorvidos tarde da noite na tv. Mas o doce alívio viria em sessenta segundos.

"Tenha a certeza de ambas estarem em sincronia. Nós não queremos perder a sexta, enquanto eles estão fazendo a negociações de pais."

"Rex, isso vai ser fácil. Só me mostre o cadáver." Ela sentiu uma pontada vinda dele. Rex odiava quando ela usava aquela palavra. "Desculpe", ela disse sarcasticamente. "Só me mostre às pessoas enfraquecidas pela meia noite, e eu terei terminado."

Rex se afastou dela e olhou pela janela, deixando vibrações infelizes.

Ela suspirou e estendeu uma mão para tocar as mãos dele. Ele olhou para baixo com surpresa, então lembrou que a carne dela estava protegida pelas luvas. Ele sorriu, mas por um momento ela captou o sabor da velha amargura dele. Ele compartilhava cada pensamento com ela, junto com os terríveis segredos e um mundo oculto, mas eles nunca se tocariam.

"Rex, de verdade, isso é simples. Nada vai dar errado."

"Você sempre diz isso."

"O tempo azul é uma brisa, Rex. O resto da realidade que é difícil."

Ele se virou para ela, se estendendo, suas pontas dos dedos a poucos centímetros dela. "Eu sei."

"Eu fiz a coisa mais difícil que eu jamais fiz há oito anos atrás."

Ele riu. "Então, você sempre me diz."

A busca tinha sido o mais difícil, encontrar Rex a primeira vez. Melissa tinha sentido ele tanto quanto ela podia se lembrar, desde antes que ela pudesse falar. Quando a hora azul veio e o barulho enlouquecedor finalmente parou, só uma única voz permanecia. Um sabor solitário lá fora no mundo de repente vazio, tão tênue quanto um amigo imaginário. A ideia de que ele era uma pessoa de verdade tinha levado anos para se formar, outro ano para se agir. Finalmente ela tinha corrido quilômetros até a casa dele na hora secreta, oito anos de idade e vestindo pijamas cobertos com figuras de vaqueiras, meio pensando que era um sonho. Mas descobrir um ao outro tinha feito a coisa toda real.

Tinha sido quase por acidente, ela percebia agora. Mais sozinha e ela teria ficado louca.

Melissa tentou ajustar sua mente, preparando-se para a meia noite, para a tarefa à frente.

Dando profundas respirações, ela esperou por um momento quando todo o ruído e confusão, sonhos e pesadelos agitados, ansiedades semiconscientes e terrores noturnos finalmente estariam em...

Silêncio.

"Oh, yeah", ela disse. "Aí está a coisa."

Ela podia provar o sorriso de Rex.

Todos os pensamentos dele estavam abertos para ela agora. Seu alívio por eles estarem seguros no tempo azul, fora do alcance da lei, e sua implacável determinação de ter esse trabalho feito.

Ela podia até mesmo sentir o minúsculo canto bem mordiscado de culpa que ele sentia por ir a extremos.

"Não se preocupe, Rex. O que eles não sabem, não os machuca."

"Só me fale se você achar que eu estou indo demais."

"Você será o primeiro a saber."

Eles saíram do carro. Melissa realizando uma rápida varredura mental. Nada ao redor, ainda, mas era cedo. Nenhuma criatura que vivia no tempo azul teria passado o dia nesta distância da cidade.

Os olhos de Rex brilharam enquanto ele procurava por sinais.

"Você devia ver isso, Melissa. Eles estiveram andando por aí em toda parte. Toda a noite."

"Ainda bem que Jessica não fica muito em casa."

O aborrecimento de Rex chiou no ar, o resultado previsível da vaga referência a Jonathan Martinez. Pelo menos não era ciúmes, que ela sentia o suficiente na Bixby High. Só o orgulho ferido de vidente de Rex, que ele não controlava tudo na hora secreta.

Um momento depois Melissa o sentiu sufocar a emoção. "Yeah, os caras finalmente são bons em alguma coisa." Ele murmurou.

Eles rastejaram através de um quintal e então se esconderam em alguns arbustos na rua.

"Eles vem?"

Melissa lançou a si mesma mais fundo na noite, os sabores vieram de cada canto da meia noite. Jessica estava bem ali, esperando ansiosamente em seu quarto. Dess ainda estava em casa, feliz, trabalhando em brinquedos. Os slithers estavam se agitando nas fronteiras de Bixby, mais agitados a cada noite nestes dias.

E vindo do outro lado da cidade, uma presença se movendo rápido.

"Ele está a caminho."

Eles se afundaram mais nos arbustos.

Poucos minutos depois Jonathan aterrizou.

Tinha sido há um ano desde que ela tinha visto ele em ação, Melissa percebeu. Ela se lembrou da graça dele agora que seu corpo rotacionava para baixo para aterrizar suavemente em um pé, sem som e em câmera lenta. Ela podia não voar com Jonathan, mas pelo menos Melissa podia provar sua mente, quando ela estava preenchida com o simples prazer do voo.

Próximo a ela, Rex se permitiu um instante de silenciosa admiração.

"Ei!" Jonathan chamou para o quarto de Jessica.

"Ei, você." Jessica rastejou para fora de sua janela, correu para ele, e tomou ambas as mãos dele.

Melissa não podia ouvir o que eles diziam, mas ela podia provar o que passava entre eles, banal e dia: Jessica baunilha. Os dois falavam silenciosamente, tão concentrados um no outro que um Darkling podia ter facilmente voado baixo e capturado eles. Depois de um sólido minuto no gramado eles se viraram para encarar a mesma direção. Lado a lado, segurando as mãos, eles dobraram seus joelhos e pularam, facilmente coordenados, quase uma única criatura.

Dois segundos depois eles tinham partido sobre as árvores.

"Gracinha de casal." Melissa disse, se puxando do arbusto.

Enquanto eles cruzavam a rua, Rex olhou nervosamente para o céu acima.

"Relaxe, eles estão a meio caminho do centro da cidade." As últimas duas noites Melissa tinha sentido eles perto do centro de Bixby, provavelmente em cima dos prédios altos de lá, bem longe da área Darkling e com uma clara visão de cada direção. Jessica estava bastante a salvo com Jonathan do que em casa, mesmo Rex tinha que admitir.

A porta da frente estava trancada.

"Malditos cidadãos", Melissa disse. Eles cruzaram para a janela aberta de Jessica.

"Você está num terrível bom humor." Rex disse.

Ela se puxou através da janela, provando a sobra dos pensamentos de Jessica no quarto. Ela estendeu uma mão para ajudar Rex a se empurrar e viu ele instintivamente se afastar, antes que ele percebesse que ela estava usando luvas.

"Eu estou sempre de bom humor na hora azul." Melissa disse quando ele estava dentro. "Especialmente quando eu tenho que fazer alguma projeção séria."

Rex deixou escapar um acentuado sabor de ansiedade.

Ela suspirou. "Não se preocupe. Eu prometo não ter muita diversão."

"Só não comece a se divertir muito. A tradição está cheia de -"

"Coisas que me chateiam", ela interrompeu. "Falando de que..." Melissa olhou com desdém ao redor do quarto de Jessica. "Wow, ela é tão dia."

Rex fez uma careta. "Ela não é tão má assim. Por que você a odeia tanto?"

"Eu não a odeio Rex. Ela é só... ela não é nada em particular. Eu acho que ela trocou o aniversário com um midnighter de verdade. Tudo é tão fácil para ela."

"Eu não diria isso."

Eles foram através da porta e encararam o longo corredor. Melissa abriu a primeira porta a sua esquerda.

"Cheira como... irmãzinha."

"Você pode sentir isso?"

"Eu posso ver isso", Melissa gesticulou para o chão. Ele estava entulhado com saias, jeans, camisetas, papéis amassados, e livros de escola. Duas paredes estavam cobertas com pôsteres de boy bands, e na cama uma pequena forma se deitava retorcida entre os lençóis, agarrando um bicho de pelúcia.

Rex riu. "Seus poderes psíquicos nunca deixam de me impressionar."

Eles fecharam a porta e foram para mais dentro da casa. Havia um banheiro à direita, e o corredor se abriu em um lado para uma sala de estar. Na extremidade do corredor estava mais uma porta.

"Esta parece promissora", Melissa disse, enquanto a empurrava aberta.

Os pais de Jessica estavam deitados lá, congelados enquanto dormiam.

Melissa olhou para eles, pálidos e indefesos. Como todos os cadáveres, eles não pareciam muito humanos, mais como manequins de loja de departamentos que alguém tinha tentado realmente fazê-los realísticos, mas tinha por engano tomado à esquerda no assustador.

Rex estava tateando ao redor do quarto, espreitando dentro das caixas próximas ao armário. Como os outros midnighters, ele ficava um pouco enlouquecido com os cadáveres.

Melissa não se importava com eles de modo algum. Frios e duros que eles fossem, esta era a única hora que ela iria tocar um outro ser humano. Ela puxou suas luvas.

"Eu acho que nós começaremos com a mãe."


20

7h:22min da manhã

UMA MUDANÇA DE IDÉIA

 

"Bom dia, Beth."

"Em que sentido?"

"Visão, audição, olfato, todos os outros sentidos. É verão, e os pássaros estão piando, e eu estou deixando você ficar com essa torrada que eu pus para mim mesma."

Beth parou próxima a mesa. "O que tem de errado com ela?"

"Nada. Você é minha irmã, e eu estou fazendo sua torrada."

Beth se largou na mesa da cozinha e olhou para sua irmã maior com cautela.

"Você não está muito feliz para alguém que está de castigo?"

Jessica considerou isso por um momento, observando os elementos dentro da torradeira aquecer para um brilho vermelho. O cheiro da torrada veio da máquina puxando uma profunda respirada dela.

"Torrada é bom." Ela respondeu.

Beth acenou. "Se você vai ficar toda retardada, você pode me fazer uma omelete também?"

"Eu não estou feliz assim, Beth." A torradeira pulou. "Ai está."

Jessica tirou o pão com a ponta de seus dedos e os derrubou no prato a espera, girou ao redor e o colocou diante de sua irmã.

Beth o inspecionou cuidadosamente, então deu de ombros e começou a passar manteiga nele.

Jessica derrubou outro par de fatias na torradeira, sussurrando para si mesma.

Ela ainda se sentia leve, como se a gravidade da meia noite não tivesse desaparecido completamente com a hora azul. Cada passo parecia como se transformava-se em um salto, carregando ela através da sala, da janela, para o ar. Toda a noite passada ela tinha sonhado voando. (Exceto pela hora quando ela tinha estado voando.)

Ela e Jonathan tinham passado o tempo no grande sinal decadente da Mobil Oil, no topo do mais alto edifício de escritórios de Bixby. Era um imenso Pegasus, um cavalo voador. Os tubos de neon apagados que traçava sua forma tinha brilhado com a luz do luar negro, as asas estendidas brilhando como aquelas de algum anjo que veio para protegê-la dos Darklings.

A estrutura de aço que sustentava o sinal no lugar era enferrujada, mas Jonathan tinha bastante certeza que ela era limpa. Era no centro da cidade, onde os Darklings quase nunca iam. Ele tinha estado lá há quase dois anos e nunca tinha visto tanto mais que um slither.

Por três noites em seguida ela tinha se sentido a salvo na hora azul. A salvo e segura, sem peso e...

A torradeira pulou de novo.

"Feliz", ela disse silenciosamente.

"Yeah, você está feliz. Saquei." Beth estava espalhando geleia na sua parte restante de torrada. "Ainda no nível de felicidade-omelete?"

Jess sorriu. "Muitíssimo perto."

"Deixe-me saber. Então, Jess?"

"Sim?"

"Esse cara, Jonathan, com quem você foi pega? Você gosta dele?"

Jessica olhou atentamente para sua irmãzinha. Beth parecia genuinamente interessada.

"Sim, eu gosto."

"Há quanto tempo vocês tem conhecido um ao outro?"

"Aquela noite que nós fomos pegos foi a primeira vez que nós saímos."

Beth sorriu. "Isso é o que você disse para mamãe. Mas e como na noite passada, quando você veio me visitar e deu um discurso de senhorita madura, você estava toda vestida?"

Jessica engoliu em seco. "Eu estava?"

"Sim. Jeans e, tipo, um moletom. Você estava suada e cheirava a grama."

Jessica deu de ombros. "Eu só estava... eu não pude dormir. Eu dei uma caminhada."

"Bom dia."

Jessica se assustou. "Bom dia, mãe. Quer minha torrada? Eu posso fazer mais."

"Claro, Jess. Obrigada."

"Está parecendo bem, mãe."

"Obrigada", Sua mãe sorriu, amaciando a lapela de seu novo blazer com uma mão, enquanto ela pegava a torrada de Jessica. Ela se sentou a mesa.

"Wow. Você está autorizada a comer seu café da manhã com a gente?" Beth perguntou. "Eu pensei que a Aeroespacial Oklahoma desdenhava da hora da família."

"Silêncio, Beth. Eu tenho algo a dizer para sua irmã."

"Uh-oh. Da torradeira para a frigideira."

"Beth."

Beth entulhou a torrada em sua boca, se calando. Jessica empurrou a alavanca da torradeira lentamente, sua mente correndo. Ela se virou e sentou do outro lado a frente de sua mãe, tentando pensar no que ela poderia ter dado por sua distância. Eles não tinham deixado nada por acidente. Ela sempre saia depois que a hora azul começava - ela dava a Jonathan alguns minutos para chegar aqui da casa dele, de qualquer modo - e estava de volta a cama antes que ela terminasse. Talvez sua mãe tivesse descoberto um sapato sujo, ou uma janela aberta, ou tomado as impressões digitais do topo dos prédios no centro da cidade...

Beth Jessica olhou para sua irmãzinha. Ela deve ter dito a mamãe e papai sobre Jessica estar vestida na sexta a noite. Beth piscou, inocentemente.

"Seu pai e eu tivemos uma conversa sobre sua punição esta manhã."

"Ele já está acordado?" Beth perguntou.

"Beth-" A mãe começou, então parou. "Na verdade ele está acordado desde cedo, mas ele voltou direto ao sono. Ambos estávamos muito agitados noite passada. E ambos concordamos que nós teríamos que pensar sobre sua punição um pouco mais, antes de nós decidirmos alguma coisa."

Jessica olhou para sua mãe cautelosamente. "Isso significa uma punição pior, ou menor?"

"Yeah", Beth disse. "Vocês estão amolecendo?"

"Nós estamos pensando que você é nova nesta cidade, e você provavelmente sente a necessidade de ser aceita. O que você fez foi errado, Jess, mas você não estava tentando machucar ninguém."

"Vocês estãoamolecendo!"

"Beth, vai já para a escola."

Beth não se moveu, só se sentou lá com a boca escancarada. Jessica não podia acreditar no que ela estava ouvindo. O pai era o primeiro que desistia, ou tentava, mas a mãe sempre o parava, explicando que qualquer punição aberta à negociação era sem sentido, que era algo que eles aparentemente ensinavam a você no mecanismo da escola

"Nós também pensamos que você precisa fazer novos amigos, agora. Você precisa de estabilidade e suporte. Manter você trancada em seu quarto não é saudável. Poderia levar a mais problemas mais tarde."

"Então qual o problema? Eu não estou de castigo?"

"Você ainda está de castigo, mas você pode sair para visitar os amigos uma noite na semana. Desde que nós saibamos exatamente onde você está, todas as vezes."

Beth fez um ruído que só foi meio sufocado pela torrada. A mãe se estendeu através da mesa e segurou a mão de Jessica. "Nós queremos que você tenha amigos Jessica. Nós só queremos que sejam os amigos certos e ter a certeza que você está segura."

"Ok, mãe."

"A propósito, estou atrasada. Eu verei vocês duas a noite. Não se atrasem para a escola."

Depois que ela tinha saído, Beth pegou a torrada intocada do prato de sua mãe e começo a passar manteiga nela, sacudindo sua cabeça.

"Eu vou me lembrar dessa conversa da próxima vez que eu estiver com problema. Você pegou mamãe redefinindo o castigo de um jeito totalmente novo. Bom trabalho, Jessica."

"Eu não fiz nada."

"Quer torrada, mãe." "Bonito blazer, mãe." Beth imitou. "Eu estou surpresa de você não ter feito para ela um omelete."

Jessica piscou, parte estupefata pelo que tinha acabado de acontecer e parte confusa por sua própria reação. Ela tinha estado feliz antes de seu alívio, mas agora ela não tinha tanta certeza. Uma corrente de nervos tinha começado no seu estômago. Voar com segurança com Jonathan toda noite tinha sido maravilhoso, como um sonho. Mas agora ela não tinha desculpas para atrasar o plano de Rex, nenhuma boa razão para adiar de ir ao poço da cobra. Ela teria que encarar os Darklings de frente.

"Eu não tenho certeza, Beth. Eu não acho que foi a torrada."

"Yeah. Eu aposto que papai amoleceu. Ele que desmoronou."

Jess sacudiu sua cabeça. "Eu não sei. Mamãe parecia bastante enérgica, como se ela tivesse pensado muito sobre isso." Ela se virou em direção a Beth. "Mas obrigada por não mencionar que... eu andei sexta à noite."

"Seu segredo está a salvo comigo." Beth sorriu. "Até eu descobrir qual é o seu segredo, é isso. Então você está morta."

Jessica se aproximou e apertou a mão de sua irmã. "Eu te amo, Beth."

"Ewww, isso não é justo! Mamãe ficando toda esquisita é ruim o suficiente."

Jessica franziu a sobrancelha. "Talvez eu tenha assustado eles, escapando desse jeito."

"Talvez", Beth disse, mostrando o último pedaço de pão dentro de sua boca. "A coisa toda me assusta."

Mas tarde naquela manhã, a biblioteca estava mortalmente quieta.

Jessica e Jonathan tinham sido a maior fofoca por uns dias, mas a história estava ficando passada. Agora que era a segunda semana escolar, os trabalhos estavam começando a acumular. Todo mundo estava na verdade usando o período de estudos para estudar. Mesmo Constanza estava lendo o que parecia sob suspeita um livro de história.

Jessica estava enterrada no seu livro de física. Nas últimas noites Jonathan tinha estado ajudando ela com o básico, enquanto eles estavam juntos na hora secreta, e ela estava começando a entender o negócio da reação igual e oposta. Saltar por aí a maior parte sem peso, todas as noites, tinha feito as leis do movimento muito mais interessantes, e ter que fugir por sua própria vida, tinha dado a ela uma muito real apreciação da inércia. Mas todas as fórmulas ainda estavam causando a ela problemas, então ela tinha decidido pegar alguma ajuda com Dess.

Levou a maior parte do período para Jessica preparar os nervos, para dizer a Dess o que tinha acontecido no café da manhã.

"Então, você sabe de toda essa expedição ao poço da cobra?"

"Yeah, nós estamos ainda trabalhando nisso. Rex e eu estamos tentando arrumar um jeito de te tirar de lá com segurança", Dess disse. "Aliás, soa como você se divertisse evitando os vilões."

"É verdade." Jessica sorriu. O mesmo perigo presente fez suas horas secretas com Jonathan muito mais excitantes do que seria em sair normalmente. "Mas eu tenho novidades, Dess. Eu descobri no café da manhã que eu não estou mais de castigo."

"Sério? Que legal."

"Yeah, acho que sim. Ainda que meio esquisito. Meus pais estavam totalmente prontos para me trancar por bem. Então esta manhã minha mãe me deu o discurso completo sobre fazer novos amigos."

Dess deu de ombros. "Isso acontece. Meus pais fazem isso o tempo todo. Última primavera, a primeira vez que fui pega com Rex e Melissa por violar o toque de recolher, eles disseram que eles iam me enviar para um acampamento doido uma vez que a escola estivesse fechada.

"Onde?"

"É como um acampamento de férias para delinquentes juvenis. Dirigido pelo governo e muito parecido com a cadeia. Meu pai trabalha numa plataforma de petróleo, e ele é um grande crente em trabalho duro para purificar a alma. Mas uns dias depois da retenção, eles completamente mudaram suas opiniões. Desde então eles estão bem legais. Eles até mesmo começaram a gostar de Rex e Melissa."

"Bem, meus pais não irão me enviar para longe, eu acho que não. Mas isso ainda foi estranho, ver minha mãe voltar atrás desse jeito." Jessica suspirou, esfregando suas mãos nervosamente. "Então eu acho que nós deveríamos tentar fazer aquele troço no poço da cobra."

"Quanto mais cedo melhor", Dess disse. " Uma vez que saibamos qual é o seu talento, nós poderemos descobrir por que os Darklings estão tão assustados com você. A festa de Constanza é uma oportunidade perfeita."

"Eu não sei", Jessica disse. "Minha mãe não disse nada sobre festas tarde da noite."

Dess se inclinou para mais perto. "É o modo certo para chegar lá antes da meia noite. Nós temos que nos descomplicar com o pai de Rex e os meus pais. Nós Podemos ter que lutar para sair do poço da cobra. Com você junto, ficaria mais cabeludo. Não que a gente não goste de você, Jess. Mas é que você quem atraí os maus elementos."

"Oh, certo", Jessica disse com mau humor. "Jessica Day, imã de desastres."

"Os Darklings tem estado piores a cada noite, especialmente no deserto. Não são como no centro da cidade."

"Mas uma vez que a festa congele, eu estarei sozinha lá."

"Você estará praticamente no poço da cobra. Ele é bem no meio do Bottom", Dess disse. "Só leva uma caminhada de cinco minutos antes da meia noite, e você estará dentro das minhas defesas. Melissa pode levar a mim e a Rex para a margem do Bottom. Nós caminharemos até lá. Sem você junto, nós não estaremos cercados por Darklings se nós nos atrasarmos."

Jessica engoliu. O pensamento de ela fazer o caminho para o infame poço de cobra, sozinha a meia noite, não a deixou muito feliz. "Nós realmente estaremos seguros lá?"

Dess concordou. "Absolutamente. Eu tenho estado trabalhando na proteção a semana toda. Eu tenho uma tonelada de metal pronta para ir. Rex e eu, a colocaremos depois da escola amanhã. Os Darklings não serão capazes de chegar a cem metros do poço da cobra."

"Sério?"

"Nós estaremos perfeitamente seguros. É claro, lembre de prestar atenção antes da meia noite."

"Pelo que?"

"As cobras."

Jessica piscou.

"Sabe", Dess disse com paciência, "no poço da cobra."

"Oh, eu pensei que talvez "poço da cobra" fosse só um apelido engraçadinho, não para ser tomado literalmente."

"Bom, não deixe o nome enganar você", Dess disse. "Ele é mais uma cavidade do que um poço. Uma cavidade cheia de cobras."

"Ótimo, eu manterei isso em mente." Jessica estremeceu, se lembrando dos slithers da segunda noite. A idéia de cobras de verdade não a fazia mais feliz. "Mas talvez a coisa da festa não vá acontecer. Eu nem mesmo sei se ainda estou convidada."

Dess olhou para o outro lado da biblioteca para a mesa das garotas mais velhas. "Há só um jeito de descobrir."

Um par de amigas de Constanza olharam acima, quando Jessica chegou. Ela ainda atraiu alguns olhares, especialmente na cafeteria com Jonathan. Jessica os ignorou e se ajoelhou próxima a Constanza.

"Sobre a festa na sexta?" Ela sussurrou.

Constanza olhou abaixo para ela. "Sim?"

"Eu estou tipo, um, fora do castigo."

"Sério?" Constanza sorriu mais. " Wow. A polícia traz você para casa e você vai a uma festa uma semana depois. Nada mal, Jess Shady."

"Eu acho que não. Então e quanto à festa em Rustle’s Bottom? Quero dizer, eu sei que você provavelmente está -"

"Beleza."

"Quero dizer, se já tem muita-"

"Claro. Venha."

Jessica engoliu em seco. "Eu não sei na verdade como chegar lá. E é provavelmente muito longe-"

"Eu te dou carona. Você pode dormir lá em casa. Desse jeito seus pais não vão surtar quando nós chegarmos em casa super tarde."

"Oh", Jessica disse, "boa ideia." Desculpas e multas de fiança estavam ainda rolando em sua cabeça, mas o sorriso brilhante de Constanza silenciou todas elas.

"Venha para casa comigo amanhã, depois da escola? Nós vamos nos divertir."

"Legal." Jessica conseguiu dizer.

"Eu não posso esperar para você conhecer alguns caras nesta festa. Eu sei que você gosta do Jonathan, mas, acredite em mim, os homens de Broken Arrow são muito mais divertidos do que os garotos de Bixby. Muito mais maduros. Você vai ter a noite da sua vida, Jess."


21

12h:00min da manhã

PEGASUS

 

Jessica estava assustada. Jonathan podia sentir isso.

Eles tinham subido no Pegasus em tempo recorde, se atirando da Division como uma pedra saltando na água, então eles ganharam altitude dos topos, de telhado em telhado, fazendo uma gigante pista de obstáculos no horizonte de Bixby. O prédio da Mobil era o mais alto na cidade, e agora que eles estavam no topo do cavalo alado na cidade escurecida se estendendo abaixo deles.

Mas Jess tinha estado ansiosa o caminho todo. Ela se mantinha olhando por cima de seu ombro, não confiando na velocidade deles que os mantinha a salvo. Mesmo aqui em cima, seus olhos verdes ainda observavam o horizonte. Os músculos de sua mão estavam rígidos, e a conexão que Jonathan geralmente sentia quando eles estavam voando juntos estava se perdendo.

"Você está bem?"

"O que?"

"Você parece nervosa."

Ela encolheu os ombros.

Ele sorriu. "Talvez você esteja preocupada de ser vista comigo."

Jess riu, olhando para a escura cidade vazia. "Yeah, se algum slither disser a minha mãe sobre nós, eu estou morta." Ela parou, então botou para fora. "Seja como for, você é o que é, todo não me toque durante o dia."

Jonathan piscou. "Sério?"

"Sim." Jessica olhou para longe. "Quero dizer, não é grande coisa, mas não é como você sempre colocasse seu braço ao meu redor ou segurasse minha mão."

"Nós seguramos as mãos o tempo todo!"

"À meia noite sim. Na escola você fica todo ansioso com isso."

Ele fez uma careta, aborrecido e se perguntando se isso era verdade. "Bem, nós temos que descansar às vezes. Ou nós vamos acabar com as alças do Nintendo{26}.

Jonathan gentilmente olhou para baixo e começou a massagear os tendões. Ele sentiu os músculos dela começarem a relaxar. "Então com que você está realmente nervosa?"

O olhar dela varreu o horizonte. "O quanto seguro você acha que nós estamos aqui em cima"

"Nós estamos no meio da cidade, sentados em dez toneladas de aço limpo. Edifício Mobil tem treze letras nele. E nós podemos voar se precisarmos. Bem a salvo, eu diria."

Jessica correu um dedo ao longo do suporte enferrujado em que eles estavam empoleirados. "Como você sabe que este aço é limpo?" Parece que tem estado aqui há muito tempo.

"Eu pedi a Dess para ver se Rex podia dar uma olhada sem seus óculos. Quando o Pegasus está iluminado, você pode vê-lo de qualquer parte de Bixby, sabe. Ele disse que o cavalo não mostra um ponto de foco. Ele é limpo."

Ela sorriu para ele. "Obrigada por fazer isso."

Ele deu de ombros. "Rex pode ser um saco, mas o cara é bom para algumas coisas." Ele se concentrou em esfregar a mão dela.

Jonathan não tinha dito a Jess, mas na semana passada ele avistou uns slithers nas margens do centro da cidade, se atrevendo a se aproximar dos altos edifícios de aço, mais do que ele jamais tinha visto antes. Eles estavam hesitantes, deslizando do outro lado dos armazéns na extremidade. Desde que Jess tinha chegado à cidade, as criaturas da meia noite estavam empurrando o caminho delas para dentro, um pouco mais perto a cada noite. Podia levar meses, mas Jonathan tinha a maior certeza de que, eventualmente, não haveriam locais limpos deixados em Bixby. Os slithers e seus mestres Darklings seriam capazes de reivindicar até mesmo o Pegasus.

Onde ele e Jess iriam então?

"Mas nós não podemos nos sentar no topo deste sinal para sempre, Jonathan."

Ele olhou acima, para ela, se perguntando o quanto ela sabia do que ele estava pensando. Ele temia que o misterioso talento de Jess pudesse ter algo haver com projetar a mente. Ele esperava que não. Jonathan não tinha idéia de como Rex podia suportar sair com Melissa. Ele estremeceu. Sem privacidade, nem mesmo em seu cérebro.

"Estamos a salvo por agora, Jess. E talvez uma vez que você saia do castigo-"

"Eu estou fora do castigo hoje." Ela disse.

"Isso é ótimo! Por que você não me disse?", ele disse. Então ele viu a expressão dela. "Jess, por que isso não é bom?"

"Bem, por que agora eu estou liberada para ir para a festa amanhã à noite, ir para Rustle’s Bottom."

"Oh, o poço da cobra. " Jess tinha dito a ele sobre o plano-mestre de Rex há alguns dias atrás. A ideia tinha soado perigosa o suficiente quando isso estava a distância, no futuro. Agora que estava a vinte e quatro horas de distância...

"Você sabe que é lá no deserto."

"Eles meio que mencionaram isso. Mas Rex disse que é o único jeito de descobrir o que eu sou." Jessica disse. "Dess pode fazer estar seguro lá fora, e Rex disse que meu talento deve ser importante ou talvez algo com que eu possa me proteger. No museu ele me disse que há muitos talentos que detonam."

" Se Rex te dissesse para pular de um penhasco -" ele começou.

"Jonathan", ela disse, rindo. "Isso seria você me dizendo para pular de um penhasco."

Jonathan riu. "Provavelmente. Mas eu pularia com você."

Ela se empurrou para mais perto dele. "Eu tenho que fazer alguma coisa Jonathan. Eu não posso passar o resto da minha vida sentada aqui."

"Eu sei." Ele suspirou. "Então você tem que fazer o que Rex disse. Além do mais, ele é o único de nós que consegue o manual da meia noite."

Jess olhou dentro dos olhos dele. "Esse é o porquê você não gosta dele, não é? Por ele pode ler o conhecimento e você não pode."

Jonathan fez uma careta para ela. "É mais complicado que isso." Ele engoliu em seco, se perguntando o quanto ele podia dizer. "Você não conhece Rex e Melissa tão bem quanto eu. Vamos apenas dizer que eu não confio em Rex. Eu não acho que ele diz tudo que ele sabe, mesmo para Melissa."

"Por que ele faria isso?"

"Para manter o controle da coisa toda. Se todos souberem o que ele sabe, ser um vidente não dá a ele nenhum poder."

"Rex segurando informações? Por favor, Jonathan. Semana passada no museu ele me disse troços sobre a hora azul por, tipo, seis horas. Eu tive que dizer a ele para parar ou minha cabeça ia explodir."

"Seis horas, e ele não disse a você sobre mim."

Jessica piscou. "Ah, certo. Ele tipo se esqueceu de mencionar você."

Jonathan sorriu com mau humor. "Ele queria que você fosse um de seus midnighters."

Ela suspirou e olhou para longe de novo. Ele seguiu o olhar dela para além da cidade no horizonte. Daqui de cima eles podiam ver todo o caminho até a fronteira de Bixby, onde escuros grupos de casas desapareciam no deserto. As baixas campinas planas brilhavam com o luar escuro, e as montanhas além, eram silhuetas negras contra as estrelas.

"Então o que é que eu faço?" Ela disse suavemente.

"Eu acho que você não tem escolha. Você tem que fazer o que Rex diz." Jonathan suspirou. "As vezes eu acho que a coisa todo de midnighter é uma fraude."

"Fraude?"

"Yeah, é um projeto. Nós todos temos nossos próprios talentos. Rex lê o conhecimento, eu voo, Melissa projeta a mente, Dess faz a matemática. Você deve fazer alguma coisa. Então nós acabamos dependentes um do outro, como supostamente nos encaixarmos como uma equipe."

Jess apertou a mão dele. "Jonathan, o que há de tão ruim nisso?"

Ele fez uma careta. "Eu não pedi para estar em uma equipe. Eu nem mesmo sei quem colocou a equipe junta."

"Talvez o destino nos colocou juntos."

"Eu não pedi para estar no time do destino também." Ele puxou suas mãos. "Isso tudo parece totalmente manipulado, como se nós estivéssemos presos uns aos outros."

Jess sacudiu sua cabeça. "Jonathan, isso não é manipulado. É apenas a vida."

"Que vida? Tendo Rex dizendo o que você tem que fazer?"

"Não, precisando de ajuda. Ficando preso com outras pessoas."

"Como estar presa aqui comigo?"

"Sim, exatamente. Como você estar preso me protegendo", Jessica se levantou no suporte estreito. Ela deu alguns passos para longe, encarando a cidade escura.

"Eu não quis dizer -", ele começou, se levantando.

Os dois ficaram em silêncio. Jonathan tomou fôlego, tentado descobrir quando essa conversa tinha virado uma briga. Ele se sentia preso agora. Não por Jess, ou mesmo os Darklings que estavam atrás dela, mas pelas palavras que eles tinham dito - por não saber o que dizer para fazer isso melhor.

Era estranho não tocar Jessica, não compartilhar sua gravidade com ela. O ar da meia noite pareceu frio, como se o espaço entre eles estivesse preenchido com gelo. Quando eles voavam, tudo era mais fácil. Nas quatro noites passadas eles tinham parado de dizer alto onde seria o próximo salto que os levariam. Eles se comunicavam através das mãos muito melhor que com palavras.

E agora eles estavam presos aqui - sem voar, sem falar, sem se tocar. Parecia a Jonathan como se a gravidade do dia tivesse já vindo e estivesse esmagando ele.

Ele olhou abaixo através da moldura enferrujada que segurava o sinal do Pegasus no topo do prédio Mobil, há quarenta metros abaixo.

"Jess?"

Ela não respondeu.

Ele se aproximou. "Você devia segurar minha mão. É perigoso aqui em cima."

"É perigoso em toda parte. Para mim."

O medo na voz dela o congelou. A meia noite devia ter sido tão bonita para ela, um playground infinito, mas parecia como se alguma coisa - Rex e sua tradição, o toque de recolher, os Darklings - estivessem sempre estragando.

"Jess", ele disse. "Só segure minha..." A voz dele morreu como se algo o atingisse - talvez a razão por ela estar chateada com ele, a razão que ele tinha estado perdendo. "Eu estarei lá amanhã à noite. No poço da cobra. Você sabe disso, certo?"

Ela se virou para olhar para ele, seus olhos verdes se suavizando. "Você irá?"

"Sim, é claro. Quero dizer, eu não vou deixar vocês ter toda a diversão."

O rosto dela rompeu em um sorriso.

"Eu até mesmo deixarei Rex dar as ordens", ele disse. "Essa deve ser uma daquelas coisas onde você realmente precisa ler o manual."

"Obrigada, Jonathan." Ela finalmente tomou suas mãos novamente, e ele pode sentir a gravidade da meia noite reconectá-los.

Jonathan sorriu de volta. "Jess, eu não deixaria você-"

Mas antes que ele pudesse terminar a frase, ela inclinou sua cabeça em direção a dele e o beijou.

Jonathan piscou com a surpresa, então ele deixou seus olhos se fecharem. Jessica era tão quente contra ele, mesmo no ar da noite de verão da hora secreta. Ele colocou seus braços ao redor dela, sentindo os pés dela ligeiramente saírem do chão em seu abraço.

Quando eles se separaram, ele sorriu. "Wow, eu acho que nós descobrimos seu talento."

Ela riu. "Já estava na hora, Jonathan."

"De nos beijamos? Sim, eu estava indo-"

"Não. Que você disse que nós vamos ao poço da cobra."

"Jess, é claro que eu iria. Eu não vou deixar Rex permitir que você morra."

"Você deveria ter me dito logo." Ela disse.

"Você devia ter me perguntado."

Ela gemeu, o puxando contra ela de novo em um abraço apertado. "Você não devia ser tão idiota", ela sussurrou.

Jonathan franziu sua testa, com medo de dizer alguma coisa. Próximo a ela, ele alcançou acima e desprendeu o fecho de seu colar.

"Aqui, leve isso amanhã à noite."

"Seu colar?"

"Ele se chama Embaraçamento: trinta e nove elos. Eu levarei dez minutos para voar até o Bottom, da minha casa. Você pode precisar disso antes que eu chegue lá."

Os dedos dela se fecharam sobre os elos de metal. "Mas você não terá nada para se proteger."

"Talvez Dess me dê algo. Ela tem estado fazendo brinquedos a semana toda. De qualquer forma eu quero que você tenha isso."

"Muito obrigada, Jonathan." O rosto de Jess estava iluminado pelo seu sorriso. "Me diz, você já tinha beijado alguém-"

"Duh", Ele a viu franzir suas sobrancelhas e engoliu em seco. "Quero dizer, yeah."

"Como eu estava dizendo", ela disse, os olhos dela brilhando. "Você já beijou alguém antes na hora secreta?"

Ele corou, então sacudiu sua cabeça. "Não até agora."

O sorriso de Jess cintilou. "Então você não fez isso." Ela se agarrou ao redor da cintura dele e dobrou suas pernas. Ele mal teve tempo para se preparar, antes que ela pulasse, os carregando direto e acima, para o céu.

"Oh", ele disse.

E então eles estavam se beijando novamente.


22

10h:31min da noite

VESTIDA PARA MATAR

 

"Bem, o que você acha, Jess? Estamos prontas para ir?"

Jessica olhou para si mesma no espelho. Ela reconheceu o cabelo ruivo e os olhos verdes, mas isso foi tudo.

Constanza tinha passado a noite fazendo uma maquiagem em ambas. Ela tinha dado uma olhada no traje de festa de Jessica e decidiu emprestar a ela uma jaqueta. Então um pouco de maquiagem. E então um vestido.

Passar umas horas experimentando as roupas de Constanza tinha acabado por ser muito divertido. Haviam dois armários cheios delas, e uma parede inteira do quarto dela era coberto com espelhos. A maioria das coisas dela parecia servir em Jessica e tudo era bonito, ou pelo menos parecendo caro. Constanza absolutamente amava cada roupa que Jessica tinha posto. Era como ser uma adolescente normal de novo, se aprontando para ir a uma festa normal, ao invés de um poço de cobra cheio de criaturas más. Constanza tocava os cds e Jessica se fantasiava, e tinha sido a primeira noite de toda a semana que ela tinha sido capaz de esquecer que horas eram e o que aconteceria quando o relógio alcançasse as doze.

Agora, olhando para todo o conjunto, Jessica estava surpresa do quão pouco ela parecia consigo mesma. Na jaqueta de couro de comprimento até a coxa de Constanza, com só dois centímetros e meio do vestido vermelho visível embaixo da bainha, e o batom vermelho combinando, ela parecia mais como Jess Shady do que Jessica Day.

„Você tem certeza que eu não pareço... muito elegante?"

"Muito elegante?" Constanza disse. "Como em muito bonita ou muito linda?"

"Como em muito ridícula."

"Jessica, você não parece ridícula de jeito nenhum. Você vai deixá-los mortos."

"Quem são eles de novo?"

"Os caras da festa. E estes são os caras de Broken Arrow."

Broken eram era o município próximo, onde os caras eram mais bonitos, a grama mais verde, o toque de recolher inexistente, pelo menos de acordo com Constanza. E, aparentemente, todo mundo era um sênior.

Jessica sentia-se esquisita, vestida assim. Ela nunca particularmente pensou sobre o que ela vestia para a escola ou até mesmo para voar com Jonathan. Ela sabia que ela não tinha que se preocupar sobre isso com ele.

"Então, esses caras tem nomes?" Jessica perguntou. Ela ainda estava um pouco nervosa sobre os perigos da hora normal numa festa tarde da noite, cheia de estranhos.

"Eu acho que sim."

"Quero dizer, o quanto você conhece eles?" Jessica insistiu.

"Rick, quem me convidou, é um amigo de Liz, que estará lá."

Jessica suspirou, se lembrando que o ponto principal era sair de Rustle’s Bottom. Sobreviver ao poço da cobra e descobrir por que os Darklings estavam atrás dela, era só a coisa que contava.

"Ok. Eu acho que estou pronta. A propósito, você parece ótima também."

Constanza estava usando uma jaqueta quadriculada e saia com botas de cano alto. Ela claramente não estava planejando fugir de nenhum Darkling hoje à noite.

"Yeah, nada mau, se eu posso dizer para mim mesma." Constanza arrebatou as chaves de seu carro da penteadeira e se guiou para fora, dando tchau para sua mãe.

Jessica cavou os bolsos da jaqueta que ela tinha trazido com ela, pescando uma pequena lanterna, uma bússola, e um cuidadosamente dobrado pedaço de papel. Dess tinha dado a ela a bússola e desenhado um mapa de Bottom para ajudá-la a encontrar o poço da cobra. Depois de um segundo aviso sobre pisar em cobras no escuro, a lanterna tinha sido ideia de Jessica. Ao redor de seu pescoço estava Embaraçamento, a corrente de trinta e nove elos de Jonathan.

"Vamos lá, Jess!"

Ela tomou fôlego, Jessica não tinha mencionado a festa para seus pais e não tinha certeza do que aconteceria se sua mãe ligasse depois que ela e Constanza tivessem saído. Bem, o pior que eles podiam fazer era por ela de castigo de novo. Para sempre.

Ela olhou para si mesma pela última vez no espelho, e praticou seu tridecalogismo da noite.

"Serendipitoso{27}."

No caminho para Rustle’s Bottom, Jessica olhou pela janela do carro e viu um rolo de arame farpado passando. Ela percebeu que elas estavam dirigindo ao longo da cerca ao redor da Aeroespacial de Oklahoma.

"Hei. Minha mãe trabalha aqui." Ela disse.

"Você disse que ela desenha aviões, certo?"

"Só as asas."

"É tão engraçado que sua mãe trabalhe e seu pai não."

Jessica deu de ombros. "Papai desistiu de seu trabalho em Chicago para vir para cá. De qualquer modo, ele está sempre mudando de emprego."

"Ainda assim, foi muito legal da parte dele."

"Eu acho que sim. Eu acho que ele deseja o que ele não tinha."

Jessica se endireitou. Uma alta estrutura estava emergindo na frente delas, iluminada e inacabada. Era o novo prédio, onde ela e Jonathan tinham tomado refúgio dos Darklings. A construção parecia que estava atrasada, hoje à noite. A grade de aço estava brilhantemente iluminada, lâmpadas grandes penduradas em cada viga mestre, balançando ao vento do outono. Parecia como se ele estivesse na hora secreta, quando a lua estaria posta e o prédio inteiro estaria, de repente, acendido com a luz branca, afastando os slithers e os Darklings.

"Hei, qualquer prédio novo funciona?", ela murmurou suavemente.

"O que?" Constanza perguntou.

"Nada. É só uma coisa que me esqueci de perguntar a minha mãe."

Jonathan e Jessica tinham falado algumas vezes sobre o que tinha acontecido naquela noite, e sobre o que poderia tê-los salvado de seus perseguidores. Jonathan imaginou que o prédio devia ter sido construído com algum novo tipo de metal. Jessica tinha dito a Rex e a Dess a história toda, mas eles estavam muito ocupados planejando a expedição ao poço da cobra e não encontraram nenhuma resposta. Aparentemente Rex não sabia de tudo sobre as regras da meia noite.

"Eu tenho estado querendo falar com minha mãe sobre seu novo trabalho." Jessica continuou. "Mas ela é tão ocupada lá. Eu não tenho sido capaz."

"Sim, meu pai é do mesmo jeito." Constanza disse. "Não que eu queira falar com ele sobre seu trabalho. O futuro do petróleo ou qualquer coisa." Ela apontou a frente, seu sorriso brilhando. "Parabéns Jessica, você está agora deixando Bixby."

O limite da cidade piscou, e o estômago de Jessica formigou. Elas não estavam apenas deixando Bixby - elas estavam indo para o deserto.

"Próxima parada, poço das cobras." Ela disse para si mesma.

Ela olhou para seu relógio. Cinquenta e sete minutos para a meia noite.


23

11h:03min da noite

COORDENADAS

 

Rex e Melissa estavam atrasados.

Dess olhou para seu relógio. Só três minutos, mas a sincronização para sair para o poço da cobra estava ficando apertada. A lata velha enferrujada de Melissa não poderia levar eles para tão distante. Eles tinham que andar a última metade do quilômetro até o Bottom. Os três tinham ido para o poço da cobra antes da escola para colocar os equipamentos dela. Dess desejava agora que eles estivessem lá; voltar para casa e esperar para que todos os pais fossem dormir, tinha sido uma idéia imbecil. Ficar com problemas com a mãe e o pai não era nada comparado a ser pego por Darklings famintos na metade do caminho para o Bottom.

Mas Rex tinha que se assegurar que seu pai louco estava na cama, antes dele sair. Como se tomar conta de Melissa não fosse o suficiente.

Dess contou até treze, se forçando a relaxar. Ela alcançou o interior da caixa de música de Ada Lovelace e puxou umas poucas engrenagens, as rearranjando e visualizando a coreografia resultante. Ela deu a bailarina mecânica uma corda e observou sua dança, checando suas previsões.

Ada pulou em movimento, sempre pronta para dançar, mas os novos passos não vieram como esperados. O final, o vacilante levantar do seu braço esquerdo foi à frente ao invés de ir para trás. Dess sacudiu sua cabeça. Ela podia ver agora: ela virou um dos mecanismos para o lado errado.

Era culpa de Rex e Melissa por ela estar tão ansiosa. Se eles estivessem lá a tempo, Rex seria o que ficaria todo nervoso, então, ela e Melissa poderiam gozar dele e serem as calmas. Eles estariam a caminho do poço de cobras, onde a obra prima em metal de Dess atrairia os oohs e aahs de todos os envolvidos, enquanto os slithers queimavam até as cinzas.

Ela olhou pela janela de novo. Ainda nada da merda do Ford vindo para parar na frente da casa, há duas portas abaixo, o lugar de sempre para o encontro pré meia noite.

Dess chutou sua mochila, e ela fez um tinido tranquilizador de metal. Toda pronta para ir, preenchidos com armamento anti Darkling de última geração, uma reserva no caso das defesas ao redor do poço das cobras falharem. E ela tinha deixado um novo brinquedo muito especial no teto para Jonathan pegá-lo no seu caminho. Ela tinha feito sua parte.

Então, onde estavam Rex e Melissa?

Dess estava se coçando para ligar, mas seria totalmente estúpido. Os pais de Melissa, a deixavam fazer o que quer que ela quisesse, mas o pai de Rex era o maior dos psicóticos. Se Rex estivesse saindo furtivamente por sua janela neste momento, seria uma má hora para o telefone tocar.

Além do mais, seria melhor eles já estarem a caminho.

11h:06min. Em quarenta segundos seriam exatamente quarenta mil segundos depois do meio dia. Mas importante, seria uns meros 320 segundos até a meia noite. Dess podia sentir a hora azul - cheia de Darklings - correndo em direção a ela a cento e sessenta quilômetros por hora.

Ok, ela pensou. Um pouco mais rápido que isso, na verdade. A circunferência da Terra era 24.860 milhas, e um dia era de vinte e quatro horas. Então a meia noite teria que se mover cerca de 1.036 milhas por hora para fazer todo o caminho ao redor da Terra uma vez por dia.

Ela tinha visto isso no Discovery Channel, das câmeras no ônibus espacial: a linha limite, a margem da escuridão que marcava o amanhecer ou o por do sol, varrendo através da Terra. A verdadeira meia noite trabalhava do mesmo jeito, uma margem invisível cortando através do mundo, trazendo a hora azul.

Agora mesmo, a meia noite estaria cerca de novecentas milhas a leste daqui, no próximo fuso horário. É claro, até onde qualquer um deles sabia, não haviam Darklings ou midnighters, ou hora azul em nenhum lugar além de Bixby. Rex nunca tinha imaginado um fora. Dess se perguntava se um pouco menos do conhecimento e um pouco mais de matemática poderia resolver o quebra cabeça.

Ela olhou pela janela. Nada ainda de Rex e Melissa.

Por um terrível instante ela se perguntou se eles a tinham deixado para trás. Simplesmente escapado para o poço da cobra sem ela. A velha sensação de isolamento agarrou-se a ela.

Era tudo culpa de Melissa, a telepata. Ela tinha rastreado Rex quando ambos tinham oito anos de idade. Dess era só um ano mais nova, mas tinha levado a Melissa outros quatro anos para encontrá-la. A desculpa de Melissa era que Dess vivia muito perto do deserto e que até então todos os Darklings e slithers tinham confundido seu talento não desenvolvido.

Aquilo soava como um monte de merda para Dess. Melissa pôde captar Rex a mais de um quilômetro de distância mesmo durante o dia; na hora azul outro midnighter era como uma chama em um horizonte escuro. Ela tinha descoberto Jonathan e Jessica poucos dias depois que eles chegaram. Mas para os quatro anos que Rex e Mellissa tinha estado juntos sozinhos, tudo o que Dess tinha conhecido eram os slithers, a solitária certeza da matemática, e Ada Lovelace.

Ela alcançou a caixa de Ada e ligou a engrenagem errante, fazendo-a dançar novamente. "Dance, minha linda."

Dess tinha certeza que seu isolamento naqueles primeiros anos tinha sido de propósito.

Melissa tinha brincado por um tempo, enquanto ela e Rex exploravam a meia noite juntos, cresciam juntos. O esquema tinha funcionado. Até o momento que Melissa finalmente "descobriu" Dess, Rex e Melissa estavam tão firmes que nada podia ficar entre eles. E a influência psíquica de Melissa sobre Rex tornava impossível para ele, até mesmo, pensar sobre o que Melissa tinha feito.

Dess engoliu em seco e olhou pela janela.

Eles não ousariam deixá-la para trás hoje a noite. Mesmo com o poço da cobra já pronto para repelir os Darklings, eles precisavam dela em caso de algo dar errado. Quando o caso vinha para o aço, ela podia improvisar. Sem ela toda essa missão seria impossível.

Não seria tão mal se Jonathan Martinez não tivesse sido um belo de um desapontamento, voando para seu próprio pequeno mundo ao invés de trazer o grupo unido. Talvez Jessica pudesse fazê-lo, uma vez que os dois reaparecessem na área como um casal.

Dess sacudiu sua cabeça. Ela tinha de parar de pensar sobre essas coisas antes que eles chegassem aqui. Ela não queria dar a Melissa à satisfação de saber que ela se sentia desse modo.

Como ela sempre fazia para esconder seus pensamentos. Dess deixou os números tomarem conta de seu cérebro. "Ane, twa, thri, feower..."

Segundos depois algo sibilou atrás de sua cabeça: outro erro matemático. "Dois em uma noite", ela murmurou.

A meia noite estava vindo em direção a Bixby a 1.036 milhas por hora. Isso só se moveria nessa rapidez no equador, a linha um de latitude que ia ao redor da verdadeira circunferência da Terra, como uma fita métrica ao redor da parte mais larga da barriga de um homem gordo.

Dess podia ver isso em sua cabeça agora. O mais distante do norte que você estava, a mais lenta meia noite (ou amanhecer, ou tanto faz) varria a Terra. Uma milha do Polo Norte o dia se moveria tão lentamente quanto uma tartaruga doente, levando um dia inteiro para rastejar em um círculo pequeno.

Ela olhou pela janela. Nada ainda do Ford enferrujado e a meia noite há 2.978 segundos a distância.

Agora isso estava realmente incomodando ela. O quão rápido a meia noite se moveria em direção a Bixby? Por que seu cérebro não estava apenas dizendo a ela, dando a ela as respostas como ele sempre fazia?

Ela contou até treze, relaxando e deixando os cálculos se moverem na parte consciente de sua mente. É claro, para descobrir isso, ela precisava saber do quão distante do Equador Bixby era.

Ela se virou da janela vazia e puxou seus livros de estudos sociais da prateleira, abrindo ele por trás. O folheando, ela descobriu um mapa do meio oeste dos Estados Unidos. Um sinal de Bixby não estava nele, é claro, mas ela sabia que a cidade estava apenas a sudoeste de Tulsa.

Essa foi fácil: uma latitude e uma longitude alinhada cruzavam bem onde Bixby teria sido, se alguém se incomodasse em colocá-la no mapa. Trinta e seis graus ao norte e noventa e seis a oeste.

"Caraca", ela disse suavemente, enquanto os números se agitavam em sua cabeça. Todos os pensamentos sobre a velocidade da meia noite desapareceram. Aquilo era sério.

Trinta e seis era um múltiplo de doze. Noventa e seis era um múltiplo de doze. Os numerais todos adicionados (três mais seis, mais nove, mais seis) para vinte e quatro, outro múltiplo de doze.

Ela fechou o livro e golpeou, a si mesma, na cabeça com ele. Dess tinha jogado com o CEP, a população, os ângulos da arquitetura, mas nunca tinha ocorrido a ela de olhar as coordenadas de Bixby antes.

Talvez não fossem só as pedras místicas e o deserto intocado que fazia Bixby diferente; talvez era o local no globo por si mesmo. Como as estrelas de treze pontas em toda parte, a dica tinha estado escondida lá fora no espaço, em cada mapa do mundo.

O coração de Dess batia mais rápido enquanto os números rolavam através dela. Se ela estivesse certa, esta descoberta podia também responder a outra pergunta de um trilhão de dólares: Onde estavam as outras horas azuis no mundo? Dess fechou seus olhos, visualizando um globo em sua mente. Os mares e massas de terra desapareciam até que apenas as linhas navegacionais permanecessem, uma brilhante esfera moldada de fios. Quando você ligasse em torno das direções, seriam sete lugares a mais com os mesmos números como Bixby: trinta e seis ao sul por noventa e seis a oeste, trinta e seis a oeste por noventa e seis ao norte, etc. E provavelmente mais combinações com outros números.

Quarenta e oito, por oitenta e quatro seguiam o mesmo padrão, como faziam vinte e quatro, por vinte e quatro. É claro, a maioria destes lugares estaria no meio de um oceano, mas alguns deles eram obrigados a estar em terra.

Devia haver outras dezenas de Bixbys lá fora.

Ou a coisa toda podia ser uma coincidência.

Dess mordeu seu lábio. Devia haver um jeito de checar a teoria.

Ela abriu o livro de estudos sociais de novo, e olhou para o mapa de Oklahoma. Desejando que seus olhos se tornassem microscópicos, para expandir o mapa até que ela pudesse ver Bixby e o deserto ao redor. Onde exatamente as duas linhas se encontravam?

Seu pai podia descobrir. Como um chefe de setor de equipamentos, ele tinha detalhados mapas de campos de petróleo cercando a cidade, incluindo o deserto.

Dess olhou pela janela.

Nada.

Sentada aqui na espera, estava deixando ela louca. Ela tinha que descobrir onde o centro da meia noite era. Se sua teoria estivesse certa, ela tinha uma boa idéia de onde as linhas se cruzariam.

Ela se levantou e se arrastou até sua porta, abrindo ela em uma fenda. O piscar usual da luz da TV estava ausente no corredor, a casa silenciosa e imóvel. O pai estaria trabalhando amanhã, como ele sempre fazia na maioria dos fins de semana, então seus pais já estavam na cama. Dess saiu para o corredor, cuidadosamente não colocando nenhum peso ao longo do padrão memorizado das placas rangentes, se movendo lentamente em direção a sala de estar. Ela deixou a porta aberta atrás dela, escutando com um ouvido o som de um tapinha impaciente em sua janela.

Aquilo era realmente estúpido, ela sabia. Isso podia esperar até amanhã. As coisas estavam atrasadas o suficiente sem um confronto dos pais.

Mas ela tinha que saber para ter certeza.

O pai mantinha seus mapas em um grande arquivo plano que se dobrava como uma mesa de café na sala de estar. Dess se ajoelhou diante dela e puxou a gaveta de cima. Apenas folders, canetas e lixo em uma. Na próxima aberta estavam mapas sobre um papel fino que tentou enrolar enquanto ela puxava a gaveta, tendo impressões de dedos pretas e soltando o cheiro familiar do petróleo de Oklahoma.

Ela ouviu um som lá fora e congelou, segurando sua respiração.

O carro passou, se agitando sobre a pista não pavimentada e para a distância.

Dess assaltou através dos mapas, espreitando pelas coordenadas no brilho da luz dos postes angulados através da janela da frente. Os mapas eram incrivelmente detalhados, mostrando casas individualmente e equipamentos de petróleo. Ela percebeu que toda Bixby era contida dentro de um único grau de latitude e longitude, que era subdividido em unidades mais pequenas chamadas "minutos", cerca de uma milha de lado a lado. Ela correu seus dedos para descobrir o ponto exato do cruzamento.

Os mapas não estavam em nenhuma ordem em particular.

"Obrigada, pai." Ela sussurrou para si mesma.

Um som veio do quarto de seus pais, e Dess fechou seus olhos, o coração martelando. Papai odiava encontrar qualquer um mexendo em suas coisas. Mas nenhuma luz veio, e o silêncio lentamente se assentou sobre à casa de novo.

Finalmente ela descobriu.

Dess puxou o mapa para fora lentamente, deixando ele se enrolar em um pergaminho, e o carregou com rápidos e silenciosos passos de volta a seu quarto.

Depois de uma olhada pela janela e para a rua ainda vazia, ela desenrolou o mapa sobre o chão, prendendo os cantos com quatro peças de aço. Seus dedos, tremendo, seguiam as linhas pontilhadas de seu cruzamento.

"Eu sabia." Ela disse.

Trinta e seis ao norte por noventa e seis a oeste estava bem no meio de Rustle’s Bottom.

Não podia ser coincidência. O poço da cobra na verdade era o centro Darkling. E se uma certa longitude e latitude era tudo que ele levava, havia provavelmente outros lugares no mundo onde a hora azul vinha a meia noite.

Uma buzina soou do lado de fora de sua janela.

"Não me buzine!", ela sibilou, agarrando sua mochila.

Retardados.

Dess manteria isso para si mesma por um momento. Ela podia checar isso lá fora por ela mesma. Se nada demais, ela faria que Rex desejasse tê-la escutado mais.

Antes de Dess puxar-se para fora da janela, ela olhou para o relógio, 11h:24min.

Eles não estavam indo a tempo.


24

11:25 da noite

RUSTLE’S BOTTOM

 

A festa tinha acabado de começar.

Rustle’s Bottom era uma ampla planície plana, se estendendo tão longe quanto Jessica podia ver. Ele parecia plano e sem forma por todo o caminho para as montanhas, uma serie de picos baixos mal contornados contra o horizonte escuro. Era completamente estéril, exceto por carros estacionados sobre um estacionamento de terra batida. De acordo com Dess, era o leito de um lago que tinha secado há centenas de anos atrás. Jessica chutou o chão seco. Não havia indicio do que ele havia sido nada além do frio e assolador deserto.

Ela se envolveu na jaqueta, que não era nem de perto tão quente quanto a sua própria, ou a casa de Constanza. Aqui fora não havia nada para bloquear o vento. A razão pela qual Oklahoma era com tanto vento, era seu aplanamento: o ar apenas se mantinha desenvolvendo a velocidade, enquanto ele se movia de um lado a outro da planície, como um corredor sozinho em uma longa, e reta estrada. Ele soprava sem nenhuma mudança na velocidade ou direção, cortando através da jaqueta sem forro. Pelo menos seus pés estavam quentes. Constanza tinha tentado emprestar seus sapatos de salto, mas ela tinha enfiado um par das velhas botas de confiança, que ela esperava que fossem a prova de cobras.

Puxando o casaco em torno dela, Jessica olhou para cima, seus olhos alargados com a intimidação. O céu em Chicago nunca tinha estado preenchido com tantas estrelas. A essa distância das luzes da cidade, parecia ser milhões delas. Pela primeira vez Jessica podia ver como a Via Láctea tinha conseguido este nome. Era um rio sinuoso de branco, que corria do leste ao oeste, (ela tinha verificado sua bússola enquanto elas tinham saído do carro), cheio de estrelas cintilantes e espirais pastosas de luz.

"Brrr, isso já é praticamente inverno." Constanza disse. "Vamos lá. Vamos nos aquecer."

A alguns quilômetros atrás, elas tinham saído da estrada e ido direto através do leito do lago, que era como dirigir através de um imenso estacionamento. Constanza tinha ido em direção a luz intermitente, finalmente parando onde uma dezena ou mais de carros e pickups estavam já estacionados em um fila irregular. Uma centena de pés a distancia estava um bando de pessoas agrupadas ao redor de uma fogueira. O buraco raso era cercado com pedras que mostravam as marcas de muitas fogueiras passadas. Alguém tinha despejado uma pilha de gravetos, uns poucos tocos de árvore, e o que parecia com algum móvel quebrado. O fogo estava ainda emitindo fagulhas para vir à vida, estalando e sibilando com madeira nova seca.

Uma grande fagulha subiu e voou no ar e foi carregada pelo vento. O grup ria enquanto o projetil flamejante saltava loucamente através do deserto antes de se extinguir uns poucos segundos depois. Música tocava de um pequeno cd player colocado na terra.

"Isso não é ótimo?" Constanza disse.

"Yeah", A noite era bonita, Jessica tinha que admitir, e dramática. Ela desejou que uma fogueira e um céu no deserto fossem os únicos dramas que ela teria que encarar esta noite.

"Hei, Constanza." Um garoto se separou do grupo.

"Hei, Rick. Como vai indo? Esta é minha amiga Jess."

"Hei, Jill."

"Oi, Rick. Na verdade, é Jessica."

"Claro. Venham e se esquentem."

Eles se reuniram em torno da fogueira. Jessica empurrou suas mãos para seus bolsos para aquecê-las. Rick ofereceu um copo de plástico de cerveja para cada, e Jessica disse não obrigada. Mais carros chegaram, e seus passageiros arrastaram mais madeira para a fogueira. Cadeiras quebradas, pedaços de árvore seca, um fardo de jornais que pegaram fogo em algumas páginas num instante, e subiram para o céu, carregados pelo ar quente. Alguém trouxe um sinal de pare com uma massa de concreto grudada em sua base, e todo mundo riu e aplaudiu quando ele foi para a fogueira e escureceu.

Jessica esperava que ninguém fosse ter um acidente de carro por causa desta festa. Constanza estava se divertindo, e era uma noite linda, mas Jessica se sentia muito jovem por estar aqui, como se alguém fosse lhe pedir a identidade e a expulsasse a qualquer segundo.

Ela olhou para seu relógio: 11h:45min. Em cinco minutos seria a hora de dar sua caminhada. Dess tinha dito que o poço da cobra era só a poucos minutos de distância, mas a idéia de estar atrasada era muito assustadora para considerar. Ela queria estar segura dentro do poço da cobra antes que a meia noite caísse.

Jessica esfregou sua mão, nervosa, não desejando deixar o calor da fogueira, ficando sozinha lá fora no deserto. Ela estremeceu e percebeu que embora a metade da frente dela estivesse tostando, suas costas estavam congelando. Jessica se virou ao redor e se direcionou para o deserto. O fogo em suas costas parecia um casaco de pele deslizando sobre ela, e então ela suspirou.

"Você está bastante quieta."

Jess piscou. Enquanto seus olhos se ajustavam a escuridão, ela distinguiu a forma de um garoto em frente a ela.

"Acho que estou. Eu não conheço na verdade muitas pessoas aqui."

"Você é amiga de Liz e Constanza?"

"Sim. Jessica."

"Hei. Jessica. Meu nome é Steve."

Jessica podia ver o rosto do garoto agora, iluminado pela fogueira bruxuleante. Ele parecia mais jovem do que muito dos caras aqui.

Ela sorriu. "Então, Steve, você é de Broken Arrow."

"Yeah. Eu nasci aqui. Você está em pé no centro de Broken Arrow, na verdade. Como você pode ver, é uma cidade que nunca dorme. Como Bixby, mas sem os arranha-céus.

Jessica riu. "Uma metrópoles germinando."

"Yeah, exceto que eu não sei o que "germinar" significa."

"Oh. Quer dizer, um...", ela deu de ombros. "Realmente plana e com muito vento?"

Steve acenou. "Então Broken Arron definitivamente está se germinando."

Agora o rosto de Jessica ficou frio. "Eu acho que eu terminei deste lado", ela disse, dando um espaço a ele, próximo a ela enquanto se virava ao redor. Ela checou seu relógio de novo. Dois minutos. Ele estendeu suas mãos, tentando conservar o calor da fogueira para sua caminhada.

"Então, você não parece como se viesse de Bixby."

"Eu acabei de me mudar para cá de Chicago."

"Chicago? Wow. Arranha-céus de verdade. Oklahoma deve ser completamente estranha para você."

"Ela é diferente, sim. Exceto pelo vento, que é demais, tal qual Chicago."

"Você está com frio realmente, não está? Você quer meu casaco?"

Steve estava usando uma jaqueta. Ela parecia incrivelmente quente.

Jessica sacudiu sua cabeça. "Não, eu não poderia."

"Você tem certeza?"

"Sim." Ela checou seu relógio. "Na verdade, eu tenho que ir."

O desapontamento luziu nos olhos de Steve. "Você já está saindo da festa? Foi alguma coisa que eu disse?"

"Não, de jeito nenhum. Eu só vou para uma caminhada. Para o poço da cobra."

Ele acenou. "Para a meia noite, huh? Você sabe onde ele é?"

"Mais ou menos. Quero dizer, eu tenho um mapa."

"Eu levo você."

Jessica mordeu seu lábio. Ela nunca tinha pensado em levar um não midnighter pelo caminho. Mas que problema teria? Steve estaria seguro não importa o que acontecesse no poço da cobra. Ele estaria congelado na coisa toda. E na escuridão sem forma, a idéia de caminhar para longe da fogueira sozinha não era um agradável. Pelo menos com Steve ela não se perderia.

O frio agarrou seu corpo no momento em que eles deixaram a fogueira, se insinuando na jaqueta emprestada como dedos frios. As pernas de Jessica, protegidas só por meia-calça, estavam congelando, e suas mãos ficaram mais e mais frias, não importasse o quão afundadas ela as enviou em seus bolsos.

"Então que tem disso, sobre o poço da cobra?" Steve perguntou.

"Um, todo mundo. Constanza estava falando sobre isso um dia, e pareceu, você sabe, interessante."

"E você estava indo sozinha? Wow, você é uma garota corajosa."

"Eu tenho meus momentos de estupidez." Jessica concordou. Ela podia ouvir seus dentes batendo.

"Você esta com frio, Jessica." Steve colocou seu braço ao redor dela. A jaqueta ao redor dos ombros dela realmente ajudava, mesmo que não parecesse certo estar tão perto de um cara que não fosse Jonathan.

"Obrigada."

"Sem problema."

Enquanto eles caminhavam pelo deserto, Jessica se perguntou como Steve sabia onde ele estava indo. Não havia marcos que ela pudesse ver, exceto a Via Láctea, que corria na direção que eles estavam caminhando. O que significava que eles estavam indo tão pouco a leste ou a oeste. Ela teve que checar a bussola para ter certeza.

"Você tem certeza de que sabe para onde nós estamos indo?"

"Oh, sim. Nascido e criado em Broken Arrow. Eu não tenho muito orgulho em dizer."

"Ok"

Ela olhou para seu relógio. Cinco minutos.

"Não se preocupe, nós chegaremos lá a meia noite." Steve disse. "Bem na hora do espírito mau aparecer."

Ela sorriu com melancolia. "Não perderia essa."

Houve um bruxulear de luz no canto de seu olho. Era a fogueira a direita deles. Ela se perguntou por que não era mais atrás deles.

Jessica olhou para acima no céu. Agora a Via Láctea estava espalhada para os lados no caminho deles. Eles tinham virado nem ao norte ou ao sul.

"Steve? A que distância é o poço da cobra?"

"Oh, talvez outros dez minutos."

"Dez minutos? Mas é quase meia noite." Um calafrio viajou através de Jessica, mais do tremor do que o frio. "Minha amiga disse que era realmente perto do buraco da fogueira."

"Você esta com frio? Nós podemos parar em meu carro se você quiser."

"Seu carro"

"É bem ali." Steve disse, puxando ela para mais perto. "Nós podemos nos aquecer."

Ela se empurrou para longe. "Mas eu tenho que chegar lá a meia noite!"

Uma fila de carros estacionados era visível agora, em frente a eles. Ele tinha levado ela em um círculo.

"Escute, Jessica." Ele disse. "O poço da cobra não é grande coisa, certo? É só um velho escoadouro cheio de água de chuva e cobras. Temo que essa é a idéia de Broken Arrow de mágica." Ele se moveu para mais perto. "Eu posso te mostrar algo muito mais interessante."

Jessica girou ao redor e andou rapidamente em direção a fogueira, enfiando uma mão em seu bolso para o mapa e a lanterna. Seus dedos se atrapalharam, dormentes e desajeitados pelo frio.

"Jessica..." Ela ouviu os passos dele a seguindo.

Ela o ignorou, desdobrando o mapa. Ele mostrava o poço da cobras quase exatamente a leste da fogueira. Jessica apontou a lanterna para a bússola e se afastou da fogueira, guiando-se para o leste.

Ela escutou os passos de Steve atrás dela mas o ignorou, esperando que ele perdesse o interesse e fosse embora.

Jessica empurrou tudo que ela tinha de volta a seus bolsos, acelerando seus passos. Dess tinha dito que ela não podia perder o poço da cobra. Supostamente a cavidade se destacava no deserto como um longo caminho escuro.

A mão de Steve agarrou seu ombro. "Hei, espere, Jessica. Me desculpe, eu não sabia que isso era importante."

Ela se afastou para longe. "Vá mexer com outro alguém. "

"Eu não estava..." Ele parou de andar, e sua voz diminuiu. "Você se perderá lá, Jessica. As cobras pegarão você."

"Melhor elas do que você", ela disse para si mesma.

"E os espíritos maus também, Jessica." Steve chamou. "É quase meia noite. Você quer estar lá fora toda -"

Sua voz foi silenciada tão subitamente quanto um rádio sendo desligado. A luz mudou, o familiar azul varrendo através do deserto como o amanhecer. O ar ficou imóvel e silencioso. Ficou instantaneamente quente, mas Jessica tremeu.

A meia noite tinha chegado.

Ela começou a correr.


25

12h:00 da madrugada

O POÇO DA COBRA

 

Quando Jessica começou a correr, ela olhou uma vez rapidamente por cima de seu ombro, fazendo uma careta a visão de Steve. Ele tinha estado olhando direto para ela, quando a meia noite o congelou. De algum modo ela tinha que voltar lá no fim da hora secreta. Se ela não estivesse exatamente na mesma posição, seria para ele como se ela subitamente mudasse de lugar.

Mas Jessica sorriu enquanto ela se afastava e rompia em uma corrida impetuosa. Se ela não voltasse, ele pensaria que ela tinha desaparecido no ar.

Ela podia viver com isso.

O deserto era uma expansão azul, imensa e plana, como se eles estivesse correndo em um oceano sem fim. Na luz da meia noite, embora, umas poucas formas se tornassem visíveis. Filetes de nuvem estavam espalhados acima, e umas poucas plantas rasteiras desordenadas se agarrava a terra dura. As estrelas eram ainda visíveis, e Jessica podia dizer pela Via Láctea, que ela estava se dirigindo a direção correta.

Não havia sinal de Darklings ou slithers, pelo menos. Ainda não.

Nem havia nenhum sinal do poço de cobra.

Jessica se sentia como uma idiota por ter confiado em Steve. Se ela tivesse se prendido ao plano, deixando a festa sozinha e seguindo o mapa de Dess, ela estaria em segurança no poço da cobra agora.

"Eu sou uma babaca", Jessica cuspiu entre seus dentes. Como ela poderia sobreviver aos Darklings e slithers se ela estava com medo de uma curta caminhada no escuro sozinha?

Enquanto ela corria, Jessica procurou no horizonte o buraco de cobra, por qualquer coisa maior do que uma erva rasteira. O quanto de distância Steve tinha tirado ela de seu caminho? Seu relógio dizia que ela tinha estado correndo por seis minutos.

Seus pés bateram com hesitação. Isso parecia muito longe, para o que era supostamente ser uma caminhada de cinco minutos.

Ela puxou a bussola. Ela funcionaria na hora secreta?

"Vamos lá, vamos lá." Jess sussurrou. "A agulha balançou preguiçosamente em um círculo completo, então finalmente apontou o caminho que ela tinha vindo.

Mas ela tinha estado correndo a leste. O norte não podia estar atrás dela.

Um som veio do deserto, uma chamada em gorjeio.

Jessica escaneou o céu, diretamente, em frente a ela, asas como de morcego estavam delineadas contra a lua se elevando. Um slither voador, perto o suficiente para ter visto ela. Ela tinha que se manter se movendo. Mas para qual caminho?

Ela encarou a direção que a bússola tinha dito que era o leste. Não havia nada além da falta de formas, do deserto azul diante dela. Seus olhos caíram na bússola enraivecidos.

A agulha estava apontado para uma nova direção. Ela dizia norte que estava ainda atrás dela, mas agora ela estava de frente a um caminho diferente.

"O que é -"

Jessica se virou num círculo lento. Não importava qual caminho ela se direcionasse, a agulha apontada direto para ela.

"Ótimo, agora eu estou no Polo Norte", ela murmurou. Outra coisa para Rex refletir.

Se ela sobrevivesse tempo o suficiente para vê-lo de novo.

Ela empurrou a bussola inútil em seu bolso e olhou para as estrelas. A Via Láctea corria do leste para o oeste, ou pelo menos ela tinha, antes que a meia noite tivesse enlouquecido a bússola. Em uma extremidade do rio de luz estava a lua se elevando.

"Jessica, sua idiota!" O sol se erguia a leste, porque não iria a lua negra?

Ela tinha estado indo de modo correto o tempo todo. Jessica começou a correr de novo, tão forte quanto ela podia. Se o slither tivesse a localizado, não havia mais tempo a se perder. Ou ela estava indo na direção certa ou ela era um presunto.

A lua estava alta agora, sua face sinistra ampla o suficiente para preencher o horizonte ao leste. Coisas aladas estava se reunindo em frente a ela, formas escuras contra a luz fria da lua.

De repente ela viu o que parecia um piscar de luz azul diante dela. Mas parecia uma reserva ao reverso, pulando do chão para o céu, se espalhando de um tronco fino para muitos dedos finos de fogo, como uma imensa árvore sem folhas, de repente revelada por um flash de azul. Mais linhas de luz se atiraram do chão para o céu. Tocadas por uma das ramificações de eletricidade azul.

"Dess", ela disse. Os raios de luz eram as defesas do poço da cobras, vindo a vida. Jessica estava indo no caminho certo. A segurança estava próxima.

Ela correu mais.

Os monstros voadores pareciam estar testando as defesas, tentando passar os relâmpagos e para baixo no poço da cobra. Enquanto a nuvem de slithers se espessava, os relâmpagos ficaram mais furiosos, formando um arco hesitante de chama azul sobre o poço. As ervas daninha ao redor de Jessica se prolongavam, piscando em sombras.

Outros trinta segundos e ela estaria a salvo.

Uma imensa e escura forma subiu do arco azul, muito grande para ser um slither. Ela veio direto em direção a Jessica e começou a descer, suas asas quase largas o suficiente para borrar os fogos atrás dela.

Ela deslizou numa parada, arfando. Enquanto o Darkling aterrizava e suas asas se dobravam, ela podia ver sua forma se agitar e mudar, compondo-se em uma forma escura encurvada de músculos, garras, e olhos luzentes. Uma pantera.

O arco azul que protegia o poço da cobras estava só a poucos metros diante ela. Ela estava tão perto.

Jessica puxou o colar de Jonathan, segurando ele apertado em uma mão. Ela sussurrou seu nome, "Embaraçamento."

A besta rugiu, sacudindo a terra dura do deserto embaixo de seus pés. Se levantou, os dentes de sabre crescendo em sua mandíbula.

Por um momento Jessica ficou dominada pelo mesmo medo paralisante que tinha preso ela na primeira vez que ela viu um Darkling. Mas então ela se lembrou quão alegremente Dess tinha despachado aquela pantera, em uma explosão selvagem de faíscas da calota voadora.

Dessa vez, Jessica não estava indefesa.

"Você é um grande problema, gatinho psicopata", ela disse,segurando forte o colar.

O mostro apenas rosnou, não impressionado.

Ela se preparou para atacar, o colar enrolado em uma bola em sua mão. Não havia o porquê de esperar outro Darkling aparecer.

A pantera arqueou suas costas, olhos piscando, como se sentido o que ela estava prestes a fazer.

Jessica tomou fôlego e correu direto para ele.

O gato rosnou de volta, sem equilíbrio. Ele era um predador, não acostumado a presa se virar contra ela, mas então seus reflexos de caça assumiram o controle. Suas garras se estenderam, e ele saltou para ela com um único pulo como um ataque de uma cobra gigante, de repente um raio de sólidos músculos.

Ela atirou o colar.

O metal acendeu no momento que ele deixou a sua mão, os elos em chamas em um fio de faíscas azuis. O metal ardente e a pantera arquearam em direção um ao outro, a besta e o metal colidindo no meio do ar com um som ensurdecedor. O gato foi jogado para trás, uivando. Ele rolou uma vez e lutou para ficar em pé na margem do poço da cobra, sacudindo sua cabeça.

Seus olhos frios fechados em Jessica.

Um segundo depois o mundo pareceu explodir.

Um raio do relâmpago se atirou do poço da cobra, saltando através de uns poucos metros do deserto e golpeando o corpo da pantera. Todo o poço da cobra pareceu explodir na fria chama azul por um momento, com um precipitado ruído como chuva se formando, e então uma explosão ensurdecedora jogou Jessica no chão. Ela rolou pela terra, o retumbar estremecendo a dura terra desértica embaixo dela.

Por um momento ela não pode se mover. Sua cabeça zunia, e ela não podia ver nada além do raio do relâmpago golpeando o grande felino, queimando nos olhos dela como uma imagem posterior de um flash de uma câmera.

Jessica forçou seus olhos a se abrirem e se levantou tremendo, tossindo, sem saber qual caminho que era. Lágrimas escorriam em seu rosto, e enquanto ela as piscava para longe, Jessica viu uma forma borrada se empurrando em direção a ela através do ar.

Ela deu uns poucos passos às cegas para trás. A forma aterrizou em frente a ela.

Jessica colocou uma mão acima em seu pescoço instintivamente, mas o colar se fora. Ela estava indefesa.

Uma mão agarrou seu braço.

"Por aqui, Jess."

A gravidade deslizou para longe. De repente ela era feita de penas.

"Jonathan."

Com um único e ascendente passo ele a puxou através da fronteira crepitante. Ela tinha estado só a poucos metros da margem do poço da cobra. Luzes piscaram ao redor deles, os cabelos na cabeça dela se levantaram como se tivesse pisado em uma banheira de eletricidade.

Jessica tropeçou quando eles aterrizaram dentro da cavidade, e no momento que Jonathan soltou seu braço, seus pés deslizaram na inclinação da terra suavizada. Ela se sentou.

"Jess?"

"Eu estou bem." Ela piscou para longe a poeira em seus olhos e conseguiu colocar o rosto de Jonathan em foco. Ele estava arfando, se ajoelhando próximo de onde ela se sentava, jogando a terra deslizante ao redor deles dentro do centro do poço.

"Eu tentei parar o Darkling, mas ele foi tão rápido até você", ele disse sem fôlego."Eu pensei que era tarde demais."

"Não, você chegou bem a tempo." Jessica sacudiu sua cabeça, tentando clarear o zumbido em suas orelhas. Seus dedos das mãos e pés estremeciam, como se alguma força imensa tivesse se movido através dela, eletrificando seu corpo em alerta. Cada respiração parecia preenchê-la com energia. Ela quase sentiu vontade de rir.

"Eu perdi o Embaraçamento. Quero dizer, eu o joguei no gatinho psicopata." Ela tagarelou.

"Eu vi a coisa toda. Aquilo foi incrível."

"Ele foi seu? Seu colar?"

"Explodido em pedacinhos, mas eu te darei outro."

"Oh, bom."

Jessica deu uma risadinha, então se forçou a dar uma lenta respirada profunda. O zumbido em seu corpo estava desaparecendo. Finalmente sua visão clareou completamente. O rosto de Jonathan estava torcido pela preocupação.

"Você tem certeza que está bem?", ele perguntou. "Você parece como se tivesse presa com um garfo em uma tomada."

"Pô, obrigada." Jessica ficou em pé, tremendo, e ele estendeu uma mão para ajudá-la a se levantar. "Eu estou bem, de verdade."

Na verdade, ela se sentia ótima. Ela alisou seu cabelo, que estava espetado em todas as direções.

"Uh, Jessica..."

"Sim?"

"Você está usando maquiagem?"

Ela espanou a poeira de si mesma. "Uma garota não pode se vestir para uma festa?"

Jonathan levantou uma sobrancelha e olhou ao redor. A cavidade no poço da cobra estava cercado com peças de metal, formas de ferro velho que brilhavam e crepitavam. Folhas de relâmpago piscavam deles para o céu, onde slithers gritando rodavam em círculos estreitos ao redor do poço. Formas queimadas e girando deitadas no chão, os corpos de slithers fritos se esfumaçando, que tinham se aventurado para mais perto. Através da cúpula azul de relâmpago Jessica observou alguns Darklings pairando a distância, seus olhos índigo cintilantes no brilho dos flashes incessantes.

Jonathan riu. "Uma festa."

Jessica sorriu, mas em seguida enrugou suas sobrancelhas. "Embora, nem todos os convidados estejam aqui."

"Eu vi o carro de Melissa quando estava a caminho, na outra extremidade do Bottom. Eu acho que eles estão um pouco atrasados." Ele olhou para o show de fogos ao redor deles. "Se eles chegarem aqui."

Jessica olhou através do arco azul do relâmpago, para a nuvem revolvente de slithers. "Como você conseguiu passar, Jonathan?"

Ele apontou um objeto no chão próximo a ele. Ele parecia como uma velha tampa de lixeira denteada e marcada com estranhos símbolos e padrões. "Conheça Debaldementes Hiperinfladas Personalidade{28}. Algo que Dess fez para me ajudar a chegar aqui.

"Debaldementes Hiperinfladas...?" Ela riu.

"O que?"

"Nada. É só um bom nome."

"A nova coisa dela são frases com trinta e nove letras. Mais cargas de um soco."

"Parece, como se você precisasse." Jessica disse.

A tampa tinha escurecido de um lado, como se ela tivesse sido usada para repelir um lança chamas.

"Eu tive slithers voadores saltando sobre mim como insetos em um para-brisa." Jonathan a pegou. Com seus dedos através do punho, a tampa da lixeira parecia como um escudo surrado. Ele olhou acima para a lua, metade elevada.

"Eles deveriam estar aqui por agora."

Jessica podia ver parte da Via Láctea além da imensa lua. "Eles estariam vindo por aquele caminho, certo?", ela perguntou.

Jonathan acenou e puxou uma barra de doce, dando uma mordida apressada.

Eles contornaram o poço para o outro lado, os flashes de relâmpago enviando a longa sombra deles em todas as direções. A cavidade era uma cratera arredondada e irregular no deserto, como se uma pá gigante tivesse colhido um monte de terra. Plantas se agarravam a seus lados, e a terra no seu centro rebaixado parecia escura e úmida.

"Belo lugar para uma festa." Ela murmurou.

Eles alcançaram a margem oposta e olharam para fora através da planície lisa do Bottom.

"Lá estão eles." Jonathan disse.


26

12:00 da madrugada

LUVA

 

"Parece bem impressionante, Dess."

"Obrigada, exceto que eu estava esperando que nós o víssemos de dentro."

"Vamos lá", Rex disse pela décima vez. "Os policiais estava por toda parte esta noite. Nós tivemos sorte de ir até sua casa."

"Então como nós teríamos que sair de lá?", ela perguntou.

O arco azul sobre o poço da cobra brilhou através do deserto. Com sua visão da meia noite, Rex podia ver cada pequeno dedo do frio relâmpago que saltava do anel de aço que Dess tinha criado. Ele podia ver os slithers girando acima, atraídos pelo poço da cobra e suas pedras antigas, mal espertos o suficiente para evitar as forças mortais que os atraiam ao metal limpo. Ele podia também ver os Darklings acima, pairando cautelosos e pacientes, esperando por algo acontecer.

Tudo estava em prontidão.

Infelizmente, tudo estava acontecendo a centenas de metros à distância, do outro lado do deserto aberto e desprotegido.

"Eu não tenho idéia", ele admitiu.

"Eles sabem que nós estamos aqui", Melissa disse. "Mas eles não se importam com a gente. Só com ela."

Rex concordou. Ele podia ver duas formas dentro da barreira tempestuosa, olhando de volta para ele do outro lado da planície. Jessica tinha feito isso, tinha arriscado sua vida para encontrá-los.

"Então talvez baste a gente atravessar."

Dess olhou para ele como se ele tivesse pirado.

"Depois de você", Melissa sugeriu.

Dess tinha criado um pequeno perímetro protetor em torno deles, estacas de metal limpo emprestadas da barraca de acampamento do pai dela, cuidadosamente arrumadas e presas com arames para fazer uma estrela de treze pontas. Os arames cintilavam no luar como uma teia de aranha ao redor deles. Era fácil manter distante os Darklings se você pudesse estabelecer defesas, mas mover-se através do terreno aberto era outro problema.

"Nós não podemos simplesmente ficar sentados aqui." Ele olhou acima para a lua. "Nós só temos outros quarenta minutos ou mais."

"Menos que isso", Dess disse. "O arco está enfraquecendo."

Rex olhou para ela. "O que?", ele gritou. "Você disse que duraria toda a meia noite."

Ela sacudiu sua cabeça. "Eu sei, mas você viu aqueles fogos há um minuto atrás. Algo grande deve ter acertado ele. Como talvez um Darkling se jogando contra a barreira. Eu não pensei que um gatinho psicopata seria tão estúpido."

Rex piscou. Ele não teria imaginado isso também. Darklings eram muito antigos, e aqueles deixados aqui, por um simples processo de eliminação, seriam os cautelosos. Se auto sacrificar não era de suas naturezas. "Nós não podemos ficar parados. Temos que ajudá-los.

„

Melissa levantou sua cabeça e cheirou o vento. "Eu não acho que eles vão a algum lugar, tão cedo."

"Não", Rex concordou. "Mas nós temos que tentar. Nós podemos correr essa distância em poucos minutos."

"E sermos mortos em trinta segundos." Dess disse.

Ele se virou para Melissa. "Você disse que eles não se importam com a gente."

"Eles irão se importar com a gente bem rapidinho, se nós ficarmos mais próximos dela."

Rex fechou seu punho. "Esse é o porquê de nós termos que tentar. Vocês não entenderam? Eles querem Jessica por que ela é importante, por que ela é a chave de algo. Nós temos que descobrir o que."

"Sim, eu entendi", Melissa disse. "E eles a odeiam. Eu posso provar isso como um punhado de gasolina. Mas nós nunca tínhamos sido inimigos dos Darklings, Rex. Você sempre disse que eles eram como animais selvagens: fique fora do caminho deles e eles ficaram fora do nosso. Ela é quem os está deixando loucos."

"Então o que você sugere que a gente faça?"

"Vamos nos afastar."

"O que?"

"Vamos virar e voltar para casa."

"Melissa", Dess disse, "meu anel ao redor do poço de cobra pode não durar a hora inteira."

Melissa deu de ombros. "Então todos os nossos problemas serão resolvidos, de um jeito ou de outro. Talvez Jessica descubra qual seu talento é, uma vez que ela realmente precise dele. Ou talvez os Darklings consigam o que eles querem, e tudo volte ao normal."

Rex olhou para sua velha amiga, sem acreditar nas palavras que tinham acabado de sair de sua boca. "Melissa -," ele começou, mas descobriu que ele não sabia o que dizer.

Uma risada aguda veio de Dess. "E tudo volte ao normal? Eu pensei que você não gostasse do normal."

"Normal pode ser um saco, mas é melhor do que morrer por ela."

"Por ambos", Dess disse. Ela se virou para Rex. "Eu não vou ficar presa aqui com vocês dois de novo. Vamos."

Rex observou enquanto Dess se ajoelhava até sua mochila. Ela a abriu e puxou uma longa estaca de jardim em metal. Ela girou algo na extremidade e deu nela uma sacudida. Outro cabo de aço deslizou para fora como um telescópio dobrado até que a coisa toda era quase um metro mais alto do que Dess. Ele estava decorado com seus usuais sinais matemáticos e símbolos, mas um monte deles.

"Resplandecida Incandescente Simbolizações", ela disse animada.

Dess se virou e caminhou em direção ao poço da cobra, pisando no brilhante limite da corda de violão esticada e no deserto aberto.

"Vem?", ela perguntou sobre seu ombro.

Rex piscou, em seguida a seguiu. Ela parou para levantar a mochila, que tinia de modo tranquilizador ao lado dele. Depois de alguns passos ele escutou Melissa suspirar e sabia que ela estaria próxima, atrás.

Eles tinham chegado na metade do caminho quando os Darklings notaram eles.

Uns poucos slithers tinha voando e rastejando mais próximo, mas a arma de Dess tinha faiscado a vida com a aproximação deles. Nenhum deles ousava testar seu poder. Rex tinha quase começado a pensar que eles não dariam nenhum problema.

Então um Darkling veio. Ele varreu acima deles, bloqueando a lua por um momento e aterrizando diretamente no caminho deles.

Ele não parecia com um felino ou qualquer outro Darkling que ele tinha visto antes, Rex não tinha certeza exatamente do que era. Seu corpo globular era peludo, com caminhos irregulares de pelos espetados sobre ele. As asas eram largas, com dedos esqueléticos visíveis através da pele translúcida. Quatro longas e peludas pernas pendiam do corpo arredondado, sacudindo e suavemente raspando o deserto enquanto ele aterrizava. A barriga inchada da criatura cedeu, descansado sobre a terra.

"Velho", Melissa disse silenciosamente. "Muito velho."

Rex largou a sacola e a alcançou dentro dela. Sua mão fechou em uma sacola de papel cheia de pequenos objetos de metal - ruelas, alfinetes, talheres de prata, e tachinhas, todas retinindo uma contra as outras. Ele puxou uma fora e pesou ela em sua mão, se perguntado se Dess tinha realmente nomeado cada uma das peças lá dentro. Parecia como se houvesse centenas.

"Ele não quer lutar com a gente", Melissa disse. "Ele quer que a gente vá embora."

"Sem chance." Rex disse.

As asas estavam se contraindo, sendo sugadas para dentro da criatura. Uma quinta perna brotou de seu corpo, empurrando e sacudindo no ar, precipitadamente. Então outra, e em seguida mais duas, até que ele pode finalmente se levantar de seu volume na terra em oito pernas esguias.

Rex estremeceu enquanto ele reconhecia a forma. Era uma tarântula, uma enorme versão da aranha do deserto.

A monstruosa criatura ilustrava o que ele tinha explicado para Jessica no museu. Os Darklings eram os pesadelos originais, o modelo de cada temor humano. Gatos pretos, cobras, aranhas, lagartos, vermes - os Darklings imitavam todos eles em sua busca ao terror.

Acontecia que, as aranhas eram o pesadelo pessoal de Rex.

Especialmente aranhas peludas.

As pernas da coisa agitaram e tremeram, o pelo nelas gasto e emaranhado.

Ela mudou seu equilíbrio quase nervosamente, uma perna pairando no ar como se testando o vento. Os olhos pareceram espalhar através de seu corpo ao acaso, piscando roxo no luar negro.

"Não parece tão difícil", Dess proclamou sem muita convicção.

"Há outros", Melissa disse.

Mais dois Darklings pairavam no ar acima, bem longe, mas claramente prontos para se juntar.

"Primeiro este", Rex disse, engolindo seu nojo e dando alguns passos à frente. Ele alcançou a sacola de papel, tomou um punhado de pedaços de metal, e os jogou tão forte quanto ele podia na besta.

Eles irromperam a vida no ar, ardendo em um profundo azul, como a base de uma chama. As peças de metal golpearam o Darkling e queimaram a si mesmas contra ele. Nuvens de fumaça subiram dele, e um cheiro nojento como cabelo queimado e cachorro molhado alcançaram as narinas de Rex. A besta mal reagiu, apenas estremeceu e se contraiu, emitindo um baixo suspiro fluído, a exalação de enormes e infectados pulmões.

"Deixe isso comigo", Dess disse. "É a artilharia pesada."

Ela correu em direção a ele, o eixo do metal sobre seu ombro como um dardo. A besta recuou em seis de suas pernas, as outras duas ondulando em frente como se para defender dela.

De uns poucos metros ela jogou sua arma, que explodiu em luz mesmo enquanto deixava sua mão, girando através do ar com um som agudo de uma vela romana{29}. O metal se enterrou na aranha, rasgando um corte profundo na carne matizada. A chama azul vomitando da ferida.

A coisa gritou terrivelmente, seu corpo inchado caiu no chão enquanto seus braços acenavam inutilmente no ar.

"Oh, bleah! " Dess gritou. Ela cambaleou se afastando da aranha, colocando uma mão sobre sua boca.

Segundos depois um horrível cheiro lavou atravessou de Rex a Melissa, rato morto e plástico queimado, misturados juntos com ovos podres. Melissa tossiu e teve ânsia de vômito, caindo em um joelho.

"Corram para o poço!" Rex conseguiu gritar. Eles estavam a não mais que uma centena de jardas de distância.

Ele correu na direção de um lado da aranha estremecendo, ainda agarrando a sacola de pedaços de metal. Melissa tropeçando atrás dele. Dess se lançou após a tarântula, cujas pernas ainda batiam selvagemente, se guiando para o arco azul no poço da cobra.

Enquanto Rex corria, o deserto diante dele pareceu estar se movendo, a terra escura flutuando de um lado ao outro do seu caminho. A aranha gigante estava cedendo, murchando como um balão furado.

"Pare, Rex!" Melissa gritou, puxando ele para parar." Ela não está morta. Só -"

Ela não terminou, engasgando com o fedor.

Agora Rex podia vê-las. Coisas estavam se derramando do ferimento do Darkling, jorrando como uma torrente. Mais aranhas, centenas delas. Elas pulavam como um rio entre eles e o poço da cobra.

Dess estava do outro lado, ainda correndo, só a poucos segundos da segurança do contínuo relampejar faiscante. Rex a viu cruzar o limite, caindo nos braços de Jessica e Jonathan.

O rio negro de aranhas mudou de curso, fluindo em direção a ele e Melissa. Elas faziam um hostil som pungente enquanto se moviam, como uma carga de cascalhos sendo derramadas em uma lâmina de vidro.

Rex esvaziou o resto da sacola de peças de metal, espalhando seu conteúdo em um círculo grosseiro ao redor dos pés deles, a alguns metros de distância. O bando rastejante avançou para o caminho de aço brilhante e se repartiu contra ele, fluindo ao redor como água.

Em segundos eles estavam cercados, um ilha em um mar serpentiforme de aranhas.

Os pedaços de metal faiscaram e arderam, as peças mais distantes cintilaram um brilho roxo. Umas poucas aranhas ousaram se mover para o aço. Elas explodiram em chamas, mas mais vieram, rastejando através da ponte de corpos queimados.

"O quanto você acha que o aço vai durar?", ele perguntou a Melissa.

"Não importa", ela disse. Ela estava olhando acima. Rex seguiu seu olhar chocado.

Os outros dois Darkling estavam vindo.

Eles estavam em formas de panteras. Um estava vindo direto acima deles, seus dentes de sabre se projetando de sua mandíbula enquanto ele descia, asas ondulando como um paraquedas atrás dele.

"Desculpe-me, vaqueira."

"Pelo menos essas coisas vão me pegar", ela disse. "Antes que todos aqueles malditos ruídos humanos me deixassem louca."

"Sim", Rex esperava que as panteras chegassem antes das aranhas que estava rastejando ao redor dele. Ele colocou seu punho em seus lábios e finalmente nomeou os anéis em aço de caveira em seus dedos. "Entendimentos. Incorruptível. Anticlimático."

Em seguida ele agarrou o braço de Melissa, sabendo que era tudo sua culpa, se perguntando o que ele tinha feito errado.

Um segundo depois alguma coisa se movimentou rapidamente para o Darkling, e faíscas voaram.


27

12h:00min da madrugada

DEBALDEMENTES HIPERINFLADAS PERSONALIDADE

 

Jonathan pegou a maior parte do impacto em seu escudo, mas a colisão ainda golpeou o ar para fora dele. A pele do Darkling destacada pelos músculos, tão fortes quanto um saco de maçanetas. Ele ouviu a fina liga de alumínio de Debaldementes Hiperinfladas Personalidade se enrugar com o impacto, então o escudo ardeu em seus dedos, enquanto ele instantaneamente tornava-se um branco ardente. Fagulhas voaram da carne do Darkling, e seu urro golpeou ensurdecedoramente seus ouvidos.

Por um momento Jonathan ficou pesado; o contato com o Darkling tinham retirado dele a sua gravidade da meia noite. Ele caiu em direção ao solo, mas quando o toque gelado da carne da criatura desapareceu, o corpo de Jonathan ficou leve novamente.

No momento que ele acertou o chão, ele estava quase de volta ao seu peso.

Ele rolou em seus pés, ficando cara a cara com um muito surpreso Rex.

"Você viu aquilo?", ele disse. "Pancada direta."

Em seu caminho para fora do Bottom, Jonathan tinha descoberto que a tampa da lixeira era uma ótima ajuda para voar. Era uma prancha de surf, uma asa, uma vela - uma superfície para alcançar o ar e controlar sua direção. Depois que ele tinha pulado. No momento que ele tinha disparado em direção ao Darkling, Jonathan tinha o usado para ajustar sua trajetória como um míssil inteligente, se orientando para seu alvo.

Algo chiou em seus pés, e Jonathan olhou abaixo. As aranhas estavam se aproximando em todas as direções, forçando seu caminho através do metal. Ele tinha aterrizado no meio de um lago de implacáveis insetos venenosos.

Esperteza era relativa, ele supôs.

"Cheira mal aqui fora", ele disse a Rex e Melissa. "Vamos pular."

"Um problema, gênio." Melissa disse. Ela apontou. O outro Darkling estava se lançando em direção aos três, deslizando através o deserto.

Jonathan puxou a ainda ardente Debaldementes Hiperinfladas Personalidade de sua mão, esperando que seu triplo nome tivesse mais um golpe deixado nele. Ele curvou a tampa de lixeira em seu braço como um gigante frisbee e o arremessou na besta.

Ele não tinha parado para ver o resultado, agarrando Rex. Ele estendeu sua outra mão.

Melissa se encolheu dele. "Eu prefiro morrer."

"Que merda", Rex disse, jogando ela para frente. As mãos dela levantaram instintivamente e Jonathan agarrou uma.

Uma onda de náusea o golpeou, e ele quase desmaiou. Ele podia sentir a mente de Melissa se correndo, hostil e zangada, mas ao mesmo tempo febrilmente ansiosa, consumindo os pensamentos dele e suas memórias, empurrando-se em cada canto de sua mente. As emoções dela varreram através dele: o terror das aranhas, surpresa de estar subitamente sem peso, e, acima de tudo, o horror da intimidade de ser tocada.

Por um momento ele estava paralisado, mas então um irresistível comando surgiu na mente dele.

Pule, idiota, Melissa pensou para ele.

"Um, dois...", ele começou.

Rex não tinha flutuado com ele a mais de um ano, mas os reflexos estavam ainda lá. Eles se ajoelharam e pularam juntos, levantando voo sobre as aranhas. Juntos eles eram fortes o suficiente para arrastar Melissa junto.

Jonathan escutou o segundo Darkling colidir com o projétil, e outro felino rugiu através do deserto. Mas havia outras formas aladas vindo até eles - slithers, pelo menos.

Os dedos de Melissa escavaram dentro dos dele, mas ela conseguiu lutar, estalando sucessivamente o colar, atrás do colar, com sua mão livre, lançando eles no ar ao redor do trio, enquanto eles voavam, golpeando os slithers para o chão. Rex golpeou com sua mão livre, os anéis de metal que ele usava faiscando a vida.

O primeiro pulo os carregou a uns metros do poço da cobra. Jonathan tinha segurado Rex para trás ou o próximo pulo deles teria os carregado por todo o caminho e para fora do outro lado.

Eles derraparam numa parada dentro da segurança do arco segundos depois, e Jonathan os soltou, os deixando cair suavemente na areia. Melissa tinha aterrizado mal, um tornozelo torcendo e os olhos piscando no relâmpago. O veneno e a agonia da mente dela drenada para fora da de Jonathan, deixando um gosto de carne estragada na língua dele.

Melissa se dobrou, convulsionando uma vez em um gemido de lamento, os dedos da mão que ele tinha tocado se arranhando na terra dura. Ainda tossindo, ela conseguiu ficar de pé e encará-lo, e Jonathan se abraçou.

O rosto dela sustentava uma expressão que ele nunca tinha visto antes ou talvez nunca tinha sido capaz de ver. Ela era tão triste, tão desesperada. Então a familiar máscara de aborrecimento desceu sobre as feições dela.

"Obrigada", ela disse.

Jonathan percebeu que eles tinham realmente indo de volta para o poço da cobra. "De nada."

Melissa se virou para Dess, "E você."

Dess baixou seu olhar, dando de ombros.

Melissa se afastou de todos eles. "Eu quero dizer, obrigada, Dess."

Jonathan olhou para Jessica, que franzia a sobrancelha. Rex tinha posto sua mão sobre o ombro de Melissa, mas ela se afastou.

Rex suspirou e cuidadosamente tirou seus anéis. Seus dedos pareciam queimados por baixo. Ele olhou acima para a lua, quase no pico.

"É melhor nós começarmos", Rex disse. "Pronta, Jessica?"

Jessica estremeceu na sua jaqueta. "Acho que sim."

Jonathan segurou a mão dela. Ele sentiu os músculos relaxarem na gravidade da meia noite que fluíram para ela.

"Jonathan, você ajuda Dess", Rex disse.

Ele se irritou por um momento, se lembrando de como Rex sempre assumia que ele estava no comando. Mas ele tomou um forte fôlego. "Ok", ele disse. "Ajudar Dess no que?"

Dess limpou sua garganta. "Ajude-me a colocar as defesas para manter o poço da cobra afastado de ser tomado pelos Darklings ou pelos um milhão de slithers."

"Eu achei que você disse-"

"As defesas estão enfraquecendo", ela explicou. "Algo muito grande teve ter sido pego no arco do relâmpago."

"Como um Darkling?" Jessica perguntou.

"Yeah."

Jonathan e Jessica olharam um para o outro.

"Eu fiz isso."

A poucos metros de distância Melissa bufou, completamente de volta ao seu velho eu.

Dess franziu a testa. "Wow. esse é um truque que você terá que me mostrar."

"Só um acidente. Como tudo que eu faço."

"Mais tarde", Rex disse. "Economize nosso tempo, Dess." Ele se virou para Jessica. "Jess, você está...?"

"Sim?"

Rex se interrompeu. "Você está usando maquiagem?"

Ela rolou seus olhos. "Por favor. É noite de sexta!"

"Não, você está ótima. Sério. Vamos fazer isso."

Jessica apertou a mão de Jonathan, então se afastou. Rex e Melissa a guiaram em direção ao centro escuro do poço.

Jonathan tomou outro fôlego, tirando seus olhos de Jessica.

"Ok, Dess, o que nós fazemos?"

"Primeiro, nós precisamos do metal limpo que eu trouxe, que esta..." Dess gemeu, batendo uma mão em sua testa. "Em minha mochila."

Jonathan olhou ao redor. "Onde?"

Dess apontou para fora do poço da cobra e do outro lado na terra, onde aranhas ainda se derramavam do Darkling que ela tinha atravessado, espalhando sobre o deserto para formar um negro mar borbulhante de pernas e dentes.

"Sem chance." Jonathan disse.

Dess suspirou. "Então eu acho que nós teremos que improvisar."


28

12:00 da madrugada

CERIMÔNIA

 

Jessica seguiu Rex para o centro do poço da cobra.

O chão era úmido aqui embaixo. Esta manhã na biblioteca Dess tinha explicado a ela como a cavidade era formada. De algum lugar abaixo deles estava uma bolsa d’água subterrânea entre as camadas de pedra, que tinha juntado desde quando o Bottom tinha sido um lago. A crosta de areia embaixo dos pés dela eram mais finas aqui do que do outro lado do resto de Botton e tinha parcialmente desmoronado no bolsa d’água há algumas décadas atrás.

Jessica caminhou cuidadosamente, se perguntando se o poço da cobra estava planejando desmoronar o resto a qualquer hora. Com sua sorte, provavelmente escolheria hoje à noite.

No centro, na parte mais baixa e úmida do poço, uma lança de pedra se projetava do chão. Dess tinha dito que ela tinha sido enterrada há muito tempo, talvez a milhares de anos, antes que a formação da cavidade tivesse exposto ela ao sol novamente. A pedra tinha sido importante para as pessoas que tinham lutado com os Darklings antigamente, antes das criaturas tivessem recuado para a hora secreta.

Ela era tão alta quanto Rex, com uma plana plataforma sobressaindo dela cerca de metade acima. Uma pequena pilha de rochas estava na plataforma. Rex as varreu para longe.

"Meninas", ele disse.

"Sorte que não há cadáveres hoje à noite, Melissa disse. Ela se virou para Jessica. "Algumas noites você tem que rastejar por cima deles para fazer alguma coisa."

"Sim, eu ouvi falar sobre as pessoas vindo aqui a meia noite."

"Eles vem", Melissa disse. "Nós gostamos de lhes dar um susto, só para mantê-los longe do caminho na próxima vez, sabe?"

"Tenho certeza que vocês o fazem."

Melissa sorriu. "É para o próprio bem deles."

Rex estava traçando um dedo através da pedra, olhando atentamente para ela.

"Este é um dos lugares onde o conhecimento muda", ele disse para Jessica."Eu tentei com frequência vir aqui."

"Muda?" Você quer dizer que diferentes conhecimentos em noites diferentes?"

Jessica deu um passo para mais perto, tentando ver os sinais que Rex estava lendo. Tudo o que ela via era a rocha, dividida em camadas separadas em diferentes tonalidades. Na luz azul elas eram toda em tons de cinza.

Ele concordou. "Sim. Toda vez que eu leio os sinais aqui, há novas histórias." Ele bateu na rocha com um nó do dedo. "Há um monte de contos armazenados aqui, e só alguns aparecem de uma vez."

"Então é como uma tela de computador." Ela disse.

Melissa bufou, mas Rex concordou de novo. "Claro. Exceto que você não pode fazê-lo dizer o que você deseja saber. Ele diz o que você precisa."

"A menos que você realmente pergunte habilmente." Melissa disse.

Ela puxou uma sacola de veludo negro de sua jaqueta e puxou uma faca dela.

Jessica engoliu em seco. "A propósito, como isso funciona?"

"A rocha precisa só provar um pouco de você." Melissa disse.

"Provar", Jessica perguntou. "Como em dar uma lambida na minha mão?"

Melissa riu de novo. "Mas para uma mordida do que uma lambida."

Rex se virou para Melissa e tomou a faca da mão dela. "Pare, Melissa. Isso não é grande coisa."

Ele se virou em direção a Jessica.

"Umas poucas gotas de seu sangue farão."

Ela deu um passo para longe. "Ninguém disse nada sobre sangue!"

"Só da ponta de seu dedo. Não vai machucar muito."

Jessica fechou seu punho.

"Vamos lá, Jess." Melissa disse. "Você nunca se tornou uma irmã de sangue com alguém? Ou fez um juramento de sangue?"

"Uh, não de verdade. Mas como uma coisa de meninas de jurar de coração."

Rex assentiu. "Na verdade jurar de coração era originalmente um juramento de sangue. Eles usavam uma faca antigamente."

"A parte do espero que você morra, era muito mais literal até então", Melissa disse.

"Isso não é como antigamente", Jessica disse. "E eu particularmente espero não morrer."

"Por que você é tão medrosa em furar seu dedo?" Melissa perguntou.

Jessica olhou com cara feia. Depois de tudo o que ela tinha passado nesta noite, ninguém ia a chamar de medrosa. De qualquer modo, certamente não Melissa.

"Ok. Me dê a faca", ela disse com um suspiro.

"Deixe o sangue se recolher bem aqui", Rex disse. Ele apontou uma pequena depressão na plataforma da rocha, não maior que um quarto.

Jessica inspecionou a faca. "Essa coisa está limpa?"

"Completamente. Nenhum não humano sequer -"

"Não esse tipo de limpeza", Jessica interrompeu, tentando não rolar seus olhos. "Desinfetadamente limpa."

Rex sorriu. "Cheire."

Jessica cheirou a faca e captou um ligeiro perfume de álcool esfregado.

"Só vá com calma, ok?" Rex disse. "Nós só precisamos de algumas gotas."

"Sem problema." Ela olhou para sua mão e a curvou em um punho, exceto pelo dedo anelar. A faca brilhou no luar negro, e ela podia ler as minúsculas palavras, aço inoxidável em seu cabo.

"Ok", ela disse, se preparando.

"Você quer que eu faça isso por -"

"Não!" Jessica o interrompeu.

Ela engoliu em seco, apertou seus dentes, e puxou a extremidade de um lado a outro de seu dedo. A dor se atirou em seu braço.

Enquanto ela observava, o sangue brotou ao longo do corte. Mesmo na luz azul da meia noite ele era um fresco vermelho brilhante.

"Não o desperdice", Melissa disse.

"O bastante para satisfazer", Jessica murmurou.

Ela segurou a mão sobre a plataforma de rocha e observou enquanto uma gota gradualmente se formava na ponta do dedo, cambaleando tenuemente por um momento, então caiu dentro da cavidade de pedra.

Um som sibilado veio do fundo por dentro da rocha. Jessica afastou sua mão.

"Mais", Rex disse.

Ela se estendeu cuidadosamente, deixando outra gota cair na cavidade. O som ficou mais alto enquanto o sangue corria. Ela sentiu um tremor se construir em seus pés.

"Ok", Rex disse. "Talvez seja o suficiente."

A plataforma na frente de Jessica estava tremendo. Areia estava deslizando para o centro do poço de todos os lados, e ela tinha puxado um pé para se libertar e depois o outro.

"É isso que tem que acontecer?"

"Um, eu não sei", Rex disse.

"Nós nunca fizemos isso antes", Melissa admitiu.

"Ótimo."

"Quero dizer, geralmente é bastante óbvio quem tem qual talento", Rex disse, se afastando da pedra. Ela estava tremendo mais forte agora. Pó subiu do chão ao redor deles, e Jessica escutou um imenso som tragando de debaixo de seus pés.

Ela imaginou a água embaixo, fria e escura, esperanto por séculos.

"Então quando nos devemos começar a correr?", ela chamou acima do estrondo.

Com um agudo estrondo a plataforma de pedra rachou diante deles, uma fissura a dividindo de cima para baixo.

"Eu acho que agora mesmo!" Rex gritou.

Jessica se virou e lutou para ir para cima. A areia deslizando embaixo dela, a carregando para trás na escosta.

De repente o rugir parou.

Os três vieram a parar, olhando de um para o outro, então se viraram em direção a pedra.

"Legal", Melissa disse. "Você a quebrou, Jessica."

A pedra tinha na verdade quebrado em duas, uma fina fratura correndo em seu comprimento, mas o tremor tinha parado completamente. Poeira girava em torno deles, e o relâmpago ainda piscava no perímetro do poço, mas ele parecia quase silencioso depois do terremoto.

Jonathan aterrizou suavemente ao lado de Jessica, e ela escutou Dess correndo abaixo na inclinação embaixo dela.

"O que aconteceu", ele perguntou.

Jessica levantou um dedo. "Eu me cortei. Então as coisas deram num terremoto."

Rex correu de volta a pedra. Ele espreitou de perto a plataforma.

"Funcionou", ele disse suavemente.

Jessica veio atrás dele, olhando para a pequena cavidade. Seu sangue tinha retorcido em linhas longas, tornando escura e manchando a rocha. As linhas de sangue formavam um símbolo, que parecia como um arco formado em garra segurando uma fagulha.

"O que isso quer dizer, Rex?"

Ele parou, piscando.

"Duas palavras, unidas... portador-da-chama."

Jessica encolheu os ombros. "Que é o que?"

Ele deu um passo para trás da pedra, sacudindo sua cabeça. Jess virou ao redor, olhando para os outros midnighters. Todos eles pareciam tão aturdidos quanto ela estava.

"Eu não sei", Rex disse."Portador da chama? Não há tal talento."

"Agora há." Jonathan disse.

"Bem, é melhor ser alguma coisa boa", Dess anunciou. "Por que em cerca de dez minutos nós vamos ter companhia."


29

12h:00min da madrugada

PORTADORA DA CHAMA

 

"O que você quer dizer,Dess?" Rex perguntou.

"Quando as defesas comeram o Darkling da Jessica, meu metal limpo ficou muito corrompido. Ele está começando a perder a carga.

Jessica olhou acima para a beira do poço. O anel de raio ao redor deles parecia mais fraco. Os flashes não mais cegavam quando eles se atiravam para o céu, os dardos de azul pálido e hesitantes.

"Eu sei", Rex disse. "Mas eu pensei que você pudesse consertá-lo."

"Nós fizemos o que podíamos. Eu não tenho aço limpo o suficiente. Alguém deixou minha mochila no deserto."

"Nós nos afastamos de sua mochila", Rex replicou, "quando você virou a amazona com a sua lança."

"Alguém tinha que matar aquela tarântula," Dess gritou.

"Você não a matou, você a tornou um exército", Rex gritou, "que alguns de nós quase nos afogamos nele."

"Você não se afogou em um exército!"

"Parem com isso!"

O grito de Melissa silenciou Rex e Dess. Jessica viu que a briga deles tinha drenado a cor do rosto dela. Ela estava se dobrando em agonia.

"Desculpe, Melissa." Rex disse. Ele tomou fôlego.

"Não há nada que eu possa fazer, Rex." Dess disse suavemente.

Jessica olhou acima para o céu. Através do teto rompendo em faíscas do relâmpago, ela podia ver os slithers girando ao redor do poço da cobra. E no limite da cratera um grupo de minúsculos olhos a encaravam. As aranhas tinham cercado o poço e os espreitavam com expectativa.

"É com você, Jessica."

Ela olhou para Rex desamparada. "O que é que eu tenho que fazer? Todos vocês agem como se eu soubesse de algo. Como se eu fosse alguém especial."

Jonathan agarrou sua mão, e ela sentiu a tranquilizante falta de peso fluir para ela. "Tudo bem, Jess. Nós vamos descobrir isso."

"O que faz um portador da chama, Rex?"

"Eu não tenho certeza. Eu teria que fazer mais -"

"Não há mais tempo para se olhar na tradição, Rex." Jonathan interrompeu. "O que você acha que significa?"

Rex olhou para a plataforma de pedra, mordendo um labio. Melissa puxou sua cabeça de suas mãos e olhou acima, para ele.

"Você não está falando sério?", ela disse.

Dess riu. "Você acha que isso é literal, não é? Você acha que ela pode usar o fogo. Fogo de verdade."

"Na hora secreta?" Jonathan disse.

"Isso detonaria", Dess disse. "Fogo vermelho na hora azul."

Rex olhou para Melissa.

"Isso faz sentido, eu acho." Ela disse. "Pelo menos é algo que os assustaria o suficiente para explicar tudo isso."

"Mas você disse que fogo não funcionava aqui", Jessica disse.

Rex concordou. "Certo. Esse é o porquê deles criarem a hora secreta em primeiro lugar. O ponto todo da separação foi para escapar da tecnologia. Fogo, eletrônicos, todas as novas idéias." Ele se virou para Jessica. "Mas você pode fazê-los encarar o fogo novamente. Você poderia mudar tudo."

"Bem, só não fique em pé lá fazendo discursos sobre isso." Dess disse. "Alguém tem fósforos?"

"Não."

"Não."

"Não."

Melissa sacudiu sua cabeça. "Um portador da chama. Pena que não tivemos um portador dos fósforos."

"Ei, eu perguntei sobre fósforos", Jessica disse. "E Rex disse que eles seriam -"

Um som de estalo ressoou através do poço da cobra, junto com um flash ofuscante e um slither morto caiu no chão próximo a Dess.

"Oh, eca!", ela gritou, segurando seu nariz pelo fedor.

Melissa levantou sua cabeça para o céu. "Eles sabem que está desaparecendo. Eles estão se aproximando."

"Ok", Rex disse. "Talvez nós não precisemos de fósforos. Nós podemos começar uma fogueira do jeito mais antiquado."

"Com o que? Pedras ou algo assim?" Jonathan disse.

"Ou dois pauzinhos Você os esfrega juntos", Dess disse.

"Pauzinhos?" Jessica olhou ao redor. "Eu não sou a portadora do pauzinho também. E isso é um deserto."

"Aqui", Rex tirou um anel de aço de sua bota. Ele pegou uma pedra no chão. "Bata esses juntos, Jess."

Ela os pegou dele e os golpeou, um contra o outro.

"Mais forte."

Jessica segurou a rocha com firmeza e trouxe o metal abaixo contra ela, tão forte quanto ela podia.

Uma faísca voou, um vermelho brilhante na luz azul.

"Oh, yeah", Dess disse. "Você viu aquela cor?"

Jessica olhou para Rex. Aquilo não pareceu muito para ela.

A boca dele tinha escancarado. "Fogo", ele murmurou.

"Sim, mas faíscas não param um exército", Jonathan disse."Nós precisamos começar uma labareda."

Dess concordou. "Pena não ter nenhum graveto por aqui. Alguém tem papel?"

Jessica puxou o mapa de Dess do poço da cobra de seu bolso. "Eu tenho isso. Vocês tentem encontrar algo mais inflamável." Ela se ajoelhou e o colocou sobre o solo, segurando a pedra perto dele. Ela a golpeou com o aço.

Umas poucas fagulhas vieram, mas elas mal danificaram o papel.

Um grito veio de cima, Jessica parou para olhar. Um Darkling pairava acima deles, desafiando o relâmpago. Os dedos azuis saltaram para criatura, a arremessando de volta. Mas ele desceu mais uma vez, testando as defesas mais e mais.

As faíscas pareceram estar se tornando uma fúria assassina.

"Se mantenha golpeando", Dess disse.

Jessica se virou para a rocha, tentando conectar um ângulo raso. Ela perdia o anel de metal, e seus nós dos dedos enviavam a rocha para a areia. A dor se atirou em sua mão.

Jessica empurrou a rocha na areia e a golpeou de novo. As fagulhas não vieram. Sangue brotou de seus nós, e o corte em seu dedo anelar começou a pulsar com seu batimento cardíaco.

Não estava funcionando.

"Quanto tempo antes do fim da meia noite?", ela escutou Jonathan perguntar.

"Não logo o suficiente", Dess disse.

Jessica se manteve batendo na rocha. Algumas faíscas a mais saltaram, mas o papel não acendia.

"Não está acontecendo", ela disse. "Talvez duas pedras?"

"Aqui", Jonathan se ajoelhou ao lado dela, lhe entregando outra rocha. Ela as bateu juntas.

Nada.

Ela olhou para seu relógio, vinte minutos antes do fim da hora. Os flashes do relâmpago estavam desaparecendo visivelmente em torno deles.

"Jessica."

"Eu estou tentando, Jonathan."

"Seu relógio."

"O que?"

Ele apontou para o relógio. "Ele está funcionando."

Jessica olhou para ele sem compreender. Ela percebeu que ela não o tinha usado na hora da meia noite antes. Ela sempre tirava antes de ir para a cama.

"Está funcionando", Jonathan repetiu, "e é eletrônico - não é um de corda."

"Eles estão vindo", Dess sussurrou.

Jessica olhou para cima. O círculo do raio azul ao redor do poço da cobra tinha morrido, expondo a lua negra sobre suas cabeças. O Darkling acima estava descendo cautelosamente. O vento de suas asas batendo, movimentava a areia ao redor dela.

"Jessica", Rex disse suavemente. "Nós precisamos de uma fogueira agora."

Ela pegou as rochas de novo, mas parou.

Ela se lembrou do prédio novo da Aeroespacial de Oklahoma, onde ela e Jonathan tinham conseguido refúgio no fim de semana passado. Quando Jessica tinha estado nele à noite, ele tinha acendido com as luzes. Eles deviam acendê-lo toda noite. Toda a noite.

"Jessica..."

Um som veio ao redor deles, um barulho precipitado. As tarântulas estavam se derramando dentro do poço da cobra de todas as direções.

"Não", Rex disse suavemente.

Jessica empurrou um pequeno botão do lado de seu relógio, e uma mínúscula luz noturna brilhou esbranquiçada na luz azul. Ele dizia 12h:42min.

Jonathan encontrou seus olhos, sua mandíbula escancarada.

"Esqueça isso", Jessica disse, derrubando as duas pedras no solo. Ela puxou a lanterna de seu bolso e a levantou a sua boca.

"Serendipitoso", ela disse.

Ela a virou em direção ao mar de tarântulas e a ligou.

Um cone de luz branca saltou da lanterna, e as aranhas começaram a gritar.


30

12h:00min da madrugada

TALENTO

 

A luz branca varreu de um lado a outro do solo da cratera, reduzindo as aranhas a cinzas em seu rastro. Penetrante, gritos horríveis subiram do exército enxameante, como mil sibilos estourando de uma vez. A maré de corpos peludos se afastando rapidamente, derramando-se de volta nas paredes inclinadas do poço da cobra. Jessica apontou a lanterna para o ar, e os slithers que cruzavam seu caminho explodiam em chamas, de repente vermelhos contra o céu escuro. Ela jogou a luz direto acima para procurar o Darkling sobre suas cabeças, mas a criatura tinha desaparecido na distância, uivando.

As últimas poucas aranhas rastejavam estupidamente ao redor dos corpos esfumaçados de suas companheiras, e ela queimou-as uma a uma com a lanterna.

A luz branca parecia irreal e sinistra na hora azul, revelando tudo em suas verdadeiras cores. O feixe levou o azul da paisagem, retornando os vermelhos e marrons do deserto, e tornou os corpos carbonizados dos slithers e aranha um cinza opaco.

Mesmo a lua acima deles, parecia cinza agora, pálida e não ameaçadora, lavando e a esvaziando de sua ameaça.

Enquanto os agressores fugiam do poço da cobra, a noite ficava silenciosa. A estridente chamada dos slithers e os sons agudos do exército de aranhas sumiram, até que apenas os uivos, de uns poucos Darklings, pudessem ser ouvidos, gritos de dor e derrota a distância.

"Desligue essa coisa!" Dess reclamou.

Jessica se mexeu quando ela viu os olhos de seus amigos piscando raivosos em roxo na luz. Dess encolhia-se atrás de suas mãos, Jonathan, Melissa, e Rex, todos, tinham coberto seus olhos, seus rostos retorcidos em dor.

Apenas Jessica podia suportar a luz.

Ela apontou a lanterna para o chão, então a desligou.

"Desculpem-me."

Um por um, piscando com dor, soltaram suas mãos.

"Tudo bem", Rex disse.

"Sim. Não se preocupe com isso", Jonathan disse.

"Sempre que quiser", Dess riu, esfregando seus olhos. "Não ser espécie de comida de aranha, compensa a cegueira temporária."

"Fale por si mesma", Melissa disse, esfregando suas têmporas. "Eu tive que provar sua estúpida dor junto com a minha."

"Você realmente pode fazer isso", Rex disse suavemente, "você trouxe a tecnologia para a hora secreta."

A cabeça de Jessica girava. Sua visão ainda dançava com as cores reveladas na luz branca, as imagens posteriores de aranhas e slithers queimando. A lanterna parecia estar formigando em sua mão.

"Fogo em bica", Dess disse. "Você é o pior pesadelo de um Darkling!"

Melissa concordou lentamente, olhando para o céu. "Isso é verdade. Eles não estão felizes sobre isso. Nada felizes."

Jessica olhou para ela, e em seguida para a lanterna em sua mão. "Yeah, mas o que eles vão fazer sobre isso?"

Dess riu. "Você diz."

Jonathan colocou sua mão sobre o ombro dela. "É verdade. Você é a portadora da chama. Isso significa que você está segura agora, Jessica."

Ela concordou. A lanterna em sua mão parecia tão comum agora, mas quando ela tinha acendido, algo tinha surgido através dela, grande e mais poderoso do que qualquer coisa que ela tinha experimentado antes. Ela tinha se sentido como um condutor de algo imenso, como se o mundo ao dia estivesse fluindo através dela para a meia noite, mudando tudo.

"Segura", ela murmurou. Embora, não apenas segura. Ela tinha se sentido maior do que isso, e mais assustador também.

"Sabe, Jessica. Provavelmente não é só lanternas", Dess disse. "Eu me pergunto quais são os seus limites. Quero dizer, talvez você possa usar uma câmera na hora azul."

Jessica encolheu os ombros, olhando para Rex.

"Não há como saber", ele disse, "exceto tentando. Quero dizer, filmar é um processo químico, tipo como o fogo, eu acho."

"Ei, só uma conexão com o flash detonaria."

"Ou walkie-talkies!"

"E que tal um motor de carro?"

"Sai fora."

O grupo caiu em silêncio. Rex sacudiu sua cabeça, deslumbrado e feliz, então olhou acima, para a lua se pondo.

"É tarde", ele disse. "Nós podemos descobrir sobre isso amanhã à noite."

Jonathan concordou. "É melhor eu ir indo. Os garotos de St. Claire estão procurando por mim estes dias. Quer que eu te leve para casa?"

Ela suspirou. Ela queria voar, deixar as horríveis coisas que ela tinha visto hoje à noite para trás no chão. Mas ela sacudiu sua cabeça.

"Eu tenho que voltar para a festa. Constanza vai enlouquecer se eu simplesmente desaparecer no ar."

"Ok. Te vejo amanhã?"

"Definitivamente."

Jonathan se inclinou a frente para beijá-la, e a gravidade deixou o corpo dela ao toque dos lábios dele. Enquanto ele se afastava, seus pés se assentaram no chão, mas seu estômago ainda dançava dentro dela.

"Amanhã", ela disse enquanto Jonathan se virava e pulava, planando para fora do poço da cobra. Outro salto o levou acima no ar, então ele desapareceu na distância e na escuridão.

"É melhor nós irmos indo também", Rex disse.

"Claro", Jessica respondeu. "Eu estarei bem."

"Você parece melhor do que bem." Dess riu. "Enxugue esse sorriso de seu rosto Jessica Day."

Jessica sentiu ruborizar e apertou mais forte sua jaqueta.

"Você sabe o caminho para a festa?" Melissa perguntou silenciosamente.

"Sim." Ela apontou. "A lua se põe a oeste, então é atrás daquele caminho."

"Nada mal, Jessica", Dess disse. "Você está começando a sacar a meia noite."

"Obrigada."

"Vamos limpar um pouco disso aqui, gente", Rex disse. "Nós deixamos uma bagunça maior do que a de sempre." Dess e Melissa concordaram com má vontade.

"Eu devo voltar à festa", Jessica disse. Ela pesou na lanterna em sua mão. "Eu acho que estarei a salvo."

Rex concordou. "Obrigado por vir aqui, Jessica. Por confiar em nós."

"Obrigada por me dizer o que eu sou." Ela respondeu, em seguida fez uma careta. "Seja lá o que isso signifique a longo prazo, pelo menos eu não sou uma midnighter inútil, sabe?"

"Eu nunca pensei que você fosse."

Não demorou muito para que ela alcançasse a fogueira. Andar diretamente levou apenas cinco minutos, como Dess tinha prometido.

Jessica nunca tinha visto uma fogueira congelada antes. Ela não parecia muito com isso. As chamas azuladas não lançavam nenhuma luz, era mal visível, exceto como uma deformação no ar, como ondas de calor no deserto.

Ela não quis olhar para as pessoas congeladas, especialmente seus rostos, que pareciam feios e mortos, como uma fotografia ruim. Então ela espreitou de perto a fogueira, estendendo um dedo ansioso para tocar uma das chamas.

O calor estava ainda lá, mas mudo e suave, como o som vindo de um quarto próximo. Seu toque deixou uma marca cintilante suspensa no ar, como se a chama vermelha tivesse tentando pular se afastando da hora azul. Ela puxou seu dedo de volta. Onde ela tinha tocado, a chama congelada estava vermelha agora. Aquela única fagulha de luz se distinguia contra a veia azul que repousava do outro lado da noite do deserto.

Enquanto a lua se punha, Jessica deslizou de volta as sombras.

A meia noite terminou.

O frio a envolveu de repente, e ela estremeceu na jaqueta leve.

O buraco da fogueira saltou em movimento - conversas, risadas, e música se revelando para a vida como se Jess tivesse aberto uma porta para uma festa. Ela se sentiu menor; o mundo tinha subitamente ficando mais povoado, empurrando-a de volta as sombras.

"Jessica?"

Constanza estava a espreitando da fogueira.

"Ei."

"Eu pensei que você estava "dando uma caminhada" com o Steve", Constanza disse, sorrindo.

"Eu não pensei que a veria por um tempo."

"Yeah, bem, ele ficou bem detestável, na verdade."

Constanza deu uns poucos passos para mais perto, as mão desaparecendo dentro dos bolsos enquanto ela deixava a fogueira, para trás dela.

"Ele o que?" Constanza olhou de mais perto, seus olhos se alargando enquanto ela via o cabelo eletrificado de Jessica, sangue nos nós de seus dedos, a sujeira na jaqueta e vestido. "Você está bem? O que aconteceu?"

"Oh, me desculpe sobre suas roupas, eu não quis-"

"Que babaca!" Constanza gritou. "Eu sinto muito. Eu não tinha ideia."

"Bem, não foi exatamente ele -"

"Vamos lá, Jess, vou te levar para casa."

Jessica parou, então suspirou com alivio. A última coisa que ela queria era mais festa hoje à noite. "Sim, claro. Eu realmente gostaria disso."

Constanza empurrou o braço dela no de Jessica e caminhou em direção ao seu carro.

"Esses garotos de Broken Arrow são realmente demais às vezes." Constanza suspirou. "Eu não sei o que alguém vê neles. Eles pensam que são tão legais, mas eles são tão fora do controle."

"De qualquer forma, bela fogueira."

"Você gosta de fogueiras?"

"Sim."

"Bem, bom. Talvez alguma hora nós podemos-"

Uma voz veio da escuridão em frente a elas. "Ei, aí esta você."

Os pés de Jessica congelaram no meio do passo. Era Steve, vindo de volta aos carros, onde ele tinha deixado Jessica. Ela sentiu a mão de Constanza se apertar em seu braço.

"Você desapareceu totalmente de lá, Jess. Me deixou louco." Ele deu alguns passos para mais perto. "Ei, o que aconteceu com seu -"

Ele nunca viu o que estava indo; Jessica mal viu, ela mesma. Em um movimento fluido Constanza a soltou, deu um passo à frente, e socou Steve no rosto.

Ele cambaleou para trás, tropeçou em seus próprios pés, e caiu com sua bunda no chão duro.

"Ei" Constanza tomou o braço de Jessica e retomou a marcha delas em direção aos carros, continuando de onde ela tinha parado.

"Nós estaremos juntas com alguns garotos descentes de Bixby e teremos uma festa no deserto{30}."

Jessica piscou e sentiu uma risada borbulhar dentro dela. "Uh, sim, isso seria divertido."

Os protestos de Steve diminuíram atrás delas.

"Nada como uma fogueira no deserto para manter o calor", Constanza proclamou.

Jessica sorriu e puxou sua amiga um pouco mais perto para se aquecer.

"Ótima ideia", ela disse. "Eu levarei os fósforos."


31

12h:00min da manhã

SENTINELAS DA NOITE

 

"Eles ainda estão lá fora, à distância."

"Encolhidos, você quer dizer", Rex se inclinou atrás do capo do carro de melissa, sustentando sua cabeça em suas mãos.

Ela provou o ar. "Não, algo mais."

Eram duas noites após a portadora da chama ter ido ao Rustle’s Bottom, e o deserto iluminado de azul parecia como se nada tivesse andado em sua terra dura. A vastidão vazia do lugar cobria a língua de Melissa com um seco e solitário sabor, como pó de giz e areia. Mas ela ainda podia sentir os Darklings e seus aliados escondidos, entre as montanhas baixas do outro lado do Bottom.

"Esperando", ela disse.

"Pelo que?"

Melissa encolheu os ombros. Era um sabor, nada mais específico.

"Pela próxima coisa a acontecer, eu acho."

"Eles ainda devem estar em choque", Rex disse. "Eu sei que eu estou."

Ela sacudiu sua cabeça. "Não, eles estão esperando por ela."

"Você está brincando?"

Melissa abriu seus olhos e se virou para seu velho amigo.

"Você nunca experimentou os Darklings, Rex. Talvez você tenha que ser um telepata para os compreender, mas eles não são como nós."

Ela se encostou atrás, próxima a ele, olhando acima a lua.

"Eles são tão velhos, tão assustados."

"Até a semana passada eles nunca me surpreenderam como do tipo assustados." Rex disse. "Mais como na categoria de assustador, na verdade."

Melissa sorriu. Ela tinha sentido o medo de Rex por aranhas há duas noites passadas, um terror tão profundo e bobo quanto qualquer pesadelo de criança.

"Eles tem sido caçados até a margem do mundo, Rex, contidos em uma hora do dia. Perseguidos pela luz, pelo fogo e matemática, por uma era de novas tecnologias. Assustados a se esconder de uma espécie que eles costumavam comer no café da manhã. Literalmente."

"Eu acho que sim."

"Eu sei que sim. Eu posso sentir isso deles. Nós somos os pesadelos deles, Rex. Humanos inteligentes, com nossas ferramentas e números, e fogo. Macaquinhos que começaram a caçá-los um dia e nunca desistindo. Desde então eles fogem para a hora secreta, eles sempre temeram, mesmo sabendo em algum lugar profundo interiormente, que um dia nós viríamos atrás deles aqui, na hora azul. Como você sempre soube que em algum lugar, debaixo de sua casa, há uma aranha rastejando, vindo para você. "

Ela sentiu um tremor rastejar pela espinha de Rex e deu uma risadinha.

"Ei, corta essa", ele reclamou. "Eu não ouço as escondidas os seus pesadelos, vaqueira."

"Sorte sua", ela disse com um bufar, então continuou. "Então eles sempre souberam no fundo de suas almas Darklings que Jessica viria. Uma portadora da chama, invadindo o último refúgio deles."

"Esse é o porquê deles estarem tão ansiosos em matá-la."

"Estavam?" Ela disse suavemente, e sorriu.

Melissa podia sentir isso do outro lado do deserto, o ódio lá fora, frio e inflexível. Ele era tão focado e amargo, quanto à ponta de um lápis de grafite descansando na ponta de sua língua. Não impotente ou estúpido, a inteligência que esperava naquelas campinas era paciente e bem preparada. Seu lado animal tinha atacado primeiro cegamente, como os Darklings sempre faziam, mas não estavam abatidos ainda. Eles tinham feito planos para esta situação, planos passados para qualquer contingência. Cada escura e antiga mente lá fora esperava constantemente, a paranoia em prontidão.

Eles tinham estado planejando por este dia por dez mil anos.

Eles voltariam de novo para Jessica Day.

Eles ficaram na margem do Bottom por toda a hora secreta, esperando para ver se os Darklings ousariam se aventurar de volta.

Melissa bocejou. Esse plantão de guarda era a inútil precaução de Rex no trabalho, mas depois da última semana ela estava feliz por qualquer meia noite que se tornasse chata.

Ela podia provar Dess lá fora no poço da cobra, medindo as rachaduras na pedra que Jessica tinha feito, tentando descobrir a matemática dessa nova assimetria. Dess estava também em alguma nova viagem de navegação, fazendo observações estelares com um sextante{31} feito em casa, animada com algum novo segredo numerológico que ela estava mantendo do resto deles, sua mente envolvida no puro mundo dos ângulos e proporções.

Ela podia sentir Jonathan e Jessica atrás, em Bixby, voando juntos por um tempo, então pousando em algum lugar alto para olhar abaixo o mundo. Felizes, tão inocentes quanto aquilo, e Jessica animada com seu novo poder. Tão diferente das medrosas e estranhas mentes que a odiavam.

Ela podia sentir Rex perto dela, sua mente girando com perguntas, com a necessidade de ler mais e saber mais. E por baixo de tudo aquilo, a silenciosa e alegre realização que Rex Greene por ser o vidente que escreveria a tradição destes estranhos e excitantes dias.

Todo mundo feliz, felizmente ignorantes que esta luta mal tinha começado.

A meia noite terminou.

Dess retornou a tempo, assim que o carro roncou a vida sob Rex e Melissa. Ela tinha mantido o velho Ford funcionando - um motor congelado na meia noite não usava nenhuma gasolina.

Eles pularam do capo e entraram. Dess abrindo a porta traseira com uma expressão deslumbrada em seu rosto. Quando sua cabeça estava realmente nos números, ela não falava muito, então Rex e Melissa mantiveram um silêncio respeitoso.

Melissa os levou de volta as estradas, para casa, evitando os carros de polícia pela sensação. Na meia noite no domingo haviam muito poucos humanos acordados em Bixby, então os policiais eram fáceis de provar. Mas de vez em quando Melissa apanhava um pensamento aqui ou ali, uma preocupação insone, uma discussão tarde da noite, uma erupção de um sonho ou pesadelo.

Não tem jeito de eu poder pagar esta conta...

Como era para eu saber que ela era alérgica a amendoins?

Eu não acredito que é segunda de novo amanhã...

Nós temos que ter Jessica Day.

Melissa se mexeu, suas mãos apertando o volante fortemente pela explosão da última intensidade do pensamento. Ela procurou a fonte, tentou a destilar do ruído das preocupações e terrores noturnos e coisas de sonho, mas ele tinha desaparecido, de volta ao caos do terreno mental de Bixby tão rapidamente quanto ele tinha vindo à tona, uma pedra derrubada em um mar revolto.

Ela respirou fundo, percebendo que era 12h:17min da madrugada, não a meia noite. Aquele pensamento tinha sido humano.

"O que foi isso?" Rex perguntou.

"O que foi o que?"

"Você sentiu alguma coisa. Lá atrás. Você praticamente arrancou o volante."

Melissa olhou para Rex, mordeu seu lábio, e encolheu os ombros, virando seus olhos de volta a estrada.

"Não foi nada, Rex. Provavelmente algum pesadelo de criança."

 

 

 

{1} Spex, marca de um estilo de óculos.
{2} Marca de uma grande loja estadunidense especializada em sorvetes e sobremesas.
{3} Badland, pode ser terra de ninguém, sem justiça, terras árida ou literalmente terra má.
{4} Pessoa com sensibilidade a luz.
{5} Rail - vara, vareta, transporte ferroviário, trilho, significados no surfismo e skaitismo. Traduzi com o que daria mais encaixe.
{6} Deliciousness - que exprime deleite, delícia... adaptei para uma palavra sinônima com treze letras.
{7} Overzealously - Hiperzelosamente... outra adaptação em sinônimo, feita com uma palavra com treze letras.
{8} Scrabble board - jogo de tabuleiro em que 2-4 jogadores procuram marcar pontos formando palavras interligadas usando pedras com letras.
{9} Fossilization - Adaptado para 13 letras.
{10} Polimath - Pessoculta, sábia ou por definição é o seguinte: quem se destaca em vários campos, particularmente nas artes e ciências ao mesmo tempo
{11} Obsidian - Obsidiana uma pedra do tipo vulcânico. Na idade da pedra ela servia para serem usadas como lâminas e pontas de flechas.
{12} Mindcaster - é uma pessoa que pode fundir sua mente com a de outra pessoa, entrar em pensamentos e sugestioná-los, como um hipnotizador. Em inglês seria um mesmerist ou hypnotist.
{13} Clovis Period - período pré-histórico da cultura paleo indígena.
{14} Refere-se a ferramentas pré-históricas feitas de pedra.
{15} Psychosomatic - Não tem como passar essa palavra de 13 letras para o português sem tirar o sentido. Psicossomático tem 14 letras.
{16} A frase: learning French by eating french fries. Como uma rima só que na tradução literal não é possível.
{17} Jurisprudence - Quando se traduz esta palavra de 13 letras passa para 14, jurisprudência. Como no Direito há palavras como ‘Doutrina’ disso e daquilo. Quis manter algo ligado ao Direito e ao mesmo tempo com 13 letras.
{18} Splendiferous - Esplendoroso mas coloquei no plural para se tornar uma palavra de 13 letras.
{19} 411 é o telefone do auxílio à lista, no Brasil o similar é o 102.
{20} Slither - a contradição que Jonathan fala tem haver com a palavra também. Slither é o mesmo que deslizar, arrastar, escorregar. Cobras fazem isso, as aves, não.
{21} Obstructively - Obstrutivamente não é uma palavra de 13 letras, tive que colocar uma sinônima.
{22} JHO, Judicial Hearing Officers, são auditores judiciários que determinam todas as questões de direito; atuam como juízes exclusivos de todas as questões de fato e emite um veredito. No caso Jonathan seria levado a um desses Oficiais.
{23} Tag team wrestles - grupo de lutadores, geralmente dois contra dois em um ringue de luta livre.
{24} 6 pés e 3 pés de comprimento. A conversão sem arredondamento ficaria em 1.829 m e 0,914 m. Para os cálculos de Dess, é melhor o original.
{25} Resplendently Scintillating Illustrations - Resplandecentemente Cintilante Ilustrações. Illustrations pode ser pictóricas ou símbolos entre outras tantas traduções. Mais uma adaptação para o português em 13 letras.
{26} Nintendo wrists - são aquelas alças/faixas de segurança para se colocar no pulso para manter os controles do jogo presos ao braço. Bom para quem tem problemas de LER. Tem para o wii, etc.
{27} Um adjetivo. Significa uma coisa descoberta acidentalmente ou que tem o dom de descobrir por acaso.
{28} Purposelessly Hyperinflated Individuality.
{29} Roman Candle é o nome dado a um tipo de fogo de artifício que explode como uma chuva prateada, basta segurá-lo.
{30} Salt Flat - São salinas, ou deserto de sal. Existe perto de Utah.
{31} Sextant - Sextante é um instrumento para medir a abertura angular da vertical de um astro e o horizonte para fins de posicionamento global. Muito usado na navegação marítima.

 

 

                                                                  Scott Westerfeld

 

 

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