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XXIV
Não conseguia parar de sorrir. Sentia tanto prazer e felicidade percorrendo seu corpo que não podia apagar o sorriso de sua boca, mesmo que tentasse fazê-lo. O vento batia em seu rosto, causando intermináveis lágrimas, mas não as afastou, gostava de saber que seus olhos sabiam chorar, apesar de fazê-lo de maneira não convencional. Olhou para os dois lados do caminho, confirmando que não havia ninguém por perto. Logan devia ficar tranquilo porque, depois de três horas percorrendo seus territórios, não encontrou nada que indicasse que caçadores furtivos estivessem vagando pela área. Olhou para cima e observou o sol. Estava em cima dela, avisando-a de que o meio-dia estaria próximo. Não deveria demorar para voltar. Não queria chatear Anne. Caso se atrasasse e não aparecesse para o almoço, ela teria a desculpa perfeita para trancá-la no quarto e puni-la até que o trabalho estivesse terminado. No entanto, o cavalo já mostrava sinais de fadiga. Bufava toda vez que o incitava e sua pelagem estava molhada de suor. Uma pequena parada ao longo do caminho seria boa para os dois.
Determinada a dar a ele o descanso que precisava, dirigiu-o, com um ligeiro puxão das rédeas, em direção a um pequeno bosque que se encontrava à sua direita. Quando o animal entendeu que poderia descansar em breve, relinchou alegremente e galopou ainda mais rápido em direção
àquela área verde e selvagem.
?Bom menino... ? Josh disse ao cavalo quando pararam. ? É
um campeão.
Bateu com força no pescoço robusto e desceu dele como um mensageiro militar que tem em sua posse a carta que informa sobre o fim de uma guerra.
Sem soltar as rédeas, caminhou na frente do animal, ouvindo as respirações agitadas dele. O servo não a enganou oferecendo-o, porque para ela era perfeito. Além de correr tão rápido, que mais de uma vez pensou que sairia disparada por sua traseira, era fiel às ordens dadas a ele. O único inconveniente, que o servo alegou, era que ele não possuía uma linhagem tão virtuosa quanto os outros cavalos no estábulo. Pelo que disse, a mãe escapou do estábulo quando entrou no cio, e ela permitiu se emprenhar por um dos Percheron que o barão de Sheiton mantinha na propriedade adjacente. «Sua Excelência aceitou a chegada deste mestiço, mas eu o teria matado assim que ele saísse das entranhas daquela sem vergonha», foram as palavras usadas por aquele empregado cruel e tolo. Talvez, essa afirmação repugnante a tenha feito simpatizar com o animal. Era tão mestiça quanto ele e por isso ela não deveria viver?
?Calma ? disse para acalmá-lo, algo que o tinha perturbado ?
não há ninguém aqui além de nós. Ficaremos pouco tempo, o suficiente para
que possa pastar um pouco e eu eliminar a dormência das minhas pernas.
O relincho do animal deu-lhe a entender que ele não conseguia se acalmar e que, apesar de suas palavras, algo o mantinha bastante inquieto. Finalmente, Josh decidiu amarrar as rédeas a um ramo e verificar o que assustara tanto o animal.
?Não te acontecerá nada ? continuou falando com uma voz calma enquanto tirava a arma afiada e brilhante do esconderijo. ? Vou protegê-lo com isso.
Colocar aquela faca perto do seu olho esquerdo não causou o efeito que ela esperava. O cavalo, assustado, ergueu as patas dianteiras e acenou-as como se quisesse pisar nela. Rapidamente, Josephine se afastou e enfiou a perigosa arma na parte de trás do cinto. Esse ato relaxou o animal aterrorizado.
?Por todas as almas miseráveis deste mundo absurdo! Eles tentaram mata-lo? É por isso que ficou alterado? ? Perguntou em pé na frente da cabeça dele, acariciando-a lentamente.
Movida pela atitude submissa do animal, colocou as duas mãos em direção àquele pescoço castanho-chocolate grosso e estava sentindo-o lentamente, entrando debaixo deste com calma, como se tivesse esquecido que, segundos antes, ele apresentava um comportamento selvagem. Então, quando enfiou o rosto no peito molhado e peludo, encontrou o que procurava:
uma aspereza. Quando a tocou, parecia com um começo de sujeira acumulada na estrada. Sim, não havia dúvida de que o imbecil tentara matá-lo, mas não conseguiu, porque o que o homem sem cérebro não entendia, era que os seres nascidos do sangue mestiço se tornavam guerreiros imortais e corajosos. E
ela se considerava da mesma forma: tão imortal e corajosa quanto o cavalo que foi gerado de um acasalamento entre cavalos livres.
Com o punhal guardado e incapaz de pensar em outra coisa senão encontrar uma maneira de dar a esse servo uma lição bem merecida, beijou a testa do cavalo, virou-se para a floresta e avançou sobre os troncos das árvores. A tempestade da noite anterior foi devastadora para esse terreno. As raízes saíram, atravessando a terra transformada em lama, como se procurassem desesperadamente por aquela luz do sol que mal tocava o chão, porque a folhagem das árvores desacelerava os raios no topo de suas copas. Se estivesse andado pela selva amazônica, poderia compará-la com aquele lugar oculto e inóspito. A vegetação em torno dela havia crescido pelo clima na área ou por estar perto o mar? Se continuasse nessa estrada, poderia se encontrar no topo de um penhasco? Poderia finalmente saber como era a imensa massa de água salgada, como cheirava e o que o toque de salitre produziria em sua pele? Haveria navios navegando? E se encontrasse um navio pirata? E se a tripulação deixara o barco e fora para a costa levantando suas espadas procurando o início de uma guerra contra Londres? E se
encontrasse contrabandistas franceses?
A imaginação de Josh transbordou. Começou imaginando como seria a areia e acabou lutando com seu facão na proa de um navio francês. Sua mão esquerda foi colocada nas costas enquanto a mão direita segurava a arma e acenava, produzindo ziguezagues leves que pareciam cortar o ar.
?Eu? Quem sou eu? ? Gritou ao vento enquanto intensificava a força daquela luta imaginada. ? Sou seu pior inimigo!
Sua abstração era tão incrível e tão real para ela, que os fios de cabelo loiro que se soltaram em vários desses movimentos abruptos, grudaram em seu rosto pelo suor. Sua camisa branca mostrava sulcos úmidos de formas irregulares, como se fosse usada por um camponês que passara a manhã inteira trabalhando no campo. Agarrou com força a alça da adaga, dirigiu-a para o céu, dedicou a Deus a morte de seu oponente, ajoelhou-se e, como se tivesse se tornado um cavaleiro medieval, inclinou a cabeça.
De repente, um barulho foi ouvido atrás dela, ela se virou de joelhos e jogou a faca para baixo. Quando descobriu onde a faca estava presa, não conseguiu reagir. Um homem vestido com um traje de montaria inclinou-se para a frente para ver que seus olhos não estavam enganados quando viu que tinha uma faca presa na bota direita.
?Merda! ? Exclamou o jovem quando a dor que produziu a
ponta da arma cruzou de leve a pele e mostrou-lhe que não era uma visão. O
que fez infeliz? Por que jogou isso em mim?
?Quem diabos é? Por que está me perseguindo? ?
Perguntou enquanto se levantava.
O garoto não prestou atenção nas perguntas de Josh ou na raiva que ela tinha quando falava. A única coisa que fez foi sentar na lama, tirar a arma pontuda da perna, tirar a bota e confirmar que uma superfície vermelha circular se estendia por suas calças brancas.
Josephine olhou para ele com raiva. O rosto dela não expressava remorso, aflição ou compaixão pela dor que o estranho que explodiu sobre ela em um ato tão privado deve ter sofrido. Ela estava serena, como se tivesse construído um castelo de pedra com as próprias mãos, e ela colocou as mãos na faixa marrom, exibindo uma pose dura, severa e orgulhosa, assim como sua mãe era quando ela fez outro buraco em sua amada janela da sala de costura.
Com a adaga na mão, Eric cortou as calças para descobrir a extensão da ferida. Apesar do sangue, não era muito profundo. Felizmente, o material da bota de equitação tinha barrado o lançamento efêmero. Mas ele não podia sorrir para aquela mulher louca que, antes do ramo ter estalado ao pisá-lo, a observara fazendo movimentos muito estranhos, como se estivesse invocando o próprio diabo. Sem olhar para ela, inclinou-se para a direita,
tirou o lenço do bolso, que colocou ali antes de subir no cavalo, estendeu-o e amarrou-o ao redor da ferida. Ele não queria que o sangue se espalhasse por suas calças e aparecesse em Herast Pond como se fosse um soldado que voltava para casa depois de vinte anos de guerra.
?É surdo? Porque não fala? ? Ela o repreendeu. ? Perguntei-lhe o que diabos faz nos territórios do Visconde de Devon.
?As propriedades do visconde terminam ali. ? Ele apontou com a mão direita em direção ao fim da floresta. Estas são minhas ? ele assegurou rudemente. Então é a única surda e desorientada ? disse ele, levantando o queixo gentilmente para enfrentar a criminosa insolente.
Uma vez que seus olhos se encontraram, os dois permaneceram em silêncio e por causa de como seus corpos estavam paralisados, eles também se esqueceram de respirar...
?Mente! ? Josh gritou, despertando do transe estranho que a fez ver o lindo rosto do rapaz. ? É um caçador ilegal! ? Soltou. ? O
visconde me avisou sobre vocês! ? Continuou com raiva.
?Não ? o jovem respondeu. Ele apoiou as palmas das mãos nos troncos que tinha em ambos os lados e, com a ajuda deles, levantou-se. Ele não podia ser intimidado por tal rata, embora tivesse um rosto tão bonito que perdera sua razão por um momento. A solenidade que lhe fora incutida desde o berço, seu orgulho, sua integridade e tudo o que lhe dava o melhor instrutor
que poderia encontrar, seu pai, brotou de algum lugar de seu corpo, protegendo-o como se fosse um escudo. ? Agora mesmo irá me acompanhar, imunda e suja, até minha casa e, uma vez que o xerife saiba o que fez com uma pessoa como eu, estará trancada atrás das grades até dar as explicações relevantes para esse ato criminoso. Mas tenho medo que seja julgada e....
?Ato criminoso? Julgada? ? Josh respondeu com os olhos arregalados. ? Queria me atacar pelas costas! ? Fiz apenas o que qualquer mulher decente faria a quem pôs em perigo sua vida!
?Mulher? Decente? ? Eric Cooper virou-se para ela sem piscar. ? Não é mulher! ? É uma abominação da natureza!
?Como ousa me insultar assim? ? Gritou caminhando em direção a ele com atitude desafiadora.
?Como ousa me machucar e declarar que eu merecia esse esfaqueamento? ? Ele respondeu, mostrando uma imagem um pouco ridícula, porque parecia que ele estava brincando com uma perna só, em vez de discutir verbalmente contra alguém que se dizia mulher, mas vestida como um homem.
?Se estivesse em Londres agora o desafiaria para um duelo ?
Josh murmurou.
?Um duelo? ? Acha que perderia tempo e arriscaria minha
honra por alguém como você? Antes iria jogá-la no Tamisa! ?
Exclamou fora de si.
?Você ? disse apontando com um dedo inquisidor e em pé na frente o suficiente para levantar o queixo e para os olhos se encontrarem novamente.
?Você? ? Eric colocou ambas as plantas dos pés no chão, suportando a dor com dignidade. Endireitou seu corpo e sorriu quando viu que ela mal chegava ao seu ombro. ? Você ? ele começou a falar sarcasticamente ? é um monstro, uma fera selvagem que...
Ele não terminou a frase, uma mão de Josh bateu em sua bochecha esquerda com tanta força que ele virou o rosto para a direita. Uma vez que pode encará-la de frente e eliminar num ápice toda a nobreza e dignidade que evocava em voz alta, estendeu as mãos para ela, colocou-as em seus ombros e a sacudiu.
? Está louca? Por que me deu um tapa? Quem pensa que é?
?Josephine Moore ? disse com arrogância, enquanto pegava as mãos dele pelos pulsos e as virava para o lado oposto ? e é um homem arrogante se pensa que será fácil me dobrar.
Eric, pego pelas mãos, sentindo a pontada de dor que irradiava da ferida até a testa, observava sem piscar o rosto da guerreira. Seus olhos, apesar de serem marrons, haviam se tornado duas imensas bolas de fogo. Seu
nariz, pequeno e arrebitado, enrugou-se para mostrar uma repulsa sincera. Mas seus lábios, embora tentassem ser rudes e cruéis, pareciam delicados e suaves, como os exibidos pelas jovens mulheres sinceras, embora nenhuma das que ele conhecesse pudesse superá-la em volúpia. Atraído como uma mosca para o mel, obcecado por descobrir que sabor a boca de uma mulher tão estranhamente peculiar teria, separou os braços, contrabalançando a força que ela exercia sobre seus pulsos e diminuindo a distância entre os dois. Com os olhos abertos, para não perder de vista o impacto do que se propusera, inclinou a cabeça para a jovem e a beijou.
Josh permaneceu imóvel quando os lábios daquele homem desarmado tocaram os dela. Suas mãos ainda estavam ocupadas com as dele, então não pode lhe dar outro tapa. Mas ela poderia jogar a cabeça para trás e recuar. No entanto, não fez. Ela permaneceu imóvel até o jovem, que tinha um cabelo da mesma cor que o de Madeleine, embora na testa ele tivesse uma mecha dourada, se afastou.
?Interessante... ? Eric disse, com uma voz muito diferente da que ele havia usado antes ? uma virgem sozinha em minhas terras. Paradoxal... ? ele sussurrou divertido. ? Não esperava que, quando esta manhã pedi a Deus um sinal para enfrentar o destino da minha vida, decidisse colocar no meu caminho uma jovem como você, Josephine Moore.
Ao ouvir seu nome com aquele tom sensual, Josh acordou do
transe induzido depois de sentir, pela primeira vez, o calor de uma boca masculina na sua. Indignada, zangada, por ter permitido que algo tão absurdo a fizesse perder algo tão importante quanto a prudência, torceu os pulsos com mais força, até que a dor foi tão insuportável que apagou a satisfação que ele mostrava em seu rosto, e o lançou para trás. Quando ele caiu na lama, Josh pegou a adaga, cuspiu nele e foi desesperadamente pela floresta. Não parou de correr até encontrar o cavalo, que relinchou alegremente ao vê-la. Desatou o melhor que pôde, porque suas mãos tremiam, montou como se fosse uma amazona habilidosa e cavalgou sem diminuir a intensidade do trote até ver os telhados de Harving House.
XXV
Suas mãos, até agora relaxadas e voltadas para o chão, levantaram lentamente para se colocarem ao redor de seu pescoço. O beijo foi se transformando a cada segundo que durava. Passara de uma colisão suave a um tornado repleto de paixão e desejo. Abriu a boca lentamente, permitindo acesso àquela língua voraz, faminta e ansiosa para saborear seu interior. O
grunhido do visconde, satisfeito com a decisão que tomara, lhe causou mais prazer do que angústia. Estendeu os dedos e espalhou-os sobre o pescoço tenso devido à inclinação. Não os manteve quietos, mas permitiu que descobrissem o toque da pele masculina. Estava no paraíso. Não por causa do ambiente em que isso acontecia, mas porque tudo se tornou um lugar bonito, cheio de calma, tranquilidade e bem-estar. Era como se depois de anos de trabalho arqueológico em uma área atormentada, finalmente encontrasse os restos pré-históricos.
Sentiu uma forte pressão nas costas, ele a ajustava ainda mais ao seu corpo, transformando-os em um só. Com os olhos fechados, sentindo como se libertava e se transformava em uma nova mulher, se acomodou nele, se entregando ao delírio no qual haviam submergido. Sua língua tocou a do visconde com certa timidez e aquele contato, aquele mísero roçar, causou-lhe um impacto semelhante ao que uma estrela poderia causar ao atingir a terra.
Luzes coloridas figuravam sob suas pálpebras e seu corpo reagia com tanta sensualidade que, sem perceber, seus quadris se esfregavam no membro masculino inchado, fazendo com que aumentasse ainda mais seu tamanho, sua excitação. Ele respirou fundo pelo nariz quando virou a cabeça para o outro lado. Não afastou a boca da dela, pelo contrário, apertou-a com tanta força que, no segundo impulso daquela língua selvagem, saboreou o gosto do próprio sangue. Franziu o cenho levemente, acreditando que o gosto o levaria para longe dela, mas o efeito foi o oposto. A língua do visconde lambeu as gotas que sua ferida emanava e as introduziu dentro de sua boca, como se tivessem lhe dado para beber o melhor elixir que pudessem encontrar. Suas mãos, até agora agarradas a sua cintura, baixaram lentamente até que foram colocadas em suas nádegas e então ele a ergueu como se seu peso fosse parecido ao de uma pluma. Rapidamente, entrelaçou seus braços naquele pescoço forte e continuou aceitando o beijo que não tinha fim.
Caminharam. O visconde começou uma marcha pelo jardim para algum lugar no qual continuariam a manter a intimidade que necessitam dois amantes apaixonados e sucumbidos por um desejo tão intenso, e que só poderia terminar com uma entrega absoluta e sincera. Seus pés, entrelaçados na cintura do visconde, deslizaram suavemente quando sentiu uma forte pressão nas costas e percebeu que haviam parado de andar. Abriu os olhos e contemplou para os dele. Sua íris azul brilhava como duas imensas bolas de
fogo, suas maçãs do rosto, aquelas áreas que a barba espessa não escondia, mostravam o rubor da paixão que ambos sentiam. Ela se acomodou no chão, seus braços emaranhados ao redor do pescoço dele, sentindo o hálito quente do homem e que a olhava com tal desejo que o pulsar que começou entre suas pernas se tornou angustiante, aterrorizante. Sua boca se retirou devagar, como se o fio que os juntara tivesse sido cortado, e justamente quando pensou que aquela loucura havia chegado ao fim, ele começou a beijar seu pescoço, o lóbulo que ela havia tocado quando viu seu colete laranja, e levou-a de volta para o paraíso ao que tinha ido depois de beijá-lo...
—Anne... —sussurrou sem ser capaz de tirar a boca da pele, cheirando com intensidade o traço que percebia em cada beijo que dava nela.
-- É...
Ficou em silêncio porque não encontrava as palavras certas para definir o que ela o fazia sentir. Sem deixar de ouvir os gemidos de prazer que Anne emitia quando pressionava os lábios contra o corpo dela, tirou as mãos da cintura dela, onde as havia colocado para abaixá-la cuidadosamente, e procurou as dela. Quando as encontrou, entrelaçou os dedos com os seus, as ergueu bruscamente e colocando-as sobre a cabeça de Anne, imobilizando-a instantaneamente.
Deus! Como podia se sentir tão atraído? Que tipo de feitiço havia jogado nele para não ser capaz de se recordar de algum momento parecido?
Vendo a confusão no rosto de Anne, depois de fazer um movimento tão violento, Logan colocou sua perna esquerda entre as dela e a beijou novamente, afastando qualquer pensamento arrependido de sua mente.
Isso só seria o começo do que ansiavam...
Enlouquecido pelo gosto daquela boca, agarrou-lhe os pulsos com uma mão, deixando-os onde desejava que ficassem e começou a tocá-la lentamente. Estava tremendo. Para sua alegria, ela estremeceu de desejo ao sentir a mão dele percorrer seu corpo, ainda coberto por um miserável vestido marrom que ele logo arrancaria para tocar o que precisava: sua pele.
A marcaria. Sim, apagaria qualquer resquício que tivesse de Hendall e a preencheria com o seu, fazendo desaparecer o vestígio que nunca devia ter tido.
Quando as pontas dos dedos se acostumaram com o calor de Anne, sua língua empurrou de volta com força dentro da boca dela, fazendo-a soluçar novamente. Quando ouviu que ainda o aceitava e que seu desejo aumentara, ele se aventurou a continuar. Seus dedos pararam de tocar o vestido para serem colocados no decote e muito lentamente, dando alguns míseros segundos para que se adaptasse ao seu toque, estendeu a mão e prendeu seu seio esquerdo.
Maçãs. Aquele seio era mais suave que a pele de uma maçã e o mamilo, duro de excitação, era o cantinho...
Afastou sua boca da dela, embora tenha ouvido um lamento de desconsolo, e foi beijando seu queixo, pescoço, decote...
—Vou... -- Tentou dizer, mas ficou em silêncio quando notou que Anne estava apoiando o torso na direção dele, consentindo com o que decidisse fazer.
Com os olhos bem abertos, contemplando como ela continuava exigindo suas carícias, tirou a mão do seio, colocou-a no vestido e desabotoou os quatro botões. Uma vez que o tecido do chemise ficou diante dele, tornou a inserir aquela mão, que tremia porque ansiava por tocar o seio que segurara, e puxou-o para fora.
Inebriado, entorpecido por tal visão, inclinou o rosto para o seio e o mordeu, como se na verdade fosse uma maçã a qual acabava de dar uma grande mordida.
Anne jogou a cabeça para trás e gemeu com o contato atroz. Ela não se queixou da dor que os dentes lhe causaram na superfície do seio, mas porque, estranhamente, ela queria mais.
—Lo... Logan... —murmurou, fechando os olhos, sentindo uma forte pressão naquela parte do corpo e aproveitando o prazer que a percorria.
Tentou mover as pernas, fraca pela perda de forças antes da chegada da paixão, mas tudo o que conseguiu foi tocar com um joelho o sexo ereto dele.
—Ardo, Anne. Sinto como meu corpo queima como se estivesse
dentro de uma fogueira —confessou depois de deixar aquele seio e beijar novamente o decote nu. -- Sinto minha pele ardendo, queimando...
—Logan... —sussurrou Anne ao cruzarem novamente os olhares.
-- Sim —ele respondeu antes de devorar sua boca outra vez.
O fato dela timidamente ter aberto as pernas, lhe deu a oportunidade de ficar entre elas. Sua cintura se colou ao corpo de Anne e, sem pudor, fez com que ela entendesse o quanto estava excitado, até que ponto ele enlouquecera e a que nível se estendia sua paixão. Porque era assim. Ele se transformou em um louco que queria viver somente com ela, beijá-la sempre que quisesse, tocá-la quando seu corpo precisasse senti-la perto e.... fazê-la dele até a morte chegar.
«Ela é tudo que preciso para viver», a frase de seu irmão, se referindo a sua esposa, apareceu em sua mente para confirmar que, por mais improvável que parecesse, estava sentindo o mesmo. Anne deveria ser dele, exclusivamente dele. Seu passado e o dela haviam desaparecido. Agora eles deviam se concentrar no futuro que deveriam construir... juntos.
No momento em que a mão esquerda levantou o vestido, procurando tocar aquela intimidade, que emitia um cheiro muito hipnótico e que queria provar para confirmar que a essência de Anne era perfeita, ouviu um relincho. Rapidamente afastou a mão, parou de beijá-la e olhou para o céu. O cavalo, que reconheceu imediatamente, voltou a emitir um som
escandaloso.
—Josh! -- Exclamou se afastando abruptamente dela.
—Josh? —Perguntou Anne sem abrir os olhos, confusa e sentindo um arrepio terrível quando perdeu o calor de seu grande corpo.
—Josephine acaba de chegar —informou. -- Sairei para recebê
la enquanto se arruma. Não seria apropriado que nos encontrassem dessa maneira não profissional. Então recomendo que, depois de se arrumar, fique na frente do cavalete e continue com aquele maldito retrato —afirmou em uma voz áspera, se transformando novamente no aristocrata que realmente era.
De repente, o rubor gerado pela paixão foi transformado em sufocamento produzido pela vergonha e pela insensatez, a qual ela sucumbiu, em desespero. Com as mãos trêmulas, Anne enfiou o peito nu sob a camisa e abotoou o vestido. Sua cabeça estava levemente inclinada para frente, de modo que o visconde não notasse sua mudança de emoções. Então, quando pensou que estava sozinha, que ele havia partido, ele voltou, colocou-se na frente dela, levantou seu queixo com ternura e, a olhando como apenas um amante poderia, deu-lhe um beijo carinhoso.
-- Se não se arrepende do que acabamos de fazer, do que nós dois sentimos ao estarmos juntos, esta noite, não tranque sua porta --
declarou antes de beijá-la novamente e sair dali dando um grande passo.
***
Logan amaldiçoou de novo e de novo a chegada inoportuna de Josh. Ele estava prestes a tocá-la, notar a excitação que ela exalava entre as pernas e ver se o necessitava tanto como ele a ela, mas não teve tempo...ao ouvir o relincho de Galeón, rapidamente percebeu que o animal tinha cavalgado sem parar por bastante tempo. Algo havia acontecido com a jovem e não podia esperar para descobrir o que era. Se não controlasse a atitude das irmãs de Anne, ela se concentraria nelas e o deixaria em segundo plano e, por enquanto, queria ser o único projeto na vida da primogênita Moore.
Uma vez que atravessou a academia e pisou na galeria, seus passos não eram lentos, estudados e firmes, empreendeu uma ligeira corrida até chegar à porta da frente. Lá ele encontrou a Sra. Donner, que, como especialista em criação de animais, veio ao chamado desesperado do cavalo.
—Eu sei —Logan disse quando observou o questionamento no seu rosto —verei o que aconteceu.
—Milorde! Que não seja nada mau! —A cozinheira rogou, apertando as mãos e tocando os lábios de leve, como se começasse a rezar.
Logan abriu a porta e focou seu olhar no caminho em que Josh deveria aparecer. O aspecto do galope de Galeón era desesperado, quase frenético. Calmamente, ele não queria se mostrar inquieto, desceu os degraus e caminhou em direção à entrada do portão, onde a receberia e perguntaria o
que havia acontecido. Mas Josh não parou quando o viu parado ali, puxou as rédeas para a direita e continuou em direção ao estábulo. Então ele correu atrás dela, chamando-a pelo seu nome, tentando aplacar o demônio que tinha visto em seus olhos, mas ela estava tão focada no que queria fazer que não o escutava. Desceu do cavalo, como ele fazia, levantando a perna direita sobre a cabeça do animal e, quando ambas as plantas dos pés tocaram o chão, tirou algo que estava escondido sob a sela e caminhou até o servo que a estava esperando. Por causa da luz do sol brilhando sobre o objeto que ela segurava na mão e os olhos que o servo arregalou ao vê-la, não teve dúvida de que ela estava carregando uma adaga. Logan continuou correndo e quando chegou ao seu lado, pegou seu cotovelo para parar o avanço.
—O que diabos aconteceu, Josh?
Mas ela não respondeu, ainda apontando para o criado, virou a cabeça ligeiramente para ele e mostrou-lhe, com mais clareza, um rosto que o deixou petrificado. Tinha chorado. Josh tinha em suas bochechas os sulcos esbranquiçados que deixavam as lágrimas ao vagar por elas, mas em uma tentativa absurda de livrá-las, esfregou a lama que suas mãos possuíam.
Parecia um limpador de chaminés, apesar que Pit, o menino que ele pagava para limpar o interior de suas chaminés, não tinha fogo em seus olhos, e sim partículas de carvão.
—Eu vou matá-lo! -- Josh gritou com a adaga apontando para o
lacaio que lhe oferecera o cavalo. ?Vou cortar sua garganta, assim como queria fazer com ele! —Gritou, apontando com os olhos para o animal que, paradoxalmente, era o ser mais calmo dos que estavam em frente ao estábulo.
—Josh, por favor. Diga-me o que aconteceu? -- Insistiu enquanto deixava de agarrar o braço dela e se colocava entre o criado e ela. Se continuasse a manter essa raiva, logo saltaria sobre o servo atordoado e o esfaquearia. Sem dúvida, o sangue das irmãs era mais cigano do que Moore.
Quantas vezes testemunhou disputas entre os membros de seu povo? Quantas vezes observou como os corpos eram jogados, nos arredores do assentamento, para que os animais devorassem os cadáveres? Muitas. Até o dele poderia ter sido mais um, se a mulher que chamava de mãe não o tivesse salvado.
—Diga a ele! —A jovem uivou tão alto que sua garganta se esticou e afinou como o pescoço de um ganso.
Logan olhou por cima do ombro esquerdo para o criado e descobriu que estava tão confuso que seu rosto perdeu a cor da vida. Então olhou de volta para Josh e notou que toda a raiva contida se transformara em lágrimas. Mas, como bom soldado, ela queria eliminar a única coisa que a deixava vulnerável e as tirou com as mangas da camisa, uma que estava bastante suja. Ela teria caído do cavalo?
—O que está tentando dizer, Pascual? ?Perguntou, virando-se
para ele. —Tem algo para me explicar? —Seu tom suave, mas firme como uma rocha no meio de um rio, fez o servo se encolher.
—Ele queria matá-lo! —Josephine respondeu ao seu lado.
—Matá-lo? —Logan perguntou com aquela voz diabólica.
Franziu a testa e não desviou o olhar de Pascual. —Deve haver um engano, certo? Porque ordenei que ninguém tocasse nesse animal e, até onde sei, o que ordeno em minhas propriedades deve ser cumprido sem uma réplica.
—Pensa assim? —Josh arregalou os olhos e deu um passo à frente, mas Logan a parou colocando novamente uma mão no ombro direito dela.
—Quero que me explique o que aconteceu e por que chegou desse jeito —pediu a Josh sem olhar para ela, mantendo os olhos fixos no homem que, pelo movimento que seu corpo fazia, pretendia fugir a qualquer momento.
—Encontrei a marca da tentativa de assassinato em seu pescoço
-- declarou Josh, respirando fundo.
—Em Galeón? Tem a certeza? —Insistiu.
—Sim —Josh respondeu, enxugando as últimas lágrimas com a frente de sua camisa. —Quando parei na parte norte que indicou para mim, o cavalo ficou inquieto e quando lhe mostrei a adaga, para que se sentisse seguro ao meu lado, ele levantou as pernas como se quisesse se defender
contra a agressão. Quando consegui acalmá-lo, comecei a procurar o que eu temia e.... —ela soluçou -- eu o encontrei.
—Bem. Vou... Nem pense em fazer isso! —Disse ao criado que estava andando para trás para fugir.
—Milorde... Excelência... não tive outro... não queria matá-lo...
apenas tentei me defender quando...
—Cale a boca! Não quero ouvir nenhuma palavra! —Gritou.
Lentamente, ele se afastou de Josh, foi até o cavalo, que estava muito quieto e se colocou na frente dele. Este, percebendo e vendo a presença de seu mestre, levantou a cabeça, moveu as orelhas e relinchou alegremente.
—Olá Galeón. Se divertiu com o Josh? -- Falou baixinho enquanto colocava as mãos no pescoço molhado. -- Ela diz que você tem uma marca e quero comprovar que é verdade —continuou dizendo enquanto arrastava as palmas das mãos pela sua pele.
Depois de ficar entre os quartos da frente do animal, que não se movia nem para respirar, ele percebeu o início da marca. Era tão grande quanto as dimensões de uma das palmas de suas mãos e mais áspera que a textura da casca de uma árvore. Se afastou do corcel, sentindo a raiva de seu sangue cigano tomar conta de sua pessoa, caminhou com determinação para o criado, que olhou para ele com os olhos cheios de medo, colocou-se em frente ao mencionado e ergueu a mão direita com a intenção de dar um tapa
nele.
—Não! —Ele ouviu.
***
Depois de ficar em frente à tela por muito tempo, decidiu deixar o jardim e descobrir por que Logan estava preocupado quando ouviu o relincho de um cavalo. Enquanto caminhava pela interminável galeria, e confirmou que teria se perdido se a criada não tivesse explicado o caminho, pensou no momento especial em que viveram juntos. Não entendia muito bem como tinha ido do ódio à paixão, do desejo de matá-lo a querer que ele ficasse preso ao seu corpo todo o tempo e, sem contar, com a loucura que ambos obtiveram entrelaçando línguas cheias de seu próprio sangue. Eles se tornaram tão insanos que pareciam duas pessoas com sede de beber água de uma pequena poça de chuva. Mas, mesmo que esse ato não fosse sensato, tinha que compreender algo estranho que surgiu de dentro dela no momento em que o provou. Sentiu calor, então congelou. Viu luzes e depois apareceu a escuridão. Ouviu o som de pássaros cantando, mas quando virou a cabeça para o lado oposto, descobriu que o silêncio reinava e que apenas as respirações forçadas deles para poderem respirar. O que acontecia com sua mente? Por que lhe mostrava coisas que não eram verdadeiras? Por que se entregou a ele com tanto ardor? A causa desta entrega foi a paixão que surgiu de dentro dela para pintá-lo? Se abstraia facilmente quando se colocava na
frente de uma nova tela, mas isso não era motivo para ansiar tudo o que ele pudesse oferecer a ela. Havia deixado esse mundo quando observou seu olhar penetrante, ouvindo-o falar com aquele tom tão sedutor e inebriante. Seu corpo reagiu rapidamente, como se tivesse esperado toda a sua vida, como se seu passado tivesse sido apagado diante daqueles olhos e daquela voz. No entanto, precisava assimilar calmamente as emoções que haviam despertado dentro dela. Não poderia cair em outro erro e, assim como estava, não apenas tropeçaria, mas desta vez o buraco seria tão profundo que levaria anos para ver a luz de um novo dia novamente.
«Se não se arrepende do que acabamos de fazer, do que nós dois sentimos ao estarmos juntos, esta noite não tranque a sua porta». A voz do visconde apareceu novamente em sua cabeça para lembrá-la das últimas frases que ele disse antes de sair. Estava disposta a deixá-lo entrar? Seria capaz de fazer isso? Pela primeira vez em sua vida, a alma que mantinha sob seu peito e sua mente coincidiram, só esperava não errar e terminar como naquele dia.
Depois de um longo tempo andando chegou ao final do angustiante corredor, saiu e arregalou os olhos ao ver a cena que estava diante dela. Josh segurava uma adaga na mão direita e apontava ferozmente para o lugar de onde Logan vinha. Ele, mostrando uma solenidade sem precedentes, ficou na frente do criado, levantou a mão e, deduzindo Anne o
que aconteceria, correu para eles gritando que não o fizesse.
—Não! —Gritou horrorizada. —Por favor, não faça isso na nossa frente -- ela implorou.
Quando as orelhas de Logan captaram o grito de súplica de Anne, estranhamente relaxou. Ele estava tão calmo que parecia ter tomado dez xícaras de erva-cidreira. Imediatamente, baixou a mão e juntou-a na perna direita, para não voltar a sucumbir ao desejo de lhe dar um tapa.
—Vá! —Rosnou em uma voz tão áspera e cruel que se assemelhava ao diabo. —Saia das minhas terras agora mesmo! E espero que a vida o leve tão longe que nunca mais nos encontremos, porque se isso acontecer... pagará com juros por sua desobediência!
E o criado correu como um galgo.
Josh, ouvindo o tom que o visconde usava, permaneceu como um soldado e só pôde relaxar quando sentiu o corpo de sua irmã por perto, abraçando-a. Mas ela não desviou o olhar daquele bastardo até que estava fora de alcance.
—O que aconteceu? —Anne perguntou baixinho.
—Galeón é um mestiço —respondeu Logan, que tinha ouvido claramente. —Sua mãe escapou do estábulo ao entrar no cio e acasalou com um dos Percheron que o barão de Sheiton mantém em suas terras. É por isso que tem essa pelagem nos cascos e é muito diferente dos que mantenho no
estábulo. Desde que nasceu, não foi bem recebido entre os outros cavalos e, como descobri, não foi aceito pelo tratador —ele continuou explicando enquanto se virava para elas.
—Aquele bastardo queria matá-lo porque diz que os mestiços devem morrer —disse Josh oferecendo um olhar para sua irmã que ela entendeu rapidamente.
—Teve o que mereceu -- consolou-a Anne depois de beijar sua testa. -- O visconde cuidará para que ele não deprecie as misturas de sangue novamente.
—Claro —Logan resmungou. —E agora, se me derem licença, levarei Galeón aos estábulos para que possa descansar. Enquanto isso, senhorita Moore —disse ele a Anne -- poderá cuidar de sua irmã. Tudo o que precisarem será fornecido pela donzela ou pela Sra. Donner.
—Sim, milorde —disse Anne, um pouco mais calma. Abraçou Josh com mais força, virou-a e tentou levá-la para a residência, mas antes que tivessem dado alguns passos, a jovem afastou-se da irmã e correu em direção ao visconde, que já estava ao lado do cavalo, chorando amargamente.
—O que? —Logan perguntou confuso quando a viu em pé na frente dele. —Quer me dizer algo diferente de...?
Não terminou a pergunta por que Josh se jogou nele, abraçou-o e, com o rosto no peito, continuou com um grito agonizante.
—Sinto muito pelo que sofreu —disse ele, sem saber muito bem como agir em tal situação. Nathalie mal chorava e quando fazia ele era o culpado desse choro e seus outros irmãos, com quem ele viveu em Salved Children, costumavam se esconder nos braços de suas mães.
—Obrigada, Logan —Josh soluçou. —Obrigada pelo que acabou de fazer —continuou a jovem. Ela se afastou devagar do visconde, secou as lágrimas com os punhos da camisa e ergueu o queixo gentilmente. —É uma pessoa tão boa que, mesmo antes de nos conhecermos, respeitava as origens dos outros. —Essa declaração deixou Logan imóvel. —Sabia o que significa ser um mestiço e é por isso que sempre nos tratou com essa consideração --
disse ela, se referindo ao nascimento do cavalo e à bondade de mantê-lo vivo.
—Josh.... acho que... —o visconde tentou dizer, um pouco desnorteado pelas palavras da jovem.
—Nos entende! —Ela exclamou antes de abraçá-lo novamente e se deixar levar por outro choro desconsolado.
—Sim, Josh, eu as entendo perfeitamente —respondeu, acariciando os cabelos loiros e fixando os olhos em Anne.
No momento em que Anne ia sussurrar um agradecimento, a carruagem na qual Elizabeth viajara apareceu. Assim que estacionou na entrada, a porta se abriu e Howlett saiu primeiro.
—Que dia mais espetacular! —Eli exclamou, descendo com a
ajuda do jovem. —Acho que nunca me diverti tanto. É incrível Howlett e me ajudou muito. Juro que não sei o que teria feito sem você.
—Pode pedir ao visconde para que eu a acompanhe sempre que quiser, senhorita Moore —respondeu Howlett, incapaz de apagar o sorriso em seu rosto. —Sempre estarei disposto e orgulhoso em servir uma dama tão sofisticada.
Corando com o comentário, Eli caminhou até a porta, mas quando percebeu que suas irmãs e o visconde estavam à sua esquerda, se virou e....
-- Santo Céu! Onde esteve, Josephine? Tem um aspecto horrível
—disse espantada.
XXVI
Durante o almoço, Elizabeth não parou de falar sobre a viagem e tudo o que encontrou nas várias lojas que visitou. Depois daquele monólogo sem fim, no qual os outros não prestaram atenção porque tinham outras coisas para pensar, ela concluiu que o jardim ficaria muito grosseiro com apenas dois tipos de flores e foi por isso que acabou comprando cinco sementes diferentes. Também propôs ao visconde plantá-las naquela mesma tarde. Como esperado, Logan não se opôs ao seu desejo, pelo contrário, encorajou-a a não perder tempo. Uma vez que Eli ouviu aquelas palavras de apoio, não conseguiu esconder sua felicidade e manteve um sorriso de orelha a orelha pelo resto da refeição.
Na frente dela estava Josephine em absoluto silêncio e com um olhar perdido. Como os outros, seus pensamentos estavam longe do salão.
Embora ela tenha tentado eliminá-lo completamente de sua mente, esta se recusava a fazê-lo e a imagem do descarado, que a beijara sem o seu consentimento, apareceu em sua cabeça repetidas vezes, do mesmo jeito que surgia continuamente o arrepio que sentira quando percebeu seus lábios.
Lembrar-se daquele momento só fez com que sua raiva aumentasse tanto que desejou voltar no tempo para, além de jogar a adaga com mais força, dar-lhe um tapa no exato momento em que sua boca bateu na dela. Por que a beijou?
Por acaso interpretou, em algum de seus movimentos na luta imaginária, que poderia fazê-lo? Apesar de não desejar, mostrou a imagem de uma mulher tão descarada quanto Eli? Claro que não! Ela era uma guerreira e exibia uma atitude severa, forte e cruel. Mesmo assim, o ingrato ousou beijá-la apesar de sua aparência horrível. Seria um louco? Estaria tão transtornado que não era capaz de diferenciar entre uma dama elegante e um soldado manchado de suor e lama? Haveria homens que não procurassem por moças elegantes, mas jovens desastrosas? Essas e outras mil perguntas aumentaram a irritabilidade que a acompanhou durante o retorno, por isso chegou daquela maneira na residência. Não pretendia projetar sobre criado, que feriu Galeón, toda aquela raiva. Mas queria tanto matá-lo que o imaginou naquela figura assustada e desorientada. Por essa razão, se ela tivesse que encontrar uma parte culpada em sua atitude desesperada, tinha que apontar para ele. Poderia odiar tanto alguém? Ela deveria declará-lo como seu inimigo mais perigoso? Sim. O
odiava tanto que, se o reencontrasse, daria todos os golpes que não lhe deu quando ele afastou os lábios dos dela. Quando se lembrou daquele momento e do frio que sua boca sentiu quando se afastou, Josh se mexeu desconfortavelmente na cadeira.
—Está bem? —O visconde perguntou, observando-a tão inquieta.
—Ainda está com raiva?
—Estarei toda a minha vida —assegurou sem pensar. Embora não
tenha mentido. Nunca apagaria de sua cabeça a raiva que lhe causava aquele jovem miserável de cabelos acobreados com um peculiar tufo loiro.
—Se quiser, quando terminarmos o nosso almoço, podemos ir ao estábulo e verificar se o Galeón está em perfeitas condições —Logan comentou para tranquilizá-la, imaginando que a preocupação dela fosse devido à situação que haviam experimentado com o criado.
—Não gostaria de tomar mais do seu tempo —disse envergonhada por não ser capaz de relaxar ou esquecer o ruivo. —Como indicou, essa tarde acompanhará Elizabeth ao jardim.
—Posso fazer as duas coisas —disse, depositando o guardanapo branco na mesa. —Juro que fui treinado para isso -- ele disse ironicamente.
—Howlett pode tomar o seu lugar, se não se opuser —disse Elizabeth, que, pelo brilho em seus olhos, achou essa alternativa mais agradável do que ouvir mil reclamações do visconde, sabendo que ele não gostava de tais tarefas.
-- Isso significa que me considera inútil para fazer um buraco miserável na terra e colocar uma dessas sementes dentro? —Ele perguntou ironicamente.
—Não... sabe o que... —Eli tentou dizer, meio envergonhada pela proposta.
—Calma, não se preocupe, estava brincando. Certamente Howlett
é melhor companhia que eu. Kilby irá informá-lo de sua proposta e tenho certeza que ele ficará mais feliz em passar a tarde ao seu lado do que encarando os ternos que terei que usar nos próximos dias -- disse recostando-se na cadeira e sem tirar o sorriso do rosto.
Olhou furtivamente para Anne e não gostou de descobrir que ela estava com uma pose rígida. Ela não falara e mal comera. Ficou distante, tanto quanto Josh ou ele. Estaria pensando sobre o que aconteceu no jardim?
Se arrependia ou estaria considerando a possibilidade de deixá-lo entrar em seu quarto quando a noite chegasse? A segunda opção era tão agradável e prazerosa que seu corpo tremeu de ansiedade. No entanto, fez algo que não tinha feito até agora para se reprimir. Algo dentro dele gritava que não deveria tratá-la como as outras, que ela era especial e que precisava provar isso para ela. Mas... o que significava para ele o termo especial? Que poderia deitar com uma mulher que, debaixo de sua pele, tinha sangue tão cigano quanto o dele? Por isso estava tão feliz? Olhou para Eli, pois ela ainda estava falando sobre as flores, depois Josh, que continuava com uma carranca e finalmente voltou para Anne. O que ela tinha que a tornava tão irresistível?
Por que sua boca ainda sentia o sabor da sua pele? Era capaz de encantar um homem com um miserável beijo? Hendall sentiu a mesma paixão que ele havia sentido no jardim? Teria se entregado tão facilmente a ele? Agora, era ele quem franzia a testa era ela. Odiava o passado de Anne, odiava tanto que
queria fazê-lo desaparecer e, claro, naquela noite, na manhã seguinte ou em todos os momentos que pudesse, conseguiria. Ele apagaria todas as impressões de Dick e plantaria as suas, como Elizabeth semearia as sementes que comprou para aquela terra inútil. E Anne floresceria única e exclusivamente para ele. A única coisa a calcular era a maneira de fazê-lo sem sobrecarregá-la e sem que pensasse que ela seria outra amante que visitava.
—Então, conseguiu começar o retrato? —Elizabeth abandonou o tema das flores para que Anne reagisse imediatamente. Durante todo o almoço, ela permanecera em silêncio e expressava, descaradamente, que a presença do visconde ainda a incomodava. Não estava ciente de que Logan era um bom homem e que até agora só tinha feito coisas boas para elas? Se não mudasse de atitude, naquela mesma noite falaria em particular com ela e a colocaria em seu lugar.
—Sim —Anne respondeu sem levantar os olhos do prato.
Ela mal comeu aquela refeição deliciosa e tinha certeza de que a Sra. Donner lhe perguntaria o motivo e a repreenderia. Mas seu estômago estava fechado. A visão oferecida pelo visconde quando levantou a mão para bater no criado, apesar do fato de merecê-lo por desobedecer a uma ordem, deixou-a confusa e assustada. Nunca imaginou que ele pudesse adotar uma conduta tão severa, embora não deveria esquecer que era um aristocrata e que
muitos deles se faziam respeitar pela força. Em milésimos de segundo, o homem adorável, apaixonado e sedutor, que estava por perto, tornou-se o vilão mais terrível do mundo.
—Tenho que dizer que fiquei surpreso com a facilidade com que sua irmã pinta —declarou Logan, olhando para Eli. —Depois de me obrigar a posar de mil maneiras horrendas, ela permaneceu em silêncio, fixou os olhos na tela e se abstraiu do mundo que a rodeava. Imaginei essa atitude se devia por não ter encontrado o perfil bonito do meu rosto, mas estava errado.
Quando me aproximei dela, sem que sequer notasse minha presença, observei a beleza dos traços que fazia. Confesso que o talento dela me surpreendeu.
Por mais que tenha ouvido sobre o dom que tem, me recusei a acreditar até que vi com meus próprios olhos. —Esperava que esse comentário, mesmo que fosse um pouco doloroso, a afastasse de seus pensamentos e a fizesse participar da conversa. Não queria contemplar, por mais tempo, seu rosto aflito, como se lamentasse o que havia acontecido entre os dois. Ansiava rever aquela mulher apaixonada que o abraçou e se rendeu à luxúria.
—Nenhum dos clientes que teve até agora se queixou de seu trabalho. Anne conseguiu mostrar a beleza em todas as mulheres que retratou, embora algumas delas fossem tremendamente horrendas -- disse Eli, divertida.
—Elizabeth! —Anne exclamou, finalmente erguendo o queixo.
—Estou mentindo? —Replicou. —Esqueceu a filha dos Sharun?
Existe no mundo uma jovem mais desagradável aos olhos? No entanto, soube como a embelezar todos os traços que a enfeavam. Mas tenho que declarar que, embora aqueles pais atormentados estivessem muito satisfeitos, deveriam ter recriminado seu trabalho porque o que fez não era real.
—Aquela jovem tem um bom coração... —Anne murmurou olhando para Eli. —E é isso que eu coloco na tela. A beleza exterior não é eterna, como bem sabe. O que realmente fica com a passagem do tempo é o que está armazenado sob o peito.
—Bobagens! —Eli respondeu acrescentando um gesto de desdém com a mão direita. —Essa jovem pode ser muito bonita no coração, mas até agora... que bravo cavalheiro se atreveu a pedir-lhe uma dança? E isso que, segundo entendi, seus pais fornecerão um dote suculento para o marido ousado. Mas toda vez que comparece a uma festa, ela permanece escondida no canto mais distante da sala e é incapaz de responder quando solicitado.
—A timidez não é uma desgraça —Josh murmurou, lembrando de sua irmã gêmea.
—Eu sei. Mas se quer conquistar alguma coisa na vida, é preciso ter coragem e lutar —disse Elizabeth com orgulho.
—Nem todo mundo tem coragem —censurou Josh. —Muitas de nós nascemos com certo...
—Se pretende que me sinta culpada porque nossa irmãzinha está incluída no grupo de meninas tímidas e sem coragem, pode manter essa língua viperina dentro da sua boca. Madeleine é tímida porque ainda não é capaz de aceitar a beleza com a qual nasceu. Quando isso acontecer, sua personalidade irá mudar.
—Beleza? Agora diz que Madeleine é linda? Por favor! —Josh bufou, levantando-se. —Como ode ser tão cruel para falar assim? Faz isso porque ele está presente e quer fingir uma imagem que não lhe corresponde?
—Ela apontou para Logan com o dedo. —Bem, não continue, a hipocrisia não lhe cai bem. Devo dizer-lhe, visconde, que desde que posso ouvir claramente, minha amada irmã Elizabeth ria de nós porque ela diz que a cor do cabelo de Madeleine é semelhante à das cenouras e a minha à da mulher mais velha do mundo.
-- Eu —Eli exclamou, arregalando os olhos enquanto observava suas bochechas queimarem de vergonha.
—Sim. Não se faça de desentendida, irmã, porque isso não está dentro da personalidade descarada que tem —disse Josh cruzando os braços em frente à mesa e olhando como se quisesse rasgar aquele lindo penteado com flores rosa.
—O que há de errado com cor do seu cabelo? —Logan disse que, perante a nova discussão familiar, também cruzou os braços e manteve a
atitude de espectador.
—Ela diz que eu nasci com a lua na minha cabeça —Josh explicou com raiva. -- E que pareço mais uma bruxa do que uma menina católica.
—Por que diz isso a ela? —Perguntou a Eli, erguendo as sobrancelhas.
—Eu... eu... não digo...
—Porque meu cabelo não é loiro, mas sim branco! —Respondeu Josh. —Segundo minha querida irmã, isso —disse ela, pegando o rabo de cavalo e mostrando-o ao visconde —indica que sou velha, embora não tenha completado dezoito anos, e por essa razão apenas os homens octogenários vão me notar.
—Bem, me encanta seu cabelo quando o usa limpo —Logan disse calmamente —e tenho certeza que Madeleine é tão bonita quanto qualquer uma das senhoritas.
—Obrigado —disse Josh, fazendo com que toda aquela raiva, que sentia antes da disputa, fosse eliminada tão rapidamente que perdeu a força.
—É a primeira vez que alguém diz algo bonito sobre mim —acrescentou, sentando-se novamente.
—Todas são especiais —continuou Logan. —Cada uma tem algo que a torna única. Não acha que o mundo seria ridículo se todas as mulheres
fossem iguais? Para mim, particularmente, deixam em êxtase aquelas que têm cabelos escuros e olhos castanhos —ele confessou, olhando de relance para Anne para ver se ela ousava repreendê-lo por não cuidar de suas palavras na frente das irmãs. Mas nada, ainda seguia sem a menor reação. —E espero que muitos homens não tenham os mesmos gostos que o meu ou serei forçado a enfrentá-los quando encontrar minha esposa —acrescentou desconfiado. --
Tenho certeza de que seus futuros cônjuges as amarão tal como são e elogiarão suas diferenças.
—Eu não quero um marido —Josh murmurou.
—Realmente acredita que se manterá solteira para sempre? --
Perguntou o visconde, se levantando, um ato que as irmãs imitaram no momento. Bem, está errada. Não será capaz de se afastar do homem que, toda vez que a olhar, mostrará a necessidade de segurá-la em seus braços, protegê
la e amá-la até que a morte apareça.
—Isso é o mesmo que eu disse a ela —garantiu Elizabeth, estendendo a mão para descansar no braço de Logan. Mas ela não me escuta.
Se propôs a se tornar um soldado e....
—E a senhorita não deve humilhar suas irmãs para se sentir superior a elas —Logan interrompeu, repreendendo-a. —Lembre-se que cada um tem objetivos diferentes e não deve criticá-las para alcançar isso.
?Não me sinto inferior a elas —resmungou Eli.
?Ah, claro que não! Se sente tão extraordinariamente superior que se propôs a casar com um aristocrata —disse Josh com mordacidade.
—Podem parar de uma vez? —Disse Anne finalmente, caminhando ao lado de Josh. —Estão oferecendo um espetáculo embaraçoso.
—Eu já parei —disse Eli sem olhar para eles. —Mas não sou aquela que persiste, talvez devesse ordenar que Josh ficasse de boca fechada porque, como um bom soldado, jamais desobedeceria uma ordem.
—Vou arrancar esse seu coque! —Josh gritou, jogando-se em sua irmã.
Mas não chegou até ela, Logan se virou para a jovem, parou aquele salto que dera em Eli, empurrou-a para trás e se colocou no meio das duas. Com os olhos bem abertos, pois não podia acreditar no que havia se formado em um piscar de olhos, olhou para Anne e ela mostrou o mesmo assombro que ele. Como podiam passar de uma conversa absurda sobre flores para uma luta de puxar cabelo? Em que momento a conversa inocente passou para a guerra? Com as mãos abertas, para que Josh não procurasse a área mais adequada para tirar de Eli aquele penteado floral, respirou fundo e fez brotar a atitude do tutor ao qual se autoproclamou.
—Têm um segundo para reconsiderarem esse comportamento inadequado antes de decidir puni-las —garantiu, adotando o tom de um pai.
-- Se não demonstrarem arrependimento sincero, não sairão dos seus quartos
até que eu esqueça o que acabou de acontecer. É isso que querem, passar o resto da semana em seus quartos? —Olhou primeiro para Eli e depois para Josh.
—Não -- responderam em uníssono.
—Nesse caso, peçam perdão —insistiu o visconde com uma voz rouca.
—Sinto muito, Eli —disse, estendendo a mão para ela.
—Perdoe-me, Josh —respondeu, aceitando aquele gesto cordial e pacificador.
—Isso é muito melhor —disse Logan, afastando-se das irmãs —e agora, se precisam descansar, retirem-se para seus aposentos.
—Não posso ir aos estábulos? —Josh perguntou com tristeza. --
Quero ver como está Galeón e se o bom tempo continuar durante a tarde, gostaria de montá-lo novamente.
—Pode fazer o que quiser enquanto não se envolver em outra confusão —ele concordou.
—Obrigada! -- Exclamou alegremente. Se aproximou do visconde e, antes que ele pudesse reagir, o beijou na bochecha. —Não espere por mim para tomar o chá! —Gritou entusiasmada, correndo para a porta.
—Eli? —Ele direcionou a pergunta, levantando a sobrancelha direita.
—Se Howlett ainda puder me acompanhar, gostaria de aproveitar as horas do dia para iniciar os arranjos do jardim.
—Não há problema. Diga a Kilby para informar seu sobrinho sobre o novo plano e não saia de casa sem a presença dele. Espere, não vá, quero te pedir mais uma coisa -- disse, apontando com o dedo.
-- Sim? —Perguntou com uma atitude tão submissa que Anne pensou, por um momento, se o que estava observando era real ou outra de suas alucinações.
—Durante a sua estadia em minha casa, não quero que volte a dizer a Josh que ela é feia porque não é, entendeu? —Disse com firmeza.
—Não farei mais isso, prometo —respondeu, abaixando os olhos.
—Bem, nesse caso, também pode se retirar —concordou Logan.
—Obrigada -- disse. Fez uma leve reverência e, murmurando palavras que só ela ouviu, saiu do salão.
Silêncio... não sabia que amava tanto o silêncio até conhecer as irmãs. Como podiam ser tão voláteis? Eram mais perigosas do que cem homens confinado em seu barco! Como o pobre médico enfrentava situações como a que ocorreu? Deus o teria abençoado com o dom da paciência ou com a surdez? Caminhou lentamente para o lado esquerdo, separando-se de uma Anne imóvel, acariciou o rosto com angústia, virou-se para ela e olhou-a suplicante.
—Elas sempre se comportam assim? —Perguntou depois de suspirar e colocar as mãos em ambos os lados da sua cintura.
Anne olhou para ele sem piscar. Seu rosto refletia não apenas agonia, mas também desespero. Onde estava o homem que levantou a mão para o criado? E sua grosseria? Nada disso observava nele, parecia tão humano quanto o resto do mundo. Levou a mão à boca, para aplacar a risada que queria brotar diante daquela visão tão angustiante, mas não conseguiu silenciar o estrondo de sua gargalhada.
—Sim, sempre se comportam assim —disse entre respirações longas. -- Achou que seria fácil conviver conosco? Que seríamos tão dóceis quanto às mulheres que encontra em sua vida? —Acrescentou divertida.
Havia desaparecido. Os sentimentos tristes que suportou durante o almoço desapareceram imediatamente ao contemplá-lo na intimidade. Era tão vulnerável quanto ela e tão volátil quanto suas irmãs. Talvez, apenas talvez, sua atitude em relação ao servo tivesse uma razão diferente do que exaltar seu poder.
—Como seu pai controla nessas situações? —Exclamou, mostrando em seus gestos e em seu tom de voz uma angústia exagerada. Se tivesse finalmente quebrado o muro que Anne havia construído durante o almoço, estava disposto a que não levantasse novamente. Como concluiu, ele precisava encontrar a mulher escondida sob aquele olhar indescritível.
—Devido ao seu trabalho, é a minha mãe quem as chama a ordem
—respondeu, descobrindo que ele retornava para seu lado.
—Como consegue? —Retrucou, parado na frente dela. Suas mãos voltaram para o rosto e ele esfregou em desespero.
—Mantendo-as quietas ou firmes? —Queria saber. Sim, aquilo era tão improvável quanto engraçado. O grande sedutor parecia abatido pela atitude de duas pequenas jovens. E isso que Mary tinha ficado em casa! Ele não sabia nada do que poderia se formar em sua casa quando as cinco permaneciam juntas.
—Ambas as coisas —confessou, estendendo as mãos para o chão, como se estivesse resignado diante de uma situação difícil de controlar. Mas se quisesse executar o plano que tinha elaborado em milésimos de segundo, precisava continuar mostrando perplexidade, desespero e rejeição. Não era a irmã mais velha? Não ajudaria Sophia nos momentos mais difíceis? Bem, isso era o que devia lhe dar a entender, que estava vivendo o dia mais difícil de sua vida e que pedia sua ajuda. Uma vez que ela estivesse ao seu lado, lutaria com todas as armas de sedução para que a mulher que estava em seus braços e suspirava por suas carícias retornasse.
—Não sei, talvez minha mãe tenha o caráter certo para doutrinar suas cinco filhas, mas só ela sabe a verdade.
—Anne... —ele disse olhando-a com olhos suplicantes.
-- Sim, milorde? —Respondeu rapidamente adotando o tratamento cortês.
—Tem que me ajudar —disse, suportando a fúria que sentiu ao ouvir como ela colocava distância entre eles novamente.
—Para ajudá-lo em quê? —Estalou, arregalando os olhos.
—Nós não podemos deixá-las sozinhas. Estou com muito medo de que, embora tenham me prometido, procurem um momento para se envolver em outra discussão e não tenho a menor dúvida de que o penteado de Eli será jogado fora de sua cabeça —explicou com aparente aflição.
-- Se deram a sua palavra, certamente irão obedecer —defendeu-as como qualquer irmã mais velha faria.
—Minha irmã Natalie também fez muitas promessas a Roger e, entre elas, jurou que nunca se casaria com o sobrinho de Arthur Lawford. E o que aconteceu?
—Se casou com ele... —murmurou Anne, confusa ao ouvi-lo falar sobre um assunto tão particular.
—Exatamente! —Exclamou caminhando para a saída. —Preciso de você Anne, muito mais do que pode imaginar.
Essas palavras foram mais sinceras do que esperava. No entanto, no contexto em que as usou, não eram diretas nem estranhas. Se sua experiência não falhasse, Anne era uma das pessoas que não eram capazes de
se recusar a ajudar os outros e ele seria o homem mais necessitado do mundo.
—Pretendia passar o resto da tarde matizando o esboço... --
alegou olhando para o chão e esfregando as mãos.
—Perfeito! —Direi a um dos servos para mover o cavalete e tudo que precisa do lado de fora. Enquanto continua com a tela, ficarei de olho nessas duas pequenas criaturas ferozes. —Ficou parado na porta, esperando que ela avançasse, mas não o fez. O que acontecia? Não sentia vontade de acompanhá-lo? Ou talvez...
Pensando sobre esse possível, talvez, que não tinha notado porque sua cabeça estava concentrada em como aplacar a discussão das irmãs, Logan voltou para o seu lado, colocou um dedo sob o queixo de Anne e levantou-o gentilmente. Vendo que seu rosto mostrava tanta confusão quanto antes, se aproximou devagar e lhe deu um beijo carinhoso nos lábios.
—O que há de errado? —Ele murmurou, mal tirando a boca da dela. —O que a preocupa? Se arrepende do que fizemos no jardim? Não quer que esteja ao seu lado? Por que não me chama de Logan quando estamos sozinhos?
—Não acha que nos deixamos levar por uma emoção absurda? --
Perguntou olhando em seus olhos.
—Emoção absurda? —Repetiu, permitindo captar em seu tom de voz que essa descrição o machucou. —Não. Não acho que me deixei levar
por algo assim. Acho que mostrei a atração que sinto por você e que, embora devesse ficar longe, pois está sob minha proteção, não posso e não quero --
declarou severamente.
—Mas...
—sussurrou,
abaixando
o
rosto,
um
que
instantaneamente levantou com a ajuda da mão direita de Logan.
—Não há mas, Anne. Sinto-me tão atraído por você que até ponderei a ideia irracional de que me enfeitiçou. Tenho que ser honesto em lhe dizer que, desde que apareceu em minha vida, faz com que eu seja uma pessoa diferente, uma que esquece... —Vendo que ela tinha a intenção de perguntar a que se referia, continuou olhando-a nos olhos: Sabe porque no final eu não bati naquele maldito criado?
—Não... —murmurou.
—Porque ouvi sua voz. Se não tivesse aparecido, teria lhe dado uma boa lição. No entanto, tê-la, ouvi-la e senti-la, faz com que recupere a sanidade e que apareça em mim o homem que verdadeiramente sou.
—E? Quem é? -- Insistia em descobrir enquanto seu coração batia em um ritmo desenfreado.
—Fique comigo e te mostrarei. Temos vinte e oito dias para que descubra —disse separando-a apenas o suficiente para ela segurar o seu braço.
—Não deve provar nada. Não pretendo...
—O que não pretende, Anne? Me enfeitiçar? Bem, já o fez --
disse antes de tomar uma de suas mãos e, entrelaçando os dedos com os dela, levou-os à boca e os beijou carinhosamente. —Prometo que deixarei minha alma descoberta, que será capaz de ver o homem que realmente sou e, se não sentir aquilo nasceu em mim, a deixarei partir.
—Como pode me dizer essas coisas? Como te ocorre me perturbar? Como...?
Anne não terminou sua última pergunta, Logan a silenciou com outro beijo, embora esse não fosse suave ou doce, mas apaixonado, louco, descontrolado, lascivo. Seu corpo reagiu rapidamente ao calor de sua boca, ao movimento de sua língua dentro dela, às carícias que fazia em seu rosto com a mão que não entrelaçava a dele. Se sentia tão fraca, tão frágil, que duvidava que pudesse ficar em pé por muito tempo.
—Digo essas coisas porque vejo que corresponde com a mesma intensidade —sussurrou entre suspiros. ?E agora, minha querida Anne, se não quer que levante a saia desse vestido marrom e me deixe levar pela necessidade de torná-la minha, vamos sair daqui.
Muda e com a respiração agitada, Anne aceitou o braço do visconde. Caminhou ao lado dele até que saíram, como se fossem dois recém-casados, que mal conseguem se separar. Abriu a porta e convidou-a a passar na frente. Uma vez que se colocou na varanda do lado de fora, uma brisa
suave acalmou a abrasão que notou em suas bochechas e a luz suave dos raios de sol a fez fechar os olhos ligeiramente. Colocou a mão direita na testa, usando-a como um escudo, olhou em volta e sentiu-se estranhamente feliz.
Por que sua confissão lhe trouxe tanto conforto? Será que não entendia que a única coisa que conseguiria seria se tornar outra amante do visconde? Era isso que queria? No momento em que uma dor estranha apareceu em seu ventre, como se estivesse lutando contra aquela ideia nefasta, um pássaro grasnou no céu. Com a mão apoiada na testa, como se fosse um soldado, levantou o rosto e ofegou ao descobrir que um imenso corvo estava voando sobre ela.
—Me acompanha? —Logan perguntou, novamente estendendo o braço para que ambos pudessem descer os degraus que os levariam à imensa esplanada verde.
—Sim —respondeu Anne depois de aceitá-lo sem hesitação.
Quando desceram juntos, enquanto ele começava a conversar sobre como encontrara aquele lugar e a razão pela qual o adquiriu, o corvo continuou voando sobre eles e não desapareceu até que, três horas depois, Anne e Logan voltaram para a residência.
XXVII
O silêncio reinava novamente no corredor...
Anne se encostou à porta do quarto e suspirou. Fazia três dias desde que o visconde lhe pedira para não trancar a porta para deixá-lo entrar, mas ele não aparecera. Na primeira noite, enquanto esperava por ele, sentada em sua cama, bateram na porta. Com o coração pulsando na garganta, porque achava que era ele, caminhou em direção à saída e, descobrindo quem era, teve uma estranha sensação de alívio e tristeza. Elizabeth, depois de passar a tarde trabalhando no jardim, pareceu agradecer-lhe pela mudança de atitude que demonstrou ao visconde durante o jantar. «Sabia que no final se renderia ao seu encanto», disse no meio da conversa. E não tinha ideia de quanta verdade suas palavras possuíam. No decorrer daquela tarde, falou com ele como se se conhecessem desde a infância. A conversa entre eles passou de contar a história de como e por que comprou Harving House, ao momento em que viajou pela primeira vez no navio, a tensão que sofreu por ser responsável por tantos homens sob suas ordens e a satisfação que sentiu ao retornar. Então continuou falando sobre seus irmãos, até narrou milhares de aventuras que viveu com Nathalie e ele crianças. A chegada de Evelyn à vida de Roger e como sua casa se encheu de felicidade diante do inesperado nascimento de Evah, a filha do marquês. Mas essa conversa amigável mudou
quando ele tentou descobrir coisas sobre ela.
—Por que deseja partir para aquela cidade? -- A pergunta a surpreendeu tanto que não sabia o que responder. —Alguém te falou sobre ela? -- Ele persistiu, movendo lentamente o caule de uma margarida que havia cortado do jardim.
Anne olhou para ele timidamente. Devido ao calor, tirou o paletó e mostrou uma atitude muito íntima e relaxada, quando se recostou no banco de pedra e esticou as longas pernas.
—Sim —disse finalmente.
—O que ele lhe disse para que quisesse experimentar a agonia de fazer uma viagem tão longa? —Insistiu.
—Que encontraria a paz que procuro. ?Fixou os olhos na tela novamente e, apesar do fato de que sua mão estava tremendo, continuou a moldar o contorno de suas sobrancelhas. Como podia ser tão diferente? No jardim, enquanto foram mantidos longe de qualquer observador, se mostrou como o conquistador de mulheres que era. No entanto, naquele momento, não havia sedução em seus gestos ou palavras, mas sim cumplicidade, familiaridade e simplicidade.
—Por causa da maldição? —Perguntou antes de colocar o caule pequeno em seus lábios, como se fosse um cigarro. Cruzou os braços sobre a cabeça e fechou os olhos. ?Pensa que ali desapareceria?
—Não —respondeu sem olhar para ele.
—Então? Por que insiste em partir? —Insistiu sem mover nada além do peito enquanto respirava.
—Uma mulher deve construir bom futuro se ela se recusar a procurar um marido que a mantenha —declarou com sinceridade.
—Entendo... —murmurou antes de permanecer em silêncio.
Quando pensou que o assunto tinha acabado, que ele já havia deduzido que seu propósito era se tornar a famosa retratista que sua mãe lhe disse, se incorporou no banco para se sentar, olhou para ela, como se tivesse testemunhado um milagre e disse:
—É uma cidade muito libertina. Sabia?
—Não —respondeu secamente.
—Nesse caso, fico feliz que esta viagem tenha sido cancelada.
Certamente não gostaria de ver homens e mulheres se renderem a uma paixão passageira em qualquer canto das ruas.
Esse comentário ousado deixou-a tão surpresa que o carvão atingiu o chão. Quando se abaixou para pegá-lo, ele já estava ao seu lado, para ajudá-la. Os dedos de sua mão direita sentiam as carícias dele e não pode deixar de se sentir oprimida por aquele toque suave e delicado.
—Teria morrido de tristeza se descobrisse o que é capaz de me fazer sentir e me encontrar na horrível obrigação de abandoná-la em um
lugar tão distante —sussurrou enquanto ambos se levantavam ao mesmo tempo. —O que eu faria sem esses olhos castanhos, incapaz de sentir o perfume do seu cabelo ou poder olhá-la quando quisesse?
Um golpe. Anne sentiu um golpe terrível no estômago. O que pretendia? Enlouquecê-la com palavras doces? Era assim que tratava todas as mulheres que passavam por sua vida? E depois? O que aconteceria depois? E ela? Como suportaria uma experiência semelhante com o visconde? Tinha que se recusar a sentir, desejar, ansiar por ele, mas lá estava ela, com um estupor semelhante ao que teria uma jovem inocente quando um de seus pretendentes desejasse deixá-la apaixonada por doces e frases estudadas.
—Não se lembra de que matei os dois homens que decidiram se apaixonar por mim? —Fez a pergunta para se defender de suas próprias emoções. Não podia contemplá-lo com desejo, nem o observar como se fosse o único homem no mundo. Precisava lembrá-lo que estava amaldiçoada e que ele poderia terminar da mesma maneira...
—Não eram apropriados —respondeu com um sorriso tão lindo e atraente que Anne não conseguia tirar os olhos daquela boca que, momentos antes, havia provado.
Não havia lhe dito que estava enfeitiçado? Bem, amargamente, ela também estava. Uma voz estranha retumbou em sua cabeça com tanta
intensidade que pensou que explodiria. Não, não podia se deixar levar pela atração que sentia, nem por essa selvageria que despertava toda vez que olhava para ela. Ou adotava a postura correta ou acabaria nua em sua cama ou na dela. Essa visão, que sua mente rapidamente projetou, agradou-a tanto que um calafrio correu da ponta dos pés até a cabeça.
—Está com frio? —Perguntou e, sem ouvir a resposta, pegou sua jaqueta, se colocou atrás dela e a pôs sobre seus ombros lentamente. E, depois de dar uma rápida olhada ao redor para confirmar que estavam todos ocupados, esfregou seus braços e, pouco antes de se afastar, deu-lhe um beijo no pescoço. —Conheço muitas maneiras de aquecê-la, mas este não é o momento certo para demonstrá-las.
Outro golpe no estômago. No entanto, esse foi acompanhado por uma dor angustiante entre as pernas. Sim, claro, aquele ladino tentava seduzi-la até que gritasse para que oferecesse tudo o que propunha, mas... O
que deveria fazer? Resistir? Lutar com todas as suas forças? Por que? Não era mais uma mocinha virtuosa, há muito que perdera a inocência e, segundo sua mãe, logo poderia fazer o que quisesse sem ter que dar explicações. Além disso, qual era uma das razões pelas quais queria ir a Paris? Sentir-se viva, querida e imersa em um turbilhão de paixões que apaziguaria essa necessidade que renascia nela com mais força. Seu sangue cigano havia despertado e ansiava pelo que ele queria lhe dar.
Observou-o sentar novamente e adotar essa postura casual e familiar. O que pretendia?
—Foi na segunda viagem que fiz àquela cidade —continuou Logan -- quando fiquei hospedado no bordel da senhora Gautier.
—Como disse? —Perguntou, segurando o carvão com tanta força que se partiu em dois.
—Que me hospedei no bordel da senhora...
—Como é capaz de comentar uma coisa tão íntima? —Censurou.
—Disse na sala de estar, que mostrarei minha alma e que parte da minha vida está dentro dela. A escandaliza? Não achei que faria pois, como descobri, manteve um relacionamento apaixonado com Hendall.
—Não vejo isso como apropriado —murmurou, fixando os olhos na tela novamente e escondendo atrás desta o embaraço de suas bochechas.
—Bem, se ficar escandalizada ao descobrir por que me chamam de Logan, o conquistador, pode me fazer às perguntas que achar melhor --
comentou divertido. ?Embora, garanto que iria gostar da história.
—Realmente acha que me faria feliz saber o que fez com essas mulheres? -- Falou indignada quando colocou as mãos na tela e olhou por cima.
-- O que observo é ciúme? ?Alegou ainda mais divertido e um pouco orgulhoso. Se virou para ela, colocou as solas dos sapatos no chão e
sorriu. ?Não imaginei que abrigasse esse tipo de emoção sobre mim.
—Não estou com ciúme —resmungou, se escondendo atrás da pintura novamente. ?Mas sinceramente, sei que não gostarei desse assunto.
—Bem, vamos mudar a conversa... —disse, descansando os cotovelos nos joelhos. —Como foi sua infância? Sempre quis ser retratista?
Qual imagem achou mais difícil? Por que se apaixonou por Hendall?
Ninguém a informou que era um mulherengo, que suas empresas estavam falidas e que só voltariam à tona se conseguisse casar com a filha de um bom homem?
Tremor. O corpo tremia. Podia sentir o movimento selvagem até de seus cílios. Esse era o objetivo do visconde? Descobrir por que se comprometeu com Dick? Com qual razão? Ridicularizá-la? Bem, não conseguiria!
—Conhecia a reputação de Dick -- assegurou em uma voz firme e forte -- mas me jurou que, uma vez que estivéssemos noivos, seu passado seria deixado para trás. Não fez essa promessa a nenhuma de suas amantes?
—O atacou.
—Não, porque isso seria uma mentira e não gosto de enganar as pessoas. Elas sempre souberam da posição que lhes dei e não haveriam outras possibilidades —respondeu com extrema contundência.
—E ainda assim continuaram? —Perguntou perplexa.
—Não acha que mereço o esforço? —Contestou, esboçando um grande sorriso.
—Não. Conheci muitos homens mais bonitos. -- Ela mentiu porque queria acertar seu ego da mesma maneira que fazia com seu estômago sempre que falava sobre algo que não deveria e a fazia sentir aquilo que era proibido.
-- Não? Uau! Isso partiu meu coração, senhorita Moore. Como poderei recompô-lo? —Comentou com aparente aflição.
—Tenho certeza que superará—murmurou, escondendo o rosto sorridente atrás do retrato.
—Não tem a sensação de que nos conhecemos a vida toda? --
Perguntou ao ar quando se deitou no banco de pedra. —Porque eu sim. --
Permaneceu em silêncio, pensativo, depois virou a cabeça para ela e procurou o seu olhar. Não encontrou, escondia atrás daquele grande cavalete: —Sabe? Nunca falei, tão calmamente com uma mulher, enquanto tentava aplacar a ereção que guardo sob as minhas calças.
Três. Aquelas palavras produziram o terceiro golpe em seu estômago e uma sensação tão agradável que sentiu seu corpo reagir instintivamente. Como poderia ser tão canalha? Teria descoberto que ela enlouquecia com palavras e situações descaradas, essas que se assemelhavam tanto com seu sangue dominante? Porque, para qualquer
cigana que se preze, bajulações como essas faziam seu corpo ferver.
E quando planejou repreendê-lo novamente, ouviu como o cavalo, no qual Josh cavalgara a tarde toda, estava se aproximando.
—É lindo! Maravilhoso! Incrível! —Exclamou Josephine, recompensando as façanhas do animal com fortes carícias no pescoço.
—Bem, a amazona também fez um ótimo trabalho —Logan comentou, levantando de um salto. De repente, o homem canalha que havia estado ali, mudou para se tornar o tutor responsável. —Da próxima vez deve lembrar que Galeón salta melhor quando a distância é curta. Avança muito rápido e solta no meio do caminho -- explicou enquanto acariciava o pescoço do cavalo.
—Poderia me ensinar, se isso não o fizer perder muito tempo --
disse Josh, com os olhos brilhantes de emoção.
—Boa ideia. Se desejar, amanhã, depois do café da manhã, poderíamos dar um longo passeio. Lá em cima —apontou para o lado esquerdo, exatamente onde uma pequena colina estava —há troncos caídos pela última tempestade. Eles servirão para que eu possa ensinar como fazê
lo pular.
—Sim! Sim! —Gritou a jovem cheia de alegria. —Estou encantada! O que acha, Galeón? Sim, de verdade? —Disse, inclinando-se para a pele do cavalo como se estivessem conversando. —Acho que ele
também gosta da ideia.
—Nesse caso, faça-o retornar ao estábulo e dê-lhe comida e bebida. Tem que recuperar forças para amanhã.
—Às suas ordens! —Respondeu Josh, levantando a mão direita na testa antes de chicotear Galeón.
—É impressionante... —Logan refletiu voltando ao banco. Juro que ela é a mulher mais corajosa que já conheci. Tenho certeza de que se ela tivesse nascido homem, a Grã-Bretanha estaria a salvo de qualquer inimigo
—disse sentando-se.
—Mas não é —disse Anne, sem se afastar da pintura —e ela tem que assumir isso mais cedo ou mais tarde.
—Verdade —disse sem poder desviar o olhar da jovem. —Não entendo porque quer manter um comportamento tão masculino, odeia a realidade?
—A de ser mulher? —Perguntou e o visconde afirmou com um leve aceno de cabeça.
Colocou o carvão em uma sacola que pendia do cavalete e, observando que a jaqueta deslizava entre seus braços, acabou colocando as mãos nas mangas. O calor que proporcionou a roupa do visconde e o perfume que emanava dele a relaxaram. Mas ele não podia descobrir que ela também estava confortável, ele usaria aquele momento para fazer outra
pergunta inapropriada. Por essa razão, conteve todos os músculos de seu rosto, limpou o carvão das mãos em um dos panos que comprou e avançou para o lado esquerdo, na direção oposta à do visconde.
—Deve entender que o comportamento que mostra não corresponde à sua natureza, embora isso, de certa forma, a torne mais especial. No entanto, deve estar ciente de que não pode alcançar tudo o que pretende alcançar. Sem ir mais longe, a noite que passamos bebendo na pousada...
—Ato que estava fora de lugar porque Josh não deveria ter bebido como se fosse um velho bucaneiro —o interrompeu em reprimenda.
—Mas tenho que confessar que veio muito bem para nós dois --
se defendeu, incapaz de eliminar o sorriso. Por fim, a irmã protetora veio à tona, assim como já estava começando a ouvir como seu tom de voz não era tão esquivo. Havia declarado que mostraria sua alma, apenas esperava que Anne fizesse o mesmo. —Ela me contou sobre seus sonhos e tive que explicar que eles não seriam reais.
—O que disse? —Perguntou, virando-se para ele bruscamente e mostrando clara evidência de terror em seu rosto.
—Que os soldados não a veriam como iguais e que acabariam violando-a -- declarou sem se importar.
—Por que foi tão cruel?
—Não fui cruel, Anne, mas sincero. Ela precisa que falem com clareza e não ser enganada. Já disse que não gosto de mentir, muito menos a uma jovem como ela. -- Sua voz não vibrou nenhuma vez. Expressando em cada palavra uma franqueza convicta.
Anne olhou na direção que Josh havia tomado, esfregou os braços e, embora fosse ilógica, sentiu o toque da jaqueta do visconde e se acalmou novamente. Talvez não fosse certo que ele falasse com ela dessa maneira tão direta, mas não podia culpá-lo. Era a primeira vez que alguém falava com Josh com tanta sinceridade. Só esperava que ela não esquecesse a parte mais difícil desse sonho que estava determinada a alcançar.
—O que acontece com Madeleine? —Perguntou, levantando-se e caminhando em direção a ela. Só parou de andar quando se colocou nas suas costas.
—Nada. Ela é perfeita. A única coisa que acontece é que sua timidez a impede de conversar com outras pessoas que não sejam nós.
—Bem, ouvi a voz dela e admito que era angelical —disse sem se mover do seu lado.
Logan respirou fundo, pegando todas as partículas invisíveis que Anne emitia de seu perfume. Se perdia.... Sim, estar tão perto dela fez com que ele se perdesse em um mundo que, até o momento, desconhecia.
Desejava abraçá-la, consolá-la, sussurrar que ele sempre a ajudaria e que
não deveria temer o que poderia acontecer entre eles, porque nem mesmo a maldição poderia separá-los. Mas não era o momento, precisava de mais tempo. Um em que ela descobriria quem ele realmente era e o aceitaria. Que não gostava de enganar? Bem, mentiu sobre sua origem por trinta e três anos! O que ela pensaria se descobrisse? Seria capaz de amar o cigano e o Visconde? Ou só aceitaria o homem que ostentasse um título nobre?
—Talvez, com o tempo, encontre uma pessoa que a faça sair da caixa de cristal em que ela decidiu viver —disse Anne como reflexão sobre Madeleine.
—E você? Deixará a gaiola em que se trancou?
O hálito quente do visconde roçou a pele de seu pescoço, causando outro arrepio. No entanto, desta vez, não esfregou os braços, mas estendeu as mãos para o chão. Como poderia derreter tão facilmente a frieza que ela criou por tantos anos? Desejava o contato de um homem ou apenas dele? Por que abandonou a integridade da qual se orgulhava? O que tinha ele de especial para seu corpo admitir que o havia esperado toda vida?
—Não estou enjaulada, milorde —disse, virando-se para ele.
Seus olhos. Aquelas írises azuladas olhavam para ela com tal desejo que permaneceu imóvel. Esse coração que se manteve letárgico por muitos anos batia desenfreado e sua mente, irracional toda vez que estava na frente dele, apenas gritava havia chegado o momento de se render ao óbvio.
E, de acordo com isso, essa evidência consistia em que se entregasse ao homem esperado. Sua mãe teria razão? Os sonhos seriam verdadeiros? Não, não poderia ser. A pessoa que esperava tinha sangue cigano e o visconde, exceto pela cor de seu cabelo, em tudo o mais, mostrava sua origem aristocrática. Então... o que teria ao seu lado? Um romance que terminaria no mesmo dia do seu contrato? É isso que desejava?
—Está —garantiu, trazendo sua boca perto da dela -- mas não demorará muito para começar a voar, porque serei o homem que abrirá a porta dessa maldita gaiola.
—Pelo amor de Deus!
O grito de Elizabeth fez Logan saltar rapidamente para trás e Anne ficar rígida como uma tábua. Ambos pensaram que os descobrira, mas não era assim. A jovem olhava para as saias de seu vestido enquanto sacudia as manchas de lama com fúria.
—O que acontece? -- Anne perguntou, saindo para encontrá-la.
—A terra é terrivelmente má! —Ela exclamou horrorizada. --
Howlett e eu devemos arejá-la muito se quisermos semear algo naquele terreno inerte.
—Arejá-la? Não acha que a brisa que temos durante a manhã é suficiente? -- Brincou Logan, que chegará à tela e olhava como se a estivesse estudando.
—Não me refiro a esse tipo de ar! —Respondeu divertida, Elizabeth.
—Não? —Logan respondeu, levantando ambas as sobrancelhas, expressando sua incerteza desta maneira.
—Temos que fazer pequenos furos na superfície para que o oxigênio atravesse a terra. Dessa forma, as futuras raízes permanecerão saudáveis e não apodrecerão.
—Achava que as folhas eram as que precisavam de oxigênio, não a raiz -- prosseguiu Logan, acentuando o tom de perplexidade.
—E é verdade —disse Eli, tirando o chapéu. No entanto, se alimentam pela raiz e, se não estiver saudável, morrerão.
—Explicou isso ao jardineiro a quem pago uma grande fortuna para cuidar deste lugar? Seria conveniente informá-lo que precisa fazer pequenos furos em toda a propriedade —explicou sarcasticamente.
—Está brincando, certo? —Eli perguntou, mostrando um grande sorriso.
-- O que acha? —Respondeu antes de estender o braço para ela e voltarem para dentro da residência.
Durante aquela noite, Josh não parou de falar sobre a magnífica tarde que passara com o cavalo e Elizabeth do bom relacionamento com Howlett. Ambas estavam entusiasmadas e ansiosas pelo novo dia que viria.
Quando se retiraram para seus quartos, Anne as acompanhou e ficou no quarto o esperando que Logan aparecesse, mas as horas passaram e, exceto pela breve visita de Eli, para falar sobre sua mudança de atitude, permaneceu sozinha até adormecer. No dia seguinte, quando desceu para o café da manhã, Josh e o visconde saíram para o passeio que ele prometera. Elizabeth continuou com seu trabalho de cultivo e ela se abrigou em uma sala, que Kilby havia preparado, para avançar na pintura. Passou a manhã inteira suspirando, se lembrando das sensações que sentiu por tê-lo tão próximo e ansiando por ele. Essa última a deixou bastante inquieta, porque não podia decidir se essa ânsia se devia ao fato de ter passado a noite sozinha ou que, na verdade, começava a gostar da companhia dele, apesar de se comportar com tanta ousadia quando estavam sozinhos.
Realmente queria contar para ela sobre suas amantes? Como era possível falar sobre esse assunto particular sem se importar com a imagem que isso lhe daria? «Não tem a sensação de que nos conhecemos a vida toda?
" Sim, ela tinha, mas não devia confessar esse pensamento tão facilmente.
Primeiro tinha que assumir a razão pela qual se sentia tão diferente quando estava ao seu lado. Uma vez resolvida essa questão, se concentraria nas outras.
À tarde, desse mesmo dia, foi muito semelhante à anterior.
Enquanto Eli continuava com o plantio das sementes, Josh cuidava do cavalo
com cuidado. O visconde acompanhou-a até os estábulos, para continuar dando conselhos sobre uma boa equitação. Ela, pelo contrário, olhava para o esboço sem saber como continuar. Era a primeira vez que lhe faltava inspiração. Não conseguia avançar, ou talvez não quisesse fazê-lo sem que ele estivesse ao seu lado. Era hora de voltar e não havia dado nenhum mísero traço novo. Tudo permanecia o mesmo até que ouviu um tremendo grito.
Levantando os olhos e os direcionando para o lugar de onde veio aquele uivo de felicidade, observou Josh abraçar o visconde com tanta força que o teria dividido em dois, se não possuísse um porte tão forte.
—Ele o deu para mim! O Galeón é meu! —Ela gritava eufórica sem parar.
Por essa razão, durante a noite, a única pessoa que a visitou foi Josh. Estava tão animada com o presente do visconde que não conseguia dormir.
E a manhã daquele dia chegou. Esperava, desejava e precisava que ele ficasse ao seu lado, que aquele homem descarado e atrevido que costumava falar com ousadia ou roubar um beijo retornasse. No entanto, ele não ficou em Harving. De acordo com Kilby, o senhor teve que sair para resolver certos assuntos administrativos. Anne não tinha certeza se a raiva que a abalara naquele momento era pelo tom que o criado usara para falar com elas ou o fato de que ele estava se distanciando dela novamente. Seja o
que for, até que ele apareceu para almoçar, tinha um humor de cachorro e esteve prestes a quebrar a tela mil vezes.
Por que agia dessa maneira? Não lhe disse que despiria sua alma?
Então... por que prestava mais atenção às irmãs do que a ela? Exceto por alguns olhares furtivos, que poderiam ser oferecidos durante o almoço e o jantar, não havia mais nada. Nem beijos, nem palavras, nem toques intencionais. Frio. Parecia que tinha se transformado em um bloco de gelo.
Teria perdido o interesse nela? Teria percebido que não era uma mulher adequada para ele?
Depois de suspirar profundamente e se resignar ao óbvio, voltou para a cama. Era a terceira noite e, como nas anteriores, nada aconteceria entre eles. Talvez ele tenha pensado melhor em sua maldição e concluiu que seria melhor evitá-la. Se fosse assim, agora ela não só ficaria confusa com as emoções que surgiam cada vez que o olhava, com suas roupas elegantes ou com aquele sorriso que dedicava às suas irmãs, mas também por causa daquele desejo que aumentava com as horas.
Lentamente, sentou-se no pé da cama, atirou-se para trás e, com as mãos estendidas nos travesseiros, olhou para o teto. Tinha que se concentrar em fazer o seu trabalho. Não podia ocupar sua cabeça com bobagens. Não era tão jovem para encher a cabeça de pássaros. Seu passado, esse que alguém revelou para o visconde, era um muro que não podiam pular,
embora naquela tarde ambos foram levados por uma paixão repentina. De olhos fechados, enfiou os dedos sob os travesseiros. Como Josh disse, o cetim tinha um toque suave que a convidava a nunca sair da cama. Então, as pontas da mão direita tocaram alguma coisa. Surpresa, ela se virou e colocou os joelhos no colchão, rapidamente levantou o travesseiro e olhou para o papel, no qual ele colocou seu nome, há algum tempo.
Ele. Ele tinha escrito. Essa e forma de ligar as letras, unir a letra A com o primeiro N era dele. Com o coração a mil e as mãos trêmulas, acabou pegando a nota.
Minha querida Anne:
Perdoe-me por não ter vindo ao seu quarto durante estas noites.
Acredito que, embora quisesse com todas as minhas forças, não devia fazê
lo. Como disse na primeira tarde que passamos juntos, é especial e quero provar isso para você. Senti sua falta porque gosto muito de estar e conversar com você. Te disse que me sinto tão calmo ao seu lado que parece que a conheço toda a minha vida? Sim, eu disse, mas faz tanto tempo que quero repeti-lo toda vez que tenho a chance.
Tenha um sonho feliz. Claro, tenho que estar nele para que seja.
Se não conseguir dormir, me encontrará no nosso jardim. Foi onde passei essas duas noites, ansiando pela sua presença e lembrando o melhor momento da minha vida.
Seu, Logan.
XXVIII
O que queria fazer? Essa era a pergunta perfeita. Não tinha que pensar se seria correto ou não ir ao jardim, o mais apropriado era confirmar se queria ir ao seu encontro e aceitar tudo o que acontecesse entre eles.
O que seu coração mandava? Este não podia lhe dar uma resposta sensata, pois estava batendo com tanta força que logo seria disparado de seu peito. E a parte lógica do seu cérebro, essa que Mary usava desde que abriu os olhos? Não falava, estava tão silenciosa que podia ouvir os grilos cantando lá fora. Portanto, só teria que atender ao seu instinto cigano que ordenava, com mais ímpeto do que nunca, a parar de colocar tantos obstáculos e correr para ele, para se entregar de corpo e alma.
Com a emoção de uma criança que está prestes a descobrir o que é seu único presente de aniversário, Anne guardou o bilhete de Logan debaixo do travesseiro onde o encontrou, pulou da cama, vestiu o robe de seda negra e, sem fazer nenhum barulho, saiu do quarto. Não o tinha desejado? Não queria estar ao seu lado? Bem, teria a oportunidade de recuperar o tempo perdido, aproveitar aqueles beijos que não roubou e sentir novamente o calor que suas carícias ofereciam.
Como se fosse um fantasma, desceu as escadas e atravessou a extensa galeria. Seus pés sentiram o chão frio, mas recuperaram rapidamente
a temperatura que mantinha seu corpo. Tudo ao seu redor gritava que estava fazendo a coisa certa ou eram suas percepções? Como nem um único criado era encontrado, as luzes permaneciam apagadas e até mesmo as irmãs decidiram não deixar o quarto naquela noite para conversar com ela sobre o assunto que as preocupara. Olhou através das janelas que encontrou e, com exceção do luar, que passava pelas cortinas finas, ninguém era testemunha do que pretendia fazer. Sim, talvez o destino tenha aprovado sua decisão.
Ao chegar ao local onde o visconde fazia seus exercícios físicos habituais, respirou fundo, enchendo seus pulmões com aquele ar masculino que a atraía tanto. Era como um urso atordoado pelo cheiro de mel de uma colmeia e, apesar de saber que as abelhas o atacariam quando descobrisse suas intenções, não abandonaria seu propósito de saborear aquele suculento manjar.
Percebendo a suavidade do piso, deu pequenos passos até chegar à porta que dava lugar àquele jardim. Sentindo a batida do coração na garganta, colocou a mão direita na maçaneta, girou, abriu devagar e.... o viu.
Tal como havia dito, o visconde esperava-a no mesmo lugar em que ficara ao pintá-lo. Seu cabelo solto ondulava como a bandeira de um navio. Sua camisa clara se movia lentamente sobre o peito largo e forte, e suas calças, muito parecidas com aquelas usadas por Josh, transformaram suas longas pernas em pernas titânicas. Anne levou as mãos ao estômago, pois sentia as asas
daqueles corvos furiosos novamente, incontroláveis, e olhou para ele, sem fôlego. Encantada, a enlouquecia vê-lo daquela forma tão relaxada, tão selvagem. Se não conhecesse sua verdadeira identidade, não poderia pensar em outra definição a não ser cigano. Sua pose, sua tranquilidade e aquele equilíbrio que emanava do ambiente que o rodeava eram mais típicos das pessoas selvagens do que dos esnobes e controlados aristocratas. Mas não deveria esquecer que ele era um visconde e que, em um futuro distante, se tornaria um marquês. Essa realidade construía uma enorme muralha que nunca poderia ser demolida. Só conseguiria o remanso da paixão por um breve período de tempo e depois... apagariam de suas mentes os beijos, as carícias, os suspiros que teriam durante seus encontros românticos. Não estava procurando por isso? Se sentir viva, renascer? Bem, estava disposta a se dar isso...
Afastando da cabeça a tristeza que aqueles pensamentos lhe causavam, desceu devagar os cinco degraus que a levavam à pequena esplanada. Foi então que ele percebeu sua presença. Se virou para ela e olhou-a com tanta admiração que Anne se sentiu minúscula. Estava realmente emocionado em vê-la? Haveria algo mais nesse olhar do que lascívia? Seu coração também batia forte quando ficavam juntos?
—Olá... —sussurrou estendendo a mão para ela, assim não teria medo e fugiria quando descobrisse a felicidade e ansiedade que sentia por tê
la em seus braços, beijá-la, tocá-la. ?Venha, aproxime-se. Quero mostrar o segredo mais bonito que desse jardim.
Incapaz de recusar esse pedido, Anne ficou ao seu lado, pegou sua mão e, com um leve movimento, colocou-a na sua frente, pressionando as costas dela contra seu peito, descansou o queixo sobre seus cabelos, que o fez sentir novamente cheiro de flores silvestres, e a manteve alguns segundos assim, capturando o calor que havia desejado durante os dias anteriores.
Duas noites. Apareceu na porta de seu quarto nas duas noites anteriores, mas não ousou bater. Na primeira ocasião, ouviu a voz de Elizabeth e, na segunda, a voz de Josephine. No começo, pensou que Anne as chamara para fazê-lo ficar longe, no entanto, depois de ouvir as conversas que tiveram, e apaziguar sua raiva, concluiu que elas haviam aparecido para conversar sem aviso prévio. É por isso que acabou escrevendo a nota. Se ela ansiasse por ele tanto quanto ele sentia falta dela, viria ao seu chamado e, para seu prazer, ela respondeu afirmativamente.
—Feche os olhos —disse em uma voz suave e melosa —inspire o ar ao nosso redor e ouça o silêncio da noite.
Fez isso mesmo. Fechou os olhos, embora apoiasse ainda mais a cabeça no peito do visconde, apertou suas mãos nos braços fortes e nus, percebendo o toque do pelo masculino e inspirando o perfume a que se referia.
—Em Londres não podemos respirar essa fragrância requintada
—sussurrou em seu ouvido —ou ver tão claramente as estrelas no céu.
—Sinto muito —disse Anne, desenhando um grande sorriso --
mas não posso vê-las porque me disse para fechar os olhos.
—Não precisa abri-los, posso descrevê-las para você —ele murmurou tão perto de seu lóbulo direito que seus lábios o tocaram enquanto falava. —São brilhantes, como pequenas bolas de fogo. Se espalham pelo imenso céu que temos sobre nós. Quando a luz do sol nos ilumina, não podemos vê-las, mas quando a lua chega, são mostradas em todo o seu esplendor. Algumas se agrupam para formar bonitas figuras. As chamamos de constelações, embora ainda não goste da palavra que usaram para descrevê-las dessa maneira —continuou naquela voz aveludada. —Quando criança, meu irmão Roger me ensinou alguns nomes, mas não posso nomear as oitenta e oito que existem. —Seus dedos se estenderam para os dois lados de seu seio, como se quisesse descobrir que as costelas permaneciam no lugar, e começaram a acariciá-la. Percebendo como estremecia, a abraçou com mais força e lhe deu um leve beijo no pescoço. Anne respondeu com um suspiro que descreveu como a música mais linda que já ouviu. —Quando viajo no navio e não consigo dormir, porque tenho que resolver algum problema importante, subo no convés, deito no chão e as fico contando.
—Quantas chegou a contar? —Perguntou, inclinando-se mais
perto de seu corpo. Aquele beijo, tão procurado nos últimos dias, chegara com tanta gentileza que a fez suspirar de alívio.
Perfeição. Essa era palavra que definia exatamente o ajuste de ambos os corpos. Ele era tão alto que ela parecia minúscula ao seu lado. Seus grandes e musculosos braços envolviam facilmente seu corpo e acoplaram-no extraordinariamente ao seu torso e cintura. Sentia as vibrações silenciosas nas costas fruto das respirações e, embora fosse estranho, estava tranquila, calma e tão sossegada, que era isso que transmitia. Por essa razão, em questão de segundos, se encontrou em um estado de relaxamento e inacreditável êxtase.
Seu passado, a maldição e toda a agonia que sofria antes de passar por aquela porta, desapareceram tão rapidamente que a sofredora e confusa Anne Moore morreu ao dar o primeiro passo em direção a ele, dando origem a uma nova mulher cheia de luz.
—Mil oitocentas e quarenta e nove —Respondeu.
Ouvindo aquele número exato, abriu os olhos, se virou para ele e procurou em seu rosto por algum sinal de escárnio, mas não encontrou. A seriedade era evidente, assim como sua veracidade.
—Por que chegou a esse número? -- Ela perguntou. Abriu as mãos sobre o peito robusto e depois descansou o rosto, sentindo a ligeira mudança que sua respiração havia feito. Não era mais lenta, mas nervosa.
—É o ano em que nasci —Logan respondeu, descansando as
mãos grandes nas costas, sentindo o toque suave do robe de Anne.
—Trinta e Dois... —murmurou enquanto fazia as contas de seus anos, descobrindo que tinham apenas cinco anos de diferença. Muito pouco para aqueles que viveram um século, mas muitos para aqueles que não superaram a adolescência.
—Sim —disse, acariciando-a de cima a baixo.
Como poderia se sentir tão vivo quando ela permanecia assim?
Por que queria confessar tantas coisas que manteve por mais de três décadas?
Estaria com medo? O homem que havia lutado bravamente com a fúria do mar, que usara sua espada para acabar com as vidas daqueles selvagens que queriam roubar seu navio, as escapadas pelas varandas das amantes antes da chegada inesperada do marido, temia que ela o rejeitasse? Não, não era a rejeição de Anne que o fazia temer, mas o que seu corpo lhe mostrava quando ela estava ao seu lado. Se acreditou que alcançou o êxtase em algum momento, estava errado. Anne, apenas com sua presença, com aquele jeito de apoiar seu rosto em seu peito e cair sob sua proteção, fez com que ele entendesse que nada do que chamara de felicidade era verdade. Novamente Roger estava certo. Tal como o avisou, quando se encontra a mulher que te faz ser você mesmo, as demais deixam de existir. E assim a havia recebido, tal como era: um cigano. Um homem que só podia estar completo ao ter contato com a mãe terra.
—Se arrepende?
A pergunta de Anne tirou-o de seus devaneios. Lentamente abaixou o rosto, até que seus olhos se encontrassem, e observou alguma confusão neles.
—De viver trinta e dois anos? —Respondeu brincando. —Espero respirar muito mais. -- Não era a resposta que ela esperava, por isso abaixou a cabeça, como se estivesse envergonhada. Então suas mãos deixaram o tecido macio e as colocaram em ambos os lados de seu rosto, o levantou, até que seus olhos se encontraram novamente e falou, tão perto de sua boca que sentiu o calor de sua respiração roçar seus lábios. —Não posso, nem poderei, me arrepender de tê-la comigo, Anne. Quero deixar claro que é a única pessoa de que preciso agora e possivelmente... —Permaneceu calado para não prometer algo que ele próprio não podia garantir. No entanto, antes dessa batalha mental que travava, apenas seu coração queria gritar as palavras que estavam faltando. -- Sempre -- assegurou antes de beijá-la.
Anne sentiu, através daquele beijo tão apaixonado, desesperado e ganancioso, o anseio que o visconde tivera, o mesmo que dela. Era inconcebível que tivessem vivido tantos anos sem se conhecerem, que se odiassem e que, num piscar de olhos, declarassem que eram incapazes de se separar. Era tudo trabalho do destino, de Morgana ou desse poder cigano que estava fervendo nela enquanto estava ao seu lado? Independente do motivo,
se deixou levar. Estendeu as mãos para o pescoço que havia sentido falta e acariciou com as pontas dos dedos. Esse pequeno toque causou um gemido rouco no visconde e, instintivamente, seus quadris se aproximaram, para responder que seu prazer era muito parecido com o dele.
—Que Deus tenha piedade de você, Anne, porque hoje não permitirei que alguém nos interrompa —disse antes de agarrá-la pela cintura, como antes, e, em seus braços, a levou para a área do jardim com o gramado aparado.
Sem parar para beijá-la, sem poder conter as mãos, a caminhada parou no lugar em que, desde que ela entrou dois dias atrás, queria fazer amor com ela. Jurou que era especial e aquilo confirmava. Nenhuma mulher tinha ido a Harving House e, claro, ninguém havia pisado naquela parte da casa, exceto ela. Era seu santuário e, depois que a tornar dele, seria um lugar sagrado e íntimo para os dois. Com toda a delicadeza que pôde encontrar naquele momento, baixou-a até que seus pés descalços tocaram a grama macia.
?Anne... ? sussurrou em seu pescoço enquanto suas mãos, tremendo pelo o desejo que corria através de cada partícula de seu corpo, desatavam o laço.
?Logan... ? ela respondeu, estendendo os braços para o chão, de modo que o robe de seda preta se soltasse rapidamente de seu corpo
ardente.
?Repita o meu nome, querida ?pediu, deslizando lentamente a peça por seus ombros.
?Logan... ? pôde dizer apenas através de um sussurro.
?É tão perfeita, tão maravilhosa... ?continuou sussurrando.
Logan a acariciava lentamente, como se ela fosse uma figura de porcelana que pudesse quebrar a qualquer momento. Primeiro os dedos tocaram seus braços, fazendo os pelos eriçarem em seu rastro. Continuou com o pescoço, com o pequeno decote que mostrava a camisola e, sem conseguir desviar o olhar daquele rosto angelical, continuou com os seios.
Percebendo que os mamilos tinham endurecido por ele, rosnou novamente com satisfação e desejo, crescendo em cada respiração, nublando sua visão.
Era sua. Por fim, Anne seria sua... com dolorosa lentidão, fez seus polegares cercarem aqueles montículos pequenos e duros, excitados pela paixão.
Aqueles pequenos toques causaram uma grande agitação em Anne e, para não cair, as mãos dela se agarraram a seus ombros maciços. Ouvindo-a ofegar, testemunhando o intenso calafrio, Logan a beijou novamente com tanto ardor que a devorou. Sua língua dançou ao ritmo da dela, dentro e fora daquela boca sensual, como se estivesse fazendo amor com ela. As mãos grandes se agarravam ainda mais àqueles montículos que cobriam sua palma.
Apertou-os, espremeu-os como se fossem duas laranjas das quais extraia o
suco. Aquele ato perverso a fez se arquear para ele, fazendo seus quadris, cobertos com a fina camisola, roçarem os dele, descobrindo assim que estava tão excitado quanto ela. Duro, como uma barra de aço, seu sexo reivindicava aquilo que já indicava com próprio.
Sem deixar de beijá-la, sem deixar de saboreá-la e invadi-la com sua língua, Logan afastou as mãos de seus seios e as baixou para colocá-las em seus quadris. Uma vez que sentiu em seus dedos a textura daquela carne sensual que ainda estava escondida pela roupa, apertou-a com a mesma força com que oprimira seus seios. Rude. Pela primeira vez em sua vida, ele não era suave, mas áspero, brusco.
?Logan... ?murmurou seu nome em uma voz tão suave que era pouco compreensível.
?Sim, Anne. Eu sei. Vou acalmar sua necessidade e assim também saciarei a minha ?ronronou em seu ouvido.
Sua língua traçou o pescoço longo e liso, seguido pelo pequeno decote e, enquanto suas mãos levantavam lentamente a camisola, sua boca pegou o mamilo direito sobre tecido. A pressão de seus dentes no botão ereto fez com que ela gemesse e jogasse a cabeça para trás. Aquele ato, aquele comportamento submisso, causou uma enorme explosão em Logan e sua parte selvagem adquiriu força. Com a voracidade de um homem que encontrou a mulher com quem viveria eternamente, se afastou um pouco e
acabou de remover aquela roupa que o impedia de descobrir seu verdadeiro toque. O cabelo escuro de Anne se agitou quando passou a camisola sobre a cabeça.
?Deixe-me olhá-la ?pediu, observando como ela estendia as mãos para esconder certas partes de sua nudez. ?Não roube esse momento de mim, querida, porque o estou esperando desde que a conheci.
Sem desviar o olhar daqueles olhos azuis, atendeu seu pedido.
Anne retirou a mão dos seios e do triângulo entre as pernas. Devia se sentir como uma prostituta, uma mulher sem moral. No entanto, ao contemplar o olhar faminto do visconde, todos os seus preconceitos desapareceram. Linda.
Isso era o que os olhos de Logan expressavam. Que ela era a mulher mais bonita. Seu coração, louco, descontrolado, acabou deixando seu peito para se atirar nele e suas entranhas gritavam que precisavam desse homem dentro dela. Sem hesitar por um momento, estendeu as mãos para a camisa, soltou-a da calça e tirou-a com urgência. Como havia feito com ela, o cabelo do visconde dançou ao se separar daquela roupa.
?Logan... ?murmurou quando descobriu uma enorme cicatriz branca que ia do umbigo até o lado esquerdo do peito. Levou a mão direita em direção àquela ferida curada e a acariciou.
?Deus, Anne! ?Exclamou, jogando a cabeça para trás, sentindo o prazer daquele toque percorrer cada célula de seu corpo. ?Eu gosto
disso…
?Gosta que te toque? ?Se atreveu a dizer, tornando-se uma mulher descarada e segura de seu poder de sedução.
?Sim ?Logan engasgou quando sentiu novamente aqueles dedos suaves traçando a marca que lembrou a ele quem realmente era e o que a mãe de sua mãe tentou fazer quando ela estava sangrando até a morte no seu nascimento. Graças à mulher que ele chamava de mãe, apenas a lembrança de uma morte rápida permaneceu em sua pele.
?Bem, quero fazê-lo ?disse se aproximando.
Descansou as duas mãos em seu peito nu e foi apalpando até que pudesse descrever a sensação daquela pele rude e a aspereza dos pelos que a cobriam. Ouvindo os suspiros de Logan, colocou os polegares nos dois mamilos, tão eretos quanto seu sexo, e os roçou.
?Jesus! ?Exclamou com um uivo desesperado. ?Continue Anne. Avance pelo meu corpo...
E foi o que fez. Acariciou cada centímetro de pele em seu peito e sorriu quando percebeu como a respiração do visconde se tornava mais angustiante. Ninguém o havia acariciado? Nenhuma mulher havia traçado seu corpo magnífico com as mãos? Sentindo-se afortunada, aproximou a boca e passou os dedos pelos lábios. Então notou que as palmas das mãos dele estavam sobre seus cabelos, amassando-os, tocando-os como se tentasse
liberá-la de um penteado inexistente.
?Anne... ?murmurou seu nome, embora sua voz estivesse num tom tão fraco que a deixara perplexa.
Não. Ninguém o havia tocado daquela maneira e ela estava ardendo de vontade de continuar. Sua boca, ainda no esterno, moveu-se lentamente para o umbigo. Colocou os dedos no cós da calça e apoiando-se nele, continuou a beijá-lo até que os lábios se abriram para sua língua tomar o seu lugar. O gosto masculino de Logan a hipnotizou, a deixou louca a ponto de seus joelhos nus tocarem o chão. O queixo que sempre levantava quando queria mostrar orgulho tocava a excitação que ainda estava escondida sob suas calças. Queria, desejava, necessitava continuar e seguir sentindo aquele gosto masculino em sua boca. Vagarosamente, com uma lentidão enlouquecedora, suas mãos deixaram o cós para se colocarem no botão.
Quando desabotoou, aquela ereção a recebeu.
?Quer me matar, certo? ?Logan se inclinou para ter uma visão perfeita de Anne. Ela era uma deusa? Porque era assim que a definia naquele momento. A deusa mais maravilhosa, mais ardente e ... sua.
?Minha proposta, querido visconde, é satisfazer o que tanto ansiamos... ?tentou dizer enquanto colocava as mãos sob as calças, sentindo o membro sedoso e duro.
?Bem... vá em frente... eu sou todo seu... ?murmurou,
gaguejando. Fechou os olhos e deixou-se levar pelas suaves carícias de Anne.
Não queria comparar. Não precisava, mas sua mente não conseguia pensar em outra coisa senão encontrar as diferenças entre o sexo do visconde e o de Dick. Lá onde algumas vezes encontrara um membro flácido, em Logan era tão duro que sua vagina se contraía, como se quisesse evitar a invasão futura.
?Anne... ?murmurou ao notar os dedos acariciarem a glande.
Molhada pela excitação, pelo desejo, pela chegada de um sonho.
Anne abaixou lentamente as calças e as ceroulas até ficarem nos joelhos. Como havia imaginado, não apenas seu sexo era robusto, mas suas pernas eram duas barras de ferro forjado no fogo do deus Hefesto[8]. Suas mãos deixaram o falo duro e se fixaram nos quadris masculinos. Selvagem e sem fôlego por tudo que a fazia sentir, a parte cigana de Anne brotou de suas entranhas e, sem hesitação, lambeu e provou aquela glande molhada pela excitação. A resposta de Logan apareceu imediatamente. Ele segurou o cabelo de Anne entre os dedos e insistiu para ela continuar. Foi o que fez. Ela continuou beijando e saboreando aquele membro masculino que, quando o colocava dentro de sua boca, tremia como o resto de seu corpo.
?Sim... ?Logan sussurrou, trazendo seus quadris para o rosto de Anne. Com os olhos ainda fechados, ouvindo a própria respiração e a intensidade do coração, suspirou profundamente, aceitando o prazer que ela
oferecia com a boca e as mãos. Mas percebendo que esse estado de paixão o faria explodir antes que pudesse tomá-la, puxou o cabelo de Anne para trás, abriu os olhos e disse: ?Minha querida cigana, acaba de marcar seu destino e não é outro senão o de estar comigo.
Aturdida por esse comentário, ela se levantou, olhou para ele sem piscar, e quando ia perguntar por que ele havia dito tamanha loucura, Logan tirou a calça e a tombou abruptamente naquele manto de grama.
?Minha vez, querida ?disse antes de beijá-la com tanto fervor que sua alma saiu disparada pela boca até que ele se alimentou com ela.
Com as mãos percorrendo seu corpo nu, Logan concluiu a jornada no triângulo que ela tentara esconder. Com os dedos abriu as dobras esponjosas, molhadas de excitação, e procurou pelo clitóris. Quando o achou tão inchado, não demorou muito para atacá-lo. O corpo de Anne se contorceu, ela se mexeu tanto que parecia evitar os roces violentos, duros e dominantes.
?Deliciosamente minha... ?Logan sussurrou uma vez que puxou aquela boca voraz para longe dela. Colocou um dedo dentro da vagina de Anne e quando a encontrou tão escorregadia e apertada, a beijou novamente com ardor.
Aquela invasão, que era tremendamente prazerosa, fez com que ela arqueasse seus quadris em direção àquela mão, para que nunca parasse. E
não parou. Enquanto o polegar brincava com o clitóris, um dedo ia e vinha até que a abria tanto que acabava introduzindo dois.
?Logan... ?soluçou, notando como seu corpo queimava e doía, pois, sua necessidade de ser acalmada, aumentava para limites indefiníveis.
?Quero beijá-la, lambê-la, provar cada canto do seu corpo
?assegurou enquanto beijava seu seio, sua barriga, seu umbigo e, quando ele abriu as pernas para ter uma visão perfeita do sexo feminino, lambeu os lábios. ?Isso é tudo meu ?disse antes de sua língua traçar as esponjosas saliências.
Anne estendeu as mãos para a grama e arrancou todo aquele emaranhado entre os dedos quando notou a boca do visconde ali embaixo.
Fechou os olhos, levantou ainda mais os quadris e se arrastou pelo prazer que a boca masculina lhe oferecia. Ele a mordeu, absorveu toda a sua essência, penetrou-a com a língua tantas vezes que perdeu a pouca razão que ainda tinha. Como podia se converter em uma louca, viciada naquelas mordidas grosseiras, naquelas carícias tão dominantes e possessivas?
?Logan... por favor... ?implorou quando notou como sua barriga queimava, como a dor que sentia em seu sexo era tão horrível que não podia se acalmar, exceto por sua invasão.
Envolto em uma névoa de desejo, Logan abandonou a parte que ele tinha devorado até que se colocar em cima. Enquanto com uma mão
acoplava seu sexo na frente dela, olhava-a atordoado. Seus olhos brilhavam como as estrelas daquele céu e sua respiração atingiu seu rosto aumentando sua temperatura.
?Anne... diga que você me quer, que anseia pelo que vou lhe dar
?pediu enquanto apoiava as palmas das mãos nos dois lados do rosto luxurioso e investia nela pela primeira vez.
? Eu quero você... e anseio pelo que vai me oferecer... ?ofegou quando sentiu a penetração.
?Repita meu nome. Quero ouvi-la toda vez que entro em seu corpo, toda vez que te fizer tremer, toda vez que lhe mostrar que você é ...
minha ?exigiu com um tom cheio de desejo e algo que nunca sentira antes: ansiedade.
?Logan... Logan... ?disse, sentindo aquelas duras investidas, aquelas invasões dominantes e possessivas.
?Oh, sim, Anne! ?Gritou antes de beijá-la, antes de fazer seus quadris cavarem os dela, unindo-os, transformando-os em um único ser.
Aquele cigano que se forçara a permanecer distante parecia tão selvagem e desesperado que afastou o visconde, o homem que mostrara ao mundo para transformá-lo no cigano que negava ser. Sem parar de penetrá-la, de entrar e sair, sem conseguir separar a boca dos lábios que o recebiam com avidez, Logan sentiu como o corpo de Anne se abalava ao compasso dele.
Tudo. Tudo ao seu redor desapareceu. Apenas uma pessoa permanecia, uma alma, uma mulher: ela.
?Te desejo tanto! ?Exclamou com um grito quando o clímax começou a subir.
?E eu ?respondeu, cravando as unhas nas costas dele com tanta força que elas perfuraram a pele áspera.
Então chegou. O corpo de Logan tremeu no final, derramando sua semente dentro de Anne, enchendo-a com ele, sua essência, sua masculinidade, sua vida. Com ar ofegante e sem deixá-la, ele se afastou um pouco para observá-la. Disse que ela era uma deusa? Bem, era. Anne era sua deusa, a única que poderia estar ao seu lado... sempre.
Uma vez que sua respiração relaxou, uma vez que seu sexo começou a recuperar seu estado de tranquilidade, se deitou ao lado dela e a segurou com tanta força que se tornaram um novamente.
?Você... eu... desejo... ?o visconde tentou explicar.
?Sou e serei apenas mais uma ?disse sem olhar para ele. ?O
que aconteceu aqui é ... não quero que ...
?Não diga nada. Não quero que estraguemos este momento com definições absurdas ?sussurrou.
Logan lentamente beijou seu cabelo. Não precisava explicar nada.
Ele já adivinhara o que ia dizer, por isso a única coisa que fez foi abraçá-la e
confortá-la. Não deveria temer pela maldição, nem ficar longe dele pensando que morreria como seus dois pretendentes. Precisavam de tempo e estava disposto a dá-lo. Uma vez que ela admitisse que poderia haver mais do que encontros apaixonados entre eles, pediria que ela fosse sua para sempre. Só esperava que para consegui-lo não tivesse que confessar seu segredo...
XXIX
Durante a semana seguinte, eles agiram com grande discrição.
Enquanto estavam acompanhados por Elizabeth ou Josephine, permaneceram distantes e suas condutas eram frias e um tanto elusivas. Mal falavam e, quando o faziam, suas conversas eram tão ínfimas que até suas irmãs bufavam do tédio que causava ouvir assuntos absurdos.
Nas manhãs, Anne avançava no retrato, enquanto Logan não parava de reclamar do terrível arrependimento que sofria por permanecer imóvel por tanto tempo. Enquanto não fosse salvo por uma das jovens Moore, continuava reclamando como uma criança pequena. Mas quando saia do lado dela, para ir socorrer a oportuna irmã, Logan lhe dava um olhar tão ardente que a fazia tremer e excitar ao mesmo tempo. Não havia dúvida de que o magnetismo que havia sido forjado entre eles era tão inquebrável quanto a lâmina afiada de Excalibur e administravam essa relação quando todos os habitantes da casa se retiravam para seus quartos. Se em algum momento pensaram que o fogo diminuiria com o passar do tempo, erraram.
Cada vez que se encontravam, cada vez que estavam sozinhos, o vínculo entre eles se tornava mais forte, mais sólido. Esse relacionamento inesperado assustava muito Anne, visto que não havia noite em que não lutasse contra seus novos sentimentos e desejos. Por que tudo era tão difícil? Por que seu
peito doía quando pensava que o fim viria em breve? Será que seria capaz de esquecer seus beijos, suas carícias, suas palavras e o tom tão solene que costumava dizer que pertencia a ele? Se não tivessem concordado que manteriam apenas um romance fugaz, admitiria, sem dúvida, que seus gestos, suas ações e aquelas frases que sussurrava quando faziam amor eram verdadeiras. Porque, mesmo que não devesse imaginar que eram reais, pareciam ser. Além disso, tinha que ser honesta consigo mesma e assumir que ao seu lado encontrava um bem-estar que não atingira com Dick. Agora entendia muitas coisas sobre paixão e desejo. Não havia comparação possível entre eles. Enquanto Dick usava isso para seu próprio prazer, o visconde oferecia-lhe tudo o que desejava e essa era a razão pela qual o medo aumentara... O que aconteceria no dia em que partisse para Londres com suas irmãs? Por que diabos ele não se comportava tão frivolamente quanto Dick?
?Não entendo porque as pessoas gostam tanto de contemplar o mar. ?O comentário de Elizabeth a afastou dessas conclusões tão terríveis quanto belas. Olhou de esguelha para ela e sorriu enquanto a observava enredar-se em uma luta incansável para manter o pequeno chapéu imóvel em sua cabeça.
Naquela manhã, como o visconde prometera na tarde anterior, fizeram uma excursão para a praia. Mas Eli não parava de reclamar desde que saíram. Josh, por outro lado, parecia feliz e animada. Caminhava ao longo da
costa, a calça marrom enrolada até os joelhos e os pés mergulhados na água.
O visconde permanecia ao seu lado. Anne desviou o olhar para eles e os observou em silêncio. Nunca imaginou que poderia se comportar de maneira tão familiar e simples com elas. Ele havia tirado o paletó, a gravata e o colete, deixando-os dentro da carruagem. Sua camisa branca estava tentando esconder o corpo esculpido por seus exercícios e trabalho no barco. Suas longas pernas vestidas com calças pretas de caxemira mostravam a força de um homem do seu tamanho. Como Josh, ele também enrolou as calças até os joelhos e a mão direita segurava os sapatos e meias para não os danificar com a água do mar. Anne suspirou ao ver como a brisa suave o atingia e como seu cabelo, puxado para trás em um rabo de cavalo, estava começando a se soltar daquela tira de borracha para apresentar uma imagem tão selvagem quanto erótica. Desejava, com todas as suas forças, ser aquela que passeava ao seu lado, mas como haviam feito até agora, se quisessem continuar com o relacionamento que haviam acordado, deveriam continuar com o plano, que consistia principalmente em não mostrar a afeição que sentiam e continuar se vendo em segredo.
?Segundo ouvi dizer, o sal é bom para a pele ? comentou Howlett.
O valete, depois de criar um elo emocional com Elizabeth, foi autorizado a acompanhá-la a todos os lugares que visitava e, é claro, a praia
também estava dentro de suas novas tarefas.
?Está seguro disso? ?Eli o recriminou mordaz. ?Porque nunca me senti tão suja. Comi um sanduíche cheio de terra imunda, tenho o vestido, as meias e os sapatos manchados de areia, as roupas grudam no meu corpo como se eu fosse um agricultor que trabalhou no campo durante um dia intenso de verão, o vento está estragando meu penteado e não suporto esse cheiro horrível ... ?acrescentou com uma careta de desagrado.
?Garanto que é muito melhor do que parece ?Howlett assegurou se sentando ao seu lado para evitar que a brisa marinha açoitasse sua nova amiga até arrancar o belo chapéu. ?Se tivesse navegado, como fiz, cercado por homens fedorentos, mal-humorados e indelicados, certamente teria uma percepção mais favorável dessa excursão.
?Que atrocidade! ?Eli exclamou, horrorizada ao se imaginar em um navio cercado por marinheiros malcheirosos, cuja única finalidade era fazer suas necessidades fisiológicas no convés do navio.
?O que não é tão horrível? ?Perguntou o jovem divertido.
?Como pôde suportar isso? ?Eli estalou enquanto lutava para manter a saia do vestido verde-esmeralda limpa.
?Bem, o visconde concordou que ficasse em sua cabine o tempo que estipulasse necessário. Então pode deduzir que passei semanas admirando trajes que não costumava usar ? explicou serenamente.
?Por que diz que não costumava usar? ?Elizabeth estava interessada, cansada de lutar contra o vento, decidiu tirar o chapéu de uma vez por todas.
?Porque os marinheiros não andam vestidos. Por mais que me pareça terrível confessar, esses tipos de homens geralmente andam seminus
?comentou Howlett divertido.
?Seminus? ? Eli soltou chocada. ?O visconde também se tornou um deles?
Não era capaz de imaginar Logan adotando uma atitude tão inapropriada para um cavalheiro de sua linhagem. Que os outros agissem de maneira selvagem, poderia aguentar, mas... um aristocrata, um futuro marquês? Jamais! A classe alta tinha que mostrar sua condição e seu poder onde quer que fossem.
?Claro! ?Respondeu Howlett com um sorriso travesso. ?E
tenho que declarar que quando chegávamos a um novo porto, todas as mulheres que o contemplavam rezavam para que essa figura bárbara e aristocrática as escolhesse como amantes.
?Howlett! ?Elizabeth o repreendeu. ?Como pode ter uma linguagem tão ousada? Não sabe que deve manter em segredo o que acontece no quarto do seu mestre?
?Não insinuei quantas passaram pelos quartos, minha querida
senhorita Moore ? continuou sarcasticamente ?a única coisa que admito é que o visconde teve uma vida muito intensa...
Entre risadas, os dois terminaram a conversa e decidiram dar um passeio longe do mar e do arenito. A única que não riu do comentário sagaz foi Anne, que cerrou os punhos e enterrou-os na areia para que nenhum deles pudesse vê-los. Mulheres? Quantas mulheres visitaram a cabine de Logan durante suas viagens? Por que andava seminu? Não sabia a definição do termo pudor? Mostrava seu corpo lindo como se fosse um galo cercado por galinhas? Suas bochechas começaram a ficar vermelhas e seu pulso acelerou.
Ciúme. Pela primeira vez em sua vida, um ataque de ciúmes tomou conta dela. Odiava essas mulheres e o odiava por ser um conquistador de corações.
«É isso o que é, Anne Moore, outra mulher que se rendeu ao seu poder de sedução. No entanto, foi você quem se impôs essa condição» lembrou a si mesma. Sim. Era isso com o que haviam concordado: dois amantes que vivem e desfrutam de um tempo de liberdade e paixão até que chegasse o fim.
Sem tirar os olhos do visconde, suspirou profundamente. No fundo as entendia. Apesar de odiá-las com todas as suas forças, também as entendia. Quem não sonharia em deitar com um homem que emanava poder e selvageria? Quem não gostaria de ser beijada por aquela boca ou acariciada por aquelas mãos fortes? E ... quem não esperaria gemer de prazer quando
estivesse possuída daquela maneira abrupta e feroz? Nenhuma mulher deveria se privar de tal prazer. Logan nasceu para amar e se dedicava a isso.
Quando estava prestes a desviar o olhar deles, ele a olhou e, ao observá-la tão rígida e irritada, levantou a sobrancelha esquerda em questionamento. Mas Anne, em vez de desviar o olhar, como sempre fazia, o manteve fixo, transmitindo através dos olhos a raiva que sentia e não podia diminuir facilmente.
?Acho que é hora de irmos ? Logan comentou com Josephine quando sentiu as emoções díspares de Anne. Sentou-se na areia e, depois de limpar os pés, calçou as meias e os sapatos. Se levantou, desenrolou as calças e olhou para ela novamente.
Não gostou da praia? Não gostou da vista daquele lugar lindo?
Talvez tenha errado ao concluir que poderia apreciar a beleza daquela área e, em vez de ter um dia maravilhoso, estava em uma terrível aflição.
?Tão cedo? ?Josh choramingou, tentando fazer com que o soluço infantil a ajudasse a fazê-lo mudar de ideia. Mas, observando a atitude do visconde, sentou-se, calçou as meias e as botas curtas. ?Ainda não me explicou como derrotou aqueles terríveis assaltantes ?insistiu quando se levantou e ficou ao seu lado novamente.
?É uma história bastante inapropriada para uma jovem da sua idade ? disse a ela como desculpa enquanto caminhava em direção a Anne.
Ela, vendo que eles estavam se aproximando, se levantou rápido, deu uma batidinha na saia de seu vestido marrom e se virou, lhes dando as costas. O
que diabos estava errado? O que aconteceu durante sua breve ausência para fazê-la sentir-se tão desconfortável? ?Além disso, o verdadeiro protagonista daquele momento foi Giesler. Se ele tivesse vindo teria contado sobre esse episódio atroz...
Naquele exato momento, ficou consciente de que haviam se passado mais de dez dias e que não ouvira notícias de seu amigo. O que teria acontecido com ele para não responder? Continuaria atormentando a vida daqueles homens que haviam humilhado Mary? Ou ficara em Londres porque não queria sofrer outro ataque como o que sofreu na casa dos Moore? Não, não poderia ser isso. Na carta que enviara, deixou muito claro quais as irmãs que viajariam com Anne e explicara que a mulher que jogou os tubos nele, como se fossem dardos venenosos, ficaria em Londres. Então... por que não aceitou o seu convite?
?O Sr. Giesler é o homem a quem eu apontei a minha arma, certo? ?Josh, envergonhada de lembrar o que fez naquele dia, colocou as mãos atrás das costas e passou pelo visconde com os olhos fixos no chão.
?Por que fez isso? ?Logan perguntou, incapaz de tirar os olhos de Anne, que estava andando em direção à carruagem.
Ofendida, irritada e bastante soberba. Isso declarava sua atitude
estranha e súbita. Agora, mais do que nunca, queria encontrar um espaço para conversar com ela e descobrir o motivo desse comportamento arrogante.
?Porque ele entrou em nossa casa e não desviou o olhar de Mary por um único segundo ? disse com um longo bufo.
?Teria atirado nele? ?Perguntou, esboçando um enorme sorriso.
?Sabe que ele não foi capaz de tirar os olhos do corpo da minha irmã? ?Ela bufou indignada. ?A mamãe sempre a avisa para não sair do quarto de camisola, mas ela não presta atenção a ninguém e naquela manhã apareceu no topo da escada com uma aparência inadequada.
?Quer dizer...? ?Parou, olhou para ela e riu.
Grande patife! Essa parte da história ele não contou, guardou para si mesmo. Disse que ela jogou tudo o que estava ao alcance, mas esqueceu de contar sobre o momento em que descobriu a silhueta da irmã na camisola.
Seria seda transparente como as que Anne usava? Se assim fosse, já adivinhava por que Philip não respondeu ou apareceu. Estaria babando como um cachorro atrás da erudita Moore.
?Sim ? Josh respondeu, visivelmente irritada. —Por mais que pedisse para parar de olhar para ela, aquele cavalheiro não me dava ouvidos.
?Deveria ter atirado nele! ?Logan exclamou antes de bagunçar aquele cabelo loiro tão claro.
?Acredita nisso? ?Josh perguntou indecisa.
?Sim, acredito nisso. Porque temo que ele continue a vê-la de maneira tão desrespeitosa pelo resto de sua vida. Um homem é incapaz de tirar da mente a imagem de uma bela mulher de camisola ?assegurou enquanto continuava a caminho da carruagem.
?Bem, da próxima vez prometo que irei deixá-lo cego ?disse a jovem. Comentário que causou outra risada alta do visconde.
***
Não estava enganado, Anne estava com raiva e não tinha ideia do motivo. Quando os cinco se acomodaram na carruagem, ela não desviou o olhar da janela. Três horas com o pescoço tão esticado lhe causariam uma dor terrível. Mas não respondeu ou contestou as míseras perguntas que fez.
Foram suas irmãs e Howlett quem, ante seu silêncio, responderam às suas questões. O que diabos estava acontecendo? O que havia perdido enquanto caminhava com Josh na praia? Não lhe pareceu certo ter essa pequena liberdade? Ela, melhor do que qualquer outra pessoa, deveria entender que entre a jovem e ele se criara uma relação afetiva muito semelhante à de irmandade. Além disso, seu principal objetivo com Josh era que reconsiderasse sobre os planos futuros que havia feito. Era por isso que
contava a ela sobre as batalhas e dificuldades que sofrera durante suas viagens. No entanto, Anne não parecia satisfeita, pelo contrário. Se mostrava tão irascível que estava prestes a se levantar, agarrá-la pelos ombros e gritar o que diabos lhe acontecia.
?Finalmente! ?Exclamou Elizabeth alegremente quando avistou os telhados de Harving House. ?Lembre-me de não pisar em uma área costeira novamente. Foi horrível ...
?Não gostou? ?Logan perguntou, tentando encontrar algum sinal para explicar se era por isso que Anne estava tão distante.
?Não! ?Eli respondeu rapidamente. ?Prefiro mil vezes mais a pesada neblina de Londres do que a brisa úmida e pegajosa daquele lugar.
?Pois eu estou encantada! ?Josh disse cruzando os braços sobre o peito. ?Admito que, no início, esse ar marinho me impediu de respirar.
Mas com o passar do tempo meu corpo se adaptou facilmente.
?Cheira a peixe! ?Eli a repreendeu, cobrindo o nariz com dois dedos. —Realmente gosta de cheirar assim?
?Salitre ?Logan o corrigiu. ?É chamado salitre e garanto que é muito bom para a pele. Em minhas incontáveis viagens de barco, expus meu corpo àquelas quentes brisas do mar e endureci tanto que, para enfiar uma faca em mim, teriam que exercer uma grande pressão.
O riso de Josh, Eli e Howlett encheram o interior da carruagem,
só que Anne não achou aquela explicação engraçada. Enquanto os outros mostravam uma atitude relaxada, ela se aproximou ainda mais da janela, franziu a testa e bufou como um cavalo depois de uma longa caminhada. Isso acentuou as suspeitas de Logan sobre sua raiva. O que havia dito para deixá
la tão zangada?
?Permita-me ajudá-la, senhorita ?disse o visconde a Elizabeth quando a carruagem parou na entrada da residência. Estendeu a mão e ela aceitou encantada.
?Howlett, vem comigo? ?Perguntou ao valete quando ele desceu atrás dela. ?Necessito de um bom banho para remover toda a areia que ficou sob este vestido feliz.
?Será uma grande honra ?disse o rapaz. ?Mas milorde irá precisar...
?Pode ajudá-la. Embora não entenda por que estou pagando uma criada se é você quem faz todo o trabalho ?Logan resmungou em aparente raiva.
?Ela não tem ideia de como encher uma banheira! ?Disse Howlett com horror. ?E se não fosse pelo bom gosto da senhorita Moore, teria uma aparência decrépita. Acredita que tinha decidido fazer uma trança em vez de um coque baixo? Isso é inconcebível se tiver que usar um chapéu!
Depois dessa exposição, que deixou a tendência afeminada de
Howlett ainda mais clara, Logan sorriu e acenou com a cabeça, permitindo que o criado se tornasse a dama de companhia de Elizabeth. Quem teria medo de um homem que sonha com roupas de seda e penteados ideais?
?Josh? ?Chamou à jovem quando ele apareceu ao lado dela.
?Também tomarei um longo banho. Depois, se não se importar, visitarei o prédio anexo. Quero continuar praticando com a espada.
?Não é melhor que pratique primeiro e tome seu banho depois?
Não acho que Elizabeth suporte outro cheiro além do que emana o sabão
?disse ironicamente.
?Vendo desse modo... e como não quero ouvi-la reclamar de novo... ?Josh disse com os olhos apertados. ?Sim, será melhor fazer assim.
Vai me acompanhar? ?Acrescentou com entusiasmo.
?Hoje não posso, tenho que esclarecer uma questão muito importante. Mas se tiver algum problema, Kilby o resolverá ?disse olhando para Anne, que ainda não havia saído do interior da carruagem e permanecia olhando pela janela, como se a viagem não tivesse chegado ao fim.
?Então... ?olhou para a irmã, depois para o visconde, e sem pensar em nada além da diversão que teria ao empunhar as gloriosas espadas espanholas que Logan mantinha em um canto da instalação, correu para a entrada principal.
?Ficará o resto do dia aí dentro? ?Perguntou uma vez que
ficaram sozinhos.
?Existe outra alternativa melhor? ?Murmurou sem olhá-lo.
Não. A raiva não havia minado. Talvez tenha diminuído algo por um breve período de tempo, até que ele falou sobre expor seu corpo à brisa do mar. Como ele podia ser tão fanfarrão?
?Existem várias... ? Logan comentou colocando as mãos nos dois lados da porta e inclinando-se para ela, para que o cocheiro não o ouvisse. ?Tem a opção de sair ou... Posso entrar, fechar essa abençoada porta e ordenar ao meu cocheiro que viaje pela minha terra enquanto fazemos amor aí dentro. Qual prefere, querida?
?Oh, tenho certeza que deve estar acostumado a fazer esse tipo de coisa em um lugar tão inapropriado! ?Murmurou com raiva. Cruzou os braços e manteve o corpo tão rígido que nem uma flecha passaria.
Logan estreitou os olhos até que eles se transformaram em pequenas linhas. Qual foi o comentário? Parecia que era... não poderia ser!
Ela não poderia estar sentindo ciúme! Por causa do quê? Nunca falou de nenhuma mulher enquanto estava presente. Era mais, todas haviam desaparecido de sua memória uma vez que Anne se rendeu a ele. Então...
quem poderia ter dito a ela sobre isso? Sua mente, em questão de segundos, pesou todas as opções possíveis e, exceto pelo tempo que Howlett permaneceu com elas, não havia outra possibilidade... teria sido tão
desdenhoso que revelou em alguma conversa certos segredos que nem ele mesmo fez público?
?Jeffry! ?Gritou para o cocheiro.
?Milorde? ?Perguntou, virando a cabeça para ele.
?Deixe a carruagem nesta área da entrada, a colocará no estábulo mais tarde ?disse sem tirar os olhos de Anne, que encolheu os ombros ao ouvir o tom de voz que usava.
?Como quiser ?respondeu o criado apressadamente. Desceu o mais rápido que pôde e caminhou até a porta de serviço sem olhar para trás.
?Bem, querida. Estamos completamente sozinhos. Quer que mostre a diversão que posso lhe oferecer aí dentro? Como bem disse, tenho muita experiência em dar prazer numa cabine tão inapropriada ? retrucou, colocando a sola do sapato de seu pé direito na escada de metal.
?Não se atreva! ?Anne gritou antes de abrir a porta do lado dela e sair fugindo.
?Oh sim! Sim, posso pensar em milhões de coisas que quero lhe fazer! ?Ele clamou antes de atravessar a carruagem por dentro e correr atrás dela até alcançá-la.
XXX
?Solte-me! ?Anne gritou quando os braços de Logan envolveram sua cintura.
?Nem pensar! ?Respondeu levantando-a do chão, fazendo com que seus pés e a saia de seu vestido se agitassem no ar. ?Quero descobrir por que está tão furiosa ?disse levando-a para os estábulos.
?Furiosa? Eu? Não é verdade! ?Mas seu tom de voz denotava exatamente o contrário.
Espremida entre os braços fortes e resistentes, lutava para se afastar daquele corpo que a queimava, embora suas peles ainda não tivessem sido tocadas. No entanto, quanto mais esforço fazia para se separar, mais ele a agarrava contra si mesmo.
?Não lute, querida... ? sussurrou em seu ouvido depois de cruzar a entrada dos estábulos. ?Essa batalha não poderá ganhar...
?acrescentou reticente.
Batalha? Pensava que havia começado uma guerra contra ele?
Bem, estava enganado! A única batalha que travava tinha apenas dois adversários e estes eram a mesma pessoa: ela. Na realidade, sua mente e seu coração lutavam um contra o outro para superar um sentimento que ela não
podia suportar, assim como não devia admitir o súbito ciúme que sentiu quando ouviu sobre a vida libertina que teve antes que ela aparecesse. E, para ser franca, não podia imaginar que manteria esse estilo de vida assim que ela fosse embora. E havia a questão desse terrível conflito! Querer, mas não poder. Porque não tinha dúvidas sobre o que queria, embora também estivesse ciente do que não podia. Como superaria outra morte? E não seria qualquer morte senão a dele! O homem que amava! Essa afirmação oprimiu seu peito até que ficou sem fôlego. Como podia ter pulado sua primeira norma? Não teve o suficiente com Dick? Em que parte de suas memórias estavam aquelas lágrimas, episódios de tristeza e culpa?
?Anne... ?Logan disse quando sua respiração mudou drasticamente. Ela não estava mais agitada, mas quebrada, como se estivesse chorando. Será que a machucara ao pegá-la com tanta força? Tinha sido tão bruto? Muito lentamente, enquanto se arrependia dessa atitude bárbara, colocou-a no chão até que ficasse de pé sem perder o equilíbrio. ?O que há de errado contigo? ?Acrescentou. Anne virou-lhe as costas e ele, para apaziguar a repentina tristeza, colocou as mãos gentilmente em seus ombros.
?O que eu fiz?
?Nada. Não fez nada ?comentou sentindo a pressão das grandes palmas em suas omoplatas.
?Bem, se não fiz nada, olhe para mim! ?Pediu. Pressionou os
dedos no vestido de Anne, virou-a para ele e quando viu as lágrimas escorrerem pelo rosto, se sentiu o homem mais perverso do mundo. ?Anne...
me diga por que chora.
Tirou as mãos dos ombros e colocou-as com muita ternura sobre suas bochechas, molhadas com aquelas lágrimas. Com uma lentidão surpreendente, as removeu com os polegares. Aquela demonstração de afeto fez Anne olhá-lo e, percebendo sua preocupação por ela, admitiu com amargura que a guerra acabara de ser vencida pelo seu coração.
?Se Howlett comentou algo que a feriu, juro que irei procurá-lo e cortar sua língua ?disse com a voz de um homem que navegava pelos mares e comandava um navio com mais de cinquenta marinheiros.
?Howlett não é culpado por.... ?Tentou explicar, mas naquele momento ouviu um barulho sobre eles. Anne encolheu os ombros, como se esperasse que algo batesse em sua cabeça, mas nada aconteceu exceto que ele a puxou para perto e a abraçou. ?O que foi isso? Perguntou sem tirar o rosto do peito de Logan.
?Astennu ?respondeu sem deixá-la. ?Acho que ele e sua família não receberam bem a nossa visita repentina.
?Astennu? ?Perguntou, virando o rosto devagar.
Logan virou-a, fazendo com que a bainha de seu vestido marrom arrastasse no feno espalhado pelo chão, reclinando-a sobre o peito, e
enquanto o braço esquerdo circundava sua cintura, levantou a mão direita para apontar para o teto estável, bem onde algumas aves se alinhavam em uma das vigas de madeira. Por um momento, os olhos daqueles animais olharam para ela com desconfiança, mas no segundo seguinte moveram os pescoços e grasnaram como se aceitassem sua presença.
?Apresento meu fiel amigo Astennu e sua amada família ?disse com orgulho. —Como deve ter adivinhado, Astennu é o maior e ele tem aquela mancha branca no peito ? esclareceu. ?O próximo a ele é Honda, sua parceira e os outros três são seus filhos: Fhas, Shadow e Kus.
?Corvos... ?sussurrou tão atônita que não sabia ao certo se havia dito a palavra corretamente.
?Sim, de fato, são cinco corvos ?confirmou. ?Há pessoas que são felizes criando falcões, águias ou pombos..., contudo, não tive a oportunidade de pensar que aves iria querer abrigar em Harving porque Astennu já estava aqui quando apareci e, sem pedir permissão, decidiu ficar para sempre. ?Esperou por uma pergunta, um comentário sobre o quão estranho era para ele se apegar àqueles tipos de animais que representavam tantas coisas sinistras, mesmo que Anne não dissesse nada. Permaneceu em silêncio, olhando para os pássaros e respirando tão rápido que qualquer um concluiria, ao vê-la daquele jeito, que havia atravessado suas terras correndo.
?Não vão machucá-la. ?Garanto que são muito dóceis e afetuosos
?acrescentou envolvendo o outro braço em volta de sua cintura. A puxou para mais perto e deu-lhe um beijo gentil no pescoço.
?Afetuosos... ?repetiu automaticamente.
?Nunca machucaram ninguém apesar daquele olhar feroz
?persistiu, notando que ela movia seu corpo inquietamente. ?A única coisa que deve temer é de ouvi-los cantar. Já gritei milhares de vezes que eles não são rouxinóis, mas são tão orgulhosos que não conseguem admitir isso ?
disse ironicamente para que ela acabasse relaxando. Por que os corvos a assustavam tanto? Sofreu algum ataque em sua infância?
?Como... como…? Porque...? Onde o encontrou? ? Enfim perguntou.
?Quando comprei Harving House estava praticamente destruída pela passagem do tempo. Seu ex-dono não queria reconstruí-la porque, no fundo, não sentia nenhum apreço por esse belo lugar. Talvez doesse lembrar a época em que morava aqui com sua falecida esposa. Então ele saiu e a deixou completamente negligenciada.... Imagino que os pais de Astennu pensaram que seria o melhor lugar para se aninhar, porque não encontraram nenhum ser humano por muitos anos. No entanto, no dia em que a adquiri, e embora pudesse desmoronar a qualquer momento, decidi passar uma noite inteira calculando a deterioração da estrutura e ponderando o quanto meu investimento aumentaria. Minha presença indesejada deve ter assustado
aqueles pais quietos e deixando-o no ninho. Não sabia que existia até que, cansado de investigar, procurei um quarto na casa onde o telhado não tinha sido destruído. Espalhei um cobertor sobre o chão imundo, coloquei meus braços sob a cabeça e olhei para cima. Foi quando descobri um enorme ninho. Essa casa tinha sido desabitada durante anos e era normal que os pássaros procriassem nas áreas onde os seus futuros descendentes estariam protegidos das adversidades climáticas. Com os olhos fixos naquele ninho, pensei em todos os problemas que deveria enfrentar. Várias horas se passaram até que o sono se apoderou de mim e fechei meus olhos. Quando estava prestes a dormir, ouvi um barulho. Levantei rapidamente e procurei a causa daquele som. Inspecionei a casa inteira com determinação, amaldiçoando a possibilidade de que alguns roedores tivessem procriado nas poucas paredes firmes que sustentavam a velha casa. Posso suportar as penas de milhões de aves, mas não consigo tolerar esses transmissores de epidemias
?revelou com certa repulsa. —Depois de confirmar que não havia nada e que talvez eu tivesse notado o rangido de alguma madeira velha que ainda sustentava a casa, voltei para o quarto, deitei e o barulho reapareceu. Voltei a olhar para o ninho e naquele momento um galho caiu no chão. ?Logan sorriu e suspirou profundamente. ?Escalei a parede, que estava esburacada, como se estivesse subindo no mastro do meu barco. Quando meus dedos o alcançaram, o peguei com cuidado e.... ali estava aquele patife! Ele quase não
tinha penas e estava cercado por mais três ovos. Me senti muito culpado por tê-lo separado de seus pais com tão pouco tempo de vida... ?permaneceu em silêncio. Não era sensato confessar a empatia que sentiu quando o contemplara tão só, tão abandonado e o terrível desespero que percebeu no pequenino quando não teve mais a proteção de seus pais. ?Uma vez que o deixei no chão, ele olhou para mim e abriu o enorme bico esperando que o alimentasse. Naquele momento, algo estranho surgiu em mim e, sem demora, por um miserável segundo, saí para o jardim e procurei algo que pudesse servir de alimento. Garanto que a primeira vez que tem entre seus dedos um verme repulsivo cortado em vários pedaços, não é capaz de levar nada à boca em vários dias ?apontou divertido.
?E ele sobreviveu... ?concluiu Anne com um suspiro. Como podia ser verdade? Tinha que ser uma alucinação! Estaria louca? Porque só assim poderia afirmar que esse animal sortudo era o que aparecera em seus sonhos. A mancha em seu peito, o tamanho de suas asas, o brilho de sua plumagem e ... aqueles olhos. Mas sua mãe lhe dissera que as ciganas sempre viam corvos em suas mentes para direcioná-las ao homem que esperavam.
No entanto, não falou sobre a precisão entre o corvo de seus sonhos e o real.
?Isso mesmo ?disse virando-a novamente para ele. ?E formou sua própria família. Astennu se tornou protetor de Harving enquanto estou ausente. Graças a ele e sua família não tenho nenhum verme repulsivo
vivendo nos arredores e devido às lendas que existem sobre eles, muito poucas pessoas querem invadir uma propriedade onde vive uma família de pássaros tão sombrios.
?Os ciganos geralmente vivem em harmonia com eles e....
?tentou dizer.
?Anne, não só os ciganos os respeitam. Há culturas que os reverenciam e explicam milhares de significados quando descobrem sua presença. No caso de Astennu, ele decidiu ficar ao meu lado, porque aqui tem tudo o que deseja para ser feliz. ?Se desculpou rapidamente.
Estava certa. Os de sua etnia adoravam os corvos porque, de acordo com a história, a mãe dos ciganos ordenou que esses pássaros protegessem as crianças que nascessem de seu ventre. E era assim que se sentia quando estava em Harving House. Astennu voava sobre ele toda vez que saia para montar por sua terra. Observava o que seus olhos não podiam ver e à noite, quando todos descansavam, seu amigo descansava no parapeito da janela, olhava para a imensidão das terras e guardava seus sonhos.
?Mas vamos parar de falar sobre esse sujeito descarado
?comentou antes de agitar os braços para que os pássaros voassem pelo estábulo até que fossem embora. Quando não haviam mais testemunhas para observá-los, acariciou a face esquerda dela com a frente da palma da mão direita. ?Quero saber o motivo pelo qual ficou com raiva hoje. Não gostou
do passeio? Sentiu a mesma repulsa que Elizabeth pela praia? Pensei que acharia agradável, é por isso que prometi a....
Anne não permitiu que ele terminasse aquela exposição absurda, pôs as pontas dos sapatos no chão e silenciou-o com um beijo. No início, Logan mostrou alguma confusão sobre aquela explosão apaixonada, mas quando sentiu os dedos de suas mãos segurando as abas de sua camisa, puxando-o para seu corpo, abraçou-a e respondeu a esse beijo com uma avidez feroz.
Aquele contato sensual se tornou mais intenso quando Anne abriu os lábios, permitindo que sua língua voraz a invadisse, devorando-a. Sua mente ficou em branco. Apagou a história de Astennu e o desejo de descobrir qual tinha sido o motivo de sua raiva. Ele a queria. Sim, ele a queria tanto que tudo ao seu redor desaparecera, exceto ela. Lentamente, Logan levou suas mãos para os botões do vestido de Anne e quando seu beijo ficou mais intenso, mais possessivo, desabotoou-os com urgência. Tinha que tê-la, tinha que acalmar sua necessidade, tinha que fazê-la sua tantas vezes quanto pudesse, porque estava determinado a marcá-la, selá-la com tal força que ela aceitaria, de uma vez por todas, que eles foram feitos um para o outro.
?Se eu soubesse que a história daquele bendito corvo a transformaria em uma deusa apaixonada, teria lhe contado antes ?disse enquanto deslizava o vestido sobre seus ombros e beijava as áreas de sua pele
que ficavam nuas.
?Não foi exatamente a história dele... ?Anne murmurou, colocando os dedos na camisa para desabotoá-la com ousadia.
O desejo que Anne mostrava ao despi-lo o deixou louco, então rasgou os botões do vestido sem desabotoar. Caiu no chão, fazendo com que alguns ramos de feno levitassem.
?Ah não? Então, o que foi? ?Ronronou antes de apertar os dentes em seu ombro esquerdo e mordê-lo para fazer uma grande marca.
?Você! ?Exclamou, sentindo a mordida em sua pele.
Anne jogou a cabeça para trás, deleitando-se naquele ato selvagem. Qualquer mulher recatada teria se afastado e o repreendido por deixar uma marca do que havia acontecido entre eles, mas ela não era uma mulher recatada, era uma cigana que mergulhava no abismo de uma paixão sem precedentes. Seu destino estava marcado. Todos os sinais apontavam para ele como a pessoa que esperava. No entanto, apesar de suas convicções, ainda havia um ponto a ser lembrado: sua origem. Algum dos ancestrais de Logan teria sido cigano? Seria possível que ele tivesse uma mísera gota de sangue cigano?
?Anne... ?sussurrou quando notou uma certa tensão nela, ?te quero tanto... eu preciso de você... ?Suas mãos caíram, assim como seu corpo. Ele se ajoelhou e, ajudando-a, fez com que ela levantasse uma perna
primeiro e depois a outra, deixando-a em uma camisola branca tão transparente que podia admirar aquela figura feminina que adorava. ?Você é linda, meu amor ?acrescentou, colocando as grandes palmas das mãos nos quadris e aproximando o rosto daquele cabelo escuro com uma forma triangular em sua virilha, que exalava o perfume mais hipnótico do mundo.
Levou o nariz para aquele lugar desejado e respirou fundo, preenchendo-se dela, do seu ardor, do seu aroma sexual. ?Morrerei se não a possuir, se não a beber, se não puder... saboreá-la de novo.
Encantada por aquelas palavras ousadas, Anne colocou as mãos no cabelo preto de Logan, emaranhou os dedos nele e o puxou para mais perto da parte que adorava. Sua respiração se agitou quando sentiu as mãos de Logan na roupa e como a fez subir muito suavemente por seu corpo.
?Tudo isso é meu, só meu ?assegurou uma vez que a camisa estava fora de vista. Com uma ternura muito controlada, acariciava seus quadris, coxas e pernas de cima a baixo, enquanto seu nariz continuava a inspirar aquela área feminina que devoraria em breve. Lentamente, levantou a perna esquerda de Anne e colocou-a em seu ombro, se permitindo observar aquele sexo delicioso que já brilhava de desejo. ?Coloque as mãos na parede, querida, vou saciar a minha sede ?disse antes de poder acariciar as dobras voluptuosas e úmidas com a palma da mão direita.
Anne, depois de obedecer a sua ordem, o olhou extasiada e soltou
um gemido quando descobriu como ele estava lambendo a mão que tinha passado por seu sexo. Sua essência... Ele decidiu saborear todo o suco que emanava de seu desejo por ele e não desperdiçaria uma única gota.
Quando a língua substituiu a mão, fechou os olhos, abriu a boca ligeiramente para poder respirar e pregou as unhas na parede de madeira.
Louca! Sim, essa era a palavra que melhor a definia. Mas... quem permaneceria sã, enquanto sentiria como a língua de seu amado produzia tanto prazer que era incapaz de suportar?
?Está tão molhada, tão preparada para mim ?Logan apontou quando substituiu sua boca pelos dedos. ?Te quero assim, Anne, aceitando minhas carícias e respondendo com aquele fervor que me transforma em um louco ?acrescentou antes de voltar para as suas pernas.
Cravou os dentes nos lábios esponjosos, ouviu como ela gritava e sentiu o tremor daquele corpo submetido a um frenesi contínuo. Beijou-a com paixão, apreciando o perfume que emanava, em êxtase ao ouvir os murmúrios que Anne fazia enquanto lambia com ansiedade a entrada daquela vagina que se contraía e dilatava com seus ataques.
?Logan... ?disse de um jeito tão erótico, que seu sexo reagiu com tamanha intensidade que estava prestes a gozar.
Como era possível? O que ela tinha que não encontrara em outras mulheres? Nenhuma o deixara tão duro, tão excitado que, com o simples roce
em suas calças, pudesse alcançar o clímax mais arrebatador.
Desesperado, abriu mais a boca e procurou o clitóris com a língua. Quando o notou, sentindo aquela pequena proeminência roçar na ponta de sua língua, brincou com ele até perceber como o néctar de Anne banhava seus lábios, sua barba...
?Oh Logan! Sim! ?Gritou com a chegada de um orgasmo tão intenso quanto abrupto. ?Sim! ?Gritou de novo, jogando a cabeça para trás para capturar todo o ar que poderia encher seus pulmões. ?Eu te amo!
Maldito seja, eu te amo... preciso de você! ?Confessou e corrigiu presa pela alienação que o frenesi causava.
Aturdido por essa afirmação, agarrou as pernas, nas quais as pontas dos dedos ficariam marcadas para sempre, e mordeu com tanta voracidade aqueles lábios esponjosos e saborosos. «Finalmente! " Ouviu em sua mente. Sim, finalmente ouvia o que queria escutar desde a primeira noite em que esteve com ela. Só esperava que não fossem palavras provocadas pelo delírio do desejo. Precisava que ela sentisse o que ele já sentia.
Lentamente, depois de dar sua última lambida e coletar todo aquele delicioso néctar, levantou, se colocou na frente dela e a beijou. A mistura que saboreou, aquela poção mágica, levou-os a um nirvana incapaz de descrever. Anne colocou os braços ao redor de seu pescoço e se aproximou dele. Quando ela tentou se levantar, para que a levasse a algum
lugar naquele estábulo, Logan virou-a bruscamente e encostou seu rosto na parede onde ela havia pregado as unhas.
?Coloque as mãos de volta... ?ordenou enquanto levantava a camisola novamente.
?Logan... ?disse tentando ver o que ele estava fazendo atrás dela.
?Shii, relaxe meu amor ?respondeu, sua mão direita retornando ao seu sexo. Abriu suas pernas um pouco mais e, observando que ela estava encostada na parede de madeira como ele havia indicado, retirou a mão e a fez retornar, mas desta vez não foi para dar-lhe uma carícia suave, mas uma bofetada.
?Logan! ?Anne gritou quando sentiu uma estranha satisfação naquele ato áspero.
?Mais? ?Perguntou, colocando a palma da mão esquerda nas costas arqueadas.
?Sim! Por favor... por....
E ele fez isso de novo. Desta vez, quando a palma da mão tocou o sexo de Anne, não só sentiu como queimava, mas seu fluxo aumentou. Com um leve sorriso, ele a esfregou com a mão aberta e se deliciou ao ouvi-la gemer. Perfeita. Anne era seu par perfeito. Sua cigana, sua esposa, sua vida ...
Depois de vários outros tapas, as pernas de Anne tremeram tanto
que ela estava prestes a se ajoelhar, mas ele não deixou. Agarrou-a pelos quadris e segurou-a com uma mão, enquanto com a outra desabotoou rapidamente o botão de suas calças.
?Vou penetra-la ... vou fazê-la minha ... pode me ouvir?
?Apontou, colocando seu pênis duro e rígido naquela abertura quente e úmida.
?Sim! ?Gritou desesperadamente.
Logan a penetrou com força, sem cerimônia, rudemente.
Estendeu as mãos para ela até que elas se acomodaram em seus ombros e a envolveram de novo e de novo. Não foi sutil ou delicado, não queria ser.
Anne tinha que entender que seus sentimentos eram recíprocos e que ela não poderia pertencer a outro homem. Esse pensamento o deixou louco, enfureceu-o ao ponto de pressionar os dedos contra a pele macia. Não. Ela não se afastaria dele. Ela viveria ao seu lado e não olharia para ninguém porque só deveria olhar para ele.
Concentrando-se naquele ato possessivo, naquela marca que a levaria para dentro da vida, Logan voltou a penetrá-la com desespero, com ânsia. O corpo de Anne agitou com essas estocadas ásperas, suas pernas tremiam e seus joelhos ansiavam por tocar o chão. Ambos sentiam como as poucas peças de roupa que cobriam seus corpos estavam presas a eles pelo suor causado pelo delírio, pelo esforço, pela lascívia.
?Minha, Anne Moore! ?Você é minha! ?Sentenciou em sua última investida, em seu último ataque. Então, derramou sua semente dentro dela, espalhando sua essência masculina nela. Fechou os olhos e não viu escuridão, a não ser milhares de estrelas brilhantes que iluminavam tudo que um dia esteve escuro. ?Querida... ?sussurrou quando sua respiração começara a relaxar. ? Também te amo... ? Saiu dela, virou-a para ver aquele rosto apaixonado e, antes que Anne pudesse falar sobre a idiotice que ambos haviam confessado enquanto se deixavam levar pelo desejo, a beijou.
XXXI
Procurava por uma palavra que definisse seu estado de felicidade, mas não a encontrou. Nada tão simples poderia descrever o que sentia por dentro. Sua alma parou de sofrer, de se punir, de se amaldiçoar por levar o sangue cigano. Era a primeira vez que se sentia calmo e seguro de si mesmo.
Todos os pensamentos obscuros e sombrios desapareceram, causando um bem-estar sem precedentes. Olhou para Anne, que estava sentada do outro lado da mesa, e sentiu seu peito crescer com a emoção de tê-la ao seu lado.
Disse que o amava, embora tentasse corrigir rapidamente essas palavras. No entanto, sabia que elas eram verdadeiras, que não tinha sido uma consequência do ato apaixonado porque, separando seus lábios dos dela, notou em seus olhos o conflito entre o amor que professava e a agonia de não conseguir. Tinha medo. Claro que tinha! Quem apagaria de sua mente a crença de que a pessoa que amasse poderia morrer a qualquer momento por causa da maldição que sofria desde o nascimento? Mas ele não acabaria como seus dois pretendentes. Ele permaneceria ao seu lado porque era a pessoa que havia esperado: seu cigano, seu futuro marido, o homem que a amaria até que desse seu último suspiro de vida. Agora só teria que enfrentar a pior parte: não declarar quem realmente era e o aceitasse com a imagem que havia oferecido por tantos anos, porque não podia confessar a verdade. Esse estado
de bem-estar começou a se desvanecer ao pensar nisso e seu corpo ficou tenso como a corda de um violino. Deveria continuar a proteger seu segredo, não era certo revelá-lo. A tenacidade que teve por muitos anos e a luta que enfrentou com o conde de Burkes viriam à luz e as pessoas voltariam a murmurar sobre as escapadas amorosas do velho marquês de Riderland e como um de seus descendentes pagou a chantagem de um velho lorde. O que aconteceria com seus meios-irmãos? Não, não poderia falhar. Tudo devia permanecer igual. Conseguiria o amor de Anne sendo o visconde de Devon e não o filho de uma jovem cigana que morreu durante o parto.
Sem tirar os olhos dela, levou a taça de vinho até a boca e tomou um pequeno gole. Como conseguiria que ela aceitasse sua proposta de casamento? Porque perguntaria a ela. Sim, antes de partirem para Londres, Anne usaria uma linda aliança para que todos soubessem que ela era intocável, inacessível, e quem ousasse falar com ela receberia uma punição terrível.
?Não sei como Galeón se adaptará à sua nova casa ?comentou Josh, quebrando o silêncio constrangedor que os quatro mantinham durante o jantar.
?Planeja levá-lo para nossa casa? ?Perguntou Elizabeth aturdida. ?Não está ciente de que o nosso jardim é muito pequeno para ele?
?O papai poderia contratar vários trabalhadores para realizar
reformas no lado de fora... ?sugeriu sem desviar o olhar do visconde e de Anne. O que aconteceu entre eles? Por que os olhos de Logan brilharam estranhamente enquanto a observava? Por que as bochechas de sua irmã mostravam uma cor escarlate tão intensa? Eles teriam discutido novamente?
?Reformas? Que tipo de reformas? ?Eli perguntou, estreitando os olhos.
? Seria bom se começasse reduzindo a estufa. Na minha opinião, ocupa muito espaço para plantar quatro flores absurdas ?disse Josh, se concentrando na conversa com Eli.
? Nem pensar! ?Exclamou horrorizada ?Essa proposta é inviável! E elas não são espécies absurdas, mas únicas! ?Sentenciou antes de levar um pedaço de carne à boca e mastigá-lo com força.
?Pode deixar em Whespert ?Logan sugeri. ?Há espaço suficiente para ele e tem permissão para visitá-lo sempre que quiser.
?Mas como cuidarei dele em sua propriedade? ?Perguntou, arregalando os olhos. ?Não seria correto que permanecesse por tanto tempo em sua residência, nem que aparecesse regularmente. As pessoas pensariam que...
?As pessoas não pensarão nada, garanto ?disse solenemente.
?É claro que ninguém diria nada de mal se a futura viscondessa de Devon fosse sua irmã mais velha.
Essa declaração fez Anne prender a respiração e olhar fixamente para ele. Por que estava propondo esse absurdo para Josh? O que estaria tramando para não ser ciente dos rumores que isso significaria? Acrescentaria outro suculento escândalo à sua família e eles ainda não haviam se recuperado do anterior!
?Deveria deixar aqui até encontrar um lugar em Londres
?Anne interveio depois de limpar os lábios com o guardanapo.
?Certamente o papai pode alugar um estábulo onde poderá atendê-lo como quiser. Dessa forma não perturbará o visconde.
?Não será inconveniente ?Logan cortou, depositando o copo de vinho na mesa. ?Ficarei feliz que nos visite.
Nos visite. Ele tinha dito tal atrocidade na frente de suas irmãs?
Ele não entendia que suas palavras poderiam ser mal interpretadas? E, pela expressão que elas colocaram, fizeram isso.
?Mesmo que sua irmã mais nova esteja presente várias vezes por semana, essa proposta não é correta. Como Josh disse, todos falariam sobre as numerosas aparições em sua residência em Londres ?comentou com falsa tranquilidade, rezando para que desaparecesse da cabeça de suas irmãs, qualquer pergunta inoportuna.
?Não estava pensando em Nathalie, senhorita Moore ? afirmou resistente. Recostou-se na cadeira, cruzou os braços e esticou os lábios
ligeiramente para mostrar um sorriso.
?Da mesma forma, não acho apropriado que, quando os marqueses de Riderland estiverem presentes, Josh esteja livre para ir à sua residência ?disse Anne depois de engolir o nó que se formou em sua garganta.
Era estúpido? Por acaso estava dando como certo que estariam juntos como amantes? Ah, claro! Já havia concluído que iriam morar em sua casa por ter declarado palavras tão absurdas para ele. «Absurdas, mas são verdadeiras», disse a si mesma. Mas não. Não assumiria um papel tão degradante por amor. Quando retornasse a Londres, continuaria com sua ideia de ir a Paris. Lá, longe dele, poderia restabelecer sua tranquilidade e não se deixar levar por sentimentos irracionais.
?Também não fiz qualquer referência ao meu irmão e sua querida esposa ? continuou com a voz firme sem afastar seu olhar dela.
Ante uma atitude tão segura e tão endeusada, Anne queria pegar seu copo de vinho e jogá-lo nele, para ver se dessa forma deixaria de se comportar com tanta afronta. No entanto, quando estava prestes a dar outra desculpa, a porta da sala de jantar se abriu e Kilby apareceu, que, por causa da palidez de seu rosto e do modo como sua mandíbula estava cerrada, não era portador de boas notícias.
?Milorde, sinto a interrupção. Mas tem um visitante e, apesar de
ter indicado que está ocupado, insiste em falar com o senhor ?explicou o surpreso mordomo.
?Quem é? ? Logan perguntou, se levantando rapidamente.
?Lorde...
?Pelo amor de Deus! Desde quando fui formalmente apresentado ao meu amigo! ?A voz de um homem trovejou atrás das costas de Kilby. ?Saia! ?Ordenou ao criado. Quando ele permaneceu imóvel, o cavalheiro lhe deu um empurrão repentino e entrou na sala. Assim que o visitante súbito descobriu que Bennett estava hospedado com três mulheres, que se levantaram ao vê-lo, George deu um largo sorriso. ?Boa noite senhoras, me perdoem...
?Laxton! ?Logan gritou, caminhando decididamente em direção a ele. ?Como se atreve a entrar em minha casa dessa maneira e assustar minhas convidadas?
?Me desculpe querido amigo. ?Falou a palavra amigo de forma mordaz. Seu fiel mordomo não me explicou que três belas damas eram a causa pela qual não podia me atender. ?Estendeu a mão para Logan e, quando aceitou, sentiu que apertava com força. George sorriu com aquela sutil advertência, mas não se deu por vencido. Agitou a mão para se livrar dessa pressão e se dirigiu para a mesa. ?Quem são essas daminhas lindas?
?George, vamos falar sobre a questão que o trouxe aqui em meu
escritório ?disse Logan apertando a mandíbula.
?Não somos damas, milorde ?respondeu Josh, se posicionando como um soldado. ?Somos as irmãs Moore, pupilas do visconde.
?Pupilas? ? Laxton perguntou, olhando de soslaio para o amigo. ?Entendo... ?E um sorriso depravado apareceu em seu rosto, acentuando aquele rosto canalha e perverso.
?Por favor, me siga. Como disse, vamos conversar tranquilamente em meu escritório ?ordenou no mesmo tom com o qual continha uma séria briga entre seus marinheiros.
?É claro ?cedeu no final. Antes de se virar, para sair da sala, George passou os olhos pelo corpo de Anne com ousadia, um gesto que causou um rugido estranho em Logan. Então continuou para Elizabeth, que olhou para ele descarada, ousadamente e acabou contemplando a jovem que se dirigiu a ele. Uma careta de desagrado apareceu em seu rosto enquanto observava suas roupas. Era realmente uma jovem? Porque duvidava que fosse... Só precisava de um bigode grosso para lembrá-lo de seu antigo professor de latim. —Espero vê-las novamente, senhoritas Moore. Ficarei feliz em termos uma longa conversa... ?Prolongou cada palavra como se estivesse sibilando. Disse adeus com um leve aceno de cabeça e foi acompanhado por Logan. Uma vez que este fechou a porta, disse: ?Três para você? Desde quando se tornou tão egoísta?
?Não é o que pensa ?resmungou o visconde, dando longos passos em direção ao seu escritório.
Precisava sair de lá o mais rápido possível, porque não tinha dúvida de que Eli e Josh colocariam seus ouvidos atrás da porta para escutá
los e não era apropriado que descobrissem a amizade peculiar que ele e Laxton tiveram no passado.
?Não é o que penso? - Perguntou sarcástico. ?Não duvido que sejam suas pupilas, mas... as instruirá na arte do amor, como fez comigo?
Tenho que confessar que foi o melhor professor que já tive. Nenhuma das minhas amantes se queixou ...
?Feche essa maldita boca! ?Ordenou irado. ?Está falando das filhas do Dr. Moore, não de prostitutas!
?Entendo ... ?Respondeu quando fechou a porta do escritório.
Observou o visconde seguir à escrivaninha, se colocar atrás dela, como se fosse um homem de negócios honrado, abaixar as mãos e olhá-lo como se quisesse estrangulá-lo.
? A que veio?
?Acalme-se, Logan ? indicou enquanto se sentava. Desabotoou os botões de sua jaqueta cinza e cruzou as pernas no joelho. Não vai me convidar para uma bebida? O que venho lhe contar é tão importante que deveria me recompensar com um bom conhaque.
?Sirva-se
?respondeu
sem
reduzir
os
sinais
de
descontentamento expressos em seu rosto.
?Está bem... ? deu de ombros. Se levantou, caminhou lentamente até o decantador de conhaque e se serviu de uma generosa dose de bebida. Então, sem tirar um sorriso de seus lábios, voltou ao lugar.
?A que veio? ?Logan repetiu, sentindo a frustração fazê-lo perder o controle.
?Relaxe ? George ordenou, olhando-o sem piscar. Lembre-se que não sou o inimigo...
?Faz muito tempo desde que nos vimos pela última vez, então não posso confirmar ou negar suas palavras ?disse apertando sua mandíbula com tanta força que poderia desencaixá-la a qualquer momento.
?Estou aqui, certo? Bem, isso tem que responder à questão.
?Vá direto ao ponto ... ?pediu, afastando as mãos da mesa.
Como Laxton havia feito, Logan foi até a garrafa de bebida, pegou o copo maior que havia na bandeja e encheu-o até transbordar. Então levou à boca e bebeu de um só gole. Repetiu a ação antes de retornar ao seu lugar.
?Visitei meu tio hoje de manhã e tivemos uma conversa muito vigorosa ?disse em uma voz misteriosa, fixando seus olhos cor de mel no líquido âmbar. ?Dado que apareceu de uma maneira súbita e secreta,
acredita que retornou para ... desfazer o que fez durante a sua ausência.
?Voltei porque tive de fazê-lo ?Logan murmurou, sentando-se abruptamente. As irmãs Moore precisavam da minha ajuda e ofereci a elas.
?Qual delas, especialmente? ?Perguntou depois de estalar a língua enquanto saboreava o bom conhaque do amigo.
?A mais velha ... - confessou antes de terminar a bebida de um só gole. Olhou para o copo vazio e sentiu um leve tremor em sua mão. Medo.
Pela primeira vez desde aquele dia, o medo do velho Burkes aparecia novamente.
?Então Rose se tornou passado, certo? Pena! Foi a mais bela de todas ?disse tocando o queixo, observando enquanto seu camarada de noites de farra franzia a testa.
?Rose nunca me interessou como esposa ? revelou involuntariamente.
?Esposa? ?George perguntou, arregalando os olhos. ?Se apaixonou a esse ponto? ?Disse incrédulo.
?Por acaso não tenho coração? ?Contra-atacou.
?Oh sim! Claro que tem! ?Respondeu divertido. ?A única coisa que aconteceu é o submeteu a uma fria letargia durante os anos que ambos desfrutamos.
?Me listará quantas noites e quantas mulheres nós estivemos?
?Resmungou.
?Não! ?Respondeu como se estivesse horrorizado. ?Meu tio teria um derrame se quebrasse nossa promessa! ?Acrescentou nitidamente.
?Pode me dizer, de uma vez por todas, a que devo sua visita?
?Tentou especificar. Embora já estivesse com medo do que iria dizer, precisava que fosse direto ao assunto. O quanto antes ficasse ciente do problema que estava por vir, quanto antes poderia encontrar uma solução.
?Meu tio insiste em lembrá-lo do acordo.
?Não o quebrei. Fiquei longe de você desde que nos descobriu.
Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, alguém trairia sua presença em Harving, embora não pudesse apontar para ninguém com certeza. Exceto pelo dia em que foi ao administrador assinar o contrato para a transferência do Galeão, não havia deixado seus limites... estreitou os olhos e prendeu a respiração. Claro! Como não pensou naquele dia? Como não se antecipou? Porque estava tão obcecado por Anne que não percebeu esse pequeno detalhe. Elizabeth saiu em uma de suas carruagens e com Howlett.
Todo mundo conhecia seu falante e estranho ajudante! E ele tão pouco tentava passar despercebido com suas roupas tão extravagantes. Tinha que obrigá-lo a colocar um saco, áspero e sujo.
?Acredite, ainda me sinto culpado por isso. Se tivesse adivinhado o propósito daquela porcaria... ?Pela primeira vez, desde que
apareceu, George fez a expressão zombeteira desaparecer de seu rosto para transformá-la em ferocidade. Ele apertou a mandíbula e franziu a testa. Seus olhos castanhos escureceram e sua respiração ficou lenta, profunda, como se a maldade lhe causasse um perigoso estado de tranquilidade.
?Nenhum dos dois notou a inquietação da criada ou sua insistência em olhar para a porta ?tentou diminuir a relevância, no entanto, tinha mais consideração do que desejava aparentar. Naquele dia, se tornara um mísero fantoche do velho conde. Apenas sua tenacidade em negar a história àqueles que viam com repulsa a insistência em divulgá-la, o salvou.
?Se não quisesse me salvar...
?Não levante fantasmas do passado ?Logan o interrompeu.
?Me diga pelo qual apareceu, porque tenho certeza de que seu tio não o teria feito vir aqui para me lembrar do acordo. Teria enviado um de seus servos com o selo de seu honroso título no verso. Então me diga, o que propõe desta vez?
?Quis que eu entregasse isso pessoalmente ?disse tirando um envelope do bolso de sua jaqueta cinza pérola.
?O que é? ?O visconde perguntou de maneira arisca.
?É um convite. Neste sábado havia preparado uma festa íntima e, ao saber que estava em Harving, decidiu incluí-lo em sua lista de convidados honrados e respeitáveis. ?Enfatizou essa palavra sarcasticamente
para deixar claro que era uma obrigação e que não poderia rejeitá-la.
?O que quer agora?
?O que acha? ?Perguntou jogando o envelope sobre a mesa de Logan como se isso o queimasse.
?Não está à venda ?disse, se erguendo rapidamente, como se de repente se lembrasse de que deixara uma panela de água fervendo no fogo.
?Eu sei, mas aquele velho teimoso não quer morrer sem assinar esse miserável contrato de compra ?comentou com pesar.
Logan deu-lhe um olhar preocupado e incrédulo. George ainda não sabia o que realmente aconteceu quando Burkes o trancou, junto com o juiz e o padre, na biblioteca? O velho não lhe contou sobre aquela reunião miserável? Não, claro que não. George não acreditaria nele e divulgaria esse falso rumor em todos os eventos sociais que assistiria e.... o que aconteceria no final? Alguém resolveria essa fofoca de maneira fulminante: o próprio Marquês de Riderland. Mesmo assim, o que aconteceria com seus meios-irmãos? Que feridas esses malditos rumores causariam à sua querida Nathalie? Não podia pôr em risco a vida de toda a sua família por não ter reprimido certas fantasias sexuais.
?E, se ele não morrer em paz, não irá adquirir a sua ansiada herança ?falou mordaz sobre a afirmação anterior.
Logan olhou para quem fora um bom amigo da farra e concluiu
que ele ainda estava obcecado em agradar aquele conde bastardo. No entanto, as marcas que apareciam ao redor dos olhos mostravam dor, agonia e desespero. Estava esperando o momento para se livrar dele? Rezaria para que seu tio morresse antes de que completasse vinte e cinco anos? Era difícil desejar que alguém morresse, mas o conde teria merecido por praticar um ato de bondade, como receber o filho de sua irmã que, depois da morte do marido em um trágico acidente, precisara de ajuda da família. Embora o verdadeiro propósito de Burkes fosse transformar o jovem sensível, afetuoso e carinhoso num ser cruel e impiedoso. Logan pensou, inutilmente, que iria libertá-lo através do prazer, mas errou. Só esperava que um dia uma mulher devolvesse a criança que ele foi e que o fizesse esquecer todos os ensinamentos do velho ogro.
?Veja. No fundo continua lendo meus pensamentos ?disse antes de se levantar e terminar a reunião. Seu tio permitiu que viesse Harving para lhe dar o convite e foi isso o que fez. Agora teria que voltar se não quisesse sentir a fúria nas suas costas.
?Harving não está à venda nem antes, nem agora, nem no futuro
?disse solenemente. ?Pretendo transformá-la em minha segunda moradia.
?De verdade? ?A resposta o surpreendeu tanto que ele refez seus passos.
?Sim ? disse Logan com confiança.
?Bem, assim sendo, não terá escolha senão se apresentar com ela ...
?De jeito nenhum! Seu tio não se aproximará de Anne!
?Berrou, apertando as mãos com tanta força que sentiu as unhas cravarem na palma da mão.
?Porque não? Não quer se livrar dele de uma vez por todas?
Além disso, sabe que, à medida que as descubra, fará todo o possível para destruí-las. O que acontecerá com as respeitáveis e honradas filhas do Dr.
Moore quando todos falarem sobre o que possivelmente fez nessa residência?
Haverá um tal escândalo que terá que vender Harving por muito menos do que custa.
?Exige que eu participe, mesmo que não queira? ?Retrucou dando um passo em direção a ele.
?Exijo que se comporte de maneira sensata. Se realmente sonhou em alcançar um futuro decente, deve se concentrar no que é mais importante ?disse apontando com um dedo inquisidor.
?Que é ... ? murmurou.
?Se aparecer na festa com elas e espalhar a notícia de que Harving House se tornará sua segunda casa, meu tio não terá escolha senão assumir sua derrota ? disse sem hesitar.
?Por que envolveria as irmãs Moore nisso? É algo que devo
resolver de uma vez por todas com aquele bastardo. Então posso me apresentar amanhã em sua residência e ...
?Não se casará com uma delas? Bem, a coisa certa seria acompanhá-lo para testemunhar suas palavras.
?Não quero que Anne descubra o que fizemos e sei que seu tio ficará feliz em explicar o que aconteceu naquele dia ?resmungou.
?Não sabe nada? ?George não acreditou.
?Não! ?Disse desesperado. E não quero que descubra!
?Não ouviu nada sobre sua vida de libertinagem? ?Perguntou.
?Ela não é surda... ?bufou. ?E sua irmã é muito próxima da minha. Assim que…
?Então não ficará surpresa. Que libertino que se preze não teria uma orgia com seu melhor amigo?
?Não sei se ela gostaria de ouvir sobre esse tipo de ato sexual.
?Refletiu voltando para a mesa. Pegou o copo e, depois de observá-lo por alguns segundos, deixou-o sobre a mesa novamente. Foi até o aparador, virou a chave e abriu as portas de madeira que escondiam várias garrafas de conhaque. Tirou duas, colocou-as na mobília e, depois de desarrolhar a primeira, voltou ao seu lugar.
?Sabe? Desde o começo soube que seu romance com Rose não terminaria em um casamento ?George apontou antes de pegar a outra
garrafa e imitar Logan.
?De verdade? ?Logan perguntou estreitando os olhos.
Entornou a garrafa de licor e tomou um longo gole. ?E quando concluiu algo tão solene?
?Imaginei quando a compartilhamos pela primeira vez
?comentou com calma, com o tom de camaradagem que sempre tiveram até aquele maldito dia. ?Se tivesse um mísero sentimento de posse em relação a ela, não teria permanecido sentado naquela cadeira enquanto Rose gritava meu nome ao possuí-la. Certamente agora não poderia compartilhar sua futura esposa com ninguém, estou errado?
Essa pergunta nublou sua mente. Compartilhar Anne? Morreria antes de ver como outro homem a tocaria! Mas... e se ela fugisse quando descobrisse as perversões que fez com suas amantes? Poderia deixar claro que sempre foram mimadas e que não estava mais disposto a fazer isso. No entanto, para chegar a esse ponto teria que contar a ela sobre suas origens, seu sangue cigano, o que aconteceu com o conde, a vida de seus meios-irmãos, a chantagem, o pagamento que fez ao bastardo Burkes para manter seus lábios selados... O que Anne faria depois de ouvi-lo?
?Diga-me, Logan, compartilharia sua esposa? ?George repetiu depois de beber seu conhaque.
?Não. ? Disse antes de esvaziar mais de um terço da garrafa
em um gole.
XXXII
Não saiu do escritório pelo resto da noite, apesar do fato do cavalheiro ter abandonado Harving House uma hora depois de sua entrada apressada. Quando a porta da sala de jantar se abriu, as três se viraram para ela, esperando pela presença de Logan, mas Kilby apareceu em seu lugar. Ele desculpou a ausência do visconde alegando que tinha alguns assuntos muito importantes para resolver. Mas Anne sabia que estava mentindo. Aquele homem o alterara, era necessário apenas recordar do rosto zangado que exibiu ao vê-lo para confirmar essa suposição. Quem era esse indivíduo? Por que Logan mostrou uma tensão amarga quando invadiu a sala de jantar? Anne andava de um lado para o outro em seu quarto, esfregando as mãos. Seus pelos arrepiaram novamente, avisando-a de que algo ruim estava prestes a acontecer. Mas... o que seria? Como poderia lutar contra o que não conhecia ou não entendia?
Caminhou até o pé da cama e se sentou pela décima quinta vez.
Era correto confiar no que seu coração ditava? Devia descer e conversar com ele? Sua presença o ajudaria a superar o que o incomodava? Uma amante poderia exercer esse papel? Não. Esse seria o trabalho de uma esposa... essa reflexão fez com que levasse as mãos ao rosto e o esfregasse de angústia.
Odiava essa ideia. Irritou-a pensar que um dia Logan teria que se casar e que
tudo que viveram desapareceria como fumaça. Seria correto ser levada pelos sinais enviados a ela por sua mãe criadora? Os sonhos, que cessaram quando chegou a Harving House, Astennu, que era o mesmo corvo que aparecia em todas as suas visões. Só precisava ouvir a música que aparecia enquanto caminhava por aquela floresta e que Logan confirmasse que um antepassado dele era cigano. Mas... qual era a possibilidade de que tudo o que precisava acontecesse para que não duvidasse que era o seu homem?
Um barulho atrás da porta a fez levantar rapidamente. Seu coração batia desesperado e seu pulso acelerou quando imaginou que era Logan. Ouvindo apenas a respiração agitada, permaneceu de pé e olhando em direção à entrada, até que, após algum tempo, deduziu com tristeza que não a visitaria. Não pretendia se apresentar? Havia decidido afastá-la do seu lado?
Teria reconsiderado seu relacionamento após a aparição daquele homem? Por que? Quem era ele?
Uma enorme tristeza tomou conta dela e seu coração ficou oprimido. Por que a confusão lhe causava tanta dor? Não havia deixado claro a ele que tudo acabaria quando ela fosse embora? Não ficou com raiva de ouvi-lo dizer nos visitar? Sim, ficou furiosa ao ouvi-lo expressar essas duas palavras na frente de suas irmãs, mas também estava cheia de alegria. O fato de que Logan achava que o relacionamento continuaria assim que ela deixasse Harving a entusiasmou, no entanto, deveria ser consciente que seus
pais não aceitariam que se tornasse a amante do visconde. Eles a matariam!
Sim, apesar de terem declarado que em breve estaria livre para fazer o que quisesse, nunca admitiriam tal humilhação para a família. Eles a obrigariam a se casar com ele e, por mais agradável que fosse a ideia, não poderia aceitá
lo, porque essa decisão o mataria.
Ela colocou as mãos no peito e agarrou a camisola com amargura, enquanto as lágrimas molhavam seu rosto. Estava apaixonada e esse estado de amor a fez querer algo que nunca alcançaria. Sua posição não poderia mudar. Se realmente queria estar ao seu lado, teria que se contentar em tomar um lugar de uma concubina e rezar para que ele não a substituísse por outra antes do final do ano.
Olhou de soslaio para a cama, na qual eles tinham feito amor durante as noites passadas, e suspirou. Seria capaz de dormir sem ele?
Poderia fechar os olhos sem descobrir o que estava acontecendo com ele?
Não. Claro que não! Apesar de estar ciente de que, entre eles, não haveria possibilidade de nada, a não ser um idílio temporário, ela não podia deitar naquele colchão confortável sem se importar com o motivo pelo qual ele havia se escondido. Se o visconde tinha um problema, tentaria ajudá-lo, mesmo que fosse apenas uma mísera amante.
Confiante no que ia fazer, levou a mão até parte de trás da cadeira, onde estava seu robe de seda preta, vestiu-o e caminhou com
determinação para a saída.
Tudo estava em silêncio e a escuridão a ajudou a permanecer protegida. Se agarrou ao corrimão da escada e desceu os degraus com tal cautela que nem um único degrau de madeira rangeu. Assim que chegou ao hall, olhou para as grandes janelas e, através das finas cortinas, observou o movimento das copas das árvores. Elas se mexiam como em seus sonhos....
Perplexa, ela olhou para longe das janelas, virou para o lado direito e continuou sua caminhada até que parou em frente à porta do escritório. Ainda estava fechado, como se tentasse obstruir a passagem de outra visita indesejada. Mas ela não era qualquer pessoa... muito lentamente, notando a batida de seu coração na garganta, alcançou a maçaneta e a girou. Se tivesse rangido a porta, ele a teria descoberto, mas os criados do visconde eram tão eficientes que engraxavam as dobradiças com assiduidade. Por essa razão, pôde entrar sem ser ouvida.
A única luz dentro era produzida pelas chamas do fogo na lareira.
Mal notou a decoração daquele escritório. A única coisa que viu claramente foi o grande tapete que estava ao lado do fogo e ele... Logan estava sentado em uma cadeira, com os cotovelos apoiados sobre a mesa e olhando para o que estava sobre ela. Havia tirado o paletó daquele terno azul avermelhado que ele usara tão imponente durante o jantar. As pontas da camisa preta, levantadas para ambos os lados, indicavam que ele não estava usando a
gravata e seu cabelo oferecia uma imagem descuidada. Fios negros e despenteados escondiam aquele rosto másculo que tanto adorava. Virou-se lentamente em direção à porta e fechou-a sem emitir nenhum som. Embora tenha originado o suficiente para ele levantar o rosto e descobri-la.
—O que faz aqui?
O tom duro que usou para falar com ela a fez pensar que havia cometido um erro. No entanto, seus olhos expressaram o contrário: declaravam tanta satisfação e bem-estar que reforçou sua decisão.
—Não consegui dormir -- ela disse enquanto caminhava até ele.
Ficou parada em frente à mesa e observou tudo o que havia nela.
Desordem. Só encontrou um grande caos. Uma multidão de folhas espalhadas na superfície e também vislumbrou que mais de uma estava manchada de licor. Olhou de relance para a garrafa ao lado dele e franziu a testa ao vê-la praticamente vazia. Ele tinha ficado bêbado? Foi por isso que não apareceu em seu quarto? E por que abusava do álcool se durante os dias em que estiveram em Harving House ele mal tinha tomado dois drinques fora das refeições?
—Poderia ter pedido a Sra. Donner para fazer uma daquelas infusões calmantes que ela mantém na cozinha. Certamente isso a teria mantido deitada no colchão até o amanhecer -- disse ele, arrastando as palavras.
—Está bêbado! -- Ela disse cruzando os braços. -- Por quê?
—Por que bebi mais do que posso suportar? —Ele estalou mordaz. —Caso não saiba, meu amor, quando se ingere tanto licor, o....
Logan de repente ficou em silêncio quando ela descruzou os braços e, sem tirar os olhos dele, estendeu a mão direita para a garrafa.
Colocou a boca da garrafa sobre seu lábio inferior e deu um pequeno trago.
—Eu também posso participar desse jogo -- ela argumentou antes de sua garganta queimar pela ingestão daquela bebida a qual não estava acostumada a beber. Segurando as lágrimas que causaram aquele ardor e a repentina tosse, o observou sem piscar enquanto permitia que várias gotas de bebida deslizassem por sua boca, pelo queixo, até baterem em seu peito. --
Tem que me dizer onde guarda mais, porque vou precisar de outra assim para poder alcançá-lo. Bebeu até que não havia mais nada dentro e depois colocou de volta em seu lugar.
O queixo de Logan caiu enquanto ele observava o licor escorrer por sua pele até que, maravilhosamente, terminou no decote do roupão de Anne. Ele queria se levantar, lançar-se sobre ela e percorrer com a língua o longo caminho por onde passavam essas abençoadas gotas de conhaque. Mas, apesar de sua embriaguez, ainda estava ciente de que seu estado lastimável só lhe causaria problemas. Uma vez que ele a beijasse, iria querer mais e isso provocaria uma explosão de emoções que o transformariam em um ser
malvado. Então, antes de fazerem amor, teria que ter certeza de sua decisão de ser honesto com ela. Precisava contar sobre seu passado, o que planejava fazer em um futuro próximo, e se o destino fosse gentil com ele, Anne não iria embora.
—Vai me dizer de uma vez por todas onde posso encontrar uma maldita garrafa? -- Ela retrucou, apreciando sua passividade.
O que diabos aconteceu com ele? Seu visconde, aquele que conhecera até a chegada daquele homem, teria se levantado, a tomado em seus braços e, depois de derrubar tudo sobre a mesa, teria feito amor com ela com tanta paixão que seus corpos teriam fundido. Esse pensamento, e as imagens que apareceram em sua mente, endureceram seus mamilos e a excitaram tanto que ela abriu a boca, inconscientemente, para ofegar.
—Lá! –Ele respondeu com a voz embargada, apontando para o decantador que havia sobre o móvel.
Estava preocupado. Não tinha dúvida sobre isso. Essa visita inesperada o perturbou. O que aconteceu durante a hora em que eles conversaram? Ela olhou para Logan e considerou se seria conveniente perguntar sobre o assunto que o incomodava. Talvez estivesse se precipitando, talvez só precisasse de um pouco de solidão para enfrentar o que aconteceu. No entanto, assim que começou a duvidar de sua performance, centenas de imagens dele passaram por sua cabeça: o dia da
festa, quando ele levantou seu copo e ergueu a sobrancelha esquerda silenciosamente perguntando por que estava olhando para ele, o dia que apareceu com Lorde Giesler em sua casa, seu desmaio, a conversa que tiveram enquanto Mary se distanciava deles graças ao presente. No momento em que ele conversou com Madeleine através da cortina, seu comportamento paternal com Josh, o beijo que ele lhe deu quando a descobriu em frente à porta daquele quarto imundo na pousada, no momento em que apareceu em seu quarto e disse para que trancasse se não quisesse que a visitasse novamente. A reunião no jardim, as noites abraçados em seu quarto, ouvindo como respirava em sua cabeça, notando a paz e tranquilidade que sentia ao seu lado.... É claro que tinha que descobrir o que na terra havia acontecido com ele! Como ela poderia abandonar o homem por quem estava loucamente apaixonada? Nunca! Ela lutaria com unhas e dentes para trazer de volta aquele homem intrépido que ousava beijá-la, tocá-la e amá-la onde quisesse.
Que Deus tenha pena dela e de toda a sua família! Porque lutaria por ele...
Com os olhos do visconde fixos nela, levou as mãos até o laço do roupão, desamarrou-o e, enquanto seguia para aquela área do escritório, balançou levemente os ombros até que o roupão deslizou pelos braços tão suavemente que sentiu seus pelos arrepiarem em resposta àquela delicada carícia. Se essa atitude sensual não fizesse Logan pular da poltrona, nada
conseguiria.
—Então... sua embriaguez causou... -- começou a dizer em uma voz tão extremamente erótica, que suas mãos tremeram.
Teve que respirar fundo para poder se concentrar em encher um dos copos na bandeja de prata e não derramar pelo tremor. Antes de se virar e encará-lo, bebeu aquela quantidade generosa de licor e serviu-se de outra.
Acabaria mais bêbada que Logan, mas não se importava como terminaria aquela noite. A única coisa que importava era como ele terminaria.
—Está me provocando? -- Logan perguntou à suas costas.
Nem mil barris de brandy o teriam derrubado depois de observar a silhueta do corpo de Anne através daquela camisola transparente!
Quando ela deixou cair o roupão no chão, mexeu os quadris com o ritmo sensual de seus passos, as pontas dos cabelos escuros roçando os quadris eroticamente e a luz das chamas perfurando a camisola, mostrando-lhe uma figura sedutora e erótica. Naquele momento, seu sexo reagiu rapidamente e seu coração ficou paralisado. Ela era puro magnetismo, desejo, luxúria e.... amor. A parte racional de seu cérebro, aquela que constantemente o lembrava do problema que ele tinha que enfrentar, desapareceu e todo o álcool que atravessou suas veias evaporou quando sua temperatura aumentou.
Anne o queimava, transformava-o em um imenso fogo. Poderia um homem morrer querendo tanto uma mulher? Porque ele estava disposto a morrer se
ela não matasse sua sede.
Anne sorriu ao ouvi-lo atrás dela. Sua respiração já indicava que ele estava excitado. Mas confirmou quando ele bateu o quadril em suas nádegas. Esse era o seu homem... sempre disposto a lhe dar prazer e ficar totalmente ereto por ela. Pelo menos já havia eliminado de seus pensamentos a angústia terrível de que não a queria. Agora tinha que descobrir por que a presença do homem o perturbara tanto.
—Eu gostaria de saber... - disse ela depois de colocar o copo no aparador, estendeu as mãos até encontrar as de Logan. Ele entrelaçou os dedos com os dela e os ergueu até os seios. Uma vez que as fortes palmas masculinas os rodearam, as pressionou como de costume. Naquele momento, seu quadril ganhou vida própria e chegou perigosamente perto dele e sua boca ofegou de prazer.
—Não é uma história agradável... -- Logan murmurou trazendo os lábios para o ombro direito de Anne. Abriu a boca, esticou a língua e lambeu a área da pele como se estivesse saboreando um sorvete, embora dessa vez não sentisse frio, mas calor, muito calor.
—Se fosse agradável... Não teria se trancado neste lugar... certo?
-- Ela sibilou quando colocou as mãos nas pernas hercúleas e acariciou-as até que tremessem.
—Anne... -- ele disse em um tom abafado, como se um nó na
garganta o impedisse de falar.
—Logan... -- ela respondeu, colocando a mão direita no grosso volume que se escondia debaixo das calças. ?Está tão excitado por mim...
Se essas palavras a deixavam louca quando as escutava, esperava que tivessem o mesmo efeito em Logan.
—Sim... -- ele respondeu trazendo a pélvis para mais perto daquela mão impertinente para que não parasse de tocá-lo. -- Sabe que não posso resistir a você... -- ele confessou antes de colocar os lábios no pescoço dela e beijá-la sem parar.
—Pedi para que fizesse isso? -- Ela perguntou, virando-se.
Quando viu a tristeza naqueles belos olhos azuis, ficou sem fôlego. O que aconteceu para fazer Logan se sentir tão vulnerável?
—Mesmo se me pedisse... não poderia fazer isso -- ele respondeu antes de agredir sua boca.
Como se estivessem prestes a morrer de fome e a única coisa que poderia salvá-los da morte era se devorar, Logan invadiu, subjugou e se apoderou da boca de Anne enquanto ela respondia com a mesma necessidade e paixão. As mãos do visconde descansaram em suas nádegas e a puxaram para mais perto, deixando-a presa das coxas ao peito. Ambos os corpos se misturavam como se fossem duas essências perfeitas dentro de uma sala sem saídas.
As mãos de Anne, colocadas primeiro no pescoço de Logan, lentamente traçaram as costas largas, continuaram abaixo do peito, desabotoaram os botões daquela camisa, acariciaram-no com as palmas das mãos abertas e, quando ela ficou satisfeita em tocá-lo, desceu lentamente até a cintura das calças.
—Quero libertar você de tudo o que prejudica seu coração --
disse antes de beijar a área do peito dele que o protegia. -- Quero arrebatá-lo para que nada possa feri-lo, jamais...
—É seu... -- Logan engasgou quando sentiu os lábios em seu mamilo esquerdo.
—Tem certeza? -- Ela retrucou. Percebendo como ele afirmava com um leve aceno de cabeça, se afastou o suficiente para ver se estava mentindo. Quando confirmou a veracidade de suas palavras, enfiou a mão na calça e acariciou seu sexo duro e úmido com as pontas dos dedos.
—Sim... -- ele sussurrou, fechando os olhos para se deixar levar pela sensação de prazer causada pelo toque daqueles delicados dedos. —Te pertence…
Então, apenas quando o teve em um estado de frenesi, se afastou dele, como se estivesse possuída por um espírito diabólico. Ela se esquivou de sua figura corpulenta e se afastou por tempo suficiente para observar sua reação. Claro, o rosto de Logan mostrava uma mistura de perplexidade e
medo.
—Se esse coração realmente me pertence, preciso que seja honesto e me diga por que diabos se trancou neste lugar por mais de quatro horas. Tempo que, a julgar pelo cheiro que tem e pela quantidade de bebida que descobri na garrafa, passou bebendo -- ela disse como se fosse uma esposa furiosa por ter esperado a chegada de seu amado marido em frente à entrada da sua casa, enquanto um dilúvio caia.
—Prometo que contarei tudo depois de fazermos amor. Agora sou incapaz de pensar em outra coisa senão possuí-la... -- ele disse enquanto empurrava sua camisa para longe com um único puxão. Então fez o mesmo com o botão da calça, baixou-os até os pés. Com um solavanco rápido, tirou os sapatos, tirou todas as roupas e ficou completamente nu para ela. -- Não sente pena do seu amante insano? Olha como me colocou...
—Acalmarei a sua necessidade quando aplacar a minha -- disse ela solenemente, para que ele não tivesse dúvidas de que não estava blefando.
Estava disposta a descobrir o que estava errado e não pararia até conseguir.
—O que quer saber? -- Ele perguntou, desistindo.
—Quem era esse homem?
—Lorde Laxton.
—O que ele queria de você?
—Veio me informar que seu tio, o conde de Burkes, continua
com a ideia de comprar Harving House. -- Ele estava prestes a abaixar a cabeça quando percebeu que Anne estava se movendo. Rapidamente, fixou os olhos nela e eles arregalaram quando viu o que estava fazendo depois de sua resposta. —Vamos brincar disso, querida?
—Sim -- ela disse, acariciando seus seios por cima da camisola.
Não gosta da ideia de ser recompensado cada vez que responder minhas perguntas? -- Acrescentou naquele tom erótico que adotara desde que entrara.
—Acho isso... agradável -- ele respondeu com um longo suspiro.
—Pergunte o que deseja -- acrescentou colocando sua mão direita em seu sexo.
—Por que quer comprá-la? —Perguntou Anne, ainda se tocando.
Devia levá-lo a um estado de agitação tão intenso que não pudesse mentir para ela. Precisava descobrir a verdade e encarar isso juntos, como se fossem casados.
—Porque quer ampliar seu patrimônio -- ele respondeu. Mas vendo que essa declaração não pareceu correta, porque Anne parou de se tocar, ele acrescentou: -- Ele quer que a venda em troca de manter um segredo.
—Um segredo? -- Ela exclamou surpresa.
—Sim -- ele disse com um halo de tristeza.
—Que segredo? —Ela perguntou. Quando viu que a mão de Logan se afastou de seu sexo e agora se esticava em direção ao chão, continuou com seu jogo. Andou para trás até que suas nádegas tocaram a mesa, se inclinou sobre ela, levantou a camisola até que revelasse sua virilha e abriu as pernas ligeiramente. -- Que mais?
—Laxton e eu nos conhecemos há cinco anos. Depois de ser apresentado e falar sobre sua vida, fiquei com pena dele -- continuou ele, incapaz de tirar os olhos daquela flor sexual que, a julgar pela forma como brilhava, estava molhada.
—Aham -- E o recompensou novamente. Sua mão direita foi colocada em seu sexo e acariciou até que surgiram sons sedutores que expressavam com audácia a excitação que ela sentia quando se tocava.
—George e eu temos uma amizade... especial. -- Ele falou hesitante, sufocado pela imagem de Anne. Aquela figura erótica só reafirmava que ela era a mulher mais maravilhosa que ele já tinha visto em sua vida. No entanto... ela poderia suportar a verdade? O que pensaria dele quando revelasse aquele passado sombrio?
—O que quer dizer com amizade especial? -- Anne perguntou, introduzindo um de seus dedos. Percebendo essa pressão, ela suspirou, olhou para ele descaradamente e acariciou seus lábios com a língua. Deveria se sentir como uma rameira, mas não era assim. O que sentia era um imenso
poder sobre Logan. Um que libertaria o homem que amava daquela prisão em que ele se forçou a ficar.
—Laxton se tornou meu parceiro em... perversões. -- Ele suspirou profundamente. Estava tão hipnotizado por seus suspiros que era capaz de gozar apenas olhando para ela. —Já conhece a fama de libertino que carrego nas costas...
—Real ou inventada?
—Real -- ele disse, olhando para ela com tanto pesar que o coração de Anne se partiu em mil pedaços.
Por que se lamentava do que fez no passado? Acaso agia assim para se proteger de alguma ferida? Um coração partido, talvez?
—E? -- Ela insistiu, tirando aquele dedo invasor para espalhar sobre os lábios voluptuosos o fluxo que emanava ao se excitar.
—O que quer que eu explique? -- Ele gritou enquanto acariciava seu cabelo desesperadamente.
—A verdade! Quero a verdade! -- Anne respondeu, afastando as mãos de seu corpo. -- Cruzou os braços e olhou para ele sem piscar. Teria que insistir. Estava prestes a alcançar seu objetivo e, apesar de deduzir que não gostaria do que ouviria, suportaria isso por ele.
—A verdade? -- Ele retrucou, erguendo as sobrancelhas. Um sorriso sombrio apareceu em seus lábios e seus olhos escureceram.
—Sim— ela garantiu com firmeza.
Anne não estava mais na frente de um amante terno e amoroso, mas na presença de um fantasma. O que teria acontecido no passado para que o transformasse em um ser sem alma?
—Bem, a verdade não é outra a não ser que compartilhamos mulheres -- ele revelou, estreitando os olhos e seu riso mudou de sombrio para trêmulo.
-- Suas amantes? -- Perguntou, soltando a camisola aos seus pés dela.
—Sim -- ele disse categoricamente.
—Obrigou-as a fazê-lo? -- Perguntou Anne, segurando as mãos na boca. -- Mandou que elas fizessem isso?
—Nunca! —Afirmou Logan rapidamente. —Elas estavam mais do que dispostas a serem compartilhadas com outros homens. Garanto que elas sonhavam em deitar com vários amantes de uma só vez.
—Então? Se nenhuma delas reclamou quando as compartilhou, o que o angustia? O conde quer revelar seu segredo? É por isso que diz que ele o chantageia? -- Ela insistiu com angústia. Conhecia essa dupla moralidade aristocrática. Todo mundo falava sobre isso, e embora esse tipo de relacionamento fosse um rumor suculento, não tinha dúvida de que Logan não seria o primeiro aristocrata a praticar esse tipo de imoralidade.
—George e eu cometemos um erro grave -- explicou Logan.
Ele se virou e caminhou até à lareira. A luz daquelas chamas iluminava seu corpo. Seu pelo áspero encaracolado, que desenhava uma linda e sedutora linha do peito até a pélvis, a largura dos ombros, as pernas grandes e fortes, os músculos ásperos dos braços e do sexo, ainda rígido de excitação, se apresentavam diante dela com vontade absoluta. Logan despiu seu corpo, agora estava faltando que também despisse sua alma.
—Qual? —Ela quis saber. Embora seu jogo estabelecesse certa distância, Anne não podia ficar longe dele. Com um passo muito lento, ela se aproximou de Logan até que seu nariz pudesse inspirar aquela fragrância masculina que a surpreendia. Muito lentamente, colocou as mãos em suas costas e acariciou com as pontas dos dedos. -- Qual foi o seu erro, Logan?
—Incluir uma serva do conde nas nossas perversões. -- Ele inclinou a cabeça para trás, fechou os olhos e prendeu a respiração quando sentiu o toque suave das pontas do dedo em sua pele.
—O que aconteceu? —Ela acrescentou a boca àquelas carícias suaves.
Seus lábios beijavam lentamente diferentes lugares das costas fortes, criando sons sugestivos que, por um momento, fizeram Logan permanecer em silêncio para apreciá-los.
—O conde sempre foi um homem muito rigoroso. Desde que sua
esposa morreu, nenhuma mulher tomou o seu lugar. Ele adotou uma moralidade religiosa tão severa e rigorosa que não era capaz de consentir em certas liberdades. Logicamente, desde que ele acolheu George sob sua proteção, tentou educá-lo sob essa ética severa. Então rapidamente descobriu que seu sobrinho e a criada tinham um idílio. Furioso, irritado por não ter doutrinado bem o sobrinho, o conde concebeu um plano para submetê-lo, à força, aos seus desejos. Mas seu propósito magnífico se mostrou mais frutífero do que ele esperava... -- Logan apertou os lábios com tanta força que eles empalideceram. Ergueu seu corpo, totalmente tenso, como um homem que espera com honra a chegada da morte. No entanto, o fato de que Anne continuou a beijá-lo com tanta devoção o fez relaxar a ponto de se tornar uma poça de gelo derretido. Ele engoliu em seco, fixou os olhos no fogo e continuou:—Até aquele dia, ele me inundou com um número infinito de propostas de compra suculentas, mas as rejeitei porque nunca quis me livrar dessa casa. Já lhe disse no celeiro que a reconstruí com minhas próprias mãos e tudo o que encontrou dentro consegui através de um grande esforço.
-- As palmas de Anne se subiam e desciam sem descanso e sentiu que aqueles movimentos leves continuavam a aplacar sua inquietação. Como ela poderia estar ao seu lado ouvindo tal atrocidade? Por que não o deixava sozinho com seu sofrimento? Talvez houvesse uma pequena possibilidade de estarem juntos... —No mesmo dia em que concluí a restauração, George
apareceu enfurecido. Seu tio o castigara novamente por ter quebrado uma de suas muitas regras. Nada poderia tranquilizá-lo, nem mesmo as duas garrafas de conhaque que ele engoliu enquanto me contava a humilhação e a dor que sentiu quando o chicoteava na frente dos criados. Então ele confessou que Burkes havia deixado sua casa para compartilhar mais uma noite de moralidade com o juiz Clarke e o pároco Madden. Então tive a brilhante ideia de perguntar se a donzela estaria disposta a nos oferecer uma noite divertida.
A emoção que George mostrou em seu rosto corroborou minha decisão.
Laxton costumava fugir de todos os seus problemas e preocupações depois de uma sessão de sexo tórrido e juro que ele precisava daquela noite...
—E...? Fez isso?
O tom de voz de Anne não expressava ódio, nem nojo, nem mesmo um ligeiro sentimento de ódio. O que transmitiu em sua pergunta foi tristeza. O mesmo que uma mãe mostraria por descobrir que seus filhos fizeram um mal que causaria um problema sério. Essa atitude fez Logan mais forte e ele abandonou toda a tristeza que sua revelação sombria lhe causava.
Talvez houvesse uma possibilidade de que ela perdoasse tudo o que fez no passado, mas... poderia suportar toda a verdade?
—Sim, nós fizemos, e nós dois caímos na armadilha que o conde planejou -- ele disse asperamente. -- No meio da orgia, no momento em que ambos estávamos possuindo a mulher, a porta da sala se abriu e três pares de
olhos nos observaram: o conde, o juiz e o pastor.
—Meu Deus! —Exclamou Anne horrorizada.
—Sim, foi o que o pároco gritou quando descobriu o que estávamos fazendo ali dentro -- ele disse sarcasticamente.
—O que aconteceu depois? -- Ela estava interessada, agarrada a sua cintura forte com mais ímpeto. Tentando mostrar naquele ato de afeto que, apesar de tudo, continuaria a apoiá-lo.
—Burkes ordenou ao sobrinho que se retirasse para seu quarto e me obrigou a ter uma reunião com as outras testemunhas. Quando me vesti e entrei na biblioteca, custodiado por seu mordomo, ele começou a me insultar e me culpar pela imoralidade de George. Colocou o juiz e o pároco contra mim, embora não tivesse que fazer muito para isso também. Eles já haviam me condenado à morte desde que viram nós três na sala. Então, depois de ouvir todas as acusações, tentei me defender... -- Ele suspirou novamente e fixou os olhos no fogo. -- Não pude expor nada do que pensava no caminho para aquela maldita sala. O pároco Madden trouxe a vida libertina de meu pai e os rumores sobre a descendência que ele gerou. O juiz Clarke se juntou a essas acusações. Apontou o dedo para mim e me avisou que perguntaria sobre minha verdadeira origem, porque, como havia ouvido de um juiz de Londres, o falecido marquês de Riderland e a falecida marquesa assinaram minha certidão de nascimento quinze anos depois de eu nascer. O pároco
também acrescentou sua versão daquela estranha negligência, segundo a qual a marquesa nunca pronunciou meu nome quando aparecia em sua paróquia para confessar seus pecados. Parece que o único nome que saia de sua boca era o de Charles, o filho que morreu bravamente para salvar algumas crianças pobres de uma casa queimada pelo fogo.
—Me lembro dessa notícia... -- Anne sussurrou, descansando uma bochecha em suas costas largas. -- Minha mãe não parou de falar sobre o que aconteceu e exaltou o heroísmo de seu irmão.
—Meu irmão? -- Retrucou Logan se afastando dela. —Esse não era meu irmão!
—Logan... -- ela sussurrou, olhando para ele com tanta tristeza e pena que seu coração afundou.
—Não, não era! -- Ele assegurou sem rodeios —Sabe quem realmente era esse filho do demônio? Um louco! Um perturbado! Foi ele quem causou o fogo! Ele queria ver todos os filhos ilegítimos de seu pai queimados no fogo! E entre aqueles bastardos estava eu... -- ele confessou antes de abaixar os olhos e fixá-lo no chão.
—O que?! -- Ela perguntou, arregalando os olhos. Levou as mãos trêmulas ao peito para aplacar a batida rápida de seu coração. Suas pernas começaram a perder força e tudo ao seu redor começou a se mover.
Estava tonta e sufocada, porque também não podia respirar. Logan era um
filho ilegítimo do Marquês? Impossível!
—Que eu sou uma desova, Anne. Sou uma criança indesejada...
-- ele disse com firmeza. -- Nunca ouviu as histórias descaradas do meu pai? -- Ela negou com a cabeça enquanto andava para trás. Quando sentiu nas solas dos pés a maciez do carpete colocado em frente à lareira, flexionou os joelhos até que sentar no carpete. —Pois o muito condenado sujeitava todas as mulheres que ele desejava a seu prazer. No meu caso, teve a terrível audácia de aceitar a proposta que os pais da minha mãe de verdade ofereceram para que pudessem ficar em uma de suas terras, ricas para cultivo e para caçar. Sabe quem mantém uma vida nômade? Pode ter uma ideia de quem minha mãe poderia ser?
Ao ouvir essas perguntas, Anne abaixou a cabeça e se abraçou com força. O que ouvia não podia ser verdade. Logan estava mentindo!
Mas... com que propósito? Para tê-la? Por quê? Ele não perdia mais do que ela, revelando esse fato? Muito lentamente, ela ergueu o queixo e quando viu o rosto de Logan, ficou sem fôlego. Não encontrou nada que indicasse que estava mentindo. A expressão daquele olhar triste e agonizante declarava que ele estava dizendo a verdade. Ele não queria despir sua alma? Bem, aí estava.
O homem que ela amava confessava seu passado. Um que ela nunca teria imaginado, mas com o qual sonhou mais de uma vez. Agora a última peça daquele quebra-cabeça incompleto estava em sua mão, faltava apenas que ela
pudesse encaixá-la com as outras.
—Vejo que não quer me responder... sente tanta repulsa por confessar que sou filho de uma cigana? Só ama o visconde? -- Ele disse com um grunhido áspero.
—Realmente acha que posso sentir repugnância conhecendo sua verdadeira origem? Eu? -- Gritou fora de si. -- Esqueceu o sangue que corre nas minhas veias? -- Se aventurou a atacá-lo, levantando-se com tamanha bravura que seus tendões doíam.
—Sinto muito, não estou falando corretamente -- murmurou inclinando a cabeça para o chão, mostrando tanta submissão que Anne queria tirá-lo desse estado de desânimo com uma grande bofetada.
—Não sou aquele que negou suas origens! Não sou aquele que mentiu!
—Eu... eu não queria fazê-lo -- ele disse finalmente levantando o rosto até que seus olhares se encontraram. -- Juro pela minha vida que, desde o primeiro momento, quis tornar público quem era minha mãe, mas Roger me impediu.
—Por quê? É ele quem rejeita suas origens ciganas? Te obrigou a permanecer em silêncio? É por isso que o falecido marquês assinou sua certidão de nascimento? Seu grandioso irmão não queria manchasse o honrado seu título?
—Não! -- Ele gritou andando em direção a ela até que estavam tão perto que o calor do corpo de Anne, provocada pela raiva, aqueceu o seu, gelado por esse ataque de bravura.
—Não o entendo, Logan! -- Ela exclamou, levando as mãos ao rosto para esfregá-lo com desespero. -- Realmente não entendo a atitude dos aristocratas! O que queria? Por que não deixou revelar quem era? Que impacto teria outro filho ilegítimo? Existem centenas!
—Isso destruiria tudo aquilo que fez... -- ele apontou suavemente.
—Quer dizer sua vida social bem-sucedida? -- Ela disse em voz alta.
—Não! Roger sempre lutou contra todos os benefícios que lhe davam o título de Marquês! -- Se esforçou para esclarecer.
—Então... o que foi? O que ainda está escondendo, Logan? --
Ela disse com firmeza.
Lentamente, Logan olhou para as mãos de Anne, que tremiam com o estado de raiva, entrelaçou os dedos dela com os seus, levou-os até os lábios e beijou-os um a um.
—Quando Roger era criança, descobriu algo tão macabro que o forçou a se afastar de seus pais. Tanto o marquês como a marquesa o deram como morto e educaram Charles, seu irmão gêmeo, para que um dia
ostentasse o título -- começou a narrar enquanto colocava as mãos de Anne sobre o peito para que sua respiração e os batimentos cardíacos confirmassem a veracidade da história. -- Ao retornar, muitos anos depois, os marqueses uniram forças para aniquilá-lo, mas graças à piedade de seu mordomo, conseguiu sobreviver. A partir daquele dia, jurou destruir seus pais e havia apenas uma maneira de fazê-lo.
—Qual? -- Era a primeira vez que os olhos de Logan brilhavam com lágrimas. Aquele homem vulnerável que encontrou ao entrar no escritório havia retornado. No entanto, não o deixaria sozinho. Desta vez, ela estava ao seu lado para ajudá-lo a lutar contra os demônios que o atormentavam.
—Com o dinheiro que recebeu por suas viagens, reuniu uma fortuna suficiente para construir aquela residência que foi destruída pelo fogo. Ali permaneceram mais de trinta filhos bastardos por um longo tempo.
Ele nos mantinha protegidos da marquesa.
—A marquesa sabia das infidelidades do marido? -- Ela retrucou espantada.
-- Sim, porque muitas das mulheres que mantinham relações com ele apareceram meses depois, carregando em seus braços o fruto daquelas escapadas românticas.
—O que ela fez? -- A expressão de Logan endureceu e seus
olhos escureceram para se tornarem as próprias asas de Astennu. -- Não me diga que os matou? -- Ela disse sem pensar.
—Sim. Até que Roger conseguiu nos salvar, ela ceifou a vida dessas crianças para manter o casamento seguro.
—Então... aconteceu... Charles descobriu... e queria matar todos vocês para que... -- ela tentou dizer. Mas as conclusões a que seu cérebro chegou foi mais rápida do que sua capacidade de falar e foi incapaz de realizar uma frase completa. -- Oh, meu Deus! -- Ela exclamou antes de romper o pranto que havia segurado.
—Calma Anne -- ele tentou acalmá-la abraçando-a com força. --
Muitos de nós foram salvos graças a Roger e ele conseguiu, com a ajuda do Duque de Rutland e do Barão de Sheiton, construir outra residência onde pudéssemos viver.
—Qual é a sua história, Logan? -- Ela perguntou se afastando de seu amado para olhar seu rosto e embalá-lo em suas mãos. -- O que aconteceu com sua mãe? Foi ela quem o levou até Roger?
—Não. Ela não pôde me levar porque morreu no parto -- ele declarou em uma voz estrangulada. —Era uma menina quando ficou grávida, mal tinha completado 14 anos e não suportou o parto. Sua mãe…
—Sua avó -- O corrigiu.
—Não posso chamá-la assim, Anne. Vê a cicatriz no meu peito?
—Ela direcionou o olhar para aquela marca e, depois de tirar a mão daquele rosto aflito, acariciou-a devagar. —Tentou me matar. Talvez tivesse conseguido se a mulher que me criou não a tivesse seguido até a floresta onde, depois de me rasgar com uma adaga e confirmar que meu sangue chamaria as feras para me dar um fim, me abandonou. Shara sabia que, quando voltasse para a colônia comigo em seus braços, sofreria a ira daquela mulher perigosa, mas não se importou. Teve que passar por uma dura punição por se atrever a desafiar a feiticeira, a essa avó que deseja que nomeie. Mesmo assim me assumiu com integridade por seis anos. A partir daquele momento, quando observou que todos os membros do clã também eram cruéis comigo, nos afastamos da colônia e vagamos até que um visconde nos acolheu. Ela se tornou uma serva e eu era o bastardo triste de um homem que ninguém conhecia. Só soube que o marquês de Riderland era meu verdadeiro pai quando Shara adoeceu. Antes de morrer, continuou a lutar por minha vida e não deu seu último suspiro até que Roger lhe jurou que eu estaria a salvo ao seu lado.
—E manteve sua palavra -- murmurou Anne, abraçando-o com força.
—Sim -- disse Logan, se deixando abraçar, se permitindo finalmente sentir alguma calma em sua alma inquieta. Tenho que continuar protegendo o segredo, Anne. Não posso destruir tudo o que Roger fez por
nós. Devo assumir a condenação que eu mesmo ganhei com o conde. Se continuar pagando por tudo que me pede, se de uma vez por todas vender Harving House... meus irmãos não sofrerão mais humilhações e o trabalho de Roger continuaria a ser protegido.
—Maldito filho da puta! -- Gritou Anne, se lembrando da chantagem do conde. Afastou-se de Logan e começou a andar pelo escritório.
-- Quero matá-lo! Quero estrangulá-lo com minhas próprias mãos! --
Declarou erguendo os braços e entrelaçando os dedos como se de fato o pescoço do velho Burke permanecesse entre eles. —Não vai desistir, certo?
Quer vê-lo humilhado e destruído! -- Ela berrou. -- Bem, ele não vai conseguir! Aquele porco não sabe quem são as Moore! Escreverei uma carta para minha mãe e pedirei que ela se apresente o quanto antes. Certamente, entre todos podemos traçar um plano que possa destruí-lo. Por nossas veias corre sangue maldito, muito perverso -- disse ela estreitando os olhos. --
Sabe quem foi minha avó? Jovenka! Uma cigana que esterilizava a terra que tocava seus pés!
—Anne... Por favor... pense um pouco, querida. Nós não podemos enfrentá-lo. Não só a reputação de meus irmãos estará em perigo, mas sua família estará envolvida nessa atrocidade. Não vou arrastá-la também! Tenho que aceitar minha culpa!
—Sua culpa! Como declara esse absurdo, Logan Bennett,
visconde de Devon, irmão do idolatrado marquês de Riderland? -- Acha que seu irmão lhe daria uma tapinha nas costas e apoiaria essa decisão? Onde está esse sangue cigano que banha suas veias? Renunciou tanto a ele que não existe mais em você?
—Não! Claro que não! -- Ele berrou. -- Mas... o que eu posso fazer?
—Lutar! -- Ela gritou, erguendo o punho direito. -- Como todos os nossos ancestrais lutaram.
—E como quer que façamos isso, querida? Na festa? -- Disse mordaz.
—Que festa? -- Ela fez a pergunta com uma voz calma, como se de repente toda aquela fúria se libertasse de seu corpo.
—George me trouxe um convite que não posso recusar—ele murmurou. -- Também me disse que se alguém descobrir sua presença em Harving, os rumores sobre minhas perversões aparecerão novamente e vocês...
—Nós estaremos desonradas -- Anne terminou a frase cerrando os punhos. -- O que planejou fazer? O que quer que façamos?
—Disse à Laxton que minha noiva...
—Noiva? -- Ela interrompeu. -- Que noiva?
—Você. Quem mais poderia ser? -- Ele disse, dando passos
largos até ela. —Sabe que te amo, Anne, que quero me casar com você porque, como descobriu, a maldição da qual tanto teme romperá comigo.
—Nos casarmos... —Ela murmurou abaixando o rosto.
Surpreendida pela magnitude que originava essa simples palavra.
—Não quer fazer isso? Não me ama como eu te amo? -- Ele perguntou, notando como outro nó apareceu em sua garganta.
—Sim, amo você, Logan. E posso assegurar-lhe que, depois de saber quem realmente é, o desejo de me tornar sua esposa aumentou.
—Então? O que a impede de fazê-lo? -- Ele disse, erguendo seu queixo com dois dedos.
—Não sei se posso te dar o que precisa... -- ela declarou olhando-o nos olhos.
—E o que, de acordo com você, eu preciso? -- Ele retrucou, arqueando as sobrancelhas escuras.
—Não posso... nunca conseguiria... não seria capaz de...
—Anne -- ele sussurrou, roçando com a boca esses lábios trêmulos. -- O que não poderia, meu amor?
—Não poderia colocar outro homem na minha cama -- declarou ela aterrorizada.
—Não vou consentir com isso! Você é minha, Anne Moore! Só minha! -- Ele esbravejou antes de submetê-la a um beijo tão possessivo que
não deixava dúvida de que seu futuro marido não a compartilharia com ninguém.
XXXIII
No dia seguinte, depois do café da manhã, Logan chamou todo o serviço na sala de jantar. Por causa da inquietude em seus rostos, Anne supôs que eles estavam desconfortáveis com a aparição do sobrinho do conde. No entanto, a incerteza foi transformada em júbilo ao ouvir a notícia de seu compromisso. Eles não pareciam surpresos, mas aliviados, algo que intrigou Anne. Eles não conseguiram manter o relacionamento em segredo? Temia que não, porque as expressões de alegria da Sra. Donner a fizeram entender que eram, em mais de uma ocasião, testemunhas silenciosas de seu romance.
Josh abraçou Logan e depois a beijou inúmeras vezes. A única pessoa que não parecia gostar da notícia era Elizabeth. Quando ela se levantou da cadeira e saiu da sala, Logan a seguiu com um passo firme.
—Não faça nada -- disse Josh enquanto tentava se levantar. Deve deixá-los sozinhos. Eli precisa assimilar que você alcançou seu sonho idílico.
Esse comentário a entristeceu. Nunca imaginou que se tornaria esposa de um aristocrata e que um dia seria uma marquesa. No seu caso, só queria se afastar de sua família para não a machucar mais. Por que o destino era tão caprichoso? Como diabos ele os juntou? Alguma vez pensou que amaria um cigano com uma mistura de sangue azul? Essa pergunta a fez sorrir. Não, é claro que nunca sonhou em se casar com um homem que
escondia a selvageria dos ciganos e não imaginava que ele era tão apaixonado...
Depois de muito tempo, Logan voltou para a sala sustentando o braço de Elizabeth. O olhar dela havia mudado e sua atitude também. Uma vez que se sentou na cadeira, colocaram o plano em movimento.
—Nós não podemos aparecer sem um acompanhante -- disse Elizabeth depois de ouvir a história estudada do visconde. -- Isso os faria pensar que está mentindo para eles.
—Está certa —Logan bufou. —Não seria apropriado que aparecessem sem uma presença respeitável —acrescentou ele mordaz.
—O que acha, milorde, se transformarmos a Sra. Donner numa tia distante da senhorita Moore? Eu poderia me tornar seu filho e ela poderia ser uma viúva —esclareceu.
Quando Howlett, que não parou de produzir palminhas desde que soube que o visconde se casaria com Anne, ofereceu essa alternativa, todos os olhos se voltaram para ele.
—É uma ideia fantástica —admitiu Logan. —O que acha, Sra.
Donner? Gostaria de se tornar a tia dessas meninas adoráveis?
—Milorde, me sentiria muito honrada em desempenhar esse papel, mas não sei se posso convencê-los como desejam. Minhas mãos estão... -- Ela tentou dizer, estendendo as palmas para o seu senhor.
—Isso não será um problema —disse Elizabeth. -- As senhoras sempre cobrem as mãos com luvas de seda.
—Mas eu também não sei dançar, se alguém tentar ter uma conversa culta comigo... -- ela murmurou desconfortável.
—Sobre o tema da dança, não se preocupe, poderá fingir que se sente fatigada pela idade —respondeu Elizabeth novamente. —E sobre as conversas, devo confessar que nenhum cavalheiro ousará pedir sua opinião sobre uma questão importante. Estou certa de que falarão sobre o clima, sobre a esplêndida festa que o anfitrião ofereceu, sobre as deliciosas iguarias que oferecerá a seus convidados e a magnífica repercussão social que o conde obterá quando a noite acabar.
—Somos tão previsíveis? —Logan exclamou zombeteiro. Cruzou os braços e se inclinou descuidadamente em um canto da lareira de pedra ambarina.
—A aristocracia é simples demais, qualquer um poderia se apresentar como um deles se adotasse esse comportamento tolo —disse Eli, levantando o queixo e olhando para ele sem piscar.
Naquela rude declaração, Anne olhou para Elizabeth como se fosse aniquilá-la, mas a risada de Logan fez com que apagasse esse desejo maquiavélico.
—Está certo, Eli! Somos tão simples que qualquer um pode se
passar por um de nós! -- O visconde acrescentou sem parar de rir, descruzou os braços e caminhou em direção à jovem para lhe dar um terno beijo no lindo penteado que usava naquela manhã.
Quando a atmosfera ficou mais fluida e relaxada, Logan e Anne informaram a todos sobre suas novas tarefas e começaram a trabalhar.
Howlett e Elizabeth foram encarregados de instruir a cozinheira. Embora em mais de uma ocasião, ouviram os gritos desesperados que a pobre mulher produzia ao se submeter aos mandatos do valete. Josh, para seu pesar, teve que visitar, junto com Anne, uma costureira para fazer um vestido para ela. A primeira vez que ela viu a intrépida Moore vestindo uma roupa tão feminina, não soube se expressava mais horror o rosto da vendedora ou de sua irmã.
—Onde posso esconder o punhal? -- Ela comentou enquanto observava o tecido, os babados e as rendas.
—Não terá que levar nada. Lembre-se de que estamos indo a uma festa e que nosso trabalho é mostrar um caráter gentil e educado -- Anne disse em um tom firme.
—A liga é ideal para um punhal curto -- sussurrou a assistente da loja em seu ouvido ao fixar o babado no ombro direito. Tenho clientes que me pedem certas restrições nas meias...
Essa revelação e a cumplicidade que a costureira lhe ofereceu fizeram com que Josh relaxasse e acabasse pedindo-lhe duas boas restrições
para suas pernas.
Marco, o administrador, também se juntou ao plano. O propósito dele era proteger as irmãs enquanto o visconde se encontrava com o conde.
Embora permanecessem protegidas pela Sra. Donner e Howlett, Logan não queria que o juiz ou o pastor tentassem se aproximar delas para realizar algum truque sutil. Precisava controlar tudo...
O mais engraçado daqueles dias foi o momento em que ele o apresentou a Elizabeth e ao seu fiel companheiro. Os olhos de ambos se arregalaram tanto que poderiam escapar de suas órbitas. Marco mostrou uma figura solene com seu terno sob medida e a última moda, e este exaltou suas tão exóticas características espanholas. Presumivelmente, Eli adotou o comportamento sedutor até descobrir que ele era um simples administrador.
No entanto, o interesse do valete nele aumentou, deixando bem claro que queria seduzi-lo. Embora Logan tentasse mantê-lo longe dele, Howlett procurou desculpas absurdas para chamar sua atenção e o visconde, notando que Marco não o evitava, e sim desejava acalmar todas as preocupações de seu criado, desistiu de seu propósito. Quem era ele para lutar contra o amor de dois amantes?
Durante as noites, e embora a Sra. Donner tivesse decidido não dançar na festa, Kilby insistiu em mostrar-lhe a beleza da dança. Nesses momentos, todos descobriram que o mordomo sentia alguma atração pela
cozinheira e que escondeu até que a mão esquerda do fiel empregado se instalou na cintura da mulher com determinação.
Tudo estava preparado. Nem um único detalhe foi deixado sem revisar. Só esperava que a festa saísse tal como haviam planejado.
—Nervosa? —Logan perguntou a Anne uma vez que eles se acomodaram na carruagem. Ele a observou como se fosse seu maior tesouro, sua deusa, e sorriu quando decidiu colocar todos os acessórios que tinha em laranja. Parecia que os brincos, o colar e a pulseira que brilhava toda vez que ela movia o pulso os transformavam em amuletos da sorte.
—Você não está? -- Ela respondeu, olhando para ele surpresa.
—Vou dar por encerrado a extorsão que sofro há vários anos, vou à luta para salvaguardar a honra da minha família, vou apresentar minha futura esposa a sociedade e tenho que tirá-la de lá sã e salva, isso deveria me perturbar? -- Disse matreiro.
—Não, claro que não -- disse Anne, sorrindo amplamente. --
Um cigano nunca se curvaria a problemas menores.
—Disse bem, querida, disse bem... -- Logan declarou antes de perceber como a mão esquerda de Anne pressionou a dele e como a pulseira laranja os unia ainda mais.
***
—Isso é chamado de lar? —Elizabeth gritou quando saiu da
carruagem com a ajuda de Howlett, que logo retornou com Marco. A jovem olhou para a residência do conde e abriu bem os olhos. Austero, mesquinho, ridículo e vulgar foram às palavras que apareceram em sua cabeça quando contemplou aquele terreno. -- Agora entendo o motivo dele querer comprar Harving House -- disse ela à Logan. -- Este lugar é sombrio e apertado. Não é capaz de investir parte de sua fortuna suculenta para consertar o jardim? As flores estão murchas! -- Ela acrescentou furiosa.
—É a primeira vez que vou dizer isso, Eli, então ouça bem --
falou Josh, lutando com a saia de seu vestido de seda verde-esmeralda. --
Tem razão. Isso é abominável mesmo para mim. Nunca vi um lugar tão repulsivo. O conde quer fazer o mesmo com a Harving House? Porque tenho certeza que ele vai abandoná-la ao seu destino...
—O que ele quer é comprá-la por menos do que custa --
resmungou Logan -- e depois vendê-la pelo triplo.
—Não vai deixar, certo -- Perguntou Howlett, horrorizado. --
Levei muito tempo para encontrar aquelas cortinas de ovelhas irlandesas suaves e elegantes para essa crápula as transformar em trapos de cozinha.
—Não -- Bennett disse com firmeza. -- O conde não alcançará seu propósito. É por isso que estamos aqui, para consolidar minha recusa.
—Realmente acha que explicar que se casará com Anne e que quer usá-la como uma segunda casa fará mudá-lo de ideia? —Josh perguntou,
sem tirar os olhos do visconde, colocou as mãos furtivamente em ambos os lados de suas coxas para se certificar de que as adagas estavam no lugar.
—Tenho certeza de que o conde desistirá quando explicar que uma futura marquesa, que dará à luz uns seis filhos fortes e robustos, precisará dessa residência para educá-los sob a moralidade adequada.
Lembre-se de que esse homem acha que Londres é uma cidade dedicada a uma catástrofe social por causa da perversão de seus habitantes -- assinalou Anne, estendendo a mão a Logan para acalmar a inquietude que dizia não ter.
-- Deve recusar qualquer conversa sobre virtude, economia, origens ciganas, a popularidade do nosso pai e se alguém lhe perguntar a razão pela qual ele não veio, tem que indicar que...
—Que foi a um congresso muito importante para sua carreira profissional e que nossa mãe chamou tia Gerthudies e nosso querido primo para nos acompanhar nesta viagem -- recitou Josh aborrecida.
—Preparados? —Logan perguntou, pouco antes de pisar no primeiro degrau daquela escada de pedra rachada que os levaria à entrada principal.
—Sim! -- Todos responderam em uníssono.
O mordomo do conde, aquele que custodiou Logan na noite da trama, os recebeu minutos depois de bater na porta. Dois servos estavam encarregados de recolher seus casacos. Então, eles caminharam rapidamente
pela galeria à esquerda. Logan olhou para Marco e acenou para ele. O
administrador entendeu rapidamente e ficou do lado direito, vigiando a entrada das mulheres. Respirou fundo para acalmar o estado de agonia que não queria mostrar a Anne, pôs a mão no antebraço e ficaram na entrada da sala até que outro criado os anunciou.
Definir esse grupo de quatro músicos como uma orquestra era dar-lhes uma categoria muito alta. Os quatro homens colocados no canto não conseguiam pegar o compasso. Mas os participantes não deveriam se importar com esse ritmo desequilibrado porque estavam ocupados demais olhando a decoração desastrosa que os rodeava. O conde já havia dado a entender, pelo lado de fora da casa, o que encontrariam dentro, mas nenhuma das irmãs imaginou esse horror. Uma coisa era certa, o chão brilhava e o candelabro de cristal pendurado no teto a luz das velas, que emitiam um cheiro pútrido de um bezerro morto, iluminavam o salão. Logan olhou para Anne e ela sorriu para ele. Não havia dúvida de que o conde preparara essa cerimônia rapidamente. Talvez inclusive no mesmo dia que o sobrinho lhe entregou o bilhete. Possivelmente pensou que o visconde não se atreveria a aceitá-lo e, em resposta à sua resposta afirmativa, ordenou que seus poucos serventes a preparassem com urgência. Certamente esses quatro não fossem realmente músicos e sim empregados que, durante três dias, aprenderam a soprar um instrumento de sopro e a quebrar as cordas de um triste violino.
Sim, provavelmente seria isso...
Josephine fixou os olhos nas quatro paredes do salão e prendeu a respiração ao descobrir que as sete pinturas gigantescas tinham o mesmo rosto. Mudaram os fundos, as formas de seus vestidos pretos, mas aquele semblante sério, rígido e implacável aparecia em todos eles. Não entendia como os convidados podiam conversar com facilidade, enquanto sete pares de olhos ferozes os observavam como se quisesse lançar um raio fulminante contra eles. Inconscientemente, levou as mãos aos punhais e acariciou-os.
Não hesitaria em usá-los se suas vidas estivessem em perigo...
Elizabeth notou como a Sra. Donner pressionava os dedos no seu braço e puxou-a para lhe dizer alguma coisa. Uma vez que confirmou que ninguém estava olhando para elas, inclinou a cabeça para a mulher.
—Como vou falar sobre os assuntos que me sugeriram? -- Ela murmurou apavorada. —Não é uma grande cerimônia, a sala é sombria e receio que a comida nos deixará doentes. Eu nunca conheci um conde com tanta ruindade e miséria. Os ternos dos servos foram remendados várias vezes, a madeira não é devidamente tratada, por isso estaremos cercados de verme da madeira, castiçais, bandejas e receio que os talheres não sejam de prata, os copos em que bebem os escassos trinta convidados não brilham e esse cheiro... -- Ela franziu o nariz ligeiramente. O jantar foi queimado?
—Pode falar sobre o tempo —sugeriu Eli, concentrando-se em
não rir. Estendeu o leque e tentou se acalmar com o frescor que proporcionava.
Era verdade o que a Sra. Donner argumentava. Nada naquele lugar era digno de um conde, a menos que estivesse arruinado, e esse não era o caso, porque ele queria comprar a Harving House. Engoliu em seco quando olhou para as cortinas. De que século eram? A sujeira que mostravam e as tirinhas de baixos indicavam que não só tinham permanecido naquele lugar durante muitos anos, mas também tinham sido testemunhas de uma dura guerra.
—Do tempo? —A senhora Donner insistiu.
—Lembre-se que em breve mais chuva virá e aquelas pobres flores finalmente conseguirão um pouco de água.
—Água? -- Ela perguntou, puxando-a ainda mais. -- Não teremos a infelicidade de que chova enquanto permanecermos nesta sala, certo? Porque não tenho a menor dúvida de que este conde avarento não tenha reformado os telhados desta pocilga e nós teremos que beber um vinho rançoso enquanto evitamos a água das goteiras.
A risada de Elizabeth soou acima da música estridente. Esse ato sorridente e súbito chamou a atenção dos convidados e todos as encararam.
Logan e Marco ergueram suas figuras grandes e fortes. Josh levou as mãos de volta ao lugar onde os punhais estavam escondidos e Anne, depois de olhar
para Elizabeth intrigada, suspirou profundamente e desceu as escadas ao lado de seu noivo.
—Sinto muito... -- ela se desculpou.
Era a primeira vez que não controlava seu comportamento em uma reunião social, mas o comentário da cozinheira foi tão espirituoso que não pôde segurar o riso. Ainda sentindo os olhares sobre ela, tentou se esconder entre Howlett e Josh.
—Lorde Devon, quanto me alegro em vê-lo! -- Exclamou o conde, desenhando um sorriso pérfido. Ele caminhou em direção a eles, levantou a mão direita e esperou que ela fosse aceita.
—Lorde Burkes... —Logan respondeu, separando-se de Anne para aceitar aquela saudação hostil. -- A honra é nossa por nos convidar para sua casa.
—Como poderia me privar da sua presença e da sua... noiva? --
Ele retrucou, olhando para Anne com os olhos apertados.
—Senhorita Moore, apresento o conde de Burkes. —Logan colocou a mão esquerda na parte inferior das costas de Anne com a mesma determinação que Kilby colocou sobre a Sra. Donner. Esse ato de posse deve ter deixado claro que não estava mentindo e que a conversa que teve com George era verdadeira. Mas sabia que o conde não desistiria tão facilmente, em que momento da cerimônia ele mostraria sua verdadeira personalidade?
—Prazer em conhecê-lo, milorde —Anne o saudou, fazendo uma suave reverência.
—Igualmente senhorita Moore. Imagino que elas sejam suas amáveis irmãs, certo? Já ouvi falar das filhas Moore. -- Depois de suas palavras, seus olhos negros olharam para a Sra. Donner e um sorriso maligno foi desenhado.
-- Sim, elas são minhas irmãs, minha tia, viúva, a Sra. Yenkis e meu primo, o Sr. Yenkis. Espero que a informação que teve sobre nós o tenha agradado -- respondeu Anne, que sutilmente moveu seu corpo com elegância para se separar da Sra. Donner.
—Sim, tanto quanto o que ouvi de seu pai -- assegurou o conde, sem apagar aquele sorriso pernicioso. -- Segundo minhas fontes, não demorará muito para se tornar um dos dez médicos mais importantes de Londres.
—Ainda não é? -- Anne perguntou rapidamente quando ouviu Josh rosnar. Agradeceu a sua mãe criadora por não carregar nenhuma arma escondida, porque tinha certeza de que ela o teria matado naquele momento.
—Receio que não, senhorita Moore —respondeu o conde grosseiramente.
—Bem então, rezemos para que nossas súplicas sejam ouvidas por nosso Deus e que um dia consiga —alegou com aparente desalento
enquanto fazia o sinal da cruz.
—São religiosas? -- Burkes perguntou, arregalando os olhos.
—Dedicadas, milorde. Nossos queridos pais foram capazes de nos educar sob a magnificência que nossa religião supõe e devo confessar que nos sentimos muito desoladas aqui. Desde que chegamos a Harving House, meu noivo tem estado tão ocupado com seus deveres administrativos que não pudemos assistir a nenhuma missa. Felizmente, minha querida tia, cuidou da nossa paz espiritual. Embora tenha que confessar que não é o mesmo...
—Entendo perfeitamente -- disse o conde, estendendo o braço para que pudesse acompanhá-lo. —E seus pais... aceitaram com prazer seu compromisso com o visconde? —Ele perguntou quando deram alguns passos.
—Claro! -- Ela exclamou com aparente constrangimento. ?Não acha, milorde, que este casamento será bastante proveitoso para nós? -- Ela acrescentou em voz baixa, como se estivesse revelando um segredo.
—Entendo... —Burkes respondeu com um largo sorriso. —Seus pais são muito inteligentes, senhorita Moore.
—Vamos confiar a Deus para que permaneçam assim com minhas outras quatro irmãs -- disse com aflição fingida.
—Seu pai tem que casar as cinco filhas? —O velho exclamou, arregalando os olhos. Agora ele entendia o desespero do médico por unir a
mais velha de suas filhas com um visconde. Graças ao título que ela teria no futuro, o resto poderia rapidamente encontrar um bom marido.
—Exatamente, milorde. Não gosta de crianças? —Ela perguntou, agitando seus cílios.
—Minha querida esposa, que Deus a tenha em sua glória, tentou me dar vários, mas infelizmente todos morreram logo após o nascimento --
disse ele com tristeza.
—Sinto muito —respondeu Anne, dando-lhe leves palmadinhas no braço.
—Eu também —disse ele antes de levá-la ao lugar onde o pároco e o juiz estavam sentados.
Se queria realizar seu plano, tinha que se concentrar na noiva.
Nenhum homem deixaria sua futura esposa nas garras de seu inimigo. O
visconde ficaria tão obcecado em vigiá-la que deixaria as duas irmãs desprotegidas. Então Lorde Norfolk escolheria a mais vulnerável...
—Acho que deveria tê-la apresentado quando chegou em Harving House —Marco comentou com Logan, que, observando o comportamento gentil entre o conde e Anne, começou a relaxar.
—Se não o conhecesse como conheço, pensaria que Anne o deslumbrou, mas temo que seja uma miragem. Esse verme irá sujeitá-la a todos os tipos de interrogatórios até que atinja seu objetivo —disse ele,
apertando a mandíbula.
—Que será…? —Marco acrescentou.
—Humilhá-la -- ele garantiu antes de caminhar até deles.
Era hora de apagar os medos do passado e encarar de uma vez por todas o presente e o futuro que ele queria viver com Anne.
XXXIV
?Que devemos fazer? —Josephine perguntou à irmã quando estavam sozinhas.
—O normal, neste tipo de celebração, é que a anfitriã nos apresenta aos outros convidados para interagir e conversar. Mas desde que ela está morta...
—Juro que se ela aparecer na nossa frente, eu desmaio —Josh interrompeu, olhando de volta para as pinturas escuras. Teria pensado que aqueles olhos a estavam observando? Pois continuava confirmando essa suposição.
—Seria melhor se nos dirigíssemos para o fundo da sala, onde colocaram a mesa com as bebidas e os deliciosos aperitivos.
—Deliciosos? A cozinheira retrucou, apertando os olhos. Para que os outros convidados não descobrissem o desgosto que seu rosto expressava, estendeu o leque e começou a sacudi-lo, mas Elizabeth a repreendeu com o olhar quando viu que estava agitando-o com tanta força.
—Não temos a obrigação de comer, embora seja aconselhável que mexa a boca de vez em quando, como se mastigasse. O anfitrião pode se sentir ofendido se não aceitarmos sua oferta.
—Realmente acha que estou preocupada com o que aquele
homem mal-humorado pensa de mim? -- Disse Howlett sarcástico. -- Não quero ficar doente amanhã de manhã e ter que viajar de volta para Londres implorando ao cocheiro para parar mil vezes ao longo do caminho.
—Devemos insistir para que ele espere mais alguns dias —disse Eli, referindo-se à decisão do visconde de sair de madrugada. —Amanhã não conseguiremos acordar cedo. As cerimônias geralmente duram muito...
—Isso seria em uma festa que é nomeada como tal, mas... não vê o que eu vejo? —Howlett insistiu enquanto tentava fazer com que Josh andasse sem tropeçar nas saias do vestido e manter as costas retas.
—Bem, não me importo de acordar cedo para voltar... —Josh murmurou melancólica. —Juro que tenho sido muito feliz andando com Galeón nessas terras, mas anseio por Madeleine. Nunca imaginei que o vínculo entre nós fosse tão forte.
—Não se preocupe, tenho certeza que o Sr. Kilby e o resto do serviço terão tudo pronto para sair de madrugada. Nunca conheci um mordomo tão eficiente —disse a Sra. Donner, abanando-se novamente.
—Meu tio é um homem muito especial —disse Howlett em voz baixa, e sorriu para o constrangimento que esse comentário causou na cozinheira.
—Podemos acelerar um pouco? —Elizabeth perguntou a eles.
Olhou para o fundo da sala e sorriu timidamente quando descobriu que os
olhos de um belo cavalheiro a observavam em silêncio. Quem seria? Por que a contemplava daquele jeito descarado? Intrigada para descobrir, agarrou o braço da Sra. Donner com mais força e arrastou-a.
—Sinto muito, mas não vou provar uma única mordida —disse a mulher com desgosto.
—Portanto, o mais sensato é sair daqui. Se olhar para a direita, encontrará cadeiras que foram colocadas para que as mulheres solteiras e as idosas possam se sentar durante a noite —informou ela.
?Isso é o que eles chamam de cadeiras? —Retrucou a cozinheira, arregalando os olhos. —Os cavalos do nosso celeiro se deitam em fardos de feno mais confortáveis do que isso.
—Talvez essa seja a razão pela qual ninguém se sentou até agora... -- apontou Elizabeth mordaz enquanto continuava olhando para o homem estranho.
—Mas devemos fazê-lo —disse Josh. ?Como nenhuma de nós quer dançar, é melhor sairmos daqui para que não comecem a murmurar sobre nossa estranha atitude, não é, Eli?
—Sim, Josh.
—Mas não quero deixá-la sozinha... —exclamou a cozinheira com algum nervosismo. -- O Senhor tem...
—Não estarei sozinha, Sra. Donner. Howlett me acompanhará em
todos os momentos.
—Tudo bem —hesitou a falsa tia, enquanto Josh agarrava o seu braço para se dirigir até as cadeiras.
—Sei o que pretende —Howlett sussurrou em seu ouvido —e não me parece certo.
—Só quero saber quem é e porque me olha tanto... talvez fôssemos conhecidos no passado...
?E não se lembraria? —Howlett retrucou arqueando uma das sobrancelhas loiras. —Ficaria muito surpreso se um homem assim desaparecesse de sua mente.
—Às vezes acho que lhe permiti muitas liberdades para minha pessoa... -- declarou Eli tomando uma das bebidas que estavam na mesa.
—Também permitirá a esse cavalheiro certas liberdades? -- Ele perguntou depois de se virar para observar Marco conversando com o grupo de homens que cercavam o visconde e sua noiva.
—Que me roube alguns beijos seria muito interessante —disse Elizabeth, olhando novamente para o estranho, que levantou o copo para oferecer-lhe um brinde silencioso.
Josh estava muito inquieta. Embora tivesse se sentado com a Sra.
Donner e falado sobre o que fariam quando voltassem a Londres, nada poderia acalmá-la. Queria que terminasse a noite e a madrugada chegasse
rapidamente. Suspirou profundamente, cruzou as mãos sobre a saia e fixou os olhos na maior janela, a que levaria ao jardim. Não poderia se levantar e caminhar furtivamente para aquela área do salão sem ninguém a observasse?
Porque queria fugir, escapar de todos e sentir a liberdade que a natureza lhe proporcionava. Sem dúvida alguma, seu sangue cigano insistia para que não respeitasse os protocolos sociais e reivindicasse a essência de sua origem.
Olhou para a Sra. Donner com o canto do olho e seu rosto expressava a mesma angústia que ela.
—Gostaria de sair na varanda? —Ela perguntou esperançosa.
-- Será correto? Não sei se deveríamos sair do salão sem a permissão do visconde -- disse ela em dúvida.
—Não ficaremos longe por muito tempo, garanto-lhe, apenas o suficiente para respirar um ar que não exale odor de umidade -- acrescentou, levantando-se.
—Se diz —a cozinheira terminou aceitando.
Mas, assim que as duas estavam indo para aquela janela que as libertaria da pressão que estavam suportando, duas mulheres ficaram no caminho. A mais alta, vestida de luto rigoroso, sorria; a outra, que usava um vestido marrom agressivo, mostrava um semblante áspero como o que Josh havia observado no retrato. Teriam algum parentesco?
—Boa noite, somos a Sra. Clarke e a Sra. Madden. Desculpem
nos por não nos apresentarem, mas nossos maridos —disse, olhando para o grupo de homens conversando com o visconde e Anne —estão tão ocupados que não tiveram a decência de nos apresentar formalmente.
—Isso acontece em eventos tão importantes quanto este --
observou a cozinheira, rezando para que seu comentário fosse preciso. —Sou Gerthudies Yenkis, a irmã do Dr. Moore e ela é minha sobrinha, Josephine Moore.
Deveria estender a mão para cumprimentá-las? Teria feito bem em adicionar o nome da menina? Sem saber muito bem o que fazer ou se havia falado incorretamente, esperou que elas dessem o primeiro passo e quando percebeu que suas mãos ainda estavam no mesmo lugar, agarrou o leque com força.
—Ouvi dizer que seu irmão está se esforçando para se tornar um bom médico —apontou afiada a mulher de vestido marrom, que deduziram ser a Sra. Madden.
—Não têm bons médicos aqui? ?A suposta tia disse, ao ouvir a respiração de Josephine se acelerar.
—Claro! —Exclamou a Sra. Clarke rapidamente. —O Dr.
Phoeby é um bom profissional.
—Então, ele mesmo será capaz de lhe explicar se a fama que meu irmão ostenta em Londres é merecida ou não -- ressaltou destemida.
—Não queríamos ofendê-la, Sra. Yenkis. Só queríamos confirmar que, se um dia viajássemos para Londres e, infelizmente, ficássemos doentes, estaríamos a salvo com os cuidados de seu irmão -- interveio a Sra. Madden.
-- Garanto-lhe que não terá nenhuma reclamação. Ele pode curá
las de qualquer doença -- ela apontou severamente.
—Tia, me prometeu que...
Justo quando Josh ia lembrá-la que momentos antes tinham a intenção de deixar o salão, ficou sem palavras quando viu como uma figura masculina, andando com a ajuda de uma bengala, estava indo em direção a elas. Aquele cabelo de cobre, a mecha loira na testa, os olhos de safira e a boca gloriosa não haviam desaparecido de sua mente... seu corpo se endireitou como se fosse um soldado posando diante de um superior. Seu coração começou a bater com tanta força que ela sentiu o latejar em sua garganta e seu pulso acelerou tanto que ela não conseguiu ficar quieta.
Segurou o braço da Sra. Donner com mais força e começou a fazer algo que não fazia desde que era criança: rezar para sua mãe criadora.
?Boa noite, senhoras. ? Eric Cooper cumprimentou-as com tal cavalheirismo que a Sra. Clarke e a Sra. Madden coraram como se fossem duas moças inocentes. Beijou-as nas mãos e depois esperou em silêncio que uma delas apresentasse as convidadas.
?Boa noite, novamente, lorde Cooper ? respondeu, por fim, a
esposa do juiz. -- Apresento-lhe a Sra. Yenkis e sua sobrinha, Senhorita Moore.
?Encantado... ? Ao perceber que a Sra. Yenkis tremia tanto que não conseguia estender a mão para que ele pudesse beijá-la, como fizera com as outras, juntou os saltos dos sapatos e cumprimentou-a com um aceno solene. ? É uma verdadeira honra conhecê-la pessoalmente, Sra. Yenkis.
Garanto-lhe que ainda estou consternado depois de ouvir o episódio tão dramático que sofreu dias antes de viajar para cá ? disse reverentemente. ?
Nunca imaginei que uma mulher tivesse tanta coragem.
?O que aconteceu? ? A esposa do padre perguntou com uma mistura de curiosidade e surpresa.
?Muito obrigado pelo seu louvor, milorde. Mas entenderá que não quero reviver essa situação novamente. Como meu querido irmão diz, é melhor esquecer todos os problemas para que nosso cérebro não adoeça ?
ela disse com aparente calma, embora o tom de sua voz denotasse o contrário.
? Além disso, não é apropriado falar sobre aquele momento horrível na frente da minha inocente sobrinha. Josephine, querida, apresento Lorde Cooper, filho do...
?Barão de Sheiton ? Eric terminou a frase, sabendo que ela não o conhecia, mas estava atenta na forma como a esposa do juiz se dirigiu a ele.
? Senhorita Moore... ? Ele se referiu a Josh, esperando pela saudação que
desejava desde que a viu entrar.
?Milorde ? disse ela, colocando as mãos em ambos os lados do vestido. Se curvou como uma dama educada, e quando seus olhares se encontraram novamente, ambos despendiam fogo pelos olhos. Os de Josh emanavam raiva, no entanto, os de Eric exalavam desejo.
?Poderia nos contar sua história, Sra. Yenkis? ? A Sra. Clarke insistiu.
?Não deveria ? a cozinheira hesitou. ? Realmente não seria bom para minha sobrinha. Meu irmão cuida muito de tudo o que suas filhas escutam e não ficará feliz em descobrir que eu quebrei uma de suas rígidas regras educacionais ? argumentou a Sra. Donner, adotando, finalmente, o papel que fingia ser.
?Posso ajudá-la com isso, se quiser ? Eric anuiu, olhando para a cozinheira severamente. ? Estou mais do que disposto a convidar sua sobrinha para um refresco enquanto explica a essas senhoras encantadoras como se livrou do homem que tentou agredi-la quando voltava de uma reunião culinária oferecida pela associação de mulheres.
Sabia! Ele sabia! Josh olhou para o rosto amedrontado da Sra.
Donner e apertou os lábios para não gritar. Aquele homem sem coração sabia quem ela era. Como? Onde a conheceu? Por que diabos estava lá? Queria humilhá-la por tê-lo esbofeteado e machucado?
?Mas... não seria apropriado que... ? a cozinheira gaguejou, esperando por um milagre para salvá-la dessa situação muito difícil.
?Não tenha medo pela integridade da sua sobrinha ? declarou Madden. ? Lorde Cooper, apesar de sua juventude, é um verdadeiro cavalheiro. Sua benevolência, honestidade e educação moral tão firme e severa, que teve de seu amado pai, fortalece um cavalheirismo que muito poucos homens podem alcançar. É uma pena que ninguém nos informou da sua assistência, milorde, com certeza Ginger, minha filha, poderia tê-lo entretido. O coitado andou pelo salão até que Hester e eu finalmente nos aproximamos ? disse à cozinheira e a Josephine como se fosse um horror que tivesse passado mais de vinte minutos sozinho.
?Obrigado, mas garanto que os rumores sobre mim se tornaram idealizados ? Eric respondeu humildemente, fazendo as duas senhoras suspirarem.
Outra mãe com uma filha casadoira? Falando, além disso, de uma possível relação na frente de Josh? Isso não lhe agradou. Embora não parecesse lamentável que elas evocassem seu bom comportamento e seu cavalheirismo. Assim, a pequena guerreira, a quem não reconheceu vestida como uma mulher, admitiria que seus beijos não tinham sido previsíveis e estudados como um libertino faria.
?Por nada! —Exclamou a Sra. Clarke. ? Milorde, a história do
caçador também é uma invenção? Porque posso ver como ainda precisa da bengala para poder andar.
?Caçador furtivo? ? Josh finalmente explodiu, forçando-se a franzir os lábios e não pegar os punhais para fazer belos desenhos no impecável terno meio cinza.
?Foi apenas uma pequena disputa ? disse Cooper, visivelmente desconfortável.
?Mas como é humilde! ?Insistiu a esposa do juiz. ?Devo esclarecer que, há alguns dias, lorde Cooper estava andando em seu terreno quando descobriu um caçador. Então, mesmo que sua vida estivesse em perigo, lutou contra ele. Por essa razão, tem que carregar a bengala. Aquele homem perverso jogou uma adaga nele antes de fugir ? explicou a esposa do padre da paróquia.
?Que tragédia! ? Josh exclamou, com os olhos bem abertos.
?Ele deve ter sofrido um medo muito semelhante ao sofrido pela minha tia
? acrescentou com aborrecimento.
?Posso assegurar que não senti medo em momento algum ?
disse Eric asperamente. -- Sabia que venceria a batalha.
?Batalha? Pensei que tinha dito uma mísera disputa entre um caçador e o senhor ? disse ela intencionalmente.
?Estava desarmado ? Eric murmurou. ? Meu oponente
poderia ter me matado com aquele punhal.
?Que horror e que coragem! Certamente não cavalgará mais sozinho por suas terras. Tenho medo que tenha que ser sempre vigiado por um servo se quiser evitar ser atacado novamente por aquele caçador ? ela continuou naquele tom pungente.
?Bem, a verdade é que, senhorita Moore, ainda cavalgo sozinho por minhas terras ? salientou. —Na verdade ? disse ele, dando um passo em direção a ela, apesar da surpresa que as três mulheres exibiram com tanta audácia ? visitei o local onde tive o embate nos dias seguintes no mesmo horário.
?Quer encontrá-lo novamente, milorde? Não está com medo de que na próxima vez que o encontrar queira terminar o que começou? ? Ela retrucou, erguendo o queixo com orgulho.
?Mesmo que aquele caçador queira me assustar, não conseguirá.
Continuarei indo para aquela área enquanto nós dois estivermos em Brighton.
Garanto-lhe, senhorita Moore, que ninguém pode arrebatar o que é meu ?
declarou solenemente.
?Ainda estamos falando de terra ou honra? ? Josh reagiu sem diminuir sua força, apesar de entender o significado de suas palavras.
?Deveriam a honra e a posse ser separadas? Pode lutar com honra e coragem pelo que decide que lhe pertence. Podemos usar uma
espada, um punhal, um canhão... ou a capacidade de falar para mostrar que nossos pensamentos ou desejos são inquebráveis ? ele declarou como se fosse um soldado mais graduado que Josh.
?Como ocorreu com o caçador ? disse a Sra. Clarke.
?De fato ? disse Eric, recuando daquele passo indevido. ?
Mas como disse antes, deixei minhas intenções bem claras. Só espero que aquele caçador ouça que não vou parar de lutar até que ele assuma o destino que selamos naquele dia.
Josh engoliu em seco e prendeu a respiração. Estava entendendo bem o duplo significado? Ele estava declarando uma guerra em que ele seria o vencedor? Queria dobrá-la? Ela não era uma donzela tímida! Se não fosse comprometer sua irmã e o visconde, pegaria os punhais e enfiaria as pontas na garganta dele antes que as fofoqueiras, que exaltavam seu comportamento respeitoso e queriam emparelhá-lo com alguma jovem casadoira, piscassem uma vez. Pretendia perguntar a ele o que selaram naquele dia, quando Marco caminhou na direção deles. O suspiro de alívio que a Sra. Donner ofereceu surpreendeu as fiéis esposas, no entanto, lorde Cooper não piscou. Seus olhos de safira ainda estavam fixos nela, como se quisesse ler seus pensamentos.
?Senhoras... milorde ? o administrador as cumprimentou corretamente. -- Lamento pela interrupção, mas devo informar à senhora Yenkis e à senhorita Moore que a carruagem está esperando por elas na
entrada.
?Estão saindo tão cedo? ? A Sra. Clarke exclamou, fingindo aflição, embora estivesse ansiosa para terminar a conversa e se dirigir ao marido para lhe contar sobre a estranha performance de lorde Cooper com a jovem de cabelos claros.
?Vamos voltar a Londres amanhã, e não seria conveniente levantarmos tarde ? disse a Sra. Donner, visivelmente aliviada.
?Josephine, devem sair agora. Elizabeth está na carruagem com Howlett. Sua irmã sofre de uma dor de cabeça terrível e quer voltar o mais rápido possível ? sussurrou Marco em seu ouvido.
?Sim, claro ? assegurou, olhando para o administrador. Olhou para Lorde Cooper, sorriu e disse: ? Foi um prazer conhecê-lo, milorde.
Recomendo fortemente que desista de tentar confrontar o caçador novamente.
Com certeza, na próxima vez que se encontrarem, ele estará mais armado e poderá atirar dois punhais em vez de um. ? Se curvou para ele, olhou para as duas mulheres, sorriu largamente para elas e acrescentou: ? Boa noite, senhoras. Agradeço a companhia. Desfrutei muitíssimo da conversa.
?Sim, isso mesmo ? disse a Sra. Donner. —A comida estava deliciosa, o lugar é maravilhoso e certamente todos falarão sobre a festa magnífica que o conde ofereceu.
Eric permaneceu em silêncio, com os olhos fixos em Josh e
percebeu que havia parado de respirar quando os primeiros sinais de sufocamento apareceram. Mas ele prendeu a respiração enquanto observava o administrador do visconde sussurrando no ouvido de Josh. Naquele momento, e apesar da reputação de moço racional que se desdobrou, desejou erguer a bengala e acertá-lo na cabeça, mas parou. Ele havia realizado muito mais do que pretendia quando soube que as irmãs Moore compareceriam ao pequeno encontro do conde Burkes. Embora não o tivessem convidado, ele apareceu sem ser anunciado. Logicamente lhe abriram as portas sem qualquer objeção quando disse quem era. Algum anfitrião se atreveria a negar passagem ao filho do Barão de Sheiton? Claro que não! Então, quando entrou e não a viu, perdeu a esperança de encontrá-la, lembrando que Josh seria tão jovem que ainda não teria se apresentado a sociedade. Apenas quando tinha deixado o cálice amargo e decidiu voltar para casa, seu coração disparou ao ouvir o título do irmão do Marquês. Permaneceu distante. Não podia levantar suspeitas sobre suas verdadeiras intenções. Mas quando soube que a noiva do visconde apresentava o criado como seu primo, ele ficou paralisado e a inquietação aumentou ao descobrir que algo estava acontecendo. Alguém realmente duvidara dessa versão? Nenhum dos presentes conhecia o servo do visconde? Porque em Londres eles falavam incessantemente de suas roupas extravagantes e seu comportamento não masculino. Concluindo que o visconde mentiu para o anfitrião e aos convidados por uma razão importante,
decidiu vigiá-la e permaneceu oculto até que as duas harpias se aproximaram dela.
?Milorde? ? Eric piscou várias vezes, sorriu e olhou para a mulher que lhe fizera a pergunta. ? Está cansado? Quer se sentar?
?Sim, me sinto muito exausto. Acho que estive de pé por muito tempo e minha perna está doendo novamente. ? Esperou que as mulheres se despedissem corretamente e saiu da sala sem sequer perguntar pelo anfitrião.
Apoiando-se na bengala, caminhou até chegar ao grande salão.
Josh, o administrador e a suposta tia ainda estavam do lado de fora da porta da frente, esperando que os criados devolvessem seus casacos. Sem hesitar um segundo, foi na direção deles. Quando o criado do visconde o observou, se endireitou como se o próprio rei estivesse chegando.
?Lorde Cooper, o que deseja? ? Marco perguntou inquieto.
?Quero falar com a senhorita Moore por um minuto ? disse com firmeza.
?Milorde, minha sobrinha e eu...
A Sra. Donner fechou a boca quando ele levantou um dedo para ela. Como poderia um jovem de menos de duas décadas ser tão solene?
?Nós lhe concedemos um minuto, milorde. Nossa carruagem nos espera e não devemos nos atrasar ? Marco concordou, pegando a cozinheira pelo braço para deixá-los sozinhos.
Eric permaneceu em silêncio até que os dois criados, sem parar de sussurrar, os deixaram sozinhos. Então olhou para Josh e sorriu ao vê-la tão inquieta e brava.
?O que pretende? Pensa que pode fazer tudo o que quiser? ?
Ela o repreendeu.
Por que Marco não o dispensou? Por que não foi capaz de rejeitar o desejo desse impertinente? Tal respeito mostrava e exigia um menino que, possivelmente, não tinha alcançado vinte anos?
?Não sei que espetáculo queriam oferecer ao conde, mas não me enganaram ? disse ele, olhando para a porta, certificando-se de que estavam sozinhos e que ninguém os escutaria.
«E inteligente» Josh pensou enquanto levantava o queixo e ouvia com essa determinação.
?Não é da sua conta ? respondeu.
?Estão em perigo? O conde quer prejudicá-los? ? Perguntou estreitando os olhos até que fossem duas linhas finas. ? Se sim, pode confiar em mim.
? Como é que aquelas pobres pessoas confiaram quando o ouviram falar sobre o caçador? ? Censurou.
?Fiz isso para protegê-la ? disse indignado. ? Se dissesse a verdade...
?Todo mundo teria rido de você, certo? Quem não faria isso quando soubesse que o honrado, honesto e intrépido Lorde Cooper fora, de fato, ferido pela adaga de uma mulher? ? Repreendeu satisfeita.
?Quer que corrija minha história? Realmente acha que fiz isso para evitar o possível ridículo em relação à minha pessoa? ? Ele caminhou em direção a ela, até que seu torso podia tocá-la quando ele respirava.
Inspirou aquele cheiro de flores silvestres que exalava e observou o brilho daquele cabelo albino.
?Que outro motivo existe, milorde? ? Ela protestou orgulhosamente.
?O que a protege. Se tivesse dito o que realmente aconteceu, sua reputação só teria sido salva por um casamento e.... estaria disposta a casar comigo sem me permitir a diversão que conseguirei a cortejando? -- Colocou os dedos de sua mão direita na bochecha de Josh e acariciou-a lentamente, capturando a suavidade da pele bonita.
?Não... ? Josh gaguejou, chocada com a sensação maravilhosa que sentiu naquele toque. Ela precisava se separar do homem que a transformou em geleia, em uma mulher diferente, mas era muito difícil se distanciar. Colocou as mãos nos punhais quando se virou para encarar o odioso arrogante, mas enquanto sentia a suave carícia, tudo o que queria era colocá-las em volta do seu pescoço, atraí-lo para ela e beijá-lo. ? Fez a coisa
certa, milorde! ? Comentou quando notou um calor estranho em um lugar proibido para ela. ? Muito obrigada. ? Rapidamente se virou para a saída, cobriu os ombros com o casaco e abriu a porta.
? Isso não acaba aqui, Josephine Moore. Nós veremos em breve
? disse antes dela começar a correr.
XXXV
Anne ainda estava falando sobre os planos que seu noivo e ela tinham programado para depois do casamento quando notou que Marco estava se juntando ao grupo novamente. Suas irmãs já estavam a salvo, só faltava que o conde, que se ausentara sem oferecer nenhuma desculpa, retornasse de onde estava e resolvesse, de uma vez por todas, o maldito assunto com Logan. Quando poderiam deixar aquele lugar horrendo?
?É uma decisão muito sábia ? assegurou o pároco. ? Aqui terão a educação adequada para se tornarem homens e mulheres respeitáveis.
Somente boa-fé pode canalizá-los no caminho certo.
?De fato ? disse o juiz. ? Seus filhos viverão tranquilamente em Brighton, fora do alcance da imoralidade de Londres que apodrece as ruas da cidade ? acrescentou ele com repulsa.
?Fico feliz que nossas opiniões sejam tão similares ? Anne concordou depois de tomar um gole da bebida azeda que tinha em seu copo.
?Não gostaria de desagradar meu pai. Ele sempre nos educou com muito cuidado e atenção.
?Milorde? ? O mordomo foi diretamente para Logan, mas essa intervenção fez com que todos se calassem e olhassem para ele com expectativa. ? Lorde Burkes deseja reunir-se com o senhor em seu escritório
? esclareceu ele.
?Agora? ? Anne perguntou com aparente aflição, como se ela não tivesse entendido que o conde exigia apenas a presença de seu noivo. ?
Não quero deixar uma conversa tão eloquente tão cedo. É a primeira vez que falo com pessoas tão racionais...
?Calma, querida, concederei seu desejo. Senhores, protegerão minha noiva enquanto descobrirei o que nosso conde deseja? ? Perguntou Logan àqueles que sentenciaram sua morte, enquanto acalmava o desconforto fingido de Anne com um toque suave em seu braço. ? Vivo só para agradá
la e mimá-la...
?Não se preocupe, milorde, a senhorita Moore estará a salvo conosco ? assegurou o juiz solenemente. ? Além disso, ainda não falamos sobre o célebre Dr. Moore. Precisamos saber como ele conseguiu se tornar um médico tão famoso.
?Garanto ao senhor! ?Anne exclamou, separando-se de Logan, para que partisse imediatamente. ? Antes de sairmos de Londres, a assembleia dos médicos pediu a ele uma investigação exaustiva sobre o Julgamento da Febre, publicado por John Huxham em 1775. E tenho certeza que conseguirá terminá-la em breve. Meu pai é um homem muito consciencioso e fizeram muito bem confiando a ele este importante estudo.
Ao ouvir como Anne se referia ao livro que ele dera a Mary,
quase riu alto, mas não era o momento de expressar aos outros o quanto estava orgulhoso dela. Era melhor que continuasse a persuadi-los com sua lábia casta e sutil, para que os dois miseráveis acabassem beijando seus belos pés.
Quando os presentes se concentraram na conversa que Anne começou, se afastou lentamente dela e pediu a Marco que não saísse do seu lado. Depois de confirmar que não havia por ali nenhum candelabro, virou-se e caminhou, vigiado pelo mordomo, até a porta do escritório de Burkes.
Tentou entrar sem bater, mas o criado parou na sua frente e sugeriu que ele esperasse para ser anunciado. Estava prestes a afastá-lo, mas reteve essa raiva rapidamente. Não deveria provocar outro escândalo, já que desta vez não era apenas ele que seria prejudicado. Depois de aceitar o sutil pedido do criado com um leve aceno, recuou vários passos, colocou as mãos nas costas e esperou. Por um momento, só por um momento, pensou ter ouvido uma voz masculina que não combinava com a do conde ou do mordomo, mas afastou essa ideia da cabeça rapidamente, já que os amigos fiéis do velho Burkes estavam no salão com Anne, e George, que pensou que encontraria na festa, teve que ir precipitadamente para a residência de uma tia por afinidade.
Logan sabia que era mentira. Seu amigo devia estar trancado em algum cômodo da residência. Talvez o maldito Burkes tenha voltado aos seus antigos castigos de purgatório: o de acorrentá-lo no porão até quase morrer de
fome e sede. O pensamento de que seu amigo poderia precisar de sua ajuda e que ele não podia fazer nada para salvá-lo, gerou tanta raiva que queria quebrar o pouco que o conde tinha naquela casa horrível. Ainda não entendia por que George não se libertava daquela vida cruel da qual padecia. Se importava tanto com o título que estava disposto a morrer?
?Milorde já pode atendê-lo ? disse o mordomo, uma vez que abriu a porta.
Logan respirou fundo, caminhou em direção à entrada...
?Vamos, Devon! Entre de uma maldita vez! Não posso passar a noite toda aqui, tenho convidados para atender! ? Esbravejou a conde.
Depois de lhe dar um olhar feroz, Burkes se sentou, pegou um copo e encheu até a borda. Enquanto isso, Logan entrou no escritório sem deixar de olhar ao redor. Não entendeu muito bem por que demorara tanto a recebê-lo e por que agora tinha urgência de despachá-lo. Teria bebido mais do que devia?
Apenas quando estava na sua frente, esperando que indicasse para que se sentasse, ouviu um leve ruído atrás dele. Como se sentisse que iam esfaqueá-lo, se virou rapidamente, mas não encontrou ninguém. Apenas a cortina da janela que levava ao jardim se movia suavemente. Confuso, quando seu sangue cigano o avisou sobre a presença de outra pessoa, se virou para o conde e notou que seu velho rosto mostrava mais raiva e mais
frustração do que segundos antes.
?Deve estar muito satisfeito, certo? ? O velho Burkes o repreendeu. Apareceu em minha casa mostrando uma honorabilidade que não possui e aprovado por uma mulher com a qual nunca sonhou.
?A senhorita Moore... ? ele tentou dizer
?Não procure desculpas, nem evoque a boa-fé daquela mulher incrível! Eu sei quem realmente é!
?Não respondi ao seu convite para que me insulte. Peço respeito.
Vim aqui por minha própria vontade, para deixar claro que não vou vender Harving House ? disse ele, soltando o cigano e afastando o visconde.
?Maldito seja! ? Exclamou, pulando para fora da cadeira. --
Como pode vir a minha casa pedindo respeito? É um bastardo! O filho de um demônio!
?Se está tão certo de suas palavras, me denuncie de uma vez ?
disse ele, colocando as palmas das mãos grandes sobre a mesa.
?O farei! Porque apenas um homem que esconde um passado obscuro aceita uma chantagem! ? Ele contra-atacou.
?Não aceitei o seu suborno para que parasse de investigar o meu passado, Burkes. Fiz isso porque me senti culpado por ter induzido seu sobrinho ao caminho inadequado. Nós dois éramos muito jovens quando esse infeliz incidente ocorreu e imagino que nós dois pagamos nosso castigo mais
do que o suficiente ? disse ele solenemente.
?Castigo? Vai apodrecer no inferno, Devon! Como seu pai fez!
? Ele berrou.
—Tenho certeza que será o próximo lugar em que nos encontraremos. E se não tem mais nada a me dizer, me retiro. Preciso tirar minha noiva desse lugar repulsivo. Não quero que sua decência seja corrompida por nenhum de seus convidados insolentes ? declarou se virando.
?Cuidado com suas costas, Devon. Ainda tenho muitos anos para viver e pretendo usar todos os dias, todas as horas e todos os minutos para encontrar uma maneira de destruí-lo ? ameaçou fora de si.
?Boa sorte, Burkes ? disse antes de sair.
Depois de fechar a porta, Logan suspirou profundamente. Não tinha dúvida de que o conde não desistiria e manteria sua palavra. Mas não queria pensar nisso. A única coisa em que devia se concentrar era concluir a noite e levar Anne o mais rápido possível dali. Felizmente, ao amanhecer eles partiriam para Londres, em direção à liberdade, em direção à vida que ele queria ter ao seu lado e, se o velho Burke persistisse em investigar suas origens, agiria corretamente. Possivelmente era hora de contar a verdade a Roger e corajosamente enfrentar a fúria titânica de seu irmão. Talvez, quando contasse a agonia que sofreu durante todos esses anos, admitisse que ele
sofrera o suficiente e não lhe daria uma surra enorme. Embora não tivesse certeza de que fosse tão benevolente com ele depois de tudo...
?Querida, devemos ir ? comentou Logan, uma vez que se juntou àquele grupo de idosos reprimidos.
?Tão cedo? ? O padre perguntou. ? Ela ainda não terminou de explicar por que acredita que os partos são tão perigosos se a higiene adequada não for mantida.
Logan olhou para Anne, desnorteado. Esses temas não eram próprios de Mary? Ela também estava interessada em medicina e esse interesse era mantido em segredo? Talvez Anne não só tivesse a habilidade de pintar, mas escondesse uma infinidade de qualidades que, é claro, descobririam quando se casassem.
?Concluirei aconselhando-os que olhem bem nas mãos do médico que atende suas esposas. Ele deve cobri-las com luvas ou lavá-las com bastante sabão ? disse Anne antes de aceitar a mão de Logan.
?Boa noite, senhores. Foi um prazer vê-los novamente e agradeço-lhes por terem cuidado de minha futura esposa. Certamente ela não esquecerá uma noite como a de hoje ? disse o visconde com o respeito e solenidade que de seu título futuro.
?Estamos ansiosos por sua próxima visita, senhorita Moore. Foi um prazer conversar com uma mulher que entende homens como nós ?
admitiu o padre pouco antes de beijar sua mão.
Apesar da polida despedida de Logan, o juiz e o pároco deram-lhe um breve aceno de cabeça e despediram-se dela. Anne sorriu para eles, como se não tivesse notado o desprezo, pensando que tinha sido uma péssima ideia mandar Josh de volta para Harving. Se sua irmã tivesse contemplado aquele desprezo em direção a Logan, ela teria procurado algo com o que cortar suas línguas de víbora.
Uma vez finalizados os intermináveis elogios a ela, ambos, acompanhados por Marco, abandonaram com urgência a residência do conde.
?Tudo bem? ? O administrador perguntou, referindo-se à reunião com o conde.
?Por enquanto ? Logan respondeu, ajudando Anne. ? Mas não parará com seus esforços. Mantenha-me informado de tudo o que achar que é suspeito. Não quero que ofusque qualquer detalhe, mesmo se qualificar como insignificante. Apresente-se regularmente em Harving, contrate vários criados para que observem movimento no interior e tirem os cavalos dos estábulos todos os dias. Quero que todos saibam que a residência não foi abandonada e que pensem que voltaremos em breve.
?O farei ? Marcus disse antes de apertar sua mão. ? Posso pedir um favor? ? Ele acrescentou duvidosamente.
?Claro, sabe que pode me perguntar o que quiser. ? No entanto,
o rosto afável de Logan mudou quando ele se aproximou para sussurrar algo em seu ouvido.
?Diga a Howlett que esperarei ansiosamente por notícias e que não descansarei em paz até que tenha sua carta em minha escrivaninha em meu escritório ? declarou ele.
?Direi a ele ? confirmou antes de entrar na carruagem.
Ele se acomodou no banco e esperou que o cocheiro fechasse a porta. Marco permaneceu imóvel e seu rosto, sempre sorridente, mostrou muita preocupação. Logan o observou até que a carruagem partiu, ainda se perguntando o que o incomodava tanto e porque parecia que estava escondendo algo importante. Talvez fosse o tom de voz que Marco costumava usar com ele ou o gesto que fez para que Anne não o escutasse.
Seja o que for, algo lhe dizia que algum detalhe importante lhe escapara, mas... o que seria? As irmãs foram vigiadas o tempo todo e ele protegeu Anne durante a noite. Então, por que suspeitava que as notícias que esperava de Howlett não tinham nada a ver com o romance que haviam começado?
?Gostou do meu desempenho? ? Anne perguntou depois de girar sua pulseira várias vezes sobre o pulso.
?Foi esplêndida! ? Ele respondeu, concentrando-se finalmente nela. ?Causou uma grande impressão no conde e naqueles ineptos. Até eu mesmo acabei acreditando que é uma mulher virtuosa.
?O conde... também? ? Perguntou duvidosa.
?Sim, querida, o conde também ? disse estendendo as mãos para pegar a dela.
?Deixará de chantageá-lo? ? Perguntou.
?Por agora, acho que sim. Mas ele jurou que usará os anos que restam de sua vida para me destruir.
?Bem, se quer que seu fim chegue logo, a melhor opção será rompermos nosso compromisso e que eu o seduza até que me proponha suplantá-lo como um pretendente. Desta forma, a maldição cuidará dele...
?Quer romper o nosso compromisso para me trocar por esse velhote? ? Disse, puxando-a para perto. ? Não querida, não faremos essa tolice. Demorei muito tempo para encontrá-la e fazer com que me amasse, para que todo esse esforço não leve ao que eu quero.
?E o que quer? ? Ela perguntou, ajustando seus quadris sobre os de seu futuro marido.
? Converte-la, de uma vez por todas, em minha esposa ? disse antes de colocar as mãos nos dois lados do rosto dela e puxá-la para sua boca lhe dando um beijo apaixonado e feroz.
XXXVI
Seis dias depois ...
Roger ainda mantinha um comportamento impenetrável. Não havia dúvida na mente de Logan de que ainda estava zangado por não ter lhe contado sobre sua amizade com George, o que acontecera naquela noite e a chantagem do conde. Ele supôs que na mesma tarde lhe daria uma surra que não esqueceria em anos, mas seu irmão agiu de forma estranha: saiu do escritório, o deixando sozinho com Evelyn, e não voltou para casa até a hora do jantar. Era muito triste e desconfortável ficar ao seu lado durante a noite sem falar com ele. Comeu e bebeu em silêncio, como se nem ele nem sua esposa existissem. Depois que o jantar acabou, ele se levantou, beijou Evelyn e sussurrou em voz alta que era hora de a visita sair.
?Deve dar tempo a ele ? comentou a cunhada quando o acompanhou até a saída.
?Diga a ele que fiz para protegê-los, que a minha intenção não era magoar e que...
?Fique tranquilo ? Evelyn acalmou-o com um beijo suave na bochecha ? Roger entenderá sua decisão.
?Por favor, lembre-o também que eu gostaria que me
acompanhassem até a casa dos Moore depois de amanhã. Gostaria que ambos...
?Nós vamos, eu prometo ? Evelyn argumentou antes de voltar para casa.
Não esperava que, apesar das palavras de sua cunhada, Roger aceitasse seu pedido. Por essa razão, quando o viu descendo as escadas de Lonely Field, acompanhado de sua esposa, surgiu um pequeno halo de esperança. Mas toda essa ilusão desapareceu quando não o cumprimentou.
Ajudou Evelyn a subir na carruagem, entrou e fechou a porta com força.
Logan, incapaz de respirar por causa da tristeza que o envolveu, andou para a carruagem e entrou pela outra porta.
E assim eles foram juntos em direção à casa dos Moore e separados pelo corpo de Evelyn. Quanto tempo eles continuariam assim?
Deveria desistir? Como poderia imaginar um futuro sem a presença de seu irmão?
?Roger, por favor, me escute. Nós não podemos continuar assim. Juro que agi dessa maneira porque pensei que estava fazendo a coisa certa ? Logan começou enquanto observava com pesar que seu irmão continuava olhando pela janela, ignorando-o.
?Diga a esse imbecil para não me tratar com tanta familiaridade, ele não merece isso ? disse ele com um grunhido.
?Logan, seu irmão diz...
?É incapaz de se dirigir diretamente a mim? Está tão desapontado? Ou é repulsa?
?Repulsa? ? Esbravejou Roger virando-se para Logan com tanta brusquidão que Evelyn deu um pequeno salto no banco. ? Não, não é repulsa, mas decepção ? ele gritou. -- Sinto-me desapontado porque não teve a coragem de me confessar o que lhe aconteceu naquela noite e me deixa desconfortável descobrir que aceitou uma chantagem que durou, quanto?
Dois anos?
?Juro que fiz isso para salvá-lo ? Logan respondeu, levantando a voz, perdendo a paciência que tinha. ? Como poderia colocar em risco o esforço que tem feito por nós em todo esse tempo?
?Va te faire foutre! [9] ? O marquês resmungou.
?Por favor... deveria nos tranquilizar um pouco ? disse Evelyn, ouvindo a expressão do marido em francês. ? Lembre-se de que estamos indo para a casa dos Moore e não seria apropriado que estivesse tão zangado.
Eles pensarão que não estamos satisfeitos com a proposta de casamento.
?E não estou satisfeito! ? Roger assegurou. ? Essa mulher precisa de um bom homem e isso ? ele apontou o dedo para o irmão ? não é!
?Roger, querido, tenho certeza de que Logan achou que estava
fazendo a coisa certa. Sabe que ele te ama tanto que faria qualquer coisa para salvaguardar...
?A coisa certa? Evelyn, está realmente defendendo esse idiota?
? Esbravejou o marquês, dando ao seu irmão com um olhar assassino.
?Me sentia... envergonhado ? Logan comentou com um longo suspiro. Ele esfregou o rosto, desesperadamente, e olhou para o chão. -- Não queria revelar meu segredo porque não posso suportar que a pessoa que amo e respeito me diga que sou igual ao meu pai.
?Roger jamais teria feito tamanha tolice. ? A marquesa tentou consolá-lo com suas palavras ternas. ? Caso não se lembre, antes de Colin forçá-lo a se casar comigo, seu irmão era o maior libertino em Londres e tenho certeza de que, durante as suas noites de solteiro, participava de bacanais semelhantes.
?Não estamos falando de mim ? resmungou o marquês, recostando-se no banco.
?Eu sei, mas quero esclarecer que não está em condições de reprovar ou julgar nada, porque era igual ou pior do que ele ? acrescentou Evelyn olhando para Logan com cumplicidade.
?Não estou zangado com o que ele fez, mas por causa de sua falta de confiança ? disse Roger. Se não tivesse escondido de mim o que aconteceu, poderia tê-lo ajudado naquele dia.
?Como poderia me libertar dessa situação, Roger? ? Disse o visconde, levantando a voz novamente. ? Esse homem é intocável!
?Quem te disse esse absurdo? ? Ele murmurou. Ante ao silêncio que Evelyn e Logan ofereceram, ele continuou: ? Caso não saiba, a esposa de Burkes deu à luz sete crianças que morreram logo após o nascimento. De acordo com meus informantes, em seu último parto, e depois que esse descendente também morreu, ele a trancou no porão para lhe dar um castigo. Mas o muito desgraçado não percebeu que ela estava sangrando e necessitava urgentemente da atenção de um médico. Quando Burkes pensou que a punição havia chegado ao fim, ordenou a um criado que a retirasse, mas já era tarde demais, a condessa já estava morta.
?Meu Deus! ? Exclamou Evelyn apavorada, levando as mãos à boca.
?Naquele momento, Burkes ordenou que ela fosse transferida para seus aposentos e uma criada para verificar seu corpo em busca de sinais de que ela havia sido enclausurada. Mas não encontraram uma única marca
? continuou o marquês.
?Nada? Aquela pobre mulher não lutou para permanecer viva naquele porão? ? Evelyn retrucou.
?Não ? disse Roger, balançando a cabeça ligeiramente de um lado para o outro. ? Acredito que ela tenha chegado à conclusão de que só a
morte a libertaria do marido e se rendeu a ela ? acrescentou tristemente.
?Por que ninguém denunciou isso? Por que saiu impune desse assassinato se era um suspeito? Por que conhece essa versão da história? ?
Logan perguntou sem acreditar no que estava ouvindo. Não era o mesmo que George estava sofrendo? Ele também queria encontrar a morte para terminar sua provação?
?Porque seus grandes e honrados amigos, o juiz Clarke e o pároco Madden, aqueles que testemunharam sua depravação, asseguraram que o visitaram durante os três dias seguintes ao parto e exaltaram a atitude compreensiva, afetuosa e piedosa do conde em relação a sua esposa. Além disso, quem daria crédito à versão de um criado que foi demitido?
?Maldito seja! ? Logan clamou, socando a parede da carruagem. ? Maldito seja!
?Se tivesse tido coragem suficiente para explicar o que aconteceu com você, não teria sofrido extorsão. Essa atitude submissa apenas acentuou suas suspeitas e fortaleceu sua decisão de arruiná-lo ? disse Roger, observando as costas de seu irmão se apertarem. ? Mas a situação está resolvida. Aquele bastardo vai ficar longe de qualquer membro da minha família se não quiser terminar seus anos atrás das grades.
?Por que diz que está resolvido? ? Evelyn interrompeu.
—Ontem recebi uma carta do próprio Burkes, na qual pede
desculpas por seu comportamento inadequado e cumprirá meu mandato em breve. Espero que não demore muito para dar ao seu administrador tudo o que roubou de você.
?Está dizendo que...? Quando...? ? Logan perguntou, arregalando os olhos.
?Na mesma tarde em que me contou. É por isso que saí do meu escritório com tanta urgência, não queria que a última carruagem fosse para Brighton sem um mensageiro para levar a esse malnascido a minha carta ?
explicou calmamente. ? Espero que saiba que a fortuna será nosso único presente de casamento. Não merece nem um miserável xelim ? acrescentou sarcasticamente.
?Deveria me tirar tudo! Deveria me repudiar e me jogar na rua como um cachorro! ? Ele exclamou entre soluços.
?Agiu errado, mas isso vai torná-lo mais forte no futuro ? disse Evelyn, tocando seu ombro para oferecer seu apoio.
?Mas foi um tolo ? insistiu o marquês. ? A maturidade não é apenas demonstrada pela atitude que se tem de enfrentar problemas. Um homem maduro pensa, raciocina, vai à família e confia nela.
?No entanto, tudo foi resolvido e devemos nos concentrar no futuro ? disse Evelyn novamente. ? E lembre-se que na idade dele, também não pensava ou raciocinava. Só procurava, entre as mulheres ao seu redor,
aquelas que rapidamente levantariam a saia de seu vestido.
?Evelyn, pare essas comparações de uma vez! Tem que admitir que a sua atitude me machucou e que nunca esquecerei a traição ? disse Roger com raiva.
?Sim, esquecerá, querido. Como eu esqueci que depois que nos casamos, me deixou sozinha por sete longos meses ? ela disse desconfiada.
?Evelyn! ? O marquês esbravejou novamente. ? De que lado está? Não se lembra dos nossos votos de casamento?
? Ah, sim, claro que me lembro deles! ? Expressou sorrindo.
? E cumpro todos. Mas não posso permitir que esse absurdo estrague seu relacionamento. Logan agiu assim porque achou que era a coisa certa a fazer e você partiu porquê ...
?Enfer, ma femme![10] ? Disse Roger desesperado.
?Sinto muito... ? Logan murmurou. ? Sinto muito.
Os dois olharam para ele sem piscar por causa da surpresa que tiveram ao ouvi-lo dizer aquelas palavras. Não ouviram essas palavras na boca de Logan desde o dia do incêndio, quando estava chorando, inconsolável e se desculpando com Roger por não ter protegido Nathalie e sua mãe. Evelyn olhou para o marido, franziu a testa e balançou a cabeça para Logan. Não iria consolá-lo? Não iria perdoá-lo?
?A próxima vez que tiver um problema, fale comigo. Sabe que
pode confiar em mim ? disse o marquês depois de suspirar profundamente.
? Como Evelyn disse, nada do que fez pode me escandalizar, porque antes de me casar, garanto que fiz pior.
?Isso não é o que eu queria ouvir! ? Evelyn berrou.
?Ah não? Pensei que as rugas na sua testa indicavam que confessei como eu era perverso ...
?O que vou dizer a Anne? ? Ele os interrompeu, esfregando o rosto novamente. ? Como ela se casará com um homem que, em vez de proteger sua família, a colocou em perigo?
?Errando que se aprende, Logan, e isso nos torna mais fortes ?
assegurou Roger antes de estender a mão direita para firmar a paz. ?
Lembre-se de que não está sozinho, que não conta apenas com a minha ajuda, mas também com a de todos os nossos irmãos.
?Juro por minha vida que o farei ? assegurou Logan, aceitando a oferta de paz.
?Bem, agora que tudo está esclarecido, preciso que resolva a dúvida que tenho desde que o vi aparecer ? disse olhando para o cunhado.
?Qual? ? Ele retrucou com expectativa.
?Por que diabos colocou um colete tão horroroso? Como Howlett permitiu essa decisão horrível?
?Não gosta da cor laranja? Porque eu amo... ?Logan respondeu
antes de dar uma gargalhada.
***
?Como pode pensar em vestir aquele vestido assustador em um dia tão importante? ? Sophia esbravejou quando Anne desceu as escadas e se juntou a ela no corredor. ? Não lhe disse para jogar fora? Tire logo, Anne Moore! O visconde pode pensar que não temos a solvência para lhe comprar um.
?Não se preocupe com isso, mãe ? disse Anne, pegando-a pelo braço para levá-la de uma vez por todas para a sala onde o resto da família estava esperando por eles. ? O visconde terá prazer em me ver neste vestido e garanto que ele não vai pensar se é a segunda ou a terceira vez que o uso, mas quanto tempo levará para tirá-lo.
?Anne Moore! ? Exclamou com aparente rubor. ? Parou e olhou para ela. ? Não se lembra com quem está falando? Realmente acha que eu deveria saber essas coisas?
? Não se torne de repente numa mãe pudica. Outro dia, quando lhe contei tudo o que fiz durante a minha estadia em Harving House e a razão pela qual não tenho medo de me casar com Logan, não ruborizou ? Anne assinalou com ironia.
?A única coisa que queria era descobrir por que havia retornado sem ter terminado o retrato e decidido se casar com ele ? disse ela
embaraçada. ? O que se explica na sua narração, não é problema meu.
?Então, não acha que foi certo eu informar que o visconde é o cigano que vai quebrar a maldição? ? Disse novamente, afastando-se de sua mãe.
?Sim, essa parte admito que gostei. Quem teria pensado que o falecido marquês misturava seu sangue azul com o cigano?
?Não pode imaginar o que aconteceu... ? Anne disse quando entraram na sala.
?O que? O que aconteceu? ? Randall perguntou ansiosamente, tendo apenas ouvido as últimas duas palavras. Ele caminhou na direção delas, esfregou o rosto, arrastou os óculos até a testa e acrescentou: ? Não me diga que não quer mais se casar com o visconde? Por que? Não acha que ele será um bom marido? Tem medo? É normal depois de tudo o que aconteceu, mas acredito que ele não morrerá antes de chegar ao altar, tenho um palpite que me diz...
?Calma, papai ? interrompeu Anne, separando-se da mãe para que Randall pudesse tomar seu lugar. Deu-lhe um beijo suave na bochecha e acrescentou: ? Ainda quero casar com o visconde. Juro que ele é o homem que esperei toda a minha vida e não vou deixá-lo escapar.
?Obrigado Deus... ? o doutor suspirou aliviado ? não sabe como estou feliz em ouvir que está finalmente pronta para se tornar uma
esposa. Juro que tudo que quero é vê-las felizes e protegidas por bons homens.
?Então... todo o entusiasmo que mostrou desde que dei a notícia, não tem nada a ver com o fato de que vou me tornar uma viscondessa e que isso vai ajudar minhas irmãs? ? Ela retrucou sarcasticamente.
?De jeito nenhum ? ele disse categoricamente. ? Sempre soube que, mais cedo ou mais tarde, encontraria um bom marido. Tudo o que quero é que seja tão feliz quanto eu com sua mãe ? disse, esperando que seu tom de voz não revelasse que ela estava certa.
Uma vez que ela se casasse com o visconde, suas filhas seriam aceitas na sociedade e eventualmente encontrariam seus futuros maridos.
Embora ainda pensasse que para Josh e Madeleine não seria tão fácil. Que homem aceitaria uma guerreira como esposa? E quem poderia fazer desaparecer a timidez da pequena ruiva?
?Chegou! Logan está aqui! ? Josh gritou exultante, pulando na frente da janela. ? E ele está acompanhado pelos marqueses de Riderland!
?Meu Deus! ? Sophia exclamou nervosa. ? Sabia que eles também participariam? ? Olhou para Anne como se tivesse acabado de passar uma estrela cadente diante de seus olhos.
?Sim ? respondeu, sacudindo as saias do vestido.
Estava nervosa. Queria causar uma boa impressão nas pessoas
mais importantes para seu futuro marido. Eles seriam afáveis com sua família? Logan insistiu que eram pessoas gentis, carinhosas e bastante humildes, mas... não se arrependeriam do compromisso quando descobrissem os comportamentos imprevisíveis de suas irmãs?
?E, por que não nos contou nada? Nós teríamos nos preparados... Eu teria comprado... ? Sophia balbuciou muito preocupada, amaldiçoando novamente por não ter previsto que Anne mostraria a sua verdadeira personalidade através de seu vestido laranja.
?Foi por isso que não mencionei, mãe. Quero que conheçam a minha família tal como são. Sem enganos ou falsas aparências ? enfatizou.
Olhou para as irmãs e apertou os olhos quando não encontrou Elizabeth. ?
Onde está Eli? Ainda não terminou de se aprontar?
?Não vai descer ? respondeu a mãe. Continua com dor de cabeça e não seria apropriado que permanecesse aqui com aquela aparência abatida.
?Continua desculpando-a! ? Anne exclamou com raiva, ao lado de Mary, Josh e Madeleine. ? Maddy lutará contra sua timidez para ficar ao meu lado em um dia tão importante e ela não é capaz de suportar uma dor de cabeça miserável? Chega, mãe! Pare de dar desculpas! Acha que não sei o que está errado? ? Ela berrou. ? Bem, deverá aceitar de uma vez por todas!
?Não é isso ? interveio Randall. ? Eli está muito feliz pelo seu
próximo compromisso. Mas sabe que...
?O que faço, Sr. Moore? ? Shira perguntou, abruptamente quebrando a discussão que havia sido criada em momentos tão inapropriados.
? Estão se aproximando da entrada e tenho que recebê-los.
?Não os faça esperar ? Anne falou a Shira rudemente. ? Meu futuro prometido está tão impaciente quanto eu para me tirar daqui.
?Anne! ? Sua mãe a repreendeu: ? Não quero que pense isso de sua irmã!
?Não me lembre de tudo que fez antes de sairmos... ?
murmurou antes de respirar fundo, se acalmar e esperar a entrada do seu homem.
Que a mãe criadora tivesse pena de Elizabeth em algum momento de sua vida, porque ela nunca iria perdoá-la pela dor que causara num dia tão importante.
?Os Marqueses de Riderland ? anunciou Shira com voz trêmula. ? Desculpe, e há também o Visconde de Devon ? acrescentou, corando logo após sua apresentação nefasta.
Seus pais foram recebê-los e depois das saudações apropriadas, caminharam em direção a elas. Anne tentou respirar com facilidade, mas era impossível fazê-lo. Não se viam há quatro dias, só havia tido notícias dele através das cartas entregues por Howlett, que visitava Elizabeth
assiduamente. A última coisa que Logan havia escrito era que a amava e que estava desesperado, esperando que aquele dia chegasse.
?Milady, ela é Anne, minha filha mais velha. A próxima é Mary e as duas menores são Josephine e Madeleine. ? Quando foram nomeadas, saudaram a marquesa com uma reverência cuidadosa.
?Prazer em conhecê-las, senhoritas ? disse Evelyn, observando a cor do vestido da futura noiva de seu cunhado. Agora entendia a decisão de usar um colete daquela cor! Os dois, através de um detalhe tão pequeno, aceitavam quem realmente eram.
?Igualmente ? responderam em uníssono.
?Só se ela continuar a me aceitar ? Logan comentou, o que fez todos os olhos focarem nele.
?Acho que sim ? respondeu Randall, erguendo os óculos sobre a ponte do nariz com um dedo. ? Pelo menos há cinco minutos atrás, essa era a sua resposta. Mas já conheceu minhas filhas, milorde, e sabe que elas são muito voláteis.
?Então, com sua permissão, vou perguntar a ela pessoalmente
? disse antes de se dirigir a ela.
Suas pernas tremiam, seu coração batia tão rápido que perfurava seu peito e a porta fechada da sala. Ele estava lá: seu homem, seu Cigano.
Aproximando-se dela com seu terno elegante, o colete laranja e o cabelo
puxado para trás, para formalmente pedir pela união que haviam selado noites antes em um pequeno ritual cigano. Devia fazer o correto, o que correspondia ao seu dever como um aristocrata. Mas essa aparência desapareceria quando ambos vivessem em Whespert. Ela não permitiria que naquele lugar, ele continuasse mostrando uma aparência que não correspondia a ele. Queria o Logan cigano, selvagem e apaixonado, mesmo que quando estivesse fora, tivesse que se comportar como o Visconde de Devon, irmão do Marquês de Riderland.
?Senhorita Moore ? disse, ajoelhando-se na frente dela. ? Me daria a grande honra de me aceitar como marido?
?Sim! ? Exclamou Josephine. ?Ela aceita!
?Josephine Moore! ? Esbravejou Sophia, envergonhada pela intervenção inadequada de sua quarta filha.
?Ela é a jovem que pratica a arte de atirar facas, certo? ? A marquesa perguntou a Sophia.
?Sim, milady, é ela... ? concordou com alguma angústia.
?Nesse caso, se lhe parecer correto, Josephine poderia conhecer minha filha Evah. Ela também é bastante adepta das armas. No outro dia, John, um bom amigo do meu marido, ensinou-a a usar o arco e a verdade é que...
?Anne? ? Logan perguntou, mostrando a ela um anel.
Como era de se esperar, o visconde procurou, entre os joalheiros londrinos, uma aliança que refletisse a essência cigana de Anne e, com o olhar que ela estava exibindo, soube que o esforço valera a pena.
?Sim! ? Anne gritou antes de se jogar em seus braços e ouvir como um ato tão inadequado produziu uma tosse repentina em seu pai.
?Eu te amo, Anne Moore ? disse ele, deslizando o anel em seu dedo. ? Olhou em seus olhos e continuou em voz baixa. ? E juro, minha querida, que não a salvarei somente da maldição, mas de todos os perigos que tivermos que enfrentar.
E quando Madeleine ouviu as mesmas palavras que ouvira em sua visão, colocou as mãos no peito e suspirou. Logo, muito em breve o resto de suas irmãs encontrariam seus futuros maridos e ela.... Ela finalmente deixaria de ser a tímida Madeleine...
Epílogo.
Oito meses depois ...
Logan caminhava de um lado para o outro em seu escritório, com as mãos atrás das costas. Olhava de vez em quando para o relógio na parede e bufava quando percebia que o tempo não estava indo tão rápido quanto desejava. Quanto tempo duraria um parto? Anne suportaria isso? Randall e Mary poderiam ajudá-la caso se complicasse?
?Relaxe de uma vez ? disse Roger, depois de expelir a fumaça do charuto de sua boca. Felizmente para ele, Evelyn permitiu-lhe fumar em ocasiões especiais e a chegada do seu primeiro sobrinho era uma delas. ?
Lembre-se do nascimento de Evah. Foram intermináveis horas. Mas quando tiver seu filho em seus braços...
?Filho? ? Disse Philip, que continuava batendo os dedos da mão esquerda na mesa do escritório. ? Como sabe que será um menino?
Não se lembra de que existem duas alternativas? ? Perguntou mordaz.
?Será um menino ? disse Logan com confiança. Havia tido uma visão, assim como tinha visto Evah quando mal tinha dezessete anos.
Pensou que, com os anos e a recusa de ser cigano, essas visões ciganas desapareceriam, mas não foi esse o caso. Já na noite de núpcias sonhou que
um diabinho de cabelo preto gritava papai e ele o abraçava com força. ? E se chamará Roger Bennett Moore. ? Olhou para o irmão, esperando por sua reação.
?Belo nome ? ele respondeu em uma voz estrangulada pela emoção e com olhos brilhantes. ? Só espero que não continue com a maldição dos Bennett.
?A de libertino? ? Giesler falou novamente. ? Quer transformar a próxima geração Bennett em homens honrados e castos? Não se lembra dos movimentos sedutores de cílios ou como suspiravam quando andava por um grupo de mulheres? O que essas futuras viúvas farão sem um Bennett em sua cama? ? Comentou com exagero enquanto movia o copo de conhaque.
?Tenho certeza de que haverá outros libertinos para agradá-las
? assinalou Logan com um grande sorriso.
Só esperava que seu amigo não falasse sobre a educação que ofereceria a seus filhos, porque ele não os teria. Em suas visões, seu bom amigo tinha quatro lindas meninas como sua mãe. Philip não ficou horrorizado quando soube que o Sr. Moore deveria casar as cinco? Não zombou da angústia do médico? Quantas vezes zombou da tarefa desesperada de encontrar um marido para elas? Por tudo isso, a vida o puniria com uma comitiva de meninas.
?Se os Bennett se aposentarem, os Giesler tomarão o seu lugar.
? Se aproximou do amigo para dar uma tapinha em seu ombro. ? Mas não diga que não avisei.
?O que? ? Logan perguntou, erguendo as sobrancelhas negras.
?Que seus meninos não saberão o que as mulheres escondem sob suas saias e os meus serão capazes de despir uma mulher em menos de dez minutos ? acrescentou Philip, sorrindo imensamente.
?Não tenho dúvidas de que seus filhos terão essa capacidade altamente desenvolvida ? declarou o visconde, olhando para o irmão que sabia a quem a esposa de Philip daria à luz.
?Brindemos aos futuros Bennett e Giesler! ? Roger gritou, levantando o copo. Logan e Philip apoiaram o brinde. ? Isso só acaba de...
?Nasceu! ? Josh gritou abrindo a porta, interrompendo as palavras do marquês. -- É um menino! Um lindo menino! Vou contar aos outros! -- Continuou gritando quando se virou e se afastou do escritório.
Logan olhou para o irmão e depois para Philip. Ele estava feliz, animado e se sentia o homem mais feliz do mundo. Por fim, seu filho nasceu e sua esposa... sem esperar pelos abraços típicos, ele saiu da sala e subiu os degraus de três em três.
***
Quando Logan entrou no quarto, uma súbita sensação de prazer e bem-estar o dominou. Evelyn levava a criança em seus braços para a janela.
Mary afastava a roupa que o cobria para confirmar que tinha todos os dedos das mãos e dos pés, que ele respirava normalmente... Randall estava chorando e Sophia estava abraçada a ele para consolá-lo. Madeleine permanecia sentada no peitoril da janela, sorrindo toda vez que sua irmã e a marquesa elogiavam a beleza do bebê. Até mesmo Elizabeth acompanhava sua irmã em um momento importante para ela, embora continuasse longe de todos e usando um daqueles vestidos típicos de governantas. Logan não entendia por que adotara um comportamento tão estrito, mas parecia que, graças a isso, estava superando certos medos.
Apoiou-se no batente da porta e observou a bela imagem familiar.
Nunca imaginou que as palavras de seu irmão fossem tão precisas. Não só seu amor por sua esposa havia aumentado, mas os laços com toda a família também foram fortalecidos e aquele momento era uma mostra disso. Como Roger lhe disse em mais de uma ocasião, o instinto de proteção transformava um homem em uma fera que não hesitava em oferecer sua vida para salvar sua família. Ele a daria, por cada um dos membros que estavam no quarto, na sala, na cozinha, no escritório e no jardim.
Estavam todos ali. Nem um único irmão queria perder o nascimento do próximo Bennett, que seria nomeado herdeiro do Marquês de
Riderland e orgulhosamente ostentaria seu sobrenome, pois os vestígios deixados por seu bisavô desapareceriam. Roger e ele se encarregariam de terminar...
?Entre, não fique na porta ? disse Anne quando o descobriu em pé na entrada. ? Seu filho o espera.
?Meu filho pode esperar um pouco mais. ? Logan segurou as lágrimas causadas pela emoção e caminhou até a esposa. ? Está bem? ?
Perguntou depois de colocar um beijo suave em seus lábios.
?Sim, muito bem ? respondeu, estendendo a mão esquerda para que ele não tivesse medo de sentar-se ao seu lado. ? Mas mudei de ideia sobre ter seis filhos. Acho que vamos ter o suficiente com dois ?
acrescentou ela, descansando a cabeça no peito do marido.
?Roger, Samuel e Philip ? disse Logan.
?Três homens? De verdade? Não pode mudar essas visões? ?
Insistiu nervosa.
?Não ? Logan negou. ? Dará à luz a três filhos preciosos, iguaizinhos a mim ? acrescentou orgulhoso.
E nesse momento Anne se benzeu e se confiou à mãe criadora.
Um pouco do próximo romance
Mary sentou no banco e olhou de lado para sua acompanhante.
Parecia tão preocupada que desejou lhe dizer algo que pudesse acalmá-la. No entanto, não tinha o dom de tranquilizar as pessoas, mas de curá-las.
?Desculpe-me por tê-la tirado de sua casa em um horário tão inapropriado, mas sua mãe, depois de lhe explicar o que está acontecendo, insistiu que a senhorita é a mulher adequada para atendê-lo.
?Não foi um problema, pelo contrário, sinto-me muito honrada por poder ajudá-la ? Mary respondeu, acrescentando um leve movimento ao comentário com a mão direita enluvada. ? Ficarei feliz em descobrir que doença seu marido tem e dizer-lhe o tratamento adequado.
?Meu marido? ? Valeria estalou, arregalando os olhos. ? Não é meu marido que está doente, mas meu irmão.
?Sinto muito, devo ter entendido mal a minha mãe ? disse Mary, corando instantaneamente. ?Às vezes, quando fico emocionada, não escuto com atenção.
?Não se preocupe, isso geralmente acontece comigo também.
Acho que é muito comum mulheres inteligentes selecionarem o que as interessa.
Naquele comentário, Mary deu uma risada alta. Quando se
recuperou, voltou seu olhar para a Sra. Reform e esperou que o nome de seu irmão fosse revelado, mas ela permaneceu em silêncio.
?E a quem devo assistir? ? Perguntou finalmente.
?Talvez o conheça, senhorita Moore.
?Mary, por favor, me chame de Mary.
?-Obrigada, então o que disse, Mary, é que pode ter ouvido falar dele porque é um homem bem conhecido nesta cidade. Ele trabalhou na Scotland Yard por alguns anos, mas quando estava prestes a conseguir um cargo importante, se recusou a fazê-lo e decidiu se tornar um marinheiro ?
disse com pesar enquanto observava Mary continuar sacudindo a cabeça.
?Confesso que sou uma mulher antissocial. Quase não saio de casa e, quando o faço, não tenho entre meus objetivos o de me relacionar com as pessoas que encontro, exceto se tiver que curá-las ? disse bruscamente.
?Entendo... Valeria ficou mais intrigada ainda. Se a jovem não o conhecia, por que seu irmão não parava de chama-la quando a febre aumentava? Esticou a saia do vestido para não enrugar, depois colocou as duas mãos no colo e olhou para a jovem sem piscar. ? Mas creio que conhece meu irmão ? insistiu.
?Se me disser o nome, posso responder com mais certeza ?
disse Mary, cansada.
Por que tanto mistério? O irmão daquela mulher era um ex
presidiário? Havia cometido crimes? Seria o próprio Frankenstein?
?Meu irmão é Philip Giesler ? Valeria finalmente declarou.
E naquele exato momento, Mary notou como seu queixo caía.
Nota do autor:
Espero que tenham gostado do romance e que me perdoem por deixá-los com tantas perguntas na cabeça. Esclarecerei algumas antes que me ataquem.
Em primeiro lugar, O desejo de Mary é o próximo. Os protagonistas serão Mary Moore e Philip Giesler. Se não se lembra bem deste último personagem, informo que o encontrará, ainda adolescente, em Minha amada Trapaceira.
Na segunda posição... o que aconteceu com Elizabeth? Basta dizer que, no prólogo de seu livro, o terceiro, descobrirão o que aconteceu com ela, nada de bom na verdade.
O quarto romance é a história de Josh. Eu ainda não sei como ele conseguirá isso, mas Eric está determinado a fazê-la se apaixonar ...
E o quinto é o de Madeleine. Quem será esse cavalheiro que acabará com sua timidez? Surpresa! Descobrirá quando o ler...
A propósito, não se preocupem com George Laxton, ele também terá sua história. Apesar de ser um personagem secundário, tenho certeza que irão me perguntar o que acontecerá com ele e se poderá se livrar do seu malvado tio. Esse será o sexto livro da série: A filha do duque.
Também quero esclarecer que é verdade que uma banheira,
aquecida a gás, voava com seu ocupante dentro. Colocarei o pedaço que me levou a ficar mais de vinte minutos rindo. Está na página Cuirosfera.com/Historia del baño:
No entanto, algumas décadas depois, em 1868, o inglês Benjamin Maugham inventou a banheira de água aquecida a gás, e tudo sugeria que a banheira seria popular, mas infelizmente um dia, um aquecedor explodiu e enviou banheira e ocupante ao outro lado da sala, onde aterrissaram imersos em perplexidade. As pessoas não queriam ouvir falar dessa engenhoca e preferiam comprar água quente que era vendida a domicilio.
É por isso que Mary não queria entrar em uma banheira sem usar a camisola!!
PS. Para que depois não digam que os autores não estudam todos os detalhes que oferecem. No meu caso, leio e pergunto muito para tornar meus romances mais reais.
Sem mais delongas, obrigada por terem lido e espero que estejam tão ansiosos quanto eu em saber o que acontecerá com Mary Moore e Philip Giesler.
Me encontrarão em:
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Outros títulos:
A Solidão do Duque. Série
os Cavalheiros I:
A vida libertina do futuro
Duque de Rutland termina depois de lutar um duelo de honra com um marido enganado. Envergonhado pelo resultado deste desafio, ele decide deixar Londres e ir para Haddon Hall, o lugar pacífico onde ele cresceu, na
esperança de encontrar a paz que ele tão desesperadamente precisa. No entanto, a chegada de notícias inesperadas altera essa suposta calma e faz com que o duque fique bêbado. Apesar do conselho de seus parentes, ele decide cavalgar e galopar através de seus domínios. Quando ele abre os olhos após uma queda infeliz, descobre que uma mulher cuida dele em algum lugar isolado de suas terras. Seu nome, Beatrice e seu único desejo, viver sozinho pelo resto de sua vida.
A Surpresa do Marquês. Série os
Cavalheiros II:
Roger Bennett, o futuro marquês de Riderland, se
define como um cavalheiro disposto a ajudar os pobres infelizes de prazeres sexuais. Ele gosta tanto da sua vida, que quer continuar assim até o fim dos seus dias. No entanto, uma pessoa irá suprimir essa vida de devassidão e libertinagem que tanto anseia manter.
Resignado a ter que viver com uma esposa que não conhece ou ama, decide encarar seu futuro com integridade. Embora quando seus olhos azuis se fixam em Evelyn, descobre que tudo o que desejava se evaporou. Mas o amor tem que ser trabalhado e, para um homem que achava fácil quebrar corações, será incrível ver como o seu próprio se estilhaça como o vidro.
A Tristeza do Barão. Série os
Cavalheiros III:
Dizem que a paixão juvenil nunca é esquecida, talvez porque seja pura e real o suficiente.
Depois de anos procurando por Anais
Price, sonhando em tê-la novamente ao seu lado, Federith Cooper tem que se casar com Lady Caroline, já que ela carrega seu filho no ventre, ou assim ele pensa. Mas sua vida de casado é um inferno; sua esposa rejeita sua presença, sua ternura e até sente repulsa por ele, o homem mais educado e respeitoso de Londres.
Federith tenta aceitar a vida que o tocou, mas ... por quanto tempo manterá o comportamento frio e aristocrático que seus pais o impuseram
desde criança, quando o amor de sua vida reaparece anos depois?
Um amor verdadeiro não desaparece com o tempo, e a promessa que ele fez para protegê-la, cuidá-la e amá-la tampouco.
O coração do inspetor O´Brian
Série os Cavalheiros IV
Nunca abandonou uma batalha
sem lutar, mas ela deixou bem claro que não havia nascido para ficar com ele.
Abatido, humilhado e com o coração partido, O´Brian se propôs a destruir aquele sentimento que tinha por seu grande amor.
Entretanto, quando por fim conseguiu não pensar tanto nela, a vida o brinda com outra oportunidade e nesta ocasião, não permitirá que April Campbell, viúva do visconde de Gremont, rejeite-o de novo.
Será que April superará o engano e a traição de seu falecido marido? Ela será
capaz de dar uma chance ao homem nunca a esqueceu?
Quem sabe ...
(Esta é a história de dois personagens que aparecem na novela A Tristeza do Barão: o inspetor O´Brian e a viscondessa viúva de Gremont)
Minha Amada Trapaceira. Série os
Cavalheiros V:
Soberbo,
arrogante,
petulante,
vaidoso ... são alguns dos adjetivos usados por quem conhece Trevor Reform, dono do mais famoso clube de cavalheiros de Londres, para descrevê-lo. O
poder que o dinheiro lhe dá o fez esquecer suas origens humildes, transformando-o em um ser desprezível, apático e desumanizado. Mas o destino se esforçará para lembrá-lo quem ele realmente é ...
Depois de encontrar a causa do maior problema que ele teve desde que abriu o clube, Trevor está obcecado em removê-lo o mais rápido possível do local. Para isso, elabora um plano, aparentemente tão perfeito, que não duvida, nem sequer por um segundo, de que alcançará seu objetivo.
Enganada
Essa é a história de Adele, uma
médica forense que tenta achar lugar em uma profissão masculina. No entanto, toda a sua luta profissional se verá interrompida pela ligação de um pai cheio de dor que a pede que aceite o caso de sua filha.
Desse momento em diante, todo o seu mundo cairá aos seus pés.
Descobrirá algo que jamais acreditou que encontraria e isso será o motivo para que adentre, sem se dar conta, em uma trama cheia de emoções, mentiras e sofrimentos. SE RENDERÁ SEM LUTAR POR AQUILO NO QUE
ACREDITA E AMA DE VERDADE?
Obrigado!
[1] Olhos do diabo
[2] Por todos os males do mundo!
[3] Burro! Estúpido
[4] As artes marciais chinesas são conhecidas na China como wushu e no ocidente como kung fu. Na China, a expressão kung fu caracteriza qualquer estilo de arte marcial, ou tarefa feita com perfeição, não apenas artes marciais. (Fonte: Wikipédia)
[5] Malditas pessoas em alemão
[6] Ipso facto é uma expressão em latim, que significa “pelo próprio fato” , “por isso mesmo” ou “consequentemente” , “consequência direta da ação” , na tradução para a língua portuguesa.
[7] Nomeie que Alexandre, o Grande, colocou seu cavalo.
[8] Hefesto es el dios griego del fuego y la forja, protector de los herreros, los artesanos, los escultores, los metales y la metalurgia.
[9] Foda-se!
[10] Diabos, esposa!
XXIV
Não conseguia parar de sorrir. Sentia tanto prazer e felicidade percorrendo seu corpo que não podia apagar o sorriso de sua boca, mesmo que tentasse fazê-lo. O vento batia em seu rosto, causando intermináveis lágrimas, mas não as afastou, gostava de saber que seus olhos sabiam chorar, apesar de fazê-lo de maneira não convencional. Olhou para os dois lados do caminho, confirmando que não havia ninguém por perto. Logan devia ficar tranquilo porque, depois de três horas percorrendo seus territórios, não encontrou nada que indicasse que caçadores furtivos estivessem vagando pela área. Olhou para cima e observou o sol. Estava em cima dela, avisando-a de que o meio-dia estaria próximo. Não deveria demorar para voltar. Não queria chatear Anne. Caso se atrasasse e não aparecesse para o almoço, ela teria a desculpa perfeita para trancá-la no quarto e puni-la até que o trabalho estivesse terminado. No entanto, o cavalo já mostrava sinais de fadiga. Bufava toda vez que o incitava e sua pelagem estava molhada de suor. Uma pequena parada ao longo do caminho seria boa para os dois.
Determinada a dar a ele o descanso que precisava, dirigiu-o, com um ligeiro puxão das rédeas, em direção a um pequeno bosque que se encontrava à sua direita. Quando o animal entendeu que poderia descansar em breve, relinchou alegremente e galopou ainda mais rápido em direção
àquela área verde e selvagem.
?Bom menino... ? Josh disse ao cavalo quando pararam. ? É
um campeão.
Bateu com força no pescoço robusto e desceu dele como um mensageiro militar que tem em sua posse a carta que informa sobre o fim de uma guerra.
Sem soltar as rédeas, caminhou na frente do animal, ouvindo as respirações agitadas dele. O servo não a enganou oferecendo-o, porque para ela era perfeito. Além de correr tão rápido, que mais de uma vez pensou que sairia disparada por sua traseira, era fiel às ordens dadas a ele. O único inconveniente, que o servo alegou, era que ele não possuía uma linhagem tão virtuosa quanto os outros cavalos no estábulo. Pelo que disse, a mãe escapou do estábulo quando entrou no cio, e ela permitiu se emprenhar por um dos Percheron que o barão de Sheiton mantinha na propriedade adjacente. «Sua Excelência aceitou a chegada deste mestiço, mas eu o teria matado assim que ele saísse das entranhas daquela sem vergonha», foram as palavras usadas por aquele empregado cruel e tolo. Talvez, essa afirmação repugnante a tenha feito simpatizar com o animal. Era tão mestiça quanto ele e por isso ela não deveria viver?
?Calma ? disse para acalmá-lo, algo que o tinha perturbado ?
não há ninguém aqui além de nós. Ficaremos pouco tempo, o suficiente para
que possa pastar um pouco e eu eliminar a dormência das minhas pernas.
O relincho do animal deu-lhe a entender que ele não conseguia se acalmar e que, apesar de suas palavras, algo o mantinha bastante inquieto. Finalmente, Josh decidiu amarrar as rédeas a um ramo e verificar o que assustara tanto o animal.
?Não te acontecerá nada ? continuou falando com uma voz calma enquanto tirava a arma afiada e brilhante do esconderijo. ? Vou protegê-lo com isso.
Colocar aquela faca perto do seu olho esquerdo não causou o efeito que ela esperava. O cavalo, assustado, ergueu as patas dianteiras e acenou-as como se quisesse pisar nela. Rapidamente, Josephine se afastou e enfiou a perigosa arma na parte de trás do cinto. Esse ato relaxou o animal aterrorizado.
?Por todas as almas miseráveis deste mundo absurdo! Eles tentaram mata-lo? É por isso que ficou alterado? ? Perguntou em pé na frente da cabeça dele, acariciando-a lentamente.
Movida pela atitude submissa do animal, colocou as duas mãos em direção àquele pescoço castanho-chocolate grosso e estava sentindo-o lentamente, entrando debaixo deste com calma, como se tivesse esquecido que, segundos antes, ele apresentava um comportamento selvagem. Então, quando enfiou o rosto no peito molhado e peludo, encontrou o que procurava:
uma aspereza. Quando a tocou, parecia com um começo de sujeira acumulada na estrada. Sim, não havia dúvida de que o imbecil tentara matá-lo, mas não conseguiu, porque o que o homem sem cérebro não entendia, era que os seres nascidos do sangue mestiço se tornavam guerreiros imortais e corajosos. E
ela se considerava da mesma forma: tão imortal e corajosa quanto o cavalo que foi gerado de um acasalamento entre cavalos livres.
Com o punhal guardado e incapaz de pensar em outra coisa senão encontrar uma maneira de dar a esse servo uma lição bem merecida, beijou a testa do cavalo, virou-se para a floresta e avançou sobre os troncos das árvores. A tempestade da noite anterior foi devastadora para esse terreno. As raízes saíram, atravessando a terra transformada em lama, como se procurassem desesperadamente por aquela luz do sol que mal tocava o chão, porque a folhagem das árvores desacelerava os raios no topo de suas copas. Se estivesse andado pela selva amazônica, poderia compará-la com aquele lugar oculto e inóspito. A vegetação em torno dela havia crescido pelo clima na área ou por estar perto o mar? Se continuasse nessa estrada, poderia se encontrar no topo de um penhasco? Poderia finalmente saber como era a imensa massa de água salgada, como cheirava e o que o toque de salitre produziria em sua pele? Haveria navios navegando? E se encontrasse um navio pirata? E se a tripulação deixara o barco e fora para a costa levantando suas espadas procurando o início de uma guerra contra Londres? E se
encontrasse contrabandistas franceses?
A imaginação de Josh transbordou. Começou imaginando como seria a areia e acabou lutando com seu facão na proa de um navio francês. Sua mão esquerda foi colocada nas costas enquanto a mão direita segurava a arma e acenava, produzindo ziguezagues leves que pareciam cortar o ar.
?Eu? Quem sou eu? ? Gritou ao vento enquanto intensificava a força daquela luta imaginada. ? Sou seu pior inimigo!
Sua abstração era tão incrível e tão real para ela, que os fios de cabelo loiro que se soltaram em vários desses movimentos abruptos, grudaram em seu rosto pelo suor. Sua camisa branca mostrava sulcos úmidos de formas irregulares, como se fosse usada por um camponês que passara a manhã inteira trabalhando no campo. Agarrou com força a alça da adaga, dirigiu-a para o céu, dedicou a Deus a morte de seu oponente, ajoelhou-se e, como se tivesse se tornado um cavaleiro medieval, inclinou a cabeça.
De repente, um barulho foi ouvido atrás dela, ela se virou de joelhos e jogou a faca para baixo. Quando descobriu onde a faca estava presa, não conseguiu reagir. Um homem vestido com um traje de montaria inclinou-se para a frente para ver que seus olhos não estavam enganados quando viu que tinha uma faca presa na bota direita.
?Merda! ? Exclamou o jovem quando a dor que produziu a
ponta da arma cruzou de leve a pele e mostrou-lhe que não era uma visão. O
que fez infeliz? Por que jogou isso em mim?
?Quem diabos é? Por que está me perseguindo? ?
Perguntou enquanto se levantava.
O garoto não prestou atenção nas perguntas de Josh ou na raiva que ela tinha quando falava. A única coisa que fez foi sentar na lama, tirar a arma pontuda da perna, tirar a bota e confirmar que uma superfície vermelha circular se estendia por suas calças brancas.
Josephine olhou para ele com raiva. O rosto dela não expressava remorso, aflição ou compaixão pela dor que o estranho que explodiu sobre ela em um ato tão privado deve ter sofrido. Ela estava serena, como se tivesse construído um castelo de pedra com as próprias mãos, e ela colocou as mãos na faixa marrom, exibindo uma pose dura, severa e orgulhosa, assim como sua mãe era quando ela fez outro buraco em sua amada janela da sala de costura.
Com a adaga na mão, Eric cortou as calças para descobrir a extensão da ferida. Apesar do sangue, não era muito profundo. Felizmente, o material da bota de equitação tinha barrado o lançamento efêmero. Mas ele não podia sorrir para aquela mulher louca que, antes do ramo ter estalado ao pisá-lo, a observara fazendo movimentos muito estranhos, como se estivesse invocando o próprio diabo. Sem olhar para ela, inclinou-se para a direita,
tirou o lenço do bolso, que colocou ali antes de subir no cavalo, estendeu-o e amarrou-o ao redor da ferida. Ele não queria que o sangue se espalhasse por suas calças e aparecesse em Herast Pond como se fosse um soldado que voltava para casa depois de vinte anos de guerra.
?É surdo? Porque não fala? ? Ela o repreendeu. ? Perguntei-lhe o que diabos faz nos territórios do Visconde de Devon.
?As propriedades do visconde terminam ali. ? Ele apontou com a mão direita em direção ao fim da floresta. Estas são minhas ? ele assegurou rudemente. Então é a única surda e desorientada ? disse ele, levantando o queixo gentilmente para enfrentar a criminosa insolente.
Uma vez que seus olhos se encontraram, os dois permaneceram em silêncio e por causa de como seus corpos estavam paralisados, eles também se esqueceram de respirar...
?Mente! ? Josh gritou, despertando do transe estranho que a fez ver o lindo rosto do rapaz. ? É um caçador ilegal! ? Soltou. ? O
visconde me avisou sobre vocês! ? Continuou com raiva.
?Não ? o jovem respondeu. Ele apoiou as palmas das mãos nos troncos que tinha em ambos os lados e, com a ajuda deles, levantou-se. Ele não podia ser intimidado por tal rata, embora tivesse um rosto tão bonito que perdera sua razão por um momento. A solenidade que lhe fora incutida desde o berço, seu orgulho, sua integridade e tudo o que lhe dava o melhor instrutor
que poderia encontrar, seu pai, brotou de algum lugar de seu corpo, protegendo-o como se fosse um escudo. ? Agora mesmo irá me acompanhar, imunda e suja, até minha casa e, uma vez que o xerife saiba o que fez com uma pessoa como eu, estará trancada atrás das grades até dar as explicações relevantes para esse ato criminoso. Mas tenho medo que seja julgada e....
?Ato criminoso? Julgada? ? Josh respondeu com os olhos arregalados. ? Queria me atacar pelas costas! ? Fiz apenas o que qualquer mulher decente faria a quem pôs em perigo sua vida!
?Mulher? Decente? ? Eric Cooper virou-se para ela sem piscar. ? Não é mulher! ? É uma abominação da natureza!
?Como ousa me insultar assim? ? Gritou caminhando em direção a ele com atitude desafiadora.
?Como ousa me machucar e declarar que eu merecia esse esfaqueamento? ? Ele respondeu, mostrando uma imagem um pouco ridícula, porque parecia que ele estava brincando com uma perna só, em vez de discutir verbalmente contra alguém que se dizia mulher, mas vestida como um homem.
?Se estivesse em Londres agora o desafiaria para um duelo ?
Josh murmurou.
?Um duelo? ? Acha que perderia tempo e arriscaria minha
honra por alguém como você? Antes iria jogá-la no Tamisa! ?
Exclamou fora de si.
?Você ? disse apontando com um dedo inquisidor e em pé na frente o suficiente para levantar o queixo e para os olhos se encontrarem novamente.
?Você? ? Eric colocou ambas as plantas dos pés no chão, suportando a dor com dignidade. Endireitou seu corpo e sorriu quando viu que ela mal chegava ao seu ombro. ? Você ? ele começou a falar sarcasticamente ? é um monstro, uma fera selvagem que...
Ele não terminou a frase, uma mão de Josh bateu em sua bochecha esquerda com tanta força que ele virou o rosto para a direita. Uma vez que pode encará-la de frente e eliminar num ápice toda a nobreza e dignidade que evocava em voz alta, estendeu as mãos para ela, colocou-as em seus ombros e a sacudiu.
? Está louca? Por que me deu um tapa? Quem pensa que é?
?Josephine Moore ? disse com arrogância, enquanto pegava as mãos dele pelos pulsos e as virava para o lado oposto ? e é um homem arrogante se pensa que será fácil me dobrar.
Eric, pego pelas mãos, sentindo a pontada de dor que irradiava da ferida até a testa, observava sem piscar o rosto da guerreira. Seus olhos, apesar de serem marrons, haviam se tornado duas imensas bolas de fogo. Seu
nariz, pequeno e arrebitado, enrugou-se para mostrar uma repulsa sincera. Mas seus lábios, embora tentassem ser rudes e cruéis, pareciam delicados e suaves, como os exibidos pelas jovens mulheres sinceras, embora nenhuma das que ele conhecesse pudesse superá-la em volúpia. Atraído como uma mosca para o mel, obcecado por descobrir que sabor a boca de uma mulher tão estranhamente peculiar teria, separou os braços, contrabalançando a força que ela exercia sobre seus pulsos e diminuindo a distância entre os dois. Com os olhos abertos, para não perder de vista o impacto do que se propusera, inclinou a cabeça para a jovem e a beijou.
Josh permaneceu imóvel quando os lábios daquele homem desarmado tocaram os dela. Suas mãos ainda estavam ocupadas com as dele, então não pode lhe dar outro tapa. Mas ela poderia jogar a cabeça para trás e recuar. No entanto, não fez. Ela permaneceu imóvel até o jovem, que tinha um cabelo da mesma cor que o de Madeleine, embora na testa ele tivesse uma mecha dourada, se afastou.
?Interessante... ? Eric disse, com uma voz muito diferente da que ele havia usado antes ? uma virgem sozinha em minhas terras. Paradoxal... ? ele sussurrou divertido. ? Não esperava que, quando esta manhã pedi a Deus um sinal para enfrentar o destino da minha vida, decidisse colocar no meu caminho uma jovem como você, Josephine Moore.
Ao ouvir seu nome com aquele tom sensual, Josh acordou do
transe induzido depois de sentir, pela primeira vez, o calor de uma boca masculina na sua. Indignada, zangada, por ter permitido que algo tão absurdo a fizesse perder algo tão importante quanto a prudência, torceu os pulsos com mais força, até que a dor foi tão insuportável que apagou a satisfação que ele mostrava em seu rosto, e o lançou para trás. Quando ele caiu na lama, Josh pegou a adaga, cuspiu nele e foi desesperadamente pela floresta. Não parou de correr até encontrar o cavalo, que relinchou alegremente ao vê-la. Desatou o melhor que pôde, porque suas mãos tremiam, montou como se fosse uma amazona habilidosa e cavalgou sem diminuir a intensidade do trote até ver os telhados de Harving House.
XXV
Suas mãos, até agora relaxadas e voltadas para o chão, levantaram lentamente para se colocarem ao redor de seu pescoço. O beijo foi se transformando a cada segundo que durava. Passara de uma colisão suave a um tornado repleto de paixão e desejo. Abriu a boca lentamente, permitindo acesso àquela língua voraz, faminta e ansiosa para saborear seu interior. O
grunhido do visconde, satisfeito com a decisão que tomara, lhe causou mais prazer do que angústia. Estendeu os dedos e espalhou-os sobre o pescoço tenso devido à inclinação. Não os manteve quietos, mas permitiu que descobrissem o toque da pele masculina. Estava no paraíso. Não por causa do ambiente em que isso acontecia, mas porque tudo se tornou um lugar bonito, cheio de calma, tranquilidade e bem-estar. Era como se depois de anos de trabalho arqueológico em uma área atormentada, finalmente encontrasse os restos pré-históricos.
Sentiu uma forte pressão nas costas, ele a ajustava ainda mais ao seu corpo, transformando-os em um só. Com os olhos fechados, sentindo como se libertava e se transformava em uma nova mulher, se acomodou nele, se entregando ao delírio no qual haviam submergido. Sua língua tocou a do visconde com certa timidez e aquele contato, aquele mísero roçar, causou-lhe um impacto semelhante ao que uma estrela poderia causar ao atingir a terra.
Luzes coloridas figuravam sob suas pálpebras e seu corpo reagia com tanta sensualidade que, sem perceber, seus quadris se esfregavam no membro masculino inchado, fazendo com que aumentasse ainda mais seu tamanho, sua excitação. Ele respirou fundo pelo nariz quando virou a cabeça para o outro lado. Não afastou a boca da dela, pelo contrário, apertou-a com tanta força que, no segundo impulso daquela língua selvagem, saboreou o gosto do próprio sangue. Franziu o cenho levemente, acreditando que o gosto o levaria para longe dela, mas o efeito foi o oposto. A língua do visconde lambeu as gotas que sua ferida emanava e as introduziu dentro de sua boca, como se tivessem lhe dado para beber o melhor elixir que pudessem encontrar. Suas mãos, até agora agarradas a sua cintura, baixaram lentamente até que foram colocadas em suas nádegas e então ele a ergueu como se seu peso fosse parecido ao de uma pluma. Rapidamente, entrelaçou seus braços naquele pescoço forte e continuou aceitando o beijo que não tinha fim.
Caminharam. O visconde começou uma marcha pelo jardim para algum lugar no qual continuariam a manter a intimidade que necessitam dois amantes apaixonados e sucumbidos por um desejo tão intenso, e que só poderia terminar com uma entrega absoluta e sincera. Seus pés, entrelaçados na cintura do visconde, deslizaram suavemente quando sentiu uma forte pressão nas costas e percebeu que haviam parado de andar. Abriu os olhos e contemplou para os dele. Sua íris azul brilhava como duas imensas bolas de
fogo, suas maçãs do rosto, aquelas áreas que a barba espessa não escondia, mostravam o rubor da paixão que ambos sentiam. Ela se acomodou no chão, seus braços emaranhados ao redor do pescoço dele, sentindo o hálito quente do homem e que a olhava com tal desejo que o pulsar que começou entre suas pernas se tornou angustiante, aterrorizante. Sua boca se retirou devagar, como se o fio que os juntara tivesse sido cortado, e justamente quando pensou que aquela loucura havia chegado ao fim, ele começou a beijar seu pescoço, o lóbulo que ela havia tocado quando viu seu colete laranja, e levou-a de volta para o paraíso ao que tinha ido depois de beijá-lo...
—Anne... —sussurrou sem ser capaz de tirar a boca da pele, cheirando com intensidade o traço que percebia em cada beijo que dava nela.
-- É...
Ficou em silêncio porque não encontrava as palavras certas para definir o que ela o fazia sentir. Sem deixar de ouvir os gemidos de prazer que Anne emitia quando pressionava os lábios contra o corpo dela, tirou as mãos da cintura dela, onde as havia colocado para abaixá-la cuidadosamente, e procurou as dela. Quando as encontrou, entrelaçou os dedos com os seus, as ergueu bruscamente e colocando-as sobre a cabeça de Anne, imobilizando-a instantaneamente.
Deus! Como podia se sentir tão atraído? Que tipo de feitiço havia jogado nele para não ser capaz de se recordar de algum momento parecido?
Vendo a confusão no rosto de Anne, depois de fazer um movimento tão violento, Logan colocou sua perna esquerda entre as dela e a beijou novamente, afastando qualquer pensamento arrependido de sua mente.
Isso só seria o começo do que ansiavam...
Enlouquecido pelo gosto daquela boca, agarrou-lhe os pulsos com uma mão, deixando-os onde desejava que ficassem e começou a tocá-la lentamente. Estava tremendo. Para sua alegria, ela estremeceu de desejo ao sentir a mão dele percorrer seu corpo, ainda coberto por um miserável vestido marrom que ele logo arrancaria para tocar o que precisava: sua pele.
A marcaria. Sim, apagaria qualquer resquício que tivesse de Hendall e a preencheria com o seu, fazendo desaparecer o vestígio que nunca devia ter tido.
Quando as pontas dos dedos se acostumaram com o calor de Anne, sua língua empurrou de volta com força dentro da boca dela, fazendo-a soluçar novamente. Quando ouviu que ainda o aceitava e que seu desejo aumentara, ele se aventurou a continuar. Seus dedos pararam de tocar o vestido para serem colocados no decote e muito lentamente, dando alguns míseros segundos para que se adaptasse ao seu toque, estendeu a mão e prendeu seu seio esquerdo.
Maçãs. Aquele seio era mais suave que a pele de uma maçã e o mamilo, duro de excitação, era o cantinho...
Afastou sua boca da dela, embora tenha ouvido um lamento de desconsolo, e foi beijando seu queixo, pescoço, decote...
—Vou... -- Tentou dizer, mas ficou em silêncio quando notou que Anne estava apoiando o torso na direção dele, consentindo com o que decidisse fazer.
Com os olhos bem abertos, contemplando como ela continuava exigindo suas carícias, tirou a mão do seio, colocou-a no vestido e desabotoou os quatro botões. Uma vez que o tecido do chemise ficou diante dele, tornou a inserir aquela mão, que tremia porque ansiava por tocar o seio que segurara, e puxou-o para fora.
Inebriado, entorpecido por tal visão, inclinou o rosto para o seio e o mordeu, como se na verdade fosse uma maçã a qual acabava de dar uma grande mordida.
Anne jogou a cabeça para trás e gemeu com o contato atroz. Ela não se queixou da dor que os dentes lhe causaram na superfície do seio, mas porque, estranhamente, ela queria mais.
—Lo... Logan... —murmurou, fechando os olhos, sentindo uma forte pressão naquela parte do corpo e aproveitando o prazer que a percorria.
Tentou mover as pernas, fraca pela perda de forças antes da chegada da paixão, mas tudo o que conseguiu foi tocar com um joelho o sexo ereto dele.
—Ardo, Anne. Sinto como meu corpo queima como se estivesse
dentro de uma fogueira —confessou depois de deixar aquele seio e beijar novamente o decote nu. -- Sinto minha pele ardendo, queimando...
—Logan... —sussurrou Anne ao cruzarem novamente os olhares.
-- Sim —ele respondeu antes de devorar sua boca outra vez.
O fato dela timidamente ter aberto as pernas, lhe deu a oportunidade de ficar entre elas. Sua cintura se colou ao corpo de Anne e, sem pudor, fez com que ela entendesse o quanto estava excitado, até que ponto ele enlouquecera e a que nível se estendia sua paixão. Porque era assim. Ele se transformou em um louco que queria viver somente com ela, beijá-la sempre que quisesse, tocá-la quando seu corpo precisasse senti-la perto e.... fazê-la dele até a morte chegar.
«Ela é tudo que preciso para viver», a frase de seu irmão, se referindo a sua esposa, apareceu em sua mente para confirmar que, por mais improvável que parecesse, estava sentindo o mesmo. Anne deveria ser dele, exclusivamente dele. Seu passado e o dela haviam desaparecido. Agora eles deviam se concentrar no futuro que deveriam construir... juntos.
No momento em que a mão esquerda levantou o vestido, procurando tocar aquela intimidade, que emitia um cheiro muito hipnótico e que queria provar para confirmar que a essência de Anne era perfeita, ouviu um relincho. Rapidamente afastou a mão, parou de beijá-la e olhou para o céu. O cavalo, que reconheceu imediatamente, voltou a emitir um som
escandaloso.
—Josh! -- Exclamou se afastando abruptamente dela.
—Josh? —Perguntou Anne sem abrir os olhos, confusa e sentindo um arrepio terrível quando perdeu o calor de seu grande corpo.
—Josephine acaba de chegar —informou. -- Sairei para recebê
la enquanto se arruma. Não seria apropriado que nos encontrassem dessa maneira não profissional. Então recomendo que, depois de se arrumar, fique na frente do cavalete e continue com aquele maldito retrato —afirmou em uma voz áspera, se transformando novamente no aristocrata que realmente era.
De repente, o rubor gerado pela paixão foi transformado em sufocamento produzido pela vergonha e pela insensatez, a qual ela sucumbiu, em desespero. Com as mãos trêmulas, Anne enfiou o peito nu sob a camisa e abotoou o vestido. Sua cabeça estava levemente inclinada para frente, de modo que o visconde não notasse sua mudança de emoções. Então, quando pensou que estava sozinha, que ele havia partido, ele voltou, colocou-se na frente dela, levantou seu queixo com ternura e, a olhando como apenas um amante poderia, deu-lhe um beijo carinhoso.
-- Se não se arrepende do que acabamos de fazer, do que nós dois sentimos ao estarmos juntos, esta noite, não tranque sua porta --
declarou antes de beijá-la novamente e sair dali dando um grande passo.
***
Logan amaldiçoou de novo e de novo a chegada inoportuna de Josh. Ele estava prestes a tocá-la, notar a excitação que ela exalava entre as pernas e ver se o necessitava tanto como ele a ela, mas não teve tempo...ao ouvir o relincho de Galeón, rapidamente percebeu que o animal tinha cavalgado sem parar por bastante tempo. Algo havia acontecido com a jovem e não podia esperar para descobrir o que era. Se não controlasse a atitude das irmãs de Anne, ela se concentraria nelas e o deixaria em segundo plano e, por enquanto, queria ser o único projeto na vida da primogênita Moore.
Uma vez que atravessou a academia e pisou na galeria, seus passos não eram lentos, estudados e firmes, empreendeu uma ligeira corrida até chegar à porta da frente. Lá ele encontrou a Sra. Donner, que, como especialista em criação de animais, veio ao chamado desesperado do cavalo.
—Eu sei —Logan disse quando observou o questionamento no seu rosto —verei o que aconteceu.
—Milorde! Que não seja nada mau! —A cozinheira rogou, apertando as mãos e tocando os lábios de leve, como se começasse a rezar.
Logan abriu a porta e focou seu olhar no caminho em que Josh deveria aparecer. O aspecto do galope de Galeón era desesperado, quase frenético. Calmamente, ele não queria se mostrar inquieto, desceu os degraus e caminhou em direção à entrada do portão, onde a receberia e perguntaria o
que havia acontecido. Mas Josh não parou quando o viu parado ali, puxou as rédeas para a direita e continuou em direção ao estábulo. Então ele correu atrás dela, chamando-a pelo seu nome, tentando aplacar o demônio que tinha visto em seus olhos, mas ela estava tão focada no que queria fazer que não o escutava. Desceu do cavalo, como ele fazia, levantando a perna direita sobre a cabeça do animal e, quando ambas as plantas dos pés tocaram o chão, tirou algo que estava escondido sob a sela e caminhou até o servo que a estava esperando. Por causa da luz do sol brilhando sobre o objeto que ela segurava na mão e os olhos que o servo arregalou ao vê-la, não teve dúvida de que ela estava carregando uma adaga. Logan continuou correndo e quando chegou ao seu lado, pegou seu cotovelo para parar o avanço.
—O que diabos aconteceu, Josh?
Mas ela não respondeu, ainda apontando para o criado, virou a cabeça ligeiramente para ele e mostrou-lhe, com mais clareza, um rosto que o deixou petrificado. Tinha chorado. Josh tinha em suas bochechas os sulcos esbranquiçados que deixavam as lágrimas ao vagar por elas, mas em uma tentativa absurda de livrá-las, esfregou a lama que suas mãos possuíam.
Parecia um limpador de chaminés, apesar que Pit, o menino que ele pagava para limpar o interior de suas chaminés, não tinha fogo em seus olhos, e sim partículas de carvão.
—Eu vou matá-lo! -- Josh gritou com a adaga apontando para o
lacaio que lhe oferecera o cavalo. ?Vou cortar sua garganta, assim como queria fazer com ele! —Gritou, apontando com os olhos para o animal que, paradoxalmente, era o ser mais calmo dos que estavam em frente ao estábulo.
—Josh, por favor. Diga-me o que aconteceu? -- Insistiu enquanto deixava de agarrar o braço dela e se colocava entre o criado e ela. Se continuasse a manter essa raiva, logo saltaria sobre o servo atordoado e o esfaquearia. Sem dúvida, o sangue das irmãs era mais cigano do que Moore.
Quantas vezes testemunhou disputas entre os membros de seu povo? Quantas vezes observou como os corpos eram jogados, nos arredores do assentamento, para que os animais devorassem os cadáveres? Muitas. Até o dele poderia ter sido mais um, se a mulher que chamava de mãe não o tivesse salvado.
—Diga a ele! —A jovem uivou tão alto que sua garganta se esticou e afinou como o pescoço de um ganso.
Logan olhou por cima do ombro esquerdo para o criado e descobriu que estava tão confuso que seu rosto perdeu a cor da vida. Então olhou de volta para Josh e notou que toda a raiva contida se transformara em lágrimas. Mas, como bom soldado, ela queria eliminar a única coisa que a deixava vulnerável e as tirou com as mangas da camisa, uma que estava bastante suja. Ela teria caído do cavalo?
—O que está tentando dizer, Pascual? ?Perguntou, virando-se
para ele. —Tem algo para me explicar? —Seu tom suave, mas firme como uma rocha no meio de um rio, fez o servo se encolher.
—Ele queria matá-lo! —Josephine respondeu ao seu lado.
—Matá-lo? —Logan perguntou com aquela voz diabólica.
Franziu a testa e não desviou o olhar de Pascual. —Deve haver um engano, certo? Porque ordenei que ninguém tocasse nesse animal e, até onde sei, o que ordeno em minhas propriedades deve ser cumprido sem uma réplica.
—Pensa assim? —Josh arregalou os olhos e deu um passo à frente, mas Logan a parou colocando novamente uma mão no ombro direito dela.
—Quero que me explique o que aconteceu e por que chegou desse jeito —pediu a Josh sem olhar para ela, mantendo os olhos fixos no homem que, pelo movimento que seu corpo fazia, pretendia fugir a qualquer momento.
—Encontrei a marca da tentativa de assassinato em seu pescoço
-- declarou Josh, respirando fundo.
—Em Galeón? Tem a certeza? —Insistiu.
—Sim —Josh respondeu, enxugando as últimas lágrimas com a frente de sua camisa. —Quando parei na parte norte que indicou para mim, o cavalo ficou inquieto e quando lhe mostrei a adaga, para que se sentisse seguro ao meu lado, ele levantou as pernas como se quisesse se defender
contra a agressão. Quando consegui acalmá-lo, comecei a procurar o que eu temia e.... —ela soluçou -- eu o encontrei.
—Bem. Vou... Nem pense em fazer isso! —Disse ao criado que estava andando para trás para fugir.
—Milorde... Excelência... não tive outro... não queria matá-lo...
apenas tentei me defender quando...
—Cale a boca! Não quero ouvir nenhuma palavra! —Gritou.
Lentamente, ele se afastou de Josh, foi até o cavalo, que estava muito quieto e se colocou na frente dele. Este, percebendo e vendo a presença de seu mestre, levantou a cabeça, moveu as orelhas e relinchou alegremente.
—Olá Galeón. Se divertiu com o Josh? -- Falou baixinho enquanto colocava as mãos no pescoço molhado. -- Ela diz que você tem uma marca e quero comprovar que é verdade —continuou dizendo enquanto arrastava as palmas das mãos pela sua pele.
Depois de ficar entre os quartos da frente do animal, que não se movia nem para respirar, ele percebeu o início da marca. Era tão grande quanto as dimensões de uma das palmas de suas mãos e mais áspera que a textura da casca de uma árvore. Se afastou do corcel, sentindo a raiva de seu sangue cigano tomar conta de sua pessoa, caminhou com determinação para o criado, que olhou para ele com os olhos cheios de medo, colocou-se em frente ao mencionado e ergueu a mão direita com a intenção de dar um tapa
nele.
—Não! —Ele ouviu.
***
Depois de ficar em frente à tela por muito tempo, decidiu deixar o jardim e descobrir por que Logan estava preocupado quando ouviu o relincho de um cavalo. Enquanto caminhava pela interminável galeria, e confirmou que teria se perdido se a criada não tivesse explicado o caminho, pensou no momento especial em que viveram juntos. Não entendia muito bem como tinha ido do ódio à paixão, do desejo de matá-lo a querer que ele ficasse preso ao seu corpo todo o tempo e, sem contar, com a loucura que ambos obtiveram entrelaçando línguas cheias de seu próprio sangue. Eles se tornaram tão insanos que pareciam duas pessoas com sede de beber água de uma pequena poça de chuva. Mas, mesmo que esse ato não fosse sensato, tinha que compreender algo estranho que surgiu de dentro dela no momento em que o provou. Sentiu calor, então congelou. Viu luzes e depois apareceu a escuridão. Ouviu o som de pássaros cantando, mas quando virou a cabeça para o lado oposto, descobriu que o silêncio reinava e que apenas as respirações forçadas deles para poderem respirar. O que acontecia com sua mente? Por que lhe mostrava coisas que não eram verdadeiras? Por que se entregou a ele com tanto ardor? A causa desta entrega foi a paixão que surgiu de dentro dela para pintá-lo? Se abstraia facilmente quando se colocava na
frente de uma nova tela, mas isso não era motivo para ansiar tudo o que ele pudesse oferecer a ela. Havia deixado esse mundo quando observou seu olhar penetrante, ouvindo-o falar com aquele tom tão sedutor e inebriante. Seu corpo reagiu rapidamente, como se tivesse esperado toda a sua vida, como se seu passado tivesse sido apagado diante daqueles olhos e daquela voz. No entanto, precisava assimilar calmamente as emoções que haviam despertado dentro dela. Não poderia cair em outro erro e, assim como estava, não apenas tropeçaria, mas desta vez o buraco seria tão profundo que levaria anos para ver a luz de um novo dia novamente.
«Se não se arrepende do que acabamos de fazer, do que nós dois sentimos ao estarmos juntos, esta noite não tranque a sua porta». A voz do visconde apareceu novamente em sua cabeça para lembrá-la das últimas frases que ele disse antes de sair. Estava disposta a deixá-lo entrar? Seria capaz de fazer isso? Pela primeira vez em sua vida, a alma que mantinha sob seu peito e sua mente coincidiram, só esperava não errar e terminar como naquele dia.
Depois de um longo tempo andando chegou ao final do angustiante corredor, saiu e arregalou os olhos ao ver a cena que estava diante dela. Josh segurava uma adaga na mão direita e apontava ferozmente para o lugar de onde Logan vinha. Ele, mostrando uma solenidade sem precedentes, ficou na frente do criado, levantou a mão e, deduzindo Anne o
que aconteceria, correu para eles gritando que não o fizesse.
—Não! —Gritou horrorizada. —Por favor, não faça isso na nossa frente -- ela implorou.
Quando as orelhas de Logan captaram o grito de súplica de Anne, estranhamente relaxou. Ele estava tão calmo que parecia ter tomado dez xícaras de erva-cidreira. Imediatamente, baixou a mão e juntou-a na perna direita, para não voltar a sucumbir ao desejo de lhe dar um tapa.
—Vá! —Rosnou em uma voz tão áspera e cruel que se assemelhava ao diabo. —Saia das minhas terras agora mesmo! E espero que a vida o leve tão longe que nunca mais nos encontremos, porque se isso acontecer... pagará com juros por sua desobediência!
E o criado correu como um galgo.
Josh, ouvindo o tom que o visconde usava, permaneceu como um soldado e só pôde relaxar quando sentiu o corpo de sua irmã por perto, abraçando-a. Mas ela não desviou o olhar daquele bastardo até que estava fora de alcance.
—O que aconteceu? —Anne perguntou baixinho.
—Galeón é um mestiço —respondeu Logan, que tinha ouvido claramente. —Sua mãe escapou do estábulo ao entrar no cio e acasalou com um dos Percheron que o barão de Sheiton mantém em suas terras. É por isso que tem essa pelagem nos cascos e é muito diferente dos que mantenho no
estábulo. Desde que nasceu, não foi bem recebido entre os outros cavalos e, como descobri, não foi aceito pelo tratador —ele continuou explicando enquanto se virava para elas.
—Aquele bastardo queria matá-lo porque diz que os mestiços devem morrer —disse Josh oferecendo um olhar para sua irmã que ela entendeu rapidamente.
—Teve o que mereceu -- consolou-a Anne depois de beijar sua testa. -- O visconde cuidará para que ele não deprecie as misturas de sangue novamente.
—Claro —Logan resmungou. —E agora, se me derem licença, levarei Galeón aos estábulos para que possa descansar. Enquanto isso, senhorita Moore —disse ele a Anne -- poderá cuidar de sua irmã. Tudo o que precisarem será fornecido pela donzela ou pela Sra. Donner.
—Sim, milorde —disse Anne, um pouco mais calma. Abraçou Josh com mais força, virou-a e tentou levá-la para a residência, mas antes que tivessem dado alguns passos, a jovem afastou-se da irmã e correu em direção ao visconde, que já estava ao lado do cavalo, chorando amargamente.
—O que? —Logan perguntou confuso quando a viu em pé na frente dele. —Quer me dizer algo diferente de...?
Não terminou a pergunta por que Josh se jogou nele, abraçou-o e, com o rosto no peito, continuou com um grito agonizante.
—Sinto muito pelo que sofreu —disse ele, sem saber muito bem como agir em tal situação. Nathalie mal chorava e quando fazia ele era o culpado desse choro e seus outros irmãos, com quem ele viveu em Salved Children, costumavam se esconder nos braços de suas mães.
—Obrigada, Logan —Josh soluçou. —Obrigada pelo que acabou de fazer —continuou a jovem. Ela se afastou devagar do visconde, secou as lágrimas com os punhos da camisa e ergueu o queixo gentilmente. —É uma pessoa tão boa que, mesmo antes de nos conhecermos, respeitava as origens dos outros. —Essa declaração deixou Logan imóvel. —Sabia o que significa ser um mestiço e é por isso que sempre nos tratou com essa consideração --
disse ela, se referindo ao nascimento do cavalo e à bondade de mantê-lo vivo.
—Josh.... acho que... —o visconde tentou dizer, um pouco desnorteado pelas palavras da jovem.
—Nos entende! —Ela exclamou antes de abraçá-lo novamente e se deixar levar por outro choro desconsolado.
—Sim, Josh, eu as entendo perfeitamente —respondeu, acariciando os cabelos loiros e fixando os olhos em Anne.
No momento em que Anne ia sussurrar um agradecimento, a carruagem na qual Elizabeth viajara apareceu. Assim que estacionou na entrada, a porta se abriu e Howlett saiu primeiro.
—Que dia mais espetacular! —Eli exclamou, descendo com a
ajuda do jovem. —Acho que nunca me diverti tanto. É incrível Howlett e me ajudou muito. Juro que não sei o que teria feito sem você.
—Pode pedir ao visconde para que eu a acompanhe sempre que quiser, senhorita Moore —respondeu Howlett, incapaz de apagar o sorriso em seu rosto. —Sempre estarei disposto e orgulhoso em servir uma dama tão sofisticada.
Corando com o comentário, Eli caminhou até a porta, mas quando percebeu que suas irmãs e o visconde estavam à sua esquerda, se virou e....
-- Santo Céu! Onde esteve, Josephine? Tem um aspecto horrível
—disse espantada.
XXVI
Durante o almoço, Elizabeth não parou de falar sobre a viagem e tudo o que encontrou nas várias lojas que visitou. Depois daquele monólogo sem fim, no qual os outros não prestaram atenção porque tinham outras coisas para pensar, ela concluiu que o jardim ficaria muito grosseiro com apenas dois tipos de flores e foi por isso que acabou comprando cinco sementes diferentes. Também propôs ao visconde plantá-las naquela mesma tarde. Como esperado, Logan não se opôs ao seu desejo, pelo contrário, encorajou-a a não perder tempo. Uma vez que Eli ouviu aquelas palavras de apoio, não conseguiu esconder sua felicidade e manteve um sorriso de orelha a orelha pelo resto da refeição.
Na frente dela estava Josephine em absoluto silêncio e com um olhar perdido. Como os outros, seus pensamentos estavam longe do salão.
Embora ela tenha tentado eliminá-lo completamente de sua mente, esta se recusava a fazê-lo e a imagem do descarado, que a beijara sem o seu consentimento, apareceu em sua cabeça repetidas vezes, do mesmo jeito que surgia continuamente o arrepio que sentira quando percebeu seus lábios.
Lembrar-se daquele momento só fez com que sua raiva aumentasse tanto que desejou voltar no tempo para, além de jogar a adaga com mais força, dar-lhe um tapa no exato momento em que sua boca bateu na dela. Por que a beijou?
Por acaso interpretou, em algum de seus movimentos na luta imaginária, que poderia fazê-lo? Apesar de não desejar, mostrou a imagem de uma mulher tão descarada quanto Eli? Claro que não! Ela era uma guerreira e exibia uma atitude severa, forte e cruel. Mesmo assim, o ingrato ousou beijá-la apesar de sua aparência horrível. Seria um louco? Estaria tão transtornado que não era capaz de diferenciar entre uma dama elegante e um soldado manchado de suor e lama? Haveria homens que não procurassem por moças elegantes, mas jovens desastrosas? Essas e outras mil perguntas aumentaram a irritabilidade que a acompanhou durante o retorno, por isso chegou daquela maneira na residência. Não pretendia projetar sobre criado, que feriu Galeón, toda aquela raiva. Mas queria tanto matá-lo que o imaginou naquela figura assustada e desorientada. Por essa razão, se ela tivesse que encontrar uma parte culpada em sua atitude desesperada, tinha que apontar para ele. Poderia odiar tanto alguém? Ela deveria declará-lo como seu inimigo mais perigoso? Sim. O
odiava tanto que, se o reencontrasse, daria todos os golpes que não lhe deu quando ele afastou os lábios dos dela. Quando se lembrou daquele momento e do frio que sua boca sentiu quando se afastou, Josh se mexeu desconfortavelmente na cadeira.
—Está bem? —O visconde perguntou, observando-a tão inquieta.
—Ainda está com raiva?
—Estarei toda a minha vida —assegurou sem pensar. Embora não
tenha mentido. Nunca apagaria de sua cabeça a raiva que lhe causava aquele jovem miserável de cabelos acobreados com um peculiar tufo loiro.
—Se quiser, quando terminarmos o nosso almoço, podemos ir ao estábulo e verificar se o Galeón está em perfeitas condições —Logan comentou para tranquilizá-la, imaginando que a preocupação dela fosse devido à situação que haviam experimentado com o criado.
—Não gostaria de tomar mais do seu tempo —disse envergonhada por não ser capaz de relaxar ou esquecer o ruivo. —Como indicou, essa tarde acompanhará Elizabeth ao jardim.
—Posso fazer as duas coisas —disse, depositando o guardanapo branco na mesa. —Juro que fui treinado para isso -- ele disse ironicamente.
—Howlett pode tomar o seu lugar, se não se opuser —disse Elizabeth, que, pelo brilho em seus olhos, achou essa alternativa mais agradável do que ouvir mil reclamações do visconde, sabendo que ele não gostava de tais tarefas.
-- Isso significa que me considera inútil para fazer um buraco miserável na terra e colocar uma dessas sementes dentro? —Ele perguntou ironicamente.
—Não... sabe o que... —Eli tentou dizer, meio envergonhada pela proposta.
—Calma, não se preocupe, estava brincando. Certamente Howlett
é melhor companhia que eu. Kilby irá informá-lo de sua proposta e tenho certeza que ele ficará mais feliz em passar a tarde ao seu lado do que encarando os ternos que terei que usar nos próximos dias -- disse recostando-se na cadeira e sem tirar o sorriso do rosto.
Olhou furtivamente para Anne e não gostou de descobrir que ela estava com uma pose rígida. Ela não falara e mal comera. Ficou distante, tanto quanto Josh ou ele. Estaria pensando sobre o que aconteceu no jardim?
Se arrependia ou estaria considerando a possibilidade de deixá-lo entrar em seu quarto quando a noite chegasse? A segunda opção era tão agradável e prazerosa que seu corpo tremeu de ansiedade. No entanto, fez algo que não tinha feito até agora para se reprimir. Algo dentro dele gritava que não deveria tratá-la como as outras, que ela era especial e que precisava provar isso para ela. Mas... o que significava para ele o termo especial? Que poderia deitar com uma mulher que, debaixo de sua pele, tinha sangue tão cigano quanto o dele? Por isso estava tão feliz? Olhou para Eli, pois ela ainda estava falando sobre as flores, depois Josh, que continuava com uma carranca e finalmente voltou para Anne. O que ela tinha que a tornava tão irresistível?
Por que sua boca ainda sentia o sabor da sua pele? Era capaz de encantar um homem com um miserável beijo? Hendall sentiu a mesma paixão que ele havia sentido no jardim? Teria se entregado tão facilmente a ele? Agora, era ele quem franzia a testa era ela. Odiava o passado de Anne, odiava tanto que
queria fazê-lo desaparecer e, claro, naquela noite, na manhã seguinte ou em todos os momentos que pudesse, conseguiria. Ele apagaria todas as impressões de Dick e plantaria as suas, como Elizabeth semearia as sementes que comprou para aquela terra inútil. E Anne floresceria única e exclusivamente para ele. A única coisa a calcular era a maneira de fazê-lo sem sobrecarregá-la e sem que pensasse que ela seria outra amante que visitava.
—Então, conseguiu começar o retrato? —Elizabeth abandonou o tema das flores para que Anne reagisse imediatamente. Durante todo o almoço, ela permanecera em silêncio e expressava, descaradamente, que a presença do visconde ainda a incomodava. Não estava ciente de que Logan era um bom homem e que até agora só tinha feito coisas boas para elas? Se não mudasse de atitude, naquela mesma noite falaria em particular com ela e a colocaria em seu lugar.
—Sim —Anne respondeu sem levantar os olhos do prato.
Ela mal comeu aquela refeição deliciosa e tinha certeza de que a Sra. Donner lhe perguntaria o motivo e a repreenderia. Mas seu estômago estava fechado. A visão oferecida pelo visconde quando levantou a mão para bater no criado, apesar do fato de merecê-lo por desobedecer a uma ordem, deixou-a confusa e assustada. Nunca imaginou que ele pudesse adotar uma conduta tão severa, embora não deveria esquecer que era um aristocrata e que
muitos deles se faziam respeitar pela força. Em milésimos de segundo, o homem adorável, apaixonado e sedutor, que estava por perto, tornou-se o vilão mais terrível do mundo.
—Tenho que dizer que fiquei surpreso com a facilidade com que sua irmã pinta —declarou Logan, olhando para Eli. —Depois de me obrigar a posar de mil maneiras horrendas, ela permaneceu em silêncio, fixou os olhos na tela e se abstraiu do mundo que a rodeava. Imaginei essa atitude se devia por não ter encontrado o perfil bonito do meu rosto, mas estava errado.
Quando me aproximei dela, sem que sequer notasse minha presença, observei a beleza dos traços que fazia. Confesso que o talento dela me surpreendeu.
Por mais que tenha ouvido sobre o dom que tem, me recusei a acreditar até que vi com meus próprios olhos. —Esperava que esse comentário, mesmo que fosse um pouco doloroso, a afastasse de seus pensamentos e a fizesse participar da conversa. Não queria contemplar, por mais tempo, seu rosto aflito, como se lamentasse o que havia acontecido entre os dois. Ansiava rever aquela mulher apaixonada que o abraçou e se rendeu à luxúria.
—Nenhum dos clientes que teve até agora se queixou de seu trabalho. Anne conseguiu mostrar a beleza em todas as mulheres que retratou, embora algumas delas fossem tremendamente horrendas -- disse Eli, divertida.
—Elizabeth! —Anne exclamou, finalmente erguendo o queixo.
—Estou mentindo? —Replicou. —Esqueceu a filha dos Sharun?
Existe no mundo uma jovem mais desagradável aos olhos? No entanto, soube como a embelezar todos os traços que a enfeavam. Mas tenho que declarar que, embora aqueles pais atormentados estivessem muito satisfeitos, deveriam ter recriminado seu trabalho porque o que fez não era real.
—Aquela jovem tem um bom coração... —Anne murmurou olhando para Eli. —E é isso que eu coloco na tela. A beleza exterior não é eterna, como bem sabe. O que realmente fica com a passagem do tempo é o que está armazenado sob o peito.
—Bobagens! —Eli respondeu acrescentando um gesto de desdém com a mão direita. —Essa jovem pode ser muito bonita no coração, mas até agora... que bravo cavalheiro se atreveu a pedir-lhe uma dança? E isso que, segundo entendi, seus pais fornecerão um dote suculento para o marido ousado. Mas toda vez que comparece a uma festa, ela permanece escondida no canto mais distante da sala e é incapaz de responder quando solicitado.
—A timidez não é uma desgraça —Josh murmurou, lembrando de sua irmã gêmea.
—Eu sei. Mas se quer conquistar alguma coisa na vida, é preciso ter coragem e lutar —disse Elizabeth com orgulho.
—Nem todo mundo tem coragem —censurou Josh. —Muitas de nós nascemos com certo...
—Se pretende que me sinta culpada porque nossa irmãzinha está incluída no grupo de meninas tímidas e sem coragem, pode manter essa língua viperina dentro da sua boca. Madeleine é tímida porque ainda não é capaz de aceitar a beleza com a qual nasceu. Quando isso acontecer, sua personalidade irá mudar.
—Beleza? Agora diz que Madeleine é linda? Por favor! —Josh bufou, levantando-se. —Como ode ser tão cruel para falar assim? Faz isso porque ele está presente e quer fingir uma imagem que não lhe corresponde?
—Ela apontou para Logan com o dedo. —Bem, não continue, a hipocrisia não lhe cai bem. Devo dizer-lhe, visconde, que desde que posso ouvir claramente, minha amada irmã Elizabeth ria de nós porque ela diz que a cor do cabelo de Madeleine é semelhante à das cenouras e a minha à da mulher mais velha do mundo.
-- Eu —Eli exclamou, arregalando os olhos enquanto observava suas bochechas queimarem de vergonha.
—Sim. Não se faça de desentendida, irmã, porque isso não está dentro da personalidade descarada que tem —disse Josh cruzando os braços em frente à mesa e olhando como se quisesse rasgar aquele lindo penteado com flores rosa.
—O que há de errado com cor do seu cabelo? —Logan disse que, perante a nova discussão familiar, também cruzou os braços e manteve a
atitude de espectador.
—Ela diz que eu nasci com a lua na minha cabeça —Josh explicou com raiva. -- E que pareço mais uma bruxa do que uma menina católica.
—Por que diz isso a ela? —Perguntou a Eli, erguendo as sobrancelhas.
—Eu... eu... não digo...
—Porque meu cabelo não é loiro, mas sim branco! —Respondeu Josh. —Segundo minha querida irmã, isso —disse ela, pegando o rabo de cavalo e mostrando-o ao visconde —indica que sou velha, embora não tenha completado dezoito anos, e por essa razão apenas os homens octogenários vão me notar.
—Bem, me encanta seu cabelo quando o usa limpo —Logan disse calmamente —e tenho certeza que Madeleine é tão bonita quanto qualquer uma das senhoritas.
—Obrigado —disse Josh, fazendo com que toda aquela raiva, que sentia antes da disputa, fosse eliminada tão rapidamente que perdeu a força.
—É a primeira vez que alguém diz algo bonito sobre mim —acrescentou, sentando-se novamente.
—Todas são especiais —continuou Logan. —Cada uma tem algo que a torna única. Não acha que o mundo seria ridículo se todas as mulheres
fossem iguais? Para mim, particularmente, deixam em êxtase aquelas que têm cabelos escuros e olhos castanhos —ele confessou, olhando de relance para Anne para ver se ela ousava repreendê-lo por não cuidar de suas palavras na frente das irmãs. Mas nada, ainda seguia sem a menor reação. —E espero que muitos homens não tenham os mesmos gostos que o meu ou serei forçado a enfrentá-los quando encontrar minha esposa —acrescentou desconfiado. --
Tenho certeza de que seus futuros cônjuges as amarão tal como são e elogiarão suas diferenças.
—Eu não quero um marido —Josh murmurou.
—Realmente acredita que se manterá solteira para sempre? --
Perguntou o visconde, se levantando, um ato que as irmãs imitaram no momento. Bem, está errada. Não será capaz de se afastar do homem que, toda vez que a olhar, mostrará a necessidade de segurá-la em seus braços, protegê
la e amá-la até que a morte apareça.
—Isso é o mesmo que eu disse a ela —garantiu Elizabeth, estendendo a mão para descansar no braço de Logan. Mas ela não me escuta.
Se propôs a se tornar um soldado e....
—E a senhorita não deve humilhar suas irmãs para se sentir superior a elas —Logan interrompeu, repreendendo-a. —Lembre-se que cada um tem objetivos diferentes e não deve criticá-las para alcançar isso.
?Não me sinto inferior a elas —resmungou Eli.
?Ah, claro que não! Se sente tão extraordinariamente superior que se propôs a casar com um aristocrata —disse Josh com mordacidade.
—Podem parar de uma vez? —Disse Anne finalmente, caminhando ao lado de Josh. —Estão oferecendo um espetáculo embaraçoso.
—Eu já parei —disse Eli sem olhar para eles. —Mas não sou aquela que persiste, talvez devesse ordenar que Josh ficasse de boca fechada porque, como um bom soldado, jamais desobedeceria uma ordem.
—Vou arrancar esse seu coque! —Josh gritou, jogando-se em sua irmã.
Mas não chegou até ela, Logan se virou para a jovem, parou aquele salto que dera em Eli, empurrou-a para trás e se colocou no meio das duas. Com os olhos bem abertos, pois não podia acreditar no que havia se formado em um piscar de olhos, olhou para Anne e ela mostrou o mesmo assombro que ele. Como podiam passar de uma conversa absurda sobre flores para uma luta de puxar cabelo? Em que momento a conversa inocente passou para a guerra? Com as mãos abertas, para que Josh não procurasse a área mais adequada para tirar de Eli aquele penteado floral, respirou fundo e fez brotar a atitude do tutor ao qual se autoproclamou.
—Têm um segundo para reconsiderarem esse comportamento inadequado antes de decidir puni-las —garantiu, adotando o tom de um pai.
-- Se não demonstrarem arrependimento sincero, não sairão dos seus quartos
até que eu esqueça o que acabou de acontecer. É isso que querem, passar o resto da semana em seus quartos? —Olhou primeiro para Eli e depois para Josh.
—Não -- responderam em uníssono.
—Nesse caso, peçam perdão —insistiu o visconde com uma voz rouca.
—Sinto muito, Eli —disse, estendendo a mão para ela.
—Perdoe-me, Josh —respondeu, aceitando aquele gesto cordial e pacificador.
—Isso é muito melhor —disse Logan, afastando-se das irmãs —e agora, se precisam descansar, retirem-se para seus aposentos.
—Não posso ir aos estábulos? —Josh perguntou com tristeza. --
Quero ver como está Galeón e se o bom tempo continuar durante a tarde, gostaria de montá-lo novamente.
—Pode fazer o que quiser enquanto não se envolver em outra confusão —ele concordou.
—Obrigada! -- Exclamou alegremente. Se aproximou do visconde e, antes que ele pudesse reagir, o beijou na bochecha. —Não espere por mim para tomar o chá! —Gritou entusiasmada, correndo para a porta.
—Eli? —Ele direcionou a pergunta, levantando a sobrancelha direita.
—Se Howlett ainda puder me acompanhar, gostaria de aproveitar as horas do dia para iniciar os arranjos do jardim.
—Não há problema. Diga a Kilby para informar seu sobrinho sobre o novo plano e não saia de casa sem a presença dele. Espere, não vá, quero te pedir mais uma coisa -- disse, apontando com o dedo.
-- Sim? —Perguntou com uma atitude tão submissa que Anne pensou, por um momento, se o que estava observando era real ou outra de suas alucinações.
—Durante a sua estadia em minha casa, não quero que volte a dizer a Josh que ela é feia porque não é, entendeu? —Disse com firmeza.
—Não farei mais isso, prometo —respondeu, abaixando os olhos.
—Bem, nesse caso, também pode se retirar —concordou Logan.
—Obrigada -- disse. Fez uma leve reverência e, murmurando palavras que só ela ouviu, saiu do salão.
Silêncio... não sabia que amava tanto o silêncio até conhecer as irmãs. Como podiam ser tão voláteis? Eram mais perigosas do que cem homens confinado em seu barco! Como o pobre médico enfrentava situações como a que ocorreu? Deus o teria abençoado com o dom da paciência ou com a surdez? Caminhou lentamente para o lado esquerdo, separando-se de uma Anne imóvel, acariciou o rosto com angústia, virou-se para ela e olhou-a suplicante.
—Elas sempre se comportam assim? —Perguntou depois de suspirar e colocar as mãos em ambos os lados da sua cintura.
Anne olhou para ele sem piscar. Seu rosto refletia não apenas agonia, mas também desespero. Onde estava o homem que levantou a mão para o criado? E sua grosseria? Nada disso observava nele, parecia tão humano quanto o resto do mundo. Levou a mão à boca, para aplacar a risada que queria brotar diante daquela visão tão angustiante, mas não conseguiu silenciar o estrondo de sua gargalhada.
—Sim, sempre se comportam assim —disse entre respirações longas. -- Achou que seria fácil conviver conosco? Que seríamos tão dóceis quanto às mulheres que encontra em sua vida? —Acrescentou divertida.
Havia desaparecido. Os sentimentos tristes que suportou durante o almoço desapareceram imediatamente ao contemplá-lo na intimidade. Era tão vulnerável quanto ela e tão volátil quanto suas irmãs. Talvez, apenas talvez, sua atitude em relação ao servo tivesse uma razão diferente do que exaltar seu poder.
—Como seu pai controla nessas situações? —Exclamou, mostrando em seus gestos e em seu tom de voz uma angústia exagerada. Se tivesse finalmente quebrado o muro que Anne havia construído durante o almoço, estava disposto a que não levantasse novamente. Como concluiu, ele precisava encontrar a mulher escondida sob aquele olhar indescritível.
—Devido ao seu trabalho, é a minha mãe quem as chama a ordem
—respondeu, descobrindo que ele retornava para seu lado.
—Como consegue? —Retrucou, parado na frente dela. Suas mãos voltaram para o rosto e ele esfregou em desespero.
—Mantendo-as quietas ou firmes? —Queria saber. Sim, aquilo era tão improvável quanto engraçado. O grande sedutor parecia abatido pela atitude de duas pequenas jovens. E isso que Mary tinha ficado em casa! Ele não sabia nada do que poderia se formar em sua casa quando as cinco permaneciam juntas.
—Ambas as coisas —confessou, estendendo as mãos para o chão, como se estivesse resignado diante de uma situação difícil de controlar. Mas se quisesse executar o plano que tinha elaborado em milésimos de segundo, precisava continuar mostrando perplexidade, desespero e rejeição. Não era a irmã mais velha? Não ajudaria Sophia nos momentos mais difíceis? Bem, isso era o que devia lhe dar a entender, que estava vivendo o dia mais difícil de sua vida e que pedia sua ajuda. Uma vez que ela estivesse ao seu lado, lutaria com todas as armas de sedução para que a mulher que estava em seus braços e suspirava por suas carícias retornasse.
—Não sei, talvez minha mãe tenha o caráter certo para doutrinar suas cinco filhas, mas só ela sabe a verdade.
—Anne... —ele disse olhando-a com olhos suplicantes.
-- Sim, milorde? —Respondeu rapidamente adotando o tratamento cortês.
—Tem que me ajudar —disse, suportando a fúria que sentiu ao ouvir como ela colocava distância entre eles novamente.
—Para ajudá-lo em quê? —Estalou, arregalando os olhos.
—Nós não podemos deixá-las sozinhas. Estou com muito medo de que, embora tenham me prometido, procurem um momento para se envolver em outra discussão e não tenho a menor dúvida de que o penteado de Eli será jogado fora de sua cabeça —explicou com aparente aflição.
-- Se deram a sua palavra, certamente irão obedecer —defendeu-as como qualquer irmã mais velha faria.
—Minha irmã Natalie também fez muitas promessas a Roger e, entre elas, jurou que nunca se casaria com o sobrinho de Arthur Lawford. E o que aconteceu?
—Se casou com ele... —murmurou Anne, confusa ao ouvi-lo falar sobre um assunto tão particular.
—Exatamente! —Exclamou caminhando para a saída. —Preciso de você Anne, muito mais do que pode imaginar.
Essas palavras foram mais sinceras do que esperava. No entanto, no contexto em que as usou, não eram diretas nem estranhas. Se sua experiência não falhasse, Anne era uma das pessoas que não eram capazes de
se recusar a ajudar os outros e ele seria o homem mais necessitado do mundo.
—Pretendia passar o resto da tarde matizando o esboço... --
alegou olhando para o chão e esfregando as mãos.
—Perfeito! —Direi a um dos servos para mover o cavalete e tudo que precisa do lado de fora. Enquanto continua com a tela, ficarei de olho nessas duas pequenas criaturas ferozes. —Ficou parado na porta, esperando que ela avançasse, mas não o fez. O que acontecia? Não sentia vontade de acompanhá-lo? Ou talvez...
Pensando sobre esse possível, talvez, que não tinha notado porque sua cabeça estava concentrada em como aplacar a discussão das irmãs, Logan voltou para o seu lado, colocou um dedo sob o queixo de Anne e levantou-o gentilmente. Vendo que seu rosto mostrava tanta confusão quanto antes, se aproximou devagar e lhe deu um beijo carinhoso nos lábios.
—O que há de errado? —Ele murmurou, mal tirando a boca da dela. —O que a preocupa? Se arrepende do que fizemos no jardim? Não quer que esteja ao seu lado? Por que não me chama de Logan quando estamos sozinhos?
—Não acha que nos deixamos levar por uma emoção absurda? --
Perguntou olhando em seus olhos.
—Emoção absurda? —Repetiu, permitindo captar em seu tom de voz que essa descrição o machucou. —Não. Não acho que me deixei levar
por algo assim. Acho que mostrei a atração que sinto por você e que, embora devesse ficar longe, pois está sob minha proteção, não posso e não quero --
declarou severamente.
—Mas...
—sussurrou,
abaixando
o
rosto,
um
que
instantaneamente levantou com a ajuda da mão direita de Logan.
—Não há mas, Anne. Sinto-me tão atraído por você que até ponderei a ideia irracional de que me enfeitiçou. Tenho que ser honesto em lhe dizer que, desde que apareceu em minha vida, faz com que eu seja uma pessoa diferente, uma que esquece... —Vendo que ela tinha a intenção de perguntar a que se referia, continuou olhando-a nos olhos: Sabe porque no final eu não bati naquele maldito criado?
—Não... —murmurou.
—Porque ouvi sua voz. Se não tivesse aparecido, teria lhe dado uma boa lição. No entanto, tê-la, ouvi-la e senti-la, faz com que recupere a sanidade e que apareça em mim o homem que verdadeiramente sou.
—E? Quem é? -- Insistia em descobrir enquanto seu coração batia em um ritmo desenfreado.
—Fique comigo e te mostrarei. Temos vinte e oito dias para que descubra —disse separando-a apenas o suficiente para ela segurar o seu braço.
—Não deve provar nada. Não pretendo...
—O que não pretende, Anne? Me enfeitiçar? Bem, já o fez --
disse antes de tomar uma de suas mãos e, entrelaçando os dedos com os dela, levou-os à boca e os beijou carinhosamente. —Prometo que deixarei minha alma descoberta, que será capaz de ver o homem que realmente sou e, se não sentir aquilo nasceu em mim, a deixarei partir.
—Como pode me dizer essas coisas? Como te ocorre me perturbar? Como...?
Anne não terminou sua última pergunta, Logan a silenciou com outro beijo, embora esse não fosse suave ou doce, mas apaixonado, louco, descontrolado, lascivo. Seu corpo reagiu rapidamente ao calor de sua boca, ao movimento de sua língua dentro dela, às carícias que fazia em seu rosto com a mão que não entrelaçava a dele. Se sentia tão fraca, tão frágil, que duvidava que pudesse ficar em pé por muito tempo.
—Digo essas coisas porque vejo que corresponde com a mesma intensidade —sussurrou entre suspiros. ?E agora, minha querida Anne, se não quer que levante a saia desse vestido marrom e me deixe levar pela necessidade de torná-la minha, vamos sair daqui.
Muda e com a respiração agitada, Anne aceitou o braço do visconde. Caminhou ao lado dele até que saíram, como se fossem dois recém-casados, que mal conseguem se separar. Abriu a porta e convidou-a a passar na frente. Uma vez que se colocou na varanda do lado de fora, uma brisa
suave acalmou a abrasão que notou em suas bochechas e a luz suave dos raios de sol a fez fechar os olhos ligeiramente. Colocou a mão direita na testa, usando-a como um escudo, olhou em volta e sentiu-se estranhamente feliz.
Por que sua confissão lhe trouxe tanto conforto? Será que não entendia que a única coisa que conseguiria seria se tornar outra amante do visconde? Era isso que queria? No momento em que uma dor estranha apareceu em seu ventre, como se estivesse lutando contra aquela ideia nefasta, um pássaro grasnou no céu. Com a mão apoiada na testa, como se fosse um soldado, levantou o rosto e ofegou ao descobrir que um imenso corvo estava voando sobre ela.
—Me acompanha? —Logan perguntou, novamente estendendo o braço para que ambos pudessem descer os degraus que os levariam à imensa esplanada verde.
—Sim —respondeu Anne depois de aceitá-lo sem hesitação.
Quando desceram juntos, enquanto ele começava a conversar sobre como encontrara aquele lugar e a razão pela qual o adquiriu, o corvo continuou voando sobre eles e não desapareceu até que, três horas depois, Anne e Logan voltaram para a residência.
XXVII
O silêncio reinava novamente no corredor...
Anne se encostou à porta do quarto e suspirou. Fazia três dias desde que o visconde lhe pedira para não trancar a porta para deixá-lo entrar, mas ele não aparecera. Na primeira noite, enquanto esperava por ele, sentada em sua cama, bateram na porta. Com o coração pulsando na garganta, porque achava que era ele, caminhou em direção à saída e, descobrindo quem era, teve uma estranha sensação de alívio e tristeza. Elizabeth, depois de passar a tarde trabalhando no jardim, pareceu agradecer-lhe pela mudança de atitude que demonstrou ao visconde durante o jantar. «Sabia que no final se renderia ao seu encanto», disse no meio da conversa. E não tinha ideia de quanta verdade suas palavras possuíam. No decorrer daquela tarde, falou com ele como se se conhecessem desde a infância. A conversa entre eles passou de contar a história de como e por que comprou Harving House, ao momento em que viajou pela primeira vez no navio, a tensão que sofreu por ser responsável por tantos homens sob suas ordens e a satisfação que sentiu ao retornar. Então continuou falando sobre seus irmãos, até narrou milhares de aventuras que viveu com Nathalie e ele crianças. A chegada de Evelyn à vida de Roger e como sua casa se encheu de felicidade diante do inesperado nascimento de Evah, a filha do marquês. Mas essa conversa amigável mudou
quando ele tentou descobrir coisas sobre ela.
—Por que deseja partir para aquela cidade? -- A pergunta a surpreendeu tanto que não sabia o que responder. —Alguém te falou sobre ela? -- Ele persistiu, movendo lentamente o caule de uma margarida que havia cortado do jardim.
Anne olhou para ele timidamente. Devido ao calor, tirou o paletó e mostrou uma atitude muito íntima e relaxada, quando se recostou no banco de pedra e esticou as longas pernas.
—Sim —disse finalmente.
—O que ele lhe disse para que quisesse experimentar a agonia de fazer uma viagem tão longa? —Insistiu.
—Que encontraria a paz que procuro. ?Fixou os olhos na tela novamente e, apesar do fato de que sua mão estava tremendo, continuou a moldar o contorno de suas sobrancelhas. Como podia ser tão diferente? No jardim, enquanto foram mantidos longe de qualquer observador, se mostrou como o conquistador de mulheres que era. No entanto, naquele momento, não havia sedução em seus gestos ou palavras, mas sim cumplicidade, familiaridade e simplicidade.
—Por causa da maldição? —Perguntou antes de colocar o caule pequeno em seus lábios, como se fosse um cigarro. Cruzou os braços sobre a cabeça e fechou os olhos. ?Pensa que ali desapareceria?
—Não —respondeu sem olhar para ele.
—Então? Por que insiste em partir? —Insistiu sem mover nada além do peito enquanto respirava.
—Uma mulher deve construir bom futuro se ela se recusar a procurar um marido que a mantenha —declarou com sinceridade.
—Entendo... —murmurou antes de permanecer em silêncio.
Quando pensou que o assunto tinha acabado, que ele já havia deduzido que seu propósito era se tornar a famosa retratista que sua mãe lhe disse, se incorporou no banco para se sentar, olhou para ela, como se tivesse testemunhado um milagre e disse:
—É uma cidade muito libertina. Sabia?
—Não —respondeu secamente.
—Nesse caso, fico feliz que esta viagem tenha sido cancelada.
Certamente não gostaria de ver homens e mulheres se renderem a uma paixão passageira em qualquer canto das ruas.
Esse comentário ousado deixou-a tão surpresa que o carvão atingiu o chão. Quando se abaixou para pegá-lo, ele já estava ao seu lado, para ajudá-la. Os dedos de sua mão direita sentiam as carícias dele e não pode deixar de se sentir oprimida por aquele toque suave e delicado.
—Teria morrido de tristeza se descobrisse o que é capaz de me fazer sentir e me encontrar na horrível obrigação de abandoná-la em um
lugar tão distante —sussurrou enquanto ambos se levantavam ao mesmo tempo. —O que eu faria sem esses olhos castanhos, incapaz de sentir o perfume do seu cabelo ou poder olhá-la quando quisesse?
Um golpe. Anne sentiu um golpe terrível no estômago. O que pretendia? Enlouquecê-la com palavras doces? Era assim que tratava todas as mulheres que passavam por sua vida? E depois? O que aconteceria depois? E ela? Como suportaria uma experiência semelhante com o visconde? Tinha que se recusar a sentir, desejar, ansiar por ele, mas lá estava ela, com um estupor semelhante ao que teria uma jovem inocente quando um de seus pretendentes desejasse deixá-la apaixonada por doces e frases estudadas.
—Não se lembra de que matei os dois homens que decidiram se apaixonar por mim? —Fez a pergunta para se defender de suas próprias emoções. Não podia contemplá-lo com desejo, nem o observar como se fosse o único homem no mundo. Precisava lembrá-lo que estava amaldiçoada e que ele poderia terminar da mesma maneira...
—Não eram apropriados —respondeu com um sorriso tão lindo e atraente que Anne não conseguia tirar os olhos daquela boca que, momentos antes, havia provado.
Não havia lhe dito que estava enfeitiçado? Bem, amargamente, ela também estava. Uma voz estranha retumbou em sua cabeça com tanta
intensidade que pensou que explodiria. Não, não podia se deixar levar pela atração que sentia, nem por essa selvageria que despertava toda vez que olhava para ela. Ou adotava a postura correta ou acabaria nua em sua cama ou na dela. Essa visão, que sua mente rapidamente projetou, agradou-a tanto que um calafrio correu da ponta dos pés até a cabeça.
—Está com frio? —Perguntou e, sem ouvir a resposta, pegou sua jaqueta, se colocou atrás dela e a pôs sobre seus ombros lentamente. E, depois de dar uma rápida olhada ao redor para confirmar que estavam todos ocupados, esfregou seus braços e, pouco antes de se afastar, deu-lhe um beijo no pescoço. —Conheço muitas maneiras de aquecê-la, mas este não é o momento certo para demonstrá-las.
Outro golpe no estômago. No entanto, esse foi acompanhado por uma dor angustiante entre as pernas. Sim, claro, aquele ladino tentava seduzi-la até que gritasse para que oferecesse tudo o que propunha, mas... O
que deveria fazer? Resistir? Lutar com todas as suas forças? Por que? Não era mais uma mocinha virtuosa, há muito que perdera a inocência e, segundo sua mãe, logo poderia fazer o que quisesse sem ter que dar explicações. Além disso, qual era uma das razões pelas quais queria ir a Paris? Sentir-se viva, querida e imersa em um turbilhão de paixões que apaziguaria essa necessidade que renascia nela com mais força. Seu sangue cigano havia despertado e ansiava pelo que ele queria lhe dar.
Observou-o sentar novamente e adotar essa postura casual e familiar. O que pretendia?
—Foi na segunda viagem que fiz àquela cidade —continuou Logan -- quando fiquei hospedado no bordel da senhora Gautier.
—Como disse? —Perguntou, segurando o carvão com tanta força que se partiu em dois.
—Que me hospedei no bordel da senhora...
—Como é capaz de comentar uma coisa tão íntima? —Censurou.
—Disse na sala de estar, que mostrarei minha alma e que parte da minha vida está dentro dela. A escandaliza? Não achei que faria pois, como descobri, manteve um relacionamento apaixonado com Hendall.
—Não vejo isso como apropriado —murmurou, fixando os olhos na tela novamente e escondendo atrás desta o embaraço de suas bochechas.
—Bem, se ficar escandalizada ao descobrir por que me chamam de Logan, o conquistador, pode me fazer às perguntas que achar melhor --
comentou divertido. ?Embora, garanto que iria gostar da história.
—Realmente acha que me faria feliz saber o que fez com essas mulheres? -- Falou indignada quando colocou as mãos na tela e olhou por cima.
-- O que observo é ciúme? ?Alegou ainda mais divertido e um pouco orgulhoso. Se virou para ela, colocou as solas dos sapatos no chão e
sorriu. ?Não imaginei que abrigasse esse tipo de emoção sobre mim.
—Não estou com ciúme —resmungou, se escondendo atrás da pintura novamente. ?Mas sinceramente, sei que não gostarei desse assunto.
—Bem, vamos mudar a conversa... —disse, descansando os cotovelos nos joelhos. —Como foi sua infância? Sempre quis ser retratista?
Qual imagem achou mais difícil? Por que se apaixonou por Hendall?
Ninguém a informou que era um mulherengo, que suas empresas estavam falidas e que só voltariam à tona se conseguisse casar com a filha de um bom homem?
Tremor. O corpo tremia. Podia sentir o movimento selvagem até de seus cílios. Esse era o objetivo do visconde? Descobrir por que se comprometeu com Dick? Com qual razão? Ridicularizá-la? Bem, não conseguiria!
—Conhecia a reputação de Dick -- assegurou em uma voz firme e forte -- mas me jurou que, uma vez que estivéssemos noivos, seu passado seria deixado para trás. Não fez essa promessa a nenhuma de suas amantes?
—O atacou.
—Não, porque isso seria uma mentira e não gosto de enganar as pessoas. Elas sempre souberam da posição que lhes dei e não haveriam outras possibilidades —respondeu com extrema contundência.
—E ainda assim continuaram? —Perguntou perplexa.
—Não acha que mereço o esforço? —Contestou, esboçando um grande sorriso.
—Não. Conheci muitos homens mais bonitos. -- Ela mentiu porque queria acertar seu ego da mesma maneira que fazia com seu estômago sempre que falava sobre algo que não deveria e a fazia sentir aquilo que era proibido.
-- Não? Uau! Isso partiu meu coração, senhorita Moore. Como poderei recompô-lo? —Comentou com aparente aflição.
—Tenho certeza que superará—murmurou, escondendo o rosto sorridente atrás do retrato.
—Não tem a sensação de que nos conhecemos a vida toda? --
Perguntou ao ar quando se deitou no banco de pedra. —Porque eu sim. --
Permaneceu em silêncio, pensativo, depois virou a cabeça para ela e procurou o seu olhar. Não encontrou, escondia atrás daquele grande cavalete: —Sabe? Nunca falei, tão calmamente com uma mulher, enquanto tentava aplacar a ereção que guardo sob as minhas calças.
Três. Aquelas palavras produziram o terceiro golpe em seu estômago e uma sensação tão agradável que sentiu seu corpo reagir instintivamente. Como poderia ser tão canalha? Teria descoberto que ela enlouquecia com palavras e situações descaradas, essas que se assemelhavam tanto com seu sangue dominante? Porque, para qualquer
cigana que se preze, bajulações como essas faziam seu corpo ferver.
E quando planejou repreendê-lo novamente, ouviu como o cavalo, no qual Josh cavalgara a tarde toda, estava se aproximando.
—É lindo! Maravilhoso! Incrível! —Exclamou Josephine, recompensando as façanhas do animal com fortes carícias no pescoço.
—Bem, a amazona também fez um ótimo trabalho —Logan comentou, levantando de um salto. De repente, o homem canalha que havia estado ali, mudou para se tornar o tutor responsável. —Da próxima vez deve lembrar que Galeón salta melhor quando a distância é curta. Avança muito rápido e solta no meio do caminho -- explicou enquanto acariciava o pescoço do cavalo.
—Poderia me ensinar, se isso não o fizer perder muito tempo --
disse Josh, com os olhos brilhantes de emoção.
—Boa ideia. Se desejar, amanhã, depois do café da manhã, poderíamos dar um longo passeio. Lá em cima —apontou para o lado esquerdo, exatamente onde uma pequena colina estava —há troncos caídos pela última tempestade. Eles servirão para que eu possa ensinar como fazê
lo pular.
—Sim! Sim! —Gritou a jovem cheia de alegria. —Estou encantada! O que acha, Galeón? Sim, de verdade? —Disse, inclinando-se para a pele do cavalo como se estivessem conversando. —Acho que ele
também gosta da ideia.
—Nesse caso, faça-o retornar ao estábulo e dê-lhe comida e bebida. Tem que recuperar forças para amanhã.
—Às suas ordens! —Respondeu Josh, levantando a mão direita na testa antes de chicotear Galeón.
—É impressionante... —Logan refletiu voltando ao banco. Juro que ela é a mulher mais corajosa que já conheci. Tenho certeza de que se ela tivesse nascido homem, a Grã-Bretanha estaria a salvo de qualquer inimigo
—disse sentando-se.
—Mas não é —disse Anne, sem se afastar da pintura —e ela tem que assumir isso mais cedo ou mais tarde.
—Verdade —disse sem poder desviar o olhar da jovem. —Não entendo porque quer manter um comportamento tão masculino, odeia a realidade?
—A de ser mulher? —Perguntou e o visconde afirmou com um leve aceno de cabeça.
Colocou o carvão em uma sacola que pendia do cavalete e, observando que a jaqueta deslizava entre seus braços, acabou colocando as mãos nas mangas. O calor que proporcionou a roupa do visconde e o perfume que emanava dele a relaxaram. Mas ele não podia descobrir que ela também estava confortável, ele usaria aquele momento para fazer outra
pergunta inapropriada. Por essa razão, conteve todos os músculos de seu rosto, limpou o carvão das mãos em um dos panos que comprou e avançou para o lado esquerdo, na direção oposta à do visconde.
—Deve entender que o comportamento que mostra não corresponde à sua natureza, embora isso, de certa forma, a torne mais especial. No entanto, deve estar ciente de que não pode alcançar tudo o que pretende alcançar. Sem ir mais longe, a noite que passamos bebendo na pousada...
—Ato que estava fora de lugar porque Josh não deveria ter bebido como se fosse um velho bucaneiro —o interrompeu em reprimenda.
—Mas tenho que confessar que veio muito bem para nós dois --
se defendeu, incapaz de eliminar o sorriso. Por fim, a irmã protetora veio à tona, assim como já estava começando a ouvir como seu tom de voz não era tão esquivo. Havia declarado que mostraria sua alma, apenas esperava que Anne fizesse o mesmo. —Ela me contou sobre seus sonhos e tive que explicar que eles não seriam reais.
—O que disse? —Perguntou, virando-se para ele bruscamente e mostrando clara evidência de terror em seu rosto.
—Que os soldados não a veriam como iguais e que acabariam violando-a -- declarou sem se importar.
—Por que foi tão cruel?
—Não fui cruel, Anne, mas sincero. Ela precisa que falem com clareza e não ser enganada. Já disse que não gosto de mentir, muito menos a uma jovem como ela. -- Sua voz não vibrou nenhuma vez. Expressando em cada palavra uma franqueza convicta.
Anne olhou na direção que Josh havia tomado, esfregou os braços e, embora fosse ilógica, sentiu o toque da jaqueta do visconde e se acalmou novamente. Talvez não fosse certo que ele falasse com ela dessa maneira tão direta, mas não podia culpá-lo. Era a primeira vez que alguém falava com Josh com tanta sinceridade. Só esperava que ela não esquecesse a parte mais difícil desse sonho que estava determinada a alcançar.
—O que acontece com Madeleine? —Perguntou, levantando-se e caminhando em direção a ela. Só parou de andar quando se colocou nas suas costas.
—Nada. Ela é perfeita. A única coisa que acontece é que sua timidez a impede de conversar com outras pessoas que não sejam nós.
—Bem, ouvi a voz dela e admito que era angelical —disse sem se mover do seu lado.
Logan respirou fundo, pegando todas as partículas invisíveis que Anne emitia de seu perfume. Se perdia.... Sim, estar tão perto dela fez com que ele se perdesse em um mundo que, até o momento, desconhecia.
Desejava abraçá-la, consolá-la, sussurrar que ele sempre a ajudaria e que
não deveria temer o que poderia acontecer entre eles, porque nem mesmo a maldição poderia separá-los. Mas não era o momento, precisava de mais tempo. Um em que ela descobriria quem ele realmente era e o aceitaria. Que não gostava de enganar? Bem, mentiu sobre sua origem por trinta e três anos! O que ela pensaria se descobrisse? Seria capaz de amar o cigano e o Visconde? Ou só aceitaria o homem que ostentasse um título nobre?
—Talvez, com o tempo, encontre uma pessoa que a faça sair da caixa de cristal em que ela decidiu viver —disse Anne como reflexão sobre Madeleine.
—E você? Deixará a gaiola em que se trancou?
O hálito quente do visconde roçou a pele de seu pescoço, causando outro arrepio. No entanto, desta vez, não esfregou os braços, mas estendeu as mãos para o chão. Como poderia derreter tão facilmente a frieza que ela criou por tantos anos? Desejava o contato de um homem ou apenas dele? Por que abandonou a integridade da qual se orgulhava? O que tinha ele de especial para seu corpo admitir que o havia esperado toda vida?
—Não estou enjaulada, milorde —disse, virando-se para ele.
Seus olhos. Aquelas írises azuladas olhavam para ela com tal desejo que permaneceu imóvel. Esse coração que se manteve letárgico por muitos anos batia desenfreado e sua mente, irracional toda vez que estava na frente dele, apenas gritava havia chegado o momento de se render ao óbvio.
E, de acordo com isso, essa evidência consistia em que se entregasse ao homem esperado. Sua mãe teria razão? Os sonhos seriam verdadeiros? Não, não poderia ser. A pessoa que esperava tinha sangue cigano e o visconde, exceto pela cor de seu cabelo, em tudo o mais, mostrava sua origem aristocrática. Então... o que teria ao seu lado? Um romance que terminaria no mesmo dia do seu contrato? É isso que desejava?
—Está —garantiu, trazendo sua boca perto da dela -- mas não demorará muito para começar a voar, porque serei o homem que abrirá a porta dessa maldita gaiola.
—Pelo amor de Deus!
O grito de Elizabeth fez Logan saltar rapidamente para trás e Anne ficar rígida como uma tábua. Ambos pensaram que os descobrira, mas não era assim. A jovem olhava para as saias de seu vestido enquanto sacudia as manchas de lama com fúria.
—O que acontece? -- Anne perguntou, saindo para encontrá-la.
—A terra é terrivelmente má! —Ela exclamou horrorizada. --
Howlett e eu devemos arejá-la muito se quisermos semear algo naquele terreno inerte.
—Arejá-la? Não acha que a brisa que temos durante a manhã é suficiente? -- Brincou Logan, que chegará à tela e olhava como se a estivesse estudando.
—Não me refiro a esse tipo de ar! —Respondeu divertida, Elizabeth.
—Não? —Logan respondeu, levantando ambas as sobrancelhas, expressando sua incerteza desta maneira.
—Temos que fazer pequenos furos na superfície para que o oxigênio atravesse a terra. Dessa forma, as futuras raízes permanecerão saudáveis e não apodrecerão.
—Achava que as folhas eram as que precisavam de oxigênio, não a raiz -- prosseguiu Logan, acentuando o tom de perplexidade.
—E é verdade —disse Eli, tirando o chapéu. No entanto, se alimentam pela raiz e, se não estiver saudável, morrerão.
—Explicou isso ao jardineiro a quem pago uma grande fortuna para cuidar deste lugar? Seria conveniente informá-lo que precisa fazer pequenos furos em toda a propriedade —explicou sarcasticamente.
—Está brincando, certo? —Eli perguntou, mostrando um grande sorriso.
-- O que acha? —Respondeu antes de estender o braço para ela e voltarem para dentro da residência.
Durante aquela noite, Josh não parou de falar sobre a magnífica tarde que passara com o cavalo e Elizabeth do bom relacionamento com Howlett. Ambas estavam entusiasmadas e ansiosas pelo novo dia que viria.
Quando se retiraram para seus quartos, Anne as acompanhou e ficou no quarto o esperando que Logan aparecesse, mas as horas passaram e, exceto pela breve visita de Eli, para falar sobre sua mudança de atitude, permaneceu sozinha até adormecer. No dia seguinte, quando desceu para o café da manhã, Josh e o visconde saíram para o passeio que ele prometera. Elizabeth continuou com seu trabalho de cultivo e ela se abrigou em uma sala, que Kilby havia preparado, para avançar na pintura. Passou a manhã inteira suspirando, se lembrando das sensações que sentiu por tê-lo tão próximo e ansiando por ele. Essa última a deixou bastante inquieta, porque não podia decidir se essa ânsia se devia ao fato de ter passado a noite sozinha ou que, na verdade, começava a gostar da companhia dele, apesar de se comportar com tanta ousadia quando estavam sozinhos.
Realmente queria contar para ela sobre suas amantes? Como era possível falar sobre esse assunto particular sem se importar com a imagem que isso lhe daria? «Não tem a sensação de que nos conhecemos a vida toda?
" Sim, ela tinha, mas não devia confessar esse pensamento tão facilmente.
Primeiro tinha que assumir a razão pela qual se sentia tão diferente quando estava ao seu lado. Uma vez resolvida essa questão, se concentraria nas outras.
À tarde, desse mesmo dia, foi muito semelhante à anterior.
Enquanto Eli continuava com o plantio das sementes, Josh cuidava do cavalo
com cuidado. O visconde acompanhou-a até os estábulos, para continuar dando conselhos sobre uma boa equitação. Ela, pelo contrário, olhava para o esboço sem saber como continuar. Era a primeira vez que lhe faltava inspiração. Não conseguia avançar, ou talvez não quisesse fazê-lo sem que ele estivesse ao seu lado. Era hora de voltar e não havia dado nenhum mísero traço novo. Tudo permanecia o mesmo até que ouviu um tremendo grito.
Levantando os olhos e os direcionando para o lugar de onde veio aquele uivo de felicidade, observou Josh abraçar o visconde com tanta força que o teria dividido em dois, se não possuísse um porte tão forte.
—Ele o deu para mim! O Galeón é meu! —Ela gritava eufórica sem parar.
Por essa razão, durante a noite, a única pessoa que a visitou foi Josh. Estava tão animada com o presente do visconde que não conseguia dormir.
E a manhã daquele dia chegou. Esperava, desejava e precisava que ele ficasse ao seu lado, que aquele homem descarado e atrevido que costumava falar com ousadia ou roubar um beijo retornasse. No entanto, ele não ficou em Harving. De acordo com Kilby, o senhor teve que sair para resolver certos assuntos administrativos. Anne não tinha certeza se a raiva que a abalara naquele momento era pelo tom que o criado usara para falar com elas ou o fato de que ele estava se distanciando dela novamente. Seja o
que for, até que ele apareceu para almoçar, tinha um humor de cachorro e esteve prestes a quebrar a tela mil vezes.
Por que agia dessa maneira? Não lhe disse que despiria sua alma?
Então... por que prestava mais atenção às irmãs do que a ela? Exceto por alguns olhares furtivos, que poderiam ser oferecidos durante o almoço e o jantar, não havia mais nada. Nem beijos, nem palavras, nem toques intencionais. Frio. Parecia que tinha se transformado em um bloco de gelo.
Teria perdido o interesse nela? Teria percebido que não era uma mulher adequada para ele?
Depois de suspirar profundamente e se resignar ao óbvio, voltou para a cama. Era a terceira noite e, como nas anteriores, nada aconteceria entre eles. Talvez ele tenha pensado melhor em sua maldição e concluiu que seria melhor evitá-la. Se fosse assim, agora ela não só ficaria confusa com as emoções que surgiam cada vez que o olhava, com suas roupas elegantes ou com aquele sorriso que dedicava às suas irmãs, mas também por causa daquele desejo que aumentava com as horas.
Lentamente, sentou-se no pé da cama, atirou-se para trás e, com as mãos estendidas nos travesseiros, olhou para o teto. Tinha que se concentrar em fazer o seu trabalho. Não podia ocupar sua cabeça com bobagens. Não era tão jovem para encher a cabeça de pássaros. Seu passado, esse que alguém revelou para o visconde, era um muro que não podiam pular,
embora naquela tarde ambos foram levados por uma paixão repentina. De olhos fechados, enfiou os dedos sob os travesseiros. Como Josh disse, o cetim tinha um toque suave que a convidava a nunca sair da cama. Então, as pontas da mão direita tocaram alguma coisa. Surpresa, ela se virou e colocou os joelhos no colchão, rapidamente levantou o travesseiro e olhou para o papel, no qual ele colocou seu nome, há algum tempo.
Ele. Ele tinha escrito. Essa e forma de ligar as letras, unir a letra A com o primeiro N era dele. Com o coração a mil e as mãos trêmulas, acabou pegando a nota.
Minha querida Anne:
Perdoe-me por não ter vindo ao seu quarto durante estas noites.
Acredito que, embora quisesse com todas as minhas forças, não devia fazê
lo. Como disse na primeira tarde que passamos juntos, é especial e quero provar isso para você. Senti sua falta porque gosto muito de estar e conversar com você. Te disse que me sinto tão calmo ao seu lado que parece que a conheço toda a minha vida? Sim, eu disse, mas faz tanto tempo que quero repeti-lo toda vez que tenho a chance.
Tenha um sonho feliz. Claro, tenho que estar nele para que seja.
Se não conseguir dormir, me encontrará no nosso jardim. Foi onde passei essas duas noites, ansiando pela sua presença e lembrando o melhor momento da minha vida.
Seu, Logan.
XXVIII
O que queria fazer? Essa era a pergunta perfeita. Não tinha que pensar se seria correto ou não ir ao jardim, o mais apropriado era confirmar se queria ir ao seu encontro e aceitar tudo o que acontecesse entre eles.
O que seu coração mandava? Este não podia lhe dar uma resposta sensata, pois estava batendo com tanta força que logo seria disparado de seu peito. E a parte lógica do seu cérebro, essa que Mary usava desde que abriu os olhos? Não falava, estava tão silenciosa que podia ouvir os grilos cantando lá fora. Portanto, só teria que atender ao seu instinto cigano que ordenava, com mais ímpeto do que nunca, a parar de colocar tantos obstáculos e correr para ele, para se entregar de corpo e alma.
Com a emoção de uma criança que está prestes a descobrir o que é seu único presente de aniversário, Anne guardou o bilhete de Logan debaixo do travesseiro onde o encontrou, pulou da cama, vestiu o robe de seda negra e, sem fazer nenhum barulho, saiu do quarto. Não o tinha desejado? Não queria estar ao seu lado? Bem, teria a oportunidade de recuperar o tempo perdido, aproveitar aqueles beijos que não roubou e sentir novamente o calor que suas carícias ofereciam.
Como se fosse um fantasma, desceu as escadas e atravessou a extensa galeria. Seus pés sentiram o chão frio, mas recuperaram rapidamente
a temperatura que mantinha seu corpo. Tudo ao seu redor gritava que estava fazendo a coisa certa ou eram suas percepções? Como nem um único criado era encontrado, as luzes permaneciam apagadas e até mesmo as irmãs decidiram não deixar o quarto naquela noite para conversar com ela sobre o assunto que as preocupara. Olhou através das janelas que encontrou e, com exceção do luar, que passava pelas cortinas finas, ninguém era testemunha do que pretendia fazer. Sim, talvez o destino tenha aprovado sua decisão.
Ao chegar ao local onde o visconde fazia seus exercícios físicos habituais, respirou fundo, enchendo seus pulmões com aquele ar masculino que a atraía tanto. Era como um urso atordoado pelo cheiro de mel de uma colmeia e, apesar de saber que as abelhas o atacariam quando descobrisse suas intenções, não abandonaria seu propósito de saborear aquele suculento manjar.
Percebendo a suavidade do piso, deu pequenos passos até chegar à porta que dava lugar àquele jardim. Sentindo a batida do coração na garganta, colocou a mão direita na maçaneta, girou, abriu devagar e.... o viu.
Tal como havia dito, o visconde esperava-a no mesmo lugar em que ficara ao pintá-lo. Seu cabelo solto ondulava como a bandeira de um navio. Sua camisa clara se movia lentamente sobre o peito largo e forte, e suas calças, muito parecidas com aquelas usadas por Josh, transformaram suas longas pernas em pernas titânicas. Anne levou as mãos ao estômago, pois sentia as asas
daqueles corvos furiosos novamente, incontroláveis, e olhou para ele, sem fôlego. Encantada, a enlouquecia vê-lo daquela forma tão relaxada, tão selvagem. Se não conhecesse sua verdadeira identidade, não poderia pensar em outra definição a não ser cigano. Sua pose, sua tranquilidade e aquele equilíbrio que emanava do ambiente que o rodeava eram mais típicos das pessoas selvagens do que dos esnobes e controlados aristocratas. Mas não deveria esquecer que ele era um visconde e que, em um futuro distante, se tornaria um marquês. Essa realidade construía uma enorme muralha que nunca poderia ser demolida. Só conseguiria o remanso da paixão por um breve período de tempo e depois... apagariam de suas mentes os beijos, as carícias, os suspiros que teriam durante seus encontros românticos. Não estava procurando por isso? Se sentir viva, renascer? Bem, estava disposta a se dar isso...
Afastando da cabeça a tristeza que aqueles pensamentos lhe causavam, desceu devagar os cinco degraus que a levavam à pequena esplanada. Foi então que ele percebeu sua presença. Se virou para ela e olhou-a com tanta admiração que Anne se sentiu minúscula. Estava realmente emocionado em vê-la? Haveria algo mais nesse olhar do que lascívia? Seu coração também batia forte quando ficavam juntos?
—Olá... —sussurrou estendendo a mão para ela, assim não teria medo e fugiria quando descobrisse a felicidade e ansiedade que sentia por tê
la em seus braços, beijá-la, tocá-la. ?Venha, aproxime-se. Quero mostrar o segredo mais bonito que desse jardim.
Incapaz de recusar esse pedido, Anne ficou ao seu lado, pegou sua mão e, com um leve movimento, colocou-a na sua frente, pressionando as costas dela contra seu peito, descansou o queixo sobre seus cabelos, que o fez sentir novamente cheiro de flores silvestres, e a manteve alguns segundos assim, capturando o calor que havia desejado durante os dias anteriores.
Duas noites. Apareceu na porta de seu quarto nas duas noites anteriores, mas não ousou bater. Na primeira ocasião, ouviu a voz de Elizabeth e, na segunda, a voz de Josephine. No começo, pensou que Anne as chamara para fazê-lo ficar longe, no entanto, depois de ouvir as conversas que tiveram, e apaziguar sua raiva, concluiu que elas haviam aparecido para conversar sem aviso prévio. É por isso que acabou escrevendo a nota. Se ela ansiasse por ele tanto quanto ele sentia falta dela, viria ao seu chamado e, para seu prazer, ela respondeu afirmativamente.
—Feche os olhos —disse em uma voz suave e melosa —inspire o ar ao nosso redor e ouça o silêncio da noite.
Fez isso mesmo. Fechou os olhos, embora apoiasse ainda mais a cabeça no peito do visconde, apertou suas mãos nos braços fortes e nus, percebendo o toque do pelo masculino e inspirando o perfume a que se referia.
—Em Londres não podemos respirar essa fragrância requintada
—sussurrou em seu ouvido —ou ver tão claramente as estrelas no céu.
—Sinto muito —disse Anne, desenhando um grande sorriso --
mas não posso vê-las porque me disse para fechar os olhos.
—Não precisa abri-los, posso descrevê-las para você —ele murmurou tão perto de seu lóbulo direito que seus lábios o tocaram enquanto falava. —São brilhantes, como pequenas bolas de fogo. Se espalham pelo imenso céu que temos sobre nós. Quando a luz do sol nos ilumina, não podemos vê-las, mas quando a lua chega, são mostradas em todo o seu esplendor. Algumas se agrupam para formar bonitas figuras. As chamamos de constelações, embora ainda não goste da palavra que usaram para descrevê-las dessa maneira —continuou naquela voz aveludada. —Quando criança, meu irmão Roger me ensinou alguns nomes, mas não posso nomear as oitenta e oito que existem. —Seus dedos se estenderam para os dois lados de seu seio, como se quisesse descobrir que as costelas permaneciam no lugar, e começaram a acariciá-la. Percebendo como estremecia, a abraçou com mais força e lhe deu um leve beijo no pescoço. Anne respondeu com um suspiro que descreveu como a música mais linda que já ouviu. —Quando viajo no navio e não consigo dormir, porque tenho que resolver algum problema importante, subo no convés, deito no chão e as fico contando.
—Quantas chegou a contar? —Perguntou, inclinando-se mais
perto de seu corpo. Aquele beijo, tão procurado nos últimos dias, chegara com tanta gentileza que a fez suspirar de alívio.
Perfeição. Essa era palavra que definia exatamente o ajuste de ambos os corpos. Ele era tão alto que ela parecia minúscula ao seu lado. Seus grandes e musculosos braços envolviam facilmente seu corpo e acoplaram-no extraordinariamente ao seu torso e cintura. Sentia as vibrações silenciosas nas costas fruto das respirações e, embora fosse estranho, estava tranquila, calma e tão sossegada, que era isso que transmitia. Por essa razão, em questão de segundos, se encontrou em um estado de relaxamento e inacreditável êxtase.
Seu passado, a maldição e toda a agonia que sofria antes de passar por aquela porta, desapareceram tão rapidamente que a sofredora e confusa Anne Moore morreu ao dar o primeiro passo em direção a ele, dando origem a uma nova mulher cheia de luz.
—Mil oitocentas e quarenta e nove —Respondeu.
Ouvindo aquele número exato, abriu os olhos, se virou para ele e procurou em seu rosto por algum sinal de escárnio, mas não encontrou. A seriedade era evidente, assim como sua veracidade.
—Por que chegou a esse número? -- Ela perguntou. Abriu as mãos sobre o peito robusto e depois descansou o rosto, sentindo a ligeira mudança que sua respiração havia feito. Não era mais lenta, mas nervosa.
—É o ano em que nasci —Logan respondeu, descansando as
mãos grandes nas costas, sentindo o toque suave do robe de Anne.
—Trinta e Dois... —murmurou enquanto fazia as contas de seus anos, descobrindo que tinham apenas cinco anos de diferença. Muito pouco para aqueles que viveram um século, mas muitos para aqueles que não superaram a adolescência.
—Sim —disse, acariciando-a de cima a baixo.
Como poderia se sentir tão vivo quando ela permanecia assim?
Por que queria confessar tantas coisas que manteve por mais de três décadas?
Estaria com medo? O homem que havia lutado bravamente com a fúria do mar, que usara sua espada para acabar com as vidas daqueles selvagens que queriam roubar seu navio, as escapadas pelas varandas das amantes antes da chegada inesperada do marido, temia que ela o rejeitasse? Não, não era a rejeição de Anne que o fazia temer, mas o que seu corpo lhe mostrava quando ela estava ao seu lado. Se acreditou que alcançou o êxtase em algum momento, estava errado. Anne, apenas com sua presença, com aquele jeito de apoiar seu rosto em seu peito e cair sob sua proteção, fez com que ele entendesse que nada do que chamara de felicidade era verdade. Novamente Roger estava certo. Tal como o avisou, quando se encontra a mulher que te faz ser você mesmo, as demais deixam de existir. E assim a havia recebido, tal como era: um cigano. Um homem que só podia estar completo ao ter contato com a mãe terra.
—Se arrepende?
A pergunta de Anne tirou-o de seus devaneios. Lentamente abaixou o rosto, até que seus olhos se encontrassem, e observou alguma confusão neles.
—De viver trinta e dois anos? —Respondeu brincando. —Espero respirar muito mais. -- Não era a resposta que ela esperava, por isso abaixou a cabeça, como se estivesse envergonhada. Então suas mãos deixaram o tecido macio e as colocaram em ambos os lados de seu rosto, o levantou, até que seus olhos se encontraram novamente e falou, tão perto de sua boca que sentiu o calor de sua respiração roçar seus lábios. —Não posso, nem poderei, me arrepender de tê-la comigo, Anne. Quero deixar claro que é a única pessoa de que preciso agora e possivelmente... —Permaneceu calado para não prometer algo que ele próprio não podia garantir. No entanto, antes dessa batalha mental que travava, apenas seu coração queria gritar as palavras que estavam faltando. -- Sempre -- assegurou antes de beijá-la.
Anne sentiu, através daquele beijo tão apaixonado, desesperado e ganancioso, o anseio que o visconde tivera, o mesmo que dela. Era inconcebível que tivessem vivido tantos anos sem se conhecerem, que se odiassem e que, num piscar de olhos, declarassem que eram incapazes de se separar. Era tudo trabalho do destino, de Morgana ou desse poder cigano que estava fervendo nela enquanto estava ao seu lado? Independente do motivo,
se deixou levar. Estendeu as mãos para o pescoço que havia sentido falta e acariciou com as pontas dos dedos. Esse pequeno toque causou um gemido rouco no visconde e, instintivamente, seus quadris se aproximaram, para responder que seu prazer era muito parecido com o dele.
—Que Deus tenha piedade de você, Anne, porque hoje não permitirei que alguém nos interrompa —disse antes de agarrá-la pela cintura, como antes, e, em seus braços, a levou para a área do jardim com o gramado aparado.
Sem parar para beijá-la, sem poder conter as mãos, a caminhada parou no lugar em que, desde que ela entrou dois dias atrás, queria fazer amor com ela. Jurou que era especial e aquilo confirmava. Nenhuma mulher tinha ido a Harving House e, claro, ninguém havia pisado naquela parte da casa, exceto ela. Era seu santuário e, depois que a tornar dele, seria um lugar sagrado e íntimo para os dois. Com toda a delicadeza que pôde encontrar naquele momento, baixou-a até que seus pés descalços tocaram a grama macia.
?Anne... ? sussurrou em seu pescoço enquanto suas mãos, tremendo pelo o desejo que corria através de cada partícula de seu corpo, desatavam o laço.
?Logan... ? ela respondeu, estendendo os braços para o chão, de modo que o robe de seda preta se soltasse rapidamente de seu corpo
ardente.
?Repita o meu nome, querida ?pediu, deslizando lentamente a peça por seus ombros.
?Logan... ? pôde dizer apenas através de um sussurro.
?É tão perfeita, tão maravilhosa... ?continuou sussurrando.
Logan a acariciava lentamente, como se ela fosse uma figura de porcelana que pudesse quebrar a qualquer momento. Primeiro os dedos tocaram seus braços, fazendo os pelos eriçarem em seu rastro. Continuou com o pescoço, com o pequeno decote que mostrava a camisola e, sem conseguir desviar o olhar daquele rosto angelical, continuou com os seios.
Percebendo que os mamilos tinham endurecido por ele, rosnou novamente com satisfação e desejo, crescendo em cada respiração, nublando sua visão.
Era sua. Por fim, Anne seria sua... com dolorosa lentidão, fez seus polegares cercarem aqueles montículos pequenos e duros, excitados pela paixão.
Aqueles pequenos toques causaram uma grande agitação em Anne e, para não cair, as mãos dela se agarraram a seus ombros maciços. Ouvindo-a ofegar, testemunhando o intenso calafrio, Logan a beijou novamente com tanto ardor que a devorou. Sua língua dançou ao ritmo da dela, dentro e fora daquela boca sensual, como se estivesse fazendo amor com ela. As mãos grandes se agarravam ainda mais àqueles montículos que cobriam sua palma.
Apertou-os, espremeu-os como se fossem duas laranjas das quais extraia o
suco. Aquele ato perverso a fez se arquear para ele, fazendo seus quadris, cobertos com a fina camisola, roçarem os dele, descobrindo assim que estava tão excitado quanto ela. Duro, como uma barra de aço, seu sexo reivindicava aquilo que já indicava com próprio.
Sem deixar de beijá-la, sem deixar de saboreá-la e invadi-la com sua língua, Logan afastou as mãos de seus seios e as baixou para colocá-las em seus quadris. Uma vez que sentiu em seus dedos a textura daquela carne sensual que ainda estava escondida pela roupa, apertou-a com a mesma força com que oprimira seus seios. Rude. Pela primeira vez em sua vida, ele não era suave, mas áspero, brusco.
?Logan... ?murmurou seu nome em uma voz tão suave que era pouco compreensível.
?Sim, Anne. Eu sei. Vou acalmar sua necessidade e assim também saciarei a minha ?ronronou em seu ouvido.
Sua língua traçou o pescoço longo e liso, seguido pelo pequeno decote e, enquanto suas mãos levantavam lentamente a camisola, sua boca pegou o mamilo direito sobre tecido. A pressão de seus dentes no botão ereto fez com que ela gemesse e jogasse a cabeça para trás. Aquele ato, aquele comportamento submisso, causou uma enorme explosão em Logan e sua parte selvagem adquiriu força. Com a voracidade de um homem que encontrou a mulher com quem viveria eternamente, se afastou um pouco e
acabou de remover aquela roupa que o impedia de descobrir seu verdadeiro toque. O cabelo escuro de Anne se agitou quando passou a camisola sobre a cabeça.
?Deixe-me olhá-la ?pediu, observando como ela estendia as mãos para esconder certas partes de sua nudez. ?Não roube esse momento de mim, querida, porque o estou esperando desde que a conheci.
Sem desviar o olhar daqueles olhos azuis, atendeu seu pedido.
Anne retirou a mão dos seios e do triângulo entre as pernas. Devia se sentir como uma prostituta, uma mulher sem moral. No entanto, ao contemplar o olhar faminto do visconde, todos os seus preconceitos desapareceram. Linda.
Isso era o que os olhos de Logan expressavam. Que ela era a mulher mais bonita. Seu coração, louco, descontrolado, acabou deixando seu peito para se atirar nele e suas entranhas gritavam que precisavam desse homem dentro dela. Sem hesitar por um momento, estendeu as mãos para a camisa, soltou-a da calça e tirou-a com urgência. Como havia feito com ela, o cabelo do visconde dançou ao se separar daquela roupa.
?Logan... ?murmurou quando descobriu uma enorme cicatriz branca que ia do umbigo até o lado esquerdo do peito. Levou a mão direita em direção àquela ferida curada e a acariciou.
?Deus, Anne! ?Exclamou, jogando a cabeça para trás, sentindo o prazer daquele toque percorrer cada célula de seu corpo. ?Eu gosto
disso…
?Gosta que te toque? ?Se atreveu a dizer, tornando-se uma mulher descarada e segura de seu poder de sedução.
?Sim ?Logan engasgou quando sentiu novamente aqueles dedos suaves traçando a marca que lembrou a ele quem realmente era e o que a mãe de sua mãe tentou fazer quando ela estava sangrando até a morte no seu nascimento. Graças à mulher que ele chamava de mãe, apenas a lembrança de uma morte rápida permaneceu em sua pele.
?Bem, quero fazê-lo ?disse se aproximando.
Descansou as duas mãos em seu peito nu e foi apalpando até que pudesse descrever a sensação daquela pele rude e a aspereza dos pelos que a cobriam. Ouvindo os suspiros de Logan, colocou os polegares nos dois mamilos, tão eretos quanto seu sexo, e os roçou.
?Jesus! ?Exclamou com um uivo desesperado. ?Continue Anne. Avance pelo meu corpo...
E foi o que fez. Acariciou cada centímetro de pele em seu peito e sorriu quando percebeu como a respiração do visconde se tornava mais angustiante. Ninguém o havia acariciado? Nenhuma mulher havia traçado seu corpo magnífico com as mãos? Sentindo-se afortunada, aproximou a boca e passou os dedos pelos lábios. Então notou que as palmas das mãos dele estavam sobre seus cabelos, amassando-os, tocando-os como se tentasse
liberá-la de um penteado inexistente.
?Anne... ?murmurou seu nome, embora sua voz estivesse num tom tão fraco que a deixara perplexa.
Não. Ninguém o havia tocado daquela maneira e ela estava ardendo de vontade de continuar. Sua boca, ainda no esterno, moveu-se lentamente para o umbigo. Colocou os dedos no cós da calça e apoiando-se nele, continuou a beijá-lo até que os lábios se abriram para sua língua tomar o seu lugar. O gosto masculino de Logan a hipnotizou, a deixou louca a ponto de seus joelhos nus tocarem o chão. O queixo que sempre levantava quando queria mostrar orgulho tocava a excitação que ainda estava escondida sob suas calças. Queria, desejava, necessitava continuar e seguir sentindo aquele gosto masculino em sua boca. Vagarosamente, com uma lentidão enlouquecedora, suas mãos deixaram o cós para se colocarem no botão.
Quando desabotoou, aquela ereção a recebeu.
?Quer me matar, certo? ?Logan se inclinou para ter uma visão perfeita de Anne. Ela era uma deusa? Porque era assim que a definia naquele momento. A deusa mais maravilhosa, mais ardente e ... sua.
?Minha proposta, querido visconde, é satisfazer o que tanto ansiamos... ?tentou dizer enquanto colocava as mãos sob as calças, sentindo o membro sedoso e duro.
?Bem... vá em frente... eu sou todo seu... ?murmurou,
gaguejando. Fechou os olhos e deixou-se levar pelas suaves carícias de Anne.
Não queria comparar. Não precisava, mas sua mente não conseguia pensar em outra coisa senão encontrar as diferenças entre o sexo do visconde e o de Dick. Lá onde algumas vezes encontrara um membro flácido, em Logan era tão duro que sua vagina se contraía, como se quisesse evitar a invasão futura.
?Anne... ?murmurou ao notar os dedos acariciarem a glande.
Molhada pela excitação, pelo desejo, pela chegada de um sonho.
Anne abaixou lentamente as calças e as ceroulas até ficarem nos joelhos. Como havia imaginado, não apenas seu sexo era robusto, mas suas pernas eram duas barras de ferro forjado no fogo do deus Hefesto[8]. Suas mãos deixaram o falo duro e se fixaram nos quadris masculinos. Selvagem e sem fôlego por tudo que a fazia sentir, a parte cigana de Anne brotou de suas entranhas e, sem hesitação, lambeu e provou aquela glande molhada pela excitação. A resposta de Logan apareceu imediatamente. Ele segurou o cabelo de Anne entre os dedos e insistiu para ela continuar. Foi o que fez. Ela continuou beijando e saboreando aquele membro masculino que, quando o colocava dentro de sua boca, tremia como o resto de seu corpo.
?Sim... ?Logan sussurrou, trazendo seus quadris para o rosto de Anne. Com os olhos ainda fechados, ouvindo a própria respiração e a intensidade do coração, suspirou profundamente, aceitando o prazer que ela
oferecia com a boca e as mãos. Mas percebendo que esse estado de paixão o faria explodir antes que pudesse tomá-la, puxou o cabelo de Anne para trás, abriu os olhos e disse: ?Minha querida cigana, acaba de marcar seu destino e não é outro senão o de estar comigo.
Aturdida por esse comentário, ela se levantou, olhou para ele sem piscar, e quando ia perguntar por que ele havia dito tamanha loucura, Logan tirou a calça e a tombou abruptamente naquele manto de grama.
?Minha vez, querida ?disse antes de beijá-la com tanto fervor que sua alma saiu disparada pela boca até que ele se alimentou com ela.
Com as mãos percorrendo seu corpo nu, Logan concluiu a jornada no triângulo que ela tentara esconder. Com os dedos abriu as dobras esponjosas, molhadas de excitação, e procurou pelo clitóris. Quando o achou tão inchado, não demorou muito para atacá-lo. O corpo de Anne se contorceu, ela se mexeu tanto que parecia evitar os roces violentos, duros e dominantes.
?Deliciosamente minha... ?Logan sussurrou uma vez que puxou aquela boca voraz para longe dela. Colocou um dedo dentro da vagina de Anne e quando a encontrou tão escorregadia e apertada, a beijou novamente com ardor.
Aquela invasão, que era tremendamente prazerosa, fez com que ela arqueasse seus quadris em direção àquela mão, para que nunca parasse. E
não parou. Enquanto o polegar brincava com o clitóris, um dedo ia e vinha até que a abria tanto que acabava introduzindo dois.
?Logan... ?soluçou, notando como seu corpo queimava e doía, pois, sua necessidade de ser acalmada, aumentava para limites indefiníveis.
?Quero beijá-la, lambê-la, provar cada canto do seu corpo
?assegurou enquanto beijava seu seio, sua barriga, seu umbigo e, quando ele abriu as pernas para ter uma visão perfeita do sexo feminino, lambeu os lábios. ?Isso é tudo meu ?disse antes de sua língua traçar as esponjosas saliências.
Anne estendeu as mãos para a grama e arrancou todo aquele emaranhado entre os dedos quando notou a boca do visconde ali embaixo.
Fechou os olhos, levantou ainda mais os quadris e se arrastou pelo prazer que a boca masculina lhe oferecia. Ele a mordeu, absorveu toda a sua essência, penetrou-a com a língua tantas vezes que perdeu a pouca razão que ainda tinha. Como podia se converter em uma louca, viciada naquelas mordidas grosseiras, naquelas carícias tão dominantes e possessivas?
?Logan... por favor... ?implorou quando notou como sua barriga queimava, como a dor que sentia em seu sexo era tão horrível que não podia se acalmar, exceto por sua invasão.
Envolto em uma névoa de desejo, Logan abandonou a parte que ele tinha devorado até que se colocar em cima. Enquanto com uma mão
acoplava seu sexo na frente dela, olhava-a atordoado. Seus olhos brilhavam como as estrelas daquele céu e sua respiração atingiu seu rosto aumentando sua temperatura.
?Anne... diga que você me quer, que anseia pelo que vou lhe dar
?pediu enquanto apoiava as palmas das mãos nos dois lados do rosto luxurioso e investia nela pela primeira vez.
? Eu quero você... e anseio pelo que vai me oferecer... ?ofegou quando sentiu a penetração.
?Repita meu nome. Quero ouvi-la toda vez que entro em seu corpo, toda vez que te fizer tremer, toda vez que lhe mostrar que você é ...
minha ?exigiu com um tom cheio de desejo e algo que nunca sentira antes: ansiedade.
?Logan... Logan... ?disse, sentindo aquelas duras investidas, aquelas invasões dominantes e possessivas.
?Oh, sim, Anne! ?Gritou antes de beijá-la, antes de fazer seus quadris cavarem os dela, unindo-os, transformando-os em um único ser.
Aquele cigano que se forçara a permanecer distante parecia tão selvagem e desesperado que afastou o visconde, o homem que mostrara ao mundo para transformá-lo no cigano que negava ser. Sem parar de penetrá-la, de entrar e sair, sem conseguir separar a boca dos lábios que o recebiam com avidez, Logan sentiu como o corpo de Anne se abalava ao compasso dele.
Tudo. Tudo ao seu redor desapareceu. Apenas uma pessoa permanecia, uma alma, uma mulher: ela.
?Te desejo tanto! ?Exclamou com um grito quando o clímax começou a subir.
?E eu ?respondeu, cravando as unhas nas costas dele com tanta força que elas perfuraram a pele áspera.
Então chegou. O corpo de Logan tremeu no final, derramando sua semente dentro de Anne, enchendo-a com ele, sua essência, sua masculinidade, sua vida. Com ar ofegante e sem deixá-la, ele se afastou um pouco para observá-la. Disse que ela era uma deusa? Bem, era. Anne era sua deusa, a única que poderia estar ao seu lado... sempre.
Uma vez que sua respiração relaxou, uma vez que seu sexo começou a recuperar seu estado de tranquilidade, se deitou ao lado dela e a segurou com tanta força que se tornaram um novamente.
?Você... eu... desejo... ?o visconde tentou explicar.
?Sou e serei apenas mais uma ?disse sem olhar para ele. ?O
que aconteceu aqui é ... não quero que ...
?Não diga nada. Não quero que estraguemos este momento com definições absurdas ?sussurrou.
Logan lentamente beijou seu cabelo. Não precisava explicar nada.
Ele já adivinhara o que ia dizer, por isso a única coisa que fez foi abraçá-la e
confortá-la. Não deveria temer pela maldição, nem ficar longe dele pensando que morreria como seus dois pretendentes. Precisavam de tempo e estava disposto a dá-lo. Uma vez que ela admitisse que poderia haver mais do que encontros apaixonados entre eles, pediria que ela fosse sua para sempre. Só esperava que para consegui-lo não tivesse que confessar seu segredo...
XXIX
Durante a semana seguinte, eles agiram com grande discrição.
Enquanto estavam acompanhados por Elizabeth ou Josephine, permaneceram distantes e suas condutas eram frias e um tanto elusivas. Mal falavam e, quando o faziam, suas conversas eram tão ínfimas que até suas irmãs bufavam do tédio que causava ouvir assuntos absurdos.
Nas manhãs, Anne avançava no retrato, enquanto Logan não parava de reclamar do terrível arrependimento que sofria por permanecer imóvel por tanto tempo. Enquanto não fosse salvo por uma das jovens Moore, continuava reclamando como uma criança pequena. Mas quando saia do lado dela, para ir socorrer a oportuna irmã, Logan lhe dava um olhar tão ardente que a fazia tremer e excitar ao mesmo tempo. Não havia dúvida de que o magnetismo que havia sido forjado entre eles era tão inquebrável quanto a lâmina afiada de Excalibur e administravam essa relação quando todos os habitantes da casa se retiravam para seus quartos. Se em algum momento pensaram que o fogo diminuiria com o passar do tempo, erraram.
Cada vez que se encontravam, cada vez que estavam sozinhos, o vínculo entre eles se tornava mais forte, mais sólido. Esse relacionamento inesperado assustava muito Anne, visto que não havia noite em que não lutasse contra seus novos sentimentos e desejos. Por que tudo era tão difícil? Por que seu
peito doía quando pensava que o fim viria em breve? Será que seria capaz de esquecer seus beijos, suas carícias, suas palavras e o tom tão solene que costumava dizer que pertencia a ele? Se não tivessem concordado que manteriam apenas um romance fugaz, admitiria, sem dúvida, que seus gestos, suas ações e aquelas frases que sussurrava quando faziam amor eram verdadeiras. Porque, mesmo que não devesse imaginar que eram reais, pareciam ser. Além disso, tinha que ser honesta consigo mesma e assumir que ao seu lado encontrava um bem-estar que não atingira com Dick. Agora entendia muitas coisas sobre paixão e desejo. Não havia comparação possível entre eles. Enquanto Dick usava isso para seu próprio prazer, o visconde oferecia-lhe tudo o que desejava e essa era a razão pela qual o medo aumentara... O que aconteceria no dia em que partisse para Londres com suas irmãs? Por que diabos ele não se comportava tão frivolamente quanto Dick?
?Não entendo porque as pessoas gostam tanto de contemplar o mar. ?O comentário de Elizabeth a afastou dessas conclusões tão terríveis quanto belas. Olhou de esguelha para ela e sorriu enquanto a observava enredar-se em uma luta incansável para manter o pequeno chapéu imóvel em sua cabeça.
Naquela manhã, como o visconde prometera na tarde anterior, fizeram uma excursão para a praia. Mas Eli não parava de reclamar desde que saíram. Josh, por outro lado, parecia feliz e animada. Caminhava ao longo da
costa, a calça marrom enrolada até os joelhos e os pés mergulhados na água.
O visconde permanecia ao seu lado. Anne desviou o olhar para eles e os observou em silêncio. Nunca imaginou que poderia se comportar de maneira tão familiar e simples com elas. Ele havia tirado o paletó, a gravata e o colete, deixando-os dentro da carruagem. Sua camisa branca estava tentando esconder o corpo esculpido por seus exercícios e trabalho no barco. Suas longas pernas vestidas com calças pretas de caxemira mostravam a força de um homem do seu tamanho. Como Josh, ele também enrolou as calças até os joelhos e a mão direita segurava os sapatos e meias para não os danificar com a água do mar. Anne suspirou ao ver como a brisa suave o atingia e como seu cabelo, puxado para trás em um rabo de cavalo, estava começando a se soltar daquela tira de borracha para apresentar uma imagem tão selvagem quanto erótica. Desejava, com todas as suas forças, ser aquela que passeava ao seu lado, mas como haviam feito até agora, se quisessem continuar com o relacionamento que haviam acordado, deveriam continuar com o plano, que consistia principalmente em não mostrar a afeição que sentiam e continuar se vendo em segredo.
?Segundo ouvi dizer, o sal é bom para a pele ? comentou Howlett.
O valete, depois de criar um elo emocional com Elizabeth, foi autorizado a acompanhá-la a todos os lugares que visitava e, é claro, a praia
também estava dentro de suas novas tarefas.
?Está seguro disso? ?Eli o recriminou mordaz. ?Porque nunca me senti tão suja. Comi um sanduíche cheio de terra imunda, tenho o vestido, as meias e os sapatos manchados de areia, as roupas grudam no meu corpo como se eu fosse um agricultor que trabalhou no campo durante um dia intenso de verão, o vento está estragando meu penteado e não suporto esse cheiro horrível ... ?acrescentou com uma careta de desagrado.
?Garanto que é muito melhor do que parece ?Howlett assegurou se sentando ao seu lado para evitar que a brisa marinha açoitasse sua nova amiga até arrancar o belo chapéu. ?Se tivesse navegado, como fiz, cercado por homens fedorentos, mal-humorados e indelicados, certamente teria uma percepção mais favorável dessa excursão.
?Que atrocidade! ?Eli exclamou, horrorizada ao se imaginar em um navio cercado por marinheiros malcheirosos, cuja única finalidade era fazer suas necessidades fisiológicas no convés do navio.
?O que não é tão horrível? ?Perguntou o jovem divertido.
?Como pôde suportar isso? ?Eli estalou enquanto lutava para manter a saia do vestido verde-esmeralda limpa.
?Bem, o visconde concordou que ficasse em sua cabine o tempo que estipulasse necessário. Então pode deduzir que passei semanas admirando trajes que não costumava usar ? explicou serenamente.
?Por que diz que não costumava usar? ?Elizabeth estava interessada, cansada de lutar contra o vento, decidiu tirar o chapéu de uma vez por todas.
?Porque os marinheiros não andam vestidos. Por mais que me pareça terrível confessar, esses tipos de homens geralmente andam seminus
?comentou Howlett divertido.
?Seminus? ? Eli soltou chocada. ?O visconde também se tornou um deles?
Não era capaz de imaginar Logan adotando uma atitude tão inapropriada para um cavalheiro de sua linhagem. Que os outros agissem de maneira selvagem, poderia aguentar, mas... um aristocrata, um futuro marquês? Jamais! A classe alta tinha que mostrar sua condição e seu poder onde quer que fossem.
?Claro! ?Respondeu Howlett com um sorriso travesso. ?E
tenho que declarar que quando chegávamos a um novo porto, todas as mulheres que o contemplavam rezavam para que essa figura bárbara e aristocrática as escolhesse como amantes.
?Howlett! ?Elizabeth o repreendeu. ?Como pode ter uma linguagem tão ousada? Não sabe que deve manter em segredo o que acontece no quarto do seu mestre?
?Não insinuei quantas passaram pelos quartos, minha querida
senhorita Moore ? continuou sarcasticamente ?a única coisa que admito é que o visconde teve uma vida muito intensa...
Entre risadas, os dois terminaram a conversa e decidiram dar um passeio longe do mar e do arenito. A única que não riu do comentário sagaz foi Anne, que cerrou os punhos e enterrou-os na areia para que nenhum deles pudesse vê-los. Mulheres? Quantas mulheres visitaram a cabine de Logan durante suas viagens? Por que andava seminu? Não sabia a definição do termo pudor? Mostrava seu corpo lindo como se fosse um galo cercado por galinhas? Suas bochechas começaram a ficar vermelhas e seu pulso acelerou.
Ciúme. Pela primeira vez em sua vida, um ataque de ciúmes tomou conta dela. Odiava essas mulheres e o odiava por ser um conquistador de corações.
«É isso o que é, Anne Moore, outra mulher que se rendeu ao seu poder de sedução. No entanto, foi você quem se impôs essa condição» lembrou a si mesma. Sim. Era isso com o que haviam concordado: dois amantes que vivem e desfrutam de um tempo de liberdade e paixão até que chegasse o fim.
Sem tirar os olhos do visconde, suspirou profundamente. No fundo as entendia. Apesar de odiá-las com todas as suas forças, também as entendia. Quem não sonharia em deitar com um homem que emanava poder e selvageria? Quem não gostaria de ser beijada por aquela boca ou acariciada por aquelas mãos fortes? E ... quem não esperaria gemer de prazer quando
estivesse possuída daquela maneira abrupta e feroz? Nenhuma mulher deveria se privar de tal prazer. Logan nasceu para amar e se dedicava a isso.
Quando estava prestes a desviar o olhar deles, ele a olhou e, ao observá-la tão rígida e irritada, levantou a sobrancelha esquerda em questionamento. Mas Anne, em vez de desviar o olhar, como sempre fazia, o manteve fixo, transmitindo através dos olhos a raiva que sentia e não podia diminuir facilmente.
?Acho que é hora de irmos ? Logan comentou com Josephine quando sentiu as emoções díspares de Anne. Sentou-se na areia e, depois de limpar os pés, calçou as meias e os sapatos. Se levantou, desenrolou as calças e olhou para ela novamente.
Não gostou da praia? Não gostou da vista daquele lugar lindo?
Talvez tenha errado ao concluir que poderia apreciar a beleza daquela área e, em vez de ter um dia maravilhoso, estava em uma terrível aflição.
?Tão cedo? ?Josh choramingou, tentando fazer com que o soluço infantil a ajudasse a fazê-lo mudar de ideia. Mas, observando a atitude do visconde, sentou-se, calçou as meias e as botas curtas. ?Ainda não me explicou como derrotou aqueles terríveis assaltantes ?insistiu quando se levantou e ficou ao seu lado novamente.
?É uma história bastante inapropriada para uma jovem da sua idade ? disse a ela como desculpa enquanto caminhava em direção a Anne.
Ela, vendo que eles estavam se aproximando, se levantou rápido, deu uma batidinha na saia de seu vestido marrom e se virou, lhes dando as costas. O
que diabos estava errado? O que aconteceu durante sua breve ausência para fazê-la sentir-se tão desconfortável? ?Além disso, o verdadeiro protagonista daquele momento foi Giesler. Se ele tivesse vindo teria contado sobre esse episódio atroz...
Naquele exato momento, ficou consciente de que haviam se passado mais de dez dias e que não ouvira notícias de seu amigo. O que teria acontecido com ele para não responder? Continuaria atormentando a vida daqueles homens que haviam humilhado Mary? Ou ficara em Londres porque não queria sofrer outro ataque como o que sofreu na casa dos Moore? Não, não poderia ser isso. Na carta que enviara, deixou muito claro quais as irmãs que viajariam com Anne e explicara que a mulher que jogou os tubos nele, como se fossem dardos venenosos, ficaria em Londres. Então... por que não aceitou o seu convite?
?O Sr. Giesler é o homem a quem eu apontei a minha arma, certo? ?Josh, envergonhada de lembrar o que fez naquele dia, colocou as mãos atrás das costas e passou pelo visconde com os olhos fixos no chão.
?Por que fez isso? ?Logan perguntou, incapaz de tirar os olhos de Anne, que estava andando em direção à carruagem.
Ofendida, irritada e bastante soberba. Isso declarava sua atitude
estranha e súbita. Agora, mais do que nunca, queria encontrar um espaço para conversar com ela e descobrir o motivo desse comportamento arrogante.
?Porque ele entrou em nossa casa e não desviou o olhar de Mary por um único segundo ? disse com um longo bufo.
?Teria atirado nele? ?Perguntou, esboçando um enorme sorriso.
?Sabe que ele não foi capaz de tirar os olhos do corpo da minha irmã? ?Ela bufou indignada. ?A mamãe sempre a avisa para não sair do quarto de camisola, mas ela não presta atenção a ninguém e naquela manhã apareceu no topo da escada com uma aparência inadequada.
?Quer dizer...? ?Parou, olhou para ela e riu.
Grande patife! Essa parte da história ele não contou, guardou para si mesmo. Disse que ela jogou tudo o que estava ao alcance, mas esqueceu de contar sobre o momento em que descobriu a silhueta da irmã na camisola.
Seria seda transparente como as que Anne usava? Se assim fosse, já adivinhava por que Philip não respondeu ou apareceu. Estaria babando como um cachorro atrás da erudita Moore.
?Sim ? Josh respondeu, visivelmente irritada. —Por mais que pedisse para parar de olhar para ela, aquele cavalheiro não me dava ouvidos.
?Deveria ter atirado nele! ?Logan exclamou antes de bagunçar aquele cabelo loiro tão claro.
?Acredita nisso? ?Josh perguntou indecisa.
?Sim, acredito nisso. Porque temo que ele continue a vê-la de maneira tão desrespeitosa pelo resto de sua vida. Um homem é incapaz de tirar da mente a imagem de uma bela mulher de camisola ?assegurou enquanto continuava a caminho da carruagem.
?Bem, da próxima vez prometo que irei deixá-lo cego ?disse a jovem. Comentário que causou outra risada alta do visconde.
***
Não estava enganado, Anne estava com raiva e não tinha ideia do motivo. Quando os cinco se acomodaram na carruagem, ela não desviou o olhar da janela. Três horas com o pescoço tão esticado lhe causariam uma dor terrível. Mas não respondeu ou contestou as míseras perguntas que fez.
Foram suas irmãs e Howlett quem, ante seu silêncio, responderam às suas questões. O que diabos estava acontecendo? O que havia perdido enquanto caminhava com Josh na praia? Não lhe pareceu certo ter essa pequena liberdade? Ela, melhor do que qualquer outra pessoa, deveria entender que entre a jovem e ele se criara uma relação afetiva muito semelhante à de irmandade. Além disso, seu principal objetivo com Josh era que reconsiderasse sobre os planos futuros que havia feito. Era por isso que
contava a ela sobre as batalhas e dificuldades que sofrera durante suas viagens. No entanto, Anne não parecia satisfeita, pelo contrário. Se mostrava tão irascível que estava prestes a se levantar, agarrá-la pelos ombros e gritar o que diabos lhe acontecia.
?Finalmente! ?Exclamou Elizabeth alegremente quando avistou os telhados de Harving House. ?Lembre-me de não pisar em uma área costeira novamente. Foi horrível ...
?Não gostou? ?Logan perguntou, tentando encontrar algum sinal para explicar se era por isso que Anne estava tão distante.
?Não! ?Eli respondeu rapidamente. ?Prefiro mil vezes mais a pesada neblina de Londres do que a brisa úmida e pegajosa daquele lugar.
?Pois eu estou encantada! ?Josh disse cruzando os braços sobre o peito. ?Admito que, no início, esse ar marinho me impediu de respirar.
Mas com o passar do tempo meu corpo se adaptou facilmente.
?Cheira a peixe! ?Eli a repreendeu, cobrindo o nariz com dois dedos. —Realmente gosta de cheirar assim?
?Salitre ?Logan o corrigiu. ?É chamado salitre e garanto que é muito bom para a pele. Em minhas incontáveis viagens de barco, expus meu corpo àquelas quentes brisas do mar e endureci tanto que, para enfiar uma faca em mim, teriam que exercer uma grande pressão.
O riso de Josh, Eli e Howlett encheram o interior da carruagem,
só que Anne não achou aquela explicação engraçada. Enquanto os outros mostravam uma atitude relaxada, ela se aproximou ainda mais da janela, franziu a testa e bufou como um cavalo depois de uma longa caminhada. Isso acentuou as suspeitas de Logan sobre sua raiva. O que havia dito para deixá
la tão zangada?
?Permita-me ajudá-la, senhorita ?disse o visconde a Elizabeth quando a carruagem parou na entrada da residência. Estendeu a mão e ela aceitou encantada.
?Howlett, vem comigo? ?Perguntou ao valete quando ele desceu atrás dela. ?Necessito de um bom banho para remover toda a areia que ficou sob este vestido feliz.
?Será uma grande honra ?disse o rapaz. ?Mas milorde irá precisar...
?Pode ajudá-la. Embora não entenda por que estou pagando uma criada se é você quem faz todo o trabalho ?Logan resmungou em aparente raiva.
?Ela não tem ideia de como encher uma banheira! ?Disse Howlett com horror. ?E se não fosse pelo bom gosto da senhorita Moore, teria uma aparência decrépita. Acredita que tinha decidido fazer uma trança em vez de um coque baixo? Isso é inconcebível se tiver que usar um chapéu!
Depois dessa exposição, que deixou a tendência afeminada de
Howlett ainda mais clara, Logan sorriu e acenou com a cabeça, permitindo que o criado se tornasse a dama de companhia de Elizabeth. Quem teria medo de um homem que sonha com roupas de seda e penteados ideais?
?Josh? ?Chamou à jovem quando ele apareceu ao lado dela.
?Também tomarei um longo banho. Depois, se não se importar, visitarei o prédio anexo. Quero continuar praticando com a espada.
?Não é melhor que pratique primeiro e tome seu banho depois?
Não acho que Elizabeth suporte outro cheiro além do que emana o sabão
?disse ironicamente.
?Vendo desse modo... e como não quero ouvi-la reclamar de novo... ?Josh disse com os olhos apertados. ?Sim, será melhor fazer assim.
Vai me acompanhar? ?Acrescentou com entusiasmo.
?Hoje não posso, tenho que esclarecer uma questão muito importante. Mas se tiver algum problema, Kilby o resolverá ?disse olhando para Anne, que ainda não havia saído do interior da carruagem e permanecia olhando pela janela, como se a viagem não tivesse chegado ao fim.
?Então... ?olhou para a irmã, depois para o visconde, e sem pensar em nada além da diversão que teria ao empunhar as gloriosas espadas espanholas que Logan mantinha em um canto da instalação, correu para a entrada principal.
?Ficará o resto do dia aí dentro? ?Perguntou uma vez que
ficaram sozinhos.
?Existe outra alternativa melhor? ?Murmurou sem olhá-lo.
Não. A raiva não havia minado. Talvez tenha diminuído algo por um breve período de tempo, até que ele falou sobre expor seu corpo à brisa do mar. Como ele podia ser tão fanfarrão?
?Existem várias... ? Logan comentou colocando as mãos nos dois lados da porta e inclinando-se para ela, para que o cocheiro não o ouvisse. ?Tem a opção de sair ou... Posso entrar, fechar essa abençoada porta e ordenar ao meu cocheiro que viaje pela minha terra enquanto fazemos amor aí dentro. Qual prefere, querida?
?Oh, tenho certeza que deve estar acostumado a fazer esse tipo de coisa em um lugar tão inapropriado! ?Murmurou com raiva. Cruzou os braços e manteve o corpo tão rígido que nem uma flecha passaria.
Logan estreitou os olhos até que eles se transformaram em pequenas linhas. Qual foi o comentário? Parecia que era... não poderia ser!
Ela não poderia estar sentindo ciúme! Por causa do quê? Nunca falou de nenhuma mulher enquanto estava presente. Era mais, todas haviam desaparecido de sua memória uma vez que Anne se rendeu a ele. Então...
quem poderia ter dito a ela sobre isso? Sua mente, em questão de segundos, pesou todas as opções possíveis e, exceto pelo tempo que Howlett permaneceu com elas, não havia outra possibilidade... teria sido tão
desdenhoso que revelou em alguma conversa certos segredos que nem ele mesmo fez público?
?Jeffry! ?Gritou para o cocheiro.
?Milorde? ?Perguntou, virando a cabeça para ele.
?Deixe a carruagem nesta área da entrada, a colocará no estábulo mais tarde ?disse sem tirar os olhos de Anne, que encolheu os ombros ao ouvir o tom de voz que usava.
?Como quiser ?respondeu o criado apressadamente. Desceu o mais rápido que pôde e caminhou até a porta de serviço sem olhar para trás.
?Bem, querida. Estamos completamente sozinhos. Quer que mostre a diversão que posso lhe oferecer aí dentro? Como bem disse, tenho muita experiência em dar prazer numa cabine tão inapropriada ? retrucou, colocando a sola do sapato de seu pé direito na escada de metal.
?Não se atreva! ?Anne gritou antes de abrir a porta do lado dela e sair fugindo.
?Oh sim! Sim, posso pensar em milhões de coisas que quero lhe fazer! ?Ele clamou antes de atravessar a carruagem por dentro e correr atrás dela até alcançá-la.
XXX
?Solte-me! ?Anne gritou quando os braços de Logan envolveram sua cintura.
?Nem pensar! ?Respondeu levantando-a do chão, fazendo com que seus pés e a saia de seu vestido se agitassem no ar. ?Quero descobrir por que está tão furiosa ?disse levando-a para os estábulos.
?Furiosa? Eu? Não é verdade! ?Mas seu tom de voz denotava exatamente o contrário.
Espremida entre os braços fortes e resistentes, lutava para se afastar daquele corpo que a queimava, embora suas peles ainda não tivessem sido tocadas. No entanto, quanto mais esforço fazia para se separar, mais ele a agarrava contra si mesmo.
?Não lute, querida... ? sussurrou em seu ouvido depois de cruzar a entrada dos estábulos. ?Essa batalha não poderá ganhar...
?acrescentou reticente.
Batalha? Pensava que havia começado uma guerra contra ele?
Bem, estava enganado! A única batalha que travava tinha apenas dois adversários e estes eram a mesma pessoa: ela. Na realidade, sua mente e seu coração lutavam um contra o outro para superar um sentimento que ela não
podia suportar, assim como não devia admitir o súbito ciúme que sentiu quando ouviu sobre a vida libertina que teve antes que ela aparecesse. E, para ser franca, não podia imaginar que manteria esse estilo de vida assim que ela fosse embora. E havia a questão desse terrível conflito! Querer, mas não poder. Porque não tinha dúvidas sobre o que queria, embora também estivesse ciente do que não podia. Como superaria outra morte? E não seria qualquer morte senão a dele! O homem que amava! Essa afirmação oprimiu seu peito até que ficou sem fôlego. Como podia ter pulado sua primeira norma? Não teve o suficiente com Dick? Em que parte de suas memórias estavam aquelas lágrimas, episódios de tristeza e culpa?
?Anne... ?Logan disse quando sua respiração mudou drasticamente. Ela não estava mais agitada, mas quebrada, como se estivesse chorando. Será que a machucara ao pegá-la com tanta força? Tinha sido tão bruto? Muito lentamente, enquanto se arrependia dessa atitude bárbara, colocou-a no chão até que ficasse de pé sem perder o equilíbrio. ?O que há de errado contigo? ?Acrescentou. Anne virou-lhe as costas e ele, para apaziguar a repentina tristeza, colocou as mãos gentilmente em seus ombros.
?O que eu fiz?
?Nada. Não fez nada ?comentou sentindo a pressão das grandes palmas em suas omoplatas.
?Bem, se não fiz nada, olhe para mim! ?Pediu. Pressionou os
dedos no vestido de Anne, virou-a para ele e quando viu as lágrimas escorrerem pelo rosto, se sentiu o homem mais perverso do mundo. ?Anne...
me diga por que chora.
Tirou as mãos dos ombros e colocou-as com muita ternura sobre suas bochechas, molhadas com aquelas lágrimas. Com uma lentidão surpreendente, as removeu com os polegares. Aquela demonstração de afeto fez Anne olhá-lo e, percebendo sua preocupação por ela, admitiu com amargura que a guerra acabara de ser vencida pelo seu coração.
?Se Howlett comentou algo que a feriu, juro que irei procurá-lo e cortar sua língua ?disse com a voz de um homem que navegava pelos mares e comandava um navio com mais de cinquenta marinheiros.
?Howlett não é culpado por.... ?Tentou explicar, mas naquele momento ouviu um barulho sobre eles. Anne encolheu os ombros, como se esperasse que algo batesse em sua cabeça, mas nada aconteceu exceto que ele a puxou para perto e a abraçou. ?O que foi isso? Perguntou sem tirar o rosto do peito de Logan.
?Astennu ?respondeu sem deixá-la. ?Acho que ele e sua família não receberam bem a nossa visita repentina.
?Astennu? ?Perguntou, virando o rosto devagar.
Logan virou-a, fazendo com que a bainha de seu vestido marrom arrastasse no feno espalhado pelo chão, reclinando-a sobre o peito, e
enquanto o braço esquerdo circundava sua cintura, levantou a mão direita para apontar para o teto estável, bem onde algumas aves se alinhavam em uma das vigas de madeira. Por um momento, os olhos daqueles animais olharam para ela com desconfiança, mas no segundo seguinte moveram os pescoços e grasnaram como se aceitassem sua presença.
?Apresento meu fiel amigo Astennu e sua amada família ?disse com orgulho. —Como deve ter adivinhado, Astennu é o maior e ele tem aquela mancha branca no peito ? esclareceu. ?O próximo a ele é Honda, sua parceira e os outros três são seus filhos: Fhas, Shadow e Kus.
?Corvos... ?sussurrou tão atônita que não sabia ao certo se havia dito a palavra corretamente.
?Sim, de fato, são cinco corvos ?confirmou. ?Há pessoas que são felizes criando falcões, águias ou pombos..., contudo, não tive a oportunidade de pensar que aves iria querer abrigar em Harving porque Astennu já estava aqui quando apareci e, sem pedir permissão, decidiu ficar para sempre. ?Esperou por uma pergunta, um comentário sobre o quão estranho era para ele se apegar àqueles tipos de animais que representavam tantas coisas sinistras, mesmo que Anne não dissesse nada. Permaneceu em silêncio, olhando para os pássaros e respirando tão rápido que qualquer um concluiria, ao vê-la daquele jeito, que havia atravessado suas terras correndo.
?Não vão machucá-la. ?Garanto que são muito dóceis e afetuosos
?acrescentou envolvendo o outro braço em volta de sua cintura. A puxou para mais perto e deu-lhe um beijo gentil no pescoço.
?Afetuosos... ?repetiu automaticamente.
?Nunca machucaram ninguém apesar daquele olhar feroz
?persistiu, notando que ela movia seu corpo inquietamente. ?A única coisa que deve temer é de ouvi-los cantar. Já gritei milhares de vezes que eles não são rouxinóis, mas são tão orgulhosos que não conseguem admitir isso ?
disse ironicamente para que ela acabasse relaxando. Por que os corvos a assustavam tanto? Sofreu algum ataque em sua infância?
?Como... como…? Porque...? Onde o encontrou? ? Enfim perguntou.
?Quando comprei Harving House estava praticamente destruída pela passagem do tempo. Seu ex-dono não queria reconstruí-la porque, no fundo, não sentia nenhum apreço por esse belo lugar. Talvez doesse lembrar a época em que morava aqui com sua falecida esposa. Então ele saiu e a deixou completamente negligenciada.... Imagino que os pais de Astennu pensaram que seria o melhor lugar para se aninhar, porque não encontraram nenhum ser humano por muitos anos. No entanto, no dia em que a adquiri, e embora pudesse desmoronar a qualquer momento, decidi passar uma noite inteira calculando a deterioração da estrutura e ponderando o quanto meu investimento aumentaria. Minha presença indesejada deve ter assustado
aqueles pais quietos e deixando-o no ninho. Não sabia que existia até que, cansado de investigar, procurei um quarto na casa onde o telhado não tinha sido destruído. Espalhei um cobertor sobre o chão imundo, coloquei meus braços sob a cabeça e olhei para cima. Foi quando descobri um enorme ninho. Essa casa tinha sido desabitada durante anos e era normal que os pássaros procriassem nas áreas onde os seus futuros descendentes estariam protegidos das adversidades climáticas. Com os olhos fixos naquele ninho, pensei em todos os problemas que deveria enfrentar. Várias horas se passaram até que o sono se apoderou de mim e fechei meus olhos. Quando estava prestes a dormir, ouvi um barulho. Levantei rapidamente e procurei a causa daquele som. Inspecionei a casa inteira com determinação, amaldiçoando a possibilidade de que alguns roedores tivessem procriado nas poucas paredes firmes que sustentavam a velha casa. Posso suportar as penas de milhões de aves, mas não consigo tolerar esses transmissores de epidemias
?revelou com certa repulsa. —Depois de confirmar que não havia nada e que talvez eu tivesse notado o rangido de alguma madeira velha que ainda sustentava a casa, voltei para o quarto, deitei e o barulho reapareceu. Voltei a olhar para o ninho e naquele momento um galho caiu no chão. ?Logan sorriu e suspirou profundamente. ?Escalei a parede, que estava esburacada, como se estivesse subindo no mastro do meu barco. Quando meus dedos o alcançaram, o peguei com cuidado e.... ali estava aquele patife! Ele quase não
tinha penas e estava cercado por mais três ovos. Me senti muito culpado por tê-lo separado de seus pais com tão pouco tempo de vida... ?permaneceu em silêncio. Não era sensato confessar a empatia que sentiu quando o contemplara tão só, tão abandonado e o terrível desespero que percebeu no pequenino quando não teve mais a proteção de seus pais. ?Uma vez que o deixei no chão, ele olhou para mim e abriu o enorme bico esperando que o alimentasse. Naquele momento, algo estranho surgiu em mim e, sem demora, por um miserável segundo, saí para o jardim e procurei algo que pudesse servir de alimento. Garanto que a primeira vez que tem entre seus dedos um verme repulsivo cortado em vários pedaços, não é capaz de levar nada à boca em vários dias ?apontou divertido.
?E ele sobreviveu... ?concluiu Anne com um suspiro. Como podia ser verdade? Tinha que ser uma alucinação! Estaria louca? Porque só assim poderia afirmar que esse animal sortudo era o que aparecera em seus sonhos. A mancha em seu peito, o tamanho de suas asas, o brilho de sua plumagem e ... aqueles olhos. Mas sua mãe lhe dissera que as ciganas sempre viam corvos em suas mentes para direcioná-las ao homem que esperavam.
No entanto, não falou sobre a precisão entre o corvo de seus sonhos e o real.
?Isso mesmo ?disse virando-a novamente para ele. ?E formou sua própria família. Astennu se tornou protetor de Harving enquanto estou ausente. Graças a ele e sua família não tenho nenhum verme repulsivo
vivendo nos arredores e devido às lendas que existem sobre eles, muito poucas pessoas querem invadir uma propriedade onde vive uma família de pássaros tão sombrios.
?Os ciganos geralmente vivem em harmonia com eles e....
?tentou dizer.
?Anne, não só os ciganos os respeitam. Há culturas que os reverenciam e explicam milhares de significados quando descobrem sua presença. No caso de Astennu, ele decidiu ficar ao meu lado, porque aqui tem tudo o que deseja para ser feliz. ?Se desculpou rapidamente.
Estava certa. Os de sua etnia adoravam os corvos porque, de acordo com a história, a mãe dos ciganos ordenou que esses pássaros protegessem as crianças que nascessem de seu ventre. E era assim que se sentia quando estava em Harving House. Astennu voava sobre ele toda vez que saia para montar por sua terra. Observava o que seus olhos não podiam ver e à noite, quando todos descansavam, seu amigo descansava no parapeito da janela, olhava para a imensidão das terras e guardava seus sonhos.
?Mas vamos parar de falar sobre esse sujeito descarado
?comentou antes de agitar os braços para que os pássaros voassem pelo estábulo até que fossem embora. Quando não haviam mais testemunhas para observá-los, acariciou a face esquerda dela com a frente da palma da mão direita. ?Quero saber o motivo pelo qual ficou com raiva hoje. Não gostou
do passeio? Sentiu a mesma repulsa que Elizabeth pela praia? Pensei que acharia agradável, é por isso que prometi a....
Anne não permitiu que ele terminasse aquela exposição absurda, pôs as pontas dos sapatos no chão e silenciou-o com um beijo. No início, Logan mostrou alguma confusão sobre aquela explosão apaixonada, mas quando sentiu os dedos de suas mãos segurando as abas de sua camisa, puxando-o para seu corpo, abraçou-a e respondeu a esse beijo com uma avidez feroz.
Aquele contato sensual se tornou mais intenso quando Anne abriu os lábios, permitindo que sua língua voraz a invadisse, devorando-a. Sua mente ficou em branco. Apagou a história de Astennu e o desejo de descobrir qual tinha sido o motivo de sua raiva. Ele a queria. Sim, ele a queria tanto que tudo ao seu redor desaparecera, exceto ela. Lentamente, Logan levou suas mãos para os botões do vestido de Anne e quando seu beijo ficou mais intenso, mais possessivo, desabotoou-os com urgência. Tinha que tê-la, tinha que acalmar sua necessidade, tinha que fazê-la sua tantas vezes quanto pudesse, porque estava determinado a marcá-la, selá-la com tal força que ela aceitaria, de uma vez por todas, que eles foram feitos um para o outro.
?Se eu soubesse que a história daquele bendito corvo a transformaria em uma deusa apaixonada, teria lhe contado antes ?disse enquanto deslizava o vestido sobre seus ombros e beijava as áreas de sua pele
que ficavam nuas.
?Não foi exatamente a história dele... ?Anne murmurou, colocando os dedos na camisa para desabotoá-la com ousadia.
O desejo que Anne mostrava ao despi-lo o deixou louco, então rasgou os botões do vestido sem desabotoar. Caiu no chão, fazendo com que alguns ramos de feno levitassem.
?Ah não? Então, o que foi? ?Ronronou antes de apertar os dentes em seu ombro esquerdo e mordê-lo para fazer uma grande marca.
?Você! ?Exclamou, sentindo a mordida em sua pele.
Anne jogou a cabeça para trás, deleitando-se naquele ato selvagem. Qualquer mulher recatada teria se afastado e o repreendido por deixar uma marca do que havia acontecido entre eles, mas ela não era uma mulher recatada, era uma cigana que mergulhava no abismo de uma paixão sem precedentes. Seu destino estava marcado. Todos os sinais apontavam para ele como a pessoa que esperava. No entanto, apesar de suas convicções, ainda havia um ponto a ser lembrado: sua origem. Algum dos ancestrais de Logan teria sido cigano? Seria possível que ele tivesse uma mísera gota de sangue cigano?
?Anne... ?sussurrou quando notou uma certa tensão nela, ?te quero tanto... eu preciso de você... ?Suas mãos caíram, assim como seu corpo. Ele se ajoelhou e, ajudando-a, fez com que ela levantasse uma perna
primeiro e depois a outra, deixando-a em uma camisola branca tão transparente que podia admirar aquela figura feminina que adorava. ?Você é linda, meu amor ?acrescentou, colocando as grandes palmas das mãos nos quadris e aproximando o rosto daquele cabelo escuro com uma forma triangular em sua virilha, que exalava o perfume mais hipnótico do mundo.
Levou o nariz para aquele lugar desejado e respirou fundo, preenchendo-se dela, do seu ardor, do seu aroma sexual. ?Morrerei se não a possuir, se não a beber, se não puder... saboreá-la de novo.
Encantada por aquelas palavras ousadas, Anne colocou as mãos no cabelo preto de Logan, emaranhou os dedos nele e o puxou para mais perto da parte que adorava. Sua respiração se agitou quando sentiu as mãos de Logan na roupa e como a fez subir muito suavemente por seu corpo.
?Tudo isso é meu, só meu ?assegurou uma vez que a camisa estava fora de vista. Com uma ternura muito controlada, acariciava seus quadris, coxas e pernas de cima a baixo, enquanto seu nariz continuava a inspirar aquela área feminina que devoraria em breve. Lentamente, levantou a perna esquerda de Anne e colocou-a em seu ombro, se permitindo observar aquele sexo delicioso que já brilhava de desejo. ?Coloque as mãos na parede, querida, vou saciar a minha sede ?disse antes de poder acariciar as dobras voluptuosas e úmidas com a palma da mão direita.
Anne, depois de obedecer a sua ordem, o olhou extasiada e soltou
um gemido quando descobriu como ele estava lambendo a mão que tinha passado por seu sexo. Sua essência... Ele decidiu saborear todo o suco que emanava de seu desejo por ele e não desperdiçaria uma única gota.
Quando a língua substituiu a mão, fechou os olhos, abriu a boca ligeiramente para poder respirar e pregou as unhas na parede de madeira.
Louca! Sim, essa era a palavra que melhor a definia. Mas... quem permaneceria sã, enquanto sentiria como a língua de seu amado produzia tanto prazer que era incapaz de suportar?
?Está tão molhada, tão preparada para mim ?Logan apontou quando substituiu sua boca pelos dedos. ?Te quero assim, Anne, aceitando minhas carícias e respondendo com aquele fervor que me transforma em um louco ?acrescentou antes de voltar para as suas pernas.
Cravou os dentes nos lábios esponjosos, ouviu como ela gritava e sentiu o tremor daquele corpo submetido a um frenesi contínuo. Beijou-a com paixão, apreciando o perfume que emanava, em êxtase ao ouvir os murmúrios que Anne fazia enquanto lambia com ansiedade a entrada daquela vagina que se contraía e dilatava com seus ataques.
?Logan... ?disse de um jeito tão erótico, que seu sexo reagiu com tamanha intensidade que estava prestes a gozar.
Como era possível? O que ela tinha que não encontrara em outras mulheres? Nenhuma o deixara tão duro, tão excitado que, com o simples roce
em suas calças, pudesse alcançar o clímax mais arrebatador.
Desesperado, abriu mais a boca e procurou o clitóris com a língua. Quando o notou, sentindo aquela pequena proeminência roçar na ponta de sua língua, brincou com ele até perceber como o néctar de Anne banhava seus lábios, sua barba...
?Oh Logan! Sim! ?Gritou com a chegada de um orgasmo tão intenso quanto abrupto. ?Sim! ?Gritou de novo, jogando a cabeça para trás para capturar todo o ar que poderia encher seus pulmões. ?Eu te amo!
Maldito seja, eu te amo... preciso de você! ?Confessou e corrigiu presa pela alienação que o frenesi causava.
Aturdido por essa afirmação, agarrou as pernas, nas quais as pontas dos dedos ficariam marcadas para sempre, e mordeu com tanta voracidade aqueles lábios esponjosos e saborosos. «Finalmente! " Ouviu em sua mente. Sim, finalmente ouvia o que queria escutar desde a primeira noite em que esteve com ela. Só esperava que não fossem palavras provocadas pelo delírio do desejo. Precisava que ela sentisse o que ele já sentia.
Lentamente, depois de dar sua última lambida e coletar todo aquele delicioso néctar, levantou, se colocou na frente dela e a beijou. A mistura que saboreou, aquela poção mágica, levou-os a um nirvana incapaz de descrever. Anne colocou os braços ao redor de seu pescoço e se aproximou dele. Quando ela tentou se levantar, para que a levasse a algum
lugar naquele estábulo, Logan virou-a bruscamente e encostou seu rosto na parede onde ela havia pregado as unhas.
?Coloque as mãos de volta... ?ordenou enquanto levantava a camisola novamente.
?Logan... ?disse tentando ver o que ele estava fazendo atrás dela.
?Shii, relaxe meu amor ?respondeu, sua mão direita retornando ao seu sexo. Abriu suas pernas um pouco mais e, observando que ela estava encostada na parede de madeira como ele havia indicado, retirou a mão e a fez retornar, mas desta vez não foi para dar-lhe uma carícia suave, mas uma bofetada.
?Logan! ?Anne gritou quando sentiu uma estranha satisfação naquele ato áspero.
?Mais? ?Perguntou, colocando a palma da mão esquerda nas costas arqueadas.
?Sim! Por favor... por....
E ele fez isso de novo. Desta vez, quando a palma da mão tocou o sexo de Anne, não só sentiu como queimava, mas seu fluxo aumentou. Com um leve sorriso, ele a esfregou com a mão aberta e se deliciou ao ouvi-la gemer. Perfeita. Anne era seu par perfeito. Sua cigana, sua esposa, sua vida ...
Depois de vários outros tapas, as pernas de Anne tremeram tanto
que ela estava prestes a se ajoelhar, mas ele não deixou. Agarrou-a pelos quadris e segurou-a com uma mão, enquanto com a outra desabotoou rapidamente o botão de suas calças.
?Vou penetra-la ... vou fazê-la minha ... pode me ouvir?
?Apontou, colocando seu pênis duro e rígido naquela abertura quente e úmida.
?Sim! ?Gritou desesperadamente.
Logan a penetrou com força, sem cerimônia, rudemente.
Estendeu as mãos para ela até que elas se acomodaram em seus ombros e a envolveram de novo e de novo. Não foi sutil ou delicado, não queria ser.
Anne tinha que entender que seus sentimentos eram recíprocos e que ela não poderia pertencer a outro homem. Esse pensamento o deixou louco, enfureceu-o ao ponto de pressionar os dedos contra a pele macia. Não. Ela não se afastaria dele. Ela viveria ao seu lado e não olharia para ninguém porque só deveria olhar para ele.
Concentrando-se naquele ato possessivo, naquela marca que a levaria para dentro da vida, Logan voltou a penetrá-la com desespero, com ânsia. O corpo de Anne agitou com essas estocadas ásperas, suas pernas tremiam e seus joelhos ansiavam por tocar o chão. Ambos sentiam como as poucas peças de roupa que cobriam seus corpos estavam presas a eles pelo suor causado pelo delírio, pelo esforço, pela lascívia.
?Minha, Anne Moore! ?Você é minha! ?Sentenciou em sua última investida, em seu último ataque. Então, derramou sua semente dentro dela, espalhando sua essência masculina nela. Fechou os olhos e não viu escuridão, a não ser milhares de estrelas brilhantes que iluminavam tudo que um dia esteve escuro. ?Querida... ?sussurrou quando sua respiração começara a relaxar. ? Também te amo... ? Saiu dela, virou-a para ver aquele rosto apaixonado e, antes que Anne pudesse falar sobre a idiotice que ambos haviam confessado enquanto se deixavam levar pelo desejo, a beijou.
XXXI
Procurava por uma palavra que definisse seu estado de felicidade, mas não a encontrou. Nada tão simples poderia descrever o que sentia por dentro. Sua alma parou de sofrer, de se punir, de se amaldiçoar por levar o sangue cigano. Era a primeira vez que se sentia calmo e seguro de si mesmo.
Todos os pensamentos obscuros e sombrios desapareceram, causando um bem-estar sem precedentes. Olhou para Anne, que estava sentada do outro lado da mesa, e sentiu seu peito crescer com a emoção de tê-la ao seu lado.
Disse que o amava, embora tentasse corrigir rapidamente essas palavras. No entanto, sabia que elas eram verdadeiras, que não tinha sido uma consequência do ato apaixonado porque, separando seus lábios dos dela, notou em seus olhos o conflito entre o amor que professava e a agonia de não conseguir. Tinha medo. Claro que tinha! Quem apagaria de sua mente a crença de que a pessoa que amasse poderia morrer a qualquer momento por causa da maldição que sofria desde o nascimento? Mas ele não acabaria como seus dois pretendentes. Ele permaneceria ao seu lado porque era a pessoa que havia esperado: seu cigano, seu futuro marido, o homem que a amaria até que desse seu último suspiro de vida. Agora só teria que enfrentar a pior parte: não declarar quem realmente era e o aceitasse com a imagem que havia oferecido por tantos anos, porque não podia confessar a verdade. Esse estado
de bem-estar começou a se desvanecer ao pensar nisso e seu corpo ficou tenso como a corda de um violino. Deveria continuar a proteger seu segredo, não era certo revelá-lo. A tenacidade que teve por muitos anos e a luta que enfrentou com o conde de Burkes viriam à luz e as pessoas voltariam a murmurar sobre as escapadas amorosas do velho marquês de Riderland e como um de seus descendentes pagou a chantagem de um velho lorde. O que aconteceria com seus meios-irmãos? Não, não poderia falhar. Tudo devia permanecer igual. Conseguiria o amor de Anne sendo o visconde de Devon e não o filho de uma jovem cigana que morreu durante o parto.
Sem tirar os olhos dela, levou a taça de vinho até a boca e tomou um pequeno gole. Como conseguiria que ela aceitasse sua proposta de casamento? Porque perguntaria a ela. Sim, antes de partirem para Londres, Anne usaria uma linda aliança para que todos soubessem que ela era intocável, inacessível, e quem ousasse falar com ela receberia uma punição terrível.
?Não sei como Galeón se adaptará à sua nova casa ?comentou Josh, quebrando o silêncio constrangedor que os quatro mantinham durante o jantar.
?Planeja levá-lo para nossa casa? ?Perguntou Elizabeth aturdida. ?Não está ciente de que o nosso jardim é muito pequeno para ele?
?O papai poderia contratar vários trabalhadores para realizar
reformas no lado de fora... ?sugeriu sem desviar o olhar do visconde e de Anne. O que aconteceu entre eles? Por que os olhos de Logan brilharam estranhamente enquanto a observava? Por que as bochechas de sua irmã mostravam uma cor escarlate tão intensa? Eles teriam discutido novamente?
?Reformas? Que tipo de reformas? ?Eli perguntou, estreitando os olhos.
? Seria bom se começasse reduzindo a estufa. Na minha opinião, ocupa muito espaço para plantar quatro flores absurdas ?disse Josh, se concentrando na conversa com Eli.
? Nem pensar! ?Exclamou horrorizada ?Essa proposta é inviável! E elas não são espécies absurdas, mas únicas! ?Sentenciou antes de levar um pedaço de carne à boca e mastigá-lo com força.
?Pode deixar em Whespert ?Logan sugeri. ?Há espaço suficiente para ele e tem permissão para visitá-lo sempre que quiser.
?Mas como cuidarei dele em sua propriedade? ?Perguntou, arregalando os olhos. ?Não seria correto que permanecesse por tanto tempo em sua residência, nem que aparecesse regularmente. As pessoas pensariam que...
?As pessoas não pensarão nada, garanto ?disse solenemente.
?É claro que ninguém diria nada de mal se a futura viscondessa de Devon fosse sua irmã mais velha.
Essa declaração fez Anne prender a respiração e olhar fixamente para ele. Por que estava propondo esse absurdo para Josh? O que estaria tramando para não ser ciente dos rumores que isso significaria? Acrescentaria outro suculento escândalo à sua família e eles ainda não haviam se recuperado do anterior!
?Deveria deixar aqui até encontrar um lugar em Londres
?Anne interveio depois de limpar os lábios com o guardanapo.
?Certamente o papai pode alugar um estábulo onde poderá atendê-lo como quiser. Dessa forma não perturbará o visconde.
?Não será inconveniente ?Logan cortou, depositando o copo de vinho na mesa. ?Ficarei feliz que nos visite.
Nos visite. Ele tinha dito tal atrocidade na frente de suas irmãs?
Ele não entendia que suas palavras poderiam ser mal interpretadas? E, pela expressão que elas colocaram, fizeram isso.
?Mesmo que sua irmã mais nova esteja presente várias vezes por semana, essa proposta não é correta. Como Josh disse, todos falariam sobre as numerosas aparições em sua residência em Londres ?comentou com falsa tranquilidade, rezando para que desaparecesse da cabeça de suas irmãs, qualquer pergunta inoportuna.
?Não estava pensando em Nathalie, senhorita Moore ? afirmou resistente. Recostou-se na cadeira, cruzou os braços e esticou os lábios
ligeiramente para mostrar um sorriso.
?Da mesma forma, não acho apropriado que, quando os marqueses de Riderland estiverem presentes, Josh esteja livre para ir à sua residência ?disse Anne depois de engolir o nó que se formou em sua garganta.
Era estúpido? Por acaso estava dando como certo que estariam juntos como amantes? Ah, claro! Já havia concluído que iriam morar em sua casa por ter declarado palavras tão absurdas para ele. «Absurdas, mas são verdadeiras», disse a si mesma. Mas não. Não assumiria um papel tão degradante por amor. Quando retornasse a Londres, continuaria com sua ideia de ir a Paris. Lá, longe dele, poderia restabelecer sua tranquilidade e não se deixar levar por sentimentos irracionais.
?Também não fiz qualquer referência ao meu irmão e sua querida esposa ? continuou com a voz firme sem afastar seu olhar dela.
Ante uma atitude tão segura e tão endeusada, Anne queria pegar seu copo de vinho e jogá-lo nele, para ver se dessa forma deixaria de se comportar com tanta afronta. No entanto, quando estava prestes a dar outra desculpa, a porta da sala de jantar se abriu e Kilby apareceu, que, por causa da palidez de seu rosto e do modo como sua mandíbula estava cerrada, não era portador de boas notícias.
?Milorde, sinto a interrupção. Mas tem um visitante e, apesar de
ter indicado que está ocupado, insiste em falar com o senhor ?explicou o surpreso mordomo.
?Quem é? ? Logan perguntou, se levantando rapidamente.
?Lorde...
?Pelo amor de Deus! Desde quando fui formalmente apresentado ao meu amigo! ?A voz de um homem trovejou atrás das costas de Kilby. ?Saia! ?Ordenou ao criado. Quando ele permaneceu imóvel, o cavalheiro lhe deu um empurrão repentino e entrou na sala. Assim que o visitante súbito descobriu que Bennett estava hospedado com três mulheres, que se levantaram ao vê-lo, George deu um largo sorriso. ?Boa noite senhoras, me perdoem...
?Laxton! ?Logan gritou, caminhando decididamente em direção a ele. ?Como se atreve a entrar em minha casa dessa maneira e assustar minhas convidadas?
?Me desculpe querido amigo. ?Falou a palavra amigo de forma mordaz. Seu fiel mordomo não me explicou que três belas damas eram a causa pela qual não podia me atender. ?Estendeu a mão para Logan e, quando aceitou, sentiu que apertava com força. George sorriu com aquela sutil advertência, mas não se deu por vencido. Agitou a mão para se livrar dessa pressão e se dirigiu para a mesa. ?Quem são essas daminhas lindas?
?George, vamos falar sobre a questão que o trouxe aqui em meu
escritório ?disse Logan apertando a mandíbula.
?Não somos damas, milorde ?respondeu Josh, se posicionando como um soldado. ?Somos as irmãs Moore, pupilas do visconde.
?Pupilas? ? Laxton perguntou, olhando de soslaio para o amigo. ?Entendo... ?E um sorriso depravado apareceu em seu rosto, acentuando aquele rosto canalha e perverso.
?Por favor, me siga. Como disse, vamos conversar tranquilamente em meu escritório ?ordenou no mesmo tom com o qual continha uma séria briga entre seus marinheiros.
?É claro ?cedeu no final. Antes de se virar, para sair da sala, George passou os olhos pelo corpo de Anne com ousadia, um gesto que causou um rugido estranho em Logan. Então continuou para Elizabeth, que olhou para ele descarada, ousadamente e acabou contemplando a jovem que se dirigiu a ele. Uma careta de desagrado apareceu em seu rosto enquanto observava suas roupas. Era realmente uma jovem? Porque duvidava que fosse... Só precisava de um bigode grosso para lembrá-lo de seu antigo professor de latim. —Espero vê-las novamente, senhoritas Moore. Ficarei feliz em termos uma longa conversa... ?Prolongou cada palavra como se estivesse sibilando. Disse adeus com um leve aceno de cabeça e foi acompanhado por Logan. Uma vez que este fechou a porta, disse: ?Três para você? Desde quando se tornou tão egoísta?
?Não é o que pensa ?resmungou o visconde, dando longos passos em direção ao seu escritório.
Precisava sair de lá o mais rápido possível, porque não tinha dúvida de que Eli e Josh colocariam seus ouvidos atrás da porta para escutá
los e não era apropriado que descobrissem a amizade peculiar que ele e Laxton tiveram no passado.
?Não é o que penso? - Perguntou sarcástico. ?Não duvido que sejam suas pupilas, mas... as instruirá na arte do amor, como fez comigo?
Tenho que confessar que foi o melhor professor que já tive. Nenhuma das minhas amantes se queixou ...
?Feche essa maldita boca! ?Ordenou irado. ?Está falando das filhas do Dr. Moore, não de prostitutas!
?Entendo ... ?Respondeu quando fechou a porta do escritório.
Observou o visconde seguir à escrivaninha, se colocar atrás dela, como se fosse um homem de negócios honrado, abaixar as mãos e olhá-lo como se quisesse estrangulá-lo.
? A que veio?
?Acalme-se, Logan ? indicou enquanto se sentava. Desabotoou os botões de sua jaqueta cinza e cruzou as pernas no joelho. Não vai me convidar para uma bebida? O que venho lhe contar é tão importante que deveria me recompensar com um bom conhaque.
?Sirva-se
?respondeu
sem
reduzir
os
sinais
de
descontentamento expressos em seu rosto.
?Está bem... ? deu de ombros. Se levantou, caminhou lentamente até o decantador de conhaque e se serviu de uma generosa dose de bebida. Então, sem tirar um sorriso de seus lábios, voltou ao lugar.
?A que veio? ?Logan repetiu, sentindo a frustração fazê-lo perder o controle.
?Relaxe ? George ordenou, olhando-o sem piscar. Lembre-se que não sou o inimigo...
?Faz muito tempo desde que nos vimos pela última vez, então não posso confirmar ou negar suas palavras ?disse apertando sua mandíbula com tanta força que poderia desencaixá-la a qualquer momento.
?Estou aqui, certo? Bem, isso tem que responder à questão.
?Vá direto ao ponto ... ?pediu, afastando as mãos da mesa.
Como Laxton havia feito, Logan foi até a garrafa de bebida, pegou o copo maior que havia na bandeja e encheu-o até transbordar. Então levou à boca e bebeu de um só gole. Repetiu a ação antes de retornar ao seu lugar.
?Visitei meu tio hoje de manhã e tivemos uma conversa muito vigorosa ?disse em uma voz misteriosa, fixando seus olhos cor de mel no líquido âmbar. ?Dado que apareceu de uma maneira súbita e secreta,
acredita que retornou para ... desfazer o que fez durante a sua ausência.
?Voltei porque tive de fazê-lo ?Logan murmurou, sentando-se abruptamente. As irmãs Moore precisavam da minha ajuda e ofereci a elas.
?Qual delas, especialmente? ?Perguntou depois de estalar a língua enquanto saboreava o bom conhaque do amigo.
?A mais velha ... - confessou antes de terminar a bebida de um só gole. Olhou para o copo vazio e sentiu um leve tremor em sua mão. Medo.
Pela primeira vez desde aquele dia, o medo do velho Burkes aparecia novamente.
?Então Rose se tornou passado, certo? Pena! Foi a mais bela de todas ?disse tocando o queixo, observando enquanto seu camarada de noites de farra franzia a testa.
?Rose nunca me interessou como esposa ? revelou involuntariamente.
?Esposa? ?George perguntou, arregalando os olhos. ?Se apaixonou a esse ponto? ?Disse incrédulo.
?Por acaso não tenho coração? ?Contra-atacou.
?Oh sim! Claro que tem! ?Respondeu divertido. ?A única coisa que aconteceu é o submeteu a uma fria letargia durante os anos que ambos desfrutamos.
?Me listará quantas noites e quantas mulheres nós estivemos?
?Resmungou.
?Não! ?Respondeu como se estivesse horrorizado. ?Meu tio teria um derrame se quebrasse nossa promessa! ?Acrescentou nitidamente.
?Pode me dizer, de uma vez por todas, a que devo sua visita?
?Tentou especificar. Embora já estivesse com medo do que iria dizer, precisava que fosse direto ao assunto. O quanto antes ficasse ciente do problema que estava por vir, quanto antes poderia encontrar uma solução.
?Meu tio insiste em lembrá-lo do acordo.
?Não o quebrei. Fiquei longe de você desde que nos descobriu.
Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, alguém trairia sua presença em Harving, embora não pudesse apontar para ninguém com certeza. Exceto pelo dia em que foi ao administrador assinar o contrato para a transferência do Galeão, não havia deixado seus limites... estreitou os olhos e prendeu a respiração. Claro! Como não pensou naquele dia? Como não se antecipou? Porque estava tão obcecado por Anne que não percebeu esse pequeno detalhe. Elizabeth saiu em uma de suas carruagens e com Howlett.
Todo mundo conhecia seu falante e estranho ajudante! E ele tão pouco tentava passar despercebido com suas roupas tão extravagantes. Tinha que obrigá-lo a colocar um saco, áspero e sujo.
?Acredite, ainda me sinto culpado por isso. Se tivesse adivinhado o propósito daquela porcaria... ?Pela primeira vez, desde que
apareceu, George fez a expressão zombeteira desaparecer de seu rosto para transformá-la em ferocidade. Ele apertou a mandíbula e franziu a testa. Seus olhos castanhos escureceram e sua respiração ficou lenta, profunda, como se a maldade lhe causasse um perigoso estado de tranquilidade.
?Nenhum dos dois notou a inquietação da criada ou sua insistência em olhar para a porta ?tentou diminuir a relevância, no entanto, tinha mais consideração do que desejava aparentar. Naquele dia, se tornara um mísero fantoche do velho conde. Apenas sua tenacidade em negar a história àqueles que viam com repulsa a insistência em divulgá-la, o salvou.
?Se não quisesse me salvar...
?Não levante fantasmas do passado ?Logan o interrompeu.
?Me diga pelo qual apareceu, porque tenho certeza de que seu tio não o teria feito vir aqui para me lembrar do acordo. Teria enviado um de seus servos com o selo de seu honroso título no verso. Então me diga, o que propõe desta vez?
?Quis que eu entregasse isso pessoalmente ?disse tirando um envelope do bolso de sua jaqueta cinza pérola.
?O que é? ?O visconde perguntou de maneira arisca.
?É um convite. Neste sábado havia preparado uma festa íntima e, ao saber que estava em Harving, decidiu incluí-lo em sua lista de convidados honrados e respeitáveis. ?Enfatizou essa palavra sarcasticamente
para deixar claro que era uma obrigação e que não poderia rejeitá-la.
?O que quer agora?
?O que acha? ?Perguntou jogando o envelope sobre a mesa de Logan como se isso o queimasse.
?Não está à venda ?disse, se erguendo rapidamente, como se de repente se lembrasse de que deixara uma panela de água fervendo no fogo.
?Eu sei, mas aquele velho teimoso não quer morrer sem assinar esse miserável contrato de compra ?comentou com pesar.
Logan deu-lhe um olhar preocupado e incrédulo. George ainda não sabia o que realmente aconteceu quando Burkes o trancou, junto com o juiz e o padre, na biblioteca? O velho não lhe contou sobre aquela reunião miserável? Não, claro que não. George não acreditaria nele e divulgaria esse falso rumor em todos os eventos sociais que assistiria e.... o que aconteceria no final? Alguém resolveria essa fofoca de maneira fulminante: o próprio Marquês de Riderland. Mesmo assim, o que aconteceria com seus meios-irmãos? Que feridas esses malditos rumores causariam à sua querida Nathalie? Não podia pôr em risco a vida de toda a sua família por não ter reprimido certas fantasias sexuais.
?E, se ele não morrer em paz, não irá adquirir a sua ansiada herança ?falou mordaz sobre a afirmação anterior.
Logan olhou para quem fora um bom amigo da farra e concluiu
que ele ainda estava obcecado em agradar aquele conde bastardo. No entanto, as marcas que apareciam ao redor dos olhos mostravam dor, agonia e desespero. Estava esperando o momento para se livrar dele? Rezaria para que seu tio morresse antes de que completasse vinte e cinco anos? Era difícil desejar que alguém morresse, mas o conde teria merecido por praticar um ato de bondade, como receber o filho de sua irmã que, depois da morte do marido em um trágico acidente, precisara de ajuda da família. Embora o verdadeiro propósito de Burkes fosse transformar o jovem sensível, afetuoso e carinhoso num ser cruel e impiedoso. Logan pensou, inutilmente, que iria libertá-lo através do prazer, mas errou. Só esperava que um dia uma mulher devolvesse a criança que ele foi e que o fizesse esquecer todos os ensinamentos do velho ogro.
?Veja. No fundo continua lendo meus pensamentos ?disse antes de se levantar e terminar a reunião. Seu tio permitiu que viesse Harving para lhe dar o convite e foi isso o que fez. Agora teria que voltar se não quisesse sentir a fúria nas suas costas.
?Harving não está à venda nem antes, nem agora, nem no futuro
?disse solenemente. ?Pretendo transformá-la em minha segunda moradia.
?De verdade? ?A resposta o surpreendeu tanto que ele refez seus passos.
?Sim ? disse Logan com confiança.
?Bem, assim sendo, não terá escolha senão se apresentar com ela ...
?De jeito nenhum! Seu tio não se aproximará de Anne!
?Berrou, apertando as mãos com tanta força que sentiu as unhas cravarem na palma da mão.
?Porque não? Não quer se livrar dele de uma vez por todas?
Além disso, sabe que, à medida que as descubra, fará todo o possível para destruí-las. O que acontecerá com as respeitáveis e honradas filhas do Dr.
Moore quando todos falarem sobre o que possivelmente fez nessa residência?
Haverá um tal escândalo que terá que vender Harving por muito menos do que custa.
?Exige que eu participe, mesmo que não queira? ?Retrucou dando um passo em direção a ele.
?Exijo que se comporte de maneira sensata. Se realmente sonhou em alcançar um futuro decente, deve se concentrar no que é mais importante ?disse apontando com um dedo inquisidor.
?Que é ... ? murmurou.
?Se aparecer na festa com elas e espalhar a notícia de que Harving House se tornará sua segunda casa, meu tio não terá escolha senão assumir sua derrota ? disse sem hesitar.
?Por que envolveria as irmãs Moore nisso? É algo que devo
resolver de uma vez por todas com aquele bastardo. Então posso me apresentar amanhã em sua residência e ...
?Não se casará com uma delas? Bem, a coisa certa seria acompanhá-lo para testemunhar suas palavras.
?Não quero que Anne descubra o que fizemos e sei que seu tio ficará feliz em explicar o que aconteceu naquele dia ?resmungou.
?Não sabe nada? ?George não acreditou.
?Não! ?Disse desesperado. E não quero que descubra!
?Não ouviu nada sobre sua vida de libertinagem? ?Perguntou.
?Ela não é surda... ?bufou. ?E sua irmã é muito próxima da minha. Assim que…
?Então não ficará surpresa. Que libertino que se preze não teria uma orgia com seu melhor amigo?
?Não sei se ela gostaria de ouvir sobre esse tipo de ato sexual.
?Refletiu voltando para a mesa. Pegou o copo e, depois de observá-lo por alguns segundos, deixou-o sobre a mesa novamente. Foi até o aparador, virou a chave e abriu as portas de madeira que escondiam várias garrafas de conhaque. Tirou duas, colocou-as na mobília e, depois de desarrolhar a primeira, voltou ao seu lugar.
?Sabe? Desde o começo soube que seu romance com Rose não terminaria em um casamento ?George apontou antes de pegar a outra
garrafa e imitar Logan.
?De verdade? ?Logan perguntou estreitando os olhos.
Entornou a garrafa de licor e tomou um longo gole. ?E quando concluiu algo tão solene?
?Imaginei quando a compartilhamos pela primeira vez
?comentou com calma, com o tom de camaradagem que sempre tiveram até aquele maldito dia. ?Se tivesse um mísero sentimento de posse em relação a ela, não teria permanecido sentado naquela cadeira enquanto Rose gritava meu nome ao possuí-la. Certamente agora não poderia compartilhar sua futura esposa com ninguém, estou errado?
Essa pergunta nublou sua mente. Compartilhar Anne? Morreria antes de ver como outro homem a tocaria! Mas... e se ela fugisse quando descobrisse as perversões que fez com suas amantes? Poderia deixar claro que sempre foram mimadas e que não estava mais disposto a fazer isso. No entanto, para chegar a esse ponto teria que contar a ela sobre suas origens, seu sangue cigano, o que aconteceu com o conde, a vida de seus meios-irmãos, a chantagem, o pagamento que fez ao bastardo Burkes para manter seus lábios selados... O que Anne faria depois de ouvi-lo?
?Diga-me, Logan, compartilharia sua esposa? ?George repetiu depois de beber seu conhaque.
?Não. ? Disse antes de esvaziar mais de um terço da garrafa
em um gole.
XXXII
Não saiu do escritório pelo resto da noite, apesar do fato do cavalheiro ter abandonado Harving House uma hora depois de sua entrada apressada. Quando a porta da sala de jantar se abriu, as três se viraram para ela, esperando pela presença de Logan, mas Kilby apareceu em seu lugar. Ele desculpou a ausência do visconde alegando que tinha alguns assuntos muito importantes para resolver. Mas Anne sabia que estava mentindo. Aquele homem o alterara, era necessário apenas recordar do rosto zangado que exibiu ao vê-lo para confirmar essa suposição. Quem era esse indivíduo? Por que Logan mostrou uma tensão amarga quando invadiu a sala de jantar? Anne andava de um lado para o outro em seu quarto, esfregando as mãos. Seus pelos arrepiaram novamente, avisando-a de que algo ruim estava prestes a acontecer. Mas... o que seria? Como poderia lutar contra o que não conhecia ou não entendia?
Caminhou até o pé da cama e se sentou pela décima quinta vez.
Era correto confiar no que seu coração ditava? Devia descer e conversar com ele? Sua presença o ajudaria a superar o que o incomodava? Uma amante poderia exercer esse papel? Não. Esse seria o trabalho de uma esposa... essa reflexão fez com que levasse as mãos ao rosto e o esfregasse de angústia.
Odiava essa ideia. Irritou-a pensar que um dia Logan teria que se casar e que
tudo que viveram desapareceria como fumaça. Seria correto ser levada pelos sinais enviados a ela por sua mãe criadora? Os sonhos, que cessaram quando chegou a Harving House, Astennu, que era o mesmo corvo que aparecia em todas as suas visões. Só precisava ouvir a música que aparecia enquanto caminhava por aquela floresta e que Logan confirmasse que um antepassado dele era cigano. Mas... qual era a possibilidade de que tudo o que precisava acontecesse para que não duvidasse que era o seu homem?
Um barulho atrás da porta a fez levantar rapidamente. Seu coração batia desesperado e seu pulso acelerou quando imaginou que era Logan. Ouvindo apenas a respiração agitada, permaneceu de pé e olhando em direção à entrada, até que, após algum tempo, deduziu com tristeza que não a visitaria. Não pretendia se apresentar? Havia decidido afastá-la do seu lado?
Teria reconsiderado seu relacionamento após a aparição daquele homem? Por que? Quem era ele?
Uma enorme tristeza tomou conta dela e seu coração ficou oprimido. Por que a confusão lhe causava tanta dor? Não havia deixado claro a ele que tudo acabaria quando ela fosse embora? Não ficou com raiva de ouvi-lo dizer nos visitar? Sim, ficou furiosa ao ouvi-lo expressar essas duas palavras na frente de suas irmãs, mas também estava cheia de alegria. O fato de que Logan achava que o relacionamento continuaria assim que ela deixasse Harving a entusiasmou, no entanto, deveria ser consciente que seus
pais não aceitariam que se tornasse a amante do visconde. Eles a matariam!
Sim, apesar de terem declarado que em breve estaria livre para fazer o que quisesse, nunca admitiriam tal humilhação para a família. Eles a obrigariam a se casar com ele e, por mais agradável que fosse a ideia, não poderia aceitá
lo, porque essa decisão o mataria.
Ela colocou as mãos no peito e agarrou a camisola com amargura, enquanto as lágrimas molhavam seu rosto. Estava apaixonada e esse estado de amor a fez querer algo que nunca alcançaria. Sua posição não poderia mudar. Se realmente queria estar ao seu lado, teria que se contentar em tomar um lugar de uma concubina e rezar para que ele não a substituísse por outra antes do final do ano.
Olhou de soslaio para a cama, na qual eles tinham feito amor durante as noites passadas, e suspirou. Seria capaz de dormir sem ele?
Poderia fechar os olhos sem descobrir o que estava acontecendo com ele?
Não. Claro que não! Apesar de estar ciente de que, entre eles, não haveria possibilidade de nada, a não ser um idílio temporário, ela não podia deitar naquele colchão confortável sem se importar com o motivo pelo qual ele havia se escondido. Se o visconde tinha um problema, tentaria ajudá-lo, mesmo que fosse apenas uma mísera amante.
Confiante no que ia fazer, levou a mão até parte de trás da cadeira, onde estava seu robe de seda preta, vestiu-o e caminhou com
determinação para a saída.
Tudo estava em silêncio e a escuridão a ajudou a permanecer protegida. Se agarrou ao corrimão da escada e desceu os degraus com tal cautela que nem um único degrau de madeira rangeu. Assim que chegou ao hall, olhou para as grandes janelas e, através das finas cortinas, observou o movimento das copas das árvores. Elas se mexiam como em seus sonhos....
Perplexa, ela olhou para longe das janelas, virou para o lado direito e continuou sua caminhada até que parou em frente à porta do escritório. Ainda estava fechado, como se tentasse obstruir a passagem de outra visita indesejada. Mas ela não era qualquer pessoa... muito lentamente, notando a batida de seu coração na garganta, alcançou a maçaneta e a girou. Se tivesse rangido a porta, ele a teria descoberto, mas os criados do visconde eram tão eficientes que engraxavam as dobradiças com assiduidade. Por essa razão, pôde entrar sem ser ouvida.
A única luz dentro era produzida pelas chamas do fogo na lareira.
Mal notou a decoração daquele escritório. A única coisa que viu claramente foi o grande tapete que estava ao lado do fogo e ele... Logan estava sentado em uma cadeira, com os cotovelos apoiados sobre a mesa e olhando para o que estava sobre ela. Havia tirado o paletó daquele terno azul avermelhado que ele usara tão imponente durante o jantar. As pontas da camisa preta, levantadas para ambos os lados, indicavam que ele não estava usando a
gravata e seu cabelo oferecia uma imagem descuidada. Fios negros e despenteados escondiam aquele rosto másculo que tanto adorava. Virou-se lentamente em direção à porta e fechou-a sem emitir nenhum som. Embora tenha originado o suficiente para ele levantar o rosto e descobri-la.
—O que faz aqui?
O tom duro que usou para falar com ela a fez pensar que havia cometido um erro. No entanto, seus olhos expressaram o contrário: declaravam tanta satisfação e bem-estar que reforçou sua decisão.
—Não consegui dormir -- ela disse enquanto caminhava até ele.
Ficou parada em frente à mesa e observou tudo o que havia nela.
Desordem. Só encontrou um grande caos. Uma multidão de folhas espalhadas na superfície e também vislumbrou que mais de uma estava manchada de licor. Olhou de relance para a garrafa ao lado dele e franziu a testa ao vê-la praticamente vazia. Ele tinha ficado bêbado? Foi por isso que não apareceu em seu quarto? E por que abusava do álcool se durante os dias em que estiveram em Harving House ele mal tinha tomado dois drinques fora das refeições?
—Poderia ter pedido a Sra. Donner para fazer uma daquelas infusões calmantes que ela mantém na cozinha. Certamente isso a teria mantido deitada no colchão até o amanhecer -- disse ele, arrastando as palavras.
—Está bêbado! -- Ela disse cruzando os braços. -- Por quê?
—Por que bebi mais do que posso suportar? —Ele estalou mordaz. —Caso não saiba, meu amor, quando se ingere tanto licor, o....
Logan de repente ficou em silêncio quando ela descruzou os braços e, sem tirar os olhos dele, estendeu a mão direita para a garrafa.
Colocou a boca da garrafa sobre seu lábio inferior e deu um pequeno trago.
—Eu também posso participar desse jogo -- ela argumentou antes de sua garganta queimar pela ingestão daquela bebida a qual não estava acostumada a beber. Segurando as lágrimas que causaram aquele ardor e a repentina tosse, o observou sem piscar enquanto permitia que várias gotas de bebida deslizassem por sua boca, pelo queixo, até baterem em seu peito. --
Tem que me dizer onde guarda mais, porque vou precisar de outra assim para poder alcançá-lo. Bebeu até que não havia mais nada dentro e depois colocou de volta em seu lugar.
O queixo de Logan caiu enquanto ele observava o licor escorrer por sua pele até que, maravilhosamente, terminou no decote do roupão de Anne. Ele queria se levantar, lançar-se sobre ela e percorrer com a língua o longo caminho por onde passavam essas abençoadas gotas de conhaque. Mas, apesar de sua embriaguez, ainda estava ciente de que seu estado lastimável só lhe causaria problemas. Uma vez que ele a beijasse, iria querer mais e isso provocaria uma explosão de emoções que o transformariam em um ser
malvado. Então, antes de fazerem amor, teria que ter certeza de sua decisão de ser honesto com ela. Precisava contar sobre seu passado, o que planejava fazer em um futuro próximo, e se o destino fosse gentil com ele, Anne não iria embora.
—Vai me dizer de uma vez por todas onde posso encontrar uma maldita garrafa? -- Ela retrucou, apreciando sua passividade.
O que diabos aconteceu com ele? Seu visconde, aquele que conhecera até a chegada daquele homem, teria se levantado, a tomado em seus braços e, depois de derrubar tudo sobre a mesa, teria feito amor com ela com tanta paixão que seus corpos teriam fundido. Esse pensamento, e as imagens que apareceram em sua mente, endureceram seus mamilos e a excitaram tanto que ela abriu a boca, inconscientemente, para ofegar.
—Lá! –Ele respondeu com a voz embargada, apontando para o decantador que havia sobre o móvel.
Estava preocupado. Não tinha dúvida sobre isso. Essa visita inesperada o perturbou. O que aconteceu durante a hora em que eles conversaram? Ela olhou para Logan e considerou se seria conveniente perguntar sobre o assunto que o incomodava. Talvez estivesse se precipitando, talvez só precisasse de um pouco de solidão para enfrentar o que aconteceu. No entanto, assim que começou a duvidar de sua performance, centenas de imagens dele passaram por sua cabeça: o dia da
festa, quando ele levantou seu copo e ergueu a sobrancelha esquerda silenciosamente perguntando por que estava olhando para ele, o dia que apareceu com Lorde Giesler em sua casa, seu desmaio, a conversa que tiveram enquanto Mary se distanciava deles graças ao presente. No momento em que ele conversou com Madeleine através da cortina, seu comportamento paternal com Josh, o beijo que ele lhe deu quando a descobriu em frente à porta daquele quarto imundo na pousada, no momento em que apareceu em seu quarto e disse para que trancasse se não quisesse que a visitasse novamente. A reunião no jardim, as noites abraçados em seu quarto, ouvindo como respirava em sua cabeça, notando a paz e tranquilidade que sentia ao seu lado.... É claro que tinha que descobrir o que na terra havia acontecido com ele! Como ela poderia abandonar o homem por quem estava loucamente apaixonada? Nunca! Ela lutaria com unhas e dentes para trazer de volta aquele homem intrépido que ousava beijá-la, tocá-la e amá-la onde quisesse.
Que Deus tenha pena dela e de toda a sua família! Porque lutaria por ele...
Com os olhos do visconde fixos nela, levou as mãos até o laço do roupão, desamarrou-o e, enquanto seguia para aquela área do escritório, balançou levemente os ombros até que o roupão deslizou pelos braços tão suavemente que sentiu seus pelos arrepiarem em resposta àquela delicada carícia. Se essa atitude sensual não fizesse Logan pular da poltrona, nada
conseguiria.
—Então... sua embriaguez causou... -- começou a dizer em uma voz tão extremamente erótica, que suas mãos tremeram.
Teve que respirar fundo para poder se concentrar em encher um dos copos na bandeja de prata e não derramar pelo tremor. Antes de se virar e encará-lo, bebeu aquela quantidade generosa de licor e serviu-se de outra.
Acabaria mais bêbada que Logan, mas não se importava como terminaria aquela noite. A única coisa que importava era como ele terminaria.
—Está me provocando? -- Logan perguntou à suas costas.
Nem mil barris de brandy o teriam derrubado depois de observar a silhueta do corpo de Anne através daquela camisola transparente!
Quando ela deixou cair o roupão no chão, mexeu os quadris com o ritmo sensual de seus passos, as pontas dos cabelos escuros roçando os quadris eroticamente e a luz das chamas perfurando a camisola, mostrando-lhe uma figura sedutora e erótica. Naquele momento, seu sexo reagiu rapidamente e seu coração ficou paralisado. Ela era puro magnetismo, desejo, luxúria e.... amor. A parte racional de seu cérebro, aquela que constantemente o lembrava do problema que ele tinha que enfrentar, desapareceu e todo o álcool que atravessou suas veias evaporou quando sua temperatura aumentou.
Anne o queimava, transformava-o em um imenso fogo. Poderia um homem morrer querendo tanto uma mulher? Porque ele estava disposto a morrer se
ela não matasse sua sede.
Anne sorriu ao ouvi-lo atrás dela. Sua respiração já indicava que ele estava excitado. Mas confirmou quando ele bateu o quadril em suas nádegas. Esse era o seu homem... sempre disposto a lhe dar prazer e ficar totalmente ereto por ela. Pelo menos já havia eliminado de seus pensamentos a angústia terrível de que não a queria. Agora tinha que descobrir por que a presença do homem o perturbara tanto.
—Eu gostaria de saber... - disse ela depois de colocar o copo no aparador, estendeu as mãos até encontrar as de Logan. Ele entrelaçou os dedos com os dela e os ergueu até os seios. Uma vez que as fortes palmas masculinas os rodearam, as pressionou como de costume. Naquele momento, seu quadril ganhou vida própria e chegou perigosamente perto dele e sua boca ofegou de prazer.
—Não é uma história agradável... -- Logan murmurou trazendo os lábios para o ombro direito de Anne. Abriu a boca, esticou a língua e lambeu a área da pele como se estivesse saboreando um sorvete, embora dessa vez não sentisse frio, mas calor, muito calor.
—Se fosse agradável... Não teria se trancado neste lugar... certo?
-- Ela sibilou quando colocou as mãos nas pernas hercúleas e acariciou-as até que tremessem.
—Anne... -- ele disse em um tom abafado, como se um nó na
garganta o impedisse de falar.
—Logan... -- ela respondeu, colocando a mão direita no grosso volume que se escondia debaixo das calças. ?Está tão excitado por mim...
Se essas palavras a deixavam louca quando as escutava, esperava que tivessem o mesmo efeito em Logan.
—Sim... -- ele respondeu trazendo a pélvis para mais perto daquela mão impertinente para que não parasse de tocá-lo. -- Sabe que não posso resistir a você... -- ele confessou antes de colocar os lábios no pescoço dela e beijá-la sem parar.
—Pedi para que fizesse isso? -- Ela perguntou, virando-se.
Quando viu a tristeza naqueles belos olhos azuis, ficou sem fôlego. O que aconteceu para fazer Logan se sentir tão vulnerável?
—Mesmo se me pedisse... não poderia fazer isso -- ele respondeu antes de agredir sua boca.
Como se estivessem prestes a morrer de fome e a única coisa que poderia salvá-los da morte era se devorar, Logan invadiu, subjugou e se apoderou da boca de Anne enquanto ela respondia com a mesma necessidade e paixão. As mãos do visconde descansaram em suas nádegas e a puxaram para mais perto, deixando-a presa das coxas ao peito. Ambos os corpos se misturavam como se fossem duas essências perfeitas dentro de uma sala sem saídas.
As mãos de Anne, colocadas primeiro no pescoço de Logan, lentamente traçaram as costas largas, continuaram abaixo do peito, desabotoaram os botões daquela camisa, acariciaram-no com as palmas das mãos abertas e, quando ela ficou satisfeita em tocá-lo, desceu lentamente até a cintura das calças.
—Quero libertar você de tudo o que prejudica seu coração --
disse antes de beijar a área do peito dele que o protegia. -- Quero arrebatá-lo para que nada possa feri-lo, jamais...
—É seu... -- Logan engasgou quando sentiu os lábios em seu mamilo esquerdo.
—Tem certeza? -- Ela retrucou. Percebendo como ele afirmava com um leve aceno de cabeça, se afastou o suficiente para ver se estava mentindo. Quando confirmou a veracidade de suas palavras, enfiou a mão na calça e acariciou seu sexo duro e úmido com as pontas dos dedos.
—Sim... -- ele sussurrou, fechando os olhos para se deixar levar pela sensação de prazer causada pelo toque daqueles delicados dedos. —Te pertence…
Então, apenas quando o teve em um estado de frenesi, se afastou dele, como se estivesse possuída por um espírito diabólico. Ela se esquivou de sua figura corpulenta e se afastou por tempo suficiente para observar sua reação. Claro, o rosto de Logan mostrava uma mistura de perplexidade e
medo.
—Se esse coração realmente me pertence, preciso que seja honesto e me diga por que diabos se trancou neste lugar por mais de quatro horas. Tempo que, a julgar pelo cheiro que tem e pela quantidade de bebida que descobri na garrafa, passou bebendo -- ela disse como se fosse uma esposa furiosa por ter esperado a chegada de seu amado marido em frente à entrada da sua casa, enquanto um dilúvio caia.
—Prometo que contarei tudo depois de fazermos amor. Agora sou incapaz de pensar em outra coisa senão possuí-la... -- ele disse enquanto empurrava sua camisa para longe com um único puxão. Então fez o mesmo com o botão da calça, baixou-os até os pés. Com um solavanco rápido, tirou os sapatos, tirou todas as roupas e ficou completamente nu para ela. -- Não sente pena do seu amante insano? Olha como me colocou...
—Acalmarei a sua necessidade quando aplacar a minha -- disse ela solenemente, para que ele não tivesse dúvidas de que não estava blefando.
Estava disposta a descobrir o que estava errado e não pararia até conseguir.
—O que quer saber? -- Ele perguntou, desistindo.
—Quem era esse homem?
—Lorde Laxton.
—O que ele queria de você?
—Veio me informar que seu tio, o conde de Burkes, continua
com a ideia de comprar Harving House. -- Ele estava prestes a abaixar a cabeça quando percebeu que Anne estava se movendo. Rapidamente, fixou os olhos nela e eles arregalaram quando viu o que estava fazendo depois de sua resposta. —Vamos brincar disso, querida?
—Sim -- ela disse, acariciando seus seios por cima da camisola.
Não gosta da ideia de ser recompensado cada vez que responder minhas perguntas? -- Acrescentou naquele tom erótico que adotara desde que entrara.
—Acho isso... agradável -- ele respondeu com um longo suspiro.
—Pergunte o que deseja -- acrescentou colocando sua mão direita em seu sexo.
—Por que quer comprá-la? —Perguntou Anne, ainda se tocando.
Devia levá-lo a um estado de agitação tão intenso que não pudesse mentir para ela. Precisava descobrir a verdade e encarar isso juntos, como se fossem casados.
—Porque quer ampliar seu patrimônio -- ele respondeu. Mas vendo que essa declaração não pareceu correta, porque Anne parou de se tocar, ele acrescentou: -- Ele quer que a venda em troca de manter um segredo.
—Um segredo? -- Ela exclamou surpresa.
—Sim -- ele disse com um halo de tristeza.
—Que segredo? —Ela perguntou. Quando viu que a mão de Logan se afastou de seu sexo e agora se esticava em direção ao chão, continuou com seu jogo. Andou para trás até que suas nádegas tocaram a mesa, se inclinou sobre ela, levantou a camisola até que revelasse sua virilha e abriu as pernas ligeiramente. -- Que mais?
—Laxton e eu nos conhecemos há cinco anos. Depois de ser apresentado e falar sobre sua vida, fiquei com pena dele -- continuou ele, incapaz de tirar os olhos daquela flor sexual que, a julgar pela forma como brilhava, estava molhada.
—Aham -- E o recompensou novamente. Sua mão direita foi colocada em seu sexo e acariciou até que surgiram sons sedutores que expressavam com audácia a excitação que ela sentia quando se tocava.
—George e eu temos uma amizade... especial. -- Ele falou hesitante, sufocado pela imagem de Anne. Aquela figura erótica só reafirmava que ela era a mulher mais maravilhosa que ele já tinha visto em sua vida. No entanto... ela poderia suportar a verdade? O que pensaria dele quando revelasse aquele passado sombrio?
—O que quer dizer com amizade especial? -- Anne perguntou, introduzindo um de seus dedos. Percebendo essa pressão, ela suspirou, olhou para ele descaradamente e acariciou seus lábios com a língua. Deveria se sentir como uma rameira, mas não era assim. O que sentia era um imenso
poder sobre Logan. Um que libertaria o homem que amava daquela prisão em que ele se forçou a ficar.
—Laxton se tornou meu parceiro em... perversões. -- Ele suspirou profundamente. Estava tão hipnotizado por seus suspiros que era capaz de gozar apenas olhando para ela. —Já conhece a fama de libertino que carrego nas costas...
—Real ou inventada?
—Real -- ele disse, olhando para ela com tanto pesar que o coração de Anne se partiu em mil pedaços.
Por que se lamentava do que fez no passado? Acaso agia assim para se proteger de alguma ferida? Um coração partido, talvez?
—E? -- Ela insistiu, tirando aquele dedo invasor para espalhar sobre os lábios voluptuosos o fluxo que emanava ao se excitar.
—O que quer que eu explique? -- Ele gritou enquanto acariciava seu cabelo desesperadamente.
—A verdade! Quero a verdade! -- Anne respondeu, afastando as mãos de seu corpo. -- Cruzou os braços e olhou para ele sem piscar. Teria que insistir. Estava prestes a alcançar seu objetivo e, apesar de deduzir que não gostaria do que ouviria, suportaria isso por ele.
—A verdade? -- Ele retrucou, erguendo as sobrancelhas. Um sorriso sombrio apareceu em seus lábios e seus olhos escureceram.
—Sim— ela garantiu com firmeza.
Anne não estava mais na frente de um amante terno e amoroso, mas na presença de um fantasma. O que teria acontecido no passado para que o transformasse em um ser sem alma?
—Bem, a verdade não é outra a não ser que compartilhamos mulheres -- ele revelou, estreitando os olhos e seu riso mudou de sombrio para trêmulo.
-- Suas amantes? -- Perguntou, soltando a camisola aos seus pés dela.
—Sim -- ele disse categoricamente.
—Obrigou-as a fazê-lo? -- Perguntou Anne, segurando as mãos na boca. -- Mandou que elas fizessem isso?
—Nunca! —Afirmou Logan rapidamente. —Elas estavam mais do que dispostas a serem compartilhadas com outros homens. Garanto que elas sonhavam em deitar com vários amantes de uma só vez.
—Então? Se nenhuma delas reclamou quando as compartilhou, o que o angustia? O conde quer revelar seu segredo? É por isso que diz que ele o chantageia? -- Ela insistiu com angústia. Conhecia essa dupla moralidade aristocrática. Todo mundo falava sobre isso, e embora esse tipo de relacionamento fosse um rumor suculento, não tinha dúvida de que Logan não seria o primeiro aristocrata a praticar esse tipo de imoralidade.
—George e eu cometemos um erro grave -- explicou Logan.
Ele se virou e caminhou até à lareira. A luz daquelas chamas iluminava seu corpo. Seu pelo áspero encaracolado, que desenhava uma linda e sedutora linha do peito até a pélvis, a largura dos ombros, as pernas grandes e fortes, os músculos ásperos dos braços e do sexo, ainda rígido de excitação, se apresentavam diante dela com vontade absoluta. Logan despiu seu corpo, agora estava faltando que também despisse sua alma.
—Qual? —Ela quis saber. Embora seu jogo estabelecesse certa distância, Anne não podia ficar longe dele. Com um passo muito lento, ela se aproximou de Logan até que seu nariz pudesse inspirar aquela fragrância masculina que a surpreendia. Muito lentamente, colocou as mãos em suas costas e acariciou com as pontas dos dedos. -- Qual foi o seu erro, Logan?
—Incluir uma serva do conde nas nossas perversões. -- Ele inclinou a cabeça para trás, fechou os olhos e prendeu a respiração quando sentiu o toque suave das pontas do dedo em sua pele.
—O que aconteceu? —Ela acrescentou a boca àquelas carícias suaves.
Seus lábios beijavam lentamente diferentes lugares das costas fortes, criando sons sugestivos que, por um momento, fizeram Logan permanecer em silêncio para apreciá-los.
—O conde sempre foi um homem muito rigoroso. Desde que sua
esposa morreu, nenhuma mulher tomou o seu lugar. Ele adotou uma moralidade religiosa tão severa e rigorosa que não era capaz de consentir em certas liberdades. Logicamente, desde que ele acolheu George sob sua proteção, tentou educá-lo sob essa ética severa. Então rapidamente descobriu que seu sobrinho e a criada tinham um idílio. Furioso, irritado por não ter doutrinado bem o sobrinho, o conde concebeu um plano para submetê-lo, à força, aos seus desejos. Mas seu propósito magnífico se mostrou mais frutífero do que ele esperava... -- Logan apertou os lábios com tanta força que eles empalideceram. Ergueu seu corpo, totalmente tenso, como um homem que espera com honra a chegada da morte. No entanto, o fato de que Anne continuou a beijá-lo com tanta devoção o fez relaxar a ponto de se tornar uma poça de gelo derretido. Ele engoliu em seco, fixou os olhos no fogo e continuou:—Até aquele dia, ele me inundou com um número infinito de propostas de compra suculentas, mas as rejeitei porque nunca quis me livrar dessa casa. Já lhe disse no celeiro que a reconstruí com minhas próprias mãos e tudo o que encontrou dentro consegui através de um grande esforço.
-- As palmas de Anne se subiam e desciam sem descanso e sentiu que aqueles movimentos leves continuavam a aplacar sua inquietação. Como ela poderia estar ao seu lado ouvindo tal atrocidade? Por que não o deixava sozinho com seu sofrimento? Talvez houvesse uma pequena possibilidade de estarem juntos... —No mesmo dia em que concluí a restauração, George
apareceu enfurecido. Seu tio o castigara novamente por ter quebrado uma de suas muitas regras. Nada poderia tranquilizá-lo, nem mesmo as duas garrafas de conhaque que ele engoliu enquanto me contava a humilhação e a dor que sentiu quando o chicoteava na frente dos criados. Então ele confessou que Burkes havia deixado sua casa para compartilhar mais uma noite de moralidade com o juiz Clarke e o pároco Madden. Então tive a brilhante ideia de perguntar se a donzela estaria disposta a nos oferecer uma noite divertida.
A emoção que George mostrou em seu rosto corroborou minha decisão.
Laxton costumava fugir de todos os seus problemas e preocupações depois de uma sessão de sexo tórrido e juro que ele precisava daquela noite...
—E...? Fez isso?
O tom de voz de Anne não expressava ódio, nem nojo, nem mesmo um ligeiro sentimento de ódio. O que transmitiu em sua pergunta foi tristeza. O mesmo que uma mãe mostraria por descobrir que seus filhos fizeram um mal que causaria um problema sério. Essa atitude fez Logan mais forte e ele abandonou toda a tristeza que sua revelação sombria lhe causava.
Talvez houvesse uma possibilidade de que ela perdoasse tudo o que fez no passado, mas... poderia suportar toda a verdade?
—Sim, nós fizemos, e nós dois caímos na armadilha que o conde planejou -- ele disse asperamente. -- No meio da orgia, no momento em que ambos estávamos possuindo a mulher, a porta da sala se abriu e três pares de
olhos nos observaram: o conde, o juiz e o pastor.
—Meu Deus! —Exclamou Anne horrorizada.
—Sim, foi o que o pároco gritou quando descobriu o que estávamos fazendo ali dentro -- ele disse sarcasticamente.
—O que aconteceu depois? -- Ela estava interessada, agarrada a sua cintura forte com mais ímpeto. Tentando mostrar naquele ato de afeto que, apesar de tudo, continuaria a apoiá-lo.
—Burkes ordenou ao sobrinho que se retirasse para seu quarto e me obrigou a ter uma reunião com as outras testemunhas. Quando me vesti e entrei na biblioteca, custodiado por seu mordomo, ele começou a me insultar e me culpar pela imoralidade de George. Colocou o juiz e o pároco contra mim, embora não tivesse que fazer muito para isso também. Eles já haviam me condenado à morte desde que viram nós três na sala. Então, depois de ouvir todas as acusações, tentei me defender... -- Ele suspirou novamente e fixou os olhos no fogo. -- Não pude expor nada do que pensava no caminho para aquela maldita sala. O pároco Madden trouxe a vida libertina de meu pai e os rumores sobre a descendência que ele gerou. O juiz Clarke se juntou a essas acusações. Apontou o dedo para mim e me avisou que perguntaria sobre minha verdadeira origem, porque, como havia ouvido de um juiz de Londres, o falecido marquês de Riderland e a falecida marquesa assinaram minha certidão de nascimento quinze anos depois de eu nascer. O pároco
também acrescentou sua versão daquela estranha negligência, segundo a qual a marquesa nunca pronunciou meu nome quando aparecia em sua paróquia para confessar seus pecados. Parece que o único nome que saia de sua boca era o de Charles, o filho que morreu bravamente para salvar algumas crianças pobres de uma casa queimada pelo fogo.
—Me lembro dessa notícia... -- Anne sussurrou, descansando uma bochecha em suas costas largas. -- Minha mãe não parou de falar sobre o que aconteceu e exaltou o heroísmo de seu irmão.
—Meu irmão? -- Retrucou Logan se afastando dela. —Esse não era meu irmão!
—Logan... -- ela sussurrou, olhando para ele com tanta tristeza e pena que seu coração afundou.
—Não, não era! -- Ele assegurou sem rodeios —Sabe quem realmente era esse filho do demônio? Um louco! Um perturbado! Foi ele quem causou o fogo! Ele queria ver todos os filhos ilegítimos de seu pai queimados no fogo! E entre aqueles bastardos estava eu... -- ele confessou antes de abaixar os olhos e fixá-lo no chão.
—O que?! -- Ela perguntou, arregalando os olhos. Levou as mãos trêmulas ao peito para aplacar a batida rápida de seu coração. Suas pernas começaram a perder força e tudo ao seu redor começou a se mover.
Estava tonta e sufocada, porque também não podia respirar. Logan era um
filho ilegítimo do Marquês? Impossível!
—Que eu sou uma desova, Anne. Sou uma criança indesejada...
-- ele disse com firmeza. -- Nunca ouviu as histórias descaradas do meu pai? -- Ela negou com a cabeça enquanto andava para trás. Quando sentiu nas solas dos pés a maciez do carpete colocado em frente à lareira, flexionou os joelhos até que sentar no carpete. —Pois o muito condenado sujeitava todas as mulheres que ele desejava a seu prazer. No meu caso, teve a terrível audácia de aceitar a proposta que os pais da minha mãe de verdade ofereceram para que pudessem ficar em uma de suas terras, ricas para cultivo e para caçar. Sabe quem mantém uma vida nômade? Pode ter uma ideia de quem minha mãe poderia ser?
Ao ouvir essas perguntas, Anne abaixou a cabeça e se abraçou com força. O que ouvia não podia ser verdade. Logan estava mentindo!
Mas... com que propósito? Para tê-la? Por quê? Ele não perdia mais do que ela, revelando esse fato? Muito lentamente, ela ergueu o queixo e quando viu o rosto de Logan, ficou sem fôlego. Não encontrou nada que indicasse que estava mentindo. A expressão daquele olhar triste e agonizante declarava que ele estava dizendo a verdade. Ele não queria despir sua alma? Bem, aí estava.
O homem que ela amava confessava seu passado. Um que ela nunca teria imaginado, mas com o qual sonhou mais de uma vez. Agora a última peça daquele quebra-cabeça incompleto estava em sua mão, faltava apenas que ela
pudesse encaixá-la com as outras.
—Vejo que não quer me responder... sente tanta repulsa por confessar que sou filho de uma cigana? Só ama o visconde? -- Ele disse com um grunhido áspero.
—Realmente acha que posso sentir repugnância conhecendo sua verdadeira origem? Eu? -- Gritou fora de si. -- Esqueceu o sangue que corre nas minhas veias? -- Se aventurou a atacá-lo, levantando-se com tamanha bravura que seus tendões doíam.
—Sinto muito, não estou falando corretamente -- murmurou inclinando a cabeça para o chão, mostrando tanta submissão que Anne queria tirá-lo desse estado de desânimo com uma grande bofetada.
—Não sou aquele que negou suas origens! Não sou aquele que mentiu!
—Eu... eu não queria fazê-lo -- ele disse finalmente levantando o rosto até que seus olhares se encontraram. -- Juro pela minha vida que, desde o primeiro momento, quis tornar público quem era minha mãe, mas Roger me impediu.
—Por quê? É ele quem rejeita suas origens ciganas? Te obrigou a permanecer em silêncio? É por isso que o falecido marquês assinou sua certidão de nascimento? Seu grandioso irmão não queria manchasse o honrado seu título?
—Não! -- Ele gritou andando em direção a ela até que estavam tão perto que o calor do corpo de Anne, provocada pela raiva, aqueceu o seu, gelado por esse ataque de bravura.
—Não o entendo, Logan! -- Ela exclamou, levando as mãos ao rosto para esfregá-lo com desespero. -- Realmente não entendo a atitude dos aristocratas! O que queria? Por que não deixou revelar quem era? Que impacto teria outro filho ilegítimo? Existem centenas!
—Isso destruiria tudo aquilo que fez... -- ele apontou suavemente.
—Quer dizer sua vida social bem-sucedida? -- Ela disse em voz alta.
—Não! Roger sempre lutou contra todos os benefícios que lhe davam o título de Marquês! -- Se esforçou para esclarecer.
—Então... o que foi? O que ainda está escondendo, Logan? --
Ela disse com firmeza.
Lentamente, Logan olhou para as mãos de Anne, que tremiam com o estado de raiva, entrelaçou os dedos dela com os seus, levou-os até os lábios e beijou-os um a um.
—Quando Roger era criança, descobriu algo tão macabro que o forçou a se afastar de seus pais. Tanto o marquês como a marquesa o deram como morto e educaram Charles, seu irmão gêmeo, para que um dia
ostentasse o título -- começou a narrar enquanto colocava as mãos de Anne sobre o peito para que sua respiração e os batimentos cardíacos confirmassem a veracidade da história. -- Ao retornar, muitos anos depois, os marqueses uniram forças para aniquilá-lo, mas graças à piedade de seu mordomo, conseguiu sobreviver. A partir daquele dia, jurou destruir seus pais e havia apenas uma maneira de fazê-lo.
—Qual? -- Era a primeira vez que os olhos de Logan brilhavam com lágrimas. Aquele homem vulnerável que encontrou ao entrar no escritório havia retornado. No entanto, não o deixaria sozinho. Desta vez, ela estava ao seu lado para ajudá-lo a lutar contra os demônios que o atormentavam.
—Com o dinheiro que recebeu por suas viagens, reuniu uma fortuna suficiente para construir aquela residência que foi destruída pelo fogo. Ali permaneceram mais de trinta filhos bastardos por um longo tempo.
Ele nos mantinha protegidos da marquesa.
—A marquesa sabia das infidelidades do marido? -- Ela retrucou espantada.
-- Sim, porque muitas das mulheres que mantinham relações com ele apareceram meses depois, carregando em seus braços o fruto daquelas escapadas românticas.
—O que ela fez? -- A expressão de Logan endureceu e seus
olhos escureceram para se tornarem as próprias asas de Astennu. -- Não me diga que os matou? -- Ela disse sem pensar.
—Sim. Até que Roger conseguiu nos salvar, ela ceifou a vida dessas crianças para manter o casamento seguro.
—Então... aconteceu... Charles descobriu... e queria matar todos vocês para que... -- ela tentou dizer. Mas as conclusões a que seu cérebro chegou foi mais rápida do que sua capacidade de falar e foi incapaz de realizar uma frase completa. -- Oh, meu Deus! -- Ela exclamou antes de romper o pranto que havia segurado.
—Calma Anne -- ele tentou acalmá-la abraçando-a com força. --
Muitos de nós foram salvos graças a Roger e ele conseguiu, com a ajuda do Duque de Rutland e do Barão de Sheiton, construir outra residência onde pudéssemos viver.
—Qual é a sua história, Logan? -- Ela perguntou se afastando de seu amado para olhar seu rosto e embalá-lo em suas mãos. -- O que aconteceu com sua mãe? Foi ela quem o levou até Roger?
—Não. Ela não pôde me levar porque morreu no parto -- ele declarou em uma voz estrangulada. —Era uma menina quando ficou grávida, mal tinha completado 14 anos e não suportou o parto. Sua mãe…
—Sua avó -- O corrigiu.
—Não posso chamá-la assim, Anne. Vê a cicatriz no meu peito?
—Ela direcionou o olhar para aquela marca e, depois de tirar a mão daquele rosto aflito, acariciou-a devagar. —Tentou me matar. Talvez tivesse conseguido se a mulher que me criou não a tivesse seguido até a floresta onde, depois de me rasgar com uma adaga e confirmar que meu sangue chamaria as feras para me dar um fim, me abandonou. Shara sabia que, quando voltasse para a colônia comigo em seus braços, sofreria a ira daquela mulher perigosa, mas não se importou. Teve que passar por uma dura punição por se atrever a desafiar a feiticeira, a essa avó que deseja que nomeie. Mesmo assim me assumiu com integridade por seis anos. A partir daquele momento, quando observou que todos os membros do clã também eram cruéis comigo, nos afastamos da colônia e vagamos até que um visconde nos acolheu. Ela se tornou uma serva e eu era o bastardo triste de um homem que ninguém conhecia. Só soube que o marquês de Riderland era meu verdadeiro pai quando Shara adoeceu. Antes de morrer, continuou a lutar por minha vida e não deu seu último suspiro até que Roger lhe jurou que eu estaria a salvo ao seu lado.
—E manteve sua palavra -- murmurou Anne, abraçando-o com força.
—Sim -- disse Logan, se deixando abraçar, se permitindo finalmente sentir alguma calma em sua alma inquieta. Tenho que continuar protegendo o segredo, Anne. Não posso destruir tudo o que Roger fez por
nós. Devo assumir a condenação que eu mesmo ganhei com o conde. Se continuar pagando por tudo que me pede, se de uma vez por todas vender Harving House... meus irmãos não sofrerão mais humilhações e o trabalho de Roger continuaria a ser protegido.
—Maldito filho da puta! -- Gritou Anne, se lembrando da chantagem do conde. Afastou-se de Logan e começou a andar pelo escritório.
-- Quero matá-lo! Quero estrangulá-lo com minhas próprias mãos! --
Declarou erguendo os braços e entrelaçando os dedos como se de fato o pescoço do velho Burke permanecesse entre eles. —Não vai desistir, certo?
Quer vê-lo humilhado e destruído! -- Ela berrou. -- Bem, ele não vai conseguir! Aquele porco não sabe quem são as Moore! Escreverei uma carta para minha mãe e pedirei que ela se apresente o quanto antes. Certamente, entre todos podemos traçar um plano que possa destruí-lo. Por nossas veias corre sangue maldito, muito perverso -- disse ela estreitando os olhos. --
Sabe quem foi minha avó? Jovenka! Uma cigana que esterilizava a terra que tocava seus pés!
—Anne... Por favor... pense um pouco, querida. Nós não podemos enfrentá-lo. Não só a reputação de meus irmãos estará em perigo, mas sua família estará envolvida nessa atrocidade. Não vou arrastá-la também! Tenho que aceitar minha culpa!
—Sua culpa! Como declara esse absurdo, Logan Bennett,
visconde de Devon, irmão do idolatrado marquês de Riderland? -- Acha que seu irmão lhe daria uma tapinha nas costas e apoiaria essa decisão? Onde está esse sangue cigano que banha suas veias? Renunciou tanto a ele que não existe mais em você?
—Não! Claro que não! -- Ele berrou. -- Mas... o que eu posso fazer?
—Lutar! -- Ela gritou, erguendo o punho direito. -- Como todos os nossos ancestrais lutaram.
—E como quer que façamos isso, querida? Na festa? -- Disse mordaz.
—Que festa? -- Ela fez a pergunta com uma voz calma, como se de repente toda aquela fúria se libertasse de seu corpo.
—George me trouxe um convite que não posso recusar—ele murmurou. -- Também me disse que se alguém descobrir sua presença em Harving, os rumores sobre minhas perversões aparecerão novamente e vocês...
—Nós estaremos desonradas -- Anne terminou a frase cerrando os punhos. -- O que planejou fazer? O que quer que façamos?
—Disse à Laxton que minha noiva...
—Noiva? -- Ela interrompeu. -- Que noiva?
—Você. Quem mais poderia ser? -- Ele disse, dando passos
largos até ela. —Sabe que te amo, Anne, que quero me casar com você porque, como descobriu, a maldição da qual tanto teme romperá comigo.
—Nos casarmos... —Ela murmurou abaixando o rosto.
Surpreendida pela magnitude que originava essa simples palavra.
—Não quer fazer isso? Não me ama como eu te amo? -- Ele perguntou, notando como outro nó apareceu em sua garganta.
—Sim, amo você, Logan. E posso assegurar-lhe que, depois de saber quem realmente é, o desejo de me tornar sua esposa aumentou.
—Então? O que a impede de fazê-lo? -- Ele disse, erguendo seu queixo com dois dedos.
—Não sei se posso te dar o que precisa... -- ela declarou olhando-o nos olhos.
—E o que, de acordo com você, eu preciso? -- Ele retrucou, arqueando as sobrancelhas escuras.
—Não posso... nunca conseguiria... não seria capaz de...
—Anne -- ele sussurrou, roçando com a boca esses lábios trêmulos. -- O que não poderia, meu amor?
—Não poderia colocar outro homem na minha cama -- declarou ela aterrorizada.
—Não vou consentir com isso! Você é minha, Anne Moore! Só minha! -- Ele esbravejou antes de submetê-la a um beijo tão possessivo que
não deixava dúvida de que seu futuro marido não a compartilharia com ninguém.
XXXIII
No dia seguinte, depois do café da manhã, Logan chamou todo o serviço na sala de jantar. Por causa da inquietude em seus rostos, Anne supôs que eles estavam desconfortáveis com a aparição do sobrinho do conde. No entanto, a incerteza foi transformada em júbilo ao ouvir a notícia de seu compromisso. Eles não pareciam surpresos, mas aliviados, algo que intrigou Anne. Eles não conseguiram manter o relacionamento em segredo? Temia que não, porque as expressões de alegria da Sra. Donner a fizeram entender que eram, em mais de uma ocasião, testemunhas silenciosas de seu romance.
Josh abraçou Logan e depois a beijou inúmeras vezes. A única pessoa que não parecia gostar da notícia era Elizabeth. Quando ela se levantou da cadeira e saiu da sala, Logan a seguiu com um passo firme.
—Não faça nada -- disse Josh enquanto tentava se levantar. Deve deixá-los sozinhos. Eli precisa assimilar que você alcançou seu sonho idílico.
Esse comentário a entristeceu. Nunca imaginou que se tornaria esposa de um aristocrata e que um dia seria uma marquesa. No seu caso, só queria se afastar de sua família para não a machucar mais. Por que o destino era tão caprichoso? Como diabos ele os juntou? Alguma vez pensou que amaria um cigano com uma mistura de sangue azul? Essa pergunta a fez sorrir. Não, é claro que nunca sonhou em se casar com um homem que
escondia a selvageria dos ciganos e não imaginava que ele era tão apaixonado...
Depois de muito tempo, Logan voltou para a sala sustentando o braço de Elizabeth. O olhar dela havia mudado e sua atitude também. Uma vez que se sentou na cadeira, colocaram o plano em movimento.
—Nós não podemos aparecer sem um acompanhante -- disse Elizabeth depois de ouvir a história estudada do visconde. -- Isso os faria pensar que está mentindo para eles.
—Está certa —Logan bufou. —Não seria apropriado que aparecessem sem uma presença respeitável —acrescentou ele mordaz.
—O que acha, milorde, se transformarmos a Sra. Donner numa tia distante da senhorita Moore? Eu poderia me tornar seu filho e ela poderia ser uma viúva —esclareceu.
Quando Howlett, que não parou de produzir palminhas desde que soube que o visconde se casaria com Anne, ofereceu essa alternativa, todos os olhos se voltaram para ele.
—É uma ideia fantástica —admitiu Logan. —O que acha, Sra.
Donner? Gostaria de se tornar a tia dessas meninas adoráveis?
—Milorde, me sentiria muito honrada em desempenhar esse papel, mas não sei se posso convencê-los como desejam. Minhas mãos estão... -- Ela tentou dizer, estendendo as palmas para o seu senhor.
—Isso não será um problema —disse Elizabeth. -- As senhoras sempre cobrem as mãos com luvas de seda.
—Mas eu também não sei dançar, se alguém tentar ter uma conversa culta comigo... -- ela murmurou desconfortável.
—Sobre o tema da dança, não se preocupe, poderá fingir que se sente fatigada pela idade —respondeu Elizabeth novamente. —E sobre as conversas, devo confessar que nenhum cavalheiro ousará pedir sua opinião sobre uma questão importante. Estou certa de que falarão sobre o clima, sobre a esplêndida festa que o anfitrião ofereceu, sobre as deliciosas iguarias que oferecerá a seus convidados e a magnífica repercussão social que o conde obterá quando a noite acabar.
—Somos tão previsíveis? —Logan exclamou zombeteiro. Cruzou os braços e se inclinou descuidadamente em um canto da lareira de pedra ambarina.
—A aristocracia é simples demais, qualquer um poderia se apresentar como um deles se adotasse esse comportamento tolo —disse Eli, levantando o queixo e olhando para ele sem piscar.
Naquela rude declaração, Anne olhou para Elizabeth como se fosse aniquilá-la, mas a risada de Logan fez com que apagasse esse desejo maquiavélico.
—Está certo, Eli! Somos tão simples que qualquer um pode se
passar por um de nós! -- O visconde acrescentou sem parar de rir, descruzou os braços e caminhou em direção à jovem para lhe dar um terno beijo no lindo penteado que usava naquela manhã.
Quando a atmosfera ficou mais fluida e relaxada, Logan e Anne informaram a todos sobre suas novas tarefas e começaram a trabalhar.
Howlett e Elizabeth foram encarregados de instruir a cozinheira. Embora em mais de uma ocasião, ouviram os gritos desesperados que a pobre mulher produzia ao se submeter aos mandatos do valete. Josh, para seu pesar, teve que visitar, junto com Anne, uma costureira para fazer um vestido para ela. A primeira vez que ela viu a intrépida Moore vestindo uma roupa tão feminina, não soube se expressava mais horror o rosto da vendedora ou de sua irmã.
—Onde posso esconder o punhal? -- Ela comentou enquanto observava o tecido, os babados e as rendas.
—Não terá que levar nada. Lembre-se de que estamos indo a uma festa e que nosso trabalho é mostrar um caráter gentil e educado -- Anne disse em um tom firme.
—A liga é ideal para um punhal curto -- sussurrou a assistente da loja em seu ouvido ao fixar o babado no ombro direito. Tenho clientes que me pedem certas restrições nas meias...
Essa revelação e a cumplicidade que a costureira lhe ofereceu fizeram com que Josh relaxasse e acabasse pedindo-lhe duas boas restrições
para suas pernas.
Marco, o administrador, também se juntou ao plano. O propósito dele era proteger as irmãs enquanto o visconde se encontrava com o conde.
Embora permanecessem protegidas pela Sra. Donner e Howlett, Logan não queria que o juiz ou o pastor tentassem se aproximar delas para realizar algum truque sutil. Precisava controlar tudo...
O mais engraçado daqueles dias foi o momento em que ele o apresentou a Elizabeth e ao seu fiel companheiro. Os olhos de ambos se arregalaram tanto que poderiam escapar de suas órbitas. Marco mostrou uma figura solene com seu terno sob medida e a última moda, e este exaltou suas tão exóticas características espanholas. Presumivelmente, Eli adotou o comportamento sedutor até descobrir que ele era um simples administrador.
No entanto, o interesse do valete nele aumentou, deixando bem claro que queria seduzi-lo. Embora Logan tentasse mantê-lo longe dele, Howlett procurou desculpas absurdas para chamar sua atenção e o visconde, notando que Marco não o evitava, e sim desejava acalmar todas as preocupações de seu criado, desistiu de seu propósito. Quem era ele para lutar contra o amor de dois amantes?
Durante as noites, e embora a Sra. Donner tivesse decidido não dançar na festa, Kilby insistiu em mostrar-lhe a beleza da dança. Nesses momentos, todos descobriram que o mordomo sentia alguma atração pela
cozinheira e que escondeu até que a mão esquerda do fiel empregado se instalou na cintura da mulher com determinação.
Tudo estava preparado. Nem um único detalhe foi deixado sem revisar. Só esperava que a festa saísse tal como haviam planejado.
—Nervosa? —Logan perguntou a Anne uma vez que eles se acomodaram na carruagem. Ele a observou como se fosse seu maior tesouro, sua deusa, e sorriu quando decidiu colocar todos os acessórios que tinha em laranja. Parecia que os brincos, o colar e a pulseira que brilhava toda vez que ela movia o pulso os transformavam em amuletos da sorte.
—Você não está? -- Ela respondeu, olhando para ele surpresa.
—Vou dar por encerrado a extorsão que sofro há vários anos, vou à luta para salvaguardar a honra da minha família, vou apresentar minha futura esposa a sociedade e tenho que tirá-la de lá sã e salva, isso deveria me perturbar? -- Disse matreiro.
—Não, claro que não -- disse Anne, sorrindo amplamente. --
Um cigano nunca se curvaria a problemas menores.
—Disse bem, querida, disse bem... -- Logan declarou antes de perceber como a mão esquerda de Anne pressionou a dele e como a pulseira laranja os unia ainda mais.
***
—Isso é chamado de lar? —Elizabeth gritou quando saiu da
carruagem com a ajuda de Howlett, que logo retornou com Marco. A jovem olhou para a residência do conde e abriu bem os olhos. Austero, mesquinho, ridículo e vulgar foram às palavras que apareceram em sua cabeça quando contemplou aquele terreno. -- Agora entendo o motivo dele querer comprar Harving House -- disse ela à Logan. -- Este lugar é sombrio e apertado. Não é capaz de investir parte de sua fortuna suculenta para consertar o jardim? As flores estão murchas! -- Ela acrescentou furiosa.
—É a primeira vez que vou dizer isso, Eli, então ouça bem --
falou Josh, lutando com a saia de seu vestido de seda verde-esmeralda. --
Tem razão. Isso é abominável mesmo para mim. Nunca vi um lugar tão repulsivo. O conde quer fazer o mesmo com a Harving House? Porque tenho certeza que ele vai abandoná-la ao seu destino...
—O que ele quer é comprá-la por menos do que custa --
resmungou Logan -- e depois vendê-la pelo triplo.
—Não vai deixar, certo -- Perguntou Howlett, horrorizado. --
Levei muito tempo para encontrar aquelas cortinas de ovelhas irlandesas suaves e elegantes para essa crápula as transformar em trapos de cozinha.
—Não -- Bennett disse com firmeza. -- O conde não alcançará seu propósito. É por isso que estamos aqui, para consolidar minha recusa.
—Realmente acha que explicar que se casará com Anne e que quer usá-la como uma segunda casa fará mudá-lo de ideia? —Josh perguntou,
sem tirar os olhos do visconde, colocou as mãos furtivamente em ambos os lados de suas coxas para se certificar de que as adagas estavam no lugar.
—Tenho certeza de que o conde desistirá quando explicar que uma futura marquesa, que dará à luz uns seis filhos fortes e robustos, precisará dessa residência para educá-los sob a moralidade adequada.
Lembre-se de que esse homem acha que Londres é uma cidade dedicada a uma catástrofe social por causa da perversão de seus habitantes -- assinalou Anne, estendendo a mão a Logan para acalmar a inquietude que dizia não ter.
-- Deve recusar qualquer conversa sobre virtude, economia, origens ciganas, a popularidade do nosso pai e se alguém lhe perguntar a razão pela qual ele não veio, tem que indicar que...
—Que foi a um congresso muito importante para sua carreira profissional e que nossa mãe chamou tia Gerthudies e nosso querido primo para nos acompanhar nesta viagem -- recitou Josh aborrecida.
—Preparados? —Logan perguntou, pouco antes de pisar no primeiro degrau daquela escada de pedra rachada que os levaria à entrada principal.
—Sim! -- Todos responderam em uníssono.
O mordomo do conde, aquele que custodiou Logan na noite da trama, os recebeu minutos depois de bater na porta. Dois servos estavam encarregados de recolher seus casacos. Então, eles caminharam rapidamente
pela galeria à esquerda. Logan olhou para Marco e acenou para ele. O
administrador entendeu rapidamente e ficou do lado direito, vigiando a entrada das mulheres. Respirou fundo para acalmar o estado de agonia que não queria mostrar a Anne, pôs a mão no antebraço e ficaram na entrada da sala até que outro criado os anunciou.
Definir esse grupo de quatro músicos como uma orquestra era dar-lhes uma categoria muito alta. Os quatro homens colocados no canto não conseguiam pegar o compasso. Mas os participantes não deveriam se importar com esse ritmo desequilibrado porque estavam ocupados demais olhando a decoração desastrosa que os rodeava. O conde já havia dado a entender, pelo lado de fora da casa, o que encontrariam dentro, mas nenhuma das irmãs imaginou esse horror. Uma coisa era certa, o chão brilhava e o candelabro de cristal pendurado no teto a luz das velas, que emitiam um cheiro pútrido de um bezerro morto, iluminavam o salão. Logan olhou para Anne e ela sorriu para ele. Não havia dúvida de que o conde preparara essa cerimônia rapidamente. Talvez inclusive no mesmo dia que o sobrinho lhe entregou o bilhete. Possivelmente pensou que o visconde não se atreveria a aceitá-lo e, em resposta à sua resposta afirmativa, ordenou que seus poucos serventes a preparassem com urgência. Certamente esses quatro não fossem realmente músicos e sim empregados que, durante três dias, aprenderam a soprar um instrumento de sopro e a quebrar as cordas de um triste violino.
Sim, provavelmente seria isso...
Josephine fixou os olhos nas quatro paredes do salão e prendeu a respiração ao descobrir que as sete pinturas gigantescas tinham o mesmo rosto. Mudaram os fundos, as formas de seus vestidos pretos, mas aquele semblante sério, rígido e implacável aparecia em todos eles. Não entendia como os convidados podiam conversar com facilidade, enquanto sete pares de olhos ferozes os observavam como se quisesse lançar um raio fulminante contra eles. Inconscientemente, levou as mãos aos punhais e acariciou-os.
Não hesitaria em usá-los se suas vidas estivessem em perigo...
Elizabeth notou como a Sra. Donner pressionava os dedos no seu braço e puxou-a para lhe dizer alguma coisa. Uma vez que confirmou que ninguém estava olhando para elas, inclinou a cabeça para a mulher.
—Como vou falar sobre os assuntos que me sugeriram? -- Ela murmurou apavorada. —Não é uma grande cerimônia, a sala é sombria e receio que a comida nos deixará doentes. Eu nunca conheci um conde com tanta ruindade e miséria. Os ternos dos servos foram remendados várias vezes, a madeira não é devidamente tratada, por isso estaremos cercados de verme da madeira, castiçais, bandejas e receio que os talheres não sejam de prata, os copos em que bebem os escassos trinta convidados não brilham e esse cheiro... -- Ela franziu o nariz ligeiramente. O jantar foi queimado?
—Pode falar sobre o tempo —sugeriu Eli, concentrando-se em
não rir. Estendeu o leque e tentou se acalmar com o frescor que proporcionava.
Era verdade o que a Sra. Donner argumentava. Nada naquele lugar era digno de um conde, a menos que estivesse arruinado, e esse não era o caso, porque ele queria comprar a Harving House. Engoliu em seco quando olhou para as cortinas. De que século eram? A sujeira que mostravam e as tirinhas de baixos indicavam que não só tinham permanecido naquele lugar durante muitos anos, mas também tinham sido testemunhas de uma dura guerra.
—Do tempo? —A senhora Donner insistiu.
—Lembre-se que em breve mais chuva virá e aquelas pobres flores finalmente conseguirão um pouco de água.
—Água? -- Ela perguntou, puxando-a ainda mais. -- Não teremos a infelicidade de que chova enquanto permanecermos nesta sala, certo? Porque não tenho a menor dúvida de que este conde avarento não tenha reformado os telhados desta pocilga e nós teremos que beber um vinho rançoso enquanto evitamos a água das goteiras.
A risada de Elizabeth soou acima da música estridente. Esse ato sorridente e súbito chamou a atenção dos convidados e todos as encararam.
Logan e Marco ergueram suas figuras grandes e fortes. Josh levou as mãos de volta ao lugar onde os punhais estavam escondidos e Anne, depois de olhar
para Elizabeth intrigada, suspirou profundamente e desceu as escadas ao lado de seu noivo.
—Sinto muito... -- ela se desculpou.
Era a primeira vez que não controlava seu comportamento em uma reunião social, mas o comentário da cozinheira foi tão espirituoso que não pôde segurar o riso. Ainda sentindo os olhares sobre ela, tentou se esconder entre Howlett e Josh.
—Lorde Devon, quanto me alegro em vê-lo! -- Exclamou o conde, desenhando um sorriso pérfido. Ele caminhou em direção a eles, levantou a mão direita e esperou que ela fosse aceita.
—Lorde Burkes... —Logan respondeu, separando-se de Anne para aceitar aquela saudação hostil. -- A honra é nossa por nos convidar para sua casa.
—Como poderia me privar da sua presença e da sua... noiva? --
Ele retrucou, olhando para Anne com os olhos apertados.
—Senhorita Moore, apresento o conde de Burkes. —Logan colocou a mão esquerda na parte inferior das costas de Anne com a mesma determinação que Kilby colocou sobre a Sra. Donner. Esse ato de posse deve ter deixado claro que não estava mentindo e que a conversa que teve com George era verdadeira. Mas sabia que o conde não desistiria tão facilmente, em que momento da cerimônia ele mostraria sua verdadeira personalidade?
—Prazer em conhecê-lo, milorde —Anne o saudou, fazendo uma suave reverência.
—Igualmente senhorita Moore. Imagino que elas sejam suas amáveis irmãs, certo? Já ouvi falar das filhas Moore. -- Depois de suas palavras, seus olhos negros olharam para a Sra. Donner e um sorriso maligno foi desenhado.
-- Sim, elas são minhas irmãs, minha tia, viúva, a Sra. Yenkis e meu primo, o Sr. Yenkis. Espero que a informação que teve sobre nós o tenha agradado -- respondeu Anne, que sutilmente moveu seu corpo com elegância para se separar da Sra. Donner.
—Sim, tanto quanto o que ouvi de seu pai -- assegurou o conde, sem apagar aquele sorriso pernicioso. -- Segundo minhas fontes, não demorará muito para se tornar um dos dez médicos mais importantes de Londres.
—Ainda não é? -- Anne perguntou rapidamente quando ouviu Josh rosnar. Agradeceu a sua mãe criadora por não carregar nenhuma arma escondida, porque tinha certeza de que ela o teria matado naquele momento.
—Receio que não, senhorita Moore —respondeu o conde grosseiramente.
—Bem então, rezemos para que nossas súplicas sejam ouvidas por nosso Deus e que um dia consiga —alegou com aparente desalento
enquanto fazia o sinal da cruz.
—São religiosas? -- Burkes perguntou, arregalando os olhos.
—Dedicadas, milorde. Nossos queridos pais foram capazes de nos educar sob a magnificência que nossa religião supõe e devo confessar que nos sentimos muito desoladas aqui. Desde que chegamos a Harving House, meu noivo tem estado tão ocupado com seus deveres administrativos que não pudemos assistir a nenhuma missa. Felizmente, minha querida tia, cuidou da nossa paz espiritual. Embora tenha que confessar que não é o mesmo...
—Entendo perfeitamente -- disse o conde, estendendo o braço para que pudesse acompanhá-lo. —E seus pais... aceitaram com prazer seu compromisso com o visconde? —Ele perguntou quando deram alguns passos.
—Claro! -- Ela exclamou com aparente constrangimento. ?Não acha, milorde, que este casamento será bastante proveitoso para nós? -- Ela acrescentou em voz baixa, como se estivesse revelando um segredo.
—Entendo... —Burkes respondeu com um largo sorriso. —Seus pais são muito inteligentes, senhorita Moore.
—Vamos confiar a Deus para que permaneçam assim com minhas outras quatro irmãs -- disse com aflição fingida.
—Seu pai tem que casar as cinco filhas? —O velho exclamou, arregalando os olhos. Agora ele entendia o desespero do médico por unir a
mais velha de suas filhas com um visconde. Graças ao título que ela teria no futuro, o resto poderia rapidamente encontrar um bom marido.
—Exatamente, milorde. Não gosta de crianças? —Ela perguntou, agitando seus cílios.
—Minha querida esposa, que Deus a tenha em sua glória, tentou me dar vários, mas infelizmente todos morreram logo após o nascimento --
disse ele com tristeza.
—Sinto muito —respondeu Anne, dando-lhe leves palmadinhas no braço.
—Eu também —disse ele antes de levá-la ao lugar onde o pároco e o juiz estavam sentados.
Se queria realizar seu plano, tinha que se concentrar na noiva.
Nenhum homem deixaria sua futura esposa nas garras de seu inimigo. O
visconde ficaria tão obcecado em vigiá-la que deixaria as duas irmãs desprotegidas. Então Lorde Norfolk escolheria a mais vulnerável...
—Acho que deveria tê-la apresentado quando chegou em Harving House —Marco comentou com Logan, que, observando o comportamento gentil entre o conde e Anne, começou a relaxar.
—Se não o conhecesse como conheço, pensaria que Anne o deslumbrou, mas temo que seja uma miragem. Esse verme irá sujeitá-la a todos os tipos de interrogatórios até que atinja seu objetivo —disse ele,
apertando a mandíbula.
—Que será…? —Marco acrescentou.
—Humilhá-la -- ele garantiu antes de caminhar até deles.
Era hora de apagar os medos do passado e encarar de uma vez por todas o presente e o futuro que ele queria viver com Anne.
XXXIV
?Que devemos fazer? —Josephine perguntou à irmã quando estavam sozinhas.
—O normal, neste tipo de celebração, é que a anfitriã nos apresenta aos outros convidados para interagir e conversar. Mas desde que ela está morta...
—Juro que se ela aparecer na nossa frente, eu desmaio —Josh interrompeu, olhando de volta para as pinturas escuras. Teria pensado que aqueles olhos a estavam observando? Pois continuava confirmando essa suposição.
—Seria melhor se nos dirigíssemos para o fundo da sala, onde colocaram a mesa com as bebidas e os deliciosos aperitivos.
—Deliciosos? A cozinheira retrucou, apertando os olhos. Para que os outros convidados não descobrissem o desgosto que seu rosto expressava, estendeu o leque e começou a sacudi-lo, mas Elizabeth a repreendeu com o olhar quando viu que estava agitando-o com tanta força.
—Não temos a obrigação de comer, embora seja aconselhável que mexa a boca de vez em quando, como se mastigasse. O anfitrião pode se sentir ofendido se não aceitarmos sua oferta.
—Realmente acha que estou preocupada com o que aquele
homem mal-humorado pensa de mim? -- Disse Howlett sarcástico. -- Não quero ficar doente amanhã de manhã e ter que viajar de volta para Londres implorando ao cocheiro para parar mil vezes ao longo do caminho.
—Devemos insistir para que ele espere mais alguns dias —disse Eli, referindo-se à decisão do visconde de sair de madrugada. —Amanhã não conseguiremos acordar cedo. As cerimônias geralmente duram muito...
—Isso seria em uma festa que é nomeada como tal, mas... não vê o que eu vejo? —Howlett insistiu enquanto tentava fazer com que Josh andasse sem tropeçar nas saias do vestido e manter as costas retas.
—Bem, não me importo de acordar cedo para voltar... —Josh murmurou melancólica. —Juro que tenho sido muito feliz andando com Galeón nessas terras, mas anseio por Madeleine. Nunca imaginei que o vínculo entre nós fosse tão forte.
—Não se preocupe, tenho certeza que o Sr. Kilby e o resto do serviço terão tudo pronto para sair de madrugada. Nunca conheci um mordomo tão eficiente —disse a Sra. Donner, abanando-se novamente.
—Meu tio é um homem muito especial —disse Howlett em voz baixa, e sorriu para o constrangimento que esse comentário causou na cozinheira.
—Podemos acelerar um pouco? —Elizabeth perguntou a eles.
Olhou para o fundo da sala e sorriu timidamente quando descobriu que os
olhos de um belo cavalheiro a observavam em silêncio. Quem seria? Por que a contemplava daquele jeito descarado? Intrigada para descobrir, agarrou o braço da Sra. Donner com mais força e arrastou-a.
—Sinto muito, mas não vou provar uma única mordida —disse a mulher com desgosto.
—Portanto, o mais sensato é sair daqui. Se olhar para a direita, encontrará cadeiras que foram colocadas para que as mulheres solteiras e as idosas possam se sentar durante a noite —informou ela.
?Isso é o que eles chamam de cadeiras? —Retrucou a cozinheira, arregalando os olhos. —Os cavalos do nosso celeiro se deitam em fardos de feno mais confortáveis do que isso.
—Talvez essa seja a razão pela qual ninguém se sentou até agora... -- apontou Elizabeth mordaz enquanto continuava olhando para o homem estranho.
—Mas devemos fazê-lo —disse Josh. ?Como nenhuma de nós quer dançar, é melhor sairmos daqui para que não comecem a murmurar sobre nossa estranha atitude, não é, Eli?
—Sim, Josh.
—Mas não quero deixá-la sozinha... —exclamou a cozinheira com algum nervosismo. -- O Senhor tem...
—Não estarei sozinha, Sra. Donner. Howlett me acompanhará em
todos os momentos.
—Tudo bem —hesitou a falsa tia, enquanto Josh agarrava o seu braço para se dirigir até as cadeiras.
—Sei o que pretende —Howlett sussurrou em seu ouvido —e não me parece certo.
—Só quero saber quem é e porque me olha tanto... talvez fôssemos conhecidos no passado...
?E não se lembraria? —Howlett retrucou arqueando uma das sobrancelhas loiras. —Ficaria muito surpreso se um homem assim desaparecesse de sua mente.
—Às vezes acho que lhe permiti muitas liberdades para minha pessoa... -- declarou Eli tomando uma das bebidas que estavam na mesa.
—Também permitirá a esse cavalheiro certas liberdades? -- Ele perguntou depois de se virar para observar Marco conversando com o grupo de homens que cercavam o visconde e sua noiva.
—Que me roube alguns beijos seria muito interessante —disse Elizabeth, olhando novamente para o estranho, que levantou o copo para oferecer-lhe um brinde silencioso.
Josh estava muito inquieta. Embora tivesse se sentado com a Sra.
Donner e falado sobre o que fariam quando voltassem a Londres, nada poderia acalmá-la. Queria que terminasse a noite e a madrugada chegasse
rapidamente. Suspirou profundamente, cruzou as mãos sobre a saia e fixou os olhos na maior janela, a que levaria ao jardim. Não poderia se levantar e caminhar furtivamente para aquela área do salão sem ninguém a observasse?
Porque queria fugir, escapar de todos e sentir a liberdade que a natureza lhe proporcionava. Sem dúvida alguma, seu sangue cigano insistia para que não respeitasse os protocolos sociais e reivindicasse a essência de sua origem.
Olhou para a Sra. Donner com o canto do olho e seu rosto expressava a mesma angústia que ela.
—Gostaria de sair na varanda? —Ela perguntou esperançosa.
-- Será correto? Não sei se deveríamos sair do salão sem a permissão do visconde -- disse ela em dúvida.
—Não ficaremos longe por muito tempo, garanto-lhe, apenas o suficiente para respirar um ar que não exale odor de umidade -- acrescentou, levantando-se.
—Se diz —a cozinheira terminou aceitando.
Mas, assim que as duas estavam indo para aquela janela que as libertaria da pressão que estavam suportando, duas mulheres ficaram no caminho. A mais alta, vestida de luto rigoroso, sorria; a outra, que usava um vestido marrom agressivo, mostrava um semblante áspero como o que Josh havia observado no retrato. Teriam algum parentesco?
—Boa noite, somos a Sra. Clarke e a Sra. Madden. Desculpem
nos por não nos apresentarem, mas nossos maridos —disse, olhando para o grupo de homens conversando com o visconde e Anne —estão tão ocupados que não tiveram a decência de nos apresentar formalmente.
—Isso acontece em eventos tão importantes quanto este --
observou a cozinheira, rezando para que seu comentário fosse preciso. —Sou Gerthudies Yenkis, a irmã do Dr. Moore e ela é minha sobrinha, Josephine Moore.
Deveria estender a mão para cumprimentá-las? Teria feito bem em adicionar o nome da menina? Sem saber muito bem o que fazer ou se havia falado incorretamente, esperou que elas dessem o primeiro passo e quando percebeu que suas mãos ainda estavam no mesmo lugar, agarrou o leque com força.
—Ouvi dizer que seu irmão está se esforçando para se tornar um bom médico —apontou afiada a mulher de vestido marrom, que deduziram ser a Sra. Madden.
—Não têm bons médicos aqui? ?A suposta tia disse, ao ouvir a respiração de Josephine se acelerar.
—Claro! —Exclamou a Sra. Clarke rapidamente. —O Dr.
Phoeby é um bom profissional.
—Então, ele mesmo será capaz de lhe explicar se a fama que meu irmão ostenta em Londres é merecida ou não -- ressaltou destemida.
—Não queríamos ofendê-la, Sra. Yenkis. Só queríamos confirmar que, se um dia viajássemos para Londres e, infelizmente, ficássemos doentes, estaríamos a salvo com os cuidados de seu irmão -- interveio a Sra. Madden.
-- Garanto-lhe que não terá nenhuma reclamação. Ele pode curá
las de qualquer doença -- ela apontou severamente.
—Tia, me prometeu que...
Justo quando Josh ia lembrá-la que momentos antes tinham a intenção de deixar o salão, ficou sem palavras quando viu como uma figura masculina, andando com a ajuda de uma bengala, estava indo em direção a elas. Aquele cabelo de cobre, a mecha loira na testa, os olhos de safira e a boca gloriosa não haviam desaparecido de sua mente... seu corpo se endireitou como se fosse um soldado posando diante de um superior. Seu coração começou a bater com tanta força que ela sentiu o latejar em sua garganta e seu pulso acelerou tanto que ela não conseguiu ficar quieta.
Segurou o braço da Sra. Donner com mais força e começou a fazer algo que não fazia desde que era criança: rezar para sua mãe criadora.
?Boa noite, senhoras. ? Eric Cooper cumprimentou-as com tal cavalheirismo que a Sra. Clarke e a Sra. Madden coraram como se fossem duas moças inocentes. Beijou-as nas mãos e depois esperou em silêncio que uma delas apresentasse as convidadas.
?Boa noite, novamente, lorde Cooper ? respondeu, por fim, a
esposa do juiz. -- Apresento-lhe a Sra. Yenkis e sua sobrinha, Senhorita Moore.
?Encantado... ? Ao perceber que a Sra. Yenkis tremia tanto que não conseguia estender a mão para que ele pudesse beijá-la, como fizera com as outras, juntou os saltos dos sapatos e cumprimentou-a com um aceno solene. ? É uma verdadeira honra conhecê-la pessoalmente, Sra. Yenkis.
Garanto-lhe que ainda estou consternado depois de ouvir o episódio tão dramático que sofreu dias antes de viajar para cá ? disse reverentemente. ?
Nunca imaginei que uma mulher tivesse tanta coragem.
?O que aconteceu? ? A esposa do padre perguntou com uma mistura de curiosidade e surpresa.
?Muito obrigado pelo seu louvor, milorde. Mas entenderá que não quero reviver essa situação novamente. Como meu querido irmão diz, é melhor esquecer todos os problemas para que nosso cérebro não adoeça ?
ela disse com aparente calma, embora o tom de sua voz denotasse o contrário.
? Além disso, não é apropriado falar sobre aquele momento horrível na frente da minha inocente sobrinha. Josephine, querida, apresento Lorde Cooper, filho do...
?Barão de Sheiton ? Eric terminou a frase, sabendo que ela não o conhecia, mas estava atenta na forma como a esposa do juiz se dirigiu a ele.
? Senhorita Moore... ? Ele se referiu a Josh, esperando pela saudação que
desejava desde que a viu entrar.
?Milorde ? disse ela, colocando as mãos em ambos os lados do vestido. Se curvou como uma dama educada, e quando seus olhares se encontraram novamente, ambos despendiam fogo pelos olhos. Os de Josh emanavam raiva, no entanto, os de Eric exalavam desejo.
?Poderia nos contar sua história, Sra. Yenkis? ? A Sra. Clarke insistiu.
?Não deveria ? a cozinheira hesitou. ? Realmente não seria bom para minha sobrinha. Meu irmão cuida muito de tudo o que suas filhas escutam e não ficará feliz em descobrir que eu quebrei uma de suas rígidas regras educacionais ? argumentou a Sra. Donner, adotando, finalmente, o papel que fingia ser.
?Posso ajudá-la com isso, se quiser ? Eric anuiu, olhando para a cozinheira severamente. ? Estou mais do que disposto a convidar sua sobrinha para um refresco enquanto explica a essas senhoras encantadoras como se livrou do homem que tentou agredi-la quando voltava de uma reunião culinária oferecida pela associação de mulheres.
Sabia! Ele sabia! Josh olhou para o rosto amedrontado da Sra.
Donner e apertou os lábios para não gritar. Aquele homem sem coração sabia quem ela era. Como? Onde a conheceu? Por que diabos estava lá? Queria humilhá-la por tê-lo esbofeteado e machucado?
?Mas... não seria apropriado que... ? a cozinheira gaguejou, esperando por um milagre para salvá-la dessa situação muito difícil.
?Não tenha medo pela integridade da sua sobrinha ? declarou Madden. ? Lorde Cooper, apesar de sua juventude, é um verdadeiro cavalheiro. Sua benevolência, honestidade e educação moral tão firme e severa, que teve de seu amado pai, fortalece um cavalheirismo que muito poucos homens podem alcançar. É uma pena que ninguém nos informou da sua assistência, milorde, com certeza Ginger, minha filha, poderia tê-lo entretido. O coitado andou pelo salão até que Hester e eu finalmente nos aproximamos ? disse à cozinheira e a Josephine como se fosse um horror que tivesse passado mais de vinte minutos sozinho.
?Obrigado, mas garanto que os rumores sobre mim se tornaram idealizados ? Eric respondeu humildemente, fazendo as duas senhoras suspirarem.
Outra mãe com uma filha casadoira? Falando, além disso, de uma possível relação na frente de Josh? Isso não lhe agradou. Embora não parecesse lamentável que elas evocassem seu bom comportamento e seu cavalheirismo. Assim, a pequena guerreira, a quem não reconheceu vestida como uma mulher, admitiria que seus beijos não tinham sido previsíveis e estudados como um libertino faria.
?Por nada! —Exclamou a Sra. Clarke. ? Milorde, a história do
caçador também é uma invenção? Porque posso ver como ainda precisa da bengala para poder andar.
?Caçador furtivo? ? Josh finalmente explodiu, forçando-se a franzir os lábios e não pegar os punhais para fazer belos desenhos no impecável terno meio cinza.
?Foi apenas uma pequena disputa ? disse Cooper, visivelmente desconfortável.
?Mas como é humilde! ?Insistiu a esposa do juiz. ?Devo esclarecer que, há alguns dias, lorde Cooper estava andando em seu terreno quando descobriu um caçador. Então, mesmo que sua vida estivesse em perigo, lutou contra ele. Por essa razão, tem que carregar a bengala. Aquele homem perverso jogou uma adaga nele antes de fugir ? explicou a esposa do padre da paróquia.
?Que tragédia! ? Josh exclamou, com os olhos bem abertos.
?Ele deve ter sofrido um medo muito semelhante ao sofrido pela minha tia
? acrescentou com aborrecimento.
?Posso assegurar que não senti medo em momento algum ?
disse Eric asperamente. -- Sabia que venceria a batalha.
?Batalha? Pensei que tinha dito uma mísera disputa entre um caçador e o senhor ? disse ela intencionalmente.
?Estava desarmado ? Eric murmurou. ? Meu oponente
poderia ter me matado com aquele punhal.
?Que horror e que coragem! Certamente não cavalgará mais sozinho por suas terras. Tenho medo que tenha que ser sempre vigiado por um servo se quiser evitar ser atacado novamente por aquele caçador ? ela continuou naquele tom pungente.
?Bem, a verdade é que, senhorita Moore, ainda cavalgo sozinho por minhas terras ? salientou. —Na verdade ? disse ele, dando um passo em direção a ela, apesar da surpresa que as três mulheres exibiram com tanta audácia ? visitei o local onde tive o embate nos dias seguintes no mesmo horário.
?Quer encontrá-lo novamente, milorde? Não está com medo de que na próxima vez que o encontrar queira terminar o que começou? ? Ela retrucou, erguendo o queixo com orgulho.
?Mesmo que aquele caçador queira me assustar, não conseguirá.
Continuarei indo para aquela área enquanto nós dois estivermos em Brighton.
Garanto-lhe, senhorita Moore, que ninguém pode arrebatar o que é meu ?
declarou solenemente.
?Ainda estamos falando de terra ou honra? ? Josh reagiu sem diminuir sua força, apesar de entender o significado de suas palavras.
?Deveriam a honra e a posse ser separadas? Pode lutar com honra e coragem pelo que decide que lhe pertence. Podemos usar uma
espada, um punhal, um canhão... ou a capacidade de falar para mostrar que nossos pensamentos ou desejos são inquebráveis ? ele declarou como se fosse um soldado mais graduado que Josh.
?Como ocorreu com o caçador ? disse a Sra. Clarke.
?De fato ? disse Eric, recuando daquele passo indevido. ?
Mas como disse antes, deixei minhas intenções bem claras. Só espero que aquele caçador ouça que não vou parar de lutar até que ele assuma o destino que selamos naquele dia.
Josh engoliu em seco e prendeu a respiração. Estava entendendo bem o duplo significado? Ele estava declarando uma guerra em que ele seria o vencedor? Queria dobrá-la? Ela não era uma donzela tímida! Se não fosse comprometer sua irmã e o visconde, pegaria os punhais e enfiaria as pontas na garganta dele antes que as fofoqueiras, que exaltavam seu comportamento respeitoso e queriam emparelhá-lo com alguma jovem casadoira, piscassem uma vez. Pretendia perguntar a ele o que selaram naquele dia, quando Marco caminhou na direção deles. O suspiro de alívio que a Sra. Donner ofereceu surpreendeu as fiéis esposas, no entanto, lorde Cooper não piscou. Seus olhos de safira ainda estavam fixos nela, como se quisesse ler seus pensamentos.
?Senhoras... milorde ? o administrador as cumprimentou corretamente. -- Lamento pela interrupção, mas devo informar à senhora Yenkis e à senhorita Moore que a carruagem está esperando por elas na
entrada.
?Estão saindo tão cedo? ? A Sra. Clarke exclamou, fingindo aflição, embora estivesse ansiosa para terminar a conversa e se dirigir ao marido para lhe contar sobre a estranha performance de lorde Cooper com a jovem de cabelos claros.
?Vamos voltar a Londres amanhã, e não seria conveniente levantarmos tarde ? disse a Sra. Donner, visivelmente aliviada.
?Josephine, devem sair agora. Elizabeth está na carruagem com Howlett. Sua irmã sofre de uma dor de cabeça terrível e quer voltar o mais rápido possível ? sussurrou Marco em seu ouvido.
?Sim, claro ? assegurou, olhando para o administrador. Olhou para Lorde Cooper, sorriu e disse: ? Foi um prazer conhecê-lo, milorde.
Recomendo fortemente que desista de tentar confrontar o caçador novamente.
Com certeza, na próxima vez que se encontrarem, ele estará mais armado e poderá atirar dois punhais em vez de um. ? Se curvou para ele, olhou para as duas mulheres, sorriu largamente para elas e acrescentou: ? Boa noite, senhoras. Agradeço a companhia. Desfrutei muitíssimo da conversa.
?Sim, isso mesmo ? disse a Sra. Donner. —A comida estava deliciosa, o lugar é maravilhoso e certamente todos falarão sobre a festa magnífica que o conde ofereceu.
Eric permaneceu em silêncio, com os olhos fixos em Josh e
percebeu que havia parado de respirar quando os primeiros sinais de sufocamento apareceram. Mas ele prendeu a respiração enquanto observava o administrador do visconde sussurrando no ouvido de Josh. Naquele momento, e apesar da reputação de moço racional que se desdobrou, desejou erguer a bengala e acertá-lo na cabeça, mas parou. Ele havia realizado muito mais do que pretendia quando soube que as irmãs Moore compareceriam ao pequeno encontro do conde Burkes. Embora não o tivessem convidado, ele apareceu sem ser anunciado. Logicamente lhe abriram as portas sem qualquer objeção quando disse quem era. Algum anfitrião se atreveria a negar passagem ao filho do Barão de Sheiton? Claro que não! Então, quando entrou e não a viu, perdeu a esperança de encontrá-la, lembrando que Josh seria tão jovem que ainda não teria se apresentado a sociedade. Apenas quando tinha deixado o cálice amargo e decidiu voltar para casa, seu coração disparou ao ouvir o título do irmão do Marquês. Permaneceu distante. Não podia levantar suspeitas sobre suas verdadeiras intenções. Mas quando soube que a noiva do visconde apresentava o criado como seu primo, ele ficou paralisado e a inquietação aumentou ao descobrir que algo estava acontecendo. Alguém realmente duvidara dessa versão? Nenhum dos presentes conhecia o servo do visconde? Porque em Londres eles falavam incessantemente de suas roupas extravagantes e seu comportamento não masculino. Concluindo que o visconde mentiu para o anfitrião e aos convidados por uma razão importante,
decidiu vigiá-la e permaneceu oculto até que as duas harpias se aproximaram dela.
?Milorde? ? Eric piscou várias vezes, sorriu e olhou para a mulher que lhe fizera a pergunta. ? Está cansado? Quer se sentar?
?Sim, me sinto muito exausto. Acho que estive de pé por muito tempo e minha perna está doendo novamente. ? Esperou que as mulheres se despedissem corretamente e saiu da sala sem sequer perguntar pelo anfitrião.
Apoiando-se na bengala, caminhou até chegar ao grande salão.
Josh, o administrador e a suposta tia ainda estavam do lado de fora da porta da frente, esperando que os criados devolvessem seus casacos. Sem hesitar um segundo, foi na direção deles. Quando o criado do visconde o observou, se endireitou como se o próprio rei estivesse chegando.
?Lorde Cooper, o que deseja? ? Marco perguntou inquieto.
?Quero falar com a senhorita Moore por um minuto ? disse com firmeza.
?Milorde, minha sobrinha e eu...
A Sra. Donner fechou a boca quando ele levantou um dedo para ela. Como poderia um jovem de menos de duas décadas ser tão solene?
?Nós lhe concedemos um minuto, milorde. Nossa carruagem nos espera e não devemos nos atrasar ? Marco concordou, pegando a cozinheira pelo braço para deixá-los sozinhos.
Eric permaneceu em silêncio até que os dois criados, sem parar de sussurrar, os deixaram sozinhos. Então olhou para Josh e sorriu ao vê-la tão inquieta e brava.
?O que pretende? Pensa que pode fazer tudo o que quiser? ?
Ela o repreendeu.
Por que Marco não o dispensou? Por que não foi capaz de rejeitar o desejo desse impertinente? Tal respeito mostrava e exigia um menino que, possivelmente, não tinha alcançado vinte anos?
?Não sei que espetáculo queriam oferecer ao conde, mas não me enganaram ? disse ele, olhando para a porta, certificando-se de que estavam sozinhos e que ninguém os escutaria.
«E inteligente» Josh pensou enquanto levantava o queixo e ouvia com essa determinação.
?Não é da sua conta ? respondeu.
?Estão em perigo? O conde quer prejudicá-los? ? Perguntou estreitando os olhos até que fossem duas linhas finas. ? Se sim, pode confiar em mim.
? Como é que aquelas pobres pessoas confiaram quando o ouviram falar sobre o caçador? ? Censurou.
?Fiz isso para protegê-la ? disse indignado. ? Se dissesse a verdade...
?Todo mundo teria rido de você, certo? Quem não faria isso quando soubesse que o honrado, honesto e intrépido Lorde Cooper fora, de fato, ferido pela adaga de uma mulher? ? Repreendeu satisfeita.
?Quer que corrija minha história? Realmente acha que fiz isso para evitar o possível ridículo em relação à minha pessoa? ? Ele caminhou em direção a ela, até que seu torso podia tocá-la quando ele respirava.
Inspirou aquele cheiro de flores silvestres que exalava e observou o brilho daquele cabelo albino.
?Que outro motivo existe, milorde? ? Ela protestou orgulhosamente.
?O que a protege. Se tivesse dito o que realmente aconteceu, sua reputação só teria sido salva por um casamento e.... estaria disposta a casar comigo sem me permitir a diversão que conseguirei a cortejando? -- Colocou os dedos de sua mão direita na bochecha de Josh e acariciou-a lentamente, capturando a suavidade da pele bonita.
?Não... ? Josh gaguejou, chocada com a sensação maravilhosa que sentiu naquele toque. Ela precisava se separar do homem que a transformou em geleia, em uma mulher diferente, mas era muito difícil se distanciar. Colocou as mãos nos punhais quando se virou para encarar o odioso arrogante, mas enquanto sentia a suave carícia, tudo o que queria era colocá-las em volta do seu pescoço, atraí-lo para ela e beijá-lo. ? Fez a coisa
certa, milorde! ? Comentou quando notou um calor estranho em um lugar proibido para ela. ? Muito obrigada. ? Rapidamente se virou para a saída, cobriu os ombros com o casaco e abriu a porta.
? Isso não acaba aqui, Josephine Moore. Nós veremos em breve
? disse antes dela começar a correr.
XXXV
Anne ainda estava falando sobre os planos que seu noivo e ela tinham programado para depois do casamento quando notou que Marco estava se juntando ao grupo novamente. Suas irmãs já estavam a salvo, só faltava que o conde, que se ausentara sem oferecer nenhuma desculpa, retornasse de onde estava e resolvesse, de uma vez por todas, o maldito assunto com Logan. Quando poderiam deixar aquele lugar horrendo?
?É uma decisão muito sábia ? assegurou o pároco. ? Aqui terão a educação adequada para se tornarem homens e mulheres respeitáveis.
Somente boa-fé pode canalizá-los no caminho certo.
?De fato ? disse o juiz. ? Seus filhos viverão tranquilamente em Brighton, fora do alcance da imoralidade de Londres que apodrece as ruas da cidade ? acrescentou ele com repulsa.
?Fico feliz que nossas opiniões sejam tão similares ? Anne concordou depois de tomar um gole da bebida azeda que tinha em seu copo.
?Não gostaria de desagradar meu pai. Ele sempre nos educou com muito cuidado e atenção.
?Milorde? ? O mordomo foi diretamente para Logan, mas essa intervenção fez com que todos se calassem e olhassem para ele com expectativa. ? Lorde Burkes deseja reunir-se com o senhor em seu escritório
? esclareceu ele.
?Agora? ? Anne perguntou com aparente aflição, como se ela não tivesse entendido que o conde exigia apenas a presença de seu noivo. ?
Não quero deixar uma conversa tão eloquente tão cedo. É a primeira vez que falo com pessoas tão racionais...
?Calma, querida, concederei seu desejo. Senhores, protegerão minha noiva enquanto descobrirei o que nosso conde deseja? ? Perguntou Logan àqueles que sentenciaram sua morte, enquanto acalmava o desconforto fingido de Anne com um toque suave em seu braço. ? Vivo só para agradá
la e mimá-la...
?Não se preocupe, milorde, a senhorita Moore estará a salvo conosco ? assegurou o juiz solenemente. ? Além disso, ainda não falamos sobre o célebre Dr. Moore. Precisamos saber como ele conseguiu se tornar um médico tão famoso.
?Garanto ao senhor! ?Anne exclamou, separando-se de Logan, para que partisse imediatamente. ? Antes de sairmos de Londres, a assembleia dos médicos pediu a ele uma investigação exaustiva sobre o Julgamento da Febre, publicado por John Huxham em 1775. E tenho certeza que conseguirá terminá-la em breve. Meu pai é um homem muito consciencioso e fizeram muito bem confiando a ele este importante estudo.
Ao ouvir como Anne se referia ao livro que ele dera a Mary,
quase riu alto, mas não era o momento de expressar aos outros o quanto estava orgulhoso dela. Era melhor que continuasse a persuadi-los com sua lábia casta e sutil, para que os dois miseráveis acabassem beijando seus belos pés.
Quando os presentes se concentraram na conversa que Anne começou, se afastou lentamente dela e pediu a Marco que não saísse do seu lado. Depois de confirmar que não havia por ali nenhum candelabro, virou-se e caminhou, vigiado pelo mordomo, até a porta do escritório de Burkes.
Tentou entrar sem bater, mas o criado parou na sua frente e sugeriu que ele esperasse para ser anunciado. Estava prestes a afastá-lo, mas reteve essa raiva rapidamente. Não deveria provocar outro escândalo, já que desta vez não era apenas ele que seria prejudicado. Depois de aceitar o sutil pedido do criado com um leve aceno, recuou vários passos, colocou as mãos nas costas e esperou. Por um momento, só por um momento, pensou ter ouvido uma voz masculina que não combinava com a do conde ou do mordomo, mas afastou essa ideia da cabeça rapidamente, já que os amigos fiéis do velho Burkes estavam no salão com Anne, e George, que pensou que encontraria na festa, teve que ir precipitadamente para a residência de uma tia por afinidade.
Logan sabia que era mentira. Seu amigo devia estar trancado em algum cômodo da residência. Talvez o maldito Burkes tenha voltado aos seus antigos castigos de purgatório: o de acorrentá-lo no porão até quase morrer de
fome e sede. O pensamento de que seu amigo poderia precisar de sua ajuda e que ele não podia fazer nada para salvá-lo, gerou tanta raiva que queria quebrar o pouco que o conde tinha naquela casa horrível. Ainda não entendia por que George não se libertava daquela vida cruel da qual padecia. Se importava tanto com o título que estava disposto a morrer?
?Milorde já pode atendê-lo ? disse o mordomo, uma vez que abriu a porta.
Logan respirou fundo, caminhou em direção à entrada...
?Vamos, Devon! Entre de uma maldita vez! Não posso passar a noite toda aqui, tenho convidados para atender! ? Esbravejou a conde.
Depois de lhe dar um olhar feroz, Burkes se sentou, pegou um copo e encheu até a borda. Enquanto isso, Logan entrou no escritório sem deixar de olhar ao redor. Não entendeu muito bem por que demorara tanto a recebê-lo e por que agora tinha urgência de despachá-lo. Teria bebido mais do que devia?
Apenas quando estava na sua frente, esperando que indicasse para que se sentasse, ouviu um leve ruído atrás dele. Como se sentisse que iam esfaqueá-lo, se virou rapidamente, mas não encontrou ninguém. Apenas a cortina da janela que levava ao jardim se movia suavemente. Confuso, quando seu sangue cigano o avisou sobre a presença de outra pessoa, se virou para o conde e notou que seu velho rosto mostrava mais raiva e mais
frustração do que segundos antes.
?Deve estar muito satisfeito, certo? ? O velho Burkes o repreendeu. Apareceu em minha casa mostrando uma honorabilidade que não possui e aprovado por uma mulher com a qual nunca sonhou.
?A senhorita Moore... ? ele tentou dizer
?Não procure desculpas, nem evoque a boa-fé daquela mulher incrível! Eu sei quem realmente é!
?Não respondi ao seu convite para que me insulte. Peço respeito.
Vim aqui por minha própria vontade, para deixar claro que não vou vender Harving House ? disse ele, soltando o cigano e afastando o visconde.
?Maldito seja! ? Exclamou, pulando para fora da cadeira. --
Como pode vir a minha casa pedindo respeito? É um bastardo! O filho de um demônio!
?Se está tão certo de suas palavras, me denuncie de uma vez ?
disse ele, colocando as palmas das mãos grandes sobre a mesa.
?O farei! Porque apenas um homem que esconde um passado obscuro aceita uma chantagem! ? Ele contra-atacou.
?Não aceitei o seu suborno para que parasse de investigar o meu passado, Burkes. Fiz isso porque me senti culpado por ter induzido seu sobrinho ao caminho inadequado. Nós dois éramos muito jovens quando esse infeliz incidente ocorreu e imagino que nós dois pagamos nosso castigo mais
do que o suficiente ? disse ele solenemente.
?Castigo? Vai apodrecer no inferno, Devon! Como seu pai fez!
? Ele berrou.
—Tenho certeza que será o próximo lugar em que nos encontraremos. E se não tem mais nada a me dizer, me retiro. Preciso tirar minha noiva desse lugar repulsivo. Não quero que sua decência seja corrompida por nenhum de seus convidados insolentes ? declarou se virando.
?Cuidado com suas costas, Devon. Ainda tenho muitos anos para viver e pretendo usar todos os dias, todas as horas e todos os minutos para encontrar uma maneira de destruí-lo ? ameaçou fora de si.
?Boa sorte, Burkes ? disse antes de sair.
Depois de fechar a porta, Logan suspirou profundamente. Não tinha dúvida de que o conde não desistiria e manteria sua palavra. Mas não queria pensar nisso. A única coisa em que devia se concentrar era concluir a noite e levar Anne o mais rápido possível dali. Felizmente, ao amanhecer eles partiriam para Londres, em direção à liberdade, em direção à vida que ele queria ter ao seu lado e, se o velho Burke persistisse em investigar suas origens, agiria corretamente. Possivelmente era hora de contar a verdade a Roger e corajosamente enfrentar a fúria titânica de seu irmão. Talvez, quando contasse a agonia que sofreu durante todos esses anos, admitisse que ele
sofrera o suficiente e não lhe daria uma surra enorme. Embora não tivesse certeza de que fosse tão benevolente com ele depois de tudo...
?Querida, devemos ir ? comentou Logan, uma vez que se juntou àquele grupo de idosos reprimidos.
?Tão cedo? ? O padre perguntou. ? Ela ainda não terminou de explicar por que acredita que os partos são tão perigosos se a higiene adequada não for mantida.
Logan olhou para Anne, desnorteado. Esses temas não eram próprios de Mary? Ela também estava interessada em medicina e esse interesse era mantido em segredo? Talvez Anne não só tivesse a habilidade de pintar, mas escondesse uma infinidade de qualidades que, é claro, descobririam quando se casassem.
?Concluirei aconselhando-os que olhem bem nas mãos do médico que atende suas esposas. Ele deve cobri-las com luvas ou lavá-las com bastante sabão ? disse Anne antes de aceitar a mão de Logan.
?Boa noite, senhores. Foi um prazer vê-los novamente e agradeço-lhes por terem cuidado de minha futura esposa. Certamente ela não esquecerá uma noite como a de hoje ? disse o visconde com o respeito e solenidade que de seu título futuro.
?Estamos ansiosos por sua próxima visita, senhorita Moore. Foi um prazer conversar com uma mulher que entende homens como nós ?
admitiu o padre pouco antes de beijar sua mão.
Apesar da polida despedida de Logan, o juiz e o pároco deram-lhe um breve aceno de cabeça e despediram-se dela. Anne sorriu para eles, como se não tivesse notado o desprezo, pensando que tinha sido uma péssima ideia mandar Josh de volta para Harving. Se sua irmã tivesse contemplado aquele desprezo em direção a Logan, ela teria procurado algo com o que cortar suas línguas de víbora.
Uma vez finalizados os intermináveis elogios a ela, ambos, acompanhados por Marco, abandonaram com urgência a residência do conde.
?Tudo bem? ? O administrador perguntou, referindo-se à reunião com o conde.
?Por enquanto ? Logan respondeu, ajudando Anne. ? Mas não parará com seus esforços. Mantenha-me informado de tudo o que achar que é suspeito. Não quero que ofusque qualquer detalhe, mesmo se qualificar como insignificante. Apresente-se regularmente em Harving, contrate vários criados para que observem movimento no interior e tirem os cavalos dos estábulos todos os dias. Quero que todos saibam que a residência não foi abandonada e que pensem que voltaremos em breve.
?O farei ? Marcus disse antes de apertar sua mão. ? Posso pedir um favor? ? Ele acrescentou duvidosamente.
?Claro, sabe que pode me perguntar o que quiser. ? No entanto,
o rosto afável de Logan mudou quando ele se aproximou para sussurrar algo em seu ouvido.
?Diga a Howlett que esperarei ansiosamente por notícias e que não descansarei em paz até que tenha sua carta em minha escrivaninha em meu escritório ? declarou ele.
?Direi a ele ? confirmou antes de entrar na carruagem.
Ele se acomodou no banco e esperou que o cocheiro fechasse a porta. Marco permaneceu imóvel e seu rosto, sempre sorridente, mostrou muita preocupação. Logan o observou até que a carruagem partiu, ainda se perguntando o que o incomodava tanto e porque parecia que estava escondendo algo importante. Talvez fosse o tom de voz que Marco costumava usar com ele ou o gesto que fez para que Anne não o escutasse.
Seja o que for, algo lhe dizia que algum detalhe importante lhe escapara, mas... o que seria? As irmãs foram vigiadas o tempo todo e ele protegeu Anne durante a noite. Então, por que suspeitava que as notícias que esperava de Howlett não tinham nada a ver com o romance que haviam começado?
?Gostou do meu desempenho? ? Anne perguntou depois de girar sua pulseira várias vezes sobre o pulso.
?Foi esplêndida! ? Ele respondeu, concentrando-se finalmente nela. ?Causou uma grande impressão no conde e naqueles ineptos. Até eu mesmo acabei acreditando que é uma mulher virtuosa.
?O conde... também? ? Perguntou duvidosa.
?Sim, querida, o conde também ? disse estendendo as mãos para pegar a dela.
?Deixará de chantageá-lo? ? Perguntou.
?Por agora, acho que sim. Mas ele jurou que usará os anos que restam de sua vida para me destruir.
?Bem, se quer que seu fim chegue logo, a melhor opção será rompermos nosso compromisso e que eu o seduza até que me proponha suplantá-lo como um pretendente. Desta forma, a maldição cuidará dele...
?Quer romper o nosso compromisso para me trocar por esse velhote? ? Disse, puxando-a para perto. ? Não querida, não faremos essa tolice. Demorei muito tempo para encontrá-la e fazer com que me amasse, para que todo esse esforço não leve ao que eu quero.
?E o que quer? ? Ela perguntou, ajustando seus quadris sobre os de seu futuro marido.
? Converte-la, de uma vez por todas, em minha esposa ? disse antes de colocar as mãos nos dois lados do rosto dela e puxá-la para sua boca lhe dando um beijo apaixonado e feroz.
XXXVI
Seis dias depois ...
Roger ainda mantinha um comportamento impenetrável. Não havia dúvida na mente de Logan de que ainda estava zangado por não ter lhe contado sobre sua amizade com George, o que acontecera naquela noite e a chantagem do conde. Ele supôs que na mesma tarde lhe daria uma surra que não esqueceria em anos, mas seu irmão agiu de forma estranha: saiu do escritório, o deixando sozinho com Evelyn, e não voltou para casa até a hora do jantar. Era muito triste e desconfortável ficar ao seu lado durante a noite sem falar com ele. Comeu e bebeu em silêncio, como se nem ele nem sua esposa existissem. Depois que o jantar acabou, ele se levantou, beijou Evelyn e sussurrou em voz alta que era hora de a visita sair.
?Deve dar tempo a ele ? comentou a cunhada quando o acompanhou até a saída.
?Diga a ele que fiz para protegê-los, que a minha intenção não era magoar e que...
?Fique tranquilo ? Evelyn acalmou-o com um beijo suave na bochecha ? Roger entenderá sua decisão.
?Por favor, lembre-o também que eu gostaria que me
acompanhassem até a casa dos Moore depois de amanhã. Gostaria que ambos...
?Nós vamos, eu prometo ? Evelyn argumentou antes de voltar para casa.
Não esperava que, apesar das palavras de sua cunhada, Roger aceitasse seu pedido. Por essa razão, quando o viu descendo as escadas de Lonely Field, acompanhado de sua esposa, surgiu um pequeno halo de esperança. Mas toda essa ilusão desapareceu quando não o cumprimentou.
Ajudou Evelyn a subir na carruagem, entrou e fechou a porta com força.
Logan, incapaz de respirar por causa da tristeza que o envolveu, andou para a carruagem e entrou pela outra porta.
E assim eles foram juntos em direção à casa dos Moore e separados pelo corpo de Evelyn. Quanto tempo eles continuariam assim?
Deveria desistir? Como poderia imaginar um futuro sem a presença de seu irmão?
?Roger, por favor, me escute. Nós não podemos continuar assim. Juro que agi dessa maneira porque pensei que estava fazendo a coisa certa ? Logan começou enquanto observava com pesar que seu irmão continuava olhando pela janela, ignorando-o.
?Diga a esse imbecil para não me tratar com tanta familiaridade, ele não merece isso ? disse ele com um grunhido.
?Logan, seu irmão diz...
?É incapaz de se dirigir diretamente a mim? Está tão desapontado? Ou é repulsa?
?Repulsa? ? Esbravejou Roger virando-se para Logan com tanta brusquidão que Evelyn deu um pequeno salto no banco. ? Não, não é repulsa, mas decepção ? ele gritou. -- Sinto-me desapontado porque não teve a coragem de me confessar o que lhe aconteceu naquela noite e me deixa desconfortável descobrir que aceitou uma chantagem que durou, quanto?
Dois anos?
?Juro que fiz isso para salvá-lo ? Logan respondeu, levantando a voz, perdendo a paciência que tinha. ? Como poderia colocar em risco o esforço que tem feito por nós em todo esse tempo?
?Va te faire foutre! [9] ? O marquês resmungou.
?Por favor... deveria nos tranquilizar um pouco ? disse Evelyn, ouvindo a expressão do marido em francês. ? Lembre-se de que estamos indo para a casa dos Moore e não seria apropriado que estivesse tão zangado.
Eles pensarão que não estamos satisfeitos com a proposta de casamento.
?E não estou satisfeito! ? Roger assegurou. ? Essa mulher precisa de um bom homem e isso ? ele apontou o dedo para o irmão ? não é!
?Roger, querido, tenho certeza de que Logan achou que estava
fazendo a coisa certa. Sabe que ele te ama tanto que faria qualquer coisa para salvaguardar...
?A coisa certa? Evelyn, está realmente defendendo esse idiota?
? Esbravejou o marquês, dando ao seu irmão com um olhar assassino.
?Me sentia... envergonhado ? Logan comentou com um longo suspiro. Ele esfregou o rosto, desesperadamente, e olhou para o chão. -- Não queria revelar meu segredo porque não posso suportar que a pessoa que amo e respeito me diga que sou igual ao meu pai.
?Roger jamais teria feito tamanha tolice. ? A marquesa tentou consolá-lo com suas palavras ternas. ? Caso não se lembre, antes de Colin forçá-lo a se casar comigo, seu irmão era o maior libertino em Londres e tenho certeza de que, durante as suas noites de solteiro, participava de bacanais semelhantes.
?Não estamos falando de mim ? resmungou o marquês, recostando-se no banco.
?Eu sei, mas quero esclarecer que não está em condições de reprovar ou julgar nada, porque era igual ou pior do que ele ? acrescentou Evelyn olhando para Logan com cumplicidade.
?Não estou zangado com o que ele fez, mas por causa de sua falta de confiança ? disse Roger. Se não tivesse escondido de mim o que aconteceu, poderia tê-lo ajudado naquele dia.
?Como poderia me libertar dessa situação, Roger? ? Disse o visconde, levantando a voz novamente. ? Esse homem é intocável!
?Quem te disse esse absurdo? ? Ele murmurou. Ante ao silêncio que Evelyn e Logan ofereceram, ele continuou: ? Caso não saiba, a esposa de Burkes deu à luz sete crianças que morreram logo após o nascimento. De acordo com meus informantes, em seu último parto, e depois que esse descendente também morreu, ele a trancou no porão para lhe dar um castigo. Mas o muito desgraçado não percebeu que ela estava sangrando e necessitava urgentemente da atenção de um médico. Quando Burkes pensou que a punição havia chegado ao fim, ordenou a um criado que a retirasse, mas já era tarde demais, a condessa já estava morta.
?Meu Deus! ? Exclamou Evelyn apavorada, levando as mãos à boca.
?Naquele momento, Burkes ordenou que ela fosse transferida para seus aposentos e uma criada para verificar seu corpo em busca de sinais de que ela havia sido enclausurada. Mas não encontraram uma única marca
? continuou o marquês.
?Nada? Aquela pobre mulher não lutou para permanecer viva naquele porão? ? Evelyn retrucou.
?Não ? disse Roger, balançando a cabeça ligeiramente de um lado para o outro. ? Acredito que ela tenha chegado à conclusão de que só a
morte a libertaria do marido e se rendeu a ela ? acrescentou tristemente.
?Por que ninguém denunciou isso? Por que saiu impune desse assassinato se era um suspeito? Por que conhece essa versão da história? ?
Logan perguntou sem acreditar no que estava ouvindo. Não era o mesmo que George estava sofrendo? Ele também queria encontrar a morte para terminar sua provação?
?Porque seus grandes e honrados amigos, o juiz Clarke e o pároco Madden, aqueles que testemunharam sua depravação, asseguraram que o visitaram durante os três dias seguintes ao parto e exaltaram a atitude compreensiva, afetuosa e piedosa do conde em relação a sua esposa. Além disso, quem daria crédito à versão de um criado que foi demitido?
?Maldito seja! ? Logan clamou, socando a parede da carruagem. ? Maldito seja!
?Se tivesse tido coragem suficiente para explicar o que aconteceu com você, não teria sofrido extorsão. Essa atitude submissa apenas acentuou suas suspeitas e fortaleceu sua decisão de arruiná-lo ? disse Roger, observando as costas de seu irmão se apertarem. ? Mas a situação está resolvida. Aquele bastardo vai ficar longe de qualquer membro da minha família se não quiser terminar seus anos atrás das grades.
?Por que diz que está resolvido? ? Evelyn interrompeu.
—Ontem recebi uma carta do próprio Burkes, na qual pede
desculpas por seu comportamento inadequado e cumprirá meu mandato em breve. Espero que não demore muito para dar ao seu administrador tudo o que roubou de você.
?Está dizendo que...? Quando...? ? Logan perguntou, arregalando os olhos.
?Na mesma tarde em que me contou. É por isso que saí do meu escritório com tanta urgência, não queria que a última carruagem fosse para Brighton sem um mensageiro para levar a esse malnascido a minha carta ?
explicou calmamente. ? Espero que saiba que a fortuna será nosso único presente de casamento. Não merece nem um miserável xelim ? acrescentou sarcasticamente.
?Deveria me tirar tudo! Deveria me repudiar e me jogar na rua como um cachorro! ? Ele exclamou entre soluços.
?Agiu errado, mas isso vai torná-lo mais forte no futuro ? disse Evelyn, tocando seu ombro para oferecer seu apoio.
?Mas foi um tolo ? insistiu o marquês. ? A maturidade não é apenas demonstrada pela atitude que se tem de enfrentar problemas. Um homem maduro pensa, raciocina, vai à família e confia nela.
?No entanto, tudo foi resolvido e devemos nos concentrar no futuro ? disse Evelyn novamente. ? E lembre-se que na idade dele, também não pensava ou raciocinava. Só procurava, entre as mulheres ao seu redor,
aquelas que rapidamente levantariam a saia de seu vestido.
?Evelyn, pare essas comparações de uma vez! Tem que admitir que a sua atitude me machucou e que nunca esquecerei a traição ? disse Roger com raiva.
?Sim, esquecerá, querido. Como eu esqueci que depois que nos casamos, me deixou sozinha por sete longos meses ? ela disse desconfiada.
?Evelyn! ? O marquês esbravejou novamente. ? De que lado está? Não se lembra dos nossos votos de casamento?
? Ah, sim, claro que me lembro deles! ? Expressou sorrindo.
? E cumpro todos. Mas não posso permitir que esse absurdo estrague seu relacionamento. Logan agiu assim porque achou que era a coisa certa a fazer e você partiu porquê ...
?Enfer, ma femme![10] ? Disse Roger desesperado.
?Sinto muito... ? Logan murmurou. ? Sinto muito.
Os dois olharam para ele sem piscar por causa da surpresa que tiveram ao ouvi-lo dizer aquelas palavras. Não ouviram essas palavras na boca de Logan desde o dia do incêndio, quando estava chorando, inconsolável e se desculpando com Roger por não ter protegido Nathalie e sua mãe. Evelyn olhou para o marido, franziu a testa e balançou a cabeça para Logan. Não iria consolá-lo? Não iria perdoá-lo?
?A próxima vez que tiver um problema, fale comigo. Sabe que
pode confiar em mim ? disse o marquês depois de suspirar profundamente.
? Como Evelyn disse, nada do que fez pode me escandalizar, porque antes de me casar, garanto que fiz pior.
?Isso não é o que eu queria ouvir! ? Evelyn berrou.
?Ah não? Pensei que as rugas na sua testa indicavam que confessei como eu era perverso ...
?O que vou dizer a Anne? ? Ele os interrompeu, esfregando o rosto novamente. ? Como ela se casará com um homem que, em vez de proteger sua família, a colocou em perigo?
?Errando que se aprende, Logan, e isso nos torna mais fortes ?
assegurou Roger antes de estender a mão direita para firmar a paz. ?
Lembre-se de que não está sozinho, que não conta apenas com a minha ajuda, mas também com a de todos os nossos irmãos.
?Juro por minha vida que o farei ? assegurou Logan, aceitando a oferta de paz.
?Bem, agora que tudo está esclarecido, preciso que resolva a dúvida que tenho desde que o vi aparecer ? disse olhando para o cunhado.
?Qual? ? Ele retrucou com expectativa.
?Por que diabos colocou um colete tão horroroso? Como Howlett permitiu essa decisão horrível?
?Não gosta da cor laranja? Porque eu amo... ?Logan respondeu
antes de dar uma gargalhada.
***
?Como pode pensar em vestir aquele vestido assustador em um dia tão importante? ? Sophia esbravejou quando Anne desceu as escadas e se juntou a ela no corredor. ? Não lhe disse para jogar fora? Tire logo, Anne Moore! O visconde pode pensar que não temos a solvência para lhe comprar um.
?Não se preocupe com isso, mãe ? disse Anne, pegando-a pelo braço para levá-la de uma vez por todas para a sala onde o resto da família estava esperando por eles. ? O visconde terá prazer em me ver neste vestido e garanto que ele não vai pensar se é a segunda ou a terceira vez que o uso, mas quanto tempo levará para tirá-lo.
?Anne Moore! ? Exclamou com aparente rubor. ? Parou e olhou para ela. ? Não se lembra com quem está falando? Realmente acha que eu deveria saber essas coisas?
? Não se torne de repente numa mãe pudica. Outro dia, quando lhe contei tudo o que fiz durante a minha estadia em Harving House e a razão pela qual não tenho medo de me casar com Logan, não ruborizou ? Anne assinalou com ironia.
?A única coisa que queria era descobrir por que havia retornado sem ter terminado o retrato e decidido se casar com ele ? disse ela
embaraçada. ? O que se explica na sua narração, não é problema meu.
?Então, não acha que foi certo eu informar que o visconde é o cigano que vai quebrar a maldição? ? Disse novamente, afastando-se de sua mãe.
?Sim, essa parte admito que gostei. Quem teria pensado que o falecido marquês misturava seu sangue azul com o cigano?
?Não pode imaginar o que aconteceu... ? Anne disse quando entraram na sala.
?O que? O que aconteceu? ? Randall perguntou ansiosamente, tendo apenas ouvido as últimas duas palavras. Ele caminhou na direção delas, esfregou o rosto, arrastou os óculos até a testa e acrescentou: ? Não me diga que não quer mais se casar com o visconde? Por que? Não acha que ele será um bom marido? Tem medo? É normal depois de tudo o que aconteceu, mas acredito que ele não morrerá antes de chegar ao altar, tenho um palpite que me diz...
?Calma, papai ? interrompeu Anne, separando-se da mãe para que Randall pudesse tomar seu lugar. Deu-lhe um beijo suave na bochecha e acrescentou: ? Ainda quero casar com o visconde. Juro que ele é o homem que esperei toda a minha vida e não vou deixá-lo escapar.
?Obrigado Deus... ? o doutor suspirou aliviado ? não sabe como estou feliz em ouvir que está finalmente pronta para se tornar uma
esposa. Juro que tudo que quero é vê-las felizes e protegidas por bons homens.
?Então... todo o entusiasmo que mostrou desde que dei a notícia, não tem nada a ver com o fato de que vou me tornar uma viscondessa e que isso vai ajudar minhas irmãs? ? Ela retrucou sarcasticamente.
?De jeito nenhum ? ele disse categoricamente. ? Sempre soube que, mais cedo ou mais tarde, encontraria um bom marido. Tudo o que quero é que seja tão feliz quanto eu com sua mãe ? disse, esperando que seu tom de voz não revelasse que ela estava certa.
Uma vez que ela se casasse com o visconde, suas filhas seriam aceitas na sociedade e eventualmente encontrariam seus futuros maridos.
Embora ainda pensasse que para Josh e Madeleine não seria tão fácil. Que homem aceitaria uma guerreira como esposa? E quem poderia fazer desaparecer a timidez da pequena ruiva?
?Chegou! Logan está aqui! ? Josh gritou exultante, pulando na frente da janela. ? E ele está acompanhado pelos marqueses de Riderland!
?Meu Deus! ? Sophia exclamou nervosa. ? Sabia que eles também participariam? ? Olhou para Anne como se tivesse acabado de passar uma estrela cadente diante de seus olhos.
?Sim ? respondeu, sacudindo as saias do vestido.
Estava nervosa. Queria causar uma boa impressão nas pessoas
mais importantes para seu futuro marido. Eles seriam afáveis com sua família? Logan insistiu que eram pessoas gentis, carinhosas e bastante humildes, mas... não se arrependeriam do compromisso quando descobrissem os comportamentos imprevisíveis de suas irmãs?
?E, por que não nos contou nada? Nós teríamos nos preparados... Eu teria comprado... ? Sophia balbuciou muito preocupada, amaldiçoando novamente por não ter previsto que Anne mostraria a sua verdadeira personalidade através de seu vestido laranja.
?Foi por isso que não mencionei, mãe. Quero que conheçam a minha família tal como são. Sem enganos ou falsas aparências ? enfatizou.
Olhou para as irmãs e apertou os olhos quando não encontrou Elizabeth. ?
Onde está Eli? Ainda não terminou de se aprontar?
?Não vai descer ? respondeu a mãe. Continua com dor de cabeça e não seria apropriado que permanecesse aqui com aquela aparência abatida.
?Continua desculpando-a! ? Anne exclamou com raiva, ao lado de Mary, Josh e Madeleine. ? Maddy lutará contra sua timidez para ficar ao meu lado em um dia tão importante e ela não é capaz de suportar uma dor de cabeça miserável? Chega, mãe! Pare de dar desculpas! Acha que não sei o que está errado? ? Ela berrou. ? Bem, deverá aceitar de uma vez por todas!
?Não é isso ? interveio Randall. ? Eli está muito feliz pelo seu
próximo compromisso. Mas sabe que...
?O que faço, Sr. Moore? ? Shira perguntou, abruptamente quebrando a discussão que havia sido criada em momentos tão inapropriados.
? Estão se aproximando da entrada e tenho que recebê-los.
?Não os faça esperar ? Anne falou a Shira rudemente. ? Meu futuro prometido está tão impaciente quanto eu para me tirar daqui.
?Anne! ? Sua mãe a repreendeu: ? Não quero que pense isso de sua irmã!
?Não me lembre de tudo que fez antes de sairmos... ?
murmurou antes de respirar fundo, se acalmar e esperar a entrada do seu homem.
Que a mãe criadora tivesse pena de Elizabeth em algum momento de sua vida, porque ela nunca iria perdoá-la pela dor que causara num dia tão importante.
?Os Marqueses de Riderland ? anunciou Shira com voz trêmula. ? Desculpe, e há também o Visconde de Devon ? acrescentou, corando logo após sua apresentação nefasta.
Seus pais foram recebê-los e depois das saudações apropriadas, caminharam em direção a elas. Anne tentou respirar com facilidade, mas era impossível fazê-lo. Não se viam há quatro dias, só havia tido notícias dele através das cartas entregues por Howlett, que visitava Elizabeth
assiduamente. A última coisa que Logan havia escrito era que a amava e que estava desesperado, esperando que aquele dia chegasse.
?Milady, ela é Anne, minha filha mais velha. A próxima é Mary e as duas menores são Josephine e Madeleine. ? Quando foram nomeadas, saudaram a marquesa com uma reverência cuidadosa.
?Prazer em conhecê-las, senhoritas ? disse Evelyn, observando a cor do vestido da futura noiva de seu cunhado. Agora entendia a decisão de usar um colete daquela cor! Os dois, através de um detalhe tão pequeno, aceitavam quem realmente eram.
?Igualmente ? responderam em uníssono.
?Só se ela continuar a me aceitar ? Logan comentou, o que fez todos os olhos focarem nele.
?Acho que sim ? respondeu Randall, erguendo os óculos sobre a ponte do nariz com um dedo. ? Pelo menos há cinco minutos atrás, essa era a sua resposta. Mas já conheceu minhas filhas, milorde, e sabe que elas são muito voláteis.
?Então, com sua permissão, vou perguntar a ela pessoalmente
? disse antes de se dirigir a ela.
Suas pernas tremiam, seu coração batia tão rápido que perfurava seu peito e a porta fechada da sala. Ele estava lá: seu homem, seu Cigano.
Aproximando-se dela com seu terno elegante, o colete laranja e o cabelo
puxado para trás, para formalmente pedir pela união que haviam selado noites antes em um pequeno ritual cigano. Devia fazer o correto, o que correspondia ao seu dever como um aristocrata. Mas essa aparência desapareceria quando ambos vivessem em Whespert. Ela não permitiria que naquele lugar, ele continuasse mostrando uma aparência que não correspondia a ele. Queria o Logan cigano, selvagem e apaixonado, mesmo que quando estivesse fora, tivesse que se comportar como o Visconde de Devon, irmão do Marquês de Riderland.
?Senhorita Moore ? disse, ajoelhando-se na frente dela. ? Me daria a grande honra de me aceitar como marido?
?Sim! ? Exclamou Josephine. ?Ela aceita!
?Josephine Moore! ? Esbravejou Sophia, envergonhada pela intervenção inadequada de sua quarta filha.
?Ela é a jovem que pratica a arte de atirar facas, certo? ? A marquesa perguntou a Sophia.
?Sim, milady, é ela... ? concordou com alguma angústia.
?Nesse caso, se lhe parecer correto, Josephine poderia conhecer minha filha Evah. Ela também é bastante adepta das armas. No outro dia, John, um bom amigo do meu marido, ensinou-a a usar o arco e a verdade é que...
?Anne? ? Logan perguntou, mostrando a ela um anel.
Como era de se esperar, o visconde procurou, entre os joalheiros londrinos, uma aliança que refletisse a essência cigana de Anne e, com o olhar que ela estava exibindo, soube que o esforço valera a pena.
?Sim! ? Anne gritou antes de se jogar em seus braços e ouvir como um ato tão inadequado produziu uma tosse repentina em seu pai.
?Eu te amo, Anne Moore ? disse ele, deslizando o anel em seu dedo. ? Olhou em seus olhos e continuou em voz baixa. ? E juro, minha querida, que não a salvarei somente da maldição, mas de todos os perigos que tivermos que enfrentar.
E quando Madeleine ouviu as mesmas palavras que ouvira em sua visão, colocou as mãos no peito e suspirou. Logo, muito em breve o resto de suas irmãs encontrariam seus futuros maridos e ela.... Ela finalmente deixaria de ser a tímida Madeleine...
Epílogo.
Oito meses depois ...
Logan caminhava de um lado para o outro em seu escritório, com as mãos atrás das costas. Olhava de vez em quando para o relógio na parede e bufava quando percebia que o tempo não estava indo tão rápido quanto desejava. Quanto tempo duraria um parto? Anne suportaria isso? Randall e Mary poderiam ajudá-la caso se complicasse?
?Relaxe de uma vez ? disse Roger, depois de expelir a fumaça do charuto de sua boca. Felizmente para ele, Evelyn permitiu-lhe fumar em ocasiões especiais e a chegada do seu primeiro sobrinho era uma delas. ?
Lembre-se do nascimento de Evah. Foram intermináveis horas. Mas quando tiver seu filho em seus braços...
?Filho? ? Disse Philip, que continuava batendo os dedos da mão esquerda na mesa do escritório. ? Como sabe que será um menino?
Não se lembra de que existem duas alternativas? ? Perguntou mordaz.
?Será um menino ? disse Logan com confiança. Havia tido uma visão, assim como tinha visto Evah quando mal tinha dezessete anos.
Pensou que, com os anos e a recusa de ser cigano, essas visões ciganas desapareceriam, mas não foi esse o caso. Já na noite de núpcias sonhou que
um diabinho de cabelo preto gritava papai e ele o abraçava com força. ? E se chamará Roger Bennett Moore. ? Olhou para o irmão, esperando por sua reação.
?Belo nome ? ele respondeu em uma voz estrangulada pela emoção e com olhos brilhantes. ? Só espero que não continue com a maldição dos Bennett.
?A de libertino? ? Giesler falou novamente. ? Quer transformar a próxima geração Bennett em homens honrados e castos? Não se lembra dos movimentos sedutores de cílios ou como suspiravam quando andava por um grupo de mulheres? O que essas futuras viúvas farão sem um Bennett em sua cama? ? Comentou com exagero enquanto movia o copo de conhaque.
?Tenho certeza de que haverá outros libertinos para agradá-las
? assinalou Logan com um grande sorriso.
Só esperava que seu amigo não falasse sobre a educação que ofereceria a seus filhos, porque ele não os teria. Em suas visões, seu bom amigo tinha quatro lindas meninas como sua mãe. Philip não ficou horrorizado quando soube que o Sr. Moore deveria casar as cinco? Não zombou da angústia do médico? Quantas vezes zombou da tarefa desesperada de encontrar um marido para elas? Por tudo isso, a vida o puniria com uma comitiva de meninas.
?Se os Bennett se aposentarem, os Giesler tomarão o seu lugar.
? Se aproximou do amigo para dar uma tapinha em seu ombro. ? Mas não diga que não avisei.
?O que? ? Logan perguntou, erguendo as sobrancelhas negras.
?Que seus meninos não saberão o que as mulheres escondem sob suas saias e os meus serão capazes de despir uma mulher em menos de dez minutos ? acrescentou Philip, sorrindo imensamente.
?Não tenho dúvidas de que seus filhos terão essa capacidade altamente desenvolvida ? declarou o visconde, olhando para o irmão que sabia a quem a esposa de Philip daria à luz.
?Brindemos aos futuros Bennett e Giesler! ? Roger gritou, levantando o copo. Logan e Philip apoiaram o brinde. ? Isso só acaba de...
?Nasceu! ? Josh gritou abrindo a porta, interrompendo as palavras do marquês. -- É um menino! Um lindo menino! Vou contar aos outros! -- Continuou gritando quando se virou e se afastou do escritório.
Logan olhou para o irmão e depois para Philip. Ele estava feliz, animado e se sentia o homem mais feliz do mundo. Por fim, seu filho nasceu e sua esposa... sem esperar pelos abraços típicos, ele saiu da sala e subiu os degraus de três em três.
***
Quando Logan entrou no quarto, uma súbita sensação de prazer e bem-estar o dominou. Evelyn levava a criança em seus braços para a janela.
Mary afastava a roupa que o cobria para confirmar que tinha todos os dedos das mãos e dos pés, que ele respirava normalmente... Randall estava chorando e Sophia estava abraçada a ele para consolá-lo. Madeleine permanecia sentada no peitoril da janela, sorrindo toda vez que sua irmã e a marquesa elogiavam a beleza do bebê. Até mesmo Elizabeth acompanhava sua irmã em um momento importante para ela, embora continuasse longe de todos e usando um daqueles vestidos típicos de governantas. Logan não entendia por que adotara um comportamento tão estrito, mas parecia que, graças a isso, estava superando certos medos.
Apoiou-se no batente da porta e observou a bela imagem familiar.
Nunca imaginou que as palavras de seu irmão fossem tão precisas. Não só seu amor por sua esposa havia aumentado, mas os laços com toda a família também foram fortalecidos e aquele momento era uma mostra disso. Como Roger lhe disse em mais de uma ocasião, o instinto de proteção transformava um homem em uma fera que não hesitava em oferecer sua vida para salvar sua família. Ele a daria, por cada um dos membros que estavam no quarto, na sala, na cozinha, no escritório e no jardim.
Estavam todos ali. Nem um único irmão queria perder o nascimento do próximo Bennett, que seria nomeado herdeiro do Marquês de
Riderland e orgulhosamente ostentaria seu sobrenome, pois os vestígios deixados por seu bisavô desapareceriam. Roger e ele se encarregariam de terminar...
?Entre, não fique na porta ? disse Anne quando o descobriu em pé na entrada. ? Seu filho o espera.
?Meu filho pode esperar um pouco mais. ? Logan segurou as lágrimas causadas pela emoção e caminhou até a esposa. ? Está bem? ?
Perguntou depois de colocar um beijo suave em seus lábios.
?Sim, muito bem ? respondeu, estendendo a mão esquerda para que ele não tivesse medo de sentar-se ao seu lado. ? Mas mudei de ideia sobre ter seis filhos. Acho que vamos ter o suficiente com dois ?
acrescentou ela, descansando a cabeça no peito do marido.
?Roger, Samuel e Philip ? disse Logan.
?Três homens? De verdade? Não pode mudar essas visões? ?
Insistiu nervosa.
?Não ? Logan negou. ? Dará à luz a três filhos preciosos, iguaizinhos a mim ? acrescentou orgulhoso.
E nesse momento Anne se benzeu e se confiou à mãe criadora.
Um pouco do próximo romance
Mary sentou no banco e olhou de lado para sua acompanhante.
Parecia tão preocupada que desejou lhe dizer algo que pudesse acalmá-la. No entanto, não tinha o dom de tranquilizar as pessoas, mas de curá-las.
?Desculpe-me por tê-la tirado de sua casa em um horário tão inapropriado, mas sua mãe, depois de lhe explicar o que está acontecendo, insistiu que a senhorita é a mulher adequada para atendê-lo.
?Não foi um problema, pelo contrário, sinto-me muito honrada por poder ajudá-la ? Mary respondeu, acrescentando um leve movimento ao comentário com a mão direita enluvada. ? Ficarei feliz em descobrir que doença seu marido tem e dizer-lhe o tratamento adequado.
?Meu marido? ? Valeria estalou, arregalando os olhos. ? Não é meu marido que está doente, mas meu irmão.
?Sinto muito, devo ter entendido mal a minha mãe ? disse Mary, corando instantaneamente. ?Às vezes, quando fico emocionada, não escuto com atenção.
?Não se preocupe, isso geralmente acontece comigo também.
Acho que é muito comum mulheres inteligentes selecionarem o que as interessa.
Naquele comentário, Mary deu uma risada alta. Quando se
recuperou, voltou seu olhar para a Sra. Reform e esperou que o nome de seu irmão fosse revelado, mas ela permaneceu em silêncio.
?E a quem devo assistir? ? Perguntou finalmente.
?Talvez o conheça, senhorita Moore.
?Mary, por favor, me chame de Mary.
?-Obrigada, então o que disse, Mary, é que pode ter ouvido falar dele porque é um homem bem conhecido nesta cidade. Ele trabalhou na Scotland Yard por alguns anos, mas quando estava prestes a conseguir um cargo importante, se recusou a fazê-lo e decidiu se tornar um marinheiro ?
disse com pesar enquanto observava Mary continuar sacudindo a cabeça.
?Confesso que sou uma mulher antissocial. Quase não saio de casa e, quando o faço, não tenho entre meus objetivos o de me relacionar com as pessoas que encontro, exceto se tiver que curá-las ? disse bruscamente.
?Entendo... Valeria ficou mais intrigada ainda. Se a jovem não o conhecia, por que seu irmão não parava de chama-la quando a febre aumentava? Esticou a saia do vestido para não enrugar, depois colocou as duas mãos no colo e olhou para a jovem sem piscar. ? Mas creio que conhece meu irmão ? insistiu.
?Se me disser o nome, posso responder com mais certeza ?
disse Mary, cansada.
Por que tanto mistério? O irmão daquela mulher era um ex
presidiário? Havia cometido crimes? Seria o próprio Frankenstein?
?Meu irmão é Philip Giesler ? Valeria finalmente declarou.
E naquele exato momento, Mary notou como seu queixo caía.
Nota do autor:
Espero que tenham gostado do romance e que me perdoem por deixá-los com tantas perguntas na cabeça. Esclarecerei algumas antes que me ataquem.
Em primeiro lugar, O desejo de Mary é o próximo. Os protagonistas serão Mary Moore e Philip Giesler. Se não se lembra bem deste último personagem, informo que o encontrará, ainda adolescente, em Minha amada Trapaceira.
Na segunda posição... o que aconteceu com Elizabeth? Basta dizer que, no prólogo de seu livro, o terceiro, descobrirão o que aconteceu com ela, nada de bom na verdade.
O quarto romance é a história de Josh. Eu ainda não sei como ele conseguirá isso, mas Eric está determinado a fazê-la se apaixonar ...
E o quinto é o de Madeleine. Quem será esse cavalheiro que acabará com sua timidez? Surpresa! Descobrirá quando o ler...
A propósito, não se preocupem com George Laxton, ele também terá sua história. Apesar de ser um personagem secundário, tenho certeza que irão me perguntar o que acontecerá com ele e se poderá se livrar do seu malvado tio. Esse será o sexto livro da série: A filha do duque.
Também quero esclarecer que é verdade que uma banheira,
aquecida a gás, voava com seu ocupante dentro. Colocarei o pedaço que me levou a ficar mais de vinte minutos rindo. Está na página Cuirosfera.com/Historia del baño:
No entanto, algumas décadas depois, em 1868, o inglês Benjamin Maugham inventou a banheira de água aquecida a gás, e tudo sugeria que a banheira seria popular, mas infelizmente um dia, um aquecedor explodiu e enviou banheira e ocupante ao outro lado da sala, onde aterrissaram imersos em perplexidade. As pessoas não queriam ouvir falar dessa engenhoca e preferiam comprar água quente que era vendida a domicilio.
É por isso que Mary não queria entrar em uma banheira sem usar a camisola!!
PS. Para que depois não digam que os autores não estudam todos os detalhes que oferecem. No meu caso, leio e pergunto muito para tornar meus romances mais reais.
Sem mais delongas, obrigada por terem lido e espero que estejam tão ansiosos quanto eu em saber o que acontecerá com Mary Moore e Philip Giesler.
Me encontrarão em:
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Outros títulos:
A Solidão do Duque. Série
os Cavalheiros I:
A vida libertina do futuro
Duque de Rutland termina depois de lutar um duelo de honra com um marido enganado. Envergonhado pelo resultado deste desafio, ele decide deixar Londres e ir para Haddon Hall, o lugar pacífico onde ele cresceu, na
esperança de encontrar a paz que ele tão desesperadamente precisa. No entanto, a chegada de notícias inesperadas altera essa suposta calma e faz com que o duque fique bêbado. Apesar do conselho de seus parentes, ele decide cavalgar e galopar através de seus domínios. Quando ele abre os olhos após uma queda infeliz, descobre que uma mulher cuida dele em algum lugar isolado de suas terras. Seu nome, Beatrice e seu único desejo, viver sozinho pelo resto de sua vida.
A Surpresa do Marquês. Série os
Cavalheiros II:
Roger Bennett, o futuro marquês de Riderland, se
define como um cavalheiro disposto a ajudar os pobres infelizes de prazeres sexuais. Ele gosta tanto da sua vida, que quer continuar assim até o fim dos seus dias. No entanto, uma pessoa irá suprimir essa vida de devassidão e libertinagem que tanto anseia manter.
Resignado a ter que viver com uma esposa que não conhece ou ama, decide encarar seu futuro com integridade. Embora quando seus olhos azuis se fixam em Evelyn, descobre que tudo o que desejava se evaporou. Mas o amor tem que ser trabalhado e, para um homem que achava fácil quebrar corações, será incrível ver como o seu próprio se estilhaça como o vidro.
A Tristeza do Barão. Série os
Cavalheiros III:
Dizem que a paixão juvenil nunca é esquecida, talvez porque seja pura e real o suficiente.
Depois de anos procurando por Anais
Price, sonhando em tê-la novamente ao seu lado, Federith Cooper tem que se casar com Lady Caroline, já que ela carrega seu filho no ventre, ou assim ele pensa. Mas sua vida de casado é um inferno; sua esposa rejeita sua presença, sua ternura e até sente repulsa por ele, o homem mais educado e respeitoso de Londres.
Federith tenta aceitar a vida que o tocou, mas ... por quanto tempo manterá o comportamento frio e aristocrático que seus pais o impuseram
desde criança, quando o amor de sua vida reaparece anos depois?
Um amor verdadeiro não desaparece com o tempo, e a promessa que ele fez para protegê-la, cuidá-la e amá-la tampouco.
O coração do inspetor O´Brian
Série os Cavalheiros IV
Nunca abandonou uma batalha
sem lutar, mas ela deixou bem claro que não havia nascido para ficar com ele.
Abatido, humilhado e com o coração partido, O´Brian se propôs a destruir aquele sentimento que tinha por seu grande amor.
Entretanto, quando por fim conseguiu não pensar tanto nela, a vida o brinda com outra oportunidade e nesta ocasião, não permitirá que April Campbell, viúva do visconde de Gremont, rejeite-o de novo.
Será que April superará o engano e a traição de seu falecido marido? Ela será
capaz de dar uma chance ao homem nunca a esqueceu?
Quem sabe ...
(Esta é a história de dois personagens que aparecem na novela A Tristeza do Barão: o inspetor O´Brian e a viscondessa viúva de Gremont)
Minha Amada Trapaceira. Série os
Cavalheiros V:
Soberbo,
arrogante,
petulante,
vaidoso ... são alguns dos adjetivos usados por quem conhece Trevor Reform, dono do mais famoso clube de cavalheiros de Londres, para descrevê-lo. O
poder que o dinheiro lhe dá o fez esquecer suas origens humildes, transformando-o em um ser desprezível, apático e desumanizado. Mas o destino se esforçará para lembrá-lo quem ele realmente é ...
Depois de encontrar a causa do maior problema que ele teve desde que abriu o clube, Trevor está obcecado em removê-lo o mais rápido possível do local. Para isso, elabora um plano, aparentemente tão perfeito, que não duvida, nem sequer por um segundo, de que alcançará seu objetivo.
Enganada
Essa é a história de Adele, uma
médica forense que tenta achar lugar em uma profissão masculina. No entanto, toda a sua luta profissional se verá interrompida pela ligação de um pai cheio de dor que a pede que aceite o caso de sua filha.
Desse momento em diante, todo o seu mundo cairá aos seus pés.
Descobrirá algo que jamais acreditou que encontraria e isso será o motivo para que adentre, sem se dar conta, em uma trama cheia de emoções, mentiras e sofrimentos. SE RENDERÁ SEM LUTAR POR AQUILO NO QUE
ACREDITA E AMA DE VERDADE?
Obrigado!
[1] Olhos do diabo
[2] Por todos os males do mundo!
[3] Burro! Estúpido
[4] As artes marciais chinesas são conhecidas na China como wushu e no ocidente como kung fu. Na China, a expressão kung fu caracteriza qualquer estilo de arte marcial, ou tarefa feita com perfeição, não apenas artes marciais. (Fonte: Wikipédia)
[5] Malditas pessoas em alemão
[6] Ipso facto é uma expressão em latim, que significa “pelo próprio fato” , “por isso mesmo” ou “consequentemente” , “consequência direta da ação” , na tradução para a língua portuguesa.
[7] Nomeie que Alexandre, o Grande, colocou seu cavalo.
[8] Hefesto es el dios griego del fuego y la forja, protector de los herreros, los artesanos, los escultores, los metales y la metalurgia.
[9] Foda-se!
[10] Diabos, esposa!
XXIV
Não conseguia parar de sorrir. Sentia tanto prazer e felicidade percorrendo seu corpo que não podia apagar o sorriso de sua boca, mesmo que tentasse fazê-lo. O vento batia em seu rosto, causando intermináveis lágrimas, mas não as afastou, gostava de saber que seus olhos sabiam chorar, apesar de fazê-lo de maneira não convencional. Olhou para os dois lados do caminho, confirmando que não havia ninguém por perto. Logan devia ficar tranquilo porque, depois de três horas percorrendo seus territórios, não encontrou nada que indicasse que caçadores furtivos estivessem vagando pela área. Olhou para cima e observou o sol. Estava em cima dela, avisando-a de que o meio-dia estaria próximo. Não deveria demorar para voltar. Não queria chatear Anne. Caso se atrasasse e não aparecesse para o almoço, ela teria a desculpa perfeita para trancá-la no quarto e puni-la até que o trabalho estivesse terminado. No entanto, o cavalo já mostrava sinais de fadiga. Bufava toda vez que o incitava e sua pelagem estava molhada de suor. Uma pequena parada ao longo do caminho seria boa para os dois.
Determinada a dar a ele o descanso que precisava, dirigiu-o, com um ligeiro puxão das rédeas, em direção a um pequeno bosque que se encontrava à sua direita. Quando o animal entendeu que poderia descansar em breve, relinchou alegremente e galopou ainda mais rápido em direção
àquela área verde e selvagem.
?Bom menino... ? Josh disse ao cavalo quando pararam. ? É
um campeão.
Bateu com força no pescoço robusto e desceu dele como um mensageiro militar que tem em sua posse a carta que informa sobre o fim de uma guerra.
Sem soltar as rédeas, caminhou na frente do animal, ouvindo as respirações agitadas dele. O servo não a enganou oferecendo-o, porque para ela era perfeito. Além de correr tão rápido, que mais de uma vez pensou que sairia disparada por sua traseira, era fiel às ordens dadas a ele. O único inconveniente, que o servo alegou, era que ele não possuía uma linhagem tão virtuosa quanto os outros cavalos no estábulo. Pelo que disse, a mãe escapou do estábulo quando entrou no cio, e ela permitiu se emprenhar por um dos Percheron que o barão de Sheiton mantinha na propriedade adjacente. «Sua Excelência aceitou a chegada deste mestiço, mas eu o teria matado assim que ele saísse das entranhas daquela sem vergonha», foram as palavras usadas por aquele empregado cruel e tolo. Talvez, essa afirmação repugnante a tenha feito simpatizar com o animal. Era tão mestiça quanto ele e por isso ela não deveria viver?
?Calma ? disse para acalmá-lo, algo que o tinha perturbado ?
não há ninguém aqui além de nós. Ficaremos pouco tempo, o suficiente para
que possa pastar um pouco e eu eliminar a dormência das minhas pernas.
O relincho do animal deu-lhe a entender que ele não conseguia se acalmar e que, apesar de suas palavras, algo o mantinha bastante inquieto. Finalmente, Josh decidiu amarrar as rédeas a um ramo e verificar o que assustara tanto o animal.
?Não te acontecerá nada ? continuou falando com uma voz calma enquanto tirava a arma afiada e brilhante do esconderijo. ? Vou protegê-lo com isso.
Colocar aquela faca perto do seu olho esquerdo não causou o efeito que ela esperava. O cavalo, assustado, ergueu as patas dianteiras e acenou-as como se quisesse pisar nela. Rapidamente, Josephine se afastou e enfiou a perigosa arma na parte de trás do cinto. Esse ato relaxou o animal aterrorizado.
?Por todas as almas miseráveis deste mundo absurdo! Eles tentaram mata-lo? É por isso que ficou alterado? ? Perguntou em pé na frente da cabeça dele, acariciando-a lentamente.
Movida pela atitude submissa do animal, colocou as duas mãos em direção àquele pescoço castanho-chocolate grosso e estava sentindo-o lentamente, entrando debaixo deste com calma, como se tivesse esquecido que, segundos antes, ele apresentava um comportamento selvagem. Então, quando enfiou o rosto no peito molhado e peludo, encontrou o que procurava:
uma aspereza. Quando a tocou, parecia com um começo de sujeira acumulada na estrada. Sim, não havia dúvida de que o imbecil tentara matá-lo, mas não conseguiu, porque o que o homem sem cérebro não entendia, era que os seres nascidos do sangue mestiço se tornavam guerreiros imortais e corajosos. E
ela se considerava da mesma forma: tão imortal e corajosa quanto o cavalo que foi gerado de um acasalamento entre cavalos livres.
Com o punhal guardado e incapaz de pensar em outra coisa senão encontrar uma maneira de dar a esse servo uma lição bem merecida, beijou a testa do cavalo, virou-se para a floresta e avançou sobre os troncos das árvores. A tempestade da noite anterior foi devastadora para esse terreno. As raízes saíram, atravessando a terra transformada em lama, como se procurassem desesperadamente por aquela luz do sol que mal tocava o chão, porque a folhagem das árvores desacelerava os raios no topo de suas copas. Se estivesse andado pela selva amazônica, poderia compará-la com aquele lugar oculto e inóspito. A vegetação em torno dela havia crescido pelo clima na área ou por estar perto o mar? Se continuasse nessa estrada, poderia se encontrar no topo de um penhasco? Poderia finalmente saber como era a imensa massa de água salgada, como cheirava e o que o toque de salitre produziria em sua pele? Haveria navios navegando? E se encontrasse um navio pirata? E se a tripulação deixara o barco e fora para a costa levantando suas espadas procurando o início de uma guerra contra Londres? E se
encontrasse contrabandistas franceses?
A imaginação de Josh transbordou. Começou imaginando como seria a areia e acabou lutando com seu facão na proa de um navio francês. Sua mão esquerda foi colocada nas costas enquanto a mão direita segurava a arma e acenava, produzindo ziguezagues leves que pareciam cortar o ar.
?Eu? Quem sou eu? ? Gritou ao vento enquanto intensificava a força daquela luta imaginada. ? Sou seu pior inimigo!
Sua abstração era tão incrível e tão real para ela, que os fios de cabelo loiro que se soltaram em vários desses movimentos abruptos, grudaram em seu rosto pelo suor. Sua camisa branca mostrava sulcos úmidos de formas irregulares, como se fosse usada por um camponês que passara a manhã inteira trabalhando no campo. Agarrou com força a alça da adaga, dirigiu-a para o céu, dedicou a Deus a morte de seu oponente, ajoelhou-se e, como se tivesse se tornado um cavaleiro medieval, inclinou a cabeça.
De repente, um barulho foi ouvido atrás dela, ela se virou de joelhos e jogou a faca para baixo. Quando descobriu onde a faca estava presa, não conseguiu reagir. Um homem vestido com um traje de montaria inclinou-se para a frente para ver que seus olhos não estavam enganados quando viu que tinha uma faca presa na bota direita.
?Merda! ? Exclamou o jovem quando a dor que produziu a
ponta da arma cruzou de leve a pele e mostrou-lhe que não era uma visão. O
que fez infeliz? Por que jogou isso em mim?
?Quem diabos é? Por que está me perseguindo? ?
Perguntou enquanto se levantava.
O garoto não prestou atenção nas perguntas de Josh ou na raiva que ela tinha quando falava. A única coisa que fez foi sentar na lama, tirar a arma pontuda da perna, tirar a bota e confirmar que uma superfície vermelha circular se estendia por suas calças brancas.
Josephine olhou para ele com raiva. O rosto dela não expressava remorso, aflição ou compaixão pela dor que o estranho que explodiu sobre ela em um ato tão privado deve ter sofrido. Ela estava serena, como se tivesse construído um castelo de pedra com as próprias mãos, e ela colocou as mãos na faixa marrom, exibindo uma pose dura, severa e orgulhosa, assim como sua mãe era quando ela fez outro buraco em sua amada janela da sala de costura.
Com a adaga na mão, Eric cortou as calças para descobrir a extensão da ferida. Apesar do sangue, não era muito profundo. Felizmente, o material da bota de equitação tinha barrado o lançamento efêmero. Mas ele não podia sorrir para aquela mulher louca que, antes do ramo ter estalado ao pisá-lo, a observara fazendo movimentos muito estranhos, como se estivesse invocando o próprio diabo. Sem olhar para ela, inclinou-se para a direita,
tirou o lenço do bolso, que colocou ali antes de subir no cavalo, estendeu-o e amarrou-o ao redor da ferida. Ele não queria que o sangue se espalhasse por suas calças e aparecesse em Herast Pond como se fosse um soldado que voltava para casa depois de vinte anos de guerra.
?É surdo? Porque não fala? ? Ela o repreendeu. ? Perguntei-lhe o que diabos faz nos territórios do Visconde de Devon.
?As propriedades do visconde terminam ali. ? Ele apontou com a mão direita em direção ao fim da floresta. Estas são minhas ? ele assegurou rudemente. Então é a única surda e desorientada ? disse ele, levantando o queixo gentilmente para enfrentar a criminosa insolente.
Uma vez que seus olhos se encontraram, os dois permaneceram em silêncio e por causa de como seus corpos estavam paralisados, eles também se esqueceram de respirar...
?Mente! ? Josh gritou, despertando do transe estranho que a fez ver o lindo rosto do rapaz. ? É um caçador ilegal! ? Soltou. ? O
visconde me avisou sobre vocês! ? Continuou com raiva.
?Não ? o jovem respondeu. Ele apoiou as palmas das mãos nos troncos que tinha em ambos os lados e, com a ajuda deles, levantou-se. Ele não podia ser intimidado por tal rata, embora tivesse um rosto tão bonito que perdera sua razão por um momento. A solenidade que lhe fora incutida desde o berço, seu orgulho, sua integridade e tudo o que lhe dava o melhor instrutor
que poderia encontrar, seu pai, brotou de algum lugar de seu corpo, protegendo-o como se fosse um escudo. ? Agora mesmo irá me acompanhar, imunda e suja, até minha casa e, uma vez que o xerife saiba o que fez com uma pessoa como eu, estará trancada atrás das grades até dar as explicações relevantes para esse ato criminoso. Mas tenho medo que seja julgada e....
?Ato criminoso? Julgada? ? Josh respondeu com os olhos arregalados. ? Queria me atacar pelas costas! ? Fiz apenas o que qualquer mulher decente faria a quem pôs em perigo sua vida!
?Mulher? Decente? ? Eric Cooper virou-se para ela sem piscar. ? Não é mulher! ? É uma abominação da natureza!
?Como ousa me insultar assim? ? Gritou caminhando em direção a ele com atitude desafiadora.
?Como ousa me machucar e declarar que eu merecia esse esfaqueamento? ? Ele respondeu, mostrando uma imagem um pouco ridícula, porque parecia que ele estava brincando com uma perna só, em vez de discutir verbalmente contra alguém que se dizia mulher, mas vestida como um homem.
?Se estivesse em Londres agora o desafiaria para um duelo ?
Josh murmurou.
?Um duelo? ? Acha que perderia tempo e arriscaria minha
honra por alguém como você? Antes iria jogá-la no Tamisa! ?
Exclamou fora de si.
?Você ? disse apontando com um dedo inquisidor e em pé na frente o suficiente para levantar o queixo e para os olhos se encontrarem novamente.
?Você? ? Eric colocou ambas as plantas dos pés no chão, suportando a dor com dignidade. Endireitou seu corpo e sorriu quando viu que ela mal chegava ao seu ombro. ? Você ? ele começou a falar sarcasticamente ? é um monstro, uma fera selvagem que...
Ele não terminou a frase, uma mão de Josh bateu em sua bochecha esquerda com tanta força que ele virou o rosto para a direita. Uma vez que pode encará-la de frente e eliminar num ápice toda a nobreza e dignidade que evocava em voz alta, estendeu as mãos para ela, colocou-as em seus ombros e a sacudiu.
? Está louca? Por que me deu um tapa? Quem pensa que é?
?Josephine Moore ? disse com arrogância, enquanto pegava as mãos dele pelos pulsos e as virava para o lado oposto ? e é um homem arrogante se pensa que será fácil me dobrar.
Eric, pego pelas mãos, sentindo a pontada de dor que irradiava da ferida até a testa, observava sem piscar o rosto da guerreira. Seus olhos, apesar de serem marrons, haviam se tornado duas imensas bolas de fogo. Seu
nariz, pequeno e arrebitado, enrugou-se para mostrar uma repulsa sincera. Mas seus lábios, embora tentassem ser rudes e cruéis, pareciam delicados e suaves, como os exibidos pelas jovens mulheres sinceras, embora nenhuma das que ele conhecesse pudesse superá-la em volúpia. Atraído como uma mosca para o mel, obcecado por descobrir que sabor a boca de uma mulher tão estranhamente peculiar teria, separou os braços, contrabalançando a força que ela exercia sobre seus pulsos e diminuindo a distância entre os dois. Com os olhos abertos, para não perder de vista o impacto do que se propusera, inclinou a cabeça para a jovem e a beijou.
Josh permaneceu imóvel quando os lábios daquele homem desarmado tocaram os dela. Suas mãos ainda estavam ocupadas com as dele, então não pode lhe dar outro tapa. Mas ela poderia jogar a cabeça para trás e recuar. No entanto, não fez. Ela permaneceu imóvel até o jovem, que tinha um cabelo da mesma cor que o de Madeleine, embora na testa ele tivesse uma mecha dourada, se afastou.
?Interessante... ? Eric disse, com uma voz muito diferente da que ele havia usado antes ? uma virgem sozinha em minhas terras. Paradoxal... ? ele sussurrou divertido. ? Não esperava que, quando esta manhã pedi a Deus um sinal para enfrentar o destino da minha vida, decidisse colocar no meu caminho uma jovem como você, Josephine Moore.
Ao ouvir seu nome com aquele tom sensual, Josh acordou do
transe induzido depois de sentir, pela primeira vez, o calor de uma boca masculina na sua. Indignada, zangada, por ter permitido que algo tão absurdo a fizesse perder algo tão importante quanto a prudência, torceu os pulsos com mais força, até que a dor foi tão insuportável que apagou a satisfação que ele mostrava em seu rosto, e o lançou para trás. Quando ele caiu na lama, Josh pegou a adaga, cuspiu nele e foi desesperadamente pela floresta. Não parou de correr até encontrar o cavalo, que relinchou alegremente ao vê-la. Desatou o melhor que pôde, porque suas mãos tremiam, montou como se fosse uma amazona habilidosa e cavalgou sem diminuir a intensidade do trote até ver os telhados de Harving House.
XXV
Suas mãos, até agora relaxadas e voltadas para o chão, levantaram lentamente para se colocarem ao redor de seu pescoço. O beijo foi se transformando a cada segundo que durava. Passara de uma colisão suave a um tornado repleto de paixão e desejo. Abriu a boca lentamente, permitindo acesso àquela língua voraz, faminta e ansiosa para saborear seu interior. O
grunhido do visconde, satisfeito com a decisão que tomara, lhe causou mais prazer do que angústia. Estendeu os dedos e espalhou-os sobre o pescoço tenso devido à inclinação. Não os manteve quietos, mas permitiu que descobrissem o toque da pele masculina. Estava no paraíso. Não por causa do ambiente em que isso acontecia, mas porque tudo se tornou um lugar bonito, cheio de calma, tranquilidade e bem-estar. Era como se depois de anos de trabalho arqueológico em uma área atormentada, finalmente encontrasse os restos pré-históricos.
Sentiu uma forte pressão nas costas, ele a ajustava ainda mais ao seu corpo, transformando-os em um só. Com os olhos fechados, sentindo como se libertava e se transformava em uma nova mulher, se acomodou nele, se entregando ao delírio no qual haviam submergido. Sua língua tocou a do visconde com certa timidez e aquele contato, aquele mísero roçar, causou-lhe um impacto semelhante ao que uma estrela poderia causar ao atingir a terra.
Luzes coloridas figuravam sob suas pálpebras e seu corpo reagia com tanta sensualidade que, sem perceber, seus quadris se esfregavam no membro masculino inchado, fazendo com que aumentasse ainda mais seu tamanho, sua excitação. Ele respirou fundo pelo nariz quando virou a cabeça para o outro lado. Não afastou a boca da dela, pelo contrário, apertou-a com tanta força que, no segundo impulso daquela língua selvagem, saboreou o gosto do próprio sangue. Franziu o cenho levemente, acreditando que o gosto o levaria para longe dela, mas o efeito foi o oposto. A língua do visconde lambeu as gotas que sua ferida emanava e as introduziu dentro de sua boca, como se tivessem lhe dado para beber o melhor elixir que pudessem encontrar. Suas mãos, até agora agarradas a sua cintura, baixaram lentamente até que foram colocadas em suas nádegas e então ele a ergueu como se seu peso fosse parecido ao de uma pluma. Rapidamente, entrelaçou seus braços naquele pescoço forte e continuou aceitando o beijo que não tinha fim.
Caminharam. O visconde começou uma marcha pelo jardim para algum lugar no qual continuariam a manter a intimidade que necessitam dois amantes apaixonados e sucumbidos por um desejo tão intenso, e que só poderia terminar com uma entrega absoluta e sincera. Seus pés, entrelaçados na cintura do visconde, deslizaram suavemente quando sentiu uma forte pressão nas costas e percebeu que haviam parado de andar. Abriu os olhos e contemplou para os dele. Sua íris azul brilhava como duas imensas bolas de
fogo, suas maçãs do rosto, aquelas áreas que a barba espessa não escondia, mostravam o rubor da paixão que ambos sentiam. Ela se acomodou no chão, seus braços emaranhados ao redor do pescoço dele, sentindo o hálito quente do homem e que a olhava com tal desejo que o pulsar que começou entre suas pernas se tornou angustiante, aterrorizante. Sua boca se retirou devagar, como se o fio que os juntara tivesse sido cortado, e justamente quando pensou que aquela loucura havia chegado ao fim, ele começou a beijar seu pescoço, o lóbulo que ela havia tocado quando viu seu colete laranja, e levou-a de volta para o paraíso ao que tinha ido depois de beijá-lo...
—Anne... —sussurrou sem ser capaz de tirar a boca da pele, cheirando com intensidade o traço que percebia em cada beijo que dava nela.
-- É...
Ficou em silêncio porque não encontrava as palavras certas para definir o que ela o fazia sentir. Sem deixar de ouvir os gemidos de prazer que Anne emitia quando pressionava os lábios contra o corpo dela, tirou as mãos da cintura dela, onde as havia colocado para abaixá-la cuidadosamente, e procurou as dela. Quando as encontrou, entrelaçou os dedos com os seus, as ergueu bruscamente e colocando-as sobre a cabeça de Anne, imobilizando-a instantaneamente.
Deus! Como podia se sentir tão atraído? Que tipo de feitiço havia jogado nele para não ser capaz de se recordar de algum momento parecido?
Vendo a confusão no rosto de Anne, depois de fazer um movimento tão violento, Logan colocou sua perna esquerda entre as dela e a beijou novamente, afastando qualquer pensamento arrependido de sua mente.
Isso só seria o começo do que ansiavam...
Enlouquecido pelo gosto daquela boca, agarrou-lhe os pulsos com uma mão, deixando-os onde desejava que ficassem e começou a tocá-la lentamente. Estava tremendo. Para sua alegria, ela estremeceu de desejo ao sentir a mão dele percorrer seu corpo, ainda coberto por um miserável vestido marrom que ele logo arrancaria para tocar o que precisava: sua pele.
A marcaria. Sim, apagaria qualquer resquício que tivesse de Hendall e a preencheria com o seu, fazendo desaparecer o vestígio que nunca devia ter tido.
Quando as pontas dos dedos se acostumaram com o calor de Anne, sua língua empurrou de volta com força dentro da boca dela, fazendo-a soluçar novamente. Quando ouviu que ainda o aceitava e que seu desejo aumentara, ele se aventurou a continuar. Seus dedos pararam de tocar o vestido para serem colocados no decote e muito lentamente, dando alguns míseros segundos para que se adaptasse ao seu toque, estendeu a mão e prendeu seu seio esquerdo.
Maçãs. Aquele seio era mais suave que a pele de uma maçã e o mamilo, duro de excitação, era o cantinho...
Afastou sua boca da dela, embora tenha ouvido um lamento de desconsolo, e foi beijando seu queixo, pescoço, decote...
—Vou... -- Tentou dizer, mas ficou em silêncio quando notou que Anne estava apoiando o torso na direção dele, consentindo com o que decidisse fazer.
Com os olhos bem abertos, contemplando como ela continuava exigindo suas carícias, tirou a mão do seio, colocou-a no vestido e desabotoou os quatro botões. Uma vez que o tecido do chemise ficou diante dele, tornou a inserir aquela mão, que tremia porque ansiava por tocar o seio que segurara, e puxou-o para fora.
Inebriado, entorpecido por tal visão, inclinou o rosto para o seio e o mordeu, como se na verdade fosse uma maçã a qual acabava de dar uma grande mordida.
Anne jogou a cabeça para trás e gemeu com o contato atroz. Ela não se queixou da dor que os dentes lhe causaram na superfície do seio, mas porque, estranhamente, ela queria mais.
—Lo... Logan... —murmurou, fechando os olhos, sentindo uma forte pressão naquela parte do corpo e aproveitando o prazer que a percorria.
Tentou mover as pernas, fraca pela perda de forças antes da chegada da paixão, mas tudo o que conseguiu foi tocar com um joelho o sexo ereto dele.
—Ardo, Anne. Sinto como meu corpo queima como se estivesse
dentro de uma fogueira —confessou depois de deixar aquele seio e beijar novamente o decote nu. -- Sinto minha pele ardendo, queimando...
—Logan... —sussurrou Anne ao cruzarem novamente os olhares.
-- Sim —ele respondeu antes de devorar sua boca outra vez.
O fato dela timidamente ter aberto as pernas, lhe deu a oportunidade de ficar entre elas. Sua cintura se colou ao corpo de Anne e, sem pudor, fez com que ela entendesse o quanto estava excitado, até que ponto ele enlouquecera e a que nível se estendia sua paixão. Porque era assim. Ele se transformou em um louco que queria viver somente com ela, beijá-la sempre que quisesse, tocá-la quando seu corpo precisasse senti-la perto e.... fazê-la dele até a morte chegar.
«Ela é tudo que preciso para viver», a frase de seu irmão, se referindo a sua esposa, apareceu em sua mente para confirmar que, por mais improvável que parecesse, estava sentindo o mesmo. Anne deveria ser dele, exclusivamente dele. Seu passado e o dela haviam desaparecido. Agora eles deviam se concentrar no futuro que deveriam construir... juntos.
No momento em que a mão esquerda levantou o vestido, procurando tocar aquela intimidade, que emitia um cheiro muito hipnótico e que queria provar para confirmar que a essência de Anne era perfeita, ouviu um relincho. Rapidamente afastou a mão, parou de beijá-la e olhou para o céu. O cavalo, que reconheceu imediatamente, voltou a emitir um som
escandaloso.
—Josh! -- Exclamou se afastando abruptamente dela.
—Josh? —Perguntou Anne sem abrir os olhos, confusa e sentindo um arrepio terrível quando perdeu o calor de seu grande corpo.
—Josephine acaba de chegar —informou. -- Sairei para recebê
la enquanto se arruma. Não seria apropriado que nos encontrassem dessa maneira não profissional. Então recomendo que, depois de se arrumar, fique na frente do cavalete e continue com aquele maldito retrato —afirmou em uma voz áspera, se transformando novamente no aristocrata que realmente era.
De repente, o rubor gerado pela paixão foi transformado em sufocamento produzido pela vergonha e pela insensatez, a qual ela sucumbiu, em desespero. Com as mãos trêmulas, Anne enfiou o peito nu sob a camisa e abotoou o vestido. Sua cabeça estava levemente inclinada para frente, de modo que o visconde não notasse sua mudança de emoções. Então, quando pensou que estava sozinha, que ele havia partido, ele voltou, colocou-se na frente dela, levantou seu queixo com ternura e, a olhando como apenas um amante poderia, deu-lhe um beijo carinhoso.
-- Se não se arrepende do que acabamos de fazer, do que nós dois sentimos ao estarmos juntos, esta noite, não tranque sua porta --
declarou antes de beijá-la novamente e sair dali dando um grande passo.
***
Logan amaldiçoou de novo e de novo a chegada inoportuna de Josh. Ele estava prestes a tocá-la, notar a excitação que ela exalava entre as pernas e ver se o necessitava tanto como ele a ela, mas não teve tempo...ao ouvir o relincho de Galeón, rapidamente percebeu que o animal tinha cavalgado sem parar por bastante tempo. Algo havia acontecido com a jovem e não podia esperar para descobrir o que era. Se não controlasse a atitude das irmãs de Anne, ela se concentraria nelas e o deixaria em segundo plano e, por enquanto, queria ser o único projeto na vida da primogênita Moore.
Uma vez que atravessou a academia e pisou na galeria, seus passos não eram lentos, estudados e firmes, empreendeu uma ligeira corrida até chegar à porta da frente. Lá ele encontrou a Sra. Donner, que, como especialista em criação de animais, veio ao chamado desesperado do cavalo.
—Eu sei —Logan disse quando observou o questionamento no seu rosto —verei o que aconteceu.
—Milorde! Que não seja nada mau! —A cozinheira rogou, apertando as mãos e tocando os lábios de leve, como se começasse a rezar.
Logan abriu a porta e focou seu olhar no caminho em que Josh deveria aparecer. O aspecto do galope de Galeón era desesperado, quase frenético. Calmamente, ele não queria se mostrar inquieto, desceu os degraus e caminhou em direção à entrada do portão, onde a receberia e perguntaria o
que havia acontecido. Mas Josh não parou quando o viu parado ali, puxou as rédeas para a direita e continuou em direção ao estábulo. Então ele correu atrás dela, chamando-a pelo seu nome, tentando aplacar o demônio que tinha visto em seus olhos, mas ela estava tão focada no que queria fazer que não o escutava. Desceu do cavalo, como ele fazia, levantando a perna direita sobre a cabeça do animal e, quando ambas as plantas dos pés tocaram o chão, tirou algo que estava escondido sob a sela e caminhou até o servo que a estava esperando. Por causa da luz do sol brilhando sobre o objeto que ela segurava na mão e os olhos que o servo arregalou ao vê-la, não teve dúvida de que ela estava carregando uma adaga. Logan continuou correndo e quando chegou ao seu lado, pegou seu cotovelo para parar o avanço.
—O que diabos aconteceu, Josh?
Mas ela não respondeu, ainda apontando para o criado, virou a cabeça ligeiramente para ele e mostrou-lhe, com mais clareza, um rosto que o deixou petrificado. Tinha chorado. Josh tinha em suas bochechas os sulcos esbranquiçados que deixavam as lágrimas ao vagar por elas, mas em uma tentativa absurda de livrá-las, esfregou a lama que suas mãos possuíam.
Parecia um limpador de chaminés, apesar que Pit, o menino que ele pagava para limpar o interior de suas chaminés, não tinha fogo em seus olhos, e sim partículas de carvão.
—Eu vou matá-lo! -- Josh gritou com a adaga apontando para o
lacaio que lhe oferecera o cavalo. ?Vou cortar sua garganta, assim como queria fazer com ele! —Gritou, apontando com os olhos para o animal que, paradoxalmente, era o ser mais calmo dos que estavam em frente ao estábulo.
—Josh, por favor. Diga-me o que aconteceu? -- Insistiu enquanto deixava de agarrar o braço dela e se colocava entre o criado e ela. Se continuasse a manter essa raiva, logo saltaria sobre o servo atordoado e o esfaquearia. Sem dúvida, o sangue das irmãs era mais cigano do que Moore.
Quantas vezes testemunhou disputas entre os membros de seu povo? Quantas vezes observou como os corpos eram jogados, nos arredores do assentamento, para que os animais devorassem os cadáveres? Muitas. Até o dele poderia ter sido mais um, se a mulher que chamava de mãe não o tivesse salvado.
—Diga a ele! —A jovem uivou tão alto que sua garganta se esticou e afinou como o pescoço de um ganso.
Logan olhou por cima do ombro esquerdo para o criado e descobriu que estava tão confuso que seu rosto perdeu a cor da vida. Então olhou de volta para Josh e notou que toda a raiva contida se transformara em lágrimas. Mas, como bom soldado, ela queria eliminar a única coisa que a deixava vulnerável e as tirou com as mangas da camisa, uma que estava bastante suja. Ela teria caído do cavalo?
—O que está tentando dizer, Pascual? ?Perguntou, virando-se
para ele. —Tem algo para me explicar? —Seu tom suave, mas firme como uma rocha no meio de um rio, fez o servo se encolher.
—Ele queria matá-lo! —Josephine respondeu ao seu lado.
—Matá-lo? —Logan perguntou com aquela voz diabólica.
Franziu a testa e não desviou o olhar de Pascual. —Deve haver um engano, certo? Porque ordenei que ninguém tocasse nesse animal e, até onde sei, o que ordeno em minhas propriedades deve ser cumprido sem uma réplica.
—Pensa assim? —Josh arregalou os olhos e deu um passo à frente, mas Logan a parou colocando novamente uma mão no ombro direito dela.
—Quero que me explique o que aconteceu e por que chegou desse jeito —pediu a Josh sem olhar para ela, mantendo os olhos fixos no homem que, pelo movimento que seu corpo fazia, pretendia fugir a qualquer momento.
—Encontrei a marca da tentativa de assassinato em seu pescoço
-- declarou Josh, respirando fundo.
—Em Galeón? Tem a certeza? —Insistiu.
—Sim —Josh respondeu, enxugando as últimas lágrimas com a frente de sua camisa. —Quando parei na parte norte que indicou para mim, o cavalo ficou inquieto e quando lhe mostrei a adaga, para que se sentisse seguro ao meu lado, ele levantou as pernas como se quisesse se defender
contra a agressão. Quando consegui acalmá-lo, comecei a procurar o que eu temia e.... —ela soluçou -- eu o encontrei.
—Bem. Vou... Nem pense em fazer isso! —Disse ao criado que estava andando para trás para fugir.
—Milorde... Excelência... não tive outro... não queria matá-lo...
apenas tentei me defender quando...
—Cale a boca! Não quero ouvir nenhuma palavra! —Gritou.
Lentamente, ele se afastou de Josh, foi até o cavalo, que estava muito quieto e se colocou na frente dele. Este, percebendo e vendo a presença de seu mestre, levantou a cabeça, moveu as orelhas e relinchou alegremente.
—Olá Galeón. Se divertiu com o Josh? -- Falou baixinho enquanto colocava as mãos no pescoço molhado. -- Ela diz que você tem uma marca e quero comprovar que é verdade —continuou dizendo enquanto arrastava as palmas das mãos pela sua pele.
Depois de ficar entre os quartos da frente do animal, que não se movia nem para respirar, ele percebeu o início da marca. Era tão grande quanto as dimensões de uma das palmas de suas mãos e mais áspera que a textura da casca de uma árvore. Se afastou do corcel, sentindo a raiva de seu sangue cigano tomar conta de sua pessoa, caminhou com determinação para o criado, que olhou para ele com os olhos cheios de medo, colocou-se em frente ao mencionado e ergueu a mão direita com a intenção de dar um tapa
nele.
—Não! —Ele ouviu.
***
Depois de ficar em frente à tela por muito tempo, decidiu deixar o jardim e descobrir por que Logan estava preocupado quando ouviu o relincho de um cavalo. Enquanto caminhava pela interminável galeria, e confirmou que teria se perdido se a criada não tivesse explicado o caminho, pensou no momento especial em que viveram juntos. Não entendia muito bem como tinha ido do ódio à paixão, do desejo de matá-lo a querer que ele ficasse preso ao seu corpo todo o tempo e, sem contar, com a loucura que ambos obtiveram entrelaçando línguas cheias de seu próprio sangue. Eles se tornaram tão insanos que pareciam duas pessoas com sede de beber água de uma pequena poça de chuva. Mas, mesmo que esse ato não fosse sensato, tinha que compreender algo estranho que surgiu de dentro dela no momento em que o provou. Sentiu calor, então congelou. Viu luzes e depois apareceu a escuridão. Ouviu o som de pássaros cantando, mas quando virou a cabeça para o lado oposto, descobriu que o silêncio reinava e que apenas as respirações forçadas deles para poderem respirar. O que acontecia com sua mente? Por que lhe mostrava coisas que não eram verdadeiras? Por que se entregou a ele com tanto ardor? A causa desta entrega foi a paixão que surgiu de dentro dela para pintá-lo? Se abstraia facilmente quando se colocava na
frente de uma nova tela, mas isso não era motivo para ansiar tudo o que ele pudesse oferecer a ela. Havia deixado esse mundo quando observou seu olhar penetrante, ouvindo-o falar com aquele tom tão sedutor e inebriante. Seu corpo reagiu rapidamente, como se tivesse esperado toda a sua vida, como se seu passado tivesse sido apagado diante daqueles olhos e daquela voz. No entanto, precisava assimilar calmamente as emoções que haviam despertado dentro dela. Não poderia cair em outro erro e, assim como estava, não apenas tropeçaria, mas desta vez o buraco seria tão profundo que levaria anos para ver a luz de um novo dia novamente.
«Se não se arrepende do que acabamos de fazer, do que nós dois sentimos ao estarmos juntos, esta noite não tranque a sua porta». A voz do visconde apareceu novamente em sua cabeça para lembrá-la das últimas frases que ele disse antes de sair. Estava disposta a deixá-lo entrar? Seria capaz de fazer isso? Pela primeira vez em sua vida, a alma que mantinha sob seu peito e sua mente coincidiram, só esperava não errar e terminar como naquele dia.
Depois de um longo tempo andando chegou ao final do angustiante corredor, saiu e arregalou os olhos ao ver a cena que estava diante dela. Josh segurava uma adaga na mão direita e apontava ferozmente para o lugar de onde Logan vinha. Ele, mostrando uma solenidade sem precedentes, ficou na frente do criado, levantou a mão e, deduzindo Anne o
que aconteceria, correu para eles gritando que não o fizesse.
—Não! —Gritou horrorizada. —Por favor, não faça isso na nossa frente -- ela implorou.
Quando as orelhas de Logan captaram o grito de súplica de Anne, estranhamente relaxou. Ele estava tão calmo que parecia ter tomado dez xícaras de erva-cidreira. Imediatamente, baixou a mão e juntou-a na perna direita, para não voltar a sucumbir ao desejo de lhe dar um tapa.
—Vá! —Rosnou em uma voz tão áspera e cruel que se assemelhava ao diabo. —Saia das minhas terras agora mesmo! E espero que a vida o leve tão longe que nunca mais nos encontremos, porque se isso acontecer... pagará com juros por sua desobediência!
E o criado correu como um galgo.
Josh, ouvindo o tom que o visconde usava, permaneceu como um soldado e só pôde relaxar quando sentiu o corpo de sua irmã por perto, abraçando-a. Mas ela não desviou o olhar daquele bastardo até que estava fora de alcance.
—O que aconteceu? —Anne perguntou baixinho.
—Galeón é um mestiço —respondeu Logan, que tinha ouvido claramente. —Sua mãe escapou do estábulo ao entrar no cio e acasalou com um dos Percheron que o barão de Sheiton mantém em suas terras. É por isso que tem essa pelagem nos cascos e é muito diferente dos que mantenho no
estábulo. Desde que nasceu, não foi bem recebido entre os outros cavalos e, como descobri, não foi aceito pelo tratador —ele continuou explicando enquanto se virava para elas.
—Aquele bastardo queria matá-lo porque diz que os mestiços devem morrer —disse Josh oferecendo um olhar para sua irmã que ela entendeu rapidamente.
—Teve o que mereceu -- consolou-a Anne depois de beijar sua testa. -- O visconde cuidará para que ele não deprecie as misturas de sangue novamente.
—Claro —Logan resmungou. —E agora, se me derem licença, levarei Galeón aos estábulos para que possa descansar. Enquanto isso, senhorita Moore —disse ele a Anne -- poderá cuidar de sua irmã. Tudo o que precisarem será fornecido pela donzela ou pela Sra. Donner.
—Sim, milorde —disse Anne, um pouco mais calma. Abraçou Josh com mais força, virou-a e tentou levá-la para a residência, mas antes que tivessem dado alguns passos, a jovem afastou-se da irmã e correu em direção ao visconde, que já estava ao lado do cavalo, chorando amargamente.
—O que? —Logan perguntou confuso quando a viu em pé na frente dele. —Quer me dizer algo diferente de...?
Não terminou a pergunta por que Josh se jogou nele, abraçou-o e, com o rosto no peito, continuou com um grito agonizante.
—Sinto muito pelo que sofreu —disse ele, sem saber muito bem como agir em tal situação. Nathalie mal chorava e quando fazia ele era o culpado desse choro e seus outros irmãos, com quem ele viveu em Salved Children, costumavam se esconder nos braços de suas mães.
—Obrigada, Logan —Josh soluçou. —Obrigada pelo que acabou de fazer —continuou a jovem. Ela se afastou devagar do visconde, secou as lágrimas com os punhos da camisa e ergueu o queixo gentilmente. —É uma pessoa tão boa que, mesmo antes de nos conhecermos, respeitava as origens dos outros. —Essa declaração deixou Logan imóvel. —Sabia o que significa ser um mestiço e é por isso que sempre nos tratou com essa consideração --
disse ela, se referindo ao nascimento do cavalo e à bondade de mantê-lo vivo.
—Josh.... acho que... —o visconde tentou dizer, um pouco desnorteado pelas palavras da jovem.
—Nos entende! —Ela exclamou antes de abraçá-lo novamente e se deixar levar por outro choro desconsolado.
—Sim, Josh, eu as entendo perfeitamente —respondeu, acariciando os cabelos loiros e fixando os olhos em Anne.
No momento em que Anne ia sussurrar um agradecimento, a carruagem na qual Elizabeth viajara apareceu. Assim que estacionou na entrada, a porta se abriu e Howlett saiu primeiro.
—Que dia mais espetacular! —Eli exclamou, descendo com a
ajuda do jovem. —Acho que nunca me diverti tanto. É incrível Howlett e me ajudou muito. Juro que não sei o que teria feito sem você.
—Pode pedir ao visconde para que eu a acompanhe sempre que quiser, senhorita Moore —respondeu Howlett, incapaz de apagar o sorriso em seu rosto. —Sempre estarei disposto e orgulhoso em servir uma dama tão sofisticada.
Corando com o comentário, Eli caminhou até a porta, mas quando percebeu que suas irmãs e o visconde estavam à sua esquerda, se virou e....
-- Santo Céu! Onde esteve, Josephine? Tem um aspecto horrível
—disse espantada.
XXVI
Durante o almoço, Elizabeth não parou de falar sobre a viagem e tudo o que encontrou nas várias lojas que visitou. Depois daquele monólogo sem fim, no qual os outros não prestaram atenção porque tinham outras coisas para pensar, ela concluiu que o jardim ficaria muito grosseiro com apenas dois tipos de flores e foi por isso que acabou comprando cinco sementes diferentes. Também propôs ao visconde plantá-las naquela mesma tarde. Como esperado, Logan não se opôs ao seu desejo, pelo contrário, encorajou-a a não perder tempo. Uma vez que Eli ouviu aquelas palavras de apoio, não conseguiu esconder sua felicidade e manteve um sorriso de orelha a orelha pelo resto da refeição.
Na frente dela estava Josephine em absoluto silêncio e com um olhar perdido. Como os outros, seus pensamentos estavam longe do salão.
Embora ela tenha tentado eliminá-lo completamente de sua mente, esta se recusava a fazê-lo e a imagem do descarado, que a beijara sem o seu consentimento, apareceu em sua cabeça repetidas vezes, do mesmo jeito que surgia continuamente o arrepio que sentira quando percebeu seus lábios.
Lembrar-se daquele momento só fez com que sua raiva aumentasse tanto que desejou voltar no tempo para, além de jogar a adaga com mais força, dar-lhe um tapa no exato momento em que sua boca bateu na dela. Por que a beijou?
Por acaso interpretou, em algum de seus movimentos na luta imaginária, que poderia fazê-lo? Apesar de não desejar, mostrou a imagem de uma mulher tão descarada quanto Eli? Claro que não! Ela era uma guerreira e exibia uma atitude severa, forte e cruel. Mesmo assim, o ingrato ousou beijá-la apesar de sua aparência horrível. Seria um louco? Estaria tão transtornado que não era capaz de diferenciar entre uma dama elegante e um soldado manchado de suor e lama? Haveria homens que não procurassem por moças elegantes, mas jovens desastrosas? Essas e outras mil perguntas aumentaram a irritabilidade que a acompanhou durante o retorno, por isso chegou daquela maneira na residência. Não pretendia projetar sobre criado, que feriu Galeón, toda aquela raiva. Mas queria tanto matá-lo que o imaginou naquela figura assustada e desorientada. Por essa razão, se ela tivesse que encontrar uma parte culpada em sua atitude desesperada, tinha que apontar para ele. Poderia odiar tanto alguém? Ela deveria declará-lo como seu inimigo mais perigoso? Sim. O
odiava tanto que, se o reencontrasse, daria todos os golpes que não lhe deu quando ele afastou os lábios dos dela. Quando se lembrou daquele momento e do frio que sua boca sentiu quando se afastou, Josh se mexeu desconfortavelmente na cadeira.
—Está bem? —O visconde perguntou, observando-a tão inquieta.
—Ainda está com raiva?
—Estarei toda a minha vida —assegurou sem pensar. Embora não
tenha mentido. Nunca apagaria de sua cabeça a raiva que lhe causava aquele jovem miserável de cabelos acobreados com um peculiar tufo loiro.
—Se quiser, quando terminarmos o nosso almoço, podemos ir ao estábulo e verificar se o Galeón está em perfeitas condições —Logan comentou para tranquilizá-la, imaginando que a preocupação dela fosse devido à situação que haviam experimentado com o criado.
—Não gostaria de tomar mais do seu tempo —disse envergonhada por não ser capaz de relaxar ou esquecer o ruivo. —Como indicou, essa tarde acompanhará Elizabeth ao jardim.
—Posso fazer as duas coisas —disse, depositando o guardanapo branco na mesa. —Juro que fui treinado para isso -- ele disse ironicamente.
—Howlett pode tomar o seu lugar, se não se opuser —disse Elizabeth, que, pelo brilho em seus olhos, achou essa alternativa mais agradável do que ouvir mil reclamações do visconde, sabendo que ele não gostava de tais tarefas.
-- Isso significa que me considera inútil para fazer um buraco miserável na terra e colocar uma dessas sementes dentro? —Ele perguntou ironicamente.
—Não... sabe o que... —Eli tentou dizer, meio envergonhada pela proposta.
—Calma, não se preocupe, estava brincando. Certamente Howlett
é melhor companhia que eu. Kilby irá informá-lo de sua proposta e tenho certeza que ele ficará mais feliz em passar a tarde ao seu lado do que encarando os ternos que terei que usar nos próximos dias -- disse recostando-se na cadeira e sem tirar o sorriso do rosto.
Olhou furtivamente para Anne e não gostou de descobrir que ela estava com uma pose rígida. Ela não falara e mal comera. Ficou distante, tanto quanto Josh ou ele. Estaria pensando sobre o que aconteceu no jardim?
Se arrependia ou estaria considerando a possibilidade de deixá-lo entrar em seu quarto quando a noite chegasse? A segunda opção era tão agradável e prazerosa que seu corpo tremeu de ansiedade. No entanto, fez algo que não tinha feito até agora para se reprimir. Algo dentro dele gritava que não deveria tratá-la como as outras, que ela era especial e que precisava provar isso para ela. Mas... o que significava para ele o termo especial? Que poderia deitar com uma mulher que, debaixo de sua pele, tinha sangue tão cigano quanto o dele? Por isso estava tão feliz? Olhou para Eli, pois ela ainda estava falando sobre as flores, depois Josh, que continuava com uma carranca e finalmente voltou para Anne. O que ela tinha que a tornava tão irresistível?
Por que sua boca ainda sentia o sabor da sua pele? Era capaz de encantar um homem com um miserável beijo? Hendall sentiu a mesma paixão que ele havia sentido no jardim? Teria se entregado tão facilmente a ele? Agora, era ele quem franzia a testa era ela. Odiava o passado de Anne, odiava tanto que
queria fazê-lo desaparecer e, claro, naquela noite, na manhã seguinte ou em todos os momentos que pudesse, conseguiria. Ele apagaria todas as impressões de Dick e plantaria as suas, como Elizabeth semearia as sementes que comprou para aquela terra inútil. E Anne floresceria única e exclusivamente para ele. A única coisa a calcular era a maneira de fazê-lo sem sobrecarregá-la e sem que pensasse que ela seria outra amante que visitava.
—Então, conseguiu começar o retrato? —Elizabeth abandonou o tema das flores para que Anne reagisse imediatamente. Durante todo o almoço, ela permanecera em silêncio e expressava, descaradamente, que a presença do visconde ainda a incomodava. Não estava ciente de que Logan era um bom homem e que até agora só tinha feito coisas boas para elas? Se não mudasse de atitude, naquela mesma noite falaria em particular com ela e a colocaria em seu lugar.
—Sim —Anne respondeu sem levantar os olhos do prato.
Ela mal comeu aquela refeição deliciosa e tinha certeza de que a Sra. Donner lhe perguntaria o motivo e a repreenderia. Mas seu estômago estava fechado. A visão oferecida pelo visconde quando levantou a mão para bater no criado, apesar do fato de merecê-lo por desobedecer a uma ordem, deixou-a confusa e assustada. Nunca imaginou que ele pudesse adotar uma conduta tão severa, embora não deveria esquecer que era um aristocrata e que
muitos deles se faziam respeitar pela força. Em milésimos de segundo, o homem adorável, apaixonado e sedutor, que estava por perto, tornou-se o vilão mais terrível do mundo.
—Tenho que dizer que fiquei surpreso com a facilidade com que sua irmã pinta —declarou Logan, olhando para Eli. —Depois de me obrigar a posar de mil maneiras horrendas, ela permaneceu em silêncio, fixou os olhos na tela e se abstraiu do mundo que a rodeava. Imaginei essa atitude se devia por não ter encontrado o perfil bonito do meu rosto, mas estava errado.
Quando me aproximei dela, sem que sequer notasse minha presença, observei a beleza dos traços que fazia. Confesso que o talento dela me surpreendeu.
Por mais que tenha ouvido sobre o dom que tem, me recusei a acreditar até que vi com meus próprios olhos. —Esperava que esse comentário, mesmo que fosse um pouco doloroso, a afastasse de seus pensamentos e a fizesse participar da conversa. Não queria contemplar, por mais tempo, seu rosto aflito, como se lamentasse o que havia acontecido entre os dois. Ansiava rever aquela mulher apaixonada que o abraçou e se rendeu à luxúria.
—Nenhum dos clientes que teve até agora se queixou de seu trabalho. Anne conseguiu mostrar a beleza em todas as mulheres que retratou, embora algumas delas fossem tremendamente horrendas -- disse Eli, divertida.
—Elizabeth! —Anne exclamou, finalmente erguendo o queixo.
—Estou mentindo? —Replicou. —Esqueceu a filha dos Sharun?
Existe no mundo uma jovem mais desagradável aos olhos? No entanto, soube como a embelezar todos os traços que a enfeavam. Mas tenho que declarar que, embora aqueles pais atormentados estivessem muito satisfeitos, deveriam ter recriminado seu trabalho porque o que fez não era real.
—Aquela jovem tem um bom coração... —Anne murmurou olhando para Eli. —E é isso que eu coloco na tela. A beleza exterior não é eterna, como bem sabe. O que realmente fica com a passagem do tempo é o que está armazenado sob o peito.
—Bobagens! —Eli respondeu acrescentando um gesto de desdém com a mão direita. —Essa jovem pode ser muito bonita no coração, mas até agora... que bravo cavalheiro se atreveu a pedir-lhe uma dança? E isso que, segundo entendi, seus pais fornecerão um dote suculento para o marido ousado. Mas toda vez que comparece a uma festa, ela permanece escondida no canto mais distante da sala e é incapaz de responder quando solicitado.
—A timidez não é uma desgraça —Josh murmurou, lembrando de sua irmã gêmea.
—Eu sei. Mas se quer conquistar alguma coisa na vida, é preciso ter coragem e lutar —disse Elizabeth com orgulho.
—Nem todo mundo tem coragem —censurou Josh. —Muitas de nós nascemos com certo...
—Se pretende que me sinta culpada porque nossa irmãzinha está incluída no grupo de meninas tímidas e sem coragem, pode manter essa língua viperina dentro da sua boca. Madeleine é tímida porque ainda não é capaz de aceitar a beleza com a qual nasceu. Quando isso acontecer, sua personalidade irá mudar.
—Beleza? Agora diz que Madeleine é linda? Por favor! —Josh bufou, levantando-se. —Como ode ser tão cruel para falar assim? Faz isso porque ele está presente e quer fingir uma imagem que não lhe corresponde?
—Ela apontou para Logan com o dedo. —Bem, não continue, a hipocrisia não lhe cai bem. Devo dizer-lhe, visconde, que desde que posso ouvir claramente, minha amada irmã Elizabeth ria de nós porque ela diz que a cor do cabelo de Madeleine é semelhante à das cenouras e a minha à da mulher mais velha do mundo.
-- Eu —Eli exclamou, arregalando os olhos enquanto observava suas bochechas queimarem de vergonha.
—Sim. Não se faça de desentendida, irmã, porque isso não está dentro da personalidade descarada que tem —disse Josh cruzando os braços em frente à mesa e olhando como se quisesse rasgar aquele lindo penteado com flores rosa.
—O que há de errado com cor do seu cabelo? —Logan disse que, perante a nova discussão familiar, também cruzou os braços e manteve a
atitude de espectador.
—Ela diz que eu nasci com a lua na minha cabeça —Josh explicou com raiva. -- E que pareço mais uma bruxa do que uma menina católica.
—Por que diz isso a ela? —Perguntou a Eli, erguendo as sobrancelhas.
—Eu... eu... não digo...
—Porque meu cabelo não é loiro, mas sim branco! —Respondeu Josh. —Segundo minha querida irmã, isso —disse ela, pegando o rabo de cavalo e mostrando-o ao visconde —indica que sou velha, embora não tenha completado dezoito anos, e por essa razão apenas os homens octogenários vão me notar.
—Bem, me encanta seu cabelo quando o usa limpo —Logan disse calmamente —e tenho certeza que Madeleine é tão bonita quanto qualquer uma das senhoritas.
—Obrigado —disse Josh, fazendo com que toda aquela raiva, que sentia antes da disputa, fosse eliminada tão rapidamente que perdeu a força.
—É a primeira vez que alguém diz algo bonito sobre mim —acrescentou, sentando-se novamente.
—Todas são especiais —continuou Logan. —Cada uma tem algo que a torna única. Não acha que o mundo seria ridículo se todas as mulheres
fossem iguais? Para mim, particularmente, deixam em êxtase aquelas que têm cabelos escuros e olhos castanhos —ele confessou, olhando de relance para Anne para ver se ela ousava repreendê-lo por não cuidar de suas palavras na frente das irmãs. Mas nada, ainda seguia sem a menor reação. —E espero que muitos homens não tenham os mesmos gostos que o meu ou serei forçado a enfrentá-los quando encontrar minha esposa —acrescentou desconfiado. --
Tenho certeza de que seus futuros cônjuges as amarão tal como são e elogiarão suas diferenças.
—Eu não quero um marido —Josh murmurou.
—Realmente acredita que se manterá solteira para sempre? --
Perguntou o visconde, se levantando, um ato que as irmãs imitaram no momento. Bem, está errada. Não será capaz de se afastar do homem que, toda vez que a olhar, mostrará a necessidade de segurá-la em seus braços, protegê
la e amá-la até que a morte apareça.
—Isso é o mesmo que eu disse a ela —garantiu Elizabeth, estendendo a mão para descansar no braço de Logan. Mas ela não me escuta.
Se propôs a se tornar um soldado e....
—E a senhorita não deve humilhar suas irmãs para se sentir superior a elas —Logan interrompeu, repreendendo-a. —Lembre-se que cada um tem objetivos diferentes e não deve criticá-las para alcançar isso.
?Não me sinto inferior a elas —resmungou Eli.
?Ah, claro que não! Se sente tão extraordinariamente superior que se propôs a casar com um aristocrata —disse Josh com mordacidade.
—Podem parar de uma vez? —Disse Anne finalmente, caminhando ao lado de Josh. —Estão oferecendo um espetáculo embaraçoso.
—Eu já parei —disse Eli sem olhar para eles. —Mas não sou aquela que persiste, talvez devesse ordenar que Josh ficasse de boca fechada porque, como um bom soldado, jamais desobedeceria uma ordem.
—Vou arrancar esse seu coque! —Josh gritou, jogando-se em sua irmã.
Mas não chegou até ela, Logan se virou para a jovem, parou aquele salto que dera em Eli, empurrou-a para trás e se colocou no meio das duas. Com os olhos bem abertos, pois não podia acreditar no que havia se formado em um piscar de olhos, olhou para Anne e ela mostrou o mesmo assombro que ele. Como podiam passar de uma conversa absurda sobre flores para uma luta de puxar cabelo? Em que momento a conversa inocente passou para a guerra? Com as mãos abertas, para que Josh não procurasse a área mais adequada para tirar de Eli aquele penteado floral, respirou fundo e fez brotar a atitude do tutor ao qual se autoproclamou.
—Têm um segundo para reconsiderarem esse comportamento inadequado antes de decidir puni-las —garantiu, adotando o tom de um pai.
-- Se não demonstrarem arrependimento sincero, não sairão dos seus quartos
até que eu esqueça o que acabou de acontecer. É isso que querem, passar o resto da semana em seus quartos? —Olhou primeiro para Eli e depois para Josh.
—Não -- responderam em uníssono.
—Nesse caso, peçam perdão —insistiu o visconde com uma voz rouca.
—Sinto muito, Eli —disse, estendendo a mão para ela.
—Perdoe-me, Josh —respondeu, aceitando aquele gesto cordial e pacificador.
—Isso é muito melhor —disse Logan, afastando-se das irmãs —e agora, se precisam descansar, retirem-se para seus aposentos.
—Não posso ir aos estábulos? —Josh perguntou com tristeza. --
Quero ver como está Galeón e se o bom tempo continuar durante a tarde, gostaria de montá-lo novamente.
—Pode fazer o que quiser enquanto não se envolver em outra confusão —ele concordou.
—Obrigada! -- Exclamou alegremente. Se aproximou do visconde e, antes que ele pudesse reagir, o beijou na bochecha. —Não espere por mim para tomar o chá! —Gritou entusiasmada, correndo para a porta.
—Eli? —Ele direcionou a pergunta, levantando a sobrancelha direita.
—Se Howlett ainda puder me acompanhar, gostaria de aproveitar as horas do dia para iniciar os arranjos do jardim.
—Não há problema. Diga a Kilby para informar seu sobrinho sobre o novo plano e não saia de casa sem a presença dele. Espere, não vá, quero te pedir mais uma coisa -- disse, apontando com o dedo.
-- Sim? —Perguntou com uma atitude tão submissa que Anne pensou, por um momento, se o que estava observando era real ou outra de suas alucinações.
—Durante a sua estadia em minha casa, não quero que volte a dizer a Josh que ela é feia porque não é, entendeu? —Disse com firmeza.
—Não farei mais isso, prometo —respondeu, abaixando os olhos.
—Bem, nesse caso, também pode se retirar —concordou Logan.
—Obrigada -- disse. Fez uma leve reverência e, murmurando palavras que só ela ouviu, saiu do salão.
Silêncio... não sabia que amava tanto o silêncio até conhecer as irmãs. Como podiam ser tão voláteis? Eram mais perigosas do que cem homens confinado em seu barco! Como o pobre médico enfrentava situações como a que ocorreu? Deus o teria abençoado com o dom da paciência ou com a surdez? Caminhou lentamente para o lado esquerdo, separando-se de uma Anne imóvel, acariciou o rosto com angústia, virou-se para ela e olhou-a suplicante.
—Elas sempre se comportam assim? —Perguntou depois de suspirar e colocar as mãos em ambos os lados da sua cintura.
Anne olhou para ele sem piscar. Seu rosto refletia não apenas agonia, mas também desespero. Onde estava o homem que levantou a mão para o criado? E sua grosseria? Nada disso observava nele, parecia tão humano quanto o resto do mundo. Levou a mão à boca, para aplacar a risada que queria brotar diante daquela visão tão angustiante, mas não conseguiu silenciar o estrondo de sua gargalhada.
—Sim, sempre se comportam assim —disse entre respirações longas. -- Achou que seria fácil conviver conosco? Que seríamos tão dóceis quanto às mulheres que encontra em sua vida? —Acrescentou divertida.
Havia desaparecido. Os sentimentos tristes que suportou durante o almoço desapareceram imediatamente ao contemplá-lo na intimidade. Era tão vulnerável quanto ela e tão volátil quanto suas irmãs. Talvez, apenas talvez, sua atitude em relação ao servo tivesse uma razão diferente do que exaltar seu poder.
—Como seu pai controla nessas situações? —Exclamou, mostrando em seus gestos e em seu tom de voz uma angústia exagerada. Se tivesse finalmente quebrado o muro que Anne havia construído durante o almoço, estava disposto a que não levantasse novamente. Como concluiu, ele precisava encontrar a mulher escondida sob aquele olhar indescritível.
—Devido ao seu trabalho, é a minha mãe quem as chama a ordem
—respondeu, descobrindo que ele retornava para seu lado.
—Como consegue? —Retrucou, parado na frente dela. Suas mãos voltaram para o rosto e ele esfregou em desespero.
—Mantendo-as quietas ou firmes? —Queria saber. Sim, aquilo era tão improvável quanto engraçado. O grande sedutor parecia abatido pela atitude de duas pequenas jovens. E isso que Mary tinha ficado em casa! Ele não sabia nada do que poderia se formar em sua casa quando as cinco permaneciam juntas.
—Ambas as coisas —confessou, estendendo as mãos para o chão, como se estivesse resignado diante de uma situação difícil de controlar. Mas se quisesse executar o plano que tinha elaborado em milésimos de segundo, precisava continuar mostrando perplexidade, desespero e rejeição. Não era a irmã mais velha? Não ajudaria Sophia nos momentos mais difíceis? Bem, isso era o que devia lhe dar a entender, que estava vivendo o dia mais difícil de sua vida e que pedia sua ajuda. Uma vez que ela estivesse ao seu lado, lutaria com todas as armas de sedução para que a mulher que estava em seus braços e suspirava por suas carícias retornasse.
—Não sei, talvez minha mãe tenha o caráter certo para doutrinar suas cinco filhas, mas só ela sabe a verdade.
—Anne... —ele disse olhando-a com olhos suplicantes.
-- Sim, milorde? —Respondeu rapidamente adotando o tratamento cortês.
—Tem que me ajudar —disse, suportando a fúria que sentiu ao ouvir como ela colocava distância entre eles novamente.
—Para ajudá-lo em quê? —Estalou, arregalando os olhos.
—Nós não podemos deixá-las sozinhas. Estou com muito medo de que, embora tenham me prometido, procurem um momento para se envolver em outra discussão e não tenho a menor dúvida de que o penteado de Eli será jogado fora de sua cabeça —explicou com aparente aflição.
-- Se deram a sua palavra, certamente irão obedecer —defendeu-as como qualquer irmã mais velha faria.
—Minha irmã Natalie também fez muitas promessas a Roger e, entre elas, jurou que nunca se casaria com o sobrinho de Arthur Lawford. E o que aconteceu?
—Se casou com ele... —murmurou Anne, confusa ao ouvi-lo falar sobre um assunto tão particular.
—Exatamente! —Exclamou caminhando para a saída. —Preciso de você Anne, muito mais do que pode imaginar.
Essas palavras foram mais sinceras do que esperava. No entanto, no contexto em que as usou, não eram diretas nem estranhas. Se sua experiência não falhasse, Anne era uma das pessoas que não eram capazes de
se recusar a ajudar os outros e ele seria o homem mais necessitado do mundo.
—Pretendia passar o resto da tarde matizando o esboço... --
alegou olhando para o chão e esfregando as mãos.
—Perfeito! —Direi a um dos servos para mover o cavalete e tudo que precisa do lado de fora. Enquanto continua com a tela, ficarei de olho nessas duas pequenas criaturas ferozes. —Ficou parado na porta, esperando que ela avançasse, mas não o fez. O que acontecia? Não sentia vontade de acompanhá-lo? Ou talvez...
Pensando sobre esse possível, talvez, que não tinha notado porque sua cabeça estava concentrada em como aplacar a discussão das irmãs, Logan voltou para o seu lado, colocou um dedo sob o queixo de Anne e levantou-o gentilmente. Vendo que seu rosto mostrava tanta confusão quanto antes, se aproximou devagar e lhe deu um beijo carinhoso nos lábios.
—O que há de errado? —Ele murmurou, mal tirando a boca da dela. —O que a preocupa? Se arrepende do que fizemos no jardim? Não quer que esteja ao seu lado? Por que não me chama de Logan quando estamos sozinhos?
—Não acha que nos deixamos levar por uma emoção absurda? --
Perguntou olhando em seus olhos.
—Emoção absurda? —Repetiu, permitindo captar em seu tom de voz que essa descrição o machucou. —Não. Não acho que me deixei levar
por algo assim. Acho que mostrei a atração que sinto por você e que, embora devesse ficar longe, pois está sob minha proteção, não posso e não quero --
declarou severamente.
—Mas...
—sussurrou,
abaixando
o
rosto,
um
que
instantaneamente levantou com a ajuda da mão direita de Logan.
—Não há mas, Anne. Sinto-me tão atraído por você que até ponderei a ideia irracional de que me enfeitiçou. Tenho que ser honesto em lhe dizer que, desde que apareceu em minha vida, faz com que eu seja uma pessoa diferente, uma que esquece... —Vendo que ela tinha a intenção de perguntar a que se referia, continuou olhando-a nos olhos: Sabe porque no final eu não bati naquele maldito criado?
—Não... —murmurou.
—Porque ouvi sua voz. Se não tivesse aparecido, teria lhe dado uma boa lição. No entanto, tê-la, ouvi-la e senti-la, faz com que recupere a sanidade e que apareça em mim o homem que verdadeiramente sou.
—E? Quem é? -- Insistia em descobrir enquanto seu coração batia em um ritmo desenfreado.
—Fique comigo e te mostrarei. Temos vinte e oito dias para que descubra —disse separando-a apenas o suficiente para ela segurar o seu braço.
—Não deve provar nada. Não pretendo...
—O que não pretende, Anne? Me enfeitiçar? Bem, já o fez --
disse antes de tomar uma de suas mãos e, entrelaçando os dedos com os dela, levou-os à boca e os beijou carinhosamente. —Prometo que deixarei minha alma descoberta, que será capaz de ver o homem que realmente sou e, se não sentir aquilo nasceu em mim, a deixarei partir.
—Como pode me dizer essas coisas? Como te ocorre me perturbar? Como...?
Anne não terminou sua última pergunta, Logan a silenciou com outro beijo, embora esse não fosse suave ou doce, mas apaixonado, louco, descontrolado, lascivo. Seu corpo reagiu rapidamente ao calor de sua boca, ao movimento de sua língua dentro dela, às carícias que fazia em seu rosto com a mão que não entrelaçava a dele. Se sentia tão fraca, tão frágil, que duvidava que pudesse ficar em pé por muito tempo.
—Digo essas coisas porque vejo que corresponde com a mesma intensidade —sussurrou entre suspiros. ?E agora, minha querida Anne, se não quer que levante a saia desse vestido marrom e me deixe levar pela necessidade de torná-la minha, vamos sair daqui.
Muda e com a respiração agitada, Anne aceitou o braço do visconde. Caminhou ao lado dele até que saíram, como se fossem dois recém-casados, que mal conseguem se separar. Abriu a porta e convidou-a a passar na frente. Uma vez que se colocou na varanda do lado de fora, uma brisa
suave acalmou a abrasão que notou em suas bochechas e a luz suave dos raios de sol a fez fechar os olhos ligeiramente. Colocou a mão direita na testa, usando-a como um escudo, olhou em volta e sentiu-se estranhamente feliz.
Por que sua confissão lhe trouxe tanto conforto? Será que não entendia que a única coisa que conseguiria seria se tornar outra amante do visconde? Era isso que queria? No momento em que uma dor estranha apareceu em seu ventre, como se estivesse lutando contra aquela ideia nefasta, um pássaro grasnou no céu. Com a mão apoiada na testa, como se fosse um soldado, levantou o rosto e ofegou ao descobrir que um imenso corvo estava voando sobre ela.
—Me acompanha? —Logan perguntou, novamente estendendo o braço para que ambos pudessem descer os degraus que os levariam à imensa esplanada verde.
—Sim —respondeu Anne depois de aceitá-lo sem hesitação.
Quando desceram juntos, enquanto ele começava a conversar sobre como encontrara aquele lugar e a razão pela qual o adquiriu, o corvo continuou voando sobre eles e não desapareceu até que, três horas depois, Anne e Logan voltaram para a residência.
XXVII
O silêncio reinava novamente no corredor...
Anne se encostou à porta do quarto e suspirou. Fazia três dias desde que o visconde lhe pedira para não trancar a porta para deixá-lo entrar, mas ele não aparecera. Na primeira noite, enquanto esperava por ele, sentada em sua cama, bateram na porta. Com o coração pulsando na garganta, porque achava que era ele, caminhou em direção à saída e, descobrindo quem era, teve uma estranha sensação de alívio e tristeza. Elizabeth, depois de passar a tarde trabalhando no jardim, pareceu agradecer-lhe pela mudança de atitude que demonstrou ao visconde durante o jantar. «Sabia que no final se renderia ao seu encanto», disse no meio da conversa. E não tinha ideia de quanta verdade suas palavras possuíam. No decorrer daquela tarde, falou com ele como se se conhecessem desde a infância. A conversa entre eles passou de contar a história de como e por que comprou Harving House, ao momento em que viajou pela primeira vez no navio, a tensão que sofreu por ser responsável por tantos homens sob suas ordens e a satisfação que sentiu ao retornar. Então continuou falando sobre seus irmãos, até narrou milhares de aventuras que viveu com Nathalie e ele crianças. A chegada de Evelyn à vida de Roger e como sua casa se encheu de felicidade diante do inesperado nascimento de Evah, a filha do marquês. Mas essa conversa amigável mudou
quando ele tentou descobrir coisas sobre ela.
—Por que deseja partir para aquela cidade? -- A pergunta a surpreendeu tanto que não sabia o que responder. —Alguém te falou sobre ela? -- Ele persistiu, movendo lentamente o caule de uma margarida que havia cortado do jardim.
Anne olhou para ele timidamente. Devido ao calor, tirou o paletó e mostrou uma atitude muito íntima e relaxada, quando se recostou no banco de pedra e esticou as longas pernas.
—Sim —disse finalmente.
—O que ele lhe disse para que quisesse experimentar a agonia de fazer uma viagem tão longa? —Insistiu.
—Que encontraria a paz que procuro. ?Fixou os olhos na tela novamente e, apesar do fato de que sua mão estava tremendo, continuou a moldar o contorno de suas sobrancelhas. Como podia ser tão diferente? No jardim, enquanto foram mantidos longe de qualquer observador, se mostrou como o conquistador de mulheres que era. No entanto, naquele momento, não havia sedução em seus gestos ou palavras, mas sim cumplicidade, familiaridade e simplicidade.
—Por causa da maldição? —Perguntou antes de colocar o caule pequeno em seus lábios, como se fosse um cigarro. Cruzou os braços sobre a cabeça e fechou os olhos. ?Pensa que ali desapareceria?
—Não —respondeu sem olhar para ele.
—Então? Por que insiste em partir? —Insistiu sem mover nada além do peito enquanto respirava.
—Uma mulher deve construir bom futuro se ela se recusar a procurar um marido que a mantenha —declarou com sinceridade.
—Entendo... —murmurou antes de permanecer em silêncio.
Quando pensou que o assunto tinha acabado, que ele já havia deduzido que seu propósito era se tornar a famosa retratista que sua mãe lhe disse, se incorporou no banco para se sentar, olhou para ela, como se tivesse testemunhado um milagre e disse:
—É uma cidade muito libertina. Sabia?
—Não —respondeu secamente.
—Nesse caso, fico feliz que esta viagem tenha sido cancelada.
Certamente não gostaria de ver homens e mulheres se renderem a uma paixão passageira em qualquer canto das ruas.
Esse comentário ousado deixou-a tão surpresa que o carvão atingiu o chão. Quando se abaixou para pegá-lo, ele já estava ao seu lado, para ajudá-la. Os dedos de sua mão direita sentiam as carícias dele e não pode deixar de se sentir oprimida por aquele toque suave e delicado.
—Teria morrido de tristeza se descobrisse o que é capaz de me fazer sentir e me encontrar na horrível obrigação de abandoná-la em um
lugar tão distante —sussurrou enquanto ambos se levantavam ao mesmo tempo. —O que eu faria sem esses olhos castanhos, incapaz de sentir o perfume do seu cabelo ou poder olhá-la quando quisesse?
Um golpe. Anne sentiu um golpe terrível no estômago. O que pretendia? Enlouquecê-la com palavras doces? Era assim que tratava todas as mulheres que passavam por sua vida? E depois? O que aconteceria depois? E ela? Como suportaria uma experiência semelhante com o visconde? Tinha que se recusar a sentir, desejar, ansiar por ele, mas lá estava ela, com um estupor semelhante ao que teria uma jovem inocente quando um de seus pretendentes desejasse deixá-la apaixonada por doces e frases estudadas.
—Não se lembra de que matei os dois homens que decidiram se apaixonar por mim? —Fez a pergunta para se defender de suas próprias emoções. Não podia contemplá-lo com desejo, nem o observar como se fosse o único homem no mundo. Precisava lembrá-lo que estava amaldiçoada e que ele poderia terminar da mesma maneira...
—Não eram apropriados —respondeu com um sorriso tão lindo e atraente que Anne não conseguia tirar os olhos daquela boca que, momentos antes, havia provado.
Não havia lhe dito que estava enfeitiçado? Bem, amargamente, ela também estava. Uma voz estranha retumbou em sua cabeça com tanta
intensidade que pensou que explodiria. Não, não podia se deixar levar pela atração que sentia, nem por essa selvageria que despertava toda vez que olhava para ela. Ou adotava a postura correta ou acabaria nua em sua cama ou na dela. Essa visão, que sua mente rapidamente projetou, agradou-a tanto que um calafrio correu da ponta dos pés até a cabeça.
—Está com frio? —Perguntou e, sem ouvir a resposta, pegou sua jaqueta, se colocou atrás dela e a pôs sobre seus ombros lentamente. E, depois de dar uma rápida olhada ao redor para confirmar que estavam todos ocupados, esfregou seus braços e, pouco antes de se afastar, deu-lhe um beijo no pescoço. —Conheço muitas maneiras de aquecê-la, mas este não é o momento certo para demonstrá-las.
Outro golpe no estômago. No entanto, esse foi acompanhado por uma dor angustiante entre as pernas. Sim, claro, aquele ladino tentava seduzi-la até que gritasse para que oferecesse tudo o que propunha, mas... O
que deveria fazer? Resistir? Lutar com todas as suas forças? Por que? Não era mais uma mocinha virtuosa, há muito que perdera a inocência e, segundo sua mãe, logo poderia fazer o que quisesse sem ter que dar explicações. Além disso, qual era uma das razões pelas quais queria ir a Paris? Sentir-se viva, querida e imersa em um turbilhão de paixões que apaziguaria essa necessidade que renascia nela com mais força. Seu sangue cigano havia despertado e ansiava pelo que ele queria lhe dar.
Observou-o sentar novamente e adotar essa postura casual e familiar. O que pretendia?
—Foi na segunda viagem que fiz àquela cidade —continuou Logan -- quando fiquei hospedado no bordel da senhora Gautier.
—Como disse? —Perguntou, segurando o carvão com tanta força que se partiu em dois.
—Que me hospedei no bordel da senhora...
—Como é capaz de comentar uma coisa tão íntima? —Censurou.
—Disse na sala de estar, que mostrarei minha alma e que parte da minha vida está dentro dela. A escandaliza? Não achei que faria pois, como descobri, manteve um relacionamento apaixonado com Hendall.
—Não vejo isso como apropriado —murmurou, fixando os olhos na tela novamente e escondendo atrás desta o embaraço de suas bochechas.
—Bem, se ficar escandalizada ao descobrir por que me chamam de Logan, o conquistador, pode me fazer às perguntas que achar melhor --
comentou divertido. ?Embora, garanto que iria gostar da história.
—Realmente acha que me faria feliz saber o que fez com essas mulheres? -- Falou indignada quando colocou as mãos na tela e olhou por cima.
-- O que observo é ciúme? ?Alegou ainda mais divertido e um pouco orgulhoso. Se virou para ela, colocou as solas dos sapatos no chão e
sorriu. ?Não imaginei que abrigasse esse tipo de emoção sobre mim.
—Não estou com ciúme —resmungou, se escondendo atrás da pintura novamente. ?Mas sinceramente, sei que não gostarei desse assunto.
—Bem, vamos mudar a conversa... —disse, descansando os cotovelos nos joelhos. —Como foi sua infância? Sempre quis ser retratista?
Qual imagem achou mais difícil? Por que se apaixonou por Hendall?
Ninguém a informou que era um mulherengo, que suas empresas estavam falidas e que só voltariam à tona se conseguisse casar com a filha de um bom homem?
Tremor. O corpo tremia. Podia sentir o movimento selvagem até de seus cílios. Esse era o objetivo do visconde? Descobrir por que se comprometeu com Dick? Com qual razão? Ridicularizá-la? Bem, não conseguiria!
—Conhecia a reputação de Dick -- assegurou em uma voz firme e forte -- mas me jurou que, uma vez que estivéssemos noivos, seu passado seria deixado para trás. Não fez essa promessa a nenhuma de suas amantes?
—O atacou.
—Não, porque isso seria uma mentira e não gosto de enganar as pessoas. Elas sempre souberam da posição que lhes dei e não haveriam outras possibilidades —respondeu com extrema contundência.
—E ainda assim continuaram? —Perguntou perplexa.
—Não acha que mereço o esforço? —Contestou, esboçando um grande sorriso.
—Não. Conheci muitos homens mais bonitos. -- Ela mentiu porque queria acertar seu ego da mesma maneira que fazia com seu estômago sempre que falava sobre algo que não deveria e a fazia sentir aquilo que era proibido.
-- Não? Uau! Isso partiu meu coração, senhorita Moore. Como poderei recompô-lo? —Comentou com aparente aflição.
—Tenho certeza que superará—murmurou, escondendo o rosto sorridente atrás do retrato.
—Não tem a sensação de que nos conhecemos a vida toda? --
Perguntou ao ar quando se deitou no banco de pedra. —Porque eu sim. --
Permaneceu em silêncio, pensativo, depois virou a cabeça para ela e procurou o seu olhar. Não encontrou, escondia atrás daquele grande cavalete: —Sabe? Nunca falei, tão calmamente com uma mulher, enquanto tentava aplacar a ereção que guardo sob as minhas calças.
Três. Aquelas palavras produziram o terceiro golpe em seu estômago e uma sensação tão agradável que sentiu seu corpo reagir instintivamente. Como poderia ser tão canalha? Teria descoberto que ela enlouquecia com palavras e situações descaradas, essas que se assemelhavam tanto com seu sangue dominante? Porque, para qualquer
cigana que se preze, bajulações como essas faziam seu corpo ferver.
E quando planejou repreendê-lo novamente, ouviu como o cavalo, no qual Josh cavalgara a tarde toda, estava se aproximando.
—É lindo! Maravilhoso! Incrível! —Exclamou Josephine, recompensando as façanhas do animal com fortes carícias no pescoço.
—Bem, a amazona também fez um ótimo trabalho —Logan comentou, levantando de um salto. De repente, o homem canalha que havia estado ali, mudou para se tornar o tutor responsável. —Da próxima vez deve lembrar que Galeón salta melhor quando a distância é curta. Avança muito rápido e solta no meio do caminho -- explicou enquanto acariciava o pescoço do cavalo.
—Poderia me ensinar, se isso não o fizer perder muito tempo --
disse Josh, com os olhos brilhantes de emoção.
—Boa ideia. Se desejar, amanhã, depois do café da manhã, poderíamos dar um longo passeio. Lá em cima —apontou para o lado esquerdo, exatamente onde uma pequena colina estava —há troncos caídos pela última tempestade. Eles servirão para que eu possa ensinar como fazê
lo pular.
—Sim! Sim! —Gritou a jovem cheia de alegria. —Estou encantada! O que acha, Galeón? Sim, de verdade? —Disse, inclinando-se para a pele do cavalo como se estivessem conversando. —Acho que ele
também gosta da ideia.
—Nesse caso, faça-o retornar ao estábulo e dê-lhe comida e bebida. Tem que recuperar forças para amanhã.
—Às suas ordens! —Respondeu Josh, levantando a mão direita na testa antes de chicotear Galeón.
—É impressionante... —Logan refletiu voltando ao banco. Juro que ela é a mulher mais corajosa que já conheci. Tenho certeza de que se ela tivesse nascido homem, a Grã-Bretanha estaria a salvo de qualquer inimigo
—disse sentando-se.
—Mas não é —disse Anne, sem se afastar da pintura —e ela tem que assumir isso mais cedo ou mais tarde.
—Verdade —disse sem poder desviar o olhar da jovem. —Não entendo porque quer manter um comportamento tão masculino, odeia a realidade?
—A de ser mulher? —Perguntou e o visconde afirmou com um leve aceno de cabeça.
Colocou o carvão em uma sacola que pendia do cavalete e, observando que a jaqueta deslizava entre seus braços, acabou colocando as mãos nas mangas. O calor que proporcionou a roupa do visconde e o perfume que emanava dele a relaxaram. Mas ele não podia descobrir que ela também estava confortável, ele usaria aquele momento para fazer outra
pergunta inapropriada. Por essa razão, conteve todos os músculos de seu rosto, limpou o carvão das mãos em um dos panos que comprou e avançou para o lado esquerdo, na direção oposta à do visconde.
—Deve entender que o comportamento que mostra não corresponde à sua natureza, embora isso, de certa forma, a torne mais especial. No entanto, deve estar ciente de que não pode alcançar tudo o que pretende alcançar. Sem ir mais longe, a noite que passamos bebendo na pousada...
—Ato que estava fora de lugar porque Josh não deveria ter bebido como se fosse um velho bucaneiro —o interrompeu em reprimenda.
—Mas tenho que confessar que veio muito bem para nós dois --
se defendeu, incapaz de eliminar o sorriso. Por fim, a irmã protetora veio à tona, assim como já estava começando a ouvir como seu tom de voz não era tão esquivo. Havia declarado que mostraria sua alma, apenas esperava que Anne fizesse o mesmo. —Ela me contou sobre seus sonhos e tive que explicar que eles não seriam reais.
—O que disse? —Perguntou, virando-se para ele bruscamente e mostrando clara evidência de terror em seu rosto.
—Que os soldados não a veriam como iguais e que acabariam violando-a -- declarou sem se importar.
—Por que foi tão cruel?
—Não fui cruel, Anne, mas sincero. Ela precisa que falem com clareza e não ser enganada. Já disse que não gosto de mentir, muito menos a uma jovem como ela. -- Sua voz não vibrou nenhuma vez. Expressando em cada palavra uma franqueza convicta.
Anne olhou na direção que Josh havia tomado, esfregou os braços e, embora fosse ilógica, sentiu o toque da jaqueta do visconde e se acalmou novamente. Talvez não fosse certo que ele falasse com ela dessa maneira tão direta, mas não podia culpá-lo. Era a primeira vez que alguém falava com Josh com tanta sinceridade. Só esperava que ela não esquecesse a parte mais difícil desse sonho que estava determinada a alcançar.
—O que acontece com Madeleine? —Perguntou, levantando-se e caminhando em direção a ela. Só parou de andar quando se colocou nas suas costas.
—Nada. Ela é perfeita. A única coisa que acontece é que sua timidez a impede de conversar com outras pessoas que não sejam nós.
—Bem, ouvi a voz dela e admito que era angelical —disse sem se mover do seu lado.
Logan respirou fundo, pegando todas as partículas invisíveis que Anne emitia de seu perfume. Se perdia.... Sim, estar tão perto dela fez com que ele se perdesse em um mundo que, até o momento, desconhecia.
Desejava abraçá-la, consolá-la, sussurrar que ele sempre a ajudaria e que
não deveria temer o que poderia acontecer entre eles, porque nem mesmo a maldição poderia separá-los. Mas não era o momento, precisava de mais tempo. Um em que ela descobriria quem ele realmente era e o aceitaria. Que não gostava de enganar? Bem, mentiu sobre sua origem por trinta e três anos! O que ela pensaria se descobrisse? Seria capaz de amar o cigano e o Visconde? Ou só aceitaria o homem que ostentasse um título nobre?
—Talvez, com o tempo, encontre uma pessoa que a faça sair da caixa de cristal em que ela decidiu viver —disse Anne como reflexão sobre Madeleine.
—E você? Deixará a gaiola em que se trancou?
O hálito quente do visconde roçou a pele de seu pescoço, causando outro arrepio. No entanto, desta vez, não esfregou os braços, mas estendeu as mãos para o chão. Como poderia derreter tão facilmente a frieza que ela criou por tantos anos? Desejava o contato de um homem ou apenas dele? Por que abandonou a integridade da qual se orgulhava? O que tinha ele de especial para seu corpo admitir que o havia esperado toda vida?
—Não estou enjaulada, milorde —disse, virando-se para ele.
Seus olhos. Aquelas írises azuladas olhavam para ela com tal desejo que permaneceu imóvel. Esse coração que se manteve letárgico por muitos anos batia desenfreado e sua mente, irracional toda vez que estava na frente dele, apenas gritava havia chegado o momento de se render ao óbvio.
E, de acordo com isso, essa evidência consistia em que se entregasse ao homem esperado. Sua mãe teria razão? Os sonhos seriam verdadeiros? Não, não poderia ser. A pessoa que esperava tinha sangue cigano e o visconde, exceto pela cor de seu cabelo, em tudo o mais, mostrava sua origem aristocrática. Então... o que teria ao seu lado? Um romance que terminaria no mesmo dia do seu contrato? É isso que desejava?
—Está —garantiu, trazendo sua boca perto da dela -- mas não demorará muito para começar a voar, porque serei o homem que abrirá a porta dessa maldita gaiola.
—Pelo amor de Deus!
O grito de Elizabeth fez Logan saltar rapidamente para trás e Anne ficar rígida como uma tábua. Ambos pensaram que os descobrira, mas não era assim. A jovem olhava para as saias de seu vestido enquanto sacudia as manchas de lama com fúria.
—O que acontece? -- Anne perguntou, saindo para encontrá-la.
—A terra é terrivelmente má! —Ela exclamou horrorizada. --
Howlett e eu devemos arejá-la muito se quisermos semear algo naquele terreno inerte.
—Arejá-la? Não acha que a brisa que temos durante a manhã é suficiente? -- Brincou Logan, que chegará à tela e olhava como se a estivesse estudando.
—Não me refiro a esse tipo de ar! —Respondeu divertida, Elizabeth.
—Não? —Logan respondeu, levantando ambas as sobrancelhas, expressando sua incerteza desta maneira.
—Temos que fazer pequenos furos na superfície para que o oxigênio atravesse a terra. Dessa forma, as futuras raízes permanecerão saudáveis e não apodrecerão.
—Achava que as folhas eram as que precisavam de oxigênio, não a raiz -- prosseguiu Logan, acentuando o tom de perplexidade.
—E é verdade —disse Eli, tirando o chapéu. No entanto, se alimentam pela raiz e, se não estiver saudável, morrerão.
—Explicou isso ao jardineiro a quem pago uma grande fortuna para cuidar deste lugar? Seria conveniente informá-lo que precisa fazer pequenos furos em toda a propriedade —explicou sarcasticamente.
—Está brincando, certo? —Eli perguntou, mostrando um grande sorriso.
-- O que acha? —Respondeu antes de estender o braço para ela e voltarem para dentro da residência.
Durante aquela noite, Josh não parou de falar sobre a magnífica tarde que passara com o cavalo e Elizabeth do bom relacionamento com Howlett. Ambas estavam entusiasmadas e ansiosas pelo novo dia que viria.
Quando se retiraram para seus quartos, Anne as acompanhou e ficou no quarto o esperando que Logan aparecesse, mas as horas passaram e, exceto pela breve visita de Eli, para falar sobre sua mudança de atitude, permaneceu sozinha até adormecer. No dia seguinte, quando desceu para o café da manhã, Josh e o visconde saíram para o passeio que ele prometera. Elizabeth continuou com seu trabalho de cultivo e ela se abrigou em uma sala, que Kilby havia preparado, para avançar na pintura. Passou a manhã inteira suspirando, se lembrando das sensações que sentiu por tê-lo tão próximo e ansiando por ele. Essa última a deixou bastante inquieta, porque não podia decidir se essa ânsia se devia ao fato de ter passado a noite sozinha ou que, na verdade, começava a gostar da companhia dele, apesar de se comportar com tanta ousadia quando estavam sozinhos.
Realmente queria contar para ela sobre suas amantes? Como era possível falar sobre esse assunto particular sem se importar com a imagem que isso lhe daria? «Não tem a sensação de que nos conhecemos a vida toda?
" Sim, ela tinha, mas não devia confessar esse pensamento tão facilmente.
Primeiro tinha que assumir a razão pela qual se sentia tão diferente quando estava ao seu lado. Uma vez resolvida essa questão, se concentraria nas outras.
À tarde, desse mesmo dia, foi muito semelhante à anterior.
Enquanto Eli continuava com o plantio das sementes, Josh cuidava do cavalo
com cuidado. O visconde acompanhou-a até os estábulos, para continuar dando conselhos sobre uma boa equitação. Ela, pelo contrário, olhava para o esboço sem saber como continuar. Era a primeira vez que lhe faltava inspiração. Não conseguia avançar, ou talvez não quisesse fazê-lo sem que ele estivesse ao seu lado. Era hora de voltar e não havia dado nenhum mísero traço novo. Tudo permanecia o mesmo até que ouviu um tremendo grito.
Levantando os olhos e os direcionando para o lugar de onde veio aquele uivo de felicidade, observou Josh abraçar o visconde com tanta força que o teria dividido em dois, se não possuísse um porte tão forte.
—Ele o deu para mim! O Galeón é meu! —Ela gritava eufórica sem parar.
Por essa razão, durante a noite, a única pessoa que a visitou foi Josh. Estava tão animada com o presente do visconde que não conseguia dormir.
E a manhã daquele dia chegou. Esperava, desejava e precisava que ele ficasse ao seu lado, que aquele homem descarado e atrevido que costumava falar com ousadia ou roubar um beijo retornasse. No entanto, ele não ficou em Harving. De acordo com Kilby, o senhor teve que sair para resolver certos assuntos administrativos. Anne não tinha certeza se a raiva que a abalara naquele momento era pelo tom que o criado usara para falar com elas ou o fato de que ele estava se distanciando dela novamente. Seja o
que for, até que ele apareceu para almoçar, tinha um humor de cachorro e esteve prestes a quebrar a tela mil vezes.
Por que agia dessa maneira? Não lhe disse que despiria sua alma?
Então... por que prestava mais atenção às irmãs do que a ela? Exceto por alguns olhares furtivos, que poderiam ser oferecidos durante o almoço e o jantar, não havia mais nada. Nem beijos, nem palavras, nem toques intencionais. Frio. Parecia que tinha se transformado em um bloco de gelo.
Teria perdido o interesse nela? Teria percebido que não era uma mulher adequada para ele?
Depois de suspirar profundamente e se resignar ao óbvio, voltou para a cama. Era a terceira noite e, como nas anteriores, nada aconteceria entre eles. Talvez ele tenha pensado melhor em sua maldição e concluiu que seria melhor evitá-la. Se fosse assim, agora ela não só ficaria confusa com as emoções que surgiam cada vez que o olhava, com suas roupas elegantes ou com aquele sorriso que dedicava às suas irmãs, mas também por causa daquele desejo que aumentava com as horas.
Lentamente, sentou-se no pé da cama, atirou-se para trás e, com as mãos estendidas nos travesseiros, olhou para o teto. Tinha que se concentrar em fazer o seu trabalho. Não podia ocupar sua cabeça com bobagens. Não era tão jovem para encher a cabeça de pássaros. Seu passado, esse que alguém revelou para o visconde, era um muro que não podiam pular,
embora naquela tarde ambos foram levados por uma paixão repentina. De olhos fechados, enfiou os dedos sob os travesseiros. Como Josh disse, o cetim tinha um toque suave que a convidava a nunca sair da cama. Então, as pontas da mão direita tocaram alguma coisa. Surpresa, ela se virou e colocou os joelhos no colchão, rapidamente levantou o travesseiro e olhou para o papel, no qual ele colocou seu nome, há algum tempo.
Ele. Ele tinha escrito. Essa e forma de ligar as letras, unir a letra A com o primeiro N era dele. Com o coração a mil e as mãos trêmulas, acabou pegando a nota.
Minha querida Anne:
Perdoe-me por não ter vindo ao seu quarto durante estas noites.
Acredito que, embora quisesse com todas as minhas forças, não devia fazê
lo. Como disse na primeira tarde que passamos juntos, é especial e quero provar isso para você. Senti sua falta porque gosto muito de estar e conversar com você. Te disse que me sinto tão calmo ao seu lado que parece que a conheço toda a minha vida? Sim, eu disse, mas faz tanto tempo que quero repeti-lo toda vez que tenho a chance.
Tenha um sonho feliz. Claro, tenho que estar nele para que seja.
Se não conseguir dormir, me encontrará no nosso jardim. Foi onde passei essas duas noites, ansiando pela sua presença e lembrando o melhor momento da minha vida.
Seu, Logan.
XXVIII
O que queria fazer? Essa era a pergunta perfeita. Não tinha que pensar se seria correto ou não ir ao jardim, o mais apropriado era confirmar se queria ir ao seu encontro e aceitar tudo o que acontecesse entre eles.
O que seu coração mandava? Este não podia lhe dar uma resposta sensata, pois estava batendo com tanta força que logo seria disparado de seu peito. E a parte lógica do seu cérebro, essa que Mary usava desde que abriu os olhos? Não falava, estava tão silenciosa que podia ouvir os grilos cantando lá fora. Portanto, só teria que atender ao seu instinto cigano que ordenava, com mais ímpeto do que nunca, a parar de colocar tantos obstáculos e correr para ele, para se entregar de corpo e alma.
Com a emoção de uma criança que está prestes a descobrir o que é seu único presente de aniversário, Anne guardou o bilhete de Logan debaixo do travesseiro onde o encontrou, pulou da cama, vestiu o robe de seda negra e, sem fazer nenhum barulho, saiu do quarto. Não o tinha desejado? Não queria estar ao seu lado? Bem, teria a oportunidade de recuperar o tempo perdido, aproveitar aqueles beijos que não roubou e sentir novamente o calor que suas carícias ofereciam.
Como se fosse um fantasma, desceu as escadas e atravessou a extensa galeria. Seus pés sentiram o chão frio, mas recuperaram rapidamente
a temperatura que mantinha seu corpo. Tudo ao seu redor gritava que estava fazendo a coisa certa ou eram suas percepções? Como nem um único criado era encontrado, as luzes permaneciam apagadas e até mesmo as irmãs decidiram não deixar o quarto naquela noite para conversar com ela sobre o assunto que as preocupara. Olhou através das janelas que encontrou e, com exceção do luar, que passava pelas cortinas finas, ninguém era testemunha do que pretendia fazer. Sim, talvez o destino tenha aprovado sua decisão.
Ao chegar ao local onde o visconde fazia seus exercícios físicos habituais, respirou fundo, enchendo seus pulmões com aquele ar masculino que a atraía tanto. Era como um urso atordoado pelo cheiro de mel de uma colmeia e, apesar de saber que as abelhas o atacariam quando descobrisse suas intenções, não abandonaria seu propósito de saborear aquele suculento manjar.
Percebendo a suavidade do piso, deu pequenos passos até chegar à porta que dava lugar àquele jardim. Sentindo a batida do coração na garganta, colocou a mão direita na maçaneta, girou, abriu devagar e.... o viu.
Tal como havia dito, o visconde esperava-a no mesmo lugar em que ficara ao pintá-lo. Seu cabelo solto ondulava como a bandeira de um navio. Sua camisa clara se movia lentamente sobre o peito largo e forte, e suas calças, muito parecidas com aquelas usadas por Josh, transformaram suas longas pernas em pernas titânicas. Anne levou as mãos ao estômago, pois sentia as asas
daqueles corvos furiosos novamente, incontroláveis, e olhou para ele, sem fôlego. Encantada, a enlouquecia vê-lo daquela forma tão relaxada, tão selvagem. Se não conhecesse sua verdadeira identidade, não poderia pensar em outra definição a não ser cigano. Sua pose, sua tranquilidade e aquele equilíbrio que emanava do ambiente que o rodeava eram mais típicos das pessoas selvagens do que dos esnobes e controlados aristocratas. Mas não deveria esquecer que ele era um visconde e que, em um futuro distante, se tornaria um marquês. Essa realidade construía uma enorme muralha que nunca poderia ser demolida. Só conseguiria o remanso da paixão por um breve período de tempo e depois... apagariam de suas mentes os beijos, as carícias, os suspiros que teriam durante seus encontros românticos. Não estava procurando por isso? Se sentir viva, renascer? Bem, estava disposta a se dar isso...
Afastando da cabeça a tristeza que aqueles pensamentos lhe causavam, desceu devagar os cinco degraus que a levavam à pequena esplanada. Foi então que ele percebeu sua presença. Se virou para ela e olhou-a com tanta admiração que Anne se sentiu minúscula. Estava realmente emocionado em vê-la? Haveria algo mais nesse olhar do que lascívia? Seu coração também batia forte quando ficavam juntos?
—Olá... —sussurrou estendendo a mão para ela, assim não teria medo e fugiria quando descobrisse a felicidade e ansiedade que sentia por tê
la em seus braços, beijá-la, tocá-la. ?Venha, aproxime-se. Quero mostrar o segredo mais bonito que desse jardim.
Incapaz de recusar esse pedido, Anne ficou ao seu lado, pegou sua mão e, com um leve movimento, colocou-a na sua frente, pressionando as costas dela contra seu peito, descansou o queixo sobre seus cabelos, que o fez sentir novamente cheiro de flores silvestres, e a manteve alguns segundos assim, capturando o calor que havia desejado durante os dias anteriores.
Duas noites. Apareceu na porta de seu quarto nas duas noites anteriores, mas não ousou bater. Na primeira ocasião, ouviu a voz de Elizabeth e, na segunda, a voz de Josephine. No começo, pensou que Anne as chamara para fazê-lo ficar longe, no entanto, depois de ouvir as conversas que tiveram, e apaziguar sua raiva, concluiu que elas haviam aparecido para conversar sem aviso prévio. É por isso que acabou escrevendo a nota. Se ela ansiasse por ele tanto quanto ele sentia falta dela, viria ao seu chamado e, para seu prazer, ela respondeu afirmativamente.
—Feche os olhos —disse em uma voz suave e melosa —inspire o ar ao nosso redor e ouça o silêncio da noite.
Fez isso mesmo. Fechou os olhos, embora apoiasse ainda mais a cabeça no peito do visconde, apertou suas mãos nos braços fortes e nus, percebendo o toque do pelo masculino e inspirando o perfume a que se referia.
—Em Londres não podemos respirar essa fragrância requintada
—sussurrou em seu ouvido —ou ver tão claramente as estrelas no céu.
—Sinto muito —disse Anne, desenhando um grande sorriso --
mas não posso vê-las porque me disse para fechar os olhos.
—Não precisa abri-los, posso descrevê-las para você —ele murmurou tão perto de seu lóbulo direito que seus lábios o tocaram enquanto falava. —São brilhantes, como pequenas bolas de fogo. Se espalham pelo imenso céu que temos sobre nós. Quando a luz do sol nos ilumina, não podemos vê-las, mas quando a lua chega, são mostradas em todo o seu esplendor. Algumas se agrupam para formar bonitas figuras. As chamamos de constelações, embora ainda não goste da palavra que usaram para descrevê-las dessa maneira —continuou naquela voz aveludada. —Quando criança, meu irmão Roger me ensinou alguns nomes, mas não posso nomear as oitenta e oito que existem. —Seus dedos se estenderam para os dois lados de seu seio, como se quisesse descobrir que as costelas permaneciam no lugar, e começaram a acariciá-la. Percebendo como estremecia, a abraçou com mais força e lhe deu um leve beijo no pescoço. Anne respondeu com um suspiro que descreveu como a música mais linda que já ouviu. —Quando viajo no navio e não consigo dormir, porque tenho que resolver algum problema importante, subo no convés, deito no chão e as fico contando.
—Quantas chegou a contar? —Perguntou, inclinando-se mais
perto de seu corpo. Aquele beijo, tão procurado nos últimos dias, chegara com tanta gentileza que a fez suspirar de alívio.
Perfeição. Essa era palavra que definia exatamente o ajuste de ambos os corpos. Ele era tão alto que ela parecia minúscula ao seu lado. Seus grandes e musculosos braços envolviam facilmente seu corpo e acoplaram-no extraordinariamente ao seu torso e cintura. Sentia as vibrações silenciosas nas costas fruto das respirações e, embora fosse estranho, estava tranquila, calma e tão sossegada, que era isso que transmitia. Por essa razão, em questão de segundos, se encontrou em um estado de relaxamento e inacreditável êxtase.
Seu passado, a maldição e toda a agonia que sofria antes de passar por aquela porta, desapareceram tão rapidamente que a sofredora e confusa Anne Moore morreu ao dar o primeiro passo em direção a ele, dando origem a uma nova mulher cheia de luz.
—Mil oitocentas e quarenta e nove —Respondeu.
Ouvindo aquele número exato, abriu os olhos, se virou para ele e procurou em seu rosto por algum sinal de escárnio, mas não encontrou. A seriedade era evidente, assim como sua veracidade.
—Por que chegou a esse número? -- Ela perguntou. Abriu as mãos sobre o peito robusto e depois descansou o rosto, sentindo a ligeira mudança que sua respiração havia feito. Não era mais lenta, mas nervosa.
—É o ano em que nasci —Logan respondeu, descansando as
mãos grandes nas costas, sentindo o toque suave do robe de Anne.
—Trinta e Dois... —murmurou enquanto fazia as contas de seus anos, descobrindo que tinham apenas cinco anos de diferença. Muito pouco para aqueles que viveram um século, mas muitos para aqueles que não superaram a adolescência.
—Sim —disse, acariciando-a de cima a baixo.
Como poderia se sentir tão vivo quando ela permanecia assim?
Por que queria confessar tantas coisas que manteve por mais de três décadas?
Estaria com medo? O homem que havia lutado bravamente com a fúria do mar, que usara sua espada para acabar com as vidas daqueles selvagens que queriam roubar seu navio, as escapadas pelas varandas das amantes antes da chegada inesperada do marido, temia que ela o rejeitasse? Não, não era a rejeição de Anne que o fazia temer, mas o que seu corpo lhe mostrava quando ela estava ao seu lado. Se acreditou que alcançou o êxtase em algum momento, estava errado. Anne, apenas com sua presença, com aquele jeito de apoiar seu rosto em seu peito e cair sob sua proteção, fez com que ele entendesse que nada do que chamara de felicidade era verdade. Novamente Roger estava certo. Tal como o avisou, quando se encontra a mulher que te faz ser você mesmo, as demais deixam de existir. E assim a havia recebido, tal como era: um cigano. Um homem que só podia estar completo ao ter contato com a mãe terra.
—Se arrepende?
A pergunta de Anne tirou-o de seus devaneios. Lentamente abaixou o rosto, até que seus olhos se encontrassem, e observou alguma confusão neles.
—De viver trinta e dois anos? —Respondeu brincando. —Espero respirar muito mais. -- Não era a resposta que ela esperava, por isso abaixou a cabeça, como se estivesse envergonhada. Então suas mãos deixaram o tecido macio e as colocaram em ambos os lados de seu rosto, o levantou, até que seus olhos se encontraram novamente e falou, tão perto de sua boca que sentiu o calor de sua respiração roçar seus lábios. —Não posso, nem poderei, me arrepender de tê-la comigo, Anne. Quero deixar claro que é a única pessoa de que preciso agora e possivelmente... —Permaneceu calado para não prometer algo que ele próprio não podia garantir. No entanto, antes dessa batalha mental que travava, apenas seu coração queria gritar as palavras que estavam faltando. -- Sempre -- assegurou antes de beijá-la.
Anne sentiu, através daquele beijo tão apaixonado, desesperado e ganancioso, o anseio que o visconde tivera, o mesmo que dela. Era inconcebível que tivessem vivido tantos anos sem se conhecerem, que se odiassem e que, num piscar de olhos, declarassem que eram incapazes de se separar. Era tudo trabalho do destino, de Morgana ou desse poder cigano que estava fervendo nela enquanto estava ao seu lado? Independente do motivo,
se deixou levar. Estendeu as mãos para o pescoço que havia sentido falta e acariciou com as pontas dos dedos. Esse pequeno toque causou um gemido rouco no visconde e, instintivamente, seus quadris se aproximaram, para responder que seu prazer era muito parecido com o dele.
—Que Deus tenha piedade de você, Anne, porque hoje não permitirei que alguém nos interrompa —disse antes de agarrá-la pela cintura, como antes, e, em seus braços, a levou para a área do jardim com o gramado aparado.
Sem parar para beijá-la, sem poder conter as mãos, a caminhada parou no lugar em que, desde que ela entrou dois dias atrás, queria fazer amor com ela. Jurou que era especial e aquilo confirmava. Nenhuma mulher tinha ido a Harving House e, claro, ninguém havia pisado naquela parte da casa, exceto ela. Era seu santuário e, depois que a tornar dele, seria um lugar sagrado e íntimo para os dois. Com toda a delicadeza que pôde encontrar naquele momento, baixou-a até que seus pés descalços tocaram a grama macia.
?Anne... ? sussurrou em seu pescoço enquanto suas mãos, tremendo pelo o desejo que corria através de cada partícula de seu corpo, desatavam o laço.
?Logan... ? ela respondeu, estendendo os braços para o chão, de modo que o robe de seda preta se soltasse rapidamente de seu corpo
ardente.
?Repita o meu nome, querida ?pediu, deslizando lentamente a peça por seus ombros.
?Logan... ? pôde dizer apenas através de um sussurro.
?É tão perfeita, tão maravilhosa... ?continuou sussurrando.
Logan a acariciava lentamente, como se ela fosse uma figura de porcelana que pudesse quebrar a qualquer momento. Primeiro os dedos tocaram seus braços, fazendo os pelos eriçarem em seu rastro. Continuou com o pescoço, com o pequeno decote que mostrava a camisola e, sem conseguir desviar o olhar daquele rosto angelical, continuou com os seios.
Percebendo que os mamilos tinham endurecido por ele, rosnou novamente com satisfação e desejo, crescendo em cada respiração, nublando sua visão.
Era sua. Por fim, Anne seria sua... com dolorosa lentidão, fez seus polegares cercarem aqueles montículos pequenos e duros, excitados pela paixão.
Aqueles pequenos toques causaram uma grande agitação em Anne e, para não cair, as mãos dela se agarraram a seus ombros maciços. Ouvindo-a ofegar, testemunhando o intenso calafrio, Logan a beijou novamente com tanto ardor que a devorou. Sua língua dançou ao ritmo da dela, dentro e fora daquela boca sensual, como se estivesse fazendo amor com ela. As mãos grandes se agarravam ainda mais àqueles montículos que cobriam sua palma.
Apertou-os, espremeu-os como se fossem duas laranjas das quais extraia o
suco. Aquele ato perverso a fez se arquear para ele, fazendo seus quadris, cobertos com a fina camisola, roçarem os dele, descobrindo assim que estava tão excitado quanto ela. Duro, como uma barra de aço, seu sexo reivindicava aquilo que já indicava com próprio.
Sem deixar de beijá-la, sem deixar de saboreá-la e invadi-la com sua língua, Logan afastou as mãos de seus seios e as baixou para colocá-las em seus quadris. Uma vez que sentiu em seus dedos a textura daquela carne sensual que ainda estava escondida pela roupa, apertou-a com a mesma força com que oprimira seus seios. Rude. Pela primeira vez em sua vida, ele não era suave, mas áspero, brusco.
?Logan... ?murmurou seu nome em uma voz tão suave que era pouco compreensível.
?Sim, Anne. Eu sei. Vou acalmar sua necessidade e assim também saciarei a minha ?ronronou em seu ouvido.
Sua língua traçou o pescoço longo e liso, seguido pelo pequeno decote e, enquanto suas mãos levantavam lentamente a camisola, sua boca pegou o mamilo direito sobre tecido. A pressão de seus dentes no botão ereto fez com que ela gemesse e jogasse a cabeça para trás. Aquele ato, aquele comportamento submisso, causou uma enorme explosão em Logan e sua parte selvagem adquiriu força. Com a voracidade de um homem que encontrou a mulher com quem viveria eternamente, se afastou um pouco e
acabou de remover aquela roupa que o impedia de descobrir seu verdadeiro toque. O cabelo escuro de Anne se agitou quando passou a camisola sobre a cabeça.
?Deixe-me olhá-la ?pediu, observando como ela estendia as mãos para esconder certas partes de sua nudez. ?Não roube esse momento de mim, querida, porque o estou esperando desde que a conheci.
Sem desviar o olhar daqueles olhos azuis, atendeu seu pedido.
Anne retirou a mão dos seios e do triângulo entre as pernas. Devia se sentir como uma prostituta, uma mulher sem moral. No entanto, ao contemplar o olhar faminto do visconde, todos os seus preconceitos desapareceram. Linda.
Isso era o que os olhos de Logan expressavam. Que ela era a mulher mais bonita. Seu coração, louco, descontrolado, acabou deixando seu peito para se atirar nele e suas entranhas gritavam que precisavam desse homem dentro dela. Sem hesitar por um momento, estendeu as mãos para a camisa, soltou-a da calça e tirou-a com urgência. Como havia feito com ela, o cabelo do visconde dançou ao se separar daquela roupa.
?Logan... ?murmurou quando descobriu uma enorme cicatriz branca que ia do umbigo até o lado esquerdo do peito. Levou a mão direita em direção àquela ferida curada e a acariciou.
?Deus, Anne! ?Exclamou, jogando a cabeça para trás, sentindo o prazer daquele toque percorrer cada célula de seu corpo. ?Eu gosto
disso…
?Gosta que te toque? ?Se atreveu a dizer, tornando-se uma mulher descarada e segura de seu poder de sedução.
?Sim ?Logan engasgou quando sentiu novamente aqueles dedos suaves traçando a marca que lembrou a ele quem realmente era e o que a mãe de sua mãe tentou fazer quando ela estava sangrando até a morte no seu nascimento. Graças à mulher que ele chamava de mãe, apenas a lembrança de uma morte rápida permaneceu em sua pele.
?Bem, quero fazê-lo ?disse se aproximando.
Descansou as duas mãos em seu peito nu e foi apalpando até que pudesse descrever a sensação daquela pele rude e a aspereza dos pelos que a cobriam. Ouvindo os suspiros de Logan, colocou os polegares nos dois mamilos, tão eretos quanto seu sexo, e os roçou.
?Jesus! ?Exclamou com um uivo desesperado. ?Continue Anne. Avance pelo meu corpo...
E foi o que fez. Acariciou cada centímetro de pele em seu peito e sorriu quando percebeu como a respiração do visconde se tornava mais angustiante. Ninguém o havia acariciado? Nenhuma mulher havia traçado seu corpo magnífico com as mãos? Sentindo-se afortunada, aproximou a boca e passou os dedos pelos lábios. Então notou que as palmas das mãos dele estavam sobre seus cabelos, amassando-os, tocando-os como se tentasse
liberá-la de um penteado inexistente.
?Anne... ?murmurou seu nome, embora sua voz estivesse num tom tão fraco que a deixara perplexa.
Não. Ninguém o havia tocado daquela maneira e ela estava ardendo de vontade de continuar. Sua boca, ainda no esterno, moveu-se lentamente para o umbigo. Colocou os dedos no cós da calça e apoiando-se nele, continuou a beijá-lo até que os lábios se abriram para sua língua tomar o seu lugar. O gosto masculino de Logan a hipnotizou, a deixou louca a ponto de seus joelhos nus tocarem o chão. O queixo que sempre levantava quando queria mostrar orgulho tocava a excitação que ainda estava escondida sob suas calças. Queria, desejava, necessitava continuar e seguir sentindo aquele gosto masculino em sua boca. Vagarosamente, com uma lentidão enlouquecedora, suas mãos deixaram o cós para se colocarem no botão.
Quando desabotoou, aquela ereção a recebeu.
?Quer me matar, certo? ?Logan se inclinou para ter uma visão perfeita de Anne. Ela era uma deusa? Porque era assim que a definia naquele momento. A deusa mais maravilhosa, mais ardente e ... sua.
?Minha proposta, querido visconde, é satisfazer o que tanto ansiamos... ?tentou dizer enquanto colocava as mãos sob as calças, sentindo o membro sedoso e duro.
?Bem... vá em frente... eu sou todo seu... ?murmurou,
gaguejando. Fechou os olhos e deixou-se levar pelas suaves carícias de Anne.
Não queria comparar. Não precisava, mas sua mente não conseguia pensar em outra coisa senão encontrar as diferenças entre o sexo do visconde e o de Dick. Lá onde algumas vezes encontrara um membro flácido, em Logan era tão duro que sua vagina se contraía, como se quisesse evitar a invasão futura.
?Anne... ?murmurou ao notar os dedos acariciarem a glande.
Molhada pela excitação, pelo desejo, pela chegada de um sonho.
Anne abaixou lentamente as calças e as ceroulas até ficarem nos joelhos. Como havia imaginado, não apenas seu sexo era robusto, mas suas pernas eram duas barras de ferro forjado no fogo do deus Hefesto[8]. Suas mãos deixaram o falo duro e se fixaram nos quadris masculinos. Selvagem e sem fôlego por tudo que a fazia sentir, a parte cigana de Anne brotou de suas entranhas e, sem hesitação, lambeu e provou aquela glande molhada pela excitação. A resposta de Logan apareceu imediatamente. Ele segurou o cabelo de Anne entre os dedos e insistiu para ela continuar. Foi o que fez. Ela continuou beijando e saboreando aquele membro masculino que, quando o colocava dentro de sua boca, tremia como o resto de seu corpo.
?Sim... ?Logan sussurrou, trazendo seus quadris para o rosto de Anne. Com os olhos ainda fechados, ouvindo a própria respiração e a intensidade do coração, suspirou profundamente, aceitando o prazer que ela
oferecia com a boca e as mãos. Mas percebendo que esse estado de paixão o faria explodir antes que pudesse tomá-la, puxou o cabelo de Anne para trás, abriu os olhos e disse: ?Minha querida cigana, acaba de marcar seu destino e não é outro senão o de estar comigo.
Aturdida por esse comentário, ela se levantou, olhou para ele sem piscar, e quando ia perguntar por que ele havia dito tamanha loucura, Logan tirou a calça e a tombou abruptamente naquele manto de grama.
?Minha vez, querida ?disse antes de beijá-la com tanto fervor que sua alma saiu disparada pela boca até que ele se alimentou com ela.
Com as mãos percorrendo seu corpo nu, Logan concluiu a jornada no triângulo que ela tentara esconder. Com os dedos abriu as dobras esponjosas, molhadas de excitação, e procurou pelo clitóris. Quando o achou tão inchado, não demorou muito para atacá-lo. O corpo de Anne se contorceu, ela se mexeu tanto que parecia evitar os roces violentos, duros e dominantes.
?Deliciosamente minha... ?Logan sussurrou uma vez que puxou aquela boca voraz para longe dela. Colocou um dedo dentro da vagina de Anne e quando a encontrou tão escorregadia e apertada, a beijou novamente com ardor.
Aquela invasão, que era tremendamente prazerosa, fez com que ela arqueasse seus quadris em direção àquela mão, para que nunca parasse. E
não parou. Enquanto o polegar brincava com o clitóris, um dedo ia e vinha até que a abria tanto que acabava introduzindo dois.
?Logan... ?soluçou, notando como seu corpo queimava e doía, pois, sua necessidade de ser acalmada, aumentava para limites indefiníveis.
?Quero beijá-la, lambê-la, provar cada canto do seu corpo
?assegurou enquanto beijava seu seio, sua barriga, seu umbigo e, quando ele abriu as pernas para ter uma visão perfeita do sexo feminino, lambeu os lábios. ?Isso é tudo meu ?disse antes de sua língua traçar as esponjosas saliências.
Anne estendeu as mãos para a grama e arrancou todo aquele emaranhado entre os dedos quando notou a boca do visconde ali embaixo.
Fechou os olhos, levantou ainda mais os quadris e se arrastou pelo prazer que a boca masculina lhe oferecia. Ele a mordeu, absorveu toda a sua essência, penetrou-a com a língua tantas vezes que perdeu a pouca razão que ainda tinha. Como podia se converter em uma louca, viciada naquelas mordidas grosseiras, naquelas carícias tão dominantes e possessivas?
?Logan... por favor... ?implorou quando notou como sua barriga queimava, como a dor que sentia em seu sexo era tão horrível que não podia se acalmar, exceto por sua invasão.
Envolto em uma névoa de desejo, Logan abandonou a parte que ele tinha devorado até que se colocar em cima. Enquanto com uma mão
acoplava seu sexo na frente dela, olhava-a atordoado. Seus olhos brilhavam como as estrelas daquele céu e sua respiração atingiu seu rosto aumentando sua temperatura.
?Anne... diga que você me quer, que anseia pelo que vou lhe dar
?pediu enquanto apoiava as palmas das mãos nos dois lados do rosto luxurioso e investia nela pela primeira vez.
? Eu quero você... e anseio pelo que vai me oferecer... ?ofegou quando sentiu a penetração.
?Repita meu nome. Quero ouvi-la toda vez que entro em seu corpo, toda vez que te fizer tremer, toda vez que lhe mostrar que você é ...
minha ?exigiu com um tom cheio de desejo e algo que nunca sentira antes: ansiedade.
?Logan... Logan... ?disse, sentindo aquelas duras investidas, aquelas invasões dominantes e possessivas.
?Oh, sim, Anne! ?Gritou antes de beijá-la, antes de fazer seus quadris cavarem os dela, unindo-os, transformando-os em um único ser.
Aquele cigano que se forçara a permanecer distante parecia tão selvagem e desesperado que afastou o visconde, o homem que mostrara ao mundo para transformá-lo no cigano que negava ser. Sem parar de penetrá-la, de entrar e sair, sem conseguir separar a boca dos lábios que o recebiam com avidez, Logan sentiu como o corpo de Anne se abalava ao compasso dele.
Tudo. Tudo ao seu redor desapareceu. Apenas uma pessoa permanecia, uma alma, uma mulher: ela.
?Te desejo tanto! ?Exclamou com um grito quando o clímax começou a subir.
?E eu ?respondeu, cravando as unhas nas costas dele com tanta força que elas perfuraram a pele áspera.
Então chegou. O corpo de Logan tremeu no final, derramando sua semente dentro de Anne, enchendo-a com ele, sua essência, sua masculinidade, sua vida. Com ar ofegante e sem deixá-la, ele se afastou um pouco para observá-la. Disse que ela era uma deusa? Bem, era. Anne era sua deusa, a única que poderia estar ao seu lado... sempre.
Uma vez que sua respiração relaxou, uma vez que seu sexo começou a recuperar seu estado de tranquilidade, se deitou ao lado dela e a segurou com tanta força que se tornaram um novamente.
?Você... eu... desejo... ?o visconde tentou explicar.
?Sou e serei apenas mais uma ?disse sem olhar para ele. ?O
que aconteceu aqui é ... não quero que ...
?Não diga nada. Não quero que estraguemos este momento com definições absurdas ?sussurrou.
Logan lentamente beijou seu cabelo. Não precisava explicar nada.
Ele já adivinhara o que ia dizer, por isso a única coisa que fez foi abraçá-la e
confortá-la. Não deveria temer pela maldição, nem ficar longe dele pensando que morreria como seus dois pretendentes. Precisavam de tempo e estava disposto a dá-lo. Uma vez que ela admitisse que poderia haver mais do que encontros apaixonados entre eles, pediria que ela fosse sua para sempre. Só esperava que para consegui-lo não tivesse que confessar seu segredo...
XXIX
Durante a semana seguinte, eles agiram com grande discrição.
Enquanto estavam acompanhados por Elizabeth ou Josephine, permaneceram distantes e suas condutas eram frias e um tanto elusivas. Mal falavam e, quando o faziam, suas conversas eram tão ínfimas que até suas irmãs bufavam do tédio que causava ouvir assuntos absurdos.
Nas manhãs, Anne avançava no retrato, enquanto Logan não parava de reclamar do terrível arrependimento que sofria por permanecer imóvel por tanto tempo. Enquanto não fosse salvo por uma das jovens Moore, continuava reclamando como uma criança pequena. Mas quando saia do lado dela, para ir socorrer a oportuna irmã, Logan lhe dava um olhar tão ardente que a fazia tremer e excitar ao mesmo tempo. Não havia dúvida de que o magnetismo que havia sido forjado entre eles era tão inquebrável quanto a lâmina afiada de Excalibur e administravam essa relação quando todos os habitantes da casa se retiravam para seus quartos. Se em algum momento pensaram que o fogo diminuiria com o passar do tempo, erraram.
Cada vez que se encontravam, cada vez que estavam sozinhos, o vínculo entre eles se tornava mais forte, mais sólido. Esse relacionamento inesperado assustava muito Anne, visto que não havia noite em que não lutasse contra seus novos sentimentos e desejos. Por que tudo era tão difícil? Por que seu
peito doía quando pensava que o fim viria em breve? Será que seria capaz de esquecer seus beijos, suas carícias, suas palavras e o tom tão solene que costumava dizer que pertencia a ele? Se não tivessem concordado que manteriam apenas um romance fugaz, admitiria, sem dúvida, que seus gestos, suas ações e aquelas frases que sussurrava quando faziam amor eram verdadeiras. Porque, mesmo que não devesse imaginar que eram reais, pareciam ser. Além disso, tinha que ser honesta consigo mesma e assumir que ao seu lado encontrava um bem-estar que não atingira com Dick. Agora entendia muitas coisas sobre paixão e desejo. Não havia comparação possível entre eles. Enquanto Dick usava isso para seu próprio prazer, o visconde oferecia-lhe tudo o que desejava e essa era a razão pela qual o medo aumentara... O que aconteceria no dia em que partisse para Londres com suas irmãs? Por que diabos ele não se comportava tão frivolamente quanto Dick?
?Não entendo porque as pessoas gostam tanto de contemplar o mar. ?O comentário de Elizabeth a afastou dessas conclusões tão terríveis quanto belas. Olhou de esguelha para ela e sorriu enquanto a observava enredar-se em uma luta incansável para manter o pequeno chapéu imóvel em sua cabeça.
Naquela manhã, como o visconde prometera na tarde anterior, fizeram uma excursão para a praia. Mas Eli não parava de reclamar desde que saíram. Josh, por outro lado, parecia feliz e animada. Caminhava ao longo da
costa, a calça marrom enrolada até os joelhos e os pés mergulhados na água.
O visconde permanecia ao seu lado. Anne desviou o olhar para eles e os observou em silêncio. Nunca imaginou que poderia se comportar de maneira tão familiar e simples com elas. Ele havia tirado o paletó, a gravata e o colete, deixando-os dentro da carruagem. Sua camisa branca estava tentando esconder o corpo esculpido por seus exercícios e trabalho no barco. Suas longas pernas vestidas com calças pretas de caxemira mostravam a força de um homem do seu tamanho. Como Josh, ele também enrolou as calças até os joelhos e a mão direita segurava os sapatos e meias para não os danificar com a água do mar. Anne suspirou ao ver como a brisa suave o atingia e como seu cabelo, puxado para trás em um rabo de cavalo, estava começando a se soltar daquela tira de borracha para apresentar uma imagem tão selvagem quanto erótica. Desejava, com todas as suas forças, ser aquela que passeava ao seu lado, mas como haviam feito até agora, se quisessem continuar com o relacionamento que haviam acordado, deveriam continuar com o plano, que consistia principalmente em não mostrar a afeição que sentiam e continuar se vendo em segredo.
?Segundo ouvi dizer, o sal é bom para a pele ? comentou Howlett.
O valete, depois de criar um elo emocional com Elizabeth, foi autorizado a acompanhá-la a todos os lugares que visitava e, é claro, a praia
também estava dentro de suas novas tarefas.
?Está seguro disso? ?Eli o recriminou mordaz. ?Porque nunca me senti tão suja. Comi um sanduíche cheio de terra imunda, tenho o vestido, as meias e os sapatos manchados de areia, as roupas grudam no meu corpo como se eu fosse um agricultor que trabalhou no campo durante um dia intenso de verão, o vento está estragando meu penteado e não suporto esse cheiro horrível ... ?acrescentou com uma careta de desagrado.
?Garanto que é muito melhor do que parece ?Howlett assegurou se sentando ao seu lado para evitar que a brisa marinha açoitasse sua nova amiga até arrancar o belo chapéu. ?Se tivesse navegado, como fiz, cercado por homens fedorentos, mal-humorados e indelicados, certamente teria uma percepção mais favorável dessa excursão.
?Que atrocidade! ?Eli exclamou, horrorizada ao se imaginar em um navio cercado por marinheiros malcheirosos, cuja única finalidade era fazer suas necessidades fisiológicas no convés do navio.
?O que não é tão horrível? ?Perguntou o jovem divertido.
?Como pôde suportar isso? ?Eli estalou enquanto lutava para manter a saia do vestido verde-esmeralda limpa.
?Bem, o visconde concordou que ficasse em sua cabine o tempo que estipulasse necessário. Então pode deduzir que passei semanas admirando trajes que não costumava usar ? explicou serenamente.
?Por que diz que não costumava usar? ?Elizabeth estava interessada, cansada de lutar contra o vento, decidiu tirar o chapéu de uma vez por todas.
?Porque os marinheiros não andam vestidos. Por mais que me pareça terrível confessar, esses tipos de homens geralmente andam seminus
?comentou Howlett divertido.
?Seminus? ? Eli soltou chocada. ?O visconde também se tornou um deles?
Não era capaz de imaginar Logan adotando uma atitude tão inapropriada para um cavalheiro de sua linhagem. Que os outros agissem de maneira selvagem, poderia aguentar, mas... um aristocrata, um futuro marquês? Jamais! A classe alta tinha que mostrar sua condição e seu poder onde quer que fossem.
?Claro! ?Respondeu Howlett com um sorriso travesso. ?E
tenho que declarar que quando chegávamos a um novo porto, todas as mulheres que o contemplavam rezavam para que essa figura bárbara e aristocrática as escolhesse como amantes.
?Howlett! ?Elizabeth o repreendeu. ?Como pode ter uma linguagem tão ousada? Não sabe que deve manter em segredo o que acontece no quarto do seu mestre?
?Não insinuei quantas passaram pelos quartos, minha querida
senhorita Moore ? continuou sarcasticamente ?a única coisa que admito é que o visconde teve uma vida muito intensa...
Entre risadas, os dois terminaram a conversa e decidiram dar um passeio longe do mar e do arenito. A única que não riu do comentário sagaz foi Anne, que cerrou os punhos e enterrou-os na areia para que nenhum deles pudesse vê-los. Mulheres? Quantas mulheres visitaram a cabine de Logan durante suas viagens? Por que andava seminu? Não sabia a definição do termo pudor? Mostrava seu corpo lindo como se fosse um galo cercado por galinhas? Suas bochechas começaram a ficar vermelhas e seu pulso acelerou.
Ciúme. Pela primeira vez em sua vida, um ataque de ciúmes tomou conta dela. Odiava essas mulheres e o odiava por ser um conquistador de corações.
«É isso o que é, Anne Moore, outra mulher que se rendeu ao seu poder de sedução. No entanto, foi você quem se impôs essa condição» lembrou a si mesma. Sim. Era isso com o que haviam concordado: dois amantes que vivem e desfrutam de um tempo de liberdade e paixão até que chegasse o fim.
Sem tirar os olhos do visconde, suspirou profundamente. No fundo as entendia. Apesar de odiá-las com todas as suas forças, também as entendia. Quem não sonharia em deitar com um homem que emanava poder e selvageria? Quem não gostaria de ser beijada por aquela boca ou acariciada por aquelas mãos fortes? E ... quem não esperaria gemer de prazer quando
estivesse possuída daquela maneira abrupta e feroz? Nenhuma mulher deveria se privar de tal prazer. Logan nasceu para amar e se dedicava a isso.
Quando estava prestes a desviar o olhar deles, ele a olhou e, ao observá-la tão rígida e irritada, levantou a sobrancelha esquerda em questionamento. Mas Anne, em vez de desviar o olhar, como sempre fazia, o manteve fixo, transmitindo através dos olhos a raiva que sentia e não podia diminuir facilmente.
?Acho que é hora de irmos ? Logan comentou com Josephine quando sentiu as emoções díspares de Anne. Sentou-se na areia e, depois de limpar os pés, calçou as meias e os sapatos. Se levantou, desenrolou as calças e olhou para ela novamente.
Não gostou da praia? Não gostou da vista daquele lugar lindo?
Talvez tenha errado ao concluir que poderia apreciar a beleza daquela área e, em vez de ter um dia maravilhoso, estava em uma terrível aflição.
?Tão cedo? ?Josh choramingou, tentando fazer com que o soluço infantil a ajudasse a fazê-lo mudar de ideia. Mas, observando a atitude do visconde, sentou-se, calçou as meias e as botas curtas. ?Ainda não me explicou como derrotou aqueles terríveis assaltantes ?insistiu quando se levantou e ficou ao seu lado novamente.
?É uma história bastante inapropriada para uma jovem da sua idade ? disse a ela como desculpa enquanto caminhava em direção a Anne.
Ela, vendo que eles estavam se aproximando, se levantou rápido, deu uma batidinha na saia de seu vestido marrom e se virou, lhes dando as costas. O
que diabos estava errado? O que aconteceu durante sua breve ausência para fazê-la sentir-se tão desconfortável? ?Além disso, o verdadeiro protagonista daquele momento foi Giesler. Se ele tivesse vindo teria contado sobre esse episódio atroz...
Naquele exato momento, ficou consciente de que haviam se passado mais de dez dias e que não ouvira notícias de seu amigo. O que teria acontecido com ele para não responder? Continuaria atormentando a vida daqueles homens que haviam humilhado Mary? Ou ficara em Londres porque não queria sofrer outro ataque como o que sofreu na casa dos Moore? Não, não poderia ser isso. Na carta que enviara, deixou muito claro quais as irmãs que viajariam com Anne e explicara que a mulher que jogou os tubos nele, como se fossem dardos venenosos, ficaria em Londres. Então... por que não aceitou o seu convite?
?O Sr. Giesler é o homem a quem eu apontei a minha arma, certo? ?Josh, envergonhada de lembrar o que fez naquele dia, colocou as mãos atrás das costas e passou pelo visconde com os olhos fixos no chão.
?Por que fez isso? ?Logan perguntou, incapaz de tirar os olhos de Anne, que estava andando em direção à carruagem.
Ofendida, irritada e bastante soberba. Isso declarava sua atitude
estranha e súbita. Agora, mais do que nunca, queria encontrar um espaço para conversar com ela e descobrir o motivo desse comportamento arrogante.
?Porque ele entrou em nossa casa e não desviou o olhar de Mary por um único segundo ? disse com um longo bufo.
?Teria atirado nele? ?Perguntou, esboçando um enorme sorriso.
?Sabe que ele não foi capaz de tirar os olhos do corpo da minha irmã? ?Ela bufou indignada. ?A mamãe sempre a avisa para não sair do quarto de camisola, mas ela não presta atenção a ninguém e naquela manhã apareceu no topo da escada com uma aparência inadequada.
?Quer dizer...? ?Parou, olhou para ela e riu.
Grande patife! Essa parte da história ele não contou, guardou para si mesmo. Disse que ela jogou tudo o que estava ao alcance, mas esqueceu de contar sobre o momento em que descobriu a silhueta da irmã na camisola.
Seria seda transparente como as que Anne usava? Se assim fosse, já adivinhava por que Philip não respondeu ou apareceu. Estaria babando como um cachorro atrás da erudita Moore.
?Sim ? Josh respondeu, visivelmente irritada. —Por mais que pedisse para parar de olhar para ela, aquele cavalheiro não me dava ouvidos.
?Deveria ter atirado nele! ?Logan exclamou antes de bagunçar aquele cabelo loiro tão claro.
?Acredita nisso? ?Josh perguntou indecisa.
?Sim, acredito nisso. Porque temo que ele continue a vê-la de maneira tão desrespeitosa pelo resto de sua vida. Um homem é incapaz de tirar da mente a imagem de uma bela mulher de camisola ?assegurou enquanto continuava a caminho da carruagem.
?Bem, da próxima vez prometo que irei deixá-lo cego ?disse a jovem. Comentário que causou outra risada alta do visconde.
***
Não estava enganado, Anne estava com raiva e não tinha ideia do motivo. Quando os cinco se acomodaram na carruagem, ela não desviou o olhar da janela. Três horas com o pescoço tão esticado lhe causariam uma dor terrível. Mas não respondeu ou contestou as míseras perguntas que fez.
Foram suas irmãs e Howlett quem, ante seu silêncio, responderam às suas questões. O que diabos estava acontecendo? O que havia perdido enquanto caminhava com Josh na praia? Não lhe pareceu certo ter essa pequena liberdade? Ela, melhor do que qualquer outra pessoa, deveria entender que entre a jovem e ele se criara uma relação afetiva muito semelhante à de irmandade. Além disso, seu principal objetivo com Josh era que reconsiderasse sobre os planos futuros que havia feito. Era por isso que
contava a ela sobre as batalhas e dificuldades que sofrera durante suas viagens. No entanto, Anne não parecia satisfeita, pelo contrário. Se mostrava tão irascível que estava prestes a se levantar, agarrá-la pelos ombros e gritar o que diabos lhe acontecia.
?Finalmente! ?Exclamou Elizabeth alegremente quando avistou os telhados de Harving House. ?Lembre-me de não pisar em uma área costeira novamente. Foi horrível ...
?Não gostou? ?Logan perguntou, tentando encontrar algum sinal para explicar se era por isso que Anne estava tão distante.
?Não! ?Eli respondeu rapidamente. ?Prefiro mil vezes mais a pesada neblina de Londres do que a brisa úmida e pegajosa daquele lugar.
?Pois eu estou encantada! ?Josh disse cruzando os braços sobre o peito. ?Admito que, no início, esse ar marinho me impediu de respirar.
Mas com o passar do tempo meu corpo se adaptou facilmente.
?Cheira a peixe! ?Eli a repreendeu, cobrindo o nariz com dois dedos. —Realmente gosta de cheirar assim?
?Salitre ?Logan o corrigiu. ?É chamado salitre e garanto que é muito bom para a pele. Em minhas incontáveis viagens de barco, expus meu corpo àquelas quentes brisas do mar e endureci tanto que, para enfiar uma faca em mim, teriam que exercer uma grande pressão.
O riso de Josh, Eli e Howlett encheram o interior da carruagem,
só que Anne não achou aquela explicação engraçada. Enquanto os outros mostravam uma atitude relaxada, ela se aproximou ainda mais da janela, franziu a testa e bufou como um cavalo depois de uma longa caminhada. Isso acentuou as suspeitas de Logan sobre sua raiva. O que havia dito para deixá
la tão zangada?
?Permita-me ajudá-la, senhorita ?disse o visconde a Elizabeth quando a carruagem parou na entrada da residência. Estendeu a mão e ela aceitou encantada.
?Howlett, vem comigo? ?Perguntou ao valete quando ele desceu atrás dela. ?Necessito de um bom banho para remover toda a areia que ficou sob este vestido feliz.
?Será uma grande honra ?disse o rapaz. ?Mas milorde irá precisar...
?Pode ajudá-la. Embora não entenda por que estou pagando uma criada se é você quem faz todo o trabalho ?Logan resmungou em aparente raiva.
?Ela não tem ideia de como encher uma banheira! ?Disse Howlett com horror. ?E se não fosse pelo bom gosto da senhorita Moore, teria uma aparência decrépita. Acredita que tinha decidido fazer uma trança em vez de um coque baixo? Isso é inconcebível se tiver que usar um chapéu!
Depois dessa exposição, que deixou a tendência afeminada de
Howlett ainda mais clara, Logan sorriu e acenou com a cabeça, permitindo que o criado se tornasse a dama de companhia de Elizabeth. Quem teria medo de um homem que sonha com roupas de seda e penteados ideais?
?Josh? ?Chamou à jovem quando ele apareceu ao lado dela.
?Também tomarei um longo banho. Depois, se não se importar, visitarei o prédio anexo. Quero continuar praticando com a espada.
?Não é melhor que pratique primeiro e tome seu banho depois?
Não acho que Elizabeth suporte outro cheiro além do que emana o sabão
?disse ironicamente.
?Vendo desse modo... e como não quero ouvi-la reclamar de novo... ?Josh disse com os olhos apertados. ?Sim, será melhor fazer assim.
Vai me acompanhar? ?Acrescentou com entusiasmo.
?Hoje não posso, tenho que esclarecer uma questão muito importante. Mas se tiver algum problema, Kilby o resolverá ?disse olhando para Anne, que ainda não havia saído do interior da carruagem e permanecia olhando pela janela, como se a viagem não tivesse chegado ao fim.
?Então... ?olhou para a irmã, depois para o visconde, e sem pensar em nada além da diversão que teria ao empunhar as gloriosas espadas espanholas que Logan mantinha em um canto da instalação, correu para a entrada principal.
?Ficará o resto do dia aí dentro? ?Perguntou uma vez que
ficaram sozinhos.
?Existe outra alternativa melhor? ?Murmurou sem olhá-lo.
Não. A raiva não havia minado. Talvez tenha diminuído algo por um breve período de tempo, até que ele falou sobre expor seu corpo à brisa do mar. Como ele podia ser tão fanfarrão?
?Existem várias... ? Logan comentou colocando as mãos nos dois lados da porta e inclinando-se para ela, para que o cocheiro não o ouvisse. ?Tem a opção de sair ou... Posso entrar, fechar essa abençoada porta e ordenar ao meu cocheiro que viaje pela minha terra enquanto fazemos amor aí dentro. Qual prefere, querida?
?Oh, tenho certeza que deve estar acostumado a fazer esse tipo de coisa em um lugar tão inapropriado! ?Murmurou com raiva. Cruzou os braços e manteve o corpo tão rígido que nem uma flecha passaria.
Logan estreitou os olhos até que eles se transformaram em pequenas linhas. Qual foi o comentário? Parecia que era... não poderia ser!
Ela não poderia estar sentindo ciúme! Por causa do quê? Nunca falou de nenhuma mulher enquanto estava presente. Era mais, todas haviam desaparecido de sua memória uma vez que Anne se rendeu a ele. Então...
quem poderia ter dito a ela sobre isso? Sua mente, em questão de segundos, pesou todas as opções possíveis e, exceto pelo tempo que Howlett permaneceu com elas, não havia outra possibilidade... teria sido tão
desdenhoso que revelou em alguma conversa certos segredos que nem ele mesmo fez público?
?Jeffry! ?Gritou para o cocheiro.
?Milorde? ?Perguntou, virando a cabeça para ele.
?Deixe a carruagem nesta área da entrada, a colocará no estábulo mais tarde ?disse sem tirar os olhos de Anne, que encolheu os ombros ao ouvir o tom de voz que usava.
?Como quiser ?respondeu o criado apressadamente. Desceu o mais rápido que pôde e caminhou até a porta de serviço sem olhar para trás.
?Bem, querida. Estamos completamente sozinhos. Quer que mostre a diversão que posso lhe oferecer aí dentro? Como bem disse, tenho muita experiência em dar prazer numa cabine tão inapropriada ? retrucou, colocando a sola do sapato de seu pé direito na escada de metal.
?Não se atreva! ?Anne gritou antes de abrir a porta do lado dela e sair fugindo.
?Oh sim! Sim, posso pensar em milhões de coisas que quero lhe fazer! ?Ele clamou antes de atravessar a carruagem por dentro e correr atrás dela até alcançá-la.
XXX
?Solte-me! ?Anne gritou quando os braços de Logan envolveram sua cintura.
?Nem pensar! ?Respondeu levantando-a do chão, fazendo com que seus pés e a saia de seu vestido se agitassem no ar. ?Quero descobrir por que está tão furiosa ?disse levando-a para os estábulos.
?Furiosa? Eu? Não é verdade! ?Mas seu tom de voz denotava exatamente o contrário.
Espremida entre os braços fortes e resistentes, lutava para se afastar daquele corpo que a queimava, embora suas peles ainda não tivessem sido tocadas. No entanto, quanto mais esforço fazia para se separar, mais ele a agarrava contra si mesmo.
?Não lute, querida... ? sussurrou em seu ouvido depois de cruzar a entrada dos estábulos. ?Essa batalha não poderá ganhar...
?acrescentou reticente.
Batalha? Pensava que havia começado uma guerra contra ele?
Bem, estava enganado! A única batalha que travava tinha apenas dois adversários e estes eram a mesma pessoa: ela. Na realidade, sua mente e seu coração lutavam um contra o outro para superar um sentimento que ela não
podia suportar, assim como não devia admitir o súbito ciúme que sentiu quando ouviu sobre a vida libertina que teve antes que ela aparecesse. E, para ser franca, não podia imaginar que manteria esse estilo de vida assim que ela fosse embora. E havia a questão desse terrível conflito! Querer, mas não poder. Porque não tinha dúvidas sobre o que queria, embora também estivesse ciente do que não podia. Como superaria outra morte? E não seria qualquer morte senão a dele! O homem que amava! Essa afirmação oprimiu seu peito até que ficou sem fôlego. Como podia ter pulado sua primeira norma? Não teve o suficiente com Dick? Em que parte de suas memórias estavam aquelas lágrimas, episódios de tristeza e culpa?
?Anne... ?Logan disse quando sua respiração mudou drasticamente. Ela não estava mais agitada, mas quebrada, como se estivesse chorando. Será que a machucara ao pegá-la com tanta força? Tinha sido tão bruto? Muito lentamente, enquanto se arrependia dessa atitude bárbara, colocou-a no chão até que ficasse de pé sem perder o equilíbrio. ?O que há de errado contigo? ?Acrescentou. Anne virou-lhe as costas e ele, para apaziguar a repentina tristeza, colocou as mãos gentilmente em seus ombros.
?O que eu fiz?
?Nada. Não fez nada ?comentou sentindo a pressão das grandes palmas em suas omoplatas.
?Bem, se não fiz nada, olhe para mim! ?Pediu. Pressionou os
dedos no vestido de Anne, virou-a para ele e quando viu as lágrimas escorrerem pelo rosto, se sentiu o homem mais perverso do mundo. ?Anne...
me diga por que chora.
Tirou as mãos dos ombros e colocou-as com muita ternura sobre suas bochechas, molhadas com aquelas lágrimas. Com uma lentidão surpreendente, as removeu com os polegares. Aquela demonstração de afeto fez Anne olhá-lo e, percebendo sua preocupação por ela, admitiu com amargura que a guerra acabara de ser vencida pelo seu coração.
?Se Howlett comentou algo que a feriu, juro que irei procurá-lo e cortar sua língua ?disse com a voz de um homem que navegava pelos mares e comandava um navio com mais de cinquenta marinheiros.
?Howlett não é culpado por.... ?Tentou explicar, mas naquele momento ouviu um barulho sobre eles. Anne encolheu os ombros, como se esperasse que algo batesse em sua cabeça, mas nada aconteceu exceto que ele a puxou para perto e a abraçou. ?O que foi isso? Perguntou sem tirar o rosto do peito de Logan.
?Astennu ?respondeu sem deixá-la. ?Acho que ele e sua família não receberam bem a nossa visita repentina.
?Astennu? ?Perguntou, virando o rosto devagar.
Logan virou-a, fazendo com que a bainha de seu vestido marrom arrastasse no feno espalhado pelo chão, reclinando-a sobre o peito, e
enquanto o braço esquerdo circundava sua cintura, levantou a mão direita para apontar para o teto estável, bem onde algumas aves se alinhavam em uma das vigas de madeira. Por um momento, os olhos daqueles animais olharam para ela com desconfiança, mas no segundo seguinte moveram os pescoços e grasnaram como se aceitassem sua presença.
?Apresento meu fiel amigo Astennu e sua amada família ?disse com orgulho. —Como deve ter adivinhado, Astennu é o maior e ele tem aquela mancha branca no peito ? esclareceu. ?O próximo a ele é Honda, sua parceira e os outros três são seus filhos: Fhas, Shadow e Kus.
?Corvos... ?sussurrou tão atônita que não sabia ao certo se havia dito a palavra corretamente.
?Sim, de fato, são cinco corvos ?confirmou. ?Há pessoas que são felizes criando falcões, águias ou pombos..., contudo, não tive a oportunidade de pensar que aves iria querer abrigar em Harving porque Astennu já estava aqui quando apareci e, sem pedir permissão, decidiu ficar para sempre. ?Esperou por uma pergunta, um comentário sobre o quão estranho era para ele se apegar àqueles tipos de animais que representavam tantas coisas sinistras, mesmo que Anne não dissesse nada. Permaneceu em silêncio, olhando para os pássaros e respirando tão rápido que qualquer um concluiria, ao vê-la daquele jeito, que havia atravessado suas terras correndo.
?Não vão machucá-la. ?Garanto que são muito dóceis e afetuosos
?acrescentou envolvendo o outro braço em volta de sua cintura. A puxou para mais perto e deu-lhe um beijo gentil no pescoço.
?Afetuosos... ?repetiu automaticamente.
?Nunca machucaram ninguém apesar daquele olhar feroz
?persistiu, notando que ela movia seu corpo inquietamente. ?A única coisa que deve temer é de ouvi-los cantar. Já gritei milhares de vezes que eles não são rouxinóis, mas são tão orgulhosos que não conseguem admitir isso ?
disse ironicamente para que ela acabasse relaxando. Por que os corvos a assustavam tanto? Sofreu algum ataque em sua infância?
?Como... como…? Porque...? Onde o encontrou? ? Enfim perguntou.
?Quando comprei Harving House estava praticamente destruída pela passagem do tempo. Seu ex-dono não queria reconstruí-la porque, no fundo, não sentia nenhum apreço por esse belo lugar. Talvez doesse lembrar a época em que morava aqui com sua falecida esposa. Então ele saiu e a deixou completamente negligenciada.... Imagino que os pais de Astennu pensaram que seria o melhor lugar para se aninhar, porque não encontraram nenhum ser humano por muitos anos. No entanto, no dia em que a adquiri, e embora pudesse desmoronar a qualquer momento, decidi passar uma noite inteira calculando a deterioração da estrutura e ponderando o quanto meu investimento aumentaria. Minha presença indesejada deve ter assustado
aqueles pais quietos e deixando-o no ninho. Não sabia que existia até que, cansado de investigar, procurei um quarto na casa onde o telhado não tinha sido destruído. Espalhei um cobertor sobre o chão imundo, coloquei meus braços sob a cabeça e olhei para cima. Foi quando descobri um enorme ninho. Essa casa tinha sido desabitada durante anos e era normal que os pássaros procriassem nas áreas onde os seus futuros descendentes estariam protegidos das adversidades climáticas. Com os olhos fixos naquele ninho, pensei em todos os problemas que deveria enfrentar. Várias horas se passaram até que o sono se apoderou de mim e fechei meus olhos. Quando estava prestes a dormir, ouvi um barulho. Levantei rapidamente e procurei a causa daquele som. Inspecionei a casa inteira com determinação, amaldiçoando a possibilidade de que alguns roedores tivessem procriado nas poucas paredes firmes que sustentavam a velha casa. Posso suportar as penas de milhões de aves, mas não consigo tolerar esses transmissores de epidemias
?revelou com certa repulsa. —Depois de confirmar que não havia nada e que talvez eu tivesse notado o rangido de alguma madeira velha que ainda sustentava a casa, voltei para o quarto, deitei e o barulho reapareceu. Voltei a olhar para o ninho e naquele momento um galho caiu no chão. ?Logan sorriu e suspirou profundamente. ?Escalei a parede, que estava esburacada, como se estivesse subindo no mastro do meu barco. Quando meus dedos o alcançaram, o peguei com cuidado e.... ali estava aquele patife! Ele quase não
tinha penas e estava cercado por mais três ovos. Me senti muito culpado por tê-lo separado de seus pais com tão pouco tempo de vida... ?permaneceu em silêncio. Não era sensato confessar a empatia que sentiu quando o contemplara tão só, tão abandonado e o terrível desespero que percebeu no pequenino quando não teve mais a proteção de seus pais. ?Uma vez que o deixei no chão, ele olhou para mim e abriu o enorme bico esperando que o alimentasse. Naquele momento, algo estranho surgiu em mim e, sem demora, por um miserável segundo, saí para o jardim e procurei algo que pudesse servir de alimento. Garanto que a primeira vez que tem entre seus dedos um verme repulsivo cortado em vários pedaços, não é capaz de levar nada à boca em vários dias ?apontou divertido.
?E ele sobreviveu... ?concluiu Anne com um suspiro. Como podia ser verdade? Tinha que ser uma alucinação! Estaria louca? Porque só assim poderia afirmar que esse animal sortudo era o que aparecera em seus sonhos. A mancha em seu peito, o tamanho de suas asas, o brilho de sua plumagem e ... aqueles olhos. Mas sua mãe lhe dissera que as ciganas sempre viam corvos em suas mentes para direcioná-las ao homem que esperavam.
No entanto, não falou sobre a precisão entre o corvo de seus sonhos e o real.
?Isso mesmo ?disse virando-a novamente para ele. ?E formou sua própria família. Astennu se tornou protetor de Harving enquanto estou ausente. Graças a ele e sua família não tenho nenhum verme repulsivo
vivendo nos arredores e devido às lendas que existem sobre eles, muito poucas pessoas querem invadir uma propriedade onde vive uma família de pássaros tão sombrios.
?Os ciganos geralmente vivem em harmonia com eles e....
?tentou dizer.
?Anne, não só os ciganos os respeitam. Há culturas que os reverenciam e explicam milhares de significados quando descobrem sua presença. No caso de Astennu, ele decidiu ficar ao meu lado, porque aqui tem tudo o que deseja para ser feliz. ?Se desculpou rapidamente.
Estava certa. Os de sua etnia adoravam os corvos porque, de acordo com a história, a mãe dos ciganos ordenou que esses pássaros protegessem as crianças que nascessem de seu ventre. E era assim que se sentia quando estava em Harving House. Astennu voava sobre ele toda vez que saia para montar por sua terra. Observava o que seus olhos não podiam ver e à noite, quando todos descansavam, seu amigo descansava no parapeito da janela, olhava para a imensidão das terras e guardava seus sonhos.
?Mas vamos parar de falar sobre esse sujeito descarado
?comentou antes de agitar os braços para que os pássaros voassem pelo estábulo até que fossem embora. Quando não haviam mais testemunhas para observá-los, acariciou a face esquerda dela com a frente da palma da mão direita. ?Quero saber o motivo pelo qual ficou com raiva hoje. Não gostou
do passeio? Sentiu a mesma repulsa que Elizabeth pela praia? Pensei que acharia agradável, é por isso que prometi a....
Anne não permitiu que ele terminasse aquela exposição absurda, pôs as pontas dos sapatos no chão e silenciou-o com um beijo. No início, Logan mostrou alguma confusão sobre aquela explosão apaixonada, mas quando sentiu os dedos de suas mãos segurando as abas de sua camisa, puxando-o para seu corpo, abraçou-a e respondeu a esse beijo com uma avidez feroz.
Aquele contato sensual se tornou mais intenso quando Anne abriu os lábios, permitindo que sua língua voraz a invadisse, devorando-a. Sua mente ficou em branco. Apagou a história de Astennu e o desejo de descobrir qual tinha sido o motivo de sua raiva. Ele a queria. Sim, ele a queria tanto que tudo ao seu redor desaparecera, exceto ela. Lentamente, Logan levou suas mãos para os botões do vestido de Anne e quando seu beijo ficou mais intenso, mais possessivo, desabotoou-os com urgência. Tinha que tê-la, tinha que acalmar sua necessidade, tinha que fazê-la sua tantas vezes quanto pudesse, porque estava determinado a marcá-la, selá-la com tal força que ela aceitaria, de uma vez por todas, que eles foram feitos um para o outro.
?Se eu soubesse que a história daquele bendito corvo a transformaria em uma deusa apaixonada, teria lhe contado antes ?disse enquanto deslizava o vestido sobre seus ombros e beijava as áreas de sua pele
que ficavam nuas.
?Não foi exatamente a história dele... ?Anne murmurou, colocando os dedos na camisa para desabotoá-la com ousadia.
O desejo que Anne mostrava ao despi-lo o deixou louco, então rasgou os botões do vestido sem desabotoar. Caiu no chão, fazendo com que alguns ramos de feno levitassem.
?Ah não? Então, o que foi? ?Ronronou antes de apertar os dentes em seu ombro esquerdo e mordê-lo para fazer uma grande marca.
?Você! ?Exclamou, sentindo a mordida em sua pele.
Anne jogou a cabeça para trás, deleitando-se naquele ato selvagem. Qualquer mulher recatada teria se afastado e o repreendido por deixar uma marca do que havia acontecido entre eles, mas ela não era uma mulher recatada, era uma cigana que mergulhava no abismo de uma paixão sem precedentes. Seu destino estava marcado. Todos os sinais apontavam para ele como a pessoa que esperava. No entanto, apesar de suas convicções, ainda havia um ponto a ser lembrado: sua origem. Algum dos ancestrais de Logan teria sido cigano? Seria possível que ele tivesse uma mísera gota de sangue cigano?
?Anne... ?sussurrou quando notou uma certa tensão nela, ?te quero tanto... eu preciso de você... ?Suas mãos caíram, assim como seu corpo. Ele se ajoelhou e, ajudando-a, fez com que ela levantasse uma perna
primeiro e depois a outra, deixando-a em uma camisola branca tão transparente que podia admirar aquela figura feminina que adorava. ?Você é linda, meu amor ?acrescentou, colocando as grandes palmas das mãos nos quadris e aproximando o rosto daquele cabelo escuro com uma forma triangular em sua virilha, que exalava o perfume mais hipnótico do mundo.
Levou o nariz para aquele lugar desejado e respirou fundo, preenchendo-se dela, do seu ardor, do seu aroma sexual. ?Morrerei se não a possuir, se não a beber, se não puder... saboreá-la de novo.
Encantada por aquelas palavras ousadas, Anne colocou as mãos no cabelo preto de Logan, emaranhou os dedos nele e o puxou para mais perto da parte que adorava. Sua respiração se agitou quando sentiu as mãos de Logan na roupa e como a fez subir muito suavemente por seu corpo.
?Tudo isso é meu, só meu ?assegurou uma vez que a camisa estava fora de vista. Com uma ternura muito controlada, acariciava seus quadris, coxas e pernas de cima a baixo, enquanto seu nariz continuava a inspirar aquela área feminina que devoraria em breve. Lentamente, levantou a perna esquerda de Anne e colocou-a em seu ombro, se permitindo observar aquele sexo delicioso que já brilhava de desejo. ?Coloque as mãos na parede, querida, vou saciar a minha sede ?disse antes de poder acariciar as dobras voluptuosas e úmidas com a palma da mão direita.
Anne, depois de obedecer a sua ordem, o olhou extasiada e soltou
um gemido quando descobriu como ele estava lambendo a mão que tinha passado por seu sexo. Sua essência... Ele decidiu saborear todo o suco que emanava de seu desejo por ele e não desperdiçaria uma única gota.
Quando a língua substituiu a mão, fechou os olhos, abriu a boca ligeiramente para poder respirar e pregou as unhas na parede de madeira.
Louca! Sim, essa era a palavra que melhor a definia. Mas... quem permaneceria sã, enquanto sentiria como a língua de seu amado produzia tanto prazer que era incapaz de suportar?
?Está tão molhada, tão preparada para mim ?Logan apontou quando substituiu sua boca pelos dedos. ?Te quero assim, Anne, aceitando minhas carícias e respondendo com aquele fervor que me transforma em um louco ?acrescentou antes de voltar para as suas pernas.
Cravou os dentes nos lábios esponjosos, ouviu como ela gritava e sentiu o tremor daquele corpo submetido a um frenesi contínuo. Beijou-a com paixão, apreciando o perfume que emanava, em êxtase ao ouvir os murmúrios que Anne fazia enquanto lambia com ansiedade a entrada daquela vagina que se contraía e dilatava com seus ataques.
?Logan... ?disse de um jeito tão erótico, que seu sexo reagiu com tamanha intensidade que estava prestes a gozar.
Como era possível? O que ela tinha que não encontrara em outras mulheres? Nenhuma o deixara tão duro, tão excitado que, com o simples roce
em suas calças, pudesse alcançar o clímax mais arrebatador.
Desesperado, abriu mais a boca e procurou o clitóris com a língua. Quando o notou, sentindo aquela pequena proeminência roçar na ponta de sua língua, brincou com ele até perceber como o néctar de Anne banhava seus lábios, sua barba...
?Oh Logan! Sim! ?Gritou com a chegada de um orgasmo tão intenso quanto abrupto. ?Sim! ?Gritou de novo, jogando a cabeça para trás para capturar todo o ar que poderia encher seus pulmões. ?Eu te amo!
Maldito seja, eu te amo... preciso de você! ?Confessou e corrigiu presa pela alienação que o frenesi causava.
Aturdido por essa afirmação, agarrou as pernas, nas quais as pontas dos dedos ficariam marcadas para sempre, e mordeu com tanta voracidade aqueles lábios esponjosos e saborosos. «Finalmente! " Ouviu em sua mente. Sim, finalmente ouvia o que queria escutar desde a primeira noite em que esteve com ela. Só esperava que não fossem palavras provocadas pelo delírio do desejo. Precisava que ela sentisse o que ele já sentia.
Lentamente, depois de dar sua última lambida e coletar todo aquele delicioso néctar, levantou, se colocou na frente dela e a beijou. A mistura que saboreou, aquela poção mágica, levou-os a um nirvana incapaz de descrever. Anne colocou os braços ao redor de seu pescoço e se aproximou dele. Quando ela tentou se levantar, para que a levasse a algum
lugar naquele estábulo, Logan virou-a bruscamente e encostou seu rosto na parede onde ela havia pregado as unhas.
?Coloque as mãos de volta... ?ordenou enquanto levantava a camisola novamente.
?Logan... ?disse tentando ver o que ele estava fazendo atrás dela.
?Shii, relaxe meu amor ?respondeu, sua mão direita retornando ao seu sexo. Abriu suas pernas um pouco mais e, observando que ela estava encostada na parede de madeira como ele havia indicado, retirou a mão e a fez retornar, mas desta vez não foi para dar-lhe uma carícia suave, mas uma bofetada.
?Logan! ?Anne gritou quando sentiu uma estranha satisfação naquele ato áspero.
?Mais? ?Perguntou, colocando a palma da mão esquerda nas costas arqueadas.
?Sim! Por favor... por....
E ele fez isso de novo. Desta vez, quando a palma da mão tocou o sexo de Anne, não só sentiu como queimava, mas seu fluxo aumentou. Com um leve sorriso, ele a esfregou com a mão aberta e se deliciou ao ouvi-la gemer. Perfeita. Anne era seu par perfeito. Sua cigana, sua esposa, sua vida ...
Depois de vários outros tapas, as pernas de Anne tremeram tanto
que ela estava prestes a se ajoelhar, mas ele não deixou. Agarrou-a pelos quadris e segurou-a com uma mão, enquanto com a outra desabotoou rapidamente o botão de suas calças.
?Vou penetra-la ... vou fazê-la minha ... pode me ouvir?
?Apontou, colocando seu pênis duro e rígido naquela abertura quente e úmida.
?Sim! ?Gritou desesperadamente.
Logan a penetrou com força, sem cerimônia, rudemente.
Estendeu as mãos para ela até que elas se acomodaram em seus ombros e a envolveram de novo e de novo. Não foi sutil ou delicado, não queria ser.
Anne tinha que entender que seus sentimentos eram recíprocos e que ela não poderia pertencer a outro homem. Esse pensamento o deixou louco, enfureceu-o ao ponto de pressionar os dedos contra a pele macia. Não. Ela não se afastaria dele. Ela viveria ao seu lado e não olharia para ninguém porque só deveria olhar para ele.
Concentrando-se naquele ato possessivo, naquela marca que a levaria para dentro da vida, Logan voltou a penetrá-la com desespero, com ânsia. O corpo de Anne agitou com essas estocadas ásperas, suas pernas tremiam e seus joelhos ansiavam por tocar o chão. Ambos sentiam como as poucas peças de roupa que cobriam seus corpos estavam presas a eles pelo suor causado pelo delírio, pelo esforço, pela lascívia.
?Minha, Anne Moore! ?Você é minha! ?Sentenciou em sua última investida, em seu último ataque. Então, derramou sua semente dentro dela, espalhando sua essência masculina nela. Fechou os olhos e não viu escuridão, a não ser milhares de estrelas brilhantes que iluminavam tudo que um dia esteve escuro. ?Querida... ?sussurrou quando sua respiração começara a relaxar. ? Também te amo... ? Saiu dela, virou-a para ver aquele rosto apaixonado e, antes que Anne pudesse falar sobre a idiotice que ambos haviam confessado enquanto se deixavam levar pelo desejo, a beijou.
XXXI
Procurava por uma palavra que definisse seu estado de felicidade, mas não a encontrou. Nada tão simples poderia descrever o que sentia por dentro. Sua alma parou de sofrer, de se punir, de se amaldiçoar por levar o sangue cigano. Era a primeira vez que se sentia calmo e seguro de si mesmo.
Todos os pensamentos obscuros e sombrios desapareceram, causando um bem-estar sem precedentes. Olhou para Anne, que estava sentada do outro lado da mesa, e sentiu seu peito crescer com a emoção de tê-la ao seu lado.
Disse que o amava, embora tentasse corrigir rapidamente essas palavras. No entanto, sabia que elas eram verdadeiras, que não tinha sido uma consequência do ato apaixonado porque, separando seus lábios dos dela, notou em seus olhos o conflito entre o amor que professava e a agonia de não conseguir. Tinha medo. Claro que tinha! Quem apagaria de sua mente a crença de que a pessoa que amasse poderia morrer a qualquer momento por causa da maldição que sofria desde o nascimento? Mas ele não acabaria como seus dois pretendentes. Ele permaneceria ao seu lado porque era a pessoa que havia esperado: seu cigano, seu futuro marido, o homem que a amaria até que desse seu último suspiro de vida. Agora só teria que enfrentar a pior parte: não declarar quem realmente era e o aceitasse com a imagem que havia oferecido por tantos anos, porque não podia confessar a verdade. Esse estado
de bem-estar começou a se desvanecer ao pensar nisso e seu corpo ficou tenso como a corda de um violino. Deveria continuar a proteger seu segredo, não era certo revelá-lo. A tenacidade que teve por muitos anos e a luta que enfrentou com o conde de Burkes viriam à luz e as pessoas voltariam a murmurar sobre as escapadas amorosas do velho marquês de Riderland e como um de seus descendentes pagou a chantagem de um velho lorde. O que aconteceria com seus meios-irmãos? Não, não poderia falhar. Tudo devia permanecer igual. Conseguiria o amor de Anne sendo o visconde de Devon e não o filho de uma jovem cigana que morreu durante o parto.
Sem tirar os olhos dela, levou a taça de vinho até a boca e tomou um pequeno gole. Como conseguiria que ela aceitasse sua proposta de casamento? Porque perguntaria a ela. Sim, antes de partirem para Londres, Anne usaria uma linda aliança para que todos soubessem que ela era intocável, inacessível, e quem ousasse falar com ela receberia uma punição terrível.
?Não sei como Galeón se adaptará à sua nova casa ?comentou Josh, quebrando o silêncio constrangedor que os quatro mantinham durante o jantar.
?Planeja levá-lo para nossa casa? ?Perguntou Elizabeth aturdida. ?Não está ciente de que o nosso jardim é muito pequeno para ele?
?O papai poderia contratar vários trabalhadores para realizar
reformas no lado de fora... ?sugeriu sem desviar o olhar do visconde e de Anne. O que aconteceu entre eles? Por que os olhos de Logan brilharam estranhamente enquanto a observava? Por que as bochechas de sua irmã mostravam uma cor escarlate tão intensa? Eles teriam discutido novamente?
?Reformas? Que tipo de reformas? ?Eli perguntou, estreitando os olhos.
? Seria bom se começasse reduzindo a estufa. Na minha opinião, ocupa muito espaço para plantar quatro flores absurdas ?disse Josh, se concentrando na conversa com Eli.
? Nem pensar! ?Exclamou horrorizada ?Essa proposta é inviável! E elas não são espécies absurdas, mas únicas! ?Sentenciou antes de levar um pedaço de carne à boca e mastigá-lo com força.
?Pode deixar em Whespert ?Logan sugeri. ?Há espaço suficiente para ele e tem permissão para visitá-lo sempre que quiser.
?Mas como cuidarei dele em sua propriedade? ?Perguntou, arregalando os olhos. ?Não seria correto que permanecesse por tanto tempo em sua residência, nem que aparecesse regularmente. As pessoas pensariam que...
?As pessoas não pensarão nada, garanto ?disse solenemente.
?É claro que ninguém diria nada de mal se a futura viscondessa de Devon fosse sua irmã mais velha.
Essa declaração fez Anne prender a respiração e olhar fixamente para ele. Por que estava propondo esse absurdo para Josh? O que estaria tramando para não ser ciente dos rumores que isso significaria? Acrescentaria outro suculento escândalo à sua família e eles ainda não haviam se recuperado do anterior!
?Deveria deixar aqui até encontrar um lugar em Londres
?Anne interveio depois de limpar os lábios com o guardanapo.
?Certamente o papai pode alugar um estábulo onde poderá atendê-lo como quiser. Dessa forma não perturbará o visconde.
?Não será inconveniente ?Logan cortou, depositando o copo de vinho na mesa. ?Ficarei feliz que nos visite.
Nos visite. Ele tinha dito tal atrocidade na frente de suas irmãs?
Ele não entendia que suas palavras poderiam ser mal interpretadas? E, pela expressão que elas colocaram, fizeram isso.
?Mesmo que sua irmã mais nova esteja presente várias vezes por semana, essa proposta não é correta. Como Josh disse, todos falariam sobre as numerosas aparições em sua residência em Londres ?comentou com falsa tranquilidade, rezando para que desaparecesse da cabeça de suas irmãs, qualquer pergunta inoportuna.
?Não estava pensando em Nathalie, senhorita Moore ? afirmou resistente. Recostou-se na cadeira, cruzou os braços e esticou os lábios
ligeiramente para mostrar um sorriso.
?Da mesma forma, não acho apropriado que, quando os marqueses de Riderland estiverem presentes, Josh esteja livre para ir à sua residência ?disse Anne depois de engolir o nó que se formou em sua garganta.
Era estúpido? Por acaso estava dando como certo que estariam juntos como amantes? Ah, claro! Já havia concluído que iriam morar em sua casa por ter declarado palavras tão absurdas para ele. «Absurdas, mas são verdadeiras», disse a si mesma. Mas não. Não assumiria um papel tão degradante por amor. Quando retornasse a Londres, continuaria com sua ideia de ir a Paris. Lá, longe dele, poderia restabelecer sua tranquilidade e não se deixar levar por sentimentos irracionais.
?Também não fiz qualquer referência ao meu irmão e sua querida esposa ? continuou com a voz firme sem afastar seu olhar dela.
Ante uma atitude tão segura e tão endeusada, Anne queria pegar seu copo de vinho e jogá-lo nele, para ver se dessa forma deixaria de se comportar com tanta afronta. No entanto, quando estava prestes a dar outra desculpa, a porta da sala de jantar se abriu e Kilby apareceu, que, por causa da palidez de seu rosto e do modo como sua mandíbula estava cerrada, não era portador de boas notícias.
?Milorde, sinto a interrupção. Mas tem um visitante e, apesar de
ter indicado que está ocupado, insiste em falar com o senhor ?explicou o surpreso mordomo.
?Quem é? ? Logan perguntou, se levantando rapidamente.
?Lorde...
?Pelo amor de Deus! Desde quando fui formalmente apresentado ao meu amigo! ?A voz de um homem trovejou atrás das costas de Kilby. ?Saia! ?Ordenou ao criado. Quando ele permaneceu imóvel, o cavalheiro lhe deu um empurrão repentino e entrou na sala. Assim que o visitante súbito descobriu que Bennett estava hospedado com três mulheres, que se levantaram ao vê-lo, George deu um largo sorriso. ?Boa noite senhoras, me perdoem...
?Laxton! ?Logan gritou, caminhando decididamente em direção a ele. ?Como se atreve a entrar em minha casa dessa maneira e assustar minhas convidadas?
?Me desculpe querido amigo. ?Falou a palavra amigo de forma mordaz. Seu fiel mordomo não me explicou que três belas damas eram a causa pela qual não podia me atender. ?Estendeu a mão para Logan e, quando aceitou, sentiu que apertava com força. George sorriu com aquela sutil advertência, mas não se deu por vencido. Agitou a mão para se livrar dessa pressão e se dirigiu para a mesa. ?Quem são essas daminhas lindas?
?George, vamos falar sobre a questão que o trouxe aqui em meu
escritório ?disse Logan apertando a mandíbula.
?Não somos damas, milorde ?respondeu Josh, se posicionando como um soldado. ?Somos as irmãs Moore, pupilas do visconde.
?Pupilas? ? Laxton perguntou, olhando de soslaio para o amigo. ?Entendo... ?E um sorriso depravado apareceu em seu rosto, acentuando aquele rosto canalha e perverso.
?Por favor, me siga. Como disse, vamos conversar tranquilamente em meu escritório ?ordenou no mesmo tom com o qual continha uma séria briga entre seus marinheiros.
?É claro ?cedeu no final. Antes de se virar, para sair da sala, George passou os olhos pelo corpo de Anne com ousadia, um gesto que causou um rugido estranho em Logan. Então continuou para Elizabeth, que olhou para ele descarada, ousadamente e acabou contemplando a jovem que se dirigiu a ele. Uma careta de desagrado apareceu em seu rosto enquanto observava suas roupas. Era realmente uma jovem? Porque duvidava que fosse... Só precisava de um bigode grosso para lembrá-lo de seu antigo professor de latim. —Espero vê-las novamente, senhoritas Moore. Ficarei feliz em termos uma longa conversa... ?Prolongou cada palavra como se estivesse sibilando. Disse adeus com um leve aceno de cabeça e foi acompanhado por Logan. Uma vez que este fechou a porta, disse: ?Três para você? Desde quando se tornou tão egoísta?
?Não é o que pensa ?resmungou o visconde, dando longos passos em direção ao seu escritório.
Precisava sair de lá o mais rápido possível, porque não tinha dúvida de que Eli e Josh colocariam seus ouvidos atrás da porta para escutá
los e não era apropriado que descobrissem a amizade peculiar que ele e Laxton tiveram no passado.
?Não é o que penso? - Perguntou sarcástico. ?Não duvido que sejam suas pupilas, mas... as instruirá na arte do amor, como fez comigo?
Tenho que confessar que foi o melhor professor que já tive. Nenhuma das minhas amantes se queixou ...
?Feche essa maldita boca! ?Ordenou irado. ?Está falando das filhas do Dr. Moore, não de prostitutas!
?Entendo ... ?Respondeu quando fechou a porta do escritório.
Observou o visconde seguir à escrivaninha, se colocar atrás dela, como se fosse um homem de negócios honrado, abaixar as mãos e olhá-lo como se quisesse estrangulá-lo.
? A que veio?
?Acalme-se, Logan ? indicou enquanto se sentava. Desabotoou os botões de sua jaqueta cinza e cruzou as pernas no joelho. Não vai me convidar para uma bebida? O que venho lhe contar é tão importante que deveria me recompensar com um bom conhaque.
?Sirva-se
?respondeu
sem
reduzir
os
sinais
de
descontentamento expressos em seu rosto.
?Está bem... ? deu de ombros. Se levantou, caminhou lentamente até o decantador de conhaque e se serviu de uma generosa dose de bebida. Então, sem tirar um sorriso de seus lábios, voltou ao lugar.
?A que veio? ?Logan repetiu, sentindo a frustração fazê-lo perder o controle.
?Relaxe ? George ordenou, olhando-o sem piscar. Lembre-se que não sou o inimigo...
?Faz muito tempo desde que nos vimos pela última vez, então não posso confirmar ou negar suas palavras ?disse apertando sua mandíbula com tanta força que poderia desencaixá-la a qualquer momento.
?Estou aqui, certo? Bem, isso tem que responder à questão.
?Vá direto ao ponto ... ?pediu, afastando as mãos da mesa.
Como Laxton havia feito, Logan foi até a garrafa de bebida, pegou o copo maior que havia na bandeja e encheu-o até transbordar. Então levou à boca e bebeu de um só gole. Repetiu a ação antes de retornar ao seu lugar.
?Visitei meu tio hoje de manhã e tivemos uma conversa muito vigorosa ?disse em uma voz misteriosa, fixando seus olhos cor de mel no líquido âmbar. ?Dado que apareceu de uma maneira súbita e secreta,
acredita que retornou para ... desfazer o que fez durante a sua ausência.
?Voltei porque tive de fazê-lo ?Logan murmurou, sentando-se abruptamente. As irmãs Moore precisavam da minha ajuda e ofereci a elas.
?Qual delas, especialmente? ?Perguntou depois de estalar a língua enquanto saboreava o bom conhaque do amigo.
?A mais velha ... - confessou antes de terminar a bebida de um só gole. Olhou para o copo vazio e sentiu um leve tremor em sua mão. Medo.
Pela primeira vez desde aquele dia, o medo do velho Burkes aparecia novamente.
?Então Rose se tornou passado, certo? Pena! Foi a mais bela de todas ?disse tocando o queixo, observando enquanto seu camarada de noites de farra franzia a testa.
?Rose nunca me interessou como esposa ? revelou involuntariamente.
?Esposa? ?George perguntou, arregalando os olhos. ?Se apaixonou a esse ponto? ?Disse incrédulo.
?Por acaso não tenho coração? ?Contra-atacou.
?Oh sim! Claro que tem! ?Respondeu divertido. ?A única coisa que aconteceu é o submeteu a uma fria letargia durante os anos que ambos desfrutamos.
?Me listará quantas noites e quantas mulheres nós estivemos?
?Resmungou.
?Não! ?Respondeu como se estivesse horrorizado. ?Meu tio teria um derrame se quebrasse nossa promessa! ?Acrescentou nitidamente.
?Pode me dizer, de uma vez por todas, a que devo sua visita?
?Tentou especificar. Embora já estivesse com medo do que iria dizer, precisava que fosse direto ao assunto. O quanto antes ficasse ciente do problema que estava por vir, quanto antes poderia encontrar uma solução.
?Meu tio insiste em lembrá-lo do acordo.
?Não o quebrei. Fiquei longe de você desde que nos descobriu.
Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, alguém trairia sua presença em Harving, embora não pudesse apontar para ninguém com certeza. Exceto pelo dia em que foi ao administrador assinar o contrato para a transferência do Galeão, não havia deixado seus limites... estreitou os olhos e prendeu a respiração. Claro! Como não pensou naquele dia? Como não se antecipou? Porque estava tão obcecado por Anne que não percebeu esse pequeno detalhe. Elizabeth saiu em uma de suas carruagens e com Howlett.
Todo mundo conhecia seu falante e estranho ajudante! E ele tão pouco tentava passar despercebido com suas roupas tão extravagantes. Tinha que obrigá-lo a colocar um saco, áspero e sujo.
?Acredite, ainda me sinto culpado por isso. Se tivesse adivinhado o propósito daquela porcaria... ?Pela primeira vez, desde que
apareceu, George fez a expressão zombeteira desaparecer de seu rosto para transformá-la em ferocidade. Ele apertou a mandíbula e franziu a testa. Seus olhos castanhos escureceram e sua respiração ficou lenta, profunda, como se a maldade lhe causasse um perigoso estado de tranquilidade.
?Nenhum dos dois notou a inquietação da criada ou sua insistência em olhar para a porta ?tentou diminuir a relevância, no entanto, tinha mais consideração do que desejava aparentar. Naquele dia, se tornara um mísero fantoche do velho conde. Apenas sua tenacidade em negar a história àqueles que viam com repulsa a insistência em divulgá-la, o salvou.
?Se não quisesse me salvar...
?Não levante fantasmas do passado ?Logan o interrompeu.
?Me diga pelo qual apareceu, porque tenho certeza de que seu tio não o teria feito vir aqui para me lembrar do acordo. Teria enviado um de seus servos com o selo de seu honroso título no verso. Então me diga, o que propõe desta vez?
?Quis que eu entregasse isso pessoalmente ?disse tirando um envelope do bolso de sua jaqueta cinza pérola.
?O que é? ?O visconde perguntou de maneira arisca.
?É um convite. Neste sábado havia preparado uma festa íntima e, ao saber que estava em Harving, decidiu incluí-lo em sua lista de convidados honrados e respeitáveis. ?Enfatizou essa palavra sarcasticamente
para deixar claro que era uma obrigação e que não poderia rejeitá-la.
?O que quer agora?
?O que acha? ?Perguntou jogando o envelope sobre a mesa de Logan como se isso o queimasse.
?Não está à venda ?disse, se erguendo rapidamente, como se de repente se lembrasse de que deixara uma panela de água fervendo no fogo.
?Eu sei, mas aquele velho teimoso não quer morrer sem assinar esse miserável contrato de compra ?comentou com pesar.
Logan deu-lhe um olhar preocupado e incrédulo. George ainda não sabia o que realmente aconteceu quando Burkes o trancou, junto com o juiz e o padre, na biblioteca? O velho não lhe contou sobre aquela reunião miserável? Não, claro que não. George não acreditaria nele e divulgaria esse falso rumor em todos os eventos sociais que assistiria e.... o que aconteceria no final? Alguém resolveria essa fofoca de maneira fulminante: o próprio Marquês de Riderland. Mesmo assim, o que aconteceria com seus meios-irmãos? Que feridas esses malditos rumores causariam à sua querida Nathalie? Não podia pôr em risco a vida de toda a sua família por não ter reprimido certas fantasias sexuais.
?E, se ele não morrer em paz, não irá adquirir a sua ansiada herança ?falou mordaz sobre a afirmação anterior.
Logan olhou para quem fora um bom amigo da farra e concluiu
que ele ainda estava obcecado em agradar aquele conde bastardo. No entanto, as marcas que apareciam ao redor dos olhos mostravam dor, agonia e desespero. Estava esperando o momento para se livrar dele? Rezaria para que seu tio morresse antes de que completasse vinte e cinco anos? Era difícil desejar que alguém morresse, mas o conde teria merecido por praticar um ato de bondade, como receber o filho de sua irmã que, depois da morte do marido em um trágico acidente, precisara de ajuda da família. Embora o verdadeiro propósito de Burkes fosse transformar o jovem sensível, afetuoso e carinhoso num ser cruel e impiedoso. Logan pensou, inutilmente, que iria libertá-lo através do prazer, mas errou. Só esperava que um dia uma mulher devolvesse a criança que ele foi e que o fizesse esquecer todos os ensinamentos do velho ogro.
?Veja. No fundo continua lendo meus pensamentos ?disse antes de se levantar e terminar a reunião. Seu tio permitiu que viesse Harving para lhe dar o convite e foi isso o que fez. Agora teria que voltar se não quisesse sentir a fúria nas suas costas.
?Harving não está à venda nem antes, nem agora, nem no futuro
?disse solenemente. ?Pretendo transformá-la em minha segunda moradia.
?De verdade? ?A resposta o surpreendeu tanto que ele refez seus passos.
?Sim ? disse Logan com confiança.
?Bem, assim sendo, não terá escolha senão se apresentar com ela ...
?De jeito nenhum! Seu tio não se aproximará de Anne!
?Berrou, apertando as mãos com tanta força que sentiu as unhas cravarem na palma da mão.
?Porque não? Não quer se livrar dele de uma vez por todas?
Além disso, sabe que, à medida que as descubra, fará todo o possível para destruí-las. O que acontecerá com as respeitáveis e honradas filhas do Dr.
Moore quando todos falarem sobre o que possivelmente fez nessa residência?
Haverá um tal escândalo que terá que vender Harving por muito menos do que custa.
?Exige que eu participe, mesmo que não queira? ?Retrucou dando um passo em direção a ele.
?Exijo que se comporte de maneira sensata. Se realmente sonhou em alcançar um futuro decente, deve se concentrar no que é mais importante ?disse apontando com um dedo inquisidor.
?Que é ... ? murmurou.
?Se aparecer na festa com elas e espalhar a notícia de que Harving House se tornará sua segunda casa, meu tio não terá escolha senão assumir sua derrota ? disse sem hesitar.
?Por que envolveria as irmãs Moore nisso? É algo que devo
resolver de uma vez por todas com aquele bastardo. Então posso me apresentar amanhã em sua residência e ...
?Não se casará com uma delas? Bem, a coisa certa seria acompanhá-lo para testemunhar suas palavras.
?Não quero que Anne descubra o que fizemos e sei que seu tio ficará feliz em explicar o que aconteceu naquele dia ?resmungou.
?Não sabe nada? ?George não acreditou.
?Não! ?Disse desesperado. E não quero que descubra!
?Não ouviu nada sobre sua vida de libertinagem? ?Perguntou.
?Ela não é surda... ?bufou. ?E sua irmã é muito próxima da minha. Assim que…
?Então não ficará surpresa. Que libertino que se preze não teria uma orgia com seu melhor amigo?
?Não sei se ela gostaria de ouvir sobre esse tipo de ato sexual.
?Refletiu voltando para a mesa. Pegou o copo e, depois de observá-lo por alguns segundos, deixou-o sobre a mesa novamente. Foi até o aparador, virou a chave e abriu as portas de madeira que escondiam várias garrafas de conhaque. Tirou duas, colocou-as na mobília e, depois de desarrolhar a primeira, voltou ao seu lugar.
?Sabe? Desde o começo soube que seu romance com Rose não terminaria em um casamento ?George apontou antes de pegar a outra
garrafa e imitar Logan.
?De verdade? ?Logan perguntou estreitando os olhos.
Entornou a garrafa de licor e tomou um longo gole. ?E quando concluiu algo tão solene?
?Imaginei quando a compartilhamos pela primeira vez
?comentou com calma, com o tom de camaradagem que sempre tiveram até aquele maldito dia. ?Se tivesse um mísero sentimento de posse em relação a ela, não teria permanecido sentado naquela cadeira enquanto Rose gritava meu nome ao possuí-la. Certamente agora não poderia compartilhar sua futura esposa com ninguém, estou errado?
Essa pergunta nublou sua mente. Compartilhar Anne? Morreria antes de ver como outro homem a tocaria! Mas... e se ela fugisse quando descobrisse as perversões que fez com suas amantes? Poderia deixar claro que sempre foram mimadas e que não estava mais disposto a fazer isso. No entanto, para chegar a esse ponto teria que contar a ela sobre suas origens, seu sangue cigano, o que aconteceu com o conde, a vida de seus meios-irmãos, a chantagem, o pagamento que fez ao bastardo Burkes para manter seus lábios selados... O que Anne faria depois de ouvi-lo?
?Diga-me, Logan, compartilharia sua esposa? ?George repetiu depois de beber seu conhaque.
?Não. ? Disse antes de esvaziar mais de um terço da garrafa
em um gole.
XXXII
Não saiu do escritório pelo resto da noite, apesar do fato do cavalheiro ter abandonado Harving House uma hora depois de sua entrada apressada. Quando a porta da sala de jantar se abriu, as três se viraram para ela, esperando pela presença de Logan, mas Kilby apareceu em seu lugar. Ele desculpou a ausência do visconde alegando que tinha alguns assuntos muito importantes para resolver. Mas Anne sabia que estava mentindo. Aquele homem o alterara, era necessário apenas recordar do rosto zangado que exibiu ao vê-lo para confirmar essa suposição. Quem era esse indivíduo? Por que Logan mostrou uma tensão amarga quando invadiu a sala de jantar? Anne andava de um lado para o outro em seu quarto, esfregando as mãos. Seus pelos arrepiaram novamente, avisando-a de que algo ruim estava prestes a acontecer. Mas... o que seria? Como poderia lutar contra o que não conhecia ou não entendia?
Caminhou até o pé da cama e se sentou pela décima quinta vez.
Era correto confiar no que seu coração ditava? Devia descer e conversar com ele? Sua presença o ajudaria a superar o que o incomodava? Uma amante poderia exercer esse papel? Não. Esse seria o trabalho de uma esposa... essa reflexão fez com que levasse as mãos ao rosto e o esfregasse de angústia.
Odiava essa ideia. Irritou-a pensar que um dia Logan teria que se casar e que
tudo que viveram desapareceria como fumaça. Seria correto ser levada pelos sinais enviados a ela por sua mãe criadora? Os sonhos, que cessaram quando chegou a Harving House, Astennu, que era o mesmo corvo que aparecia em todas as suas visões. Só precisava ouvir a música que aparecia enquanto caminhava por aquela floresta e que Logan confirmasse que um antepassado dele era cigano. Mas... qual era a possibilidade de que tudo o que precisava acontecesse para que não duvidasse que era o seu homem?
Um barulho atrás da porta a fez levantar rapidamente. Seu coração batia desesperado e seu pulso acelerou quando imaginou que era Logan. Ouvindo apenas a respiração agitada, permaneceu de pé e olhando em direção à entrada, até que, após algum tempo, deduziu com tristeza que não a visitaria. Não pretendia se apresentar? Havia decidido afastá-la do seu lado?
Teria reconsiderado seu relacionamento após a aparição daquele homem? Por que? Quem era ele?
Uma enorme tristeza tomou conta dela e seu coração ficou oprimido. Por que a confusão lhe causava tanta dor? Não havia deixado claro a ele que tudo acabaria quando ela fosse embora? Não ficou com raiva de ouvi-lo dizer nos visitar? Sim, ficou furiosa ao ouvi-lo expressar essas duas palavras na frente de suas irmãs, mas também estava cheia de alegria. O fato de que Logan achava que o relacionamento continuaria assim que ela deixasse Harving a entusiasmou, no entanto, deveria ser consciente que seus
pais não aceitariam que se tornasse a amante do visconde. Eles a matariam!
Sim, apesar de terem declarado que em breve estaria livre para fazer o que quisesse, nunca admitiriam tal humilhação para a família. Eles a obrigariam a se casar com ele e, por mais agradável que fosse a ideia, não poderia aceitá
lo, porque essa decisão o mataria.
Ela colocou as mãos no peito e agarrou a camisola com amargura, enquanto as lágrimas molhavam seu rosto. Estava apaixonada e esse estado de amor a fez querer algo que nunca alcançaria. Sua posição não poderia mudar. Se realmente queria estar ao seu lado, teria que se contentar em tomar um lugar de uma concubina e rezar para que ele não a substituísse por outra antes do final do ano.
Olhou de soslaio para a cama, na qual eles tinham feito amor durante as noites passadas, e suspirou. Seria capaz de dormir sem ele?
Poderia fechar os olhos sem descobrir o que estava acontecendo com ele?
Não. Claro que não! Apesar de estar ciente de que, entre eles, não haveria possibilidade de nada, a não ser um idílio temporário, ela não podia deitar naquele colchão confortável sem se importar com o motivo pelo qual ele havia se escondido. Se o visconde tinha um problema, tentaria ajudá-lo, mesmo que fosse apenas uma mísera amante.
Confiante no que ia fazer, levou a mão até parte de trás da cadeira, onde estava seu robe de seda preta, vestiu-o e caminhou com
determinação para a saída.
Tudo estava em silêncio e a escuridão a ajudou a permanecer protegida. Se agarrou ao corrimão da escada e desceu os degraus com tal cautela que nem um único degrau de madeira rangeu. Assim que chegou ao hall, olhou para as grandes janelas e, através das finas cortinas, observou o movimento das copas das árvores. Elas se mexiam como em seus sonhos....
Perplexa, ela olhou para longe das janelas, virou para o lado direito e continuou sua caminhada até que parou em frente à porta do escritório. Ainda estava fechado, como se tentasse obstruir a passagem de outra visita indesejada. Mas ela não era qualquer pessoa... muito lentamente, notando a batida de seu coração na garganta, alcançou a maçaneta e a girou. Se tivesse rangido a porta, ele a teria descoberto, mas os criados do visconde eram tão eficientes que engraxavam as dobradiças com assiduidade. Por essa razão, pôde entrar sem ser ouvida.
A única luz dentro era produzida pelas chamas do fogo na lareira.
Mal notou a decoração daquele escritório. A única coisa que viu claramente foi o grande tapete que estava ao lado do fogo e ele... Logan estava sentado em uma cadeira, com os cotovelos apoiados sobre a mesa e olhando para o que estava sobre ela. Havia tirado o paletó daquele terno azul avermelhado que ele usara tão imponente durante o jantar. As pontas da camisa preta, levantadas para ambos os lados, indicavam que ele não estava usando a
gravata e seu cabelo oferecia uma imagem descuidada. Fios negros e despenteados escondiam aquele rosto másculo que tanto adorava. Virou-se lentamente em direção à porta e fechou-a sem emitir nenhum som. Embora tenha originado o suficiente para ele levantar o rosto e descobri-la.
—O que faz aqui?
O tom duro que usou para falar com ela a fez pensar que havia cometido um erro. No entanto, seus olhos expressaram o contrário: declaravam tanta satisfação e bem-estar que reforçou sua decisão.
—Não consegui dormir -- ela disse enquanto caminhava até ele.
Ficou parada em frente à mesa e observou tudo o que havia nela.
Desordem. Só encontrou um grande caos. Uma multidão de folhas espalhadas na superfície e também vislumbrou que mais de uma estava manchada de licor. Olhou de relance para a garrafa ao lado dele e franziu a testa ao vê-la praticamente vazia. Ele tinha ficado bêbado? Foi por isso que não apareceu em seu quarto? E por que abusava do álcool se durante os dias em que estiveram em Harving House ele mal tinha tomado dois drinques fora das refeições?
—Poderia ter pedido a Sra. Donner para fazer uma daquelas infusões calmantes que ela mantém na cozinha. Certamente isso a teria mantido deitada no colchão até o amanhecer -- disse ele, arrastando as palavras.
—Está bêbado! -- Ela disse cruzando os braços. -- Por quê?
—Por que bebi mais do que posso suportar? —Ele estalou mordaz. —Caso não saiba, meu amor, quando se ingere tanto licor, o....
Logan de repente ficou em silêncio quando ela descruzou os braços e, sem tirar os olhos dele, estendeu a mão direita para a garrafa.
Colocou a boca da garrafa sobre seu lábio inferior e deu um pequeno trago.
—Eu também posso participar desse jogo -- ela argumentou antes de sua garganta queimar pela ingestão daquela bebida a qual não estava acostumada a beber. Segurando as lágrimas que causaram aquele ardor e a repentina tosse, o observou sem piscar enquanto permitia que várias gotas de bebida deslizassem por sua boca, pelo queixo, até baterem em seu peito. --
Tem que me dizer onde guarda mais, porque vou precisar de outra assim para poder alcançá-lo. Bebeu até que não havia mais nada dentro e depois colocou de volta em seu lugar.
O queixo de Logan caiu enquanto ele observava o licor escorrer por sua pele até que, maravilhosamente, terminou no decote do roupão de Anne. Ele queria se levantar, lançar-se sobre ela e percorrer com a língua o longo caminho por onde passavam essas abençoadas gotas de conhaque. Mas, apesar de sua embriaguez, ainda estava ciente de que seu estado lastimável só lhe causaria problemas. Uma vez que ele a beijasse, iria querer mais e isso provocaria uma explosão de emoções que o transformariam em um ser
malvado. Então, antes de fazerem amor, teria que ter certeza de sua decisão de ser honesto com ela. Precisava contar sobre seu passado, o que planejava fazer em um futuro próximo, e se o destino fosse gentil com ele, Anne não iria embora.
—Vai me dizer de uma vez por todas onde posso encontrar uma maldita garrafa? -- Ela retrucou, apreciando sua passividade.
O que diabos aconteceu com ele? Seu visconde, aquele que conhecera até a chegada daquele homem, teria se levantado, a tomado em seus braços e, depois de derrubar tudo sobre a mesa, teria feito amor com ela com tanta paixão que seus corpos teriam fundido. Esse pensamento, e as imagens que apareceram em sua mente, endureceram seus mamilos e a excitaram tanto que ela abriu a boca, inconscientemente, para ofegar.
—Lá! –Ele respondeu com a voz embargada, apontando para o decantador que havia sobre o móvel.
Estava preocupado. Não tinha dúvida sobre isso. Essa visita inesperada o perturbou. O que aconteceu durante a hora em que eles conversaram? Ela olhou para Logan e considerou se seria conveniente perguntar sobre o assunto que o incomodava. Talvez estivesse se precipitando, talvez só precisasse de um pouco de solidão para enfrentar o que aconteceu. No entanto, assim que começou a duvidar de sua performance, centenas de imagens dele passaram por sua cabeça: o dia da
festa, quando ele levantou seu copo e ergueu a sobrancelha esquerda silenciosamente perguntando por que estava olhando para ele, o dia que apareceu com Lorde Giesler em sua casa, seu desmaio, a conversa que tiveram enquanto Mary se distanciava deles graças ao presente. No momento em que ele conversou com Madeleine através da cortina, seu comportamento paternal com Josh, o beijo que ele lhe deu quando a descobriu em frente à porta daquele quarto imundo na pousada, no momento em que apareceu em seu quarto e disse para que trancasse se não quisesse que a visitasse novamente. A reunião no jardim, as noites abraçados em seu quarto, ouvindo como respirava em sua cabeça, notando a paz e tranquilidade que sentia ao seu lado.... É claro que tinha que descobrir o que na terra havia acontecido com ele! Como ela poderia abandonar o homem por quem estava loucamente apaixonada? Nunca! Ela lutaria com unhas e dentes para trazer de volta aquele homem intrépido que ousava beijá-la, tocá-la e amá-la onde quisesse.
Que Deus tenha pena dela e de toda a sua família! Porque lutaria por ele...
Com os olhos do visconde fixos nela, levou as mãos até o laço do roupão, desamarrou-o e, enquanto seguia para aquela área do escritório, balançou levemente os ombros até que o roupão deslizou pelos braços tão suavemente que sentiu seus pelos arrepiarem em resposta àquela delicada carícia. Se essa atitude sensual não fizesse Logan pular da poltrona, nada
conseguiria.
—Então... sua embriaguez causou... -- começou a dizer em uma voz tão extremamente erótica, que suas mãos tremeram.
Teve que respirar fundo para poder se concentrar em encher um dos copos na bandeja de prata e não derramar pelo tremor. Antes de se virar e encará-lo, bebeu aquela quantidade generosa de licor e serviu-se de outra.
Acabaria mais bêbada que Logan, mas não se importava como terminaria aquela noite. A única coisa que importava era como ele terminaria.
—Está me provocando? -- Logan perguntou à suas costas.
Nem mil barris de brandy o teriam derrubado depois de observar a silhueta do corpo de Anne através daquela camisola transparente!
Quando ela deixou cair o roupão no chão, mexeu os quadris com o ritmo sensual de seus passos, as pontas dos cabelos escuros roçando os quadris eroticamente e a luz das chamas perfurando a camisola, mostrando-lhe uma figura sedutora e erótica. Naquele momento, seu sexo reagiu rapidamente e seu coração ficou paralisado. Ela era puro magnetismo, desejo, luxúria e.... amor. A parte racional de seu cérebro, aquela que constantemente o lembrava do problema que ele tinha que enfrentar, desapareceu e todo o álcool que atravessou suas veias evaporou quando sua temperatura aumentou.
Anne o queimava, transformava-o em um imenso fogo. Poderia um homem morrer querendo tanto uma mulher? Porque ele estava disposto a morrer se
ela não matasse sua sede.
Anne sorriu ao ouvi-lo atrás dela. Sua respiração já indicava que ele estava excitado. Mas confirmou quando ele bateu o quadril em suas nádegas. Esse era o seu homem... sempre disposto a lhe dar prazer e ficar totalmente ereto por ela. Pelo menos já havia eliminado de seus pensamentos a angústia terrível de que não a queria. Agora tinha que descobrir por que a presença do homem o perturbara tanto.
—Eu gostaria de saber... - disse ela depois de colocar o copo no aparador, estendeu as mãos até encontrar as de Logan. Ele entrelaçou os dedos com os dela e os ergueu até os seios. Uma vez que as fortes palmas masculinas os rodearam, as pressionou como de costume. Naquele momento, seu quadril ganhou vida própria e chegou perigosamente perto dele e sua boca ofegou de prazer.
—Não é uma história agradável... -- Logan murmurou trazendo os lábios para o ombro direito de Anne. Abriu a boca, esticou a língua e lambeu a área da pele como se estivesse saboreando um sorvete, embora dessa vez não sentisse frio, mas calor, muito calor.
—Se fosse agradável... Não teria se trancado neste lugar... certo?
-- Ela sibilou quando colocou as mãos nas pernas hercúleas e acariciou-as até que tremessem.
—Anne... -- ele disse em um tom abafado, como se um nó na
garganta o impedisse de falar.
—Logan... -- ela respondeu, colocando a mão direita no grosso volume que se escondia debaixo das calças. ?Está tão excitado por mim...
Se essas palavras a deixavam louca quando as escutava, esperava que tivessem o mesmo efeito em Logan.
—Sim... -- ele respondeu trazendo a pélvis para mais perto daquela mão impertinente para que não parasse de tocá-lo. -- Sabe que não posso resistir a você... -- ele confessou antes de colocar os lábios no pescoço dela e beijá-la sem parar.
—Pedi para que fizesse isso? -- Ela perguntou, virando-se.
Quando viu a tristeza naqueles belos olhos azuis, ficou sem fôlego. O que aconteceu para fazer Logan se sentir tão vulnerável?
—Mesmo se me pedisse... não poderia fazer isso -- ele respondeu antes de agredir sua boca.
Como se estivessem prestes a morrer de fome e a única coisa que poderia salvá-los da morte era se devorar, Logan invadiu, subjugou e se apoderou da boca de Anne enquanto ela respondia com a mesma necessidade e paixão. As mãos do visconde descansaram em suas nádegas e a puxaram para mais perto, deixando-a presa das coxas ao peito. Ambos os corpos se misturavam como se fossem duas essências perfeitas dentro de uma sala sem saídas.
As mãos de Anne, colocadas primeiro no pescoço de Logan, lentamente traçaram as costas largas, continuaram abaixo do peito, desabotoaram os botões daquela camisa, acariciaram-no com as palmas das mãos abertas e, quando ela ficou satisfeita em tocá-lo, desceu lentamente até a cintura das calças.
—Quero libertar você de tudo o que prejudica seu coração --
disse antes de beijar a área do peito dele que o protegia. -- Quero arrebatá-lo para que nada possa feri-lo, jamais...
—É seu... -- Logan engasgou quando sentiu os lábios em seu mamilo esquerdo.
—Tem certeza? -- Ela retrucou. Percebendo como ele afirmava com um leve aceno de cabeça, se afastou o suficiente para ver se estava mentindo. Quando confirmou a veracidade de suas palavras, enfiou a mão na calça e acariciou seu sexo duro e úmido com as pontas dos dedos.
—Sim... -- ele sussurrou, fechando os olhos para se deixar levar pela sensação de prazer causada pelo toque daqueles delicados dedos. —Te pertence…
Então, apenas quando o teve em um estado de frenesi, se afastou dele, como se estivesse possuída por um espírito diabólico. Ela se esquivou de sua figura corpulenta e se afastou por tempo suficiente para observar sua reação. Claro, o rosto de Logan mostrava uma mistura de perplexidade e
medo.
—Se esse coração realmente me pertence, preciso que seja honesto e me diga por que diabos se trancou neste lugar por mais de quatro horas. Tempo que, a julgar pelo cheiro que tem e pela quantidade de bebida que descobri na garrafa, passou bebendo -- ela disse como se fosse uma esposa furiosa por ter esperado a chegada de seu amado marido em frente à entrada da sua casa, enquanto um dilúvio caia.
—Prometo que contarei tudo depois de fazermos amor. Agora sou incapaz de pensar em outra coisa senão possuí-la... -- ele disse enquanto empurrava sua camisa para longe com um único puxão. Então fez o mesmo com o botão da calça, baixou-os até os pés. Com um solavanco rápido, tirou os sapatos, tirou todas as roupas e ficou completamente nu para ela. -- Não sente pena do seu amante insano? Olha como me colocou...
—Acalmarei a sua necessidade quando aplacar a minha -- disse ela solenemente, para que ele não tivesse dúvidas de que não estava blefando.
Estava disposta a descobrir o que estava errado e não pararia até conseguir.
—O que quer saber? -- Ele perguntou, desistindo.
—Quem era esse homem?
—Lorde Laxton.
—O que ele queria de você?
—Veio me informar que seu tio, o conde de Burkes, continua
com a ideia de comprar Harving House. -- Ele estava prestes a abaixar a cabeça quando percebeu que Anne estava se movendo. Rapidamente, fixou os olhos nela e eles arregalaram quando viu o que estava fazendo depois de sua resposta. —Vamos brincar disso, querida?
—Sim -- ela disse, acariciando seus seios por cima da camisola.
Não gosta da ideia de ser recompensado cada vez que responder minhas perguntas? -- Acrescentou naquele tom erótico que adotara desde que entrara.
—Acho isso... agradável -- ele respondeu com um longo suspiro.
—Pergunte o que deseja -- acrescentou colocando sua mão direita em seu sexo.
—Por que quer comprá-la? —Perguntou Anne, ainda se tocando.
Devia levá-lo a um estado de agitação tão intenso que não pudesse mentir para ela. Precisava descobrir a verdade e encarar isso juntos, como se fossem casados.
—Porque quer ampliar seu patrimônio -- ele respondeu. Mas vendo que essa declaração não pareceu correta, porque Anne parou de se tocar, ele acrescentou: -- Ele quer que a venda em troca de manter um segredo.
—Um segredo? -- Ela exclamou surpresa.
—Sim -- ele disse com um halo de tristeza.
—Que segredo? —Ela perguntou. Quando viu que a mão de Logan se afastou de seu sexo e agora se esticava em direção ao chão, continuou com seu jogo. Andou para trás até que suas nádegas tocaram a mesa, se inclinou sobre ela, levantou a camisola até que revelasse sua virilha e abriu as pernas ligeiramente. -- Que mais?
—Laxton e eu nos conhecemos há cinco anos. Depois de ser apresentado e falar sobre sua vida, fiquei com pena dele -- continuou ele, incapaz de tirar os olhos daquela flor sexual que, a julgar pela forma como brilhava, estava molhada.
—Aham -- E o recompensou novamente. Sua mão direita foi colocada em seu sexo e acariciou até que surgiram sons sedutores que expressavam com audácia a excitação que ela sentia quando se tocava.
—George e eu temos uma amizade... especial. -- Ele falou hesitante, sufocado pela imagem de Anne. Aquela figura erótica só reafirmava que ela era a mulher mais maravilhosa que ele já tinha visto em sua vida. No entanto... ela poderia suportar a verdade? O que pensaria dele quando revelasse aquele passado sombrio?
—O que quer dizer com amizade especial? -- Anne perguntou, introduzindo um de seus dedos. Percebendo essa pressão, ela suspirou, olhou para ele descaradamente e acariciou seus lábios com a língua. Deveria se sentir como uma rameira, mas não era assim. O que sentia era um imenso
poder sobre Logan. Um que libertaria o homem que amava daquela prisão em que ele se forçou a ficar.
—Laxton se tornou meu parceiro em... perversões. -- Ele suspirou profundamente. Estava tão hipnotizado por seus suspiros que era capaz de gozar apenas olhando para ela. —Já conhece a fama de libertino que carrego nas costas...
—Real ou inventada?
—Real -- ele disse, olhando para ela com tanto pesar que o coração de Anne se partiu em mil pedaços.
Por que se lamentava do que fez no passado? Acaso agia assim para se proteger de alguma ferida? Um coração partido, talvez?
—E? -- Ela insistiu, tirando aquele dedo invasor para espalhar sobre os lábios voluptuosos o fluxo que emanava ao se excitar.
—O que quer que eu explique? -- Ele gritou enquanto acariciava seu cabelo desesperadamente.
—A verdade! Quero a verdade! -- Anne respondeu, afastando as mãos de seu corpo. -- Cruzou os braços e olhou para ele sem piscar. Teria que insistir. Estava prestes a alcançar seu objetivo e, apesar de deduzir que não gostaria do que ouviria, suportaria isso por ele.
—A verdade? -- Ele retrucou, erguendo as sobrancelhas. Um sorriso sombrio apareceu em seus lábios e seus olhos escureceram.
—Sim— ela garantiu com firmeza.
Anne não estava mais na frente de um amante terno e amoroso, mas na presença de um fantasma. O que teria acontecido no passado para que o transformasse em um ser sem alma?
—Bem, a verdade não é outra a não ser que compartilhamos mulheres -- ele revelou, estreitando os olhos e seu riso mudou de sombrio para trêmulo.
-- Suas amantes? -- Perguntou, soltando a camisola aos seus pés dela.
—Sim -- ele disse categoricamente.
—Obrigou-as a fazê-lo? -- Perguntou Anne, segurando as mãos na boca. -- Mandou que elas fizessem isso?
—Nunca! —Afirmou Logan rapidamente. —Elas estavam mais do que dispostas a serem compartilhadas com outros homens. Garanto que elas sonhavam em deitar com vários amantes de uma só vez.
—Então? Se nenhuma delas reclamou quando as compartilhou, o que o angustia? O conde quer revelar seu segredo? É por isso que diz que ele o chantageia? -- Ela insistiu com angústia. Conhecia essa dupla moralidade aristocrática. Todo mundo falava sobre isso, e embora esse tipo de relacionamento fosse um rumor suculento, não tinha dúvida de que Logan não seria o primeiro aristocrata a praticar esse tipo de imoralidade.
—George e eu cometemos um erro grave -- explicou Logan.
Ele se virou e caminhou até à lareira. A luz daquelas chamas iluminava seu corpo. Seu pelo áspero encaracolado, que desenhava uma linda e sedutora linha do peito até a pélvis, a largura dos ombros, as pernas grandes e fortes, os músculos ásperos dos braços e do sexo, ainda rígido de excitação, se apresentavam diante dela com vontade absoluta. Logan despiu seu corpo, agora estava faltando que também despisse sua alma.
—Qual? —Ela quis saber. Embora seu jogo estabelecesse certa distância, Anne não podia ficar longe dele. Com um passo muito lento, ela se aproximou de Logan até que seu nariz pudesse inspirar aquela fragrância masculina que a surpreendia. Muito lentamente, colocou as mãos em suas costas e acariciou com as pontas dos dedos. -- Qual foi o seu erro, Logan?
—Incluir uma serva do conde nas nossas perversões. -- Ele inclinou a cabeça para trás, fechou os olhos e prendeu a respiração quando sentiu o toque suave das pontas do dedo em sua pele.
—O que aconteceu? —Ela acrescentou a boca àquelas carícias suaves.
Seus lábios beijavam lentamente diferentes lugares das costas fortes, criando sons sugestivos que, por um momento, fizeram Logan permanecer em silêncio para apreciá-los.
—O conde sempre foi um homem muito rigoroso. Desde que sua
esposa morreu, nenhuma mulher tomou o seu lugar. Ele adotou uma moralidade religiosa tão severa e rigorosa que não era capaz de consentir em certas liberdades. Logicamente, desde que ele acolheu George sob sua proteção, tentou educá-lo sob essa ética severa. Então rapidamente descobriu que seu sobrinho e a criada tinham um idílio. Furioso, irritado por não ter doutrinado bem o sobrinho, o conde concebeu um plano para submetê-lo, à força, aos seus desejos. Mas seu propósito magnífico se mostrou mais frutífero do que ele esperava... -- Logan apertou os lábios com tanta força que eles empalideceram. Ergueu seu corpo, totalmente tenso, como um homem que espera com honra a chegada da morte. No entanto, o fato de que Anne continuou a beijá-lo com tanta devoção o fez relaxar a ponto de se tornar uma poça de gelo derretido. Ele engoliu em seco, fixou os olhos no fogo e continuou:—Até aquele dia, ele me inundou com um número infinito de propostas de compra suculentas, mas as rejeitei porque nunca quis me livrar dessa casa. Já lhe disse no celeiro que a reconstruí com minhas próprias mãos e tudo o que encontrou dentro consegui através de um grande esforço.
-- As palmas de Anne se subiam e desciam sem descanso e sentiu que aqueles movimentos leves continuavam a aplacar sua inquietação. Como ela poderia estar ao seu lado ouvindo tal atrocidade? Por que não o deixava sozinho com seu sofrimento? Talvez houvesse uma pequena possibilidade de estarem juntos... —No mesmo dia em que concluí a restauração, George
apareceu enfurecido. Seu tio o castigara novamente por ter quebrado uma de suas muitas regras. Nada poderia tranquilizá-lo, nem mesmo as duas garrafas de conhaque que ele engoliu enquanto me contava a humilhação e a dor que sentiu quando o chicoteava na frente dos criados. Então ele confessou que Burkes havia deixado sua casa para compartilhar mais uma noite de moralidade com o juiz Clarke e o pároco Madden. Então tive a brilhante ideia de perguntar se a donzela estaria disposta a nos oferecer uma noite divertida.
A emoção que George mostrou em seu rosto corroborou minha decisão.
Laxton costumava fugir de todos os seus problemas e preocupações depois de uma sessão de sexo tórrido e juro que ele precisava daquela noite...
—E...? Fez isso?
O tom de voz de Anne não expressava ódio, nem nojo, nem mesmo um ligeiro sentimento de ódio. O que transmitiu em sua pergunta foi tristeza. O mesmo que uma mãe mostraria por descobrir que seus filhos fizeram um mal que causaria um problema sério. Essa atitude fez Logan mais forte e ele abandonou toda a tristeza que sua revelação sombria lhe causava.
Talvez houvesse uma possibilidade de que ela perdoasse tudo o que fez no passado, mas... poderia suportar toda a verdade?
—Sim, nós fizemos, e nós dois caímos na armadilha que o conde planejou -- ele disse asperamente. -- No meio da orgia, no momento em que ambos estávamos possuindo a mulher, a porta da sala se abriu e três pares de
olhos nos observaram: o conde, o juiz e o pastor.
—Meu Deus! —Exclamou Anne horrorizada.
—Sim, foi o que o pároco gritou quando descobriu o que estávamos fazendo ali dentro -- ele disse sarcasticamente.
—O que aconteceu depois? -- Ela estava interessada, agarrada a sua cintura forte com mais ímpeto. Tentando mostrar naquele ato de afeto que, apesar de tudo, continuaria a apoiá-lo.
—Burkes ordenou ao sobrinho que se retirasse para seu quarto e me obrigou a ter uma reunião com as outras testemunhas. Quando me vesti e entrei na biblioteca, custodiado por seu mordomo, ele começou a me insultar e me culpar pela imoralidade de George. Colocou o juiz e o pároco contra mim, embora não tivesse que fazer muito para isso também. Eles já haviam me condenado à morte desde que viram nós três na sala. Então, depois de ouvir todas as acusações, tentei me defender... -- Ele suspirou novamente e fixou os olhos no fogo. -- Não pude expor nada do que pensava no caminho para aquela maldita sala. O pároco Madden trouxe a vida libertina de meu pai e os rumores sobre a descendência que ele gerou. O juiz Clarke se juntou a essas acusações. Apontou o dedo para mim e me avisou que perguntaria sobre minha verdadeira origem, porque, como havia ouvido de um juiz de Londres, o falecido marquês de Riderland e a falecida marquesa assinaram minha certidão de nascimento quinze anos depois de eu nascer. O pároco
também acrescentou sua versão daquela estranha negligência, segundo a qual a marquesa nunca pronunciou meu nome quando aparecia em sua paróquia para confessar seus pecados. Parece que o único nome que saia de sua boca era o de Charles, o filho que morreu bravamente para salvar algumas crianças pobres de uma casa queimada pelo fogo.
—Me lembro dessa notícia... -- Anne sussurrou, descansando uma bochecha em suas costas largas. -- Minha mãe não parou de falar sobre o que aconteceu e exaltou o heroísmo de seu irmão.
—Meu irmão? -- Retrucou Logan se afastando dela. —Esse não era meu irmão!
—Logan... -- ela sussurrou, olhando para ele com tanta tristeza e pena que seu coração afundou.
—Não, não era! -- Ele assegurou sem rodeios —Sabe quem realmente era esse filho do demônio? Um louco! Um perturbado! Foi ele quem causou o fogo! Ele queria ver todos os filhos ilegítimos de seu pai queimados no fogo! E entre aqueles bastardos estava eu... -- ele confessou antes de abaixar os olhos e fixá-lo no chão.
—O que?! -- Ela perguntou, arregalando os olhos. Levou as mãos trêmulas ao peito para aplacar a batida rápida de seu coração. Suas pernas começaram a perder força e tudo ao seu redor começou a se mover.
Estava tonta e sufocada, porque também não podia respirar. Logan era um
filho ilegítimo do Marquês? Impossível!
—Que eu sou uma desova, Anne. Sou uma criança indesejada...
-- ele disse com firmeza. -- Nunca ouviu as histórias descaradas do meu pai? -- Ela negou com a cabeça enquanto andava para trás. Quando sentiu nas solas dos pés a maciez do carpete colocado em frente à lareira, flexionou os joelhos até que sentar no carpete. —Pois o muito condenado sujeitava todas as mulheres que ele desejava a seu prazer. No meu caso, teve a terrível audácia de aceitar a proposta que os pais da minha mãe de verdade ofereceram para que pudessem ficar em uma de suas terras, ricas para cultivo e para caçar. Sabe quem mantém uma vida nômade? Pode ter uma ideia de quem minha mãe poderia ser?
Ao ouvir essas perguntas, Anne abaixou a cabeça e se abraçou com força. O que ouvia não podia ser verdade. Logan estava mentindo!
Mas... com que propósito? Para tê-la? Por quê? Ele não perdia mais do que ela, revelando esse fato? Muito lentamente, ela ergueu o queixo e quando viu o rosto de Logan, ficou sem fôlego. Não encontrou nada que indicasse que estava mentindo. A expressão daquele olhar triste e agonizante declarava que ele estava dizendo a verdade. Ele não queria despir sua alma? Bem, aí estava.
O homem que ela amava confessava seu passado. Um que ela nunca teria imaginado, mas com o qual sonhou mais de uma vez. Agora a última peça daquele quebra-cabeça incompleto estava em sua mão, faltava apenas que ela
pudesse encaixá-la com as outras.
—Vejo que não quer me responder... sente tanta repulsa por confessar que sou filho de uma cigana? Só ama o visconde? -- Ele disse com um grunhido áspero.
—Realmente acha que posso sentir repugnância conhecendo sua verdadeira origem? Eu? -- Gritou fora de si. -- Esqueceu o sangue que corre nas minhas veias? -- Se aventurou a atacá-lo, levantando-se com tamanha bravura que seus tendões doíam.
—Sinto muito, não estou falando corretamente -- murmurou inclinando a cabeça para o chão, mostrando tanta submissão que Anne queria tirá-lo desse estado de desânimo com uma grande bofetada.
—Não sou aquele que negou suas origens! Não sou aquele que mentiu!
—Eu... eu não queria fazê-lo -- ele disse finalmente levantando o rosto até que seus olhares se encontraram. -- Juro pela minha vida que, desde o primeiro momento, quis tornar público quem era minha mãe, mas Roger me impediu.
—Por quê? É ele quem rejeita suas origens ciganas? Te obrigou a permanecer em silêncio? É por isso que o falecido marquês assinou sua certidão de nascimento? Seu grandioso irmão não queria manchasse o honrado seu título?
—Não! -- Ele gritou andando em direção a ela até que estavam tão perto que o calor do corpo de Anne, provocada pela raiva, aqueceu o seu, gelado por esse ataque de bravura.
—Não o entendo, Logan! -- Ela exclamou, levando as mãos ao rosto para esfregá-lo com desespero. -- Realmente não entendo a atitude dos aristocratas! O que queria? Por que não deixou revelar quem era? Que impacto teria outro filho ilegítimo? Existem centenas!
—Isso destruiria tudo aquilo que fez... -- ele apontou suavemente.
—Quer dizer sua vida social bem-sucedida? -- Ela disse em voz alta.
—Não! Roger sempre lutou contra todos os benefícios que lhe davam o título de Marquês! -- Se esforçou para esclarecer.
—Então... o que foi? O que ainda está escondendo, Logan? --
Ela disse com firmeza.
Lentamente, Logan olhou para as mãos de Anne, que tremiam com o estado de raiva, entrelaçou os dedos dela com os seus, levou-os até os lábios e beijou-os um a um.
—Quando Roger era criança, descobriu algo tão macabro que o forçou a se afastar de seus pais. Tanto o marquês como a marquesa o deram como morto e educaram Charles, seu irmão gêmeo, para que um dia
ostentasse o título -- começou a narrar enquanto colocava as mãos de Anne sobre o peito para que sua respiração e os batimentos cardíacos confirmassem a veracidade da história. -- Ao retornar, muitos anos depois, os marqueses uniram forças para aniquilá-lo, mas graças à piedade de seu mordomo, conseguiu sobreviver. A partir daquele dia, jurou destruir seus pais e havia apenas uma maneira de fazê-lo.
—Qual? -- Era a primeira vez que os olhos de Logan brilhavam com lágrimas. Aquele homem vulnerável que encontrou ao entrar no escritório havia retornado. No entanto, não o deixaria sozinho. Desta vez, ela estava ao seu lado para ajudá-lo a lutar contra os demônios que o atormentavam.
—Com o dinheiro que recebeu por suas viagens, reuniu uma fortuna suficiente para construir aquela residência que foi destruída pelo fogo. Ali permaneceram mais de trinta filhos bastardos por um longo tempo.
Ele nos mantinha protegidos da marquesa.
—A marquesa sabia das infidelidades do marido? -- Ela retrucou espantada.
-- Sim, porque muitas das mulheres que mantinham relações com ele apareceram meses depois, carregando em seus braços o fruto daquelas escapadas românticas.
—O que ela fez? -- A expressão de Logan endureceu e seus
olhos escureceram para se tornarem as próprias asas de Astennu. -- Não me diga que os matou? -- Ela disse sem pensar.
—Sim. Até que Roger conseguiu nos salvar, ela ceifou a vida dessas crianças para manter o casamento seguro.
—Então... aconteceu... Charles descobriu... e queria matar todos vocês para que... -- ela tentou dizer. Mas as conclusões a que seu cérebro chegou foi mais rápida do que sua capacidade de falar e foi incapaz de realizar uma frase completa. -- Oh, meu Deus! -- Ela exclamou antes de romper o pranto que havia segurado.
—Calma Anne -- ele tentou acalmá-la abraçando-a com força. --
Muitos de nós foram salvos graças a Roger e ele conseguiu, com a ajuda do Duque de Rutland e do Barão de Sheiton, construir outra residência onde pudéssemos viver.
—Qual é a sua história, Logan? -- Ela perguntou se afastando de seu amado para olhar seu rosto e embalá-lo em suas mãos. -- O que aconteceu com sua mãe? Foi ela quem o levou até Roger?
—Não. Ela não pôde me levar porque morreu no parto -- ele declarou em uma voz estrangulada. —Era uma menina quando ficou grávida, mal tinha completado 14 anos e não suportou o parto. Sua mãe…
—Sua avó -- O corrigiu.
—Não posso chamá-la assim, Anne. Vê a cicatriz no meu peito?
—Ela direcionou o olhar para aquela marca e, depois de tirar a mão daquele rosto aflito, acariciou-a devagar. —Tentou me matar. Talvez tivesse conseguido se a mulher que me criou não a tivesse seguido até a floresta onde, depois de me rasgar com uma adaga e confirmar que meu sangue chamaria as feras para me dar um fim, me abandonou. Shara sabia que, quando voltasse para a colônia comigo em seus braços, sofreria a ira daquela mulher perigosa, mas não se importou. Teve que passar por uma dura punição por se atrever a desafiar a feiticeira, a essa avó que deseja que nomeie. Mesmo assim me assumiu com integridade por seis anos. A partir daquele momento, quando observou que todos os membros do clã também eram cruéis comigo, nos afastamos da colônia e vagamos até que um visconde nos acolheu. Ela se tornou uma serva e eu era o bastardo triste de um homem que ninguém conhecia. Só soube que o marquês de Riderland era meu verdadeiro pai quando Shara adoeceu. Antes de morrer, continuou a lutar por minha vida e não deu seu último suspiro até que Roger lhe jurou que eu estaria a salvo ao seu lado.
—E manteve sua palavra -- murmurou Anne, abraçando-o com força.
—Sim -- disse Logan, se deixando abraçar, se permitindo finalmente sentir alguma calma em sua alma inquieta. Tenho que continuar protegendo o segredo, Anne. Não posso destruir tudo o que Roger fez por
nós. Devo assumir a condenação que eu mesmo ganhei com o conde. Se continuar pagando por tudo que me pede, se de uma vez por todas vender Harving House... meus irmãos não sofrerão mais humilhações e o trabalho de Roger continuaria a ser protegido.
—Maldito filho da puta! -- Gritou Anne, se lembrando da chantagem do conde. Afastou-se de Logan e começou a andar pelo escritório.
-- Quero matá-lo! Quero estrangulá-lo com minhas próprias mãos! --
Declarou erguendo os braços e entrelaçando os dedos como se de fato o pescoço do velho Burke permanecesse entre eles. —Não vai desistir, certo?
Quer vê-lo humilhado e destruído! -- Ela berrou. -- Bem, ele não vai conseguir! Aquele porco não sabe quem são as Moore! Escreverei uma carta para minha mãe e pedirei que ela se apresente o quanto antes. Certamente, entre todos podemos traçar um plano que possa destruí-lo. Por nossas veias corre sangue maldito, muito perverso -- disse ela estreitando os olhos. --
Sabe quem foi minha avó? Jovenka! Uma cigana que esterilizava a terra que tocava seus pés!
—Anne... Por favor... pense um pouco, querida. Nós não podemos enfrentá-lo. Não só a reputação de meus irmãos estará em perigo, mas sua família estará envolvida nessa atrocidade. Não vou arrastá-la também! Tenho que aceitar minha culpa!
—Sua culpa! Como declara esse absurdo, Logan Bennett,
visconde de Devon, irmão do idolatrado marquês de Riderland? -- Acha que seu irmão lhe daria uma tapinha nas costas e apoiaria essa decisão? Onde está esse sangue cigano que banha suas veias? Renunciou tanto a ele que não existe mais em você?
—Não! Claro que não! -- Ele berrou. -- Mas... o que eu posso fazer?
—Lutar! -- Ela gritou, erguendo o punho direito. -- Como todos os nossos ancestrais lutaram.
—E como quer que façamos isso, querida? Na festa? -- Disse mordaz.
—Que festa? -- Ela fez a pergunta com uma voz calma, como se de repente toda aquela fúria se libertasse de seu corpo.
—George me trouxe um convite que não posso recusar—ele murmurou. -- Também me disse que se alguém descobrir sua presença em Harving, os rumores sobre minhas perversões aparecerão novamente e vocês...
—Nós estaremos desonradas -- Anne terminou a frase cerrando os punhos. -- O que planejou fazer? O que quer que façamos?
—Disse à Laxton que minha noiva...
—Noiva? -- Ela interrompeu. -- Que noiva?
—Você. Quem mais poderia ser? -- Ele disse, dando passos
largos até ela. —Sabe que te amo, Anne, que quero me casar com você porque, como descobriu, a maldição da qual tanto teme romperá comigo.
—Nos casarmos... —Ela murmurou abaixando o rosto.
Surpreendida pela magnitude que originava essa simples palavra.
—Não quer fazer isso? Não me ama como eu te amo? -- Ele perguntou, notando como outro nó apareceu em sua garganta.
—Sim, amo você, Logan. E posso assegurar-lhe que, depois de saber quem realmente é, o desejo de me tornar sua esposa aumentou.
—Então? O que a impede de fazê-lo? -- Ele disse, erguendo seu queixo com dois dedos.
—Não sei se posso te dar o que precisa... -- ela declarou olhando-o nos olhos.
—E o que, de acordo com você, eu preciso? -- Ele retrucou, arqueando as sobrancelhas escuras.
—Não posso... nunca conseguiria... não seria capaz de...
—Anne -- ele sussurrou, roçando com a boca esses lábios trêmulos. -- O que não poderia, meu amor?
—Não poderia colocar outro homem na minha cama -- declarou ela aterrorizada.
—Não vou consentir com isso! Você é minha, Anne Moore! Só minha! -- Ele esbravejou antes de submetê-la a um beijo tão possessivo que
não deixava dúvida de que seu futuro marido não a compartilharia com ninguém.
XXXIII
No dia seguinte, depois do café da manhã, Logan chamou todo o serviço na sala de jantar. Por causa da inquietude em seus rostos, Anne supôs que eles estavam desconfortáveis com a aparição do sobrinho do conde. No entanto, a incerteza foi transformada em júbilo ao ouvir a notícia de seu compromisso. Eles não pareciam surpresos, mas aliviados, algo que intrigou Anne. Eles não conseguiram manter o relacionamento em segredo? Temia que não, porque as expressões de alegria da Sra. Donner a fizeram entender que eram, em mais de uma ocasião, testemunhas silenciosas de seu romance.
Josh abraçou Logan e depois a beijou inúmeras vezes. A única pessoa que não parecia gostar da notícia era Elizabeth. Quando ela se levantou da cadeira e saiu da sala, Logan a seguiu com um passo firme.
—Não faça nada -- disse Josh enquanto tentava se levantar. Deve deixá-los sozinhos. Eli precisa assimilar que você alcançou seu sonho idílico.
Esse comentário a entristeceu. Nunca imaginou que se tornaria esposa de um aristocrata e que um dia seria uma marquesa. No seu caso, só queria se afastar de sua família para não a machucar mais. Por que o destino era tão caprichoso? Como diabos ele os juntou? Alguma vez pensou que amaria um cigano com uma mistura de sangue azul? Essa pergunta a fez sorrir. Não, é claro que nunca sonhou em se casar com um homem que
escondia a selvageria dos ciganos e não imaginava que ele era tão apaixonado...
Depois de muito tempo, Logan voltou para a sala sustentando o braço de Elizabeth. O olhar dela havia mudado e sua atitude também. Uma vez que se sentou na cadeira, colocaram o plano em movimento.
—Nós não podemos aparecer sem um acompanhante -- disse Elizabeth depois de ouvir a história estudada do visconde. -- Isso os faria pensar que está mentindo para eles.
—Está certa —Logan bufou. —Não seria apropriado que aparecessem sem uma presença respeitável —acrescentou ele mordaz.
—O que acha, milorde, se transformarmos a Sra. Donner numa tia distante da senhorita Moore? Eu poderia me tornar seu filho e ela poderia ser uma viúva —esclareceu.
Quando Howlett, que não parou de produzir palminhas desde que soube que o visconde se casaria com Anne, ofereceu essa alternativa, todos os olhos se voltaram para ele.
—É uma ideia fantástica —admitiu Logan. —O que acha, Sra.
Donner? Gostaria de se tornar a tia dessas meninas adoráveis?
—Milorde, me sentiria muito honrada em desempenhar esse papel, mas não sei se posso convencê-los como desejam. Minhas mãos estão... -- Ela tentou dizer, estendendo as palmas para o seu senhor.
—Isso não será um problema —disse Elizabeth. -- As senhoras sempre cobrem as mãos com luvas de seda.
—Mas eu também não sei dançar, se alguém tentar ter uma conversa culta comigo... -- ela murmurou desconfortável.
—Sobre o tema da dança, não se preocupe, poderá fingir que se sente fatigada pela idade —respondeu Elizabeth novamente. —E sobre as conversas, devo confessar que nenhum cavalheiro ousará pedir sua opinião sobre uma questão importante. Estou certa de que falarão sobre o clima, sobre a esplêndida festa que o anfitrião ofereceu, sobre as deliciosas iguarias que oferecerá a seus convidados e a magnífica repercussão social que o conde obterá quando a noite acabar.
—Somos tão previsíveis? —Logan exclamou zombeteiro. Cruzou os braços e se inclinou descuidadamente em um canto da lareira de pedra ambarina.
—A aristocracia é simples demais, qualquer um poderia se apresentar como um deles se adotasse esse comportamento tolo —disse Eli, levantando o queixo e olhando para ele sem piscar.
Naquela rude declaração, Anne olhou para Elizabeth como se fosse aniquilá-la, mas a risada de Logan fez com que apagasse esse desejo maquiavélico.
—Está certo, Eli! Somos tão simples que qualquer um pode se
passar por um de nós! -- O visconde acrescentou sem parar de rir, descruzou os braços e caminhou em direção à jovem para lhe dar um terno beijo no lindo penteado que usava naquela manhã.
Quando a atmosfera ficou mais fluida e relaxada, Logan e Anne informaram a todos sobre suas novas tarefas e começaram a trabalhar.
Howlett e Elizabeth foram encarregados de instruir a cozinheira. Embora em mais de uma ocasião, ouviram os gritos desesperados que a pobre mulher produzia ao se submeter aos mandatos do valete. Josh, para seu pesar, teve que visitar, junto com Anne, uma costureira para fazer um vestido para ela. A primeira vez que ela viu a intrépida Moore vestindo uma roupa tão feminina, não soube se expressava mais horror o rosto da vendedora ou de sua irmã.
—Onde posso esconder o punhal? -- Ela comentou enquanto observava o tecido, os babados e as rendas.
—Não terá que levar nada. Lembre-se de que estamos indo a uma festa e que nosso trabalho é mostrar um caráter gentil e educado -- Anne disse em um tom firme.
—A liga é ideal para um punhal curto -- sussurrou a assistente da loja em seu ouvido ao fixar o babado no ombro direito. Tenho clientes que me pedem certas restrições nas meias...
Essa revelação e a cumplicidade que a costureira lhe ofereceu fizeram com que Josh relaxasse e acabasse pedindo-lhe duas boas restrições
para suas pernas.
Marco, o administrador, também se juntou ao plano. O propósito dele era proteger as irmãs enquanto o visconde se encontrava com o conde.
Embora permanecessem protegidas pela Sra. Donner e Howlett, Logan não queria que o juiz ou o pastor tentassem se aproximar delas para realizar algum truque sutil. Precisava controlar tudo...
O mais engraçado daqueles dias foi o momento em que ele o apresentou a Elizabeth e ao seu fiel companheiro. Os olhos de ambos se arregalaram tanto que poderiam escapar de suas órbitas. Marco mostrou uma figura solene com seu terno sob medida e a última moda, e este exaltou suas tão exóticas características espanholas. Presumivelmente, Eli adotou o comportamento sedutor até descobrir que ele era um simples administrador.
No entanto, o interesse do valete nele aumentou, deixando bem claro que queria seduzi-lo. Embora Logan tentasse mantê-lo longe dele, Howlett procurou desculpas absurdas para chamar sua atenção e o visconde, notando que Marco não o evitava, e sim desejava acalmar todas as preocupações de seu criado, desistiu de seu propósito. Quem era ele para lutar contra o amor de dois amantes?
Durante as noites, e embora a Sra. Donner tivesse decidido não dançar na festa, Kilby insistiu em mostrar-lhe a beleza da dança. Nesses momentos, todos descobriram que o mordomo sentia alguma atração pela
cozinheira e que escondeu até que a mão esquerda do fiel empregado se instalou na cintura da mulher com determinação.
Tudo estava preparado. Nem um único detalhe foi deixado sem revisar. Só esperava que a festa saísse tal como haviam planejado.
—Nervosa? —Logan perguntou a Anne uma vez que eles se acomodaram na carruagem. Ele a observou como se fosse seu maior tesouro, sua deusa, e sorriu quando decidiu colocar todos os acessórios que tinha em laranja. Parecia que os brincos, o colar e a pulseira que brilhava toda vez que ela movia o pulso os transformavam em amuletos da sorte.
—Você não está? -- Ela respondeu, olhando para ele surpresa.
—Vou dar por encerrado a extorsão que sofro há vários anos, vou à luta para salvaguardar a honra da minha família, vou apresentar minha futura esposa a sociedade e tenho que tirá-la de lá sã e salva, isso deveria me perturbar? -- Disse matreiro.
—Não, claro que não -- disse Anne, sorrindo amplamente. --
Um cigano nunca se curvaria a problemas menores.
—Disse bem, querida, disse bem... -- Logan declarou antes de perceber como a mão esquerda de Anne pressionou a dele e como a pulseira laranja os unia ainda mais.
***
—Isso é chamado de lar? —Elizabeth gritou quando saiu da
carruagem com a ajuda de Howlett, que logo retornou com Marco. A jovem olhou para a residência do conde e abriu bem os olhos. Austero, mesquinho, ridículo e vulgar foram às palavras que apareceram em sua cabeça quando contemplou aquele terreno. -- Agora entendo o motivo dele querer comprar Harving House -- disse ela à Logan. -- Este lugar é sombrio e apertado. Não é capaz de investir parte de sua fortuna suculenta para consertar o jardim? As flores estão murchas! -- Ela acrescentou furiosa.
—É a primeira vez que vou dizer isso, Eli, então ouça bem --
falou Josh, lutando com a saia de seu vestido de seda verde-esmeralda. --
Tem razão. Isso é abominável mesmo para mim. Nunca vi um lugar tão repulsivo. O conde quer fazer o mesmo com a Harving House? Porque tenho certeza que ele vai abandoná-la ao seu destino...
—O que ele quer é comprá-la por menos do que custa --
resmungou Logan -- e depois vendê-la pelo triplo.
—Não vai deixar, certo -- Perguntou Howlett, horrorizado. --
Levei muito tempo para encontrar aquelas cortinas de ovelhas irlandesas suaves e elegantes para essa crápula as transformar em trapos de cozinha.
—Não -- Bennett disse com firmeza. -- O conde não alcançará seu propósito. É por isso que estamos aqui, para consolidar minha recusa.
—Realmente acha que explicar que se casará com Anne e que quer usá-la como uma segunda casa fará mudá-lo de ideia? —Josh perguntou,
sem tirar os olhos do visconde, colocou as mãos furtivamente em ambos os lados de suas coxas para se certificar de que as adagas estavam no lugar.
—Tenho certeza de que o conde desistirá quando explicar que uma futura marquesa, que dará à luz uns seis filhos fortes e robustos, precisará dessa residência para educá-los sob a moralidade adequada.
Lembre-se de que esse homem acha que Londres é uma cidade dedicada a uma catástrofe social por causa da perversão de seus habitantes -- assinalou Anne, estendendo a mão a Logan para acalmar a inquietude que dizia não ter.
-- Deve recusar qualquer conversa sobre virtude, economia, origens ciganas, a popularidade do nosso pai e se alguém lhe perguntar a razão pela qual ele não veio, tem que indicar que...
—Que foi a um congresso muito importante para sua carreira profissional e que nossa mãe chamou tia Gerthudies e nosso querido primo para nos acompanhar nesta viagem -- recitou Josh aborrecida.
—Preparados? —Logan perguntou, pouco antes de pisar no primeiro degrau daquela escada de pedra rachada que os levaria à entrada principal.
—Sim! -- Todos responderam em uníssono.
O mordomo do conde, aquele que custodiou Logan na noite da trama, os recebeu minutos depois de bater na porta. Dois servos estavam encarregados de recolher seus casacos. Então, eles caminharam rapidamente
pela galeria à esquerda. Logan olhou para Marco e acenou para ele. O
administrador entendeu rapidamente e ficou do lado direito, vigiando a entrada das mulheres. Respirou fundo para acalmar o estado de agonia que não queria mostrar a Anne, pôs a mão no antebraço e ficaram na entrada da sala até que outro criado os anunciou.
Definir esse grupo de quatro músicos como uma orquestra era dar-lhes uma categoria muito alta. Os quatro homens colocados no canto não conseguiam pegar o compasso. Mas os participantes não deveriam se importar com esse ritmo desequilibrado porque estavam ocupados demais olhando a decoração desastrosa que os rodeava. O conde já havia dado a entender, pelo lado de fora da casa, o que encontrariam dentro, mas nenhuma das irmãs imaginou esse horror. Uma coisa era certa, o chão brilhava e o candelabro de cristal pendurado no teto a luz das velas, que emitiam um cheiro pútrido de um bezerro morto, iluminavam o salão. Logan olhou para Anne e ela sorriu para ele. Não havia dúvida de que o conde preparara essa cerimônia rapidamente. Talvez inclusive no mesmo dia que o sobrinho lhe entregou o bilhete. Possivelmente pensou que o visconde não se atreveria a aceitá-lo e, em resposta à sua resposta afirmativa, ordenou que seus poucos serventes a preparassem com urgência. Certamente esses quatro não fossem realmente músicos e sim empregados que, durante três dias, aprenderam a soprar um instrumento de sopro e a quebrar as cordas de um triste violino.
Sim, provavelmente seria isso...
Josephine fixou os olhos nas quatro paredes do salão e prendeu a respiração ao descobrir que as sete pinturas gigantescas tinham o mesmo rosto. Mudaram os fundos, as formas de seus vestidos pretos, mas aquele semblante sério, rígido e implacável aparecia em todos eles. Não entendia como os convidados podiam conversar com facilidade, enquanto sete pares de olhos ferozes os observavam como se quisesse lançar um raio fulminante contra eles. Inconscientemente, levou as mãos aos punhais e acariciou-os.
Não hesitaria em usá-los se suas vidas estivessem em perigo...
Elizabeth notou como a Sra. Donner pressionava os dedos no seu braço e puxou-a para lhe dizer alguma coisa. Uma vez que confirmou que ninguém estava olhando para elas, inclinou a cabeça para a mulher.
—Como vou falar sobre os assuntos que me sugeriram? -- Ela murmurou apavorada. —Não é uma grande cerimônia, a sala é sombria e receio que a comida nos deixará doentes. Eu nunca conheci um conde com tanta ruindade e miséria. Os ternos dos servos foram remendados várias vezes, a madeira não é devidamente tratada, por isso estaremos cercados de verme da madeira, castiçais, bandejas e receio que os talheres não sejam de prata, os copos em que bebem os escassos trinta convidados não brilham e esse cheiro... -- Ela franziu o nariz ligeiramente. O jantar foi queimado?
—Pode falar sobre o tempo —sugeriu Eli, concentrando-se em
não rir. Estendeu o leque e tentou se acalmar com o frescor que proporcionava.
Era verdade o que a Sra. Donner argumentava. Nada naquele lugar era digno de um conde, a menos que estivesse arruinado, e esse não era o caso, porque ele queria comprar a Harving House. Engoliu em seco quando olhou para as cortinas. De que século eram? A sujeira que mostravam e as tirinhas de baixos indicavam que não só tinham permanecido naquele lugar durante muitos anos, mas também tinham sido testemunhas de uma dura guerra.
—Do tempo? —A senhora Donner insistiu.
—Lembre-se que em breve mais chuva virá e aquelas pobres flores finalmente conseguirão um pouco de água.
—Água? -- Ela perguntou, puxando-a ainda mais. -- Não teremos a infelicidade de que chova enquanto permanecermos nesta sala, certo? Porque não tenho a menor dúvida de que este conde avarento não tenha reformado os telhados desta pocilga e nós teremos que beber um vinho rançoso enquanto evitamos a água das goteiras.
A risada de Elizabeth soou acima da música estridente. Esse ato sorridente e súbito chamou a atenção dos convidados e todos as encararam.
Logan e Marco ergueram suas figuras grandes e fortes. Josh levou as mãos de volta ao lugar onde os punhais estavam escondidos e Anne, depois de olhar
para Elizabeth intrigada, suspirou profundamente e desceu as escadas ao lado de seu noivo.
—Sinto muito... -- ela se desculpou.
Era a primeira vez que não controlava seu comportamento em uma reunião social, mas o comentário da cozinheira foi tão espirituoso que não pôde segurar o riso. Ainda sentindo os olhares sobre ela, tentou se esconder entre Howlett e Josh.
—Lorde Devon, quanto me alegro em vê-lo! -- Exclamou o conde, desenhando um sorriso pérfido. Ele caminhou em direção a eles, levantou a mão direita e esperou que ela fosse aceita.
—Lorde Burkes... —Logan respondeu, separando-se de Anne para aceitar aquela saudação hostil. -- A honra é nossa por nos convidar para sua casa.
—Como poderia me privar da sua presença e da sua... noiva? --
Ele retrucou, olhando para Anne com os olhos apertados.
—Senhorita Moore, apresento o conde de Burkes. —Logan colocou a mão esquerda na parte inferior das costas de Anne com a mesma determinação que Kilby colocou sobre a Sra. Donner. Esse ato de posse deve ter deixado claro que não estava mentindo e que a conversa que teve com George era verdadeira. Mas sabia que o conde não desistiria tão facilmente, em que momento da cerimônia ele mostraria sua verdadeira personalidade?
—Prazer em conhecê-lo, milorde —Anne o saudou, fazendo uma suave reverência.
—Igualmente senhorita Moore. Imagino que elas sejam suas amáveis irmãs, certo? Já ouvi falar das filhas Moore. -- Depois de suas palavras, seus olhos negros olharam para a Sra. Donner e um sorriso maligno foi desenhado.
-- Sim, elas são minhas irmãs, minha tia, viúva, a Sra. Yenkis e meu primo, o Sr. Yenkis. Espero que a informação que teve sobre nós o tenha agradado -- respondeu Anne, que sutilmente moveu seu corpo com elegância para se separar da Sra. Donner.
—Sim, tanto quanto o que ouvi de seu pai -- assegurou o conde, sem apagar aquele sorriso pernicioso. -- Segundo minhas fontes, não demorará muito para se tornar um dos dez médicos mais importantes de Londres.
—Ainda não é? -- Anne perguntou rapidamente quando ouviu Josh rosnar. Agradeceu a sua mãe criadora por não carregar nenhuma arma escondida, porque tinha certeza de que ela o teria matado naquele momento.
—Receio que não, senhorita Moore —respondeu o conde grosseiramente.
—Bem então, rezemos para que nossas súplicas sejam ouvidas por nosso Deus e que um dia consiga —alegou com aparente desalento
enquanto fazia o sinal da cruz.
—São religiosas? -- Burkes perguntou, arregalando os olhos.
—Dedicadas, milorde. Nossos queridos pais foram capazes de nos educar sob a magnificência que nossa religião supõe e devo confessar que nos sentimos muito desoladas aqui. Desde que chegamos a Harving House, meu noivo tem estado tão ocupado com seus deveres administrativos que não pudemos assistir a nenhuma missa. Felizmente, minha querida tia, cuidou da nossa paz espiritual. Embora tenha que confessar que não é o mesmo...
—Entendo perfeitamente -- disse o conde, estendendo o braço para que pudesse acompanhá-lo. —E seus pais... aceitaram com prazer seu compromisso com o visconde? —Ele perguntou quando deram alguns passos.
—Claro! -- Ela exclamou com aparente constrangimento. ?Não acha, milorde, que este casamento será bastante proveitoso para nós? -- Ela acrescentou em voz baixa, como se estivesse revelando um segredo.
—Entendo... —Burkes respondeu com um largo sorriso. —Seus pais são muito inteligentes, senhorita Moore.
—Vamos confiar a Deus para que permaneçam assim com minhas outras quatro irmãs -- disse com aflição fingida.
—Seu pai tem que casar as cinco filhas? —O velho exclamou, arregalando os olhos. Agora ele entendia o desespero do médico por unir a
mais velha de suas filhas com um visconde. Graças ao título que ela teria no futuro, o resto poderia rapidamente encontrar um bom marido.
—Exatamente, milorde. Não gosta de crianças? —Ela perguntou, agitando seus cílios.
—Minha querida esposa, que Deus a tenha em sua glória, tentou me dar vários, mas infelizmente todos morreram logo após o nascimento --
disse ele com tristeza.
—Sinto muito —respondeu Anne, dando-lhe leves palmadinhas no braço.
—Eu também —disse ele antes de levá-la ao lugar onde o pároco e o juiz estavam sentados.
Se queria realizar seu plano, tinha que se concentrar na noiva.
Nenhum homem deixaria sua futura esposa nas garras de seu inimigo. O
visconde ficaria tão obcecado em vigiá-la que deixaria as duas irmãs desprotegidas. Então Lorde Norfolk escolheria a mais vulnerável...
—Acho que deveria tê-la apresentado quando chegou em Harving House —Marco comentou com Logan, que, observando o comportamento gentil entre o conde e Anne, começou a relaxar.
—Se não o conhecesse como conheço, pensaria que Anne o deslumbrou, mas temo que seja uma miragem. Esse verme irá sujeitá-la a todos os tipos de interrogatórios até que atinja seu objetivo —disse ele,
apertando a mandíbula.
—Que será…? —Marco acrescentou.
—Humilhá-la -- ele garantiu antes de caminhar até deles.
Era hora de apagar os medos do passado e encarar de uma vez por todas o presente e o futuro que ele queria viver com Anne.
XXXIV
?Que devemos fazer? —Josephine perguntou à irmã quando estavam sozinhas.
—O normal, neste tipo de celebração, é que a anfitriã nos apresenta aos outros convidados para interagir e conversar. Mas desde que ela está morta...
—Juro que se ela aparecer na nossa frente, eu desmaio —Josh interrompeu, olhando de volta para as pinturas escuras. Teria pensado que aqueles olhos a estavam observando? Pois continuava confirmando essa suposição.
—Seria melhor se nos dirigíssemos para o fundo da sala, onde colocaram a mesa com as bebidas e os deliciosos aperitivos.
—Deliciosos? A cozinheira retrucou, apertando os olhos. Para que os outros convidados não descobrissem o desgosto que seu rosto expressava, estendeu o leque e começou a sacudi-lo, mas Elizabeth a repreendeu com o olhar quando viu que estava agitando-o com tanta força.
—Não temos a obrigação de comer, embora seja aconselhável que mexa a boca de vez em quando, como se mastigasse. O anfitrião pode se sentir ofendido se não aceitarmos sua oferta.
—Realmente acha que estou preocupada com o que aquele
homem mal-humorado pensa de mim? -- Disse Howlett sarcástico. -- Não quero ficar doente amanhã de manhã e ter que viajar de volta para Londres implorando ao cocheiro para parar mil vezes ao longo do caminho.
—Devemos insistir para que ele espere mais alguns dias —disse Eli, referindo-se à decisão do visconde de sair de madrugada. —Amanhã não conseguiremos acordar cedo. As cerimônias geralmente duram muito...
—Isso seria em uma festa que é nomeada como tal, mas... não vê o que eu vejo? —Howlett insistiu enquanto tentava fazer com que Josh andasse sem tropeçar nas saias do vestido e manter as costas retas.
—Bem, não me importo de acordar cedo para voltar... —Josh murmurou melancólica. —Juro que tenho sido muito feliz andando com Galeón nessas terras, mas anseio por Madeleine. Nunca imaginei que o vínculo entre nós fosse tão forte.
—Não se preocupe, tenho certeza que o Sr. Kilby e o resto do serviço terão tudo pronto para sair de madrugada. Nunca conheci um mordomo tão eficiente —disse a Sra. Donner, abanando-se novamente.
—Meu tio é um homem muito especial —disse Howlett em voz baixa, e sorriu para o constrangimento que esse comentário causou na cozinheira.
—Podemos acelerar um pouco? —Elizabeth perguntou a eles.
Olhou para o fundo da sala e sorriu timidamente quando descobriu que os
olhos de um belo cavalheiro a observavam em silêncio. Quem seria? Por que a contemplava daquele jeito descarado? Intrigada para descobrir, agarrou o braço da Sra. Donner com mais força e arrastou-a.
—Sinto muito, mas não vou provar uma única mordida —disse a mulher com desgosto.
—Portanto, o mais sensato é sair daqui. Se olhar para a direita, encontrará cadeiras que foram colocadas para que as mulheres solteiras e as idosas possam se sentar durante a noite —informou ela.
?Isso é o que eles chamam de cadeiras? —Retrucou a cozinheira, arregalando os olhos. —Os cavalos do nosso celeiro se deitam em fardos de feno mais confortáveis do que isso.
—Talvez essa seja a razão pela qual ninguém se sentou até agora... -- apontou Elizabeth mordaz enquanto continuava olhando para o homem estranho.
—Mas devemos fazê-lo —disse Josh. ?Como nenhuma de nós quer dançar, é melhor sairmos daqui para que não comecem a murmurar sobre nossa estranha atitude, não é, Eli?
—Sim, Josh.
—Mas não quero deixá-la sozinha... —exclamou a cozinheira com algum nervosismo. -- O Senhor tem...
—Não estarei sozinha, Sra. Donner. Howlett me acompanhará em
todos os momentos.
—Tudo bem —hesitou a falsa tia, enquanto Josh agarrava o seu braço para se dirigir até as cadeiras.
—Sei o que pretende —Howlett sussurrou em seu ouvido —e não me parece certo.
—Só quero saber quem é e porque me olha tanto... talvez fôssemos conhecidos no passado...
?E não se lembraria? —Howlett retrucou arqueando uma das sobrancelhas loiras. —Ficaria muito surpreso se um homem assim desaparecesse de sua mente.
—Às vezes acho que lhe permiti muitas liberdades para minha pessoa... -- declarou Eli tomando uma das bebidas que estavam na mesa.
—Também permitirá a esse cavalheiro certas liberdades? -- Ele perguntou depois de se virar para observar Marco conversando com o grupo de homens que cercavam o visconde e sua noiva.
—Que me roube alguns beijos seria muito interessante —disse Elizabeth, olhando novamente para o estranho, que levantou o copo para oferecer-lhe um brinde silencioso.
Josh estava muito inquieta. Embora tivesse se sentado com a Sra.
Donner e falado sobre o que fariam quando voltassem a Londres, nada poderia acalmá-la. Queria que terminasse a noite e a madrugada chegasse
rapidamente. Suspirou profundamente, cruzou as mãos sobre a saia e fixou os olhos na maior janela, a que levaria ao jardim. Não poderia se levantar e caminhar furtivamente para aquela área do salão sem ninguém a observasse?
Porque queria fugir, escapar de todos e sentir a liberdade que a natureza lhe proporcionava. Sem dúvida alguma, seu sangue cigano insistia para que não respeitasse os protocolos sociais e reivindicasse a essência de sua origem.
Olhou para a Sra. Donner com o canto do olho e seu rosto expressava a mesma angústia que ela.
—Gostaria de sair na varanda? —Ela perguntou esperançosa.
-- Será correto? Não sei se deveríamos sair do salão sem a permissão do visconde -- disse ela em dúvida.
—Não ficaremos longe por muito tempo, garanto-lhe, apenas o suficiente para respirar um ar que não exale odor de umidade -- acrescentou, levantando-se.
—Se diz —a cozinheira terminou aceitando.
Mas, assim que as duas estavam indo para aquela janela que as libertaria da pressão que estavam suportando, duas mulheres ficaram no caminho. A mais alta, vestida de luto rigoroso, sorria; a outra, que usava um vestido marrom agressivo, mostrava um semblante áspero como o que Josh havia observado no retrato. Teriam algum parentesco?
—Boa noite, somos a Sra. Clarke e a Sra. Madden. Desculpem
nos por não nos apresentarem, mas nossos maridos —disse, olhando para o grupo de homens conversando com o visconde e Anne —estão tão ocupados que não tiveram a decência de nos apresentar formalmente.
—Isso acontece em eventos tão importantes quanto este --
observou a cozinheira, rezando para que seu comentário fosse preciso. —Sou Gerthudies Yenkis, a irmã do Dr. Moore e ela é minha sobrinha, Josephine Moore.
Deveria estender a mão para cumprimentá-las? Teria feito bem em adicionar o nome da menina? Sem saber muito bem o que fazer ou se havia falado incorretamente, esperou que elas dessem o primeiro passo e quando percebeu que suas mãos ainda estavam no mesmo lugar, agarrou o leque com força.
—Ouvi dizer que seu irmão está se esforçando para se tornar um bom médico —apontou afiada a mulher de vestido marrom, que deduziram ser a Sra. Madden.
—Não têm bons médicos aqui? ?A suposta tia disse, ao ouvir a respiração de Josephine se acelerar.
—Claro! —Exclamou a Sra. Clarke rapidamente. —O Dr.
Phoeby é um bom profissional.
—Então, ele mesmo será capaz de lhe explicar se a fama que meu irmão ostenta em Londres é merecida ou não -- ressaltou destemida.
—Não queríamos ofendê-la, Sra. Yenkis. Só queríamos confirmar que, se um dia viajássemos para Londres e, infelizmente, ficássemos doentes, estaríamos a salvo com os cuidados de seu irmão -- interveio a Sra. Madden.
-- Garanto-lhe que não terá nenhuma reclamação. Ele pode curá
las de qualquer doença -- ela apontou severamente.
—Tia, me prometeu que...
Justo quando Josh ia lembrá-la que momentos antes tinham a intenção de deixar o salão, ficou sem palavras quando viu como uma figura masculina, andando com a ajuda de uma bengala, estava indo em direção a elas. Aquele cabelo de cobre, a mecha loira na testa, os olhos de safira e a boca gloriosa não haviam desaparecido de sua mente... seu corpo se endireitou como se fosse um soldado posando diante de um superior. Seu coração começou a bater com tanta força que ela sentiu o latejar em sua garganta e seu pulso acelerou tanto que ela não conseguiu ficar quieta.
Segurou o braço da Sra. Donner com mais força e começou a fazer algo que não fazia desde que era criança: rezar para sua mãe criadora.
?Boa noite, senhoras. ? Eric Cooper cumprimentou-as com tal cavalheirismo que a Sra. Clarke e a Sra. Madden coraram como se fossem duas moças inocentes. Beijou-as nas mãos e depois esperou em silêncio que uma delas apresentasse as convidadas.
?Boa noite, novamente, lorde Cooper ? respondeu, por fim, a
esposa do juiz. -- Apresento-lhe a Sra. Yenkis e sua sobrinha, Senhorita Moore.
?Encantado... ? Ao perceber que a Sra. Yenkis tremia tanto que não conseguia estender a mão para que ele pudesse beijá-la, como fizera com as outras, juntou os saltos dos sapatos e cumprimentou-a com um aceno solene. ? É uma verdadeira honra conhecê-la pessoalmente, Sra. Yenkis.
Garanto-lhe que ainda estou consternado depois de ouvir o episódio tão dramático que sofreu dias antes de viajar para cá ? disse reverentemente. ?
Nunca imaginei que uma mulher tivesse tanta coragem.
?O que aconteceu? ? A esposa do padre perguntou com uma mistura de curiosidade e surpresa.
?Muito obrigado pelo seu louvor, milorde. Mas entenderá que não quero reviver essa situação novamente. Como meu querido irmão diz, é melhor esquecer todos os problemas para que nosso cérebro não adoeça ?
ela disse com aparente calma, embora o tom de sua voz denotasse o contrário.
? Além disso, não é apropriado falar sobre aquele momento horrível na frente da minha inocente sobrinha. Josephine, querida, apresento Lorde Cooper, filho do...
?Barão de Sheiton ? Eric terminou a frase, sabendo que ela não o conhecia, mas estava atenta na forma como a esposa do juiz se dirigiu a ele.
? Senhorita Moore... ? Ele se referiu a Josh, esperando pela saudação que
desejava desde que a viu entrar.
?Milorde ? disse ela, colocando as mãos em ambos os lados do vestido. Se curvou como uma dama educada, e quando seus olhares se encontraram novamente, ambos despendiam fogo pelos olhos. Os de Josh emanavam raiva, no entanto, os de Eric exalavam desejo.
?Poderia nos contar sua história, Sra. Yenkis? ? A Sra. Clarke insistiu.
?Não deveria ? a cozinheira hesitou. ? Realmente não seria bom para minha sobrinha. Meu irmão cuida muito de tudo o que suas filhas escutam e não ficará feliz em descobrir que eu quebrei uma de suas rígidas regras educacionais ? argumentou a Sra. Donner, adotando, finalmente, o papel que fingia ser.
?Posso ajudá-la com isso, se quiser ? Eric anuiu, olhando para a cozinheira severamente. ? Estou mais do que disposto a convidar sua sobrinha para um refresco enquanto explica a essas senhoras encantadoras como se livrou do homem que tentou agredi-la quando voltava de uma reunião culinária oferecida pela associação de mulheres.
Sabia! Ele sabia! Josh olhou para o rosto amedrontado da Sra.
Donner e apertou os lábios para não gritar. Aquele homem sem coração sabia quem ela era. Como? Onde a conheceu? Por que diabos estava lá? Queria humilhá-la por tê-lo esbofeteado e machucado?
?Mas... não seria apropriado que... ? a cozinheira gaguejou, esperando por um milagre para salvá-la dessa situação muito difícil.
?Não tenha medo pela integridade da sua sobrinha ? declarou Madden. ? Lorde Cooper, apesar de sua juventude, é um verdadeiro cavalheiro. Sua benevolência, honestidade e educação moral tão firme e severa, que teve de seu amado pai, fortalece um cavalheirismo que muito poucos homens podem alcançar. É uma pena que ninguém nos informou da sua assistência, milorde, com certeza Ginger, minha filha, poderia tê-lo entretido. O coitado andou pelo salão até que Hester e eu finalmente nos aproximamos ? disse à cozinheira e a Josephine como se fosse um horror que tivesse passado mais de vinte minutos sozinho.
?Obrigado, mas garanto que os rumores sobre mim se tornaram idealizados ? Eric respondeu humildemente, fazendo as duas senhoras suspirarem.
Outra mãe com uma filha casadoira? Falando, além disso, de uma possível relação na frente de Josh? Isso não lhe agradou. Embora não parecesse lamentável que elas evocassem seu bom comportamento e seu cavalheirismo. Assim, a pequena guerreira, a quem não reconheceu vestida como uma mulher, admitiria que seus beijos não tinham sido previsíveis e estudados como um libertino faria.
?Por nada! —Exclamou a Sra. Clarke. ? Milorde, a história do
caçador também é uma invenção? Porque posso ver como ainda precisa da bengala para poder andar.
?Caçador furtivo? ? Josh finalmente explodiu, forçando-se a franzir os lábios e não pegar os punhais para fazer belos desenhos no impecável terno meio cinza.
?Foi apenas uma pequena disputa ? disse Cooper, visivelmente desconfortável.
?Mas como é humilde! ?Insistiu a esposa do juiz. ?Devo esclarecer que, há alguns dias, lorde Cooper estava andando em seu terreno quando descobriu um caçador. Então, mesmo que sua vida estivesse em perigo, lutou contra ele. Por essa razão, tem que carregar a bengala. Aquele homem perverso jogou uma adaga nele antes de fugir ? explicou a esposa do padre da paróquia.
?Que tragédia! ? Josh exclamou, com os olhos bem abertos.
?Ele deve ter sofrido um medo muito semelhante ao sofrido pela minha tia
? acrescentou com aborrecimento.
?Posso assegurar que não senti medo em momento algum ?
disse Eric asperamente. -- Sabia que venceria a batalha.
?Batalha? Pensei que tinha dito uma mísera disputa entre um caçador e o senhor ? disse ela intencionalmente.
?Estava desarmado ? Eric murmurou. ? Meu oponente
poderia ter me matado com aquele punhal.
?Que horror e que coragem! Certamente não cavalgará mais sozinho por suas terras. Tenho medo que tenha que ser sempre vigiado por um servo se quiser evitar ser atacado novamente por aquele caçador ? ela continuou naquele tom pungente.
?Bem, a verdade é que, senhorita Moore, ainda cavalgo sozinho por minhas terras ? salientou. —Na verdade ? disse ele, dando um passo em direção a ela, apesar da surpresa que as três mulheres exibiram com tanta audácia ? visitei o local onde tive o embate nos dias seguintes no mesmo horário.
?Quer encontrá-lo novamente, milorde? Não está com medo de que na próxima vez que o encontrar queira terminar o que começou? ? Ela retrucou, erguendo o queixo com orgulho.
?Mesmo que aquele caçador queira me assustar, não conseguirá.
Continuarei indo para aquela área enquanto nós dois estivermos em Brighton.
Garanto-lhe, senhorita Moore, que ninguém pode arrebatar o que é meu ?
declarou solenemente.
?Ainda estamos falando de terra ou honra? ? Josh reagiu sem diminuir sua força, apesar de entender o significado de suas palavras.
?Deveriam a honra e a posse ser separadas? Pode lutar com honra e coragem pelo que decide que lhe pertence. Podemos usar uma
espada, um punhal, um canhão... ou a capacidade de falar para mostrar que nossos pensamentos ou desejos são inquebráveis ? ele declarou como se fosse um soldado mais graduado que Josh.
?Como ocorreu com o caçador ? disse a Sra. Clarke.
?De fato ? disse Eric, recuando daquele passo indevido. ?
Mas como disse antes, deixei minhas intenções bem claras. Só espero que aquele caçador ouça que não vou parar de lutar até que ele assuma o destino que selamos naquele dia.
Josh engoliu em seco e prendeu a respiração. Estava entendendo bem o duplo significado? Ele estava declarando uma guerra em que ele seria o vencedor? Queria dobrá-la? Ela não era uma donzela tímida! Se não fosse comprometer sua irmã e o visconde, pegaria os punhais e enfiaria as pontas na garganta dele antes que as fofoqueiras, que exaltavam seu comportamento respeitoso e queriam emparelhá-lo com alguma jovem casadoira, piscassem uma vez. Pretendia perguntar a ele o que selaram naquele dia, quando Marco caminhou na direção deles. O suspiro de alívio que a Sra. Donner ofereceu surpreendeu as fiéis esposas, no entanto, lorde Cooper não piscou. Seus olhos de safira ainda estavam fixos nela, como se quisesse ler seus pensamentos.
?Senhoras... milorde ? o administrador as cumprimentou corretamente. -- Lamento pela interrupção, mas devo informar à senhora Yenkis e à senhorita Moore que a carruagem está esperando por elas na
entrada.
?Estão saindo tão cedo? ? A Sra. Clarke exclamou, fingindo aflição, embora estivesse ansiosa para terminar a conversa e se dirigir ao marido para lhe contar sobre a estranha performance de lorde Cooper com a jovem de cabelos claros.
?Vamos voltar a Londres amanhã, e não seria conveniente levantarmos tarde ? disse a Sra. Donner, visivelmente aliviada.
?Josephine, devem sair agora. Elizabeth está na carruagem com Howlett. Sua irmã sofre de uma dor de cabeça terrível e quer voltar o mais rápido possível ? sussurrou Marco em seu ouvido.
?Sim, claro ? assegurou, olhando para o administrador. Olhou para Lorde Cooper, sorriu e disse: ? Foi um prazer conhecê-lo, milorde.
Recomendo fortemente que desista de tentar confrontar o caçador novamente.
Com certeza, na próxima vez que se encontrarem, ele estará mais armado e poderá atirar dois punhais em vez de um. ? Se curvou para ele, olhou para as duas mulheres, sorriu largamente para elas e acrescentou: ? Boa noite, senhoras. Agradeço a companhia. Desfrutei muitíssimo da conversa.
?Sim, isso mesmo ? disse a Sra. Donner. —A comida estava deliciosa, o lugar é maravilhoso e certamente todos falarão sobre a festa magnífica que o conde ofereceu.
Eric permaneceu em silêncio, com os olhos fixos em Josh e
percebeu que havia parado de respirar quando os primeiros sinais de sufocamento apareceram. Mas ele prendeu a respiração enquanto observava o administrador do visconde sussurrando no ouvido de Josh. Naquele momento, e apesar da reputação de moço racional que se desdobrou, desejou erguer a bengala e acertá-lo na cabeça, mas parou. Ele havia realizado muito mais do que pretendia quando soube que as irmãs Moore compareceriam ao pequeno encontro do conde Burkes. Embora não o tivessem convidado, ele apareceu sem ser anunciado. Logicamente lhe abriram as portas sem qualquer objeção quando disse quem era. Algum anfitrião se atreveria a negar passagem ao filho do Barão de Sheiton? Claro que não! Então, quando entrou e não a viu, perdeu a esperança de encontrá-la, lembrando que Josh seria tão jovem que ainda não teria se apresentado a sociedade. Apenas quando tinha deixado o cálice amargo e decidiu voltar para casa, seu coração disparou ao ouvir o título do irmão do Marquês. Permaneceu distante. Não podia levantar suspeitas sobre suas verdadeiras intenções. Mas quando soube que a noiva do visconde apresentava o criado como seu primo, ele ficou paralisado e a inquietação aumentou ao descobrir que algo estava acontecendo. Alguém realmente duvidara dessa versão? Nenhum dos presentes conhecia o servo do visconde? Porque em Londres eles falavam incessantemente de suas roupas extravagantes e seu comportamento não masculino. Concluindo que o visconde mentiu para o anfitrião e aos convidados por uma razão importante,
decidiu vigiá-la e permaneceu oculto até que as duas harpias se aproximaram dela.
?Milorde? ? Eric piscou várias vezes, sorriu e olhou para a mulher que lhe fizera a pergunta. ? Está cansado? Quer se sentar?
?Sim, me sinto muito exausto. Acho que estive de pé por muito tempo e minha perna está doendo novamente. ? Esperou que as mulheres se despedissem corretamente e saiu da sala sem sequer perguntar pelo anfitrião.
Apoiando-se na bengala, caminhou até chegar ao grande salão.
Josh, o administrador e a suposta tia ainda estavam do lado de fora da porta da frente, esperando que os criados devolvessem seus casacos. Sem hesitar um segundo, foi na direção deles. Quando o criado do visconde o observou, se endireitou como se o próprio rei estivesse chegando.
?Lorde Cooper, o que deseja? ? Marco perguntou inquieto.
?Quero falar com a senhorita Moore por um minuto ? disse com firmeza.
?Milorde, minha sobrinha e eu...
A Sra. Donner fechou a boca quando ele levantou um dedo para ela. Como poderia um jovem de menos de duas décadas ser tão solene?
?Nós lhe concedemos um minuto, milorde. Nossa carruagem nos espera e não devemos nos atrasar ? Marco concordou, pegando a cozinheira pelo braço para deixá-los sozinhos.
Eric permaneceu em silêncio até que os dois criados, sem parar de sussurrar, os deixaram sozinhos. Então olhou para Josh e sorriu ao vê-la tão inquieta e brava.
?O que pretende? Pensa que pode fazer tudo o que quiser? ?
Ela o repreendeu.
Por que Marco não o dispensou? Por que não foi capaz de rejeitar o desejo desse impertinente? Tal respeito mostrava e exigia um menino que, possivelmente, não tinha alcançado vinte anos?
?Não sei que espetáculo queriam oferecer ao conde, mas não me enganaram ? disse ele, olhando para a porta, certificando-se de que estavam sozinhos e que ninguém os escutaria.
«E inteligente» Josh pensou enquanto levantava o queixo e ouvia com essa determinação.
?Não é da sua conta ? respondeu.
?Estão em perigo? O conde quer prejudicá-los? ? Perguntou estreitando os olhos até que fossem duas linhas finas. ? Se sim, pode confiar em mim.
? Como é que aquelas pobres pessoas confiaram quando o ouviram falar sobre o caçador? ? Censurou.
?Fiz isso para protegê-la ? disse indignado. ? Se dissesse a verdade...
?Todo mundo teria rido de você, certo? Quem não faria isso quando soubesse que o honrado, honesto e intrépido Lorde Cooper fora, de fato, ferido pela adaga de uma mulher? ? Repreendeu satisfeita.
?Quer que corrija minha história? Realmente acha que fiz isso para evitar o possível ridículo em relação à minha pessoa? ? Ele caminhou em direção a ela, até que seu torso podia tocá-la quando ele respirava.
Inspirou aquele cheiro de flores silvestres que exalava e observou o brilho daquele cabelo albino.
?Que outro motivo existe, milorde? ? Ela protestou orgulhosamente.
?O que a protege. Se tivesse dito o que realmente aconteceu, sua reputação só teria sido salva por um casamento e.... estaria disposta a casar comigo sem me permitir a diversão que conseguirei a cortejando? -- Colocou os dedos de sua mão direita na bochecha de Josh e acariciou-a lentamente, capturando a suavidade da pele bonita.
?Não... ? Josh gaguejou, chocada com a sensação maravilhosa que sentiu naquele toque. Ela precisava se separar do homem que a transformou em geleia, em uma mulher diferente, mas era muito difícil se distanciar. Colocou as mãos nos punhais quando se virou para encarar o odioso arrogante, mas enquanto sentia a suave carícia, tudo o que queria era colocá-las em volta do seu pescoço, atraí-lo para ela e beijá-lo. ? Fez a coisa
certa, milorde! ? Comentou quando notou um calor estranho em um lugar proibido para ela. ? Muito obrigada. ? Rapidamente se virou para a saída, cobriu os ombros com o casaco e abriu a porta.
? Isso não acaba aqui, Josephine Moore. Nós veremos em breve
? disse antes dela começar a correr.
XXXV
Anne ainda estava falando sobre os planos que seu noivo e ela tinham programado para depois do casamento quando notou que Marco estava se juntando ao grupo novamente. Suas irmãs já estavam a salvo, só faltava que o conde, que se ausentara sem oferecer nenhuma desculpa, retornasse de onde estava e resolvesse, de uma vez por todas, o maldito assunto com Logan. Quando poderiam deixar aquele lugar horrendo?
?É uma decisão muito sábia ? assegurou o pároco. ? Aqui terão a educação adequada para se tornarem homens e mulheres respeitáveis.
Somente boa-fé pode canalizá-los no caminho certo.
?De fato ? disse o juiz. ? Seus filhos viverão tranquilamente em Brighton, fora do alcance da imoralidade de Londres que apodrece as ruas da cidade ? acrescentou ele com repulsa.
?Fico feliz que nossas opiniões sejam tão similares ? Anne concordou depois de tomar um gole da bebida azeda que tinha em seu copo.
?Não gostaria de desagradar meu pai. Ele sempre nos educou com muito cuidado e atenção.
?Milorde? ? O mordomo foi diretamente para Logan, mas essa intervenção fez com que todos se calassem e olhassem para ele com expectativa. ? Lorde Burkes deseja reunir-se com o senhor em seu escritório
? esclareceu ele.
?Agora? ? Anne perguntou com aparente aflição, como se ela não tivesse entendido que o conde exigia apenas a presença de seu noivo. ?
Não quero deixar uma conversa tão eloquente tão cedo. É a primeira vez que falo com pessoas tão racionais...
?Calma, querida, concederei seu desejo. Senhores, protegerão minha noiva enquanto descobrirei o que nosso conde deseja? ? Perguntou Logan àqueles que sentenciaram sua morte, enquanto acalmava o desconforto fingido de Anne com um toque suave em seu braço. ? Vivo só para agradá
la e mimá-la...
?Não se preocupe, milorde, a senhorita Moore estará a salvo conosco ? assegurou o juiz solenemente. ? Além disso, ainda não falamos sobre o célebre Dr. Moore. Precisamos saber como ele conseguiu se tornar um médico tão famoso.
?Garanto ao senhor! ?Anne exclamou, separando-se de Logan, para que partisse imediatamente. ? Antes de sairmos de Londres, a assembleia dos médicos pediu a ele uma investigação exaustiva sobre o Julgamento da Febre, publicado por John Huxham em 1775. E tenho certeza que conseguirá terminá-la em breve. Meu pai é um homem muito consciencioso e fizeram muito bem confiando a ele este importante estudo.
Ao ouvir como Anne se referia ao livro que ele dera a Mary,
quase riu alto, mas não era o momento de expressar aos outros o quanto estava orgulhoso dela. Era melhor que continuasse a persuadi-los com sua lábia casta e sutil, para que os dois miseráveis acabassem beijando seus belos pés.
Quando os presentes se concentraram na conversa que Anne começou, se afastou lentamente dela e pediu a Marco que não saísse do seu lado. Depois de confirmar que não havia por ali nenhum candelabro, virou-se e caminhou, vigiado pelo mordomo, até a porta do escritório de Burkes.
Tentou entrar sem bater, mas o criado parou na sua frente e sugeriu que ele esperasse para ser anunciado. Estava prestes a afastá-lo, mas reteve essa raiva rapidamente. Não deveria provocar outro escândalo, já que desta vez não era apenas ele que seria prejudicado. Depois de aceitar o sutil pedido do criado com um leve aceno, recuou vários passos, colocou as mãos nas costas e esperou. Por um momento, só por um momento, pensou ter ouvido uma voz masculina que não combinava com a do conde ou do mordomo, mas afastou essa ideia da cabeça rapidamente, já que os amigos fiéis do velho Burkes estavam no salão com Anne, e George, que pensou que encontraria na festa, teve que ir precipitadamente para a residência de uma tia por afinidade.
Logan sabia que era mentira. Seu amigo devia estar trancado em algum cômodo da residência. Talvez o maldito Burkes tenha voltado aos seus antigos castigos de purgatório: o de acorrentá-lo no porão até quase morrer de
fome e sede. O pensamento de que seu amigo poderia precisar de sua ajuda e que ele não podia fazer nada para salvá-lo, gerou tanta raiva que queria quebrar o pouco que o conde tinha naquela casa horrível. Ainda não entendia por que George não se libertava daquela vida cruel da qual padecia. Se importava tanto com o título que estava disposto a morrer?
?Milorde já pode atendê-lo ? disse o mordomo, uma vez que abriu a porta.
Logan respirou fundo, caminhou em direção à entrada...
?Vamos, Devon! Entre de uma maldita vez! Não posso passar a noite toda aqui, tenho convidados para atender! ? Esbravejou a conde.
Depois de lhe dar um olhar feroz, Burkes se sentou, pegou um copo e encheu até a borda. Enquanto isso, Logan entrou no escritório sem deixar de olhar ao redor. Não entendeu muito bem por que demorara tanto a recebê-lo e por que agora tinha urgência de despachá-lo. Teria bebido mais do que devia?
Apenas quando estava na sua frente, esperando que indicasse para que se sentasse, ouviu um leve ruído atrás dele. Como se sentisse que iam esfaqueá-lo, se virou rapidamente, mas não encontrou ninguém. Apenas a cortina da janela que levava ao jardim se movia suavemente. Confuso, quando seu sangue cigano o avisou sobre a presença de outra pessoa, se virou para o conde e notou que seu velho rosto mostrava mais raiva e mais
frustração do que segundos antes.
?Deve estar muito satisfeito, certo? ? O velho Burkes o repreendeu. Apareceu em minha casa mostrando uma honorabilidade que não possui e aprovado por uma mulher com a qual nunca sonhou.
?A senhorita Moore... ? ele tentou dizer
?Não procure desculpas, nem evoque a boa-fé daquela mulher incrível! Eu sei quem realmente é!
?Não respondi ao seu convite para que me insulte. Peço respeito.
Vim aqui por minha própria vontade, para deixar claro que não vou vender Harving House ? disse ele, soltando o cigano e afastando o visconde.
?Maldito seja! ? Exclamou, pulando para fora da cadeira. --
Como pode vir a minha casa pedindo respeito? É um bastardo! O filho de um demônio!
?Se está tão certo de suas palavras, me denuncie de uma vez ?
disse ele, colocando as palmas das mãos grandes sobre a mesa.
?O farei! Porque apenas um homem que esconde um passado obscuro aceita uma chantagem! ? Ele contra-atacou.
?Não aceitei o seu suborno para que parasse de investigar o meu passado, Burkes. Fiz isso porque me senti culpado por ter induzido seu sobrinho ao caminho inadequado. Nós dois éramos muito jovens quando esse infeliz incidente ocorreu e imagino que nós dois pagamos nosso castigo mais
do que o suficiente ? disse ele solenemente.
?Castigo? Vai apodrecer no inferno, Devon! Como seu pai fez!
? Ele berrou.
—Tenho certeza que será o próximo lugar em que nos encontraremos. E se não tem mais nada a me dizer, me retiro. Preciso tirar minha noiva desse lugar repulsivo. Não quero que sua decência seja corrompida por nenhum de seus convidados insolentes ? declarou se virando.
?Cuidado com suas costas, Devon. Ainda tenho muitos anos para viver e pretendo usar todos os dias, todas as horas e todos os minutos para encontrar uma maneira de destruí-lo ? ameaçou fora de si.
?Boa sorte, Burkes ? disse antes de sair.
Depois de fechar a porta, Logan suspirou profundamente. Não tinha dúvida de que o conde não desistiria e manteria sua palavra. Mas não queria pensar nisso. A única coisa em que devia se concentrar era concluir a noite e levar Anne o mais rápido possível dali. Felizmente, ao amanhecer eles partiriam para Londres, em direção à liberdade, em direção à vida que ele queria ter ao seu lado e, se o velho Burke persistisse em investigar suas origens, agiria corretamente. Possivelmente era hora de contar a verdade a Roger e corajosamente enfrentar a fúria titânica de seu irmão. Talvez, quando contasse a agonia que sofreu durante todos esses anos, admitisse que ele
sofrera o suficiente e não lhe daria uma surra enorme. Embora não tivesse certeza de que fosse tão benevolente com ele depois de tudo...
?Querida, devemos ir ? comentou Logan, uma vez que se juntou àquele grupo de idosos reprimidos.
?Tão cedo? ? O padre perguntou. ? Ela ainda não terminou de explicar por que acredita que os partos são tão perigosos se a higiene adequada não for mantida.
Logan olhou para Anne, desnorteado. Esses temas não eram próprios de Mary? Ela também estava interessada em medicina e esse interesse era mantido em segredo? Talvez Anne não só tivesse a habilidade de pintar, mas escondesse uma infinidade de qualidades que, é claro, descobririam quando se casassem.
?Concluirei aconselhando-os que olhem bem nas mãos do médico que atende suas esposas. Ele deve cobri-las com luvas ou lavá-las com bastante sabão ? disse Anne antes de aceitar a mão de Logan.
?Boa noite, senhores. Foi um prazer vê-los novamente e agradeço-lhes por terem cuidado de minha futura esposa. Certamente ela não esquecerá uma noite como a de hoje ? disse o visconde com o respeito e solenidade que de seu título futuro.
?Estamos ansiosos por sua próxima visita, senhorita Moore. Foi um prazer conversar com uma mulher que entende homens como nós ?
admitiu o padre pouco antes de beijar sua mão.
Apesar da polida despedida de Logan, o juiz e o pároco deram-lhe um breve aceno de cabeça e despediram-se dela. Anne sorriu para eles, como se não tivesse notado o desprezo, pensando que tinha sido uma péssima ideia mandar Josh de volta para Harving. Se sua irmã tivesse contemplado aquele desprezo em direção a Logan, ela teria procurado algo com o que cortar suas línguas de víbora.
Uma vez finalizados os intermináveis elogios a ela, ambos, acompanhados por Marco, abandonaram com urgência a residência do conde.
?Tudo bem? ? O administrador perguntou, referindo-se à reunião com o conde.
?Por enquanto ? Logan respondeu, ajudando Anne. ? Mas não parará com seus esforços. Mantenha-me informado de tudo o que achar que é suspeito. Não quero que ofusque qualquer detalhe, mesmo se qualificar como insignificante. Apresente-se regularmente em Harving, contrate vários criados para que observem movimento no interior e tirem os cavalos dos estábulos todos os dias. Quero que todos saibam que a residência não foi abandonada e que pensem que voltaremos em breve.
?O farei ? Marcus disse antes de apertar sua mão. ? Posso pedir um favor? ? Ele acrescentou duvidosamente.
?Claro, sabe que pode me perguntar o que quiser. ? No entanto,
o rosto afável de Logan mudou quando ele se aproximou para sussurrar algo em seu ouvido.
?Diga a Howlett que esperarei ansiosamente por notícias e que não descansarei em paz até que tenha sua carta em minha escrivaninha em meu escritório ? declarou ele.
?Direi a ele ? confirmou antes de entrar na carruagem.
Ele se acomodou no banco e esperou que o cocheiro fechasse a porta. Marco permaneceu imóvel e seu rosto, sempre sorridente, mostrou muita preocupação. Logan o observou até que a carruagem partiu, ainda se perguntando o que o incomodava tanto e porque parecia que estava escondendo algo importante. Talvez fosse o tom de voz que Marco costumava usar com ele ou o gesto que fez para que Anne não o escutasse.
Seja o que for, algo lhe dizia que algum detalhe importante lhe escapara, mas... o que seria? As irmãs foram vigiadas o tempo todo e ele protegeu Anne durante a noite. Então, por que suspeitava que as notícias que esperava de Howlett não tinham nada a ver com o romance que haviam começado?
?Gostou do meu desempenho? ? Anne perguntou depois de girar sua pulseira várias vezes sobre o pulso.
?Foi esplêndida! ? Ele respondeu, concentrando-se finalmente nela. ?Causou uma grande impressão no conde e naqueles ineptos. Até eu mesmo acabei acreditando que é uma mulher virtuosa.
?O conde... também? ? Perguntou duvidosa.
?Sim, querida, o conde também ? disse estendendo as mãos para pegar a dela.
?Deixará de chantageá-lo? ? Perguntou.
?Por agora, acho que sim. Mas ele jurou que usará os anos que restam de sua vida para me destruir.
?Bem, se quer que seu fim chegue logo, a melhor opção será rompermos nosso compromisso e que eu o seduza até que me proponha suplantá-lo como um pretendente. Desta forma, a maldição cuidará dele...
?Quer romper o nosso compromisso para me trocar por esse velhote? ? Disse, puxando-a para perto. ? Não querida, não faremos essa tolice. Demorei muito tempo para encontrá-la e fazer com que me amasse, para que todo esse esforço não leve ao que eu quero.
?E o que quer? ? Ela perguntou, ajustando seus quadris sobre os de seu futuro marido.
? Converte-la, de uma vez por todas, em minha esposa ? disse antes de colocar as mãos nos dois lados do rosto dela e puxá-la para sua boca lhe dando um beijo apaixonado e feroz.
XXXVI
Seis dias depois ...
Roger ainda mantinha um comportamento impenetrável. Não havia dúvida na mente de Logan de que ainda estava zangado por não ter lhe contado sobre sua amizade com George, o que acontecera naquela noite e a chantagem do conde. Ele supôs que na mesma tarde lhe daria uma surra que não esqueceria em anos, mas seu irmão agiu de forma estranha: saiu do escritório, o deixando sozinho com Evelyn, e não voltou para casa até a hora do jantar. Era muito triste e desconfortável ficar ao seu lado durante a noite sem falar com ele. Comeu e bebeu em silêncio, como se nem ele nem sua esposa existissem. Depois que o jantar acabou, ele se levantou, beijou Evelyn e sussurrou em voz alta que era hora de a visita sair.
?Deve dar tempo a ele ? comentou a cunhada quando o acompanhou até a saída.
?Diga a ele que fiz para protegê-los, que a minha intenção não era magoar e que...
?Fique tranquilo ? Evelyn acalmou-o com um beijo suave na bochecha ? Roger entenderá sua decisão.
?Por favor, lembre-o também que eu gostaria que me
acompanhassem até a casa dos Moore depois de amanhã. Gostaria que ambos...
?Nós vamos, eu prometo ? Evelyn argumentou antes de voltar para casa.
Não esperava que, apesar das palavras de sua cunhada, Roger aceitasse seu pedido. Por essa razão, quando o viu descendo as escadas de Lonely Field, acompanhado de sua esposa, surgiu um pequeno halo de esperança. Mas toda essa ilusão desapareceu quando não o cumprimentou.
Ajudou Evelyn a subir na carruagem, entrou e fechou a porta com força.
Logan, incapaz de respirar por causa da tristeza que o envolveu, andou para a carruagem e entrou pela outra porta.
E assim eles foram juntos em direção à casa dos Moore e separados pelo corpo de Evelyn. Quanto tempo eles continuariam assim?
Deveria desistir? Como poderia imaginar um futuro sem a presença de seu irmão?
?Roger, por favor, me escute. Nós não podemos continuar assim. Juro que agi dessa maneira porque pensei que estava fazendo a coisa certa ? Logan começou enquanto observava com pesar que seu irmão continuava olhando pela janela, ignorando-o.
?Diga a esse imbecil para não me tratar com tanta familiaridade, ele não merece isso ? disse ele com um grunhido.
?Logan, seu irmão diz...
?É incapaz de se dirigir diretamente a mim? Está tão desapontado? Ou é repulsa?
?Repulsa? ? Esbravejou Roger virando-se para Logan com tanta brusquidão que Evelyn deu um pequeno salto no banco. ? Não, não é repulsa, mas decepção ? ele gritou. -- Sinto-me desapontado porque não teve a coragem de me confessar o que lhe aconteceu naquela noite e me deixa desconfortável descobrir que aceitou uma chantagem que durou, quanto?
Dois anos?
?Juro que fiz isso para salvá-lo ? Logan respondeu, levantando a voz, perdendo a paciência que tinha. ? Como poderia colocar em risco o esforço que tem feito por nós em todo esse tempo?
?Va te faire foutre! [9] ? O marquês resmungou.
?Por favor... deveria nos tranquilizar um pouco ? disse Evelyn, ouvindo a expressão do marido em francês. ? Lembre-se de que estamos indo para a casa dos Moore e não seria apropriado que estivesse tão zangado.
Eles pensarão que não estamos satisfeitos com a proposta de casamento.
?E não estou satisfeito! ? Roger assegurou. ? Essa mulher precisa de um bom homem e isso ? ele apontou o dedo para o irmão ? não é!
?Roger, querido, tenho certeza de que Logan achou que estava
fazendo a coisa certa. Sabe que ele te ama tanto que faria qualquer coisa para salvaguardar...
?A coisa certa? Evelyn, está realmente defendendo esse idiota?
? Esbravejou o marquês, dando ao seu irmão com um olhar assassino.
?Me sentia... envergonhado ? Logan comentou com um longo suspiro. Ele esfregou o rosto, desesperadamente, e olhou para o chão. -- Não queria revelar meu segredo porque não posso suportar que a pessoa que amo e respeito me diga que sou igual ao meu pai.
?Roger jamais teria feito tamanha tolice. ? A marquesa tentou consolá-lo com suas palavras ternas. ? Caso não se lembre, antes de Colin forçá-lo a se casar comigo, seu irmão era o maior libertino em Londres e tenho certeza de que, durante as suas noites de solteiro, participava de bacanais semelhantes.
?Não estamos falando de mim ? resmungou o marquês, recostando-se no banco.
?Eu sei, mas quero esclarecer que não está em condições de reprovar ou julgar nada, porque era igual ou pior do que ele ? acrescentou Evelyn olhando para Logan com cumplicidade.
?Não estou zangado com o que ele fez, mas por causa de sua falta de confiança ? disse Roger. Se não tivesse escondido de mim o que aconteceu, poderia tê-lo ajudado naquele dia.
?Como poderia me libertar dessa situação, Roger? ? Disse o visconde, levantando a voz novamente. ? Esse homem é intocável!
?Quem te disse esse absurdo? ? Ele murmurou. Ante ao silêncio que Evelyn e Logan ofereceram, ele continuou: ? Caso não saiba, a esposa de Burkes deu à luz sete crianças que morreram logo após o nascimento. De acordo com meus informantes, em seu último parto, e depois que esse descendente também morreu, ele a trancou no porão para lhe dar um castigo. Mas o muito desgraçado não percebeu que ela estava sangrando e necessitava urgentemente da atenção de um médico. Quando Burkes pensou que a punição havia chegado ao fim, ordenou a um criado que a retirasse, mas já era tarde demais, a condessa já estava morta.
?Meu Deus! ? Exclamou Evelyn apavorada, levando as mãos à boca.
?Naquele momento, Burkes ordenou que ela fosse transferida para seus aposentos e uma criada para verificar seu corpo em busca de sinais de que ela havia sido enclausurada. Mas não encontraram uma única marca
? continuou o marquês.
?Nada? Aquela pobre mulher não lutou para permanecer viva naquele porão? ? Evelyn retrucou.
?Não ? disse Roger, balançando a cabeça ligeiramente de um lado para o outro. ? Acredito que ela tenha chegado à conclusão de que só a
morte a libertaria do marido e se rendeu a ela ? acrescentou tristemente.
?Por que ninguém denunciou isso? Por que saiu impune desse assassinato se era um suspeito? Por que conhece essa versão da história? ?
Logan perguntou sem acreditar no que estava ouvindo. Não era o mesmo que George estava sofrendo? Ele também queria encontrar a morte para terminar sua provação?
?Porque seus grandes e honrados amigos, o juiz Clarke e o pároco Madden, aqueles que testemunharam sua depravação, asseguraram que o visitaram durante os três dias seguintes ao parto e exaltaram a atitude compreensiva, afetuosa e piedosa do conde em relação a sua esposa. Além disso, quem daria crédito à versão de um criado que foi demitido?
?Maldito seja! ? Logan clamou, socando a parede da carruagem. ? Maldito seja!
?Se tivesse tido coragem suficiente para explicar o que aconteceu com você, não teria sofrido extorsão. Essa atitude submissa apenas acentuou suas suspeitas e fortaleceu sua decisão de arruiná-lo ? disse Roger, observando as costas de seu irmão se apertarem. ? Mas a situação está resolvida. Aquele bastardo vai ficar longe de qualquer membro da minha família se não quiser terminar seus anos atrás das grades.
?Por que diz que está resolvido? ? Evelyn interrompeu.
—Ontem recebi uma carta do próprio Burkes, na qual pede
desculpas por seu comportamento inadequado e cumprirá meu mandato em breve. Espero que não demore muito para dar ao seu administrador tudo o que roubou de você.
?Está dizendo que...? Quando...? ? Logan perguntou, arregalando os olhos.
?Na mesma tarde em que me contou. É por isso que saí do meu escritório com tanta urgência, não queria que a última carruagem fosse para Brighton sem um mensageiro para levar a esse malnascido a minha carta ?
explicou calmamente. ? Espero que saiba que a fortuna será nosso único presente de casamento. Não merece nem um miserável xelim ? acrescentou sarcasticamente.
?Deveria me tirar tudo! Deveria me repudiar e me jogar na rua como um cachorro! ? Ele exclamou entre soluços.
?Agiu errado, mas isso vai torná-lo mais forte no futuro ? disse Evelyn, tocando seu ombro para oferecer seu apoio.
?Mas foi um tolo ? insistiu o marquês. ? A maturidade não é apenas demonstrada pela atitude que se tem de enfrentar problemas. Um homem maduro pensa, raciocina, vai à família e confia nela.
?No entanto, tudo foi resolvido e devemos nos concentrar no futuro ? disse Evelyn novamente. ? E lembre-se que na idade dele, também não pensava ou raciocinava. Só procurava, entre as mulheres ao seu redor,
aquelas que rapidamente levantariam a saia de seu vestido.
?Evelyn, pare essas comparações de uma vez! Tem que admitir que a sua atitude me machucou e que nunca esquecerei a traição ? disse Roger com raiva.
?Sim, esquecerá, querido. Como eu esqueci que depois que nos casamos, me deixou sozinha por sete longos meses ? ela disse desconfiada.
?Evelyn! ? O marquês esbravejou novamente. ? De que lado está? Não se lembra dos nossos votos de casamento?
? Ah, sim, claro que me lembro deles! ? Expressou sorrindo.
? E cumpro todos. Mas não posso permitir que esse absurdo estrague seu relacionamento. Logan agiu assim porque achou que era a coisa certa a fazer e você partiu porquê ...
?Enfer, ma femme![10] ? Disse Roger desesperado.
?Sinto muito... ? Logan murmurou. ? Sinto muito.
Os dois olharam para ele sem piscar por causa da surpresa que tiveram ao ouvi-lo dizer aquelas palavras. Não ouviram essas palavras na boca de Logan desde o dia do incêndio, quando estava chorando, inconsolável e se desculpando com Roger por não ter protegido Nathalie e sua mãe. Evelyn olhou para o marido, franziu a testa e balançou a cabeça para Logan. Não iria consolá-lo? Não iria perdoá-lo?
?A próxima vez que tiver um problema, fale comigo. Sabe que
pode confiar em mim ? disse o marquês depois de suspirar profundamente.
? Como Evelyn disse, nada do que fez pode me escandalizar, porque antes de me casar, garanto que fiz pior.
?Isso não é o que eu queria ouvir! ? Evelyn berrou.
?Ah não? Pensei que as rugas na sua testa indicavam que confessei como eu era perverso ...
?O que vou dizer a Anne? ? Ele os interrompeu, esfregando o rosto novamente. ? Como ela se casará com um homem que, em vez de proteger sua família, a colocou em perigo?
?Errando que se aprende, Logan, e isso nos torna mais fortes ?
assegurou Roger antes de estender a mão direita para firmar a paz. ?
Lembre-se de que não está sozinho, que não conta apenas com a minha ajuda, mas também com a de todos os nossos irmãos.
?Juro por minha vida que o farei ? assegurou Logan, aceitando a oferta de paz.
?Bem, agora que tudo está esclarecido, preciso que resolva a dúvida que tenho desde que o vi aparecer ? disse olhando para o cunhado.
?Qual? ? Ele retrucou com expectativa.
?Por que diabos colocou um colete tão horroroso? Como Howlett permitiu essa decisão horrível?
?Não gosta da cor laranja? Porque eu amo... ?Logan respondeu
antes de dar uma gargalhada.
***
?Como pode pensar em vestir aquele vestido assustador em um dia tão importante? ? Sophia esbravejou quando Anne desceu as escadas e se juntou a ela no corredor. ? Não lhe disse para jogar fora? Tire logo, Anne Moore! O visconde pode pensar que não temos a solvência para lhe comprar um.
?Não se preocupe com isso, mãe ? disse Anne, pegando-a pelo braço para levá-la de uma vez por todas para a sala onde o resto da família estava esperando por eles. ? O visconde terá prazer em me ver neste vestido e garanto que ele não vai pensar se é a segunda ou a terceira vez que o uso, mas quanto tempo levará para tirá-lo.
?Anne Moore! ? Exclamou com aparente rubor. ? Parou e olhou para ela. ? Não se lembra com quem está falando? Realmente acha que eu deveria saber essas coisas?
? Não se torne de repente numa mãe pudica. Outro dia, quando lhe contei tudo o que fiz durante a minha estadia em Harving House e a razão pela qual não tenho medo de me casar com Logan, não ruborizou ? Anne assinalou com ironia.
?A única coisa que queria era descobrir por que havia retornado sem ter terminado o retrato e decidido se casar com ele ? disse ela
embaraçada. ? O que se explica na sua narração, não é problema meu.
?Então, não acha que foi certo eu informar que o visconde é o cigano que vai quebrar a maldição? ? Disse novamente, afastando-se de sua mãe.
?Sim, essa parte admito que gostei. Quem teria pensado que o falecido marquês misturava seu sangue azul com o cigano?
?Não pode imaginar o que aconteceu... ? Anne disse quando entraram na sala.
?O que? O que aconteceu? ? Randall perguntou ansiosamente, tendo apenas ouvido as últimas duas palavras. Ele caminhou na direção delas, esfregou o rosto, arrastou os óculos até a testa e acrescentou: ? Não me diga que não quer mais se casar com o visconde? Por que? Não acha que ele será um bom marido? Tem medo? É normal depois de tudo o que aconteceu, mas acredito que ele não morrerá antes de chegar ao altar, tenho um palpite que me diz...
?Calma, papai ? interrompeu Anne, separando-se da mãe para que Randall pudesse tomar seu lugar. Deu-lhe um beijo suave na bochecha e acrescentou: ? Ainda quero casar com o visconde. Juro que ele é o homem que esperei toda a minha vida e não vou deixá-lo escapar.
?Obrigado Deus... ? o doutor suspirou aliviado ? não sabe como estou feliz em ouvir que está finalmente pronta para se tornar uma
esposa. Juro que tudo que quero é vê-las felizes e protegidas por bons homens.
?Então... todo o entusiasmo que mostrou desde que dei a notícia, não tem nada a ver com o fato de que vou me tornar uma viscondessa e que isso vai ajudar minhas irmãs? ? Ela retrucou sarcasticamente.
?De jeito nenhum ? ele disse categoricamente. ? Sempre soube que, mais cedo ou mais tarde, encontraria um bom marido. Tudo o que quero é que seja tão feliz quanto eu com sua mãe ? disse, esperando que seu tom de voz não revelasse que ela estava certa.
Uma vez que ela se casasse com o visconde, suas filhas seriam aceitas na sociedade e eventualmente encontrariam seus futuros maridos.
Embora ainda pensasse que para Josh e Madeleine não seria tão fácil. Que homem aceitaria uma guerreira como esposa? E quem poderia fazer desaparecer a timidez da pequena ruiva?
?Chegou! Logan está aqui! ? Josh gritou exultante, pulando na frente da janela. ? E ele está acompanhado pelos marqueses de Riderland!
?Meu Deus! ? Sophia exclamou nervosa. ? Sabia que eles também participariam? ? Olhou para Anne como se tivesse acabado de passar uma estrela cadente diante de seus olhos.
?Sim ? respondeu, sacudindo as saias do vestido.
Estava nervosa. Queria causar uma boa impressão nas pessoas
mais importantes para seu futuro marido. Eles seriam afáveis com sua família? Logan insistiu que eram pessoas gentis, carinhosas e bastante humildes, mas... não se arrependeriam do compromisso quando descobrissem os comportamentos imprevisíveis de suas irmãs?
?E, por que não nos contou nada? Nós teríamos nos preparados... Eu teria comprado... ? Sophia balbuciou muito preocupada, amaldiçoando novamente por não ter previsto que Anne mostraria a sua verdadeira personalidade através de seu vestido laranja.
?Foi por isso que não mencionei, mãe. Quero que conheçam a minha família tal como são. Sem enganos ou falsas aparências ? enfatizou.
Olhou para as irmãs e apertou os olhos quando não encontrou Elizabeth. ?
Onde está Eli? Ainda não terminou de se aprontar?
?Não vai descer ? respondeu a mãe. Continua com dor de cabeça e não seria apropriado que permanecesse aqui com aquela aparência abatida.
?Continua desculpando-a! ? Anne exclamou com raiva, ao lado de Mary, Josh e Madeleine. ? Maddy lutará contra sua timidez para ficar ao meu lado em um dia tão importante e ela não é capaz de suportar uma dor de cabeça miserável? Chega, mãe! Pare de dar desculpas! Acha que não sei o que está errado? ? Ela berrou. ? Bem, deverá aceitar de uma vez por todas!
?Não é isso ? interveio Randall. ? Eli está muito feliz pelo seu
próximo compromisso. Mas sabe que...
?O que faço, Sr. Moore? ? Shira perguntou, abruptamente quebrando a discussão que havia sido criada em momentos tão inapropriados.
? Estão se aproximando da entrada e tenho que recebê-los.
?Não os faça esperar ? Anne falou a Shira rudemente. ? Meu futuro prometido está tão impaciente quanto eu para me tirar daqui.
?Anne! ? Sua mãe a repreendeu: ? Não quero que pense isso de sua irmã!
?Não me lembre de tudo que fez antes de sairmos... ?
murmurou antes de respirar fundo, se acalmar e esperar a entrada do seu homem.
Que a mãe criadora tivesse pena de Elizabeth em algum momento de sua vida, porque ela nunca iria perdoá-la pela dor que causara num dia tão importante.
?Os Marqueses de Riderland ? anunciou Shira com voz trêmula. ? Desculpe, e há também o Visconde de Devon ? acrescentou, corando logo após sua apresentação nefasta.
Seus pais foram recebê-los e depois das saudações apropriadas, caminharam em direção a elas. Anne tentou respirar com facilidade, mas era impossível fazê-lo. Não se viam há quatro dias, só havia tido notícias dele através das cartas entregues por Howlett, que visitava Elizabeth
assiduamente. A última coisa que Logan havia escrito era que a amava e que estava desesperado, esperando que aquele dia chegasse.
?Milady, ela é Anne, minha filha mais velha. A próxima é Mary e as duas menores são Josephine e Madeleine. ? Quando foram nomeadas, saudaram a marquesa com uma reverência cuidadosa.
?Prazer em conhecê-las, senhoritas ? disse Evelyn, observando a cor do vestido da futura noiva de seu cunhado. Agora entendia a decisão de usar um colete daquela cor! Os dois, através de um detalhe tão pequeno, aceitavam quem realmente eram.
?Igualmente ? responderam em uníssono.
?Só se ela continuar a me aceitar ? Logan comentou, o que fez todos os olhos focarem nele.
?Acho que sim ? respondeu Randall, erguendo os óculos sobre a ponte do nariz com um dedo. ? Pelo menos há cinco minutos atrás, essa era a sua resposta. Mas já conheceu minhas filhas, milorde, e sabe que elas são muito voláteis.
?Então, com sua permissão, vou perguntar a ela pessoalmente
? disse antes de se dirigir a ela.
Suas pernas tremiam, seu coração batia tão rápido que perfurava seu peito e a porta fechada da sala. Ele estava lá: seu homem, seu Cigano.
Aproximando-se dela com seu terno elegante, o colete laranja e o cabelo
puxado para trás, para formalmente pedir pela união que haviam selado noites antes em um pequeno ritual cigano. Devia fazer o correto, o que correspondia ao seu dever como um aristocrata. Mas essa aparência desapareceria quando ambos vivessem em Whespert. Ela não permitiria que naquele lugar, ele continuasse mostrando uma aparência que não correspondia a ele. Queria o Logan cigano, selvagem e apaixonado, mesmo que quando estivesse fora, tivesse que se comportar como o Visconde de Devon, irmão do Marquês de Riderland.
?Senhorita Moore ? disse, ajoelhando-se na frente dela. ? Me daria a grande honra de me aceitar como marido?
?Sim! ? Exclamou Josephine. ?Ela aceita!
?Josephine Moore! ? Esbravejou Sophia, envergonhada pela intervenção inadequada de sua quarta filha.
?Ela é a jovem que pratica a arte de atirar facas, certo? ? A marquesa perguntou a Sophia.
?Sim, milady, é ela... ? concordou com alguma angústia.
?Nesse caso, se lhe parecer correto, Josephine poderia conhecer minha filha Evah. Ela também é bastante adepta das armas. No outro dia, John, um bom amigo do meu marido, ensinou-a a usar o arco e a verdade é que...
?Anne? ? Logan perguntou, mostrando a ela um anel.
Como era de se esperar, o visconde procurou, entre os joalheiros londrinos, uma aliança que refletisse a essência cigana de Anne e, com o olhar que ela estava exibindo, soube que o esforço valera a pena.
?Sim! ? Anne gritou antes de se jogar em seus braços e ouvir como um ato tão inadequado produziu uma tosse repentina em seu pai.
?Eu te amo, Anne Moore ? disse ele, deslizando o anel em seu dedo. ? Olhou em seus olhos e continuou em voz baixa. ? E juro, minha querida, que não a salvarei somente da maldição, mas de todos os perigos que tivermos que enfrentar.
E quando Madeleine ouviu as mesmas palavras que ouvira em sua visão, colocou as mãos no peito e suspirou. Logo, muito em breve o resto de suas irmãs encontrariam seus futuros maridos e ela.... Ela finalmente deixaria de ser a tímida Madeleine...
Epílogo.
Oito meses depois ...
Logan caminhava de um lado para o outro em seu escritório, com as mãos atrás das costas. Olhava de vez em quando para o relógio na parede e bufava quando percebia que o tempo não estava indo tão rápido quanto desejava. Quanto tempo duraria um parto? Anne suportaria isso? Randall e Mary poderiam ajudá-la caso se complicasse?
?Relaxe de uma vez ? disse Roger, depois de expelir a fumaça do charuto de sua boca. Felizmente para ele, Evelyn permitiu-lhe fumar em ocasiões especiais e a chegada do seu primeiro sobrinho era uma delas. ?
Lembre-se do nascimento de Evah. Foram intermináveis horas. Mas quando tiver seu filho em seus braços...
?Filho? ? Disse Philip, que continuava batendo os dedos da mão esquerda na mesa do escritório. ? Como sabe que será um menino?
Não se lembra de que existem duas alternativas? ? Perguntou mordaz.
?Será um menino ? disse Logan com confiança. Havia tido uma visão, assim como tinha visto Evah quando mal tinha dezessete anos.
Pensou que, com os anos e a recusa de ser cigano, essas visões ciganas desapareceriam, mas não foi esse o caso. Já na noite de núpcias sonhou que
um diabinho de cabelo preto gritava papai e ele o abraçava com força. ? E se chamará Roger Bennett Moore. ? Olhou para o irmão, esperando por sua reação.
?Belo nome ? ele respondeu em uma voz estrangulada pela emoção e com olhos brilhantes. ? Só espero que não continue com a maldição dos Bennett.
?A de libertino? ? Giesler falou novamente. ? Quer transformar a próxima geração Bennett em homens honrados e castos? Não se lembra dos movimentos sedutores de cílios ou como suspiravam quando andava por um grupo de mulheres? O que essas futuras viúvas farão sem um Bennett em sua cama? ? Comentou com exagero enquanto movia o copo de conhaque.
?Tenho certeza de que haverá outros libertinos para agradá-las
? assinalou Logan com um grande sorriso.
Só esperava que seu amigo não falasse sobre a educação que ofereceria a seus filhos, porque ele não os teria. Em suas visões, seu bom amigo tinha quatro lindas meninas como sua mãe. Philip não ficou horrorizado quando soube que o Sr. Moore deveria casar as cinco? Não zombou da angústia do médico? Quantas vezes zombou da tarefa desesperada de encontrar um marido para elas? Por tudo isso, a vida o puniria com uma comitiva de meninas.
?Se os Bennett se aposentarem, os Giesler tomarão o seu lugar.
? Se aproximou do amigo para dar uma tapinha em seu ombro. ? Mas não diga que não avisei.
?O que? ? Logan perguntou, erguendo as sobrancelhas negras.
?Que seus meninos não saberão o que as mulheres escondem sob suas saias e os meus serão capazes de despir uma mulher em menos de dez minutos ? acrescentou Philip, sorrindo imensamente.
?Não tenho dúvidas de que seus filhos terão essa capacidade altamente desenvolvida ? declarou o visconde, olhando para o irmão que sabia a quem a esposa de Philip daria à luz.
?Brindemos aos futuros Bennett e Giesler! ? Roger gritou, levantando o copo. Logan e Philip apoiaram o brinde. ? Isso só acaba de...
?Nasceu! ? Josh gritou abrindo a porta, interrompendo as palavras do marquês. -- É um menino! Um lindo menino! Vou contar aos outros! -- Continuou gritando quando se virou e se afastou do escritório.
Logan olhou para o irmão e depois para Philip. Ele estava feliz, animado e se sentia o homem mais feliz do mundo. Por fim, seu filho nasceu e sua esposa... sem esperar pelos abraços típicos, ele saiu da sala e subiu os degraus de três em três.
***
Quando Logan entrou no quarto, uma súbita sensação de prazer e bem-estar o dominou. Evelyn levava a criança em seus braços para a janela.
Mary afastava a roupa que o cobria para confirmar que tinha todos os dedos das mãos e dos pés, que ele respirava normalmente... Randall estava chorando e Sophia estava abraçada a ele para consolá-lo. Madeleine permanecia sentada no peitoril da janela, sorrindo toda vez que sua irmã e a marquesa elogiavam a beleza do bebê. Até mesmo Elizabeth acompanhava sua irmã em um momento importante para ela, embora continuasse longe de todos e usando um daqueles vestidos típicos de governantas. Logan não entendia por que adotara um comportamento tão estrito, mas parecia que, graças a isso, estava superando certos medos.
Apoiou-se no batente da porta e observou a bela imagem familiar.
Nunca imaginou que as palavras de seu irmão fossem tão precisas. Não só seu amor por sua esposa havia aumentado, mas os laços com toda a família também foram fortalecidos e aquele momento era uma mostra disso. Como Roger lhe disse em mais de uma ocasião, o instinto de proteção transformava um homem em uma fera que não hesitava em oferecer sua vida para salvar sua família. Ele a daria, por cada um dos membros que estavam no quarto, na sala, na cozinha, no escritório e no jardim.
Estavam todos ali. Nem um único irmão queria perder o nascimento do próximo Bennett, que seria nomeado herdeiro do Marquês de
Riderland e orgulhosamente ostentaria seu sobrenome, pois os vestígios deixados por seu bisavô desapareceriam. Roger e ele se encarregariam de terminar...
?Entre, não fique na porta ? disse Anne quando o descobriu em pé na entrada. ? Seu filho o espera.
?Meu filho pode esperar um pouco mais. ? Logan segurou as lágrimas causadas pela emoção e caminhou até a esposa. ? Está bem? ?
Perguntou depois de colocar um beijo suave em seus lábios.
?Sim, muito bem ? respondeu, estendendo a mão esquerda para que ele não tivesse medo de sentar-se ao seu lado. ? Mas mudei de ideia sobre ter seis filhos. Acho que vamos ter o suficiente com dois ?
acrescentou ela, descansando a cabeça no peito do marido.
?Roger, Samuel e Philip ? disse Logan.
?Três homens? De verdade? Não pode mudar essas visões? ?
Insistiu nervosa.
?Não ? Logan negou. ? Dará à luz a três filhos preciosos, iguaizinhos a mim ? acrescentou orgulhoso.
E nesse momento Anne se benzeu e se confiou à mãe criadora.
Um pouco do próximo romance
Mary sentou no banco e olhou de lado para sua acompanhante.
Parecia tão preocupada que desejou lhe dizer algo que pudesse acalmá-la. No entanto, não tinha o dom de tranquilizar as pessoas, mas de curá-las.
?Desculpe-me por tê-la tirado de sua casa em um horário tão inapropriado, mas sua mãe, depois de lhe explicar o que está acontecendo, insistiu que a senhorita é a mulher adequada para atendê-lo.
?Não foi um problema, pelo contrário, sinto-me muito honrada por poder ajudá-la ? Mary respondeu, acrescentando um leve movimento ao comentário com a mão direita enluvada. ? Ficarei feliz em descobrir que doença seu marido tem e dizer-lhe o tratamento adequado.
?Meu marido? ? Valeria estalou, arregalando os olhos. ? Não é meu marido que está doente, mas meu irmão.
?Sinto muito, devo ter entendido mal a minha mãe ? disse Mary, corando instantaneamente. ?Às vezes, quando fico emocionada, não escuto com atenção.
?Não se preocupe, isso geralmente acontece comigo também.
Acho que é muito comum mulheres inteligentes selecionarem o que as interessa.
Naquele comentário, Mary deu uma risada alta. Quando se
recuperou, voltou seu olhar para a Sra. Reform e esperou que o nome de seu irmão fosse revelado, mas ela permaneceu em silêncio.
?E a quem devo assistir? ? Perguntou finalmente.
?Talvez o conheça, senhorita Moore.
?Mary, por favor, me chame de Mary.
?-Obrigada, então o que disse, Mary, é que pode ter ouvido falar dele porque é um homem bem conhecido nesta cidade. Ele trabalhou na Scotland Yard por alguns anos, mas quando estava prestes a conseguir um cargo importante, se recusou a fazê-lo e decidiu se tornar um marinheiro ?
disse com pesar enquanto observava Mary continuar sacudindo a cabeça.
?Confesso que sou uma mulher antissocial. Quase não saio de casa e, quando o faço, não tenho entre meus objetivos o de me relacionar com as pessoas que encontro, exceto se tiver que curá-las ? disse bruscamente.
?Entendo... Valeria ficou mais intrigada ainda. Se a jovem não o conhecia, por que seu irmão não parava de chama-la quando a febre aumentava? Esticou a saia do vestido para não enrugar, depois colocou as duas mãos no colo e olhou para a jovem sem piscar. ? Mas creio que conhece meu irmão ? insistiu.
?Se me disser o nome, posso responder com mais certeza ?
disse Mary, cansada.
Por que tanto mistério? O irmão daquela mulher era um ex
presidiário? Havia cometido crimes? Seria o próprio Frankenstein?
?Meu irmão é Philip Giesler ? Valeria finalmente declarou.
E naquele exato momento, Mary notou como seu queixo caía.
Nota do autor:
Espero que tenham gostado do romance e que me perdoem por deixá-los com tantas perguntas na cabeça. Esclarecerei algumas antes que me ataquem.
Em primeiro lugar, O desejo de Mary é o próximo. Os protagonistas serão Mary Moore e Philip Giesler. Se não se lembra bem deste último personagem, informo que o encontrará, ainda adolescente, em Minha amada Trapaceira.
Na segunda posição... o que aconteceu com Elizabeth? Basta dizer que, no prólogo de seu livro, o terceiro, descobrirão o que aconteceu com ela, nada de bom na verdade.
O quarto romance é a história de Josh. Eu ainda não sei como ele conseguirá isso, mas Eric está determinado a fazê-la se apaixonar ...
E o quinto é o de Madeleine. Quem será esse cavalheiro que acabará com sua timidez? Surpresa! Descobrirá quando o ler...
A propósito, não se preocupem com George Laxton, ele também terá sua história. Apesar de ser um personagem secundário, tenho certeza que irão me perguntar o que acontecerá com ele e se poderá se livrar do seu malvado tio. Esse será o sexto livro da série: A filha do duque.
Também quero esclarecer que é verdade que uma banheira,
aquecida a gás, voava com seu ocupante dentro. Colocarei o pedaço que me levou a ficar mais de vinte minutos rindo. Está na página Cuirosfera.com/Historia del baño:
No entanto, algumas décadas depois, em 1868, o inglês Benjamin Maugham inventou a banheira de água aquecida a gás, e tudo sugeria que a banheira seria popular, mas infelizmente um dia, um aquecedor explodiu e enviou banheira e ocupante ao outro lado da sala, onde aterrissaram imersos em perplexidade. As pessoas não queriam ouvir falar dessa engenhoca e preferiam comprar água quente que era vendida a domicilio.
É por isso que Mary não queria entrar em uma banheira sem usar a camisola!!
PS. Para que depois não digam que os autores não estudam todos os detalhes que oferecem. No meu caso, leio e pergunto muito para tornar meus romances mais reais.
Sem mais delongas, obrigada por terem lido e espero que estejam tão ansiosos quanto eu em saber o que acontecerá com Mary Moore e Philip Giesler.
Me encontrarão em:
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Outros títulos:
A Solidão do Duque. Série
os Cavalheiros I:
A vida libertina do futuro
Duque de Rutland termina depois de lutar um duelo de honra com um marido enganado. Envergonhado pelo resultado deste desafio, ele decide deixar Londres e ir para Haddon Hall, o lugar pacífico onde ele cresceu, na
esperança de encontrar a paz que ele tão desesperadamente precisa. No entanto, a chegada de notícias inesperadas altera essa suposta calma e faz com que o duque fique bêbado. Apesar do conselho de seus parentes, ele decide cavalgar e galopar através de seus domínios. Quando ele abre os olhos após uma queda infeliz, descobre que uma mulher cuida dele em algum lugar isolado de suas terras. Seu nome, Beatrice e seu único desejo, viver sozinho pelo resto de sua vida.
A Surpresa do Marquês. Série os
Cavalheiros II:
Roger Bennett, o futuro marquês de Riderland, se
define como um cavalheiro disposto a ajudar os pobres infelizes de prazeres sexuais. Ele gosta tanto da sua vida, que quer continuar assim até o fim dos seus dias. No entanto, uma pessoa irá suprimir essa vida de devassidão e libertinagem que tanto anseia manter.
Resignado a ter que viver com uma esposa que não conhece ou ama, decide encarar seu futuro com integridade. Embora quando seus olhos azuis se fixam em Evelyn, descobre que tudo o que desejava se evaporou. Mas o amor tem que ser trabalhado e, para um homem que achava fácil quebrar corações, será incrível ver como o seu próprio se estilhaça como o vidro.
A Tristeza do Barão. Série os
Cavalheiros III:
Dizem que a paixão juvenil nunca é esquecida, talvez porque seja pura e real o suficiente.
Depois de anos procurando por Anais
Price, sonhando em tê-la novamente ao seu lado, Federith Cooper tem que se casar com Lady Caroline, já que ela carrega seu filho no ventre, ou assim ele pensa. Mas sua vida de casado é um inferno; sua esposa rejeita sua presença, sua ternura e até sente repulsa por ele, o homem mais educado e respeitoso de Londres.
Federith tenta aceitar a vida que o tocou, mas ... por quanto tempo manterá o comportamento frio e aristocrático que seus pais o impuseram
desde criança, quando o amor de sua vida reaparece anos depois?
Um amor verdadeiro não desaparece com o tempo, e a promessa que ele fez para protegê-la, cuidá-la e amá-la tampouco.
O coração do inspetor O´Brian
Série os Cavalheiros IV
Nunca abandonou uma batalha
sem lutar, mas ela deixou bem claro que não havia nascido para ficar com ele.
Abatido, humilhado e com o coração partido, O´Brian se propôs a destruir aquele sentimento que tinha por seu grande amor.
Entretanto, quando por fim conseguiu não pensar tanto nela, a vida o brinda com outra oportunidade e nesta ocasião, não permitirá que April Campbell, viúva do visconde de Gremont, rejeite-o de novo.
Será que April superará o engano e a traição de seu falecido marido? Ela será
capaz de dar uma chance ao homem nunca a esqueceu?
Quem sabe ...
(Esta é a história de dois personagens que aparecem na novela A Tristeza do Barão: o inspetor O´Brian e a viscondessa viúva de Gremont)
Minha Amada Trapaceira. Série os
Cavalheiros V:
Soberbo,
arrogante,
petulante,
vaidoso ... são alguns dos adjetivos usados por quem conhece Trevor Reform, dono do mais famoso clube de cavalheiros de Londres, para descrevê-lo. O
poder que o dinheiro lhe dá o fez esquecer suas origens humildes, transformando-o em um ser desprezível, apático e desumanizado. Mas o destino se esforçará para lembrá-lo quem ele realmente é ...
Depois de encontrar a causa do maior problema que ele teve desde que abriu o clube, Trevor está obcecado em removê-lo o mais rápido possível do local. Para isso, elabora um plano, aparentemente tão perfeito, que não duvida, nem sequer por um segundo, de que alcançará seu objetivo.
Enganada
Essa é a história de Adele, uma
médica forense que tenta achar lugar em uma profissão masculina. No entanto, toda a sua luta profissional se verá interrompida pela ligação de um pai cheio de dor que a pede que aceite o caso de sua filha.
Desse momento em diante, todo o seu mundo cairá aos seus pés.
Descobrirá algo que jamais acreditou que encontraria e isso será o motivo para que adentre, sem se dar conta, em uma trama cheia de emoções, mentiras e sofrimentos. SE RENDERÁ SEM LUTAR POR AQUILO NO QUE
ACREDITA E AMA DE VERDADE?
Obrigado!
[1] Olhos do diabo
[2] Por todos os males do mundo!
[3] Burro! Estúpido
[4] As artes marciais chinesas são conhecidas na China como wushu e no ocidente como kung fu. Na China, a expressão kung fu caracteriza qualquer estilo de arte marcial, ou tarefa feita com perfeição, não apenas artes marciais. (Fonte: Wikipédia)
[5] Malditas pessoas em alemão
[6] Ipso facto é uma expressão em latim, que significa “pelo próprio fato” , “por isso mesmo” ou “consequentemente” , “consequência direta da ação” , na tradução para a língua portuguesa.
[7] Nomeie que Alexandre, o Grande, colocou seu cavalo.
[8] Hefesto es el dios griego del fuego y la forja, protector de los herreros, los artesanos, los escultores, los metales y la metalurgia.
[9] Foda-se!
[10] Diabos, esposa!
XXIV
Não conseguia parar de sorrir. Sentia tanto prazer e felicidade percorrendo seu corpo que não podia apagar o sorriso de sua boca, mesmo que tentasse fazê-lo. O vento batia em seu rosto, causando intermináveis lágrimas, mas não as afastou, gostava de saber que seus olhos sabiam chorar, apesar de fazê-lo de maneira não convencional. Olhou para os dois lados do caminho, confirmando que não havia ninguém por perto. Logan devia ficar tranquilo porque, depois de três horas percorrendo seus territórios, não encontrou nada que indicasse que caçadores furtivos estivessem vagando pela área. Olhou para cima e observou o sol. Estava em cima dela, avisando-a de que o meio-dia estaria próximo. Não deveria demorar para voltar. Não queria chatear Anne. Caso se atrasasse e não aparecesse para o almoço, ela teria a desculpa perfeita para trancá-la no quarto e puni-la até que o trabalho estivesse terminado. No entanto, o cavalo já mostrava sinais de fadiga. Bufava toda vez que o incitava e sua pelagem estava molhada de suor. Uma pequena parada ao longo do caminho seria boa para os dois.
Determinada a dar a ele o descanso que precisava, dirigiu-o, com um ligeiro puxão das rédeas, em direção a um pequeno bosque que se encontrava à sua direita. Quando o animal entendeu que poderia descansar em breve, relinchou alegremente e galopou ainda mais rápido em direção
àquela área verde e selvagem.
?Bom menino... ? Josh disse ao cavalo quando pararam. ? É
um campeão.
Bateu com força no pescoço robusto e desceu dele como um mensageiro militar que tem em sua posse a carta que informa sobre o fim de uma guerra.
Sem soltar as rédeas, caminhou na frente do animal, ouvindo as respirações agitadas dele. O servo não a enganou oferecendo-o, porque para ela era perfeito. Além de correr tão rápido, que mais de uma vez pensou que sairia disparada por sua traseira, era fiel às ordens dadas a ele. O único inconveniente, que o servo alegou, era que ele não possuía uma linhagem tão virtuosa quanto os outros cavalos no estábulo. Pelo que disse, a mãe escapou do estábulo quando entrou no cio, e ela permitiu se emprenhar por um dos Percheron que o barão de Sheiton mantinha na propriedade adjacente. «Sua Excelência aceitou a chegada deste mestiço, mas eu o teria matado assim que ele saísse das entranhas daquela sem vergonha», foram as palavras usadas por aquele empregado cruel e tolo. Talvez, essa afirmação repugnante a tenha feito simpatizar com o animal. Era tão mestiça quanto ele e por isso ela não deveria viver?
?Calma ? disse para acalmá-lo, algo que o tinha perturbado ?
não há ninguém aqui além de nós. Ficaremos pouco tempo, o suficiente para
que possa pastar um pouco e eu eliminar a dormência das minhas pernas.
O relincho do animal deu-lhe a entender que ele não conseguia se acalmar e que, apesar de suas palavras, algo o mantinha bastante inquieto. Finalmente, Josh decidiu amarrar as rédeas a um ramo e verificar o que assustara tanto o animal.
?Não te acontecerá nada ? continuou falando com uma voz calma enquanto tirava a arma afiada e brilhante do esconderijo. ? Vou protegê-lo com isso.
Colocar aquela faca perto do seu olho esquerdo não causou o efeito que ela esperava. O cavalo, assustado, ergueu as patas dianteiras e acenou-as como se quisesse pisar nela. Rapidamente, Josephine se afastou e enfiou a perigosa arma na parte de trás do cinto. Esse ato relaxou o animal aterrorizado.
?Por todas as almas miseráveis deste mundo absurdo! Eles tentaram mata-lo? É por isso que ficou alterado? ? Perguntou em pé na frente da cabeça dele, acariciando-a lentamente.
Movida pela atitude submissa do animal, colocou as duas mãos em direção àquele pescoço castanho-chocolate grosso e estava sentindo-o lentamente, entrando debaixo deste com calma, como se tivesse esquecido que, segundos antes, ele apresentava um comportamento selvagem. Então, quando enfiou o rosto no peito molhado e peludo, encontrou o que procurava:
uma aspereza. Quando a tocou, parecia com um começo de sujeira acumulada na estrada. Sim, não havia dúvida de que o imbecil tentara matá-lo, mas não conseguiu, porque o que o homem sem cérebro não entendia, era que os seres nascidos do sangue mestiço se tornavam guerreiros imortais e corajosos. E
ela se considerava da mesma forma: tão imortal e corajosa quanto o cavalo que foi gerado de um acasalamento entre cavalos livres.
Com o punhal guardado e incapaz de pensar em outra coisa senão encontrar uma maneira de dar a esse servo uma lição bem merecida, beijou a testa do cavalo, virou-se para a floresta e avançou sobre os troncos das árvores. A tempestade da noite anterior foi devastadora para esse terreno. As raízes saíram, atravessando a terra transformada em lama, como se procurassem desesperadamente por aquela luz do sol que mal tocava o chão, porque a folhagem das árvores desacelerava os raios no topo de suas copas. Se estivesse andado pela selva amazônica, poderia compará-la com aquele lugar oculto e inóspito. A vegetação em torno dela havia crescido pelo clima na área ou por estar perto o mar? Se continuasse nessa estrada, poderia se encontrar no topo de um penhasco? Poderia finalmente saber como era a imensa massa de água salgada, como cheirava e o que o toque de salitre produziria em sua pele? Haveria navios navegando? E se encontrasse um navio pirata? E se a tripulação deixara o barco e fora para a costa levantando suas espadas procurando o início de uma guerra contra Londres? E se
encontrasse contrabandistas franceses?
A imaginação de Josh transbordou. Começou imaginando como seria a areia e acabou lutando com seu facão na proa de um navio francês. Sua mão esquerda foi colocada nas costas enquanto a mão direita segurava a arma e acenava, produzindo ziguezagues leves que pareciam cortar o ar.
?Eu? Quem sou eu? ? Gritou ao vento enquanto intensificava a força daquela luta imaginada. ? Sou seu pior inimigo!
Sua abstração era tão incrível e tão real para ela, que os fios de cabelo loiro que se soltaram em vários desses movimentos abruptos, grudaram em seu rosto pelo suor. Sua camisa branca mostrava sulcos úmidos de formas irregulares, como se fosse usada por um camponês que passara a manhã inteira trabalhando no campo. Agarrou com força a alça da adaga, dirigiu-a para o céu, dedicou a Deus a morte de seu oponente, ajoelhou-se e, como se tivesse se tornado um cavaleiro medieval, inclinou a cabeça.
De repente, um barulho foi ouvido atrás dela, ela se virou de joelhos e jogou a faca para baixo. Quando descobriu onde a faca estava presa, não conseguiu reagir. Um homem vestido com um traje de montaria inclinou-se para a frente para ver que seus olhos não estavam enganados quando viu que tinha uma faca presa na bota direita.
?Merda! ? Exclamou o jovem quando a dor que produziu a
ponta da arma cruzou de leve a pele e mostrou-lhe que não era uma visão. O
que fez infeliz? Por que jogou isso em mim?
?Quem diabos é? Por que está me perseguindo? ?
Perguntou enquanto se levantava.
O garoto não prestou atenção nas perguntas de Josh ou na raiva que ela tinha quando falava. A única coisa que fez foi sentar na lama, tirar a arma pontuda da perna, tirar a bota e confirmar que uma superfície vermelha circular se estendia por suas calças brancas.
Josephine olhou para ele com raiva. O rosto dela não expressava remorso, aflição ou compaixão pela dor que o estranho que explodiu sobre ela em um ato tão privado deve ter sofrido. Ela estava serena, como se tivesse construído um castelo de pedra com as próprias mãos, e ela colocou as mãos na faixa marrom, exibindo uma pose dura, severa e orgulhosa, assim como sua mãe era quando ela fez outro buraco em sua amada janela da sala de costura.
Com a adaga na mão, Eric cortou as calças para descobrir a extensão da ferida. Apesar do sangue, não era muito profundo. Felizmente, o material da bota de equitação tinha barrado o lançamento efêmero. Mas ele não podia sorrir para aquela mulher louca que, antes do ramo ter estalado ao pisá-lo, a observara fazendo movimentos muito estranhos, como se estivesse invocando o próprio diabo. Sem olhar para ela, inclinou-se para a direita,
tirou o lenço do bolso, que colocou ali antes de subir no cavalo, estendeu-o e amarrou-o ao redor da ferida. Ele não queria que o sangue se espalhasse por suas calças e aparecesse em Herast Pond como se fosse um soldado que voltava para casa depois de vinte anos de guerra.
?É surdo? Porque não fala? ? Ela o repreendeu. ? Perguntei-lhe o que diabos faz nos territórios do Visconde de Devon.
?As propriedades do visconde terminam ali. ? Ele apontou com a mão direita em direção ao fim da floresta. Estas são minhas ? ele assegurou rudemente. Então é a única surda e desorientada ? disse ele, levantando o queixo gentilmente para enfrentar a criminosa insolente.
Uma vez que seus olhos se encontraram, os dois permaneceram em silêncio e por causa de como seus corpos estavam paralisados, eles também se esqueceram de respirar...
?Mente! ? Josh gritou, despertando do transe estranho que a fez ver o lindo rosto do rapaz. ? É um caçador ilegal! ? Soltou. ? O
visconde me avisou sobre vocês! ? Continuou com raiva.
?Não ? o jovem respondeu. Ele apoiou as palmas das mãos nos troncos que tinha em ambos os lados e, com a ajuda deles, levantou-se. Ele não podia ser intimidado por tal rata, embora tivesse um rosto tão bonito que perdera sua razão por um momento. A solenidade que lhe fora incutida desde o berço, seu orgulho, sua integridade e tudo o que lhe dava o melhor instrutor
que poderia encontrar, seu pai, brotou de algum lugar de seu corpo, protegendo-o como se fosse um escudo. ? Agora mesmo irá me acompanhar, imunda e suja, até minha casa e, uma vez que o xerife saiba o que fez com uma pessoa como eu, estará trancada atrás das grades até dar as explicações relevantes para esse ato criminoso. Mas tenho medo que seja julgada e....
?Ato criminoso? Julgada? ? Josh respondeu com os olhos arregalados. ? Queria me atacar pelas costas! ? Fiz apenas o que qualquer mulher decente faria a quem pôs em perigo sua vida!
?Mulher? Decente? ? Eric Cooper virou-se para ela sem piscar. ? Não é mulher! ? É uma abominação da natureza!
?Como ousa me insultar assim? ? Gritou caminhando em direção a ele com atitude desafiadora.
?Como ousa me machucar e declarar que eu merecia esse esfaqueamento? ? Ele respondeu, mostrando uma imagem um pouco ridícula, porque parecia que ele estava brincando com uma perna só, em vez de discutir verbalmente contra alguém que se dizia mulher, mas vestida como um homem.
?Se estivesse em Londres agora o desafiaria para um duelo ?
Josh murmurou.
?Um duelo? ? Acha que perderia tempo e arriscaria minha
honra por alguém como você? Antes iria jogá-la no Tamisa! ?
Exclamou fora de si.
?Você ? disse apontando com um dedo inquisidor e em pé na frente o suficiente para levantar o queixo e para os olhos se encontrarem novamente.
?Você? ? Eric colocou ambas as plantas dos pés no chão, suportando a dor com dignidade. Endireitou seu corpo e sorriu quando viu que ela mal chegava ao seu ombro. ? Você ? ele começou a falar sarcasticamente ? é um monstro, uma fera selvagem que...
Ele não terminou a frase, uma mão de Josh bateu em sua bochecha esquerda com tanta força que ele virou o rosto para a direita. Uma vez que pode encará-la de frente e eliminar num ápice toda a nobreza e dignidade que evocava em voz alta, estendeu as mãos para ela, colocou-as em seus ombros e a sacudiu.
? Está louca? Por que me deu um tapa? Quem pensa que é?
?Josephine Moore ? disse com arrogância, enquanto pegava as mãos dele pelos pulsos e as virava para o lado oposto ? e é um homem arrogante se pensa que será fácil me dobrar.
Eric, pego pelas mãos, sentindo a pontada de dor que irradiava da ferida até a testa, observava sem piscar o rosto da guerreira. Seus olhos, apesar de serem marrons, haviam se tornado duas imensas bolas de fogo. Seu
nariz, pequeno e arrebitado, enrugou-se para mostrar uma repulsa sincera. Mas seus lábios, embora tentassem ser rudes e cruéis, pareciam delicados e suaves, como os exibidos pelas jovens mulheres sinceras, embora nenhuma das que ele conhecesse pudesse superá-la em volúpia. Atraído como uma mosca para o mel, obcecado por descobrir que sabor a boca de uma mulher tão estranhamente peculiar teria, separou os braços, contrabalançando a força que ela exercia sobre seus pulsos e diminuindo a distância entre os dois. Com os olhos abertos, para não perder de vista o impacto do que se propusera, inclinou a cabeça para a jovem e a beijou.
Josh permaneceu imóvel quando os lábios daquele homem desarmado tocaram os dela. Suas mãos ainda estavam ocupadas com as dele, então não pode lhe dar outro tapa. Mas ela poderia jogar a cabeça para trás e recuar. No entanto, não fez. Ela permaneceu imóvel até o jovem, que tinha um cabelo da mesma cor que o de Madeleine, embora na testa ele tivesse uma mecha dourada, se afastou.
?Interessante... ? Eric disse, com uma voz muito diferente da que ele havia usado antes ? uma virgem sozinha em minhas terras. Paradoxal... ? ele sussurrou divertido. ? Não esperava que, quando esta manhã pedi a Deus um sinal para enfrentar o destino da minha vida, decidisse colocar no meu caminho uma jovem como você, Josephine Moore.
Ao ouvir seu nome com aquele tom sensual, Josh acordou do
transe induzido depois de sentir, pela primeira vez, o calor de uma boca masculina na sua. Indignada, zangada, por ter permitido que algo tão absurdo a fizesse perder algo tão importante quanto a prudência, torceu os pulsos com mais força, até que a dor foi tão insuportável que apagou a satisfação que ele mostrava em seu rosto, e o lançou para trás. Quando ele caiu na lama, Josh pegou a adaga, cuspiu nele e foi desesperadamente pela floresta. Não parou de correr até encontrar o cavalo, que relinchou alegremente ao vê-la. Desatou o melhor que pôde, porque suas mãos tremiam, montou como se fosse uma amazona habilidosa e cavalgou sem diminuir a intensidade do trote até ver os telhados de Harving House.
XXV
Suas mãos, até agora relaxadas e voltadas para o chão, levantaram lentamente para se colocarem ao redor de seu pescoço. O beijo foi se transformando a cada segundo que durava. Passara de uma colisão suave a um tornado repleto de paixão e desejo. Abriu a boca lentamente, permitindo acesso àquela língua voraz, faminta e ansiosa para saborear seu interior. O
grunhido do visconde, satisfeito com a decisão que tomara, lhe causou mais prazer do que angústia. Estendeu os dedos e espalhou-os sobre o pescoço tenso devido à inclinação. Não os manteve quietos, mas permitiu que descobrissem o toque da pele masculina. Estava no paraíso. Não por causa do ambiente em que isso acontecia, mas porque tudo se tornou um lugar bonito, cheio de calma, tranquilidade e bem-estar. Era como se depois de anos de trabalho arqueológico em uma área atormentada, finalmente encontrasse os restos pré-históricos.
Sentiu uma forte pressão nas costas, ele a ajustava ainda mais ao seu corpo, transformando-os em um só. Com os olhos fechados, sentindo como se libertava e se transformava em uma nova mulher, se acomodou nele, se entregando ao delírio no qual haviam submergido. Sua língua tocou a do visconde com certa timidez e aquele contato, aquele mísero roçar, causou-lhe um impacto semelhante ao que uma estrela poderia causar ao atingir a terra.
Luzes coloridas figuravam sob suas pálpebras e seu corpo reagia com tanta sensualidade que, sem perceber, seus quadris se esfregavam no membro masculino inchado, fazendo com que aumentasse ainda mais seu tamanho, sua excitação. Ele respirou fundo pelo nariz quando virou a cabeça para o outro lado. Não afastou a boca da dela, pelo contrário, apertou-a com tanta força que, no segundo impulso daquela língua selvagem, saboreou o gosto do próprio sangue. Franziu o cenho levemente, acreditando que o gosto o levaria para longe dela, mas o efeito foi o oposto. A língua do visconde lambeu as gotas que sua ferida emanava e as introduziu dentro de sua boca, como se tivessem lhe dado para beber o melhor elixir que pudessem encontrar. Suas mãos, até agora agarradas a sua cintura, baixaram lentamente até que foram colocadas em suas nádegas e então ele a ergueu como se seu peso fosse parecido ao de uma pluma. Rapidamente, entrelaçou seus braços naquele pescoço forte e continuou aceitando o beijo que não tinha fim.
Caminharam. O visconde começou uma marcha pelo jardim para algum lugar no qual continuariam a manter a intimidade que necessitam dois amantes apaixonados e sucumbidos por um desejo tão intenso, e que só poderia terminar com uma entrega absoluta e sincera. Seus pés, entrelaçados na cintura do visconde, deslizaram suavemente quando sentiu uma forte pressão nas costas e percebeu que haviam parado de andar. Abriu os olhos e contemplou para os dele. Sua íris azul brilhava como duas imensas bolas de
fogo, suas maçãs do rosto, aquelas áreas que a barba espessa não escondia, mostravam o rubor da paixão que ambos sentiam. Ela se acomodou no chão, seus braços emaranhados ao redor do pescoço dele, sentindo o hálito quente do homem e que a olhava com tal desejo que o pulsar que começou entre suas pernas se tornou angustiante, aterrorizante. Sua boca se retirou devagar, como se o fio que os juntara tivesse sido cortado, e justamente quando pensou que aquela loucura havia chegado ao fim, ele começou a beijar seu pescoço, o lóbulo que ela havia tocado quando viu seu colete laranja, e levou-a de volta para o paraíso ao que tinha ido depois de beijá-lo...
—Anne... —sussurrou sem ser capaz de tirar a boca da pele, cheirando com intensidade o traço que percebia em cada beijo que dava nela.
-- É...
Ficou em silêncio porque não encontrava as palavras certas para definir o que ela o fazia sentir. Sem deixar de ouvir os gemidos de prazer que Anne emitia quando pressionava os lábios contra o corpo dela, tirou as mãos da cintura dela, onde as havia colocado para abaixá-la cuidadosamente, e procurou as dela. Quando as encontrou, entrelaçou os dedos com os seus, as ergueu bruscamente e colocando-as sobre a cabeça de Anne, imobilizando-a instantaneamente.
Deus! Como podia se sentir tão atraído? Que tipo de feitiço havia jogado nele para não ser capaz de se recordar de algum momento parecido?
Vendo a confusão no rosto de Anne, depois de fazer um movimento tão violento, Logan colocou sua perna esquerda entre as dela e a beijou novamente, afastando qualquer pensamento arrependido de sua mente.
Isso só seria o começo do que ansiavam...
Enlouquecido pelo gosto daquela boca, agarrou-lhe os pulsos com uma mão, deixando-os onde desejava que ficassem e começou a tocá-la lentamente. Estava tremendo. Para sua alegria, ela estremeceu de desejo ao sentir a mão dele percorrer seu corpo, ainda coberto por um miserável vestido marrom que ele logo arrancaria para tocar o que precisava: sua pele.
A marcaria. Sim, apagaria qualquer resquício que tivesse de Hendall e a preencheria com o seu, fazendo desaparecer o vestígio que nunca devia ter tido.
Quando as pontas dos dedos se acostumaram com o calor de Anne, sua língua empurrou de volta com força dentro da boca dela, fazendo-a soluçar novamente. Quando ouviu que ainda o aceitava e que seu desejo aumentara, ele se aventurou a continuar. Seus dedos pararam de tocar o vestido para serem colocados no decote e muito lentamente, dando alguns míseros segundos para que se adaptasse ao seu toque, estendeu a mão e prendeu seu seio esquerdo.
Maçãs. Aquele seio era mais suave que a pele de uma maçã e o mamilo, duro de excitação, era o cantinho...
Afastou sua boca da dela, embora tenha ouvido um lamento de desconsolo, e foi beijando seu queixo, pescoço, decote...
—Vou... -- Tentou dizer, mas ficou em silêncio quando notou que Anne estava apoiando o torso na direção dele, consentindo com o que decidisse fazer.
Com os olhos bem abertos, contemplando como ela continuava exigindo suas carícias, tirou a mão do seio, colocou-a no vestido e desabotoou os quatro botões. Uma vez que o tecido do chemise ficou diante dele, tornou a inserir aquela mão, que tremia porque ansiava por tocar o seio que segurara, e puxou-o para fora.
Inebriado, entorpecido por tal visão, inclinou o rosto para o seio e o mordeu, como se na verdade fosse uma maçã a qual acabava de dar uma grande mordida.
Anne jogou a cabeça para trás e gemeu com o contato atroz. Ela não se queixou da dor que os dentes lhe causaram na superfície do seio, mas porque, estranhamente, ela queria mais.
—Lo... Logan... —murmurou, fechando os olhos, sentindo uma forte pressão naquela parte do corpo e aproveitando o prazer que a percorria.
Tentou mover as pernas, fraca pela perda de forças antes da chegada da paixão, mas tudo o que conseguiu foi tocar com um joelho o sexo ereto dele.
—Ardo, Anne. Sinto como meu corpo queima como se estivesse
dentro de uma fogueira —confessou depois de deixar aquele seio e beijar novamente o decote nu. -- Sinto minha pele ardendo, queimando...
—Logan... —sussurrou Anne ao cruzarem novamente os olhares.
-- Sim —ele respondeu antes de devorar sua boca outra vez.
O fato dela timidamente ter aberto as pernas, lhe deu a oportunidade de ficar entre elas. Sua cintura se colou ao corpo de Anne e, sem pudor, fez com que ela entendesse o quanto estava excitado, até que ponto ele enlouquecera e a que nível se estendia sua paixão. Porque era assim. Ele se transformou em um louco que queria viver somente com ela, beijá-la sempre que quisesse, tocá-la quando seu corpo precisasse senti-la perto e.... fazê-la dele até a morte chegar.
«Ela é tudo que preciso para viver», a frase de seu irmão, se referindo a sua esposa, apareceu em sua mente para confirmar que, por mais improvável que parecesse, estava sentindo o mesmo. Anne deveria ser dele, exclusivamente dele. Seu passado e o dela haviam desaparecido. Agora eles deviam se concentrar no futuro que deveriam construir... juntos.
No momento em que a mão esquerda levantou o vestido, procurando tocar aquela intimidade, que emitia um cheiro muito hipnótico e que queria provar para confirmar que a essência de Anne era perfeita, ouviu um relincho. Rapidamente afastou a mão, parou de beijá-la e olhou para o céu. O cavalo, que reconheceu imediatamente, voltou a emitir um som
escandaloso.
—Josh! -- Exclamou se afastando abruptamente dela.
—Josh? —Perguntou Anne sem abrir os olhos, confusa e sentindo um arrepio terrível quando perdeu o calor de seu grande corpo.
—Josephine acaba de chegar —informou. -- Sairei para recebê
la enquanto se arruma. Não seria apropriado que nos encontrassem dessa maneira não profissional. Então recomendo que, depois de se arrumar, fique na frente do cavalete e continue com aquele maldito retrato —afirmou em uma voz áspera, se transformando novamente no aristocrata que realmente era.
De repente, o rubor gerado pela paixão foi transformado em sufocamento produzido pela vergonha e pela insensatez, a qual ela sucumbiu, em desespero. Com as mãos trêmulas, Anne enfiou o peito nu sob a camisa e abotoou o vestido. Sua cabeça estava levemente inclinada para frente, de modo que o visconde não notasse sua mudança de emoções. Então, quando pensou que estava sozinha, que ele havia partido, ele voltou, colocou-se na frente dela, levantou seu queixo com ternura e, a olhando como apenas um amante poderia, deu-lhe um beijo carinhoso.
-- Se não se arrepende do que acabamos de fazer, do que nós dois sentimos ao estarmos juntos, esta noite, não tranque sua porta --
declarou antes de beijá-la novamente e sair dali dando um grande passo.
***
Logan amaldiçoou de novo e de novo a chegada inoportuna de Josh. Ele estava prestes a tocá-la, notar a excitação que ela exalava entre as pernas e ver se o necessitava tanto como ele a ela, mas não teve tempo...ao ouvir o relincho de Galeón, rapidamente percebeu que o animal tinha cavalgado sem parar por bastante tempo. Algo havia acontecido com a jovem e não podia esperar para descobrir o que era. Se não controlasse a atitude das irmãs de Anne, ela se concentraria nelas e o deixaria em segundo plano e, por enquanto, queria ser o único projeto na vida da primogênita Moore.
Uma vez que atravessou a academia e pisou na galeria, seus passos não eram lentos, estudados e firmes, empreendeu uma ligeira corrida até chegar à porta da frente. Lá ele encontrou a Sra. Donner, que, como especialista em criação de animais, veio ao chamado desesperado do cavalo.
—Eu sei —Logan disse quando observou o questionamento no seu rosto —verei o que aconteceu.
—Milorde! Que não seja nada mau! —A cozinheira rogou, apertando as mãos e tocando os lábios de leve, como se começasse a rezar.
Logan abriu a porta e focou seu olhar no caminho em que Josh deveria aparecer. O aspecto do galope de Galeón era desesperado, quase frenético. Calmamente, ele não queria se mostrar inquieto, desceu os degraus e caminhou em direção à entrada do portão, onde a receberia e perguntaria o
que havia acontecido. Mas Josh não parou quando o viu parado ali, puxou as rédeas para a direita e continuou em direção ao estábulo. Então ele correu atrás dela, chamando-a pelo seu nome, tentando aplacar o demônio que tinha visto em seus olhos, mas ela estava tão focada no que queria fazer que não o escutava. Desceu do cavalo, como ele fazia, levantando a perna direita sobre a cabeça do animal e, quando ambas as plantas dos pés tocaram o chão, tirou algo que estava escondido sob a sela e caminhou até o servo que a estava esperando. Por causa da luz do sol brilhando sobre o objeto que ela segurava na mão e os olhos que o servo arregalou ao vê-la, não teve dúvida de que ela estava carregando uma adaga. Logan continuou correndo e quando chegou ao seu lado, pegou seu cotovelo para parar o avanço.
—O que diabos aconteceu, Josh?
Mas ela não respondeu, ainda apontando para o criado, virou a cabeça ligeiramente para ele e mostrou-lhe, com mais clareza, um rosto que o deixou petrificado. Tinha chorado. Josh tinha em suas bochechas os sulcos esbranquiçados que deixavam as lágrimas ao vagar por elas, mas em uma tentativa absurda de livrá-las, esfregou a lama que suas mãos possuíam.
Parecia um limpador de chaminés, apesar que Pit, o menino que ele pagava para limpar o interior de suas chaminés, não tinha fogo em seus olhos, e sim partículas de carvão.
—Eu vou matá-lo! -- Josh gritou com a adaga apontando para o
lacaio que lhe oferecera o cavalo. ?Vou cortar sua garganta, assim como queria fazer com ele! —Gritou, apontando com os olhos para o animal que, paradoxalmente, era o ser mais calmo dos que estavam em frente ao estábulo.
—Josh, por favor. Diga-me o que aconteceu? -- Insistiu enquanto deixava de agarrar o braço dela e se colocava entre o criado e ela. Se continuasse a manter essa raiva, logo saltaria sobre o servo atordoado e o esfaquearia. Sem dúvida, o sangue das irmãs era mais cigano do que Moore.
Quantas vezes testemunhou disputas entre os membros de seu povo? Quantas vezes observou como os corpos eram jogados, nos arredores do assentamento, para que os animais devorassem os cadáveres? Muitas. Até o dele poderia ter sido mais um, se a mulher que chamava de mãe não o tivesse salvado.
—Diga a ele! —A jovem uivou tão alto que sua garganta se esticou e afinou como o pescoço de um ganso.
Logan olhou por cima do ombro esquerdo para o criado e descobriu que estava tão confuso que seu rosto perdeu a cor da vida. Então olhou de volta para Josh e notou que toda a raiva contida se transformara em lágrimas. Mas, como bom soldado, ela queria eliminar a única coisa que a deixava vulnerável e as tirou com as mangas da camisa, uma que estava bastante suja. Ela teria caído do cavalo?
—O que está tentando dizer, Pascual? ?Perguntou, virando-se
para ele. —Tem algo para me explicar? —Seu tom suave, mas firme como uma rocha no meio de um rio, fez o servo se encolher.
—Ele queria matá-lo! —Josephine respondeu ao seu lado.
—Matá-lo? —Logan perguntou com aquela voz diabólica.
Franziu a testa e não desviou o olhar de Pascual. —Deve haver um engano, certo? Porque ordenei que ninguém tocasse nesse animal e, até onde sei, o que ordeno em minhas propriedades deve ser cumprido sem uma réplica.
—Pensa assim? —Josh arregalou os olhos e deu um passo à frente, mas Logan a parou colocando novamente uma mão no ombro direito dela.
—Quero que me explique o que aconteceu e por que chegou desse jeito —pediu a Josh sem olhar para ela, mantendo os olhos fixos no homem que, pelo movimento que seu corpo fazia, pretendia fugir a qualquer momento.
—Encontrei a marca da tentativa de assassinato em seu pescoço
-- declarou Josh, respirando fundo.
—Em Galeón? Tem a certeza? —Insistiu.
—Sim —Josh respondeu, enxugando as últimas lágrimas com a frente de sua camisa. —Quando parei na parte norte que indicou para mim, o cavalo ficou inquieto e quando lhe mostrei a adaga, para que se sentisse seguro ao meu lado, ele levantou as pernas como se quisesse se defender
contra a agressão. Quando consegui acalmá-lo, comecei a procurar o que eu temia e.... —ela soluçou -- eu o encontrei.
—Bem. Vou... Nem pense em fazer isso! —Disse ao criado que estava andando para trás para fugir.
—Milorde... Excelência... não tive outro... não queria matá-lo...
apenas tentei me defender quando...
—Cale a boca! Não quero ouvir nenhuma palavra! —Gritou.
Lentamente, ele se afastou de Josh, foi até o cavalo, que estava muito quieto e se colocou na frente dele. Este, percebendo e vendo a presença de seu mestre, levantou a cabeça, moveu as orelhas e relinchou alegremente.
—Olá Galeón. Se divertiu com o Josh? -- Falou baixinho enquanto colocava as mãos no pescoço molhado. -- Ela diz que você tem uma marca e quero comprovar que é verdade —continuou dizendo enquanto arrastava as palmas das mãos pela sua pele.
Depois de ficar entre os quartos da frente do animal, que não se movia nem para respirar, ele percebeu o início da marca. Era tão grande quanto as dimensões de uma das palmas de suas mãos e mais áspera que a textura da casca de uma árvore. Se afastou do corcel, sentindo a raiva de seu sangue cigano tomar conta de sua pessoa, caminhou com determinação para o criado, que olhou para ele com os olhos cheios de medo, colocou-se em frente ao mencionado e ergueu a mão direita com a intenção de dar um tapa
nele.
—Não! —Ele ouviu.
***
Depois de ficar em frente à tela por muito tempo, decidiu deixar o jardim e descobrir por que Logan estava preocupado quando ouviu o relincho de um cavalo. Enquanto caminhava pela interminável galeria, e confirmou que teria se perdido se a criada não tivesse explicado o caminho, pensou no momento especial em que viveram juntos. Não entendia muito bem como tinha ido do ódio à paixão, do desejo de matá-lo a querer que ele ficasse preso ao seu corpo todo o tempo e, sem contar, com a loucura que ambos obtiveram entrelaçando línguas cheias de seu próprio sangue. Eles se tornaram tão insanos que pareciam duas pessoas com sede de beber água de uma pequena poça de chuva. Mas, mesmo que esse ato não fosse sensato, tinha que compreender algo estranho que surgiu de dentro dela no momento em que o provou. Sentiu calor, então congelou. Viu luzes e depois apareceu a escuridão. Ouviu o som de pássaros cantando, mas quando virou a cabeça para o lado oposto, descobriu que o silêncio reinava e que apenas as respirações forçadas deles para poderem respirar. O que acontecia com sua mente? Por que lhe mostrava coisas que não eram verdadeiras? Por que se entregou a ele com tanto ardor? A causa desta entrega foi a paixão que surgiu de dentro dela para pintá-lo? Se abstraia facilmente quando se colocava na
frente de uma nova tela, mas isso não era motivo para ansiar tudo o que ele pudesse oferecer a ela. Havia deixado esse mundo quando observou seu olhar penetrante, ouvindo-o falar com aquele tom tão sedutor e inebriante. Seu corpo reagiu rapidamente, como se tivesse esperado toda a sua vida, como se seu passado tivesse sido apagado diante daqueles olhos e daquela voz. No entanto, precisava assimilar calmamente as emoções que haviam despertado dentro dela. Não poderia cair em outro erro e, assim como estava, não apenas tropeçaria, mas desta vez o buraco seria tão profundo que levaria anos para ver a luz de um novo dia novamente.
«Se não se arrepende do que acabamos de fazer, do que nós dois sentimos ao estarmos juntos, esta noite não tranque a sua porta». A voz do visconde apareceu novamente em sua cabeça para lembrá-la das últimas frases que ele disse antes de sair. Estava disposta a deixá-lo entrar? Seria capaz de fazer isso? Pela primeira vez em sua vida, a alma que mantinha sob seu peito e sua mente coincidiram, só esperava não errar e terminar como naquele dia.
Depois de um longo tempo andando chegou ao final do angustiante corredor, saiu e arregalou os olhos ao ver a cena que estava diante dela. Josh segurava uma adaga na mão direita e apontava ferozmente para o lugar de onde Logan vinha. Ele, mostrando uma solenidade sem precedentes, ficou na frente do criado, levantou a mão e, deduzindo Anne o
que aconteceria, correu para eles gritando que não o fizesse.
—Não! —Gritou horrorizada. —Por favor, não faça isso na nossa frente -- ela implorou.
Quando as orelhas de Logan captaram o grito de súplica de Anne, estranhamente relaxou. Ele estava tão calmo que parecia ter tomado dez xícaras de erva-cidreira. Imediatamente, baixou a mão e juntou-a na perna direita, para não voltar a sucumbir ao desejo de lhe dar um tapa.
—Vá! —Rosnou em uma voz tão áspera e cruel que se assemelhava ao diabo. —Saia das minhas terras agora mesmo! E espero que a vida o leve tão longe que nunca mais nos encontremos, porque se isso acontecer... pagará com juros por sua desobediência!
E o criado correu como um galgo.
Josh, ouvindo o tom que o visconde usava, permaneceu como um soldado e só pôde relaxar quando sentiu o corpo de sua irmã por perto, abraçando-a. Mas ela não desviou o olhar daquele bastardo até que estava fora de alcance.
—O que aconteceu? —Anne perguntou baixinho.
—Galeón é um mestiço —respondeu Logan, que tinha ouvido claramente. —Sua mãe escapou do estábulo ao entrar no cio e acasalou com um dos Percheron que o barão de Sheiton mantém em suas terras. É por isso que tem essa pelagem nos cascos e é muito diferente dos que mantenho no
estábulo. Desde que nasceu, não foi bem recebido entre os outros cavalos e, como descobri, não foi aceito pelo tratador —ele continuou explicando enquanto se virava para elas.
—Aquele bastardo queria matá-lo porque diz que os mestiços devem morrer —disse Josh oferecendo um olhar para sua irmã que ela entendeu rapidamente.
—Teve o que mereceu -- consolou-a Anne depois de beijar sua testa. -- O visconde cuidará para que ele não deprecie as misturas de sangue novamente.
—Claro —Logan resmungou. —E agora, se me derem licença, levarei Galeón aos estábulos para que possa descansar. Enquanto isso, senhorita Moore —disse ele a Anne -- poderá cuidar de sua irmã. Tudo o que precisarem será fornecido pela donzela ou pela Sra. Donner.
—Sim, milorde —disse Anne, um pouco mais calma. Abraçou Josh com mais força, virou-a e tentou levá-la para a residência, mas antes que tivessem dado alguns passos, a jovem afastou-se da irmã e correu em direção ao visconde, que já estava ao lado do cavalo, chorando amargamente.
—O que? —Logan perguntou confuso quando a viu em pé na frente dele. —Quer me dizer algo diferente de...?
Não terminou a pergunta por que Josh se jogou nele, abraçou-o e, com o rosto no peito, continuou com um grito agonizante.
—Sinto muito pelo que sofreu —disse ele, sem saber muito bem como agir em tal situação. Nathalie mal chorava e quando fazia ele era o culpado desse choro e seus outros irmãos, com quem ele viveu em Salved Children, costumavam se esconder nos braços de suas mães.
—Obrigada, Logan —Josh soluçou. —Obrigada pelo que acabou de fazer —continuou a jovem. Ela se afastou devagar do visconde, secou as lágrimas com os punhos da camisa e ergueu o queixo gentilmente. —É uma pessoa tão boa que, mesmo antes de nos conhecermos, respeitava as origens dos outros. —Essa declaração deixou Logan imóvel. —Sabia o que significa ser um mestiço e é por isso que sempre nos tratou com essa consideração --
disse ela, se referindo ao nascimento do cavalo e à bondade de mantê-lo vivo.
—Josh.... acho que... —o visconde tentou dizer, um pouco desnorteado pelas palavras da jovem.
—Nos entende! —Ela exclamou antes de abraçá-lo novamente e se deixar levar por outro choro desconsolado.
—Sim, Josh, eu as entendo perfeitamente —respondeu, acariciando os cabelos loiros e fixando os olhos em Anne.
No momento em que Anne ia sussurrar um agradecimento, a carruagem na qual Elizabeth viajara apareceu. Assim que estacionou na entrada, a porta se abriu e Howlett saiu primeiro.
—Que dia mais espetacular! —Eli exclamou, descendo com a
ajuda do jovem. —Acho que nunca me diverti tanto. É incrível Howlett e me ajudou muito. Juro que não sei o que teria feito sem você.
—Pode pedir ao visconde para que eu a acompanhe sempre que quiser, senhorita Moore —respondeu Howlett, incapaz de apagar o sorriso em seu rosto. —Sempre estarei disposto e orgulhoso em servir uma dama tão sofisticada.
Corando com o comentário, Eli caminhou até a porta, mas quando percebeu que suas irmãs e o visconde estavam à sua esquerda, se virou e....
-- Santo Céu! Onde esteve, Josephine? Tem um aspecto horrível
—disse espantada.
XXVI
Durante o almoço, Elizabeth não parou de falar sobre a viagem e tudo o que encontrou nas várias lojas que visitou. Depois daquele monólogo sem fim, no qual os outros não prestaram atenção porque tinham outras coisas para pensar, ela concluiu que o jardim ficaria muito grosseiro com apenas dois tipos de flores e foi por isso que acabou comprando cinco sementes diferentes. Também propôs ao visconde plantá-las naquela mesma tarde. Como esperado, Logan não se opôs ao seu desejo, pelo contrário, encorajou-a a não perder tempo. Uma vez que Eli ouviu aquelas palavras de apoio, não conseguiu esconder sua felicidade e manteve um sorriso de orelha a orelha pelo resto da refeição.
Na frente dela estava Josephine em absoluto silêncio e com um olhar perdido. Como os outros, seus pensamentos estavam longe do salão.
Embora ela tenha tentado eliminá-lo completamente de sua mente, esta se recusava a fazê-lo e a imagem do descarado, que a beijara sem o seu consentimento, apareceu em sua cabeça repetidas vezes, do mesmo jeito que surgia continuamente o arrepio que sentira quando percebeu seus lábios.
Lembrar-se daquele momento só fez com que sua raiva aumentasse tanto que desejou voltar no tempo para, além de jogar a adaga com mais força, dar-lhe um tapa no exato momento em que sua boca bateu na dela. Por que a beijou?
Por acaso interpretou, em algum de seus movimentos na luta imaginária, que poderia fazê-lo? Apesar de não desejar, mostrou a imagem de uma mulher tão descarada quanto Eli? Claro que não! Ela era uma guerreira e exibia uma atitude severa, forte e cruel. Mesmo assim, o ingrato ousou beijá-la apesar de sua aparência horrível. Seria um louco? Estaria tão transtornado que não era capaz de diferenciar entre uma dama elegante e um soldado manchado de suor e lama? Haveria homens que não procurassem por moças elegantes, mas jovens desastrosas? Essas e outras mil perguntas aumentaram a irritabilidade que a acompanhou durante o retorno, por isso chegou daquela maneira na residência. Não pretendia projetar sobre criado, que feriu Galeón, toda aquela raiva. Mas queria tanto matá-lo que o imaginou naquela figura assustada e desorientada. Por essa razão, se ela tivesse que encontrar uma parte culpada em sua atitude desesperada, tinha que apontar para ele. Poderia odiar tanto alguém? Ela deveria declará-lo como seu inimigo mais perigoso? Sim. O
odiava tanto que, se o reencontrasse, daria todos os golpes que não lhe deu quando ele afastou os lábios dos dela. Quando se lembrou daquele momento e do frio que sua boca sentiu quando se afastou, Josh se mexeu desconfortavelmente na cadeira.
—Está bem? —O visconde perguntou, observando-a tão inquieta.
—Ainda está com raiva?
—Estarei toda a minha vida —assegurou sem pensar. Embora não
tenha mentido. Nunca apagaria de sua cabeça a raiva que lhe causava aquele jovem miserável de cabelos acobreados com um peculiar tufo loiro.
—Se quiser, quando terminarmos o nosso almoço, podemos ir ao estábulo e verificar se o Galeón está em perfeitas condições —Logan comentou para tranquilizá-la, imaginando que a preocupação dela fosse devido à situação que haviam experimentado com o criado.
—Não gostaria de tomar mais do seu tempo —disse envergonhada por não ser capaz de relaxar ou esquecer o ruivo. —Como indicou, essa tarde acompanhará Elizabeth ao jardim.
—Posso fazer as duas coisas —disse, depositando o guardanapo branco na mesa. —Juro que fui treinado para isso -- ele disse ironicamente.
—Howlett pode tomar o seu lugar, se não se opuser —disse Elizabeth, que, pelo brilho em seus olhos, achou essa alternativa mais agradável do que ouvir mil reclamações do visconde, sabendo que ele não gostava de tais tarefas.
-- Isso significa que me considera inútil para fazer um buraco miserável na terra e colocar uma dessas sementes dentro? —Ele perguntou ironicamente.
—Não... sabe o que... —Eli tentou dizer, meio envergonhada pela proposta.
—Calma, não se preocupe, estava brincando. Certamente Howlett
é melhor companhia que eu. Kilby irá informá-lo de sua proposta e tenho certeza que ele ficará mais feliz em passar a tarde ao seu lado do que encarando os ternos que terei que usar nos próximos dias -- disse recostando-se na cadeira e sem tirar o sorriso do rosto.
Olhou furtivamente para Anne e não gostou de descobrir que ela estava com uma pose rígida. Ela não falara e mal comera. Ficou distante, tanto quanto Josh ou ele. Estaria pensando sobre o que aconteceu no jardim?
Se arrependia ou estaria considerando a possibilidade de deixá-lo entrar em seu quarto quando a noite chegasse? A segunda opção era tão agradável e prazerosa que seu corpo tremeu de ansiedade. No entanto, fez algo que não tinha feito até agora para se reprimir. Algo dentro dele gritava que não deveria tratá-la como as outras, que ela era especial e que precisava provar isso para ela. Mas... o que significava para ele o termo especial? Que poderia deitar com uma mulher que, debaixo de sua pele, tinha sangue tão cigano quanto o dele? Por isso estava tão feliz? Olhou para Eli, pois ela ainda estava falando sobre as flores, depois Josh, que continuava com uma carranca e finalmente voltou para Anne. O que ela tinha que a tornava tão irresistível?
Por que sua boca ainda sentia o sabor da sua pele? Era capaz de encantar um homem com um miserável beijo? Hendall sentiu a mesma paixão que ele havia sentido no jardim? Teria se entregado tão facilmente a ele? Agora, era ele quem franzia a testa era ela. Odiava o passado de Anne, odiava tanto que
queria fazê-lo desaparecer e, claro, naquela noite, na manhã seguinte ou em todos os momentos que pudesse, conseguiria. Ele apagaria todas as impressões de Dick e plantaria as suas, como Elizabeth semearia as sementes que comprou para aquela terra inútil. E Anne floresceria única e exclusivamente para ele. A única coisa a calcular era a maneira de fazê-lo sem sobrecarregá-la e sem que pensasse que ela seria outra amante que visitava.
—Então, conseguiu começar o retrato? —Elizabeth abandonou o tema das flores para que Anne reagisse imediatamente. Durante todo o almoço, ela permanecera em silêncio e expressava, descaradamente, que a presença do visconde ainda a incomodava. Não estava ciente de que Logan era um bom homem e que até agora só tinha feito coisas boas para elas? Se não mudasse de atitude, naquela mesma noite falaria em particular com ela e a colocaria em seu lugar.
—Sim —Anne respondeu sem levantar os olhos do prato.
Ela mal comeu aquela refeição deliciosa e tinha certeza de que a Sra. Donner lhe perguntaria o motivo e a repreenderia. Mas seu estômago estava fechado. A visão oferecida pelo visconde quando levantou a mão para bater no criado, apesar do fato de merecê-lo por desobedecer a uma ordem, deixou-a confusa e assustada. Nunca imaginou que ele pudesse adotar uma conduta tão severa, embora não deveria esquecer que era um aristocrata e que
muitos deles se faziam respeitar pela força. Em milésimos de segundo, o homem adorável, apaixonado e sedutor, que estava por perto, tornou-se o vilão mais terrível do mundo.
—Tenho que dizer que fiquei surpreso com a facilidade com que sua irmã pinta —declarou Logan, olhando para Eli. —Depois de me obrigar a posar de mil maneiras horrendas, ela permaneceu em silêncio, fixou os olhos na tela e se abstraiu do mundo que a rodeava. Imaginei essa atitude se devia por não ter encontrado o perfil bonito do meu rosto, mas estava errado.
Quando me aproximei dela, sem que sequer notasse minha presença, observei a beleza dos traços que fazia. Confesso que o talento dela me surpreendeu.
Por mais que tenha ouvido sobre o dom que tem, me recusei a acreditar até que vi com meus próprios olhos. —Esperava que esse comentário, mesmo que fosse um pouco doloroso, a afastasse de seus pensamentos e a fizesse participar da conversa. Não queria contemplar, por mais tempo, seu rosto aflito, como se lamentasse o que havia acontecido entre os dois. Ansiava rever aquela mulher apaixonada que o abraçou e se rendeu à luxúria.
—Nenhum dos clientes que teve até agora se queixou de seu trabalho. Anne conseguiu mostrar a beleza em todas as mulheres que retratou, embora algumas delas fossem tremendamente horrendas -- disse Eli, divertida.
—Elizabeth! —Anne exclamou, finalmente erguendo o queixo.
—Estou mentindo? —Replicou. —Esqueceu a filha dos Sharun?
Existe no mundo uma jovem mais desagradável aos olhos? No entanto, soube como a embelezar todos os traços que a enfeavam. Mas tenho que declarar que, embora aqueles pais atormentados estivessem muito satisfeitos, deveriam ter recriminado seu trabalho porque o que fez não era real.
—Aquela jovem tem um bom coração... —Anne murmurou olhando para Eli. —E é isso que eu coloco na tela. A beleza exterior não é eterna, como bem sabe. O que realmente fica com a passagem do tempo é o que está armazenado sob o peito.
—Bobagens! —Eli respondeu acrescentando um gesto de desdém com a mão direita. —Essa jovem pode ser muito bonita no coração, mas até agora... que bravo cavalheiro se atreveu a pedir-lhe uma dança? E isso que, segundo entendi, seus pais fornecerão um dote suculento para o marido ousado. Mas toda vez que comparece a uma festa, ela permanece escondida no canto mais distante da sala e é incapaz de responder quando solicitado.
—A timidez não é uma desgraça —Josh murmurou, lembrando de sua irmã gêmea.
—Eu sei. Mas se quer conquistar alguma coisa na vida, é preciso ter coragem e lutar —disse Elizabeth com orgulho.
—Nem todo mundo tem coragem —censurou Josh. —Muitas de nós nascemos com certo...
—Se pretende que me sinta culpada porque nossa irmãzinha está incluída no grupo de meninas tímidas e sem coragem, pode manter essa língua viperina dentro da sua boca. Madeleine é tímida porque ainda não é capaz de aceitar a beleza com a qual nasceu. Quando isso acontecer, sua personalidade irá mudar.
—Beleza? Agora diz que Madeleine é linda? Por favor! —Josh bufou, levantando-se. —Como ode ser tão cruel para falar assim? Faz isso porque ele está presente e quer fingir uma imagem que não lhe corresponde?
—Ela apontou para Logan com o dedo. —Bem, não continue, a hipocrisia não lhe cai bem. Devo dizer-lhe, visconde, que desde que posso ouvir claramente, minha amada irmã Elizabeth ria de nós porque ela diz que a cor do cabelo de Madeleine é semelhante à das cenouras e a minha à da mulher mais velha do mundo.
-- Eu —Eli exclamou, arregalando os olhos enquanto observava suas bochechas queimarem de vergonha.
—Sim. Não se faça de desentendida, irmã, porque isso não está dentro da personalidade descarada que tem —disse Josh cruzando os braços em frente à mesa e olhando como se quisesse rasgar aquele lindo penteado com flores rosa.
—O que há de errado com cor do seu cabelo? —Logan disse que, perante a nova discussão familiar, também cruzou os braços e manteve a
atitude de espectador.
—Ela diz que eu nasci com a lua na minha cabeça —Josh explicou com raiva. -- E que pareço mais uma bruxa do que uma menina católica.
—Por que diz isso a ela? —Perguntou a Eli, erguendo as sobrancelhas.
—Eu... eu... não digo...
—Porque meu cabelo não é loiro, mas sim branco! —Respondeu Josh. —Segundo minha querida irmã, isso —disse ela, pegando o rabo de cavalo e mostrando-o ao visconde —indica que sou velha, embora não tenha completado dezoito anos, e por essa razão apenas os homens octogenários vão me notar.
—Bem, me encanta seu cabelo quando o usa limpo —Logan disse calmamente —e tenho certeza que Madeleine é tão bonita quanto qualquer uma das senhoritas.
—Obrigado —disse Josh, fazendo com que toda aquela raiva, que sentia antes da disputa, fosse eliminada tão rapidamente que perdeu a força.
—É a primeira vez que alguém diz algo bonito sobre mim —acrescentou, sentando-se novamente.
—Todas são especiais —continuou Logan. —Cada uma tem algo que a torna única. Não acha que o mundo seria ridículo se todas as mulheres
fossem iguais? Para mim, particularmente, deixam em êxtase aquelas que têm cabelos escuros e olhos castanhos —ele confessou, olhando de relance para Anne para ver se ela ousava repreendê-lo por não cuidar de suas palavras na frente das irmãs. Mas nada, ainda seguia sem a menor reação. —E espero que muitos homens não tenham os mesmos gostos que o meu ou serei forçado a enfrentá-los quando encontrar minha esposa —acrescentou desconfiado. --
Tenho certeza de que seus futuros cônjuges as amarão tal como são e elogiarão suas diferenças.
—Eu não quero um marido —Josh murmurou.
—Realmente acredita que se manterá solteira para sempre? --
Perguntou o visconde, se levantando, um ato que as irmãs imitaram no momento. Bem, está errada. Não será capaz de se afastar do homem que, toda vez que a olhar, mostrará a necessidade de segurá-la em seus braços, protegê
la e amá-la até que a morte apareça.
—Isso é o mesmo que eu disse a ela —garantiu Elizabeth, estendendo a mão para descansar no braço de Logan. Mas ela não me escuta.
Se propôs a se tornar um soldado e....
—E a senhorita não deve humilhar suas irmãs para se sentir superior a elas —Logan interrompeu, repreendendo-a. —Lembre-se que cada um tem objetivos diferentes e não deve criticá-las para alcançar isso.
?Não me sinto inferior a elas —resmungou Eli.
?Ah, claro que não! Se sente tão extraordinariamente superior que se propôs a casar com um aristocrata —disse Josh com mordacidade.
—Podem parar de uma vez? —Disse Anne finalmente, caminhando ao lado de Josh. —Estão oferecendo um espetáculo embaraçoso.
—Eu já parei —disse Eli sem olhar para eles. —Mas não sou aquela que persiste, talvez devesse ordenar que Josh ficasse de boca fechada porque, como um bom soldado, jamais desobedeceria uma ordem.
—Vou arrancar esse seu coque! —Josh gritou, jogando-se em sua irmã.
Mas não chegou até ela, Logan se virou para a jovem, parou aquele salto que dera em Eli, empurrou-a para trás e se colocou no meio das duas. Com os olhos bem abertos, pois não podia acreditar no que havia se formado em um piscar de olhos, olhou para Anne e ela mostrou o mesmo assombro que ele. Como podiam passar de uma conversa absurda sobre flores para uma luta de puxar cabelo? Em que momento a conversa inocente passou para a guerra? Com as mãos abertas, para que Josh não procurasse a área mais adequada para tirar de Eli aquele penteado floral, respirou fundo e fez brotar a atitude do tutor ao qual se autoproclamou.
—Têm um segundo para reconsiderarem esse comportamento inadequado antes de decidir puni-las —garantiu, adotando o tom de um pai.
-- Se não demonstrarem arrependimento sincero, não sairão dos seus quartos
até que eu esqueça o que acabou de acontecer. É isso que querem, passar o resto da semana em seus quartos? —Olhou primeiro para Eli e depois para Josh.
—Não -- responderam em uníssono.
—Nesse caso, peçam perdão —insistiu o visconde com uma voz rouca.
—Sinto muito, Eli —disse, estendendo a mão para ela.
—Perdoe-me, Josh —respondeu, aceitando aquele gesto cordial e pacificador.
—Isso é muito melhor —disse Logan, afastando-se das irmãs —e agora, se precisam descansar, retirem-se para seus aposentos.
—Não posso ir aos estábulos? —Josh perguntou com tristeza. --
Quero ver como está Galeón e se o bom tempo continuar durante a tarde, gostaria de montá-lo novamente.
—Pode fazer o que quiser enquanto não se envolver em outra confusão —ele concordou.
—Obrigada! -- Exclamou alegremente. Se aproximou do visconde e, antes que ele pudesse reagir, o beijou na bochecha. —Não espere por mim para tomar o chá! —Gritou entusiasmada, correndo para a porta.
—Eli? —Ele direcionou a pergunta, levantando a sobrancelha direita.
—Se Howlett ainda puder me acompanhar, gostaria de aproveitar as horas do dia para iniciar os arranjos do jardim.
—Não há problema. Diga a Kilby para informar seu sobrinho sobre o novo plano e não saia de casa sem a presença dele. Espere, não vá, quero te pedir mais uma coisa -- disse, apontando com o dedo.
-- Sim? —Perguntou com uma atitude tão submissa que Anne pensou, por um momento, se o que estava observando era real ou outra de suas alucinações.
—Durante a sua estadia em minha casa, não quero que volte a dizer a Josh que ela é feia porque não é, entendeu? —Disse com firmeza.
—Não farei mais isso, prometo —respondeu, abaixando os olhos.
—Bem, nesse caso, também pode se retirar —concordou Logan.
—Obrigada -- disse. Fez uma leve reverência e, murmurando palavras que só ela ouviu, saiu do salão.
Silêncio... não sabia que amava tanto o silêncio até conhecer as irmãs. Como podiam ser tão voláteis? Eram mais perigosas do que cem homens confinado em seu barco! Como o pobre médico enfrentava situações como a que ocorreu? Deus o teria abençoado com o dom da paciência ou com a surdez? Caminhou lentamente para o lado esquerdo, separando-se de uma Anne imóvel, acariciou o rosto com angústia, virou-se para ela e olhou-a suplicante.
—Elas sempre se comportam assim? —Perguntou depois de suspirar e colocar as mãos em ambos os lados da sua cintura.
Anne olhou para ele sem piscar. Seu rosto refletia não apenas agonia, mas também desespero. Onde estava o homem que levantou a mão para o criado? E sua grosseria? Nada disso observava nele, parecia tão humano quanto o resto do mundo. Levou a mão à boca, para aplacar a risada que queria brotar diante daquela visão tão angustiante, mas não conseguiu silenciar o estrondo de sua gargalhada.
—Sim, sempre se comportam assim —disse entre respirações longas. -- Achou que seria fácil conviver conosco? Que seríamos tão dóceis quanto às mulheres que encontra em sua vida? —Acrescentou divertida.
Havia desaparecido. Os sentimentos tristes que suportou durante o almoço desapareceram imediatamente ao contemplá-lo na intimidade. Era tão vulnerável quanto ela e tão volátil quanto suas irmãs. Talvez, apenas talvez, sua atitude em relação ao servo tivesse uma razão diferente do que exaltar seu poder.
—Como seu pai controla nessas situações? —Exclamou, mostrando em seus gestos e em seu tom de voz uma angústia exagerada. Se tivesse finalmente quebrado o muro que Anne havia construído durante o almoço, estava disposto a que não levantasse novamente. Como concluiu, ele precisava encontrar a mulher escondida sob aquele olhar indescritível.
—Devido ao seu trabalho, é a minha mãe quem as chama a ordem
—respondeu, descobrindo que ele retornava para seu lado.
—Como consegue? —Retrucou, parado na frente dela. Suas mãos voltaram para o rosto e ele esfregou em desespero.
—Mantendo-as quietas ou firmes? —Queria saber. Sim, aquilo era tão improvável quanto engraçado. O grande sedutor parecia abatido pela atitude de duas pequenas jovens. E isso que Mary tinha ficado em casa! Ele não sabia nada do que poderia se formar em sua casa quando as cinco permaneciam juntas.
—Ambas as coisas —confessou, estendendo as mãos para o chão, como se estivesse resignado diante de uma situação difícil de controlar. Mas se quisesse executar o plano que tinha elaborado em milésimos de segundo, precisava continuar mostrando perplexidade, desespero e rejeição. Não era a irmã mais velha? Não ajudaria Sophia nos momentos mais difíceis? Bem, isso era o que devia lhe dar a entender, que estava vivendo o dia mais difícil de sua vida e que pedia sua ajuda. Uma vez que ela estivesse ao seu lado, lutaria com todas as armas de sedução para que a mulher que estava em seus braços e suspirava por suas carícias retornasse.
—Não sei, talvez minha mãe tenha o caráter certo para doutrinar suas cinco filhas, mas só ela sabe a verdade.
—Anne... —ele disse olhando-a com olhos suplicantes.
-- Sim, milorde? —Respondeu rapidamente adotando o tratamento cortês.
—Tem que me ajudar —disse, suportando a fúria que sentiu ao ouvir como ela colocava distância entre eles novamente.
—Para ajudá-lo em quê? —Estalou, arregalando os olhos.
—Nós não podemos deixá-las sozinhas. Estou com muito medo de que, embora tenham me prometido, procurem um momento para se envolver em outra discussão e não tenho a menor dúvida de que o penteado de Eli será jogado fora de sua cabeça —explicou com aparente aflição.
-- Se deram a sua palavra, certamente irão obedecer —defendeu-as como qualquer irmã mais velha faria.
—Minha irmã Natalie também fez muitas promessas a Roger e, entre elas, jurou que nunca se casaria com o sobrinho de Arthur Lawford. E o que aconteceu?
—Se casou com ele... —murmurou Anne, confusa ao ouvi-lo falar sobre um assunto tão particular.
—Exatamente! —Exclamou caminhando para a saída. —Preciso de você Anne, muito mais do que pode imaginar.
Essas palavras foram mais sinceras do que esperava. No entanto, no contexto em que as usou, não eram diretas nem estranhas. Se sua experiência não falhasse, Anne era uma das pessoas que não eram capazes de
se recusar a ajudar os outros e ele seria o homem mais necessitado do mundo.
—Pretendia passar o resto da tarde matizando o esboço... --
alegou olhando para o chão e esfregando as mãos.
—Perfeito! —Direi a um dos servos para mover o cavalete e tudo que precisa do lado de fora. Enquanto continua com a tela, ficarei de olho nessas duas pequenas criaturas ferozes. —Ficou parado na porta, esperando que ela avançasse, mas não o fez. O que acontecia? Não sentia vontade de acompanhá-lo? Ou talvez...
Pensando sobre esse possível, talvez, que não tinha notado porque sua cabeça estava concentrada em como aplacar a discussão das irmãs, Logan voltou para o seu lado, colocou um dedo sob o queixo de Anne e levantou-o gentilmente. Vendo que seu rosto mostrava tanta confusão quanto antes, se aproximou devagar e lhe deu um beijo carinhoso nos lábios.
—O que há de errado? —Ele murmurou, mal tirando a boca da dela. —O que a preocupa? Se arrepende do que fizemos no jardim? Não quer que esteja ao seu lado? Por que não me chama de Logan quando estamos sozinhos?
—Não acha que nos deixamos levar por uma emoção absurda? --
Perguntou olhando em seus olhos.
—Emoção absurda? —Repetiu, permitindo captar em seu tom de voz que essa descrição o machucou. —Não. Não acho que me deixei levar
por algo assim. Acho que mostrei a atração que sinto por você e que, embora devesse ficar longe, pois está sob minha proteção, não posso e não quero --
declarou severamente.
—Mas...
—sussurrou,
abaixando
o
rosto,
um
que
instantaneamente levantou com a ajuda da mão direita de Logan.
—Não há mas, Anne. Sinto-me tão atraído por você que até ponderei a ideia irracional de que me enfeitiçou. Tenho que ser honesto em lhe dizer que, desde que apareceu em minha vida, faz com que eu seja uma pessoa diferente, uma que esquece... —Vendo que ela tinha a intenção de perguntar a que se referia, continuou olhando-a nos olhos: Sabe porque no final eu não bati naquele maldito criado?
—Não... —murmurou.
—Porque ouvi sua voz. Se não tivesse aparecido, teria lhe dado uma boa lição. No entanto, tê-la, ouvi-la e senti-la, faz com que recupere a sanidade e que apareça em mim o homem que verdadeiramente sou.
—E? Quem é? -- Insistia em descobrir enquanto seu coração batia em um ritmo desenfreado.
—Fique comigo e te mostrarei. Temos vinte e oito dias para que descubra —disse separando-a apenas o suficiente para ela segurar o seu braço.
—Não deve provar nada. Não pretendo...
—O que não pretende, Anne? Me enfeitiçar? Bem, já o fez --
disse antes de tomar uma de suas mãos e, entrelaçando os dedos com os dela, levou-os à boca e os beijou carinhosamente. —Prometo que deixarei minha alma descoberta, que será capaz de ver o homem que realmente sou e, se não sentir aquilo nasceu em mim, a deixarei partir.
—Como pode me dizer essas coisas? Como te ocorre me perturbar? Como...?
Anne não terminou sua última pergunta, Logan a silenciou com outro beijo, embora esse não fosse suave ou doce, mas apaixonado, louco, descontrolado, lascivo. Seu corpo reagiu rapidamente ao calor de sua boca, ao movimento de sua língua dentro dela, às carícias que fazia em seu rosto com a mão que não entrelaçava a dele. Se sentia tão fraca, tão frágil, que duvidava que pudesse ficar em pé por muito tempo.
—Digo essas coisas porque vejo que corresponde com a mesma intensidade —sussurrou entre suspiros. ?E agora, minha querida Anne, se não quer que levante a saia desse vestido marrom e me deixe levar pela necessidade de torná-la minha, vamos sair daqui.
Muda e com a respiração agitada, Anne aceitou o braço do visconde. Caminhou ao lado dele até que saíram, como se fossem dois recém-casados, que mal conseguem se separar. Abriu a porta e convidou-a a passar na frente. Uma vez que se colocou na varanda do lado de fora, uma brisa
suave acalmou a abrasão que notou em suas bochechas e a luz suave dos raios de sol a fez fechar os olhos ligeiramente. Colocou a mão direita na testa, usando-a como um escudo, olhou em volta e sentiu-se estranhamente feliz.
Por que sua confissão lhe trouxe tanto conforto? Será que não entendia que a única coisa que conseguiria seria se tornar outra amante do visconde? Era isso que queria? No momento em que uma dor estranha apareceu em seu ventre, como se estivesse lutando contra aquela ideia nefasta, um pássaro grasnou no céu. Com a mão apoiada na testa, como se fosse um soldado, levantou o rosto e ofegou ao descobrir que um imenso corvo estava voando sobre ela.
—Me acompanha? —Logan perguntou, novamente estendendo o braço para que ambos pudessem descer os degraus que os levariam à imensa esplanada verde.
—Sim —respondeu Anne depois de aceitá-lo sem hesitação.
Quando desceram juntos, enquanto ele começava a conversar sobre como encontrara aquele lugar e a razão pela qual o adquiriu, o corvo continuou voando sobre eles e não desapareceu até que, três horas depois, Anne e Logan voltaram para a residência.
XXVII
O silêncio reinava novamente no corredor...
Anne se encostou à porta do quarto e suspirou. Fazia três dias desde que o visconde lhe pedira para não trancar a porta para deixá-lo entrar, mas ele não aparecera. Na primeira noite, enquanto esperava por ele, sentada em sua cama, bateram na porta. Com o coração pulsando na garganta, porque achava que era ele, caminhou em direção à saída e, descobrindo quem era, teve uma estranha sensação de alívio e tristeza. Elizabeth, depois de passar a tarde trabalhando no jardim, pareceu agradecer-lhe pela mudança de atitude que demonstrou ao visconde durante o jantar. «Sabia que no final se renderia ao seu encanto», disse no meio da conversa. E não tinha ideia de quanta verdade suas palavras possuíam. No decorrer daquela tarde, falou com ele como se se conhecessem desde a infância. A conversa entre eles passou de contar a história de como e por que comprou Harving House, ao momento em que viajou pela primeira vez no navio, a tensão que sofreu por ser responsável por tantos homens sob suas ordens e a satisfação que sentiu ao retornar. Então continuou falando sobre seus irmãos, até narrou milhares de aventuras que viveu com Nathalie e ele crianças. A chegada de Evelyn à vida de Roger e como sua casa se encheu de felicidade diante do inesperado nascimento de Evah, a filha do marquês. Mas essa conversa amigável mudou
quando ele tentou descobrir coisas sobre ela.
—Por que deseja partir para aquela cidade? -- A pergunta a surpreendeu tanto que não sabia o que responder. —Alguém te falou sobre ela? -- Ele persistiu, movendo lentamente o caule de uma margarida que havia cortado do jardim.
Anne olhou para ele timidamente. Devido ao calor, tirou o paletó e mostrou uma atitude muito íntima e relaxada, quando se recostou no banco de pedra e esticou as longas pernas.
—Sim —disse finalmente.
—O que ele lhe disse para que quisesse experimentar a agonia de fazer uma viagem tão longa? —Insistiu.
—Que encontraria a paz que procuro. ?Fixou os olhos na tela novamente e, apesar do fato de que sua mão estava tremendo, continuou a moldar o contorno de suas sobrancelhas. Como podia ser tão diferente? No jardim, enquanto foram mantidos longe de qualquer observador, se mostrou como o conquistador de mulheres que era. No entanto, naquele momento, não havia sedução em seus gestos ou palavras, mas sim cumplicidade, familiaridade e simplicidade.
—Por causa da maldição? —Perguntou antes de colocar o caule pequeno em seus lábios, como se fosse um cigarro. Cruzou os braços sobre a cabeça e fechou os olhos. ?Pensa que ali desapareceria?
—Não —respondeu sem olhar para ele.
—Então? Por que insiste em partir? —Insistiu sem mover nada além do peito enquanto respirava.
—Uma mulher deve construir bom futuro se ela se recusar a procurar um marido que a mantenha —declarou com sinceridade.
—Entendo... —murmurou antes de permanecer em silêncio.
Quando pensou que o assunto tinha acabado, que ele já havia deduzido que seu propósito era se tornar a famosa retratista que sua mãe lhe disse, se incorporou no banco para se sentar, olhou para ela, como se tivesse testemunhado um milagre e disse:
—É uma cidade muito libertina. Sabia?
—Não —respondeu secamente.
—Nesse caso, fico feliz que esta viagem tenha sido cancelada.
Certamente não gostaria de ver homens e mulheres se renderem a uma paixão passageira em qualquer canto das ruas.
Esse comentário ousado deixou-a tão surpresa que o carvão atingiu o chão. Quando se abaixou para pegá-lo, ele já estava ao seu lado, para ajudá-la. Os dedos de sua mão direita sentiam as carícias dele e não pode deixar de se sentir oprimida por aquele toque suave e delicado.
—Teria morrido de tristeza se descobrisse o que é capaz de me fazer sentir e me encontrar na horrível obrigação de abandoná-la em um
lugar tão distante —sussurrou enquanto ambos se levantavam ao mesmo tempo. —O que eu faria sem esses olhos castanhos, incapaz de sentir o perfume do seu cabelo ou poder olhá-la quando quisesse?
Um golpe. Anne sentiu um golpe terrível no estômago. O que pretendia? Enlouquecê-la com palavras doces? Era assim que tratava todas as mulheres que passavam por sua vida? E depois? O que aconteceria depois? E ela? Como suportaria uma experiência semelhante com o visconde? Tinha que se recusar a sentir, desejar, ansiar por ele, mas lá estava ela, com um estupor semelhante ao que teria uma jovem inocente quando um de seus pretendentes desejasse deixá-la apaixonada por doces e frases estudadas.
—Não se lembra de que matei os dois homens que decidiram se apaixonar por mim? —Fez a pergunta para se defender de suas próprias emoções. Não podia contemplá-lo com desejo, nem o observar como se fosse o único homem no mundo. Precisava lembrá-lo que estava amaldiçoada e que ele poderia terminar da mesma maneira...
—Não eram apropriados —respondeu com um sorriso tão lindo e atraente que Anne não conseguia tirar os olhos daquela boca que, momentos antes, havia provado.
Não havia lhe dito que estava enfeitiçado? Bem, amargamente, ela também estava. Uma voz estranha retumbou em sua cabeça com tanta
intensidade que pensou que explodiria. Não, não podia se deixar levar pela atração que sentia, nem por essa selvageria que despertava toda vez que olhava para ela. Ou adotava a postura correta ou acabaria nua em sua cama ou na dela. Essa visão, que sua mente rapidamente projetou, agradou-a tanto que um calafrio correu da ponta dos pés até a cabeça.
—Está com frio? —Perguntou e, sem ouvir a resposta, pegou sua jaqueta, se colocou atrás dela e a pôs sobre seus ombros lentamente. E, depois de dar uma rápida olhada ao redor para confirmar que estavam todos ocupados, esfregou seus braços e, pouco antes de se afastar, deu-lhe um beijo no pescoço. —Conheço muitas maneiras de aquecê-la, mas este não é o momento certo para demonstrá-las.
Outro golpe no estômago. No entanto, esse foi acompanhado por uma dor angustiante entre as pernas. Sim, claro, aquele ladino tentava seduzi-la até que gritasse para que oferecesse tudo o que propunha, mas... O
que deveria fazer? Resistir? Lutar com todas as suas forças? Por que? Não era mais uma mocinha virtuosa, há muito que perdera a inocência e, segundo sua mãe, logo poderia fazer o que quisesse sem ter que dar explicações. Além disso, qual era uma das razões pelas quais queria ir a Paris? Sentir-se viva, querida e imersa em um turbilhão de paixões que apaziguaria essa necessidade que renascia nela com mais força. Seu sangue cigano havia despertado e ansiava pelo que ele queria lhe dar.
Observou-o sentar novamente e adotar essa postura casual e familiar. O que pretendia?
—Foi na segunda viagem que fiz àquela cidade —continuou Logan -- quando fiquei hospedado no bordel da senhora Gautier.
—Como disse? —Perguntou, segurando o carvão com tanta força que se partiu em dois.
—Que me hospedei no bordel da senhora...
—Como é capaz de comentar uma coisa tão íntima? —Censurou.
—Disse na sala de estar, que mostrarei minha alma e que parte da minha vida está dentro dela. A escandaliza? Não achei que faria pois, como descobri, manteve um relacionamento apaixonado com Hendall.
—Não vejo isso como apropriado —murmurou, fixando os olhos na tela novamente e escondendo atrás desta o embaraço de suas bochechas.
—Bem, se ficar escandalizada ao descobrir por que me chamam de Logan, o conquistador, pode me fazer às perguntas que achar melhor --
comentou divertido. ?Embora, garanto que iria gostar da história.
—Realmente acha que me faria feliz saber o que fez com essas mulheres? -- Falou indignada quando colocou as mãos na tela e olhou por cima.
-- O que observo é ciúme? ?Alegou ainda mais divertido e um pouco orgulhoso. Se virou para ela, colocou as solas dos sapatos no chão e
sorriu. ?Não imaginei que abrigasse esse tipo de emoção sobre mim.
—Não estou com ciúme —resmungou, se escondendo atrás da pintura novamente. ?Mas sinceramente, sei que não gostarei desse assunto.
—Bem, vamos mudar a conversa... —disse, descansando os cotovelos nos joelhos. —Como foi sua infância? Sempre quis ser retratista?
Qual imagem achou mais difícil? Por que se apaixonou por Hendall?
Ninguém a informou que era um mulherengo, que suas empresas estavam falidas e que só voltariam à tona se conseguisse casar com a filha de um bom homem?
Tremor. O corpo tremia. Podia sentir o movimento selvagem até de seus cílios. Esse era o objetivo do visconde? Descobrir por que se comprometeu com Dick? Com qual razão? Ridicularizá-la? Bem, não conseguiria!
—Conhecia a reputação de Dick -- assegurou em uma voz firme e forte -- mas me jurou que, uma vez que estivéssemos noivos, seu passado seria deixado para trás. Não fez essa promessa a nenhuma de suas amantes?
—O atacou.
—Não, porque isso seria uma mentira e não gosto de enganar as pessoas. Elas sempre souberam da posição que lhes dei e não haveriam outras possibilidades —respondeu com extrema contundência.
—E ainda assim continuaram? —Perguntou perplexa.
—Não acha que mereço o esforço? —Contestou, esboçando um grande sorriso.
—Não. Conheci muitos homens mais bonitos. -- Ela mentiu porque queria acertar seu ego da mesma maneira que fazia com seu estômago sempre que falava sobre algo que não deveria e a fazia sentir aquilo que era proibido.
-- Não? Uau! Isso partiu meu coração, senhorita Moore. Como poderei recompô-lo? —Comentou com aparente aflição.
—Tenho certeza que superará—murmurou, escondendo o rosto sorridente atrás do retrato.
—Não tem a sensação de que nos conhecemos a vida toda? --
Perguntou ao ar quando se deitou no banco de pedra. —Porque eu sim. --
Permaneceu em silêncio, pensativo, depois virou a cabeça para ela e procurou o seu olhar. Não encontrou, escondia atrás daquele grande cavalete: —Sabe? Nunca falei, tão calmamente com uma mulher, enquanto tentava aplacar a ereção que guardo sob as minhas calças.
Três. Aquelas palavras produziram o terceiro golpe em seu estômago e uma sensação tão agradável que sentiu seu corpo reagir instintivamente. Como poderia ser tão canalha? Teria descoberto que ela enlouquecia com palavras e situações descaradas, essas que se assemelhavam tanto com seu sangue dominante? Porque, para qualquer
cigana que se preze, bajulações como essas faziam seu corpo ferver.
E quando planejou repreendê-lo novamente, ouviu como o cavalo, no qual Josh cavalgara a tarde toda, estava se aproximando.
—É lindo! Maravilhoso! Incrível! —Exclamou Josephine, recompensando as façanhas do animal com fortes carícias no pescoço.
—Bem, a amazona também fez um ótimo trabalho —Logan comentou, levantando de um salto. De repente, o homem canalha que havia estado ali, mudou para se tornar o tutor responsável. —Da próxima vez deve lembrar que Galeón salta melhor quando a distância é curta. Avança muito rápido e solta no meio do caminho -- explicou enquanto acariciava o pescoço do cavalo.
—Poderia me ensinar, se isso não o fizer perder muito tempo --
disse Josh, com os olhos brilhantes de emoção.
—Boa ideia. Se desejar, amanhã, depois do café da manhã, poderíamos dar um longo passeio. Lá em cima —apontou para o lado esquerdo, exatamente onde uma pequena colina estava —há troncos caídos pela última tempestade. Eles servirão para que eu possa ensinar como fazê
lo pular.
—Sim! Sim! —Gritou a jovem cheia de alegria. —Estou encantada! O que acha, Galeón? Sim, de verdade? —Disse, inclinando-se para a pele do cavalo como se estivessem conversando. —Acho que ele
também gosta da ideia.
—Nesse caso, faça-o retornar ao estábulo e dê-lhe comida e bebida. Tem que recuperar forças para amanhã.
—Às suas ordens! —Respondeu Josh, levantando a mão direita na testa antes de chicotear Galeón.
—É impressionante... —Logan refletiu voltando ao banco. Juro que ela é a mulher mais corajosa que já conheci. Tenho certeza de que se ela tivesse nascido homem, a Grã-Bretanha estaria a salvo de qualquer inimigo
—disse sentando-se.
—Mas não é —disse Anne, sem se afastar da pintura —e ela tem que assumir isso mais cedo ou mais tarde.
—Verdade —disse sem poder desviar o olhar da jovem. —Não entendo porque quer manter um comportamento tão masculino, odeia a realidade?
—A de ser mulher? —Perguntou e o visconde afirmou com um leve aceno de cabeça.
Colocou o carvão em uma sacola que pendia do cavalete e, observando que a jaqueta deslizava entre seus braços, acabou colocando as mãos nas mangas. O calor que proporcionou a roupa do visconde e o perfume que emanava dele a relaxaram. Mas ele não podia descobrir que ela também estava confortável, ele usaria aquele momento para fazer outra
pergunta inapropriada. Por essa razão, conteve todos os músculos de seu rosto, limpou o carvão das mãos em um dos panos que comprou e avançou para o lado esquerdo, na direção oposta à do visconde.
—Deve entender que o comportamento que mostra não corresponde à sua natureza, embora isso, de certa forma, a torne mais especial. No entanto, deve estar ciente de que não pode alcançar tudo o que pretende alcançar. Sem ir mais longe, a noite que passamos bebendo na pousada...
—Ato que estava fora de lugar porque Josh não deveria ter bebido como se fosse um velho bucaneiro —o interrompeu em reprimenda.
—Mas tenho que confessar que veio muito bem para nós dois --
se defendeu, incapaz de eliminar o sorriso. Por fim, a irmã protetora veio à tona, assim como já estava começando a ouvir como seu tom de voz não era tão esquivo. Havia declarado que mostraria sua alma, apenas esperava que Anne fizesse o mesmo. —Ela me contou sobre seus sonhos e tive que explicar que eles não seriam reais.
—O que disse? —Perguntou, virando-se para ele bruscamente e mostrando clara evidência de terror em seu rosto.
—Que os soldados não a veriam como iguais e que acabariam violando-a -- declarou sem se importar.
—Por que foi tão cruel?
—Não fui cruel, Anne, mas sincero. Ela precisa que falem com clareza e não ser enganada. Já disse que não gosto de mentir, muito menos a uma jovem como ela. -- Sua voz não vibrou nenhuma vez. Expressando em cada palavra uma franqueza convicta.
Anne olhou na direção que Josh havia tomado, esfregou os braços e, embora fosse ilógica, sentiu o toque da jaqueta do visconde e se acalmou novamente. Talvez não fosse certo que ele falasse com ela dessa maneira tão direta, mas não podia culpá-lo. Era a primeira vez que alguém falava com Josh com tanta sinceridade. Só esperava que ela não esquecesse a parte mais difícil desse sonho que estava determinada a alcançar.
—O que acontece com Madeleine? —Perguntou, levantando-se e caminhando em direção a ela. Só parou de andar quando se colocou nas suas costas.
—Nada. Ela é perfeita. A única coisa que acontece é que sua timidez a impede de conversar com outras pessoas que não sejam nós.
—Bem, ouvi a voz dela e admito que era angelical —disse sem se mover do seu lado.
Logan respirou fundo, pegando todas as partículas invisíveis que Anne emitia de seu perfume. Se perdia.... Sim, estar tão perto dela fez com que ele se perdesse em um mundo que, até o momento, desconhecia.
Desejava abraçá-la, consolá-la, sussurrar que ele sempre a ajudaria e que
não deveria temer o que poderia acontecer entre eles, porque nem mesmo a maldição poderia separá-los. Mas não era o momento, precisava de mais tempo. Um em que ela descobriria quem ele realmente era e o aceitaria. Que não gostava de enganar? Bem, mentiu sobre sua origem por trinta e três anos! O que ela pensaria se descobrisse? Seria capaz de amar o cigano e o Visconde? Ou só aceitaria o homem que ostentasse um título nobre?
—Talvez, com o tempo, encontre uma pessoa que a faça sair da caixa de cristal em que ela decidiu viver —disse Anne como reflexão sobre Madeleine.
—E você? Deixará a gaiola em que se trancou?
O hálito quente do visconde roçou a pele de seu pescoço, causando outro arrepio. No entanto, desta vez, não esfregou os braços, mas estendeu as mãos para o chão. Como poderia derreter tão facilmente a frieza que ela criou por tantos anos? Desejava o contato de um homem ou apenas dele? Por que abandonou a integridade da qual se orgulhava? O que tinha ele de especial para seu corpo admitir que o havia esperado toda vida?
—Não estou enjaulada, milorde —disse, virando-se para ele.
Seus olhos. Aquelas írises azuladas olhavam para ela com tal desejo que permaneceu imóvel. Esse coração que se manteve letárgico por muitos anos batia desenfreado e sua mente, irracional toda vez que estava na frente dele, apenas gritava havia chegado o momento de se render ao óbvio.
E, de acordo com isso, essa evidência consistia em que se entregasse ao homem esperado. Sua mãe teria razão? Os sonhos seriam verdadeiros? Não, não poderia ser. A pessoa que esperava tinha sangue cigano e o visconde, exceto pela cor de seu cabelo, em tudo o mais, mostrava sua origem aristocrática. Então... o que teria ao seu lado? Um romance que terminaria no mesmo dia do seu contrato? É isso que desejava?
—Está —garantiu, trazendo sua boca perto da dela -- mas não demorará muito para começar a voar, porque serei o homem que abrirá a porta dessa maldita gaiola.
—Pelo amor de Deus!
O grito de Elizabeth fez Logan saltar rapidamente para trás e Anne ficar rígida como uma tábua. Ambos pensaram que os descobrira, mas não era assim. A jovem olhava para as saias de seu vestido enquanto sacudia as manchas de lama com fúria.
—O que acontece? -- Anne perguntou, saindo para encontrá-la.
—A terra é terrivelmente má! —Ela exclamou horrorizada. --
Howlett e eu devemos arejá-la muito se quisermos semear algo naquele terreno inerte.
—Arejá-la? Não acha que a brisa que temos durante a manhã é suficiente? -- Brincou Logan, que chegará à tela e olhava como se a estivesse estudando.
—Não me refiro a esse tipo de ar! —Respondeu divertida, Elizabeth.
—Não? —Logan respondeu, levantando ambas as sobrancelhas, expressando sua incerteza desta maneira.
—Temos que fazer pequenos furos na superfície para que o oxigênio atravesse a terra. Dessa forma, as futuras raízes permanecerão saudáveis e não apodrecerão.
—Achava que as folhas eram as que precisavam de oxigênio, não a raiz -- prosseguiu Logan, acentuando o tom de perplexidade.
—E é verdade —disse Eli, tirando o chapéu. No entanto, se alimentam pela raiz e, se não estiver saudável, morrerão.
—Explicou isso ao jardineiro a quem pago uma grande fortuna para cuidar deste lugar? Seria conveniente informá-lo que precisa fazer pequenos furos em toda a propriedade —explicou sarcasticamente.
—Está brincando, certo? —Eli perguntou, mostrando um grande sorriso.
-- O que acha? —Respondeu antes de estender o braço para ela e voltarem para dentro da residência.
Durante aquela noite, Josh não parou de falar sobre a magnífica tarde que passara com o cavalo e Elizabeth do bom relacionamento com Howlett. Ambas estavam entusiasmadas e ansiosas pelo novo dia que viria.
Quando se retiraram para seus quartos, Anne as acompanhou e ficou no quarto o esperando que Logan aparecesse, mas as horas passaram e, exceto pela breve visita de Eli, para falar sobre sua mudança de atitude, permaneceu sozinha até adormecer. No dia seguinte, quando desceu para o café da manhã, Josh e o visconde saíram para o passeio que ele prometera. Elizabeth continuou com seu trabalho de cultivo e ela se abrigou em uma sala, que Kilby havia preparado, para avançar na pintura. Passou a manhã inteira suspirando, se lembrando das sensações que sentiu por tê-lo tão próximo e ansiando por ele. Essa última a deixou bastante inquieta, porque não podia decidir se essa ânsia se devia ao fato de ter passado a noite sozinha ou que, na verdade, começava a gostar da companhia dele, apesar de se comportar com tanta ousadia quando estavam sozinhos.
Realmente queria contar para ela sobre suas amantes? Como era possível falar sobre esse assunto particular sem se importar com a imagem que isso lhe daria? «Não tem a sensação de que nos conhecemos a vida toda?
" Sim, ela tinha, mas não devia confessar esse pensamento tão facilmente.
Primeiro tinha que assumir a razão pela qual se sentia tão diferente quando estava ao seu lado. Uma vez resolvida essa questão, se concentraria nas outras.
À tarde, desse mesmo dia, foi muito semelhante à anterior.
Enquanto Eli continuava com o plantio das sementes, Josh cuidava do cavalo
com cuidado. O visconde acompanhou-a até os estábulos, para continuar dando conselhos sobre uma boa equitação. Ela, pelo contrário, olhava para o esboço sem saber como continuar. Era a primeira vez que lhe faltava inspiração. Não conseguia avançar, ou talvez não quisesse fazê-lo sem que ele estivesse ao seu lado. Era hora de voltar e não havia dado nenhum mísero traço novo. Tudo permanecia o mesmo até que ouviu um tremendo grito.
Levantando os olhos e os direcionando para o lugar de onde veio aquele uivo de felicidade, observou Josh abraçar o visconde com tanta força que o teria dividido em dois, se não possuísse um porte tão forte.
—Ele o deu para mim! O Galeón é meu! —Ela gritava eufórica sem parar.
Por essa razão, durante a noite, a única pessoa que a visitou foi Josh. Estava tão animada com o presente do visconde que não conseguia dormir.
E a manhã daquele dia chegou. Esperava, desejava e precisava que ele ficasse ao seu lado, que aquele homem descarado e atrevido que costumava falar com ousadia ou roubar um beijo retornasse. No entanto, ele não ficou em Harving. De acordo com Kilby, o senhor teve que sair para resolver certos assuntos administrativos. Anne não tinha certeza se a raiva que a abalara naquele momento era pelo tom que o criado usara para falar com elas ou o fato de que ele estava se distanciando dela novamente. Seja o
que for, até que ele apareceu para almoçar, tinha um humor de cachorro e esteve prestes a quebrar a tela mil vezes.
Por que agia dessa maneira? Não lhe disse que despiria sua alma?
Então... por que prestava mais atenção às irmãs do que a ela? Exceto por alguns olhares furtivos, que poderiam ser oferecidos durante o almoço e o jantar, não havia mais nada. Nem beijos, nem palavras, nem toques intencionais. Frio. Parecia que tinha se transformado em um bloco de gelo.
Teria perdido o interesse nela? Teria percebido que não era uma mulher adequada para ele?
Depois de suspirar profundamente e se resignar ao óbvio, voltou para a cama. Era a terceira noite e, como nas anteriores, nada aconteceria entre eles. Talvez ele tenha pensado melhor em sua maldição e concluiu que seria melhor evitá-la. Se fosse assim, agora ela não só ficaria confusa com as emoções que surgiam cada vez que o olhava, com suas roupas elegantes ou com aquele sorriso que dedicava às suas irmãs, mas também por causa daquele desejo que aumentava com as horas.
Lentamente, sentou-se no pé da cama, atirou-se para trás e, com as mãos estendidas nos travesseiros, olhou para o teto. Tinha que se concentrar em fazer o seu trabalho. Não podia ocupar sua cabeça com bobagens. Não era tão jovem para encher a cabeça de pássaros. Seu passado, esse que alguém revelou para o visconde, era um muro que não podiam pular,
embora naquela tarde ambos foram levados por uma paixão repentina. De olhos fechados, enfiou os dedos sob os travesseiros. Como Josh disse, o cetim tinha um toque suave que a convidava a nunca sair da cama. Então, as pontas da mão direita tocaram alguma coisa. Surpresa, ela se virou e colocou os joelhos no colchão, rapidamente levantou o travesseiro e olhou para o papel, no qual ele colocou seu nome, há algum tempo.
Ele. Ele tinha escrito. Essa e forma de ligar as letras, unir a letra A com o primeiro N era dele. Com o coração a mil e as mãos trêmulas, acabou pegando a nota.
Minha querida Anne:
Perdoe-me por não ter vindo ao seu quarto durante estas noites.
Acredito que, embora quisesse com todas as minhas forças, não devia fazê
lo. Como disse na primeira tarde que passamos juntos, é especial e quero provar isso para você. Senti sua falta porque gosto muito de estar e conversar com você. Te disse que me sinto tão calmo ao seu lado que parece que a conheço toda a minha vida? Sim, eu disse, mas faz tanto tempo que quero repeti-lo toda vez que tenho a chance.
Tenha um sonho feliz. Claro, tenho que estar nele para que seja.
Se não conseguir dormir, me encontrará no nosso jardim. Foi onde passei essas duas noites, ansiando pela sua presença e lembrando o melhor momento da minha vida.
Seu, Logan.
XXVIII
O que queria fazer? Essa era a pergunta perfeita. Não tinha que pensar se seria correto ou não ir ao jardim, o mais apropriado era confirmar se queria ir ao seu encontro e aceitar tudo o que acontecesse entre eles.
O que seu coração mandava? Este não podia lhe dar uma resposta sensata, pois estava batendo com tanta força que logo seria disparado de seu peito. E a parte lógica do seu cérebro, essa que Mary usava desde que abriu os olhos? Não falava, estava tão silenciosa que podia ouvir os grilos cantando lá fora. Portanto, só teria que atender ao seu instinto cigano que ordenava, com mais ímpeto do que nunca, a parar de colocar tantos obstáculos e correr para ele, para se entregar de corpo e alma.
Com a emoção de uma criança que está prestes a descobrir o que é seu único presente de aniversário, Anne guardou o bilhete de Logan debaixo do travesseiro onde o encontrou, pulou da cama, vestiu o robe de seda negra e, sem fazer nenhum barulho, saiu do quarto. Não o tinha desejado? Não queria estar ao seu lado? Bem, teria a oportunidade de recuperar o tempo perdido, aproveitar aqueles beijos que não roubou e sentir novamente o calor que suas carícias ofereciam.
Como se fosse um fantasma, desceu as escadas e atravessou a extensa galeria. Seus pés sentiram o chão frio, mas recuperaram rapidamente
a temperatura que mantinha seu corpo. Tudo ao seu redor gritava que estava fazendo a coisa certa ou eram suas percepções? Como nem um único criado era encontrado, as luzes permaneciam apagadas e até mesmo as irmãs decidiram não deixar o quarto naquela noite para conversar com ela sobre o assunto que as preocupara. Olhou através das janelas que encontrou e, com exceção do luar, que passava pelas cortinas finas, ninguém era testemunha do que pretendia fazer. Sim, talvez o destino tenha aprovado sua decisão.
Ao chegar ao local onde o visconde fazia seus exercícios físicos habituais, respirou fundo, enchendo seus pulmões com aquele ar masculino que a atraía tanto. Era como um urso atordoado pelo cheiro de mel de uma colmeia e, apesar de saber que as abelhas o atacariam quando descobrisse suas intenções, não abandonaria seu propósito de saborear aquele suculento manjar.
Percebendo a suavidade do piso, deu pequenos passos até chegar à porta que dava lugar àquele jardim. Sentindo a batida do coração na garganta, colocou a mão direita na maçaneta, girou, abriu devagar e.... o viu.
Tal como havia dito, o visconde esperava-a no mesmo lugar em que ficara ao pintá-lo. Seu cabelo solto ondulava como a bandeira de um navio. Sua camisa clara se movia lentamente sobre o peito largo e forte, e suas calças, muito parecidas com aquelas usadas por Josh, transformaram suas longas pernas em pernas titânicas. Anne levou as mãos ao estômago, pois sentia as asas
daqueles corvos furiosos novamente, incontroláveis, e olhou para ele, sem fôlego. Encantada, a enlouquecia vê-lo daquela forma tão relaxada, tão selvagem. Se não conhecesse sua verdadeira identidade, não poderia pensar em outra definição a não ser cigano. Sua pose, sua tranquilidade e aquele equilíbrio que emanava do ambiente que o rodeava eram mais típicos das pessoas selvagens do que dos esnobes e controlados aristocratas. Mas não deveria esquecer que ele era um visconde e que, em um futuro distante, se tornaria um marquês. Essa realidade construía uma enorme muralha que nunca poderia ser demolida. Só conseguiria o remanso da paixão por um breve período de tempo e depois... apagariam de suas mentes os beijos, as carícias, os suspiros que teriam durante seus encontros românticos. Não estava procurando por isso? Se sentir viva, renascer? Bem, estava disposta a se dar isso...
Afastando da cabeça a tristeza que aqueles pensamentos lhe causavam, desceu devagar os cinco degraus que a levavam à pequena esplanada. Foi então que ele percebeu sua presença. Se virou para ela e olhou-a com tanta admiração que Anne se sentiu minúscula. Estava realmente emocionado em vê-la? Haveria algo mais nesse olhar do que lascívia? Seu coração também batia forte quando ficavam juntos?
—Olá... —sussurrou estendendo a mão para ela, assim não teria medo e fugiria quando descobrisse a felicidade e ansiedade que sentia por tê
la em seus braços, beijá-la, tocá-la. ?Venha, aproxime-se. Quero mostrar o segredo mais bonito que desse jardim.
Incapaz de recusar esse pedido, Anne ficou ao seu lado, pegou sua mão e, com um leve movimento, colocou-a na sua frente, pressionando as costas dela contra seu peito, descansou o queixo sobre seus cabelos, que o fez sentir novamente cheiro de flores silvestres, e a manteve alguns segundos assim, capturando o calor que havia desejado durante os dias anteriores.
Duas noites. Apareceu na porta de seu quarto nas duas noites anteriores, mas não ousou bater. Na primeira ocasião, ouviu a voz de Elizabeth e, na segunda, a voz de Josephine. No começo, pensou que Anne as chamara para fazê-lo ficar longe, no entanto, depois de ouvir as conversas que tiveram, e apaziguar sua raiva, concluiu que elas haviam aparecido para conversar sem aviso prévio. É por isso que acabou escrevendo a nota. Se ela ansiasse por ele tanto quanto ele sentia falta dela, viria ao seu chamado e, para seu prazer, ela respondeu afirmativamente.
—Feche os olhos —disse em uma voz suave e melosa —inspire o ar ao nosso redor e ouça o silêncio da noite.
Fez isso mesmo. Fechou os olhos, embora apoiasse ainda mais a cabeça no peito do visconde, apertou suas mãos nos braços fortes e nus, percebendo o toque do pelo masculino e inspirando o perfume a que se referia.
—Em Londres não podemos respirar essa fragrância requintada
—sussurrou em seu ouvido —ou ver tão claramente as estrelas no céu.
—Sinto muito —disse Anne, desenhando um grande sorriso --
mas não posso vê-las porque me disse para fechar os olhos.
—Não precisa abri-los, posso descrevê-las para você —ele murmurou tão perto de seu lóbulo direito que seus lábios o tocaram enquanto falava. —São brilhantes, como pequenas bolas de fogo. Se espalham pelo imenso céu que temos sobre nós. Quando a luz do sol nos ilumina, não podemos vê-las, mas quando a lua chega, são mostradas em todo o seu esplendor. Algumas se agrupam para formar bonitas figuras. As chamamos de constelações, embora ainda não goste da palavra que usaram para descrevê-las dessa maneira —continuou naquela voz aveludada. —Quando criança, meu irmão Roger me ensinou alguns nomes, mas não posso nomear as oitenta e oito que existem. —Seus dedos se estenderam para os dois lados de seu seio, como se quisesse descobrir que as costelas permaneciam no lugar, e começaram a acariciá-la. Percebendo como estremecia, a abraçou com mais força e lhe deu um leve beijo no pescoço. Anne respondeu com um suspiro que descreveu como a música mais linda que já ouviu. —Quando viajo no navio e não consigo dormir, porque tenho que resolver algum problema importante, subo no convés, deito no chão e as fico contando.
—Quantas chegou a contar? —Perguntou, inclinando-se mais
perto de seu corpo. Aquele beijo, tão procurado nos últimos dias, chegara com tanta gentileza que a fez suspirar de alívio.
Perfeição. Essa era palavra que definia exatamente o ajuste de ambos os corpos. Ele era tão alto que ela parecia minúscula ao seu lado. Seus grandes e musculosos braços envolviam facilmente seu corpo e acoplaram-no extraordinariamente ao seu torso e cintura. Sentia as vibrações silenciosas nas costas fruto das respirações e, embora fosse estranho, estava tranquila, calma e tão sossegada, que era isso que transmitia. Por essa razão, em questão de segundos, se encontrou em um estado de relaxamento e inacreditável êxtase.
Seu passado, a maldição e toda a agonia que sofria antes de passar por aquela porta, desapareceram tão rapidamente que a sofredora e confusa Anne Moore morreu ao dar o primeiro passo em direção a ele, dando origem a uma nova mulher cheia de luz.
—Mil oitocentas e quarenta e nove —Respondeu.
Ouvindo aquele número exato, abriu os olhos, se virou para ele e procurou em seu rosto por algum sinal de escárnio, mas não encontrou. A seriedade era evidente, assim como sua veracidade.
—Por que chegou a esse número? -- Ela perguntou. Abriu as mãos sobre o peito robusto e depois descansou o rosto, sentindo a ligeira mudança que sua respiração havia feito. Não era mais lenta, mas nervosa.
—É o ano em que nasci —Logan respondeu, descansando as
mãos grandes nas costas, sentindo o toque suave do robe de Anne.
—Trinta e Dois... —murmurou enquanto fazia as contas de seus anos, descobrindo que tinham apenas cinco anos de diferença. Muito pouco para aqueles que viveram um século, mas muitos para aqueles que não superaram a adolescência.
—Sim —disse, acariciando-a de cima a baixo.
Como poderia se sentir tão vivo quando ela permanecia assim?
Por que queria confessar tantas coisas que manteve por mais de três décadas?
Estaria com medo? O homem que havia lutado bravamente com a fúria do mar, que usara sua espada para acabar com as vidas daqueles selvagens que queriam roubar seu navio, as escapadas pelas varandas das amantes antes da chegada inesperada do marido, temia que ela o rejeitasse? Não, não era a rejeição de Anne que o fazia temer, mas o que seu corpo lhe mostrava quando ela estava ao seu lado. Se acreditou que alcançou o êxtase em algum momento, estava errado. Anne, apenas com sua presença, com aquele jeito de apoiar seu rosto em seu peito e cair sob sua proteção, fez com que ele entendesse que nada do que chamara de felicidade era verdade. Novamente Roger estava certo. Tal como o avisou, quando se encontra a mulher que te faz ser você mesmo, as demais deixam de existir. E assim a havia recebido, tal como era: um cigano. Um homem que só podia estar completo ao ter contato com a mãe terra.
—Se arrepende?
A pergunta de Anne tirou-o de seus devaneios. Lentamente abaixou o rosto, até que seus olhos se encontrassem, e observou alguma confusão neles.
—De viver trinta e dois anos? —Respondeu brincando. —Espero respirar muito mais. -- Não era a resposta que ela esperava, por isso abaixou a cabeça, como se estivesse envergonhada. Então suas mãos deixaram o tecido macio e as colocaram em ambos os lados de seu rosto, o levantou, até que seus olhos se encontraram novamente e falou, tão perto de sua boca que sentiu o calor de sua respiração roçar seus lábios. —Não posso, nem poderei, me arrepender de tê-la comigo, Anne. Quero deixar claro que é a única pessoa de que preciso agora e possivelmente... —Permaneceu calado para não prometer algo que ele próprio não podia garantir. No entanto, antes dessa batalha mental que travava, apenas seu coração queria gritar as palavras que estavam faltando. -- Sempre -- assegurou antes de beijá-la.
Anne sentiu, através daquele beijo tão apaixonado, desesperado e ganancioso, o anseio que o visconde tivera, o mesmo que dela. Era inconcebível que tivessem vivido tantos anos sem se conhecerem, que se odiassem e que, num piscar de olhos, declarassem que eram incapazes de se separar. Era tudo trabalho do destino, de Morgana ou desse poder cigano que estava fervendo nela enquanto estava ao seu lado? Independente do motivo,
se deixou levar. Estendeu as mãos para o pescoço que havia sentido falta e acariciou com as pontas dos dedos. Esse pequeno toque causou um gemido rouco no visconde e, instintivamente, seus quadris se aproximaram, para responder que seu prazer era muito parecido com o dele.
—Que Deus tenha piedade de você, Anne, porque hoje não permitirei que alguém nos interrompa —disse antes de agarrá-la pela cintura, como antes, e, em seus braços, a levou para a área do jardim com o gramado aparado.
Sem parar para beijá-la, sem poder conter as mãos, a caminhada parou no lugar em que, desde que ela entrou dois dias atrás, queria fazer amor com ela. Jurou que era especial e aquilo confirmava. Nenhuma mulher tinha ido a Harving House e, claro, ninguém havia pisado naquela parte da casa, exceto ela. Era seu santuário e, depois que a tornar dele, seria um lugar sagrado e íntimo para os dois. Com toda a delicadeza que pôde encontrar naquele momento, baixou-a até que seus pés descalços tocaram a grama macia.
?Anne... ? sussurrou em seu pescoço enquanto suas mãos, tremendo pelo o desejo que corria através de cada partícula de seu corpo, desatavam o laço.
?Logan... ? ela respondeu, estendendo os braços para o chão, de modo que o robe de seda preta se soltasse rapidamente de seu corpo
ardente.
?Repita o meu nome, querida ?pediu, deslizando lentamente a peça por seus ombros.
?Logan... ? pôde dizer apenas através de um sussurro.
?É tão perfeita, tão maravilhosa... ?continuou sussurrando.
Logan a acariciava lentamente, como se ela fosse uma figura de porcelana que pudesse quebrar a qualquer momento. Primeiro os dedos tocaram seus braços, fazendo os pelos eriçarem em seu rastro. Continuou com o pescoço, com o pequeno decote que mostrava a camisola e, sem conseguir desviar o olhar daquele rosto angelical, continuou com os seios.
Percebendo que os mamilos tinham endurecido por ele, rosnou novamente com satisfação e desejo, crescendo em cada respiração, nublando sua visão.
Era sua. Por fim, Anne seria sua... com dolorosa lentidão, fez seus polegares cercarem aqueles montículos pequenos e duros, excitados pela paixão.
Aqueles pequenos toques causaram uma grande agitação em Anne e, para não cair, as mãos dela se agarraram a seus ombros maciços. Ouvindo-a ofegar, testemunhando o intenso calafrio, Logan a beijou novamente com tanto ardor que a devorou. Sua língua dançou ao ritmo da dela, dentro e fora daquela boca sensual, como se estivesse fazendo amor com ela. As mãos grandes se agarravam ainda mais àqueles montículos que cobriam sua palma.
Apertou-os, espremeu-os como se fossem duas laranjas das quais extraia o
suco. Aquele ato perverso a fez se arquear para ele, fazendo seus quadris, cobertos com a fina camisola, roçarem os dele, descobrindo assim que estava tão excitado quanto ela. Duro, como uma barra de aço, seu sexo reivindicava aquilo que já indicava com próprio.
Sem deixar de beijá-la, sem deixar de saboreá-la e invadi-la com sua língua, Logan afastou as mãos de seus seios e as baixou para colocá-las em seus quadris. Uma vez que sentiu em seus dedos a textura daquela carne sensual que ainda estava escondida pela roupa, apertou-a com a mesma força com que oprimira seus seios. Rude. Pela primeira vez em sua vida, ele não era suave, mas áspero, brusco.
?Logan... ?murmurou seu nome em uma voz tão suave que era pouco compreensível.
?Sim, Anne. Eu sei. Vou acalmar sua necessidade e assim também saciarei a minha ?ronronou em seu ouvido.
Sua língua traçou o pescoço longo e liso, seguido pelo pequeno decote e, enquanto suas mãos levantavam lentamente a camisola, sua boca pegou o mamilo direito sobre tecido. A pressão de seus dentes no botão ereto fez com que ela gemesse e jogasse a cabeça para trás. Aquele ato, aquele comportamento submisso, causou uma enorme explosão em Logan e sua parte selvagem adquiriu força. Com a voracidade de um homem que encontrou a mulher com quem viveria eternamente, se afastou um pouco e
acabou de remover aquela roupa que o impedia de descobrir seu verdadeiro toque. O cabelo escuro de Anne se agitou quando passou a camisola sobre a cabeça.
?Deixe-me olhá-la ?pediu, observando como ela estendia as mãos para esconder certas partes de sua nudez. ?Não roube esse momento de mim, querida, porque o estou esperando desde que a conheci.
Sem desviar o olhar daqueles olhos azuis, atendeu seu pedido.
Anne retirou a mão dos seios e do triângulo entre as pernas. Devia se sentir como uma prostituta, uma mulher sem moral. No entanto, ao contemplar o olhar faminto do visconde, todos os seus preconceitos desapareceram. Linda.
Isso era o que os olhos de Logan expressavam. Que ela era a mulher mais bonita. Seu coração, louco, descontrolado, acabou deixando seu peito para se atirar nele e suas entranhas gritavam que precisavam desse homem dentro dela. Sem hesitar por um momento, estendeu as mãos para a camisa, soltou-a da calça e tirou-a com urgência. Como havia feito com ela, o cabelo do visconde dançou ao se separar daquela roupa.
?Logan... ?murmurou quando descobriu uma enorme cicatriz branca que ia do umbigo até o lado esquerdo do peito. Levou a mão direita em direção àquela ferida curada e a acariciou.
?Deus, Anne! ?Exclamou, jogando a cabeça para trás, sentindo o prazer daquele toque percorrer cada célula de seu corpo. ?Eu gosto
disso…
?Gosta que te toque? ?Se atreveu a dizer, tornando-se uma mulher descarada e segura de seu poder de sedução.
?Sim ?Logan engasgou quando sentiu novamente aqueles dedos suaves traçando a marca que lembrou a ele quem realmente era e o que a mãe de sua mãe tentou fazer quando ela estava sangrando até a morte no seu nascimento. Graças à mulher que ele chamava de mãe, apenas a lembrança de uma morte rápida permaneceu em sua pele.
?Bem, quero fazê-lo ?disse se aproximando.
Descansou as duas mãos em seu peito nu e foi apalpando até que pudesse descrever a sensação daquela pele rude e a aspereza dos pelos que a cobriam. Ouvindo os suspiros de Logan, colocou os polegares nos dois mamilos, tão eretos quanto seu sexo, e os roçou.
?Jesus! ?Exclamou com um uivo desesperado. ?Continue Anne. Avance pelo meu corpo...
E foi o que fez. Acariciou cada centímetro de pele em seu peito e sorriu quando percebeu como a respiração do visconde se tornava mais angustiante. Ninguém o havia acariciado? Nenhuma mulher havia traçado seu corpo magnífico com as mãos? Sentindo-se afortunada, aproximou a boca e passou os dedos pelos lábios. Então notou que as palmas das mãos dele estavam sobre seus cabelos, amassando-os, tocando-os como se tentasse
liberá-la de um penteado inexistente.
?Anne... ?murmurou seu nome, embora sua voz estivesse num tom tão fraco que a deixara perplexa.
Não. Ninguém o havia tocado daquela maneira e ela estava ardendo de vontade de continuar. Sua boca, ainda no esterno, moveu-se lentamente para o umbigo. Colocou os dedos no cós da calça e apoiando-se nele, continuou a beijá-lo até que os lábios se abriram para sua língua tomar o seu lugar. O gosto masculino de Logan a hipnotizou, a deixou louca a ponto de seus joelhos nus tocarem o chão. O queixo que sempre levantava quando queria mostrar orgulho tocava a excitação que ainda estava escondida sob suas calças. Queria, desejava, necessitava continuar e seguir sentindo aquele gosto masculino em sua boca. Vagarosamente, com uma lentidão enlouquecedora, suas mãos deixaram o cós para se colocarem no botão.
Quando desabotoou, aquela ereção a recebeu.
?Quer me matar, certo? ?Logan se inclinou para ter uma visão perfeita de Anne. Ela era uma deusa? Porque era assim que a definia naquele momento. A deusa mais maravilhosa, mais ardente e ... sua.
?Minha proposta, querido visconde, é satisfazer o que tanto ansiamos... ?tentou dizer enquanto colocava as mãos sob as calças, sentindo o membro sedoso e duro.
?Bem... vá em frente... eu sou todo seu... ?murmurou,
gaguejando. Fechou os olhos e deixou-se levar pelas suaves carícias de Anne.
Não queria comparar. Não precisava, mas sua mente não conseguia pensar em outra coisa senão encontrar as diferenças entre o sexo do visconde e o de Dick. Lá onde algumas vezes encontrara um membro flácido, em Logan era tão duro que sua vagina se contraía, como se quisesse evitar a invasão futura.
?Anne... ?murmurou ao notar os dedos acariciarem a glande.
Molhada pela excitação, pelo desejo, pela chegada de um sonho.
Anne abaixou lentamente as calças e as ceroulas até ficarem nos joelhos. Como havia imaginado, não apenas seu sexo era robusto, mas suas pernas eram duas barras de ferro forjado no fogo do deus Hefesto[8]. Suas mãos deixaram o falo duro e se fixaram nos quadris masculinos. Selvagem e sem fôlego por tudo que a fazia sentir, a parte cigana de Anne brotou de suas entranhas e, sem hesitação, lambeu e provou aquela glande molhada pela excitação. A resposta de Logan apareceu imediatamente. Ele segurou o cabelo de Anne entre os dedos e insistiu para ela continuar. Foi o que fez. Ela continuou beijando e saboreando aquele membro masculino que, quando o colocava dentro de sua boca, tremia como o resto de seu corpo.
?Sim... ?Logan sussurrou, trazendo seus quadris para o rosto de Anne. Com os olhos ainda fechados, ouvindo a própria respiração e a intensidade do coração, suspirou profundamente, aceitando o prazer que ela
oferecia com a boca e as mãos. Mas percebendo que esse estado de paixão o faria explodir antes que pudesse tomá-la, puxou o cabelo de Anne para trás, abriu os olhos e disse: ?Minha querida cigana, acaba de marcar seu destino e não é outro senão o de estar comigo.
Aturdida por esse comentário, ela se levantou, olhou para ele sem piscar, e quando ia perguntar por que ele havia dito tamanha loucura, Logan tirou a calça e a tombou abruptamente naquele manto de grama.
?Minha vez, querida ?disse antes de beijá-la com tanto fervor que sua alma saiu disparada pela boca até que ele se alimentou com ela.
Com as mãos percorrendo seu corpo nu, Logan concluiu a jornada no triângulo que ela tentara esconder. Com os dedos abriu as dobras esponjosas, molhadas de excitação, e procurou pelo clitóris. Quando o achou tão inchado, não demorou muito para atacá-lo. O corpo de Anne se contorceu, ela se mexeu tanto que parecia evitar os roces violentos, duros e dominantes.
?Deliciosamente minha... ?Logan sussurrou uma vez que puxou aquela boca voraz para longe dela. Colocou um dedo dentro da vagina de Anne e quando a encontrou tão escorregadia e apertada, a beijou novamente com ardor.
Aquela invasão, que era tremendamente prazerosa, fez com que ela arqueasse seus quadris em direção àquela mão, para que nunca parasse. E
não parou. Enquanto o polegar brincava com o clitóris, um dedo ia e vinha até que a abria tanto que acabava introduzindo dois.
?Logan... ?soluçou, notando como seu corpo queimava e doía, pois, sua necessidade de ser acalmada, aumentava para limites indefiníveis.
?Quero beijá-la, lambê-la, provar cada canto do seu corpo
?assegurou enquanto beijava seu seio, sua barriga, seu umbigo e, quando ele abriu as pernas para ter uma visão perfeita do sexo feminino, lambeu os lábios. ?Isso é tudo meu ?disse antes de sua língua traçar as esponjosas saliências.
Anne estendeu as mãos para a grama e arrancou todo aquele emaranhado entre os dedos quando notou a boca do visconde ali embaixo.
Fechou os olhos, levantou ainda mais os quadris e se arrastou pelo prazer que a boca masculina lhe oferecia. Ele a mordeu, absorveu toda a sua essência, penetrou-a com a língua tantas vezes que perdeu a pouca razão que ainda tinha. Como podia se converter em uma louca, viciada naquelas mordidas grosseiras, naquelas carícias tão dominantes e possessivas?
?Logan... por favor... ?implorou quando notou como sua barriga queimava, como a dor que sentia em seu sexo era tão horrível que não podia se acalmar, exceto por sua invasão.
Envolto em uma névoa de desejo, Logan abandonou a parte que ele tinha devorado até que se colocar em cima. Enquanto com uma mão
acoplava seu sexo na frente dela, olhava-a atordoado. Seus olhos brilhavam como as estrelas daquele céu e sua respiração atingiu seu rosto aumentando sua temperatura.
?Anne... diga que você me quer, que anseia pelo que vou lhe dar
?pediu enquanto apoiava as palmas das mãos nos dois lados do rosto luxurioso e investia nela pela primeira vez.
? Eu quero você... e anseio pelo que vai me oferecer... ?ofegou quando sentiu a penetração.
?Repita meu nome. Quero ouvi-la toda vez que entro em seu corpo, toda vez que te fizer tremer, toda vez que lhe mostrar que você é ...
minha ?exigiu com um tom cheio de desejo e algo que nunca sentira antes: ansiedade.
?Logan... Logan... ?disse, sentindo aquelas duras investidas, aquelas invasões dominantes e possessivas.
?Oh, sim, Anne! ?Gritou antes de beijá-la, antes de fazer seus quadris cavarem os dela, unindo-os, transformando-os em um único ser.
Aquele cigano que se forçara a permanecer distante parecia tão selvagem e desesperado que afastou o visconde, o homem que mostrara ao mundo para transformá-lo no cigano que negava ser. Sem parar de penetrá-la, de entrar e sair, sem conseguir separar a boca dos lábios que o recebiam com avidez, Logan sentiu como o corpo de Anne se abalava ao compasso dele.
Tudo. Tudo ao seu redor desapareceu. Apenas uma pessoa permanecia, uma alma, uma mulher: ela.
?Te desejo tanto! ?Exclamou com um grito quando o clímax começou a subir.
?E eu ?respondeu, cravando as unhas nas costas dele com tanta força que elas perfuraram a pele áspera.
Então chegou. O corpo de Logan tremeu no final, derramando sua semente dentro de Anne, enchendo-a com ele, sua essência, sua masculinidade, sua vida. Com ar ofegante e sem deixá-la, ele se afastou um pouco para observá-la. Disse que ela era uma deusa? Bem, era. Anne era sua deusa, a única que poderia estar ao seu lado... sempre.
Uma vez que sua respiração relaxou, uma vez que seu sexo começou a recuperar seu estado de tranquilidade, se deitou ao lado dela e a segurou com tanta força que se tornaram um novamente.
?Você... eu... desejo... ?o visconde tentou explicar.
?Sou e serei apenas mais uma ?disse sem olhar para ele. ?O
que aconteceu aqui é ... não quero que ...
?Não diga nada. Não quero que estraguemos este momento com definições absurdas ?sussurrou.
Logan lentamente beijou seu cabelo. Não precisava explicar nada.
Ele já adivinhara o que ia dizer, por isso a única coisa que fez foi abraçá-la e
confortá-la. Não deveria temer pela maldição, nem ficar longe dele pensando que morreria como seus dois pretendentes. Precisavam de tempo e estava disposto a dá-lo. Uma vez que ela admitisse que poderia haver mais do que encontros apaixonados entre eles, pediria que ela fosse sua para sempre. Só esperava que para consegui-lo não tivesse que confessar seu segredo...
XXIX
Durante a semana seguinte, eles agiram com grande discrição.
Enquanto estavam acompanhados por Elizabeth ou Josephine, permaneceram distantes e suas condutas eram frias e um tanto elusivas. Mal falavam e, quando o faziam, suas conversas eram tão ínfimas que até suas irmãs bufavam do tédio que causava ouvir assuntos absurdos.
Nas manhãs, Anne avançava no retrato, enquanto Logan não parava de reclamar do terrível arrependimento que sofria por permanecer imóvel por tanto tempo. Enquanto não fosse salvo por uma das jovens Moore, continuava reclamando como uma criança pequena. Mas quando saia do lado dela, para ir socorrer a oportuna irmã, Logan lhe dava um olhar tão ardente que a fazia tremer e excitar ao mesmo tempo. Não havia dúvida de que o magnetismo que havia sido forjado entre eles era tão inquebrável quanto a lâmina afiada de Excalibur e administravam essa relação quando todos os habitantes da casa se retiravam para seus quartos. Se em algum momento pensaram que o fogo diminuiria com o passar do tempo, erraram.
Cada vez que se encontravam, cada vez que estavam sozinhos, o vínculo entre eles se tornava mais forte, mais sólido. Esse relacionamento inesperado assustava muito Anne, visto que não havia noite em que não lutasse contra seus novos sentimentos e desejos. Por que tudo era tão difícil? Por que seu
peito doía quando pensava que o fim viria em breve? Será que seria capaz de esquecer seus beijos, suas carícias, suas palavras e o tom tão solene que costumava dizer que pertencia a ele? Se não tivessem concordado que manteriam apenas um romance fugaz, admitiria, sem dúvida, que seus gestos, suas ações e aquelas frases que sussurrava quando faziam amor eram verdadeiras. Porque, mesmo que não devesse imaginar que eram reais, pareciam ser. Além disso, tinha que ser honesta consigo mesma e assumir que ao seu lado encontrava um bem-estar que não atingira com Dick. Agora entendia muitas coisas sobre paixão e desejo. Não havia comparação possível entre eles. Enquanto Dick usava isso para seu próprio prazer, o visconde oferecia-lhe tudo o que desejava e essa era a razão pela qual o medo aumentara... O que aconteceria no dia em que partisse para Londres com suas irmãs? Por que diabos ele não se comportava tão frivolamente quanto Dick?
?Não entendo porque as pessoas gostam tanto de contemplar o mar. ?O comentário de Elizabeth a afastou dessas conclusões tão terríveis quanto belas. Olhou de esguelha para ela e sorriu enquanto a observava enredar-se em uma luta incansável para manter o pequeno chapéu imóvel em sua cabeça.
Naquela manhã, como o visconde prometera na tarde anterior, fizeram uma excursão para a praia. Mas Eli não parava de reclamar desde que saíram. Josh, por outro lado, parecia feliz e animada. Caminhava ao longo da
costa, a calça marrom enrolada até os joelhos e os pés mergulhados na água.
O visconde permanecia ao seu lado. Anne desviou o olhar para eles e os observou em silêncio. Nunca imaginou que poderia se comportar de maneira tão familiar e simples com elas. Ele havia tirado o paletó, a gravata e o colete, deixando-os dentro da carruagem. Sua camisa branca estava tentando esconder o corpo esculpido por seus exercícios e trabalho no barco. Suas longas pernas vestidas com calças pretas de caxemira mostravam a força de um homem do seu tamanho. Como Josh, ele também enrolou as calças até os joelhos e a mão direita segurava os sapatos e meias para não os danificar com a água do mar. Anne suspirou ao ver como a brisa suave o atingia e como seu cabelo, puxado para trás em um rabo de cavalo, estava começando a se soltar daquela tira de borracha para apresentar uma imagem tão selvagem quanto erótica. Desejava, com todas as suas forças, ser aquela que passeava ao seu lado, mas como haviam feito até agora, se quisessem continuar com o relacionamento que haviam acordado, deveriam continuar com o plano, que consistia principalmente em não mostrar a afeição que sentiam e continuar se vendo em segredo.
?Segundo ouvi dizer, o sal é bom para a pele ? comentou Howlett.
O valete, depois de criar um elo emocional com Elizabeth, foi autorizado a acompanhá-la a todos os lugares que visitava e, é claro, a praia
também estava dentro de suas novas tarefas.
?Está seguro disso? ?Eli o recriminou mordaz. ?Porque nunca me senti tão suja. Comi um sanduíche cheio de terra imunda, tenho o vestido, as meias e os sapatos manchados de areia, as roupas grudam no meu corpo como se eu fosse um agricultor que trabalhou no campo durante um dia intenso de verão, o vento está estragando meu penteado e não suporto esse cheiro horrível ... ?acrescentou com uma careta de desagrado.
?Garanto que é muito melhor do que parece ?Howlett assegurou se sentando ao seu lado para evitar que a brisa marinha açoitasse sua nova amiga até arrancar o belo chapéu. ?Se tivesse navegado, como fiz, cercado por homens fedorentos, mal-humorados e indelicados, certamente teria uma percepção mais favorável dessa excursão.
?Que atrocidade! ?Eli exclamou, horrorizada ao se imaginar em um navio cercado por marinheiros malcheirosos, cuja única finalidade era fazer suas necessidades fisiológicas no convés do navio.
?O que não é tão horrível? ?Perguntou o jovem divertido.
?Como pôde suportar isso? ?Eli estalou enquanto lutava para manter a saia do vestido verde-esmeralda limpa.
?Bem, o visconde concordou que ficasse em sua cabine o tempo que estipulasse necessário. Então pode deduzir que passei semanas admirando trajes que não costumava usar ? explicou serenamente.
?Por que diz que não costumava usar? ?Elizabeth estava interessada, cansada de lutar contra o vento, decidiu tirar o chapéu de uma vez por todas.
?Porque os marinheiros não andam vestidos. Por mais que me pareça terrível confessar, esses tipos de homens geralmente andam seminus
?comentou Howlett divertido.
?Seminus? ? Eli soltou chocada. ?O visconde também se tornou um deles?
Não era capaz de imaginar Logan adotando uma atitude tão inapropriada para um cavalheiro de sua linhagem. Que os outros agissem de maneira selvagem, poderia aguentar, mas... um aristocrata, um futuro marquês? Jamais! A classe alta tinha que mostrar sua condição e seu poder onde quer que fossem.
?Claro! ?Respondeu Howlett com um sorriso travesso. ?E
tenho que declarar que quando chegávamos a um novo porto, todas as mulheres que o contemplavam rezavam para que essa figura bárbara e aristocrática as escolhesse como amantes.
?Howlett! ?Elizabeth o repreendeu. ?Como pode ter uma linguagem tão ousada? Não sabe que deve manter em segredo o que acontece no quarto do seu mestre?
?Não insinuei quantas passaram pelos quartos, minha querida
senhorita Moore ? continuou sarcasticamente ?a única coisa que admito é que o visconde teve uma vida muito intensa...
Entre risadas, os dois terminaram a conversa e decidiram dar um passeio longe do mar e do arenito. A única que não riu do comentário sagaz foi Anne, que cerrou os punhos e enterrou-os na areia para que nenhum deles pudesse vê-los. Mulheres? Quantas mulheres visitaram a cabine de Logan durante suas viagens? Por que andava seminu? Não sabia a definição do termo pudor? Mostrava seu corpo lindo como se fosse um galo cercado por galinhas? Suas bochechas começaram a ficar vermelhas e seu pulso acelerou.
Ciúme. Pela primeira vez em sua vida, um ataque de ciúmes tomou conta dela. Odiava essas mulheres e o odiava por ser um conquistador de corações.
«É isso o que é, Anne Moore, outra mulher que se rendeu ao seu poder de sedução. No entanto, foi você quem se impôs essa condição» lembrou a si mesma. Sim. Era isso com o que haviam concordado: dois amantes que vivem e desfrutam de um tempo de liberdade e paixão até que chegasse o fim.
Sem tirar os olhos do visconde, suspirou profundamente. No fundo as entendia. Apesar de odiá-las com todas as suas forças, também as entendia. Quem não sonharia em deitar com um homem que emanava poder e selvageria? Quem não gostaria de ser beijada por aquela boca ou acariciada por aquelas mãos fortes? E ... quem não esperaria gemer de prazer quando
estivesse possuída daquela maneira abrupta e feroz? Nenhuma mulher deveria se privar de tal prazer. Logan nasceu para amar e se dedicava a isso.
Quando estava prestes a desviar o olhar deles, ele a olhou e, ao observá-la tão rígida e irritada, levantou a sobrancelha esquerda em questionamento. Mas Anne, em vez de desviar o olhar, como sempre fazia, o manteve fixo, transmitindo através dos olhos a raiva que sentia e não podia diminuir facilmente.
?Acho que é hora de irmos ? Logan comentou com Josephine quando sentiu as emoções díspares de Anne. Sentou-se na areia e, depois de limpar os pés, calçou as meias e os sapatos. Se levantou, desenrolou as calças e olhou para ela novamente.
Não gostou da praia? Não gostou da vista daquele lugar lindo?
Talvez tenha errado ao concluir que poderia apreciar a beleza daquela área e, em vez de ter um dia maravilhoso, estava em uma terrível aflição.
?Tão cedo? ?Josh choramingou, tentando fazer com que o soluço infantil a ajudasse a fazê-lo mudar de ideia. Mas, observando a atitude do visconde, sentou-se, calçou as meias e as botas curtas. ?Ainda não me explicou como derrotou aqueles terríveis assaltantes ?insistiu quando se levantou e ficou ao seu lado novamente.
?É uma história bastante inapropriada para uma jovem da sua idade ? disse a ela como desculpa enquanto caminhava em direção a Anne.
Ela, vendo que eles estavam se aproximando, se levantou rápido, deu uma batidinha na saia de seu vestido marrom e se virou, lhes dando as costas. O
que diabos estava errado? O que aconteceu durante sua breve ausência para fazê-la sentir-se tão desconfortável? ?Além disso, o verdadeiro protagonista daquele momento foi Giesler. Se ele tivesse vindo teria contado sobre esse episódio atroz...
Naquele exato momento, ficou consciente de que haviam se passado mais de dez dias e que não ouvira notícias de seu amigo. O que teria acontecido com ele para não responder? Continuaria atormentando a vida daqueles homens que haviam humilhado Mary? Ou ficara em Londres porque não queria sofrer outro ataque como o que sofreu na casa dos Moore? Não, não poderia ser isso. Na carta que enviara, deixou muito claro quais as irmãs que viajariam com Anne e explicara que a mulher que jogou os tubos nele, como se fossem dardos venenosos, ficaria em Londres. Então... por que não aceitou o seu convite?
?O Sr. Giesler é o homem a quem eu apontei a minha arma, certo? ?Josh, envergonhada de lembrar o que fez naquele dia, colocou as mãos atrás das costas e passou pelo visconde com os olhos fixos no chão.
?Por que fez isso? ?Logan perguntou, incapaz de tirar os olhos de Anne, que estava andando em direção à carruagem.
Ofendida, irritada e bastante soberba. Isso declarava sua atitude
estranha e súbita. Agora, mais do que nunca, queria encontrar um espaço para conversar com ela e descobrir o motivo desse comportamento arrogante.
?Porque ele entrou em nossa casa e não desviou o olhar de Mary por um único segundo ? disse com um longo bufo.
?Teria atirado nele? ?Perguntou, esboçando um enorme sorriso.
?Sabe que ele não foi capaz de tirar os olhos do corpo da minha irmã? ?Ela bufou indignada. ?A mamãe sempre a avisa para não sair do quarto de camisola, mas ela não presta atenção a ninguém e naquela manhã apareceu no topo da escada com uma aparência inadequada.
?Quer dizer...? ?Parou, olhou para ela e riu.
Grande patife! Essa parte da história ele não contou, guardou para si mesmo. Disse que ela jogou tudo o que estava ao alcance, mas esqueceu de contar sobre o momento em que descobriu a silhueta da irmã na camisola.
Seria seda transparente como as que Anne usava? Se assim fosse, já adivinhava por que Philip não respondeu ou apareceu. Estaria babando como um cachorro atrás da erudita Moore.
?Sim ? Josh respondeu, visivelmente irritada. —Por mais que pedisse para parar de olhar para ela, aquele cavalheiro não me dava ouvidos.
?Deveria ter atirado nele! ?Logan exclamou antes de bagunçar aquele cabelo loiro tão claro.
?Acredita nisso? ?Josh perguntou indecisa.
?Sim, acredito nisso. Porque temo que ele continue a vê-la de maneira tão desrespeitosa pelo resto de sua vida. Um homem é incapaz de tirar da mente a imagem de uma bela mulher de camisola ?assegurou enquanto continuava a caminho da carruagem.
?Bem, da próxima vez prometo que irei deixá-lo cego ?disse a jovem. Comentário que causou outra risada alta do visconde.
***
Não estava enganado, Anne estava com raiva e não tinha ideia do motivo. Quando os cinco se acomodaram na carruagem, ela não desviou o olhar da janela. Três horas com o pescoço tão esticado lhe causariam uma dor terrível. Mas não respondeu ou contestou as míseras perguntas que fez.
Foram suas irmãs e Howlett quem, ante seu silêncio, responderam às suas questões. O que diabos estava acontecendo? O que havia perdido enquanto caminhava com Josh na praia? Não lhe pareceu certo ter essa pequena liberdade? Ela, melhor do que qualquer outra pessoa, deveria entender que entre a jovem e ele se criara uma relação afetiva muito semelhante à de irmandade. Além disso, seu principal objetivo com Josh era que reconsiderasse sobre os planos futuros que havia feito. Era por isso que
contava a ela sobre as batalhas e dificuldades que sofrera durante suas viagens. No entanto, Anne não parecia satisfeita, pelo contrário. Se mostrava tão irascível que estava prestes a se levantar, agarrá-la pelos ombros e gritar o que diabos lhe acontecia.
?Finalmente! ?Exclamou Elizabeth alegremente quando avistou os telhados de Harving House. ?Lembre-me de não pisar em uma área costeira novamente. Foi horrível ...
?Não gostou? ?Logan perguntou, tentando encontrar algum sinal para explicar se era por isso que Anne estava tão distante.
?Não! ?Eli respondeu rapidamente. ?Prefiro mil vezes mais a pesada neblina de Londres do que a brisa úmida e pegajosa daquele lugar.
?Pois eu estou encantada! ?Josh disse cruzando os braços sobre o peito. ?Admito que, no início, esse ar marinho me impediu de respirar.
Mas com o passar do tempo meu corpo se adaptou facilmente.
?Cheira a peixe! ?Eli a repreendeu, cobrindo o nariz com dois dedos. —Realmente gosta de cheirar assim?
?Salitre ?Logan o corrigiu. ?É chamado salitre e garanto que é muito bom para a pele. Em minhas incontáveis viagens de barco, expus meu corpo àquelas quentes brisas do mar e endureci tanto que, para enfiar uma faca em mim, teriam que exercer uma grande pressão.
O riso de Josh, Eli e Howlett encheram o interior da carruagem,
só que Anne não achou aquela explicação engraçada. Enquanto os outros mostravam uma atitude relaxada, ela se aproximou ainda mais da janela, franziu a testa e bufou como um cavalo depois de uma longa caminhada. Isso acentuou as suspeitas de Logan sobre sua raiva. O que havia dito para deixá
la tão zangada?
?Permita-me ajudá-la, senhorita ?disse o visconde a Elizabeth quando a carruagem parou na entrada da residência. Estendeu a mão e ela aceitou encantada.
?Howlett, vem comigo? ?Perguntou ao valete quando ele desceu atrás dela. ?Necessito de um bom banho para remover toda a areia que ficou sob este vestido feliz.
?Será uma grande honra ?disse o rapaz. ?Mas milorde irá precisar...
?Pode ajudá-la. Embora não entenda por que estou pagando uma criada se é você quem faz todo o trabalho ?Logan resmungou em aparente raiva.
?Ela não tem ideia de como encher uma banheira! ?Disse Howlett com horror. ?E se não fosse pelo bom gosto da senhorita Moore, teria uma aparência decrépita. Acredita que tinha decidido fazer uma trança em vez de um coque baixo? Isso é inconcebível se tiver que usar um chapéu!
Depois dessa exposição, que deixou a tendência afeminada de
Howlett ainda mais clara, Logan sorriu e acenou com a cabeça, permitindo que o criado se tornasse a dama de companhia de Elizabeth. Quem teria medo de um homem que sonha com roupas de seda e penteados ideais?
?Josh? ?Chamou à jovem quando ele apareceu ao lado dela.
?Também tomarei um longo banho. Depois, se não se importar, visitarei o prédio anexo. Quero continuar praticando com a espada.
?Não é melhor que pratique primeiro e tome seu banho depois?
Não acho que Elizabeth suporte outro cheiro além do que emana o sabão
?disse ironicamente.
?Vendo desse modo... e como não quero ouvi-la reclamar de novo... ?Josh disse com os olhos apertados. ?Sim, será melhor fazer assim.
Vai me acompanhar? ?Acrescentou com entusiasmo.
?Hoje não posso, tenho que esclarecer uma questão muito importante. Mas se tiver algum problema, Kilby o resolverá ?disse olhando para Anne, que ainda não havia saído do interior da carruagem e permanecia olhando pela janela, como se a viagem não tivesse chegado ao fim.
?Então... ?olhou para a irmã, depois para o visconde, e sem pensar em nada além da diversão que teria ao empunhar as gloriosas espadas espanholas que Logan mantinha em um canto da instalação, correu para a entrada principal.
?Ficará o resto do dia aí dentro? ?Perguntou uma vez que
ficaram sozinhos.
?Existe outra alternativa melhor? ?Murmurou sem olhá-lo.
Não. A raiva não havia minado. Talvez tenha diminuído algo por um breve período de tempo, até que ele falou sobre expor seu corpo à brisa do mar. Como ele podia ser tão fanfarrão?
?Existem várias... ? Logan comentou colocando as mãos nos dois lados da porta e inclinando-se para ela, para que o cocheiro não o ouvisse. ?Tem a opção de sair ou... Posso entrar, fechar essa abençoada porta e ordenar ao meu cocheiro que viaje pela minha terra enquanto fazemos amor aí dentro. Qual prefere, querida?
?Oh, tenho certeza que deve estar acostumado a fazer esse tipo de coisa em um lugar tão inapropriado! ?Murmurou com raiva. Cruzou os braços e manteve o corpo tão rígido que nem uma flecha passaria.
Logan estreitou os olhos até que eles se transformaram em pequenas linhas. Qual foi o comentário? Parecia que era... não poderia ser!
Ela não poderia estar sentindo ciúme! Por causa do quê? Nunca falou de nenhuma mulher enquanto estava presente. Era mais, todas haviam desaparecido de sua memória uma vez que Anne se rendeu a ele. Então...
quem poderia ter dito a ela sobre isso? Sua mente, em questão de segundos, pesou todas as opções possíveis e, exceto pelo tempo que Howlett permaneceu com elas, não havia outra possibilidade... teria sido tão
desdenhoso que revelou em alguma conversa certos segredos que nem ele mesmo fez público?
?Jeffry! ?Gritou para o cocheiro.
?Milorde? ?Perguntou, virando a cabeça para ele.
?Deixe a carruagem nesta área da entrada, a colocará no estábulo mais tarde ?disse sem tirar os olhos de Anne, que encolheu os ombros ao ouvir o tom de voz que usava.
?Como quiser ?respondeu o criado apressadamente. Desceu o mais rápido que pôde e caminhou até a porta de serviço sem olhar para trás.
?Bem, querida. Estamos completamente sozinhos. Quer que mostre a diversão que posso lhe oferecer aí dentro? Como bem disse, tenho muita experiência em dar prazer numa cabine tão inapropriada ? retrucou, colocando a sola do sapato de seu pé direito na escada de metal.
?Não se atreva! ?Anne gritou antes de abrir a porta do lado dela e sair fugindo.
?Oh sim! Sim, posso pensar em milhões de coisas que quero lhe fazer! ?Ele clamou antes de atravessar a carruagem por dentro e correr atrás dela até alcançá-la.
XXX
?Solte-me! ?Anne gritou quando os braços de Logan envolveram sua cintura.
?Nem pensar! ?Respondeu levantando-a do chão, fazendo com que seus pés e a saia de seu vestido se agitassem no ar. ?Quero descobrir por que está tão furiosa ?disse levando-a para os estábulos.
?Furiosa? Eu? Não é verdade! ?Mas seu tom de voz denotava exatamente o contrário.
Espremida entre os braços fortes e resistentes, lutava para se afastar daquele corpo que a queimava, embora suas peles ainda não tivessem sido tocadas. No entanto, quanto mais esforço fazia para se separar, mais ele a agarrava contra si mesmo.
?Não lute, querida... ? sussurrou em seu ouvido depois de cruzar a entrada dos estábulos. ?Essa batalha não poderá ganhar...
?acrescentou reticente.
Batalha? Pensava que havia começado uma guerra contra ele?
Bem, estava enganado! A única batalha que travava tinha apenas dois adversários e estes eram a mesma pessoa: ela. Na realidade, sua mente e seu coração lutavam um contra o outro para superar um sentimento que ela não
podia suportar, assim como não devia admitir o súbito ciúme que sentiu quando ouviu sobre a vida libertina que teve antes que ela aparecesse. E, para ser franca, não podia imaginar que manteria esse estilo de vida assim que ela fosse embora. E havia a questão desse terrível conflito! Querer, mas não poder. Porque não tinha dúvidas sobre o que queria, embora também estivesse ciente do que não podia. Como superaria outra morte? E não seria qualquer morte senão a dele! O homem que amava! Essa afirmação oprimiu seu peito até que ficou sem fôlego. Como podia ter pulado sua primeira norma? Não teve o suficiente com Dick? Em que parte de suas memórias estavam aquelas lágrimas, episódios de tristeza e culpa?
?Anne... ?Logan disse quando sua respiração mudou drasticamente. Ela não estava mais agitada, mas quebrada, como se estivesse chorando. Será que a machucara ao pegá-la com tanta força? Tinha sido tão bruto? Muito lentamente, enquanto se arrependia dessa atitude bárbara, colocou-a no chão até que ficasse de pé sem perder o equilíbrio. ?O que há de errado contigo? ?Acrescentou. Anne virou-lhe as costas e ele, para apaziguar a repentina tristeza, colocou as mãos gentilmente em seus ombros.
?O que eu fiz?
?Nada. Não fez nada ?comentou sentindo a pressão das grandes palmas em suas omoplatas.
?Bem, se não fiz nada, olhe para mim! ?Pediu. Pressionou os
dedos no vestido de Anne, virou-a para ele e quando viu as lágrimas escorrerem pelo rosto, se sentiu o homem mais perverso do mundo. ?Anne...
me diga por que chora.
Tirou as mãos dos ombros e colocou-as com muita ternura sobre suas bochechas, molhadas com aquelas lágrimas. Com uma lentidão surpreendente, as removeu com os polegares. Aquela demonstração de afeto fez Anne olhá-lo e, percebendo sua preocupação por ela, admitiu com amargura que a guerra acabara de ser vencida pelo seu coração.
?Se Howlett comentou algo que a feriu, juro que irei procurá-lo e cortar sua língua ?disse com a voz de um homem que navegava pelos mares e comandava um navio com mais de cinquenta marinheiros.
?Howlett não é culpado por.... ?Tentou explicar, mas naquele momento ouviu um barulho sobre eles. Anne encolheu os ombros, como se esperasse que algo batesse em sua cabeça, mas nada aconteceu exceto que ele a puxou para perto e a abraçou. ?O que foi isso? Perguntou sem tirar o rosto do peito de Logan.
?Astennu ?respondeu sem deixá-la. ?Acho que ele e sua família não receberam bem a nossa visita repentina.
?Astennu? ?Perguntou, virando o rosto devagar.
Logan virou-a, fazendo com que a bainha de seu vestido marrom arrastasse no feno espalhado pelo chão, reclinando-a sobre o peito, e
enquanto o braço esquerdo circundava sua cintura, levantou a mão direita para apontar para o teto estável, bem onde algumas aves se alinhavam em uma das vigas de madeira. Por um momento, os olhos daqueles animais olharam para ela com desconfiança, mas no segundo seguinte moveram os pescoços e grasnaram como se aceitassem sua presença.
?Apresento meu fiel amigo Astennu e sua amada família ?disse com orgulho. —Como deve ter adivinhado, Astennu é o maior e ele tem aquela mancha branca no peito ? esclareceu. ?O próximo a ele é Honda, sua parceira e os outros três são seus filhos: Fhas, Shadow e Kus.
?Corvos... ?sussurrou tão atônita que não sabia ao certo se havia dito a palavra corretamente.
?Sim, de fato, são cinco corvos ?confirmou. ?Há pessoas que são felizes criando falcões, águias ou pombos..., contudo, não tive a oportunidade de pensar que aves iria querer abrigar em Harving porque Astennu já estava aqui quando apareci e, sem pedir permissão, decidiu ficar para sempre. ?Esperou por uma pergunta, um comentário sobre o quão estranho era para ele se apegar àqueles tipos de animais que representavam tantas coisas sinistras, mesmo que Anne não dissesse nada. Permaneceu em silêncio, olhando para os pássaros e respirando tão rápido que qualquer um concluiria, ao vê-la daquele jeito, que havia atravessado suas terras correndo.
?Não vão machucá-la. ?Garanto que são muito dóceis e afetuosos
?acrescentou envolvendo o outro braço em volta de sua cintura. A puxou para mais perto e deu-lhe um beijo gentil no pescoço.
?Afetuosos... ?repetiu automaticamente.
?Nunca machucaram ninguém apesar daquele olhar feroz
?persistiu, notando que ela movia seu corpo inquietamente. ?A única coisa que deve temer é de ouvi-los cantar. Já gritei milhares de vezes que eles não são rouxinóis, mas são tão orgulhosos que não conseguem admitir isso ?
disse ironicamente para que ela acabasse relaxando. Por que os corvos a assustavam tanto? Sofreu algum ataque em sua infância?
?Como... como…? Porque...? Onde o encontrou? ? Enfim perguntou.
?Quando comprei Harving House estava praticamente destruída pela passagem do tempo. Seu ex-dono não queria reconstruí-la porque, no fundo, não sentia nenhum apreço por esse belo lugar. Talvez doesse lembrar a época em que morava aqui com sua falecida esposa. Então ele saiu e a deixou completamente negligenciada.... Imagino que os pais de Astennu pensaram que seria o melhor lugar para se aninhar, porque não encontraram nenhum ser humano por muitos anos. No entanto, no dia em que a adquiri, e embora pudesse desmoronar a qualquer momento, decidi passar uma noite inteira calculando a deterioração da estrutura e ponderando o quanto meu investimento aumentaria. Minha presença indesejada deve ter assustado
aqueles pais quietos e deixando-o no ninho. Não sabia que existia até que, cansado de investigar, procurei um quarto na casa onde o telhado não tinha sido destruído. Espalhei um cobertor sobre o chão imundo, coloquei meus braços sob a cabeça e olhei para cima. Foi quando descobri um enorme ninho. Essa casa tinha sido desabitada durante anos e era normal que os pássaros procriassem nas áreas onde os seus futuros descendentes estariam protegidos das adversidades climáticas. Com os olhos fixos naquele ninho, pensei em todos os problemas que deveria enfrentar. Várias horas se passaram até que o sono se apoderou de mim e fechei meus olhos. Quando estava prestes a dormir, ouvi um barulho. Levantei rapidamente e procurei a causa daquele som. Inspecionei a casa inteira com determinação, amaldiçoando a possibilidade de que alguns roedores tivessem procriado nas poucas paredes firmes que sustentavam a velha casa. Posso suportar as penas de milhões de aves, mas não consigo tolerar esses transmissores de epidemias
?revelou com certa repulsa. —Depois de confirmar que não havia nada e que talvez eu tivesse notado o rangido de alguma madeira velha que ainda sustentava a casa, voltei para o quarto, deitei e o barulho reapareceu. Voltei a olhar para o ninho e naquele momento um galho caiu no chão. ?Logan sorriu e suspirou profundamente. ?Escalei a parede, que estava esburacada, como se estivesse subindo no mastro do meu barco. Quando meus dedos o alcançaram, o peguei com cuidado e.... ali estava aquele patife! Ele quase não
tinha penas e estava cercado por mais três ovos. Me senti muito culpado por tê-lo separado de seus pais com tão pouco tempo de vida... ?permaneceu em silêncio. Não era sensato confessar a empatia que sentiu quando o contemplara tão só, tão abandonado e o terrível desespero que percebeu no pequenino quando não teve mais a proteção de seus pais. ?Uma vez que o deixei no chão, ele olhou para mim e abriu o enorme bico esperando que o alimentasse. Naquele momento, algo estranho surgiu em mim e, sem demora, por um miserável segundo, saí para o jardim e procurei algo que pudesse servir de alimento. Garanto que a primeira vez que tem entre seus dedos um verme repulsivo cortado em vários pedaços, não é capaz de levar nada à boca em vários dias ?apontou divertido.
?E ele sobreviveu... ?concluiu Anne com um suspiro. Como podia ser verdade? Tinha que ser uma alucinação! Estaria louca? Porque só assim poderia afirmar que esse animal sortudo era o que aparecera em seus sonhos. A mancha em seu peito, o tamanho de suas asas, o brilho de sua plumagem e ... aqueles olhos. Mas sua mãe lhe dissera que as ciganas sempre viam corvos em suas mentes para direcioná-las ao homem que esperavam.
No entanto, não falou sobre a precisão entre o corvo de seus sonhos e o real.
?Isso mesmo ?disse virando-a novamente para ele. ?E formou sua própria família. Astennu se tornou protetor de Harving enquanto estou ausente. Graças a ele e sua família não tenho nenhum verme repulsivo
vivendo nos arredores e devido às lendas que existem sobre eles, muito poucas pessoas querem invadir uma propriedade onde vive uma família de pássaros tão sombrios.
?Os ciganos geralmente vivem em harmonia com eles e....
?tentou dizer.
?Anne, não só os ciganos os respeitam. Há culturas que os reverenciam e explicam milhares de significados quando descobrem sua presença. No caso de Astennu, ele decidiu ficar ao meu lado, porque aqui tem tudo o que deseja para ser feliz. ?Se desculpou rapidamente.
Estava certa. Os de sua etnia adoravam os corvos porque, de acordo com a história, a mãe dos ciganos ordenou que esses pássaros protegessem as crianças que nascessem de seu ventre. E era assim que se sentia quando estava em Harving House. Astennu voava sobre ele toda vez que saia para montar por sua terra. Observava o que seus olhos não podiam ver e à noite, quando todos descansavam, seu amigo descansava no parapeito da janela, olhava para a imensidão das terras e guardava seus sonhos.
?Mas vamos parar de falar sobre esse sujeito descarado
?comentou antes de agitar os braços para que os pássaros voassem pelo estábulo até que fossem embora. Quando não haviam mais testemunhas para observá-los, acariciou a face esquerda dela com a frente da palma da mão direita. ?Quero saber o motivo pelo qual ficou com raiva hoje. Não gostou
do passeio? Sentiu a mesma repulsa que Elizabeth pela praia? Pensei que acharia agradável, é por isso que prometi a....
Anne não permitiu que ele terminasse aquela exposição absurda, pôs as pontas dos sapatos no chão e silenciou-o com um beijo. No início, Logan mostrou alguma confusão sobre aquela explosão apaixonada, mas quando sentiu os dedos de suas mãos segurando as abas de sua camisa, puxando-o para seu corpo, abraçou-a e respondeu a esse beijo com uma avidez feroz.
Aquele contato sensual se tornou mais intenso quando Anne abriu os lábios, permitindo que sua língua voraz a invadisse, devorando-a. Sua mente ficou em branco. Apagou a história de Astennu e o desejo de descobrir qual tinha sido o motivo de sua raiva. Ele a queria. Sim, ele a queria tanto que tudo ao seu redor desaparecera, exceto ela. Lentamente, Logan levou suas mãos para os botões do vestido de Anne e quando seu beijo ficou mais intenso, mais possessivo, desabotoou-os com urgência. Tinha que tê-la, tinha que acalmar sua necessidade, tinha que fazê-la sua tantas vezes quanto pudesse, porque estava determinado a marcá-la, selá-la com tal força que ela aceitaria, de uma vez por todas, que eles foram feitos um para o outro.
?Se eu soubesse que a história daquele bendito corvo a transformaria em uma deusa apaixonada, teria lhe contado antes ?disse enquanto deslizava o vestido sobre seus ombros e beijava as áreas de sua pele
que ficavam nuas.
?Não foi exatamente a história dele... ?Anne murmurou, colocando os dedos na camisa para desabotoá-la com ousadia.
O desejo que Anne mostrava ao despi-lo o deixou louco, então rasgou os botões do vestido sem desabotoar. Caiu no chão, fazendo com que alguns ramos de feno levitassem.
?Ah não? Então, o que foi? ?Ronronou antes de apertar os dentes em seu ombro esquerdo e mordê-lo para fazer uma grande marca.
?Você! ?Exclamou, sentindo a mordida em sua pele.
Anne jogou a cabeça para trás, deleitando-se naquele ato selvagem. Qualquer mulher recatada teria se afastado e o repreendido por deixar uma marca do que havia acontecido entre eles, mas ela não era uma mulher recatada, era uma cigana que mergulhava no abismo de uma paixão sem precedentes. Seu destino estava marcado. Todos os sinais apontavam para ele como a pessoa que esperava. No entanto, apesar de suas convicções, ainda havia um ponto a ser lembrado: sua origem. Algum dos ancestrais de Logan teria sido cigano? Seria possível que ele tivesse uma mísera gota de sangue cigano?
?Anne... ?sussurrou quando notou uma certa tensão nela, ?te quero tanto... eu preciso de você... ?Suas mãos caíram, assim como seu corpo. Ele se ajoelhou e, ajudando-a, fez com que ela levantasse uma perna
primeiro e depois a outra, deixando-a em uma camisola branca tão transparente que podia admirar aquela figura feminina que adorava. ?Você é linda, meu amor ?acrescentou, colocando as grandes palmas das mãos nos quadris e aproximando o rosto daquele cabelo escuro com uma forma triangular em sua virilha, que exalava o perfume mais hipnótico do mundo.
Levou o nariz para aquele lugar desejado e respirou fundo, preenchendo-se dela, do seu ardor, do seu aroma sexual. ?Morrerei se não a possuir, se não a beber, se não puder... saboreá-la de novo.
Encantada por aquelas palavras ousadas, Anne colocou as mãos no cabelo preto de Logan, emaranhou os dedos nele e o puxou para mais perto da parte que adorava. Sua respiração se agitou quando sentiu as mãos de Logan na roupa e como a fez subir muito suavemente por seu corpo.
?Tudo isso é meu, só meu ?assegurou uma vez que a camisa estava fora de vista. Com uma ternura muito controlada, acariciava seus quadris, coxas e pernas de cima a baixo, enquanto seu nariz continuava a inspirar aquela área feminina que devoraria em breve. Lentamente, levantou a perna esquerda de Anne e colocou-a em seu ombro, se permitindo observar aquele sexo delicioso que já brilhava de desejo. ?Coloque as mãos na parede, querida, vou saciar a minha sede ?disse antes de poder acariciar as dobras voluptuosas e úmidas com a palma da mão direita.
Anne, depois de obedecer a sua ordem, o olhou extasiada e soltou
um gemido quando descobriu como ele estava lambendo a mão que tinha passado por seu sexo. Sua essência... Ele decidiu saborear todo o suco que emanava de seu desejo por ele e não desperdiçaria uma única gota.
Quando a língua substituiu a mão, fechou os olhos, abriu a boca ligeiramente para poder respirar e pregou as unhas na parede de madeira.
Louca! Sim, essa era a palavra que melhor a definia. Mas... quem permaneceria sã, enquanto sentiria como a língua de seu amado produzia tanto prazer que era incapaz de suportar?
?Está tão molhada, tão preparada para mim ?Logan apontou quando substituiu sua boca pelos dedos. ?Te quero assim, Anne, aceitando minhas carícias e respondendo com aquele fervor que me transforma em um louco ?acrescentou antes de voltar para as suas pernas.
Cravou os dentes nos lábios esponjosos, ouviu como ela gritava e sentiu o tremor daquele corpo submetido a um frenesi contínuo. Beijou-a com paixão, apreciando o perfume que emanava, em êxtase ao ouvir os murmúrios que Anne fazia enquanto lambia com ansiedade a entrada daquela vagina que se contraía e dilatava com seus ataques.
?Logan... ?disse de um jeito tão erótico, que seu sexo reagiu com tamanha intensidade que estava prestes a gozar.
Como era possível? O que ela tinha que não encontrara em outras mulheres? Nenhuma o deixara tão duro, tão excitado que, com o simples roce
em suas calças, pudesse alcançar o clímax mais arrebatador.
Desesperado, abriu mais a boca e procurou o clitóris com a língua. Quando o notou, sentindo aquela pequena proeminência roçar na ponta de sua língua, brincou com ele até perceber como o néctar de Anne banhava seus lábios, sua barba...
?Oh Logan! Sim! ?Gritou com a chegada de um orgasmo tão intenso quanto abrupto. ?Sim! ?Gritou de novo, jogando a cabeça para trás para capturar todo o ar que poderia encher seus pulmões. ?Eu te amo!
Maldito seja, eu te amo... preciso de você! ?Confessou e corrigiu presa pela alienação que o frenesi causava.
Aturdido por essa afirmação, agarrou as pernas, nas quais as pontas dos dedos ficariam marcadas para sempre, e mordeu com tanta voracidade aqueles lábios esponjosos e saborosos. «Finalmente! " Ouviu em sua mente. Sim, finalmente ouvia o que queria escutar desde a primeira noite em que esteve com ela. Só esperava que não fossem palavras provocadas pelo delírio do desejo. Precisava que ela sentisse o que ele já sentia.
Lentamente, depois de dar sua última lambida e coletar todo aquele delicioso néctar, levantou, se colocou na frente dela e a beijou. A mistura que saboreou, aquela poção mágica, levou-os a um nirvana incapaz de descrever. Anne colocou os braços ao redor de seu pescoço e se aproximou dele. Quando ela tentou se levantar, para que a levasse a algum
lugar naquele estábulo, Logan virou-a bruscamente e encostou seu rosto na parede onde ela havia pregado as unhas.
?Coloque as mãos de volta... ?ordenou enquanto levantava a camisola novamente.
?Logan... ?disse tentando ver o que ele estava fazendo atrás dela.
?Shii, relaxe meu amor ?respondeu, sua mão direita retornando ao seu sexo. Abriu suas pernas um pouco mais e, observando que ela estava encostada na parede de madeira como ele havia indicado, retirou a mão e a fez retornar, mas desta vez não foi para dar-lhe uma carícia suave, mas uma bofetada.
?Logan! ?Anne gritou quando sentiu uma estranha satisfação naquele ato áspero.
?Mais? ?Perguntou, colocando a palma da mão esquerda nas costas arqueadas.
?Sim! Por favor... por....
E ele fez isso de novo. Desta vez, quando a palma da mão tocou o sexo de Anne, não só sentiu como queimava, mas seu fluxo aumentou. Com um leve sorriso, ele a esfregou com a mão aberta e se deliciou ao ouvi-la gemer. Perfeita. Anne era seu par perfeito. Sua cigana, sua esposa, sua vida ...
Depois de vários outros tapas, as pernas de Anne tremeram tanto
que ela estava prestes a se ajoelhar, mas ele não deixou. Agarrou-a pelos quadris e segurou-a com uma mão, enquanto com a outra desabotoou rapidamente o botão de suas calças.
?Vou penetra-la ... vou fazê-la minha ... pode me ouvir?
?Apontou, colocando seu pênis duro e rígido naquela abertura quente e úmida.
?Sim! ?Gritou desesperadamente.
Logan a penetrou com força, sem cerimônia, rudemente.
Estendeu as mãos para ela até que elas se acomodaram em seus ombros e a envolveram de novo e de novo. Não foi sutil ou delicado, não queria ser.
Anne tinha que entender que seus sentimentos eram recíprocos e que ela não poderia pertencer a outro homem. Esse pensamento o deixou louco, enfureceu-o ao ponto de pressionar os dedos contra a pele macia. Não. Ela não se afastaria dele. Ela viveria ao seu lado e não olharia para ninguém porque só deveria olhar para ele.
Concentrando-se naquele ato possessivo, naquela marca que a levaria para dentro da vida, Logan voltou a penetrá-la com desespero, com ânsia. O corpo de Anne agitou com essas estocadas ásperas, suas pernas tremiam e seus joelhos ansiavam por tocar o chão. Ambos sentiam como as poucas peças de roupa que cobriam seus corpos estavam presas a eles pelo suor causado pelo delírio, pelo esforço, pela lascívia.
?Minha, Anne Moore! ?Você é minha! ?Sentenciou em sua última investida, em seu último ataque. Então, derramou sua semente dentro dela, espalhando sua essência masculina nela. Fechou os olhos e não viu escuridão, a não ser milhares de estrelas brilhantes que iluminavam tudo que um dia esteve escuro. ?Querida... ?sussurrou quando sua respiração começara a relaxar. ? Também te amo... ? Saiu dela, virou-a para ver aquele rosto apaixonado e, antes que Anne pudesse falar sobre a idiotice que ambos haviam confessado enquanto se deixavam levar pelo desejo, a beijou.
XXXI
Procurava por uma palavra que definisse seu estado de felicidade, mas não a encontrou. Nada tão simples poderia descrever o que sentia por dentro. Sua alma parou de sofrer, de se punir, de se amaldiçoar por levar o sangue cigano. Era a primeira vez que se sentia calmo e seguro de si mesmo.
Todos os pensamentos obscuros e sombrios desapareceram, causando um bem-estar sem precedentes. Olhou para Anne, que estava sentada do outro lado da mesa, e sentiu seu peito crescer com a emoção de tê-la ao seu lado.
Disse que o amava, embora tentasse corrigir rapidamente essas palavras. No entanto, sabia que elas eram verdadeiras, que não tinha sido uma consequência do ato apaixonado porque, separando seus lábios dos dela, notou em seus olhos o conflito entre o amor que professava e a agonia de não conseguir. Tinha medo. Claro que tinha! Quem apagaria de sua mente a crença de que a pessoa que amasse poderia morrer a qualquer momento por causa da maldição que sofria desde o nascimento? Mas ele não acabaria como seus dois pretendentes. Ele permaneceria ao seu lado porque era a pessoa que havia esperado: seu cigano, seu futuro marido, o homem que a amaria até que desse seu último suspiro de vida. Agora só teria que enfrentar a pior parte: não declarar quem realmente era e o aceitasse com a imagem que havia oferecido por tantos anos, porque não podia confessar a verdade. Esse estado
de bem-estar começou a se desvanecer ao pensar nisso e seu corpo ficou tenso como a corda de um violino. Deveria continuar a proteger seu segredo, não era certo revelá-lo. A tenacidade que teve por muitos anos e a luta que enfrentou com o conde de Burkes viriam à luz e as pessoas voltariam a murmurar sobre as escapadas amorosas do velho marquês de Riderland e como um de seus descendentes pagou a chantagem de um velho lorde. O que aconteceria com seus meios-irmãos? Não, não poderia falhar. Tudo devia permanecer igual. Conseguiria o amor de Anne sendo o visconde de Devon e não o filho de uma jovem cigana que morreu durante o parto.
Sem tirar os olhos dela, levou a taça de vinho até a boca e tomou um pequeno gole. Como conseguiria que ela aceitasse sua proposta de casamento? Porque perguntaria a ela. Sim, antes de partirem para Londres, Anne usaria uma linda aliança para que todos soubessem que ela era intocável, inacessível, e quem ousasse falar com ela receberia uma punição terrível.
?Não sei como Galeón se adaptará à sua nova casa ?comentou Josh, quebrando o silêncio constrangedor que os quatro mantinham durante o jantar.
?Planeja levá-lo para nossa casa? ?Perguntou Elizabeth aturdida. ?Não está ciente de que o nosso jardim é muito pequeno para ele?
?O papai poderia contratar vários trabalhadores para realizar
reformas no lado de fora... ?sugeriu sem desviar o olhar do visconde e de Anne. O que aconteceu entre eles? Por que os olhos de Logan brilharam estranhamente enquanto a observava? Por que as bochechas de sua irmã mostravam uma cor escarlate tão intensa? Eles teriam discutido novamente?
?Reformas? Que tipo de reformas? ?Eli perguntou, estreitando os olhos.
? Seria bom se começasse reduzindo a estufa. Na minha opinião, ocupa muito espaço para plantar quatro flores absurdas ?disse Josh, se concentrando na conversa com Eli.
? Nem pensar! ?Exclamou horrorizada ?Essa proposta é inviável! E elas não são espécies absurdas, mas únicas! ?Sentenciou antes de levar um pedaço de carne à boca e mastigá-lo com força.
?Pode deixar em Whespert ?Logan sugeri. ?Há espaço suficiente para ele e tem permissão para visitá-lo sempre que quiser.
?Mas como cuidarei dele em sua propriedade? ?Perguntou, arregalando os olhos. ?Não seria correto que permanecesse por tanto tempo em sua residência, nem que aparecesse regularmente. As pessoas pensariam que...
?As pessoas não pensarão nada, garanto ?disse solenemente.
?É claro que ninguém diria nada de mal se a futura viscondessa de Devon fosse sua irmã mais velha.
Essa declaração fez Anne prender a respiração e olhar fixamente para ele. Por que estava propondo esse absurdo para Josh? O que estaria tramando para não ser ciente dos rumores que isso significaria? Acrescentaria outro suculento escândalo à sua família e eles ainda não haviam se recuperado do anterior!
?Deveria deixar aqui até encontrar um lugar em Londres
?Anne interveio depois de limpar os lábios com o guardanapo.
?Certamente o papai pode alugar um estábulo onde poderá atendê-lo como quiser. Dessa forma não perturbará o visconde.
?Não será inconveniente ?Logan cortou, depositando o copo de vinho na mesa. ?Ficarei feliz que nos visite.
Nos visite. Ele tinha dito tal atrocidade na frente de suas irmãs?
Ele não entendia que suas palavras poderiam ser mal interpretadas? E, pela expressão que elas colocaram, fizeram isso.
?Mesmo que sua irmã mais nova esteja presente várias vezes por semana, essa proposta não é correta. Como Josh disse, todos falariam sobre as numerosas aparições em sua residência em Londres ?comentou com falsa tranquilidade, rezando para que desaparecesse da cabeça de suas irmãs, qualquer pergunta inoportuna.
?Não estava pensando em Nathalie, senhorita Moore ? afirmou resistente. Recostou-se na cadeira, cruzou os braços e esticou os lábios
ligeiramente para mostrar um sorriso.
?Da mesma forma, não acho apropriado que, quando os marqueses de Riderland estiverem presentes, Josh esteja livre para ir à sua residência ?disse Anne depois de engolir o nó que se formou em sua garganta.
Era estúpido? Por acaso estava dando como certo que estariam juntos como amantes? Ah, claro! Já havia concluído que iriam morar em sua casa por ter declarado palavras tão absurdas para ele. «Absurdas, mas são verdadeiras», disse a si mesma. Mas não. Não assumiria um papel tão degradante por amor. Quando retornasse a Londres, continuaria com sua ideia de ir a Paris. Lá, longe dele, poderia restabelecer sua tranquilidade e não se deixar levar por sentimentos irracionais.
?Também não fiz qualquer referência ao meu irmão e sua querida esposa ? continuou com a voz firme sem afastar seu olhar dela.
Ante uma atitude tão segura e tão endeusada, Anne queria pegar seu copo de vinho e jogá-lo nele, para ver se dessa forma deixaria de se comportar com tanta afronta. No entanto, quando estava prestes a dar outra desculpa, a porta da sala de jantar se abriu e Kilby apareceu, que, por causa da palidez de seu rosto e do modo como sua mandíbula estava cerrada, não era portador de boas notícias.
?Milorde, sinto a interrupção. Mas tem um visitante e, apesar de
ter indicado que está ocupado, insiste em falar com o senhor ?explicou o surpreso mordomo.
?Quem é? ? Logan perguntou, se levantando rapidamente.
?Lorde...
?Pelo amor de Deus! Desde quando fui formalmente apresentado ao meu amigo! ?A voz de um homem trovejou atrás das costas de Kilby. ?Saia! ?Ordenou ao criado. Quando ele permaneceu imóvel, o cavalheiro lhe deu um empurrão repentino e entrou na sala. Assim que o visitante súbito descobriu que Bennett estava hospedado com três mulheres, que se levantaram ao vê-lo, George deu um largo sorriso. ?Boa noite senhoras, me perdoem...
?Laxton! ?Logan gritou, caminhando decididamente em direção a ele. ?Como se atreve a entrar em minha casa dessa maneira e assustar minhas convidadas?
?Me desculpe querido amigo. ?Falou a palavra amigo de forma mordaz. Seu fiel mordomo não me explicou que três belas damas eram a causa pela qual não podia me atender. ?Estendeu a mão para Logan e, quando aceitou, sentiu que apertava com força. George sorriu com aquela sutil advertência, mas não se deu por vencido. Agitou a mão para se livrar dessa pressão e se dirigiu para a mesa. ?Quem são essas daminhas lindas?
?George, vamos falar sobre a questão que o trouxe aqui em meu
escritório ?disse Logan apertando a mandíbula.
?Não somos damas, milorde ?respondeu Josh, se posicionando como um soldado. ?Somos as irmãs Moore, pupilas do visconde.
?Pupilas? ? Laxton perguntou, olhando de soslaio para o amigo. ?Entendo... ?E um sorriso depravado apareceu em seu rosto, acentuando aquele rosto canalha e perverso.
?Por favor, me siga. Como disse, vamos conversar tranquilamente em meu escritório ?ordenou no mesmo tom com o qual continha uma séria briga entre seus marinheiros.
?É claro ?cedeu no final. Antes de se virar, para sair da sala, George passou os olhos pelo corpo de Anne com ousadia, um gesto que causou um rugido estranho em Logan. Então continuou para Elizabeth, que olhou para ele descarada, ousadamente e acabou contemplando a jovem que se dirigiu a ele. Uma careta de desagrado apareceu em seu rosto enquanto observava suas roupas. Era realmente uma jovem? Porque duvidava que fosse... Só precisava de um bigode grosso para lembrá-lo de seu antigo professor de latim. —Espero vê-las novamente, senhoritas Moore. Ficarei feliz em termos uma longa conversa... ?Prolongou cada palavra como se estivesse sibilando. Disse adeus com um leve aceno de cabeça e foi acompanhado por Logan. Uma vez que este fechou a porta, disse: ?Três para você? Desde quando se tornou tão egoísta?
?Não é o que pensa ?resmungou o visconde, dando longos passos em direção ao seu escritório.
Precisava sair de lá o mais rápido possível, porque não tinha dúvida de que Eli e Josh colocariam seus ouvidos atrás da porta para escutá
los e não era apropriado que descobrissem a amizade peculiar que ele e Laxton tiveram no passado.
?Não é o que penso? - Perguntou sarcástico. ?Não duvido que sejam suas pupilas, mas... as instruirá na arte do amor, como fez comigo?
Tenho que confessar que foi o melhor professor que já tive. Nenhuma das minhas amantes se queixou ...
?Feche essa maldita boca! ?Ordenou irado. ?Está falando das filhas do Dr. Moore, não de prostitutas!
?Entendo ... ?Respondeu quando fechou a porta do escritório.
Observou o visconde seguir à escrivaninha, se colocar atrás dela, como se fosse um homem de negócios honrado, abaixar as mãos e olhá-lo como se quisesse estrangulá-lo.
? A que veio?
?Acalme-se, Logan ? indicou enquanto se sentava. Desabotoou os botões de sua jaqueta cinza e cruzou as pernas no joelho. Não vai me convidar para uma bebida? O que venho lhe contar é tão importante que deveria me recompensar com um bom conhaque.
?Sirva-se
?respondeu
sem
reduzir
os
sinais
de
descontentamento expressos em seu rosto.
?Está bem... ? deu de ombros. Se levantou, caminhou lentamente até o decantador de conhaque e se serviu de uma generosa dose de bebida. Então, sem tirar um sorriso de seus lábios, voltou ao lugar.
?A que veio? ?Logan repetiu, sentindo a frustração fazê-lo perder o controle.
?Relaxe ? George ordenou, olhando-o sem piscar. Lembre-se que não sou o inimigo...
?Faz muito tempo desde que nos vimos pela última vez, então não posso confirmar ou negar suas palavras ?disse apertando sua mandíbula com tanta força que poderia desencaixá-la a qualquer momento.
?Estou aqui, certo? Bem, isso tem que responder à questão.
?Vá direto ao ponto ... ?pediu, afastando as mãos da mesa.
Como Laxton havia feito, Logan foi até a garrafa de bebida, pegou o copo maior que havia na bandeja e encheu-o até transbordar. Então levou à boca e bebeu de um só gole. Repetiu a ação antes de retornar ao seu lugar.
?Visitei meu tio hoje de manhã e tivemos uma conversa muito vigorosa ?disse em uma voz misteriosa, fixando seus olhos cor de mel no líquido âmbar. ?Dado que apareceu de uma maneira súbita e secreta,
acredita que retornou para ... desfazer o que fez durante a sua ausência.
?Voltei porque tive de fazê-lo ?Logan murmurou, sentando-se abruptamente. As irmãs Moore precisavam da minha ajuda e ofereci a elas.
?Qual delas, especialmente? ?Perguntou depois de estalar a língua enquanto saboreava o bom conhaque do amigo.
?A mais velha ... - confessou antes de terminar a bebida de um só gole. Olhou para o copo vazio e sentiu um leve tremor em sua mão. Medo.
Pela primeira vez desde aquele dia, o medo do velho Burkes aparecia novamente.
?Então Rose se tornou passado, certo? Pena! Foi a mais bela de todas ?disse tocando o queixo, observando enquanto seu camarada de noites de farra franzia a testa.
?Rose nunca me interessou como esposa ? revelou involuntariamente.
?Esposa? ?George perguntou, arregalando os olhos. ?Se apaixonou a esse ponto? ?Disse incrédulo.
?Por acaso não tenho coração? ?Contra-atacou.
?Oh sim! Claro que tem! ?Respondeu divertido. ?A única coisa que aconteceu é o submeteu a uma fria letargia durante os anos que ambos desfrutamos.
?Me listará quantas noites e quantas mulheres nós estivemos?
?Resmungou.
?Não! ?Respondeu como se estivesse horrorizado. ?Meu tio teria um derrame se quebrasse nossa promessa! ?Acrescentou nitidamente.
?Pode me dizer, de uma vez por todas, a que devo sua visita?
?Tentou especificar. Embora já estivesse com medo do que iria dizer, precisava que fosse direto ao assunto. O quanto antes ficasse ciente do problema que estava por vir, quanto antes poderia encontrar uma solução.
?Meu tio insiste em lembrá-lo do acordo.
?Não o quebrei. Fiquei longe de você desde que nos descobriu.
Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, alguém trairia sua presença em Harving, embora não pudesse apontar para ninguém com certeza. Exceto pelo dia em que foi ao administrador assinar o contrato para a transferência do Galeão, não havia deixado seus limites... estreitou os olhos e prendeu a respiração. Claro! Como não pensou naquele dia? Como não se antecipou? Porque estava tão obcecado por Anne que não percebeu esse pequeno detalhe. Elizabeth saiu em uma de suas carruagens e com Howlett.
Todo mundo conhecia seu falante e estranho ajudante! E ele tão pouco tentava passar despercebido com suas roupas tão extravagantes. Tinha que obrigá-lo a colocar um saco, áspero e sujo.
?Acredite, ainda me sinto culpado por isso. Se tivesse adivinhado o propósito daquela porcaria... ?Pela primeira vez, desde que
apareceu, George fez a expressão zombeteira desaparecer de seu rosto para transformá-la em ferocidade. Ele apertou a mandíbula e franziu a testa. Seus olhos castanhos escureceram e sua respiração ficou lenta, profunda, como se a maldade lhe causasse um perigoso estado de tranquilidade.
?Nenhum dos dois notou a inquietação da criada ou sua insistência em olhar para a porta ?tentou diminuir a relevância, no entanto, tinha mais consideração do que desejava aparentar. Naquele dia, se tornara um mísero fantoche do velho conde. Apenas sua tenacidade em negar a história àqueles que viam com repulsa a insistência em divulgá-la, o salvou.
?Se não quisesse me salvar...
?Não levante fantasmas do passado ?Logan o interrompeu.
?Me diga pelo qual apareceu, porque tenho certeza de que seu tio não o teria feito vir aqui para me lembrar do acordo. Teria enviado um de seus servos com o selo de seu honroso título no verso. Então me diga, o que propõe desta vez?
?Quis que eu entregasse isso pessoalmente ?disse tirando um envelope do bolso de sua jaqueta cinza pérola.
?O que é? ?O visconde perguntou de maneira arisca.
?É um convite. Neste sábado havia preparado uma festa íntima e, ao saber que estava em Harving, decidiu incluí-lo em sua lista de convidados honrados e respeitáveis. ?Enfatizou essa palavra sarcasticamente
para deixar claro que era uma obrigação e que não poderia rejeitá-la.
?O que quer agora?
?O que acha? ?Perguntou jogando o envelope sobre a mesa de Logan como se isso o queimasse.
?Não está à venda ?disse, se erguendo rapidamente, como se de repente se lembrasse de que deixara uma panela de água fervendo no fogo.
?Eu sei, mas aquele velho teimoso não quer morrer sem assinar esse miserável contrato de compra ?comentou com pesar.
Logan deu-lhe um olhar preocupado e incrédulo. George ainda não sabia o que realmente aconteceu quando Burkes o trancou, junto com o juiz e o padre, na biblioteca? O velho não lhe contou sobre aquela reunião miserável? Não, claro que não. George não acreditaria nele e divulgaria esse falso rumor em todos os eventos sociais que assistiria e.... o que aconteceria no final? Alguém resolveria essa fofoca de maneira fulminante: o próprio Marquês de Riderland. Mesmo assim, o que aconteceria com seus meios-irmãos? Que feridas esses malditos rumores causariam à sua querida Nathalie? Não podia pôr em risco a vida de toda a sua família por não ter reprimido certas fantasias sexuais.
?E, se ele não morrer em paz, não irá adquirir a sua ansiada herança ?falou mordaz sobre a afirmação anterior.
Logan olhou para quem fora um bom amigo da farra e concluiu
que ele ainda estava obcecado em agradar aquele conde bastardo. No entanto, as marcas que apareciam ao redor dos olhos mostravam dor, agonia e desespero. Estava esperando o momento para se livrar dele? Rezaria para que seu tio morresse antes de que completasse vinte e cinco anos? Era difícil desejar que alguém morresse, mas o conde teria merecido por praticar um ato de bondade, como receber o filho de sua irmã que, depois da morte do marido em um trágico acidente, precisara de ajuda da família. Embora o verdadeiro propósito de Burkes fosse transformar o jovem sensível, afetuoso e carinhoso num ser cruel e impiedoso. Logan pensou, inutilmente, que iria libertá-lo através do prazer, mas errou. Só esperava que um dia uma mulher devolvesse a criança que ele foi e que o fizesse esquecer todos os ensinamentos do velho ogro.
?Veja. No fundo continua lendo meus pensamentos ?disse antes de se levantar e terminar a reunião. Seu tio permitiu que viesse Harving para lhe dar o convite e foi isso o que fez. Agora teria que voltar se não quisesse sentir a fúria nas suas costas.
?Harving não está à venda nem antes, nem agora, nem no futuro
?disse solenemente. ?Pretendo transformá-la em minha segunda moradia.
?De verdade? ?A resposta o surpreendeu tanto que ele refez seus passos.
?Sim ? disse Logan com confiança.
?Bem, assim sendo, não terá escolha senão se apresentar com ela ...
?De jeito nenhum! Seu tio não se aproximará de Anne!
?Berrou, apertando as mãos com tanta força que sentiu as unhas cravarem na palma da mão.
?Porque não? Não quer se livrar dele de uma vez por todas?
Além disso, sabe que, à medida que as descubra, fará todo o possível para destruí-las. O que acontecerá com as respeitáveis e honradas filhas do Dr.
Moore quando todos falarem sobre o que possivelmente fez nessa residência?
Haverá um tal escândalo que terá que vender Harving por muito menos do que custa.
?Exige que eu participe, mesmo que não queira? ?Retrucou dando um passo em direção a ele.
?Exijo que se comporte de maneira sensata. Se realmente sonhou em alcançar um futuro decente, deve se concentrar no que é mais importante ?disse apontando com um dedo inquisidor.
?Que é ... ? murmurou.
?Se aparecer na festa com elas e espalhar a notícia de que Harving House se tornará sua segunda casa, meu tio não terá escolha senão assumir sua derrota ? disse sem hesitar.
?Por que envolveria as irmãs Moore nisso? É algo que devo
resolver de uma vez por todas com aquele bastardo. Então posso me apresentar amanhã em sua residência e ...
?Não se casará com uma delas? Bem, a coisa certa seria acompanhá-lo para testemunhar suas palavras.
?Não quero que Anne descubra o que fizemos e sei que seu tio ficará feliz em explicar o que aconteceu naquele dia ?resmungou.
?Não sabe nada? ?George não acreditou.
?Não! ?Disse desesperado. E não quero que descubra!
?Não ouviu nada sobre sua vida de libertinagem? ?Perguntou.
?Ela não é surda... ?bufou. ?E sua irmã é muito próxima da minha. Assim que…
?Então não ficará surpresa. Que libertino que se preze não teria uma orgia com seu melhor amigo?
?Não sei se ela gostaria de ouvir sobre esse tipo de ato sexual.
?Refletiu voltando para a mesa. Pegou o copo e, depois de observá-lo por alguns segundos, deixou-o sobre a mesa novamente. Foi até o aparador, virou a chave e abriu as portas de madeira que escondiam várias garrafas de conhaque. Tirou duas, colocou-as na mobília e, depois de desarrolhar a primeira, voltou ao seu lugar.
?Sabe? Desde o começo soube que seu romance com Rose não terminaria em um casamento ?George apontou antes de pegar a outra
garrafa e imitar Logan.
?De verdade? ?Logan perguntou estreitando os olhos.
Entornou a garrafa de licor e tomou um longo gole. ?E quando concluiu algo tão solene?
?Imaginei quando a compartilhamos pela primeira vez
?comentou com calma, com o tom de camaradagem que sempre tiveram até aquele maldito dia. ?Se tivesse um mísero sentimento de posse em relação a ela, não teria permanecido sentado naquela cadeira enquanto Rose gritava meu nome ao possuí-la. Certamente agora não poderia compartilhar sua futura esposa com ninguém, estou errado?
Essa pergunta nublou sua mente. Compartilhar Anne? Morreria antes de ver como outro homem a tocaria! Mas... e se ela fugisse quando descobrisse as perversões que fez com suas amantes? Poderia deixar claro que sempre foram mimadas e que não estava mais disposto a fazer isso. No entanto, para chegar a esse ponto teria que contar a ela sobre suas origens, seu sangue cigano, o que aconteceu com o conde, a vida de seus meios-irmãos, a chantagem, o pagamento que fez ao bastardo Burkes para manter seus lábios selados... O que Anne faria depois de ouvi-lo?
?Diga-me, Logan, compartilharia sua esposa? ?George repetiu depois de beber seu conhaque.
?Não. ? Disse antes de esvaziar mais de um terço da garrafa
em um gole.
XXXII
Não saiu do escritório pelo resto da noite, apesar do fato do cavalheiro ter abandonado Harving House uma hora depois de sua entrada apressada. Quando a porta da sala de jantar se abriu, as três se viraram para ela, esperando pela presença de Logan, mas Kilby apareceu em seu lugar. Ele desculpou a ausência do visconde alegando que tinha alguns assuntos muito importantes para resolver. Mas Anne sabia que estava mentindo. Aquele homem o alterara, era necessário apenas recordar do rosto zangado que exibiu ao vê-lo para confirmar essa suposição. Quem era esse indivíduo? Por que Logan mostrou uma tensão amarga quando invadiu a sala de jantar? Anne andava de um lado para o outro em seu quarto, esfregando as mãos. Seus pelos arrepiaram novamente, avisando-a de que algo ruim estava prestes a acontecer. Mas... o que seria? Como poderia lutar contra o que não conhecia ou não entendia?
Caminhou até o pé da cama e se sentou pela décima quinta vez.
Era correto confiar no que seu coração ditava? Devia descer e conversar com ele? Sua presença o ajudaria a superar o que o incomodava? Uma amante poderia exercer esse papel? Não. Esse seria o trabalho de uma esposa... essa reflexão fez com que levasse as mãos ao rosto e o esfregasse de angústia.
Odiava essa ideia. Irritou-a pensar que um dia Logan teria que se casar e que
tudo que viveram desapareceria como fumaça. Seria correto ser levada pelos sinais enviados a ela por sua mãe criadora? Os sonhos, que cessaram quando chegou a Harving House, Astennu, que era o mesmo corvo que aparecia em todas as suas visões. Só precisava ouvir a música que aparecia enquanto caminhava por aquela floresta e que Logan confirmasse que um antepassado dele era cigano. Mas... qual era a possibilidade de que tudo o que precisava acontecesse para que não duvidasse que era o seu homem?
Um barulho atrás da porta a fez levantar rapidamente. Seu coração batia desesperado e seu pulso acelerou quando imaginou que era Logan. Ouvindo apenas a respiração agitada, permaneceu de pé e olhando em direção à entrada, até que, após algum tempo, deduziu com tristeza que não a visitaria. Não pretendia se apresentar? Havia decidido afastá-la do seu lado?
Teria reconsiderado seu relacionamento após a aparição daquele homem? Por que? Quem era ele?
Uma enorme tristeza tomou conta dela e seu coração ficou oprimido. Por que a confusão lhe causava tanta dor? Não havia deixado claro a ele que tudo acabaria quando ela fosse embora? Não ficou com raiva de ouvi-lo dizer nos visitar? Sim, ficou furiosa ao ouvi-lo expressar essas duas palavras na frente de suas irmãs, mas também estava cheia de alegria. O fato de que Logan achava que o relacionamento continuaria assim que ela deixasse Harving a entusiasmou, no entanto, deveria ser consciente que seus
pais não aceitariam que se tornasse a amante do visconde. Eles a matariam!
Sim, apesar de terem declarado que em breve estaria livre para fazer o que quisesse, nunca admitiriam tal humilhação para a família. Eles a obrigariam a se casar com ele e, por mais agradável que fosse a ideia, não poderia aceitá
lo, porque essa decisão o mataria.
Ela colocou as mãos no peito e agarrou a camisola com amargura, enquanto as lágrimas molhavam seu rosto. Estava apaixonada e esse estado de amor a fez querer algo que nunca alcançaria. Sua posição não poderia mudar. Se realmente queria estar ao seu lado, teria que se contentar em tomar um lugar de uma concubina e rezar para que ele não a substituísse por outra antes do final do ano.
Olhou de soslaio para a cama, na qual eles tinham feito amor durante as noites passadas, e suspirou. Seria capaz de dormir sem ele?
Poderia fechar os olhos sem descobrir o que estava acontecendo com ele?
Não. Claro que não! Apesar de estar ciente de que, entre eles, não haveria possibilidade de nada, a não ser um idílio temporário, ela não podia deitar naquele colchão confortável sem se importar com o motivo pelo qual ele havia se escondido. Se o visconde tinha um problema, tentaria ajudá-lo, mesmo que fosse apenas uma mísera amante.
Confiante no que ia fazer, levou a mão até parte de trás da cadeira, onde estava seu robe de seda preta, vestiu-o e caminhou com
determinação para a saída.
Tudo estava em silêncio e a escuridão a ajudou a permanecer protegida. Se agarrou ao corrimão da escada e desceu os degraus com tal cautela que nem um único degrau de madeira rangeu. Assim que chegou ao hall, olhou para as grandes janelas e, através das finas cortinas, observou o movimento das copas das árvores. Elas se mexiam como em seus sonhos....
Perplexa, ela olhou para longe das janelas, virou para o lado direito e continuou sua caminhada até que parou em frente à porta do escritório. Ainda estava fechado, como se tentasse obstruir a passagem de outra visita indesejada. Mas ela não era qualquer pessoa... muito lentamente, notando a batida de seu coração na garganta, alcançou a maçaneta e a girou. Se tivesse rangido a porta, ele a teria descoberto, mas os criados do visconde eram tão eficientes que engraxavam as dobradiças com assiduidade. Por essa razão, pôde entrar sem ser ouvida.
A única luz dentro era produzida pelas chamas do fogo na lareira.
Mal notou a decoração daquele escritório. A única coisa que viu claramente foi o grande tapete que estava ao lado do fogo e ele... Logan estava sentado em uma cadeira, com os cotovelos apoiados sobre a mesa e olhando para o que estava sobre ela. Havia tirado o paletó daquele terno azul avermelhado que ele usara tão imponente durante o jantar. As pontas da camisa preta, levantadas para ambos os lados, indicavam que ele não estava usando a
gravata e seu cabelo oferecia uma imagem descuidada. Fios negros e despenteados escondiam aquele rosto másculo que tanto adorava. Virou-se lentamente em direção à porta e fechou-a sem emitir nenhum som. Embora tenha originado o suficiente para ele levantar o rosto e descobri-la.
—O que faz aqui?
O tom duro que usou para falar com ela a fez pensar que havia cometido um erro. No entanto, seus olhos expressaram o contrário: declaravam tanta satisfação e bem-estar que reforçou sua decisão.
—Não consegui dormir -- ela disse enquanto caminhava até ele.
Ficou parada em frente à mesa e observou tudo o que havia nela.
Desordem. Só encontrou um grande caos. Uma multidão de folhas espalhadas na superfície e também vislumbrou que mais de uma estava manchada de licor. Olhou de relance para a garrafa ao lado dele e franziu a testa ao vê-la praticamente vazia. Ele tinha ficado bêbado? Foi por isso que não apareceu em seu quarto? E por que abusava do álcool se durante os dias em que estiveram em Harving House ele mal tinha tomado dois drinques fora das refeições?
—Poderia ter pedido a Sra. Donner para fazer uma daquelas infusões calmantes que ela mantém na cozinha. Certamente isso a teria mantido deitada no colchão até o amanhecer -- disse ele, arrastando as palavras.
—Está bêbado! -- Ela disse cruzando os braços. -- Por quê?
—Por que bebi mais do que posso suportar? —Ele estalou mordaz. —Caso não saiba, meu amor, quando se ingere tanto licor, o....
Logan de repente ficou em silêncio quando ela descruzou os braços e, sem tirar os olhos dele, estendeu a mão direita para a garrafa.
Colocou a boca da garrafa sobre seu lábio inferior e deu um pequeno trago.
—Eu também posso participar desse jogo -- ela argumentou antes de sua garganta queimar pela ingestão daquela bebida a qual não estava acostumada a beber. Segurando as lágrimas que causaram aquele ardor e a repentina tosse, o observou sem piscar enquanto permitia que várias gotas de bebida deslizassem por sua boca, pelo queixo, até baterem em seu peito. --
Tem que me dizer onde guarda mais, porque vou precisar de outra assim para poder alcançá-lo. Bebeu até que não havia mais nada dentro e depois colocou de volta em seu lugar.
O queixo de Logan caiu enquanto ele observava o licor escorrer por sua pele até que, maravilhosamente, terminou no decote do roupão de Anne. Ele queria se levantar, lançar-se sobre ela e percorrer com a língua o longo caminho por onde passavam essas abençoadas gotas de conhaque. Mas, apesar de sua embriaguez, ainda estava ciente de que seu estado lastimável só lhe causaria problemas. Uma vez que ele a beijasse, iria querer mais e isso provocaria uma explosão de emoções que o transformariam em um ser
malvado. Então, antes de fazerem amor, teria que ter certeza de sua decisão de ser honesto com ela. Precisava contar sobre seu passado, o que planejava fazer em um futuro próximo, e se o destino fosse gentil com ele, Anne não iria embora.
—Vai me dizer de uma vez por todas onde posso encontrar uma maldita garrafa? -- Ela retrucou, apreciando sua passividade.
O que diabos aconteceu com ele? Seu visconde, aquele que conhecera até a chegada daquele homem, teria se levantado, a tomado em seus braços e, depois de derrubar tudo sobre a mesa, teria feito amor com ela com tanta paixão que seus corpos teriam fundido. Esse pensamento, e as imagens que apareceram em sua mente, endureceram seus mamilos e a excitaram tanto que ela abriu a boca, inconscientemente, para ofegar.
—Lá! –Ele respondeu com a voz embargada, apontando para o decantador que havia sobre o móvel.
Estava preocupado. Não tinha dúvida sobre isso. Essa visita inesperada o perturbou. O que aconteceu durante a hora em que eles conversaram? Ela olhou para Logan e considerou se seria conveniente perguntar sobre o assunto que o incomodava. Talvez estivesse se precipitando, talvez só precisasse de um pouco de solidão para enfrentar o que aconteceu. No entanto, assim que começou a duvidar de sua performance, centenas de imagens dele passaram por sua cabeça: o dia da
festa, quando ele levantou seu copo e ergueu a sobrancelha esquerda silenciosamente perguntando por que estava olhando para ele, o dia que apareceu com Lorde Giesler em sua casa, seu desmaio, a conversa que tiveram enquanto Mary se distanciava deles graças ao presente. No momento em que ele conversou com Madeleine através da cortina, seu comportamento paternal com Josh, o beijo que ele lhe deu quando a descobriu em frente à porta daquele quarto imundo na pousada, no momento em que apareceu em seu quarto e disse para que trancasse se não quisesse que a visitasse novamente. A reunião no jardim, as noites abraçados em seu quarto, ouvindo como respirava em sua cabeça, notando a paz e tranquilidade que sentia ao seu lado.... É claro que tinha que descobrir o que na terra havia acontecido com ele! Como ela poderia abandonar o homem por quem estava loucamente apaixonada? Nunca! Ela lutaria com unhas e dentes para trazer de volta aquele homem intrépido que ousava beijá-la, tocá-la e amá-la onde quisesse.
Que Deus tenha pena dela e de toda a sua família! Porque lutaria por ele...
Com os olhos do visconde fixos nela, levou as mãos até o laço do roupão, desamarrou-o e, enquanto seguia para aquela área do escritório, balançou levemente os ombros até que o roupão deslizou pelos braços tão suavemente que sentiu seus pelos arrepiarem em resposta àquela delicada carícia. Se essa atitude sensual não fizesse Logan pular da poltrona, nada
conseguiria.
—Então... sua embriaguez causou... -- começou a dizer em uma voz tão extremamente erótica, que suas mãos tremeram.
Teve que respirar fundo para poder se concentrar em encher um dos copos na bandeja de prata e não derramar pelo tremor. Antes de se virar e encará-lo, bebeu aquela quantidade generosa de licor e serviu-se de outra.
Acabaria mais bêbada que Logan, mas não se importava como terminaria aquela noite. A única coisa que importava era como ele terminaria.
—Está me provocando? -- Logan perguntou à suas costas.
Nem mil barris de brandy o teriam derrubado depois de observar a silhueta do corpo de Anne através daquela camisola transparente!
Quando ela deixou cair o roupão no chão, mexeu os quadris com o ritmo sensual de seus passos, as pontas dos cabelos escuros roçando os quadris eroticamente e a luz das chamas perfurando a camisola, mostrando-lhe uma figura sedutora e erótica. Naquele momento, seu sexo reagiu rapidamente e seu coração ficou paralisado. Ela era puro magnetismo, desejo, luxúria e.... amor. A parte racional de seu cérebro, aquela que constantemente o lembrava do problema que ele tinha que enfrentar, desapareceu e todo o álcool que atravessou suas veias evaporou quando sua temperatura aumentou.
Anne o queimava, transformava-o em um imenso fogo. Poderia um homem morrer querendo tanto uma mulher? Porque ele estava disposto a morrer se
ela não matasse sua sede.
Anne sorriu ao ouvi-lo atrás dela. Sua respiração já indicava que ele estava excitado. Mas confirmou quando ele bateu o quadril em suas nádegas. Esse era o seu homem... sempre disposto a lhe dar prazer e ficar totalmente ereto por ela. Pelo menos já havia eliminado de seus pensamentos a angústia terrível de que não a queria. Agora tinha que descobrir por que a presença do homem o perturbara tanto.
—Eu gostaria de saber... - disse ela depois de colocar o copo no aparador, estendeu as mãos até encontrar as de Logan. Ele entrelaçou os dedos com os dela e os ergueu até os seios. Uma vez que as fortes palmas masculinas os rodearam, as pressionou como de costume. Naquele momento, seu quadril ganhou vida própria e chegou perigosamente perto dele e sua boca ofegou de prazer.
—Não é uma história agradável... -- Logan murmurou trazendo os lábios para o ombro direito de Anne. Abriu a boca, esticou a língua e lambeu a área da pele como se estivesse saboreando um sorvete, embora dessa vez não sentisse frio, mas calor, muito calor.
—Se fosse agradável... Não teria se trancado neste lugar... certo?
-- Ela sibilou quando colocou as mãos nas pernas hercúleas e acariciou-as até que tremessem.
—Anne... -- ele disse em um tom abafado, como se um nó na
garganta o impedisse de falar.
—Logan... -- ela respondeu, colocando a mão direita no grosso volume que se escondia debaixo das calças. ?Está tão excitado por mim...
Se essas palavras a deixavam louca quando as escutava, esperava que tivessem o mesmo efeito em Logan.
—Sim... -- ele respondeu trazendo a pélvis para mais perto daquela mão impertinente para que não parasse de tocá-lo. -- Sabe que não posso resistir a você... -- ele confessou antes de colocar os lábios no pescoço dela e beijá-la sem parar.
—Pedi para que fizesse isso? -- Ela perguntou, virando-se.
Quando viu a tristeza naqueles belos olhos azuis, ficou sem fôlego. O que aconteceu para fazer Logan se sentir tão vulnerável?
—Mesmo se me pedisse... não poderia fazer isso -- ele respondeu antes de agredir sua boca.
Como se estivessem prestes a morrer de fome e a única coisa que poderia salvá-los da morte era se devorar, Logan invadiu, subjugou e se apoderou da boca de Anne enquanto ela respondia com a mesma necessidade e paixão. As mãos do visconde descansaram em suas nádegas e a puxaram para mais perto, deixando-a presa das coxas ao peito. Ambos os corpos se misturavam como se fossem duas essências perfeitas dentro de uma sala sem saídas.
As mãos de Anne, colocadas primeiro no pescoço de Logan, lentamente traçaram as costas largas, continuaram abaixo do peito, desabotoaram os botões daquela camisa, acariciaram-no com as palmas das mãos abertas e, quando ela ficou satisfeita em tocá-lo, desceu lentamente até a cintura das calças.
—Quero libertar você de tudo o que prejudica seu coração --
disse antes de beijar a área do peito dele que o protegia. -- Quero arrebatá-lo para que nada possa feri-lo, jamais...
—É seu... -- Logan engasgou quando sentiu os lábios em seu mamilo esquerdo.
—Tem certeza? -- Ela retrucou. Percebendo como ele afirmava com um leve aceno de cabeça, se afastou o suficiente para ver se estava mentindo. Quando confirmou a veracidade de suas palavras, enfiou a mão na calça e acariciou seu sexo duro e úmido com as pontas dos dedos.
—Sim... -- ele sussurrou, fechando os olhos para se deixar levar pela sensação de prazer causada pelo toque daqueles delicados dedos. —Te pertence…
Então, apenas quando o teve em um estado de frenesi, se afastou dele, como se estivesse possuída por um espírito diabólico. Ela se esquivou de sua figura corpulenta e se afastou por tempo suficiente para observar sua reação. Claro, o rosto de Logan mostrava uma mistura de perplexidade e
medo.
—Se esse coração realmente me pertence, preciso que seja honesto e me diga por que diabos se trancou neste lugar por mais de quatro horas. Tempo que, a julgar pelo cheiro que tem e pela quantidade de bebida que descobri na garrafa, passou bebendo -- ela disse como se fosse uma esposa furiosa por ter esperado a chegada de seu amado marido em frente à entrada da sua casa, enquanto um dilúvio caia.
—Prometo que contarei tudo depois de fazermos amor. Agora sou incapaz de pensar em outra coisa senão possuí-la... -- ele disse enquanto empurrava sua camisa para longe com um único puxão. Então fez o mesmo com o botão da calça, baixou-os até os pés. Com um solavanco rápido, tirou os sapatos, tirou todas as roupas e ficou completamente nu para ela. -- Não sente pena do seu amante insano? Olha como me colocou...
—Acalmarei a sua necessidade quando aplacar a minha -- disse ela solenemente, para que ele não tivesse dúvidas de que não estava blefando.
Estava disposta a descobrir o que estava errado e não pararia até conseguir.
—O que quer saber? -- Ele perguntou, desistindo.
—Quem era esse homem?
—Lorde Laxton.
—O que ele queria de você?
—Veio me informar que seu tio, o conde de Burkes, continua
com a ideia de comprar Harving House. -- Ele estava prestes a abaixar a cabeça quando percebeu que Anne estava se movendo. Rapidamente, fixou os olhos nela e eles arregalaram quando viu o que estava fazendo depois de sua resposta. —Vamos brincar disso, querida?
—Sim -- ela disse, acariciando seus seios por cima da camisola.
Não gosta da ideia de ser recompensado cada vez que responder minhas perguntas? -- Acrescentou naquele tom erótico que adotara desde que entrara.
—Acho isso... agradável -- ele respondeu com um longo suspiro.
—Pergunte o que deseja -- acrescentou colocando sua mão direita em seu sexo.
—Por que quer comprá-la? —Perguntou Anne, ainda se tocando.
Devia levá-lo a um estado de agitação tão intenso que não pudesse mentir para ela. Precisava descobrir a verdade e encarar isso juntos, como se fossem casados.
—Porque quer ampliar seu patrimônio -- ele respondeu. Mas vendo que essa declaração não pareceu correta, porque Anne parou de se tocar, ele acrescentou: -- Ele quer que a venda em troca de manter um segredo.
—Um segredo? -- Ela exclamou surpresa.
—Sim -- ele disse com um halo de tristeza.
—Que segredo? —Ela perguntou. Quando viu que a mão de Logan se afastou de seu sexo e agora se esticava em direção ao chão, continuou com seu jogo. Andou para trás até que suas nádegas tocaram a mesa, se inclinou sobre ela, levantou a camisola até que revelasse sua virilha e abriu as pernas ligeiramente. -- Que mais?
—Laxton e eu nos conhecemos há cinco anos. Depois de ser apresentado e falar sobre sua vida, fiquei com pena dele -- continuou ele, incapaz de tirar os olhos daquela flor sexual que, a julgar pela forma como brilhava, estava molhada.
—Aham -- E o recompensou novamente. Sua mão direita foi colocada em seu sexo e acariciou até que surgiram sons sedutores que expressavam com audácia a excitação que ela sentia quando se tocava.
—George e eu temos uma amizade... especial. -- Ele falou hesitante, sufocado pela imagem de Anne. Aquela figura erótica só reafirmava que ela era a mulher mais maravilhosa que ele já tinha visto em sua vida. No entanto... ela poderia suportar a verdade? O que pensaria dele quando revelasse aquele passado sombrio?
—O que quer dizer com amizade especial? -- Anne perguntou, introduzindo um de seus dedos. Percebendo essa pressão, ela suspirou, olhou para ele descaradamente e acariciou seus lábios com a língua. Deveria se sentir como uma rameira, mas não era assim. O que sentia era um imenso
poder sobre Logan. Um que libertaria o homem que amava daquela prisão em que ele se forçou a ficar.
—Laxton se tornou meu parceiro em... perversões. -- Ele suspirou profundamente. Estava tão hipnotizado por seus suspiros que era capaz de gozar apenas olhando para ela. —Já conhece a fama de libertino que carrego nas costas...
—Real ou inventada?
—Real -- ele disse, olhando para ela com tanto pesar que o coração de Anne se partiu em mil pedaços.
Por que se lamentava do que fez no passado? Acaso agia assim para se proteger de alguma ferida? Um coração partido, talvez?
—E? -- Ela insistiu, tirando aquele dedo invasor para espalhar sobre os lábios voluptuosos o fluxo que emanava ao se excitar.
—O que quer que eu explique? -- Ele gritou enquanto acariciava seu cabelo desesperadamente.
—A verdade! Quero a verdade! -- Anne respondeu, afastando as mãos de seu corpo. -- Cruzou os braços e olhou para ele sem piscar. Teria que insistir. Estava prestes a alcançar seu objetivo e, apesar de deduzir que não gostaria do que ouviria, suportaria isso por ele.
—A verdade? -- Ele retrucou, erguendo as sobrancelhas. Um sorriso sombrio apareceu em seus lábios e seus olhos escureceram.
—Sim— ela garantiu com firmeza.
Anne não estava mais na frente de um amante terno e amoroso, mas na presença de um fantasma. O que teria acontecido no passado para que o transformasse em um ser sem alma?
—Bem, a verdade não é outra a não ser que compartilhamos mulheres -- ele revelou, estreitando os olhos e seu riso mudou de sombrio para trêmulo.
-- Suas amantes? -- Perguntou, soltando a camisola aos seus pés dela.
—Sim -- ele disse categoricamente.
—Obrigou-as a fazê-lo? -- Perguntou Anne, segurando as mãos na boca. -- Mandou que elas fizessem isso?
—Nunca! —Afirmou Logan rapidamente. —Elas estavam mais do que dispostas a serem compartilhadas com outros homens. Garanto que elas sonhavam em deitar com vários amantes de uma só vez.
—Então? Se nenhuma delas reclamou quando as compartilhou, o que o angustia? O conde quer revelar seu segredo? É por isso que diz que ele o chantageia? -- Ela insistiu com angústia. Conhecia essa dupla moralidade aristocrática. Todo mundo falava sobre isso, e embora esse tipo de relacionamento fosse um rumor suculento, não tinha dúvida de que Logan não seria o primeiro aristocrata a praticar esse tipo de imoralidade.
—George e eu cometemos um erro grave -- explicou Logan.
Ele se virou e caminhou até à lareira. A luz daquelas chamas iluminava seu corpo. Seu pelo áspero encaracolado, que desenhava uma linda e sedutora linha do peito até a pélvis, a largura dos ombros, as pernas grandes e fortes, os músculos ásperos dos braços e do sexo, ainda rígido de excitação, se apresentavam diante dela com vontade absoluta. Logan despiu seu corpo, agora estava faltando que também despisse sua alma.
—Qual? —Ela quis saber. Embora seu jogo estabelecesse certa distância, Anne não podia ficar longe dele. Com um passo muito lento, ela se aproximou de Logan até que seu nariz pudesse inspirar aquela fragrância masculina que a surpreendia. Muito lentamente, colocou as mãos em suas costas e acariciou com as pontas dos dedos. -- Qual foi o seu erro, Logan?
—Incluir uma serva do conde nas nossas perversões. -- Ele inclinou a cabeça para trás, fechou os olhos e prendeu a respiração quando sentiu o toque suave das pontas do dedo em sua pele.
—O que aconteceu? —Ela acrescentou a boca àquelas carícias suaves.
Seus lábios beijavam lentamente diferentes lugares das costas fortes, criando sons sugestivos que, por um momento, fizeram Logan permanecer em silêncio para apreciá-los.
—O conde sempre foi um homem muito rigoroso. Desde que sua
esposa morreu, nenhuma mulher tomou o seu lugar. Ele adotou uma moralidade religiosa tão severa e rigorosa que não era capaz de consentir em certas liberdades. Logicamente, desde que ele acolheu George sob sua proteção, tentou educá-lo sob essa ética severa. Então rapidamente descobriu que seu sobrinho e a criada tinham um idílio. Furioso, irritado por não ter doutrinado bem o sobrinho, o conde concebeu um plano para submetê-lo, à força, aos seus desejos. Mas seu propósito magnífico se mostrou mais frutífero do que ele esperava... -- Logan apertou os lábios com tanta força que eles empalideceram. Ergueu seu corpo, totalmente tenso, como um homem que espera com honra a chegada da morte. No entanto, o fato de que Anne continuou a beijá-lo com tanta devoção o fez relaxar a ponto de se tornar uma poça de gelo derretido. Ele engoliu em seco, fixou os olhos no fogo e continuou:—Até aquele dia, ele me inundou com um número infinito de propostas de compra suculentas, mas as rejeitei porque nunca quis me livrar dessa casa. Já lhe disse no celeiro que a reconstruí com minhas próprias mãos e tudo o que encontrou dentro consegui através de um grande esforço.
-- As palmas de Anne se subiam e desciam sem descanso e sentiu que aqueles movimentos leves continuavam a aplacar sua inquietação. Como ela poderia estar ao seu lado ouvindo tal atrocidade? Por que não o deixava sozinho com seu sofrimento? Talvez houvesse uma pequena possibilidade de estarem juntos... —No mesmo dia em que concluí a restauração, George
apareceu enfurecido. Seu tio o castigara novamente por ter quebrado uma de suas muitas regras. Nada poderia tranquilizá-lo, nem mesmo as duas garrafas de conhaque que ele engoliu enquanto me contava a humilhação e a dor que sentiu quando o chicoteava na frente dos criados. Então ele confessou que Burkes havia deixado sua casa para compartilhar mais uma noite de moralidade com o juiz Clarke e o pároco Madden. Então tive a brilhante ideia de perguntar se a donzela estaria disposta a nos oferecer uma noite divertida.
A emoção que George mostrou em seu rosto corroborou minha decisão.
Laxton costumava fugir de todos os seus problemas e preocupações depois de uma sessão de sexo tórrido e juro que ele precisava daquela noite...
—E...? Fez isso?
O tom de voz de Anne não expressava ódio, nem nojo, nem mesmo um ligeiro sentimento de ódio. O que transmitiu em sua pergunta foi tristeza. O mesmo que uma mãe mostraria por descobrir que seus filhos fizeram um mal que causaria um problema sério. Essa atitude fez Logan mais forte e ele abandonou toda a tristeza que sua revelação sombria lhe causava.
Talvez houvesse uma possibilidade de que ela perdoasse tudo o que fez no passado, mas... poderia suportar toda a verdade?
—Sim, nós fizemos, e nós dois caímos na armadilha que o conde planejou -- ele disse asperamente. -- No meio da orgia, no momento em que ambos estávamos possuindo a mulher, a porta da sala se abriu e três pares de
olhos nos observaram: o conde, o juiz e o pastor.
—Meu Deus! —Exclamou Anne horrorizada.
—Sim, foi o que o pároco gritou quando descobriu o que estávamos fazendo ali dentro -- ele disse sarcasticamente.
—O que aconteceu depois? -- Ela estava interessada, agarrada a sua cintura forte com mais ímpeto. Tentando mostrar naquele ato de afeto que, apesar de tudo, continuaria a apoiá-lo.
—Burkes ordenou ao sobrinho que se retirasse para seu quarto e me obrigou a ter uma reunião com as outras testemunhas. Quando me vesti e entrei na biblioteca, custodiado por seu mordomo, ele começou a me insultar e me culpar pela imoralidade de George. Colocou o juiz e o pároco contra mim, embora não tivesse que fazer muito para isso também. Eles já haviam me condenado à morte desde que viram nós três na sala. Então, depois de ouvir todas as acusações, tentei me defender... -- Ele suspirou novamente e fixou os olhos no fogo. -- Não pude expor nada do que pensava no caminho para aquela maldita sala. O pároco Madden trouxe a vida libertina de meu pai e os rumores sobre a descendência que ele gerou. O juiz Clarke se juntou a essas acusações. Apontou o dedo para mim e me avisou que perguntaria sobre minha verdadeira origem, porque, como havia ouvido de um juiz de Londres, o falecido marquês de Riderland e a falecida marquesa assinaram minha certidão de nascimento quinze anos depois de eu nascer. O pároco
também acrescentou sua versão daquela estranha negligência, segundo a qual a marquesa nunca pronunciou meu nome quando aparecia em sua paróquia para confessar seus pecados. Parece que o único nome que saia de sua boca era o de Charles, o filho que morreu bravamente para salvar algumas crianças pobres de uma casa queimada pelo fogo.
—Me lembro dessa notícia... -- Anne sussurrou, descansando uma bochecha em suas costas largas. -- Minha mãe não parou de falar sobre o que aconteceu e exaltou o heroísmo de seu irmão.
—Meu irmão? -- Retrucou Logan se afastando dela. —Esse não era meu irmão!
—Logan... -- ela sussurrou, olhando para ele com tanta tristeza e pena que seu coração afundou.
—Não, não era! -- Ele assegurou sem rodeios —Sabe quem realmente era esse filho do demônio? Um louco! Um perturbado! Foi ele quem causou o fogo! Ele queria ver todos os filhos ilegítimos de seu pai queimados no fogo! E entre aqueles bastardos estava eu... -- ele confessou antes de abaixar os olhos e fixá-lo no chão.
—O que?! -- Ela perguntou, arregalando os olhos. Levou as mãos trêmulas ao peito para aplacar a batida rápida de seu coração. Suas pernas começaram a perder força e tudo ao seu redor começou a se mover.
Estava tonta e sufocada, porque também não podia respirar. Logan era um
filho ilegítimo do Marquês? Impossível!
—Que eu sou uma desova, Anne. Sou uma criança indesejada...
-- ele disse com firmeza. -- Nunca ouviu as histórias descaradas do meu pai? -- Ela negou com a cabeça enquanto andava para trás. Quando sentiu nas solas dos pés a maciez do carpete colocado em frente à lareira, flexionou os joelhos até que sentar no carpete. —Pois o muito condenado sujeitava todas as mulheres que ele desejava a seu prazer. No meu caso, teve a terrível audácia de aceitar a proposta que os pais da minha mãe de verdade ofereceram para que pudessem ficar em uma de suas terras, ricas para cultivo e para caçar. Sabe quem mantém uma vida nômade? Pode ter uma ideia de quem minha mãe poderia ser?
Ao ouvir essas perguntas, Anne abaixou a cabeça e se abraçou com força. O que ouvia não podia ser verdade. Logan estava mentindo!
Mas... com que propósito? Para tê-la? Por quê? Ele não perdia mais do que ela, revelando esse fato? Muito lentamente, ela ergueu o queixo e quando viu o rosto de Logan, ficou sem fôlego. Não encontrou nada que indicasse que estava mentindo. A expressão daquele olhar triste e agonizante declarava que ele estava dizendo a verdade. Ele não queria despir sua alma? Bem, aí estava.
O homem que ela amava confessava seu passado. Um que ela nunca teria imaginado, mas com o qual sonhou mais de uma vez. Agora a última peça daquele quebra-cabeça incompleto estava em sua mão, faltava apenas que ela
pudesse encaixá-la com as outras.
—Vejo que não quer me responder... sente tanta repulsa por confessar que sou filho de uma cigana? Só ama o visconde? -- Ele disse com um grunhido áspero.
—Realmente acha que posso sentir repugnância conhecendo sua verdadeira origem? Eu? -- Gritou fora de si. -- Esqueceu o sangue que corre nas minhas veias? -- Se aventurou a atacá-lo, levantando-se com tamanha bravura que seus tendões doíam.
—Sinto muito, não estou falando corretamente -- murmurou inclinando a cabeça para o chão, mostrando tanta submissão que Anne queria tirá-lo desse estado de desânimo com uma grande bofetada.
—Não sou aquele que negou suas origens! Não sou aquele que mentiu!
—Eu... eu não queria fazê-lo -- ele disse finalmente levantando o rosto até que seus olhares se encontraram. -- Juro pela minha vida que, desde o primeiro momento, quis tornar público quem era minha mãe, mas Roger me impediu.
—Por quê? É ele quem rejeita suas origens ciganas? Te obrigou a permanecer em silêncio? É por isso que o falecido marquês assinou sua certidão de nascimento? Seu grandioso irmão não queria manchasse o honrado seu título?
—Não! -- Ele gritou andando em direção a ela até que estavam tão perto que o calor do corpo de Anne, provocada pela raiva, aqueceu o seu, gelado por esse ataque de bravura.
—Não o entendo, Logan! -- Ela exclamou, levando as mãos ao rosto para esfregá-lo com desespero. -- Realmente não entendo a atitude dos aristocratas! O que queria? Por que não deixou revelar quem era? Que impacto teria outro filho ilegítimo? Existem centenas!
—Isso destruiria tudo aquilo que fez... -- ele apontou suavemente.
—Quer dizer sua vida social bem-sucedida? -- Ela disse em voz alta.
—Não! Roger sempre lutou contra todos os benefícios que lhe davam o título de Marquês! -- Se esforçou para esclarecer.
—Então... o que foi? O que ainda está escondendo, Logan? --
Ela disse com firmeza.
Lentamente, Logan olhou para as mãos de Anne, que tremiam com o estado de raiva, entrelaçou os dedos dela com os seus, levou-os até os lábios e beijou-os um a um.
—Quando Roger era criança, descobriu algo tão macabro que o forçou a se afastar de seus pais. Tanto o marquês como a marquesa o deram como morto e educaram Charles, seu irmão gêmeo, para que um dia
ostentasse o título -- começou a narrar enquanto colocava as mãos de Anne sobre o peito para que sua respiração e os batimentos cardíacos confirmassem a veracidade da história. -- Ao retornar, muitos anos depois, os marqueses uniram forças para aniquilá-lo, mas graças à piedade de seu mordomo, conseguiu sobreviver. A partir daquele dia, jurou destruir seus pais e havia apenas uma maneira de fazê-lo.
—Qual? -- Era a primeira vez que os olhos de Logan brilhavam com lágrimas. Aquele homem vulnerável que encontrou ao entrar no escritório havia retornado. No entanto, não o deixaria sozinho. Desta vez, ela estava ao seu lado para ajudá-lo a lutar contra os demônios que o atormentavam.
—Com o dinheiro que recebeu por suas viagens, reuniu uma fortuna suficiente para construir aquela residência que foi destruída pelo fogo. Ali permaneceram mais de trinta filhos bastardos por um longo tempo.
Ele nos mantinha protegidos da marquesa.
—A marquesa sabia das infidelidades do marido? -- Ela retrucou espantada.
-- Sim, porque muitas das mulheres que mantinham relações com ele apareceram meses depois, carregando em seus braços o fruto daquelas escapadas românticas.
—O que ela fez? -- A expressão de Logan endureceu e seus
olhos escureceram para se tornarem as próprias asas de Astennu. -- Não me diga que os matou? -- Ela disse sem pensar.
—Sim. Até que Roger conseguiu nos salvar, ela ceifou a vida dessas crianças para manter o casamento seguro.
—Então... aconteceu... Charles descobriu... e queria matar todos vocês para que... -- ela tentou dizer. Mas as conclusões a que seu cérebro chegou foi mais rápida do que sua capacidade de falar e foi incapaz de realizar uma frase completa. -- Oh, meu Deus! -- Ela exclamou antes de romper o pranto que havia segurado.
—Calma Anne -- ele tentou acalmá-la abraçando-a com força. --
Muitos de nós foram salvos graças a Roger e ele conseguiu, com a ajuda do Duque de Rutland e do Barão de Sheiton, construir outra residência onde pudéssemos viver.
—Qual é a sua história, Logan? -- Ela perguntou se afastando de seu amado para olhar seu rosto e embalá-lo em suas mãos. -- O que aconteceu com sua mãe? Foi ela quem o levou até Roger?
—Não. Ela não pôde me levar porque morreu no parto -- ele declarou em uma voz estrangulada. —Era uma menina quando ficou grávida, mal tinha completado 14 anos e não suportou o parto. Sua mãe…
—Sua avó -- O corrigiu.
—Não posso chamá-la assim, Anne. Vê a cicatriz no meu peito?
—Ela direcionou o olhar para aquela marca e, depois de tirar a mão daquele rosto aflito, acariciou-a devagar. —Tentou me matar. Talvez tivesse conseguido se a mulher que me criou não a tivesse seguido até a floresta onde, depois de me rasgar com uma adaga e confirmar que meu sangue chamaria as feras para me dar um fim, me abandonou. Shara sabia que, quando voltasse para a colônia comigo em seus braços, sofreria a ira daquela mulher perigosa, mas não se importou. Teve que passar por uma dura punição por se atrever a desafiar a feiticeira, a essa avó que deseja que nomeie. Mesmo assim me assumiu com integridade por seis anos. A partir daquele momento, quando observou que todos os membros do clã também eram cruéis comigo, nos afastamos da colônia e vagamos até que um visconde nos acolheu. Ela se tornou uma serva e eu era o bastardo triste de um homem que ninguém conhecia. Só soube que o marquês de Riderland era meu verdadeiro pai quando Shara adoeceu. Antes de morrer, continuou a lutar por minha vida e não deu seu último suspiro até que Roger lhe jurou que eu estaria a salvo ao seu lado.
—E manteve sua palavra -- murmurou Anne, abraçando-o com força.
—Sim -- disse Logan, se deixando abraçar, se permitindo finalmente sentir alguma calma em sua alma inquieta. Tenho que continuar protegendo o segredo, Anne. Não posso destruir tudo o que Roger fez por
nós. Devo assumir a condenação que eu mesmo ganhei com o conde. Se continuar pagando por tudo que me pede, se de uma vez por todas vender Harving House... meus irmãos não sofrerão mais humilhações e o trabalho de Roger continuaria a ser protegido.
—Maldito filho da puta! -- Gritou Anne, se lembrando da chantagem do conde. Afastou-se de Logan e começou a andar pelo escritório.
-- Quero matá-lo! Quero estrangulá-lo com minhas próprias mãos! --
Declarou erguendo os braços e entrelaçando os dedos como se de fato o pescoço do velho Burke permanecesse entre eles. —Não vai desistir, certo?
Quer vê-lo humilhado e destruído! -- Ela berrou. -- Bem, ele não vai conseguir! Aquele porco não sabe quem são as Moore! Escreverei uma carta para minha mãe e pedirei que ela se apresente o quanto antes. Certamente, entre todos podemos traçar um plano que possa destruí-lo. Por nossas veias corre sangue maldito, muito perverso -- disse ela estreitando os olhos. --
Sabe quem foi minha avó? Jovenka! Uma cigana que esterilizava a terra que tocava seus pés!
—Anne... Por favor... pense um pouco, querida. Nós não podemos enfrentá-lo. Não só a reputação de meus irmãos estará em perigo, mas sua família estará envolvida nessa atrocidade. Não vou arrastá-la também! Tenho que aceitar minha culpa!
—Sua culpa! Como declara esse absurdo, Logan Bennett,
visconde de Devon, irmão do idolatrado marquês de Riderland? -- Acha que seu irmão lhe daria uma tapinha nas costas e apoiaria essa decisão? Onde está esse sangue cigano que banha suas veias? Renunciou tanto a ele que não existe mais em você?
—Não! Claro que não! -- Ele berrou. -- Mas... o que eu posso fazer?
—Lutar! -- Ela gritou, erguendo o punho direito. -- Como todos os nossos ancestrais lutaram.
—E como quer que façamos isso, querida? Na festa? -- Disse mordaz.
—Que festa? -- Ela fez a pergunta com uma voz calma, como se de repente toda aquela fúria se libertasse de seu corpo.
—George me trouxe um convite que não posso recusar—ele murmurou. -- Também me disse que se alguém descobrir sua presença em Harving, os rumores sobre minhas perversões aparecerão novamente e vocês...
—Nós estaremos desonradas -- Anne terminou a frase cerrando os punhos. -- O que planejou fazer? O que quer que façamos?
—Disse à Laxton que minha noiva...
—Noiva? -- Ela interrompeu. -- Que noiva?
—Você. Quem mais poderia ser? -- Ele disse, dando passos
largos até ela. —Sabe que te amo, Anne, que quero me casar com você porque, como descobriu, a maldição da qual tanto teme romperá comigo.
—Nos casarmos... —Ela murmurou abaixando o rosto.
Surpreendida pela magnitude que originava essa simples palavra.
—Não quer fazer isso? Não me ama como eu te amo? -- Ele perguntou, notando como outro nó apareceu em sua garganta.
—Sim, amo você, Logan. E posso assegurar-lhe que, depois de saber quem realmente é, o desejo de me tornar sua esposa aumentou.
—Então? O que a impede de fazê-lo? -- Ele disse, erguendo seu queixo com dois dedos.
—Não sei se posso te dar o que precisa... -- ela declarou olhando-o nos olhos.
—E o que, de acordo com você, eu preciso? -- Ele retrucou, arqueando as sobrancelhas escuras.
—Não posso... nunca conseguiria... não seria capaz de...
—Anne -- ele sussurrou, roçando com a boca esses lábios trêmulos. -- O que não poderia, meu amor?
—Não poderia colocar outro homem na minha cama -- declarou ela aterrorizada.
—Não vou consentir com isso! Você é minha, Anne Moore! Só minha! -- Ele esbravejou antes de submetê-la a um beijo tão possessivo que
não deixava dúvida de que seu futuro marido não a compartilharia com ninguém.
XXXIII
No dia seguinte, depois do café da manhã, Logan chamou todo o serviço na sala de jantar. Por causa da inquietude em seus rostos, Anne supôs que eles estavam desconfortáveis com a aparição do sobrinho do conde. No entanto, a incerteza foi transformada em júbilo ao ouvir a notícia de seu compromisso. Eles não pareciam surpresos, mas aliviados, algo que intrigou Anne. Eles não conseguiram manter o relacionamento em segredo? Temia que não, porque as expressões de alegria da Sra. Donner a fizeram entender que eram, em mais de uma ocasião, testemunhas silenciosas de seu romance.
Josh abraçou Logan e depois a beijou inúmeras vezes. A única pessoa que não parecia gostar da notícia era Elizabeth. Quando ela se levantou da cadeira e saiu da sala, Logan a seguiu com um passo firme.
—Não faça nada -- disse Josh enquanto tentava se levantar. Deve deixá-los sozinhos. Eli precisa assimilar que você alcançou seu sonho idílico.
Esse comentário a entristeceu. Nunca imaginou que se tornaria esposa de um aristocrata e que um dia seria uma marquesa. No seu caso, só queria se afastar de sua família para não a machucar mais. Por que o destino era tão caprichoso? Como diabos ele os juntou? Alguma vez pensou que amaria um cigano com uma mistura de sangue azul? Essa pergunta a fez sorrir. Não, é claro que nunca sonhou em se casar com um homem que
escondia a selvageria dos ciganos e não imaginava que ele era tão apaixonado...
Depois de muito tempo, Logan voltou para a sala sustentando o braço de Elizabeth. O olhar dela havia mudado e sua atitude também. Uma vez que se sentou na cadeira, colocaram o plano em movimento.
—Nós não podemos aparecer sem um acompanhante -- disse Elizabeth depois de ouvir a história estudada do visconde. -- Isso os faria pensar que está mentindo para eles.
—Está certa —Logan bufou. —Não seria apropriado que aparecessem sem uma presença respeitável —acrescentou ele mordaz.
—O que acha, milorde, se transformarmos a Sra. Donner numa tia distante da senhorita Moore? Eu poderia me tornar seu filho e ela poderia ser uma viúva —esclareceu.
Quando Howlett, que não parou de produzir palminhas desde que soube que o visconde se casaria com Anne, ofereceu essa alternativa, todos os olhos se voltaram para ele.
—É uma ideia fantástica —admitiu Logan. —O que acha, Sra.
Donner? Gostaria de se tornar a tia dessas meninas adoráveis?
—Milorde, me sentiria muito honrada em desempenhar esse papel, mas não sei se posso convencê-los como desejam. Minhas mãos estão... -- Ela tentou dizer, estendendo as palmas para o seu senhor.
—Isso não será um problema —disse Elizabeth. -- As senhoras sempre cobrem as mãos com luvas de seda.
—Mas eu também não sei dançar, se alguém tentar ter uma conversa culta comigo... -- ela murmurou desconfortável.
—Sobre o tema da dança, não se preocupe, poderá fingir que se sente fatigada pela idade —respondeu Elizabeth novamente. —E sobre as conversas, devo confessar que nenhum cavalheiro ousará pedir sua opinião sobre uma questão importante. Estou certa de que falarão sobre o clima, sobre a esplêndida festa que o anfitrião ofereceu, sobre as deliciosas iguarias que oferecerá a seus convidados e a magnífica repercussão social que o conde obterá quando a noite acabar.
—Somos tão previsíveis? —Logan exclamou zombeteiro. Cruzou os braços e se inclinou descuidadamente em um canto da lareira de pedra ambarina.
—A aristocracia é simples demais, qualquer um poderia se apresentar como um deles se adotasse esse comportamento tolo —disse Eli, levantando o queixo e olhando para ele sem piscar.
Naquela rude declaração, Anne olhou para Elizabeth como se fosse aniquilá-la, mas a risada de Logan fez com que apagasse esse desejo maquiavélico.
—Está certo, Eli! Somos tão simples que qualquer um pode se
passar por um de nós! -- O visconde acrescentou sem parar de rir, descruzou os braços e caminhou em direção à jovem para lhe dar um terno beijo no lindo penteado que usava naquela manhã.
Quando a atmosfera ficou mais fluida e relaxada, Logan e Anne informaram a todos sobre suas novas tarefas e começaram a trabalhar.
Howlett e Elizabeth foram encarregados de instruir a cozinheira. Embora em mais de uma ocasião, ouviram os gritos desesperados que a pobre mulher produzia ao se submeter aos mandatos do valete. Josh, para seu pesar, teve que visitar, junto com Anne, uma costureira para fazer um vestido para ela. A primeira vez que ela viu a intrépida Moore vestindo uma roupa tão feminina, não soube se expressava mais horror o rosto da vendedora ou de sua irmã.
—Onde posso esconder o punhal? -- Ela comentou enquanto observava o tecido, os babados e as rendas.
—Não terá que levar nada. Lembre-se de que estamos indo a uma festa e que nosso trabalho é mostrar um caráter gentil e educado -- Anne disse em um tom firme.
—A liga é ideal para um punhal curto -- sussurrou a assistente da loja em seu ouvido ao fixar o babado no ombro direito. Tenho clientes que me pedem certas restrições nas meias...
Essa revelação e a cumplicidade que a costureira lhe ofereceu fizeram com que Josh relaxasse e acabasse pedindo-lhe duas boas restrições
para suas pernas.
Marco, o administrador, também se juntou ao plano. O propósito dele era proteger as irmãs enquanto o visconde se encontrava com o conde.
Embora permanecessem protegidas pela Sra. Donner e Howlett, Logan não queria que o juiz ou o pastor tentassem se aproximar delas para realizar algum truque sutil. Precisava controlar tudo...
O mais engraçado daqueles dias foi o momento em que ele o apresentou a Elizabeth e ao seu fiel companheiro. Os olhos de ambos se arregalaram tanto que poderiam escapar de suas órbitas. Marco mostrou uma figura solene com seu terno sob medida e a última moda, e este exaltou suas tão exóticas características espanholas. Presumivelmente, Eli adotou o comportamento sedutor até descobrir que ele era um simples administrador.
No entanto, o interesse do valete nele aumentou, deixando bem claro que queria seduzi-lo. Embora Logan tentasse mantê-lo longe dele, Howlett procurou desculpas absurdas para chamar sua atenção e o visconde, notando que Marco não o evitava, e sim desejava acalmar todas as preocupações de seu criado, desistiu de seu propósito. Quem era ele para lutar contra o amor de dois amantes?
Durante as noites, e embora a Sra. Donner tivesse decidido não dançar na festa, Kilby insistiu em mostrar-lhe a beleza da dança. Nesses momentos, todos descobriram que o mordomo sentia alguma atração pela
cozinheira e que escondeu até que a mão esquerda do fiel empregado se instalou na cintura da mulher com determinação.
Tudo estava preparado. Nem um único detalhe foi deixado sem revisar. Só esperava que a festa saísse tal como haviam planejado.
—Nervosa? —Logan perguntou a Anne uma vez que eles se acomodaram na carruagem. Ele a observou como se fosse seu maior tesouro, sua deusa, e sorriu quando decidiu colocar todos os acessórios que tinha em laranja. Parecia que os brincos, o colar e a pulseira que brilhava toda vez que ela movia o pulso os transformavam em amuletos da sorte.
—Você não está? -- Ela respondeu, olhando para ele surpresa.
—Vou dar por encerrado a extorsão que sofro há vários anos, vou à luta para salvaguardar a honra da minha família, vou apresentar minha futura esposa a sociedade e tenho que tirá-la de lá sã e salva, isso deveria me perturbar? -- Disse matreiro.
—Não, claro que não -- disse Anne, sorrindo amplamente. --
Um cigano nunca se curvaria a problemas menores.
—Disse bem, querida, disse bem... -- Logan declarou antes de perceber como a mão esquerda de Anne pressionou a dele e como a pulseira laranja os unia ainda mais.
***
—Isso é chamado de lar? —Elizabeth gritou quando saiu da
carruagem com a ajuda de Howlett, que logo retornou com Marco. A jovem olhou para a residência do conde e abriu bem os olhos. Austero, mesquinho, ridículo e vulgar foram às palavras que apareceram em sua cabeça quando contemplou aquele terreno. -- Agora entendo o motivo dele querer comprar Harving House -- disse ela à Logan. -- Este lugar é sombrio e apertado. Não é capaz de investir parte de sua fortuna suculenta para consertar o jardim? As flores estão murchas! -- Ela acrescentou furiosa.
—É a primeira vez que vou dizer isso, Eli, então ouça bem --
falou Josh, lutando com a saia de seu vestido de seda verde-esmeralda. --
Tem razão. Isso é abominável mesmo para mim. Nunca vi um lugar tão repulsivo. O conde quer fazer o mesmo com a Harving House? Porque tenho certeza que ele vai abandoná-la ao seu destino...
—O que ele quer é comprá-la por menos do que custa --
resmungou Logan -- e depois vendê-la pelo triplo.
—Não vai deixar, certo -- Perguntou Howlett, horrorizado. --
Levei muito tempo para encontrar aquelas cortinas de ovelhas irlandesas suaves e elegantes para essa crápula as transformar em trapos de cozinha.
—Não -- Bennett disse com firmeza. -- O conde não alcançará seu propósito. É por isso que estamos aqui, para consolidar minha recusa.
—Realmente acha que explicar que se casará com Anne e que quer usá-la como uma segunda casa fará mudá-lo de ideia? —Josh perguntou,
sem tirar os olhos do visconde, colocou as mãos furtivamente em ambos os lados de suas coxas para se certificar de que as adagas estavam no lugar.
—Tenho certeza de que o conde desistirá quando explicar que uma futura marquesa, que dará à luz uns seis filhos fortes e robustos, precisará dessa residência para educá-los sob a moralidade adequada.
Lembre-se de que esse homem acha que Londres é uma cidade dedicada a uma catástrofe social por causa da perversão de seus habitantes -- assinalou Anne, estendendo a mão a Logan para acalmar a inquietude que dizia não ter.
-- Deve recusar qualquer conversa sobre virtude, economia, origens ciganas, a popularidade do nosso pai e se alguém lhe perguntar a razão pela qual ele não veio, tem que indicar que...
—Que foi a um congresso muito importante para sua carreira profissional e que nossa mãe chamou tia Gerthudies e nosso querido primo para nos acompanhar nesta viagem -- recitou Josh aborrecida.
—Preparados? —Logan perguntou, pouco antes de pisar no primeiro degrau daquela escada de pedra rachada que os levaria à entrada principal.
—Sim! -- Todos responderam em uníssono.
O mordomo do conde, aquele que custodiou Logan na noite da trama, os recebeu minutos depois de bater na porta. Dois servos estavam encarregados de recolher seus casacos. Então, eles caminharam rapidamente
pela galeria à esquerda. Logan olhou para Marco e acenou para ele. O
administrador entendeu rapidamente e ficou do lado direito, vigiando a entrada das mulheres. Respirou fundo para acalmar o estado de agonia que não queria mostrar a Anne, pôs a mão no antebraço e ficaram na entrada da sala até que outro criado os anunciou.
Definir esse grupo de quatro músicos como uma orquestra era dar-lhes uma categoria muito alta. Os quatro homens colocados no canto não conseguiam pegar o compasso. Mas os participantes não deveriam se importar com esse ritmo desequilibrado porque estavam ocupados demais olhando a decoração desastrosa que os rodeava. O conde já havia dado a entender, pelo lado de fora da casa, o que encontrariam dentro, mas nenhuma das irmãs imaginou esse horror. Uma coisa era certa, o chão brilhava e o candelabro de cristal pendurado no teto a luz das velas, que emitiam um cheiro pútrido de um bezerro morto, iluminavam o salão. Logan olhou para Anne e ela sorriu para ele. Não havia dúvida de que o conde preparara essa cerimônia rapidamente. Talvez inclusive no mesmo dia que o sobrinho lhe entregou o bilhete. Possivelmente pensou que o visconde não se atreveria a aceitá-lo e, em resposta à sua resposta afirmativa, ordenou que seus poucos serventes a preparassem com urgência. Certamente esses quatro não fossem realmente músicos e sim empregados que, durante três dias, aprenderam a soprar um instrumento de sopro e a quebrar as cordas de um triste violino.
Sim, provavelmente seria isso...
Josephine fixou os olhos nas quatro paredes do salão e prendeu a respiração ao descobrir que as sete pinturas gigantescas tinham o mesmo rosto. Mudaram os fundos, as formas de seus vestidos pretos, mas aquele semblante sério, rígido e implacável aparecia em todos eles. Não entendia como os convidados podiam conversar com facilidade, enquanto sete pares de olhos ferozes os observavam como se quisesse lançar um raio fulminante contra eles. Inconscientemente, levou as mãos aos punhais e acariciou-os.
Não hesitaria em usá-los se suas vidas estivessem em perigo...
Elizabeth notou como a Sra. Donner pressionava os dedos no seu braço e puxou-a para lhe dizer alguma coisa. Uma vez que confirmou que ninguém estava olhando para elas, inclinou a cabeça para a mulher.
—Como vou falar sobre os assuntos que me sugeriram? -- Ela murmurou apavorada. —Não é uma grande cerimônia, a sala é sombria e receio que a comida nos deixará doentes. Eu nunca conheci um conde com tanta ruindade e miséria. Os ternos dos servos foram remendados várias vezes, a madeira não é devidamente tratada, por isso estaremos cercados de verme da madeira, castiçais, bandejas e receio que os talheres não sejam de prata, os copos em que bebem os escassos trinta convidados não brilham e esse cheiro... -- Ela franziu o nariz ligeiramente. O jantar foi queimado?
—Pode falar sobre o tempo —sugeriu Eli, concentrando-se em
não rir. Estendeu o leque e tentou se acalmar com o frescor que proporcionava.
Era verdade o que a Sra. Donner argumentava. Nada naquele lugar era digno de um conde, a menos que estivesse arruinado, e esse não era o caso, porque ele queria comprar a Harving House. Engoliu em seco quando olhou para as cortinas. De que século eram? A sujeira que mostravam e as tirinhas de baixos indicavam que não só tinham permanecido naquele lugar durante muitos anos, mas também tinham sido testemunhas de uma dura guerra.
—Do tempo? —A senhora Donner insistiu.
—Lembre-se que em breve mais chuva virá e aquelas pobres flores finalmente conseguirão um pouco de água.
—Água? -- Ela perguntou, puxando-a ainda mais. -- Não teremos a infelicidade de que chova enquanto permanecermos nesta sala, certo? Porque não tenho a menor dúvida de que este conde avarento não tenha reformado os telhados desta pocilga e nós teremos que beber um vinho rançoso enquanto evitamos a água das goteiras.
A risada de Elizabeth soou acima da música estridente. Esse ato sorridente e súbito chamou a atenção dos convidados e todos as encararam.
Logan e Marco ergueram suas figuras grandes e fortes. Josh levou as mãos de volta ao lugar onde os punhais estavam escondidos e Anne, depois de olhar
para Elizabeth intrigada, suspirou profundamente e desceu as escadas ao lado de seu noivo.
—Sinto muito... -- ela se desculpou.
Era a primeira vez que não controlava seu comportamento em uma reunião social, mas o comentário da cozinheira foi tão espirituoso que não pôde segurar o riso. Ainda sentindo os olhares sobre ela, tentou se esconder entre Howlett e Josh.
—Lorde Devon, quanto me alegro em vê-lo! -- Exclamou o conde, desenhando um sorriso pérfido. Ele caminhou em direção a eles, levantou a mão direita e esperou que ela fosse aceita.
—Lorde Burkes... —Logan respondeu, separando-se de Anne para aceitar aquela saudação hostil. -- A honra é nossa por nos convidar para sua casa.
—Como poderia me privar da sua presença e da sua... noiva? --
Ele retrucou, olhando para Anne com os olhos apertados.
—Senhorita Moore, apresento o conde de Burkes. —Logan colocou a mão esquerda na parte inferior das costas de Anne com a mesma determinação que Kilby colocou sobre a Sra. Donner. Esse ato de posse deve ter deixado claro que não estava mentindo e que a conversa que teve com George era verdadeira. Mas sabia que o conde não desistiria tão facilmente, em que momento da cerimônia ele mostraria sua verdadeira personalidade?
—Prazer em conhecê-lo, milorde —Anne o saudou, fazendo uma suave reverência.
—Igualmente senhorita Moore. Imagino que elas sejam suas amáveis irmãs, certo? Já ouvi falar das filhas Moore. -- Depois de suas palavras, seus olhos negros olharam para a Sra. Donner e um sorriso maligno foi desenhado.
-- Sim, elas são minhas irmãs, minha tia, viúva, a Sra. Yenkis e meu primo, o Sr. Yenkis. Espero que a informação que teve sobre nós o tenha agradado -- respondeu Anne, que sutilmente moveu seu corpo com elegância para se separar da Sra. Donner.
—Sim, tanto quanto o que ouvi de seu pai -- assegurou o conde, sem apagar aquele sorriso pernicioso. -- Segundo minhas fontes, não demorará muito para se tornar um dos dez médicos mais importantes de Londres.
—Ainda não é? -- Anne perguntou rapidamente quando ouviu Josh rosnar. Agradeceu a sua mãe criadora por não carregar nenhuma arma escondida, porque tinha certeza de que ela o teria matado naquele momento.
—Receio que não, senhorita Moore —respondeu o conde grosseiramente.
—Bem então, rezemos para que nossas súplicas sejam ouvidas por nosso Deus e que um dia consiga —alegou com aparente desalento
enquanto fazia o sinal da cruz.
—São religiosas? -- Burkes perguntou, arregalando os olhos.
—Dedicadas, milorde. Nossos queridos pais foram capazes de nos educar sob a magnificência que nossa religião supõe e devo confessar que nos sentimos muito desoladas aqui. Desde que chegamos a Harving House, meu noivo tem estado tão ocupado com seus deveres administrativos que não pudemos assistir a nenhuma missa. Felizmente, minha querida tia, cuidou da nossa paz espiritual. Embora tenha que confessar que não é o mesmo...
—Entendo perfeitamente -- disse o conde, estendendo o braço para que pudesse acompanhá-lo. —E seus pais... aceitaram com prazer seu compromisso com o visconde? —Ele perguntou quando deram alguns passos.
—Claro! -- Ela exclamou com aparente constrangimento. ?Não acha, milorde, que este casamento será bastante proveitoso para nós? -- Ela acrescentou em voz baixa, como se estivesse revelando um segredo.
—Entendo... —Burkes respondeu com um largo sorriso. —Seus pais são muito inteligentes, senhorita Moore.
—Vamos confiar a Deus para que permaneçam assim com minhas outras quatro irmãs -- disse com aflição fingida.
—Seu pai tem que casar as cinco filhas? —O velho exclamou, arregalando os olhos. Agora ele entendia o desespero do médico por unir a
mais velha de suas filhas com um visconde. Graças ao título que ela teria no futuro, o resto poderia rapidamente encontrar um bom marido.
—Exatamente, milorde. Não gosta de crianças? —Ela perguntou, agitando seus cílios.
—Minha querida esposa, que Deus a tenha em sua glória, tentou me dar vários, mas infelizmente todos morreram logo após o nascimento --
disse ele com tristeza.
—Sinto muito —respondeu Anne, dando-lhe leves palmadinhas no braço.
—Eu também —disse ele antes de levá-la ao lugar onde o pároco e o juiz estavam sentados.
Se queria realizar seu plano, tinha que se concentrar na noiva.
Nenhum homem deixaria sua futura esposa nas garras de seu inimigo. O
visconde ficaria tão obcecado em vigiá-la que deixaria as duas irmãs desprotegidas. Então Lorde Norfolk escolheria a mais vulnerável...
—Acho que deveria tê-la apresentado quando chegou em Harving House —Marco comentou com Logan, que, observando o comportamento gentil entre o conde e Anne, começou a relaxar.
—Se não o conhecesse como conheço, pensaria que Anne o deslumbrou, mas temo que seja uma miragem. Esse verme irá sujeitá-la a todos os tipos de interrogatórios até que atinja seu objetivo —disse ele,
apertando a mandíbula.
—Que será…? —Marco acrescentou.
—Humilhá-la -- ele garantiu antes de caminhar até deles.
Era hora de apagar os medos do passado e encarar de uma vez por todas o presente e o futuro que ele queria viver com Anne.
XXXIV
?Que devemos fazer? —Josephine perguntou à irmã quando estavam sozinhas.
—O normal, neste tipo de celebração, é que a anfitriã nos apresenta aos outros convidados para interagir e conversar. Mas desde que ela está morta...
—Juro que se ela aparecer na nossa frente, eu desmaio —Josh interrompeu, olhando de volta para as pinturas escuras. Teria pensado que aqueles olhos a estavam observando? Pois continuava confirmando essa suposição.
—Seria melhor se nos dirigíssemos para o fundo da sala, onde colocaram a mesa com as bebidas e os deliciosos aperitivos.
—Deliciosos? A cozinheira retrucou, apertando os olhos. Para que os outros convidados não descobrissem o desgosto que seu rosto expressava, estendeu o leque e começou a sacudi-lo, mas Elizabeth a repreendeu com o olhar quando viu que estava agitando-o com tanta força.
—Não temos a obrigação de comer, embora seja aconselhável que mexa a boca de vez em quando, como se mastigasse. O anfitrião pode se sentir ofendido se não aceitarmos sua oferta.
—Realmente acha que estou preocupada com o que aquele
homem mal-humorado pensa de mim? -- Disse Howlett sarcástico. -- Não quero ficar doente amanhã de manhã e ter que viajar de volta para Londres implorando ao cocheiro para parar mil vezes ao longo do caminho.
—Devemos insistir para que ele espere mais alguns dias —disse Eli, referindo-se à decisão do visconde de sair de madrugada. —Amanhã não conseguiremos acordar cedo. As cerimônias geralmente duram muito...
—Isso seria em uma festa que é nomeada como tal, mas... não vê o que eu vejo? —Howlett insistiu enquanto tentava fazer com que Josh andasse sem tropeçar nas saias do vestido e manter as costas retas.
—Bem, não me importo de acordar cedo para voltar... —Josh murmurou melancólica. —Juro que tenho sido muito feliz andando com Galeón nessas terras, mas anseio por Madeleine. Nunca imaginei que o vínculo entre nós fosse tão forte.
—Não se preocupe, tenho certeza que o Sr. Kilby e o resto do serviço terão tudo pronto para sair de madrugada. Nunca conheci um mordomo tão eficiente —disse a Sra. Donner, abanando-se novamente.
—Meu tio é um homem muito especial —disse Howlett em voz baixa, e sorriu para o constrangimento que esse comentário causou na cozinheira.
—Podemos acelerar um pouco? —Elizabeth perguntou a eles.
Olhou para o fundo da sala e sorriu timidamente quando descobriu que os
olhos de um belo cavalheiro a observavam em silêncio. Quem seria? Por que a contemplava daquele jeito descarado? Intrigada para descobrir, agarrou o braço da Sra. Donner com mais força e arrastou-a.
—Sinto muito, mas não vou provar uma única mordida —disse a mulher com desgosto.
—Portanto, o mais sensato é sair daqui. Se olhar para a direita, encontrará cadeiras que foram colocadas para que as mulheres solteiras e as idosas possam se sentar durante a noite —informou ela.
?Isso é o que eles chamam de cadeiras? —Retrucou a cozinheira, arregalando os olhos. —Os cavalos do nosso celeiro se deitam em fardos de feno mais confortáveis do que isso.
—Talvez essa seja a razão pela qual ninguém se sentou até agora... -- apontou Elizabeth mordaz enquanto continuava olhando para o homem estranho.
—Mas devemos fazê-lo —disse Josh. ?Como nenhuma de nós quer dançar, é melhor sairmos daqui para que não comecem a murmurar sobre nossa estranha atitude, não é, Eli?
—Sim, Josh.
—Mas não quero deixá-la sozinha... —exclamou a cozinheira com algum nervosismo. -- O Senhor tem...
—Não estarei sozinha, Sra. Donner. Howlett me acompanhará em
todos os momentos.
—Tudo bem —hesitou a falsa tia, enquanto Josh agarrava o seu braço para se dirigir até as cadeiras.
—Sei o que pretende —Howlett sussurrou em seu ouvido —e não me parece certo.
—Só quero saber quem é e porque me olha tanto... talvez fôssemos conhecidos no passado...
?E não se lembraria? —Howlett retrucou arqueando uma das sobrancelhas loiras. —Ficaria muito surpreso se um homem assim desaparecesse de sua mente.
—Às vezes acho que lhe permiti muitas liberdades para minha pessoa... -- declarou Eli tomando uma das bebidas que estavam na mesa.
—Também permitirá a esse cavalheiro certas liberdades? -- Ele perguntou depois de se virar para observar Marco conversando com o grupo de homens que cercavam o visconde e sua noiva.
—Que me roube alguns beijos seria muito interessante —disse Elizabeth, olhando novamente para o estranho, que levantou o copo para oferecer-lhe um brinde silencioso.
Josh estava muito inquieta. Embora tivesse se sentado com a Sra.
Donner e falado sobre o que fariam quando voltassem a Londres, nada poderia acalmá-la. Queria que terminasse a noite e a madrugada chegasse
rapidamente. Suspirou profundamente, cruzou as mãos sobre a saia e fixou os olhos na maior janela, a que levaria ao jardim. Não poderia se levantar e caminhar furtivamente para aquela área do salão sem ninguém a observasse?
Porque queria fugir, escapar de todos e sentir a liberdade que a natureza lhe proporcionava. Sem dúvida alguma, seu sangue cigano insistia para que não respeitasse os protocolos sociais e reivindicasse a essência de sua origem.
Olhou para a Sra. Donner com o canto do olho e seu rosto expressava a mesma angústia que ela.
—Gostaria de sair na varanda? —Ela perguntou esperançosa.
-- Será correto? Não sei se deveríamos sair do salão sem a permissão do visconde -- disse ela em dúvida.
—Não ficaremos longe por muito tempo, garanto-lhe, apenas o suficiente para respirar um ar que não exale odor de umidade -- acrescentou, levantando-se.
—Se diz —a cozinheira terminou aceitando.
Mas, assim que as duas estavam indo para aquela janela que as libertaria da pressão que estavam suportando, duas mulheres ficaram no caminho. A mais alta, vestida de luto rigoroso, sorria; a outra, que usava um vestido marrom agressivo, mostrava um semblante áspero como o que Josh havia observado no retrato. Teriam algum parentesco?
—Boa noite, somos a Sra. Clarke e a Sra. Madden. Desculpem
nos por não nos apresentarem, mas nossos maridos —disse, olhando para o grupo de homens conversando com o visconde e Anne —estão tão ocupados que não tiveram a decência de nos apresentar formalmente.
—Isso acontece em eventos tão importantes quanto este --
observou a cozinheira, rezando para que seu comentário fosse preciso. —Sou Gerthudies Yenkis, a irmã do Dr. Moore e ela é minha sobrinha, Josephine Moore.
Deveria estender a mão para cumprimentá-las? Teria feito bem em adicionar o nome da menina? Sem saber muito bem o que fazer ou se havia falado incorretamente, esperou que elas dessem o primeiro passo e quando percebeu que suas mãos ainda estavam no mesmo lugar, agarrou o leque com força.
—Ouvi dizer que seu irmão está se esforçando para se tornar um bom médico —apontou afiada a mulher de vestido marrom, que deduziram ser a Sra. Madden.
—Não têm bons médicos aqui? ?A suposta tia disse, ao ouvir a respiração de Josephine se acelerar.
—Claro! —Exclamou a Sra. Clarke rapidamente. —O Dr.
Phoeby é um bom profissional.
—Então, ele mesmo será capaz de lhe explicar se a fama que meu irmão ostenta em Londres é merecida ou não -- ressaltou destemida.
—Não queríamos ofendê-la, Sra. Yenkis. Só queríamos confirmar que, se um dia viajássemos para Londres e, infelizmente, ficássemos doentes, estaríamos a salvo com os cuidados de seu irmão -- interveio a Sra. Madden.
-- Garanto-lhe que não terá nenhuma reclamação. Ele pode curá
las de qualquer doença -- ela apontou severamente.
—Tia, me prometeu que...
Justo quando Josh ia lembrá-la que momentos antes tinham a intenção de deixar o salão, ficou sem palavras quando viu como uma figura masculina, andando com a ajuda de uma bengala, estava indo em direção a elas. Aquele cabelo de cobre, a mecha loira na testa, os olhos de safira e a boca gloriosa não haviam desaparecido de sua mente... seu corpo se endireitou como se fosse um soldado posando diante de um superior. Seu coração começou a bater com tanta força que ela sentiu o latejar em sua garganta e seu pulso acelerou tanto que ela não conseguiu ficar quieta.
Segurou o braço da Sra. Donner com mais força e começou a fazer algo que não fazia desde que era criança: rezar para sua mãe criadora.
?Boa noite, senhoras. ? Eric Cooper cumprimentou-as com tal cavalheirismo que a Sra. Clarke e a Sra. Madden coraram como se fossem duas moças inocentes. Beijou-as nas mãos e depois esperou em silêncio que uma delas apresentasse as convidadas.
?Boa noite, novamente, lorde Cooper ? respondeu, por fim, a
esposa do juiz. -- Apresento-lhe a Sra. Yenkis e sua sobrinha, Senhorita Moore.
?Encantado... ? Ao perceber que a Sra. Yenkis tremia tanto que não conseguia estender a mão para que ele pudesse beijá-la, como fizera com as outras, juntou os saltos dos sapatos e cumprimentou-a com um aceno solene. ? É uma verdadeira honra conhecê-la pessoalmente, Sra. Yenkis.
Garanto-lhe que ainda estou consternado depois de ouvir o episódio tão dramático que sofreu dias antes de viajar para cá ? disse reverentemente. ?
Nunca imaginei que uma mulher tivesse tanta coragem.
?O que aconteceu? ? A esposa do padre perguntou com uma mistura de curiosidade e surpresa.
?Muito obrigado pelo seu louvor, milorde. Mas entenderá que não quero reviver essa situação novamente. Como meu querido irmão diz, é melhor esquecer todos os problemas para que nosso cérebro não adoeça ?
ela disse com aparente calma, embora o tom de sua voz denotasse o contrário.
? Além disso, não é apropriado falar sobre aquele momento horrível na frente da minha inocente sobrinha. Josephine, querida, apresento Lorde Cooper, filho do...
?Barão de Sheiton ? Eric terminou a frase, sabendo que ela não o conhecia, mas estava atenta na forma como a esposa do juiz se dirigiu a ele.
? Senhorita Moore... ? Ele se referiu a Josh, esperando pela saudação que
desejava desde que a viu entrar.
?Milorde ? disse ela, colocando as mãos em ambos os lados do vestido. Se curvou como uma dama educada, e quando seus olhares se encontraram novamente, ambos despendiam fogo pelos olhos. Os de Josh emanavam raiva, no entanto, os de Eric exalavam desejo.
?Poderia nos contar sua história, Sra. Yenkis? ? A Sra. Clarke insistiu.
?Não deveria ? a cozinheira hesitou. ? Realmente não seria bom para minha sobrinha. Meu irmão cuida muito de tudo o que suas filhas escutam e não ficará feliz em descobrir que eu quebrei uma de suas rígidas regras educacionais ? argumentou a Sra. Donner, adotando, finalmente, o papel que fingia ser.
?Posso ajudá-la com isso, se quiser ? Eric anuiu, olhando para a cozinheira severamente. ? Estou mais do que disposto a convidar sua sobrinha para um refresco enquanto explica a essas senhoras encantadoras como se livrou do homem que tentou agredi-la quando voltava de uma reunião culinária oferecida pela associação de mulheres.
Sabia! Ele sabia! Josh olhou para o rosto amedrontado da Sra.
Donner e apertou os lábios para não gritar. Aquele homem sem coração sabia quem ela era. Como? Onde a conheceu? Por que diabos estava lá? Queria humilhá-la por tê-lo esbofeteado e machucado?
?Mas... não seria apropriado que... ? a cozinheira gaguejou, esperando por um milagre para salvá-la dessa situação muito difícil.
?Não tenha medo pela integridade da sua sobrinha ? declarou Madden. ? Lorde Cooper, apesar de sua juventude, é um verdadeiro cavalheiro. Sua benevolência, honestidade e educação moral tão firme e severa, que teve de seu amado pai, fortalece um cavalheirismo que muito poucos homens podem alcançar. É uma pena que ninguém nos informou da sua assistência, milorde, com certeza Ginger, minha filha, poderia tê-lo entretido. O coitado andou pelo salão até que Hester e eu finalmente nos aproximamos ? disse à cozinheira e a Josephine como se fosse um horror que tivesse passado mais de vinte minutos sozinho.
?Obrigado, mas garanto que os rumores sobre mim se tornaram idealizados ? Eric respondeu humildemente, fazendo as duas senhoras suspirarem.
Outra mãe com uma filha casadoira? Falando, além disso, de uma possível relação na frente de Josh? Isso não lhe agradou. Embora não parecesse lamentável que elas evocassem seu bom comportamento e seu cavalheirismo. Assim, a pequena guerreira, a quem não reconheceu vestida como uma mulher, admitiria que seus beijos não tinham sido previsíveis e estudados como um libertino faria.
?Por nada! —Exclamou a Sra. Clarke. ? Milorde, a história do
caçador também é uma invenção? Porque posso ver como ainda precisa da bengala para poder andar.
?Caçador furtivo? ? Josh finalmente explodiu, forçando-se a franzir os lábios e não pegar os punhais para fazer belos desenhos no impecável terno meio cinza.
?Foi apenas uma pequena disputa ? disse Cooper, visivelmente desconfortável.
?Mas como é humilde! ?Insistiu a esposa do juiz. ?Devo esclarecer que, há alguns dias, lorde Cooper estava andando em seu terreno quando descobriu um caçador. Então, mesmo que sua vida estivesse em perigo, lutou contra ele. Por essa razão, tem que carregar a bengala. Aquele homem perverso jogou uma adaga nele antes de fugir ? explicou a esposa do padre da paróquia.
?Que tragédia! ? Josh exclamou, com os olhos bem abertos.
?Ele deve ter sofrido um medo muito semelhante ao sofrido pela minha tia
? acrescentou com aborrecimento.
?Posso assegurar que não senti medo em momento algum ?
disse Eric asperamente. -- Sabia que venceria a batalha.
?Batalha? Pensei que tinha dito uma mísera disputa entre um caçador e o senhor ? disse ela intencionalmente.
?Estava desarmado ? Eric murmurou. ? Meu oponente
poderia ter me matado com aquele punhal.
?Que horror e que coragem! Certamente não cavalgará mais sozinho por suas terras. Tenho medo que tenha que ser sempre vigiado por um servo se quiser evitar ser atacado novamente por aquele caçador ? ela continuou naquele tom pungente.
?Bem, a verdade é que, senhorita Moore, ainda cavalgo sozinho por minhas terras ? salientou. —Na verdade ? disse ele, dando um passo em direção a ela, apesar da surpresa que as três mulheres exibiram com tanta audácia ? visitei o local onde tive o embate nos dias seguintes no mesmo horário.
?Quer encontrá-lo novamente, milorde? Não está com medo de que na próxima vez que o encontrar queira terminar o que começou? ? Ela retrucou, erguendo o queixo com orgulho.
?Mesmo que aquele caçador queira me assustar, não conseguirá.
Continuarei indo para aquela área enquanto nós dois estivermos em Brighton.
Garanto-lhe, senhorita Moore, que ninguém pode arrebatar o que é meu ?
declarou solenemente.
?Ainda estamos falando de terra ou honra? ? Josh reagiu sem diminuir sua força, apesar de entender o significado de suas palavras.
?Deveriam a honra e a posse ser separadas? Pode lutar com honra e coragem pelo que decide que lhe pertence. Podemos usar uma
espada, um punhal, um canhão... ou a capacidade de falar para mostrar que nossos pensamentos ou desejos são inquebráveis ? ele declarou como se fosse um soldado mais graduado que Josh.
?Como ocorreu com o caçador ? disse a Sra. Clarke.
?De fato ? disse Eric, recuando daquele passo indevido. ?
Mas como disse antes, deixei minhas intenções bem claras. Só espero que aquele caçador ouça que não vou parar de lutar até que ele assuma o destino que selamos naquele dia.
Josh engoliu em seco e prendeu a respiração. Estava entendendo bem o duplo significado? Ele estava declarando uma guerra em que ele seria o vencedor? Queria dobrá-la? Ela não era uma donzela tímida! Se não fosse comprometer sua irmã e o visconde, pegaria os punhais e enfiaria as pontas na garganta dele antes que as fofoqueiras, que exaltavam seu comportamento respeitoso e queriam emparelhá-lo com alguma jovem casadoira, piscassem uma vez. Pretendia perguntar a ele o que selaram naquele dia, quando Marco caminhou na direção deles. O suspiro de alívio que a Sra. Donner ofereceu surpreendeu as fiéis esposas, no entanto, lorde Cooper não piscou. Seus olhos de safira ainda estavam fixos nela, como se quisesse ler seus pensamentos.
?Senhoras... milorde ? o administrador as cumprimentou corretamente. -- Lamento pela interrupção, mas devo informar à senhora Yenkis e à senhorita Moore que a carruagem está esperando por elas na
entrada.
?Estão saindo tão cedo? ? A Sra. Clarke exclamou, fingindo aflição, embora estivesse ansiosa para terminar a conversa e se dirigir ao marido para lhe contar sobre a estranha performance de lorde Cooper com a jovem de cabelos claros.
?Vamos voltar a Londres amanhã, e não seria conveniente levantarmos tarde ? disse a Sra. Donner, visivelmente aliviada.
?Josephine, devem sair agora. Elizabeth está na carruagem com Howlett. Sua irmã sofre de uma dor de cabeça terrível e quer voltar o mais rápido possível ? sussurrou Marco em seu ouvido.
?Sim, claro ? assegurou, olhando para o administrador. Olhou para Lorde Cooper, sorriu e disse: ? Foi um prazer conhecê-lo, milorde.
Recomendo fortemente que desista de tentar confrontar o caçador novamente.
Com certeza, na próxima vez que se encontrarem, ele estará mais armado e poderá atirar dois punhais em vez de um. ? Se curvou para ele, olhou para as duas mulheres, sorriu largamente para elas e acrescentou: ? Boa noite, senhoras. Agradeço a companhia. Desfrutei muitíssimo da conversa.
?Sim, isso mesmo ? disse a Sra. Donner. —A comida estava deliciosa, o lugar é maravilhoso e certamente todos falarão sobre a festa magnífica que o conde ofereceu.
Eric permaneceu em silêncio, com os olhos fixos em Josh e
percebeu que havia parado de respirar quando os primeiros sinais de sufocamento apareceram. Mas ele prendeu a respiração enquanto observava o administrador do visconde sussurrando no ouvido de Josh. Naquele momento, e apesar da reputação de moço racional que se desdobrou, desejou erguer a bengala e acertá-lo na cabeça, mas parou. Ele havia realizado muito mais do que pretendia quando soube que as irmãs Moore compareceriam ao pequeno encontro do conde Burkes. Embora não o tivessem convidado, ele apareceu sem ser anunciado. Logicamente lhe abriram as portas sem qualquer objeção quando disse quem era. Algum anfitrião se atreveria a negar passagem ao filho do Barão de Sheiton? Claro que não! Então, quando entrou e não a viu, perdeu a esperança de encontrá-la, lembrando que Josh seria tão jovem que ainda não teria se apresentado a sociedade. Apenas quando tinha deixado o cálice amargo e decidiu voltar para casa, seu coração disparou ao ouvir o título do irmão do Marquês. Permaneceu distante. Não podia levantar suspeitas sobre suas verdadeiras intenções. Mas quando soube que a noiva do visconde apresentava o criado como seu primo, ele ficou paralisado e a inquietação aumentou ao descobrir que algo estava acontecendo. Alguém realmente duvidara dessa versão? Nenhum dos presentes conhecia o servo do visconde? Porque em Londres eles falavam incessantemente de suas roupas extravagantes e seu comportamento não masculino. Concluindo que o visconde mentiu para o anfitrião e aos convidados por uma razão importante,
decidiu vigiá-la e permaneceu oculto até que as duas harpias se aproximaram dela.
?Milorde? ? Eric piscou várias vezes, sorriu e olhou para a mulher que lhe fizera a pergunta. ? Está cansado? Quer se sentar?
?Sim, me sinto muito exausto. Acho que estive de pé por muito tempo e minha perna está doendo novamente. ? Esperou que as mulheres se despedissem corretamente e saiu da sala sem sequer perguntar pelo anfitrião.
Apoiando-se na bengala, caminhou até chegar ao grande salão.
Josh, o administrador e a suposta tia ainda estavam do lado de fora da porta da frente, esperando que os criados devolvessem seus casacos. Sem hesitar um segundo, foi na direção deles. Quando o criado do visconde o observou, se endireitou como se o próprio rei estivesse chegando.
?Lorde Cooper, o que deseja? ? Marco perguntou inquieto.
?Quero falar com a senhorita Moore por um minuto ? disse com firmeza.
?Milorde, minha sobrinha e eu...
A Sra. Donner fechou a boca quando ele levantou um dedo para ela. Como poderia um jovem de menos de duas décadas ser tão solene?
?Nós lhe concedemos um minuto, milorde. Nossa carruagem nos espera e não devemos nos atrasar ? Marco concordou, pegando a cozinheira pelo braço para deixá-los sozinhos.
Eric permaneceu em silêncio até que os dois criados, sem parar de sussurrar, os deixaram sozinhos. Então olhou para Josh e sorriu ao vê-la tão inquieta e brava.
?O que pretende? Pensa que pode fazer tudo o que quiser? ?
Ela o repreendeu.
Por que Marco não o dispensou? Por que não foi capaz de rejeitar o desejo desse impertinente? Tal respeito mostrava e exigia um menino que, possivelmente, não tinha alcançado vinte anos?
?Não sei que espetáculo queriam oferecer ao conde, mas não me enganaram ? disse ele, olhando para a porta, certificando-se de que estavam sozinhos e que ninguém os escutaria.
«E inteligente» Josh pensou enquanto levantava o queixo e ouvia com essa determinação.
?Não é da sua conta ? respondeu.
?Estão em perigo? O conde quer prejudicá-los? ? Perguntou estreitando os olhos até que fossem duas linhas finas. ? Se sim, pode confiar em mim.
? Como é que aquelas pobres pessoas confiaram quando o ouviram falar sobre o caçador? ? Censurou.
?Fiz isso para protegê-la ? disse indignado. ? Se dissesse a verdade...
?Todo mundo teria rido de você, certo? Quem não faria isso quando soubesse que o honrado, honesto e intrépido Lorde Cooper fora, de fato, ferido pela adaga de uma mulher? ? Repreendeu satisfeita.
?Quer que corrija minha história? Realmente acha que fiz isso para evitar o possível ridículo em relação à minha pessoa? ? Ele caminhou em direção a ela, até que seu torso podia tocá-la quando ele respirava.
Inspirou aquele cheiro de flores silvestres que exalava e observou o brilho daquele cabelo albino.
?Que outro motivo existe, milorde? ? Ela protestou orgulhosamente.
?O que a protege. Se tivesse dito o que realmente aconteceu, sua reputação só teria sido salva por um casamento e.... estaria disposta a casar comigo sem me permitir a diversão que conseguirei a cortejando? -- Colocou os dedos de sua mão direita na bochecha de Josh e acariciou-a lentamente, capturando a suavidade da pele bonita.
?Não... ? Josh gaguejou, chocada com a sensação maravilhosa que sentiu naquele toque. Ela precisava se separar do homem que a transformou em geleia, em uma mulher diferente, mas era muito difícil se distanciar. Colocou as mãos nos punhais quando se virou para encarar o odioso arrogante, mas enquanto sentia a suave carícia, tudo o que queria era colocá-las em volta do seu pescoço, atraí-lo para ela e beijá-lo. ? Fez a coisa
certa, milorde! ? Comentou quando notou um calor estranho em um lugar proibido para ela. ? Muito obrigada. ? Rapidamente se virou para a saída, cobriu os ombros com o casaco e abriu a porta.
? Isso não acaba aqui, Josephine Moore. Nós veremos em breve
? disse antes dela começar a correr.
XXXV
Anne ainda estava falando sobre os planos que seu noivo e ela tinham programado para depois do casamento quando notou que Marco estava se juntando ao grupo novamente. Suas irmãs já estavam a salvo, só faltava que o conde, que se ausentara sem oferecer nenhuma desculpa, retornasse de onde estava e resolvesse, de uma vez por todas, o maldito assunto com Logan. Quando poderiam deixar aquele lugar horrendo?
?É uma decisão muito sábia ? assegurou o pároco. ? Aqui terão a educação adequada para se tornarem homens e mulheres respeitáveis.
Somente boa-fé pode canalizá-los no caminho certo.
?De fato ? disse o juiz. ? Seus filhos viverão tranquilamente em Brighton, fora do alcance da imoralidade de Londres que apodrece as ruas da cidade ? acrescentou ele com repulsa.
?Fico feliz que nossas opiniões sejam tão similares ? Anne concordou depois de tomar um gole da bebida azeda que tinha em seu copo.
?Não gostaria de desagradar meu pai. Ele sempre nos educou com muito cuidado e atenção.
?Milorde? ? O mordomo foi diretamente para Logan, mas essa intervenção fez com que todos se calassem e olhassem para ele com expectativa. ? Lorde Burkes deseja reunir-se com o senhor em seu escritório
? esclareceu ele.
?Agora? ? Anne perguntou com aparente aflição, como se ela não tivesse entendido que o conde exigia apenas a presença de seu noivo. ?
Não quero deixar uma conversa tão eloquente tão cedo. É a primeira vez que falo com pessoas tão racionais...
?Calma, querida, concederei seu desejo. Senhores, protegerão minha noiva enquanto descobrirei o que nosso conde deseja? ? Perguntou Logan àqueles que sentenciaram sua morte, enquanto acalmava o desconforto fingido de Anne com um toque suave em seu braço. ? Vivo só para agradá
la e mimá-la...
?Não se preocupe, milorde, a senhorita Moore estará a salvo conosco ? assegurou o juiz solenemente. ? Além disso, ainda não falamos sobre o célebre Dr. Moore. Precisamos saber como ele conseguiu se tornar um médico tão famoso.
?Garanto ao senhor! ?Anne exclamou, separando-se de Logan, para que partisse imediatamente. ? Antes de sairmos de Londres, a assembleia dos médicos pediu a ele uma investigação exaustiva sobre o Julgamento da Febre, publicado por John Huxham em 1775. E tenho certeza que conseguirá terminá-la em breve. Meu pai é um homem muito consciencioso e fizeram muito bem confiando a ele este importante estudo.
Ao ouvir como Anne se referia ao livro que ele dera a Mary,
quase riu alto, mas não era o momento de expressar aos outros o quanto estava orgulhoso dela. Era melhor que continuasse a persuadi-los com sua lábia casta e sutil, para que os dois miseráveis acabassem beijando seus belos pés.
Quando os presentes se concentraram na conversa que Anne começou, se afastou lentamente dela e pediu a Marco que não saísse do seu lado. Depois de confirmar que não havia por ali nenhum candelabro, virou-se e caminhou, vigiado pelo mordomo, até a porta do escritório de Burkes.
Tentou entrar sem bater, mas o criado parou na sua frente e sugeriu que ele esperasse para ser anunciado. Estava prestes a afastá-lo, mas reteve essa raiva rapidamente. Não deveria provocar outro escândalo, já que desta vez não era apenas ele que seria prejudicado. Depois de aceitar o sutil pedido do criado com um leve aceno, recuou vários passos, colocou as mãos nas costas e esperou. Por um momento, só por um momento, pensou ter ouvido uma voz masculina que não combinava com a do conde ou do mordomo, mas afastou essa ideia da cabeça rapidamente, já que os amigos fiéis do velho Burkes estavam no salão com Anne, e George, que pensou que encontraria na festa, teve que ir precipitadamente para a residência de uma tia por afinidade.
Logan sabia que era mentira. Seu amigo devia estar trancado em algum cômodo da residência. Talvez o maldito Burkes tenha voltado aos seus antigos castigos de purgatório: o de acorrentá-lo no porão até quase morrer de
fome e sede. O pensamento de que seu amigo poderia precisar de sua ajuda e que ele não podia fazer nada para salvá-lo, gerou tanta raiva que queria quebrar o pouco que o conde tinha naquela casa horrível. Ainda não entendia por que George não se libertava daquela vida cruel da qual padecia. Se importava tanto com o título que estava disposto a morrer?
?Milorde já pode atendê-lo ? disse o mordomo, uma vez que abriu a porta.
Logan respirou fundo, caminhou em direção à entrada...
?Vamos, Devon! Entre de uma maldita vez! Não posso passar a noite toda aqui, tenho convidados para atender! ? Esbravejou a conde.
Depois de lhe dar um olhar feroz, Burkes se sentou, pegou um copo e encheu até a borda. Enquanto isso, Logan entrou no escritório sem deixar de olhar ao redor. Não entendeu muito bem por que demorara tanto a recebê-lo e por que agora tinha urgência de despachá-lo. Teria bebido mais do que devia?
Apenas quando estava na sua frente, esperando que indicasse para que se sentasse, ouviu um leve ruído atrás dele. Como se sentisse que iam esfaqueá-lo, se virou rapidamente, mas não encontrou ninguém. Apenas a cortina da janela que levava ao jardim se movia suavemente. Confuso, quando seu sangue cigano o avisou sobre a presença de outra pessoa, se virou para o conde e notou que seu velho rosto mostrava mais raiva e mais
frustração do que segundos antes.
?Deve estar muito satisfeito, certo? ? O velho Burkes o repreendeu. Apareceu em minha casa mostrando uma honorabilidade que não possui e aprovado por uma mulher com a qual nunca sonhou.
?A senhorita Moore... ? ele tentou dizer
?Não procure desculpas, nem evoque a boa-fé daquela mulher incrível! Eu sei quem realmente é!
?Não respondi ao seu convite para que me insulte. Peço respeito.
Vim aqui por minha própria vontade, para deixar claro que não vou vender Harving House ? disse ele, soltando o cigano e afastando o visconde.
?Maldito seja! ? Exclamou, pulando para fora da cadeira. --
Como pode vir a minha casa pedindo respeito? É um bastardo! O filho de um demônio!
?Se está tão certo de suas palavras, me denuncie de uma vez ?
disse ele, colocando as palmas das mãos grandes sobre a mesa.
?O farei! Porque apenas um homem que esconde um passado obscuro aceita uma chantagem! ? Ele contra-atacou.
?Não aceitei o seu suborno para que parasse de investigar o meu passado, Burkes. Fiz isso porque me senti culpado por ter induzido seu sobrinho ao caminho inadequado. Nós dois éramos muito jovens quando esse infeliz incidente ocorreu e imagino que nós dois pagamos nosso castigo mais
do que o suficiente ? disse ele solenemente.
?Castigo? Vai apodrecer no inferno, Devon! Como seu pai fez!
? Ele berrou.
—Tenho certeza que será o próximo lugar em que nos encontraremos. E se não tem mais nada a me dizer, me retiro. Preciso tirar minha noiva desse lugar repulsivo. Não quero que sua decência seja corrompida por nenhum de seus convidados insolentes ? declarou se virando.
?Cuidado com suas costas, Devon. Ainda tenho muitos anos para viver e pretendo usar todos os dias, todas as horas e todos os minutos para encontrar uma maneira de destruí-lo ? ameaçou fora de si.
?Boa sorte, Burkes ? disse antes de sair.
Depois de fechar a porta, Logan suspirou profundamente. Não tinha dúvida de que o conde não desistiria e manteria sua palavra. Mas não queria pensar nisso. A única coisa em que devia se concentrar era concluir a noite e levar Anne o mais rápido possível dali. Felizmente, ao amanhecer eles partiriam para Londres, em direção à liberdade, em direção à vida que ele queria ter ao seu lado e, se o velho Burke persistisse em investigar suas origens, agiria corretamente. Possivelmente era hora de contar a verdade a Roger e corajosamente enfrentar a fúria titânica de seu irmão. Talvez, quando contasse a agonia que sofreu durante todos esses anos, admitisse que ele
sofrera o suficiente e não lhe daria uma surra enorme. Embora não tivesse certeza de que fosse tão benevolente com ele depois de tudo...
?Querida, devemos ir ? comentou Logan, uma vez que se juntou àquele grupo de idosos reprimidos.
?Tão cedo? ? O padre perguntou. ? Ela ainda não terminou de explicar por que acredita que os partos são tão perigosos se a higiene adequada não for mantida.
Logan olhou para Anne, desnorteado. Esses temas não eram próprios de Mary? Ela também estava interessada em medicina e esse interesse era mantido em segredo? Talvez Anne não só tivesse a habilidade de pintar, mas escondesse uma infinidade de qualidades que, é claro, descobririam quando se casassem.
?Concluirei aconselhando-os que olhem bem nas mãos do médico que atende suas esposas. Ele deve cobri-las com luvas ou lavá-las com bastante sabão ? disse Anne antes de aceitar a mão de Logan.
?Boa noite, senhores. Foi um prazer vê-los novamente e agradeço-lhes por terem cuidado de minha futura esposa. Certamente ela não esquecerá uma noite como a de hoje ? disse o visconde com o respeito e solenidade que de seu título futuro.
?Estamos ansiosos por sua próxima visita, senhorita Moore. Foi um prazer conversar com uma mulher que entende homens como nós ?
admitiu o padre pouco antes de beijar sua mão.
Apesar da polida despedida de Logan, o juiz e o pároco deram-lhe um breve aceno de cabeça e despediram-se dela. Anne sorriu para eles, como se não tivesse notado o desprezo, pensando que tinha sido uma péssima ideia mandar Josh de volta para Harving. Se sua irmã tivesse contemplado aquele desprezo em direção a Logan, ela teria procurado algo com o que cortar suas línguas de víbora.
Uma vez finalizados os intermináveis elogios a ela, ambos, acompanhados por Marco, abandonaram com urgência a residência do conde.
?Tudo bem? ? O administrador perguntou, referindo-se à reunião com o conde.
?Por enquanto ? Logan respondeu, ajudando Anne. ? Mas não parará com seus esforços. Mantenha-me informado de tudo o que achar que é suspeito. Não quero que ofusque qualquer detalhe, mesmo se qualificar como insignificante. Apresente-se regularmente em Harving, contrate vários criados para que observem movimento no interior e tirem os cavalos dos estábulos todos os dias. Quero que todos saibam que a residência não foi abandonada e que pensem que voltaremos em breve.
?O farei ? Marcus disse antes de apertar sua mão. ? Posso pedir um favor? ? Ele acrescentou duvidosamente.
?Claro, sabe que pode me perguntar o que quiser. ? No entanto,
o rosto afável de Logan mudou quando ele se aproximou para sussurrar algo em seu ouvido.
?Diga a Howlett que esperarei ansiosamente por notícias e que não descansarei em paz até que tenha sua carta em minha escrivaninha em meu escritório ? declarou ele.
?Direi a ele ? confirmou antes de entrar na carruagem.
Ele se acomodou no banco e esperou que o cocheiro fechasse a porta. Marco permaneceu imóvel e seu rosto, sempre sorridente, mostrou muita preocupação. Logan o observou até que a carruagem partiu, ainda se perguntando o que o incomodava tanto e porque parecia que estava escondendo algo importante. Talvez fosse o tom de voz que Marco costumava usar com ele ou o gesto que fez para que Anne não o escutasse.
Seja o que for, algo lhe dizia que algum detalhe importante lhe escapara, mas... o que seria? As irmãs foram vigiadas o tempo todo e ele protegeu Anne durante a noite. Então, por que suspeitava que as notícias que esperava de Howlett não tinham nada a ver com o romance que haviam começado?
?Gostou do meu desempenho? ? Anne perguntou depois de girar sua pulseira várias vezes sobre o pulso.
?Foi esplêndida! ? Ele respondeu, concentrando-se finalmente nela. ?Causou uma grande impressão no conde e naqueles ineptos. Até eu mesmo acabei acreditando que é uma mulher virtuosa.
?O conde... também? ? Perguntou duvidosa.
?Sim, querida, o conde também ? disse estendendo as mãos para pegar a dela.
?Deixará de chantageá-lo? ? Perguntou.
?Por agora, acho que sim. Mas ele jurou que usará os anos que restam de sua vida para me destruir.
?Bem, se quer que seu fim chegue logo, a melhor opção será rompermos nosso compromisso e que eu o seduza até que me proponha suplantá-lo como um pretendente. Desta forma, a maldição cuidará dele...
?Quer romper o nosso compromisso para me trocar por esse velhote? ? Disse, puxando-a para perto. ? Não querida, não faremos essa tolice. Demorei muito tempo para encontrá-la e fazer com que me amasse, para que todo esse esforço não leve ao que eu quero.
?E o que quer? ? Ela perguntou, ajustando seus quadris sobre os de seu futuro marido.
? Converte-la, de uma vez por todas, em minha esposa ? disse antes de colocar as mãos nos dois lados do rosto dela e puxá-la para sua boca lhe dando um beijo apaixonado e feroz.
XXXVI
Seis dias depois ...
Roger ainda mantinha um comportamento impenetrável. Não havia dúvida na mente de Logan de que ainda estava zangado por não ter lhe contado sobre sua amizade com George, o que acontecera naquela noite e a chantagem do conde. Ele supôs que na mesma tarde lhe daria uma surra que não esqueceria em anos, mas seu irmão agiu de forma estranha: saiu do escritório, o deixando sozinho com Evelyn, e não voltou para casa até a hora do jantar. Era muito triste e desconfortável ficar ao seu lado durante a noite sem falar com ele. Comeu e bebeu em silêncio, como se nem ele nem sua esposa existissem. Depois que o jantar acabou, ele se levantou, beijou Evelyn e sussurrou em voz alta que era hora de a visita sair.
?Deve dar tempo a ele ? comentou a cunhada quando o acompanhou até a saída.
?Diga a ele que fiz para protegê-los, que a minha intenção não era magoar e que...
?Fique tranquilo ? Evelyn acalmou-o com um beijo suave na bochecha ? Roger entenderá sua decisão.
?Por favor, lembre-o também que eu gostaria que me
acompanhassem até a casa dos Moore depois de amanhã. Gostaria que ambos...
?Nós vamos, eu prometo ? Evelyn argumentou antes de voltar para casa.
Não esperava que, apesar das palavras de sua cunhada, Roger aceitasse seu pedido. Por essa razão, quando o viu descendo as escadas de Lonely Field, acompanhado de sua esposa, surgiu um pequeno halo de esperança. Mas toda essa ilusão desapareceu quando não o cumprimentou.
Ajudou Evelyn a subir na carruagem, entrou e fechou a porta com força.
Logan, incapaz de respirar por causa da tristeza que o envolveu, andou para a carruagem e entrou pela outra porta.
E assim eles foram juntos em direção à casa dos Moore e separados pelo corpo de Evelyn. Quanto tempo eles continuariam assim?
Deveria desistir? Como poderia imaginar um futuro sem a presença de seu irmão?
?Roger, por favor, me escute. Nós não podemos continuar assim. Juro que agi dessa maneira porque pensei que estava fazendo a coisa certa ? Logan começou enquanto observava com pesar que seu irmão continuava olhando pela janela, ignorando-o.
?Diga a esse imbecil para não me tratar com tanta familiaridade, ele não merece isso ? disse ele com um grunhido.
?Logan, seu irmão diz...
?É incapaz de se dirigir diretamente a mim? Está tão desapontado? Ou é repulsa?
?Repulsa? ? Esbravejou Roger virando-se para Logan com tanta brusquidão que Evelyn deu um pequeno salto no banco. ? Não, não é repulsa, mas decepção ? ele gritou. -- Sinto-me desapontado porque não teve a coragem de me confessar o que lhe aconteceu naquela noite e me deixa desconfortável descobrir que aceitou uma chantagem que durou, quanto?
Dois anos?
?Juro que fiz isso para salvá-lo ? Logan respondeu, levantando a voz, perdendo a paciência que tinha. ? Como poderia colocar em risco o esforço que tem feito por nós em todo esse tempo?
?Va te faire foutre! [9] ? O marquês resmungou.
?Por favor... deveria nos tranquilizar um pouco ? disse Evelyn, ouvindo a expressão do marido em francês. ? Lembre-se de que estamos indo para a casa dos Moore e não seria apropriado que estivesse tão zangado.
Eles pensarão que não estamos satisfeitos com a proposta de casamento.
?E não estou satisfeito! ? Roger assegurou. ? Essa mulher precisa de um bom homem e isso ? ele apontou o dedo para o irmão ? não é!
?Roger, querido, tenho certeza de que Logan achou que estava
fazendo a coisa certa. Sabe que ele te ama tanto que faria qualquer coisa para salvaguardar...
?A coisa certa? Evelyn, está realmente defendendo esse idiota?
? Esbravejou o marquês, dando ao seu irmão com um olhar assassino.
?Me sentia... envergonhado ? Logan comentou com um longo suspiro. Ele esfregou o rosto, desesperadamente, e olhou para o chão. -- Não queria revelar meu segredo porque não posso suportar que a pessoa que amo e respeito me diga que sou igual ao meu pai.
?Roger jamais teria feito tamanha tolice. ? A marquesa tentou consolá-lo com suas palavras ternas. ? Caso não se lembre, antes de Colin forçá-lo a se casar comigo, seu irmão era o maior libertino em Londres e tenho certeza de que, durante as suas noites de solteiro, participava de bacanais semelhantes.
?Não estamos falando de mim ? resmungou o marquês, recostando-se no banco.
?Eu sei, mas quero esclarecer que não está em condições de reprovar ou julgar nada, porque era igual ou pior do que ele ? acrescentou Evelyn olhando para Logan com cumplicidade.
?Não estou zangado com o que ele fez, mas por causa de sua falta de confiança ? disse Roger. Se não tivesse escondido de mim o que aconteceu, poderia tê-lo ajudado naquele dia.
?Como poderia me libertar dessa situação, Roger? ? Disse o visconde, levantando a voz novamente. ? Esse homem é intocável!
?Quem te disse esse absurdo? ? Ele murmurou. Ante ao silêncio que Evelyn e Logan ofereceram, ele continuou: ? Caso não saiba, a esposa de Burkes deu à luz sete crianças que morreram logo após o nascimento. De acordo com meus informantes, em seu último parto, e depois que esse descendente também morreu, ele a trancou no porão para lhe dar um castigo. Mas o muito desgraçado não percebeu que ela estava sangrando e necessitava urgentemente da atenção de um médico. Quando Burkes pensou que a punição havia chegado ao fim, ordenou a um criado que a retirasse, mas já era tarde demais, a condessa já estava morta.
?Meu Deus! ? Exclamou Evelyn apavorada, levando as mãos à boca.
?Naquele momento, Burkes ordenou que ela fosse transferida para seus aposentos e uma criada para verificar seu corpo em busca de sinais de que ela havia sido enclausurada. Mas não encontraram uma única marca
? continuou o marquês.
?Nada? Aquela pobre mulher não lutou para permanecer viva naquele porão? ? Evelyn retrucou.
?Não ? disse Roger, balançando a cabeça ligeiramente de um lado para o outro. ? Acredito que ela tenha chegado à conclusão de que só a
morte a libertaria do marido e se rendeu a ela ? acrescentou tristemente.
?Por que ninguém denunciou isso? Por que saiu impune desse assassinato se era um suspeito? Por que conhece essa versão da história? ?
Logan perguntou sem acreditar no que estava ouvindo. Não era o mesmo que George estava sofrendo? Ele também queria encontrar a morte para terminar sua provação?
?Porque seus grandes e honrados amigos, o juiz Clarke e o pároco Madden, aqueles que testemunharam sua depravação, asseguraram que o visitaram durante os três dias seguintes ao parto e exaltaram a atitude compreensiva, afetuosa e piedosa do conde em relação a sua esposa. Além disso, quem daria crédito à versão de um criado que foi demitido?
?Maldito seja! ? Logan clamou, socando a parede da carruagem. ? Maldito seja!
?Se tivesse tido coragem suficiente para explicar o que aconteceu com você, não teria sofrido extorsão. Essa atitude submissa apenas acentuou suas suspeitas e fortaleceu sua decisão de arruiná-lo ? disse Roger, observando as costas de seu irmão se apertarem. ? Mas a situação está resolvida. Aquele bastardo vai ficar longe de qualquer membro da minha família se não quiser terminar seus anos atrás das grades.
?Por que diz que está resolvido? ? Evelyn interrompeu.
—Ontem recebi uma carta do próprio Burkes, na qual pede
desculpas por seu comportamento inadequado e cumprirá meu mandato em breve. Espero que não demore muito para dar ao seu administrador tudo o que roubou de você.
?Está dizendo que...? Quando...? ? Logan perguntou, arregalando os olhos.
?Na mesma tarde em que me contou. É por isso que saí do meu escritório com tanta urgência, não queria que a última carruagem fosse para Brighton sem um mensageiro para levar a esse malnascido a minha carta ?
explicou calmamente. ? Espero que saiba que a fortuna será nosso único presente de casamento. Não merece nem um miserável xelim ? acrescentou sarcasticamente.
?Deveria me tirar tudo! Deveria me repudiar e me jogar na rua como um cachorro! ? Ele exclamou entre soluços.
?Agiu errado, mas isso vai torná-lo mais forte no futuro ? disse Evelyn, tocando seu ombro para oferecer seu apoio.
?Mas foi um tolo ? insistiu o marquês. ? A maturidade não é apenas demonstrada pela atitude que se tem de enfrentar problemas. Um homem maduro pensa, raciocina, vai à família e confia nela.
?No entanto, tudo foi resolvido e devemos nos concentrar no futuro ? disse Evelyn novamente. ? E lembre-se que na idade dele, também não pensava ou raciocinava. Só procurava, entre as mulheres ao seu redor,
aquelas que rapidamente levantariam a saia de seu vestido.
?Evelyn, pare essas comparações de uma vez! Tem que admitir que a sua atitude me machucou e que nunca esquecerei a traição ? disse Roger com raiva.
?Sim, esquecerá, querido. Como eu esqueci que depois que nos casamos, me deixou sozinha por sete longos meses ? ela disse desconfiada.
?Evelyn! ? O marquês esbravejou novamente. ? De que lado está? Não se lembra dos nossos votos de casamento?
? Ah, sim, claro que me lembro deles! ? Expressou sorrindo.
? E cumpro todos. Mas não posso permitir que esse absurdo estrague seu relacionamento. Logan agiu assim porque achou que era a coisa certa a fazer e você partiu porquê ...
?Enfer, ma femme![10] ? Disse Roger desesperado.
?Sinto muito... ? Logan murmurou. ? Sinto muito.
Os dois olharam para ele sem piscar por causa da surpresa que tiveram ao ouvi-lo dizer aquelas palavras. Não ouviram essas palavras na boca de Logan desde o dia do incêndio, quando estava chorando, inconsolável e se desculpando com Roger por não ter protegido Nathalie e sua mãe. Evelyn olhou para o marido, franziu a testa e balançou a cabeça para Logan. Não iria consolá-lo? Não iria perdoá-lo?
?A próxima vez que tiver um problema, fale comigo. Sabe que
pode confiar em mim ? disse o marquês depois de suspirar profundamente.
? Como Evelyn disse, nada do que fez pode me escandalizar, porque antes de me casar, garanto que fiz pior.
?Isso não é o que eu queria ouvir! ? Evelyn berrou.
?Ah não? Pensei que as rugas na sua testa indicavam que confessei como eu era perverso ...
?O que vou dizer a Anne? ? Ele os interrompeu, esfregando o rosto novamente. ? Como ela se casará com um homem que, em vez de proteger sua família, a colocou em perigo?
?Errando que se aprende, Logan, e isso nos torna mais fortes ?
assegurou Roger antes de estender a mão direita para firmar a paz. ?
Lembre-se de que não está sozinho, que não conta apenas com a minha ajuda, mas também com a de todos os nossos irmãos.
?Juro por minha vida que o farei ? assegurou Logan, aceitando a oferta de paz.
?Bem, agora que tudo está esclarecido, preciso que resolva a dúvida que tenho desde que o vi aparecer ? disse olhando para o cunhado.
?Qual? ? Ele retrucou com expectativa.
?Por que diabos colocou um colete tão horroroso? Como Howlett permitiu essa decisão horrível?
?Não gosta da cor laranja? Porque eu amo... ?Logan respondeu
antes de dar uma gargalhada.
***
?Como pode pensar em vestir aquele vestido assustador em um dia tão importante? ? Sophia esbravejou quando Anne desceu as escadas e se juntou a ela no corredor. ? Não lhe disse para jogar fora? Tire logo, Anne Moore! O visconde pode pensar que não temos a solvência para lhe comprar um.
?Não se preocupe com isso, mãe ? disse Anne, pegando-a pelo braço para levá-la de uma vez por todas para a sala onde o resto da família estava esperando por eles. ? O visconde terá prazer em me ver neste vestido e garanto que ele não vai pensar se é a segunda ou a terceira vez que o uso, mas quanto tempo levará para tirá-lo.
?Anne Moore! ? Exclamou com aparente rubor. ? Parou e olhou para ela. ? Não se lembra com quem está falando? Realmente acha que eu deveria saber essas coisas?
? Não se torne de repente numa mãe pudica. Outro dia, quando lhe contei tudo o que fiz durante a minha estadia em Harving House e a razão pela qual não tenho medo de me casar com Logan, não ruborizou ? Anne assinalou com ironia.
?A única coisa que queria era descobrir por que havia retornado sem ter terminado o retrato e decidido se casar com ele ? disse ela
embaraçada. ? O que se explica na sua narração, não é problema meu.
?Então, não acha que foi certo eu informar que o visconde é o cigano que vai quebrar a maldição? ? Disse novamente, afastando-se de sua mãe.
?Sim, essa parte admito que gostei. Quem teria pensado que o falecido marquês misturava seu sangue azul com o cigano?
?Não pode imaginar o que aconteceu... ? Anne disse quando entraram na sala.
?O que? O que aconteceu? ? Randall perguntou ansiosamente, tendo apenas ouvido as últimas duas palavras. Ele caminhou na direção delas, esfregou o rosto, arrastou os óculos até a testa e acrescentou: ? Não me diga que não quer mais se casar com o visconde? Por que? Não acha que ele será um bom marido? Tem medo? É normal depois de tudo o que aconteceu, mas acredito que ele não morrerá antes de chegar ao altar, tenho um palpite que me diz...
?Calma, papai ? interrompeu Anne, separando-se da mãe para que Randall pudesse tomar seu lugar. Deu-lhe um beijo suave na bochecha e acrescentou: ? Ainda quero casar com o visconde. Juro que ele é o homem que esperei toda a minha vida e não vou deixá-lo escapar.
?Obrigado Deus... ? o doutor suspirou aliviado ? não sabe como estou feliz em ouvir que está finalmente pronta para se tornar uma
esposa. Juro que tudo que quero é vê-las felizes e protegidas por bons homens.
?Então... todo o entusiasmo que mostrou desde que dei a notícia, não tem nada a ver com o fato de que vou me tornar uma viscondessa e que isso vai ajudar minhas irmãs? ? Ela retrucou sarcasticamente.
?De jeito nenhum ? ele disse categoricamente. ? Sempre soube que, mais cedo ou mais tarde, encontraria um bom marido. Tudo o que quero é que seja tão feliz quanto eu com sua mãe ? disse, esperando que seu tom de voz não revelasse que ela estava certa.
Uma vez que ela se casasse com o visconde, suas filhas seriam aceitas na sociedade e eventualmente encontrariam seus futuros maridos.
Embora ainda pensasse que para Josh e Madeleine não seria tão fácil. Que homem aceitaria uma guerreira como esposa? E quem poderia fazer desaparecer a timidez da pequena ruiva?
?Chegou! Logan está aqui! ? Josh gritou exultante, pulando na frente da janela. ? E ele está acompanhado pelos marqueses de Riderland!
?Meu Deus! ? Sophia exclamou nervosa. ? Sabia que eles também participariam? ? Olhou para Anne como se tivesse acabado de passar uma estrela cadente diante de seus olhos.
?Sim ? respondeu, sacudindo as saias do vestido.
Estava nervosa. Queria causar uma boa impressão nas pessoas
mais importantes para seu futuro marido. Eles seriam afáveis com sua família? Logan insistiu que eram pessoas gentis, carinhosas e bastante humildes, mas... não se arrependeriam do compromisso quando descobrissem os comportamentos imprevisíveis de suas irmãs?
?E, por que não nos contou nada? Nós teríamos nos preparados... Eu teria comprado... ? Sophia balbuciou muito preocupada, amaldiçoando novamente por não ter previsto que Anne mostraria a sua verdadeira personalidade através de seu vestido laranja.
?Foi por isso que não mencionei, mãe. Quero que conheçam a minha família tal como são. Sem enganos ou falsas aparências ? enfatizou.
Olhou para as irmãs e apertou os olhos quando não encontrou Elizabeth. ?
Onde está Eli? Ainda não terminou de se aprontar?
?Não vai descer ? respondeu a mãe. Continua com dor de cabeça e não seria apropriado que permanecesse aqui com aquela aparência abatida.
?Continua desculpando-a! ? Anne exclamou com raiva, ao lado de Mary, Josh e Madeleine. ? Maddy lutará contra sua timidez para ficar ao meu lado em um dia tão importante e ela não é capaz de suportar uma dor de cabeça miserável? Chega, mãe! Pare de dar desculpas! Acha que não sei o que está errado? ? Ela berrou. ? Bem, deverá aceitar de uma vez por todas!
?Não é isso ? interveio Randall. ? Eli está muito feliz pelo seu
próximo compromisso. Mas sabe que...
?O que faço, Sr. Moore? ? Shira perguntou, abruptamente quebrando a discussão que havia sido criada em momentos tão inapropriados.
? Estão se aproximando da entrada e tenho que recebê-los.
?Não os faça esperar ? Anne falou a Shira rudemente. ? Meu futuro prometido está tão impaciente quanto eu para me tirar daqui.
?Anne! ? Sua mãe a repreendeu: ? Não quero que pense isso de sua irmã!
?Não me lembre de tudo que fez antes de sairmos... ?
murmurou antes de respirar fundo, se acalmar e esperar a entrada do seu homem.
Que a mãe criadora tivesse pena de Elizabeth em algum momento de sua vida, porque ela nunca iria perdoá-la pela dor que causara num dia tão importante.
?Os Marqueses de Riderland ? anunciou Shira com voz trêmula. ? Desculpe, e há também o Visconde de Devon ? acrescentou, corando logo após sua apresentação nefasta.
Seus pais foram recebê-los e depois das saudações apropriadas, caminharam em direção a elas. Anne tentou respirar com facilidade, mas era impossível fazê-lo. Não se viam há quatro dias, só havia tido notícias dele através das cartas entregues por Howlett, que visitava Elizabeth
assiduamente. A última coisa que Logan havia escrito era que a amava e que estava desesperado, esperando que aquele dia chegasse.
?Milady, ela é Anne, minha filha mais velha. A próxima é Mary e as duas menores são Josephine e Madeleine. ? Quando foram nomeadas, saudaram a marquesa com uma reverência cuidadosa.
?Prazer em conhecê-las, senhoritas ? disse Evelyn, observando a cor do vestido da futura noiva de seu cunhado. Agora entendia a decisão de usar um colete daquela cor! Os dois, através de um detalhe tão pequeno, aceitavam quem realmente eram.
?Igualmente ? responderam em uníssono.
?Só se ela continuar a me aceitar ? Logan comentou, o que fez todos os olhos focarem nele.
?Acho que sim ? respondeu Randall, erguendo os óculos sobre a ponte do nariz com um dedo. ? Pelo menos há cinco minutos atrás, essa era a sua resposta. Mas já conheceu minhas filhas, milorde, e sabe que elas são muito voláteis.
?Então, com sua permissão, vou perguntar a ela pessoalmente
? disse antes de se dirigir a ela.
Suas pernas tremiam, seu coração batia tão rápido que perfurava seu peito e a porta fechada da sala. Ele estava lá: seu homem, seu Cigano.
Aproximando-se dela com seu terno elegante, o colete laranja e o cabelo
puxado para trás, para formalmente pedir pela união que haviam selado noites antes em um pequeno ritual cigano. Devia fazer o correto, o que correspondia ao seu dever como um aristocrata. Mas essa aparência desapareceria quando ambos vivessem em Whespert. Ela não permitiria que naquele lugar, ele continuasse mostrando uma aparência que não correspondia a ele. Queria o Logan cigano, selvagem e apaixonado, mesmo que quando estivesse fora, tivesse que se comportar como o Visconde de Devon, irmão do Marquês de Riderland.
?Senhorita Moore ? disse, ajoelhando-se na frente dela. ? Me daria a grande honra de me aceitar como marido?
?Sim! ? Exclamou Josephine. ?Ela aceita!
?Josephine Moore! ? Esbravejou Sophia, envergonhada pela intervenção inadequada de sua quarta filha.
?Ela é a jovem que pratica a arte de atirar facas, certo? ? A marquesa perguntou a Sophia.
?Sim, milady, é ela... ? concordou com alguma angústia.
?Nesse caso, se lhe parecer correto, Josephine poderia conhecer minha filha Evah. Ela também é bastante adepta das armas. No outro dia, John, um bom amigo do meu marido, ensinou-a a usar o arco e a verdade é que...
?Anne? ? Logan perguntou, mostrando a ela um anel.
Como era de se esperar, o visconde procurou, entre os joalheiros londrinos, uma aliança que refletisse a essência cigana de Anne e, com o olhar que ela estava exibindo, soube que o esforço valera a pena.
?Sim! ? Anne gritou antes de se jogar em seus braços e ouvir como um ato tão inadequado produziu uma tosse repentina em seu pai.
?Eu te amo, Anne Moore ? disse ele, deslizando o anel em seu dedo. ? Olhou em seus olhos e continuou em voz baixa. ? E juro, minha querida, que não a salvarei somente da maldição, mas de todos os perigos que tivermos que enfrentar.
E quando Madeleine ouviu as mesmas palavras que ouvira em sua visão, colocou as mãos no peito e suspirou. Logo, muito em breve o resto de suas irmãs encontrariam seus futuros maridos e ela.... Ela finalmente deixaria de ser a tímida Madeleine...
Epílogo.
Oito meses depois ...
Logan caminhava de um lado para o outro em seu escritório, com as mãos atrás das costas. Olhava de vez em quando para o relógio na parede e bufava quando percebia que o tempo não estava indo tão rápido quanto desejava. Quanto tempo duraria um parto? Anne suportaria isso? Randall e Mary poderiam ajudá-la caso se complicasse?
?Relaxe de uma vez ? disse Roger, depois de expelir a fumaça do charuto de sua boca. Felizmente para ele, Evelyn permitiu-lhe fumar em ocasiões especiais e a chegada do seu primeiro sobrinho era uma delas. ?
Lembre-se do nascimento de Evah. Foram intermináveis horas. Mas quando tiver seu filho em seus braços...
?Filho? ? Disse Philip, que continuava batendo os dedos da mão esquerda na mesa do escritório. ? Como sabe que será um menino?
Não se lembra de que existem duas alternativas? ? Perguntou mordaz.
?Será um menino ? disse Logan com confiança. Havia tido uma visão, assim como tinha visto Evah quando mal tinha dezessete anos.
Pensou que, com os anos e a recusa de ser cigano, essas visões ciganas desapareceriam, mas não foi esse o caso. Já na noite de núpcias sonhou que
um diabinho de cabelo preto gritava papai e ele o abraçava com força. ? E se chamará Roger Bennett Moore. ? Olhou para o irmão, esperando por sua reação.
?Belo nome ? ele respondeu em uma voz estrangulada pela emoção e com olhos brilhantes. ? Só espero que não continue com a maldição dos Bennett.
?A de libertino? ? Giesler falou novamente. ? Quer transformar a próxima geração Bennett em homens honrados e castos? Não se lembra dos movimentos sedutores de cílios ou como suspiravam quando andava por um grupo de mulheres? O que essas futuras viúvas farão sem um Bennett em sua cama? ? Comentou com exagero enquanto movia o copo de conhaque.
?Tenho certeza de que haverá outros libertinos para agradá-las
? assinalou Logan com um grande sorriso.
Só esperava que seu amigo não falasse sobre a educação que ofereceria a seus filhos, porque ele não os teria. Em suas visões, seu bom amigo tinha quatro lindas meninas como sua mãe. Philip não ficou horrorizado quando soube que o Sr. Moore deveria casar as cinco? Não zombou da angústia do médico? Quantas vezes zombou da tarefa desesperada de encontrar um marido para elas? Por tudo isso, a vida o puniria com uma comitiva de meninas.
?Se os Bennett se aposentarem, os Giesler tomarão o seu lugar.
? Se aproximou do amigo para dar uma tapinha em seu ombro. ? Mas não diga que não avisei.
?O que? ? Logan perguntou, erguendo as sobrancelhas negras.
?Que seus meninos não saberão o que as mulheres escondem sob suas saias e os meus serão capazes de despir uma mulher em menos de dez minutos ? acrescentou Philip, sorrindo imensamente.
?Não tenho dúvidas de que seus filhos terão essa capacidade altamente desenvolvida ? declarou o visconde, olhando para o irmão que sabia a quem a esposa de Philip daria à luz.
?Brindemos aos futuros Bennett e Giesler! ? Roger gritou, levantando o copo. Logan e Philip apoiaram o brinde. ? Isso só acaba de...
?Nasceu! ? Josh gritou abrindo a porta, interrompendo as palavras do marquês. -- É um menino! Um lindo menino! Vou contar aos outros! -- Continuou gritando quando se virou e se afastou do escritório.
Logan olhou para o irmão e depois para Philip. Ele estava feliz, animado e se sentia o homem mais feliz do mundo. Por fim, seu filho nasceu e sua esposa... sem esperar pelos abraços típicos, ele saiu da sala e subiu os degraus de três em três.
***
Quando Logan entrou no quarto, uma súbita sensação de prazer e bem-estar o dominou. Evelyn levava a criança em seus braços para a janela.
Mary afastava a roupa que o cobria para confirmar que tinha todos os dedos das mãos e dos pés, que ele respirava normalmente... Randall estava chorando e Sophia estava abraçada a ele para consolá-lo. Madeleine permanecia sentada no peitoril da janela, sorrindo toda vez que sua irmã e a marquesa elogiavam a beleza do bebê. Até mesmo Elizabeth acompanhava sua irmã em um momento importante para ela, embora continuasse longe de todos e usando um daqueles vestidos típicos de governantas. Logan não entendia por que adotara um comportamento tão estrito, mas parecia que, graças a isso, estava superando certos medos.
Apoiou-se no batente da porta e observou a bela imagem familiar.
Nunca imaginou que as palavras de seu irmão fossem tão precisas. Não só seu amor por sua esposa havia aumentado, mas os laços com toda a família também foram fortalecidos e aquele momento era uma mostra disso. Como Roger lhe disse em mais de uma ocasião, o instinto de proteção transformava um homem em uma fera que não hesitava em oferecer sua vida para salvar sua família. Ele a daria, por cada um dos membros que estavam no quarto, na sala, na cozinha, no escritório e no jardim.
Estavam todos ali. Nem um único irmão queria perder o nascimento do próximo Bennett, que seria nomeado herdeiro do Marquês de
Riderland e orgulhosamente ostentaria seu sobrenome, pois os vestígios deixados por seu bisavô desapareceriam. Roger e ele se encarregariam de terminar...
?Entre, não fique na porta ? disse Anne quando o descobriu em pé na entrada. ? Seu filho o espera.
?Meu filho pode esperar um pouco mais. ? Logan segurou as lágrimas causadas pela emoção e caminhou até a esposa. ? Está bem? ?
Perguntou depois de colocar um beijo suave em seus lábios.
?Sim, muito bem ? respondeu, estendendo a mão esquerda para que ele não tivesse medo de sentar-se ao seu lado. ? Mas mudei de ideia sobre ter seis filhos. Acho que vamos ter o suficiente com dois ?
acrescentou ela, descansando a cabeça no peito do marido.
?Roger, Samuel e Philip ? disse Logan.
?Três homens? De verdade? Não pode mudar essas visões? ?
Insistiu nervosa.
?Não ? Logan negou. ? Dará à luz a três filhos preciosos, iguaizinhos a mim ? acrescentou orgulhoso.
E nesse momento Anne se benzeu e se confiou à mãe criadora.
Um pouco do próximo romance
Mary sentou no banco e olhou de lado para sua acompanhante.
Parecia tão preocupada que desejou lhe dizer algo que pudesse acalmá-la. No entanto, não tinha o dom de tranquilizar as pessoas, mas de curá-las.
?Desculpe-me por tê-la tirado de sua casa em um horário tão inapropriado, mas sua mãe, depois de lhe explicar o que está acontecendo, insistiu que a senhorita é a mulher adequada para atendê-lo.
?Não foi um problema, pelo contrário, sinto-me muito honrada por poder ajudá-la ? Mary respondeu, acrescentando um leve movimento ao comentário com a mão direita enluvada. ? Ficarei feliz em descobrir que doença seu marido tem e dizer-lhe o tratamento adequado.
?Meu marido? ? Valeria estalou, arregalando os olhos. ? Não é meu marido que está doente, mas meu irmão.
?Sinto muito, devo ter entendido mal a minha mãe ? disse Mary, corando instantaneamente. ?Às vezes, quando fico emocionada, não escuto com atenção.
?Não se preocupe, isso geralmente acontece comigo também.
Acho que é muito comum mulheres inteligentes selecionarem o que as interessa.
Naquele comentário, Mary deu uma risada alta. Quando se
recuperou, voltou seu olhar para a Sra. Reform e esperou que o nome de seu irmão fosse revelado, mas ela permaneceu em silêncio.
?E a quem devo assistir? ? Perguntou finalmente.
?Talvez o conheça, senhorita Moore.
?Mary, por favor, me chame de Mary.
?-Obrigada, então o que disse, Mary, é que pode ter ouvido falar dele porque é um homem bem conhecido nesta cidade. Ele trabalhou na Scotland Yard por alguns anos, mas quando estava prestes a conseguir um cargo importante, se recusou a fazê-lo e decidiu se tornar um marinheiro ?
disse com pesar enquanto observava Mary continuar sacudindo a cabeça.
?Confesso que sou uma mulher antissocial. Quase não saio de casa e, quando o faço, não tenho entre meus objetivos o de me relacionar com as pessoas que encontro, exceto se tiver que curá-las ? disse bruscamente.
?Entendo... Valeria ficou mais intrigada ainda. Se a jovem não o conhecia, por que seu irmão não parava de chama-la quando a febre aumentava? Esticou a saia do vestido para não enrugar, depois colocou as duas mãos no colo e olhou para a jovem sem piscar. ? Mas creio que conhece meu irmão ? insistiu.
?Se me disser o nome, posso responder com mais certeza ?
disse Mary, cansada.
Por que tanto mistério? O irmão daquela mulher era um ex
presidiário? Havia cometido crimes? Seria o próprio Frankenstein?
?Meu irmão é Philip Giesler ? Valeria finalmente declarou.
E naquele exato momento, Mary notou como seu queixo caía.
Nota do autor:
Espero que tenham gostado do romance e que me perdoem por deixá-los com tantas perguntas na cabeça. Esclarecerei algumas antes que me ataquem.
Em primeiro lugar, O desejo de Mary é o próximo. Os protagonistas serão Mary Moore e Philip Giesler. Se não se lembra bem deste último personagem, informo que o encontrará, ainda adolescente, em Minha amada Trapaceira.
Na segunda posição... o que aconteceu com Elizabeth? Basta dizer que, no prólogo de seu livro, o terceiro, descobrirão o que aconteceu com ela, nada de bom na verdade.
O quarto romance é a história de Josh. Eu ainda não sei como ele conseguirá isso, mas Eric está determinado a fazê-la se apaixonar ...
E o quinto é o de Madeleine. Quem será esse cavalheiro que acabará com sua timidez? Surpresa! Descobrirá quando o ler...
A propósito, não se preocupem com George Laxton, ele também terá sua história. Apesar de ser um personagem secundário, tenho certeza que irão me perguntar o que acontecerá com ele e se poderá se livrar do seu malvado tio. Esse será o sexto livro da série: A filha do duque.
Também quero esclarecer que é verdade que uma banheira,
aquecida a gás, voava com seu ocupante dentro. Colocarei o pedaço que me levou a ficar mais de vinte minutos rindo. Está na página Cuirosfera.com/Historia del baño:
No entanto, algumas décadas depois, em 1868, o inglês Benjamin Maugham inventou a banheira de água aquecida a gás, e tudo sugeria que a banheira seria popular, mas infelizmente um dia, um aquecedor explodiu e enviou banheira e ocupante ao outro lado da sala, onde aterrissaram imersos em perplexidade. As pessoas não queriam ouvir falar dessa engenhoca e preferiam comprar água quente que era vendida a domicilio.
É por isso que Mary não queria entrar em uma banheira sem usar a camisola!!
PS. Para que depois não digam que os autores não estudam todos os detalhes que oferecem. No meu caso, leio e pergunto muito para tornar meus romances mais reais.
Sem mais delongas, obrigada por terem lido e espero que estejam tão ansiosos quanto eu em saber o que acontecerá com Mary Moore e Philip Giesler.
Me encontrarão em:
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Outros títulos:
A Solidão do Duque. Série
os Cavalheiros I:
A vida libertina do futuro
Duque de Rutland termina depois de lutar um duelo de honra com um marido enganado. Envergonhado pelo resultado deste desafio, ele decide deixar Londres e ir para Haddon Hall, o lugar pacífico onde ele cresceu, na
esperança de encontrar a paz que ele tão desesperadamente precisa. No entanto, a chegada de notícias inesperadas altera essa suposta calma e faz com que o duque fique bêbado. Apesar do conselho de seus parentes, ele decide cavalgar e galopar através de seus domínios. Quando ele abre os olhos após uma queda infeliz, descobre que uma mulher cuida dele em algum lugar isolado de suas terras. Seu nome, Beatrice e seu único desejo, viver sozinho pelo resto de sua vida.
A Surpresa do Marquês. Série os
Cavalheiros II:
Roger Bennett, o futuro marquês de Riderland, se
define como um cavalheiro disposto a ajudar os pobres infelizes de prazeres sexuais. Ele gosta tanto da sua vida, que quer continuar assim até o fim dos seus dias. No entanto, uma pessoa irá suprimir essa vida de devassidão e libertinagem que tanto anseia manter.
Resignado a ter que viver com uma esposa que não conhece ou ama, decide encarar seu futuro com integridade. Embora quando seus olhos azuis se fixam em Evelyn, descobre que tudo o que desejava se evaporou. Mas o amor tem que ser trabalhado e, para um homem que achava fácil quebrar corações, será incrível ver como o seu próprio se estilhaça como o vidro.
A Tristeza do Barão. Série os
Cavalheiros III:
Dizem que a paixão juvenil nunca é esquecida, talvez porque seja pura e real o suficiente.
Depois de anos procurando por Anais
Price, sonhando em tê-la novamente ao seu lado, Federith Cooper tem que se casar com Lady Caroline, já que ela carrega seu filho no ventre, ou assim ele pensa. Mas sua vida de casado é um inferno; sua esposa rejeita sua presença, sua ternura e até sente repulsa por ele, o homem mais educado e respeitoso de Londres.
Federith tenta aceitar a vida que o tocou, mas ... por quanto tempo manterá o comportamento frio e aristocrático que seus pais o impuseram
desde criança, quando o amor de sua vida reaparece anos depois?
Um amor verdadeiro não desaparece com o tempo, e a promessa que ele fez para protegê-la, cuidá-la e amá-la tampouco.
O coração do inspetor O´Brian
Série os Cavalheiros IV
Nunca abandonou uma batalha
sem lutar, mas ela deixou bem claro que não havia nascido para ficar com ele.
Abatido, humilhado e com o coração partido, O´Brian se propôs a destruir aquele sentimento que tinha por seu grande amor.
Entretanto, quando por fim conseguiu não pensar tanto nela, a vida o brinda com outra oportunidade e nesta ocasião, não permitirá que April Campbell, viúva do visconde de Gremont, rejeite-o de novo.
Será que April superará o engano e a traição de seu falecido marido? Ela será
capaz de dar uma chance ao homem nunca a esqueceu?
Quem sabe ...
(Esta é a história de dois personagens que aparecem na novela A Tristeza do Barão: o inspetor O´Brian e a viscondessa viúva de Gremont)
Minha Amada Trapaceira. Série os
Cavalheiros V:
Soberbo,
arrogante,
petulante,
vaidoso ... são alguns dos adjetivos usados por quem conhece Trevor Reform, dono do mais famoso clube de cavalheiros de Londres, para descrevê-lo. O
poder que o dinheiro lhe dá o fez esquecer suas origens humildes, transformando-o em um ser desprezível, apático e desumanizado. Mas o destino se esforçará para lembrá-lo quem ele realmente é ...
Depois de encontrar a causa do maior problema que ele teve desde que abriu o clube, Trevor está obcecado em removê-lo o mais rápido possível do local. Para isso, elabora um plano, aparentemente tão perfeito, que não duvida, nem sequer por um segundo, de que alcançará seu objetivo.
Enganada
Essa é a história de Adele, uma
médica forense que tenta achar lugar em uma profissão masculina. No entanto, toda a sua luta profissional se verá interrompida pela ligação de um pai cheio de dor que a pede que aceite o caso de sua filha.
Desse momento em diante, todo o seu mundo cairá aos seus pés.
Descobrirá algo que jamais acreditou que encontraria e isso será o motivo para que adentre, sem se dar conta, em uma trama cheia de emoções, mentiras e sofrimentos. SE RENDERÁ SEM LUTAR POR AQUILO NO QUE
ACREDITA E AMA DE VERDADE?
Obrigado!
[1] Olhos do diabo
[2] Por todos os males do mundo!
[3] Burro! Estúpido
[4] As artes marciais chinesas são conhecidas na China como wushu e no ocidente como kung fu. Na China, a expressão kung fu caracteriza qualquer estilo de arte marcial, ou tarefa feita com perfeição, não apenas artes marciais. (Fonte: Wikipédia)
[5] Malditas pessoas em alemão
[6] Ipso facto é uma expressão em latim, que significa “pelo próprio fato” , “por isso mesmo” ou “consequentemente” , “consequência direta da ação” , na tradução para a língua portuguesa.
[7] Nomeie que Alexandre, o Grande, colocou seu cavalo.
[8] Hefesto es el dios griego del fuego y la forja, protector de los herreros, los artesanos, los escultores, los metales y la metalurgia.
[9] Foda-se!
[10] Diabos, esposa!
XXIV
Não conseguia parar de sorrir. Sentia tanto prazer e felicidade percorrendo seu corpo que não podia apagar o sorriso de sua boca, mesmo que tentasse fazê-lo. O vento batia em seu rosto, causando intermináveis lágrimas, mas não as afastou, gostava de saber que seus olhos sabiam chorar, apesar de fazê-lo de maneira não convencional. Olhou para os dois lados do caminho, confirmando que não havia ninguém por perto. Logan devia ficar tranquilo porque, depois de três horas percorrendo seus territórios, não encontrou nada que indicasse que caçadores furtivos estivessem vagando pela área. Olhou para cima e observou o sol. Estava em cima dela, avisando-a de que o meio-dia estaria próximo. Não deveria demorar para voltar. Não queria chatear Anne. Caso se atrasasse e não aparecesse para o almoço, ela teria a desculpa perfeita para trancá-la no quarto e puni-la até que o trabalho estivesse terminado. No entanto, o cavalo já mostrava sinais de fadiga. Bufava toda vez que o incitava e sua pelagem estava molhada de suor. Uma pequena parada ao longo do caminho seria boa para os dois.
Determinada a dar a ele o descanso que precisava, dirigiu-o, com um ligeiro puxão das rédeas, em direção a um pequeno bosque que se encontrava à sua direita. Quando o animal entendeu que poderia descansar em breve, relinchou alegremente e galopou ainda mais rápido em direção
àquela área verde e selvagem.
?Bom menino... ? Josh disse ao cavalo quando pararam. ? É
um campeão.
Bateu com força no pescoço robusto e desceu dele como um mensageiro militar que tem em sua posse a carta que informa sobre o fim de uma guerra.
Sem soltar as rédeas, caminhou na frente do animal, ouvindo as respirações agitadas dele. O servo não a enganou oferecendo-o, porque para ela era perfeito. Além de correr tão rápido, que mais de uma vez pensou que sairia disparada por sua traseira, era fiel às ordens dadas a ele. O único inconveniente, que o servo alegou, era que ele não possuía uma linhagem tão virtuosa quanto os outros cavalos no estábulo. Pelo que disse, a mãe escapou do estábulo quando entrou no cio, e ela permitiu se emprenhar por um dos Percheron que o barão de Sheiton mantinha na propriedade adjacente. «Sua Excelência aceitou a chegada deste mestiço, mas eu o teria matado assim que ele saísse das entranhas daquela sem vergonha», foram as palavras usadas por aquele empregado cruel e tolo. Talvez, essa afirmação repugnante a tenha feito simpatizar com o animal. Era tão mestiça quanto ele e por isso ela não deveria viver?
?Calma ? disse para acalmá-lo, algo que o tinha perturbado ?
não há ninguém aqui além de nós. Ficaremos pouco tempo, o suficiente para
que possa pastar um pouco e eu eliminar a dormência das minhas pernas.
O relincho do animal deu-lhe a entender que ele não conseguia se acalmar e que, apesar de suas palavras, algo o mantinha bastante inquieto. Finalmente, Josh decidiu amarrar as rédeas a um ramo e verificar o que assustara tanto o animal.
?Não te acontecerá nada ? continuou falando com uma voz calma enquanto tirava a arma afiada e brilhante do esconderijo. ? Vou protegê-lo com isso.
Colocar aquela faca perto do seu olho esquerdo não causou o efeito que ela esperava. O cavalo, assustado, ergueu as patas dianteiras e acenou-as como se quisesse pisar nela. Rapidamente, Josephine se afastou e enfiou a perigosa arma na parte de trás do cinto. Esse ato relaxou o animal aterrorizado.
?Por todas as almas miseráveis deste mundo absurdo! Eles tentaram mata-lo? É por isso que ficou alterado? ? Perguntou em pé na frente da cabeça dele, acariciando-a lentamente.
Movida pela atitude submissa do animal, colocou as duas mãos em direção àquele pescoço castanho-chocolate grosso e estava sentindo-o lentamente, entrando debaixo deste com calma, como se tivesse esquecido que, segundos antes, ele apresentava um comportamento selvagem. Então, quando enfiou o rosto no peito molhado e peludo, encontrou o que procurava:
uma aspereza. Quando a tocou, parecia com um começo de sujeira acumulada na estrada. Sim, não havia dúvida de que o imbecil tentara matá-lo, mas não conseguiu, porque o que o homem sem cérebro não entendia, era que os seres nascidos do sangue mestiço se tornavam guerreiros imortais e corajosos. E
ela se considerava da mesma forma: tão imortal e corajosa quanto o cavalo que foi gerado de um acasalamento entre cavalos livres.
Com o punhal guardado e incapaz de pensar em outra coisa senão encontrar uma maneira de dar a esse servo uma lição bem merecida, beijou a testa do cavalo, virou-se para a floresta e avançou sobre os troncos das árvores. A tempestade da noite anterior foi devastadora para esse terreno. As raízes saíram, atravessando a terra transformada em lama, como se procurassem desesperadamente por aquela luz do sol que mal tocava o chão, porque a folhagem das árvores desacelerava os raios no topo de suas copas. Se estivesse andado pela selva amazônica, poderia compará-la com aquele lugar oculto e inóspito. A vegetação em torno dela havia crescido pelo clima na área ou por estar perto o mar? Se continuasse nessa estrada, poderia se encontrar no topo de um penhasco? Poderia finalmente saber como era a imensa massa de água salgada, como cheirava e o que o toque de salitre produziria em sua pele? Haveria navios navegando? E se encontrasse um navio pirata? E se a tripulação deixara o barco e fora para a costa levantando suas espadas procurando o início de uma guerra contra Londres? E se
encontrasse contrabandistas franceses?
A imaginação de Josh transbordou. Começou imaginando como seria a areia e acabou lutando com seu facão na proa de um navio francês. Sua mão esquerda foi colocada nas costas enquanto a mão direita segurava a arma e acenava, produzindo ziguezagues leves que pareciam cortar o ar.
?Eu? Quem sou eu? ? Gritou ao vento enquanto intensificava a força daquela luta imaginada. ? Sou seu pior inimigo!
Sua abstração era tão incrível e tão real para ela, que os fios de cabelo loiro que se soltaram em vários desses movimentos abruptos, grudaram em seu rosto pelo suor. Sua camisa branca mostrava sulcos úmidos de formas irregulares, como se fosse usada por um camponês que passara a manhã inteira trabalhando no campo. Agarrou com força a alça da adaga, dirigiu-a para o céu, dedicou a Deus a morte de seu oponente, ajoelhou-se e, como se tivesse se tornado um cavaleiro medieval, inclinou a cabeça.
De repente, um barulho foi ouvido atrás dela, ela se virou de joelhos e jogou a faca para baixo. Quando descobriu onde a faca estava presa, não conseguiu reagir. Um homem vestido com um traje de montaria inclinou-se para a frente para ver que seus olhos não estavam enganados quando viu que tinha uma faca presa na bota direita.
?Merda! ? Exclamou o jovem quando a dor que produziu a
ponta da arma cruzou de leve a pele e mostrou-lhe que não era uma visão. O
que fez infeliz? Por que jogou isso em mim?
?Quem diabos é? Por que está me perseguindo? ?
Perguntou enquanto se levantava.
O garoto não prestou atenção nas perguntas de Josh ou na raiva que ela tinha quando falava. A única coisa que fez foi sentar na lama, tirar a arma pontuda da perna, tirar a bota e confirmar que uma superfície vermelha circular se estendia por suas calças brancas.
Josephine olhou para ele com raiva. O rosto dela não expressava remorso, aflição ou compaixão pela dor que o estranho que explodiu sobre ela em um ato tão privado deve ter sofrido. Ela estava serena, como se tivesse construído um castelo de pedra com as próprias mãos, e ela colocou as mãos na faixa marrom, exibindo uma pose dura, severa e orgulhosa, assim como sua mãe era quando ela fez outro buraco em sua amada janela da sala de costura.
Com a adaga na mão, Eric cortou as calças para descobrir a extensão da ferida. Apesar do sangue, não era muito profundo. Felizmente, o material da bota de equitação tinha barrado o lançamento efêmero. Mas ele não podia sorrir para aquela mulher louca que, antes do ramo ter estalado ao pisá-lo, a observara fazendo movimentos muito estranhos, como se estivesse invocando o próprio diabo. Sem olhar para ela, inclinou-se para a direita,
tirou o lenço do bolso, que colocou ali antes de subir no cavalo, estendeu-o e amarrou-o ao redor da ferida. Ele não queria que o sangue se espalhasse por suas calças e aparecesse em Herast Pond como se fosse um soldado que voltava para casa depois de vinte anos de guerra.
?É surdo? Porque não fala? ? Ela o repreendeu. ? Perguntei-lhe o que diabos faz nos territórios do Visconde de Devon.
?As propriedades do visconde terminam ali. ? Ele apontou com a mão direita em direção ao fim da floresta. Estas são minhas ? ele assegurou rudemente. Então é a única surda e desorientada ? disse ele, levantando o queixo gentilmente para enfrentar a criminosa insolente.
Uma vez que seus olhos se encontraram, os dois permaneceram em silêncio e por causa de como seus corpos estavam paralisados, eles também se esqueceram de respirar...
?Mente! ? Josh gritou, despertando do transe estranho que a fez ver o lindo rosto do rapaz. ? É um caçador ilegal! ? Soltou. ? O
visconde me avisou sobre vocês! ? Continuou com raiva.
?Não ? o jovem respondeu. Ele apoiou as palmas das mãos nos troncos que tinha em ambos os lados e, com a ajuda deles, levantou-se. Ele não podia ser intimidado por tal rata, embora tivesse um rosto tão bonito que perdera sua razão por um momento. A solenidade que lhe fora incutida desde o berço, seu orgulho, sua integridade e tudo o que lhe dava o melhor instrutor
que poderia encontrar, seu pai, brotou de algum lugar de seu corpo, protegendo-o como se fosse um escudo. ? Agora mesmo irá me acompanhar, imunda e suja, até minha casa e, uma vez que o xerife saiba o que fez com uma pessoa como eu, estará trancada atrás das grades até dar as explicações relevantes para esse ato criminoso. Mas tenho medo que seja julgada e....
?Ato criminoso? Julgada? ? Josh respondeu com os olhos arregalados. ? Queria me atacar pelas costas! ? Fiz apenas o que qualquer mulher decente faria a quem pôs em perigo sua vida!
?Mulher? Decente? ? Eric Cooper virou-se para ela sem piscar. ? Não é mulher! ? É uma abominação da natureza!
?Como ousa me insultar assim? ? Gritou caminhando em direção a ele com atitude desafiadora.
?Como ousa me machucar e declarar que eu merecia esse esfaqueamento? ? Ele respondeu, mostrando uma imagem um pouco ridícula, porque parecia que ele estava brincando com uma perna só, em vez de discutir verbalmente contra alguém que se dizia mulher, mas vestida como um homem.
?Se estivesse em Londres agora o desafiaria para um duelo ?
Josh murmurou.
?Um duelo? ? Acha que perderia tempo e arriscaria minha
honra por alguém como você? Antes iria jogá-la no Tamisa! ?
Exclamou fora de si.
?Você ? disse apontando com um dedo inquisidor e em pé na frente o suficiente para levantar o queixo e para os olhos se encontrarem novamente.
?Você? ? Eric colocou ambas as plantas dos pés no chão, suportando a dor com dignidade. Endireitou seu corpo e sorriu quando viu que ela mal chegava ao seu ombro. ? Você ? ele começou a falar sarcasticamente ? é um monstro, uma fera selvagem que...
Ele não terminou a frase, uma mão de Josh bateu em sua bochecha esquerda com tanta força que ele virou o rosto para a direita. Uma vez que pode encará-la de frente e eliminar num ápice toda a nobreza e dignidade que evocava em voz alta, estendeu as mãos para ela, colocou-as em seus ombros e a sacudiu.
? Está louca? Por que me deu um tapa? Quem pensa que é?
?Josephine Moore ? disse com arrogância, enquanto pegava as mãos dele pelos pulsos e as virava para o lado oposto ? e é um homem arrogante se pensa que será fácil me dobrar.
Eric, pego pelas mãos, sentindo a pontada de dor que irradiava da ferida até a testa, observava sem piscar o rosto da guerreira. Seus olhos, apesar de serem marrons, haviam se tornado duas imensas bolas de fogo. Seu
nariz, pequeno e arrebitado, enrugou-se para mostrar uma repulsa sincera. Mas seus lábios, embora tentassem ser rudes e cruéis, pareciam delicados e suaves, como os exibidos pelas jovens mulheres sinceras, embora nenhuma das que ele conhecesse pudesse superá-la em volúpia. Atraído como uma mosca para o mel, obcecado por descobrir que sabor a boca de uma mulher tão estranhamente peculiar teria, separou os braços, contrabalançando a força que ela exercia sobre seus pulsos e diminuindo a distância entre os dois. Com os olhos abertos, para não perder de vista o impacto do que se propusera, inclinou a cabeça para a jovem e a beijou.
Josh permaneceu imóvel quando os lábios daquele homem desarmado tocaram os dela. Suas mãos ainda estavam ocupadas com as dele, então não pode lhe dar outro tapa. Mas ela poderia jogar a cabeça para trás e recuar. No entanto, não fez. Ela permaneceu imóvel até o jovem, que tinha um cabelo da mesma cor que o de Madeleine, embora na testa ele tivesse uma mecha dourada, se afastou.
?Interessante... ? Eric disse, com uma voz muito diferente da que ele havia usado antes ? uma virgem sozinha em minhas terras. Paradoxal... ? ele sussurrou divertido. ? Não esperava que, quando esta manhã pedi a Deus um sinal para enfrentar o destino da minha vida, decidisse colocar no meu caminho uma jovem como você, Josephine Moore.
Ao ouvir seu nome com aquele tom sensual, Josh acordou do
transe induzido depois de sentir, pela primeira vez, o calor de uma boca masculina na sua. Indignada, zangada, por ter permitido que algo tão absurdo a fizesse perder algo tão importante quanto a prudência, torceu os pulsos com mais força, até que a dor foi tão insuportável que apagou a satisfação que ele mostrava em seu rosto, e o lançou para trás. Quando ele caiu na lama, Josh pegou a adaga, cuspiu nele e foi desesperadamente pela floresta. Não parou de correr até encontrar o cavalo, que relinchou alegremente ao vê-la. Desatou o melhor que pôde, porque suas mãos tremiam, montou como se fosse uma amazona habilidosa e cavalgou sem diminuir a intensidade do trote até ver os telhados de Harving House.
XXV
Suas mãos, até agora relaxadas e voltadas para o chão, levantaram lentamente para se colocarem ao redor de seu pescoço. O beijo foi se transformando a cada segundo que durava. Passara de uma colisão suave a um tornado repleto de paixão e desejo. Abriu a boca lentamente, permitindo acesso àquela língua voraz, faminta e ansiosa para saborear seu interior. O
grunhido do visconde, satisfeito com a decisão que tomara, lhe causou mais prazer do que angústia. Estendeu os dedos e espalhou-os sobre o pescoço tenso devido à inclinação. Não os manteve quietos, mas permitiu que descobrissem o toque da pele masculina. Estava no paraíso. Não por causa do ambiente em que isso acontecia, mas porque tudo se tornou um lugar bonito, cheio de calma, tranquilidade e bem-estar. Era como se depois de anos de trabalho arqueológico em uma área atormentada, finalmente encontrasse os restos pré-históricos.
Sentiu uma forte pressão nas costas, ele a ajustava ainda mais ao seu corpo, transformando-os em um só. Com os olhos fechados, sentindo como se libertava e se transformava em uma nova mulher, se acomodou nele, se entregando ao delírio no qual haviam submergido. Sua língua tocou a do visconde com certa timidez e aquele contato, aquele mísero roçar, causou-lhe um impacto semelhante ao que uma estrela poderia causar ao atingir a terra.
Luzes coloridas figuravam sob suas pálpebras e seu corpo reagia com tanta sensualidade que, sem perceber, seus quadris se esfregavam no membro masculino inchado, fazendo com que aumentasse ainda mais seu tamanho, sua excitação. Ele respirou fundo pelo nariz quando virou a cabeça para o outro lado. Não afastou a boca da dela, pelo contrário, apertou-a com tanta força que, no segundo impulso daquela língua selvagem, saboreou o gosto do próprio sangue. Franziu o cenho levemente, acreditando que o gosto o levaria para longe dela, mas o efeito foi o oposto. A língua do visconde lambeu as gotas que sua ferida emanava e as introduziu dentro de sua boca, como se tivessem lhe dado para beber o melhor elixir que pudessem encontrar. Suas mãos, até agora agarradas a sua cintura, baixaram lentamente até que foram colocadas em suas nádegas e então ele a ergueu como se seu peso fosse parecido ao de uma pluma. Rapidamente, entrelaçou seus braços naquele pescoço forte e continuou aceitando o beijo que não tinha fim.
Caminharam. O visconde começou uma marcha pelo jardim para algum lugar no qual continuariam a manter a intimidade que necessitam dois amantes apaixonados e sucumbidos por um desejo tão intenso, e que só poderia terminar com uma entrega absoluta e sincera. Seus pés, entrelaçados na cintura do visconde, deslizaram suavemente quando sentiu uma forte pressão nas costas e percebeu que haviam parado de andar. Abriu os olhos e contemplou para os dele. Sua íris azul brilhava como duas imensas bolas de
fogo, suas maçãs do rosto, aquelas áreas que a barba espessa não escondia, mostravam o rubor da paixão que ambos sentiam. Ela se acomodou no chão, seus braços emaranhados ao redor do pescoço dele, sentindo o hálito quente do homem e que a olhava com tal desejo que o pulsar que começou entre suas pernas se tornou angustiante, aterrorizante. Sua boca se retirou devagar, como se o fio que os juntara tivesse sido cortado, e justamente quando pensou que aquela loucura havia chegado ao fim, ele começou a beijar seu pescoço, o lóbulo que ela havia tocado quando viu seu colete laranja, e levou-a de volta para o paraíso ao que tinha ido depois de beijá-lo...
—Anne... —sussurrou sem ser capaz de tirar a boca da pele, cheirando com intensidade o traço que percebia em cada beijo que dava nela.
-- É...
Ficou em silêncio porque não encontrava as palavras certas para definir o que ela o fazia sentir. Sem deixar de ouvir os gemidos de prazer que Anne emitia quando pressionava os lábios contra o corpo dela, tirou as mãos da cintura dela, onde as havia colocado para abaixá-la cuidadosamente, e procurou as dela. Quando as encontrou, entrelaçou os dedos com os seus, as ergueu bruscamente e colocando-as sobre a cabeça de Anne, imobilizando-a instantaneamente.
Deus! Como podia se sentir tão atraído? Que tipo de feitiço havia jogado nele para não ser capaz de se recordar de algum momento parecido?
Vendo a confusão no rosto de Anne, depois de fazer um movimento tão violento, Logan colocou sua perna esquerda entre as dela e a beijou novamente, afastando qualquer pensamento arrependido de sua mente.
Isso só seria o começo do que ansiavam...
Enlouquecido pelo gosto daquela boca, agarrou-lhe os pulsos com uma mão, deixando-os onde desejava que ficassem e começou a tocá-la lentamente. Estava tremendo. Para sua alegria, ela estremeceu de desejo ao sentir a mão dele percorrer seu corpo, ainda coberto por um miserável vestido marrom que ele logo arrancaria para tocar o que precisava: sua pele.
A marcaria. Sim, apagaria qualquer resquício que tivesse de Hendall e a preencheria com o seu, fazendo desaparecer o vestígio que nunca devia ter tido.
Quando as pontas dos dedos se acostumaram com o calor de Anne, sua língua empurrou de volta com força dentro da boca dela, fazendo-a soluçar novamente. Quando ouviu que ainda o aceitava e que seu desejo aumentara, ele se aventurou a continuar. Seus dedos pararam de tocar o vestido para serem colocados no decote e muito lentamente, dando alguns míseros segundos para que se adaptasse ao seu toque, estendeu a mão e prendeu seu seio esquerdo.
Maçãs. Aquele seio era mais suave que a pele de uma maçã e o mamilo, duro de excitação, era o cantinho...
Afastou sua boca da dela, embora tenha ouvido um lamento de desconsolo, e foi beijando seu queixo, pescoço, decote...
—Vou... -- Tentou dizer, mas ficou em silêncio quando notou que Anne estava apoiando o torso na direção dele, consentindo com o que decidisse fazer.
Com os olhos bem abertos, contemplando como ela continuava exigindo suas carícias, tirou a mão do seio, colocou-a no vestido e desabotoou os quatro botões. Uma vez que o tecido do chemise ficou diante dele, tornou a inserir aquela mão, que tremia porque ansiava por tocar o seio que segurara, e puxou-o para fora.
Inebriado, entorpecido por tal visão, inclinou o rosto para o seio e o mordeu, como se na verdade fosse uma maçã a qual acabava de dar uma grande mordida.
Anne jogou a cabeça para trás e gemeu com o contato atroz. Ela não se queixou da dor que os dentes lhe causaram na superfície do seio, mas porque, estranhamente, ela queria mais.
—Lo... Logan... —murmurou, fechando os olhos, sentindo uma forte pressão naquela parte do corpo e aproveitando o prazer que a percorria.
Tentou mover as pernas, fraca pela perda de forças antes da chegada da paixão, mas tudo o que conseguiu foi tocar com um joelho o sexo ereto dele.
—Ardo, Anne. Sinto como meu corpo queima como se estivesse
dentro de uma fogueira —confessou depois de deixar aquele seio e beijar novamente o decote nu. -- Sinto minha pele ardendo, queimando...
—Logan... —sussurrou Anne ao cruzarem novamente os olhares.
-- Sim —ele respondeu antes de devorar sua boca outra vez.
O fato dela timidamente ter aberto as pernas, lhe deu a oportunidade de ficar entre elas. Sua cintura se colou ao corpo de Anne e, sem pudor, fez com que ela entendesse o quanto estava excitado, até que ponto ele enlouquecera e a que nível se estendia sua paixão. Porque era assim. Ele se transformou em um louco que queria viver somente com ela, beijá-la sempre que quisesse, tocá-la quando seu corpo precisasse senti-la perto e.... fazê-la dele até a morte chegar.
«Ela é tudo que preciso para viver», a frase de seu irmão, se referindo a sua esposa, apareceu em sua mente para confirmar que, por mais improvável que parecesse, estava sentindo o mesmo. Anne deveria ser dele, exclusivamente dele. Seu passado e o dela haviam desaparecido. Agora eles deviam se concentrar no futuro que deveriam construir... juntos.
No momento em que a mão esquerda levantou o vestido, procurando tocar aquela intimidade, que emitia um cheiro muito hipnótico e que queria provar para confirmar que a essência de Anne era perfeita, ouviu um relincho. Rapidamente afastou a mão, parou de beijá-la e olhou para o céu. O cavalo, que reconheceu imediatamente, voltou a emitir um som
escandaloso.
—Josh! -- Exclamou se afastando abruptamente dela.
—Josh? —Perguntou Anne sem abrir os olhos, confusa e sentindo um arrepio terrível quando perdeu o calor de seu grande corpo.
—Josephine acaba de chegar —informou. -- Sairei para recebê
la enquanto se arruma. Não seria apropriado que nos encontrassem dessa maneira não profissional. Então recomendo que, depois de se arrumar, fique na frente do cavalete e continue com aquele maldito retrato —afirmou em uma voz áspera, se transformando novamente no aristocrata que realmente era.
De repente, o rubor gerado pela paixão foi transformado em sufocamento produzido pela vergonha e pela insensatez, a qual ela sucumbiu, em desespero. Com as mãos trêmulas, Anne enfiou o peito nu sob a camisa e abotoou o vestido. Sua cabeça estava levemente inclinada para frente, de modo que o visconde não notasse sua mudança de emoções. Então, quando pensou que estava sozinha, que ele havia partido, ele voltou, colocou-se na frente dela, levantou seu queixo com ternura e, a olhando como apenas um amante poderia, deu-lhe um beijo carinhoso.
-- Se não se arrepende do que acabamos de fazer, do que nós dois sentimos ao estarmos juntos, esta noite, não tranque sua porta --
declarou antes de beijá-la novamente e sair dali dando um grande passo.
***
Logan amaldiçoou de novo e de novo a chegada inoportuna de Josh. Ele estava prestes a tocá-la, notar a excitação que ela exalava entre as pernas e ver se o necessitava tanto como ele a ela, mas não teve tempo...ao ouvir o relincho de Galeón, rapidamente percebeu que o animal tinha cavalgado sem parar por bastante tempo. Algo havia acontecido com a jovem e não podia esperar para descobrir o que era. Se não controlasse a atitude das irmãs de Anne, ela se concentraria nelas e o deixaria em segundo plano e, por enquanto, queria ser o único projeto na vida da primogênita Moore.
Uma vez que atravessou a academia e pisou na galeria, seus passos não eram lentos, estudados e firmes, empreendeu uma ligeira corrida até chegar à porta da frente. Lá ele encontrou a Sra. Donner, que, como especialista em criação de animais, veio ao chamado desesperado do cavalo.
—Eu sei —Logan disse quando observou o questionamento no seu rosto —verei o que aconteceu.
—Milorde! Que não seja nada mau! —A cozinheira rogou, apertando as mãos e tocando os lábios de leve, como se começasse a rezar.
Logan abriu a porta e focou seu olhar no caminho em que Josh deveria aparecer. O aspecto do galope de Galeón era desesperado, quase frenético. Calmamente, ele não queria se mostrar inquieto, desceu os degraus e caminhou em direção à entrada do portão, onde a receberia e perguntaria o
que havia acontecido. Mas Josh não parou quando o viu parado ali, puxou as rédeas para a direita e continuou em direção ao estábulo. Então ele correu atrás dela, chamando-a pelo seu nome, tentando aplacar o demônio que tinha visto em seus olhos, mas ela estava tão focada no que queria fazer que não o escutava. Desceu do cavalo, como ele fazia, levantando a perna direita sobre a cabeça do animal e, quando ambas as plantas dos pés tocaram o chão, tirou algo que estava escondido sob a sela e caminhou até o servo que a estava esperando. Por causa da luz do sol brilhando sobre o objeto que ela segurava na mão e os olhos que o servo arregalou ao vê-la, não teve dúvida de que ela estava carregando uma adaga. Logan continuou correndo e quando chegou ao seu lado, pegou seu cotovelo para parar o avanço.
—O que diabos aconteceu, Josh?
Mas ela não respondeu, ainda apontando para o criado, virou a cabeça ligeiramente para ele e mostrou-lhe, com mais clareza, um rosto que o deixou petrificado. Tinha chorado. Josh tinha em suas bochechas os sulcos esbranquiçados que deixavam as lágrimas ao vagar por elas, mas em uma tentativa absurda de livrá-las, esfregou a lama que suas mãos possuíam.
Parecia um limpador de chaminés, apesar que Pit, o menino que ele pagava para limpar o interior de suas chaminés, não tinha fogo em seus olhos, e sim partículas de carvão.
—Eu vou matá-lo! -- Josh gritou com a adaga apontando para o
lacaio que lhe oferecera o cavalo. ?Vou cortar sua garganta, assim como queria fazer com ele! —Gritou, apontando com os olhos para o animal que, paradoxalmente, era o ser mais calmo dos que estavam em frente ao estábulo.
—Josh, por favor. Diga-me o que aconteceu? -- Insistiu enquanto deixava de agarrar o braço dela e se colocava entre o criado e ela. Se continuasse a manter essa raiva, logo saltaria sobre o servo atordoado e o esfaquearia. Sem dúvida, o sangue das irmãs era mais cigano do que Moore.
Quantas vezes testemunhou disputas entre os membros de seu povo? Quantas vezes observou como os corpos eram jogados, nos arredores do assentamento, para que os animais devorassem os cadáveres? Muitas. Até o dele poderia ter sido mais um, se a mulher que chamava de mãe não o tivesse salvado.
—Diga a ele! —A jovem uivou tão alto que sua garganta se esticou e afinou como o pescoço de um ganso.
Logan olhou por cima do ombro esquerdo para o criado e descobriu que estava tão confuso que seu rosto perdeu a cor da vida. Então olhou de volta para Josh e notou que toda a raiva contida se transformara em lágrimas. Mas, como bom soldado, ela queria eliminar a única coisa que a deixava vulnerável e as tirou com as mangas da camisa, uma que estava bastante suja. Ela teria caído do cavalo?
—O que está tentando dizer, Pascual? ?Perguntou, virando-se
para ele. —Tem algo para me explicar? —Seu tom suave, mas firme como uma rocha no meio de um rio, fez o servo se encolher.
—Ele queria matá-lo! —Josephine respondeu ao seu lado.
—Matá-lo? —Logan perguntou com aquela voz diabólica.
Franziu a testa e não desviou o olhar de Pascual. —Deve haver um engano, certo? Porque ordenei que ninguém tocasse nesse animal e, até onde sei, o que ordeno em minhas propriedades deve ser cumprido sem uma réplica.
—Pensa assim? —Josh arregalou os olhos e deu um passo à frente, mas Logan a parou colocando novamente uma mão no ombro direito dela.
—Quero que me explique o que aconteceu e por que chegou desse jeito —pediu a Josh sem olhar para ela, mantendo os olhos fixos no homem que, pelo movimento que seu corpo fazia, pretendia fugir a qualquer momento.
—Encontrei a marca da tentativa de assassinato em seu pescoço
-- declarou Josh, respirando fundo.
—Em Galeón? Tem a certeza? —Insistiu.
—Sim —Josh respondeu, enxugando as últimas lágrimas com a frente de sua camisa. —Quando parei na parte norte que indicou para mim, o cavalo ficou inquieto e quando lhe mostrei a adaga, para que se sentisse seguro ao meu lado, ele levantou as pernas como se quisesse se defender
contra a agressão. Quando consegui acalmá-lo, comecei a procurar o que eu temia e.... —ela soluçou -- eu o encontrei.
—Bem. Vou... Nem pense em fazer isso! —Disse ao criado que estava andando para trás para fugir.
—Milorde... Excelência... não tive outro... não queria matá-lo...
apenas tentei me defender quando...
—Cale a boca! Não quero ouvir nenhuma palavra! —Gritou.
Lentamente, ele se afastou de Josh, foi até o cavalo, que estava muito quieto e se colocou na frente dele. Este, percebendo e vendo a presença de seu mestre, levantou a cabeça, moveu as orelhas e relinchou alegremente.
—Olá Galeón. Se divertiu com o Josh? -- Falou baixinho enquanto colocava as mãos no pescoço molhado. -- Ela diz que você tem uma marca e quero comprovar que é verdade —continuou dizendo enquanto arrastava as palmas das mãos pela sua pele.
Depois de ficar entre os quartos da frente do animal, que não se movia nem para respirar, ele percebeu o início da marca. Era tão grande quanto as dimensões de uma das palmas de suas mãos e mais áspera que a textura da casca de uma árvore. Se afastou do corcel, sentindo a raiva de seu sangue cigano tomar conta de sua pessoa, caminhou com determinação para o criado, que olhou para ele com os olhos cheios de medo, colocou-se em frente ao mencionado e ergueu a mão direita com a intenção de dar um tapa
nele.
—Não! —Ele ouviu.
***
Depois de ficar em frente à tela por muito tempo, decidiu deixar o jardim e descobrir por que Logan estava preocupado quando ouviu o relincho de um cavalo. Enquanto caminhava pela interminável galeria, e confirmou que teria se perdido se a criada não tivesse explicado o caminho, pensou no momento especial em que viveram juntos. Não entendia muito bem como tinha ido do ódio à paixão, do desejo de matá-lo a querer que ele ficasse preso ao seu corpo todo o tempo e, sem contar, com a loucura que ambos obtiveram entrelaçando línguas cheias de seu próprio sangue. Eles se tornaram tão insanos que pareciam duas pessoas com sede de beber água de uma pequena poça de chuva. Mas, mesmo que esse ato não fosse sensato, tinha que compreender algo estranho que surgiu de dentro dela no momento em que o provou. Sentiu calor, então congelou. Viu luzes e depois apareceu a escuridão. Ouviu o som de pássaros cantando, mas quando virou a cabeça para o lado oposto, descobriu que o silêncio reinava e que apenas as respirações forçadas deles para poderem respirar. O que acontecia com sua mente? Por que lhe mostrava coisas que não eram verdadeiras? Por que se entregou a ele com tanto ardor? A causa desta entrega foi a paixão que surgiu de dentro dela para pintá-lo? Se abstraia facilmente quando se colocava na
frente de uma nova tela, mas isso não era motivo para ansiar tudo o que ele pudesse oferecer a ela. Havia deixado esse mundo quando observou seu olhar penetrante, ouvindo-o falar com aquele tom tão sedutor e inebriante. Seu corpo reagiu rapidamente, como se tivesse esperado toda a sua vida, como se seu passado tivesse sido apagado diante daqueles olhos e daquela voz. No entanto, precisava assimilar calmamente as emoções que haviam despertado dentro dela. Não poderia cair em outro erro e, assim como estava, não apenas tropeçaria, mas desta vez o buraco seria tão profundo que levaria anos para ver a luz de um novo dia novamente.
«Se não se arrepende do que acabamos de fazer, do que nós dois sentimos ao estarmos juntos, esta noite não tranque a sua porta». A voz do visconde apareceu novamente em sua cabeça para lembrá-la das últimas frases que ele disse antes de sair. Estava disposta a deixá-lo entrar? Seria capaz de fazer isso? Pela primeira vez em sua vida, a alma que mantinha sob seu peito e sua mente coincidiram, só esperava não errar e terminar como naquele dia.
Depois de um longo tempo andando chegou ao final do angustiante corredor, saiu e arregalou os olhos ao ver a cena que estava diante dela. Josh segurava uma adaga na mão direita e apontava ferozmente para o lugar de onde Logan vinha. Ele, mostrando uma solenidade sem precedentes, ficou na frente do criado, levantou a mão e, deduzindo Anne o
que aconteceria, correu para eles gritando que não o fizesse.
—Não! —Gritou horrorizada. —Por favor, não faça isso na nossa frente -- ela implorou.
Quando as orelhas de Logan captaram o grito de súplica de Anne, estranhamente relaxou. Ele estava tão calmo que parecia ter tomado dez xícaras de erva-cidreira. Imediatamente, baixou a mão e juntou-a na perna direita, para não voltar a sucumbir ao desejo de lhe dar um tapa.
—Vá! —Rosnou em uma voz tão áspera e cruel que se assemelhava ao diabo. —Saia das minhas terras agora mesmo! E espero que a vida o leve tão longe que nunca mais nos encontremos, porque se isso acontecer... pagará com juros por sua desobediência!
E o criado correu como um galgo.
Josh, ouvindo o tom que o visconde usava, permaneceu como um soldado e só pôde relaxar quando sentiu o corpo de sua irmã por perto, abraçando-a. Mas ela não desviou o olhar daquele bastardo até que estava fora de alcance.
—O que aconteceu? —Anne perguntou baixinho.
—Galeón é um mestiço —respondeu Logan, que tinha ouvido claramente. —Sua mãe escapou do estábulo ao entrar no cio e acasalou com um dos Percheron que o barão de Sheiton mantém em suas terras. É por isso que tem essa pelagem nos cascos e é muito diferente dos que mantenho no
estábulo. Desde que nasceu, não foi bem recebido entre os outros cavalos e, como descobri, não foi aceito pelo tratador —ele continuou explicando enquanto se virava para elas.
—Aquele bastardo queria matá-lo porque diz que os mestiços devem morrer —disse Josh oferecendo um olhar para sua irmã que ela entendeu rapidamente.
—Teve o que mereceu -- consolou-a Anne depois de beijar sua testa. -- O visconde cuidará para que ele não deprecie as misturas de sangue novamente.
—Claro —Logan resmungou. —E agora, se me derem licença, levarei Galeón aos estábulos para que possa descansar. Enquanto isso, senhorita Moore —disse ele a Anne -- poderá cuidar de sua irmã. Tudo o que precisarem será fornecido pela donzela ou pela Sra. Donner.
—Sim, milorde —disse Anne, um pouco mais calma. Abraçou Josh com mais força, virou-a e tentou levá-la para a residência, mas antes que tivessem dado alguns passos, a jovem afastou-se da irmã e correu em direção ao visconde, que já estava ao lado do cavalo, chorando amargamente.
—O que? —Logan perguntou confuso quando a viu em pé na frente dele. —Quer me dizer algo diferente de...?
Não terminou a pergunta por que Josh se jogou nele, abraçou-o e, com o rosto no peito, continuou com um grito agonizante.
—Sinto muito pelo que sofreu —disse ele, sem saber muito bem como agir em tal situação. Nathalie mal chorava e quando fazia ele era o culpado desse choro e seus outros irmãos, com quem ele viveu em Salved Children, costumavam se esconder nos braços de suas mães.
—Obrigada, Logan —Josh soluçou. —Obrigada pelo que acabou de fazer —continuou a jovem. Ela se afastou devagar do visconde, secou as lágrimas com os punhos da camisa e ergueu o queixo gentilmente. —É uma pessoa tão boa que, mesmo antes de nos conhecermos, respeitava as origens dos outros. —Essa declaração deixou Logan imóvel. —Sabia o que significa ser um mestiço e é por isso que sempre nos tratou com essa consideração --
disse ela, se referindo ao nascimento do cavalo e à bondade de mantê-lo vivo.
—Josh.... acho que... —o visconde tentou dizer, um pouco desnorteado pelas palavras da jovem.
—Nos entende! —Ela exclamou antes de abraçá-lo novamente e se deixar levar por outro choro desconsolado.
—Sim, Josh, eu as entendo perfeitamente —respondeu, acariciando os cabelos loiros e fixando os olhos em Anne.
No momento em que Anne ia sussurrar um agradecimento, a carruagem na qual Elizabeth viajara apareceu. Assim que estacionou na entrada, a porta se abriu e Howlett saiu primeiro.
—Que dia mais espetacular! —Eli exclamou, descendo com a
ajuda do jovem. —Acho que nunca me diverti tanto. É incrível Howlett e me ajudou muito. Juro que não sei o que teria feito sem você.
—Pode pedir ao visconde para que eu a acompanhe sempre que quiser, senhorita Moore —respondeu Howlett, incapaz de apagar o sorriso em seu rosto. —Sempre estarei disposto e orgulhoso em servir uma dama tão sofisticada.
Corando com o comentário, Eli caminhou até a porta, mas quando percebeu que suas irmãs e o visconde estavam à sua esquerda, se virou e....
-- Santo Céu! Onde esteve, Josephine? Tem um aspecto horrível
—disse espantada.
XXVI
Durante o almoço, Elizabeth não parou de falar sobre a viagem e tudo o que encontrou nas várias lojas que visitou. Depois daquele monólogo sem fim, no qual os outros não prestaram atenção porque tinham outras coisas para pensar, ela concluiu que o jardim ficaria muito grosseiro com apenas dois tipos de flores e foi por isso que acabou comprando cinco sementes diferentes. Também propôs ao visconde plantá-las naquela mesma tarde. Como esperado, Logan não se opôs ao seu desejo, pelo contrário, encorajou-a a não perder tempo. Uma vez que Eli ouviu aquelas palavras de apoio, não conseguiu esconder sua felicidade e manteve um sorriso de orelha a orelha pelo resto da refeição.
Na frente dela estava Josephine em absoluto silêncio e com um olhar perdido. Como os outros, seus pensamentos estavam longe do salão.
Embora ela tenha tentado eliminá-lo completamente de sua mente, esta se recusava a fazê-lo e a imagem do descarado, que a beijara sem o seu consentimento, apareceu em sua cabeça repetidas vezes, do mesmo jeito que surgia continuamente o arrepio que sentira quando percebeu seus lábios.
Lembrar-se daquele momento só fez com que sua raiva aumentasse tanto que desejou voltar no tempo para, além de jogar a adaga com mais força, dar-lhe um tapa no exato momento em que sua boca bateu na dela. Por que a beijou?
Por acaso interpretou, em algum de seus movimentos na luta imaginária, que poderia fazê-lo? Apesar de não desejar, mostrou a imagem de uma mulher tão descarada quanto Eli? Claro que não! Ela era uma guerreira e exibia uma atitude severa, forte e cruel. Mesmo assim, o ingrato ousou beijá-la apesar de sua aparência horrível. Seria um louco? Estaria tão transtornado que não era capaz de diferenciar entre uma dama elegante e um soldado manchado de suor e lama? Haveria homens que não procurassem por moças elegantes, mas jovens desastrosas? Essas e outras mil perguntas aumentaram a irritabilidade que a acompanhou durante o retorno, por isso chegou daquela maneira na residência. Não pretendia projetar sobre criado, que feriu Galeón, toda aquela raiva. Mas queria tanto matá-lo que o imaginou naquela figura assustada e desorientada. Por essa razão, se ela tivesse que encontrar uma parte culpada em sua atitude desesperada, tinha que apontar para ele. Poderia odiar tanto alguém? Ela deveria declará-lo como seu inimigo mais perigoso? Sim. O
odiava tanto que, se o reencontrasse, daria todos os golpes que não lhe deu quando ele afastou os lábios dos dela. Quando se lembrou daquele momento e do frio que sua boca sentiu quando se afastou, Josh se mexeu desconfortavelmente na cadeira.
—Está bem? —O visconde perguntou, observando-a tão inquieta.
—Ainda está com raiva?
—Estarei toda a minha vida —assegurou sem pensar. Embora não
tenha mentido. Nunca apagaria de sua cabeça a raiva que lhe causava aquele jovem miserável de cabelos acobreados com um peculiar tufo loiro.
—Se quiser, quando terminarmos o nosso almoço, podemos ir ao estábulo e verificar se o Galeón está em perfeitas condições —Logan comentou para tranquilizá-la, imaginando que a preocupação dela fosse devido à situação que haviam experimentado com o criado.
—Não gostaria de tomar mais do seu tempo —disse envergonhada por não ser capaz de relaxar ou esquecer o ruivo. —Como indicou, essa tarde acompanhará Elizabeth ao jardim.
—Posso fazer as duas coisas —disse, depositando o guardanapo branco na mesa. —Juro que fui treinado para isso -- ele disse ironicamente.
—Howlett pode tomar o seu lugar, se não se opuser —disse Elizabeth, que, pelo brilho em seus olhos, achou essa alternativa mais agradável do que ouvir mil reclamações do visconde, sabendo que ele não gostava de tais tarefas.
-- Isso significa que me considera inútil para fazer um buraco miserável na terra e colocar uma dessas sementes dentro? —Ele perguntou ironicamente.
—Não... sabe o que... —Eli tentou dizer, meio envergonhada pela proposta.
—Calma, não se preocupe, estava brincando. Certamente Howlett
é melhor companhia que eu. Kilby irá informá-lo de sua proposta e tenho certeza que ele ficará mais feliz em passar a tarde ao seu lado do que encarando os ternos que terei que usar nos próximos dias -- disse recostando-se na cadeira e sem tirar o sorriso do rosto.
Olhou furtivamente para Anne e não gostou de descobrir que ela estava com uma pose rígida. Ela não falara e mal comera. Ficou distante, tanto quanto Josh ou ele. Estaria pensando sobre o que aconteceu no jardim?
Se arrependia ou estaria considerando a possibilidade de deixá-lo entrar em seu quarto quando a noite chegasse? A segunda opção era tão agradável e prazerosa que seu corpo tremeu de ansiedade. No entanto, fez algo que não tinha feito até agora para se reprimir. Algo dentro dele gritava que não deveria tratá-la como as outras, que ela era especial e que precisava provar isso para ela. Mas... o que significava para ele o termo especial? Que poderia deitar com uma mulher que, debaixo de sua pele, tinha sangue tão cigano quanto o dele? Por isso estava tão feliz? Olhou para Eli, pois ela ainda estava falando sobre as flores, depois Josh, que continuava com uma carranca e finalmente voltou para Anne. O que ela tinha que a tornava tão irresistível?
Por que sua boca ainda sentia o sabor da sua pele? Era capaz de encantar um homem com um miserável beijo? Hendall sentiu a mesma paixão que ele havia sentido no jardim? Teria se entregado tão facilmente a ele? Agora, era ele quem franzia a testa era ela. Odiava o passado de Anne, odiava tanto que
queria fazê-lo desaparecer e, claro, naquela noite, na manhã seguinte ou em todos os momentos que pudesse, conseguiria. Ele apagaria todas as impressões de Dick e plantaria as suas, como Elizabeth semearia as sementes que comprou para aquela terra inútil. E Anne floresceria única e exclusivamente para ele. A única coisa a calcular era a maneira de fazê-lo sem sobrecarregá-la e sem que pensasse que ela seria outra amante que visitava.
—Então, conseguiu começar o retrato? —Elizabeth abandonou o tema das flores para que Anne reagisse imediatamente. Durante todo o almoço, ela permanecera em silêncio e expressava, descaradamente, que a presença do visconde ainda a incomodava. Não estava ciente de que Logan era um bom homem e que até agora só tinha feito coisas boas para elas? Se não mudasse de atitude, naquela mesma noite falaria em particular com ela e a colocaria em seu lugar.
—Sim —Anne respondeu sem levantar os olhos do prato.
Ela mal comeu aquela refeição deliciosa e tinha certeza de que a Sra. Donner lhe perguntaria o motivo e a repreenderia. Mas seu estômago estava fechado. A visão oferecida pelo visconde quando levantou a mão para bater no criado, apesar do fato de merecê-lo por desobedecer a uma ordem, deixou-a confusa e assustada. Nunca imaginou que ele pudesse adotar uma conduta tão severa, embora não deveria esquecer que era um aristocrata e que
muitos deles se faziam respeitar pela força. Em milésimos de segundo, o homem adorável, apaixonado e sedutor, que estava por perto, tornou-se o vilão mais terrível do mundo.
—Tenho que dizer que fiquei surpreso com a facilidade com que sua irmã pinta —declarou Logan, olhando para Eli. —Depois de me obrigar a posar de mil maneiras horrendas, ela permaneceu em silêncio, fixou os olhos na tela e se abstraiu do mundo que a rodeava. Imaginei essa atitude se devia por não ter encontrado o perfil bonito do meu rosto, mas estava errado.
Quando me aproximei dela, sem que sequer notasse minha presença, observei a beleza dos traços que fazia. Confesso que o talento dela me surpreendeu.
Por mais que tenha ouvido sobre o dom que tem, me recusei a acreditar até que vi com meus próprios olhos. —Esperava que esse comentário, mesmo que fosse um pouco doloroso, a afastasse de seus pensamentos e a fizesse participar da conversa. Não queria contemplar, por mais tempo, seu rosto aflito, como se lamentasse o que havia acontecido entre os dois. Ansiava rever aquela mulher apaixonada que o abraçou e se rendeu à luxúria.
—Nenhum dos clientes que teve até agora se queixou de seu trabalho. Anne conseguiu mostrar a beleza em todas as mulheres que retratou, embora algumas delas fossem tremendamente horrendas -- disse Eli, divertida.
—Elizabeth! —Anne exclamou, finalmente erguendo o queixo.
—Estou mentindo? —Replicou. —Esqueceu a filha dos Sharun?
Existe no mundo uma jovem mais desagradável aos olhos? No entanto, soube como a embelezar todos os traços que a enfeavam. Mas tenho que declarar que, embora aqueles pais atormentados estivessem muito satisfeitos, deveriam ter recriminado seu trabalho porque o que fez não era real.
—Aquela jovem tem um bom coração... —Anne murmurou olhando para Eli. —E é isso que eu coloco na tela. A beleza exterior não é eterna, como bem sabe. O que realmente fica com a passagem do tempo é o que está armazenado sob o peito.
—Bobagens! —Eli respondeu acrescentando um gesto de desdém com a mão direita. —Essa jovem pode ser muito bonita no coração, mas até agora... que bravo cavalheiro se atreveu a pedir-lhe uma dança? E isso que, segundo entendi, seus pais fornecerão um dote suculento para o marido ousado. Mas toda vez que comparece a uma festa, ela permanece escondida no canto mais distante da sala e é incapaz de responder quando solicitado.
—A timidez não é uma desgraça —Josh murmurou, lembrando de sua irmã gêmea.
—Eu sei. Mas se quer conquistar alguma coisa na vida, é preciso ter coragem e lutar —disse Elizabeth com orgulho.
—Nem todo mundo tem coragem —censurou Josh. —Muitas de nós nascemos com certo...
—Se pretende que me sinta culpada porque nossa irmãzinha está incluída no grupo de meninas tímidas e sem coragem, pode manter essa língua viperina dentro da sua boca. Madeleine é tímida porque ainda não é capaz de aceitar a beleza com a qual nasceu. Quando isso acontecer, sua personalidade irá mudar.
—Beleza? Agora diz que Madeleine é linda? Por favor! —Josh bufou, levantando-se. —Como ode ser tão cruel para falar assim? Faz isso porque ele está presente e quer fingir uma imagem que não lhe corresponde?
—Ela apontou para Logan com o dedo. —Bem, não continue, a hipocrisia não lhe cai bem. Devo dizer-lhe, visconde, que desde que posso ouvir claramente, minha amada irmã Elizabeth ria de nós porque ela diz que a cor do cabelo de Madeleine é semelhante à das cenouras e a minha à da mulher mais velha do mundo.
-- Eu —Eli exclamou, arregalando os olhos enquanto observava suas bochechas queimarem de vergonha.
—Sim. Não se faça de desentendida, irmã, porque isso não está dentro da personalidade descarada que tem —disse Josh cruzando os braços em frente à mesa e olhando como se quisesse rasgar aquele lindo penteado com flores rosa.
—O que há de errado com cor do seu cabelo? —Logan disse que, perante a nova discussão familiar, também cruzou os braços e manteve a
atitude de espectador.
—Ela diz que eu nasci com a lua na minha cabeça —Josh explicou com raiva. -- E que pareço mais uma bruxa do que uma menina católica.
—Por que diz isso a ela? —Perguntou a Eli, erguendo as sobrancelhas.
—Eu... eu... não digo...
—Porque meu cabelo não é loiro, mas sim branco! —Respondeu Josh. —Segundo minha querida irmã, isso —disse ela, pegando o rabo de cavalo e mostrando-o ao visconde —indica que sou velha, embora não tenha completado dezoito anos, e por essa razão apenas os homens octogenários vão me notar.
—Bem, me encanta seu cabelo quando o usa limpo —Logan disse calmamente —e tenho certeza que Madeleine é tão bonita quanto qualquer uma das senhoritas.
—Obrigado —disse Josh, fazendo com que toda aquela raiva, que sentia antes da disputa, fosse eliminada tão rapidamente que perdeu a força.
—É a primeira vez que alguém diz algo bonito sobre mim —acrescentou, sentando-se novamente.
—Todas são especiais —continuou Logan. —Cada uma tem algo que a torna única. Não acha que o mundo seria ridículo se todas as mulheres
fossem iguais? Para mim, particularmente, deixam em êxtase aquelas que têm cabelos escuros e olhos castanhos —ele confessou, olhando de relance para Anne para ver se ela ousava repreendê-lo por não cuidar de suas palavras na frente das irmãs. Mas nada, ainda seguia sem a menor reação. —E espero que muitos homens não tenham os mesmos gostos que o meu ou serei forçado a enfrentá-los quando encontrar minha esposa —acrescentou desconfiado. --
Tenho certeza de que seus futuros cônjuges as amarão tal como são e elogiarão suas diferenças.
—Eu não quero um marido —Josh murmurou.
—Realmente acredita que se manterá solteira para sempre? --
Perguntou o visconde, se levantando, um ato que as irmãs imitaram no momento. Bem, está errada. Não será capaz de se afastar do homem que, toda vez que a olhar, mostrará a necessidade de segurá-la em seus braços, protegê
la e amá-la até que a morte apareça.
—Isso é o mesmo que eu disse a ela —garantiu Elizabeth, estendendo a mão para descansar no braço de Logan. Mas ela não me escuta.
Se propôs a se tornar um soldado e....
—E a senhorita não deve humilhar suas irmãs para se sentir superior a elas —Logan interrompeu, repreendendo-a. —Lembre-se que cada um tem objetivos diferentes e não deve criticá-las para alcançar isso.
?Não me sinto inferior a elas —resmungou Eli.
?Ah, claro que não! Se sente tão extraordinariamente superior que se propôs a casar com um aristocrata —disse Josh com mordacidade.
—Podem parar de uma vez? —Disse Anne finalmente, caminhando ao lado de Josh. —Estão oferecendo um espetáculo embaraçoso.
—Eu já parei —disse Eli sem olhar para eles. —Mas não sou aquela que persiste, talvez devesse ordenar que Josh ficasse de boca fechada porque, como um bom soldado, jamais desobedeceria uma ordem.
—Vou arrancar esse seu coque! —Josh gritou, jogando-se em sua irmã.
Mas não chegou até ela, Logan se virou para a jovem, parou aquele salto que dera em Eli, empurrou-a para trás e se colocou no meio das duas. Com os olhos bem abertos, pois não podia acreditar no que havia se formado em um piscar de olhos, olhou para Anne e ela mostrou o mesmo assombro que ele. Como podiam passar de uma conversa absurda sobre flores para uma luta de puxar cabelo? Em que momento a conversa inocente passou para a guerra? Com as mãos abertas, para que Josh não procurasse a área mais adequada para tirar de Eli aquele penteado floral, respirou fundo e fez brotar a atitude do tutor ao qual se autoproclamou.
—Têm um segundo para reconsiderarem esse comportamento inadequado antes de decidir puni-las —garantiu, adotando o tom de um pai.
-- Se não demonstrarem arrependimento sincero, não sairão dos seus quartos
até que eu esqueça o que acabou de acontecer. É isso que querem, passar o resto da semana em seus quartos? —Olhou primeiro para Eli e depois para Josh.
—Não -- responderam em uníssono.
—Nesse caso, peçam perdão —insistiu o visconde com uma voz rouca.
—Sinto muito, Eli —disse, estendendo a mão para ela.
—Perdoe-me, Josh —respondeu, aceitando aquele gesto cordial e pacificador.
—Isso é muito melhor —disse Logan, afastando-se das irmãs —e agora, se precisam descansar, retirem-se para seus aposentos.
—Não posso ir aos estábulos? —Josh perguntou com tristeza. --
Quero ver como está Galeón e se o bom tempo continuar durante a tarde, gostaria de montá-lo novamente.
—Pode fazer o que quiser enquanto não se envolver em outra confusão —ele concordou.
—Obrigada! -- Exclamou alegremente. Se aproximou do visconde e, antes que ele pudesse reagir, o beijou na bochecha. —Não espere por mim para tomar o chá! —Gritou entusiasmada, correndo para a porta.
—Eli? —Ele direcionou a pergunta, levantando a sobrancelha direita.
—Se Howlett ainda puder me acompanhar, gostaria de aproveitar as horas do dia para iniciar os arranjos do jardim.
—Não há problema. Diga a Kilby para informar seu sobrinho sobre o novo plano e não saia de casa sem a presença dele. Espere, não vá, quero te pedir mais uma coisa -- disse, apontando com o dedo.
-- Sim? —Perguntou com uma atitude tão submissa que Anne pensou, por um momento, se o que estava observando era real ou outra de suas alucinações.
—Durante a sua estadia em minha casa, não quero que volte a dizer a Josh que ela é feia porque não é, entendeu? —Disse com firmeza.
—Não farei mais isso, prometo —respondeu, abaixando os olhos.
—Bem, nesse caso, também pode se retirar —concordou Logan.
—Obrigada -- disse. Fez uma leve reverência e, murmurando palavras que só ela ouviu, saiu do salão.
Silêncio... não sabia que amava tanto o silêncio até conhecer as irmãs. Como podiam ser tão voláteis? Eram mais perigosas do que cem homens confinado em seu barco! Como o pobre médico enfrentava situações como a que ocorreu? Deus o teria abençoado com o dom da paciência ou com a surdez? Caminhou lentamente para o lado esquerdo, separando-se de uma Anne imóvel, acariciou o rosto com angústia, virou-se para ela e olhou-a suplicante.
—Elas sempre se comportam assim? —Perguntou depois de suspirar e colocar as mãos em ambos os lados da sua cintura.
Anne olhou para ele sem piscar. Seu rosto refletia não apenas agonia, mas também desespero. Onde estava o homem que levantou a mão para o criado? E sua grosseria? Nada disso observava nele, parecia tão humano quanto o resto do mundo. Levou a mão à boca, para aplacar a risada que queria brotar diante daquela visão tão angustiante, mas não conseguiu silenciar o estrondo de sua gargalhada.
—Sim, sempre se comportam assim —disse entre respirações longas. -- Achou que seria fácil conviver conosco? Que seríamos tão dóceis quanto às mulheres que encontra em sua vida? —Acrescentou divertida.
Havia desaparecido. Os sentimentos tristes que suportou durante o almoço desapareceram imediatamente ao contemplá-lo na intimidade. Era tão vulnerável quanto ela e tão volátil quanto suas irmãs. Talvez, apenas talvez, sua atitude em relação ao servo tivesse uma razão diferente do que exaltar seu poder.
—Como seu pai controla nessas situações? —Exclamou, mostrando em seus gestos e em seu tom de voz uma angústia exagerada. Se tivesse finalmente quebrado o muro que Anne havia construído durante o almoço, estava disposto a que não levantasse novamente. Como concluiu, ele precisava encontrar a mulher escondida sob aquele olhar indescritível.
—Devido ao seu trabalho, é a minha mãe quem as chama a ordem
—respondeu, descobrindo que ele retornava para seu lado.
—Como consegue? —Retrucou, parado na frente dela. Suas mãos voltaram para o rosto e ele esfregou em desespero.
—Mantendo-as quietas ou firmes? —Queria saber. Sim, aquilo era tão improvável quanto engraçado. O grande sedutor parecia abatido pela atitude de duas pequenas jovens. E isso que Mary tinha ficado em casa! Ele não sabia nada do que poderia se formar em sua casa quando as cinco permaneciam juntas.
—Ambas as coisas —confessou, estendendo as mãos para o chão, como se estivesse resignado diante de uma situação difícil de controlar. Mas se quisesse executar o plano que tinha elaborado em milésimos de segundo, precisava continuar mostrando perplexidade, desespero e rejeição. Não era a irmã mais velha? Não ajudaria Sophia nos momentos mais difíceis? Bem, isso era o que devia lhe dar a entender, que estava vivendo o dia mais difícil de sua vida e que pedia sua ajuda. Uma vez que ela estivesse ao seu lado, lutaria com todas as armas de sedução para que a mulher que estava em seus braços e suspirava por suas carícias retornasse.
—Não sei, talvez minha mãe tenha o caráter certo para doutrinar suas cinco filhas, mas só ela sabe a verdade.
—Anne... —ele disse olhando-a com olhos suplicantes.
-- Sim, milorde? —Respondeu rapidamente adotando o tratamento cortês.
—Tem que me ajudar —disse, suportando a fúria que sentiu ao ouvir como ela colocava distância entre eles novamente.
—Para ajudá-lo em quê? —Estalou, arregalando os olhos.
—Nós não podemos deixá-las sozinhas. Estou com muito medo de que, embora tenham me prometido, procurem um momento para se envolver em outra discussão e não tenho a menor dúvida de que o penteado de Eli será jogado fora de sua cabeça —explicou com aparente aflição.
-- Se deram a sua palavra, certamente irão obedecer —defendeu-as como qualquer irmã mais velha faria.
—Minha irmã Natalie também fez muitas promessas a Roger e, entre elas, jurou que nunca se casaria com o sobrinho de Arthur Lawford. E o que aconteceu?
—Se casou com ele... —murmurou Anne, confusa ao ouvi-lo falar sobre um assunto tão particular.
—Exatamente! —Exclamou caminhando para a saída. —Preciso de você Anne, muito mais do que pode imaginar.
Essas palavras foram mais sinceras do que esperava. No entanto, no contexto em que as usou, não eram diretas nem estranhas. Se sua experiência não falhasse, Anne era uma das pessoas que não eram capazes de
se recusar a ajudar os outros e ele seria o homem mais necessitado do mundo.
—Pretendia passar o resto da tarde matizando o esboço... --
alegou olhando para o chão e esfregando as mãos.
—Perfeito! —Direi a um dos servos para mover o cavalete e tudo que precisa do lado de fora. Enquanto continua com a tela, ficarei de olho nessas duas pequenas criaturas ferozes. —Ficou parado na porta, esperando que ela avançasse, mas não o fez. O que acontecia? Não sentia vontade de acompanhá-lo? Ou talvez...
Pensando sobre esse possível, talvez, que não tinha notado porque sua cabeça estava concentrada em como aplacar a discussão das irmãs, Logan voltou para o seu lado, colocou um dedo sob o queixo de Anne e levantou-o gentilmente. Vendo que seu rosto mostrava tanta confusão quanto antes, se aproximou devagar e lhe deu um beijo carinhoso nos lábios.
—O que há de errado? —Ele murmurou, mal tirando a boca da dela. —O que a preocupa? Se arrepende do que fizemos no jardim? Não quer que esteja ao seu lado? Por que não me chama de Logan quando estamos sozinhos?
—Não acha que nos deixamos levar por uma emoção absurda? --
Perguntou olhando em seus olhos.
—Emoção absurda? —Repetiu, permitindo captar em seu tom de voz que essa descrição o machucou. —Não. Não acho que me deixei levar
por algo assim. Acho que mostrei a atração que sinto por você e que, embora devesse ficar longe, pois está sob minha proteção, não posso e não quero --
declarou severamente.
—Mas...
—sussurrou,
abaixando
o
rosto,
um
que
instantaneamente levantou com a ajuda da mão direita de Logan.
—Não há mas, Anne. Sinto-me tão atraído por você que até ponderei a ideia irracional de que me enfeitiçou. Tenho que ser honesto em lhe dizer que, desde que apareceu em minha vida, faz com que eu seja uma pessoa diferente, uma que esquece... —Vendo que ela tinha a intenção de perguntar a que se referia, continuou olhando-a nos olhos: Sabe porque no final eu não bati naquele maldito criado?
—Não... —murmurou.
—Porque ouvi sua voz. Se não tivesse aparecido, teria lhe dado uma boa lição. No entanto, tê-la, ouvi-la e senti-la, faz com que recupere a sanidade e que apareça em mim o homem que verdadeiramente sou.
—E? Quem é? -- Insistia em descobrir enquanto seu coração batia em um ritmo desenfreado.
—Fique comigo e te mostrarei. Temos vinte e oito dias para que descubra —disse separando-a apenas o suficiente para ela segurar o seu braço.
—Não deve provar nada. Não pretendo...
—O que não pretende, Anne? Me enfeitiçar? Bem, já o fez --
disse antes de tomar uma de suas mãos e, entrelaçando os dedos com os dela, levou-os à boca e os beijou carinhosamente. —Prometo que deixarei minha alma descoberta, que será capaz de ver o homem que realmente sou e, se não sentir aquilo nasceu em mim, a deixarei partir.
—Como pode me dizer essas coisas? Como te ocorre me perturbar? Como...?
Anne não terminou sua última pergunta, Logan a silenciou com outro beijo, embora esse não fosse suave ou doce, mas apaixonado, louco, descontrolado, lascivo. Seu corpo reagiu rapidamente ao calor de sua boca, ao movimento de sua língua dentro dela, às carícias que fazia em seu rosto com a mão que não entrelaçava a dele. Se sentia tão fraca, tão frágil, que duvidava que pudesse ficar em pé por muito tempo.
—Digo essas coisas porque vejo que corresponde com a mesma intensidade —sussurrou entre suspiros. ?E agora, minha querida Anne, se não quer que levante a saia desse vestido marrom e me deixe levar pela necessidade de torná-la minha, vamos sair daqui.
Muda e com a respiração agitada, Anne aceitou o braço do visconde. Caminhou ao lado dele até que saíram, como se fossem dois recém-casados, que mal conseguem se separar. Abriu a porta e convidou-a a passar na frente. Uma vez que se colocou na varanda do lado de fora, uma brisa
suave acalmou a abrasão que notou em suas bochechas e a luz suave dos raios de sol a fez fechar os olhos ligeiramente. Colocou a mão direita na testa, usando-a como um escudo, olhou em volta e sentiu-se estranhamente feliz.
Por que sua confissão lhe trouxe tanto conforto? Será que não entendia que a única coisa que conseguiria seria se tornar outra amante do visconde? Era isso que queria? No momento em que uma dor estranha apareceu em seu ventre, como se estivesse lutando contra aquela ideia nefasta, um pássaro grasnou no céu. Com a mão apoiada na testa, como se fosse um soldado, levantou o rosto e ofegou ao descobrir que um imenso corvo estava voando sobre ela.
—Me acompanha? —Logan perguntou, novamente estendendo o braço para que ambos pudessem descer os degraus que os levariam à imensa esplanada verde.
—Sim —respondeu Anne depois de aceitá-lo sem hesitação.
Quando desceram juntos, enquanto ele começava a conversar sobre como encontrara aquele lugar e a razão pela qual o adquiriu, o corvo continuou voando sobre eles e não desapareceu até que, três horas depois, Anne e Logan voltaram para a residência.
XXVII
O silêncio reinava novamente no corredor...
Anne se encostou à porta do quarto e suspirou. Fazia três dias desde que o visconde lhe pedira para não trancar a porta para deixá-lo entrar, mas ele não aparecera. Na primeira noite, enquanto esperava por ele, sentada em sua cama, bateram na porta. Com o coração pulsando na garganta, porque achava que era ele, caminhou em direção à saída e, descobrindo quem era, teve uma estranha sensação de alívio e tristeza. Elizabeth, depois de passar a tarde trabalhando no jardim, pareceu agradecer-lhe pela mudança de atitude que demonstrou ao visconde durante o jantar. «Sabia que no final se renderia ao seu encanto», disse no meio da conversa. E não tinha ideia de quanta verdade suas palavras possuíam. No decorrer daquela tarde, falou com ele como se se conhecessem desde a infância. A conversa entre eles passou de contar a história de como e por que comprou Harving House, ao momento em que viajou pela primeira vez no navio, a tensão que sofreu por ser responsável por tantos homens sob suas ordens e a satisfação que sentiu ao retornar. Então continuou falando sobre seus irmãos, até narrou milhares de aventuras que viveu com Nathalie e ele crianças. A chegada de Evelyn à vida de Roger e como sua casa se encheu de felicidade diante do inesperado nascimento de Evah, a filha do marquês. Mas essa conversa amigável mudou
quando ele tentou descobrir coisas sobre ela.
—Por que deseja partir para aquela cidade? -- A pergunta a surpreendeu tanto que não sabia o que responder. —Alguém te falou sobre ela? -- Ele persistiu, movendo lentamente o caule de uma margarida que havia cortado do jardim.
Anne olhou para ele timidamente. Devido ao calor, tirou o paletó e mostrou uma atitude muito íntima e relaxada, quando se recostou no banco de pedra e esticou as longas pernas.
—Sim —disse finalmente.
—O que ele lhe disse para que quisesse experimentar a agonia de fazer uma viagem tão longa? —Insistiu.
—Que encontraria a paz que procuro. ?Fixou os olhos na tela novamente e, apesar do fato de que sua mão estava tremendo, continuou a moldar o contorno de suas sobrancelhas. Como podia ser tão diferente? No jardim, enquanto foram mantidos longe de qualquer observador, se mostrou como o conquistador de mulheres que era. No entanto, naquele momento, não havia sedução em seus gestos ou palavras, mas sim cumplicidade, familiaridade e simplicidade.
—Por causa da maldição? —Perguntou antes de colocar o caule pequeno em seus lábios, como se fosse um cigarro. Cruzou os braços sobre a cabeça e fechou os olhos. ?Pensa que ali desapareceria?
—Não —respondeu sem olhar para ele.
—Então? Por que insiste em partir? —Insistiu sem mover nada além do peito enquanto respirava.
—Uma mulher deve construir bom futuro se ela se recusar a procurar um marido que a mantenha —declarou com sinceridade.
—Entendo... —murmurou antes de permanecer em silêncio.
Quando pensou que o assunto tinha acabado, que ele já havia deduzido que seu propósito era se tornar a famosa retratista que sua mãe lhe disse, se incorporou no banco para se sentar, olhou para ela, como se tivesse testemunhado um milagre e disse:
—É uma cidade muito libertina. Sabia?
—Não —respondeu secamente.
—Nesse caso, fico feliz que esta viagem tenha sido cancelada.
Certamente não gostaria de ver homens e mulheres se renderem a uma paixão passageira em qualquer canto das ruas.
Esse comentário ousado deixou-a tão surpresa que o carvão atingiu o chão. Quando se abaixou para pegá-lo, ele já estava ao seu lado, para ajudá-la. Os dedos de sua mão direita sentiam as carícias dele e não pode deixar de se sentir oprimida por aquele toque suave e delicado.
—Teria morrido de tristeza se descobrisse o que é capaz de me fazer sentir e me encontrar na horrível obrigação de abandoná-la em um
lugar tão distante —sussurrou enquanto ambos se levantavam ao mesmo tempo. —O que eu faria sem esses olhos castanhos, incapaz de sentir o perfume do seu cabelo ou poder olhá-la quando quisesse?
Um golpe. Anne sentiu um golpe terrível no estômago. O que pretendia? Enlouquecê-la com palavras doces? Era assim que tratava todas as mulheres que passavam por sua vida? E depois? O que aconteceria depois? E ela? Como suportaria uma experiência semelhante com o visconde? Tinha que se recusar a sentir, desejar, ansiar por ele, mas lá estava ela, com um estupor semelhante ao que teria uma jovem inocente quando um de seus pretendentes desejasse deixá-la apaixonada por doces e frases estudadas.
—Não se lembra de que matei os dois homens que decidiram se apaixonar por mim? —Fez a pergunta para se defender de suas próprias emoções. Não podia contemplá-lo com desejo, nem o observar como se fosse o único homem no mundo. Precisava lembrá-lo que estava amaldiçoada e que ele poderia terminar da mesma maneira...
—Não eram apropriados —respondeu com um sorriso tão lindo e atraente que Anne não conseguia tirar os olhos daquela boca que, momentos antes, havia provado.
Não havia lhe dito que estava enfeitiçado? Bem, amargamente, ela também estava. Uma voz estranha retumbou em sua cabeça com tanta
intensidade que pensou que explodiria. Não, não podia se deixar levar pela atração que sentia, nem por essa selvageria que despertava toda vez que olhava para ela. Ou adotava a postura correta ou acabaria nua em sua cama ou na dela. Essa visão, que sua mente rapidamente projetou, agradou-a tanto que um calafrio correu da ponta dos pés até a cabeça.
—Está com frio? —Perguntou e, sem ouvir a resposta, pegou sua jaqueta, se colocou atrás dela e a pôs sobre seus ombros lentamente. E, depois de dar uma rápida olhada ao redor para confirmar que estavam todos ocupados, esfregou seus braços e, pouco antes de se afastar, deu-lhe um beijo no pescoço. —Conheço muitas maneiras de aquecê-la, mas este não é o momento certo para demonstrá-las.
Outro golpe no estômago. No entanto, esse foi acompanhado por uma dor angustiante entre as pernas. Sim, claro, aquele ladino tentava seduzi-la até que gritasse para que oferecesse tudo o que propunha, mas... O
que deveria fazer? Resistir? Lutar com todas as suas forças? Por que? Não era mais uma mocinha virtuosa, há muito que perdera a inocência e, segundo sua mãe, logo poderia fazer o que quisesse sem ter que dar explicações. Além disso, qual era uma das razões pelas quais queria ir a Paris? Sentir-se viva, querida e imersa em um turbilhão de paixões que apaziguaria essa necessidade que renascia nela com mais força. Seu sangue cigano havia despertado e ansiava pelo que ele queria lhe dar.
Observou-o sentar novamente e adotar essa postura casual e familiar. O que pretendia?
—Foi na segunda viagem que fiz àquela cidade —continuou Logan -- quando fiquei hospedado no bordel da senhora Gautier.
—Como disse? —Perguntou, segurando o carvão com tanta força que se partiu em dois.
—Que me hospedei no bordel da senhora...
—Como é capaz de comentar uma coisa tão íntima? —Censurou.
—Disse na sala de estar, que mostrarei minha alma e que parte da minha vida está dentro dela. A escandaliza? Não achei que faria pois, como descobri, manteve um relacionamento apaixonado com Hendall.
—Não vejo isso como apropriado —murmurou, fixando os olhos na tela novamente e escondendo atrás desta o embaraço de suas bochechas.
—Bem, se ficar escandalizada ao descobrir por que me chamam de Logan, o conquistador, pode me fazer às perguntas que achar melhor --
comentou divertido. ?Embora, garanto que iria gostar da história.
—Realmente acha que me faria feliz saber o que fez com essas mulheres? -- Falou indignada quando colocou as mãos na tela e olhou por cima.
-- O que observo é ciúme? ?Alegou ainda mais divertido e um pouco orgulhoso. Se virou para ela, colocou as solas dos sapatos no chão e
sorriu. ?Não imaginei que abrigasse esse tipo de emoção sobre mim.
—Não estou com ciúme —resmungou, se escondendo atrás da pintura novamente. ?Mas sinceramente, sei que não gostarei desse assunto.
—Bem, vamos mudar a conversa... —disse, descansando os cotovelos nos joelhos. —Como foi sua infância? Sempre quis ser retratista?
Qual imagem achou mais difícil? Por que se apaixonou por Hendall?
Ninguém a informou que era um mulherengo, que suas empresas estavam falidas e que só voltariam à tona se conseguisse casar com a filha de um bom homem?
Tremor. O corpo tremia. Podia sentir o movimento selvagem até de seus cílios. Esse era o objetivo do visconde? Descobrir por que se comprometeu com Dick? Com qual razão? Ridicularizá-la? Bem, não conseguiria!
—Conhecia a reputação de Dick -- assegurou em uma voz firme e forte -- mas me jurou que, uma vez que estivéssemos noivos, seu passado seria deixado para trás. Não fez essa promessa a nenhuma de suas amantes?
—O atacou.
—Não, porque isso seria uma mentira e não gosto de enganar as pessoas. Elas sempre souberam da posição que lhes dei e não haveriam outras possibilidades —respondeu com extrema contundência.
—E ainda assim continuaram? —Perguntou perplexa.
—Não acha que mereço o esforço? —Contestou, esboçando um grande sorriso.
—Não. Conheci muitos homens mais bonitos. -- Ela mentiu porque queria acertar seu ego da mesma maneira que fazia com seu estômago sempre que falava sobre algo que não deveria e a fazia sentir aquilo que era proibido.
-- Não? Uau! Isso partiu meu coração, senhorita Moore. Como poderei recompô-lo? —Comentou com aparente aflição.
—Tenho certeza que superará—murmurou, escondendo o rosto sorridente atrás do retrato.
—Não tem a sensação de que nos conhecemos a vida toda? --
Perguntou ao ar quando se deitou no banco de pedra. —Porque eu sim. --
Permaneceu em silêncio, pensativo, depois virou a cabeça para ela e procurou o seu olhar. Não encontrou, escondia atrás daquele grande cavalete: —Sabe? Nunca falei, tão calmamente com uma mulher, enquanto tentava aplacar a ereção que guardo sob as minhas calças.
Três. Aquelas palavras produziram o terceiro golpe em seu estômago e uma sensação tão agradável que sentiu seu corpo reagir instintivamente. Como poderia ser tão canalha? Teria descoberto que ela enlouquecia com palavras e situações descaradas, essas que se assemelhavam tanto com seu sangue dominante? Porque, para qualquer
cigana que se preze, bajulações como essas faziam seu corpo ferver.
E quando planejou repreendê-lo novamente, ouviu como o cavalo, no qual Josh cavalgara a tarde toda, estava se aproximando.
—É lindo! Maravilhoso! Incrível! —Exclamou Josephine, recompensando as façanhas do animal com fortes carícias no pescoço.
—Bem, a amazona também fez um ótimo trabalho —Logan comentou, levantando de um salto. De repente, o homem canalha que havia estado ali, mudou para se tornar o tutor responsável. —Da próxima vez deve lembrar que Galeón salta melhor quando a distância é curta. Avança muito rápido e solta no meio do caminho -- explicou enquanto acariciava o pescoço do cavalo.
—Poderia me ensinar, se isso não o fizer perder muito tempo --
disse Josh, com os olhos brilhantes de emoção.
—Boa ideia. Se desejar, amanhã, depois do café da manhã, poderíamos dar um longo passeio. Lá em cima —apontou para o lado esquerdo, exatamente onde uma pequena colina estava —há troncos caídos pela última tempestade. Eles servirão para que eu possa ensinar como fazê
lo pular.
—Sim! Sim! —Gritou a jovem cheia de alegria. —Estou encantada! O que acha, Galeón? Sim, de verdade? —Disse, inclinando-se para a pele do cavalo como se estivessem conversando. —Acho que ele
também gosta da ideia.
—Nesse caso, faça-o retornar ao estábulo e dê-lhe comida e bebida. Tem que recuperar forças para amanhã.
—Às suas ordens! —Respondeu Josh, levantando a mão direita na testa antes de chicotear Galeón.
—É impressionante... —Logan refletiu voltando ao banco. Juro que ela é a mulher mais corajosa que já conheci. Tenho certeza de que se ela tivesse nascido homem, a Grã-Bretanha estaria a salvo de qualquer inimigo
—disse sentando-se.
—Mas não é —disse Anne, sem se afastar da pintura —e ela tem que assumir isso mais cedo ou mais tarde.
—Verdade —disse sem poder desviar o olhar da jovem. —Não entendo porque quer manter um comportamento tão masculino, odeia a realidade?
—A de ser mulher? —Perguntou e o visconde afirmou com um leve aceno de cabeça.
Colocou o carvão em uma sacola que pendia do cavalete e, observando que a jaqueta deslizava entre seus braços, acabou colocando as mãos nas mangas. O calor que proporcionou a roupa do visconde e o perfume que emanava dele a relaxaram. Mas ele não podia descobrir que ela também estava confortável, ele usaria aquele momento para fazer outra
pergunta inapropriada. Por essa razão, conteve todos os músculos de seu rosto, limpou o carvão das mãos em um dos panos que comprou e avançou para o lado esquerdo, na direção oposta à do visconde.
—Deve entender que o comportamento que mostra não corresponde à sua natureza, embora isso, de certa forma, a torne mais especial. No entanto, deve estar ciente de que não pode alcançar tudo o que pretende alcançar. Sem ir mais longe, a noite que passamos bebendo na pousada...
—Ato que estava fora de lugar porque Josh não deveria ter bebido como se fosse um velho bucaneiro —o interrompeu em reprimenda.
—Mas tenho que confessar que veio muito bem para nós dois --
se defendeu, incapaz de eliminar o sorriso. Por fim, a irmã protetora veio à tona, assim como já estava começando a ouvir como seu tom de voz não era tão esquivo. Havia declarado que mostraria sua alma, apenas esperava que Anne fizesse o mesmo. —Ela me contou sobre seus sonhos e tive que explicar que eles não seriam reais.
—O que disse? —Perguntou, virando-se para ele bruscamente e mostrando clara evidência de terror em seu rosto.
—Que os soldados não a veriam como iguais e que acabariam violando-a -- declarou sem se importar.
—Por que foi tão cruel?
—Não fui cruel, Anne, mas sincero. Ela precisa que falem com clareza e não ser enganada. Já disse que não gosto de mentir, muito menos a uma jovem como ela. -- Sua voz não vibrou nenhuma vez. Expressando em cada palavra uma franqueza convicta.
Anne olhou na direção que Josh havia tomado, esfregou os braços e, embora fosse ilógica, sentiu o toque da jaqueta do visconde e se acalmou novamente. Talvez não fosse certo que ele falasse com ela dessa maneira tão direta, mas não podia culpá-lo. Era a primeira vez que alguém falava com Josh com tanta sinceridade. Só esperava que ela não esquecesse a parte mais difícil desse sonho que estava determinada a alcançar.
—O que acontece com Madeleine? —Perguntou, levantando-se e caminhando em direção a ela. Só parou de andar quando se colocou nas suas costas.
—Nada. Ela é perfeita. A única coisa que acontece é que sua timidez a impede de conversar com outras pessoas que não sejam nós.
—Bem, ouvi a voz dela e admito que era angelical —disse sem se mover do seu lado.
Logan respirou fundo, pegando todas as partículas invisíveis que Anne emitia de seu perfume. Se perdia.... Sim, estar tão perto dela fez com que ele se perdesse em um mundo que, até o momento, desconhecia.
Desejava abraçá-la, consolá-la, sussurrar que ele sempre a ajudaria e que
não deveria temer o que poderia acontecer entre eles, porque nem mesmo a maldição poderia separá-los. Mas não era o momento, precisava de mais tempo. Um em que ela descobriria quem ele realmente era e o aceitaria. Que não gostava de enganar? Bem, mentiu sobre sua origem por trinta e três anos! O que ela pensaria se descobrisse? Seria capaz de amar o cigano e o Visconde? Ou só aceitaria o homem que ostentasse um título nobre?
—Talvez, com o tempo, encontre uma pessoa que a faça sair da caixa de cristal em que ela decidiu viver —disse Anne como reflexão sobre Madeleine.
—E você? Deixará a gaiola em que se trancou?
O hálito quente do visconde roçou a pele de seu pescoço, causando outro arrepio. No entanto, desta vez, não esfregou os braços, mas estendeu as mãos para o chão. Como poderia derreter tão facilmente a frieza que ela criou por tantos anos? Desejava o contato de um homem ou apenas dele? Por que abandonou a integridade da qual se orgulhava? O que tinha ele de especial para seu corpo admitir que o havia esperado toda vida?
—Não estou enjaulada, milorde —disse, virando-se para ele.
Seus olhos. Aquelas írises azuladas olhavam para ela com tal desejo que permaneceu imóvel. Esse coração que se manteve letárgico por muitos anos batia desenfreado e sua mente, irracional toda vez que estava na frente dele, apenas gritava havia chegado o momento de se render ao óbvio.
E, de acordo com isso, essa evidência consistia em que se entregasse ao homem esperado. Sua mãe teria razão? Os sonhos seriam verdadeiros? Não, não poderia ser. A pessoa que esperava tinha sangue cigano e o visconde, exceto pela cor de seu cabelo, em tudo o mais, mostrava sua origem aristocrática. Então... o que teria ao seu lado? Um romance que terminaria no mesmo dia do seu contrato? É isso que desejava?
—Está —garantiu, trazendo sua boca perto da dela -- mas não demorará muito para começar a voar, porque serei o homem que abrirá a porta dessa maldita gaiola.
—Pelo amor de Deus!
O grito de Elizabeth fez Logan saltar rapidamente para trás e Anne ficar rígida como uma tábua. Ambos pensaram que os descobrira, mas não era assim. A jovem olhava para as saias de seu vestido enquanto sacudia as manchas de lama com fúria.
—O que acontece? -- Anne perguntou, saindo para encontrá-la.
—A terra é terrivelmente má! —Ela exclamou horrorizada. --
Howlett e eu devemos arejá-la muito se quisermos semear algo naquele terreno inerte.
—Arejá-la? Não acha que a brisa que temos durante a manhã é suficiente? -- Brincou Logan, que chegará à tela e olhava como se a estivesse estudando.
—Não me refiro a esse tipo de ar! —Respondeu divertida, Elizabeth.
—Não? —Logan respondeu, levantando ambas as sobrancelhas, expressando sua incerteza desta maneira.
—Temos que fazer pequenos furos na superfície para que o oxigênio atravesse a terra. Dessa forma, as futuras raízes permanecerão saudáveis e não apodrecerão.
—Achava que as folhas eram as que precisavam de oxigênio, não a raiz -- prosseguiu Logan, acentuando o tom de perplexidade.
—E é verdade —disse Eli, tirando o chapéu. No entanto, se alimentam pela raiz e, se não estiver saudável, morrerão.
—Explicou isso ao jardineiro a quem pago uma grande fortuna para cuidar deste lugar? Seria conveniente informá-lo que precisa fazer pequenos furos em toda a propriedade —explicou sarcasticamente.
—Está brincando, certo? —Eli perguntou, mostrando um grande sorriso.
-- O que acha? —Respondeu antes de estender o braço para ela e voltarem para dentro da residência.
Durante aquela noite, Josh não parou de falar sobre a magnífica tarde que passara com o cavalo e Elizabeth do bom relacionamento com Howlett. Ambas estavam entusiasmadas e ansiosas pelo novo dia que viria.
Quando se retiraram para seus quartos, Anne as acompanhou e ficou no quarto o esperando que Logan aparecesse, mas as horas passaram e, exceto pela breve visita de Eli, para falar sobre sua mudança de atitude, permaneceu sozinha até adormecer. No dia seguinte, quando desceu para o café da manhã, Josh e o visconde saíram para o passeio que ele prometera. Elizabeth continuou com seu trabalho de cultivo e ela se abrigou em uma sala, que Kilby havia preparado, para avançar na pintura. Passou a manhã inteira suspirando, se lembrando das sensações que sentiu por tê-lo tão próximo e ansiando por ele. Essa última a deixou bastante inquieta, porque não podia decidir se essa ânsia se devia ao fato de ter passado a noite sozinha ou que, na verdade, começava a gostar da companhia dele, apesar de se comportar com tanta ousadia quando estavam sozinhos.
Realmente queria contar para ela sobre suas amantes? Como era possível falar sobre esse assunto particular sem se importar com a imagem que isso lhe daria? «Não tem a sensação de que nos conhecemos a vida toda?
" Sim, ela tinha, mas não devia confessar esse pensamento tão facilmente.
Primeiro tinha que assumir a razão pela qual se sentia tão diferente quando estava ao seu lado. Uma vez resolvida essa questão, se concentraria nas outras.
À tarde, desse mesmo dia, foi muito semelhante à anterior.
Enquanto Eli continuava com o plantio das sementes, Josh cuidava do cavalo
com cuidado. O visconde acompanhou-a até os estábulos, para continuar dando conselhos sobre uma boa equitação. Ela, pelo contrário, olhava para o esboço sem saber como continuar. Era a primeira vez que lhe faltava inspiração. Não conseguia avançar, ou talvez não quisesse fazê-lo sem que ele estivesse ao seu lado. Era hora de voltar e não havia dado nenhum mísero traço novo. Tudo permanecia o mesmo até que ouviu um tremendo grito.
Levantando os olhos e os direcionando para o lugar de onde veio aquele uivo de felicidade, observou Josh abraçar o visconde com tanta força que o teria dividido em dois, se não possuísse um porte tão forte.
—Ele o deu para mim! O Galeón é meu! —Ela gritava eufórica sem parar.
Por essa razão, durante a noite, a única pessoa que a visitou foi Josh. Estava tão animada com o presente do visconde que não conseguia dormir.
E a manhã daquele dia chegou. Esperava, desejava e precisava que ele ficasse ao seu lado, que aquele homem descarado e atrevido que costumava falar com ousadia ou roubar um beijo retornasse. No entanto, ele não ficou em Harving. De acordo com Kilby, o senhor teve que sair para resolver certos assuntos administrativos. Anne não tinha certeza se a raiva que a abalara naquele momento era pelo tom que o criado usara para falar com elas ou o fato de que ele estava se distanciando dela novamente. Seja o
que for, até que ele apareceu para almoçar, tinha um humor de cachorro e esteve prestes a quebrar a tela mil vezes.
Por que agia dessa maneira? Não lhe disse que despiria sua alma?
Então... por que prestava mais atenção às irmãs do que a ela? Exceto por alguns olhares furtivos, que poderiam ser oferecidos durante o almoço e o jantar, não havia mais nada. Nem beijos, nem palavras, nem toques intencionais. Frio. Parecia que tinha se transformado em um bloco de gelo.
Teria perdido o interesse nela? Teria percebido que não era uma mulher adequada para ele?
Depois de suspirar profundamente e se resignar ao óbvio, voltou para a cama. Era a terceira noite e, como nas anteriores, nada aconteceria entre eles. Talvez ele tenha pensado melhor em sua maldição e concluiu que seria melhor evitá-la. Se fosse assim, agora ela não só ficaria confusa com as emoções que surgiam cada vez que o olhava, com suas roupas elegantes ou com aquele sorriso que dedicava às suas irmãs, mas também por causa daquele desejo que aumentava com as horas.
Lentamente, sentou-se no pé da cama, atirou-se para trás e, com as mãos estendidas nos travesseiros, olhou para o teto. Tinha que se concentrar em fazer o seu trabalho. Não podia ocupar sua cabeça com bobagens. Não era tão jovem para encher a cabeça de pássaros. Seu passado, esse que alguém revelou para o visconde, era um muro que não podiam pular,
embora naquela tarde ambos foram levados por uma paixão repentina. De olhos fechados, enfiou os dedos sob os travesseiros. Como Josh disse, o cetim tinha um toque suave que a convidava a nunca sair da cama. Então, as pontas da mão direita tocaram alguma coisa. Surpresa, ela se virou e colocou os joelhos no colchão, rapidamente levantou o travesseiro e olhou para o papel, no qual ele colocou seu nome, há algum tempo.
Ele. Ele tinha escrito. Essa e forma de ligar as letras, unir a letra A com o primeiro N era dele. Com o coração a mil e as mãos trêmulas, acabou pegando a nota.
Minha querida Anne:
Perdoe-me por não ter vindo ao seu quarto durante estas noites.
Acredito que, embora quisesse com todas as minhas forças, não devia fazê
lo. Como disse na primeira tarde que passamos juntos, é especial e quero provar isso para você. Senti sua falta porque gosto muito de estar e conversar com você. Te disse que me sinto tão calmo ao seu lado que parece que a conheço toda a minha vida? Sim, eu disse, mas faz tanto tempo que quero repeti-lo toda vez que tenho a chance.
Tenha um sonho feliz. Claro, tenho que estar nele para que seja.
Se não conseguir dormir, me encontrará no nosso jardim. Foi onde passei essas duas noites, ansiando pela sua presença e lembrando o melhor momento da minha vida.
Seu, Logan.
XXVIII
O que queria fazer? Essa era a pergunta perfeita. Não tinha que pensar se seria correto ou não ir ao jardim, o mais apropriado era confirmar se queria ir ao seu encontro e aceitar tudo o que acontecesse entre eles.
O que seu coração mandava? Este não podia lhe dar uma resposta sensata, pois estava batendo com tanta força que logo seria disparado de seu peito. E a parte lógica do seu cérebro, essa que Mary usava desde que abriu os olhos? Não falava, estava tão silenciosa que podia ouvir os grilos cantando lá fora. Portanto, só teria que atender ao seu instinto cigano que ordenava, com mais ímpeto do que nunca, a parar de colocar tantos obstáculos e correr para ele, para se entregar de corpo e alma.
Com a emoção de uma criança que está prestes a descobrir o que é seu único presente de aniversário, Anne guardou o bilhete de Logan debaixo do travesseiro onde o encontrou, pulou da cama, vestiu o robe de seda negra e, sem fazer nenhum barulho, saiu do quarto. Não o tinha desejado? Não queria estar ao seu lado? Bem, teria a oportunidade de recuperar o tempo perdido, aproveitar aqueles beijos que não roubou e sentir novamente o calor que suas carícias ofereciam.
Como se fosse um fantasma, desceu as escadas e atravessou a extensa galeria. Seus pés sentiram o chão frio, mas recuperaram rapidamente
a temperatura que mantinha seu corpo. Tudo ao seu redor gritava que estava fazendo a coisa certa ou eram suas percepções? Como nem um único criado era encontrado, as luzes permaneciam apagadas e até mesmo as irmãs decidiram não deixar o quarto naquela noite para conversar com ela sobre o assunto que as preocupara. Olhou através das janelas que encontrou e, com exceção do luar, que passava pelas cortinas finas, ninguém era testemunha do que pretendia fazer. Sim, talvez o destino tenha aprovado sua decisão.
Ao chegar ao local onde o visconde fazia seus exercícios físicos habituais, respirou fundo, enchendo seus pulmões com aquele ar masculino que a atraía tanto. Era como um urso atordoado pelo cheiro de mel de uma colmeia e, apesar de saber que as abelhas o atacariam quando descobrisse suas intenções, não abandonaria seu propósito de saborear aquele suculento manjar.
Percebendo a suavidade do piso, deu pequenos passos até chegar à porta que dava lugar àquele jardim. Sentindo a batida do coração na garganta, colocou a mão direita na maçaneta, girou, abriu devagar e.... o viu.
Tal como havia dito, o visconde esperava-a no mesmo lugar em que ficara ao pintá-lo. Seu cabelo solto ondulava como a bandeira de um navio. Sua camisa clara se movia lentamente sobre o peito largo e forte, e suas calças, muito parecidas com aquelas usadas por Josh, transformaram suas longas pernas em pernas titânicas. Anne levou as mãos ao estômago, pois sentia as asas
daqueles corvos furiosos novamente, incontroláveis, e olhou para ele, sem fôlego. Encantada, a enlouquecia vê-lo daquela forma tão relaxada, tão selvagem. Se não conhecesse sua verdadeira identidade, não poderia pensar em outra definição a não ser cigano. Sua pose, sua tranquilidade e aquele equilíbrio que emanava do ambiente que o rodeava eram mais típicos das pessoas selvagens do que dos esnobes e controlados aristocratas. Mas não deveria esquecer que ele era um visconde e que, em um futuro distante, se tornaria um marquês. Essa realidade construía uma enorme muralha que nunca poderia ser demolida. Só conseguiria o remanso da paixão por um breve período de tempo e depois... apagariam de suas mentes os beijos, as carícias, os suspiros que teriam durante seus encontros românticos. Não estava procurando por isso? Se sentir viva, renascer? Bem, estava disposta a se dar isso...
Afastando da cabeça a tristeza que aqueles pensamentos lhe causavam, desceu devagar os cinco degraus que a levavam à pequena esplanada. Foi então que ele percebeu sua presença. Se virou para ela e olhou-a com tanta admiração que Anne se sentiu minúscula. Estava realmente emocionado em vê-la? Haveria algo mais nesse olhar do que lascívia? Seu coração também batia forte quando ficavam juntos?
—Olá... —sussurrou estendendo a mão para ela, assim não teria medo e fugiria quando descobrisse a felicidade e ansiedade que sentia por tê
la em seus braços, beijá-la, tocá-la. ?Venha, aproxime-se. Quero mostrar o segredo mais bonito que desse jardim.
Incapaz de recusar esse pedido, Anne ficou ao seu lado, pegou sua mão e, com um leve movimento, colocou-a na sua frente, pressionando as costas dela contra seu peito, descansou o queixo sobre seus cabelos, que o fez sentir novamente cheiro de flores silvestres, e a manteve alguns segundos assim, capturando o calor que havia desejado durante os dias anteriores.
Duas noites. Apareceu na porta de seu quarto nas duas noites anteriores, mas não ousou bater. Na primeira ocasião, ouviu a voz de Elizabeth e, na segunda, a voz de Josephine. No começo, pensou que Anne as chamara para fazê-lo ficar longe, no entanto, depois de ouvir as conversas que tiveram, e apaziguar sua raiva, concluiu que elas haviam aparecido para conversar sem aviso prévio. É por isso que acabou escrevendo a nota. Se ela ansiasse por ele tanto quanto ele sentia falta dela, viria ao seu chamado e, para seu prazer, ela respondeu afirmativamente.
—Feche os olhos —disse em uma voz suave e melosa —inspire o ar ao nosso redor e ouça o silêncio da noite.
Fez isso mesmo. Fechou os olhos, embora apoiasse ainda mais a cabeça no peito do visconde, apertou suas mãos nos braços fortes e nus, percebendo o toque do pelo masculino e inspirando o perfume a que se referia.
—Em Londres não podemos respirar essa fragrância requintada
—sussurrou em seu ouvido —ou ver tão claramente as estrelas no céu.
—Sinto muito —disse Anne, desenhando um grande sorriso --
mas não posso vê-las porque me disse para fechar os olhos.
—Não precisa abri-los, posso descrevê-las para você —ele murmurou tão perto de seu lóbulo direito que seus lábios o tocaram enquanto falava. —São brilhantes, como pequenas bolas de fogo. Se espalham pelo imenso céu que temos sobre nós. Quando a luz do sol nos ilumina, não podemos vê-las, mas quando a lua chega, são mostradas em todo o seu esplendor. Algumas se agrupam para formar bonitas figuras. As chamamos de constelações, embora ainda não goste da palavra que usaram para descrevê-las dessa maneira —continuou naquela voz aveludada. —Quando criança, meu irmão Roger me ensinou alguns nomes, mas não posso nomear as oitenta e oito que existem. —Seus dedos se estenderam para os dois lados de seu seio, como se quisesse descobrir que as costelas permaneciam no lugar, e começaram a acariciá-la. Percebendo como estremecia, a abraçou com mais força e lhe deu um leve beijo no pescoço. Anne respondeu com um suspiro que descreveu como a música mais linda que já ouviu. —Quando viajo no navio e não consigo dormir, porque tenho que resolver algum problema importante, subo no convés, deito no chão e as fico contando.
—Quantas chegou a contar? —Perguntou, inclinando-se mais
perto de seu corpo. Aquele beijo, tão procurado nos últimos dias, chegara com tanta gentileza que a fez suspirar de alívio.
Perfeição. Essa era palavra que definia exatamente o ajuste de ambos os corpos. Ele era tão alto que ela parecia minúscula ao seu lado. Seus grandes e musculosos braços envolviam facilmente seu corpo e acoplaram-no extraordinariamente ao seu torso e cintura. Sentia as vibrações silenciosas nas costas fruto das respirações e, embora fosse estranho, estava tranquila, calma e tão sossegada, que era isso que transmitia. Por essa razão, em questão de segundos, se encontrou em um estado de relaxamento e inacreditável êxtase.
Seu passado, a maldição e toda a agonia que sofria antes de passar por aquela porta, desapareceram tão rapidamente que a sofredora e confusa Anne Moore morreu ao dar o primeiro passo em direção a ele, dando origem a uma nova mulher cheia de luz.
—Mil oitocentas e quarenta e nove —Respondeu.
Ouvindo aquele número exato, abriu os olhos, se virou para ele e procurou em seu rosto por algum sinal de escárnio, mas não encontrou. A seriedade era evidente, assim como sua veracidade.
—Por que chegou a esse número? -- Ela perguntou. Abriu as mãos sobre o peito robusto e depois descansou o rosto, sentindo a ligeira mudança que sua respiração havia feito. Não era mais lenta, mas nervosa.
—É o ano em que nasci —Logan respondeu, descansando as
mãos grandes nas costas, sentindo o toque suave do robe de Anne.
—Trinta e Dois... —murmurou enquanto fazia as contas de seus anos, descobrindo que tinham apenas cinco anos de diferença. Muito pouco para aqueles que viveram um século, mas muitos para aqueles que não superaram a adolescência.
—Sim —disse, acariciando-a de cima a baixo.
Como poderia se sentir tão vivo quando ela permanecia assim?
Por que queria confessar tantas coisas que manteve por mais de três décadas?
Estaria com medo? O homem que havia lutado bravamente com a fúria do mar, que usara sua espada para acabar com as vidas daqueles selvagens que queriam roubar seu navio, as escapadas pelas varandas das amantes antes da chegada inesperada do marido, temia que ela o rejeitasse? Não, não era a rejeição de Anne que o fazia temer, mas o que seu corpo lhe mostrava quando ela estava ao seu lado. Se acreditou que alcançou o êxtase em algum momento, estava errado. Anne, apenas com sua presença, com aquele jeito de apoiar seu rosto em seu peito e cair sob sua proteção, fez com que ele entendesse que nada do que chamara de felicidade era verdade. Novamente Roger estava certo. Tal como o avisou, quando se encontra a mulher que te faz ser você mesmo, as demais deixam de existir. E assim a havia recebido, tal como era: um cigano. Um homem que só podia estar completo ao ter contato com a mãe terra.
—Se arrepende?
A pergunta de Anne tirou-o de seus devaneios. Lentamente abaixou o rosto, até que seus olhos se encontrassem, e observou alguma confusão neles.
—De viver trinta e dois anos? —Respondeu brincando. —Espero respirar muito mais. -- Não era a resposta que ela esperava, por isso abaixou a cabeça, como se estivesse envergonhada. Então suas mãos deixaram o tecido macio e as colocaram em ambos os lados de seu rosto, o levantou, até que seus olhos se encontraram novamente e falou, tão perto de sua boca que sentiu o calor de sua respiração roçar seus lábios. —Não posso, nem poderei, me arrepender de tê-la comigo, Anne. Quero deixar claro que é a única pessoa de que preciso agora e possivelmente... —Permaneceu calado para não prometer algo que ele próprio não podia garantir. No entanto, antes dessa batalha mental que travava, apenas seu coração queria gritar as palavras que estavam faltando. -- Sempre -- assegurou antes de beijá-la.
Anne sentiu, através daquele beijo tão apaixonado, desesperado e ganancioso, o anseio que o visconde tivera, o mesmo que dela. Era inconcebível que tivessem vivido tantos anos sem se conhecerem, que se odiassem e que, num piscar de olhos, declarassem que eram incapazes de se separar. Era tudo trabalho do destino, de Morgana ou desse poder cigano que estava fervendo nela enquanto estava ao seu lado? Independente do motivo,
se deixou levar. Estendeu as mãos para o pescoço que havia sentido falta e acariciou com as pontas dos dedos. Esse pequeno toque causou um gemido rouco no visconde e, instintivamente, seus quadris se aproximaram, para responder que seu prazer era muito parecido com o dele.
—Que Deus tenha piedade de você, Anne, porque hoje não permitirei que alguém nos interrompa —disse antes de agarrá-la pela cintura, como antes, e, em seus braços, a levou para a área do jardim com o gramado aparado.
Sem parar para beijá-la, sem poder conter as mãos, a caminhada parou no lugar em que, desde que ela entrou dois dias atrás, queria fazer amor com ela. Jurou que era especial e aquilo confirmava. Nenhuma mulher tinha ido a Harving House e, claro, ninguém havia pisado naquela parte da casa, exceto ela. Era seu santuário e, depois que a tornar dele, seria um lugar sagrado e íntimo para os dois. Com toda a delicadeza que pôde encontrar naquele momento, baixou-a até que seus pés descalços tocaram a grama macia.
?Anne... ? sussurrou em seu pescoço enquanto suas mãos, tremendo pelo o desejo que corria através de cada partícula de seu corpo, desatavam o laço.
?Logan... ? ela respondeu, estendendo os braços para o chão, de modo que o robe de seda preta se soltasse rapidamente de seu corpo
ardente.
?Repita o meu nome, querida ?pediu, deslizando lentamente a peça por seus ombros.
?Logan... ? pôde dizer apenas através de um sussurro.
?É tão perfeita, tão maravilhosa... ?continuou sussurrando.
Logan a acariciava lentamente, como se ela fosse uma figura de porcelana que pudesse quebrar a qualquer momento. Primeiro os dedos tocaram seus braços, fazendo os pelos eriçarem em seu rastro. Continuou com o pescoço, com o pequeno decote que mostrava a camisola e, sem conseguir desviar o olhar daquele rosto angelical, continuou com os seios.
Percebendo que os mamilos tinham endurecido por ele, rosnou novamente com satisfação e desejo, crescendo em cada respiração, nublando sua visão.
Era sua. Por fim, Anne seria sua... com dolorosa lentidão, fez seus polegares cercarem aqueles montículos pequenos e duros, excitados pela paixão.
Aqueles pequenos toques causaram uma grande agitação em Anne e, para não cair, as mãos dela se agarraram a seus ombros maciços. Ouvindo-a ofegar, testemunhando o intenso calafrio, Logan a beijou novamente com tanto ardor que a devorou. Sua língua dançou ao ritmo da dela, dentro e fora daquela boca sensual, como se estivesse fazendo amor com ela. As mãos grandes se agarravam ainda mais àqueles montículos que cobriam sua palma.
Apertou-os, espremeu-os como se fossem duas laranjas das quais extraia o
suco. Aquele ato perverso a fez se arquear para ele, fazendo seus quadris, cobertos com a fina camisola, roçarem os dele, descobrindo assim que estava tão excitado quanto ela. Duro, como uma barra de aço, seu sexo reivindicava aquilo que já indicava com próprio.
Sem deixar de beijá-la, sem deixar de saboreá-la e invadi-la com sua língua, Logan afastou as mãos de seus seios e as baixou para colocá-las em seus quadris. Uma vez que sentiu em seus dedos a textura daquela carne sensual que ainda estava escondida pela roupa, apertou-a com a mesma força com que oprimira seus seios. Rude. Pela primeira vez em sua vida, ele não era suave, mas áspero, brusco.
?Logan... ?murmurou seu nome em uma voz tão suave que era pouco compreensível.
?Sim, Anne. Eu sei. Vou acalmar sua necessidade e assim também saciarei a minha ?ronronou em seu ouvido.
Sua língua traçou o pescoço longo e liso, seguido pelo pequeno decote e, enquanto suas mãos levantavam lentamente a camisola, sua boca pegou o mamilo direito sobre tecido. A pressão de seus dentes no botão ereto fez com que ela gemesse e jogasse a cabeça para trás. Aquele ato, aquele comportamento submisso, causou uma enorme explosão em Logan e sua parte selvagem adquiriu força. Com a voracidade de um homem que encontrou a mulher com quem viveria eternamente, se afastou um pouco e
acabou de remover aquela roupa que o impedia de descobrir seu verdadeiro toque. O cabelo escuro de Anne se agitou quando passou a camisola sobre a cabeça.
?Deixe-me olhá-la ?pediu, observando como ela estendia as mãos para esconder certas partes de sua nudez. ?Não roube esse momento de mim, querida, porque o estou esperando desde que a conheci.
Sem desviar o olhar daqueles olhos azuis, atendeu seu pedido.
Anne retirou a mão dos seios e do triângulo entre as pernas. Devia se sentir como uma prostituta, uma mulher sem moral. No entanto, ao contemplar o olhar faminto do visconde, todos os seus preconceitos desapareceram. Linda.
Isso era o que os olhos de Logan expressavam. Que ela era a mulher mais bonita. Seu coração, louco, descontrolado, acabou deixando seu peito para se atirar nele e suas entranhas gritavam que precisavam desse homem dentro dela. Sem hesitar por um momento, estendeu as mãos para a camisa, soltou-a da calça e tirou-a com urgência. Como havia feito com ela, o cabelo do visconde dançou ao se separar daquela roupa.
?Logan... ?murmurou quando descobriu uma enorme cicatriz branca que ia do umbigo até o lado esquerdo do peito. Levou a mão direita em direção àquela ferida curada e a acariciou.
?Deus, Anne! ?Exclamou, jogando a cabeça para trás, sentindo o prazer daquele toque percorrer cada célula de seu corpo. ?Eu gosto
disso…
?Gosta que te toque? ?Se atreveu a dizer, tornando-se uma mulher descarada e segura de seu poder de sedução.
?Sim ?Logan engasgou quando sentiu novamente aqueles dedos suaves traçando a marca que lembrou a ele quem realmente era e o que a mãe de sua mãe tentou fazer quando ela estava sangrando até a morte no seu nascimento. Graças à mulher que ele chamava de mãe, apenas a lembrança de uma morte rápida permaneceu em sua pele.
?Bem, quero fazê-lo ?disse se aproximando.
Descansou as duas mãos em seu peito nu e foi apalpando até que pudesse descrever a sensação daquela pele rude e a aspereza dos pelos que a cobriam. Ouvindo os suspiros de Logan, colocou os polegares nos dois mamilos, tão eretos quanto seu sexo, e os roçou.
?Jesus! ?Exclamou com um uivo desesperado. ?Continue Anne. Avance pelo meu corpo...
E foi o que fez. Acariciou cada centímetro de pele em seu peito e sorriu quando percebeu como a respiração do visconde se tornava mais angustiante. Ninguém o havia acariciado? Nenhuma mulher havia traçado seu corpo magnífico com as mãos? Sentindo-se afortunada, aproximou a boca e passou os dedos pelos lábios. Então notou que as palmas das mãos dele estavam sobre seus cabelos, amassando-os, tocando-os como se tentasse
liberá-la de um penteado inexistente.
?Anne... ?murmurou seu nome, embora sua voz estivesse num tom tão fraco que a deixara perplexa.
Não. Ninguém o havia tocado daquela maneira e ela estava ardendo de vontade de continuar. Sua boca, ainda no esterno, moveu-se lentamente para o umbigo. Colocou os dedos no cós da calça e apoiando-se nele, continuou a beijá-lo até que os lábios se abriram para sua língua tomar o seu lugar. O gosto masculino de Logan a hipnotizou, a deixou louca a ponto de seus joelhos nus tocarem o chão. O queixo que sempre levantava quando queria mostrar orgulho tocava a excitação que ainda estava escondida sob suas calças. Queria, desejava, necessitava continuar e seguir sentindo aquele gosto masculino em sua boca. Vagarosamente, com uma lentidão enlouquecedora, suas mãos deixaram o cós para se colocarem no botão.
Quando desabotoou, aquela ereção a recebeu.
?Quer me matar, certo? ?Logan se inclinou para ter uma visão perfeita de Anne. Ela era uma deusa? Porque era assim que a definia naquele momento. A deusa mais maravilhosa, mais ardente e ... sua.
?Minha proposta, querido visconde, é satisfazer o que tanto ansiamos... ?tentou dizer enquanto colocava as mãos sob as calças, sentindo o membro sedoso e duro.
?Bem... vá em frente... eu sou todo seu... ?murmurou,
gaguejando. Fechou os olhos e deixou-se levar pelas suaves carícias de Anne.
Não queria comparar. Não precisava, mas sua mente não conseguia pensar em outra coisa senão encontrar as diferenças entre o sexo do visconde e o de Dick. Lá onde algumas vezes encontrara um membro flácido, em Logan era tão duro que sua vagina se contraía, como se quisesse evitar a invasão futura.
?Anne... ?murmurou ao notar os dedos acariciarem a glande.
Molhada pela excitação, pelo desejo, pela chegada de um sonho.
Anne abaixou lentamente as calças e as ceroulas até ficarem nos joelhos. Como havia imaginado, não apenas seu sexo era robusto, mas suas pernas eram duas barras de ferro forjado no fogo do deus Hefesto[8]. Suas mãos deixaram o falo duro e se fixaram nos quadris masculinos. Selvagem e sem fôlego por tudo que a fazia sentir, a parte cigana de Anne brotou de suas entranhas e, sem hesitação, lambeu e provou aquela glande molhada pela excitação. A resposta de Logan apareceu imediatamente. Ele segurou o cabelo de Anne entre os dedos e insistiu para ela continuar. Foi o que fez. Ela continuou beijando e saboreando aquele membro masculino que, quando o colocava dentro de sua boca, tremia como o resto de seu corpo.
?Sim... ?Logan sussurrou, trazendo seus quadris para o rosto de Anne. Com os olhos ainda fechados, ouvindo a própria respiração e a intensidade do coração, suspirou profundamente, aceitando o prazer que ela
oferecia com a boca e as mãos. Mas percebendo que esse estado de paixão o faria explodir antes que pudesse tomá-la, puxou o cabelo de Anne para trás, abriu os olhos e disse: ?Minha querida cigana, acaba de marcar seu destino e não é outro senão o de estar comigo.
Aturdida por esse comentário, ela se levantou, olhou para ele sem piscar, e quando ia perguntar por que ele havia dito tamanha loucura, Logan tirou a calça e a tombou abruptamente naquele manto de grama.
?Minha vez, querida ?disse antes de beijá-la com tanto fervor que sua alma saiu disparada pela boca até que ele se alimentou com ela.
Com as mãos percorrendo seu corpo nu, Logan concluiu a jornada no triângulo que ela tentara esconder. Com os dedos abriu as dobras esponjosas, molhadas de excitação, e procurou pelo clitóris. Quando o achou tão inchado, não demorou muito para atacá-lo. O corpo de Anne se contorceu, ela se mexeu tanto que parecia evitar os roces violentos, duros e dominantes.
?Deliciosamente minha... ?Logan sussurrou uma vez que puxou aquela boca voraz para longe dela. Colocou um dedo dentro da vagina de Anne e quando a encontrou tão escorregadia e apertada, a beijou novamente com ardor.
Aquela invasão, que era tremendamente prazerosa, fez com que ela arqueasse seus quadris em direção àquela mão, para que nunca parasse. E
não parou. Enquanto o polegar brincava com o clitóris, um dedo ia e vinha até que a abria tanto que acabava introduzindo dois.
?Logan... ?soluçou, notando como seu corpo queimava e doía, pois, sua necessidade de ser acalmada, aumentava para limites indefiníveis.
?Quero beijá-la, lambê-la, provar cada canto do seu corpo
?assegurou enquanto beijava seu seio, sua barriga, seu umbigo e, quando ele abriu as pernas para ter uma visão perfeita do sexo feminino, lambeu os lábios. ?Isso é tudo meu ?disse antes de sua língua traçar as esponjosas saliências.
Anne estendeu as mãos para a grama e arrancou todo aquele emaranhado entre os dedos quando notou a boca do visconde ali embaixo.
Fechou os olhos, levantou ainda mais os quadris e se arrastou pelo prazer que a boca masculina lhe oferecia. Ele a mordeu, absorveu toda a sua essência, penetrou-a com a língua tantas vezes que perdeu a pouca razão que ainda tinha. Como podia se converter em uma louca, viciada naquelas mordidas grosseiras, naquelas carícias tão dominantes e possessivas?
?Logan... por favor... ?implorou quando notou como sua barriga queimava, como a dor que sentia em seu sexo era tão horrível que não podia se acalmar, exceto por sua invasão.
Envolto em uma névoa de desejo, Logan abandonou a parte que ele tinha devorado até que se colocar em cima. Enquanto com uma mão
acoplava seu sexo na frente dela, olhava-a atordoado. Seus olhos brilhavam como as estrelas daquele céu e sua respiração atingiu seu rosto aumentando sua temperatura.
?Anne... diga que você me quer, que anseia pelo que vou lhe dar
?pediu enquanto apoiava as palmas das mãos nos dois lados do rosto luxurioso e investia nela pela primeira vez.
? Eu quero você... e anseio pelo que vai me oferecer... ?ofegou quando sentiu a penetração.
?Repita meu nome. Quero ouvi-la toda vez que entro em seu corpo, toda vez que te fizer tremer, toda vez que lhe mostrar que você é ...
minha ?exigiu com um tom cheio de desejo e algo que nunca sentira antes: ansiedade.
?Logan... Logan... ?disse, sentindo aquelas duras investidas, aquelas invasões dominantes e possessivas.
?Oh, sim, Anne! ?Gritou antes de beijá-la, antes de fazer seus quadris cavarem os dela, unindo-os, transformando-os em um único ser.
Aquele cigano que se forçara a permanecer distante parecia tão selvagem e desesperado que afastou o visconde, o homem que mostrara ao mundo para transformá-lo no cigano que negava ser. Sem parar de penetrá-la, de entrar e sair, sem conseguir separar a boca dos lábios que o recebiam com avidez, Logan sentiu como o corpo de Anne se abalava ao compasso dele.
Tudo. Tudo ao seu redor desapareceu. Apenas uma pessoa permanecia, uma alma, uma mulher: ela.
?Te desejo tanto! ?Exclamou com um grito quando o clímax começou a subir.
?E eu ?respondeu, cravando as unhas nas costas dele com tanta força que elas perfuraram a pele áspera.
Então chegou. O corpo de Logan tremeu no final, derramando sua semente dentro de Anne, enchendo-a com ele, sua essência, sua masculinidade, sua vida. Com ar ofegante e sem deixá-la, ele se afastou um pouco para observá-la. Disse que ela era uma deusa? Bem, era. Anne era sua deusa, a única que poderia estar ao seu lado... sempre.
Uma vez que sua respiração relaxou, uma vez que seu sexo começou a recuperar seu estado de tranquilidade, se deitou ao lado dela e a segurou com tanta força que se tornaram um novamente.
?Você... eu... desejo... ?o visconde tentou explicar.
?Sou e serei apenas mais uma ?disse sem olhar para ele. ?O
que aconteceu aqui é ... não quero que ...
?Não diga nada. Não quero que estraguemos este momento com definições absurdas ?sussurrou.
Logan lentamente beijou seu cabelo. Não precisava explicar nada.
Ele já adivinhara o que ia dizer, por isso a única coisa que fez foi abraçá-la e
confortá-la. Não deveria temer pela maldição, nem ficar longe dele pensando que morreria como seus dois pretendentes. Precisavam de tempo e estava disposto a dá-lo. Uma vez que ela admitisse que poderia haver mais do que encontros apaixonados entre eles, pediria que ela fosse sua para sempre. Só esperava que para consegui-lo não tivesse que confessar seu segredo...
XXIX
Durante a semana seguinte, eles agiram com grande discrição.
Enquanto estavam acompanhados por Elizabeth ou Josephine, permaneceram distantes e suas condutas eram frias e um tanto elusivas. Mal falavam e, quando o faziam, suas conversas eram tão ínfimas que até suas irmãs bufavam do tédio que causava ouvir assuntos absurdos.
Nas manhãs, Anne avançava no retrato, enquanto Logan não parava de reclamar do terrível arrependimento que sofria por permanecer imóvel por tanto tempo. Enquanto não fosse salvo por uma das jovens Moore, continuava reclamando como uma criança pequena. Mas quando saia do lado dela, para ir socorrer a oportuna irmã, Logan lhe dava um olhar tão ardente que a fazia tremer e excitar ao mesmo tempo. Não havia dúvida de que o magnetismo que havia sido forjado entre eles era tão inquebrável quanto a lâmina afiada de Excalibur e administravam essa relação quando todos os habitantes da casa se retiravam para seus quartos. Se em algum momento pensaram que o fogo diminuiria com o passar do tempo, erraram.
Cada vez que se encontravam, cada vez que estavam sozinhos, o vínculo entre eles se tornava mais forte, mais sólido. Esse relacionamento inesperado assustava muito Anne, visto que não havia noite em que não lutasse contra seus novos sentimentos e desejos. Por que tudo era tão difícil? Por que seu
peito doía quando pensava que o fim viria em breve? Será que seria capaz de esquecer seus beijos, suas carícias, suas palavras e o tom tão solene que costumava dizer que pertencia a ele? Se não tivessem concordado que manteriam apenas um romance fugaz, admitiria, sem dúvida, que seus gestos, suas ações e aquelas frases que sussurrava quando faziam amor eram verdadeiras. Porque, mesmo que não devesse imaginar que eram reais, pareciam ser. Além disso, tinha que ser honesta consigo mesma e assumir que ao seu lado encontrava um bem-estar que não atingira com Dick. Agora entendia muitas coisas sobre paixão e desejo. Não havia comparação possível entre eles. Enquanto Dick usava isso para seu próprio prazer, o visconde oferecia-lhe tudo o que desejava e essa era a razão pela qual o medo aumentara... O que aconteceria no dia em que partisse para Londres com suas irmãs? Por que diabos ele não se comportava tão frivolamente quanto Dick?
?Não entendo porque as pessoas gostam tanto de contemplar o mar. ?O comentário de Elizabeth a afastou dessas conclusões tão terríveis quanto belas. Olhou de esguelha para ela e sorriu enquanto a observava enredar-se em uma luta incansável para manter o pequeno chapéu imóvel em sua cabeça.
Naquela manhã, como o visconde prometera na tarde anterior, fizeram uma excursão para a praia. Mas Eli não parava de reclamar desde que saíram. Josh, por outro lado, parecia feliz e animada. Caminhava ao longo da
costa, a calça marrom enrolada até os joelhos e os pés mergulhados na água.
O visconde permanecia ao seu lado. Anne desviou o olhar para eles e os observou em silêncio. Nunca imaginou que poderia se comportar de maneira tão familiar e simples com elas. Ele havia tirado o paletó, a gravata e o colete, deixando-os dentro da carruagem. Sua camisa branca estava tentando esconder o corpo esculpido por seus exercícios e trabalho no barco. Suas longas pernas vestidas com calças pretas de caxemira mostravam a força de um homem do seu tamanho. Como Josh, ele também enrolou as calças até os joelhos e a mão direita segurava os sapatos e meias para não os danificar com a água do mar. Anne suspirou ao ver como a brisa suave o atingia e como seu cabelo, puxado para trás em um rabo de cavalo, estava começando a se soltar daquela tira de borracha para apresentar uma imagem tão selvagem quanto erótica. Desejava, com todas as suas forças, ser aquela que passeava ao seu lado, mas como haviam feito até agora, se quisessem continuar com o relacionamento que haviam acordado, deveriam continuar com o plano, que consistia principalmente em não mostrar a afeição que sentiam e continuar se vendo em segredo.
?Segundo ouvi dizer, o sal é bom para a pele ? comentou Howlett.
O valete, depois de criar um elo emocional com Elizabeth, foi autorizado a acompanhá-la a todos os lugares que visitava e, é claro, a praia
também estava dentro de suas novas tarefas.
?Está seguro disso? ?Eli o recriminou mordaz. ?Porque nunca me senti tão suja. Comi um sanduíche cheio de terra imunda, tenho o vestido, as meias e os sapatos manchados de areia, as roupas grudam no meu corpo como se eu fosse um agricultor que trabalhou no campo durante um dia intenso de verão, o vento está estragando meu penteado e não suporto esse cheiro horrível ... ?acrescentou com uma careta de desagrado.
?Garanto que é muito melhor do que parece ?Howlett assegurou se sentando ao seu lado para evitar que a brisa marinha açoitasse sua nova amiga até arrancar o belo chapéu. ?Se tivesse navegado, como fiz, cercado por homens fedorentos, mal-humorados e indelicados, certamente teria uma percepção mais favorável dessa excursão.
?Que atrocidade! ?Eli exclamou, horrorizada ao se imaginar em um navio cercado por marinheiros malcheirosos, cuja única finalidade era fazer suas necessidades fisiológicas no convés do navio.
?O que não é tão horrível? ?Perguntou o jovem divertido.
?Como pôde suportar isso? ?Eli estalou enquanto lutava para manter a saia do vestido verde-esmeralda limpa.
?Bem, o visconde concordou que ficasse em sua cabine o tempo que estipulasse necessário. Então pode deduzir que passei semanas admirando trajes que não costumava usar ? explicou serenamente.
?Por que diz que não costumava usar? ?Elizabeth estava interessada, cansada de lutar contra o vento, decidiu tirar o chapéu de uma vez por todas.
?Porque os marinheiros não andam vestidos. Por mais que me pareça terrível confessar, esses tipos de homens geralmente andam seminus
?comentou Howlett divertido.
?Seminus? ? Eli soltou chocada. ?O visconde também se tornou um deles?
Não era capaz de imaginar Logan adotando uma atitude tão inapropriada para um cavalheiro de sua linhagem. Que os outros agissem de maneira selvagem, poderia aguentar, mas... um aristocrata, um futuro marquês? Jamais! A classe alta tinha que mostrar sua condição e seu poder onde quer que fossem.
?Claro! ?Respondeu Howlett com um sorriso travesso. ?E
tenho que declarar que quando chegávamos a um novo porto, todas as mulheres que o contemplavam rezavam para que essa figura bárbara e aristocrática as escolhesse como amantes.
?Howlett! ?Elizabeth o repreendeu. ?Como pode ter uma linguagem tão ousada? Não sabe que deve manter em segredo o que acontece no quarto do seu mestre?
?Não insinuei quantas passaram pelos quartos, minha querida
senhorita Moore ? continuou sarcasticamente ?a única coisa que admito é que o visconde teve uma vida muito intensa...
Entre risadas, os dois terminaram a conversa e decidiram dar um passeio longe do mar e do arenito. A única que não riu do comentário sagaz foi Anne, que cerrou os punhos e enterrou-os na areia para que nenhum deles pudesse vê-los. Mulheres? Quantas mulheres visitaram a cabine de Logan durante suas viagens? Por que andava seminu? Não sabia a definição do termo pudor? Mostrava seu corpo lindo como se fosse um galo cercado por galinhas? Suas bochechas começaram a ficar vermelhas e seu pulso acelerou.
Ciúme. Pela primeira vez em sua vida, um ataque de ciúmes tomou conta dela. Odiava essas mulheres e o odiava por ser um conquistador de corações.
«É isso o que é, Anne Moore, outra mulher que se rendeu ao seu poder de sedução. No entanto, foi você quem se impôs essa condição» lembrou a si mesma. Sim. Era isso com o que haviam concordado: dois amantes que vivem e desfrutam de um tempo de liberdade e paixão até que chegasse o fim.
Sem tirar os olhos do visconde, suspirou profundamente. No fundo as entendia. Apesar de odiá-las com todas as suas forças, também as entendia. Quem não sonharia em deitar com um homem que emanava poder e selvageria? Quem não gostaria de ser beijada por aquela boca ou acariciada por aquelas mãos fortes? E ... quem não esperaria gemer de prazer quando
estivesse possuída daquela maneira abrupta e feroz? Nenhuma mulher deveria se privar de tal prazer. Logan nasceu para amar e se dedicava a isso.
Quando estava prestes a desviar o olhar deles, ele a olhou e, ao observá-la tão rígida e irritada, levantou a sobrancelha esquerda em questionamento. Mas Anne, em vez de desviar o olhar, como sempre fazia, o manteve fixo, transmitindo através dos olhos a raiva que sentia e não podia diminuir facilmente.
?Acho que é hora de irmos ? Logan comentou com Josephine quando sentiu as emoções díspares de Anne. Sentou-se na areia e, depois de limpar os pés, calçou as meias e os sapatos. Se levantou, desenrolou as calças e olhou para ela novamente.
Não gostou da praia? Não gostou da vista daquele lugar lindo?
Talvez tenha errado ao concluir que poderia apreciar a beleza daquela área e, em vez de ter um dia maravilhoso, estava em uma terrível aflição.
?Tão cedo? ?Josh choramingou, tentando fazer com que o soluço infantil a ajudasse a fazê-lo mudar de ideia. Mas, observando a atitude do visconde, sentou-se, calçou as meias e as botas curtas. ?Ainda não me explicou como derrotou aqueles terríveis assaltantes ?insistiu quando se levantou e ficou ao seu lado novamente.
?É uma história bastante inapropriada para uma jovem da sua idade ? disse a ela como desculpa enquanto caminhava em direção a Anne.
Ela, vendo que eles estavam se aproximando, se levantou rápido, deu uma batidinha na saia de seu vestido marrom e se virou, lhes dando as costas. O
que diabos estava errado? O que aconteceu durante sua breve ausência para fazê-la sentir-se tão desconfortável? ?Além disso, o verdadeiro protagonista daquele momento foi Giesler. Se ele tivesse vindo teria contado sobre esse episódio atroz...
Naquele exato momento, ficou consciente de que haviam se passado mais de dez dias e que não ouvira notícias de seu amigo. O que teria acontecido com ele para não responder? Continuaria atormentando a vida daqueles homens que haviam humilhado Mary? Ou ficara em Londres porque não queria sofrer outro ataque como o que sofreu na casa dos Moore? Não, não poderia ser isso. Na carta que enviara, deixou muito claro quais as irmãs que viajariam com Anne e explicara que a mulher que jogou os tubos nele, como se fossem dardos venenosos, ficaria em Londres. Então... por que não aceitou o seu convite?
?O Sr. Giesler é o homem a quem eu apontei a minha arma, certo? ?Josh, envergonhada de lembrar o que fez naquele dia, colocou as mãos atrás das costas e passou pelo visconde com os olhos fixos no chão.
?Por que fez isso? ?Logan perguntou, incapaz de tirar os olhos de Anne, que estava andando em direção à carruagem.
Ofendida, irritada e bastante soberba. Isso declarava sua atitude
estranha e súbita. Agora, mais do que nunca, queria encontrar um espaço para conversar com ela e descobrir o motivo desse comportamento arrogante.
?Porque ele entrou em nossa casa e não desviou o olhar de Mary por um único segundo ? disse com um longo bufo.
?Teria atirado nele? ?Perguntou, esboçando um enorme sorriso.
?Sabe que ele não foi capaz de tirar os olhos do corpo da minha irmã? ?Ela bufou indignada. ?A mamãe sempre a avisa para não sair do quarto de camisola, mas ela não presta atenção a ninguém e naquela manhã apareceu no topo da escada com uma aparência inadequada.
?Quer dizer...? ?Parou, olhou para ela e riu.
Grande patife! Essa parte da história ele não contou, guardou para si mesmo. Disse que ela jogou tudo o que estava ao alcance, mas esqueceu de contar sobre o momento em que descobriu a silhueta da irmã na camisola.
Seria seda transparente como as que Anne usava? Se assim fosse, já adivinhava por que Philip não respondeu ou apareceu. Estaria babando como um cachorro atrás da erudita Moore.
?Sim ? Josh respondeu, visivelmente irritada. —Por mais que pedisse para parar de olhar para ela, aquele cavalheiro não me dava ouvidos.
?Deveria ter atirado nele! ?Logan exclamou antes de bagunçar aquele cabelo loiro tão claro.
?Acredita nisso? ?Josh perguntou indecisa.
?Sim, acredito nisso. Porque temo que ele continue a vê-la de maneira tão desrespeitosa pelo resto de sua vida. Um homem é incapaz de tirar da mente a imagem de uma bela mulher de camisola ?assegurou enquanto continuava a caminho da carruagem.
?Bem, da próxima vez prometo que irei deixá-lo cego ?disse a jovem. Comentário que causou outra risada alta do visconde.
***
Não estava enganado, Anne estava com raiva e não tinha ideia do motivo. Quando os cinco se acomodaram na carruagem, ela não desviou o olhar da janela. Três horas com o pescoço tão esticado lhe causariam uma dor terrível. Mas não respondeu ou contestou as míseras perguntas que fez.
Foram suas irmãs e Howlett quem, ante seu silêncio, responderam às suas questões. O que diabos estava acontecendo? O que havia perdido enquanto caminhava com Josh na praia? Não lhe pareceu certo ter essa pequena liberdade? Ela, melhor do que qualquer outra pessoa, deveria entender que entre a jovem e ele se criara uma relação afetiva muito semelhante à de irmandade. Além disso, seu principal objetivo com Josh era que reconsiderasse sobre os planos futuros que havia feito. Era por isso que
contava a ela sobre as batalhas e dificuldades que sofrera durante suas viagens. No entanto, Anne não parecia satisfeita, pelo contrário. Se mostrava tão irascível que estava prestes a se levantar, agarrá-la pelos ombros e gritar o que diabos lhe acontecia.
?Finalmente! ?Exclamou Elizabeth alegremente quando avistou os telhados de Harving House. ?Lembre-me de não pisar em uma área costeira novamente. Foi horrível ...
?Não gostou? ?Logan perguntou, tentando encontrar algum sinal para explicar se era por isso que Anne estava tão distante.
?Não! ?Eli respondeu rapidamente. ?Prefiro mil vezes mais a pesada neblina de Londres do que a brisa úmida e pegajosa daquele lugar.
?Pois eu estou encantada! ?Josh disse cruzando os braços sobre o peito. ?Admito que, no início, esse ar marinho me impediu de respirar.
Mas com o passar do tempo meu corpo se adaptou facilmente.
?Cheira a peixe! ?Eli a repreendeu, cobrindo o nariz com dois dedos. —Realmente gosta de cheirar assim?
?Salitre ?Logan o corrigiu. ?É chamado salitre e garanto que é muito bom para a pele. Em minhas incontáveis viagens de barco, expus meu corpo àquelas quentes brisas do mar e endureci tanto que, para enfiar uma faca em mim, teriam que exercer uma grande pressão.
O riso de Josh, Eli e Howlett encheram o interior da carruagem,
só que Anne não achou aquela explicação engraçada. Enquanto os outros mostravam uma atitude relaxada, ela se aproximou ainda mais da janela, franziu a testa e bufou como um cavalo depois de uma longa caminhada. Isso acentuou as suspeitas de Logan sobre sua raiva. O que havia dito para deixá
la tão zangada?
?Permita-me ajudá-la, senhorita ?disse o visconde a Elizabeth quando a carruagem parou na entrada da residência. Estendeu a mão e ela aceitou encantada.
?Howlett, vem comigo? ?Perguntou ao valete quando ele desceu atrás dela. ?Necessito de um bom banho para remover toda a areia que ficou sob este vestido feliz.
?Será uma grande honra ?disse o rapaz. ?Mas milorde irá precisar...
?Pode ajudá-la. Embora não entenda por que estou pagando uma criada se é você quem faz todo o trabalho ?Logan resmungou em aparente raiva.
?Ela não tem ideia de como encher uma banheira! ?Disse Howlett com horror. ?E se não fosse pelo bom gosto da senhorita Moore, teria uma aparência decrépita. Acredita que tinha decidido fazer uma trança em vez de um coque baixo? Isso é inconcebível se tiver que usar um chapéu!
Depois dessa exposição, que deixou a tendência afeminada de
Howlett ainda mais clara, Logan sorriu e acenou com a cabeça, permitindo que o criado se tornasse a dama de companhia de Elizabeth. Quem teria medo de um homem que sonha com roupas de seda e penteados ideais?
?Josh? ?Chamou à jovem quando ele apareceu ao lado dela.
?Também tomarei um longo banho. Depois, se não se importar, visitarei o prédio anexo. Quero continuar praticando com a espada.
?Não é melhor que pratique primeiro e tome seu banho depois?
Não acho que Elizabeth suporte outro cheiro além do que emana o sabão
?disse ironicamente.
?Vendo desse modo... e como não quero ouvi-la reclamar de novo... ?Josh disse com os olhos apertados. ?Sim, será melhor fazer assim.
Vai me acompanhar? ?Acrescentou com entusiasmo.
?Hoje não posso, tenho que esclarecer uma questão muito importante. Mas se tiver algum problema, Kilby o resolverá ?disse olhando para Anne, que ainda não havia saído do interior da carruagem e permanecia olhando pela janela, como se a viagem não tivesse chegado ao fim.
?Então... ?olhou para a irmã, depois para o visconde, e sem pensar em nada além da diversão que teria ao empunhar as gloriosas espadas espanholas que Logan mantinha em um canto da instalação, correu para a entrada principal.
?Ficará o resto do dia aí dentro? ?Perguntou uma vez que
ficaram sozinhos.
?Existe outra alternativa melhor? ?Murmurou sem olhá-lo.
Não. A raiva não havia minado. Talvez tenha diminuído algo por um breve período de tempo, até que ele falou sobre expor seu corpo à brisa do mar. Como ele podia ser tão fanfarrão?
?Existem várias... ? Logan comentou colocando as mãos nos dois lados da porta e inclinando-se para ela, para que o cocheiro não o ouvisse. ?Tem a opção de sair ou... Posso entrar, fechar essa abençoada porta e ordenar ao meu cocheiro que viaje pela minha terra enquanto fazemos amor aí dentro. Qual prefere, querida?
?Oh, tenho certeza que deve estar acostumado a fazer esse tipo de coisa em um lugar tão inapropriado! ?Murmurou com raiva. Cruzou os braços e manteve o corpo tão rígido que nem uma flecha passaria.
Logan estreitou os olhos até que eles se transformaram em pequenas linhas. Qual foi o comentário? Parecia que era... não poderia ser!
Ela não poderia estar sentindo ciúme! Por causa do quê? Nunca falou de nenhuma mulher enquanto estava presente. Era mais, todas haviam desaparecido de sua memória uma vez que Anne se rendeu a ele. Então...
quem poderia ter dito a ela sobre isso? Sua mente, em questão de segundos, pesou todas as opções possíveis e, exceto pelo tempo que Howlett permaneceu com elas, não havia outra possibilidade... teria sido tão
desdenhoso que revelou em alguma conversa certos segredos que nem ele mesmo fez público?
?Jeffry! ?Gritou para o cocheiro.
?Milorde? ?Perguntou, virando a cabeça para ele.
?Deixe a carruagem nesta área da entrada, a colocará no estábulo mais tarde ?disse sem tirar os olhos de Anne, que encolheu os ombros ao ouvir o tom de voz que usava.
?Como quiser ?respondeu o criado apressadamente. Desceu o mais rápido que pôde e caminhou até a porta de serviço sem olhar para trás.
?Bem, querida. Estamos completamente sozinhos. Quer que mostre a diversão que posso lhe oferecer aí dentro? Como bem disse, tenho muita experiência em dar prazer numa cabine tão inapropriada ? retrucou, colocando a sola do sapato de seu pé direito na escada de metal.
?Não se atreva! ?Anne gritou antes de abrir a porta do lado dela e sair fugindo.
?Oh sim! Sim, posso pensar em milhões de coisas que quero lhe fazer! ?Ele clamou antes de atravessar a carruagem por dentro e correr atrás dela até alcançá-la.
XXX
?Solte-me! ?Anne gritou quando os braços de Logan envolveram sua cintura.
?Nem pensar! ?Respondeu levantando-a do chão, fazendo com que seus pés e a saia de seu vestido se agitassem no ar. ?Quero descobrir por que está tão furiosa ?disse levando-a para os estábulos.
?Furiosa? Eu? Não é verdade! ?Mas seu tom de voz denotava exatamente o contrário.
Espremida entre os braços fortes e resistentes, lutava para se afastar daquele corpo que a queimava, embora suas peles ainda não tivessem sido tocadas. No entanto, quanto mais esforço fazia para se separar, mais ele a agarrava contra si mesmo.
?Não lute, querida... ? sussurrou em seu ouvido depois de cruzar a entrada dos estábulos. ?Essa batalha não poderá ganhar...
?acrescentou reticente.
Batalha? Pensava que havia começado uma guerra contra ele?
Bem, estava enganado! A única batalha que travava tinha apenas dois adversários e estes eram a mesma pessoa: ela. Na realidade, sua mente e seu coração lutavam um contra o outro para superar um sentimento que ela não
podia suportar, assim como não devia admitir o súbito ciúme que sentiu quando ouviu sobre a vida libertina que teve antes que ela aparecesse. E, para ser franca, não podia imaginar que manteria esse estilo de vida assim que ela fosse embora. E havia a questão desse terrível conflito! Querer, mas não poder. Porque não tinha dúvidas sobre o que queria, embora também estivesse ciente do que não podia. Como superaria outra morte? E não seria qualquer morte senão a dele! O homem que amava! Essa afirmação oprimiu seu peito até que ficou sem fôlego. Como podia ter pulado sua primeira norma? Não teve o suficiente com Dick? Em que parte de suas memórias estavam aquelas lágrimas, episódios de tristeza e culpa?
?Anne... ?Logan disse quando sua respiração mudou drasticamente. Ela não estava mais agitada, mas quebrada, como se estivesse chorando. Será que a machucara ao pegá-la com tanta força? Tinha sido tão bruto? Muito lentamente, enquanto se arrependia dessa atitude bárbara, colocou-a no chão até que ficasse de pé sem perder o equilíbrio. ?O que há de errado contigo? ?Acrescentou. Anne virou-lhe as costas e ele, para apaziguar a repentina tristeza, colocou as mãos gentilmente em seus ombros.
?O que eu fiz?
?Nada. Não fez nada ?comentou sentindo a pressão das grandes palmas em suas omoplatas.
?Bem, se não fiz nada, olhe para mim! ?Pediu. Pressionou os
dedos no vestido de Anne, virou-a para ele e quando viu as lágrimas escorrerem pelo rosto, se sentiu o homem mais perverso do mundo. ?Anne...
me diga por que chora.
Tirou as mãos dos ombros e colocou-as com muita ternura sobre suas bochechas, molhadas com aquelas lágrimas. Com uma lentidão surpreendente, as removeu com os polegares. Aquela demonstração de afeto fez Anne olhá-lo e, percebendo sua preocupação por ela, admitiu com amargura que a guerra acabara de ser vencida pelo seu coração.
?Se Howlett comentou algo que a feriu, juro que irei procurá-lo e cortar sua língua ?disse com a voz de um homem que navegava pelos mares e comandava um navio com mais de cinquenta marinheiros.
?Howlett não é culpado por.... ?Tentou explicar, mas naquele momento ouviu um barulho sobre eles. Anne encolheu os ombros, como se esperasse que algo batesse em sua cabeça, mas nada aconteceu exceto que ele a puxou para perto e a abraçou. ?O que foi isso? Perguntou sem tirar o rosto do peito de Logan.
?Astennu ?respondeu sem deixá-la. ?Acho que ele e sua família não receberam bem a nossa visita repentina.
?Astennu? ?Perguntou, virando o rosto devagar.
Logan virou-a, fazendo com que a bainha de seu vestido marrom arrastasse no feno espalhado pelo chão, reclinando-a sobre o peito, e
enquanto o braço esquerdo circundava sua cintura, levantou a mão direita para apontar para o teto estável, bem onde algumas aves se alinhavam em uma das vigas de madeira. Por um momento, os olhos daqueles animais olharam para ela com desconfiança, mas no segundo seguinte moveram os pescoços e grasnaram como se aceitassem sua presença.
?Apresento meu fiel amigo Astennu e sua amada família ?disse com orgulho. —Como deve ter adivinhado, Astennu é o maior e ele tem aquela mancha branca no peito ? esclareceu. ?O próximo a ele é Honda, sua parceira e os outros três são seus filhos: Fhas, Shadow e Kus.
?Corvos... ?sussurrou tão atônita que não sabia ao certo se havia dito a palavra corretamente.
?Sim, de fato, são cinco corvos ?confirmou. ?Há pessoas que são felizes criando falcões, águias ou pombos..., contudo, não tive a oportunidade de pensar que aves iria querer abrigar em Harving porque Astennu já estava aqui quando apareci e, sem pedir permissão, decidiu ficar para sempre. ?Esperou por uma pergunta, um comentário sobre o quão estranho era para ele se apegar àqueles tipos de animais que representavam tantas coisas sinistras, mesmo que Anne não dissesse nada. Permaneceu em silêncio, olhando para os pássaros e respirando tão rápido que qualquer um concluiria, ao vê-la daquele jeito, que havia atravessado suas terras correndo.
?Não vão machucá-la. ?Garanto que são muito dóceis e afetuosos
?acrescentou envolvendo o outro braço em volta de sua cintura. A puxou para mais perto e deu-lhe um beijo gentil no pescoço.
?Afetuosos... ?repetiu automaticamente.
?Nunca machucaram ninguém apesar daquele olhar feroz
?persistiu, notando que ela movia seu corpo inquietamente. ?A única coisa que deve temer é de ouvi-los cantar. Já gritei milhares de vezes que eles não são rouxinóis, mas são tão orgulhosos que não conseguem admitir isso ?
disse ironicamente para que ela acabasse relaxando. Por que os corvos a assustavam tanto? Sofreu algum ataque em sua infância?
?Como... como…? Porque...? Onde o encontrou? ? Enfim perguntou.
?Quando comprei Harving House estava praticamente destruída pela passagem do tempo. Seu ex-dono não queria reconstruí-la porque, no fundo, não sentia nenhum apreço por esse belo lugar. Talvez doesse lembrar a época em que morava aqui com sua falecida esposa. Então ele saiu e a deixou completamente negligenciada.... Imagino que os pais de Astennu pensaram que seria o melhor lugar para se aninhar, porque não encontraram nenhum ser humano por muitos anos. No entanto, no dia em que a adquiri, e embora pudesse desmoronar a qualquer momento, decidi passar uma noite inteira calculando a deterioração da estrutura e ponderando o quanto meu investimento aumentaria. Minha presença indesejada deve ter assustado
aqueles pais quietos e deixando-o no ninho. Não sabia que existia até que, cansado de investigar, procurei um quarto na casa onde o telhado não tinha sido destruído. Espalhei um cobertor sobre o chão imundo, coloquei meus braços sob a cabeça e olhei para cima. Foi quando descobri um enorme ninho. Essa casa tinha sido desabitada durante anos e era normal que os pássaros procriassem nas áreas onde os seus futuros descendentes estariam protegidos das adversidades climáticas. Com os olhos fixos naquele ninho, pensei em todos os problemas que deveria enfrentar. Várias horas se passaram até que o sono se apoderou de mim e fechei meus olhos. Quando estava prestes a dormir, ouvi um barulho. Levantei rapidamente e procurei a causa daquele som. Inspecionei a casa inteira com determinação, amaldiçoando a possibilidade de que alguns roedores tivessem procriado nas poucas paredes firmes que sustentavam a velha casa. Posso suportar as penas de milhões de aves, mas não consigo tolerar esses transmissores de epidemias
?revelou com certa repulsa. —Depois de confirmar que não havia nada e que talvez eu tivesse notado o rangido de alguma madeira velha que ainda sustentava a casa, voltei para o quarto, deitei e o barulho reapareceu. Voltei a olhar para o ninho e naquele momento um galho caiu no chão. ?Logan sorriu e suspirou profundamente. ?Escalei a parede, que estava esburacada, como se estivesse subindo no mastro do meu barco. Quando meus dedos o alcançaram, o peguei com cuidado e.... ali estava aquele patife! Ele quase não
tinha penas e estava cercado por mais três ovos. Me senti muito culpado por tê-lo separado de seus pais com tão pouco tempo de vida... ?permaneceu em silêncio. Não era sensato confessar a empatia que sentiu quando o contemplara tão só, tão abandonado e o terrível desespero que percebeu no pequenino quando não teve mais a proteção de seus pais. ?Uma vez que o deixei no chão, ele olhou para mim e abriu o enorme bico esperando que o alimentasse. Naquele momento, algo estranho surgiu em mim e, sem demora, por um miserável segundo, saí para o jardim e procurei algo que pudesse servir de alimento. Garanto que a primeira vez que tem entre seus dedos um verme repulsivo cortado em vários pedaços, não é capaz de levar nada à boca em vários dias ?apontou divertido.
?E ele sobreviveu... ?concluiu Anne com um suspiro. Como podia ser verdade? Tinha que ser uma alucinação! Estaria louca? Porque só assim poderia afirmar que esse animal sortudo era o que aparecera em seus sonhos. A mancha em seu peito, o tamanho de suas asas, o brilho de sua plumagem e ... aqueles olhos. Mas sua mãe lhe dissera que as ciganas sempre viam corvos em suas mentes para direcioná-las ao homem que esperavam.
No entanto, não falou sobre a precisão entre o corvo de seus sonhos e o real.
?Isso mesmo ?disse virando-a novamente para ele. ?E formou sua própria família. Astennu se tornou protetor de Harving enquanto estou ausente. Graças a ele e sua família não tenho nenhum verme repulsivo
vivendo nos arredores e devido às lendas que existem sobre eles, muito poucas pessoas querem invadir uma propriedade onde vive uma família de pássaros tão sombrios.
?Os ciganos geralmente vivem em harmonia com eles e....
?tentou dizer.
?Anne, não só os ciganos os respeitam. Há culturas que os reverenciam e explicam milhares de significados quando descobrem sua presença. No caso de Astennu, ele decidiu ficar ao meu lado, porque aqui tem tudo o que deseja para ser feliz. ?Se desculpou rapidamente.
Estava certa. Os de sua etnia adoravam os corvos porque, de acordo com a história, a mãe dos ciganos ordenou que esses pássaros protegessem as crianças que nascessem de seu ventre. E era assim que se sentia quando estava em Harving House. Astennu voava sobre ele toda vez que saia para montar por sua terra. Observava o que seus olhos não podiam ver e à noite, quando todos descansavam, seu amigo descansava no parapeito da janela, olhava para a imensidão das terras e guardava seus sonhos.
?Mas vamos parar de falar sobre esse sujeito descarado
?comentou antes de agitar os braços para que os pássaros voassem pelo estábulo até que fossem embora. Quando não haviam mais testemunhas para observá-los, acariciou a face esquerda dela com a frente da palma da mão direita. ?Quero saber o motivo pelo qual ficou com raiva hoje. Não gostou
do passeio? Sentiu a mesma repulsa que Elizabeth pela praia? Pensei que acharia agradável, é por isso que prometi a....
Anne não permitiu que ele terminasse aquela exposição absurda, pôs as pontas dos sapatos no chão e silenciou-o com um beijo. No início, Logan mostrou alguma confusão sobre aquela explosão apaixonada, mas quando sentiu os dedos de suas mãos segurando as abas de sua camisa, puxando-o para seu corpo, abraçou-a e respondeu a esse beijo com uma avidez feroz.
Aquele contato sensual se tornou mais intenso quando Anne abriu os lábios, permitindo que sua língua voraz a invadisse, devorando-a. Sua mente ficou em branco. Apagou a história de Astennu e o desejo de descobrir qual tinha sido o motivo de sua raiva. Ele a queria. Sim, ele a queria tanto que tudo ao seu redor desaparecera, exceto ela. Lentamente, Logan levou suas mãos para os botões do vestido de Anne e quando seu beijo ficou mais intenso, mais possessivo, desabotoou-os com urgência. Tinha que tê-la, tinha que acalmar sua necessidade, tinha que fazê-la sua tantas vezes quanto pudesse, porque estava determinado a marcá-la, selá-la com tal força que ela aceitaria, de uma vez por todas, que eles foram feitos um para o outro.
?Se eu soubesse que a história daquele bendito corvo a transformaria em uma deusa apaixonada, teria lhe contado antes ?disse enquanto deslizava o vestido sobre seus ombros e beijava as áreas de sua pele
que ficavam nuas.
?Não foi exatamente a história dele... ?Anne murmurou, colocando os dedos na camisa para desabotoá-la com ousadia.
O desejo que Anne mostrava ao despi-lo o deixou louco, então rasgou os botões do vestido sem desabotoar. Caiu no chão, fazendo com que alguns ramos de feno levitassem.
?Ah não? Então, o que foi? ?Ronronou antes de apertar os dentes em seu ombro esquerdo e mordê-lo para fazer uma grande marca.
?Você! ?Exclamou, sentindo a mordida em sua pele.
Anne jogou a cabeça para trás, deleitando-se naquele ato selvagem. Qualquer mulher recatada teria se afastado e o repreendido por deixar uma marca do que havia acontecido entre eles, mas ela não era uma mulher recatada, era uma cigana que mergulhava no abismo de uma paixão sem precedentes. Seu destino estava marcado. Todos os sinais apontavam para ele como a pessoa que esperava. No entanto, apesar de suas convicções, ainda havia um ponto a ser lembrado: sua origem. Algum dos ancestrais de Logan teria sido cigano? Seria possível que ele tivesse uma mísera gota de sangue cigano?
?Anne... ?sussurrou quando notou uma certa tensão nela, ?te quero tanto... eu preciso de você... ?Suas mãos caíram, assim como seu corpo. Ele se ajoelhou e, ajudando-a, fez com que ela levantasse uma perna
primeiro e depois a outra, deixando-a em uma camisola branca tão transparente que podia admirar aquela figura feminina que adorava. ?Você é linda, meu amor ?acrescentou, colocando as grandes palmas das mãos nos quadris e aproximando o rosto daquele cabelo escuro com uma forma triangular em sua virilha, que exalava o perfume mais hipnótico do mundo.
Levou o nariz para aquele lugar desejado e respirou fundo, preenchendo-se dela, do seu ardor, do seu aroma sexual. ?Morrerei se não a possuir, se não a beber, se não puder... saboreá-la de novo.
Encantada por aquelas palavras ousadas, Anne colocou as mãos no cabelo preto de Logan, emaranhou os dedos nele e o puxou para mais perto da parte que adorava. Sua respiração se agitou quando sentiu as mãos de Logan na roupa e como a fez subir muito suavemente por seu corpo.
?Tudo isso é meu, só meu ?assegurou uma vez que a camisa estava fora de vista. Com uma ternura muito controlada, acariciava seus quadris, coxas e pernas de cima a baixo, enquanto seu nariz continuava a inspirar aquela área feminina que devoraria em breve. Lentamente, levantou a perna esquerda de Anne e colocou-a em seu ombro, se permitindo observar aquele sexo delicioso que já brilhava de desejo. ?Coloque as mãos na parede, querida, vou saciar a minha sede ?disse antes de poder acariciar as dobras voluptuosas e úmidas com a palma da mão direita.
Anne, depois de obedecer a sua ordem, o olhou extasiada e soltou
um gemido quando descobriu como ele estava lambendo a mão que tinha passado por seu sexo. Sua essência... Ele decidiu saborear todo o suco que emanava de seu desejo por ele e não desperdiçaria uma única gota.
Quando a língua substituiu a mão, fechou os olhos, abriu a boca ligeiramente para poder respirar e pregou as unhas na parede de madeira.
Louca! Sim, essa era a palavra que melhor a definia. Mas... quem permaneceria sã, enquanto sentiria como a língua de seu amado produzia tanto prazer que era incapaz de suportar?
?Está tão molhada, tão preparada para mim ?Logan apontou quando substituiu sua boca pelos dedos. ?Te quero assim, Anne, aceitando minhas carícias e respondendo com aquele fervor que me transforma em um louco ?acrescentou antes de voltar para as suas pernas.
Cravou os dentes nos lábios esponjosos, ouviu como ela gritava e sentiu o tremor daquele corpo submetido a um frenesi contínuo. Beijou-a com paixão, apreciando o perfume que emanava, em êxtase ao ouvir os murmúrios que Anne fazia enquanto lambia com ansiedade a entrada daquela vagina que se contraía e dilatava com seus ataques.
?Logan... ?disse de um jeito tão erótico, que seu sexo reagiu com tamanha intensidade que estava prestes a gozar.
Como era possível? O que ela tinha que não encontrara em outras mulheres? Nenhuma o deixara tão duro, tão excitado que, com o simples roce
em suas calças, pudesse alcançar o clímax mais arrebatador.
Desesperado, abriu mais a boca e procurou o clitóris com a língua. Quando o notou, sentindo aquela pequena proeminência roçar na ponta de sua língua, brincou com ele até perceber como o néctar de Anne banhava seus lábios, sua barba...
?Oh Logan! Sim! ?Gritou com a chegada de um orgasmo tão intenso quanto abrupto. ?Sim! ?Gritou de novo, jogando a cabeça para trás para capturar todo o ar que poderia encher seus pulmões. ?Eu te amo!
Maldito seja, eu te amo... preciso de você! ?Confessou e corrigiu presa pela alienação que o frenesi causava.
Aturdido por essa afirmação, agarrou as pernas, nas quais as pontas dos dedos ficariam marcadas para sempre, e mordeu com tanta voracidade aqueles lábios esponjosos e saborosos. «Finalmente! " Ouviu em sua mente. Sim, finalmente ouvia o que queria escutar desde a primeira noite em que esteve com ela. Só esperava que não fossem palavras provocadas pelo delírio do desejo. Precisava que ela sentisse o que ele já sentia.
Lentamente, depois de dar sua última lambida e coletar todo aquele delicioso néctar, levantou, se colocou na frente dela e a beijou. A mistura que saboreou, aquela poção mágica, levou-os a um nirvana incapaz de descrever. Anne colocou os braços ao redor de seu pescoço e se aproximou dele. Quando ela tentou se levantar, para que a levasse a algum
lugar naquele estábulo, Logan virou-a bruscamente e encostou seu rosto na parede onde ela havia pregado as unhas.
?Coloque as mãos de volta... ?ordenou enquanto levantava a camisola novamente.
?Logan... ?disse tentando ver o que ele estava fazendo atrás dela.
?Shii, relaxe meu amor ?respondeu, sua mão direita retornando ao seu sexo. Abriu suas pernas um pouco mais e, observando que ela estava encostada na parede de madeira como ele havia indicado, retirou a mão e a fez retornar, mas desta vez não foi para dar-lhe uma carícia suave, mas uma bofetada.
?Logan! ?Anne gritou quando sentiu uma estranha satisfação naquele ato áspero.
?Mais? ?Perguntou, colocando a palma da mão esquerda nas costas arqueadas.
?Sim! Por favor... por....
E ele fez isso de novo. Desta vez, quando a palma da mão tocou o sexo de Anne, não só sentiu como queimava, mas seu fluxo aumentou. Com um leve sorriso, ele a esfregou com a mão aberta e se deliciou ao ouvi-la gemer. Perfeita. Anne era seu par perfeito. Sua cigana, sua esposa, sua vida ...
Depois de vários outros tapas, as pernas de Anne tremeram tanto
que ela estava prestes a se ajoelhar, mas ele não deixou. Agarrou-a pelos quadris e segurou-a com uma mão, enquanto com a outra desabotoou rapidamente o botão de suas calças.
?Vou penetra-la ... vou fazê-la minha ... pode me ouvir?
?Apontou, colocando seu pênis duro e rígido naquela abertura quente e úmida.
?Sim! ?Gritou desesperadamente.
Logan a penetrou com força, sem cerimônia, rudemente.
Estendeu as mãos para ela até que elas se acomodaram em seus ombros e a envolveram de novo e de novo. Não foi sutil ou delicado, não queria ser.
Anne tinha que entender que seus sentimentos eram recíprocos e que ela não poderia pertencer a outro homem. Esse pensamento o deixou louco, enfureceu-o ao ponto de pressionar os dedos contra a pele macia. Não. Ela não se afastaria dele. Ela viveria ao seu lado e não olharia para ninguém porque só deveria olhar para ele.
Concentrando-se naquele ato possessivo, naquela marca que a levaria para dentro da vida, Logan voltou a penetrá-la com desespero, com ânsia. O corpo de Anne agitou com essas estocadas ásperas, suas pernas tremiam e seus joelhos ansiavam por tocar o chão. Ambos sentiam como as poucas peças de roupa que cobriam seus corpos estavam presas a eles pelo suor causado pelo delírio, pelo esforço, pela lascívia.
?Minha, Anne Moore! ?Você é minha! ?Sentenciou em sua última investida, em seu último ataque. Então, derramou sua semente dentro dela, espalhando sua essência masculina nela. Fechou os olhos e não viu escuridão, a não ser milhares de estrelas brilhantes que iluminavam tudo que um dia esteve escuro. ?Querida... ?sussurrou quando sua respiração começara a relaxar. ? Também te amo... ? Saiu dela, virou-a para ver aquele rosto apaixonado e, antes que Anne pudesse falar sobre a idiotice que ambos haviam confessado enquanto se deixavam levar pelo desejo, a beijou.
XXXI
Procurava por uma palavra que definisse seu estado de felicidade, mas não a encontrou. Nada tão simples poderia descrever o que sentia por dentro. Sua alma parou de sofrer, de se punir, de se amaldiçoar por levar o sangue cigano. Era a primeira vez que se sentia calmo e seguro de si mesmo.
Todos os pensamentos obscuros e sombrios desapareceram, causando um bem-estar sem precedentes. Olhou para Anne, que estava sentada do outro lado da mesa, e sentiu seu peito crescer com a emoção de tê-la ao seu lado.
Disse que o amava, embora tentasse corrigir rapidamente essas palavras. No entanto, sabia que elas eram verdadeiras, que não tinha sido uma consequência do ato apaixonado porque, separando seus lábios dos dela, notou em seus olhos o conflito entre o amor que professava e a agonia de não conseguir. Tinha medo. Claro que tinha! Quem apagaria de sua mente a crença de que a pessoa que amasse poderia morrer a qualquer momento por causa da maldição que sofria desde o nascimento? Mas ele não acabaria como seus dois pretendentes. Ele permaneceria ao seu lado porque era a pessoa que havia esperado: seu cigano, seu futuro marido, o homem que a amaria até que desse seu último suspiro de vida. Agora só teria que enfrentar a pior parte: não declarar quem realmente era e o aceitasse com a imagem que havia oferecido por tantos anos, porque não podia confessar a verdade. Esse estado
de bem-estar começou a se desvanecer ao pensar nisso e seu corpo ficou tenso como a corda de um violino. Deveria continuar a proteger seu segredo, não era certo revelá-lo. A tenacidade que teve por muitos anos e a luta que enfrentou com o conde de Burkes viriam à luz e as pessoas voltariam a murmurar sobre as escapadas amorosas do velho marquês de Riderland e como um de seus descendentes pagou a chantagem de um velho lorde. O que aconteceria com seus meios-irmãos? Não, não poderia falhar. Tudo devia permanecer igual. Conseguiria o amor de Anne sendo o visconde de Devon e não o filho de uma jovem cigana que morreu durante o parto.
Sem tirar os olhos dela, levou a taça de vinho até a boca e tomou um pequeno gole. Como conseguiria que ela aceitasse sua proposta de casamento? Porque perguntaria a ela. Sim, antes de partirem para Londres, Anne usaria uma linda aliança para que todos soubessem que ela era intocável, inacessível, e quem ousasse falar com ela receberia uma punição terrível.
?Não sei como Galeón se adaptará à sua nova casa ?comentou Josh, quebrando o silêncio constrangedor que os quatro mantinham durante o jantar.
?Planeja levá-lo para nossa casa? ?Perguntou Elizabeth aturdida. ?Não está ciente de que o nosso jardim é muito pequeno para ele?
?O papai poderia contratar vários trabalhadores para realizar
reformas no lado de fora... ?sugeriu sem desviar o olhar do visconde e de Anne. O que aconteceu entre eles? Por que os olhos de Logan brilharam estranhamente enquanto a observava? Por que as bochechas de sua irmã mostravam uma cor escarlate tão intensa? Eles teriam discutido novamente?
?Reformas? Que tipo de reformas? ?Eli perguntou, estreitando os olhos.
? Seria bom se começasse reduzindo a estufa. Na minha opinião, ocupa muito espaço para plantar quatro flores absurdas ?disse Josh, se concentrando na conversa com Eli.
? Nem pensar! ?Exclamou horrorizada ?Essa proposta é inviável! E elas não são espécies absurdas, mas únicas! ?Sentenciou antes de levar um pedaço de carne à boca e mastigá-lo com força.
?Pode deixar em Whespert ?Logan sugeri. ?Há espaço suficiente para ele e tem permissão para visitá-lo sempre que quiser.
?Mas como cuidarei dele em sua propriedade? ?Perguntou, arregalando os olhos. ?Não seria correto que permanecesse por tanto tempo em sua residência, nem que aparecesse regularmente. As pessoas pensariam que...
?As pessoas não pensarão nada, garanto ?disse solenemente.
?É claro que ninguém diria nada de mal se a futura viscondessa de Devon fosse sua irmã mais velha.
Essa declaração fez Anne prender a respiração e olhar fixamente para ele. Por que estava propondo esse absurdo para Josh? O que estaria tramando para não ser ciente dos rumores que isso significaria? Acrescentaria outro suculento escândalo à sua família e eles ainda não haviam se recuperado do anterior!
?Deveria deixar aqui até encontrar um lugar em Londres
?Anne interveio depois de limpar os lábios com o guardanapo.
?Certamente o papai pode alugar um estábulo onde poderá atendê-lo como quiser. Dessa forma não perturbará o visconde.
?Não será inconveniente ?Logan cortou, depositando o copo de vinho na mesa. ?Ficarei feliz que nos visite.
Nos visite. Ele tinha dito tal atrocidade na frente de suas irmãs?
Ele não entendia que suas palavras poderiam ser mal interpretadas? E, pela expressão que elas colocaram, fizeram isso.
?Mesmo que sua irmã mais nova esteja presente várias vezes por semana, essa proposta não é correta. Como Josh disse, todos falariam sobre as numerosas aparições em sua residência em Londres ?comentou com falsa tranquilidade, rezando para que desaparecesse da cabeça de suas irmãs, qualquer pergunta inoportuna.
?Não estava pensando em Nathalie, senhorita Moore ? afirmou resistente. Recostou-se na cadeira, cruzou os braços e esticou os lábios
ligeiramente para mostrar um sorriso.
?Da mesma forma, não acho apropriado que, quando os marqueses de Riderland estiverem presentes, Josh esteja livre para ir à sua residência ?disse Anne depois de engolir o nó que se formou em sua garganta.
Era estúpido? Por acaso estava dando como certo que estariam juntos como amantes? Ah, claro! Já havia concluído que iriam morar em sua casa por ter declarado palavras tão absurdas para ele. «Absurdas, mas são verdadeiras», disse a si mesma. Mas não. Não assumiria um papel tão degradante por amor. Quando retornasse a Londres, continuaria com sua ideia de ir a Paris. Lá, longe dele, poderia restabelecer sua tranquilidade e não se deixar levar por sentimentos irracionais.
?Também não fiz qualquer referência ao meu irmão e sua querida esposa ? continuou com a voz firme sem afastar seu olhar dela.
Ante uma atitude tão segura e tão endeusada, Anne queria pegar seu copo de vinho e jogá-lo nele, para ver se dessa forma deixaria de se comportar com tanta afronta. No entanto, quando estava prestes a dar outra desculpa, a porta da sala de jantar se abriu e Kilby apareceu, que, por causa da palidez de seu rosto e do modo como sua mandíbula estava cerrada, não era portador de boas notícias.
?Milorde, sinto a interrupção. Mas tem um visitante e, apesar de
ter indicado que está ocupado, insiste em falar com o senhor ?explicou o surpreso mordomo.
?Quem é? ? Logan perguntou, se levantando rapidamente.
?Lorde...
?Pelo amor de Deus! Desde quando fui formalmente apresentado ao meu amigo! ?A voz de um homem trovejou atrás das costas de Kilby. ?Saia! ?Ordenou ao criado. Quando ele permaneceu imóvel, o cavalheiro lhe deu um empurrão repentino e entrou na sala. Assim que o visitante súbito descobriu que Bennett estava hospedado com três mulheres, que se levantaram ao vê-lo, George deu um largo sorriso. ?Boa noite senhoras, me perdoem...
?Laxton! ?Logan gritou, caminhando decididamente em direção a ele. ?Como se atreve a entrar em minha casa dessa maneira e assustar minhas convidadas?
?Me desculpe querido amigo. ?Falou a palavra amigo de forma mordaz. Seu fiel mordomo não me explicou que três belas damas eram a causa pela qual não podia me atender. ?Estendeu a mão para Logan e, quando aceitou, sentiu que apertava com força. George sorriu com aquela sutil advertência, mas não se deu por vencido. Agitou a mão para se livrar dessa pressão e se dirigiu para a mesa. ?Quem são essas daminhas lindas?
?George, vamos falar sobre a questão que o trouxe aqui em meu
escritório ?disse Logan apertando a mandíbula.
?Não somos damas, milorde ?respondeu Josh, se posicionando como um soldado. ?Somos as irmãs Moore, pupilas do visconde.
?Pupilas? ? Laxton perguntou, olhando de soslaio para o amigo. ?Entendo... ?E um sorriso depravado apareceu em seu rosto, acentuando aquele rosto canalha e perverso.
?Por favor, me siga. Como disse, vamos conversar tranquilamente em meu escritório ?ordenou no mesmo tom com o qual continha uma séria briga entre seus marinheiros.
?É claro ?cedeu no final. Antes de se virar, para sair da sala, George passou os olhos pelo corpo de Anne com ousadia, um gesto que causou um rugido estranho em Logan. Então continuou para Elizabeth, que olhou para ele descarada, ousadamente e acabou contemplando a jovem que se dirigiu a ele. Uma careta de desagrado apareceu em seu rosto enquanto observava suas roupas. Era realmente uma jovem? Porque duvidava que fosse... Só precisava de um bigode grosso para lembrá-lo de seu antigo professor de latim. —Espero vê-las novamente, senhoritas Moore. Ficarei feliz em termos uma longa conversa... ?Prolongou cada palavra como se estivesse sibilando. Disse adeus com um leve aceno de cabeça e foi acompanhado por Logan. Uma vez que este fechou a porta, disse: ?Três para você? Desde quando se tornou tão egoísta?
?Não é o que pensa ?resmungou o visconde, dando longos passos em direção ao seu escritório.
Precisava sair de lá o mais rápido possível, porque não tinha dúvida de que Eli e Josh colocariam seus ouvidos atrás da porta para escutá
los e não era apropriado que descobrissem a amizade peculiar que ele e Laxton tiveram no passado.
?Não é o que penso? - Perguntou sarcástico. ?Não duvido que sejam suas pupilas, mas... as instruirá na arte do amor, como fez comigo?
Tenho que confessar que foi o melhor professor que já tive. Nenhuma das minhas amantes se queixou ...
?Feche essa maldita boca! ?Ordenou irado. ?Está falando das filhas do Dr. Moore, não de prostitutas!
?Entendo ... ?Respondeu quando fechou a porta do escritório.
Observou o visconde seguir à escrivaninha, se colocar atrás dela, como se fosse um homem de negócios honrado, abaixar as mãos e olhá-lo como se quisesse estrangulá-lo.
? A que veio?
?Acalme-se, Logan ? indicou enquanto se sentava. Desabotoou os botões de sua jaqueta cinza e cruzou as pernas no joelho. Não vai me convidar para uma bebida? O que venho lhe contar é tão importante que deveria me recompensar com um bom conhaque.
?Sirva-se
?respondeu
sem
reduzir
os
sinais
de
descontentamento expressos em seu rosto.
?Está bem... ? deu de ombros. Se levantou, caminhou lentamente até o decantador de conhaque e se serviu de uma generosa dose de bebida. Então, sem tirar um sorriso de seus lábios, voltou ao lugar.
?A que veio? ?Logan repetiu, sentindo a frustração fazê-lo perder o controle.
?Relaxe ? George ordenou, olhando-o sem piscar. Lembre-se que não sou o inimigo...
?Faz muito tempo desde que nos vimos pela última vez, então não posso confirmar ou negar suas palavras ?disse apertando sua mandíbula com tanta força que poderia desencaixá-la a qualquer momento.
?Estou aqui, certo? Bem, isso tem que responder à questão.
?Vá direto ao ponto ... ?pediu, afastando as mãos da mesa.
Como Laxton havia feito, Logan foi até a garrafa de bebida, pegou o copo maior que havia na bandeja e encheu-o até transbordar. Então levou à boca e bebeu de um só gole. Repetiu a ação antes de retornar ao seu lugar.
?Visitei meu tio hoje de manhã e tivemos uma conversa muito vigorosa ?disse em uma voz misteriosa, fixando seus olhos cor de mel no líquido âmbar. ?Dado que apareceu de uma maneira súbita e secreta,
acredita que retornou para ... desfazer o que fez durante a sua ausência.
?Voltei porque tive de fazê-lo ?Logan murmurou, sentando-se abruptamente. As irmãs Moore precisavam da minha ajuda e ofereci a elas.
?Qual delas, especialmente? ?Perguntou depois de estalar a língua enquanto saboreava o bom conhaque do amigo.
?A mais velha ... - confessou antes de terminar a bebida de um só gole. Olhou para o copo vazio e sentiu um leve tremor em sua mão. Medo.
Pela primeira vez desde aquele dia, o medo do velho Burkes aparecia novamente.
?Então Rose se tornou passado, certo? Pena! Foi a mais bela de todas ?disse tocando o queixo, observando enquanto seu camarada de noites de farra franzia a testa.
?Rose nunca me interessou como esposa ? revelou involuntariamente.
?Esposa? ?George perguntou, arregalando os olhos. ?Se apaixonou a esse ponto? ?Disse incrédulo.
?Por acaso não tenho coração? ?Contra-atacou.
?Oh sim! Claro que tem! ?Respondeu divertido. ?A única coisa que aconteceu é o submeteu a uma fria letargia durante os anos que ambos desfrutamos.
?Me listará quantas noites e quantas mulheres nós estivemos?
?Resmungou.
?Não! ?Respondeu como se estivesse horrorizado. ?Meu tio teria um derrame se quebrasse nossa promessa! ?Acrescentou nitidamente.
?Pode me dizer, de uma vez por todas, a que devo sua visita?
?Tentou especificar. Embora já estivesse com medo do que iria dizer, precisava que fosse direto ao assunto. O quanto antes ficasse ciente do problema que estava por vir, quanto antes poderia encontrar uma solução.
?Meu tio insiste em lembrá-lo do acordo.
?Não o quebrei. Fiquei longe de você desde que nos descobriu.
Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, alguém trairia sua presença em Harving, embora não pudesse apontar para ninguém com certeza. Exceto pelo dia em que foi ao administrador assinar o contrato para a transferência do Galeão, não havia deixado seus limites... estreitou os olhos e prendeu a respiração. Claro! Como não pensou naquele dia? Como não se antecipou? Porque estava tão obcecado por Anne que não percebeu esse pequeno detalhe. Elizabeth saiu em uma de suas carruagens e com Howlett.
Todo mundo conhecia seu falante e estranho ajudante! E ele tão pouco tentava passar despercebido com suas roupas tão extravagantes. Tinha que obrigá-lo a colocar um saco, áspero e sujo.
?Acredite, ainda me sinto culpado por isso. Se tivesse adivinhado o propósito daquela porcaria... ?Pela primeira vez, desde que
apareceu, George fez a expressão zombeteira desaparecer de seu rosto para transformá-la em ferocidade. Ele apertou a mandíbula e franziu a testa. Seus olhos castanhos escureceram e sua respiração ficou lenta, profunda, como se a maldade lhe causasse um perigoso estado de tranquilidade.
?Nenhum dos dois notou a inquietação da criada ou sua insistência em olhar para a porta ?tentou diminuir a relevância, no entanto, tinha mais consideração do que desejava aparentar. Naquele dia, se tornara um mísero fantoche do velho conde. Apenas sua tenacidade em negar a história àqueles que viam com repulsa a insistência em divulgá-la, o salvou.
?Se não quisesse me salvar...
?Não levante fantasmas do passado ?Logan o interrompeu.
?Me diga pelo qual apareceu, porque tenho certeza de que seu tio não o teria feito vir aqui para me lembrar do acordo. Teria enviado um de seus servos com o selo de seu honroso título no verso. Então me diga, o que propõe desta vez?
?Quis que eu entregasse isso pessoalmente ?disse tirando um envelope do bolso de sua jaqueta cinza pérola.
?O que é? ?O visconde perguntou de maneira arisca.
?É um convite. Neste sábado havia preparado uma festa íntima e, ao saber que estava em Harving, decidiu incluí-lo em sua lista de convidados honrados e respeitáveis. ?Enfatizou essa palavra sarcasticamente
para deixar claro que era uma obrigação e que não poderia rejeitá-la.
?O que quer agora?
?O que acha? ?Perguntou jogando o envelope sobre a mesa de Logan como se isso o queimasse.
?Não está à venda ?disse, se erguendo rapidamente, como se de repente se lembrasse de que deixara uma panela de água fervendo no fogo.
?Eu sei, mas aquele velho teimoso não quer morrer sem assinar esse miserável contrato de compra ?comentou com pesar.
Logan deu-lhe um olhar preocupado e incrédulo. George ainda não sabia o que realmente aconteceu quando Burkes o trancou, junto com o juiz e o padre, na biblioteca? O velho não lhe contou sobre aquela reunião miserável? Não, claro que não. George não acreditaria nele e divulgaria esse falso rumor em todos os eventos sociais que assistiria e.... o que aconteceria no final? Alguém resolveria essa fofoca de maneira fulminante: o próprio Marquês de Riderland. Mesmo assim, o que aconteceria com seus meios-irmãos? Que feridas esses malditos rumores causariam à sua querida Nathalie? Não podia pôr em risco a vida de toda a sua família por não ter reprimido certas fantasias sexuais.
?E, se ele não morrer em paz, não irá adquirir a sua ansiada herança ?falou mordaz sobre a afirmação anterior.
Logan olhou para quem fora um bom amigo da farra e concluiu
que ele ainda estava obcecado em agradar aquele conde bastardo. No entanto, as marcas que apareciam ao redor dos olhos mostravam dor, agonia e desespero. Estava esperando o momento para se livrar dele? Rezaria para que seu tio morresse antes de que completasse vinte e cinco anos? Era difícil desejar que alguém morresse, mas o conde teria merecido por praticar um ato de bondade, como receber o filho de sua irmã que, depois da morte do marido em um trágico acidente, precisara de ajuda da família. Embora o verdadeiro propósito de Burkes fosse transformar o jovem sensível, afetuoso e carinhoso num ser cruel e impiedoso. Logan pensou, inutilmente, que iria libertá-lo através do prazer, mas errou. Só esperava que um dia uma mulher devolvesse a criança que ele foi e que o fizesse esquecer todos os ensinamentos do velho ogro.
?Veja. No fundo continua lendo meus pensamentos ?disse antes de se levantar e terminar a reunião. Seu tio permitiu que viesse Harving para lhe dar o convite e foi isso o que fez. Agora teria que voltar se não quisesse sentir a fúria nas suas costas.
?Harving não está à venda nem antes, nem agora, nem no futuro
?disse solenemente. ?Pretendo transformá-la em minha segunda moradia.
?De verdade? ?A resposta o surpreendeu tanto que ele refez seus passos.
?Sim ? disse Logan com confiança.
?Bem, assim sendo, não terá escolha senão se apresentar com ela ...
?De jeito nenhum! Seu tio não se aproximará de Anne!
?Berrou, apertando as mãos com tanta força que sentiu as unhas cravarem na palma da mão.
?Porque não? Não quer se livrar dele de uma vez por todas?
Além disso, sabe que, à medida que as descubra, fará todo o possível para destruí-las. O que acontecerá com as respeitáveis e honradas filhas do Dr.
Moore quando todos falarem sobre o que possivelmente fez nessa residência?
Haverá um tal escândalo que terá que vender Harving por muito menos do que custa.
?Exige que eu participe, mesmo que não queira? ?Retrucou dando um passo em direção a ele.
?Exijo que se comporte de maneira sensata. Se realmente sonhou em alcançar um futuro decente, deve se concentrar no que é mais importante ?disse apontando com um dedo inquisidor.
?Que é ... ? murmurou.
?Se aparecer na festa com elas e espalhar a notícia de que Harving House se tornará sua segunda casa, meu tio não terá escolha senão assumir sua derrota ? disse sem hesitar.
?Por que envolveria as irmãs Moore nisso? É algo que devo
resolver de uma vez por todas com aquele bastardo. Então posso me apresentar amanhã em sua residência e ...
?Não se casará com uma delas? Bem, a coisa certa seria acompanhá-lo para testemunhar suas palavras.
?Não quero que Anne descubra o que fizemos e sei que seu tio ficará feliz em explicar o que aconteceu naquele dia ?resmungou.
?Não sabe nada? ?George não acreditou.
?Não! ?Disse desesperado. E não quero que descubra!
?Não ouviu nada sobre sua vida de libertinagem? ?Perguntou.
?Ela não é surda... ?bufou. ?E sua irmã é muito próxima da minha. Assim que…
?Então não ficará surpresa. Que libertino que se preze não teria uma orgia com seu melhor amigo?
?Não sei se ela gostaria de ouvir sobre esse tipo de ato sexual.
?Refletiu voltando para a mesa. Pegou o copo e, depois de observá-lo por alguns segundos, deixou-o sobre a mesa novamente. Foi até o aparador, virou a chave e abriu as portas de madeira que escondiam várias garrafas de conhaque. Tirou duas, colocou-as na mobília e, depois de desarrolhar a primeira, voltou ao seu lugar.
?Sabe? Desde o começo soube que seu romance com Rose não terminaria em um casamento ?George apontou antes de pegar a outra
garrafa e imitar Logan.
?De verdade? ?Logan perguntou estreitando os olhos.
Entornou a garrafa de licor e tomou um longo gole. ?E quando concluiu algo tão solene?
?Imaginei quando a compartilhamos pela primeira vez
?comentou com calma, com o tom de camaradagem que sempre tiveram até aquele maldito dia. ?Se tivesse um mísero sentimento de posse em relação a ela, não teria permanecido sentado naquela cadeira enquanto Rose gritava meu nome ao possuí-la. Certamente agora não poderia compartilhar sua futura esposa com ninguém, estou errado?
Essa pergunta nublou sua mente. Compartilhar Anne? Morreria antes de ver como outro homem a tocaria! Mas... e se ela fugisse quando descobrisse as perversões que fez com suas amantes? Poderia deixar claro que sempre foram mimadas e que não estava mais disposto a fazer isso. No entanto, para chegar a esse ponto teria que contar a ela sobre suas origens, seu sangue cigano, o que aconteceu com o conde, a vida de seus meios-irmãos, a chantagem, o pagamento que fez ao bastardo Burkes para manter seus lábios selados... O que Anne faria depois de ouvi-lo?
?Diga-me, Logan, compartilharia sua esposa? ?George repetiu depois de beber seu conhaque.
?Não. ? Disse antes de esvaziar mais de um terço da garrafa
em um gole.
XXXII
Não saiu do escritório pelo resto da noite, apesar do fato do cavalheiro ter abandonado Harving House uma hora depois de sua entrada apressada. Quando a porta da sala de jantar se abriu, as três se viraram para ela, esperando pela presença de Logan, mas Kilby apareceu em seu lugar. Ele desculpou a ausência do visconde alegando que tinha alguns assuntos muito importantes para resolver. Mas Anne sabia que estava mentindo. Aquele homem o alterara, era necessário apenas recordar do rosto zangado que exibiu ao vê-lo para confirmar essa suposição. Quem era esse indivíduo? Por que Logan mostrou uma tensão amarga quando invadiu a sala de jantar? Anne andava de um lado para o outro em seu quarto, esfregando as mãos. Seus pelos arrepiaram novamente, avisando-a de que algo ruim estava prestes a acontecer. Mas... o que seria? Como poderia lutar contra o que não conhecia ou não entendia?
Caminhou até o pé da cama e se sentou pela décima quinta vez.
Era correto confiar no que seu coração ditava? Devia descer e conversar com ele? Sua presença o ajudaria a superar o que o incomodava? Uma amante poderia exercer esse papel? Não. Esse seria o trabalho de uma esposa... essa reflexão fez com que levasse as mãos ao rosto e o esfregasse de angústia.
Odiava essa ideia. Irritou-a pensar que um dia Logan teria que se casar e que
tudo que viveram desapareceria como fumaça. Seria correto ser levada pelos sinais enviados a ela por sua mãe criadora? Os sonhos, que cessaram quando chegou a Harving House, Astennu, que era o mesmo corvo que aparecia em todas as suas visões. Só precisava ouvir a música que aparecia enquanto caminhava por aquela floresta e que Logan confirmasse que um antepassado dele era cigano. Mas... qual era a possibilidade de que tudo o que precisava acontecesse para que não duvidasse que era o seu homem?
Um barulho atrás da porta a fez levantar rapidamente. Seu coração batia desesperado e seu pulso acelerou quando imaginou que era Logan. Ouvindo apenas a respiração agitada, permaneceu de pé e olhando em direção à entrada, até que, após algum tempo, deduziu com tristeza que não a visitaria. Não pretendia se apresentar? Havia decidido afastá-la do seu lado?
Teria reconsiderado seu relacionamento após a aparição daquele homem? Por que? Quem era ele?
Uma enorme tristeza tomou conta dela e seu coração ficou oprimido. Por que a confusão lhe causava tanta dor? Não havia deixado claro a ele que tudo acabaria quando ela fosse embora? Não ficou com raiva de ouvi-lo dizer nos visitar? Sim, ficou furiosa ao ouvi-lo expressar essas duas palavras na frente de suas irmãs, mas também estava cheia de alegria. O fato de que Logan achava que o relacionamento continuaria assim que ela deixasse Harving a entusiasmou, no entanto, deveria ser consciente que seus
pais não aceitariam que se tornasse a amante do visconde. Eles a matariam!
Sim, apesar de terem declarado que em breve estaria livre para fazer o que quisesse, nunca admitiriam tal humilhação para a família. Eles a obrigariam a se casar com ele e, por mais agradável que fosse a ideia, não poderia aceitá
lo, porque essa decisão o mataria.
Ela colocou as mãos no peito e agarrou a camisola com amargura, enquanto as lágrimas molhavam seu rosto. Estava apaixonada e esse estado de amor a fez querer algo que nunca alcançaria. Sua posição não poderia mudar. Se realmente queria estar ao seu lado, teria que se contentar em tomar um lugar de uma concubina e rezar para que ele não a substituísse por outra antes do final do ano.
Olhou de soslaio para a cama, na qual eles tinham feito amor durante as noites passadas, e suspirou. Seria capaz de dormir sem ele?
Poderia fechar os olhos sem descobrir o que estava acontecendo com ele?
Não. Claro que não! Apesar de estar ciente de que, entre eles, não haveria possibilidade de nada, a não ser um idílio temporário, ela não podia deitar naquele colchão confortável sem se importar com o motivo pelo qual ele havia se escondido. Se o visconde tinha um problema, tentaria ajudá-lo, mesmo que fosse apenas uma mísera amante.
Confiante no que ia fazer, levou a mão até parte de trás da cadeira, onde estava seu robe de seda preta, vestiu-o e caminhou com
determinação para a saída.
Tudo estava em silêncio e a escuridão a ajudou a permanecer protegida. Se agarrou ao corrimão da escada e desceu os degraus com tal cautela que nem um único degrau de madeira rangeu. Assim que chegou ao hall, olhou para as grandes janelas e, através das finas cortinas, observou o movimento das copas das árvores. Elas se mexiam como em seus sonhos....
Perplexa, ela olhou para longe das janelas, virou para o lado direito e continuou sua caminhada até que parou em frente à porta do escritório. Ainda estava fechado, como se tentasse obstruir a passagem de outra visita indesejada. Mas ela não era qualquer pessoa... muito lentamente, notando a batida de seu coração na garganta, alcançou a maçaneta e a girou. Se tivesse rangido a porta, ele a teria descoberto, mas os criados do visconde eram tão eficientes que engraxavam as dobradiças com assiduidade. Por essa razão, pôde entrar sem ser ouvida.
A única luz dentro era produzida pelas chamas do fogo na lareira.
Mal notou a decoração daquele escritório. A única coisa que viu claramente foi o grande tapete que estava ao lado do fogo e ele... Logan estava sentado em uma cadeira, com os cotovelos apoiados sobre a mesa e olhando para o que estava sobre ela. Havia tirado o paletó daquele terno azul avermelhado que ele usara tão imponente durante o jantar. As pontas da camisa preta, levantadas para ambos os lados, indicavam que ele não estava usando a
gravata e seu cabelo oferecia uma imagem descuidada. Fios negros e despenteados escondiam aquele rosto másculo que tanto adorava. Virou-se lentamente em direção à porta e fechou-a sem emitir nenhum som. Embora tenha originado o suficiente para ele levantar o rosto e descobri-la.
—O que faz aqui?
O tom duro que usou para falar com ela a fez pensar que havia cometido um erro. No entanto, seus olhos expressaram o contrário: declaravam tanta satisfação e bem-estar que reforçou sua decisão.
—Não consegui dormir -- ela disse enquanto caminhava até ele.
Ficou parada em frente à mesa e observou tudo o que havia nela.
Desordem. Só encontrou um grande caos. Uma multidão de folhas espalhadas na superfície e também vislumbrou que mais de uma estava manchada de licor. Olhou de relance para a garrafa ao lado dele e franziu a testa ao vê-la praticamente vazia. Ele tinha ficado bêbado? Foi por isso que não apareceu em seu quarto? E por que abusava do álcool se durante os dias em que estiveram em Harving House ele mal tinha tomado dois drinques fora das refeições?
—Poderia ter pedido a Sra. Donner para fazer uma daquelas infusões calmantes que ela mantém na cozinha. Certamente isso a teria mantido deitada no colchão até o amanhecer -- disse ele, arrastando as palavras.
—Está bêbado! -- Ela disse cruzando os braços. -- Por quê?
—Por que bebi mais do que posso suportar? —Ele estalou mordaz. —Caso não saiba, meu amor, quando se ingere tanto licor, o....
Logan de repente ficou em silêncio quando ela descruzou os braços e, sem tirar os olhos dele, estendeu a mão direita para a garrafa.
Colocou a boca da garrafa sobre seu lábio inferior e deu um pequeno trago.
—Eu também posso participar desse jogo -- ela argumentou antes de sua garganta queimar pela ingestão daquela bebida a qual não estava acostumada a beber. Segurando as lágrimas que causaram aquele ardor e a repentina tosse, o observou sem piscar enquanto permitia que várias gotas de bebida deslizassem por sua boca, pelo queixo, até baterem em seu peito. --
Tem que me dizer onde guarda mais, porque vou precisar de outra assim para poder alcançá-lo. Bebeu até que não havia mais nada dentro e depois colocou de volta em seu lugar.
O queixo de Logan caiu enquanto ele observava o licor escorrer por sua pele até que, maravilhosamente, terminou no decote do roupão de Anne. Ele queria se levantar, lançar-se sobre ela e percorrer com a língua o longo caminho por onde passavam essas abençoadas gotas de conhaque. Mas, apesar de sua embriaguez, ainda estava ciente de que seu estado lastimável só lhe causaria problemas. Uma vez que ele a beijasse, iria querer mais e isso provocaria uma explosão de emoções que o transformariam em um ser
malvado. Então, antes de fazerem amor, teria que ter certeza de sua decisão de ser honesto com ela. Precisava contar sobre seu passado, o que planejava fazer em um futuro próximo, e se o destino fosse gentil com ele, Anne não iria embora.
—Vai me dizer de uma vez por todas onde posso encontrar uma maldita garrafa? -- Ela retrucou, apreciando sua passividade.
O que diabos aconteceu com ele? Seu visconde, aquele que conhecera até a chegada daquele homem, teria se levantado, a tomado em seus braços e, depois de derrubar tudo sobre a mesa, teria feito amor com ela com tanta paixão que seus corpos teriam fundido. Esse pensamento, e as imagens que apareceram em sua mente, endureceram seus mamilos e a excitaram tanto que ela abriu a boca, inconscientemente, para ofegar.
—Lá! –Ele respondeu com a voz embargada, apontando para o decantador que havia sobre o móvel.
Estava preocupado. Não tinha dúvida sobre isso. Essa visita inesperada o perturbou. O que aconteceu durante a hora em que eles conversaram? Ela olhou para Logan e considerou se seria conveniente perguntar sobre o assunto que o incomodava. Talvez estivesse se precipitando, talvez só precisasse de um pouco de solidão para enfrentar o que aconteceu. No entanto, assim que começou a duvidar de sua performance, centenas de imagens dele passaram por sua cabeça: o dia da
festa, quando ele levantou seu copo e ergueu a sobrancelha esquerda silenciosamente perguntando por que estava olhando para ele, o dia que apareceu com Lorde Giesler em sua casa, seu desmaio, a conversa que tiveram enquanto Mary se distanciava deles graças ao presente. No momento em que ele conversou com Madeleine através da cortina, seu comportamento paternal com Josh, o beijo que ele lhe deu quando a descobriu em frente à porta daquele quarto imundo na pousada, no momento em que apareceu em seu quarto e disse para que trancasse se não quisesse que a visitasse novamente. A reunião no jardim, as noites abraçados em seu quarto, ouvindo como respirava em sua cabeça, notando a paz e tranquilidade que sentia ao seu lado.... É claro que tinha que descobrir o que na terra havia acontecido com ele! Como ela poderia abandonar o homem por quem estava loucamente apaixonada? Nunca! Ela lutaria com unhas e dentes para trazer de volta aquele homem intrépido que ousava beijá-la, tocá-la e amá-la onde quisesse.
Que Deus tenha pena dela e de toda a sua família! Porque lutaria por ele...
Com os olhos do visconde fixos nela, levou as mãos até o laço do roupão, desamarrou-o e, enquanto seguia para aquela área do escritório, balançou levemente os ombros até que o roupão deslizou pelos braços tão suavemente que sentiu seus pelos arrepiarem em resposta àquela delicada carícia. Se essa atitude sensual não fizesse Logan pular da poltrona, nada
conseguiria.
—Então... sua embriaguez causou... -- começou a dizer em uma voz tão extremamente erótica, que suas mãos tremeram.
Teve que respirar fundo para poder se concentrar em encher um dos copos na bandeja de prata e não derramar pelo tremor. Antes de se virar e encará-lo, bebeu aquela quantidade generosa de licor e serviu-se de outra.
Acabaria mais bêbada que Logan, mas não se importava como terminaria aquela noite. A única coisa que importava era como ele terminaria.
—Está me provocando? -- Logan perguntou à suas costas.
Nem mil barris de brandy o teriam derrubado depois de observar a silhueta do corpo de Anne através daquela camisola transparente!
Quando ela deixou cair o roupão no chão, mexeu os quadris com o ritmo sensual de seus passos, as pontas dos cabelos escuros roçando os quadris eroticamente e a luz das chamas perfurando a camisola, mostrando-lhe uma figura sedutora e erótica. Naquele momento, seu sexo reagiu rapidamente e seu coração ficou paralisado. Ela era puro magnetismo, desejo, luxúria e.... amor. A parte racional de seu cérebro, aquela que constantemente o lembrava do problema que ele tinha que enfrentar, desapareceu e todo o álcool que atravessou suas veias evaporou quando sua temperatura aumentou.
Anne o queimava, transformava-o em um imenso fogo. Poderia um homem morrer querendo tanto uma mulher? Porque ele estava disposto a morrer se
ela não matasse sua sede.
Anne sorriu ao ouvi-lo atrás dela. Sua respiração já indicava que ele estava excitado. Mas confirmou quando ele bateu o quadril em suas nádegas. Esse era o seu homem... sempre disposto a lhe dar prazer e ficar totalmente ereto por ela. Pelo menos já havia eliminado de seus pensamentos a angústia terrível de que não a queria. Agora tinha que descobrir por que a presença do homem o perturbara tanto.
—Eu gostaria de saber... - disse ela depois de colocar o copo no aparador, estendeu as mãos até encontrar as de Logan. Ele entrelaçou os dedos com os dela e os ergueu até os seios. Uma vez que as fortes palmas masculinas os rodearam, as pressionou como de costume. Naquele momento, seu quadril ganhou vida própria e chegou perigosamente perto dele e sua boca ofegou de prazer.
—Não é uma história agradável... -- Logan murmurou trazendo os lábios para o ombro direito de Anne. Abriu a boca, esticou a língua e lambeu a área da pele como se estivesse saboreando um sorvete, embora dessa vez não sentisse frio, mas calor, muito calor.
—Se fosse agradável... Não teria se trancado neste lugar... certo?
-- Ela sibilou quando colocou as mãos nas pernas hercúleas e acariciou-as até que tremessem.
—Anne... -- ele disse em um tom abafado, como se um nó na
garganta o impedisse de falar.
—Logan... -- ela respondeu, colocando a mão direita no grosso volume que se escondia debaixo das calças. ?Está tão excitado por mim...
Se essas palavras a deixavam louca quando as escutava, esperava que tivessem o mesmo efeito em Logan.
—Sim... -- ele respondeu trazendo a pélvis para mais perto daquela mão impertinente para que não parasse de tocá-lo. -- Sabe que não posso resistir a você... -- ele confessou antes de colocar os lábios no pescoço dela e beijá-la sem parar.
—Pedi para que fizesse isso? -- Ela perguntou, virando-se.
Quando viu a tristeza naqueles belos olhos azuis, ficou sem fôlego. O que aconteceu para fazer Logan se sentir tão vulnerável?
—Mesmo se me pedisse... não poderia fazer isso -- ele respondeu antes de agredir sua boca.
Como se estivessem prestes a morrer de fome e a única coisa que poderia salvá-los da morte era se devorar, Logan invadiu, subjugou e se apoderou da boca de Anne enquanto ela respondia com a mesma necessidade e paixão. As mãos do visconde descansaram em suas nádegas e a puxaram para mais perto, deixando-a presa das coxas ao peito. Ambos os corpos se misturavam como se fossem duas essências perfeitas dentro de uma sala sem saídas.
As mãos de Anne, colocadas primeiro no pescoço de Logan, lentamente traçaram as costas largas, continuaram abaixo do peito, desabotoaram os botões daquela camisa, acariciaram-no com as palmas das mãos abertas e, quando ela ficou satisfeita em tocá-lo, desceu lentamente até a cintura das calças.
—Quero libertar você de tudo o que prejudica seu coração --
disse antes de beijar a área do peito dele que o protegia. -- Quero arrebatá-lo para que nada possa feri-lo, jamais...
—É seu... -- Logan engasgou quando sentiu os lábios em seu mamilo esquerdo.
—Tem certeza? -- Ela retrucou. Percebendo como ele afirmava com um leve aceno de cabeça, se afastou o suficiente para ver se estava mentindo. Quando confirmou a veracidade de suas palavras, enfiou a mão na calça e acariciou seu sexo duro e úmido com as pontas dos dedos.
—Sim... -- ele sussurrou, fechando os olhos para se deixar levar pela sensação de prazer causada pelo toque daqueles delicados dedos. —Te pertence…
Então, apenas quando o teve em um estado de frenesi, se afastou dele, como se estivesse possuída por um espírito diabólico. Ela se esquivou de sua figura corpulenta e se afastou por tempo suficiente para observar sua reação. Claro, o rosto de Logan mostrava uma mistura de perplexidade e
medo.
—Se esse coração realmente me pertence, preciso que seja honesto e me diga por que diabos se trancou neste lugar por mais de quatro horas. Tempo que, a julgar pelo cheiro que tem e pela quantidade de bebida que descobri na garrafa, passou bebendo -- ela disse como se fosse uma esposa furiosa por ter esperado a chegada de seu amado marido em frente à entrada da sua casa, enquanto um dilúvio caia.
—Prometo que contarei tudo depois de fazermos amor. Agora sou incapaz de pensar em outra coisa senão possuí-la... -- ele disse enquanto empurrava sua camisa para longe com um único puxão. Então fez o mesmo com o botão da calça, baixou-os até os pés. Com um solavanco rápido, tirou os sapatos, tirou todas as roupas e ficou completamente nu para ela. -- Não sente pena do seu amante insano? Olha como me colocou...
—Acalmarei a sua necessidade quando aplacar a minha -- disse ela solenemente, para que ele não tivesse dúvidas de que não estava blefando.
Estava disposta a descobrir o que estava errado e não pararia até conseguir.
—O que quer saber? -- Ele perguntou, desistindo.
—Quem era esse homem?
—Lorde Laxton.
—O que ele queria de você?
—Veio me informar que seu tio, o conde de Burkes, continua
com a ideia de comprar Harving House. -- Ele estava prestes a abaixar a cabeça quando percebeu que Anne estava se movendo. Rapidamente, fixou os olhos nela e eles arregalaram quando viu o que estava fazendo depois de sua resposta. —Vamos brincar disso, querida?
—Sim -- ela disse, acariciando seus seios por cima da camisola.
Não gosta da ideia de ser recompensado cada vez que responder minhas perguntas? -- Acrescentou naquele tom erótico que adotara desde que entrara.
—Acho isso... agradável -- ele respondeu com um longo suspiro.
—Pergunte o que deseja -- acrescentou colocando sua mão direita em seu sexo.
—Por que quer comprá-la? —Perguntou Anne, ainda se tocando.
Devia levá-lo a um estado de agitação tão intenso que não pudesse mentir para ela. Precisava descobrir a verdade e encarar isso juntos, como se fossem casados.
—Porque quer ampliar seu patrimônio -- ele respondeu. Mas vendo que essa declaração não pareceu correta, porque Anne parou de se tocar, ele acrescentou: -- Ele quer que a venda em troca de manter um segredo.
—Um segredo? -- Ela exclamou surpresa.
—Sim -- ele disse com um halo de tristeza.
—Que segredo? —Ela perguntou. Quando viu que a mão de Logan se afastou de seu sexo e agora se esticava em direção ao chão, continuou com seu jogo. Andou para trás até que suas nádegas tocaram a mesa, se inclinou sobre ela, levantou a camisola até que revelasse sua virilha e abriu as pernas ligeiramente. -- Que mais?
—Laxton e eu nos conhecemos há cinco anos. Depois de ser apresentado e falar sobre sua vida, fiquei com pena dele -- continuou ele, incapaz de tirar os olhos daquela flor sexual que, a julgar pela forma como brilhava, estava molhada.
—Aham -- E o recompensou novamente. Sua mão direita foi colocada em seu sexo e acariciou até que surgiram sons sedutores que expressavam com audácia a excitação que ela sentia quando se tocava.
—George e eu temos uma amizade... especial. -- Ele falou hesitante, sufocado pela imagem de Anne. Aquela figura erótica só reafirmava que ela era a mulher mais maravilhosa que ele já tinha visto em sua vida. No entanto... ela poderia suportar a verdade? O que pensaria dele quando revelasse aquele passado sombrio?
—O que quer dizer com amizade especial? -- Anne perguntou, introduzindo um de seus dedos. Percebendo essa pressão, ela suspirou, olhou para ele descaradamente e acariciou seus lábios com a língua. Deveria se sentir como uma rameira, mas não era assim. O que sentia era um imenso
poder sobre Logan. Um que libertaria o homem que amava daquela prisão em que ele se forçou a ficar.
—Laxton se tornou meu parceiro em... perversões. -- Ele suspirou profundamente. Estava tão hipnotizado por seus suspiros que era capaz de gozar apenas olhando para ela. —Já conhece a fama de libertino que carrego nas costas...
—Real ou inventada?
—Real -- ele disse, olhando para ela com tanto pesar que o coração de Anne se partiu em mil pedaços.
Por que se lamentava do que fez no passado? Acaso agia assim para se proteger de alguma ferida? Um coração partido, talvez?
—E? -- Ela insistiu, tirando aquele dedo invasor para espalhar sobre os lábios voluptuosos o fluxo que emanava ao se excitar.
—O que quer que eu explique? -- Ele gritou enquanto acariciava seu cabelo desesperadamente.
—A verdade! Quero a verdade! -- Anne respondeu, afastando as mãos de seu corpo. -- Cruzou os braços e olhou para ele sem piscar. Teria que insistir. Estava prestes a alcançar seu objetivo e, apesar de deduzir que não gostaria do que ouviria, suportaria isso por ele.
—A verdade? -- Ele retrucou, erguendo as sobrancelhas. Um sorriso sombrio apareceu em seus lábios e seus olhos escureceram.
—Sim— ela garantiu com firmeza.
Anne não estava mais na frente de um amante terno e amoroso, mas na presença de um fantasma. O que teria acontecido no passado para que o transformasse em um ser sem alma?
—Bem, a verdade não é outra a não ser que compartilhamos mulheres -- ele revelou, estreitando os olhos e seu riso mudou de sombrio para trêmulo.
-- Suas amantes? -- Perguntou, soltando a camisola aos seus pés dela.
—Sim -- ele disse categoricamente.
—Obrigou-as a fazê-lo? -- Perguntou Anne, segurando as mãos na boca. -- Mandou que elas fizessem isso?
—Nunca! —Afirmou Logan rapidamente. —Elas estavam mais do que dispostas a serem compartilhadas com outros homens. Garanto que elas sonhavam em deitar com vários amantes de uma só vez.
—Então? Se nenhuma delas reclamou quando as compartilhou, o que o angustia? O conde quer revelar seu segredo? É por isso que diz que ele o chantageia? -- Ela insistiu com angústia. Conhecia essa dupla moralidade aristocrática. Todo mundo falava sobre isso, e embora esse tipo de relacionamento fosse um rumor suculento, não tinha dúvida de que Logan não seria o primeiro aristocrata a praticar esse tipo de imoralidade.
—George e eu cometemos um erro grave -- explicou Logan.
Ele se virou e caminhou até à lareira. A luz daquelas chamas iluminava seu corpo. Seu pelo áspero encaracolado, que desenhava uma linda e sedutora linha do peito até a pélvis, a largura dos ombros, as pernas grandes e fortes, os músculos ásperos dos braços e do sexo, ainda rígido de excitação, se apresentavam diante dela com vontade absoluta. Logan despiu seu corpo, agora estava faltando que também despisse sua alma.
—Qual? —Ela quis saber. Embora seu jogo estabelecesse certa distância, Anne não podia ficar longe dele. Com um passo muito lento, ela se aproximou de Logan até que seu nariz pudesse inspirar aquela fragrância masculina que a surpreendia. Muito lentamente, colocou as mãos em suas costas e acariciou com as pontas dos dedos. -- Qual foi o seu erro, Logan?
—Incluir uma serva do conde nas nossas perversões. -- Ele inclinou a cabeça para trás, fechou os olhos e prendeu a respiração quando sentiu o toque suave das pontas do dedo em sua pele.
—O que aconteceu? —Ela acrescentou a boca àquelas carícias suaves.
Seus lábios beijavam lentamente diferentes lugares das costas fortes, criando sons sugestivos que, por um momento, fizeram Logan permanecer em silêncio para apreciá-los.
—O conde sempre foi um homem muito rigoroso. Desde que sua
esposa morreu, nenhuma mulher tomou o seu lugar. Ele adotou uma moralidade religiosa tão severa e rigorosa que não era capaz de consentir em certas liberdades. Logicamente, desde que ele acolheu George sob sua proteção, tentou educá-lo sob essa ética severa. Então rapidamente descobriu que seu sobrinho e a criada tinham um idílio. Furioso, irritado por não ter doutrinado bem o sobrinho, o conde concebeu um plano para submetê-lo, à força, aos seus desejos. Mas seu propósito magnífico se mostrou mais frutífero do que ele esperava... -- Logan apertou os lábios com tanta força que eles empalideceram. Ergueu seu corpo, totalmente tenso, como um homem que espera com honra a chegada da morte. No entanto, o fato de que Anne continuou a beijá-lo com tanta devoção o fez relaxar a ponto de se tornar uma poça de gelo derretido. Ele engoliu em seco, fixou os olhos no fogo e continuou:—Até aquele dia, ele me inundou com um número infinito de propostas de compra suculentas, mas as rejeitei porque nunca quis me livrar dessa casa. Já lhe disse no celeiro que a reconstruí com minhas próprias mãos e tudo o que encontrou dentro consegui através de um grande esforço.
-- As palmas de Anne se subiam e desciam sem descanso e sentiu que aqueles movimentos leves continuavam a aplacar sua inquietação. Como ela poderia estar ao seu lado ouvindo tal atrocidade? Por que não o deixava sozinho com seu sofrimento? Talvez houvesse uma pequena possibilidade de estarem juntos... —No mesmo dia em que concluí a restauração, George
apareceu enfurecido. Seu tio o castigara novamente por ter quebrado uma de suas muitas regras. Nada poderia tranquilizá-lo, nem mesmo as duas garrafas de conhaque que ele engoliu enquanto me contava a humilhação e a dor que sentiu quando o chicoteava na frente dos criados. Então ele confessou que Burkes havia deixado sua casa para compartilhar mais uma noite de moralidade com o juiz Clarke e o pároco Madden. Então tive a brilhante ideia de perguntar se a donzela estaria disposta a nos oferecer uma noite divertida.
A emoção que George mostrou em seu rosto corroborou minha decisão.
Laxton costumava fugir de todos os seus problemas e preocupações depois de uma sessão de sexo tórrido e juro que ele precisava daquela noite...
—E...? Fez isso?
O tom de voz de Anne não expressava ódio, nem nojo, nem mesmo um ligeiro sentimento de ódio. O que transmitiu em sua pergunta foi tristeza. O mesmo que uma mãe mostraria por descobrir que seus filhos fizeram um mal que causaria um problema sério. Essa atitude fez Logan mais forte e ele abandonou toda a tristeza que sua revelação sombria lhe causava.
Talvez houvesse uma possibilidade de que ela perdoasse tudo o que fez no passado, mas... poderia suportar toda a verdade?
—Sim, nós fizemos, e nós dois caímos na armadilha que o conde planejou -- ele disse asperamente. -- No meio da orgia, no momento em que ambos estávamos possuindo a mulher, a porta da sala se abriu e três pares de
olhos nos observaram: o conde, o juiz e o pastor.
—Meu Deus! —Exclamou Anne horrorizada.
—Sim, foi o que o pároco gritou quando descobriu o que estávamos fazendo ali dentro -- ele disse sarcasticamente.
—O que aconteceu depois? -- Ela estava interessada, agarrada a sua cintura forte com mais ímpeto. Tentando mostrar naquele ato de afeto que, apesar de tudo, continuaria a apoiá-lo.
—Burkes ordenou ao sobrinho que se retirasse para seu quarto e me obrigou a ter uma reunião com as outras testemunhas. Quando me vesti e entrei na biblioteca, custodiado por seu mordomo, ele começou a me insultar e me culpar pela imoralidade de George. Colocou o juiz e o pároco contra mim, embora não tivesse que fazer muito para isso também. Eles já haviam me condenado à morte desde que viram nós três na sala. Então, depois de ouvir todas as acusações, tentei me defender... -- Ele suspirou novamente e fixou os olhos no fogo. -- Não pude expor nada do que pensava no caminho para aquela maldita sala. O pároco Madden trouxe a vida libertina de meu pai e os rumores sobre a descendência que ele gerou. O juiz Clarke se juntou a essas acusações. Apontou o dedo para mim e me avisou que perguntaria sobre minha verdadeira origem, porque, como havia ouvido de um juiz de Londres, o falecido marquês de Riderland e a falecida marquesa assinaram minha certidão de nascimento quinze anos depois de eu nascer. O pároco
também acrescentou sua versão daquela estranha negligência, segundo a qual a marquesa nunca pronunciou meu nome quando aparecia em sua paróquia para confessar seus pecados. Parece que o único nome que saia de sua boca era o de Charles, o filho que morreu bravamente para salvar algumas crianças pobres de uma casa queimada pelo fogo.
—Me lembro dessa notícia... -- Anne sussurrou, descansando uma bochecha em suas costas largas. -- Minha mãe não parou de falar sobre o que aconteceu e exaltou o heroísmo de seu irmão.
—Meu irmão? -- Retrucou Logan se afastando dela. —Esse não era meu irmão!
—Logan... -- ela sussurrou, olhando para ele com tanta tristeza e pena que seu coração afundou.
—Não, não era! -- Ele assegurou sem rodeios —Sabe quem realmente era esse filho do demônio? Um louco! Um perturbado! Foi ele quem causou o fogo! Ele queria ver todos os filhos ilegítimos de seu pai queimados no fogo! E entre aqueles bastardos estava eu... -- ele confessou antes de abaixar os olhos e fixá-lo no chão.
—O que?! -- Ela perguntou, arregalando os olhos. Levou as mãos trêmulas ao peito para aplacar a batida rápida de seu coração. Suas pernas começaram a perder força e tudo ao seu redor começou a se mover.
Estava tonta e sufocada, porque também não podia respirar. Logan era um
filho ilegítimo do Marquês? Impossível!
—Que eu sou uma desova, Anne. Sou uma criança indesejada...
-- ele disse com firmeza. -- Nunca ouviu as histórias descaradas do meu pai? -- Ela negou com a cabeça enquanto andava para trás. Quando sentiu nas solas dos pés a maciez do carpete colocado em frente à lareira, flexionou os joelhos até que sentar no carpete. —Pois o muito condenado sujeitava todas as mulheres que ele desejava a seu prazer. No meu caso, teve a terrível audácia de aceitar a proposta que os pais da minha mãe de verdade ofereceram para que pudessem ficar em uma de suas terras, ricas para cultivo e para caçar. Sabe quem mantém uma vida nômade? Pode ter uma ideia de quem minha mãe poderia ser?
Ao ouvir essas perguntas, Anne abaixou a cabeça e se abraçou com força. O que ouvia não podia ser verdade. Logan estava mentindo!
Mas... com que propósito? Para tê-la? Por quê? Ele não perdia mais do que ela, revelando esse fato? Muito lentamente, ela ergueu o queixo e quando viu o rosto de Logan, ficou sem fôlego. Não encontrou nada que indicasse que estava mentindo. A expressão daquele olhar triste e agonizante declarava que ele estava dizendo a verdade. Ele não queria despir sua alma? Bem, aí estava.
O homem que ela amava confessava seu passado. Um que ela nunca teria imaginado, mas com o qual sonhou mais de uma vez. Agora a última peça daquele quebra-cabeça incompleto estava em sua mão, faltava apenas que ela
pudesse encaixá-la com as outras.
—Vejo que não quer me responder... sente tanta repulsa por confessar que sou filho de uma cigana? Só ama o visconde? -- Ele disse com um grunhido áspero.
—Realmente acha que posso sentir repugnância conhecendo sua verdadeira origem? Eu? -- Gritou fora de si. -- Esqueceu o sangue que corre nas minhas veias? -- Se aventurou a atacá-lo, levantando-se com tamanha bravura que seus tendões doíam.
—Sinto muito, não estou falando corretamente -- murmurou inclinando a cabeça para o chão, mostrando tanta submissão que Anne queria tirá-lo desse estado de desânimo com uma grande bofetada.
—Não sou aquele que negou suas origens! Não sou aquele que mentiu!
—Eu... eu não queria fazê-lo -- ele disse finalmente levantando o rosto até que seus olhares se encontraram. -- Juro pela minha vida que, desde o primeiro momento, quis tornar público quem era minha mãe, mas Roger me impediu.
—Por quê? É ele quem rejeita suas origens ciganas? Te obrigou a permanecer em silêncio? É por isso que o falecido marquês assinou sua certidão de nascimento? Seu grandioso irmão não queria manchasse o honrado seu título?
—Não! -- Ele gritou andando em direção a ela até que estavam tão perto que o calor do corpo de Anne, provocada pela raiva, aqueceu o seu, gelado por esse ataque de bravura.
—Não o entendo, Logan! -- Ela exclamou, levando as mãos ao rosto para esfregá-lo com desespero. -- Realmente não entendo a atitude dos aristocratas! O que queria? Por que não deixou revelar quem era? Que impacto teria outro filho ilegítimo? Existem centenas!
—Isso destruiria tudo aquilo que fez... -- ele apontou suavemente.
—Quer dizer sua vida social bem-sucedida? -- Ela disse em voz alta.
—Não! Roger sempre lutou contra todos os benefícios que lhe davam o título de Marquês! -- Se esforçou para esclarecer.
—Então... o que foi? O que ainda está escondendo, Logan? --
Ela disse com firmeza.
Lentamente, Logan olhou para as mãos de Anne, que tremiam com o estado de raiva, entrelaçou os dedos dela com os seus, levou-os até os lábios e beijou-os um a um.
—Quando Roger era criança, descobriu algo tão macabro que o forçou a se afastar de seus pais. Tanto o marquês como a marquesa o deram como morto e educaram Charles, seu irmão gêmeo, para que um dia
ostentasse o título -- começou a narrar enquanto colocava as mãos de Anne sobre o peito para que sua respiração e os batimentos cardíacos confirmassem a veracidade da história. -- Ao retornar, muitos anos depois, os marqueses uniram forças para aniquilá-lo, mas graças à piedade de seu mordomo, conseguiu sobreviver. A partir daquele dia, jurou destruir seus pais e havia apenas uma maneira de fazê-lo.
—Qual? -- Era a primeira vez que os olhos de Logan brilhavam com lágrimas. Aquele homem vulnerável que encontrou ao entrar no escritório havia retornado. No entanto, não o deixaria sozinho. Desta vez, ela estava ao seu lado para ajudá-lo a lutar contra os demônios que o atormentavam.
—Com o dinheiro que recebeu por suas viagens, reuniu uma fortuna suficiente para construir aquela residência que foi destruída pelo fogo. Ali permaneceram mais de trinta filhos bastardos por um longo tempo.
Ele nos mantinha protegidos da marquesa.
—A marquesa sabia das infidelidades do marido? -- Ela retrucou espantada.
-- Sim, porque muitas das mulheres que mantinham relações com ele apareceram meses depois, carregando em seus braços o fruto daquelas escapadas românticas.
—O que ela fez? -- A expressão de Logan endureceu e seus
olhos escureceram para se tornarem as próprias asas de Astennu. -- Não me diga que os matou? -- Ela disse sem pensar.
—Sim. Até que Roger conseguiu nos salvar, ela ceifou a vida dessas crianças para manter o casamento seguro.
—Então... aconteceu... Charles descobriu... e queria matar todos vocês para que... -- ela tentou dizer. Mas as conclusões a que seu cérebro chegou foi mais rápida do que sua capacidade de falar e foi incapaz de realizar uma frase completa. -- Oh, meu Deus! -- Ela exclamou antes de romper o pranto que havia segurado.
—Calma Anne -- ele tentou acalmá-la abraçando-a com força. --
Muitos de nós foram salvos graças a Roger e ele conseguiu, com a ajuda do Duque de Rutland e do Barão de Sheiton, construir outra residência onde pudéssemos viver.
—Qual é a sua história, Logan? -- Ela perguntou se afastando de seu amado para olhar seu rosto e embalá-lo em suas mãos. -- O que aconteceu com sua mãe? Foi ela quem o levou até Roger?
—Não. Ela não pôde me levar porque morreu no parto -- ele declarou em uma voz estrangulada. —Era uma menina quando ficou grávida, mal tinha completado 14 anos e não suportou o parto. Sua mãe…
—Sua avó -- O corrigiu.
—Não posso chamá-la assim, Anne. Vê a cicatriz no meu peito?
—Ela direcionou o olhar para aquela marca e, depois de tirar a mão daquele rosto aflito, acariciou-a devagar. —Tentou me matar. Talvez tivesse conseguido se a mulher que me criou não a tivesse seguido até a floresta onde, depois de me rasgar com uma adaga e confirmar que meu sangue chamaria as feras para me dar um fim, me abandonou. Shara sabia que, quando voltasse para a colônia comigo em seus braços, sofreria a ira daquela mulher perigosa, mas não se importou. Teve que passar por uma dura punição por se atrever a desafiar a feiticeira, a essa avó que deseja que nomeie. Mesmo assim me assumiu com integridade por seis anos. A partir daquele momento, quando observou que todos os membros do clã também eram cruéis comigo, nos afastamos da colônia e vagamos até que um visconde nos acolheu. Ela se tornou uma serva e eu era o bastardo triste de um homem que ninguém conhecia. Só soube que o marquês de Riderland era meu verdadeiro pai quando Shara adoeceu. Antes de morrer, continuou a lutar por minha vida e não deu seu último suspiro até que Roger lhe jurou que eu estaria a salvo ao seu lado.
—E manteve sua palavra -- murmurou Anne, abraçando-o com força.
—Sim -- disse Logan, se deixando abraçar, se permitindo finalmente sentir alguma calma em sua alma inquieta. Tenho que continuar protegendo o segredo, Anne. Não posso destruir tudo o que Roger fez por
nós. Devo assumir a condenação que eu mesmo ganhei com o conde. Se continuar pagando por tudo que me pede, se de uma vez por todas vender Harving House... meus irmãos não sofrerão mais humilhações e o trabalho de Roger continuaria a ser protegido.
—Maldito filho da puta! -- Gritou Anne, se lembrando da chantagem do conde. Afastou-se de Logan e começou a andar pelo escritório.
-- Quero matá-lo! Quero estrangulá-lo com minhas próprias mãos! --
Declarou erguendo os braços e entrelaçando os dedos como se de fato o pescoço do velho Burke permanecesse entre eles. —Não vai desistir, certo?
Quer vê-lo humilhado e destruído! -- Ela berrou. -- Bem, ele não vai conseguir! Aquele porco não sabe quem são as Moore! Escreverei uma carta para minha mãe e pedirei que ela se apresente o quanto antes. Certamente, entre todos podemos traçar um plano que possa destruí-lo. Por nossas veias corre sangue maldito, muito perverso -- disse ela estreitando os olhos. --
Sabe quem foi minha avó? Jovenka! Uma cigana que esterilizava a terra que tocava seus pés!
—Anne... Por favor... pense um pouco, querida. Nós não podemos enfrentá-lo. Não só a reputação de meus irmãos estará em perigo, mas sua família estará envolvida nessa atrocidade. Não vou arrastá-la também! Tenho que aceitar minha culpa!
—Sua culpa! Como declara esse absurdo, Logan Bennett,
visconde de Devon, irmão do idolatrado marquês de Riderland? -- Acha que seu irmão lhe daria uma tapinha nas costas e apoiaria essa decisão? Onde está esse sangue cigano que banha suas veias? Renunciou tanto a ele que não existe mais em você?
—Não! Claro que não! -- Ele berrou. -- Mas... o que eu posso fazer?
—Lutar! -- Ela gritou, erguendo o punho direito. -- Como todos os nossos ancestrais lutaram.
—E como quer que façamos isso, querida? Na festa? -- Disse mordaz.
—Que festa? -- Ela fez a pergunta com uma voz calma, como se de repente toda aquela fúria se libertasse de seu corpo.
—George me trouxe um convite que não posso recusar—ele murmurou. -- Também me disse que se alguém descobrir sua presença em Harving, os rumores sobre minhas perversões aparecerão novamente e vocês...
—Nós estaremos desonradas -- Anne terminou a frase cerrando os punhos. -- O que planejou fazer? O que quer que façamos?
—Disse à Laxton que minha noiva...
—Noiva? -- Ela interrompeu. -- Que noiva?
—Você. Quem mais poderia ser? -- Ele disse, dando passos
largos até ela. —Sabe que te amo, Anne, que quero me casar com você porque, como descobriu, a maldição da qual tanto teme romperá comigo.
—Nos casarmos... —Ela murmurou abaixando o rosto.
Surpreendida pela magnitude que originava essa simples palavra.
—Não quer fazer isso? Não me ama como eu te amo? -- Ele perguntou, notando como outro nó apareceu em sua garganta.
—Sim, amo você, Logan. E posso assegurar-lhe que, depois de saber quem realmente é, o desejo de me tornar sua esposa aumentou.
—Então? O que a impede de fazê-lo? -- Ele disse, erguendo seu queixo com dois dedos.
—Não sei se posso te dar o que precisa... -- ela declarou olhando-o nos olhos.
—E o que, de acordo com você, eu preciso? -- Ele retrucou, arqueando as sobrancelhas escuras.
—Não posso... nunca conseguiria... não seria capaz de...
—Anne -- ele sussurrou, roçando com a boca esses lábios trêmulos. -- O que não poderia, meu amor?
—Não poderia colocar outro homem na minha cama -- declarou ela aterrorizada.
—Não vou consentir com isso! Você é minha, Anne Moore! Só minha! -- Ele esbravejou antes de submetê-la a um beijo tão possessivo que
não deixava dúvida de que seu futuro marido não a compartilharia com ninguém.
XXXIII
No dia seguinte, depois do café da manhã, Logan chamou todo o serviço na sala de jantar. Por causa da inquietude em seus rostos, Anne supôs que eles estavam desconfortáveis com a aparição do sobrinho do conde. No entanto, a incerteza foi transformada em júbilo ao ouvir a notícia de seu compromisso. Eles não pareciam surpresos, mas aliviados, algo que intrigou Anne. Eles não conseguiram manter o relacionamento em segredo? Temia que não, porque as expressões de alegria da Sra. Donner a fizeram entender que eram, em mais de uma ocasião, testemunhas silenciosas de seu romance.
Josh abraçou Logan e depois a beijou inúmeras vezes. A única pessoa que não parecia gostar da notícia era Elizabeth. Quando ela se levantou da cadeira e saiu da sala, Logan a seguiu com um passo firme.
—Não faça nada -- disse Josh enquanto tentava se levantar. Deve deixá-los sozinhos. Eli precisa assimilar que você alcançou seu sonho idílico.
Esse comentário a entristeceu. Nunca imaginou que se tornaria esposa de um aristocrata e que um dia seria uma marquesa. No seu caso, só queria se afastar de sua família para não a machucar mais. Por que o destino era tão caprichoso? Como diabos ele os juntou? Alguma vez pensou que amaria um cigano com uma mistura de sangue azul? Essa pergunta a fez sorrir. Não, é claro que nunca sonhou em se casar com um homem que
escondia a selvageria dos ciganos e não imaginava que ele era tão apaixonado...
Depois de muito tempo, Logan voltou para a sala sustentando o braço de Elizabeth. O olhar dela havia mudado e sua atitude também. Uma vez que se sentou na cadeira, colocaram o plano em movimento.
—Nós não podemos aparecer sem um acompanhante -- disse Elizabeth depois de ouvir a história estudada do visconde. -- Isso os faria pensar que está mentindo para eles.
—Está certa —Logan bufou. —Não seria apropriado que aparecessem sem uma presença respeitável —acrescentou ele mordaz.
—O que acha, milorde, se transformarmos a Sra. Donner numa tia distante da senhorita Moore? Eu poderia me tornar seu filho e ela poderia ser uma viúva —esclareceu.
Quando Howlett, que não parou de produzir palminhas desde que soube que o visconde se casaria com Anne, ofereceu essa alternativa, todos os olhos se voltaram para ele.
—É uma ideia fantástica —admitiu Logan. —O que acha, Sra.
Donner? Gostaria de se tornar a tia dessas meninas adoráveis?
—Milorde, me sentiria muito honrada em desempenhar esse papel, mas não sei se posso convencê-los como desejam. Minhas mãos estão... -- Ela tentou dizer, estendendo as palmas para o seu senhor.
—Isso não será um problema —disse Elizabeth. -- As senhoras sempre cobrem as mãos com luvas de seda.
—Mas eu também não sei dançar, se alguém tentar ter uma conversa culta comigo... -- ela murmurou desconfortável.
—Sobre o tema da dança, não se preocupe, poderá fingir que se sente fatigada pela idade —respondeu Elizabeth novamente. —E sobre as conversas, devo confessar que nenhum cavalheiro ousará pedir sua opinião sobre uma questão importante. Estou certa de que falarão sobre o clima, sobre a esplêndida festa que o anfitrião ofereceu, sobre as deliciosas iguarias que oferecerá a seus convidados e a magnífica repercussão social que o conde obterá quando a noite acabar.
—Somos tão previsíveis? —Logan exclamou zombeteiro. Cruzou os braços e se inclinou descuidadamente em um canto da lareira de pedra ambarina.
—A aristocracia é simples demais, qualquer um poderia se apresentar como um deles se adotasse esse comportamento tolo —disse Eli, levantando o queixo e olhando para ele sem piscar.
Naquela rude declaração, Anne olhou para Elizabeth como se fosse aniquilá-la, mas a risada de Logan fez com que apagasse esse desejo maquiavélico.
—Está certo, Eli! Somos tão simples que qualquer um pode se
passar por um de nós! -- O visconde acrescentou sem parar de rir, descruzou os braços e caminhou em direção à jovem para lhe dar um terno beijo no lindo penteado que usava naquela manhã.
Quando a atmosfera ficou mais fluida e relaxada, Logan e Anne informaram a todos sobre suas novas tarefas e começaram a trabalhar.
Howlett e Elizabeth foram encarregados de instruir a cozinheira. Embora em mais de uma ocasião, ouviram os gritos desesperados que a pobre mulher produzia ao se submeter aos mandatos do valete. Josh, para seu pesar, teve que visitar, junto com Anne, uma costureira para fazer um vestido para ela. A primeira vez que ela viu a intrépida Moore vestindo uma roupa tão feminina, não soube se expressava mais horror o rosto da vendedora ou de sua irmã.
—Onde posso esconder o punhal? -- Ela comentou enquanto observava o tecido, os babados e as rendas.
—Não terá que levar nada. Lembre-se de que estamos indo a uma festa e que nosso trabalho é mostrar um caráter gentil e educado -- Anne disse em um tom firme.
—A liga é ideal para um punhal curto -- sussurrou a assistente da loja em seu ouvido ao fixar o babado no ombro direito. Tenho clientes que me pedem certas restrições nas meias...
Essa revelação e a cumplicidade que a costureira lhe ofereceu fizeram com que Josh relaxasse e acabasse pedindo-lhe duas boas restrições
para suas pernas.
Marco, o administrador, também se juntou ao plano. O propósito dele era proteger as irmãs enquanto o visconde se encontrava com o conde.
Embora permanecessem protegidas pela Sra. Donner e Howlett, Logan não queria que o juiz ou o pastor tentassem se aproximar delas para realizar algum truque sutil. Precisava controlar tudo...
O mais engraçado daqueles dias foi o momento em que ele o apresentou a Elizabeth e ao seu fiel companheiro. Os olhos de ambos se arregalaram tanto que poderiam escapar de suas órbitas. Marco mostrou uma figura solene com seu terno sob medida e a última moda, e este exaltou suas tão exóticas características espanholas. Presumivelmente, Eli adotou o comportamento sedutor até descobrir que ele era um simples administrador.
No entanto, o interesse do valete nele aumentou, deixando bem claro que queria seduzi-lo. Embora Logan tentasse mantê-lo longe dele, Howlett procurou desculpas absurdas para chamar sua atenção e o visconde, notando que Marco não o evitava, e sim desejava acalmar todas as preocupações de seu criado, desistiu de seu propósito. Quem era ele para lutar contra o amor de dois amantes?
Durante as noites, e embora a Sra. Donner tivesse decidido não dançar na festa, Kilby insistiu em mostrar-lhe a beleza da dança. Nesses momentos, todos descobriram que o mordomo sentia alguma atração pela
cozinheira e que escondeu até que a mão esquerda do fiel empregado se instalou na cintura da mulher com determinação.
Tudo estava preparado. Nem um único detalhe foi deixado sem revisar. Só esperava que a festa saísse tal como haviam planejado.
—Nervosa? —Logan perguntou a Anne uma vez que eles se acomodaram na carruagem. Ele a observou como se fosse seu maior tesouro, sua deusa, e sorriu quando decidiu colocar todos os acessórios que tinha em laranja. Parecia que os brincos, o colar e a pulseira que brilhava toda vez que ela movia o pulso os transformavam em amuletos da sorte.
—Você não está? -- Ela respondeu, olhando para ele surpresa.
—Vou dar por encerrado a extorsão que sofro há vários anos, vou à luta para salvaguardar a honra da minha família, vou apresentar minha futura esposa a sociedade e tenho que tirá-la de lá sã e salva, isso deveria me perturbar? -- Disse matreiro.
—Não, claro que não -- disse Anne, sorrindo amplamente. --
Um cigano nunca se curvaria a problemas menores.
—Disse bem, querida, disse bem... -- Logan declarou antes de perceber como a mão esquerda de Anne pressionou a dele e como a pulseira laranja os unia ainda mais.
***
—Isso é chamado de lar? —Elizabeth gritou quando saiu da
carruagem com a ajuda de Howlett, que logo retornou com Marco. A jovem olhou para a residência do conde e abriu bem os olhos. Austero, mesquinho, ridículo e vulgar foram às palavras que apareceram em sua cabeça quando contemplou aquele terreno. -- Agora entendo o motivo dele querer comprar Harving House -- disse ela à Logan. -- Este lugar é sombrio e apertado. Não é capaz de investir parte de sua fortuna suculenta para consertar o jardim? As flores estão murchas! -- Ela acrescentou furiosa.
—É a primeira vez que vou dizer isso, Eli, então ouça bem --
falou Josh, lutando com a saia de seu vestido de seda verde-esmeralda. --
Tem razão. Isso é abominável mesmo para mim. Nunca vi um lugar tão repulsivo. O conde quer fazer o mesmo com a Harving House? Porque tenho certeza que ele vai abandoná-la ao seu destino...
—O que ele quer é comprá-la por menos do que custa --
resmungou Logan -- e depois vendê-la pelo triplo.
—Não vai deixar, certo -- Perguntou Howlett, horrorizado. --
Levei muito tempo para encontrar aquelas cortinas de ovelhas irlandesas suaves e elegantes para essa crápula as transformar em trapos de cozinha.
—Não -- Bennett disse com firmeza. -- O conde não alcançará seu propósito. É por isso que estamos aqui, para consolidar minha recusa.
—Realmente acha que explicar que se casará com Anne e que quer usá-la como uma segunda casa fará mudá-lo de ideia? —Josh perguntou,
sem tirar os olhos do visconde, colocou as mãos furtivamente em ambos os lados de suas coxas para se certificar de que as adagas estavam no lugar.
—Tenho certeza de que o conde desistirá quando explicar que uma futura marquesa, que dará à luz uns seis filhos fortes e robustos, precisará dessa residência para educá-los sob a moralidade adequada.
Lembre-se de que esse homem acha que Londres é uma cidade dedicada a uma catástrofe social por causa da perversão de seus habitantes -- assinalou Anne, estendendo a mão a Logan para acalmar a inquietude que dizia não ter.
-- Deve recusar qualquer conversa sobre virtude, economia, origens ciganas, a popularidade do nosso pai e se alguém lhe perguntar a razão pela qual ele não veio, tem que indicar que...
—Que foi a um congresso muito importante para sua carreira profissional e que nossa mãe chamou tia Gerthudies e nosso querido primo para nos acompanhar nesta viagem -- recitou Josh aborrecida.
—Preparados? —Logan perguntou, pouco antes de pisar no primeiro degrau daquela escada de pedra rachada que os levaria à entrada principal.
—Sim! -- Todos responderam em uníssono.
O mordomo do conde, aquele que custodiou Logan na noite da trama, os recebeu minutos depois de bater na porta. Dois servos estavam encarregados de recolher seus casacos. Então, eles caminharam rapidamente
pela galeria à esquerda. Logan olhou para Marco e acenou para ele. O
administrador entendeu rapidamente e ficou do lado direito, vigiando a entrada das mulheres. Respirou fundo para acalmar o estado de agonia que não queria mostrar a Anne, pôs a mão no antebraço e ficaram na entrada da sala até que outro criado os anunciou.
Definir esse grupo de quatro músicos como uma orquestra era dar-lhes uma categoria muito alta. Os quatro homens colocados no canto não conseguiam pegar o compasso. Mas os participantes não deveriam se importar com esse ritmo desequilibrado porque estavam ocupados demais olhando a decoração desastrosa que os rodeava. O conde já havia dado a entender, pelo lado de fora da casa, o que encontrariam dentro, mas nenhuma das irmãs imaginou esse horror. Uma coisa era certa, o chão brilhava e o candelabro de cristal pendurado no teto a luz das velas, que emitiam um cheiro pútrido de um bezerro morto, iluminavam o salão. Logan olhou para Anne e ela sorriu para ele. Não havia dúvida de que o conde preparara essa cerimônia rapidamente. Talvez inclusive no mesmo dia que o sobrinho lhe entregou o bilhete. Possivelmente pensou que o visconde não se atreveria a aceitá-lo e, em resposta à sua resposta afirmativa, ordenou que seus poucos serventes a preparassem com urgência. Certamente esses quatro não fossem realmente músicos e sim empregados que, durante três dias, aprenderam a soprar um instrumento de sopro e a quebrar as cordas de um triste violino.
Sim, provavelmente seria isso...
Josephine fixou os olhos nas quatro paredes do salão e prendeu a respiração ao descobrir que as sete pinturas gigantescas tinham o mesmo rosto. Mudaram os fundos, as formas de seus vestidos pretos, mas aquele semblante sério, rígido e implacável aparecia em todos eles. Não entendia como os convidados podiam conversar com facilidade, enquanto sete pares de olhos ferozes os observavam como se quisesse lançar um raio fulminante contra eles. Inconscientemente, levou as mãos aos punhais e acariciou-os.
Não hesitaria em usá-los se suas vidas estivessem em perigo...
Elizabeth notou como a Sra. Donner pressionava os dedos no seu braço e puxou-a para lhe dizer alguma coisa. Uma vez que confirmou que ninguém estava olhando para elas, inclinou a cabeça para a mulher.
—Como vou falar sobre os assuntos que me sugeriram? -- Ela murmurou apavorada. —Não é uma grande cerimônia, a sala é sombria e receio que a comida nos deixará doentes. Eu nunca conheci um conde com tanta ruindade e miséria. Os ternos dos servos foram remendados várias vezes, a madeira não é devidamente tratada, por isso estaremos cercados de verme da madeira, castiçais, bandejas e receio que os talheres não sejam de prata, os copos em que bebem os escassos trinta convidados não brilham e esse cheiro... -- Ela franziu o nariz ligeiramente. O jantar foi queimado?
—Pode falar sobre o tempo —sugeriu Eli, concentrando-se em
não rir. Estendeu o leque e tentou se acalmar com o frescor que proporcionava.
Era verdade o que a Sra. Donner argumentava. Nada naquele lugar era digno de um conde, a menos que estivesse arruinado, e esse não era o caso, porque ele queria comprar a Harving House. Engoliu em seco quando olhou para as cortinas. De que século eram? A sujeira que mostravam e as tirinhas de baixos indicavam que não só tinham permanecido naquele lugar durante muitos anos, mas também tinham sido testemunhas de uma dura guerra.
—Do tempo? —A senhora Donner insistiu.
—Lembre-se que em breve mais chuva virá e aquelas pobres flores finalmente conseguirão um pouco de água.
—Água? -- Ela perguntou, puxando-a ainda mais. -- Não teremos a infelicidade de que chova enquanto permanecermos nesta sala, certo? Porque não tenho a menor dúvida de que este conde avarento não tenha reformado os telhados desta pocilga e nós teremos que beber um vinho rançoso enquanto evitamos a água das goteiras.
A risada de Elizabeth soou acima da música estridente. Esse ato sorridente e súbito chamou a atenção dos convidados e todos as encararam.
Logan e Marco ergueram suas figuras grandes e fortes. Josh levou as mãos de volta ao lugar onde os punhais estavam escondidos e Anne, depois de olhar
para Elizabeth intrigada, suspirou profundamente e desceu as escadas ao lado de seu noivo.
—Sinto muito... -- ela se desculpou.
Era a primeira vez que não controlava seu comportamento em uma reunião social, mas o comentário da cozinheira foi tão espirituoso que não pôde segurar o riso. Ainda sentindo os olhares sobre ela, tentou se esconder entre Howlett e Josh.
—Lorde Devon, quanto me alegro em vê-lo! -- Exclamou o conde, desenhando um sorriso pérfido. Ele caminhou em direção a eles, levantou a mão direita e esperou que ela fosse aceita.
—Lorde Burkes... —Logan respondeu, separando-se de Anne para aceitar aquela saudação hostil. -- A honra é nossa por nos convidar para sua casa.
—Como poderia me privar da sua presença e da sua... noiva? --
Ele retrucou, olhando para Anne com os olhos apertados.
—Senhorita Moore, apresento o conde de Burkes. —Logan colocou a mão esquerda na parte inferior das costas de Anne com a mesma determinação que Kilby colocou sobre a Sra. Donner. Esse ato de posse deve ter deixado claro que não estava mentindo e que a conversa que teve com George era verdadeira. Mas sabia que o conde não desistiria tão facilmente, em que momento da cerimônia ele mostraria sua verdadeira personalidade?
—Prazer em conhecê-lo, milorde —Anne o saudou, fazendo uma suave reverência.
—Igualmente senhorita Moore. Imagino que elas sejam suas amáveis irmãs, certo? Já ouvi falar das filhas Moore. -- Depois de suas palavras, seus olhos negros olharam para a Sra. Donner e um sorriso maligno foi desenhado.
-- Sim, elas são minhas irmãs, minha tia, viúva, a Sra. Yenkis e meu primo, o Sr. Yenkis. Espero que a informação que teve sobre nós o tenha agradado -- respondeu Anne, que sutilmente moveu seu corpo com elegância para se separar da Sra. Donner.
—Sim, tanto quanto o que ouvi de seu pai -- assegurou o conde, sem apagar aquele sorriso pernicioso. -- Segundo minhas fontes, não demorará muito para se tornar um dos dez médicos mais importantes de Londres.
—Ainda não é? -- Anne perguntou rapidamente quando ouviu Josh rosnar. Agradeceu a sua mãe criadora por não carregar nenhuma arma escondida, porque tinha certeza de que ela o teria matado naquele momento.
—Receio que não, senhorita Moore —respondeu o conde grosseiramente.
—Bem então, rezemos para que nossas súplicas sejam ouvidas por nosso Deus e que um dia consiga —alegou com aparente desalento
enquanto fazia o sinal da cruz.
—São religiosas? -- Burkes perguntou, arregalando os olhos.
—Dedicadas, milorde. Nossos queridos pais foram capazes de nos educar sob a magnificência que nossa religião supõe e devo confessar que nos sentimos muito desoladas aqui. Desde que chegamos a Harving House, meu noivo tem estado tão ocupado com seus deveres administrativos que não pudemos assistir a nenhuma missa. Felizmente, minha querida tia, cuidou da nossa paz espiritual. Embora tenha que confessar que não é o mesmo...
—Entendo perfeitamente -- disse o conde, estendendo o braço para que pudesse acompanhá-lo. —E seus pais... aceitaram com prazer seu compromisso com o visconde? —Ele perguntou quando deram alguns passos.
—Claro! -- Ela exclamou com aparente constrangimento. ?Não acha, milorde, que este casamento será bastante proveitoso para nós? -- Ela acrescentou em voz baixa, como se estivesse revelando um segredo.
—Entendo... —Burkes respondeu com um largo sorriso. —Seus pais são muito inteligentes, senhorita Moore.
—Vamos confiar a Deus para que permaneçam assim com minhas outras quatro irmãs -- disse com aflição fingida.
—Seu pai tem que casar as cinco filhas? —O velho exclamou, arregalando os olhos. Agora ele entendia o desespero do médico por unir a
mais velha de suas filhas com um visconde. Graças ao título que ela teria no futuro, o resto poderia rapidamente encontrar um bom marido.
—Exatamente, milorde. Não gosta de crianças? —Ela perguntou, agitando seus cílios.
—Minha querida esposa, que Deus a tenha em sua glória, tentou me dar vários, mas infelizmente todos morreram logo após o nascimento --
disse ele com tristeza.
—Sinto muito —respondeu Anne, dando-lhe leves palmadinhas no braço.
—Eu também —disse ele antes de levá-la ao lugar onde o pároco e o juiz estavam sentados.
Se queria realizar seu plano, tinha que se concentrar na noiva.
Nenhum homem deixaria sua futura esposa nas garras de seu inimigo. O
visconde ficaria tão obcecado em vigiá-la que deixaria as duas irmãs desprotegidas. Então Lorde Norfolk escolheria a mais vulnerável...
—Acho que deveria tê-la apresentado quando chegou em Harving House —Marco comentou com Logan, que, observando o comportamento gentil entre o conde e Anne, começou a relaxar.
—Se não o conhecesse como conheço, pensaria que Anne o deslumbrou, mas temo que seja uma miragem. Esse verme irá sujeitá-la a todos os tipos de interrogatórios até que atinja seu objetivo —disse ele,
apertando a mandíbula.
—Que será…? —Marco acrescentou.
—Humilhá-la -- ele garantiu antes de caminhar até deles.
Era hora de apagar os medos do passado e encarar de uma vez por todas o presente e o futuro que ele queria viver com Anne.
XXXIV
?Que devemos fazer? —Josephine perguntou à irmã quando estavam sozinhas.
—O normal, neste tipo de celebração, é que a anfitriã nos apresenta aos outros convidados para interagir e conversar. Mas desde que ela está morta...
—Juro que se ela aparecer na nossa frente, eu desmaio —Josh interrompeu, olhando de volta para as pinturas escuras. Teria pensado que aqueles olhos a estavam observando? Pois continuava confirmando essa suposição.
—Seria melhor se nos dirigíssemos para o fundo da sala, onde colocaram a mesa com as bebidas e os deliciosos aperitivos.
—Deliciosos? A cozinheira retrucou, apertando os olhos. Para que os outros convidados não descobrissem o desgosto que seu rosto expressava, estendeu o leque e começou a sacudi-lo, mas Elizabeth a repreendeu com o olhar quando viu que estava agitando-o com tanta força.
—Não temos a obrigação de comer, embora seja aconselhável que mexa a boca de vez em quando, como se mastigasse. O anfitrião pode se sentir ofendido se não aceitarmos sua oferta.
—Realmente acha que estou preocupada com o que aquele
homem mal-humorado pensa de mim? -- Disse Howlett sarcástico. -- Não quero ficar doente amanhã de manhã e ter que viajar de volta para Londres implorando ao cocheiro para parar mil vezes ao longo do caminho.
—Devemos insistir para que ele espere mais alguns dias —disse Eli, referindo-se à decisão do visconde de sair de madrugada. —Amanhã não conseguiremos acordar cedo. As cerimônias geralmente duram muito...
—Isso seria em uma festa que é nomeada como tal, mas... não vê o que eu vejo? —Howlett insistiu enquanto tentava fazer com que Josh andasse sem tropeçar nas saias do vestido e manter as costas retas.
—Bem, não me importo de acordar cedo para voltar... —Josh murmurou melancólica. —Juro que tenho sido muito feliz andando com Galeón nessas terras, mas anseio por Madeleine. Nunca imaginei que o vínculo entre nós fosse tão forte.
—Não se preocupe, tenho certeza que o Sr. Kilby e o resto do serviço terão tudo pronto para sair de madrugada. Nunca conheci um mordomo tão eficiente —disse a Sra. Donner, abanando-se novamente.
—Meu tio é um homem muito especial —disse Howlett em voz baixa, e sorriu para o constrangimento que esse comentário causou na cozinheira.
—Podemos acelerar um pouco? —Elizabeth perguntou a eles.
Olhou para o fundo da sala e sorriu timidamente quando descobriu que os
olhos de um belo cavalheiro a observavam em silêncio. Quem seria? Por que a contemplava daquele jeito descarado? Intrigada para descobrir, agarrou o braço da Sra. Donner com mais força e arrastou-a.
—Sinto muito, mas não vou provar uma única mordida —disse a mulher com desgosto.
—Portanto, o mais sensato é sair daqui. Se olhar para a direita, encontrará cadeiras que foram colocadas para que as mulheres solteiras e as idosas possam se sentar durante a noite —informou ela.
?Isso é o que eles chamam de cadeiras? —Retrucou a cozinheira, arregalando os olhos. —Os cavalos do nosso celeiro se deitam em fardos de feno mais confortáveis do que isso.
—Talvez essa seja a razão pela qual ninguém se sentou até agora... -- apontou Elizabeth mordaz enquanto continuava olhando para o homem estranho.
—Mas devemos fazê-lo —disse Josh. ?Como nenhuma de nós quer dançar, é melhor sairmos daqui para que não comecem a murmurar sobre nossa estranha atitude, não é, Eli?
—Sim, Josh.
—Mas não quero deixá-la sozinha... —exclamou a cozinheira com algum nervosismo. -- O Senhor tem...
—Não estarei sozinha, Sra. Donner. Howlett me acompanhará em
todos os momentos.
—Tudo bem —hesitou a falsa tia, enquanto Josh agarrava o seu braço para se dirigir até as cadeiras.
—Sei o que pretende —Howlett sussurrou em seu ouvido —e não me parece certo.
—Só quero saber quem é e porque me olha tanto... talvez fôssemos conhecidos no passado...
?E não se lembraria? —Howlett retrucou arqueando uma das sobrancelhas loiras. —Ficaria muito surpreso se um homem assim desaparecesse de sua mente.
—Às vezes acho que lhe permiti muitas liberdades para minha pessoa... -- declarou Eli tomando uma das bebidas que estavam na mesa.
—Também permitirá a esse cavalheiro certas liberdades? -- Ele perguntou depois de se virar para observar Marco conversando com o grupo de homens que cercavam o visconde e sua noiva.
—Que me roube alguns beijos seria muito interessante —disse Elizabeth, olhando novamente para o estranho, que levantou o copo para oferecer-lhe um brinde silencioso.
Josh estava muito inquieta. Embora tivesse se sentado com a Sra.
Donner e falado sobre o que fariam quando voltassem a Londres, nada poderia acalmá-la. Queria que terminasse a noite e a madrugada chegasse
rapidamente. Suspirou profundamente, cruzou as mãos sobre a saia e fixou os olhos na maior janela, a que levaria ao jardim. Não poderia se levantar e caminhar furtivamente para aquela área do salão sem ninguém a observasse?
Porque queria fugir, escapar de todos e sentir a liberdade que a natureza lhe proporcionava. Sem dúvida alguma, seu sangue cigano insistia para que não respeitasse os protocolos sociais e reivindicasse a essência de sua origem.
Olhou para a Sra. Donner com o canto do olho e seu rosto expressava a mesma angústia que ela.
—Gostaria de sair na varanda? —Ela perguntou esperançosa.
-- Será correto? Não sei se deveríamos sair do salão sem a permissão do visconde -- disse ela em dúvida.
—Não ficaremos longe por muito tempo, garanto-lhe, apenas o suficiente para respirar um ar que não exale odor de umidade -- acrescentou, levantando-se.
—Se diz —a cozinheira terminou aceitando.
Mas, assim que as duas estavam indo para aquela janela que as libertaria da pressão que estavam suportando, duas mulheres ficaram no caminho. A mais alta, vestida de luto rigoroso, sorria; a outra, que usava um vestido marrom agressivo, mostrava um semblante áspero como o que Josh havia observado no retrato. Teriam algum parentesco?
—Boa noite, somos a Sra. Clarke e a Sra. Madden. Desculpem
nos por não nos apresentarem, mas nossos maridos —disse, olhando para o grupo de homens conversando com o visconde e Anne —estão tão ocupados que não tiveram a decência de nos apresentar formalmente.
—Isso acontece em eventos tão importantes quanto este --
observou a cozinheira, rezando para que seu comentário fosse preciso. —Sou Gerthudies Yenkis, a irmã do Dr. Moore e ela é minha sobrinha, Josephine Moore.
Deveria estender a mão para cumprimentá-las? Teria feito bem em adicionar o nome da menina? Sem saber muito bem o que fazer ou se havia falado incorretamente, esperou que elas dessem o primeiro passo e quando percebeu que suas mãos ainda estavam no mesmo lugar, agarrou o leque com força.
—Ouvi dizer que seu irmão está se esforçando para se tornar um bom médico —apontou afiada a mulher de vestido marrom, que deduziram ser a Sra. Madden.
—Não têm bons médicos aqui? ?A suposta tia disse, ao ouvir a respiração de Josephine se acelerar.
—Claro! —Exclamou a Sra. Clarke rapidamente. —O Dr.
Phoeby é um bom profissional.
—Então, ele mesmo será capaz de lhe explicar se a fama que meu irmão ostenta em Londres é merecida ou não -- ressaltou destemida.
—Não queríamos ofendê-la, Sra. Yenkis. Só queríamos confirmar que, se um dia viajássemos para Londres e, infelizmente, ficássemos doentes, estaríamos a salvo com os cuidados de seu irmão -- interveio a Sra. Madden.
-- Garanto-lhe que não terá nenhuma reclamação. Ele pode curá
las de qualquer doença -- ela apontou severamente.
—Tia, me prometeu que...
Justo quando Josh ia lembrá-la que momentos antes tinham a intenção de deixar o salão, ficou sem palavras quando viu como uma figura masculina, andando com a ajuda de uma bengala, estava indo em direção a elas. Aquele cabelo de cobre, a mecha loira na testa, os olhos de safira e a boca gloriosa não haviam desaparecido de sua mente... seu corpo se endireitou como se fosse um soldado posando diante de um superior. Seu coração começou a bater com tanta força que ela sentiu o latejar em sua garganta e seu pulso acelerou tanto que ela não conseguiu ficar quieta.
Segurou o braço da Sra. Donner com mais força e começou a fazer algo que não fazia desde que era criança: rezar para sua mãe criadora.
?Boa noite, senhoras. ? Eric Cooper cumprimentou-as com tal cavalheirismo que a Sra. Clarke e a Sra. Madden coraram como se fossem duas moças inocentes. Beijou-as nas mãos e depois esperou em silêncio que uma delas apresentasse as convidadas.
?Boa noite, novamente, lorde Cooper ? respondeu, por fim, a
esposa do juiz. -- Apresento-lhe a Sra. Yenkis e sua sobrinha, Senhorita Moore.
?Encantado... ? Ao perceber que a Sra. Yenkis tremia tanto que não conseguia estender a mão para que ele pudesse beijá-la, como fizera com as outras, juntou os saltos dos sapatos e cumprimentou-a com um aceno solene. ? É uma verdadeira honra conhecê-la pessoalmente, Sra. Yenkis.
Garanto-lhe que ainda estou consternado depois de ouvir o episódio tão dramático que sofreu dias antes de viajar para cá ? disse reverentemente. ?
Nunca imaginei que uma mulher tivesse tanta coragem.
?O que aconteceu? ? A esposa do padre perguntou com uma mistura de curiosidade e surpresa.
?Muito obrigado pelo seu louvor, milorde. Mas entenderá que não quero reviver essa situação novamente. Como meu querido irmão diz, é melhor esquecer todos os problemas para que nosso cérebro não adoeça ?
ela disse com aparente calma, embora o tom de sua voz denotasse o contrário.
? Além disso, não é apropriado falar sobre aquele momento horrível na frente da minha inocente sobrinha. Josephine, querida, apresento Lorde Cooper, filho do...
?Barão de Sheiton ? Eric terminou a frase, sabendo que ela não o conhecia, mas estava atenta na forma como a esposa do juiz se dirigiu a ele.
? Senhorita Moore... ? Ele se referiu a Josh, esperando pela saudação que
desejava desde que a viu entrar.
?Milorde ? disse ela, colocando as mãos em ambos os lados do vestido. Se curvou como uma dama educada, e quando seus olhares se encontraram novamente, ambos despendiam fogo pelos olhos. Os de Josh emanavam raiva, no entanto, os de Eric exalavam desejo.
?Poderia nos contar sua história, Sra. Yenkis? ? A Sra. Clarke insistiu.
?Não deveria ? a cozinheira hesitou. ? Realmente não seria bom para minha sobrinha. Meu irmão cuida muito de tudo o que suas filhas escutam e não ficará feliz em descobrir que eu quebrei uma de suas rígidas regras educacionais ? argumentou a Sra. Donner, adotando, finalmente, o papel que fingia ser.
?Posso ajudá-la com isso, se quiser ? Eric anuiu, olhando para a cozinheira severamente. ? Estou mais do que disposto a convidar sua sobrinha para um refresco enquanto explica a essas senhoras encantadoras como se livrou do homem que tentou agredi-la quando voltava de uma reunião culinária oferecida pela associação de mulheres.
Sabia! Ele sabia! Josh olhou para o rosto amedrontado da Sra.
Donner e apertou os lábios para não gritar. Aquele homem sem coração sabia quem ela era. Como? Onde a conheceu? Por que diabos estava lá? Queria humilhá-la por tê-lo esbofeteado e machucado?
?Mas... não seria apropriado que... ? a cozinheira gaguejou, esperando por um milagre para salvá-la dessa situação muito difícil.
?Não tenha medo pela integridade da sua sobrinha ? declarou Madden. ? Lorde Cooper, apesar de sua juventude, é um verdadeiro cavalheiro. Sua benevolência, honestidade e educação moral tão firme e severa, que teve de seu amado pai, fortalece um cavalheirismo que muito poucos homens podem alcançar. É uma pena que ninguém nos informou da sua assistência, milorde, com certeza Ginger, minha filha, poderia tê-lo entretido. O coitado andou pelo salão até que Hester e eu finalmente nos aproximamos ? disse à cozinheira e a Josephine como se fosse um horror que tivesse passado mais de vinte minutos sozinho.
?Obrigado, mas garanto que os rumores sobre mim se tornaram idealizados ? Eric respondeu humildemente, fazendo as duas senhoras suspirarem.
Outra mãe com uma filha casadoira? Falando, além disso, de uma possível relação na frente de Josh? Isso não lhe agradou. Embora não parecesse lamentável que elas evocassem seu bom comportamento e seu cavalheirismo. Assim, a pequena guerreira, a quem não reconheceu vestida como uma mulher, admitiria que seus beijos não tinham sido previsíveis e estudados como um libertino faria.
?Por nada! —Exclamou a Sra. Clarke. ? Milorde, a história do
caçador também é uma invenção? Porque posso ver como ainda precisa da bengala para poder andar.
?Caçador furtivo? ? Josh finalmente explodiu, forçando-se a franzir os lábios e não pegar os punhais para fazer belos desenhos no impecável terno meio cinza.
?Foi apenas uma pequena disputa ? disse Cooper, visivelmente desconfortável.
?Mas como é humilde! ?Insistiu a esposa do juiz. ?Devo esclarecer que, há alguns dias, lorde Cooper estava andando em seu terreno quando descobriu um caçador. Então, mesmo que sua vida estivesse em perigo, lutou contra ele. Por essa razão, tem que carregar a bengala. Aquele homem perverso jogou uma adaga nele antes de fugir ? explicou a esposa do padre da paróquia.
?Que tragédia! ? Josh exclamou, com os olhos bem abertos.
?Ele deve ter sofrido um medo muito semelhante ao sofrido pela minha tia
? acrescentou com aborrecimento.
?Posso assegurar que não senti medo em momento algum ?
disse Eric asperamente. -- Sabia que venceria a batalha.
?Batalha? Pensei que tinha dito uma mísera disputa entre um caçador e o senhor ? disse ela intencionalmente.
?Estava desarmado ? Eric murmurou. ? Meu oponente
poderia ter me matado com aquele punhal.
?Que horror e que coragem! Certamente não cavalgará mais sozinho por suas terras. Tenho medo que tenha que ser sempre vigiado por um servo se quiser evitar ser atacado novamente por aquele caçador ? ela continuou naquele tom pungente.
?Bem, a verdade é que, senhorita Moore, ainda cavalgo sozinho por minhas terras ? salientou. —Na verdade ? disse ele, dando um passo em direção a ela, apesar da surpresa que as três mulheres exibiram com tanta audácia ? visitei o local onde tive o embate nos dias seguintes no mesmo horário.
?Quer encontrá-lo novamente, milorde? Não está com medo de que na próxima vez que o encontrar queira terminar o que começou? ? Ela retrucou, erguendo o queixo com orgulho.
?Mesmo que aquele caçador queira me assustar, não conseguirá.
Continuarei indo para aquela área enquanto nós dois estivermos em Brighton.
Garanto-lhe, senhorita Moore, que ninguém pode arrebatar o que é meu ?
declarou solenemente.
?Ainda estamos falando de terra ou honra? ? Josh reagiu sem diminuir sua força, apesar de entender o significado de suas palavras.
?Deveriam a honra e a posse ser separadas? Pode lutar com honra e coragem pelo que decide que lhe pertence. Podemos usar uma
espada, um punhal, um canhão... ou a capacidade de falar para mostrar que nossos pensamentos ou desejos são inquebráveis ? ele declarou como se fosse um soldado mais graduado que Josh.
?Como ocorreu com o caçador ? disse a Sra. Clarke.
?De fato ? disse Eric, recuando daquele passo indevido. ?
Mas como disse antes, deixei minhas intenções bem claras. Só espero que aquele caçador ouça que não vou parar de lutar até que ele assuma o destino que selamos naquele dia.
Josh engoliu em seco e prendeu a respiração. Estava entendendo bem o duplo significado? Ele estava declarando uma guerra em que ele seria o vencedor? Queria dobrá-la? Ela não era uma donzela tímida! Se não fosse comprometer sua irmã e o visconde, pegaria os punhais e enfiaria as pontas na garganta dele antes que as fofoqueiras, que exaltavam seu comportamento respeitoso e queriam emparelhá-lo com alguma jovem casadoira, piscassem uma vez. Pretendia perguntar a ele o que selaram naquele dia, quando Marco caminhou na direção deles. O suspiro de alívio que a Sra. Donner ofereceu surpreendeu as fiéis esposas, no entanto, lorde Cooper não piscou. Seus olhos de safira ainda estavam fixos nela, como se quisesse ler seus pensamentos.
?Senhoras... milorde ? o administrador as cumprimentou corretamente. -- Lamento pela interrupção, mas devo informar à senhora Yenkis e à senhorita Moore que a carruagem está esperando por elas na
entrada.
?Estão saindo tão cedo? ? A Sra. Clarke exclamou, fingindo aflição, embora estivesse ansiosa para terminar a conversa e se dirigir ao marido para lhe contar sobre a estranha performance de lorde Cooper com a jovem de cabelos claros.
?Vamos voltar a Londres amanhã, e não seria conveniente levantarmos tarde ? disse a Sra. Donner, visivelmente aliviada.
?Josephine, devem sair agora. Elizabeth está na carruagem com Howlett. Sua irmã sofre de uma dor de cabeça terrível e quer voltar o mais rápido possível ? sussurrou Marco em seu ouvido.
?Sim, claro ? assegurou, olhando para o administrador. Olhou para Lorde Cooper, sorriu e disse: ? Foi um prazer conhecê-lo, milorde.
Recomendo fortemente que desista de tentar confrontar o caçador novamente.
Com certeza, na próxima vez que se encontrarem, ele estará mais armado e poderá atirar dois punhais em vez de um. ? Se curvou para ele, olhou para as duas mulheres, sorriu largamente para elas e acrescentou: ? Boa noite, senhoras. Agradeço a companhia. Desfrutei muitíssimo da conversa.
?Sim, isso mesmo ? disse a Sra. Donner. —A comida estava deliciosa, o lugar é maravilhoso e certamente todos falarão sobre a festa magnífica que o conde ofereceu.
Eric permaneceu em silêncio, com os olhos fixos em Josh e
percebeu que havia parado de respirar quando os primeiros sinais de sufocamento apareceram. Mas ele prendeu a respiração enquanto observava o administrador do visconde sussurrando no ouvido de Josh. Naquele momento, e apesar da reputação de moço racional que se desdobrou, desejou erguer a bengala e acertá-lo na cabeça, mas parou. Ele havia realizado muito mais do que pretendia quando soube que as irmãs Moore compareceriam ao pequeno encontro do conde Burkes. Embora não o tivessem convidado, ele apareceu sem ser anunciado. Logicamente lhe abriram as portas sem qualquer objeção quando disse quem era. Algum anfitrião se atreveria a negar passagem ao filho do Barão de Sheiton? Claro que não! Então, quando entrou e não a viu, perdeu a esperança de encontrá-la, lembrando que Josh seria tão jovem que ainda não teria se apresentado a sociedade. Apenas quando tinha deixado o cálice amargo e decidiu voltar para casa, seu coração disparou ao ouvir o título do irmão do Marquês. Permaneceu distante. Não podia levantar suspeitas sobre suas verdadeiras intenções. Mas quando soube que a noiva do visconde apresentava o criado como seu primo, ele ficou paralisado e a inquietação aumentou ao descobrir que algo estava acontecendo. Alguém realmente duvidara dessa versão? Nenhum dos presentes conhecia o servo do visconde? Porque em Londres eles falavam incessantemente de suas roupas extravagantes e seu comportamento não masculino. Concluindo que o visconde mentiu para o anfitrião e aos convidados por uma razão importante,
decidiu vigiá-la e permaneceu oculto até que as duas harpias se aproximaram dela.
?Milorde? ? Eric piscou várias vezes, sorriu e olhou para a mulher que lhe fizera a pergunta. ? Está cansado? Quer se sentar?
?Sim, me sinto muito exausto. Acho que estive de pé por muito tempo e minha perna está doendo novamente. ? Esperou que as mulheres se despedissem corretamente e saiu da sala sem sequer perguntar pelo anfitrião.
Apoiando-se na bengala, caminhou até chegar ao grande salão.
Josh, o administrador e a suposta tia ainda estavam do lado de fora da porta da frente, esperando que os criados devolvessem seus casacos. Sem hesitar um segundo, foi na direção deles. Quando o criado do visconde o observou, se endireitou como se o próprio rei estivesse chegando.
?Lorde Cooper, o que deseja? ? Marco perguntou inquieto.
?Quero falar com a senhorita Moore por um minuto ? disse com firmeza.
?Milorde, minha sobrinha e eu...
A Sra. Donner fechou a boca quando ele levantou um dedo para ela. Como poderia um jovem de menos de duas décadas ser tão solene?
?Nós lhe concedemos um minuto, milorde. Nossa carruagem nos espera e não devemos nos atrasar ? Marco concordou, pegando a cozinheira pelo braço para deixá-los sozinhos.
Eric permaneceu em silêncio até que os dois criados, sem parar de sussurrar, os deixaram sozinhos. Então olhou para Josh e sorriu ao vê-la tão inquieta e brava.
?O que pretende? Pensa que pode fazer tudo o que quiser? ?
Ela o repreendeu.
Por que Marco não o dispensou? Por que não foi capaz de rejeitar o desejo desse impertinente? Tal respeito mostrava e exigia um menino que, possivelmente, não tinha alcançado vinte anos?
?Não sei que espetáculo queriam oferecer ao conde, mas não me enganaram ? disse ele, olhando para a porta, certificando-se de que estavam sozinhos e que ninguém os escutaria.
«E inteligente» Josh pensou enquanto levantava o queixo e ouvia com essa determinação.
?Não é da sua conta ? respondeu.
?Estão em perigo? O conde quer prejudicá-los? ? Perguntou estreitando os olhos até que fossem duas linhas finas. ? Se sim, pode confiar em mim.
? Como é que aquelas pobres pessoas confiaram quando o ouviram falar sobre o caçador? ? Censurou.
?Fiz isso para protegê-la ? disse indignado. ? Se dissesse a verdade...
?Todo mundo teria rido de você, certo? Quem não faria isso quando soubesse que o honrado, honesto e intrépido Lorde Cooper fora, de fato, ferido pela adaga de uma mulher? ? Repreendeu satisfeita.
?Quer que corrija minha história? Realmente acha que fiz isso para evitar o possível ridículo em relação à minha pessoa? ? Ele caminhou em direção a ela, até que seu torso podia tocá-la quando ele respirava.
Inspirou aquele cheiro de flores silvestres que exalava e observou o brilho daquele cabelo albino.
?Que outro motivo existe, milorde? ? Ela protestou orgulhosamente.
?O que a protege. Se tivesse dito o que realmente aconteceu, sua reputação só teria sido salva por um casamento e.... estaria disposta a casar comigo sem me permitir a diversão que conseguirei a cortejando? -- Colocou os dedos de sua mão direita na bochecha de Josh e acariciou-a lentamente, capturando a suavidade da pele bonita.
?Não... ? Josh gaguejou, chocada com a sensação maravilhosa que sentiu naquele toque. Ela precisava se separar do homem que a transformou em geleia, em uma mulher diferente, mas era muito difícil se distanciar. Colocou as mãos nos punhais quando se virou para encarar o odioso arrogante, mas enquanto sentia a suave carícia, tudo o que queria era colocá-las em volta do seu pescoço, atraí-lo para ela e beijá-lo. ? Fez a coisa
certa, milorde! ? Comentou quando notou um calor estranho em um lugar proibido para ela. ? Muito obrigada. ? Rapidamente se virou para a saída, cobriu os ombros com o casaco e abriu a porta.
? Isso não acaba aqui, Josephine Moore. Nós veremos em breve
? disse antes dela começar a correr.
XXXV
Anne ainda estava falando sobre os planos que seu noivo e ela tinham programado para depois do casamento quando notou que Marco estava se juntando ao grupo novamente. Suas irmãs já estavam a salvo, só faltava que o conde, que se ausentara sem oferecer nenhuma desculpa, retornasse de onde estava e resolvesse, de uma vez por todas, o maldito assunto com Logan. Quando poderiam deixar aquele lugar horrendo?
?É uma decisão muito sábia ? assegurou o pároco. ? Aqui terão a educação adequada para se tornarem homens e mulheres respeitáveis.
Somente boa-fé pode canalizá-los no caminho certo.
?De fato ? disse o juiz. ? Seus filhos viverão tranquilamente em Brighton, fora do alcance da imoralidade de Londres que apodrece as ruas da cidade ? acrescentou ele com repulsa.
?Fico feliz que nossas opiniões sejam tão similares ? Anne concordou depois de tomar um gole da bebida azeda que tinha em seu copo.
?Não gostaria de desagradar meu pai. Ele sempre nos educou com muito cuidado e atenção.
?Milorde? ? O mordomo foi diretamente para Logan, mas essa intervenção fez com que todos se calassem e olhassem para ele com expectativa. ? Lorde Burkes deseja reunir-se com o senhor em seu escritório
? esclareceu ele.
?Agora? ? Anne perguntou com aparente aflição, como se ela não tivesse entendido que o conde exigia apenas a presença de seu noivo. ?
Não quero deixar uma conversa tão eloquente tão cedo. É a primeira vez que falo com pessoas tão racionais...
?Calma, querida, concederei seu desejo. Senhores, protegerão minha noiva enquanto descobrirei o que nosso conde deseja? ? Perguntou Logan àqueles que sentenciaram sua morte, enquanto acalmava o desconforto fingido de Anne com um toque suave em seu braço. ? Vivo só para agradá
la e mimá-la...
?Não se preocupe, milorde, a senhorita Moore estará a salvo conosco ? assegurou o juiz solenemente. ? Além disso, ainda não falamos sobre o célebre Dr. Moore. Precisamos saber como ele conseguiu se tornar um médico tão famoso.
?Garanto ao senhor! ?Anne exclamou, separando-se de Logan, para que partisse imediatamente. ? Antes de sairmos de Londres, a assembleia dos médicos pediu a ele uma investigação exaustiva sobre o Julgamento da Febre, publicado por John Huxham em 1775. E tenho certeza que conseguirá terminá-la em breve. Meu pai é um homem muito consciencioso e fizeram muito bem confiando a ele este importante estudo.
Ao ouvir como Anne se referia ao livro que ele dera a Mary,
quase riu alto, mas não era o momento de expressar aos outros o quanto estava orgulhoso dela. Era melhor que continuasse a persuadi-los com sua lábia casta e sutil, para que os dois miseráveis acabassem beijando seus belos pés.
Quando os presentes se concentraram na conversa que Anne começou, se afastou lentamente dela e pediu a Marco que não saísse do seu lado. Depois de confirmar que não havia por ali nenhum candelabro, virou-se e caminhou, vigiado pelo mordomo, até a porta do escritório de Burkes.
Tentou entrar sem bater, mas o criado parou na sua frente e sugeriu que ele esperasse para ser anunciado. Estava prestes a afastá-lo, mas reteve essa raiva rapidamente. Não deveria provocar outro escândalo, já que desta vez não era apenas ele que seria prejudicado. Depois de aceitar o sutil pedido do criado com um leve aceno, recuou vários passos, colocou as mãos nas costas e esperou. Por um momento, só por um momento, pensou ter ouvido uma voz masculina que não combinava com a do conde ou do mordomo, mas afastou essa ideia da cabeça rapidamente, já que os amigos fiéis do velho Burkes estavam no salão com Anne, e George, que pensou que encontraria na festa, teve que ir precipitadamente para a residência de uma tia por afinidade.
Logan sabia que era mentira. Seu amigo devia estar trancado em algum cômodo da residência. Talvez o maldito Burkes tenha voltado aos seus antigos castigos de purgatório: o de acorrentá-lo no porão até quase morrer de
fome e sede. O pensamento de que seu amigo poderia precisar de sua ajuda e que ele não podia fazer nada para salvá-lo, gerou tanta raiva que queria quebrar o pouco que o conde tinha naquela casa horrível. Ainda não entendia por que George não se libertava daquela vida cruel da qual padecia. Se importava tanto com o título que estava disposto a morrer?
?Milorde já pode atendê-lo ? disse o mordomo, uma vez que abriu a porta.
Logan respirou fundo, caminhou em direção à entrada...
?Vamos, Devon! Entre de uma maldita vez! Não posso passar a noite toda aqui, tenho convidados para atender! ? Esbravejou a conde.
Depois de lhe dar um olhar feroz, Burkes se sentou, pegou um copo e encheu até a borda. Enquanto isso, Logan entrou no escritório sem deixar de olhar ao redor. Não entendeu muito bem por que demorara tanto a recebê-lo e por que agora tinha urgência de despachá-lo. Teria bebido mais do que devia?
Apenas quando estava na sua frente, esperando que indicasse para que se sentasse, ouviu um leve ruído atrás dele. Como se sentisse que iam esfaqueá-lo, se virou rapidamente, mas não encontrou ninguém. Apenas a cortina da janela que levava ao jardim se movia suavemente. Confuso, quando seu sangue cigano o avisou sobre a presença de outra pessoa, se virou para o conde e notou que seu velho rosto mostrava mais raiva e mais
frustração do que segundos antes.
?Deve estar muito satisfeito, certo? ? O velho Burkes o repreendeu. Apareceu em minha casa mostrando uma honorabilidade que não possui e aprovado por uma mulher com a qual nunca sonhou.
?A senhorita Moore... ? ele tentou dizer
?Não procure desculpas, nem evoque a boa-fé daquela mulher incrível! Eu sei quem realmente é!
?Não respondi ao seu convite para que me insulte. Peço respeito.
Vim aqui por minha própria vontade, para deixar claro que não vou vender Harving House ? disse ele, soltando o cigano e afastando o visconde.
?Maldito seja! ? Exclamou, pulando para fora da cadeira. --
Como pode vir a minha casa pedindo respeito? É um bastardo! O filho de um demônio!
?Se está tão certo de suas palavras, me denuncie de uma vez ?
disse ele, colocando as palmas das mãos grandes sobre a mesa.
?O farei! Porque apenas um homem que esconde um passado obscuro aceita uma chantagem! ? Ele contra-atacou.
?Não aceitei o seu suborno para que parasse de investigar o meu passado, Burkes. Fiz isso porque me senti culpado por ter induzido seu sobrinho ao caminho inadequado. Nós dois éramos muito jovens quando esse infeliz incidente ocorreu e imagino que nós dois pagamos nosso castigo mais
do que o suficiente ? disse ele solenemente.
?Castigo? Vai apodrecer no inferno, Devon! Como seu pai fez!
? Ele berrou.
—Tenho certeza que será o próximo lugar em que nos encontraremos. E se não tem mais nada a me dizer, me retiro. Preciso tirar minha noiva desse lugar repulsivo. Não quero que sua decência seja corrompida por nenhum de seus convidados insolentes ? declarou se virando.
?Cuidado com suas costas, Devon. Ainda tenho muitos anos para viver e pretendo usar todos os dias, todas as horas e todos os minutos para encontrar uma maneira de destruí-lo ? ameaçou fora de si.
?Boa sorte, Burkes ? disse antes de sair.
Depois de fechar a porta, Logan suspirou profundamente. Não tinha dúvida de que o conde não desistiria e manteria sua palavra. Mas não queria pensar nisso. A única coisa em que devia se concentrar era concluir a noite e levar Anne o mais rápido possível dali. Felizmente, ao amanhecer eles partiriam para Londres, em direção à liberdade, em direção à vida que ele queria ter ao seu lado e, se o velho Burke persistisse em investigar suas origens, agiria corretamente. Possivelmente era hora de contar a verdade a Roger e corajosamente enfrentar a fúria titânica de seu irmão. Talvez, quando contasse a agonia que sofreu durante todos esses anos, admitisse que ele
sofrera o suficiente e não lhe daria uma surra enorme. Embora não tivesse certeza de que fosse tão benevolente com ele depois de tudo...
?Querida, devemos ir ? comentou Logan, uma vez que se juntou àquele grupo de idosos reprimidos.
?Tão cedo? ? O padre perguntou. ? Ela ainda não terminou de explicar por que acredita que os partos são tão perigosos se a higiene adequada não for mantida.
Logan olhou para Anne, desnorteado. Esses temas não eram próprios de Mary? Ela também estava interessada em medicina e esse interesse era mantido em segredo? Talvez Anne não só tivesse a habilidade de pintar, mas escondesse uma infinidade de qualidades que, é claro, descobririam quando se casassem.
?Concluirei aconselhando-os que olhem bem nas mãos do médico que atende suas esposas. Ele deve cobri-las com luvas ou lavá-las com bastante sabão ? disse Anne antes de aceitar a mão de Logan.
?Boa noite, senhores. Foi um prazer vê-los novamente e agradeço-lhes por terem cuidado de minha futura esposa. Certamente ela não esquecerá uma noite como a de hoje ? disse o visconde com o respeito e solenidade que de seu título futuro.
?Estamos ansiosos por sua próxima visita, senhorita Moore. Foi um prazer conversar com uma mulher que entende homens como nós ?
admitiu o padre pouco antes de beijar sua mão.
Apesar da polida despedida de Logan, o juiz e o pároco deram-lhe um breve aceno de cabeça e despediram-se dela. Anne sorriu para eles, como se não tivesse notado o desprezo, pensando que tinha sido uma péssima ideia mandar Josh de volta para Harving. Se sua irmã tivesse contemplado aquele desprezo em direção a Logan, ela teria procurado algo com o que cortar suas línguas de víbora.
Uma vez finalizados os intermináveis elogios a ela, ambos, acompanhados por Marco, abandonaram com urgência a residência do conde.
?Tudo bem? ? O administrador perguntou, referindo-se à reunião com o conde.
?Por enquanto ? Logan respondeu, ajudando Anne. ? Mas não parará com seus esforços. Mantenha-me informado de tudo o que achar que é suspeito. Não quero que ofusque qualquer detalhe, mesmo se qualificar como insignificante. Apresente-se regularmente em Harving, contrate vários criados para que observem movimento no interior e tirem os cavalos dos estábulos todos os dias. Quero que todos saibam que a residência não foi abandonada e que pensem que voltaremos em breve.
?O farei ? Marcus disse antes de apertar sua mão. ? Posso pedir um favor? ? Ele acrescentou duvidosamente.
?Claro, sabe que pode me perguntar o que quiser. ? No entanto,
o rosto afável de Logan mudou quando ele se aproximou para sussurrar algo em seu ouvido.
?Diga a Howlett que esperarei ansiosamente por notícias e que não descansarei em paz até que tenha sua carta em minha escrivaninha em meu escritório ? declarou ele.
?Direi a ele ? confirmou antes de entrar na carruagem.
Ele se acomodou no banco e esperou que o cocheiro fechasse a porta. Marco permaneceu imóvel e seu rosto, sempre sorridente, mostrou muita preocupação. Logan o observou até que a carruagem partiu, ainda se perguntando o que o incomodava tanto e porque parecia que estava escondendo algo importante. Talvez fosse o tom de voz que Marco costumava usar com ele ou o gesto que fez para que Anne não o escutasse.
Seja o que for, algo lhe dizia que algum detalhe importante lhe escapara, mas... o que seria? As irmãs foram vigiadas o tempo todo e ele protegeu Anne durante a noite. Então, por que suspeitava que as notícias que esperava de Howlett não tinham nada a ver com o romance que haviam começado?
?Gostou do meu desempenho? ? Anne perguntou depois de girar sua pulseira várias vezes sobre o pulso.
?Foi esplêndida! ? Ele respondeu, concentrando-se finalmente nela. ?Causou uma grande impressão no conde e naqueles ineptos. Até eu mesmo acabei acreditando que é uma mulher virtuosa.
?O conde... também? ? Perguntou duvidosa.
?Sim, querida, o conde também ? disse estendendo as mãos para pegar a dela.
?Deixará de chantageá-lo? ? Perguntou.
?Por agora, acho que sim. Mas ele jurou que usará os anos que restam de sua vida para me destruir.
?Bem, se quer que seu fim chegue logo, a melhor opção será rompermos nosso compromisso e que eu o seduza até que me proponha suplantá-lo como um pretendente. Desta forma, a maldição cuidará dele...
?Quer romper o nosso compromisso para me trocar por esse velhote? ? Disse, puxando-a para perto. ? Não querida, não faremos essa tolice. Demorei muito tempo para encontrá-la e fazer com que me amasse, para que todo esse esforço não leve ao que eu quero.
?E o que quer? ? Ela perguntou, ajustando seus quadris sobre os de seu futuro marido.
? Converte-la, de uma vez por todas, em minha esposa ? disse antes de colocar as mãos nos dois lados do rosto dela e puxá-la para sua boca lhe dando um beijo apaixonado e feroz.
XXXVI
Seis dias depois ...
Roger ainda mantinha um comportamento impenetrável. Não havia dúvida na mente de Logan de que ainda estava zangado por não ter lhe contado sobre sua amizade com George, o que acontecera naquela noite e a chantagem do conde. Ele supôs que na mesma tarde lhe daria uma surra que não esqueceria em anos, mas seu irmão agiu de forma estranha: saiu do escritório, o deixando sozinho com Evelyn, e não voltou para casa até a hora do jantar. Era muito triste e desconfortável ficar ao seu lado durante a noite sem falar com ele. Comeu e bebeu em silêncio, como se nem ele nem sua esposa existissem. Depois que o jantar acabou, ele se levantou, beijou Evelyn e sussurrou em voz alta que era hora de a visita sair.
?Deve dar tempo a ele ? comentou a cunhada quando o acompanhou até a saída.
?Diga a ele que fiz para protegê-los, que a minha intenção não era magoar e que...
?Fique tranquilo ? Evelyn acalmou-o com um beijo suave na bochecha ? Roger entenderá sua decisão.
?Por favor, lembre-o também que eu gostaria que me
acompanhassem até a casa dos Moore depois de amanhã. Gostaria que ambos...
?Nós vamos, eu prometo ? Evelyn argumentou antes de voltar para casa.
Não esperava que, apesar das palavras de sua cunhada, Roger aceitasse seu pedido. Por essa razão, quando o viu descendo as escadas de Lonely Field, acompanhado de sua esposa, surgiu um pequeno halo de esperança. Mas toda essa ilusão desapareceu quando não o cumprimentou.
Ajudou Evelyn a subir na carruagem, entrou e fechou a porta com força.
Logan, incapaz de respirar por causa da tristeza que o envolveu, andou para a carruagem e entrou pela outra porta.
E assim eles foram juntos em direção à casa dos Moore e separados pelo corpo de Evelyn. Quanto tempo eles continuariam assim?
Deveria desistir? Como poderia imaginar um futuro sem a presença de seu irmão?
?Roger, por favor, me escute. Nós não podemos continuar assim. Juro que agi dessa maneira porque pensei que estava fazendo a coisa certa ? Logan começou enquanto observava com pesar que seu irmão continuava olhando pela janela, ignorando-o.
?Diga a esse imbecil para não me tratar com tanta familiaridade, ele não merece isso ? disse ele com um grunhido.
?Logan, seu irmão diz...
?É incapaz de se dirigir diretamente a mim? Está tão desapontado? Ou é repulsa?
?Repulsa? ? Esbravejou Roger virando-se para Logan com tanta brusquidão que Evelyn deu um pequeno salto no banco. ? Não, não é repulsa, mas decepção ? ele gritou. -- Sinto-me desapontado porque não teve a coragem de me confessar o que lhe aconteceu naquela noite e me deixa desconfortável descobrir que aceitou uma chantagem que durou, quanto?
Dois anos?
?Juro que fiz isso para salvá-lo ? Logan respondeu, levantando a voz, perdendo a paciência que tinha. ? Como poderia colocar em risco o esforço que tem feito por nós em todo esse tempo?
?Va te faire foutre! [9] ? O marquês resmungou.
?Por favor... deveria nos tranquilizar um pouco ? disse Evelyn, ouvindo a expressão do marido em francês. ? Lembre-se de que estamos indo para a casa dos Moore e não seria apropriado que estivesse tão zangado.
Eles pensarão que não estamos satisfeitos com a proposta de casamento.
?E não estou satisfeito! ? Roger assegurou. ? Essa mulher precisa de um bom homem e isso ? ele apontou o dedo para o irmão ? não é!
?Roger, querido, tenho certeza de que Logan achou que estava
fazendo a coisa certa. Sabe que ele te ama tanto que faria qualquer coisa para salvaguardar...
?A coisa certa? Evelyn, está realmente defendendo esse idiota?
? Esbravejou o marquês, dando ao seu irmão com um olhar assassino.
?Me sentia... envergonhado ? Logan comentou com um longo suspiro. Ele esfregou o rosto, desesperadamente, e olhou para o chão. -- Não queria revelar meu segredo porque não posso suportar que a pessoa que amo e respeito me diga que sou igual ao meu pai.
?Roger jamais teria feito tamanha tolice. ? A marquesa tentou consolá-lo com suas palavras ternas. ? Caso não se lembre, antes de Colin forçá-lo a se casar comigo, seu irmão era o maior libertino em Londres e tenho certeza de que, durante as suas noites de solteiro, participava de bacanais semelhantes.
?Não estamos falando de mim ? resmungou o marquês, recostando-se no banco.
?Eu sei, mas quero esclarecer que não está em condições de reprovar ou julgar nada, porque era igual ou pior do que ele ? acrescentou Evelyn olhando para Logan com cumplicidade.
?Não estou zangado com o que ele fez, mas por causa de sua falta de confiança ? disse Roger. Se não tivesse escondido de mim o que aconteceu, poderia tê-lo ajudado naquele dia.
?Como poderia me libertar dessa situação, Roger? ? Disse o visconde, levantando a voz novamente. ? Esse homem é intocável!
?Quem te disse esse absurdo? ? Ele murmurou. Ante ao silêncio que Evelyn e Logan ofereceram, ele continuou: ? Caso não saiba, a esposa de Burkes deu à luz sete crianças que morreram logo após o nascimento. De acordo com meus informantes, em seu último parto, e depois que esse descendente também morreu, ele a trancou no porão para lhe dar um castigo. Mas o muito desgraçado não percebeu que ela estava sangrando e necessitava urgentemente da atenção de um médico. Quando Burkes pensou que a punição havia chegado ao fim, ordenou a um criado que a retirasse, mas já era tarde demais, a condessa já estava morta.
?Meu Deus! ? Exclamou Evelyn apavorada, levando as mãos à boca.
?Naquele momento, Burkes ordenou que ela fosse transferida para seus aposentos e uma criada para verificar seu corpo em busca de sinais de que ela havia sido enclausurada. Mas não encontraram uma única marca
? continuou o marquês.
?Nada? Aquela pobre mulher não lutou para permanecer viva naquele porão? ? Evelyn retrucou.
?Não ? disse Roger, balançando a cabeça ligeiramente de um lado para o outro. ? Acredito que ela tenha chegado à conclusão de que só a
morte a libertaria do marido e se rendeu a ela ? acrescentou tristemente.
?Por que ninguém denunciou isso? Por que saiu impune desse assassinato se era um suspeito? Por que conhece essa versão da história? ?
Logan perguntou sem acreditar no que estava ouvindo. Não era o mesmo que George estava sofrendo? Ele também queria encontrar a morte para terminar sua provação?
?Porque seus grandes e honrados amigos, o juiz Clarke e o pároco Madden, aqueles que testemunharam sua depravação, asseguraram que o visitaram durante os três dias seguintes ao parto e exaltaram a atitude compreensiva, afetuosa e piedosa do conde em relação a sua esposa. Além disso, quem daria crédito à versão de um criado que foi demitido?
?Maldito seja! ? Logan clamou, socando a parede da carruagem. ? Maldito seja!
?Se tivesse tido coragem suficiente para explicar o que aconteceu com você, não teria sofrido extorsão. Essa atitude submissa apenas acentuou suas suspeitas e fortaleceu sua decisão de arruiná-lo ? disse Roger, observando as costas de seu irmão se apertarem. ? Mas a situação está resolvida. Aquele bastardo vai ficar longe de qualquer membro da minha família se não quiser terminar seus anos atrás das grades.
?Por que diz que está resolvido? ? Evelyn interrompeu.
—Ontem recebi uma carta do próprio Burkes, na qual pede
desculpas por seu comportamento inadequado e cumprirá meu mandato em breve. Espero que não demore muito para dar ao seu administrador tudo o que roubou de você.
?Está dizendo que...? Quando...? ? Logan perguntou, arregalando os olhos.
?Na mesma tarde em que me contou. É por isso que saí do meu escritório com tanta urgência, não queria que a última carruagem fosse para Brighton sem um mensageiro para levar a esse malnascido a minha carta ?
explicou calmamente. ? Espero que saiba que a fortuna será nosso único presente de casamento. Não merece nem um miserável xelim ? acrescentou sarcasticamente.
?Deveria me tirar tudo! Deveria me repudiar e me jogar na rua como um cachorro! ? Ele exclamou entre soluços.
?Agiu errado, mas isso vai torná-lo mais forte no futuro ? disse Evelyn, tocando seu ombro para oferecer seu apoio.
?Mas foi um tolo ? insistiu o marquês. ? A maturidade não é apenas demonstrada pela atitude que se tem de enfrentar problemas. Um homem maduro pensa, raciocina, vai à família e confia nela.
?No entanto, tudo foi resolvido e devemos nos concentrar no futuro ? disse Evelyn novamente. ? E lembre-se que na idade dele, também não pensava ou raciocinava. Só procurava, entre as mulheres ao seu redor,
aquelas que rapidamente levantariam a saia de seu vestido.
?Evelyn, pare essas comparações de uma vez! Tem que admitir que a sua atitude me machucou e que nunca esquecerei a traição ? disse Roger com raiva.
?Sim, esquecerá, querido. Como eu esqueci que depois que nos casamos, me deixou sozinha por sete longos meses ? ela disse desconfiada.
?Evelyn! ? O marquês esbravejou novamente. ? De que lado está? Não se lembra dos nossos votos de casamento?
? Ah, sim, claro que me lembro deles! ? Expressou sorrindo.
? E cumpro todos. Mas não posso permitir que esse absurdo estrague seu relacionamento. Logan agiu assim porque achou que era a coisa certa a fazer e você partiu porquê ...
?Enfer, ma femme![10] ? Disse Roger desesperado.
?Sinto muito... ? Logan murmurou. ? Sinto muito.
Os dois olharam para ele sem piscar por causa da surpresa que tiveram ao ouvi-lo dizer aquelas palavras. Não ouviram essas palavras na boca de Logan desde o dia do incêndio, quando estava chorando, inconsolável e se desculpando com Roger por não ter protegido Nathalie e sua mãe. Evelyn olhou para o marido, franziu a testa e balançou a cabeça para Logan. Não iria consolá-lo? Não iria perdoá-lo?
?A próxima vez que tiver um problema, fale comigo. Sabe que
pode confiar em mim ? disse o marquês depois de suspirar profundamente.
? Como Evelyn disse, nada do que fez pode me escandalizar, porque antes de me casar, garanto que fiz pior.
?Isso não é o que eu queria ouvir! ? Evelyn berrou.
?Ah não? Pensei que as rugas na sua testa indicavam que confessei como eu era perverso ...
?O que vou dizer a Anne? ? Ele os interrompeu, esfregando o rosto novamente. ? Como ela se casará com um homem que, em vez de proteger sua família, a colocou em perigo?
?Errando que se aprende, Logan, e isso nos torna mais fortes ?
assegurou Roger antes de estender a mão direita para firmar a paz. ?
Lembre-se de que não está sozinho, que não conta apenas com a minha ajuda, mas também com a de todos os nossos irmãos.
?Juro por minha vida que o farei ? assegurou Logan, aceitando a oferta de paz.
?Bem, agora que tudo está esclarecido, preciso que resolva a dúvida que tenho desde que o vi aparecer ? disse olhando para o cunhado.
?Qual? ? Ele retrucou com expectativa.
?Por que diabos colocou um colete tão horroroso? Como Howlett permitiu essa decisão horrível?
?Não gosta da cor laranja? Porque eu amo... ?Logan respondeu
antes de dar uma gargalhada.
***
?Como pode pensar em vestir aquele vestido assustador em um dia tão importante? ? Sophia esbravejou quando Anne desceu as escadas e se juntou a ela no corredor. ? Não lhe disse para jogar fora? Tire logo, Anne Moore! O visconde pode pensar que não temos a solvência para lhe comprar um.
?Não se preocupe com isso, mãe ? disse Anne, pegando-a pelo braço para levá-la de uma vez por todas para a sala onde o resto da família estava esperando por eles. ? O visconde terá prazer em me ver neste vestido e garanto que ele não vai pensar se é a segunda ou a terceira vez que o uso, mas quanto tempo levará para tirá-lo.
?Anne Moore! ? Exclamou com aparente rubor. ? Parou e olhou para ela. ? Não se lembra com quem está falando? Realmente acha que eu deveria saber essas coisas?
? Não se torne de repente numa mãe pudica. Outro dia, quando lhe contei tudo o que fiz durante a minha estadia em Harving House e a razão pela qual não tenho medo de me casar com Logan, não ruborizou ? Anne assinalou com ironia.
?A única coisa que queria era descobrir por que havia retornado sem ter terminado o retrato e decidido se casar com ele ? disse ela
embaraçada. ? O que se explica na sua narração, não é problema meu.
?Então, não acha que foi certo eu informar que o visconde é o cigano que vai quebrar a maldição? ? Disse novamente, afastando-se de sua mãe.
?Sim, essa parte admito que gostei. Quem teria pensado que o falecido marquês misturava seu sangue azul com o cigano?
?Não pode imaginar o que aconteceu... ? Anne disse quando entraram na sala.
?O que? O que aconteceu? ? Randall perguntou ansiosamente, tendo apenas ouvido as últimas duas palavras. Ele caminhou na direção delas, esfregou o rosto, arrastou os óculos até a testa e acrescentou: ? Não me diga que não quer mais se casar com o visconde? Por que? Não acha que ele será um bom marido? Tem medo? É normal depois de tudo o que aconteceu, mas acredito que ele não morrerá antes de chegar ao altar, tenho um palpite que me diz...
?Calma, papai ? interrompeu Anne, separando-se da mãe para que Randall pudesse tomar seu lugar. Deu-lhe um beijo suave na bochecha e acrescentou: ? Ainda quero casar com o visconde. Juro que ele é o homem que esperei toda a minha vida e não vou deixá-lo escapar.
?Obrigado Deus... ? o doutor suspirou aliviado ? não sabe como estou feliz em ouvir que está finalmente pronta para se tornar uma
esposa. Juro que tudo que quero é vê-las felizes e protegidas por bons homens.
?Então... todo o entusiasmo que mostrou desde que dei a notícia, não tem nada a ver com o fato de que vou me tornar uma viscondessa e que isso vai ajudar minhas irmãs? ? Ela retrucou sarcasticamente.
?De jeito nenhum ? ele disse categoricamente. ? Sempre soube que, mais cedo ou mais tarde, encontraria um bom marido. Tudo o que quero é que seja tão feliz quanto eu com sua mãe ? disse, esperando que seu tom de voz não revelasse que ela estava certa.
Uma vez que ela se casasse com o visconde, suas filhas seriam aceitas na sociedade e eventualmente encontrariam seus futuros maridos.
Embora ainda pensasse que para Josh e Madeleine não seria tão fácil. Que homem aceitaria uma guerreira como esposa? E quem poderia fazer desaparecer a timidez da pequena ruiva?
?Chegou! Logan está aqui! ? Josh gritou exultante, pulando na frente da janela. ? E ele está acompanhado pelos marqueses de Riderland!
?Meu Deus! ? Sophia exclamou nervosa. ? Sabia que eles também participariam? ? Olhou para Anne como se tivesse acabado de passar uma estrela cadente diante de seus olhos.
?Sim ? respondeu, sacudindo as saias do vestido.
Estava nervosa. Queria causar uma boa impressão nas pessoas
mais importantes para seu futuro marido. Eles seriam afáveis com sua família? Logan insistiu que eram pessoas gentis, carinhosas e bastante humildes, mas... não se arrependeriam do compromisso quando descobrissem os comportamentos imprevisíveis de suas irmãs?
?E, por que não nos contou nada? Nós teríamos nos preparados... Eu teria comprado... ? Sophia balbuciou muito preocupada, amaldiçoando novamente por não ter previsto que Anne mostraria a sua verdadeira personalidade através de seu vestido laranja.
?Foi por isso que não mencionei, mãe. Quero que conheçam a minha família tal como são. Sem enganos ou falsas aparências ? enfatizou.
Olhou para as irmãs e apertou os olhos quando não encontrou Elizabeth. ?
Onde está Eli? Ainda não terminou de se aprontar?
?Não vai descer ? respondeu a mãe. Continua com dor de cabeça e não seria apropriado que permanecesse aqui com aquela aparência abatida.
?Continua desculpando-a! ? Anne exclamou com raiva, ao lado de Mary, Josh e Madeleine. ? Maddy lutará contra sua timidez para ficar ao meu lado em um dia tão importante e ela não é capaz de suportar uma dor de cabeça miserável? Chega, mãe! Pare de dar desculpas! Acha que não sei o que está errado? ? Ela berrou. ? Bem, deverá aceitar de uma vez por todas!
?Não é isso ? interveio Randall. ? Eli está muito feliz pelo seu
próximo compromisso. Mas sabe que...
?O que faço, Sr. Moore? ? Shira perguntou, abruptamente quebrando a discussão que havia sido criada em momentos tão inapropriados.
? Estão se aproximando da entrada e tenho que recebê-los.
?Não os faça esperar ? Anne falou a Shira rudemente. ? Meu futuro prometido está tão impaciente quanto eu para me tirar daqui.
?Anne! ? Sua mãe a repreendeu: ? Não quero que pense isso de sua irmã!
?Não me lembre de tudo que fez antes de sairmos... ?
murmurou antes de respirar fundo, se acalmar e esperar a entrada do seu homem.
Que a mãe criadora tivesse pena de Elizabeth em algum momento de sua vida, porque ela nunca iria perdoá-la pela dor que causara num dia tão importante.
?Os Marqueses de Riderland ? anunciou Shira com voz trêmula. ? Desculpe, e há também o Visconde de Devon ? acrescentou, corando logo após sua apresentação nefasta.
Seus pais foram recebê-los e depois das saudações apropriadas, caminharam em direção a elas. Anne tentou respirar com facilidade, mas era impossível fazê-lo. Não se viam há quatro dias, só havia tido notícias dele através das cartas entregues por Howlett, que visitava Elizabeth
assiduamente. A última coisa que Logan havia escrito era que a amava e que estava desesperado, esperando que aquele dia chegasse.
?Milady, ela é Anne, minha filha mais velha. A próxima é Mary e as duas menores são Josephine e Madeleine. ? Quando foram nomeadas, saudaram a marquesa com uma reverência cuidadosa.
?Prazer em conhecê-las, senhoritas ? disse Evelyn, observando a cor do vestido da futura noiva de seu cunhado. Agora entendia a decisão de usar um colete daquela cor! Os dois, através de um detalhe tão pequeno, aceitavam quem realmente eram.
?Igualmente ? responderam em uníssono.
?Só se ela continuar a me aceitar ? Logan comentou, o que fez todos os olhos focarem nele.
?Acho que sim ? respondeu Randall, erguendo os óculos sobre a ponte do nariz com um dedo. ? Pelo menos há cinco minutos atrás, essa era a sua resposta. Mas já conheceu minhas filhas, milorde, e sabe que elas são muito voláteis.
?Então, com sua permissão, vou perguntar a ela pessoalmente
? disse antes de se dirigir a ela.
Suas pernas tremiam, seu coração batia tão rápido que perfurava seu peito e a porta fechada da sala. Ele estava lá: seu homem, seu Cigano.
Aproximando-se dela com seu terno elegante, o colete laranja e o cabelo
puxado para trás, para formalmente pedir pela união que haviam selado noites antes em um pequeno ritual cigano. Devia fazer o correto, o que correspondia ao seu dever como um aristocrata. Mas essa aparência desapareceria quando ambos vivessem em Whespert. Ela não permitiria que naquele lugar, ele continuasse mostrando uma aparência que não correspondia a ele. Queria o Logan cigano, selvagem e apaixonado, mesmo que quando estivesse fora, tivesse que se comportar como o Visconde de Devon, irmão do Marquês de Riderland.
?Senhorita Moore ? disse, ajoelhando-se na frente dela. ? Me daria a grande honra de me aceitar como marido?
?Sim! ? Exclamou Josephine. ?Ela aceita!
?Josephine Moore! ? Esbravejou Sophia, envergonhada pela intervenção inadequada de sua quarta filha.
?Ela é a jovem que pratica a arte de atirar facas, certo? ? A marquesa perguntou a Sophia.
?Sim, milady, é ela... ? concordou com alguma angústia.
?Nesse caso, se lhe parecer correto, Josephine poderia conhecer minha filha Evah. Ela também é bastante adepta das armas. No outro dia, John, um bom amigo do meu marido, ensinou-a a usar o arco e a verdade é que...
?Anne? ? Logan perguntou, mostrando a ela um anel.
Como era de se esperar, o visconde procurou, entre os joalheiros londrinos, uma aliança que refletisse a essência cigana de Anne e, com o olhar que ela estava exibindo, soube que o esforço valera a pena.
?Sim! ? Anne gritou antes de se jogar em seus braços e ouvir como um ato tão inadequado produziu uma tosse repentina em seu pai.
?Eu te amo, Anne Moore ? disse ele, deslizando o anel em seu dedo. ? Olhou em seus olhos e continuou em voz baixa. ? E juro, minha querida, que não a salvarei somente da maldição, mas de todos os perigos que tivermos que enfrentar.
E quando Madeleine ouviu as mesmas palavras que ouvira em sua visão, colocou as mãos no peito e suspirou. Logo, muito em breve o resto de suas irmãs encontrariam seus futuros maridos e ela.... Ela finalmente deixaria de ser a tímida Madeleine...
Epílogo.
Oito meses depois ...
Logan caminhava de um lado para o outro em seu escritório, com as mãos atrás das costas. Olhava de vez em quando para o relógio na parede e bufava quando percebia que o tempo não estava indo tão rápido quanto desejava. Quanto tempo duraria um parto? Anne suportaria isso? Randall e Mary poderiam ajudá-la caso se complicasse?
?Relaxe de uma vez ? disse Roger, depois de expelir a fumaça do charuto de sua boca. Felizmente para ele, Evelyn permitiu-lhe fumar em ocasiões especiais e a chegada do seu primeiro sobrinho era uma delas. ?
Lembre-se do nascimento de Evah. Foram intermináveis horas. Mas quando tiver seu filho em seus braços...
?Filho? ? Disse Philip, que continuava batendo os dedos da mão esquerda na mesa do escritório. ? Como sabe que será um menino?
Não se lembra de que existem duas alternativas? ? Perguntou mordaz.
?Será um menino ? disse Logan com confiança. Havia tido uma visão, assim como tinha visto Evah quando mal tinha dezessete anos.
Pensou que, com os anos e a recusa de ser cigano, essas visões ciganas desapareceriam, mas não foi esse o caso. Já na noite de núpcias sonhou que
um diabinho de cabelo preto gritava papai e ele o abraçava com força. ? E se chamará Roger Bennett Moore. ? Olhou para o irmão, esperando por sua reação.
?Belo nome ? ele respondeu em uma voz estrangulada pela emoção e com olhos brilhantes. ? Só espero que não continue com a maldição dos Bennett.
?A de libertino? ? Giesler falou novamente. ? Quer transformar a próxima geração Bennett em homens honrados e castos? Não se lembra dos movimentos sedutores de cílios ou como suspiravam quando andava por um grupo de mulheres? O que essas futuras viúvas farão sem um Bennett em sua cama? ? Comentou com exagero enquanto movia o copo de conhaque.
?Tenho certeza de que haverá outros libertinos para agradá-las
? assinalou Logan com um grande sorriso.
Só esperava que seu amigo não falasse sobre a educação que ofereceria a seus filhos, porque ele não os teria. Em suas visões, seu bom amigo tinha quatro lindas meninas como sua mãe. Philip não ficou horrorizado quando soube que o Sr. Moore deveria casar as cinco? Não zombou da angústia do médico? Quantas vezes zombou da tarefa desesperada de encontrar um marido para elas? Por tudo isso, a vida o puniria com uma comitiva de meninas.
?Se os Bennett se aposentarem, os Giesler tomarão o seu lugar.
? Se aproximou do amigo para dar uma tapinha em seu ombro. ? Mas não diga que não avisei.
?O que? ? Logan perguntou, erguendo as sobrancelhas negras.
?Que seus meninos não saberão o que as mulheres escondem sob suas saias e os meus serão capazes de despir uma mulher em menos de dez minutos ? acrescentou Philip, sorrindo imensamente.
?Não tenho dúvidas de que seus filhos terão essa capacidade altamente desenvolvida ? declarou o visconde, olhando para o irmão que sabia a quem a esposa de Philip daria à luz.
?Brindemos aos futuros Bennett e Giesler! ? Roger gritou, levantando o copo. Logan e Philip apoiaram o brinde. ? Isso só acaba de...
?Nasceu! ? Josh gritou abrindo a porta, interrompendo as palavras do marquês. -- É um menino! Um lindo menino! Vou contar aos outros! -- Continuou gritando quando se virou e se afastou do escritório.
Logan olhou para o irmão e depois para Philip. Ele estava feliz, animado e se sentia o homem mais feliz do mundo. Por fim, seu filho nasceu e sua esposa... sem esperar pelos abraços típicos, ele saiu da sala e subiu os degraus de três em três.
***
Quando Logan entrou no quarto, uma súbita sensação de prazer e bem-estar o dominou. Evelyn levava a criança em seus braços para a janela.
Mary afastava a roupa que o cobria para confirmar que tinha todos os dedos das mãos e dos pés, que ele respirava normalmente... Randall estava chorando e Sophia estava abraçada a ele para consolá-lo. Madeleine permanecia sentada no peitoril da janela, sorrindo toda vez que sua irmã e a marquesa elogiavam a beleza do bebê. Até mesmo Elizabeth acompanhava sua irmã em um momento importante para ela, embora continuasse longe de todos e usando um daqueles vestidos típicos de governantas. Logan não entendia por que adotara um comportamento tão estrito, mas parecia que, graças a isso, estava superando certos medos.
Apoiou-se no batente da porta e observou a bela imagem familiar.
Nunca imaginou que as palavras de seu irmão fossem tão precisas. Não só seu amor por sua esposa havia aumentado, mas os laços com toda a família também foram fortalecidos e aquele momento era uma mostra disso. Como Roger lhe disse em mais de uma ocasião, o instinto de proteção transformava um homem em uma fera que não hesitava em oferecer sua vida para salvar sua família. Ele a daria, por cada um dos membros que estavam no quarto, na sala, na cozinha, no escritório e no jardim.
Estavam todos ali. Nem um único irmão queria perder o nascimento do próximo Bennett, que seria nomeado herdeiro do Marquês de
Riderland e orgulhosamente ostentaria seu sobrenome, pois os vestígios deixados por seu bisavô desapareceriam. Roger e ele se encarregariam de terminar...
?Entre, não fique na porta ? disse Anne quando o descobriu em pé na entrada. ? Seu filho o espera.
?Meu filho pode esperar um pouco mais. ? Logan segurou as lágrimas causadas pela emoção e caminhou até a esposa. ? Está bem? ?
Perguntou depois de colocar um beijo suave em seus lábios.
?Sim, muito bem ? respondeu, estendendo a mão esquerda para que ele não tivesse medo de sentar-se ao seu lado. ? Mas mudei de ideia sobre ter seis filhos. Acho que vamos ter o suficiente com dois ?
acrescentou ela, descansando a cabeça no peito do marido.
?Roger, Samuel e Philip ? disse Logan.
?Três homens? De verdade? Não pode mudar essas visões? ?
Insistiu nervosa.
?Não ? Logan negou. ? Dará à luz a três filhos preciosos, iguaizinhos a mim ? acrescentou orgulhoso.
E nesse momento Anne se benzeu e se confiou à mãe criadora.
Um pouco do próximo romance
Mary sentou no banco e olhou de lado para sua acompanhante.
Parecia tão preocupada que desejou lhe dizer algo que pudesse acalmá-la. No entanto, não tinha o dom de tranquilizar as pessoas, mas de curá-las.
?Desculpe-me por tê-la tirado de sua casa em um horário tão inapropriado, mas sua mãe, depois de lhe explicar o que está acontecendo, insistiu que a senhorita é a mulher adequada para atendê-lo.
?Não foi um problema, pelo contrário, sinto-me muito honrada por poder ajudá-la ? Mary respondeu, acrescentando um leve movimento ao comentário com a mão direita enluvada. ? Ficarei feliz em descobrir que doença seu marido tem e dizer-lhe o tratamento adequado.
?Meu marido? ? Valeria estalou, arregalando os olhos. ? Não é meu marido que está doente, mas meu irmão.
?Sinto muito, devo ter entendido mal a minha mãe ? disse Mary, corando instantaneamente. ?Às vezes, quando fico emocionada, não escuto com atenção.
?Não se preocupe, isso geralmente acontece comigo também.
Acho que é muito comum mulheres inteligentes selecionarem o que as interessa.
Naquele comentário, Mary deu uma risada alta. Quando se
recuperou, voltou seu olhar para a Sra. Reform e esperou que o nome de seu irmão fosse revelado, mas ela permaneceu em silêncio.
?E a quem devo assistir? ? Perguntou finalmente.
?Talvez o conheça, senhorita Moore.
?Mary, por favor, me chame de Mary.
?-Obrigada, então o que disse, Mary, é que pode ter ouvido falar dele porque é um homem bem conhecido nesta cidade. Ele trabalhou na Scotland Yard por alguns anos, mas quando estava prestes a conseguir um cargo importante, se recusou a fazê-lo e decidiu se tornar um marinheiro ?
disse com pesar enquanto observava Mary continuar sacudindo a cabeça.
?Confesso que sou uma mulher antissocial. Quase não saio de casa e, quando o faço, não tenho entre meus objetivos o de me relacionar com as pessoas que encontro, exceto se tiver que curá-las ? disse bruscamente.
?Entendo... Valeria ficou mais intrigada ainda. Se a jovem não o conhecia, por que seu irmão não parava de chama-la quando a febre aumentava? Esticou a saia do vestido para não enrugar, depois colocou as duas mãos no colo e olhou para a jovem sem piscar. ? Mas creio que conhece meu irmão ? insistiu.
?Se me disser o nome, posso responder com mais certeza ?
disse Mary, cansada.
Por que tanto mistério? O irmão daquela mulher era um ex
presidiário? Havia cometido crimes? Seria o próprio Frankenstein?
?Meu irmão é Philip Giesler ? Valeria finalmente declarou.
E naquele exato momento, Mary notou como seu queixo caía.
Nota do autor:
Espero que tenham gostado do romance e que me perdoem por deixá-los com tantas perguntas na cabeça. Esclarecerei algumas antes que me ataquem.
Em primeiro lugar, O desejo de Mary é o próximo. Os protagonistas serão Mary Moore e Philip Giesler. Se não se lembra bem deste último personagem, informo que o encontrará, ainda adolescente, em Minha amada Trapaceira.
Na segunda posição... o que aconteceu com Elizabeth? Basta dizer que, no prólogo de seu livro, o terceiro, descobrirão o que aconteceu com ela, nada de bom na verdade.
O quarto romance é a história de Josh. Eu ainda não sei como ele conseguirá isso, mas Eric está determinado a fazê-la se apaixonar ...
E o quinto é o de Madeleine. Quem será esse cavalheiro que acabará com sua timidez? Surpresa! Descobrirá quando o ler...
A propósito, não se preocupem com George Laxton, ele também terá sua história. Apesar de ser um personagem secundário, tenho certeza que irão me perguntar o que acontecerá com ele e se poderá se livrar do seu malvado tio. Esse será o sexto livro da série: A filha do duque.
Também quero esclarecer que é verdade que uma banheira,
aquecida a gás, voava com seu ocupante dentro. Colocarei o pedaço que me levou a ficar mais de vinte minutos rindo. Está na página Cuirosfera.com/Historia del baño:
No entanto, algumas décadas depois, em 1868, o inglês Benjamin Maugham inventou a banheira de água aquecida a gás, e tudo sugeria que a banheira seria popular, mas infelizmente um dia, um aquecedor explodiu e enviou banheira e ocupante ao outro lado da sala, onde aterrissaram imersos em perplexidade. As pessoas não queriam ouvir falar dessa engenhoca e preferiam comprar água quente que era vendida a domicilio.
É por isso que Mary não queria entrar em uma banheira sem usar a camisola!!
PS. Para que depois não digam que os autores não estudam todos os detalhes que oferecem. No meu caso, leio e pergunto muito para tornar meus romances mais reais.
Sem mais delongas, obrigada por terem lido e espero que estejam tão ansiosos quanto eu em saber o que acontecerá com Mary Moore e Philip Giesler.
Me encontrarão em:
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Outros títulos:
A Solidão do Duque. Série
os Cavalheiros I:
A vida libertina do futuro
Duque de Rutland termina depois de lutar um duelo de honra com um marido enganado. Envergonhado pelo resultado deste desafio, ele decide deixar Londres e ir para Haddon Hall, o lugar pacífico onde ele cresceu, na
esperança de encontrar a paz que ele tão desesperadamente precisa. No entanto, a chegada de notícias inesperadas altera essa suposta calma e faz com que o duque fique bêbado. Apesar do conselho de seus parentes, ele decide cavalgar e galopar através de seus domínios. Quando ele abre os olhos após uma queda infeliz, descobre que uma mulher cuida dele em algum lugar isolado de suas terras. Seu nome, Beatrice e seu único desejo, viver sozinho pelo resto de sua vida.
A Surpresa do Marquês. Série os
Cavalheiros II:
Roger Bennett, o futuro marquês de Riderland, se
define como um cavalheiro disposto a ajudar os pobres infelizes de prazeres sexuais. Ele gosta tanto da sua vida, que quer continuar assim até o fim dos seus dias. No entanto, uma pessoa irá suprimir essa vida de devassidão e libertinagem que tanto anseia manter.
Resignado a ter que viver com uma esposa que não conhece ou ama, decide encarar seu futuro com integridade. Embora quando seus olhos azuis se fixam em Evelyn, descobre que tudo o que desejava se evaporou. Mas o amor tem que ser trabalhado e, para um homem que achava fácil quebrar corações, será incrível ver como o seu próprio se estilhaça como o vidro.
A Tristeza do Barão. Série os
Cavalheiros III:
Dizem que a paixão juvenil nunca é esquecida, talvez porque seja pura e real o suficiente.
Depois de anos procurando por Anais
Price, sonhando em tê-la novamente ao seu lado, Federith Cooper tem que se casar com Lady Caroline, já que ela carrega seu filho no ventre, ou assim ele pensa. Mas sua vida de casado é um inferno; sua esposa rejeita sua presença, sua ternura e até sente repulsa por ele, o homem mais educado e respeitoso de Londres.
Federith tenta aceitar a vida que o tocou, mas ... por quanto tempo manterá o comportamento frio e aristocrático que seus pais o impuseram
desde criança, quando o amor de sua vida reaparece anos depois?
Um amor verdadeiro não desaparece com o tempo, e a promessa que ele fez para protegê-la, cuidá-la e amá-la tampouco.
O coração do inspetor O´Brian
Série os Cavalheiros IV
Nunca abandonou uma batalha
sem lutar, mas ela deixou bem claro que não havia nascido para ficar com ele.
Abatido, humilhado e com o coração partido, O´Brian se propôs a destruir aquele sentimento que tinha por seu grande amor.
Entretanto, quando por fim conseguiu não pensar tanto nela, a vida o brinda com outra oportunidade e nesta ocasião, não permitirá que April Campbell, viúva do visconde de Gremont, rejeite-o de novo.
Será que April superará o engano e a traição de seu falecido marido? Ela será
capaz de dar uma chance ao homem nunca a esqueceu?
Quem sabe ...
(Esta é a história de dois personagens que aparecem na novela A Tristeza do Barão: o inspetor O´Brian e a viscondessa viúva de Gremont)
Minha Amada Trapaceira. Série os
Cavalheiros V:
Soberbo,
arrogante,
petulante,
vaidoso ... são alguns dos adjetivos usados por quem conhece Trevor Reform, dono do mais famoso clube de cavalheiros de Londres, para descrevê-lo. O
poder que o dinheiro lhe dá o fez esquecer suas origens humildes, transformando-o em um ser desprezível, apático e desumanizado. Mas o destino se esforçará para lembrá-lo quem ele realmente é ...
Depois de encontrar a causa do maior problema que ele teve desde que abriu o clube, Trevor está obcecado em removê-lo o mais rápido possível do local. Para isso, elabora um plano, aparentemente tão perfeito, que não duvida, nem sequer por um segundo, de que alcançará seu objetivo.
Enganada
Essa é a história de Adele, uma
médica forense que tenta achar lugar em uma profissão masculina. No entanto, toda a sua luta profissional se verá interrompida pela ligação de um pai cheio de dor que a pede que aceite o caso de sua filha.
Desse momento em diante, todo o seu mundo cairá aos seus pés.
Descobrirá algo que jamais acreditou que encontraria e isso será o motivo para que adentre, sem se dar conta, em uma trama cheia de emoções, mentiras e sofrimentos.
SE RENDERÁ SEM LUTAR POR AQUILO NO QUE
ACREDITA E AMA DE VERDADE?
Obrigado!
[1] Olhos do diabo
[2] Por todos os males do mundo!
[3] Burro! Estúpido
[4] As artes marciais chinesas são conhecidas na China como wushu e no ocidente como kung fu. Na China, a expressão kung fu caracteriza qualquer estilo de arte marcial, ou tarefa feita com perfeição, não apenas artes marciais. (Fonte: Wikipédia)
[5] Malditas pessoas em alemão
[6] Ipso facto é uma expressão em latim, que significa “pelo próprio fato” , “por isso mesmo” ou “consequentemente” , “consequência direta da ação” , na tradução para a língua portuguesa.
[7] Nomeie que Alexandre, o Grande, colocou seu cavalo.
[8] Hefesto es el dios griego del fuego y la forja, protector de los herreros, los artesanos, los escultores, los metales y la metalurgia.
[9] Foda-se!
[10] Diabos, esposa!
Dama Beltrán
O melhor da literatura para todos os gostos e idades