Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites
A INDOMADA E O SHEIK
Charmaine é uma top model australiana que não suporta ser tratada como uma mulher-objeto. Muito menos por homens ricos e poderosos que pensam poder comprar tudo - principalmente amantes.
O príncipe árabe Ali de Dubar está mais do que decidido a ter Charmaine como sua convidada para um jantar a dois, mesmo que isso signifique ter de adquirir esse privilégio por meio de um leilão de caridade.
Após muitas ofertas e recusas, Charmaine e Ali dão início a uma disputa entre o prazer e o orgulho que começa em uma mesa à luz de velas e termina em cômodos mais confortáveis - e por muito mais tempo do que o planejado!
Mas será que Charmaine irá ceder a todas as exigências de Ali?
SEUS OLHOS repousaram sobre ela a tarde toda. Lindos olhos escuros. Olhos arrogantes. Olhos presunçosos.
Logo após terem sido apresentados, Charmaine sabia que Sua Alteza Real, o príncipe Ali de Dubar, ia fazer algum tipo de proposta antes que as corridas do dia terminassem.
No momento em que percebeu o interesse do sheik, Charmaine arrependeu-se de ter aceitado este serviço. O prazer de ser um dos juizes da competição de "Moda no Campo" durante o festival das corridas de primavera de Flemington não superava o desprazer de ser perseguida por mais um playboy internacional.
Mas quando terminou o serviço para o qual havia sido contratada — a decisão final no Dia das Senhoras acabara por volta das quatro —, Charmaine controlou sua irritação e começou a ansiar por aquele momento quando seu admirador colocou a boca onde os olhos dele estiveram, por assim dizer. Não literalmente, é claro. Pensar em um homem desses beijando-a lhe dava calafrios. Nada repelia mais Charmaine do que homens excessivamente bonitos e ricos que achavam que poderiam ter qualquer mulher que desejassem pelo preço de um jantar. Ou até menos.
E este era mais que excessivamente bonito e rico. O príncipe árabe e criador de cavalos era um dos homens mais atraentes — e indubitavelmente um dos mais ricos — que Charmaine já conhecera. Mais alto e mais magro, na sua opinião, que a maioria dos príncipes árabes, ele também estava bem barbeado e vestia-se naquele dia não com a tradicional vestimenta árabe, mas com um terno cinza-claro e uma camisa branca brilhosa que realçava sua pele cor de oliva e seu espesso cabelo preto retinto. Seu rosto era tão rijo e magro como seu corpo. Seus olhos fundos e escuros divididos por um nariz marcante destacado por uma boca impiedosamente esculpida, mas não menos atraente.
Parecia diferente de qualquer outro sheik que Charmaine jamais conhecera. E não foram poucos. As top models conheciam muitos dos homens mais ricos do mundo, tanto durante suas carreiras quanto em sua vida social. Os ricos e famosos gostavam de ter os audazes e os belos a seus pés.
Ser convidada especial do príncipe Ali para seu camarote privado nas corridas não surpreendeu Charmaine. O fato de o sheik pensar o que ele obviamente passou a tarde toda pensando sobre ela também não a surpreendia. Pela sua experiência, os playboys árabes bilionários tinham uma tendência a superestimar sua própria irresistibilidade bem como a subestimar a moral de algumas mulheres ocidentais. Sem dúvida que, na cabeça deste sheik, topmodel era equivalente a topvagabunda.
Charmaine teria grande prazer em abaixar um pouco a crista do príncipe Ali. Decidiu, ao senti-lo observando-a mais uma vez, que seu ego inflado de macho precisava ser esvaziado.
Estava certa. Ele realmente a estava observando. Seus olhos não a deixaram quando ela retornou para a arquibancada, incendiando o caminho em seu vestido de seda que marcava o corpo, despindo-a de qualquer costura e deixando-a com a sensação de estar completamente nua e quase com raiva por causa de seus inegáveis atributos físicos. Não foi a primeira vez que Charmaine teve a sensação de ressentimento corroê-la em relação aos genes que combinaram a altura e a beleza nórdica de seu pai com os grandes olhos azuis e as curvas femininas de sua mãe, dando origem a uma loura alta de torcer o pescoço dos homens, que atingiu o auge da fama como modelo aos dezesseis aninhos.
Nove anos depois, a beleza precoce de Charmaine tinha assumido uma aparência mais madura, mas ainda amplamente reconhecível com sua silhueta exuberante e cabelos bastante compridos e perfeitamente lisos. Corpos de violão estavam aparentemente fora de moda, mas a versão alongada e elegante de Charmaine era avidamente procurada pêlos estilistas, principalmente porque ela sabia exibir os produtos de maneira mais eficaz que suas colegas mais magras. Ela fazia sucesso principalmente com grifes de roupas de banho e lingerie e, assim, ela acumulou uma pequena fortuna sendo fotografada após tirar o roupão.
Infelizmente, o efeito colateral de ser vista em outdoors e capas de revistas usando roupas de baixo e biquínis minúsculos era que os homens se atreviam a pensar que todo o seu corpo estava à venda, não apenas a imagem que ela projetava. Era surpreendente como muitos homens ricos pensavam que podiam comprá-la como um troféu, seja como namorada amante ou até mesmo esposa. Charmaine achava isto perversamente divertido. Mal sabiam eles que ela era a última mulher na terra que eles desejariam em suas camas.
O homem que a fitava neste momento ficaria extremamente desapontado se ela concordasse com quaisquer daquelas três alternativas que ele tinha em mente. Na verdade, estava fazendo-lhe um favor ao rejeitar suas investidas.
Com um pequeno sorriso nos lábios, ela abaixou-se com um prazer quase perverso e sentou-se no assento que ele obviamente mantivera livre para ela, bem ao lado do seu e perto o bastante para ela sentir o cheiro de sua colônia cara, e ver que seus olhos negros eram emoldurados pêlos cílios mais longos que ela já vira em um homem...
O resto do camarote estava vazio, nem mesmo adornado pelo guarda-costas com rosto de granito que ou ficava no fundo ou seguia o príncipe como uma sombra por todos os lugares onde ele estivera até então naquela tarde. O guarda-costas certamente já havia se deparado com este mesmo cenário antes, e sabia como desaparecer enquanto seu chefe seduzia qualquer mulher sobre a qual seus olhos régios tivessem pousado.
— Estava ansioso aguardando o seu retorno — disse o príncipe naquela maneira excessivamente formal que apenas educação numa escola britânica poderia ter insuflado nele. — Acabou o concurso por hoje?
— Sim, graças a Deus. Não imaginava que escolher a vencedora entre tantas mulheres elegantemente vestidas seria uma tarefa tão difícil.
— Se eu tivesse sido o juiz, teria havido apenas uma única vencedora. Você.
Por favor, ela pensou com ar enfastiado. Guarde isto para uma modelo mais impressionada.
Charmaine não deu voz à sua irritação. Não ainda. Em vez disso, esperou pacientemente até que ele dissesse outra coisa que não devesse.
— Estava pensando se talvez estivesse livre esta noite — prosseguiu ele como era de se esperar. — Gostaria muito de ter sua companhia para o jantar.
O que o senhor gostaria meu pomposo príncipe, é ter a mim para o jantar. Ou para a sobremesa.
Seus olhos se tornaram frios enquanto os dele continuavam ardentes.
— Sinto muito — respondeu ela inclinando o queixo para cima, o que elevou a borda do chapéu e proporcionou a ele uma visão mais clara de seus olhos azuis gélidos —, mas não estou livre esta noite.
Sua primeira recusa não o deteve como ela esperava.
— Talvez outra noite então. Soube que você mora em Sydney. Talvez você não saiba, mas estou em Sydney todos os fins de semana.
Na verdade, ela não ouvira muita coisa sobre o príncipe Ali. Como muitos sheiks, ele não buscava publicidade. Hoje, um casal proprietário de cavalos de corrida de Silbourne, também convidado do príncipe, teve um imenso prazer em deixar-lhe a par quando ele se afastou para apresentar um troféu para uma das primeiras corridas que sua família havia patrocinado. Charmaine agora sabia que ele tinha cerca de 35 anos e tomava conta de um garanhão puro-sangue no interior de Hunter Valley, a noroeste de Sydney, função esta que desempenhara com sucesso na última década. Aparentemente, os interesses de sua família real em corridas de cavalos alcançavam grandes extensões e eles tinham estabelecimentos de criação semelhantes na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. No entanto, o príncipe Ali era unicamente responsável pelo ramo australiano.
Ela também fora discretamente informada sobre sua reputação como homem de muitas mulheres e como amante, embora não tivesse certeza de que isso tivesse sido um aviso ou uma propaganda das habilidades de alcova de seu anfitrião, uma provocação com o intuito de despertar seu apetite em experimentar a realidade e não o boato. Se assim fosse, seus seguidores estavam perdendo tempo. Sem dúvida, tinham escolhido o alvo errado hoje. E ele também. Ela não podia esperar para apontar-lhe o erro.
— Estarei de volta a Sydney até amanhã à tarde — continuou ele suavemente, sempre olhando em seus olhos.
— Jogo cartas com alguns amigos na minha suíte do hotel toda sexta-feira à noite e assisto às corridas de Sydney todo sábado. Para ser sincero, raramente viajo para outro estado.
Só vim a Melbourne esta semana porque tinha um cavalo correndo na Cup na terça-feira passada e outro no Oaks hoje. Infelizmente, nenhum dos dois ganhou.
— Que chato para você — disse ela sem nem um vestígio de compaixão genuína na voz.
No entanto, ele não pareceu perceber. Talvez não conseguisse imaginar a possibilidade de uma mulher não agarrar-se a cada palavra sua, ou sentir qualquer coisa que não fosse lisonja por seu óbvio interesse.
Charmaine quase sorriu ao pensar que o príncipe Ali de Dubar estava prestes a ter uma nova experiência com o sexo oposto. Ela chamava-se... rejeição.
— Estaria livre para jantar comigo neste sábado à noite? — insistiu, como ela sabia que ele faria. — Ou tem outros compromissos que a prenderão aqui em Melbourne?
— Não. Volto amanhã de manhã para Sydney. Mas não estarei livre para jantar nessa noite também. Sinto muito — acrescentou ela jubilosamente.
Seu cenho demonstrava certa confusão.
— Tem outro compromisso?
— Não — veio sua resposta sucinta. Seu cenho aprofundou-se.
— Existe um namorado que se oporia à sua saída para jantar comigo? — aventurou-se ele em seu atordoamento. — Ou talvez um protetor secreto?
A irritação de Charmaine alcançou novos limites, instigada tanto por seu modo de falar enfadonho como por sua presunção de que tinha de haver algum homem impedindo-a de sair com ele. Não poderia ser de maneira alguma que ela não o achasse irresistível e não quisesse sair com ele. O que a chateou mais, no entanto, foi sua última suposição de que talvez ela já fosse a amante secreta de algum ricaço.
— Não tenho amante, ou protetor, como você mencionou — respondeu ela, lacônica. — O fato, Vossa Alteza, é que não estarei livre para sair com um homem como o senhor, por favor, não se dê ao trabalho de me convidar novamente.
Seus olhos se incendiaram com o choque antes de endurecerem como ébano, e suas sobrancelhas escuras se uniram como nuvens antes da tempestade.
— Um homem como eu — reiterou ele em um tom cortado. — Poderia perguntar o que quer dizer com isto?
Pode perguntar — respondeu ela com frieza —, mas não terá a resposta.
— Tenho o direito de saber por que você me rejeitou de maneira tão grosseira.
Um pouco da fúria que Charmaine acumulara por vários minutos, borbulhou em sua garganta e encontrou voz.
— Direito! — perguntou ela áspera, e pôs-se de pé num segundo. — Vossa Alteza não tem direito algum no que se refere a mim. Convidou-me para sair. Não aceitei. Convidou-me novamente, então deixei bem claro que quaisquer atenções futuras suas são indesejáveis. Não acho que seja grosseiro. É meu direito não ser importunada por homens arrogantes e mimados que nunca receberam não como resposta com a devida freqüência. Minha resposta é e sempre será não, príncipe Ali. Ouça e preste atenção, porque se entrar em contato comigo de novo, vou mandar prendê-lo sob a acusação de perseguição!
Ela rodopiou e saiu apressadamente do camarote, zunindo ao descer os degraus e sair da arquibancada. De certa forma, ela esperava que ele fosse atrás dela, mas ele não foi, algo pelo qual ela ficou grata, porque sabia que se ele ousasse colocar as mãos sobre ela, desferiria um golpe no seu rosto arrogante. Suas mãos agarravam a bolsa com uma intensidade apavorante, mas teriam adorado qualquer desculpa para açoitá-lo com violência. Um ataque verbal não foi o bastante para acalmar seu mau gênio.
Charmaine não interrompeu sua retirada irritada até chegar ao estacionamento e a seu carro. Mas mesmo enquanto se sentava ao volante do carro azul alugado e dava partida no motor, ainda tremia por dentro.
A visão do rosto atordoado do sheik de repente tomou conta de sua mente, e ela gemeu. Tinha ido muito longe desta vez. Longe demais.
Normalmente ela dizia não a homens como ele de maneira muito mais educada e diplomática. Alguma coisa no príncipe Ali, no entanto, fizera brotar o pior de sua personalidade. Possivelmente porque ele estava armado com atrativos demais para a maioria das mulheres resistir. Meu Deus, aqueles olhos!
Charmaine imaginou que, no passado, ele tivera sucesso em seduzir e depois descartara muitas australianas tolas. Estes pensamentos fizeram seu sangue ferver nas veias mais uma vez. Quando engatou marcha à ré para sair da vaga, o fez de maneira tão afoita que quase bateu no outro carro. Deve ter errado por poucos centímetros.
Dando-se uma rigorosa sacudidela mental, Charmaine forçosamente se acalmou antes de reiniciar sua saída do estacionamento. A última coisa que queria era causar um acidente. Tinha de estar em Fiji na segunda-feira para uma sessão de fotos para a capa de uma revista esportiva.
"Pare de pensar no homem", admoestou a si mesma enquanto partia em uma velocidade relativamente tranqüila. E pare de se sentir culpada. Homens como ele não têm sentimentos como pessoas comuns. Têm egos e desejos, ambos muito bem cuidados. Então ele queria você por um ato hoje. E não teve o que queria pelo menos desta vez. Grande coisa! Ele não irá jantar — nem irá para a cama — sozinho esta noite. Haverá outra idiota para acalmar seu ego e satisfazer seus desejos. Não precisa se preocupar com... Ou sequer pensar nele.
Mas ela pensou nele intermitentemente na semana seguinte. Sua culpa, ela supôs. Ser tão abertamente grosseira não fazia parte da sua personalidade pública habitual. Quando saía, deixava seus sentimentos bem escondidos, cobrindo seu lado obscuro sob um manto de doçura e brilho. A maneira como tratara o sheik tinha sido bastante atípica e estranhamente problemática.
No final, entretanto, todo pensamento a seu respeito desapareceu de sua mente à medida que ela prosseguia sua vida e seu trabalho. Tinha uma missão estes dias, e não deixava sobrar tempo para os homens. Não homens como o príncipe Ali de Dubar certamente. Havia posto um fim a este tipo de homem muitos anos atrás. Mais recentemente, havia posto fim aos tipos mais amáveis também.
A mídia ficaria surpresa em saber que Charmaine, a modelo australiana que fora eleita por mais de uma revista de moda como uma das mulheres sensuais do mundo, levava agora uma vida celibatária. Não havia mais namorados ou amantes. E definitivamente nenhum protetor secreto, pensou ela com escárnio.
É claro que Charmaine conhecia o negócio bastante bem para perceber que a notícia de sua vida de freira não faria nenhum bem à sua carreira. Ser vista como sensual e sexualmente ativa era parte de sua imagem. Então ela continuava a ser fotografada pela mídia nas premières e nas festas nos braços de jovens lindos, em geral modelos exuberantes e fortes que tinham seu próprio segredo sexual, isto é, eram gays. E ela continuava a desfilar as roupas mais ousadas, freqüentemente sem nenhuma roupa íntima visível.
Mantinha o seu perfil público em alta, e sua imagem extremamente sensual. Ganhava mais dinheiro assim. E dinheiro era o nome do jogo nestes dias. Custava milhões, ela descobrira desde que lançou a fundação Amigos das Crianças com Câncer, financiar a pesquisa do câncer, bem como tornar a vida das crianças já acometidas pela doença mais tolerável, para não mencionar a vida de suas pobres famílias. Milhões e milhões!
Às vezes, Charmaine rendia-se à depressão devido à enormidade da missão a que se propusera. Ela realmente poderia fazer uma diferença? Mas na maior parte do tempo enchia-se da mais obstinada determinação. Faria qualquer coisa que pudesse para levantar o dinheiro para sua causa e sua cruzada muito pessoais.
Absolutamente qualquer coisa!
OUTUBRO, segundo mês da primavera em Sydney, onze meses depois...
— Tenho de admirar sua coragem, Charmaine — disse Renée levantando os olhos do cardápio. — Já pensou em que tipo de homem poderia ser o arrematante do prêmio do “jantar com Charmaine” no próximo sábado?
— Um homem muito rico, espero — respondeu Charmaine, exibindo o brilho cor de pérola de seus dentes. — Minha quantia total para o banquete e o leilão é de dez milhões de dólares.
— Você sabe que ele pode ser um crápula — alertou Renée. — Ou um fã obcecado.
Charmaine sorriu mais uma vez para Renée, que não só era a dona da agência de modelos para a qual ela estava trabalhando no momento, mas também uma pessoa muito amável. Mais amável ainda agora que estava casada, feliz e esperando um bebê.
Embora Charmaine fosse cínica quando se referia a homens ricos e bonitos, ela tinha de admitir que Renée parecia ter encontrado uma exceção em Rico Mandretti. Quem teria imaginado que o playboy rei dos programas de culinária da tevê a cabo se tornaria um bom marido e futuro pai?
Mas tinha. Quando Charmaine encontrou a estrela de Paixão pela massa em carne e osso pela primeira vez na outra noite, ele não flertou com ela nem por um segundo. Bom sinal. Não que ela pudesse ter plena certeza da lealdade e sinceridade do Sr. Mandretti, ela supunha. Ela e Renée não se encontravam socialmente, então não os conhecia como casal. O seu próprio relacionamento com Renée, embora amigável, era estritamente profissional. Charmaine nunca confiava seus segredos pessoais ou sentimentos mais íntimos à amiga.
— Não me importo que tipo de homem ele seja — disse Charmaine de maneira sincera —, contanto que ele pague um bom preço pelo privilégio. — Não precisa se preocupar com a minha segurança, Renée, embora seja gentil de sua parte se importar. Está claramente estipulado no programa do leilão que o jantar será realizado no próximo sábado à noite no restaurante By Candlelight no Hotel Regency, que é um local público. Se houver o mínimo sinal de problema, saio de lá num minuto.
Renée também não tinha dúvidas de que ela estaria segura. Charmaine era durona. Muito mais do que a imagem que projetava nas passarelas e nas fotografias. Lá ela era uma gatinha manhosa, com sua aparência e seus gestos criando uma combinação incomum de sensualidade e inocência que sempre fascinava os homens e raramente causava repulsa nas mulheres.
Renée freqüentemente tentara analisar o que exatamente na aparência de Charmaine conseguia este milagre. De onde vinha aquele ar de inocência? Talvez de sua cútis fresca e perfeita ou de seus cabelos longos e lisos que caía como uma cortina até a cintura. Certamente não vinha de seus lábios carnudos, de sua silhueta quase voluptuosa demais ou de seus olhos azuis que eram um convite à cama.
A natureza contraditória da beleza de Charmaine era tão ilusória quanto o seu eu interior.
Renée suspeitava de que ninguém no mundo da moda conhecia a verdadeira Charmaine, certamente não os modelos masculinos que ela namorava de vez em quando. Sabia que de fato aqueles rapazes bonitos eram apenas bolsas de mão para Charmaine, acessórios sensuais para consumo público. Namorados de verdade eles definitivamente não eram.
Na verdade, na época em que ela conheceu Charmaine, nunca soube que ela tivesse um namorado de verdade. O mais provável era que ela não tivesse tempo para relacionamentos pessoais nesses dias por causa de sua carreira e do seu trabalho de caridade. Mas Rico — como todo homem, focado em testosterona — não concordava. Ele acreditava que ela provavelmente fora magoada por algum homem no passado e estava passando por uma fase de desconfiança. Ele tinha dificuldade com a idéia de que uma mulher não quisesse realmente um homem em sua vida.
Talvez estivesse certo. Talvez não. Renée não ia arriscar seu relacionamento profissional com Charmaine fazendo perguntas sobre sua vida sexual. Ficou felicíssima quando a modelo mais bem-sucedida da Austrália assinou contrato com sua agência há dezoito meses. Anteriormente, Charmaine tinha contratado um empresário, mas ele foi dispensado após fraudar suas despesas. Se avia uma coisa com a qual aquela garota era impiedosa era com seu dinheiro. Exigia ser bem paga e não desperdiçava um centavo sequer.
Uma boa porcentagem do dinheiro que ganhava, Renée suspeitava, ia para a sua bem-amada fundação Amigos das Crianças com Câncer, que ela fundara pessoalmente não muito tempo antes de entrar para a sua agência de modelos. Sua irmã mais nova tinha morrido de leucemia no ano anterior, e a tragédia a afetara profundamente. Após uma licença de alguns meses do trabalho para se recuperar da perda, decidiu lutar para fazer algo com o intuito de ajudar outras crianças na mesma situação. Daí a fundação.
Quando Charmaine entrava na guerra para levantar fundos, ninguém estava a salvo. Importunava a todos que encontrava pedindo-lhes doações monetárias ou um pouco do seu tempo. Tinha até mesmo coagido Renée a convencer Rico a ser o apresentador do leilão de sábado à noite. Renée ficou grata por ter sido dispensada de participar uma vez que estava no sétimo mês de gravidez. De gêmeos! Mas assistiria, é claro.
Na verdade, Renée aguardava aquela noite ansiosamente. Charles e Dominique estariam lá, o que queria dizer que ela e Dominique poderiam falar sobre filhos. Até mesmo Ali prometera aparecer, embora não para o jantar, apenas para o leilão. Ele só colocaria seu lindo pé árabe na porta quando Renée lhe mostrasse o folheto lustroso que Charmaine organizara listando todos os itens a serem leiloados e explicasse para onde iria todo o dinheiro arrecadado.
Sua mudança de opinião tinha surpreendido a todos no jogo de cartas na última sexta à noite; Ali mantinha suas aparições em público ao mínimo possível por razões de segurança. Talvez o local o convencera a vir. O Hotel Regency era famoso por ser um lugar realmente seguro para a clientela rica e famosa.
— A propósito, consegui finalmente completar a minha mesa — ela disse a Charmaine. — Outro amigo do jogo de cartas concordou em vir. Contei a você que jogo pôquer toda sexta à noite com uma turma que aposta alto, na suíte presidencial do Hotel Regency?
— Não, nunca mencionou isto. Que interessante. Você também possui cavalos de corrida, não é mesmo?
— Possuo. Tenho de admitir que corrida de cavalos é minha paixão. Como o pôquer. Sou uma jogadora inveterada. Seja como for, você também ficará feliz em saber que estes outros jogadores inveterados com quem jogo pôquer são todos podres de ricos. Charles Brandon é um deles. O magnata cervejeiro. Você sabe quem é?
— Claro. Eu o conheci numa festa de uma première dos Estúdios Fox recentemente. Ele tem uma esposa formidável, não é mesmo?
— O nome dela é Dominique. Eles devem dar uns lances altos no leilão. Os dois têm coração de ouro. Não posso dizer o mesmo sobre o quarto jogador de pôquer, mas de vez em quando ele é bem generoso. Ele...
— Gostariam de fazer o pedido, senhoras? — interrompeu a garçonete.
— Dê-nos apenas um momento — disse Charmaine, e a garçonete apressou-se em servir outra mesa. O restaurante onde elas estavam almoçando situava-se em um dos cais remodelados de Wooloomooloo, bem no porto a um passo do centro da cidade. Estava na moda e era bastante freqüentado, especialmente na hora do almoço de um esplêndido dia de primavera.
— Chega de leilão, Renée — disse Charmaine de maneira firme. — Vamos voltar ao negócio aqui à mão. Comida. Vamos nos comportar como meninas más e pedir algo que engorde pelo menos uma vez na vida? — Ela pegou o cardápio e começou a lê-lo avidamente. — Meu Deus, isto tudo é tão tentador! Faz meses que comi um hambúrguer. Ouvi dizer que os hambúrgueres aqui são do outro mundo. Uau! Veja só! Tem torta de queijo com cobertura de manga de sobremesa. Droga! Sem dúvida que vou pedir isto. Com creme — concluiu ela de modo desafiador.
Renée riu. Ela sabia de primeira mão que as modelos raramente comiam qualquer coisa que engordasse, nem mesmo as naturalmente curvilíneas como Charmaine.
— Você pode se quiser — ela disse —, mas eu não. Já ganhei oito quilos com esta gravidez e soube que posso dobrar até o fim dela.
— Sabe o sexo dos bebês? — Charmaine perguntou. Renée ficou radiante como sempre quando lhe perguntavam sobre os gêmeos preciosos.
— Na verdade sei. Um menino e uma menina. Não sou a mulher mais sortuda do mundo?
Até se casar com Rico, Renée pensara que nunca teria filhos. Mas com o amor e o apoio de seu marido e a melhor equipe de fertilização in vitro da Austrália, estava agora, aos trinta e seis anos, esperando não apenas um bebê, mas dois! Rico estava felicíssimo e Renée, em êxtase. Tudo tinha ido muito bem até agora. Com exceção das azias e as ocasionais dores nas costas, sentia-se vendendo saúde.
Charmaine sorriu para ela.
— Imagino que sim. Embora minha mãe seja uma mulher de sorte. De mais a mais ela se casou com meu pai, então talvez eu seja um pouco tendenciosa.
Renée absorveu esta informação com surpresa. Charmaine nunca falava de sua família. Por alguma razão, Renée supôs que ela estava afastada da família ultimamente. Decerto estava errada. Talvez tivesse apenas perdido o contato um pouco. A vida de Charmaine era muito agitada por causa das exigências de sua carreira e agora de seu trabalho de caridade.
Renée soube por meio dos primeiros artigos da imprensa sobre Charmaine que seus pais eram pessoas do campo que administravam uma fazenda de algodão a oeste da Grande Fronteira Australiana, bem no meio do nada. A cidade mais próxima só tinha uma oficina mecânica, um hotel e uma loja que vende toda espécie de mercadoria. Quando tinha quinze anos, Charmaine costumava trabalhar atrás do balcão dessa loja nos finais de semana, e durante o período mais calmo — que era provavelmente a maior parte do tempo — preenchia seu tempo lendo revistas sobre modelos e sonhava um dia tornar-se uma. Aos quinze anos e meio, enviou sua fotografia para um concurso para a capa de uma revista de adolescentes e ganhou. Aos dezesseis andava empertigada nas passarelas de Sydney durante a semana de moda da Austrália.
Renée era modelo nesta época e se lembra de como todas as outras modelos mais antigas ficaram irritadas quando esta adolescente inexperiente e arrogante com curvas demais passou a chamar mais atenção que elas. Mas ela se tornou um sucesso instantâneo, especialmente com os estilistas. Na silhueta alta porém bem proporcional de Charmaine, todas as roupas pareciam fabulosas e sensuais. Quando Charmaine teve de voltar para casa por um tempo com um caso grave de febre glandular, as outras modelos suspiraram de alívio. Mas ela retornou para Sydney no dia seguinte e retomou a carreira exatamente de onde havia parado.
Na época com dezoito anos, Charmaine, que estava um pouco mais magra porém com aparência mais madura, tinha se tornado simplesmente formidável. Encantadora era como os jornalistas de moda a descreviam. Encantadora e pronta para dominar o mundo das modelos. Ainda não tinha feito isso, mas logo estava lá com as melhores delas, e a agência de Renée agora tinha uma parte deste sucesso.
— Você se parece com seu pai ou com sua mãe? — perguntou Renée, curiosa.
— Com os dois, na aparência. Mas com nenhum dos dois em personalidade. Mamãe é um doce e papai é um velho molenga. Posso agir de maneira suave e doce, mas no fundo sou muito difícil — disse ela, rindo em seguida. — Mas você já sabe disso, não é?
— Absolutamente — respondeu Renée, estarrecida. — Você joga duro em questões de negócios, mas não é a mesma coisa. Já conheci pessoas extremamente difíceis e você pode acreditar em mim, Charmaine, que você não é uma delas. Para início de conversa, posso lhe dizer que uma pessoa assim não trabalharia tanto em prol da caridade.
— Mas este é meu único calcanhar-de-aquiles — disse Charmaine com uma aparência triste e pensativa por um instante. — Crianças com câncer. Pobrezinhos. Posso suportar quando a vida é impiedosamente cruel e injusta com os adultos. Mas não com as crianças. Elas não merecem este destino. Ainda mais quando não fizeram nada para isto.
Engoliu em seco e depois rangeu os dentes.
"Você não vai chorar, vai? Chorar não adianta nada. Chorar é coisa para bebês e para os de coração partido. Você não é uma criança e seu coração não está mais partido, Charmaine. Foi mais do que colado e nada o partirá novamente."
Ela esticou o braço para pegar o copo de água de cortesia que estava sobre a mesa de café e o bebericou até que tivesse recobrado totalmente o controle. Então colocou o copo sobre a mesa e sorriu para a mulher à sua frente, que tinha uma aparência preocupada em seu lindo rosto.
— Sinto muito — disse ela. — Fico emocionada quando falo de crianças com câncer.
— Não há razão para se desculpar. Acho seu sentimento admirável. Posso compreendê-lo perfeitamente.
Charmaine se controlou para não rir dessa declaração. Como Renée poderia compreender? Sem ter passado por isso, ninguém seria capaz de compreender. Ver uma criança sofrer e morrer. Uma criancinha doce e inocente.
Mas provavelmente sua intenção tinha sido boa.
"Quantos anos tinha Renée?", Charmaine se perguntou. Trinta e poucos? Mais velha? Deveria ser um pouco mais velha, embora ainda tivesse uma aparência maravilhosa.
Algumas mulheres ficavam exuberantes quando estavam grávidas. Outras tinham uma aparência cansada e enfadonha. Renée era, sem dúvida, o tipo reluzente. A garçonete apareceu à mesa mais uma vez.
— Vão fazer o pedido agora, senhoras? — ela perguntou de maneira alegre.
— Claro — respondeu Charmaine e pediu um hambúrguer de carne ao estilo caribenho com fritas e salada, uma torta de queijo com cobertura de manga e creme e um cappuccino.
Quando Renée a encarou, ela caiu na risada.
— Não se preocupe. Não jantarei esta noite e me castigarei na academia amanhã. — Como ela sempre fazia. Todo santo dia.
Mas então toda a sua vida era agora um castigo, não era? Por seus pecados, especialmente aquele bem perverso, aquele pelo qual ela não podia se perdoar, aquele que nunca esqueceria.
— Terá de fazer isso se espera entrar naquele vestido que está pretendendo usar na noite de sábado — Renée salientou. — Do jeito que está, parece que você foi costurada nele.
— Diabos, você tem razão. Por um momento me esqueci disso. — Ela suspirou e olhou para a garçonete, que esperava pacientemente. — Posso trocar meu pedido para algo que engorde menos, como uma folha de alface au naturefí
A garçonete sorriu.
— Fico feliz em saber que tem de ter cuidado com o que come também. Se achasse que poderia ter a mesma aparência que você sem sofrer nem um pouco, isso me mataria.
— Então não se desespere — disse Charmaine num tom seco. — Sofro mais que um pouco. Sofro muito todo santo dia. — E muito mais! — Tudo bem, traga o peixe do dia, grelhado, acompanhado de uma salada. Sem molho. Nada de sobremesa. E café puro depois. Que tal? — perguntou ela a Renée.
Renée riu.
— Perfeito. O mesmo para mim.
O salão de baile do Hotel Regency era um local popular de Sydney para acontecimentos importantes. Suas espetaculares paredes inspiradas em Versalhes testemunharam muitos bailes sociais, noites de prêmios, desfiles de moda, lançamentos de produtos, festas de Natal de empresas e, é claro, muitas festas beneficentes. Os pomposos tetos de cúpula alta, os enormes candelabros pairaram sobre as cabeças de ricos famosos em muitas ocasiões ao se reunirem em sua elegância para comemorar ou apoiar qualquer causa que os houvesse reunido.
A causa dessa noite era do tipo que sempre conseguia coagir até os mais duros de coração. Crianças com câncer, Charmaine sabia disso por experiência própria. E ela explorou isso sem pudor ao organizar seu primeiro banquete de caridade e seu primeiro leilão.
Mas tinha sido um trabalho árduo, que ocupou todos os momentos livres do seu tempo nos últimos seis meses. Sua vida social — o que sobrava dela nesses dias — conseqüentemente tinha mudado. Mesmo sua carreira tinha sido afetada, fazendo-a recusar qualquer compromisso no exterior por mais de alguns dias.
Mas tudo tinha valido a pena para ver o fantástico resultado dessa noite. Todas as mesas cheias, e todas com pessoas que podiam pagar muito bem a pesada quantia de mil dólares por ingresso, pelo qual receberiam um jantar razoável que provavelmente custou menos de cinqüenta dólares• por cabeça. Não que a fundação Amigos das Crianças com Câncer tenha tido absolutamente que pagar pelo serviço de bufê. O proprietário relativamente novo do Hotel Regency fora convencido a doar os três mil jantares necessários, além das bebidas e do próprio salão. Charmaine havia descoberto que o irmão de Max Richmond tinha morrido de câncer quando ainda era bem jovem, uma infeliz tragédia da qual ela se apressou em tirar proveito.
Mas claro que não havia nada a que ela não se submeteria a fim de levantar o dinheiro para atingir o alvo de dez milhões de dólares desta noite, inclusive ficar sem comer absolutamente nada tanto ontem quanto hoje com o objetivo de entrar no vestido que estava usando como co-anfitriã do leilão desta noite, um vestido que quase desafiava a possibilidade de descrição.
Perverso era a palavra que vinha à mente.
Como ela chegou a estar usando este vestido em particular era algo intrigante. Ela tinha ido visitar a dona das Jóias Campbell em sua casa, como ela visitara pessoalmente todos os presidentes das principais empresas de Sydney, implorando e intimando-os a fazer doações para o leilão. A maioria deles atendeu seu pedido de alguma maneira. Celeste Campbell tinha sido muito receptiva, doando uma linda coleção de jóias. Ela também tinha aquela atitude nada fútil e direta que Charmaine adorava em uma mulher. Charmaine se afeiçoou a ela imediatamente, e vice-versa.
Quando Celeste descobriu que o leilão de caridade estava sendo realizado no salão de baile do Hotel Regency, ela relatou a Charmaine a história de outro leilão que tinha sido realizado lá havia dez anos, não muito tempo antes de a própria Charmaine ir para Sydney. Aparentemente houve um banquete, como o dessa noite, seguido do leilão da famosa opala negra denominada Coração de Fogo, que estava agora no Museu Australiano.
Charmaine ficou assustada ao saber que durante a noite houve uma tentativa de roubo e um tiroteio. Ficou fascinada com a história da mulher, e depois completamente emocionada quando Celeste mostrou-lhe o vestido que usara naquela noite. Era um dos vestidos de noite mais provocantes que já tinha visto.
Quando Celeste proclamou que estava muito velha para usar um vestido desses hoje em dia, Charmaine rapidamente pediu-lhe que o emprestasse para usá-lo no leilão de caridade. Ela soube de imediato que era exatamente o que precisava para fazer um rico idiota oferecer um preço ridículo para jantar com ela. Celeste Campbell recusou-se e, em vez disso, deu-lhe o vestido! Charmaine ficou impressionada.
E agora ali estava ela, usando-o, mas não se sentia tão confiante, ou tão convencida. Seu estômago estava dando mais cambalhotas que no dia do seu primeiro desfile. No entanto, ela nunca ficava nervosa hoje em dia, não importando quanto do seu corpo ostentasse.
Não que o vestido de Celeste Campbell deixasse ver tanto assim. Sua perversidade era bem mais sutil.
Não havia absolutamente nada malicioso em seu estilo básico de tamanho natural sem alça, a não ser talvez que seus seios estivessem encontrando dificuldades em manter-se confinados no corpete apertado, que era dois números abaixo do seu. Mesmo este probleminha ficava escondido, até certo ponto, pela camada de simples enfeites espalhados pela combinação de cetim. Os enfeites iam até o pescoço e desciam pêlos braços até os pulsos.
Eram o tom cor de pele tanto do material do cetim quanto dos enfeites, além das contas na frente e atrás do vestido que o tornavam perverso, uma vez que criava a ilusão de ela estar usando não um vestido de baile, mas um traje muito escasso e exótico. Até mesmo a uma curta distância, o material cor de pele assumia a aparência de pele nua. Apenas o efeito tremeluzente produzido pelas contas de ouro sobressaía.
Uma olhada rápida de frente dava a impressão de que as contas estavam grudadas em seu corpo nu em forma de biquíni. De lado, onde não havia contas, ela parecia estar nua. De costas, a visão era ainda mais provocante, com nada mais a não ser os enfeites cor de pele até a cintura, um simples triângulo de contas no seu traseiro e uma fenda na costura central da parte de trás que ia até a parte superior das coxas. Pelo menos a fenda permitia que ela andasse com seus passos largos como de costume em vez de ficar cambaleando.
Porque ela tinha de andar até a passarela que havia sido montada para o desfile de moda na primeira parte do jantar. O caminho longo e iluminado projetava-se do meio do palco, dividindo o salão e proporcionando aos ocupantes de todas as mesas uma visão de primeira, principalmente para aqueles sentados bem perto. No ensaio da outra noite Charmaine disse a Rico que desfilaria até lá enquanto ele leiloava o prêmio do jantar com ela, uma idéia que não parecera tão ousada na época, possivelmente porque ela estava usando jeans.
No entanto, este vestido escandaloso mandou embora seu atrevimento. Charmaine ficou incomodada com ele a noite toda. Felizmente, durante o jantar, ela não comeu. Ficou sentada. Sentada, o vestido era bem modesto.
Mas ela não estava mais sentada. Estava no palco do salão, espiando a enorme multidão lá embaixo através da pesada cortina de palco cor de vinho e tentava controlar esse estranho medo de que estava prestes a fazer a mais desavergonhada exibição de si mesma.
Que diabos havia de errado com ela? Normalmente não era assim. Em geral não dava a mínima se estava usando pouca roupa ou se as pessoas olhavam para ela, especialmente os homens.
Uma raiva desdenhosa rapidamente tomou o lugar desses escrúpulos altamente atípicos. Deixe que pensem o que quiserem. Realmente não se importava, contanto que um deles entregasse um cheque bem gordo para sua fundação.
Sentindo-se um pouquinho melhor, olhou rapidamente para seu fino relógio de ouro e pensou que já estava mais do que na hora de Rico aparecer e dar início ao leilão quando um assobio bem masculino cortou o ar atrás dela. Virou-se e lá estava ele em pessoa com um sorriso irônico.
— Este é um vestido e tanto, Charmaine. Tem certeza de que não será presa por usá-lo?
— Já usei menores — retorquiu ela, com a tensão nervosa deixando-a cheia de estilo.
— Sim, mas neste caso mais quer dizer pior.
— Tente não olhar com malícia, Rico.
— Eu nunca olho com malícia.
— É verdade — admitiu ela com um suspiro. — Você não faz isso. Perdoe-me. Para falar a verdade, você é muito mais legal do que eu pensava que seria, para alguém tão bonito. — E ele era. Alto, moreno e bonito. Mas não o tipo alto, moreno e bonito que ela outrora achara irresistível. Os homens grandes e másculos não eram os seus favoritos. Sempre preferira o tipo de homem mais esguio e mais elegante.
— Obrigado — respondeu Rico. — Eu acho. — Ajeitando a gravata-borboleta, ele respirou fundo. — E então? Vamos dar início ao show.
Mais uma vez veio o nervosismo fazendo-a querer fugir, o que, por sua vez, produzia um fluxo de desafio redentor.
— Bem — disse ela. — Está na hora de ganhar algum dinheiro para aquelas crianças.
— Que assim seja! — concordou Rico.
O leilão começou bem. Naquela altura a meta de dez milhões parecia estar de fácil alcance. Mas os tempos estavam difíceis, e por volta da metade do leilão os lances começaram a demorar. Não importava o quanto Rico os bajulasse, quando só restavam apenas dois prêmios, a quantia angariada estava um pouco abaixo dos sete milhões. Charmaine suspirava, desapontada. As férias em uma ilha que Rico ia oferecer poderiam trazer cinqüenta mil. Mas ainda deixaria um déficit de quase três milhões. Mesmo se ela fosse para a passarela completamente pelada, nenhum homem ofereceria tanto apenas para jantar com ela.
— Não vamos alcançar nem sete milhões — ela murmurou depois de Rico ter vendido as férias por meros trinta mil.
— Parece que não — respondeu Rico baixinho, após ter colocado as mãos sobre o microfone. — Talvez você devesse ter contratado um leiloeiro de verdade.
— Não seja ridículo. Você foi maravilhoso. O problema não é você. São os tempos. As pessoas estão apertadas. Fomos muito bem. Minhas esperanças foram altas demais. Vamos lá. Vamos ver o que conseguimos com meu prêmio patético.
— Quem está sendo ridículo agora? Um jantar com você pode ser qualquer coisa menos um prêmio patético, Charmaine.
— Muito lisonjeiro. Continua. Só quero acabar com este tormento. — Um comentário revelador, mas verdadeiro. Ela nunca se sentira tão relutante assim em se vender.
— E agora, senhoras e senhores, o último prêmio da noite — Rico começou mais uma vez, ressuscitando aquele sotaque italiano que parecia ir e vir segundo sua vontade. —
-- Nossa maravilhosa anfitriã, Charmaine, uma das maiores topmodels australianas, está oferecendo um jantar com ela aqui mesmo no restaurante By Candlelight a ser realizado no próximo sábado à noite. É um prêmio fabuloso para encerrar esta noite e tenho certeza de que merecerá uma excelente oferta.
Ele exibiu um sorriso de estímulo a Charmaine e depois murmurou a meia voz:
— Vá lá, doçura. Mostre suas habilidades.
Charmaine rolou os olhos para ele, mas lá foi ela, coleando pela passarela, fazendo o possível para sorrir entre os dentes que rangiam, ciente de que todos os olhos no salão de baile estavam grudados em seu corpo. Não que ela mesma pudesse ver muita coisa. As luzes de palco que a banhavam, lançavam o resto do salão em relativa escuridão. Podia ver formas de silhueta, mas nada de detalhes, nada de olhos.
No entanto, conseguia senti-los despindo-a de uma maneira que nunca sentira antes. Tinha de ser por causa desse maldito vestido. O que mais poderia ser?
— Gostaria de lembrá-los de que recentemente Charmaine foi eleita por uma revista nacional como a mulher mais sensual da Austrália — continuou Rico, entusiasmado. — Vocês podem ver com os próprios olhos que a quantia não é nenhum exagero. Imagino que um jantar particular com uma mulher estonteante assim seja o sonho de qualquer homem. Então, vamos lá, cavalheiros, façam seus lances por este privilégio único!
Charmaine quase estremeceu de constrangimento. Meu Deus, ela agora sentia-se como se estivesse no palco de feira do leilão de um vendedor de escravas brancas, e que era o seu corpo que estava sendo vendido, não apenas algumas horas de sua companhia.
Mas e daí, ela lembrou, se a fundação terminasse com uma boa soma em dinheiro? Ainda assim, dava graças a Deus por ter impedido a participação da imprensa. A última coisa que poderia suportar nesse momento era ser assediada com flashes, para não mencionar a perspectiva de ver fotografias suas com esse vestido espalhadas nos jornais dominicais amanhã de manhã, acompanhadas de alguma história horrorosa.
Consolada por este último pensamento, ela colocou um sorriso mais apimentado no rosto e desfilou sensualmente até o final da passarela, onde ficou imóvel por alguns segundos com as mãos no quadril numa atitude graciosa. Então, paulatinamente, virou-se de maneira sedutora. A platéia ofegava com a visão de suas costas.
Os seus olhos ligaram-se aos de Rico e ele deu um sorriso bem lascivo.
— Não fiquem envergonhados — ele incitou a platéia. — Se eu fosse solteiro, entraria na disputa, podem ter certeza. Mas estou fora do mercado, como pode atestar minha linda esposa logo ali.
Ele balançou a cabeça em direção a uma mesa imediatamente à esquerda de Charmaine. Ela automaticamente deu uma rápida olhada para baixo, e então congelou.
Mais tarde naquela noite, muito tempo após este terrível momento ter passado, ela ficaria grata por não estar em movimento naquele instante, pois certamente teria tropeçado. Talvez até caído. Mesmo assim, sentia como se o chão tivesse se aberto sob seus pés.
Pelo menos agora sabia por que estivera consciente dos olhos masculinos sobre ela. Porque este par de olhos estivera se escondendo entre os outros.
Olhos escuros e bonitos. Olhos duros. Olhos perigosos.
O príncipe Ali de Dubar, sentado bem ali na mesa de Renée, com uma aparência arrojada e jovial, vestindo um smoking preto e olhando fixo para cima com um olhar extremamente arrogante.
O choque galvanizou tanto o cérebro quanto o corpo de Charmaine. Vários momentos em branco se passaram até que ela recobrasse o domínio de si e conseguisse até mesmo evitar tirar conclusões. Que diabos este homem estava fazendo sentado na mesa de Renée? Certamente eles não podiam ser amigos!
Esta improvável possibilidade mal tinha vindo à tona, quando outras coisas que não pareciam importantes ou relevantes na época voltaram à sua mente. O próprio príncipe havia mencionado no ano passado que passava todo fim de semana em Sydney indo às corridas e jogando cartas com amigos. E lembrou-se de Renée outro dia no almoço, falando sobre os grandes investidores com quem jogava pôquer toda sexta à noite neste mesmo hotel em uma das suítes presidenciais. Quem mais poderia pagar uma suíte presidencial a não ser um presidente, uma estrela do rock ou um sheik do petróleo? O pior cenário possível daquele pequeno trio, era o sheik, principalmente um de quem ela tinha zombado, feito pouco e rejeitado e que estava ali esta noite para uma coisa somente: fazê-la engolir as palavras de que nunca jantaria com um homem como ele.
O príncipe Ali de Dubar seria indubitavelmente o arrematante do jantar com ela. Por que outra razão teria ido? Não tinha feito um lance por mais nada até o momento. Ela teria notado se isto tivesse ocorrido, uma vez que um holofote sempre iluminava brevemente o licitante quando um item era arrematado.
Não seria um completo estranho que se sentaria com ela para jantar no próximo sábado à noite. Seria este homem, cujo orgulho ela tinha ferido gravemente no ano passado. Agora era sua vez de humilhá-la, forçando-a a jantar com ele por várias horas e suportar não só sua companhia, mas também a cobiça nada sutil do seu corpo.
O impacto de perceber este fato lançou bílis na garganta de Charmaine. O orgulho exigia que ela não se submetesse a uma situação tão vergonhosa. Mas o orgulho também exigia que mantivesse sua conduta habitual independente do tipo "não tenho medo de nada nem de homem nenhum". Afinal de contas, mesmo se o sheik fosse o arrematante — e todos os seus neurônios gritavam para ela que ele seria —, o que ele poderia causar a ela do outro lado da mesa de um restaurante público? Fazer mais uma proposta de sexo? Tentar seduzi-la com seu charme?
Esta última idéia era risível.
Não. Deixe-o ter este patético momento de triunfo.
Propositadamente, sorriu para ele, desafiando-o atrevidamente com os olhos e a boca.
Vamos lá, babaca. Faça seu lance. Veja se me importo.
Seus olhos escuros se estreitaram na direção do seu sorriso, depois examinaram-na paulatinamente da cabeça aos pés, como se estivesse avaliando se valia a pena oferecer um lance. Por uma fração de segundo, Charmaine ficou preocupada que talvez ele não fizesse um lance. Quiçá tivesse vindo para assim ferir o seu orgulho.
Mas mesmo enquanto estava acossada por mil emoções ambivalentes sobre esta possibilidade, a boca do príncipe se abriu.
— Cinco milhões de dólares — disse ele de maneira firme, e ela ficou ofegante. Não podia ser diferente. O mesmo aconteceu com o resto das pessoas ali.
Até mesmo Rico absorveu o ar subitamente.
— Uau! Esta é uma senhora oferta. Senhoras e senhores, o príncipe Ali de Dubar fez uma oferta de cinco milhões de dólares pelo privilégio de jantar com nossa encantadora Charmaine. Seja como for, acho que não haverá ofertas melhores, mas se houver algum intrépido cavalheiro disposto a abrir a oferta de Sua Alteza, por favor, fale agora ou cale-se para sempre.
Charmaine sobressaltou-se com as palavras de Rico, reticências de uma cerimônia de casamento. Algo bastante irônico, uma vez que isto estava longe de ser um encontro romântico. Sua Alteza queria apenas a oportunidade de fazê-la engolir o que havia dito e, para tal, estava disposto a dispender uma quantia exorbitante de dinheiro.
— Mais nenhuma oferta? Neste caso... vendida a Sua Alteza, o príncipe Ali de Dubar. — Rico fez um barulho tão alto ao bater o martelo na tribuna que o som reverberou pêlos ouvidos de Charmaine.
Todos no salão começaram a aplaudir, mais ainda quando a seta vermelha no enorme medidor em exibição ao lado do vídeo foi elevada pelo atendente à quantia de doze milhões de dólares. Charmaine viu-se forçada a continuar sorrindo, quando, na verdade, gostaria de gritar, de preferência em direção ao homem cujos olhos negros permaneciam grudados nos dela, com seu ar superior evocando nela um desejo ardente de lhe dizer que nenhum homem jamais teria um pedacinho dela, nem mesmo de seu tempo! Mas, é claro, que este desejo deveria permanecer assim, sem ser correspondido. De modo algum ela poderia recusar a oferta de cinco milhões de dólares caída dos céus que representava bem mais que seu orgulho tolo. Além disso, de maneira alguma no mundo ela permitiria que este diabo arrogante visse o quanto estava preocupada e com raiva. Expressar sua raiva significava demonstrar o quanto se importava. Decidiu naquele mesmo instante ser impecavelmente educada com ele no próximo sábado à noite. Não haveria mais explosões de raiva. Nada de comentários grosseiros. Nenhuma tentativa de diminuí-lo.
Uma vez que essa era sua intenção, realmente não poderia mais se dar ao luxo de ficar parada onde estava. A maneira como ele continuava a mirá-la não favorecia uma atitude educada.
"Deus sabe como vou me controlar quando estiver sozinha com ele", preocupou-se Charmaine ao descer — sob mais aplausos — da passarela.
— Ainda não consigo acreditar — disse Rico a ela após ter encerrado o leilão e desligado o microfone. — O velho Ali oferecendo cinco milhões só para jantar com você. O homem deve ter mais dinheiro que juízo. Sem querer ofender, Charmaine. Mas mesmo você deve admitir que foi uma quantia exagerada.
Charmaine franziu as sobrancelhas para os comentários íntimos de Rico até perceber que ele certamente também se relacionava bem com o príncipe, não apenas Renée.
— Vocês realmente parecem ser velhos amigos — foi seu comentário cuidadoso. Por mais que desprezasse isso, ela não podia deixar de estar curiosa sobre o homem que acabara de pagar cinco milhões de dólares para jantar com ela.
— Somos — Rico admitiu. — Jogamos cartas toda sexta à noite já faz quase seis anos. Também fomos sócios em alguns cavalos de corrida ao longo dos anos. Ali é um sujeito legal. Você vai gostar dele.
O lábio superior de Charmaine curvou-se antes que ela pudesse detê-lo. Mas então decidiu não ser uma completa hipócrita.
Só até ali ela estava disposta a levar o fingimento. Em particular não era necessário.
— Eu e o príncipe já nos encontramos antes — confessou, lacônica. — Não gostei dele naquela época e não gosto dele agora. Rico parecia surpreso.
— Já se encontraram antes? Onde?
— No carnaval da Copa de Melbourne no ano passado, era um dos juizes de moda no Dia das Senhoras. Para encurtar a história, seu amigo da realeza deu em cima de mim.
— E?
— O que você quer dizer com isso? É, nada! Eu disse que não gostei dele.
— Isto me surpreende. As mulheres geralmente gostam.
— Talvez seja por isso que eu não gostei dele — disse asperamente. — Veja bem. Não vem ao caso se gosto dele ou não. Ele comprou minha companhia para jantar por algumas horas e honrarei este compromisso. Mas se conversar com seu amigo árabe, então sugiro que o previna de que pagar cinco milhões de dólares não lhe dá mais privilégios — ou direitos — do que teve ao pagar meu almoço da última vez. Diga isso a ele, Rico. E diga-lhe que estarei no By Candlelight pontualmente às sete no próximo sábado à noite, e que ele não deve tentar me contatar antes disso. Ficaria muito chateada se meu número telefônico particular, que não está na lista, de alguma maneira caísse nas mãos de Sua Alteza. Compreendeu?
— Saquei. Gostaria de saber se você compreende.
-- O que quer dizer?
Que Ali não é dado a caprichos. Depois do que você acabou de me contar, suspeito de que ele não tenha vindo aqui esta noite especificamente para oferecer um lance por aquele jantar com você, uma vez que dinheiro não é nenhum impedimento, o que me leva a crer que ele deve estar um pouco encantado com você. Se este for o caso, então duvido de que o fato de você supostamente não ter gostado dele a princípio seja alguma coisa a mais que um pequeno obstáculo.
Charmaine enfureceu-se.
— Isto é algum tipo de aviso?
— Suponho que sim. Veja bem. Se não gosta dele, então tenha cuidado. Ali não é o tipo de homem com quem se brinca.
— Nunca brinquei com ele.
— Ora, Charmaine. Vi como você sorria para ele agora há pouco e não era o sorriso de uma mulher desinteressada.
Um calor subiu no rosto de Charmaine.
— Você não compreende. Eu estava apenas... apenas...
— Provocando-o?
Ela deu de ombros, irritada.
— De certo modo.
— Não faça isso — veio sua repreensão afiada. — Isto não é maneira de se comportar com um homem como Ali. Um comportamento desses pode torná-lo... perigoso.
Seus olhos se arregalaram.
— Perigoso? Como assim?
Rico balançou a cabeça.
— Olhe só. Vou falar com ele. Faça com que compreenda em que pé estão as coisas. Tenho certeza de que respeitará seus desejos se acreditar que não está realmente interessada nele. Tem certeza de que não está interessada?
— Ora, por favor. Poupe-me de ter de lidar com um sheik mimado que alimenta fantasias hollywoodianas sobre sua irresistibilidade com as mulheres.
— Talvez ele tenha motivo para alimentá-las.
Ela não pôde conter uma risada de desdém.
— A única coisa que o príncipe Ali de Dubar tem a seu favor comigo é o tamanho da sua carteira. E só se ele abri-la para a fundação. Diga isso a ele, Rico. Agora realmente tenho de ir tirar este vestido infernal!
Um ditado famoso veio à cabeça de Rico enquanto ele observava Charmaine se retirar, com seus brincos glamourosos balançando sensualmente ao redor dos ombros e seus longos cabelos loiros indo para a frente e para trás nas suas costas seminuas.
— Eu acho que as mulheres reclamam demais.
UM POUCO ANTES das seis da tarde no sábado seguinte, Charmaine desceu de seu sedã branco comum, pegou sua bolsa no banco de trás e prosseguiu em direção ao foyer em forma de arco do Hotel Regency, tudo isso sem ter de tolerar a presença inoportuna dos paparazzi.
A experiência a ensinara várias maneiras de evitá-los. Se possível, chegava cedo para os eventos de publicidade, freqüentemente disfarçada. Infelizmente, seu jantar com o sheik era agora um acontecimento notório, cortesia de uma jornalista desagradável que estivera presente ao leilão e escreveu sobre ele no dia seguinte, sendo a quantia paga pelo príncipe Ali de Dubar para jantar com a nossa Charmaine o foco principal do artigo. Como de costume, a jornalista do tipo "ache um viés sexual" fez tudo parecer inacreditavelmente romântico.
Logo se arrependeu de anunciar no leilão quando e onde o jantar se realizaria. Tinha sido um equívoco. Mas de modo algum ela iria contatar o príncipe para mudar os planos. No entanto, contatou o proprietário do Hotel Regency mais uma vez e ele assegurou-lhe que ninguém da imprensa a incomodaria ou ao seu mais estimado hóspede de Dubar durante o jantar. Ele prometeu segurança reforçada na entrada do hotel e total privacidade no restaurante.
Charmaine expressou sua gratidão, mas mesmo assim reservou um quarto no hotel a fim de que pudesse chegar cedo e se vestir lá, bem como passar a noite. Assim, poderia escapar pela manhã a seu bel-prazer.
Agora ali estava ela, abençoadamente anônima a caminhar até o balcão da recepção com sua peruca marrom e óculos de sol que cobriam completamente os olhos, não tendo de aturar máquinas fotográficas no seu rosto nem perguntas feitas aos berros. Que alívio! Poderia ter perdido a calma se houvesse repórteres e fotógrafos em volta do hotel. Tinha sido uma semana longa e seus nervos estavam em frangalhos hoje.
Olhou rapidamente para o relógio enquanto subia pelo elevador até o segundo andar. Faltava menos de uma hora. Mas era tempo suficiente para se arrumar. Havia lavado e escovado o cabelo no começo daquela tarde e feito as unhas, tudo que restava fazer era trocar a roupa e colocar um pouco de maquiagem e os brincos. Nenhum desses preparativos levaria muito tempo. Havia decidido não se vestir com apuro nesta ocasião.
Se o sheik estava pensando que ela apareceria usando alguma coisa que lembrasse o vestido da noite do último sábado, teria uma surpresa. Não haveria nada à mostra esta noite. Nada com o que aqueles olhos predatórios pudessem se banquetear.
Precisamente às cinco para as sete, ela estava novamente no elevador. Havia trocado sua calça jeans desbotada por uma calça preta folgada de crepe e a parte superior de uma túnica chinesa de seda da cor do bronze que afinava sua silhueta e minimizava suas curvas de violão. O cabelo estava penteado para trás e caía reto como uma cortina até a cintura. O rosto mal continha maquiagem. Apenas uma fina camada de base, um toque de sombra azul, algumas pinceladas de mel e um brilhante batom cor de bronze que combinava com a cor das unhas. Pequenas pedras de diamante piscavam lóbulos, contrastando acentuadamente com os sensuais brincos até os ombros que ela usara no leilão.
A ironia era que, com uma beleza natural como a de Charmaine, freqüentemente menos queria dizer mais. Mas ela não tinha consciência desse fato. Acostumada a usar muito mais maquiagem, especialmente para sessões de fotos e para seu trabalho na passarela, achava que estava com uma aparência bem simples. Se soubesse o quanto estava bonita de tirar o fôlego — e intrigantemente inocente — ao emergir no mezanino e caminhar pelo corredor com chão de mármore até o restaurante By Candlelight.
O maitre, um homem alto e calvo com um fino bigode e olhos cinza inteligentes, sorriu para ela de trás de seu posto semelhante a um pódio.
— Mademoiselle Charmaine — disse ele com um sotaque francês, que pode ter sido genuíno ou não. Na opinião de Charmaine, o número de maitres com sotaque francês nos restaurantes de Sydney parecia excessivo. — É um enorme prazer tê-la em nosso restaurante esta noite. Sua Alteza já chegou. Vou levá-la diretamente até ele.
Charmaine obedientemente seguiu-o enquanto ele passava pelas mesas, a maior parte vazias, em direção ao fundo do restaurante. Considerando-se que o "encontro" era relativamente cedo, Charmaine surpreendeu-se de o príncipe já ter chegado. Pensava que a realeza sempre se atrasava um pouquinho para compromissos sociais.
Mas certamente esta não era uma ocasião social, ela lembrou-se, pesarosa. Era de vingança. Naturalmente, Sua Alteza não queria perder um instante de sua humilhação.
Dar-se conta deste último detalhe salvou-a absolutamente de qualquer ressentimento interior em estar ali e deixou-a com um pequeno sorriso brincando nos lábios. Se o sheik achava que poderia subestimá-la esta noite, então ia ter mais de uma surpresa. Não tinha idéia de com quem estava lidando. Absolutamente nenhuma idéia.
O espaço para onde fora levada era inteiramente reservado, um espaço quadrado num canto discreto. Havia uma arcada aberta que levava a ele, mas mesmo esta arcada era flanqueada por enormes palmeiras em vasos que aumentavam a idéia de privacidade. As paredes do espaço — e até mesmo o teto — eram pintadas de preto. A escuridão era minimamente aliviada por várias lâmpadas de baixa potência embutidas. Não havia móveis, com exceção da mesa, redonda e de tamanho íntimo, coberta com a mesma toalha branca de linho que havia sobre as outras mesas pelas quais passara. A vela cor de vinho que decorava a peça de vidro na mesa era baixa, talvez porque as pessoas que normalmente iam comer ali não queriam que nada atrapalhasse a visão do rosto e dos olhos da outra pessoa.
Esta área indubitavelmente fora planejada pensando nos amantes, um verdadeiro ninho do amor para os que queriam afastar olhos bisbilhoteiros enquanto se banqueteavam com a melhor comida e o melhor vinho e cochichavam palavras doces um para o outro. Os magnatas costumavam jantar ali com suas amantes, e as celebridades com suas mais recentes conquistas.
Charmaine duvidava de que esta mesa teria testemunhado muitos jantares como o que seria servido em sua elegante superfície esta noite. Embora possivelmente os comensais, mais que o jantar, é que seriam diferentes.
Ao caminhar em direção ao espaço parcamente iluminado, Charmaine mal pôde ver o sheik sentado no outro lado da mesa. Sua roupa e sua cor escura faziam-no fundir-se com o fundo preto das paredes. Porém, após ter passado sob a arcada e seus olhos terem se acostumado à luz mais pálida, ele emergiu das sombras, primeiro o rosto, e depois o restante.
Ela reparou, todavia, que ele não usava uma vestimenta árabe típica. Parecia um playboy ocidental, vestido com roupas caras, porém de maneira bem casual em um primoroso traje de passeio preto e uma camisa de seda preta sem colarinho.
Seu coração bateu mais rápido ao ver a sua vistosa elegância? Ou era a onda de adrenalina apenas o resultado do fato de o próximo encontro cara a cara estar prestes a acontecer?
Os soldados à beira de entrar no campo de batalha se sentiriam assim, ela deduziu. Sempre haveria um tipo de excitação lado a lado com o medo.
Medo! Mas que pensamento estranho. Não tinha por que temer este homem.
Ou tinha?
Rico havia mencionado alguma coisa sobre o fato de ele ser perigoso. E ele não era nenhum idiota. De que tipo de perigo estava falando? Está bem. Então sua companhia desta noite era um sheik árabe talvez com modos mais primitivos em tratar as mulheres do que a maioria dos homens do mundo ocidental. E ainda por cima, ele gostava dela, a despeito do que estivesse usando esta noite. Seus olhos eram como carvão quente sobre seu rosto e seu corpo. Devido ao fato de não ter se arrumado para a ocasião, veio o pensamento irritado. De qualquer modo, ele parecia desejá-la ainda mais sem as curvas à mostra.
Mas certamente isto era tudo o que ele podia realisticamente fazer. Desejá-la. Por mais reservado que este espaço fosse, não era possível que ele a assediasse durante o jantar desta noite, especialmente sem o seu consentimento. Bastava um pequeno grito e as pessoas viriam correndo.
Não tinha por que sentir receio desta noite, a não ser o seu próprio comportamento tolo. Basta manter a calma, ela admoestou a si mesma. E a tranqüilidade. Então, dentro de três horas, pode ir embora e nunca mais ver este homem infernal novamente.
O fato de ele ter se levantado da cadeira quando ela se aproximou da mesa a surpreendeu. Não esperava um gesto tão cavalheiresco dele.
— Boa noite, Charmaine — disse ele com um leve meneio de cabeça com os cabelos pretos perfeitamente engomados. Eram bem ondulados no topo. E espessos, limpos e brilhantes. O tipo de cabelo que seria uma satisfação tocar.
Charmaine levou um susto com este pensamento muito estranho. Não encontrava mais satisfação em tocar parte alguma de qualquer homem que fosse. E ali estava ela, pensando em correr os dedos pêlos cabelos deste homem.
— Você está... encantadora — acrescentou ele, com aqueles olhos escuros cheios de desejo sem se desviarem de seu rosto.
Charmaine ficou grata pelo maitre ter escolhido aquele momento para puxar a cadeira para ela, assim poderia ocupar-se em se sentar em vez de responder ao sheik. Ele também se sentou, mas seus olhos ficaram grudados nela com um desejo implacável.
O maitre fez uma grande encenação ao pegar seu guardanapo de linho e desfazer as suas dobras feitas de maneira tão criativa. Depois colocou-o sobre seu colo e deu a volta na mesa para fazer o mesmo com o sheik.
— Seu garçom pessoal desta noite estará aqui dentro em pouco, Alteza — disse ele curvando-se respeitosamente em direção ao príncipe antes de apressar-se, deixando-os momentaneamente a sós.
Por tudo que havia no mundo, Charmaine não conseguia pensar em nada para dizer. Ainda estava desconcertada com o desejo de tocar os cabelos do sheik. Passaram-se alguns segundos de silêncio incômodo, e ela desejava ardentemente que o garçom aparecesse.
Felizmente ele apareceu. Um jovem magro e bronzeado com mãos graciosas e sem sotaque francês. Ele entregou-lhes o cardápio e discorreu sobre as sugestões do chef para a noite. Depois perguntou se gostariam de pedir uma bebida antes do jantar, ou talvez uma garrafa de vinho da carta de vinhos, que ele colocou à direita do sheik.
— Traga-me água mineral — pediu o príncipe após o mais rápido dos olhares. — Com gás. Não bebo nenhum tipo de bebida alcoólica — acrescentou ele, para o bem dela, parecia. — Mas não espero que faça o mesmo. Por favor... peça qualquer coisa que queira. — E então passou-lhe a carta de vinhos.
— Não bebo álcool também — respondeu ela, passando-a ao garçom. — Então água gasosa para mim também. — E então ela sorriu docemente com seu justo castigo, satisfeita por ter jogado por terra quaisquer planos que ele tivesse de embebedá-la e conduzir as coisas do seu modo perverso na suíte presidencial depois.
O garçom apressou-se para atender o pedido, deixando-os sozinhos mais uma vez.
— Você nunca bebe álcool? — perguntou o príncipe, parecendo mais curioso que desapontado.
— Não.
— Por que não?
— Muitas razões — respondeu ela um pouco aérea. Ele deu um sorriso retorcido que suavizou as linhas tensas da boca.
— Que você não pretende me contar.
— Muito perspicaz de sua parte. — Ela manteve uma leveza na voz e no colo suas mãos agarravam o guardanapo como alguém que está se afogando faz com o colete salva vidas. Este homem seguramente despertava o pior nela. Sem dúvida, era pela maneira como ele olhava para ela. Tão... cobiçosa. E ao mesmo tempo tão confiante, como se já estivesse imaginado-a na sua cama. Como ela adoraria ter uma desculpa para esbofetear aquela cara arrogante, para ver aquela bochecha lustrosa ficar vermelha com a marca de sua mão.
— Você está se ressentindo de estar comigo aqui esta noite.
Foi um esforço muito grande não demonstrar surpresa diante de sua capacidade de ler tão bem os seus pensamentos. Embora talvez sua conclusão acertada não fosse prova de nenhum grande insight de sua parte. Não precisaria raciocinar muito para perceber que ela estaria longe de estar feliz na situação em que se encontrava.
— Absolutamente — disse ela, forçando um sorriso claramente falso através do maxilar cerrado. — Minha fundação está cinco milhões mais rica por causa desta noite. Como é que poderia ressentir-me disto?
— Na última vez em que nos encontramos, você jurou que nunca jantaria comigo — ele lembrou-lhe, com os olhos atentos.
Ela deu de ombros de maneira extremamente indiferente.
— Aquilo foi naquela época e isto é agora. Descobri há muito tempo que a vida lhe traz obstáculos inesperados; acho que é muito melhor ir com a onda do que nadar contra a correnteza.
O seu sorriso divertido e seco a incomodou porque ela não conseguiu decifrar o seu significado.
— Você tem toda a razão quanto a isso, minha querida Charmaine. Importa-se que eu a chame de Charmaine? Parece que ninguém sabia o seu segundo nome, então não sei como chamá-la.
— Charmaine está bem.
Ela ficou tentada a acrescentar que ele podia omitir a parte do "minha querida", mas sabia que se começasse a se incomodar com tudo, não pararia nunca.
— Pode me chamar de Ali — ele se pronunciou.
Isto era demais.
— Acho que não, Alteza — disse ela de maneira decidida. — Esta é uma forma de tratamento demasiado íntima. Todos me chamam de Charmaine, mas tenho certeza de que nem todos o chamam de Ali. Provavelmente apenas seus parentes e seus amigos mais íntimos. Eu não sou nenhum dos dois.
Os seus olhos se inflamaram por uns instantes, dando-lhe uma idéia remota do que Rico queria dizer sobre ele ser perigoso. O homem tinha um mau gênio digno de um rei quando estava com raiva. Mas, por outro lado, ela também tinha.
— Por que tamanha determinação em ser grosseira comigo? — ele exigiu em saber.
— Na verdade, esta noite, estou determinada a ser qualquer coisa menos grosseira — ela rebateu. — Às vezes, nós australianos somos considerados erroneamente grosseiros quando, na verdade, estamos tentando apenas ser honestos. Dar nomes aos bois, por assim dizer. Sua Alteza pagou para jantar comigo esta noite. Não pagou por mais nada. Eu disse a Rico para deixar isto bem claro esta semana. Ele esqueceu de passar a mensagem?
— Não. Enrico me contou exatamente o que você disse. E eu anotei com cuidado. Talvez tenha sido ridículo de minha parte, mas esperava convencê-la a deixar de lado a sua aversão irracional. Ansiava pela oportunidade de mostrar-lhe que não sou... De que foi que você me chamou no ano passado? Um homem arrogante e mimado que não tinha recebido não com a freqüência necessária?
— Parece que foi isto — respondeu ela enquanto pensava que foi exatamente o que tinha atirado na sua cara naquele dia. Estava claro que todas as palavras ditas tinham afetado o ego do príncipe profundamente, e ele exigia desforra. Toda aquela baboseira de esperar mostrar-lhe que era na verdade um sujeito amável era somente isso. Baboseira! A única razão para ela estar ali esta noite era porque ele realmente era mimado e arrogante, e não aceitava um não como resposta.
O garçom chegou com a água mineral, perguntando ao mesmo tempo se eles já queriam fazer o pedido. O príncipe peremptoriamente o dispensou com um aceno de mão, dizendo que não tinham tido tempo de examinar o cardápio e que não retornasse por uns dez minutos.
A perspectiva de mais dez minutos desta brincadeira, punha em risco a decisão de Charmaine de manter a educação. Então pegou o cardápio e utilizou-o como uma barreira entre eles.
Mas colocar uma barreira contra aquele olhar ardente não bloqueava a sua lembrança, ou como ele a fazia se sentir. Como se ela fosse um espécime no microscópio.
Tentou concentrar-se na comida, mas foi em vão. Sua mente tinha outras idéias, dando origem a uma imagem de fantasia onde ela era uma borboleta linda e rara e o príncipe um colecionador obcecado.
Na sua cabeça, ela o via sentado à mesa de um jardim exuberante em algum lugar observando-a esvoaçar de flor em flor. Observando e esperando de maneira tão paciente. Ela não via a rede que ele havia escondido ao lado da cadeira e quando ela insensatamente voou bem perto, ele atacou e de repente ela foi capturada, sem poder fugir ao seu destino — que era ser dele, viva ou morta.
Charmaine retornou ao mundo real repentinamente, com a pulsação acelerada devido à preocupação. Mas era um desvario estar preocupada por causa de um devaneio, uma invenção fantasiosa de sua própria imaginação. E, no entanto, alarmada era exatamente como ela estava se sentindo.
Apertando ainda mais o cardápio de couro um tanto grande, ela o abaixou vagarosamente e viu aqueles olhos ainda observando-a como ela imaginara que o colecionador observara a borboleta.
O pânico que surgiu em seu peito a enfureceu.
— Não tenho idéia do que pedir — disse ela bruscamente e fechou o cardápio instantaneamente. — Se importaria em escolher algo para mim, Alteza? Não sou muito chata para comer, então não tem como errar. Como quase tudo. A não ser ameixa seca. Odeio ameixa seca.
— Não bebe e come quase tudo. Uma ocidental bastante diferente — murmurou ele, mas pelo menos seus olhos baixaram em direção ao cardápio e se distanciaram dela.
O alívio que este ato proporcionou à tensão de Charmaine foi surpreendente. Ela suspirou aliviada e recostou-se na cadeira.
— Você parece cansada — observou ele, mas felizmente sem levantar os olhos.
— Tive uma semana intensa.
— Com o seu trabalho de caridade ou desfilando? — perguntou ele, mais uma vez sem levantar os olhos.
— Estou fazendo uma longa sessão de fotos para a empresa Femme Fatale. As pessoas acham que ser modelo é um trabalho glamouroso, mas, na verdade, cansa muito vestir-se e despir-se o tempo todo e fazer cem poses diferentes. — Era tão mais fácil ficar falando enquanto aqueles olhos ansiosos se ocupavam de outra coisa. — Mesmo assim, acho que não deveria reclamar. Pelo menos com a Femme Fatale que vai ficar com todas as peças utilizadas na sessão.
Agora aqueles olhos incríveis se levantaram novamente, e mais uma vez ela sentiu-se presa firmemente como qualquer pobre borboleta na parede de um colecionador.
l Tinha de admitir que nunca se deparara com olhos tão perversamente hipnóticos. Ela imaginava que uma mulher normal teria dificuldades em não ceder aos encantos dele.
Sendo assim, então ela não era normal. Ou talvez o sheik não tinha tido êxito em seduzi-la. Porque é claro que isto era parte do seu plano desta noite. Sedução. Seu orgulho desejara dela mais do que um mísero jantar. Queria o orgulho dela. Queria vê-la nua e desejosa na cama. Esta imagem produziu uma diversão quase histérica que reduziu esta tensão infernal que tomava conta do seu interior, e devolvia-lhe o humor seco inicial a respeito desta situação. Coitado do príncipe Ali. Desta vez estava se esforçando para bancar o idiota.
— Não sabia que a Femme Fatale vendia lingerie — acrescentou ele, pensativo. — Pensei que fosse uma empresa de perfumes. Foi assim que eu vi você pela primeira vez, representando o papel de Salomé em um dos anúncios de televisão.
Então foi isso que despertou o seu interesse sexual! Charmaine não estava surpresa. O mínimo que se pode dizer da roupa que usara como o homônimo bíblico do mais recente perfume da Femme Fatale é que era provocante. Como era a dança dos sete véus — embora por causa da censura da televisão ela tenha tido que parar no quinto.
A Femme Fatale se tornou conhecida por causa do grande sucesso de sua linha de perfumes, é verdade — ela o informou. — Mas eles começaram com lingerie. Lingerie muito sensual — ela acrescentou maliciosamente. — Sou o rosto da sua linha de verão, que em breve será anunciada no site para pedidos por reembolso postal.
Suas narinas se incendiaram. Os olhos também.
— Você vai estar na internet, seminua para todo mundo ver?
A reação dele tanto a divertiu quanto a incomodou.
— Estarei até o final da próxima semana. Parece chocado, Alteza. Suponho que ache imoral eu ser fotografada usando roupa íntima e roupa de dormir.
Os músculos do seu maxilar se flexionaram várias vezes, como se estivessem lutando com as emoções.
— Acho... aquém de você.
—Não me diga! Bem, é um direito seu. Este é um país livre. Diferente do seu, imagino. Pelo menos no que se refere às mulheres. Tenho certeza de que os homens em Dubar têm toda a liberdade do mundo para fazer e pensar o que quiserem, ao passo que as mulheres ficam confinadas e controladas.
Seus olhos se estreitaram até se tornarem duas fendas cheias de raiva ardendo sob as sobrancelhas escuras e retas.
— Por favor, não traia a sua ignorância do meu país, e da minha cultura. Às mulheres em Dubar são respeitadas e protegidas, não confinadas e controladas.
Charmaine teria adorado alongar a discussão com ele, mas a volta do garçom para anotar o pedido causou uma pausa quiçá fortuita naquele assunto. O sangue dela estava esquentando, um sinal de perigo se ela desejava manter-se calma. Afinal de contas, a noite estava apenas começando.
Então ela sentou-se lá prudentemente em silêncio enquanto o príncipe fazia o pedido dos três pratos da refeição num tom bastante brusco. Um prato de camarão oriental de entrada. Pato assado e crocante como prato principal. E uma mistura de chocolate que soava como meio decadente de sobremesa.
Charmaine suprimiu um suspiro sobre o número de calorias que consumiria esta noite. O estresse sempre a deixava com fome e esta noite estava se tornando excepcionalmente estressante, apesar de sentir-se razoavelmente satisfeita com seu desempenho até o momento. Todavia, uma decadência pecaminosa como essa representaria uma hora a mais na academia amanhã.
Mas não importa. Ela não tinha nada mais a fazer. Não havia mais namorados em sua vida a exigir suas horas livres
Era fim de semana. Seu trabalho para levantar fundos tinha terminado pelo resto do ano, graças à contribuição de Sua Alteza, e ela não tinha compromissos como modelo amanhã.
Domingo geralmente não era um dia escolhido para desfiles de moda, e raramente para trabalhos fotográficos. Gente demais por perto para estragar a sessão, que, na maioria das vezes, ultimamente era realizada ao ar livre. Também não fora requisitada para viajar para lugar nenhum. Graças a Deus. Na verdade, não tinha compromisso por duas semanas. Após este período estava com a agenda lotada até o fim do ano. Reiniciava com uma sessão na Itália para o calendário da Pirelli para o próximo ano. Depois era voltar para a semana de moda na Austrália.
Realmente deveria aproveitar as duas próximas semanas para descansar. Poderia visitar os pais, ela pensou. Não os via há anos. Mas seu peito se apertou ao pensar em ir para lá, então decidiu adiar qualquer visita até o Natal, quando não se poderia evitar.
— Presumo — começou a falar o príncipe quando o garçom saiu — que não há nada que eu possa dizer para mudar sua opinião a respeito do tipo de homem que sou. Já me prejulgou por eu ser árabe. Condenou-me sem conhecer-me.
Charmaine tomou alguns goles da água mineral para se acalmar antes de responder.
— O fato de ser árabe pouco tem a ver com o que eu sinta ou não por Vossa Alteza. Embora tenha de confessar que não fico impressionada com o modo como as mulheres são tratadas como cidadãos de segunda classe em seu mundo. Pode negar o fato, mas a história fala por si. E assim, cada vez mais, algumas das mulheres de lá, as corajosas que arriscam tudo para ter voz própria. O que me exaspera em homens como o senhor, no entanto, não é tanto o seu país ou sua cultura mas sim sua riqueza obscena e suas presunções arrogantes. Os bilionários acreditam que o seu dinheiro pode comprar qualquer coisa que desejem. Aviões. Palácios. Cavalos de corrida. A mim.
Ele não disse nada por uns instantes. Mas depois recostou-se na cadeira, retirando o rosto do círculo de luz projetado pela vela, com os olhos expressivos agora escondidos na sombra.
— Pensa que eu apenas a desejo! — foi sua pergunta, proferida em tom baixo.
Ela enfureceu-se com sua tentativa ridícula de negar que seu interesse nela era puramente sexual.
— Eu sei que apenas me deseja, Alteza. O senhor deixou-me brutalmente ciente de sua luxúria desde o momento em que nos conhecemos. Observou-me aquele dia inteiro nas corridas, e depois presunçosamente esperou que eu dissesse sim para o que quer que seu ego real desejasse. Seus planos foram por água abaixo quando recusei seu convite para jantar, tanto assim que quando teve a chance pagou cinco milhões de dólares para forçar-me a fazer o que disse que nunca faria de bom grado.
-- Então é verdade que acho que estava sendo excessivamente otimista esta noite esperando que eu pusesse de lado minha aversão muito racional a audiência por causa do meu país e da minha cultura.
Vossa Alteza, realmente não há nada que possa dizer ou fazer para eu mudar de opinião sobre que tipo de homem seja. Já sei que tipo é. Já conheci homens do seu tipo.
— Duvido muito, querida senhora — disse ele num tom que lhe deu calafrios na espinha. Quando se inclinou para a frente novamente, de volta à luz, seu rosto estava duro, bonito e ameaçadoramente determinado. — Neste caso — ele falou com a voz áspera —, você me deixa sem outra alternativa.
Charmaine engoliu em seco.
— O que quer dizer? Sem alternativa...?
Uma sensação incômoda percorreu-lhe a pele, deixando-a arrepiada. O que quer que ele fosse dizer, Charmaine sabia que não ia gostar.
— Paguei cinco milhões de dólares por algumas horas da sua companhia aqui esta noite. Doarei quinhentos milhões de dólares à sua preciosa fundação... se passar uma semana comigo.
CHARMAINE ficou boquiaberta diante dele.
— Não pode estar falando sério!
— Seriíssimo.
A mão de Charmaine tremia enquanto ela levava a água mineral à boca, sorvendo vários goles reanimadores antes de colocar o copo de volta na mesa.
— Deve estar louco — ela murmurou.
— Possivelmente. Mas isto é irrelevante. A oferta é genuína. Qual é a sua resposta?
Sua boca se abriu para dizer-lhe não. Nem em um milhão de anos. Mas de alguma maneira as palavras não encontraram a língua. A soma de quinhentos milhões de dólares ficava rolando na sua cabeça. Quinhentos... milhões de dólares. Meio bilhão. Uma tremenda fortuna!
Charmaine não poderia esperar levantar esta quantia trabalhando a vida inteira como modelo ou angariando fundos para a fundação. No entanto, seria todo seu para fazer um imenso bem... se ela passasse uma pequena semana na cama do sheik.
Não adiantava fingir que ele queria apenas sua companhia. Desta vez o nome do jogo era sexo.
— Uma semana, você disse? — ela perguntou, e sabia que tinha dado o primeiro passo em direção ao escorregadio caminho para o inferno.
Quando os olhos dele resplandeceram de triunfo, ela quis pegar de volta aquelas palavras reveladoras. Mas não fez isso. E o acordo já estava a meio caminho de ser selado.
— Na verdade, nem mesmo uma semana — prosseguiu tão friamente. — Volto de helicóptero para a minha propriedade todo domingo por volta das seis da tarde, e chego de volta a Sydney toda sexta à tarde por volta da uma hora. Então, na verdade, são apenas cinco dias. Isto representa cem milhões de dólares por dia pelo seu tempo.
— Meu tempo? — ela escarneceu. — Esta é uma tremenda atenuação da realidade. Quer muito mais de mim que meu tempo, Alteza. Quer que durma com Vossa Alteza.
Ele não negou nada. Seus olhos permaneceram fixos nos dela enquanto ela lutava com todos os tipos de demônios interiores.
— Gostaria de receber o dinheiro adiantado — ela exigiu, mesmo enquanto sentia vertigem só de pensar em realmente ir para a cama com este homem, de estar à sua disposição sexual por cinco dias e cinco noites. No entanto, superficialmente, ela não revelava nada, com seu olhar sempre fixo no dele e sua tranqüilidade emparelhando com a dele. Era seu orgulho que estava fazendo isso? apenas prática? Ela já se aperfeiçoara na arte de não permitir que nenhum homem pensasse que levara a melhor sobre ela.
Naturalmente — concordou ele. — Se disser que sim, o montante total será transferido para a conta de sua fundação na segunda-feira. Por isso espero que se apresente, devidamente equipada, na minha suíte de hotel no próximo domingo, às cinco horas no máximo.
Próximo domingo. Em oito dias. Oito dias para pensar sobre o que tinha de fazer com ele.
— O que quer dizer com "equipada"?
— Precisará levar roupas para um amplo leque de atividades.
"É mesmo?", ela pensou secamente. Pensou que tudo que precisaria levar era seu traje de nascimento.
— Por exemplo?
— Há uma piscina aquecida na minha propriedade. E uma quadra de tênis. E um ginásio inteiramente equipado, para não mencionar um estábulo sem igual com cavalos para equitação. Você cavalga?
— Consigo ficar montada. Se o cavalo que estiver montando não for muito bravo, quer dizer — acrescentou ela.
— Escolherei uma montaria dócil para você — prometeu ele enquanto o brilho alvoroçado nos olhos dele sugeriam que as palavras dela inspiraram pensamentos de outro tipo de cavalgada, e uma montaria menos dócil. A saber, ele mesmo.
— Faça isso — disse ela asperamente, com seu estômago dando voltas ao ver-se montada no seu corpo magro e moreno. — Por que não amanhã em vez do próximo domingo? — acrescentou ela abruptamente, decidindo que se ia fazer isso, quanto mais rápido, melhor. Qualquer demora seria pura tortura.
Ele parecia assustado com a sua proposta.
— O dinheiro não estaria na conta da sua fundação até então.
— Poderia acreditar na sua palavra de que seria transferido na segunda bem cedo.
— Minha palavra de árabe? — retrucou ele zombeteira-mente.
— Não. Sua palavra de cavalheiro. É um cavalheiro, espero. Se não fosse, eu nem mesmo levaria em consideração este... acordo. — Mesmo enquanto dizia estas palavras, percebia o quanto eram ridículas. Um cavalheiro faria isso — usar sua riqueza indecente para suborná-la para ir para a cama com ele?
Ele deu um sorriso retorcido.
— Por favor, não tente me tomar por idiota, Charmaine. Nós dois sabemos que não sou um cavalheiro. Mas tenho meu código de honra próprio e sou um homem de palavra. Rico e Renée são nossos amigos em comum. Tenho certeza de que os dois dariam testemunho de meu caráter.
Ela se absteve de dizer ao sheik que Rico na verdade a alertara sobre ele. Pena que ela escolhera ignorar o aviso.
Mas como ela poderia saber que ele chegaria a limites tão extremos para forçá-la a dizer sim para ele?
Mais uma vez, ela estremeceu por dentro diante do que estava por vir. Como poderia suportar ir para a cama com ele? Só pensar em despir-se na sua frente já fazia seu coração dar pancadas e seu estômago revirar. No entanto, posara quase nua muitas vezes. Desfilou sem sentir vergonha sobre a passarela por quase uma década. Ficava só de biquíni no camarim na frente de estranhos sem pestanejar.
Então a parte de se despir não deveria incomodá-la muito. Não tinha vergonha de seu corpo. Nem timidez. Supunha que o que viria após se despir é que a estava perturbando.
Pense apenas no dinheiro, ela disse a si mesma implacavelmente, e no enorme bem que se pode fazer com ele. Financiar pesquisas. Comprar equipamentos médicos caros. Construir novas alas no hospital e acomodações para que as famílias que quiserem ficar ao lado de seus filhos doentes e não têm dinheiro para pagar a estada nos hotéis da cidade se sintam como se estivessem em casa.
Este pensamento apressou sua decisão de fazer isto, não importando o quanto custaria ao seu orgulho. Disse a si mesma, de maneira estritamente pragmática, que ir para a cama com o sheik não deveria ser uma grande catástrofe. Se ele fosse repugnantemente gordo, feio ou tosco, poderia ser. Mas ele não era nenhuma dessas coisas. Como ela já havia notado diversas vezes, ele era incrivelmente atraente, com o corpo em forma e maneiras graciosas e elegantes. Nada que lhe causasse repulsa.
Para falar a verdade, se ela conseguisse esquecer quem ele era, a questão não seria muito diferente de todos os encontros sexuais ao longo dos anos, aqueles que ela suportara de boa vontade em sua busca fútil pela normalidade. Não tinha apreciado estas ocasiões também. Nem um pouquinho. É claro que gostava daqueles homens. Aí é que estava a diferença, ela supunha. Era difícil fazer de conta que este homem se parecia com eles. Não se parecia em absoluto. Entretanto, como diz o ditado, ela apenas teria de deitar-se e pensar, não na sua vida, mas nas vidas de todas as pobres crianças com câncer. Como seria maravilhoso tornar a vida delas um pouco mais fácil, aliviar sua dor e dar-lhes um pouco de esperança. Com aqueles pensamentos positivos na cabeça, ela podia fazer qualquer coisa... a não ser entregar seu orgulho mais do que o necessário.
— Prefiro não perguntar de maneira alguma a Rico e Renée sobre você — ela respondeu, concisa. — Não quero que eles saibam sobre isso. Ou ninguém mais, quanto a isso. Quero que seja um segredo.
— É mesmo? Imagino que sua imagem pública muito sensual seria realçada se as pessoas descobrissem que nosso jantar levou a um romance.
— Ora, por favor. Lembra do que eu disse sobre dar nome aos bois? Isto não será um romance. Será...
— Como você sabe? — ele interrompeu, com um brilho desafiador nos seus olhos negros. — Como sabe que não acabaremos descobrindo que estamos em perfeita sintonia? Pode divertir-se tanto na minha cama que não queira que a semana que vem termine jamais.
— Você é realmente louco — ela murmurou quando garçom chegou com as entradas.
Após o garçom ter saído, Charmaine olhou para o prato de camarões sem nenhum interesse. Seu apetite desapareceu completamente. Mas não o do príncipe. Ele pegou o garfo, espetou um camarão e colocou-o na boca, mastigando lentamente com uma expressão de deleite sensual no rosto.
— Coma — disse ele após ter devorado mais dois da mesma maneira vagarosa e quase erótica.
— Não estou com fome — ela disse asperamente. O olhar dele demonstrava impaciência.
— Não gosto de mulheres que ficam de mau humor.
— E eu não gosto de homens que me forçam a dormir com eles.
— Não estou forçando você, Charmaine. Nunca forço as mulheres a dormirem comigo. Ainda pode dizer não.
— Sabe que não posso. Sabe disso.
— Sei — ele concordou, com os olhos resplandecentes. — O que me faz desejá-la ainda mais.
Ela balançou a cabeça na sua direção, totalmente perplexa.
— Há muitas mulheres no mundo tão bonitas como eu, Alteza, que poderiam ser suas por bem menos dinheiro.
— Estou ciente disso. Mas é você que eu quero.
— Por quê? Por que a mim?
Ele deu de ombros, mas seus olhos estavam muito longe do casual. Eles se fixavam nos dela do outro lado da mesa à luz de velas. Poços profundos e escuros da mais surpreendente intensidade.
— Para ser honesto, não sei por que você. É um mistério para mim tanto quanto para você. Não sou normalmente atraído por mulheres que se pavoneiam para todo mundo ver. Mas assim que vi você, simplesmente tinha de tê-la. Final da história.
— Só porque tinha o dinheiro para me comprar — ela zombou. — Não estaria sentada aqui esta noite se você fosse pobre!
A sua boca retraiu-se em um sorriso secamente divertido.
— Pago por ser diferente. Se fosse pobre, você teria olhado para mim mais gentilmente desde o começo. Sob as atuais circunstâncias, por alguma razão, meu dinheiro e minha posição a deixaram cega para a atração mútua que esquenta entre nós.
— O quê? Minha nossa, mas você realmente se tem em alta conta, não é mesmo? Não há atração mútua esquentando entre nós, Alteza — ela devolveu-lhe em tons cáusticos. — Já lhe disse antes e direi novamente: não gosto- de Vossa Alteza nem estou atraída.
— Concordo que parece não gostar de mim, mas está mentindo quando diz que não se sente atraída por mim. A mulher que conheci nas corridas do ano passado não conseguiu tirar os olhos de mim o dia todo. E a mulher que me desafiou sobre aquele palco no último sábado à noite estava carregada de tanta energia sexual que eu quase me queimei. Você me quer, Charmaine, mesmo que não queira admitir para si própria. Mas o tempo superará este problema — terminou ele e voltou a comer a entrada, deixando que Charmaine olhasse para ele absolutamente pasma.
O homem estava iludido! Não consegui tirar os olhos dele no ano passado? Tinha sido o contrário! E no sábado passado ela não estava carregada de energia sexual mas sim de fúria! Como agora.
Charmaine sentava-se atordoada e sem fala enquanto ele devorava o último camarão, depois elegantemente limpou a boca com o guardanapo antes de pousar seu olhar arrogante sobre ela mais uma vez.
— Sou um amante excelente — foi seu próximo comentário surpreendente. — Uma mulher com sua experiência apreciará minha especialidade.
Charmaine viu que discutir com este homem era inútil.
— Vejo que modéstia não é uma de suas virtudes — ela disparou.
— Estou apenas dando nome aos bois. Conheço meus talentos bem como minhas deficiências. Tenho dom com cavalos, cartas e mulheres. Mas com as mulheres acima de tudo.
— É mesmo? Interessante. Diga-me uma coisa então, Alteza: já teve uma mulher que não correspondeu ao seu talento sexual?
— Não.
Charmaine rolou os olhos. O homem não só era iludido, mas também egomaníaco.
— Já lhe ocorreu que algumas de suas amigas podem ter fingido por causa do que poderia comprar-lhes? Ele deu um sorriso travesso.
— Mas claro. E tenho certeza de que algumas delas o fazem no começo. Mas, no final, são todas sinceras em seu prazer e satisfação na minha cama, mesmo aquelas que eram tímidas e inibidas no começo. As mulheres não são diferentes de cavalos. Algumas aceitam a sela como se tivessem nascido para isso. Outras resistem. Mas a habilidade e a paciência invariavelmente vencem.
— Então está dizendo que tem uma taxa de sucesso de cem por cento, tanto com as mulheres quanto com os cavalos?
— Houve apenas uma égua indócil que havia sido maltratada quando era uma potranca. Ela foi o mais próximo que cheguei do fracasso. Preferia morrer a permitir que a montasse.
— Entendo — disse ela secamente. — Parecia familiar. — Então o que aconteceu?
— Fui aconselhado a sacrificá-la. Mas não consigo fazer isso. A menos que o animal em questão esteja irremediavelmente ferido. Além disso, mesmo se ela nunca corresse, pretendia mantê-la para procriação.
— Então o que fez?
— Coloquei-a num pátio sozinha e tornei-me seu cavalariço pessoal. Eu a alimentava e limpava sua estrebaria todo dia. E conversava com ela o tempo todo. No começo, ela não permitia que me aproximasse dela. Se recolhia num canto, bufava e dava coices. Mas eu podia ver que ela estava apenas blefando. Não queria realmente me machucar. Os cavalos são criaturas gregárias e gostam de companhia. Fiz questão de ser sua única companhia. Depois de um tempo, ela começou a ficar perto da cerca, observando e esperando por mim. Deixou-me tocá-la um pouco. Primeiro a cabeça. Depois o pescoço. E finalmente, os flancos. Ela verdadeiramente estremecia de prazer com meus afagos rítmicos.
Um tremor percorreu o corpo de Charmaine ao pensar nele afagando os seus flancos. Mas não um tremor de prazer, decerto. Mais provavelmente repulsa.
— Logo, eu literalmente a tinha comendo nas minhas mãos — ele prosseguiu. — Depois disso, o processo para domá-la foi rápido e fácil. No final, ela adorava ser montada, especialmente por mim.
Charmaine sabia que isto nunca aconteceria com ela. Mesmo se ele tivesse quinhentos dias em vez de cinco, ela sabia que os únicos sentimentos que experimentaria ao ser montada por ele seriam tédio e ressentimento. De maneira perversa, ia ser interessante ver o que ele faria quando ela reagisse à sua suposta especialidade. Se ela conseguisse ir além do fator orgulho, então ir para a cama com o sheik se tornaria um ato de vingança ainda maior que o seu. Como ele se sentiria, o amante extraordinário, quando não conseguisse excitá-la, que dirá satisfazê-la?
— Mas quanto ela custou? — perguntou ela. — Esta égua com quem você quase fracassou?
— Alguns milhões.
— É muito dinheiro. Posso imaginar que você faria qualquer coisa para não ver esta quantia desperdiçada. Mas não é nem de perto o meio bilhão de dólares que pagou para fazer sexo comigo. — Divertia-lhe pensar que ele realmente havia desperdiçado o dinheiro desta vez.
Ele lançou-lhe um olhar penetrante do outro lado da mesa. Tinha a expressão afrontada.
Não desejo fazer sexo com você, Charmaine. Quero fazer amor com você.
— O que quer que seja. — Se ele queria desempenhar o papel de amante romântico, então quem era ela para impedir? Na verdade, estava tendo a imensa satisfação de comprazer-se com esta sua fantasia. Pelo menos ele não iria querer que ela fizesse vulgaridades na cama. Não que ela o fizesse, seja como for. Mesmo cinco milhões de dólares não eram suficientes para que participasse na cama de qualquer coisa que não fosse sexo normal. Ia deixar isto bem claro em algum ponto antes do final da noite.
— Deve concordar que sua oferta foi exagerada — ela prosseguiu. — Provavelmente poderia ter-me tido por menos.
— Não queria que pensasse que eu a considerava barata. Quis oferecer uma quantia que julgava à altura.
— Ora, não me tome por idiota, Alteza — ela reagiu, de maneira alguma iludida com suas palavras lisonjeiras. Se perguntava quantas mulheres tinham se derretido com esta baboseira de Não quero fazer sexo com você, quero fazer amor com você.
— Você não se preocupa com o que eu penso ou como me sinto — ela prosseguiu. — A razão para a sua oferta foi que sabia que era uma quantia que eu não podia recusar. O ponto principal é este, não é? Não queria que dissesse não a você novamente.
Ele deu um sorriso friamente enigmático.
— Você está absolutamente correta, Charmaine. Este foi o ponto principal. Não podia arriscar que isto acontecesse. Não uma segunda vez.
— O que nos traz de volta ao meu problema principal com Vossa Alteza. Vossa Alteza é um homem mimado e arrogante que nunca recebeu um não com a devida freqüência.
Ele lançou-lhe um olhar duro novamente.
— Pense o que quiser. Só esteja na minha suíte de hotel na hora amanhã à tarde.
Agora era sua vez de bater pé para marcar sua posição.
— Antes de dar minha palavra final neste acordo — disse ela, lacônica —, quero que fique entendido que não participarei de qualquer atividade que considere obscena ou pervertida.
Ele ficou pensando sobre o que ela disse por alguns segundos, tempo durante o qual ela nunca se sentira mais desconfortável.
— Como não sei o que considera obsceno ou desconfortável, devo concordar que está inteiramente livre para dizer não a qualquer coisa que não a deixe confortável, ou que saiba que não apreciará.
Ela riu. Não conseguiu se controlar.
— Neste caso, Alteza, deve se preparar para uma semana muito longa, muito chata e muito frustrante.
Seus olhos revelaram surpresa e assombro.
— Está dizendo que não aprecia fazer amor?
Por uma fração de segundo, Charmaine ficou preocupada de ter arruinado suas chances de assegurar aquela linda quantia para sua fundação. Mas então lembrou-se do ponto principal a respeito do sheik, e sabia que ele não conseguiria resistir à idéia de possuí-la, mesmo que dissesse que era tão gélida quanto uma banquisa antártica.
— Infelizmente é verdade, Alteza. Não aprecio sexo. Não por falta de tentativa, devo acrescentar. Tive muitos amantes ao longo dos anos. Todos em vão. Claro que um homem com sua habilidade excepcional — ela continuou, um pouco perversa — poderia ter mais sucesso. Esperarei ansiosamente pelo momento da verdade. — Do mesmo modo que ela esperava o momento do dentista dar-lhe uma injeção.
Ele olhou fixamente para ela avaliando-a.
— Está zombando de mim — disse ele.
— Pense o que quiser, Alteza.
Mais uma vez, os olhos dele esquadrinharam o seu rosto.
— É o ato de amor em si que você não aprecia, ou tudo o que leva a ele também? Se oporia a que beijasse seus seios ou outras partes do seu corpo?
Charmaine aspirou bruscamente quando aquelas imagens repentinamente inundaram sua mente. Ela olhou fixamente sua boca e esperou a repugnância passar. Em vez disso, um calor insidioso percorreu-lhe o corpo ao pensar em sua boca dura e de aparência cruel passeando pelo seu corpo nu, sugando seus mamilos, beijando e explorando cada centímetro de sua intimidade. Seus músculos do estômago se retesaram e uma tensão como nunca experimentara tomou conta de seu interior. Seu rosto se incendiou e seu coração começou a bater alucinadamente.
— Pela sua reação e seu silêncio vejo que não faz objeção às preliminares — disse ele. — Então prometerei uma coisa. Não terei uma relação de fato até estar seguro de que apreciará. É justo?
Mais do que justo, ela pensou aturdida, e fez que sim com a cabeça. Era impossível falar tendo a língua agarrada ao céu da boca, e os lábios e a garganta tão secos quanto o deserto.
— Bom — disse ele. — Agora coma.
Pela primeira vez, Ali observou-a fazer o que pediu, ciente de que algo a havia tirado dos trilhos. Teria ela finalmente admitido que sabia desde o primeiro momento em que a conheceu nas corridas que ele não foi o único afetado? Ou ela ficou inesperadamente excitada ao pensar nele fazendo as coisas que descrevera?
Seu rubor sugeria alguma forma de excitação. Combinado com o assombro em seus olhos, ele só poderia concluir que sua reação sexual a ele a havia realmente surpreendido.
Mas por que uma mulher tão segura de si e tão bonita assim não apreciaria fazer sexo?
Algo deve ter acontecido a ela no passado. Algo que estava bloqueando seu prazer sexual. Alguma experiência pessoal desagradável ou até mesmo traumática.
Como ele dissera, as mulheres e os cavalos tinham muito em comum. Eram criaturas sensíveis, facilmente estragadas, facilmente amedrontadas, principalmente quando jovens. O que havia ocorrido quando Charmaine era jovem para deixá-la assim?
Ali resolveu descobrir. A primeira coisa que faria amanhã de manhã seria contatar a agência de detetives de Sydney que sempre usava e pedir que fizessem uma investigação mais detalhada da vida da mulher sentada à sua frente. Já tinham feito uma rápida verificação de segurança sobre ela esta semana, que não apontou nada com o que se preocupar no que se refere à sua própria segurança pessoal.
Agora Ali diria a eles que fossem mais a fundo, que voltassem ao passado e descobrissem tudo que acontecera com ela desde o nascimento, mas para se concentrarem na sua adolescência. Tinha de haver alguma coisa para fazer uma mulher com sua natureza e aparência sensuais tornar-se frígida. Ele se recusava a acreditar que ela havia nascido assim.
Não que fosse realmente frígida. Como já havia dito a ela, ele sentira sua reação sexual a ele todo o tempo. Estava em seus olhos e em sua expressão corporal, às vezes sutil, às vezes evidente.
Sua visível hostilidade em relação a ele não era racional e totalmente injustificada por qualquer coisa que ele houvesse feito a ela. Tinha de descobrir a razão. Pediria à agência de investigação de Sydney que lhe enviasse por e-mail um relatório atualizado todo dia, e exigiria tudo que fosse possível até o fim da semana.
Enquanto isso, teria de ser paciente, como tinha sido com a égua indócil. Por mais que fosse difícil manter as mãos longe do lindo corpo de Charmaine, ele assim o faria no começo... mas apenas por um ou dois dias. Sabia que não duraria mais que isso.
Ali suspirou com a dura e fria realidade do quanto ter esta mulher lhe custaria. Ela valia a pena?
Quando ela levantou seus olhos incríveis do prato de entrada e os fixou sobre ele mais uma vez, seu corpo saltou de maneira selvagem e ele soube que valia cada centavo para que ele encontrasse a paz, para seu corpo e sua mente. Já estava farto dessa obsessão, ou paixão cega, ou o que quer que fosse de que ele estava sofrendo. Estava indo longe demais.
Nada durante este ano — nenhuma mulher ou atividade — havia sido capaz de afastar esta criatura de seus pensamentos. Seu desejo por ela estava além do desejo. Se o destino não tivesse posto aquele leilão no seu caminho, Ali não sabia o que teria feito. Raptá-la, talvez.
Mas o destino jogou-a bem nas suas mãos e agora ela era dele. Por cinco dias; cinco dias para seduzi-la à sua vontade, para certificar-se de que, quando o acordo expirasse, ela ainda o desejaria, mesmo sem o seu dinheiro.
Cinco dias seriam mais que suficientes. Ele geralmente fazia com que as mulheres se derretessem por ele após uma noite.
— Não deve se preocupar — disse-lhe quando ela continuou a olhá-lo com medo nos olhos. — Jamais machucaria você.
Seus olhos cintilaram e ela se endireitou na cadeira, mandando-lhe um olhar que ele teve de admirar. Que coragem ela tinha. Que espírito. Que fogo.
Impossível que fosse verdadeiramente frígida!
— Vossa Alteza é que sairia perdendo se o fizesse — disse ela atirando orgulhosamente a cabeça para trás e sacudindo aqueles cabelos esplêndidos. — Porque se me machucar, eu o mato.
— Não precisará — devolveu ele, pesaroso. — Se for tolo o bastante de machucá-la, eu mesmo me matarei.
SEU HELICÓPTERO era grande e preto. Era do exército, contou-lhe o príncipe ao conduzi-la pelo helioporto no topo do prédio em direção à aeronave de aparência sinistra, que se tornava mais agourenta ainda talvez por causa das nuvens negras espessas que se juntavam acima.
O serviço meteorológico havia previsto um dia quente e abafado em Sydney, seguido de tempestade no final da tarde. Pensar em voar em meio a chuva e raios não ajudava muito a desatar os terríveis nós que já estavam se formando no estômago de Charmaine.
— Não se preocupe com o tempo — disse ele quando a viu desaprovar o tempo. — Verifiquei as condições do tempo no computador da minha suíte antes de você chegar. O mapa do radar indica que está claro ao norte de Sydney. As nuvens de tempestade estão rumando em direção ao mar. Se houvesse algum perigo, não permitiria que o piloto decolasse.
Charmaine não tinha tanta certeza disso. Tinha um pressentimento de que Sua Alteza arriscaria qualquer coisa para levá-la à privacidade de sua propriedade esta noite. Não fizera nenhum esforço para esconder o desejo ardente em seus olhos quando ela se apresentou na suíte presidencial há menos de quinze minutos.
No entanto, ela se vestira para a ocasião de maneira ainda mais simples que na noite anterior. Escolheu uma calça cargo corsário castanho-clara com uma blusa de mangas curtas, que não colocou por dentro da calça nem amarrou na cintura para exibir sua barriga tonificada, como normalmente a teria usado. Calçava sandálias baixas castanho-claras. Um mínimo de maquiagem adornava seu rosto. Não havia jóias nas orelhas, nas mãos, no pulso ou no pescoço. O único perfume que exalava de seu corpo era a essência de maçã do xampu e do gel para banho.
Mas parecia que nada deteria o desejo ardente deste homem por ela. Estava lá, em seus olhos negros incandescentes quando a levou até ali às pressas com uma velocidade notável, mandando sua bagagem na frente com um empregado. Era óbvio que ele queria colocar as coisas a caminho.
Ela também, de certo modo. As últimas vinte e quatro horas tinham sido um inferno. Não comeu nem dormiu desde que saiu do restaurante por volta das dez e meia. Todavia, após o jantar da última noite, talvez fosse melhor assim. Como acabou aquele jantar?
Depois de fazer a ameaça melodramática de matá-lo se ele a machucasse, e ele responder de maneira bastante irônica, o resto da noite se passou de maneira um tanto surreal. Toda a discussão sobre a semana seguinte cessou e o príncipe conversou com ela sem parar de maneira bastante fria durante o prato principal e a sobremesa, e o café depois. Todos foram assuntos bastante amenos, a maioria a ver com a Austrália. A economia. O tempo. As futuras eleições. Felizmente ele também parou de olhar para ela como se estivesse morrendo de sede no deserto e ela fosse um oásis, o que permitiu que ela relaxasse o bastante para dar algumas contribuições importantes à conversa.
Mas assim que deixou sua companhia e retornou ao quarto do hotel, a realidade do acordo voltou de repente e todo o inferno soltou-se em sua cabeça. Em que estivera pensando? Nenhuma quantia de dinheiro valia a pena o que ela tinha de fazer.
Seu estômago agitou-se vigorosamente. A pele formigou. A cabeça girou. Ela percorreu o quarto do hotel por um tempão antes de mergulhar numa longa ducha fria, buscando uma maneira de relaxar seu corpo tenso.
Mas o que descobriu sobre si naquele banho foi mais surpreendente que o acordo no qual entrara. A lembrança dos mamilos duros como pedra, mais a umidade reveladora entre suas pernas, ainda tinham o poder de chocá-la.
Charmaine cambaleou ao se conscientizar de que seus mamilos ainda estavam como atiçadores de brasas dentro do sutiã.
Seu rosto se incendiou ao perceber que o sheik estava certo. Ela realmente o desejava. Pelo menos, seu corpo parecia desejar. Ela ainda antipatizava profundamente com ele. Como não poderia? Mas estava atraída por ele, como uma mariposa às chamas.
Não havia uma razão inteligente ou plausível por trás da atração. Era algo instintivo e primário. Algo a ver com a sobrevivência da espécie humana, ela imaginava. Há milênios, as mulheres das cavernas escolhiam automaticamente se acasalar com os homens que produzissem a melhor e mais forte prole, bem como tivessem o poder de protegê-las.
Charmaine podia entender tal escolha no passado primitivo e indômito, mas não tinha lugar no mundo civilizado de hoje. As qualidades que ela admirava em um homem não eram o tamanho nem a força, nem mesmo riqueza e poder, mas a gentileza, a ternura, a honestidade e a decência. Que pena que seu corpo não concordava com ela, ela pensou agitadamente enquanto este homem moreno e poderoso a conduzia em direção à escada que levava ao seu helicóptero preto enorme. Não é de admirar que não tenha conseguido dormir na noite passada.
Mas junto com seu aborrecimento a respeito desta situação estava uma parcela mínima de alívio em descobrir que talvez — apenas talvez — afinal de contas fosse sexualmente normal. Tinha apenas ido para a cama com os tipos errados. Enquanto seu cérebro era atraído pêlos sujeitos legais, seu corpo traidor desejava justamente o oposto.
"Mas, por outro lado, não foi sempre assim", ela pensou, amargurada.
O aperto possessivo do sheik em seu cotovelo repentinamente a aborreceu e, virando-se para trás, ela lançou-lhe um olhar selvagem.
— Posso me virar sozinha — ela falou asperamente.
Seu meneio respeitoso não combinava com a fogueira que ela encontrou em seus olhos. Estava claro que ela estava testando sua paciência. Também estava claro que estava ansioso para ficar sozinho com ela na sua indubitável residência palaciana em Hunter Valley a fim de que pudesse começar a seduzi-la.
Charmaine tentou não pensar sobre este momento, porque estava repleto de emoções variadas. Ainda mais agora que tudo havia mudado. Na noite passada, quando concordara com esta ligação, imaginou-se deitada sob ele feito uma estátua, suportando suas atenções sexuais com sua costumeira falta de reação, ao mesmo tempo sentindo-se triunfante de que ele não teria a mínima chance de seduzi-la nem satisfazê-la.
A idéia recente de este presunçoso descobrir que ela realmente se sentia atraída por ele a horrorizava, bem como a perspectiva de que ela não protestasse quando ele passasse das preliminares para o ato em si. Odiava pensar que pudesse de fato gostar de tudo que fizesse com ela.
Se tivesse contado ao terapeuta que consultara em um certo momento que repugnava a idéia de finalmente encontrar prazer no sexo, ele teria dito que era, de fato, maluca. Mas não era encontrar prazer no sexo em si que perturbava Charmaine, mas encontrar prazer no sexo com este homem em particular, este... predador.
Era uma situação extremamente frustrante, mas com a qual ela teria de lidar esta noite. Ou talvez até antes, ela percebeu com um ataque de pânico ao chegar ao topo da escada e entrar no interior ultraluxuoso do helicóptero do sheik.
— Meu Deus! — ela não pôde deixar de exclamar enquanto seus olhos olhavam rapidamente em volta. Nada de assentos verticais comprimidos ali dentro. O local parecia uma sala de estar elegante com poltronas grandes e um sofá que podia facilmente tornar-se uma cama. A combinação de cores se adequava à realeza com muitos cremes e dourados. As paredes e o teto eram forrados com um apainelado de madeira de qualidade, e o carpete creme era espesso e felpudo.
— Eu pedi para equipá-lo especialmente segundo minhas necessidades — disse o príncipe, virando-se para trás. — Viajo muito, então gosto de estar confortável. Há também uma cozinha equipada e um banheiro a bordo. E um bar embutido para os meus convidados. Você irá notar quando estivermos a caminho que esta área é à prova de som. O barulho de um helicóptero deste tamanho é ensurdecedor.
— Imagino que também tenha aeromoças lindas de morrer — disse ela secamente, esperando que uma ou duas aparecessem de trás das duas portas fechadas no fundo da aeronave.
— Não em vôos tão curtos — ele respondeu suavemente. — Nem quando estou com uma amiga.
Ela virou-se para olhar para ele, mesmo quando fecharam a grande porta do lado de fora.
— Quer dizer que nós... estamos sozinhos aqui atrás? — Sozinha e ninguém para ouvi-la gritar.
— Estamos — disse ele simplesmente, com os olhos esquadrinhando os dela. — Tem alguma objeção?
— Tenho. Não. Não, suponho que não. — Mas ela estremeceu.
— Lembre-se do que prometi. Não farei nada que não queira que faça.
— Bem, não quero que me toque — disse ela com um tom histérico na voz. — Jamais!
— Sabe muito bem que isto infringe os termos do nosso contrato — disse ele friamente.
— Sei.
— Poderia exigir que cumprisse.
— Poderia tentar.
Ele sorriu. Sorriu de verdade.
— Poderia. Mas este não é o meu jeito. Prefiro fazer amor, não guerra. Entretanto, se quiser que sua fundação tenha os quinhentos milhões de dólares depositados na conta amanhã de manhã, então sugeriria que reconsiderasse sua atitude até a hora da nossa chegada à minha casa.
Charmaine sobressaltou-se ao lembrar-se do motivo de ter concordado em fazer isto. Ali estava ela, mais uma vez, sendo levada por suas próprias emoções egoístas e seu tolo orgulho. O que importava se este homem achava que era um presente divino para as mulheres? E o que importava se virasse mais uma na sua taxa de sucesso de cem por cento?
A satisfação do sheik e sua própria mortificação seriam ainda maiores, ela raciocinou, se fizesse alarde ao resistir, e depois se derretesse quando ele finalmente a tomasse nos braços. Melhor que fosse por vontade própria. Tomar a iniciativa — e um pouco do triunfo — dele.
Tudo segundo uma lógica muito criteriosa, só que ela simplesmente não conseguia fazer isso. Quando ele caminhou em sua direção, ela automaticamente encolheu-se para trás alguns passos. Sua reação o fez parar abruptamente. Os olhos dele revelavam uma preocupação surpreendente.
— Não vou tocá-la — disse ele com aspereza. — Não da maneira que pensa — acrescentou e então retirou a bolsa de suas mãos, que a agarravam em desespero, e a colocou sobre uma mesa próxima. — Sente-se em uma dessas poltronas e descanse, Charmaine. Você parece cansada.
— É porque não tenho dormido — ela falou asperamente, e mais uma vez os olhos dele esquadrinharam os dela.
— Neste caso, deite-se no sofá e tire uma soneca.
— Como posso dormir quando tenho esta noite pairando sobre a minha cabeça? — ela dirigiu-se a ele. — Para não mencionar esta semana inteira. — Não só não aprecio sexo como nunca fui para a cama com um homem de que não gostasse.
— Neste caso, é melhor eu fazer com que passe a gostar de mim bem rápido — disse ele secamente, e moveu-se para o lado onde havia uma parede embutida com armários, abriu uma das grandes portas superiores e puxou dois travesseiros e um cobertor. Ela piscou, surpresa, quando ele os levou para o sofá e os arrumou de modo a formar um sofá-cama para ela.
Ele se movia de maneira incrivelmente graciosa, ela reconheceu com relutância enquanto seus olhos seguiam cada movimento que fazia. E com um corpo estupendo.
Como estava vestido naquela tarde de jeans preto e camisa pólo cor de vinho, não havia como esconder sua boa forma, nem sua silhueta. Charmaine nunca gostou de homens excessivamente grandes, corpulentos ou musculosos. Preferia os elegantes, com ombros largos, quadris estreitos, pernas compridas e abdômen definido. O príncipe Ali tinha tudo isso. E muito mais, ela percebeu.
Ela corou e desviou o olhar, mas a imagem dele permaneceu em sua mente, mexendo com ela profundamente. Lembrou-se do que o sheik dissera sobre o fato de saber que ela o desejava porque havia olhado para ele o dia todo no ano passado nas corridas, o que talvez ela tenha feito. E agora ele a pegou olhando para ele de novo. Não. Desejando-o seria uma descrição melhor.
Os atos falam mais do que as palavras e suas ações continuavam contradizendo suas declarações de que nunca teve desejo sexual por ele.
— Venha — ele falou. — Sua cama está pronta.
Suas pernas começaram a mover-se na direção dele antes que ela pudesse impedir, atraída pelo poder de seus olhos e o súbito desejo premente que percorreu seu corpo como um maremoto. Ela se aproximou cada vez mais até que ficou próxima de onde ele estava ao lado do sofá. O que aconteceria, ela pensou aturdida, se ela simplesmente esticasse os braços em sua direção, se esquecesse de tudo e apenas se rendesse ao momento?
Ela quase o fez. Quase levantou as mãos para tocar seu rosto e seus cabelos. Mas depois seu orgulho se intrometeu novamente e, em vez disso, suas mãos se fecharam ao lado do corpo. Quando ele as viu, franziu as sobrancelhas, girou o corpo e afastou-se dela. Ela o observou escolher a poltrona mais distante e refestelar-se nela, agarrando o encosto furiosamente enquanto se recostava. Só então ele olhou para ela. Tinha uma expressão soturna.
— Deite-se — ele disse friamente. Sentindo-se estranhamente despedaçada e grata ao mesmo tempo, ela quase desabou no sofá.
— Obr... Obrigada — ela gaguejou enquanto se deitava e puxava o cobertor para cobrir os ombros repentinamente tiritantes.
— Não me agradeça ainda — disse-lhe ele. — Venha esta noite. Não será dispensada tão facilmente. Você irá permitir que a toque, senhora. E fará de bom grado. Só então podemos deixar esta tolice para trás. Agora vá dormir. Assim estará revigorada quando chegarmos.
Ali ficou feliz quando ela fechou os olhos e fez o que pediu. Ou parecia ter feito. Ele próprio tentou relaxar, mas como podia quando estava praticamente rangendo os dentes de frustração e irritação.
A mulher era impossível, enviando-lhe mensagens confusas o tempo todo. Ela o desejava. Ele sabia que sim. Mas nem de longe o quanto ele a desejava. Sua declaração de que queria que nunca a tocasse — jamais — era um disparate evidente. Quando veio até ele agora há pouco, ia tocá-lo. Viu isso em seus olhos. Mas então algo aconteceu e ela mudou de opinião.
Orgulho de mulher ocidental, sem dúvida. Ela não sabia que as mulheres foram feitas para tocar e serem tocadas? As mulheres como ela muito mais ainda que as outras. Tão macia. Tão delicada. Tão desejosa.
Sem dúvida seria desejosa na cama. Podia fazer de conta que era fria em relação a tudo que gostava, mas Ali viu o fogo em seus olhos quando ela olhou para ele. Além disso, como poderia um corpo como o dela não reagir positivamente? Alá a tinha feito para os prazeres da carne. Assim que começasse a beijá-la, todo aquele gelo superficial se derreteria.
Esta noite, decidiu ele, repentinamente abandonando sua decisão anterior de esperar um dia ou dois antes de fazer amor com ela. Continuar protelando o inevitável só a tornaria mais difícil. Além do mais, a dor em seus genitais estava martirizante. Francamente, nunca sofrera algo parecido, nem mesmo todos aqueles anos quando...
As costas e os ombros de Ali se enrijeceram com este pensamento surpreendente. Suas mãos apertaram o encosto ainda mais e a expressão franzida de seu cenho intensificou-se. Ele realmente nunca se sentira assim todos aqueles anos com Nadia? Decerto que sua necessidade teria sido pior, visto que era mais jovem e estava tão apaixonado.
Mas, para ser honesto, Ali não conseguia se lembrar de sua frustração física naquela época ter sido tão intensa assim.
Outra percepção surpreendente ocorreu-lhe enquanto estava sentado ali, pensando. Não havia pensado em Nadia uma única vez desde que pôs os olhos em Charmaine na televisão há mais de um ano. Não até este momento.
Isto queria dizer que não amava mais a cunhada? Ou o tempo tinha simplesmente turvado sua lembrança dela até um ponto em que esquecera como Nadia outrora o fizera sentir-se? Não há dúvidas de que se a visse de novo, tudo voltaria repentinamente. A paixão. O amor que a tudo consome. A disposição de sacrificar tudo, apenas para estar com ela.
Mas ele nunca a veria de novo. Esta era a verdade. Sua família — e a dela — nunca permitiriam isso. Nadia era agora esposa do príncipe Khaled e mãe do filho e herdeiro de Khaled, o pequeno Faisal. Um dia Nadia seria rainha de Dubar. Ali não tinha lugar em sua vida. Sua vida era aqui agora, na Austrália, com seus cavalos e seus...
Ele olhou rapidamente para a figura aconchegada no sofá, com os olhos fechados, e o cobertor puxado em volta dos ombros.
Em sua mente, ele ia dizer "passatempos". Mas Charmaine mal podia ser classificada como um passatempo. Era uma obsessão, uma tortura e um tormento. Assombrava seus sonhos e perturbava seus dias. Enquanto seu olhar demorava-se sobre seu lindo rosto, o membro de Ali saltou mais uma vez e ele prometeu secretamente fazê-la sua. Usaria todas as habilidades sexuais que adquirira ao longo dos anos para seduzir esta criatura teimosa a render-se a ele totalmente; ser escravizada por ele; talvez até mesmo apaixonar-se por ele.
Uma luz piscou no cérebro de Ali, cintilando e cegando em sua brilhante verdade. Isto é o que ele mais queria, não era? Que ela se apaixonasse por ele, se tornasse obcecada por ele como ele estava por ela.
Mas por quê? Qual o objetivo? Vingança? Talvez fosse seu lado obscuro ansiando pela oportunidade de fazer com ela o que ela fizera com ele. Se ela se apaixonasse por ele, poderia tê-la em sua cama por quanto tempo quisesse. E então, quando estivesse farto dela, poderia descartá-la de maneira tão cruel e desleixada como fora rejeitado no ano passado. Ela é que não conseguiria dormir à noite, desejando-o. Ela é que se tornaria uma idiota, levada a agir sem honra nem orgulho. Podia vê-la agora, implorando por ele, rastejando-se e prometendo fazer qualquer coisa que quisesse, se ele a quisesse de volta em sua vida.
Ele realmente gostava deste cenário.
Uma olhada em seu relógio de ouro mostrou que estavam a uma hora de distância de seu destino. Outra olhada em Charmaine mostrou o ritmo leve porém constante do verdadeiro sono. Ela descansava. Bom. Precisaria estar descansada. Tinha uma longa noite pela frente.
UMA MÃO SACUDIU gentilmente o ombro de Charmaine e a fez pular no sofá. O cobertor caiu de seus ombros, e depois no chão. O príncipe, que estava debruçado sobre ela, curvou-se para pegá-lo.
— Vamos aterrissar em breve — disse-lhe ao se endireitar e dar um passo para trás, com o cobertor nas mãos. — Achei que gostaria de se lavar antes.
— O quê? Ah, sim. Claro que sim. — Ela tirou os cabelos do rosto e então paulatinamente desceu os pés pela lateral do sofá e ficou de pé, pasma de ter caído no sono. Talvez o barulho dos motores pelo assoalho tenha embalado seu sono. Ou talvez puro cansaço. O que quer que tenha sido, ela se sentia melhor que antes. Um pouco mais calma. Menos apavorada.
— O banheiro é a porta da direita.
— Obrigada — disse ela e caminhou para pegar a bolsa na mesa onde o príncipe a colocara quando eles embarcaram.
A sensação de seus olhos negros chamuscando as suas costas enquanto ela se dirigia ao banheiro logo trouxe Charmaine de volta à sua agitação anterior. Nem mesmo fechar a porta para obstruir seu olhar adiantou desta vez.
— Maldito homem — ela disse à sua imagem no espelho com molduras de ouro.
Quando Charmaine emergiu do banheiro luxuosamente equipado dez minutos depois, o helicóptero já tinha aterrissado e ela se sentia um pouco mais controlada.
Posso fazer isso, ela disse a si mesma de maneira firme enquanto rumava em direção à porta de saída, que estava aberta agora. A vergonha era toda dele, não minha, e lançou um olhar sarcástico ao passar por ele. Ele, pelo menos, teve a inteligência de não tentar ajudá-la a descer a escada, atitude pela qual Charmaine ficou grata. Suspeitava de que poderia reagir mal se ele tentasse encontrar desculpas para tentar tocá-la neste momento. Deverá ter a decência de esperar, pensou ela maldosamente, até que estivessem sozinhos em seu quarto. Charmaine estava preocupada com o fato de ele estar descendo a escada à frente dela que não prestou atenção ao seu redor por alguns segundos. Mas quando o fez, o que viu deixou-a sem ar. No entanto, não conseguia ver tanto assim. Estava quase escuro, com uma barreira de nuvens obstruindo a visão da lua e das estrelas. A maior parte da propriedade não estava à vista. Nem também a magnífica residência de estuque branco escarrapachada no topo da colina, uns cem metros acima de onde o helicóptero pousara numa parte plana de terra.
Apesar de esperar que sua residência fosse palaciana, Charmaine olhou para cima, estupefata com o tamanho da mansão.
Venha — disse o príncipe, virando-se para trás. — Vamos passear até a casa.
— Passear? — repetiu ela, virando-se espantada. Até que viu o carrinho do mesmo tipo daqueles encontrados em campos de golfe esperando por eles.
Outro empregado já estava colocando as malas na parte de trás. Parecia australiano, e não árabe, e embora provavelmente com mais de trinta anos, tinha uma expressão estranhamente infantil no rosto castigado pelo tempo. Assim que as malas foram guardadas, ele sentou-se ao volante, tomando cuidado, Charmaine notou, para não olhar para ela com muita intensidade nem por muito tempo.
— Obrigado, Jack — disse o príncipe ao ocupar um dos dois assentos vazios na parte de trás. — Você vem? — ele dirigiu-se a Charmaine, que ainda estava de pé.
Ela alojou-se a seu lado, e o carrinho partiu imediatamente. Charmaine agarrava-se ao corrimão à sua frente para manter o equilíbrio. A última coisa que queria era ser lançada de encontro ao homem a seu lado que já estava, para melhor acomodar-se, perto demais.
O sheik conversou com Jack durante a subida pelo íngreme caminho de cascalho, principalmente sobre a tempestade em Sydney e que sorte eles tinham tido até agora com o tempo naquele ano. Belas chuvas primaveris, e assim por diante.
Jack, no entanto, não respondia muito. Apenas um uh-huh de vez em quando. Embora ligeiramente amuada por não ter sido apresentada, Charmaine ficou grata pela oportunidade de apreciar mais a propriedade. Seus olhos já tinham se acostumado com a luz do crepúsculo e ela conseguia distinguir grupos de prédios no vale abaixo. Um rio também, ladeado por árvores altas.
Em cada lado do rio havia campos enormes cobertos por algum tipo de plantação. Aveia, talvez. Ou alfafa. Distante do rio a terra era menos plana. As colinas suavemente elevadas eram demarcadas em pastagens de vários tamanhos por cercas de madeira pintadas de branco. Pastagens eqüestres, obviamente. Envolvendo o vale havia duas cadeias de montanhas altas, erguendo-se soturna e magnificamente no céu recheado de nuvens.
Apesar do panorama encantador da paisagem, o olhar de Charmaine logo retornou à casa do príncipe, de onde eles estavam rapidamente se aproximando. Na verdade, parecia mais com um convento que com uma casa, com suas varandas enclausuradas e uma infinidade de arcadas. Muito mediterrânea. Se não soubesse, pensaria que estava na Espanha ou na Sicília.
Finalmente eles pararam na frente de vários degraus enormes cobertos com terracota que levavam a uma varanda igualmente recoberta e uma enorme porta da frente, com uma aldrava de bronze igualmente enorme. A porta era de madeira escura, o contraste perfeito para as paredes inteiramente brancas da casa.
Charmaine saiu rapidamente antes que o príncipe pudesse dar a volta e galantemente pegar a sua mão. Sua intenção não passou despercebida dele se o olhar seco que ele lançou significava qualquer indicação. Subiram os degraus juntos, porém a distância, enquanto Jack apressava-se atrás deles com a bagagem.
Uma mulher de meia-idade com cabelo ruivo curto e espetado abriu a porta da frente antes que alguém precisasse fazer o uso da aldrava de bronze. Seus olhos azuis vivos cintilaram dando uma autêntica acolhida a Ali antes de se abrirem levemente diante de Charmaine.
Desta vez o príncipe realmente dignou-se a apresentá-la.
— Cléo, esta é Charmaine. Tenho certeza de que você deve reconhecê-la. Charmaine, esta é Cléo, minha governanta. Cléo já está comigo há alguns anos.
— Como vai? — perguntou Charmaine educadamente.
— Encantada, tenha certeza, querida — disse a governanta de maneira jovial segurando a mão de Charmaine entre as suas. — Entre, entre. — E ela conduziu Charmaine para dentro do grande foyer quadrangular. — Só um segundo, querida. — Após afagar sua mão, largou-a e virou-se para Jack, que havia entrado com as malas. — Jack, sabe onde colocar as malas. Aquela preta e grande nos aposentos do senhor. As outras pertencem à senhora. Vão para o quarto um pouco mais adiante. Abri a porta para que saiba qual é. Pode sair pela porta lateral quando terminar, tudo bem?
Jack assentiu com a cabeça e disparou por uma arcada à esquerda de Charmaine. Cléo virou-se para fazer uma avaliação mais detalhada de Charmaine dos pés à cabeça.
— Minha nossa, você é ainda mais bonita do que em todas aquelas capas de revistas! — disse ela num arroubo. — Terá de mantê-la trancada a sete chaves, Ali, ou nenhum dos rapazes acabará o serviço enquanto ela estiver aqui.
Charmaine ficou extremamente surpresa com o fato de a mulher ter chamado seu senhor, membro da realeza, pelo seu primeiro nome, mas supôs que tinham um relacionamento de longa data, e realmente era estranho chamá-lo de Sua Alteza o tempo todo.
Ali riu, assustando Charmaine. Ele nunca rira em sua presença. Quase o transformava de predador ameaçador em sedutor despreocupado.
— Talvez tenha razão, Cléo. Ouso dizer que Norm de repente encontrará as mais variadas desculpas para tratar das rosas nos canteiros em volta da casa.
— Não tenho dúvida disso. Norm sempre soube apreciar mulheres bonitas.
— É verdade, Cléo. Basta olhar com quem ele se casou. Norm é meu jardineiro e marido de Cléo há trinta anos — ele explicou a Charmaine, que ainda estava pasma com sua total mudança de modos. De repente, não havia nada de realeza ou de arrogância nele. Estava até falando de maneira menos pomposa.
— Ora, veja só — Cléo escarneceu. — Estou virando uma velha chata. Fiz cinqüenta na outra semana, querida — ela disse a Charmaine. — Corri para o cabeleireiro na tentativa de reverter o tempo e vim para casa assim. — E apontou para o cabelo. — Vamos lá, diga a verdade. O que acha?
— Acho que está maravilhoso. Não teria dado mais que quarenta, nem um dia sequer. Cléo ficou radiante.
— Sabia que era uma garota de classe e gostos perfeitos no momento em que bati os olhos em você. Pode ficar com esta, Ali.
- Obrigado, Cléo. Mas acho que Charmaine talvez tenha algo a dizer sobre isso. — E lançou-lhe um sorriso retorcido. Charmaine retribuiu o sorriso, mais por Cléo que por ele. Charmaine gostou dela e não queria fazê-la sofrer por causa da perversidade de seu senhor.
— Suponho que já tenha concluído minhas primeiras instruções — disse ele à governanta.
Charmaine franziu as sobrancelhas. Primeiras instruções? Que primeiras instruções?
— Tudo como pediu, Ali. Trarei a comida em breve.
— Bom. Quando ele se virou e pegou seu braço, Charmaine enrijeceu, mas o olhar no rosto dele sugeria que ela não criasse confusão na frente de Cléo, e ela relutantemente obedeceu, permitindo que ele a conduzisse pelo mesmo corredor coberto de terracota com teto em forma de cúpula por onde Jack havia escapado antes e que parecia prolongar-se ao infinito.
— Que primeiras instruções? — perguntou ela maliciosamente enquanto passavam por várias portas fechadas em cada lado.
— Nada para você se preocupar. Telefonei para Cléo antes de sair de Sydney para dizer-lhe que estava trazendo uma amiga especial para passar a semana e que jantaríamos esta noite nos meus aposentos.
— É claro que não lhe disse quem eu era nesta ligação.
— Claro que não.
— Ouso dizer que ela está acostumada com o fato de você trazer mulheres para casa quando regressa de suas estadas de fim de semana em Sydney.
— Não é uma situação ignorada. Mas você é de longe a mulher mais famosa e a mais bonita a ter embelezado estes corredores.
Charmaine riu com desdém.
— Notei que ela chamou você de Ali. Estou surpresa de permitir que uma criada o trate com tanta intimidade.
— Cléo não é uma criada — ele a corrigiu friamente. — É uma empregada.
— Perdoe-me pelo engano. Pensei que a realeza sempre considerasse seus empregados criados.
— Lamento dizer que este é o caso lá em Dubar. Mas não aqui. Nesta propriedade não sou tratado como um príncipe paparicado. Aqui escolhi conquistar meu respeito. Reconhecidamente ainda sou o senhor, mas para muitas pessoas que trabalham para mim também sou seu amigo.
— Sentimentos admiráveis. Mas não me enganaria se estivesse no seu lugar, Alteza. De acordo com a minha experiência, os ricos e os famosos raramente possuem amigos de verdade entre as pessoas que trabalham para eles.
— É um ponto de vista muito cínico.
— Mas sou uma mulher muito cínica.
— Já tinha notado. Mas cinismo, como qualquer outro estado mental negativo, pode alimentar a si próprio e tornar-se autodestrutivo. Sei disso por experiência própria. Quando cheguei a estas terras, era um jovem muito cínico. Mas logo descobri que se quisesse ser bem-sucedido e relativamente feliz com a minha vida aqui, teria de tentar adotar o modo de vida australiano, que é muito mais relaxado e informal que qualquer coisa a que estava acostumado anteriormente. Reconhecidamente, acredito que ajo da maneira antiga quando estou em público, ou na companhia dos meus amigos ricos da cidade, mas ao voltar para casa logo me torno um homem diferente.
— Relativamente contente? — ela repetiu, pegando a insinuação por trás da palavra. — Parece que você nunca será realmente feliz vivendo aqui na Austrália. Por que ficar então se este for o caso? Se sente tanta falta da senhorita Dubar, por que não volta simplesmente?
— Agora você me surpreende, Charmaine. Ou possivelmente me desaponta, uma vez que não foi curiosa o bastante para descobrir os fatos fundamentais do meu passado. É bem sabido, nos circuitos de corrida pelo menos, que não saí de Dubar voluntariamente. Fui exilado.
— Exilado! — Charmaine parou subitamente, lançando-lhe um olhar sobressaltado. — Mas., mas por quê? Seu sorriso foi enigmático.
— Há muitos rumores. O mais comum é o de que fui pego no leito de uma mulher casada enquanto seu marido não estava.
— E a verdade? — perguntou ela.
— A verdade é que a garota em questão não era casada ainda, apenas noiva. Infelizmente, seu futuro marido era meu irmão mais velho, o príncipe Khaled.
— Nossa! E você realmente dormiu com ela?
— Esta era minha intenção. Mas fui descoberto antes do momento de júbilo, e colocado no primeiro avião para fora do país. Meu irmão não soube da verdade sobre as circunstâncias de minha partida apressada. Disseram-lhe que ficara completamente apaixonado por uma mulher casada, empregada da realeza, e que fora exilado para minha própria segurança.
— Compreendo. — Charmaine assentiu com a cabeça, ciente de que adultério em seu país era um dos pecados mais graves. As pessoas eram executadas por essas transgressões.
— Todavia não era paixão só de um lado, era?
— Não. Nadia me amava tanto quanto eu a amava. Ou eu achava que sim. Mas ela se casou com Khaled dias depois de meu exílio e teve um filho dele. Pelo que soube, é um casamento feliz.
— Ainda está apaixonado por ela? — ela perguntou.
— Você se importa? — ele replicou, com os olhos esquadrinhando os dela.
Charmaine piscou. Ela se importava!
— Estava apenas curiosa — ela insistiu. — Talvez explicasse por que um homem como você nunca tenha se casado. Viver como vive nesta propriedade, certamente que uma mulher conviria aos seus propósitos mais do que uma sucessão infinita de... amigas.
— Ah, então você conhece um pouco da minha reputação.
— Fui alertada a seu respeito.
— Alertada? Que palavra interessante! Alertada. Porém muito adequada nesta ocasião. Deveria ter reparado quem quer que a tenha alertado. Presumo que foi Enrico. Não, não se preocupe em negar, minha querida Charmaine. Ele seria o único a ousar. Mas para responder a sua questão anterior, sim, eu a amava muito. Mais do que vale minha vida. Estava disposto a arriscar qualquer coisa — até a morte — para ficar com ela. Sou um homem muito passional, como você terá oportunidade de descobrir esta noite... em primeira mão — ele concluiu tão delicadamente.
Charmaine olhou fixamente para ele.
Ele retribuiu o olhar, com os olhos negros em chamas. Mas estavam em chamas por causa dela, ou havia outra razão para sua obsessão sexual por ela?
— Eu... de alguma maneira lhe faço lembrar de Nadia? — ela perguntou, com a boca secando enquanto esperava a resposta.
Seu olhar desceu pelo corpo dela e subiu novamente, vendo-a estremecer por dentro.
— Nem um pouco.
Charmaine ouviu o tom duro de sua voz.
— Venha — disse ele abruptamente, e agarrou seu braço mais uma vez. — O passado é passado, Charmaine. Acredite em mim quando digo que não tem mais nenhum efeito sobre mim.
Não era verdade, ele pensou ao conduzi-la um tanto rudemente pelo corredor. Era afetado pelo seu passado tanto quanto ela. É claro que o fato de ele ter pagado uma quantia exorbitante de dinheiro por ela era resultado direto de ter sido, talvez não rejeitado como tal, mas incapaz de ter a mulher que desejava desesperadamente. Nessa ocasião, a beleza exterior de Charmaine havia inspirado nele um desejo selvagem e nada ia impedi-lo de satisfazer este desejo desta vez. Podia não ser amor que o impelia, mas, mesmo assim, era uma força poderosa. Ela podia senti-la, fazendo seu estômago se comprimir e seu coração acelerar.
Já não era sem tempo, ele parou em frente a uma porta de madeira à direita e soltou seu braço. Mais um tempo e seus dedos teriam deixado manchas roxas em seu braço.
Sua expressão facial era assustadoramente determinada. Ele esticou o braço em direção à maçaneta de bronze, girou-a e abriu a porta, acenando, com um gesto impaciente, para que ela entrasse. Sua tensão aumentou quando ela entrou, mas a cena que seus olhos encontraram a desconcertou. Ela esperava um quarto, mas não um como o dele.
— Este será seu quarto durante a sua estada — ele anunciou, lacônico, passando por ela e cruzando o espaço acarpetado de rosa-claro até onde as portas duplas pintadas de branco davam para outra varanda isolada. Quando abriu a porta, uma brisa agradável soprou, desarrumando o fino tecido branco dobrado em volta da cama de quatro pilares.
Charmaine olhou para a cama muito bonita com sua colcha de renda rosa e as fronhas combinando. Era-lhe humanamente impossível imaginar-se junto com o sheik nela. Era uma cama destinada ao romance e à relativa inocência, um quarto para a suavidade e a ternura, não o tipo de sexo que ia exalar entre eles nos próximos cinco dias.
Charmaine já sabia que seus encontros não seriam absolutamente românticos e inocentes, muito menos ternos e suaves.
— Aquela porta leva ao seu armário e ao quarto com suíte — disse ele, apontando uma porta à esquerda da cabeceira da cama. — Tenho certeza de que lá dentro encontrará tudo de que precisa. E esta... — ele caminhou até uma porta no centro da parede de frente para a cama e abriu-a — leva aos meus aposentos pessoais.
Charmaine riu de sua própria burrice. Claro que não era o quarto do sheik. Era um abrigo feminino, não um local com o propósito de pecado e sedução. Sem dúvida que seu quarto teria uma cama ainda maior e outros acessórios para acentuar o tipo de experiências eróticas que um homem com sua sofisticação apreciaria.
— Espero que me encontre lá, devidamente vestida, em meia hora — ele pronunciou-se. E curvando levemente sua linda cabeça morena, ele virou-se e desapareceu no pequeno corredor de ligação e fechou a porta ao passar.
Charmaine ficou olhando. A pouquíssima compaixão que ele evocara com sua triste história de amor perdido e exílio amargo evaporou-se com suas ordens peremptórias.
— Devidamente vestida de fato — ela soltou antes de rodopiar e marchar em direção à porta que ele dissera que levava ao armário e ao banheiro.
Suas duas bolsas já estavam assentadas em prateleiras profundas no armário mais do que adequado. Ela abriu-as com raiva, retirou o que precisava para a noite e seguiu para a próxima porta.
O banheiro era tão bonito quanto o quarto. Todo de azul-branco, com acessórios cor-de-rosa e mobília prateada. Acima do banco com azulejos brancos corria um enorme espelho emoldurado em prata que deslizava para trás e revelava prateleiras contendo uma variedade impressionante de cosméticos.
Uma banheira de hidromassagem enfeitava um canto do cômodo. Uma ducha espaçosa preenchia outro canto, e um toilete e um bidê ocupavam um terceiro. Diferente de alguns banheiros menos bem equipados, este tinha vários suportes ostentando uma grande seleção de toalhas rosa felpudas. Havia também um cesto de roupas sujas com um aviso dizendo que quaisquer roupas depositadas seriam lavadas, passadas e devolvidas no mesmo dia. E falar em mimar os hóspedes!
Bem, ele pode propiciar tais prazeres, Charmaine supôs ao retirar uma touca de banho do pacote e ajustá-la sobre a cabeça. Qualquer um que pudesse pagar quinhentos milhões de dólares para dormir cinco dias com uma mulher da qual gostasse tinha de ser indecentemente rico. Por outro lado, como diz o ditado, você pode comprar sexo mas não pode comprar o amor.
Não que o sheik desejasse amor nestes dias. Estava claro que seu coração estava em Dubar com a cunhada. O coração que batia em seu peito hoje era duro feito pedra. Não precisava ser um gênio para perceber isto.
O que ele queria das mulheres que trazia aqui não tinha nada a ver com amor.
A DURA RESOLUÇÃO de Charmaine durou até o sheik escancarar a porta de seus aposentos.
Ela ficou ofegante?
Esperava que não. Mas seus olhos seguramente se arregalaram.
Até aquele momento ela não pensara no que ele poderia estar usando esta noite. Sua atenção tinha se concentrado na sua própria aparência.
Mas o traje de dormir do príncipe indiscutivelmente fazia páreo com o dela no quesito de provocação. A parte inferior do seu longo pijama de seda preta estava assentada perigosamente baixo no seu quadril, o roupão que fazia conjunto com ele vinha até os joelhos e estava tão escancarado que ela podia ver todo o seu tórax nu e bronzeado até abaixo do seu umbigo.
Obviamente, ele não saíra do banho havia muito tempo, visto que sua cabeça ainda brilhava e estava molhada. Tinha os pés descalços e os cabelos do peito tinham se transformado em vários pequeninos caracóis úmidos.
Ela olhou fixamente para eles, com os dedos mais uma vez coçando para tocá-lo, tocá-lo por inteiro. Meu Deus, como ele era bonito. Mais bonito que qualquer homem tinha o direito de ser. Pêlos negros tão espessos e lustrosos. Uma magnífica pele cor de oliva. Para não falar do seu corpo esguio, rijo e masculino.
Mas o mais atraente de tudo ainda eram seus olhos, aqueles olhos que neste exato momento estavam incandescentes com um calor e uma fome que desafiava sua determinação de permanecer dura e fria em sua presença.
O seu próprio sangue se inflamou, fazendo toda a sua pele eriçar-se. Seu cérebro borbulhava com uma excitação febril com os pensamentos mais corrompidos. A idéia de que logo ela poderia estar tocando-o, e sendo tocada por ele, quase levou-a a um estado de derretimento. Charmaine sentiu seu rosto começar a queimar, fazendo seu orgulho entrar de novo em ação. Como ela podia fazer isto? Derreter-se por este homem como uma virgem cegamente apaixonada. Seria a humilhação final. Não. Ela não podia fazer isso. Não faria isso. Nem por todo o dinheiro do mundo!
Inclinando o queixo de modo desafiador, ela passou rapidamente por ele e deu alguns passos para dentro do quarto, colocando uma certa distância física entre eles antes de anunciar sua decisão.
Por uma fração de segundo distraiu-se com o quarto em si, que era tão diferente do que estava esperando. Muito mais informal e aconchegante. Carpete verde-floresta e as paredes creme. Uma lareira. Estantes embutidas e muitos móveis de aparência confortável. Na grande janela da sacada havia uma mesa de jantar de vidro, muito convidativa, com flores recém-colhidas em volta de uma vela no meio, o cenário perfeito para um jantar romântico à dois. Uma bandeja móvel de aço inoxidável estava posicionada ao lado da mesa, presumivelmente com o seu jantar.
— Deseja sentar-se e jantar logo? — ele perguntou, e ela virou-se para encará-lo mais uma vez.
— O que desejo, Alteza — disse ela resolutamente enquanto seu coração acelerava e seu estômago se agitava —, é colocar um ponto final neste enigma de uma vez por todas.
O rosto dele se entristeceu.
— O que quer dizer?
— Quero dizer que mudei de opinião. Não posso fazer isto. Vou voltar para o meu quarto para me vestir e arrumar minhas malas. Quero voltar para Sydney esta noite.
Seus olhos escuros brilharam de modo ameaçador.
— Desse jeito?
— Sim. Desse jeito.
Ele não disse nada. Mas sua linguagem corporal falou muito.
Não ia deixá-la partir. Rico a tinha alertado. Por que ela não o ouviu?
— Lamento tê-lo incomodado — ela falou com a voz embargada, e dirigiu-se corajosamente em direção à porta. Infelizmente, teve de passar pelo príncipe no caminho.
Por um momento, pensou que estava salva. Mas então a mão direita dele surgiu repentinamente, agarrou seu pulso esquerdo e puxou-a, fazendo-a girar e dar de encontro com ele.
Como de costume, quando ficava encurralada, Charmaine reagia brigando. Sua própria mão direita girou loucamente em direção ao seu rosto. Ela o teria atingido de novo se a sua outra mão não tivesse segurado aquele pulso também.
— Solte-me — ela gritou furiosa quando ele torceu seus dois braços atrás de suas costas. — Ou vou gritar pela casa toda.
— Pode gritar. Esta casa tem espessas paredes de pedra e janelas de vidro laminado, que você poderá notar que estão fechadas, uma vez que o ar-condicionado está ligado. Mesmo se algum som escapar, não há ninguém por perto para ouvir. Cléo e seu marido foram ao cinema na cidade. Então você está tão sozinha aqui comigo quanto estava no helicóptero.
As mãos dele apertaram seus pulsos e arrastaram seus braços para baixo, dando a ela uma relativa idéia de sua força Charmaine percebeu que lutar com ele era inútil. Apesar de sua malhação na academia, ela não era páreo para aquele homem. Tudo que tinha para negociar era seu cérebro, visto que se recusava a envolver seu corpo, aquele corpo que até mesmo neste momento desejava submeter-se ao dele. Que traidora sua carne era! Como adorava a maneira como se moldava a dele, coxa com coxa, quadril com quadril, seios com peito. Ele descalço e ela de salto, até seus rostos ficarem nivelados. Como seria fácil encaixar sua boca a dele, abrir seus lábios e aceitar sua língua. Igualmente fácil seria fazer um convite para uma invasão bem mais íntima.
Charmaine estremeceu de vergonha com a excitação que experimentou ao pensar em fazer exatamente isto.
— Você... você me assegurou uma vez que nunca possuiria uma mulher contra sua vontade — ela falou sem pensar.
— Não possuí. E nunca possuirei.
— Então solte-me.
— Você concordou com as preliminares — ele lembrou-lhe.
— Você chama estes maus-tratos de preliminares?
— Se soltá-la, tentará fugir. Mas sei que não é o que deseja. Quer que a toque e a beije. Quer que faça amor com você.
— Está redondamente enganado. Não quero que faça amor comigo. — Porque não quero descobrir que meu corpo quer!
— Então o que é que você quer? Fazer amor comigo?
— O quê? Não! Não, claro que não. — Só em pensar ela já se sentia fraca. — Eu disse a você — ela protestou num último e desesperado gesto de desafio. — Não gosto de sexo. E não gosto de você!
— Vai gostar — prometeu ele, e até teve o descaramento de sorrir um pouco enquanto sua boca descia.
Ela tentou manter os lábios fechados sob os dele. Tentou resistir. Mas seus esforços a derrotaram ainda mais do que se ela tivesse ficado completamente imóvel. Mover a cabeça de um lado para o outro apenas aumentava o delicioso atrito criado por suas bocas unidas. Quanto a mover a parte inferior do corpo...
Desastre total!
Seus movimentos simplesmente lhe deram a imagem mental perfeita de sua ereção, que era de tal maneira formidável que deixou sua cabeça girando. Ele realmente poderia ser assim tão grande, tão grosso e tão duro?
Ele agarrou mais seus pulsos e apertou mais suas mãos contra o seu traseiro — possivelmente na tentativa de aplacar seus esforços. Ela congelou assustada, mas a esta altura a leve protuberância de seu estômago foi perfeitamente encoberta pelo sexo protuberante dele, e sua boca abriu-se um pouco.
A língua dele imediatamente escorregou para dentro. De modo nem grosseiro nem brutal. De modo paulatino e confiante.
Ele tinha gosto de menta, e de triunfo.
E por que não? Apesar de sua decisão anterior, ela estava se derretendo. E seu orgulho não podia mais ser visto. Em seu lugar estava um poderoso impulso de simplesmente afundar nele e deixar a natureza seguir seu curso.
Seu suspiro de rendição não deixava dúvidas. Talvez porque fosse mais um gemido que um suspiro, um som sensual ecoou em sua boca e lhe dizia que era toda sua. A boca dele ascendeu e seus olhos permaneceram grudados nos dela, vitrificados, e os dele brilhavam. Mas mesmo assim ele não a soltou.
—— Beije-me — ele murmurou. — Beije-me.
Charmaine olhou para sua face ainda avermelhada, depois olhou fundo nos seus olhos. Se estivessem demonstrando raiva ou arrogância, o feitiço erótico que ele estava tendo poderia ter sido quebrado. Mas não estavam. Estavam suavemente manifestando emoção, e quase sonolentos, com as pálpebras pesadas de excitação.
Seu rosto estava quente sob seus lábios. Quente e ligeiramente eriçado. Sua barba estava começando a crescer. Ela gostou da sensação da barba espetando sob os seus lábios já sensibilizados, esfregando a boca sobre a superfície áspera, não uma, mas várias vezes. Quando sua língua lançou-se para a frente e lambeu seu rosto, um tremor violento desceu por sua espinha.
O sobressalto fez seu rosto afastar-se do dele e seus olhos encontraram mais uma vez.
— Gostou disso, não gostou? — disse ele.
— Gostei — ela concordou, embora um pouco confusa. O que havia neste homem que ela até gostaria de lamber sua pele sem barbear? Era o homem em si? Sua habilidade, ou apenas a situação em que se encontrava?
Talvez estivesse secretamente excitada com o fato de ele ter pagado meio bilhão de dólares para fazer sexo com ela. Talvez gostasse do fato de não ter de gostar dele. Talvez o segredo de seu sucesso sexual ali era que podia distanciar-se de qualquer emoção que a deixasse vulnerável.
Qualquer razão que fosse, não havia volta. Seria preciso uma parelha de cavalos selvagens para arrastá-la dali agora. Tinha de saber como seria com ele. Tinha.
— Não se preocupe — ele murmurou, e curvou-se para roçar seus lábios nos dela com uma ternura encantadora. — Antes de esta noite terminar, você gostará de fazer muito mais coisas.
Ele soltou seus braços de maneira abrupta e isto a desorientou por alguns segundos. Ela até sentiu uma pontada de desilusão com sua liberdade física. A idéia de que gostara de ser mantida prisioneira assim a preocupava, bem como sua declaração de que ela gostaria de fazer muito mais coisas. Sua mente ficou confusa com as várias imagens que lhe chegavam. No entanto, junto com o choque, havia uma excitação vertiginosa e um desejo de experimentar simplesmente tudo que havia para ser experimentado com este homem.
Este pensamento a deixava atordoada. Ela não era assim. Durante os últimos anos deixou de ficar desesperada para gostar de sexo e simplesmente perdeu o interesse. Ficou até entediada.
As mãos dele retirando o roupão de detalhes vermelhos dos ombros tirou a mente de Charmaine de seu desnorteamento mental e a trouxe de volta ao presente físico. Ela estremeceu quando as pontas de seus dedos roçaram sua clavícula.
— Usou esta roupa para me provocar — disse ele quando o roupão fino caiu pêlos braços e formou uma espécie de poça a seus pés.
Ela não podia negar.
— Funcionou — ele acrescentou antes de seus dedos passarem para as alças da camisola.
Charmaine ficou tensa. Certamente ele não tinha a intenção de deixá-la nua ali no meio da sala de estar.
O que viria depois? Ela iria jantar com ele nua?
Ela rechaçava esta idéia? Ou ficava excitada com ela?
Faz você parecer uma prostituta — ele falou asperamente, e a camisola juntou-se ao robe no chão, deixando-a à frente dele com nada além daqueles saltos altos de cetim..
Ele deu um passo para trás, absorvendo tudo enquanto seus olhos ardiam sobre sua nudez. Ela ficou lá, imóvel, ofendida por ele ter dito que ela parecia uma prostituta.
Talvez fosse verdade.
Mas talvez fosse o que ela se tornara. À medida que ele olhava, ela ficava mais ardentemente ciente de seu corpo feminino do que jamais estivera. Sua pele parecia irradiar calor sob seu olhar incandescente. Seus seios ficaram mais excitados. Seus mamilos se retesaram ainda mais. Quando o olhar dele se dirigiu um pouco mais para baixo, sua barriga se contraiu. Ele olhava para seu púbis recém-depilado com cera e a desprezava por chegar a este ponto por sua carreira? Ou pensava que fizera isto por ele?
— Você é bonita demais por si só — murmurou ele com raiva. — E insolente demais.
Com isso, tomou-a nos braços e carregou-a em direção ao quarto.
A DECORAÇÃO de seu quarto era tão inesperada quanto a da sala de estar. Não era absolutamente um budoar projetado eroticamente do tipo mil e uma noites, mas sim um abrigo relaxante e com classe.
As paredes eram cobertas com papel de parede estilo camurça da cor de clarete. Sua intensa escuridão era mitigada por luzes sutis e douradas na parede iluminando fotografias de corridas em molduras douradas. O carpete tinha um dourado profundo e a cama era maior que qualquer outra cama que Charmaine jamais vira. Sua enorme cabeceira em jacarandá era ladeada por mesas combinando sobre as quais pousavam abajures de bronze com sombras douradas. A colcha brocada creme e dourada tinha sido puxada para trás, revelando lençóis de cetim creme e fronhas combinando.
— E o jantar, Alteza? — ela ousou aventurar-se enquanto ele a deitava sobre aqueles lençóis de seda creme.
O fato de ele tê-la chamado de insolente ressuscitou um pouco de sua costumeira coragem. Ou assim ela disse a si própria. Mais provavelmente sua tentativa de conversar foi uma tática desesperada de retardar a descoberta que o sheik estava prestes a fazer: que ela realmente o desejava.
— O jantar pode esperar — ele pronunciou enquanto endireitava e tirava o seu próprio roupão. — E você deve parar de me chamar de Vossa Alteza. Meu nome é Ali.
— O que quer que seja. Você pagou pelo privilégio.
Ele fechou a cara por causa de sua impertinência, acrescida do lembrete da razão pela qual estava deitada nua em sua cama para começo de conversa. Após um puxão selvagem no cordão da cintura, sua calça de pijama de seda preta caiu no chão.
Charmaine arquejou. Agora sabia por que sempre tivera tanto sucesso com as mulheres. O príncipe Ali de Dubar certamente tinha uma vantagem desleal sobre os outros com quem Charmaine estivera na cama. E a maior parte dos outros também, ela supôs.
Mas a masculinidade evidente do sheik—e possivelmente seu estilo de vida promíscuo — tocava sinos de aviso em sua cabeça. Não tinha ido tão longe assim para correr riscos idiotas só para descobrir se podia apreciar fazer sexo com um amante extraordinário. Felizmente estava tomando pílula, então gravidez não era parte do problema. Mas gravidez não era a única preocupação neste mundo moderno.
— Uma coisa antes de começar — disse ela, orgulhosa ainda de poder encontrar voz firme diante de tamanha visão. Espero que tenha proteção à mão, porque terei de parar se não estiver preparado para praticar sexo seguro.
— Existem duas caixas cheias lá dentro — disse ele com leve inclinação de cabeça em direção à mesa-de-cabeceira da direita. — E algumas soltas sob estes travesseiros prontas para serem usadas.
Charmaine se esforçou ao máximo para não parecer impressionada. Agora que tinha reencontrado um pouco de ânimo, recusava-se a voltar à pieguice sem sentido. Mas duas caixas cheias? E mais sob os travesseiros? Com este homem? Tomara que ele não tivesse a intenção de usar todas elas esta noite ou ela não conseguiria andar amanhã, que dirá cavalgar.
— Os preservativos que compro são feitos sob medida — ele prosseguiu. — Também são cem por cento seguros. Também tenho paixão por proteção.
— Claro. Imagino que precaução com um homem com a sua fortuna nunca é demais. Mas não precisa se preocupar com o fato de eu tentar lhe pregar uma armadilha. Já tenho boa parte de seu dinheiro e a última coisa que desejaria é um filho seu.
Já era muito tarde quando ela percebeu que ele poderia tomar seu comentário como um insulto pessoal. Provavelmente tinha, pelo lampejo de fúria em seus olhos.
A idéia aborreceu-a por alguma razão. Idiotice, na verdade. Ele merecia uns insultos, este homem que pensava que podia comprar seu corpo. E tinha.
Mas ela ainda se sentia forçada a pedir-lhe desculpas.
— Eu... sinto muito, Ali. Não quis dizer isso da maneira que soou. Quero dizer... que não tem nada a ver com você. Só não quero ter filhos.
Ali olhou para os seus olhos aflitos e viu que ela, na verdade, sentia muito. Ele suspirou e balançou a cabeça. Que criatura complexa ela era. Ali gostaria de saber o que a fazia agir de maneiras tão contraditórias. Por que foi se encontrar com ele vestida como uma prostituta para depois dizer-lhe que mudara de opinião sobre passar a semana com ele?
Ele correu o risco de perder tudo quando ela disse isso. Quase perdeu, até que percebeu que estava apenas com medo de dormir com ele por alguma razão. Medo de sexo.
Tudo que era preciso então era um pouco de persuasão gentil para mudar sua opinião novamente. Por um momento, Charmaine se tornara a mulher que ele sabia que ela poderia ser em seus braços. Todo aquele calor líquido e toda aquela paixão trêmula. Agora ela voltou a ser aquela outra criatura mais fria e mais corajosa, aquela que o desafiava e o fazia desejar agir como um animal com ela. este não era o seu jeito de agir com as mulheres, Detestava a idéia de ser reduzido a uma besta selvagem, algo que ela parecia capaz de fazer. Ele só precisava dar uma olhada para si para ver a que ela o tinha reduzido. Retardar sua própria satisfação ia ser diferente. Mas não era possível.
Agora qual seria a melhor maneira de proceder para conquistá-la? Porque esta era sua meta, não era? Conquistá-la e tê-la de volta em busca de mais ao final destes cinco dias, sem qualquer suborno monetário.
Ali lamentava amargamente não ter investigado seu passado minuciosamente desde o começo. Conhecimento é poder, e, mais que qualquer coisa, ele queria ter poder sobre ela. Mas estava às escuras no que se referia a Charmaine. A única coisa que Ali realmente sabia sobre esta mulher à sua frente era que a razão principal que a mantinha neste quarto neste momento era o meio bilhão de dólares que aderia à sua fundação. Em outras circunstâncias, ele poderia ter levado mais tempo com ela, como tinha com aquela égua difícil.
Mas não havia tempo para desperdiçar. Cinco dias não eram tanto tempo assim...
Todo o corpo de Charmaine se retesou quando ele deu um passo à frente e levantou seu pé direito de onde ele estivera pendurado ao lado da cama.
- Relaxe — ele murmurou, com a mão esquerda envolvendo seu tornozelo enquanto a direita deslizava para cima e para baixo na sua panturrilha com o mais leve dos toques. Quando se curvou ligeiramente para acariciar a pele sensível atrás de seu joelho, seus braços ficaram repentinamente arrepiados
Relaxe? Como ela poderia relaxar enquanto ele estava fazendo isto com ela e posicionado diante dela nu em pêlo? Seus olhos ficavam se dirigindo para aquela parte dele que ela continuava imaginando dentro dela. Se ele se encaixaria dentro dela.
Finalmente a mão dele retornou ao seu pé, onde ele tirou sua sandália e a jogou para o lado. Ele pareceu levar mais tempo na sua perna esquerda antes de tirar aquele sapato. A esta altura estava tremendo.
— Ali...
Ela não tinha intenção de falar. Não pretendia soar tão desesperada e necessitada.
Seus olhos foram ao encontro dos dela.
— Sim?
— Não... não me faça esperar muito tempo.
Ele assentiu com a cabeça, então deslocou-se para pegá-la nos braços de novo e colocá-la no centro da cama com a cabeça sobre os travesseiros. Ela observava de olhos bem abertos enquanto ele pegou um preservativo de baixo de um travesseiro e protegeu os dois com alguns movimentos bem praticados. O coração dela retumbava no peito quando ele uniu-se a ela na cama e esticou-se ao seu lado.
— Não quer que eu lhe dê prazer com a boca primeiro? — ele perguntou, com o rosto agigantando-se sobre o dela. Charmaine pestanejou. Ela queria?
— Eu... eu não sei...
Ele franziu as sobrancelhas diante de sua incerteza.
— Talvez um pouco — ela acrescentou sem fôlego.
O que estava dizendo!
Mas era tarde demais. Ele já estava a caminho, embora não sem um desvio imediato para os seus seios, onde ele sugou longa e languidamente cada mamilo, deixando-os tesos e úmidos e a ela enroscando-se por dentro com a necessidade mais excruciante. Quando ele continuou a descer, ela o queria em toda parte. Em cima dela. Dentro. Chupando-a. Beijando-a. Tocando-a. Oh! — ela gemeu quando a ponta de sua língua chegou na direção do seu umbigo.
Quem poderia imaginar que isto provocasse uma sensação tão deliciosa? Ela ficou feliz quando ele fez de novo. E de novo.
Suas mãos abaixaram para tocar o cabelo dele, correr os Dedos através dele, deleitando-se em sua suavidade lustrosa. Olhou rapidamente para cima para lançar-lhe um sorriso antes de descer mais pelo seu corpo, lambendo a superfície macia de seu osso púbico enquanto afastava suas coxas. Sua barriga se retesou antes de sua boca chegar ao seu sexo exposto, e quando chegou lá ela quase dobrou a cama no um canivete.
— Ssshhh — ele a silenciou, levantou o braço e colocou a palma da mão na parte inferior do seu estômago. — Fique calma. Relaxe.
Mais ordens ridículas. Impossível ficar calma, ou relaxar. Sua língua agora girava em torno de seu cerne e seus dedos a penetravam. As sensações eram tanto animadoras quanto assustadoras, como dar uma volta na montanha-russa.
— Ali — ela falou com a voz embargada, e ele imediatamente parou.
Ela quase irrompeu em pranto, como uma criança cujo pirulito tivesse sido roubado.
Mas havia pouco tempo para aflição, visto que ele deslizava seu corpo para trás e começou a penetrá-la de verdade. A sua súbita ingestão de ar foi uma combinação de prazer e surpresa. Apesar de ele ser maior que qualquer homem com quem estivera antes — de longe — ela foi capaz de acomodá-lo com certa facilidade. Talvez melhor ainda se ela...
Quando elevou as pernas e enroscou-as em volta dele, ele gemeu. Ela também, sentindo a diferença imediatamente. Ele estava agora bem fundo dentro dela, preenchendo-a inteiramente, evocando uma percepção surpreendente da fusão de seus corpos. Deus sabia qual era a sensação quando ele começava a se mover.
Ela gritou quando ele começou a bombear para a frente e para trás, com cada movimento batendo a cabeça do pênis contra o colo do útero.
Ele parou mais uma vez.
— Estou indo muito fundo — ele disse.
— Não, não, está fantástico!
— Tem certeza?
— Completa. Não pare.
Ele riu, e depois continuou.
Ela chegou ao clímax num instante, com grandes e torturantes espasmos de prazer, fazendo-a quase gritar de êxtase. Ele a abraçou firme junto a ele e gozou também. Sua boca abriu-se com seu próprio rugido primário.
Quando ela sentiu seu membro pulsando fundo dentro dela, uma onda repentina de paixão primitiva varreu o corpo de Charmaine e ela começou a beijar seus ombros, seu pescoço e finalmente seus lábios arfantes, colocando sua língua bem fundo na sua boca num eco erótico da maneira como ele a tinha penetrado. Ele beijou suas costas e continuou se movendo, durante o seu clímax e o dela, até que surpreendentemente ela gozou de novo. Ele só parou quando ela havia terminado completamente. Seu corpo desabou sobre o dela.
Ele era pesado, mas ela não se importou. Gostou de ser envolvida por ele. Correu suas mãos possessivamente para cima e para baixo nas suas costas e tentou se lembrar por que é que não gostava dele.
E se lembrou.
Ele era um predador sexual que a tinha intimidado para dormir com ele. Intimidado, subornado e chantageado emocionalmente.
Ela nunca poderia dizer-lhe o quão grata estava por ele ter feito isso. Tinha de encontrar outras palavras para explicar o seu prazer no corpo dele, e reconquistar pelo menos um pouco do seu orgulho.
— Viu só? — ele murmurou algum tempo depois enquanto deitava a seu lado, com uma das mãos apoiando a cabeça, enquanto a outra brincava preguiçosamente com seus mamilos. — Você realmente gosta de sexo. Pelo menos comigo. Charmaine, cujo cérebro andara fazendo horas extraordinárias enquanto seu corpo zumbia de prazer por ele estar beliscando seus mamilos, felizmente surgiu com a resposta nata.
— Tenho de confessar que minha reação em relação a você surpreendeu-me a princípio. Mas desde então percebi que me excitou tanto. É uma fantasia feminina comum, você sabe, receber uma pequena fortuna de algum bilionário para fazer sexo. Toda mulher tem o desejo secreto de bancar a prostituta. E além disso existe o fator sheik, é claro. Sua mão ficou imóvel sobre seu seio.
— O fator sheik?
— Não se faça de inocente comigo, Ali. Aposto que já tirou proveito dele muitas vezes. Você sabe. O sheik? Rodolfo Valentino arrastando sua amada para o seu refúgio no deserto para fazer o que bem quisesse. Este cenário excitou muito inúmeras mulheres ocidentais ao longo dos anos. Não faça de conta que não sabe disso.
Ela finalmente ousou olhar nos seus olhos, que permaneceram irritantemente sem expressão.
— Isto excita muito você? — disse ele, puxando seu mamilo mais uma vez, embora não tão gentilmente como estivera fazendo.
Infelizmente, isto parecia excitá-la ainda mais.
— Quem sabe? — Ela deu de ombros, lutando para permanecer tranqüila quando tudo que queria era que ele implorasse para fazer amor com ela de novo, usá-la ainda mais rudemente desta vez. — Alguma coisa foi. Certamente não foi romance que me estimulou. Nem amor.
— Você não me acha romântico? Nem amável? — ele acrescentou com outro puxão nada gentil no outro mamilo. Ela teve de rir.
— Ora, o que é isso agora, Ali? Pagar a uma mulher meio bilhão de dólares para forçá-la a ficar à sua disposição por uma semana não é nem um pouco romântico, nem amável.
— Não forcei você.
Graças a Deus ele parou com a tortura do mamilo.
— É como se tivesse forçado. Sabia que eu não diria não.
— Mas você se divertiu agora há pouco.
— Você teria exigido seu quinhão se eu tivesse ou não.
— Não — disse ele. — Não teria.
Ela olhou para ele, sem ter certeza se ele estava dizendo a verdade ou não. Difícil de acreditar que um homem que a coibira fisicamente no começo desta noite teria deixado que ela partisse se não tivesse sido seduzida tão facilmente.
Ela deu de ombros.
— O que quer que seja. Não tem importância agora. Parece que gosto de brincar de escrava sexual remunerada para o seu mestre. Então, até sexta, estou às suas ordens. Ordene então, amante. A noite, como eles dizem, ainda é uma criança.
Seus olhos brilharam daquela maneira que outrora a deixara nervosa, mas que agora fazia com que respirasse de modo desordenado.
— Uma escrava sexual não exige que seu mestre lhe dê ordens — ele retrucou em voz suave, baixa e perversamente sedutora. — Uma escrava sexual permanece em silêncio, submissa e espera seu desejo. Uma escrava sexual não tem vontade própria, abdicando dela em prol da vontade de seu mestre. Ela não é nada até que ele se digne a usar seu corpo, absolutamente nada.
Sua boca ficou seca enquanto ele falava. Mas seu coração estava acelerado. É apenas um jogo, ela lembrou a si mesma, um jogo erótico. Mas ele o excitava.
— Parece divertido — ela gracejou.
Os olhos dele lançaram-lhe uma dura repreensão.
— Uma escrava sexual não se preocupa com seu próprio divertimento. Ela existe apenas para dar prazer, não receber. Charmaine fez uma cara desapontada.
— Não parece o tipo de emprego que vai pegar aqui na Austrália. A não ser que o sujeito com o talão de cheques tenha meio bilhão de dólares para dispor, é claro. Embora, se você se lembra, por sexo normal. Então reservo-me o direito de objetar se as coisas ficarem muito pervertidas. Enquanto isso, uma escrava realmente o chamaria pelo primeiro nome? Acho que não. Que tal apenas Mestre? Tem uma agradável conotação submissa, não acha?
Ela arrastou-se para fora da cama e arqueou com as mãos juntas à sua frente.
— Irei na frente preparar seu banho, Mestre — disse ela, simulando escravidão.
— Eu sou o mestre aqui — ele pronunciou-se arrogantemente.
— Só até eu dizer que o jogo acabou — ela lembrou-lhe.
— De acordo — veio sua resposta tranqüila, mas havia um brilho diabólico nos seus olhos negros. — Devo insistir, no entanto, que se desejar sair deve dizer de antemão, antes de o jogo ter começado a sério. É injusto provocar um homem e depois deixá-lo na mão. Ela riu.
— Não posso jamais imaginá-lo na mão.
-- É apenas uma figura de linguagem. Então? Deseja continuar sendo minha escrava sexual?
Um tremor de excitação nervosa aflorou em seu estômago. Diabos, mas ela podia viciar-se neste jogo. Mesmo assim era bem menos perigoso que a outra alternativa: admitir que, afinal de contas, talvez realmente gostasse de Ali. De maneira alguma ia fazer isso!
— Em todo caso, só esta noite — disse ela.
-- Vá preparar o banho, então - ele ordenou. - Mas nada de brinquedinhos coloridos ou banho de espuma. Desejo poder vê-la por inteiro na água o tempo todo.
Charmaine freqüentemente acordava muito cedo de manhã. Sentia, geralmente, uma onda de vazio, seguida de ameaça de depressão. Quando isto acontecia, ela se levantava e se exercitava furiosamente até que seu humor melancólico tivesse passado, ou pelo menos fosse posto de lado por um momento. Naquela manhã ela não só acordou muito tarde, mas também com uma deliciosa sensação de paz, embora tenha experimentado uma reação automática de surpresa assim que percebeu que estava de volta na linda cama rosa. Ali deve tê-la carregado lá para dentro depois de ela ter finalmente adormecido.
No entanto, ele não permaneceu. Deve ter retornado para seus próprios aposentos, e sua própria cama.
Charmaine rapidamente percebeu que acordar sozinha na manhã seguinte a uma noite como a passada era uma vantagem. Ela podia aconchegar-se sob a colcha e pensar sobre tudo o que tinha acontecido, sem ter que sentir-se culpada ou sem graça, ou quaisquer de outros sentimentos embaraçosos que pudessem tê-la preocupado caso tivesse acordado ainda grudada ao corpo nu de Ali.
"Não pense no corpo nu de Ali!", veio o aviso imediato. Tarde demais. Ela já estava pensando nele, e se lembrando. Na sua aparência e sensação. Como fora forçada a tocá-lo o tempo todo, e beijá-lo, e convidá-lo para voltar para dentro dela, repetidas vezes.
No entanto, ela não se sentia nem um pouco dolorida esta manhã. Claro que estivera mais que pronta para ele todas as vezes.
Sexo maravilhoso, ela decidiu após ter se deliciado em suas lembranças por um tempo, tinha sido a melhor pílula para dormir do mundo, junto com o melhor antidepressivo. Uma vez que estivesse seriamente excitada, fazer amor era extremamente relaxante. E muito agradável. Uma vez não era suficiente.
Felizmente, Ali não era homem de uma vez só. Parecia desejá-la tanto, se não mais, do que ela o desejava. É claro que qualquer homem que tivesse pagado quinhentos milhões de dólares por uma mulher tinha de estar sofrendo de uma dose cavalar de luxúria.
Até mesmo pensar sobre a parte do dinheiro não estragava as sensações de prazer deliciosas de Charmaine. Surpreendentemente, ela estava começando a achar todo este cenário extremamente satisfatório de fato. Todos aqueles orgasmos deliciosos, junto com todo aquele dinheiro maravilhoso. Uma mulher como ela teria de estar maluca se não estivesse feliz.
Ou tão feliz como jamais seria. Não se iludia em pensar que um dia seria realmente feliz na vida.
Mas as coisas não estavam muito ruins no momento. Ela tinha quinhentos milhões de dólares para fazer o bem. E um sheik perversamente sensual à sua disposição para ser má.
O único problema que ela podia prever era a sexta-feira. Suspeitava que até lá poderia estar ligeiramente viciada em Ali. Já estava ansiando por esta noite. Ele desejaria uma reprise da cena da escrava? Esperava que sim. Era um bom disfarce para os seus sentimentos, que poderiam facilmente fugir de seu controle se ela não tomasse cuidado. Ainda não conseguia acreditar em algumas coisas que fizera por vontade própria na noite passada.
Era óbvio que Ali preferia ser o chefe no que se referia a fazer amor.
Charmaine estremeceu ao lembrar-se de tudo o que ele era com ela na noite passada. Tantas posições diferentes. Tantos lugares diferentes, não somente a cama. O jantar na sala de estar tinha sido um aprendizado. Quem poderia imaginar que comida pudesse ser utilizada como afrodisíaco? Ou que uma mesa de jantar pudesse se tornar instrumento de prazer erótico. O vidro em contato com sua pele aquecida estava frio.
Mas aquele havia sido apenas um dos muitos interlúdios imaginativos. Ali sugeriu maneiras de fazer sexo com as quais ela nunca sonhara, mas nunca algo do qual ela não acabou gostando, mesmo se tivesse que implorar de vez em quando.
E não é que ele gostou disso!
Charmaine não tinha certeza se, no fundo, Ali era um sádico ou estava apenas vingando-se dela por ter dito não a ele uma vez.
Dizer não para ele agora — durante o sexo — não era mais uma opção válida, a não ser que ela fosse masoquista, o que ela não era. A ironia de sentir-se atraída por um homem como ele não iludia Charmaine, mas não havia sentido em fingir. Sexualmente, ela era um fantoche em suas mãos.
Ali ter se gabado de ser um amante excelente tinha sido uma declaração atenuada da realidade. O homem sabia o que estava fazendo. Era uma pena que ela tinha de deixá-lo ao final deste acordo.
Pensando melhor no assunto agora, Charmaine percebeu que não tinha de abandoná-lo. Se ele estivesse disposto — e ela tinha todas as razões para pensar que sim —, ela poderia continuar a vê-lo. Ali havia dito que ia a Sydney todo fim de semana jogar pôquer e ir às corridas. Quando ela estivesse na cidade, poderia encontrar-se com ele na sua suíte de hotel num sábado à noite após seu retorno das corridas. Poderiam deleitar-se um com o outro à sua conveniência e em particular, sem ter de tornar seu caso público.
Claro que ela teria de ter muito cuidado para que os paparazzi não suspeitassem de nada. Odiaria por tudo no mundo pensar que era o último joguete do príncipe, comprada e paga em nada menos que um leilão!
Charmaine estremeceu diante do que sua mãe diria e pensaria. Já havia interrogado Charmaine detalhadamente no telefone na semana passada após ler o artigo de jornal de domingo sobre um príncipe árabe ter pagado milhões para jantar com ela. Ficou preocupada com a possibilidade de Charmaine tornar-se presa de algum tipo de admirador obcecado. Uma preocupação compreensível diante das circunstâncias.
Felizmente, sua mãe aceitara sua explicação de que Ali era um sheik do petróleo que fazia uso de qualquer desculpa para doar milhões às instituições de caridade. Ela admitiu que sim, que ia jantar com ele, mas que não havia nada entre eles, nem jamais haveria.
Charmaine suspirou. Sua mãe não ficaria feliz se descobrisse que sua filha querida havia mentido para ela, ou que continuava com um homem desses. Não, o risco de levar adiante esta aventura amorosa era simplesmente grande demais. No passado, causara angústia e dor suficientes aos seus pais. Causar mais sofrimento seria algo irracional. Quando chegasse sexta-feira, ela teria de abandonar Ali. Mas até então... até então, seu objetivo era aproveitar ao máximo o que ele podia dar. E muito mais!
O toque do telefone da mesa-de-cabeceira pôs fim a mais planos e projetos. Charmaine rolou e franziu o cenho para o aparelho rosa por alguns segundos. Ela deixara uma mensagem na sua própria secretária eletrônica de casa dizendo que estava fora da cidade e inacessível durante esta semana. Ela corajosamente deixou seu celular em casa também e, desligado. O instinto a alertara de antemão que, o que quer que acontecesse esta semana, seria prudente que estivesse incomunicável. Como ninguém sabia que ela estava, então devia ser uma ligação interna. Ali, talvez? Ficou irritada com a onda de prazer de adolescente que intimamente percorreu-lhe o corpo ao pensar nisso. A coisa que não pretendia fazer era começar a agir como uma colegial apaixonada a seu lado. Ele ainda era o mesmo homem que lhe pagara cinco milhões para jantar com ela e quinhentos milhões para dormir com ele. Só porque tinha gostado de dormir com ele não significava que tinha de virar idiota. Ela prendeu o ar, expeliu-o barulhentamente e depois atendeu ao fone rosa.
— Sim? — ela disse de modo abrupto.
— Aqui é a Cléo. Espero não a ter acordado.
— Não, não, absolutamente — ela respondeu, de certo modo aliviada por ser a governanta. Porém extremamente desapontada ao mesmo tempo. — Estava exatamente pensando em me levantar. Sei que deve ser muito tarde. Que horas são? — O seu relógio ainda estava no banheiro, e não havia um na parede do quarto. Mas ela conseguia ver pelas janelas duplas que o sol já tinha nascido havia muito tempo.
— Quase onze.
— Tarde assim? — A última vez que havia visto as horas, no Rolex de Ali, tinha acabado de passar das duas da manhã, e adormecera logo depois, o que queria dizer que esteve de combate cerca de oito ou nove horas. Um recorde para ela. Normalmente costumava dormir quatro horas por noite.
— Ali disse para não perturbá-la — Cléo informou-lhe. — Ele mesmo só acordou há algumas horas. Tomou um rápido café da manhã e foi circular pelo haras. Estará de volta para o almoço por volta da uma hora, então achei que talvez gostaria de almoçar com ele. Servirei algo delicioso para vocês dois à beira da piscina. Está um lindo dia lá fora.
— Parece maravilhoso. Obrigada. Vou me levantar imediatamente.
— E se eu trouxer um pouco de café e croissants até o quarto para enganar até o almoço? Ou isto engorda muito?
— Não. Parece maravilhoso também.
— Minha nossa, mas é fácil agradar você. Ali hospedou algumas de suas colegas de profissão ao longo dos anos e as achei um pouco arrogantes. Dar comida para elas era um grande problema.
— Não terá problema com comida comigo — respondeu Charmaine enquanto franziu o cenho de modo negativo diante da notícia de Cléo de que Ali tinha uma queda por modelos. A idéia de que era apenas uma de uma longa linhagem da raça a decorar sua cama melindrou mais que o seu orgulho, e reforçou sua decisão de nunca mais vê-lo após sexta.
— Vejo você em breve, então — disse Cléo, animada.
Cléo estava na porta em menos de dez minutos. Neste tempo, Charmaine só teve tempo de ir ao toalete escovar os dentes e vestir o roupão de toalha rosa que estava pendurado na parte de trás da porta do banheiro. A única roupa de dormir que trouxera era o conjunto vermelho e outra roupa preta igualmente obscena. Nenhuma das duas parecia adequada para receber a governanta.
— Você foi rápida — disse Charmaine ao abrir a porta para a governanta, tentando não parecer assustada com as roupas coloridas da mulher. Bermudas amarelo-canário e um vermelho vivo e laranja que deveria ter entrado em conflito com os cabelos avermelhados de Cléo, mas, por uma razão, isto não aconteceu.
— Trabalho rápido. — Cléo atravessou o quarto com a bandeja do café até o canto do outro lado, onde havia duas cadeiras de cada lado de uma mesa de canto de bom tamanho.
— Você e seu marido gostaram do filme ontem à noite?
Charmaine perguntou enquanto a seguia pelo quarto até sentar-se em uma das cadeiras.
O quê? — Cléo levantou os olhos do café que estava servindo. — Ah, sim. Sim, gostamos. Ali lhe disse que nós tínhamos ido ao cinema, não disse?
Ele mencionou — disse ela um pouco abruptamente, muito feliz com a lembrança das ameaças de Ali de que podia gritar o quanto quisesse que ninguém iria socorrê-la.
Mas ela não gritou, não foi? Ela duvidava de que qualquer uma das mulheres que ele levara ali o tenha feito, a não ser de prazer.
Descobriu que não gostava de pensar nas outras mulheres de Ali.
— Todas... as convidadas de Ali dormem aqui? Cléo deu um sorrisinho com conhecimento de causa.
— Não há razão para ciúme. Ali não traz nenhuma mulher para a cama há anos. E nenhuma jamais ficou aqui.
— Não estou com ciúme — disse Charmaine, porém de maneira extremamente defensiva. — Apenas curiosa.
Não precisa se envergonhar de se importar com Ali também. Ele é um homem digno de que se importem com ele.
Charmaine pensou que não era o momento certo de dizer que não se importava com ele. Não da maneira a que ela se referia.
— É verdade — ela disse evasivamente e pegou o primeiro dos dois croissants deliciosos.
— As pessoas julgam Ali incorretamente porque ele é um pouco duro às vezes — disse Cléo enquanto servia o café de Charmaine. — Você sabe, realeza. Mas posso dizer honestamente que ele é um dos homens mais amáveis que já conheci. Verdadeiramente gentil e piedoso. Creme e açúcar?
Charmaine assentiu com a cabeça.
— Dois cubos. — Ela calculou que tinha queimado calorias mais que suficientes na noite passada para comprazer-se hoje. Mal tocara o jantar no final. Ali comeu a maior parte, um pouco em lugares de seu corpo que à luz fria do dia a teriam chocado. Mas não, o que era revelador por si só, e lembrou-lhe o tipo de homem com quem estava lidando ali. Um imoral e corruptor de mulheres.
— E como ele demonstra sua gentileza e piedade? — ela perguntou, com ceticismo na voz.
— Ah, de inúmeras maneiras. Veja Jack, por exemplo.
— Jack?
— O sujeito que trouxe suas malas aqui na noite passada. Ele é um primo meu. Tem necessidades especiais. Ninguém lhe daria emprego, mas Ali deu quando lhe pedi. Num minuto. Ele freqüentemente dá trabalho a pessoas desafortunadas, principalmente homens casados e com filhinhos. Acomodação grátis também. Há vários chalés antigos neste lugar. Ele é muito bom para todos que trabalham para ele, contanto que retribuam com trabalho sério. Mas nunca espera que ninguém faça o que ele mesmo não está preparado para fazer. Os rapazes apreciam isso. Não há nada que Ali não faça. Limpar os estábulos. Ficar acordado a noite toda com uma égua em trabalho de parto. Arar. Pintar as cercas. Jack acha que ele tem formiga nas calças. Como todo mundo por aqui. Basta perguntar a eles. Não, talvez não seja uma boa idéia — ela acrescentou dando uma risada. — Posso imaginar Ali com bastante ciúme se começar a conversar com os rapazes. Então apenas balance a cabeça e sorria quando ele lhe mostrar o haras após o almoço.
-- Acha que fará isso hoje? — Charmaine perguntou, a mente ainda digerindo as brilhantes referências de Ali. Ou ele era um homem inteligente, que sabia tirar o melhor de seus empregados, ou tinha um lado positivo. Charmaine admitiu que ninguém era totalmente branco nem preto. Ela mesma não era um anjo e podia ser gentil e generosa com pessoas menos afortunadas que ela.
Ah, sim. Ele tem um orgulho incrível deste lugar. Fez maravilhas desde que passou a administrá-lo. — Cléo colocou a xícara de café e o pires na frente de Charmaine.
— Foi ele que construiu esta casa? — Charmaine perguntou entre pedaços de croissant.
— Valha-me Deus, não. Foi um administrador antes dele. sheik árabe também, mas nada parecido com Ali. Um camarada grande, gordo e preguiçoso. Pelo que sei, não fez nada a não ser gastar consigo próprio o dinheiro que deveria ter sido usado para comprar éguas e garanhões decentes. Na verdade, Ali não liga muito para esta casa em absoluto. Diz que é grande demais para suas necessidades. Tem doze quartos, você sabe. A maioria nós mantemos fechados todos com proteção para poeira, mas por volta do Natal limpo todos eles e arrumo as camas com roupa nova e ele permite que quaisquer parentes dos empregados que queiram vir se hospedem aqui. É um pandemônio, na verdade, é maravilhoso. Adoro.
A surpresa interrompeu a xícara de café de Charmaine a meio caminho dos lábios.
— Mas... mas os muçulmanos não comemoram o Natal!
— Ali vive segundo o credo de que quando estiver em Roma, faça como os romanos. Imagino que se poderia chamá-lo de muçulmano degenerado, de certo modo. Um príncipe degenerado também quando está aqui em casa. Não que se possa culpá-lo. Aquela gente lá em Dubar não liga para ele para outra coisa que não seja negócios. Faço uma festa de aniversário para ele todo ano e nenhuma vez ele recebeu um presente, um cartão, nem mesmo uma ligação. Gente desgraçada! Quem precisa de inimigos com uma família assim? Mas é melhor eu não fazer fofoca sobre eles — ela murmurou. — Ali não gostaria. Mas ele gosta de você, querida. Diria que é mais que gostar. Você o conhece há muito tempo?
Charmaine pensou no que dizer em resposta a esta pergunta. Obviamente Cléo não sabia nada sobre o leilão e o jantar que Ali ganhara com ela. Ela não poderia ter lido aquele artigo no jornal de domingo da semana passada.
— Nos conhecemos no carnaval da Cup de Melbourne no ano passado.
— Nossa, tanto tempo assim. E só agora ele a trouxe aqui? Andou bancando a difícil, não foi, querida? — perguntou ela ironicamente. — Bem, o que quer que seja, está funcionando. Nunca vi um homem tão ansioso como ele na semana passada. Então quando me ligou no domingo para dizer que estava trazendo uma convidada especial e que eu devia aprontar este quarto, disse a Norm que nosso Ali devia ter encontrado alguém realmente especial, e quando você apareceu sabia que estava certa.
— Não sou tão especial assim — Charmaine refutou, embaraçada com os elogios da governanta, além de sua noção equivocada de que Ali fora atingido por um tipo de amor que só acontece uma vez na vida. — As pessoas acham que a fama as torna especiais, mas não é verdade.
- Ora, eu sei disso, querida. Não estava falando de sua fama nem mesmo de sua beleza. Estava falando de você.
Você é um verdadeiro docinho. E admiravelmente com a cabeça no lugar. Exatamente o tipo de mulher que Ali precisa para tirá-lo daquela casca em que ele entra de vez em quando. Esteve muito mal este ano. Mas esta manhã no café tinha os olhos brilhantes e estava alegre, posso dizer — ela disse, com um brilho perverso nos olhos de quem sabe das coisas.
Charmaine encontrou muita dificuldade para não corar. Era incorrigível, mas cativante ao mesmo tempo.
-- É bom ouvir isso — ela disse. Deu uma risada.
Você esconde o jogo, não é, querida? Garota esperta.
Bem, pedirei a Ali que venha buscá-la quando regressar. Ele certamente vai querer tomar banho e se trocar antes do almoço.
-- Preferiria não fazer isso — disse Charmaine amavelmente. — Prefiro vir ajudá-la com o almoço. Não mais de meia hora para eu me aprontar, senão eu simplesmente ficaria sentada aqui sem fazer nada.
Cléo pestanejou, surpresa.
- Você realmente é uma garota muito diferente. Mas não é nada mal uma ajudazinha. Certo, quando estiver pronta, vá para a cozinha.
— É melhor me ensinar o caminho. Esta casa é enorme. Provavelmente vou me perder.
- Não vai não. A casa é realmente grande, mas a planta é simples. Tem a forma de um T. Volte pelo corredor por onde veio na noite passada até chegar ao foyer, depois à esquerda e desça aquele corredor. A cozinha é a segunda porta à direita.
— Bem, é fácil de compreender.
— Uma coisa antes de ir. Por favor, não fique fazendo a sua cama. Tenho uma ajudante que trabalha para mim para fazer isso. Ela também lava e passa tudo. Arrumará seu quarto e esvaziará seu cesto de roupas enquanto estiver no almoço. Não pôde fazer mais cedo porque você estava dormindo.
Depois que Cléo saiu, Charmaine engoliu o café e os croissants e pôs-se a se arrumar em tempo recorde. Tendo declarado que não era uma daquelas coquetes que passavam horas cuidando de sua aparência, tinha de fazer jus à declaração. Mas mesmo o mínimo cuidado levava tempo, especialmente quando tinha um cabelo que ia até a cintura. Ao final, ela o trançou enquanto ainda estava molhado, depois vestiu-se com jeans stretch branco e um colete simples também branco não muito decotado com gola V e sem mangas. Levando em consideração um possível tour pelo haras após o almoço, escolheu mocassins castanho-claros e limitou a maquiagem a uma pincelada de blush e batom coral. Não colocou perfume também. Guardaria para esta noite.
Sua ida à cozinha foi direta e simples, como Cléo ensinara. Mais uma vez, viu pouco da casa no caminho, embora desta vez tenha observado mais as obras de arte penduradas na parede. Sem dúvida que eram pinturas em óleo originais. Variavam de paisagens muito modernas a muito tradicionais, Charmaine sabia apreciar arte e estava ciente de que cada uma teria custado uma fortuna.
A própria cozinha era tão grande e bem equipada quanto se esperaria de uma casa da realeza. Também tinha janelas grandes lindas que davam vista para um terraço coberto de terracota e uma enorme piscina com água azul da cor do céu. No extremo mais distante da piscina ficava uma estrutura em estilo de pavilhão com uma vista de trezentos e sessenta graus da propriedade, e era lá, Cléo informou a Charmaine, que o almoço seria servido sobre uma mesa de mármore de um príncipe e sua amada.
Mais uma vez, Charmaine não se importou em negar que era a amada de Ali. Não adiantava. Cléo não acreditaria nela. Afinal, Charmaine não fez muita coisa durante o preparo da comida. Cléo apenas permitiu que fosse pegar algumas coisas e pegasse o mínimo possível. De alguma maneira — possivelmente pelo som da água correndo nos canos —, Cléo percebeu o exato momento da volta de Ali. Anunciando que ali chegaria em breve, e que ela — Charmaine — deveria esperá-lo lá fora junto à piscina. Parecia que Cléo achava que ele não ficaria muito excitado em vê-la bancando a empregada.
Charmaine preferiu esperar por ele à mesa dentro do pavilhão e não em um dos ambientes ao ar livre junto à piscina. Quando Ali entrou pela porta da cozinha alguns momentos depois, ela ficou feliz em ter feito esta escolha.
Charmaine sempre desdenhara de mulheres que diziam que um certo homem as deixava sem ar. Mas quando Ali entrou no terraço ensolarado, sua própria pulsação cessou por alguns segundos dramáticos.
A privacidade das sombras — além da distância da casa que o pavilhão lhe proporcionava—deu a Charmaine tempo suficiente para recuperar-se do choque de sua reação. Mas seus olhos continuaram a segui-lo submissamente enquanto ele caminhava pela lateral da piscina. Sua cabeça dava voltas enquanto buscava as razões por trás desta reação tão atípica. Não poderia ser só sua vistosa elegância que a deixou em estado de ataque cardíaco temporário. Ali sempre fora excessivamente bonito. E vestia-se maravilhosamente. O short que estava usando caía-lhe muito bem, assim como a camisa pólo azul-celeste. Enquanto alguns homens ficavam ridículos de sandálias, ele não, talvez porque seus pés fossem tão morenos quanto o resto do seu corpo.
Engoliu em seco ao lembrar-se de como seu corpo nu era magnífico. Tinha de ser isso, ela decidiu com uma certa sensação de alívio. Foi a luxúria que fizera seu coração bater,! e agora mais luxúria estava fazendo com que ele batesse acelerado.
Nunca sentira isso antes. Não mesmo. Aquela atração sexual de outrora que a fizera agir tão tolamente — e tão desastrosamente — não era nada parecido. Isto era algo diferente.
Graças a Deus ela agora tinha a maturidade e o caráter para lidar com seus sentimentos, por mais primários e poderosos que fossem. Charmaine não estava envergonhada da maneira como agiu na noite passada, mas valorizava sua compostura em momentos assim. Não tinha paciência com mulheres que olhavam provocativamente e ficavam babando.
Claro que ajudaria muito se Ali não ficasse olhando ela como se preferisse que ela fosse o prato do almoço, em vez da comida à mesa. Aqueles seus olhos negros ardente -chamuscavam seu rosto e seu corpo à medida que ele se aproximava, dizendo a ela claramente que qualquer passeio pelo haras ia ser breve.
Charmaine engoliu em seco de novo.
— Soube que você dormiu bem — ele disse ao arrastar uma cadeira afastada da mesa e colocá-la em frente a ela.
— Muito. E você?
— A melhor noite em um ano.
O significado não passou despercebido para ela. Esta era sua intenção desde que pôs os olhos sobre ela. Charmaine tentou não deixar que a bajulação dele — ou a sua luxúria que aumentava rapidamente — minasse sua intenção de pôr fim a este caso quando chegasse sexta-feira.
— Então o que você gostaria de fazer após o almoço? — perguntou ele enquanto escolhia um dos pãezinhos crocantes postos no centro da mesa e o partia em dois.
Charmaine resistiu à tentação com toda a força de vontade possuía. Por mais corajosa que tenha sido na noite anterior, hoje era outro dia. A situação era diferente, principalmente agora que percebia como ficava fragilizada perto dele. Tinha de exercer algum tipo de controle sobre si ou poderia arrumar encrenca séria. Homens como Ali eram para ter um caso, mas não para ficar obcecada ou, que os céus a ajudem, se apaixonar. Como Rico havia dito, ele podia ser perigoso.
— Cléo disse que você gostaria de me levar para fazer um passeio pelo haras — ela comentou ligeiramente, e serviu-se de um copo de água mineral de uma das garrafas geladas que estavam a mesa.
Ele deu um sorriso que carregava uma pitada de cinismo uma grande dose de diabrura.
— E você acha que é assim que eu gostaria de passar esta tarde com você? Seu olhar encontrou-se com o dele de maneira direta e séria.
— Certamente estou esperando que sim — ela respondeu.— A sua insaciabilidade da noite passada me deixou um pouco... sensível em alguns lugares. Preciso de mais algumas horas para me recuperar para esta noite.
Ele riu.
— Minha insaciabilidade. Acho que me lembro que era você que ficava implorando por mais.
Ela fingiu uma indiferença que estava longe de sentir.
— Possivelmente, sim. Uma ou duas vezes. Devo admitir que você é bom de cama, Ali. Certamente estabeleceu uma referência de desempenho para meus futuros amantes. Quase lamento que este acordo tenha de acabar. — Ela notou seus músculos faciais se retesarem quando ela disse isso, mas ignorou de propósito.
— Ah, e falando neste acordo — ela prosseguiu prosaicamente —, você verificou se o dinheiro foi devidamente transferido para a conta da fundação esta manhã?
Circunspecto, sua primeira reação à lembrança do dinheiro foi de consternação, seguida de uma sensação de condenação à sua própria burrice.
Havia honestamente começado a crer que ela estava se apaixonando por ele? Que, quando a levou de volta para sua cama nas primeiras horas da manhã, ela havia se rendido à química sexual que sempre crepitara entre eles?
; idiota ele fora. Um tolo enlouquecido. Ele fora enfeitiçado. Sim, era assim que ele estava. Enfeitiçado. Ela o havia enfeitiçado desde o primeiro momento em que pousou os olhos sobre ela naquele comercial de tV. Depois o enfeitiçou mais ainda na noite passada naquele abandono surpreendentemente sensual. Quando ele ouviu como ela gemera sob seus lábios, e tremera com o seu toque, e se agarrou a ele quando gozou... Mas seus olhos não estavam turvados de desejo. Hoje estavam límpidos, frios e sob controle. O olhar dele percorreu-lhe o corpo, absorvendo as roupas brancas virginais e as tranças de colegial que apenas enfatizavam o ar de inocência que sempre o intrigara e que esta manhã parecia estar zombeteiro. Sua consternação cedeu à raiva, seu ego de macho sofrendo uma dor lancinante diante da percepção de que, independente de quanto prazer experimentara em seus braços, sua prioridade com ele ia sempre ser aqueles quinhentos milhões de dólares.
— Está tudo lá — ele falou asperamente, jurando fazê-la pagar esta noite por cada dólar.
Charmaine arrependeu-se de suas palavras no momento em que saíram de sua boca. Não queria ter soado tão mercenária, ou deixá-lo com raiva. Mas tenha dó, o que ele esperava? Que ela esquecesse de que ele a forçara a ir ali com ele? Ele achava que ela ia esquecer o que passou e desempenhar o papel de amada romântica para ele?
Tudo bem. Eles tinham partilhado de sexo na incrível noite passada. E sem dúvida que ele era um amante fabuloso. Mas ela não tinha intenção de fingir que eles compartilhavam de algo mais. Para Cléo ela podia sim, mas não para ele. Ao mesmo tempo, não queria passar os próximos quatro dias numa atmosfera de declarada hostilidade. Ali, de mau humor, não era adequado para consumo humano, que dirá fazer amor. A única coisa capaz de tirar-lhe o interesse era um amante cuja paixão fosse coberta de raiva. O que ela gostou na noite passada foi que, no final, tinha sido tão divertido. Claro que exigiu uma certa intransigência.
— Perdão — disse ela, percebendo arrependida que não haveria apaziguamento por parte do príncipe Ali de Dubar. Ela podia ver pela postura de seu maxilar e a fúria fria em seus olhos negros que ele lhe declarara guerra de novo. — Não quis aborrecer você, mas não posso fingir que a fundação não venha em primeiro lugar. Não quer dizer que não gostei da noite passada, ou até mesmo que não esteja ansiando por uma reprise. Estou até começando a gostar de você... um pouquinho — ela acrescentou com rapidez quando seus olhos altamente expressivos fulgiram de satisfação. — Cléo disse coisas tão bacanas sobre você esta manhã que não posso continuar com a visão de que seja totalmente arrogante e mimado. Você parece mesmo ter algumas qualidades redentoras. Embora a maneira como reage à palavra “não” não seja uma de suas virtudes. Quantos homens acha que chegariam ao ponto que você chegou para levar uma mulher para sua cama?
Não é qualquer mulher — ele retrucou. — Apenas é Charmaine.
-- Bajulação não vai levá-lo a lugar algum comigo, Ali. Acho que já disse isso antes. Ali — ele lembrou-lhe, lacônico. Ali — ela repetiu com um suspiro. — Entende o que quero dizer? Ainda tem que fazer as coisas do seu jeito.
— Todos gostamos do nosso próprio jeito. Você também, Charmaine. Mas pode surpreender-se ao descobrir que ao deitar com você nem sempre cedi aos meus desejos. Se tivesse sido totalmente egoísta, poderia tê-la possuído na nossa viagem de helicóptero até aqui. Não teria esperado. E se fosse ceder, neste exato momento, a meu lado obscuro, não seria este pãozinho que eu continuaria comendo. Limparia toda a mesa, estenderia você sobre sua superfície de mármore e me banquetearia com uma comida bem menos seca.
O cenário que ele descreveu trouxe uma onda de calor, que foi esquentando seu corpo, aquecendo seu pescoço e seu rosto.
Será que você permitiria? — ele perguntou-lhe, com seus olhos ardentes fixos nos dela.
— Não — veio sua resposta surpreendentemente firme.
— Não...
Ele sorriu, e depois deu de ombros.
— Viu só? Consigo aceitar não como resposta. Em vez disso, neste caso, faremos o grande passeio, seguido de um mergulho, se quiser. Gostaria?
— Eu... realmente não posso ficar muito tempo no sol em Sãs assim — ela disse como desculpa, embora secretamente pensando que não conseguiria manter as mãos longe dele assim que ele estivesse seminu. — Poderia me queimar. Ou me bronzear de maneira irregular, o que não fica bem nem na passarela nem nas fotografias.
— Entendo. Neste caso, seria melhor eu usar o carrinho de golfe para mostrar-lhe a propriedade. Ele é coberto.Estava pensando em cavalgar, mas, diante das circunstâncias, é melhor esperar para outra vez. O mergulho também. Após o passeio, sugiro que se deite até o jantar ou tome um banho longo e relaxante. Falando em jantar, decidi que vamos jantar na sala de jantar principal esta noite. Vai te dar um pouco mais de tempo para ficar menos... sensível.
— Muito gentil de sua parte — ela murmurou, pensando que diabo perverso ele era. Mas interessante. — Cléo me disse que você é gentil com freqüência. Soube do que fez por Jack.
Ele pareceu ficar sem graça com esta revelação, o que a fez estimá-lo mais que qualquer outra coisa que ele havia feito até o momento. Ela respeitava as pessoas que praticavam boas ações sem desejarem orgulho ou publicidade em troca. Um grande número dos homens de negócios ricos a quem solicitava doações freqüentemente queriam que sua suposta filantropia fosse amplamente divulgada.
— É o pouco que posso fazer por alguém menos afortunado que eu — ele murmurou. — Então o que você vai fazer com meus quinhentos milhões de dólares? Espero que não os desperdice pagando os salários exorbitantes de consultores financeiros. Deve gastar o dinheiro como você decidir. Estou confiante de que priorize os interesses da fundação, e das crianças. Outros poderiam ter interesses mais egoístas e gananciosos.
— Não se preocupe. O dinheiro será bem gasto e de maneira prudente. Não cairei nesta armadilha. Mas aceitarei os conselhos de algumas pessoas cuja perspicácia para os negócios eu respeito. Depois porei mãos à obra colocando vários projetos em andamento sem demora. Tempo é dinheiro, ainda mais quando se refere à pesquisa e ao fornecimento do equipamento adequado e as instalações para tratar os pobrezinhos já acometidos pela doença. Pode confiar em mim. Não dormirei no ponto. Começarei a preparar tudo assim que voltar a Sydney. Felizmente, tenho a próxima semana livre, e poderei fazer algumas incursões consistentes durante esse tempo. Também gostaria de... Charmaine interrompeu sua tagarelice e sorriu.
-- Desculpe-me. Quando começo com este assunto, não consigo parar.
Realmente não me importo — disse ele. — Gosto de uma mulher com paixão na voz.
Charmaine engoliu em seco, pensando que ele ouvira que paixão nos sons que ela soltou na noite passada, e cada um deles teve seu próprio significado especial, desde arfadas de prazer inesperado até os gemidos de frustração, mas os mais óbvios foram seus gritos de liberação seguidos de seus suspiros de satisfação.
— Deveríamos comer um pouco desta deliciosa comida que Cléo preparou — disse ela, subitamente mudando de assunto. — Isto me lembra uma coisa. Gosto muito de sua governanta, Ali. Ela é uma mulher maravilhosa.
É mesmo. Tornei-me um tipo de filho substituto para ela. Ela e Norman não podem ter filhos.
— Que pena. Ela teria sido uma mãe maravilhosa.
— Concordo.
Charmaine não quis prolongar-se no assunto de ser uma mãe maravilhosa também, então começou a perguntar-lhe sobre o haras. Tendo nascido e sido criada no campo, não era totalmente ignorante em relação a cavalos e surpreendeu-o -- ela pensou, com seu conhecimento.
O almoço foi bom, e o passeio pelo haras a seguir ainda melhor. Charmaine não pôde deixar de ficar impressionada tanto com os magníficos cavalos que Ali possuía quanto com as instalações incrivelmente modernas que ele construíra para acomodá-los. O estábulo de procriação era algo digno de ser visto, uma enorme estrutura com inúmeras estrebarias com um teto muito alto e insulado e uma enorme passagem coberta no meio a fim de manter o interior a uma temperatura agradável, mesmo no dia mais quente de verão.
O haras contava com seis garanhões em seus registros. Ali informou-lhe, desde novatos promissores até os de primeira linha consagrados. Um deles — um cavalo puro-sangue chamado Ebony Boy — era impressionantemente bonito, um exibicionista incorrigível. Quando ficava solto no seu pátio particular para fazer um pouquinho de exercício, o garanhão dava um show, galopando ao redor, soltando coices, bem como se empinando várias vezes antes de cair sob as quatro patas novamente e balançar a crina.
— Ele é muito fogoso — ela comentou. — Aposto que é difícil lidar com ele.
— Não durante a época de procriação. Mas seu volume está decaindo para este ano e ele está começando a ficar eufórico de novo. É um daqueles garanhões que só fica satisfeito quando dá conta de várias éguas por dia.
Charmaine ficou assustada.
— Parece demais. Ele não fica cansado?
— De se acasalar? Nunca.—E seus olhos se encontraram com os dela, enviando-lhe a mesma mensagem a respeito de si. Se a noite passada era algo pelo qual se guiar, então não era mera bravata. E no entanto...
— Cléo disse que sou a primeira mulher que traz aqui em muitos anos — comentou ela. Ali franziu as sobrancelhas.
O principal defeito de Cléo é que ela é chegada a as...
- Talvez, mas ela não me parece uma mentirosa.
— Eu realmente vou a Sydney todo fim de semana, Charmaine — salientou ele, lacônico. — Pode confiar em mim quando digo que todas as minhas necessidades carnais realmente foram atendidas. Não pense que fiquei esperando você cair nos meus braços.
Por que seu comentário a machucava? Não deveria fazer diferença para ela se ele tinha dormido com todas as mulheres de segunda classe de Sydney. Mas, estranhamente, ela realmente se sentia magoada. E com ciúme. E claramente sofria.
Se tivesse — ela falou asperamente —, teria ficado esperando muito tempo.
— Estou plenamente ciente disso. Por que acha que tomei medidas tão extremas para atingir meu objetivo?
Ela virou-se para fitá-lo de maneira bem fria, como era sua atitude costumeira quando estava nervosa.
— E aproveitou bem o seu dinheiro ontem à noite? Suas sobrancelhas escuras se levantaram em sinal de total arrogância e indiferença, o que a fez fervilhar.
- Foi um retorno razoável sobre o meu investimento, pretendo capitalizar mais esta noite. E nas próximas noites. Acho que até sexta estarei bem satisfeito. Mas se não estiver, farei com que a viagem de volta para Sydney seja muito mais memorável que a vinda até aqui. Estava de volta a hostilidade entre eles. E a tensão. Ele dizia que gostava de fazer amor, não guerra, mas com eles nunca haveria um sem o outro.
E aí acabou? — perguntou ela de maneira cáustica.
-- Está dizendo que quer mais?
— Nem em um milhão de anos. Você pagou por cinco dias e isto será tudo que vai ter.
Ele não disse uma palavra em resposta a isso. Apenas lançou-lhe um longo olhar pensativo antes de virar-se e mandar o cavalariço levar o garanhão para dentro, deixar Charmaine com o terrível sentimento de que ela demonstrava demais. Se isto era outra guerra entre eles, então ela tinha cometido um erro tático.
Coisas ditas quando estava com raiva — ou medo sempre foram um erro. Poderia ter mantido a calma, não ter pulado na sua garganta assim. Não havia dúvidas de que suspeitava que agora a estava atingindo; que no fundo queria ir além de sexta-feira.
Mas suspeita era apenas suspeita, e não fatos. Ela tinha apenas de se controlar antes de hoje à noite e mostrar-lhe que não era um fantoche em suas mãos.
E exatamente como ia fazer isso? — veio a pergunta incômoda. Como este milagre seria alcançado? O sujeito pode lhe excitar com um olhar. Se ele a tocasse — mesmo agora quando está fula da vida —, só Deus sabe o que você ainda o deixaria fazer. Você foi capturada! "Capturada" não era um estado de espírito que tirava o melhor de Charmaine. Nenhum homem jamais iria captura Ia. Havia muito tempo ela tinha prometido ter controle total sobre sua vida, e isto incluía sua vida sexual. É por isso que ela tinha buscado homens com quem gostava de ir para a cama. Porque se recusava a deixar que um bastardo podre i depravado arruinasse totalmente aquela parte da sua vida. Então pare de encher lingüiça sobre este homem, admoestou a si mesma. Você o quer como amante. Sabe que sim Se não disser isso, então parecerá que ele venceu. Você cair em seus braços sempre que ele quiser. É isto o que você quer, uma tonta e fraca diante de seus olhos, dizer uma l e fazer outra? t pequena risada chamou a atenção dele.
- O que é que você acha tão divertido? — ele perguntou.
Você — ela respondeu. — E eu. Nós dois estamos sendo dois idiotas. Mas eu principalmente. Você está certo. Não quero que nosso caso termine quando chegar sexta-feira. Era meu orgulho que falava há alguns instantes, com resquícios de raiva pelas suas táticas de menino glutão. Ora, não se dê ao trabalho de abrir sua boca régia para negar. Você usou impiedosamente sua riqueza indecente ao apresentar uma proposta que sabia que eu não poderia recusar.
— Às vezes um homem tem de fazer o que deve. Mais uma vez, ela riu.
- Só um homem como você. Mas isto são águas passadas e seria insano de minha parte agarrar-me ao meu orgulho quando é tão bom de cama quanto disse que era. Francamente, tendo descoberto os prazeres da carne, não quero abdicar deles ainda. Preocupa-me o fato de talvez não mirar um homem que satisfaça minhas... necessidades mais tão bem quanto você. Obviamente, não sou o tipo de mulher que reage bem a romances normais. Parece que é preciso um certo tipo de homem para me excitar. Alguém muito... habilidoso. Se não for outra coisa, é isto que você é Ali. Muito... habilidoso.
— Por que será, minha querida Charmaine, que você consegue fazer um elogio soar como um insulto?
Porque sob minha doce aparência, querido Ali, sou uma mulher muito geniosa. Você agora certamente já deve saber disso. Ele apenas fitou-a.
— Mas de volta ao assunto em pauta. Estou feliz em continuar sendo sua parceira após a sexta-feira, isto é, até que um de nós ou os dois se canse do acordo. Mas amante, lembre-se bem. Parceira. Não quero mais nada de você. Nem dinheiro. Nem presentes. Nada a não ser este seu corpo divino, além da sua técnica excitante. Compreende?
Mais uma vez ele não disse uma palavra, embora seus olhos falassem muito. Aversão e desejo preencheram a distância entre eles como adagas em brasa.
— Pensei que poderia ir vê-lo na suíte do hotel neste sábado à noite — ela continuou, determinada a ser pragmática e não romântica. — A não ser quando estiver no exterior, é claro. Poderíamos passar a noite juntos, e o domingo, se quiser. Está feliz com este acordo?
— Feliz? — ele ecoou com uma risada seca. — O que é estar feliz no que se refere a você?
— Ora, por favor, não faça de conta que sou o amor de sua vida. Nós dois sabemos que não sou. Sou uma comichão que precisa ser coçada. Estou lhe dando a oportunidade de coçá-la. E antes que pergunte, não, não serei vista com você em público. Esta é minha regra principal. Nada de jantares. Nada de acompanhá-lo às corridas. Nada a não ser uma ligação sexual. De acordo?
Por um terrível momento, ela pensou que ele iria rejeitá-la. O troco pelo que ela tinha feito com ele?
— E devo ser fiel a você? — ele perguntou, com a voz tão fria quanto seus olhos tinham se tornado.
O que dizer? Se tocar em outra mulher, eu o mato parecia exagerado e muito revelador. Mas era o que queria gritar para ele, o que tinha explodido de algum lugar no fundo do seu coração.
Ela tinha a horrível sensação de que havia cometido o maior erro de sua vida. Mas estava feito agora.
-- Isto é da sua conta — ela disse sem pensar. — Não tenho o direito de exigir nada de você, como você não tem de exigir nada de mim.
Percebeu que ele não gostou de ela ter dito isso. Mas isto era muito ruim. Ele podia muito bem gostar ou aceitar, aquele homem infernal deveria tê-la deixado em paz. Mas, tinha de possuí-la, não é? Bem, podia ter seu corpo mas não seu coração. Fosse como fosse, não queria que ele soubesse.
-- Mas se prometermos exclusividade mútua — ele disse enquanto seus olhos continuaram a banhá-la de fogo e gelo ao mesmo tempo —, você poderia tomar pílula e poderíamos desfrutar o prazer de modo mais completo e espontâneo sem ter de pararmos todo o tempo para usar proteção. Mal sabia ele que ela já tomava pílula. Um método de proteção nunca era o bastante para Charmaine. — A natureza não pretendia que houvesse nada entre um homem e uma mulher durante o ato de amor — ele continuou. — A sensibilidade aumenta enormemente com a sensação da carne roçando na carne. O prazer é muito maior. A cabeça de Charmaine deu voltas diante da promessa de experimentar um prazer ainda maior que o da noite passada. — Algumas mulheres gozam automaticamente quando sentem o sêmen do homem inundar seu útero — ele murmurou. — Dizem que este tipo de orgasmo é não só fisicamente mais intenso como também altamente satisfatório do ponto de vista emocional.
Se ele pensou que a imagem de seu sêmen inundando seu útero, a faria derreter, então estava lamentavelmente enganado. Serviu para tirá-la daquele estado idiota de quase-rendição e vê-lo novamente pelo que era. Um macho predador que usaria qualquer arma à sua disposição para ter o que sempre quis, que era tê-la como seu joguete sexual, servir-se sem consideração ou preocupação até que ele se cansasse dela.
— Não vou tomar pílula — ela declarou bruscamente. E se deixar de usar proteção um dia sequer, Ali, nunca o verei.
O sobressalto tomou conta de seu rosto, seguido de uma preocupação intencional.
— Farei o que quiser — ele disse finalmente.
— Bom — ela falou asperamente. — Neste caso, quero voltar para casa agora. Estou ficando com dor de cabeça. Seus olhos estreitaram-se sobre ela.
— É verdade ou não passa de uma desculpa para deixar minha companhia?
— Verdade absoluta. — Mal sabia ele que ele tinha atiçado mais que os seus hormônios agora. Tinha trazido de volta lembranças que estavam esquecidas, mas que quando eram lembradas sempre faziam sua pressão sangüínea subir rapidamente, provocando o pior tipo de dor de cabeça. Sofro de enxaqueca — ela disse, já vendo fachos de luz girando no canto dos olhos, anunciando o terrível latejo e náusea que logo viriam. — Preciso pegar meus comprimidos rapidamente e deitar, senão esta noite não acontecerá nada
— Venha, então — disse ele, e pegou seu braço.
Charmaine não tinha certeza se sua solicitude durante a meia hora seguinte foi por delicadeza ou medo de que ela não enfeitasse sua cama novamente naquela noite. O que quer que fosse, ele a levou de volta para casa e direto para o quarto, onde ele mesmo puxou as cortinas, virou sua cama, trouxe-lhe um copo de água para engolir os comprimidos, depois acomodou-a confortavelmente antes de dizer-lhe que se sua dor de cabeça não tivesse passado totalmente até as sete esta noite ele cancelaria o jantar na sala de jantar para a outra noite. Ela poderia pedir uma bandeja no seu quarto, ou no dele, se não estivesse se sentindo bem. Só tinha de avisá-lo, ele estaria em seus aposentos ao lado. Ela só tinha de chamar. Ou pegar o telefone e ligar para Cléo, se preferisse.
— Basta discar zero — disse a ela ao sair e fechou a porta docemente.
Charmaine ficou lá deitada sob o lençol rosa, olhando o dossel por muito tempo, esperando o desconforto começar. Mas o latejo não ocorreu. Nem a náusea. Parecia que os comprimidos tinham feito sua mágica a tempo. Eles também a forçaram a relaxar, e com o relaxamento vieram lágrimas. Desta vez não lágrimas pelo que tinha acontecido no passado, mas lágrimas pelo que estava acontecendo agora, no presente. Que confusão!
Mas por outro lado ela sempre fora confusa, ela admitia, no fundo onde todas as verdades amargas jaziam. Ali havia perguntado se sua dor de cabeça era uma desculpa para abandonar sua companhia. Na hora ela não pensou assim. Talvez fosse, porque, por mais que fingisse um envolvimento não emocional com ele na sua frente, sabia, no fundo de seu coração, que realmente estava se envolvendo. Tanto que a apavorava. De todos os homens para me apaixonar!
— Ai, meu Deus — ela soluçou, e enfiou a cabeça no travesseiro agarrando-o desesperadamente. As lágrimas rolaram pelo seu rosto e pingaram de seu nariz, ensopando a fronha. Mas nada podia detê-las. Elas continuaram rolando até que o esgotamento a venceu e a lançou no esquecimento abençoado do sono.
Em seus aposentos ao lado, Ali estava sentado à sua escrivaninha e franzindo as sobrancelhas enquanto lia o e-mail da AIS. Não era um boletim mas um pedido para que ele telefonasse para o escritório pessoalmente. Quando ele fez, foi passado para o chefe de segurança, um homem chamado Ryan Harris, com quem ele havia lidado muitas vezes antes.
— Que bom que o senhor ligou, Alteza — disse Ryan.
Queria ter uma conversa em particular com o senhor referente a uma profunda investigação sobre o passado de uma certa senhora que estamos realizando a seu pedido. Perdoe meu tom circunspecto, mas acho melhor não dizer seu nome. As linhas telefônicas nem sempre são tão seguras como gostaríamos, e os e-mails, é claro, são notoriamente inseguros.
— Aprecio o seu cuidado, Sr. Harris — disse Ali. -
-- Investigar alguém é sempre uma questão delicada.
-- Então o que descobriu?
— Um certo rumor veio à luz durante o dia de hoje, que» em vista do perfil altamente público da senhora, poderia representar um problema se prosseguirmos. Apenas fazer perguntas, não importa quão discretamente, pode criar um efeito compressor no que se refere aos ricos e famosos. Queria me certificar de que deseja que continuemos.
— A que rumor está se referindo? — Ali perguntou com um ligeiro aperto no peito.
— Aparentemente, uma pessoa na cidade natal da senhora acha que sua irmã mais nova — a que morreu de câncer — não era, na verdade, sua irmã, mas sua filha.
O choque diante desta notícia fez a mão de Ali agarrar o fone até as pontas dos dedos ficarem brancas.
— Como este segredo foi guardado não sei, dada a fama da pessoa em questão — Harris prosseguiu. — Mas imagino que a comunidade seja fechada, e meu pessoal de operações só colheu esta informação por causa de uma tentativa com uma garçonete de bar que trabalha no hotel da cidade que foi colega de escola da senhora em questão. Ela pode ter falado por ciúme ou despeito, mas ir mais fundo seria dar ouvidos ao boato e a imprensa marrom poderia suspeitar. É que eles têm ouvidos em toda parte atualmente. Pensei que poderia não querer isso, Alteza, dado o seu interesse na senhora.
- Está perfeitamente correto, Sr. Harris. É a última coisa que desejaria. Por favor, cancele a investigação imediatamente. E destrua os arquivos em questão. Naturalmente, a quantia acordada ainda está de pé, bem como o bônus prometido. Fico extremamente grato por sua discrição. Ali desligou e recostou-se na cadeira da escrivaninha, passando as mãos pelo cabelo, agitado. Era verdade? E se fosse, quando a criança tinha nascido e por que Charmaine escondera sua própria filha? Vergonha?
Ela não parecia ser o tipo de envergonhar-se de ser mãe solteira.
Ambição?
Se fosse tão ambiciosa, em primeiro lugar, por que teria o bebê?
Coração partido?
, Agora, isto tinha sua pitada de verdade. Ser seduzida, depois abandonada por um parceiro, explicava as ações e atitudes de Charmaine em relação ao sexo e aos homens principalmente. O amor que virou ódio do pai poderia ter provocado sua rejeição da filha, embora não justificasse uma atitude dessas. Apenas uma mulher amarga ou com coração de pedra negaria seu próprio filho. É claro que Charmaine realmente era bem durona. Durona e cínica.
Ali franziu o cenho e girou a cadeira do escritório de frente para a janela e a vista ao longe, uma vista que geralmente tinha o poder de lhe distrair e acalmar, principalmente quando o sol estava se pondo e as montanhas onduladas assumiam aquele rubor maravilhosamente quente. Mas os seus olhos não viram o pôr-do-sol glorioso naquele momento. Ou a paisagem esplêndida. Estavam voltados implacavelmente para dentro, para seus pensamentos e sentimentos aflitos.
Como poderia ele estar apaixonado por uma criatura assim?
— Perversa — ele rosnou, e depois fez uma careta. Sim, um amor assim era perverso. Ele imaginara que saber sobre seu passado lhe daria poder sobre ela. Em vez disso, tudo que tinha feito era dar-lhe certeza de que não tinha futuro com ela, não o que ele queria.
Ela era boa para uma coisa e uma coisa apenas. Seria idiota fantasiar algo mais. Ela achava que sim também, uma vez que tinha explicado detalhadamente suas intenções em relação a ele. O único papel que queria para ele em sua vida era o de amante. Até que se cansasse dele. Nem mesmo se importava se ele fosse infiel. Na verdade, esperava que ele fosse.
A percepção de que tinha muito pouca consideração e pouco respeito por ele aborrecia Ali mais que qualquer outra coisa. Considerava-o um mulherengo sem consciência, um homem que levava as mulheres para a cama o tempo todo sem afeição ou consideração.
O problema era que... estava certa. Era exatamente o que ele se tornara durante a última década. Um usurpador de mulheres desalmado.
Mas seu sangue não era tão frio quando lidava com esta mulher. Era quente. Mais quente do que já fora antes.
Quanto a consideração e afeição...
Ele gemeu.
Não queria estar apaixonado por ela. Diante das circunstâncias, preferia que seus sentimentos ficassem atados à luxúria. A luxúria sempre passava. Mas Ali sabia que já estava muito além da luxúria.
Que fazer para que, pelo menos, ela concordasse em aparecer com ele? Precisava mais dela do que um eventual sábado à noite. O que poderia fazer para convencê-la? Ela riria de uma declaração de amor. Charme e bajulação não tinham efeito. Mais suborno estava fora de cogitação. Na verdade, ele só tinha uma arma para convencê-la para ter o que queria.
Os dentes de Ali cerraram firme no maxilar. Não era de seu gosto usar estas táticas, mas ela não lhe deixava opção, absolutamente nenhuma opção.
— NÃO ESTÁ FELIZ que sua dor de cabeça se foi? — murmurou Ali ao puxar o cabelo dela para o lado e curvou-se para beijar o: seu pescoço.
Charmaine tremeu e então virou a cabeça para o lado a fim de proporcionar-lhe melhor acesso.
— Mmm — foi tudo o que ela conseguiu dizer no momento.
Estava deitada de barriga para baixo no meio da enorme cama, aturdida e tonta com sua sedução. Seus lábios desceram por sua espinha, lambendo e beijando sua pele, com suas mãos acariciando-a ao mesmo tempo. Sua boca permanecia no meio de suas costas enquanto aquelas, ai, mãos tão maravilhosas escorregaram entre suas pernas.
Ela gemeu, depois choramingou com sua necessidade crescente de tê-lo de volta onde ele estivera há apenas alguns minutos.
— Ali — ela falou com a voz embargada.
— O que é, minha querida? Ela retesou-se com a carícia, ou foi porque seus dedos se deslocaram para aquele lugar que não poderia ser ignorado. ou negado?
— Ah, assim. Assim.
— Paciência — ele exortou suavemente. — Ainda não chegou a hora.
Mas ela ia gozar. Muito em breve. Seu segundo clímax desde que se apresentara na porta que ligava à sua suíte pouquíssimo tempo atrás.
Acordara de seu sono e encontrou seu quarto na escuridão e sua cabeça em paz. Seu corpo nem tanto. Em segundos, já estava suplicando por ele. Tinha tentado uma ducha fria, mas não adiantou. A premência de sua necessidade a levara a colocar o roupão atoalhado rosa para hóspedes sobre o corpo e apresentar-se à sua porta sem nenhuma maquiagem, com o rosto vermelho de desejo. Ou seria vergonha? Um olhar em seus olhos foi tudo que precisou para ele compreender a razão de sua vinda.
Não disse uma palavra. Apenas a tomou nos braços e a carregou para o quarto mais uma vez. Seus olhos não saíram de cima dela enquanto a colocou na cama, abriu o roupão e já entre suas pernas, deixando-a de braços e pernas abertos, mandou que não se movesse enquanto se despia e buscava »preservativo. Quando estava pronto, ela estava mais do que pronta.
Ela gozou trinta segundos depois de ele a penetrar. Mas ele não. Retirou, depois juntou-se a ela na cama, beijando-a e acariciando-a todo o tempo. Agora ela estava prestes a gozar novamente, tremendo de necessidade, enquanto ele parecia bastante controlado.
Como ele fazia isso? — ela se perguntou, perplexa. Ignorar sua própria excitação enquanto estava em outro planeta. Ele alcançara suas costas agora e esfregava seu rosto com a barba por fazer no rosto dela ligeiramente arredondado.
gemeu. Seu traseiro automaticamente se levantou do chão querendo mais. Quando ele colocou um travesseiro em sua barriga e separou suas coxas, ela se retesou na expectativa de sua penetração. Mas não. Começou a esfregar a barba sobre a pele suave da parte interna de suas coxas, ao mesmo tempo soprando sua respiração quente de encontro à sua umidade.
Ela choramingou de frustração e retorceu seu traseiro. Mas mesmo assim ele não lhe deu o que ela desesperadamente desejava. Em vez disso, sua boca se concentrou, e sua barriga se retesou ainda mais. Sua língua desceu pelo vale do desejo e dançou ao redor do centro. Ela se contorceu e tentou se agarrar, espremendo tudo para impedir que si despedaçasse. A espera era cruel visto que ele continuava a instigá-la e atormentá-la. Mas então, de repente, abençoadamente, lá estava ele, preenchendo-a, fazendo-a estremecer de alívio.
Quando ele a puxou para cima colocando-a de quatro e cobriu seus seios com as mãos, ela arfou de prazer. Ele apresentara a esta forma de fazer amor na noite passada sobre o carpete verde da sala de estar. Ela adorou então e acolhia com mais alegria ainda agora, em parte porque ele não podia ver seus olhos. Ele parecia gostar de observar seu rosto quando ela gozava e preocupava-o o fato de que ele pudesse ver os sentimentos crescentes de emoção que a consumiam agora toda vez que seu corpo se unia ao dela. Quando começou a bombear dentro dela, ela fechou os olhos e tentou pensar neles como apenas dois animais acasalando em algum lugar da selva. Isto não tinha a ver com amor. Apenas sexo. Principalmente da parte dele. Ela tinha de se lembrar disso constantemente.
Seu ritmo era punitivo, sua penetração profunda, o controle sobre ela poderoso e possessivo. Aos poucos, ela pôs de lado todos os pensamentos e deixou que ele a levasse àquele lugar esplendidamente irracional onde ela ficava reduzida a uma mulher primitiva, livre de todos os conceito de civilização, livre para se acasalar como um animal no cio. Eles produziam ruídos altos juntos, ele grunhindo e ela gemendo. Quando ela se retesou e gritou ao atingir o clímax, Ali respondeu rugindo. Ele curvou-se para trás, colocando-se firme contra seu corpo, enquanto suas mãos prendiam seus seios. A sua boca se escancarou e ela aspirou o ar de que tanto precisava. Sua cabeça rodopiava com tudo isso. Sua carne o espremia e soltava durante contrações aparentemente intermináveis.
Parecia uma eternidade até que seus espasmos mútuos chegaram ao fim e eles caíram na cama. Ali rolou para o lado, mantendo-a moldada ao seu corpo de costas para ele.
-- Incrível — disse ele suavemente no seu ouvido. — Temos magia juntos, minha querida.
Magia? Charmaine estava muito feliz de não poder olhar nos seus olhos neste momento, principalmente com lágrimas despontando nos olhos.
O telefone tocando ao lado na cama não emitia um som agradável. Ali murmurou algo a meia voz e Charmaine fraquejou loucamente prevendo sua retirada. Apavorada de que ele pudesse virá-la e ver suas lágrimas, ela mesma começou a afastar-se dele.
- Não se mexa — ele gritou, e mantendo um dos braços apertados em volta de sua cintura, esticou o outro por cima do seu corpo e apanhou o fone.
Com o telefone a apenas alguns centímetros de seu ouvido, Charmaine podia ouvir tudo o que era dito. O problema era que a pessoa do outro lado estava falando em uma Língua estrangeira, provavelmente árabe. Entretanto, nada podia cobrir o fato de que era uma mulher. Quando ali exclamou: “Nádia!” com a voz assustada, Charmaine sabia exatamente com quem ele estava falando. Era ela, sua cunhada, a mulher que ele amava, a mulher casada por quem fora exilado.
A consternação tomou conta de Charmaine enquanto estava ali, ainda fundida ao corpo de Ali e forçada a ouvir todas as emoções de sua voz expressiva. A surpresa dele em ter notícias desta Nadia. Sua preocupação com alguma coisa. Suas palavras suaves de consolo e preocupação.
A conversa aparentemente íntima continuou, com Charmaine ficando cada vez mais angustiada. Como ele ousava ficar de conversa melosa com esta mulher enquanto ainda estava dentro dela? Como ele ousava?
Quando ela se moveu mais uma vez para separar seus corpos, o braço dele prendeu-se ainda mais firme em volta dela, lembrando-lhe do quanto ele era forte. Forte demais para ela. Era melhor ficar quietinha ali até ele terminar. Lutar e prosseguir seria muito revelador.
Mas o negro ciúme que começou a ferver dentro dela revelava ainda mais. Para ela.
Não estava apenas se envolvendo com Ali, percebeu. Estava envolvida. Desesperadamente. Profundamente. Era por isso que teve vontade de chorar agora há pouco. Porque sabia que por mais que Ali gostasse de fazer amor com ela, não a amava. Nunca a amaria.
Finalmente ele terminou a ligação. Mas não parecia ter terminado com ela.
Nenhuma palavra de explicação após desligar. Nada a não ser um breve e pronunciado silêncio antes de sua atenção voltar-se ao corpo estarrecido de Charmaine. Estarrecido porque sabia que ela ainda desejava que ele continuasse, apesar de saber que seu coração estava em outro lugar e sempre estaria.
— Bem, onde eu estava? — ele murmurou, enquanto suas mãos subiam e desciam pela parte frontal de seu corpo. Quando elas roçaram seus seios eretos, ela tremeu convulsivamente.
Sua nojenta vulnerabilidade a ele a deixava com raiva. E quando Charmaine estava com raiva ela ficava muito traiçoeira, e teimosa.
Pensei que tinha dito para não se mexer - ele disse asperadamente
— Vá para o inferno — ela rebateu. Vou me mexer se quiser, quando quiser. Estou cansada de você me dizer para não me mexer o tempo todo. Ele suspirou.
— Nunca se tornará realmente boa de cama, minha querida Charmaine, se não estiver disposta a aprender, ou a atiçar o autocontrole.
— Não sou e nunca serei sua querida Charmaine. — Ela sabia quem era sua queridinha. — E talvez eu não goste de controle. Ao contrário de você — ela acrescentou em tom
duro.
— Acha que quero controlá-la?
— Não quer?
— Acho que homem nenhum poderia controlá-la. Não totalmente. Mas parece que quanto mais uma mulher pratica tanto controle sobre sua vida pública, mais prazer ela encontra em abandonar todo este controle na privacidade do quarto. Não é uma sensação libertadora fazer o que digo? Ser irracional apenas uma vez? Deixar alguém assumir a responsabilidade do seu prazer e da sua satisfação? Estou em condições de proporcionar os dois. Mas você sabe disso. Foi por isso que me procurou esta noite, e por isso continuará a me procurar de agora em diante, em qualquer lugar e a qualquer hora até que eu queira.
— Desejo seu — ela disse, e riu. Mas sua risada logo desapareceu sob o ataque de sensações que suas mãos começaram a criar. O homem deve ter vendido a alma ao diabo para saber como tocá-la assim, fazê-la desejá-lo assim. Ela estava desesperada para se mexer mas se recusava a fazer. Ela lhe mostraria que podia se controlar, e resistir a ele.
Não vou me mexer, jurou freneticamente. Não vou me retorcer e me contorcer. Não vou!
-- Pode mover-se agora — ele sussurrou após alguns minutos de tortura. E com um soluço torturado, ela se mexeu.
ALI NÃO CONSEGUIU acreditar quando, logo após o helicóptero pousar no topo do Regency naquela sexta-feira, Charmaine se recusou a acompanhá-lo à sua suíte, dizendo-lhe que já tinha desperdiçado tempo suficiente naquela semana, disse que tinha muito que fazer com os novos fundos da Fundação e que entraria em contato. Nem mesmo deixou-lhe seus números de telefone ou o endereço, embora ele já soubesse os dois. Ela morava sozinha num apartamento perto de Chatswood Station e seu número não constava da lista.
Orgulho, ele concluiu depois que sua raiva tinha passado. Seu maldito orgulho. O dele então entrou no jogo também, que por mais que a desejasse todo aquele fim de semana, não se mexeu para contatá-la, ou forçá-la a mostrar suas intenções de alguma maneira. Ele esperaria que ela o procurasse.
E ela o faria. Ele sabia que sim. Nenhuma mulher que experimentara o que ela teve durante toda a semana poderia dar as costas indefinidamente para um prazer desses. No final, seu corpo suplicaria por ele novamente, como o dele suplicava pelo dela. Mais cedo ou mais tarde ela cederia àquela súplica. Ele só tinha de ser paciente.
Uma semana. Ela não o via há uma semana. Uma semana de puro inferno, de noites sem dormir e de tormento mental. Ela se mantivera ocupada, trabalhando muitas horas, tendo reuniões com as pessoas que poderiam ajudar a colocar o novo e incrível saldo bancário da fundação em movimento.
Gerentes de banco. Administradores de hospitais. Especialistas em câncer. Chefes de companhias de construção.
Até sexta-feira, as decisões tinham sido tomadas e postas em prática. Haveria uma ala para pacientes de câncer novinha em folha no hospital infantil que incluía uma unidade de pesquisa de primeira categoria. Encomendou-se do exterior o equipamento médico mais moderno e um agente imobiliário ficou encarregado de comprar mais casas perto do hospital a fim de proporcionar acomodação para as famílias das crianças doentes, principalmente aquelas oriundas do campo que tinham de viajar até Sydney. Vários carros novos foram comprados e presenteados aos pais dos pacientes que não tinham um veículo confiável para a longa viagem freqüentemente necessária com uma criança doente.
Mas até aquela mesma sexta-feira, Charmaine encontrava-se no limite no que se referia a Ali. Tinha de procurá-lo, embora soubesse que o tempo passado longe de sua presença viciante não tinha sido muito longo. O domínio sexual que tinha sobre ela era ainda pior do que ela percebera. O amor o tornava pior. Mas negar-se a sua companhia, principalmente o sexo com ele, tinha se tornado insuportável.
Então Charmaine reservou um quarto no Regency na sexta de manhã para aquela noite, um lugar onde se vestir e para onde fugir se precisasse de um esconderijo. Ali mencionara na semana anterior durante a viagem de helicóptero de volta para Sydney que seus amigos chegavam para jogar pôquer um pouco antes das oito e só saíam depois de meia-noite. Na época, ele obviamente esperava que ela ficasse com ele naquela noite, uma esperança razoável, visto que ela parecia ter perdido toda a sua força de vontade naquela semana. Ela não somente esteve sexualmente à sua disposição durante o resto de sua estada no haras, mas continuara com seu papel de companheira de cama enlouquecida durante a viagem de volta para Sydney.
Mas a idéia de ele jogar cartas com Rico e Renée enquanto ela ficava escondida no seu quarto, esperando acordada como uma verdadeira escrava sexual até que ele voltasse, ia além dos limites. Não podia fazer isso consigo mesma. E não fez.
Não faria esta noite também. Daí o seu próprio quarto.
Mas também não poderia esperar até depois de meia-noite. Precisava estar com ele, e logo!
A ligação de Charmaine, logo após a chegada dele na suíte do hotel, trouxe a Ali um grande alívio emocional, embora nada além de sua presença na cama dele aliviaria sua frustração física. Seu aviso inesperado de que estava realmente no hotel e de que gostaria de subir e vê-lo por uns instantes antes de ele começar sua noite de jogo de cartas o deixava tanto excitado quanto preocupado. Ela quis dizer o que ele pensou que disse? Ele não ousava perguntar. Poderia não gostar da resposta. Vê-la era o suficiente por enquanto.
— Pedirei a James que faça com que uma chave-mestra chegue até você — ele disse.
-- James?
— O mordomo interno.
— Sim, faça isso — ela comentou secamente. — Depois talvez seja prudente dispensar seu serviço por um tempo, desejo vê-lo sozinho.
Sozinho.
Era notícia boa ou ruim? O corpo de Ali desejava que fosse boa, visto que ele já tinha saltado diante da perspectiva de estar com ela novamente.
— Vou dispensá-lo imediatamente.
— Suspeitei disso.
Cinismo em sua voz. Naturalmente, ela pensava que tudo que ele queria dela era sexo. Tinha de fazê-la ver desta vez que não era assim. Sentira sua falta terrivelmente, e não apenas de seu corpo.
Tinha acumulado grande respeito por parte dele quando deixou na sexta-feira passada. Mais ainda porque ele sabia o quanto tinha sido difícil para ela fazer aquilo. Ele tinha sido impiedoso em sua intenção de prendê-la sexualmente a ele naquela semana, programá-la para cumprir suas ordens. Tinha usado todas as técnicas de sedução que conhecia. Todas as maneiras de fazê-la render-se totalmente.
Mas no final ainda era a mesma. Que coragem ela tinha. Que caráter. Que orgulho maravilhoso.
Este último pensamento trouxe um momento de pânico. Ela ia vê-lo para dizer na sua cara que não queria ter mais nada com ele?
Ali não conseguia imaginar o que ele poderia fazer se este fosse o caso. A vida, ele percebera na semana passada, não valeria a pena sem ela.
Sua missão impossível agora não era convencê-la apenas a viver com ele, mas casar-se com ele.
Quando a campainha soou dez minutos depois, ele estava na correta posição de realeza. Era um esforço para relaxar suas mãos dos terríveis punhos em que se transformaram, Andar até a porta e abri-la foi uma das piores coisas que jamais fizera.
Ao vê-la, sua respiração saiu dos pulmões numa lenta corrente de desejo mal disfarçado.
Estava linda de morrer, e perversamente sensual. Mas ela sempre estava linda de morrer e perversamente sensual. E, Mais ainda com o que estava usando esta noite, um vestido azul-claro de seda com alças diminutas e uma saia com frufrus. Suas pernas, ele observou, estavam sem meia e seus pés calçavam sandálias prateadas com saltos altos o suficiente para deixá-la na altura de seus olhos. Seus cabelos não cobriam seu rosto, exatamente como ele preferia. Seu rosto estava bastante maquiado, os olhos delineados com lápis preto e sombra azul-fumaça, sua boca carnuda parecia mais carnuda com um batom rosa-escuro. Brincos prateados pendiam de suas orelhas. Aquele perfume, que sempre o deixava louco, exalava em ondas impiedosas provenientes de seu colo.
Impossível não notar que estava sem sutiã, principalmente considerando-se o estado ereto de seus mamilos. Impossível não notar também que estava olhando para ele com um desejo quase assustador. Seus olhos brilhavam enquanto o examinava dos pés à cabeça.
— Ele se foi? — perguntou com a voz rouca. — O mordomo... ele se foi?
Ele assentiu com a cabeça. Difícil falar. O desejo dela havia instantaneamente se tornado seu desejo, trazendo com ele uma ereção arrebatada. Entrou no foyer e fechou a porta. Sua respiração era superficial e rápida quando ela esticou o braço e comprimiu sua mão direita sobre sua virilha.
— Cruel — disse.
Entendeu o que ela quis dizer. Era realmente cruel como se sentiam quando estavam perto um do outro.
Seus dedos trabalharam rápido em suas roupas, libertando-o para o ar repentinamente adocicado do foyer. Ela parecia emanar ondas de calor. Ou era ele em perigo de combustão espontânea? Por uma fração de segundo, ia ajoelhar-se e colocá-lo na boca. Mas não o fez. Apenas continuou olhando para ele enquanto levantava a saia com as mãos, observando sua reação atordoada com sua nudez por baixo. Quando o vestido estava todo preso na cintura, ela encostou-se na porta apoiando-se no traseiro e nos ombros enquanto afastava as pernas.
— Faça amor comigo — ela ordenou, com a respiração acelerando-se ainda mais. — Nada de preliminares fantásticas. Apenas sexo duro e rápido.
Embora estivesse brutalmente excitado, Ali ainda se lembrava do que ela dissera se ele fizesse amor com ela sem proteção. Era algum tipo de armadilha, um teste, alguma desculpa estranha para ela abandoná-lo?
— Mas e a ca...?
— Estou tomando pílula — ela interrompeu bruscamente — Sempre tomei. Não olhe assim para mim — ela o repreendeu. — É o que você sempre quis, não é? Mostrar-me como será incrível sem nada entre nós? Vamos lá, então. Mas faça rápido antes que eu mude de opinião.
Ele fez. Rápido. De maneira selvagem. Agitando-se dentro dela repetidamente, jactando-se de seu tremor violento, sentindo-se triunfante quando seu corpo se despedaçou em seus braços.
Agora ela era realmente sua, pensou ele com uma satisfação selvagem enquanto gozava também, dando vazão a seu alívio em estado natural, sem se dar conta dos solta dolorosos que lhe sobrevieram em algum momento. Só quando seu próprio orgasmo cataclismático começou a cessar, foi que Ali percebeu que algo estava errado. Muitíssimo errado.
— Charmaine? Charmaine, querida, o que é? — Ele cobriu o rosto dela com as mãos, mas ela continuava a verter lágrimas de modo histérico. Quando seus joelhos começaram a se curvar, ele a suspendeu até a sua cintura e carregou-a para o quarto.
Sua angústia era tão grande quanto sua confusão quando ele gentilmente separou seu corpo do dele e colocou seu corpo ainda tremendo em cima da colcha azul. Quando ele
abaixou seu vestido para dar uma aparência de modéstia, ela soluçou e rolou na cama assumindo uma posição fetal. Suas mãos estavam comprimidas sob o pescoço e seus olhos cerrados. Mas mesmo assim, ela continuava a chorar.
Ali não sabia o que fazer ou dizer para confortá-la. Por que ela estava chorando assim, como se seu coração e sua alma estivessem se desintegrando? Ela não tinha feito o que queria? Não tinha gostado do acasalamento?
Claro que não. Possivelmente, tinha sido realmente um teste e ele infelizmente tinha sido reprovado. O que quer que fosse, ele se sentia um fracasso. Lá estivera ele, há apenas alguns minutos, dizendo para si que somente vê-la seria o bastante. E o que ele fizera? A tinha possuído como um selvagem de encontro a uma porta?
A auto-repugnância lhe sobreveio ao olhar para baixo para seu membro para lá de saciado. Colocou-o irritado de volta no lugar, longe do alcance da vista, fechou o zíper da calça e deitou na cama atrás de sua figura consternada.
— Quietinha, querida — ele murmurou, e começou a acariciar seus cabelos. — Vai passar mal.
— Você não compreende — ela disse com a voz embargada. — Estou sendo... punida.
— Punida! Como está sendo punida? E por quê?
— O maior de todos os pecados.
— Qual deles?
— O de ser uma mãe terrível. Ai, meu Deus. Eu não queria contar a você. Agora você me desprezará ainda mais.
— Desprezá-la! Charmaine, querida, eu amo você. Você,certamente já deve saber disso agora.
Ela congelou, então virou-se para lançar-lhe um olhar ameaçador através das pestanas encharcadas.
— Como ousa dizer isso para mim quando sabe que sei que não é verdade? Eu estava lá, lembra-se, quando você recebeu aquela ligação de seu verdadeiro amor? Ouvi você conversando com Nadia. Tão afetuoso e tão carinhoso.
Ali estremeceu de arrependimento por não ter explicado a ligação de Nadia antes. Mas tinha ficado com tanta raiva de Charmaine na época. E honestamente não pensou que ela tivesse se importado. Mas agora via qual devia ter sido sua impressão e estava arrependido de verdade. Entretanto, olhando pelo lado bom das coisas, o ciúme de Charmaine indicava que ela tinha sentimentos por ele que abrangiam bem mais que a luxúria.
Ele inclinou-se sobre ela e deu-lhe um doce beijo, imprensando suas costas no travesseiro.
— Nadia não é mais meu verdadeiro amor. Não tenho certeza se um dia foi. Realmente amei-a um dia. Mas foi o amor de um jovem mimado que sempre teve o que quis. Acho que não poder ter Nadia fez meus sentimentos por ela parecerem mais fortes do que realmente eram. Só quando me apaixonei por você percebi o que é o verdadeiro amor. O que você ouviu naquela noite não eram palavras de amor. Nadia me telefonou para dizer que tinha câncer.
— Câncer!
— Sim. Câncer do colo do útero. Os médicos o removeram, mas a possibilidade de morrer, ao que parece, fez com que visse o quanto realmente amava seu marido, e vice-versa. Conversaram de maneira franca talvez pela primeira vez no casamento, falando de seus verdadeiros sentimentos. Quando confessou a Khaled sobre mim, ficou escandalizada ao descobrir que ele já sabia de nosso romance proibido e teve medo todo este tempo de que ela ainda me amasse. Quando ela lhe assegurou que ele era o único homem que amava, ele sugeriu que ela me telefonasse e esclarecesse. Os dois estavam preocupados de eu não ter me casado por causa dela. Fiquei feliz de lhe contar que tinha conhecido outra pessoa, alguém que amava e com quem queria me casar.
— Quer casar-se comigo?
— Mais do que tudo.
— Mas você não pode. Não me conhece. Eu lhe disse. Sou terrível.
— Por causa desta criança que teve? Aquela para quem foi uma mãe terrível? — Tinha de tomar muito cuidado para não deixar transparecer que sabia, deixar que ela contasse tudo com suas próprias palavras e a seu tempo.
Ela assentiu com a cabeça. Seus olhos encheram-se de lágrimas novamente.
— Becky — ela disse com a voz rouca. — Ela... morreu. De leucemia. Tinha apenas seis anos e ela... nunca soube que eu era sua mãe. Pensava que era sua irmã.
Neste momento ela caiu em prantos novamente. Ali tomou-a nos braços e apenas a abraçou, até que ela finalmente parasse de chorar.
— Sinto muito — ela murmurou, recuando para enxugar os olhos com as mãos. — Eu... não gosto de falar sobre isso. Fico perturbada.
— Acho que deveria me contar, Charmaine. Se vamos nos casar, não deveria haver segredos entre nós. Ela olhou fixamente para ele mais uma vez.
— É verdade esta coisa de me amar e querer se casar comigo? Não... é apenas um truque para manter-me dócil no intuito de fazer mais sexo?
Ali teve de rir.
— Minha querida Charmaine, acha que depois da maneira como agiu quando veio me ver esta noite eu teria de mentir para você para ter mais sexo?
Ela corou.
— Eu... não sei o que deu em mim. Nunca fui assim antes. Mas também... eu... nunca tinha me apaixonado antes.
Ali mal podia acreditar no que acabara de ouvir. Ele tinha tido esperança de que talvez ela tivesse se apaixonado por ele. Mas ouvir as palavras...
— Nem mesmo pelo pai de sua filha? — ele perguntou suavemente.
— Com John? Meu Deus, não. Não — ela repetiu com um tremor. — Tenho de admitir que era muito atraída por ele. Ele era, de fato, um pouco como você. Muito rico. Muito bonito. Muito agradável. Eu o conheci na primeira vez que vim a Sydney para desfilar. Ele era bem mais velho. Uns trinta anos, eu acho. Quando me convidou para jantar, fiquei lisonjeada e excitada. Quando depois me convidou para voltar a seu apartamento para tomar uma bebida, eu tolamente fui. Eu., já tinha bebido muito, e então estupidamente tomei outro copo quando cheguei lá,
Aha. Então agora ele tinha algumas das respostas sobre o porquê de ela ter sido tão hostil com ele logo de cara. E por que não bebia mais álcool. Ele a fazia lembrar deste playboy que a seduzira, e depois a abandonou.
— O patife se aproveitou de você enquanto estava embriagada.
— Não. Nada tão civilizado assim — ela respondeu com um risinho frio, e seu próprio sangue congelou.
— Ele estuprou você? Ela assentiu com a cabeça. Ali aspirou subitamente.
— Espero que esteja apodrecendo em alguma prisão por aí. Porque se não estiver, terei de matá-lo.
— Ele já está morto — ela disse sem rodeios. — Morreu de overdose alguns anos atrás.
— Alá é justo.
— Na verdade não me lembro do estupro — disse. Ele colocou alguma coisa na bebida que tomei assim que cheguei ao apartamento. Lembro-me de ficar meio abobada deitada no sofá, e depois nada até o dia seguinte. Quando acordei estava nua em sua cama e sabia que ele... tinha feito algumas coisas enquanto estava inconsciente. O problema era que eu não tinha provas do estupro. Não tinha hematomas nem sangrava. Não era virgem, veja bem. Houve um garoto na minha idade. O... filho de um vizinho com quem eu andara no verão anterior.
Ali ficou surpreso com esta revelação. Por mais que sempre apreciara a refrescante ausência de inibição sexual nas mulheres ocidentais, às vezes ficava chocado com elas.
— Estava apaixonada por esse garoto? — ele perguntou cuidadosamente, tentando encontrar alguma desculpa para o comportamento.
— Não — ela retorquiu sem um pingo de culpa ou vergo-! — Éramos apenas crianças curiosas experimentando um ao outro. Coisas desse tipo acontecem no campo, Ali. Você tem de ser criado lá para entender. Mas significava que John não teve dificuldades em fazer sexo comigo. Quando o acusei de transar comigo enquanto estava dormindo, ele admitiu sem problemas. E então me disse para não me dar ao trabalho de ir à polícia, que seu pai era um homem muito importante e que nada aconteceria. Mas, de qualquer maneira, eu fui. Mais idiota fui eu.
— O que aconteceu?
— Ah, as coisas de costume. Uma ida embaraçosa ao hospital para fazer testes e um exame interno. Infelizmente, nenhuma prova de estupro. Apenas muito sêmen. E o teste de sangue não acusou drogas. Na época, o que quer que fosse que ele tinha me dado já estava fora do organismo. Quando a polícia o interrogou, ele admitiu ter feito sexo comigo várias vezes, mas sustentou que foi consentido. Parecia estranho eu ter ido ao seu apartamento por vontade própria tão tarde da noite. Mas seu golpe de misericórdia foram as fotos polaróide que ele tirou de mim.
— Fotos — repetiu Ali, sentindo-se enjoado.
— Sim, ele tirou fotos de mim, nua. Em todos os tipos de poses obscenas. Infelizmente, em algumas delas meus olhos estavam semi-abertos. Achei que definitivamente parecia drogada e fora de mim, mas a polícia disse que pareciam os olhos vitrificados de uma garota excitada durante e após o sexo.
Ali abafou um gemido. Por mais que este cenário o enojasse, tinha de se lembrar que ela teve de suportá-lo e depois conviver com as conseqüências. Sua admiração por sua coragem aumentou, bem como sua compaixão pela situação difícil dela.
— Ele disse à polícia que eu era uma jovem modelo ambiciosa que posara para as fotos sem problemas, mas que virei bicho quando ele quis deixar as coisas como uma trepada de uma noite. Seu pai chamou um advogado renomado para defendê-lo e não demorou muito para todas as acusações serem retiradas e eu ficar sozinha com a criança, por assim dizer.
— Não quero ser insensível aqui, Charmaine, mas, diante das circunstâncias, por que você não pensou em interromper a gravidez?
— Entrei em processo de negação. Recusava-me a acreditar que estava até mesmo grávida. Só quando perdi um trabalho como modelo porque estava ganhando muito peso me vi forçada a encarar a realidade. Disse ao meu agente que estava doente e voltei para a casa dos meus pais. Mas então já estava com cinco meses. Eu... tive um tipo de colapso nervoso e exigi que o bebê fosse adotado.
— Pobrezinha — disse Ali, e esticou o braço para tocá-la. Mas ela retraiu-se, com os olhos fixos inexpressivamente em algum lugar do teto.
Mamãe podia ver que eu não podia agüentar na época, mas pensou que depois me arrependeria de ter dado a criança. Ela propôs o plano de dizer para todo mundo que era seu filho. Vivíamos numa fazenda isolada, então para mim seria fácil ter a criança em casa sem ninguém saber. Ninguém nem mesmo sabia que eu estava em casa naquela época. Todos na cidade pensavam que eu ainda estava em Sydney. Mamãe simplesmente começou a colocar enchimento sob os vestidos e dizer para todo mundo que estava esperando um bebê. Dormia no meu quarto a maior parte do tempo, feliz de ter alguém para resolver meu problema.
Seus olhos finalmente se levantaram para olhar para ele. Olhos tão tristes.
— Sei que deve estar pensando que foi perverso de minha parte rejeitar meu próprio filho — ela disse de forma equilibrada —, mas simplesmente não podia olhar para a criança e não pensar no que John me fizera. Após o nascimento, eu... não consegui fugir tão rápido. Então me tornei uma mulher prática, fria e verdadeiramente ambiciosa, determinada a não permitir que o que um homem tinha feito comigo estragasse minha vida. Ainda era jovem e jurei tornar-me bem-sucedida não apenas como modelo, mas em todas as áreas da minha vida. Então arrumei um namorado. Um rapaz muito simpático, mas talvez um pouco doce demais. Ou inexperiente demais. Eu rapidamente passava de um namorado para outro, desesperada para provar que não era frígida. Mas nada parecia funcionar. No final desisti dos homens e do sexo, e... Apenas me concentrei na minha carreira.
— Então quando você se arrependeu de abandonar a criança, e a maternidade?
— Aconteceu aos poucos, eu acho. Toda vez que eu voltava para casa, via Becky se tornando uma criança tão linda. Tão extrovertida e inteligente. Era preocupante a princípio a maneira como ela se sentia ligada a mim, como corria para mim sempre que chegava. Mas depois de um tempo, me emocionava com sua afeição declarada. Imagino que também a mimava, principalmente no seu aniversário e no Natal. Comprava-lhe presentes absurdamente caros. Para compensar, imagino. Mamãe e papai a adoravam e eu vivia dizendo a mim mesma que tinha feito a coisa certa por Becky.
Seu suspiro era carregado de enorme arrependimento e tristeza.
— Não percebia o quanto amava Becky, e o que eu tinha perdido até ela ser diagnosticada com leucemia. Nunca esquecerei aquela ligação quando mamãe me deu a notícia. Era como...
Ela interrompeu e fechou os olhos por um segundo antes de abri-los e lançar a Ali um olhar de partir o coração.
— Não... consigo descrever. Seja como for, tentamos de tudo, mas nada funcionou — ela prosseguiu com uma voz prosaicamente artificial. — Ela tinha uma forma rara da doença que não reagiu ao transplante de medula. A quimioterapia colocou-a em remissão por um curto intervalo de tempo, mas depois ela voltou, mais forte que nunca.
Mais uma vez ela interrompeu e ficou apenas deitada ali, em silêncio e triste por alguns instantes.
— Quase me matou vê-la morrer assim — ela retomou suavemente. — Quase matou mamãe também. Mas pelo menos ela teve a alegria de ser chamada de mamãe pela minha filhinha. Naqueles últimos dias... quando sabíamos que não havia esperanças, eu... queria contar a Becky. Queria abraçá-la e dizer "sou sua mamãe,, querida, não sua irmã". Mas parecia cruel e egoísta. Então fiquei calada.
Fiquei calada e ela morreu nos braços da minha mãe, não nos meus, e eu... ai, meu Deus, Ali... — Seus olhos se inundaram de lágrimas ao virá-los desesperadamente em direção aos dele. — Abrace-me. Apenas abrace-me.
Ele a abraçou e ela chorou muito. Ali jurou naquele mesmo instante que de algum modo endireitaria as coisas para esta linda mulher que amava. De algum modo, ele a faria feliz novamente. De algum modo...
CHARMAINE deitou-se no banho profundo que Ali preparara para ela, ainda pasma como ele tinha sido maravilhoso. Não se chocou com suas confissões, nem de modo algum a julgou. Apenas mostrou-se solidário, gentil e muito compreensivo.
Talvez ele realmente ame você.
Charmaine sorriu diante do talvez. O que faltava para convencê-la, pelo amor de Deus? O homem tinha pagado cinco milhões de dólares para jantar com ela e quinhentos milhões para dormir com ela. Apenas a luxúria não dava conta de extravagâncias tão extraordinárias.
Mas possivelmente a coisa mais amável que Ali fizera por ela até agora era o que estava fazendo naquele momento. Estava lá cancelando seu jogo de pôquer de sexta à noite a fim de passar a noite com ela. Como era romântico!
Rico virou-se para Renée depois de colocar o fone no gancho.
— Ali acabou de cancelar o jogo desta noite — disse ele, com um tom pasmo. Renée pestanejou.
— Minha nossa. Foi a primeira vez. Por quê?
— Você conhece Ali. Ele não deu muitos detalhes. Uma emergência pessoal, ele disse.
— Alguma mulher, provavelmente — Renée conjecturou.
— Ele nunca cancelou antes.
— Talvez tenha finalmente encontrado uma mulher que o fez esquecer aquela de Dubar de quem nos falou.
— Será...
— Rico, o que está pensando?
— Lembra-se de ter mencionado que não conseguia contactar Charmaine na semana retrasada, que ela tinha saído da cidade para não se sabe onde? E quando voltou e finalmente atendeu ao telefone, foi evasiva sobre onde estivera?
— Você não acha...
— Sí. Claro que acho.
— Não!
— Ali não é o tipo de homem que reconhece esta palavra — disse Rico secamente.
— Ali também não é o tipo de Charmaine. É machista demais. Ela teria corrido a léguas de distância.
— Vamos apostar? Renée sorriu.
— Vai perder.
— Aposto que ele aparece nas corridas com ela amanhã.
— Uau, que aposta louca! O que estamos apostando?
— O direito de dar nome aos bebês. — Eles andaram discutindo sobre isso há dias. Renée queria nomes australianos, ao passo que ele queria nomes tradicionalmente italianos.
— Fechado! — disse Renée, plenamente convicta da vitória. Rico sorriu, o que deixou Renée preocupada.
-- Há alguma coisa que saiba que eu não sei?
— Absolutamente nada. — Mas Rico não esquecera a maneira como Charmaine tinha falado de Ali na noite dôo leilão. Se você simplesmente não gostasse de alguém, não se importaria com uma paixão daquele tipo.
— Um probleminha, no entanto — disse Renée com um suspiro. — Eu mesma não tenho certeza de que poderei ir às corridas amanhã. Estou sentindo alguma coisa esquisita na barriga.
— É apenas os picles e a pizza que comeu hoje. Sabe que se continuar cedendo a todos estes desejos, querida, vai estar do tamanho de um bonde na hora de ter os bebês. Ainda falta um mês.
— Eu sei. Inchei muito nas últimas semanas. Estou com uma aparência horrível. Acho que nem tenho vestido que caiba para usar amanhã.
— Encontrará algo. Conheço você. Não vai querer perder o jogo de cartas e as corridas no mesmo fim de semana.
— Talvez esteja certo. Somos todos escravos de nossas paixões, não somos?
Rico achava que ela não poderia ter dito algo mais verdadeiro.
Quando Charmaine surgiu do banheiro, o quarto principal estava vazio. Amarrando o espesso roupão branco do hotel ela foi em busca de Ali e o encontrou empurrando uma bandeja móvel pela sala de estar. Ele parou ao vê-la, seus olhos negros mirando-a de cima a baixo.
— Fico aliviado de não ter posto aquele vestido azul novamente — disse ele. Este roupão é muito melhor para os meus propósitos.
As sobrancelhas de Charmaine arquearam.
— E quais são exatamente os seus propósitos, Alteza? Ele deu um sorriso retorcido.
— Isso não.
— Oh. — Estava surpresa ou desapontada?
— Gostaria que começássemos tudo novamente e nos conhecêssemos um pouco melhor antes de fazermos amor de novo. É muito fácil ser distraído por questões carnais. Então pensei que esta noite poderíamos sentar no terraço, apenas comer e conversar.
Embora sabendo que provavelmente estaria com uma frustração dos infernos quando a noite tivesse terminado, Charmaine teve de concordar.
— Boa idéia. Ah, Ali...
— Sim?
— Sei que disse que amava você e realmente o amo. Mas, por favor... não tente me apressar para casar. Não estou tão segura de que o nosso casamento daria certo.
Ali recusou-se a entrar em pânico. Era natural que ela fosse cautelosa.
— Acho que a conheço suficientemente bem, Charmaine, para perceber que não se apressaria para nada contra sua vontade. Mas também quero que saiba que acredito que nosso casamento daria maravilhosamente certo.
— Mas... mas e os filhos?
— O que tem os filhos?
— Eu... não tenho certeza de que quero tê-los.
O coração de Ali foi a pique, mas ele manteve a calma.
— E por que isso, meu amor? — ele perguntou gentilmente. — É por causa do seu passado, ou da sua carreira talvez?
— Minha carreira! Não dou a mínima para a minha carreira. Para mim ela tornou-se apenas um meio de atingir meu objetivo durante os últimos anos. Era o dinheiro que eu queria, nem a atenção nem a fama. Não me importaria nem um pouco se não pudesse colocar os pés numa passarela novamente. Ali ficou muito satisfeito de ouvir isso.
— Quando se casar comigo, não precisará — ele disse. Terá todo o dinheiro de que precisar.
— Gostaria de continuar envolvida com a fundação.
— Claro.
— Se casaria comigo mesmo se dissesse que nunca teria filhos?
— Sim.
— Desse jeito. Sim.
— Sim.
— Ai, Ali... — Ela se adiantou, esticou o braço e colocou sua mão terna em seu rosto. — Que homem maravilhoso que você é. Mas eu o amo tanto. Demais.
— Não existe esta coisa de amor demais — disse Ali. lutando para não esquecer seus planos de uma noite platônica e simplesmente tomá-la em seus braços mais uma vez.
— Você percebe que não conseguiremos nem mesmo uma noite.
— É verdade — disse ele com um suspiro resignado.
— Mas podemos tentar — ela acrescentou, e retirou a mão de seu rosto.
Ali até tremeu de alívio.
— Quer que o ajude com a comida? — ela perguntou.
— Não. Quero que vá para o terraço, sente-se e mantenha as mãos imóveis.
Sua risada carregava prazer.
— Estava incomodando você, não é? Ele franziu as sobrancelhas.
— Vai sofrer por suas muitas transgressões.
— Ah, promessas, promessas — ela reagiu graciosamente e requebrou em direção ao terraço.
Ali seguiu em seu encalço, empurrando a bandeja com os nós dos dedos brancos enquanto seu lado obscuro tramava os mais diferentes tipos de vingança erótica.
— BEM, VOCÊ estava certo — suspirou Renée, ainda não totalmente recuperada do choque de ver Ali chegar às corridas com uma reluzente Charmaine a tiracolo.
— Claro que estava certo — Rico respondeu presunçosamente. — Agora posso chamar minha filha de Angelina e meu filho de Alphonso.
Renée deu de ombros.
— Tudo bem. Angie e Alfie então. Rico ficou estarrecido.
— Seus nomes não devem ser abreviados assim. Que sentido faz dar nomes italianos altivos se você os transforma em apelidos em inglês?
— Rico, deixe-me lembrar a você que ninguém além de Ali o chama de Enrico. Isto aqui é a Austrália. Se o seu nome tiver mais de duas sílabas você não tem chance de ser chamado por ele assim que entrar na escola. Então acostume-se com a idéia de seus filhos serem chamados de Angie e Alfie. Ou Ange e Alf.
— Pior ainda!
— Bem, em primeiro lugar, você poderia deixar que eu fizesse as coisas da minha maneira e lhes desse bons nomes australianos, tais como Lisa e Luke. Não haveria abreviação a ser feita.
Rico rosnou a meia voz.
— Você perdeu a aposta. Eu vou dar nome às crianças.
— Enquanto eu vou ao banheiro novamente — disse Renée dando outro suspiro, alavancando-se do assento na arquibancada. — Quanto tempo falta até a próxima corrida?
— Quatro minutos. Talvez fosse melhor você esperar até depois.
— Não posso. Estou desesperada. Quando Rico se levantou e segurou o braço de sua esposa ela lhe disse:
— Não, não se preocupe. Posso ir sozinha.
— Tem certeza?
— Pedirei a Charmaine que me acompanhe. Isto é, se conseguir arrancá-la de seu parceiro — ela acrescentou a meia voz. — Você viu como ela olha para ele, Rico?
— Mmm. Claro que sim. Gostaria de ser uma mosca na parede do quarto deles.
— Poderia ficar com as asas chamuscadas.
— Mais provavelmente queimadas, eu diria. Não que nós possamos falar. Causamos alguns incêndios em nossos bons tempos, não foi, querida? — E ele deu um aperto carinhoso em Renée. — Ouso dizer que causaremos mais alguns assim que colocar estes bebês para fora.
— Ouso dizer que sim, Casanova. Enquanto isso, realmente tenho de... Ai, ai, meu Deus! — E ela olhou horrorizada para o chão entre suas pernas.
Por um momento, Rico pensou que ela tinha se molhado, mas então percebeu o que tinha acontecido. Justamente na noite passada ele estava lendo um dos vários livros sobre parto que comprara e que listava todas as maneiras como as dores do parto começavam.
Rico queria estar preparado para qualquer eventualidade. Afinal de contas, com Renée esperando gêmeos, era bastante provável que os bebês quisessem chegar antes do tempo.
Ele estava tão calmo lendo sobre o assunto. Agora, olhando para a poça d'água, o pânico estava apenas a uma pulsação de distância.
— Nós... nós temos de levar você o mais rápido possível — ele tagarelou. — E mesmo se ainda não tiver contrações. Está?
— Não. Quer dizer... tive um tipo de dor intermitente o dia todo.
— Por que não me contou? Dor nas costas é o primeiro sinal de trabalho de parto.
— Rico — ela disse cansada —, minhas costas estão doendo intermitentemente há semanas. Como poderia saber a diferença? Por favor, não vamos discutir. Vamos apenas chamar um táxi.
— Sim, sim, um táxi. Acho que não deveria dirigir, pois estou um pouco nervoso.
— De qualquer modo, como poderia dirigir se não viemos de carro? Pegamos um táxi até aqui, lembra-se? Mas ainda tenho de ir em casa pegar minha bolsa.
— Qual é o problema?
Os dois se viraram e viram Ali e Charmaine. Pareciam ansiosos com a poça no chão.
— As bolsas arrebentaram — Renée explicou, agarrando-se à sua barriga inchada desesperadamente.
— Ela tem de chegar ao hospital o mais rápido possível — Rico interrompeu, sentindo mais náusea a cada minuto.
— Viemos numa limusine — Ali informou-lhes. — Instruirei meu segurança para chamar o chofer e pedir que ele traga o carro para o portão principal imediatamente. Pode andar isso tudo, Renée?
— Sim. Só estou vazando, Ali, não morrendo.
— Vou carregá-la — disse Rico, o que provocou um olhar exasperado de Renée.
— Não seja ridículo, Rico. Estou pesando uma tonelada. Apenas segure meu braço e vamos.
— Ainda falta um mês — Charmaine sussurrou para Ali enquanto eles seguiam Rico e Renée pela multidão. — Espero que os bebês fiquem bem. Renée morrerá se alguma coisa der errado.
— Ela vai ficar bem — Ali respondeu de maneira tranqüilizadora, — Os bebês vão ficar bem.
Charmaine gostaria de estar tão confiante. A vida nem sempre era boa, ou justa. Só porque Renée queria estes bebês desesperadamente não queria dizer que tudo tinha de dar certo.
Felizmente, a limusine estava lá esperando quando eles chegaram ao portão e o hospital particular exclusivo para o qual Renée estava reservada localizava-se a poucos minutos de distância. Assim que chegaram ao hospital, Renée foi colocada numa cadeira de rodas e levada rapidamente com Rico para a maternidade, enquanto Ali e Charmaine ficaram incumbidos de ir até a cobertura deles na cidade e retornar com a bolsa que Renée já tinha arrumado e que estava no chão do armário de casacos no foyer.
Quando retornaram ao hospital e encontraram a enfermaria e a enfermeira certas para fazer as devidas perguntas, Charmaine ficou pasma de saber de imediato que "o trabalho de parto da Sra. Mandretti progrediu rapidamente, ela está completamente dilatada, o médico foi chamado e tudo está pronto para um parto iminente".
— Mas e os bebês? — Charmaine perguntou preocupada.
— Eles vão ficar bem? São prematuros.
— Todos os seus sinais vitais estão bons. Veja bem, eles têm o melhor médico, os melhores obstetras e o melhor equipamento médico que o dinheiro pode comprar — a enfermeira disse animada. — Eles vão ficar bem.
— Eu disse que sim — disse Ali enquanto conduzia Charmaine para a sala de espera. — Pare de se preocupar. Vai passar mal.
Charmaine sentia-se mal. Seu coração estava loucamente acelerado e sua cabeça tinha um torno ao seu redor que estava aos poucos sendo apertado por algum torturador invisível.
— Não poderia nunca fazer isto — ela murmurou. — Nunca.
Ali sabia o que ela queria dizer. Não poderia nunca ter um filho. Nunca ter o seu filho. Seu coração doía com a perda do que teria sido uma grande alegria para ele. Mas nada mudaria sua opinião sobre casar-se com esta mulher. Sentou-se numa cadeira vazia e observou-a percorrer a sala ansiosamente. Os olhos dela disparavam para o relógio de parede incessantemente. Ali gostaria que houvesse algo que pudesse fazer para aliviar sua ansiedade, mas não sabia de nada além de uma notícia boa para atingir este objetivo. O tempo passava com uma lentidão agonizante, com seus próprios olhos verificando a hora de vez em quando. Cerca de quarenta e cinco minutos após sua chegada, a enfermeira com quem tinha conversado antes repentinamente colocou a cabeça na porta, cheia de sorrisos.
— Os bebês chegaram. Saudáveis e bem grandes para trinta e duas semanas. O menino pesa pouco menos de três quilos e a menina, dois e meio. Nem precisam de incubadoras. Os pais sobreviveram à experiência, embora soube que o marido passou por alguns momentos difíceis. Contudo, está bem agora. Um poço de vaidade. A mãe pediu para vocês entrarem e trazerem a bolsa. Disse que quer tomar um banho e lavar os cabelos. Mostrarei o caminho a vocês...
Os olhos de Charmaine inundaram-se de lágrimas quando um Ali sorridente pegou seu braço.
— Eu disse a você que tudo ficaria bem.
— Foi mesmo — ela disse, secando seus olhos com um lenço de papel que estava em sua bolsa. — Darei atenção a você da próxima vez.
Charmaine achou que Renée estava com uma aparência notável para uma mulher que acabara de dar à luz. E cegamente feliz. Rico não ficava muito atrás em questão de felicidade, irradiando luz tal como uma árvore de Natal quando ligou para sua mãe do seu celular para lhe dar a boa notícia. Do outro lado do quarto, Charmaine conseguiu ouvir a alegria da italiana.
Mas era dos bebês que Charmaine não conseguia tirar os olhos. Os dois estavam embrulhados e dormiam em seus berços ao lado da cama de Renée. Tinham muitos cabelos pretos e não estavam nem um pouco vermelhos e enrugados como Charmaine imaginava que seria a aparência dos bebês prematuros.
— Ai, Renée — ela disse enquanto caminhava e os admirava. — Eles são lindos.
— De fato — Ali concordou, vindo dar uma olhada também.
— Querem pegá-los? — Renée sugeriu generosamente.
— Charmaine, pegue Lisa. E Ali pode pegar Luke.
Ali não hesitou, levantando o menino com as mãos surpreendentemente firmes e embalando-o para a frente e para trás como alguém experiente. Charmaine congelou, repentinamente acometida da lembrança de nem uma vez ter segurado sua própria filha nesta idade. Recusara-se a colocar os olhos em Becky até os seis meses de idade.
— Acho que não consigo — disse ela, consumida de arrependimento e culpa, mas ao mesmo tempo a mais terrível saudade. — Eu... poderia deixá-la cair.
— Não — Ali disse —, não vai. — E passando Luke para sua mãe, ele pegou a menina em seu cobertor de coelhinho rosa e colocou-a nos braços de Charmaine.
A pequena Lisa acordou e começou a chorar. Suas mãos se libertaram e começaram a se agitar.
Por um segundo, Charmaine congelou ainda mais. Mas depois, automaticamente — não, instintivamente —, ela pegou as duas mãos pequeninas com um aperto firme e as segurou enquanto colocou a menina na curvatura do seu braço, então embalou-a e cantou para ela até que dormisse novamente.
— Você é realmente boa nisso — Renée elogiou. — Talvez tenha de contratá-la como supervisora das babás.
— A qualquer hora — disse Charmaine com a voz rouca, e depois levantou os olhos tremeluzentes para olhar para Ali.
Seu coração parou. Ela queria dizer o que ele estava pensando? Era possível?
Nem uma palavra ousou ele dizer sobre o assunto, seja durante a visita no hospital ou na viagem silenciosa de volta para o hotel. Se ela tinha mudado de opinião sobre ter filhos, então tinha de vir de seus próprios lábios. Ele não tentaria pressioná-la. Ou persuadi-la.
Na verdade, ela não falou muito sobre nada. Só quando eles terminaram de fazer amor e ela estava embrulhada em seus braços.
— Ali — ela começou a falar.
— Mmm.
— Sabe que tenho de ir para a Itália na próxima semana para uma sessão de fotos. Assinei um contrato, então realmente não posso cair fora sem a possibilidade de ser processada.
— Sim, compreendo.
— Depois tenho mais alguns compromissos como modelo antes do final do ano que tenho de honrar. Tem a semana de moda de Melbourne, e depois disso tenho de fazer outro anúncio de perfume para a Femme Fatale.
— Faça o que tem de ser feito.
— Eu sei. Gostaria de diminuir meus compromissos como modelo no ano que vem e ir morar com você. Está bem?
— Preferiria que nos casássemos. Ele sentiu seu sorriso.
— Sabia que ia dizer isso. Neste caso, será um casamento de Ano-novo. Poderia ser na sua propriedade. Uma cerimônia ao ar livre. Ou na piscina ou no pavilhão. Mas nada muito grandioso. E, por favor, nada de convidados demais. Apenas a família e os amigos. Cléo poderia cuidar da comida para a recepção.
— Parece perfeito. Mas para uma mulher que não queria ser apressada, isto parece ser um pouco rápido.
— Quero certificar-me de que não ficarei gorda nas fotos.
— O que quer dizer? Nunca ficaria gorda.
— Ficarei quando estiver grávida. Ali parou de respirar.
— Vou parar de tomar pílula amanhã se você estiver de acordo.
Ele começou a respirar novamente.
— Plenamente de acordo.
— Percebi esta noite que realmente quero um filho, Ali. E desta vez, acho que posso me tornar uma mãe muito boa.
— Será a melhor mãe do mundo.
— Quanto a isso, não sei. Mas gostaria de tentar. Os braços de Ali se fecharam mais ainda em volta dela, com os lábios em seus cabelos.
— Você me fez o homem mais feliz do mundo.
— Mais feliz que Rico?
— Enrico é um homem de muita sorte. Mas eu sou mais.
Tenho você.
— Ora, Ali... eu acho que eu é que tenho sorte de ter você.
— Nós dois temos sorte.
— Temos — ela disse, suspirando de felicidade. — Sim, sem dúvida de que temos.
NATAL do ano seguinte
— De quem foi a idéia — Charmaine disse para Ali quando entrou no banheiro às pressas para pentear os cabelos — de convidar absolutamente todo mundo para a festa de Natal deste ano na nossa casa?
— Sua — Ali disse para a imagem dela no espelho, e calmamente continuou a se barbear. Charmaine pegou uma escova.
— Poderia ter dito não.
— Nunca digo não para você, minha querida. Sabe disso. Mas o que a está preocupando? Tudo está organizado. Cléo me disse há menos de meia hora que todas as mulheres a tinham ajudado a preparar a comida e não havia nada para fazer a não ser tomar banho e se vestir.
— É verdade. Renée e Dominique foram maravilhosas esta manhã. E Rico e Charles ficaram tomando conta dos bebês. Acho que só estou um pouco ansiosa porque meus pais estão aqui. Eles me deixam nervosa depois da reação que tiveram com nosso casamento. Quero dizer... não estavam muito empolgados, não é?
— É compreensível que estivessem cautelosos comigo a princípio. Mas quando Amanda nasceu, acreditaram que minhas intenções em relação à filha deles eram nobres.
— É. Você tem razão. Eles adoram você. E adoram Amanda. Mas, por outro lado, ela é simplesmente uma fofura. Só tem cinco meses e já está partindo corações.
— Deve puxar à mãe — murmurou Ali ao inclinar a cabeça para cima para se barbear sob o queixo.
Charmaine riu.
— Sabe muito bem, seu diabo arrogante, que ela não tem nada de mim. Ela é você todinha. Parece que você é um daqueles garanhões prepotentes.
Ali parou de se barbear e virou os olhos para fitá-la, surpreso.
— Você anda lendo meus livros sobre criação de cavalos.
Ele deu de ombros levemente. Mas, por dentro, estava longe de estar indiferente. Não era tanto a presença de seus pais que a estavam deixando nervosa, mas a notícia que tinha que lhe dar.
— Eu... bem... achei que se ia ser uma mãe caseira, teria de me interessar em alguma coisa. Então decidi aprender sobre o principal assunto por aqui. Além disso, Cléo prometeu me ensinar montões de jogos de cartas para jogarmos juntos.
— Mas isto é maravilhoso! — Ali exclamou.
— Fico feliz que esteja satisfeito. Espero que também fique satisfeito com meu outro presente de Natal. Suas sobrancelhas escuras se uniram.
— Outro presente de Natal? Mas já me deu uma câmera digital e as maravilhosas roupas que estarei usando hoje. O que mais comprou para mim?
— Não é um presente que se pode comprar, Ali.
— É mesmo? O que é, então?
— Eu... tenho quase certeza de que estou grávida novamente. Vamos ter outro filho.
— Mas pensei que não pudesse conceber enquanto estivesse amamentando.
— Não é um método contraceptivo infalível. E Amanda não está mamando tanto agora que está comendo comida sólida. Não fui ao médico ainda mas meu período está mais de uma semana atrasado e os três testes caseiros que fiz esta semana ficaram azuis.
Ali largou o barbeador e pegou-a nos braços.
— Outro filho — ele disse. — Este sim é o melhor presente de Natal de todos.
— Talvez tenhamos um menino desta vez.
— Não importa. Ficaria igualmente feliz com outra menina.
— Mas pensei...
— Você pensa demais às vezes.
Charmaine suspirou de alívio. Tinha estado um pouco preocupada que talvez Ali pensasse que fosse cedo demais para ter outro filho. Ou que estivesse decidido a ter um menino. Ela não tinha grande entusiasmo por homens — ou culturas — que valorizavam meninos no lugar de meninas.
— Gostaria de ter uma dúzia de filhos — disse ele. — E não faria diferença se fossem todas meninas. Vivemos na Austrália, Charmaine, não na Arábia.
— Mas e no seu coração? Uma menina é tão importante quanto um menino?
— Como pode perguntar uma coisa dessas quando meu coração já foi aprisionado pela menina mais bonita do mundo?
— Oh...
Ele pegou seu queixo com os dedos e deu-lhe um aperto afetuoso.
— Venha, não chore.
— Estou chorando de felicidade.
— É verdade? Está feliz de verdade?
— Nunca soube que era possível ser feliz assim! O próprio Ali quase chorou.
— Vou beijá-la agora, mas apenas uma vez. Sabe o que acontece se eu beijá-la duas vezes.
Ele a beijou. Depois a beijou novamente.
Os dois se atrasaram só um pouquinho para o jantar.
Miranda Lee
O melhor da literatura para todos os gostos e idades