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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


A ORDEM DE FÊNIX / J. K. Rowling
A ORDEM DE FÊNIX / J. K. Rowling

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

 

                       DUDA DEMENTE

O dia mais quente do verão até então estava chegando ao fim e um silêncio sonolento caía sobre as grandes casas quadradas da Rua dos Alfeneiros. Os carros que normalmente resplandeciam estavam empoeirados nos passeios e gramados que uma vez foram verde esmeralda e agora estavam secos e amarelados - pelo uso de mangueiras que haviam sido banidas devido à seca. Privados da lavagem dos carros e aparação da grama, os habitantes da Rua dos Alfeneiros se retirara  para a sombra de suas casas frescas, as janelas arreganhadas na esperança de atrair uma brisa inexistente. A única pessoa no lado de fora era um adolescente deitado de costas num canteiro de flores no exterior do número quatro.

Ele era um garoto esquelético, cabelos pretos e óculos, tinha uma aparência ligeiramente não saudável de alguém que crescera demais num pequeno espaço de tempo. Suas calças jeans eram gastas e sujas, sua camiseta  larga e desbotada, as solas de seus tênis estavam se soltando. A aparência de Harry Potter não o tornava querido pelos vizinhos, que eram o tipo de pessoa que achava que o desmazelamento deveria ser punido pela lei, mas já que ele se escondera atrás de um grande arbusto de hortênsias, esta noite ele estava bem invisível aos passantes. De fato, o único modo de ser notado era se seu tio Válter ou tia Petúnia meterem suas cabeças para fora da janela da sala de estar e olharem direto para o canteiro abaixo.

 

 

 

 

Por tudo, Harry achava que devia ser parabenizado pela idéia de se esconder ali. Ele não estava, talvez, muito confortável deitado na terra quente e dura mas, por outro lado, ninguém estava olhando feio para ele, rangendo os dentes tão alto que ele não conseguia ouvir as notícias ou lançando perguntas nojentas para ele, como acontecera toda vez que tentara se sentar na sala para assistir a televisão com os tios.

 

Quase como se este pensamento tivesse flutuado pela janela aberta, Válter Dursley, o tio de Harry, de repente falou.

 

- Bom ver que o garoto parou de tentar se meter. Onde ele está, aliás?

 

- Não sei - disse tia Petúnia, indiferente. - Não está na casa.

 

Tio Válter resmungou.

 

- Assistindo o jornal - ele disse ofensivamente -, gostaria de saber o que ele está realmente aprontando. Como se um garoto normal se importasse com as notícias. Dudley não tem a menor idéia do que está acontecendo; duvido que saiba quem é o Primeiro Ministro! De qualquer forma, não é como se houvesse algo sobre a turma dele no nosso jornal.

 

- Válter, psiu! - disse tia Petúnia. - A janela está aberta!

 

- Ah, sim, desculpe, querida.

 

Os Dursley silenciaram-se. Harry escutou uma música de comercial sobre o cereal Fruit'n' Bran enquanto observava a Sra. Figg, uma velha senhora louca que adorava gatos da próxima Wisteria Walk, passar trotando vagarosamente. Estava de testa franzida e murmurando para si. Harry ficou muito feliz por estar escondido atrás do arbusto, já que a Sra. Figg recentemente o chamava para tomar chá toda vez que o encontrava na rua. Ela tinha virado a esquina e desaparecido de vista antes da voz de tio Válter flutuar para fora da janela de novo.

 

 - Dudinha saiu para o chá?

 

- Na casa dos Polkiss – disse tia Petúnia carinhosamente. - Ele tem tantos amiguinhos, é tão popular.

 

Harry suprimiu um ronco com dificuldade. Os Dursley realmente eram incrivelmente estúpidos quando se tratava de seu filho, Dudley. Eles tinham engolido todas suas fracas mentiras sobre tomar chá com um membro diferente de sua turma toda noite das férias de verão. Harry sabia perfeitamente bem que Dudley não tomava chá em lugar algum; ele e sua turma passavam toda noite destruindo o parque de diversões, fumando nas esquinas das ruas e atirando pedras nos carros e crianças que passavam. Harry os vira fazer isso durante suas caminhadas noturnas por Little Whinging; passara a maior parte de suas férias vagando pelas ruas, varrendo as ruas caçando jornais das latas de lixo pelo caminho.

 

As notas de abertura da música que marcava o telejornal das sete horas chegou aos ouvidos de Harry e seu estômago se embrulhou. Quem sabe esta noite - depois de um mês de espera - seria a noite.

 

"Números recordes de turistas encalhados enchem os aeroportos enquanto a greve dos carregadores de bagagens espanhóis chega a sua segunda semana."

 

- Daria a eles uma cesta por toda vida, eu daria - reclamou o tio Válter no fim da frase do locutor, mas não importava: do lado de fora, no canteiro, o estômago de Harry parecera abrir-se. Se alguma coisa houvesse ocorrido com certeza seria o primeiro item do noticiário; morte e destruição eram mais importantes do que turistas encalhados.

 

Ele soltou um longo e baixo suspiro e ergueu os olhos para o brilhante céu azul. Todos os dias deste verão tinham sido iguais: a tensão, a expectativa, o alívio temporário e então a crescente tensão de novo... E sempre, ficando mais insistente todo tempo, a pergunta de por que nada tinha acontecido ainda.

 

Continuou escutando, só em caso de haver alguma pequena pista, não reconhecida pelo que realmente era pelos trouxas - um desaparecimento inexplicado, quem sabe, ou algum acidente estranho... Mas a greve dos carregadores de bagagem foi seguida pelas notícias sobre a seca no Sudeste.

 

- Espero que esteja ouvindo aí no vizinho! - berrou tio Válter. - E seu regador às três da manhã! - então um helicóptero que tinha quase caído num campo em Surrey, então o divórcio de uma famosa atriz do seu famoso marido.

 

- Como se estivéssemos interessados sobre seus casos sórdidos -, fungou tia Petúnia, que estivera seguindo o caso obsessivamente em cada revista que pudesse por suas mãos ossudas.

 

Harry fechou os olhos contra o céu noturno agora flamejante enquanto o locutor dizia: e finalmente, Bungy, o periquito descobriu um novo modo de manter-se fresco neste verão. Bungy, que vive no Cinco Penas em Barnsley, aprendeu o ski aquático! Mary Dorkins foi descobrir mais.

 

Harry abriu os olhos. Se tinham chegado aos periquitos que faziam ski aquático não havia mais nada que valesse ouvir. Ele rolou cuidadosamente e se pôs de quatro, preparando-se para rastejar para longe da janela.

 

Ele se mexera cerca de dois centímetros quando várias coisas aconteceram numa sucessão bem rápida.

 

Um som de chicote alto e ecoante quebrou o silêncio sonolento como um tiro; um gato correu debaixo de um carro estacionado e fugiu de vista; um berro, um xingamento gritado e o som de porcelana quebrando veio da sala de estar dos Dursley, e embora este fosse o sinal que Harry estivera esperando, ele se pôs de pé num salto, ao mesmo tempo tirando do cós do jeans uma fina varinha de madeira como se estivesse desembainhando uma espada - mas antes que pudesse se pôr de pé completamente o topo de sua cabeça colidiu com a janela aberta dos Dursley. O barulho resultante fez tia Petúnia gritar ainda mais alto.

 

Harry sentiu como se sua cabeça tivesse rachado em duas. Os olhos marejando, ele cambaleou, tentando concentra-se na rua para achar a fonte do barulho, mas mal tinha se endireitado quando duas grandes mãos púrpuras passaram pela janela aberta e fecharam-se com força em volta de sua garganta.

 

- Esconda isso! – tio Válter resmungou no ouvido de Harry. - Agora. Antes que alguém veja!

 

- Tira as mãos de mim! - Harry arfou. Por alguns segundos eles lutaram, Harry afastando os dedos tipo salsicha com a mão esquerda, sua direita segurando com força sua varinha erguida; então, enquanto a dor no alto da cabeça de Harry deu uma pulsação particularmente ruim, tio Válter gritou e soltou Harry como se tivesse recebido um choque elétrico. Alguma força invisível parecia ter passado pelo seu sobrinho, tornando-o impossível de se segurar.

 

Ofegando, Harry caiu sobre o arbusto de hortênsias, endireitou-se e olhou em torno. Não havia sinal do que causara o sonoro barulho de chicote, mas havia vários rostos espiando através de várias janelas próximas. Guardou sua varinha rapidamente nos jeans e tentou parecer inocente.

 

- Noite adorável! - gritou Tio Vernon, acenando para a Sra. do número sete, do lado oposto, que olhava furiosa detrás de suas cortinas. - Ouviram o escape bem agora? Deu a mim e a Petúnia um susto!

 

Ele continuou a sorrir de um modo horrível e maníaco até que todos os vizinhos curiosos desaparecessem de suas várias janelas, então o sorriso tornou-se uma careta de ódio enquanto acenava para Harry se aproximar.

 

Harry se aproximou mais alguns passos, tomando cuidado de parar um pouco antes do ponto em que as mãos esticadas de tio Válter pudessem continuar seu estrangulamento.

 

- Que diabos você quer com isso, garoto? - perguntou tio Válter numa voz coaxante que tremia com fúria.

 

- O que eu quero com o quê? - disse Harry friamente. Mantinha-se olhando para a esquerda e para direita da rua, ainda esperando ver a pessoa que tinha feito o barulho.

 

- Fazer uma algazarra como um revólver bem do lado de fora de nossa...

 

- Não fiz aquele barulho - disse Harry com firmeza.

 

O fino rosto de cavalo de tia Petúnia agora aparecia ao lado do grande e púrpura do tio Válter. Ela parecia lívida.

 

- Por que estava se escondendo debaixo de nossa janela?

 

- Sim... Sim, boa pergunta, Petúnia! O que estava fazendo debaixo da janela, garoto?

 

- Escutando o noticiário - disse Harry numa voz resignada.

 

Seus tios trocaram olhares de horror.

 

- Escutando o noticiário! De novo?

 

- Bom, ele muda todo dia, sabe - disse Harry.

 

- Não banque o espertinho comigo, garoto! Quero saber o que você está aprontando de verdade. E não me dê mais desta história idiota de escutar as notícias! Você sabe perfeitamente bem que sua laia...

 

- Cuidado, Válter! - sussurrou tia Petúnia, e tio Válter abaixou a voz de modo que Harry mal conseguia ouvi-lo. - Que sua laia não aparece nos nossos noticiários!

 

- Isso é tudo que você sabe - disse Harry.

 

Os Dursley arregalaram os olhos para ele por alguns segundos, depois tia Petúnia disse.

 

- Você é um mentirozinho nojento. O que estão todas aquelas - ela também abaixou a voz de modo que Harry teve que ler seus lábios a próxima palavra - corujas fazendo se não estão te trazendo notícias?

 

- Ahá! - disse tio Válter num sussurro de triunfo. - Saia desta, garoto! Como se não soubéssemos que você consegue todas suas notícias com aqueles pássaros pestilentos!

 

Harry hesitou por um momento. Custava algo a ele contar a verdade desta vez, embora seus tios possivelmente não pudessem saber quão ruim ele se sentia em admitir isso.

 

- As corujas... Não me trazem notícias - ele disse sem emoção.

 

- Não acredito nisso - disse tia Petúnia imediatamente.

 

- Não mais do que eu - disse tio Válter poderosamente. - Não somos tolos, sabe.

 

- Bom, isso é novidade para mim - disse Harry, seu humor piorando, e antes que os Dursley pudessem chamá-lo de volta ele girou nos calcanhares, cruzou o gramado da frente, pulou o baixo muro do jardim e saiu caminhando pela rua.

 

Ele estava com problemas agora e sabia disso. Teria que enfrentar os tios depois e pagar o preço por sua rudeza, mas não se importava muito no momento; tinha assuntos muito mais sérios na cabeça.

 

Harry tinha certeza de que o barulho de chicote tinha sido feito por alguém aparatando ou desaparatando. Era exatamente o som que Dobby, o elfo doméstico, fazia quando desaparecia no em pleno ar. Era possível que Dobby estivesse ali, na Rua dos Alfeneiros? Dobby poderia o estar seguindo bem agora? Enquanto este pensamento lhe ocorreu, ele girou em torno e fitou a Rua dos Alfeneiros, mas ela parecia estar completamente deserta e tinha certeza de que Dobby não sabia como se tornar invisível.

 

Ele continuou a caminhar, quase sem notar a rota que tomava, pois vagara por estas ruas com tanta freqüência ultimamente que seus pés o carregavam pelos caminhos favoritos automaticamente. Dava alguns passos e olhava para trás. Alguém mágico estivera perto dele, enquanto deitava-se entre as begônias moribundas de tia Petúnia, tinha certeza disso. Por que não falara com ele, por que não fizera contato, por que estavam escondendo-se agora?

 

E então, enquanto seu sentimento de frustração chegava ao máximo, sua certeza esvaziou-se. Quem sabe não seria nenhum som mágico, afinal de contas. Quem sabe ele estivera tão desesperado pelo menor sinal de contato do mundo ao qual pertencia que estava simplesmente exagerando com barulhos perfeitamente normais. Teria ele certeza de que não fora o som de algo se quebrando dentro de uma casa vizinha?

 

Harry sentiu afundar tolamente seu estômago e antes que percebesse o sentimento de desesperança que o atormentara por todo verão jorrou sobre ele mais uma vez.

 

Amanhã de manhã ele seria acordado pelo despertador às cinco horas, de modo que pudesse pagar a coruja que entregava o Profeta Diário - mas havia algum sentido em continuar a recebê-lo? Harry meramente olhava para a primeira página antes de atirá-lo fora ultimamente; quando os idiotas que dirigiam o jornal finalmente percebessem que Voldemort estava de volta, isso seria manchete, e este era o único tipo de notícia em que se interessava.

 

Se tivesse sorte, também haveria corujas carregando cartas de seus melhores amigos Rony e Hermione, embora qualquer esperança que ele tivera de que as cartas deles trouxessem notícias há muito tinha sido frustrada.

 

Nós não podemos dizer muito sobre você-sabe-o-quê, obviamente... Recebemos ordens de não dizer nada importante, no caso de nossas cartas serem desviadas... Estamos bem ocupados, mas não posso dar detalhes. Há muita coisa acontecendo, contaremos tudo quando o vermos.

 

Mas quando eles iriam vê-lo? Ninguém parecia se incomodar muito com a data precisa. Hermione rabiscara "Espero vê-lo em breve" dentro do cartão de aniversário mas quão em breve isso era? Até onde Harry podia dizer das vagas pistas das cartas deles, Hermione e Rony estava no mesmo lugar, provavelmente na casa dos pais de Rony. Ele mal conseguia agüentar a idéia deles se divertindo n'A Toca quando ele estava preso na Rua dos Alfeneiros. De fato, ele estava tão zangado com eles que tinha jogado fora, sem abrir, as duas caixas de chocolates da Dedosdemel que tinham enviaram pelo aniversário. Arrependera-se mais tarde, depois da murcha salada que tia Petúnia fizera para o jantar daquela noite.

 

E com o que Rony e Hermione estavam ocupados? Por que não estava ele, Harry, ocupado? Não provara ser capaz de lidar com muito mais do que eles? Tinham todos esquecido o que ele fizera? Não tinha sido ele quem entrara naquele cemitério e assistira Cedrico ser assassinado e fora amarrado naquela lápide e quase morto?

 

"Não pense nisso", Harry disse a si mesmo firmemente, pela centésima vez naquele verão. Já era muito ruim ele ficar revisitando o cemitério nos pesadelos, sem ter que lidar com eles nas horas em que estava acordado também.

 

Ele virou uma esquina na Rua Magnólia; no meio do caminho passou pelo estreito beco do lado de uma garagem, onde ele dera de cara com seu padrinho pela primeira vez. Sirius, pelo menos, parecia entender como Harry se sentia. Na verdade, as cartas dele eram tão vazias de notícias quanto as de Rony e Hermione mas pelo menos continham palavras de cautela e consolo, em vez de pistas irritantes:

 

"Sei que isso deve ser frustrante para você... Fique com o nariz limpo e tudo ficará bem... Seja cuidado e não faça nada precipitado."

 

Bom, pensou Harry enquanto cruzava a Rua Magnólia, virava para a Magnolia Road e se dirigia para o parque de diversões escurecido, ele tinha (no geral) feito o que Sirius aconselhara.

 

Tinha pelo menos resistido à tentação de amarrar seu malão na vassoura e partir para A Toca sozinho. De fato, Harry achava que seu comportamento fora muito bom, considerando quão frustrado e zangado se sentia, preso na Rua dos Alfeneiros por tanto tempo, reduzido a se esconder em canteiros de flores, na esperança de ouvir algo que pudesse apontar o que Lord Voldemort estava fazendo. No entanto, era bem torturante receber ordem de não ser imprudente por um homem que passara doze anos numa prisão bruxa, Azkaban, fugira, tentara cometer o assassinato pelo qual fora condenado inicialmente, então fugira com um hipogrifo roubado.

 

Harry saltou sobre o portão trancado do parque e andou pelo gramado seco. O parque estava tão vazio quanto às ruas em torno. Quando alcançara os balanços, ele afundara no único que Dudley e seus amigos não haviam conseguido quebrar ainda, enrolou um braço em volta da corrente e fitou o chão com mau humor. Não seria capaz de se esconder no canteiro dos Dursley novamente. Amanhã teria que pensar num modo novo de ouvir as notícias. Enquanto isso não tinha pelo que esperar a não ser outra noite perturbadora e sem descanso, porque mesmo quando ele escapava dos pesadelos com Cedrico, tinha preocupantes sonhos com longos corredores escuros, todos terminando em becos sem saída e portas trancadas, que supunha ter algo a ver com o sentimento preso que tinha quando estava acordado. Freqüentemente a velha cicatriz na testa beliscava desconfortavelmente, mas não se enganava que Rony e Hermione ou Sirius fossem achar que aquilo ainda era interessante. No passado, sua cicatriz doer tinha avisado que Voldemort estava se fortalecendo novamente, mas agora que Voldemort estava de volta ela provavelmente o lembraria que sua irritação regular era somente algo a ser esperado... Nada com que se preocupar... Notícia antiga...

 

A injustiça disso tudo corria dentro dele de modo que queria gritar de ódio. Se não fosse por ele, ninguém nem mesmo saberia que Voldemort estava de volta! E sua recompensa fora ficar preso em Little Whinging por quatro semanas inteiras, completamente cortado do mundo bruxo, reduzido a se agachar entre begônias moribundas, de modo que pudesse ouvir sobre periquitos que faziam ski aquático! Como Dumbledore poderia ter esquecido dele tão facilmente? Por que Rony e Hermione tinham se encontrado sem convidá-lo também? Quão mais ele deveria agüentar Sirius lhe dizendo para sentar direito e ser um bom rapaz; ou resistir à tentação de escrever para o estúpido Profeta Diário e avisar que Voldemort voltara? Estes pensamentos furiosos rodilhavam-se na cabeça de Harry e seu interior torcia-se com raiva, enquanto uma noite de veludo sufocante caía em torno, o ar cheio do cheiro da grama quente e seca, o único som que havia era o rugido do tráfego da estrada além das cercas do parque.

 

Não sabia por quanto tempo ficara sentado no balanço, antes que o som de vozes interrompesse suas reflexões e ele ergueu os olhos. Os postes das ruas vizinhas lançavam um brilho nebuloso forte o suficiente para delinear um grupo de pessoas caminhando pelo parque. Uma delas estava cantando uma canção alta e rude. As outras estavam rindo. Um barulho suave veio de várias bicicletas caras que estavam pedalando.

 

Harry sabia quem eram aquelas pessoas. A figura da frente era inegavelmente seu primo, Dudley Dursley, indo para casa, acompanhado por sua fiel turma.

 

Dudley estava tão largo quanto sempre, mas um ano de rígida dieta e a descoberta de um novo talento tinha forjado uma boa mudança no seu físico. Como tio Válter dizia prazerosamente a qualquer um que ouvisse, Dudley recentemente se tornara o Campeão de Boxe Peso Pesado Júnior Interescolar do sudeste. "O nobre esporte", como tio Válter o chamava, tinha tornado Dudley ainda mais formidável do que parecia a Harry nos dias do primário quando ele servira de primeiro saco de pancadas de Dudley. Harry nem remotamente temia mais seu primo, mas ainda não achava que Dudley aprender a socar mais forte e com mais precisão fosse motivo de comemoração. As crianças do bairro estavam aterrorizadas com ele - ainda mais do que eram "daquele garoto Potter" que, tinham sido avisados, era um vândalo insensível e freqüentava o Centro de Segurança St. Brutus para Rapazes Criminosos Incuráveis.

 

Harry observava as figuras escuras cruzando a grama e se perguntava em quem bateram naquela noite. Olhem em volta, Harry se descobriu pensando enquanto os observava. "Vamos... Olhem em volta... Estou sentado aqui completamente sozinho... Venham aproveitar..."

 

Se os amigos de Dudley o vissem sentado ali com certeza entrariam em fila para chegar nele, o que Dudley faria então? Ele não queria perder a pose na frente da turma ele ficaria assustado em provocar Harry... Seria mesmo divertido assistir o dilema de Dudley, para zombá-lo, observá-lo, com ele impotente para responder... E se qualquer dos outros tentasse acertar Harry ele estava pronto - tinha sua varinha. Deixe-os tentar... Ele adoraria descarregar sua frustração nos rapazes que uma vez haviam tornado sua vida um inferno.

 

Mas eles não se voltaram, eles não o viram, estavam quase nas cercas. Harry dominou o impulso de chamá-los... Procurar briga não era uma boa idéia... Ele não devia usar mágica... Estaria se arriscando a ser expulso de novo. As vozes da turma de Dudley esmoreceram; saíram de vista, dirigindo-se pela  Magnolia Road.

 

"Aí está, Sirius", Harry pensou tolamente. "Nada imprudente. Fique com o nariz limpo. Exatamente o oposto do que você fez".

 

Ele se pôs de pé e espreguiçou. Tia Petúnia e tio Válter pareciam sentir que quando Dudley aparecesse era a hora certa de estar em casa e qualquer momento depois disso era tarde demais. Tio Válter ameaçara trancar no armário se ele voltasse para casa depois de Dudley de novo, então, reprimindo um bocejo e ainda de cara feia, Harry saiu em direção ao portão do parque.

 

A Magnolia Road, como a Rua dos Alfeneiros, era cheia de grandes casas quadradas com passeios perfeitamente tratados, todas possuídas por donos grandes e quadrados, que dirigiam carros limpíssimos, parecidos com o do tio Válter. Harry preferia Little Whinging à noite, quando as janelas cortinadas lançavam quadrados de cor brilhantes como jóias na escuridão e ele não corria perigo de ouvir os murmúrios de desaprovação sobre sua aparência "delinqüente" quando passava pelos moradores. Ele andava rapidamente, de modo que na metade do caminho da Magnolia Road a turma de Dudley apareceu novamente; estavam despedindo-se na entrada da Rua Magnólia. Harry entrou nas sombras de uma imensa árvore e esperou.

 

"... gritou como um porco, não foi?", Malcolm dizia, para rir dos outros.

 

"Belo gancho de direita, Grande D", disse Pedro.

 

"Mesma hora amanhã?", disse Dudley.

 

"Perto da minha casa, meus pais estarão fora", disse Gordon.

 

"Até lá, então", disse Dudley.

 

"Até, Dud!"

 

"Até logo, Grande D!"

 

Harry esperou que o resto da turma continuasse antes de andar novamente. Quando suas vozes tinham desaparecido mais uma vez dobrou a esquina para a Rua Magnólia e andando bem rápido logo chegou a uma pequena distância de Dudley, que estava passeando cantarolando sua música desafinada.

 

- Hey, Grande D!

 

Dudley se voltou.

 

- Ah - ele resmungou. - É você.

 

- Desde quando você é "Grande D"? - disse Harry.

 

- Cale-se - reclamou Dudley, virando-se.

 

- Nome legal - disse, sorrindo e mantendo o passo ao lado do primo. - Mas você sempre será Dudinha para mim.

 

- Eu disse, CALE-SE! - disse Dudley, cujas mãos parecidas com presunto tinham fechado-se em punhos.

 

- Os rapazes não sabem que é assim que sua mãe o chama?

 

- Fecha a boca.

 

- Você não a manda fechar a boca. Que tal "Popkin" e "Dinky Diddydums", posso usá-los então?

 

Dudley não disse nada. O esforço de evitar bater em Harry parecia exigir todo seu autocontrole.

 

- Então, em quem esteve batendo esta noite? - Harry perguntou, seu sorriso desaparecendo. - Outro garoto de dez anos? Eu sei o que você fez com Mark Evans há duas noites.

 

- Ele estava pedindo isso - reclamou Dudley.

 

- Ah, é?

 

- Ele foi insolente.

 

- É? Ele disse que você parecia com um porco que aprendeu a andar com as patas traseiras? Porque isso não é ser insolente, Duda, é a verdade.

 

Um músculo estava tremendo na mandíbula de Dudley. Dava a Harry uma enorme satisfação saber quão furioso ele estava tornando Dudley; sentia como se estivesse esvaziando sua própria frustração no seu primo, o único escape que possuía.

 

Viraram exatamente no estreito beco onde Harry vira Sirius pela primeira vez e que era um atalho entre a Rua Magnólia e Wisteria Walk. Estava vazio e muito mais escuro do que as ruas que ele ligava, porque não havia postes. Seus passos eram abafados entre as paredes da garagem de um lado e uma alta cerca do outro.

 

- Você acha que alguma coisa carregando essa coisa, não é? - Dudley disse depois de alguns segundos.

 

- Que coisa?

 

- Essa... Essa coisa que está escondendo.

 

Harry sorriu de novo.

 

- Não é tão idiota quanto parece, não é, Duda? Mas suponho que, se fosse, não seria capaz de falar e andar ao mesmo tempo.

 

Harry tirou a varinha. Viu Dudley olhar de esguelha para ela.

 

- Você não tem permissão - Dudley disse imediatamente. - Sei que não. Você seria expulso daquela escola de malucos que freqüenta.

 

- Como sabe que não mudaram as regras, Grande D?

 

- Não mudaram - disse Dudley, embora ele não soasse completamente convencido.

 

Harry riu suavemente.

 

- Você não tem coragem de me enfrentar sem essa coisa, tem? - Dudley resmungou.

 

- Enquanto que você precisa de quatro amigos por atrás antes de espancar um garoto de dez anos. Sabe aquele título de boxe que você fica exibindo? Quantos anos tinha o seu oponente? Sete? Oito?

 

- Ele tinha dezesseis, para sua informação - reclamou Dudley - e ele ficou desmaiado por vinte minutos depois que acabei com ele e ele era duas vezes maior que você. Espera só eu contar a papai que você tirou essa coisa...

 

- Correndo pro papai agora, não é? O Dudinha campeão de boxe com medo da nojenta varinha do Harry?

 

- Não é tão corajoso à noite, não é? - zombou Dudley.

 

- Está de noite, Dudinha. É assim que chamamos quando tudo fica escuro como agora.

 

- Quis dizer quando está dormindo! - reclamou.

 

Ele parou de andar. Harry parou também, fitando o primo. Do pouco que podia ver do rosto largo de Dudley ele estava com um estranho olhar de triunfo.

 

- O que quer dizer, não sou corajoso quando estou dormindo? - disse Harry, completamente embaraçado. - Do que eu teria medo, travesseiros ou o quê?

 

- Ouvi você noite passada - disse Dudley sem respirar. - Falando dormindo. Gemendo.

 

- O que quer dizer? - Harry disse de novo, mas havia uma sensação de gelo mergulhando no seu estômago. Tinha revisitado o cemitério nos sonhos da noite passada.

 

Dudley soltou uma risada grosseira, então adotou uma voz chorosa aguda.

 

- Não mate Cedrico! Não mate Cedrico!" Quem é Cedrico, seu namorado?

 

- Eu... Você está mentindo - disse Harry automaticamente. Mas sua boca ficara seca. Ele sabia que Dudley não mentira, do contrário como saberia sobre Cedrico?

 

- "Papai! Me ajude, papai! Ele vai me matar, papai! Buu uhh!"

 

- Cala a boca - disse Harry calmamente. - Cala a boca, Dudley, estou avisando!

 

- "Venha me ajudar, papai! Mamãe, venha me ajudar! Ele matou Cedrico! Papai, me ajude! Ele vai..." Não aponte essa coisa para mim!

 

Dudley retrocedera contra a parede do beco. Harry estava apontando a varinha diretamente para o coração do primo. Podia sentir o ódio de catorze anos contra Dudley fervendo nas veias - o que não daria para atacar agora, azará-lo com tanta força que ele teria que rastejar para casa como um inseto, cheio de antenas...

 

- Nunca mais fale sobre isso de novo - Harry resmungou. - Entendeu?

 

- Aponte essa coisa para outro lugar!

 

- Eu disse, entendeu?

 

- Aponte para outro lugar!

 

- ENTENDEU?

 

- AFASTE ESSA COISA DE...

 

Dudley arfou estranhamente, estremecendo, como se houvesse mergulhado em água gelada.

 

Algo tinha acontecido com a noite. O céu azul polvilhado de estrelas de repente tornou-se totalmente preto e sem luz - as estrelas, a lua, os postes de ambos as pontas do beco desapareceram. O rugido distante dos carros e o sussurro das árvores se foram. A noite agradável estava repentinamente de um frio penetrante. Estavam rodeados por uma escuridão total, silenciosa e impenetrável, como se alguma mão gigante houvesse jogado um manto frio e grosso sobre todo beco, cegando-os.

 

Por um breve segundo Harry achou que tinha feito magia sem querer, a despeito do fato que estivera resistindo o máximo que podia - então seu senso predominou - não teria poder para sumir com as estrelas. Voltou a cabeça por todos os lados, tentando ver algo, mas a escuridão pressionava seus olhos como um véu leve.

 

A voz aterrorizada de Dudley surgiu no ouvido de Harry.

 

- O-o que está fa-fazendo? Pa-pare!

 

- Não estou fazendo nada! Cala a boca e não se mova!

 

- Não co-consigo ver! Fi-fiquei cego! Eu...

 

- Disse cala a boca!

 

Harry ficou parado, voltando seus olhos cegos para a direita e esquerda. O frio estava tão intenso que tremia todo; arrepios tinham erguido seus braços e os pêlos da nuca estavam em pé - ele abriu os olhos ao máximo, fitando em volta, sem ver nada.

 

Era impossível... Eles não podiam estar ali... Não em Little Whinging... Ele apurou os ouvidos... Escutá-los-ia antes de vê-los.

 

- Vou co-contar ao papai! - Dudley choramingou. - O-onde você está? O que está fa-fazendo-?

 

- Você vai se calar? - Harry silvou. - Estou tentando esc...

 

Mas ele se silenciou. Tinha ouvido exatamente o que temera.

 

Havia algo no beco além deles, algo que estava respirando longa e roucamente. Harry sentiu um horrível choque de terror enquanto ficava tremendo no ar congelante.

 

- Pa-pare com isso! Pare de fazer isso! Vou ba-bater em você, juro que vou!

 

- Dudley, cala...

 

PAM.

 

Um punho fez contato com o lado da cabeça de Harry, derrubando-o. Pequenas luzes brancas apareceram na frente de seus olhos. Pela segunda vez em uma hora, Harry sentiu como se sua cabeça tivesse lascado em duas; no momento seguinte, tinha caído com força no chão e sua varinha voara da sua mão.

 

- Seu idiota, Dudley! - Harry gritou, os olhos lacrimejando com a dor enquanto punha-se de quatro, sentindo os arredores freneticamente na escuridão. Ouvira Dudley desatinar a correr, atingindo a cerca do beco, tropeçando. - DUDLEY, VOLTE! ESTÁ CORRENDO DIRETO PARA ELE!

 

Houve um horrível grito e os passos de Dudley pararam. Ao mesmo tempo, Harry sentiu um frio fantasmagórico atrás dele que só podia significar uma coisa. Havia mais de um.

 

- DUDLEY, FIQUE COM A BOCA FECHADA! O QUE QUER QUE FAÇA, FIQUE DE BOCA FECHADA! Varinha! - Harry murmurou freneticamente, suas mãos voando pelo chão como aranhas. - Onde está... A varinha... Vamos... Lumus!

 

Ele disse a magia automaticamente, desesperado por alguma luz que o ajudasse na busca - e para seu alívio descrente uma luz brilhou a poucos centímetros de sua mão direita - a ponta da varinha se acendera.

 

Harry a agarrou, pôs-se de pé e voltou-se. Seu estômago deu um pulo. Uma figura alta e encapuzada deslizava diretamente até ele, flutuando no chão, sem pés ou rosto visível por baixo dos mantos, sugando a noite enquanto avançava.

 

Recuando tropeçando, Harry ergueu a varinha.

 

- Expecto patronum!

 

Um brilho prateado de vapor saiu da ponta da varinha e o dementador foi retardado, mas a magia não funcionara apropriadamente; tropeçando nos próprios pés, Harry recuou mais, enquanto o dementador avançava para cima dele, o pânico nublando seu cérebro - concentre-se.

 

Um par de mãos cinzentas, asquerosas e descascadas saíram de dentro dos robes do dementador, procurando alcançá-lo. Um barulho de algo correndo encheu os ouvidos de Harry.

 

- Expecto patronum!

 

Sua voz soou fraca e distante. Um outro brilho de fumaça prateada, mais fraca do que a última, saiu da varinha - não conseguiria fazê-lo mais, não conseguia lançar a magia.

 

Havia uma risada dentro de sua própria cabeça, uma risada aguda e estridente... Podia cheirar o bafo pútrido e frio como a morte do dementador preenchendo seus próprios pulmões, afogando-o. "Pense... Em algo feliz..."

 

Mas não havia felicidade nele... Os dedos gelados do dementador estavam se fechando sobre sua garganta - a risada aguda ficava cada vez mais alta e uma voz falava dentro de sua cabeça: "Curve-se para a morte, Harry... Pode até ser indolor... Não saberia dizer... nunca morri...".

 

Nunca mais veria Rony e Hermione...

 

E seus rostos apareceram claramente na sua mente enquanto lutava por ar.

 

- EXPECTO PATRONUM!

 

Um enorme cervo prateado surgiu da ponta da varinha de Harry; seus chifres pegaram o dementador no lugar onde o coração deveria ficar; atirou-o para trás, e enquanto o cerco atacava, o dementador se lançou para longe, derrotado.

 

- POR AQUI! - Harry gritou para o cervo. Girando nos calcanhares, ele se lançou pelo beco, segurando a varinha acesa no alto. - DUDLEY? DUDLEY!

 

- Mal correra alguns passos quando os alcançou: Dudley estava encaracolado no chão, seus braços tampando o rosto. Um segundo dementador se curvava sobre ele, agarrando seus pulsos com suas mãos pegajosas, abrindo-os com força devagar, quase carinhosamente, baixando sua cabeça encapuzada na direção do rosto de Dudley como se fosse beijá-lo. - PEGUE-O! - Harry berrou, e com um som de relincho ligeiro, o cervo prateado que ele conjurara passou galopando por ele. O rosto sem olhos do dementador não estava a mais de um centímetro do de Dudley quando os chifres prateados o pegaram; a coisa foi atirada no ar e, como seu companheiro, levantou vôo e foi absorvido na escuridão; o cervo chegou a meio galope no fim do beco e dissolveu-se numa bruma prateada.

 

A lua, as estrelas e os postes explodiram de volta a vida. Uma brisa quente varreu o beco. As árvores murmuravam nos jardins da vizinhança e o rugido mundano dos carros na Rua Magnólia encheu o ar novamente.

 

Harry ficou bem parado, todos seus sentidos vibrando, aceitando o abrupto retorno à normalidade. Depois de um momento, tornou-se consciente de que sua camiseta estava grudando nele; estava encharcado de suor.

 

Não conseguia acreditar no que tinha acabado de acontecer. Os dementadores ali, em Little Whinging.

 

Dudley ficara enrodilhado no chão, choramingando e tremendo. Harry se inclinou para ver se estava em bom estado para levantar-se, mas então ouviu passos alto correndo atrás dele. Instintivamente ergueu a varinha de novo, virou-se para encarar o recém-chegado.

 

A Sra. Figg, a velha e maluca vizinha, vinha arfando. Seu cabelo cinzento escapava pela redinha de cabelo, uma sacola de compras tinindo balançava no seu pulso e seus pés estavam metade fora dos chinelos de tartã. Harry guardou a varinha apressadamente para tirá-la de vista, mas...

 

- Não a guarde, garoto idiota! - ela gritou. - E se houverem mais deles por aí? Ah, vou matar Mundungo Fletcher!

 

 

UMA BICADA DE CORUJAS

- O quê? - disse Harry inexpressivamente.

 

- Ele saiu! - disse a Sra. Figg, fechando com força as mãos. - Saiu para ver alguém sobre um bando de caldeirões que caiu de uma vassoura! Disse a ele que o esfolaria vivo se saísse e agora veja! Dementadores! Foi sorte eu ter posto Seu Patinhas no caso! Mas não temos tempo para ficar por aqui! Apresse-se, agora, temos que levar vocês de volta! Ah, o problema que isso vai causar! Vou matá-lo!

 

- Mas...

 

A revelação de que sua velha e maluca vizinha obcecada por gatos sabia o que os Dementadores eram era quase tão chocante para Harry quanto encontrar dois deles no beco.

 

- Você é... Você é uma bruxa?

 

- Sou um aborto, como Mundungo sabe muito bem, então como eu poderia ajudá-lo a lutar contra dementadores? Ele deixou você sem nenhuma cobertura quando eu avisei a ele...

 

- Esse Mundungo estava me seguindo? Espera aí... Foi ele! Ele desaparatou na frente da minha casa!

 

- Sim, sim, sim, mas foi sorte eu ter colocado Seu Patinhas debaixo do carro só pra ter certeza e Seu Patinhas veio me avisar, mas na hora que cheguei na sua casa você tinha saído... E agora... Ah, o que Dumbledore vai dizer? Você! - ela gritou para Dudley, ainda deitado no chão do beco. - Tire a bunda gorda do chão, rápido!

 

- Você conhece Dumbledore? - disse Harry, fitando-a.

 

- Claro que conheço Dumbledore, quem não conhece Dumbledore? Mas vamos... Não serei de utilidade nenhuma se eles voltarem, nunca consegui nem transfigurar um saquinho de chá.

 

Ela se abaixou, agarrou um dos braços gordos de Dudley nas suas mãos ressecadas e o puxou.

 

- Levante-se, seu estúpido inútil, levante-se!

 

Mas Dudley ou não conseguia ou não queria se mover. Ele permaneceu no chão, tremendo e de rosto pálido, sua boca fechada com muita força.

 

- Eu faço isso - Harry pegou o braço de Dudley e o ergueu. Com um enorme esforço, ele o conseguiu pôr de pé. Dudley parecia estar a ponto de desmaiar. Seus olhos pequenos estavam rolando nas órbitas e o suor empapando seu rosto; no momento que Harry o soltou ele balançou perigosamente.

 

- Apressem-se! - disse a Sra. Figg histericamente.

 

Harry pôs um dos braços gordos de Dudley em torno de seus ombros e o arrastou pela rua, afundando ligeiramente sob o peso. A Sra. Figg cambaleava na frente deles, espiando ansiosa na esquina.

 

- Mantenha a varinha em mãos - ela falou a Harry, enquanto entravam da Wisteria Walk. - Nem se importe com o Estatuto do Sigilo agora, vai ser o diabo se livrar disso de qualquer forma, podemos ir do dragão para o ovo. Falando de Restrição de Magia Para Menores... Era exatamente isso que Dumbledore tinha medo... O que é aquilo no fim da rua? Ah, é só o Seu Patinhas... Não guarde a varinha, garoto, não lhe disse que sou inútil?

 

Não era fácil segurar a varinha com firmeza e rebocar Dudley ao mesmo tempo. Harry deu uma impaciente cutucada nas costelas do primo, mas Dudley parecia ter perdido todo desejo de movimento independente. Estava tombado sobre o ombro de Harry, seus pés grandes arrastando-se pelo chão.

 

- Por que não me contou que era um aborto, Sra. Figg? - perguntou Harry, arfando com o esforço de continuar andando. - Todas aquelas vezes que fui na sua casa... Por que não disse nada?

 

- Ordens de Dumbledore. Devia manter o olho em você mas não dizer nada, você era jovem demais. Desculpe se o fiz sofrer, Harry, mas os Dursley nunca o deixariam ficar comigo se soubessem que você gostaria. Não era fácil, sabe... Mas ah, palavra - ela disse tragicamente, fechando as mãos com força mais uma vez -, quando Dumbledore ouvir isso... Como o Mundungo pôde sair, ele devia ficar a serviço até meia-noite... Onde ele está? Como vou dizer a Dumbledore o que aconteceu? Não consigo aparatar.

 

- Tenho uma coruja, pode pegá-la emprestada - Harry gemeu, perguntando-se se sua espinha se partiria sob o peso de Dudley.

 

- Harry, você não entende! Dumbledore precisará agir o mais rápido possível, o Ministério tem seus próprios meios de detectar magia de menores, eles já sabem, guarde minhas palavras.

 

- Mas eu estava me livrando de dementadores, tinha que usar magia... Eles vão ficar mais preocupados sobre o que os dementadores estavam fazendo flutuando na Wisteria Walk, não?

 

- Ah meu querido, gostaria que fosse assim, mas temo que... MUNDUNGO FLETCHER, EU VOU MATAR VOCÊ!

 

Houve um sonoro som de chicote e um forte cheiro de bebida misturado a tabaco velho preencheu o ar enquanto um homem não barbeado e agachado usando um sobretudo esfarrapado se materializava bem diante deles. Ele tinha pernas curtas e curvadas, longos de cabelos cor de gengibre, desalinhados, olhos inchados e injetados que lhe davam a triste aparência de um basset. Também estava segurando um pacote prateado que Harry reconheceu imediatamente como uma Capa da Invisibilidade.

 

- Q'há, Figginha? - ele disse, olhando da Sra. Figg para Harry e Dudley. - O que 'conteceu quanto a ficar na moita?

 

- Vou lhe dar a moita! - gritou a Sra. Figg. - Dementadores, seu ladrão inútil e desprezível!

 

- Dementadores? - repetiu Mundungo, horrorizado. - Dementadores, 'qui?

 

- Sim, aqui, sua pilha de bosta de morcego inútil, aqui! - gritou a Sra. Figg. - Dementadores atacando o garoto na sua vigia!

 

- Nossa - disse Mundungo fracamente, olhando da Sra. Figg para Harry e de volta para ela. - Nossa, eu...

 

- E você saiu para comprar caldeirões roubados! Eu não te disse para não ir? Não DISSE?

 

- Eu... Bom, eu... - Mundungo parecia profundamente desconfortável. - Era... Era uma oportunidade de negócios muito boa, entende...

 

A Sra. Figg ergueu o braço em que segurava a sacola de compras e golpeou com força Mundungo no rosto e pescoço com ela; julgando pelo tinido que fazia estava cheia de comida de gato.

 

- Ai... Pára aí... Pára aí, sua morcega velha! Alguém tem que contar a Dumbledore!

 

- Sim... Tem! - gritou a Sra. Figg, batendo com a sacola de comida de gato em cada pedaço de Mundungo que conseguia alcançar. - E... É... Melhor... Ser... Você... E... Você... Pode... Contar... A... Ele... Por que... Não... Estava... Aqui... Para... Ajudar!

 

- Fique com a redinha no lugar! - disse Mundungo, seus braços sobre a cabeça, acovardando-se. - Estou indo, estou indo!

 

E com outro sonoro barulho de chicote, ele sumiu.

 

- Espero que Dumbledore o mate! - disse a Sra. Figg, furiosa. - Agora vamos, Harry, o que está esperando?

 

Harry decidiu não gastar o restante de seu fôlego comentando que mal conseguia andar sob o volume de Dudley. Ele deu uma puxada no semi-inconsciente primo e cambaleou adiante.

 

- Levarei você até a porta - disse a Sra. Figg, enquanto eles viravam na Rua dos Alfeneiros. - Só no caso de haver mais deles por aí... Ah, palavra, que catástrofe... E você teve que enfrentá-los sozinho... E Dumbledore disse que devíamos evitar que você fizesse mágicas a todo custo... Bem, não adianta chorar sobre a poção derramada, acho... Mas o gato está entre as fadas agora.

 

- Então - Harry arfou -, Dumbledore tem... Me mantido... Vigiado?

 

- Claro que tem - disse a Sra. Figg impaciente. - Esperava que ele deixasse você andar por aí sozinho depois do que aconteceu em junho? Bom Deus, garoto, me disseram que você era inteligente... Certo... Entre e fique lá - ela disse quando alcançaram o número quatro. - Acredito que alguém irá entrar em contato logo.

 

- O que vai fazer? - perguntou Harry rapidamente.

 

- Vou direto para casa - disse a Sra. Figg, fitando em torno da rua escura e estremecendo. - Precisarei esperar por mais instruções. Simplesmente fique na casa. Boa noite.

 

- Espere, não vá ainda! Quero saber...

 

Mas a Sra. Figg já tinha saído num trote, com os chinelos fazendo barulho, a sacola tinindo.

 

- Espere! - Harry gritou atrás dela. Ele tinha milhões de perguntas a fazer para alguém que estava em contanto com Dumbledore mas dentro de segundos a Sra. Figg foi engolida pela escuridão. Franzindo o cenho, Harry reajustou Dudley no ombro e fez seu lento e doloroso caminho pelo jardim do número quatro.

 

A luz do corredor estava acesa. Harry meteu a varinha de volta ao cós do jeans, tocou a campainha e observou o contorno de tia Petúnia ficar cada vez maior, estranhamente distorcido pelo vidro ondulado da porta da frente.

 

- Duda! Já estava na hora, estava ficando bem... Bem... Duda, o que foi!

 

Harry olhou de esguelha para Dudley e saiu debaixo do braço dele bem em tempo. Dudley cambaleou por um instante, seu rosto verde pálido... Então abriu a boca e vomitou por todo capacho.

 

- DUDA! Duda, o que está sentindo? Válter? VÁLTER!

 

O tio de Harry veio galopando para fora da sala de estar, o bigode em forma de cavalo marinho se mexendo para lá e para cá como sempre fazia quando estava agitado. Ele se apressou  para ajudar tia Petúnia a passar um enfraquecido Dudley pelo solado da porta, evitando pisar na poça de vômito.

 

- Ele está doente, Válter!

 

- O que é, filho? O que aconteceu? A Sra. Polkiss lhe deu algo estranho como chá?

 

- Por que está todo coberto de sujeira, querido? Esteve no chão?

 

- Espere aí... Você não foi assaltado, foi, filho? - tia Petúnia gritou. - Telefone para a polícia, Válter! Telefone para a polícia! Duda, querido, fale com a mamãe! O que eles fizeram com você?

 

Com toda confusão ninguém pareceu notar Harry, o que lhe agradou perfeitamente. Ele conseguiu entrar pouco antes de tio Válter bater a porta e, enquanto os Dursley faziam seu barulhento progresso pelo corredor em direção a cozinha, Harry se moveu cuidadosa e calmamente em direção à escada.

 

- Quem fez isso, filho? Nos dê nomes. Pegaremos eles, não se preocupe.

 

- Psiu! Ele está tentando dizer algo, Válter! O que é, Duda? Conte para mamãe!

 

O pé de Harry estava no primeiro degrau quando Dudley descobriu sua voz.

 

- Ele.

 

Harry congelou, o pé na escada, o rosto contorcido, cercado pela explosão.

 

- GAROTO! VENHA AQUI!

 

Com um sentimento de terror e raiva misturados, Harry removeu seu pé vagarosamente da escada e se voltou para seguir os Dursley. A cozinha meticulosamente limpa tinha um brilho estranhamente irreal depois da escuridão lá fora. Tia Petúnia estava conduzindo Dudley para uma cadeira; ainda estava muito verde e de aparência doente. Tio Válter estava de pé em frente do escorredor, olhando furioso para Harry através dos minúsculos olhos estreitados.

 

- O que fez com meu filho? - disse num rosnado ameaçador.

 

- Nada - disse Harry, sabendo perfeitamente bem que tio Válter não acreditaria.

 

- O que ele fez com você, Duda? - tia Petúnia disse numa voz trêmula, agora removendo o vômito da frente da jaqueta de couro de Dudley. - Foi... Foi você-sabe-o-quê, querido? Ele usou... A coisa dele?

 

Lenta e tremulamente, Dudley assentiu.

 

- Não usei! - Harry disse com severidade, enquanto tia Petúnia soltava um lamento e tio Válter erguia os punhos. - Não fiz nada com ele, não foi eu, foi...

 

Mas naquele momento preciso uma coruja chiando desceu através da janela da cozinha. Por pouco atingindo o topo da cabeça de tio Válter, ela pairou pela cozinha, largou um grande envelope de pergaminho que carregava no seu bico aos pés de Harry, virou-se graciosamente, as pontas de suas asas tocando de leve o topo da geladeira, então zuniu para fora de novo e partiu do jardim.

 

- CORUJAS! - berrou tio Válter, a bem conhecida veia na sua têmpora pulsando raivosamente enquanto ele fechava a janela com força. - CORUJAS DE NOVO! NÃO ACEITAREI MAIS CORUJAS NA MINHA CASA!

 

Mas Harry já estava abrindo o envelope e tirando a carta, seu coração localizado em algum lugar na região de seu pomo de adão.

 

"Caro Sr. Potter,

 

Recebemos informação de que realizou o Feitiço do Patrono às nove e vinte e três desta noite numa área habitada por trouxas e na presença de um trouxa. A severidade desta violação do Decreto de Restrição a Magia Para Menores resultou na sua expulsão da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Os representantes do Ministério irão à sua casa em breve para destruir sua varinha.

 

Como já deve ter recebido um aviso oficial por ofensa anterior sob a Seção 13 do Estatuto de Sigilo da Confederação Internacional dos Bruxos, nós lamentamos informar que sua presença é requerida numa audiência disciplinar no Ministério da Magia às 9 horas da manhã no dia doze de agosto.

 

Esperando que esteja bem,

 

Sinceramente,

 

Mafalda Hopkirk

 

Departamento de Uso Impróprio da Magia

 

Ministério da Magia"

 

Harry leu a carta duas vezes. Estava apenas vagamente consciente de tio Válter e tia Petúnia conversando. Dentro de sua cabeça tudo era gelo e dormência. Um fato que penetrara na sua consciência como um dardo paralisante. Estava expulso de Hogwarts.

 

Estava tudo acabado. Nunca voltaria. Ergueu os olhos para os Dursley. Tio Válter estava com o rosto púrpura, gritando, seus punhos ainda erguidos; tia Petúnia tinha os braços em torno de Dudley, que tentava vomitar de novo. O cérebro temporariamente estupefato de Harry pareceu acordar. "Os representantes do Ministério chegarão à sua casa em breve para destruir sua varinha". Só havia uma coisa a fazer. Ele teria que fugir - agora. Para onde iria Harry não sabia, mas tinha certeza de uma coisa: em Hogwarts ou fora dela precisava da varinha. Num estado quase de sonho, ele tirou a varinha e se voltou para abandonar a cozinha.

 

- Onde acha que está indo? - gritou tio Válter. Quando Harry não respondeu, ele cruzou a cozinha para bloquear a porta que dava para o corredor. - Não terminei com você, garoto!

 

- Saia do caminho - disse Harry calmamente.

 

- Você vai ficar aqui e explicar como meu filho...

 

- Se você não sair do caminho vou azará-lo - disse Harry, erguendo a varinha.

 

- Não pode usar essa coisa em mim! - resmungou tio Válter. - Eu sei que não tem permissão para usá-la fora daquele hospício que chama de escola!

 

- O hospício me chutou - disse Harry. - Então posso fazer o que quiser. Você tem três segundos. Um... Dois...

 

Um ressoante som de estalo encheu a cozinha. Tia Petúnia gritou, tio Válter gritou e se abaixou, mas pela terceira vez naquela noite Harry buscava pela fonte da perturbação que ele não fizera. Ele a notou imediatamente: uma coruja desmantelada estava sentada do lado de fora do peitoril da cozinha, tendo acabado de colidir com a janela fechada. Ignorando o grito angustiado de tio Válter de "CORUJAS!" Harry cruzou o aposento apressado e abriu com força a janela. A coruja apontou a perna, na qual um pequeno rolo de pergaminho estava amarrado, balançou as penas e partiu no momento em que Harry tirara a carta.

 

As mãos tremendo, desenrolou a segunda mensagem, que fora escrita afobada e negligentemente com tinta preta.

 

"Harry?

Dumbledore acabou de chegar no Ministério e está tentando resolver tudo. NÃO ABANDONE A CASA DE SEUS TIOS. NÃO FAÇA NENHUMA MAGIA. NÃO ENTREGUE SUA VARINHA.

Arthur Weasley"

 

Dumbledore estava tentando resolver tudo... O que isso significava? Quanto poder Dumbledore teria para sobrepujar o Ministério da Magia? Havia uma chance de que ele recebesse permissão para voltar a Hogwarts, então?

 

Um pequeno raio de esperança floresceu no peito de Harry, quase imediatamente estrangulado pelo pânico - como ele deveria recusar a entregar a varinha sem usar mágica? Teria que duelar com os representantes do Ministério e se fizesse isso teria sorte em escapar de Azkaban, sem falar a expulsão. Sua mente estava funcionando rápido... Poderia fugir e arriscar ser capturado pelo Ministério ou ficar e esperar por virem encontrá-lo ali. Estava muito mais tentado à primeira idéia mas sabia que o Sr. Weasley tinha os melhores interesses... E, afinal de contas, Dumbledore já resolvera coisas muito piores do que esta antes.

 

- Certo - Harry disse -, mudei de idéia, vou ficar - lançou-se na mesa da cozinha e encarou Dudley e tia Petúnia. Os Dursley pareciam sobressaltados por sua abrupta mudança de opinião. Tia Petúnia olhava com desespero para o tio Válter. A veia na sua têmpora púrpura estava latejando pior do que nunca.

 

- De quem são todas essas corujas? - ele resmungou.

 

- A primeira veio do Ministério da Magia, me expulsando - disse Harry calmamente. Apurava os ouvidos para captar quaisquer barulhos do lado de fora, no caso dos representantes do Ministério estarem se aproximando e era mais fácil e calmo responder as perguntas do tio Válter do que tê-lo encolerizado e berrando. - A segunda veio do pai do meu amigo Rony, que trabalha no Ministério.

 

- Ministério da Magia? - berrou tio Válter. - Pessoas como você no governo! Ah, isso explica tudo, tudo, não é de se espantar que o país esteja indo pro buraco - quando Harry não respondeu tio Válter olhou furioso para ele e então soltou: - E por que foi expulso?

 

- Por que fiz mágica.

 

- AHÁ! - rugiu tio Válter, batendo com o punho no alto da geladeira, que se abriu; vários doces dietéticos de Dudley desabaram no chão. - Então admite! O que você fez com Dudley?

 

- Nada - disse Harry, ligeiramente com menos calma. - Não fui eu...

 

- Foi - murmurou Dudley inesperadamente e tio Válter e tia Petúnia instantaneamente fizeram gestos para Harry a fim de silenciá-lo enquanto ambos se inclinavam sobre o garoto.

 

- Continue, filho - disse tio Válter. - O que ele fez?

 

- Conte-nos querido - sussurrou a tia Petúnia.

 

- Apontou a varinha para mim - Dudley murmurou.

 

- É, eu apontei, mas não usei... - Harry começou com raiva.

 

- CALE-SE! - rugiram tio Válter e tia Petúnia em uníssono.

 

- Continua, filho - repetiu tio Válter, o bigode se mexendo com fúria.

 

 - Ficou tudo escuro - Dudley disse roucamente, estremecendo. - Tudo escuro. E então eu o-ouvi... Coisas. Dentro da mi-minha cabeça.

 

Tio Válter e tia Petúnia trocaram olhares de absoluto horror. Se a coisa pior no mundo para eles era a magia - seguida de perto por vizinhos que trapaceavam mais do que eles quanto ao banimento da mangueira - as pessoas que ouviam vozes definitivamente estavam entre as dez mais. Obviamente pensavam que Dudley estava enlouquecendo.

 

- Que tipo de coisas você ouviu, Dudinha? - sussurrou tia Petúnia, muito pálida e com lágrimas nos olhos.

 

Mas Dudley parecia incapaz de dizer. Ele estremeceu de novo e balançou a cabeçorra loira e, a despeito da sensação de terror bestificante que tinha se estabelecido em Harry desde a chegada da primeira coruja, ele sentiu uma certa curiosidade. Os dementadores faziam uma pessoa reviver os piores momentos de sua vida. O que o mimado e brigão Dudley teria sido forçado a ouvir?

 

- Como você caiu, filho? - disse tio Válter, numa voz calma não natural, o tipo de voz que se usaria ao leito de uma pessoa muito doente.

 

- Tr-tropecei - disse Dudley tremulamente. - E então...

 

Ele gesticulou para o peito compacto. Harry entendeu. Dudley se lembrava do frio clemente que enchera os pulmões, enquanto a esperança e felicidade eram sugadas.

 

- Horrível - grasnou Dudley. - Frio. Frio mesmo.

 

- OK - disse tio Válter, numa voz de calma forçada, enquanto tia Petúnia punha uma mão ansiosa na testa de Dudley para sentir a temperatura. - O que aconteceu então, Dudinha?

 

- Senti... Senti... Senti... Como se... Como se...

 

- Como se nunca fosse ser feliz de novo - Harry ajudou, entediado.

 

- Sim - Dudley sussurrou, ainda tremendo.

 

- Então! - disse tio Válter, a voz restaurada a um volume total e considerável enquanto ele se endireitava. - Você pôs algum feitiço de loucura no meu filho então ele ouve vozes e acredita que estava... Condenado ao sofrimento ou algo assim, não?

 

- Quantas vezes tenho que dizer? - disse Harry, o mau humor e a voz se erguendo. - Não fui eu! Foi um bando de dementadores!

 

- Um bando de... O que é essa besteira?

 

- De-men-ta-do-res - disse Harry lenta e claramente. - Dois deles.

 

- E o que diabos são dementadores?

 

- Eles guardam a prisão dos bruxos, Azkaban - disse tia Petúnia.

 

Dois segundos de silêncio mortal seguiram as palavras antes que tia Petúnia tampasse a boca com a mão, como se tivesse dito um horrível palavrão. Tio Válter a olhava com olhos arregalados. O cérebro de Harry vacilou. A Sra. Figg era uma coisa... Mas tia Petúnia?

 

- Como sabe disso? - ele perguntou a ela, espantado.

 

Tia Petúnia parecia bem aterrorizada consigo mesma. Olhava para tio Válter numa desculpa temerosa, então abaixou a mão ligeiramente para revelar seus dentes cavalares.

 

- Ouvi... Aquele garoto horroroso... Contar a ela sobre eles... Anos atrás - ela disse pateticamente.

 

- Se quer dizer meus pais por que não usa o nome deles? - disse Harry em voz alta mas tia Petúnia o ignorou.

 

Ela parecia terrivelmente perturbada. Harry estava abalado. Exceto por uma explosão anos atrás, quando tia Petúnia gritara que a mãe de Harry fora uma aberração, ele nunca a escutara mencionar a irmã. Estava espantado que ela se lembrasse deste tipo de informação sobre o mundo mágico por tanto tempo, quando normalmente se esforçava ao máximo para fingir que ele não existia.

 

Tio Válter abriu a boca, fechou-a de novo, abriu-a mais uma vez, fechou-a, então, aparentemente lutando para lembrar-se como falar, abriu-a por uma terceira vez e grasnou:

 

- Então... Então... Eles... Er... Eles... Er... Eles realmente existem, é... Er... Dementesquisitos?

 

Tia Petúnia assentiu. Tio Válter olhava de tia Petúnia para Dudley e para Harry como se esperasse que alguém fosse gritar "primeiro de abril!". Quando ninguém o fez, ele abriu a boca novamente mas foi salvo da luta em encontrar mais palavras pela chegada da terceira coruja da noite. Ela zuniu pela janela ainda aberta como uma bala de canhão empenada e aterrissou barulhentamente na mesa da cozinha, fazendo com que os três Dursley pulassem assustados.

 

Harry tirou um segundo envelope de aparência oficial do bico da coruja e o abriu enquanto a coruja voava de volta para noite.

 

- Chega... De... Corujas - murmurou tio Válter distraidamente, indo até a janela e batendo-a novamente.

 

"Caro Sr. Potter,

Em acréscimo a nossa carta de aproximadamente vinte e dois minutos atrás, o Ministério da Magia revisou sua decisão de destruir sua varinha imediatamente. Você pode conservá-la até sua audiência disciplinar em doze de agosto, no momento em que uma decisão oficial será tomada. Segundo discussões com o diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, o Ministério concordou que o assunto de sua expulsão também será decidido neste momento. Deve, portanto, considerar-se suspenso da escola até o inquérito pendente.

Com melhores desejos,

Sinceramente,

Mafalda Hopkirk

Departamento de Uso Impróprio da Magia

Ministério da Magia"

 

Harry leu esta carta três vezes em sucessão rápida. O nó angustiante no seu peito se afrouxou ligeiramente com o alívio de saber que ainda não estava definitivamente expulso, embora seus medos de modo algum estivessem banidos. Tudo parecia depender desta audiência em doze de agosto.

 

- Bom? - disse tio Válter, chamando Harry à realidade. - E agora? Sentenciaram você a alguma coisa? Sua laia tem a pena de morte? - acrescentou como um pensamento tardio esperançoso.

 

- Tenho que ir a uma audiência - disse Harry.

 

- E eles vão sentenciá-lo lá?

 

- Acredito que sim.

 

- Não vou perder a esperança, então - disse tio Válter desagradavelmente.

 

- Bom, se é isso - disse Harry, pondo-se de pé. Estava desesperado para ficar sozinho, para pensar, quem sabe mandar uma carta a Rony, Hermione ou Sirius.

 

- NÃO, ISSO NÃO É TUDO! - berrou tio Válter. - SENTE-SE DE VOLTA!

 

- O que é agora? - disse Harry impaciente.

 

- DUDLEY! - rugiu tio Válter. - Quero saber exatamente o que aconteceu com meu filho!

 

- ÓTIMO! - gritou Harry e, no seu mau humor, faíscas vermelhas e douradas saíram da ponta da varinha, ainda na sua mão. Todos os três Dursley se acovardaram, parecendo aterrorizados. - Dudley e eu estávamos no beco entre a Rua Magnólia e Wisteria Walk - disse Harry, falando rápido, lutando para controlar seu humor. - Dudley pensou que daria uma de espertinho para cima de mim, eu puxei a varinha, mas não usei. Então dois dementadores apareceram...

 

- Mas o que SÃO os dementóides? - perguntou tio Válter furioso. - O que eles FAZEM?

 

- Eu contei... Eles sugam toda felicidade de você - disse Harry - e se eles têm a chance, beijam...

 

- Beijam? - disse tio Válter, seus olhos disparando ligeiramente. - Beijam?

 

- É o que eles chamam quando eles sugam a alma pela boca.

 

Tia Petúnia soltou um grito suave.

 

- A alma dele? Eles não a pegaram... Ele ainda tem a...

 

Ela agarrou Dudley pelos ombros e o chocalhou, como se testasse para ver se ela conseguia ouvir sua alma se agitando lá dentro.

 

- Claro que eles não a tiraram, você saberia se tivessem - disse Harry exasperado.

 

- Lutou com eles, não foi, filho? - disse tio Válter em voz alta, com a aparência de um homem lutando para trazer a conversa de volta a um plano que entendia. - Deu-lhes o velho um-dois, não?

 

- Você não dá a um dementador o velho um-dois - disse Harry através dos dentes apertados.

 

- Por que ele está bem, então? - zuniu tio Válter. - Por que não está todo vazio, então?

 

- Porque usei o Patrono...

 

WHOOSH. Com um barulho de asas e uma suave queda de poeira, uma quarta coruja saiu em disparada da lareira da cozinha.

 

- PELO AMOR DE DEUS! - rugiu tio Válter, arrancando grandes tufos de pêlos do bigode, algo que ele não fora levado a fazer em muito tempo. - EU NÃO RECEBEREI MAIS CORUJAS AQUI, NÃO VOU TOLERAR ISSO, ESTOU DIZENDO!

 

Mas Harry já estava tirando um rolo de pergaminho da perna da coruja. Estava tão convencido que esta carta era de Dumbledore, explicando tudo - os dementadores, a Sra. Figg, o que o Ministério está aprontando, como ele, Dumbledore, pretendia resolver tudo - que pela primeira vez na vida ficou desapontado ao ver a caligrafia de Sirius. Ignorando o bombardeio de tio Válter sobre corujas e estreitando seus olhos contra uma segunda nuvem de poeira quando a mais recente coruja subiu de novo pela chaminé, Harry leu a mensagem de Sirius.

 

"Arthur acabou de nos contar o que aconteceu. Não deixe a casa de novo, o que quer faça."

 

Harry achou esta resposta tão inadequada a tudo o que tinha acontecido esta noite que ele virou o pedaço de pergaminho, procurando pelo resto da carta, mas não havia nada mais. E agora seu mau humor se elevava de novo. Ninguém ia dizer "bom trabalho" por combater dois dementadores sozinho? Tanto o Sr. Weasley quanto Sirius estavam agindo como se ele tivesse se portado mal e estavam economizando as explicações até que tivessem certeza de quanto dano fora feito.

 

- ... uma bicada, quero dizer, um bando de corujas disparando para dentro e fora de minha casa. Não aceitarei isso, garoto, não...

 

- Não posso fazer as corujas pararem de vir - Harry soltou, amassando a carta de Sirius na mão.

 

- Quero a verdade sobre o que aconteceu esta noite! - latiu tio Válter. - Se foram dementeiros que feriram Dudley, como você foi expulso? Você fez você-sabe-o-que, você admitiu!

 

Harry respirou profundamente. Sua cabeça estava começando a doer de novo. Queria mais do que tudo sair da cozinha e se afastar dos Dursley.

 

- Fiz o Feitiço do Patrono para me livrar dos dementadores - disse, forçando-se a permanecer calmo. - É a única coisa que funciona com eles.

 

- Mas o que os dementóides faziam em Little Whinging? - disse tio Válter num tom ultrajado.

 

- Não saberia dizer - disse Harry cansado. - Não tenho idéia.

 

Sua cabeça doía com a iluminação agora. Sua raiva estava se exaurindo. Sentia-se drenado, exausto. Os Dursley todos o estavam fitando.

 

- É você - disse tio Válter poderosamente. - Tem algo a ver com você, garoto, eu seu disso. Por que mais eles apareceriam aqui? Por que mais eles estariam naquele beco? Você é o único.. O único... -  evidentemente, ele não conseguia forçar-se a dizer a palavra "bruxo". - O único você-sabe-o-que por quilômetros.

 

- Não sei por que eles estavam aqui.

 

Mas ante as palavras de tio Válter o cérebro exausto de Harry voltara à ação. Por que os dementadores haviam vindo a Little Whinging? Como poderia ser coincidência que eles tenham chegado no beco em que Harry estava? Tinham sido enviados? Teria o Ministério da Magia perdido o controle dos dementadores? Teriam eles desertado Azkaban e se juntado a Voldemort, como Dumbledore previra que fariam?

 

- Estes desmembrados guardam alguma prisão de esquisitos? - perguntou tio Válter, seguindo a trilha de pensamento de Harry.

 

- Sim - disse Harry.

 

Se pelo menos sua cabeça parasse de doer, se ao menos pudesse sair da cozinha e chegar ao seu quarto escuro e pensar...

 

- Oho! Eles vieram prendê-lo! - disse tio Válter, com o ar triunfante de um homem que chegou a uma conclusão inexpugnável. - É isso, não é, rapaz? Você está fugindo da lei!

 

- Claro que não - disse Harry, balançando a cabeça como se espantasse uma mosca, sua mente agitada agora.

 

- Então por quê...?

 

- Ele deve tê-los enviado - disse Harry calmamente, mas para si do que para tio Válter.

 

- Que o quê? Quem deve tê-los enviado?

 

- Lord Voldemort - disse Harry.

 

Ele registrou fracamente quão estranho era que os Dursley - que se acovardavam, recuavam e se contorciam se ouvissem palavras como "bruxo", "magia" ou "varinha" - conseguissem escutar o nome do bruxo mais maligno de todos os tempos sem o menor tremor.

 

- Lord... Espere aí - disse tio Válter, seu rosto contorcido, um olhar de compreensão alcançando seus olhos suínos. - Já ouvi esse nome... Foi ele quem...

 

- Matou meus pais, sim - Harry disse entediado.

 

- Mas ele se foi - disse tio Válter impaciente, sem o menor sinal de que o assassinato dos pais de Harry pudesse ser um assunto doloroso. - Aquele gigante disse isso. Ele se foi.

 

- Ele voltou - disse Harry pesadamente. Parecia estranhíssimo estar parado ali, na cozinha cirurgicamente limpa de tia Petúnia, ao lado da geladeira topo de linha e da televisão wide-screen, conversando tranqüilamente sobre Lord Voldemort com tio Válter. A chegada dos dementadores em Little Whinging parecia ter furado a grande e invisível muralha que dividia o mundo cruelmente não-mágico da Rua dos Alfeneiros e o mundo além, as duas vidas de Harry tinham de alguma forma se fusionado e tudo estava de cabeça para baixo; os Dursley perguntavam detalhes sobre o mundo mágico e a Sra. Figg conhecia Alvo Dumbledore; os dementadores flutuavam em torno de Little Whinging e ele poderia nunca mais retornar a Hogwarts. A cabeça de Harry latejou mais dolorosamente.

 

- De volta? - sussurrou tia Petúnia.

 

Ela olhava para Harry como se nunca o tivesse visto antes. E, inesperadamente, pela primeira vez na vida, Harry ligou completamente que tia Petúnia era irmã de sua mãe. Não saberia dizer por que aquilo o atingiu com tanta força naquele momento. Tudo que sabia era que não era a única pessoa no aposento que tinha uma noção do que a volta de Lord Voldemort poderia significar. Tia Petúnia nunca na sua vida o olhara daquele jeito antes. Os grandes e pálidos olhos dela (tão diferentes dos da irmã) não estavam estreitados com desgosto ou raiva, estavam arregalados e temerosos. O furioso fingimento que tia Petúnia mantivera por toda vida de Harry - que não havia magia nem outro mundo além do que ela habitava com tio Válter - parecia ter desvanecido.

 

- Sim - Harry disse, conversando diretamente com tia Petúnia agora. - Voltou há um mês. Eu o vi.

 

As mãos dela encontraram os grandes ombros cobertos de couro de Dudley e se agarraram neles.

 

- Espere aí - disse tio Válter, olhando de sua esposa para Harry e então de novo para ela, aparentemente ofuscado e confuso para compreensão sem precedentes que parecia ter aparecido entre eles. - Espere aí Este Lord Voldemort está de volta, você diz.

 

- Sim.

 

- Aquele que assassinou seus pais.

 

- Sim.

 

- E agora está mandado desmembradores atrás de você?

 

- Parece que sim - disse Harry.

 

- Entendo - disse tio Válter, olhando de sua pálida esposa para Harry e subindo as calças. Ele parecia estar inchando, seu grande rosto púrpura esticando diante dos olhos de Harry. - Bom, é isso - ele disse, a frente de sua camisa estirando como se inflasse -, você pode abandonar esta casa, rapaz!

 

- O quê? - disse Harry.

 

- Você me ouviu. FORA! - tio Válter berrou e até tia Petúnia e Dudley pularam. - FORA! FORA! Deveria ter feito isso anos atrás! Corujas tratando o lugar como casa de repouso, pudins explodindo, metade da sala destruída, o rabo de Dudley, Guida inflando até o teto e aquele Ford Anglia voador. FORA! FORA! Já chega! Você é história! Você não vai ficar aqui se tem um louco atrás de você, você não vai pôr em perigo minha esposa e filho, você não vai trazer problemas para nós. Se vai seguir o mesmo caminho que seus pais inúteis, já chega! FORA!

 

Harry ficou congelado. As cartas do Ministério, Sr. Weasley e Sirius, todas foram esmagadas na sua mão esquerda. "Não abandone a casa de novo, o que quer que faça. NÃO DEIXE A CASA DE SEUS TIOS."

 

- Você me escutou! - disse tio Válter, inclinando-se para frente, seu rosto púrpura e gordo chegando perto do de Harry, na verdade sentia salpicos de cuspe atingir seu rosto. - Vá andando! Você estava doido para partir meia hora atrás! Estou bem atrás de você! Saia e nunca apareça na nossa porta de novo! Por que cuidamos de você em primeiro lugar eu não sei, Guida estava certa, deveríamos tê-lo deixado no orfanato. Fomos gentis demais para seu próprio bem, pensamos que poderíamos arrancar isso de você, pensamos que poderíamos torná-lo normal, mas estava podre desde o início e já agüentei o bastante. Corujas!

 

A quinta coruja zuniu pela chaminé tão rápido que na verdade bateu no chão antes de voltar ao ar com um grito sonoro. Harry ergueu a mão para agarrar a carta, que estava num envelope vermelho, mas ela pairou direto sobre sua cabeça, voando diretamente para tia Petúnia, que soltou um grito e mergulhou, seus braços sobre a cabeça. A coruja soltou o envelope vermelho na sua cabeça, voltou-se e voou direto para a chaminé.

 

Harry se lançou para pegar a carta mas tia Petúnia chegou primeiro.

 

- Você pode abri-la se quiser - disse Harry -, mas escutarei de qualquer forma. Isso é um berrador.

 

- Solte isso, Petúnia! - rugiu tio Válter. - Não toque nisso, pode ser perigoso!

 

- Está endereçado a mim - disse tia Petúnia numa voz trêmula. - Está endereçado a mim, Válter, veja! Sra. Petúnia Dursley, a cozinha, número quatro, Rua dos Alfeneiros...

 

Ela prendeu a respiração, horrorizada. O envelope vermelho começara a fumegar.

 

- Abra-o! - Harry a encorajou. - Acabe com isso! Vai acontecer de qualquer maneira.

 

- Não.

 

A mão de tia Petúnia tremia. Ela olhava loucamente em torna da cozinha como se buscasse uma rota de fuga, mas tarde demais - o envelope caiu em chamas. Tia Petúnia gritou e o soltou.

 

Uma voz terrível encheu a cozinha, ecoando no espaço confinado, saindo da carta queimando na mesa.

 

"LEMBRE-SE DA MINHA ÚLTIMA, PETÚNIA."

 

Tia Petúnia parecia que ia desmaiar. Ela afundou na cadeira ao lado de Dudley, o rosto nas mãos. Os restos do envelope ardiam até virar cinzas em silêncio.

 

- O que é isso? - tio Válter disse rouco. - O que... Eu não... Petúnia?

 

Tia Petúnia não disse nada. Dudley fitava a mãe estupidamente, sua boca arreganhada. O silêncio se espalhava de modo horrível. Harry observava a tia, completamente assombrado, sua cabeça pronta para explodir.

 

- Petúnia, querida? - disse tio Válter timidamente. - P-Petúnia?

 

Ela ergueu a cabeça. Ainda tremia. Engoliu em seco.

 

- O garoto. O garoto terá que ficar, Válter - ela disse fracamente.

 

- O-o quê?

 

- Ele fica - ela disse. Não olhava para Harry. Pusera-se de pé novamente.

 

- Ele... Mas Petúnia...

 

- Se o chutarmos os vizinhos vão falar - ela disse. Estava recuperando rapidamente suas maneiras bruscas e cortantes, embora ainda estivesse muito pálida. - Farão perguntas estranhas, vão querer saber para onde ele foi. Temos que mantê-lo.

 

Tio Válter se esvaziou como um pneu velho.

 

- Mas Petúnia, querida...

 

Tia Petúnia o ignorou. Ela se voltou para Harry.

 

- Você fica em seu quarto - ela disse. - Não vai deixar a casa. Agora vá para cama - Harry não se moveu.

 

- De quem era o berrador?

 

- Não faça perguntas - tia Petúnia retorquiu.

 

- Está em contanto com bruxos?

 

- Eu disse para ir para cama!

 

- O que isso significa? Lembre-se da minha última o quê?

 

- Vá para cama!

 

- Como...?

 

- VOCÊ OUVIU SUA TIA, AGORA VÁ PARA CAMA!

 

 

A GUARDA AVANÇADA

"Acabo de ser atacado por dementadores e posso ser expulso de Hogwarts. Quero saber o que está acontecendo e quando eu vou poder sair daqui."

 

Harry copiou essas palavras em três pedaços diferentes de pergaminho assim que chegou na mesa do seu quarto. Endereçou o primeiro para Sirius, o segundo para Rony e o terceiro para Hermione. Sua coruja, Edwiges, estava caçando; sua gaiola estava vazia sobre a mesa. Harry ficou na cama aguardando por seu retorno, sua cabeça estava latejando, seu cérebro estava tão ocupado que não conseguia dormir. Suas costas doíam por ter carregado Duda até em casa e os dois galos em sua cabeça, resultado das pancadas que levou, estavam doendo muito.

 

Sua cabeça não parava de pensar em tudo o que acontecera. Ele estava furioso com tudo isso. Dementadores o caçando, a Sra. Figg e Mundungo Fletcher o espionando secretamente, a suspensão de Hogwarts e os avisos do Ministério da Magia - e ninguém pra lhe dizer o que estava acontecendo. E o que aquele berrador queria dizer? De quem era aquela voz que ecoou pela cozinha? Por que ele ainda estava sendo privado de notícias? Por que todos o tratavam como se fosse uma criancinha? Não faça mais nenhuma mágica, fique na casa...

 

Ele chutou seu malão quando passou por ele, mas longe de afastar sua raiva, agora se sentia pior, seu pé agora doía igual a seu corpo inteiro.

 

Edwiges entrou pela janela de forma tão suave que parecia um pequeno fantasma.

 

- Bem na hora! - disse Harry enquanto ela pousava em cima da gaiola. - Você pode

 

largar isso ai mesmo, eu tenho trabalho para você! Venha aqui.

 

Harry amarrou os 3 pedaços de pergaminho na pata dela.

 

- Leve essas mensagens para Sirius, Rony e Hermione e não volte sem uma resposta esclarecedora. Fique bicando eles até que escrevam uma carta bem longa. Entendeu?

 

Edwiges fez um ruído como se estivesse falando com ele.

 

- Então vá andando.

 

E ela saiu imediatamente. Harry se deitou na cama sem trocar as roupas e ficou olhando para o teto escuro. Agora além de tudo ele estava se sentindo culpado por ter falado de forma tão rude com Edwiges, sua única amiga na Rua dos Alfeneiros, número 4. Mas ele a recompensaria quando ela voltasse com as respostas.

 

Eles escreveriam de volta. Não poderiam ignorar um ataque de dementadores. Ele provavelmente acordaria com três cartas quilométricas cheias de simpatia e planos para sua remoção imediata para A Toca. E com aquela idéia confortante, o sono chegou sobre ele afastando todos os outros pensamentos...

 

Mas Edwiges não retornou na manhã seguinte. Harry passou o dia inteiro em seu quarto, saindo apenas para ir a banheiro. Três vezes naquele dia tia Petúnia empurrou comida por baixo da portinha que tio Válter colocou na porta do

 

quarto dele há alguns verões atrás. Cada vez que Harry a ouvia se aproximando ficava imaginando sobre o berrador... Mas não podia fazer nada. E isso continuou por três dias seguidos. Harry já estava ficando cheio disso.

 

E se enfrentasse o Ministério? E se fosse expulso e sua varinha quebrada? O que faria, pra onde iria? Ele não poderia voltar a viver com os Dursley, não agora que conhecia o outro mundo, ao qual ele realmente pertencia. Será que poderia ir viver com Sirius? Não sabia o que fazer...

 

Na quarta noite após a partida de Edwiges Harry estava deitado com a mente exausta quando seu tio entrou no quarto. Tio Válter estava vestindo a melhor roupa que tinha e estava com uma expressão de que era alguém importante.

 

- Nós estamos saindo - disse ele.

 

- Como?

 

- Eu disse que eu, sua tia e Duda vamos sair.

 

- Tudo bem.

 

- Você não vai sair desse quarto enquanto estivermos fora.

 

- Certo.

 

- Não ligue a tv, nem o som, e não mexa em nenhuma de nossas coisas.

 

- Sem problemas.

 

- E não pegue comida na geladeira.

 

- Pode deixar.

 

- Eu vou trancar sua porta.

 

- Pode trancar.

 

E tio Válter se virou, fechou a porta e saiu de casa. Harry não se importou com a saída dos Dursley. Pra ele não fazia nenhuma diferença se estavam em casa ou não. Ele não tinha forças nem pra se levantar e acender a luz. Ficou ouvindo os sons da noite, deitado em sua cama.

 

Então ouviu um som vindo da cozinha. Não podiam ser os Dursley, haviam acabado de sair e não tinha ouvido o carro. Houve silêncio por alguns segundos e depois vieram vozes.

 

"Ladrões", pensou ele. Mas um segundo depois lhe ocorreu que ladrões

 

não ficariam falando assim tão alto. Harry agarrou a varinha, que estava na mesinha de cabeceira, e se aproximou da porta do quarto para tentar ouvir melhor. Afastou pra trás ao ouvir a fechadura destrancar e abriu a porta.

 

Harry ficou parado diante da porta aberta tentando ouvir outros ruídos,

 

mas não havia nenhum. Hesitou por um momento e se moveu silenciosamente para fora de seu quarto em direção às escadas.

 

Seu coração parecia estar galopando. Havia pessoas de pé na sala abaixo, silhuetas contra a luz que entrava pelos vidros da porta, oito ou nove deles, e todos estavam olhando para ele.

 

- Abaixe sua varinha, garoto, antes que fure o olho de alguém - disse

 

uma voz em tom de grunhido.

 

O coração de Harry deu um salto. Ele conhecia aquela voz mas não abaixou a varinha.

 

- Professor Moody? - disse ele duvidoso.

 

- Não sei muito sobre "professor" - grunhiu a voz. - Desça aqui para vermos você melhor.

 

Harry abaixou a varinha, continuou a segurando com firmeza, mas não se moveu. Ele tinha todas as razões para suspeitar. Havia passado 9 meses em companhia

 

de Olho-Tonto Moody para no final descobrir que era um impostor que tentou matá-lo.  Mas antes que Harry pudesse tomar uma decisão uma segunda voz subiu pelas escadas.

 

- Está tudo bem Harry. Nós viemos para levá-lo daqui.

 

O coração de Harry saltou. Ele também conhecia aquela voz.

 

- Professor Lupin? É você?

 

- Por que estamos de pé no escuro? - disse uma outra voz completamente desconhecida. - Lumus.

 

E a ponta de uma varinha se acendeu. Harry piscou. As pessoas lá em baixo levantaram suas cabeças para que pudessem ser vistas melhor. Lupin era o que estava mais próximo. Parecia cansado e doente. Mas tentou sorrir para amenizar o estado de choque.

 

- Ah, ele realmente parece com o que eu imaginava - disse a bruxa que segurava a varinha. Ela parecia ser a mais jovem entre eles. - Wotcher, Harry!

 

- Sim, eu vejo o que você quis dizer, Remo - disse um mago negro que estava um pouco mais atrás -, ele parece mesmo com Tiago Potter.

 

- Exceto pelos olhos - disse uma outra voz. - Tem os olhos da Lílian.

 

- Você acha que é ele mesmo, Lupin - perguntou uma voz que vinha de trás de Moody. - Vamos perguntar algo que somente o verdadeiro Potter saberia responder, a não ser que alguém tenha trazido um pouco de Veritasserum.

 

- Harry, qual a forma que o seu Patrono tomou? – perguntou Lupin.

 

- Um cervo - respondeu Harry com nervosismo.

 

- É ele sim, Moody - disse Lupin.

 

Bem consciente que todos o olhavam, Harry desceu as escadas e guardou a varinha no bolso de trás da calça.

 

- Não coloque a varinha aí, garoto - disse Moody. - E se ela explodir? Bons magos já perderam a bunda por isso, você sabia?

 

- Quem você conhece que perdeu a bunda? - perguntou uma mulher de cabelo vermelho bem interessada.

 

- Não importa, apenas não guarde a varinha no bolso de trás - grunhiu Moody. - Regras de segurança-da-varinha, ninguém se importa mais com elas.

 

Lupin foi ao encontro de Harry.

 

- Como você está? - perguntou ele, olhando-o de perto.

 

- Estou bem... - disse Harry.

 

Harry mal acreditava que aquilo era real. Quatro semanas sem nada e de repente uma batalhão de bruxos estava em sua casa.

 

- Vocês têm sorte de os Dursley não estarem em casa... - murmurou ele.

 

- Sorte? Ha, ha, ha! - disse a mulher de cabelos violeta. - Fui eu quem criou a isca para que eles saíssem. Mandei uma carta pelo correio dos trouxas dizendo que eles estavam inscritos numa competição nacional. E eles estão indo para a premiação agora mesmo...

 

Harry já estava imaginando a cara do tio Válter quando visse que não havia competição alguma.

 

- Nós vamos embora, não vamos? - perguntou ele. - Logo?

 

- Praticamente já - disse Lupin. - Só estamos aguardando estar tudo limpo.

 

- Aonde nós iremos? Para a Toca? - perguntou Harry esperançoso.

 

- Não. Nós vamos para um quartel-general. Fica um pouco longe... - disse Lupin, seguindo pela cozinha junto com todos os outros bruxos.

 

Olho-Tonto Moody estava sentado na mesa da cozinha com seu olho mágico rodando em todas as direções, olhando para os aparelhos da cozinha dos Dursley.

 

- Esse é Alastor Moody, Harry – disse Lupin, apontando Moody.

 

- É, eu sei. É estranho ser apresentado a alguém que você acha que conhece...

 

- E essa é Nymphadora...

 

- Não me chame Nymphadora, Remo - disse a bruxa chateada. - É Tonks.

 

- Nymphadora Tonks, que prefere ouvir apenas seu sobrenome.

 

- Você também preferiria se sua mãe lhe desse o nome de Nymphadora - resmungou Tonks.

 

- E esse é Kingsley Shacklebolt - e apontou para o mago negro. - Elphias Doge. Dédalo Diggle...

 

- Já nos encontramos antes - disse Diggle, tirando o chapéu.

 

- Emmeline Vance. Sturgis Podmode. E Hestia Jones.

 

Harry fazia reverências com a cabeça a cada nome que era dito.

 

- Um número surpreendente de pessoas se voluntariaram para vir buscar você - disse Lupin.

 

- É isso, quanto mais melhor - disse Moody. - Somos sua escolta, Potter.

 

- Estamos apenas aguardando o sinal que nos diga que é seguro sair - disse Lupin, olhando pela janela da cozinha. - Temos uns 15 minutos.

 

- São muito higiênicos, esses trouxas, não são? - disse Tonks enquanto

 

olhava pela cozinha com muito interesse. - Meu pai é trouxa e ele é

 

um tanto quanto porcalhão. Acho que isso varia, assim como acontece

 

entre dos bruxos, não é?

 

- É... é - disse Harry. - Olhe... - e virou pra Lupin. - O que está acontecendo?

 

Eu não tenho tido notícias de nada nem de ninguém. O que Vol...?

 

Vários bruxos fizeram aquele barulho chiado...

 

- Cale-se - disse Moody.

 

- O quê? - disse Harry.

 

- Não podemos discutir nada aqui, é muito arriscado - disse Moody, olhando com o olho normal para Harry. Seu olho mágico continuava olhando o teto. - Que droga! - disse ele pondo a mão no olho mágico. - Começou a emperrar depois que aquele idiota ficou usando ele - e tirou o olho para limpá-lo.

 

- Para onde estamos indo? Quem vem nos buscar? - perguntou Harry.

 

- Vassouras - disse Lupin. - É o único jeito. Você é muito jovem para aparatar, estão vigiando a Rede do Flu e é mais que nossa vida arriscar abrir um portal não autorizado.

 

- Remo disse que você é um ótimo voador - disse Kingsley Shacklebold.

 

- Ele é excelente! - disse Lupin. - É melhor você juntar suas coisas Harry, precisamos estar prontos quando recebermos o sinal.

 

- Eu vou ajudar você - disse Tonks.

 

Ela seguiu Harry de volta ao quarto olhando tudo com muito interesse.

 

- Lugar engraçado esse - disse ela. - É tão limpo. Quase sobrenatural.

 

Entraram no quanto de Harry. Quando ele acendeu a luz ela percebeu que o quarto era bem diferente do resto da casa. Confinado por quatro dias durante uma "maré baixa" Harry não se importava muito com a organização. Os livros estavam espalhados pelo chão, a gaiola de Edwiges estava imunda, o malão estava aberto, roupas de trouxa e bruxo misturadas...

 

Harry começou a juntar as coisas e Tonks disse, se olhando no espelho:

 

- Acho que violeta não é a minha cor. Você não acha que eu fico esquisita?

 

- Bem... - disse Harry, olhando de relance pra ela.

 

- Fico sim - ela fechou os olhos como se tivesse tentando lembrar de algo. Um segundo depois o cabelo estava cor-de-rosa.

 

- Como você fez isso? - perguntou Harry espantado.

 

- Eu sou uma bruxa-metamorfa - disse ela, olhando-se novamente no espelho. - Significa que eu posso mudar minha aparência quando desejar. Eu nasci assim. Tirei nota máxima no exame de Auror sem nem precisar estudar.

 

- Você é uma Auror? - disse Harry impressionado. Ser um apanhador de bruxos das trevas era a única carreira que ele tinha considerado para quando terminasse Hogwarts.

 

- Sou - disse ela com ar de orgulhosa. - Kingsley também é. Ele é um pouco mais qualificado que eu. Eu só passei há um ano.

 

- É possível aprender como ser um bruxo-metamorfo? - perguntou Harry, que a essa altura já havia esquecido de juntar suas coisas.

 

- Bem, você pode aprender da maneira mais difícil. Metamorfose é algo realmente raro, você nasce assim, não dá pra fazer. A maioria dos bruxos usam a varinha ou poções para mudar sua forma. Mas nós temos que ir, Harry, devíamos estar fazendo as malas - disse ela com um olhar gentil passando pela bagunça que estava no chão.

 

- Ah, claro! - disse Harry agarrando mais alguns livros.

 

- Não seja estúpido, é muito mais rápido se eu... Empacotar!!! - berrou Tonks, agitando sua varinha num longo movimento.

 

Livros, roupas, telescópio, voou tudo pra dentro do malão.

 

- Não está muito arrumadinho... Minha mãe sempre reclamava... Bem... Pelo menos está tudo ai dentro - disse Tonks, fechando a tampa do malão. - Ah, podemos limpar isso aqui um pouquinho... – disse, apontando pra gaiola de Edwiges. – Scourgify - as penas e a sujeira sumiram. - Ah, agora está bem melhor. - Certo, já tem tudo? Caldeirão, Vassoura... NOSSA! Uma Firebolt!? – disse, arregalando os olhos pra vassoura na mão de Harry. - Puxa, e eu ainda estou montando uma Comet 2-60. Bem... Sua varinha está ai? Então vamos. Locomotor malão.

 

O malão de Harry flutuou alguns centímetros do chão e Tonks o conduziu escada abaixo, seguida por Harry, que vinha carregando a gaiola de Edwiges e a vassoura.

 

Lá na cozinha, Moody já havia recolocado o seu olho-mágico, que agora girava tão rápido que Harry se sentiu enjoado ao olhar pra ele. Lupin estava selando uma carta endereçada aos Dursley.

 

- Excelente - disse Lupin, olhando Tonks e Harry. - Temos cerca de um minuto. Vamos para o jardim. Harry, eu deixei uma carta dizendo a seus tios para não se preocuparem...

 

- Eles não irão. Acredite em mim - disse Harry.

 

- ... que você está a salvo...

 

- Isso vai decepcioná-los.

 

- ... e que você voltará no próximo verão.

 

- Isso é realmente necessário?

 

Lupin sorriu mas não respondeu.

 

- Vamos lá, garoto - disse Moody, tocando nas costas de Harry com a varinha. - Eu preciso Desilusionar você.

 

- Você o quê? - disse Harry nervoso.

 

- Desilusionar, é um encantamento - explicou Moody. - Lupin disse que você tem uma capa da invisibilidade, mas ela não vai servir quando estivermos voando, isso vai funcionar melhor. Aí vai...

 

Moody tocou com a varinha no topo da cabeça de Harry e ele sentiu uma sensação bem curiosa, como se um ovo tivesse sendo quebrado ali, estava descendo por todo o corpo.

 

- Muito bem, Olho-Tonto - disse Tonks.

 

Harry olhou para baixo e não viu seu corpo. Ele não estava invisível, simplesmente estava da mesma cor e textura do armário da cozinha que estava atrás de si. Ele parecia ter se tornado um homem-camaleão.

 

- Vamos lá - disse Moody, destrancando a porta dos fundos com sua varinha.

 

Todos seguiram para fora.

 

- Uma noite limpa - disse Moody. - Gostaria que houvesse um pouco mais de nuvens hoje. Certo, Harry, nós vamos voar numa formação fechada. Tonks vai na sua frente. Fique de olho nela. Lupin vai te dar cobertura por baixo e eu estarei logo atrás de você. O resto estará ao nosso redor. Não freie por nada nesse mundo, entendeu. Se um de nós morrer...

 

- O que isso quer dizer? - perguntou Harry apreensivo, mas Moody não respondeu.

 

- ...os outros continuam voando. Não parem. Se eles pegarem todos nós e você sobreviver, Harry, o restante da escolta vai lhe socorrer. Continue voando para o Leste e eles te encontrarão.

 

- Pare de ser tão pessimista, Olho-Tonto, ele vai pensar que não estamos levando isso a sério - disse Tonks enquanto pendurava as coisas de Harry em ganchos amarrados na sua vassoura.

 

- Eu só estou dizendo o plano. Nosso trabalho é entregá-lo em segurança ao quartel-general mesmo que morremos tentando.

 

- Ninguém vai morrer - disse Kingsley.

 

- Montem em suas vassouras. Esse é o primeiro sinal - disse Lupin, apontando para o céu.

 

Muito, muito longe deles, uma cascata de faíscas vermelhas estava brilhando próximo às estrelas. Harry sabia que eram feitas por uma varinha. Montou na vassoura, agarrou-se firme e imaginou que em um segundo estaria voando novamente.

 

- Segundo sinal, vamos! - disse Lupin ao ver mais faíscas, verdes desta vez, explodindo sobre eles.

 

Harry saltou do chão. O ar frio da noite passava por seus cabelos enquanto os gramados verdes da Rua dos Alfeneiros ficavam para trás junto com todas aquelas preocupações de representantes do Ministério quebrando sua varinha e tudo mais... Sentia como se seu coração fosse explodir de tanto prazer; estava voando novamente, era tudo o que ele mais sonhou neste verão... Estava indo para casa... Por alguns momentos gloriosos, todos os seus problemas pareciam ter se reduzido a nada, insignificantes diante do vasto e brilhante céu estrelado.

 

- Para a esquerda, para a esquerda, tem um trouxa olhando para cima - gritou Moody. Tonks desviou e Harry a seguiu, vendo seu malão balançar violentamente sob a vassoura dela. - Precisamos de mais altura. Subam mais 400 metros.

 

Os olhos de Harry ficaram úmidos enquanto eles subiam, agora não conseguia ver mais nada lá embaixo a não ser as pequenas luzes dos carros e dos postes. Duas daquelas pequenas luzes poderiam ser o carro dos Dursley... A qualquer momento eles estariam voltando da competição inexistente, cheios de raiva... E encontrariam a casa vazia. Harry deu uma gargalhada, mas sua voz se perdeu entre o ruído das capas tremulantes dos outros bruxos. Ele nunca tinha se sentido tão vivo este mês ou tão feliz assim.

 

- Seguindo para o sul - gritou Olho-Tonto. - Cidade à frente! Agora para sudeste, subam mais, tem algumas nuvens, não podemos nos perder de vista.

 

A noite estava ficando cada vez mais fria. Harry achou que teria sido bom vestir um casaco.

 

- Virando para sudoeste. Vamos evitar a auto-estrada - gritou Moody.

 

Harry imaginou que nenhuma viagem de carro ou viajando via Flu poderia ser tão gostoso. Agora os outros bruxos se aproximavam rodeando ele...

 

- Nós vamos voltar um pouco agora, só para ter certeza que não estamos sendo seguidos - gritou Moody.

 

- VOCÊ ESTÁ LOUCO, OLHO-Tonto? - gritou Tonks. Nós estamos congelando! Se ficarmos fazendo isso não chegaremos lá antes da semana que vem. Além do mais, estamos nos aproximando agora.

 

- Hora de começar a decida - disse Lupin. - Siga Tonks, Harry!

 

Harry seguiu Tonks num mergulho. Depois de algum tempo ele pôde ver luzes novamente. Queria muito chegar ao chão e achou que alguém teria que ajudá-lo a se desgrudar da vassoura, pois já estava congelando.

 

- Aqui estamos! - disse Tonks, e alguns segundos depois ela havia pousado.

 

Harry pousou logo atrás dela. Tonks já estava soltando o malão de Harry.

 

Ele olhou em volta. A frente das casas não eram muito amigáveis, algumas delas tinham janelas quebradas.

 

- Onde nós estamos? - perguntou Harry, mas Lupin retrucou dizendo:

 

- Explico em um minuto.

 

- Peguei - disse Moody e levantou um objeto que lembrava um isqueiro.

 

Apertou um botão e a luz do poste mais próximo sumiu. Ele continuou apertando o Apagueiro até que todas as luzes do quarteirão se apagassem, deixando visíveis

 

apenas as luzes das janelas através das cortinas e da lua.

 

- Peguei emprestado do Dumbledore - disse Moody, guardando-o no bolso. - Agora vamos.

 

Ele pegou Harry pelo braço e o conduziu pelo gramado, através da rua até chegar a um lugar pavimentado. Lupin e Tonks os seguiram carregando o malão e o resto da escolta, de varinha em punho, escoltando-os.

 

- Aqui - cochichou Moody e entregou um pedaço de pergaminho a Harry. Acendeu a varinha para iluminar e disse. - Leia rápido e memorize.

 

Harry olhou o papel. A escrita ela quase familiar.

 

"O Quartel-General da Ordem da Fênix pode ser encontrado no número 12, Grimmauld Place, Londres."

 

 

GRIMMAULD PLACE, NÚMERO 12

- O que é a Ordem da...? - Harry ia perguntar.

 

- Não aqui, garoto - falou Moody. - Espere até termos entrado - ele tomou o pedaço de pergaminho da mão de Harry e pôs fogo nele com a ponta de sua varinha. Quando o papel virou cinzas, Harry olhou novamente ao redor e viu que estavam diante do número 11; olhou para a esquerda e viu o número 10, olhou para a direita, e viu o número 13.

 

- Mas onde...?

 

- Pense no que você acabou de ler - disse Lupin.

 

Harry pensou e demorou um pouco para alcançar a parte sobre o número 12 do Grimmauld Place, então uma porta surgiu do nada entre os números 11 e 13, seguido por paredes e janelas. Era como se uma casa tivesse inflado, empurrando as outras duas casas para o lado. Sendo que tudo continuava normal, parecia que os trouxas não haviam percebido nada.

 

- Vamos, apresse-se - disse Moody, empurrando Harry.

 

Harry subiu nos degraus da porta recém materializada. A maçaneta tinha a forma de uma serpente enrolada. Não havia fechadura nem caixa de correio.

 

Lupin puxou sua varinha e tocou a porta uma vez. Harry ouviu diversos sons metálicos, como se uma porção de trancas estivessem abrindo. E a porta se abriu.

 

- Entre rápido, Harry - sussurrou Lupin. - Mas não vá muito longe nem toque em nada.

 

Harry passou pela porta e entrou na escuridão total da sala. O lugar parecia uma construção abandonada. Ele olhou sobre seu ombro e viu os outros entrando atrás dele. Lupin e Tonks carregando seu malão e a gaiola de Edwiges.

 

Moody estava no degrau mais alto, libertando as bolinhas de luz de volta aos postes de iluminação. Moody entrou e fechou a porta. A sala ficou em escuridão total.

 

- Aqui...

 

Ele tocou novamente na cabeça de Harry com a varinha; Harry sentiu que algo quente estava descendo por suas costas e percebeu que o encantamento de Desilusionar tinha sido removido.

 

- Agora todos fiquem parados, enquanto eu providencio um pouco de luz - sussurrou Moody.

 

O silêncio dos outros deu a Harry uma sensação de que tinham entrado na casa de uma pessoa que acabara de morrer. Ele ouviu um ruído suave e então as lâmpadas a gás tornaram-se fogo vivo ao longo das paredes. Pôde ver um candelabro e uma mesa, ambos tinham forma de serpentes.

 

Ouviram-se passos apressados vindo de uma porta lateral. Era a Sra. Weasley, a mãe de Rony. Ela veio dar as boas vindas e Harry percebeu que ela já não estava bem mais magra que da última vez que a tinha visto.

 

- Oh, Harry, que bom ver você! - sussurrou ela, puxando-o para um abraço bem apertado, depois o segurou nos braços e o examinou dos pés à cabeça. - Você parece faminto, mas já está quase na hora do jantar! - ela se virou para os outros bruxos e disse em tom urgente. - Ele já chegou, a reunião já começou.

 

Os bruxos atrás de Harry fizeram barulhos interessantes de excitação e começaram a passar por ele seguindo em direção a porta pela qual a Sra. Weasley tinha entrado. Harry tentou segui-los mas a Sra. Weasley o segurou.

 

- Não, Harry. A reunião é para membros da Ordem. Rony e Hermione estão no andar de cima, você pode esperar com eles até que as reuniões tenham terminado, então nós jantaremos. E mantenha sua voz baixa neste salão.

 

- Por quê?

 

- Não quero que nada seja acordado.

 

- O que você...?

 

- Eu explico mais tarde. Tenho que me apressar, eu deveria estar na reunião. Vou apenas mostrar onde você vai dormir.

 

Apertando o dedo contra os lábios, ela o conduziu andando na ponta dos pés. Harry pôde observar coisas bem estranhas, entre elas, troféus nas paredes, como aqueles com cabeças de animais, mas estes tinham cabeças de elfos-domésticos. Harry ficou intrigado. Por que estariam numa casa que parecia a casa do mais terrível dos bruxos?

 

- Sra. Weasley, por que...?

 

- Rony e Hermione vão explicar tudo, querido, eu realmente tenho que ir. Ali, aquela porta à direita. Eu venho chamar quando tudo acabar.

 

E ela desceu apressada pelas escadas. Harry seguiu pelo corredor até a porta do quarto, que também tinha a maçaneta em forma de cobra, e abriu a porta.

 

Ele foi entrando no quarto e viu duas camas. Então houve um barulho e sua visão ficou completamente obscurecida por uma enorme quantidade de cabelos volumosos. Hermione tinha se jogado encima dele num abraço que quase o derrubou no chão, enquanto a minúscula coruja de Rony voava ao redor de suas cabeças.

 

- HARRY! Rony, ele está aqui, Harry está aqui! Não ouvimos você chegar! Ah, como você está? Tudo bem? Você ficou chateado conosco? Aposto que ficou, sei que suas cartas foram em vão, mas não podíamos te contar nada, Dumbledore nos vez jurar que não contaríamos, ah, eu tenho tanta coisa pra te contar, e você tem coisas pra nos dizer. Os dementadores! Quando nós ouvimos... E as advertências do Ministério. É tão ultrajante, eu não acreditei, eles não podem expulsar você, eles não podem, existe exceções no Decreto do Uso Indevido de Magia por Menores de Idade falando sobre situações de perigo de vida...

 

- Deixe-o respirar, Hermione - disse Rony, enquanto fechava a porta atrás de Harry. Ele parecia ter crescido vários centímetros durante esse mês.

 

Ainda eufórica, Hermione soltou Harry, mas antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa um som suave de algo branco surgiu de um canto escuro e pousou gentilmente nos ombros de Harry.

 

- Edwiges.

 

- Ela está impossível - disse Rony. - Nos bicou quase até a morte quando trouxe sua última carta, olhe só...

 

Ele mostrou a Harry o dedo indicador da mão direita, que estava com um corte profundo.

 

- Ah, estou vendo - disse Harry. - Desculpe-me por isso, mas eu queria respostas, você sabe...

 

- Nós queríamos dá-las a você - disse Rony. Hermione estava desesperada, ela ficava dizendo que você iria fazer algo estúpido se não recebesse notícias, mas Dumbledore nos fez...

 

- ...jurar não me dizer nada - disse Harry. - É, Hermione já me disse.

 

O brilho quente que tinha sido aceso nele ao ver seus dois melhores amigos se extinguiu quando uma coisa congelante atingiu o seu estômago. E repentinamente ele sentiu que seria melhor Rony e Hermione deixá-lo sozinho. Houve um silêncio profundo, Harry afastou Edwiges e não olhou para os outros.

 

- Ele achava que seria o melhor a fazer - disse Hermione. - Dumbledore, quero dizer...

 

- Sei... - disse Harry. Ele viu que as mãos dela também tinha, marcas das bicadas de Edwiges e percebeu que não sentia tanto remorso assim.

 

- Eu acho que ele pensou que você fosse ficar seguro com os trouxas - disse Rony.

 

- É? - disse Harry, erguendo as sobrancelhas. - Por acaso algum de vocês foi atacado por dementadores neste verão?

 

- Bem... Não... Mas é por isso que ele tem pessoas da Ordem da Fênix seguindo você o tempo inteiro...

 

Então Harry sentiu como se o chão tivesse sumido sob seus pés. Então todos sabiam que ele estava sendo vigiado, exceto ele.

 

- Mas não funcionou como planejado, não foi? - disse Harry, fazendo questão de manter a voz alta. - Eu tive que cuidar de mim mesmo no final de tudo, não tive?

 

- Ele estão tão furioso - disse Hermione. - Dumbledore. Ele o viu. Quando ele percebeu Mundungo tinha abandonado o posto. Ele ficou assustado.

 

- Eu fico feliz que ele tenha saído - disse Harry com frieza. - Se ele não tivesse saído eu não teria feito mágica e Dumbledore provavelmente me deixaria na Rua dos Alfeneiros o verão inteiro.

 

- Você... Você não ficou preocupado com o aviso do Ministério? - perguntou Hermione.

 

- Não - mentiu Harry. E se afastou dele olhando ao redor do quarto, mas isso não animou seu espírito. - Então por que Dumbledore quer me manter no escuro? Vocês se importam de perguntar a ele? - disse Harry e olhou bem a tempo ver uma troca de olhares entre dos amigos que praticamente já sabiam como ele reagiria.

 

- Nós dissemos a Dumbledore que queríamos te contar o que estava  acontecendo - disse Rony. - Mas ele está realmente ocupado agora, nós só o vimos duas vezes desde que viemos para cá e ele não tem muito tempo, ele apenas nos fez jurar não te contar coisas importantes quando escrevêssemos, ele disse que as corujas poderiam ser interceptadas.

 

- Ele ainda poderia me manter informado se quisesse - disse Harry. - Ou vocês estão me dizendo que ele não conhece outros meios de mandar mensagens sem ser pelas corujas.

 

- Eu também pensei nisso - disse Hermione. - Mas ele não queria que você soubesse de nada.

 

- Talvez ele ache que eu não sou alguém confiável - disse Harry,  observando suas expressões.

 

- Não seja bobo - disse Rony com um olhar desconcertante.

 

- Ou que eu não sei cuidar de mim mesmo.

 

- Claro que ele não pensa assim - disse Hermione ansiosa.

 

- Então por que eu tinha que ficar com os Dursley enquanto vocês dois estavam juntos em tudo que está se passando aqui? - disse Harry com sua voz ficando mais alta a cada palavra. - Como vocês dois têm permissão de saber tudo o que se passa aqui?

 

- Nós não temos - interrompeu Rony. - Mamãe não nos deixa chegar perto das reuniões, ela diz que somos muito jovens...

 

Mas antes que ele se desse conta, Harry estava gritando.

 

- ENTÃO VOCÊS NÃO ESTAVAM NAS REUNIÕES, GRANDE COISA! VOCÊS AINDA ESTAVAM AQUI, NÃO É? VOCÊS AINDA ESTAVAM JUNTOS! EU, ESTAVA PRESO COM OS DURSLEY POR UM MÊS INTEIRO. E EU AGUENTEI MAIS DO QUE VOCÊS DOIS JÁ PUDERAM AGUENTAR E DUMBLEDORE SABIA DISSO. QUEM SALVOU A PREDRA FILOSOFAL? QUEM CUIDOU DE RIDDLE? QUEM SALVOU A PELE DE VOCÊS DOS DOIS DEMENTADORES?

 

Todas as coisas que Harry tinha feito nesses últimos meses estavam  saindo dele: a frustração de ficar sem notícias, de estar sendo seguido, de estar sozinho sem os amigos...

 

- QUEM PASSOU PELOS DRAGÕES E ESFINGES E TODAS AS  OUTRAS COISAS PERIGOSAS NO ANO PASSADO? QUEM FOI QUE VIU "ELE" VOLTAR? QUEM FOI QUE ESCAPOU "DELE"? EU!

 

Rony estava lá de pé, com a boca semi-aberta, enquanto Hermione estava banhada por lágrimas.

 

- MAS POR QUE EU DEVERIA SABER O QUE ESTÁ ACONTECENDO? POR QUE ALGUÉM SE IMPORTARIA EM ME DIZER O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

 

- Harry nós queríamos te contar, realmente queríamos... - disse Hermione.

 

- ACHO QUE NÃO QUERIAM TANTO ASSIM, OU VOCÊS TERIAM DADO UM JEITO DE ME MANDAR UMA CORUJA, MAS "DUMBLEDORE NOS FEZ PROMETER...".

 

- Bem, ele fez...

 

- EU PASSEI QUATRO SEMANAS PRESO NA RUA DOS ALFENEIROS, PEGANDO JORNAIS DO LIXO PRA TENTAR SABER O QUE ESTAVA ACONTECENDO...

 

- Nós queríamos...

 

- EU ACHO QUE VOCÊS ESTAVAM REALMENTE SE DIVERTINDO, NÃO ESTAVAM, AQUI, BEM JUNTINHOS...

 

- Honestamente, não...

 

- Harry, nós sentimos muito - disse Hermione desesperada, seus olhos brilhando de tantas lágrimas. - Você tem toda razão, Harry. Eu estaria furiosa se fosse você.

 

Harry a olhou ela, ainda respirando profundamente, e continuou observando o lugar.

 

- Afinal de contas, que lugar é esse? - perguntou olhando Rony e  Mione.

 

- É o quartel-general da Ordem do Fênix - disse os dois ao mesmo tempo. - E alguém se importa de me dizer o que é a Ordem do Fênix?

 

- É uma sociedade secreta - disse Mione. - Dumbledore está no comando, ele é o fundador. São as pessoas que lutaram contra Você-Sabe-Quem da última vez.

 

- Pouquíssimas pessoas...

 

- Nós vimos cerca de vinte delas - disse Rony -, mas nós achamos que há  mais.

 

- E então...? - disse Harry olhando de um para o outro.

 

- Er... Então o quê? - disse Rony.

 

- Voldemort! - disse Harry furioso, e Rony e Mione se assustaram. - O que está acontecendo?

 

- Nós dissemos a você. A Ordem não nos deixa entrar em suas reuniões - disse Mione nervosa. - Então não temos mais detalhes... Mas temos uma  idéia geral.

 

- Fred e Jorge inventaram Orelhas Extensíveis, vê... - disse Rony. - Elas são realmente úteis.

 

- Extensíveis?

 

- Orelhas, sim. Nós só tivemos que parar de usá-las porque mamãe as encontrou e ficou furiosa. Fred e Jorge tiveram que escondê-las para mamãe parar de chateá-los. Mas nós conseguimos fazer um bom uso delas antes que mamãe descobrisse o que estava havendo. Nós sabemos que alguns membros da Ordem estão seguindo Comensais da Morte conhecidos, mantendo o olho neles, você sabe...

 

- Alguns deles estão trabalhando recrutando mais pessoas para a Ordem - disse Mione.

 

- E alguns deles estão montando guarda ou algo assim - disse Rony. - Eles sempre falam sobre o serviço da guarda.

 

- E o que vocês andaram fazendo? Se não podem estar nas reuniões,  porque me disseram que estavam ocupados?

 

- Nós estávamos - disse Mione. - Estivemos descontaminando essa casa, ela está vazia há séculos e as coisas estavam feias por aqui. Tivemos que limpar a cozinha, a maioria dos quartos e tivemos que... AARGH!

 

Com dois estampidos, Fred e Jorge, os irmãos mais velhos de Rony, se materializaram no meio da sala.

 

- Parem de fazer isso! - disse Hermione gritando para os gêmeos.

 

- Olá, Harry - disse Jorge. - Nós pensamos ter ouvido sua doce voz.

 

- Você não deve engarrafar sua raiva daquele jeito, Harry - disse Fred  também caçoando. - Acho que tem umas pessoas há uns 50 quilômetros daqui que não conseguiram te ouvir.

 

- Então vocês dois passaram no teste de Aparatar? - perguntou Harry.

 

- Com louvor - disse Fred, que estava segurando o que parecia um longo pedaço de faixa recém colorida. - Só teria demorado uns 30 segundos a mais se vocês tivessem subido  pela escada - disse Rony.

 

- Tempo são galeões, pequeno irmão - disse Fred. - De qualquer forma, Harry, você estava interferindo com a recepção. Orelhas Extensíveis - disse ele ao ver a expressão no rosto de Harry, e levantou a faixa  que agora estava vibrando sobre o chão. - Estamos tentando ouvir o que está se passando lá em baixo.

 

- Tenha cuidado - disse Rony -, se mamãe ver uma dessas outra vez...

 

- Vale a pena correr o risco, essa é a maior reunião que já tivemos - disse Fred.

 

- Ah, olá, Harry! - disse a irmã mais nova de Rony, Gina, incrivelmente  animada. - Eu pensei ter ouvido sua voz. Ela se virou para Fred e Jorge e falou. - Não vai adiantar usar as Orelhas Extensíveis, ela colocou um Feitiço Imperturbável na porta da cozinha.

 

- Como você sabe? - perguntou Jorge, com um olhar desconfiado.

 

- Tonks me disse como saber - disse Gina. - Basta você jogar algo na  porta, se ela não fizer contato a porta está Imperturbável. Eu estava jogando  bombinhas nela do topo da escada e elas nem chegavam perto da porta, então não há como as Orelhas Extensíveis funcionarem.

 

- Droga. Eu realmente queria saber o que o velho Snape está tramando - disse Fred com ar deprimido.

 

- Snape! - disse Harry. - Ele está aqui?

 

- Sim - respondeu Jorge, fechando a porta com todo cuidado e sentando  em uma das camas; Fred e Gina o seguiram. - Fazendo o relatório. Segredo total.

 

- Traidor - disse Fred.

 

- Ele está do nosso lado agora - disse Mione, reprovando-o. Rony resmungou.

 

- Isso não o faz deixar de ser um traidor. O jeito que ele nos olha quando nos vê.

 

- Gui não gosta dele - disse Gina.

 

Harry não sabia se sua raiva já o tinha abatido, mas seu desejo por  informações superava a vontade de gritar. E ele ficou do lado oposto da cama.

 

- Gui está aqui? - perguntou ele. - Pensei que estivesse trabalhando no Egito?

 

- Ele preferiu pegar um trabalho burocrático para que pudesse vir pra  casa e trabalhar para a Ordem - disse Fred. - Ele diz que sente falta das  tumbas, mas tem suas compensações.

 

- O que você quer dizer?

 

- Você se lembra de Fleur Delacour? - disse Jorge. - Ela aceitou um  trabalho no Gringotes "parra melhorrar seu inglêss".

 

- E Gui até que tem dado a ela muitas aulas particulares... - disse Fred rindo.

 

- Carlinhos está na Ordem também - disse Jorge -, mas ele ainda está na Romênia. Dumbledore quer quantos magos estrangeiros puder, então Carlinhos está tentando fazer contatos nos dias de folga.

 

- Percy não poderia fazer isso? - perguntou Harry. Da última vez que ele ouviu falar, o terceiro irmão Weasley estava trabalhando no Departamento  Internacional da Magia como Cooperador do Ministério da Magia.

 

Com as palavras de Harry todos os Weasley e Hermione trocaram  olhares sombrios entre eles.

 

- Aconteça o que acontecer, nunca mencione Percy na frente de mamãe e  papai - Rony informou a Harry um tom tenso.

 

- Por que não?

 

- Porque cada vez que o nome de Percy é mencionado papai quebra o que estiver segurando e mamãe começa a chorar - disse Fred.

 

- Tem sido terrível - disse Gina com tristeza.

 

- O que aconteceu? - perguntou Harry.

 

- Percy e Papai tiveram uma discussão - disse Fred. - Eu nunca tinha visto papai discutir daquela forma com ninguém. Normalmente é mamãe quem grita.

 

- Aconteceu uma semana antes de virmos para cá. Percy chegou em casa e nos disse que tinha sido promovido - disse Rony.

 

- Você está falando sério? - disse Harry.

 

Como ele sabia muito bem, Percy tinha uma grande ambição, mas  aparentemente não tinha obtido muito sucesso em seu primeiro trabalho no Ministério da Magia. Percy cometeu o grande erro de não informar que seu chefe estava  sendo  controlado por Lord Voldemort (não que o Ministério iria acreditar nele - todos pensavam que Sr. Crouch tinha ficado louco).

 

- Pois é, todos nós ficamos surpresos - disse Jorge -, porque Percy  tinha se metido numa porção de problemas por causa do Crouch, havia um  inquérito e tudo mais. Eles disseram que Percy deveria ter denunciado Crouch  a um superior. Mas você conhece o Percy, Crouch o deixou no comando e ele não ia querer decepcioná-lo.

 

- Mas, como é que ele foi promovido?

 

- É exatamente isso que nós queríamos saber - disse Rony, que agora  estava conseguindo conversar normalmente, já que Harry tinha parado de gritar. - Ele veio pra casa realmente orgulhoso de si mesmo, ainda mais que o  normal, se é que você consegue imaginar isso; e disse a papai que tinham oferecido um cargo no escritório do Fudge. Uma coisa realmente boa para alguém que tinha acabado de sair de Hogwarts: Assistente Junior do Ministro. Ele esperava que papai fosse ficar impressionado, eu acho.

 

- Só que papai não ficou - disse Fred.

 

- Por que não? - perguntou Harry.

 

- Bem, aparentemente Fudge estava rondando pelo Ministério  verificando para que ninguém tivesse qualquer contato com Dumbledore - disse Jorge.

 

- O nome de Dumbledore é ruim para o Ministério nesses dias, sabe - disse Fred. - Eles acham que ele só vai causar problemas dizendo por aí que Você-Sabe-Quem está de volta.

 

- Papai disse que Fudge deixou bem claro que qualquer um que estivesse do lado de Dumbledore podia limpar a mesa - disse Jorge.

 

- O problema é, Fudge suspeitava de papai, ele sabia que papai tinha  amizade com Dumbledore, e estava sempre um pouco perturbado por causa da  obsessão do papai pelos trouxas.

 

- Mas o que aconteceu com o Percy? - perguntou Harry confuso.

 

- Estou chegando lá. Papai acha que Fudge só queria Percy em seu  escritório porque ele queria usá-lo para espionar a família, e Dumbledore.

 

Harry deixou escapar um assobio baixinho.

 

- Aposto que Percy adoraria isso - Rony deu uma risadinha sem graça.

 

- Ele ficou completamente alterado. Ele disse... Bem, ele disse uma porção de coisas ruins. Ele disse que estava sofrendo desde que chegou ao Ministério por causa da reputação do papai, que papai não tinha ambição e que por isso, você sabe, nós nunca tínhamos dinheiro, eu acho...

 

- O quê? - disse Harry sem acreditar.

 

- Eu sei - disse Rony. - E ficou ainda pior. Ele disse que papai era um idiota de correr atrás do Dumbledore, que Dumbledore só iria causar problemas, que papai iria se dar mal junto com ele, e que ele, Percy, sabia que sua lealdade pertencia ao Ministério. E se mamãe e papai fossem se tornar traidores do Ministério ele iria se certificar de que não mais faria parte de nossa família. Fez as malas na mesma noite e partiu. Ele está vivendo aqui em  Londres, agora.

 

Harry ficou desconcertado. Ele sempre tinha gostado de Percy como um  dos irmãos de Rony, mas nunca iria imaginar que ele diria coisas tão terríveis do Sr. Weasley.

 

- Mamãe ficou naquele estado - disse Rony. - Você sabe... Chorando e  coisa assim. Ela veio para Londres tentar falar com Percy mas ele bateu a porta na cara dela. Eu não sei o que ele iria fazer se encontrasse papai no  trabalho, ignorá-lo, eu acho.

 

- Mas Percy deveria saber que Voldemort está de volta - disse Harry. - Ele não é estúpido, ele precisa saber que seus pais não arriscariam tudo sem  provas.

 

- É, bem, seu nome também entrou na confusão - disse Rony lançando um  olhar furtivo a Harry. - Percy disse que a única evidência e... Eu não sei... Ele não achou que fosse suficiente.

 

- Percy leva o Profeta Diário muito a sério - disse Mione.

 

- Sobre o que você está falando?

 

- Você não estava recebendo o Profeta Diário? - perguntou Mione nervosa.

 

- Sim, eu estava.

 

- Você estava... É... Lendo ele por inteiro?

 

- Bem, não totalmente. Se eles fossem anunciar algo sobre Voldemort deveria ser notícia de capa, não é?

 

Todos se encolheram ao ouvir aquele nome. Hermione continuou.

 

- Você deveria lê-lo por inteiro para entender, mas eles... É...

 

Eles mencionaram você uma porção de vezes.

 

- Mas eu teria visto...

 

- Não se você estivesse lendo apenas a primeira página - disse

 

Hermione, balançando a cabeça. - Eu não estou falando de grandes artigos. Eles detonaram você, como se você fosse uma piada.

 

- O que você...?

 

- É asqueroso - disse Mione numa voz calmamente forçada. - Eles estão apenas publicando as coisas da Rita.

 

- Mas ela não está mais trabalhando para  eles, está?

 

- Claro que não, ela manteve sua promessa. Não que ela tivesse escolha - disse Mione satisfeita. - Mas ela deixou base para o que eles estão  tentando fazer agora.

 

- E o que seria? - disse Harry impaciente.

 

- Ok, você sabe que ela escreveu que você estava delirando e que estava dizendo que sua cicatriz estava doendo e tudo mais?

 

- Sei - disse Harry, que não esqueceria as histórias da Rita Skeeter  sobre ele.

 

- Bem, eles escreveram sobre você como se você estivesse nessa  ilusão, querendo ganhar atenção das pessoas para que pensassem que você é um tipo de herói trágico ou algo assim - disse Mione, muito rápido como se para Harry fosse humilhante ouvir essas coisas. - Eles continuaram fazendo esses comentários sobre você. Se uma história surgisse, eles diriam algo como "Um louco conto  do Harry Potter"... Você vê o que eles estavam fazendo? Eles queriam transformar você numa pessoa que ninguém acreditasse. Fudge está por trás disso, eu aposto. Ele quer que os bruxos pensem que você é um garoto estúpido que é uma piadinha, que diz histórias ridículas porque adora ser famoso e quer  continuar assim.

 

- Eu não pedi... Eu não queria... Que Voldemort matasse meus pais! Eu  fiquei famoso porque ele assassinou minha família mas não pode me matar! Quem quer ser famoso com isso? Eu preferia que nunca tivesse  acontecido...

 

- Nós sabemos, Harry - disse Gina.

 

- E claro, eles não disseram uma palavra sequer sobre os dementadores  que atacaram você - disse Hermione. - Alguém disse a eles para manter em sigilo. Essa certamente seria uma grande história, descontrole dos dementadores. Eles nem mesmo mencionaram que você transgrediu o Estatuto  Internacional de Magia. Nós achamos que eles iriam, isso iria cair bem na sua  imagem de garoto estúpido. Achamos que estão adiando até que você seja expulso, digo, se é que você vai ser expulso. Na verdade você não deveria ser, não se eles seguirem a risca às leis, nem mesmo haverá um caso contra  você.

 

Eles tentaram escutar novamente com as Orelhas Extensíveis mas Harry  não queria se meter nisso. Ele tentou encontrar outro assunto mas não  precisou pois o som de passos vinha subindo a escada.

 

- Ah, não!

 

Fred recolheu sua aparelhagem, houve outro estampido e ele e Jorge sumiram. Segundo depois a Sra. Weasley apareceu na porta do quarto.

 

- A reunião acabou, vocês podem vir jantar agora. Todos estão ansiosos para ver você, Harry. E quem foi que deixou todas aquelas bombinhas do lado de fora da cozinha?

 

- Bichento - disse Gina. - Ele adora brincar com elas.

 

- Ah - disse Sra. Weasley -, eu pensei que pudesse ter sido Kreacher, ele continua fazendo coisas desse tipo. Agora não esqueçam de manter suas vozes baixas lá no salão. Gina, suas mãos estão imundas. O que você andou fazendo? Vá lavá-las antes do jantar, por favor.

 

Gina seguiu sua mãe pelo corredor, deixando Harry a sós com Rony e Mione. Eles ficaram apreensivos pensando se Harry começaria a gritar novamente agora que todos haviam saído.

 

- Olhe... - murmurou Harry, mas Mione disse, interrompendo-o.

 

- Nós sabemos que você está zangado, Harry, nós realmente não te  culpamos mas você precisa entender, nós tentamos persuadir Dumbledore...

 

- É, eu sei - disse Harry.

 

E ele tentou encontrar um outro assunto, porque pensar  em Dumbledore o deixava novamente fervendo de raiva.

 

- Quem é Kreacher? - perguntou ele.

 

- O elfo-doméstico que vive aqui - disse Rony. - Louco. Nunca encontrei um como ele.

 

- Ele não é louco, Rony - retrucou Mione.

 

- A ambição de sua vida é ter sua cabeça cortada e colocada num troféu como o da mãe dele - disse Rony irritado. - Isso é normal, Hermione?

 

- Bem... Bem, se ele é um pouco estranho, não é culpa dele.

 

- A Hermione ainda não desistiu daquela idéia maluca de ajudar os  elfos-domésticos - disse Rony.

 

- Não é uma idéia maluca fazê-los ter auto-estima e lhes dar  direitos. E não sou apenas eu, Dumbledore diz que nós devemos ser legais com o Kreacher.

 

- Sei, sei - disse Rony. - Vamos lá que eu estou morrendo de fome.

 

Eles saíram pela porta mas antes que pudessem descer as escadas...

 

- Esperem - disse Rony, estendendo o braço para parar Harry e Mione. - Eles ainda estão no salão, talvez possamos ouvir alguma coisa.

 

Os três olharam cautelosamente para baixo. O salão abaixo estava cheio de bruxas e bruxos, incluindo toda a escolta de Harry. Eles estavam cochichando muito animados. Bem no centro do grupo Harry pode ver aquela figura sombria, seu mais detestado professor em Hogwarts, professor Snape. Ele estava muito interessado em saber o que Snape estava fazendo na  Ordem da Fênix...

 

E Harry viu um pedaço de faixa colorida descendo em frente a seus  olhos. Olhou para cima e viu Fred e Jorge no andar de cima, baixando  cautelosamente as Orelhas Extensíveis para ouvir as pessoas abaixo. Um momento depois, entretanto, todos eles começaram a se mover pela porta da frente e  ficaram fora de visão.

 

- Droga - Harry ouviu Fred sussurrar enquanto puxava de volta as  Orelhas Extensíveis.

 

Eles ouviram a porta abrir e depois fechar.

 

- Snape nunca come aqui - disse Rony para Harry. - Vamos lá.

 

- E não esqueça de manter sua voz baixa no salão, Harry - sussurrou  Mione.

 

Ao passarem pela galeria de cabeças de elfos-domésticos que estava na parede eles viram Lupin, a Sra Weasley e Tonks na porta da frente,  selando com mágica as muitas fechaduras agora que todos tinham partido.

 

- Nós vamos jantar na cozinha - sussurrou Sra. Weasley, juntando-se a  eles no pé da escada. - Harry, querido, se você for na ponta dos pés através do salão, fica atrás dessa porta aqui...

 

CRASH!

 

- Tonks! - berrou Sra. Weasley desesperada, virando para olhar atrás dela.

 

- Eu sinto muito! - falou Tonks, que estava deitada no chão. - Foi aquele guarda-chuva estúpido, é a segunda vez que ele me pega...

 

Mas o resto das palavras foi abafado por um terrível som, insuportável. E vieram gritos de uma pintura que estava atrás da cortina, como se fosse uma tortura, apesar de ser um quadro, parecia muito realista. Com esse barulho, diversas outras pinturas acordaram e começaram a gritar também, tão alto que machucava os tímpanos. Harry colocou as mãos sobre as orelhas para tentar diminuir um pouco o sofrimento. Lupin e a Sra Weasley correram e tentaram fechar as cortinas sobre a pintura de uma velha que estava gritando mas quando foram chegando perto ela gritou ainda mais alto e começou a xingá-los.

 

"Escória. Nojentos. Produtos da sujeira e imundice. Aberrações, sumam desse lugar. Quem permitiu que vocês entrassem na casa dos meus pais..."

 

Tonks se desculpou muitas e muitas vezes, a Sra. Weasley abandonou a tentativa de fechar as cortinas e correu pelo salão, batendo em todas as outras pinturas com sua varinha e um homem com um longo cabelo negro veio até a porta e encarou Harry.

 

- Cale a boca, sua bruxa velha e horrível, cale-se - gritou ele, cerrando as cortinas que a Sra. Weasley tinha abandonado.

 

O rosto da velha mulher empalideceu.

 

- Vocêêêêêêêêêê! - berrou ela, seus olhos saltaram ao ver o homem.

 

- Traidor, abominação, vergonha da minha carne!

 

- Eu disse, cale-se! - gritou o homem, e com um grande esforço, Lupin correu e fechou as cortinas novamente.

 

O grito da velha bruxa silenciou. Afastando os cabelos de cima de seus olhos, o padrinho de Harry, Sirius, voltou a olhar para ele.

 

- Olá Harry - disse ele. - Vejo que você se encontrou com minha mãe.

 

 

A ORDEM DA FÊNIX

- Sua...?

 

- Minha querida e velha mãe, sim - disse Sirius. - Nós estamos tentando mantê-la calma há um mês mas achamos que ela colocou um Feitiço Fixador Permanente no fundo da pintura. Vamos descer as escadas, rápido, antes que todos eles acordem novamente.

 

- Mas o que um retrato da sua mãe está fazendo aqui? - perguntou Harry, confuso, enquanto passava pela porta do salão e deixava e seguia por um lance de escadas com estreitos degraus de pedra, os outros bem atrás deles.

 

- Ninguém disse a você? Essa era a casa dos meus pais. Mas eu sou o último da família Black que restou, então ela é minha agora. Eu a ofereci a Dumbledore para ser o Quartel-General, era a única coisa útil que eu estava apto a fazer.

 

Harry, que esperava uma recepção melhor, notou quão severa e amargurada a voz de Sirius soava. Ele seguiu seu padrinho até o fim dos degraus e através de uma porta que levava à cozinha do porão.

 

Ela era pouco menos sombria que o salão superior, uma sala cavernosa com grosseiras paredes de pedra. A maior parte da luz estava vindo de uma grande tocha na extremidade da sala. Uma nuvem de fumaça pairava no ar, através da qual as ameaçadoras formas de frigideiras e panelas de ferro se tornavam gigantescas. Muitas cadeiras foram amontoadas dentro da sala para a reunião e uma longa mesa de madeira ficava no meio delas, coberta por rolos de pergaminho, taças, garrafas de vinho vazias, e um amontoado do que aparentava ser trapos. O Sr. Weasley e seu filho mais velho, Gui, estavam conversando calmamente com suas cabeças juntas no fim da mesa.

 

A Sra. Weasley limpou a garganta. Seu marido, um magro, calvo, homem ruivo de óculos, olhou em volta e pôs-se de pé com um salto.

 

- Harry! - disse o Sr Weasley, apressando-se para cumprimentá-lo, e apertou sua mão com vigor. - Que bom ver você!

 

Por cima do seu ombro Harry viu Gui, que ainda usava seu longo cabelo amarrado como rabo-de-cavalo, enrolando apressadamente os pergaminhos que haviam sido deixados na mesa.

 

- Fez uma boa viagem, Harry? - perguntou Gui, tentando juntar doze rolos de pergaminho de uma vez. - Olho-Tonto não te fez vir por Greenland, então?

 

- Ele tentou - disse Tonks, caminhando para ajudar Gui e imediatamente derrubou uma vela no último pedaço de pergaminho. - Oh, não – desculpe...

 

- Aqui, querida -, disse a Sra. Weasley, parecendo irritada, e ela consertou o pergaminho com um toque de sua varinha. No brilho da luz causado pelo feitiço da Sra. Weasley Harry pôde ver de relance o que parecia ser a planta de uma construção.

 

A Sra. Weasley percebeu o olhar dele. Ela apanhou a planta e a colocou nos braços já sobrecarregados de Gui.

 

- Esse tipo de coisa deveria ser retirada logo após o fim das reuniões - improvisou ela, antes de se dirigir a um velho guarda-louça do qual começou a retirar pratos para o jantar.

 

Gui pegou sua varinha, murmurou, "Evanesce!" e os rolos de pergaminho desapareceram.

 

- Sente-se, Harry - disse Sirius. - Você se encontrou Mundungus, não foi?

 

A coisa que Harry pensou ser uma pilha de trapos deu um prolongado e gemido ronco, e então acordou, sacudindo-se.

 

- Alguém disse meu nome? - Mundungus murmurou, sonolento. - Eu concordo com Sirius... - ele levantou no ar uma mão muito suja como se tivesse votando, seus debilitados, avermelhados olhos desfocaram.

 

Gina sorriu.

 

- A reunião acabou, estrume - disse Sirius, enquanto todos sentavam ao redor dele na mesa. - Harry chegou.

 

- É? - disse Mundungus, olhando totalmente sofrível para Harry através do seu assanhado cabelo avermelhado. - Sim... Você está bem, Harry?

 

- Sim - disse Harry.

 

Mundungus tateou nervosamente seus bolsos, ainda encarando Harry, e puxou um cachimbo preto meio sujo. Ele o colocou na boca, acendeu a ponta com sua varinha e deu uma boa tragada. Grandes nuvens de uma fumaça esverdeada o envolveram em poucos segundos.

 

- Devo desculpas a você - rosnou uma voz do meio da fumaça fedorenta.

 

- Pela última vez, Mundungus - repreendeu a Sra. Weasley -, você poderia fazer o favor de não fumar essa coisa na cozinha, especialmente quando nós estivermos na hora de comer!

 

- Ah - disse Mundungus. - Certo. Desculpe, Molly.

 

A nuvem de fumaça desapareceu quando Mundungus guardou seu cachimbo de volta no bolso, mas um cheiro amargo de coisa queimada permaneceu no ar.

 

- E se você quiser jantar antes da meia-noite eu vou precisar de uma ajudinha – a Sra. Weasley disse para as pessoas na sala. - Não, você pode ficar onde está, Harry, querido, você teve uma longa viagem.

 

- O que eu posso fazer, Molly? - disse Tonks com entusiasmo, saltando adiante.

 

A Sra. Weasley hesitante, olhou apreensiva.

 

- Er... Não, está tudo bem, Tonks, você precisa descansar também, você já fez muito por hoje.

 

- Não, não, eu quero ajudar! - disse Tonks claramente, derrubando uma cadeira enquanto ela acelerava em direção ao guarda-louça, onde Gina estava pegando os talheres.

 

Logo uma porção de facas pesadas estavam cortando carne e vegetais em sua própria harmonia, supervisionadas pelo Sr. Weasley, enquanto a Sra. Weasley mexia um caldeirão pendurado acima do fogo e os outros pegavam pratos, mais taças e comida da despensa. Harry foi deixado na mesa com Sirius e Mundungus, que ainda estava vacilando em sua melancolia.

 

- Encontrou-se com a velha Figg ultimamente? - perguntou ele.

 

- Não - disse Harry, - Eu não encontrei ninguém.

 

- Veja, eu não havia te abandonado - disse Mundungus, inclinando-se para frente, com um tom argumentativo em sua voz -, mas eu tinha uma oportunidade de negócios...

 

Harry sentiu algo roçando contra seus joelhos e afastou-se, mas era apenas Bichento, o gato avermelhado de pernas curvas da Hermione, enroscou-se em tono das suas pernas, ronronando, então pulou no colo de Sirius e se acomodou lá. Sirius o acariciou distraidamente atrás das orelhas enquanto ele se virava, ainda com sua cara amargurada, para Harry.

 

- Teve um bom verão?

 

- Não, ele foi nojento - disse Harry.

 

Pela primeira vez, alguma coisa como um leve sorriso surgiu no rosto de Sirius.

 

- Não sei sobre o que você está se queixando a mim.

 

- O quê? - disse Harry, incrédulo.

 

- Pessoalmente, eu recebi de bom grado o ataque dos dementadores. Um excessivo esforço para minha alma que quebrou a monotonia gentilmente. Você acha que foi uma coisa ruim, no entanto você foi capaz de se safar e ao menos esticou suas pernas e entrou em algumas brigas... Eu estive preso aqui dentro por um mês inteiro.

 

- Por que isso? - perguntou Harry, franzindo a testa.

 

- Porque os bruxos do Ministério da Magia ainda estão atrás de mim e Voldemort vai saber tudo sobre eu me tornar um animago agora, Rabicho dirá a ele, então meu grande disfarce é inútil. Não há muito que eu possa fazer pela Ordem da Fênix... Ou então Dumbledore perceberia.

 

Havia alguma coisa como uma leve diminuição no tom de voz com o qual Sirius expressou o nome de Dumbledore que Harry percebeu, também não estava muito feliz com o diretor. Sentiu um repentino aumento na afeição que tinha por seu padrinho.

 

- 'Ao menos você sabe o que irá acontecer - disse ele estimulado.

 

- Ah claro - disse Sirius com sarcasmo. - Ouvindo os relatórios de Snape, tendo que aceitar todas as pistas falsas que ele está trazendo aqui arriscando a vida enquanto eu estou sentado tendo umas férias bem confortáveis... Me perguntando como anda a limpeza...

 

- Que limpeza? - perguntou Harry.

 

- Tentando fazer esse lugar se tornar uma habitação humana - disse Sirius, balançando a mão pela triste cozinha. - Ninguém viveu aqui nos últimos dez anos, não desde que minha querida mãe morreu, a menos que você conte com o velho elfo-doméstico dela, e ele é maluco, nunca limpou nada todo esse tempo.

 

- Sirius - disse Mundungus, que parecia não ter prestado nenhuma atenção à conversa, mas esteve examinando de perto uma taça vazia. - Isso é prata de verdade, amigo?

 

- Sim - disse Sirius, olhando para ele entediado. - A melhor prata forjada por duendes no século XV, ornamentado como brasão da família Black.

 

- Ela ficou ofuscada, de qualquer forma - murmurou Mundungus, polindo a taça com seu punho.

 

- Fred, Jorge, NÃO, APENAS CARREGEM - gritou a Sra Weasley.

 

Harry, Sirius e Mundungo olharam ao redor e, numa fração de segundos, eles mergulharam para longe da mesa. Fred e Jorge haviam enfeitiçado um grande caldeirão de cozido, uma jarra de cerveja-amanteigada e uma pesada tábua de madeira de cortar pão, com faca e tudo mais, para empurrá-los pelo ar em direção a eles. O cozido derramou por cima da mesa e parou um pouquinho antes de chegar até a outra ponta, deixando uma grande queimadura na superfície de madeira; a jarra de cerveja-amanteigada caiu e quebrou, derramando o conteúdo por todo o lugar; a faca de cortar pão escorregou da tábua e aterrissou, com a ponta para baixo, agitando-se de

 

forma ameaçadora, exatamente onde a mão de Sirius estava segundos atrás.

 

- PELO AMOR DE DEUS! - gritou a Sra Weasley. - NÃO HAVIA NECESSIDADE DISSO. JÁ CHEGA, ESTOU FARTA. SÓ PORQUE AGORA VOCÊS TÊM PERMISSÃO DE USAR MAGIA NÃO DEVEM FICAR CHICOTEANDO SUAS VARINHAS POR QUALQUER COISA.

 

- Nós só queríamos apressar um pouco as coisas! - disse Fred, apressando-se para puxar a faca de pão da mesa. - Desculpe, Sirius, amigo... Não tinha a intenção...

 

Harry e Sirius estavam ambos rindo; Mundungo, que tinha caído de sua cadeira, estava praguejando enquanto se levantava; Bichento deu um assobio furioso e correu para baixo do guarda-louças, de onde seus grandes olhos amarelos brilhavam no escuro.

 

- Meninos - disse o Sr. Weasley, erguendo novamente o cozido de volta ao centro da mesa -, sua mãe tem razão, vocês deveriam mostrar senso de responsabilidade agora que chegaram na idade...

 

- Nenhum dos seus irmãos causou esse tipo de problema! - enfureceu-se a Sra. Weasley enquanto ela batia uma nova jarra de cerveja-amanteigada na mesa, derramando quase tanto quando da outra vez. - Gui nunca sentiu necessidade de aparatar a cada passo! Carlinhos nunca enfeitiçou tudo o que encontrava! Percy...

 

Ela parou de repente, tomando fôlego e olhando assustada para seu marido, que ficou com olhar grosseiro repentinamente.

 

- Vamos comer - disse Gui rapidamente.

 

- Parece maravilhoso, Molly - disse Lupin, colocando o cozido no prato dela com uma concha e entregando por sobre a mesa.

 

Por alguns minutos houve um silêncio exceto pelo ruído dos pratos e talheres e o ranger das cadeiras quando eles se inclinavam sobre a comida. Então a Sra Weasley se virou para Sirius.

 

- Eu pretendia dizer a você, Sirius, tem algo preso naquela escrivaninha do quarto, que fica se debatendo e sacudindo. Claro, poderia ser apenas um diabrete, mas pensei em pedir a Alastor para dar uma olhada antes de deixá-lo sair.

 

- Como quiser - disse Sirius com indiferença.

 

- As cortinas de lá também estão cheias de doxies - complementou a Sra. Weasley. - Eu acho que deveríamos tentar cuidar delas amanhã.

 

- Eu resolvo isso - disse Sirius. Harry ouviu sarcasmo em sua voz, mas ele não tinha certeza se alguém mais o faria.

 

Em frente a Harry, Tonks estava divertindo Hermione e Gina transformando seu nariz a cada colherada. Revirando os olhos a cada vez com a mesma expressão penosa que fez quando estava no quarto de Harry, seu nariz aumentou e tomou forma como a de um bico que lembrava o de Snape, encolheu para o tamanho de um cogumelozinho e então fez germinar uma grande quantidade de pêlos da cada uma das narinas. Aparentemente esse era um divertimento comum na hora das refeições, porque Hermione e Gina logo estavam pedindo seus narizes favoritos.

 

- Faça aquele que parece um focinho de porco, Tonks.

 

Tonks fez sem gostar e Harry, olhando pra ela, teve a ligeira impressão que uma cópia feminina de Duda estava sorrindo para ele do outro lado da mesa.

 

O Sr. Weasley, Gui e Lupin estavam tento uma intensa discussão sobre duendes.

 

- Eles ainda não estão desistindo de nada - disse Gui. - Eu ainda não posso trabalhar acreditando eles ou não que ele voltou. Certamente, eles preferem não tomar parte nisso. Sabe, ficar longe.

 

- Eu tenho certeza que eles nunca se unirão a Você-Sabe-Quem - disse o Sr. Weasley, balançando a cabeça. - Eles sofreram perdas também; lembra-se daquela família duende assassinada da outra vez, em algum lugar perto de Nottingham?

 

- Eu acho que depende do que eles oferecerem - disse Lupin. - E eu não estou falando sobre ouro. Se eles oferecerem a liberdade que nós negamos a eles durante séculos ficarão tentados. Você ainda não teve sorte com Ragnok, Gui?

 

- Ele está se sentindo um pouco antibruxo no momento - disse Gui -, ainda não esqueceu a raiva dos negócios de Bagman, contou que o Ministério fez uma cobertura, aqueles duendes nunca conseguiram dinheiro dele, você sabe...

 

Uma tempestade de risos vindos do centro da mesa abafou o restante das palavras de Gui. Fred e Jorge, Rony e Mundungo estavam girando em torno de suas cadeiras.

 

- ... e então - engasgou-se Mundungo, com lágrimas rolando em seu rosto -, e então, se vocês acreditam, ele me disse, ele disse "aqui, Dung, onde você conseguiu todos aqueles sapos? Porque algum filho da mãe roubou todos os meus!". E eu disse, "roubaram todos os seus sapos, Will? E você vai querer mais alguns, é?". E se vocês acreditam em mim, jovens, o estúpido gárgula comprou todos os sapos que eu tinha roubado dele de volta e pagou pelos mesmos sapos que já eram dele...

 

- Eu acho que não precisamos ouvir mais nenhuma história sobre seus negócios, muito obrigado Mundungo - disse a Sra. Weasley com severidade, enquanto Rony caía da mesa, uivando de tanto rir.

 

- Imploro seu perdão, Molly - disse Mundungo imediatamente, secando os olhos e piscando para Harry. - Mas você sabe, Will os tinha roubado de Warty Harris, então eu não estava fazendo algo realmente errado.

 

- Eu não sei onde você aprendeu sobre certo e errado, Mundungo, mas acho que você perdeu algumas lições essenciais - disse a Sra Weasley com frieza.

 

Fred e Jorge enterraram suas caras nas taças de cerveja-amanteigada, Jorge estava soluçando. Por alguma razão, a Sra. Weasley jogou um olhar bem asqueroso em direção a Sirius antes de se levantar e trazer um grande pudim. Harry olhou seu padrinho.

 

- Molly não aprova o comportamento de Mundungo - disse Sirius em voz baixa.

 

- Como foi que ele entrou na Ordem? - disse Harry, com bastante cautela.

 

- Ele é útil - murmurou Sirius. Conhece todas as trapaças... Bem, ele deveria, já que ele mesmo se vê como uma. Mas ele também é muito leal a Dumbledore, que o ajudou a sair de um aperto certa vez. É bom ter alguém como Dung por perto, ele ouve coisas que nós deixamos passar. Mas Molly acha que convidá-lo para o jantar é ir longe demais. Ela não o perdoou por ter falhado no trabalho quando deveria estar vigiando você.

 

Depois de três fatias de pudim o cinto na calça de Harry parecia bem apertado e desconfortável (mesmo essa calça já tendo sido de Duda). Quando soltou a colher havia uma calma geral na conversa: o Sr. Weasley estava escorado na sua cadeira, olhando satisfeito e relaxando; Tonks estava bocejando abertamente, seu nariz agora já estava de volta ao normal; Gina, que tinha atraído Bichento de baixo do guarda-louças, estava sentada no chão com as pernas cruzadas, jogando a rolha da garrafa de cerveja-amanteigada  para ele caçar.

 

- É quase hora de dormir, eu acho - disse a Sra. Weasley com um bocejo.

 

- Ainda não, Molly - disse Sirius, empurrando o prato vazio e tornando a olhar para Harry. - Você sabe, eu estou surpreso com você. Eu pensei que a primeira coisa que você iria me perguntar eram coisas sobre Voldemort.

 

A atmosfera na sala mudou com uma velocidade que Harry associou à chegada dos dementadores. Onde segundos antes estava sonolento e relaxado, agora estava alerta e até tenso. Um arrepio correu ao redor da mesa ao mencionar o nome de Voldemort. Lupin, que estava quase

 

tomando um gole de vinho, baixou sua taça vagarosamente, e olhou desconfiado.

 

- Eu perguntei! - disse Harry indignado. - Eu perguntei a Rony e Mione mas eles disseram que não podiam entrar na Ordem, então...

 

- E eles estão completamente certos - disse a Sra. Weasley. - Vocês são muito jovens.

 

Ela estava sentada em sua cadeira, os punhos fechados contra os braços da cadeira, sem nenhum sinal de cansaço ou sono.

 

- Desde quando alguém precisa estar na Ordem da Fênix para fazer perguntas? - perguntou Sirius. - Harry estava preso na casa dos trouxas o mês inteiro. Ele tem o direito de saber o que está acontecendo...

 

- Espere ai! - interrompeu Jorge.

 

- Por que é que Harry vai ter suas perguntas respondidas? - disse Fred furioso.

 

- Nós estivemos tentando arrancar alguma coisa de você o mês inteiro e você nem ao menos nos disse uma coisinha sequer - disse Jorge.

 

- "Vocês são muito jovens, vocês não estão na Ordem" - disse Fred, em um tom de voz bastante alto que soou estranhamento como o da sua mãe. – Harry também não tem idade!'

 

- Não é minha culpa não ter dito o que a Ordem está fazendo - disse Sirius com bastante calma -, foi decisão dos seus pais. Harry, no entanto...

 

- Não cabe a você decidir o que é bom para Harry! - disse Sra Weasley com severidade. A expressão de seu rosto que normalmente parecia tranqüila desta vez estava assustadora. - Você não esqueceu o que Dumbledore disse, eu suponho?

 

- Qual parte? - perguntou Sirius educadamente, mas com ar de um homem que se prepara para uma luta.

 

- A parte sobre não dizer a Harry mais do que ele precisa saber - disse a Sra. Weasley, colocando uma grande ênfase nas três últimas palavras.

 

As cabeças de Rony, Hermione, Fred e Jorge giravam de Sirius para a Sra. Weasley como se estivessem assistindo uma partida de tênis. Gina estava ajoelhada entre uma pilha de rolhas de garrafa, observando a conversa com sua boca levemente aberta. Os olhos de Lupin estavam fixos em Sirius.

 

- Eu não tenho intenção de dizer a ele mais do que ele precisa saber, Molly - disse Sirius. - Mas como ele é o único que viu que Voldemort voltou - novamente houve um tremor ao redor da mesa quando o nome foi pronunciado - ele tem mais direito do que a maioria...

 

- Ele não é um membro da Ordem da Fênix! - disse Sra. Weasley. - Ele tem apenas quinze anos e...

 

- E ele pode ser tratado como qualquer um que seja da Ordem - disse Sirius - e até melhor do que alguns.

 

- Ninguém está negando o que ele fez! - disse a Sra. Weasley, sua voz aumentando, suas mãos tremendo nos braços da cadeira. - Mas ele é apenas...

 

- Ele não é uma criança! - disse Sirius impaciente.

 

- Ele também não é um adulto! - disse a Sra. Weasley, com o rosto já corando. - Ele não é Tiago, Sirius!

 

- Eu sei perfeitamente quem ele é, obrigado, Molly - disse Sirius com frieza.

 

- Eu não tenho certeza disso! - disse a Sra. Weasley. - Às vezes, o jeito com que você fala sobre ele, é como se você pensasse que tem seu melhor amigo de volta!

 

- E o que há de errado nisso? - disse Harry.

 

- O que há de errado, Harry, é que você NÃO é o seu pai, mesmo que você possa parecer com ele! - disse a Sra Weasley, seus olhar ainda perfurando Sirius. - Você ainda está na escola e adultos responsáveis não deveriam esquecer disso!

 

- Você quer dizer que eu sou um padrinho irresponsável? - reclamou Sirius, com sua voz também aumentando.

 

- Penso que você sabe como agir imprudentemente, Sirius, e é por isso que Dumbledore continua relembrando que você deve ficar em casa e...

 

- Vamos deixar minhas instruções de Dumbledore fora disso, se você pode me fazer esse favor! - disse Sirius em voz alta.

 

- Arthur! - disse a Sra. Weasley contornando seu marido. - Arthur, me ajude!

 

O Sr. Weasley não falou nada. Ele tirou os óculos e os limpou cuidadosamente em suas vestes, sem olhar para sua esposa. Apenas quando ele os recolocou em seu nariz ele respondeu.

 

- Dumbledore sabe que as coisas estão mudando, Molly. Ele aceita que Harry precisa ser informado, até certo ponto, agora que vai ficar no Quartel-General.

 

- Sim, mas há uma diferença entre isso e convidá-lo a perguntar qualquer coisa que ele queira!

 

- Pessoalmente - disse Lupin calmamente, finalmente tirando a atenção que estava prestando a Sirius, e a Sra. Weasley se virou rapidamente para ele, esperançosa de que tivesse ganhado um aliado -, eu acho melhor que Harry saiba dos fatos. Não todos os fatos, Molly, mas de maneira geral. Por nós do que por uma versão distorcida... Dos outros.

 

Sua expressão era doce mas Harry teve a certeza que Lupin, pelo menos, sabia que as Orelhas Extensíveis tinham sobrevivido à limpeza da Sra. Weasley.

 

- Bem - disse Sra. Weasley, respirando fundo e olhando ao redor da mesa por um apoio que não veio. - Bem... Eu vejo que fui derrotada. Eu vou apenas dizer isso: Dumbledore deve ter tido suas razões para não querer que Harry soubesse demais e falando como alguém que tem os melhores interesses sobre o Harry em seu coração...

 

- Ele não é seu filho - disse Sirius calmamente.

 

- Mas é como se fosse - disse a Sra. Weasley ferozmente. - Quem mais ele tem?

 

- Ele tem a mim!

 

- Sim - disse Sra. Weasley, com seus lábios enrolando -, o fato é, foi bem difícil pra você cuidar dele enquanto estava trancado em Azkaban, não foi?

 

Sirius começou a se levantar da cadeira.

 

- Molly, você não é a única pessoa nessa mesa que se importa com Harry - disse Lupin com severidade. - Sirius, sente-se.

 

O lábio inferior da Sra. Weasley estava tremendo. Sirius afundou novamente em sua cadeira, com o rosto pálido.

 

- Eu acho que Harry deve dar uma opinião sobre isso - continuou Lupin. - Ele já é grande o suficiente para decidir por ele mesmo.

 

- Eu quero saber o que está acontecendo - disse Harry imediatamente.

 

Ele não olhou para a Sra. Weasley. Estava comovido com o que ela disse sobre ser como um filho  mas ele também estava com suas mimas. Sirius estava certo, ele não era uma criança.

 

- Muito bem - disse a Sra. Weasley, sua voz explodindo. – Gina, Rony, Hermione, Fred, Jorge, eu quero vocês fora dessa cozinha, agora.

 

Houve um ruído instantaneamente.

 

- Nós temos idade para isso! - gritaram Fred e Jorge juntos.

 

- Se Harry pode por que eu não posso? - berrou Rony.

 

- Mamãe, eu quero ouvir! - choramingou Gina.

 

- NÃO! - gritou a Sra. Weasley, ficando de pé com os olhos faiscando. - Eu proíbo definiti...

 

- Molly, você não pode repreender Fred e Jorge - disse o Sr Weasley com muito cansaço. - Eles são maiores de idade apesar de ainda estarem na escola. Mas  eles são legalmente adultos agora.

 

A Sra Weasley agora tinha o rosto vermelho.

 

- Eu... Ah, então está bem, Fred e Jorge podem ficar, mas Rony...

 

- Harry vai contar tudo a mim e a Hermione de qualquer forma! - disse Rony irradiante. - Você vai, não vai?' - complementou incerto, olhando Harry.

 

Por um segundo Harry pensou em dizer a Rony que não o diria uma palavra sequer, que ele poderia experimentar ficar no escuro e ver como se sentiria. Mas esse impulso asqueroso sumiu quando eles se entreolharam.

 

- Claro que eu vou - disse Harry.

 

Rony e Hermione sorriram.

 

- Muito bem! - gritou Sra. Weasley. - Ótimo! Gina, PRA CAMA!

 

Gina não ficou quieta. Eles podiam ouvir sua fúria e irritação por sua mãe por toda a escadaria até que os gritos da Sra. Black se uniram ao barulho. Lupin correu até o retrato para restaurar a calma e só depois que ele retornou, fechando a porta da cozinha e tomando seu lugar na mesa

 

outra vez, foi que Sirius falou.

 

- Ok, Harry... O que você quer saber?

 

Harry respirou fundo e fez a pergunta que mais o obcecou durante todo o mês.

 

- Onde está Voldemort? - disse ele, ignorando os calafrios e recuos que surgiram com o nome. - O que ele está fazendo?  Eu estive tentando ouvir o noticiário dos trouxas e não há nada acontecendo que pareça coisa dele ainda, nenhuma morte esquisita ou algo assim.

 

- É porque ainda não houve nenhuma morte esquisita ainda - disse Sirius -, não que nós saibamos, de alguma forma... Nós até que sabemos bastante.

 

- Mas do que ele pensa que nós sabemos - disse Lupin.

 

- Como foi que ele parou de matar pessoas? - perguntou Harry. Ele sabia que Voldemort tinha matado mas de uma vez no último ano.

 

- Porque ele não quer chamar atenção - disse Sirius. - Seria perigoso para ele. Seu retorno não foi da forma que ele esperava, você entende. Ele se atrapalhou.

 

- Ou de preferência, você o atrapalhou - disse Lupin, com um sorriso satisfeito.

 

- Como? - perguntou Harry perplexo.

 

- Você não deveria ter sobrevivido! - disse Sirius. Ninguém além dos seus Comensais da Morte deveria saber que ele tinha voltado. Mas você sobreviveu para testemunhar.

 

- E a última pessoa que ele queria que fosse alertado sobre seu retorno no momento que ele voltasse era Dumbledore - disse Lupin. - E você quis se certificar que Dumbledore soubesse imediatamente.

 

- Como isso ajudou? - perguntou Harry.

 

- Você está me gozando? - disse Gui incrédulo. - Dumbledore é o único de quem Você-Sabe-Quem tem medo!

 

- Graças a você, Dumbledore pode convocar a Ordem da Fênix cerca de uma hora após o retorno de Voldemort - disse Sirius.

 

- Então o que a Ordem está fazendo? - disse Harry, olhando em volta para todos eles.

 

- Trabalhando duro para nos certificarmos que Voldemort não possa levar adiante seus planos - disse Sirius.

 

- Como vocês sabem quais são os planos dele? - perguntou Harry rapidamente.

 

- Dumbledore teve uma idéia bem esperta - disse Lupin - e as idéias de Dumbledore normalmente são bem precisas.

 

- Então o que fez Dumbledore avaliar o plano dele?

 

- Bem, primeiramente ele quer reconstruir seu exército - disse Sirius. – Nos dias antigos ele tinha um imenso número sob seu comando: bruxas e bruxos que ameaçava ou enfeitiçava para seguí-lo, seus fieis Comensais da Morte, uma grande variedade de criaturas da escuridão. Você ouviu ele

 

planejando recrutar os gigantes; bem, eles são apenas um dos grupos que está procurando. Ele certamente não tentará invadir o Ministério da Magia com apenas uma dúzia de Comensais da Morte.

 

- Então vocês estão tentando impedi-lo de conseguir mais seguidores?

 

- Estamos fazendo o melhor possível - disse Lupin.

 

- Como?

 

- Bem, a principal coisa é tentar convencer a maior quantidade de pessoas possível de que Você-Sabe-Quem realmente retornou, para deixá-los alerta - disse Gui. - Mas está se tornando difícil, entretanto.

 

- Por quê?

 

- Por causa da atitude do Ministério - disse Tonks. - Você viu Cornélio Fudge depois que Você-Sabe-Quem retornou, Harry. Bem, ele não mudou sua posição de todo. Ele absolutamente se recusa a acreditar que aconteceu.

 

- Mas por quê? - disse Harry desesperado. – Por que ele está sendo tão estúpido? Se Dumbledore...

 

- Ah, bem, você apontou o problema - disse p Sr. Weasley com um sorriso amargo.- Dumbledore.

 

- Fudge está assustado com ele, você entende - disse Tonks com tristeza.

 

- Assustado com Dumbledore? - disse Harry com incredulidade.

 

- Assustado com o que ele está disposto a fazer - disse o Sr. Weasley. – Fudge pensa que Dumbledore está conspirando para derrubá-lo. Ele acha que Dumbledore quer ser o Ministro da Magia.

 

- Mas Dumbledore não quer...

 

- Claro que não quer - disse o Sr. Weasley. - Ele nunca quis trabalhar no  Ministério, mesmo que diversas pessoas quisessem que ele aceitasse quando Millicent Bagnold se aposentou. Fudge veio para o cargo ao invés dele, mas ele nunca esqueceu o quanto apoio da população Dumbledore tinha, mesmo nunca tendo exercido o cargo.

 

- No fundo, Fudge sabe que Dumbledore é muito mais esperto do que ele é, um bruxo muito mais poderoso, e nos dias atuais ele sempre esteve pedindo ajuda e conselhos a Dumbledore - disse Lupin. - Mas parece que ele começou a gostar do poder e que está muito mais confiante. Ele adora ser o Ministro da Magia e está conseguindo convencer a ele mesmo que é o mais esperto e Dumbledore simplesmente criando problemas para seu propósito.

 

- Como ele pode pensar isso? - disse Harry furioso. - Como ele pode pensar que Dumbledore iria criar tudo isso... Que eu criei tudo isso?

 

- Porque aceitando que Voldemort está de volta significaria problema, como se o Ministério não teve a competência durante quase quatorze anos - disse Sirius amargamente. - Fudge apenas não consegue encarar isso. É muito mais confortável convencer ele mesmo de que Dumbledore está mentindo para desestabilizá-lo.

 

- Veja o problema - disse Lupin. - Enquanto o Ministério insiste que não há nada a temer sobre Voldemort é difícil convencer as pessoas que ele está de volta, especialmente quando elas realmente não querem acreditar nisso em primeiro lugar. O que mais, o Ministério está apoiando fortemente o Profeta Diário a não publicar qualquer coisa do que eles estão chamando de rumores publicitários de Dumbledore, então a maior parte da comunidade bruxa está completamente inconsciente de que algo aconteceu, o que os faz alvos fáceis para os Comensais da Morte se eles estiverem usando a Maldição Imperius.

 

- Mas vocês estão dizendo as pessoas, não estão? - disse Harry, olhando para o Sr Weasley, Sirius, Gui, Mundungo, Lupin e Tonks. - Vocês estão fazendo as pessoas saberem que ele voltou?

 

Todos sorriram sem graça.

 

- Bem, como todos acham que eu sou um assassino maluco e como o  Ministério colocou uma recompensa de dez mil galeões como prêmio por minha cabeça eu dificilmente posso passear pela rua e distribuir folhetos, posso? - disse Sirius friamente.

 

- E eu não sou um convidado para jantar muito popular entre a maioria da comunidade - disse Lupin. - É um perigo ocupacional ser um lobisomem.

 

- Tonks e Arthur perderiam seus empregos no Ministério se começassem a falar sobre isso - disse Sirius -, e é muito importante para nós ter espiões dentro do Ministério, porque você pode apostar que Voldemort também terá.

 

- Nós temos conseguido convencer algumas pessoas, apesar de tudo – disse o Sr. Weasley. - Tonks, por exemplo. Ela era muito jovem para estar na Ordem da Fênix da última vez e ter Aurores do nosso lado é uma grande vantagem. Kingsley Shacklebolt está sendo um verdadeiro achado, também; ele está encarregado de caçar Sirius, então está dando ao Ministério informações de que Sirius está no Tibet.

 

- Mas se nenhum de vocês está divulgando que Voldemort está de volta... - Harry começou a dizer.

 

- Quem disse que nenhum de nós está divulgando? - disse Sirius.  – Por que você acha que Dumbledore está com tantos problemas?

 

- O que você quer dizer? - perguntou Harry.

 

- Eles estão tentando desonrá-lo - disse Lupin. - Você não viu o Profeta Diário da semana passada? Publicaram que ele tinha sido afastado da Presidência da Confederação Internacional de Bruxos porque estava ficando velho e perdendo a compreensão, mas isso não é verdade; ele foi

 

afastado pelo Ministério após ter feito o anúncio do retorno de Voldemort. Eles o rebaixaram do cargo de Bruxo Chefe em Wizengamont, que é a Corte Superma dos Bruxos, e estavam falando em retirar sua Ordem de Merlin, Primeira Classe, também.

 

- Mas Dumbledore diz que não se importa com o que eles estão fazendo desde que não tirem dele as figurinhas dos sapos de chocolate – disse Gui com um sorriso forçado.

 

- Isso não é engraçado - disse o Sr. Weasley com severidade. - Se ele continuar sendo desprezado pelo Ministério desse jeito pode acabar em Azkaban, e a última coisa que nós queremos é ter Dumbledore trancafiado. Enquanto Você-Sabe-Quem souber que Dumbledore está aqui fora e atento ao que está tramando ele vai ter que ir com cautela. Se Dumbledore estiver fora do caminho... Bem, Você-Sabe-Quem vai ter passe livre.

 

- Mas se Voldemort está tentando recrutar mais Comensais da Morte é  obrigatório avisar que ele voltou, não é? - perguntou Harry desesperado.

 

- Voldemort não passeia pelas casas das pessoas e bate nas suas portas, Harry - disse Sirius. - Ele engana,  azara e chantageia elas. Ele já tem prática de como agir em segredo. Em todo caso, reunir seguidores é apenas uma das coisas em que ele está interessado. Ele tem outros planos também, planos que pode pôr em prática bem rápido sem dúvida, e ele está se concentrando nesses no momento.

 

- O que mais ele quer além de seguidores? - perguntou Harry rapidamente.

 

Ele pensou ter visto Sirius e Lupin trocar o mais rápido dos olhares antes que Sirius respondesse.

 

- Coisas que ele só pode conseguir sendo discreto.

 

Quando Harry continuou a olhar surpreso, Sirius disse.

 

- Como uma arma. Alguma coisa que ele não tinha da última vez.

 

- Quando ele era poderoso antes?

 

- Sim.

 

- Que tipo de arma? - disse Harry. - Algo pior que a Avada Kedavra...?

 

- Já chega!

 

A Sra Weasley falou das sobras atrás da porta. Harry não tinha notado que ela estava de volta. Seus braços estavam cruzados e ela olhava furiosa.

 

- Eu quero vocês na cama, agora. Todos vocês - disse ela olhando para Fred, Jorge, Rony e Hermione.

 

- Você não pode mandar na gente... - começou Fred.

 

- Olhe para mim - resmungou a Sra Weasley. Ela estava tremendo levemente enquanto olhava Sirius. - Você deu a Harry toda a informação. Qualquer coisa a mais e você poderá também colocá-lo na Ordem imediatamente.

 

- Por que não? - disse Harry rapidamente. - Eu vou me unir, eu quero me unir, eu quero lutar.

 

- Não.

 

E não era a Sra Weasley que estava falando dessa vez, mas sim Lupin.

 

- A Ordem é composta apenas por bruxos maiores de idade - disse ele. - Bruxos que já terminaram a escola - disse quando Fred e Jorge abriram suas bocas. - Há perigos envolvidos os quais você não faz a mínima idéia, nenhum de vocês... Eu acho que Molly está certa, Sirius. Nós já falamos demais.

 

Sirius meio que encolheu os ombros mas não argumentou. A Sra Weasley chamou imperiosamente seus filhos e Hermione. Um por um eles levantaram e Harry, reconhecendo a derrota, fez o mesmo.

 

 

A ANTIGA E MUITO NOBRE FAMÍLIA BLACK

A Sra. Weasley os seguiu escada acima olhando desgostosa.

 

- Eu quero que todos vocês vão imediatamente para cama, sem conversa - disse ela quando eles chegaram ao primeiro andar. - Nós teremos um dia bem cansativo amanhã. Eu suponho que Gina está dormindo - disse para Hermione -, então tente não acordá-la.

 

- Dormindo, sim, tudo bem - disse Fred em voz baixa, depois que Hermione desejou boa noite e eles foram subindo para o andar seguinte. - Se Gina não estiver acordada esperando por Hermione para contar a ela tudo o que foi dito lá em baixo eu sou um verme-cego...

 

- Tudo bem, Rony, Harry - disse a Sra. Weasley no segundo andar, indicando o quarto deles e os fazendo entrar. - Já pra cama.

 

- Boa noite - Harry e Rony disseram aos gêmeos.

 

- Durma bem - disse Fred, piscando o olho.

 

A Sra. Weasley fechou a porta do quarto de Harry com uma batida forte. O quarto parecia, se é que poderia, ainda mais úmido e obscuro que à primeira vista. O retrato em branco na parede agora estava respirando bem lenta e profundamente, como se seus ocupantes invisíveis estivessem dormindo.

 

Harry vestiu seu pijama, tirou os óculos e subiu em sua cama fria enquanto Rony jogava comida para as corujas em cima do armário de roupas para acalmar Edwiges e Pichitinho, que estavam fazendo barulho e batendo suas asas friamente.

 

- Nós não podemos deixá-las sair para caçar todas as noites - Rony explicou enquanto vestia seu pijama marrom. - Dumbledore não quer muitas corujas descendo no quarteirão, ele acha que isso pode parecer suspeito. Ah, sim... Eu esqueci...

 

Ele foi até a porta e colocou o ferrolho.

 

- Por que você está fazendo isso?

 

- Kreacher - disse Rony enquanto apagava a luz. - Na primeira noite que eu estava aqui ele entrou vagando as três da manhã. Confie em mim, você não vai querer acordar e encontrá-lo rondando seu quarto. De qualquer forma... - ele subiu na cama, assentou-se sob as cobertas e voltou a olhar Harry na escuridão; Harry pôde ver seu contorno na luz da lua que entrava pela janela suja. - O que você acha?

 

Harry não precisou perguntar a Rony sobre o que queria dizer.

 

- Bem, eles não nos disseram mais do que nós poderíamos ter imaginado, não foi? - disse ele, pensando em tudo que havia sido dito lá em baixo. - Eu acho que tudo o que eles disseram foi que a Ordem está tentando evitar que mais gente se junte a Vol... - houve uma rápida alteração na respiração de Rony. - ...demort - disse Harry com firmeza. - Quando você vai começar a usar o nome dele? Sirius e Lupin usam.

 

Rony ignorou esse último comentário.

 

- Sim, você tem razão - disse ele -, nós já sabemos praticamente tudo o que eles nos contaram, por usarmos as Orelhas Extensíveis. A única coisa nova foi...

 

Crack.

 

- OUCH!

 

- Fale baixo, Rony, ou mamãe vai voltar aqui.

 

- Vocês dois acabaram de Aparatar nos meus joelhos!

 

- Sim, bem, é mais difícil no escuro.

 

Harry viu os contornos embaçados de Fred e Jorge descendo da cama de Rony. Houve um gemido das molas e o colchão de Harry desceu alguns centímetros quando Jorge sentou perto de seus pés.

 

- Então, já chegou lá? - disse Jorge avidamente.

 

- A arma que Sirius mencionou? - disse Harry.

 

- Digamos, mais ou menos assim - disse Fred com bastante gosto, agora sentado próximo a Rony. - Nós não ouvimos sobre isso nas velhas Extensíveis, não foi?

 

- O que você imagina que seja? - disse Harry.

 

- Pode ser qualquer coisa - disse Fred.

 

- Mas não poderia ser algo pior que a Maldição Avada Kedavra, não é? - disse

 

Rony. - O que é pior que a morte?

 

- Talvez seja algo que pode matar muitas pessoas de uma vez - sugeriu Jorge.

 

- Talvez seja um meio particularmente doloroso de matar pessoas - disse Rony.

 

- Ele tem a Maldição Cruciatus para causar sofrimento - disse Harry. - Não precisa de nada mais eficiente que isso.

 

Houve uma pausa e Harry percebeu que os outros, assim como ele, estavam imaginando que horrores essa arma poderia cometer.

 

- Então quem você acha que sabe sobre ela agora? - perguntou Jorge.

 

- Eu espero que esteja do nosso lado - disse Rony, soando levemente nervoso.

 

- Se estiver, Dumbledore provavelmente a está guardando - disse Fred.

 

- Onde? - disse Rony rapidamente. - Hogwarts?

 

- Aposto que sim! - disse Jorge. - Foi lá que ele escondeu a Pedra Filosofal.

 

- Uma arma é bem maior que a Pedra, no entanto! - disse Rony.

 

- Não necessariamente - disse Fred.

 

- É, tamanho não é garantia de poder - disse Jorge. - Olhe para Gina.

 

- O que você quer dizer? - disse Harry.

 

- Você nunca recebeu um de seus Feitiços de Morcego-Fantasma, recebeu?

 

- Shhh! - disse Fred, meio levantado da cama. - Ouçam!

 

Eles se calaram. Passos estavam subindo a escada.

 

- Mamãe - disse Jorge, sem mais cerimônias houve um alto barulho e Harry sentiu o peso sumir da ponta de sua cama. Alguns segundos depois ouviram a tábua do piso ranger do lado de fora da porta do quarto; a Sra. Weasley estava simplesmente ouvindo para verificar se eles não estavam conversando.

 

Edwiges e Pichitinho piaram tristemente. A tábua do piso rangeu novamente e eles a ouviram subindo as escadas para verificar Fred e Jorge.

 

- Ela não confia em nós, você sabe - disse Roney arrependido.

 

Harry tinha certeza que ele não seria capaz de dormir; o início da noite tinha sido tão cheio de coisas para se pensar que ele esperava ficar acordado por horas moendo tudo aquilo. Queria continuar falando com Rony, mas a Sra. Weasley agora estava fazendo as tábuas rangerem novamente no andar deles, e depois que ela se foi ele pôde ouvir os outros tomando seus caminhos escada acima...

 

De fato, muitas criaturas cheias de pernas estavam andando para cima e para baixo do lado de fora do quarto, e Hagrid, o Professor de Trato das Criaturas Mágicas, estava dizendo "Bonitinhas, não são, hein, Harry? Nós estudaremos armas nesse...", Harry viu que as criaturas tinham canhões no lugar das cabeças e que estavam virando e tentando acertá-lo... Ele se abaixou...

 

A última coisa que ele percebeu foi que estava enroscado numa bola quente por baixo da sua roupa de cama e a barulhenta voz de Jorge estava enchendo o quarto.

 

- Mamãe está mandando se levantar, seu café está na cozinha e ela precisa de você na sala de desenho, tem uma porção de Fadas Mordentes, muito mais do que ela pensava e encontrou um ninho de pelúcios embaixo do sofá.

 

Meia hora depois Harry e Rony, que tinham se vestido e tomado café rapidamente entraram na sala de desenho, uma comprida sala de teto alto no primeiro andar com paredes verde oliva cobertas de sujeira. O carpete exalava pequenas nuvens de poeira toda vez que alguém colocava o pé nele e as cortinas verde musgo estavam zumbindo como se fosse um enxame invisível de abelhas. E era ao redor dessas que a Sra. Weasley,  Hermione, Gina, Fred e Jorge estavam reunidos, todos olhando de forma particularmente estranha enquanto cada um tinha amarrada uma peça de roupa cobrindo o nariz e a boca. Cada um deles também segurava uma grande garrafa de um líquido preto com o bocal na ponta.

 

- Cubram seus rostos e peguem um spray – a Sra. Weasley disse para Harry e Rony assim que os viu, apontando para duas outras garrafas de líquido que estavam sobre uma mesa de pernas finas. - É fadamordentecida. Eu nunca vi uma infestação tão grande como essa. O que aquele elfo-doméstico esteve fazendo nos últimos dez anos...

 

O rosto de Hermione estava meio escondido por uma toalha fina, mas Harry viu que ela jogou um olhar repreensivo a Sra. Weasley.

 

- Kreacher é realmente velho, provavelmente ele não conseguiu manter...

 

- Você ficaria surpresa em saber o que Kreacher é capaz de fazer quando ele quer, Hermione - disse Sirius, que tinha acabado de entrar na sala carregando uma sacola ensangüentada do que aparentavam ser ratos mortos. - Eu apenas estou alimentando Bicuço - acrescentou ele, em resposta ao olhar investigativo de Harry. - Eu o deixo lá em cima, no quarto da minha mãe. De qualquer forma... Essa escrivaninha...

 

Ele soltou a sacola de ratos sobre uma poltrona, então se inclinou para examinar a gaveta trancada, a qual, Harry acabara de perceber, estava sacudindo levemente.

 

- Bem, Molly, eu tenho quase certeza que isso é um bicho-papão - disse Sirius, olhando pelo buraco da fechadura, mas talvez convenha deixarmos Olho-Tonto dar uma espiada antes de deixá-lo sair. Conhecendo minha mãe isso pode ser algo bem pior.

 

- Você tem razão, Sirius - disse a Sra. Weasley.

 

Ambos estavam falando com cautela, com vozes delicadas que deram a Harry a certeza de que nenhum dos dois havia esquecido os desentendimentos que tiveram na noite anterior.

 

Um alto ressoar de sino tocou no andar de baixo, seguido pela dissonância de gritos e gemidos que haviam sido despertados na noite anterior por Tonks caindo por cima do guarda-chuva.

 

- Eu continuo dizendo a eles para não tocar o sino da porta! - disse Sirius, irritado, saindo apressado da sala. Eles o ouviram trovejando pelos degraus enquanto os gritos da Sra. Black ecoavam mais uma vez pela casa inteira: "Mancha de desonra, mestiço asqueroso, traidor..."

 

- Feche a porta, por favor, Harry - disse a Sra. Weasley.

 

Harry demorou mais tempo do que precisava para fechar a porta, queria ouvir o que estava acontecendo no andar de baixo. Sirius obviamente estaria fechando as cortinas sobre o retrato de sua mãe, porque ela havia parado de gritar. Ele ouviu o padrinho andando pelo salão, depois o barulho do cadeado da porta de entrada e então uma voz profunda que ele reconheceu como sendo Kingsley Shacklebolt.

 

- Héstia acabou de me ajudar, agora ela está com a capa do Moody, acredito que tenho que informar a Dumbledore...

 

Sentindo os olhos da Sra. Weasley atrás de sua cabeça, Harry fechou a  porta arrependidamente e se juntou à festa das Fadas Mordentes.

 

A Sra. Weasley estava curvada para olhar a página sobre as Fadas Mordentes no Guia das Pestes Domésticas, de Gilderoy Lockhart, que estava aberto sobre o sofá.

 

- Certo, vocês todos, vocês precisam tomar muito cuidado, porque as Fadas Mordentes mordem e seus dentes são venenosos. Eu tenho um frasco de antídoto aqui, mas espero que ninguém precise usá-lo.

 

Ela se endireitou, posicionou-se bem em frente às cortinas e as puxou para frente.

 

- Quando eu der o sinal comecem a borrifar imediatamente - disse ela. – Elas virão voando para cima de nós, eu acho, mas no rótulo do spray diz que uma boa borrifada vai paralisá-las. Quando elas estiverem imobilizadas, apenas as joguem nesse balde.

 

Ela saiu cuidadosamente da linha de tiro e levantou seu próprio spray.

 

- Tudo pronto. Borrifem!

 

Harry tinha borrifado apenas alguns segundos quando uma Fada Mordente totalmente crescida veio voando de uma dobra no tecido, brilhante como um besouro com as asas zunindo, mostrando seus dentes afiados como agulhas, seu corpo de fada coberto de um grosso pêlo negro e seus quatro pequenos punhos cerrados com fúria. Harry a recebeu com uma borrifada de fadamordentecida bem no rosto. Ela ficou paralisada no meio do ar e caiu, com um surpreendente barulho, no velho carpete abaixo. Harry a pegou e jogou no balde.

 

- Fred, o que você está fazendo? - disse a Sra. Weasley com severidade. - Borrife de uma vez e jogue no balde!

 

Harry olhou ao redor. Fred estava segurando uma Fada Mordente que lutava entre seu dedo indicador e o polegar.

 

- Agora mesmo - disse Fred claramente, borrifando a Fada Mordente rapidamente no rosto para que ela desmaiasse, mas logo que a Sra. Weasley deu às costas ele colocou a fada no bolso, piscando um olho.

 

- Nós queremos fazer experiências com o veneno das fadas para nossas Caixinhas de Coceira - disse Jorge a Harry.

 

Borrifando duas Fadas Mordentes de uma vez só enquanto elas voavam bem em direção a seu nariz, Harry chegou mais perto de Jorge e murmurou pelo canto da boca.

 

- O que são Caixinhas de Coceira?

 

- Uma variedade de doces que deixam você doente - sussurrou Jorge, mantendo um olho atento nas costas da Sra Weasley. - Não doente de verdade, pense, apenas o suficiente para você não precisar ir a escola enquanto se sentir assim. Fred e eu temos trabalhado nisso durante o verão. Elas têm dois lados coloridos para mastigar. Se você comer a metade laranja das Pastilhas de Vômito você vomita tudo. Quando você for rapidamente retirado da sala de aula para ir a ala hospitalar, você engole a metade vermelha...

 

-...Que restaura sua saúde na hora, deixando que você continue suas atividades de lazer de sua própria escolha durante uma hora que de outra forma teria sido dedicada a um tédio nada proveitoso. É isso que nós estamos colocando nos anúncios - sussurrou Fred, que tinha desviado da linha de visão da Sra. Weasley e agora catando algumas Fadas Mordentes do chão e colocando em seu bolso. - Mas eles ainda precisam de um pouco de trabalho. No momento nossas cobaias estão tendo um pouco de dificuldade para parar de vomitar pelo tempo suficiente para engolir a metade vermelha.

 

- Cobaias?

 

- Nós - disse Fred. - Nós nos alternamos. Jorge testou os Desmaios Falsos e ambos tentamos os de Hemorragia Nasal...

 

- Mamãe pensou que nós estivéssemos duelando - disse Jorge.

 

- Então a loja de logros continua firme, não é? - murmurou Harry, fingindo estar ajustando o bocal de seu spray.

 

- Bem, nós não tivemos a chance de ter um local ainda - disse Fred, abaixando sua voz ainda mais enquanto a Sra. Weasley enxugava o suor do rosto com o cachecol antes de voltar ao ataque -, então nós estamos  trabalhando com pedidos via correio por enquanto. Nós colocamos anúncios no Profeta Diário da semana passada.

 

- Tudo graças a você, companheiro - disse Jorge. - Mas não se preocupe... Mamãe não suspeita de nada. Ela não lê mais o Profeta Diário, porque eles continuam falando mentiras sobre você e Dumbledore.

 

Harry deu uma risadinha. Ele forçou os gêmeos Weasley a pegar o prêmio de dez mil galeões que ele tinha ganhado no Torneio Tribruxo para ajudá-los com sua ambição de abrir uma loja de logros, mas ainda estava grato por saber que sua parte em promover os planos deles era desconhecido pela Sra. Weasley. Ela não achava que ter uma loja de gozações era uma carreira adequada para dois de seus filhos.

 

A desfadamordentização das cortinas tomou a maior parte da manhã. Já era mais de meio dia quando a Sra. Weasley finalmente tirou seu cachecol  protetor, afundou numa confortável poltrona e se levantou novamente com  um grito de desgosto, ela havia sentado em cima da sacola de ratos mortos.

 

As cortinas não estavam mais zumbindo; estavam fracas e úmidas da intensa borrifação. Aos seus pés as Fadas Mordentes inconscientes estavam enfiadas no balde ao lado de uma vasilha com seus ovos pretos, a qual Bichento estava cheirando e Fred e Jorge estavam jogando olhares de cobiça.

 

- Eu acho que cuidaremos desses depois do almoço – a Sra. Weasley apontou para os gabinetes com portas de vidro muito empoeiradas que ficavam ao lado da lareira. Eles estavam estufados de estranhos objetos: uma seleção de adagas enferrujadas, garras, uma pele de cobra enrolada, uma quantidade de caixas de prata manchadas com escritas em línguas que Harry não podia entender e, o mais desconfortável, uma garrafa de cristal ornamentada com uma opala na tampa, cheia do que Harry tinha certeza ser sangue.

 

O sino da porta tocou novamente. Todos olharam para a Sra. Weasley.

 

- Fiquem aqui - disse ela com firmeza, agarrando a sacola de ratos enquanto os berros da Sra. Black começaram novamente lá em baixo. - Eu trarei alguns sanduíches.

 

Ela saiu da sala, fechando a porta cuidadosamente atrás de si. Rapidamente todos correram para a janela para olhar a porta de entrada. Puderam ver uma cabeça de cabelos ruivos despenteados e uma porção de velhos Caldeirões.

 

- Mundungus! - disse Hermione. – Por que será que ele trouxe todos esses caldeirões?

 

- Provavelmente está procurando um lugar seguro para guardá-los – disse Harry. - Não era isso que ele estava fazendo na noite em que deveria estar me vigiando? Roubando caldeirões?

 

- É mesmo, você tem razão! - disse Fred, quando a porta da frente se abriu; Mundungus entrou com os caldeirões e sumiu de vista. - Blimey, mamãe não vai gostar disso...

 

Ele e Jorge foram em direção à porta e ficaram ao lado dela, ouvindo de perto. Os gritos da Sra. Black haviam parado.

 

- Mundungus está falando com Sirius e Kingsley - murmurou Fred, franzindo a testa ao se concentrar. - Não consigo ouvir bem... Você acha que podemos arriscar usar as Orelhas Extensíveis?'

 

- Pode valer a pena - disse Jorge. - Eu posso me esquivar até o andar de cima e pegar um par delas...

 

Mas no exato momento houve uma explosão de sons vindo do andar de baixo que fez com que as Orelhas Extensíveis deixassem de ser necessárias. Todos puderam ouvir exatamente o que a Sra. Weasley estava gritando com toda a força de sua voz.

 

- VOCÊ NÃO VAI ESCONDER ESSAS COISAS ROUBADAS AQUI!

 

- Eu adoro ouvir mamãe gritando com outras pessoas - disse Fred, com um sorriso satisfeito no rosto enquanto abria a porta alguns centímetros para deixar a voz da Sra. Weasley entrar melhor na sala. - Isso faz uma bela diferença.

 

-...COMPLETAMENTE IRRESPONSÁVEL, COMO SE JÁ NÃO TIVESSEMOS COM O QUE NOS PREOCUPAR SEM OS SEUS CALDEIRÕES ROUBADOS DENTRO DESTA CASA...

 

- Os idiotas vão deixar que ela chegue ao limite - disse Jorge balançando a cabeça. - Você precisa despistá-la logo senão ela vai ficar com a cabeça fervendo por horas. E ela está se mordendo para ter um momento como esses com o Mundungus cada vez que ele escapa, quando deveria estar vigiando você, Harry. E aí vão Sirius e mamãe novamente.

 

A voz da Sra. Weasley se perdeu em meio a novos gritos vindos dos retratos do salão. Jorge tentou fechar a porta para diminuir um pouco o barulho mas antes  que ele pudesse fazer isso um elfo-doméstico entrou na sala. Exceto pelo farrapo imundo amarrado como se fosse uma tanga ao redor de sua cintura, estava completamente nu. Parecia ser muito velho. A sua pele parecia ser muitas vezes maior que ele, apesar dele ser careca como todos os elfos-domésticos, havia uma certa quantidade de cabelos brancos crescendo e tinha orelhas de morcego. Seus olhos eram um pouco sangrentos e de um cinza aguacento, seu nariz mais parecia uma tromba.

 

O elfo não deu atenção a Harry e aos outros. Agindo como se não pudesse vê-los, andou com sua corcunda lentamente e com teimosia até o outro lado da sala, todo o tempo murmurando em seu rouco respirar, com uma voz profunda como o som de um sapo-boi.

 

-...Isso cheira mal, mas ela não é melhor, aquele traidor asqueroso com sua mal-criação estragando a casa de minha mestra, oh, minha pobre mestra, se ela soubesse, se ela soubesse a escória que eles deixam entrar em sua casa, o que ela diria ao velho Kreacher, oh, que vergonha, sangue-ruim e lobisomens e traidores e ladrões, pobre e velho Kreacher, o que ele pode fazer...

 

- Olá, Kreacher - disse Fred bem alto, fechando a porta com uma pancada.

 

O elfo-doméstico gelou em seu caminho, parou de murmurar e fez uma cara de surpresa que não conseguiu convencer ninguém.

 

- Kreacher não viu o jovem mestre - disse ele, virando-se e saudando Fred. Ainda batendo o carpete, ele adicionou de forma perfeitamente audível. - Asqueroso pirralho traidor é o que ele é.

 

- O quê? - disse Jorge. - Não entendi a última parte.

 

- Kreacher não disse nada - disse o elfo, com uma segunda ofensa para Jorge, falando num tom baixo, porém cálido. - E eles são idênticos, pequenas bestas não naturais eles são.

 

Harry não sabia se devia rir ou não. O elfo se endireitou, olhando todos eles com malevolência e aparentemente convencido que eles não podiam ouvi-lo enquanto continuava a murmurar.

 

-...E tem a sangue-ruim, ali de pé exibindo coragem, ah se minha mestra soubesse, oh, como ela choraria, e tem um novo garoto, Kreacher não sabe o nome dele. O que ele está fazendo aqui? Kreacher não sabe...

 

- Esse é Harry, Kreacher - disse Hermione. - Harry Potter.

 

Os pálidos olhos de Kreacher se abriram e ele murmurou mais rápido e mais furioso do que antes.

 

- A sangue-ruim está falando com Kreacher como se ela fosse minha amiga, se a mestra de Kreacher visse ele com essa desprezível companhia, oh, o que ela iria dizer...

 

- Não a chame de sangue-ruim! - disseram Rony e Gina juntos, com muita raiva.

 

- Não tem importância - sussurrou Hermione -, ele não está pensando direito, ele não sabe o que está...

 

- Não se engane, Hermione, ele sabe exatamente o que está dizendo – disse Fred, olhando Kreacher com grande desgosto.

 

Kreacher ainda murmurando e olhando para Harry, disse:

 

- Isso é verdade? Esse é Harry Potter? Kreacher pode ver a cicatriz, deve ser verdade, é o garoto que derrotou o Lord das Trevas, Kreacher gostaria de saber como ele fez...

 

- Nós todos gostaríamos, Kreacher - disse Fred.

 

- O que você está querendo aqui? - perguntou Jorge.

 

Os grandes olhos de Kreacher fitaram Jorge.

 

- Uma bela história - disse uma voz vinda de trás de Harry.

 

Sirius estava de volta; estava na porta olhando para o elfo. O barulho no salão tinha silenciado; talvez a Sra Weasley e Mundungus tivessem ido discutir na cozinha.

 

Ao ver Sirius, Kreacher se curvou numa ridícula corcunda que deixou seu nariz-tromba rente com o chão.

 

- Endireite-se - disse Sirius impaciente. - Agora, o que você quer?

 

- Kreacher está limpando - repetiu o elfo. - Kreacher vive para servir a Nobre Casa dos Black...

 

- E está ficando mais suja a cada dia, está imunda - disse Sirius.

 

- O mestre sempre gostou de fazer piadas - disse Kreacher, curvando-se novamente, e continuou em voz baixa. - O mestre é um porco asqueroso e ingrato que partiu o coração da sua mãe...

 

- Minha mãe não tinha coração, Kreacher - rebateu Sirius. - Ela se mantinha viva por pura maldade.

 

Kreacher se curvou novamente enquanto falava.

 

- O que quer que o mestre diga - murmurou furiosamente. - O mestre não é digno de limpar a lama dos sapatos de sua mãe, oh, minha pobre mestra, o que ela diria se visse Kreacher servindo ele, como ela o odiaria, que desapontamento ela teria...

 

- Eu perguntei o que você está querendo - disse Sirius com frieza. - Cada vez que você aparece fingindo estar limpando você rouba alguma coisa e esconde em seu quarto para que nós não joguemos fora.

 

- Kreacher nunca tirou nada de seu lugar na casa do mestre - disse o elfo, e murmurou bem rápido. - A mestra nunca perdoaria Kreacher se a tapeçaria fosse jogada fora, há sete séculos ela está na família, Kreacher precisa cuidar dela, Kreacher não vai deixar o Mestre e os traidores e os fedelhos a destruírem...

 

- Eu imaginei que fosse isso - disse Sirius, jogando um olhar desdenhoso para o outro lado. - Ela vai precisar colocar outro Feitiço de Fixação Permanente nela, eu não tenho dúvida, mas se eu puder me livrar dela certamente eu o farei. Agora vá embora, Kreacher.

 

Pareceu que Kreacher não desafiaria desobedecer a uma ordem direta, apesar disso o olhar que jogou para Sirius enquanto arrastava os pés ao passar por ele estava cheio do mais profundo ódio e murmurou por todo o caminho até sair da sala.

 

-...Volta de Azkaban mandando no Kreacher, oh, minha pobre mestra, o que ela diria se ela visse a casa agora, escória vivendo nela, seus tesouros jogados fora, ela jurou que ele não era mais filho dela e agora ele está de volta, eles disseram que ele era um assassino também...

 

- Continue murmurando e eu serei um assassino! - disse Sirius irritado enquanto batia a porta na cara do elfo.

 

- Sirius, ele não sabe o que está fazendo - alegou Hermione. - Eu não acho que ele saiba que nós podemos ouvi-lo.

 

- Ele esteve sozinho por muito tempo - disse Sirius -, recebendo ordens loucas do retrato de minha mãe e falando sozinho, mas ele sempre foi grosseiro assim...

 

- Se ao menos você o libertasse - disse Hermione esperançosa -, talvez...

 

Nós não podemos libertá-lo, ele sabe muito sobre a Ordem - disse Sirius de forma curta. - E de qualquer forma, o choque iria matá-lo. Sugira a ele deixar essa casa e veja o que ele faz.

 

Sirius atravessou a sala para onde a tapeçaria que Kreacher estava tentando proteger estava pendurada na extensão de toda a parede. Harry e os outros o seguiram.

 

A tapeçaria parecia imensamente velha; estava molhada e parecia que as Fadas Mordentes tinha mastigado em vários lugares. Apesar disso, os fios dourados com a qual foi bordada ainda cintilavam o suficiente para mostrá-los uma extensa árvore da família datada (até onde Harry podia dizer) até a Idade Média. Grandes palavras bem no alto da tapeçaria diziam:

 

A Nobre e Mais Antiga Casa dos Black

 

Toujours pur

 

- Você não está nela! - disse Harry, após verificar a parte baixa da árvore bem de perto.

 

- Eu costumava estar ali - disse Sirius, apontando para um pequeno detalhe arredondado, como um remendo que mais parecia uma queimadura de cigarro. - Minha doce mãe me expulsou após eu ter saído de casa. Kreacher é quem gosta de murmurar essas história por aí.

 

- Você saiu de casa?

 

- Quando eu tinha uns dezesseis anos - disse Sirius. - Eu não agüentava mais.

 

- E para onde você foi? - perguntou Harry, encarando-o.

 

- Para a casa do seu pai - disse Sirius. - Seus avós ficaram realmente satisfeitos com isso; eles praticamente me adotaram como um segundo filho. Sim, eu ia com o seu pai nos feriados da escola e quando eu tinha dezessete consegui um lugar só para mim. Meu tio Alphard me deixou uma boa quantidade de ouro. Ele também foi retirado da árvore, e provavelmente foi por ter feito isso. Em todo caso, depois disso eu fiquei por minha conta. Mas eu era sempre bem vindo na casa do Sr. e Sra. Potter para o almoço de domingo.

 

- Mas... Por que você...?

 

- Saí? - Sirius sorriu e correu seus dedos por seus longos cabelos despenteados. – Por que eu odiava todos eles: meus pais, com sua mania por puro-sangue, convencidos que ser um Black fazia de você praticamente da realeza... Meu irmão idiota, gentil o suficiente para acreditar neles... Aqui está ele.

 

Sirius apontou o dedo para a parte mais baixa da árvore, no nome "Regulus Black". Uma data de morte (por volta de quinze anos atrás) estava escrita ao lado da data de nascimento.

 

- Ele era mais novo que eu - disse Sirius - e um filho bem melhor, motivo pelo qual sempre me chamavam a atenção.

 

- Mas ele morreu - disse Harry.

 

- Sim - disse Sirius. - Estúpido e idiota... Ele se uniu aos Comensais da Morte.

 

- Você está brincando!

 

- Qual é, Harry, você não viu o suficiente nessa casa para dizer o tipo de bruxos que minha família era? - disse Sirius impaciente.

 

- Eram... Seus pais também eram Comensais da Morte?

 

- Não, não, mas acredite em mim, eles achavam que Voldemort tinha a idéia certa, eles eram a favor da purificação da raça dos bruxos, livrando-se dos nascidos trouxas e tendo apenas puros-sangues no lugar. Eles não estavam sozinhos, além deles havia algumas pessoas, antes de Voldemort mostrar sua verdadeira forma, que pensavam que ele tinha a idéia certa sobre as coisas... E vacilaram quando viram o que ele estava disposto a fazer para chegar ao poder. Mas eu aposto que meus pais achavam que Regulus era um herói por se unir a ele.

 

- Ele foi morto por um Auror? - perguntou Harry.

 

- Não, não - disse Sirius. - Não, ele foi assassinado por Voldemort. Ou por ordem dele, provavelmente; eu sempre duvidei que Regulus fosse importante o suficiente para ser morto por Voldemort em pessoa. Pelo que eu soube, depois que ele morreu, ele havia ido tão longe que entrou em pânico sobre o que estavam pedindo para ele fazer e então tentou sair. Bem, você não pode simplesmente pedir demissão a Voldemort. É um serviço para a vida inteira ou então a morte.

 

- Almoço - disse a voz da Sra. Weasley.

 

Ela estava segurando sua varinha erguida à sua frente, equilibrando uma gigantesca bandeja repleta de sanduíches e bolo na ponta da varinha. Ela estava com a cara vermelha e ainda parecia zangada. Os outros foram em sua direção, ansiosos por um pouco de comida, mas Harry ficou com Sirius, que ainda estava curvado próximo à tapeçaria.

 

- Há muito tempo eu não olhava isso. Tem o Phineas Nigelu; meu tataravô, está vendo?... O menos popular diretor que Hogwarts já teve... A Araminta Meliflua... Prima da minha mãe... Tentou fazer um projeto de lei para tornar a caça aos trouxas legal... E a querida tia Elladora... Ela começou a tradição da família de decapitar os elfos-domésticos quando eles ficavam velhos demais para carregar a bandeja de chá... É claro, qualquer um da família que produzisse algo que parecesse decente eles deserdavam. Estou vendo que Tonks não está aqui. Talvez seja por isso que Kreacher não aceita ordens dela. Ele supostamente faz qualquer coisa que alguém da família lhe peça...

 

- Você e Tonks são parentes? - perguntou Harry surpreso.

 

- Ah, sim, a mãe dela, Andrômeda, era minha prima favorita - disse Sirius, examinando a tapeçaria mais de perto. - Não, Andrômeda não está mais aqui, veja...

 

Ele apontou para outra marca de queimadura entre dois nomes, Bellatrix e Narcissa.

 

- As irmãs de Andrômeda ainda estão aqui porque tiveram um  respeitável casamento puro-sangue, mas Andrômeda casou com um trouxa, Ted Tonks, então...

 

Sirius imitou disparar um feitiço com sua varinha contra a tapeçaria e sorriu com mau humor. Harry, entretanto, não sorriu; ele estava muito ocupado olhando os nomes à direita da queimadura sobre o nome de Andrômeda.

 

Uma linha dupla bordada ligando Narcissa Black e Lúcio Malfoy e uma linha simples vertical saindo de seus nomes e levando ao nome Draco.

 

- Você é parente dos Malfoy!

 

- As famílias de puro-sangue são todas parentes - disse Sirius. - Se você só vai deixar seus filhos e filhas casarem com puros-sangues as escolhas são bem limitadas; dificilmente há algum de nós sobrando. Molly e eu somos parentes por causa de um casamento e Arthur é um tipo de primo segundo meu. Mas nem tente encontrá-los aqui. Se alguma vez uma família teve um ramo de traidores do sangue eles são os Weasley.

 

Mas Harry agora estava olhando para o nome à esquerda da queimadura sobre o nome de Andrômeda: Bellatrix Black, que estava ligada por uma linha dupla a Rodolphus Lestrange.

 

- Lestrange... - disse Harry bem alto. O nome mexeu com algo em sua memória; ele o conhecia de algum lugar, mas por um momento não podia lembrar de onde, sentiu um estranho arrepio em seu estômago.

 

- Ele está em Azkaban - disse Sirius.

 

Harry o olhou com curiosidade.

 

-Bellatrix e seu marido Rodolphus vieram com Bartô Crouch Jr. - disse Sirius, com a mesma voz apressada. - O irmão de Rodolphus, Rabastan, estava com eles também.

 

Então Harry lembrou. Tinha visto Bellatrix Lestrange dentro da penseira de Dumbledore, um estranho aparelho em que pensamentos e memórias podiam ser guardados: uma mulher alta com olhos encobertos estava de pé em seu julgamento e proclamou sua fidelidade a Lord Voldemort, o orgulho que tinha em buscar a ele imaginando que mesmo depois de sua queda, ainda convencida de que um dia seria recompensada por sua lealdade.

 

- Você nunca se referiu a ela como sua...

 

- Faz alguma diferença ela ser minha prima? - rebateu Sirius. - Até onde eu considero, eles não são minha família. Ela certamente não é minha família. Eu não a vi desde que eu tinha sua idade, a menos que você conte um relance que tive dela vindo para Azkaban. Você acha que eu tenho orgulho de ter parentes como ela?

 

- Desculpe - disse Harry rapidamente. - Eu não queria... Eu apenas fiquei surpreso, só isso...

 

- Não importa, não se desculpe - murmurou Sirius. Ele ficou de costas para a tapeçaria, com as mãos enfiadas nos bolsos. - Eu não gosto de estar aqui - disse, olhando através da sala. - Eu nunca pensei que pudesse ficar preso nessa casa outra vez.

 

Harry compreendeu completamente. Sabia como ele se sentia, quando cresceu pensou que estivesse livre daquele lugar para sempre, para voltar e viver no número quatro da Rua dos Alfeneiros.

 

- É ideal para o Quartel-General, sem dúvida - disse Sirius. - Meu pai colocava todo tipo de medidas de segurança conhecidas nela enquanto viveu aqui. É praticamente invisível, então os trouxas nunca puderam vir e tocar a campainha. Se é que eles iriam querer isso. E agora Dumbledore adicionou sua proteção, será muito difícil encontrar uma casa tão segura como esta em qualquer outro lugar. Dumbledore é o Fiel do Segredo da Ordem, você sabe, ninguém pode encontrar o Quartel-General a menos que Dumbledore em pessoa diga onde ele está, aquele bilhete que Moody lhe mostrou a noite passada era de Dumbledore... - Sirius deu uma risadinha. - Se meus pais pudessem ver o uso que a casa está tendo agora... Bem, o retrato de minha mãe pode te dar uma idéia.

 

Ele fez uma cara feia por um momento e então suspirou.

 

- Eu não me importaria se pudesse sair ocasionalmente para fazer algo de útil. Eu pedi a Dumbledore para poder escoltar você, em sua audiência, como Snuffles, certamente, para poder te dar um pouco de apoio moral, o que você acha?

 

Harry sentiu como se seu estômago tivesse afundado através do carpete empoeirado. Ele não tinha pensado sobre a audiência nenhuma vez desde o jantar da noite anterior; na excitação de estar de volta com as pessoas que ele mais gostava e ouvindo tudo sobre o que estava acontecendo, aquilo tinha lhe fugido da mente. Com as palavras de Sirius, no entanto, a pressão e o medo voltaram a ele. Olhou Hermione e os Weasley, todos enfiados entre os sanduíches, e pensou como se sentiria se voltassem para Hogwarts sem ele.

 

- Não se preocupe - disse Sirius. Harry olhou e percebeu que Sirius o esteve observando. - Eu tenho certeza que eles vão limpar sua barra, sei que existe algo no Estatuto Internacional da Magia sobre ser permitido usar magia para salvar sua própria vida.

 

- Mas se eles me expulsarem - disse Harry calmamente - eu posso voltar aqui e viver com você?

 

Sirius sorriu tristemente.

 

- Nós veremos.

 

- Eu me sentiria bem melhor sobre a audiência se eu soubesse que não teria que voltar para os Dursley - Harry o pressionou.

 

- Eles devem ser realmente maus se você prefere um lugar como esse – disse Sirius com tristeza.

 

- Apressem-se, vocês dois, ou não vai sobrar nenhuma comida - disse a Sra. Weasley.

 

Sirius deu outro grande suspiro, lançou um olhar sombrio para a tapeçaria então ele e Harry foram se juntar aos outros.

 

Harry fez o possível para não pensar sobre a audiência enquanto esvaziava os armários com portas de vidro durante a tarde. Felizmente, para ele era um trabalho que necessitava de um bocado de concentração, já que muitos dos objetos estavam muito relutantes em deixar suas prateleiras empoeiradas. Sirius sofreu uma mordida de uma caixa de rapé prateada; em poucos segundos sua mão ferida tinha criado uma desagradável cobertura como se fosse uma luva marrom.

 

- Está tudo bem - disse ele, examinando a mão com interesse antes de bater levemente sua varinha e restaurar a pele ao normal -, deve ter polvilho de verruga nela.

 

Ele jogou a caixa de lado dentro de um saco onde estavam depositando as ruínas dos armários; Harry viu Jorge embrulhar a mão cuidadosamente em um pano e colocar a caixa dentro de seu bolso, que já estava cheio de Fadas Mordentes.

 

Encontraram um instrumento prateado de formato desagradável, algo como um par de pinças com muitas pernas, que correu pelo braço de Harry como se fosse uma aranha quando a pegou, e tentou picar sua pele. Sirius agarrou e bateu nela com um pesado livro com o título Nobreza da Natureza: Uma Genealogia de Bruxos. Havia uma caixinha de música que emitia um fraco e sinistro toque quando se dava corda e todos se viram curiosamente fracos e sonolentos, até Gina teve o senso de fechar a tampa; um pesado medalhão que nenhum deles conseguiu abrir; uma grande quantidade de selos antigos e, numa caixa empoeirada, uma Ordem de Merlin, Primeira Classe, que havia sido ganha pelo avô de Sirius por "serviços prestados ao Ministério".

 

- Isso significa que deu a eles uma boa quantidade de ouro - disse Sirius desdenhosamente jogando a medalhão dentro do saco de lixo.

 

Muitas vezes Kreacher andou pela sala e tentou furtar algumas coisas, escondendo-as embaixo de sua tanga, murmurando maldições horríveis cada vez que eles o viam fazendo isso. Quando Sirius arrebatou de sua mão um grande anel de ouro que tinha o emblema dos Black, Kreacher explodiu em lágrimas furiosas e saiu da sala chorando e chamando Sirius de nomes que Harry nunca tinha ouvido antes.

 

- Era do meu pai - disse Sirius, jogando o anel no saco. - Kreacher não era tão devoto a ele quanto era à minha mãe, mas eu ainda o peguei escondendo um par de velhas calças do meu pai na semana passada.

 

A Sra. Weasley manteve todos trabalhando duro durante os dias que seguiram. A sala de desenho demorou três dias para ser desinfetada. Finalmente, a única coisa indesejável que sobrou foi a tapeçaria com a árvore genealógica da família Black, que resistiu a todas as tentativas de remoção da parede, e as pancadas na gaveta da escrivaninha. Moody ainda não tinha aparecido pelo Quartel-General, então não puderam se certificar do que tinha dentro dela.

 

Foram da sala de desenho para uma sala de jantar no andar térreo onde encontraram aranhas tão grandes quanto os pratos do guarda-louça (Rony saiu da sala apressadamente para fazer uma xícara de chá e não voltou por uma hora e meia). A porcelana, que tinha o símbolo dos Black e o lema, foi toda jogada sem nenhuma cerimônia dentro do saco por Sirius, e o mesmo destino teve uma porção de velhas fotografias que estavam em molduras prateadas manchadas, todos os seus ocupantes gritaram quando o vidro que os cobria se partiu.

 

Snape poderia se referir ao trabalho deles como "uma limpeza", mas na opinião de Harry estavam realmente declarando guerra à casa, que estava resultando numa boa briga, sendo ajudada e apoiada por Kreacher. O elfo-doméstico continuava aparecendo onde quer que se reunissem, seu murmúrio se tornando mais e mais ofensivo quando ele tentava remover qualquer coisa que pudesse dos sacos de lixo. Sirius foi o mais longe que pôde, ameaçando-o com roupas, mas Kreacher olhava fixamente para ele com seus olhos lacrimejantes e disse "O Mestre deve fazer o que desejar", antes de se virar e murmurar bem alto: "mas o mestre não vai dispensar o Kreacher, não, porque Kreacher sabe o que eles querem fazer, ah sim, eles estão tramando contra o Lord das Trevas, sim, com esse sangue-ruim e traidores e escória...". Então Sirius, ignorando os protestos de Hermione, agarrou Kreacher por trás de sua tanga e o jogou pessoalmente para fora da sala.

 

O sino da porta tocou várias vezes por dia, que era a deixa para a mãe de Sirius começar a gritar novamente, e para Harry e os outros a tentativa de ouvir a conversa do visitante por detrás da porta, para poder colher qualquer informação que pudessem antes que a Sra Weasley os chamasse de volta às suas tarefas. Snape entrou e saiu da casa diversas vezes, embora para o alívio de Harry eles nunca tivessem ficado frente a frente; Harry também avistou sua professora de Transfiguração, McGonagall, parecendo bem estranha em roupas de trouxa, e também parecia muito ocupada para se demorar. Algumas vezes, entretanto, os visitantes ficavam para ajudar. Tonks se juntou a eles para uma tarde memorável na qual eles encontraram um velho fantasma assassino escondido no banheiro do primeiro andar, e Lupin, que estava na casa com Sirius, mas que tinha saído por longos períodos para fazer trabalhos misteriosos para a Ordem, ajudou-os a consertar um relógio de pêndulo que tinha desenvolvido um hábito desagradável de atirar pesados parafusos em quem passasse perto. Mundungus se redimiu aos olhos da Sra. Weasley ao salvar Rony de um antigo conjunto de barretes vermelhos que tinham tentado estrangulá-lo enquanto ele os tirava do armário.

 

Apesar do fato de que ele estava dormindo mal, ainda tendo sonhos sobre corredores e portas trancadas que faziam sua cicatriz doer, Harry estava conseguindo se divertir pela primeira vez em todo o verão. Enquanto estivesse ocupado estaria feliz; quando a ação diminuía, entretanto, toda vez que baixava a guarda ou se deitava exausto na cama observando as sombras embaçadas se moverem através do teto, o pensamento sobre a audiência do Ministério que estava se aproximando retornava a ele. O medo golpeava seu interior como agulhas quando imaginava o que aconteceria com ele se fosse expulso. A idéia era tão terrível que não se atrevia a comentar nem mesmo com Rony e Hermione, que via freqüentemente cochichando juntos e jogando olhares inquietos em sua direção, seguido por sua determinação em não mencioná-lo. Às vezes ele não podia impedir sua imaginação de mostrá-lo um oficial anônimo do Ministério que estava partindo sua varinha em duas e ordenando a ele que voltasse a casa dos Dursley... Mas ele não iria. Estava determinado. Voltaria para Grimmauld Place e viveria com Sirius.

 

Ele sentiu como se um tijolo tivesse caído sobre seu estômago quando a Sra. Weasley virou-se para ele durante o jantar na quarta-feira e disse calmamente.

 

- Eu passei suas melhores roupas para amanhã de manhã, Harry, e eu quero que você lave seu cabelo hoje a noite, também. Uma boa primeira impressão pode fazer maravilhas.

 

Rony, Hermione, Fred, Jorge e Gina, todos pararam e olharam para ele.

 

Harry balançou a cabeça e tentou continuar comendo seu pedaço de carne, mas sua boca tinha ficado tão seca que ele não conseguia mastigar.

 

- Como eu vou chegar lá? - perguntou ele à Sra. Weasley, tentando parecer indiferente.

 

- Arthur vai levar você para o trabalho com ele - disse a Sra. Weasley com gentileza.

 

O Sr. Weasley sorriu de modo encorajador para Harry.

 

- Você pode aguardar em meu escritório até chegar a hora da audiência - disse ele.

 

Harry olhou para Sirius, mas antes que pudesse perguntar a Sra. Weasley já havia respondido.

 

- O Professor Dumbledore não acha uma boa idéia Sirius ir com você, e eu devo dizer que eu...

 

-...Acho que ele está com a razão - disse Sirius com os dentes trincados.

 

- Ele veio noite passada, quando você estava dormindo - disse o Sr. Weasley.

 

Sirius, com muito mau humor apunhalou uma batata com seu garfo. Harry baixou os olhos para seu prato. O pensamento de que Dumbledore tinha estado na casa na véspera de sua audiência e que não tinha pedido para vê-lo o fez se sentir ainda pior, se é que isso era possível.

 

 

O MINISTÉRIO DA MAGIA

Harry acordou às cinco e meia da madrugada, tão abrupta e completamente como se alguém houvesse gritado em seus ouvidos. Por alguns momentos ele permaneceu imóvel, como se a visão da audiência disciplinar preenchesse cada minúscula partícula de seu cérebro; então, incapaz de suportar isso, saltou da cama e pôs os óculos. A Sra. Weasley havia separado sua recém-passada calça jeans e uma blusa ao pé da cama. Harry os vestiu rapidamente. O quadro em branco na parede ria dissimuladamente.

 

Rony estava esparramado, de barriga pra cima, com a boca aberta, dormindo. Ele não viu Harry atravessar o quarto, sair e fechar suavemente a porta atrás de si. Tentando não pensar em qual seria a próxima vez que veria Rony, quando poderiam não mais ser companheiros em Hogwarts, Harry desceu tranqüilamente as escadas, passando pelas cabeças dos ancestrais de Kreacher, até chegar à cozinha.

 

Ele esperava a encontrar vazia, porém quando chegou à porta escutou o ruído de vozes do outro lado. Empurrou a porta e viu o Sr. e a Sra. Weasley, Sirius, Lupin e Tonks sentados ali, quase que como o esperando. Todos estavam bem vestidos, exceto a Sra. Weasley, que trajava um vestido acolchoado púrpura. Ela deu um pequeno salto quando Harry entrou.

 

- Café da manhã - disse enquanto puxava sua varinha e ia em direção ao fogão.

 

- B-b-bom dia, Harry - bocejou Tonks. Seu cabelo estava loiro e encaracolado esta manhã. - Dormiu bem?

 

- Sim - disse Harry.

 

- Est-tive acordada a noite inteira - disse ela, com outro estremecido bocejo. - Venha, sente-se...

 

Ela alargou uma cadeira, tocando sobre a que estava a seu lado.

 

- O que você quer, Harry? – a Sra. Weasley perguntava. - Mingau? Sanduíche? Salmão? Bacon e ovos? Torradas?

 

- Apenas... Apenas as torradas, obrigado - disse Harry.

 

Lupin olhou Harry e então Tonks.

 

- O que vocês estavam dizendo sobre Scrimgeour?

 

- Ah, sim bem, nós precisamos ser um pouco mais cuidadosos, ele tem perguntado a mim e ao Kingsley algumas questões engraçadas...

 

Harry se sentiu vagamente grato por não ser requisitado a entrar na conversa. Estava se contorcendo por dentro. A Sra. Weasley pôs algumas torradas e marmelada à sua frente; ele tentou comer mas era como mastigar carpete. Ela se sentou a seu lado e começou a ajeitar sua blusa, pondo a etiqueta pra dentro e acertando a costura aos ombros. Ele desejou que ela não estivesse fazendo isso.

 

- ...e eu tenho de contar a Dumbledore que não posso ficar encarregada da noite de amanhã, eu estou muito cansada - encerrou Tonks, bocejando largamente uma vez mais.

 

- Eu te cubro - disse o Sr. Weasley. - Eu estou bem, e preciso reportar uma coisa mesmo...

 

Arthur Weasley não estava trajando roupas de bruxo, mas calças listradas e uma velha jaqueta de couro. Ele se virou para Tonks e Harry:

 

- Como vocês estão?

 

Harry encolheu os ombros.

 

- Estará tudo acabado logo - disse o Sr. Weasley reconfortantemente. - Em algumas horas você estará limpo.

 

Harry não disse nada.

 

- A audiência é no meu andar, no escritório de Amélia Bones. Ela é a chefe do Departamento de Cumprimento da Lei Bruxa, e quem lhe interrogará.

 

- Amélia Bones é OK, Harry - disse Tonks séria. - Ela é justa, ela o escutará.

 

Harry concordou com a cabeça, ainda incapaz de pensar em qualquer coisa pra dizer.

 

- Não perca a cabeça - disse Sirius abruptamente. - Seja polido e atenha-se aos fatos.

 

Harry fez que sim com a cabeça novamente.

 

- A lei está do seu lado - disse Lupin tranqüilamente. - Mesmo bruxos menores de idade podem usar magia em situações de risco de vida.

 

Algo muito frio pingou na parte inferior das costas do pescoço de Harry; por um momento pensou que alguém estivesse pondo-lhe sob um feitiço ilusório, mas então percebeu que a Sra. Weasley estava atacando seu cabelo com um pente molhado. Ela o apertava com força contra o seu cabelo.

 

- Ele nunca fica direito? - perguntou desesperada.

 

Harry balançou a cabeça de um lado para o outro. O Sr. Weasley checou seu relógio e olhou para ele.

 

- Acho que devemos ir agora, estamos um pouco adiantados mas é melhor você estar no Ministério que vagando por aqui.

 

- OK - disse Harry automaticamente, largando sua torrada e ficando de pé.

 

- Você vai ficar bem, Harry - falou Tonks, batendo em seu braço.

 

- Boa sorte - disse Lupin. - Tenho certeza de que sairá tudo bem.

 

- E se não sair - disse Sirius sinistramente - eu verei Amélia Bones pra você...

 

Harry sorriu fracamente. A Sra. Weasley o abraçou.

 

- Estamos todos com os dedos cruzados.

 

- Certo - disse Harry. - Bem... Vejo vocês depois então.

 

Seguindo o Sr. Weasley, pôde escutar a mãe de Sirius roncando em seu sono atrás das cortinas. O Sr. Weasley abriu a porta e saíram para a fria e cinzenta manhã.

 

- Normalmente o senhor não caminha até o trabalho, não é? - Harry perguntou enquanto deixavam rapidamente do quarteirão.

 

- Não, em geral eu aparato - disse ele - mas obviamente você não pode, e eu acho que o melhor é chegarmos lá por um meio não mágico... Dá uma impressão melhor, considerando-se a razão por que lá está...

 

O Sr. Weasley manteve a mão dentro da jaqueta enquanto caminhavam. Harry sabia que estava segurando sua varinha. As ruas estavam praticamente desertas porém quando chegaram à pequena estação do metrô estava cheia de passageiros. Como sempre que se aproximava de trouxas indo ao trabalho, o senhor Weasley mal continha seu entusiasmo.

 

- Simplesmente fabuloso – sussurrou, indicando a máquina de bilhetes automática. - Incrivelmente engenhoso.

 

- Elas estão quebradas - disse Harry, apontando para o aviso.

 

- É, mas mesmo assim... - disse o senhor Weasley, sorrindo radiante para elas.

 

Compraram seus bilhetes, então, de um guarda com cara de sono (foi Harry quem fez a transação, já que o Sr. Weasley não era muito competente no trato do dinheiro trouxa) e cinco minutos mais tarde estavam a bordo de um vagão que se dirigia ao centro de Londres. O Sr. Weasley ficava checando e re-checando ansiosamente o mapa acima das janelas.

 

- Mais quatro paradas, Harry... Mais três apenas agora... Só mais duas, Harry...

 

Desembarcaram numa estação bem no coração de Londres e deixaram o vagão numa maré de homens e mulheres bem vestidos carregando pastas. Tomaram as escadas rolantes, passaram pela roleta (o Sr. Weasley ficou impressionado com a maneira como engolia seu bilhete) e emergiram numa rua larga, com prédios impressionantes, plena de tráfego.

 

- Onde nós estamos - disse o Sr. Weasley e por um momento Harry escutou seu coração bater, pensou que haviam saltado na estação incorreta, a despeito das constantes observações do Sr. Weasley em relação ao mapa; mas um segundo depois ele disse. - Ah, sim... Por aqui, Harry - e desceram a rua. - Desculpe, mas eu nunca venho de trem e isso tudo parece diferente sob uma perspectiva trouxa. Aliás, eu nunca usei a entrada de visitantes antes.

 

Quanto mais caminhavam menores e menos impressionantes se tornavam as construções, até que finalmente atingiram uma rua que continha uns poucos escritórios maltrapilhos, um pub e uma grande caçamba de lixo transbordando. Harry esperava ter uma impressão bem melhor do local onde estava o Ministério da Magia.

 

- Aqui estamos - disse o Sr. Weasley animado, apontando para uma velha cabine telefônica vermelha que parecia bastante danificada, defronte a um muro totalmente pichado. - Primeiro você, Harry.

 

Ele abriu a portinhola da cabine e entrou pensando em que cargas d'água era aquilo. O Sr. Weasley entrou em seguida, apertando-se contra Harry e fechando a porta. Harry estava jogado contra o aparelho telefônico, que estava dependurado, como se um vândalo tivesse tentado puxá-lo. O Sr. Weasley conseguiu tirar o fone do gancho.

 

- Senhor Weasley, acho que isso deve estar quebrado também - disse Harry.

 

- Não, não, tenho certeza de que está bom - disse o Sr. Weasley, segurando o fone acima de sua cabeça e fitando o discador. - Vejamos... Seis... - ele discou o número. - Dois... Quatro... E outro quatro... E Outro dois...

 

Assim que a placa de discagem zumbiu suavemente para seu lugar uma voz feminina, fria, soou dentro da cabine, e não do fone na mão do Sr. Weasley, mas tão alta e claramente como se uma mulher invisível estivesse diante deles.

 

- Bem-vindos ao Ministério da Magia. Por favor, digam seus nomes e assuntos.

 

- Er... - disse o Sr. Weasley, claramente incerto sobre dever ou não responder no fone, que segurava ao contrário. - Arthur Weasley, Escritório de Mau Uso dos Artefatos Trouxas, escoltando Harry Potter para uma audiência disciplinar...

 

- Obrigado - disse a fria voz feminina. - Visitante, por favor, pegue a identificação e a coloque na parte da frente de sua roupa.

 

Houve um clique e uma batida e Harry viu algo sair pela parte onde as moedas eram normalmente devolvidas. Ele pegou: era um broche quadrado, prateado, com a inscrição: "Harry Potter, Audiência Disciplinar". Ele o prendeu à frente da camisa e a voz feminina falou novamente.

 

- Visitante, você será inspecionado e sua varinha deve ser apresentada para registro no balcão de segurança, localizado ao final do Átrio.

 

O chão da cabine estremeceu; começaram a afundar vagarosamente no solo. Harry olhava apreensivo enquanto o pavimento parecia subir através das janelas de vidro da cabine, até que uma completa escuridão se encerrou sobre suas cabeças. Não se podia ver coisa alguma; podia escutar um pequeno ruído enquanto a cabine seguia descendo pelo subsolo. Após cerca de um minuto - que pareceu muito mais longo para Harry - um feixe dourado de luz surgiu, iluminando seus pés, e foi aumentando, subindo através do corpo até alcançar sua face, de modo que teve de piscar.

 

- O Ministério da Magia lhe deseja um bom dia - disse a voz feminina.

 

A porta da cabine se abriu e o Sr. Weasley saiu, seguido por Harry, que estava de queixo caído. Estavam no final de um longo e esplêndido Hall, com um piso muito bem polido de madeira escura. O teto azul-esverdeado estava repleto de símbolos dourados, brilhantes, que se moviam, mudando de posição, como um enorme quadro de avisos no céu. As paredes, de cada lado, tinham painéis de madeira enegrecida brilhante e várias chaminés com bordas douradas. A cada poucos segundos um bruxo emergia de uma das chaminés à esquerda com um pequeno barulho de vento. Ao lado direito pequenas filas se formavam, à frente de cada chaminé, pessoas esperando para partir.

 

Ao meio do Hall havia uma fonte. Um grupo de estátuas douradas, maiores que o tamanho natural, estavam no meio do círculo de água. Maior que todos, havia um bruxo de nobre olhar, apontando sua varinha para o céu; ao seu lado uma bela bruxa, um centauro, um duende e um elfo-doméstico. Os últimos três olhavam, como que adorando, os bruxos. Jatos reluzentes de água jorravam das varinhas dos bruxos, da ponta da flecha do centauro, da ponta do chapéu do duende, e de cada uma das orelhas do elfo, de modo que o barulho de água corrente adicionava-se aos "cracks" das pessoas aparatando e aos passos das centenas de bruxos, em sua maior parte abatidos, com olhar madrugador, que se dirigiam para um conjunto de portões dourados ao fim do Hall.

 

- Por aqui - disse o Sr. Weasley.

 

Eles se juntaram à multidão, tomando seu caminho entre os empregados do Ministério, alguns dos quais carregavam pilhas de pergaminhos, outros suas pastas; alguns liam o Profeta Diário enquanto caminhavam. Ao passarem pela fonte, Harry viu sicles de prata e nuques de bronze, brilhando ao fundo. Uma pequena placa manchada dizia:

 

"TODAS  AS  CONTRIBUIÇÕES  PARA  A  FONTE  DA  FRATERNIDADE  MÁGICA  SERÃO  DOADOS  O  HOSPITAL   ST.  MUNGUS  PARA  DOENÇAS E ACIDENTES MÁGICOS"

 

"Se não for expulso de Hogwarts porei dez galeões", Harry se pegou pensando desesperadamente.

 

- Por aqui, Harry - disse o Sr. Weasley, e saíram da multidão que se dirigia aos portões dourados.

 

Sentaram-se à uma mesa à esquerda; sob um sinal que informava "Segurança", um bruxo mal barbeado, em traje azul-esverdeado, encarou-os quando se aproximavam e deixou de lado seu Profeta Diário.

 

- Estou escoltando um visitante - disse o Sr. Weasley, apontando Harry.

 

- Venha aqui - disse bruxo numa voz mal humorada.

 

Harry caminhou para próximo a ele; o bruxo segurava um longo bastão dourado, fino e flexível como uma antena, e o passou de cima a baixo de Harry, frente e costas.

 

- Varinha - grunhiu o segurança para Harry, pondo de lado o instrumento.

 

Harry entregou sua varinha. O bruxo a colocou num estranho instrumento de latão, que parecia com um conjunto de escalas com um prato. Ele começou a vibrar. Uma pequena tira de pergaminho saiu de um buraco na base. O bruxo o pegou e leu o que estava escrito:

 

- Vinte e oito centímetros, pena de fênix, em uso por quatro anos. Está correto?

 

- Sim - disse Harry nervosamente.

 

- Eu fico com isso - disse o bruxo, guardando o pergaminho. - Você leva isso - disse entregando a varinha de volta.

 

- Obrigado.

 

- 'Pera lá... - disse o bruxo vagarosamente.

 

Seus olhos foram do broche de prata no peito de Harry para sua testa.

 

- Obrigado, Eric - disse o Sr. Weasley firmemente, e pegando Harry pelo ombro o levou de volta para a multidão que caminhava rumo aos portões.

 

Ligeiramente empurrado pela multidão, Harry seguiu o Sr. Weasley através dos portões para um Hall menor adiante, onde pelo menos vinte elevadores esperavam atrás de grades de ferro douradas. Ambos se dirigiram a um deles, acompanhados por várias outras pessoas. Próximo, estava um bruxo com uma grande barba, segurando uma caixa de papelão que emitia um som de arranhões.

 

- Tudo bem, Arthur? - disse o bruxo, acenando com a cabeça para o Sr. Weasley.

 

- O que você tem aí, Bob? - perguntou o Sr. Weasley, olhando pra caixa.

 

- Não estamos muito certos - asseverou o bruxo, sério. - Pensávamos que fosse algum tipo de galinha do pântano, até que começou a cuspir fogo. Parece-me uma séria violação ao banimento da criação de espécies experimentais.

 

Com um ruído estridente, o elevador chegou; a grade dourada se retraiu e Harry e o Sr. Weasley entraram no elevador com o resto da multidão, Harry se viu preso contra a parede. Vários bruxos o olhavam, curiosos; ele observava os pés, evitando o olhar dos demais, mexendo na franja. A grade se fechou ruidosamente e o elevador ascendeu devagar, as correntes rangendo, enquanto a mesma voz feminina que Harry escutara na cabine tornava a falar.

 

- Sétimo andar, Departamento de Jogos e Desportos Mágicos, incluindo a Sede das Confederações Britânica e Irlandesa de Quadribol, o Clube Oficial de Pedra Pesada e o Escritório de Patentes Ridículas.

 

As portas se abriram. Harry vislumbrou o corredor desarrumado, com diversos pôsteres de times de Quadribol ornando as paredes. Um dos bruxos, que carregava inúmeras vassouras, escapou com dificuldade do elevador e desapareceu no corredor. As portas se fecharam e o elevador ascendeu ruidosamente de novo, a voz anunciou:

 

- Sexto andar. Departamento de Transporte Mágico, incluindo a Autoridade sobre a Rede de Flu, o Controle de Vassouras, o Escritório de Portais e o Centro para Testes de Aparatação.

 

As portas uma vez mais se abriram e quatro ou cinco bruxos saíram; ao mesmo tempo diversos aviõezinhos de papel adentraram o elevador. Harry os olhou adejarem preguiçosamente sobre sua cabeça; tinham um pálido tom violeta e podia-se ler "Ministério da Magia" estampado em suas asas.

 

- São memorandos interdepartamentos - sussurrou-lhe o Sr. Weasley. - Nós usávamos corujas mas a confusão era inacreditável... Derrubando tudo sobre as mesas...

 

Assim que o elevador pôs-se a subir os aviõezinhos se dirigiram para a luz do teto.

 

- Quinto andar, Departamento Internacional de Cooperação Mágica, incluindo o Corpo de Padronização de Artefatos Mágicos Internacionais, o Escritório de Direito Mágico Internacional e a Confederação Internacional da Magia, cadeiras britânicas.

 

Quando a porta se abriu dois memorando zuniram para fora, mas diversos outros entraram, de modo que a luz acima tremeluzia enquanto adejavam à sua volta.

 

- Quarto andar, Departamento para a Regulação de Criaturas Mágicas, incluindo as Divisões de Feras, Seres e Espíritos, o Escritório Ligado aos Duendes e o Bureau para a Prevenção de Pestes.

 

- Licença - disse o bruxo que carregava a galinha flamejante, e deixou o elevador seguido por uma esquadrilha de memorandos. As portas se fecharam novamente.

 

- Terceiro andar, Departamento de Catástrofes e Acidentes Mágicos, incluindo o Esquadrão para Reversão de Acidentes Mágicos, o Quartel de Obliviadores e o Comitê de Desculpas para Trouxas.

 

Todos deixaram o elevador neste andar, exceto o Sr. Weasley, Harry e uma bruxa que lia um pergaminho tão longo que se desenrolava pelo chão.

 

Os memorandos remanescentes continuaram voando em torno da lâmpada quando o elevador tornou a ascender e a voz fez seu anúncio.

 

- Segundo andar, Departamento para o Cumprimento do Direito Mágico, incluindo o Escritório do Uso Impróprio da Magia, o Quartel dos Aurores e a Administração dos Serviços Wizengamot.

 

- Somos nós, Harry - disse o Sr. Weasley e seguiram a bruxa para fora do elevador, para um corredor cheio de portas. - Meu escritório é do outro lado do andar.

 

- Sr. Weasley - disse Harry, enquanto passavam por uma janela através da qual a luz solar entrava -, nós ainda estamos no subsolo?

 

- Sim, estamos. Essas janelas estão encantadas. A Manutenção Mágica decide qual tempo teremos todo dia. Tivemos dois meses de furacões da última vez que pedimos aumento... Vire aqui, Harry.

 

Harry olhou sorrateiramente através das portas enquanto passavam. Os aurores haviam coberto as paredes de seus cubículos com desde figuras dos Bruxos Procurados e fotos de seus familiares a pôsteres de times de Quadribol e artigos do Profeta Diário. Um homem em escarlate, com um rabo-de-cavalo maior que o de Gui, estava sentado com suas botas em cima da mesa, ditando um relatório para sua pena. Um pouco adiante uma bruxa com um curativo sobre um dos olhos conversava por sobre seu cubículo com Kingsley Shacklebolt.

 

- 'Dia, Weasley - disse Shacklebolt despreocupadamente ao se aproximarem. - Eu gostaria de ter uma palavrinha com você, se tiver um segundo...

 

- Claro, se for realmente um segundo - disse o Sr. Weasley -, eu estou realmente com pressa.

 

Eles falavam como se parcamente conhecessem um ao outro e quando Harry abriu sua boca para dar bom dia a Kingsley o Sr. Weasley lhe pisou o pé. Eles seguiram Kingsley até o último cubículo.

 

Harry teve um pequeno choque ao ver Sirius lhe piscando de todas as direções. Recortes de jornais e velhas fotografias - mesmo uma em que aparecia como padrinho no casamento dos Potter - adornavam as paredes. O único espaço sem Sirius era um mapa-múndi em que pequenos pontos vermelhos piscavam como jóias.

 

- Aqui - disse Kingsley bruscamente para o Sr. Weasley, empurrando um maço de pergaminhos em suas mãos. - Eu preciso de toda a informação possível sobre veículos voadores nos últimos doze meses. Recebemos informação de que Black possa estar usando sua velha motocicleta.

 

Kingsley deu uma longa piscada para Harry e continuou num sussurro:

 

- Dê-lhe a revista, ele vai achar interessante - e então voltou ao tom normal. - E não demore muito, Weasley, o atraso no seu relatório sobre arcas de fogo segurou nossa investigação por um mês.

 

- Se você tivesse lido meu relatório saberia que o termo é "armas de fogo" - disse o Sr. Weasley friamente. - E temo dizer que você terá de esperar por sua informação sobre motocicletas, nós estamos extremamente ocupados no momento - ele abaixou o tom de voz e disse. - Se você chegar antes das sete, Molly preparou almôndegas.

 

Tornou então para Harry e o tirou do cubículo de Kingsley, em direção a um novo conjunto de portas de carvalho para outra passagem; virou à esquerda, marcharam por mais um corredor, viraram à direita, chegando a um corredor mal-iluminado e puído e andaram até o final, onde uma porta à esquerda, entreaberta, revelava um armário de vassouras e numa porta à direita lia-se numa placa fosca: "Mau Uso de Artefatos Trouxas".

 

O sujo escritório do Sr. Weasley parecia ligeiramente menor que o armário de vassouras. Haviam posto duas mesas lá e mal havia espaço para se mover entre elas, devido ao excesso de fichários nas paredes, sobre os quais jaziam pilhas de documentos. O pequeno espaço restante era dedicado à sua obsessão: pôsteres de carros, incluindo o de um desmontado; duas ilustrações de caixas de correio, que pareciam retiradas de um livro infantil; e um diagrama ensinando a como instalar tomadas, no alto de uma das pilhas descansava uma torradeira, soluçando inconsolavelmente, e um par de luvas de couro cujos polegares brincavam se tocando. Uma fotografia da família no meio da qual, Harry assim achava, Percy havia se escondido.

 

- Não temos uma janela - disse o Sr. Weasley desculpando-se, tirando sua jaqueta de couro e colocando sobre o dossel da cadeira. - Nós pedimos, mas eles acharam desnecessário. Sente-se, Harry, não fique olhando como se Perkins ainda estivesse aí.

 

Harry se viu na cadeira de Perkins enquanto o Sr. Weasley brigava com o maço que Kingsley lhe dera.

 

- Ah - disse sorrindo, ao tirar uma revista intitulada "O Tergiversador" do meio. - Sim... - ele a folheou. - Sim, está certo, Sirius vai achar isso muito divertido. Oh, o que foi agora?

 

Um memorando zuniu através da porta e descansou em cima da torradeira chorosa. O Sr. Weasley o abriu e leu em voz alta:

 

- Terceira regurgitação num toalete público reportada em Bethnal Green, favor investigar imediatamente. Isso está ficando ridículo...

 

- Um toalete regurgitador?

 

- Uma peça nos trouxas - disse o Sr. Weasley, franzindo o cenho. - Tivemos dois casos semana passada, um em Wimbledon e um em Elefante & Castelo. Os trouxas dão descarga e em vez de tudo desaparecer... Bem, você pode imaginar. Os coitados continuam chamando aqueles... Encarnadores, acho que é assim que são chamados... Você sabe, aqueles que consertam tubulações e essas coisas...

 

- Encanadores?

 

- Sim, isso, mas, é claro, eles estão confusos. Só espero que peguemos quem está fazendo isso.

 

- Os aurores irão pegá-los?

 

- Ah, não, isso é muito trivial para os aurores; será a Patrulha para o Cumprimento do Direito Mágico. Ah, Harry, este é Perkins.

 

Um velho bruxo corcunda, tímido, com uma penugem de cabelo branco, entrara na sala, ofegante.

 

- Arthur - disse desesperado, sem olhar Harry -, graças a Deus, eu não sabia o que fazer, se esperar por você ou não. Acabei de enviar uma coruja para tua casa, mas é claro que não a recebeu, uma mensagem urgente chegou dez minutos atrás.

 

- Eu sei, sobre o toalete regurgitador - disse o Sr. Weasley.

 

- Não, não, não é sobre o toalete, é a audiência do menino Potter. Eles mudaram o horário e local. Começa às oito horas, no Tribunal Dez.

 

- Lá embaixo no... Mas eles não me disseram... Pelas barbas de Merlin!

 

O Sr. Weasley olhou em seu relógio, deixou escapar um grito e saltou da cadeira.

 

- Rápido, Harry, deveríamos estar lá há cinco minutos.

 

Perkins se atirou contra os fichários enquanto o Sr. Weasley deixava o escritório correndo, com Harry em seu encalço.

 

- Mas por que alteraram a hora? - Harry perguntou resfolegante enquanto corriam pelos cubículos dos Aurores, e estes erguiam suas cabeças, a fim de verem o que se passava. Harry sentia como se suas entranhas ainda estivessem na cadeira de Perkins.

 

- Não faço idéia, mas graças a Deus chegamos cedo; se você a tivesse perdido seria catastrófico - o sr. Weasley derrapou, parando defronte ao elevador, e golpeou impacientemente o botão "desce". - VENHA!

 

O elevador apareceu e eles correram para seu interior. Toda vez que parava o Sr. Weasley praguejava e apertava furiosamente o botão nove.

 

- Esses tribunais não são usados há anos - disse com raiva -, não consigo entender por que estão lá... A menos que... Não...

 

Uma bruxa roliça empunhando um cálice fumegante entrou e o senhor Weasley não continuou.

 

- O Átrio - informou a voz feminina e a grade dourada se abriu mostrando a Harry as distantes estátuas da fonte. A bruxa roliça deixou o elevador e um bruxo entrou, com cara de luto.

 

- 'Dia, Arthur - disse numa voz sepulcral enquanto o elevador descia. - Não costumo vê-lo muito aqui embaixo.

 

- Coisa urgente, Bode - disse o Sr. Weasley, que estava na ponta dos pés, olhando ansiosamente para Harry.

 

- Ah, sim - disse Bode, encarando Harry sem piscar. - Claro.

 

Harry não tinha emoções para esconder de Bode mas seu olhar fixo não o deixou mais confortável.

 

- Departamento de Mistérios - disse uma voz feminina e deixaram o elevador.

 

- Rápido, Harry - disse o Sr. Weasley ao deixarem o elevador, correndo ao longo de um corredor bem distinto dos acima.

 

As paredes eram nuas, não havia janelas ou portas, além de uma negra ao seu final. Harry esperava passar por ela mas o Sr. Weasley o tomou pelo braço, virando-o para a esquerda, onde um caminho levava a uma escada.

 

- Aqui embaixo, aqui embaixo - disse ofegante o Sr. Weasley, saltando dois degraus por vez. - O elevador não chega tão baixo... Por que estão fazendo isso, eu...

 

Terminaram o lance de escadas e trafegaram por mais um corredor, que guardava grande semelhança ao que levava às masmorras de Snape em Hogwarts, com paredes de pedras desiguais e tochas. As portas por que passavam eram pesadas, com trincos e fechaduras de ferro.

 

- Tribunal... Dez... Sim, estamos quase lá... Sim.

 

O Sr. Weasley parou diante de uma sinistra porta de madeira, com uma imenso ferrolho, e baixou repentinamente contra a parede, com a mão no peito.

 

- Entre - resfolegou, apontando com o polegar para a porta. - Entre lá.

 

- Você não... Você não vem comigo?

 

- Não, não, não é permitido. Boa sorte!

 

O coração de Harry batia violentamente contra seu pomo de adão. Ele respirou fundo, girou a pesada maçaneta de ferro, e adentrou o Tribunal.

 

 

A AUDIÊNCIA

Harry ofegou; não podia se segurar mesmo. A grande masmorra na qual tinha entrado estava horrivelmente familiar. Ele não tinha apenas visto aquilo antes, mas sim estado lá. Este era o lugar que tinha visitado na penseira de Dumbledore, o lugar que tinha observado os Lestrange serem sentenciados à prisão perpétua em Azkaban.

 

As paredes eram feitas de pedra escura, turvamente iluminadas por tochas. Bancos vazios eram vistos um ao lado do outro, mas na frente, nos mais altos bancos de todos, era onde estavam muitas figuras sombrias. Estavam falando em voz baixa mas com o fechar da pesada porta atrás de Harry um silencio ameaçador foi sentido.

 

Uma fria voz masculina soou na sala do tribunal.

 

- Você está atrasado!

 

- Desculpe - disse Harry nervoso. - Eu... Eu não sabia que o horário havia sido mudado.

 

- Não é culpa do Tribunal dos Bruxos - disse a voz. - Uma coruja foi enviada esta manhã para avisar você. Tome seu assento.

 

Harry deixou seu olhar cair sobre sua cadeira no centro da sala, cujos braços estavam cobertos por correntes Ele tinha visto aquelas correntes ganhar vida e amarrar qualquer um que sentasse entre tais. Suas pegadas ecoaram altamente enquanto andava pelo chão de pedra. Quando sentou cuidadosamente na ponta da cadeira as correntes tiniram de modo ameaçador mas não o prenderam. Sentindo-se bastante nauseado, olhou para as pessoas sentadas nos bancos acima.

 

Havia cerca de cinqüenta deles, todos, pelo que ele podia ver, vestindo túnicas cor de ameixa com um W bordado em cor de prata no lado esquerdo do peito e todos o estavam encarando, alguns com expressões muito severas, outras com olhar de curiosidade.

 

No meio da primeira fila se sentou Cornélio Fudge, o Ministro da Magia. Fudge era um homem solene que freqüentemente usava um chapéu verde-limão, embora naquele dia o tivesse dispensado; também tinha dispensado o generoso sorriso que usara quando uma vez falou com Harry. Uma jovem bruxa, bem aparentada, com o cabelo acinzentado muito curto, sentou à esquerda de Fudge; usava um monóculo e parecia ameaçadora. À direita de Fudge havia outra bruxa, mas ela se sentou tão longe no banco que seu rosto estava escondido nas sombras.

 

- Muito bem - disse Fudge. - O acusado está presente. Finalmente. Vamos começar. Estão todos prontos?

 

- Sim senhor - disse uma voz ávida que Harry conhecia. Percy, o irmão de Rony, estava sentado bem na ponta do banco da frente.

 

Harry o olhou, esperando algum sinal de reconhecimento dele, mas nada veio. Os olhos de Percy, por trás de seus óculos, estavam concentrados num pergaminho e uma pena na mão, pronta para escrever.

 

- Audiência Disciplinar do dia doze de Agosto - disse Fudge em voz alta e Percy começou a tomar notas imediatamente. - Entre os crimes cometidos sob o Decreto de Restrição do Uso Lógico da Magia por Menores de Idade e ao Estatuto Internacional de Segredo da Magia por Harry James Potter, residente no número quatro, Rua dos Alfeneiros, Little Whinging, Surrey. Interrogador: Cornélio Oswald Fudge, Ministro da Magia; Amélia Susan Bones, Chefe do Departamento da Imposição da Lei Mágica; Dolores Jane Umbridge, Subsecretária Sênior do Ministro. Escrivão da corte, Percy Ignatius Weasley -

 

- Testemunha de Defesa: Alvo Percival Wulfric Brian Dumbledore - disse uma frágil voz vinda de trás de Harry, que virou a cabeça tão rápido que estalou o pescoço.

 

Dumbledore estava caminhando tranqüilamente através da sala, vestindo uma longa túnica azul-da-meia-noite e uma expressão perfeitamente calma. Sua longa barba e cabelos prateados resplandeciam a luz das tochas enquanto ficava ao lado de Harry e olhava Fudge através de seus óculos meia-lua, que descansavam sobre seu nariz bastante curvo.

 

Os membros do Tribunal estavam murmurando. Todos os olhares agora estavam sobre Dumbledore. Alguns olhavam nervosos, outros amedrontados; duas bruxas mais velhas na fila de trás, entretanto, acenaram para ele dando boas-vindas.

 

Uma emoção forte tinha surgido no peito de Harry ao ver Dumbledore, um fortalecedor, e esperançoso sentimento como aquela que a canção da fênix deu a ele. Queria ver o olhar de Dumbledore mas não estava olhando para o lado dele; continuava a olhar para Fudge, que estava visivelmente perturbado.

 

- Ah - disse Fudge, que o olhou desconcertado. - Dumbledore. Sim. Então... Você... Recebeu a mensagem de que a hora... E o lugar da audiência havia sido mudado?

 

- Eu quase não cheguei a tempo - disse bem animado. - Entretanto, devido a um acaso da sorte eu já estava aqui no Ministério há mais de três horas, então não foi nada demais.

 

- Sim, bem, eu suponho que vamos precisar de outra cadeira... Eu... Weasley... Você poderia?

 

- Não se preocupe, não se preocupe - disse Dumbledore de forma agradável; pegou sua varinha, deu um pequeno giro e uma bela poltrona apareceu do nada próximo a Harry.

 

Dumbledore se sentou, uniu as pontas de seus longos dedos e olhou Fudge com uma expressão de interesse. O Tribunal ainda estava murmurando inquieto; apenas quando Fudge falou novamente que os demais presentes se sentaram.

 

- Sim - disse Fudge outra vez misturando suas anotações. - Bem, então, as acusações. Sim.

 

Ele desenrolou um pedaço de pergaminho da pilha que estava à sua frente, respirou fundo e leu.

 

- As acusações contra o acusado são as seguintes: que ele propositalmente, deliberadamente e de total consciência da ilegalidade de suas ações, tendo recebido avisos prévios por escrito do Ministério da Magia por uma acusação semelhante, produziu um Feitiço de Patrono numa área trouxa inabitada, na presença de um trouxa, no dia dois de Agosto às 9h23min, o que constitui uma crime sob o Parágrafo C do Decreto do Uso Lógico da Magia por Menores de Idade, 1875, e também sob seção Treze do Estatuto Internacional da Confederação de Segredo dos Bruxos. Você é Harry James Potter, da Rua dos Alfeneiros, número 4, Little Whinging, Surrey? - acrescentou, olhando Harry por cima do pergaminho.

 

- Sim.

 

- Você recebeu um aviso oficial do Ministério por usar magia ilegalmente três anos atrás, não recebeu?

 

- Sim mas...

 

- E você ainda conjurou um patrono na noite de dois de Agosto?

 

- Sim, mas...

 

- Sabendo que não é permitido a você usar magia fora da escola enquanto tiver idade menor que dezessete anos?

 

- Sim, mas...

 

- Sabendo que estava em área cheia de trouxas?

 

- Sim mas...

 

- Completamente ciente de que estava perto de um trouxa naquela hora?

 

- Sim - disse Harry zangado. - Mas eu só usei porque nós estávamos...

 

A bruxa com o cabelo curto falou, interrompendo Harry.

 

- Você produziu um patrono por completo?

 

- Sim. Por quê?

 

- Um patrono corpóreo?

 

- Um... O quê?

 

- Seu patrono teve uma forma bem definida? O que quero dizer é, ele era mais que vapor ou fumaça?

 

- Sim - disse Harry impaciente e ligeiramente desesperado. - É um cervo, sempre foi um cervo.

 

- Sempre? - perguntou Madame Bones. - Você já havia produzido um patrono antes?

 

- Sim, eu faço isso há mais de um ano.

 

- E você tem quinze anos?

 

- Sim, e...

 

- Você aprendeu isso na escola?

 

- Sim, o professor Lupin me ensinou no terceiro ano por causa do...

 

- Impressionante - disse Madame Bones, olhando-o. - Um patrono verdadeiro nessa idade... Muito impressionante mesmo...

 

Alguns dos bruxos e bruxas ao redor dela estavam murmurando outra vez; alguns concordando com a cabeça e outros franzindo a testa e balançando a cabeça para um lado e para o outro.

 

- Não é uma questão de quão impressionante foi a magia - disse Fudge impaciente. - De fato, quanto mais impressionante pior o caso, eu imaginaria, supondo que o garoto fez isso bem em frente a um trouxa!

 

Os que estavam franzindo a testa agora murmuraram concordando, mas foi a visão de Percy concordando hipocritamente que fez Harry falar novamente.

 

- Eu fiz isto por causa dos dementadores - disse em voz alta, antes que qualquer um pudesse interrompê-lo novamente.

 

Harry esperava mais murmúrio mas o silencio que surgiu parecia estar mais denso que antes.

 

- Dementadores? - perguntou Madame Bones depois de alguns segundos, com suas grossas sobrancelhas se levantando até que seu monóculo ameaçou cair do rosto. - O que você quer dizer com isso, garoto?

 

- Eu quero dizer que havia dois dementadores lá em baixo, na cidade, e eles atacaram a mim e a meu primo!

 

- Ah! - disse Fudge outra vez, mostrando um desagradável sorriso enquanto olhava o Tribunal, como se os estivessem convidando para ouvir uma piada. - Sim. Sim, eu acho que ouvimos algo parecido com isso.

 

- Dementadores na cidade? - disse Madame Bones, num tom de grande surpresa. - Eu não compreendo...

 

- Não compreende, Amélia? - disse Fudge, ainda sorrindo. - Deixe-me explicar. Ele estava pensando sobre isso e decidiu que dementadores dariam uma bela matéria para a primeira página do jornal, uma bela matéria mesmo. Trouxas não podem ver dementadores, podem, garoto? Muito conveniente, altamente conveniente... Então é sua palavra e nenhuma testemunha...

 

- Eu não estou mentindo! - disse Harry em voz alta, sobre outra erupção de murmúrios da corte. - Havia dois deles, vindo do outro lado da rua, ficou tudo escuro e frio e meu primo sentiu a presença deles e correu em direção a eles...

 

- É o bastante, já chega! - disse Fudge com um olhar presunçoso em seu rosto. - Eu sinto muito interromper o que para mim parece ser uma história muito bem ensaiada...

 

Dumbledore limpou sua garganta. O Tribunal ficou em silêncio outra vez.

 

- Nós temos, de fato, uma testemunha da presença dos dementadores naquela rua - disse ele. - Além de Duda Dursley, é claro.

 

A cara gorducha de Fudge pareceu se esvaziar, como se alguém tivesse deixado sair todo o ar dentro dela. Ele olhou Dumbledore por um ou dois segundos, então disse.

 

- Nós não tempos tempo para ouvir outras historinhas, sinto muito, Dumbledore. Eu quero resolver isso rápido...

 

- Eu posso estar errado - disse Dumbledore educadamente - mas eu tenho certeza de que, segundo A Carta de Direitos do Tribunal, o acusado tem o direito de apresentar testemunhas em seu caso. Não é a política do Departamento de Imposição da Lei Mágica, Madame Bones? - e continuou dirigindo-se para a bruxa de monóculo.

 

- Isso é verdade - disse Madame Bones. - Perfeitamente certo.

 

- Oh, muito bem, muito bem! - rebateu Fudge. - Onde está essa pessoa?

 

- Eu a trouxe comigo. Ela está lá fora. Eu posso...?

 

- Não... Weasley, vá você - gritou Fudge para Percy, que levantou uma vez, desceu correndo os degraus de pedra do balcão do juiz e passou apressadamente por Dumbledore e Harry sem olhá-los.

 

Um momento depois Percy retornou seguido pela Sra Figg. Ela parecia assustada e mais esquisita do que nunca. Harry desejou que ela estivesse usando algo diferente dos seus chinelos de flanela.

 

Dumbledore se levantou e deu sua cadeira a Sra Figg, criando uma segunda cadeira para ele mesmo.

 

- Nome completo - disse Fudge em voz alta quando Sra. Figg tinha se assentado nervosamente bem na ponta da poltrona.

 

- Arabella Doreen Figg - disse a Sra. Figg em sua voz trêmula.

 

- O quem exatamente você é? - disse Fudge com uma voz entediada e arrogante.

 

- Eu sou uma moradora da Rua dos Alfeneiros, próximo de onde Harry Potter mora.

 

- Nós não temos nenhum dado sobre bruxos ou bruxas vivendo nessa rua, nenhum outro além de Harry Potter - disse Madame Bones imediatamente. - A situação está sempre sendo monitorada de perto, devido... Devido aos eventos ocorridos.

 

- Eu sou um aborto - disse a Sra. Figg. - Assim, você não poderia ter me registrado, poderia?

 

- Um aborto, é? - disse Fudge, olhando-a de perto. - Nós vamos verificar isso. Você deve deixar detalhes de seu parentes com Weasley, meu assistente. Acidentalmente abortos poderiam ver dementadores? - disse, olhando da esquerda para a direita ao longo do banco.

 

- Sim nós podemos - disse a Sra. Figg indignada.

 

Fudge olhou novamente para ela, levantando as sobrancelhas:

 

- Muito bem - disse ele indiferente. - Qual é a sua história?

 

- Eu tinha saído para comprar ração para gato na loja da esquina, por volta das nove horas, na noite do dia dois de Agosto - disse a Sra. Figg rapidamente, como se tivesse decorado tudo aquilo que estava dizendo. - Quando eu escutei um barulho vindo da rua que fica entre a Magnólia e a Wisteria Walk. Ao chegar perto da rua eu vi os dementadores correndo...

 

- Correndo? - disse Madame Bones com severidade. - Dementadores não correm, eles deslizam.

 

- É o que eu quis dizer - disse a Sra. Figg rapidamente, com as bochechas ficando cor-de-rosa. - Deslizando ao longo da rua em direção ao que pareciam ser dois meninos.

 

- Com o que eles se parecem? - disse Madame Bones, fechando seus olhos de modo que a ponta do monóculo desaparecesse coberto por sua pele.

 

- Bem, um era muito gordo e o outro muito magro.

 

- Não, não! - disse Madame Bones impaciente. - Os dementadores... Descreva-os.

 

- Ah - disse a Sra. Figg, ficando cor-de-rosa na região do pescoço dessa vez. - Eles eram grandes. Grandes e usavam um manto.

 

Harry sentiu um horrível buraco no seu estômago. Não importava o que a Sra. Figg dissesse, soou para ele como se o máximo que ela tivesse visto fosse uma figura de um dementador, e uma figura nunca poderia mostra a verdadeira forma que esses seres tinham: o jeito assustador com que se moviam, flutuando acima do chão; ou o cheiro podre que exalavam; ou aquele terrível barulho que faziam enquanto sugavam o ar em volta...

 

Na segunda fila um bruxo baixinho com grande bigode se inclinou para sussurrar no ouvido da sua vizinha, uma bruxa com cabelo frisado. Ela deu uma risadinha e concordou com a cabeça.

 

- Grande e usando mantos - repetiu Madame Bones friamente, enquanto Fudge bufava menosprezando. - Eu sei. Mais alguma coisa?

 

- Sim - disse a Sra. Figg. - Eu os senti. Ficou tudo muito frio e essa era uma noite de verão muito quente, vejam bem. E eu senti... Como se toda minha felicidade tivesse sido tirada do mundo... E eu me lembrei... De coisas terríveis...

 

Sua voz se comoveu e silenciou. Os olhos de Madame Bones se abriram levemente. Harry podia ver marcas vermelhas abaixo da sua sobrancelha onde o monóculo estava colocado.

 

- O que os dementadores fizeram? - perguntou ela e Harry sentiu sua esperança aumentar.

 

- Eles foram em direção aos meninos - disse a Sra. Figg, sua voz estava mais forte e mais confiante agora, e a cor-de-rosa de suas bochechas desapareceram. - Um deles tinha caído. O outro tinha se virado, tentando afastar o dementador. Esse era Harry. Ele tentou duas vezes e só conseguiu produzir um vapor prateado. Na terceira tentativa ele produziu um patrono, que atacou o primeiro dementador e então, com esse ato encorajador, expulsou o segundo para longe do seu primo. E foi isto o que aconteceu - concluiu a Sra. Figg um tanto quanto fora do comum.

 

Madame Bones olhou a Sra. Figg em silêncio. Fudge não estava olhando para ela, estava inquieto com seus papéis. Finalmente ele levantou os olhos e disse, de forma agressiva.

 

- Foi isso o que você viu?

 

- Foi o que aconteceu - repetiu a Sra. Figg.

 

- Muito bem, você pode ir.

 

A Sra. Figg olhou assustada de Fudge para Dumbledore, então se levantou e se retirou. Harry ouviu o barulho da porta fechando-se atrás dela.

 

- Não é uma testemunha muito convincente - disse Fudge orgulhoso.

 

- Ah, eu não sei - disse Madame Bones, em sua voz rouca. - Ela certamente descreveu os efeitos de um ataque de dementadores com exatidão. E eu não posso imaginar porque diria que estavam lá se não estivessem.

 

- Mas dementadores vagando num subúrbio trouxa e somente para encontrar um bruxo? - disse Fudge com seu tom arrogante. - As probabilidades de isso acontecer são muito, muito pequenas. Nem mesmo Bagman apostaria nisso...

 

- Ah, eu não acho que algum de nós acredite que os dementadores estiveram por lá por pura coincidência - disse Dumbledore ligeiramente.

 

A bruxa sentada à direita de Fudge, com o rosto na sombra, moveu-se levemente mas todos os outros continuaram em completo silêncio.

 

- E o que você supõe que isso signifique - perguntou Fudge com frieza.

 

- Significa que eu acho que eles foram enviados para lá - disse Dumbledore.

 

- Eu acho que teríamos registros disso se alguém tivesse enviado um par de dementadores para passear pela cidade! - gritou Fudge.

 

- Não se atualmente os dementadores estiverem recebendo ordens de alguém que não é do Ministério da Magia - disse Dumbledore calmamente. - Eu já lhe disse o que eu penso sobre essa situação, Cornélio.

 

- Sim, você me disse - disse Fudge de forma imponente - mas eu não tenho nenhuma razão para acreditar que suas visões são mais do que apenas besteiras, Dumbledore. Os dementadores permanecem em Azkaban e estão fazendo tudo o que pedimos para eles fazerem.

 

- Então - disse Dumbledore calmamente mas claramente - nós devemos nos perguntar por que alguém dentro do Ministério mandaria uma dupla de dementadores para a cidade, no dia dois de Agosto.

 

No completo silêncio em que recebeu essas palavras a bruxa que estava à direita de Fudge inclinou-se para frente de modo que Harry viu o seu rosto pela primeira vez.

 

Ele achou que ela se parecia muito com um grande e pálido sapo. Estava particularmente agachada com um largo, rosto flácido, como o pescoço de tio Válter e uma boca muito grande e frouxa. Seus olhos eram grandes, arredondados e ligeiramente salientes. Até mesmo a tiara de veludo preto que usava na cabeça para prender os curtos cabelos cacheados a faziam lembrar uma grande mosca que estaria prestes a capturar com sua grande língua pegajosa.

 

- A direção reconhece Dolores Jane Umbridge, Subsecretária Sênior do Ministro - disse Fudge.

 

A bruxa falou numa voz vibrante, feminina, muito alta, que pegou Harry de surpresa; ele esperava que ela fosse coaxar.

 

- Eu tenho certeza que devo ter entendido você mal, professor Dumbledore - disse ela, com um sorriso que fez seus grandes olhos redondos parecerem mais frios do que nunca. - Que bobagem de minha parte. Mas isso pareceu por um momento como se você estivesse sugerindo que o Ministério da Magia tivesse ordenado o ataque a esse garoto!

 

Ela deu uma gargalhada tão nítida que fez os cabelos da nuca de Harry ficarem de pé. Alguns dos outros membros do Tribunal riram com ela. Mas sinceramente não parecia que qualquer um deles estivesse se divertindo.

 

- Se é verdade que os dementadores estão recebendo ordens apenas do Ministério da Magia e que também é verdade que dois deles atacaram Harry e seu primo uma semana atrás, então logicamente podemos concluir que alguém no Ministério deve ter ordenado o ataque - disse Dumbledore educadamente. - Certamente, esses dementadores em particular podem ter fugido ao controle do Ministério...

 

- Não há dementadores fora do controle do Ministério! - gritou Fudge, que agora parecia um tijolo de tão vermelho.

 

Dumbledore inclinou sua cabeça fazendo uma pequena reverência.

 

- Então sem dúvida o Ministério fará um inquérito completo para saber por que dois dementadores estavam tão longe de Azkaban e por que fizeram um ataque sem autorização.

 

- Você não decide o que o Ministério da Magia faz ou não faz, Dumbledore! - gritou Fudge, agora com uma cor vermelha que deixaria o tio Válter orgulhoso.

 

- É claro que não! - disse Dumbledore suavemente. - Eu estava meramente expressando minha confiança de que esta questão não ficará sem investigação.

 

Ele olhou Madame Bones, que reajustava seu monóculo e olhava de volta para ele, franzindo levemente as sobrancelhas.

 

- Eu queria lembrar a todos que o comportamento desses dementadores, se realmente eles não são apenas imaginação deste garoto, não é o assunto dessa audiência! - disse Fudge. - Nós estamos aqui para examinar os crimes de Harry Potter sob o Decreto de Restrição do Uso Lógico da Magia por Menores de Idade!

 

- Certamente estamos - disse Dumbledore -, mas a presença de dementadores naquela rua é altamente relevante. A Cláusula Sete do Decreto diz que magia pode ser utilizada à frente de trouxas em circunstâncias excepcionais, e essas circunstâncias excepcionais incluem situações que ameaçam a vida do bruxo ou bruxa, ou quaisquer bruxo, bruxa ou trouxa presente no momento do...

 

- Nós estamos familiarizados com a Cláusula Sete, muito obrigado! - resmungou Fudge.

 

- Certamente estão - disse Dumbledore com cortesia. - Então estamos de acordo que o uso do patrono de Harry cai precisamente nestas circunstâncias excepcionais que a Cláusula Sete descreve?

 

- Se houvesse dementadores, o que eu duvido.

 

- Você ouviu sobre isso da testemunha ocular - interrompeu Dumbledore. - Se você duvida da honestidade dela, chame-a aqui novamente e a interrogue outra vez. Tenho certeza que ela não faria objeção.

 

- Eu... Que... Mão... - esbravejou Fudge, mexendo nos papeis à sua frente. - Isto... Eu quero isso resolvido hoje, Dumbledore.

 

- Mas naturalmente, você não se importaria de quantas vezes ouvir uma testemunha, se a alternativa fosse um abuso da lei.

 

- Sério abuso, o meu chapéu! - disse Fudge no limite de sua voz. - Alguma vez você se ocupou em contar o número de histórias que todo mundo sabe que esse garoto inventou, Dumbledore, enquanto tenta encobrir o flagrante de uso indevido de magia fora da escola? Eu suponho que você tenha esquecido daquele feitiço de levitação que ele usou três anos atrás...

 

- E que não fui eu, foi um elfo-doméstico! - disse Harry.

 

- VOCÊ VÊ? - rugiu Fudge, gesticulando com extravagância em direção a Harry. - Um elfo-doméstico. Em uma casa trouxa! Eu pergunto a você!

 

- O elfo-doméstico em questão está atualmente trabalhando em Hogwarts - disse Dumbledore. - Eu posso trazê-lo aqui num instante para testemunhar se você quiser!

 

- Eu... Não... Eu não tenho tempo para escutar elfos-domésticos! De qualquer modo, não é apenas isto. Ele inflou a tia, pelo amor de Deus! - disse Fudge gritando, batendo seu punho na banca do juiz e derramando um vidro de tinta.

 

- E você muito bondoso não se queixou naquela ocasião, aceitando, eu presumo, que até os melhores bruxos nem sempre conseguem controlar suas emoções - disse Dumbledore calmamente, enquanto Fudge tentava limpar a tinta de suas anotações.

 

- E eu nem comecei a citar as coisas que ele fez na escola.

 

- Mas como o Ministério não tem autoridade para punir os estudantes de Hogwarts por mal comportamento na escola, o comportamento de Harry não é relevante nesta audiência - disse Dumbledore, mais educado do que nunca, mas agora com um ar de frieza em suas palavras.

 

- Oho! - disse Fudge. - Não é de nossa conta o que acontece na escola, não é? Você acha que é assim?

 

- O Ministério não tem autoridade para expulsar alunos de Hogwarts, Cornélio, como eu te avisei na noite de dois de Agosto. Nem tem o direito de confiscar suas varinhas até que as acusações sejam provadas e, novamente, como eu te avisei na noite de dois de Agosto, na sua pressa de se certificar que a lei fosse mantida, você se mostrou, descuidado, tenho certeza, de supervisionar algumas leis por si mesmo.

 

- Leis podem ser mudadas - disse Fudge em tom selvagem.

 

- Certamente que podem - disse Dumbledore, inclinando sua cabeça. - E você certamente parece querer fazer muitas mudanças, Cornélio. Porque, há poucas semanas, eu fui convidado a deixar o Tribunal Bruxo, e com isso ele já começou tratar um simples caso de uso indevido de magia por menores de idade como um ato criminoso do pior tipo!

 

Alguns dos bruxos acima deles se moveram incomodamente em seus assentos. Fudge ficou de uma cor quase castanha. A bruxa que se parecia com um sapo, à direita dele, entretanto, apenas encarou Dumbledore, com seu rosto quase inexpressivo.

 

- Até onde eu sei - continuou Dumbledore - ainda não há lei que diz que o trabalho desta corte é punir Harry por cada mágica que ele já fez. Ele tem sido acusado de uma transgressão específica e apresentou sua defesa. Tudo o que ele e eu podermos fazer agora é esperar seu veredicto.

 

Dumbledore uniu as pontas dos dedos novamente e não disse mais nada. Fudge desviou o olhar de Dumbledore, procurando algo mais; ele não achava que era certo Dumbledore dizer ao Tribunal que era hora de tomar a decisão. Novamente, entretanto, Dumbledore pareceu distraído demais para notar que Harry tentava ver seu olhar. Continuou a olhar para os bancos onde o Tribunal inteiro havia caído em urgentes cochichos.

 

Harry olhou para seus pés. Seu coração, que parecia ter aumentado para um tamanho anormal, estava batendo com tanta força por baixo das costelas que cada batida parecia um soco. Imaginou que a audiência duraria muito mais que isso. Não tinha certeza se tinha causado uma boa impressão. Realmente não tinha muito que dizer. Devia ter explicado mais sobre os dementadores, sobre como ele tinha caído, sobre como ele e Duda tinham quase sido beijados pelos dementadores...

 

Duas vezes olhou Fudge e abriu sua boca para falar mas seu coração agora estava diminuindo suas passagens de ar e ambas vezes ele simplesmente respirou profundamente e olhou novamente para seus sapatos.

 

Então os cochichos pararam. Harry queria olhar os juizes mas percebeu que era realmente muito, muito fácil ficar examinando seus cadarços.

 

- Aqueles que são a favor de retirar as acusações? - disse a voz rouca de Madame Bones.

 

A cabeça de Harry se ergueu num solavanco. Haviam mãos erguidas, muitas delas... Mais da metade! Respirando muito rápido, ele tentou contar mas antes que pudesse terminar Madame Bones disse.

 

- E aqueles em favor da acusação?

 

Fudge levantou sua mão e mais ou menos meia dúzia de outros, incluindo a bruxa à sua direita, o bruxo de bigode e a bruxa de cabelo frisado na segunda fila.

 

Fudge olhou em volta para todos eles, como se houvesse alguma coisa entalada em sua garganta, então abaixou sua mão. Ele respirou profundamente duas vezes e disse, numa voz distorcida por uma fúria reprimida.

 

- Muito bem, muito bem... Todas as acusações estão retiradas.

 

- Excelente - disse Dumbledore rapidamente, mostrando os seus sentimentos, puxou sua varinha e vez as duas poltronas sumirem. - Bem, eu preciso ir. Tenham um bom dia todos vocês.

 

E sem olhar para Harry, ele saiu da masmorra.

 

 

OS MEDOS DA SRA. WEASLEY

A partida de Dumbledore pegou Harry de surpresa. Ele permaneceu sentado onde estava, brigando com seus sentimentos de choque e alívio. Os componentes do Tribunal estavam todos se levantando, conversando, pegando seus documentos e os guardando. Harry se levantou. Ninguém parecia prestar atenção nele à exceção da bruxa com aparência de sapo, que estava à direita de Fudge, e que agora olhava para ele ao invés de Dumbledore. Ignorando-a, tentou olhar Fudge ou Madame Bones, querendo saber se estava livre para ir, mas este parecia estar determinado em não o olhar e Madame Bones estava ocupada com sua maleta, então ele fez menção de sair e como ninguém o chamou começou a andar mais rápido.

 

Ele fez os últimos passos correndo, forçou a porta e quase colidiu com o Sr. Weasley, que estava esperando do lado de fora, parecendo pálido e apreensivo.

 

- Dumbledore não falou...

 

- Inocente - Harry disse, fechando a porta atrás de si. - De todas as acusações!

 

O Sr. Weasley agarrou Harry pelos ombros.

 

- Harry, é maravilhoso! Bem, claro, eles não encontraram nenhuma culpa em você, nem evidências, mas mesmo assim, não posso fingir que eu estava...

 

Mas o Sr. Weasley parou, porque a porta da corte se abriu novamente. Os componentes do Tribunal estavam saindo.

 

- Pelas barbas de Merlin! - exclamou o Sr. Weasley, puxando Harry para deixá-los passar. - Você estava sendo julgado pela alta corte?

 

- Acho que sim - disse Harry baixinho.

 

Um ou dois bruxos acenaram para Harry enquanto passavam e uns poucos, incluindo Madame Bones, disseram "Bom Dia, Arthur" ao Sr. Weasley, mas a maioria ignorou seus olhos. Cornélio Fudge e a bruxa com cara de sapo foram uns dos últimos a sair da masmorra. Fudge agiu como se o Sr. Weasley e Harry fossem parte da parede mas, novamente, a bruxa olhou bem para Harry, avaliando-o enquanto passava. O último a deixar a masmorra foi Percy. Como Fudge, ele ignorou completamente o Sr. Weasley e Harry; seguiu enrolando um grande pergaminho e a mão cheia de penas para escrever, suas costas rijas e o nariz empinado. Linhas apareceram no lugar da boca do Sr. Weasley, tal a força que ele a apertava seus lábios, mas, além disso, ele não deu nenhum sinal de que havia visto seu terceiro filho.

 

- Vou levá-lo de volta de forma que eu possa contar aos outros as boas notícias - disse ele, guiando Harry à frente assim que os calcanhares de Percy desapareceram nas escadas que levavam ao nono andar. - Eu o deixarei lá no caminho para aquele banheiro em Bethnal Green. Vamos...

 

- Então, o que você fará sobre o banheiro? - perguntou Harry sorrindo.

 

De repente tudo parecia ser cinco vezes mais engraçado que o normal. Ele estava livre. Estava voltando para Hogwarts.

 

- Oh, é apenas um contra feitiço bem simples - disse o Sr. Weasley enquanto chegavam às escadas. - Mas o problema não é ter que consertar os danos. É mais a atitude por trás do vandalismo, Harry. Brincar com os trouxas pode divertir alguns bruxos mas há a impressão de algo mais profundo e sujo, e eu, por exemplo..

 

O Sr. Weasley parou no meio da frase. Eles alcançaram o nono andar e Cornélio Fudge estava parado a alguma distância deles, falando baixinho com um homem alto com um cabelo loiro escorrido e um rosto pálido.

 

O segundo homem olhou para eles ao ouvir o som de seus passos. Ele, também, parou no meio da conversa, seus olhos cinzentos brilhando e fixos no rosto de Harry.

 

- Bem, bem, bem... Patrono Potter... - disse Lúcio Malfoy friamente.

 

Harry se sentiu atordoado, como se tivesse batido contra algo sólido. A última vez que vira esses frios olhos cinzentos fora através de uma máscara, numa reunião de Comensais da Morte, e ouviu aquela voz gargalhando em um cemitério escuro enquanto Lord Voldemort o torturava. Harry não podia acreditar como Lúcio Malfoy ousava olhá-lo no rosto; não podia acreditar que ele estava ali, no Ministério da Magia, ou que Cornélio Fudge estava falando com ele, quando Harry tinha contado ao Ministro há apenas algumas semanas que Malfoy era um Comensal da Morte.

 

- O ministro estava me contando sobre sua sorte em escapar, Potter - disse o Sr. Malfoy. - É estranho como você continua entrando em buracos tão apertados... Como uma cobra, realmente.

 

O Sr. Weasley apertou o ombro de Harry em aviso.

 

- Sim - disse Harry -. sim, Eu sou bom em escapar.

 

Lúcio Malfoy levou seus olhos para o rosto do Sr. Weasley.

 

- E Arthur Weasley também! O que faz aqui, Arthur?

 

- Eu trabalho aqui.

 

- Não aqui, certamente? - disse o Sr. Malfoy, levantando suas sobrancelhas e mirando a porta atrás do ombro do Sr. Weasley. - Eu pensava que você ficava no segundo andar... Você não faz algo que envolve em pegar artefatos dos trouxas e enfeitiçá-los?

 

- Não - disse o Sr. Weasley, seus dedos agora beliscando o ombro de Harry.

 

- O que você faz aqui? - perguntou Harry a Lúcio Malfoy.

 

- Não acho que assuntos pessoais entre mim e o Ministro sejam de sua conta, Potter - disse Malfoy, fechando a frente de suas vestes. Harry escutou um som que parecia uma sacola cheia de ouro. - Realmente, apenas porque você é garoto favorito de Dumbledore não deve esperar a mesma indulgência do resto de nós... Podemos ir para o seu escritório então, Ministro?

 

- Certamente - disse Fudge, virando suas costas para Harry e o Sr. Weasley. - Por aqui, Lúcio.

 

Eles saíram juntos, conversando baixo. O Sr. Weasley não largou o ombro de Harry até desaparecerem no elevador.

 

- Por que ele não ficou esperando fora do escritório de Fudge se tinham assuntos juntos? - disse Harry, enfurecendo-se. - O que ele estava fazendo aqui embaixo?

 

- Tentando entrar na corte, se quer saber - disse o Sr. Weasley, parecendo extremamente agitado e olhando por cima do ombro para se certificar que de não estavam sendo ouvidos. - Tentando saber se você seria expulso ou não. Vou deixar um bilhete para Dumbledore quando for lhe deixar. Ele precisa saber que Malfoy está falando com Fudge novamente.

 

- Que tipo de negócio eles têm juntos?

 

- Ouro, eu imagino - disse o Sr. Weasley zangado. - Malfoy tem sido generoso em muitas coisas por muitos anos... Juntando-se às pessoas certas... Então ele pode pedir favores... Atrasar leis que não quer aprovadas... Lúcio Malfoy é muito bem relacionado.

 

O elevador chegou; estava vazio à exceção de vários memorandos que flutuavam a redor da cabeça do Sr. Weasley, enquanto ele pressionava o botão para a entrada do edifício e as portas se fecharam. Ele os afastou, irritado.

 

- Sr. Weasley... - disse Harry lentamente - Se Fudge está se encontrando com um Comensal da Morte como Malfoy, se ele está o vendo sozinho, como saberemos que ele não está sob o controle da Maldição Imperius?

 

- Não acho que isso tenha nos ocorrido, Harry. Mas Dumbledore acha que Fudge está agindo por ele mesmo no momento... Que, como Dumbledore disse, não é nenhum conforto. Melhor não falar nada por enquanto, Harry.

 

As portas deslizaram e saíram para o agora deserto salão de entrada. Eric, o segurança, estava escondido por trás do Profeta Diário novamente. Eles já estavam passando pela fonte dourada antes de Harry se lembrar.

 

- Espere... - disse ele para o Sr. Weasley e, puxando sua bolsa de dinheiro do bolso, virou para a fonte.

 

Olhou na bela face do bruxo, mas de perto ele parecia realmente fraco e tolo. A bruxa estava com um sorriso insulso como se fosse uma concorrente de um concurso de beleza e, pelo que Harry sabia sobre duendes e centauros, eles eram dificilmente pegos olhando daquela forma para humanos. Apenas a atitude do elfo-doméstico parecia convincente. Sorrindo ao pensar o que Hermione diria se ela visse a estátua, Harry virou a sua sacola e não só a esvaziou dos galeões mas de tudo o que havia nela dentro da fonte.

 

- Eu sabia! - gritou enquanto socava o ar. - Você sempre consegue sair de enrascadas!

 

- Eles tinham que lhe absolver - disse Hermione, que parecia positivamente que ia desmaiar de ansiedade quando Harry entrou na cozinha e estava agora segurando uma mão trêmula sobre seus olhos. - Não havia nada contra você. Não mesmo.

 

- Todos parecem aliviados, acho, considerando que todos vocês sabiam que eu estaria bem - disse Harry, sorrindo.

 

A Sra. Weasley estava limpando seu rosto no seu avental e Fred, Jorge e Gina estavam fazendo algum tio de dança de guerra com uma canção que dizia: "Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...".

 

- Já basta! Parem! - gritou o Sr. Weasley, mesmo que ele estivesse sorrindo. - Escute, Sirius, Lúcio Malfoy estava no Ministério...

 

- O quê? - disse Sirius rapidamente.

 

- Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...

 

- Quietos vocês três! Sim, nós o vimos falando com Fudge no nono andar, então eles foram para o escritório de Fudge juntos. Dumbledore precisa saber.

 

- Absolutamente - disse Sirius. - Nós contaremos a ele, não se preocupe.

 

- Bem, é melhor eu ir. Tem um banheiro que vomita esperando por mim em Bethnal Green. Molly, eu chegarei tarde. Tonks está me cobrindo mas Kingsley pode aparecer para jantar...

 

- Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...

 

- Basta! Fred, Jorge, Gina! - disse Sra. Weasley enquanto o Sr. Weasley deixava a cozinha. - Harry, querido, venha e se sente para almoçar. Você não comeu quase nada no café.

 

Rony e Hermione sentaram à frente dele, parecendo muito mais felizes do que estavam desde que Harry chegou a Grimmauld Place, e Harry se sentia aliviado. A casa sombria de repente parecia mais acolhedora e mais convidativa; mesmo Kreacher parecia menos feio quando botou seu nariz na cozinha para investigar a fonte de tanto barulho.

 

- Claro, assim que Dumbledore ficou do seu lado não havia nenhuma forma de deles lhe acusarem - disse Rony feliz, agora servindo enormes quantidades de batata nos pratos de todos.

 

- Sim, ele foi por mim - disse Harry. Sentiu que soaria muito ingrato ou mesmo criancice dizer "Eu queria que ele tivesse falado comigo, ou mesmo olhado pra mim". Enquanto pensava nisso, sua cicatriz doeu muito e ele pôs a mão sobre ela.

 

- O que é? - disse Hermione, parecendo alarmada.

 

- A cicatriz - cochichou Harry. - Mas não é nada... Tem acontecido todo o tempo...

 

Ninguém mais notou; todos estavam agora comendo satisfeitos devido ao resultado do julgamento de Harry; Fred, Jorge e Gina ainda estavam cantando. Hermione parecia ansiosa mas antes que pudesse dizer alguma coisa Rony disse alegremente.

 

- Eu aposto que Dumbledore aparecerá esta noite para celebrar conosco.

 

- Eu não acho que ele possa, Rony - disse a Sra. Weasley, colocando um grande prato de galinha cozida na frente de Harry. - Ele está muito ocupado no momento.

 

- Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...

 

- CALEM-SE! - urrou a Sra. Weasley.

 

Nos dias seguintes Harry não deixou de notar que havia uma pessoa no número 12 da Grimmauld Place que não parecia estar completamente satisfeito com o retorno de Harry para Hogwarts. Sirius demonstrou uma grande alegria quando soube da audiência, apertando a mão de Harry, parecendo satisfeito como todos os outros. Logo, porém, ele pareceu mais soturno e calado que antes, falando pouco com todos, mesmo com Harry, e passando mais e mais tempo com Bicuço.

 

- Não se sinta culpado! - disse Hermione, depois que Harry confidenciou alguns de seus sentimentos a ela e Rony enquanto esfregavam um armário mofado no terceiro andar alguns dias depois. - Você pertence a Hogwarts e Sirius sabe disso. Pessoalmente eu acho que ele está sendo egoísta.

 

- Isso foi um pouco grosso, Hermione - disse Rony, franzindo as sobrancelhas enquanto tentava remover um pouco de mofo que se prendeu firmemente ao seu dedo. - Você não iria querer ficar trancada nesta casa sem nenhuma companhia.

 

- Ele terá companhia! - disse Hermione. - Este é o Quartel-General da Ordem da Fênix, não é? Ele estava é com esperanças que Harry viesse viver aqui com ele.

 

- Não acho que seja isso - disse Harry. - Ele não me deu nenhuma resposta direta quando eu perguntei se podia vir.

 

- Ele apenas não quer mais perder suas esperanças - disse Hermione. - E ele provavelmente se sente um pouco culpado porque eu penso que uma parte dele queria que você fosse expulso. Então ambos seriam desgraçados.

 

- Deixe disso! - disseram Harry e Rony juntos, mas Hermione meramente deu de ombros.

 

- Achem o que quiser. Mas às vezes eu penso que a mãe de Rony está certa e que Sirius está confuso sobre quem é você e que era seu pai, Harry.

 

- Então você acha que ele está maluco? - disse Harry irado.

 

- Não. Eu apenas acho que esteve muito sozinho por muito tempo - disse Hermione simplesmente.

 

Nesse momento a Sra. Weasley entrou no quarto.

 

- Ainda não terminaram? - disse, colocando sua cabeça dentro do armário.

 

- Eu pensei que você veio aqui para nos dar um descanso! - disse Rony amargo. - Você sabe quanto mofo nós já tiramos desde que chegamos aqui?

 

- Vocês estão aqui para ajudar a Ordem - disse a Sra. Weasley. - O mínimo que vocês podem fazer é deixar o Quartel-General habitável.

 

- Eu me sinto como um elfo-doméstico - lamentou Rony.

 

- Bem, agora que você entende o quão horrível é a vida que eles levam, talvez você fique um pouco mais ativo no F.A.L.E.! - disse Hermione satisfeita, quando a Sra. Weasley os deixou. - Sabe, talvez não seja uma má idéia mostrar às pessoas exatamente como é horrível ter que limpar tudo todo o tempo. Nós podíamos preparar uma limpeza na sala comunal da Grifinória, patrocinada pelo F.A.L.E., aumentando a consciência como também as arrecadações.

 

- Eu vou patrocinar você para de falar sobre F.A.L.E. - Rony resmungou irritado, mas apenas Harry o ouviu.

 

Harry se achou sonhando com Hogwarts mais e mais enquanto o fim das férias se aproximava. Ele mal podia esperar para ver Hagrid novamente, jogar quadribol, mesmo andar pelas hortas a caminho da aula de Herbologia; seria um alívio deixar aquela casa poeirenta e mofada, onde metade dos armários ainda estava fechada e Kreacher jogava insultos quando você passava, porém Harry tinha cuidado para não dizer nada disso enquanto Sirius estivesse ouvindo.

 

O fato é que a vida no Quartel-General do movimento Anti-Voldemort não era tão interessante quanto ele pensou. Membros da Ordem da Fênix iam e vinham regularmente, algumas vezes ficavam para as refeições, algumas vezes só alguns minutos de conversação, a Sra. Weasley tendo certeza de que eles não estavam ouvindo nada (sejam com ouvidos normais ou com os Extensíveis) e ninguém, nem mesmo Sirius, parecia sentir que Harry precisava saber de algo mais do que apenas o que ouvira na noite de sua chegada.

 

No último dia das férias Harry estava limpando as fezes de Edwiges de cima do guarda-roupa quando Rony entrou no quarto carregando alguns envelopes.

 

- A lista de livros chegou - disse, atirando um dos envelopes para Harry. - Já não era sem tempo. Pensei que eles tinham esquecido, pois normalmente chegam bem antes disso...

 

Harry jogou o resto das fezes em um saco de lixo e jogou a sacola por cima da cabeça de Rony dentro de uma cesta de lixo no canto do quarto. Ele então abriu sua carta, que continha dois pedaços de pergaminho: um com a mesma mensagem dizendo que o período escolar começaria no dia primeiro de setembro; o outro com a lista de livros que ele precisaria.

 

- Apenas dois - disse, lendo a lista. - O Livro Básico de Feitiços, quinta série, por Miranda Goshawk, e Teoria da Magia Defensiva, por Wilbert Slinkhard.

 

Crack.

 

Fred e Jorge aparataram bem ao lado de Harry. Estava tão acostumado com eles fazendo isso que nem mesmo desceu da cadeira.

 

- Estávamos perguntando quem pediu o livro de Slinkhard - disse Fred.

 

- Porque quer dizer que Dumbledore encontrou um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas - disse Jorge.

 

- E já não era sem tempo - disse Fred.

 

- O que quer dizer? - perguntou Harry, pulando da cadeira.

 

- Bem, nós escutamos papai e mamãe conversando com os Ouvidos Extensíveis há algumas semanas atrás - Fred disse a Harry - e pelos que estavam dizendo Dumbledore estava tendo muito trabalho para encontrar alguém para assumir o trabalho este ano.

 

- Não é surpresa, quando você olha o que aconteceu com os últimos quatro. - disse Jorge.

 

- Um expulso, um morto, um com a memória apagada e um trancado num malão por nove meses - disse Harry, contando-os nos dedos. - Sim. Eu sei o que quer dizer.

 

- O que há com você, Rony? - perguntou Fred.

 

Rony não respondeu. Harry o olhou. Rony estava parado, com sua boca meio aberta, mirando sua carta de Hogwarts.

 

- O que é? - disse Fred impaciente, indo para trás de Rony para olhar por cima de seu ombro o que estava escrito no pergaminho.

 

O queixo de Fred caiu também.

 

- Monitor? - disse, olhando a carta, incrédulo. - Monitor?

 

Jorge correu e pegou o envelope da mão do irmão e o virou de cabeça para baixo. Harry viu algo vermelho e dourado cair na palma da mão de Jorge.

 

- Não mesmo! - disse Jorge numa voz não muito calma.

 

- Deve haver algum engano - disse Fred, pegando a carta de Rony, segurando-a contra a luz, como se estivesse checando a marca d'água. - Ninguém com a cabeça no lugar faria Rony um monitor.

 

Os gêmeos viraram a cabeça para Harry ao mesmo tempo e pararam.

 

- Nós pensamos que você seria o monitor! - disse Fred, num tom que fazia parecer que Harry os havia enganado.

 

- Pensamos que Dumbledore iria escolher você! - disse Jorge indignado.

 

- Vencendo o Torneio Tribruxo e tudo o mais! - disse Fred.

 

- Eu suponho que todas as loucuras que fez pesaram contra ele - disse Jorge para Fred.

 

- É - disse Fred vagarosamente. - É, você causou muito problema, cara. Bem, pelo menos um de vocês tem as prioridades certas.

 

Ele andou até Harry e deu tapinhas nas suas costas enquanto olhava atravessado para Rony.

 

- Monitor... Roninho, o monitor.

 

- Oh, mamãe vai ficar revoltada - gemeu Jorge, jogando a insígnia de monitor para Rony, como se ela pudesse contaminá-lo.

 

Rony, que ainda não havia dito nada, pegou a insígnia e olhou por um momento, mostrou-a para Harry como se perguntando se era genuína. Harry a pegou. Um grande "M" estava sobreposto sobre o leão da Grifinória. Ele havia visto uma insígnia como esta anteriormente no peito de Percy, no seu primeiro dia em Hogwarts.

 

A porta abriu com um estrondo. Hermione veio chorando, suas bochechas vermelhas e seus cabelos esvoaçando. Havia um envelope na sua mão.

 

- Você... Você recebeu...?

 

Ela mirou a insígnia na mão de Harry e deixou escapar um gritinho.

 

- Eu sabia! - disse ela excitada, mostrando sua carta. - Eu também, Harry, eu também!

 

- Não - disse Harry rapidamente, entregando a insígnia para Rony. - Foi Rony, não eu.

 

- Foi... O quê?

 

- Rony é o monitor, não eu.

 

- Rony? - disse Hermione, seu queixo caindo. - Mas... Tem certeza? Digo...

 

Ela ficou vermelha quando Rony a olhou com uma expressão desafiadora.

 

- É meu nome na carta - disse.

 

- Eu... - disse Hermione, parecendo muito confusa. - Eu... Bem... Uau! Muito bem, Rony! É realmente...

 

- Inesperado - disse Jorge, concordando.

 

- Não - disse Hermione, ficando ainda mais vermelha que nunca. - Não é não... Rony fez muitas... Ele realmente é...

 

A porta abriu atrás dela e a Sra. Weasley entrou carregando uma pilha de vestes recém lavadas.

 

- Gina disse que as listas com os livros chegaram finalmente - disse ela, olhando para os envelopes enquanto seguia para a cama e começava a separar as vestes em duas pilhas. - Se me derem as listas eu as levarei ao Beco Diagonal esta tarde e pegarei os livros enquanto vocês terminam de preparar as malas. Rony, eu pegarei mais pijamas para você. Estes já estão ficando curtos. Não posso acreditar o quão rápido você está crescendo... Qual a cor que você gosta?

 

- Pegue algum dourado e vermelho, para combinar com a insígnia dele - disse Jorge, sorrindo falsamente.

 

- Combinar com o quê? - disse Sra. Weasley, ainda enrolando um par de meias marrons e as colocando na pilha de Rony.

 

- A insígnia dele - disse Fred, com um ar de que estava ficando pior a cada momento. - A adorável e brilhante insígnia de monitor dele.

 

As palavras de Fred demoraram a penetrar a preocupação da Sra. Weasley com os pijamas.

 

- Dele... Mas... Rony, você não...?

 

Rony mostrou a insígnia. A Sra. Weasley deixou sair um gritinho como Hermione.

 

- Eu não acredito! Eu não acredito! Oh, Rony, é maravilhoso! Um monitor! Como todos na família!

 

- O que somos Fred e eu, vizinhos? - disse Jorge, indignado, enquanto sua mãe o afastou para o lado e apertou os braços ao redor de seu filho mais novo.

 

- Espere até o seu pai saber! Rony, eu estou tão orgulhosa de você! Que ótimas notícias! Você pode ser um monitor-chefe como Gui e Percy, é só o primeiro passo! Oh, que coisa boa no meio de toda essa preocupação, eu estou tremendo, oh, Roninho...

 

Fred e Jorge estavam ambos fazendo barulhos estranhos por trás da Sra. Weasley, mas ela não percebeu; seus braços abraçando Rony pelo pescoço enquanto beijava todo o rosto dele, que se tornou mais vermelho que a insígnia.

 

- Mãe... Não... Mãe me solte... - ele gemeu, tentando afastá-la.

 

Ela o soltou e disse sem respirar:

 

- Bem, o que vai ser? Nós demos a Percy uma coruja, mas você já tem uma, é claro.

 

- O-o que quer dizer? - disse Rony, olhando como se não acreditasse no que havia ouvido.

 

- Você tem que ser recompensado por isso! - disse Sra. Weasley. - Que tal um novo jogo de vestes de gala?

 

- Nós já compramos isso pra ele - disse Fred, que parecia arrependido por sua generosidade.

 

- Ou um novo caldeirão. O velho caldeirão de Carlinhos está bem enferrujado, ou talvez um novo rato, como o Perebas...

 

- Mãe - disse Rony cheio de esperanças. - Posso ter uma nova vassoura?

 

O rosto Sra. Weasley mudou; vassouras eram bem caras.

 

- Não uma muito boa! - Rony disse rapidamente. - Apenas... Uma nova, para trocar...

 

A Sra. Weasley hesitou, e então sorriu.

 

- É claro que sim... Bem, é melhor eu ir indo se eu tenho que comprar uma vassoura pra você... Vejo vocês mais tarde... O pequeno Roninho, um monitor... Oh, estou tão excitada!

 

Ela beijou sua bochecha novamente, fungou alto e saiu do quarto. Fred e Jorge trocaram olhares.

 

- Você não se importa se não lhe beijarmos, não é Rony? - disse Fred em uma vozinha falsa.

 

- Nós podíamos lhe reverenciar, se você quiser - disse Jorge.

 

- Ah, calem-se! - disse Rony, com raiva.

 

- Ou o quê? - disse Fred, com uma risadinha. - Nos colocará em detenção?

 

- Eu adoraria vê-lo tentar - disse Jorge sorrindo.

 

- Ele poderia se vocês não tomarem cuidado! - disse Hermione com raiva.

 

Fred e Jorge saíram gargalhando e Rony falou baixinho:

 

- Esquece, Hermione.

 

- Nós temos que ter cuidado, Jorge - disse Fred, fingindo tremer. - Com esses dois atrás de nós...

 

- É, parece que nossos dias de quebradores de regras estão finalmente terminados - disse Jorge, balançando a cabeça.

 

E com outro estampido alto, os gêmeos desaparataram.

 

- Esses dois! - disse Hermione furiosa, mirando o teto, pelo qual se podia ouvir as gargalhadas de Fred e Jorge no quarto acima. - Não dê atenção a eles, Rony, eles estão apenas com inveja!

 

- Eu não acho que estão - disse Rony cheio de dúvidas, também olhando para o teto. - Eles sempre disseram que apenas burros se tornam monitores... Porém... - disse com um som realmente feliz. - Eles nunca tiveram vassouras novas! Eu adoraria ir com a mamãe e escolher... Ela nunca compraria uma Nimbus, mas tem uma nova Cleansweep, que seria ótima... É, eu acho que vou dizer a ela que eu gosto da Cleansweep, então ela saberá...

 

Ele correu da sala, deixando Harry e Hermione sozinhos. Por alguma razão, Harry percebeu que não queria olhar Hermione. Ele virou para sua cama e pegou a pilha de vestes que a Sra. Weasley tinha deixado e foi caminhado para o seu malão.

 

- Harry? - disse Hermione.

 

- Muito bem, Hermione - disse Harry, tão baixo que não pareceu sua voz realmente e, ainda não olhando para ela. - Brilhante. Monitor. Grande.

 

- Obrigada - disse Hermione. - Ah... Harry... Posso pegar a Edwiges emprestada? Para poder contar a mamãe e papai? Eles ficariam realmente satisfeitos... Digo, monitor é algo que eles podem entender.

 

- Claro, sem problema - disse Harry, ainda com aquela voz estranha que não parecia ser a dele. - Pode pegá-la!

 

Ele ficou mexendo no seu malão, colocando as roupas no fundo, fingindo estar procurando algo enquanto Hermione se dirigia ao armário e chamava Edwiges. Alguns momentos depois, Harry escutou a porta se fechar mas se manteve curvado sobre o malão, escutando; os únicos sons que podia ouvir eram a foto vazia na parede e o cesto de lixo que tossia devido às fezes de coruja.

 

Ele se levantou e olhou para trás. Hermione tinha saído e Edwiges já fora. Harry correu atravessando o quarto sala, fechou a porta, então retornou vagarosamente para sua cama e afundou nela, olhando para o pé do guarda-roupas sem muita atenção.

 

Esqueceu completamente que os monitores eram escolhidos no quinto ano. Estivera tão ansioso com a possibilidade de ser expulso que o fato de possuir aquelas insígnias pode guiar seus caminhos através de certas pessoas. Mas se ele tivesse lembrado... Se tivesse pensado sobre isso... O que esperaria?

 

"Não isso", disse uma vozinha dentro de sua cabeça.

 

Harry girou a cabeça e apoiou sobre as mãos. Ele não podia mentir para si mesmo; se soubesse que a insígnia seria entregue, esperaria que fosse a ele, não Rony. Isso o fazia tão arrogante quanto Draco Malfoy? Pensava que era superior a todos os outros? Realmente acreditava que era melhor que Rony?

 

"Não", disse a vozinha audaciosa.

 

Aquilo era verdade? Harry pensou, ansiosamente testando seus sentimentos.

 

"Eu sou melhor no quadribol", disse a voz. "Mas não sou melhor em nada mais."

 

Isso era realmente verdade, Harry pensou; ele não era melhor que Rony nas lições. Mas e sobre as lições práticas? E sobre as aventuras que ele, Rony e Hermione tinham participado juntos desde que entraram em Hogwarts, sempre correndo um risco pior que a expulsão?

 

Bem, Rony e Hermione estavam com ele a maior parte do tempo, disse a voz dentro da cabeça de Harry.

 

"Não sempre", pensou Harry argumentando a si mesmo. "Eles não lutaram comigo. Eles não derrotaram Riddle e o basilisco. Eles não acabaram com todos aqueles dementadores na noite que Sirius escapou. Eles não estavam naquele cemitério comigo na noite que Voldemort retornou..." E o mesmo sentimento que teve na noite em que chegou retornou a sua cabeça. "Eu definitivamente fiz mais", pensou Harry, indignado. "Eu fiz mais que qualquer deles!"

 

"Mas talvez...", disse a vozinha, "Talvez Dumbledore não escolha monitores porque entraram em situações perigosas... Talvez os escolha por outras razões... Rony teve ter algo que você não...".

 

Harry abriu seus olhos e fitou seus dedos, olhou através deles para o guarda roupas, lembrando o que Fred disse: "Ninguém com a cabeça no lugar faria Rony um monitor...".

 

Deu um pequeno riso. Um segundo depois se sentiu enojado com ele mesmo. Rony não tinha pedido a Dumbledore para receber a insígnia de monitor. Não era culpa de Rony. Ele era, Harry, o melhor amigo de Rony no mundo, chateado porque ele não tinha uma insígnia, rindo com os irmãos de Rony por suas costas, quando Rony pela primeira vez tinha batido Harry em algo?

 

Nesse momento escutou os passos de Rony. Ele se levantou, arrumou os seus óculos e fez um sorriso assim que Rony entrou pela porta.

 

- Consegui pegá-la! - disse feliz. - Ela disse que vai pegar a Cleansweep se puder.

 

- Legal - disse Harry, e ele estava feliz que sua a voz tinha parado de soar triste. - Escute... Rony... Muito bem, cara.

 

O sorriso sumiu do rosto de Rony.

 

- Nunca pensei que seria eu! '- disse, balançando a cabeça. - Eu pensei que seria você!

 

- Não, eu causei muitos problemas - disse Harry, parecendo Fred.

 

- É - disse Rony. - É, eu suponho... Bem, devemos preparar nossos malões, não?

 

Era incrível como seus pertences haviam se espalhado desde que chegaram. Eles precisaram de toda a tarde para pegar livros e pertences por toda a casa e colocá-los de volta nos malões. Harry percebeu que Rony sempre levava sua insígnia para onde iam. Primeiro colocou na mesa de cabeceira. Depois a colocava no bolso do jeans, depois colocava no malão por cima das vestes, para ver o contraste entre elas e o dourado e vermelho da insígnia. Somente quando Fred e Jorge apareceram e se ofereceram para pregar a insígnia na sua testa com um feitiço de Cola Permanente ele a colocou num par de meias marrons e fechou seu malão.

 

A Sra. Weasley retornou do Beco Diagonal perto das seis horas, carregando pilhas de livros e um longo pacote embrulhado que Rony recebeu de sua mãe com um longo lamento.

 

- Nem pense em abrir agora. Teremos algumas pessoas para o jantar e eu quero que todos desçam - disse, mas no momento que ela esta longe da vista Rony rasgou o papel como um louco e examinou cada centímetro de sua nova vassoura, uma expressão de êxtase no rosto.

 

No porão, a Sra. Weasley tinha pendurado uma faixa que dizia:

 

"PARABÉNS

 

RONY E HERMIONE

 

NOVOS MONITORES"

 

Ela parecia que estava com um humor melhor do quer estivera durante todo o feriado.

 

- Eu pensei que teríamos uma pequena festa, não um jantar - disse ela a Harry, Rony, Hermione, Fred, Jorge e Gina enquanto entravam na sala. - Seu pai e Gui estão a caminho, Rony. Mandei corujas aos dois e eles estão tremendo de felicidade! - completou ela.

 

Fred girou os olhos. Sirius, Lupin, Tonks e Kingsley Shacklebolt já estavam lá e Olho-Tonto Moody entrou assim que Harry foi pegar uma cerveja amanteigada.

 

- Oh, Alastor, estou feliz que esteja aqui - disse a Sra. Weasley, enquanto Olho-Tonto retirava sua capa. - Esperamos você há eras... Poderia dar uma olhada na escrivaninha e nos dizer o que está lá dentro? Não quisemos abrir no caso de ser algo realmente asqueroso.

 

- Sem problema, Molly...

 

O olho azul elétrico de Moody virou para frente, parou fixo no teto da cozinha.

 

- Sala de visitas... - murmurou, enquanto sua pupila se contraía. - Mesa do canto? É, eu vejo... É... É um Bicho-Papão... Quer que eu vá lá e o retire, Molly?

 

- Não, não, eu farei isso mais tarde - sorriu a Sra. Weasley. - Tome uma bebida. Estamos comemorando algo... - ela apontou para a faixa vermelha. - O quarto monitor na família! - disse, acariciando o cabelo de Rony.

 

- Monitor, hein? - murmurou Moody, seu olho normal em Rony e seu olho mágico girando para o lado de sua cabeça.

 

Harry teve um sentimento muito desconfortável de que estava olhando para ele e se movendo para Sirius e Lupin.

 

- Bem, parabéns - disse Moody, ainda olhando Rony com seu olho normal. - Figuras de autoridade sempre atraem problemas, mas suponho que Dumbledore acha que você pode cuidar da maioria dos feitiços ou não indicaria você.

 

Rony pareceu bem assustado com esse ponto de vista, mas foi salvo de responder pela chegada de seu pai e de seu irmão mais velho. A Sra. Weasley estava em tão bom humor que nem se preocupou que eles tinham trazido Mundungo; ele estava usando um longo sobretudo que parecia muito molhado em vários lugares, recusou ajuda para tirá-lo e o colocou junto ao casaco de Moody.

 

- Bem, eu penso que devemos fazer um brinde - disse o Sr. Weasley, quando todos tinham suas bebidas. Ele levantou seu cálice: - A Rony e Hermione, os novos monitores da Grifinória!

 

Rony e Hermione viram todos beberem à sua saúde e então aplaudirem.

 

- Eu nunca fui monitora - disse Tonks por trás de Harry enquanto todos se dirigiam à mesa para pegarem alguma comida. Seu cabelo estava vermelho-tomate e hoje tocava a cintura; ela parecia uma irmã mais velha de Gina. - A minha diretora dizia que me faltavam certas qualidades.

 

- Como o quê? - disse Gina, que pegava um tomate defumado.

 

- Como a habilidade de me controlar.

 

Gina riu; Hermione parecia que não sabia se sorria ou não e apenas tomou um gole de cerveja amanteigada e quase se engasgou.

 

- E você, Sirius? - Gina perguntou, batendo nas costas de Hermione.

 

Sirius, que estava ao lado de Harry, deu sua risada parecida com um latido.

 

- Ninguém me faria monitor. Eu gastei muito tempo em detenções com Tiago. Lupin era o bonzinho, ele conseguiu a insígnia.

 

- Eu acho que Dumbledore pensou que eu poderia exercer algum controle sobre meus melhores amigos - disse Lupin. - Eu devo dizer que eu falhei completamente.

 

O humor de Harry melhorou muito. Seu pai não tinha sido monitor também. Todos na festa pareciam muito mais agradáveis; ele encheu seu prato, sentindo-se duplamente satisfeito com todos na sala.

 

Rony estava falando sobre sua vassoura com todos que ouvissem.

 

- ...Zero a setenta em 10 segundos, nada mal hein? Quando você pensa na Comet 2-90 que ia apenas de zero a sessenta com uma queda na cauda de acordo com o "Qual Vassoura".

 

Hermione estava falando muito ardentemente com Lupin sobre a visão dela sobre o direito dos elfos.

 

- Digo, é a mesma coisa sem sentido como a segregação dos lobisomens, não? É tudo por causa dessa horrível coisa que os bruxos têm de acharem que são superiores às outras criaturas...

 

A Sra. Weasley e Gui estavam novamente conversando sobre o cabelo de Gui.

 

- ...Realmente demais, e você está com tão boa aparência, ele pareceria melhor se fosse um pouco mais curto, não é, Harry?

 

- Oh... Não sei... - disse Harry, levemente alarmado por perguntarem sua opinião; ele se afastou em direção ao Fred e Jorge, que estavam conversando num canto com Mundungo.

 

Mundungo parou de falar quando viu Harry mas Fred piscou e o chamou mais para perto.

 

- Tudo bem - disse para Mundungo. - Nós podemos confiar em Harry, ele é nosso financiador.

 

- Veja o que Dungo nos arranjou - disse Jorge, mostrando sua mão a Harry. Ela estava cheia do que pareciam sacolas pretas e murchas. Um barulho de pancadas leves vinha delas, mesmo que aparentemente estivessem totalmente paradas.

 

- Sementes de Tentácula Venenosa - disse Jorge. - Nós precisamos delas para os Petiscos de Cócegas, mas eles são uma Substância Não-comerciável classe C, então nós tivemos algum problema em conseguí-las.

 

- Dez Galeões o lote, então Dungo? - disse Fred.

 

- C`todo problema que tive em conseguí-las? - disse Mundungo, seus olhos vermelhos se alargando. - Me desculpem rapazes, mas eu não quero um nuque menos que vinte.

 

- Dungo gosta dessa piada - Fred disse a Harry.

 

- É, sua melhor piada foi seis sicles por uma sacola de Penas Knarl - disse Jorge.

 

- Tenham cuidado - Harry os avisou baixinho.

 

- O quê? - disse Fred. - Mamãe está ocupada adulando o monitor Rony, estamos OK.

 

- Mas Moody pode ficar com seu olho em você.

 

Mundungo olhou nervoso por cima do seu ombro.

 

- Bem lembrado - murmurou ele. - Certo, rapazes, dez então, se pegarem rápido.

 

- Saúde, Harry! - disse Fred satisfeito, quando Mundungo esvaziou os bolsos nas mãos dos gêmeos e correu para a comida. - É melhor levarmos isso pra cima...

 

Harry os viu indo, sentindo-se levemente preocupado. Ocorreu-lhe naquele momento que o Sr. e a Sra. Weasley iam querer saber como Fred e Jorge estavam financiando os negócios de sua loja de logros quando, inevitavelmente, soubessem. Dando aos gêmeos o seu prêmio do Torneio Tribruxo pareceu uma coisa simples de fazer naquele momento mas e se isso levasse a outra discussão familiar e uma situação como a de Percy? Iria a Sra. Weasley ainda sentir por Harry o mesmo bem se ela soubesse que ele tornou possível a Fred e Jorge iniciar a carreira que ela pensava não ser a ideal para eles?

 

Parado onde os gêmeos o haviam deixado, com nada mais do que o peso da culpa no seu estômago como companhia, Harry escutou o som do seu nome. A voz profunda de Kingsley Shacklebolts era audível nas conversas ao redor.

 

- ...Por que Dumbledore não nomeou Potter um monitor? - perguntou Kingsley.

 

- Ele deve ter tido suas razões - respondeu Lupin.

 

- Mas isso mostraria confiança nele. Seria o que eu faria - persistiu Kingsley. - Especialmente com Profeta Diário falando sobre ele todos os dias...

 

Harry não olhou ao redor; não queria que Lupin ou Kingsley soubesse que havia ouvido. Não totalmente com fome, seguiu Mundungo para trás da mesa. Seu prazer na festa se evaporou tão rápido como havia chegado; queria que estivesse lá em cima, na cama.

 

Olho-Tonto Moody estava cheirando uma coxa de galinha com o que restava de seu nariz; evidentemente não detectou nenhum traço de veneno, porque arrancou um pedaço com os dentes.

 

- ...O cabo feito de carvalho espanhol com Verniz Antifeitiço, e com controle de vibração interno... - Rony dizia para Tonks.

 

A Sra. Weasley bocejou largamente.

 

- Bem, eu acho que vou cuidar daquele Bicho-Papão antes de ir dormir... Arthur, eu não quero esse pessoal indo dormir muito tarde, certo? Noite, Harry, querido.'

 

Ela deixou a cozinha. Harry empurrou seu prato e imaginou como a poderia seguir sem chamar muita atenção.

 

- Está bem, Potter? - rosnou Moody.

 

- É, bem - mentiu Harry.

 

Moody tomou um gole de sua garrafa de bolso, seu olho azul elétrico encarando Harry de lado.

 

- Venha aqui, tenho algo que pode lhe interessar.

 

De um bolso interno de suas vestes Moody puxou uma fotografia de bruxo velha e esfarrapada.

 

- A Ordem do Fênix original - rosnou Moody. - Encontrei na última noite quando procurava minha Capa de Invisibilidade reserva, já que Podmore não teve a delicadeza de me devolver a minha melhor capa... Pensei que as pessoas gostariam de vê-la.

 

Harry pegou a fotografia. Uma pequena quantidade de pessoas, algumas acenando para ele, outros arrumando seus óculos, olhando de volta para ele.

 

- Este sou eu - disse Moody, desnecessariamente apontando para ele.

 

O Moody na foto era inconfundível, apesar de seu cabelo estar menos grisalho e seu nariz intacto.

 

- E aquele é Dumbledore do meu lado, Dédalo Diggle no outro lado... Esta é Marlene McKinnon, ela foi morta duas semanas depois que esta foto foi tirada, eles pegaram toda a sua família. Estes são Frank e Alice Longbottom...

 

O estômago de Harry, já desconfortável, apertou ainda mais enquanto olhava Alice Longbottom; conhecia aquele rosto redondo e amigável muito bem mesmo que não a tivesse encontrado antes, porque ela era a imagem de seu filho, Neville.

 

- ...Pobres diabos - rosnou Moody. - Melhor mortos do que o que aconteceu com eles... E esta é Emmeline Vance, você a encontrou antes, e ali está Lupin, obviamente... Benjy Fenwick, ele se foi também, nós encontramos apenas alguns pedaços... Mexa pro lado aqui - disse, empurrando a foto, e as pessoas se moveram de forma que os que estavam escondidos puderam se mover para frente. - Este é Edgar Bones... Irmão de Amélia Bones, eles o pegaram e a sua família também, ele era um grande bruxo... Sturgis Podmore, ele parece muito jovem... Caradoc Dearborn, desapareceu seis meses depois disso, nunca encontramos seu corpo... Hagrid, é claro, parece o mesmo de sempre... Elphias Doge, você o encontrou, eu esqueci que ele costumava usar esse chapéu estúpido... Gideon Prewett, foram precisos cinco Comensais de Morte para matá-lo e ao seu irmão, Fabian, eles lutaram como heróis... Movam-se, movam-se.

 

As pequenas pessoas tropeçaram neles mesmos e aqueles que estavam mais atrás apareceram na frente da foto.

 

- Aquele é o irmão de Dumbledore, Aberforth, essa foi a única vez que o vi, sujeito estranho... Aquela é Dorcas Meadowes, Voldemort a matou pessoalmente... Sirius, quando ainda tinha o cabelo curto... E aí vai, acho que isso vai lhe interessar!

 

O coração de Harry meio que virou. Sua mãe e seu pai sorriam para ele, sentados lado a lado de um homem que tinha os olhos cheios de lágrimas, que Harry reconheceu de imediato como sendo Rabicho, aquele que havia traído seus pais, dizendo a Voldemort onde estavam escondidos e então ajudando em sua morte.

 

- Eh? - disse Moody.

 

Harry olhou o rosto de Moody cheio de cicatrizes e buracos. Evidentemente estava com impressão de que havia dado um pouco de prazer a Harry.

 

- É - disse Harry, novamente tentando sorrir. - Er... Escute. Acabei de me lembra que eu ainda não empacotei minha...

 

Ele poupou o problema de inventar um objeto que não havia empacotado. Sirius disse:

 

- O que você têm aí, Olho-Tonto? - e Moody se virou para ele.

 

Harry cruzou a cozinha, escorregou pela porta e subiu a escada antes que alguém o chamasse. Ele não sabia por que tinha tido tal choque; já havia visto fotos de seus pais antes, além disso ele já havia encontrado Rabicho... Mas vê-los assim de súbito, sem estar esperando... Ninguém gostaria disso, pensou irado... E então vê-los junto com todos aqueles rostos felizes... Benjy Fenwick, que foi encontrado aos pedaços, e Gideon Prewett, que morreu como um herói, e os Longbottom, que foram torturados até enlouquecerem... Todos acenando felizes para sempre, não sabendo que estavam amaldiçoados... Bem, Moody podia achar isso interessante... Ele, Harry, achou isso perturbador...

 

Subiu as escadas nas pontas dos pés, passando pela sala com as cabeças empalhadas de elfos, feliz em estar sozinho novamente mas quando se aproximava do primeiro andar escutou ruídos. Alguém estava soluçando na sala de visitas.

 

- Olá? - disse Harry.

 

Não houve resposta mas os soluços continuavam. Subiu as escadas de dois em dois degraus e, chegando ao primeiro andar, abriu a porta da sala de visitas.

 

Alguém estava se encolhendo contra a parede escura, sua varinha na mão, todo o seu corpo tremendo e soluçando. Jogado no carpete empoeirado, em um raio de luar, claramente morto, estava Rony.

 

Todo o ar pareceu desaparecer dos pulmões de Harry; sentiu como se estivesse caindo no chão; seu cérebro ficou gelado... Rony morto, não, não podia ser.

 

Mas espere um momento. Não podia ser. Rony estava lá embaixo...

 

- Sra. Weasley? - Harry chamou.

 

- R-r-riddikulus! - a Sra. Weasley soluçou, apontando sua varinha trêmula para o corpo de Rony.

 

Crack.

 

O corpo de Rony se transformou no de Gui, virado de costas, seus olhos totalmente abertos e com expressão vazia. A Sra. Weasley soluçou mais que nunca.

 

- R-riddikulus! - soluçou novamente.

 

Crack.

 

O corpo do Sr. Weasley substituiu o de Gui, seus óculos torcidos, uma veio de sangue correndo por seu rosto.

 

- Não! - Sra. Weasley lamentou. - Não... Riddikulus! Riddikulus! RID-DIKULUS!

 

Crack. Os gêmeos mortos. Crack. Percy morto. Crack. Harry morto...

 

- Sra. Weasley, apenas saia daqui! - gritou Harry, encarando seu próprio corpo morto no chão. - Deixe outra pessoa...

 

- Que está havendo?

 

Lupin entrou correndo na sala, seguido de perto por Sirius, com Moody se arrastando pesadamente atrás deles. Lupin olhou da Sra. Weasley para o corpo de Harry no chão e pareceu entender num momento. Puxando sua varinha, disse, firme e claro:

 

- Riddikulus!

 

O corpo Harry desapareceu. Um globo prateado surgiu no ar sobre o local onde o corpo estava. Lupin agitou sua varinha mais uma vez e o globo desapareceu em um sopro de fumaça.

 

- Oh... Oh... Oh! - a Sra. Weasley engoliu em seco e caiu num choro inconsolável, suas mãos cobrindo seu rosto.

 

- Molly - disse Lupin desoladamente, caminhando até ela. - Molly, não...

 

Ela então se atirou no ombro de Lupin, chorando desesperadamente.

 

- Molly, era apenas um Bicho-Papão - disse ele, tranqüilizando-a, batendo levemente em sua cabeça. - Apenas um estúpido Bicho-Papão...

 

- Eu os vi mo-mo-mortos, todos eles! - a Sra. Weasley lamentando em seu ombro. - Todos de um-um-uma vez! Eu so-so-sonhei com isso...

 

Sirius estava olhando fixamente para o carpete, no lugar onde estivera o Bicho-Papão, fingindo ser o corpo de Harry. Moody estava olhando Harry, que evitou seu olhar. Ele tinha a estranha sensação de que o olho mágico de Moody o tinha seguido desde a cozinha.

 

- Nã-nã-não conte ao Arthur - disse a Sra. Weasley, engolindo em seco, secando seus olhos freneticamente com seus punhos. - Eu nã-nã-não quero que ele saiba o quanto fui tola...

 

Lupin lhe deu um lenço e ela assoou o nariz.

 

- Harry, me desculpe. O que você deve estar pensando de mim? - disse ela trêmula. - Nem mesmo consegui lidar com um Bicho-Papão...

 

- Não fique assim - disse Harry, tentando sorrir.

 

- Eu estou tã-tã-tão preocupada - disse ela, lágrimas caindo de seus olhos novamente. - Metade da fa-fa-família na Ordem, se-se-será um milagre se todos passarmos por isso... E P-P-Percy não está falando conosco... O que faria se algo te-te-terrível acontecesse e nós nunca m-m-mais falarmos com ele? E o que aconteceria se Arthur e eu fomos mortos, quem cui-cui-cuidaria de Rony e Gina?

 

- Molly, já basta! - disse Lupin firmemente. - Não será como a última vez. A Ordem está melhor preparada, já começamos a agir, nós sabemos o que Voldemort está querendo...

 

A Sra. Weasley deu um guincho de horror ao som desse nome.

 

- Oh, Molly, vamos, já está na hora de você ouvir esse nome. Olhe, eu não posso prometer que ninguém será ferido, ninguém pode prometer isso, mas estamos melhores que da última vez. Você não estava na Ordem, você não entende. Da última vez éramos poucos, vinte Comensais da Morte contra um de nós e eles estavam nos pegando um a um...

 

Harry lembrou da fotografia novamente, os rostos brilhantes de seus pais. Ele sabia que Moody estava olhando para ele.

 

- Não se preocupe com Percy - disse Sirius abruptamente. - Ele voltará. É só uma questão de tempo antes de Voldemort se mostrar; quando ele fizer isso todo o Ministério estará nos pedindo perdão. E eu não estou certo de que aceitarei suas desculpas - completou amargamente.

 

- E quem cuidará de Rony e Gina se você e Arthur morrerem - disse Lupin, sorrindo levemente. - O que acha que vamos fazer? Deixá-los morrer de fome?

 

A Sra. Weasley sorriu trêmula.

 

- Fui uma tola - disse novamente, enxugando seus olhos.

 

Mas Harry, fechando a porta do seu quarto atrás de si dez minutos depois, não achava a Sra. Weasley tola. Ele podia ver seus parentes olhando para ele da velha e carcomida fotografia, inconscientes de suas vidas, como a maioria daqueles ao redor deles. A imagem do Bicho-Papão aparecendo como o corpo de cada membro da família da Sra. Weasley ainda aparecia na frente de seus olhos.

 

Sem aviso, a cicatriz na sua testa queimou em dor e seu estômago doeu horrivelmente.

 

- Pare com isso! - disse firmemente, esfregando sua cicatriz enquanto a dor sumia.

 

- O primeiro sinal da loucura, falando para sua própria cabeça - disse uma voz astuta que vinha da moldura vazia na parede.

 

Harry o ignorou. Ele se sentiu mais velho do que nunca se sentira antes e parecia extraordinário que apenas uma hora atrás estava preocupado com uma loja de logros e com quem tinha ganhado uma insígnia de monitor.

 

 

LUNA LOVEGOOD

Harry teve uma noite de sono difícil. Seus pais iam e vinham nos seus sonhos, nunca falando; a Sra. Weasley soluçava sobre o cadáver de Kreacher, observada por Rony e Hermione, que usavam coroas, e então ele se viu andando aos tropeços como um palhaço por um corredor que terminava numa porta fechada. Acordou abruptamente com sua cicatriz ardendo e vendo Rony já vestido e falando com ele.

 

- ...Melhor se apressar. Mamãe está explodindo, dizendo que vamos perder o trem...

 

Havia muita agitação na casa. Pelo que ouviu enquanto se vestia a toda velocidade, Harry percebeu que Fred e Jorge tinham enfeitiçado seus malões, fazendo-os levitar, para evitar o aborrecimento de ter que carregá-los escada abaixo, com o resultado de bater em Gina e fazê-la cair rolando dois lances de escada até a sala; a Sra. Black e Sra. Weasley estavam ambas gritando a todo volume.

 

- ELA PODIA DE SE MACHUCADO SERIAMENTE, SEUS IDIOTAS!

 

- MALDITOS MESTIÇOS, SUJANDO A CASA DE MEUS PAIS!

 

Hermione chegou correndo na sala parecendo confusa. Edwiges estava balançando em seu ombro e estava carregando Bichento se contorcendo em seus braços.

 

- Mamãe e papai mandaram Edwiges de volta- a coruja se agitou gentilmente e voou até o topo de sua gaiola. - Ainda não está pronto?

 

- Quase. Gina está bem? - Harry perguntou, ajustando seus óculos.

 

- A Sra. Weasley a remendou - disse Hermione. - Mas agora Olho-Tonto está se queixando de que não podemos sair até Sturgis Podmore chegar, se não a Guarda vai ser de um só.

 

- Guarda? Temos que ir até a Estação King's Cross com uma guarda?

 

- VOCÊ tem que ir até a estação King's Cross com uma guarda - corrigiu.

 

- Por quê? - perguntou irritado. - Eu pensei que Voldemort estava supostamente escondido ou está dizendo que ele vai pular de trás de uma lixeira e me atacar?

 

- Eu não sei, é só o que Olho-Tonto disse - disse distraída, olhando seu relógio -, mas se nós sairmos logo definitivamente perderemos o trem...

 

- VOCÊS PODERIAM DESCER LOGO, POR FAVOR! - berrou a Sra. Weasley.

 

Hermione saltou como se estivesse sendo escaldada e saiu correndo da sala. Harry agarrou Edwiges, jogou-a dentro da gaiola e correu escada abaixo atrás da amiga, arrastando seu malão.

 

O retrato da Sra. Black estava gritando com fúria mas ninguém estava preocupado em fechar as cortinas; todo o barulho na sala a acabaria acordando de todo o jeito.

 

- Harry, você vai comigo e Tonks - berrou a Sra. Weasley acima dos repetidos gritos de "SANGUES-RUINS! ESCÓRIA! CRIATURAS DA LAMA!". - Deixe seu malão e sua coruja. Alastor vai cuidar das bagagens... Oh, pelo amor de Deus, Sirius! Dumbledore disse que não!

 

Um cão enorme como um urso apareceu ao lado de Harry enquanto passava por cima de vários malões que se misturavam na sala para chegar a Sra. Weasley.

 

- Oh, honestamente... - disse Sra. Weasley desesperada. - Bem, é sua cabeça que pode ser arrancada!

 

Ela destravou a porta da frente e saiu para uma fraca luz de setembro. Harry e o cão a seguiram. A porta bateu atrás deles e os gritos da Sra. Black cessaram imediatamente.

 

- Onde está Tonks? - Harry disse, olhando ao redor enquanto descia os degraus de pedra do número 12, que desapareceram no momento que tocaram o pavimento.

 

- Ela está esperando bem ali - disse a Sra. Weasley, evitando olhar para o cão ao lado de Harry.

 

Uma mulher velha acenava para eles da esquina. Ela tinha um cabelo grisalho amarrado apertado e usava um chapéu púrpura que parecia uma torta.

 

- Olá, Harry - disse, piscando. - Melhor nos apressarmos, não Molly? - disse, verificando o relógio.

 

- Eu sei, eu sei - lamentou a Sra. Weasley, aumentando o passo -, mas Olho-Tonto queria espera por Sturgis... Se pelo menos Arthur tivesse conseguido pegar alguns carros do Ministério novamente... Mas Fudge não o deixaria pegar emprestado nem um vidro de tinta vazio... Como os trouxas conseguem viajar sem mágica...

 

Mas o grande cão negro deu um latido feliz e saltou ao redor deles, atirando-se contra os pombos e perseguindo sua própria cauda. Harry não podia deixar de rir. Sirius estivera trancado por muito tempo. A Sra. Weasley apertou os lábios com um jeito muito parecido com a sua tia Petúnia.

 

Levaram vinte minutos para chegar à estação King Cross a pé e nada aconteceu durante esse tempo, mesmo que Sirius tenha perseguido alguns gatos, para o divertimento de Harry. Já na estação esperaram um pouco perto da barreira entre as plataformas nove e dez até parecer seguro o bastante para atravessar a barreira, onde o Expresso de Hogwarts estava soltando vapor sobre uma plataforma cheia de estudantes se despedindo de suas famílias. Harry sentiu um cheiro familiar e seu espírito se elevou... Ele estava realmente voltando...

 

- Espero que os outros cheguem a tempo - disse a Sra. Weasley ansiosa, olhos fixos no arco de onde os passageiros saíam.

 

- Cachorro legal, Harry! - chamou um garoto.

 

- Obrigado Lino - disse Harry, sorrindo, enquanto Sirius perseguia sua cauda freneticamente.

 

- Oh bom! - disse a Sra. Weasley, aliviada. - Aí vem Alastor com a bagagem, olhem...

 

Um chapéu de carregador puxado sobre seu olhos estranhos, Moody veio mancando através do arco, empurrando um carrinho cheio de malões.

 

- Tudo bem - murmurou ele para a Sra. Weasley e Tonks. - Não acho que tenhamos sido seguidos...

 

Segundos depois o Sr. Weasley apareceu na plataforma com Rony e Hermione. Eles tinham quase terminado de retirar a bagagem do carrinho quando Fred, Jorge e Gina apareceram com Lupin.

 

- Nenhum problema? - murmurou Moody.

 

- Nada - disse Lupin.

 

- Vou falar com Dumbledore sobre Sturgis - disse Moody. - Esta é a segunda vez que ele não aparece em uma semana. Está se tornando tão não confiável como Mundungo.

 

- Bem, cuidem-se - disse Lupin, apertando suas mãos. Ele chegou a Harry por último e deu um tapinha em seu ombro. - Você também, Harry. Tenha cuidado.

 

- É, mantenha sua cabeça baixa e seus olhos abertos - disse Moody, apertando a mão de Harry também. - E não se esqueçam, todos vocês. Cuidado com o que escrevem. Se houver dúvida, não ponham nada numa carta.

 

- Foi ótimo conhecer todos vocês - disse Tonks, abraçando Hermione e Gina. - Espero que nos vejamos logo.

 

Um apito soou; os alunos que ainda estavam na plataforma começaram a correr para o trem.

 

- Rápido, rápido - disse a Sra. Weasley distraidamente, abraçando-os ao acaso e abraçando Harry duas vezes. - Escrevam... Se esquecerem qualquer coisa eu mando depois... Para o trem, rápido...

 

Por um breve momento o grande cão negro ficou em pé com suas patas da frente nos ombros de Harry, mas a Sra. Weasley empurrou o garoto para a porta do trem e dizendo baixinho:

 

- Pelo amor de Deus, aja mais como um cachorro, Sirius!

 

- Até mais! - Harry falou da janela aberta enquanto o trem começava a se mover, enquanto Rony, Hermione e Gina acenavam atrás dele. As figuras de Tonks, Lupin, Moody e do Sr. e da Sra. Weasley desapareciam rápido, mas o cão negro estava correndo ao lado da janela, balançando sua cauda; pessoas na plataforma riam em vê-lo correndo atrás do trem, e então o virou numa curva e Sirius se foi.

 

- Ele não devia ter vindo com a gente - disse Hermione numa voz preocupada.

 

- Oh, alivia aí! - disse Rony. - Ele não via a luz do sol por meses, pobre sujeito.

 

- Bem - disse Fred, batendo as mãos. - Não posso ficar conversando todo o dia. Temos assuntos a conversar com Lino. Vemos vocês mais tarde - e ele e Jorge desapareceram pelo corredor.

 

O trem estava ganhando velocidade rapidamente, então as casas fora da janela passavam rápido quando perceberam que ainda estavam em pé.

 

- Vamos procurar uma cabine, então? - perguntou Harry.

 

Rony e Hermione trocaram olhares.

 

- Er... - disse Rony.

 

- Nós... Bem... Rony e eu devíamos estar no vagão dos monitores - Hermione disse sem jeito.

 

Rony não olhava Harry; parecia intensamente interessado nas suas unhas.

 

- Oh - disse Harry. - Certo. Tudo bem.

 

- Eu não acho que ficaremos lá toda a viagem - disse Hermione rapidamente. - Nossas cartas diziam que tínhamos apenas que receber instruções do monitor e monitora chefes e então patrulhar os corredores de tempo em tempo.

 

- Tudo bem - disse Harry novamente. - Bem, Eu... Eu vejo vocês mais tarde então.

 

- É, definitivamente - disse Rony, olhando ansiosamente para Harry. - É horrível ter que ir até lá, eu preferiria... Mas temos que ir... Digo, eu não estou apreciando isso. Eu não sou Percy.

 

- Eu sei que você não é - disse Harry e ele sorriu.

 

Mas enquanto Hermione e Rony arrastaram seus malões, Bichento e um Píchi engaiolado em direção à frente do trem, Harry sentiu um estranho sentimento de perda. Nunca havia viajado no Expresso de Hogwarts sem Rony.

 

- Vamos - chamou Gina. - Se nós andarmos vamos poder guardar lugares para eles.

 

- Certo - disse Harry, pegando a gaiola de Edwiges em uma mão e a alça do malão na outra.

 

Esforçaram-se pelo corredor, olhando através das janelas dos compartimentos enquanto passavam, vendo todos lotados. Harry não deixou de notar que várias pessoas olhavam de volta para ele com grande interesse e que muitos deles acotovelavam seus vizinhos e o apontando. Depois de passar por cinco outros compartimentos lembrou que o Profeta Diário vinha dito a todos os seus leitores durante todo o que mentiroso ele era. Imaginava que as pessoas estavam acreditando.

 

Na última cabine encontraram Neville Longbottom, colega de Harry na Grifinória, sua face redonda brilhando no esforço de puxar seu malão com uma mão e segurando seu sapo, Trevo.

 

- Olá, Harry - arquejando. - Olá, Gina... Está tudo lotado... Não pude encontrar um lugar...

 

- Do que você está falando? - disse Gina, que olhou por cima de Neville, espiando o compartimento atrás dele. - Há lugares neste aí, só tem a Loony Lovegood lá...

 

Neville murmurou algo sobre não querer perturbar ninguém.

 

- Não seja bobo - disse Gina, sorrindo. - Ela é legal.

 

Ele abriu a porta e puxou seu malão para dentro. Harry e Neville a seguiram.

 

- Olá Luna - disse Gina. - Tudo bem se pegarmos esses lugares?

 

A garota sentada ao lado da janela olhou. Tinha cabelos loiros longos e desgrenhados que iam até a cintura, sobrancelhas pálidas e olhos protuberantes que davam uma aparência de estar sempre surpresa. Harry agora sabia por que Neville tinha querido passar pela cabine. A garota deu uma olhar de distinta desimportância. Talvez pelo fato de que tenha colocado a mão perto da sua orelha para se proteger, ou porque ela usava um colar de rolhas de cervejas amanteigadas, ou porque estava lendo uma revista de cabeça para baixo. Seus olhos passaram por Neville e fitaram Harry. Ela acenou com a cabeça.

 

- Obrigada - disse Gina, sorrindo para ela.

 

Harry e Neville arrumaram os malões, a gaiola de Edwiges no suporte de bagagens e se sentaram. Luna olhou para eles por cima da revista, que se chamava The Quibbler. Ela não parecia precisar piscar como as outras pessoas. Fitou e fitou Harry, que havia sentado de frente para ela e que agora queria não ter sentado.

 

- Teve um bom verão, Luna? - Gina perguntou.

 

- Sim - disse Luna sonhadora, sem retirar os olhos de Harry. - Sim, foi muito divertido, sabe. Você é Harry Potter.

 

- Eu sei que sou - disse Harry.

 

Neville riu. Luna virou seus olhos pálidos para ele.

 

- E eu não sei quem você é.

 

- Eu não sou ninguém - disse Neville rapidamente.

 

- Não, você não é - disse Gina severa. - Neville Longbottom, Luna Lovegood. Luna está no mesmo ano que eu, mas na Corvinal.

 

- Inteligência sem medida é o maior tesouro do homem - disse Luna em uma voz cantante.

 

Ele levantou sua revista ainda de cabeça para baixo o suficiente para esconder seu rosto e se calou. Harry e Neville se olharam com as sobrancelhas levantadas. Gina segurou um risinho.

 

O trem prosseguia. Era um estranho tipo de dia; em um momento o vagão estava cheio de luz do sol e no outro estavam passando sob preocupantes nuvens cinzentas.

 

- Adivinhem o que ganhei no meu aniversário? - disse Neville.

 

- Outro Lembrol? - disse Harry, lembrando-se do dispositivo parecido com uma bola de gude que a avó de Neville lhe mandara num esforço de melhorar sua abismal falta de memória.

 

- Não - disse Neville. - Eu só precisava de um, de qualquer forma, eu o perdi eras atrás... Não, olhem isso...

 

Ele enfiou a mão que não estava firmemente segurando seu sapo na bolsa e depois de procurar um pouco a retirou, segurando o que parecia ser um pequeno cacto cinzento em um pote, exceto pelo fato de que estava coberto de bolhas ao invés de espinhos.

 

- Mimbulus mimbletonia - disse orgulhoso.

 

Harry encarou a coisa. Ela pulsava levemente, dando uma sinistra aparência de um órgão interno doente.

 

- É realmente muito, muito rara - disse Neville, radiante. - Eu não sei se há uma nas estufas em Hogwarts. Mal posso esperar para mostrá-la à Professora Sprout. Meu tio-avô Algie trouxe para mim da Assíria. Vou ver se consigo reproduzi-la.

 

Harry sabia que a matéria que Neville mais gostava era Herbologia mas não sabia o que se poderia fazer com essa pequena planta atrofiada.

 

- Ela... Er... Faz alguma coisa?

 

- Muitas coisas! - disse Neville orgulhoso. - Ela tem um incrível mecanismo de defesa. Aqui, segure Trevo pra mim...

 

Ele colocou o sapo no colo de Harry e pegou uma pena de sua bolsa. Os olhos de Luna Lovegood saltaram por cima da revista ainda de cabeça para baixo para ver o que Neville estava fazendo. Neville segurou a Mimbulus mimbletonia na altura dos olhos, sua língua entre os dentes, escolhendo um ponto, e dando um pequeno furo com a ponta da pena.

 

Um líquido espirrou por cada bolha da planta; jatos grossos, fedorentos, verdes escuros. Eles atingiram o teto, as janelas e respingaram na revista de Luna Lovegood; Gina, que colocou as mãos na frente do rosto a tempo, meramente parecia que estava vestindo um chapéu verde pegajoso, mas Harry, que estava ocupado segurando Trevo para evitar que fugisse, recebeu o jato direto na face. Ele cheirava a estrume curtido.

 

Neville, que a face e o peito estavam ensopados, balançou a cabeça para retirar o limo dos olhos.

 

- Des-desculpem - ele arfou. - Eu nunca tentei isso antes... Não imaginava que seria tão... Não se preocupem, a gosma não é venenosa - disse nervoso enquanto Harry cuspia um bocado no chão.

 

Nesse mesmo momento a porta da cabine abriu.

 

- Oh... Olá, Harry - disse uma voz nervosa. - Ah... Momento ruim?

 

Harry tirou um das mão de Trevo e limpou seus óculos. Uma linda garota, com cabelos longos, negros e brilhantes, estava sorrindo para ele: Cho Chang, a apanhadora do time de quadribol da Corvinal.

 

- Oh... Olá - disse Harry, embranquecendo.

 

- Hum... - disse Cho. - Bem... Eu queria apenas dizer olá... Tchau então.

 

Com o rosto particularmente rosado, ela fechou a porta e se foi. Harry tombou no assento e gemeu. Teria gostado que Cho o tivesse visto sentado ao lado de pessoas legais, rindo de uma piada que havia contado; não tinha escolhido estar sentado com Neville e Loony Lovegood, segurando um sapo e coberto de gosma.

 

- Podem deixar - disse Gina. - Vejam, podemos facilmente nos livrar de tudo isso - ela puxou sua varinha. - Scourgify!

 

A gosma desapareceu.

 

- Desculpem - disse Neville novamente, sua voz sumindo.

 

Rony e Hermione não apareceram por quase uma hora, quando a o carrinho da comida já tinha saído. Harry, Gina e Neville tinham terminado suas tortinhas de abóbora e estavam trocando cartões de Sapos de Chocolate quando a porta abriu e entraram, acompanhados por Bichento e o assobio agudo de Píchi na sua gaiola.

 

- Estou faminto - disse Rony, colocando Píchi perto de Edwiges, recebendo um Sapo de Chocolate de Harry e se jogando no assento ao seu lado. Ele abriu o pacote, mordeu a cabeça do sapo e se encostou com os olhos fechados como se tivesse tido um manhã muito exaustiva.

 

- Bem, há dois monitores do quinto ano em cada casa - disse Hermione, parecendo perfeitamente decepcionada enquanto se sentava. - Um garoto e uma garota cada.

 

- Adivinha quem é o monitor da Sonserina? - disse Rony, ainda com os olhos fechados.

 

- Malfoy - respondeu Harry de imediato, sabendo que seu pior receio tinha se confirmado.

 

- Claro - disse Rony amargamente, colocando o resto do sapo na boca e pegando outro.

 

- E aquela vaca completa da Pansy Parkinson - disse Hermione cruelmente. - Como ela conseguiu ser monitora quando é grosseira como um trasgo?

 

- Quem são os da Lufa-lufa? - perguntou Harry.

 

- Ernie MacMillan e Anna Abbott - disse Rony.

 

- E Anthony Goldstein e Padma Patil da Corvinal - disse Hermione.

 

- Você foi ao Baile de Natal com Padma Patil... - disse uma voz vagamente.

 

Todos viraram para olhar Luna Lovegood, que agora olhava sem piscar para Rony por cima da revista. Ele engoliu o resto do sapo de chocolate que estava na sua boca.

 

- É, eu sei que eu fui - disse, parecendo surpreso.

 

- Ela não gostou muito - informou Luna. - Ela acha que você não a tratou muito bem, porque você não dançou com ela. Eu não penso que teria me importado - disse pensativa. - Eu não gosto muito de dançar.

 

Ela voltou novamente para trás da revista. Rony fitou a capa com a boca aberta por alguns segundos, então olhou Gina, procurando alguma explicação, mas a menina tinha colocado os nós dos dedos na boca para parar de rir. Rony balançou a cabeça, confuso, e então olhou para o relógio.

 

- Nós temos que patrulhar os corredores de vez em quando - disse a Harry e Neville - e nós podemos dar punições se as pessoas se comportarem mal. Mal posso esperar para pegar Crabbe e Goyle...

 

- Você não deve abusar de sua posição, Rony! - disse Hermione severa.

 

- É, certo, porque Malfoy não vai abusar dela - disse sarcasticamente.

 

- Então você vai descer ao nível dele?

 

- Não, vou só ter certeza de pegar os colegas dele antes que ele pegue os meus.

 

- Pelo amor de Deus, Rony...

 

- Vou fazer Goyle escrever, isso vai deixá-lo maluco, ele odeia escrever - disse Rony feliz. Ele baixou a voz para parecer com a voz de porco de Goyle, contorceu o rosto numa forma de aparente concentração e fez que estava escrevendo em pleno ar. - Eu... Não... Devo... Parecer... Com... O... Traseiro... De... Um... Babuíno...

 

Todos caíram no riso, mas ninguém ria mais que Luna Lovegood. Ele soltou grito de felicidade que fez com que Edwiges acordasse e batesse as asas indignada, e Bichento saltou para cima do suporte de bagagens guinchando. Luna gargalhava tanto que a revista se soltou de sua mão, escorregou por suas pernas e caiu no chão.

 

- Isso foi engraçado!

 

Seus olhos saltados, banhados em lágrimas enquanto tomava fôlego, fixaram-se em Rony. Absolutamente embaraçado, ele olhou para os outros, que agora sorriam da expressão em seu rosto e da ridiculamente prolongada risada de Luna Lovegood, que se balançava para trás e para frente abraçada à sua barriga.

 

- Por que você está rindo tanto? - disse Rony, olhando para ela, suas sobrancelhas altas.

 

- Traseiro... De... Babuíno! - disse ela agarrada às costelas.

 

Todos estavam olhando para Luna gargalhando, com exceção de Harry, mirando a revista no chão, percebendo algo que o fez se abaixar para pegá-la. De cabeça para baixo ficava difícil ver o que a figura da capa era, mas Harry percebeu que era um desenho muito ruim de Cornélio Fudge; Harry apenas o reconheceu por causa do chapéu-coco verde limão. Uma das mãos de Fudge estava apertando uma sacola de ouro; a outra mão sufocava um duende. O título acima do desenho dizia: "Até onde Fudge vai para conseguir Gringotes?". Abaixo disto estavam listados outros artigos da revista.

 

"Corrupção na Liga de Quadribol:

 

Como os Tornados estão Tomando o Controle

 

Segredos das Runas Antigas Revelados

 

Sirius Black: Vilão ou Vítima?"

 

- Posso olhar? - perguntou Harry a Luna avidamente.

 

Ela concordou, ainda olhando fixamente para Rony, sem fôlego por causa da gargalhada.

 

Harry abriu a revista e procurou no índice. Até esse momento havia esquecido completamente da revista que Kingsley tinha pedido para o Sr. Weasley entregar a Sirius, mas devia ter sido esta edição do The Quibbler.

 

Encontrou a página e começou a ler o artigo.

 

Este também era ilustrado por um desenho muito ruim; de fato, Harry não saberia que era Sirius se não estivesse no título. Sirius estava em cima de uma pilha de ossos humanos empunhando a varinha. O cabeçalho do artigo dizia:

 

"SIRIUS - NEGRO O QUANTO É MOSTRADO?

 

Notório Assassino em massa ou um cantor inocente?"

 

Harry teve que ler esta sentença várias vezes antes de se convencer que havia entendido corretamente. Desde quando Sirius tinha sido um cantor?

 

"Por quatorze anos Sirius Black tem sido culpado por um assassinato em massa de doze trouxas inocentes e de um bruxo. A fuga audaciosa de Black de Azkaban dois anos atrás tem levado à maior caça humana jamais conduzida pelo Ministério da Magia. Nenhum de nós nunca questionou se ele merecia ser recapturado e entregue novamente aos dementadores.

 

MAS ELE REALMENTE FEZ ISSO?

 

Uma nova evidência assustadora recentemente veio à luz e mostra que Sirius Black não cometeu os crimes pelos quais foi mandado para Azkaban. 'De fato', disse Doris Purkiss, do número 18 da Acanthia Way, Little Norton, 'Black não esteve nem presente às mortes.'

 

'O que as pessoas não sabem é que Sirius Black é um nome falso', disse a Sra. Purkiss. 'O homem que todos acreditam ser Sirius Black é realmente Stubby Boardman, cantor principal do popular grupo The Hobgoblins, que se retiraram da vida pública depois de ser acertado por um nabo em sua orelha durante um concerto no salão da Igreja Little Norton a uns 15 anos atrás. Eu o reconheci no momento que eu vi sua foto no papel. Agora, Stubby não pode ter cometido esses crimes, porque no dia em questão ele estava em um jantar romântico comigo. Eu escrevi para o Ministro da Magia e espero que ele dê a Stubby, apelidado de Sirius, um perdão completo.' "

 

Harry terminou de ler e fitou a página, incrédulo. Talvez fosse uma piada, pensou, talvez a revista escrevesse artigos de humor. Voltou algumas páginas e achou o artigo sobre Fudge.

 

"Cornélio Fudge, o Ministro da Magia, negou que tivesse planos de tomar o controle Banco dos Bruxo, o Gringotes, quando foi eleito Ministro da Magia cinco anos atrás. Fudge sempre insistiu que não queria nada mais que 'cooperar pacificamente' com os guardiões do nosso ouro.

 

MAS SERÁ MESMO?

 

Fontes próximas ao ministro recentemente revelaram que a maior ambição de Fudge é controlar os suprimentos de ouro dos duendes e que não hesitará em usar a força se for necessário.

 

'Não seria a primeira vez, tão pouco', disse alguém próximo ao ministro. 'Cornélio 'Destruidor-de-Duendes' Fudge, é como os amigos o chamam. Se você pudesse ouvir que ele diz quando pensa que está sozinho, oh, está sempre pensando nos duendes que já cuidou; que afogou; que expulsou; que envenenou, que fez tortas...' "

 

Harry não continuou a ler. Fudge podia ter muitas falhas mas Harry achou extremamente difícil imaginá-lo ordenando duendes a serem cozidos em tortas. Folheou o resto da revista. Parou em algumas poucas páginas, onde leu: uma acusação de que os Tutshill Tornados estavam ganhando a Liga de Quadribol com uma combinação de chantagem, alteração ilegal de vassouras e tortura; uma entrevista com um bruxo que disse ter voado até a lua em uma Cleansweep 6 e que tinha trazido uma sacola de sapos da lua para provar; e um artigo sobre runas antigas que explicava o motivo pelo qual Luna estava lendo o The Quibbler de cabeça para baixo. De acordo com a revista, se você virar as runas de cabeça para baixo elas revelarão um feitiço para fazer a orelha de seu inimigo virar frutas. De fato, comparado com o resto dos artigos do The Quibbler, a sugestão de que Sirius poderia realmente ser o cantor principal dos The Hobgoblins era muito sensata.

 

- Algo de bom? - perguntou Rony enquanto Harry fechava a revista.

 

- Claro que não - disse Hermione ofensiva, antes de Harry puder responder. - O The Quibbler é lixo, todos sabem disso.

 

- Com licença... - disse Luna; sua voz tinha perdido de repente o ar sonhador. - Meu pai é o editor.

 

- Eu... Oh... - disse Hermione, parecendo embaraçada. - Bem... Ele é um pouco interessante... Eu digo, é um pouco...

 

- Pode me devolver por favor... - disse Luna friamente e, adiantando-se, ela tomou a revista das mãos. Folheando-a até a página cinqüenta e sete, virou a revista de cabeça para baixo novamente e desapareceu atrás dela, assim que a porta do compartimento se abriu pela terceira vez.

 

Harry olhou; esperava por isso, ver a imagem de Draco Malfoy com seu risinho falso entre seus companheiros Crabbe e Goyle não era nem um pouco agradável.

 

- O quê é? - disse ele agressivamente, antes de Malfoy sequer abrir a boca.

 

- Olhe as maneiras, Potter, ou terei que lhe passar uma detenção - disse Malfoy lentamente, seu cabelo loiro e liso e seu queixo pontudo exatamente como seu pai. - Sabe, eu, diferente de você, fui nomeado monitor, o que quer dizer que eu tenho o poder de aplicar punições.

 

- É - disse Harry. - Mas você, diferente de mim, é um idiota, então vá saindo e nos deixe em paz.

 

Rony, Hermione, Gina e Neville riram. O lábio de Malfoy se torceu.

 

- Diga-me. Como se sente sendo o segundo melhor depois de Weasley, Potter? - perguntou ele.

 

- Cale-se, Malfoy - disse Hermione severa.

 

- Parece que eu toquei em um calo - disse Malfoy, sorrindo. - Bem. Apenas tenha cuidado, Potter, porque eu estarei lhe caçando como um cão, no caso de você sair da linha.

 

- Saia! - disse Hermione, levantando-se.

 

Rindo com o canto da boca, Malfoy olhou uma última vez para Harry e saiu, Crabbe e Goyle seguindo seus passos. Hermione bateu a porta da cabine logo que saíram e então se virou para olhar Harry, que percebeu - assim como ela - que Malfoy quis dizer que sabia de algo e isso os deixou nervosos.

 

- Passe outro sapo - disse Rony, que aparentemente não notou nada.

 

Harry não podia falar livremente na frente de Neville de Luna. Ele trocou outro olhar nervoso com Hermione e então olhou para fora da janela.

 

Pensou que Sirius ter ido consigo para a estação tinha sido divertido mas de repente pareceu precipitado, para não dizer extremamente perigoso... Hermione estava certa... Sirius não devia ter ido. O que aconteceria se o Sr. Malfoy tivesse notado o cão negro e falado para Draco? O que aconteceria se tivesse deduzido que os Weasley, Lupin, Tonks e Moody sabiam onde Sirius estava se escondendo? Ou será que Malfoy falou usou a expressão "caçando como um cão" por coincidência?

 

O clima continuava indeciso enquanto viajavam mais e mais para o norte. A chuva castigava as janelas de forma indiferente, quando o sol se pôs numa aparência pálida antes das nuvens o cobrirem novamente. Quando a escuridão aumentou e as lâmpadas foram acesas dentro das cabines, Luna enrolou o The Quibbler, colocou-a com cuidado na sua bolsa, e começou a olhar para cada um dos ocupantes da cabine.

 

Harry estava sentado com sua testa encostada no vidro da janela, tentando ter o primeiro vislumbre distante de Hogwarts, mas era uma noite sem lua e a chuva escorria pela janela fazendo a visão ficar distorcida.

 

- É melhor nos trocarmos - disse Hermione finalmente, e todos abriram seus malões com dificuldade e retiraram suas vestes. Ela e Rony colocaram suas insígnias cuidadosamente na altura do peito. Harry viu Rony verificando seu reflexo na janela escura.

 

Finalmente o trem começou a diminuir e escutaram o usual arrastar de bagagem e os guinchos de animais sendo carregados. Como Rony e Hermione deviam supervisionar tudo isso, saíram do vagão, deixando Harry e os outros para cuidarem de Bichento e Píchi.

 

- Eu carregarei essa coruja se você quiser - disse Luna a Harry, pegando Píchi enquanto Neville colocava Trevo cuidadosamente num bolso interno.

 

- Oh... Eh... Obrigado - disse Harry, entregando a ela a gaiola e segurando Edwiges com mais segurança em seus braços.

 

Eles saíram da cabine sentindo a primeira pontada do ar frio da noite em suas faces enquanto se uniam à multidão no corredor. Devagar, aproximavam-se das portas. Harry podia sentir o cheiro dos pinheiros que eram alinhados próximos ao lago. Desceu até a plataforma e olhou ao redor, procurando aquela voz familiar que chamava "Os do primeiro ano... Aqui... Primeiro ano...".

 

Mas não escutou nada. Ao invés disso, uma voz bem diferente, uma voz feminina e rápida que chamava: "Os do primeiro ano alinhem-se aqui, por favor! Todos do primeiro ano aqui!".

 

Uma lanterna veio balançando até Harry e sob a luz ele viu o queixo proeminente e o cabelo curto da professora Grubbly-Plank, a bruxa que havia substituído Hagrid na aula de Trato de Criaturas Mágicas por algum tempo no ano anterior.

 

- Onde está Hagrid?

 

- Eu não sei - disse Gina. - Mas é melhor nós sairmos do caminho. Estamos bloqueando a porta.

 

- Ah, é...

 

Harry e Gina se separaram enquanto se moviam pela plataforma e passavam pela estação. Empurrado pela multidão, Harry procurou na escuridão por algum sinal de Hagrid; tinha que estar ali. Harry estava contando com isso. Ver Hagrid novamente era uma das coisas que mais queria. Mas não viu nenhum sinal dele.

 

- Ele não pode ter saído - Harry disse a si mesmo enquanto se misturava a multidão no caminho estreito que levava até a estrada. - Ele deve estar resfriado ou algo assim...

 

Procurou ao redor por Rony ou Hermione, querendo saber o que pensavam sobre o reaparecimento da professora Grubbly-Plank, mas nenhum deles perto, então se permitiu ser guiado até a estrada molhada e escura fora da estação de Hogsmeade.

 

Ele viu uma centena ou mais das carruagens sem cavalos que sempre levavam os estudantes acima do primeiro ano para o castelos. Harry olhou rapidamente para eles e se virou rapidamente para procurar Rony e Hermione e então voltou a olhar rapidamente de volta para as carruagens.

 

As carruagens não eram mais sem cavalos. Havia criaturas amarradas a eles. Se tivesse que lhes dar um nome supostamente os chamaria de cavalos, mesmo que tivessem uma aparência reptiliana também. Eram completamente sem carne, suas cobertas aderindo aos seus esqueletos onde os ossos estavam visíveis. Sua cabeças tinham uma aparência de dragões e seus olhos sem pupilas eram brancos e fixos. Asas saíam de cada lado - vastas, de um couro negro que os faziam parecer com morcegos gigantes. Parados e quietos escuridão, as criaturas pareciam assustadoras e sinistras. Harry não entedia por que as carruagens estavam sendo puxados por esses horríveis cavalos quando eram perfeitamente capazes de se mover por si mesmos.

 

- Onde está Píchí? - disse Rony bem atrás dele.

 

- Luna está carregando ele - disse Harry, virando rapidamente, ávido para conversar com Rony sobre Hagrid. - Você imagina...

 

- Onde o Hagrid está? Eu não sei - disse Rony, parecendo preocupado. - É melhor que ele esteja bem...

 

A alguma distância, Draco Malfoy, seguido por uma pequena gangue de companheiros incluindo Crabbe, Goyle e Pansy Parkinson, estavam empurrando alguns secundaristas tímidos de forma que eles e seus amigos pudessem pegar uma carruagem para eles. Segundos depois, Hermione surgiu ofegante do meio da multidão.

 

- Malfoy estava sendo absolutamente idiota com um garoto do primeiro ano ali. Eu juro que vou entregá-lo! Ele está com a insígnia há apenas três minutos e a está usando para ameaçar as pessoas mais do que nunca... Onde está Bichento?

 

- Gina está com ele - disse Harry. - Aí está ela...

 

Gina acabava de sair do meio da multidão, agarrando o Bichento, que se debatia agitado.

 

- Obrigada - disse Hermione, aliviando Gina do gato. - Vamos, vamos pegar uma carruagem junto antes que todas estejam cheias...

 

- Eu ainda não peguei o Píchi - Rony disse, mas Hermione já estava caminhando para uma carruagem desocupada. Harry ficou esperando com Rony.

 

- O que são essas coisas, você imagina? - perguntou ele a Rony, apontando para os horríveis cavalos enquanto os outros estudantes passavam por ele.

 

- Que coisas?

 

- Aqueles caval...

 

Luna apareceu segurando a gaiola de Píchi em seus braços; a coruja minúscula estava guinchando excitada como sempre.

 

- Aqui está você - disse ela. - Ele é uma corujinha doce, não?

 

- Er... É... Ele é legal - disse Rony irritado. - Bem, vamos então. Vamos entrar... O que você estava dizendo, Harry?

 

- Eu estava dizendo, o que são estas coisas? - Harry disse, enquanto ele, Rony e Luna se dirigiam para a carruagem onde Hermione e Gina já estavam sentando.

 

- Que coisas parecidas com cavalos?

 

- Essas coisas parecidas com cavalos puxando as carruagens! - disse Harry impaciente. Estavam a um metro do mais próximo; estava olhando para eles com seus olhos brancos e vazios. Rony, porém, olhou para Harry parecendo perplexo.

 

- Do que você está falando?

 

- Estou falando disso... Olhe!

 

Harry agarrou o braço de Rony e o empurrou para tão perto do cavalo alado que quase encostou o rosto do cavalo. Rony ficou parado por um segundo, e então olhou Harry.

 

- O que eu deveria estar vendo?

 

- O... Ali, entre as traves! Atado à carruagem! Bem na sua frente...

 

Mas Rony continuou a olhar confuso, um estranho pensamento passando na cabeça de Harry.

 

- Não ... Não pode vê-los?

 

- Ver o quê?

 

- Não vê o que está puxando as carruagens?

 

Rony pareceu bem alarmado agora.

 

- Está se sentindo bem, Harry?

 

- Eu... Sim...

 

Harry se sentiu absolutamente confuso. O cavalo estava lá na frente dele, resplandecendo na luz fosca que vinha da estação atrás deles, vapores saindo de suas narinas no ar fresco da noite. Porém, a menos que Rony estivesse brincando - e isso seria realmente uma brincadeira idiota -, não podia vê-lo.

 

- Vamos entrar, então? - disse Rony incerto, olhando Harry como se estivesse preocupado com ele.

 

- Sim. Sim, vamos...

 

- Está tudo bem - disse a voz sonhadora ao lado de Harry enquanto Rony desaparecia dentro da carruagem escuro. - Você não está louco ou algo assim. Eu posso vê-los também.

 

- Pode? - disse Harry desesperadamente, virando para Luna. Ele podia ver os cavalos com asas de morcego refletidos nos grandes olhos cinzentos dela.

 

- Oh, sim - disse Luna. - Eu os tenho visto desde meu primeiro dia aqui. Eles sempre puxaram as carruagens. Não se preocupe. Você é tão são quanto eu.

 

Sorrindo fracamente, ela entrou no interior mofado da carruagem após Rony. Não totalmente seguro, Harry a seguiu.

 

 

A NOVA MÚSICA DO CHAPÉU SELETOR

Harry não queria dizer aos outros que ele e Luna estavam tendo a mesma alucinação, se era isso mesmo, então não disse mais nada sobre cavalos, aconchegou-se na carruagem e bateu a porta atrás de si. Sem mais o que fazer, não pôde parar de olhar as silhuetas dos cavalos se mexendo pela janela.

 

- Alguém viu aquela mulher, a Grubbly-Plank? - perguntou Gina. - O que ela está fazendo aqui? Hagrid não pode ter saído, pode?

 

- Eu ficaria bem feliz se ele saísse - disse Luna -, ele não é um professor muito bom, é?

 

- Sim, ele é! - disseram Harry, Rony e Gina raivosamente.

 

Harry encarou Hermione. Ela limpou a garganta e disse rapidamente.

 

- Er... Sim... Ele é muito bom.

 

- Bem, nós, da Corvinal, o achamos uma piada - disse Luna, sem se chocar.

 

- Então você tem um horrível senso de humor - Rony respondeu bruscamente, enquanto as rodas abaixo estalaram em movimento.

 

Luna não pareceu se importar com a grosseria de Rony; pelo contrario, ela simplesmente os observou por um tempo como se ele fosse um programa de televisão um tanto interessante.

 

Chocalhando e balançando, as carruagens se moveram em escolta pela estrada. Quando passaram entre os altos pilares de pedra cobertos com javalis alados em ambos lados dos portões do jardim da escola, Harry se inclinou para frente para tentar ver se tinha alguma luz na cabana de Hagrid, na Floresta Proibida; o terreno estava em completa escuridão. O castelo de Hogwarts, no entanto, surgia ainda mais perto: uma massa elevada de torres, jatos negros contra o céu escuro, aqui e ali uma janela chamejante brilhava acima deles.

 

As carruagens pararam perto de uns degraus de pedras que levavam para as portas de carvalho da frente e Harry foi o primeiro a sair da carruagem. Virou de novo para ver se ascenderam as janelas da cabana da Floresta, mas definitivamente não havia sinal de vida na cabana de Hagrid. Derrotado, porque tinha tido uma meia esperança que tivesse sumido, ele virou seus olhos para as estranhas e esqueléticas criaturas que ficavam paradas quietas no frio ar noturno, com seus olhos brancos brilhando.

 

Harry já tinha tido a experiência de poder ver o que Rony não podia, mas aquilo tinha sido um reflexo no espelho, algo muito mais insubstancial que uma centena de bestas aparentemente muito sólidas e fortes o suficiente para empurrar num vôo uma frota de carruagens. Se Luna era para ser acreditada, as bestas estavam sempre lá, mas eram invisíveis antes. Então, por que Harry passou de repente a poder enxergá-los e por que Rony não?

 

- Você vem ou o quê? - disse Rony atrás dele.

 

- Ah... Sim - disse Harry rapidamente e se juntou à apressada multidão que subia os degraus de pedra dentro do castelo.

 

O Saguão de Entrada estava flamejante com tochas e ecoando com os passos enquanto os estudantes cruzavam os enfraquecidos pisos de pedra para as portas duplas à direita, levando para o Salão Principal e ao banquete de início do ano letivo.

 

As quatro longas mesas das casas estavam se enchendo embaixo de um teto negro sem estrelas, que era igual ao céu que podiam entrever pelas janelas. Velas voaram em meio ao ar por toda a mesa, Iluminando os fantasmas prateados que estavam parados sobre o Salão e os rostos dos estudantes falando ansiosamente, trocando novidades de verão, gritando boas-vindas a amigos de outras casas, comentando um ou outro novo corte de cabelo ou manto. De novo, Harry percebeu pessoas colocando suas cabeças juntas e cochichando enquanto ele passava; rangeu os dentes e tentou fingir que não viu ou não ligou.

 

Luna se separou deles na mesa da Corvinal. No momento em que chegaram a Grifinória, Gina foi saudada por uns amigos do quarto ano e foi sentar com eles; Harry, Rony, Hermione e Neville encontraram seus lugares juntos mais ou menos no meio da mesa, entre Nick Quase Sem Cabeça, o fantasma da casa de Grifinória, e Pavarti Patil e Lilá Brown, as últimas duas que deram a Harry uma arejada e exagerada boas-vindas que o fez ter quase certeza que elas acabaram de falar dele. Mas tinha coisas mais importantes para fazer, no entanto: estava olhando por cima da cabeça dos estudantes para a mesa de professores, que ficava no final do Salão.

 

- Ele não está aqui.

 

Rony e Hermione olharam a mesa também, mas não era realmente necessário; o tamanho de Hagrid o fazia instantaneamente óbvio em qualquer linha de visão.

 

- Ele não pode ter saído - disse Rony, soando um pouco ansioso.

 

- É claro que ele não saiu - disse Harry firme.

 

- Você não acha que ele se... Machucou, ou algo do tipo, você acha? - disse Hermione com dificuldade.

 

- Não - disse Harry de uma vez.

 

- Mas onde ele está, então?

 

Houve uma pausa e Harry disse bem baixinho, tanto que Neville, Pavarti e Lilá não puderam ouvir.

 

- Talvez ele ainda não voltou. Vocês sabem... Da sua missão... Aquilo que ele estava fazendo para Dumbledore no verão.

 

- Sim... Sim, deve ser isso - disse Rony, soando seguro novamente, mas Hermione mordeu seus lábios, olhando pra cima e pra baixo pela mesa dos professores como se tivesse esperando por alguma explicação conclusiva sobre a ausência de Hagrid.

 

- Quem é aquela? - ela disse cortantemente, apontando para o meio da mesa de professores.

 

Os olhos de Harry seguiram os dela. Pararam primeiro sobre o professor Dumbledore, sentando em sua alta cadeira dourada ao centro da longa mesa de professores, vestindo um manto roxo-escuro espalhado com estrelas prateadas e com um chapéu combinando. A cabeça de Dumbledore estava inclinada voltada para a mulher sentada próxima a ele, que estava falando em seus ouvidos. Parecia, Harry pensou, como uma tia solteira de alguém: agachada, com um curto, ondulado, cabelo marrom de rato em que tinha colocado uma horrível faixa de Alice, que combinava com o peludo cardigã rosa que vestia sobre seu manto. Então ela virou seu rosto levemente para beber um gole de seu cálice e ele viu, com um choque de reconhecimento, um pálido rosto que parecia um cogumelo e um par de proeminentes olhos iguais a bolsas.

 

- É aquela mulher, Umbridge!

 

- Quem? - disse Hermione.

 

- Ela estava em minha audiência, ela trabalha para Fudge!'

 

- Ótimo cardigã - disse Rony, sorrindo.

 

- Ela trabalha para Fudge! - Hermione repetiu, zangada. - Que diabos ela esta fazendo aqui então?

 

- Não sei...

 

Hermione olhou a mesa dos professores, seus olhos se estreitaram.

 

- Não - ela murmurou. - Não, com certeza não...

 

Harry não entendeu sobre o que ela estava falando mas não perguntou; sua atenção foi pega pela professora Grubbly-Plank, que tinha acabado de aparecer atrás da mesa dos professores; ela continuou seu caminho até o final da mesa e sentou no lugar que seria de Hagrid. Isso significava que os alunos do primeiro ano já haviam cruzado o lago e logo depois as portas do Salão Principal se abriram. Uma longa fila de alunos com caras assustadas entrou, liderada pela professora McGonagall, que estava carregando um banco onde havia um antigo chapéu de bruxo, pesadamente remendado e com um grande rasgo perto da desgastada aba.

 

O zumbido da fala no Salão Principal acabou. Os alunos do primeiro ano se enfileiraram em frente à mesa de professores e ficaram encarando o resto dos estudantes, a professora McGonagall colocou o banco cuidadosamente à sua frente e então foi para trás.

 

Os rostos dos alunos do primeiro ano brilharam palidamente sob a luz das velas. Um pequeno garoto no meio da fila pareceu que estava tremendo. Harry relembrou, passageiramente, como ele tinha ficado aterrorizado quando estivera lá, esperando pelo desconhecido teste que determinaria a casa a qual pertenceria.

 

Toda a escola esperava com uma respiração reduzida. Então o rasgo perto da aba abriu, como se fosse uma boca, e o Chapéu Seletor entoou numa música:

 

"Em tempos antigos, quando eu era novo

 

E Hogwarts mal havia começado

 

Os fundadores dessa nobre escola

 

Achavam que nunca se separariam:

 

Unidos por um objetivo comum,

 

Eles tinha a mesma aspiração,

 

Fazer a melhor escola de magia do mundo

 

E passaram todo o conhecimento deles.

 

'Juntos nós construímos e ensinamos'

 

Os quatro bons amigos decidiram

 

E nunca sonharam que eles

 

Seriam divididos algum dia,

 

Pois onde poderia haver amigos

 

Como Slytherin e Gryffindor?

 

A não ser se fosse o segundo par

 

De Hufflepuff e Ravenclaw?

 

Então como pode ter dado tão errado?

 

Como pode tal amizade falhar?

 

Bem, eu estava lá e posso contar

 

Todo o triste, pesaroso conto.

 

Disse Slytherin 'Nós ensinaremos apenas aqueles

 

Cujo ancestral é puro'

 

Disse Ravenclaw 'Nós ensinaremos aqueles

 

Cuja Inteligência é perfeita'

 

Disse Gryffindor 'Nós ensinaremos todos aqueles

 

Com bravos atos em seu nome'

 

Disse Hufflepuff 'Ensinarei a laia,

 

E os tratarei como iguais.'

 

Essas diferenças causaram poucas discussão

 

Quando pela primeira vez vieram à luz,

 

Pois cada um dos fundadores tinha

 

Uma casa em que podiam

 

Pegar somente o que ele queriam, então,

 

De início, Slytherin

 

Pegou somente bruxos de sangue puro

 

De grande astúcia, que nem a ele,

 

E apenas aqueles com a mente afiada

 

Eram ensinados por Ravenclaw

 

Enquanto os mais bravos e destemidos

 

Foram com o audacioso Gryffindor.

 

Boa Hufflepuff, ela pegou o resto,

 

E ensinou a eles tudo que sabia,

 

No entanto as casas e seus fundadores

 

Permaneceram com a amizade firme e verdadeira.

 

Então Hogwarts trabalhou em harmonia

 

Por muitos felizes anos

 

Mas então a discórdia cresceu entre nós

 

Alimentando nossas falhas e medos.

 

E as casas, que como quatro pilares

 

Tinham uma vez segurado nossa escola,

 

Agora se viraram uma contra a outra,

 

Divididas, procuravam dominar.

 

E por um tempo parecia que a escola

 

Encontraria um fim próximo,

 

O que com duelos e lutas

 

E a colisão de amigos com amigos

 

E então veio a manhã

 

Em que o velho Slytherin partiu

 

E então a luta morreu

 

Ele saiu bem magoado

 

E nunca, desde os quatros fundadores

 

Que foram reduzidos a três,

 

Tiveram as casas unidas

 

Como elas uma vez foram.

 

E agora o Chapéu Seletor está aqui

 

E todos vocês sabem o porquê:

 

E selecionarei vocês nas casas

 

Porque é por isso que eu estou aqui,

 

Mas esse ano eu irei mais longe,

 

Ouçam atentamente a minha canção:

 

Mesmo que condenem, eu separarei vocês

 

Ainda que eu ache isso errado,

 

Mas eu devo completar meu propósito

 

E devo dividi-los em quatro todo ano

 

Ainda eu espero que seja qual for a seleção

 

Não traga o fim que temo.

 

Oh, saiba os perigos, leia os sinais,

 

A história de aviso mostra,

 

Que nossa Hogwarts está em perigo

 

De externos, mortais inimigos

 

E nós devemos nos unir dentro dela

 

Ou nós iremos nos despedaçar

 

Eu os falei, eu os avisei...

 

Agora que a seleção comece.

 

O Chapéu ficou parado outra vez; aplausos surgiram, mas dessa vez vieram - pela primeira vez na memória de Harry - com murmúrios e sussurros. Por todo o Salão Principal alunos estavam trocando comentários com os seus vizinhos, e Harry, aplaudindo como todo mundo, sabiam exatamente o que todos estavam dizendo.

 

- Ele aumentou um pouco esse ano, não? - disse Rony, com seus olhos castanhos levantados.

 

- Com certeza que sim - disse Harry.

 

O Chapéu Seletor geralmente se confinava a descrever as diferentes qualidades procuradas por cada uma das quatro casas de Hogwarts e em seu próprio papel de sorteá-las. Harry não pôde lembrar de ter tentado dar um conselho à escola antes.

 

- Estive pensando se ele já deu avisos antes? - disse Hermione, soando um pouco ansiosa.

 

- Sim, já - disse Nick Quase Sem Cabeça, entendido, atravessando Neville na direção dela (Neville estremeceu; era muito desconfortável ter um fantasma atravessando você). - O Chapéu acha uma questão de honra dar à escola um aviso sempre que ele achar...

 

Mas a professora McGonagall, que estava esperando para ler as lista dos nomes dos alunos do primeiro ano, dava aos estudantes que cochichavam um olhar que chamuscava. Nick Quase Sem Cabeça colocou um dedo transparente em seus lábios e sentou ereto de novo enquanto o murmúrio chegou a um abrupto fim. Com um último olhar carrancudo que varreu as mesas das casas, a professora McGonagall abaixou seus olhos para o longo pedaço de pergaminho e chamou o primeiro nome.

 

- Abercrombie, Euan.

 

O garoto, que parecia aterrorizado e que Harry tinha visto antes, tropeçou para frente e colocou o Chapéu em sua cabeça; ele só não caiu direto em seus ombros devido às suas orelhas bastantes proeminentes. O Chapéu pensou por um momento e então o rasgo perto da aba abriu e gritou:

 

- Grifinória!

 

Harry aplaudiu altamente com o resto da Grifinória enquanto Euan Abercrombie cambaleou até a mesa e se sentou, olhando como se gostaria de afundar na mesa e nunca mais ser olhado.

 

Vagarosamente, a longa fila de alunos do primeiro ano diminuiu. Nas pausas entre os nomes e as decisões do Chapéu Seletor, Harry podia ouvir o estômago de Rony roncando alto. Finalmente, "Zeller, Rose" foi sorteada pra Lufa-Lufa, a professora McGonagall pegou o Chapéu e o banco e os levou para fora enquanto o professor Dumbledore ficava de pé.

 

Mesmo com seus recentes sentimentos amargos em relação ao diretor, Harry ficou de alguma forma aliviado de vê-lo erguido diante de todos. Diante da ausência de Hagrid e da presença daqueles cavalos "dragonídeos", sentiu que seu retorno a Hogwarts, há tanto previsto, estava cheio de surpresas inesperadas, como notas discordantes numa música familiar. Mas isto, pelo menos, era como deveria ser: o diretor da escola se levantando para dar as boas-vindas antes do início do banquete de início do trimestre.

 

- Para os nossos novatos - disse Dumbledore numa voz titilar, seus braços bem abertos e um alegre sorriso em seus lábios -, bem-vindos! Para os nossos alunos antigos. Bem-vindos de volta! Há uma hora para fazer discursos, mas não é agora. Sirvam-se!

 

Houve uma gargalhada apreciativa e uma onda de aplausos quando Dumbledore sentou destramente e jogou suas longas barbas sobre os ombros para que ficassem longe de seu prato - pois a comida tinha aparecido do nada, então as cinco longas mesas estavam gemendo sobre carnes e tortas e pratos de vegetais, pães e molhos e garrafas de suco de abóbora.

 

- Excelente - disse Rony, com um tipo de gemido pela espera, e se apoderou da prataria mais próxima de costeletas e começou a pilhá-las em seu prato, observado ansiosamente Nick Quase Sem Cabeça.

 

- O que você estava dizendo antes da Seleção? - Hermione perguntou ao fantasma. - Sobre o Chapéu dar avisos?

 

- Ah sim - disse Nick, que parecia feliz por ter uma razão para se virar de Rony, que agora comia tomates assados com quase o mesmo indecente entusiasmo. - Sim, eu já tinha visto o Chapéu dar vários avisos antes, sempre em tempos em que ele detectava períodos de grande perigo para a escola. E sempre, é claro, seu conselho era o mesmo: fiquem juntos, sejam fortes daqui pra frente.

 

- Omo le pudi zaber qui iscolaestaem peio selechapeu? - disse Rony.

 

Sua boca estava tão cheia que Harry achou um grande feito para ele conseguir fazer qualquer som.

 

- O que foi que você disse? - Nick Quase Sem Cabeça educadamente, enquanto Hermione parecia revoltada. Rony deu uma enorme engolida e disse.

 

- Como ele pode saber se a escola está em perigo se ele é um Chapéu?

 

- Eu não tenho idéia - disse Nick Quase Sem Cabeça. - Mas, claro, se ele vive no escritório de Dumbledore, então eu temo dizer que ele pega coisas lá em cima.

 

- E ele quer que todas as casas sejam amigas? - disse Harry, olhando para a mesa de Sonserina, onde Draco Malfoy estava em sua corte de influência. - Grande chance.

 

- Bem, agora, você não deveria ter essa atitude - disse Nick, reprovando-o. - Cooperação pacífica, essa é a chave. Nós, fantasmas, mesmo pertencendo a casas diferentes, mantemos vínculos de amizade. Devido às competitividades entre Grifinória e Sonserina, eu jamais sonharia em procurar um argumento com o Barão Sangrento,

 

- Somente porque você está assustado com ele - disse Rony.

 

Nick Quase Sem Cabeça pareceu muito insultado.

 

- Assustado? Eu digo que eu, Sir Nicholas de Mimsy-Porpington, nunca fui culpado de covardia em minha vida! O sangue nobre que corre em minhas veias...

 

- Que sangue? - perguntou Rony. - Com certeza você não tem mais nenhum...?

 

- É uma figura de linguagem! - disse Nick Quase Sem Cabeça, agora tão aborrecido que sua cabeça tremia sinistramente em seu pescoço parcialmente cortado. - Eu assumo que ainda estou permitido ao prazer de usar qualquer palavra que eu goste, mesmo que os prazeres de comer e beber me sejam negados! Mas eu estou bem acostumado a alunos fazendo graça da minha morte, eu te garanto!

 

- Nick, na verdade ele não estava rindo de você! - disse Hermione, jogando um olhar furioso a Rony.

 

Infelizmente, a boca de Rony estava cheia a ponto de explodir de novo e tudo o que ele pôde tentar falar foi:

 

- Eunão stavarindo dvocê - o que não pareceu a Nick constituir uma desculpa apropriada.

 

Levantando-se ao ar, ele ajeitou seu chapéu de penas e se distanciou até o outro lado da mesa, vindo a descansar entre os irmãos Creevey, Colin e Dennis.

 

- Muito bem, Rony - disse subitamente Hermione.

 

- O quê? - disse Rony indignado, tendo conseguido, finalmente, conseguido engolir sua comida. - Não posso fazer nem uma simples pergunta agora?

 

- Ah, esquece - disse Hermione irritada, e os dois passaram o resto da refeição num insolente silêncio.

 

Harry estava bem acostumado com a disputas deles para se preocupar em reconciliá-los; achou melhor usar esse tempo para comer fixamente seu bife e sua torta de rim, e então um grande pedaço de sua favorita torta de melaço.

 

Quando todos os estudantes terminaram de comer e o nível de barulho no Salão tinha começado a aumentar de novo, Dumbledore ficou de pé mais uma vez. O falatório cessou imediatamente e todos viraram seus rostos para o diretor da Escola. Harry estava se sentindo agradavelmente sonolento agora, sua cama estava lhe esperando lá em cima maravilhosamente quente e macia...

 

- Bem, agora que estamos todos digerindo outro magnífico banquete, peço uns poucos momentos de sua atenção para os nossos usuais avisos início de ano - disse Dumbledore. - Alunos do primeiro ano devem saber que a floresta do terreno é terminantemente proibida para alunos. E uns poucos de nossos alunos mais velhos devem estar sabendo agora também - Harry, Rony e Hermione trocaram sorrisos. - Sr. Filch, o zelador, me pediu, pelo que ele me disse é a quadricentésima sexagésima segunda vez, para lembrá-los que mágica não é permitida nos corredores entre classes, nem um monte de outras coisas, todas podem ser checadas na extensa lista que agora fica fixada na porta do escritório do Sr. Filch. Nós tivemos duas mudanças na equipe de professores esse ano. Estamos muito felizes em dar as boas-vindas de volta à professora Grubbly-Plank, que estará dando aulas de Trato das Criaturas Mágicas; também estamos encantados de apresentar a professora Umbridge, nossa nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas.

 

Houve uma onda de educados e sem entusiasmo aplausos, durante a qual Harry, Rony e Hermione trocaram olhares com um pouco de pânico; Dumbledore não tinha dito por quanto tempo Grubbly-Plank estaria lecionando. Dumbledore continuou.

 

- Tentativas para os times de Quadribol das casas serão...

 

Ele parou, olhando curiosamente para a professora Umbridge. Ela não era muito mais alta em pé do que sentada, houve um momento em que ninguém entendeu o porquê de Dumbledore ter parado de falar, mas então a professora Umbridge limpou sua garganta - Hum, hum - e ficou claro que ela ficou de pé e estava querendo fazer um discurso.

 

Dumbledore apenas olhou e ficou confuso, então se sentou espertamente e olhou em alerta para a professora Umbridge, como se não tivesse desejado nada melhor que ouvi-la. Outros membros da equipe não eram tão adeptos a esconder suas surpresas. Os olhos castanhos da professora Sprout desapareceram em seus cabelos e a boca da professora McGonagall ficou tão fina quanto Harry nunca tinha visto. Nenhum professor novo tinha interrompido Dumbledore antes. Muitos estudantes estavam cochichando; essa mulher com certeza não sabia como as coisas eram feitas em Hogwarts.

 

- Obrigada, diretor - a professora Umbridge disse, sorrindo - por essas educadas palavras de boas-vindas.

 

Sua voz era muito melancólica, ofegante e parecida com a de uma garotinha e, de novo, Harry sentiu um poderoso ímpeto de desgosto que não podia explicar para si mesmo; tudo o que sabia é que tinha odiado tudo sobre ela, desde sua estúpida voz até ao peludo cardigã rosa. Ela deu mais uma pequena tosse de limpar a garganta ("hum, hum") e continuou.

 

- Bem, é adorável estar de volta a Hogwarts, e devo dizer! - sorriu, revelando dentes bastante pontudos. - E ver rostos tão felizes olhando para mim!

 

Harry olhou em volta. Nenhum dos rostos que podia ver pareciam felizes. Pelo contrário, todos pareciam confusos em serem tratados como se tivessem cinco anos de idade.

 

- Eu estou realmente esperando conhecer todos vocês e estou certa que seremos ótimos amigos!

 

Estudantes trocaram olhares com isso; alguns estavam mal concedendo caretas.

 

- Eu serei amiga dela enquanto eu não tiver que usar aquele cardigã - Pavarti sussurrou para Lilá e ambas delas caíram em silenciosas gargalhadas.

 

A professora Umbridge limpou sua garganta de novo ("hum, hum"), mas quando continuou sua voz não parecia mais ofegante. Parecia muita mais como a de alguém de negócios e suas palavras tinham um monótono som de tê-las aprendido de cor.

 

- O Ministro da Magia sempre considerou a educação de jovens bruxos e bruxas de vital importância. Os raros dons com os quais vocês nasceram poderiam não servir para nada se não fossem nutridos e afiados por instruções cuidadosas. As habilidades anciãs exclusivas para a comunidade de bruxos devem ser passadas por gerações pois podemos perdê-las para sempre. O tesouro guardado pelo conhecimento mágico passado por nossos ancestrais deve ser guardado, reabastecido e polido por aqueles que foram escolhidos para a nobre profissão de lecionar.

 

A professora Umbridge pausou e fez uma pequena referência para seus colegas de equipe, nenhum deles referenciou de volta. Os olhos castanhos escuro da professora McGonagall tinham se contraído tanto que eles positivamente pareciam com os de um falcão, e Harry distintamente a viu trocar um significante olhar com a professora Sprout enquanto Umbridge deu outro pequeno "hum, hum" e voltou para seu discurso.

 

- Cada diretor e diretora de Hogwarts tem trazido algo de novo para a pesada tarefa de governar essa histórica escola, e assim é que deveria ser, pois sem progresso haveria estagnação e decadência. Há de novo, progresso por fazer progresso deve ser desencorajado, pois nossas tentadas e testadas tradições geralmente não requerem mudanças. Um balanço então, entre velho e novo, entre permanecer e mudar, entre tradição e inovação...

 

Harry viu sua atenção decaindo, como seu cérebro saísse e voltasse de uma canção. O silêncio que sempre se enchia no Salão quando Dumbledore estava falando estava sumindo enquanto alunos colocavam as cabeças juntos, cochichando e murmurando. Na mesa da Corvinal, Cho Chang estava tagarelando animadamente com usas amigas. A uns poucos assentos depois de Cho, Luna Lovegood tinha tirado o The Quibbler de novo. Nesse instante, na mesa da Lufa-lufa, Ernie MacMillan era um dos poucos que ainda olhava para a professora Umbridge, mas usava óculos e tinha certeza que estava apenas fingindo que ouvia apenas para fazer valer seu novo distintivo de monitor brilhando em seu peito.

 

A professora Umbridge parecia nem ter percebido a inquietação de sua platéia. Harry teve a impressão que uma revolta de grande escala podia ter surgido sobre seu nariz que teria continuado com seu discurso. Os professores, no entanto, ainda estavam prestando bastante atenção e Hermione parecia estar bebendo cada palavra que Umbridge dizia, ainda que, julgando pela sua expressão, não era de jeito nenhum de seu gosto.

 

- ...Porque algumas mudanças virão para melhor, enquanto outras virão, ao completar o tempo, a ser reconhecidas como erros de julgamento. Enquanto isso, alguns velhos hábitos serão mantidos, e com o mesmo direito, haverá outros, fora de moda e fora de gasto que devem ser abandonados. Vamos ir para frente, então, entrem numa era de aberturas, efetividade e acontabilidade, com o intento de preservar o que deve ser preservado e aperfeiçoar o que deve ser aperfeiçoado, podendo sempre que acharmos práticas que deveriam ser proibidas.

 

Ela sentou. Dumbledore aplaudiu. O corpo docente seguiu sua liderança, no entanto Harry percebeu que muitos juntaram suas mãos apenas uma ou duas vezes antes de parar. Uns poucos estudantes se juntaram, mas a maioria tinha ficado desavisados no final do discurso, não tendo ouvido mais que algumas poucas palavras dele, e antes de pudessem aplaudir propriamente Dumbledore tinha se levantado de novo.

 

- Muito obrigado professora Umbridge, isso foi bastante esclarecedor - ele disse, referenciando-se. - Agora, como eu estava dizendo, seleções de Quadribol serão...

 

- Sim, foi realmente esclarecedor - disse Hermione numa voz baixa.

 

- Você não está me dizendo que gostou? - Rony disse quietamente, virando um rosto evidraçado em Hermione. - Este foi um dos discursos mais chatos que eu já ouvi, e eu cresci com Percy.

 

- Eu disse esclarecedor, não agradável - disse Hermione. - Ela explicou muito.

 

- Foi? - disse Harry em surpresa. - Soou como um monte de bobeira para mim.

 

- Havia coisas importantes escondidas nessas bobeiras - disse Hermione espantada.

 

- Tinha? - disse Rony, empalidecendo.

 

- Que tal: "progresso por fazer progresso deve ser desencorajado"? Ou então "podendo sempre que acharmos práticas que deveriam ser proibidas"?

 

- Bem, o que isso significa? - disse Rony impacientemente.

 

- Eu vou dizer o que isso significa - disse Hermione por entre os dentes, que rangiam. - Isso significa que o Ministério está interferindo em Hogwarts.

 

Houve uma grande barulheira ao redor deles; Dumbledore tinha obviamente dispensado a escola, porque todos estavam de pé prontos para deixar o Salão. Hermione pulou, parecendo perturbada.

 

- Rony, nós deveríamos estar mostrando aos calouros aonde eles devem ir!

 

- Ah é - disse Rony, que tinha obviamente esquecido. - Hey... hey, vocês! Pigmeus!

 

- Rony!

 

- Bem, eles são, eles são baixinhos...

 

- Eu sei, mas você não pode chamá-los de pigmeus! Novatos! - Hermione os chamou, comandando-os pela mesa. - Por aqui, por favor!

 

Um grupo de novos estudantes andou timidamente pelo espaço entre a mesa da Grifinória e Lufa-lufa, todos dificilmente tentando não liderar o grupo. Realmente pareciam muito pequenos; Harry estava certo que não parecia tão novo quando chegara ali. Fez caretas a eles. Um garoto loiro próximo a Euan Abercrombie petrificado cutucou Euan e cochichou algo em seu ouvido. Euan Abercrombie olhou igualmente assustado e roubou um olhar horrorizado de Harry, que sentiu a careta desaparecer de seu rosto como bombas de bosta.

 

- Vejo vocês depois - ele disse monotonamente para Rony e Hermione e fez seu caminho fora do Salão Principal sozinho, fazendo tudo o que podia para ignorar mais cochichos, olhares e apontamentos enquanto ele passava.

 

Mantinha seus olhos fixos enquanto cortava seu caminho pela multidão na Saguão de Entrada, correu pela escadaria, pegou alguns atalhos de caminhos conhecidos e logo deixou a maior parte da multidão para trás.

 

Tinha sido estúpido em não esperar por isso, pensou raivosamente pelos corredores muito mais vazios acima das escadas. Claro que todos olhavam para ele; tinha emergido do labirinto do Tribruxo dois meses atrás carregando o corpo morto de um amigo estudante e clamando que viu Lord Voldemort retornar ao poder. Não houve tempo no último ano para se explicar antes de todos terem ido pra casa - mesmo que tivesse tido vontade de dar a toda a escola um detalhado conto sobre os terríveis acontecimentos naquele cemitério.

 

Harry alcançou o final do corredor da sala da Grifinória e parou em frente do retrato de uma Mulher Gorda antes de perceber que não sabia a nova senha...

 

- Er... - disse sonsamente, olhando para a Mulher Gorda, que amaciava as bordas de seu vestido rosa e olhava seriamente a ele.

 

- Sem senha, sem entrada - ela disse elevadamente.

 

- Harry, eu sei! - alguém apareceu atrás dele e Harry virou para ver Neville passando à sua frente. - Adivinhe o que é? Na verdade eu serei apto a lembrar de uma vez por todas... - ele balançou o estonteado pequeno cacto que tinha mostrado no trem. - Mimbuius mimbletonia!

 

- Correto - disse a Mulher Gorda e seu retrato se abriu para frente deles como uma porta, revelando um buraco circular na parede atrás, o qual Harry e Neville agora escalavam.

 

A sala da Grifinória parecia tão bem-vinda como nunca, uma sala torre circular acolhedora cheia de dilapidadas e esmagadas poltronas e desconjuntadas velhas mesas. Um fogo estalava alegremente numa grelha e algumas poucas pessoas estavam aquecendo suas mãos nele antes de irem para seus dormitórios; do outro lado da sala Fred e Jorge Weasley estavam pendurando algo no quadro de notícias. Harry deu boa noite a eles e foi direto para a porta dos dormitórios dos garotos; não estava com muito humor para conversas no momento. Neville o seguiu.

 

Dino Thomas e Simas Finnigan tinham alcançado o dormitório antes e estavam no processo de cobrir as paredes ao lado de suas camas com pôsteres e fotografias. Estavam conversando quando Harry empurrou para abrir a porta mas pararam abruptamente no momento em que o avistaram. Harry imaginou se eles estiveram falando de si ou estava ficando paranóico.

 

- Oi - disse, movendo-se para seu próprio malão e abrindo-o.

 

- Hey, Harry - disse Dino, que estava colocando um par de pijamas nas cores do West Ham. - Boas férias?

 

- Não foi ruim - murmurou Harry, como se a verdade sobre suas férias teria pegado a maior parte da noite para relatar e não podia encarar. - Você?

 

- É, foi ok - disse Dino com um riso contido. - Melhor que Simas, de qualquer forma, ele estava me falando agora mesmo.

 

- Por quê, o que aconteceu, Simas? - Neville perguntou enquanto colocava sua Mimbuius mimbletonia carinhosamente no armário ao lado da cama.

 

Simas não respondeu imediatamente, estava perdendo bastante tempo se assegurando que seu pôster do time de quadribol Kenmare Kestrels estava bem certo. Então disse, com as costas ainda viradas para Harry.

 

- Minha mãe não queria que eu voltasse.

 

- O quê? disse Harry, pausando o ato de tirar suas vestes.

 

- Ela não me queria de volta em Hogwarts.

 

Simas se distanciou de seu pôster e tirou seu pijama do seu malão, ainda não olhando para Harry.

 

- Mas... Por quê? - disse Harry, assombrado. Sabia que a mãe de Simas era uma bruxa e não podia entender, entretanto, o porquê de ela ter ficado tão parecida com os Dursley.

 

Simas não respondeu até ter terminado de abotoar seus pijamas.

 

- Bem - ele disse com uma voz medida. - Eu acho... Que é por causa de você.

 

- O que você que dizer? - disse Harry rapidamente.

 

Seu coração batia bem rápido. Sentiu vagamente que algo se aproximava.

 

- Bem - disse Simas de novo, ainda evitando os olhos de Harry. - Ela... Er... Bem, não é apenas você, é Dumbledore, também...

 

- Ela acredita no Profeta Diário. Ela acha que eu sou um mentiroso e que Dumbledore é um velho tolo?

 

Simas o olhou.

 

- É, algo assim.

 

Harry não disse nada. Jogou sua varinha na mesa ao lado da cama, tirou suas vestes, juntou-os nervoso em seu malão e tirou seus pijamas. Estava cansado disso: cansou de ser a pessoa que todos olhavam e falavam sobre todo o tempo. Se algum deles soubesse, se algum deles tivesse a menor idéia do que era se sentir ser o único em qual todas essas coisas aconteceram... A Sra. Finnigan não tinha idéia, aquela mulher estúpida, pensou raivosamente.

 

Foi para a cama e ia puxar as cobertas em volta de si mas antes de fazê-lo Simas disse.

 

- Olha... O que aconteceu naquela noite quando... Você sabe, quando... Com Cedrico Diggory e tudo o mais?

 

Simas soava nervoso e ansioso ao mesmo tempo. Dino, que estava juntando suas coisas para pegar um chinelo, ficou estranhamente parado e Harry sabia que ele ouvia tudo.

 

- Pra que você me pergunta? - Harry replicou. - Apenas leia ao Profeta Diário como sua mãe, por que não? Ele lhe dirá tudo o que você precisa saber.

 

- Você não precisa falar da minha mãe - Simas devolveu.

 

- Eu falarei de qualquer um que me chame de mentiroso.

 

- Não fale assim comigo!

 

- Eu falo com você do jeito que eu quiser - disse Harry, com seu temperamento subindo tão rápido que agarrou sua varinha de volta da mesa. - Se você tem um problemas em dividir um dormitório comigo, vá e pergunta a McGonagall se você pode mudar... Pare de preocupar sua mamãezinha.

 

- Deixe minha mãe fora disso, Potter!

 

- O que está acontecendo?

 

Rony tinha aparecido na porta. Seus longos olhos passaram por Harry, que estava ajoelhado em sua cama com a varinha apontada para Simas, para Simas, que estava em pé com seus punhos levantados.

 

- Ele está falando da minha mãe! - Simas gritou.

 

- O quê? - disse Rony. - Harry não faria isso. Nós conhecemos sua mãe, gostamos dela...

 

- Isso era antes de ela começar a acreditar em cada palavra que aquele fedorento do Profeta Diário escreve de mim! - disse Harry no topo de sua voz.

 

- Ah - disse Rony, uma linha de compreensão se desenhou sobre seu rosto sardento. - Ah... Certo.

 

- Você sabe o quê? - disse Simas quente, dando a Harry um olhar venenoso. - Ele está certo, eu não quero mais dividir o dormitório com ele mais, ele é louco!

 

- Isto está fora de questão, Simas - disse Rony, cuja orelhas começavam a ficar vermelhas, o que era sempre um sinal de perigo.

 

- Fora de questão? - gritou Simas, que em contraste a Rony estava pálido. - Você acredita nas besteiras que ele fala sobre Você-Sabe-Quem, não é? Você acha que ele está falando a verdade?

 

- Sim, eu acho - disse Rony, nervoso.

 

- Então você é louco também - disse Simas com desgosto.

 

- É? Bem, infelizmente para você, amigo, eu também sou monitor! - disse Rony, mirando a si mesmo no peito com o dedo. - Então a não ser que você queira uma detenção olhe o palavreado comigo!

 

Simas olhou por uns segundos como se detenção fosse um preço razoável a pagar para dizer o que estava passando pela sua mente; mas com um som de contentamento virou seus calcanhares, caiu na cama e puxou as cobertas com tanta violência que foram arrancadas da cama e caíram numa empoeirada pilha no chão. Rony encarou Simas, então olhou Dino e Neville.

 

- O pais de mais alguém têm algo contra Harry? - disse agressivamente.

 

- Meus pais são trouxas, cara - disse Dino, encolhendo os ombros. - Eles não sabem nada sobre mortes em Hogwarts, porque eu não sou idiota de falar para eles.

 

- Você não conhece minha mãe. Ela descobre qualquer coisa de qualquer pessoa! - Simas revidou. - De qualquer forma, seus pais não lêem o Profeta Diário, não sabem que nosso diretor foi expulso de Wizengamot e da Confederação Internacional de Bruxos porque ele está perdendo sua sanidade...

 

- Minha avó diz que isso é mentira - interrompeu Neville. - Ela disse que é o Profeta Diário que está decaindo, não Dumbledore. Ela cancelou nossa assinatura. Nós acreditamos em Harry - disse Neville simplesmente. Subiu em sua cama e puxou a coberta até seu queixo, olhando como uma coruja até Simas. - Meus avós sempre disseram que Você-Sabe-Quem voltaria um dia. Ela disse que se Dumbledore diz que ele voltou, ele voltou.

 

Harry sentiu um ímpeto de gratidão em relação a Neville. Ninguém mais falou nada. Simas pegou sua varinha, consertou a coberta da cama e sumiu atrás delas. Dino foi para cama, rolou sobre ela e caiu em silêncio. Neville, que parecia não ter mais nada a dizer também, estava contemplando fixamente seu enluarado cacto.

 

Harry caiu sobre seu travesseiro enquanto Rony caminhou para a próxima cama, colocando suas coisas. Ele levantou, tremendo pela briga com Simas, de quem sempre tinha gostado muito. Quantas pessoas sugeririam que ele estava mentindo, ou inventando?

 

Tinha Dumbledore sofrido tudo isso o verão, primeiro com o Wizengamot, depois com a Confederação Internacional de Bruxos, expulsando-o de seu lugar? Estavam ele furiosos com Harry, talvez, que fez Dumbledore parar de mantê-lo informado por meses? Os dois estavam nisso juntos, no final das contas. Dumbledore tinha acreditado em Harry, anunciando sua versão da história por toda a escola e então para toda comunidade de bruxos. Qualquer um que achasse que Harry era um mentiroso tinha que achar que Dumbledore também era ou então que o diretor ficou maluco...

 

"Eles verão que nós estamos certos no final", pensou Harry miseravelmente, foi para a cama e apagou a última vela no dormitório. Mas imaginou quantos outros ataques como esse de Simas teria que agüentar até que essa hora viesse.

 

 

PROFESSORA UMBRIDGE

Simas se vestiu a toda velocidade na manhã seguinte e deixou o dormitório antes mesmo de Harry pôr suas meias.

 

- Ele acha que vai virar um NUTTER se ficar na mesma sala que eu muito tempo? - Harry perguntou alto enquanto a bainha da capa de Simas saía de vista.

 

- Não esquenta com isso Harry - Dino murmurou enquanto encaixava sua mochila em seus ombros. - Ele só está...

 

Mas aparentemente ele era incapaz de dizer exatamente como Simas estava, e depois de uma pequena e embaraçosa pausa também saiu do dormitório.

 

Neville e Rony deram a Harry aquele olhar de é-problema-dele-não-seu, mas ele não se consolou muito. Quanto mais disso teria que agüentar?

 

- Qual o problema? - Hermione perguntou quando os encontrou no meio da sala comunal enquanto se dirigiam para o café da manhã. - Você está parecendo... Oh, tenha santa paciência...

 

Ela estava olhando para o quadro de avisos, onde um novo e grande cartaz havia sido pregado.

 

"GALÕES DE GALEÕES - Sua mesada não dá para o gasto? Gostaria de ganhar uma graninha extra? Entre em contato com Fred e Jorge Weasley, sala comunal da Grifinória, para um simples, de pouco tempo, e virtualmente indolor trabalho (lastimamos que todo trabalho será por sua conta e risco)."

 

- Eles estão no limite - Hermione falou severamente, arrancando o cartaz que Fred e Jorge tinham pendurado por cima de um pôster informativo sobre o primeiro fim de semana em Hogsmeade, que seria em outubro. - Nós temos que falar com eles, Rony.

 

Rony ficou positivamente alarmado.

 

- Por quê?

 

- Porque nós somos monitores! - disse hermione enquanto saíam pelo buraco do retrato. - Nós temos que impedir esse tipo de coisa!

 

Rony não disse nada; Harry podia dizer pela sua cara que a perspectiva de impedir Fred e Jorge de fazer exatamente o que queriam não era nem um pouco atraente.

 

- Bom... O que tá acontecendo Harry? - Hermione continuou, enquanto desciam correndo as escadas cheias de retratos de bruxas e bruxos antigos, todos os ignorando e entretidos em suas próprias conversas. - Você parece mesmo brabo com algo.

 

- Simas pensa que Harry está mentindo sobre Você-Sabe-Quem - disse Rony brevemente, quando Harry não respondeu.

 

Hermione, que Harry esperava reagir agressivamente em sua defesa, suspirou.

 

- É, Lilá pensa assim também - disse abatida.

 

- Estava tendo uma boa conversinha com ela sobre se eu estou ou não mentindo, mimado chamando atenção, não é? - disse Harry alto.

 

- Não - Hermione disse calmamente -, na verdade eu disse pra ela ficar com a grande e gorda boca dela fechada sobre você. E seria muito bom se você parece de pular no nosso pescoço, Harry, porque se você ainda não percebeu, Rony e eu estamos do seu lado.

 

Houve uma curta pausa.

 

- Desculpem - disse Harry baixinho.

 

- Tá tudo bem - disse Hermione com dignidade. Então ela balançou sua cabeça. - Você não lembra o que Dumbledore disse na festa do fim do período letivo?

 

Harry e Rony olharam pra ela sem ação e Hermione suspirou de novo.

 

- Sobre Você-Sabe-Quem. Ele disse que "seu talento para disseminar a desarmonia e a inimizade é grande". Nós podemos lutar contra isso somente se mostrarmos um grande laço de amizade e verdade igualmente forte.

 

- Você se lembra dessas coisas? - perguntou Rony, olhando para ela com admiração.

 

- Eu escuto Rony - disse Hermione com um pouco de aspereza.

 

- Eu também, mas eu não posso dizer exatamente o quê.

 

- A questão - Hermione continuou mais alto - é exatamente sobre isso que Dumbledore falava. Você-Sabe-Quem só está de volta há dois meses e nós já estamos lutando uns contra os outros. E o Chapéu Seletor disse a mesma coisa, fiquem juntos, sejam unidos.

 

- Harry sentiu isso mesmo a noite passada -  rebateu Rony. -  Se isso quer dizer que devemos nos misturar com a Sonserina... Esqueça.

 

- Bem, eu acho que é uma pena não tentarmos uma união entre as casas - disse Hermione irritada.

 

Eles chegaram ao fim da escada de mármore. Uma fileira de alunos do quarto ano da Corvinal cruzavam o hall de entrada; viram Harry e se apressaram a formar um grupo mais unido, como se tivessem medo de ele atacá-los.

 

- Tá, a gente tem mesmo que tentar ser amigos de gente como essa aí - Harry falou, sarcástico.

 

Seguiram os alunos da Corvinal para o Salão Principal, todos olhando instintivamente para a mesa dos professores. A professora Grubbly-Plank estava conversando com a professora Sinistra, a professora de Astronomia, e Hagrid mais uma vez estava ausente. O teto encantado sobre eles combinava com o humor de Harry; estava com um miserável cinza-chuva.

 

- Dumbledore nem mencionou por quanto tempo essa Grubbly-Plank vai ficar? - ele disse enquanto abriam caminho para a mesa da Grifinória.

 

- Talvez... - disse hermione pensativamente.

 

- O quê? - perguntaram Rony e Harry ao mesmo tempo.

 

- Bem... Talvez ele não queira chamar atenção para o fato de Hagrid não estar aqui.

 

- O que você quer dizer com chamar a atenção? - disse Rony meio rindo. - Como a gente deixaria de reparar?

 

Antes de Hermione poder responder uma garota negra, alta, com um longa trança marchou em direção de Harry.

 

- Oi Angelina.

 

- Oi - disse ela alegremente. - Teve um bom verão? - e sem esperar por uma resposta. - Escuta, eu fui eleita capitã do time de quadribol.

 

- Legal - disse Harry, sorrindo para ela, achava que as preleções de Angelina como capitã não seriam tão longas como de Olívio Wood, o que só seria uma melhora.

 

- É, bem, nós precisamos de um novo goleiro agora que Olívio foi embora. Os testes são na sexta-feira às 5 horas e eu quero o time todo lá, certo? Aí vamos ver se o escolhido vai se entrosar.

 

- Tá bom - disse Harry.

 

Angelina sorriu e foi embora.

 

- Eu tinha esquecido que Olívio foi embora - disse Hermione vagamente enquanto sentava ao lado de Rony e puxava um prato de torradas para perto de si. - Eu imagino que vai fazer muito diferença pro time, não?

 

- É, imagino que sim - disse Harry, sentando do outro lado da mesa. - Ele era um bom goleiro.

 

- Mesmo assim, não vai fazer mal ter um pouco de sangue novo não acha? - disse Rony.

 

Com estrépito, centenas de corujas entraram voando pelas janelas superiores. Elas desceram pelo Salão Principal, levando cartas e pacotes para seus donos e respingando água pelos alunos, claramente estava chovendo forte lá fora. Edwiges não estava entre elas, mas Harry não estava nada surpreso; o único correspondente dele era Sirius, e duvidava que Sirius tivesse algo novo para lhe falar depois de somente 24 horas da partida deles. Hermione, no entanto, teve que mover rápido seu copo de suco para o lado para fazer espaço para uma grande coruja de Igreja segurando um Profeta Diário encharcado no bico.

 

- Por que você ainda está recebendo isso? - disse Harry irritado, pensando em Simas enquanto Hermione colocava um nuque na bolsinha de couro da coruja, que se foi. - Eu não me incomodaria... Um monte de porcaria.

 

- É sempre melhor saber o que o inimigo está dizendo - disse Hermione sombriamente, desdobrou o jornal e desapareceu atrás dele, não saindo até que Harry e Rony terminaram de comer.

 

- Nada - ela disse simplesmente, enrolando o jornal e colocando ao lado de seu prato. - Nada sobre você ou sobre Dumbledore ou sobre qualquer coisa.

 

A professora Minerva estava agora andando entre as mesas, distribuindo os horários.

 

- Olha só hoje! - gemeu Rony. - História da magia, duas aulas de Poções, Adivinhação e Defesa Contra as Artes das Trevas. Dupla.... Binns, Snape, Trelawney e a tal professora Umbridge, tudo em um dia! Eu queria que Fred e Jorge andassem rápido com aqueles Skiving Snackboxes.

 

- Meus ouvidos me enganam? - disse Fred, chegando com Jorge e se espremendo no banco ao lado de Harry. - Os monitores de Hogwarts certamente não desejariam perder suas aulas?

 

- Olha o que a gente tem hoje - disse Rony emburrado, enfiando seu horário de aulas debaixo do nariz de Fred. - Essa é a pior segunda-feira que eu já vi.

 

- Louvável ponto de vista, mano - disse Fred, olhando o horário. - Você pode ter um pouco de dose de sangra nariz barato se quiser.

 

- Por que é barato? - disse Rony desconfiado.

 

- Porque vai ficar sangrando até você murchar, nós ainda não temos o antídoto - disse Jorge, servindo-se de salmão defumado.

 

- Animador - disse Rony bem humorado, puxando seu horário. - Mas acho que vou assistir às aulas.

 

- E falando em sua Skiving Snackboxes -  disse Hermione, olhando Fred e Jorge -, vocês não podem colocar cartazes atrás de cobaias no mural da Grifinória.

 

- Quem disse? - disse Jorge parecendo perplexo.

 

- Eu digo -  disse Hermione. - E Rony.

 

- Me deixa fora disso - disse Rony ansiosamente.

 

Hermione olhou para ele. Fred e Jorge riram.

 

- Você vai estar cantando outra música logo, logo, Hermione - disse Fred, passando manteiga numa torrada. - Vocês estão começando o quinto ano, vão estar implorando por um Snackbox logo.

 

- E por que começar o quinto ano significa querer Skiving Snackbox? - perguntou Hermione.

 

- Quinto ano é ano de N.O.M. - disse Jorge.

 

- E daí?

 

- E daí que você tem seus exames de N.O.M.s chegando, não tem? Eles vão fazer vocês enfiarem seus narizes no amolador que eles vão ser esfolados - disse Fred com satisfação.

 

- Metade da nossa turma teve pequenos colapsos quando chegou o exame - disse Jorge alegremente. - Lágrimas e acessos de raiva. Patricia Stimpson não parava de desmaiar.

 

- Kenneth Towler se encheu de furúnculos, lembra? - disse Fred rememorando.

 

- Isso porque você colocou pó de Bulbadox no pijama dele - disse Jorge.

 

- Ah é - disse Fred sorrindo. -  Eu esqueci... Difícil lembrar de tudo às vezes, não é?

 

- De qualquer maneira, é um pesadelo de ano, o quinto - disse Jorge. - Se você se importa com os resultados dos exames. Fred e eu demos um jeito de manter o ânimo de qualquer forma.

 

- Tá... Vocês tiveram... Quanto foi mesmo, 3 N.O.M.s cada um? - disse Rony.

 

- Isso aí... - disse Fred despreocupado. - Mas nós pensamos que nosso futuro está fora do mundo acadêmico.

 

- Nós debatemos seriamente se vamos nos incomodar em voltar pro sétimo ano - disse Jorge animadamente.  - Agora que nós temos...

 

Ele parou ao olhar de aviso de Harry, que sabia que Jorge esteve a ponto de mencionar o prêmio do Torneio Tribruxo que havia dado a eles.

 

- ...Agora que nós temos nossos N.O.M.s - disse Jorge apressadamente.- Digo, nós precisamos mesmo de N.O.M.s? Mas não achamos que mamãe vai deixar a gente deixar a escola, ainda mais agora com Percy se revelando o maior imbecil do mundo.

 

- Nós não vamos desperdiçar nosso último ano aqui - disse Fred, olhando carinhosamente para o Salão Principal. - Nós vamos usar esse tempo para fazer um pouco de pesquisa de mercado, descobrir exatamente o que o estudante médio de Hogwarts quer de uma loja de logros, avaliar com cuidado os resultados da nossa pesquisa, e então produzir produtos que se encaixem à demanda.

 

- Mas onde vocês vão conseguir o ouro para começar a loja de logros? - Hermione perguntou céptica. - Vocês vão precisar de todos materiais e ingredientes, eu suponho...

 

harry não olhou para os gêmeos. Seu rosto ficou quente; ele deliberadamente derrubou um garfo e mergulhou para baixo para pegá-lo. Ele ouviu Fred por cima de sua cabeça.

 

- Não nos faça perguntas e nós não te contaremos mentiras, Hermione. Vamos Jorge, se a gente chegar lá cedo vai dar para vender algumas Orelhas Extensíveis antes de Herbologia.

 

Harry emergiu de baixo da mesa para ver Fred e Jorge indo embora, cada um carregando uma pilha de torradas.

 

- O que eles quiseram dizer? - disse Hermione, olhando para Harry e Rony. - "Não nos faça perguntas". Isso quer dizer que eles já têm algum ouro pra começar a loja de logros?

 

- Sabe, eu andei pensando nisso - disse Rony, com as sobrancelhas franzidas. - Eles me compraram um jogo novo de trajes esse verão e eu não consigo entender de onde tiraram os galeões...

 

Harry decidiu que era hora de desviar a conversa dessas águas perigosas.

 

- Você acha que esse ano vai ser mesmo duro? Por causa dos exames?

 

- Ah, claro - disse Rony. - Seguramente tem que ser, não é? N.O.M.s são super importantes, afeta a profissão que você vai seguir e tudo mais. Nós vamos ter também conselheiros para escolha da profissão, no fim do ano, Gui me disse, assim você pode escolher os N.I.E.M.s (Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia) que você vai fazer no próximo ano.

 

- Você sabe o que você quer fazer depois de Hogwarts? - Harry perguntou para os outros dois, enquanto deixavam o Salão Principal e se dirigiam para a aula de História da Magia.

 

- Ainda não - disse Rony devagar. - Exceto... Bem... - ele parecia embaraçado.

 

- O quê? - Harry o apressou.

 

- Bem , seria legal ser um Auror - disse Rony em uma voz sem cerimônia.

 

- É, seria sim - disse Harry apaixonadamente.

 

- Mas, eles são, sabe? Como a elite - disse Rony. - Você tem que ser realmente bom. E você, Hermione?

 

- Eu não sei. Eu penso que farei algo realmente valoroso.

 

- Um Auror é valoroso! - disse Harry.

 

- É, claro que é, mas não é a única coisa que vale a pena - disse pensativa. - Digo, se eu pudesse fazer os exames de N.I.E.M.s mais tarde...

 

Harry e Rony evitaram se olhar.

 

História da Magia era de comum acordo o assunto mais enfadonho jamais visto nos meios da magia. O Professor Binns, seu professor fantasma, tinha uma voz asmática e monótona que certamente causava severa sonolência em dez minutos, cinco com o tempo quente. Ele nunca variava sua forma de dar as aulas, nunca fazia uma pausa enquanto olhava os alunos tomarem notas, ou mesmo enquanto olhavam sonolentos para o espaço. Harry e Rony tinham até dado um jeito de passar raspando nessa matéria somente por copiar as notas de Hermione antes dos exames; somente ela parecia apta a resistir ao sonífero poder da voz de Binns.

 

Naquele dia sofreram uma hora e meia babando em uma aula sobre a guerra dos gigantes. Harry ouviu somente o suficiente dos primeiros 10 minutos para saber que nas mãos de outro professor esse assunto seria muito interessante, mas aí seu cérebro se desconectou e ele passou o restante da um hora e vinte minutos jogando forca com Rony no canto de seu pergaminho, enquanto Hermione dardejava olhares raivosos para eles pelo canto dos seus olhos.

 

- Como seria - ela perguntou friamente, enquanto eles deixavam a sala de aula para um recesso (Binns desaparecendo através do quadro negro) - se eu me recusasse a emprestar minhas notas pra vocês esse ano?

 

- Nós seriamos reprovados nos nossos N.O.M.s - disse Rony. - Se você quer isso na sua consciência, Hermione...

 

- Bem, vocês bem que merecem isso - ela rebateu. - Vocês nem tentam ouvi-lo, tentam?

 

- Nós tentamos - disse Rony. - Nós só não temos seu cérebro ou sua memória e nem mesmo sua concentração, você é simplesmente mais esperta que nós. Que você acha disso?

 

- Ah, nem vem com essas besteiras - Hermione disse, mas ela parecia ter amolecido um pouco enquanto os guiava para o pátio.

 

Uma garoa fina estava caindo então os alunos estavam pelos cantos do pátio, que estava abarrotados. Harry, Rony e Hermione escolheram um canto debaixo de um balcão gotejante, levantando as golas das suas capas contra o frio ar de setembro e falando sobre o que possivelmente Snape lhes daria como primeira aula do ano. Concordaram que com certeza seria algo de extrema dificuldade, só para pegá-los com a guarda abaixada depois de dois meses de férias, e de repente alguém virou a esquina e foi em direção a eles.

 

- Olá Harry!

 

Era Cho Chang e, o que era fantástico, estava só outra vez. Isso não era normal: Cho estava quase sempre cercada por um bando de meninas risonhas; Harry lembrava da agonia que tinha sido tentar pegá-la sozinha para convidá-la para o Baile de Inverno.

 

- Oi - Harry disse, sentindo seu rosto pegar fogo. "Ao menos você não está coberto de gosma dessa vez", ele pensou consigo. Cho parecia pensar a mesma coisa.

 

- Você conseguiu se livrar daquilo então?

 

- É - disse Harry, tentando sorrir como se a lembrança do último encontro deles fosse engraçada em vez de mortificante. - Eh, e então você teve... Um... Bom verão?

 

No momento que ele disse isso desejou ter ficado de boca fechada - Cedrico fora namorado de Cho e a memória de sua morte devia ter afetado as férias dela tanto quanto afetara a sua.

 

O rosto de Cho se retesou, mas ela disse.

 

- Oh, foi tudo bem, você sabe...

 

- Esse é um distintivo dos Tornados? - Rony perguntou subitamente, apontando para a capa de Cho, onde um distintivo azul céu decorado com um duplo T estava preso. - Você não torce por eles, torce?

 

- Sim, eu torço - disse Cho.

 

- Você sempre torceu por eles ou só agora que eles começaram a ganhar? - disse Rony, no que Harry considerou uma tom desnecessariamente acusatório.

 

- Eu torço pra eles desde que eu tinha seis anos - disse Cho friamente. - Bom... Te vejo depois Harry.

 

Ela foi embora. Hermione esperou até Cho sumir de vista antes de atacar Rony.

 

- Você é tão sem tato!

 

- Que foi? Eu só pergunte se...

 

- Você não percebeu que ela queria falar com Harry a sós?

 

- E daí? Ela podia ter falado, eu não estava impedindo...

 

- Por que você estava atacando ela sobre seu time de quadribol?

 

- Atacando? Eu não estava atacado, eu estava apenas...

 

- Quem se interessa pra quem torce pros Tornados?

 

- Ah, que é isso, metade das pessoas que você vê usando esses distintivos só compraram na última temporada...

 

- Mas o que isso IMPORTA!

 

- Isso quer dizer que eles não são realmente fãs, eles estão somente seguindo a moda...

 

- É o sino - disse Harry a tempo, porque Rony e Hermione estavam brigando em voz tão alta que nem ouviram.

 

Eles não pararam de discutir durante todo o caminho até a masmorra de Snape, o que deu tempo a Harry para refletir que entre Neville e Rony teria muita sorte se conseguisse dois minutos de conversa com Cho do que pudesse se lembrar depois sem querer fugir do país.

 

E ainda assim, pensou enquanto se juntava à turma em frente à sala de aula de Snape, ela tinha escolhido ir falar com ele, não tinha? Ela tinha sido namorada de Cedrico; podia facilmente odiar Harry por ter saído vivo do Torneio Tribruxo enquanto Cedrico havia morrido, ainda assim estava falando com ele no modo mais amigável, não como se pensasse que ele fosse louco ou mentiroso ou de alguma maneira terrível fosse responsável pela morte de Cedrico... Sim, ela definitivamente tinha escolhido ir falar com ele e tinha feito isso pela segunda vez em dois dias... Com esse pensamento o espírito de Harry se animou. Mesmo o som agourento da porta da masmorra de Snape abrindo não diminuiu a pequena esperançosa bolha que parecia ter inchado em seu peito. Ele entrou na sala atrás de Rony e Hermione e os seguiu até uma mesa nos fundos, onde sentou entre ambos e ignorou os ruídos melindrosos e irritantes que vinham dos dois.

 

- Sentem-se - disse Snape friamente, fechando a porta atrás de si.

 

Não havia a necessidade de chamar por ordem, no momento que a classe ouviu a porta fechar o silêncio caiu e todo movimento cessou. A mera presença de Snape era normalmente o suficiente para assegurar o silêncio da classe.

 

- Antes de começarmos a aula de hoje - disse Snape, atirando-se para sua mesa e virando para os encarar - eu acredito que seja apropriado lembrá-los que em junho vocês vão estar encarando um exame importante, durante o qual cada um vai estar provando o quanto aprendeu sobre a composição e o uso das poções mágicas. Sendo alguns dessa classe claramente estúpidos, eu espero de vocês um sofrível "Aceitável" em seus N.O.M.s, ou vão sofrer meu... Descontentamento.

 

Seu olhar buscou dessa vez Neville, que engoliu em seco.

 

- Depois desse ano, é claro, muitos de vocês não vão mais estudar comigo - Snape continuou. - Eu apenas aceito os melhores em minhas classes para os N.I.E.M.s, o que certamente quer dizer que alguns de vocês estarão se despedindo.

 

Seus olhos pousaram em Harry e seus lábios de curvaram. Harry o encarou de volta, sentindo certo prazer em pensar que poderia desistir de Poções depois do quinto ano.

 

- Mas ainda temos um ano antes desse momento alegre de despedida - disse suavemente - então estando ou não vocês dispostos a tentar os N.I.E.M.s eu aconselho todos a concentrarem todos seus esforços em manter os níveis mais altos como espero de meus estudantes de N.O.M.s. Hoje nós vamos misturar uma poção que costuma ser dada em Níveis Ordinários de Magia: o Gole da Paz, a poção para acalmar a ansiedade e suavizar a agitação. Tenham cuidado: se você pesar a mão nos ingredientes vão colocar quem a beber em um sono pesado e às vezes irreversível, então precisam prestar muita atenção no que estão fazendo - à sua esquerda, Hermione sentou um pouco mais ereta, sua expressão de extrema concentração. - Os ingredientes e método - disse Snape, balançando sua varinha - estão no quadro negro - eles apareceram no quadro. - Vocês vão encontrar tudo que precisam - balançou sua varinha de novo - no armário de estoque - a porta do dito armário se abriu. - Vocês têm uma hora e meia... Comecem.

 

Assim como Harry, Rony e Hermione tinham predito, Snape não poderia ter lhes dado poção mais difícil. Os ingredientes tinham que ser adicionados ao caldeirão na ordem e quantidade corretas; a poção tinha que ser mexida um número exato de vezes, primeiro no sentido horário e então no anti-horário; o fogo em que estava sendo cozinhado tinha que ser baixado a um determinado grau por um numero especifico de minutos antes que o ingrediente final fosse adicionado.

 

- Um leve vapor prateado deve estar agora levantando de suas poções - avisou Snape, com dez minutos para o fim do tempo dado.

 

Harry, que estava suando profusamente, olhou desesperado pela masmorra. Seu caldeirão estava soltando montes de fumaça cinza escura; o de Rony estava cuspindo faíscas verdes. Simas estava incitando febrilmente as chamas na base de seu caldeirão com a ponta da sua varinha, enquanto elas pareciam estar apagando. A superfície da poção e Hermione, no entanto, estava tremeluzindo com uma nuvem de vapor prateado, e como Snape passou por ela olhando para baixo com seu nariz de gancho apontado para seu caldeirão sem nenhum comentário, isso queria dizer que ele não achara nada para criticar.

 

Ao chagar ao caldeirão de Harry no entanto, Snape parou, olhou para baixo com um horrível sorriso no rosto.

 

- Potter, o que isso deveria ser?

 

Os alunos da Sonserina na frente da classe olharam para trás ansiosamente, adoravam ouvir Snape acabar com Harry.

 

- O Gole da Paz - disse Harry tenso.

 

- Diga-me Potter - Snape falou suavemente -, você sabe ler?

 

Draco Malfoy gargalhou.

 

- Sim, eu sei - Harry falou, seus dedos se fechando ao redor de sua varinha.

 

- Leia a terceira linha da instrução para mim, Potter.

 

Harry apertou os olhos para ver o quadro negro, não era fácil ler as instruções com as nuvens multicoloridas que agora enchiam a masmorra.

 

- Adicionar pó de pedra-da-lua, mexer três vezes no sentido horário, deixe cozinhar por sete minutos e adicione duas gotas de xarope de hellebore.

 

Seu coração afundou. Ele não tinha adicionado o xarope de hellebore, mas tinha sim, pulado direto para a quarta linhas depois de deixar a poção descansar 7 minutos.

 

- Você fez tudo que mandava a terceira linha, Potter?

 

- Não - disse baixinho.

 

- Perdão...?

 

- Não - disse Harry mais alto. - Eu esqueci o hellebore.

 

- Eu sei que você esqueceu, Potter, o que quer dizer que essa mistura não vale nada. Evanesce.

 

Os componentes da poção de Harry desapareceram, ele estava parado tolamente ao lado do caldeirão vazio.

 

- Aqueles que conseguiram ler corretamente as instruções encham um frasco com uma amostra da sua poção, etiquetem claramente com seu nome e tragam para minha mesa para ser testada - disse Snape. - Dever de casa. Trinta centímetros e meio de pergaminho sobre as propriedades de pedra-da-lua e seus usos para o preparo de poções, para ser entregue na quinta-feira.

 

Enquanto todos à sua volta enchiam seus frascos de poção, Harry recolhia suas coisas, irritado. Sua poção não estava pior do que a de Rony, que estava agora exalando um cheiro de ovos podres; ou a de Neville, que tinha atingido a consistência de cimento recém misturado e que o garoto estava agora tendo que raspar de seu caldeirão, ainda assim tinha sido a dele, Harry, que ia receber zero pelo trabalho do dia. Ele enfiou sua varinha de volta na mochila e se atirou no seu banco, olhando todos marcharem para a mesa de Snape com seus frascos cheios e etiquetados. Quando o tão esperado sino tocou, Harry foi o primeiro a sair da masmorra e já havia começado seu almoço quando Rony e Hermione se juntaram a ele no Salão Principal. O céu havia escurecido ainda mais durante a manhã. A chuva estava fustigando as janelas.

 

- isso não é justo - disse Hermione confortadora, sentando ao lado de Harry e se servindo de torta de pastor. - Sua poção não estava nem de longe tão ruim quanto à de Goyle; quando a pôs no frasco ele derreteu e pôs fogo nas vestes dele.

 

- É, bem - disse Harry, encarando seu prato. - Desde quando Snape é justo comigo?

 

Nenhum deles respondeu; os três sabiam que a inimizade entre Snape e Harry era absoluta desde o dia que o garoto pisara em Hogwarts.

 

- Eu pensei que ele estaria melhor esse ano - disse Hermione com desapontamento na voz. - Quero dizer... Vocês sabem... - ela olhou em volta cautelosamente; haviam bem uma meia dúzia de acentos vazios em cada lado deles e ninguém estava passando entre as mesas. - ...Agora que ele está na Ordem e tudo mais.

 

- Sapos venenosos não mudam suas pintas - disse Rony sabiamente. - De qualquer maneira eu sempre pensei que Dumbledore pisava na bola confiando em Snape. Onde está a evidência de que ele parou realmente de trabalhar para Você-Sabe-Quem?

 

- Eu acho que Dumbledore provavelmente tem montes de evidências, mesmo que ele não as divida com você, Rony - vociferou Hermione.

 

- Ah, calem a boca, vocês dois - disse Harry brabo, enquanto Rony abria a boca para rebater. Hermione e Rony congelaram, parecendo raivosos e ofendidos. - Vocês não podem dar um tempo? Vocês estão sempre discutindo sobre algo, isso tá me deixando louco - e abandonando sua torta de pastor, jogou sua mochila no ombro e os deixou lá sentados.

 

Ele subiu a escada de mármore dois degraus por vez, passando pelos muitos estudantes que se apreçavam para o almoço. A raiva que tinha explodido tão inesperadamente ainda queimada por dentro e a visão dos rostos chocados de Rony e Hermione lhe propiciou uma profunda satisfação. Bem feito pra eles, pensou, porque não podem dar um tempo... Se bicando o tempo todo... É o suficiente pra fazer qualquer um subir pelas paredes...

 

Passou pela grande pintura de Sir Cadogan, o Cavaleiro na paisagem; Sir Cadogan desembainhou sua espada e a brandiu para Harry, que o ignorou.

 

- Volte aqui, seu cão sarnento! Em guarda e lute -  gritava Sir Cadogan numa voz abafada por trás do seu visor, mas Harry continuou seu caminho e Sir Cadogan tentou seguí-lo correndo para a pintura vizinha, foi rechaçado pelo seu habitante, um cão sabujo enorme e de aparência feroz.

 

Harry passou o resto do horário do almoço sentado sozinho embaixo do alçapão da Torre Norte. Conseqüentemente, ele foi o primeiro a subir a escada prateada que levava à sala de aula de Sibila Trelawney quando o sino tocou.

 

Depois de Poções, Adivinhação era a matéria que Harry menos gostava e isso se devia principalmente ao hábito da professora Trelawney de predizer sua morte prematura a curtos espaços de tempo. Uma mulher magra, pesadamente envolta em chales e brilhantes correntes de contas, sempre lembrava a Harry alguma espécie de inseto, com seus enormes óculos aumentando seus olhos. Estava ocupada colocando gastos livros de couro em cada pequena mesa com que a sala estava abarrotada. Harry entrou na sala mas a luz que vinha dos abajures cobertos por chales e o fogo baixo da lareira, de cheiro enjoativo, era tão sombrio que ela parecia nem o ter notado enquanto ele se sentava nas sombras. O resto da classe chegou nos cinco minutos seguintes. Rony emergiu do alçapão, olhou em volta cautelosamente, viu Harry e foi diretamente para ele, ou tão diretamente quanto podia já que tinha que rodear mesas, cadeiras e puffes espalhados pela sala.

 

- Hermione e eu paramos de discutir - ele disse, sentando ao lado de Harry.

 

- Ótimo - resmungou Harry.

 

- Mas Hermione disse que ela acha que seria bom se você parasse de perder a cabeça com a gente.

 

- Eu não...

 

- Eu estou só passando o recado - disse Rony, cortando-o. - Mas eu acho que ela está certa. Não é nossa culpa o modo como Simas e Snape te trataram.

 

- Eu nunca disse isso...

 

- Bom dia - disse a professora Trelawney na sua usual misteriosa e sonhadora voz, e Harry parou, novamente se sentindo aborrecido e vagamente envergonhado de si mesmo. - E bem-vindos de volta a Adivinhações. Eu tenho, é claro, seguido seus destinos muito cuidadosamente durante as férias e estou deliciada em ver que todos retornaram a Hogwarts em segurança. Como, é obvio, eu sabia que voltariam. Vocês vão achar sobre as mesas cópias de O Oráculo dos Sonhos, de Inigo Imago. Interpretação de sonhos é um dos meios mais importantes para ler o futuro e um dos que provavelmente vão ser testados nos seus N.O.M.s. Não, é claro, que eu acredite que a aprovação ou não ou notas importem quando se nos referimos ao divino poder da Adivinhação. Se você tem o terceiro olho, certificados e notas importam muito pouco. Entretanto, o diretor gosta que vocês prestem exames, então...

 

Sua voz navegou delicadamente, deixando poucas dúvidas sobre o que a professora Trelawney pensava sobre um assunto sórdido como exames.

 

- Abram, por favor, na introdução e leiam o que Imago tem a dizer sobre a interpretação de sonhos. Então se dividam em pares. Usem O Oráculo dos Sonhos para interpretar os sonhos mais recentes uns dos outros. Vamos.

 

A única coisa boa a se dizer dessa aula era que não era duplo período. Quando estavam terminaram de ler a introdução do livro mal tinham dez minutos sobrando para interpretar sonhos. Na mesa ao lado de Harry e Rony, Dino fizera par com Neville, que imediatamente adentrou numa longa explicação sobre um pesadelo envolvendo um uma tesoura gigante usando o melhor chapéu de sua avó; Harry e Rony se olharam carrancudos.

 

- Eu nunca lembro dos meus sonhos - disse Rony. - Conta um você.

 

- Você deve se lembrar de algum - disse harry impaciente.

 

Ele não ia dividir seus sonhos com ninguém. Sabia perfeitamente bem o que significava seu pesadelo constante sobre o cemitério, não precisava que Rony ou a professora Trelawney ou o estúpido Oráculo dos Sonhos dissesse pra ele.

 

- Bom, eu sonhei que eu estava jogando quadribol na outra noite - disse Rony, franzindo o rosto no esforço para se lembrar. - O que você acha que isso quer dizer?

 

- Provavelmente que você vai ser comido por um marshmallow gigante ou algo assim - disse Harry, virando as páginas d'O Oráculo Dos Sonhos sem interesse.

 

Era um trabalho besta ficar procurando por pistas de sonhos n'O Oráculo e Harry não ficou nada animado quando a professora Trelawey lhes deu como tarefa de fazer um diário de sonhos por um mês como dever de casa. Quando o sino tocou, ele e Rony lideraram a saída pela escada, Rony resmungando alto.

 

- Você já se tocou de quanto dever de casa nós já temos? Binns já pediu quarenta e oito centímetros de pergaminho sobre a Guerra dos Gigantes, Snape quer trinta sobre os usos da pedra-da-lua e agora a gente tem que manter um mês de diário para a Trelawney! Fred e Jorge não estavam errados quando disseram como ia ser o ano de N.O.M.s, não é? É melhor essa tal de Umbridge não nos dar nenhum...

 

Quando entraram na sala de Defesa Contra as Artes das Trevas encontraram a professora Umbridge já sentada em sua mesa, usando o mesmo cardigan rosa estufado da noite anterior e a boina de veludo preto sobre a cabeça. Harry de novo se lembrava de uma enorme mosca sentada no topo de um ainda maior sapo.

 

A classe estava quieta enquanto entrava na sala; a professora Umbridge era, ainda, uma incógnita e ninguém sabia quão severa ela podia ser.

 

- Bem, boa tarde! - disse ela quando finalmente toda classe se sentou.

 

Alguns alunos murmuraram um "boa tarde" em resposta.

 

- Tsc, tsc - fez a professora Umbridge. - Assim não pode ser, agora, poderia? Eu gostaria que vocês respondessem, por favor, "boa tarde professora Umbridge". Uma vez mais, por favor. Boa tarde classe!

 

- Boa tarde professora Umbridge - entoaram de volta.

 

- Agora sim - disse docemente. - Não foi tão difícil, foi? Agora, varinhas guardadas e penas nas mãos, por favor.

 

Muitos alunos trocaram olhares melancólicos; a ordem "varinhas guardadas" ainda não viera seguida de uma aula que achassem interessante. Harry enfiou sua varinha de volta na mochila e tirou sua pena, tinta e pergaminho. A professora Umbridge abriu sua bolsa e tirou sua própria varinha, que era bem mais curta do que o normal, tocou o quadro negro com ela; palavras apareceram:

 

"Defesa Contra as Artes das Trevas, Um retorno aos Princípios Básicos"

 

- Agora, seus ensinamentos nessa matéria têm sido constantemente interrompidos, não é? - começou a professora Umbridge, olhando para a classe com suas mãos cruzadas à sua frente. - A constante mudança de professores, muitos dos quais parecem não ter seguido nada do currículo aprovado do Ministério, fez vocês estarem infelizmente muito abaixo do nível que esperamos de vocês para esse ano de N.O.M.s. Vocês ficaram felizes em saber, entretanto, que esses problemas agora serão retificados. Nós vamos, esse ano, estar seguindo um curso de defesa mágica bem estruturado, teoricamente centrado e aprovado pelo Ministério. Copiem isso que se segue, por favor.

 

Ela tocou o quadro negro novamente; a primeira mensagem desapareceu e foi substituída por:

 

"Propósito do curso

 

. Entendimento dos princípios básicos da magia defensiva.

 

. Aprender a reconhecer situações onde a magia defensiva pode ser legalmente usada.

 

. Colocando o uso da magia defensiva em um contexto para uso prático."

 

Por alguns minutos a sala ficou cheia dos sons de penas arranhando pergaminhos. Quando todos haviam copiado os três propósitos do curso da professora Umbridge ela perguntou.

 

- Todos têm uma copia de Teoria de Defesa Mágica, de Wilbert Slinkhard?

 

Houve um fraco murmúrio de assentimento pela classe.

 

- Acho que temos que tentar de novo - disse a Professora Umbridge. - Quando eu fizer uma pergunta gostaria que vocês respondessem "Sim, professora Umbridge". Então... Todos têm uma cópia de Teoria de Defesa Mágica, de Wilbert Slinkhard?

 

- Sim, professora Umbridge - correu pela sala.

 

- Ótimo. Gostaria que vocês abrissem e lessem a página cinco, Capitulo um, Básico Para Iniciantes. Não será preciso falar.

 

A professora Umbridge deixou o quadro negro e se ajeitou na sua cadeira atrás de sua mesa, observando-os de perto com aqueles olhos de sapo. Harry abriu na página cinco de sua cópia e começou a ler.

 

Era desesperadamente estúpido, quase tão ruim quanto escutar o professor Binns. Sentiu sua concentração se esquivando; logo já tinha lido a mesma linha uma dúzia de vezes sem na verdade absorver mais do que algumas palavras. Vários e silenciosos minutos se passaram. Ao seu lado, Rony estava distraído girando sua pena nos dedos sem parar, olhando para o mesmo ponto na página. Harry olhou para o outro lado e a surpresa o sacudiu do seu torpor. Hermione nem ao menos abrira seu livro. Ela estava olhando fixamente para a professora Umbridge com sua mão estendida no ar.

 

Harry não podia se lembrar de Hermione ter alguma vez se negado a ler se isso fosse pedido, ou até mesmo resistido à tentação de abrir qualquer livro que aparecesse debaixo do seu nariz. Olhou para ela inquisitivo, mas ela mal balançou a cabeça, indicando que não ia responder nenhuma pergunta, e continuou a encarar a professora, que estava olhando resolutamente em na direção oposta.

 

Depois que vários minutos se passaram, entretanto, Harry não era o único olhando para Hermione. O capítulo que foram convidados a ler era tão tedioso que cada vez mais alunos escolhiam olhar para a muda tentativa de Hermione de atrair a atenção da professora Umbridge do que do que lutar com "Básico Para Iniciantes".

 

Quando mais do que a metade da classe estava encarando Hermione em vez de ler seus livros, a professora Umbridge pareceu decidir que não podia ignorar a situação por mais tempo.

 

- Você deseja perguntar algo sobre o capítulo, querida? - perguntou para Hermione, como se só agora a notasse.

 

- Não sobre o capitulo, não.

 

- Bem, nós agora estamos lendo - disse a Professora Umbridge, mostrando seus dentes pontudos. - Se você tem outras dúvidas nós podemos lidar com isso ao fim da aula.

 

- Eu tenho uma dúvida sobre os propósitos do curso.

 

A professora Umbridge levantou suas sobrancelhas.

 

- E seu nome é?

 

- Hermione Granger.

 

- Bem, Srta. Granger, eu acho que os propósitos do curso estão claros se você os ler cautelosamente - disse a professora Umbridge com uma voz de determinada doçura.

 

- Bem, eu não acho isso - disse Hermione asperamente. - Não há nada escrito ali sobre o uso de feitiços defensivos.

 

Houve um pequeno silêncio durante o qual vários alunos da classe viraram suas cabeças para ler mais atentamente os três pontos dos propósitos do curso que ainda estavam escritos no quadro.

 

- Usar feitiços defensivos? - a professora repetiu com uma curta risada. - Porque, não posso imaginar qualquer situação surgindo na minha sala de aula que exigiria o uso de feitiços defensivos, Srta. Granger. Você certamente não está esperando ser atacada durante as aulas?

 

- Nós não vamos usar mágica? - Rony exclamou alto.

 

- Estudantes levantam suas mãos quando desejam falar em minha classe, Sr...?

 

- Weasley - disse Rony, jogando sua mão para o alto.

 

A professora Umbridge, sorrindo ainda mais abertamente, virou suas costas para ele. Harry e Hermione imediatamente levantaram suas mãos também. Os olhos de sapo da professora pousaram em Harry por um momento antes de se voltar para Hermione.

 

- Sim, Sra. Granger? Deseja perguntar alguma coisa mais?

 

- Sim. Claramente todo o objetivo de Defesa Contra as Artes das Trevas é praticar feitiços defensivos?

 

- Você é uma expert educacional treinada do Ministério, Srta. Granger? - perguntou o professor Umbridge, em sua falsa voz doce.

 

- Não, mas...

 

- Então temo que não esteja capacitada para decidir sobre "todo objetivo" de qualquer matéria. Bruxos mais velhos e espertos do que você aconselharam nosso novo programa de estudos. Vocês estarão aprendendo sobre feitiços defensivos de uma maneira livre de riscos...

 

- Que uso tem isso? - disse Harry alto. - Se formos atacados, não vai ser em...

 

- Mão, Sr. Potter! - cantou a professora Umbridge.

 

Harry jogou seu punho para o ar. Novamente a professora deliberadamente deu as costas a ele, mas agora vários outros alunos tinham as mãos levantadas também.

 

- E seu nome é? - a professora perguntou a Dino.

 

- Dino Thomas.

 

- Bem, Sr. Thomas?

 

- Bom, é como Harry disse, não é? Se nós formos ser atacados, não vai ser num ambiente livre de risco.

 

- Eu repito - disse a Professora Umbridge, sorrindo de um modo irritando para Dino. - Você espera ser atacado em minha aula?

 

- Não, mas...

 

A Professora o cortou.

 

- Eu não desejo criticar a maneira que as coisas estão correndo nessa escola - disse, um falso sorriso rasgando sua boca - mas vocês têm sido expostos a bruxos muito irresponsáveis nessa matéria, muito irresponsáveis mesmo. Pra não mencionar - ela deu uma risada maldosa - raças extremamente perigosas.

 

- Se você se refere ao professor Lupin - silvou Dino com raiva - ele foi o melhor que nós...

 

- Mão, Senhor Thomas! Como eu ia dizendo... Vocês foram introduzidos em feitiços que foram complexos, inapropriados para sua idade e potencialmente letais. Vocês foram levados por medo a acreditar que poderiam estar sendo atacados pelo mal a cada dia...

 

- Não, não fomos - disse Hermione. - Nós somente...

 

- Sua mão não está levantada Srta. Granger!

 

Hermione levantou a mão. A Professora Umbridge deu as costas a ela.

 

- É do meu conhecimento que meu predecessor não só praticou feitiços ilegais em frente a vocês, também os praticou em vocês.

 

- Bom, ele se revelou um louco, não foi? - Disse Dino alterado. - Mas, mesmo assim aprendemos muita coisa.

 

- Sua mão não está levantada, Sr. Thomas! - ralhou a Professora Umbridge. - Agora, essa é a visão do Ministério que o ensinamento teórico mais do que suficiente para vocês passarem pelo exame, que, afinal, é para o que serve a escola. E seu nome é? - disse, apontando para Pavarti, que acabara de levantar a mão.

 

- Pavarti Patil, e não há exame pratico de Defesa Contra as Artes das Trevas nos N.O.M.s? Nós não devemos mostrar que podemos realmente fazer um contra feitiço e outras coisas?

 

- Contanto que vocês estudem a teoria com afinco, não há motivo para que não aptos a praticar feitiços sobre condições cautelosamente controladas - disse a professora, dando por encerrado o assunto.

 

- Sem nem mesmo praticarmos antes? - disse Pavarti, incrédula. - Está dizendo pra nós que a primeira vez que faremos os feitiços vai ser no exame?

 

- Eu repito, contanto que estudem com afinco a teoria...

 

- E que bem a teoria pode fazer no mundo real? - disse Harry alto, seu punho no ar.

 

A professora Umbridge olhou para ele.

 

- Isso é a escola, Sr. Potter, não o mundo real - disse suavemente.

 

- Então nós não devemos estar preparados para o que está esperando por nós lá fora?

 

- Não há nada lá fora, Sr. Potter.

 

- Ah, é? - disse Harry, seu humor, que parecia estar borbulhando abaixo da superfície o dia todo, estava chegando ao ponto de fervura.

 

- Quem você imagina que atacaria crianças como vocês? - inquiriu a professora Umbridge numa voz horrivelmente melada.

 

- Hum, deixa eu ver... - disse Harry em voz de escárnio. Talvez... Lord Voldemort!

 

Rony engasgou; Lilá Brown soltou um pequeno grito; Neville escorregou do seu banco. A professora Umbridge, entretanto, nem piscou. Estava encarando Harry com um sorriso de satisfação no seu rosto.

 

- Dez pontos da Grifinória, Sr. Potter.

 

A classe estava silenciosa e parada. Todos estavam encarando Umbridge e Harry.

 

- Agora, vamos deixar algumas coisas claras.

 

A professora levantou e se inclinou para eles, seus dedos gorduchos espalmados em sua mesa.

 

- Foi dito a vocês que certo mago negro retornara dos mortos...

 

- Ele não estava morto - disse Harry com raiva - mas é, ele retornou!

 

- Senhor Potter, você já perdeu para sua casa dez pontos, não faça as coisas piores para você mesmo - disse a professora Umbridge em um só fôlego, sem olhá-lo. - Como eu dizia, vocês foram informados que certo bruxo negro está ao largo novamente. Isso é mentira.

 

- Não é mentira - gritou Harry. - Eu o vi, Eu lutei com ele!

 

- Detenção, Sr. Potter! - disse a Professora Umbridge triunfante. - Amanhã de tarde. Cinco horas. Meu escritório. Eu repito, isso é uma mentira. O Ministério da Magia garante que vocês não estão em perigo vindo de nenhum bruxo das trevas. Se ainda estiveram preocupados sobre qualquer coisa venham me ver depois das aulas. Se alguém está alarmando vocês com besteiras sobre bruxos das trevas eu vou gostar de ouvir sobre isso. Estou aqui para ajudar. Eu sou sua amiga. E agora, vocês vão amavelmente continuar lendo a pagina cinco, "Básico Para Iniciantes".

 

A professora Umbridge sentou atrás de sua mesa. Harry, entretanto, continuou em pé. Todos estavam olhando para ele. Simas parecia meio-assustado, meio fascinado.

 

- Harry, não! - Hermione sussurrou numa voz de aviso, puxando sua manga, mas Harry puxou o braço longe do seu alcance.

 

- Então, de acordo com você, Cedrico Diggory caiu morto de acordo com ele mesmo, não foi? - Harry perguntou, sua voz tremendo.

 

Houve uma coletiva tomada de ar da classe, pois nenhum deles, fora Rony e Hermione, nunca escutaram Harry falar sobre o que acontecera na noite que Cedrico havia morrido. Eles olhavam avidamente de Harry para a professora Umbridge, que havia levantado seus olhos e o estava encarando sem um traço do sorriso falso no rosto.

 

- A morte de Cedrico Diggory foi um trágico acidente - disse friamente.

 

- Foi assassinato - disse harry. Podia sentir todo seu corpo tremendo. Mal havia falado com alguém sobre isso, muito menos para os trinta companheiros de classe ouvindo ansiosos. - Voldemort o matou e você sabe disso.

 

A rosto da professora Umbridge estava sem expressão. Por um momento Harry pensou que ela ia gritar com ele. Mas ela disse no seu macio, mais doce tom de voz:

 

- Venha aqui, Sr. Potter, querido.

 

Ele chutou sua cadeira para o lado, passou por Rony e Hermione e foi até a mesa da professora. Podia sentir o resto da classe segurando a respiração. Estava com tanta raiva que nem se importava com o que aconteceria depois.

 

A professora puxou um pequeno pergaminho rosa de sua bolsa, esticou-o na mesa, molhou sua pena na tinta e começou a escrever, curvando-se para Harry não ver o que estava escrevendo. Ninguém falava. Depois de um minuto ou quase ela enrolou o pergaminho e bateu nele com a varinha; ele se selou, assim Harry não poderia lê-lo.

 

- Leve isso à professora McGonagall, querido - disse, estendendo a nota para ele.

 

Harry pegou sem dizer uma palavra, deu a volta e deixou a sala, nem mesmo olhando de volta para Rony e Hermione, batendo a porta da classe atrás de si. Andou muito rápido pelo corredor, a nota para McGonagall apertada em sua mão, e virando um canto deu de cara com Pirraça, o poltergeist, um pequeno homem de boca grande flutuando de costas no ar, jogando vidrinhos de tinta para cima.

 

- É Potter Wee Potter! - caçoou Pirraça. Deixando os vidros de tinta caírem no chão onde eles se quebraram e espalharam tinta pelas paredes; Harry pulou para trás com um rosnado.

 

- Sai fora Pirraça.

 

- Oooohh, malucão tá mal humorado!!! - disse Pirraça, perseguindo Harry pelo corredor, olhando de soslaio enquanto passava debaixo dele. - Que foi dessa vez, meu grande amigo Potter? Ouvindo vozes? Tendo visões? Falando em... - Pirraça cuspiu uma framboesa. - Línguas?

 

- Eu disse, me deixa em paz - Harry gritou, correndo para a escada mais próxima, mas Pirraça escorregava contente no corrimão ao seu lado.

 

- Oh, pensam que ele late, o coitado do Pottynho, outros são mais gentis e dizem que ele só está triste, mas Pirraça, que sabe melhor, diz que ele é louquinho...

 

- CALA A BOCA!

 

Uma porta à esquerda abriu de repente e a professora McGonagall emergiu do seu escritório, parecendo severa e um pouco perturbada.

 

- Pelos céus, por que você está gritando, Harry? - ela vociferou, enquanto Pirraça gargalhava alegremente e sumia de vista. - Por que você não está em aula?

 

- Fui mandado pra vê-la - disse Harry cerimoniosamente.

 

- Mandado? O que você quer dizer, mandado?

 

Ele mostrou a nota da professora Umbridge. A professora McGonagall a pegou, franzindo o cenho, abriu a nota com um toque da sua varinha, esticou o pergaminho e começou a ler. Seus olhos corriam de um lado a outro atrás de seus óculos quadrados enquanto lia o que Umbridge havia escrito, e a cada linha seus olhos se estreitavam mais.

 

- Venha aqui Potter.

 

Ele a seguiu para dentro de seu escritório. A porta fechou automaticamente atrás dele.

 

- Bem? - disse a Professora McGonagall, passando por ele. - É verdade?

 

- O que é verdade? - Harry perguntou, mais agressivo do que pretendia. - Professora? - ele juntou na tentativa de soar mais polido.

 

- É verdade que você gritou com a professora Umbridge?

 

- É.

 

- Você a chamou de mentirosa?

 

- Sim.

 

- Você disse que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado está de volta?

 

- Sim.

 

A professora McGonagall sentou atrás de sua mesa, olhando atentamente para Harry.

 

- Pegue um biscoito, Potter.

 

- Pegar... O quê?

 

- Pegue um biscoito - repetiu impaciente, indicando uma lata em cima de uma pilha de papéis em sua mesa. - E sente-se.

 

Houvera uma outra ocasião em que Harry, esperando ser punido pela professora McGonagall, havia em vez disso sido indicado por ela para apanhador do time de quadribol da Grifinória. Ele afundou na cadeira à frente dela e pegou um biscoito da lata, sentindo-se confuso e meio sem pé como fora naquela ocasião.

 

A professora McGonagall abaixou a nota da professora Umbridge e olhou séria para ele.

 

- Potter, você precisa ser cauteloso.

 

Harry engoliu sua boca cheia de biscoito e olhou para ela. O tom de voz não era o que ele estava acostumado, não estava forte, nítido e severo; estava baixo e ansioso e de alguma maneira mais humana que o usual.

 

- Mal comportamento na aula de Dolores Umbridge pode te custar muito mais do que alguns pontos da casa e detenção.

 

- O quê...?

 

- Potter, use a cabeça - rebateu a professora McGonagall, com um abrupto retorno às suas maneiras usuais. - Você sabe de onde ela vem, você deve saber a quem ela está se reportando.

 

O sino tocou anunciando o fim da aula. Por todo lado se escutavam os sons de centenas de estudantes se movimentando.

 

- Aqui diz que ela colocou você de detenção por toda semana, começando amanhã - a professora falou, olhando para a nota da professora Umbridge.

 

- Toda tarde essa semana! - Harry repetiu horrorizado. - Mas professora, a senhora não poderia...?

 

- Não, não posso.

 

- Mas...

 

- Ela é sua professora e tem todo direito de te dar detenção. Você vai ao escritório dela amanhã às cinco horas para a primeira. Apenas lembre: tenha cuidado com Dolores Umbridge.

 

- Mas eu estava falando a verdade! - disse harry ofendido. - Voldemort está de volta, a senhora sabe que está; o professor Dumbledore sabe que ele está...

 

- Pelos amor de Deus, Potter! - disse a professora McGonagall, arrumando os óculos, que balançaram horrivelmente ao som do nome de Voldemort. - Você realmente pensa que isso é sobre verdades e mentiras? Isso é sobre manter sua cabeça fria e seu temperamento sob controle!

 

Ela se levantou, suas narinas abertas e sua boca em um rasgo, e Harry levantou também.

 

- Pegue outro biscoito Potter - disse irritada, empurrando a lata para ele.

 

- Não, obrigado - disse Harry friamente.

 

- Não seja ridículo.

 

Ele pegou um.

 

- Obrigado - disse mal humorado.

 

- Você não ouviu o discurso de Umbridge no banquete de início do ano, Potter?

 

- É - disse Harry. - Ouvi... Ela disse... Que o progresso ia ser proibido ou... Bem, quer dizer... Que o Ministério está interferindo em Hogwarts.

 

A professora McGonagall o olhou atentamente por um momento, então fungou, deu a volta na sua mesa e segurou a porta aberta.

 

- Bem, fico feliz que você escute Hermione Granger em qualquer medida - disse ela, indicando a porta a ele.

 

 

DETENÇÃO COM DOLORES

O jantar no Salão Principal aquela noite não foi uma experiência prazerosa para Harry. As notícias sobre sua briga gritante com Umbridge tinham voado excepcionalmente rápido, mesmo para os padrões de Hogwarts. Ele ouviu boatos em toda sua volta enquanto estava sentado entre Rony e Hermione.

 

O mais engraçado era que nenhum dos boatos parecia ser considerado por ele, ouvindo por acaso o que estavam dizendo sobre si. Ao contrário, foi como se acreditassem que ele ficaria brabo e começaria a gritar novamente, e assim eles poderiam ouvir sua história em primeira mão.

 

- Ele diz que viu Cedrico Diggory morto...

 

- Ele conta que duelou com Você-Sabe-Quem...

 

- Deixa isso pra lá...

 

- Com quem ele pensa que está brincando?

 

- Pobrezinho...

 

- O que eu não entendo - disse Harry entre dentes, largando sua faca e garfo na mesa (suas mãos estavam tremendo muito para segurá-los firme) - é por que todos acreditam na história de dois meses atrás quando Dumbledore contou a eles...

 

- O fato é que, Harry, eu não estou certa se eles acreditam - disse Hermione de modo assustador. - Ah, vamos embora daqui.

 

Ela tacou com força sua faca e garfo na mesa; Rony olhou ansioso para seu meio pedaço de torta de maçã mas fez o mesmo que ela. As pessoas ficaram para olhando eles em todo o caminho para fora do Salão.

 

- O que você quer dizer, você não está certa de que eles acreditam em Dumbledore? - Harry perguntou a Hermione quando alcançaram o primeiro andar.

 

- Olha, você não entende o que foi exatamente depois que já aconteceu - disse Hermione calmamente. - Você voltou no meio do gramado agarrando com força o corpo morto do Cedrico... Nenhum de nós viu o que aconteceu no labirinto... Temos apenas as palavras de Dumbledore sobre isso, que Você-Sabe-Quem  tinha voltado, matado o Cedrico e lutado com você.

 

- O que é a verdade! - disse Harry bem alto.

 

- Eu sei que é, Harry, então você pode por favor parar de bater na mesma tecla? - pediu Hermione cansada. - É só que antes que a verdade pudesse ser entendida todo mundo foi pra casa pr'as férias, onde gastaram dois meses lendo sobre como você é um cabeça-de-noz e Dumbledore está ficando caduco!

 

A chuva golpeou as vidraças enquanto caminharam ao longo dos corredores vazios de volta à Torre da Grifinória. Harry sentiu como se seu primeiro dia tivesse durado uma semana, mas ainda tinha uma montanha de lição de casa para fazer antes de dormir. Uma dor estúpida estava se desenvolvendo sobre seu olho direito. Deu uma espiada lá fora através de uma janela molhada de chuva e viu as terras escuras enquanto passavam pelo corredor da Mulher Gorda. Ainda não havia nenhuma luz na cabana do Hagrid.

 

- Mimbulus mimbletonia - disse Hermione antes que a Mulher Gorda pudesse perguntar.

 

O retrato se abriu balançando para revelar todo o buraco por trás dele e os três se arrastaram para dentro.

 

O salão comunal estava quase vazio; quase todos ainda estavam lá embaixo no jantar. Bichento se desenrolou de uma cadeira e correu devagar para encontrá-los, ronronando alto, e quando Harry, Rony e Hermione pegaram suas três cadeiras favoritas diante da lareira ele saltou levemente em cima da capa da garota e encaracolou-se ali como um travesseiro avermelhado e peludo. Harry ficou observando as chamas, sentindo-se vazio e exausto.

 

- Como Dumbledore deixou isso acontecer? - Hermione gritou de repente, fazendo Harry e Rony pularem; Bichento saltou pra longe dela, sentindo-se afrontado. Ela golpeou os braços da sua cadeira tão furiosamente que um monte de poeira saiu pelos buracos. - Como ele deixa aquela mulher terrível nos ensinar? E no nosso ano de N.O.M.s também!

 

- Bom, nós nunca tivemos grandes professores de Defesa Contra as Artes das Trevas, tivemos? - disse Harry. - Você sabe como é, Hagrid nos contou, ninguém quer o cargo; dizem que é amaldiçoado.

 

- Sim, mas para empregar alguém que atualmente se recusa a nos deixar fazer mágica! O que Dumbledore pretende?

 

- E ela está tentando pegar pessoas para espiar para ela - disse Rony em tom da ameaça.

 

- Vocês lembram quando ela disse que queria que nós fôssemos e contássemos a ela se tínhamos ouvido alguém dizer que Você-Sabe-Quem estava de volta?

 

- É claro que ela está aqui para espionar nós todos, isso é obvio, por que mais o Fudge iria querer que ela viesse? - repreendeu Hermione.

 

- Não comecem a discutir de novo - disse Harry cansadamente, quando Rony abriu a boca para revidar. - Nós não podemos apenas... Vamos apenas fazer as lições, tirando isso do caminho...

 

Recolheram suas mochilas de um canto e retornaram às suas cadeiras diante do fogo. As pessoas estavam voltando do jantar agora. Harry evitou olhar o buraco do retrato mas podia ainda assim sentir a atração de olhos o encarando.

 

- Podemos fazer a lição do Snape primeiro? - disse Rony, mergulhando sua pena na tinta. - As propriedades... Da pedra-da-lua... E suas utilidades... Nas poções... - ele murmurou, escrevendo as palavras no topo de seu pergaminho enquanto as falava. Ele sublinhou o título e então olhou expectativo para Hermione. - Então, quais as propriedades da pedra-da-lua e suas utilidades nas poções?

 

Mas Hermione não estava ouvindo; estava dando uma olhada no canto mais distante da sala, onde Fred, Jorge e Lino Jordan estavam agora no meio de uma reunião de alunos inocentes do primeiro ano, todos mastigando algo que parecia vir de uma sacola larga que Fred estava segurando.

 

- Não, me desculpem, eles foram muito longe - ela disse, levantando e olhando absolutamente furiosa. - Venha, Rony.

 

- Eu... O quê? - disse Rony, claramente pedindo um tempo. - Não... Vamos, Hermione... Não podemos censurá-los por darem nossas guloseimas.

 

- Você sabe perfeitamente bem que aquelas são Barras de Hemorragia Nasal ou... Ou Pastilhas de Vômito ou...

 

- Ilusões de Desmaio? - Harry sugeriu calmamente.

 

Um por um, como se tivessem batido a cabeça numa maleta invisível, os primeiranistas iam desmoronando inconscientes em seus assentos; alguns escorregaram direto ao chão, outros simplesmente se penduraram nos braços de suas cadeiras, suas línguas se estendendo para fora. Muitas das pessoas que estavam assistindo estavam também rindo; Hermione, porém, levantou os ombros e marchou diretamente onde Fred e Jorge estavam agora com quadros de edição, observando atentamente os primeiranistas inconscientes. Rony se levantou um pouco de sua cadeira, revoltado duvidosamente por um momento ou outro, então murmurou a Harry.

 

- Ela tem tudo sob controle - antes de afundar tão devagar na cadeira quanto sua forma magra permitia.

 

- Já chega! - Hermione disse poderosamente para Fred e Jorge, e ambos olharam numa leve surpresa.

 

- É, você está certa - disse Jorge, apontando -, essa dosagem parece forte o bastante, não?

 

- Eu disse a você essa manhã, você não pode testar suas besteiras nos estudantes!

 

- Nós estamos pagando a eles! - disse Fred indignado.

 

- Não me importa, pode ser perigoso!

 

- Besteiras - disse Fred.

 

- Acalme-se, Hermione, eles estão bem! - disse Lino tranqüilamente enquanto andava de um primeiranista a outro, inserindo doces púrpuras dentro de suas bocas abertas.

 

- Sim, veja, eles estão voltando a normal agora - disse Jorge.

 

Alguns dos primeiranistas estavam de fato se mexendo. Muitos ficaram tão chocados por se encontrarem deitados no chão ou pairados nas cadeiras que Harry tinha certeza de que Fred e Jorge não tinham os prevenido do que os doces fariam.

 

- Sente-se bem? - disse Jorge gentilmente a uma garota pequenina de cabelos escuros deitada a seus pés.

 

- Eu... Eu acho que sim - ela disse meio tremendo.

 

- Excelente - disse Fred contente, mas no segundo seguinte Hermione já tinha agarrado ambos seus quadros de edição e a sacola de Ilusões de Desmaio de suas mãos.

 

- Não é NADA excelente!

 

- Claro que é, eles estão vivos, não estão? - disse Fred brabo.

 

- Vocês não podem fazer isso, e se vocês deixassem um deles realmente mal?

 

- Não vamos deixá-los maus, nós já testamos todas elas em nós mesmos, isso é apenas para ver se todo mundo reage da mesma...

 

- Se você não parar de fazer isso, eu vou...

 

- Nos colocar em detenção? - disse Fred, numa voz de eu-quero-ver-se-você-tem-coragem.

 

- Nos fazer escrever linhas? - disse Jorge, num sorriso falso.

 

Espectadores de toda a sala estavam rindo. Hermione se pôs de pé ainda mais; seus olhos estavam cortantes e seu cabelo espesso parecia que ia estalar com a eletricidade.

 

- Não - ela disse, sua voz tremendo de raiva -, mas eu vou escrever para sua mãe.

 

- Você não se atreveria - disse Jorge, horrorizado, dando um passo atrás para longa dela.

 

- Ah, sim, eu me atreveria - respondeu com raiva. - Não posso parar de fazer vocês mesmos comerem essas coisas estúpidas mas não é pra dá-las aos primeiranistas.

 

Fred e Jorge olharam estupefatos. Estava claro que por mais longe que eles tinham ido, a ameaça de Hermione era por debaixo dos panos. Com um último olhar de ameaça a eles, ela empurrou o quadro de Fred e a sacola de Ilusões de volta a eles e andou de volta a sua cadeira perto do fogo.

 

Rony estava agora tão enfiado em seu assento que seu nariz estava praticamente no mesmo nível que seus joelhos.

 

- Obrigada por seu apoio, Rony - Hermione disse secamente.

 

- Você cuidou de tudo sozinha - ele resmungou.

 

Hermione fitou os olhos em seu pedaço branco de pergaminho por alguns segundos, então disse preocupada:

 

- Ah, isso não é bom, não consigo me concentrar agora. Vou dormir.

 

Ela puxou violentamente sua mochila aberta; Harry pensou que ela colocaria seus livros para fora mas em vez disso puxou para fora dois objetos lanosos meio desfigurados, pondo-os cuidadosamente numa mesa perto da lareira, cobrindo-os com uns pedaços inúteis de pergaminho e uma pena quebrada e se levantou para admirar o efeito.

 

- O que, em nome de Merlin, você está fazendo? - disse Rony, assistindo-a como que temeroso de sua sanidade.

 

- São chapéus para elfos domésticos - ela disse rapidamente, agora entulhando seus livros de volta na mochila. - Eu os fiz durante o verão. Sou realmente uma tricoteira vagarosa sem mágica, mas agora que estou de volta à escola serei capaz de fazer muitos mais.

 

- Você está escondendo chapéus para os elfos domésticos? - disse Rony devagar. - E está cobrindo-os com porcarias primeiro?

 

- Sim - disse Hermione audaciosamente, balançando sua mochila até suas costas.

 

- Não é possível - disse Rony, irritado. - Você está tentando enganá-los para apanhar os chapéus. Está deixando-os livres quando eles podem não querer ser livres.

 

- Mas é claro que eles querem ser livres! - disse Hermione de uma vez, enquanto sua face estava ficando vermelha. - Não se atreva a tocar naqueles chapéus, Rony!

 

Ela bateu os calcanhares e saiu. Rony esperou que ela desaparecesse pela porta que dava ao dormitório feminino e então limpou a porcaria para fora dos chapéus lanosos.

 

- Eles deviam pelo menos ver o que estão catando - ele disse firme. - De qualquer forma... - ele enrolou o pergaminho em que tinha escrito o título da lição de Snape. - Não tem como eu terminar isso agora, não consigo sem a ajuda da Hermione, não tenho a menor idéia do que temos de fazer com uma pedra-da-lua, você tem?

 

Harry sacudiu a cabeça e ao fazer isso notou que a dor na têmpora direita estava ficando pior. Pensou na lição enorme sobre as guerras de gigantes e a dor o apunhalou severamente. Sabendo perfeitamente bem que quando a manhã chegasse se arrependeria de não ter terminado sua lição de casa aquela noite, empilhou seus livros para dentro da sua mochila.

 

- Eu vou dormir também.

 

Passou por Simas no caminho para a porta que levava aos dormitórios mas não olhou para ele. Harry tinha uma leve impressão de que Simas tinha aberto a boca para falar mas apertou o passo e alcançou o degrau silencioso da escadaria em espiral sem ter de agüentar mais nenhuma provocação.

 

O dia seguinte amanheceu cinzento e chuvoso como o anterior. Hagrid ainda estava ausente da mesa dos professores no café da manhã.

 

- Mas, por outro lado, nada do Snape hoje - disse Rony estimulado.

 

Hermione bocejou abertamente e se serviu de um pouco de café. Ela parecia um pouco satisfeita com alguma coisa e quando Rony perguntou o que tinha feito pra estar tão feliz, ela simplesmente disse.

 

- Os chapéus sumiram. Parece que os elfos domésticos querem liberdade apesar de tudo.

 

- Eu não apostaria nisso - Rony a interrompeu. - Eles podem não ter acreditado que eram roupas. Eles não eram nada parecidos com chapéus para mim, eram mais como bexigas lanosas.

 

Hermione não falou com ele a manhã toda.

 

A dobradinha de Feitiços foi sucedida pela dobradinha de Transfiguração. Ambos, professor Flitwick e professora McGonagall, gastaram os primeiros quinze minutos de suas aulas palestrando à classe sobre a importância dos N.O.M.s.

 

- O que vocês devem ter em mente - disse o pequeno professor Flitwick num grunhido, empoleirado como sempre numa pilha de livros para assim poder ver por cima do alto de sua mesa - é que esses exames podem influenciar seus futuros por muitos anos que virão! Se vocês ainda não deram uma importância séria para suas carreiras agora é a hora de fazê-lo. E, por enquanto, estou preocupado, devíamos estar trabalhando mais árduo que nunca para assegurar que todos vocês farão justiça a vocês mesmos!

 

Então ele passou mais de uma hora revisando Feitiços Convocatórios, o qual conforme o professor Flitwick obrigava a aparecer em seu N.O.M., e terminou a aula passando a eles a maior lição de casa dada a Feitiços.

 

Foi a mesma coisa, senão pior, em Transfiguração.

 

- Você não pode passar nos N.O.M.s - disse a professora McGonagall amedrontante - sem aplicação séria, prática e estudo. Eu não vejo nenhuma razão por que todos nesta sala não deveriam manipular um N.O.M. em Transfiguração enquanto põem em prática - Neville fez um pequeno som de desacreditado. - Sim, você também, Longbottom. Não há nada errado com seu trabalho, exceto a falta de segurança. Então... Hoje vamos começar Feitiços para Desaparecer. Estes são mais fáceis que os Feitiços Conjurados, os quais vocês não devem tentar aprender antes do PRÓXIMO nível, mas eles estão ainda entre as mágicas mais difíceis que vocês terão de testar em seus N.O.M.s.

 

Ela estava meio certa; Harry achou os Feitiços para Desaparecer horrivelmente difíceis. Lá pelo final do período duplo nem ele nem Rony tinham conseguido fazer desaparecer as lesmas nas quais estavam praticando, apesar de Rony ter dito esperançoso que achava que a dele parecia um pouco pálida. Hermione, por sua vez, fez desaparecer com sucesso sua lesma na terceira tentativa, ganhando um bônus de dez pontos para a Grifinória da professora McGonagall. Ela foi a única que não ganhou lição de casa; o resto teve de praticar o feitiço durante a noite, preparados para uma nova tentativa em suas lesmas na tarde seguinte.

 

Agora um pouco em pânico sobre o amontoado de lição de casa que eles teriam de fazer, Harry e Rony gastaram a hora do almoço na biblioteca procurando as utilidades da pedra-da-lua em poções. Ainda irritada sobre a calúnia de Rony para com seus chapéus lanosos, Hermione não se juntou a eles. Assim que chegaram a Trato das Criaturas Mágicas naquela tarde a cabeça de Harry estava doendo novamente.

 

O dia tinha se tornado fresco e alegre e, enquanto desciam as planícies inclinadas em direção à cabana de Hagrid na beira da Floresta Proibida, sentiam uma ocasional gota de chuva em suas faces. A professora Grubbly-Plank estava parada, esperando a classe a mais ou menos cem metros da porta da frente da cabana, com uma tábua como suporte de mesa em frente a ela carregada de galhos. Assim que Harry e Rony a alcançaram uma longa e alta risada soou atrás deles; virando-se, viram Draco Malfoy caminhando em sua direção, cercado pela sua gangue de sempre de colegas da Sonserina. Ele tinha acabado de dizer claramente algo muito divertido, porque Crabbe, Goyle, Pansy Parkinson e o resto continuavam abafando o riso animadamente enquanto se reuniam em volta da tábua da mesa e, julgando pela maneira que todos dirigiam o olhar para Harry, ele era capaz de adivinhar o assunto da piada sem muita dificuldade.

 

- Estão todos aqui? - gritou a professora Grubbly-Plank, logo que todos da Sonserina e da Grifinória tinham chegado. - Vamos começar então. Quem poderia me dizer como essas coisas se chamam?

 

Ela indicou a pilha de galhos na sua frente. A mão de Hermione se lançou ao ar. Pelas suas costas, Malfoy fez uma imitação pobre dela se balançando no ímpeto de responder a questão. Pansy Parkinson deu um berro de risada que se tornou quase que imediatamente num grito, enquanto que os galhos na mesa saltaram no ar e se revelaram parecidos com criaturas duendes cuidadosas feitas de madeira, cada uma com braços e pernas em corcundas marrons, dois dedos de galho na ponta de cada mão e uma engraçada parte lisa, rosto de cortiça no qual um par de olhos-de-besouro reluziam.

 

- Oooooh! - disseram Pavarti e Lilá, irritando Harry profundamente. Nenhum deles imaginou que Hagrid nunca tinha mostrado a eles criaturas tão impressionantes; reconhecidamente, os Vermes-cegos tinham sido um pouco tediosos, mas as Salamandras e os Hipogrifos foram bastante interessantes, e os Explosivins talvez muito mais.

 

- Mantenham suas vozes mais baixas, garotas! - disse a professora Grubbly-Plank com severidade, espalhando um punhado de uma coisa parecida com arroz marrom entre as criaturas-varetas, que imediatamente se imaginou que era comida. - Então. Alguém sabe os nomes dessas criaturas? Srta. Granger?

 

- Tronquilhos - disse Hermione. - Eles são guardiões-das-árvores e vivem geralmente em árvores mágicas.

 

- Cinco pontos para a Grifinória - disse a professora Grubbly-Plank. - Sim, estes são Tronquilhos, e como a Srta. Granger corretamente falou, geralmente vivem em arvores cuja madeira é de qualidade mágica. Alguém sabe o que eles comem?

 

- Parasita de madeira - disse Hermione prontamente, o que explicou a Harry por que ele tinha visto que grãos do arroz marrom estavam se movendo. - Mas também ovos mágicos se os conseguirem.

 

- Boa menina, ganha mais cinco pontos. Então, sempre que vocês precisarem de folhas ou da madeira vinda da árvore onde um Tronquilho mora é bom ter um presente de parasitas de madeira prontos para distraí-los ou tranqüilizá-los. Eles podem não parecer perigosos mas se estão nervosos tentarão arrancar os olhos humanos com seus dedos, os quais, vocês podem ver, são muito pontiagudos e de modo algum desejáveis perto dos globos oculares. Então se vocês quiserem se reunir mais perto, peguem um pouco de parasitas de madeira e um Tronquilho, eu tenho o suficiente aqui para um entre três, vocês podem estudá-los mais atentamente. Eu quero uma anotação de cada um de vocês com todas as partes do corpo rotuladas no final da aula.

 

A classe se agitou adiante em volta da mesa. Harry deu a volta propositalmente do fundo onde estava para ficar bem ao lado da professora Grubbly-Plank.

 

- Onde está o Hagrid? - ele perguntou a ela enquanto todos os outros escolhiam seus Tronquilhos.

 

- Não se preocupe - disse a professora opressiva, o que tinha sido sua atitude da última vez que Hagrid tinha falhado em descobrir a classe, também. Dando um falso sorriso que cobria toda sua cara pontuda, Draco Malfoy se reclinou acima de Harry e agarrou o Tronquilho mais largo.

 

- Talvez - disse Malfoy em voz baixa, onde somente Harry podia ouvi-lo - o grande idiota estúpido esteja gravemente machucado.

 

- Talvez você ficará se não calar essa boca - disse Harry pelo canto da boca.

 

- Talvez ele esteja entretido com negócios que são muito grandes para ele, se é que você me entende.

 

Malfoy saiu com o sorriso falso por sobre os ombros a Harry, que se sentiu doente repentinamente. Será que Malfoy sabia de alguma coisa? Seu pai era um Comensal da Morte apesar de tudo; e se tivesse informação sobre o destino de Hagrid que ainda não tinham alcançado os ouvidos da Ordem? Ele voltou correndo à mesa para perto de Rony e Hermione, que estavam agachados na grama a alguma distância e tentavam persuadir um Tronquilho a permanecer ereto o suficiente para que o desenhassem. Harry arrancou seu pergaminho e sua pena, agachou-se ao lado dos outros e relatou num sussurro o que Malfoy tinha acabado de dizer.

 

- Dumbledore saberia se alguma coisa tivesse acontecido com Hagrid - disse Hermione rapidamente. - É só um jogo do Malfoy para que fiquemos aborrecidos; contaram a ele que nós não sabemos exatamente o que está se passando. Temos que ignorá-lo, Harry. Aqui, segure o Tronquilho um momento, para que eu possa desenhar seu rosto...

 

- Sim - a voz lenta de Malfoy vinha claramente do grupo perto deles. - Papai estava conversando com o Ministro apenas alguns dias atrás, você sabe, e me parece que o Ministro realmente determinou uma linha mais rígida no sub-padrão de ensino neste lugar. Então mesmo que aquele velho idiota resolva aparecer novamente, ele provavelmente será despedido imediatamente.

 

- Aaii!

 

Harry tinha segurado o Tronquilho tão forte que ele quase o mordeu, e tinha acabado de dar uma grande pancada na mão do Harry com seus dedos pontiagudos, deixando dois cortes profundos ali.

 

Harry caiu. Crabbe e Goyle, que já tinham rido da idéia de Hagrid estar demitido, riram mais ainda quando o Tronquilho saiu a toda velocidade em direção à Floresta, um pequenino homem-vareta já desaparecendo em meio à raiz das árvores. Quando o sino tocou distante por sobre a região, Harry enrolou seu desenho manchado do Tronquilho, marchou para a aula de Herbologia com sua mão enrolada num lenço da Hermione e a gargalhada ridícula de Malfoy ainda ecoando em seus ouvidos.

 

- Se ele chamar o Hagrid de idiota outra vez... - disse Harry com os dentes cerrados.

 

- Harry, não vá se meter em briga com o Malfoy, não se esqueça, ele é um monitor agora, e pode tornar a vida difícil pra você...

 

- Uau, eu imagino, como seria se minha vida fosse mais difícil? - disse Harry sarcasticamente. Rony riu, mas Hermione franziu as sobrancelhas.

 

Juntos, perambularam por entre a vegetação do campo. O céu ainda parecia incapaz de dizer a eles se ia chover ou não.

 

- Eu só espero que o Hagrid se apresse e esteja de volta, só isso - disse Harry em voz baixa, assim que alcançaram as estufas. - E não diga que aquela Grubbly-Plank é uma boa professora! - adicionou de modo ameaçador.

 

- Eu não ia dizer - disse Hermione calmamente.

 

- Porque ela nunca vai ser tão boa quanto o Hagrid - disse Harry firme, totalmente ciente de que ele tinha acabado de presenciar uma aula de Trato das Criaturas Mágicas exemplar e estava perfeitamente irritado por isso.

 

A porta da estufa mais perto abriu e alguns quartanistas saíram por ela, incluindo Gina.

 

- Oi - ela disse claramente assim que passou.

 

Alguns segundos depois, Luna Lovegood surgiu, seguindo o resto da classe, uma mancha de terra em seu nariz e seu cabelo preso num laço no topo da sua cabeça. Quando ela viu Harry seus olhos proeminentes se destacaram excitantes e ela andou em linha reta direto até ele. Muitos dos seus colegas de classe se viraram curiosos para assistir. Luna tomou fôlego e então disse, sem muitas palavras além de um oi.

 

- Eu acredito que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado está de volta e acredito que você lutou com ele e escapou.

 

- Er... Certo - disse Harry sem jeito. Luna estava usando o que parecia ser um par de rabanetes laranjas para as orelhas, fato que Pavarti e Lilá pareciam ter notado, pois ambas estavam rindo e apontando para suas orelhas.

 

- Podem rir - Luna disse, sua voz se erguendo, aparentemente com a impressão de que Pavarti e Lilá estavam rindo do que ela tinha falado e não do que estava usando - mas as pessoas costumam acreditar que não há tantas coisas além de Blibbering Humdinger ou de Crumple-Horned Snorkack!

 

- Bom, ela está certa, não está? - disse Hermione impaciente. - Não há mesmo tantas coisas além de Blibbering Humdinger ou de Crumple-Horned Snorkack.

 

Luna dirigiu a ela um olhar fulminante e foi embora bruscamente, os rabanetes balançando loucamente. Pavarti e Lilá não eram as únicas que riam agora.

 

- Você se importa de não ofender mais a única pessoa que acredita em mim? - Harry pediu a Hermione enquanto caminhavam para a aula.

 

- Ah, pelo amor de Deus, Harry, você pode fazer melhor do que ela - disse Hermione. - Gina me contou tudo sobre ela; aparentemente só acredita nas coisas enquanto não há provas de jeito nenhum. Bom, eu não esperaria nada mais de alguém cujo pai escreve The Quibbler.

 

Harry se lembrou dos cavalos alados sinistros que tinha visto na noite em que chegou e em como Luna tinha dito que podia tê-los visto também. Seu espírito se afundou levemente. Será que ela estava mentindo? Mas antes que pudesse dar mais importância ao fato Ernie MacMillan se adiantou até ele.

 

- Quero que você saiba, Potter - ele disse em voz alta e contínua -, que não são somente os estranhos que te apóiam. Eu pessoalmente acredito em você cem por cento. Minha família sempre esteve apoiando firme o Dumbledore, assim como eu.

 

- Er... Muito obrigado, Ernie - disse Harry, embaraçado mas contente. Ernie podia parecer pomposo em ocasiões como essa mas Harry estava de maneira a apreciar profundamente um voto de confiança vindo de alguém que não tinha rabanetes pendurados em suas orelhas.

 

As palavras de Ernie certamente apagaram o sorriso da cara de Lilá Brown e, assim que se virou para conversar com Rony e Hermione, Harry captou a expressão de Simas, que parecia ao mesmo tempo confuso e desafiante.

 

Para a surpresa de ninguém, a professora Sprout começou sua aula palestrando-os sobre a importância dos N.O.M.s. Harry desejou que todos os professores parassem de fazer isso; estava começando a ter um sentimento ansioso e giratório no seu estômago toda vez que ele lembrava quanta lição de casa tinha pra fazer, um sentimento que piorou dramaticamente quando a professora Sprout deu outra lição no fim da aula. Cansados e cheirando a estrume de dragão, a professora preferia esse tipo de fertilizante, os alunos da Grifinória voltaram para o castelo uma hora e meia depois, nenhum deles conversando muito; tinha sido mais um dia difícil.

 

Como Harry estava faminto e tinha sua primeira detenção com Umbridge às cinco horas, seguiu direto para o jantar sem deixar sua mochila na Torre da Grifinória, e assim podia mastigar alguma coisa antes de encarar o que fosse que ela havia preparado. Ele mal tinha alcançado a entrada do Salão Principal, no entanto, quando uma voz alta e nervosa gritou.

 

- Oi, Potter!

 

- O que foi agora? - ele murmurou fraco, virando-se para encarar Angelina Johnson, que olhava como se estivesse num temperamento elevado.

 

- Eu te digo o que foi agora - ela disse, marchando mais pra perto dele e batendo com força em seu peito com o dedo. - Como você pôde pegar uma detenção para cumprir às cinco horas numa sexta-feira?

 

- O quê? - disse Harry. - Por que... Ah sim, treino de goleiro!

 

- Agora ele se lembra! - reclamou. - Eu não te disse que queria fazer um treino com o time todo e achar alguém que se encaixe com todo mundo? Eu não te falei que reservei a quadra de quadribol especialmente? E agora você decidiu que não vai estar lá!

 

- Eu não decidi que não estarei lá! - disse Harry, atormentado pela injustiça daquelas palavras. - Eu peguei detenção com aquela Umbridge, só porque eu disse a verdade sobre Você-Sabe-Quem.

 

- Bem, você pode ir direto a ela e pedir que te libere nesta sexta - disse violentamente - e não me importa como você vai fazer. Diga a ela que Você-Sabe-Quem é uma invenção da sua imaginação se quiser, apenas tenha certeza de que estará lá!

 

Ela bateu os calcanhares e saiu irritada.

 

- Sabe de uma coisa? - Harry disse a Rony e Hermione assim que entraram no Salão Principal. - Eu acho que nós devíamos checar com os Puddlemere United se o Olívio Wood está sendo destruído durante a sessão de treinamento, porque a Angelina parece que canalizou seu espírito.

 

- Você calcula quais são as chances da Umbridge deixar você se livrar na sexta? - disse Rony cético, quando se sentaram à mesa da Grifinória.

 

- Menos que zero - disse com tristeza, entornando costeletas de carneiro em seu prato e começando a comer. - Melhor tentar, então, não é? Eu vou oferecer para cumprir mais duas detenções ou algo assim, não sei... - engoliu um bocado de batatas e acrescentou. - Tomara que ela não me mantenha por muito tempo lá esta noite. Vocês sabem que temos de escrever três lições, praticar os Feitiços para Desaparecer da professora McGonagall, trabalhar numa porção de feitiços do Flitwick, terminar o desenho do Tronquilho e começar aquele diário de sonhos estúpido para a Trelawney?

 

Rony lamentou e pela mesma razão passou a olhar para o teto.

 

- E parece que vai começar a chover.

 

- O que devemos fazer com nossa lição de casa? - disse Hermione, seus olhos se destacaram.

 

- Nada - disse Rony rapidamente, suas orelhas avermelhando.

 

Às cinco para as cinco Harry se despediu dos outros dois e se pôs a caminho do escritório de Umbridge no terceiro andar. Quando bateu à porta ela chamou "Entre" numa voz açucarada. Entrou cautelosamente, olhando em volta.

 

Conhecia seu escritório sob o aspecto dos três ocupantes anteriores.

 

Nos dias em que Gilderoy Lockhart passou ali a sala era emplastrada de retratos brilhantes dele mesmo. Quando Lupin a ocupou era como você encontraria alguma criatura das trevas fascinante numa gaiola ou tanque se viesse chamá-lo. Nos dias do Moody impostor era atulhada com vários instrumentos e artefatos para a detecção de injustiças e esconderijos.

 

Agora, no entanto, parecia totalmente irreconhecível. As superfícies tinham sido todas enfeitadas com uma cobertura rendada e roupas. Havia alguns vasos cheios de flores secas, cada um residindo em seu próprio adereço, e numa das paredes uma coleção de pratos ornamentais, cada um decorado com um gatinho de cor berrante usando uma gravata diferente em torno do pescoço. Eles eram tão grosseiros que Harry não tirou os olhos deles, paralisado, até a professora Umbridge falar de novo.

 

- Boa noite, Sr. Potter.

 

Harry acordou e olhou em volta. Ele não a tinha notado num primeiro momento por que ela estava usando um conjunto de manto fúnebre de flores que combinavam muito bem com a toalha da mesa atrás.

 

- Boa noite, professora Umbridge - Harry disse com rigor.

 

- Bem, sente-se - ela disse, apontando em direção a uma mesa ornamentada de renda ao lado de uma cadeira bem alta. Um pedaço de pergaminho se encontrava em cima da mesa, aparentemente esperando por ele.

 

- Er... - disse Harry, sem se mexer. - Professora Umbridge. Er... Antes de começarmos, eu... Eu queria lhe pedir um... Um favor.

 

Seus olhos arregalados se encolheram.

 

- Ah, sim?

 

- Bem, Eu... Eu estou no time de quadribol da Grifinória. E eu teria de estar no treino para o novo goleiro às cinco horas da sexta e eu estava... Estava pensando se eu poderia pular a detenção esta noite e fazê-la... Fazê-la outra noite... Em vez de...

 

Ele sabia bem antes de alcançar o fim da sua frase que aquilo não estava bom.

 

- Oh, não - disse Umbridge, sorrindo tão abertamente que ela parecia como se tivesse engolido particularmente uma suculenta mosca. - Oh, não, não, não. Esta é a sua punição por ter propagado histórias más, indecentes, e para chamar a atenção, Sr. Potter, e punições certamente não podem ser ajustadas de modo a se adaptarem à conveniência de alguém culpado. Não, você virá aqui às cinco horas amanhã e depois de amanhã e na sexta também, e você cumprirá suas detenções como combinado. Eu acho que é uma boa idéia você estar perdendo algo que realmente queira fazer. Isso serve para reforçar a lição que eu estou tentando lhe passar.

 

Harry sentiu o sangue subindo na cabeça e ouviu um barulho de soco em suas orelhas. Então contou "histórias más, indecentes e para chamar a atenção", não foi?

 

Ela o estava observando com sua cabeça levemente para um lado, ainda sorrindo abertamente, como se soubesse exatamente o que ele estava pensando e esperando para ver quando ele começaria a falar novamente. Com um tremendo esforço, Harry desviou o olhar dela, jogou sua mochila ao lado da cadeira alta e se sentou.

 

- Aí está - disse Umbridge docemente -, estamos indo melhor controlando nosso temperamento, não acha? Agora, você fará algumas linhas para mim, Sr. Potter. Não, não com sua pena - ela acrescentou quando Harry se curvou para abrir sua mochila. - Você usará uma minha especial de preferência. Aqui está.

 

Ela lhe estendeu uma pena longa e fina com uma ponta extraordinariamente pontiaguda.

 

- Eu quero que você escreva "Eu não devo contar mentiras" - ela lhe disse suavemente.

 

- Quantas vezes? - Harry perguntou, com uma imitação creditável de delicadeza.

 

- Ah, quantas vezes forem necessárias para a mensagem entrar em sua cabeça - disse Umbridge docemente. - Pode começar agora.

 

Ela se moveu até sua mesa, sentou-se e se inclinou num amontoado de pergaminhos que pareciam lições para corrigir. Harry levantou a pena preta pontiaguda, então percebeu algo errado.

 

- Você não me deu nenhuma tinta.

 

- Oh, você não precisa de tinta - disse com a menor sugestão de riso em sua voz.

 

Harry posicionou a ponta da pena no papel e escreveu: "Eu não devo contar mentiras".

 

Deixou escapar um gemido de dor. As palavras tinham aparecido no pergaminho no que parecia ser tinta vermelha brilhante. Ao mesmo tempo, as palavras tinham aparecido nas costas da mão direita de Harry, cortando sua pele como se traçadas por um bisturi - e ainda quando ele olhava fixamente para o corte brilhante a pele cicatrizou, deixando o lugar onde estava menos vermelho do que antes mas completamente liso.

 

Harry olhou em volta para Umbridge. Ela o estava observando com sua boca larga de sapo esticada num sorriso.

 

- Sim?

 

- Nada - disse Harry baixinho.

 

Ele olhou de volta ao pergaminho, posicionou a pena mais uma vez, escreveu "Eu não devo contar mentiras", e sentiu a dor queimando nas costas da sua mão pela segunda vez; de novo as palavras cortaram dentro da sua pele; de novo cicatrizaram segundos depois.

 

E assim ele foi. De novo e de novo Harry escreveu as palavras no pergaminho no que ele logo percebeu que não era tinta, mas seu próprio sangue. E, de novo e de novo, as palavras cortavam dentro das costas da sua mão, cicatrizavam e reapareciam toda vez que ele punha a pena no pergaminho.

 

Uma escuridão caiu lá fora pela janela de Umbridge. Harry não perguntou quando poderia parar. Tampouco checou seu relógio. Sabia que ela estava procurando nele algum sinal de fraqueza e não mostraria nenhum, nem mesmo se tivesse de ficar sentado lá a noite toda, cortando sua própria mão com aquela pena...

 

- Venha cá - ela disse, depois do que pareceram horas.

 

Ele se levantou. Sua mão estava doendo aflitivamente. Quando olhou para baixo, para a mão, viu que o corte cicatrizara, mas a pele ali estava com uma ferida vermelha.

 

- Mão - ela disse.

 

Ele a estendeu. Ela a colocou em cima da sua própria mão. Harry conteve um calafrio enquanto ela o tocava com seus dedos curtos e grossos nos quais usava alguns anéis feios e velhos.

 

- Tsc, tsc, não vejo que causei muita impressão, ainda - disse, sorrindo. - Bom, teremos que tentar novamente amanhã à noite, não é? Pode ir.

 

Harry deixou seu escritório sem dizer uma palavra. A escola estava completamente deserta; já tinha com certeza passado da meia noite. Caminhou lentamente pelo corredor, então, quando tinha virado a esquina e tinha certeza de que ela não o ouviria, saiu correndo.

 

Não tinha tido tempo para praticar os Feitiços para Desaparecer, não tinha escrito um único sonho em seu diário de sonhos e não tinha terminado o desenho do Tronquilho, nem tinha efeito suas lições. Pulou o café da manhã na manhã seguinte para rabiscar alguns sonhos prontos para Adivinhação, sua primeira aula, e estava surpreso por encontrar um Rony despenteado em sua companhia.

 

- Por que você não fez isso a noite passada? - Harry perguntou enquanto Rony olhava em todos os cantos do salão comunal procurando inspiração.

 

Rony, que estava dormindo profundamente quando Harry tinha voltado ao dormitório, murmurou algo sobre "fazendo outras coisas", curvou-se devagar sobre seu pergaminho e rabiscou algumas palavras.

 

- É isso que temos de fazer - ele disse, batendo o diário fechando-o. - Eu direi que sonhei que estava comprando um par de sapatos novos, ela não pode dizer nada estranho sobre isso, pode?

 

Eles correram até a Torre Norte juntos.

 

- Como foi a detenção com a Umbridge, de qualquer forma? O que ela te obrigou a fazer?

 

Harry hesitou por uma fração de segundos, então disse.

 

- Linhas.

 

- Não foi tão ruim assim, então, hein?

 

- Não.

 

- Hey, me esqueci, ela te deixou sair na sexta?

 

- Não.

 

Rony grunhiu simpaticamente.

 

Foi um outro dia ruim para Harry; foi um dos piores em Transfiguração, não tendo praticado os Feitiços para Desaparecer de forma alguma. Teve de se abster da sua hora do almoço para completar a figura do Tronquilho e, enquanto isso, os professores McGonagall, Grubbly-Plank e Sinistra deram ainda mais lição de casa, as quais ele não tinha prospecções de acabar aquela noite por causa de sua segunda detenção com Umbridge. Para completar, Angelina Johnson o seguiu no jantar novamente e, descobrindo que ele não estaria presente nos treinos de goleiro nas sextas, contou a ele que não estava de toda impressionada por sua atitude, que esperava jogadores que desejavam permanecer no time e que pusessem o treino antes de quaisquer outros compromissos.

 

- Eu estou em detenção! - Harry gritou depois que ela saiu afetadamente. - Você acha que eu prefiro estar trancafiado numa sala com aquele sapo velho ou jogando quadribol?

 

- Ao menos são só linhas - disse Hermione, consolando-o, enquanto Harry se afundava no banco e olhava para seu bife e seu bolo de carne, os quais não havia pensado muito.

 

- Não é, não, é uma punição horrorosa, realmente...

 

Harry abriu a boca, fechou-a novamente e pendeu a cabeça. Ele não estava muito certo por que não estava contando a Rony e Hermione exatamente o que estava acontecendo na sala da Umbridge: ele só sabia que não queria ver suas caras de espanto; o que faria a coisa toda parecer pior e então mais difícil de encarar. Também sentiu que isso era entre ele e Umbridge, uma batalha privada de testamentos, e não daria a ela a satisfação de escutar suas reclamações.

 

- Não acredito em quanta lição de casa nós temos - disse Rony miseravelmente.

 

- Bem, por que você não fez nada a noite passada? - Hermione perguntou a ele. - Onde você estava, de qualquer forma?

 

- Eu estava... Eu fui dar uma volta - disse Rony de modo astuto.

 

Harry teve a distinta impressão de que ele não estava sozinho ocultando as coisas naquele momento.

 

A segunda detenção foi tão ruim quanto a primeira. A pele nas costas da mão de Harry ficara irritada mais rapidamente agora e logo estava vermelha e inflamada. Harry achou pouco provável que aquilo pudesse estar cicatrizando mais efetivamente por um tempo. Logo o corte remanesceria em sua mão e a Umbridge poderia, talvez, ficar satisfeita. Não deixou escapar nenhum gemido de dor, no entanto, e do momento em que ele entrou na sala ao momento em que ele partiu, de novo se passara da meia noite, não disse nada além de "boa noite" e "boa noite".

 

A situação da sua lição de casa, no entanto, era agora desesperadora e quando retornou ao salão comunal da Grifinória não foi, apesar de exausto, dormir, mas abriu seus livros e começou a lição da pedra-da-lua do Snape. Já se passavam das duas e meia quando a terminou. Sabia que tinha feito um trabalho pobre mas não teve ajuda para tal; a não ser que tivesse algo para ceder estaria em detenção com o Snape depois. Então escreveu apressadas respostas às perguntas que a professora McGonagall tinha passado, emendando junto algo com o manejo certo de Tronquilhos para a professora Grubbly-Plank, e subiu exausto para a cama, onde caiu completamente vestido por cima dos cobertores e adormeceu imediatamente.

 

Quinta passou num nevoeiro de cansaço. Rony parecia muito sonolento também, e Harry não via por que deveria estar. A terceira detenção de Harry passou do mesmo modo que as outras duas primeiras, exceto que depois de duas horas as palavras "Eu não devo contar mentiras" não perderam a cor das costas da mão de Harry, mas permaneciam arranhadas lá, deixando escapar gotas de sangue. A pausa das penas apontadas arranhando fez a professora Umbridge levantar os olhos.

 

- Ah - ela disse suavemente, saindo de sua mesa para examinar ela mesma sua mão. - Bom. Isso serve como um lembrete para você, não serve? Você pode sair por hoje.

 

- Eu ainda preciso voltar amanhã? - disse Harry, levantando sua mochila com a mão esquerda do que com sua outra esperta.

 

- Ah sim - disse a professora Umbridge, sorrindo tão abertamente quanto antes. - Sim, eu acho que podemos entalhar a mensagem um pouco mais fundo com uma outra noite de trabalho.

 

Harry nunca tinha considerado a possibilidade que haver outro professor no mundo que odiasse mais do que Snape mas enquanto caminhava de volta à Torre da Grifinória tinha de admitir que havia encontrado uma forte candidata. "Ela é cruel", ele pensou enquanto subia a escadaria para o sétimo andar, "ela é uma cruel, feia, má e velha...".

 

- Rony?

 

Tinha alcançado o topo da escada, virado à direita e quase andado até o Rony, que estava se escondendo atrás de uma estátua de Lachlan, o Esbelto, segurando com força seu cabo de vassoura. O amigo deu um grande salto de surpresa quando viu Harry e tentou esconder sua nova Cleansweep 11 em suas costas.

 

- O que você está fazendo?

 

- Er... Nada. O que você está fazendo?

 

Harry franziu as sobrancelhas para ele.

 

- Vamos lá, você pode me contar! Do que você está se escondendo aqui?

 

- Eu... Eu estou me escondendo do Fred e do Jorge, que você deve saber - disse Rony. - Eles acabaram de passar com um monte de primeiranistas, aposto que estão testando coisas neles novamente, digo, eles não podem fazer isso no salão comunal agora, não com a Hermione lá - estava falando de um modo rápido e febril.

 

- Mas por que você trouxe junto sua vassoura, você não estava voando, estava? - Harry perguntou.

 

- Eu... Tá bom... Tá bom, ok, eu vou te contar, mas não ria, certo? - Rony disse defensivamente, ficando vermelho a todo minuto. - Eu... Eu pensei que poderia tentar ser o goleiro da Grifinória agora que tenho uma vassoura decente. Vai. Vai em frente. Pode rir.

 

- Não estou rindo - disse e Rony vacilou. - É uma idéia brilhante! Eu ficaria muito contente se você entrasse para o time! Eu nunca te vi jogando como goleiro, você é bom?

 

- Não sou ruim - disse Rony, que sentiu um alívio imenso diante da reação de Harry. - Carlinhos, Fred e Jorge sempre me fizeram defender para eles quando estavam treinando durante as férias.

 

- Então você andou praticando esta noite?

 

- Toda noite desde terça... Apenas por conta própria. Tenho tentado enfeitiçar as goles para voarem até mim, mas não tem sido fácil e eu não sei quanta utilidade ela terá - Rony olhou nervoso e ansioso. - Fred e Jorge se acharão estúpidos quando me virem nos treinos. Eles não pararam de tirar sarro de mim desde que me tornei monitor.

 

- Tomara que eu esteja lá - disse Harry amargamente, enquanto caminhavam juntos em direção ao salão comunal.

 

- É, eu também desejo... Harry, o que é isso nas costas da sua mão?

 

Harry, que tinha coçado seu nariz com a mão livre direita, tentou escondê-la, mas obteve tanto sucesso quanto Rony com sua Cleansweep.

 

- É só um corte... Não é nada... É...

 

Mas Rony havia agarrado à força seu antebraço e puxou as costas da mão de Harry ao nível dos seus olhos. Houve uma pausa, durante a qual ele olhou atentamente as palavras cravadas na pele, então, sentindo-se enjoado, soltou Harry.

 

- Eu achei que você tinha dito que ela estava apenas lhe dando linhas?

 

Harry hesitou mas, apesar de tudo, Rony tinha sido honesto com ele, então contou a verdade sobre as horas que estava passando no escritório da Umbridge.

 

- A bruxa velha! - Rony disse num sussurro revoltado assim que pararam em frente à Mulher Gorda, que estava cochilando em paz com sua cabeça contra a moldura. - Ela é doente! Vá até a McGonagall, diga algo!

 

- Não - disse Harry rapidamente. - Não vou dar a ela a satisfação de saber que ela me pegou.

 

- Pegou você? Você não pode deixar ela se safar dessa maneira!

 

- Eu não sei quanto poder McGonagall tem sobre ela.

 

- Dumbledore, então, conte a Dumbledore!

 

- Não - disse Harry sem rodeios.

 

- Por que não?

 

- Ele tem o bastante em sua mente - disse Harry, mas essa não era a verdadeira razão. Não iria até Dumbledore pedir ajuda quando o diretor não havia falado com ele desde junho.

 

- Bom, eu calculo que posso... - Rony começou mas foi interrompido pela Mulher Gorda, que estava os olhando sonolenta e agora explodiu.

 

- Você me darão a senha ou eu terei de ficar acordada a noite toda esperando vocês terminarem essa conversa?

 

A sexta-feira amanheceu triste e molhada como o resto da semana. Apesar de Harry automaticamente ter dado uma espiada em direção à mesa dos professores quando entrou no Salão Principal não tinha nenhuma esperança de ver Hagrid, e imediatamente voltou a mente para seus problemas mais urgentes, como a gigantesca pilha de lição de casa que ele tinha de fazer e a possibilidade de mais uma detenção com Umbridge.

 

Duas coisas sustentaram Harry aquele dia. Uma era o fato de que era quase fim de semana; a outra era que, temeroso apesar da sua detenção final com a Umbridge ser certeza de acontecer, tinha tido uma visão distante da quadra de quadribol de sua janela e podia, com sorte, ser capaz de ver algo do treino de Rony. Este era apenas um raio de esperança, era verdade, mas Harry estava grato por qualquer coisa que pudesse brilhar na sua escuridão presente; ele nunca tinha tido uma primeira semana pior em termos de Hogwarts.

 

Às cinco horas daquela tarde ele bateu à porta do escritório da professora Umbridge para o que esperava sinceramente ser a última vez, e foi convidado a entrar. O pergaminho branco estava pronto para ele na mesa coberta de renda, a pena preta e pontiaguda a seu lado.

 

- Você sabe o que fazer, Sr Potter - disse Umbridge, sorrindo docemente para ele.

 

Harry pegou a pena e deu uma olhada através da janela. Se deslocasse sua cadeira alguns centímetros ou mais para a direita... Com o pretexto de se mover mais para perto da mesa, ele conseguiu.

 

Agora tinha uma vista distante do time de quadribol da Grifinória voando pra cima e pra baixo na quadra, enquanto que meia dúzia de figuras pretas estavam ao pé dos três postes de gol, aparentemente esperando sua vez para ser o goleiro. Era impossível distinguir qual deles era o Rony à distância.

 

"Eu não devo contar mentiras", Harry escreveu. O corte nas costas da sua mão direita se abriu e começou a sangrar mais uma vez.

 

"Eu não devo contar mentiras." O corte cavou mais profundo, ferroando e ferindo.

 

"Eu não devo contar mentiras." O sangue escorregou em seus pulsos.

 

Arriscou uma nova espiada lá fora pela janela. Quem fosse que estivesse defendendo os aros de gol agora estava fazendo um trabalho pobre de fato. Katie Bell marcou duas vezes em poucos minutos. Harry se atreveu a assistir. Torcendo muito que o goleiro não fosse o Rony, voltou os olhos ao pergaminho brilhando de sangue.

 

"Eu não devo contar mentiras."

 

"Eu não devo contar mentiras."

 

Deu uma espiada sempre que achava que podia se arriscar; quando podia ouvir o arranhão da pena de Umbridge ou a abertura de uma gaveta da escrivaninha. A terceira pessoa a treinar foi muito bem, a quarta foi terrível, a quinta se desviou de um balaço excepcionalmente bem mas então achou a partida muito fácil. O céu estava escurecendo e Harry duvidou que pudesse ver a sexta e a sétima pessoas de jeito nenhum...

 

"Eu não devo contar mentiras."

 

"Eu não devo contar mentiras."

 

O pergaminho estava agora salpicado de gotas de sangue vindas das costas de sua mão, a qual estava queimando de dor. Quando deu uma nova espiada a noite havia chegado e a quadra da quadribol não estava mais visível.

 

- Vamos ver se você já recebeu a mensagem, vamos? - disse a voz suave de Umbridge meia hora depois.

 

Ela se moveu em direção a ele, alongando seus dedos curtos com anéis até seu braço. E então, enquanto ela o segurou para examinar as palavras agora cortadas em sua pele, a dor queimou, não através das costas da sua mão, mas através da cicatriz em sua testa. Ao mesmo tempo, ele teve uma mesma sensação peculiar em algum lugar em torno da barriga.

 

Ele arrancou seu braço pra fora do alcance dela e saltou de pé, fitando-a. Ela olhou de volta para ele, um sorriso largamente esticado, com a boca frouxa.

 

- Sim, isso dói, não é? - ela disse suavemente.

 

Ele não respondeu. Seu coração estava batendo muito forte e rápido. Ela estava falando de sua mão ou sabia o que ele acabara de sentir em sua testa?

 

- Bem, acho que já estou satisfeita, Sr. Potter. Pode ir.

 

Ele catou sua mochila e deixou a sala o mais rápido que pôde.

 

"Fique calmo", ele disse a si mesmo, assim que corria a toda velocidade para cima nas escadas. "Fique calmo, não significa necessariamente o que você acha que significa..."

 

- Mimbulus mimbletonia! - ofegou para a Mulher Gorda, que se balançou adiante mais uma vez.

 

Um som de urro veio recebê-lo. Rony veio correndo em sua direção, reluzindo alegria em todo seu rosto e derramando cerveja amanteigada adiante da taça que estava agarrado.

 

- Harry, Eu consegui, estou dentro, eu sou o goleiro!

 

- O quê? Oh... Brilhante! - disse Harry, tentando sorrir naturalmente, enquanto que seu coração continuava acelerado e sua mão pulsando e sangrando.

 

- Tome uma cerveja amanteigada - Rony pressionou uma garrafa nele. - Eu não posso acreditar... Aonde a Hermione foi?

 

- Ela está ali - disse Fred, que também estava bebendo cerveja amanteigada, e apontou para uma poltrona perto do fogo.

 

Hermione estava cochilando, sua bebida entornando precariamente de sua mão.

 

- Bom, ela disse que estava contente quando contei a ela - disse Rony, olhando levemente desligado.

 

- Deixe-a dormir - disse Jorge apressadamente.

 

Alguns momentos antes Harry notou que muitos dos primeiranistas que se reuniram em volta deles sustentavam sinais evidentes de uma recente hemorragia nasal.

 

- Venha aqui, Rony, e veja se o uniforme antigo do Olívio lhe serve - chamou Katie Bell. - Nós podemos tirar o nome dele e colocar o seu no lugar...

 

Assim que Rony se moveu para longe, Angelina veio caminhando até Harry.

 

- Desculpe-me por ter sido tão rude com você cedo, Potter - ela disse abruptamente. - É bem estressante esse negócio de comandar, você entende, eu começo a achar que pareço um pouco com o Wood na dureza algumas vezes - ela estava observando Rony por cima da borda da sua taça com as sobrancelhas levemente franzidas em seu rosto. - Olha, eu sei que ele é seu melhor amigo, mas ele não é fabuloso - disse de modo áspero. - Acho que com um pouco de treino ele estará bem, apesar de tudo. Ele vem de uma família de bons jogadores de quadribol. Aposto que ele demonstrará um pouco mais de talento do que o que mostrou hoje, para ser sincera. Vicky Frobisher e Geoffrey Hooper ambos voaram melhor essa noite, mas Hooper é um resmungão, está sempre lamentando sobre alguma coisa ou outra, e Vicky está envolvida com a alta sociedade. Ela mesma admitiu que se os treinos confrontassem com seu Clube de Feitiços colocaria o Clube em primeiro lugar. De qualquer forma, teremos uma aula prática amanhã às duas horas, então apenas tenha certeza de que estará lá desta vez. E me faça um favor e ajude Rony o mais que puder, ok?

 

Ele inclinou a cabeça e Angelina voltou em companhia de Alicia Spinnet. Harry se deslocou para se sentar ao lado de Hermione, que acordou com o arremesso da mochila dele ao chão.

 

- Oh, Harry, é você... Bom sobre o Rony, não acha? - ela disse ofuscante. - Estou tão... Tão... Tão cansada - ela bocejou. - Estava de pé antes da uma hora fazendo mais chapéus. Eles estão desaparecendo como loucos!

 

E, sem dúvida, agora que ele olhou, Harry viu que havia chapéus de lã escondidos em toda a volta do salão onde elfos descuidados pudessem acidentalmente pegá-los.

 

- Ótimo - disse Harry distraído; se não contasse a alguém logo ia explodir. - Escuta, Hermione, eu acabei de vir do escritório da Umbridge e ela tocou meu braço...

 

Hermione escutou com atenção. Quando Harry terminou, ela disse devagar.

 

- Você está preocupado se Você-Sabe-Quem a está controlando como controlou Quirrell?

 

- Bom - disse Harry, baixando a voz -, é uma possibilidade, não é?

 

- Suponho que sim - disse Hermione, apesar de soar inconvincente. - Mas eu não acho que ele a vem controlando da mesma forma que controlava o Quirrell, digo, ele está propriamente vivo de novo agora, não é, tem seu próprio corpo, ele não precisaria partilhar o de outra pessoa. Ele pode tê-la sob o domínio da Maldição Imperius, eu suponho...

 

Harry observou Fred, Jorge e Lino Jordan fazendo malabarismos com garrafas de cerveja amanteigada por um momento. Então Hermione disse.

 

- Mas no ano passado sua cicatriz doeu quando ninguém estava te tocando, e Dumbledore não disse que tinha a ver com o sentimento de Você-Sabe-Quem no momento? Digo, talvez isso não tenha nada a ver com a Umbridge apesar de tudo, talvez seja apenas coincidência na hora que você estava com ela?

 

- Ela é cruel - disse Harry sem rodeios. - Horrível.

 

- Ela é horrível, sim, mas... Harry, acho que você deveria contar a Dumbledore que sua cicatriz doeu.

 

Era a segunda vez em dois dias que ele havia sido alertado para ir até Dumbledore e sua resposta a Hermione foi a mesma dada a Rony.

 

- Não vou incomodá-lo com isto. Como você mesmo disse, não é grande coisa. Ela tem doído de vez em quando todo o verão... Foi só um pouco pior esta noite, só isso...

 

- Harry, tenho certeza de que Dumbledore ia querer ser incomodado com isto...

 

- Tá - disse Harry, antes que pudesse parar -, é o único pedaço de mim que Dumbledore se importa, não é, minha cicatriz?

 

- Não diga isso, não é verdade!

 

- Acho que vou escrever a Sirius sobre isso, ver o que ele acha...

 

- Harry, você não pode colocar algo assim numa carta! - disse Hermione, parecendo amedrontada. - Não se lembra, Moody nos disse para sermos cuidadosos no que colocamos nas cartas! Não podemos garantir que as corujas não estejam mais sendo interceptadas!

 

- Tá bom, tá bom, eu não contarei a ele, então! - disse irritado. Ele se levantou. - Eu vou dormir. Conte a Rony por mim, está bem?

 

- Ah não - disse Hermione, parecendo aliviada -, se você se vai dessa maneira eu também posso ir, sem ser rude. Estou absolutamente exausta e quero fazer mais alguns chapéus amanhã. Escuta, você pode me ajudar, se quiser, é bem engraçado, estou ficando melhor, consigo fazer moldes e bobbles e todo tipo de coisas agora.

 

Harry olhou para seu rosto, que estava brilhando de alegria, e tentou parecer como se estivesse vagamente tentado por sua oferta.

 

- Er... Não, não sei vou poder, obrigado - ele disse. - Er... Não amanhã. Tenho uma porção de lição de casa para fazer...

 

E ele escapou para as escadas do dormitório masculino, deixando-a levemente desapontada.

 

 

PERCY E ALMOFADINHAS

Harry foi o primeiro a acordar no dormitório na manhã seguinte. Ficou deitado por um tempo, observando um redemoinho de poeira no meio do raio de luz vindo dos pregos de seus quatro pôsteres, saboreou o pensamento de que era sábado. A primeira semana de fato pareceu ter se esticado para sempre, como uma gigantesca aula de História da Magia.

 

Julgando pelo silêncio adormecido e o leve frescor daquele raio de luz, era antes do amanhecer. Puxou as cortinas ao lado da cama, levantou-se e começou a se vestir. O único som audível além do gorjeio distante dos pássaros era a respiração lenta e profunda de seus colegas da Grifinória. Abriu sua mochila cuidadosamente, retirou pergaminho e pena e deixou o dormitório em direção à sala comunal.

 

Indo direto até sua poltrona amassada e velha ao lado do agora extinto fogo, Harry se acomodou confortavelmente e desenrolou seu pergaminho enquanto olhava ao redou do salão. Os detritos de pedaços destruídos de pergaminho, Gobstones velhos, jarras de ingredientes vazias e pequenos papéis que geralmente se espalham pela sala comunal no fim de cada dia tinham sumido, assim como todos os chapéus de elfos da Hermione. Perguntando-se vagamente quantos elfos tinham agora se libertado querendo ser livres ou não, Harry destampou seu tinteiro, mergulhou sua pena nele, então a segurou suspensa uns trinta centímetros acima da superfície suave e amarelada de seu pergaminho, pensando muito... Mas depois de um minuto ou mais se achou parado diante da lareira vazia, num completo fracasso do que dizer.

 

Podia agora apreciar como devia ter sido difícil para Rony e Hermione escreverem cartas para ele durante o verão. Como contaria a Sirius tudo o que havia se passado durante a semana passada e posicionar todas as perguntas que ansiava em fazer sem dar a potenciais ladrões de carta um monte de informações as quais não queria dá-los?

 

Ele ficou sentado, quieto e imóvel por um tempo, encarando a lareira, então, finalmente veio a resposta, mergulhou a pena no tinteiro mais uma vez e a posicionou definitivamente no pergaminho.

 

"Caro Snuffles,

Espero que esteja bem, a primeira semana de volta aqui tem sido terrível, estou muito contente que é o fim de semana.

Temos uma nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, professora Umbridge. Ela é quase tão gentil como sua mãe. Estou escrevendo porque aquilo que eu lhe escrevi no verão passado aconteceu de novo a noite passada, quando estava cumprindo uma detenção com a Umbridge.

Todos nós sentimos falta do nosso maior amigo, esperamos que ele esteja de volta logo.

Por favor, me responda rapidamente.

Do seu querido,

Harry"

 

Harry releu a carta diversas vezes, tentando vê-la do ponto de vista de um desconhecido. Não conseguia ver como saberiam sobre o que ele estava falando - ou com quem estava falando - apenas lendo-a. Esperava que Sirius entendesse a dica sobre Hagrid e contasse quando ele poderia estar de volta. Harry não queria perguntar diretamente para o caso de não chamar muita atenção ao que Hagrid estaria tramando enquanto não estava em Hogwarts.

 

Considerando que aquela era uma carta muito pequena, ela demorou um bocado para ser escrita; o sol já tinha se arrastado até o meio do salão enquanto trabalhava nela e podia agora ouvir sons distantes de movimento vindos do dormitório acima. Guardando o pergaminho cuidadosamente, passou pelo buraco do retrato e se deslocou até o Corujal.

 

- Eu não iria por aí se fosse você - disse Nick Quase Sem Cabeça, sendo levado pela corrente desconcertantemente através de uma parede bem acima de Harry enquanto caminhava pela passagem. - Pirraça está planejando pregar uma peça na primeira pessoa que passar perto do busto do Paracelsus a meio caminho do corredor.

 

- Isso envolve o Paracelsus caindo na cabeça de alguém?

 

- Muito engraçado, isso sim - disse Nick Quase Sem Cabeça numa voz aborrecida. - Sutileza nunca foi o ponto forte do Pirraça. Estou tentando encontrar o Barão Sangrento.... Ele deve ser capaz de acabar com isso... Te vejo mais tarde, Harry...

 

- É, tchau - disse Harry e, em vez de virar à direita, virou à esquerda, pegando um caminho mais longo mas mais seguro até o Corujal lá em cima.

 

Seu espírito se levantou enquanto passava janela por janela que mostrava o céu azul e brilhante; tinha treino mais tarde, podia estar de volta à quadra de quadribol finalmente.

 

Alguma coisa roçou seus tornozelos. Olhou para baixo e viu a gata cinza esquelética e bem cuidada, Madame Nor-r-ra, passando por ele. Ela fitou seus olhos amarelos e brilhantes nele por um tempo antes de desaparecer atrás de uma estátua de Wilfred, o Triste.

 

- Não estou fazendo nada de errado - Harry falou atrás dela. Tinha um ar de gato evidente que estava saindo fora para reportar ao dono, ainda que Harry não pudesse entender por quê; estava perfeitamente designado a andar até o Corujal numa manhã de sábado.

 

O sol estava alto no céu agora e quando Harry adentrou o Corujal os reflexos das janelas ofuscaram seus olhos; grossos raios prateados de luz cruzavam a sala circular na qual centenas de corujas se aconchegavam em abrigos, poucas descansavam na luz da manhã, algumas claramente retornadas da caça. O chão coberto de palha fez um pouco de barulho enquanto andava por entre ossos de pequenos animais, levantando o pescoço à procura de Edwiges.

 

- Aí está você - disse, localizando-a em algum lugar perto do bem alto teto abobadado. - Desça aqui, eu tenho uma carta para você.

 

Com um pequeno assovio ela abriu suas grandes asas e levantou vôo até seu ombro.

 

- Certo, eu sei que está escrito Snuffles fora - contou a ela, dando-lhe a carta para prender em seu bico e, sem saber exatamente por quê, sussurrou -, mas é para o Sirius, ok?

 

Ela piscou uma vez seus olhos âmbar, dando-o a entender que havia compreendido.

 

- Tenha um vôo seguro, então - disse Harry e ele a carregou até uma das janelas; por alguns momentos pressionando seu braço, Edwiges decolou por entre o céu claro e ofuscante.

 

Observou-a até ela se tornar uma pequena mancha preta e desaparecer, então passou a contemplar a cabana de Hagrid, claramente visível daquela janela, e como estava claramente inabitada, a chaminé não soltava fumaça e as cortinas estavam fechadas.

 

O topo das árvores da Floresta Proibida lançaram uma brisa suave. Harry a sentiu, saboreando o ar fresco em sua face, pensando sobre o quadribol mais tarde... Então ele o viu. Um grande e reptiliano cavalo alado, como aqueles que puxam as carroças de Hogwarts, com asas pretas e rígidas se estendendo como as de um pterodátilo, levantou-se dentre as árvores como um pássaro grotesco e gigante. Planou num grande círculo, então mergulhou de volta às árvores. A coisa toda aconteceu muito rápido, Harry mal podia acreditar, exceto que seu coração estava martelando loucamente.

 

A porta do Corujal abriu atrás dele. Saltou de susto e, virando rapidamente, viu Cho Chang segurando uma carta e um pacote nas mãos.

 

- Oi - disse Harry automaticamente.

 

- Ah... Oi - ela disse ofegante. - Eu não achei que alguém pudesse estar aqui em cima tão cedo... Me lembrei há apenas cinco minutos atrás, é o aniversário de minha mãe.

 

Ela levantou o pacote.

 

- Certo - disse Harry. Seu cérebro parecia que tinha se comprimido. Ele queria dizer algo engraçado e interessante, mas a lembrança daquele terrível cavalo alado estava fresca em sua mente. - Belo dia - ele disse, apontando para a janela. Suas entranhas pareciam ter se comprimido com o embaraço. O tempo. Ele estava falando sobre o tempo...

 

- Sim - disse Cho, procurando ao redor por uma coruja adequada. - Boas condições para quadribol. Eu não tenho saído durante toda a semana, você tem?

 

- Não.

 

Cho escolheu uma das corujas da escola. Ela a atraiu até seu braço, onde estendeu uma perna gentil para que Cho pudesse prender o pacote.

 

- Hey, a Grifinória já tem um novo goleiro? - ela perguntou.

 

- Sim. É o meu amigo, Rony Weasley, você o conhece?

 

- O que odeia os Tornados? - disse Cho de um modo meio frio. - Ele é bom?

 

- Sim - disse Harry -, eu acho que sim. Apesar de não ter visto seu treino. Eu estava em detenção.

 

Cho levantou os olhos, o pacote preso apenas pela metade nas pernas da coruja.

 

- Aquela Umbridge é nojenta! - disse em voz baixa. - Pondo você em detenção só porque você contou a verdade sobre como... Como... Como ele morreu. Todo mundo ouviu falar sobre isso, está por toda a escola. Você foi muito corajoso a encarando daquele jeito.

 

As entranhas de Harry re-inflaram tão rapidamente que ele sentiu como se estivesse realmente alguns centímetros fora do chão. Quem se importa com um cavalo alado estúpido? Cho achava que ele tinha sido realmente corajoso. Por um momento, considerou mostrá-la acidentalmente-de-propósito sua mão ferida enquanto a ajudava a prender o pacote em sua coruja... Mas no mesmo instante em que esse pensamento receoso lhe ocorreu a porta do Corujal se abriu novamente.

 

Filch, o zelador, veio ofegante para dentro da sala. Havia manchas violetas em suas bochechas fundas e cheias de veias, seu queixo estava tremendo e seu cabelo cinza e fino desgrenhado; tinha obviamente corrido até lá. Madame Nor-r-ra veio trotando atrás dele, encarando as corujas no alto e miando faminta. Houve um impaciente agito de asas vindo de cima e uma coruja grande e marrom estalou o bico numa atitude ameaçadora.

 

- Ahá! - disse Filch, dando um grande passo em direção a Harry, suas bochechas violetas tremendo de raiva. - Recebi um aviso de que você pretende restaurar uma desordem com bombas de bosta!

 

Harry cruzou os braços e encarou o zelador.

 

- Quem te disse que eu estou pretendendo soltar bombas de bosta?

 

Cho olhava de Harry para Filch também com o olhar carrancudo; a coruja em seu braço, cansada de ficar numa perna só, deu-lhe um pio de censura mas ela ignorou.

 

- Eu tenho minhas fontes - disse Filch num assovio de satisfação. - Agora me entregue o que quer que você esteja mandando.

 

Sentindo-se imensamente grato por não ter se demorado em postar sua carta, Harry disse.

 

-Não posso, já foi embora.

 

- Embora? - disse Filch, seu rosto se contorcendo de raiva.

 

- Embora - disse Harry calmamente.

 

Filch abriu a boca furiosamente, balbuciou por alguns segundos, então varreu o uniforme de Harry com os olhos.

 

- Como eu vou saber se você não as tem em seus bolsos?

 

- Porque...

 

- Eu o vi mandando - disse Cho nervosamente.

 

Filch se virou até ela.

 

- Você o viu...?

 

- Isso mesmo, eu o vi - ela disse violentamente.

 

Houve um momento de pausa no qual Filch olhou furiosamente para Cho e ela olhou furiosamente bem de volta para ele, então o zelador bateu os calcanhares e se arrastou em direção à porta. Ele parou com sua mão em punho e olhou de volta para Harry.

 

- Se eu pegar um sopro sequer de uma bomba de bosta...

 

Ele caminhou pesadamente nas escadas abaixo. Madame Nor-r-ra arremessou um último olhar para as corujas e o seguiu.

 

Harry e Cho se entreolharam.

 

- Obrigado -Harry disse.

 

- Sem problemas - disse Cho, finalmente prendendo o pacote na outra perna da coruja, sua face levemente avermelhada. - Você não estava pretendendo soltar bombas de bosta, estava?

 

- Não.

 

- Fico imaginando, por que ele achou que você estava, então? - disse enquanto carregava a coruja à janela.

 

Harry encolheu os ombros. Estava um tanto assustado por aquela atitude que ela teve, apesar de aquilo não o estar incomodando muito no momento.

 

Eles deixaram o Corujal juntos. Na entrada de um corredor que dava para a parte leste do castelo, Cho disse.

 

- Eu vou por esse caminho. Bom, eu... Eu te vejo por aí, Harry.

 

- Sim... Até mais.

 

Ela sorriu para ele e partiu. Harry caminhou em frente, sentindo-se completamente glorificado. Ele tinha conseguido ter uma conversa inteira com ela sem ficar envergonhado uma vez... Você foi muito corajoso encarando-a daquele jeito... Cho o tinha chamado de corajoso... Ela não o odiava por estar vivo...

 

É claro, ela havia preferido Cedrico, ele sabia disso... De qualquer forma se ele a tivesse convidado para o Baile antes de Cedrico as coisas poderiam ter sido diferentes... Ela sinceramente parecia ter sentido muito por ter de recusar quando Harry a convidou...

 

- Dia - Harry disse claramente para Rony e Hermione assim que se juntou a eles à mesa da Grifinória no Salão Principal.

 

- O que está te fazendo tão satisfeito? - disse Rony, olhando Harry com surpresa.

 

- Er... Quadribol mais tarde - disse Harry alegremente, puxando um prato largo de bacon e ovos em sua direção.

 

- Ah... É... - disse Rony. Largou o pedaço de torrada que estava comendo e tomou um grande gole de suco de abóbora. -  Escuta... Você não pretende sair um pouco mais cedo comigo, pretende? Apenas para... Er... Me dar um pouco de prática antes do treino? Para que eu possa, você sabe, ficar mais esperto um pouco.

 

- Sim, tá bem.

 

- Olha, eu não acho que vocês deveriam - disse Hermione seriamente. - Ambos estão atulhados de lição de casa para...

 

Mas ela parou de falar; o correio da manhã estava chegando e, como sempre, o Profeta Diário veio planando sua em direção no bico de uma coruja ruidosa, a qual aterrissou perigosamente perto do açucareiro e estendeu a perna. Hermione enfiou um nuque em sua bolsa de couro, pegou o jornal e examinou a primeira página criticamente enquanto a coruja ia embora.

 

- Alguma coisa interessante? - disse Rony. Harry forçou um sorriso, sabendo que Rony estava ansiando por mantê-la longe do assunto da lição de casa.

 

- Não - ela suspirou -, apenas alguma baboseira sobre a baixista das Weird Sisters estar se casando.

 

Hermione abriu o jornal e desapareceu atrás dele. Harry se dedicou a mais um pouco de ovos e bacon. Rony estava observando no alto as altas janelas, parecendo ligeiramente preocupado.

 

- Espere um pouco - disse Hermione de repente. - Ah não... Sirius!

 

- O que aconteceu? - disse Harry, agarrando o jornal tão violentamente que ele se rasgou ao meio, com ele e Hermione cada um segurando uma metade.

 

- "O Ministério da Magia recebeu uma pista vinda de fonte confiável que Sirius Black, o famoso assassino em massa... blá blá blá... Está aparentemente escondido em Londres!" - Hermione leu de sua metade num sussurro angustiado.

 

- Lúcio Malfoy, eu aposto - disse Harry em voz baixa e furiosa. - Ele deve ter reconhecido Sirius na plataforma...

 

- O quê? - disse Rony, parecendo alarmado. - Você não disse...

 

- Shh! - disseram os outros dois.

 

- ..."O Ministério alerta à comunidade dos bruxos que Black é muito perigoso... Matou treze pessoas... Fugiu de Azkaban..." A baboseira de sempre - Hermione concluiu, baixando sua metade do jornal e olhando horrivelmente para Harry e Rony. - Bom, ele apenas não vai mais poder deixar a casa novamente, só isso - sussurrou. - Dumbledore o preveniu disso.

 

Harry olhou mal humorado para o pedaço do Profeta que ele tinha rasgado. Muitas das páginas eram dedicadas a um anúncio da Madame Malkin - Roupas Para Todas as Ocasiões, a qual aparentemente estava tendo uma promoção.

 

- Hey! - disse, achatando o jornal para baixo para que Hermione e Rony pudessem ver. - Vejam isto!

 

- Eu tenho todas as roupas que quero - disse Rony.

 

- Não. Olhe... Este pedacinho aqui... - Rony e Hermione se curvaram mais para perto para ler; o item tinha apenas alguns centímetros de largura e se postava na parte inferior de uma coluna. Estava intitulado:

 

VIOLAÇÃO NO MINISTÉRIO

 

Sturgis Podmore, 38, do número dois do Jardim Laburno, Clapham, apareceu em frente a Wizengamot acusado de violar a lei numa tentativa de assalto ao Ministério da Magia em 31 de agosto. Podmore foi preso pelo bruxo-olheiro do Ministério da Magia, Eric Munch, que o encontrou tentando forçar caminho através de uma porta ultra-secreta à uma hora da madrugada. Podmore, que se recusa a falar em sua própria defesa, foi culpado em ambas as acusações e sentenciado a seis meses em Azkaban.

 

- Sturgis Podmore? - disse Rony devagar. - Ele é aquele sujeito que parece que sua cabeça está coberta da palha, não é? Ele é um dos da Ord...

 

- Rony, shhh! - disse Hermione, lançando um olhar apavorado em torno deles.

 

- Seis meses em Azkaban! - sussurrou Harry, chocado. - Apenas por estar tentando atravessar uma porta!

 

- Não seja burro, não é apenas por estar tentando atravessar uma porta. O que diabos ele estava fazendo no Ministério da Magia à uma hora da madrugada? - sussurrou Hermione.

 

- Vocês supõem que ele estava fazendo algo para a Ordem? - Rony murmurou.

 

- Espera um pouco... - disse Harry devagar. - Sturgis é que era esperado para vir e nos ver ir embora, lembram?

 

Os outros dois olharam para ele.

 

- Sim, ele é que era esperado para ser parte da nossa guarda indo para King's Cross, lembram? E Moody está todo perturbado porque ele não apareceu; então ele não poderia estar numa tarefa para eles, poderia?

 

- Bem, talvez eles não esperassem que ele fosse pego - disse Hermione.

 

- Poderia ser uma armação! - Rony exclamou excitado. - Não... Ouçam! - continuou, baixando a voz dramaticamente diante do olhar ameaçador no rosto de Hermione. - O Ministério suspeita que ele é um dos que estão do lado do Dumbledore então... Não sei... Eles o atraíram até o Ministério, e ele não estava tentando atravessar uma porta realmente! Talvez eles apenas armaram algo para pegá-lo!

 

Houve uma pausa enquanto Harry e Hermione consideravam aquilo. Harry achou que parecia um absurdo. Hermione, por sua vez, pareceu particularmente impressionada.

 

- Vocês sabem, eu não ficaria de toda surpresa se isso for verdade.

 

Ela dobrou sua metade do jornal ponderadamente. Assim que Harry baixou sua faca e garfo ela parecia ter voltado de um sonho acordado.

 

- Certo, bem, eu acho que devemos cuidar daquela lição da Sprout de autofertilização de arbustos primeiro e se tivermos sorte seremos capazes de começar o Feitiço Inanimatus Conjurus da McGonagall antes do almoço...

 

Harry sentiu uma pontada de culpa no pensamento da pilha de lição de casa esperando por ele lá em cima, mas o céu estava de um azul claro e alegre e não voava em sua Firebolt há uma semana...

 

- Estou dizendo, podemos fazer isso à noite - disse Rony, enquanto ele e Harry caminhavam ao longo do gramado ondulado em direção à quadra de quadribol, suas vassouras por cima dos ombros e com os avisos terríveis de Hermione de que poderiam ser reprovados em seus N.O.M.s ainda ecoando em seus ouvidos. - E temos amanhã. Ela fica muito emotiva quando o assunto é os estudos, esse é o problema dela... - houve uma pausa e ele acrescentou, num tom suavemente mais ansioso. - Você acha que ela falou sério quando disse que nós não íamos copiar dela?

 

- Sim, acho. Mas, isto é importante, também, nós temos de praticar se quisermos permanecer no time de quadribol...

 

- É, tá certo - disse Rony, num tom encorajador. - E nós temos tempo de sobra pra fazer isso tudo...

 

Assim que se aproximaram da quadra de quadribol, Harry olhou atentamente à sua direita, onde as árvores da Floresta Proibida estavam oscilando obscuramente. Nada voou para fora delas; o céu estava vazio, mas a alguma distância corujas se agitavam ao redor da torre do Corujal. Não tinha com o que se preocupar; o cavalo voador não estava causando a ele nenhum dano; tirou aquilo da cabeça.

 

Eles tiraram bolas do armário no vestiário e se puseram a treinar, Rony guardando os três altos postes de gol, Harry jogando de artilheiro e tentando passar a goles por Rony. Harry achou que Rony era muito bom; ele bloqueou três quartos dos gols que Harry tentou passar e jogou melhor quanto mais praticavam. Depois de algumas horas retornaram ao castelo para o almoço - durante o qual Hermione deixou muito claro que os achava irresponsáveis - então retornaram à quadra de quadribol para o treino verdadeiro. Todos os seus colegas de time, exceto Angelina, já estavam no vestiário quando entraram.

 

- Tudo bem, Rony? - disse Jorge, piscando para ele.

 

- Sim - disse Rony, que foi ficando cada vez mais quieto em todo o caminho até a quadra.

 

- Pronto para nos mostrar tudo lá em cima, monitorzinho? - disse Fred, emergindo descabelado na nuca em seu uniforme de quadribol, um sorriso forçado e suavemente malicioso em sua face.

 

- Cala a boca - disse Rony, de cara fechada, vestindo seu próprio uniforme do time pela primeira vez. Serviu bem nele considerando que tinha sido do Olívio Wood, que era largo especialmente nos ombros.

 

- Ok, todo mundo - disse Angelina, vindo do escritório do Capitão, já vestida. - Vamos logo com isso; Alicia e Fred, peço a vocês se podem apenas lançar a bola na cesta para nós. Ah, e tem um monte de gente lá fora assistindo, mas eu quero que vocês os ignorem, certo?

 

Alguma coisa na sua voz casual de "séria" fez Harry achar que talvez soubesse quem eram os espectadores não convidados e, como previu, quando deixaram o vestiário para o céu aberto e brilhante na quadra para uma tempestade de vaias e zombarias vindas do time de quadribol da Sonserina e diversos puxa-sacos, que estavam agrupados no meio das arquibancadas vazias e cujas vozes ecoavam aos berros ao redor do estádio.

 

- O que aquele Weasley está montando? - Malfoy chamou com sua voz arrastada e de desprezo. - Por que ninguém põe um feitiço de vôo numa lenha velha e mofada como aquela?

 

Crabbe, Goyle e Pansy Parkinson gargalharam e gritaram com alegria. Rony montou em sua vassoura, saltou do chão e Harry o seguiu, observando suas orelhas ficando vermelhas por detrás.

 

- Ignore-os - disse, acelerando para alcançar Rony -, vamos ver quem vai estar rindo depois que nós jogarmos...

 

- Exatamente a atitude que eu quero, Harry - disse Angelina, com aprovação, planando ao redor deles com a goles debaixo do braço e diminuindo para pairar imediatamente em frente ao seu time aerotransportado. - Ok, todo mundo, vamos começar com alguns passes apenas para aquecer, o time inteiro, por favor...

 

- Hey, Johnson, o que é este corte de cabelo, de qualquer forma? - gritou Pansy Parkinson lá embaixo. - Por que alguém ia querer parecer que tem vermes saindo da cabeça?

 

Angelina arrastou seus longos cabelos ondulados pra longe do seu rosto e continuou calmamente.

 

- Posicionem-se, então, e vamos ver o que somos capazes de fazer...

 

Harry virou para trás, para longe dos demais, até o lado mais distante da quadra. Rony se reverteu em direção ao gol oposto. Angelina levantou a goles com uma mão e jogou com força para Fred, que passou para Jorge, que passou para Harry, que passou para Rony, que a deixou cair.

 

Os sonserinos, liderados por Malfoy, urraram e gritaram numa gargalhada. Rony, que se atirou em direção ao chão para catar a goles antes que ela aterrissasse, saiu do mergulho meio errado, de modo que escorregou de lado em sua vassoura e retornou para jogar lá no alto corado. Harry viu Fred e Jorge trocarem olhares, mas anormalmente nenhum dos dois disse nada, para o qual ele era grato.

 

- Passe para frente, Rony - chamou Angelina, como se nada tivesse acontecido.

 

Rony jogou a goles para Alicia, que passou de volta ao Harry, que passou ao Jorge...

 

- Hey, Potter, como vai sua cicatriz? - chamou Malfoy. - Certeza de que você não precisa descansar? Deveria, afinal, uma semana inteira sem visitar a ala do hospital, é um recorde pra você, não é?

 

Jorge passou para Angelina, que reverteu o passe para Harry, que não estava esperando a bola, mas a catou com as pontas dos dedos e a passou rapidamente a Rony, que se lançou a ela mas errou por centímetros.

 

- Vamos lá, Rony - disse Angelina, de mau humor, enquanto ele mergulhava ao chão novamente, seguindo a goles. - Preste atenção.

 

Teria sido difícil dizer o que estava mais escarlate: o rosto do Rony ou a goles quando ele voltou novamente para jogar lá no alto. Malfoy e o resto do time da Sonserina estavam uivando em gargalhadas.

 

Em sua terceira tentativa, Rony catou a goles; talvez por causa do alívio ele a passou tão entusiasmadamente que planou diretamente através da mão estendida da Katie e bateu com força em seu rosto.

 

- Desculpe! - Rony suspirou, zunindo adiante para ver se ele havia lhe causado algum dano.

 

- Voltem às posições, ela está bem! - berrou Angelina. - Mas enquanto estiverem passando para um membro do time tentem não golpeá-lo para fora de sua vassoura, está bem? Temos balaços para isso!

 

O nariz de Katie estava sangrando. Lá embaixo, os sonserinos estavam mostrando os pés e zombando. Fred e Jorge se dirigiram até Katie.

 

- Aqui, tome isso - Fred disse a ela, dando-lhe algo semelhante a uma pílula pequena e violeta vinda do seu bolso. - Vai resolver o problema num piscar de olhos.

 

- Está bem - chamou Angelina. - Fred, Jorge, vão pegar seus tacos e um balaço. Rony, apresse-se até os postes de gol. Harry, solte o pomo quando eu disser. Temos como objetivo o gol de Rony, obviamente.

 

Harry zuniu atrás dos gêmeos para trazer o pomo.

 

- Rony está fazendo um belo serviço de porco, não? - murmurou Jorge, enquanto os três aterrissavam ao lado do baú contendo as bolas e o abriram para retirarem um dos balaços e o pomo.

 

- Ele só está nervoso - disse Harry -, jogou bem quando eu estava praticando com ele esta manhã.

 

- É, bom, eu espero que ele não tenha se esforçado ao máximo tão cedo. - disse Fred melancolicamente.

 

Eles retornaram ao ar. Quando Angelina deu um assovio Harry soltou o pomo e Fred e Jorge deixaram o balaço voar. Daquele momento em diante, Harry não tinha muita noção do que os outros estavam fazendo. Era seu trabalho recapturar a bolinha dourada agitada que garantia cento e cinqüenta pontos ao time do apanhador e isso exigia uma enorme velocidade e habilidade. Ele acelerou, girando e desviando dos artilheiros pra cima e pra baixo, o ar morno do outono açoitando seu rosto e os gritos distantes e tão insignificantes dos sonserinos vibrando em seus ouvidos... Mas logo o assovio o fez parar novamente.

 

- Parem. Parem. PAREM! - bradou Angelina. - Rony, você não está cobrindo o poste do meio!

 

Harry olhou em volta para Rony, que estava pairando em frente ao aro à sua esquerda, deixando os outros dois completamente desprotegidos.

 

- Oh... Desculpa...

 

- Mantenha se deslocando em volta enquanto observa os artilheiros! - disse Angelina. - Também não fique parado no centro até que tenha de se mover para defender um aro, pelo contrário, circule os aros, mas não se mova vagamente para um lado, é assim que você estreita os três gols!

 

- Desculpa... - Rony repetiu, seu rosto vermelho brilhando como um farol contra o céu azul e brilhante.

 

- E Katie, você não pode fazer algo para parar essa hemorragia nasal?

 

- Está só piorando! - disse Katie à grosso modo, tentando obstruir a vazão com sua manga.

 

Harry deu uma espiada ao redor para Fred, que parecia ansioso e estava checando seus bolsos. Ele viu Fred puxar pra fora algo violeta, examiná-lo por um segundo e então olhar em volta até Katie, evidentemente golpeado de horror.

 

- Bom, vamos tentar de novo - disse Angelina. Ela estava ignorando os sonserinos, que tinham agora levantado um coro de "Grifinórios são perdedores, grifinórios são perdedores", mas havia uma certa rigidez sobre o seu assento na vassoura no entanto.

 

Desta vez tinham voado por apenas três minutos quando o assovio de Angelina soou. Harry, que tinha acabado de mirar o pomo circulando o aro oposto, parou, sentindo-se claramente irritado.

 

- O que foi agora? - disse impaciente para Alicia, que estava mais próxima.

 

- Katie - ela disse rapidamente.

 

Harry se virou e viu Angelina, Fred e Jorge todos voando o mais rápido que podiam em direção a Katie. Harry e Alicia aceleraram em direção a ela, também. Estava claro que Angelina tinha parado o treino bem em tempo; Katie estava agora branca como giz e coberta de sangue.

 

- Ela precisa ir para a ala do hospital - disse Angelina.

 

- Nós a levaremos - disse Fred. - Ela... Er... Pode ter engolido uma Pastilha de Hemorragia Nasal por engano...

 

- Bom, não tem cabimento continuar isso sem batedores e uma artilheira destruída - disse Angelina, de mau humor, assim que Fred e Jorge voaram em direção ao castelo carregando Katie entre eles. - Vamos lá, vamos embora e trocar de roupa.

 

Os sonserino continuaram a cantar enquanto se arrastaram para dentro dos vestiários.

 

- Como foi o treino? - perguntou Hermione de modo frio especialmente meia hora depois, assim que Harry e Rony subiram através do buraco do retrato para dentro da sala comunal da Grifinória.

 

- Foi... - Harry começou.

 

- Completamente abominável - disse Rony numa voz oca, afundando-se numa cadeira ao lado de Hermione. Ela ergueu os olhos até ele e sua expressão fria pareceu se dissolver.

 

- Bom, foi apenas o seu primeiro - ela disse consoladamente -, costuma levar um tempo para...

 

- Quem disse que fui eu quem o tornou abominável? - repreendeu Rony.

 

- Ninguém - disse Hermione, parecendo embaraçada. - Eu achei...

 

- Você achou que eu estava restrito a ser uma porcaria?

 

- Não, é claro que não! Olhe, você disse que foi abominável então eu apenas...

 

- Eu vou começar a fazer alguma lição de casa - disse Rony, irritado, andou até a escadaria que dava ao dormitório masculino e desapareceu de vista. Hermione se virou para Harry.

 

- Ele foi abominável?

 

- Não - disse Harry lealmente.

 

Hermione levantou as sobrancelhas.

 

- Bom, eu suponho que ele poderia ter jogado melhor - Harry murmurou -, mas foi apenas o primeiro treino, como você disse...

 

Nem Harry nem Rony pareciam ter feito muito progresso com a lição de casa aquela noite. Harry sabia que o amigo estava muito preocupado com o quão mal tinha atuado no treino de quadribol e ele mesmo estava tendo dificuldade em tirar o coro "os grifinórios são perdedores" de sua cabeça.

 

Gastaram o domingo inteiro na sala comunal, enterrados em seus livros enquanto a sala ao redor deles encheu e então esvaziou. Foi mais um dia claro e bom e muitos dos seus colegas da Grifinória o passaram fora nos gramados, aproveitando muito bem um pouco da última luz do sol possível aquele ano. Mais à noite, Harry sentiu como se alguém tivesse batido em seu cérebro contra o interior do seu crânio.

 

- Você sabe, provavelmente devemos tentar deixar mais lições de casa prontas durante a semana - Harry murmurou a Rony, quando finalmente puseram de lado a longa lição de Feitiço Inanimatus Conjurus da professora McGonagall e se viraram miseravelmente para a igualmente longa e difícil lição sobre as várias luas de Júpiter da professora Sinistra.

 

- É - disse Rony, esfregando levemente os olhos vermelhos e atirando seu quinto pedaço estragado de pergaminho no fogo ao lado deles. - Escuta... Vamos apenas perguntar a Hermione se podemos dar uma olhada no que ela fez?

 

Harry a espiou; estava sentada com Bichento em seu colo e conversando alegremente com Gina quando um par de agulhas de tricô brotou no espaço à sua frente, agora tricotando um par de meias de elfo amorfas.

 

- Não - ele disse pesadamente -, você sabe que ela não nos deixará.

 

E então continuaram trabalhando enquanto o céu pra fora das janelas se tornou constantemente mais escuro. Devagar, a multidão na sala comunal começou a rarear de novo. Às onze e meia, Hermione se desviou até eles, bocejando.

 

- Quase acabado?

 

- Não - disse Rony rapidamente.

 

- A maior lua de Jupiter é Ganymede, e não Callisto - ela disse, apontando por cima dos ombros de Rony numa linha em sua lição de Astronomia. - E é a que tem os vulcões.

 

- Obrigado - reclamou Rony, apagando as sentenças ofensivas.

 

- Desculpa, eu só...

 

- É, bom, se você veio até aqui para criticar...

 

- Rony...

 

- Não tenho tempo para ouvir sermões, está bem, Hermione, estou até o pescoço com isso daqui...

 

- Não... Veja!

 

Hermione estava apontando para a janela mais próxima. Harry e Rony ambos a examinaram. Um imponente chiado de coruja vinha do parapeito da janela, observando Rony dentro da sala.

 

- Não é o Errol? - disse Hermione, parecendo espantada.

 

- Meu Deus, é! - disse Rony calmamente, jogando abaixo sua pena e vindo a seus pés. - Para que será que o Percy está escrevendo para mim?

 

Ele cruzou até a janela e a abriu; Errol voou para dentro, aterrissou na lição do Rony e estendeu uma perna na qual uma carta estava presa. Rony tirou a carta e a coruja partiu rapidamente, deixando pegadas de tinta acima do desenho da lua Io de Rony.

 

- Esta é definitivamente a letra de Percy - disse Rony, afundando de volta na sua cadeira e olhando atentamente para as palavras do lado de fora do rolo de pergaminho: "Ronald Weasley, Casa da Grifinória, Hogwarts". Levantou os olhos até os outros dois. - O que vocês imaginam que seja?

 

- Abra! - disse Hermione avidamente e Harry indicou com a cabeça.

 

Rony desenrolou o pergaminho e começou a ler. Quanto mais abaixo do pergaminho seus olhos viajavam mais pronunciada ficava sua cara de mau humor. Quando terminou de ler parecia enojado. Empurrou a carta para Harry e Hermione, que se inclinaram mais para junto um do outro para lê-la.

 

"Caro Rony,

 

Eu acabei de ouvir neste momento (por ninguém mais que o Ministro da Magia pessoalmente, o que obteve de sua nova professora, Umbridge) que você se tornou um monitor em Hogwarts.

 

Fiquei agradavelmente muito surpreso quando ouvi essa notícia e devo primeiramente lhe oferecer meus parabéns. Tenho de admitir que sempre tive medo de que você pudesse pegar o que podemos chamar de 'jeito' do Fred e do Jorge, em vez de seguir meus passos, então você pode imaginar meus sentimentos em ouvir que você parou de desprezar as autoridades e decidiu carregar nos ombros alguma responsabilidade verdadeira.

 

Mas quero lhe dar mais do que parabéns, Rony, quero lhe dar alguns conselhos, que é o porquê de eu estar lhe mandando esta à noite em vez do usual correio da manhã. Com esperança, você poderá ler esta longe de olhos curiosos e evitar questões impertinentes.

 

Por alguma razão o Ministro deixou escapar quando me contou que você agora é monitor que você ainda tem se encontrado muito com o Harry Potter. Devo lhe contar, Rony, que nada mais pode por em perigo de você perder sua patente do que continuar a se fraternizar com esse garoto. Sim, eu tenho certeza de que você está surpreso em ouvir isso - sem dúvida você dirá que Potter sempre foi um dos favoritos de Dumbledore - mas eu me sinto obrigado a lhe contar que Dumbledore pode não estar mais no cargo em Hogwarts por muito tempo e as pessoas com as quais ele conta têm uma diferente (e provavelmente mais apurada) visão do comportamento do Potter. Não direi mais nada aqui, mas se você olhar o Profeta Diário amanhã terá uma boa noção do modo como o vento está soprando - e verá se você identifica quem realmente lhe quer bem!

 

Falando sério, Rony, você não quer ser tachado como mais um da laia do Potter, isso poderá ser muito perigoso para suas prospecções futuras e eu estou falando aqui da vida depois da escola, também. Como você deve estar ciente, supondo que nosso pai fez a corte para ele, Potter teve uma audiência disciplinar este verão na frente de toda a Wizengamot e ele não saiu de lá parecendo muito bem. Ele saiu de lá inocente por um mero detalhe, se você quer saber minha opinião, e muitas das pessoas com as quais eu conversei continuam convincentes de sua culpa.

 

Pode ser que você esteja com medo de cortar relações com o Potter - eu sei que ele pode ser meio desequilibrado e, até onde eu conheço, violento - mas se você tiver quaisquer problemas a respeito disso, ou tiver identificado qualquer coisa a mais no comportamento do Potter que está lhe perturbando, eu lhe imploro que fale para a Dolores Umbridge, uma mulher realmente adorável que eu sei que ficaria muito feliz em lhe dar conselhos.

 

Isto me leva ao meu outro conselho. Assim como eu ouvi falar, o regime de Dumbledore em Hogwarts talvez acabe logo. Sua lealdade, Rony, não deveria ser para com ele, mas para com a escola e o Ministério. Fico muito triste em ouvir que, de longe, a professora Umbridge está encontrando muito pouca cooperação da equipe enquanto se esforça para fazer as mudanças necessárias no interior de Hogwarts que o Ministério anseia ardentemente (ainda que ela teria achado mais fácil à partir da próxima semana - novamente, leia o Profeta Diário amanhã!). Devo dizer apenas isto - um estudante que se mostre disposto a ajudar a professora Umbridge agora poderá ser muito bem visto para o cargo de Monitor-Chefe daqui a poucos anos!

 

Eu lamento ter estado incapacitado de lhe ver mais durante o verão. Me dói criticar nossos pais, mas eu receio que não possa mais viver sob aquele teto enquanto continuam ligados com o grupo perigoso ao redor do Dumbledore. (Se você estiver escrevendo a Mamãe em algum momento, deveria contar a ela que um certo Sturgis Podmore, que é um grande amigo do grupo do Dumbledore, foi mandado recentemente para Azkaban por violação no Ministério. Talvez isto possa abrir os olhos deles para os tipos de crimes insignificantes dos quais eles estão freqüentemente carregando nas costas.) Levo em consideração que sou muito sortudo por ter escapado do estigma da associação com tais pessoas - o Ministro realmente não poderia ser mais grato a mim - e eu espero mesmo, Rony, que você não permita que os laços familiares lhe ceguem da natureza enganada das crenças e ações de nossos pais também. Espero sinceramente que, em tempo, eles perceberão o quão errados estão e eu estarei, é claro, pronto para aceitar sinceras desculpas quando esse dia chegar.

 

Por favor reflita sobre o que eu disse muito cuidadosamente, especialmente a parte sobre o Harry Potter, e parabéns novamente por ter se tornado monitor.

 

Seu irmão,

 

Percy"

 

Harry ergueu os olhos para Rony.

 

- Bom - disse, tentando fazer soar que ele havia achado a coisa toda uma piada -, se você quiser... Er... Onde está? - checou a carta de Percy. - Ah, sim... "Cortar relações" comigo, eu juro que não ficarei violento.

 

- Me devolva - disse Rony, estendendo sua mão. - Ele é... - disse estupidamente, rasgando a carta de Percy ao meio. - O maior... - rasgou-a em quatro. - Idiota ... - rasgou-a em oito. - Do mundo! - jogou os pedaços no fogo. - Vamos lá, temos que deixar isso terminado alguma hora antes do amanhecer - disse bruscamente para Harry, puxando a lição da professora Sinistra de volta em sua direção.

 

Hermione estava olhando para Rony com uma expressão estranha em seu rosto.

 

- Oh, me dêem isso aqui - disse bruscamente.

 

- O quê? - disse Rony.

 

- Me dêem, eu as examinarei e corrigirei.

 

- Você fala sério? Ah, Hermione, você é uma salva-vidas - disse Rony -, o que poss...?

 

- O que você pode dizer é "Nós prometemos que nunca mais deixaremos nossa lição da casa atrasar desse jeito de novo" - disse, estendendo ambas as mãos para suas lições, mas parecia ligeiramente se divertir com o fato de tudo aquilo ser igual.

 

- Obrigado um milhão de vezes, Hermione - disse Harry fracamente, passando à frente sua lição e afundando de volta em sua poltrona, esfregando seus olhos.

 

Agora já se passava da meia noite e a sala comunal estava deserta, exceto pelos três e Bichento. O único som era o da pena de Hermione rabiscando sentenças aqui e ali nas lições e da desordem das páginas enquanto checava fatos variados nos livros de referência espalhados ao redor da mesa. Harry estava exausto. Ele, além disso, experimentou uma sensação vazia, estranha e nauseada em seu estômago que nada tinha a ver com cansaço e tudo o mais da carta agora se enrolando maldosamente no coração do fogo.

 

Sabia que metade das pessoas no interior de Hogwarts o achava esquisito, até mesmo maluco; sabia que o Profeta Diário tinha estado fazendo insinuações falsas a seu respeito por meses, mas havia algo mais vendo aquilo escrito daquele jeito nas palavras de Percy, sobre saber que estava advertindo Rony a abandoná-lo e até mesmo contar histórias a seu respeito para a Umbridge, que fez sua situação mais real para ele do que ninguém jamais tinha feito. Conhecia Percy há quatro anos, tinha ficado em sua casa durante as férias de verão, partilhado a mesma tenda com ele durante a Copa do Mundo de Quadribol, tinha até mesmo lhe premiado com pistas boas na segunda tarefa do Torneio Tribruxo no ano anterior, e agora, Percy o achava desequilibrado e possivelmente violento.

 

E com uma onda de simpatia pelo seu padrinho, Harry achou que Sirius era provavelmente a única pessoa que conhecia que podia realmente entender como se sentia naquele momento, porque Sirius estava na mesma situação. Quase todos no mundo dos bruxos achavam Sirius um assassino perigoso, um grande aliado de Voldemort e tinha tido de viver com aquele conhecimento há quatro anos...

 

Harry piscou. Tinha acabado de ver algo no fogo que não poderia estar ali. Tinha relampejado de vista e desapareceu imediatamente. Não... Não poderia ser... Tinha imaginado isso porque tinha estado pensando em Sirius...

 

- Ok, escreva isso aí embaixo - Hermione disse para Rony, empurrando a lição dele e uma folha coberta com sua própria letra de volta ao Rony -, então acrescente esta conclusão que escrevi para você.

 

- Hermione, você honestamente é a pessoa mais maravilhosa que eu já conheci - disse Rony fracamente - e se eu algum dia for rude com você novamente...

 

- Eu saberei que você voltou ao normal - disse Hermione. - Harry, a sua está boa, exceto por esse pedaço no final, acho que você escutou errado a professora Sinistra, a Europa é coberta de gelo, não pêlo... Harry?

 

Harry tinha escorregado de sua cadeira, ficado de joelhos e estava agora encolhido no tapete da lareira tostado e surrado se curvando, encarando o fogo lá dentro.

 

- Er... Harry? - disse Rony incerto. - Por que você está aí embaixo?

 

- Porque eu acabei de ver a cabeça de Sirius no fogo - disse Harry.

 

Falou muito calmamente; afinal, havia visto a cabeça de Sirius naquele fogo enorme no ano anterior e falara com ela, também; apesar disso, não podia estar certo que a havia realmente visto dessa vez... Tinha desaparecido tão rapidamente...

 

- A cabeça de Sirius? - Hermione repetiu. - Você quis dizer como quando ele quis conversar com você durante o Torneio Tribruxo? Mas ele não faria isso agora, poderia ser muito... Sirius!

 

Ela arfou, encarando o fogo; Rony derrubou sua pena. Lá, no meio das chamas dançantes, situava-se a cabeça de Sirius, os longos cabelos escuros caindo ao redor de seu rosto sorridente.

 

- Eu estava começando a pensar que vocês tinham ido para a cama antes de todo o resto desaparecer - ele disse. - Tenho estado checando toda hora.

 

- Você vem estalando no fogo toda hora? - Harry disse, meio rindo.

 

- Apenas por poucos segundos para checar se o caminho estava limpo.

 

- Mas e se alguém te visse? - disse Hermione ansiosa.

 

- Bom, acho que uma garota... Do primeiro ano, pela sua aparência... Talvez teve um relampejo de mim cedo, mas não se preocupe - Sirius disse com pressa, assim que Hermione levou uma mão à boca -, eu já tinha ido no momento em que ela olhou de volta para mim e aposto que somente achou que eu era uma lenha de formato estranho ou algo parecido.

 

- Mas, Sirius, isto está sendo um risco terrível... - Hermione começou.

 

- Você fala como a Molly - disse Sirius. - Esta foi a única maneira que eu poderia propor em responder a carta de Harry sem lançar mão de códigos... E códigos são quebráveis.

 

À menção da carta de Harry, Hermione e Rony se viraram para encará-lo.

 

- Você não disse que tinha escrito para o Sirius! - disse Hermione em tom acusador.

 

- Eu esqueci - disse Harry, o que era perfeitamente verdade; seu encontro com Cho no Corujal tinha levado tudo antes daquilo embora de sua mente. - Não me olhe desse jeito, Hermione, não tinha como ninguém tirar informações secretas de dentro dela, tinha, Sirius?

 

- Não, ela estava muito boa - disse Sirius, sorrindo. - De qualquer forma, temos de ser rápidos, apenas no caso de sermos perturbados... Sua cicatriz.

 

- O que tem...? - Rony começou, mas Hermione o interrompeu.

 

- Nós lhe contamos mais tarde. Vá em frente, Sirius.

 

- Bem, eu sei que não pode ser divertido quando ela dói, mas não achamos que seja realmente uma coisa a se preocupar. Ela ficou doendo sempre no ano passado, não ficou?

 

- Sim, e Dumbledore disse que isso acontecia toda vez que Voldemort estava sentindo uma emoção poderosa - disse Harry, ignorando, como sempre, os receios de Rony de Hermione. - Então talvez ele estivesse, não sei, muito bravo ou algo assim na noite em que tive aquela detenção.

 

- Bom, agora que ele está de volta isso está destinado a acontecer mais freqüentemente - disse Sirius.

 

- Então, você não acha que tem algo a ver com o fato da Umbridge me tocando quando eu estava em detenção com ela?

 

- Eu duvido - disse Sirius - Conheço sua reputação e tenho certeza de que ela não é uma Comensal da Morte...

 

- Ela é grosseira o bastante para ser uma - disse Harry ameaçadoramente e Rony e Hermione balançaram as cabeças vigorosamente em acordo.

 

- Sim, mas o mundo não está dividido entre pessoas boas e Comensais da Morte - disse Sirius com um sorriso amargo. - Eu sei que ela é um pedaço de trabalho fedorento, apesar disso... Vocês deveriam ouvir o Remo falar sobre ela.

 

- O Lupin a conhece? - perguntou Harry rapidamente, relembrando-se dos comentários da Umbridge sobre mestiços perigosos durante sua primeira aula.

 

- Não, mas ela traçou algumas legislações antilobisomens dois anos atrás que tornou praticamente impossível para ele conseguir um emprego.

 

Harry se lembrou do quão desgastado Lupin parecia nesses dias e sua antipatia pela Umbridge aprofundava ainda mais.

 

- O que ela tem contra lobisomens? - disse Hermione irritada.

 

- Medo deles, eu suponho - disse Sirius, sorrindo para a indignação dela. - Aparentemente, ela odeia meio-humanos; ela fez campanha para ter os sereianos recolhidos e tachados ano passado, também. Imaginem, perdendo tempo e energia perseguindo os sereianos quando há pequenos vagabundos como o Kreacher soltos por aí.

 

Rony riu, Hermione pareceu preocupada.

 

- Sirius! - ela disse de forma repreendedora. - Honestamente, se você fizesse um pouco mais de esforço com o Kreacher tenho certeza de que ele reagiria. Afinal, você é o único membro da família dele que ainda resta, e o professor Dumbledore disse...

 

- Então, como são as aulas da Umbridge? - Sirius interrompeu. - Ela está treinando vocês apenas para matar mestiços?

 

- Não - disse Harry, ignorando o olhar ofendido de Hermione por ter sido cortada em sua defesa ao Kreacher. - Ela não está nos deixando usar mágica de nenhuma maneira!

 

- Tudo o que fazemos é ler o livro escolar estúpido - disse Rony.

 

- Ah, bem, isso se explica, Nossa informação vinda de dentro do Ministério é que o Fudge não quer vocês treinados em combate.

 

- Treinados em combate! - repetiu Harry, incrédulo. - O que ele pensa que estamos fazendo aqui, formando alguma espécie de exército de bruxos?

 

- É exatamente o que ele acha que estão fazendo ou senão é exatamente o que ele teme que Dumbledore esteja fazendo: formando seu próprio exército privado, com o qual ele poderá enfrentar o Ministério da Magia.

 

Houve uma pausa depois disto, então Rony disse.

 

- Esta é a coisa mais estúpida que eu já ouvi, incluindo todas as besteiras que a Luna Lovegood confessa.

 

- Então estamos sendo privados de aprender Defesa Contra as Artes das Trevas porque o Fudge está receoso que usaremos magia contra o Ministério? - disse Hermione, parecendo furiosa.

 

- É. Fudge acha que Dumbledore não saberá o limite para dominar o poder. Está ficando cada dia mais paranóico sobre o Dumbledore. É uma questão de tempo antes de ele colocar Dumbledore preso em alguma acusação inventada.

 

Isto relembrou a Harry a carta de Percy.

 

- 'Cê sabe se vai ter qualquer coisa a respeito do Dumbledore no Profeta Diário amanhã? O irmão do Rony, Percy, supõe que haverá...

 

- Não sei, não sou vidente, todos da Ordem estavam muito ocupados a semana toda. Tem sido apenas entre Kreacher e eu aqui...

 

Houve um tom definitivamente amargo na voz de Sirius.

 

- Então vocês não têm tido nenhuma notícia sobre o Hagrid, tampouco?

 

- Ah... Bom, ele era esperado para estar de volta por agora, ninguém tem certeza do que aconteceu com ele - então, vendo suas caras chocadas, acrescentou rapidamente. - Mas Dumbledore não está preocupado, então não fiquem vocês três em estado de alerta; garanto que Hagrid está bem.

 

- Mas se ele era esperado para estar de volta por agora... - disse Hermione numa voz pequena e ansiosa.

 

- Madame Maxime está com ele, estamos em contato com ela e ela disse que eles se separaram na volta para casa, mas não há nada que sugira que ele está machucado ou... Bem, nada que sugira que ele não está perfeitamente bem.

 

Não convincentes, Harry, Rony e Hermione trocaram olhares preocupados.

 

- Escutem, não fiquem fazendo muitas perguntas sobre o Hagrid - disse austeramente -, isso só vai atrair muito mais a atenção para o fato de ele não estar de volta e eu sei que Dumbledore não quer isso. Hagrid é forte, ele estará bem - e quando eles não pareciam animados por causa disso, Sirius acrescentou. - Quando é o próximo final de semana de vocês em Hogsmeade, hein? Estava pensando, nós escapamos com o disfarce do cão na estação, não escapamos? Acho que poderia...

 

- NÃO! - disseram Harry e Hermione juntos, em voz bem alta.

 

- Sirius, você não viu o Profeta Diário? - disse Hermione ansiosa.

 

- Ah, aquilo - disse Sirius, num sorriso forçado -, eles estão sempre adivinhando onde estou, na verdade não têm uma pista...

 

- Sim, mas achamos que desta vez eles têm - disse Harry. - Alguma coisa que Malfoy disse no trem nos fez pensar que ele sabia que era você, e o pai dele estava na plataforma, Sirius... Você sabe, Lúcio Malfoy... Então o que quer que você faça, não apareça aqui. Se o Malfoy lhe reconhecer novamente...

 

- Tá bom, tá bom, já entendi - disse Sirius; parecia muito descontente. - Só uma idéia, acredito que talvez possamos nos reunirmos...

 

- Já disse, eu simplesmente não quero você enfiado de volta em Azkaban! - disse Harry.

 

Houve uma pausa na qual Sirius olhou fora do fogo para Harry, com uma ruga entre os olhos afundados.

 

- Você é menos parecido com seu pai do que imaginei - ele disse finalmente, com uma frieza definitiva em sua voz. - O risco teria sido o que faria ser divertido para Tiago.

 

- Olhe...

 

- Bom, é melhor eu ir andando, posso ouvir Kreacher vindo descendo as escadas - disse Sirius, mas Harry tinha certeza de que era mentira. - Escreverei para lhes contar quando poderei voltar à lareira, então, posso? Se vocês puderem correr esse risco?

 

Houve um pequeno estalo e no lugar em que a cabeça de Sirius tinha estado estava tremeluzindo em chamas mais uma vez.

 

 

A GRANDE INQUISIDORA DE HOGWARTS

Eles esperavam procurar cuidadosamente no Profeta Diário de Hermione na manhã seguinte para encontrar o artigo que Percy havia mencionado em sua carta. A coruja de entrega planou pelo teto e posou junto à jarra de leite, entretanto Hermione se engasgou e abriu o jornal, que mostrava uma grande figura de Dolores Umbridge com um enorme sorriso e piscando levemente para eles sob a manchete:

 

"MINISTÉRIO VISA REFORMA EDUCACIONAL

 

DOLORES UMBRIDGE APROVADA COMO GRANDE INVESTIGADORA"

 

- Umbridge, grande Investigadora? - disse Harry sombriamente, a torrada comida pela metade escorregando entre seus dedos.

 

- O que isso significa?

 

Hermione continuou a ler:

 

"Num movimento surpreendente na noite passada o Ministério da Magia aprovou nova legislação dando a si um nível de controle sem precedentes sobre a Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts.

 

'O Ministério está ficando preocupado com o que vem acontecendo em Hogwarts', disse o Assistente Junior do Ministro, Percy Weasley. 'Ele está agora respondendo à inquietação proclamada por pais ansiosos, que sentem que a escola esteja indo em uma direção que eles não aprovam'.

 

Essa não é a primeira vez nas últimas semanas que o Ministro, Cornélio Fudge, tem usado novas leis para executar melhoras na escola de Magia. Em 30 de agosto o Decreto Educacional número 22 foi aprovado para assegurar que, caso o atual diretor não possa colocar um candidato para o posto de professor, o Ministério deve selecionar uma pessoa apropriada. 'Foi assim que Dolores Umbridge foi apontada para o corpo de professores de Hogwarts', disse Weasley na noite passada. 'Dumbledore não conseguiu encontrar alguém então o Ministério colocou Umbridge e, lógico, ela está sendo um sucesso imediato.'"

 

- Ela está sendo O QUÊ??? - disse Harry alto.

 

- Espere, há mais - disse Hermione.

 

"Revolucionou totalmente o ensino de Defesa contra Artes das Trevas e providencia ao Ministério um relatório completo sobre o que realmente acontece em Hogwarts.

 

'É a última função que o Ministro formalizou com a aprovação do Decreto Educacional número 23, que cria a nova posição de Grande Investigador de Hogwarts.'

 

'É uma excitante nova fase no plano do Ministro para identificar o que alguns chamam de decaimento moral em Hogwarts', disse Weasley. 'O Investigador terá poderes para investigar seus companheiros educadores e ter certeza ele correrá riscos. Foi oferecida essa posição a professora Umbridge em adição ao seu posto de educadora e estamos felizes de saber que ela aceitou.'

 

As últimas cartadas do Ministério receberam apoio entusiástico de pais de estudantes de Hogwarts

 

'Eu estou mais tranqüilo agora que eu sei que Dumbledore está sendo sujeito a uma avaliação justa e objetiva', disse Lúcio Malfoy, de sua mansão Wiltshire na noite passada. 'Muitos de nós, visando o melhor interesse de nossas crianças, estamos a par de algumas decisões excêntricas de Dumbledore nos últimos anos e estamos satisfeitos de saber que o Ministério está sendo mais vigilante.'

 

Junto a decisões excêntricas está sem dúvida alguma a indicação controversa de alguns professores previamente descritas nesse jornal, que inclui o emprego do lobisomem Remo Lupin, do meio-gigante Rúbeo Hagrid e do ex-Auror 'Olho-Tonto' Moody.

 

Rumores dizem, é claro, que Alvo Dumbledore, anteriormente Bruxo Chefe Cacique Supremo, Confederação Internacional de Bruxos, não é mais apto para dirigir a prestigiada escola de Hogwarts.

 

'Eu acho que a indicação do Investigador é o primeiro passo para assegurar que Hogwarts tenha um diretor em que possamos confiar'disse o Ministro noite passada.'

 

Membros da Confederação Internacional de Bruxos, Griselda Marchbanks e Tibério Ogden renunciaram em protesto à introdução do posto de Investigador em Hogwarts.

 

'Hogwarts é uma escola, não um posto avançado do escritório de Cornélio Fudge', disse Madame Marchbanks. 'Isso é um absurdo, nojenta maneira de desacreditar Alvo Dumbledore.' (Para uma versão completa sobre a alegação de Madame Marchbanks sobre a subversão de grupos de duendes veja a página 17)"

 

Hermione acabou de ler e olhou através da mesa para Harry e Rony.

 

- Agora nós sabemos por que aturamos Umbridge! Fudge aprovou esse "Decreto Educacional" e a forçou para nós! E agora ela tem o poder de inspecionar os outros professores! - Hermione respirava rapidamente e seus olhos brilhavam. - Eu não acredito nisso, é ultrajante...

 

- Eu sei que é - disse Harry. Ele olhou para a sua mão direita, pousada sobre o tampo da mesa, e viu nela esboçado as palavras que Umbridge tinha forçado a cortar sua pele.

 

Mas um sorriso se formou na face de Rony.

 

- Que foi? - disseram Harry e Hermione juntos, encarando-o.

 

- Mal posso esperar para ver McGonagall inspecionada - disse com alegria. - Umbridge nunca saberá o que lhe atingiu.

 

- Bem, vamos lá - disse Hermione, saltando da cadeira -, melhor nos apressarmos, se ela inspecionar a aula de Binns não queremos nos atrasar.

 

Mas a professora Umbridge não estava inspecionando a aula de História da Magia, que foi tão chata quanto a da última segunda-feira, nem estava na masmorra de Snape quando chegaram para a aula dupla de Poções, onde a redação de Harry sobre a pedra-da-lua lhe foi devolvida com um grande e negro "H", marcado no canto superior.

 

- Eu lhes dei as notas que vocês teriam recebido se tivessem apresentado esse trabalho em seus N.O.M.s - disse Snape enquanto caminhava entre eles, devolvendo suas tarefas. - Isso deve dar a vocês uma idéia realista do que esperar em seus exames.

 

Snape chegou na frente da classe e se virou para encarar a turma.

 

- O rendimento geral dessa tarefa foi horroroso. A maioria de vocês teria falhado se isso fosse seu exame. Espero que haja um maior esforço para a redação dessa semana sobre a grande variedade de antídotos contra venenos, ou eu terei que começar a dar detenções para os idiotas que tiraram H.

 

Ele sorriu enquanto Malfoy ria e disse num sussurro.

 

- Alguém tirou H? Ha!

 

Harry percebeu que Hermione estava olhando de lado para ver que nota ele recebera; escorregou sua redação para dentro de sua mochila o mais rápido possível, sentido que manteria aquela informação para si.

 

Determinado a não dar desculpa para Snape prejudicá-lo, Harry leu e releu cada linha das instruções no quadro-negro pelo menos três vezes antes de seguí-las. Sua Poção de Força não estava precisamente como o claro turquesa sombra de Hermione, mas ao menos estava azul e não rosa, como a de Neville, e levou um frasco para a mesa de Snape no fim da aula sentindo uma mistura de provocação e alívio.

 

- Bem, não foi tão mal como na última semana, foi? - disse Hermione enquanto subiam as escadas pra fora das masmorras e caminhavam para o Salão Principal para o almoço. - E o dever de casa não foi tão ruim também, foi?

 

Quando nem Rony nem Harry responderam Hermione continuou.

 

- Quer dizer, tudo bem, eu não esperava a maior nota, não se ele corrigiu como corrigiria os N.O.M.s, mas isso nos incentiva a essas alturas, vocês não acham?

 

Harry fez um som de discordância com sua garganta.

 

- Lógico, muita coisa pode acontecer entre agora e o exame, temos muito tempo para melhorar, mas essas notas que nós conseguimos são meio que uma base, não acham? Algo que podemos trabalhar...

 

Eles se sentaram na mesa da Grifinória.

 

- Mas com certeza eu ficaria surpresa se tirasse um "I"...

 

- Hermione - disse Rony bruscamente -, se você quiser saber que notas tiramos, pergunte.

 

- Eu não... Eu não disse... Bem se vocês quiserem me dizer...

 

- Eu tirei "P" - disse Rony, colocando sopa em sua tigela. - Está feliz agora?

 

- Bem, não é nada para se envergonhar - disse Fred, que tinha acabado de chegar à mesa com George e Lino Jordan e se sentou à direta de Harry. - Não há nada de errado com um belo "P".

 

- Mas... - disse Hermione. - "P não significa...

 

- "Pobre", isso mesmo - disse Lino Jordan. - Ainda assim, melhor que H, não é? "Horrível"?

 

Harry sentiu seu rosto corar e fingiu um pequeno acesso de tosse. Quando ele acabou, ficou infeliz ao saber que Hermione ainda queria falar das notas dos N.O.M.s.

 

- Então, a nota "I" é o mesmo que "impressionante" - disse ela. - E depois há a nota "A"...

 

- Não, é "E" - Jorge a corrigiu. - "E" corresponde à "Excede Expectativas". E eu sempre achei que Fred e eu deveríamos receber "E" em tudo, pois nós excedemos expectativas apenas por aparecer nos exames.

 

Todos riram, menos Hermione, que continuou.

 

- Então, depois de "E" vem "A", que significa "aceitável", e essa é a última nota para passar, não é?

 

- É sim - disse Fred, pegando uma boa porção de sopa, colocando na boca e engolindo.

 

- Depois vem "P" para "pobre" - Rony levantou seus braços, celebrando - e "H" de "horrível".

 

- Ainda tem o "T" - Jorge o lembrou.

 

- "T"? - perguntou Hermione, parecendo chocada. - Há nota menor que "H"? O que significa esse "T"?

 

- "Trasgo" - disse Jorge prontamente.

 

Harry riu novamente, apesar de não estar certo se Jorge estava brincando ou não. Ele se imaginou tentando esconder de Hermione que tinha recebido "T" em todos os seus N.O.M.s e imediatamente resolveu trabalhar mais duro dali em diante.

 

- Vocês já tiveram alguma aula inspecionada? - Fred perguntou.

 

- Não - disse Hermione rapidamente. - Vocês já?

 

- Há pouco tempo, antes do almoço - disse Jorge. - Feitiços.

 

- Como foi? - Harry e Hermione perguntaram juntos.

 

Fred encolheu os ombros.

 

- Nada mal. Umbridge apenas ficou num canto tomando notas em um bloco. Vocês sabem como é Flitwick, ele a tratou como convidada, não pareceu perturbado com ela. Ela não disse muita coisa. Perguntou à Alicia algumas coisas sobre como as aulas são lecionadas, Alicia lhe disse que eram muito boas e foi isso.

 

- Não consigo ver o velho Flitwick sendo prejudicado - disse Jorge -, ele usualmente faz com que todos passem em seus exames tranqüilamente.

 

- Quem será sua próxima aula? - Fred perguntou Harry.

 

- Trelawney...

 

- Um "T", como se eu sempre visse um...

 

- E Umbridge depois.

 

- Bem, seja um bom garoto e não se indisponha com Umbridge hoje - disse Jorge. - Angelina vai enlouquecer se você perder mais um treino de quadribol.

 

Mas Harry não teve que esperar até a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas para se encontrar com Umbridge. Estava tirando seu Diário dos Sonhos no fundo da sombria sala de Adivinhação quando Rony cutucou suas costelas. Harry se viro e viu a professora Umbridge emergindo através da escada. A classe, que vinha falando alto, de repente se calou. A queda abrupta do nível sonoro fez a professora Trelawney, que vinha distribuindo cópias de O Oráculo dos Sonhos, olhasse.

 

- Boa tarde professora Trelawney - disse a professora Umbridge com seu largo sorriso. - Você recebeu meu aviso, eu suponho? Dando-lhe a data e a hora de sua inspeção?

 

A professora Trelawney concordou rapidamente e, parecendo muito desgostosa, deu às costas à professora Umbridge e continuou a distribuir livros. Ainda sorrindo, Umbridge pegou a poltrona mais próxima e a colocou em frente à classe. para que ficasse poucos centímetros atrás da professora Trelawney. Ela se sentou, tirou seu bloco de notas da sua bolsa florida e olhou com expectativa, esperando a aula começar.

 

Professora Trelawney apertou suas vestes contra o corpo, as mãos ligeiramente trêmulas, e inspecionou a classe com seus olhos aumentando imensamente por trás das lentes.

 

- Hoje nós continuaremos a estudar os sonhos proféticos - disse numa brava tentativa com seu usual tom místico, apesar de sua voz ter tremido levemente. - Dividam-se em pares, por favor, e interpretem as últimas visões de cada um com a ajuda do livro.

 

Ela pensou em voltar ao seu assento mas, vendo a professora Umbridge sentada logo ao lado dele, imediatamente virou à esquerda, ficando ao lado de Parvati e Lilá, que já estavam discutindo profundamente sobre o sonho recente de Parvati.

 

Harry abriu sua cópia de "O Oráculo dos Sonhos", olhando Umbridge avidamente. Ela já estava tomando notas em seu bloco. Depois de alguns minutos se levantou e começou a rondar a sala na cola de Trelawney, ouvindo suas conversas com os alunos e perguntando aqui e ali.

 

Harry colocou sua cabeça acima do livro.

 

- Pense num sonho, rápido - disse ele a Rony -, no caso daquele sapo velho vir aqui.

 

- Eu fiz isso da última vez - protestou Rony. - É a sua vez, me diga um.

 

- Não sei... - disse Harry desesperado, pois não se lembrava de ter sonhado algo nos últimos dias. - Vamos ver. Eu sonhei que estava... Afogando Snape no meu caldeirão. Isso mesmo...

 

Rony riu enquanto abria seu "Oráculo dos Sonhos".

 

- Ok, nós precisamos adicionar sua idade à data em que você teve o sonho, o número de letras no caso... Seria "afogando" ou "caldeirão" ou "Snape"?

 

- Não importa, pegue qualquer uma - disse Harry, arriscando um olhar atrás dele. A professora Umbridge estava nos calcanhares da professora Trelawney, tomando notas enquanto a professora de Adivinhação questionava Neville sobre o seu diário dos sonhos.

 

- Que noite você sonhou isso de novo? - disse Rony, imerso em cálculos.

 

- Não sei, noite passada, coloca aí qualquer coisa - disse Harry, tentando escutar o que Umbridge estava dizendo a Trelawney. Estavam apenas a uma mesa de distância dos dois garotos. Umbridge estava fazendo outra nota no seu bloco e a professora Trelawney pareceu muito fora de si.

 

- Agora - disse Umbridge, olhando Trelawney -, há quanto tempo você ocupa esse posto, exatamente?

 

Trelawney franziu a testa, os braços cruzados e os ombros encurvados, talvez desejando se proteger o máximo possível da indigna inspeção. Depois de uma pequena pausa, em que parecia decidir se a pergunta não era tão ofensiva que poderia com razão ignorar, finalmente disse numa voz muito ressentida.

 

- Quase dezesseis anos.

 

- Já é um bom tempo - disse a Professora Umbridge, tomando nota em seu bloco. - Foi o professor Dumbledore quem indicou você?

 

- Isso mesmo - respondeu rapidamente.

 

Umbridge fez outra anotação.

 

- E você é tataraneta da famosa vidente Cassandra Trelawney?

 

- Sim - disse a Professora Trelawney, com sua cabeça posta mais alta.

 

Outra anotação no bloco.

 

- Mas eu acho, Corrija-me se estiver errada, que você é a primeira na sua família desde Cassandra a possuir Visão Interior?

 

- Essas coisas costumam pular... Er... Três gerações.

 

O sorriso de Umbridge, que era igual a de um sapo, aumentou.

 

- Claro - disse ela docemente, fazendo mais uma anotação. - Bem, gostaria de saber se você pode predizer alguma coisa para mim, sim? - ela olhou maliciosamente, ainda sorrindo.

 

Sibila enrijeceu como se não pudesse acreditar no que ouvira.

 

- Eu não entendi - disse ela, apertando convulsivamente seu xale ao redor do seu fino pescoço.

 

- Gostaria que você fizesse uma previsão para mim - disse umbridge claramente.

 

Harry e Rony agora não eram os únicos que olhavam e ouviam atentamente atrás de seus livros. A maioria da classe estava encarando fixamente a professora Trelawney, enquanto ela se levantava completamente, suas contas e colares tilintando.

 

- O Olho Interior não vê sob pressão! - disse ela em tom escandalizado.

 

- Eu entendi - disse a professora Umbridge, já tomando outra nota.

 

- Eu... Mas-mas... Espere! - disse a professora Trelawney de repente, tentando manter sua voz etérea, apesar do efeito místico estar arruinado, pois estava tremendo de raiva. - Eu.. Eu acho que estou vendo algo... Algo a seu respeito.. Sinto algo... Algo obscuro... Algo grave...

 

Sibila apontou um dedo trêmulo para Umbridge, que continuava a sorrir brandamente, suas sobrancelhas erguidas.

 

- Acho que... Acho que você corre grande perigo! - finalizou Sibila dramaticamente.

 

Houve uma pausa. A professora Umbridge encarava a professora Trelawney.

 

- Certo - ela disse levemente, escrevendo em seu bloco mais uma vez. - Bem se é o melhor que pode fazer...

 

Ela se virou, deixando Sibila em seu canto, respirando pesadamente. Os olhos de Harry encontraram os de Rony, notou que o amigo pensando a mesma coisa que ele: os dois sabiam que Sibila era uma velha fraude mas, por outro lado, odiavam tanto Umbridge que sentiram muita pena da professora Trelawney - até ela vir à mesa deles segundos depois.

 

- Bem? - disse, estalando seus longos dedos em frente de Harry, incomumente elétrica. - Deixe-me ver como você começou o seu diário dos sonhos, sim?

 

E enquanto ela interpretava os sonhos de Harry (todos eles, mesmo aqueles que envolviam comer mingau de aveia, aparentemente sempre acabavam em mortes terríveis), ele sentiu bem menos simpatia para com ela. Para completar, a professora Umbridge ficava um passo atrás, tomando notas em seu bloco. Quando a sineta tocou, ela desceu a escadaria de prata primeiro e já esperava pelos alunos da Grifinória quando alcançaram a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas dez minutos depois.  

 

Umbridge estava murmurando e sorrindo consigo mesma quando todos entraram na sala. Harry e Rony contaram para Hermione, que estava na aula de Aritmancia, exatamente o que havia acontecido na aula de Adivinhação enquanto tiravam seus exemplares de "Teoria da Defesa Mágica", mas antes que ela pudesse perguntar alguma coisa a professora Umbridge pediu ordem à classe e todos fizeram silêncio.

 

- Guardem as varinhas - instruiu ela a todos com um sorriso e aqueles que pensaram que poderiam tirar as varinhas tristemente as colocaram de volta às mochilas. - Como acabamos com a última lição do Capítulo 1 gostaria que todos fossem à página 19 e começassem o Capítulo 2, Teorias de Defesa Comum e Suas Derivações. Não há necessidade de conversa.

 

Ainda com um sorriso largo no rosto ela se sentou em sua cadeira. A classe deu um suspiro audível enquanto virava folha por folha até a página 19. Harry se perguntou bobamente se haviam capítulos suficientes no livro para continuar lendo durante todas as lições do ano e estava a ponto de checar o conteúdo da página quando notou que Hermione tinha sua mão levantada novamente.

 

A professora Umbridge notou isso também, e havia mais, parecia que havia trabalhado em uma estratégia para essa eventualidade. Ao invés de tentar fingir que não tinha notado Hermione ela se levantou e andou ao redor das cadeiras da frente até ficarem face a face. Depois se agachou e sussurrou para o resto da sala não poder ouvir.

 

- O que foi agora, Srta. Granger?

 

- Eu já li o Capítulo 2 - disse Hermione.

 

- Bom, então proceda ao Capítulo 3.

 

- Já o li também. Aliás, já li o livro inteiro.

 

A professora Umbridge piscou mas logo recuperou sua pose.

 

- Muito bem. Então você é capaz de me dizer o que Slinkhard diz sobre contra-azarações no capítulo 15.

 

- Ele diz que contra-azarações são impropriamente nomeadas - disse Hermione prontamente. - Que contra-azaração é só um nome que as pessoas dão para suas azarações quando querem fazer com que soem mais aceitáveis.

 

Umbridge levantou suas sobrancelhas e Harry sabia que ela estava impressionada, mesmo contra sua vontade.

 

- Mas eu discordo - continuou Hermione.

 

Umbridge levantou ainda mais as sobrancelhas e seu olhar se tornou mais frio.

 

- Você discorda? - repetiu

 

- Sim, eu discordo - disse Hermione que, ao contrário de Umbridge, não sussurrava, mas dizia em voz alta, que agora atraía atenção de toda a sala. - O Sr. Slinkhard não gosta de azarações, não é? Mas eu acho que elas podem ser bem úteis quando usadas defensivamente.

 

- Ah, você acha, não é? - disse a professora, esquecendo de sussurrar e se levantando. - Mas eu acho que a opinião do Sr. Slinkhard, e não a sua, é a que conta para a classe, Srta. Granger.

 

- Mas... começou Hermione.

 

- Já chega - disse a professora. Ela voltou para a frente da sala e ficou de frente para todos, toda a alegria que mostrava no início da aula desapareceu. - Srta. Granger, eu vou tirar cinco pontos da Grifinória.

 

Houve um início de vários murmúrios.

 

- Por quê? - disse Harry com raiva.

 

- Não se envolva! - cochichou Hermione com urgência.

 

- Por perturbar minha aula com interrupções bobas - disse a professora suavemente. - Estou aqui para ensinar vocês usando um método aprovado pelo Ministério que não inclui convidar os alunos para darem suas opiniões em assuntos que entendem pouco. Seus últimos professores nessa matéria podem ter sido mais displicentes mas nenhum deles, com a possível exceção do Professor Quirrell, que ao menos aparentava restringir as lições devido à idade, teria passado por uma inspeção ministerial...

 

- Ah, claro, Quirrell era um excelente professor - disse harry em voz alta - mas ele tinha o problema de ter Lord Voldemort grudado na parte de trás da cabeça!

 

Esse pronunciamento foi seguido por um dos silêncios mais audíveis que Harry já escutou. Então...

 

- Acho que mais uma semana de detenção fará bem pra você, Sr. Potter - disse Umbridge suavemente.

 

O corte na palma da mão de Harry mal havia se curado e, pela manhã seguinte, estava sangrando de novo. Ele não reclamou durante suas detenções à noite; estava determinado a não dar à Umbridge satisfação; várias e várias vezes escreveu "Eu não devo mentir" e nenhum som escapou de seus lábios, apesar do corte aumentar a cada letra.

 

A pior parte dessa segunda semana de detenções foi o que Jorge havia previsto, a reação de Angelina. Ela o pegou assim que chegou para tomar café na mesa da Grifinória na terça e gritou tão alto que a professora McGonagall veio separar os dois da mesa.

 

- Srta. Johnson, como se atreve a fazer esse escândalo no Salão Principal? Cinco pontos a menos para a Grifinória!

 

- Mas professora, ele pegou detenção de novo...

 

- O que é isso, Potter? - disse McGonagall bruscamente, se virando para Harry. - Detenção? De quem?

 

- Da professora Umbridge - murmurou Harry, não encarando os olhos furiosos da professora McGonagall.

 

- Você está me dizendo - disse ela, baixando a voz para que um grupo curioso da Corvinal que estava atrás deles não ouvisse - que mesmo depois do aviso que lhe dei na última segunda você perdeu a calma na aula da professora Umbridge de novo?

 

- Sim - murmurou Harry, falando para o chão.

 

- Potter, você deve se controlar! Você está se metendo em sérios problemas! Outros cinco pontos da Grifinória.

 

- Mas... O quê? Professora, não! - disse Harry, furioso com a injustiça. - Eu já estou sendo punido por ela, por que a senhora ainda tem que me tirar pontos?

 

- Porque parece que as detenções não causam efeito em você! - disse azedamente a Professora McGonagall. - Não, nem mais uma queixa, Potter! E quanto a você, Srta. Johnson, você vai guardar seus gritos para o campo de quadribol ou vai perder o posto de capitã!

 

A professora saiu de volta para sua mesa. Angelina lançou um olhar extremamente feio a Harry e saiu. Depois Harry se sentou ao lado de Rony, fumegando.

 

- Ela tirou pontos da Grifinória porque minha mão vem sendo cortada toda noite! Isso é justo?

 

- Eu sei, cara - disse Rony simpaticamente, colocando bacon no prato de Harry. - Ela está ficando fora de si.

 

Mas Hermione meramente passou os olhos pelas páginas do Profeta Diário e não disse nada.

 

- Você acha que McGonagall está certa, não acha? - disse Harry com raiva para a figura de Cornélio Fudge tampando a cara de Hermione.

 

- Gostaria que ela não tivesse tirado pontos de você, mas acho que ela está certa em advertir você para não perder a paciência com Umbridge - disse a voz de Hermione enquanto Fudge gesticulava com força na primeira página, claramente fazendo um discurso.

 

Harry não falou com Hermione durante a aula de Feitiços, mas quando entraram na aula de Transfiguração ele esqueceu que estava de mal com ela. A professora Umbridge estava junto de seu bloco, sentada num canto e a imagem dela reavivou a memória de Harry sobre o que aconteceu no café da manhã.

 

- Excelente - sussurrou Rony, enquanto se sentavam no lugar de sempre. - Umbridge vai ter o que merece.

 

A professora Minerva marchou para dentro da sala sem ao menos dar sinais de que tinha notado Umbridge.

 

- Isso vai servir - disse ela e o silêncio se fez imediatamente. - Sr. Finningan, venha cá e devolva os deveres de casa. Srta. Brown, por favor pegue aquela caixa de ratos. Não seja boba, menina, eles não vão lhe morder. E dê um para cada estudante...

 

- Hum, hum - disse a Profa Umbridge, usando a mesma tossida idiota que usou para interromper Dumbledore na primeira noite. A professora McGonagall a ignorou. Simas devolveu o dever de Harry, que o pegou sem olhar o garoto e viu, para seu alívio, que tinha tirado um "A".

 

- Muito bem, escutem todos com atenção. Dino Thomas, se você fizer isso com esse rato de novo vou colocá-lo em detenção. A maioria de vocês já fez desaparecer com sucesso seus caracóis e mesmo aqueles que deixaram um pouco da concha visível pegaram o jeito. Hoje, nós devemos...

 

- Hum, hum - disse Umbridge.

 

- Sim? - disse a professora Minerva, virando-se. Suas sobrancelhas estavam tão juntas que pareciam formar uma única e severa linha.

 

- Eu estava imaginando, professora, se você recebeu minha nota dizendo a data e a hora de sua inspeç...

 

- Obviamente eu recebi ou teria perguntado o que a senhora está fazendo aqui - disse a McGonagall, virando firmemente as costas para Umbridge. Muitos estudantes trocaram olhares de satisfação. - Como eu dizia, hoje nós praticaremos um desaparecimento mais difícil, o de ratos. Agora, o Feitiço do Desaparecimento...

 

- Hum, hum.

 

- Eu estava pensando - disse Minerva com uma fúria gelada, virando-se para a professora Umbridge - como a senhora espera ter uma idéia da meu método de ensino usual se continua a me interromper? Você vê, eu geralmente não permito que as pessoas falem enquanto eu falo.

 

A professora Umbridge parecia que tinha levado um tapa na cara. Ela não falou mas estreitou o pergaminho do seu bloco e começou a escrever furiosamente.

 

Parecendo muito desinteressada, a professora McGonagall dirigiu-se à classe mais uma vez.

 

- Como eu dizia, o feitiço do desaparecimento fica muito mais difícil devido à complexidade do animal a se fazer desaparecer. O caracol, que é um invertebrado, não apresenta muita dificuldade; o rato, que é um mamífero, oferece mais desafio. Mas isso não é uma mágica que você pode executar com seus pensamentos no jantar. Então, vocês sabem o encantamento, deixem-me ver do que são capazes...

 

- Como ela pode me dar sermão sobre não perder a paciência com Umbridge! - Harry murmurou para Rony, mas ele estava sorrindo, sua raiva com a professora Minerva se evaporou quase completamente.

 

Umbridge não seguiu Minerva ao redor da sala como seguiu a professora Sibila; talvez tenha notado que McGonagall não permitiria. Mas tomou mais notas enquanto estava sentado no canto e quando Minerva disse que podiam sair mostrou uma expressão sorridente no rosto.

 

- Bem, é um começo - disse Rony, segurando um longo rabo de rato e jogando na caixa que Lilá estava segurando.

 

Enquanto saíam da sala de aula Harry viu Umbridge se aproximar da mesa de McGonagall; cutucou Rony, que cutucou Hermione e os três deliberadamente foram espreitar.

 

- Há quanto tempo você ensina em Hogwarts? - perguntou Umbridge.

 

- Fará trinta e nove anos em dezembro - disse a professora Minerva bruscamente, fechando sua bolsa.

 

Umbridge fez uma anotação.

 

- Muito bem. Você receberá os resultados de sua inspeção em dez dias.

 

- Mal posso esperar - disse a professora Minerva, numa voz fria e indiferente, e saiu em direção à porta. - Apressem-se vocês três - adicionou, alcançando Harry, Rony e Hermione.

 

Harry não pôde deixar de dar um sorriso e podia jurar que recebeu um de volta.

 

Pensou que a próxima vez que veria Umbridge seria na sua detenção à noite, mas estava errado. Quando caminhavam em direção à floresta, para Trato de Criaturas Mágicas, encontraram-na com seu bloco esperando ao lado da professora Grubbly-Plank.

 

- Você não costuma dar essa aula, não é? - Harry a ouviu perguntando quando eles chegaram próximos a um grupo de Tronquilhos encarapitados em um tronco como muitos galhos vivos.

 

- Correto - disse Grubbly-Plank, as mãos nas costas batendo ligeiramente os pés*. - Eu sou a professora substituta. Estou no lugar do professor Hagrid.

 

Harry trocou olhares inseguros com Rony e Hermione. Malfoy estava cochichando com Crabbe e Goyle; com certeza adoraria essa oportunidade para mentir sobre Hagrid para um membro do Ministério.

 

- Hmmm - disse umbridge, baixando a voz, apesar de Harry poder continuar ouvindo-a. - Eu estava pensando... O diretor parece extremamente relutante de me dar alguma informação a respeito. Você poderia me contar o que está causando a longa ausência do professor Hagrid?

 

Harry viu Malfoy levantar a cabeça ansiosamente e olhar de perto Umbridge e Grubbly-Plank.

 

- Acho que não - disse rapidamente a professora Grubbly-Plank. - Não sei de nada além do que a senhora sabe. Recebi uma coruja de Dumbledore perguntando se eu gostaria de ensinar aqui por algumas semanas. Aceitei. É isso que eu sei. Bom... Posso começar a aula agora?

 

- Sim, por favor - disse a professora Umbridge, escrevendo em seu bloco.

 

Umbridge agiu diferente nessa inspeção e circulou através dos estudantes, questionando-os sobre criaturas mágicas. A maioria foi capaz de responder bem e o espírito de Harry se animou; ao menos a sala não estava deixando Hagrid na mão.

 

- No geral - disse a professora Umbridge, retornando à professora Grubbly-Plank depois de interrogar Dino Thomas -, como é que você, como um membro temporário do corpo docente, uma pessoa de fora, eu suponho que você possa dizer, o que você acha de Hogwarts? Você acha que recebe apoio suficiente da direção?

 

- Ah, sim, Dumbledore é excelente - disse Grubbly-Plank de coração. - Sim, eu estou muito feliz como as coisas vêm sendo guiadas, por assim dizer.

 

Mostrando-se educadamente incrédula, Umbridge fez uma pequena nota no seu bloco e continuou.

 

- E você está planejando assumir essa matéria este ano, pretendendo, é claro, que o professor Hagrid não retorne?

 

- Oh, eu vou mostrar no decorrer do ano criaturas que costumam ser cobradas nos N.O.M.s. Não há muito a fazer, eles já estudaram unicórnios e pelúcios, eu pensei em mostrar-lhes pocotós e amassos, ter certeza que podem reconhecer crupes e ouriços, você sabe...

 

- Bem, VOCÊ parece saber o que está fazendo - disse Umbridge, fazendo um anotação muito óbvia no seu bloco. Harry não gostou na ênfase que ela colocou no "você" e gostou ainda menos quando fez a próxima pergunta para Goyle. - Agora, eu ouvi dizer que houveram ferimentos nessa aula?

 

Goyle deu um estúpido sorriso. Malfoy se apressou para responder a pergunta.

 

- Fui eu - disse ele. - Fui atacado por um hipogrifo.

 

- Um hipogrifo? - disse umbridge, escrevendo freneticamente.

 

- Apenas porque ele foi idiota de não ouvir o que Hagrid havia dito! - disse Harry raivoso.

 

Rony e Hermione gemeram. Umbridge virou sua cabeça devagar na direção de Harry.

 

- Mais noites de detenção, eu suponho - disse ela calmamente. - Bem, muito obrigada professora Grubbly-Plank, eu acho que já vi tudo aqui. Você receberá os resultados de sua inspeção em dez dias.

 

- Tudo bem - disse Grubbly-Plank e Umbridge saiu em direção ao castelo.

 

Era quase meia-noite quando Harry deixou o escritório de Umbridge naquela noite. Sua mão sangrava tanto que estava manchando o lenço que havia amarrado nela. Esperava que o salão comunal estivesse vazio quando retornasse, mas Rony e Hermione haviam se sentado e esperado por ele. Estava feliz em vê-los, especialmente quando Hermione estava disposta a ser mais simpática do que crítica.

 

- Aqui - disse ela ansiosamente, empurrando um pequeno recipiente cheio de líquido amarelo para perto dele. - Mergulhe sua mão nisso, é uma solução de tentáculos de murtisco amassados e picados, deve ajudar.

 

Harry colocou a mão sangrenta e dolorida dentro do recipiente e experimentou um enorme sentimento de alívio. Bichento passava entre suas pernas, ronronando alto, depois subiu nas suas pernas e se deitou.

 

- Obrigado - disse Harry grato, coçando as orelhas de Bichento com sua mão esquerda.

 

- Ainda acho que você deveria reclamar sobre isso - disse Rony em voz baixa.

 

- Não - respondeu prontamente.

 

- McGonagall iria à loucura se soubesse...

 

- É, ela provavelmente iria - disse Harry. - E quanto tempo você acha que levará para Umbridge passar outro decreto dizendo que qualquer um que reclame da Grande Investigadora é retaliado imediatamente?

 

Rony abriu a boca para retorquir mas nada saiu e, depois de algum tempo, ele a fechou, sentindo-se derrotado.

 

- Ela é uma mulher terrível - disse Hermione em voz baixo. - Terrível. Você sabe, eu estava justamente dizendo isso para o Rony quando você chegou... Nós temos que fazer algo em relação a ela.

 

- Eu sugiro envenenamento - disse Rony sorrindo.

 

- Não... Eu digo algo sobre como ela é uma professora horrorosa e que nós não vamos aprender nada sobre Defesa Contra as Artes das Trevas com ela.

 

- Bem, o que podemos fazer? - disse Rony, bocejando. - Tá muito tarde, né? Ela pegou o emprego e vai ficar. Além do mais, Fudge vai mantê-la.

 

- Bem - disse Hermione hesitante. - Você sabe, eu estive hoje pensando... - ela lançou um olhar meio nervoso a Harry e depois continuou. - Eu estive pensando que... Talvez tenha chegado a hora onde nós simplesmente devíamos... Devíamos tomar a iniciativa.

 

- Tomar a iniciativa pra quê? - disse Harry, sua mão ainda boiando na poção.

 

- Bem... Aprender Defesa Contra as Artes das Trevas por nós mesmos.

 

- Sem chance! - gemeu Rony. - Você quer trabalho extra pra nós? Não vê que Harry e eu estamos entupidos de dever de casa e é apenas a segunda semana?

 

- Mas há coisa mais importante do que nossos deveres de casa!

 

Harry e Rony arregalaram os olhos.

 

- Eu não sabia que havia coisa mais importante no universo que dever de casa! - disse Rony.

 

- Não seja ridículo, é claro que há - Harry viu, com um sentimento penoso, que a garota tinha a face iluminada com o mesmo fervor que o F.A.L.E lhe inspirava. - E tipo nos prepararmos bem para, como disse o Harry na primeira aula da Umbridge, o que nos espera lá fora. É ter certeza de que nós podemos nos defender bem. Se nós não aprendermos nada durante o ano inteiro...

 

- Não podemos fazer muito por nós mesmo - disse rony numa voz derrotada. - Quer dizer, tudo bem, nós podemos ir e ver azarações na biblioteca e tentar praticar, eu acho...

 

- Não, eu concordo, nós já passamos da fase de aprender algo apenas dos livros. Precisamos de um professor apropriado, que possa nos mostrar como usar os feitiços e nos corrigir quando estivermos errados.

 

- Se você estiver falando de Lupin.. - Harry começou.

 

- Não, não estou falando de Lupin. Ele está muito ocupado com a Ordem, além do mais só poderíamos vê-lo durante as visitas a Hogsmeade e isso não é uma boa freqüência.

 

- Quem, então? - disse Harry, franzindo as sobrancelhas.

 

Hermione deu um grande e longo suspiro.

 

- Não é óbvio? Estou falando de você, Harry.

 

Houve um momento de silêncio. Uma brisa noturna sacudiu a vidraça atrás de Rony.

 

- De mim o quê?

 

- Estou falando de você nos ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas.

 

Harry encarou Hermione. Depois se virou para Rony, pronto para trocar os olhares exasperados que sempre aconteciam quando Hermione tinha idéias malucas como a do F.A.L.E. Mas, para sua frustração, Rony não parecia exasperado.

 

Franziu um pouco a testa, aparentemente pensando. Depois disse:

 

- É uma boa idéia.

 

- Como assim uma boa idéia? - disse Harry.

 

- Você nos ensinar - disse Rony.

 

- Mas...

 

Harry estava sorrindo agora; tinha certeza que os dois estavam tirando sarro.

 

- Mas eu não sou professor, eu não...

 

- Harry, você foi o melhor do ano em Defesa Contra as Artes das Trevas! - disse Hermione.

 

- Eu? - disse Harry, o sorriso ainda maior no rosto. - Não, eu não sou, você me bateu em todos os testes...

 

- Acho que não - disse Hermione friamente. - Você me derrotou no terceiro ano, o único ano onde nós dois fizemos o teste juntos e tivemos um professor que realmente sabia da matéria. Mas eu não estou falando de resultados de testes, Harry. Pense no que você já fez...

 

- O que você quer dizer?

 

- Quer saber, eu não estou certo se quero alguém tão burro assim me ensinado - disse Rony para Hermione, rindo discretamente. Ele se virou para Harry. - Vamos ver - disse, fazendo uma careta com se fosse Goyle se concentrando. - Hum... Primeiro ano. Você salvou a Pedra Filosofal de Você-Sabe-Quem.

 

- Mas isso foi sorte - disse Harry. - Eu não era habili...

 

- Segundo ano - interrompeu Rony. - Você matou o basilisco e destruiu Riddle.

 

- Certo, mas se Fawkes não tivesse aparecido, eu...

 

- Terceiro ano - disse Rony, mais alto. - Você lutou com mais de cem dementadores de uma vez.

 

- Você sabe que isso foi sorte, se o vira-tempo não...

 

- Último ano! - disse Rony quase gritando. - Você lutou com Você-Sabe-Quem de novo...

 

- Me escutem! - disse Harry, quase com raiva, porque Rony e Hermione estavam dando risadinhas.

 

- Simplesmente me ouçam, tá bom? Pode parecer incrível quando vocês falam assim mas tudo aquilo foi sorte. Na maioria das vezes eu não sabia o que eu estava fazendo, eu apenas fiz o que me deu na cabeça e muitas vezes tive ajuda...

 

Rony e Hermione ainda davam risadinhas e Harry sentiu o sangue subir à cabeça; nem ao menos estava certo por que estava com tanta raiva.

 

- Vocês ficam aí sentados como se soubessem melhor do que eu. Eu estava lá, não estava? - disse furioso. - Eu sei de tudo o que aconteceu, certo? E eu não passei por tudo isso porque eu era brilhante em Defesa Contra as Artes das Trevas, eu passei por tudo isso porque... Porque a ajuda veio em tempo, ou porque eu adivinhei certo. Mas eu fiz besteira demais nisso tudo, eu não tinha idéia do que eu estava fazendo... PAREM DE RIR!!!

 

O recipiente com a essência de murtisco caiu no chão e quebrou. Harry logo notou que estava de pé, apesar de não se lembrar com se levantou. Bichento se escondeu debaixo do sofá. Os sorrisos de Rony e Hermione sumiram.

 

- Vocês não sabem como é!!! Vocês... Nenhum de vocês... Nunca teve que enfrentá-lo, não é? Acham que é só aprender um bando de feitiços e jogar nele, como se estivessem na sala de aula? A toda hora você tem certeza que não há nada entre você e a morte exceto o seu... O seu próprio cérebro ou coragem ou sei lá, como se você pudesse pensar direito quando se está a um nanosegundo de ser morto ou torturado, ou vendo seus amigos morrerem... Eles nunca ensinaram isso em nossas aulas... E vocês dois sentados aí como se eu fosse um garotinho esperto por estar aqui, vivo, como Diggory foi idiota, como ele se acabou... Vocês não entendem, como poderia ter sido eu fácil, fácil, seria se Voldemort não precisasse de mim...

 

- Nós não dissemos nada disso, cara - disse Rony, que parecia espantado. - Nós não queríamos falar sobre Diggory, nós não... Você pensou errado, você...

 

Ele olhou desesperadamente para Hermione, cuja face estava paralisada.

 

- Harry - disse ela timidamente - Você não vê? Isso... Isso é exatamente por que precisamos de você... Precisamos saber como r-realmente é... Enfrentá-lo... Enfrentar V-Voldemort.

 

Era a primeira vez que ela havia dito o nome de Voldemort e foi isso, mais que qualquer outra coisa, que acalmou Harry. Ainda respirando fundo, afundou em sua cadeira, ficando alerta agora que sua mão doía demais. Desejou não ter quebrado o recipiente com a essência.

 

- Bem... Pense sobre isso - disse Hermione tranqüilamente. - Por favor.

 

Harry não conseguia pensar em nada para dizer. Sentia-se envergonhado de seu acesso de raiva. Concordou, embora pouco atento ao que acabava de concordar.

 

Hermione se levantou.

 

- Bem, eu vou dormir - disse ela, numa voz mais natural possível. - Er... Boa noite.

 

Rony se levantou também.

 

- Vai dormir? - disse cautelosamente para Harry.

 

- Sim - disse Harry. - Vou... Vou num minuto. Só vou limpar isso...

 

Ele indicou o recipiente quebrado. Rony concordou e saiu.

 

- Reparo - murmurou Harry, apontando sua varinha para as peças quebradas. Elas se juntaram, como se fosse novas, mas não havia como colocar a essência de volta.

 

De repente se sentiu tão cansado que ficou tentando a se deitar na poltrona e dormir ali mesmo, mas ao invés disso forçou a si mesmo a ficar em pé e seguiu Rony para o quarto. Sua noite mal-dormida foi seguida mais uma vez por sonhos com longos corredores e portas trancadas e acordou no dia seguinte com sua cicatriz doendo novamente.

 

 

NO HOG'S HEAD

Hermione não comentou nada sobre Harry dar aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas por duas semanas inteiras depois de sua sugestão. A detenção de Harry com Umbridge finalmente acabou (ele duvidou se as palavras gravadas atrás de sua mão desapareceriam completamente); Rony teve mais quatro treinos de quadribol e não esteve durante dois destes. Estava treinando feitiços de desaparecer de Transfiguração, Hermione estava indo muito bem nesse tipo de feitiço antes da matéria ser questionada de novo, na perigosa tarde de Setembro, quando os três estavam na biblioteca, olhando os ingredientes da poção de Snape.

 

- Eu estava pensando - disse Hermione de repente. - Se você achasse mais sobre Defesa Contra as Artes das Trevas, Harry.

 

- É claro que eu irei - disse Harry. - Eu não esquecerei disso, pudera, com aquela velha ensinando.

 

- Eu acho que Rony e eu... - Rony a pôs em alarme, ameaçando com aquele olhar. Ela olhou feio para ele.- Oh, está bem, a idéia que eu tive de você nos ensinar.

 

Harry não respondeu. Fingiu estar olhando uma página de antídotos para venenos asiáticos, porque não disse o que tinha em sua mente.

 

Pensou muito últimos 14 dias. Às vezes parecia uma idéia louca, o que parecia realmente quando Hermione propôs, mas as outras se encontrou pensando sobre os feitiços que realizou enfrentando as diversas criaturas das trevas e Comensais as Morte, e se encontrou, subconscientemente planejando as lições...

 

- Bem - disse devagar, quando deixou de fingir que antídotos para venenos asiáticos eram interessantes. - Sim, eu pensei um pouco sobre isso.

 

- E? - disse Hermione avidamente.

 

- Eu não sei - olhou para Rony.

 

- Eu acho que é uma boa idéia para começar - disse Rony, que pareceu entusiasmado para se juntar à conversa agora que estava certo que Harry não começaria a gritar de novo.

 

Harry se sentou desconfortável na cadeira.

 

- Você ouviu o que eu falei sobre uma angústia seria sorte, não?

 

- Sim Harry - disse Hermione gentilmente. - Mas tudo bem, não há ninguém dizendo que você é ruim em Defesa Contra as Artes das Trevas, porque você não é. Você foi a única pessoa ano passado que resistiu à Maldição Império completamente, você pôde produzir um patrono, você pôde fazer coisas que muitos bruxos adultos não podem, Vítor sempre disse...

 

Rony olhou para ela tão rápido que parecia que poderia quebrar seu pescoço. Corando, ele disse.

 

- É? O que Vítor disse?

 

- Oh - disse Hermione numa voz aborrecida.- Ele disse que Harry sabia como fazer coisas que até ele não conseguia, e ele estava no último ano da Durmstrang.

 

Rony estava olhando para Hermione.

 

- Você ainda mantém contato com ele, não?

 

- E daí? - disse friamente, seu rosto ficando um pouco rosado. - Eu posso ter um amigo que me corresponde se eu...

 

- Ele não quer ser somente seu amigo correspondente - acusou Rony.

 

Hermione balançou sua cabeça desesperadamente e, ignorando Rony, que estava ainda a olhando, disse a Harry.

 

- O que você acha? Vai nos ensinar?

 

- Só você e Rony, está bem?

 

- Bem - disse Hermione um pouco ansiosa. - Bem... Agora, não fuja de novo, Harry, por favor... Mas eu acho que você ensinaria outra pessoa que queira aprender. Eu digo, nós estamos falando de se defender de Voldemort. Oh, não seja patético Rony. Não parece justo se nós não oferecermos essa chance para outras pessoas.

 

Harry considerou isso por um momento e disse.

 

- Sim, mas eu duvido que alguém exceto vocês dois queiram ser ensinados por mim. Eu sou maluco, lembram?

 

- Bem, eu acho que você ficará surpreso quantas pessoas estão interessadas em ouvir o que você tem para dizer - disse Hermione, séria. - Olha - disse ela olhando para ele, Rony ainda a fitava -, o que você acha o primeiro fim de semana em Hogsmeade? Como seria se nós disséssemos a quem está interessado para nos encontrar no povoado e nós podemos falar sobre isso?

 

- Por que temos que fazer isso fora da escola?

 

- Porque - disse Hermione voltando ao diagrama da Cabana Comedora Chinesa que estava copiando. - Eu não acho que Umbridge estará feliz se descobrir o que queremos fazer.

 

Harry estava ansioso para o fim de semana em Hogsmeade mas havia alguém que o estava preocupando. Sirius estava em silêncio desde que aparecera na lareira no início de setembro; Harry sabia que eles o tinham deixado com raiva dizendo que ele não devia ir, mas ainda estava preocupado. O que fariam se um grande cão negro surgisse nas ruas de Hogsmeade, talvez debaixo do nariz de Draco Malfoy?

 

- Você não pode culpá-lo por querer sair - disse Rony quando Harry falou sobre sua apreensão com ele e Hermione. - Eu digo, ele está foragido por dois anos e eu sei que ele não pode sair livremente mas está livre, não? E ele vive o tempo todo trancado com aquele elfo chato.

 

Hermione olhou aborrecida para Rony, mas ignorou o que o garoto dissera sobre Kreacher.

 

- O problema é - ela disse para Harry -, até Voldemort, qual é, Rony, saindo por aí, Sirius vai ficar escondido, não é? Eu digo, o estúpido Ministério não vai afirmar que Sirius é inocente até acreditarem que Dumbledore está falando a verdade sobre ele. E até pegarem os verdadeiros Comensais da Morte de novo vai ser óbvio que Sirius não é... Eu digo, ele não tem a Marca.

 

- Eu não acho que ele será o bastante estúpido para vir - disse Rony. - Dumbledore vai ficar com raiva se ele fizer e Sirius vai ouvir Dumbledore até mesmo se não gostar do que ouvir.

 

Quando Harry continuou se mostrar preocupado, Hermione disse.

 

- Escute, Rony e eu estivemos sondando as pessoas que achamos que talvez queiram aprender mais sobre Defesa Contra as Artes das Trevas e há várias pessoas que parecem estar interessadas. Eu falei para nos encontrarem em Hogsmeade.

 

- Certo - disse Harry, ainda pensando em Sirius.

 

- Não se preocupe Harry - Hermione disse calma. - Você tem bastante o que pensar sem Sirius.

 

Ela estava certa, é claro, estava guardando seu dever de casa, estava bem melhor que antes agora que não tinha mais detenções com Umbridge. Rony estava mais atrasado em seu trabalho que Harry porque enquanto os dois tinham treino de quadribol duas vezes por semana Rony tinha também outras obrigações. Entretanto, Hermione, que estava tendo mais matérias que eles, não só tinha terminado seu dever de casa mas estava arranjando tempo para roupa de elfos. Harry tinha que admitir que ela estava melhorando, agora estava possível distinguir meias de chapéus.

 

A manhã da visita em Hogsmeade estava escura e arejada. Depois do café da manhã estavam em frente a Filch, que estava marcando seus nomes na lista de alunos que podiam ir para Hogsmeade. Harry se lembrou que não tinha a de Sirius, ele não podia ir.

 

Quando alcançou Filch, este guinchou, tentando detectar algo diferente no garoto. Depois deu uma olhada em seu arquivo de novo e Harry seguiu em frente com passos firmes, para a luz do dia.

 

- Por que Filch estava olhando você? - perguntou Rony enquanto os três se dirigiam aos portões.

 

- Eu acho que ele estava averiguando se sentia cheiro de Bomba de Bosta - disse Harry com uma pequena risada. - Eu me esqueci de dizer a vocês...

 

Ele contou a história da carta para Sirius e Filch aparecendo segundos depois, exigindo ver a correspondência. Para sua surpresa, Hermione pareceu muito interessada, mais do que ele mesmo.

 

- Ele disse que você estava pedindo Bombas de Bosta? Mas quem o fez pensar isso?

 

- Eu não sei - disse Harry. - Talvez Malfoy.

 

- Malfoy? - disse Hermione, séria. - Bem... Sim... Talvez...

 

E ela seguiu para as ruas de Hogsmeade.

 

- Aonde nós vamos? - Harry perguntou. - Três Vassouras?

 

- Não - disse Hermione -, não, está sempre cheio e muito barulhento. Eu falei para os outros nos encontrarem no Hog's Head, outro pub, você conhece o outro, não é na estrada principal. Eu acho que é um pouco... Você sabe... É longe... Mas os alunos normalmente não vão lá, então eu não acho que eles estarão ali.

 

Eles passaram pela avenida da Zonko's, Loja de Logros e Brincadeiras, onde não estavam surpresos em ver Fred, Jorge e Lino Jordan, passaram o correio, com corujas esperando para serem usadas, viraram a rua e pararam próximo a uma bruxa em pé numa pequena entrada. Viram uma porta velha de madeira, com um retrato nela e hesitaram em entrar.

 

- Vamos - disse Hermione, um pouco nervosa.

 

Harry entrou. Não parecia com o Três Vassouras, que era um grande bar limpo e quente. O Hog's Head era pequeno, sujo e sombrio, cheirava forte algo que provavelmente podia ser cabras. As janelas eram tão pequenas que podia se ver muito pouco à luz do dia com velas na mesa de madeira. O chão parecia ser de terra mas quando Harry pisou percebeu que era pedra e parecia ter séculos.

 

Harry se lembrou de Hagrid ter mencionando esse bar no seu primeiro ano. "Tem muitas pessoas engraçadas no Hog's Head", dissera, explicando como ganhara um ovo de dragão de um estranho lá. No momento Harry entendeu por que Hagrid não achou estranho que o homem não mostrou seu rosto no encontro; parecia que era moda manter seu rosto escondido no Hog's Head. Havia um homem no bar cuja cabeça estava escondida numa bandagem cinza, estava bebendo e fumando, duas figuras sentadas numa mesa perto da janela; Harry achou que eram dementadores se não estivessem falando nos acontecimentos de Yorkshire, uma sombra sentada perto da lareira, véu preto até seus dedos. Eles podiam ver somente seu nariz porque o véu era muito grosso.

 

- Eu não sei sobre isso, Hermione - Harry murmurou quando cruzaram o bar. Estava olhando para a bruxa do véu. - Já lhe ocorreu que Umbridge pode estar atrás disso?

 

Hermione olhou apreensiva para a figura com o véu.

 

- Umbridge não é tão pequena quanto aquela mulher - disse quieta. - E, de qualquer forma, se Umbridge vier aqui ela não pode fazer nada para nos deter, Harry, quebraria umas regras da escola. Nós não estamos fora da linha; eu perguntei ao professor Flitwick se alunos sozinhos podem ir ao Hog's Head, e ele me aconselhou trazer meus próprios óculos. E pesquisei tudo sobre grupos de estudos e grupos de lição de casa e estão completamente sós. Eu só não acho que seja uma boa idéia se nós paramos o que estamos fazendo.

 

- Não - disse Harry -, especialmente como não é um grupo de estudos que vocês estão planejando, ou é?

 

Um homem do bar caminhou em direção deles. Parecia um velho com cabelos grisalhos e barba. Era alto e magro e pareceu familiar a Harry.

 

- O quê? - ele grunhiu.

 

- Três cervejas amanteigadas, por favor - disse Hermione.

 

O homem trouxe três vidros sujos.

 

- Seis sicles.

 

- Eu pagarei - disse Harry rápido, passando a moeda de prata. Os olhos do homem fixaram Harry, olhando sua cicatriz. Depois ele se virou e depositou o dinheiro numa caixa de madeira muito velha que abriu automaticamente para receber o dinheiro. Harry, Rony e Hermione se sentaram numa mesa do bar e olharam em volta. O homem das bandagens cinzas pegou outra bebida.

 

- Sabe? - Rony murmurou, olhando para o bar com entusiasmo. - Nós podíamos pedir qualquer coisa que gostarmos aqui. Eu aposto que o velho venderia qualquer coisa para nós, ele não ligaria. Eu sempre quis experimentar Firewhisky.

 

- Você é um monitor - falou Hermione rudemente.

 

- Oh - disse Rony quase sorrindo. - Sim...

 

- Então, quem você disse que talvez nos encontraria? - Harry perguntou, abrindo sua cerveja amanteigada e tomando um gole.

 

- Só algumas pessoas - Hermione respondeu, olhando seu relógio ansiosa, depois olhando a porta. - Eu falei para virem aqui agora e eu tenho certeza que sabem onde é, olha, provavelmente são eles.

 

A porta do pub se abriu. Alguns alunos entraram, o primeiro a vir foi Neville, com Dino e Lilá, seguidos por Parvati e Padma Patil com (o estômago de Harry se virou) Cho e uma das amigas que constantemente davam risadas, depois (ela parecia que tinha entrado por acidente) Luna Lovegood, Katie Bell, Alícia Spinnet e Angelina Johnson, Colin e Dennis Creevey, Ernie Macmillan, Justino Finch-Fletchley, Anna Abbott, uma garota da Lufa-lufa que Harry não conhecia, três garotos da Corvinal que estava certo que se chamavam Anthony Goldstein, Michael Corner e Terry Boot, Gina, seguida por um garoto alto e loiro muito magro Harry o reconheceu vagamente ser membro do time de quadribol da Lufa-lufa, e Fred e Jorge com seu amigo Lino Jordan, todos os três com bolsas da Zonko's.

 

- Poucas pessoas? - disse Harry rouco para Hermione. - Poucas pessoas?

 

- Sim, bem, a idéia se tornou conhecida - disse Hermione, feliz. - Rony, você quer empurrar mais cadeiras?

 

O homem do bar tinha congelado, provavelmente ele nunca viu seu pub tão cheio.

 

- Oi - disse Fred, contando seus companheiros -, nós podemos ter... Vinte cinco cervejas amanteigadas, por favor?

 

O homem olhou para ele por um momento como se tivesse interrompido algo muito importante, passou as cervejas para eles.

 

- Cadeiras - disse Fred. - Calma pessoal, eu tenho ouro bastante para todos...

 

Harry viu muitas pessoas com suas cervejas de Fred e procurando encontrar suas moedas. Ele não podia imaginar que todas essas pessoas vieram para aquele lugar horrível e pensou que poderiam estar esperando um discurso, virou-se para Hermione.

 

- O que você disse para eles? - disse baixo. - O que eles estão esperando?

 

- Eu já lhe disse, eles só querem ouvir o que você tem a dizer - disse Hermione calmamente, mas ele continuou a olhar para ela furioso e ela acrescentou. - Você não tem que fazer nada ainda, eu falarei com eles primeiro.

 

- Oi Harry - disse Neville, que sentou do lado oposto a ele.

 

Harry tentou sorrir de volta mas não falou, sua boca estava muito seca. Cho tinha acabado de sorrir para ele e se sentou à direita de Rony. Sua amiga, que tinha um curto encaracolado e vermelho cabelo, não sorriu mas deu a Harry um olhar desconfiado e disse que por ela não estaria ali.

 

Duas ou três pessoas chegaram, Harry, Rony e Hermione olharam, alguns um pouco excitados outros curiosos, como Luna Lovegood. Quando todos se sentaram a conversa voltou. Todos olhavam Harry.

 

- Er - disse Hermione um pouco nervosa. - Bem, er, oi.

 

O grupo desviou sua atenção para ela, com alguns olhando ainda para Harry.

 

- Bem... Er... Bem, vocês sabem porque estão aqui. Er... Bem, Harry teve uma idéia... Eu digo - Harry deu um olhar estranho -, eu tive a idéia que talvez algumas pessoas queiram estudar Defesa Contra as Artes das Trevas, quero dizer, realmente estudar, vocês sabem, não o que Umbridge está fazendo conosco... - a voz de Hermione ficou mais forte e mais confiante. - Porque ninguém pode chamar aquilo de Defesa Contra as Artes das Trevas...

 

- Escutem, escutem - disse Anthony Goldstein e Hermione olhou para ele.

 

- Bem, eu acho que seria bom se nós, bem, entregarmos problemas nas nossas mãos.

 

Ela parou, olhou para Harry e prosseguiu.

 

- Eu digo aprender como nos defender, não só na teoria, mas fazendo feitiços verdadeiros...

 

- Você quer passar no seu N.O.M. de Defesa Contra Artes das Trevas também? - disse Michael Corner, que a estava olhando de perto.

 

- Claro que sim - disse Hermione. - Mais que isso, eu quero treinar vocês porque... Porque... - ela respirou fundo e concluiu. - Porque Lord Voldemort voltou

 

A reação foi imediata. A amiga de Cho derrubou cerveja amanteigada nela mesma, Terry Boot deu um gritinho involuntário, Padma Patil estremeceu e Neville tossiu. Todos olharam fixamente para Harry.

 

- Bem... Esse é o plano, de qualquer forma - disse Hermione. - Se vocês quiserem se juntar a nós precisamos decidir como faremos...

 

- Onde está a prova que Você-Sabe-Quem está de volta? - disse agressivamente o garoto loiro da Lufa-lufa que jogava quadribol.

 

- Bem, Dumbledore acredita nisso.

 

- Você quer dizer, Dumbledore acredita nele... - disse o garoto, apontando Harry.

 

- Quem é você? - disse Rony, um pouco rude.

 

- Zacharias Smith, e eu acho que nós devemos saber o que ele diz sobre Você-Sabe-Quem retornou.

 

- Olha - disse Hermione, intervindo -, realmente não é só uma suposição sobre...

 

- Está bem, Hermione - disse Harry.

 

Ele pensou por que tinham tantas pessoas lá. Achou que Hermione devia ver essas pessoas. Alguns deles, talvez muitos, tiveram a esperança de ouvir a história de Harry.

 

- O que me fez dizer sobre o retorno de Você-Sabe-Quem? - repetiu olhando Zacharias nos olhos. - Eu o vi. Mas Dumbledore disse para toda a escola o que aconteceu ano passado e se você não acredita nele você não vai acreditar em mim e eu não vou gastar minha tarde tentando convencer qualquer um.

 

O grupo todo pareceu prender a respiração quando Harry falava. Ele teve a impressão que até o homem do bar estava ouvindo, estava limpando o mesmo vidro, fazendo ficar pior.

 

Zacharias disse despreocupado.

 

- Tudo que Dumbledore disse para nós ano passado foi que Você-Sabe-Quem matou Cedrico Diggory e que você trouxe o corpo dele de volta para Hogwarts. Ele não nos deu detalhes, não nos disse exatamente como Diggory foi assassinado, eu acho que todos nós gostaríamos de saber...

 

- Se você veio para ouvir exatamente o que acontece quando Voldemort mata alguém eu não posso ajudá-lo - Harry disse, olhando para rosto furioso de Zacharias e tentando não olhar para Cho. - Eu não quero falar sobre Cedrico Diggory, está bem? Então se você está aqui para isso deve ir embora.

 

Ele olhou para Hermione com raiva. Sentiu todos os sentimentos dela, estava decidida a deixá-lo falando e todos vieram para ouvir sua história. Mas nenhum deles deixou seus assentos, nem mesmo Zacharias, que continuava olhando para Harry.

 

- Então - disse Hermione, sua voz preocupada. - Então... Como eu estava falando... Se vocês querem aprender alguma defesa, depois nós trabalharemos como faremos isso, com que freqüência e onde iremos...

 

- É verdade - interrompeu uma garota com uma trança em suas costas, olhando Harry - que você pode produzir um Patrono?

 

Houve um barulho de interesse do grupo após isso.

 

- Sim.

 

- Um Patrono com forma?

 

Essa frase Harry já tinha ouvido.

 

- Er... Você não conhece Madame Bones, conhece?

 

A garota sorriu.

 

- Ela é minha tia. Eu sou Susan Bones. Ela me disse, então é verdade? Você faz um cervo como Patrono?'.

 

- Sim.

 

- Puxa, Harry! - disse Lino, profundamente impressionado. - Eu nunca soube!

 

- Mamãe disse a Rony para não espalhar por aí - disse Fred, olhando para Harry. - Ela disse que chamaria muita atenção.

 

- Ela não está errada - murmurou Harry e poucos riram.

 

A bruxa com véu sentada sozinha estava atenta a eles.

 

- E você matou um basilisco com a espada do escritório de Dumbledore? - perguntou Terry Boot. - Um retrato me disse quando eu estava lá ano passado...

 

- Er, sim, eu fiz, sim.

 

Justino Finch-Fletcher tossiu; os irmãos Creevey se entreolharam e Lilá Brown disse "Uau!". Harry estava se sentindo corar, estava determinado olhar para outro lugar sem ser para Cho.

 

- Foi no nosso primeiro ano - disse Neville para um grande grupo -, ele salvou a Pedra Filosofante...

 

- Filosofal - corrigiu Hermione.

 

- Sim, de Você-Sabe-Quem - terminou Neville.

 

Os olhos de Anna Abbott estavam tão abertos quanto galeões.

 

- E ninguém falou nada - disse Cho. Os olhos de Harry se viraram para ela; que estava olhando e sorrindo para ele, seu estômago deu outra revirada. - Todas as tarefas que ele teve que passar no Torneio Tribruxo ano passado, passar por dragões, os sereianos, a acromântula e coisas...

 

Fez-se um murmúrio de interesse na mesa. Harry tentava não parecer contente consigo mesmo. Cho o havia elogiado tanto.

 

- Olha - ele disse e todos ficaram em silêncio por um momento. - Eu... Eu não estou tentando ser modesto ou algo parecido, mas... Eu tive muita ajuda para isso tudo...

 

- Não pelo dragão - disse Michael Corner. - Foi uma coisa séria sobre voar...

 

- É, bem... - disse Harry, achando que não teria coragem de descordar.

 

- E ninguém o ajudou desviar dos dementadores esse verão - disse Susan Bones.

 

- Não, não, ok, eu fiz isso sem ajuda, mas o fato é que eu estou tentando fazer isso...

 

- Você quer nos mostrar como se faz isso tudo? - disse Zacharias Smith.

 

- É essa a idéia - disse Rony alto, antes que Harry respondesse. - Por que você não fecha a sua boca?

 

Talvez a palavra "mostrar" afetou Rony. Estava olhando Zacharias como se não tivesse nada para atirar nele. Zacharias corou.

 

- Bem, nós aprenderemos isso tudo e agora ele está dizendo que realmente não pode fazer nada disso.

 

- Não é o que ele está falando - rosnou Fred.

 

- Você gostaria que nós limpássemos sua orelha para você? - perguntou Jorge, tirando um instrumento de metal de uma das bolsas da Zonko's.

 

- Ou qualquer parte de seu corpo, realmente, ou onde nós conseguirmos fazer isso alcançar - disse Fred.

 

- Sim, bem - disse Hermione secamente. - Chega... A questão é: quem quer ter lições com Harry?

 

Fizeram-se murmúrios de aprovação. Zacharias cruzou seus braços e não disse nada, talvez porque estivesse muito ocupado em olhar o instrumento na mão de Fred.

 

- Certo - disse Hermione, olhando aliviada. - Bom depois, a próxima pergunta é com que freqüência nós faremos isso, acho que uma vez por semana, alguma oposição?

 

- Por favor - disse Angelina -, nós precisamos ter certeza que não há aula durante o treino de quadribol

 

- Não - disse Cho -, nem no nosso.

 

- Nem nosso - disse Zacharias Smith.

 

- Eu tenho certeza que podemos encontrar uma noite livre - disse Hermione impaciente -, mas vocês sabem, a importância, de estarmos falando de aprender a nos defender dos Comensais da Morte de Voldemort...

 

- Bem dito! - disse Ernie Macmillan. - Eu acho que é importante, mais importante do qualquer outra coisa que vamos fazer esse ano! - olhou apreensivo, estava esperando pessoas dizerem "Claro que não!", como ninguém falou acrescentou; - Eu estou perdido querendo saber por que o Ministro mandou essa professora inútil num período difícil. Óbvio, eles não acreditam sobre o retorno de Você-Sabe-Quem, mandar uma professora que não quer que a gente faça qualquer feitiço...

 

- Nós achamos a razão de Umbridge não querer que pratiquemos Defesa Contra as Artes das Trevas - disse Hermione - é que ela tem uma idéia ruim de que Dumbledore possa usar os estudantes como um próprio exército. Ela acha que ele pode nos mobilizar contra o Ministério.

 

Todos olharam espantados com as notícias; exceto Luna Lovegood, que começou a falar.

 

- Bem, faz sentido. Cornélio Fudge tem seu próprio exército.

 

- O quê? - disse Harry.

 

- Sim, ele tem o exército de Heliopaths - disse Luna.

 

- Não, ele não tem - respondeu Hermione.

 

- Sim, ele tem - disse Luna.

 

- O que é Heliopaths? - perguntou Neville, branco.

 

- São espíritos do fogo - disse Luna. - Grandes criaturas que galopam pelo chão queimando tudo pela frente...

 

- Eles não existem, Neville - disse Hermione secamente.

 

- Oh, sim, eles existem! - disse Luna com raiva.

 

- Me desculpe, mas há alguma prova disso? - cortou Hermione.

 

- Há muitas vítimas. Só que você é tão limitada sobre coisas que estão de baixo do seu nariz que antes de voc...

 

- Hum, hum - disse Gina, numa bela imitação da professora Umbridge, que muitos olharam e riram. - Nós não estamos tentando decidir com que freqüência nós teremos aulas de defesa?

 

- Sim - disse Hermione. - Sim, nós estamos, você está certa, Gina.

 

- Uma vez por semana parece legal - disse Lino Jordan.

 

- Desde que... - começou Angelina.

 

- Sim, sim, nós sabemos sobre o quadribol - disse Hermione, tensa. - Outra coisa é decidir onde nos encontraremos...

 

Foi um momento difícil para o grupo todo, que ficou em silêncio.

 

- Biblioteca? - sugeriu Katie Bell depois de alguns minutos.

 

- Eu não acho que Madame Pince vai deixar fazermos isso na biblioteca - disse Harry.

 

- Talvez numa sala de aula vazia? - disse Dino.

 

- É - disse Rony -, McGonagall talvez nos deixe usar a dela, ela deixou quando Harry estava praticando para o Tribruxo.

 

Mas Harry achou que McGonnagal não deixaria. Hermione dissera para todos sobre estudar, grupos de estudo sozinhos, ele teve o pressentimento que seria ruim.

 

- Está certo bem, nós tentaremos achar algum lugar - disse Hermione. - Mandaremos uma mensagem para todos quando encontrarmos um lugar para o primeiro encontro. Eu acho que todos devem escrever seus nomes, só para sabermos quem está aqui. Eu também acho - ela respirou fundo - que nós não devemos falar o que estamos fazendo. Principalmente a Umbridge.

 

Fred pegou um pergaminho e escreveu seu nome mas Harry notou que muitos não pareciam felizes pondo seus nomes na lista.

 

- Er... - disse Zacharias devagar, não pegando o pergaminho que Jorge estava tentando passar para ele. - Bem... Eu tenho certeza que Ernie me dirá quando será nosso próximo encontro,.

 

Mas Ernie pareceu hesitante também. Hermione levantou suas sobrancelhas.

 

- Eu... Bem... Nós somos monitores - Ernie falou. - E se essa lista for encontrada... Bem, eu digo... Você disse se Umbridge descobrir...

 

- Você disse para essas pessoas que era a mais importante coisa que você faria esse ano - Harry lembrou.

 

- Eu... Sim, sim eu ainda acredito nisso...

 

- Ernie, você acha que deixaremos essa lista por aí? - disse Hermione.

 

- Não, é claro que não - respondeu, ficando menos ansioso. - Sim, é claro, eu assinarei.

 

Ninguém foi contra depois de Ernie, Harry viu a amiga de Cho com um olhar de reprovação antes de assinar. Quando a última pessoa, Zacharias, assinou Hermione pôs o papel dentro da sacola. Tinha um sentimento estranho no grupo agora. Era como se tivessem feito um tipo de contrato.

 

- Bem, já era tempo - disse Fred. - Jorge, Lino e eu conseguimos itens naturais para compra, nós veremos vocês depois.

 

Em dois ou três minutos o resto do grupo se foi, também.

 

Cho pegou sua mochila rápido antes de ir, seu longo cabelo negro caiu sobre seu rosto como uma cortina, sua amiga ficou atrás dela, impaciente, então não teve opção a não ser sair. Sua amiga a apressou para a porta, Cho olhou e acenou para Harry.

 

- Bem, eu acho que foi bom - disse Hermione contente, quando ela Harry, Rony saíram do Hog's Head e viram o céu ensolarado por seu último momento.

 

Harry e Rony estavam segurando suas garrafas de cerveja amanteigada.

 

- Aquele Zacharias era um chato - disse Rony.

 

- Eu também não gostei dele - admitiu Hermione - mas ele estava lá falando com Ernie, da Lufa-lufa, e pareceu interessado em vir, e o que ele pode dizer? Mas muitas pessoas estão esperançosas, eu digo, Michael Corner e seus amigos não iriam se ele não tivesse saído com Gina...

 

Rony quase derrubou sua garrafa de cerveja amanteigada, engasgou e falou.

 

- Ele fez o QUÊ? - gritou ultrajado, suas orelhas ficando vermelhas. - Ela saiu com... Minha irmã saiu... Você quis dizer, Michael Corner?

 

- Bem, é por isso que os amigos dele vieram, eu acho... Bem, eles estavam interessados em aprender defesa, mas Gina não disse que Michael iria...

 

- Quando isso, quando ela...?

 

- Eles se encontraram no Baile de Inverno e saíram no final do ano passado - disse Hermione. Eles viraram para uma rua principal e ela parou fora da Loja de penas Scrivenshaft, onde tinha uma exibida plena na janela. - Hum... Eu podia comprar uma nova pena.

 

Ela entrou na loja. Harry e Rony a seguiram.

 

- Qual deles era Michael Corner? - falou Rony furioso.

 

- O escuro - disse Hermione.

 

- Eu não gosto dele.

 

- Grande surpresa - disse Hermione respirando fundo.

 

- Mas - disse Rony, seguindo Hermione pelas penas nos potes. - Eu achava que Gina era gamada pelo Harry!

 

Hermione olhou para ele e balançou a cabeça.

 

- Gina era gamada pelo Harry mas ela desistiu meses atrás. Não que ela não goste de você, é claro - acrescentou gentil para Harry enquanto examinava uma longa preta e dourada pena.

 

Harry, cuja cabeça estava cheia pelo aceno de Cho, não estava interessado em Rony, que estava cheio de indignação.

 

- Então é o que ela fala agora? - perguntou a Hermione. - Ela nunca me disse isso.

 

- Exatamente - disse Hermione. - Sim, eu acho que eu quero essa...

 

Ela pagou quinze sicles e dois nuques, com Rony ainda respirando atrás de si.

 

- Rony - ela disse severa, virando-se -, é exatamente por isso que Gina não falou a você, ela sabia que você ia ficar irritado. Então não falou sobre isso.

 

- O que você disse? Quem está ficando irritado? Eu não comentarei nada... - Rony continuou respirando fundo pela rua.

 

Hermione olhou para Harry e depois disse, quando Rony ainda estava falando sobre Michael Corner.

 

- E falando sobre Michael e Gina... E você e Cho?

 

- O que você quer dizer? - disse Harry rapidamente.

 

Havia uma sensação que havia algo queimando dentro dele e seu rosto ficando gelado, deixou que ficasse óbvio?

 

- Bem - disse Hermione sorrindo. - Ela apenas não tira os olhos de você.

 

Harry nunca tinha percebido como a vila de Hogsmeade era bonita.

 

 

DECRETO EDUCACIONAL NUMERO VINTE E QUATRO

Harry se sentiu feliz pelo resto do fim de semana pois terminou todos os deveres. Ele e Rony passaram a maior parte do domingo pondo e dia seus deveres de casa novamente, o que não era divertido, o sol do outono ainda brilhava, olhavam constantemente para fora para ver o sol sob as copas das árvores. Hermione, que tinha terminado todos os seus deveres, trouxe lã e agulhas para fazer mais chapéus e roupas.

 

Sabiam que o que estavam fazendo para resistir a Umbridge e ao Ministério era parecido como uma rebelião, o que deu a Harry uma grande satisfação. Ele ainda estava pensando no encontro do sábado: todas aquelas pessoas foram até a ele para aprender Defesa Contra as Artes das Trevas... Parecia que ouviram muito as coisas que ele fez... E Cho o elogiando pelo Torneio Tribruxo, sabendo que muitas pessoas acreditavam nele, sabiam que não estava mentindo, continuou alegre até segunda de manhã, quando se lembrou das aulas que teria naquele dia.

 

Ele e Rony desceram as escadas do dormitório conversando sobre a idéia de Angelina praticarem uma nova manobra chamada Sloth Grip Roll durante todas as noites dos treinos de Quadribol. E quando tinham atravessado metade da sala comunal perceberam que um pequeno grupo estava os observando atentamente.

 

Um grande aviso foi afixado no quadro de notícias da Grifinória, tão grande que cobria tudo em sua volta, a lista dos livros de feitiços do segundo ano que estavam à venda, lembretes sobres as regras de Argo Filch, horário dos treinos de quadribol, ofertas para trocar figurinhas de Sapos de Chocolate, aviso para as cobaias dos inventos dos Weasley, as datas das visitas para Hogsmeade e últimas notícias. O novo aviso estava em grandes letras negras e tinha uma grande marca perto de uma assinatura.

 

"PELAS ORDENS DA GRANDE INVESTIGADORA DE HOGWARTS

Todas as organizações, sociedades, times, grupos e clubes de estudantes estão de hoje em diante proibidos.

Uma organização, sociedade, time, grupo ou clube com encontros regulares de três ou mais alunos.

Isso foi estabelecido pela Grande Investigadora (Professora Umbridge).

Qualquer organização, sociedade, time ou clube de aluno não poderá existir sem conhecimento e aprovação da Grande Investigadora.

De acordo com o Decreto Educacional Número Vinte e Quatro.

Assinado: Dolores Jane Umbridge, Grande Investigadora."

 

Harry e Rony leram o aviso sobre as cabeças de segundanistas ansiosos.

 

- Isso significa que nós fecharemos os Clube dos Gobstones? - um deles perguntou a seu amigo.

 

- Eu acho que você estará bem com os Gobstones - disse Rony de repente, fazendo o garoto do segundo ano pular. - Eu não acho que nós estamos com sorte, e você? - perguntou a Harry enquanto os garotos do segundo ano iam embora.

 

Harry estava lendo o aviso de novo. Sua felicidade do sábado tinha ido embora. Estava com raiva.

 

- Isso não é uma coincidência - disse com as mãos cerradas. - Ela sabe.

 

- Ela não pode.

 

- Tinha pessoas ouvindo no bar, nós podemos confiar no primeiro que a gente vê... Algum deles pode ter dito a Umbridge...

 

E até podiam conhecê-la, talvez admirá-la...

 

- Zacharias Smith! - disse Rony, dando um soco no ar. - Ou eu acho que podia ser Michael Corner, ele parece ser do tipo que...

 

- Será se Hermione já viu isso? - disse Harry, olhando para a porta do dormitório das garotas.

 

- Vamos lá e falamos com ela - disse Rony, indo até a porta e a empurrando, depois se aproximou da escada de caracol.

 

Ele estava no sexto degrau quando se ouviu um grito que ecoou pelas escadas. Foi um momento tenso, Rony resolveu voltar correndo.

 

- Eu acho que não deveríamos entrar nesse dormitório - disse Harry, tentando não gritar.

 

Duas garotas do quarto ano estavam rindo deles perto do corrimão.

 

- Quem tentou subir? - elas pareciam sorrir, estavam batendo os pés e olhando para Harry e Rony.

 

- Eu - disse Rony tímido, ele não poderia prever algo assim. - Não é justo! - falou com Harry, as garotas olhando rudemente. - Hermione permite, mas nós não...

 

- Bom, é uma regra bem antiga - disse Hermione, que tinha acabado de aparecer - mas isso diz em "Hogwarts: Uma História", que os garotos são menos confiáveis que as garotas. De qualquer forma, por que vocês estavam querendo entrar lá?

 

- Para lhe ver, olhe para isso! - disse Rony, levando-a para o quadro de avisos.

 

Hermione leu, parecia ter petrificado.

 

- Alguém deve ter contado a ela! - disse Rony feroz.

 

- Eles não podem ter feito isso! - disse Hermione fracamente.

 

- Você é tão ingênua, você acha que só porque você é confiável...

 

- Não, eles não podem ter feito isso porque eu pus uma azaração naquele papel que todos nós assinamos - disse Hermione. - Acredite em mim, se alguém contou para Umbridge nós saberemos quem foi.

 

- O que acontecerá com ele? - disse Rony nervoso.

 

- Bem, descobriremos no caminho - disse Hermione -, eu usei a azaração antiacne da Heloíse Midgeon, isso fará aparecer manchas no culpado. Vamos descer para o café da manhã e ver o que os outros pensam... Será que puseram isso em todas as casas?

 

Essa resposta foi dada na hora que entraram no Salão Principal, o aviso de Umbridge não apareceu somente na Torre da Grifinória. Havia um rumor intenso, pessoas nas mesas conversando sobre o que leram. Harry, Rony e Hermione se acomodaram à mesa quando Neville, Dino, Fred, Jorge e Gina vieram em sua direção.

 

- Vocês viram?

 

- Você acha que ela sabe?

 

- O que nós faremos?

 

Todos olhavam Harry, que olhou em volta para ter certeza que não havia professores perto.

 

- Nós faremos isso de qualquer forma, é claro - ele disse baixinho.

 

- Eu sabia que você diria isso - disse Jorge, triunfante, dando tapinhas no braço de Harry.

 

- Os monitores concordam? - disse Fred, interrogando Rony e Hermione.

 

- É claro - disse Hermione secamente.

 

- Aí vem Ernie e Ana Abbott - disse Rony sob seu ombro. - Todos da Corvinal e Smith... Nenhum deles está manchado.

 

Hermione olhou em alarme.

 

- Nenhum manchado, os idiotas não podem vir aqui agora, seria muito suspeito. Sentem-se! - ela murmurou para Ernie e Ana, gesticulando freneticamente para eles voltarem para a mesa da Lufa-lufa. - Depois! Nós... Falaremos... Com... Vocês... Depois!

 

- Eu falarei com Michael - disse Gina impaciente -, o tolo, honestamente...

 

Ela se apressou, passando pela mesa da Corvinal; Harry a viu ir embora. Cho não estava sentada tão longe, falando com sua amiga de cabelos encaracolados que tinha levado para o Hog's Head. Poderia Umbridge saber se eles se encontrassem de novo?

 

Mas as conseqüências do aviso foram embora quando deixaram o Salão Principal para a aula de História da Magia.

 

- Harry! Rony!

 

Era Angelina, que estava apressada olhando para eles desesperada.

 

- Está bem - disse Harry calmo, quando ela estava próximo a ele. - Nós ainda vamos...

 

- Você acha que ela estava incluindo quadribol nisso? - Angelina disse para ele. - Nós temos que pedir permissão para reformar o time de quadribol da Grifinória!

 

- O quê? - disse Harry.

 

- Sem chances - disse Rony.

 

- Você leu o aviso, mencionava times também! Então escute Harry... Eu estou dizendo isso pela última vez... Por favor, por favor, não perca seu controle com Umbridge ou ela pode não nos deixar jogar nunca mais!

 

- Ok, ok - disse Harry, olhando Angelina, que parecia estar com lágrimas nos olhos. - Não se preocupe, eu me comportarei...

 

- Aposto que Umbridge está na aula de História da Magia - disse Rony. - Ela não inspecionou Binns ainda... Aposto qualquer coisa que ela está lá...

 

Mas ele estava errado; o único professor que entrou foi Binns; flutuando através da sua cadeira como sempre e pronto para continuar a falar sobre guerras de gigantes. Harry não prestou no que ele disse; ignorou os olhares de Hermione para ele.

 

- O quê?

 

Ela apontou a janela. Harry olhou em volta. Edwiges estava lá fora, na janela, batendo no vidro, uma mensagem amarrada em sua perna. Harry não pôde entender isso; tinham acabado de tomar café da manhã, por que ela não entregou a carta como o normal? Muitos colegas estavam apontando para Edwiges também.

 

- Oh, eu sempre quis ter essa coruja, ela é tão bonita - Harry ouviu Lilá falando com Parvati.

 

Ele se virou para o professor Binns, que continuou ler o livro, calmo, sem perceber que a atenção da classe fora desviada para outra coisa. Harry saiu de sua cadeira, agachou-se e se apressou para abrir a janela, o que fez muito lento.

 

Esperava que edwiges levantasse sua perna para poder tirar a carta e depois voar para o corujal mas no momento que a janela se abriu ela entrou, parecia que estava triste. Ele fechou a janela com um olhar ansioso para o professor Binns e voltou para seu lugar com edwiges em seu ombro. Ele sentou, transferiu Edwiges para seu colo e tirou a carta de sua perna.

 

Só depois que viu que as penas de edwiges estavam estranhas e ela estava segurando suas asas de um modo diferente.

 

- Ela está ferida! - Harry murmurou, abaixando sua cabeça. Hermione e Rony se aproximaram; Hermione se abaixou. - Olha, há algo errado com a asa dela.

 

Edwiges tremia; quando Harry foi tocar na asa dela esta deu um pequeno salto, todas as penas no final disso estavam inchadas, e o fitava, reprovando-o.

 

- Professor Binns - disse Harry alto e toda a classe olhou para ele. - Eu não estou me sentindo bem.

 

O professor Binns tirou seus olhos do livro, olhando assustado, como sempre, quando olhava para a sala cheia de gente.

 

- Não está se sentindo bem? - repetiu sombriamente.

 

- Não totalmente - disse Harry, com Edwiges aos seus pés logo atrás. - Eu acho que preciso ir à ala hospitalar.

 

- Sim - disse professor Binns, claramente. - Sim... Sim, ala hospitalar... Bem, pode ir, depois, Perkins...

 

Harry saiu da sala, pôs Edwiges no ombro e se apressou pelo corredor, foi quando pensou. Sua primeira escolha para curar Edwiges seria Hagrid, é claro, mas ele não fazia idéia onde Hagrid estava e sua única chance seria a professora Grubbly-Plank, esperava que ela pudesse ajudar.

 

Harry olhou a janela, não parecia que estava próximo a cabana de Hagrid; se não estava dando aula provavelmente estava na sala dos professores. Ele desceu as escadas, Edwiges estava inquieta em seu ombro.

 

Tinha duas estátuas de pedra em forma de gárgula na sala dos professores. Quando Harry se aproximou uma delas falou alto.

 

- Você deveria estar na aula.

 

- É urgente - disse Harry rapidamente.

 

- Oooh, é urgente, não é? - disse a gárgula. - Bem, ponha-se no nosso lugar.

 

Harry bateu. Ouviu passos, depois a porta se abriu deu de cara com a professora McGonagall.

 

- Você pegou outra detenção! - ela disse de repente em tom de alarme.

 

- Não, professora! - disse Harry rapidamente.

 

- Bem, então por que você está fora de sua aula? Espero que seja realmente urgente! - disse ela rudemente.

 

- Eu estou procurando pela professora Grubbly-Plank - Harry explicou. - É minha coruja, ela está machucada.

 

- Sua coruja machucada?

 

A professora Grubbly-Plank apareceu atrás de McGonagall, fumando um cachimbo e segurando uma cópia d'O Profeta Diário.

 

- Sim - disse Harry, levantando Edwiges cuidadosamente em seu ombro. - Ela veio até a mim e sua asa está machucada, olhe...

 

- Hum - disse a professora Grubbly-Plank, com seu cachimbo balançando quando falava. - Parece que algo a atacou. Não posso pensar o que fez isso. Thestrals às vezes gostam de pássaros, mas Hagrid treinou os Thestrals de Hogwarts para não tocar nas corujas.

 

Harry não sabia e nem ligava sobre o que Thestrals eram; só queria saber se Edwiges ficaria bem. McGonagall, entretanto, olhou com raiva para Harry.

 

- Você sabe o quanto essa coruja viajou, Potter? - ela lhe indagou.

 

- Eh - disse Harry -, para Londres, eu acho.

 

Seus olhos se encontraram com os dela e soube quando suas sobrancelhas se uniram que ela havia entendido que "Londres" significava "Grimmauld Place, número 12".

 

A professora Grubbly-Plank se aproximou mais para examinar Edwiges.

 

- Eu gostaria de levá-la comigo, Potter - ela disse. - Ela não deveria estar voando longas distâncias em poucos dias.

 

- Eh, está bem, obrigado - disse Harry rapidamente.

 

- Sem problemas - disse a professora Grubbly-Plank, virando-se e saindo da sala dos professores.

 

- Só um momento, Wilhelmina! - disse a professora McGonagall. - A carta de Potter!

 

- Oh, sim! - disse Harry, que tinha se esquecido da carta na perna de Edwiges. A professora Grubbly-Plank entregou a carta e desapareceu pela sala carregando Edwiges, que estava olhando fixo para Harry.

 

- Potter!

 

- Sim, professora?

 

Ela olhou de relance pelo corredor; tinham alunos vindo em todas as direções.

 

- Controle-se - disse rápida e calma, seus olhos na lista em sua mão. - As vias de comunicação de Hogwarts podem estar sendo olhadas, não acha?

 

- Eu... - disse Harry, mas muitos alunos estavam passando no corredor e quase o carregaram. A professora McGonagall entrou na sala dos professores, deixando Harry ser varrido pelos alunos no corredor. Ele avistou Rony e Hermione e foi até eles. Abriu o pergaminho e encontrou cinco palavras com a letra de Sirius.

 

 "Hoje, mesma hora, mesmo lugar."

 

 - Edwiges está bem? - perguntou Hermione ansiosa.

 

- Onde você a levou? - perguntou Rony.

 

- Para Grubbly-Plank - disse Harry. - E eu encontrei McGonagall... Ouçam...

 

E ele contou o que a professora McGonagall disse. Para sua surpresa eles não pareciam assustados, pelo contrário, se entreolharam.

 

- O quê? - disse Harry, olhando para Rony e Hermione.

 

- Bem, eu estava dizendo para Rony... Que se alguém tentou interceptar Edwiges? Ela nunca foi ferida enquanto voava.

 

- Para quem era a carta? - perguntou Rony, pegando o pergaminho de Harry.

 

- Snuffles - murmurou Harry.

 

- "Mesma hora, mesmo lugar"? Significa o fogo na lareira na sala comunal?

 

- É obvio - disse Hermione, olhando a carta. Estava inquieta. - Espero que ninguém tenha lido isso...

 

- Mas estava selada e tudo mais - disse Harry, tentando se convencer. - E ninguém entenderia se não souberem onde falamos com ele antes, não é?

 

- Eu não sei - disse Hermione ansiosa, jogando sua mochila sobre seus ombros quando a sineta tocou. - Seria difícil selar novamente o pergaminho por mágica... E se alguém está vigiando a Rede de Flu... Mas eu não vejo como podemos avisá-lo para não vir, porque alguém pode perceber!

 

Desceram para a masmorra para Poções, todos os três perdidos em pensamentos, mas foram chamados pela voz de Draco Malfoy, que estava fora da porta da sala de aula de Snape, vigiando imponente e falando mais alto que o necessário, tanto que podiam ouvir cada palavra.

 

- Sim, Umbridge deu permissão ao time de quadribol da Sonserina para continuar jogando, eu fui perguntá-la essa manhã. Foi automático, eu digo, ela conhece meu pai, ele sempre está lá no Ministério... Seria interessante ver se a Grifinória tem permissão para continuar jogando, não é?

 

- Não se levantem - Hermione murmurou, implorando para Harry e Rony, que estavam olhando Malfoy com os rostos contraídos. - É o que ele quer.

 

- Eu quis dizer - disse Malfoy, levantando a voz ainda mais, seus olhos cinzas brilhando maliciosamente na direção de Harry e Rony -, se essa é uma questão de influência no Ministério eu não acho que eles têm muita chance... Pelo que meu pai diz, eles têm procurado uma desculpa para tirar Arthur Weasley por anos... E quanto a Potter... Meu pai diz que é um questão de tempo antes de o Ministério levá-lo para o St. Mungus... Eles têm uma área especial para pessoas que têm o cérebro deteriorado pela mágica.

 

Malfoy fez uma careta, sua boca abriu e seus olhos giraram. Crabbe e Goyle deram grunhidos de risadas; Pansy Parkinson deu uma sonora risada.

 

Algo colidiu com o ombro de Harry e passou direto. Depois de uns segundos ele percebeu que Neville acabara de passar por ele, indo em direção a Malfoy.

 

- Neville, não!

 

Harry segurou atrás da roupa de Neville, este se sacudiu, tentando chegar a Malfoy, que olhou por um momento, chocado.

 

- Me ajude! - Harry falou para Rony, tentando passar seus braços pelo pescoço de Neville e arrastá-lo para longe dos alunos da Sonserina. Crabbe e Goyle cruzaram seus braços e ficaram na frente de Malfoy, prontos para lutar. Rony segurou os braços de Neville e, juntamente com Harry, arrastaram-no para longe da fila da Grifinória. O rosto de Neville estava vermelho; a força que Harry estava fazendo para segurá-lo era enorme mas falou algumas palavras.

 

- Não... Engraçado... Não... Mungus... Mostre... A ele...

 

A porta da masmorra se abriu. Snape apareceu. Seus olhos percorreram a fila da Grifinória e parou onde Harry e Rony estavam segurando Neville.

 

- Brigando, Potter, Weasley e Longbottom? - Snape disse friamente. - Dez pontos da Grifinória. Solte Longbottom, Potter, ou entrará em detenção. Para dentro todos vocês.

 

Harry soltou Neville, que estava arfando e olhando para ele.

 

- Eu tinha que lhe deter - Harry murmurou pegando sua mochila. - Crabbe e Golye fariam você desaparecer.

 

Neville não disse nada, pegou sua mochila e entrou na masmorra.

 

- Em nome de Merlin - disse Rony devagar, seguindo Neville. - O que era aquilo?

 

Harry não respondeu. Sabia exatamente que as pessoas que estavam no St. Mungus sofreram danos mágicos em seu cérebro, como os pais de Neville, mas jurou a Dumbledore que jamais falaria o segredo de Neville. Até mesmo Neville não sabia que Harry sabia.

 

Harry, Rony e Hermione foram até seus lugares que costumavam a sentar, atrás da sala, tiraram suas penas, pergaminhos e seus exemplares de Mil Ervas e Fungos Mágicos. A classe em volta estava murmurando sobre o que Neville tinha acabado de fazer mas quando Snape fechou a porta da masmorra todos imediatamente ficaram em silêncio.

 

- Vocês vão notar - disse Snape baixo, numa voz irônica - que nós temos uma visita conosco hoje.

 

Ele gesticulou em direção a um canto da masmorra e Harry viu a professora Umbridge sentada lá, com uma prancheta em seu joelho. Olhou para Rony e Hermione com as sobrancelhas levantadas. Snape e Umbridge, os dois professores que mais odiava. Era difícil decidir quem mais odiava.

 

- Nós vamos continuar com a Poção da Força hoje. Vocês vão usá-la na poção que vocês fizeram aula passada; se foi corretamente feita no fim de semana, com as instruções - acenou sua varinha de novo - no quadro.

 

A professora Umbridge passou meia hora fazendo anotações. Harry estava tão interessado em ouvir suas perguntas para Snape, tão interessado, que estava se descuidando da poção de novo.

 

- Sangue de Salamandra, Harry! - Hermione o advertiu sobre o ingrediente errado pela terceira vez. - Não suco de pomegranate!

 

- Certo - disse Harry vagamente, adicionando o vidro e continuando a vigiar o canto, Umbridge acabara de se levantar. - Há - ele disse devagar, quando ela passou pelas duas filas de cadeiras, próximo a Snape, que estava olhando o caldeirão de Dino Thomas.

 

- Bom, a classe parece próximo a um nível avançado - ela disse atrás de Snape. - Eu gostaria de perguntar se é aconselhável ensinar uma Poção de Força. Acho que o Ministério preferiria que fosse removida.

 

Snape se virou para fitá-la.

 

- Agora... Quanto tempo você ensina em Hogwarts? - perguntou com sua pena descansada na prancheta.

 

- Quatorze anos - Snape respondeu. Seu rosto estava contraído. Harry o olhava de perto e adicionou algumas gotas a mais em sua poção; que ficou laranja.

 

- Você lecionou primeiro Defesa Contra as Artes das Trevas, não foi? - perguntou Umbridge.

 

- Sim - disse Snape calmo.

 

- Mas não teve sucesso?

 

Snape mordeu os lábios.

 

- É óbvio.

 

A professora Umbridge escreveu em sua prancheta.

 

- E você tem ensinado regulamente Defesa Contra as Artes das Trevas desde que entrou para a escola, eu acho?

 

- Sim - disse Snape quieto, mordendo seus lábios. Parecia irritado.

 

- Você tem alguma idéia por que Dumbledore recusou que você continuasse? - perguntou Umbridge.

 

- Eu sugiro que você pergunte a ele - disse Snape furioso.

 

- Oh, eu devo - disse a professora Umbridge com um doce sorriso.

 

- Eu acho que isso é relevante? - Snape perguntou, com seus olhos semicerrados.

 

- Oh, sim - disse a professora Umbridge. - Sim, o Ministério quer tudo sobre os professores e seus antecedentes.

 

Ela se virou, andou até Pansy Parkinson e começou a perguntá-la sobre as aulas. Snape olhou para Harry e seus olhos se encontraram com os dele por um momento. Harry deixou cair algo em sua poção, que estava exalando um cheiro de queimado no ar.

 

- Errado de novo, Potter - disse Snape maliciosamente, esvaziando o caldeirão de Harry com sua varinha. - Você vai me escrever a correta composição da poção, indicando como e por que você errou, para ser entregue na próxima aula, você entendeu?

 

- Sim - disse Harry furioso.

 

Snape já tinha dado dever de casa e Harry ainda tinha treino de quadribol naquela tarde; significava mais uma noite mal dormida. Não seria possível estar alegre quando acordasse de manhã. Todos os seus sentimentos se transformaram em tristeza até o fim do dia.

 

- Talvez eu deva faltar Adivinhação - disse mal humorado, quando ficaram no pátio após do almoço, a brisa calma batendo em seus rostos. - Eu pretendo ficar doente e fazer esse dever rapidamente, depois eu não terei que fazer isso de noite.

 

- Você não pode faltar Adivinhação - disse Hermione severa.

 

- Estamos falando, você desistiu de Adivinhação, você odeia Trelawney! - disse Rony indignado.

 

- Eu não a odeio - disse Hermione. - Eu só acho que ela é uma fraude. Mas Harry já faltou História da Magia e eu não acho que deva faltar mais nada hoje!

 

Era verdade, não podia ignorar isso, tanto que meia hora depois Harry estava sentado na calorosa e perfumada atmosfera da aula de Adivinhação, com raiva de todos. A professora Trelawney estava olhando as cópias do Oráculo dos Sonhos. Harry achou que seria muito melhor estar fazendo o trabalho de Snape do que ficar sentado interpretando sonhos.

 

Pareceu, entretanto, que não era o único a estar desanimado. A professora deixou a mesa entre Harry e Rony, pegou outra cópia do Oráculo de Dino e Simas e atirou na mesa, quase acertando a cabeça de Simas.

 

- Bem, vamos! - disse a professora Trelawney alto, sua voz ficando um pouco histérica. - Vocês sabem o que fazer! Ou vocês não sabem como abrir um livro?

 

A turma ficou perplexa olhando para ela, depois para cada um. Harry, no entanto, achava que sabia qual era o problema. A professora repentinamente voltou para a cadeira do professor, com seus olhos cheios de lágrimas de raiva, e ele falou próximo de Rony.

 

- Eu acho que ela recebeu os resultados da inspeção.

 

- Professora? - disse Parvati Patil numa voz estranha (ela e Lilá sempre a admiraram). - Professora, tem alguma coisa errada?

 

- Errada! - chorou a professora Trelawney numa voz emocionada. - Claro que não! Eu fui insultada... Insinuações contra mim... Acusações... Mas não, não há nada de errado, certamente!

 

Ela respirou fundo e olhou para Parvati, lágrimas de raiva escorrendo pelo seus óculos.

 

- Eu não disse nada - ela falou chocada - em dezesseis anos de serviço... Se passaram, aparentemente, nada... Mas eu não deveria ser insultada, não, não deveria!

 

- Mas, professora, quem está lhe insultando? - perguntou Parvati tímida.

 

- O estabelecimento! - disse a professora Trelawney, uma profunda, dramática, soluçante voz. - Sim, com esses olhos pelo simples "Eu vejo como, Eu vejo, eu Sei como, eu Sei"... É claro, nós, Videntes, sempre fomos feridos, insultados... É nosso... Nosso fardo.

 

Ela soluçou, limpou suas lágrimas, e depois soluçou. Rony gemeu, Lilá deu um olhar angustiado.

 

- Professora - disse Parvati - a senhora quer dizer... É algo com a professora Umbridge?

 

- Não me fale daquela mulher! - chorou a professora Trelawney, levantando-se trêmula. - Turma, continue com seu trabalho!

 

E ela passou o resto da aula quieta, soluçando, com lágrimas nos olhos e de vez em quando murmurando algo.

 

- ...talvez devemos ir... A indignidade disso... Provavelmente... Nós devemos... Como ela se atreve...

 

- Você e Umbridge têm algo em comum - Harry disse para Hermione quando se encontraram em Defesa Contra as Artes das Trevas. - Ela obviamente reconheceu que Trelawney é uma velha fraude também... Parece que a desaprovaram.

 

Umbridge entrou na sala quando ele falou, com uma expressão de satisfação.

 

- Boa tarde, turma.

 

- Boa tarde Professora Umbridge - todos falaram meio aborrecidos.

 

- Varinhas guardadas, por favor.

 

Mas não houve nenhum movimento anormal, ninguém se opôs a guardar a varinha.

 

- Por favor, vão até a página trinta e quatro da Teoria da Defesa Mágica e leiam o terceiro capítulo, intitulado "O Caso de Não-ofensivos Ataques Mágicos". Tem...

 

- Não precisa falar - disseram Harry, Rony e Hermione juntos.

 

- Sem treino de quadribol - disse Angelina quando Rony, Harry e Hermione entraram na sala comunal depois do jantar.

 

- Mas eu me comportei! - disse Harry horrorizado. - Eu não disse nada a ela, Angelina, eu juro, eu...

 

- Eu sei, eu sei - disse Angelina triste. - Ela apenas disse que precisava de mais tempo para reconsiderar.

 

- Considerar o quê? - disse Rony com raiva. - Ela deu permissão para a Sonserina, por que para nós não?

 

Mas Harry pôde imaginar como Umbridge estava se divertindo punindo o time de quadribol da Grifinória, tentava entender o porquê disso tudo.

 

- Bem - disse Hermione -, olhe pelo lado bom, pelo menos agora você vai poder fazer o trabalho de Snape!

 

- Esse é o lado bom, é? - falou Harry enquanto Rony fitava Hermione incrédulo. - Sem treino de quadribol e mais dever de Poções?

 

Harry sentou em uma cadeira, tirou o dever de Poções da mochila e começou a trabalhar. Era difícil se concentrar; porque sabia que Sirius apareceria no fogo dali a pouco, não podia deixar que ninguém visse. Havia muito barulho na sala: Fred e Jorge fizeram finalmente um perfeito Skiving Snackbox, estavam demonstrando para várias pessoas.

 

Primeiro Fred pegou um pouco do lado laranja, mastigou e vomitou tanto que só parou quando mastigou o lado púrpuro. Lino Jordan, que estava assistindo a demonstração, fez o vômito desaparecer, o mesmo feitiço que Snape usava nas poções de Harry.

 

Com os sons de aprovação, Fred e Jorge davam ordens para as pessoas, Harry estava achando muito difícil se concentrar em seu dever. Hermione não estava ajudando, o som de Fred e Jorge vomitando fez com que ela desse um suspiro de desaprovação.

 

- Apenas vamos e paramos eles! - ele disse irritado, errando na poção pela quarta vez.

 

- Eu não posso, eles não estão fazendo nada errado - disse Hermione entre os dentes. - Eu não encontrei uma regra que diga que outros idiotas não possam comprar nada inútil que seja perigoso, coisa que parece que não é.

 

Ela, Harry e Rony olharam o projeto de vômito de Jorge arrancar aplausos.

 

- Você sabe, eu não entendo por que Fred e Jorge só conseguiram três pontos cada - disse Harry, olhando Fred, Jorge e Lino recolherem dinheiro das pessoas. - Eles realmente sabem fazer essas coisas.

 

- Oh, eles somente sabem fazer essas coisa que são inúteis - disse Hermione.

 

- Inúteis? - disse Rony, discordando. - Hermione, eles conseguiram vinte e seis galeões.

 

Passou-se um tempo, depois todos foram embora. Agora só tinha Harry, Rony e Hermione na sala comunal. Harry teve um pequeno progresso com o dever de Poções e resolveu desistir. Guardou os livros, Rony gemeu algo para a lareira.

 

- Sirius! - ele disse.

 

Harry se virou. A cabeça de Sirius estava no fogo novamente.

 

- Oi - ele disse rouco.

 

- Oi - responderam Harry, Rony e Hermione, todos os três se aproximando da lareira, tentando cobrir a cabeça de Sirius para ninguém mais visse.

 

- Como estão as coisas? - disse Sirius.

 

- Não estão boas - disseram Harry e Hermione.

 

- O Ministério forçou outro decreto, significa que não temos permissão para praticar quadribol...

 

- Ou grupos de Defesa Contra as Artes das Trevas? - disse Sirius.

 

Fez-se uma pausa.

 

- Como você sabe sobre isso? - perguntou Harry.

 

- Vocês precisam escolher seus lugares de encontro mais atentamente - disse Sirius mais rouco. - O Hog's Head, eu lhe pergunto.

 

- Bom, era melhor que o Três Vassouras! - defendeu-se Hermione. - Lá sempre está cheio de gente...

 

- Isso significa que foi difícil os cobrir - disse Sirius. - Você tem que aprender Hermione.

 

- Quem estava nos cobrindo? - perguntou Harry.

 

- Mundungo, é claro - disse Sirius quando olharam desconfiados, ele riu. - Ele era a bruxa atrás do véu.

 

- Aquilo era Mundungo? - disse Harry, espantado. - O que ele estava fazendo no Hog's Head?

 

- O que você acha que ele estava fazendo? Vigiando vocês, é claro.

 

- Eu ainda estou sendo seguido? perguntou Harry com raiva.

 

- Sim. É justo, não é, se a primeira coisa que vocês fazem no seu fim de semana é organizar um grupo ilegal.

 

Mas ele não parecia com raiva nem irritado. Pelo contrário, olhava para Harry com orgulho.

 

- Por que Mundungo estava escondido da gente? - perguntou Rony, parecendo desapontado. - Nós gostaríamos de o ter visto.

 

- Ele foi banido do Hog's Head há vinte anos e o homem do bar tem uma longa memória. Nós perdemos a capa de invisibilidade de Moody quando Sturgius foi levado, então Mundungo se vestiu como uma bruxa há muito tempo... De qualquer forma... Rony, eu mandei uma mensagem para sua mãe.

 

- Ah é? - disse Rony apreensivo.

 

- Ela disse que você não pode fazer parte de um grupo ilegal de Defesa Contra as Artes das Trevas. Disse que você será expulso e seu futuro será arruinado. Disse que você terá tempo suficiente no futuro para aprender como se defender, e que você não tem que se preocupar com isso agora. Ela também - Sirius se virou para os outros dois - aconselhou Harry e Hermione a não continuarem com esta idéia, ela sabe que não tem nenhuma autoridade sobre vocês mas os adora. Ela queria escrever para vocês mas se a coruja fosse interceptada vocês realmente estariam com problemas e ela não pode dizer isso porque está limpando a poeira hoje à noite.

 

- Limpando a poeira o quê? - disse Rony rapidamente.

 

- Coisas da Ordem . Então me mandou como mensageiro para passar esse conselho para vocês e ela depois tem que ter certeza que eu fiz isso, porque eu não acho que ela confia em mim.

 

Houve outra pausa. Rony estava com o coração disparando.

 

- Então você veio me dizer que eu não devo participar do grupo de Defesa? - ele murmurou.

 

- Eu? Claro que não! - disse Sirius surpreso. - Eu acho que é uma grande idéia!

 

- Você acha? - disse Harry, espantado.

 

- É claro que acho! Você acha que eu pai e eu aceitaríamos as ordens de Umbridge?

 

- Mas você me disse para ter cuidado...

 

- Ano passado parecia que tinha alguém em Hogwarts tentando lhe matar, Harry! - disse, impaciente. - Esse ano sabemos que há alguém dentro de Hogwarts que gostaria de matar todos nós, então eu acho que vocês têm que aprender a se defender, essa é uma boa idéia!

 

- E se formos expulsos? - perguntou Hermione.

 

- Hermione, tudo isso foi sua idéia! - disse Harry, olhando fixamente para ela.

 

- Eu sei que foi. Eu só quero saber o que Sirius acha - ela resmungou.

 

- Bem, melhor expulsos e aptos para se defender.

 

- Ouçam, ouçam - disseram Harry e Rony entusiasmados.

 

- Então, como vocês estão organizando esse grupo? Onde vocês estão se encontrando?

 

- Isso é um problema - disse Harry. - Eu não sei onde nós podemos no encontrar.

 

- Que tal a Casa dos Gritos? - sugeriu Sirius.

 

- É uma boa idéia - disse Rony excitado, mas Hermione fez um barulho de desaprovação e todos os três olharam para ela.

 

- Bom, Sirius, vocês quatro se encontravam na Casa dos Gritos porque todos vocês se transformavam em animais e tinham uma capa de invisibilidade. E há vinte e oito de nós e nenhum pode se transformar em animais e não temos muitas capas de invisibilidade...

 

- É justo - disse Sirius. - Bom, eu acho que vocês podem chegar lá, há uma sala de uma passagem secreta atrás de um grande espelho no quarto andar, vocês terão muito espaço para praticarem azarações.

 

- Fred e Jorge disseram que está bloqueada - disse Harry, balançando a cabeça. - Algo dentro.

 

- Oh... - disse Sirius, pensativo. - Eu acho que tenho que voltar para...

 

Seu rosto estava tenso. Ele se virou, olhando para a parede de tijolos da lareira.

 

- Sirius? - disse Harry ansioso.

 

Mas ele desapareceu. Harry olhou as chamas por um momento e se virou para Rony e Hermione.

 

- Por que ele...?

 

Hermione deu um soluço horrível, ainda olhando para o fogo. Uma mão apareceu atrás das chamas, pegando algo, com dedos curtos e com anéis. E os três foram até a ela. Harry olhou para a porta do dormitório dos garotos. A mão de Umbridge estava se movendo atrás das chamas, elas sabia que Sirius estivera lá momentos antes e estava determinada a encontrá-lo.

 

 

O EXÉRCITO DE DUMBLEDORE

- Umbridge anda lendo a sua correspondência, Harry. Não existe outra explicação.

 

- Você acha que ela atacou Edwiges? - ele disse enraivecido.

 

- Estou quase certa disso - disse Hermione assustada. - Cuidado com seu sapo, ele está escapando.

 

Harry apontou sua varinha para o sapo-boi que estava saltando esperançosamente para o outro lado da mesa.

 

- Accio! - e ele voltou direto para sua mão.

 

Feitiços sempre foi uma das melhores aulas para quem quisesse conversar com maior privacidade. Geralmente existe tanto movimento e atividade que o perigo de ser ouvido é muito pequeno. Naquele dia, com a sala particularmente cheia de coachos e grunhidos, além do barulho da chuva batendo na janela da classe, Harry, Rony e Hermione conversavam baixinho sobre como Umbridge tinha quase pego Sirius na noite anterior praticamente despercebidos.

 

- Eu tenho suspeitado disso desde quando Filch acusou você de encomendar bombas de bosta, porque isso parece uma mentira muito estúpida - Hermione sussurrou. - Eu quero dizer, depois que sua carta tivesse sido lida, estaria bem claro que você não as estava encomendado, então você não estaria com nenhum tipo de problema, seria o tipo de piada bem idiota, não? Mas depois eu pensei, e se alguém só queria uma desculpa para ler a sua correspondência? Aí sim seria perfeito para Umbridge arrumar tudo, contar os fatos a Filch, deixar que ele faça o trabalho sujo e confiscasse a carta, depois encontrar um jeito de pegá-la dele e lê-la. Eu não acho que Filch se oporia, já que ele não é nenhum defensor dos direitos dos estudantes, né? Harry, você está esmagando o seu sapo.

 

Harry olhou para baixo, estava apertando seu sapo-boi tão forte que seus olhos estavam quase saltando para fora; recolocou rapidamente o sapo de volta na mesa.

 

- Foi por muito, muito pouco que ela não nos pegou ontem à noite - disse Hermione. - Eu imagino se Umbridge desconfia o quão perto ela chegou. Silencio.

 

O sapo-boi em que ela estava praticando o feitiço silenciador ficou mudo no meio do seu coaxo e olhou para ela com um ar de reprovação.

 

- Se ela tivesse pegado Snuffles...

 

Harry terminou a frase para ela.

 

- Ele estaria provavelmente em Azkaban essa manhã - ele fez um gesto com sua varinha sem concentração; seu sapo-boi inchou como se fosse um balão verde e emitiu um assobio bem alto.

 

- Silencio! - disse Hermione rapidamente, apontando sua varinha para o sapo de Harry, que se esvaziou silenciosamente. - Bem, certamente ele não deve fazer isso de novo. Só não sei como vamos dizer isso a ele. Nós não podemos mandar uma coruja.

 

- Eu não acho que ele vá arriscar de novo - disse Rony. - Ele não é estúpido, ele sabe que ela quase o pegou. Silencio.

 

Um pássaro grande e feio soltou um alto grunhido.

 

- Silencio. SILENCIO!

 

O pássaro grunhiu ainda mais alto.

 

- É o jeito que você esta movendo a sua varinha - disse Hermione, com olhar um olhar crítico. - Você não deve fazer movimentos de onda, é mais como um movimento de ataque.

 

- Pássaros são mais difíceis que sapos - retrucou Rony com os dentes acirrados.

 

- Ok, vamos trocar então - falou Hermione, pegando o pássaro de Rony e recolocando seu sapo-boi no lugar. - Silencio! - o pássaro continuou a abrir e fechar o seu bico mas nenhum som saiu dele.

 

- Muito bem Sta. Granger! - disse a voz esganiçada do professor Flitwick, fazendo Harry, Rony e Hermione pularem. - Agora vamos ver como você se sai Rony.

 

- O qu...? Ah... Ah, tá bom - falou Rony, frustrado. - Er... Silencio!

 

Ele apontou a varinha para o sapo-boi tão bruscamente que acabou acertando seu olho: o sapo deu um coaxo ensurdecedor e pulou fora da mesa.

 

Não foi surpresa para ninguém que Harry e Rony tivessem que praticar o feitiço silenciador como dever de casa adicional.

 

Eles tinham permissão para permanecer dentro do castelo devido ao mau tempo que estava lá fora. Acharam assentos numa sala lotada no primeiro andar, onde Pirraça estava flutuando próximo ao candelabro, ocasionalmente jogando alguns vidros de tinta na cabeça de alguém. Eles mal tinham se sentado quando Angelina veio correndo em sua direção, passando por vários grupos de estudantes que estavam fofocando.

 

- Eu consegui permissão! - ela disse ofegante. - Para reformular o time de quadribol!

 

- Excelente - disseram Rony e Harry juntos.

 

- É - falou Angelina, rindo-se de alegria. - Eu fui falar com a professora Mcgonagall e acho que ela apelou para o Dumbledore. De qualquer jeito, Umbridge teve que nos dar permissão. Ha! Então eu quero que vocês dois estejam hoje no campo às sete horas da noite. Vocês têm noção de que faltam apenas três semanas para a primeira partida?

 

Ela se despediu deles, desviou de um vidro de tinta atirado por Pirraça, que acabou acertando um aluno do primeiro ano, e sumiu de vista.

 

O sorriso de Rony desapareceu assim que ele olhou pela janela, que estava opaca de tanta chuva que caia lá fora.

 

- Espero que o tempo melhore. O que você tem Hermione?

 

Ela também estava olhando para a janela mas não como se estivesse olhando para ela. Seus olhos estavam fora de foco e ela estava franzido sua testa.

 

- Estava pensando... - ela comentou, olhando a chuva lavar a janela.

 

- Sobre Siri... Snuffles? - disse Harry.

 

- Não... Não exatamente... - ela falou devagar. - Estou mais....Imaginando... Suponho que nós estejamos fazendo a coisa certa... Eu acho... Nós não...

 

Harry e Rony olharam um para o outro.

 

- Bem, isso está mais do que claro - disse Rony. - Acho que seria realmente chato se você não tivesse se explicado tão bem.

 

Hermione olhou para ele como se somente agora tivesse percebido que ele estava ali.

 

- Eu estava pensando comigo mesma - ela falou, sua voz bem alta agora -, se nós estamos fazendo a coisa certa começando esse grupo de Defesa Contra as Artes das Trevas.

 

- O quê? - disseram Harry e Rony ao mesmo tempo.

 

- Hermione, essa foi sua idéia em primeiro lugar! - disse Rony indignado.

 

- Eu sei - ela falou, trançando seus dedos. - Mas depois que falamos com Snuffles...

 

- Mas ele concorda com a idéia! - exclamou Harry.

 

- É - disse, encarando a janela novamente. - Foi exatamente isso o que me fez pensar se essa é uma boa idéia mesmo...

 

Pirraça flutuou sobre eles, o revolver de ervilha em punho (um brinquedo); automaticamente os três levantaram suas mochilas para proteger suas cabeças até que ele passasse.

 

- Vamos direto ao ponto - Harry falou com raiva, enquanto colocavam as mochilas de volta ao chão. - Sirius concorda conosco e por isso você acha que nós não devemos mais fazer isso?

 

Hermione parecia tensa. Agora encarando suas próprias mãos.

 

- Você realmente confia no julgamento dele?

 

- Sim, eu confio! - Harry falou de uma só vez. - Ele sempre está nos dando ótimos conselhos!

 

Um vidro de tinta passou por eles, acertando Katie Bell na orelha. Hermione olhou Katie dar um salto e começar a jogar coisas em Pirraça; momentos depois Hermione falou de novo. Parecia que estava escolhendo suas palavras com muito cuidado.

 

- Você não acha que ele se tornou... Um pouco... Imprudente...Desde que ficou preso em Grimmauld Place? Você não acha que ele... Está... Querendo viver através de nós?

 

- O que você quer dizer com "viver através de nós"? - Harry revidou.

 

- Eu quero dizer... Bem, Eu acho que ele teria adorado formar uma sociedade secreta embaixo do nariz de alguém do Ministério... Eu acho que ele está frustrado por poder fazer tão pouco onde ele está... Então pra mim ele está nos instigando.

 

Rony olhou perplexo.

 

- Sirius está certo - ele disse -, você parece mesmo com a minha mãe.

 

Hermione mordeu o lábio e não respondeu. O sinal tocou no momento em que Pirraça desceu até onde estava Katie e esvaziou um frasco inteiro de tinta em sua cabeça.

 

O tempo não melhorou com o passar do dia, então às sete horas daquela noite, quando Harry e Rony desceram para o treino de quadribol, estavam totalmente ensopados em minutos, seus pés deslizando através da grama molhada. O céu estava cinza e repleto de trovões, foi um alívio ganhar o calor e as luzes do vestiário, ainda que soubessem que era apenas por pouco tempo. Encontram Fred e Jorge discutindo se deviam ou não usar a Skiving Snackbox para escapar do treino.

 

- ...mas eu aposto que ela saberia se nós fizéssemos isso - disse Fred pelo canto da boca. - Se eu pelo menos não tivesse oferecido a ela algumas pílulas de vômito ontem.

 

- Nós podíamos tentar a "Febre de Fudge" - Jorge murmurou -, ninguém viu essa ainda...

 

- E ela funciona? - perguntou Rony esperançoso, enquanto a chuva caía cada vez mais forte e o vento se intensificava ao redor do prédio.

 

- Bem, funciona - disse Fred -, a sua temperatura vai subir bastante.

 

- Mas vão nascer em você furúnculos cheios de pus também - completou Jorge -, nós ainda não chegamos na parte de como fazê-los desaparecer.

 

- Eu não estou vendo nenhum furúnculo - disse Rony, encarando os gêmeos.

 

- É claro que você não pode ver - Fred falou baixinho -, eles não estão em um lugar que geralmente mostramos para o público. Mas quando você senta numa vassoura elas fazem você sentir uma baita dor na...

 

- Muito bem, todo mundo, ouçam-me - disse Angelina bem alto, saindo da sala do capitão. - Eu sei que esse não é o tempo ideal mas existe uma chance de nós jogarmos contra Sonserina nessas condições, então é uma boa idéia sabermos como vamos lidar com eles se isso acontecer. Harry, você não fez algo com seus óculos para impedir que eles ficassem embaçados quando jogamos contra a Lufa-lufa?

 

- Ah, isso foi Hermione - Harry comentou. Puxou sua varinha bateu nos seus óculos e disse. - Impervius!

 

- Eu acho que todos nós devíamos tentar isso - disse Angelina. - Se nós pudermos manter a chuva fora das nossas caras, já ajudará bastante na visibilidade - Vamos lá, todos juntos. Impervius.

 

Todos guardaram suas varinhas nas capas, colocaram as vassouras nos ombros e seguiram Angelina para fora do vestiário.

 

Caminharam silenciosamente até o meio do campo enlamaçado; a visibilidade ainda era muito ruim apesar do feitiço Impervius; a luz desaparecia rapidamente e cortinas de chuva lavavam o chão.

 

- Vamos lá, quando eu assobiar - gritou Angelina.

 

Harry deu impulso e saiu do chão espalhando lama para todas as direções, o vento o colocando fora do curso a todo momento.

 

Não tinha nenhuma idéia de como veria o pomo de ouro com aquele tempo; estava tendo bastante dificuldade em ver até mesmo os balaços; pouco mais de um minuto de treino um balaço quase o derrubou da vassoura. Felizmente, Angelina não viu isso. De fato, ela parecia incapaz de ver qualquer coisa; nenhum deles tinha qualquer idéia do que o outro estava fazendo. O vento estava cortante; Harry podia ouvir o assobio e o triturar da chuva se encontrando com a superfície do lago.

 

Angelina manteve o treino por pelo menos uma hora antes de conceder a derrota. Ela liderou seu time molhado e decepcionado de volta para o vestiário, insistindo que o treino não tinha sido uma perda de tempo, embora não existisse convicção nenhuma em sua voz. Fred e Jorge estavam parecendo particularmente perturbados; ambos estavam mancando de uma perna a cada movimento que faziam. Harry pôde ouvi-los reclamando enquanto secava os cabelos.

 

- Eu acho que alguns dos meus estouraram - disse Fred com uma voz sofrível.

 

- Os meus não - reclamou Jorge, trincando os dentes -, eles estão pulsando como loucos...

 

- OUCH! - gritou Harry.

 

Ele pressionou a toalha em seu rosto, seus olhos apertados de tanta dor. A cicatriz na sua testa estava queimando de novo, mais dolorosamente do que esteve em semanas.

 

- O que houve?! - várias vozes perguntaram.

 

Harry apareceu atrás de sua toalha; o vestiário estava todo embaçado porque não estava usando seus óculos, mesmo assim pôde perceber que todos os rostos estavam virados na sua direção.

 

- Nada - ele sussurrou. - Eu... Acertei meu olho acidentalmente.

 

Mas Rony deu a ele um olhar significativo enquanto o resto do time se dirigia para fora, todos vestindo seus casacos, seus chapéus puxados abaixo da orelha.

 

- O que aconteceu? - disse Rony, no momento em que Alicia desaparecia pela porta. - Foi a sua cicatriz?

 

Harry confirmou com a cabeça.

 

- Mas... - parecendo assustado, Rony andou até a janela e olhou para a chuva. - Ele... Ele não pode estar perto de nós agora, pode?

 

- Não - Harry murmurou, esfregando com força a sua testa. - Ele está a quilômetros de distancia provavelmente. A cicatriz dói porque... Ele está... Furioso.

 

Harry não pretendia dizer aquilo - e ouviu essas palavras como se um estranho as tivesse falado. No entanto ele sabia que aquilo era verdade. Ele não tinha idéia de como sabia aquilo, só tinha certeza que sabia. Voldemort, onde quer que ele estivesse e seja lá o que estivesse fazendo, estava de muito mau humor.

 

- Você o viu? - perguntou Rony, parecendo horrorizado. - Você... Teve uma visão, ou algo do tipo?

 

Harry se sentou em silêncio, encarando seus pés, deixando que sua mente e sua memória relaxassem depois da dor.

 

Uma confusa mistura de sombras, um cochicho de vozes...

 

- Ele quer que algo seja feito e isso não está acontecendo tão rápido como ele deseja - completou.

 

Outra vez se sentiu surpreso ao ouvir palavras saindo de sua boca e mais uma vez teve certeza de que eram verdade.

 

- Mas... Como você sabe? - perguntou Rony.

 

Harry balançou a cabeça e cobriu seus olhos com suas mãos, pressionando-os com a palma. Pequenas estrelas apareceram. Ele sentiu Rony se sentar no assento a sua frente. E sabia que Rony o estava encarando.

 

- Foi isso que aconteceu da outra vez? - falou Rony com uma certa calma na voz. - Quando sua cicatriz doeu no escritório da Umbridge. Você-Sabe-Quem estava brabo?

 

Harry sacudiu negativamente sua cabeça.

 

- O que foi então?

 

Harry estava pensando consigo mesmo. Ele tinha olhando para a cara de Umbridge... Sua cicatriz tinha doído... E ele tinha tido um estranho sentimento em seu estômago... Um estranho, sentimento que saltava... Um sentimento feliz... Mas é claro, ele não tinha reconhecido no momento porque estava se sentindo miserável...

 

- A última vez aconteceu porque ele estava se sentido satisfeito - disse. - Realmente satisfeito. Ele pensou... Que alguma coisa boa aconteceria. E na noite anterior de voltarmos para Hogwarts.... - ele voltou seu pensamento para o momento em que sua cicatriz tinha doido demais em seu quarto em Grimmauld Place... - Ele estava furioso.

 

Ele voltou seu olhar para Rony, que o estava olhando boquiaberto.

 

- Você poderia tomar o lugar da professora Trelawney - disse com pavor em sua voz.

 

- Eu não estou fazendo profecias - replicou Harry.

 

- Não, você sabe o que você está fazendo? - Rony falou parecendo assustado e impressionado ao mesmo tempo. - Harry, você está lendo a mente de Você-Sabe-Quem!

 

- Não - disse Harry, balançando a cabeça. - Eu acredito que é mais como se fosse... Seu humor. Eu só estou tendo acesso sobre o que ele anda sentindo. Dumbledore já me falou algo parecido o ano passado. Comentou que eu poderia dizer quando Voldemort está perto de mim ou se está sentindo muito ódio. Bem, agora eu posso sentir quando ele está se sentindo feliz também...

 

Houve uma pausa. O vento e a chuva chicoteavam o prédio.

 

- Você tem que dizer isso a alguém - concluiu Rony.

 

- Eu já disse isso a Sirius da última vez!

 

- Bem, conte a ele essa vez também!

 

- Eu não posso, não é? - Harry falou com raiva. - Umbridge está vigiando as corujas e as lareiras, esqueceu?

 

- Diga a Dumbledore então.

 

- Eu acabei de dizer a você que ele já sabe - disse Harry secamente, levantando, e colocando seu casaco. - Não existe sentido em dizer isso de novo a ele.

 

Rony colocou seu casaco o mais rápido que pôde, olhando com ponderação para o amigo.

 

- Tenho certeza que Dumbledore gostaria de saber.

 

Harry encolheu os ombros.

 

- Vamos lá... Nós ainda temos que praticar o Feitiço Silenciador.

 

Saíram pela escuridão do campo, escorregando e tropeçando pelas poças de lama, mas não conversaram. Harry estava pensando muito. O que será que Voldemort queria que fosse feito e que não estava acontecendo rápido o suficiente?

 

"...ele tem outros planos... Planos que quer pôr em operação com a maior discrição... Coisas que ele só pode conseguir com reserva... Como uma arma. Alguma coisa que ele não tinha da última vez."

 

Harry não tinha pensando nessas palavras por semanas, estava absorto demais em saber o que estava acontecendo em Hogwarts, ocupado demais com os problemas que tinha com Umbridge, a injustiça de toda interferência do Ministério... Mas agora essas palavras voltavam à sua mente e o faziam imaginar...A raiva que Voldemort tinha sentindo se ele não estava conseguindo chegar perto da arma que desejava, ou seja lá o que isso fosse. Será que a Ordem tinha o impedido de conseguí-la? Onde será que ela estava escondida? Quem será que a tinha em seu poder?

 

- "Mimbulus mimbletonia" - soou a voz de Rony e Harry voltou a si bem em tempo de passar pelo retrato que dava para a sala comunal.

 

Hermione parecia ter ido para a cama mais cedo, deixando Bichento enrolado numa cadeira e seus chapéus de tricô para os elfos domésticos na mesa perto do fogo. Harry estava grato que ela não estava por ali porque não queria discutir de novo sobre a dor em sua cicatriz, nem ouvir sua suplica para que fosse ver Dumbledore novamente. Rony continuou a observá-lo com olhares furtivos mas Harry puxou para perto de si seus livros de Feitiço e começou a procurar alguma coisa que lhe ajudasse na sua lição de casa. Na verdade estava somente fingindo estar concentrado, porque quando Rony disse a ele que iria dormir mal tinha escrito alguma coisa.

 

A meia noite chegou e se foi enquanto Harry estava lendo e relendo uma passagem que falava sobre os usos da "erva-escoburta", mal entendendo o que isso queria dizer.

 

"Essas plantas são muito eficazes na inflamação de cérebros e muito utilizadas para confundir correntes de ar, onde os magos estão imprudentes...."

 

...Hermione disse que Sirius se tornou imprudente por estar preso em Grimmauld Place...

 

"...plantas são muito eficazes na inflamação de cérebros..."

 

...o Profeta Diário pensaria que seu cérebro estava inflamado se soubessem que ele sabia o que Voldemort estava sentido...

 

"...muito utilizadas para confundir..."

 

Confundir era a palavra certa; por que ele sabia o que Voldemort estava sentindo? Qual era a estranha conexão entre eles, que Dumbledore nunca explicou satisfatoriamente?

 

"...onde os magos estão..."

 

...como Harry gostaria de dormir...

 

"...imprudentes..."

 

...estava quentinho e confortável numa cadeira perante a lareira, a chuva ainda batendo fortemente na janela, Bichento ronronava, o fogo crepitava...

 

O livro escorregou das mãos de Harry e caiu fazendo um barulho estampido no tapete.

 

Estava mais uma vez andando no corredor sem janelas, seus passos ecoando pelo silêncio. Conforme a porta do final da passagem parecia maior seu coração batia cheio de excitação... Se ele pelo menos pudesse abri-la... Descobrir o que estava atrás dela...

 

Ele esticou suas mãos... A ponta de seus dedos estavam centímetros da porta...

 

- Harry Potter, meu senhor!

 

Ele acordou com um sobressalto. As velas tinham se extinguido da sala comunal mas havia alguma coisa se movendo perto dele.

 

- Quem está aí? - disse Harry, sentando-se direito na cadeira. O fogo tinha praticamente acabado, a sala estava muito escura.

 

- Dobby está com a sua coruja, meu senhor! - uma voz aguda respondeu.

 

- Dobby? - disse Harry rapidamente, espreitando seus olhos para o lugar de onde tinha vindo a voz.

 

Dobby, o elfo-doméstico, estava parado perto da mesa na qual Hermione tinha deixado uma dúzia de chapéus de lã. Suas orelhas grandes e pontudas estavam cobertas pelo que parecia ser todos os chapéus que Hermione tinha tricotado; estava usando um chapéu em cima de outro, parecia que sua cabeça tinha aumentado vinte ou trinta centímetros. No topo deles estava sentada Edwiges, que assobiava serenamente e estava obviamente curada.

 

- Dobby se voluntariou para trazer de volta a coruja do Harry Potter - disse o elfo esguiçado, com um olhar de adoração em sua face -, a professora Grubbly-Plank disse que ela está bem agora, meu senhor! - ele fez uma reverência tão grande que o seu nariz em forma de lápis bateu na superfície do tapete. Edwiges deu um pio de indignação e voou para o braço da cadeira de Harry.

 

- Obrigado Dobby! - disse Harry, acariciando a cabeça de Edwiges e piscando várias vezes para tentar esquecer a imagem da porta em seu sonho... Tinha sido tão real. Olhando mais atentamente para Dobby ele notou que o elfo estava usando algumas echarpes e tantas meias que seu pé parecia grande demais para seu corpo. - Er... Você esteve pegando todas as roupas que Hermione tem deixado?

 

- Oh, não, meu senhor - disse Dobby contente. - Dobby tem pegado algumas para Winky também meu senhor!

 

- Ah sim...Como esta Winky?

 

As orelhas de Dobby se abaixaram significativamente.

 

- Winky ainda tem bebido muito, meu senhor - disse com tristeza, seus enormes olhos verdes grandes como bola de tênis reprimidos. - Ela ainda não liga para as roupas, Harry Potter. Nem os outros elfos-domésticos. Nenhum deles quer limpar mais a Torre de Grifinória, não com todos esses chapéus e meias escondidas por todo lugar. Eles acham que elas são um insulto, meu senhor. Dobby limpa tudo sozinho, meu senhor, mas Dobby não se importa, meu senhor, por que ele sempre espera encontrar Harry Potter e hoje à noite ele conseguiu seu desejo, meu senhor! - Dobby fez uma grande reverência novamente. - Mas Harry Potter não parece estar muito feliz - Dobby voltou seu olhar timidamente para Harry. - Dobby ouviu ele sussurrando quando estava dormindo. Harry Potter estava tendo sonhos ruins?

 

- Não tão ruins - disse Harry, bocejando e esfregando seus olhos. - Já tive piores.

 

O elfo estudou Harry com seus grandes olhos verdes. Então disse bem sério, suas orelhas se abaixando.

 

- Dobby deseja poder ajudar Harry Potter, porque Harry Potter libertou Dobby e Dobby está muito, muito mais feliz agora.

 

Harry sorriu.

 

- Você não pode me ajudar, Dobby, mas obrigado pela oferta.

 

Ele se abaixou e pegou seu livro de Poções. Tentaria terminar aquela lição no dia seguinte. Ao fechar o livro viu através da iluminação da lareira as pequenas cicatrizes brancas em sua mão - resultado das detenções passadas com Umbridge.

 

- Espere um momento. Há alguma coisa que você pode fazer por mim, Dobby - disse Harry devagar.

 

O elfo olhou de volta maravilhado.

 

- É só dizer, Harry Potter, meu senhor.

 

- Eu preciso achar um lugar onde vinte e oito pessoas possam praticar Defesa Contra as Artes das Trevas sem serem descobertos por ninguém. Especialmente - Harry apoiou sua mão no livro para que a cicatriz aparecesse ainda mais. - A professora Umbridge.

 

Ele estava esperando que o sorriso do elfo desaparecesse, que suas orelhas abaixassem; esperava que o elfo dissesse que aquilo era impossível ou que devia procurar outro lugar, suas esperanças não eram grandes. O que não esperava era ver Dobby dar um pequeno salto, balançar suas orelhas alegremente e bater pequenas palmas.

 

- Dobby conhece um lugar perfeito, meu senhor! - disse contente. - Dobby ouviu dizer dele assim que chegou a Hogwarts. Ela é conhecida por nós como a Sala que Aparece e Desaparece, meu senhor, ou como a Sala da Requisição!

 

- Por quê? - perguntou Harry com curiosidade.

 

- Porque é uma sala que uma pessoa só pode entrar - Dobby disse sério - quando realmente precisa dela. Algumas vezes ela está lá e outras não, mas quando ela aparecesse está sempre equipada com tudo que a pessoa que a desejou precisa. Dobby já a usou uma vez, meu senhor - o elfo disse, abaixando sua voz, parecendo culpado - quando Whinky estava muito bêbada; ele a escondeu na Sala da Requisição e encontrou antídotos para cerveja amanteigada e uma cama de elfo para deixá-la lá enquanto estivesse adormecida... E Dobby sabe que o Sr. Filch encontrou material extra de limpeza lá quando precisou, meu senhor, e...

 

- E se você realmente precisasse de um banheiro - disse Harry, lembrando de repente de uma coisa que Dumbledore tinha dito no Natal anterior - ela se encheria de vasos sanitários?

 

- Dobby acredita que sim, meu senhor - o elfo concordou com a cabeça. - É uma sala impressionante, meu senhor!

 

- Quantas pessoas sabem sobre ela? - perguntou Harry, sentando-se direito na cadeira.

 

- Pouquíssimas, meu senhor. A maioria das pessoas a encontram quando realmente precisam de algo mas depois não conseguem mais encontrá-la, eles não sabem que ela sempre está ali, só esperando para ser chamada.

 

- Parece brilhante - concluiu Harry, seu coração em disparada. - Parece perfeito, Dobby. Quando você pode me levar até lá?

 

- A qualquer hora, Harry Potter - disse Dobby, parecendo satisfeito com o entusiasmo de Harry. - Nós podemos ir agora, se você quiser!

 

Por um momento Harry pareceu tentado em acompanhar Dobby. Estava se levantando de seu assento, com a intenção de pegar sua capa da invisibilidade quando, não pela primeira vez, uma voz muito parecida com a de Hermione sussurrou em seu ouvido: imprudência. Apesar de tudo era muito tarde, estava exausto e tinha a tarefa de Snape para terminar.

 

- Não esta noite, Dobby - Harry falou com relutância, sentando-se em sua cadeira novamente. - Isso é realmente importante... Eu não quero estragar as coisas, preciso planejar tudo. Ouça, você pode só me dizer onde fica exatamente essa Sala da Requisição e o que eu devo fazer para entrar nela?

 

Suas vestes se enrolaram neles quando caminhavam pela vegetação encharcada para irem assistir a aula dupla de Herbologia, onde mal podiam ouvir o que a professora Sprout estava dizendo devido ao intenso barulho que a chuva fazia no teto das estufas. À tarde, a aula de Trato das Criaturas Mágicas foi transferida para uma classe no primeiro andar devido a intensa tempestade. Para o alívio de Rony e Harry, Angelina veio dizer na hora do almoço que a treino para praticar quadribol tinha sido cancelado.

 

- Ótimo - disse Harry calmamente, assim que ela contou a ele -, porque eu encontrei um lugar onde nós poderemos ter nosso primeiro encontro de Defesa. Hoje, às oito horas da noite, no sétimo andar, bem na frente daquele tapete onde Barnabas está sendo golpeado por alguns trasgos. Você pode dizer isso a Katie e Alicia?

 

Ela olhou para trás com grande curiosidade mas prometeu falar aos outros. Harry retornou faminto para suas salsichas e purê. Quando olhou para cima para beber um pouco de suco de abóbora encontrou Hermione o encarando.

 

- O que foi? - perguntou intrigado.

 

- Bem... É que os planos de Dobby nem sempre são seguros. Você não se lembra quando ele o fez perder todos os ossos do seu braço?

 

- Essa sala não é uma idéia maluca de Dobby; Dumbledore a conhece também, ele a mencionou durante o Baile de Inverno no ano passado.

 

A expressão de Hermione se tornou mais serena.

 

- Dumbledore lhe contou sobre ela?

 

- Foi só um comentário momentâneo - Harry deu de ombros.

 

- Se é assim, então está tudo certo - Hermione falou rapidamente e sem fazer mais objeções.

 

Juntos, eles passaram a maior parte do dia procurando por aquelas pessoas que tinham assinado seus nomes na lista de Hog's Head e dizendo a elas onde deveriam se encontrar àquela noite. Para o desapontamento de Harry, Gina foi quem ficou encarregada de encontrar Cho Chang e sua amiga; no entanto, no final do jantar, tinha certeza que a notícia tinha sido passada para cada uma das vinte e oito pessoas que tinham assinado a lista em Hog's Head.

 

Às sete e meia Harry, Rony e Hermione deixaram a sala comunal da Grifinória, Harry segurando com força um certo pedaço de pergaminho velho em sua mão. Os alunos do quinto ano tinham permissão para andar nos corredores até as nove horas da noite, mas os três estavam olhando para todos os lados nervosamente assim que atingiram o sétimo andar.

 

- Esperem um pouco - avisou Harry, abrindo o pedaço de pergaminho no topo da escada, batendo nele com sua varinha e sussurrando: - Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom.

 

Um mapa de Hogwarts apareceu na superfície branca do pergaminho. Pequenos pontos pretos rotulados com nomes, mostravam a localização de algumas pessoas.

 

- Filch está no segundo andar - falou Harry, colocando o mapa perto de seus olhos - e Madame Nor-r-ra está no quarto.

 

- E Umbridge? - disse Hermione com ansiedade.

 

- Está em seu escritório - Harry apontou o mapa. - Ok, vamos lá então.

 

Eles se apressaram pelo corredor em direção ao lugar que Dobby descreveu para Harry, uma grande parede branca e em oposição a ela uma enorme tapeçaria onde Barnabas estava sendo golpeado por trasgos.

 

- Ok - disse Harry devagar, quando um trasgo parou seus golpes e começou a observá-los. - Dobby me falou para caminhar entre essas paredes três vezes e se concentrar naquilo que nós precisamos.

 

Eles fizeram isso, passando depressa pela janela perante a enorme parede branca e então voltando para um vaso de tamanho natural que estava do outro lado. Rony tinha espremido seus olhos em concentração; Hermione estava sussurrando alguma coisa; Os punhos de Harry estavam acirrados conforme ele olhava para eles.

 

"Nós precisamos de um lugar para aprender a lutar...", ele pensou. "Nos dê um lugar para praticar... Um local onde não possam nós encontrar..."

 

- Harry! - gritou Hermione tremendo, conforme eles estavam dando a volta pela terceira vez.

 

Uma porta bastante lustrada apareceu na parede. Rony estava olhando para ela parecendo desconfiado.

 

Harry caminhou em direção a ela, segurou a maçaneta, puxou a porta e liderou o caminho para uma espaçosa sala iluminada com inúmeras tochas iguais a aquelas que iluminavam o oitavo andar.

 

As paredes estavam enfileiras com estantes cheias de livros e no chão havia almofadas de seda bem grandes, ao invés de cadeiras. Um conjunto de prateleiras perto do fim da sala estava carregado de instrumentos tais como bisbilhoscópios, sensores de segredos e uma grande espelho-de-inimigos quebrado que Harry tinha certeza ter visto no ano anterior no escritório do impostor de Moody.

 

- Isso vai ser bom quando nós estivermos praticando estonteamento - disse Rony com entusiasmo, testando uma das almofadas com o pé.

 

- E olhe só para esses livros! - disse Hermione, excitada, percorrendo com seus dedos as lombadas dos grandes livros de couro. - "Um Compendio das Maldições Comuns e suas Contra-maldições"...

 

"O Guia de Defesa Contra a Arte das Trevas"... "Feitiços para Proteger a si mesmo"... Uau... - ela olhou para Harry, suas bochechas acaloradas, e ele viu que a presença de centenas de livros finalmente convenceram Hermione que o que estavam fazendo estava certo. - Harry, isso é maravilhoso, tudo de que precisamos está aqui!

 

E sem deslizar mais seus dedos pelos livros, pegou um exemplar de "Má Sorte para os Amaldiçoados" e se pôs a ler na almofada mais próxima.

 

Ouviu-se um tímido barulho de bater na porta. Harry se virou e olhou. Gina, Neville, Lilá, Parvati e Dino tinham chegado.

 

- Uau - disse Dino, olhando a sala impressionado. - Que lugar é este?

 

Harry começou a explicar mas antes de terminar muitas outras pessoas começaram a chegar e teve que começar tudo de novo. Por volta das oito horas todas as almofadas estavam ocupadas. Harry se voltou até a porta e virou a chave para trancá-la; ela fez um clique como se fosse um ruído de satisfação e todo mundo ficou em silêncio, olhando para ele. Hermione marcou sua pagina de "Má Sorte para os Amaldiçoados" e colocou o livro de lado.

 

- Bem - disse Harry parecendo nervoso. - Esse é o lugar que nós encontramos para praticar nossas reuniões, e vocês... Er... Obviamente a encontraram.

 

- É fantástico! - falou Cho e algumas pessoas murmuraram em concordância.

 

- É bizarro - disse Fred, olhando a sala. - Nós uma vez nos escondemos de Filch aqui, lembra Jorge? Mas ela era somente um armário de vassouras para nós.

 

- Hey, Harry, o que são essas coisas? - perguntou Dino, de costas para a sala, indicando o bisbilhoscópio e o espelho-de-inimigos.

 

- São detectores de presença maligna - disse Harry, pulando pelas almofadas para alcançá-los. - Basicamente eles mostram quando bruxos do mal ou inimigos estão por perto, mas não contem totalmente com eles, podem ser enganados.

 

Harry encarou o espelho-de-inimigos quebrado por uns instantes; figuras sombrias estavam se movendo dentro dele; embora nenhuma fosse reconhecível. Virou de costas para o espelho.

 

- Bem, eu estive pensando sobre o que nós deveríamos fazer primeiro e... Er- ele notou uma mão se levantar. - O quê, Hermione?

 

- Eu acho que nós devíamos eleger um líder - disse Hermione.

 

- Harry é o líder - falou Cho de súbito, olhando para Hermione como se ela fosse louca.

 

O estômago de Harry deu outro salto.

 

- Eu sei, mas nós devemos votar nisso propriamente - disse Hermione sem perturbação. - Transforma a votação num ato formal e dá a ele autoridade. Então, todos acham que Harry deve ser o líder?

 

Todo mundo levantou a mão, até mesmo Zacharias Smith, embora sem muita vontade no coração.

 

- Er... Certo, obrigado - disse Harry, que podia sentir sua face queimando. - E... O quê, Hermione?

 

- Eu também acho que nós deveríamos ter um nome - falou claramente, sua mão ainda no ar. - Promoveria um sentimento de espírito de equipe e união, você não acha?

 

- Nós podemos ser o "Esquadrão Anti-Umbridge?" - disse Angelina esperançosa.

 

- Ou o "Ministério da Magia é um Grupo de Idiotas?" - sugeriu Fred.

 

- Eu estava pensando - falou Hermione, franzindo as sobrancelhas para Fred - em um nome que não dissesse a todo mudo o que nós estamos fazendo, para que nós pudéssemos conversar sobre isso com segurança fora das reuniões.

 

- Que tal "Equipe da Defesa?" - falou Cho. - O "ED" seria um atalho, aí ninguém saberia sobre o que nós conversamos.

 

- Sim, "ED" está bom - concluiu Gina. - Mas vamos transformar isso em "O Exército de Dumbledore", por que esse é o maior medo do Ministério, não é?

 

Houve um grande murmuro de aprovações e risadas.

 

- Todos a favor do "ED"? - disse Hermione com seu jeito mandão, ajoelhando-se em sua almofada para contar. - É o voto da maioria, proposta aprovada!

 

Ela pregou o pedaço de pergaminho com todas as assinaturas do grupo na parede e escreveu no topo com letras bem grandes:

 

O EXÉRCITO DE DUMBLEDORE

 

- Pronto - falou Harry, quando ela voltou a se sentar novamente. - Devemos ir para a prática agora? Eu estava pensando, em primeiro lugar nós deveríamos tentar Expelliarmus, vocês sabem, o Feitiço de Desarmamento. Eu sei que é bem básico, mas eu achei isso muito útil...

 

- Ah, por favor - disse Zacharias Smith, levantando seus olhos e cruzando seus braços. - Eu não acho que Expelliarmus é exatamente o que vai nos ajudar contra Você-Sabe-Quem, você não acha?

 

- Eu já usei esse feitiço contra ele - replicou Harry com calma. - Isso salvou a minha vida em junho.

 

Smith abriu sua boca de um jeito muito abobado. O resto da sala estava muito quieto. - Mas se você acha que isso é muito pouco para você, você pode sair.

 

Smith não se moveu. Nem qualquer outra pessoa.

 

- Tudo bem - disse Harry, sua boca ficando mais seca do que o normal com todos aqueles olhos em cima dele -, eu acho que nós deveríamos nos dividir em pares para praticar.

 

Parecia muito estranho ficar dando instruções mas nada tão estranho como ver todos as seguindo.

 

Todo mundo levantou e se dividiu em pares. Como era esperado, Neville tinha ficado sem parceiro.

 

- Você pode praticar comigo - Harry falou a ele. - Certo, quando eu contar até três, então... Um, dois, três...

 

A sala de repente se encheu de vozes gritando Expelliarmus. Varinhas voavam por todas as direções; feitiços perdidos acertavam os livros nas prateleiras que saíam voando pelos ares. Harry tinha sido rápido demais para Neville, cuja varinha tinha dado um giro em volta de sua cabeça, batido no teto produzindo várias fagulhas e aterrissado no topo de uma estante de livro. Harry usou o feitiço convocatório para devolvê-la a ele. Olhando a sua volta, ele pensou que estava certo em ter sugerido a prática de magias mais básicas primeiro; havia muitos feitiços feitos de maneira incompleta; muitas das pessoas não estavam conseguindo desarmar seus oponentes de jeito algum, mas apenas estavam fazendo com que eles pulassem alguns passos para trás ou ocasionasse um vento forte conforme seus feitiços os atingiam.

 

- Expelliarmus! - gritou Neville e, Harry, pego de surpresa, viu sua varinha voar de sua mão. - EU CONSEGUI! - disse alegremente. - Eu nunca tinha conseguido fazer isso antes. EU CONSEGUI!

 

- Muito bem! - falou Harry de modo encorajador, decidindo não falar que se aquilo realmente fosse um duelo o oponente de Neville certamente não estaria olhando para a direção contrária com a varinha solta na mão. - Ouça, Neville, você poderia praticar em turno com Rony e Hermione por alguns minutos, para que eu possa dar uma volta e olhar como o resto do pessoal está indo?

 

Harry caminhou até o meio da sala. Alguma coisa muito estranha estava acontecendo com Zacharias Smith. Toda vez que ele abria sua boca para desarmar Anthony Goldstein sua própria varinha saía voando da sua mão e Anthony não parecia estar falando nada. Harry não precisou olhar para muito longe para resolver o mistério. Fred e Jorge estavam a alguns passos de Smith, apontando em turnos para a varinha dele sem que ele percebesse.

 

- Desculpe Harry - disse Jorge afobadamente quando Harry olhou para ele. - Não pude resistir.

 

Harry andou através dos pares, tentando corrigir aqueles que estavam fazendo o feitiço de forma errada. Gina era parceira de Michael Corner; ela estava indo muito bem, mas ou Michael era muito ruim ou não estava realmente querendo enfeitiçá-la. Ernie Macmillan estava sacudindo sua varinha sem necessidade, dando tempo para seu parceiro atacá-lo; os irmãos Creevey estavam entusiasmados mas errados e eram os responsáveis por todos os livros que estavam voando das prateleiras perto deles; Luna Lovegood estava num caminho similar, ocasionalmente fazia com que a varinha de Justino Finch-Fletchley voasse de sua mãos e outras vezes causava meramente uma brisa em seus cabelos.

 

- Ok, Parem! - Harry gritou. -Parem. PAREM!

 

"Eu preciso de um apito", ele pensou e imediatamente um apito apareceu no topo da fileira de livros mais perto. Ele o pegou e assoprou com força. Todo abaixaram suas varinhas.

 

- Não está ruim - falou Harry - mas realmente esse feitiço precisa ser melhorado - Zacharias Smith olhou para ele. - Vamos tentar de novo.

 

Ele tentou evitar ir para perto de Cho e sua amiga por um período mas depois de andar duas vezes pelos outros pares que estavam na sala, sentiu que não as poderia ignorar por mais tempo.

 

- Ah não - disse Cho selvagemente enquanto ele se aproximava. - Expelliarmiou! Eu quero dizer, Expellimellius! Eu... Ah, me desculpe, Marietta!

 

A manga da amiga de cabelos enrolados de Cho tinha pegado fogo; Marietta o apagou com sua própria varinha e olhou furiosa para Harry como se tivesse sido sua culpa.

 

- Você me faz ficar nervosa, eu estava indo muito bem antes! - Cho disse a ele com tristeza.

 

- Isso foi muito bom - Harry mentiu mas quando ela ergueu as sobrancelhas ele disse. - Bem... Não... Essa vez foi ruim, mas eu sei que você consegue fazer corretamente. Eu estava olhando de lá - ela riu. Sua amiga, Marietta, olhou para eles com mau humor e virou às costas.

 

- Não se importe com ela - sussurrou Cho. - Ela não queria estar aqui realmente, fui eu que a fiz vir comigo. Seus pais a proibiram de fazer qualquer coisa que preocupasse Umbridge. Você entende... A mãe e o pai dela trabalham para o Ministério.

 

- E seus pais? - perguntou Harry.

 

- Bem, eles me proibiram também de fazer qualquer coisa que estivesse do lado errado que Umbridge apoiasse - disse Cho, esvaindo-se de seu orgulho. - Mas se eles acham que eu não vou lutar contra Você-Sabe-Quem depois do que aconteceu com Cedrico...

 

Ela se calou, parecendo bastante confusa, e um silêncio constrangedor permaneceu entre eles. A varinha de Terry Boot passou assobiando pela orelha de Harry e acertou Alicia Spinnet bem no nariz.

 

- Bem, meu pai apóia as ações Anti-Ministério! - disse Luna LoveGood com orgulho atrás de Harry; evidentemente ela estava escutando a conversa enquanto Justino tentava se desembaraçar das roupas que tinha voado em cima de sua cabeça. - Ele está sempre dizendo que não acredita em nada que Fudge diz; eu quero dizer, o número de duendes que Fudge já assassinou! E é claro que ele utiliza o Departamento de Mistérios para desenvolver venenos, que secretamente administra a quem discorda dele. E também existe seu "Umgubular Slashkilter"...

 

- Nem pergunte - Harry sussurrou para Cho quando ela estava abrindo a boca, parecendo confusa. Ela deu um sorriso falso.

 

- Hey, Harry - Hermione o chamou do outro lado da sala. - Você checou a hora?

 

Ele olhou para seu relógio e ficou chocado em ver que já era nove e dez, o que significava que precisavam voltar imediatamente para suas salas ou arriscar serem pegos e punidos por Filch por estarem fora do limite. Assoprou seu apito; todo mundo parou de gritar Expelliarmus e o último par de varinhas bateu no chão.

 

- Bem, hoje correu tudo muito bem - disse Harry - mas nós estamos ultrapassando a hora, é melhor pararmos por aqui. No mesmo lugar, na mesma hora na semana que vem?

 

- Até lá! - disse Dino Thomas, avidamente, e muitas pessoas mexeram suas cabeças em concordância.

 

Angelina, no entanto, falou rápido.

 

- A temporada de quadribol está para começar, nós precisamos praticar também!

 

- Vamos ver... Quarta-feira à noite, então - disse Harry -, nós podemos ter reuniões adicionais, qualquer coisa. Vamos lá, é melhor nós irmos agora.

 

Ele puxou o Mapa do Maroto novamente e checou cuidadosamente por sinais de professores no sétimo andar. Deixou todos saírem em grupos de três ou quatro pessoas, observando ansiosamente seus pequenos pontos pretos retornarem em segurança para seus dormitórios. Os da Lufa-lufa iam para o corredor do porão que também ia para as cozinhas, os da Corvinal para uma torre no lado oeste do castelo e os da Grifinória para o corredor onde ficava o retrato da Mulher Gorda.

 

- Hoje foi realmente, muito, muito bom, Harry - disse Hermione, quando finalmente só tinham sobrado ela, Harry e Rony.

 

- Sim, foi mesmo! - Rony falou entusiasmado, conforme eles saíam da sala e a observavam se fundir à parede de pedras novamente. - Harry, você me viu desarmar Hermione?

 

- Só uma vez - disse Hermione. - Eu acertei você muito mais vezes do que você me acertou...

 

- Eu não acertei você uma vez só, eu acertei pelo menos três vezes...

 

- Bem, se você esta contando a vez que você tropeçou nos seus pés e tirou a varinha da minha mão...

 

Eles discutiram o caminho todo até a sala comunal mas Harry não estava ouvindo. Estava olhando para o Mapa do Maroto e também estava pensando sobre Cho dizer que ele a deixava nervosa.

 

 

O LEÃO E A SERPENTE

Harry se sentiu como se estivesse carregando algum tipo de talismã dentro de seu peito durante todas as duas semanas seguintes, um segredo ardente que o auxiliou nas aulas de Umbridge e até fez possível sorrir suavemente enquanto olhava nos horríveis olhos protuberantes dela. Ele e o ED a estavam impedindo sobre seu próprio nariz, fazendo justamente a coisa que ela e o Ministério mais temiam e sempre que ele estava empenhado em ler o livro de Wilbert Slinkhard durante as suas aulas se demorava, satisfazendo lembranças de suas reuniões mais recentes, lembrando de como Neville tinha sido bem sucedido desarmando Hermione, como Colin Creevey tinha controlado o feitiço do Impedimento após três reuniões com duro esforço, como Parvati Patil tinha produzido assim um bom feitiço

 

Redutor com o qual reduziu a mesa que sustentava todos os bisbilhoscópios a pó.

 

Estava achando quase impossível determinar uma noite regular da semana para as reuniões do ED, enquanto tinham que acomodar as práticas de quadribol de três times separados, que eram freqüentemente obrigados a serem reajustados por causa das condições de tempo ruim; mas Harry não estava preocupado com isso; tinha uma sensação de que era provavelmente melhor deixar o tempo das reuniões imprevisível. Se alguém os estivesse observando seria difícil contornar.

 

Hermione logo planejou um método de comunicação muito inteligente para a hora e a data da reunião seguinte para todos os membros no caso de precisarem mudar em um curto aviso, porque poderia ser suspeito se pessoas de casas diferentes fossem vistas atravessando o Salão Principal para conversar um com o outro freqüentemente. Ela deu a cada membro do ED um falso galeão (Rony ficou muito excitado quando primeiro viu a cesta e estava convencido de que ela estava atualmente distribuindo ouro).

 

- Você vê os números em torno da margem das moedas? - Hermione disse, segurando uma para examinação no fim de sua quarta reunião. A moeda brilhava gorda e amarela na luz das tochas. - No galeão real há apenas um número de série referente ao duende que modelou a moeda. Nesses falsos galeões, entretanto, os números serão mudados para refletir a hora e a data das próximas reuniões. As moedas ficarão quentes quando a data muda, então se você as estiver carregando num bolso poderá sentir. Nós pegaremos um cada e quando Harry estabelecer a data da próxima reunião ele mudará o número na moeda dele, porque eu coloquei um feitiço multiforme nelas, elas mudarão para imitar a dele.

 

Um vago silêncio recolheu as palavras da Hermione. Ela olhou em volta para todas os rostos levantados para ela perturbados.

 

- Bem... Eu achei que era uma boa idéia - ela disse vagamente. - Eu quero dizer, mesmo se Umbridge pedisse para que nós esvaziássemos os nossos bolsos não é nada suspeito em carregar um galeão, é? Mas... Bem, se vocês não querem usá-los...

 

- Você pode fazer um feitiço multiforme? - disse Terry Boot.

 

- Sim.

 

- Mas isso é... isso é do nível NIEM, isso é - ele disse fracamente.

 

- Oh - disse Hermione, tentando parecer modesta. - Oh... Bem... Sim, eu acho que é.

 

- Como você não está na Corvinal? - ele perguntou, fixo em Hermione com algo próximo a admiração. - Com cérebro como o seu?

 

- Bem, o Chapéu Seletor considerou seriamente me colocar na Corvinal durante a seleção - disse Hermione alegremente - mas decidiu pela Grifinória no fim. Então, isso significa que nós vamos usar os galeões?

 

Houve um murmúrio de aprovação e todos se moveram animados para buscar um da cesta. Harry olhou de lado para Hermione.

 

- Você sabe o que eles me lembram?

 

- Não, o quê ?

 

- As Marcas dos Comensais da Morte. Voldemort toca em um deles, todas as suas cicatrizes queimam e eles sabem que têm que se juntar a ele.

 

- Bem... Sim - disse Hermione rapidamente -, é de onde eu tive a idéia... Mas você notará que eu decidi gravar a data em pedaços de metal do que na pele dos nossos membros.

 

- É... Eu prefiro o seu jeito - disse Harry, sorrindo enquanto colocava seu galeão dentro de seu bolso. - Eu acho que o único perigo com isso é que eu possa acidentalmente gastá-los.

 

- Sem chance - disse Rony, que estava examinando o seu próprio falso galeão com um ar levemente pesaroso. - Eu não tenho nenhum galeão real para confundir com esse.

 

Quando ao primeiro jogo de quadribol da estação - Grifinória contra Sonserina - se aproximou, suas reuniões do ED foram suspensas porque Angelina insistia em treino quase diário. O fato era que Taça de Quadribol não era segurada há um tempo considerável para o interesse e agitação rodeada à chegada do jogo; Corvinal e Lufa-lufa estavam levando um intenso interesse no resultado, para eles, é claro, estariam jogando ambos times no próximo ano; e os capitães dos times, ainda que tentassem disfarçar uma pretensão decente de espírito esportivo, estavam determinados a ver seu próprio lado vitorioso. Harry constatou o quão a professora McGonagall se importava em derrotar Sonserina quando os absteve de dar dever de casa na semana antecessora ao jogo.

 

- Eu acho que vocês têm muito que fazer no momento - ela disse grandiosamente. Ninguém podia acreditar em seus ouvidos até quando ela olhou diretamente para Rony e Hermione e disse severamente. - Eu fiquei acostumada em ver a Taça de Quadribol na minha sala, garotos, e eu realmente não quero ter que entregá-la para o professor Snape, então usem o tempo extra para praticar, não irão?

 

Snape era não menos obviamente partidário; ele reservou o campo de quadribol para a prática da Sonserina tantas vezes que a Grifinória teve dificuldade de pegá-lo para treinar. Ele estava também se fingindo de surdo aos muitos rumores de que Sonserina tentava enfeitiçar os jogadores da Grifinória nos corredores. Quando Alicia Spinnet foi para a ala hospitalar com suas sobrancelhas crescendo tão cheias que logo cobriram sua visão e obstruíram a sua boca, Snape insistiu que ela deveria ter experimentado o feitiço para engrossar o cabelo em si mesma e se recusou a ouvir quatorze testemunhas que insistiam que viram o goleiro da Sonserina, Miles Bletchley, acertá-la por trás com um feitiço enquanto ela trabalhava na biblioteca.

 

Harry se sentia otimista sobre as chances da Grifinória; eles nunca, acima de tudo, tinham perdido para o time de Malfoy. Reconhecidamente, Rony ainda não estava representando o nível de Wood mas estava trabalhando extremamente duro para melhorar. Sua maior fraqueza era uma tendência a perder confiança após ter cometido um erro; se deixasse passar um gol ficava agitado e estava portanto apto a errar mais. Por outro lado, Harry viu Rony fazer algumas defesas verdadeiramente espetaculares quando estava em forma; durante uma prática memorável projetou uma mão de sua vassoura e chutou a goles para tão longe do arco da baliza que voou uma extensão do campo e caiu no centro do arco no outro fim; o resto do time sentia aquela defesa comparada favoravelmente com uma feita recentemente por Barry Ryan, o goleiro internacional da Irlanda, contra o rebatedor da Polônia Ladislaw Zamojski. Até Fred tinha dito que Rony deveria fazer ele e Jorge sentirem orgulho e que estavam seriamente considerando em admitir que estava relacionado com eles, algo que o garantiram que estavam tentando negar a quatro anos.

 

A única coisa que estava realmente preocupando Harry era o quanto Rony estava levando em conta as táticas do time da Sonserina para deixá-lo triste antes mesmo de irem ao campo. Harry, é claro, vinha tolerando os maliciosos comentários há quatro anos, tantos murmúrios como, "Hey, Potty, eu escutei Warrington jurar que vai te derrubar da sua vassoura no sábado," longe de esfriar o seu sangue, fê-lo rir. "A mira do Warrington é tão patética que eu ficaria mais preocupado se estivesse apontando para uma pessoa perto de mim" ele rebateu, o que fez Rony e Hermione rirem e tirar o sorriso malicioso do rosto de Pansy Parkinson.

 

Mas Rony nunca tinha tolerado uma impiedosa campanha de insultos, zombarias e intimidação. Quando sonserinos, alguns deles do sétimo ano e consideravelmente maiores do que ele era, murmuravam enquanto passavam nos corredores, "Encomendou a sua cama na ala hospitalar, Weasley?" ele não ria, ficava num tom de verde. Quando Draco Malfoy imitava Rony, deixando cair a goles (que fazia sempre que vinham com o sinal de cada um), as orelhas do Rony ficavam vermelhas e suas mãos balançavam tanto que era provável que ele deixasse cair o que estivesse segurando na hora, também.

 

Outubro se extinguiu num avanço de grandes ventos e chuva forte e novembro chegou, frio como um ferro gelado, com corrente de ar frio que perfuram as mãos e rostos expostos. O céu e o teto do Salão Principal se tornaram um pálido cinza perolado, as montanhas ao redor de Hogwarts estavam cobertas de neve e a temperatura no castelo caiu tanto que muitos estudantes vestiram suas luvas grossas protetoras de pele de dragão nos corredores entre as aulas.

 

A manhã do jogo amanheceu clara e fria. Quando Harry acordou olhou em volta, para a cama de Rony, e o viu sentado, assustado, perpendicular, seus braços ao redor dos seus joelhos, olhando fixamente para o espaço.

 

- Você está bem?

 

Rony confirmou mas não falou. Harry estava se lembrando impetuosamente de quando Rony tinha acidentalmente colocado um feitiço para vomitar lesmas em si mesmo, parecia tão pálido e suado como se tivesse feito isso, sem mencionar a relutância para abrir a sua boca.

 

- Você apenas precisa de um café da manhã - disse Harry, estimulante. - Vamos.

 

O Salão Principal estava completamente cheio quando chegaram, conversavam alto e o humor mais exuberante que o de costume. Enquanto passavam a mesa da Sonserina estava num excitação de barulhos. Harry olhou em volta e viu que, adicionado aos normais cachecóis e chapéus verde e prata, todos estavam usando um distintivo prata numa forma que parecia ser uma coroa. Por alguma razão muitos deles acenaram para o Rony, rindo estrondosamente. Harry tentou ver o que estava escrito nos distintivos enquanto caminhava mas estava tão concentrado em fazer Rony passar pela mesa rapidamente que não deu tempo para ler.

 

Receberam estimulantes boas-vindas na mesa da Grifinória, onde todos estavam vestindo vermelho e dourado mas longe de levantar o espírito de Rony, as aclamações pareciam consumir a última de sua disposição; ele desmoronou no banco mais próximo, parecendo como se estivesse enfrentando a sua última refeição.

 

- Eu devo ter sido um idiota para fazer isso - ele disse em um sussurro rouco. - Idiota.

 

- Não seja estúpido - disse Harry firmemente, passando a ele uma seleção de cereais -, você vai ficar bem. É normal ficar nervoso.

 

- Eu sou um lixo - grasniu Rony. - Eu sou ruim. Eu não posso jogar para salvar a minha vida. O que eu estava pensando?

 

- Agarre - disse Harry severamente. - Olhe para aquela defesa que você fez com o seu pé outro dia, até Fred e Jorge disseram que foi brilhante.

 

Rony virou um rosto atormentado para Harry.

 

- Aquilo foi um acidente - sussurrou miseravelmente. - Eu não pretendia fazer, eu escorreguei da minha vassoura quando nenhum de vocês estava olhando e quando eu estava tentando voltar chutei a goles por acidente.

 

- Bem - disse Harry, recuperando-se rapidamente de sua surpresa desagradável -, mais alguns acidentes como esse e o jogo está no bolso, não está?

 

Hermione e Gina se sentaram opostas a eles, vestindo cachecol, luvas e rosetas vermelho e dourado.

 

- Como você está se sentindo? - Gina perguntou a Rony, que estava agora olhando para os pingos de leite no fundo de sua tigela de cereal vazio enquanto seriamente considerava em mergulhar nelas.

 

- Ele está apenas nervoso - disse Harry

 

- Bem, isso é um bom sinal, eu nunca acho que você se sai tão bem nos exames se você não está um pouco nervoso - disse Hermione sinceramente.

 

- Oi - disse uma vaga e sonhadora voz atrás deles. Harry olhou: Luna Lovegood tinha saído da mesa da Corvinal. Muitas pessoas estavam olhando para ela e poucos estavam abertamente rindo e apontando; ela tinha procurado uma forma de chapéu como uma cabeça de leão de tamanho natural, que estava pousado precariamente na sua cabeça.

 

- Eu estou apoiando a Grifinória - disse Luna, apontando desnecessariamente para o seu chapéu. - Olha o que ele faz...

 

Ela o apanhou e deu uma leve pancadinha com a sua varinha. Ele abriu sua boca enorme e deu um rugido extremamente real, que fez todos que estavam na vizinhança pularem.

 

- É bom, não é? - disse Luna feliz. - Eu queria que ele mastigasse uma serpente para representar a Sonserina, você sabe, mas não deu tempo. De qualquer modo... Boa sorte, Ronald!

 

Ela foi embora. Eles não estavam totalmente recuperados do choque do chapéu da Luna e Angelina veio correndo em sua direção, acompanhada por Katie e Alicia, cujas sobrancelhas tinham misericordiosamente retornado ao normal pela Madame Pomfrey.

 

- Quando vocês estiverem prontos - ela disse -, nós estamos indo para o campo, checar condições e alterações.

 

- Nós estaremos lá em um instante - Harry assegurou a ela. - Rony apenas tem que comer algo.

 

Terminaram após dez minutos, mesmo que Rony não tenha sido capaz de comer algo mais e Harry pensou que seria melhor levá-lo para o vestiário. Enquanto se levantaram da mesa Hermione levantou também e, segurando o braço de Harry, ela o puxou para o seu lado.

 

- Não deixe Rony ver o que são aqueles distintivos da Sonserina - sussurrou urgentemente.

 

Harry olhou interrogativamente para ela mas a mesma balançou sua cabeça, chamando a atenção, Rony tinha andado para perto deles, parecendo perdido e desesperado.

 

- Boa sorte, Rony - disse Hermione, ficando na ponta do pé e dando nele um beijo na bochecha. - E você, Harry...

 

Rony parecia ir levemente enquanto caminhavam pelo Salão Principal. Ele tocou o lugar onde a Hermione o tinha beijado, parecendo desconcertado, enquanto não estava certo do que tinha acontecido. Parecia muito distraído para notar muito ao seu redor mas Harry arremessou um curioso olhar para os distintivos em forma de coroa enquanto passavam pela mesa da Sonserina e desta vez ele viu as palavras gravadas neles: "Weasley é o nosso rei".

 

Com uma sensação desagradável de que isso não deveria significar coisa boa; apressou Rony para o Saguão de Entrada, desceram as escadas de pedra e saíram no ar gelado.

 

A grama gelada mastigava sobre seus pés enquanto se apressavam para o gramado enlameado em direção ao estádio. Não havia vento e o céu estava uniforme, branco perolado, que significava que a visibilidade seria boa sem o obstáculo de raios solares diretos nos olhos.

 

Harry apontou esses fatores animadores para Rony enquanto caminhavam mas não estava certo de que o amigo estava escutando.

 

Angelina já tinha se trocado e estava conversando com o resto do time quando entraram.

 

Harry e Rony tiraram os suas vestes (Rony queria tirar o seu de trás para frente por muitos minutos antes de Alicia ficar com pena dele e foi ajudar), então se sentaram para ouvir a conversa antes do jogo enquanto um murmúrio de vozes lá fora aumentava enquanto a multidão vinha do castelo em direção ao campo.

 

- Ok, eu já descobri a escalação final da Sonserina - disse Angelina, consultando um pedaço de pergaminho. - Os batedores do último ano, Derrick e Bole, foram embora mas parece que Montague os substituiu com gorilas comuns, antes alguém que possa voar particularmente bem. São dois blocos chamados Crabbe e Goyle, eu não sei muito sobre eles...

 

- Nós sabemos - disseram Harry e Rony juntos.

 

- Bem, eles não parecem ser brilhantes suficiente para dizer onde fica o fim da vassoura do outro - disse Angelina, colocando no bolso o pergaminho - mas também fiquei surpresa que Derrick e Bole encontraram seus caminhos no campo sem guias.

 

- Crabbe e Goyle são do mesmo modelo - Harry assegurou.

 

Eles podiam ouvir centenas de passos subindo nos bancos nas arquibancadas dos espectadores. Algumas pessoas estavam cantando mas Harry não compreendeu as palavras. Estava começando a ficar nervoso mas sabia que seu nervoso não era nada comparado ao que Rony, que estava apertando seu estômago e olhando reto à frente de novo, seu queixo fixo e sua aparência cinza pálida.

 

- Está na hora - disse Angelina numa voz quieta, olhando para o relógio. - Vamos todo mundo... Boa sorte.

 

O time subiu, levaram ao ombro suas vassouras e marcharam em uma fila para fora do vestiário, entraram numa ofuscante luz do sol. Um berro de sons os saudaram, que Harry ainda podia escutar cantando, ainda que estivesse amortecido por aclamações e assobios.

 

O time da Sonserina estava esperando por eles. Eles, também, estavam usando aqueles distintivos em forma de coroa. O novo capitão, Montague, era feito pelas mesmas linhas como Dudley Dursley, com pesados antebraços como um pernil cabeludo. Atrás dele se espreitavam Crabbe e Goyle, quase tão largos, piscando estupidamente na luz do sol, balançando seus novos bastões de batedores. Malfoy estava ao lado, a luz do sol cintilando a sua cabeça loira. Ele alcançou os olhos de Harry e sorriu malicioso, dando uma pancadinha no distintivo em forma de coroa no seu peito.

 

- Capitães, apertem as mãos - ordenou a juíza Madame Hooch enquanto Angelina e Montague alcançavam um ao outro. Harry poderia dizer que Montague estava tentando esmagar os dedos da Angelina, ainda que ela não recuasse. - Montem em suas vassouras...

 

Madame Hooch colocou o apito na boca e apitou.

 

As bolas foram soltas e os quatorze jogadores se dirigiram para cima. Fora do ângulo de seu olho, Harry viu Rony correr em direção aos aros da baliza. Harry subiu rápido e alto, evitando um balaço, e deu uma volta no campo, olhando fixo ao redor por um brilho de ouro; no outro lado do estádio, Draco Malfoy estava fazendo exatamente o mesmo.

 

- E é Johnson, Johnson está com a goles, que jogadora ela é, eu venho dizendo isso há anos mas ela ainda não quer sair comigo...

 

- JORDAN! - gritou a professora McGonagall.

 

- Apenas um fato engraçado, professora, acrescenta um pouco de interesse... E ela desvia de Warrington, ela está passando por Montague, ela está... Ai! Foi atingida por de trás por um balaço vindo do Crabbe... Montague pega a goles, Montague descendo no campo e... Bom balaço este foi de Jorge Weasley, que mandou um balaço na cabeça do Montague, ele deixou a goles cair, pega por Katie Bell da Grifinória, passa para Alicia Spinnet e Spinnet logo...

 

O comentário de Lino Jordan soou pelo estádio e Harry ouviu tão desagradável como se pudesse através do vento assobiar em seus ouvidos o rumor da multidão, todos gritando e vaiando e cantando.

 

- Desviou de Warrington, evitou um balaço, passou perto, Alicia, e a multidão está amando isso, apenas escutem, o que é que eles estão cantando?

 

E quando Lino parou para ouvir a música cresceu mais alto e mais claro do mar de verde e prata na seção da Sonserina na arquibancada:

 

"Weasley não pode salvar nada, ele não pode bloquear um aro, é por isso que todos os sonserinos cantam: Weasley é o nosso rei."

 

- E Alicia passa de volta para Angelina! - Lino gritou e enquanto Harry se virou seu interior ferveu com o que tinha acabado de escutar, sabia que Lino estava tentando abafar as palavras da música. - Vamos agora, Angelina, parece que ela só tem o goleiro para ultrapassar! ELA LANÇA... ELA... Aaaah...

 

Bletchley, o goleiro da Sonserina, tinha salvado o gol; arremessou a goles para Warrington, que correu com ela, fazendo ziguezagues entre Alicia e Katie; a canção vinda de baixo aumentava cada vez mais alto enquanto avançava para cada vez mais perto de Rony.

 

"Weasley é o nosso rei, Weasley é o nosso rei, ele sempre deixa a goles entrar, Weasley é o nosso rei."

 

Harry não agüentou: abandonando a procura pelo pomo, ele se virou para assistir Rony, uma solitária figura no fim do campo, flutuando antes de três aros da baliza enquanto o pesado Warrington se atirava em sua direção.

 

- E é Warrington que está com a goles, Warrington se dirigindo ao gol, ele está fora da extensão do balaço com apenas o goleiro na frente...

 

Um grande aumento da música cresceu dos sonserinos embaixo:

 

"Weasley não pode salvar nada, ele não pode bloquear um único aro..."

 

- Então esse é o primeiro teste para o novo goleiro da Grifinória, Weasley, irmão dos batedores Fred e Jorge, e um novo talento prometedor no time, vamos, Rony!

 

Mas o grito de prazer veio dos sonserinos no final: Rony tinha mergulhado freneticamente, seus largos braços abertos e a goles tinha voado entre eles, passando pelo arco central.

 

- Sonserina marca! - a voz de Lino veio entre o ânimo e vaia das torcidas embaixo. - Então está dez a zero para Sonserina, falta de sorte, Rony.

 

Os sonserinos cantaram ainda mais alto:

 

"WEASLEY NASCEU NUMA CESTA, ELE SEMPRE DEIXA A GOLES ENTRAR..."

 

- E a Grifinória volta com a posse e Katie Bell está enchendo o campo - gritou Lino corajosamente, mesmo que a canção estivesse agora tão ensurdecedora que dificilmente poderia ouvir o que ele mesmo dizia.

 

"WEASLEY FARÁ COM QUE NÓS VENÇAMOS, WEASLEY É O NOSSO REI..."

 

- Harry, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? - gritou Angelina, soando atrás dele para continuar com Katie. - VAMOS!

 

Harry percebeu que tinha ficado parado no meio do ar por mais de um minuto, assistindo o progresso do jogo sem um pensamento sobre onde estava o pomo; horrorizado, mergulhou e começou a circular o campo de novo, olhando em volta, tentando ignorar o refrão agora ressoando no estádio:

 

"WEASLEY É O NOSSO REI, WEASLEY É O NOSSO REI..."

 

Não havia sinal do pomo em qualquer lugar que olhasse; Malfoy estava ainda circulando no estádio apenas como ele estava. Passaram um ao outro no meio do ar em torno do campo, indo em opostas direções, e Harry escutou Malfoy cantando em voz alta:

 

"WEASLEY NASCEU NUMA CESTA..."

 

- E é Warrington de novo - berrou Lino -, que passa para Pucey, Pucey à direita, passa Spinnet, vamos agora, Angelina, você pode tomar dele... Vira ao avesso, você pode... Mas um bom balaço de Fred Weasley, eu quero dizer, Jorge Weasley, oh, quem se importa, um deles, de qualquer modo, e Warrington pega a goles e Katie Bell... Er... Pega dela, também... Então é Montague que está com a goles, Montague, o capitão da Sonserina, pega a goles e ele está acima do campo, vamos agora, Grifinória, bloqueia ele!

 

Harry voou ao redor do fim do estádio, atrás dos aros da baliza da Sonserina, determinado a não olhar o que Rony estava fazendo no final. Enquanto passava pelo goleiro da Sonserina ouviu Bletchley cantando com a torcida abaixo:

 

"WEASLEY NÃO PODE SALVAR NADA..."

 

- E Pucey desvia de Alicia de novo e ele está indo em direção ao gol, pare ele, Rony!

 

Harry não tinha que olhar para ver o que tinha acontecido: havia um terrível gemido do fim da Grifinória, unido com novos gritos e aplausos da Sonserina. Olhando para baixo, Harry viu a cara amassada de Pansy Parkinson  em frente às arquibancadas, suas costas para o campo enquanto ela conduzia os torcedores da Sonserina, que estavam berrando:

 

"ISSO É PORQUE TODOS OS SONSERINOS CANTAM: WEASLEY É O NOSSO REI."

 

Mas vinte a zero não era nada, ainda havia tempo para a Grifinória alcançar ou pegar o pomo. Em poucos gols e estariam na liderança como de costume, Harry se assegurou, agitando e dando voltas pelos outros jogadores na busca de algo lustroso que confirmava ser a pulseira do relógio do Montague.

 

Mas Rony deixou entrar mais dois gols. Havia uma situação de pânico no desejo de Harry em encontrar o pomo agora. Se pudesse apenas pegá-lo logo e terminar o jogo mais rápido.

 

- E Katie Bell, da Grifinória, desvia de Pucey, passa por debaixo de Montague, bom desvio, Katie, e ela arremessa para Johnson, Angelina Johnson pega a goles, ela passa por Warrington, ela está indo em direção ao gol, vamos agora, Angelina... GRIFINÓRIA MARCA! Está quarenta a dez, quarenta a dez para Sonserina e Pucey está com a goles.

 

Harry podia ouvir o chapéu de leão ridículo da Luna rugir entre as aclamações da Grifinória e se sentiu animado; somente trinta pontos, não era nada, podiam retroceder facilmente. Harry se inclinou de um balaço que Crabbe tinha mandado verticalmente em sua direção e recuperou sua perseguição frenética no campo pelo pomo, mantendo um olho em Malfoy no caso de ele mostrar sinais de ter localizado, mas Malfoy, como ele, estava continuando a rodear ao redor do estádio, procurando sem resultado...

 

- Pucey arremessa para Warrington, Warrington para Montague, Montague de volta para Pucey, Johnson interfere, Johnson pega a goles, Johnson para Bell, isso parece bom, eu quero dizer, ruim, Bell é acertada por um balaço vindo do Goyle da Sonserina e é Pucey quem está com a posse...

 

"WEASLEY NASCEU NUMA CESTA... ELE SEMPRE DEIXA A GOLES ENTRAR... WEASLEY FARÁ COM QUE NÓS VENCAMOS..."

 

Mas Harry tinha visto finalmente: um minúsculo pomo de ouro que batia as asas estava flutuando a pés do chão, no fim do campo da Sonserina.

 

Ele mergulhou...

 

Em questão de segundos Malfoy estava riscando o céu na esquerda de Harry, uma mancha verde e prata estava esticada na sua vassoura...

 

O pomo ladeava no pé de um dos aros da baliza e corria depressa em direção ao outro lado das arquibancadas; mudou de direção, acomodando Malfoy, que estava próximo, Harry puxou a sua Firebolt bem próximo, ele e Malfoy estavam pescoço a pescoço agora...

 

A pés do chão agora, Harry ergueu sua mão direita de sua vassoura, esticando em direção ao pomo... Para sua direita, o braço do Malfoy se esticou também, estava alcançando, tateando...

 

Estavam acabados em dois aflitos, desesperados e varridos segundos, os dedos de Harry se fecharam ao redor da bola minúscula que se contorcia, as unhas do Malfoy arranharam as costas da mão de Harry desesperadamente; Harry puxou a sua vassoura para cima, segurando a contorcente bola em sua mão e os torcedores da Grifinória gritavam sua aprovação...

 

Estavam salvos, não importava que Rony tinha deixado aqueles gols entrarem, ninguém se lembraria, já que a Grifinória tinha vencido...

 

WHAM.

 

Um balaço atingiu Harry direto numa parte pequena das costas e ele voou para fora de sua vassoura. Felizmente estava a apenas cinco ou seis pés acima do chão, já que teve que mergulhar muito baixo para pegar o pomo mas estava exausto do mesmo jeito, então pousou estendido de costas no campo gelado.

 

Ouviu o apito da Madame Hooch soar, uma gritaria nas arquibancadas misturada a vaias, gritos de raiva e zombeteiros, um golpe, em seguida a voz furiosa de Angelina.

 

- Você está bem?

 

- Claro que estou - disse Harry severamente, segurando a sua mão e deixando ela o levantar.

 

Madame Hooch estava subindo em direção a um dos jogadores da Sonserina acima dele; ainda que não pudesse ver quem era daquele ângulo.

 

- Foi aquele assassino do Crabbe - disse Angelina furiosa -, ele atirou o balaço no momento em que viu que você tinha pegado o pomo, mas nós vencemos, Harry, nós vencemos!

 

Harry ouviu um bufo atrás dele e se virou, ainda segurando o pomo firmemente em sua mão: Draco Malfoy tinha aterrissado perto. Rosto branco em fúria, ainda estava conduzindo para zombar.

 

- Salvou o pescoço do Weasley, não salvou? - ele disse para Harry. - Eu nunca vi um goleiro pior... Mas então ele nasceu numa cesta... Você gostou dos meus versos, Potter?

 

Harry não respondeu. Ele se virou para encontrar o resto do time, que estava agora aterrissando um por um, gritando e socando o ar em triunfo; todos exceto Rony, que tinha desmontado de sua vassoura do outro lado dos aros da baliza e parecia estar fazendo o seu caminho de volta devagar para os vestiários, sozinho.

 

- Nós queríamos escrever outro par de versos! - Malfoy falou, enquanto Katie e Alicia abraçavam Harry. - Mas nós não encontramos rimas para gorda e feia, nós queríamos cantar sobre a sua mãe, veja...

 

- Fale sobre uvas azedas - disse Angelina, lançando a Malfoy um olhar de asco.

 

- ...Nós não pudemos encaixar em perdedor inútil também, para o seu pai, você sabe...

 

Fred e Jorge perceberam sobre o que Malfoy estava falando. Na metade do caminho, enquanto apertavam a mão de Harry, eles se firmaram, olhando para Malfoy.

 

- Deixe! - disse Angelina de uma vez, segurando Fred pelo braço. - Deixe, Fred, deixe gritar, ele está apenas furioso que ele perdeu, pouco pretensioso...

 

- Mas você gosta dos Weasley, não gosta Potter? - disse Malfoy, zombando. - Passa as férias lá e tudo, não passa? Não posso imaginar como você agüenta o fedor mas eu suponho quando você tem que ser levado para os trouxas, ainda assim a cabana dos Weasley cheira ok...

 

Harry agarrou Jorge. Entretanto estava levando um esforço juntado de Angelina, Alicia e Katie para impedir Fred de pular em Malfoy, que estava rindo abertamente. Harry olhou em volta para Madame Hooch mas ela ainda estava repreendendo Crabbe pelo seu ataque ilegal.

 

- Ou talvez - disse Malfoy, olhando com malícia enquanto saía de perto - você pode se lembrar de como a casa da sua mãe fedia, Potter, e o chiqueiro dos Weasley fazem você se lembrar...

 

Harry não estava atento em soltar Jorge, tudo que sabia era que um segundo depois os dois estavam correndo em direção a Malfoy. Ele tinha esquecido completamente que todos os professores estavam assistindo: tudo que queria fazer era causar a Malfoy o máximo de dor possível; sem tempo para pegar sua varinha, apenas fechou o punho que segurava o pomo e a o afundou o mais forte que pôde dentro do estômago de Malfoy...

 

- Harry! HARRY! JORGE! NÃO!

 

Ele podia ouvir as vozes das garotas gritando, Malfoy berrando, Jorge xingando, um sopro apitando e o berro do público ao redor dele mas não se importava. Não até que alguém na vizinhança gritou "Impedimenta!" e ele foi arremessado para trás pela força do feitiço, abandonou o esforço de socar todo centímetro de Malfoy que pudesse alcançar.

 

- O que vocês acham que estão fazendo? - gritou Madame Hooch enquanto Harry ficava de pé. Parecia que tinha sido ela que tinha laçado o feitiço do Impedimento; estava segurando o seu apito em uma mão e a varinha na outra; sua vassoura estava abandonada a muitos pés dali.

 

Malfoy estava torcido no chão, choro e gemido, seu nariz sangrando; Jorge estava exibindo um lábio inchado; Fred ainda estava sendo fortemente segurado pelas três artilheiras e Crabbe estava tagarelando no fundo.

 

- Eu nunca vi comportamento como esse, voltem para o castelo, os dois, e imediatamente para o escritório do seu Diretor de Casa! Vão! Agora.

 

Harry e Jorge viraram em seus calcanhares e marcharam para fora do campo, ambos ofegantes, nenhum deles dizendo uma palavra ao outro. Os berros e a zombaria do público ficavam cada vez mais fraco até que alcançaram o Saguão de Entrada, onde puderam ouvir nada exceto o som de seus passos. Harry ficou atento que alguma coisa ainda agitava em sua mão direita, as articulações que tinha socado contra o queixo do Malfoy. Olhando para baixo, viu as asas de prata do pomo saindo para fora de seus dedos, lutando pela libertação.

 

Eles tinham apenas alcançado a porta do escritório da professora McGonagall quando ela veio marchando pelo corredor. Estava usando um lenço da Grifinória mas arrancou de seu pescoço com as mãos balançando enquanto andava a passos largos em direção a eles, parecendo furiosa.

 

- Pra dentro! - ela disse furiosamente, apontando para a porta. Harry e Jorge entraram. Ela andou para atrás de sua mesa e os encarou, tremendo de raiva enquanto atirava o lenço da Grifinória para longe, no chão. - Bem? Eu nunca vi tamanha exibição tão vergonhosa. Dois em um! Expliquem-se!

 

- Malfoy nos provocou! - disse Harry firmemente.

 

- Provocou vocês? - gritou a professora McGonagall, batendo o punho de sua mesa tão forte que uma lata escorregou de lado e se abriu, espalhando no chão salamandras de gengibre. - Ele apenas tinha perdido, não tinha? É claro que ele queria provocar vocês! Mas o que na Terra ele poderia ter dito que justificasse o que vocês dois...

 

- Ele insultou meus pais - rosnou Jorge. - E a mãe do Harry.

 

- Mas ao invés de deixar isso para Madame Hooch resolver vocês dois decidiram dar uma exibição de duelo de trouxas, não deram? - berrou a professora McGonagall. - Vocês tem alguma idéia do que vocês...?

 

- Hum, hum.

 

Harry e Jorge giraram em volta. Dolores Umbridge estava de pé na entrada, coberta num casaco de lã verde que muito realçou sua semelhança a um sapo gigante, sorrindo de um horrível, doente, agourento jeito que Harry tinha associado com miséria iminente.

 

- Posso ajudar, professora McGonagall? - perguntou Professora Umbridge na sua mais venenosamente voz doce.

 

O sangue correu no rosto da professora McGonagall.

 

- Ajudar? - repetiu, numa voz apertada. - O que você quer dizer com ajudar?

 

A professora Umbridge se moveu para dentro do escritório, ainda sorrindo seu sorriso doente.

 

- Eu pensei que você ficaria grata por uma pequena autoridade extra.

 

Harry não ficou surpreso ao ver faíscas voarem das narinas da professora McGonagall.

 

- Você pensou errado - ela disse, virando suas costas para Umbridge.

 

- Agora, vocês dois, é melhor ouvirem bem. Eu não me importo que provocação Malfoy ofereceu a vocês, eu não me importo se ele insultou todos os membros da família que vocês possuem, o comportamento de vocês foi desgostoso e eu estou dando a cada um de vocês uma semana inteira de detenção! Não me olhe assim, Potter, vocês mereceram isso! E se qualquer um dos dois então...

 

- Hum, hum.

 

A professora McGonagall fechou os seus olhos enquanto rezava por paciência, então virou seu rosto para a professora Umbridge de novo.

 

- Sim?

 

- Eu acho que merecem mais do que detenções - disse Umbridge, sorrindo ainda mais largamente.

 

Os olhos da professora McGonagall se abriram de repente.

 

- Mas infelizmente - ela disse, com um esforço a um sorriso recíproco que fez com que parecesse que ela tinha tétano - é o que eu acho que conta, já que eles estão em minha casa, Dolores.

 

- Bem, atualmente, Minerva - sorriu a professora Umbridge -, eu acho que você descobrirá que o que eu acho conta, Agora, onde está? Cornélio há pouco me mandou.. Eu quero dizer - ela deu uma pequena risada falsa enquanto ela remexia a sua bolsa de mão -, o Ministro há pouco me mandou... Ah, sim...

 

Ela tinha tirado um pedaço de pergaminho que estava agora desenrolando, limpando a sua garganta exageradamente antes de começar a ler o que ele dizia.

 

- Hum, hum. Decreto educacional número vinte e cinco.

 

- Não outro! - exclamou a professora McGonagall violentamente.

 

- Bem, sim - disse Umbridge, ainda sorrindo. - De fato, Minerva, foi você que me fez ver que eu precisava de uma emenda adicional... Você lembra como você me ignorou quando eu fui relutante ao permitir a time de quadribol da Grifinória de reformar? Como você levou o caso a Dumbledore, que insistiu que o time estava permitido para jogar? Bem, agora, eu não pude ter isso. Eu entrei em contato com o Ministro e ele concordou comigo que a Alta Investigadora tinha que ter o poder de tirar privilégios de alunos, ou ela, digo, eu teria menos autoridade do que os professores comuns! E agora você vê, não é, Minerva, o quão certa eu estava em tentar parar a reforma do time da Grifinória? Temperamentos horríveis... De qualquer forma, eu estava lendo nossa emenda... Hum, hum... "A Alta Investigadora daqui em diante terá a suprema autoridade sobre todas as punições, sanções e remoção de privilégios mesmo que tenham sido ordenados por outros membros do grupo. Assinado: Cornélio Fudge, Ministro da Magia, Ordem de Merlin, Primeira Classe, etc., etc."

 

Ela enrolou o pergaminho e colocou de volta na sua bolsa de mão, ainda sorrindo.

 

- Então... Eu realmente acho que eu terei que banir esses dois de jogar quadribol de novo - ela disse, olhando de Harry para Jorge e voltando de novo.

 

Harry sentiu o pomo agitar loucamente em sua mão.

 

- Nos banir? - ele disse e sua voz soou estranhamente distante. - De jogar... De novo?

 

- Sim, Sr. Potter, eu acho que uma proibição vitalícia deve fazer o costume - disse Umbridge, seu sorriso se alargando mais ainda enquanto ela o assistia se esforçar para compreender o que tinha dito. - Você e o Sr. Weasley aqui. E eu acho, para assegurar, que seu jovem irmão gêmeo deve ser parado também, se os seus colegas de time não o tivessem segurado eu tenho certeza que ele teria atacado o jovem Sr. Malfoy. Eu quero as vassouras deles confiscadas para ter certeza que não haverá violação de minha punição. Mas eu não sou injusta, professora McGonagall - ela continuou para professora McGonagall, que estava agora de pé tão quieta como se esculpida em gelo, olhando-a -, o resto do time pode continuar jogando, eu não vi sinais de violência em nenhum deles. Bem... Boa tarde para vocês.

 

E com um olhar de máxima satisfação, Umbridge deixou a sala, deixando um horrível silêncio em seu rastro.

 

- Banidos - disse Angelina numa voz profunda, tarde da noite na sala comunal.

 

- Banidos. Sem apanhador e sem batedores... O que é que nós vamos fazer?

 

Não parecia que eles tinham ganhado o jogo. Em todo lugar que Harry olhava haviam rostos furiosos e tristes; o time estava mergulhado ao redor do fogo, todos menos Rony, que não tinha sido visto desde o fim do jogo.

 

- É apenas tão injusto - disse Alicia estarrecidamente. - Eu quero dizer, sobre Crabbe e aquele balaço que ele arremessou após o apito ter sido assoprado? Ela o baniu?

 

- Não - disse Gina miseravelmente; ela e Hermione estavam sentadas uma em cada lado do Harry. - Ele apenas teve linhas, eu escutei Montague rindo sobre isso no jantar.

 

- E baniu Fred quando ele nem sequer fez nada! - disse Alicia furiosamente, esmurrando seu joelho com o seu punho.

 

- Não é minha culpa que eu não fiz - disse Fred com um olhar muito feio no rosto. - Eu teria socado aquele pequeno saco de merda para uma polpa se vocês não tivessem me segurado.

 

Harry olhava miseravelmente para a janela escura. Neve estava caindo. O pomo que tinha pegado estava agora zumbindo ao redor da sala comunal; as pessoas estavam assistindo seu progresso como se estivessem hipnotizadas e Bichento estava pulando de cadeira para cadeira, tentando pegá-lo.

 

- Eu vou para cama - disse Angelina, levantando-se lentamente. - Talvez isso tudo mude como se eu estivesse tendo um sonho ruim... Talvez eu acorde amanhã e descubra que nós ainda não jogamos...

 

Ela foi logo seguida por Alicia e Katie. Fred e Jorge foram para cama algum tempo depois, olhando furioso para todos que passavam, e Gina foi logo em seguida. Só Harry e Hermione estavam perto do fogo.

 

- Você viu Rony? - Hermione perguntou numa voz baixa.

 

Harry balançou a sua cabeça.

 

- Eu acho que ele está nos evitando - disse ela. - Onde você acha que ele...?

 

Mas no exato momento houve um som atrás deles enquanto a Mulher Gorda se abria e Rony veio subindo com dificuldade pelo buraco do retrato. Estava muito pálido de fato e havia neve em seu cabelo. Quando ele viu Harry e Hermione, parou inerte em seus rastros.

 

- Onde você estava? - disse Hermione ansiosa, levantando-se de um salto.

 

- Caminhando - Rony murmurou. Ainda estava usando as vestes de quadribol.

 

- Você parece congelado - disse Hermione. - Vem aqui e senta!

 

Rony caminhou para a lareira e se afundou na cadeira distante de Harry, sem olhá-lo. O pomo roubado zoava sobre sua cabeças.

 

- Me desculpe - Rony murmurou, olhando para o seu pé.

 

- Pelo quê? - disse Harry.

 

- Por pensar que eu posso jogar quadribol - disse Rony. - A primeira coisa que eu farei amanhã é renunciar.

 

- Se você renunciar - disse Harry, analisando - ficarão apenas três jogadores no time - e quando Rony olhou desconcertado ele disse. - Eu recebi uma proibição vitalícia. E também Fred e Jorge.

 

- O quê? - Rony gritou.

 

Hermione disse a ele a história completa; Harry não poderia suportar dizer isso de novo. Quando terminou Rony pareceu mais angustiado que nunca.

 

- É tudo minha culpa...

 

- Você não me fez socar Malfoy - disse Harry com raiva.

 

- ...Se eu não fosse tão terrível no quadribol...

 

- Não há nada para fazer com isso.

 

- ...Foi aquela música que me deixou com medo...

 

- Poderia ter deixado qualquer um com medo.

 

Hermione se levantou e caminhou para a janela, longe de um argumento, assistindo a neve girar contra a vidraça.

 

- Olhe, desiste disso! - Harry estourou. - É ruim demais sem você se lamentar por tudo!

 

Rony não disse nada mas sentou, olhando miseravelmente para a bainha úmida das suas vestes. Após um instante disse numa voz triste.

 

- Essa é a pior coisa que eu já senti em toda a minha vida.

 

- Junte-se ao clube - disse Harry amargamente.

 

- Bem - disse Hermione, sua voz tremendo levemente. - Eu acho que sei de uma coisa que deve animar vocês dois.

 

- Ah é? - disse Harry ceticamente.

 

- É - disse Hermione, virando-se da janela preta como carvão, coberta com flocos de neve, um largo sorriso surgindo em seu rosto. - Hagrid está de volta.

 

 

O CONTO DE HAGRID

Harry correu ate o dormitório dos garotos para pegar a capa de invisibilidade e o Mapa do Maroto do seu malão. Foi tão rápido que ele e Rony já estavam prontos pelo menos cinco minutos antes de Hermione voltar correndo dos dormitórios das garotas, vestindo cachecol, luvas e um de seus nodosos chapéus de elfos.

 

- Bom, está frio lá fora - disse ela, defendendo-se quando Rony coçou a garganta impacientemente.

 

Deslizaram pelo buraco do retrato e se cobriram com a capa - Rony tinha crescido tanto que agora precisava se agachar para evitar que seus pés fossem vistos - então, movendo-se devagar e com cuidado, prosseguiram descendo as muitas escadas, parando com intervalos para checar no mapa por sinal de Filch ou Madame Nor-r-ra. Tiveram sorte, não encontraram ninguém além de Nick Quase Sem Cabeça, que estava pairando distraído, murmurando algo que soava horrivelmente como "Weasley é nosso rei". Deslizaram cruzando o Saguão de Entrada e saíram no silencioso e congelado pátio. Com um grande salto no coração, Harry viu pequenos quadrados dourados de luz à frente e fumaça saindo da chaminé da cabana de Hagrid. Andou numa marcha rápida, os outros dois empurrando e dando encontrões atrás dele. Apertaram-se agitados através da neve densa até atingirem a porta de madeira. Quando Harry levantou o punho e bateu três vezes um cão começou a latir freneticamente do lado de dentro.

 

- Hagrid, somos nós - Harry falou pelo buraco da fechadura.

 

- Devia ter adivinhado - falou uma voz rouca.

 

Sorriram uns para os outros embaixo da capa; puderam saber pela voz de Hagrid que estava feliz.

 

- Estou em casa a três segundos... Sai do caminho Canino... Sai do caminho, seu cão preguiçoso.

 

O ferrolho foi empurrado para trás, a porta abriu rangendo, a cabeça de Hagrid apareceu no espaço.

 

Hermione gritou.

 

- Por Merlin, falem baixo - disse Hagrid duramente, encarando insensatamente acima de suas cabeças. - Embaixo daquela capa, não? Bom, entrem, entrem.

 

- Desculpe - ofegou Hermione enquanto os três se espremiam para passar por Hagrid e tirar a capa para que ele pudesse vê-los. - Eu só, oh, Hagrid.

 

- Não é nada, não é nada - disse Hagrid duramente, fechando a porta atrás deles e correndo para fechar as cortinas, mas Hermione continuou o encarando com horror.

 

O cabelo de Hagrid estava embaraçado e com sangue congelado, seu olho esquerdo tinha sido reduzido a uma fenda inchada em meio a um enorme hematoma roxo e preto. Haviam vários cortes em seu rosto e mãos, alguns deles ainda sangrando, e estava se movendo cuidadosamente, o que fez Harry desconfiar que as costelas estavam quebradas. Era óbvio que tinha acabado de chegar; uma capa espessa preta de viagem estava colocada nas costas de uma cadeira e o saco grande o suficiente para carregar várias crianças estava encostado na parede atrás da porta. Hagrid, com duas vezes o tamanho de um homem normal, estava agora mancando até o fogo e colocando a chaleira de cobre sobre ele.

 

- O que aconteceu com você? - perguntou Harry enquanto Canino dançava em volta deles, tentando lamber seu rostos.

 

- Já disse, nada - respondeu Hagrid firmemente. - Querem uma xícara?

 

- Deixa disso - falou Rony -, olha o estado que você está!

 

- Estou falando, eu estou bem - disse Hagrid, levantando e virando para encarar todos eles, mas se encolhendo. - Minha nossa, é bom ver vocês três de novo, tiveram um bom verão, foi?

 

- Hagrid, você foi atacado - falou Rony.

 

- Pela última vez, não é nada - disse Hagrid firmemente.

 

- Você diria que não é nada se um de nós aparecesse com um quilo de carne em vez de rosto? - despachou Rony.

 

- Você devia ir ver Madame Pomfrey, Hagrid - disse Hermione -, alguns desses cortes estão feios.

 

- Eu estou lidando com isso, está bem? - disse Hagrid em sinal de repressão.

 

Ele cruzou a enorme mesa de madeira que ficava no meio de sua cabana e puxou a toalha de chá que tinha ficado lá. Embaixo havia um bife cru, ensangüentado, meio esverdeado e um pouco maior que um pneu de carro normal.

 

- Você não vai comer isso, vai Hagrid? - disse Rony, encostando para ver melhor. - Parece venenoso.

 

- Era para parecer, é carne de dragão - Hagrid falou. - E eu não peguei para comer.

 

Ele pegou o bife e jogou do lado esquerdo do rosto. Sangue esverdeado escorreu pela barba enquanto fazia um som de satisfação.

 

- Assim está melhor. Ajuda com a ardência, sabe?

 

- Então, você vai nos contar o que houve? - perguntou Harry.

 

- Não posso, Harry. Segredo. Meu trabalho vale mais do que dizer isso a vocês.

 

- Os gigantes bateram em você, Hagrid? - perguntou Hermione calmamente.

 

Os dedos de Hagrid escorregaram do bife de dragão e este caiu golpeando pesadamente seu peito.

 

- Gigantes? - disse Hagrid, pegando o bife antes que atingisse o cinto e jogando de volta sobre seu rosto. - Quem falou qualquer coisa sobre gigantes? Com quem vocês têm falado? Quem contou para vocês que eu... Quem disse que eu tenho... Hein?

 

- Nós adivinhamos - disse Hermione, desculpando-se.

 

- Ah, vocês adivinharam, foi? - disse Hagrid, observando-a com o olho que não estava escondido pelo bife.

 

- Era um pouco... Óbvio - disse Rony. Harry concordou.

 

Hagrid os encarou, então sorriu, jogou o bife de volta na mesa e deu um largo passo até a chaleira, que estava apitando.

 

- Nunca vi crianças como vocês três para saber mais do que deveriam - ele murmurou, servindo água fervente em três de suas canecas que pareciam baldes. - E não estou apoiando vocês também. Curiosidade, alguns chamam de Interferência.

 

Sua barba estremeceu.

 

- Então, você tem procurado gigantes? - Harry falou, sério enquanto sentava-se à mesa.

 

Hagrid serviu chá na frente de cada um deles, sentou, pegou seu bife de novo e jogou de volta no rosto.

 

- É, está bem - ele grunhiu. - Eu estive.

 

- E você os achou? - perguntou Hermione numa voz apressada.

 

- Bom, não é tão difícil achá-los, para ser sincero. Bem grandes, sabe?

 

- Onde eles estão? - disse Rony.

 

- Nas montanhas - disse Hagrid, em vão.

 

- Então por que os trouxas...

 

- Eles sabem - disse Hagrid obscuramente. - Só que suas mortes são sempre encobertas por acidentes de alpinismo, não são?

 

Ele arrumou o bife um pouco para que cobrisse os piores machucados.

 

- Ah vai, Hagrid, conta o que você fez... - disse Rony. - Conta sobre ser atacado por gigantes que o Harry conta como ele foi atacado pelos dementadores...

 

Hagrid sufocou com a caneca e deixou o bife cair ao mesmo tempo, uma enorme quantidade de chá, saliva e sangue esverdeado salpicaram à mesa enquanto ele tossia e fazia barulho, o bife escorregou com um leve "splat" pro chão.

 

- O que você quer dizer "atacado por dementadores"? - resmungou Hagrid.

 

- Você não sabia? - perguntou Hermione de olhos arregalados.

 

- Eu não sei de nada que aconteceu desde que eu saí. Eu estava em missão secreta, não estava? Não queria corujas me seguindo por todo canto, benditos dementadores! Vocês não estão falando sério?

 

- Estamos, estamos sim, eles apareceram em Little Whinging e atacaram meu primo e eu, e o Ministério da Magia me expulsou...

 

- O quê?

 

- E eu tive que ir a uma audiência e tudo, mas diga sobre os gigantes primeiro.

 

- Você foi expulso?

 

- Conta sobre o seu verão que eu conto sobre o meu.

 

Hagrid o encarou através do seu único olho aberto. Harry olhou de volta uma expressão de determinação inocente no rosto.

 

- Está bem - disse Hagrid numa voz conformada.

 

Ele se curvou e tirou a carne de dragão da boca de canino.

 

- Ah, Hagrid, não faz isso, não é higiê... - Hermione começou mas Hagrid já tinha colocado a carne de volta sobre seu olho inchado.

 

Ele tomou outro gole fortificante de chá, então disse.

 

- Bom, nós partimos logo depois que as aulas acabaram...

 

- Madame Maxime foi com você, então? - Hermione adicionou.

 

- É isso - disse Hagrid e uma expressão mais gentil apareceu nas poucas polegadas de rosto que não estava obscurecido pela barba ou pelo bife verde. - É, éramos só nós dois. E eu vou dizer isso, ela não tem medo de lutar, a Olímpia. Vocês sabem, ela é uma mulher refinada e bem vestida e sabendo onde estávamos indo eu imaginei como ela se sentiria sobre escaladas e dormir em cavernas e essas coisas, mas ela não reclamou.

 

- Vocês sabiam onde estavam indo? - repetiu Harry. - Vocês sabiam onde os gigantes estavam?

 

- Bom, Dumbledore sabia e ele nos disse.

 

- Eles estão escondidos? - perguntou Rony. - É segredo onde eles estão?

 

- De fato, não - disse Hagrid sacudindo sua cabeça peluda. - É só que a maioria dos bruxos não se importa onde eles estão, ainda que é uma longa estrada. Mas onde eles estão é muito difícil chegar, para humanos, pelo menos, então nos precisamos das instruções de Dumbledore. Levamos um mês para chegar lá.

 

- Um mês? - disse Rony, como se nunca tivesse ouvido falar sobre uma viagem que durasse ridiculamente tanto tempo. - Mas por que vocês não podiam simplesmente pegar uma chave de portal, ou algo do tipo?

 

Tinha uma expressão estranha no olho obscuro de Hagrid enquanto ele encarava Rony; era quase dó.

 

- Nós estamos sendo observados, Rony - falou grosseiramente.

 

- O que você quer dizer?

 

- Você não entende, o Ministério está observando Dumbledore e qualquer um que eles saibam que é leal a ele...

 

- Nós sabemos disso - falou Harry rapidamente, ansioso para ouvir o resto da história de Hagrid -, sabemos que o Ministério está vigiando Dumbledore...

 

- Então vocês não podiam usar magia para chegar lá? - perguntou Rony, olhando atordoado. - Vocês tiveram que agir como trouxas todo o caminho?

 

- Bom, não exatamente todo o caminho - disse Hagrid com cautela. - Nós só tivemos que ter cuidado, porque eu e Olímpia chamamos atenção...

 

Rony fez um barulho abafado em algum lugar entre um ronco e uma fungada e apressadamente tomou um gole de chá.

 

- Então não é difícil nos seguir. Nós estávamos fingindo que estávamos de férias juntos, então fomos para o interior da França, simulando que íamos para onde é a escola da Olímpia, nós sabíamos que tinha gente do Ministério seguindo. Tivemos que ir devagar, porque na verdade não devo usar magia e sabíamos que o Ministério estava procurando uma razão para nos prender. Mas nós demos um jeito de escapar perto de Dee-Jonh...

 

- Ooooh, Dijon? - disse Hermione agitada. - Eu estive lá nas férias, você viu...

 

Ela se calou com o olhar de Rony.

 

- Arriscamos um pouco de magia depois disso e não foi uma má viagem. Encontramos alguns trasgos loucos na divisa com a Polônia e eu tive uma pequena discussão com um vampiro num pub em Minsk mas, fora isso, foi uma viagem calma. Então chegamos no lugar, então veio a parte difícil pelas montanhas, procurando por sinais deles... Tivemos que deixar de usar magia, então, parte porque eles não gostam de bruxos e nos não queríamos briga tão cedo, parte porque Dumbledore tinha avisado que Você-Sabe-Quem estava determinado a achar os gigantes e tudo. Ele disse que seria estranho se não tivesse mandado mensageiros até lá ainda. Disse para tomarmos muito cuidado ao chamar atenção para nós no caso de haverem Comensais da Morte.

 

Hagrid parou para um longo gole de chá.

 

- Continue - disse Harry apressado.

 

- Achamos eles - disse Hagrid grosseiramente. - Fomos ao lado de um cume uma noite e lá estavam eles, espalhados abaixo de nós. Pequenas fogueiras queimando sob enormes sombras... Era como ver pedaços da montanha se mexer.

 

- Quanto eles medem? - perguntou Rony numa voz baixa.

 

- Uns cinco metros - disse Hagrid despreocupadamente. - Os maiores deviam ter seis metros e meio.

 

- E quantos eram?

 

- Eu acho que mais ou menos setenta ou oitenta.

 

- Só isso? - disse Hermione.

 

- É - disse Hagrid, triste -, oitenta restam e haviam muitos antes, deviam haver centenas de tribos diferentes, de todo lugar do planeta. Mas eles têm morrido há anos. Bruxos mataram alguns, claro, mas eles matam uns os outros e agora estão morrendo mais rápido que nunca. Eles têm que viver juntos desse jeito. Dumbledore diz que é nossa culpa, foram os bruxos que os forçaram a sair e fizeram com que ficassem bem longe da gente e não tiveram outra escolha além de ficar junto para proteção.

 

- Então - disse Harry - você os viu, e depois?

 

- Bom, esperamos até de manhã, não queríamos tentar alguma coisa no escuro, para nossa própria segurança. Por volta das três da manhã eles dormiram bem onde estavam sentados. Não ousamos dormir por dois motivos, queríamos ter certeza de que nem um deles acordasse e viesse onde estávamos e também porque os roncos eram inacreditáveis. Causaram uma avalanche perto do amanhecer. Bom, quando amanheceu fomos falar com eles.

 

- Simples assim? - disse Rony, olhando aterrorizado. - Vocês foram entrando no acampamento de gigantes?

 

- Bom, Dumbledore tinha dito como fazer isso. Dar presentes ao Gurg, mostrar respeito, sabe.

 

- Dar presentes a quem? - perguntou Harry.

 

- Ah, ao Gurg, quer dizer o chefe.

 

- Como vocês sabiam qual era o Gurg? - perguntou Rony.

 

Hagrid grunhiu de divertimento.

 

- Sem problemas, era o maior, mais feio e mais preguiçoso. Sentado, esperando que os outros tragam comida. Cabra morta, essas coisas. O nome era Karkus. Eu diria que tinha uns cinco metros e meio, talvez seis, o peso de um par de elefantes machos. A pele como dinheiro amassado e tudo.

 

- E vocês foram falar com ele? - disse Hermione, perdendo o ar.

 

- Bom... Fomos, ele estava deitado no vale. Estavam numa depressão entre quatro montanhas bonitas e altas, sabe, do lado do lago da montanha, e Karkus estava deitado ao lado do lago, uivando para os outros trazerem comida para ele e para a mulher. Olímpia e eu descemos a encosta da montanha...

 

- Mas eles não tentaram matar vocês quando viram? - perguntou Rony, desacreditado.

 

- Definitivamente, eles estavam pensando nisso - disse Hagrid, encolhendo os ombros - mas fizemos como Dumbledore pediu, que era segurar nosso presente no alto e ficar olhando para o Gurg e ignorar os outros. Então nós fizemos isso. E o resto deles ficou calado e olhando a gente passar. fomos até o pé de Karkus, então nos curvamos e pusemos nosso presente no chão na frente dele.

 

- O que se dá a um gigante? - perguntou Rony ansioso. - Comida?

 

- Não, eles se viram pra achar comida sozinhos. Levamos magia. Gigantes gostam de magia, só não gostam quando é usada contra eles. De qualquer jeito, aquele primeiro dia demos um galho de fogo Gubraithian.

 

Hermione disse "Wow" baixinho mas Harry e Rony franziram as sobrancelhas, embaraçados.

 

- Um galho de...?

 

- Fogo eterno - disse Hermione, irritada -, vocês já deviam saber. O professor Flitwick comentou pelo menos duas vezes na sala!

 

- Bom, de qualquer forma - disse Hagrid rápido, interferindo antes que Rony pudesse responder -, Dumbledore enfeitiçou esse galho para queimar para sempre, o que qualquer bruxo poderia fazer, então eu pus no chão coberto por neve perto do pé de Karkus e disse: "Um presente para o Gurg, dos gigantes, de Alvo Dumbledore, que manda seus respeitosos cumprimentos".

 

- E o que Karkus disse? - perguntou Harry ansioso.

 

- Nada. Não falava inglês.

 

- Você tá brincando!

 

- Não importava - disse Hagrid, imperturbável -, Dumbledore tinha avisado que isso poderia acontecer. Karkus sabia o suficiente para gritar para que alguns gigantes que conheciam nosso língua e eles traduziram para nós.

 

- E ele gostou do presente? - perguntou Rony.

 

- Ah, sim, começou uma tempestade quando ele entendeu o que era - disse Hagrid, virando a carne de dragão para pressionar o lado mais frio no olho inchado. - Muito satisfeito. Então eu disse: "Alvo Dumbledore pede que o Gurg fale com seu mensageiro quando voltar amanhã com outro presente".

 

- Por que vocês não podiam falar com ele aquele dia? - disse Hermione.

 

- Dumbledore queria que fôssemos muito devagar. Fazer com que vejam que cumprimos nossas promessas. "Vamos voltar amanhã com mais ofertas", e voltamos com mais presentes, dá boa impressão, vê? E dá tempo a eles de testarem o primeiro presente e descobrir que é bom, e os deixa ansiosos por mais. De qualquer jeito gigantes como Karkus, sobrecarregue-o com informações e ele te mata só pra simplificar as coisas. Então nos curvamos fora do caminho e saímos e achamos uma pequena caverna para passar a noite e na manhã seguinte voltamos, dessa vez encontramos Karkus sentado esperando por nós, parecendo ansioso.

 

- E você falou com ele?

 

- Ah, sim. Antes demos a ele um bonito elmo de batalha, feito por duendes e indestrutível, sabe, e então sentamos e falamos.

 

- O que ele falou?

 

- Não muito. Ouviu mais. Mais houveram bons sinais. Ele tinha ouvido falar de Dumbledore, ouvido que tinha brigado contra a matança dos últimos gigantes na Inglaterra. Karkus pareceu estar bem interessado no que Dumbledore tinha pra falar. E alguns dos outros, especialmente aqueles que falavam um pouco de inglês, se juntaram e ouviram também. Tínhamos esperanças quando partimos aquele dia. Prometemos voltar na manhã seguinte com outro presente. Mas aquela noite tudo deu errado.

 

- O que você quer dizer? - disse Rony rapidamente.

 

- Bom, como eu disse, eles não deviam viver juntos, gigantes - disse Hagrid triste. - Não em grupos grandes como aquele. Eles não se agüentam, matam metade deles a cada poucas semanas. Os homens lutam uns com os outros, as mulheres lutam umas com as outras; os remanescentes das antigas tribos lutam uns com os outros, isso sem contar brigas por comida, os melhores fogos, os melhores cantos para dormir. Você pensaria, vendo que toda a raça está para se extinguir, que eles cuidariam uns dos outros, mas...

 

Hagrid suspirou profundamente.

 

- Aquela noite uma briga começou, vimos da boca da nossa caverna, olhando para baixo, no vale. Continuou por horas, vocês não acreditariam no barulho. E quando o sol subiu a neve estava escarlate e sua cabeça estava na beira do lago.

 

- Cabeça de quem? - ofegou Hermione.

 

- Do Karkus - disse Hagrid pesadamente. - Havia um novo Gurg, Golgomath - ele suspirou profundamente. - Bom, não havíamos considerado um novo Gurg dois dias depois de fazer contato amigável com o primeiro e tínhamos um pressentimento de que Golgomath não estaria tão ávido por ouvir, mas tínhamos que tentar.

 

- Você foi falar com ele? - pergunto Rony, incrédulo. - Depois de assistir ele tirar a cabeça de outro gigante?

 

- Claro que sim - disse Hagrid -, não fomos até lá para desistir depois de dois dias! Nós descemos com o próximo presente que íamos dar a Karkus. Eu sabia que não ia ter jeito antes de ele abrir a boca. Estava ali sentado, com o elmo de Karkus, olhando com maldade enquanto chegávamos perto. Ele era grande, um dos maiores. Cabelo preto e dentes combinando e um colar de ossos. Alguns ossos humanos. Eu fiz uma tentativa, segurei um grande rolo de pele de dragão e disse "Um presente para o Gurg dos gigantes...". Logo depois eu estava pendurado de pés para o ar seguro pelos pés, dois de seus colegas haviam me agarrado.

 

 Hermione tampou a boca com as mãos.

 

- Como você se safou disso? - perguntou Harry.

 

- Não teria se Olímpia não estivesse lá. Ela tirou a varinha e fez um dos feitiços mais rápidos que eu já vi. Maravilhoso. Acertou os dois que estavam me segurando bem no olho com a maldição Conjuctivitus e eles me largaram na mesma hora, mas estávamos enrascados então, porque tínhamos usado magia contra eles e isso é o que gigantes odeiam sobre bruxos. Tivemos que sair a pé e sabíamos que não havia jeito de voltar ao acampamento de novo.

 

- Nossa, Hagrid - disse Rony baixo.

 

- Então por que você demorou tanto para vir para casa se você ficou lá por apenas três dias? - perguntou Hermione.

 

- Não partimos depois de três dias! - disse Hagrid, parecendo indignado. - Dumbledore estava contando conosco.

 

- Mas você acabou de dizer que não havia jeito de voltar!

 

- Não durante o dia, nos não podíamos, não. Só tivemos que repensar um pouco. Gastamos alguns dias deitados na caverna e observando. E o que vimos não foi bom.

 

- Ele tirou mais cabeças? - perguntou Hermione, sensivelmente.

 

- Não, preferia que fosse isso.

 

- O que quer dizer?

 

- Eu quero dizer que nos logo descobrimos que ele não recusa todos os bruxos, só nós.

 

- Comensais da Morte? - disse Harry rapidamente.

 

- É - disse Hagrid obscuramente. - Dois deles os estavam visitando todos os dias, trazendo presentes pra o Gurg, e ele não estava virando eles de pés pro ar.

 

- Como você sabe que eram Comensais da Morte? - disse Rony.

 

- Por que reconheci um deles - disse Hagrid. - Macnair, lembra dele? O cara que mandaram para matar Bicuço? Maníaco, é o que ele é. Gosta de matar tanto quanto Golgomath; não é à toa que se deram tão bem.

 

- Então Macnair convenceu os gigantes a se aliar a Você-Sabe-Quem? - disse Hermione desesperadamente.

 

- Segure seus Hipogrifos, eu ainda não terminei minha história - disse Hagrid, indignado, que, considerando que não queria contar nada desde o começo agora parecia estar até gostando. - Eu e Olímpia conversamos e concordamos que só porque o Gurg parecia estar favorecendo Você-Sabe-Quem não queria dizer que todos favoreceriam. Tentamos convencer alguns dos outros, os que não queriam Golgomath como Gurg.

 

- Como vocês sabiam quais eram? - perguntou Rony.

 

- Bom, eram os que estavam apanhando feio, não eram? - disse Hagrid pacientemente. - Os que tinham alguma consciência estavam ficando fora do caminha de Golgomath, se escondendo em cavernas em volta da depressão, assim como nós. Então decidimos ir remexendo as cavernas à noite e ver se conseguíamos convencer alguns deles.

 

- Vocês foram remexendo cavernas escuras procurando gigantes? - disse Rony, com admirável respeito em sua voz.

 

- Bom, não era com os gigantes que estávamos mais preocupados, estávamos mais inquietos por causa dos Comensais da Morte. Dumbledore tinha dito antes de partirmos para não bobear com eles se pudéssemos evitar e o problema era que eles sabiam que estávamos por perto, acho que Golgomath contou sobre a gente. De noite, quando os gigantes estavam dormindo e nós estávamos rastejando nas cavernas, Macnair e o outro ficavam rondando as montanhas, procurando nós dois. Foi difícil impedir Olímpia de pular em cima deles - disse Hagrid, os cantos da boca levantando sua barba selvagem -, ela estava querendo atacar ele... Tem alguma coisa quando ela acorda, Olímpia... Abrasador, sabe... Acho que é por que é francesa...

 

Hagrid encarou com os olhos enevoados o fogo. Harry deixou trinta segundos de lembranças antes de limpar sua garganta alto.

 

- Então, o que aconteceu? Vocês chegaram perto de algum dos gigantes?

 

- Que? Ah... Ah, é, chegamos. É, na terceira noite depois que Karkus morreu nos saímos da caverna onde estávamos nos escondendo e nos dirigimos de volta para a depressão, mantendo os olhos abertos por causa dos Comensais da Morte. Entramos em algumas cavernas, de nada adiantou, então por volta da sexta achamos três gigantes se escondendo.

 

- A caverna devia estar apertada - disse Rony.

 

- Não tinha espaço para balançar um amasso - disse Hagrid.

 

- Eles não atacaram vocês quando viram? - perguntou Hermione.

 

- Provavelmente atacariam se estivessem em condições, mas eles estavam bem machucados, os três; o pessoal de Gologmath os deixou inconscientes; eles tinham acordado e se arrastado até o abrigo mais próximo que puderam encontrar. O fato é que um deles falava um pouco de inglês e traduziu para os outros, o que tínhamos para falar não pareceu tão mal. Então nós continuamos voltando, visitando os feridos... Chegou uma hora que eu acho que tínhamos uns seis ou sete convencidos.

 

- Seis ou sete? - disse Rony ansioso. - Bom, isso não é nada mal, eles vão vir para cá e começar a lutar contra Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado com a gente?

 

Mas Hermione disse.

 

- 'O que você quer dizer com "chegou uma hora", Hagrid?

 

Hagrid olhou para ela triste.

 

- O pessoal de Golgomath invadiu as cavernas. Os que sobreviveram não queriam mais nada conosco depois disso.

 

- Então... Então não tem gigante nenhum vindo - disse Rony, parecendo desapontado.

 

- Não - disse Hagrid, suspirando profundamente e virando seu bife para colocar o lado mais frio em seu rosto -, mas fizemos o que devíamos ter feito, demos a mensagem de Dumbledore, alguns deles ouviram e espero que alguns se lembrem. Talvez os que não apóiam Golgomath saíam das montanhas, então há uma chance de que se lembrem da mensagem amigável de Dumbledore... Pode ser que venham.

 

A neve estava cobrindo as janelas agora. Harry percebeu que os joelhos de suas vestes estavam encharcados: Canino estava babando em seu colo.

 

- Hagrid? - disse Hermione, baixinho, depois de um tempo.

 

- Hum?

 

- Você... Tinha algum sinal... Você ouviu alguma coisa sobre... Sua... Mãe enquanto estava lá?

 

O olho não tampado de Hagrid a fitou e Hermione pareceu bem assustada.

 

- Desculpe... Eu... Esqueci isso...

 

- Morta - Hagrid grunhiu. - Morreu anos atrás. Eles me contaram.

 

- Ah... Eu... Sinto muitíssimo - disse Hermione, uma voz muito baixa. Hagrid encolheu seus ombros enormes.

 

- Não precisa - disse rapidamente. - Não me lembro muito dela. Não era uma boa mãe.

 

Eles ficaram em silêncio mais uma vez. Hermione encarou Harry e Rony nervosa, claramente querendo que eles falassem.

 

- Mas você ainda não explicou por que você ficou desse jeito, Hagrid - disse Rony, referindo-se ao rosto manchado de sangue de Hagrid.

 

- Nem por que você só voltou agora - disse Harry. - Sirius disse que Madame Maxime voltou há tempos...

 

- Quem te atacou? - disse Rony.

 

- Ninguém me atacou! - disse Hagrid enfaticamente. - Eu...

 

Mas o resto das palavras foram abafadas pelas batidas repentinas na porta. Hermione ofegou; a caneca escorregou de seus dedos e espatifou no chão; Canino latiu. Os quatro olharam pela janela perto da porta. A sombra de alguém pequeno e agachado ondulou na cortina fina.

 

- É ela! - murmurou Rony.

 

- Fiquem aqui em baixo! - disse Harry rapidamente; pegando a capa de invisibilidade, jogou sobre ele e Hermione enquanto Rony corria para dar a volta na mesa e foi para baixo da capa também.

 

Grudados uns nos outros eles foram para um canto. Canino latia loucamente para a porta, Hagrid pareceu bem confuso.

 

- Hagrid, esconda nossas canecas!

 

Hagrid pegou as canecas de Harry e Rony e as empurrou para baixo da almofada no cesto de Canino. Canino estava agora saltando na porta; Hagrid o tirou do caminho com os pés e abriu.

 

A professora Umbridge estava parada na entrada, vestindo a capa verde e um chapéu com protetor de orelha combinando. Lábios apertados, ela se inclinou para ver o rosto da Hagrid; quase alcançava seu umbigo.

 

- Então - ela disse devagar e alto, como se estivesse falando com algum surdo. - Você é Hagrid, é?

 

Sem esperar pela resposta ela caminhou pelo cômodo, seus olhos salientes indo a todas as direções.

 

- Sai da frente - ela falou rispidamente, sacudindo a bolsa de mão para Canino, que estava pulando nela, tentando lamber seu rosto.

 

- Er... Eu não quero se rude - disse Hagrid, olhando para ela - mas quem é você?

 

- Meu nome é Dolores Umbridge.

 

Seu olhos estavam varrendo a cabana. Duas vezes ela olhou diretamente para o canto onde Harry estava, esmagado entre Rony e Hermione.

 

- Dolores Umbridge? - disse Hagrid, parecendo bastante confuso. - Eu achei que você era do Ministério... Você não trabalha com Fudge?

 

- Eu era Subsecretária superior do Ministro, sim - disse Umbridge, analisando a cabana agora, captando cada detalhe, desde a mochila encostada na parede até a capa de viagem abandonada. - Agora sou professora de Defesa Contra as Artes das Trevas...

 

- Que coragem a sua, não tem mais muita gente querendo o emprego.

 

- E Grande Investigadora de Hogwarts - disse Umbridge, não dando sinais de ter ouvido o que ele falou.

 

- O que é isso? - disse Hagrid, sombrio.

 

- Exatamente o que eu ia perguntar - disse Umbridge, apontando para os pedaços de porcelana quebrada que foram a caneca de Hermione.

 

- Ah - disse Hagrid, com um inútil olhar para o canto onde estavam escondidos Harry, Rony e Hermione. - Ah, isso foi... Foi Canino. Ele quebrou a caneca. Então eu estava usando esta no lugar.

 

Hagrid apontou para a caneca em que tinha estado bebendo, uma mão ainda pressionando o bife de dragão sobre o olho. Umbridge parou para olhá-lo agora, captando cada detalhe de sua aparência em vez da cabana.

 

- Eu ouvi vozes - disse ela baixo.

 

- Eu estava falando com Canino - disse Hagrid com bravura.

 

- E ele estava respondendo?

 

- Bom... É maneira de falar - disse Hagrid, parecendo desconfortável. - Eu, às vezes, digo que Canino parece huma...

 

- Tem três conjuntos de pegadas na neve saindo da porta do castelo e vindo para sua cabana - disse Umbridge educadamente.

 

Hermione ofegou; Harry tampou sua boca com as mãos. Por sorte, Canino estava fungando alto em volta da barra das vestes da professora Umbridge e ela não pareceu ter ouvido nada.

 

- Bom, eu acabei de voltar - disse Hagrid, sacudindo uma enorme mão para a mochila. - Talvez alguém tenha vindo me chamar antes e não me encontrou.

 

- Não tem pegadas saindo da sua cabana.

 

- Bom, eu... Eu não entendo como pode... - disse Hagrid, puxando nervoso a barba e mais uma vez olhando de esguelha para o canto onde estavam Harry, Rony e Hermione, como se pedisse por ajuda.

 

Umbridge se virou repentinamente e foi até a ponta da cabana, olhando em volta com cuidado. Ela se curvou e observou atentamente embaixo da cama. Abriu o armário de louças. Passou a cinco centímetros de onde Harry, Rony e Hermione estavam pressionados na parede; Harry até encolheu a barriga quando ela passou. Depois de olhar atentamente dentro do enorme caldeirão que Hagrid usava para cozinhar, ela se virou repentinamente de novo e disse.

 

- O que aconteceu com você? Como você agüenta esses machucados?

 

Hagrid tirou o bife de dragão do rosto rapidamente, o que Harry achou ser um erro, porque agora dava para ver com clareza o hematoma roxo e preto, sem mencionar a quantidade de sangue fresco e congelado no seu rosto.

 

- Ah, eu... Tive um tipo de acidente - disse desleixado.

 

- Que tipo de acidente?

 

- Eu... Eu tropecei.

 

- Você tropeçou - ela repetiu friamente.

 

- É, isso mesmo. Sobre... Sobre a vassoura de um amigo. Eu mesmo não vôo. Bom, olhe o meu tamanho, eu não acho que exista uma vassoura que me agüente. Um amigo meu cria cavalos Abraxam, eu não sei se você já viu, animal grande, alado, sabe, eu fui dar uma voltinha nele e foi isso...

 

- Onde você esteve? - perguntou Umbridge, cortando friamente o falatório de Hagrid.

 

- Onde eu...?

 

- Esteve, é. O período começou há dois meses atrás. Outra professora teve que dar as suas aulas. Nenhum de seus colegas pôde me informar nada sobre seu paradeiro. Você não deixou endereço. Onde esteve?

 

Houve uma pausa onde Hagrid a encarou com seu olho recém destampado. Harry quase podia ouvir seu cérebro funcionando furiosamente.

 

- Eu estava com problemas de saúde.

 

- Problemas de saúde - repetiu a Professora Umbridge. Os olhos dela viajaram pelo rosto sem cor e inchado de Hagrid; sangue de dragão derramado gentilmente sobre seu colete. - Dá pra ver.

 

- É, um pouco de ar fresco, sabe...

 

- Como guarda-caça deve ser tão difícil pegar ar fresco - disse Umbridge docemente. A pequena parte do rosto de Hagrid que não estava roxa e preta ruborizou.

 

- Bom... Mudar de cenário, sabe...

 

- Montanhas? - disse Umbridge rapidamente.

 

"Ela sabe", Harry pensou desesperadamente.

 

- Montanhas? - Hagrid repetiu, claramente pensando rápido. - Não, sul da França pra mim. Um pouco de sol e... E praia.

 

- Sério? Você não esta muito queimado.

 

- É... Bom... Pele sensível - disse Hagrid, tentando um sorriso agradável.

 

Harry percebeu que dois de seus dentes estavam faltando. Umbridge olhou para ele friamente; o sorriso vacilou. Então ela levantou sua bolsa de mão um pouco mais no cotovelo e disse.

 

= Eu devo, claro informar o Ministro de seu atraso.

 

- Certo - disse Hagrid, concordando com a cabeça.

 

- Você deve saber, também, que como Grande Investigadora é meu inadequado mais necessário dever inspecionar meus colegas professores. Então eu me arrisco a dizer que nos veremos novamente em breve.

 

- Você está inspecionando a gente? - repetiu Hagrid vagamente.

 

- Ah, sim - disse Umbridge gentilmente, olhando de volta para ele com a mão na maçaneta. - O Ministério está determinado a eliminar professores insatisfatórios, Hagrid. Boa noite.

 

Ela partiu, fechando a porta com um estalo. Harry ia pular da capa de invisibilidade mas Hermione segurou seu pulso.

 

- Ainda não - ela murmurou em seu ouvido. - Ela pode não ter ido ainda.

 

Hagrid parecia estar pensando o mesmo; cruzou a sala e puxou a cortina um polegada ou um pouco mais.

 

- Ela esta voltando para o castelo - ele disse numa voz baixa. - Minha nossa... Inspecionando a gente, é?

 

- É - disse Harry, saindo de baixo da capa. - Trelawney já está em provação...

 

- Hum... O  que você esta planejando fazer nas nossas aulas, Hagrid? - perguntou Hermione.

 

- Ah, não se preocupe com isso, eu tenho um bom bocado de aulas planejadas - disse Hagrid entusiasmado, tirando o bife de dragão da mesa e jogando sobre seu olho mais uma vez. - Eu tenho guardado algumas criaturas para os N.O.M.'s de vocês, algumas coisas bem especiais.

 

- Erm... Especial como? - disse Hermione na tentativa.

 

- Eu não vou dizer - disse Hagrid alegre. - Não quero estragar a surpresa.

 

- Olha, Hagrid - disse Hermione com urgência, deixando todo o fingimento. - A professora Umbridge não ficará nada feliz se você trouxer alguma coisa perigosa demais para a aula.

 

- Perigosos? - disse Hagrid, parecendo realmente confuso. - Não seja boba, eu não traria nada perigoso! Quero dizer, está bem, eles se viram...

 

- Hagrid, você tem que passar pela inspeção de Umbridge e para isso seria melhor se ela visse você nos ensinando como cuidar de pocotós, como diferenciar ouriços e porcos espinhos, coisas do tipo! - disse Hermione gravemente.

 

- Mas isso não é muito interessante, Hermione. O que eu tenho é tão mais impressionante. Eu tenho trazido eles há tempos, eu acho que tenho o único bando domesticado da Inglaterra.

 

- Hagrid... Por favor... - disse Hermione, uma nota de desespero na voz. - Umbridge está procurando qualquer desculpa para se livrar dos professores que ela acha que são muito próximos de Dumbledore. Por favor, Hagrid nos ensine alguma coisa boba que pode cair no nosso N.O.M.

 

Mas Hagrid bocejou largamente e deu uma olhada de relance para a cama no canto.

 

- Ouçam, foi um longo dia, e é tarde - ele disse, dando uma pancadinha leve no ombro de Hermione, seus joelhos dobraram e bateram no chão com um som surdo. - Ah, desculpe - ele levantou ela de volta pela gola de suas vestes. - Olhem, não se preocupem comigo, prometo que tenho boas coisas planejadas para suas aulas agora que eu estou de volta... Agora, todos vocês, é melhor voltarem para o castelo e não esqueçam de limpar seus passos atrás de vocês.

 

- Não sei se você o convenceu - disse Rony um pouco depois quando, tendo checado que a barra tava limpa, estavam voltando para o castelo pela neve espessa, não deixando rastros graças ao feitiço de Desaparecimento que Hermione estava realizando enquanto andavam.

 

- Se é assim, eu volto amanhã - disse Hermione determinada. - Eu planejarei as aulas para ele se for necessário. Eu não ligo se ela expulsar Trelawney mas ela não vai se livrar de Hagrid!

 

 

O OLHO DA COBRA

Hermione se direcionou para a cabana de Hagrid sob dois pés de neve numa manhã de domingo. Harry e Rony queriam ter ido com ela mas as montanhas de tarefas de casa tinham atingido uma altura alarmante novamente ficaram de má vontade na sala comunal, tentando ignorar a alegria gritante ecoando na grama lá fora, onde estudantes estavam se divertindo, patinando no lago congelado, andando num tobogã e, o pior de todos; enfeitiçando bolas de neve para baterem na torre da Grifinória e fazerem um grande barulho nas janelas.

 

- Ai! - gritou Rony, finalmente perdendo a paciência e fitando sua cabeça na janela. - Eu sou um monitor e se mais alguma bola de neve bater nessa janela... OUCH!

 

Ele recolheu sua cabeça rapidamente, seu rosto estava coberto de neve.

 

- Fred e Jorge - disse friamente, fitando a janela atrás de si. - Corajosos...

 

Hermione voltou da cabana de Hagrid pouco antes do almoço, tremendo levemente, suas vestes úmidas até o joelho.

 

- E então? -disse Rony, olhando-a. - Pegou todas as lições planejadas por ele?

 

- Bom, eu tentei - disse ela estupidamente, afundando-se numa cadeira ao lado de Harry. Pegou sua varinha, deu-lhe um pequeno e complicado giro e um ar quente jorrou da ponta; apontou para suas vestes, que começaram a se cobrir de vapor enquanto secavam. - Ele nem mesmo estava lá quando eu cheguei, fiquei batendo na porta por pelo menos meia hora. E então ele veio rapidamente da Floresta...

 

Harry gemeu. A Floresta Proibida estava repleta de tipos de criaturas que poderiam dar a Hagrid uma demissão.

 

- O que ele está mantendo lá? Ele disse? - ele perguntou.

 

- Não - disse Hermione miseravelmente. - Ele disse que queria fazer uma surpresa. Eu tentei explicar sobre Umbridge mas parece que ele não entende. Ele continua dizendo que ninguém em sã consciência iria preferir estudar ouriços em vez de quimeras. Oh, eu não acho que ele tenha uma quimera - ela reparou um pálido olhar no rosto de Harry e de Rony -, mas isso não é por falta de tentativa, pois ele disse sobre como é difícil pegar os ovos. Eu não sei quantas vezes eu disse que era melhor ele seguir o plano da Grubbly-Plank, eu sinceramente não acho que ele tenha ouvido metade do que eu disse. Ele está com um humor um tanto engraçado, vocês sabem. Ele ainda não disse como conseguiu todas aqueles machucados.

 

Quando Hagrid apareceu na mesa de café da manhã no outro dia não se via entusiasmo nos estudantes. Alguns, como Fred, Jorge e Lino, gritaram com prazer e correram entre as mesas da Grifinória e Lufa-lufa, para apertar a enorme mão de Hagrid; outros, como Parvati e Lilá, trocaram olhares frios e sacudiram suas cabeças. Harry sabia que muitos deles preferiam as aulas da professora Grubbly-Plank; e o pior de tudo era que uma pequena parte dele sabia que tinham razão.

 

A idéia de Grubbly-Plank de uma classe interessante não era uma onde tinham que correr o risco de ter a cabeça de alguém cortada.

 

Essa era a certeza absoluta do receio sobre o qual Harry, Rony e Mione tinham avisado a Hagrid na terça-feira, tristemente silenciaram contra o frio. Harry estava preocupado, não apenas com o que Hagrid decidira ensinar a eles mas também com o comportamento do resto da classe, particularmente de Malfoy e cia, já que Umbridge os estava observando.

 

Entretanto, a grande inquisitora não estava em um lugar que desse para vê-la enquanto caminhavam na neve em direção a Hagrid, que estava esperando por eles no canto da Floresta. Ele não parecia seguro, o machucado que estava lilás na noite de sábado agora estava tingido de verde e amarelo e algumas de suas feridas pareciam estar sangrando. Harry não conseguia entender isso: Será que Hagrid foi atacado por alguma criatura cujo veneno evitou que as feridas cicatrizassem? Para completar uma agonizante figura, Hagrid estava carregando o que parecia metade de uma vaca morta em seu ombro.

 

- Nós vamos trabalhar com isso hoje! - Hagrid pediu alegremente para os estudantes se aproximarem, enquanto olhava para as escuras árvores atrás dele. - Um pouco de abrigo! De qualquer forma, eles preferem o escuro.

 

- O que prefere o escuro? - Harry ouviu Malfoy dizer rapidamente para Crabbe e Goyle, com um traço de pânico na voz. - O que ele disse que prefere o escuro, vocês ouviram?

 

Harry se lembrou da única outra ocasião em que Malfoy entrou na Floresta antes daquela, ele não tinha sido muito corajoso desde então. Sorriu pra si mesmo; depois do jogo de quadribol qualquer coisa de causasse desconforto em Malfoy estava tudo bem pra ele.

 

- Prontos? - disse Hagrid alegremente, olhando em volta dos alunos. - Certo, bom, eu estive planejando uma viagem dentro da Floresta para o seu quinto ano. Acho que veremos essas criaturas em seu habitat natural. Agora, o que estudaremos hoje é muito raro, eu presumo que provavelmente eu seja a única pessoa na Grã-bretanha que treina essas criaturas.

 

- E você tem certeza que são treinadas, não é? -disse Malfoy, o pânico em sua voz ainda maior. - Não seria essa a primeira vez que você trouxe coisas selvagens pra classe, seria?

 

A Sonserina murmurou concordando e alguns grifinórios olharam como se achassem que Malfoy tinha uma certa razão também.

 

- Claro que são treinados - respondeu Hagrid raivosamente, enquanto acomodava a vaca morta em seu ombro.

 

- Então o que aconteceu com seu rosto? - retrucou Malfoy.

 

- Vá cuidar da sua vida! - disse Hagrid furioso. - Agora, se vocês terminaram com suas perguntar estúpidas, sigam-me!

 

Ele começou a andar diretamente para a floresta. Ninguém parecia muito disposto a seguir. Harry olhou para Rony e Mione, que suspiraram mas oscilaram, e três deles estavam logo atrás de Hagrid, conduzindo o resto da classe.

 

Andaram por volta de dez minutos até chegar em um lugar onde as árvores estavam tão próximas umas das outras que se tornara tão escuro quanto um crepúsculo e não havia tanta neve no chão.

 

Com um grunhido, Hagrid depositou a "meia vaca" no chão e se voltou para sua classe, muitos deles estavam rastejando de árvore em árvore em direção a ele, observando atentamente e nervosos como se estivessem esperando um ataque a qualquer momento.

 

- Juntem-se aqui, juntem-se aqui - Hagrid os encorajou. - Agora, eles serão atraídos pelo cheiro da carne mas eu vou dar a eles uma chamada de qualquer jeito, porque iriam gostar de saber que sou eu.

 

Ele sacudiu sua cabeça peluda para tirar o cabelo do rosto e deu um estranho "guincho chorante", que ecoou pelas sombrias árvores como se fosse o grito de um pássaro monstruoso.

 

Ninguém riu; muitos deles olhavam um tanto assustados para conseguir fazer algum barulho.

 

Hagrid deu o "guincho chorante" novamente. Um minuto se passou durante o qual todos continuavam a observar nervosamente acima de seus ombros e em volta das árvores por uma primeira aparição do que quer que fosse que estivesse vindo. Então, Hagrid sacudiu seu cabelo para trás por um e expandiu seu enorme peito, Harry cutucou Rony e apontou para um lugar negro entre dois torcidos galhos de árvores.

 

Um par de olhos brilhantes e negros estava crescendo através da escuridão e um momento depois um rosto de dragão com o pescoço e o esqueleto de um enorme e negro cavalo alado surgia na escuridão. Isso foi à visão da classe por alguns segundos, zunindo seu longo e negro rabo, curvando sua cabeça e começando a rasgar o corpo da vaca morta com suas presas afiadas.

 

Uma grande onda de alívio caiu sobre Harry. Estava provado que ele não tinha imaginado aquelas criaturas, elas eram reais: Hagrid sabia sobre elas também. Olhou ansiosamente para Rony, mas Rony ainda estava pasmo entre as árvores e após alguns segundos  sussurrou.

 

- Por que Hagrid não chama novamente?

 

Muitos dos alunos estavam com expressões confusas e nervosas, espantadas como Rony e outros, ainda estavam pasmos com o cavalo bem à frente deles. Havia apenas outras duas pessoas que pareciam ser capazes de vê-los: um menino da Sonserina bem atrás de Goyle estava assistindo o cavalo comer com uma expressão de grande desgosto; e Neville estava observando o longo e negro rabo.

 

- Oh, e aqui vem mais um! - disse Hagrid orgulhosamente, um segundo cavalo negro surgiu de dentro das árvores com suas rígidas asas envolvendo seu corpo e mergulhando sua cabeça para devorar a carne. - Agora... Quem pode vê-los levanta a mão.

 

Imensamente realizado de sentir que agora estava entendendo o mistério dos cavalos, Harry levantou sua mão. Hagrid sorriu pra ele.

 

- Sim...Sim, eu sabia que você seria capaz Harry - disse seriamente. - E você também, Neville?

 

- Com licença - disse Malfoy com uma voz covarde. - Mas o que nós temos que ver?

 

Para uma resposta, Hagrid apontou para a carcaça da vaca no chão. A classe inteira parou por alguns segundos, então várias pessoas suspiraram e Parvati gritou. Harry entendeu o porquê: partículas de ossos flutuando e sumindo no ar, pareceu muito estranho, de fato.

 

- Quem está fazendo isso? - Parvati perguntou com uma voz de medo, escondendo-se atrás de uma árvore. - Quem está comendo isso?

 

- Testrália - disse Hagrid orgulhosamente e Hermione deu um leve "Oh" de compreensão sob o ombro de Harry. - Hogwarts tem um grande bando deles aqui. Agora, quem sabe...?

 

- Mas eles dão muito, mas muito azar! - interrompeu Parvati, parecendo inquieta. - Eles podem dar todo tipo de azar para quem olha para eles. A professora Trelawney me disse uma vez que...

 

- Não, não, não - disse Hagrid -, isso é apenas supertição, eles não trazem má sorte, eles são muito inteligentes e úteis! Claro, esses não dão tanto trabalho, principalmente carregam a carruagem da escola quando Dumbledore tem que fazer uma longa jornada e não quer aparatar, e ali está mais um casal, olhem...

 

Mais dois cavalos saíram silenciosamente de dentro das árvores, um deles passou muito perto de Parvati, que gritou e correu para perto de uma árvore, dizendo.

 

- Eu acho que senti algo, eu acho que estão perto de mim!

 

- Não se preocupe, eles não vão te machucar - disse Hagrid pacientemente. - Agora, quem pode me dizer por que algum de vocês pode vê-los e outros não?

 

Hermione levantou a mão.

 

- Vá em frente! - disse Hagrid, sorrindo para ela.

 

- As únicas pessoas que podem ver um Testrália são pessoas que já viram alguém morto.

 

- Está absolutamente correto - disse Hagrid solenemente -, dez pontos para a Grifinória. Agora, Testrálias...

 

- Hum, hum.

 

A professora Umbridge chegara. Estava a alguns passos de Harry, usando seu chapéu e seu casaco verde novamente, sua prancheta estava preparada. Hagrid, que não lembrava que Umbridge iria inspecioná-lo, estava preocupado e o mais próximo possível de um Testrália, evidentemente pensando que o animal havia feito aquele som.

 

- Hum, hum.

 

- Oh, olá! - disse Hagrid agora sorrindo, após localizar de onde vinha o barulho.

 

- Você recebeu o bilhete que lhe mandei esta manhã? - disse Umbridge, com o mesmo tom de voz de sempre. - Dizendo que eu inspecionaria sua aula?

 

- Ah, sim - disse Hagrid radiante. - Que bom que você nos achou! Bom, como você pode ver, ou, eu não sei, você pode? Nós estamos vendo Testrálias hoje...

 

- Como? -disse a professora Umbridge quase gritando, aproximando sua mão do ouvido e curvando-se. - O que você disse?

 

Hagrid pareceu um pouco confuso.

 

- Hum, Testrálias! - ele gritou. - Grandes cavalos com asas, você sabe!

 

Ele bateu seus gigantes braços esperançosamente. A professora Umbridge levantou seus olhos castanhos para Hagrid e resmungou enquanto escrevia em sua prancheta:

 

- Tem... Que... Melhorar... Sua... Linguagem... Grosseira.

 

- Bom... De qualquer forma... - disse Hagrid, olhando para a classe como se estivesse nervoso. - Hum... O que eu estava dizendo?

 

- Parece... Ter... Uma... Memória... Muito... Curta -  murmurou Umbridge, alto o bastante para todos ouvirem. Draco Malfoy olhou como se o Natal tivesse vindo um mês antes; Hermione, por outro lado, ficou parva de raiva.

 

- É sim - disse Hagrid, jogando um olhar de relance para a prancheta de Umbridge, com muita coragem. - Sim, eu ia dizer a vocês como nós formamos um bando. Sim, então, nós começamos com um macho e cinco fêmeas. Esse aqui... - ele pegou o primeiro cavalo que apareceu - se chama Tenbrus, ele é meu favorito, o primeiro que nasceu aqui na Floresta...

 

- Você está ciente - disse Umbridge bem alto, interrompendo-o - de que o Ministério da Magia classificou Testrálias como perigosos?

 

O coração de Harry afundou como uma pedra mas Hagrid apenas hesitou.

 

- Testrálias não são perigosos! Tudo bem que podem te machucar se você perturba-los...

 

- Mostra... Sinais... De... Prazer... Com... A... Idéia... De... Violência - resmungou Umbridge, rabiscando em sua prancheta novamente.

 

- Não, vamos lá! - disse Hagrid, parecendo um pouco ansioso agora. - Quer dizer, um cachorro morderia você se você o perturbasse, não é mesmo? Mas Testrálias só têm uma má reputação por causa do negócio da morte, as pessoas costumam pensar que são maus presságios, não é? Apenas não entendem, não é?

 

Umbridge não deu uma palavra; escreveu sua última nota, olhou para Hagrid e disse, mais uma vez alto e devagar.

 

- Por favor, continue ensinando usualmente. Eu vou dar uma volta - ela fez uma mímica de o que seria andar, Malfoy e Pansy Parkinson estavam dando umas risadinhas - entre os estudantes - apontou para alguns membros da classe - e vou fazer-lhes algumas perguntas - apontou para a sua boca para indicar o que era falar.

 

Hagrid a encarou, claramente perdido e sem entender por que ela estava agindo como se eles não falassem a mesma língua. Hermione tinha lágrimas de fúria em seus olhos.

 

- Sua velha rabugenta, sua bruxa cruel! - ela sussurrou, enquanto Umbridge andava em direção a Pansy Parkinson. - Eu sei o que você esteve fazendo, sua terrível, pervertida, corrupta...

 

- Hum... de qualquer jeito - disse Hagrid, visivelmente se esforçando para recuperar o sentido de sua aula -, então, Testrálias. Sim. Bem, existem várias coisas boas sobre eles...

 

- Você acha - disse a Professora Umbridge com uma voz ressoante para Pansy Parkinson - que você é capaz de entender o professor Hagrid quando ele fala?

 

Assim como Hermione, Pansy tinha lágrimas em seus olhos mas essas eram de felicidade, de fato, sua resposta foi quase incoerente porque estava tentando esconder suas risadas.

 

- Não... Porque... Bem... Ele parece... Estar grunhindo o tempo todo...

 

Umbridge escreveu em sua prancheta. O pequeno pedaço descoberto do rosto de Hagrid parecia excitado mas ele tentou agir como se não tivesse ouvido a resposta de Pansy.

 

- Hum... Sim... Boas coisas sobre os Testrálias. Bom, quando eles estão domados, como esses, vocês nunca estarão perdidos. Um incrível senso de direção, apenas diga-lhes aonde você quer ir...

 

- Na hipótese de que eles podem lhe entender, claro - disse Malfoy em voz alta e Pansy Parkinson teve um colapso de várias risadinhas. A professora Umbridge sorriu para eles e se voltou para Neville.

 

- Você pode ver os Testrálias, Longbottom, não é mesmo?

 

Neville corou.

 

- Quem você viu morto? - ela perguntou, seu tom de voz indiferente.

 

- Meu avô - disse Neville.

 

- E o que você acha deles? - disse, mostrando com suas curtas mãos os cavalos, que agora depositavam uma grande quantidade de carcaça.

 

- Hum - disse Neville nervosamente, com um olhar para Hagrid. - Bem, eles, hum...Ok...

 

- Os estudantes... Ficam... Muito... Intimidados... Em... Admitir... Que... Estão... Assustados - resmungou Umbridge, adicionando mais uma nota em sua prancheta.

 

- Não! - disse Neville parecendo decepcionado. - Não, eu não estou com medo deles!

 

- Está tudo bem - disse Umbridge, batendo no ombro de Neville como se fosse um sorriso, embora parecesse uma maldade para Harry. - Bom, Hagrid - ela olhou para ele novamente, falando mais uma vez bem alto e devagar. - Eu acho que já tenho o bastante para continuar com isso. Você receberá - ela fez uma mímica como se estivesse pegando algo no ar - os resultados de sua inspeção - apontou para a prancheta - em dez dias - mostrou seus dez dedos curtos e então, com seu sorriso maior e parecendo um sapo mais do que nunca sob seu chapéu verde, partiu, deixando Malfoy e Pansy Parkinson rindo, Hermione tremendo de fúria e Neville parecendo triste e confuso.

 

- Aquela boba, mentirosa, desonesta velha gárgula! - vociferou Hermione meia hora depois, enquanto voltavam para o castelo através dos canais que fizeram anteriormente na neve.

 

- Você vê o que ela quer? É aquela coisa sobre sangue ruim novamente. Ela está tentando fazer de Hagrid algum trasgo idiota, só porque ele tem uma mãe giganta... E. Oh, não é só, aquilo não foi tão ruim assim, Quer dizer, tudo bem aqueles Blast-Ended Skerwts novamente, mas Testrálias são legais, de fato, para Hagrid eles são muito bons!

 

- Umbridge disse que eles são perigosos - disse Rony.

 

- Bom, é como Hagrid disse, eles podem cuidar de si mesmos - disse Mione impacientemente - e eu suponho que um professor como Grubbly-Plank não nos mostraria antes de uma salamandra, mas, bom, eles são muito interessantes, não são?

 

A maneira como algumas pessoas podem vê-los ou não! Eu queria poder vê-los.

 

- Queria? - Harry perguntou a ela.

 

Ela pareceu de repente chocada.

 

- Ah, Harry, desculpa, não, claro que eu não queria, isso foi realmente estúpido.

 

- Tudo bem, não se preocupe.

 

- Estou surpreso de quantas pessoas puderam vê-los - disse Rony. - Três em uma classe...

 

- Sim, Weasley, nós estávamos pensando - disse uma voz maliciosa. Desconhecida por eles na amortecida neve, Malfoy, Crabbe e Goyle estavam andando bem atrás deles. - Você calculou que se você visse alguém matar você seria capaz de ver a goles melhor?

 

Ele, Crabbe e Goyle riram como se tivesse empurrado o passado no seu caminho de volta ao castelo e então quebraram em um coro de "Weasley é nosso rei". As orelhas de Rony ficaram vermelhas.

 

- Ignore-os, apenas os ignore - disse Hermione, pegando sua varinha e fazendo um feitiço para produzir ar quente novamente, então ela pôde guiá-los em um atalho através da intocada neve entre eles e os jardins verdes.

 

Dezembro chegou trazendo consigo mais neve e uma avalanche de tarefas para o quinto ano. As obrigações de Rony e Mione como monitores estavam aumentando mais com a vinda do Natal. Eles foram chamados para supervisionar a decoração do castelo ("Tente colocar as luzinhas de Natal quando Pirraça pega a ponta delas e tenta te estrangular com ela", disse Rony), para assistir o primeiro - e o segundo - ano passar seu tempo livre do lado de dentro por causa do frio ("E eles são uns danadinhos, nós não éramos assim quando fazíamos o primeiro ano" disse Rony) e para rondar os corredores no lugar de Argo Filch, que pensava que no dia dos espíritos duelos de bruxos poderiam acontecer ("Ele tem estrume em vez de cérebro", disse Rony furioso). Estavam tão ocupados que Hermione parou de tricotar chapéus para os elfos e estava lamentando que estava em decadência para sua última árvore.

 

- Todos esses pobres elfos, eu não os libertei ainda, tendo que ficar aqui no Natal porque não têm chapéu suficiente!

 

Harry, que não teve coração para dizê-la que Dobby estava pegando tudo que fazia, voltou para a conversa sobre o teste de História da Magia. Em todo caso, não queria pensar no Natal. Pela primeira vez em sua carreira escolar queria passar o feriado longe de Hogwarts. Entre sua expulsão do quadribol e a preocupação de que querendo ou não Hagrid seria colocado em experiência ele se sentia altamente ressentido naquele lugar no momento. A única coisa que ele realmente queria era o encontro do ED e teriam que parar por causa do feriado, como todo mundo no ED passaria a época com suas famílias. Hermione estava indo esquiar com seus pais, algo que realmente divertiu Rony, que nunca ouviu falar de patins de ski para descer as montanhas. Rony estava indo para A Toca. Harry sentiu muita inveja antes de Rony responder a pergunta que Harry o fez sobre como ele iria para casa no Natal: "Mas você vai também! Eu não te disse? Mamãe me escreveu e pediu pra eu te convidar há umas duas semanas atrás!".

 

Hermione moveu os olhos mas o espírito de Harry soou: só em pensar num Natal n'A Toca era incrivelmente maravilhoso, já que não podia passar o feriado com Sirius. Imaginou se seria possível persuadir a Sra. Weasley a convidar seu padrinho para a festa. Embora duvidasse que Dumbledore permitiria que Sirius deixasse Grimmauld Place de qualquer jeito, pode até não ajudar, mas pensar que a Sra. Weasley não iria querê-lo; ambos estavam freqüentemente estúpidos. Sirius não se comunicava com Harry desde de seu último aparecimento no fogo e embora soubesse que com Umbridge em vigilância constante seria imprudência tentar uma comunicação não gostava de pensar que Sirius estava sozinho na casa velha de sua mãe, talvez até brigando com Kreacher.

 

Harry chegou cedo na sala do requerimento para a última reunião do ED antes do feriado e estava muito orgulhoso disso, porque quando as tochas queimaram em chamas pôde ver que Dobby tinha trabalhado decorar o local para o Natal. Ele não podia dizer que o elfo tinha feito isso porque ninguém mais teria pergaminhos dourados caindo do teto, cada uma mostrando uma foto com o rosto de Harry e com a legenda: "TENHA UM FELIZ HARRY NATAL".

 

Harry estava terminando de recolhê-los quando a porta abriu com um ruído e Luna Lovegood entrou, parecendo mais sonhadora do que nunca.

 

- Oi - disse ela vagamente, olhando em volta o que havia restado da decoração. - Esses são legais, foi você quem os colocou?

 

- Não. Foi Dobby, o elfo doméstico.

 

- Visco - disse Luna sonhando, apontando para um cepo com sementes brancas postas quase sobre a cabeça de Harry. Ele saiu de debaixo delas. - Bem pensado - disse seriamente. - Está sempre infectado de Nargles.

 

Harry foi salvo da necessidade de perguntar o que era Nargles pela chegada de Angelina, Katie e Alicia. As três estavam ofegantes e pareciam estar com muito frio.

 

- Bem - disse Angelina estupidamente, tirando seu casaco e o jogando em um canto. - Finalmente nós substituímos você.

 

- Me substituíram? - disse Harry confusamente.

 

- Você, Fred e Jorge - disse ela impacientemente. - Nós temos outro apanhador!

 

- Quem?

 

- Gina Weasley - disse Katie.

 

Harry deixou cair o queixo.

 

- É, eu sei - disse Angelina, tirando sua varinha e flexionando seu braço -, mas ela é muito boa. Nada como você, claro - disse, trocando um olhar de reprovação com ele -, mas como não podemos ter você...

 

Harry se segurou para não dar a resposta que tanto queria: ela imaginou por um segundo que ele não se arrependia da expulsão do time milhões de vezes mais do que ela se arrependeu?

 

- E os batedores? - perguntou ele, tentando manter a voz.

 

- Andrew Kirke - disse Alicia sem entusiasmo - e Jack Sloper. Ambos brilhantes comparados ao restante de idiotas que se tornaram...

 

A chegada de Rony, Hermione e Neville acabou com essa conversa depressiva e em cinco minutos a sala estava cheia o bastante para evitar que Harry visse o olhar repreensivo de Angelina.

 

- Ok - disse ele, chamando-os para se ordenar. - Eu pensava que nessa noite nós acabaríamos com as coisas que fomos longe demais, porque é a ultima reunião antes do feriado e não há nada: começaremos algo novo assim que acabarem as três semanas de folga...

 

 

- Nós não vamos fazer nada novo? - disse Zacarias Smith, parecendo bastante descontente. - Se eu soubesse disso não teria vindo.

 

- Nós sentimos muito mesmo que Harry não os tenha avisado - disse Fred, gritando.

 

Várias pessoas riram. Harry viu Cho rindo e sentiu um incômodo familiar no estômago enquanto perdia um degrau da escada.

 

- Nós podemos praticar em pares - disse Harry. - Vamos começar com a Azaração de Impedimento, por dez minutos, e então nós podemos pegar as almofadas e tentar Stunning de novo.

 

Todos se dividiram obedientemente; Harry ficou com Neville como de costume. A sala estava cheia de intermitentes coros de "impedimenta!". Pessoas congeladas por um minuto enquanto seu parceiro fitava a sala, vendo os outros pares trabalhando, para então descongelar e fazê-los voltar à azaração.

 

Neville melhorou sua memória. Depois de um tempo, quando Harry tinha se descongelado três vezes uma após a outra, viu Neville com Rony e Mione de novo e então pôde andar pelo quarto e assistir os outros. Quando passou por Cho ela sorriu pra ele; resistiu a tentação de andar perto dela.

 

Após dez minutos em Azaração do Impedimento, deitaram nas almofadas no chão e começaram a praticar Stunning. O espaço era muito confinado para trabalharem todos ao mesmo tempo; metade do grupo observava os outros por um tempo e então se revezavam.

 

Harry sentiu sua positividade aumentar com orgulho enquanto assistia a todos eles. Na verdade Neville deixou Padma Patil sem sentido melhor do que tinha feito com Dino, ele tinha melhorado sua pontaria cada vez mais do que o de costume e todos os outros também fizeram enormes progressos. 

 

No final de uma hora Harry pediu para pararem.

 

- Vocês estão ficando muito bons - disse ele, sorrindo. - Quando voltarmos do feriado vamos começar fazendo algo de grande, talvez até o Patrono.

 

Ouviram-se sussurros de excitação. O quarto começou a ficar com as usuais duplas e trios, a maioria desejou a Harry um Feliz Natal enquanto saía. Sentindo alegria, recolheu as almofadas com Rony e Mione e as guardou. Rony e Mione foram embora antes dele; ficou mais um pouco porque Cho ainda estava lá e queria receber um Feliz Natal dela.

 

- Não, você pode ir - ele ouviu ela dizer para sua amiga Marietta e seu coração deu um pulo que pareceu subir até a boca.

 

Fingiu estar arrumando a pilha de almofadas. Estava absolutamente certo de que eles estavam sozinhos agora e esperou ela falar. Em vez disso ele ouviu um suspiro.

 

Ele se virou e viu Cho no meio do quarto, lágrimas caindo de seu rosto.

 

- O que...?

 

Ele não sabia o que fazer. Ela estava simplesmente ali, chorando silenciosamente.

 

- O que houve? - disse fracamente.

 

 Ela sacudiu a cabeça e enxugou os olhos em sua manga.

 

- Me... Desculpe - disse ela intensamente. - Eu acho que... É só que... Aprender todas essas coisas... Me faz... Pensar se... Se ele soubesse disso tudo... Ele ainda estaria vivo.

 

O coração de Harry saltou para o passado e posou bem no meio de si. Devia saber. Ela queria falar sobre Cedrico.

 

- Ele sabia disso - disse Harry pesadamente. - Ele era muito bom nisso ou nunca teria chegado no meio do labirinto. Mas se Voldemort realmente quer matar você, você não tem chance.

 

Ela soluçou com o nome de Voldemort mas olhou para Harry sem hesitar.

 

- Você sobreviveu quando era um bebê - disse quietamente.

 

- É, bem - disse Harry monotonamente, indo para a porta -, eu não sei por que, ninguém sabe, então não é nada para se orgulhar.

 

- Oh, não vá! - disse Cho, parecendo triste novamente. - Realmente sinto muito lhe trazer essas chateações... Eu não queria...

 

Ela soluçou novamente. Era muito bonita mesmo com os olhos vermelhos e inchados.

 

Harry se sentiu completamente miserável. Teria ficado tão feliz com um simples Feliz Natal.

 

- Eu sei que deve ser horrível pra você - disse ela, esfregando os olhos nas mangas de novo. - Eu mencionando Cedrico, quando você o viu morrer... Eu suponho que você queira esquecer isso, não é?

 

Harry não deu uma palavra; era um consentimento silencioso mas se sentiu cruel em não responder.

 

- Você é realmente um ótimo professor, sabe - disse Cho, com um sorriso molhado. - Eu nunca fui capaz de deixar alguém sem sentidos antes.

 

- Obrigado - disse Harry embaraçosamente.

 

Eles se entreolharam por um grande tempo. Harry sentiu um desejo enorme de correr do quarto e ao mesmo tempo uma incapacidade de mover o pé.

 

- Visco - disse Cho calmamente, apontando para o telhado acima da cabeça de Harry.

 

- É - disse Harry. Sua boca parecendo muito seca. - Está provavelmente cheio de Nargles.

 

- O que é Nargles?

 

- Não faço idéia - disse Harry. Ela se aproximou. O cérebro dele pareceu estar embriagado. - Você deveria perguntar a Lonny, quer dizer, Luna.

 

Cho fez um barulho esquisito que poderia ser um soluço ou uma risada. Estava mais perto dele agora. Ele podia até contar as sardas no nariz dela.

 

- Eu realmente gosto de você, Harry.

 

Ele não podia pensar. Um formigamento estava se espalhando, paralisando seus braços, pernas e cérebro. Ela estava muito perto. Ele podia ver cada lágrima em seus olhos...

 

Ele voltou a sala comunal meia hora depois para encontrar Hermione e Rony nas melhores cadeiras ao lado do fogo; todos já tinham ido se deitar. Mione estava escrevendo uma carta muito grande, já tinha preenchido metade do rolo de pergaminho, que estava dependurando no canto da mesa. Rony estava deitado sobre a mesa, tentando terminar sua tarefa de Transformação.

 

- Por que demorou? - ele perguntou enquanto Harry se sentava em uma cadeira próxima a Mione.

 

Harry não respondeu. Estava em estado de choque. Metade dele queria dizer a Rony e Mione o que havia acontecido mas a outra metade queria levar esse segredo consigo até o túmulo.

 

- Você está bem Harry? - Mione perguntou, observando-o por cima de sua pena.

 

Harry encolheu os ombros. Na verdade nem ele mesmo sabia se estava bem ou não.

 

- O que houve? - disse Rony, levantando seus cotovelos para ter uma visão mais clara de Harry.

 

- O que aconteceu?

 

Harry não sabia como dizer, e ainda não tinha certeza se queria. Apenas quando decidiu não dizer nada Mione percebeu o que houve.

 

- É a Cho? - ela perguntou como se fosse alguém de negócios. - Ela esperou você depois da reunião?

 

Incrivelmente surpreso Harry ficou rubro. Rony riu em silêncio, parando quando Mione o fitou.

 

- Então, er, o que ela queria? - perguntou ele num tom casual de sarcasmo.

 

- Ela... - Harry começou, roucamente, limpou a garganta e tentou novamente. - Ela... Er...

 

- Você a beijou? - perguntou Mione vivamente.

 

Rony se sentou tão rápido que sua insígnia voou para o tapete. Desconsiderando isso por completo, encarou Harry avidamente.

 

- E? - ele disse.

 

Harry olhou da expressão de Rony - de uma curiosidade e alegria - para o franzido nas sobrancelhas de Mione e sacudiu a cabeça.

 

- HÁ!

 

Rony fez um gesto triunfante com seu punho e uma rouca risada fez vários olhares tímidos do segundo ano observarem. Um relutante sorriso se espalhou no rosto de Harry enquanto observava Rony rolando.

 

Mione deu a Rony um olhar de profundo desgosto e se voltou para sua carta.

 

- Bom - Rony disse finalmente, olhando para Harry -, como foi?

 

Harry considerou por um momento.

 

- Molhado - disse triunfante.

 

Rony fez um barulho que deve ter sido de desgosto ou regozijo, é difícil dizer.

 

- Por causa das lágrimas - continuou Harry pesadamente.

 

- Oh - disse Rony, seu sorriso desaparecendo. - Você beija tão mal assim?

 

- Não sei - disse Harry, que não considerou isso, e imediatamente se sentiu preocupado. - Talvez sim.

 

- Claro que não - disse Mione distraidamente, ainda escrevendo em sua carta.

 

- Como você sabe? - perguntou Rony muito precisamente.

 

- Porque Cho passou esses últimos dias chorando - disse Mione vagamente. - Ela faz isso durante as refeições, em todos os lugares.

 

- Você acha que um beijinho a alegraria? - disse Rony, sorrindo.

 

- Rony - disse Mione em uma voz digna, mergulhando sua pena no tinteiro -, você é a protuberância mais insensível que eu tive a infelicidade de conhecer.

 

- Como assim? - disse Rony indignado. - Que tipo de pessoa chora ao receber um beijo?

 

- Sim - disse Harry, parecendo desesperado, - que tipo?

 

Hermione olhou para eles com uma expressão quase que de piedade.

 

- Vocês não entendem o que Cho estava sentindo no momento?

 

- Não - disseram Harry e Rony em uníssono.

 

Mione assinou e guardou sua pena.

 

- Bem, obviamente ela estava muito triste por causa da morte de Cedrico. Então eu acho que ela ficou confusa porque gostava de Cedrico e agora gosta de Harry e não pode decidir de quem gosta mais. Então está se sentindo culpada, pensando que é um insulto à memória de Cedrico beijar Harry e deve estar pensando sobre o que vão dizer dela estar saindo com ele. E provavelmente não consegue trabalhar seus sentimentos com Harry, de qualquer jeito, porque ele era o único que estava com Cedrico quando morreu, então isso tudo é muito dolorido. Ah, e está com medo de ser expulsa do time de quadribol da Corvinal porque ela está voando muito mal.

 

Um atordoado silêncio trouxe o fim desta conversa, então Rony disse.

 

- Uma pessoa não pode sentir tudo isso de uma só vez, ela explodiria.

 

- Só porque você consegue ter controle emocional não quer dizer que nós também - disse Mione sordidamente, pegando sua pena novamente.

 

- Ela foi à única que começou isso - disse Harry. - Eu não teria... Ela veio até mim... E outra coisa, ela estava chorando em mim... Eu não sabia o que fazer...

 

- Não se culpe, cara - disse Rony, parecendo alarmante com o que disse.

 

- Você só queria ser legal com ela - disse Mione, parecendo ansiosa. - Você foi, não foi?

 

- Bem - disse Harry, com um calor escorrendo seu rosto -, eu meio que... Alisei as costas dela.

 

Mione olhou como se estivesse lhe tivesse restringindo mexer os olhos com extrema dificuldade.

 

- Bem, eu suponho que poderia ter sido pior - disse ela. - Você vai vê-la novamente?

 

- Eu vou ter que ver, não vou? - disse Harry. - Nós temos as reuniões do ED, não temos?

 

- Você sabe o que eu quis dizer - disse Mione impacientemente.

 

Harry não disse mais nada. As palavras de Mione abriram uma visão de algumas possibilidades. Ele tentou imaginar indo para algum lugar com Cho - Hogsmeade, talvez - e estar sozinho com ela por algumas horas. Claro que ela estava esperando que ele fosse chamá-la para sair depois do que aconteceu... Só de pensar seu estômago apertou dolorosamente.

 

- Bom - disse Mione friamente, enterrado em sua carta mais uma vez -, você terá várias oportunidades de pedir pra sair com ela.

 

- E se ele não quiser sair com ela? - disse Rony, que estava observando Harry com uma expressão perspicaz em seu rosto.

 

- Não seja bobo - disse Mione vagamente -, Harry gosta dela há anos, não é mesmo Harry?

 

Ele não respondeu.

 

- É, ele gosta da Cho há anos mas quando imagina uma cena de envolvimento entre os dois pensa em uma Cho que curtia e não em uma Cho soluçando incontrolavelmente em seu ombro.

 

- Pra quem você está escrevendo essa novela, a propósito? - Rony perguntou Mione, estava tentando ler um pedaço de pergaminho, agora arrastando no chão. Mione puxou o pergaminho para si.

 

- Vítor.

 

- Krum?

 

- Quantos Vítors nós conhecemos?

 

Rony não disse mais nada, olhou com desgosto. Eles sentaram em silêncio por outros vinte minutos. Rony agora estava terminando sua tarefa de transfiguração com muitas resfolegas de impaciência e resmungos, Mione escrevendo calmamente no final do pergaminho, enrolando cuidadosamente e selando-o, e Harry se aquecendo no fogo, desejando mais que qualquer coisa que a cabeça de Sirius aparecesse lá e lhe desse uns bons conselhos sobre garotas. Mas o fogo estava estalando menos e menos, até a quente brasa virar cinzas e, olhando em volta, Harry viu que eram, mais uma vez, os últimos no salão comunal.

 

- Bem, boa noite - disse Mione, bocejando extensamente enquanto subia a escadaria das garotas.

 

- O que ela vê em Krum? - Rony comentou enquanto Harry escalava a escada dos meninos.

 

- Bem - disse Harry, considerando a questão -, eu suponho que ele é mais velho, não é... E ele é um jogador de quadribol internacional...

 

- Sim, mas tirando isso - disse Rony, parecendo irritado. - Quer dizer, ele é um idiota, não é?

 

- Muito idiota, é - disse Harry, cujos pensamentos ainda estavam em Cho.

 

Tiraram suas vestes e colocaram seus pijamas em silêncio; Dino, Simas e Neville já haviam adormecido. Harry colocou seus óculos na sua mesa de cabeceira e caiu em sua cama, fitou o pedaço do estrelado céu visível através da janela próxima a cama de Neville. Se soubesse, há essa hora na noite anterior, isso em vinte e quatro horas ele teria beijado Cho Chang...

 

- Boa noite - grunhiu Rony, de algum lugar à sua direita.

 

- Boa noite.

 

Talvez de uma próxima vez... Se houvesse uma próxima vez... Ela estaria um pouco mais feliz. Ele teria de chamá-la para sair; ela provavelmente estava esperando isso e agora estava realmente chateada com ele... Ou estava chorando na cama, seria por Cedrico? Não sabia o que pensar. A explicação de Mione fez isso tudo parecer mais complicado de se entender.

 

"Isso era o que eles deviam nos ensinar aqui", pensou ele, virando-se para seu lado, "como funciona o cérebro das garotas... Seria mais útil que Adivinhação...".

 

Neville respirou fundo em seu sono. Uma coruja piou em algum lugar lá fora na noite.

 

Harry sonhou que estava de volta à sala de ED. Cho o estava acusando de a estar iludindo com falsas pretensões; disse que ele prometeu a ela uma centena de figurinhas dos chocolates de Sapos de Chocolate se ela mostrasse seus sentimentos. Harry protestou... Cho gritou "Cedrico me deu muitos desses, olhe!" e ela tirou suas figurinhas do bolso de sua veste e as jogou no ar. Então ela se voltou para Mione, que disse "Você prometeu a ela, você sabe Harry... Eu acho melhor você dar algo a ela em vez de... O que acha de sua Firebolt?" e Harry estava protestando que não podia dar a sua Firebolt porque Umbridge estava com a vassoura e, de qualquer forma, tudo aquilo era ridículo, tinha ido à sala do ED apenas para colocar algumas bugigangas com a cabeça de Dobby...

 

O sonho mudou...

 

Seu corpo estava mais suave, poderoso e flexível. Estava planando entre as brilhantes barras de metal, cruzando o escuro frio... Estava se achatando contra o chão, movendo-se ao longo de seu corpo... Estava escuro mas podia ver os objetos em volta brilhando estranhamente, cores vibrantes... Estava movendo sua cabeça...A primeira vista o corredor estava vazio... Mas não... Um homem estava sentado no chão logo à frente, seu queixo caído em seu peito, sua sombra brilhando no escuro...

 

Harry colocou sua língua pra fora... Sentiu o aroma do homem no ar... Estava vivo porém inerte... Sentado em frente a uma porta no final do corredor...

 

Harry demorou a pegar no homem... Mas precisava dominar a fundo o impulso... Tinha coisas mais importantes a fazer... 

 

Mas o homem estava agitado... Uma capa prateada caiu de suas pernas enquanto pulava seus pés; Harry viu sua vibrante e embaçada sombra sob ele, viu uma varinha saindo de um cinto... Ele não tinha escolha... Ele se levantou do chão e golpeou uma, duas, três vezes, mergulhando suas presas profundamente no corpo do homem, sentindo suas costelas se estilhaçando sob sua mandíbula, sentindo o quente jato se sangue...

 

O homem estava gritando de dor... Então ele se calou... Afundou para trás contra a parede... O sangue espalhado do chão...

 

Sua testa doeu terrivelmente... Estava ardendo, quase queimando...

 

- Harry! HARRY!

 

Ele abriu os olhos. Cada parte de seu corpo estava coberto com um suor frio; seus lençóis estavam misturados em volta de si como uma camisa de força; sentiu como se uma brasa estivesse sendo aplicado em sua testa.

 

- Harry!

 

Rony estava em volta dele parecendo extremamente assustado. Havia mais figuras nos pés da cama de Harry. Apertou sua cabeça com as mãos; a dor o estava cegando... Rolou para o lado e vomitou no colchão.

 

- Ele está realmente doente - disse uma voz assustada. - Nós devíamos chamar alguém?

 

- Harry, Harry!

 

Ele tinha que contar a Rony, era muito importante dizer a ele... Tomando uma pouco de ar, Harry se levantou da cama, disposto a não vomitar novamente, a dor o cegando.

 

- Seu pai - ele ofegou, seu peito vibrando. - Seu pai... Foi atacado...

 

- O quê? - disse Rony incompreensivelmente.

 

- Seu pai! Ele foi atacado, é sério, havia sangue em todos os lugares...

 

- Vou buscar ajuda - disse a mesma voz assustada e Harry ouviu passos saindo pelo dormitório.

 

- Harry, cara - disse Rony incertamente. - Você estava apenas sonhando...

 

- Não! - disse Harry furiosamente; era crucial que Rony entendesse. - Não foi um sonho... Não um sonho qualquer... Eu estava lá, eu vi aquilo, eu fiz aquilo...

 

Ele pôde ouvir Simas e Dino murmurando mas não se importou. A dor em sua testa estava diminuindo levemente embora ainda estivesse suando e tendo calafrios. Teve ânsia de vômito novamente e Rony pulou para fora do caminho.

 

- Harry, você não está bem - disse ele, tremendo. - Neville foi buscar ajuda.

 

- Eu estou bem! - Harry sufocou, limpando sua boca em seu pijama e tremendo incontrolavelmente. - Não há nada de mal comigo, é com seu pai que você deve se preocupar, nós precisamos descobrir onde ele está, ele está sangrando muito... Eu era... Aquilo era uma grande cobra.

 

Ele tentou sair da cama mas Rony o empurrou de volta a ela; Dino e Simas ainda estavam cochichando em algum lugar ali perto.

 

Se um minuto ou dez se passaram Harry não sabia; simplesmente estava lá tremendo, sentindo uma dor sumindo muito devagar de sua cicatriz... E então ouviu passos apressados vindo das escadas e ele ouviu a voz de Neville novamente.

 

- Aqui professora.

 

A professora McGonagall entrou correndo no dormitório com sua camisola xadrez e seus óculos inclinados sob seu nariz ossudo.

 

- O que é isso, Potter? Onde dói?

 

Ele nunca ficou tão feliz em vê-la; era um membro da Ordem da Fênix que precisava agora em vez de alguém perturbando e prescrevendo poções inúteis. 

 

- É o pai do Rony - disse ele, sentando novamente. - Ele foi atacado por uma cobra e é serio, eu vi tudo acontecer.

 

- Como assim você viu acontecer? - disse a professora McGonagall, contraindo seus olhos.

 

- Eu não sei... Eu estava adormecendo e então eu estava lá...

 

- Quer dizer que você sonhou com isso?

 

- Não! - disse Harry aborrecido; nenhum deles entendia? - Eu estava sonhando com algo completamente diferente, algo estúpido... E então fui interrompido por isso. Era real, eu não imaginei. O Sr. Weasley estava desacordado no chão e tinha sido atacado por uma cobra gigantesca, tinha muito sangue, estava desmaiado, alguém tem que descobrir onde ele está...

 

Professora McGonagall o estava encarando através de seus óculos enquanto estava aterrorizada com o que via.

 

- Eu não estou mentindo e eu não sou mau! - Harry disse a ela, quase gritando. - Eu lhe digo, vi isso acontecer!

 

- Eu acredito em você, Potter - disse a Professora McGonagall curtamente. - Coloque seu uniforme, nós vamos ver o diretor.

 

 

HOSPITAL ST. MUNGUS  PARA DOENÇAS E ACIDENTES  MÁGICOS

Harry estava tão aliviado porque a professora McGonagall estava falando  tão seriamente que ele não hesitou, pulou da cama de uma vez, vestiu seu uniforme e empurrou seus óculos de volta para seu nariz.

 

- Weasley, você deve vir também - disse ela.

 

Seguiram a professora McGonagall em frente às silenciosas figuras de Neville, Dino e Simas, saíram do dormitório, desceram as escadas espirais até a sala comunal, passaram pelo buraco do retrato e seguiram pelo corredor da Mulher Gorda, que estava iluminado pelo luar. Harry estava sentindo que o pânico dentro de si transbordaria a qualquer momento; queria correr pra chamar Dumbledore; o Sr. Weasley estava sangrando enquanto andavam tão tranqüilamente, e se as presas (Harry tentou arduamente não pensar "minhas presas") fossem venenosas? Eles passaram por Madame Nor-r-ra, que mirou seus olhos luminosos em sua direção e miou fracamente, mas a professora McGonagall a espantou.

 

Madame Nor-r-ra se retirou dali e foi para a escuridão, em alguns minutos chegaram à gárgula de pedra que guardava o escritório de Dumbledore.

 

- Abelha Mágica Assobiando - disse ela.

 

A gárgula emergiu com vida e se moveu para o lado; a parede atrás dela se dividiu em duas para revelar uma escadaria de pedra que se movia continuamente para cima, como uma escada rolante em espiral. Os três se aproximaram da escadaria, a parede se fechou atrás deles com uma batida ensurdecedora eles foram subindo em círculos fechados até chegarem ao topo, onde havia uma porta de carvalho polido com o batedor de metal em forma de um grifo.

 

Aparentemente que já havia passado da meia-noite e havia vozes vindo de dentro da sala, um murmúrio positivo deles. Parecia que Dumbledore estava entretendo pelo menos umas doze pessoas.

 

A professora McGonagall bateu três vezes com o batedor de grifo e as vozes cessaram abruptamente, como se alguém os tivesse desligado. A porta se abriu de sua própria harmonia e a professora guiou Harry e Rony para dentro.

 

A sala estava um pouco escura; os estranhos instrumentos prateados que estavam sobre mesas estavam silenciosos, melhor que emitindo baforadas de fumaça como faziam usualmente; os retratos de antigos diretores e diretoras cobrindo as paredes estavam cochilando em suas molduras. Atrás da porta, um magnífico pássaro vermelho e dourado com o tamanho de um cisne estava adormecido em seu poleiro com a cabeça embaixo de sua asa.

 

- Oh, é você, professora McGonagall... E... Ah.

 

Dumbledore estava sentado em uma cadeira com um grande encosto atrás de sua mesa; ele se inclinou para frente, no conjunto de luz de velas que iluminavam papéis vergês antes dele. Estava vestindo um magnífico vestido longo, bordado púrpura e dourado sobre uma camisola coberta de neve mas parecia bem acordado, seus penetrantes olhos azuis atentos à professora McGonagall.

 

- Professor Dumbledore, Potter teve um... Bem, um pesadelo - disse ela. - Ele disse...

 

- Não era um pesadelo - disse Harry rapidamente.

 

A professora McGonagall olhou ao redor de Harry com uma expressão levemente carrancuda.

 

- Muito bem, então, Potter, conte ao diretor sobre isso.

 

- Eu... Bem, eu estava dormindo - disse Harry e, até pelo seu desespero para que Dumbledore entendesse, sentiu-se levemente irritado porque o diretor não estava olhando para ele mas examinando seus dedos entrelaçados. - Mas isso não era um sonho comum... Isso foi real... Eu vi isso acontecer... - ele respirou profundamente. - O pai de Rony, Sr. Weasley, foi atacado por uma cobra gigante.

 

Parecia que as palavras ecoavam no ar depois que as disse, soando levemente ridículas, até engraçadas. Houve então uma pausa em que Dumbledore inclinou sua cadeira de volta e olhou fixamente para o teto. Rony olhou de Harry a Dumbledore,  com o rosto pálido e chocado.

 

- Como você viu isso? - Dumbledore perguntou tranqüilamente, ainda não olhando para Harry.

 

- Bem... Eu não sei - disse Harry um pouco furioso. - O que isso importa? Dentro da minha cabeça, eu suponho.

 

- Você me interpretou mal - disse Dumbledore, ainda com um tom calmo -, quero dizer... Você pode se lembrar... Er... Onde você estava quando viu o ataque acontecer? Por acaso você estava ao lado da vítima ou olhando tudo de cima?

 

Essa era uma pergunta curiosa, que fez Harry ficar boquiaberto; era quase como se ele soubesse...

 

- Eu era a cobra. Eu assisti a tudo do ponto  de vista da cobra.

 

Ninguém falou nada por um momento, então Dumbledore, agora olhando para Rony, que ainda estava pálido, perguntou numa nova e mais ríspida voz.

 

- Arthur está seriamente ferido?

 

- Sim - disse Harry enfático, por que a compreensão foi tão lenta, não imaginam o quanto uma pessoa sangra quando longas presas o perfuram? E por que Dumbledore não podia olhar cordialmente para ele?

 

Mas Dumbledore se levantou tão rapidamente que fez Harry pular e se dirigiu a um dos velhos retratos pendurados próximos ao teto.

 

- Everard? - ele disse rispidamente. - E você também, Dilys!

 

Um bruxo pálido com uma curta e escura franja e uma bruxa mais velha com longos e prateados cachos na moldura ao lado, ambos parecendo ter estado no mais profundo dos sonos, abriram seus olhos imediatamente.

 

- Vocês estavam ouvindo?

 

O bruxo acenou com a cabeça, a bruxa disse.

 

- Naturalmente.

 

- O homem tem cabelos vermelhos e óculos - disse Dumbledore. - Everard, você precisará aumentar o alarme, tenha certeza de que ele será encontrado pelas pessoas certas.

 

Ambos acenaram com a cabeça e se moveram para fora de suas molduras mas em vez de emergirem em figuras habituais (como usualmente acontece em Hogwarts) nenhum dos dois reapareceu. Uma das molduras agora não continha nada além de um cenário com cortinas escuras, e na outra uma bonita poltrona de couro. Harry percebeu que muitos dos diretores e diretoras na parede aparentavam estar roncando e babando mais convincentemente, mantinham-se espiando ocultamente a ele por sobre suas pálpebras, de repente percebeu quem esteve falando quando  bateram à porta.

 

- Everard e Dilys foram dois dos mais famosos diretores de Hogwarts - disse Dumbledore, agora andando ao redor de Harry, Rony e a professora McGonagall para chegar ao magnífico pássaro em seu poleiro ao lado da porta. - A fama deles é tanta que ambos possuem retratos pendurados em outras instituições bruxas. Como eles são livres para se moverem entre seus próprios retratos podem nos contar o que está acontecendo em qualquer um dos locais...

 

- Mas o Sr. Weasley podia estar em qualquer lugar! - disse Harry.

 

- Por favor sentem-se, os três - disse Dumbledore e, como previu Harry não havia dito nada. - Everard e Dilys talvez não estejam de volta por muito tempo.

 

A Professora McGonagall, se pudesse arranjar duas cadeiras extras.

 

A professora pegou a varinha do bolso de seu vestido e a brandiu; três cadeiras apareceram do ar rarefeito, tinha encostos estreitos e eram de madeira, não muito  parecidas com a confortável poltrona que Dumbledore conjurou na audiência de Harry. Ele se sentou, observando Dumbledore sobre seus ombros. O diretor estava agora dando tapinhas na emplumada e dourada cabeça de Fawkes com um dedo.

 

A fênix acordou imediatamente. Fawkes esticou sua bonita cabeça e observou Dumbledore através de olhos brilhantes e escuros.

 

- Nós precisaremos - disse Dumbledore muito calmamente ao pássaro - de um aviso.

 

Houve um clarão de fogo e então a fênix já tinha ido. Dumbledore então se abaixou sobre os frágeis instrumentos prateados cuja função ainda era desconhecida para Harry, carregou-os pela escrivaninha, sentou-se, encarando-os novamente, e deu um leve toque com a ponta de sua varinha.

 

O instrumento tiniu para a vida de uma vez só, com tinidos e barulhos rítmicos. Pequenas baforadas de uma fumaça verdes e pálidas foram emitidas de um minúsculo tubo prateado no topo. Dumbledore observou a fumaça de perto, sua  testa se enrugou. Alguns segundos depois as pequenas baforadas se tornaram correntes fixas que ficaram espessas e serpentearam no ar... Uma cabeça de serpente surgiu do fim, abrindo totalmente sua boca. Harry pensou consigo mesmo se o instrumento estava confirmando a sua história: olhou ansiosamente para Dumbledore, esperando um sinal de que estava certo, mas ele não olhou de volta.

 

- Naturalmente, naturalmente - Dumbledore murmurou aparentemente para si mesmo, ainda observando a corrente de fumaça sem o menor sinal de surpresa. - Mas em essência dividido?

 

Harry achou essa pergunta sem pé nem cabeça. A serpente de fumaça, entretanto, dividiu-se instantaneamente em duas cobras, ambas serpenteando e flutuando na escuridão. Com um olhar severo de satisfação, Dumbledore deu ao instrumento outro leve toque com sua varinha: o barulho diminuiu e cessou e a serpente de fumaça se dispersou, tornou-se uma neblina sem forma definida e desapareceu.

 

Dumbledore recolocou o instrumento sobre sua fina e pequena mesa. Harry viu alguns dos velhos diretores seguí-lo com seus olhos e então, percebendo que Harry os estava observando, apressadamente fingiram estar dormindo novamente. Queria pergunta para que o estranho instrumento prateado servia mas antes que pudesse fazer isso houve um grito no topo da parede do lado direito deles; o bruxo  chamado Everard havia reaparecido em seu retrato, um pouco ofegante.

 

- Dumbledore!

 

- Tem notícias? - disse Dumbledore de uma vez.

 

- Eu gritei até alguém vir correndo até a mim - disse o bruxo, que estava secando sua testa com a cortina atrás dele -, disse que eu ouviria alguma coisa descendo as  escadas, eles não estavam certos se acreditariam em mim mas veja, você sabe que não existem retratos abaixo desse para observar. De qualquer forma, eles o carregaram alguns minutos depois. Ele não parece bem, está coberto de sangue, eu corri até o retrato de Elfrida Cragg para ter uma boa visão conforme eles saíam.

 

- Bom - disse Dumbledore conforme Rony fez um movimento convulsivo. - Eu aceito isso, Dilys deve tê-lo visto chegando, então...

 

Momentos depois os prateados cachos que haviam reaparecido no retrato, também; ela caiu, tossindo, em sua poltrona e disse:

 

- Sim, eles o levaram para St. Mungus, Dumbledore... Eles o carregaram passando pelo meu retrato... Ele parece estar mal...

 

- Obrigado - disse Dumbledore. Ele olhou de volta para a professora McGonagall. - Minerva, eu preciso que você vá e acorde os outros filhos de Weasley.

 

- Claro...

 

A professora McGonagall se levantou e se moveu imediatamente para a porta. Harry lançou de relance um olhar para Rony, que aparentava estar apavorado.

 

- E Dumbledore, o que fazer em relação a Molly? - disse a professora McGonagall, parando à porta.

 

- Esse será um trabalho para Fawkes quando terminar de verificar qualquer um que se aproxime - disse Dumbledore -, mas ela talvez já saiba... Ela tem um relógio excelente...

 

Harry sabia que Dumbledore estava se referindo ao relógio que conta não as horas mas os paradeiros e condições de vários membros da família Weasley, e com uma pontada pensou que o ponteiro do Sr. Weasley deveria estar apontando risco de vida. Mas era muito tarde. A Sra. Weasley estava provavelmente dormindo e não olhando o relógio. Harry se sentiu gélido ao se lembrar do Bicho-papão da Sra.  Weasley se transformando no corpo sem vida do Sr. Weasley, seus óculos retorcidos, sangue escorrendo pela sua face... Mas Sr. Weasley não estava morrendo... Ele não poderia...

 

Dumbledore estava agora inspecionando um armário ao lado de Harry e Rony, emergiu dali carregando um caldeirão velho e enegrecido, o qual colocou cuidadosamente sobre sua escrivaninha. Levantou sua varinha e murmurou.

 

- Portus!

 

Por um momento o caldeirão tremeu, acendeu então em estranhas brasas azuis; em seguida tremeu novamente e retornou a ser solidamente negro como sempre. Dumbledore se dirigiu para outro retrato, dessa vez para um bruxo aparentemente inteligente, com uma barba pontuda que havia sido pintada, vestindo as cores da Sonserina, verde e prata, estava dormindo tão profundamente que não pôde ouvir a voz de Dumbledore quando este tentou despertá-lo.

 

- Phineas. Phineas.

 

Os retratos forrando a sala já não estavam mais fingindo que dormiam, estavam mudando de molduras, procurando a que desse uma melhor visão sobre o que  estava acontecendo. Quando o aparentemente inteligente bruxo continuava a fingir estar dormindo alguns deles gritaram seu nome também.

 

- Phineas! Phineas! PHINEAS!

 

Ele não poderia fingir por muito mais tempo; então deu uma sacudida teatral e abriu seus olhos completamente.

 

- Alguém me chamou?

 

- Eu preciso que você vá visitar seu outro retrato novamente, Phineas - disse Dumbledore. - Eu tenho outra mensagem.

 

- Visitar meu outro retrato? - disse Phineas com uma voz aguda, dando um longo e falso bocejo (seus olhos passeando ao redor da sala e se focando em Harry). - Oh, não Dumbledore, estou muito cansado esta noite.

 

Algo na voz de Phineas era familiar para Harry, onde ele a teria ouvido antes? Mas antes que pudesse pensar os retratos que rodeavam a sala desabaram com uma onda de protestos.

 

- Insubordinação, senhor! - rugiu um bruxo corpulento e de nariz vermelho, brandindo seus punhos. - Negligência com a obrigação!

 

- Nós somos honrados determinadamente a prestar serviços ao presente diretor de Hogwarts! - clamou um aparentemente frágil e velho bruxo que Harry o reconheceu como sendo o predecessor de Dumbledore, Armando Dippet. - Tenho vergonha de você, Phineas!

 

- Eu devo persuadi-lo, Dumbledore? - disse um bruxo de olhar penetrante, levantando uma não muito comum varinha, grossa, que não era muito diferente de uma vara de pescar.

 

- Oh, muito bem - disse o bruxo chamado Phineas, olhando a varinha com suave apreensão -, acho que ele bem que poderia ter destruído minha figura agora, ele o fez com grande parte da família.

 

- Sirius sabe que não deve destruir seu retrato - disse Dumbledore e Harry se lembrou imediatamente onde havia ouvido a voz de Phineas antes: emitida da aparentemente vazia moldura em seu quarto em Grimmauld Place. - Você dará a ele a mensagem de que Arthur Weasley foi gravemente ferido e que sua mulher, filhos e Harry Potter estarão chegando à sua casa dentro em breve. Você entendeu?

 

- Arthur Weasley, ferido, mulher, filhos e Harry Potter chegando pra ficar - repetiu Phineas numa voz entediada. - Sim, sim... Muito bem.

 

Ele saiu rapidamente pela moldura do retrato e desapareceu da vista no mesmo instante em que a porta se abriu novamente. Fred, Jorge e Gina foram acompanhados para dentro pela professora McGonagall, todos os três aparentavam estar desordenados e chocados, ainda com seus pijamas.

 

- Harry, o que está acontecendo? - perguntou Gina que olhou assustada. - A professora McGonagall disse que você viu meu pai ser ferido...

 

- Seu pai foi ferido enquanto ia do seu trabalho para a Ordem de Fênix - disse Dumbledore antes que Harry pudesse dizer alguma coisa. - Ele foi levado ao hospital St. Mungus Para Doenças e Acidentes Mágicos. Eu os estou enviando  de volta para a casa de Sirius, onde é muito mais conveniente para ir ao hospital do que A Toca. Você vai encontrar a sua mãe lá.

 

- Como nós vamos? - perguntou Fred agitado. - Pó de Flu?

 

- Não, pó de Flu não é seguro no momento, a rede está sendo vigiada, vocês irão irá usando uma chave de portal. Ele indicou o velho caldeirão descansado inocentemente sobre a sua escrivaninha. - Estamos apenas esperando Phineas Nigellus nos reportar de volta... Eu quero ter certeza de que o caminho está limpo antes de mandar vocês...

 

Houve um clarão de chama bem no meio do escritório, deixando para trás uma singular pluma dourada, que flutuou gentilmente até o chão.

 

- Foi um aviso de Fawkes - disse Dumbledore, apanhando a pluma conforme ela caiu. - A professora Umbridge deve saber que vocês estão fora de suas camas... Minerva, vá e a deixe fora disso, conte a ela qualquer estória...

 

E a professora McGonagall se foi num instante.

 

- Ele disse que ficará encantado - disse uma voz entediada vinda detrás de Dumbledore; o bruxo chamado Phineas tinha reaparecido em frente a uma bandeira da Sonserina. - Meu tataraneto sempre teve um gosto estranho para convidados.

 

- Venham então - Dumbledore disse para Harry e os Weasley. - E rápido, antes que alguém mais apareça...

 

Harry e os outros se agruparam em volta da escrivaninha de Dumbledore.

 

- Vocês já usaram uma chave de portal antes? - perguntou Dumbledore e acenaram com a cabeça, cada um deles alcançando uma parte do caldeirão enegrecido. - Bom, agora quando eu contar até três, então... Um... Dois...

 

Durou uma fração de segundo: na infinitésima pausa antes de Dumbledore dizer "três", Harry olhou para cima - estavam muito próximos, juntos - e o olhar azul e limpo de Dumbledore se moveu da chave do portal para o rosto de Harry.

 

Pouco tempo antes a cicatriz de Harry estava queimando violentamente e agora queimava de novo - e espontaneamente, indesejadamente mas horripilantemente forte, cresceu dentro de Harry um ódio tão grande que sentiu naquele instante que não queria nada mais que golpear, morder, perfurar com suas presas o homem atrás dele...

 

- ...Três.

 

Harry sentiu uma poderosa contração atrás de seu umbigo, o chão desapareceu sob seus pés, sua mão estava grudada ao caldeirão; estava se debatendo conforme todos aceleravam para frente num redemoinho de cores e uma agitação de ventos, o caldeirão os puxando para frente... Até seus pés atingirem o chão tão pesadamente que seus joelhos dobraram, o caldeirão caiu fazendo um grande  barulho e uma voz bem próxima a eles disse:

 

- Aqui novamente, pirralhos traidores do sangue. É verdade que o pai deles está morrendo?

 

- FORA! - rugiu uma segunda voz.

 

Harry arrastou seus pés e olhou em volta; tinham chegado no escuro porão da cozinha, no número vinte, Grimmauld Place. A única fonte de luz era o fogo e uma  vela gotejando, iluminava os vestígios de um solitário jantar. Kreacher estava desaparecendo através da porta para o hall, olhando de volta para eles malevolente  conforme puxava sua tanga; Sirius estava se apressando em direção a eles, parecendo ansioso. Estava com a barba por fazer e ainda com as roupas que vestiu de manhã; tinha até uma leve semelhança com o bafo de bebida envelhecida  de Mundungo.

 

- O que está acontecendo? - ele disse, esticando a mão para ajudar Gina a subir. - Phineas Angellus disse que Arthur se feriu gravemente...

 

- Pergunte a Harry - disse Fred.

 

- É, eu quero ouvir isso por ele mesmo - disse Jorge.

 

Os gêmeos e Gina olharam fixamente para ele. As pegadas de Kreacher tinham parado nas escadas, do lado de fora.

 

- Isso foi - Harry começou. - Isso foi até pior do que como McGonagall e Dumbledore contaram. Eu tive um... Um tipo de... Visão.

 

E ele contou tudo o que tinha visto, alterando um pouco a história para que parecesse que estava vendo tudo ao lado da cena conforme a cobra atacava, preferível do que pelos próprios olhos dela. Rony, que ainda estava muito branco, deu um rápido olhar para Harry mas não disse nada. Quando Harry tinha terminado, Fred, Jorge e Gina ainda continuaram olhando fixamente para ele por um instante. Não sabia se estava imaginando isso ou não mas desconfiou que havia um tom de acusação em seus olhares. Bem, se estavam indo culpá-lo por simplesmente ter visto o ataque Harry estava feliz por não ter contado que estava dentro da cobra naquele momento.

 

- Minha mãe está aqui? - perguntou Fred, virando para Sirius.

 

- Ela provavelmente nem sabe o que aconteceu ainda. O mais importante a se fazer era trazê-los antes que Umbridge pudesse interferir. Eu suponho que Dumbledore está deixando Molly a par de tudo nesse momento.

 

- Nós temos de ir ao hospital St. Mungus -  disse Gina em tom de urgência. Ela olhou em volta para seus irmãos; eles ainda estavam, é claro, de pijamas. - Sirius, você pode nos emprestar capas ou qualquer coisa assim?

 

- Esperem, vocês não podem ir até o hospital com tanta pressa!

 

- Claro que podemos ir ao St. Mungus se quisermos - disse Fred obstinadamente. - Ele é nosso pai!

 

- E como vão explicar como ficaram sabendo que Arthur foi atacado antes mesmo deixarem a esposa dele saber disso?

 

- O que isso importa? - disse Jorge com raiva.

 

- Importa porque nós não queremos atrair atenção pro fato de Harry estar tendo visões sobre coisas que acontecem centenas de quilômetros além! - disse Sirius irritado. - Você tem idéia do que o Ministro faria com essa informação?

 

Fred e Jorge olharam com cara de quem não estava ligando a mínima para o que o Ministro faria. Rony ainda estava pálido e silencioso.

 

- Uma outra pessoa poderia ter nos contado - disse Gina -, nós poderíamos ter ouvido de alguém que não fosse o Harry.

 

- De quem, por exemplo? - disse Sirius impacientemente. - Escute, seu pai foi ferido no caminho para a Ordem e as circunstâncias já são duvidosas demais sem os filhos dele sabendo disso segundos após isso acontecer, você poderia prejudicar seriamente a Ordem...

 

- Nós não ligamos para essa Ordem estúpida! - disse Fred.

 

- É sobre o nosso pai morrendo de que estamos falando! - gritou Jorge.

 

- Seu pai sabia no que estava se metendo e ele não vai agradecê-los por bagunçar as coisas para a Ordem! - disse Sirius igualmente furioso. - Isso é como as coisas são, isso é por que vocês não estão na Ordem, vocês não entendem, tem certas coisas que vale a pena morrer por elas.

 

- Fácil pra você dizer, preso aqui! - berrou Fred. - Eu não vejo você arriscar o seu pescoço!

 

O pouco de cor que remanescia no rosto de Sirius foi drenado com isso. Ele olhou por um momento até parecendo que iria bater em Fred mas quando falou foi numa voz de determinada calma.

 

- Eu sei que é difícil mas temos que agir como se não soubéssemos de nada ainda. Temos que ficar parados pelo menos até ouvirmos de sua mãe, tudo bem?

 

Fred e Jorge ainda olharam rebeldemente. Gina, entretanto, deu alguns passos até a cadeira mais próxima e caiu nela. Harry olhou para Rony, que fez um movimento engraçado que estava entre um aceno e um encolher de ombros e eles se sentaram também. Os gêmeos olharam penetrantemente para Sirius por outro minuto e então pegaram assentos ao lado de Gina.

 

- Tudo bem - disse Sirius encorajando -, venham, vamos todos... Vamos tomar algo enquanto esperamos. Accio Cerveja Amanteigada!

 

Ele levantou sua varinha, meia dúzia de copos vieram voando da copa para a frente deles, derrapando pela mesa, espalhando as sobras do jantar de Sirius, e pararam, limpos, em frente aos seis. Todos beberam e por um momento os únicos sons que se ouviam eram o estalar do fogo da cozinha e o macio golpe de seus copos  na mesa.

 

Harry só estava bebendo para ter algo a fazer com as mãos. Seu estômago estava cheio de uma horrível, quente e borbulhante culpa. Não estariam ali se não fosse por ele; ainda estariam dormindo em suas camas. E não era bom contar a si mesmo que aumentando o alarme tinha assegurado que o Sr. Weasley fosse encontrado porque também não podia escapar do pensamento de ter  sido ele quem tinha atacado o Sr. Weasley em primeiro  lugar.

 

"Não seja bobo, você não tem presas", pensou consigo mesmo, tentando manter a calma, a mão com que segurava o copo estava tremendo. "Você estava dormindo em sua cama, não podia estar atacando ninguém..."

 

"Mas então, o que aconteceu no escritório de Dumbledore?", perguntou a si mesmo. "Eu senti como se quisesse atacar Dumbledore também..."

 

Bateu o copo um pouco mais forte do que planejava e derrubou um pouco na mesa. Ninguém percebeu. Então um estouro de fogo surgiu no ar, iluminando os pratos  sujos na frente dele, e conforme gritavam pelo susto um rolo de pergaminho caiu com um baque sobre a mesa, acompanhado por uma singular pluma dourada de fênix.

 

- Fawkes! - disse Sirius de uma vez, pegando o pergaminho. - Essa não é a letra de Dumbledore, deve ser uma mensagem, da sua mãe, aqui...

 

Ele empurrou a carta para as mãos de Jorge, que a rasgou para abri-la e a leu em voz alta:

 

"Seu pai ainda está vivo. Eu estou me dirigindo para o St. Mungus agora. Fiquem  onde vocês estão. Mando notícias assim que eu puder.

Mamãe."

 

Jorge olhou em volta da mesa.

 

- Ainda vivo... - ele disse devagar, - Mas isso soa como...

 

Ele não precisava terminar a sentença. Isso soava para Harry, também, o Sr. Weasley estava pairando em algum lugar entre a vida e a morte. Ainda excepcionalmente pálido, Rony fixou seu olhar por detrás da carta de sua mãe, esperando que ela dissesse palavras de conforto para ele. Fred pegou o pergaminho das mãos de Jorge e leu por si mesmo, depois olhou para Harry, que sentiu sua mão tremer com o copo novamente e o agarrou firmemente com a mão mais cerrada, para parar com a tremedeira.

 

Se Harry já tivesse passado por uma longa noite como esta não podia se lembrar. Sirius sugeriu uma vez, sem nenhuma convicção, que todos fossem pra cama mas  os olhares de desgosto dos Weasley já eram resposta suficiente.

 

Sentaram-se em silêncio ao redor da mesa, assistindo ao pavio da vela afundando abaixo e abaixo para a cera derretida, ocasionalmente elevando o recipiente para seus lábios, falando só para checar as horas, para abertamente discutir o que estava acontecendo e para assegurar que se chegasse uma má notícia saberiam dela diretamente, porque a Sra. Weasley deveria demorar, uma vez que chegasse ao St. Mungus.

 

Fred se sentiu sonolento, sua cabeça encostava ao lado de seus joelhos. Gina se curvava como um gato em sua cadeira mas seus olhos estavam abertos; Harry pôde vê-los refletindo a luz do fogo. Rony estava sentado com sua cabeça em suas mãos, acordado ou adormecido era impossível de se dizer. Harry e Sirius se olhavam entre eles várias vezes, intrometidos sobre tristeza da família, esperando... Esperando...

 

Às 4:50 da manhã pelo relógio de Rony a porta da cozinha se abriu calmamente e a Sra. Weasley entrou na cozinha. Estava extremamente pálida mas quando todos voltaram a olhar para ela Fred, Rony e Harry estavam se levantando de suas cadeiras e ela deu um sorriso enfraquecido.

 

- Ele ficará bem - disse ela, sua voz soou cansada. - Ele está dormindo. Nós podemos todos vê-lo depois. Gui está no hospital com ele agora; ele irá ter uma  folga pela manhã.

 

Fred caiu em sua cadeira com suas mãos sobre sua face. Jorge e Gina acordaram, andaram rapidamente para sua mãe e a abraçaram. Rony deu uma risada extravagante e bebeu o resto da sua cerveja amanteigada em um gole.

 

- Café da manhã - disse Sirius em um tom alto e alegre, saltando sobre os pés dele. - Onde está o atrapalhado elfo doméstico? Kreacher! KREACHER!

 

Mas Kreacher não atendeu à intimação.

 

- Oh, esqueçam isso, agora - murmurou Sirius, contando as pessoas defronte dele. - Então é café da manhã para, deixe-me ver, sete... Bacon e ovos, eu acho, e chá,  e torradinha.

 

Harry apressadamente se dirigiu ao fogão para ajudar. Ele não queria se intrometer na felicidade dos Weasley e temeu o momento em que a Sra. Weasley iria lhe pedir que recontasse sua visão. Entretanto, tinha disfarçadamente pego pratos do armário da cozinha quando a Sra. Weasley os tirou de suas mãos e lhe puxou para um abraço.

 

- Eu não sei o que teria acontecido se não fosse por você, Harry - ela disse em voz baixa. - Eles talvez não o teriam encontrado por horas e aí teria sido tarde demais,  mas graças a você ele está vivo e Dumbledore foi capaz de pensar numa história para encobrir por Arthur ter estado onde estava, caso contrário, você não tem idéia do trabalho que teria dado, olhe para o pobre Sturgis...

 

Harry mal podia sustentar tal gratidão mas felizmente ela o soltou rapidamente e virou para Sirius, agradecendo-lhe por ter cuidado das crianças durante a noite para ela.

 

Sirius disse que estava muito satisfeito por ter podido ajudar e esperançava que todos pudessem ficar lá pelo tempo que o Sr. Weasley ainda estivesse no hospital.

 

- Oh, Sirius, estou tão agradecida... Eles acham que ele ficará lá por algum tempo e seria ótimo estar em um local próximo... E isso, é claro, significa que estaremos  aqui para o Natal.

 

- Quanto mais tempo melhor! - disse Sirius com uma sinceridade tão óbvia que a Sra. Weasley ficou radiante, vestiu um avental e foi ajudar com o café da manhã.

 

- Sirius - Harry murmurou, incapaz de aguardar mais. - Posso ter uma palavrinha com você? Er... Agora?

 

Ele foi para a escura despensa e Sirius o seguiu. Sem delongas, Harry contou ao seu padrinho todos os detalhes da visão que tivera, incluindo o fato de que ele próprio era a cobra que havia atacado o Sr. Weasley. Quando parou para respirar, Sirius disse.

 

- Você contou isso a Dumbledore?

 

- Sim - disse Harry impacientemente - mas ele não me contou o que isso queria dizer. Bem, ele na verdade não me conta mais nada.

 

- Estou certo de que ele teria contado se fosse algo com o que você tivesse que se preocupar - disse Sirius com firmeza.

 

- Mas isso não é tudo - disse Harry numa voz somente um pouco acima de um sussurro. - Sirius, eu... Eu acho que estou ficando louco. Ainda no escritório de Dumbledore, logo antes de usarmos a chave do portal... Por alguns segundos eu achei que eu era uma cobra, eu me senti como uma, minha cicatriz doeu muito quando eu estava olhando para Dumbledore... Sirius, eu queria atacá-lo!

 

Ele só podia ver um pedaço do rosto de Sirius; o restante estava na escuridão.

 

- Deve ter sido em conseqüência da visão, só isso. Você ainda estava pensando no sonho, ou seja lá o que foi aquilo e...

 

- Não foi isso - disse Harry balançando a cabeça -, era como algo crescendo dentro de mim, como se houvesse uma cobra dentro de mim.

 

- Você precisa dormir - disse Sirius firmemente. - Você vai tomar o café da manhã, depois suba as escadas, vá para a cama e depois do almoço você poderá ir ver Arthur com os outros. Você está assustado, Harry; você está se culpando por algo que você apenas testemunhou e tivemos sorte de você ter testemunhado,ou Arthur talvez tivesse morrido. Simplesmente pare de se preocupar.

 

Ele deu uma palmadinha no ombro de Harry e saiu da despensa, deixando Harry sozinho, no escuro.

 

Todos - à exceção de Harry - passaram o resto da manhã dormindo. O garoto foi para o quarto que ele e Rony tinham compartilhado nas últimas poucas semanas de verão mas enquanto Rony rastejava em sua cama e estava dormindo em minutos  Harry se sentou completamente vestido, pôs-se sobre a barra fria de metal da cama, mantendo-se deliberadamente inconfortável, determinado a não cair num leve sono, com medo de que poderia vir a ser serpente de novo em seu sono e acordar percebendo que tenha atacado Rony, ou pior, se arrastado através de casas uma após a outra.

 

Quando Rony acordou, Harry fingiu ter aproveitado uma refrescante soneca também. Seus malões chegaram de Hogwarts enquanto estavam almoçando então puderam se vestir como trouxas para a viagem rumo a St. Mungus. Todos, com exceção de Harry, estavam incontrolavelmente felizes e conversativos por trocaram seus pijamas por jeans e camisas. Quando Tonks e Olho-Tonto se viraram para guiá-los através de Londres eles os agradeceram, rindo do exagerado chapéu-coco que Olho-Tonto utilizava, num ângulo para conciliar seu olho mágico e assegurá-lo, honestamente, que Tonks, cujo cabelo  estava curto e num tom rosa brilhante, atrairia de longe, muito menos atenção no subsolo.

 

Tonks estava muito interessada na visão de Harry sobre o ataque ao Sr. Weasley, algo que ele não estava nem remotamente querendo discutir.

 

- Não tem nenhum vidente na sua família, tem? - ela perguntou curiosa, conforme se sentavam lado a lado num trem indo em frente, direto ao coração da cidade.

 

- Não - disse Harry pensando na professora Trelawney e se sentindo insultado.

 

- Não - disse Tonks, meditando -, não, eu suponho que não seja bem uma profecia isso o que você está fazendo, é? Quero dizer, você não está vendo o futuro, está vendo o presente... É estranho, não é? Útil, ainda que...

 

Harry não respondeu; felizmente saltaram na parada seguinte, numa estação que ficava bem no centro de Londres e no alvoroço das pessoas saindo do trem deixou  Fred e Jorge ficarem entre ele e Tonks, que conduzia o caminho. Todos a seguiram pela escada rolante, Moody fazendo barulho atrás do grupo, seu chapéu-coco se inclinou para baixo e uma mão áspera emperrou entre os botões de seu paletó, agarrando sua varinha. Harry imaginou que Moody sentiu seu "olho conciliado" duramente emperrado. Tentando evitar mais perguntas sobre seu sonho, perguntou a Olho-Tonto onde St. Mungus estava escondido.

 

- Não muito longe daqui - grunhiu Moody conforme ficaram próximos a um ar gelado numa larga rua comercial, cheia de carrinhos de compras para o Natal. Ele empurrou Harry para um pouco à sua frente e se espantou enquanto ali estava. Harry sabia que o olho estava girando para todas as direções embaixo daquele chapéu inclinado. - Não foi fácil achar um bom local para um hospital. Lugar algum  do Beco Diagonal era grande o suficiente e nós não poderíamos ter isso no subsolo, como o Ministro... Não estaria saudável. No final orientaram para que fizessem a construção aqui. Em teoria, bruxos doentes poderiam ir e vir aqui simplesmente se misturando com a multidão.

 

Ele pegou o ombro de Harry para prevenir que não fossem separados por um bando de compradores planejando nada mais que fazer compras numa loja cheia de equipamentos eletrônicos.

 

- Aqui vamos nós - disse Moody um instante depois.

 

Tinham chegado numa larga, antiquada, loja de departamentos de tijolos vermelhos, chamada "Purge & Dowse Ltda.". O lugar tinha um gasto e miserável ar; a vitrine consistia em alguns destroços de manequins com perucas tortas, posicionadas ao léu e com modelos de pelo menos dez anos atrasados. Grandes avisos na porta diziam: "Fechado para Reformas". Harry distintamente ouviu uma mulher carregada de sacolas com compras dizer para a sua amiga enquanto passavam: "Esse lugar nunca está aberto...".

 

- Certo - disse Tonks, acenando para uma vitrine que não tinha nada além de uma manequim particularmente feia. Ela tinha cílios postiços e estava vestindo um vestido avental verde. - Estão todos prontos?

 

Acenaram com a cabeça, agrupando-se ao redor dela. Moody deu a Harry outro empurrão no ombro, querendo que ele fosse mais para a frente e Tonks se inclinou para bem perto ao vidro, olhando para a manequim muito feia, sua respiração embaçando o vidro.

 

- Wotcher - ela disse -, estamos aqui para ver Arthur Weasley.

 

Harry pensou em quão absurdo era Tonks esperar que a manequim a ouvisse falando tão baixo, através de uma parede de vidro, com todo o barulho dos ônibus e dos compradores. Lembrou-se então de que manequins não podiam ouvir de qualquer maneira. Um segundo após, sua boca abriu em choque conforme a manequim fez um pequeno aceno com a cabeça e fez um gesto com seu dedo articulado, e Tonks tinha agarrado Gina e a Sra. Weasley pelos cotovelos, pararam em frente ao vidro e desapareceram.

 

Fred, Jorge e Rony se aproximaram depois deles. Harry olhou de relance ao redor da multidão e nenhum deles parecia ter consideração para uma vitrine tão feia quanto a da Purge & Dowse Ltda.; nem perceberam que seis pessoas tinham se dissolvido em ar rarefeito na frente deles.

 

- Venham, rosnou Moody, dando a Harry outro empurrão nas costas e juntos se aproximaram à frente do que parecia ser um lençol de água fresca, emergindo quase morna e seco do outro lado.

 

Não havia sinal da manequim feia ou do lugar onde ela estava. Parecia que estavam numa recepção tumultuada, com fileiras de bruxos e bruxas sentados em fracas cadeiras de madeira, pareciam perfeitamente normais e examinando  edições atrasadas do Semanário das Bruxas, outros fazendo horríveis desfigurações, tais como calções de elefante ou mãos adesivas extras que pegavam dinheiro. A sala estava muito menos quieta que a rua lá fora, alguns dos pacientes faziam sons muito peculiares: uma bruxa com o rosto suado no centro da fileira da frente, estava abanando a si mesma vigorosamente com uma cópia do Profeta Diário, um assobio com um vapor preto saiu torrencialmente pela sua boca; um bruxo aparentando estar sujo, no canto, ressoava como um sino a cada vez que se movia e com cada som sua cabeça vibrava horrivelmente, tanto que ele teve de agarrar a si mesmo pelas orelhas e segurá-la fixamente.

 

Bruxos e bruxas em robes verde-limão andavam para cima e para baixo nas fileiras, fazendo perguntas e fazendo anotações em pranchetas, como Umbridge. Harry percebeu o emblema bordado em seus peitos: uma varinha e um osso,  cruzados.

 

- Eles são médicos? - perguntou a Rony disfarçadamente.

 

- Médicos? - disse Rony surpreso. - Aqueles trouxas malucos que cortam as pessoas? Não, eles são medi-bruxos.

 

- Bem aqui! - chamou a Sra. Weasley sob o renovado som do feiticeiro no canto e eles a seguiram até uma fila em frente à bruxa loira e obesa sentada atrás de uma  escrivaninha marcada como "Requerimentos".

 

A parede atrás dela estava cheia de notícias e pôsteres dizendo coisas como: UM CALDEIRÃO LIMPO NÃO DEIXA POÇÕES VIRAREM VENENOS e ANTÍDOTOS SÃO ANTI - NÃO OS USE A NÃO SER QUE APROVADOS POR UM MEDI-BRUXO QUALIFICADO. Havia também um largo  retrato de uma bruxa com longos cabelos cacheados, e tinha uma legenda:

 

Dilys Derwent

 

Medi-bruxa de St. Mungus 1722 -

 

Diretora da escola de bruxaria e feitiçaria de Hogwarts 1741 -

 

Dilys era visivelmente a mais próxima dos Weasley; quando Harry olhou em seus olhos ela deu uma leve piscada, andou para os lados, saindo de seu retrato e desapareceu.

 

Entretanto, na frente da fila, um bruxo jovem estava dançando com um estranho gingado, entre grunhidos de pânico, para explicar a sua situação para a bruxa atrás  da escrivaninha.

 

- São esses, ouch, sapatos, meu irmão me deu, ow, eles estão comendo meu, OUCH, pé, olhe para eles, deve haver algum tipo de azaração neles e eu não consigo, AAAAARGH, retirá-los - ele saltou de um pé para o outro, como se estivesse dançando sobre carvão quente.

 

- Os sapatos não impedem que você leia, impedem? - disse a bruxa loira, apontando irritadamente para uma grande placa à esquerda de sua escrivaninha. - Você quer Danos por Magia, quarto andar. Do jeito que está escrito no guia do andar. Próximo!

 

Assim que o bruxo mancou e empinou para os lados, fora do caminho, os Weasley se moveram alguns passos à frente e Harry leu o guia do andar:

 

ACIDENTES COM ARTEFATOS... Térreo

 

Explosão de caldeirões, tiro pela culatra da varinha, batidas de vassoura, etc.

 

FERIMENTOS INDUZIDOS POR CRIATURAS... Primeiro andar

 

Mordidas, picadas, queimaduras, espinhos enfiados, etc.

 

ACIDENTES MÁGICOS... Segundo andar

 

Doenças contagiosas, catapora e. g. de dragão, doença do desaparecimento, etc.

 

ENVENENAMENTO POR POÇÕES OU PLANTAS... Terceiro andar

 

Erupções da pele, regurgitação, descontrole 2, etc.

 

DANOS POR MAGIA... Quarto andar

 

Azarações problemáticas, feitiços, aplicação incorreta de encantos, etc.

 

SALÃO DE CHÁ PARA OS VISITANTES/SHOPPING DO HOSPITAL... Quinto andar

 

SE VOCÊ NÃO TEM CERTEZA AONDE IR, POSSUI INCAPACIDADE DE CONVERSAR NORMALMENTE OU NÃO CONSEGUE SE LEMBRAR DE POR QUE VOCÊ ESTÁ AQUI, NOSSA RECEPÇÃO VAI TER O PRAZER DE AJUDÁ-LO.

 

Um bruxo muito velho com uma trombeta se arrastou para a fila agora.

 

- Estou aqui para ver Broderick Bode! - ele pronunciou ofegantemente.

 

- Ala quarenta e nove mas acredito que você esteja perdendo seu tempo - disse a bruxa. - Ele esta completamente confuso, você sabe, ainda pensa que é um bule para chá. Próximo!

 

Um bruxo que parecia atormentado estava segurando sua pequena filha firmemente pelo tornozelo, enquanto ela batia na cabeça dele com uma asa imensamente larga, emplumada, que tinham brotado em suas costas, rasgando seu traje.

 

- Quarto andar - disse a bruxa numa voz sonolenta sem perguntar e o homem desapareceu através de portas duplas ao lado da escrivaninha, segurando sua filha como um estranho e cheio balão. - Próximo!

 

A Sra. Weasley se moveu em frente para a escrivaninha.

 

- Olá - ela disse -, meu marido, Arthur Weasley estava para ser transferido para outra ala esta manhã, você poderia nos dizer...?

 

- Arthur Weasley? - disse a bruxa, correndo o dedo por uma longa lista à sua frente. - Sim, primeiro andar, segunda porta à direita, Ala Dai Llewellyn.

 

- Obrigada - disse a Sra. Weasley. - Venham, vocês todos.

 

Eles a seguiram através da porta dupla e pelo estreito corredor além, repleto de outros retratos com mais famosos medi-bruxos e iluminado por bolhas de cristais cheias de velas que flutuavam próximas ao teto, parecendo gigantes espumas de sabão. Mais bruxos e bruxas em robes verde-limão iam para dentro e fora do corredor em que passavam; um mal cheiro de um gás amarelo conforme passaram por uma porta, e em todas, aqui e ali, ouviam distantes lamentos.

 

Subiram um lance de escadas e entraram no corredor de Ferimentos Induzidos por Criaturas, onde na segunda porta à direita estava escrito: "Perigo - Ala Daí Llewellyn: mordidas sérias". Abaixo disso, havia um cartão num prendedor de metal em que havia sido escrito a mão: "Medi-bruxo em ofício: Hippocrates Smethwyck. Medi-bruxo estagiário: Augustus Pye."

 

- Nós esperaremos aqui fora, Molly - disse Tonks. - Arthur não vai querer muitos visitantes de uma só vez... Deve ir apenas a família primeiro.

 

Olho-Tonto rosnou sua aprovação a esta idéia e recostou suas costas na parede do corredor, seu olho mágico estava girando em todas as direções. Harry se retraiu também mas a Sra. Weasley o puxou com sua mão através do corredor, dizendo.

 

- Não seja bobo, Harry, Arthur quer agradecê-lo.

 

A ala era pequena e suja, a única janela era estreita e alta, na parede oposta a da porta. A maior parte da luz vinha das bolhas brilhantes de cristal do meio do teto. As paredes eram de carvalho e havia um retrato de um bruxo aparentemente malicioso na parede, com a legenda:

 

Urquhart Rackharrow, 1612-1697, Inventor da praga expelidora de entranhas.

 

Só havia três pacientes. O Sr. Weasley estava ocupando a cama no final da ala, ao lado da pequena janela. Harry estava contente e aliviado em ver que ele estava apoiado em vários travesseiros e lendo o Profeta Diário com um solitário raio de sol que caía sobre a sua cama. Olhou para cima conforme eles avançavam em direção a ele e, vendo quem era, ficou sorridente.

 

- Olá!, disse ele, jogando o Profeta para o lado. - Gui acabou de sair, Molly, teve que voltar ao trabalho mas ele disse que fala com você depois.

 

- Como você está Arthur? - perguntou a Sra. Weasley, curvando-se para beijar sua bochecha e olhando ansiosamente para sua face. - Você ainda está parecendo um pouco doente.

 

- Eu me sinto absolutamente bem - disse o Sr. Weasley brilhantemente, levantando seu braço bom para dar a Gina um abraço. - Se eles pudessem tirar essas bandagens eu estaria bom para ir pra casa.

 

- Por que eles não podem retirá-las, pai? - perguntou Fred.

 

- Bem, eu comecei a sangrar como louco toda vez que tentaram - disse o Sr. Weasley animado, alcançando sua varinha no gabinete ao lado e a balançou, fazendo com que seis cadeiras aparecessem ao seu lado para que todos  pudessem se sentar. - Parece que havia um incomum veneno nas presas daquela cobra que mantém feridas abertas. Eles têm certeza de que encontrarão um antídoto; disseram que já tiveram casos bem piores que o meu e que entretanto eu só tenho que ficar tomando uma poção repositora de sangue a cada hora. Mas aquele camarada ali ao lado - disse, falando baixo e acenando com a cabeça para a cama oposta, na qual um homem aparentando estar verde e fraco. - Mordido por um lobisomem, pobre homem. Não tem cura.

 

- Lobisomem? - sussurrou a Sra. Weasley, olhando alertadamente. - Ele está seguro em uma seção na ala pública? Não seria melhor ele estar em uma sala privada?

 

- Duas semanas para a lua cheia - o Sr. Weasley relembrou quietamente. - Eles estiveram conversando com ele esta manhã, os medi-bruxos, você sabe, tentando persuadi-lo para ser capaz de ter uma quase vida normal... Eu disse para ele, não mencionei nomes, é claro, mas eu disse que eu conhecia um lobisomem pessoalmente, um homem muito bom, que acha as condições até um pouco fáceis de se controlar.

 

- E o que ele disse? - perguntou Jorge.

 

- Ele me disse que me daria uma outra mordida se eu não me calasse - disse o Sr. Weasley triste. - E essa mulher que está ali, ele indicou a única outra cama ocupada, a qual estava ao lado direito da porta -, não consegui contar os medi-bruxos que ela mordeu, o que faz com que a gente pense que carregava alguma coisa ilegalmente. O que quer que isso fosse, pegou um bom pedaço da perna dela, um cheiro muito desagradável saiu quando eles tiraram o seu vestido.

 

- Então você vai contar o que aconteceu, pai? - perguntou Fred, puxando sua cadeira mais pra perto da cama.

 

- Certo, vocês já sabem, não sabem? - disse o Sr. Weasley, com um significante sorriso ao Harry. - É muito simples, eu tive um dia muito longo, tirava um cochilo, fui mordido e picado...

 

- Isto está no Profeta, você ser atacado? - perguntou Fred, indicando o jornal que o Sr. Weasley tinha jogado ao lado.

 

- Não, lógico que não - disse o Sr. Weasley, com um desprezível sorriso -, o Ministério não quer que todo mundo saiba que uma suja e gigante serpente entrou...

 

- Arthur! - a Sra. Weasley advertiu.

 

- Me ent...r...ou com as presas - o Sr. Weasley disse rapidamente, Harry tinha quase certeza que isso não era o que ele iria dizer.

 

- Então onde você estava quando isso aconteceu, pai? - perguntou Jorge.

 

- Isso é o problema meu - disse o Sr. Weasley com um pequeno sorriso. Ele pegou rapidamente o profeta Diário, balançou-o, abriu de novo. - Eu estava apenas lendo sobre o poder de Willy Widdershins quando vocês chegaram. Vocês sabiam que Willy voltou para estar entre aqueles banheiros regurgitantes de volta no verão? Uma dessas azarações foi um tiro pela culatra, o toalete explodiu e o acharam  mentindo inconsciente nos destroços que cobria da cabeça aos pés...

 

- Quando dizem que você está durante sua obrigação - Fred interrompeu em voz baixa -, o que você está fazendo?

 

- Você escutou seu pai - sussurrou a Sra. Weasley -, nós não estamos discutindo isso aqui! Fale sobre Willy Widdershins, Arthur.

 

- Bom, não me pergunte como mas ele realmente deixou de se encarregar pelo banheiro - disse Sr. Weasley medonhamente. - Eu posso somente supor que ouro mudou de mãos.

 

- Você está guardando ela, não está? - disse Jorge silenciosamente. - A arma? A coisa do Você-Sabe-Quem?

 

- Jorge, fique quieto! - interrompeu Sra. Weasley.

 

- De qualquer forma - disse o Sr. Weasley, em voz alta -, nessa hora Willy foi pego vendendo Doorknobs a trouxas e eu não acho que será capaz para rastejar para fora disso, porque, de acordo com esse artigo, dois trouxas perderam dois dedos e estão agora no St. Mungus para um emergencial re-crescimento do osso e para modificação na memória. Apenas pense sobre isso, trouxas no St. Mungus! Eu gostaria de saber em qual seção eles estão!

 

Ele olhou entusiasmado ao redor e a além, esperando ver algum cartaz de informação.

 

- Você não disse que Você-Sabe-Quem tem uma cobra, Harry? - perguntou Fred, olhando para seu pai para ver sua reação. - Uma massiva? Você viu isso na noite em que ele retornou, não é?

 

- Já basta - disse a Sra. Weasley. - Olho-Tonto e Tonks estão do lado de fora, Arthur, eles querem vir e ver você. E vocês podem esperar lá do lado de fora - adicionou aos seus filhos e Harry. Você pode vir e dizer tchau depois. Vá indo.

 

Voltaram juntos até o corredor. Olho-Tonto e Tonks foram e fecharam a porta da seção entre eles. Fred levantou seus olhos.

 

- Claro - disse ele friamente, revirando seus bolsos.

 

- Procurando por isto? - disse Jorge, segurando o que parecia uma mistura de barbantes coloridos.

 

- Você leu minha mente - disse Fred, rindo. - Vamos ver se St. Mungus colocou impertubadores nessas portas da seção, devemos?

 

Ele e Jorge se livraram do barbante e separaram 5 orelhas extensíveis de cada um deles. Fred e Jorge os pegou ao redor. Harry estava hesitando pegar um.

 

- Vai em frente, Harry, pegue isto! Você salvou vida do meu pai. Se alguém tem o direito de espiar, é você.

 

Rindo de si mesmo, Harry pegou o fim do barbante e inseriu este em sua orelha como os gêmeos tinham feitos.

 

- Ok, vai! - Fred falou baixo.

 

Os barbantes coloridos se agitaram como uma longa e fina minhoca e se arrastaram por debaixo da porta. Primeiro Harry não pôde ouvir nada então pulou quando escutou Tonks cochichando claramente como pensava, estava localizada ao lado dele.

 

- ...Eles procuraram toda área mas não conseguiram encontrar cobra em lugar algum. Parece que desapareceu logo após ter atacado você, Arthur... Mas Você-Sabe-Quem não pode ter esperar que uma cobra consiga chegar até nós, não é?

 

- Eu acho que ele mandou esta para uma espionagem - rugiu Moody -, porque ele não tem nenhuma sorte tão longe, tem? Não, eu acho que ele está tentando obter imagem clara do que ele está enfrentando e se Arthur não estivesse ali poderia ter tido muito mais tempo olhar ao redor. Então, Potter diz que viu isso tudo acontecer?

 

- Sim - disse a Sra. Weasley. Ela pareceu predeterminadamente difícil. - Você sabe, Dumbledore parece ter ficado esperando Harry ver alguma coisa como esta.

 

- Sim, claro - disse Moody. - Há uma coisa engraçada em relação ao Potterzinho, nós todos sabemos isso.

 

- Dumbledore parecia amedrontado em relação ao Harry quando eu falei com ele essa manhã - sussurrou a Sra. Weasley.

 

- É claro ele está com medo - rugiu Moody. - O menino está vendo coisas por dentro da cobra do não-sei-quem. Obviamente, Potter não entende o que isso significa mas se Você-Sabe-Quem estiver se apossando dele...

 

Harry puxou a orelha extensiva para fora do ouvido, seu coração disparava muito rapidamente e o calor invadia sua face. Olhou ao redor para os outros. Estavam  todos olhando fixamente para ele, os barbantes ainda estavam saindo de suas orelhas e pareciam inesperadamente amedrontados.

 

 

NATAL NA ALA FECHADA

Por que Dumbledore não estava olhando nos olhos de Harry? Esperava ver Voldemort encará-los, com medo, talvez, aquele seu verde vivo pôde voltar repentinamente vermelho, com uma fenda semelhante a olhos de gato? Harry recordou o rosto de cobra de Voldemort que tinha uma vez estado na parte de trás da cabeça do Professor Quirrell e passou sua mão pela cabeça imaginando Voldemort saindo de sua cabeça com aquela forma de caveira.

 

Sentiu-se sujo, contaminado, como se estivesse carregando algum germe fatal, sem valor para sentar no metrô, desde o hospital com inocentes pessoas limpas cujas mentes e corpos estavam libertas da mancha de Voldemort... Ele não simplesmente viu a cobra, ele tinha sido a cobra, agora sabia isto...

 

Um pensamento terrível então ocorreu a ele, uma memória veio à superfície da sua mente, um acontecimento que o fez se contorcer como uma serpente.

 

O que ele será depois, além de seguidor?

 

A coisa que pode unicamente conseguir discrição... Desejar uma arma. Alguma coisa ele não teve da última vez.

 

"Eu sou a arma", pensou Harry e isto foi como se um veneno fosse extraído através de suas veias, resfriando-o, trazendo-o para fora através de seu suor com o trem no túnel escuro. "Sou eu quem Voldemort está tentando usar, porque eles têm guardas ao meu redor em toda parte, eu vou, isto não é para minha proteção, isto é para outras pessoas, não é um trabalho, eles não podem ter alguém comigo todo o tempo em Hogwarts... Eu ataquei o Sr. Weasley ontem à noite, fui eu. Voldemort me fez fazer isso e ele poderia estar dentro de mim, escutando meus pensamentos agora mesmo."

 

- Você está bem, Harry querido? - sussurrou a Sra. Weasley, inclinando-se ao lado de Gina para falar com ele conforme o trem balançava pelo túnel escuro. - Você não parece estar muito bem. Está se sentindo doente?

 

Todos o observaram. Ele agitou sua cabeça violentamente e olhou para cima como se estivesse dizendo que estava bem.

 

- Harry, querido, você tem certeza que está bem? - disse a Sra. Weasley com uma voz preocupada enquanto andavam pela grama no meio do Grimmauld Place. - Você parece pálido... Você dormiu esta manhã? Você vai para cama agora mesmo e pode dormir umas horas antes do jantar, tudo bem?

 

Ele acenou; foi uma desculpa para não falar com os outros, do jeito que queria, assim quando ela abriu a porta da frente se apressou, subiu os degraus e foi para o quarto de Rony.

 

Andou de um lado para o outro, passando as duas camas e a fotografia vazia de Phineas Nigellus, seu cérebro transbordava e fervia com perguntas e mais idéias terríveis.

 

Como ele se tornou uma cobra? Talvez fosse um animago... Não, ele não podia ser, saberia... Talvez Voldemort fosse um animago... Sim, pensou Harry, isso se encaixaria, ele poderia virar uma cobra, claro... E quando o está possuindo, então ambos se transformavam..."Mas isso ainda não explicou como eu cheguei em Londres e retornei a minha cama em aproximadamente cinco minutos... Por outro lado Voldemort é o bruxo mais poderoso do mundo, à exceção de Dumbledore, isto provavelmente não é problema de nenhuma maneira, transportar pessoas que gostem disso."

 

E então, com uma punhalada terrível de pânico, ele pensou, "mas isto é insano - se Voldemort me possuiu eu estou dando a ele uma boa visão do Quartel General da Ordem de Fênix agora mesmo! Ele saberá várias coisas da Ordem e onde Sirius está... E eu tenho escutado coisas que eu não deveria, tudo que Sirius me disse na primeira noite que eu estive aqui...".

 

Havia apenas uma coisa a se fazer: poderia deixar Grimmauld Place imediatamente. Poderia passar o Natal em Hogwarts sem os outros, que poderiam passar as férias em segurança... Mas não, não poderia fazer isso, havia muitas pessoas para ferir em Hogwarts . O que aconteceria se fosse Simas, Dino ou Neville da próxima vez? Parou e encarou a moldura vazia de Phineas Nigellus. Uma sensação pesada surgiu dentro de seu estômago. Ele não tinha alternativa: teria de voltar para a Rua dos Alfeneiros e se desligaria do mundo mágico.

 

Bem, se ele não fizesse isso, pensou, não tinha sentido ficar vagando por aí. Tentando com toda força não pensar em como os Dursley reagiriam quando o encontrassem em sua porta seis meses antes do esperado, foi até seu malão, fechou-o com força e o trancou, automaticamente olhou para a gaiola de Edwiges antes de se lembrar que ela estaria segura em Hogwarts - bem, a gaiola era uma coisa a menos para carregar - pegou seu malão e p tinha arrastado a caminho da porta quando uma voz sarcástica disse.

 

- Vai fugir de nós?

 

Ele olhou em volta. Phineas Nigellus tinha aparecido na tela do retrato e, encostado na moldura, observava Harry com uma expressão divertida no rosto.

 

- Não estou fugindo não - disse Harry brevemente, arrastando seu malão pelo quarto.

 

- Eu pensei - disse Phineas Nigellus, acariciando sua barba pontuda - que para pertencer a Grifinória você devesse ser corajoso! Você poderia estar melhor em nossa casa. Nós, sonserinos somos corajosos, sim, mas não estúpidos. Por exemplo, dada a escolha, nós sempre escolheremos salvar nossos próprios pescoços.

 

- Não é o meu pescoço que eu estou salvando - disse Harry conscientemente, puxando seu malão por um carpete irregular, roído por traças em frente à porta.

 

- Oh, eu vi - disse Phineas Nigellus, ainda acariciando sua barba -, isto não é covardia, você está sendo nobre.

 

Harry o ignorou. Segurou a maçaneta da porta quando Phineas Nigellus disse preguiçosamente.

 

- Eu tenho uma mensagem para você de Alvo Dumbledore.

 

Harry ficou pasmo.

 

- O que é?

 

- Fique onde você está.

 

- Eu não me mexi! - disse Harry, sua mão ainda sobre a maçaneta. - E então? Qual é a mensagem?

 

- Há pouco eu a disse a você, pateta - disse Phineas Nigellus suavemente. - Dumbledore disse: "Fique onde você está".

 

- Por quê? - disse Harry avidamente, deixando a extremidade do malão cair. - Por que ele quer que eu fique? Que mais ele disse?

 

- Nada além - disse Phineas Nigellus, levantando uma sobrancelha preta magra como se achasse Harry impertinente.

 

O temperamento de Harry veio à superfície como uma cobra levantando na grama. Estava exausto, estava totalmente confuso, tinha experimentado terror, alívio, então terror outra vez nas últimas doze horas e Dumbledore ainda não quis falar com ele!

 

- Então é isso? - ele disse em voz alta. - "Fique onde você está"! Isto é tudo, qualquer um podia me contar depois que eu fui atacado por aqueles Dementadores, também! Fique no seu lugar enquanto os adultos cuidam de tudo, Harry! Nós não o preocuparemos com qualquer coisa, porque seu cérebro pequenininho pode não agüentar!

 

- Você sabe - disse Phineas Nigellus, ainda mais alto que Harry  -, isto é precisamente por que eu detesto ser um professor! Pessoas jovens são infernalmente convencidas de que estão absolutamente certas de tudo. Isto não ocorreu a você, meu pobre arrogante, que há uma excelente razão de que o diretor de Hogwarts não está confiando todos pequenos detalhes dos seus planos para você? Você nunca parou para notar que os seguidores de Dumbledore nunca deixaram você sofrer algum dano? Não. Não, jovens são todos iguais, vocês estão completamente seguros que só vocês sentem e pensam, vocês sozinhos reconhecem o perigo, vocês são os únicos espertos para compreender o que o Lord das Trevas pode estar planejando...

 

- Ele está planejando alguma coisa para fazer comigo então? - disse Harry rapidamente.

 

- Eu disse isso? - disse Phineas Nigellus, examinando preguiçosamente suas luvas de seda. - Agora, se você me desculpar, eu tenho coisas melhores para fazer do que escutar um adolescente revoltado... Bom dia para você.

 

E ele passou pela margem da moldura e saiu de vista.

 

- Boa, vai então! - disse Harry berrando para a moldura vazia. - E diga obrigado ao Dumbledore por nada!

 

A tela vazia permaneceu silenciosa. Espumando, Harry arrastado seu malão, retornou-o para o pé de sua cama, então jogou rosto embaixo das cobertas roídas por traças, seus olhos fecharam, seu corpo estava pesado e doendo.

 

Sentiu como se tivesse percorrido milhares de quilômetros, impossível que 24 horas atrás Cho Chang o tinha abordado... Estava tão cansado... Estava apavorado pra dormir... Não sabia por quanto tempo poderia ficar naquele lugar... Dumbledore ordenou que ficasse... Isso permitiu que dormisse... Mas estava assustado... O que aconteceria se acontecesse de novo?

 

Estava afundando dentro de sombras... Era como um filme em sua cabeça que tinha esperado para começar. Estava andando em um corredor deserto em direção a uma porta preta, paredes de pedra rudes, tochas e uma entrada aberta com degraus de pedra que levavam à esquerda...

 

Alcançou a porta preta mas não podia abri-la... Ficou olhando fixamente para ela, desesperado para entrar... Desejou com todo seu coração que tivesse alguma coisa do outro lado... Um prêmio além dos seus sonhos.. E sua cicatriz poderia parar de arder... Então poderia pensar mais claramente...

 

- Harry - disse a voz de Rony, longe, longe. - Mamãe disse que o jantar está pronto, mas ela guardará algo para você se você quiser continuar na cama.

 

Harry abriu seus olhos mas Rony tinha já deixado o quarto.

 

"Ele não quer estar sozinho comigo", pensou Harry. "Não depois que ele escutou o que Moody disse."

 

Supôs que nenhum deles o desejava ali mais, agora que sabiam o que estava dentro dele.

 

Não poderia descer para jantar; não poderia ficar na companhia deles. Virou-se virou para outro lado, até que dormiu. Harry acordou muito mais tarde, nas primeiras horas da manhã, estava com fome e Rony roncava em sua cama. Olhando pelo quarto, viu o contorno escuro de Phineas Nigellus em seu retrato e ocorreu a Harry que Dumbledore tinha provavelmente enviado Phineas Nigellus para observá-lo, caso ele atacasse alguém.

 

O sentimento "sujo" se intensificou. Uma metade sua não tinha obedecido Dumbledore... Se isto esteve acontecido como vida seria para ele no Grimmauld Place de agora em diante, talvez poderia estar melhor na Rua dos Alfeneiros apesar de tudo.

 

Todo mundo estava cansado de colocar enfeites de Natal. Harry não podia se recordar de Sirius sempre com bom humor; estava cantando canções de Natal, aparentemente alegre por ter companhia na data. Harry podia escutar sua voz ecoando para cima através do chão na sala de visitas onde estava sentado sozinho, observando o céu ficar cada vez mais branco, ameaçando nevar, todo tempo sentia o prazer que estava dando aos outros de falar sobre si, como estavam fazendo. Quando escutou a Sra. Weasley chamando seu nome suavemente para o almoço foi para o andar de cima e a ignorou.

 

Perto das 6 horas a campainha tocou e a Sra. Black começou a gritar outra vez. Supondo que Mundungo ou algum outro membro da Ordem havia chegado, Harry simplesmente se arrumou mais confortavelmente contra a parede do quarto onde Bicuço fora escondido, tentando ignorar sua fome, tentou alimentar o hipogrifo com ratos mortos. Levou um choque quando alguém bateu na porta uns minutos mais tarde.

 

- Eu sei que você está aí - disse a voz de Hermione. - Você pode por favor vir aqui? Eu quero falar com você.

 

- O que você está fazendo aqui? - perguntou Harry a ela, abrindo a porta enquanto Bicuço arranhava o chão coberto de palha à procura de pedaços de ratos que poderia ter deixado cair. - Eu pensei que você fosse esquiar com seus pais.

 

- Bem, pra falar a verdade esqui não é meu esporte - disse Hermione. - Então eu vim para o Natal - havia neve em seu cabelo e seu rosto estava rosa com o frio. - Mas não conte ao Rony. Eu disse a ele que esquiar era bom porque ele ficou rindo muito. Mamãe e papai estão um pouco desapontados mas eu disse a eles que todos que estão preocupados com os exames, que eu estaria está em Hogwarts para estudar. Eles querem o meu bem, vão entender. De qualquer modo - ela disse rapidamente -, vai para seu quarto, a mãe do Rony acendeu o fogo e mandou uns sanduíches.

 

Harry a seguiu de volta para o segundo andar. Quando entrou o quarto, foi surpreendido por Rony e Gina esperando por eles, sentando em cama do Rony.

 

- Eu vim no Nôitibus Andante - disse Hermione levemente, tirando sua jaqueta antes que Harry tivesse tempo de falar. - Dumbledore me contou sobre o que aconteceu esta manhã mas eu tive que esperar o fim do trimestre antes de vir. Umbridge está lívida que você tenha desaparecido debaixo de seu nariz, ainda que Dumbledore tenha dito que o Sr. Weasley está no St. Mungus e ele deu a você permissão para visitá-lo. Assim...

 

Ela se sentou próximo a Gina e as duas garotas e Rony olharam para Harry.

 

- Como você está se sentindo? - perguntou Hermione.

 

- Bem - disse Harry rigidamente.

 

- Oh, não minta, Harry - ela disse impacientemente. - Rony e Gina disseram que você está se escondendo de todos desde que saiu do St. Mungus.

 

- Eles disseram? - disse Harry, olhando pra Rony e Gina. Rony olhou para seus pés mas Gina parecia totalmente desavergonhada.

 

- Bem, você tem! - ela disse. - E você não olha nenhum de nós!

 

- Talvez você esteja pensando em turnos para olhá-lo e guarda desaparecidos mutuamente - sugeriu Hermione, o canto de sua boca tremia.

 

- Muito engraçado - disse Harry entre dentes, afastando-se.

 

- Oh, pare com esse sentimento todo incompreendido - disse Hermione severamente. - Olhe, os outros me disseram o que você escutou noite passada nas Orelhas Extensíveis...

 

- É? - murmurou Harry, suas mãos afundadas em seus bolsos, observou a neve cair espessa do lado de fora. - Todos falam sobre mim, até você? Bem, eu estou me acostumando a isto.

 

- Nós queremos falar com você, Harry - disse Gina - mas como você sempre tem se escondido desde que nós voltamos...

 

- Eu não quis ninguém para conversar comigo - disse Harry, que estava se sentindo mais e mais irritado.

 

- Bem, foi um pouco estúpido da sua parte - disse Gina zangada -, vê como você não sabe quase nada, mas eu, que fui possuída por Você-Sabe-Quem e posso contar a você como se sente.

 

Harry permaneceu em silêncio com o impacto das palavras sobre si. Então deu uma volta ao redor.

 

- Eu esqueci - ele disse.

 

- Sorte sua - disse Gina friamente.

 

- Eu sinto muito - Harry disse e pretendia isto. - Assim... Assim, você acha que eu estou sendo possuído, então?

 

- Bem, você pode recordar tudo que estava fazendo? - Gina perguntou. - Há grandes períodos vazios onde você não sabe o que estava fazendo?

 

Harry refletiu.

 

- Não.

 

- Então Você-Sabe-Quem não tem sempre possuído você - disse Gina simplesmente. - Quando ele fez isto comigo eu não podia recordar o que estava fazendo por determinado tempo. Eu me achava em algum lugar e não sabia como havia chegado lá.

 

Harry dificilmente desafiou acreditar nela, ainda que seu coração estivesse mais leve.

 

- Apesar d'aquele sonho que eu tive sobre seu pai e a cobra...

 

- Harry, você já teve esses sonhos antes - disse Hermione. - Você tinha flashes do que Voldemort estava tramando ano passado.

 

- Isto era diferente - disse Harry, sacudindo sua cabeça. - Eu estava dentro da cobra. Isto foi como se eu fosse a cobra... E se Voldemort de algum modo me transportou a Londres...?

 

- Um dia - disse Hermione, soando perfeitamente exasperada - você lerá Hogwarts: Uma História e talvez lembrará que você não pode Aparatar e Desaparatar dentro de Hogwarts. E Voldemort não pode fazer você sair voando do seu dormitório, Harry.

 

- Você não deixou sua cama, amigo - disse Rony. - Eu vi você sussurrando em seu sono pelo menos um minuto antes que nós pudéssemos acordá-lo.

 

Harry começou a andar para cima e para baixo no quarto outra vez, pensando. O que estavam dizendo não estava apenas o confortando, fazia sentido... Sem pensar, pegou um sanduíche do prato na cama e o colocou dentro da boca.

 

"Eu não sou a arma afinal", pensou Harry. Seu coração se encheu de felicidade e alívio, sentiu tudo junto enquanto escutaram Sirius passar pela porta a caminho do quarto de Bicuço, cantando "Deus te abençoe, querido hipogrifo" em voz alta.

 

Como ele pôde ter sonhado em voltar para a Rua dos Alfeneiros para o Natal? A alegria de Sirius em ter a casa cheia outra vez e especialmente ter Harry de volta foi contagiosa. Não era aquele anfitrião mal humorado do verão; agora parecia determinado que todos deveriam se divertir muito, se não mais do que poderiam ter feito em Hogwarts, trabalhou incansavelmente para o dia de Natal, limpando e decorando com a ajuda de todos, de modo que trabalharam por todo o tempo e quando foram dormir na véspera de Natal a casa estava dificilmente reconhecível. O candelabro não estava pendurado com teias de aranha mas com guirlandas e fitas douradas e prateadas; neve mágica reluziu sob os carpetes surrados; uma grande árvore de Natal, obtida por Mundungo e decorada com fadas vivas, bloqueava a árvore genealógica de Sirius da visão, e até mesmo a prateleira dos elfos na parede do corredor ganhou chapéu de Papai Noel e barbas.

 

Harry acordou na manhã de Natal para encontrar uma pilha de presentes no pé da sua cama e Rony já a meio caminho de abrir os seus, um pilha particularmente grande.

 

- Bom Natal este ano - ele informou Harry através de uma nuvem de papel. - Obrigado pela Bússola De Vassoura, é excelente; bata em Hermione, ela me deu um planejador de dever de casa...

 

Harry ordenou seus presentes e encontrou um com a letra de Hermione nele. Ela tinha dado ele, também, um livro que lembrava um diário, exceto que toda vez que o abria uma página dizia em voz alta coisas do tipo: "Faça isto hoje ou mais tarde você pagará!".

 

Sirius e Lupin deram a Harry um conjunto de livros excelentes intitulados "Prática de Mágica Defensiva e seu Uso Contra as Artes das Trevas", ambos excelentes, ilustrações coloridas que se moviam, com descrição dos feitiços. Harry folheou o primeiro volume avidamente; podia ver que era muito útil em seus planos para Defesa Contra as Artes das Trevas. Hagrid tinha enviado uma carteira peluda marrom que tinha presas, supôs que fossem um dispositivo anti-roubo mas infelizmente Harry não conseguia colocar dinheiro sem machucar os dedos. O presente do Tonks era pequeno, modelo de uma Firebolt, que Harry observou voar pelo quarto, desejando que ainda tivesse a versão maior; Rony tinha lhe dado uma caixa enorme de Feijõezinhos de Todos Os Sabores, o Srs e a Sras Weasley deram o suéter de malha usual e algumas empadas de carne, Dobby uma pintura terrível que Harry suspeitou que tinha sido feito pelo próprio elfo. Ele o tinha virado de cabeça para baixo para ver melhor quando com ouviu um alto "crack", Fred e Jorge aparataram no pé da sua cama.

 

- Feliz Natal - disse Jorge. - Não vai lá em baixo por um momento.

 

- Por que não? - disse Rony.

 

- Mamãe está chorando outra vez - disse Fred pesadamente. - Percy devolveu seu suéter de Natal.

 

- Sem um bilhete - acrescentou Jorge. - Não perguntou como papai está ou o visitou ou qualquer coisa.

 

- Nós tentamos confortá-la - disse Fred, andando em volta da cama para olhar o retrato de Harry. - Dissemos a ela que Percy não passa de um rato.

 

- Não funcionou - disse Jorge, e serviu-se de um Sapo de Chocolate. - Então Lupin tomou posse. Melhor deixar ele animá-la antes de nós descemos para o café da manhã, eu acho.

 

- O que você supõe que seja, de qualquer modo? - perguntou Fred, olhando a pintura de Dobby. - Parece um gibbon com dois olhos pretos.

 

- Isto é Harry! - disse Jorge, apontando a parte de trás da gravura, - Atrás diz isso!

 

- Bem parecido - disse Fred, rindo. Harry jogou seu novo diário de dever de casa nele; bateu na parede contrária e caiu no chão.

 

Levantaram e se vestiram. Podiam escutar os vários habitantes da casa dando "Feliz Natal" um ao outro. No caminho para a cozinha encontraram Hermione.

 

- Obrigada pelo livro, Harry - ela disse feliz. - Eu Tenho desejado o "Nova Teoria da Numerologia" há tempo! E aquele perfume é realmente raro, Rony.

 

- Sem problemas - disse Rony. - É para quem, de qualquer modo? - ele acrescentou, indicando o presente que ela estava carregando.

 

- Kreacher - disse Hermione brilhantemente.

 

- É melhor que não sejam roupas! - preveniu Rony. - Você sabe o que Sirius disse: Kreacher sabe demais, nós não podemos libertá-lo!

 

- Não é roupa - disse Hermione -, embora se estivesse ao meu alcance eu teria certamente dado a ele alguma coisa para usar que não aquele imundo pano velho. Não, isto é uma coberta de retalhos, eu pensei isto poderia alegrar seu quarto.

 

- Que quarto? - disse Harry, deixando cair sua voz para um sussurro enquanto estavam passando pelo retrato da mãe de Sirius.

 

- Bem, Sirius diz que não é um quarto mas uma espécie de aposento privado - disse Hermione. - Aparentemente ele dorme sob tacho no armário da cozinha.

 

A Sra. Weasley era a única pessoa no porão quando chegaram lá. Ela estava de pé no fogão e parecia que estava com um resfriado quando desejou a eles "Feliz Natal", todo evitaram seus olhos.

 

- Então, este é o quarto de Kreacher? - disse Rony, passando por cima para uma porta sombria no canto oposto da despensa. Harry nunca a tinha visto aberta.

 

- Sim - disse Hermione, agora soando um pouco nervosa. - Er... Eu acho que era melhor se tivéssemos batido.

 

Rony bateu de leve na porta com os nós dos dedos mas não havia nenhuma resposta.

 

- Ele deve ter ido lá para cima - ele disse e sem mais cerimônias abriu a porta. - Urgh!

 

Harry olhou para dentro. A maioria dos armários era erguida com grande e antiquado tacho mas no espaço debaixo dos pés Kreacher tinha feito alguma coisa parecida com um abrigo. Uma mistura de variados trapos e velhos cobertores fedorentos estavam empilhados no chão e um pequeno buraco no meio mostrava onde Kreacher se enrolava para dormir toda noite. Aqui e ali dentre o material estavam crostas de pão amanhecido e pedaços velhos de queijo mofado. Em um canto brilhavam pequenos objetos e moedas que Harry supôs que Kreacher tinha economizado, desinfetante, da limpeza de Sirius, e também tinha conseguido recuperar as desbotadas fotografias de família que Sirius tinha jogado fora no verão. Seu vidro estava despedaçado mas ainda as pessoas em preto e branco olhavam para ele arrogantes, incluindo - sentiu um pequeno solavanco no estômago - a mulher que tinha visto o julgamento na penseira de Dumbledore: Bellatrix Lestrange. Pelos olhares na foto ela era a fotografia favorita de Kreacher; ele a tinha colocado na frente das outros e tinha concertado o vidro desajeitadamente com fita adesiva.

 

- Eu acho que vou deixar o presente aqui - disse Hermione, o embrulho no meio da depressão de trapos e cobertores e fechou a porta em silêncio. - Ele encontrará mais tarde, estará bem.

 

- Venham pensar nisto - disse Sirius, surgindo da despensa carregando um grande peru enquanto fechavam a porta do armário -, alguém tem realmente visto Kreacher ultimamente?

 

- Eu não o tenho visto desde a noite que nós voltamos - disse Harry. - Você estava ordenando que ele ficasse fora da cozinha.

 

- É - disse Sirius, olhando carrancudo. - Você sabe, eu acho que foi a última vez que eu o vi, também... Ele deve estar se escondendo lá em cima em algum lugar.

 

- Ele não pode ter ido embora, pode? - disse Harry. - Eu quero dizer, quando você disse "fora", talvez ele pensou você quis dizer sair de casa?

 

- Não, não, elfos domésticos não podem ir embora a menos que ganhem roupas. São presos à casa de sua família.

 

- Eles podem deixar a casa se realmente querem - desmentiu Harry. - Dobby fez, ele deixou os Malfoy para dar me avisar dois anos atrás. Ele teve que se punir depois mas mesmo assim o fez.

 

Sirius olhou por um momento meio desconcertado, então disse.

 

- O procuraremos mais tarde, espero que o encontre lá encima, chorando ao lado da minha velha mãe ou algo assim. Ou então ele engatinhou dentro do armário de ventilação e morreu... Mas eu não posso ter esperanças.

 

Fred, Jorge e Rony riram. Hermione, entretanto, olhou apreensiva.

 

Uma vez que tinham almoçado, os Weasley, Harry e Hermione estavam planejando fazer outra visita ao Sr. Weasley, acompanhados por Olho-Tonto e Lupin. Mundungo voltou na hora do pudim de Natal, pegou "emprestado" um carro para a ocasião, como o metrô não funcionada no feriado de NAtal. O carro, que Harry duvidou que fora pego com o consentimento do dono, tinha sido aumentado da mesma forma que o velho Ford Anglia dos Weasley. Embora o exterior fosse normal, dez pessoas, com Mundungo dirigindo, foram capaz de se instalar confortavelmente. A Sra. Weasley hesitou em entrar - Harry sabia da sua desaprovação sobre Mundungo, ela não gostava de viajar sem mágica - mas, finalmente o frio do lado de fora e a imploração dos seus filhos a venceram e ela sentou no assento traseiro entre Fred e Gui com boa vontade.

 

A viagem para St. Mungus foi muito rápida por causa do pequeno tráfego nas estradas. Uma pequena corrente de bruxas e magos estava andando furtivamente na rua deserta para visitar o hospital. Harry e os outros saltaram do carro e Mundungo se dirigiu para a esquina, afim de esperá-los. Passearam casualmente em direção às janelas onde o manequim ficava então, um por um, passaram através do vidro.

 

A área da recepção parecia agradavelmente festiva: as bolas de cristal que iluminavam St. Mungus eram vermelhas e douradas, bugigangas de Natal, enfeites pendurados em todas as entradas, brancas árvores de Natal cobertas por neve mágica e pedaços de gelo brilhavam em todos os cantos, no topo de cada uma delas brilhava uma estrela de ouro. O lugar estava mais vazio que a outra vez em que estiveram lá, embora a caminho do quarto Harry se encontrou desviando de uma bruxa.

 

- Reunião de família, é? - sorriu falsamente a bruxa loira atrás da mesa. - É a terceira vez hoje... Danos mágicos, quarto andar.

 

Encontraram o Sr. Weasley apoiado na cama com os restos do peru do jantar do jantar em um bandeia e uma expressão envergonhada no rosto.

 

- Tudo bem Arthur? - perguntou a Sra. Weasley depois que cumprimentaram-no e entregaram seus presentes.

 

- Bem, bem - disse o Sr. Weasley sinceramente. - Você... Er... Não viu o Dr Smethwyck, viu?

 

- Não - disse a Sra. Weasley, desconfiada. - Por quê?

 

- Nada, nada - disse o Sr. Weasley alegremente, começando a abrir sua pilha de presente. - Bem, todos tiveram um bom dia? O que vocês ganharam de Natal? Oh, Harry, isso é absolutamente maravilhoso! - ele havia aberto justamente o presente de Harry, um estojo de chaves de fenda.

 

A Sra. Weasley não pareceu satisfeita com a resposta do marido. Como ele se inclinou para apertar a mão de Harry, ela olhou o ferimento enfaixado sob o pijama.

 

- Arthur - ela disse com um estalo na voz como uma ratoeira -, você tem trocado suas ataduras. Por que você teve as ataduras trocadas um dia mais cedo, Arthur? Eles me disseram que não precisavam fazer isto até amanhã.

 

- O quê? - disse o Sr. Weasley, olhando apavorado e puxando a coberta da cama por cima de seu tórax. - Não, não, não pe nada, isto é... - ele pareceu esvaziar sob o olhar penetrante da Sra. Weasley. - Bem... Agora não se aborreça, Molly, mas Augustus Pye teve uma idéia... Ele é o medi-bruxo estagiário, você sabe, pessoa jovem, amável e muito interessado em... Hum... Medicina Complementar... Eu acho que algum desses velhos remédios trouxas... Bem, eles são chamados de pontos, Molly, e eles funcionam muito bem nos... Nos ferimentos trouxas.

 

A Sra. Weasley soltou um barulho ameaçador perto de um grito e um resmungo. Lupin passou longe da cama e ao lado do lobisomem, que não tinha visitas e estava olhando triste para a multidão ao redor do Sr. Weasley. Gui murmurou alguma coisa sobre pegar uma xícara de chá e Fred e Jorge foram acompanhá-lo, rindo.

 

- Você ia me contar - disse a Sra. Weasley, sua voz crescendo a cada palavra e aparentemente desprevenida de que os visitantes estavam correndo em busca de abrigo -, você tem se tratado com remédios trouxas?

 

- Não tratando, Molly, querida - disse o Sr. Weasley suplicante. - Era somente... Somente algo que Pye e eu pensamos que tínhamos que tentar... Mas, infelizmente a maioria... Bem, com esses ferimentos fora do normal... Isto não parece funcionar assim como nós tínhamos desejado...

 

- Ou seja?

 

- Bem... Bem, eu não sei se você sabe o que... O que são pontos?

 

- Isto soa como se você estivesse tentado costurar sua pele novamente junta - disse a Sra. Weasley com uma risada melancólica - mas até mesmo você, Arthur, não poderia ser esse estúpido...

 

- Eu quero uma xícara de chá, também - disse Harry, ficando do pé.

 

Hermione, Rony e Gina quase correram à porta com ele. Enquanto a porta fechava atrás deles escutaram a Sra. Weasley gritar.

 

- O QUE VOCÊ PENSOU, QUAL É A IDÉIA GERAL?

 

- Típico do papai - disse Gina, agitando sua cabeça conforme estavam caminho do corredor. - Pontos... Eu pergunto a vocês...

 

- Bem, você sabe, eles funcionam bem em ferimentos não mágicos - disse Hermione honestamente. - Eu suponho que alguma coisa no veneno daquela cobra os dissolve ou algo assim. Eu queria saber, onde é a sala de chá?

 

- Quinto andar - disse Harry, recordando a placa acima da mesa da bruxa na entrada.

 

Andaram ao longo do corredor através de um conjunto de portas duplas e encontraram uma velha escadaria com mais retratos de medi-bruxos. Enquanto subiam os vários retratos gritavam para eles, diagnosticando estranhas queixas e sugerindo remédios horríveis. Rony ficou seriamente insultado quando um bruxo medieval gritou claramente que ele tinha um caso ruim de spattergroit.

 

- E que é que supõe ser? - ele perguntou zangadamente enquanto o medi-bruxo o perseguiu através de mais seis retratos, empurrando os ocupantes para fora do caminho.

 

- O principal é grave aflição na pele, jovem mestre, que deixará você cheio de marcas e mais horrível do que está agora...

 

- Veja quem você está chamando de horrível! - disse Rony, suas orelhas ficando vermelhas.

 

- O único remédio é tomar o fígado de uma rã, coloque isso apertado sobre sua garganta, fique nu na lua cheia em um barril de olhos de enguia...

 

- Eu não tenho spattergroit!

 

- Mas a feia mancha sobre seu rosto, jovem mestre...

 

- Elas são sardas! - disse Rony furioso. - Agora volte para sua moldura e me deixe só!

 

Ele olhou os outros, que ficaram sérios.

 

- Que andar é este?

 

- Eu acho que é o quinto - disse Hermione.

 

- Não, é o quarto - disse Harry. - Mais um...

 

Mas quando ele pisou parou abruptamente, olhando para a pequena janela dentro de portas duplas marcando o inicio do corredor de PERDA DE MAGIA. Um homem os estava olhando com o nariz pressionado contra o vidro. Ele tinha cabelo loiro ondulado, olhos azuis brilhantes e um largo sorriso vago que revelava dentes muito brancos.

 

- Ridículo! - disse Rony, também olhando o homem.

 

- Oh, meu Deus - disse Hermione repentinamente, soando ofegante. - Professor Lockhart!

 

Seu ex-professor de Defesa Contra das Artes Trevas empurrou as portas e foi até eles, usando um longo roupão lilás.

 

- Bem, olá! - ele disse. - Eu espero vocês tenham gostado do meu autógrafo, gostaram?

 

- Ele não mudou muito, não é? - Harry murmurou para Gina, que riu.

 

- E... Como tem passado, professor? - disse Rony, soando ligeiramente culpado. Tinha sido a varinha quebrada de Rony que havia danificado a memória do professor Lockhart tão gravemente para que ele tivesse ido para o St. Mungus imediatamente, embora Lockhart tenha tentando apagar permanentemente as memórias de Harry e Rony no momento a simpatia de Harry era limitada.

 

- Eu estou muito bem realmente, obrigado! - disse Lockhart exuberantemente, puxando uma pena de pavão do bolso. - Agora, quantos autógrafos vocês querem? Eu posso escrevê-los agora, vocês sabem!

 

- Er... Nós não desejamos nada no momento, obrigado - disse Rony, levantando suas sobrancelhas para Harry, perguntando. - Professor, está vagando pelos corredores? Não deveria estar em um quarto?

 

O sorriso desapareceu lentamente do rosto de Lockhart. Por uns poucos momentos ele olhou fixamente para Harry, então disse.

 

- Nós não nos encontramos?

 

- Er... Sim, nós nos encontramos - disse Harry. - Você costumava nos ensinar em Hogwarts, lembra?

 

- Ensinar? - repetiu Lockhart, olhando incerto. - Eu? Eu ensinei?

 

E então o sorriso reapareceu repentinamente em seu rosto que estava alarmado.

 

- Ensinei a vocês tudo que vocês sabem, Eu espero, eu ensinei? Bem, sobre aqueles autógrafos, então? Nós diríamos uma dúzia, vocês podem dá-los para todos os seus pequenos amigos e ninguém ficará de fora!

 

Mas então uma cabeça apareceu fora de uma porta no fim do corredor e uma voz chamou.

 

- Gilderoy, você, menino desobediente, onde estava?

 

Uma medi-bruxa de olhar maternal usando uma escandalosa coroa de flores no cabelo veio alvoroçada pelo corredor, sorrindo cordialmente para Harry e os outros.

 

- Oh, Gilderoy, você tem visitas! Que simpático, e no dia de Natal, também! Vocês sabem, ele nunca tem visitas, pobrezinho, e eu não consigo imaginar por quê, ele é um amor, não é?

 

- Nós damos autógrafos! - Gilderoy disse à medi-bruxa com outro sorriso. - Eles desejam muitos deles, não tomarão não como resposta! Eu espero que nós tenhamos fotografias bastantes!

 

- Escutem-no - disse a medi-bruxa, tomando o braço de Lockhart e ternamente como se ele fosse uma criança de dois anos de idade. - Ele era bem famoso há uns anos atrás; nós temos muita esperança que este gosto para dar autógrafos é um sinal que sua memória esteja começando a voltar. Vocês andaram neste caminho? Ele está em uma ala fechada, vocês sabem, deve ter fugido enquanto eu estava trazendo os presentes de Natal, a porta usualmente é trancada... Não que ele seja perigoso! Mas - ela abaixou sua voz para um sussurro - ele é um perigo para ele mesmo... Não sabe quem ele é, vocês vêem, vagueia e não consegue se recordar como voltar... É simpático vocês terem vindo vê-lo.

 

- Er - disse Rony, gesticulando inutilmente para o andar acima. - Realmente, nós estávamos... Er...

 

Mas a medi-bruxa estava sorrindo esperançosa para eles e o fraco murmúrio de Rony "indo pegar uma xícara de chá" não teve valor. Olharam mutuamente sem respostas, então seguiram Lockhart e sua medi-bruxa pelo longo corredor.

 

- Não ficaremos muito - Rony disse calmamente.

 

A medi-bruxa apontou sua varinha para a porta da Ala Janus Thickey e murmurou "Alorromora". A porta abriu e ela conduziu pelo interior, mantendo o braço firme em Gilderoy até que o tivesse colocado em uma poltrona perto da sua cama.

 

- Essa é a Ala de residentes de longo período - ela informou Harry, Rony, Hermione e Gina em uma voz baixa. - Para permanentes perdas de magia, vocês sabem. Certamente com intensivas poções medicinais e feitiços e um pouco de sorte nós podemos produzir alguma melhora. Gilderoy parece estar lembrando de si mesmo; e nós temos visto uma melhora real no Sr. Bode, parece recuperar a força do discurso muito bem, embora não esteja falando qualquer língua ainda. Bem, eu tenho que distribuir os presentes de Natal, Eu deixarei você para conversarem.

 

Harry olhou em volta. A Ala parecia uma casa permanente para seus residentes. Tinham mais objetos pessoais em volta das camas do que no quarto do Sr. Weasley; a parede em volta da cabeceira da cama de Gilderoy, por exemplo, era coberta com fotos dele mesmo, todas sorrindo e acenando para as visitas. Ele tinha autografado muitas delas com uma letra infantil. No momento que a medi-bruxa o colocou na cadeira Gilderoy puxou uma pilha de fotografias, pegou uma pena e começou a assiná-las febrilmente.

 

- Você pode colocá-las em envelopes - ele disse a Gina, jogando as fotos assinadas para ela uma a uma. - Eu não sou esquecido, vocês sabem, não, eu ainda recebo uma porção de cartas de fãs... Gladys Gudgeon escreve semanalmente... Eu só queria saber por que ela parou - disse, olhando meio confuso, então riu outra vez e voltou a autografar com novo vigor.  - Eu suspeito que seja minha melhor aparência...

 

Um pálido bruxo de olhar triste deitou na cama oposta fitando o teto; resmungava para si mesmo e parecia inconsciente das coisas a sua volta. Duas camas depois estava uma mulher cuja cabeça inteira estava coberta de pêlos; Harry recordou um acontecimento parecido com Hermione durante seu segundo ano, embora o prejuízo, no caso dela, não era permanente. No fim da Ala cortinas floridas estavam em volta de duas camas para dar aos ocupantes e visitas alguma privacidade.

 

- Aqui está você, Agnes - disse a medi-bruxa à mulher de face peluda, entregou a ela uma pequena pilha de presentes de Natal. - Vê, não foi esquecida, não é? E seu filho enviou uma coruja para dizer que virá hoje à noite, simpático, não é?

 

Agnes deu vários latidos altos.

 

- E olhe, Broderick, você tem um pote de planta e um belo calendário com um hipogrifo diferente a cada mês; eles tornaram as coisas mais alegres, não vão? - disse a medi-bruxa, indo de encontro ao homem que murmurava, colocando uma planta feia com longos, tentáculos na mesa ao lado da cama e fixando o calendário na parede com a varinha. - E, oh, Sra. Longbottom, a senhora já vai?

 

A cabeça de Harry virou. As cortinas tinham sido tiradas das duas camas no fim da Ala e dois visitantes estavam andando pelo corredor entre as camas: uma bruxa velha usando um longo vestido verde, uma pele de raposa roída por traças e um chapéu pontiagudo decorado com um falcão empalhado e, atrás dela com olhar deprimido, Neville.

 

Harry compreendeu quem as pessoas nas camas deviam ser. Ele tentou distrair os outros de modo que Neville podia deixar a Ala despercebido mas Rony tinha escutado o nome "Longbottom", e antes o Harry o impedisse ele chamou, "Neville!".

 

Neville saltou e se assustou como se uma bala tinha por pouco o acertado.

 

- Somos nós, Neville! - disse Rony levantando-se. - Você viu? Lockhart está aqui! Quem você está visitando?

 

- Seus amigos, Neville, querido? - disse a avó de Neville bondosamente.

 

Neville olhou como se eles pudessem estar em qualquer lugar do mundo menos ali. Um rubor apareceu em seu rosto redondo e ele não os estava olhando nos olhos.

 

- Ah, sim - disse sua avó, olhando estreitamente para Harry e estendeu a mão para ele apertá-la. - Sim, sim, eu sei quem você é, claro. Neville fala muito de você.

 

- Er... Obrigado - disse Harry, apertando a mão dela. Neville não olhou para ele, observava seus pés, a cor aprofundou em seu rosto

 

- E você dois são os Weasley - continuou a Sra. Longbottom, oferecendo sua mão a Rony e Gina. - Sim, eu conheço seus pais... Não muito bem... Mas são boas pessoas, boas pessoas... E você deve ser Hermione Granger?

 

Hermione olhou assustada por a Sra. Longbottom saber seu nome mas apertou sua mão.

 

- Sim, Neville me falou sobre você. Ajudou-o a conseguir uns pontos, não foi? Ele é um bom menino - ela disse, lançando um olhar severo em Neville - mas ele não tem o talento do pai, eu tenho medo de dizer - ela sacudiu sua cabeça na direção das duas camas no fim da Ala, de modo que o falcão do chapéu tremeu assustadoramente.

 

- O quê? - disse Rony, olhando assombrado. Harry quis pisar no pé de Rony mas era mais difícil se passar despercebido quando você está usando jeans em vez de capas. - É o seu pai, Neville?

 

- Que é isto? - disse a Sra. Longbottom severamente. - Você não disse aos seus amigos sobre seus pais, Neville?

 

Neville respirou fundo, olhou o teto e agitou sua cabeça. Harry não pôde se lembrar de ter sentido pena de qualquer um mas não podia pensar em um jeito de ajudar Neville.

 

- Bem, não é para ter vergonha! - disse a Sra. Longbottom zangada. - Você deveria estar orgulhoso, Neville, eles não deram sua saúde e sua lucidez para seu único filho ter vergonha deles, você sabe!

 

- Eu não estou envergonhado - disse Neville, muito baixo, ainda olhando para qualquer lugar menos Harry e os outros. Rony estava nas pontas dos pés olhando os habitantes das duas camas.

 

- Bem, você tem jeito engraçado de mostrar isto! - disse a Sra. Longbottom. - Meu filho e sua esposa - ela disse, voltando arrogante a Harry, Rony, Hermione e Gina - foram torturados até a loucura por seguidores de Você-Sabe-Quem.

 

Hermione e Gina tampavam a boca com as mãos. Rony parou de levantar seu pescoço para olhar os pais de Neville e olhou com vergonha.

 

- Eles foram aurores, vocês sabem, e muito respeitados nas comunidades bruxas - continuou a Sra. Longbottom. - Altamente talentosos, os dois. Eu, sim, Alice querida, que é isto?

 

A mãe de Neville andava pela Ala de camisola. Ela não tinha o olhar feliz que Harry tinha visto na velha fotografia de Moody da original Ordem de Fênix. Agora seu rosto estava magro e cansado, seus olhos pareciam grandes e seu cabelo, que tinha ficado branco, estava fino. Ela não parecia querer falar ou talvez não fosse capaz mas fez movimentos tímidos a Neville, segurando alguma coisa na mão estendida.

 

- Outra vez? - disse a Sra. Longbottom, soando ligeiramente cansada. - Muito bem, Alice querida, muito bem, Neville, pegue isso, qualquer um.

 

Mas Neville já tinha esticado a mão, dentro sua mãe deixou cair um papel de Drooble's Best Blowing Gum.

 

- Muito gentil, querida - disse a avó de Neville com uma voz falsamente alegre, dando um tapinha no ombro da mãe.

 

Mas Neville disse calmamente:

 

- Obrigado mãe.

 

Sua mãe cambaleou para longe, sussurrou para ela mesma. Neville olhou os outros, sua expressão era provocadora, como se os desafiando a rir mas Harry não tinha visto uma coisa menos engraçada em sua vida.

 

- Bem, melhor irmos embora - suspirou a Sra. Longbottom, colocando suas longas luvas verdes. - Muito simpático ter encontrado vocês. Neville, coloque aquele papel no lixo, ela deve ter bastante papel no quarto agora.

 

Mas enquanto eles iam embora Harry teve certeza de ver Neville guardar o papel dentro do bolso. A porta fechou atrás deles.

 

- Eu nunca soube - disse Hermione, que olhou triste.

 

- Nem eu - disse Rony rouco.

 

- Nem eu - sussurrou Gina.

 

Eles olharam Harry.

 

- Eu sabia - ele disse com tristeza. - Dumbledore me disse mas eu comprometi que não contaria nada... Bellatrix Lestrange foi para Azkaban por ter usado a Maldição Cruciatus nos pais de Neville até eles perderam suas mentes.

 

- Bellatrix Lestrange fez isso? - sussurrou Hermione, horrorizada. - Aquela mulher da foto que Kreacher tem no seu quarto?

 

Houve um longo silêncio, quebrado por Lockhart com a voz zangada.

 

- Olhem, eu não escrevi a toa, vocês sabem!

 

 

OCLUMANCIA

Kreacher foi descoberto enquanto se escondia no sótão. Sirius disse que o havia encontrado lá, coberto de poeira, sem dúvida procurando por mais relíquias da família Black para esconder em seu armário. Apesar de Sirius parecer satisfeito com essa história, isso fez com que Harry ficasse ansioso. Kreacher pareceu estar de bom humor depois que reapareceu, seus cochichos amargos haviam diminuído e ele obedecia às ordens mais dócil que normalmente o fazia, apesar de que Harry, uma vez ou outra, flagrava o elfo doméstico o encarando com um certo entusiasmo mas sempre disfarçando quando via que ele havia percebido.

 

Harry não mencionou suas vagas suspeitas a Sirius, cuja alegria estavam evaporando rapidamente uma vez que o Natal já havia passado. À medida que o dia de retorno para Hogwarts estava se aproximando ele se tornava cada vez mais triste e calado, geralmente indo ao quarto de Bicuço, onde passava várias horas. Sua tristeza se espalhava pela casa, passando por de baixo das portas como um gás venenoso, que acabou por contaminar a todos.

 

Harry não queria abandonar Sirius com somente a companhia de Kreacher, na verdade, pela primeira vez na vida, ele não queria voltar a Hogwarts. Voltar para a escola significaria ficar sob a tirania de Dolores Umbridge que, certamente, deveria ter apresentado mais algumas dúzias de decretos enquanto estavam fora; não havia quadribol para fazê-lo sentir mais empolgado, já que havia sido banido, e havia uma grande possibilidade de que os deveres de casa aumentariam, uma vez que os exames estavam cada vez mais próximos, e Dumbledore se mantinha reservado como nunca. Na verdade, se não fosse pelo ED, Harry pensou que teria implorado a Sirius permissão para fugir de Hogwarts e morar com ele em Grimmauld Place.

 

Então, no último dia do feriado, algo aconteceu que fez com que Harry temesse voltar à escola.

 

- Harry, querido - disse a Sra. Weasley, colocando a cabeça para dentro do quarto de Rony, enquanto os dois jogavam xadrez de bruxos observados por Hermione, Gina e Bichento -, você poderia descer até a cozinha? O professor Snape quer ter uma palavrinha com você.

 

Harry não captou o que ela disse imediatamente, uma de suas torres era violentamente atacada por um peão de Rony, que estava muito entusiasmado.

 

- Destrua ele, destrua ele, ele é apenas um peão seu idiota. Desculpe Sra. Weasley, o que você disse?

 

- Professor Snape, querido. Na cozinha. Gostaria de uma palavrinha.

 

A boca de Harry abriu com horror. Ele olhou para Rony, Hermione e Gina, todos estavam olhando para ele com suas bocas abertas. Bichento, que Hermione estava tentando manter sob controle, pulou sobre o tabuleiro, o que fez com que todas a peças corressem para protegerem gritando o mais forte possível.

 

- Snape? - disse Harry, pasmo.

 

- Professor Snape, querido - disse a Sra. Weasley. - Venha rápido, ele disse que não pode demorar.

 

- O que ele quer com você? - perguntou Rony. - Você não fez nada, fez?

 

- Não - disse Harry, indignado, forçando o cérebro para pensar o que teria feito de errado para fazer Snape perseguir ele até Grimmauld. Teria seu último dever merecido um T?

 

Um ou dois minutos depois ele abriu a porta da cozinha e viu Sirius e Snape, ambos sentados na longa mesa de jantar, olhando para lados opostos. O silêncio entre eles estava pesado com o desprezo de sempre. Uma carta aberta estava em cima da mesa na frente de Sirius.

 

- Er - disse Harry para anunciar sua presença.

 

Snape olhou para ele com o rosto emoldurado pelos negros e oleosos.

 

- Sente-se Potter.

 

- Sabe - disse Sirius, aumentando o tom de sua voz, sentado em sua cadeira e falando enquanto olhava para o teto -, eu acho que seria melhor se você não desse ordens aqui Snape. Aqui é minha casa.

 

O rosto pálido de Snape corou. Harry se sentou ao lado de Sirius, encarando Snape ao longo da mesa.

 

- Eu deveria falar com você sozinho, Potter - disse Snape -, mas Black...

 

- Eu sou padrinho dele - disse Sirius, mais alto que nunca.

 

- Eu estou aqui por ordens de Dumbledore - disse Snape, com sua voz,  por contraste, mais baixa - mas sei que Black quer se sentir... Envolvido.

 

- O que isso quis dizer? - disse Sirius, deixando sua cadeira cair, o que fez um grande barulho ao encontrar o chão.

 

- Apenas que eu tenho certeza que você deve se sentir, ah, frustrado pelo fato de que não pode fazer nada de útil - disse Snape com um delicado stress em suas palavras - para a Ordem.

 

Era a vez de Sirius corar. Snape deu um olhar de triunfo ao se virar para Harry.

 

- O diretor me enviou para cá para dizer-lhe, Potter, que ele deseja que você estude Oclumancia nesse semestre.

 

- Estudar o quê? - perguntou Harry.

 

O lábio de Snape se afinou.

 

- Oclumancia, Potter. A mágica defesa da mente contra penetração externa. Um tipo de magia obscura porém muito útil.

 

O coração de Harry começou a bater rapidamente. "Defesa contra penetração externa? Mas ele não estava sendo possuído, todos concordaram com isso..."

 

- Por que eu tenho que estudar Ocluman-sei-lá-o-quê? - perguntou abruptamente.

 

- Porque o diretor acha que é uma boa idéia - disse Snape calmamente. - Você terá aulas uma vez por semana mas não dirá a ninguém que estará fazendo, muito menos a Dolores Umbridge. Entendeu?

 

- Sim - disse Harry. - Quem será meu professor?

 

Snape levantou a sobrancelha.

 

- Eu.

 

Harry teve a impressão de que todo seu interior estava derretendo. Aulas extras com Snape - "O que eu fiz para merecer isso?". Ele olhou rapidamente para Sirius, à procura de apoio.

 

- Por que o diretor não dará aulas ao Harry? - perguntou Sirius agressivamente. - Por que você?

 

- Acredito que seja um privilégio do diretor escolher outra pessoa para uma tarefa tão desagradável - disse Snape. - Posso lhe garantir que não implorei por este emprego - ele se levantou. - Estarei esperando às seis horas na segunda a noite, Potter. Em minha sala. Se alguém perguntar você estará tendo aulas extras de Poções. Ninguém que já o tenha visto em minhas aulas negaria que você precise delas.

 

Ele se virou para ir, sua capa preta de viagem sacudiu atrás de si.

 

- Espere um pouco - disse Sirius, sentando mais ereto em sua cadeira.

 

Snape virou para olhá-los.

 

- Eu estou com pressa, Black. Ao contrário de você, eu não tenha tempo livre ilimitado.

 

- Irei direto ao ponto, então - disse Sirius, levantando-se. Ele era mais alto que Snape, o qual Harry percebeu segurar algo dentro do bolso, tinha certeza que era varinha. - Se eu souber que você esta usando as aulas de Oclumancia para pegar no pé do Harry você terá que se entender comigo.

 

- Que comovente. Mas certamente você notou que Harry é muito semelhante com o pai?"

 

- Sim, notei - disse Sirius orgulhoso.

 

- Então você sabe o quão arrogante ele é e que críticas não o abalam - Snape disse calmamente.

 

Sirius empurrou sua cadeira brutamente para o lado e foi em direção a Snape, enquanto puxava a varinha. Snape puxou sua varinha também. Estavam se encarando, Sirius olhando agressivamente, Snape calculando, seus olhos se movendo rapidamente da ponta da varinha de Sirius para seu rosto.

 

- Sirius - disse Harry, mas ele parecia não ouvir.

 

- Eu te avisei, Snivdlus - disse Sirius, seu rosto quase a um palmo do rosto do Snape -, eu não ligo se Dumbledore acha que você se redimiu, eu sei que não...

 

- Oh, então por que você não diz isso a ele? - sussurrou Snape. - Ou você tem medo que ele não leve a serio um homem que está se escondendo na casa da mãe por seis meses?

 

- Diga-me como anda Lúcio Malfoy estes dias? Eu acho que ele está satisfeito com seu cachorrinho trabalhando em Hogwarts, não é?

 

- Falando em cachorrinho - disse Snape suavemente - você sabia que Lúcio reconheceu você na ultima vez que arriscou uma saidinha até as ruas? Brilhante idéia, Black, deixando ser visto numa segura plataforma... Fazendo com que você não possa sair desse buraco no futuro, não foi?

 

Sirius levantou a varinha.

 

- NÃO! - gritou Harry, correndo para ficar entre Sirius e Snape. - Sirius, não.

 

- Você esta me chamando de covarde? - rosnou Sirius, tentando empurrar para fora do caminho, mas ele não sairia.

 

- Sim, estou.

 

- Harry, saia daí - rosnou Sirius, empurrando-o com a mão livre.

 

A porta da cozinha se abriu e toda a família Weasley mais Hermione entraram, todos parecendo muito felizes, com o Sr. Weasley andando orgulhosamente e vestindo pijamas.

 

- Curado - ele anunciou para toda a cozinha. - Completamente curado!

 

Ele e todos os Weasley congelaram ao ver a cena que se passava. Sirius e Snape também pararam, olharam para a porta com suas varinhas apontadas um para o outro e Harry imóvel entre eles, uma mão se esticou até eles tentando separá-los.

 

- Pelas barbas de Merlin - disse o Sr. Weasley com o sorriso já desaparecido de seu rosto -, o que esta acontecendo aqui?

 

Sirius e Snape abaixaram suas varinhas. Harry olhou de um para o outro. Ambos com a mesma expressão de desprezo, ainda que a entrada inesperada de tantas testemunhas os tivesse trazido à razão. Snape colocou a varinha no bolso, deu meia volta e atravessou a cozinha, passando pelos Weasley sem dizer nada. Na porta ele se virou e disse.

 

- Seis horas, segunda feira à noite, Potter.

 

- O que aconteceu? - perguntou novamente o Sr. Weasley.

 

- Nada Arthur - disse Sirius, que respirava fortemente como se tivesse corrido uma longa distância. - Apenas uma conversinha amigável entre velhos colegas de escola - parecendo fazer um esforço, ele sorriu - Então, você está curado... São ótimas noticias, realmente ótimas.

 

- É mesmo, não é? - disse a Sra. Weasley, levando seu marido até a cadeira. - O medi-bruxo Smethwyc usou sua magia no final, achou um antídoto pro que for que a cobra tinha nas presas e Arthur aprendeu sua lição sobre mexer com medicina dos trouxas, não foi, querido?

 

- Sim, Molly, querida - disse o Sr. Weasley gentilmente.

 

O jantar daquela noite deveria ter sido muito alegre, com o Sr. Weasley de volta entre eles. Harry poderia dizer que Sirius estava tentando, pelo menos, ainda que o padrinho não estivesse rindo forçadamente para as piadas de Fred e Jorge ou oferecendo mais comida a todos, seu rosto caíra em uma expressão triste e mal humorada. Harry foi separado dele por Mundungo e Olho-Tonto, que apareceram para dar parabéns ao Sr. Weasley pela melhora. Queria conversar com Sirius, para lhe dizer que não deveria ouvir uma só palavra do que Snape disse, que o estava alfinetando deliberadamente e que ninguém pensava que era um covarde por obedecer Dumbledore, que o mandou ficar no Grimmauld Place. Mas não teve nenhuma oportunidade para fazer isso, vendo a feia expressão que estava no rosto de Sirius Harry se perguntou se ousaria ou não dizer mesmo se tivesse a oportunidade. Ao invés, disse a Rony e a Hermione sobre ter aulas de Oclumancia com Snape.

 

- Dumbledore quer você continue tendo esses sonhos com Voldemort - disse Hermione de uma vez. - Você não se sentira arrependido por não mais ter esses sonhos, não é?

 

- Aulas extras com Snape? - disse Rony, chocado. - Eu preferiria ter os pesadelos!

 

Eles voltariam a Hogwarts usando o Nôitibus Andante no dia seguinte, escoltados mais uma vez por Lupin e Tonks, os quais estavam tomando café da manhã quando Harry, Rony e Hermione desceram na manhã seguinte. Os adultos pareciam estar tendo uma conversa sussurrada quando Harry abriu a porta, todos olharam e rapidamente pararam de falar.

 

Após um corrido café da manhã todos vestiram suas jaquetas e cachecóis para se proteger no frio daquela manhã cinzenta de janeiro. Harry teve uma sensação desagradável de aperto no peito, não queria dizer adeus para Sirius. Ele tinha um mau pressentimento sobre a partida, não sabia quando se veriam novamente e sentiu que estava encarregado de dizer a Sirius para não fazer nada estúpido. Harry temia que a acusação feita por Snape de que Sirius era um covarde surtira um efeito tão grande no padrinho que ele poderia esta arquitetando alguma viagem idiota para fora do Grimmauld Place. Mas antes de poder pensar em alguma coisa para dizer, Sirius o puxou para mais perto.

 

- Quero que você fique com isso - ele disse baixo, dando a Harry um objeto mal embrulhado mais ou menos do tamanho de uma capa de livro.

 

- O que é? - perguntou Harry.

 

- Uma forma de eu saber se Snape esta pegando no seu pé. Não, não o abra aqui - disse Sirius, vendo se o Sr Weasley os ouvira. - Eu duvido que Molly aprovaria mas quero que você o use se precisar de mim, entendeu?

 

- Ok - disse Harry, enfiando o embrulho no bolso de sua jaqueta mas sabia que não usaria, não importasse o que fosse. Não seria ele, Harry, que tiraria Sirius do lugar onde estava seguro, não importava o quão mal Snape o tratasse nas aulas de Oclumancia.

 

- Vamos, então - disse Sirius dando um tapinha nos ombros de Harry, sorrindo, e antes que Harry pudesse dizer qualquer coisa estavam indo para o andar de cima, parando em frente a porta principal, que era cheia de trancas, cercado pelos Weasley.

 

- Adeus Harry, tome cuidado - disse a Sra. Weasley, abraçado-o.

 

- Nos vemos, Harry, e fique de olho nas cobras pro mim - disse genialmente o Sr. Weasley, sacudindo as mãos.

 

- Certo... - disse Harry distraidamente, era sua última chance de dizer a Sirius para tomar cuidado.

 

Ele virou, olhou para o rosto do padrinho, abriu a boca para falar Sirius estava dando a ele um rápido abraço de um braço só e dizendo.

 

- Tome cuidado, Harry.

 

No momento seguinte Harry sentiu o ar frio do inverno, com Tonks (naquele dia disfarçada com uma alta bruxa de cabelos grisalhos e vestida de tweed) mandando-o seguir em frente.

 

A porta do numero doze fechou por trás deles. Seguiram Lupin pelos degraus da entrada. Assim que chegou a calçada Harry olhou para trás. O número doze estava encolhendo até não mais ser visto. Um instante depois já havia desaparecido

 

- Vamos, o quanto antes entrarmos no ônibus melhor - disse Tonks. Lupin rapidamente esticou seu braço direito.

 

BANG.

 

Um ônibus violentamente roxo e de três andares apareceu do nada na frente deles, quase batendo nos postes de luz mais próximos, os quais pularam para trás para sair do seu caminho.

 

- Bem vindos ao...

 

- Sim, sim, nos sabemos, obrigado - disse Tonks impaciente. - Entrem, entrem.

 

Ela empurrou Harry com força em direção aos degraus, passando pelo condutor, que olhava surpreso para ele enquanto passava.

 

- Er... É o Arry!

 

- Se você gritar o nome dele vou lançar contra você maldição de esquecimento - Tonks murmurou ameaçadoramente, agora gritando com Gina e Hermione.

 

- Eu sempre quis andar nesse troço - disse Rony com alegria, juntando-se a Harry já à bordo e olhando ao redor.

 

Era noite quando Harry viajou no Nôitibus Andante e os três andares do ônibus estavam cheios de camas de latão. Agora, de manhã cedo, estava cheio de um grupo de cadeiras que não combinavam agrupadas de forma desorganizada ao redor das janelas. Algumas dessas cadeiras pareceram ter caído quando o Nôitibus parou abruptamente em frente ao Grimmauld Place, alguns bruxos e bruxas ainda estavam aos seus lugares, reclamando, e os sacos de compra de alguém estavam espalhados ao longo do ônibus: uma mistura nada agradável de ovos de rã, baratas e doces de creme esparramados por todo o chão.

 

- Parece que teremos que nos dividir - disse Tonks rapidamente, olhando ao redor procurando por cadeiras vazias. - Jorge, Fred e Gina vocês devem se sentar nas cadeiras lá do fundo... Remo pode ficar com vocês.

 

Ela, Harry, Rony e Hermione foram para o andar mais alto onde havia duas cadeiras vazias na frente e nos fundos. Stanislau Shunpike, o condutor, seguiu Harry e Rony para o fundo. As cabeças se viravam à medida que Harry passava e quando se sentou viu todas as cabeças virarem para frente novamente.

 

Enquanto Harry e Rony entregavam a Lalau onze sicles cada um o Nôitibus ligou os motores novamente, balançando ameaçadoramente. Fez um barulho estrondoso por perto de Grimmauld Place então, com outro enorme BANG, foram arremessados para trás; a cadeira de Rony caiu e Píchi, que estava em seu colo, fugiu da gaiola voando para todos os lados  em direção à frente do ônibus, onde voou para os ombros de Hermione. Harry, que se segurou em um suporte de velas para não cair, olhou para fora da janela agora estavam passando pelo que parecia ser uma rodovia.

 

- Por volta de Birminghan - disse Lalau feliz, respondendo a pergunta não feita de Harry enquanto Rony tentava se levantar do chão. - Você continua bem, Arry? Eu vi seu nome no jornal várias vezes durante o verão, nunca eram coisas legais. Eu disse ao Ernie: "ele não parecia ser um maluco quando nos conhecemos mas acho que aparece alguma hora, não é mesmo?".

 

Ele entregou os bilhetes e continuou a olhar com interesse para Harry. Lalau não ligava para o quanto uma pessoa era louca se eram famosos o suficiente para estar no jornal. O Nôitibus Andante balançou alarmante, ultrapassando uma fileira de carros. Olhando para a frente do ônibus, Harry viu Hermione tampando os olhos com as mãos, Píchi balançando alegremente em seu ombro.

 

BANG.

 

As cadeiras escorregaram para trás novamente quando o Nôitibus saltou da rodovia de Briminghan para uma quieta estradinha no campo. Os arbustos que beiravam a estrada saíam do caminho enquanto passavam. Dali eles foram para uma estrada principal de uma grande cidade, então para um viaduto cercado de morros altos, a cada vez com um grande BANG.

 

- Mudei de idéia - cochichou Rony, levantando-se do chão pela sexta vez -, eu não quero nunca mais andar nessa coisa!

 

- Escutem, a parada para Ogwarts é depois dessa - disse Lalau, balançando por entre eles. -Aquela senhora que entrou com vocês nos deu a dica para mover passar vocês adiante. Mas vamos apenas deixar a Madame Marsh primeiro - havia um som de alguém quase vomitando vindo lá de baixo, seguido de um horrível som de gotas caindo pelo chão -, ela não está se sentindo muito bem.

 

Alguns minutos depois o Nôitibus Andante fez um alto barulho enquanto parava em frente a um bar, que se encolhia na tentativa de evitar a colisão. Eles podiam ouvir Lalau guiando a azarada Madame Marsh para fora do ônibus e os murmúrios de alívio dos outros passageiros do segundo andar. O ônibus seguiu ganhando velocidade até... BANG.

 

Estavam girando por Hogsmeade, coberta de neve. Harry viu de relance o Hog's Head, lá fora na rua, a placa de cabeça de porco servida balançada pelo vento do inverno. Grandes quantidades de neve acertaram o vidro da frente do ônibus. Por fim, giraram e pararam em frente aos portões de Hogwarts.

 

Lupin e Tonks os ajudaram a sair do ônibus com suas bagagens, subiram novamente e disseram adeus. Harry observou os três andares do Nôitibus e percebeu todos os passageiros os olhando com os narizes imprensados contra o vidro.

 

- Vocês estarão seguros dentro dos terrenos - disse Tonks olhando cuidadosamente para todos os lados da estrada. - Tenham um bom semestre, ok?

 

- Cuidem-se - disse Lupin, apertando as mãos de todos até chegar ao Harry - e ouça... - diminuindo sua voz enquanto os outros se despediam de Tonks. - Harry, eu sei que você não gosta do Snape mas ele é um soberbo Oclumante e todos nós, incluindo Sirius, queremos que você aprenda a se proteger, acima de tudo, ok?

 

- Sim, sem problemas - disse Harry pesadamente, olhando para as rugas prematuras de Lupin. - Então, nos vemos depois.

 

Os seis caminharam com muita dificuldade pela escorregadia estrada que levava ao castelo, carregando seus malões. Hermione já estava falando sobre tricotar mais alguns chapéus para os elfos antes de ir para cama. Harry olhou para trás ao chegar nas grandes portas de carvalho; o Nôitibus já havia desaparecido e desejaria, visto o que viria na noite seguinte, ainda estar à bordo.

 

Harry passou o dia seguinte temendo à noite. Nem mesmo os dois tempos de Poções pela manhã foram o suficiente para dispersar sua preocupação, e também pelo fato de Snape estar tão desagradável como sempre. Seu humor estava cada vez pior à medida que os membros do ED o abordavam nos corredores durante os intervalos perguntando se teria uma reunião naquela noite.

 

- Você saberá pelo método usual quando será a próxima reunião - Harry repetia várias vezes seguidas. - Tenho... Er... Aulas extras de Poções.

 

- Você tem aulas extras de Poções? - perguntou Zacharias Smith, tendo encontrado Harry no saguão de entrada depois do almoço. - Meu Deus, você deve ser horrível. Snape geralmente não dá aulas extras, não é?

 

 Depois que Smith foi embora  Rony o olhou com raiva.

 

- Que tal se eu o enfeitiçasse? Eu ainda posso acertá-lo daqui - disse, levantando sua varinha e mirando nas costas de Smith.

 

- Esqueça - disse Harry desanimado. - Era o que todo mundo ia pensar mesmo que eu sou realmente estup...

 

- Oi Harry - disse um voz por trás dele, ele se virou e viu Cho.

 

- Oh - disse Harry com seu estômago se contorcendo desconfortavelmente. - Oi.

 

- Estaremos na biblioteca, Harry - disse Hermione firmemente enquanto puxava Rony pelo braço em direção à escadaria de mármore.

 

- Teve um bom Natal? - perguntou Cho.

 

- Sim, não foi mal.

 

- O meu foi bem legal - disse Cho. Por alguma razão, ela parecia envergonhada. - Er... Vai ter outra ida a Hogsmeade no mês que vem, você viu o aviso?

 

- O quê? Oh, não. Eu ainda não chequei o quadro de avisos desde que cheguei.

 

- Oh, é no dia dos Namorados...

 

- Certo - disse Harry, perguntando-se por que ela lhe estava dizendo isso. - Bem, acho que você quer saber...

 

- Só se você quiser... - ela disse rapidamente.

 

Harry a observou. Ele perguntaria "Eu acho que você quer saber o dia que se realizará a próxima reunião do ED?" mas a resposta dela parecia não encaixar.

 

- Eu... Er... - ele disse.

 

- Oh, tudo bem se você não quer - ela disse, parecendo mortificada. - Não se preocupe. Eu te vejo por aí.

 

Ela foi embora. Harry ficou parado, olhando-a, seu cérebro não estava funcionando direito. Mas então tudo voltou ao normal.

 

- Cho! Hey, Cho - ele correu atrás dela, alcançando-a antes de ela chegar a escadaria de mármore. - Er... Você quer ir a Hogsmeade nos Dias dos Namorados comigo?

 

- Ooooooh sim! - ela disse corando e com um sorriso luminoso nos lábios.

 

- Bem, então, concordamos! - disse Harry, sentindo que o dia não seria uma perda total. Foi até a biblioteca para pegar Rony e Hermione antes de suas aulas da tarde.

 

Às seis horas da noite, no entanto, nem mesmo a luz de ter convidado Cho para um encontro com sucesso poderia iluminar os maus pressentimentos que aumentavam a cada passo que dava em direção a sala de Snape.

 

Ele parou do lado de fora da porta, depois que chegou, desejando estar em quase qualquer outro lugar, então, respirando fundo, bateu e entrou.

 

A sala sombria estava repleta de prateleiras onde havia centenas de vidros que continham pedaços de animais e plantas suspensos em varias poções coloridas. No canto estava o armário cheio de ingredientes de onde, uma vez, Snape acusara Harry, não sem razão, de roubo. A atenção do garoto foi direcionada para a mesa onde estava uma onde, gravados runas e símbolos banhada pela luz de uma vela. Harry reconheceu logo: era a penseira de Dumbledore. Perguntando-se o porquê de a penseira estar lá, ele pulou quando a voz fria de Snape veio das trevas da sala.

 

- Feche a porta atrás de você, Potter.

 

Harry fez o que lhe foi pedido, tendo a péssima impressão de que estava se aprisionando. Quando se virou em direção à sala, Snape foi em direção à luz e estava apontando silenciosamente para a cadeira oposta à sua mesa. Harry se sentou , assim como Snape, seus olhos negros e frios o encaravam sem piscar, com o desgosto estampado em seu rosto.

 

- Bem, Potter, você sabe por que está aqui - ele disse. - O diretor me pediu para ensinar você Oclumancia. Eu só espero que você seja mais adepto a isso do que a Poções.

 

- Certo - disse Harry sem muita emoção.

 

- Esta pode não ser uma classe normal, Potter - disse Snape, seus olhos malevolentes -, mas ainda sou seu professore e você me chamará de "senhor" ou "professor" o tempo todo.

 

- Sim... Senhor - disse Harry.

 

Snape continuou a olhá-lo com os mesmos olhos por um tempo e depois disse.

 

- Agora, Oclumancia. Como eu já havia lhe dito na cozinha do seu querido padrinho, esse tipo de magia sela a mente contra invasão mágica e influencia.

 

- E por que Dumbledore acha que eu preciso disso, senhor? - disse Harry, olhando em direção os olhos de Snape, perguntando-se se responderia ou não.

 

Snape o olhou de volta com desprezo.

 

- Tenho certeza que até mesmo você já teria entendido, Potter? O Lord das Trevas é muito talentoso com a Legilimancia.

 

- O que é isso? Senhor?

 

- É a habilidade de retirar memória e sentimentos da mente de alguém.

 

- Ele pode ler mentes? - Harry disse rapidamente, seus piores medos se confirmaram.

 

- Você não tem nenhuma sutileza, Potter - disse Snape, seus olhos escuros brilhando. - Você não compreende distinções tão sutis. É isso que faz você ser tão lamentável ao preparar poções.

 

Snape parou por alguns momentos, parecendo saborear o prazer de insultar Harry, antes de continuar.

 

- Apenas trouxas dizem "leitura de mente". A mente não é um livro para ser aberto e lido de acordo com a vontade, para se passar o tempo. Pensamentos não estão marcados no interior do crânio, para ser lido por todos os invasores. A mente é complexa e repleta de camadas, Potter, ou pelo menos, a maioria. É verdade, no entanto, que aqueles que dominam a Legilimancia podem, sob certas circunstâncias, invadir a mente de suas vítimas e interpretar o que encontraram corretamente. O Lord das Trevas, por exemplo, quase sempre sabe quando uma pessoa esta mentindo para ele. Somente os mais habilidosos em Oclumancia podem fechar seus sentimentos e memórias que podem contradizer a mentira, e então, enganá-lo por completo em sua presença sem que ele desconfie.

 

Não importava o que Snape tenha dito, Legilimancia soou para Harry como leitura de mente e ele não gostaram disso.

 

- Então ele poderia saber o que estamos pensando agora? Senhor?

 

- O Lord das Trevas está a uma considerável distância e os terrenos de Hogwarts estão protegidos por antigos feitiços e encantamentos para assegurar a proteção física e mental dos alunos daqueles que querem prejudicá-los - disse Snape. - Tempo e espaço são importantes na magia, Potter. Contato visual geralmente é importante para a Legilimancia.

 

- Então por que eu tenho que aprender Oclumancia?

 

Snape olhou Harry, passando um dedo magro pela boca.

 

- As regras de sempre não parecem se aplicar a você, Potter. A maldição que falhou ao tentar te matar parece ter criado algum tipo de ligação entre você e o Lord das Trevas. As evidências sugerem que em momentos, quando sua mente está relaxada e vulnerável, quando você está dormindo, por exemplo, compartilha os pensamentos e emoções com o Lord das Trevas. O diretor acha que é inadmissível isto continuar. Ele quer que eu lhe ensine como fechar sua mente para o Lord das Trevas.

 

O coração de Harry voltou a bater fortemente. Continuava sem entender.

 

- Mas por que Dumbledore quer que isto pare? - perguntou abruptamente - Eu não gosto muito mas tem sido útil, não tem? Digo... Eu vi a cobra atacar o Sr. Weasley, se não fosse por isso Dumbledore não estaria apto a salvá-lo, estaria? Senhor?

 

Snape encarou Harry por alguns momentos, ainda passando o dedo pela boca. Quando voltou a falar o fez devagar e deliberadamente, como se estivesse medindo suas palavras.

 

- Parecia que o Lord das Trevas não sabia dessa ligação entre vocês até muito recentemente. Até agora parece que você está experimentando suas emoções e dividindo seus pensamentos sem que ele tivesse conhecimento disso. No entanto, a visão que você teve antes do Natal...

 

- Aquela com a cobra atacando o Sr. Weasley?

 

- Não me interrompa, Potter - disse Snape com um tom de ameaça. - Como eu estava dizendo, a visão que você teve antes no Natal representou uma poderosa invasão nos pensamentos do Lord das Trevas...

 

- Eu vi pelo ponto de vista da cobra, e não dele!

 

- Eu acho que acabei de falar para não me interromper, Potter!

 

Mas Harry não ligou se Snape estava zangado, pelo menos estava conseguindo as informações que queria, inclinou-se para frente na cadeira, chegando perto da beirada, sem se dar conta disso, tenso como se estivesse se preparando para voar.

 

- Não diga o nome do Lord das Trevas! - disse Snape quase gritando.

 

Houve um silêncio desconfortável. Eles se olharam por cima da penseira.

 

- Professor Dumbledore diz o nome dele - disse Harry num tom de voz baixo.

 

- Dumbledore é um bruxo extremamente poderoso! - murmurou Snape - Ele pode se sentir seguro o suficiente para dizer seu nome... Enquanto o resto de nos... - ele esfregou o braço esquerdo, aparentemente inconsciente, no local onde Harry sabia que a Marca Negra queimava sua pele.

 

- Eu só queria saber - disse Harry num tom de voz tentando parecer educado - por que...

 

- Parece que você visitou a mente da cobra pois era lá que o Lord da Trevas estava naquele exato instante - disse Snape. - Ele estava possuindo a cobra naquele momento, por isso você sonhou estar dentro dela também.

 

- E Vol... Er... Ele percebeu que eu estava lá?

 

- Aparentemente sim - disse Snape friamente.

 

- Como você sabe? - perguntou Harry rapidamente. - Isso é só u palpite de Dumbledore ou...

 

- Eu já lhe disse - disse Snape, rígido em sua cadeira com seus olhos apertados - para me chamar de "senhor".

 

- Sim, senhor - Harry disse impacientemente -, mas como você sabe?

 

- É o bastante que eu saiba - disse Snape de forma repressiva. - O importante é que o Lord das Trevas agora sabe que você tem consciência de seus pensamentos e emoções. E ele também deduziu que pode fazer o caminho inverso, isso quer dizer que ele pode acessar seus sentimentos e pensamentos também.

 

- E ele tentará fazer com que eu faça coisas também? - perguntou Harry. Senhor? - somando rapidamente.

 

- Ele pode - disse Snape fria e despreocupadamente. - O que nos traz de volta à Oclumancia.

 

Snape tirou a varinha do bolso das vestes e Harry ficou mais tenso em sua cadeira, mas o professor simplesmente levantou sua varinha até a altura das têmporas e posicionou a ponta na raiz oleosa de seu cabelo. Quando puxou uma substância prateada saiu de sua cabeça, grudada a ponta da varinha, depois se soltou da cabeça de Snape, caindo graciosamente na penseira, onde se mexia  um líquido ou um gás branco-prateado. Por mais duas vezes repetiu a ação. Sem obter nenhuma explicação de seu  comportamento, pegou a penseira e a colocou em uma prateleira para fora do caminho, voltou a encarar Harry com a varinha em mãos.

 

- Fique de pé, Potter, e pegue sua varinha!

 

Harry se levantou, muito nervoso. Eles se entre olharam com a mesa entre ambos.

 

- Você pode usar sua varinha na tentativa de me desarmar ou defender a si próprio de qualquer forma que possa pensar - disse Snape.

 

- E o que você fará? - perguntou Harry, observando a varinha de Snape de maneira apreensiva.

 

- Estou prestes a invadir sua mente - disse Snape calmamente - Vamos ver o quanto você pode resistir. Fiquei sabendo que mostrou habilidade ao resistir a Maldição Imperius. Você descobrirá que poderes similares serão necessários para isto... Prepare-se agora! Legilimens>!

 

Snape atacou antes que Harry estivesse preparado, antes que pudesse começar a reunir forças para resistir. A sala desapareceu em frente aos seus olhos, imagens atrás de imagens passavam por sua mente como um filme tão vívido que o cegou para tudo o que estava à sua volta.

 

Tinha cinco anos, vendo Duda andar em sua nova bicicleta e seu coração queimava de inveja... Tinha nove anos, e o buldogue chamado Estripador o perseguia enquanto os Dursley riam lá embaixo... Estava sentado debaixo do Chapéu Seletor, pedindo-o para não o colocar na Sonserina... Hermione estava deitada na ala hospitalar com seu rosto coberto de pêlos negros de gato... Uma centena de dementadores estavam indo em sua direção às margens do lago... Cho estava se aproximando cada vez mais de seu rosto por debaixo do enfeite de Natal...

 

- Não - disse a voz dentro da cabeça de Harry, enquanto a imagem do rosto de Cho se aproximando do dele. - Você não verá isso, você não verá isso! É particular!

 

Ele sentiu uma dor aguda no joelho. A sala de Snape tinha voltado ao seu campo de visão e percebeu que havia caído no chão, um de seus joelhos havia colidido com uma das pernas da mesa de Snape. Ele olhou para o professor, que havia baixado a varinha e estava esfregando seus punhos. Havia uma expressão muito enfurecida em seu rosto.

 

- Você produziu a Maldição do Ferrão de propósito? - perguntou Snape friamente.

 

- Não - disse Harry amargamente enquanto se levantava.

 

- Eu achei que não - disse Snape olhando para ele bem de perto. - Você me deixou ir muito longe. Você perdeu o controle.

 

- Você viu tudo o que eu vi? - Harry perguntou sem saber se queria ouvir a resposta.

 

- Alguns flashes. De quem pertencia o cachorro?

 

- Minha tia Guida - murmurou Harry, odiando Snape.

 

- Bem, para uma primeira tentativa foi não tão ruim quanto poderia ter sido - disse Snape levantando mais uma vez sua varinha. - Você deve me deter eventualmente, apesar de você ter desperdiçado tempo e energia gritando. Você deve se manter concentrado. Repele-me com a mente e você não precisará apelar para a varinha.

 

- Estou tentando - disse Harry com raiva - mas você não me diz como!

 

- Maneiras, Potter! - disse Snape ameaçadoramente. - Eu quero que feche os olhos.

 

Harry lançou um olhar de desgosto para Snape enquanto fazia o que foi pedido. Não gostava da idéia de ficar de olhos fechados enquanto Snape estava à sua frente, portando uma varinha.

 

- Esvazie sua mente, Potter - disse Snape com sua voz fria. - Esqueça todas as emoções...

 

Mas a raiva de Harry por Snape continuou a circular nas veias de Harry como veneno. Esquecer essa raiva? Ele poderia fazê-lo tão facilmente quanto arrancar as pernas...

 

- Você não esta fazendo, Potter... Você precisara de mais disciplina do que está tendo... Agora, concentre-se!

 

Harry se concentrou, tentando esquecer todas as emoções, pensamentos e lembranças...

 

- Vamos tentar de novo... Vou contar até três... Um, dois, três - Legilimens>!

 

Um grande dragão negro estava à sua frente... Seus pais estavam acenando para ele pelo reflexo de um espelho encantado... Cedrico estava deitado no chão olhando para ele com olhos já sem vida...

 

- NÃOOOOOOOOO!

 

Harry  estava em seus joelhos, com as mãos no rosto, seu cérebro doendo como se alguém estivesse tentando puxá-lo para fora do crânio.

 

- Levante-se - disse Snape rispidamente. - Levante-se! Você nem está tentando. Você está me deixando entrar em suas memórias que você tem medo, você esta me dando armas!

 

Harry se levantou novamente, seu coração batendo descompassado como se realmente tivesse visto Cedrico morto no cemitério. Snape parecia mais pálido do que antes, com raiva, mas nem perto da raiva que Harry sentia.

 

- Eu... Estou...Tentando - disse Harry, trincando os dentes.

 

- Eu mandei você esvaziar seus sentimentos!

 

- Sério? Bem, acho que está sendo um pouco complicado no momento! - rosnou Harry.

 

- Então, você será presa fácil para o Lord das Trevas! - disse Snape agressivamente. - Idiotas que não conseguem deixar de usar seu coração ao invés de usar a cabeça, que não conseguem controlar suas emoções, deixam-se cair em memória tristes e deixam ser provocados tão facilmente, pessoas fracas, em outras palavras, não têm nenhuma chance contra dos poderes dele! Ele invadira sua mente absurdamente fácil, Potter!

 

- Eu não sou fraco! - Harry disse baixo, a fúria passando dentro dele tão intensamente que achou que poderia atacar Snape naquele momento.

 

- Então, prove! Controle-se! - gritou o professor. - Controle sua raiva, discipline sua mente! Vamos tentar de novo! Prepare-se... AGORA! Ligilimens!

 

Ele viu o tio Válter trancando a caixa do correio... Uma centena de dementadores iam em sua direção... Estava correndo por um corredor sem janelas com o Sr. Weasley... Estavam indo em direção a uma porta preta no final do corredor... Harry achou que fossem entrar... Mas o Sr. Weasley o virou para a esquerda descendo alguns degraus...

 

- EU SEI, EU SEI!

 

Estava de quatro na sala de Snape, sua cicatriz doía desagradavelmente mas a voz que saía de sua boca estava triunfante. Ele se pôs de pé mais uma vez e viu Snape o olhando fixamente, sua varinha levantada, dessa vez parecia que o professor parara de lançar o feitiço antes mesmo que Harry tentasse lutar.

 

- O que aconteceu, Potter? - perguntou Snape com interesse.

 

- Eu vi... Me lembrei - Harry disse enquanto tentava recuperar o fôlego. - Só agora me dei conta...

 

- Se deu conta de quê? - perguntou rispidamente.

 

Harry não respondeu logo em seguida, ainda estava saboreando a sensação de liberdade enquanto esfregava sua testa...

 

Estivera sonhando com um corredor sem janelas que terminava numa porta trancada por meses seguidos, sem se dar conta que aquele lugar realmente existia. Agora, revendo a lembrança, sabia que todo esse tempo estava sonhando com o corredor por onde ele e o Sr. Weasley correram no dia doze de agosto, em direção a sala do tribunal do Ministério. Era o corredor que ia em direção ao Departamento dos Mistérios e o Sr. Weasley esteve lá no noite que ele foi atacado pela cobra de Voldemort.

 

Olhou Snape.

 

- O que tem dentro do Departamento dos Mistérios?

 

- O que você disse? - perguntou rapidamente e Harry viu, com grande satisfação, que ele começou a ficar nervoso.

 

- Eu perguntei o que tem dentro do Departamento dos Mistérios, senhor?

 

- E por que... - disse Snape devagar. - Você perguntaria uma coisa dessas?

 

- Porque - disse Harry, olhando para o rosto de Snape mais de perto - aquele corredor... Eu acabei de ver... Eu estive sonhando com ele por meses... E eu acabei de reconhecê-lo, ele vai em direção ao Departamento dos Mistérios... E acho que Voldemort quer alguma coisa de lá...

 

- Eu já não te disse para dizer o nome dele?!

 

Eles se olharam. A cicatriz de Harry doeu novamente mas ele não ligou. Snape parecia agitado mas quando voltou a falar parecia que queria se mostrar calmo e despreocupado.

 

- Existem muitas coisas no Departamento dos Mistérios, Potter, poucas que você entenderia e nenhuma que interessasse você! Fui claro?

 

- Sim - disse Harry, que ainda esfregava a cicatriz dolorida, que por sua vez estava doendo cada vez mais.

 

- Eu quero você de novo aqui no mesmo horário na quarta-feira. E continuaremos praticando.

 

- Tudo bem - respondeu. Estava desesperado para sair da sala do Snape e encontrar Rony e Hermione.

 

- Você deve esvaziar sua mente de todas as emoções todas as noites antes de dormir; mantenha-a vazia e calma, entendeu?

 

- Sim - respondeu Harry, que mal o estava ouvindo.

 

- E fique avisado, Potter, eu saberei se não estiver praticando!

 

- Certo - murmurou.

 

Pegou sua mochila, colocou por de trás dos ombros e se apressou em chegar à porta da sala. Assim que a abriu olhou Snape, que estava de costas para ele, observando seus próprios pensamentos na penseira e com a ponta da varinha os recolocava de volta em sua cabeça. Harry saiu sem falar nada, fechando cuidadosamente a porta atrás de si, sua cicatriz estava latejando dolorosamente.

 

Harry encontrou Rony e Hermione na biblioteca, onde estavam trabalhando no mais recente dever de casa que Umbridge passara. Outros alunos, quase todos do quinto ano, com lampiões em cima da mesa e os narizes próximos aos livros, penas escrevendo freneticamente, enquanto o céu lá fora estava cada vez mais escuro. O único barulho na biblioteca era o barulho vindo dos sapatos da Madame Pince, enquanto a bibliotecária andava pelos corredores observando todos que tocavam em seus preciosos livros.

 

Harry tremia, sua cicatriz ainda doía e se sentia quase com febre. Quando se sentou de frente para Rony e Hermione viu seu reflexo vindo da janela que estava em frente, estava muito branco e sua cicatriz parecia estar mais ressaltada do que normalmente era.

 

- Como foi lá? - Hermione sussurrou e então pareceu preocupada. - Você está bem, Harry?

 

- Sim, estou bem.... Eu não sei - disse, sentindo novamente uma dor fina em sua cicatriz. - Escutem, eu acabei de me dar conta de uma coisa.

 

Então contou o que tinha visto e deduzido.

 

- Então... Então, você esta dizendo... - sussurrou Rony, assim que Madame Pince passou pelo corredor - ...Que a arma que Você-Sabe-Quem quer está no Ministério da Magia?

 

- No Departamento dos Mistérios, tem que ser isso! - Harry sussurrou. - Eu vi a porta quando seu pai me levou até a sala do tribunal para a minha audiência e tenho certeza que é a mesma que seu pai estava protegendo quando a cobra o mordeu.

 

Hermione respirou profundamente.

 

- É claro! - ela disse.

 

- É claro o quê? - perguntou Rony impacientemente.

 

- Rony, escute... Sturgis Padmore estava tentando invadir uma porta no Ministério da Magia... Deve ter sido essa ou seria muita coincidência!

 

- Por que Sturgis quereria invadir se ele estava do nosso lado? - perguntou Rony.

 

- Bem, eu não sei - admitiu Hermione. - É um pouco estranho...

 

- Então o que será que tem no Departamento de  Mistérios? - Harry perguntou a Rony. - Seu pai nunca mencionou nada sobre isso não?

 

- Eu sei que eles chamam as pessoas que trabalham lá de "Indescritíveis" - disse Rony, franzindo a testa - porque aparentemente ninguém sabe o que eles fazem lá. Lugar estranho para se guardar uma arma.

 

- Não é estranho, isso faz sentido! - disse Hermione. - Deve ser algo super secreto que o Ministério esta desenvolvendo, eu espero... Harry, você tem certeza que está bem?

 

Harry estava com as duas mãos na testa, como se quisesse passá-la a ferro.

 

- Sim, estou bem... - disse, baixando suas mãos, as quais estavam tremendo. - Eu estou me sentindo um pouco... Eu não gostei muito de Oclumancia.

 

- Garanto que todos se sentiriam fracos se suas mentes fossem atacadas seguidamente - disse Hermione simpaticamente. - Vamos voltar para a  sala comunal, estaremos mais confortáveis lá.

 

Quando chegaram à sala estava lotada e cheia de sons de risadas e excitação, Fred e Jorge estavam demonstrando suas mais recentes mercadorias de loja de logros.

 

- Chapéu Sem-Cabeça! - gritou Jorge enquanto Fred mostrava um chapéu cônico decorado com uma grande pena rosa. - Apenas dois galeões, observem Fred!

 

Ele pôs o chapéu na cabeça e por alguns segundo pareceu estúpido, depois o chapéu e a sua cabeça haviam desaparecido. Algumas garotas gritaram, todos os outros estavam rindo!

 

- E agora... - gritou Jorge e a mão de Fred foi em direção a cabeça desaparecida e, quando puxou o chapéu, a cabeça retornara.

 

- Como esses chapéus funcionam? - perguntou Hermione, que havia parado de prestar atenção no dever de casa para observar Fred e Jorge. - Quer dizer, obviamente é algum tipo de Feitiço de Invisibilidade mas é muito difícil estender o campo da invisibilidade para objetos encantados... Imagino que o encanto não deva durar muito tempo.

 

Harry não respondeu, estava se sentindo doente.

 

- Eu vou fazer isso amanhã! - murmurou, colocando os livros, que tinha acabado de tirar, de volta na mochila.

 

- Bem, então escreva no seu planejador de dever de casa! - disse Hermione, tentando passar confiança a Harry. - Pois assim não esquecerá.

 

Harry e Rony trocaram olhares enquanto Harry pegava a mochila, tirou o planejador e abriu.

 

- Não deixe para depois, seu grande porcaria! - o livro criticava enquanto Harry escrevia o lembrete da lição da professora Umbridge. Hermione sorriu.

 

- Acho que já vou para a cama - disse Harry, guardando o planejador de volta na mochila e fazendo um lembrete mental para jogá-lo no fogo na primeira oportunidade que tivesse.

 

Atravessou o salão comunal, desviando de Jorge, que tentou colocar um Chapéu-Sem-Cabeça nele, alcançou a paz e tranqüilidade das estadas de pedra que levavam ao dormitório dos meninos. Estava se sentido doente de novo, assim como se sentira na noite da visão do ataque da cobra, pensou que se pudesse se deitar se sentiria melhor.

 

Abriu a porta do dormitório deu um passo para dentro quando sentiu uma dor tão forte como se alguém tivesse cortado fora o topo de sua cabeça. Não sabia onde estava, se estava em pé ou deitado, ele nem mesmo sabia seu nome.

 

Uma risada maníaca estava ecoando em seus ouvidos... Ele estava mais feliz do que esteve por um bom tempo... Extremamente contente, extasiado, triunfante... Uma coisa muito, muito maravilhosa aconteceu...

 

- Harry, HARRY! - alguém bateu em seu rosto. A risada foi interrompida por um grito de dor. A felicidade esta saindo de dentro dele mas a risada continuava...

 

Abriu os olhos e percebeu que a risada insana estava saindo de sua própria boca. No momento em que ele se deu conta disso parou. Harry se manteve no chão, respirando rapidamente, olhando o teto, a cicatriz em sua testa latejava horrivelmente. Rony estava inclinado sobre ele, parecendo muito preocupado.

 

- O que aconteceu? - perguntou.

 

- Eu... Não sei... - disse enquanto sentava. - Ele esta muito.... Muito feliz.

 

- Você-Sabe-Quem está?

 

- Alguma coisa boa aconteceu - murmurou Harry. Estava tremendo tanto quanto tremia depois que vira a cobra atacando o Sr. Weasley, ele se sentia doente. - Alguma coisa que ele queria que acontecesse, aconteceu...

 

As palavras vieram assim como no vestiário da Grifinória, como se um estranho falasse por sua boca, ainda que soubessem ser verdade. Respirou profundamente, esperando não vomitar em Rony. Estava feliz que Dino e Simas não estavam presente para ver o que aconteceu desta vez.

 

- Hermione me pediu para vir ver como você estava - disse Rony com um baixo tom de voz, ajudando o amigo a se levantar. - Disse que suas defesas estariam fracas neste momento, depois que Snape futucou em sua mente... Ainda que eu acho que será útil para o futuro, não é? - olhou para Harry com certo ar de dúvida, enquanto o ajudava a ir para sua cama.

 

Harry concordou com a cabeça com a mínima convicção e se deixou cair em cima dos travesseiros, seu corpo todo doendo depois de cair várias vezes no chão naquela noite, sua cicatriz ardia dolorosamente. Não podia evitar sentir que sua primeira lição de Oclumancia tinha enfraquecido a resistência de sua mente mais do que fortalecido e se perguntou, com um péssimo pressentimento, o que fez Voldemort se sentir mais feliz do que se sentira em quatorze anos.

 

 

O BESOURO ACUADO

A dúvida de Harry foi respondida na manhã seguinte. Quando o Profeta Diário da Hermione chegou ela o abriu, olhou atentamente por um momento a primeira página e deu um gritinho que fez todos na mesa a olharem.

 

- O que foi? - disseram Harry e Rony juntos.

 

Como resposta ela estendeu o jornal sobre a mesa na frente deles e apontou para dez fotografias em preto e branco que enchiam a primeira página, nove delas mostrando rostos de bruxos, sendo a décima de uma bruxa.

 

Algumas das pessoas nas fotografias estavam dando risadinhas silenciosas; outras estavam apertando os dedos na borda das fotografias, com olhar insolente. Cada foto tinha uma legenda com o nome e o crime pelo qual a pessoa havia sido enviada para Azkaban.

 

 

 

"Antonin Dolohov", dizia a foto de um bruxo com um rosto longo, pálido e desfigurado que estava olhando com desprezo para Harry, "Preso pelo assassinato brutal de Gideon e Fabian Prewett".

 

"Algernon Rookwood", dizia a legenda embaixo de um homem com uma cicatriz e cabelo oleoso, estava se inclinando contra o topo da moldura, parecendo chateado, "Preso por revelar segredos do Ministério da Magia Àquele-Que-Não-Deve-Ser-Someado".

 

Mas os olhos de Harry pararam sobre a foto da bruxa. O rosto dela se virou para ele no momento em que viu a página. Ela tinha um cabelo longo e preto que parecia despenteado e desalinhado na foto mas já o tinha visto cheio, liso e brilhante. Ela olhou fixamente para ele com suas pálpebras pesadas, um arrogante e desdenhoso sorriso na sua boca fina. Como Sirius, tinha vestígios de ser muito bonita, mas algo - talvez Azkaban - havia tirado a maior parte da sua beleza.

 

"Bellatrix Lestrange, presa pela tortura e incapacitação permanente de Frank e Alice Longbottom."

 

Hermione cutucou Harry e apontou para o título acima das fotos, que Harry, concentrado em Bellatrix, ainda não tinha lido.

 

"FUGA EM MASSA DE AZKABAN

 

MINISTÉRIO TEME QUE BLACK SEJA 'PONTO DE ENCONTRO' PARA OS ANTIGOS COMENSAIS DA MORTE"

 

- Black? - disse Harry bem alto. - Não é?

 

- Shhh! - sussurrou Hermione desesperadamente. - Não tão alto, apenas leia!

 

"O Ministério da Magia anunciou na noite passada que houve uma fuga em massa de Azkaban. Conversando com os repórteres em seu escritório privado, Cornélio Fudge, Ministro da Magia, confirmou que dez prisioneiros de segurança máxima escaparam nas primeiras horas da noite de ontem e que já informou ao primeiro ministro trouxa sobre a natureza perigosa destes indivíduos.

 

'Nós nos encontramos, infelizmente, na mesma situação de dois anos e meio atrás, quando o assassino Sirius Black escapou', disse Fudge na noite passada. 'Acreditamos que as duas fugas são relacionadas. Uma fuga desta magnitude sugere ajuda de fora e nós devemos lembrar que Black, como a primeira pessoa a escapar de Azkaban, seria ideal para ajudar os outros a seguir seus passos. Nós acreditamos que é provável que estes indivíduos, entre eles a prima de Black, Bellatrix Lestrange, tenham escolhido Black como seu líder. Estamos, contudo, fazendo tudo que podemos para encontrar estes criminosos e pedimos à comunidade mágica que permaneça em alerta e cautelosa. De maneira alguma se deve abordar estes indivíduos.'"

 

- Aí está, Harry - disse Rony -, é por isso que na noite passada ele estava feliz.

 

- Eu não acredito nisso - rosnou Harry -, Fudge está jogando a culpa da fuga no Sirius?

 

- Que outra opção ele tem? - disse Hermione amargamente. - Ele não pode dizer, "desculpe a todos, Dumbledore me avisou que isto poderia ocorrer, os guardas de Azkaban se juntaram ao Lord Voldemort". Pára de choramingar, Rony. "...e agora os piores comparsas de Voldemort escaparam também." Quero dizer, ele passou uns seis meses dizendo a todo mundo que você e o Dumbledore são mentirosos, não é?

 

Hermione abriu o jornal e começou a ler a reportagem enquanto Harry olhava em volta do Salão Principal. Não conseguia entender por que os outros estudantes não estavam assustados ou pelo menos discutindo a terrível notícia da primeira página mas poucos recebiam o jornal todos os dias como Hermione. Estavam lá, falando sobre lição de casa e quadribol ou quem sabe que outra bobagem, enquanto fora daquelas paredes mais dez Comensais da Morte aumentavam as fileiras de Voldemort.

 

Olhou para a mesa dos professores. Ali a história era diferente: Dumbledore e a Professora Minerva estavam conversando intensamente, ambos comum olhar extremamente grave. A professora Sprout colocou uma garrafa de ketchup em cima do Profeta Diário e estava tão concentrada lendo a primeira página que nem notou que estava caindo um pouco de gema de ovo da colher no seu colo. Enquanto isso, no outro lado da mesa, a professora Umbridge estava enchendo um prato de mingau. Pela primeira vez seus olhos de sapo não estavam varrendo o Salão Principal procurando por estudantes mal comportados. Ela franzia a testa enquanto comia e de vez em quando dava uma olhada repreendedora para a mesa onde o professor Dumbledore e a professora Minerva conversavam tão intensamente.

 

- Oh meu Deus! - exclamou Hermione, ainda olhando para o jornal.

 

- O que foi agora? - disse Harry rapidamente; estava se sentindo nervoso.

 

- É... Horrível - disse Hermione, parecendo abatida. Abriu o jornal na página dez e o mostrou para Harry e Rony.

 

"MORTE TRÁGICA DE EMPREGADO DO MINISTÉRIO DA MAGIA

 

O Hospital St. Mungus prometeu ontem à noite um inquérito completo após a descoberta da morte do empregado do Ministério da Magia Broderick Bode, 49, em sua cama, estrangulado por uma planta de vaso. Medi-bruxos enviados ao quarto não conseguiram reviver o Sr. Bode, que havia se machucado num acidente de trabalho algumas semanas antes de sua morte.

 

A medi-bruxa Miriam Strout, que estava encarregada do quarto do Sr. Bode no momento do acidente, foi suspensa e não foi encontrada ontem para comentar o assunto, mas um porta-voz do Hospital fez uma declaração:

 

'O Hospital St. Mungus lamenta profundamente a morte do Sr. Bode, cuja saúde estava melhorando intensamente antes deste trágico acidente. Nós temos normas que restringem as decorações permitidas nos quartos mas aparentemente a medi-bruxa Strout, ocupada por causa do período de Natal, não percebeu os perigos da planta na mesa do Sr. Bode. Como sua fala e mobilidade estavam melhorando, a medi-bruxa encorajou o paciente a cuidar da planta por si mesmo, sem perceber que não era uma inocente Flitterbloom, mas uma terrível visgo do diabo que, quando tocada pelo convalescente Sr. Bode, o estrangulou instantaneamente.'

 

O Hospital St. Mungus ainda não conseguiu explicar a presença da planta no quarto e conta com a colaboração de qualquer bruxo ou bruxa que tenha alguma informação."

 

- Bode... - disse Rony. - Bode. Me lembra de alguém...

 

- Nós o vimos - sussurrou Hermione. - No St. Mungus, lembram? Ele estava na cama do outro lado do Lockhart, apenas deitado lá, olhando para o teto. E nós vimos o visgo do diabo chegar. A medi-bruxa disse que era um presente de Natal.

 

Harry olhou de novo para a notícia. Um sentimento de pavor estava crescendo nele.

 

- Como nós não identificamos a visgo do diabo? Nós já a tínhamos visto... Nós poderíamos ter feito alguma coisa.

 

- Quem imaginariam que um visgo do diabo apareceria num hospital disfarçado de planta de vaso? - disse Rony imediatamente. - Não é nossa culpa, quem o mandou é que é o culpado! Ele deve ser um idiota, porque não checou o que estava comprando?

 

- Ora, vamos Rony! - disse Hermione, agitada. - Eu não acho que alguém colocasse um visgo do diabo num vaso e não percebesse que ele tentaria matar quem a tocasse? Isso... Isso foi um assassinato... Um assassinato inteligente... Se a planta foi enviada anonimamente como alguém vai descobrir quem a enviou?

 

Harry não estava pensando no visgo do diabo. Estava se lembrando de quando desceu até o nono andar do Ministério no dia da sua audiência e viu um homem com o rosto pálido que tinha chegado do átrio.

 

- Eu conheci o Bode - disse lentamente. - Eu o vi no Ministério com o seu pai.

 

A boca do Rony se abriu.

 

- Eu ouvi o papai falar sobre ele em casa! Ele era um inominável. Ele trabalhava no Departamento de Mistérios!

 

Eles se entreolharam por um momento, então Hermione puxou o jornal de volta para ela, analisou por um momento as fotos dos dez Comensais da Morte fugitivos na capa, depois se levantou.

 

- Aonde você vai? - perguntou Rony, assustado.

 

- Enviar uma carta - disse Hermione, jogando a mochila no ombro. - É... Bem, eu não sei se... Mas vale a pena tentar... E eu sou a única que pode.

 

- Eu odeio quando ela faz isso - lamentou Rony enquanto ele e Harry levantaram da mesa e saíam lentamente do Salão Principal. - Ela morreria se nos dissesse o que está tramando? Levaria mais dez segundos, hey, Hagrid!

 

Hagrid estava parado ao lado do portão de entrada do Salão, esperando um grupo da Corvinal passar. Ainda estava tão machucado quanto no dia em que voltara de sua missão dos gigantes e havia agora um novo corte no nariz.

 

- Tudo bem com vocês? - ele disse, tentando abrir um sorriso mas conseguindo apenas uma careta.

 

- Você está bem, Hagrid? - perguntou Harry, seguindo-o enquanto cruzava pelo grupo da Corvinal.

 

- Tudo bem - disse Hagrid com uma voz não muito convicta; acenou com a mão e quase acertou uma assustada professora Vector, que estava passando. - Apenas ocupado, você sabe, coisas de sempre. Aulas para preparar, algumas salamandras estão com as escamas apodrecidas E eu estou sob aprovação - murmurou.

 

- Você está sob aprovação? - disse Rony tão alto que muitos dos estudantes que passavam olharam curiosos. - Desculpe, quero dizer, você está sob aprovação? - sussurrou.

 

- Sim. Já esperava por isso, pra dizer a verdade. Vocês podem não ter percebido mas a inspeção não foi muito bem, sabe... Bem - ele suspirou profundamente. - É melhor ir embora e passar um pouco mais de pó de chili nas salamandras ou seus rabos vão começar a cair. Tchau, Harry... Rony...

 

Ele desceu as escadas de pedra em direção à orla da Floresta. Harry o assistiu indo embora, imaginando mais quantas más notícias poderia agüentar.

 

O fato de Hagrid estar sob aprovação virou notícia nos dias seguintes mas, para a indignação de Harry, quase ninguém parecia chateado com isso; na verdade algumas pessoas, especialmente Draco Malfoy, pareciam bastante animadas. Quanto à obscura morte do empregado do Departamento de Mistérios em St, Mungus, Harry, Rony e Hermione pareciam ser os únicos que sabiam ou se importavam. Havia apenas um tópico de conversa nos corredores: os dez Comensais da Morte fugitivos, cuja história finalmente se difundiu na escola pelos poucos que liam jornal. Apareceram rumores de que alguns dos presos foram vistos em Hogsmeade, que estavam escondidos na Casa dos Gritos e que invadiriam Hogwarts, exatamente como Sirius Black tinha feito.

 

Aqueles que nasceram em famílias de bruxos cresceram ouvindo os nomes destes Comensais da Morte e os temiam quase tanto quanto a Voldemort; os crimes que cometeram durante o reinado de terror do Lord das Trevas eram lendários. Havia familiares de suas vítimas entre os estudantes de Hogwarts, que se tornaram infortunadamente famosos e eram objetos de comentários enquanto passavam pelos corredores: Susan Bones, cujo tio, tia e primos foram mortos por um dos dez, disse tristemente na aula de Herbologia que agora ela tinha uma boa idéia do que era ser Harry.

 

- E eu não sei como você agüenta, isso é horrível - ela disse asperamente, colocando muito esterco de dragão na sua tigela de sementes de Screechsnap, fazendo-as gritar em desconforto.

 

Era verdade que Harry era o assunto de renovados sussurros e apontamentos no corredor nestes dias, porém detectou uma leve diferença no tom de voz dos sussurradores. Pareciam mais curiosos do que hostis agora e uma ou outra vez ouviu partes de conversa que sugeririam que não estavam satisfeitos com a versão do Profeta Diário de como e por que os dez Comensais da Morte conseguiram escapar de Azkaban. Na sua dúvida e medo, pareciam estar se virando para a única explicação razoável: aquela que Harry e Dumbledore vinham expondo desde o ano passado.

 

Não foi apenas o humor dos estudantes que mudou. Agora era comum cruzar com dois ou três professores conversando em vozes baixas e urgentes, parando no momento em que viam estudantes se aproximando.

 

- Eles obviamente não podem conversar livremente na sala dos professores agora - disse Hermione em voz baixa enquanto ela, Harry e Rony passaram pelos professores McGonagall, Flitwick e Sprout juntos fora da sala de Feitiços. - Não com a Umbridge lá.

 

- Acha que eles sabem de algo novo? - perguntou Rony, olhando por cima do ombro para os três professores.

 

- Se eles souberem nós não vamos saber de nada, não é? - disse Harry com raiva. - Não após o decreto... Em que número está agora?

 

Novas notificações apareceram na manhã após a fuga de Azkaban.

 

POR ORDEM DA GRANDE INQUISIDORA DE HOGWARTS

 

Os professores estão, a partir de agora, proibidos de passar aos estudantes qualquer informação que não seja estritamente relacionada com o assunto pelos quais são pagos para ensinar.

 

A informação acima está de acordo com o Decreto Educacional Número Vinte e Seis.

 

Assinado: Dolores Jane Umbridge, grande inquisitora.

 

Este último decreto foi motivo de um grande número de piadas entre os estudantes. Lino Jordan apontou para Umbridge que, pelos termos da nova regra, não podia punir Fred e Jorge por jogar snap explosivo no fundo da classe.

 

- Snap explosivo não tem nada a ver com Defesa Contra as Artes das Trevas, professora! Isto não é informação relativa ao assunto!

 

Quando Harry viu Lino as costas da sua mão estavam sangrando bastante. Harry recomendou essência de murtisco.

 

Ele imaginou que a fuga de Azkaban poderia ter afetado um pouco Umbridge, que poderia ter ficado um pouco abalada com a catástrofe que ocorreu bem embaixo do nariz de seu amado Fudge. Pareceu, contudo, que havia apenas intensificado seu desejo furioso de trazer todos os aspectos da vida em Hogwarts sobre seu controle pessoal. Parecia determinada ao máximo a demitir alguém e a única pergunta era se seria Trelawney ou Hagrid a ir primeiro.

 

Cada aula de Adivinhação e Trato das Criaturas Mágicas era agora conduzida na presença Umbridge e seu bloco de notas. Ela parou em frente à lareira da Torre fortemente perfumada, interrompendo constantemente a professora Trelawney com perguntas difíceis sobre oritmancia e heptmologia, insistindo que fizesse a predileção dos sonhos dos estudantes antes que eles a dessem e exigindo que demonstrasse sua habilidade com a bola de cristal, as folhas de chá e as runas. Harry imaginou que a professora Trelawney não agüentaria muito a pressão. Diversas vezes a viu nos corredores - fato estranho, pois normalmente ela permanecia na Torre -, murmurando consigo mesma, balançando as mãos e dando olhares aterrorizados sobre seu ombro, o tempo todo com um cheiro de perfume forte. Se não estivesse tão preocupado com Hagrid ficaria com pena dela. Mas se um deles teria que sair, somente havia uma escolha para Harry.

 

Infelizmente, Harry viu que Hagrid não estava se dando melhor que Trelawney. Parecia estar seguindo o conselho de Hermione e não tinha trazido nada mais ameaçador que um crupe - uma criatura muito parecida com um cachorro, exceto pelo seu rabo em forma de faca - desde antes do Natal, também parecia estar perdendo a paciência. Andava estranhamente distraído e nervoso durante as aulas, perdendo a noção do que estava falando, respondendo incorretamente as perguntas e o tempo todo olhando ansiosamente para Umbridge. Estava também mais distante de Harry, Rony e Hermione do que jamais estivera antes e os proibiu expressamente de visitá-lo após escurecer.

 

- Se ela pegar vocês serão todos os nossos pescoços - disse ele e, não querendo prejudicar ainda mais o emprego de Hagrid, eles pararam de ir a sua cabana à noite.

 

Para Harry, Umbridge estava tirando tudo que fazia sua vida em Hogwarts valer à pena: visitas à casa de Hagrid, cartas de Sirius, sua Firebolt e o quadribol. Fazia sua vingança da única maneira que podia - redobrando seus esforços com o ED.

 

Harry ficou satisfeito ao ver que todos, até mesmo Zacharias Smith, estavam se esforçando mais do que nunca depois que a notícia sobre os Comensais da Morte se espalhou mas ninguém melhorou mais do que Neville. A notícia sobre a fuga da Comensal da Morte que atacou seus pais causou uma estranha - e até alarmante - mudança nele. Não mencionou uma única vez seu encontro com Harry, Rony e Hermione em Sr. Mungus e, em contraponto, eles também não comentaram nada. Também não mencionou nada sobre Bellatrix e seus companheiros de fuga. Na verdade Neville mal conversava durante as reuniões do ED agora, apenas trabalhava silenciosamente em cada azaração ou contra-feitiço que Harry os ensinava, seu rosto rechonchudo fazendo careta de concentração, aparentemente indiferente aos machucados ou acidentes e se esforçando mais do que nenhum outro naquela sala. Estava melhorando tão rápido que foi estranho quando aprendeu o encantamento escudo - uma maneira de refletir azarações menores para que elas retornem ao oponente. Apenas Hermione aprendeu o feitiço mais rápido que Neville.

 

Harry gostaria muito de melhorar em Oclumancia tanto quanto Neville nas reuniões do ED. As sessões com Snape, que já não começaram bem, não estavam melhorando. Pelo contrário, Harry sentia que estava piorando a cada aula.

 

Antes de iniciar Oclumancia sua cicatriz doía ocasionalmente, geralmente durante a noite ou então através de estranhos flashes dos pensamentos ou humor de Voldemort que aconteciam de vez em quando. Agora, contudo, dificilmente parava de doer e muitas vezes sentia nervosismo ou alegria que não eram dele, eram sempre acompanhadas por uma particularmente doída pontada em sua cicatriz. Tinha a horrível impressão de que estava lentamente se transformando num tipo de antena que captava cada mudança de humor de Voldemort e tinha certeza que isto se iniciou no dia da primeira lição de Oclumancia com Snape. Além do mais, agora estava sonhando com o corredor de entrada do Departamento de Mistérios quase toda noite e sempre terminava com ele parando em frente de um portão negro.

 

- Talvez seja como uma doença - disse Hermione, olhando preocupada para Harry quando contou para ela e Rony. - Como uma febre ou algo assim. Tem que ficar pior para depois ficar melhor.

 

- As aulas com Snape estão deixando pior - disse Harry. - Estou cansado de sentir dor na minha cicatriz e não agüento mais andar naquele corredor toda noite - ele passou a mão na testa com raiva. - Eu apenas gostaria que a porta abrisse, não agüento ficar parado olhando para ela.

 

- Isso não é engraçado - disse imediatamente Hermione. - Dumbledore não quer que você tenha nenhum sonho sobre esse corredor ou ele não teria pedido para Snape te ensinar Oclumancia. Você apenas terá que se esforçar um pouco mais nas aulas.

 

- Eu estou me esforçando! - disse Harry nervoso. - Tenta você qualquer hora, o Snape tentando entrar na sua mente. Não é muito divertido, sabe?

 

- Talvez... - disse Rony lentamente.

 

- Talvez o quê? - perguntou Hermione.

 

- Talvez não seja culpa de Harry que ele não consegue fechar sua mente - disse Rony sombriamente.

 

- O que você quer dizer com isso? - perguntou Hermione.

 

- Bem, talvez Snape não esteja realmente tentando ajudar Harry...

 

Harry e Hermione o encararam. Rony olhava sombriamente de um para o outro.

 

- Talvez - ele continuou, numa voz mais baixa - ele na verdade esteja tentando abrir a mente de Harry um pouco mais... Deixar mais fácil para Você-Sabe...

 

- Cala a boca Rony - disse Hermione com raiva. - Quantas vezes você suspeitou de Snape e quantas acertou? Dumbledore confia nele, está na Ordem, isso deveria ser o suficiente.

 

- Ele era um Comensal da Morte - disse Rony teimosamente. - E nós nunca vimos provas de que ele realmente mudou de lado.

 

- Dumbledore confia nele - repetiu Hermione. - E se nós não podemos confiar em Dumbledore então não podemos confiar em ninguém.

 

Com tanta coisa pra se preocupar e tanto a fazer - quantidades gigantes de lição de casa que freqüentemente mantinha os quintanistas trabalhando até depois da meia noite, reuniões secretas do ED e aulas regulares com Snape - janeiro parecia estar passando alarmantemente rápido. Antes que Harry percebesse fevereiro chegou, trazendo um clima mais quente e o prospecto da segunda visita a Hogsmeade do ano. Harry teve poucas chances para conversar com Cho desde que combinaram de visitar o vilarejo juntos mas de repente percebeu que passaria o Dia dos Namorados inteiro com ela.

 

Na manhã do encontro se vestiu cuidadosamente. Ele e Rony chegaram para o café da manhã exatamente na hora da chegada das corujas. Edwiges não estava lá - não que Harry a estivesse esperando, mas Hermione estava pegando uma carta do bico de uma coruja marrom que não conhecia enquanto eles se sentavam.

 

- Já era hora! Se não tivesse chegado hoje... - ela disse, abrindo o envelope com excitação e tirando um pequeno pedaço de pergaminho.

 

Seus olhos voavam da esquerda para a direita enquanto ela lia e uma expressão de satisfação apareceu no seu rosto.

 

- Ouça, Harry - ela disse, olhando para ele -, isto é muito importante. Você acha que pode se encontrar comigo no Três Vassouras lá pelo meio-dia?

 

- Bom... Eu não sei - falou Harry sem certeza. - Talvez Cho esteja esperando que eu passe o dia inteiro com ela. Nós nunca conversamos sobre o que iríamos fazer.

 

- Bem, traga ela junto se for necessário - disse Hermione com pressa. - Mas você vai?

 

- Bom... Tudo bem, mas por quê?

 

- Eu não tenho tempo para te contar agora, eu tenho que responder isto rapidamente!

 

E ela correu para fora do Salão Principal, a carta numa mão e a torrada em outra.

 

- Você vem? - Harry perguntou a Rony mas ele balançou a cabeça, com um olhar carrancudo.- Eu não posso ir para Hogsmeade; a Angelina quer treinar o dia inteiro. Como se fosse ajudar alguma coisa; nós somos o pior time que eu já vi. Você deveria ver Sloper e Kirke, são patéticos, piores do que eu - ele deu um grande suspiro. - Eu não sei por que a Angelina não me deixa desistir.

 

- É porque você é bom quando está ligado, por isso - disse Harry irritado.

 

Ele achou muito difícil ficar ao lado de Rony porque ele mesmo daria quase tudo para jogar o próximo jogo contra Lufa-lufa. Rony pareceu ter notado o tom de voz de Harry porque não mencionou quadribol novamente durante o café e houve um leve tom frio na maneira em que se despediram pouco tempo depois.

 

Rony foi para o campo de quadribol e Harry, depois de tentar arrumar o cabelo pelo seu reflexo numa colher, foi sozinho para o Saguão de Entrada para encontrar com Cho, sentindo-se muito apreensivo e imaginando sobre o que diabos eles conversariam.

 

Ela estava esperando por ele ao lado da porta de carvalho, muito bonita com seu cabelo preso num longo rabo-de-cavalo. Os pés de Harry pareciam ser muito grandes para o seu corpo enquanto andava até ela e de repente se deu conta de como deveria parecer estúpido balançando seus braços de um lado para o outro.

 

- Oi - disse Cho, levemente sem fôlego.

 

- Oi - respondeu Harry.

 

Eles se olharam por um momento, então Harry disse.

 

- Bem, er, vamos?

 

- Ah, sim...

 

Eles se juntaram à fila de pessoas sendo sinalizadas por Filch, ocasionalmente trocando olhares e dando sorrisinhos mas não falando um com o outro. Harry se sentiu aliviado quando saíram para o ar fresco, achando mais fácil andar em silêncio do que ficar parado olhando sem graça.

 

Era um dia agradável e enquanto passavam pelo campo de quadribol Harry viu Rony e Gina passando em volta das arquibancadas, sentiu-se muito mal por não estar lá com eles.

 

- Você realmente sente falta, não sente? - perguntou Cho.

 

Ele se virou e viu que ela o estava olhando.

 

- Sim. Eu sinto.

 

- Você se lembra da primeira vez que nós jogamos um contra o outro no terceiro ano?

 

- Lembro - respondeu Harry, sorrindo. - Você ficava me bloqueando.

 

- E o Wood disse para você não ser um cavalheiro e me derrubar da vassoura se fosse preciso - disse ela, também sorrindo. - Eu fiquei sabendo que ele foi aceito pelo Pride of Portree, certo?

 

- Não, foi o Puddlemere United; eu o encontrei com na Copa Mundial, ano passado.

 

- Ah, eu também te vi lá, se lembra? Nós estávamos na mesma área de acampamento. Foi muito legal não acha?

 

E a Copa Mundial de Quadribol foi o assunto em todo o caminho até os portões. Harry não conseguia acreditar como era fácil falar com ela. Não mais difícil, na verdade, do que conversar com Rony e Hermione. E ele já estava se sentindo mais alegre e confiante quando uma grande turma de garotas da Sonserina passou por eles, incluindo Pansy Parkinson.

 

- Potter e Chang! - gritou Pansy, que se juntou a um coro de risadinhas. - Urgh, Chang, que falta de gosto... Pelo menos Diggory era bonito!

 

As garotas andaram mais rápido, conversando e gritando enquanto davam olhares exageradamente longos para Harry e Cho, fazendo os dois ficarem num silêncio embaraçoso. Harry não conseguia pensar em mais nada para conversar sobre quadribol, e Cho, levemente corada, estava olhando para os seus pés.

 

- Então... Aonde você quer ir? - perguntou Harry enquanto entravam em Hogsmeade. A rua principal estava cheia de estudantes de cima a baixo, olhando pelas vidraças das lojas e brincando uns com os outros.

 

- Ah... Tanto faz - disse Cho, encolhendo os ombros. - Hum... Vamos dar uma olhada nas lojas ou algo assim?

 

Andaram em direção a Dervish e Banges. Um grande cartaz foi colocado na janela e algumas pessoas de Hogsmeade o estavam olhando. Saíram de lado quando Harry e Cho se aproximaram, Harry se viu novamente olhando para a foto dos dez Comensais da Morte fugitivos. O cartaz, "por ordem do Ministério da Magia", oferecia um prêmio de mil galeões para qualquer bruxo ou bruxa que tenha informações que ajudem na recaptura dos presos.

 

- É engraçado, não é - disse Cho em voz baixa, olhando para a foto dos Comensais da Morte. - Você lembra quando aquele Sirius Black escapou e havia dementadores em toda Hogsmeade procurando por ele? E agora dez Comensais da Morte escaparam e não há dementadores em lugar algum...

 

- É verdade - respondeu Harry, desviando seus olhos do rosto de Bellatrix Lestrange para olhar a rua principal. - É, isso é estranho.

 

Ele não achou ruim o fato de não haver nenhum dementador por perto mas, pensando melhor, sua ausência era muito significativa. Não apenas tinham deixado os Comensais da Morte escapar como não estavam preocupados em procurar por eles... Parecia que estavam totalmente fora do controle do Ministério agora.

 

Os dez Comensais da Morte fugitivos estavam estampados em cada loja que passavam. Começou a chover enquanto passavam pela Scrivenshaft; gotas pesadas e frias estavam batendo no rosto e pescoço de Harry.

 

- Hum... Você quer tomar um café? - perguntou Cho enquanto a chuva começava a cair mais forte.

 

- Claro - respondeu Harry, olhando em volta. - Onde?

 

- Ah, tem um lugar bem legal logo ali; você já ouviu falar do Madame Puddifoo? - perguntou animadamente, levando-o a uma rua ao lado para uma pequena casa de chá que Harry nunca tinha visto antes. Era um lugarzinho cheio e esfumaçado que era decorado inteiramente com babadinhos e rendas. Harry se lembrou amargamente do escritório da Umbridge. - Bonitinho, não é? - perguntou Cho animadamente.

 

- Er... Sim - respondeu Harry sem muita convicção.

 

- Olha, eles fizeram uma decoração para o Dia dos Namorados! - disse Cho, indicando alguns coraçõezinhos que sobrevoavam cada uma das pequenas mesas circulares e que ocasionalmente soltavam confeite rosa sobre seus ocupantes.

 

Eles se sentaram na última mesa vazia do lugar, que ficava perto da janela esfumaçada. Rogério Davies, o capitão de quadribol da Corvinal, estava sentado a menos de um metro deles junto com uma linda garota loira. Estavam de mãos dadas. Esta visão fez Harry se sentir desconfortável, principalmente quando, olhando em volta do lugar, reparou que havia apenas casais, todos de mãos dadas. Talvez Cho estivesse esperando que ele segurasse a mão dela.

 

- O que vocês vão querer, meus queridos? - perguntou Madame Puddifoot, uma mulher bem corpulenta carregando um bolinho preto, espremendo-se entre sua mesa e a de Rogério Davies com muita dificuldade.

 

- Dois cafés, por favor - respondeu Cho.

 

Na hora que o café chegou Rogério Davies e sua namorada começaram a se beijar por cima da xícara de açúcar. Harry desejou que não se beijassem; pensou que Davies estava seguindo um padrão pelo qual Cho esperaria que ele seguisse. Sentiu seu rosto ficando vermelho e ficou olhando para a janela, estava tão esfumaçada que não podia ver a rua. Para adiar o momento em que teria que olhar para a Cho, começou a olhar para o teto como se estivesse examinado a pintura, e recebeu um montão de confete na cara que foi mandado pelo enfeite de coração.

 

Depois de mais alguns dolorosos minutos Cho mencionou Umbridge. Harry aproveitou o assunto com alívio e passaram alguns momentos engraçados, fazendo brincadeiras sobre ela, porém o assunto já tinha sido tão desgastado durante os encontros do ED que não durou muito tempo. Novamente a mesa ficou silenciosa. Harry estava bem consciente dos barulhos de beijo da mesa ao lado e começou a pensar desesperadamente em alguma coisa para dizer.

 

- Er... Olha só, você quer vir comigo ao Três Vassouras hoje na hora do almoço? Eu vou encontrar a Hermione Granger lá - Cho levantou as sobrancelhas.

 

- Você vai se encontrar com a Hermione Granger? Hoje?

 

- Vou. Bom, ela me pediu, então eu achei melhor ir. Você quer ir comigo? Ela disse que não teria problema se você fosse.

 

- Ah... Bem... Que legal da parte dela.

 

Mas Cho não soou como se fosse legal. Pelo contrário, seu tom de voz foi frio e de repente parecia ter se fechado. Alguns minutos se passaram em silêncio total, com Harry bebendo o café tão rápido que já estava quase precisando de um novo. Ao lado deles, Rogério Davies e sua namorada pareciam estar com os lábios colados.

 

Cho estava com a mão na mesa, ao lado de sua xícara de café, e Harry se sentiu pressionado a pegá-la. "Vai logo", ele disse para si mesmo enquanto um misto de pânico e excitação encheu seu peito, "vai logo e pega a mão dela". Era incrível como era mais difícil estender a mão vinte centímetros para pegar a mão dela do que pegar um pomo de ouro em pleno céu...

 

Mas no momento em que moveu sua mão para frente Cho tirou a sua da mesa. Ela agora estava olhando Rogério Davies beijando sua namorada com uma expressão de interesse.

 

- Ele me chamou para sair, sabe - ela disse com uma voz calma. - Algumas semanas atrás, o Rogério. Eu não aceitei, no entanto.

 

Harry, que pegou a xícara de açúcar como desculpa pelo seu movimento repentino de mão, não entendeu por que ela estava lhe contando isso. Se queria estar sentada na mesa ao lado sendo beijada por Rogério Davies, por que ela concordou em sair com ele?

 

Ele não disse nada. O enfeite de coração jogou mais confeite sobre eles; um pouco de confeite caiu no resto de café que Harry iria beber.

 

- Eu vim aqui com o Cedrico no ano passado - disse Cho.

 

Nos segundos que demoraram para Harry absorver o que Cho havia dito ele congelou por dentro. Não podia acreditar que ela queria conversar sobre Cedrico agora, enquanto casais se beijavam por todos os lados e enfeites de coração flutuavam sobre suas cabeças.

 

Cho aumentou o tom de voz quando falou novamente.

 

- Eu queria te perguntar isso há muito tempo... Cedrico... Ele... Mencionou meu nome antes de morrer?

 

Esta era a última coisa da Terra sobre o que Harry queria falar, e menos ainda com Cho.

 

- Bem, não - disse ele baixinho. - Não houve tempo para ele dizer nada. Er... Então... Você... Você viu muitos jogos de quadribol no feriado? Você torce pelos Tornados, certo?

 

Sua voz tinha um tom falsamente alegre. Para seu horror, ele viu que os olhos de Cho estavam se enchendo de lágrimas de novo, exatamente como acontecera na última reunião do ED antes do Natal.

 

- Olha - disse ele desesperadamente, inclinando-se muito para que ninguém mais pudesse ouvir -, não vamos falar sobre o Cedrico agora... Vamos falar sobre outra coisa.

 

Mas aparentemente isso não era a coisa certa a dizer.

 

- Eu pensei - ela disse, lágrimas escorrendo sobre a mesa. - Eu pensei que você entenderia! Eu preciso conversar sobre isso! Com certeza você também precisa! Quero dizer, você viu acontecer, não viu?

 

Tudo estava indo terrivelmente mal; até mesmo Rogério Davies se desgrudou de sua namorada para olhar para Cho chorando.

 

- Bom, eu já conversei sobre isso - Harry sussurrou -, com Rony e Hermione, mas...

 

- Ah, você conversou com a Hermione Granger! - disse ele com a voz aguda, seu rosto brilhando por causa das lágrimas.

 

Vários outros casais pararam de se beijar para ficar olhando.- Mas você não conversa comigo! Tá... Talvez fosse melhor se nós... Simplesmente p... Pagarmos e irmos embora para que você se encontre com a Hermione G... Granger, como você obviamente quer!

 

Harry ficou olhando para ela sem conseguir acreditar enquanto ela agarrava um guardanapo e enfiava o rosto nele.

 

- Cho? - disse ele baixinho, desejando que Rogério agarrasse e beijasse sua namorada para que ela parasse de olhar para ele e Cho.

 

- Vai logo embora! - disse ela, agora chorando no guardanapo. - Eu não sei por que você me convidou se vai ficar se encontrando com outras garotas depois de mim... Quantas mais você vai se encontrar depois de Hermione?

 

- Não tem nada a ver! - disse Harry e ele se sentiu tão aliviado por finalmente entender o porquê de ela ter ficado braba que deu uma risada, o que percebeu um segundo depois que também foi um erro.

 

Cho se levantou. O lugar inteiro estava em silêncio e todo mundo estava olhando para eles agora.

 

- A gente se vê por aí Harry - ela disse dramaticamente e correu para a porta, abrindo-a com força e indo para a chuva.

 

- Cho! - Harry a chamou mas a porta já tinha se fechado com um barulhão.

 

A casa de chá estava em silêncio total. Todos os olhos estavam voltados para Harry. Ele jogou um galeão na mesa,tirou o confeite rosa do cabelo e seguiu Cho para fora. Estava chovendo muito e não a achou em lugar nenhum. Simplesmente não entendia o que aconteceu; meia hora antes estavam se dando muito bem.

 

- Mulheres! - gemeu ele com raiva, cruzando a rua com as mãos no bolso. - Por que ela queria falar sobre o Cedrico? Por que ela sempre queria trazer um assunto que a fazia agir como uma torneira humana?

 

Ele virou à direita e começou a correr, em minutos chegou à porta do Três Vassouras. Sabia que era muito cedo para o encontro com Hermione mas pensou que ali poderia ter alguém com quem pudesse passar o tempo. Tirou o cabelo molhado dos olhos e olhou em volta. Hagrid estava sentado sozinho num canto, com uma cara triste.

 

- Oi, Hagrid! - disse ele enquanto se enfiava entre as mesas apertadas e puxava uma cadeira.

 

Hagrid deu um pulo e olhou para Harry como se mal o tivesse reconhecido. Harry viu que ele estava com dois cortes novos no rosto e vários outros machucados.

 

- Ah, é você Harry, tudo bem?

 

- Sim, tudo bem - mentiu Harry mas, se comparado ao abatido e machucado Hagrid, achou que não tinha muito do que reclamar. - Er...Você está bem?

 

- Eu? Ah sim, estou ótimo, Harry, ótimo.

 

Ele sorriu por cima de sua caneca, que era do tamanho de um grande balde, e suspirou. Harry não sabia o que dizer. Sentaram lado a lado por um momento. Então Hagrid disse abruptamente.

 

- Estamos no mesmo barco eu e você, não estamos, Harry?

 

- Er...

 

- Sim... Como eu já disse antes... Ambos intrusos - disse Hagrid, balançando a cabeça. - E ambos órfãos. Sim... Ambos órfãos - ele tomou um grande gole da sua caneca. - Faz uma grande diferença vir de uma família respeitável. Meu pai era decente. E seu pai e sua mão eram decentes. Se eles estivessem vivos a vida seria bem diferente, não acha?

 

- É... Acredito que sim - respondeu Harry com cautela. Hagrid estava agindo de modo estranho.

 

- Família - disse Hagrid tristemente -, não importa o que digam, sangue é importante...

 

E ele limpou uma lágrima de seu olho.

 

- Hagrid - disse Harry, não conseguindo se conter -, por que você está tendo todos estes machucados?

 

- Eh? - disse Hagrid, olhando assustado. - Que machucados?

 

- Todos estes! - disse Harry, apontando para o rosto do outro.

 

- Ah... são apenas cortes e machucados normais, Harry, meu trabalho é difícil.

 

Ele esvaziou sua caneca, afastou a mesa e se levantou.

 

- A gente se vê, Harry... Se cuida.

 

E ele saiu do bar parecendo acabado e desapareceu na chuva torrencial.

 

Harry o viu ir embora, sentindo-se mal. Hagrid estava infeliz e escondendo alguma coisa mas parecia determinado a não aceitar ajuda. O que será que estava acontecendo? Mas antes que Harry pudesse pensar mais sobre isso ele ouviu uma voz chamando seu nome.

 

- Harry! Harry, aqui!

 

Hermione estava acenando para ele do outro lado do bar. Ele se levantou e andou pelo bar lotado em direção a ela. Ainda estava a algumas mesas de distância quando percebeu que Hermione não estava sozinha. Estava sentada numa mesa com o par mais improvável de pessoas que ele pudesse imaginar: Luna Lovegood e ninguém menos do que Rita Skeeter, ex-jornalista do Profeta Diário e uma das pessoas que Hermione menos gostava neste mundo.

 

- Você chegou cedo! - disse Hermione, movendo-se para o lado para que Harry pudesse se sentar. - Eu pensei que você estivesse com a Cho, não estava te esperando por pelo menos mais uma hora!

 

- Cho? - disse Rita na hora, virando-se na cadeira para olhar avidamente para Harry. - Uma garota?

 

Ela abriu sua bolsa de pele de crocodilo e pegou algo.

 

- Não é da sua conta nem que Harry esteja com cem garotas - disse Hermione a Rita friamente. - Então você pode guardar isto agora.

 

Rita estava prestes usar sua pena-de-repetição-rápida no pergaminho. Com um olhar de como se tivesse que engolir uma bomba de bosta, ela fechou a bolsa.

 

- O que você está tramando? - perguntou Harry, sentando-se e olhando de Rita para Luna e Hermione.

 

- A senhorita perfeição aqui estava para me contar quando você chegou - disse Rita, tomando um grande gole de sua bebida. - Eu acredito que você vai permitir que eu fale com ele não é? - ela olhou para Hermione.

 

- Sim, eu acho que você pode - disse Hermione friamente.

 

O desemprego não fez bem a Rita. Seu cabelo, que antigamente era elaboradamente enrolado, agora estava solto e espalhado pelo seu rosto. As suas unhas de cor escarlate estavam lascadas e estavam faltando algumas pedrinhas do aro de seus óculos. Ela tomou outro grande gole de sua bebida e perguntou de canto da boca.

 

- Ela é bonita, Harry?

 

- Mais uma palavra sobre a vida amorosa de Harry e o acordo está acabado, estou te avisando - disse Hermione, irritada.

 

- Que acordo? - perguntou Rita, limpando a boca com a mão. - Você não mencionou o acordo ainda, senhorita perfeita, você apenas me disse para vir. Aí, um destes dias... - ela deu um grande suspiro.

 

- É, é, um destes dias você vai escrever mais histórias horríveis sobre Harry e eu - disse Hermione com indiferença. - Ache alguém que se importa, tá bom?

 

- Eles fizeram muitas histórias horríveis sobre o Harry sem minha ajuda - disse Rita, dando um olhar de lado para ele por cima dos óculos e depois perguntando num sussurro. - Como isso fez você se sentir, Harry? Traído? Mal entendido?

 

- Ele ficou com raiva, é claro - disse Hermione numa voz dura. - Porque ele disse a verdade ao Ministro da Magia mas ele é muito idiota para acreditar.

 

- Então você continua afirmando isso, que

 

Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado voltou? - perguntou Rita, abaixando os óculos e dando um olhar penetrante a Harry enquanto apertava os dedos no fecho da bolsa de crocodilo. - Você fica do lado de Dumbledore quanto a todas as baboseiras que ele tem dito sobre o retorno de Você-Sabe-Quem e você sendo a única testemunha?

 

- Eu não sou a única testemunha - resmungou Harry. - Havia uma dúzia de Comensais da Morte lá. Quer os nomes deles?

 

- Eu adoraria - suspirou Rita, enfiando a mão na bolsa novamente e sorrindo para ele como se fosse a coisa mais bonita que ela já viu. - Um título ousado: "Potter acusa..." Um sub-título, "Harry Potter diz quem são os Comensais da Morte ainda entre nós". E depois, embaixo de uma grande foto sua, "adolescente perturbado, sobrevivente do ataque de Você-Sabe-Quem, Harry Potter, 15, causou espanto ontem ao acusar respeitáveis e proeminentes membros da comunidade de bruxos de serem Comensais da Morte...".

 

A pena-de-repetição-rápida já estava na sua mão quando a expressão de felicidade no seu rosto desapareceu.

 

- Mas é claro - disse ela, baixando a pena e olhando braba para Hermione -, a senhorita perfeição não quer que esta história saia, não é?

 

- Na verdade - respondeu Hermione docemente - é exatamente o que a senhorita perfeição quer.

 

Rita ficou olhando para ela. Harry também. Luna, por outro lado, cantava "Weasley é o nosso rei" com sua voz sonhadora e mexia sua bebida de coquetel de cebola no palito.

 

- Você quer que eu divulgue o que ele disser sobre Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado? - perguntou Rita numa voz agitada.

 

- Sim, eu quero. A verdadeira história. Todos os fatos. Exatamente como Harry os dizer. Ele te dará todos os detalhes, dirá os nomes dos Comensais da Morte que viu lá, dirá qual é a aparência de Voldemort agora, ah, por favor - completou, jogando um guardanapo do outro lado da mesa porque ao som do nome de Voldemort Rita pulou tão alto que seus óculos caíram dentro do Firewhisky.

 

Rita limpou a frente de sua capa imunda, ainda encarando Hermione. Então ela disse secamente.

 

- O Profeta nunca publicará. Caso você não tenha notado, ninguém acredita nessa história maluca. Todo mundo pensa que ele é louco. Agora, se você me deixar escrever a história daquele ângulo...

 

- Nós não precisamos de outra história sobre a loucura do Harry! - respondeu nervosamente Hermione. - Já temos muitas destas, obrigada! Eu quero que você dê a ele a oportunidade de dizer a verdade!

 

- Não há mercado para uma história assim - disse Rita friamente.

 

- Você quer dizer que o Profeta Diário não publicará porque Fudge não deixa - disse irritada.

 

Rita deu a Hermione a um olhar longo e duro. Então, inclinando-se na cadeira em direção a ela, disse num tom de negociante.

 

- Tudo bem, Fudge está controlando o Profeta mas dá na mesma. Eles não publicarão uma história que mostre que Harry está certo. Ninguém quer ler sobre isto, vai contra o humor da população. Esta última fuga de Azkaban já deixou as pessoas preocupadas o suficiente. Ninguém quer acreditar que Você-Sabe-Quem retornou.

 

- Então o Profeta Diário existe para dizer as pessoas o que elas querem ouvir, não é?

 

Rita se arrumou na cadeira, suas sobrancelhas levantadas, e tomou o resto do seu Firewhisky.

 

- O Profeta existe para se vender, bobinha - disse friamente.

 

- Meu pai acha que é um péssimo jornal - disse Luna, entrando na conversa inesperadamente.

 

Bebendo seu coquetel de cebola, ela sorriu para Rita com seus enormes e ligeiramente loucos olhos.

 

- Ele publica histórias importantes que acredita que o público precisa saber. Ele não se importa com o dinheiro.

 

Rita deu um olhar desacreditado para Luna.

 

- Eu acho seu pai têm alguma estúpida revista local? Provavelmente, vinte e cinco maneiras de se misturar com trouxas e as datas da próxima feira de vassouras?

 

- Não, respondeu Luna, mergulhando sua cebola na bebida. -Ele é o editor do The Quibbler.

 

Rita grunhiu tão alto que algumas pessoas em mesas próximas olharam em volta preocupadas.

 

- Histórias importantes que ele acredita que o público precisa saber, é? Eu poderia usar aquela revistinha como adubo de jardim.

 

- Bom, esta é a sua chance de aumentar um pouco o nível, não é? - disse agradavelmente Hermione. - Luna disse que o pai dela aceitaria a entrevista com prazer. É assim que vamos publicá-la.

 

Rita olhou para ambas por um momento, depois soltou uma gargalhada.

 

- The Quibbler! - disse ela, rindo. - Você acredita que alguém vai levá-lo a sério se a matéria for publicada no The Quibbler?

 

- Algumas pessoas não - disse Hermione numa voz nivelada - mas a versão do Profeta sobre a fuga de Azkaban tinha alguns buracos. Eu acho que muitas pessoas devem estar imaginando por que não existe uma melhor explicação sobre o que aconteceu e se existir uma história alternativa, mesmo que seja publicada numa... - ela olhou de lado para Luna. - Numa... Bem, numa revista diferente... Acredito que elas fiquem interessadas em lê-la.

 

Rita não disse nada por um tempo mas fez uma cara feia para Hermione, sua cabeça pendendo para um lado.

 

- Tudo bem, vamos dizer por um momento que eu faria - disse ela abruptamente. - O que eu vou receber em troca?

 

- Eu não acredito que papai paga as pessoas para escrever para a revista - disse Luna com sua voz sonhadora. - Elas escrevem porque é uma honra e, é claro, para verem seus nomes impressos.

 

Rita Skeeter deu um olhar como se o gosto da bomba de bosta tivesse voltado enquanto se virava para Hermione.

 

- Eu devo fazer isso ou então?

 

- Bem, sim - disse Hermione calmamente, tomando um pouco de sua bebida. - Ou então, como você já sabe, eu informarei às autoridades que você é uma animaga não registrada. É claro, o Profeta pode te pagar muito mais por uma visão de como é a vida em Azkaban.

 

Rita deu um olhar de que nada mais agradaria a ela do que arrancar o guarda-chuvinha da bebida de Hermione e enfiar no nariz da menina.

 

- Eu não tenho escolha então, não é? - disse Rita, sua voz tremendo um pouco. Abriu a bolsa de crocodilo novamente, retirou um pedaço de pergaminho, e levantou sua pena-de-repetição-rápida.

 

- Papai ficará satisfeito - disse Luna animadamente. Um músculo da boca de Rita se contorceu.

 

- Ok, Harry? - disse Hermione, virando-se para ele. - Pronto para dizer ao público a verdade?

 

- Creio que sim - disse Harry, vendo Rita balançar a pena-de-repetição-rápida no pergaminho.

 

- Vamos lá então, Rita - disse Hermione serenamente, tirando um pedaço de cereja grudada nos óculos de Rita.

 

 

VISTOS E IMPREVISTOS

Luna disse vagamente que não sabia quando a entrevista de Rita com Harry apareceria na The Quibbler, que seu pai estava esperando um longo e agradável artigo sobre as recentes pontarias dos Snorkacks de Chifres Amassados - e, obviamente, essa seria uma matéria muito importante, então a de Harry poderia esperar pela próxima edição. Harry não tinha achado uma fácil experiência conversar sobre a noite em que Voldemort retornou. Rita o tinha pressionado para contar cada pequeno detalhe e tinha dado a ela tudo o que conseguia lembrar, sabendo que essa era a única grande oportunidade de contar ao mundo a verdade. Imaginou como as pessoas reagiriam à história. Supôs que confirmaria a muitas pessoas a visão de que ele era completamente maluco, especialmente porque a história apareceria junto com o completo lixo sobre Snorkacks de Chifres Amassados.

 

- Não posso esperar para ver o que Umbridge acha de você ter ido a público - disse Dino, soando espantado no jantar segunda à noite.

 

Simas estava engolindo grandes quantidades de galinha e torta de presunto do outro lado de Dino mas Harry sabia que ele estava ouvindo.

 

- É a coisa certa a fazer, Harry - disse Neville, que estava sentado do lado oposto dele. Estava bastante pálido mas continuou numa voz baixa. - Deve ter sido... Difícil... Falar sobre isso... Não foi?

 

- Sim - resmungou Harry - mas as pessoas têm que saber do que Voldemort é capaz, não têm?

 

- Isso é verdade - disse Neville, concordando -, e seus Comensais da Morte também... As pessoas devem saber...

 

Neville deixou sua frase no ar e retornou para suas batatas assadas. Simas olhou para cima mas quando encontrou os olhos de Harry olhou rapidamente de volta para seu prato. Depois de um tempo, Dino, Simas e Neville saíram para ir à sala comunal, deixando Harry e Hermione à mesa esperando por Rony, que ainda não tinha jantado devido ao treino de quadribol.

 

Cho Chang entrou no Salão Principal com sua amiga Marietta. O estômago de Harry deu uma guinada desconfortável mas ela não olhou para a mesa da Grifinória e se sentou de costas para ele.

 

- Ah, eu esqueci de te perguntar - disse Hermione alegremente, olhando para a mesa da Corvinal. - O que aconteceu no seu encontro com Cho? Por que você voltou tão cedo?

 

- Er... bom, foi... - disse Harry, puxando uma travessa de ruibarbo esfarelado em direção a ele e poupando alguns segundos - um completo fiasco, agora que você mencionou.

 

Ele contou a ela tudo o que aconteceu na loja de chá da Madame Puddifoot.

 

- ...então - ele terminou muitos minutos depois, assim que o último pedaço esfarelado desapareceu - ela levantou imediatamente e disse "Eu te vejo por aí, Harry" e correu para fora do lugar -abaixou sua colher e olhou para Hermione. - Eu quero dizer, o que foi tudo aquilo? O que aconteceu?

 

Hermione olhou para a cabeça de Cho e suspirou.

 

- Ah, Harry - disse tristemente. - Bom, me desculpe mas você foi um pouco sem jeito.

 

- Eu, sem jeito? - disse Harry, indignado. - Em um minuto nós estávamos nos dando bem, no próximo minuto ela estava me dizendo que Rogério Davies a convidou para sair e como ela costumava ir e beijar Cedrico naquela estúpida loja de chá... Como eu deveria me sentir sobre isso?

 

- Bem, veja - disse Hermione, com o ar paciente de alguém explicando que um mais um são dois para uma criança extremamente emocional. - Você não deveria ter dito a ela que queria me ver no meio do seu encontro.

 

- Mas, mas - gaguejou Harry -, mas... Você disse pra eu te encontrar ao meio-dia e levá-la junto, como eu faria isso sem dizer pra ela?

 

- Você deveria ter contado a ela de um modo diferente - disse Hermione ainda com aquele irritante ar paciente. - Você deveria ter dito que seria realmente irritante mas que eu fiz você prometer ir ao Três vassouras e que você realmente não queria ir, porque você preferia muito mais passar o dia inteiro com ela mas infelizmente você achava que de fato deveria me encontrar e se ela poderia, fazendo o maior favor, ir com você e assim você poderia ir embora mais rápido. E teria sido uma boa idéia mencionar o quanto você me acha feia também - Hermione acrescentou como conclusão.

 

- Mas eu não acho que você é feia - disse Harry, perplexo. Hermione riu.

 

- Harry, você é pior que o Rony... Bem, não, você não é - ela suspirou assim que Rony entrou andando no Salão borrifando lama e parecendo que estava resmungando. - Veja, você irritou a Cho quando disse que se encontraria comigo, então ela tentou fazer você sentir ciúmes. Foi o jeito que ela arrumou para tentar descobrir o quanto você gosta dela.

 

- Era isso que ela estava fazendo? - disse Harry enquanto Rony caia de cansaço no banco do lado oposto dele e puxava cada travessa de comida que podia alcançar em direção a si. - Bom, não teria sido mais fácil se ela apenas me perguntasse se eu gostava mais dela do que de você?

 

- Garotas geralmente não fazem perguntas como essa - disse Hermione.

 

- Mas elas deveriam! - disse Harry com vigor. - Então eu poderia ter dito a ela que eu gosto dela e ela não voltaria ao assunto da morte de Cedrico de novo!

 

- Eu não estou dizendo que o que ela fez foi sensato - disse Hermione enquanto Gina se juntava a eles, cheia de lama como Rony e parecendo igualmente descontente. - Eu só estou tentando fazer você ver como ela estava se sentindo no momento.

 

- Você deveria escrever um livro - Rony disse a Hermione enquanto cortava suas batatas -, traduzindo garotas malucas para que os garotos possam entendê-las.

 

- É - disse Harry ardentemente, olhando para a mesa da Corvinal. Cho tinha acabado de levantar, e, ainda não olhando para ele, saiu do Salão Principal. Sentindo-se muito deprimido, ele olhou de volta para Rony e Gina. - Então, como foi o treino de quadribol?

 

- Foi um pesadelo - disse Rony numa voz rudemente.

 

- Ah, fala a verdade - disse Hermione olhando para Gina -, tenho certeza que não foi assim...

 

- Sim, foi - disse Gina. - Foi horrível.

 

Angelina estava quase em lágrimas quando terminou. Rony e Gina foram tomar banho depois do jantar; Harry e Hermione retornaram para a ocupada sala comunal da Grifinória e para a usual pilha de dever de casa. Harry estava se esforçando um novo diagrama de estrelas para a aula de Astronomia por meia hora quando Fred e Jorge apareceram.

 

- Rony e Gina não estão aqui? - perguntou Fred, olhando em volta enquanto puxava uma cadeira, quando Harry balançou a cabeça. - Ótimo. Nós estávamos vendo o treino deles. Eles serão massacrados. São um completo lixo sem nós.

 

- Fala sério, a Gina não é ruim - disse Jorge honestamente, sentando-se ao lado de Fred. - Na verdade eu imagino como ela consegue jogar tão bem, olhando o fato de que nós nunca a deixamos jogar conosco.

 

- Ela tem entrado no lugar onde vocês guardam as vassouras no jardim desde que tinha seis anos e pegado cada uma de suas vassouras quando vocês não estavam olhando - disse Hermione atrás de sua cambaleante pilha de livros de Runas Antigas.

 

- Ah, disse Jorge, parecendo um tanto quanto impressionado. - Bom... Isso explica então.

 

- Rony já consegue defender? - perguntou Hermione, olhando através do topo de Mágicos Hieroglifos e Logogramas.

 

- Bem, ele consegue fazer isso se pensar que ninguém o está vendo - disse Fred, rolando seus olhos. - Então, tudo o que nós temos que fazer é pedir para o público virar de costas e conversar entre eles cada vez que a goles chegar até ele no sábado.

 

Ele se levantou e foi cheio de cansaço até a janela, olhando através dos campos escuros.

 

- Vocês sabem, quadribol é a única coisa nesse lugar pela qual vale a pena ficar.

 

Hermione deu a ele um olhar severo.

 

- Vocês têm os exames chegando!

 

- Já te disse, nós não nos preocupamos com os N.I.E.M.s - disse Fred. - As Snackboxes já estão prontas para serem vendidas, nós descobrimos como nos livrar daqueles furúnculos, apenas duas pastilhas de essência de murtisco acabam com eles, Lino descobriu isso pra nós.

 

Jorge bocejou abertamente e olhou desconsoladamente para a noite de céu nublado.

 

- Eu me pergunto se eu realmente quero ver esta partida. Se Zacharias Smith nos derrotar eu terei que me matar.

 

- Mate-o, seria mais apropriado - disse Fred firmemente.

 

- Esse é o problema com quadribol - disse Hermione distraidamente, mais uma vez atrás das sua tradução de Runas -, cria todo esse sentimento ruim e de tensão entre as casas.

 

Ela olhou em volta para procurar sua cópia de Resumo do Feitiço do Homem e pegou Fred, Jorge e Harry olhando para ela com expressões de claro desprezo e de incredulidade nos seus rostos.

 

- Cria sim! - disse impacientemente. - É apenas um jogo, não é?

 

- Hermione - disse Harry, sacudindo a cabeça -, você é boa com sentimentos e outras coisas, mas simplesmente não entende nada sobre quadribol.

 

- Talvez não - disse perversamente, voltando para a tradução - mas afinal a minha felicidade não depende da habilidade de goleiro de Rony.

 

E apesar de Harry preferir pular da Torre de Astronomia a admitir para ela quando assistiu ao jogo no sábado seguinte, ele teria dado qualquer quantidade de galeões para também não se importar com quadribol. A melhor definição que poderia ser dada sobre a partida é que foi curta; os expectadores da Grifinória tiveram que agüentar apenas vinte e dois minutos de agonia. Era difícil dizer o que de pior aconteceu: Harry achou que era uma competição acirrada entre a décima quarta falha de Rony, Sloper errando o balaço mas acertando Angelina na boca como taco e Kirke tremendo e caindo para trás da sua vassoura quando Zacharias Smith voou rapidamente carregando a goles. O milagre foi que a Grifinória perdeu por somente dez pontos: Gina conseguiu agarrar o pomo bem debaixo do nariz de Summerby, apanhador da Lufa-lufa, então o placar final foi de 240 a 230.

 

- Boa pegada - Harry disse a Gina quando eles voltaram à sala comunal, onde a atmosfera que lembrava um triste funeral.

 

- Eu tive sorte - ela encolheu os ombros -, não era um pomo muito rápido e Summerby estava resfriado, ele espirrou e fechou os olhos exatamente no momento errado. De qualquer forma, quando você estiver de volta ao time...

 

- Gina, me deram uma proibição que vale pela vida inteira.

 

- Você está proibido de jogar enquanto Umbridge estiver na escola - disse Gina, corrigindo-o. - Há uma diferença. De qualquer maneira, quando você estiver de volta eu acho que vou fazer teste para ser artilheira. Angelina e Alicia sairão no próximo ano e eu prefiro marcar gols a pegar o pomo, de qualquer forma.

 

Harry olhou para Rony, que estava curvado em um canto, olhando para seus joelhos, uma garrafa de cerveja amanteigada estava apertada nas mãos.

 

- Angelina ainda não o deixa desistir - Gina disse como se estivesse lendo a mente de Harry. - Ela disse que sabe que ele tem o dom dentro dele.

 

Harry gostava de Angelina pela fé que ela estava demonstrando ter em Rony mas ao mesmo tempo ele achava que seria muito gentil deixá-lo sair do time. Rony tinha deixado o campo com outro estrondoso refrão de "Weasley é o nosso rei", cantado com muito gosto pelos sonserinos, que agora eram os favoritos a ganhar a Taça de Quadribol. Fred e Jorge andavam distraidamente.

 

- Eu nem tenho coração para tirar a razão dele - disse Fred, olhando para a figura encolhida de Rony. - Veja bem, quando ele deixou escapar o décimo quarto - ele fez movimentos bruscos com seus braços como se estivesse fazendo um movimento vertical. - ...eu guardarei isso para as festas, é?

 

Rony se arrastou para a cama logo depois disso. Respeitando os sentimentos dele, Harry esperou um pouco antes de subir para o dormitório, para que Rony pudesse fingir que estava dormindo se ele quisesse. Certo disso, quando Harry finalmente entrou no quarto, Rony estava roncando um pouco alto demais para parecer inteiramente convincente.

 

Harry foi para a cama pensando sobre a partida. Foi imensamente frustrante assisti-la como expectador. Estava muito impressionado com a performance de Gina mas sabia que se estivesse jogando poderia ter pegado o pomo mais cedo... Houve um momento em que estava batendo suas asas perto do tornozelo de Kirke; se Gina não tivesse hesitado ela poderia ter sido capaz de conseguir uma vitória para a Grifinória.

 

Umbridge estava sentada a poucas fileiras de Harry e Hermione. Uma ou duas vezes ela tinha virado em seu assento para olhá-lo, sua grande boca de sapo se alargou no que ele pensou que fosse um sorriso de coaxar. A memória disso o fez se sentir quente, com raiva, enquanto deitava na escuridão. Depois de alguns minutos, no entanto, lembrou que deveria estar esvaziando a mente de todas as emoções antes de dormir, como Snape continuava instruindo ele no final de cada aula de Oclumancia.

 

Tentou por um ou dois minutos mas o pensamento em Snape e as lembranças de Umbridge apenas fizeram aumentar o seu ressentimento e percebeu que estava enfocando o quanto abominava os dois. Lentamente os roncos de Rony morreram para serem substituídos pelo som de profunda e lenta respiração.

 

Levou muito tempo para Harry dormir; o corpo estava cansado mas levou muito tempo para seu cérebro se fechar. Sonhou que Neville e a professora Sprout estavam valsando em volta da Sala do Requerimento enquanto a professora McGonagall tocava gaita de foles. Ele os observou alegremente durante um tempo, então decidiu encontrar outros membros do ED. Mas quando deixou a sala se viu olhando não para a tapeçaria de Barnabas, o Maluco, mas para uma tocha queimando no seu gancho na parede de pedra. Virou sua cabeça lentamente para a esquerda. Ali, no final da passagem sem janelas, estava uma lisa e escura porta. Andou em direção a ela com uma sensação de grande excitação. Tinha a estranha impressão de que dessa vez teria sorte finalmente e encontraria o modo como abri-la...

 

Estava perto dela e viu com um salto de alegria que havia uma fraca luz azul e brilhante do lado direito... A porta estava entreaberta... Esticou sua mão para empurrá-la e abri-la e- Rony deu um alto, estridente, genuíno ronco e Harry acordou abruptamente com a mão esticada na frente dele na escuridão, para abrir uma porta que estava a milhares de quilômetros dali. Ele a deixou cair com uma sensação de claro desapontamento e culpa. Sabia que não deveria ter visto a porta mas ao mesmo tempo se sentia tão consumido por curiosidade sobre o que havia atrás da porta que não podia deixar de se sentir irritado com Rony... Se apenas pudesse ter guardado esse ronco por mais um minuto.

 

Entraram no Salão Principal para o café da manhã no exato momento em que as correspondências das corujas chegaram, segunda pela manhã. Hermione não era a única pessoa esperando ansiosamente pelo Profeta Diário: quase todos estavam ansiosos para receber mais notícias sobre a fuga dos Comensais da Morte, que apesar dos muitos avisos noticiados ainda não tinham sido pegos.

 

Ela deu à coruja um nuque e desembrulhou o jornal impacientemente enquanto Harry se servia suco de laranja; como ele só tinha recebido apenas uma carta durante o ano inteiro tinha certeza de que quando a primeira coruja pousou com um ruído surdo à sua frente ela tinha cometido um erro.

 

- Quem você está procurando? - ele perguntou a ela, lentamente removendo o suco de laranja que estava debaixo do bico dela e se inclinando para frente para ver o nome e o endereço do destinatário:

 

Harry Potter

Salão Principal

Escola Hogwarts

 

Zangado, ele pegou a carta da coruja mas antes que ele pudesse fazer isso mais três, quatro, cinco corujas tinham pousado ao lado da primeira e estavam brigando por posição, andando na manteiga e derrubando o sal enquanto cada uma delas tentavam ser a primeira a entregar a carta para ele.

 

- O que está acontecendo? - Rony perguntou abismado enquanto a mesa da Grifinória inteira se aproximava para observar e outras sete corujas pousavam entre as primeiras, gritando, piando e sacudindo suas asas.

 

- Harry - disse Hermione, ofegante, afundando as mãos no monte de penas e puxando uma coruja estridente que carregava um longo e cilíndrico pacote. - Eu acho que sei o que isso significa... Abra essa primeiro.

 

Harry abriu o pacote marrom. Dele rolou cópia amarrada da edição de março da The Quibbler. Abriu o pacote e viu seu próprio rosto sorrindo timidamente para ele na frente da capa. Com grandes letras vermelhas em volta de sua foto estavam as palavras: HARRY POTTER FINALMENTE FALA: A VERDADE SOBRE AQUELE-QUE-NÃO-DEVE-SER-NOMEADO E A NOITE EM QUE EU VI SEU RETORNO.

 

- Está bom, não é? - disse Luna, que tinha ido até a mesa da Grifinória e se espremeu no banco entre Fred e Rony. - Chegou ontem, eu pedi para o meu pai enviar pra você uma cópia grátis. Eu esperava tudo isso - ela moveu uma mão para as várias corujas que ainda estavam piando em volta da mesa na frente de Harry -, são cartas dos leitores.

 

- Foi o que eu pensei - disse Hermione ansiosamente. - Harry, você se importa se nós...?

 

- Fiquem à vontade - disse Harry, sentindo-se um pouco perplexo.

 

Rony e Hermione começaram a abrir os envelopes.

 

- Essa aqui é de um sujeito que pensa que você está em crise - disse Rony, olhando para a carta.

 

- Ah, bem...

 

- Essa é de uma mulher que recomenda que você faça um bom curso de Feitiços Chocantes em St Mungus - disse Hermione, parecendo desapontada e abrindo uma segunda carta.

 

- Essa parece ok, de qualquer forma - disse Harry, examinando lentamente uma longa carta de uma bruxa de Paisley. - Ela diz que acredita em mim!

 

- Essa tem dois pontos de vista - disse Fred, que tinha se juntado a todos para abrir as cartas com entusiasmo. - Diz que você não se tornou uma pessoa louca mas ele realmente não quer acreditar que Você-Sabe-Quem está de volta, então ele não sabe o que pensar agora. Ridículo, que perda de pergaminho.

 

- Aqui tem outra pessoa que você convenceu, Harry! - disse Hermione, empolgada. - "Eu li o seu lado da história e sou forçado a concluir que o Profeta Diário tem tratado você muito injustamente... Com um pouco de dificuldade quero pensar que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado retornou, sou forçado a acreditar que você está dizendo a verdade...." Oh, isso é maravilhoso!

 

- Outra pessoa que pensa que você está latindo - disse Rony, jogando uma carta amassada por cima do seu ombro. - ...Mas essa aqui diz que você conseguiu convencê-la e agora ela acha que você é um herói-ela mandou uma foto também, uau!

 

- O que está acontecendo aqui?- disse uma falsa, feminina e doce voz. Harry olhou pra cima com as mãos cheias de envelopes. A professora Umbridge estava atrás de Fred e Luna, seus olhos saltados de sapo olhando a bagunça de corujas e cartas na mesa em frente a Harry. Atrás dela, viu muitos alunos os observando avidamente. - Por que você recebeu todas essas cartas, Potter? -perguntou lentamente.

 

- Isso é um crime agora? - disse Fred com a voz alta. - Receber correspondências?

 

- Tome cuidado, Sr. Weasley, ou eu terei que colocá-lo em detenção - disse Umbridge. - Bem, Sr, Potter?

 

Harry hesitou mas não sabia como poderia manter o que fizera em segredo; certamente era uma questão de tempo até que uma cópia da The Quibbler chegasse à atenção de Umbridge.

 

- As pessoas me escreveram porque eu dei uma entrevista - disse Harry. - Sobre o que aconteceu comigo no último mês de julho.

 

Por alguma razão ele olhou para a mesa dos professores enquanto dizia isso. Harry tinha a estranha sensação que Dumbledore o estava observando um segundo antes mas quando ele olhou para o diretor ele parecia estar numa conversa envolvente com o professor Flitwick.

 

- Uma entrevista? - repetiu Umbridge, sua voz estava mais alta e fina do que nunca. - O que você quer dizer?

 

- Eu quero dizer que uma repórter fez perguntas e eu as respondi - disse Harry. - Aqui - e ele entregou a cópia de The Quibbler para ela.

 

Ela pegou e observou a capa. Seus rosto pálido se tornou feio e com uma cor violeta irregular.

 

- Quando você fez isso? - perguntou, sua voz tremendo ligeiramente.

 

- No último final de semana em Hogsmeade.

 

Ela o olhou, incandescente com raia, a revista sacudindo nos seus dedos curtos.

 

- Não haverá mais visitas a Hogsmeade pra você, Sr. Potter - sussurrou. - Como você ousou... Como você pôde... - respirou profundamente. - Eu tentei ensinar você várias vezes a não contar mentiras. A mensagem, aparentemente, ainda não entrou na sua cabeça. Cinqüentas pontos da Grifinória e mais outra semana de detenções.

 

Ela andou altivamente, apertando a The Quibbler contra seu peito, os olhos de vários alunos a estavam seguindo. No meio da manhã enormes avisos foram colocados por toda a escola, não apenas nos quadro de avisos das casas mas também nos corredores e nas salas de aula.

 

POR ORDEM DA INQUISITORA DE HOGWARTS

 

Qualquer aluno que for encontrado com a posse da revista The Quibbler será expulso. O que está escrito acima está de acordo com o Decreto Educacional Número Vinte e Sete.

 

Assinado: Dolores Jane Umbridge, Inquisitora.

 

Por alguma razão, toda vez que Hermione via um desses avisos ela ria com prazer.

 

- Qual é o exato motivo pelo qual você está feliz? - Harry perguntou a ela.

 

- Ah, Harry, você não vê? - Hermione respirou. - Se ela poderia ter feito alguma coisa para ter certeza absoluta de que cada pessoa na escola lerá sua entrevista foi proibindo isso!

 

E parece que Hermione estava certa. No final do dia, apesar de Harry não ter visto mais uma cópia de The Quibbler em nenhum lugar da escola, todos pareciam estar falando da entrevista uns para os outros. Harry os ouviu sussurrar sobre isso enquanto formavam filas fora das salas de aula, discutindo durante o almoço e as lições, e Hermione até disse que cada ocupante dos boxes nos banheiros femininos estavam conversando sobre a entrevista quando saiu por um momento da aula de Runas Antigas.

 

- Elas me encontraram e obviamente sabem que eu conheço você, então elas me bombardearam com perguntas - Hermione contou a Harry, seus olhos estavam brilhando. - E Harry, eu realmente acho que elas acreditam em você. Acho que finalmente você as convenceu!

 

Enquanto isso, a professora Umbridge estava andando pela escola, parando os alunos e ordenando que eles mostrassem seus livros e bolsos: Harry sabia que ela estava procurando por cópias da The Quibbler mas os alunos estavam a muitos passos longe dela. As páginas carregando a entrevista de Harry foram enfeitiçadas para parecer pedaços de anotações dos livros de textos se qualquer pessoas os lessem a não ser quem os enfeitiçou ou também ficavam magicamente brancas até que eles quisessem lê-la de novo. Logo pareceu que cada pessoa na escola tinha lido. Os professores estavam obviamente proibidos de mencionar a entrevista de acordo com o Decreto Educacional Número Vinte e Seis mas encontraram maneiras de expressar aquilo que estavam sentindo sobre tudo.

 

A professora Sprout concedeu vinte pontos a Grifinória quando Harry passou a ela um vaso com água; um sorridente professor Flitwick pressionou uma caixa de ratos de açúcar guinchantes no Harry no final da aula de Feitiços, disse.

 

- Shh! - e se apressou.

 

A professora Trelawney começou a dar soluções histéricos durante a aula de Adivinhação e anunciou para a sala sobressaltada e para uma Umbridge com um ar de muita censura que Harry não sofreria de uma morte prematura apesar de tudo mas viveria até ficar muito velho, tornar-se-ia Ministro da Magia e teria doze filhos.

 

Mas o que deixou Harry mais feliz foi Cho o parando enquanto se apressava para a aula de Transfiguração no dia seguinte. Antes de ele ter percebido o que aconteceu, a mão dela estava na dele e ela estava sussurrando em seu ouvido dele.

 

- Eu realmente sinto muito. Aquela entrevista foi um ato tão corajoso... Me fez chorar.

 

Ele ficou chateado em ouvir que ela gastou mais lágrimas em cima da entrevista mas ficou muito feliz por eles estarem se falando novamente e mais feliz ainda quando ela deu um beijo rápido no rosto dele e correu de novo. E, inacreditavelmente, tão logo que ele chegou na sala de aula de Transfiguração uma coisa tão boa quanto o seu encontro com Cho aconteceu: Simas parou na fila e  o encarou.

 

- Eu só queira dizer - disse ele, murmurando, olhando para o joelho esquerdo de Harry. - Eu acredito em você. E eu mandei uma cópia da revista para a minha mãe.

 

Se mais alguma coisa seria necessária para completar a felicidade de Harry foi a reação de Malfoy, Crabbe e Goyle, ele os viu com suas cabeças juntas aquela tarde na biblioteca; estavam com um garoto que parecia covarde o qual Hermione disse que se chamava Theodore Nott. Eles olharam para Harry enquanto ele procurava nas prateleiras o livro que ele precisava para o Desaparecimento Parcial: Goyle estralou seus dedos ameaçadoramente e Malfoy disse alguma coisa sem dúvida ruim para Crabbe. Harry sabia perfeitamente bem o motivo pelo qual eles estavam agindo desse jeito: ele tinha nomeado seus pais como Comensais da Morte.

 

- E a melhor parte - sussurrou Hermione, eufórica enquanto eles saiam da biblioteca - é que eles não podem contradizer você porque eles não podem admitir que leram o artigo!

 

Para completar, Luna disse a ele durante o jantar que nenhuma edição da The Quibbler tinha sido vendida tão rápido.

 

- Meu pai está reimprimindo! - ela disse a Harry, seus olhos estavam estalando com entusiasmo. - Ele não consegue acreditar, disse que as pessoas estão mais interessadas nisso do que nos Snorkacks com chifre amassados!

 

Harry era o herói na sala comunal da Grifinória naquela noite. Ousadamente, Fred e Jorge tinham colocado Um Feitiço de Ampliação na capa da The Quibbler e penduraram na parede, então a cabeça gigante de Harry olhava para a sala, ocasionalmente dizendo coisas como O MINISTÉRIO É IMBECIL e COMA BOSTA, UMBRIDGE numa voz estrondosa. Hermione não achou isso muito interessante; disse que interferia na sua concentração e ela acabou indo pra cama mais cedo, cheia de raiva. Harry tinha que admitir que o pôster não era tão engraçado depois de uma ou duas horas, especialmente quando o feitiço para falar tinha começado a falhar, então mal gritava palavras desconectas como BOSTA e UMBRIDGE em intervalos mais e mais freqüentes em uma voz progressivamente alta.

 

De fato, isso vez com que sua cabeça começasse a doer e sua cicatriz começou a alfinetar desconfortavelmente de novo. Para o desapontamento e queixas das muitas pessoas que estavam sentadas em volta dele, pedindo contar e entrevista pela milionésima vez, ele disse que também precisava ir pra cama mais cedo.

 

O dormitório estava vazio quando chegou. Descansou sua testa por um momento no vidro da janela ao lado da cama; que pareceu atirar contra sua cicatriz. Então se despiu e foi pra cama, desejando que a dor de cabeça fosse embora. Também se sentiu levemente doente. Ele se virou, fechou os olhos e dormiu quase que imediatamente...

 

Estava na escuridão, num quarto com cortinas iluminado por apenas algumas velas. Suas mãos estavam segurando as costas de uma cadeira à sua frente. Elas tinham dedos longos e brancos como se não tivessem visto a luz do sol por anos e pareciam pálidas e grandes aranhas contra a escuridão aveludada da cadeira. Atrás da cadeira, num fecho de luz lançado sobre o chão pelas velas, um homem com vestes pretas estava ajoelhado.

 

- Parece que eu fui mal aconselhado - disse Harry numa voz alta e fria que pulsava com raiva.

 

- Mestre, eu imploro seu perdão - coaxou o homem ajoelhado no chão. As costas da sua cabeça estavam trêmula à luz de velas. Ele parecia estar tremendo.

 

- Eu não culpo você, Rookwood - disse Harry numa voz fria e cruel. Ele soltou sua mão na cadeira e andou em volta dela, perto do homem encolhido no chão, até que ficou na frente do homem na escuridão, olhando para estatura muito maior do que o usual. - Você tem certeza dos seus fatos, Rookwood?

 

- Sim, meu senhor, sim... Eu trabalhava no Departamento depois... Depois de tudo...

 

- Avery me contou que Bode seria capaz de removê-la.

 

- Bode nunca a poderia ter pegado, Mestre... Bode sabia que ele não poderia... Sem dúvida, esse é o motivo pelo qual ele lutou tanto contra a Maldição Imperius do Malfoy...

 

- Levante-se, Rookwood - sussurrou Harry.

 

O homem ajoelhado quase caiu e se desequilibrou para obedecer. Seu rosto estava marcado; as cicatrizes foram projetadas em relevo pela luz de velas. Ele permaneceu um pouco parado quando se levantou, como se estivesse no meio caminho de uma referência e deu olhares aterrorizados ao rosto de Harry.

 

- Você fez bem em ter me contado isso - disse Harry. - Muito bem... Eu gastei meses em planos sem resultado, parece que... Mas não importa... Nós começaremos novamente, à partir de agora. Você tem a gratidão de Lord Voldemort, Rookwood...

 

- Meu senhor... Sim, meu senhor - engasgou Rookwood, sua voz rouca com alívio.

 

- Eu precisarei da sua ajuda. Eu precisarei de toda a informação que você puser me fornecer.

 

- Claro, meu senhor, claro... Qualquer coisa...

 

- Muito bem, você pode ir. Mande Avery para mim.

 

Rookwood correu apressadamente pra trás, curvando-se, e desapareceu através da porta, deixado sozinho no escuro quarto, Harry se virou em direção à parede. Um espelho quebrado e antigo estava pendurado na parede nas sombras. Harry se moveu em direção a ele. O seu reflexo foi ficando maior e mais claro na escuridão... Um rosto mais branco que um crânio... Olhos vermelhos com cortes no lugar de pupilas...

 

- NÃOOOOOOOOO!

 

- Que foi? - gritou uma voz que estava próxima.

 

Harry arfou loucamente, estava enrolado nas cobertas e caiu da cama. Por alguns segundos não sabia onde estava; estava convencido de veria o branco crânio olhando ameaçadoramente para ele na escuridão outra vez, então muito próximo a ele a voz de Rony falou.

 

- Você vai parar de agir como um maníaco para eu poder tirar você daqui?

 

Rony puxou as cobertas e Harry o olhou na luz da lua, deitou de costas, sua cicatriz ardendo em dor. Rony pareceu como se estivesse se arrumando para ir pra cama; uma braço estava fora das suas vestes.

 

- Alguém foi atacado de novo? - perguntou, puxando Harry asperamente de pé. - Foi meu pai? Foi a cobra?

 

- Não, todos estão bem - engasgou Harry, que sentia como se sua testa estivesse no fogo. - Bem... Avery não está... Ele está com problemas... Deu a ele a informação errada... Voldemort está com muita raiva...

 

Harry gemeu e se abaixou, tremendo na sua cama, esfregando sua cicatriz.

 

- Mas Rookwood vai ajudá-lo agora... Ele está na pista certa de novo.

 

- Do que você está falando? - disse Rony, soando assustado. - Você quer dizer que... Você acabou de ver Você-Sabe-Quem?

 

- Eu era Você-Sabe-Quem - disse Harry e estendeu suas mãos na escuridão, segurou seu rosto, para checar, não tinham mais brancos, mortais e longos dedos. - Ele estava com Rockwood, ele é um dos Comensais da Morte que escapou de Azkaban, lembra? Rockwood acabou de contar pra ele que Bode não poderia ter feito.

 

- Feito o quê?

 

- Remover alguma coisa... Ele disse que Bode sabia que não poderia ter feito isso... Bode estava sob a Maldição Imperius... Eu acho que ele disse que o pai do Malfoy a colocou nele.

 

- Bode estava enfeitiçado para remover alguma coisa? Mas, Harry, isso tem que ser...

 

- A arma - Harry terminou a frase para ele. - Eu sei.

 

A porta do dormitório se abriu; Dino e Simas entraram. Harry colocou suas pernas de volta na cama. Ele não queria demonstrar que nada estranho tinha acabado de acontecer, vendo que Simas tinha parado de pensar que Harry era um maluco.

 

- Você disse - murmurou Rony, colocando sua cabeça perto da de Harry com o pretexto de se servir de água da jarra que estava na mesa ao lado da sua cama - que você era Você-Sabe-Quem?

 

- É - disse Harry com a voz baixa.

 

Rony tomou um grande e desnecessário gole de água; Harry viu a água cair do seu queixo até o peito.

 

- Harry - ele disse enquanto Dino e Simas andavam em volta fazendo barulho, tirando suas vestes e conversando -, você tem que contar...

 

- Eu não tenho que contar pra ninguém - disse Harry brevemente. - Eu não teria visto nada disso se eu pudesse fazer Oclumancia. Eu deveria ter aprendido a fechar essas coisas. Isso é o que eles querem.

 

Por "eles" ele queria dizer Dumbledore. Voltou para a cama e se virou para o lado com as costas para Rony, depois de um tempo ele ouviu o colchão de Rony estalando enquanto ele, também, se deitava. A cicatriz de Harry começou a queimar; bateu com força no seu travesseiro para parar de fazer barulho. Em algum lugar, sabia, Avery estava sendo punido.

 

Harry e Rony esperaram até a manhã seguinte para contar a Hermione exatamente o que tinha acontecido; queriam ter certeza absoluta que não poderiam ser ouvidos. Sentados no usual canto fresco e arejado do salão, Harry contou a ela cada detalhe do sonho que ele poderia lembrar. Quando terminou ela não disse nada por alguns momentos mas olhou um tipo de intensidade cheia de dor para Fred e Jorge, que estavam sem cabeça e vendendo seus chapéus mágicos debaixo de suas capas do outro lado do salão.

 

- Então é por isso que eles o mataram - ela disse em silêncio, tirando finalmente seu olhar de Fred e Jorge. - Quando Bode tentou roubar a arma alguma coisa esquisita aconteceu com ele. Eu acho que pode ter feitiços de defesa nela ou em volta dela, para impedir que as pessoas a toquem. Esse é o motivo pelo qual ele estava em St. Mungus, o cérebro dele ficou todo estranho e ele não podia falar. Mas vocês se lembram o que o medi-bruxo nos contou? Ele estava se recuperando. E eles não podiam arriscar que ele ficasse melhor, não é? Quero dizer, o choque do que aconteceu quando ele tocou aquela arma provavelmente fez a Maldição Imperius sair dele. Uma vez que ele conseguisse sua voz de volta ele explicaria o que esteve fazendo, não é? Eles saberiam que ele foi mandado para roubar a arma. É claro, teria sido fácil para Lúcio Malfoy colocara a maldição nele. Nunca deixa o Ministério, não é?

 

- Ele estava andando por lá até no dia da minha audiência - disse Harry. - No... Espera um pouco... - disse lentamente. - Ele estava no corredor do Departamento de Mistérios naquele dia! Seu pai disse que ele estava provavelmente tentando espionar e descobrir o que aconteceu na minha audiência, mas se...

 

- Sturgis - gritou Hermione, parecendo chocada.

 

- Como? - disse Rony, parecendo confuso.

 

- Sturgis Podmore... - disse Hermione ofegante. - Preso por tentar arrombar uma porta! Lúcio Malfoy deve ter pegado ele também! Eu aposto que ele fez isso no dia que você o viu lá, Harry. Sturgis tinha a capa de invisibilidade de Moody, certo? Então, e se ele estava guardando a porta, invisível, e Malfoy o ouviu se mexer, ou adivinhou que alguém estava ali, ou apenas executou a Maldição Imperius na possibilidade de haver alguém ali guardando? Então, na próxima vez que Sturgis teve uma oportunidade, provavelmente na mudança de turno como guarda, ele tentou entrar no Departamento para roubar a arma para Voldemort, Rony, fica quieto, mas ele foi pego e mandado para Azkaban... - ela olhou para Harry. - E agora Rockwood contou a Voldemort como pegar a arma?

 

- Eu não ouvi a conversa inteira mas foi o que pareceu - disse Harry. - Rockwood trabalhava lá... Talvez Voldemort mande Rockwood para fazer isso?

 

Hermione concordou, aparentemente perdida em pensamentos. Então, quase que abruptamente, ela disse.

 

- Mas você não deveria ter visto tudo isso, Harry.

 

- O quê? - ele disse, afastando-se para trás.

 

- Você deveria estar aprendendo como fechar sua mente para esse tipo de coisa - disse Hermione, parecendo rude de repente.

 

- Eu sei que eu deveria - disse Harry. - Mas...

 

- Bem, eu acho que nós deveríamos tentar esquecer o que você viu - disse firmemente. - E você deve colocar um pouco mais de esforço na sua Oclumancia à partir de agora.

 

Harry estava com tanta raiva que não falou com ela pelo resto do dia, que provou ser um dia ruim. Quando as pessoas não estavam discutindo sobre a fuga dos Comensais da Morte nos corredores estavam rindo da performance abismal da Grifinória na partida contra a Lufa-lufa; os sonserinos estavam cantando "Weasley é o nosso rei" tão alto e freqüentemente que ao pôr-do-sol Filch tinha proibido isso nos corredores com absoluta irritação.

 

A semana não melhorou conforme avançava. Harry recebeu mais dois D's em Poções; ainda estava preocupado com a possibilidade de Hagrid poder ser demitido e não conseguia parar de se sentir obcecado pelo sonho que em que fora Voldemort - apesar de nunca contar isso para Rony e Hermione novamente; não queria outro sermão da menina.

 

Queria muito poder conversar com Sirius sobre isso, mas estava fora de questão, então tentou empurrar o assunto para o fundo de sua mente. Infelizmente o fundo de sua mente não era mais o lugar seguro que costumava ser.

 

- Levante-se Potter.

 

Umas semanas depois do sonho sobre Rockwood Harry se achou, mais uma vez, ajoelhado no chão da sala de Snape, tentando limpar sua mente. Ele foi forçado, mais uma vez, a liberar uma sucessão de pensamentos muito antigos que nem tinha percebido que ainda tinha, a maioria eram das humilhações que Duda e sua gangue o fizeram passar na escola primária.

 

- Essa última memória - disse Snape. - O que foi?

 

- Eu não sei - disse Harry, ficando imediatamente de pé. Estava achando cada vez mais difícil separar as memórias do fluxo de imagens e sons que Snape continuava chamando para frente. - Você quer dizer aquela que meu primo tentou me fazer ficar no banheiro?

 

- Não - disse Snape suavemente. - Estou me referindo aquela com um homem ajoelhado no meio de uma sala escura...

 

Os olhos negros de Snape perfurando os olhos de Harry. Lembrando o que Snape tinha dito sobre contato visual ser crucial para Legilimencia, Harry piscou e olhou longe.

 

- Como aquele homem e aquele quarto foram parar dentro da sua cabeça, Potter? - disse Snape.

 

- Isso... - disse Harry, olhando para qualquer lugar menos para Snape. - Foi... Apenas um sonho que eu tive.

 

- Um sonho? - repetiu Snape.

 

Houve uma pausa durante a qual Harry olhou fixamente para um grande sapo morto suspendido numa jarra de um líquido roxo.

 

- Você sabe o porquê de nós estarmos aqui, não sabe, Potter? - disse Snape numa voz baixa e perigosa. - Você sabe por que eu estou abrindo mão das minhas noites para esse trabalho tedioso?

 

- Sim - disse Harry friamente.

 

- Me lembre o motivo pelo qual estamos aqui, Potter.

 

- Para eu poder aprender Oclumancia - disse Harry, agora olhando para uma enguia morta.

 

- Correto, Potter. E estúpido apesar disso você pode ser - Harry olhou de volta para Snape, odiando-o. - Eu pensaria que depois de dois meses de aulas você deveria ter dito algum progresso. Quantos outros sonhos sobre Senhor das Trevas você teve?

 

- Apenas esse - Harry mentiu.

 

- Talvez - disse Snape, seus olhos negros e escuros estreitando-se ligeiramente. - Talvez você realmente goste de ter esses sonhos e visões, Potter. Talvez eles te fazem se sentir especial, importante?

 

- Não, eles não fazem - disse Harry, seu queixo endureceu e seus dedos se fecharam firmemente em volta do cabo da sua varinha.

 

- Isso está certo, Potter - disse Snape friamente. - Porque você não é não é especial nem importante e não cabe a você descobrir o que o Senhor das Trevas está dizendo para seus Comensais da Morte.

 

- Não, esse é o seu trabalho, não é? - Harry jogou contra ele. Ele não queria ter dito isso; tinha explodido do seu temperamento. Por um longo momento eles olharam um para o outro, Harry se convenceu que foi muito longe. Mas havia uma expressão curiosa, quase satisfeita no rosto de Snape quando respondeu.

 

- Sim, Potter - disse, seus olhos brilhando. - Esse é o meu trabalho. Agora, se você estiver pronto, nós começaremos de novo - ele levantou sua varinha: - Um, dois, três, Legilimens!

 

Cem dementadores estavam se movendo em direção a Harry em volta do lago nos terrenos... Ele levantou seu rosto em concentração... Estavam se aproximando... Podia ver os buracos negros em baixo do seu capuz... Ao mesmo tempo ainda podia ver Snape em pé à sua frente, seus olhos fixos no rosto de Harry, murmurando sob sua respiração... E, de alguma forma, Snape estava ficando mais claro e os dementadores estavam ficando mais vagos... Harry levantou sua varinha.

 

- Protego!

 

Snape cambaleou - sua varinha voou para cima, longe de Harry - e de repente a mente de Harry estava repleta com memórias que não eram dele: um homem com nariz de gancho estava gritando para uma mulher encolhida de medo enquanto um pequeno garoto com cabelos negros chorava em um canto... Um adolescente com cabelos sebosos estava sentado sozinho num quarto escuro, apontando para o teto sua varinha, atirando faíscas... Uma garota estava rindo enquanto um garoto tentava montar uma vassoura pinoteante...

 

- CHEGA!

 

Harry sentiu como se tivesse sido empurrado com força no peito; deu muitos passos para trás, atingiu algumas das prateleiras que cobriam as paredes de Snape e ouviu alguma coisa se quebrar. Snape estava tremendo ligeiramente e estava muito pálido no rosto. As costas das vestes de Harry estavam úmidas. Uma das jarras atrás dele tinha se quebrado quando caiu sobre ela; a coisa viscosa que estava dentro dela estava rodopiando na sua poção.

 

- Reparo - sibilou Snape e a jarra se consertou imediatamente. - Bom, Potter... Isso foi certamente um avanço... - arfando levemente, Snape foi até a penseira na qual havia guardado alguns de seus pensamentos antes de começar a aula, como se checando se eles ainda continuavam lá. - Eu não me lembro de falar pra você usar um feitiço um Feitiço Protetor... Mas não há dúvida que foi efetivo...

 

Harry não falou; achou que dizer qualquer coisa poderia ser perigoso. Tinha certeza que tinha acabado de penetrar nas memórias de Snape, que tinha acabado de ver cenas da infância do professor. Era enervante pensar que o garotinho que estava chorando enquanto observava seus pais gritando estava na verdade na frente dele com repugnância nos seus olhos.

 

- Vamos tentar de novo, vamos? - disse Snape.

 

Harry sentiu um calafrio de terror; ele pagaria pelo que tinha acabado de ver, tinha certeza disso. Eles se moveram pra trás na posição com a mesa entre eles, Harry sentiu que seria muito mais difícil limpar sua mente dessa vez.

 

- Quando eu contar até três - disse Snape, levantando sua varinha mais uma vez. - Um, dois...

 

Harry não teve tempo para se arrumar e tentar limpar sua mente antes que Snape gritasse.

 

- Legilimens!

 

Ele estava andando ao longo do corredor em direção ao Departamento de Mistérios, passando pelas paredes de pedras nuas, pelas tochas - a porta negra e lisa estava aumentando cada vez mais; estava se movendo tão rápido que iria colidir com ela, estava a centímetros dela e mais uma vez pôde ver aquela fresta da fraca luz azul. A porta tinha se aberto! Ele finalmente tinha atravessado ela, para dentro de uma sala circular com paredes e chão negros iluminado por velas com chamas azuis, havia mais portas em volta dele - ele precisava continuar - mas qual porta ele deveria abrir?

 

- POTTER!

 

Harry abriu os olhos. Estava deitado de costas novamente e não fazia idéia de como tinha caído; também estava ofegando como se realmente tivesse corrido através de todo o corredor do Departamento de Mistérios, como se realmente tivesse atravessado a porta negra e encontrado a sala circular.

 

- Explique-se - disse Snape, que estava em pé na frente dele, parecendo furioso.

 

- Eu... Mão sei o que aconteceu - disse Harry sinceramente, levantando-se. Havia um galo atrás de sua cabeça, no lugar onde ele tinha atingido o chão e ele se sentia febril. - Eu nunca vi aquela sala antes. Quero dizer, eu contei pra você, eu sonhei com a porta... Mas nunca a abri antes.

 

- Você não está se esforçando o suficiente.

 

Por alguma razão Snape pareceu ainda com mais raiva do que estava a dois minutos antes, quando Harry tinha visto suas memórias.

 

- Você é preguiçoso e descuidado, Potter, não é de se admirar que o Senhor das Trevas...

 

- Você pode me dizer uma coisa, senhor? - disse Harry. - Por que você chama Voldemort de Senhor das Trevas? Eu só ouvi Comensais da Morte o chamarem desse jeito.

 

Snape abriu a boca num rosnado - uma mulher gritou em algum lugar fora da sala. A cabeça de Snape se moveu para cima; estava olhando para o teto.

 

- O que...? - ele resmungou.

 

Harry ouviu um alvoroço abafado vindo do que pensou que poderia ser a Entrada Principal. Snape olhou para ele, franzindo as sobrancelhas.

 

- Você viu alguma coisa incomum enquanto estava vindo para cá, Potter?

 

Harry balançou sua cabeça. Em algum lugar acima deles a mulher gritou de novo. Snape se aproximou da porta de sua sala, sua varinha em prontidão, e sumiu de vista. Harry hesitou por um momento, então o seguiu. Os gritos estavam de fato vindo da Entrada Principal; ficavam cada vez mais altos conforme Harry corria pelo caminho de pedra que levavam para fora da masmorra. Quando alcançou o topo achou a Entrada Principal lotada; muitos alunos estava saindo do Salão Principal, onde o jantar ainda estava nas mesas, para ver o que estava acontecendo; outros estavam se apertando na escada de mármore.

 

Harry empurrou um grupo de altos sonserinos e viu que os espectadores tinham formado um grande círculo, alguns deles pareciam chocados, outros até mesmo assustados. A professora McGonagall estava do lado oposto de Harry do outro lado do Salão; parecia como se o que ela estivesse assistindo a fizesse se sentir levemente doente.

 

A professora Trelawney estava parada no meio do Salão Principal, sua varinha numa mão e uma garrafa vazia de vinho na outra, parecendo quase louca. Seu cabelo estava de pé e seus óculos estavam inclinados, de forma que um olho parecia maior que o outro; seus inúmeros xales e lenços faziam uma trilha a partir de seus ombros, dando a impressão de que ela saía das costuras. Dois grandes baús jaziam no chão à sua frente, um de cabeça para baixo; parecia que haviam sido atirados pela escada.

 

A professora Trelawney estava encarando, aparentemente aterrorizada, alguma coisa que Harry não podia ver dali mas que parecia estar ao pé da escada.

 

- Não - gritou. - NÃO! Isso não está acontecendo... Mão pode... Recuso-me a aceitar isso!

 

- Você não sabia o que estava por vir? - disse uma voz fina, soando em cruel diversão, e Harry, movendo-se ligeiramente para a direita, percebeu que a visão aterrorizante de Trelawney não era senão a professora Umbridge. - Incapaz mesmo de prever o tempo de amanhã; você não percebeu que sua péssima performance durante minhas inspeções e a falta de melhora fariam com que fosse inevitavelmente demitida?

 

- Você n-não pode! - berrou Trelawney, lágrimas rolando por sua face através das grandes lentes. -Você n-não pode me despedir! Eu estive a-aqui por dezesseis anos! H-Hogwarts é m-minha c-casa!

 

- Era sua casa - disse a professora Umbridge e Harry se revoltava ao ver a diversão esticando aquele semblante anuro que olhava Trelawney afundar, soluçando descontroladamente, em um de seus baús - há uma hora, quando o Ministério da Magia assinou sua demissão. Agora, por favor, retire-se desse Salão. Você está nos embaraçando.

 

Mas ela permanecia olhando com uma expressão de grande divertimento enquanto a professora Trelawney tremia e se queixava, arrastando seu baú para um lado e outro, num paroxismo da dor. Harry ouviu um soluço abafado à sua esquerda e olhou. Lilá e Parvati choravam quietas, abraçadas. Então ouviu passos: a professora McGonagall surgira dos espectadores, marchando em direção à professora Trelawney, e a abraçara firmemente, enquanto tirava um garfo de suas vestes.

 

- Calma, calma, Sibila... Acalme-se... Use esse lenço... Não é tão ruim quando você está pensando... Você não precisa deixar Hogwarts...

 

- É mesmo, professora McGonagall? - disse Umbridge, numa voz mortal, dando alguns passos à frente. - E qual a sua autoridade para dizer isso?...

 

- Essa autoridade é minha - disse uma voz grave. As portas de carvalho da frente do castelo se abriram. Os estudantes a seu lado abriram caminho assim que Dumbledore apareceu na entrada. O que ele estivera fazendo lá fora Harry não podia imaginar mas havia algo de imponente na visão dele com as portas abertas, uma noite nebulosa atrás. Deixando as portas abertas às suas costas, seguiu do círculo de observadores para a professora Trelawney que, chorosa, tremia sobre seu baú, a professora McGonagall a ladeando.

 

- Sua, professor Dumbledore? - disse Umbridge, com uma risadinha singular e desagradável. - Temo que não entendo sua posição. Eu tenho aqui - e puxou um pergaminho suas roupas - uma ordem de demissão assinada por mim e pelo Ministro da Magia. Sob os termos do Decreto Educacional Número 23 a grande inquisitora de Hogwarts tem o poder de inspecionar, colocar sob análise e demitir qualquer professor que ela, isto é, eu, considerar não satisfatório perante os padrões exigidos pelo Ministério da Magia. Eu considerei que a professora Trelawney não está à altura do cargo e por isso a demiti.

 

Para grande surpresa de Harry, Dumbledore continuava a sorrir. Ele olhou para a professora Trelawney, que ainda estava chorando e soluçando sobre seu baú, e disse.

 

- 'Você está correta, é claro, professora Umbridge. Como Grande Inquisitora você tem o direito de demitir meus professores. Não possui, entretanto, a autoridade para retirá-los do castelo. E temo - ele foi à frente, numa pequena reverência - que esse poder ainda pertença ao diretor, e é meu desejo que a professora Trelawney continue morando em Hogwarts.

 

Nisso, a professora Trelawney deu uma pequena risada, na qual um soluço estava vagamente escondido.

 

- Não... Mão, eu v-vou, Dumbledore! Eu d-devo deixar Hogwarts e... Procurar meu destino em outro lugar...

 

- Não - disse Dumbledore claramente. - É meu desejo que você permaneça, Sibila - ele se virou para a professora McGonagall. - Posso lhe pedir que acompanhe Sibila até seus aposentos, professora McGonagall?

 

- Claro - disse McGonagall. - Vamos, Sibila...

 

A professora Sprout surgiu rápido da multidão e agarrou o outro braço da professora Trelawney. Juntas, guiaram seus passos por Umbridge e através das escadas marmórea. O professor Flitwick veio correndo em seguia, a varinha em punho; ele grunhiu 'Locomotor baús!' e a bagagem da professora Trelawney se ergueu no ar, seguindo-a pelas escadas, o professor logo atrás.

 

A professora Umbridge continuava ali, olhando Dumbledore, que continuava a sorrir gentilmente.

 

- E o que - disse ela, num sussurro que varreu todo o salão - você fará com ela uma vez que eu tenha apontado um novo professor de Adivinhação, que necessite de seus aposentos?

 

- Ah, isso não será problema - disse Dumbledore amavelmente. - Veja, eu já encontrei um novo professor de Adivinhação e ele preferirá se alojar no térreo.

 

- Você já achou...? - disse Umbridge estridente. - Você já achou? Eu preciso lembrá-lo, professor Dumbledore, que sob o Decreto Educacional Número 22...

 

- O Ministério tem o direito de apontar um candidato apropriado para o cargo se, e apenas se, o diretor for incapaz de encontrar um. E estou alegre em dizer que nesta ocasião tive sucesso. Posso apresentá-lo a você?

 

Ele se virou para as portas, pelas quais a névoa noturna agora adentrava. Harry ouviu galopes. Houve um burburinho chocado por todo o saguão e aqueles próximos às portas rapidamente se moveram para trás, alguns tropeçando em sua pressa para dar passagem ao novo professor. Por meio da névoa surgiu um semblante que Harry já vira uma vez, numa escura e perigosa noite na Floresta Proibida: cabelo loiro, esbranquiçado, e espantosos olhos azuis; a cabeça e dorso de um homem juntos ao corpo castanho-dourado de um cavalo.

 

- Este é Firenze - disse Dumbledore alegremente à uma Umbridge estupefata. - Creio que você o considerará adequado.

 

 

O Centáuro e o Dedo-Duro

'Eu aposto que você não queria ter desistido de Adivinhação agora, não é, Hermione?' perguntou Parvati, sorrindo.

Era a hora do café da manhã, dois dias depois da despedida da Professora Trelawney, e Parvati estava ondulando sua pestana do olho em volta de sua varinha e examinando os efeitos na parte de trás de sua colher. Eles teriam a primeira aula com Firenze essa manhã.

'Na verdade não,' disse Hermione indiferente, que estava lendo o Profeta Diário. 'Eu nunca gostei de cavalos.'

Ela virou uma página e examinou as colunas.

'Ele não é um cavalo, ele é um centauro!' disse Lavender, parecendo chocada.

'Um explêndido centauro. . .' completou Parvati.

'De qualquer forma, ele ainda tem quatro patas,' disse Hermione normalmente. 'Além do mais, eu achava que vocês duas estavam chateadas agora que a Trelawney saiu?'

'Nós estamos!' Lavender assegurou a ela. 'Nós fomos ao seu escritório para ve-la; nós levamos umas plantas ornamentais para ela - não as horriveis que a Sprout nos deu, umas lindas.'

'Como ela esta?' perguntou Harry.

'Não muito bem, pobre coitada,' disse Lavender pateticamente. 'Ela estava chorando e dizendo que preferia sair do castelo para sempre só que ficar aqui onde Umbridge está, e eu não a culpo por isso, Umbridge foi horrível com ela, não foi?'

'Eu tenho um pressentimento que Umbridge apenas começou a ser horrível,' disse Hermione obscuramente.

'Impossivel,' disse Ron, que estava se arregaçando para um largo prato de ovos e bacon. 'Ela não pode ficar pior do que ela ja tem sido.'

'Você marque minhas palavras, ela vai querer vingança em Dumbledore por apontar um novo professor sem consulta-la,' disse Hermione, fechando o jornal. 'Especialmente um outro parte-humano. Você viu o olhar em seu rosto quando ela viu Firenze.'

Depois do Café da manhã Hermione partiu para sua aula de Aritemancia enquanto Harry e Ron seguiram Parvati e Lavender para o Salão de Entrada, indo para Adivinhação.

'Não subiremos as Torre do Norte?' perguntou Ron, parecendo confuso, enquanto Parvati passou pela escadaria de mármore.

Parvati olhou para ele desdenhosa sobre seu ombro.

'Como você espera que Firenze suba as escadas? Nós estamos na classe onze agora, estava no quadro de avisos ontem.'

A Classe onze era no pátio pelo corredor que dava no Salão de Entrada e era no lado oposto do Salão de Entrada. Harry sabia que essa era uma daquelas classes que ninguém usava regulamente, e portanto ele tinha um meio que achava negligenciadamente que seria um armário ou um armazém. Quando ele entrou logo depois de Ron, e se encontrou no meio de uma clareira de uma floreata, ele ficou momentaneamente estonteado.

Mas que - ?'

O piso da sala de aula ficou como musco de primavera e árvores cresaciam dela; seus ramos de

plantas estavam espalhados pelo teto e pelas janelas, que fazia que a sala ficasse cheia de macios, raios inclinados de luz verde. Os estudantes que ja tinham chegado estavam se sentando no chão de terra com suas costas repousando contra troncos ou galhos de árvores, braços agarrados às pernas ou abraçado firmemente ao peito, e todos parecendo bastante nervosos . No meio da claridade, onde não havia árvores, estava Firenze.

'Harry Potter,' ele disse, estendendo uma mão quando Harry entrou.

'Er - oi,' disse Harry, apertando a mão do centauro, que o observou sem piscar seus esplêndidos olhos azuis mas não sorriu. 'Er - é bom ver você,'

'E você,' disse o centauro inclinando sua cabeça branca aloirada. 'Foi previsto que nos encontrariamos de novo.'

Harry percebeu uma sombra de contusão no formato de casco no peito de Firenze. Quando virou para se juntar ao resto da classe no chão, ele viu que eles olhavam para ele com admiração, aparentemente profundamente impressionados que ele falava como se conhecesse Firenze de quem eles achavam intimidador.

Quando a porta se fechou e o último aluno se sentou num galho de árvore ao lado da lixeira, Firenze gesticulou pela sala.

'Professor Dumbledore nos arranjou gentilmente essa sala de aula' disse Firenze, quando todos se acalmaram, 'em imitação ao meu habitat natural. Eu teria preferiado ensina-los na Floresta

Proibida, da qual - até Segunda - era minha casa... mas agora não é mais possível.'

'Por favor - er - senhor - ' disse Parvati sem ar, levantando sua mão, - porque não? Nós já estivemos lá com Hagrid, nós não temos medo!'

'Não é uma questão de sua bravura,' disse Firenze, 'mas de minha posição, eu não posso voltar para a Floresta. Meu bando me expulsou.'

'Bando?' disse Lavender numa voz confuda, e Harry sabia que ela estava pensando em vacas 'O que - oh!'

Comprensão se desenhou em seu rosto. 'Há mais de você?' ela disse, estonteada.

'O Hagrid o alimentou, como os Thestrals?' perguntou Dean impetuosamente.

Firenze virou sua cabeça lentamente para encarar Dean, que parecia ter percebido que disse algo muito ofensivo.

'Eu não quis - digo - desculpa' ele terminou numa voz envergonhada.

'Centauros não são servos ou brinquedos dos humanos,' disse Firenze silenciosamente. Houve uma pausa e então Parvati levantou sua mão de novo.

'Por favor, senhor... porque os outros centauros lhe expulsaram,'

'Porque concordei em trabalhar para Professor Dumbledore,' disse Firenze. Eles vêem isso como uma traição a nossa raça.'

Harry lembrou como, a quase quatro anos atrás, o centauro Bane tinha gritado com Firenze por ter deixado Harry cavalgar livre em suas costas; ele tinha o chamado de 'mula'. Ele imaginou se tivesse sido Bane que tinha chutado Firenze no peito.

'Vamos começar.' disse Firenze. Ele balançou sua causa, levantou sua mão para um tolde de plantas a frete, e então o abaixou vagarosamente, e assim que o fez, a luz na sala enfraqueceu, e então pareceu que eles estavam sentados numa clareira de uma floresta pelo crepúsculo, e estrelas apareceram no teto. Houve oohs e gritos sufocados e Ron disse audivel 'Caramba!'

'Deitem-se no chão, disse Firenze com sua calma voz, e observem os céus. Aqui está escrito, para aqueles que conseguem ver, o futuro de nessas raças.'

Harry deitou de costas e contemplou o teto acima. Uma estrela vermelha cintilou sobre sua cabeça.

'Eu sei que vocês sabem dos nome dos planetas e suas luas em Astronomia,' disse a calma voz de Firenzeid, 'e que vocês já mapearam as estrelas' progrediremos para os céus. Centauros tem revelado os mistérios desses movimentos por séculos. Nossas descobertas nos ensinam que o futuro pode estar escrito no céu acima de nós - 'Professora Trelawney fez astrologia conosco!' disse Parvati excitadamente, levantando sua mão para a frente dela e então parou no ar porque ela estava de deitada de costas. 'Marte causa acidentes e queima e coisas do tipo, e quando faz um ângulo com Saturno como agora -' ela desenhou um ângulo diretito no ar sob ela '- isso significa que as pessoas precisam de cuidado estra quando mexer com coisas quentes - '

'Isso,' disse Firenze calmo, 'é falta de sentido humano.'

A mão de Parvati caiu vagarosa ao seu lado.

Machucados Triviais, pequenos acidentes humanos,' disse Firenze, enquanto suas patas chocavam-se sobre o chão de musgos. 'Não tem mais significados do que corridas de formigas no imenso universo, e não são afetados pelos movimentos planetários.'

'Professora Trelawney - ' começou Parvati, numa machucada e indignada voz. ' - é uma humana,' disse Firenze simplismente. 'E é antes de mais nada é cegada e algemada às

limitações de sua raça.'

Harry virou sua cabeça bem suavemente para olhar para Parvati. Ela parecia muito ofendida, assim como várias pessaos que a cercavam.

'Sybila Trelawney pode ter a Visão, Eu não sei,' continuou Firenze, e Harry ouviu o balançar de sua cauda de no enquanto ele andava para cima e para baixo por eles, 'mas ela gasta o seu tempo, a maior parte, em sua própria lisonja sem sentido humana camada de adivinhação da sorte. Eu, no entanto, estou aqui para explicar a sabedoria dos centauros, que é impessoal e imparcial. Nós observamos os céus para as grandes ondas maléficas ou mudanças que as vezes ficam marcadas lá. Pode demorar dez anos para se ter certeza do que nós estamos vendo.'

Firenze apontou para a estrela vermelha diretamente acima de Harry.

'Na década passada, as indicações eram que os bruxos estavam vivendo nada mais que um calmo período entre duas guerras. Marte, que traz as guerras, brilha forte em cima de nós, sugerindo que a luta deve começar de novo logo. Quão logo, os centauros podem tentar adivinhar pela queima de certas ervas e folhas, pela observação da fumaça e das chamas . . .'

Foi a aula mais incomum que Harry ja havia tido. Eles realmente queimaram salvas e malvas doces lá no chão da sala de aula, e Firenze os disse para olhar para certas fomas e símbolos na fumaça pungente, mas ele parecia perfeitamente apático de que nenhum deles conseguia ver alguns dos sinais que ele descreveu , dizendo que humanos dificilmente seriam bons nisso, aquilo levou anos e anos para os centauros se tornarem competentes, e terminou a aula os dizendo que era tolice botar muita fé nessas coisas, porque mesmo os centauros as vezes os lêem errado. Ele não era nada parecido com qualquer professor humano que Harry ja teve. Sua prioridade não parecia ser ensina-los o que ele sabia, mas sim dar a impressão de que nada, nem mesmo o conhecimento dos centauros, era completamente comprovado.

'Ele não é muito definido ou qualquer coisa do tipo né?' disse Ron numa voz baixa, enquanto eles colocavam fogo na malvadoce. 'Digo, eu poderia fazer com um pouco mais de detalhes sobre essa guerra que estamos prestes a ter, você não?'

O sino soou logo do lado de fora da classe e todo mundo pulou; Harry tinha esquecido completamente que eles ainda estavam dentro do castelo e estava bem convencido que estava realmente na Floresta. A classe saiu parecendo levemente perplexa.

Harry e Ron estavam a ponto de segui-los quando Firenze chamou, 'Harry Potter, uma palavrinha, por favor.'

Harry virou. O centauro avanlou um pouco em relação a ele. Ron hesitou.

'Você pode ficar,' Firenze disse a ele. 'Mas feche a porta por favor.'

Ron se apressou a obedecer..

'Harry Potter, você é amigo de Hagrid, não é?' disse o centauro.

'Sim,' disse Harry.

Então lhe de uma aviso para mim. Sua tentativa não esta funcionando. É melhor ele abandona-lo.'

'Sua tentativa não está funcionando?' Harry repetiu curioso. 'e que seria melhor abandona-lo,' disse Firenze, confirmando. 'Eu avisaria Hagrid eu mesmo, mas estou banido - seria estúpido de minha parte ir para perto da Floresta por agora - Hagrid já tem problemas demais, sem uma batalha de centauros

'Mas - o que Hagrid esta tentando fazer?' disse Harry nervosamente.

Firenze contemplou Harry impassivamente.

'Hagrid me fez recentemente um grande serviço,' disse Firenze, 'e ja faz tempo que ele conseguiu meu respeito por mostrar tanta preocupação que ele mostra por todas as criaturas vivas. Eu não devo trair seu segredo. Mas ele deve ser levado de volta a razão. A tentativa não está funcionando. Diga a ele, Harry Potter. Bom dia para vocês.'

 

A felicidade que Harry sentirá logo após a entrevista ao O Quibbler(o tracadilho) já tinha se evaporado. Enquanto um vagaroso Março se transformava em um tempestuoso Abril, sua vida parecia ter se transformado em uma longa série de preocupações e problemas de novo.

Umbridge continuou vigiando todas as aulas de Trato das Criaturas Mágica, o que fez ficar muito difícil para entregar o aviso de Firenze para Hagrid. Até que Harry conseguiu fingir que perderá sua cópias de Criaturas Fántasticas e Onde Encontra-las, voltando depois da aula um dia. Quando ele repetiu as palavras de Firenze, Hagrid o contemplou por um momento através de seus olhos negros peludos, aparentemente pego de seupresa. Então ele pareceu voltar si.

'Boa tentativa, Firenze,' ele disse rudemente 'mas ele não sabe do que esta falando. A tentativa está indo bem.'

'Hagrid, o que você está tentando fazer?' perguntou Harry sério. 'Porque você tem que ter cuidado, Umbridge já demitiu Trelawney e, e se você me perguntar, ela está atrás de você. Se você fizer qualquer coisa que não deveria, você vai - '

Há coisas mais importantes que manter um trabalho,' disse Hagrid. no entanto suas mão tremeram levemente enquanto disse isso e uma bacia cheia de excrementos de Knarls quebrou no chão. 'Não se importe comigo, Harry, apenas vá indo, seja um bom rapaz.'

Harry não teve outra alternativa a não ser deixar catando o esterco pelo seu chão, mas ele se sentiu profundamente desanimado enquanto voltava ao castelo.

Enquanto isso, assim como os professores e Hermione persistiam em lembra-los, os NOMs estavam cada vez mais perto. Todos os alunos do quinto ano estavam sofrendo de algum tipo de estresse, Hannah Abbott foi a primeira a receber Calmante de Barril da Madame Pomfrey depois de cair em lágrimas durante Herbologia e gritado que ela era muito estupida para os exames e que ela queria sair da escola agora.

Se não fosse pelas aulas do ED, Harry achou que ele estaria extremamente infeliz. As vezes ele sentia que estava vivendo pelas horas gastas na Sala do Requerimento, trabalhando duro mas aproveitando o máximo ao mesmo tempo, inchando-se de orgulho quando olhava para seus amigos membros do ED e via como eles tinham chegado longe. Na verdade, Harry as vezes imaginava como Umbridge iria reagir quando todos os membros do ED receberiam 'Impressionate' em seus NOMs de Defesa Contra a Arte das Trevas.

Eles tinha finalmente começado o trabalho em Patronos, do qual todos estavam ansiosos para praticar, entretanto, como Harry mantinha os lembrando, produzir um Patrono no meio de uma clara sala de aula e sem estar ameaçado era bem diferente de produzir um quando confrontado por algo como um Dementador.

'Ah, não seja tão estraga prazer,' disse Cho claramente, observando sue Patrono em forma de um fio prateado atravessar a Sala do Requerimento durante a última aula antes da Páscoa. Eles são tão lindos!'

Eles não deveriam ser lindos, eles devem proteger vocês,' disse Harry pacientemente. 'O que nós precisamos realmente é de um Bicho Papão ou algo assim; foi assim que eu aprendi, eu tinha que invocar um Patrono enquanto o Bicho Papão fingia ser um Dementador - '

'Mas isso seria muito assustador!' disse Lavender, que atirava pequenos vapores prateados do final de sua varinha. 'E eu ainda - não consigo - fazer!' ela adicionou raivosa.

Neville estava tendo problemas também. Seu rosto estava contorcido de concentração, mas apenas relances de fumaça prateada saiam da ponta de sua varinha.

'Você tem que pensar em algo feliz,' Harry o lembrou.

'Eu estou tentando,' disse Neville miseravelmente, que estava tentando tanto que seu rosto estava coberto de suor.

'Harry, eu acho que estou conseguindo!' gritou Seamus, que tinha sido levado para o seu primeiro encontro do ED por Dean. 'Olhe - ah - se foi . . . mas era alguma coisa peluda, Harry!'

O Patrono de Hermione, uma lontra prateada brilhante, estava saltitante atrás dela.

Eles são muito legais não são?' elka disse, o olhando profundamente.

A porta da Sala de Requerimento abriu e depois fechou. Harry olhou em volta para ver quem entrou, mas não viu ninguém lá. Alguns momentos depois ele percebeu que as pessoas perto da porta caíram em silêncio. Depois ele notou que algo puxava seu manto em algum lugar perto das pernas. Ele olhou para baixo e, para seu espanto, Dobby o elfo doméstico o olhava por debaixo de seus usuais oito chapéus.

'Oi, Dobby!' ele disse. 'O que você está - O que foi?'

Os olhos do elfo estavam largos com terror e ele estava tremendo. Os membros do ED mais perto de Harry caíram em silêncio; todos na sala olhavam para Dobby. Os poucos Patronos que foram invocados sumiram numa névoa prateada, deixando a sala bem mais escura que antes.

'Harry Potter, sr . . .' sussurrou o elfo, tremendo dos pés a cabeça, 'Harry Potter, sr . . . Dobby veio avisa-lo . . . mas os elfos domésticos foram avisado para não falarem nada . . .'

Ele correu sua cabeça para a parede. Harry, que tinha alguma experiência com os hábitos de se punir de Dobby, tentou impedi-lo, mas Dobby simplesmente pulou da pedra, protegido pelos oito chapéus. Hermione e algumas garotas deram gritinhos de medo e simpatia.

'O que houve, Dobby?' Harry perguntou, segurando o fino braço do elfo e o deixando longe de qualquer coisa com que ele poderia se machucar.

'Harry Potter . . . ela . . . ela . . .'

Dobby acertou seu nariz com seu punho livre. Harry segurou ele também.

'Quem é "ela", Dobby?'

Mas achava que já sabia; com certeza apenas uma 'ela' poderia por tanto medo em Dobby? O elfo olhou para ele, com olhos levemente cruzados, e a boca sem palavras.

'Umbridge?' perguntou Harry, horrorizado.

Dobby confirmou, e então tentou jogar sua cabeça nas pernas de Harry. Harry o segurou na altura do braço.

'O que tem ela? Dobby - ela não soube disso - 'sobre nós - sobre o ED?'

Ele leu a resposta no rosto ferido do elfo. Com suas mãos seguradas rápidamente por Harry, o elfo tentou se chutar e caiu no chão.

'Ela está vindo?' Harry perguntou silenciosamente.

Dobby deixou escapar u uivo, e deixou bater seus pés duramente no chão

'Sim, Harry Potter, sim!'

Harry se levantou e olhou para a as pessoas sem movimento e aterrorizadas que contemplavam o elfo.

'O QUE VOCÊS ESTÃO ESPERANDO?' Harry berrou. 'CORRAM!'

Todos correram para a saída de uma vez só, formando um emaranhado na porta, e então pessoas escapuliram por ela. Harry os podia ouvir correndo pelos corredores e esperou que eles tivessem o bom senso de não irem direto aos dormitórios. Era só dez pras nove; se eles fosse se refugiar na biblioteca ou no Corujal, que eram ambos mais perto - '

'Harry, vamos!' berrou Hermione do centro da confusão de pessoas que lutavam para sair.

Ele observou Dobby, que tentava fazer sérios ferimentos em si mesmo, e correu com o elfo em seus braços para se juntar atrás da fila.

'Dobby - isso é uma ordem - volte para a cozinha com os outros elfos e se ela perguntar se você me avisou, minta e diga não!' disse Harry. 'E eu o proíbo de se ferir!' ele adicionou, largando o elfo enquanto passava pela abertura por último e fechava a porta atrás dele.

Obrigado, Harry Potter!' disse Dobby, e ele se foi. Harry olhou para a esquerda e para a direita, os outros se moviam tão rapidamente que ele só vira relances de calcanhares voando por ambos finais do corredor antes de sumir; ele começou a correr para a direita; havia um banheiro masculino bem acima, ele podia fingir que estava lá o tempo todo se ele pudesse alcança-lo - '

'AAARGH!

Algo o atingiu por entre as canelas e ele caiu espetacularmente, escorregando de onde estava para seis pés depois onde parou. Alguém atrás dele estava rindo .Ele virou suas costas e viu Malfoy escondido atrás de um vaso feio em forma de dragão.

'Tropeção azarado, Potter!' ele saiu. 'Ei, Professora - PROFESSORA! Eu peguei um!'

Umbridge veio bufando pelo final do corredor, sem ar mas com um sorriso de satisfação.

'É ele!' ela disse jubilante ao ver Harry no chão, 'Excelente, Draco, excelente, oh, muito bom - cinqüenta pontos para Sonserina! Eu cuido dele daqui . . . se levante, Potter!'

Harry ficou de pé, encarando o par. Ele nunca tinha visto Umbridge parecendo tão feliz. Ela segurou seu braço num agarrão maldoso e virou, num clara felicidade, para Malfoy.

'Você pode ir na frente e vê se acha mais deles, Draco,' ela disse. 'Diga aos outros para olhar na biblioteca - qualquer um sem ar - olhe nos banheiros, Senhorita Parkinson pode olhar o das garotas - pode ir - e você,' ela acrescentou em sua mais doce e perigosa voz enquanto Malfoy ia embora, 'você pode ir comigo para o escritório do Diretor, Potter.'

Eles estavam na gárgula de pedra em minutos Harry imaginou quanto dos outros foram pegos.

Ele pensou em Ron - Sra Weasley o mataria - e como Hermione se sentiria sendo expulsa antes dos NOMs. E era o primeiro encontro de Seamus . . . e Neville estava ficando tão bom . . .

'Delicias Gasosas ,' cantou Umbridge; a gargula de pedra pulou de lado, a parede começou a se abrir, e eles subiram, pelo escadaria de pedra que se movia. Ele alcaçaram a porta polida com o grifo como batedor, mas Umbridge não se importou em bater, ela foi direto para dentro, ainda segurando Harry firme.

O escritório estava cheia de gente. Dumbledore estava sentado atrás de sua mesa, com uma expressão serena, com as pontas de seus longos dedos juntas. Professora McGonagall estava parada rigidamente ao lado dele, com o rosto extremamente tenso. Cornélio Fudge, Ministro da Magia, mexia para frente e para trás seu dedão do pé ao lado do fogo, aparentemente imensamente agradado pela situação; Kingsley Shacklebolt e um bruxo de aparência grosseira com um cabelo bem curto igual a um arame de quem Harry não reconheceu, estavam posicionados em ambos os lados da porta como guardas, e as sarnas, que vinham de Percy Weasley parado excitadamente ao lado da parede, com uma pena para escrever e um pesado pergaminho em suas mãos, aparentemente destinado a escrever.

Os retratos dos antigos diretores e diretoras não fingiam que dormiam essa noite. Todo eles estavam alertas e sérios, assistindo o que acontecia abaixo deles. Enquanto Harry entrava, uns poucos passaram para quadro vizinho e cochicharam urgentemente nos ouvidos dos vizinhos.

Harry se livrou do agarrão de Umbridge enquanto ela fechava a porta atrás deles. Cornélio Fudge o encarava com um tipo viciante de satisfação em seu rosto.

'Beml,' ele disse. 'Bem, bem, bem . . .'

Harry respondeu com o pior olhar que podia fazer ao ministro. Seu coração batucava loucamente dentro dele, mas seu cérebro estava estranhamente calmo e limpo.

'Ele estava voltando para a Torre de Grifindória,' disse Umbridge. Houve uma indecente

satisfação em sua voz, a mesma calorosa satisfação que Harry tinha ouvido enquanto ela assistia a Professora Trelawney se disolver em miséria no Salão de Entrada. O garoto Malfoy o encontrou.'

'Ele fez, é?' disse Fudge apreciativamente. 'Eu devo lembrar de falar para Lucius. Bem, Potter . . . eu acho que você sabe o porque você está aqui?'

Harry tinha a intenção de responder com um desafiador 'sim': sua boca tina e a palavra foi formada pela metade quando ele pegou o olhar do rosto de Dumbledore. Dumbledore não o olhava diretamente - seus olhos estavam fixos num ponto acima de seu ombro - mas assim que Harry o olhou, ele sacudiu a cabeça por uma fração de polegadas de uma lado para o outro.

Harry mudou a direção da meia palavra.

'Si - não.'

'Eu peço o seu perdão?' disse Fudge.

'Não,' disse Harry, firme.

Você não sabe porque você está aqui?'

'Não, eu não sei,' disse Harry.

Fudge olhou incrédulo de Harry para a Professora Umbridge. Harry tirou vantagem de momentânea desatenção e roubou outro rápido olhar de Dumbledore, que deu ao tapete a menor das confirmações e a sombra de uma piscadela.

'Então você não tem idéia,' disse Fudge, numa voz positivamente carregada de sarcasmo, 'do porque a Professora Umbridge lhe trouxe para esse escritório? Você não foi avisado que quebrou um das regras da escola??'

'Regras da Escola? ' disse Harry. 'Não.'

'Ou Decretos do Ministério?' aumentou Fudge nervoso.

'Não que eu saiba,' disse Harry brando.

Seu coração ainda o martelava muito rápido. Quase valeu a pena contar essas mentiras para ver a pressão sangüínea de Fudges subir, mas ele não tinha nem idéia de como ele podia fugir deles; se alguém deu uma dica sobre o ED então ele, o líder, deveria estar arrumando seu baú nesse instante.

'Então, é novidade para você, que,' disse Fudge, sua voz agora grossa de raiva, 'que uma organização ilegal de estudantes foi descoberta nessa escola?'

'Sim, é,' disse Harry, fazendo um olhar não convincente de inocente surpresa em seu rosto.

'Eu acho, Ministro,' disse Umbridge habilmente ao lado dele, 'que nós fariamos mais progressos que eu buscar nossa informante.'

'Sim, sim, faremos,' disse Fudge, confirmando, e ele notou malícia em Dumbledore enquanto Umbridge saia da sala. 'Não há nada como uma boa testenhuma não é, Dumbledore?'

'Nada mesmo, Cornelius,' disse Dumbledore grave, inclinando sua cabeça.

Houve uma espera de alguns minutos, em que ninguém se olhou, e então Harry ouviu a porta abrir atrás dele. Umbridge passou por ele pela sala, segurando pelo ombro a amiga de cabelos curtos de Cho, Marietta, que escondia seu rosto com as mãos.

'Não tenha medo, querida, não se assuste,' disse Professor Umbridge suavemente, apalpando ela

nas costas, 'está tudo bem agora. Você fez a coisa certa. O ministro está muito feliz com você.

Ele vai falar para sua mãe que boa garota você tem sido.

A mãe de Marietta, Ministro,' ela acrescentou, olhando para Fudge, 'é a Madame Edgecombe do

Departamento de Transporte Mágico, escritório da Rede de Flu - ele tem nos ajudado a policiar as linhas de Hogwarts, sabe.'

'Ótimo, ótimo!' disse Fudge alegre. 'Tão mãe, tal filha, não é? Bem, vamos, agora, querida, olhe para gente, não seja tão tímida, vamos ouvir o que você tem para - Gárgulas galopantes!'

Quando Marietta levantou sua cabeça, Fudge pulou para trás em choque, quase caindo no fogo.

Ele xingou, e bateu na ponta de seu manto que começava a soltar fumaça. Marietta deu um grito e puxou o pescoço do seu manto até os olhos, mas não antes que todos vissem que seu rosto estava horrivelmente desfigurado por um monte de pústulas roxas se espalhavam pelo seu nariz e suas bochechas para formar a palavra 'DEDO-DURO'.

'Não ligue para isso agora, querida,' disse Umbridge impaciente, 'apenas tire o manto de sua boca e fale ao ministro - '

Mas Marietta deu outro grito e balançou a cabeça freneticamente.

'Ah, muito bem, muito bem, sua garota boba, eu digo a eles,' disse Umbridge. Ela colocou seu suave sorriso de volta em seu rosto e disse, 'Bem, Ministro, Senhorita Edgecombe aqui veio ao meu escritório logo após o jantar esta noite e me disse que queria me falar algo. Ela disse que se eu fosse a uma sala secreta no sétimo andar, algumas vezes conhecidas como a Sala do Requerimento, Eu acharia algo d meu interesse. Eu a questionei mais um pouco e ela admitiu que era um tipo de encontro. Infelizmente nessa hora que esse feitiço, ' ela pontou impacientemente para o rosto escondido de Marietta, 'entrou em operação e quando ela so olhou no meu espelho a garota ficou muito nervosa para me falar qualquer coisa a mais.'

'Bem, agora,' disse Fudge, fixando em Marietta com o que ele evidentemente achava que era algo

como um olhar paternal, 'é muito bravo de você minha querida, ir falar com a Professora

Umbridge. Você fez exatamente a coisa certa. Agora, você irá nos dizer o que acontecia nesses

encontros? Qual era o motivo? Quem estava la?'

Mas Marietta não disse nada; Ela meramente balançou a cabeça de novo, seu olhos largos e amedrontados.

'Não temos uma contra-azaração para isso?' Fudge perguntou a Umbridge impaciente, gesticulando para o rosto de Marietta. 'para que ela possa falar livremente?'

'Eu ainda não consegui encontar um,' Umbridge admitiu com rancor, e Harry sentiu surgir um orgulho da abilidade de azaração de Hermione 'Mas não importa se ela não quer falar, eu pego a históra daqui.

'Você vai se lembrar, Ministro, que eu te mandei um relatório em Outubro que Potter se encontrou com um número de amigos estudantes no Hog's Head em Hogsmeade - '

'E que evidência disso você tem' cortou Professora McGonagall

'Eu tenho o testemunho de Willy Widdershins, Minerva, que estava no bar naquele instante. Ele estava pesadamente enfaixado, é verdade, mas sua audição estava bem ímpar,' disso Umbridge elegante 'Ele ouviu cada palavra que Potter disse e se apressou para a escola e me dizer - '

'Ah, então é por isso que ele não não pagou pena por aqueles banheiros regurgitastes que ele fez!'

disse Professora McGonagall, levantando seus olhos castanhos. 'Que interessante caso dentro de nosso sistema de justiça!'

'Alardeante corrupção!' reclamou um retrado de um corpulento bruxo de nariz vermelho na parede atrás da mesa de Dumbledore. O ministério não fazia acordos com criminosos nos meus dias, não senhor, ele não fazia!'

Obrigado, Fortescue, isso serve,' disse Dumbledore calmo.

'O propósito do encontro de Potter com esses estudantes,' continuou Professora Umbridge, 'era os persuadir para se juntar numa sociedade ilegal, cujo objetivo era aprender feitiços e maldições que o Ministério decidiu serem inapropriadas para a idade escolar -'

'Eu acho que você está errada ai, Dolores,' disse Dumbledore quietamente, espiando a ela pelo seus óculos meia lua pendurados a meio caminho de seu nariz torto.

Harry o olhou. Ele não podia ver como Dumbledore iria falar para tira-lo dessa; Se Willy

Widdershins tinha realmente ouvido cada palavra dita no Hog´s Head não havia como escapar.

'Aha!' disse Fudge, pulando para cima e para baixo de pé de novo. 'Sim, vamos ouvir a última história para boi dormir designada para tirar o Potter de problemas! Continue, então,

Dumbledore, continue - '

Willy Widdershins estava mentindo, não é? Ou foi o irmão gêmeo idêntico de Potter no Hog's

Head aquele dia? Ou há a geralmente simples explicação envolvendo a inversão do tempo, um homem morto voltando a vida e um par de Dementadores invisíveis?'

Percy Weasley caiu numa grande gargalhada.

'Ah, muito boa, Ministro, muito boa!'

Harry poderia te-lo chutado. Mas então ele viu, para seu espanto, que Dumbledore também sorria gentilmente.

'Cornélio, eu não nego - e tenho que certeza que Harry também não - 'que ele estava no Hog's Head naquele dia, nem que ele estava tentando recrutar estudantes para um grupo de Defesa Contra Arte das Teevas. Estou meramente apontando que Dolores está bem errada em sugerir que esse grupo era, naquela ocasião, ilegal. Se você se lembrar, O Decrete do Ministério banindo todas sociedades estudantis só foi posto em ação dois dias depois do encontro de Harry em Hogsmeade, logo ele não estava quebrando regra alguma no Hog's Head.'

Percy pareceu ter sido atingido por algo muito pesado no rosto. Fudge continuou sem movimento num meio pulo, com sua boca permanecendo aberta.

Umbridge se recuperou primeiro.

'Isso é tudo muito bom, Diretor,' ela disse sorrindo docemente. 'mas estamos a quase seis meses da introdução do Decreto Educacional Número Vinte e Quatro. Se o primeiro encontro não foi ilegal, todos os outros que ocorreram desde então certamente o são.'

'Bem,' disse Dumbledore, a observando com um educado interesse sobre seus interligados dedos, 'eles certamente seriam, se ele tivesses continuado depois que o Decreto foi anunciado. Você tem alguma evidência que tais encontros continuaram?'

Quando Dumbledore falou, Harry ouviu um murmuro atrás dele como se Kingsley sussurrasse algo. Ele podia jurar também que ele sentiu alguma coisa passar por seu lado como se fosse um assovio ou um asa de pássaro, mas quando ele olhou para baixo ele não viu nada.

'Evidência?' reptiu Umbridge, com aquele horrivel sorriso largo feito um cogumelo.'Você não tem ouvido, Dumbledore? Porque você acha que a Senhorita Edgecombe está aqui?'

'Oh, ela pode nos dizer sobre seis meses de encontros?' disse Dumbledore, levantando seus olhos castanhos. 'Eu tive a impressão de que ela meramente dizia sobre um encontro hoje a noite.'

'Senhorita Edgecombe,' disse Umbridge de uma vez, 'nos diga a quanto tempo esses encontros acontessem, querida. Você pode simplismente concordar ou balançar sua cabeça, tenho certeza que não vai fazer isso piorar. Elas aconteceram regurlamente pelos últimos seis meses?'

Harry sentiu um horrivel balanço em seu estômago. Era isso, eles chegara a um final sem saida, um pedaço de sólida evidência que nem mesmo Dumbledore poderia deixar de lado.

'Apenas concorde ou balançe a cabeça, querida,' Umbridge disse coaxialmente para Marietta, 'vamos la, isso não vai reativar a azaração.'

Todos na sala encaramva o topo do rosto de Marietta. Apenas seus olhos era visiveis entre seu manto puxado e sua franja curta. Talvez tinha sido um truque do luz do fogo, mas seus olhos pareciam estranhamente vazios. E então - para outro espanto de Harry - 'Marietta sacudiu a cabeça.

Umbridge olhou rapidamente para Fudge, e de volta para Marietta.

'Eu acho que você não entendeu a pergunta, entendeu querida? Estou perguntanjdo se você esteve nesses encontros pelos últimos seis meses? Você esteve não foi?'

De novo, Marietta sacudiu a cabeça.

'O que você quer dizer sacudindo a cabeça, querida?' disse Umbridge numa voz controlada.

'Eu acho que seu significado foi bem claro,' dsse Professora McGonagall rude, 'não houve encontros secretos nesses seis últimos meses. Isso não está correto Senhorita Edgecombe?'

Marietta concordou.

'Mas havia um encontro hoje a noite!' disse Umbridge furiosa. Havia um encontro, Senhorita Edgecombe, você me disse, na Sala de Requerimento! E Potter era o líder não era, Potter organizou, Potter - porque você esta sacodindo essa cabeça garota?

'Bem, geralmente quando uma pessoa sacode a cabeça,' disse McGonagall friamente, 'então ela diz "não". A não ser que a Senhorita Edgecombe esteja usando uma linguagem de símbolos ainda não reconhecida por huamnos - '

Professora Umbridge mediu Marietta, a puxou para ela para olha-la, e começou a sacudi-la bastante. Um segundo depois Dumbledore estava de pé, com sua varinha levantada; Kingsley foi para frente e Umbridge soltou Marietta, balançando suas mãso como se estivessem queimando.

'Eu não posso permirit que você maltrate meus estudantes, Dolores,' disse Dumbledore e, pela primeira vez, ele parecia nervoso.

'Você quer se acalmar, Madame Umbridge,' disse Kingsley, em sua profunda e lenta voz. 'Você não quer nos colocar em problemas agora.'

'Não,' disse Umbridge sem ar, encarando a elevada figura de Kingsley. 'Digo, sim - você está certo, Shacklebolt - eu - eu me esqueci.'

Marietta estava parada eexatamente onde Umbridge a tinha largado. Ela não parecia nem perturbada pelo súbito ataque de Umbridge e nem aliviada por ter sido libertada; ela continuava escondida em seu manto levantado com seus diferentes olhos vazios e olhando para frente dela.

Uma súbita suspeita, ligada ao sussuro de Kingsley e a coisa que ele sentiu passar por ele, surgiu na mente de Harry.

'Dolores,' disse Fudge, com o ar de tentar resolver algo de uma vez por todas, 'o encontro de hoje a noite - o que a gente sabe que definitavamente aconteceu - '

'Sim,' disse Umbridge,voltando a si, 'sim . . . brm, Senhorita Edgecombe me deu uma dica e eu procedi de uma vez para o sétimo andar, acompanhada por certos estudantes de confiança, para pegar esses estudantes no encontro em flagrante. Parece que eles foram avisados de minha chegada, no entanto, porque quando chegamos no sétimo andar, eles corriam em várias direções.

Entretanto, isso não importa. Eu tenho o nome de todos aqui, Senhorita Parkinson correu para a Sala de REquerimento para mim para procurar algo que eles tivessem deixado para trás. Nós precisavamos de evidências e a sala nos proviu..'

E para o horros de Harry, ela tirou de seu bolso a lista com os nomes que tinha sido pendurada na parede da Sala de Requerimento e a passou para Fudge.

No momento em que vi o nome de Potter na lista, eu sabia com o que estávamos lidando com,' ela disse leve.

'Excelente,' disse Fudge, com um sorriso surgindo pelo seu rosto, 'excelente, Dolores. E . . . pelo trovão . . .'

Ele olhou para Dumbledore, que ainda estava ao lado de Marietta, com sua varinha firmemente segurada em sua mão.

'Vê como eles se chamam?' disse Fudge quieto. 'Exército de Dumbledore.'

Dumbledore os alcançou e pegou o pedaço de pergaminho de Fudge. Ele olhou o título escrito por Hermione antes e por um momento parecia incapaz de falar. Então levantou o olhar, sorrindo.

'Bem, o jogo acabou,' ele disse simplesmente. 'Você quer uma confissão escrita de mim, Cornélio - ou uma frase diante dessas testemunhas é o suficiente?'

Harry viu McGonagall e Kingsley olhar um para o outro. Havia medo em ambos os rostos. Ele não entendia o que estava acontecendo e nem, aparentemente Fudge.

'Frase?' disse Fudge devagar. 'O que - eu não - ?'

'Exército de Dumbledore, Cérnelio,' disse Dumbledore, ainda sorrindo enquanto ele balançava a lista de nomes perante o rosto de Fudge. 'Não o Exército de Potter. Exército de Dumbledore.'

'Mas - mas - '

Entendimento surgiu subitamente no rosto de Fudge. Ele deu um passo horrorizado para trás, gritou e pulo fora do fogo de novo.

'Você?' ele sussurrou, pisando de novo em seu manto.

'Isso mesmo,' disse Dumbledore agradavelmente.

'Você organizou isso?'

'Sim,' disse Dumbledore.

'Você recrutou esses estudantes para - para seu exército?'

'Hoje a noite seria o primeiro encontro,' disse Dumbledore, confirmando. 'Meramente para ver se eles estariam interessados em se junta a mim. Vejo agora que foi um engano chamar a Senhorita Edgecombe, é claro.'

Marietta confirmou. Fudge olhou dela para Dumbledore, seu peito suando.

Então você tem planejado contra mim!' ele gritou.

É isso mesmo,' disse Dumbledore animado.

'NÃO!' gritou Harry.

Kingsley lhe deu um alhor de aviso, McGonagall alargou seus olhos ameaçadoramente, mas havia surgido súbitamente em Harry o que Dumbledore estava para fazer, e ele não podia deixa-lo fazer.

'Não - Professor Dumbledore - '!'

'Fique quieto, Harry, ou temo que você terá que deixar meu escritório,' disse Dumbledore calmo.

'É, cale a boca, Potter!' retrucou Fudge, que ainda encarava Dumbledore com um tipo de prazer horrorizado. 'Bem, bem, beml - eu vim aqui hoje a noite esperando expulsar Potter e no entanto - 'No entanto você conseguiu me prender,' disse Dumbledore, sorrindo. 'É como perder um Nuque e achar um Galeão, não é?'

'Weasley!' chorou Fudge, agora positivamente delirando de prazer, 'Weasley, você escreveu isso, tudo o que ele disse, sua confissão, você pegou tudo?'

'sim, senhor, acho que sim, senhor!' disse Percy ansioso, cujo nariz estava manchado de tinta por causa da velocidade com que estava escrevendo.

A parte que ele estava tentando montar um exército contra o Ministrério, como ele estava trabalhando para me desestabilizar?'

'Sim, senhor, eu anotei tudo, sim!' disse Percy, olhando para sua notas alegremente.

'Muito bem, então' disse Fudge, agora radiante de regogizo 'duplique suas notas, Weasley, e mande uma cópia para o Profeta Diário de uma vez por todas. Se mandarmos uma coruja rápida deverá sair na edição da manhã!' Percy correu para a sala, batendo a porta atrás dele, e Fudge se virou para Dumbledore. 'Você será escortado de volta ao Ministério, onde será formalmente julgado, e irá mandado para Azkaban para esperar sua vez!'

'Ah,' disse Dumbledore gentilmente, 'sim. Sim, eu acho que nós podemos acabar com esse pequeno empecilho.'

'Empecilho?' disse Fudge, sua voz ainda vibrando de alegria. 'Eu não vejo empecilho,

Dumbledore!'

Bem,' disse Dumbledore apologético, 'Temo que eu veja.'

'Ah, é?'

'Bem - é que parece que você criou uma ilusão que eu vou - com é a frase - ir silenciosamente.

Temo que não irei calmamente de forma alguma, Cornélio. Eu não tenho a menor intenção de ser mandado para Azkaban. Eu poderia fugir, é claro - mas é puro desperdício de tempo, e francamente, e posso pensar em um monte de coisas melhores para fazer.'

O rosto de Umbridge estava crescendo firmemente de vermelho; ela parecia ter sido cheia de água fervendo. Fudge encarou Dumbledore com uma cara muito boba, como se tivesse sido atingido por uma súbita batida e não podia acreditar no que tinha acontecido. Ele fez um pequeno barulho por causa do choque, então olhou para Kingsley e o homem com o curto cabelo cinza, que diferente de todos na sala, havia permanecido em completo silêncio até agora - O último deu a Fudge uma confirmação o reassegurando e se moveu para frente um pouco, longe da parede. Harry viu sua mão ir, quase casualmente, para o seu bolso.

'Não seja idiota, Dawlish,' disse Dumbledore educadamente. 'Tenho certeza que você é um excelente Auror - Eu me lembro que você conseguiu "Impressionante" em todos os seus NIEMs - mas se você tentar - er - 'me levar pela força, eu serei obrigado a machuca-lo.'

O homem chamado Dawlish piscou parecendo tolo. Ele olhou para Fudge de novo, mas agora parecendo esperar por uma pista sobre o que fazer em seguida.

'Pelas barbas de Merlin, não,' disse Dumbledore, sorrindo, 'a não ser que você seja tolo o suficiente para me forçar.'

'Ele não estará sozinho!' disse Professora McGonagall alto, colocando suas mãos em seu manto.

'Ah sim, estarei Minerva!' disse Dumbledore cortante. 'Hogwarts precisa de você!'

'Chega dessa palhaçada!' disse Fudge, puxando sua própria varinha. 'Dawlish! Shacklebolt!

Peguem Ele!'

Uma saraivada de luzes prateadas cortaram a sala; houve um bag como uma arma e o chão tremeu; uma mão seguraou as golas de HArry e o forçou a abaixar-se no chão quando a segunda saraivada de luzes prateadas vieram; muitos quadros gritaram, Fawkes piou e uma nuvem de poeira encheu o ar. Tossindo na poeira, Harry viu uma figura escura cair no chão com uma batida em sua frente; houve um grito e um som de alguém chorando, 'Não!'; então houve o som de vidro quebrando, frenéticas batidas de passos, um suspiro... e silêncio.

Harry olhou em volta para ver que estava quase lhe estrangulando e viu a Professora McGonagall abaixada ao seu lado; ela tinha força tanto Harry quanto Marietta fora de perigo.

Poeira ainda flutuava gentilmente pelo ar. Palpitando levemente, Harry viu uma vigura muito alta se movendo a eles.

'Vocês estão bem?' Dumbledore perguntou.

'Sim!' disse Professora McGonagall, se levantando e largando Harry e Marietta com ela..

A poeira estava sumindo. Os destroços do escritório ficaram a vista: A mesa Dumbledore estava virada, todas as mesas caidas tinham sido arrancadas do chão, com instrumentos prateados em pedaços. Fudge, Umbridge, Kingsley e Dawlish caidos sem movimento no chão. Fawkes a fênix sobrevoava em largos círculos sobre eles, cantando levemente.

'Infelizmente, eu tive que azarar Kingsley também, ou teria sido muito suspeito,' disse Dumbledore numa voz baixa. 'Ele foi notávelmente rápido, modificando a memória da Senhorita Edgecombe com todo mundo olhando para o outro lado - agradeça a ele por mim, fara isso, Minerva?

'Agora, eles vão acordar em breve e será melhor não saberem que nos comunicamos - você deve agir como se não passou nenhum tempo, como se eles tivesse sido meramente jogados no chão, eles não irão se lembrar - '

'Aonde você vai, Dumbledore?' sussurrou Professora McGonagall. 'Grimmauld Place?'

'Ah não,' disse Dumbledore, com um pequeno sorriso, 'Eu não vou sair para me esconder. Fudge vai logo desejar nunca ter me tirado de Hogwarts, Eu te prometo.'

'Professor Dumbledore . . .' Harry começou.

Ele não sabia o que dizer primeiro: como ele sentia culpado por iniciar o ED em primeiro lugar e causou essa confusão, e quão terrível eles se sentia porque Dumbledore estava indo embora para salva-lo da expulsão? Mas Dumbledore o cortou antes que ele pudesse dizer alguma palavra.

'Me ouça, Harry,' ele disse urgente. 'Você deve estudar Ocluemncia o máximo que puder, você me entendeu? faça tudo que o Professor Snape pedir e pratique particularmente todas as noites antes de ir dormir para que você feche sua mente contra maus sonhos - você entenderá em breve, mas você deve me prometer - '

O homem chamado Dawlish estava se mexendo. Dumbledore pegou o pulso de Harry.

'Lembre-se - feche sua mente - ' Mas assim que os dedos de Dumbledore se fecharam na pele de Harry, uma dor surgiu pela

cicatriz em sua testa e ele sentiu de novo a horrivel vontade igual a uma cobra de atacar Dumbledore, morde-lo, feri-lo - ' ' - você vai entender,' sussurrou Dumbledore.

Fawkes circulou pelo escritório voando baixo sobre ele. Dumbledore soltou Harry, levantou sua mão e agarrou a longa e dourada calda da fênix. Houve uma luz de fogo e o par deles sumiram.

'Onde está ele?' gritou Fudge, empurrando-se do chão. 'Cade ele?'

'Eu não sei!' gritou Kingsley, também ficando de pé.

'Bem, ele não pode ter Disaparatado!' disse Umbridge. 'Você não pode de dentro da escola - '

As escadas!' disse Dawlish, e ele foi para a porta, deixando-a aberta e disaparecendo, seguido de perto de Kingsley e Umbridge. Fudge hesitou, e então foi vagaroso com os pés, limpando poeira de sua frente. Houve um longo e doloroso silêncio.

'Bem, Minerva,' disse Fudge sujo, ajeitando sua arrancada manga da camisa, 'Temo que seja o fim de seu amigo Dumbledore.'

'Você acha?' disse Professora McGonagall.

Fudge pareceu não ouvi-la. Ele olhava pelos destroços do escritório. Uns poucos quadros o vaiaram; um ou dois fizeram gestos ainda mais rudes com a mão.

'Melhor levar esses dois para a cama,' disse Fudge, voltando a olhar para a Professora

McGonagall com um olhar diminuido para Harry e Marietta.

Professora McGonagall não disse nada, mas levou Harry e Marietta para a porta. Quando ela se fechou atrás deles, Harry ouviu a voz Phineas Nigellus.

'Sabe ministro, eu não concordo com Dumbledore em vários assuntos . . . mas você não pode negar que ele tem estilo . . .'

 

 

A PIOR LEMBRANÇA DE SNAPE

POR ORDEM DO MINISTRO DA MAGIA

Dolores Jane Umbridge (Alta Inquisitora) é a substituta de Alvo Dumbledore como Diretora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.

 

A sentença acima está de acordo com o Decreto Educacional Número Vinte e Oito.

 

Firmado por: Cornélio Osvaldo Fudge, Ministro da Magia

 

As notícias correram toda a escola durante a madrugada mas ninguém sabia explicar como cada pessoa dentro daquele castelo parecia saber que Dumbledore tinha passado por dois Aurores, a Alta Inquisitora, o Ministro da Magia e seu Assistente Júnior para escapar. Não importava onde Harry passasse dentro do castelo, o único assunto das rodinhas de conversa era a briga de Dumbledore e, apesar de alguns detalhes tenham sido exagerados no repasse da história (Harry ouviu uma garota do segundo ano assegurando que Fudge agora estava descansando no St. Mungus com uma abóbora no lugar da cabeça), era surpreendente como o resto da informação era preciso. Todos sabiam, por instância, que Harry e Marietta eram os únicos estudantes a presenciar a cena no escritório de Dumbledore e, como Marietta estava na ala hospitalar, Harry se achou assediado com pedidos para dar uma versão dos acontecimentos em primeira mão.

 

- Dumbledore não vai ficar longe por muito tempo - disse Ernesto MacMillan seguramente na volta da aula de Herbologia, depois de ouvir a história de Harry atentamente. - Eles não conseguiram afastá-lo por muito tempo no segundo ano e não vão ser capazes de fazer isso agora. O Frei Gorducho me disse - ele diminuiu o tom de voz para um sussurro, tanto que Harry, Rony e Hermione tiveram que chegar bem perto para ouvir - que Umbridge tentou entrar no escritório dele a noite passada, depois que fizeram a busca por todo o castelo e arredores. Não conseguiu passar pela gárgula. O escritório do diretor se trancou sozinho para impedir a entrada dela - Ernesto deu uma risadinha maliciosa. - Aparentemente ela teve um pequeno piti.

 

- Ah, ela ia se sentir a toda poderosa sentada na cadeira do diretor - disse Hermione maldosamente enquanto subiam os degraus de pedra que dava ao Saguão de Entrada. - Mandando em todos os outros professores, com aquele "hum, hum" irritante, aquela velha louca e...

 

- Não vai terminar a sentença, Granger? - Draco Malfoy apareceu de repente de detrás da porta, seguido de perto por Crabbe e Goyle. Sua face pálida e angulosa resplandecia de malícia. - Receio que vou ter que descontar alguns pontos da Grifinória e da Lufa-lufa - disse com a voz arrastada.

 

- Apenas os professores podem tirar pontos das casas, Malfoy - disse Ernesto num átimo.

 

- É. Nós também somos monitores, esqueceu? - grunhiu Rony.

 

- Eu sei que monitores não podem descontar pontos, Rei Weasel - zombou Malfoy. Crabbe e Goyle riram. - Mas membros do Esquadrão Inquisitorial...

 

- O Esquadrão o quê? - retrucou Hermione, espefata.

 

- O Esquadrão Inquisitorial, Granger - disse Malfoy, apontando para um pequeno "I" prateado em suas vestes bem ao lado de seu emblema de monitor. - Um seleto grupo de estudantes que apóiam o Ministério da Magia, escolhido a dedo pela professora Umbridge. De qualquer forma, membros do Esquadrão Inquisitorial têm o poder de tirar pontos... Então, Granger, vou descontar cinco pontos de você por ter ofendido a nova diretora. Macmillan, cinco por me contrariar. Cinco porque eu não gosto de você, Potter. Weasley, sua camiseta está amassada, então vou tirar mais cinco pontos por isso. Ah, e eu ia esquecendo, você é uma sangue-ruim, Granger, dez pontos a menos.

 

Rony puxou a varinha mas Hermione a tomou dele, murmurando:

 

- Não!

 

- Sábia atitude, Granger - Malfoy disse com a voz anasalada. - Nova Diretora, novos tempos... Seja bonzinho de agora em diante, Potty... Rei Weasel...

 

Gargalhando, ele saiu seguido por Crabbe e Goyle.

 

- Ele estava blefando - disse Ernesto, parecendo intimidado. - Ele não pode ter permissão para descontar pontos... Isso iria contra todos os princípios do sistema de monitoria.

 

Mas Harry, Rony e Hermione se viraram automaticamente para as ampulhetas gigantes que ficavam na parede logo atrás deles, que registravam os pontos das casas. A Grifinória e a Corvinal estavam numa briga acirrada pela liderança durante a manhã. Assim que olharam as pedrinhas subiram outra vez, reduzindo a quantidade depositada no vidro de baixo. Na verdade, a única ampulheta que parecia inalterada era a preenchida de esmeraldas que representava a Sonserina.

 

- Vocês também repararam? - Fred perguntou.

 

Ele e Jorge tinham acabado de descer e se juntar a Harry, Rony, Hermione e Ernesto em frente às ampulhetas.

 

- Malfoy acabou de descontar cerca de cinqüenta pontos da gente - disse Harry, furioso, quando viram mais algumas pedras retornarem à parte superior da ampulheta da Grifinória.

 

- É, Montague tentou fazer isso com a gente no intervalo - disse Jorge.

 

- O que vocês querem dizer com "tentou"? - Rony perguntou rapidamente.

 

- Ele não teve tempo de dizer todas as palavras - disse Fred - devido ao fato de que nós o obrigamos a entrar naquela Cabine de Desaparecimento no primeiro andar.Hermione parecia chocada.

 

- Mas vocês vão se meter numa encrenca terrível!

 

- Não até que o Montague reapareça, e isso pode levar semanas... Eu nem sei pra onde nós o mandamos - disse Fred friamente. - De qualquer forma, nós decidimos que não nos importamos mais em nos meter em encrenca...

 

- E algum dia vocês se importaram? - perguntou Hermione.

 

- Lógico que sim - disse Jorge. - Nunca fomos expulsos, não é mesmo?

 

- Nós sempre soubemos qual era o limite - disse Fred.

 

- Talvez nós tenhamos avançado um dedinho além dele ocasionalmente - disse Jorge.

 

- Mas nós sempre parávamos antes de causar problemas realmente sérios - disse Fred.

 

- E agora? - Rony experimentou perguntar.

 

- Bem, agora... - disse Jorge.

 

- ...que o Dumbledore foi embora... - disse Fred.

 

- ...nós achamos que um pouco de caos... - disse Jorge.

 

- ...é exatamente o que a nossa querida nova diretora merece,- disse Fred.

 

- Vocês não devem - Hermione sussurrou. - Vocês realmente não deveriam! Ela adoraria ter um motivo para expulsar vocês!

 

- Você não entendeu, não é, Hermione? - Fred disse sorrindo para ela. - Nós não nos importamos mais em continuar aqui.

 

- Nós já estaríamos fora daqui se não estivéssemos determinados a fazer uma pequena vingancinha em nome de Dumbledore antes. Bem, de qualquer forma - ele olhou seu relógio de pulso -. a primeira parte está para começar. Eu iria para o Salão Principal almoçar se fosse um de vocês, de forma que os professores possam ver que vocês não têm nada a ver com isso.

 

- Isso o quê? - interrogou Hermione, ansiosa.

 

- Vocês vão ver - disse Jorge. - Agora se mandem.

 

Fred e Jorge se viraram e desapareceram dentro da multidão que descia as escadas para almoçar. Parecendo bastante desconcertado, Ernie murmurou alguma coisa sobre uma tarefa de Transfiguração inacabada e saiu dali.

 

- Acho que nós devíamos dar o fora daqui - disse Hermione, nervosa. - Para evitar que sobre para nós.

 

- Tudo bem - disse Rony e os três se dirigiram à entrada do Salão Principal mas Harry mal tinha notado as nuvens brancas se movendo pelo céu encantado do Salão quando alguém lhe deu um tapinha nas costas e, ao se virar, ele se achou cara a cara com Argo Filch, o inspetor de alunos. Ele se afastou rapidamente, dando vários passos para trás; era melhor ver Filch à distância.

 

- A diretora quer lhe ver, Potter - ele levantou as sobrancelhas denotando um certo prazer.

 

- Não fui eu - Harry soltou estupidamente, pensando no que quer que fosse que Fred e Jorge estavam planejando.

 

A mandíbula de Filch bateu numa risada taciturna.

 

- Consciência pesada, hein? - ele falou com a voz rouca.

 

- Siga-me.

 

Harry olhou de relance para Rony e Hermione, os dois com o mesmo semblante preocupado. Encolheu os ombros e seguiu Filch de volta ao Saguão de Entrada, contra a maré de estudantes.

 

Filch parecia estar de extremo bom humor; zumbia irritantemente ao respirar enquanto subiam a escada de mármore. Assim que chegaram ao primeiro andar ele

disse.

 

- As coisas estão mudando por aqui, Potter.

 

- Eu notei - disse Harry amargamente.

 

- Pois é... Eu venho dizendo a Dumbledore por anos e anos que ele era condescendente demais com vocês - disse Filch, rindo desagradavelmente. - Pequenas bestas imundas que nunca teriam soltado bombas de bosta se soubessem que eu podia açoitá-los até ficarem em carne viva, teriam? Ninguém teria pensado em soltar Fanged Frisbees corredores afora se eu pudesse pendurá-los pelos tornozelos em meu escritório, teriam? Mas quando o Decreto Educacional Número 29 entrar em vigor, Potter, eu poderei fazer estas coisas... E ela pediu ao Ministro para assinar uma ordem para a expulsão do Pirraça... Ah, as coisas vão ser muito diferentes com ela no comando.

 

Obviamente, Umbridge tinha cuidado de alguns detalhes que manteriam Filch a seu lado, Harry pensou, e o pior disso tudo era que ele provavelmente era uma arma importante; seu conhecimento a respeito das passagens secretas e locais escondidos por toda a escola provavelmente só era menor do que o dos gêmeos Weasley.

 

- Aqui estamos nós - ele disse, empurrando Harry depois de dar três batidinhas na porta da diretora e abri-la.

 

- O garoto Potter veio vê-la, Madame.

 

O escritório de Umbridge, tão familiar a Harry depois de tantas detenções, continuava igual, com exceção de um grande bloco de madeira repousando sobre sua mesa, no qual estava escrito com letras douradas: DIRETORA. Sua Firebolt e as Cleansweeps de Fred e Jorge, que ele viu apavorado, também estavam ali, presas num robusto cabideiro de metal numa parede perto da mesa.

 

Umbridge continuava sentada atrás da mesa, ocupada em escrever qualquer coisa em seu pergaminho cor de rosa mas levantou os olhos e sorriu exageradamente quando entraram.

 

- Obrigada Argo - disse docemente.

 

- De nada Madame, de nada - respondeu Filch, fungando o menos que seu reumatismo permitia e saindo em seguida.

 

- Sente-se - disse Umbridge rude, apontando para uma cadeira.

 

Harry se sentou. Ela continuou escrevendo por alguns momentos. Ele olhou alguns dos gatinhos tolos dando cambalhotas nas placas sobre sua cabeça, imaginando que tipo de novidade ela tinha reservado para ele.

 

- Bem, agora - disse finalmente, deixando a pena de lado e o observando complacentemente, como um sapo prestes a engolir um mosquito particularmente saboroso. - O que você gostaria de beber?

 

- Como? - perguntou, certo de que a tinha entendido mal.

 

- Pra beber, Sr. Potter - ela disse, sorrindo ainda mais. - Chá? Café? Suco de abóbora?

 

Assim que ela nomeava cada bebida acenava a varinha num movimento curto e um copo ou xícara da bebida aparecia em sua mesa.

 

- Nada, obrigado.

 

- Eu gostaria que você me acompanhasse - disse, sua voz se tornando perigosamente amável. - Escolha um.

 

- Bem... Então chá - Harry encolheu os ombros.

 

Ela se levantou e deu um pequeno showzinho adicionando leite de costas para o garoto. Então deu à volta em torno da mesa com a xícara, sorrindo de maneira sinistramente doce.

 

- Pronto - disse, entregando a xícara a ele. - Beba antes que esfrie! Bem, agora, Sr. Potter... Eu pensei que nós poderíamos ter uma conversinha rápida, depois dos angustiantes eventos da noite passada.

 

Ele não disse nada. Ela se ajeitou novamente no banco e esperou. Após um grande momento de silêncio, ela bronqueou:

 

- Você não está bebendo!

 

Harry ergueu a xícara junto aos lábios e então, de repente, abaixou-a. Um dos gatinhos mais mal desenhados atrás de Umbridge tinha grande olhos azuis, exatamente como o olho mágico de Olho-Tonto Moody. E ocorreu a Harry o que Olho-Tonto diria se ouvisse que ele tinha tomado algo oferecido por um inimigo declarado.

 

- Qual é o problema? - perguntou Umbridge, que ainda o olhava atentamente. - Quer açúcar?

 

- Não.

 

Ele levou a xícara aos lábios outra vez e fingiu tomar um gole, apesar de manter a boca bem fechada. Umbridge deu um sorriso largo.

 

- Bem - ela murmurou. - Muito bom. Agora... - ela se inclinou um pouco para frente. - Onde está Alvo Dumbledore?

 

- Não faço idéia - Harry respondeu de imediato.

 

- Beba, beba - ela disse, ainda sorrindo. - Agora, Sr. Potter, vamos parar de brincadeiras. Eu sei que você sabe para onde ele foi. Você e Dumbledore estão juntos nessa desde o começo. Considere sua posição, Sr. Potter...

 

- Eu não sei onde ele está - repetiu.

 

Ele fingiu bebericar outra vez. Ela o observava bem de perto.

 

- Muito bem - ela disse, aparentando um certo descontentamento. - Nesse caso, você poderia me dizer o paradeiro de Sirius Black.

 

O estômago de Harry revirou por dentro e a mão que segurava a xícara de chá tremeu, fazendo um barulhinho ao se chocar com o pires. Ele inclinou a xícara rumo a seus lábios contraídos e fechados, um pouco do líquido quente escorregou por suas vestes.

 

- Eu não sei - respondeu um pouco rápido demais.

 

- Sr. Potter, permita-me lembrá-lo que fui eu quem quase pegou o criminoso Black na lareira da Grifinória em outubro. Eu sei perfeitamente bem que ele estava encontrando você e se eu tivesse uma prova nenhum do dois estaria livre hoje, eu lhe garanto. Vou repetir, Sr Potter... Onde está Sirius Black?

 

- Não faço idéia - Harry respondeu bem alto. - Nenhuma pista.

 

Eles se encararam por tanto tempo que os olhos de Harry começaram a lacrimejar. Então Umbridge se levantou.

 

- Muito bem, Sr. Potter, vou aceitar suas desculpas desta vez, mas fique alerta: o poder do Ministério está em minhas mãos. Todos os canais de comunicação dentro e fora desta escola estão sendo monitorados. Um regulador da Rede de Flu está mantendo sob vigilância todas as lareiras de Hogwarts, exceto a minha, é claro. Meu Esquadrão Inquisitorial está abrindo e lendo todas as correspondências que entram e saem do castelo. E o Sr. Filch está observando todas as passagens secretas dentro e fora do castelo. Se eu achar um fio de evidência...

 

BUM!

 

O chão do escritório tremeu. Umbridge caiu de lado, procurando a mesa para se apoiar e parecendo chocada.

 

- O que foi...?

 

Ela estava olhando para a porta. Harry aproveitou a oportunidade para esvaziar sua xícara de chá no vaso de flores murchas mais próximo. Ele podia ouvir pessoas correndo e gritando nos andares inferiores.

 

- Volte para o Salão Principal, Potter! - gritou Umbridge, levantando sua varinha e desaparecendo do escritório.

 

Harry deixou que ela ganhasse alguns minutos à sua frente e então saiu correndo atrás dela para ver que estava causando tanto alvoroço.

 

Não foi difícil de descobrir. No andar debaixo o pandemônio era geral. Alguém (e Harry tinha uma ligeira idéia de quem) tinha soltado uma enorme quantidade de fogos de artifício encantados.

 

Dragões que soltavam faíscas verdes e douradas voavam de um lado para o outro nos corredores, enchendo os lugares por onde passavam do barulho alto das explosões; espirais rosa-choque de quase 3 metros de diâmetro zumbiam letalmente pelo ar, como se fossem discos voadores; foguetes com longas caudas repletas de estrelas prateadas ricocheteavam pelas paredes; traques explodiam como minas em todos os lugares que Harry olhava e, ao invés de se perderem, o gás, a cor ou os ruídos começarem a diminuir até enfim terminar, esses milagres pirotécnicos pareciam ganhar energia e impulso quanto mias ele olhava.

 

Filch e Umbridge estavam parados, aparentemente transfigurados em horror, na metade das escadas. Assim que Harry olhou uma das espirais cor de rosa pareceu decidir que precisava de mais espaço para girar e foi para cima dos dois como um redemoinho que zumbia sinistramente "wheeeeeeeeeeee".

 

Ambos gritaram com medo e mergulharam no chão, então o fogo de artifício voou em direção à janela atrás deles e avançou pelo gramado fora do castelo. Enquanto isso muitos dos dragões e um grande morcego roxo que voava ameaçadoramente se aproveitaram de uma porta aberta no final do corredor e ganharam o segundo andar.

 

- Depressa, Filch, depressa! - grunhiu Umbridge. - Daqui a pouco eles terão tomado conta da escola a não ser que nós façamos alguma coisa. Estupefaça!

 

Um jato de luz vermelha saiu da ponta da varinha da diretora e atingiu um dos foguetes. Em vez de se congelar no ar ele explodiu com tanta força que abriu um buraco numa pintura de uma bruxa encharcada do meio de uma pradaria; ele escapou a tempo, reaparecendo segundos depois espremida na pintura ao lado, onde um grupo de bruxos jogando cartas se levantou rapidamente para dar lugar a ela.

 

- Não tente atordoá-lo, Filch! - Umbridge gritou para o mundo todo como se ele que tivesse encantado os foguetes.

 

- Certamente diretora! - zumbiu Filch, que como aborto poderia atordoar os fogos tanto quanto engoli-los.

 

Deu com um armário próximo, tirou de dentro uma vassoura e começou a esmagar os fogos em pleno ar; dentro de segundos as palhas da vassoura estavam todas queimadas.

 

Harry já tinha visto o bastante; rindo, desceu as escadas devagar, entrou por uma porta escondida detrás de uma peça de tapeçaria um pouco à frente naquele corredor e escorregou por ela para encontrar Fred e Jorge escondidos ali, ouvindo os gritos de Umbridge e Filch, tentando segurar o riso.

 

- Impressionante - disse Harry baixinho, sorrindo. - Realmente impressionante... Vocês acabaram com negócios do Sr. Filibusteiro, sem sombra de dúvidas...

 

- Saúde - murmurou Jorge, enxugando lágrimas que brotavam em sua face de tanto que o rapas ria. - Ah, eu tô torcendo pra que ela tente fazer com que eles desapareçam... Eles se multiplicam por dez a cada tentativa.

 

Os fogos de artifício continuaram a estourar e a se espalhar por toda a escola durante à tarde. Apesar de causarem muitas interrupções nas aulas, especialmente os traques, os outros professores não pareciam muito incomodados.

 

- Querida - disse a professora Minerva sarcasticamente, quando um dos dragões apareceu dentro da sala de Transfiguração, soltando ruídos altos e exalando fogo. - Srta. Brown, você se importaria de ir até a sala da diretora e informá-la que temos um dragão fugitivo em nossa sala?

 

O resultado disso tudo foi que a professora Umbridge passou sua primeira tarde como diretora correndo pela escola toda atendendo aos chamados de outros professores, nenhum dele capaz de dar fim aos fogos de artifícios que invadiam suas salas sem a ajuda dela. Quando o último sinal tocou e estavam voltando para a Torre da Grifinória com suas mochilas Harry viu, com imensa satisfação, uma Umbridge desengonçada e coberta por fuligem cambaleando, o rosto suado, da sala de aula do Professor Flitwick.

 

- Muito obrigado, professora! - disse o professor Flitwick

 

em sua vozinha aguda. - Eu poderia ter me livrado deles sozinho, com certeza, mas eu não estava certo de que tinha autoridade o bastante para isso.

 

Sorridente, ele bateu a porta na cara dela. Fred e Jorge foram aclamados como heróis naquela noite na Torre da Grifinória. Até mesmo Hermione arranjou um jeito de passar pela multidão delirante para parabenizá-los.

 

- Foram fogos maravilhosos - ela disse admirada.

 

- Obrigado - disse Jorge, olhando tão surpreso quanto embevecido. - Granadas Enlouquecidas Weasley. O único problema é que usamos todo nosso estoque; vamos ter que recomeçar do nada agora.

 

- Mas valeu à pena - disse Fred, que estava anotando pedidos de vários grifinórios. - Se você quiser colocar seu nome na lista de espera, Hermione, são apenas cinco galões por uma caixa de Incêndio Básico e vinte por uma Detonação de Luxo.

 

Hermione retornou à mesa onde Harry e Rony estavam sentados fitando suas mochilas desejando que suas tarefas criassem vida e se completassem sozinhas.

 

- Ah, por que não tiramos uma noite para descanso? - disse Hermione contente quando um foguete Weasley de cauda prateada zuniu rumo à janela. - Afinal de contas o feriado da Páscoa começa na sexta-feira, nós vamos ter tempo de sobra então.

 

- Você está se sentindo bem? - Rony perguntou, olhando para ela desconfiado.

 

- Agora que você mencionou - ela respondeu feliz. - Sabe... Eu acho que estou me sentindo um pouquinho... Rebelde.

 

Harry ainda podia ouvir os estouros longínquos dos últimos traques quando ele e Rony subiram para o dormitório uma hora mais tarde. E assim que ele se despiu, um foguetinho flutuou acima da torre, ainda dizendo claramente a palavra 'POO'.

 

Ele se deitou, bocejando. Sem os óculos, os fogos de artifícios que vez ou outra passavam pela janela pareciam borrados, como nuvens brilhantes, bonitas e misteriosas contra o fundo negro do céu. Virou de lado, perguntando-se como Umbridge estaria se sentindo em seu primeiro dia no lugar de Dumbledore e como Fudge reagiria quando soubesse que a escola tinha passado a maior parte do dia na mais absoluta bagunça. Sorrindo sozinho, Harry fechou os olhos... Os zunidos e estouros dos fogos de artifício nos jardins pareciam estar cada vez mais longe... Ou talvez ele estivesse se afastando deles...

 

Ele caíra no mesmo corredor que levava ao Departamento de Mistérios. Estava correndo em direção à porta de sempre... Abra... Abra...

 

Ela se abriu. Estava numa sala circular repleta de portas... Ele a atravessou e colocou a mão na maçaneta de uma porta idêntica à anterior. Girou e entrou. Agora estava numa sala longa e retangular onde um som mecânico estranho se repetia. Havia feixes de luz dançando pelas paredes mas não parou para investigar... Tinha que continuar... Havia uma porta bem no fim... Ta também se abriu apenas ao toque de Harry...

 

Agora estava numa sala mal iluminada tão alta e grande quanto uma igreja, cheia de nada além de linhas e mais linhas de prateleiras elevadas, cada uma delas guardando pequenas esferas de vidro empoeiradas... Agora o coração de Harry batia apressado... Sabia aonde ir... Correu mas seus passos não faziam barulho na enorme sala deserta...

 

Havia algo naquela sala que ele queria, queria muito... Algo que ele queria... Ou que alguma outra pessoa queria... Sua cicatriz estava latejando...

 

BANG!

 

Harry acordou instantaneamente, confuso e arredio. Risos ecoavam pelo dormitório escuro.

 

- Massa! - disse Simas, cuja silhueta podia ser vista contra a janela. - Uma das espirais bateu num foguete! Parece até que estão dando uns amassos, venham ver!

 

Harry ouviu Rony e Dino descerem da cama para ver melhor. Continuou deitado quieto e silencioso enquanto a dor que sentia na cicatriz diminuía e o desapontamento tomava conta dele. Era como se alguém lhe tivesse roubado uma surpresa maravilhosa no último minuto. Tinha chegado tão perto daquela vez.

 

Porquinhos alados cor de rosa e prata estavam agora planando perto das janelas da Torre da Grifinória. Harry se deitou e ouviu os gritinhos de contentamento vindos dos dormitórios abaixo do deles. Seu estômago se revirou enojado quando lembrou que teria aulas de Oclumancia da noite seguinte.

 

Harry desperdiçou o dia seguinte inteiro imaginando o que Snape diria quando descobrisse o quão longe ele havia entrado no Departamento de Mistérios. Com uma pitada culpa, percebeu que não havia praticado Oclumancia desde sua última aula: tinha acontecido muita coisa desde a saída de Dumbledore; tinha certeza que não teria conseguido esvaziar sua mente mesmo que tivesse tentado. No entanto, duvidou que Snape aceitaria essa desculpa. Tentou praticar um pouco de última hora durante as aulas do dia mas não estava dando certo. Hermione continuava perguntado a ele o que estava acontecendo toda vez que ficava calado, tentando se livrar de todos os seus pensamentos e emoções e, além disso, o melhor momento de se esvaziar o cérebro não era enquanto os professores ficavam bombardeando os alunos de perguntas durante as aulas.

 

Resignado a esperar o pior, rumou para o escritório de Snape logo após o jantar. Quando atravessou o Saguão de Entrada, no entanto, Cho veio apressada em sua direção.

 

- Aqui, - disse Harry, feliz em ter uma razão para adiar seu encontro com Snape e acenando para ela de um dos cantos do Saguão onde ficavam as ampulhetas das casas. A da Grifinória estava quase vazia. - Você está bem? A Umbridge não te perguntou nada sobre o ED, perguntou?

 

- Ah, não - disse Cho apressadamente. - Não, é só que... Bem, eu queria dizer... Harry, eu nem sonhava que a Marietta pudesse contar...

 

- Er, tudo bem - respondeu meio mal humorado. Achava que Cho devia escolher seus amigos com um pouco mais de cuidado; ao menos, para compensar, a última notícia que ouvira sobre Marietta era que a menina continuava na ala hospitalar e Madame Pomfrey não fora capaz de conseguir nem uma melhora mínima nos furúnculos que tinham aparecido em seu rosto.

 

- Ela é uma pessoa adorável, de verdade. Ela só cometeu um engano...

 

Harry a fitou. incrédulo.

 

- Uma pessoa adorável que cometeu um engano? Ela entregou todos nós, inclusive você!

 

- Bem... Todos nós escapamos, não foi? - Cho alegou. - Você sabe, a mãe dela trabalha no Ministério, é realmente difícil para ela...

 

- O pai do Rony também trabalha no Ministério! - Harry retorquiu furiosamente. - E caso você não tenha percebido, não está escrito "dedo-duro" na cara dele...

 

- Isso foi um truque horrível daquela Hermione Granger - Cho retrucou feroz. - Ela tinha que ter avisado que tinha enfeitiçado aquela lista...

 

- Pois eu achei que foi uma idéia brilhante! - Harry respondeu friamente. Cho ruboresceu e seus olhos se escancararam cheios de brilho.

 

- Ah, claro, eu tinha esquecido... Lógico, se foi uma idéia da sua querida Hermione...

 

- Não comece a chorar novamente - Harry advertiu.

 

- Eu não ia chorar.

 

- Ah, tá... Bem, eu já tenho preocupações suficientes no momento.

 

- Então vá cuidar delas! - Cho respondeu furiosa, retomando seu caminho e saindo dali.

 

Fumegando de raiva, Harry desceu as escadas que davam à masmorra de Snape e, apesar de saber por experiência própria que seria muito mais fácil para Snape penetrar em sua mente se estivesse zangado, não conseguiu parar de pensar em mais uma meia dúzia de coisas que poderia ter dito a Cho sobre Marietta antes de chegar à porta da sala.

 

- Atrasado, Potter - disse Snape, friamente, assim que Harry fechou a porta atrás de si.

 

Snape estava de costas para Harry, filtrando, como de costume, parte de seus pensamentos e os depositando cuidadosamente na penseira de Dumbledore. Deixou o último fio prateado cair no recipiente de pedra e encarou Harry.

 

- Então, tem praticado?

 

- Sim - Harry mentiu, desviando o olhar para uma das pernas da mesa de Snape.

 

- Bom, nós vamos descobrir logo, não vamos? - disse num tom de voz suave. - Varinha em punho, Potter.

 

Harry assumiu a posição habitual, encarando Snape com a mesa entre ambos. Seu coração acelerado com raiva de Cho e ansiedade a respeito de quanto Snape conseguiria extrair de sua mente.

 

- Quando eu disser três - disse Snape preguiçosamente. - Um... Dois...

 

A porta do escritório de Snape bateu com estrondo e Draco Malfoy entrou.

 

- Professor Snape, senhor... Oh... Desculpe-me...

 

Malfoy olhou surpreso para Harry e Snape.

 

- Tudo bem Draco - disse Snape, abaixando a varinha. - Potter está aqui para tomar algumas aulinhas de reforço em Poções.

 

A última vez que Harry vira Malfoy ficar tão contente fora quando Umbridge aparecera para inspecionar a aula de Hagrid.

 

- Eu não sabia - ele disse, olhando de soslaio para Harry, que sentia seu rosto ferver. Ele queria que tivessem lhe dado oportunidade de jogar toda a verdade na cara de Malfoy ou, melhor ainda, derrubá-lo com um bom feitiço.

 

- Bem, Draco, o que houve?

 

- É a professora Umbridge, senhor... Ela precisa de sua ajuda - disse Malfoy. - Acharam Montague, senhor, ele apareceu esmagado numa cabine do banheiro no quarto andar.

 

- Como ele foi parar lá? - perguntou Snape.

 

- Eu não sei, senhor, ele está um pouco confuso.

 

- Muito bem, muito bem. Potter, acho melhor adiarmos esta aula para amanhã à noite.

 

Ele se virou e deixou o escritório. Malfoy murmurou "Reforço em Poções?" para que Harry ouvisse, deixando a sala logo atrás de Snape.

 

Fervendo por dentro, Harry recolocou a varinha dentro das vestes e começou a sair da sala. Ao menos tinha mais 24 horas para praticar, sabia que deveria se sentir feliz por ter escapado, apesar de isso ter custado caro: Malfoy com certeza espalharia para a escola toda que estava tendo aulas de reforço em Poções. Já estava junto à porta quando viu um fio de luz tremeluzia no batente. Parou e ficou contemplando a luz, lembrando-se de alguma coisa... Então a recordação veio nítida: aquilo parecia com as luzes que tinha visto em seu sonho naquela noite, as luzes da segunda sala por onde tinha passado em sua jornada pelo Departamento de Mistérios.

 

Ele olhou em volta. A luz estava saindo da penseira que descansava sobre a mesa de Snape. O conteúdo prateado rodando ligeiramente dentro dela. Os pensamentos de Snape... Coisas que ele não queria que Harry visse caso quebrasse as defesas de Snape acidentalmente...

 

Harry contemplou a penseira, a curiosidade tomando conta de si... O que era quilo que Snape parecia tão determinado em esconder de Harry? As luzes prateadas tremiam na parede... Harry deu dois passos em direção à mesa. Poderia ser algum tipo de informação a respeito do Departamento de Mistérios?

 

Olhou por sobre o ombro, seu coração agora batendo mais rápido e mais forte do que nunca. Quanto tempo levaria para Snape release Montague do banheiro? Voltaria diretamente para seu escritório depois disso ou acompanharia Montague à ala hospitalar? Provavelmente a segunda opção... Montague era o capitão do time de quadribol da Sonserina, Snape deveria querer ter certeza de que estava tudo bem.

 

Harry andou pelo curto caminho que o separava da penseira e parou ali, admirando sua profundidade. Hesitou, ouvindo, então sacou sua varinha outra vez. O escritório e o corredor que dava nele estavam em completo silêncio. Mexeu no conteúdo da penseira com a ponta da varinha. O líquido prateado começou a girar rapidamente. Harry se inclinou sobre o objeto e viu a mistura se tornar transparente. Ele estava, mais uma vez, olhando dentro de uma sala, como se olhasse por uma janela circular no teto... Na verdade, a não ser que estivesse muito enganado, estava olhando para o Salão Principal.

 

Sua respiração estava embaçando a superfície dos pensamentos de Snape... Seu cérebro parecia estar num limbo... Seria uma verdadeira loucura fazer aquilo que estava tentado a fazer... Estava tremendo... Snape poderia voltar a qualquer momento... Mas Harry pensou na raiva que sentia de Cho, da cara zombeteira de Malfoy e uma ousadia imprudente encheu seu peito.

 

Respirou fundo e mergulhou o rosto na superfície dos pensamentos de Snape. Imediatamente o chão tremeu, empurrando Harry para dentro da penseira... Estava caindo por uma escuridão gelada, girando furiosamente por ela, e então...

 

Estava de pé bem no meio do Salão Principal mas as quatro mesas das casas tinham sumido. No lugar delas havia mais de uma centena de mesinhas, todas voltadas para o mesmo lugar e, em cada uma delas, estava sentado um estudante, cabeça baixa, escrevendo num rolo de pergaminho. O único som que se podia ouvir no local era o das penas arranhando e um ou outro sussurro de alguém ajustando o pergaminho. Era claramente hora de exame.

 

Raios de sol fluíam pelas janelas mais altas atingindo as cabeças inclinadas, que resplandeciam o castanho, o cobre e o dourado na luz brilhante. Harry olhou ao redor cuidadosamente. Snape tinha que estar em algum lugar... Era uma lembrança dele...

 

E lá ele estava, na mesinha logo atrás de Harry. Fitou-o. O Snape-adolescente tinha uma aparência pálida

 

e pegajosa, como uma planta mantida no escuro. Seu cabelo era liso e gorduroso e estava caindo sobre a mesa, seu nariz em forma de gancho distante menos de um dedo da superfície do pergaminho em que escrevia. Harry andou em volta de Snape e leu o título do exame: DEFESA CONTRA AS ARTES DAS TREVAS - NÍVEL ORDINÁRIO DE MAGIA.

 

Então Snape devia estar com 15 ou 16 anos, mais ou menos a mesma idade que Harry. Sua mão voava pelo pergaminho; já tinha escrito pelo menos uns 50 centímetros a mais que seus colegas mais próximos e sua letra era miúda.

 

- Mais cinco minutos!

 

A voz fez Harry pular. Ao se virar deu com a cabeça do professor Flitwick se movendo entre as cadeiras pouco adiante. O professor Flitwick estava passando ao lado de um garoto de cabelo negro e despenteado... Bastante negro e despenteado... Harry se virou tão rápido que, se fosse sólido, teria derrubado algumas carteiras. Em vez disso, deslizou, como um sonho, por entre dois corredores até um terceiro. A parte de trás da cabeça do rapaz moreno estava cada vez mais nítida e... Estava se levantando agora, guardando sua pena, abrindo o rolo de pergaminho à sua frente para reler o que tinha escrito...

 

Harry parou em frente à carteira e ficou a observar seu pai-adolescente.

 

Uma pontada de excitação pareceu tomar conta de seu estômago: era como se olhasse para si mesmo, com alguns enganos propositais. Os olhos de Tiago eram castanhos, seu nariz um pouquinho mais longo que o de Harry mas tinham o mesmo rosto fino, a mesma boca, as mesmas sobrancelhas; o cabelo de Tiago espetava atrás exatamente como o de Harry, suas mãos podiam ser as de Harry e Harry podia dizer, quando viu Tiago de pé, que tinham exatamente a mesma altura.

 

Tiago deu um bocejo demorado e amarrotou os cabelos, deixando-os mais bagunçados do que já eram. Então, depois de olhar para o professor Flitwick, ele se virou para trás na cadeira e sorriu para um garoto sentado quatro carteiras atrás dele.

 

Com outro choque de excitação, Harry viu Sirius fazer um sinal de ok para Tiago. Sirius estava largado em sua cadeira, equilibrando-a apenas nas pernas traseiras. Ele era realmente atraente; o cabelo escuro lhe caía sobre os olhos numa espécie de elegância casual que nem Tiago nem Harry nunca conseguiriam ter, e uma garota sentada atrás dele lançava olhares esperançosos, apesar de que ele não parecia ter reparado. E duas cadeiras ao lado da garota - o estômago de Harry se contorceu prazerosamente outra vez - estava Remo Lupin. Ele parecia bastante pálido e adoentado (será que a lua cheia estava chegando?), absorto em seu exame: conforme relia suas respostas, arranhava a testa com a ponta da pena, franzindo-a de leve.

 

Isso queria dizer que Rabicho também deveria estar ali em algum lugar... E completamente seguro disso Harry o avistou em poucos segundo; roia as unhas, olhando para seu teste, arranhando o solo com os dedos do pé. A todo instante dava olhadas furtivas nos exames dos colegas a seu lado. Harry fitou Rabicho por um momento e depois voltou a olhar Tiago, que agora rabiscava um pedaço qualquer de pergaminho. Ele tinha desenhado um pomo-de-ouro e agora estava escrevendo as letras 'L.E.'. O que elas significavam?

 

- Guardem suas penas, por favor! - berrou o professor Flitwick. - Isso inclui você também, Stebbins!. Por favor, continuem sentados enquanto eu recolho seus exames! Accio!

 

Mais de uma centena de rolos de pergaminho flutuou no ar na direção dos braços escancarados do professor Flitwick, derrubando-o no chão. Muita gente riu. Alguns dos alunos que estavam nas carteiras da frente se levantaram, seguraram o professor pelos cotovelos e o puseram de pé.

 

- Obrigado... Obrigado - o professor Flitwick disse ofegante. - Muito bem, já podem ir embora!

 

Harry voltou a olhar para seu pai, que tinha rabiscado apressadamente o 'L.E.' que há pouco se preocupava em embelezar; ele se pôs de pé, enfiou a pena e o papel do exame dentro da mochila, que jogou sobre as costas, e ficou esperando Sirius vir encontrá-lo.

 

Harry olhou ao redor e pegou Snape não muito longe deles, movendo-se entre as mesas em direção ao hall de entrada, ainda absorto em seu próprio exame. Os ombros angulosos e curvados faziam com que seu andar lembrasse o de uma aranha e seu cabelo oleoso continuava caindo em seu rosto.

 

Um grupinho de garotas faladeiras separava Snape de Tiago, Sirius e Lupin e, misturando-se a elas, Harry conseguia manter um olho em Snape e seus ouvidos para ouvir a conversa de Tiago e seus amigos.

 

- Gostou da pergunta dez, Aluado? - perguntou Sirius quando atingiram o Saguão de Entrada.

 

- Amei - respondeu Lupin animado. - Dê cinco sinais que permitem identificar o lobisomem. Ótima pergunta.

 

- Você acha que conseguiu lembrar de todos? - Tiago falou em tom de gozação.

 

- Acho que sim - disse Lupin seriamente quando se juntaram à multidão que se aglomerava perto das portas de entrada, afoitas para ir para fora aproveitar a luz do sol. - Um: ele está sentado na minha cadeira. Dois: ele está usando as minhas roupas. Três: o nome dele é Remo Lupin.

 

Rabicho foi o único que não riu.

 

- Eu lembrei do formato do focinho, das pupilas dilatadas e da cauda em escovinha - disse ansiosamente - mas eu não consegui pensar em mais nada.

 

- Como você consegue ser tão tapado, Rabicho? - Tiago retorquiu impaciente. - Você dá voltinhas com um lobisomem uma vez por mês...

 

- Fala baixo - Lupin implorou.

 

Harry olhou para trás, ansioso. Snape continuava por perto, ainda absorto nas questões de seu exame - mas essa era uma lembrança de Snape e Harry tinha certeza que, se Snape resolvesse ir para qualquer outro lugar em vez dos jardins, ele, Harry, não poderia mais seguir Tiago. No entanto, para seu alívio, quando Tiago e seus três amigos avançaram pela grama em direção ao lago Snape os seguiu, ainda estudando a prova e, aparentemente, sem se dar conta de onde estava indo. Mantendo-se um pouco à frente dele, Harry continuou de olho em Tiago e nos outros.

 

- Bom, eu achei essa prova baba - ele ouviu Sirius dizer. - Duvido que eu não consiga no mínimo um "Excelente".

 

- Eu também - disse Tiago. Ele guardou a varinha no bolso e pegou um inquieto pomo-de-ouro.

 

- Onde você conseguiu isso?

 

- Roubei - Tiago respondeu com descaso. Começou a brincar com o pomo, deixando que voasse uns 50 centímetros no ar antes de agarrá-lo outra vez; seus reflexos eram excelentes.

 

Rabicho o contemplava admirado. Pararam debaixo da sombra da mesma árvore na margem do lago onde Harry, Rony e Hermione tinham passado um domingo inteiro terminando seus deveres e se jogaram na grama. Harry olhou para trás novamente e constatou, com alegria, que Snape tinha se ajeitado na grama também, debaixo da sombra densa de um amontoado de arbustos. Ele continuava profundamente imerso na prova do N.O.M., o que deixava Harry livre para se sentar no gramado entre a árvore e os arbustos e, assim, assistir ao grupinho debaixo da árvore. A luz do sol resplandecia sobre a superfície lisa do lago, na beirinha em que o grupo de garotas risonhas que tinha acabado de deixar o Saguão de Entrada estava sentado, de pés descalços, refrescando-os na água.

 

Lupin tinha aberto um livro e estava lendo. Sirius observava a confusão de estudantes pelo gramado, parecendo bastante aborrecido e desdenhoso mas de uma maneira muito charmosa também. Tiago continuava brincando com o pomo, deixando-o ir cada vez mais longe, quase escapando, mas sempre o agarrando no último segundo. Rabicho o observava de boca aberta. A cada pegada particularmente difícil de Tiago, Rabicho ofegava e aplaudia. Depois de cinco minutos disso, Harry se perguntou por que Tiago não mandava Rabicho se tocar mas ele aprecia estar gostando daquela atenção. Harry reparou que seu pai tinha o costume de bagunçar ainda mais o cabelo como se para evitar que ficasse arrumado. E que, volta e meia, olhava para as garotas na beira do lago.

 

- Melhor você guardar isso logo - disse Sirius finalmente, após Tiago fazer uma ótima pegada e Rabicho deixar escapar um assobio -, antes que o Rabicho se molhe de tanta excitação.

 

Rabicho ficou levemente vermelho mas Tiago riu.

 

- Se isso te incomoda - ele disse, enfiando o pomo dentro do bolso. Harry teve a impressão de que Sirius era a única pessoa que conseguiria fazer Tiago parar de se mostrar.

 

- Isso aqui tá muito monótono - disse Sirius. - Queria que fosse lua cheia.

 

- Só você - Lupin retorquiu sombriamente detrás do livro. - Nós ainda temos os exames de Transfiguração. Se você não tem nada pra fazer podia me testar. Aqui... - e ele ofereceu o livro.

 

Mas Sirius fez pouco caso.

 

- Eu não preciso nem olhar para esse lixo. Sei tudo de cor.

 

- Isso vai te animar, Almofadinhas - disse Tiago calmamente. - Olha que está aqui - Sirius virou a cabeça. Ele ficou aceso, como um cachorro que farejou um coelho.

 

- Excelente - disse suavemente. - Seboso.

 

Harry se virou para ver o que Sirius estava olhando, Snape estava de pé novamente e guardava o teste em sua mochila. Assim que deixou a sombra dos arbustos e começou a andar pela grama Sirius e Tiago se colocaram em seu caminho.

 

Lupin e Rabicho continuaram sentados: Lupin ainda tinha os olhos presos no livro, apesar de que eles não se moviam, sua testa tinha se franzido demarcando uma linha entre suas sobrancelhas. Rabicho olhava de Sirius e Tiago para Snape com um semblante ávido de antecipação.

 

- Tudo bem, Seboso? - Tiago perguntou em voz bem audível.

 

Snape reagiu tão rapidamente que era como se estivesse esperando para ser atacado: derrubando sua mochila, tirou a mão de dentro das vestes e sua varinha já estava meio caminho no ar quando Tiago gritou.

 

- Expelliarmus!

 

A varinha de Snape voou uns seis metros no ar e caiu com um pequeno estrondo na grama atrás dele. Sirius soltou uma gargalhada.

 

- Impedimenta! - ele disse, apontando sua varinha na direção de Snape, que foi jogado longe enquanto ia em busca de sua varinha.

 

Os estudantes em volta se viraram para assistir. Alguns deles tinham se levantado e estavam se aproximando. Alguns pareciam apreensivos, outros divertidos.

 

Snape estava caído arquejante no solo. Tiago e Sirius avançaram em sua direção, varinhas erguidas, Tiago dando olhares furtivos por sobre o ombro na direção das garotas na beira do lago. Rabicho estava de pé agora, consumindo a cena com o olhar, perambulando ao redor de Lupin para conseguir uma visão melhor.

 

- Como você foi no exame, Seboso? - perguntou Tiago.

 

- Eu estava observando o nariz dele estava tocando o pergaminho - disse Sirius maldosamente. - Deve ter marcas enormes de óleo no pergaminho inteiro, eles não vão conseguir ler uma palavra.

 

Muita gente que estava em volta riu; Snape era claramente impopular. Rabicho gargalhou. Snape tentava se levantar mas a azaração ainda estava funcionando; estava preso, como se estivesse amarrado por cordas invisíveis.

 

- Você... Você não perde por esperar - ele resmungou ofegante, fitando Tiago com uma expressão da mais pura aversão. - Não perde por esperar!

 

- Esperar pelo quê? - disse Sirius, irônico. - O que você vai fazer, Seboso, escarrar na gente?

 

Snape soltou uma mistura de palavras encantadas e maldiçoes mas com sua varinha tão longe nada aconteceu.

 

- Lave essa boca - disse Tiago, friamente. - Esfregaça!

 

Bolhas cor de rosa de sabão saíram da boca de Snape de uma vez; a espuma estava cobrindo seus lábios, como uma mordaça, sufocando-o...

 

- Deixe-o em PAZ!

 

Tiago e Sirius olharam ao redor. A mão de Tiago que não segurava a varinha voou em direção ao cabelo.

 

Era uma das garotas que há pouco estavam na beira do lago. Ela tinha um cabelo volumoso, de cor acaju, que caía sobre seus ombros, olhos amendoados de cor verde, extremamente brilhantes - os olhos de Harry. A mãe de Harry.

 

- Tudo bom, Evans? - disse Tiago, e o tom de sua voz mudou subitamente. Estava mais profundo, mais maduro.

 

- Deixe-o em paz - Lílian repetiu. Ela encarava Tiago com todos os sinais de uma grande antipatia. - O que ele fez pra você?

 

- Bem - disse Tiago, aparentando pensar sobre o caso -, é mais o fato de que ele existe, se é que você me entende...

 

Muitos dos alunos ao redor riram, Sirius e Rabicho também, mas Lupin, aparentemente ainda concentrado em seu livro, não riu, tampouco Lílian.

 

- Você se acha muito engraçado - ela retorquiu friamente. - Mas você é só um piadista infame e arrogante, Potter. Deixe-o em paz.

 

- Eu deixo se você sair comigo, Evans - Tiago respondeu rapidamente. - Vamos... Saia comigo e eu nunca mais encosto a varinha no velho Seboso outra vez.

 

Atrás dele, o efeito do feitiço Impedimenta estava se acabando. Snape estava começando a engatinhar para junto de sua varinha, deixando escapar bolhas de sabão enquanto se movia.

 

- Eu não sairia com você nem se eu só pudesse escolher entre você e a lula gigante - disse Lílian.

 

- Deu azar, Pontas - disse Sirius marotamente e se virou para Snape. - HEY!

 

Tarde demais; Snape tinha a varinha apontada exatamente na direção de Tiago; um feixe de luz e um corte apareceu num dos lados do rosto de Tiago, manchando suas vestes com sangue. Tiago revidou: um segundo feixe de luz e Snape estava pendurado de cabeça para baixo no ar, suas vestes descendo e revelando um par de pernas pálidos e esqueléticos e cuecas de cor cinza.

 

Muitas das pessoas naquela pequena multidão aplaudiam; Sirius, Tiago e Rabicho se fartavam de rir; Lílian, cuja expressão de fúria hesitou por um instante como se fosse se render ao riso, disse.

 

- Coloque-o no chão!

 

- Com certeza - Tiago respondeu baixando a varinha; Snape caiu como uma pilha de roupas amontoada no chão. Desenroscando-se de suas próprias vestes, ele se levantou rapidamente, varinha em punho, mas Sirius bradou.

 

- Petrificus Totalus! - Snape caiu outra vez, rígido como uma tábua.

 

- DEIXE-O EM PAZ! - Lílian gritou. Ela tinha sua própria varinha empunhada agora. Tiago e Sirius olharam cautelosos.

 

- Ah, Evans, não me faça azarar você - disse Tiago sério.

 

- Então retire o feitiço.

 

Tiago respirou fundo e então se voltou para Snape e murmurou o contra-feitiço.

 

- Prontinho - disse quando Snape se colocou de pé novamente. - Você teve sorte de a Evans estar aqui, Seboso...

 

- Eu não preciso da ajuda de sangue-ruins imundos como ela!

 

Lílian piscou.

 

- Bem - ela respondeu friamente. - Não vou me incomodar no futuro. E eu lavaria suas cuecas se eu fosse você, Seboso.

 

- Peça desculpas para Evans! - Tiago rugiu na direção de Snape, a varinha apontada ameaçadoramente para ele.

 

- Eu não quero que você o faça se desculpar - Lílian gritou para Tiago. - Você é tão desprezível quanto ele.

 

- Quê? - ganiu Tiago. - Eu NUNCA chamei você de... Você-sabe-o-quê!

 

- Bagunçando seu cabelo só porque você acha legal parecer que acabou de descer da sua vassoura, se mostrando com aquele pomo estúpido, andando pelos corredores e azarando quem quer que seja só porque você pode... Estou surpresa que sua vassoura consiga sair do chão com um ego tão inflado quanto o seu. Você me dá NOJO.

 

Ela se virou e correu dali.

 

- Evans! - Tiago gritou por ela. - HEY, EVANS!

 

Mas ela nem olhou para trás.

 

- O que é que deu nela? - disse Tiago, tentado e fracassando em parecer que esta não era uma questão de grande importância para ele.

 

- Lendo nas entrelinhas eu diria que ela acha você um pouquinho convencido, cara - respondeu Sirius.

 

- Certo - disse Tiago, que parecia furioso agora -, certo...

 

Houve um novo feixe de luz e Snape estava novamente suspendo de ponta-cabeça no ar.

 

- Quem quer me ver tirar as cuecas do Seboso?

 

Se Tiago realmente fez isso Harry nunca descobriu. Uma mão segurava apertado seu braço, fechado num arco parecido com o de uma pinça. Estremecendo, Harry olhou em volta para saber quem o estava segurando e viu, com uma pontada de horror, um Snape completamente crescido, adulto, parado bem a seu lado, branco de ódio.

 

- Se divertindo?

 

Harry se sentiu se subindo no ar; o dia de verão evaporando em volta dele; estava flutuando por uma escuridão gélida, a mão de Snape ainda apertando seu braço. Então numa reviravolta repentina se sentiu como se estivesse de ponta-cabeça em pleno ar, seus pés tocaram o chão de pedra da masmorra de Snape. Estava de pé outra vez ao lado da mesa onde estava a penseira, debaixo da sombra do professor de Poções.

 

- Então - disse Snape, apertando o braço de Harry tão bruscamente que a mão do garoto estava começando a adormecer. - Então... Está se divertindo, Potter?

 

- N-não - respondeu Harry, tentando livrar seu braço.

 

Era aterrorizante: os lábios de Snape estavam tremendo, sua face estava branca, os dentes, cerrados.

 

- Seu pai era um homem muito divertido, não era? - disse Snape, sacudindo Harry tão forte que seus óculos escorregaram pelo nariz.

 

- Eu... Não...

 

Snape empurrou Harry para longe dele com toda a vontade. o garoto caiu dolorosamente no chão da masmorra.

 

- Você não vai repetir o que viu para ninguém! - Snape berrou.

 

- Não - disse Harry, levantando-se rapidamente e se colocando o mais longe possível de Snape. - Não, é claro que eu não...

 

- Suma daqui, suma! Eu não quero ver você nesse escritório nunca mais!

 

E assim que Harry atingiu a porta um vidro cheio de baratas mortas explodiu sobre sua cabeça. Largou a porta aberta e correu desabalado pelo corredor, parando somente quando já estava há três andares de distância de Snape. Ali se apoiou numa parede, esbaforido e massageando seu braço machucado. Não tinha a menor vontade de voltar para a Torre da Grifinória tão cedo nem de contar a Rony e Hermione sobre o que vira. O que estava deixando Harry tão aterrorizado e infeliz não era ter sido enxotado ou as jarras que Snape tinha arremessado contra ele; era que sabia como era ser humilhado em meio a uma multidão de curiosos, sabia exatamente como Snape tinha se sentido quando seu pai o insultou e, julgando pelo que acabara de ver, seu pai era tão arrogante quanto Snape sempre dissera que era.

 

 

ORIENTAÇÃO VOCACIONAL

- Mas por que você não tem mais aulas de Oclumancia? - perguntou Hermione franzindo a testa.

 

- Eu já disse - Harry murmurou -, Snape acha que eu posso continuar sozinho agora que eu tenho a base.

 

- Então você parou de ter sonhos estranhos? - perguntou, cética.

 

- Praticamente - falou Harry, sem olhar para ela.

 

- Bom, eu não acho que Snape deveria parar até você ter certeza absoluta que pode controlá-los! - disse indignada. - Harry, eu acho que você deveria ir até ele e perguntar...

 

- Não. - falou Harry firme. - Esquece isso, ok, Hermione?

 

Era o primeiro dia das férias de páscoa e Hermione, como era de costume, tinha passado grande parte do dia montando horários de revisão para os três. Harry e Rony a deixaram fazer isso; era mais fácil do que brigar com ela e, de qualquer forma, poderiam ser úteis.

 

Rony tinha ficado espantado ao descobrir que só tinham seis semanas até os exames.

 

- Como isso pode ser uma surpresa? - Hermione questionou enquanto batia com sua varinha em cada quadrado do horário de Rony para que tivesse uma cor diferente de acordo com a matéria.

 

- Eu não sei - falou Rony. - Tem muita coisa acontecendo.

 

- Bom, aí está - disse, entregando a tabela de horários para ele. - Se você seguir isso vai se dar bem.

 

Rony olhou para a tabela desanimado mas então se animou.

 

- Você me deu uma noite de folga toda semana!

 

- É para o treino de quadribol - falou Hermione.

 

O sorriso sumiu do rosto de Rony.

 

- De que adianta? - falou chateado. - Nós temos tantas chances de ganhar a Taça de Quadribol esse ano quanto meu pai tem de se transformar em Ministro da Magia.

 

Hermione não disse nada; estava olhando para Harry, que estava encarando desinteressadamente a parede do outro lado da sala comunal enquanto Bichento batia com a pata em sua mão, tentando fazer com que ele coçasse suas orelhas.

 

- O que aconteceu, Harry?

 

- O quê? - falou rápido. - Nada.

 

Agarrou seu exemplar de Teoria da Mágica Defensiva e fingiu estar procurando por alguma coisa no índice. Bichento desistiu de esperar e se esgueirou para baixo da cadeira de Hermione.

 

- Eu vi a Cho mais cedo - disse Hermione, hesitante. - Ela parecia muito mal também... Vocês dois brigaram de novo?

 

- O qu... Ah, sim, nós discutimos - falou Harry, enquadrando-se na desculpa.

 

- Por quê?

 

- Aquela amiga cobra dela, Marietta.

 

- É, bem, eu não te culpo! - falou Rony zangado, largando seu horário. - Se não tivesse sido por ela...

 

Rony começou a discursar contra Marietta Edgecombe, o que Harry achou de muita ajuda; tudo que precisava fazer era parecer zangado, acenar com a cabeça e dizer "é" e "isso mesmo" sempre que Rony parava para respirar, deixando sua mente livre para devanear, ainda mais miseravelmente, sobre o que tinha visto na penseira.

 

Ele se sentia como se a lembrança o estivesse consumindo por dentro. Tinha estado tão certo de que seus pais eram pessoas maravilhosas que nunca tinha tido a menor dificuldade em não acreditar nas falhas que Snape atribuía ao caráter do seu pai. Pessoas como Harry e Sirius não disseram a Harry quanto seus pais tinham sido fantásticos? ("É, bem, olha bem para o próprio Sirius", disse uma voz implicante dentro da cabeça de Harry... "Ele era mau, não era?") Sim, ele tinha uma voz ouvido professora McGonagall dizendo que seu pai e Sirius tinham sido bagunceiros na escola mas ela os tinha descrito como concorrentes para os gêmeos Weasley e Harry não conseguia imaginar Fred e Jorge virando alguém de cabeça para baixo apenas por diversão... Ao menos que realmente o odiassem... Talvez Malfoy ou alguém que realmente merecesse isso...

 

Harry tentou inventar um caso para que Snape tivesse merecido o que sofreu nas mãos de Tiago, mas Lílian não tinha perguntado "O que ele te fez" e Tiago respondeu "É mais pelo fato de ele existir, se você entende o que eu falo". Tiago não tinha começado tudo isso simplesmente porque Sirius disse que estava de saco cheio? Harry lembrava de Lupin falando em Grimmauld Place que Dumbledore o tinha escolhido para monitor na esperança que exercesse algum controle sobre Tiago e Sirius... Mas na penseira ele tinha se sentado lá e deixado tudo acontecer...

 

Continuou se lembrando que Lílian tinha intervindo; sua mãe tinha sido decente. Mas a memória da expressão em seu rosto quando gritou com Tiago o mais perturbada do que qualquer outra coisa; ela tinha claramente odiado Tiago e Harry simplesmente não conseguia entender como poderiam ter acabado se casando. Uma ou duas vezes ele até se perguntou se Tiago a teria forçado a isso. Por aproximadamente cinco anos pensar em seu pai tinha sido uma fonte de conforto, de inspiração. Sempre que alguém dizia e ele que era como Tiago ele inflava de orgulho por dentro. E agora... Agora se sentia frio e triste ao pensar nele.

 

O tempo foi ficando mais fresco, claro e quente conforme as férias de Páscoa passavam mas Harry, junto com os quinto e setimanistas, estava preso do lado de dentro, revisando, indo e voltando da biblioteca. Fingiu que seu mau humor não tinha outro motivo que não fosse a proximidade dos exames e como seus colegas grifinórios estavam cheios de estudar sua desculpa não foi questionada.

 

- Harry, eu estou falando com você, você consegue me ouvir?

 

- Ahn?

 

Ele olhou em volta. Gina Weasley, parecendo muito descabelada, tinha se juntado à mesa da biblioteca onde estivera sentado sozinho. Era domingo à noite: Hermione tinha voltado a torre da Grifinória para revisar Runas Antigas e Rony tinha treino de quadribol.

 

- Ah, oi - falou Harry, largando seus livros. - Por que você não está no treino?

 

- Acabou. Rony teve que levar Jack Sloper para a Ala Hospitalar.

 

- Por quê?

 

- Bem, nós não temos certeza mas achamos que ele se atingiu com o próprio bastão - ela suspirou pesadamente - De qualquer forma, o pacote acabou de chegar, acabou de passar pelo novo processo de inspeção da Umbridge.

 

Ela colocou uma caixa embrulhada em papel marrom na mesa; claramente tinha sido desembrulhada e re-embrulhada de qualquer jeito. Tinha uma nota escrita em tinta vermelha dizendo "Revistado e liberado pela Grande Inquisitora de Hogwarts."

 

- Ovos de páscoa da mamãe - falou Gina. - Tem um para você... Aí está.

 

Ela passou para ele um bonito ovo de chocolate decorado com pequenos pomos de ouro desenhados com açúcar e, de acordo com o pacote, com um saco de Fizzing Whizzbees. Harry olhou para isso por um instante, então, para seu horror, sentiu um nó na garganta.

 

- Você está bem, Harry? - perguntou Gina baixo.

 

- Sim, eu estou legal - Harry falou subitamente. O nó na sua garganta era doloroso. Ele não entendia por que um ovo de páscoa deveria fazê-lo sentir desta forma.

 

- Você tem parecido realmente mal ultimamente - Gina insistiu. - Você sabe, eu tenho certeza que se você ao menos falasse com Cho...

 

- Não é com Cho que eu quero falar - falou Harry bruscamente.

 

- Quem, então? - perguntou Gina, observando-o de perto.

 

- Eu...

 

Ele olhou em volta para ter certeza que ninguém estava ouvindo. Madame Pince estava a algumas estantes de distância, pegando uma pilha de livros para Ana Abbott, que parecia ansiosa.

 

- Eu queria poder falar com Sirius - murmurou - mas eu sei que eu não posso.

 

Gina continuou a encará-lo, pensativa. Mais para se dar ao que fazer do que porque realmente queria, Harry desembrulhou seu ovo de páscoa, quebrou um grande pedaço deste e pôs dentro da boca.

 

- Bem - falou Gina devagar, pegando um pedaço de ovo para si também. - Se você realmente quer falar com Sirius eu acho que nós podemos encontrar uma maneira de fazer isso.

 

- Vamos lá - falou Harry, desanimado. - Com Umbridge fiscalizando as lareiras e lendo nossas correspondências?

 

- A grande coisa de crescer com Fred e Jorge - falou Gina pensativa - é que você passa a pensar que qualquer coisa é possível se você tiver cérebro o suficiente.

 

Harry a olhou. Talvez fosse o efeito do chocolate - Lupin sempre falava para comer algum depois de encontrar com dementadores - ou simplesmente porque finalmente tinha falado alto o que o estava queimando por dentro por uma semana mas se sentiu mais esperançoso.

 

- QUE RAIOS VOCÊS PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO?

 

- Oh, droga - sussurrou Gina, ficando de pé. - Eu esqueci...

 

Madame Pince estava se aproximando deles, sua cara chupada contorcida de raiva.

 

- Chocolate na biblioteca! - ela gritou. - Fora, fora, FORA! - e, tirando sua varinha, ela fez os livros de Harry, sua mochila e pote de tinta perseguirem a ele e Gina até fora da biblioteca, atingindo-os repetidamente na cabeça enquanto corriam.

 

Como se para sublinhar a importância dos próximos exames, um monte de panfletos, folders e matérias a respeito de várias carreiras bruxas apareceram nas mesas na Torre da Grifinória pouco antes do fim das férias, junto com um outro aviso no quadro, que dizia:

 

"Todos os quintanistas devem comparecer a um pequeno encontro com o diretor da sua casa durante a primeira semana do termo de verão para discutir suas carreiras futuras. O horário dos encontros individuais está listado abaixo."

 

Harry olhou para lista e descobriu que ele era esperado no escritório da professora McGonagall às duas e meia na segunda-feira, o que significava que perderia a maior parte da aula de Adivinhação. Ele e os outros quintanistas passaram uma parte considerável do último fim de semana das férias de Páscoa lendo todas as informações de carreiras que tinham sido deixadas para que examinassem.

 

- Bom, eu não gosto de medi-bruxaria - falou Rony na última noite de férias. Estava imerso em panfletos que levavam o osso cruzado com a varinha emblema de St. Mungus na frente. - Aqui diz que você precisa de pelo menos um "E" no N.I.E.M.S de Poções, Herbologia, Transfiguração, Feitiços e Defesa Contra as Artes das Trevas. Eu quero dizer... Caramba... Não querem muito, querem?

 

- Bom, é um trabalho de muita responsabilidade, não é? - falou Hermione, distraída. Estava lendo atentamente um papel rosa-choque e laranja com o título "ENTÃO VOCÊ ACHA QUE GOSTARIA DE TRABALHAR EM RELAÇÕES COM OS TROUXAS".

 

- Aparentemente, você não precisa ter muitas qualificações para lidar com trouxas; tudo que querem é um N.O.M. em Estudos dos Trouxas: Muito mais importante é seu entusiasmo, paciência e bom senso de humor.

 

- Você precisaria de mais que bom senso de humor para lidar com meu tio - falou Harry, sombrio. - Mais provavelmente um bom reflexo para desviar - estava no meio de um panfleto sobre Banco Bruxo. - Ouçam isso: você está procurando por uma carreira desafiadora, ligada a viagens, aventura e bens, boas recompensas relacionadas com perigo? Então considere uma vaga no Banco Bruxo Gringotes, que está correntemente contratando desfazedores de feitiços para oportunidades emocionantes no exterior... Mas querem Aritmancia; você poderia fazer isso, Hermione!

 

- Eu não gosto muito de bancos - falou Hermione vagamente, agora imersa em "VOCÊ TEM O QUE É PRECISO PARA TREINAR TRASGO DE SEGURANÇA?"

 

- Hey - falou uma voz no ouvido de Harry. Ele olhou em volta; Fred e Jorge tinham vindo se juntar a eles. - Gina falou com a gente sobre você - falou Fred, esticando as pernas sobre a mesa à frente deles, ocasionando a queda de alguns folders com o emblema do Ministério da Magia na frente. - Ela diz que você precisa falar com Sirius?

 

- O quê? - Falou Hermione cortantemente, congelando com sua mão no meio do caminho para pegar "FAÇA UM BUM NO DEPARTAMENTO DE ACIDENTES MÁGICOS E CATÁSTROFES".

 

- É... - falou Harry, tentando soar desinteressado. - É, eu acho que gostaria...

 

- Não seja ridículo - falou Hermione, endireitando-se e olhando para ele como se não conseguisse acreditar em seus olhos. - Com Umbridge tomando conta das lareiras e fiscalizando todas as corujas?

 

- Bem, nós achamos que podemos achar uma forma mesmo assim - falou Jorge, espreguiçando-se e sorrindo. - É uma simples questão de causar diversão. Agora, você deve ter notado que nós temos estado bem quietos no que diz respeito a destruições durante as férias de Páscoa?

 

- De que adianta nós perguntamos a nós mesmos, de que adianta o desperdício de tempo útil? - continuou Fred. - De nada, nós respondemos a nós mesmo. E claro que nós estragamos as revisões das pessoas também, o que seria a última coisa que nós gostaríamos de fazer.

 

Ele deu a Hermione um aceno virtuoso. Ela pareceu um pouco desconcertada com esse pensamento.

 

- Mas esse tipo de negócio é natural - continuou Fred prontamente - e se nós vamos causar um pouco de tumulto então por que não fazer isso para que Harry possa ter sua conversa com Sirius?

 

- Sim, mas mesmo assim - falou Hermione, com um jeito de quem está explicando uma coisa muito simples para uma pessoa muito lenta -, mesmo que vocês consigam uma distração, como Harry conseguiria falar com ele?

 

- Do escritório da Umbridge - falou baixinho.

 

Estivera pensando nisso por duas semanas e não conseguiu pensar em nenhuma outra forma. A própria Umbridge tinha dito a ele que a única lareira que não estava sendo monitorada era a dela.

 

- Vocês estão loucos? - falou Hermione em uma voz abafada.

 

Rony tinha abaixado seu folder sobre trabalhos na Cultiva de Fungos e Empreendimentos e agora assistia a conversa atentamente.

 

- Eu não acho - falou Harry, dando de ombros.

 

- E como você vai chegar até lá, pra começar?

 

Harry estava pronto para responder essa pergunta.

 

- O canivete de Sirius - falou.

 

- Como?

 

- No Natal passado, antes desse último, Sirius me deu um canivete que abre qualquer tranca. Então mesmo que ela esteja enfeitiçada para que Alorromora não funcione, o que eu aposto que ela fez...

 

- O que você acha disso? - Hermione perguntou incisivamente para Rony e Harry inevitavelmente se lembrou da Sra. Weasley apelando para seu marido durante o primeiro jantar de Harry em Grimmauld Place.

 

- Eu não sei - falou Rony, parecendo apavorado por terem perguntado sua opinião. - Se Harry quer fazer, é com ele, não?

 

- Falou como um amigo de verdade e um Weasley - falou Fred, dando um tapinha nas costas de Rony. - Então tá. Nós estávamos pensando em fazer isso amanhã, logo depois das aulas, porque causaria o máximo de impacto se todo mundo estiver nos corredores. Harry, nós faremos isso em algum lugar da Ala Oeste, levá-la para bem longe do próprio escritório. Eu acho que podemos te garantir o que, vinte minutos? - falou, olhando para Jorge.

 

- Tranqüilamente - falou Jorge.

 

- Que tipo de confusão é essa? - perguntou Rony.

 

- Você vai ver, irmãozinho - falou Fred enquanto ele e Jorge se levantavam novamente. - A menos que você passe pelo corredor de Gregório, o Adulador, por volta das cinco da tarde amanhã.

 

Harry acordou muito cedo no dia seguinte, sentindo-se quase tão ansioso como na manhã da sua audiência no Ministério da Magia. Não era apenas a iminência de invadir o escritório da Umbridge e usar sua lareira para falar com Sirius que o estava fazendo se sentir nervoso, apesar de que isso já era ruim o suficiente; também seria a primeira vez que Harry estaria perto de Snape desde que o professor o tinha o expulsado de seu escritório.

 

Depois de ficar algum tempo deitado na cama, pensando no dia que tinha à frente, Harry se levantou silenciosamente e cruzou o quarto até a janela ao lado da cama de Neville, olhou para fora para uma manhã realmente gloriosa. O céu estava claro, cheio de neblina, azul leitoso. Diretamente à sua frente podia ver a grandiosa árvore sob a qual seu pai tinha um dia atormentado Snape. Ele não tinha certeza o que Sirius poderia lhe dizer que desculpasse pelo que tinha visto na penseira mas estava desesperado para ouvir a versão do padrinho sobre o que tinha acontecido, para saber de alguma coisa atenuadora, alguma razão para o comportamento do seu pai...

 

Alguma coisa chamou a atenção de Harry: movimento nos limites da Floresta Proibida. Harry espremeu os olhos e viu Hagrid surgindo do meio das árvores. Parecia estar mancando. Enquanto Harry o observava Hagrid andou com dificuldade até a porta de sua cabana e desapareceu dentro dela. Hagrid não apareceu de novo mas saiu fumaça pela chaminé, logo não estava tão machucado que fosse incapaz de acender o fogo.

 

Afastou-se da janela, foi em direção ao seu malão e começou a se vestir.

 

Com a iminência de invadir a o escritório da Umbridge à frente, Harry nunca tinha esperado que o dia fosse calmo mas não levou em conta as tentativas quase contínuas por parte Hermione para tentar convencê-lo a não fazer o que planejava às cinco horas. Pela primeira vez ela estava mais desatenta ao professor Binns em História da Magia que Harry e Rony, com uma maré de pessimismos que Harry estava tentando arduamente ignorar.

 

- E se ela te pegar além de te expulsar poderá descobrir que você esteve falando com Snuffles e dessa vez eu espero que ela te force a beber Veritasserum e responder as perguntas dela...

 

- Hermione - falou Rony em uma voz baixa e indignada -, você não vai parar de brigar com Harry e ouvir o Binns ou eu vou ter que fazer minhas próprias anotações?

 

- Tomar notas pra variar não vai te matar!

 

Quando alcançaram as masmorras nem Harry nem Rony estavam falando com Hermione. Pouco intimidada, ela tirou vantagem do silêncio deles para continuar com a maré ininterrupta de avisos pessimistas, todos articulados aos sussurros em um sibilo continuo que fez Simas gastar cinco minutos inteiros procurando por furos em seu caldeirão.

 

Enquanto isso, Snape, parecia ter decidido agir como se Harry fosse invisível. Harry, é claro, estava bastante acostumado com essa tática, já que era uma das preferidas de tio Válter e, no geral, estava agradecido por não ter que sofrer nada pior. De fato, comparado com o que geralmente tinha que aturar vindo de Snape no sentido de comentários ridicularizadores e desprezíveis considerou a nova atitude um progresso e estava contente de descobrir que quando era deixado em paz era capaz de preparar facilmente uma Poção Vigorante. Ao final da aula colocou um pouco da poção em um frasco, tampou-o e levou à mesa de Snape para ser examinada, sentindo que devia ter alcançado no mínimo um E.

 

Tinha acabado de se virar quando ouviu um barulho de quebra. Malfoy deu um grito alegre de riso. Harry virou de costas. O frasco de sua poção estava em pedaços no chão e Snape o estava olhando com uma cara de alegria maliciosa.

 

- Oops - falou suavemente. - Outro zero então, Potter.

 

Harry estava muito irritado para falar. Voltou para seu caldeirão, pretendendo encher outro frasco e forçar Snape a avaliá-lo mas, para seu horror, viu que o resto da poção tinha desaparecido.

 

- Sinto muito! - falou Hermione, com as mãos sobre a boca. - Eu realmente sinto muito, Harry. Eu achei que você tinha acabado, então eu limpei!

 

Harry não conseguiu responder. Quando o sinal tocou ele saiu rapidamente das masmorras sem um olhar para trás e fez questão de se sentar entre Neville e Simas no almoço, de forma que Hermione não pudesse implicar com ele por usar o escritório da Umbridge. Estava com um humor tão ruim que quando chegou à Adivinhação tinha praticamente esquecido sua conversa sobre carreiras com a professora McGonagall, lembrando apenas quando Rony perguntou a ele por que não estava no escritório dela. Correu de volta para cima e chegou sem ar, apenas alguns minutos atrasado.

 

- Desculpe professora - ele ofegou enquanto fechava a porta. - Eu esqueci.

 

- Não tem problema, Potter - ela falou energética mas conforme falava outra pessoa fungou no canto. Harry olhou em volta.

 

A professora Umbridge estava sentada lá, a prancheta nos joelhos, um babado exagerado em volta do seu pescoço e um pequeno, horrível sorriso de satisfação em seu rosto.

 

- Sente-se Potter - falou a professora McGonagall eficientemente. As mãos dela tremeram levemente enquanto reunia os vários panfletos que cobriam sua mesa.

 

Harry se sentou de costas para Umbridge e fez o melhor que pôde para fingir que não conseguia ouvir a pena dela arranhando a prancheta.

 

- Bom, Potter, esse encontro é pra falar sobre as possíveis carreiras que você pode seguir e te ajudar a decidir que matérias você deve continuar nos sexto e sétimo anos - falou a professora McGonagall. - Você teve alguma idéia do que gostaria de fazer depois que deixasse Hogwarts?

 

- Ahn... - falou Harry. Estava achando o barulho de arranhar de trás dele muito perturbador.

 

- Sim? - a professora McGonagall o estimulou.

 

- Bem, eu pensei em, talvez, ser um Auror - murmurou.

 

- Você vai precisar das melhores notas para isso - respondeu, pegando um folder pequeno e escuro debaixo da montanha em cima da sua mesa e abrindo. - Eles pedem por no mínimo cinco N.I.E.M.s e nenhuma nota menor que "acima das expectativas", pelo que vejo. Depois vão te pedir para passar por uma série rigorosa de testes de caráter e aptidão no departamento de Aurores. Na verdade, acho que ninguém entrou nos últimos três anos.

 

Nessa altura a professora Umbridge deu uma pequena tossida, como se estivesse tentando descobrir o quão silenciosamente ela poderia fazê-lo. A professora McGonagall a ignorou.

 

- Você quer saber que matérias você deve fazer, eu suponho? - continuou falando um pouco mais alto que antes.

 

- Sim - falou Harry. - Defesa Contra as Artes das trevas, eu suponho?

 

- Naturalmente - falou firme. - Eu também recomendaria...

 

A professora Umbridge tossiu novamente, um pouco mais audivelmente desta vez. McGonagall fechou os olhos por um momento, abriu-os de novo e continuou como se nada tivesse acontecido.

 

- Eu também recomendaria Transfiguração, porque aurores freqüentemente precisam transfigurar ou destransfigurar em seu trabalho. E eu gostaria de te dizer agora, Potter, que eu não aceito estudantes da minha turma de N.I.E.M. a menos que eles tenham alcançado "acima das expectativas" ou mais nos Níveis Ordinários de Magia. Eu diria que sua média está "aceitável" no momento então você precisaria de um pouco mais de dedicação antes para poder ter uma chance de continuar. Então, você deve fazer Feitiços, sempre útil, e Poções. Sim, Potter, Poções - acrescentou com o menor tremor de um sorriso. - Venenos e antídotos são estudos essenciais para aurores. E eu devo te dizer que professor Snape absolutamente não aceita estudantes que tenham qualquer coisa que não seja "excelente" em seus N.O.M.'s, então...

 

A professora Umbridge tossiu da forma mais perceptível até então.

 

- Posso te oferecer uma pastilha para tosse, Dolores? - McGonagall perguntou abruptamente, sem olhar para professora Umbridge.

 

- Ah, não, muito obrigada - falou Umbridge, com a risadinha besta que Harry tanto detestava. - Eu só estava querendo saber se eu poderia fazer uma pequena interrupção, Minerva?

 

- Eu ouso dizer que você vai descobrir que pode - falou a professora McGonagall entre os dentes.

 

- Eu estava apenas me perguntando se Sr. Potter tem o temperamento correto para um Auror - disse docemente.

 

- Estava, é? - respondeu com desprezo. - Bem,

 

Potter - continuou como se não tivesse havido interrupção. - Se você está realmente levando a sério essa ambição eu deveria te recomendar a se concentrar firmemente em trazer suas Transfigurações e Poções para o máximo. Eu vejo que professor Flitwick te avaliou entre "Aceitável" e "Acima das Expectativas" nos últimos dois anos, então seu trabalho em Feitiços parece satisfatório. Enquanto em Defesa Contra as Artes das Trevas suas notas têm sido geralmente altas, o professor Lupin em particular pensou que você... Tem certeza que você não gostaria de uma pastilha para tosse, Dolores?

 

- Ah, sem a menor necessidade, obrigada, Minerva - desprezou a professora Umbridge, que tinha acabado de tossir o seu mais alto agora. - Eu apenas estava preocupada que você talvez não tivesse a nota mais recente de Harry em Defesa Contra as Artes das Trevas nas suas mãos. Eu tenho certeza que eu deixei uma anotação.

 

- O quê, essa coisa? - falou a professora McGonagall em tom de repulsa enquanto pegava uma folha de pergaminho rosa do meio das folhas da pasta de Harry. Olhou o papel, suas sobrancelhas ergueram-se levemente, então colocou de volta na pasta sem comentários. - Sim,como eu estava dizendo, Potter, o professor Lupin acha que você demonstrou a aptidão correta para a matéria e, obviamente para um Auror...

 

- Você não entendeu minha anotação, Minerva? - perguntou a professora Umbridge em seu tom adocicado, certamente esquecendo de tossir.

 

- Claro que eu entendi - falou a outra, seus dentes tão cerrados que as palavras saíram um pouco sibiladas.

 

- Bem, então, eu estou confusa... Tenho medo que eu não consiga entender direito como você pode dar falsas esperanças ao Sr. Potter que...

 

- Falsas esperanças? - repetiu a professora McGonagall, ainda se recusando a se virar para olhar Umbridge. - Ele conseguiu notas altas em todos seus exames de Defesa Contra as Artes das Trevas...

 

- Eu sinto muitíssimo em te contradizer, Minerva, mas como você verá na minha anotação Harry tem tido resultados muito ruins em suas aulas comigo...

 

- Eu deveria ter falado mais claramente - falou a professora McGonagall, finalmente virando para olhar Umbridge diretamente nos olhos. - Ele alcançou notas altas em todos os exames de Defesa Contra as Artes das Trevas feitos por um professor competente.

 

O sorriso da professora Umbridge desapareceu tão repentinamente quanto uma lâmpada apagando. Ela se sentou de volta em sua cadeira, virou uma folha em sua prancheta e começou a escrever realmente rápido, seus olhos saltados revirando de um lado para o outro. McGonagall se virou de volta para Harry, suas narinas finas inflando, seus olhos queimando.

 

- Alguma pergunta, Potter?

 

- Sim. Que tipo de testes de aptidão e psicotécnicos o Ministério faz com você, se você tiver N.I.E.M.s o suficiente?

 

- Bem, você precisa demonstrar habilidade de reagir bem a pressão e por aí vai. Perseverança e dedicação, porque o treino para Auror leva mais três anos, sem mencionar habilidades muito grandes em Defesa prática. Isso vai significar muito mais estudos mesmo depois que você sair da escola, então a menos que você esteja preparado para...

 

- Eu acho que você também vai descobrir - falou Umbridge, sua voz

 

muito fria agora - que o Ministério também checa a ficha de quem se candidata para Auror. Sua ficha criminal.

 

- A menos que você esteja preparado para fazer ainda mais testes depois de Hogwarts, você realmente deveria procurar por outra..

 

- O que significa que este menino tem tanta chance de se tornar um Auror quanto Dumbledore de voltar a essa escola.

 

- Uma chance muito grande, então - falou McGonagall.

 

- Potter tem crimes na ficha! - falou Umbridge alto.

 

- Potter foi inocentado de todas as culpas - falou McGonagall, ainda mais alto.

 

A professora Umbridge se levantou. Ela era tão pequena que isso não fazia uma grande diferença mas seu jeito fútil e tolo tinha dado lugar a uma fúria dura que fazia sua cara larga e flácida parecer estranhamente sinistra.

 

- Potter não tem uma chance que seja de virar Auror!

 

A professora McGonagall ficou de pé também e em seu caso era um movimento muito mais impressionante; sobrepunha a professora Umbridge.

 

- Potter - falou em um tom continuo -, eu te ajudarei a se tornar um Auror nem que seja a última coisa que eu faça! Se eu tiver que te orientar a cada noite farei de tudo para que você atinja os resultados necessários!

 

- O Ministério da Magia nunca vai empregar Harry Potter! - falou Umbridge, sua voz aumentando furiosamente.

 

- Pode muito bem haver um novo Ministro da Magia à altura que Potter estiver pronto para entrar! - gritou a professora McGonagall.

 

- Ahá! - gritou Umbridge, apontando o dedo gorducho para McGonagall. - Sim! Sim, sim, sim! É claro! É isso que você quer, não é, Minerva McGonagall? Você quer Cornélio Fudge sendo substituído por Alvo Dumbledore! Você acha que vai estar onde eu estou, não acha: Subsecretária Sênior do Ministro e Diretora para completar!

 

- Você está delirando - falou, soberbamente desdenhosa. - Potter, isso conclui sua consulta.

 

Harry girou sua mochila sobre o ombro e se apressou para fora da sala, sem ousar olhar para Umbridge. Ele a pôde ouvir e a professora McGonagall continuando a gritar uma com a outra por todo o caminho ao longo do corredor. Umbridge continuava a respirar como se tivesse acabado de competir numa corrida quando chegou na aula deles de Defesa Contra as Artes das Trevas àquela tarde.

 

- Eu espero que você tenha pensado melhor no que você está planejando fazer, Harry - Hermione sussurrou no momento em que abriram seus livros no "Capítulo 34, Não retaliação e Negociação." - Parece que Umbridge já está com um humor realmente ruim.

 

Toda hora Umbridge lançava olhares raivosos para Harry, que mantinha sua cabeça abaixada encarando seu Teoria da Defesa Mágica, seus olhos desfocados, pensando...

 

Conseguia imaginar a reação da professora McGonagall se fosse pego no escritório da professora Umbridge poucas horas depois de ela ter dado força a ele... Não tinha nada para impedi-lo, simplesmente voltar para a Torre da Grifinória e esperar que em algum momento durante as próximas férias de verão tivesse a chance de perguntar a Sirius sobre a cena que tinha testemunhado na penseira... Nada, exceto que o pensamento de tomar esse rumo sensível de atitude o fazia sentir como se um peso enorme tivesse caído dentro de seu estômago... E então tinha a questão de Fred e Jorge, cuja bagunça já estava planejada, sem mencionar o canivete que Sirius tinha lhe dado, que estava agora guardado em sua mochila com a velha capa de invisibilidade de seu pai. Mas ainda tinha o fato de que se ele fosse pego...

 

- Dumbledore se sacrificou para te manter na escola, Harry! - sussurrou Hermione, levantando seu livro para esconder o rosto de Umbridge. - E se você for mandado embora hoje vai ter sido tudo à toa!

 

Ele poderia abandonar o plano e simplesmente aprender a viver com a memória do que seu pai tinha feito em um dia de verão mais de vinte anos atrás... Então lembrou de Sirius na lareira na sala comunal da Grifinória... "Você é menos parecido com seu pai do que eu pensei... O risco teria sido o que traria a diversão a Tiago..." Mas ele continuava querendo ser como seu pai?

 

- Harry, não faça isso, por favor não faça isso! - Hermione falou em um tom angustiado conforme o sinal tocou no final da aula.

 

Não respondeu; não sabia o que fazer. Rony parecia determinado em não dar nem sua opinião nem um conselho; não olharia para Harry apesar de quando Hermione abriu a boca para tentar convencê-lo mais um pouco ele falou em uma voz baixa.

 

- Dê um tempo a ele, ok? Ele pode tomar uma decisão sozinho.

 

O coração de Harry batia muito rápido quando saiu da sala. Já estava no meio do caminho do corredor do lado de fora quando ouviu o som inconfundível da confusão acontecendo à distância. Tinham gritos e berros ecoando de algum lugar acima deles; as pessoas saindo das salas de aula em volta de Harry estavam interrompendo seus caminhos e olhando para o teto assustadas.

 

Umbridge veio aos trancos para fora de sua sala tão rápido quanto suas pequenas pernas podiam levá-la.

 

- Harry, por favor! - Hermione implorou rapidamente.

 

Mas ele já tinha tomado uma decisão; puxando sua mochila mais seguramente sobre seu ombro começou uma corrida, desviando pra lá e pra cá dos estudantes, agora todos se apressando na direção oposta para ver por que toda aquela confusão que estava acontecendo na Ala Oeste. Alcançou o corredor do escritório da Umbridge e o achou deserto.Jogando-se atrás de uma armadura grande cujo capacete se moveu para observá-lo ele abriu sua mochila, encontrou o canivete de Sirius e colocou a capa de invisibilidade. Então se esgueirou lenta e cuidadosamente de trás da armadura e pelo corredor até alcançar a porta de Umbridge.

 

Colocou a lâmina do canivete mágico dentro da fechadura e a moveu gentilmente para cima e para baixo, então a removeu. Teve um click fino e a porta se abriu. Esgueirou-se para dentro do escritório, fechou a porta rapidamente atrás de si e olhou em volta. Nada estava se movendo a não ser os horríveis filhotes de gato que continuavam a se mover despreocupados nas sancas acima das vassouras confiscadas.

 

Tirou sua capa e, com passos largos até a lareira, achou o que estava procurando em questão de segundos: uma pequena caixa contendo Pó de Flu brilhante.

 

Agachou-se na frente da lareira vazia, suas mãos sacudindo. Nunca tinha feito isso antes, apesar de achar que sabia como isso devia funcionar. Pondo sua cabeça dentro da lareira, pegou uma grande quantidade de pó e jogou na lenha empilhada abaixo dele. Elas explodiram em chamas verde esmeralda na mesma hora.

 

- Número doze, Grimmauld Place! - Harry falou alto e claramente.

 

Foi uma das sensações mais curiosas que já tinha experimentado. Tinha viajado por Pó de Flu antes, claro, mas tinha sido seu corpo inteiro que tinha dado voltas e voltas pela rede de lareiras bruxas que se espalhavam pelo país. Dessa vez seus joelhos continuavam firmes no chão frio do escritório de Umbridge e apenas sua cabeça corria pelo fogo esmeralda. E então, tão abruptamente como quanto tinha começado, a corrida terminou. Sentindo-se um tanto mal e como se estivesse vestindo um cachecol excepcionalmente quente em volta da cabeça, Harry abriu os olhos para descobrir que estava olhando da lareira da cozinha para a longa mesa de madeira, onde um homem sentava estudando um pedaço de pergaminho.

 

- Sirius?

 

O homem pulou e olhou em volta. Não era Sirius, mas sim Lupin.

 

- Harry! - falou, parecendo bastante chocado. - O que você... O que aconteceu, está tudo bem?

 

- Sim. Eu estava pensando... Quero dizer, eu gostaria de... De falar com Sirius.

 

- Eu vou chamá-lo - falou Lupin, ficando de pé, ainda parecendo perplexo. - Ele foi lá em cima procurar por Kreacher, parece estar se escondendo nas colunas novamente...

 

E Harry viu Lupin se apressar para fora da cozinha. Agora tinha sido deixado sem nada para olhar além de a cadeira e as pernas da mesa.

 

Ele se perguntava porque Sirius nunca tinha mencionado o quão desconfortável era falar da lareira; seus joelhos estavam já reclamando dolorosamente por conta do seu contato prolongado com o chão de pedra do escritório da Umbridge.

 

Lupin voltou com Sirius nos seus tornozelos alguns momentos depois.

 

- O que é? - falou urgentemente, tirando seu longo cabelo negro da frente dos seus olhos e se atirando no chão em frente ao fogo, de forma que ele e Harry estivesse da mesma altura. Lupin se ajoelhou também, parecendo muito preocupado. - Você está bem? Você precisa de ajuda?

 

- Não. Não é nada disso... Eu só queria falar... Sobre meu pai.

 

Eles trocaram olhares muito surpresos mas Harry não tinha tempo de se sentir intimidado ou embaraçado; seus joelhos estava ficando mais machucados a cada segundo e achava que cinco minutos já tinham passado desde o inicio da confusão; Jorge só tinha lhe garantido vinte. Então começou imediatamente a contar a história do que tinha visto na penseira.

 

Quando acabou nem Sirius nem Lupin falou por um momento. Então este último falou baixo:

 

- Eu não gostaria que você julgasse seu pai pelo que você viu ali, Harry. Ele só tinha quinze anos...

 

- Eu tenho quinze anos! - falou com raiva.

 

- Olha Harry - falou Sirius pacificadoramente. - Tiago e Snape odiaram um ao outro desde o momento em eles puseram os olhos um no outro, isso era apenas uma das coisas, você consegue entender isso, não consegue? Eu acho de Tiago era tudo que Snape queria ser: popular, bom em quadribol, bom em quase tudo. E Snape era apenas aquele pequeno excêntrico que estava até as orelhas de Artes das Trevas e Tiago, seja o que for que ele tenha parecido para você, Harry, sempre odiou Artes das Trevas.

 

- Sim. Mas simplesmente atacar Snape sem nenhum bom motivo, só porque... Bem, só porque você disse que estava de saco cheio -  terminou com um quê de desculpa na sua voz.

 

- Eu não tenho orgulho disso - falou Sirius rapidamente.

 

Lupin olhou de rabo-de-olho para o amigo então disse:

 

- Olha, Harry, o que você tem que entender é que seu pai e Sirius eram os melhores na escola no que quer que fizessem, todo mundo achava que eles eram o máximo da popularidade, se eles às vezes se deixavam levar...

 

- Se nós às vezes éramos arrogantes como pequenos caras de Berk você quer dizer - falou Sirius e Lupin sorriu.

 

- Ele ficava bagunçando o cabelo - falou Harry em uma voz dolorida.

 

Os dois riram.

 

- Eu tinha esquecido que ele costumava fazer isso - falou Sirius afetuosamente.

 

- Ele estava brincando com o pomo? - perguntou Lupin astutamente.

 

- Estava - disse Harry, olhando incompreensivamente enquanto Sirius e Lupin sorriam continuamente. - Bem... Eu achei que ele era um tanto idiota.

 

- Claro que ele era um tanto idiota! - falou Sirius revigorantemente. - Nós éramos todos idiotas! Bem, Aluado nem tanto -  ele falou justamente olhando para Lupin, mas este sacudiu a cabeça.

 

- Eu falei alguma vez para vocês deixarem Snape em paz? Alguma vez eu tive cara para dizer a vocês que eu achava que vocês estavam exagerando?

 

- Bem, é. Você nos fazia ter vergonha de nós mesmos de vez em quando... Isso era alguma coisa.

 

- E - falou Harry perversamente, determinado a dizer tudo que tinha em mente agora que estava lá - ele ficava olhando para as garotas em volta do lago, esperando que elas estivessem olhando para ele!

 

- Ah, bem, ele sempre se fazia de bobo quando Lílian estava por perto. - falou Sirius, dando de ombros. - Ele não conseguia deixar de se exibir sempre que estava perto dela.

 

- Como foi que eles se casaram? - perguntou Harry miseravelmente. - Ele o odiava!

 

- Não, ela não odiava - falou Sirius.

 

- Ela começou a sair com ele no sétimo ano - falou Lupin.

 

- Depois que Tiago tinha aberto um pouco sua mente - disse Sirius.

 

- E parou de azarar pessoas só por diversão - falou Lupin.

 

- Até Snape? - perguntou Harry.

 

- Bem - falou Lupin vagarosamente -, Snape era um caso especial. Eu quero dizer, ele nunca perdia uma oportunidade de amaldiçoar Tiago então você não podia realmente esperar que seu pai levasse isso na boa, podia?

 

Sirius franziu a testa para Harry, que continuava olhando sem se convencer.

 

- Olha - ele falou -, seu pai foi o melhor amigo que eu já tive e era uma boa pessoa. Um monte de gente é idiota aos quinze anos. Ele cresceu e saiu dessa.

 

- Ah, ok - falou Harry pesadamente. - Eu só nunca achei que eu me sentiria mal por Snape.

 

- Agora que você mencionou - falou Lupin, uma forte linha entre suas sobrancelhas. - Como Snape reagiu quando descobriu que você tinha visto tudo isso?

 

- Ele me disse que nunca mais me ensinaria Oclumancia - disse, indiferente. - Como se isso fosse um grande desapontamento...

 

- Ele O QUÊ? - gritou Sirius, fazendo com que Harry pulasse e inalasse uma boca inteira de cinzas.

 

- Você está falando sério, Harry? - falou Lupin rapidamente. - Ele parou de te dar aulas?

 

- Sim - falou Harry, surpreso pelo que considerava uma reação muito exagerada. - Mas está ok, eu não me importo, é um pouco de alivio para a falar a...

 

- Eu vou ai ter uma palavra com Snape! - falou Sirius com força e ele realmente levantou mas Lupin o puxou para baixo novamente.

 

- Se alguém vai falar com Snape serei eu! - falou firmemente. - Mas Harry, antes de tudo, você vai voltar até Snape e falar a ele que de maneira nenhuma deve parar de te dar aulas, quando Dumbledore ouvir...

 

- Eu não posso dizer isso a ele, ele me mataria! - falou Harry violentamente. - Você não o viu quando ele me tirou da penseira.

 

- Harry, não tem nada tão importante quanto você aprender Oclumancia! - falou Lupin severamente.

 

- Ok, ok - falou Harry, completamente descomposto, para não mencionar aborrecido. - .Então.. Eu vou tentar falar alguma coisa... Mas não vai ser...

 

Ele ficou calado. Conseguia ouvir passos distantes.

 

- Isso é Kreacher descendo?

 

- Não - falou Sirius, olhando para trás de si. - Deve ser alguém do seu lado.

 

O coração de Harry pulou algumas batidas.

 

- Eu tenho que ir! - falou rapidamente e puxou sua cabeça pra fora da lareira de Grimmauld Place. Por um momento sua cabeça parecia estar rodando sobre seus ombros, então se entrou ajoelhado na frente da lareira de Umbridge com seu fundo firme e agora observando as chamas esmeralda sacudirem e apagarem.

 

- Rápido, rápido! - ele ouviu uma voz bufando murmurar logo de fora da porta do escritório. - Ah, ela deixou aberta...

 

Harry mergulhou até a capa da invisibilidade e tinha acabado de conseguir colocá-la de volta em si quando Filch apareceu dentro do escritório. Parecia absolutamente deliciado com alguma coisa e falava ferventemente consigo mesmo enquanto atravessava o cômodo, abriu uma gaveta da escrivaninha de Umbridge, começou a vasculhar pelos papéis dentro dela.

 

- Aprovação de Castigos... Aprovação de Castigos... Eu finalmente posso fazer isso... Eles têm procurado isso por anos...

 

Ele pegou um pedaço de pergaminho, beijou-o, então arrastou os pés rapidamente de volta pra fora da porta, apertando-o contra o peito. Harry se levantou e, tendo certeza de que estava com sua mochila e que a capa da invisibilidade o estava cobrindo completamente, abriu a porta e correu para fora do escritório atrás de Filch, que estava se mancando o mais rápido que Harry já o tinha visto ir.

 

Um andar abaixo do escritório da Umbridge, Harry achou que era seguro voltar a ser visível. Tirou a capa, enfiou-a na mochila e se apressou para continuar. Tinha muito barulho de gritos e movimento vindo do Saguão de Entrada. Correu escada de mármore abaixo e achou o que parecia ser a maior parte dos alunos da escola ali. Era exatamente como na noite que Trelawney tinha sido despedida. Estudantes estavam de pé ao longo da parede em um grande círculo (alguns deles, Harry notou, cobertos por uma substância que parecia muito gosma); professores e fantasmas também estavam na multidão.

 

Destacados dos demais observadores estavam os membros do Esquadrão Inquisidor, todos parecendo bastante contentes consigo mesmos, e Pirraça, flutuando acima, olhava para baixo para Fred e Jorge, que estavam parados no meio do chão, a aparência inegável de duas pessoas que tinha acabado de ser encurraladas.

 

- Então! - falou Umbridge triunfantemente. Harry percebeu que ela estava de pé apenas alguns degraus à sua frente, mais uma vez olhando para baixo sobre sua caça. - Então... Vocês acharam interessante transformar o corredor da escola em um pântano, não acharam?

 

- Bastante interessante, é - falou Fred, olhando para ela sem o menor sinal de medo.

 

Filch abriu seu caminho para mais perto de Umbridge, quase chorando de felicidade.

 

- Eu peguei o formulário, diretora - falou rouco, sacudindo o pedaço de pergaminho que Harry tinha acabado de vê-lo pegar da escrivaninha dela. - Eu tenho o formulário e tenho as varas prontas... Ah, me deixe fazer isso agora...

 

- Muito bem, Argo - ela falou. - Vocês dois - ela continuou olhando para Fred e Jorge - estão prontos para aprender o que acontece com desordeiros da minha escola?

 

- Você sabe? - falou Fred. - Nós não achamos que vamos.

 

Ele virou para o seu gêmeo.

 

- Jorge - disse Fred. - Eu acho que nós já passamos da fase da  educação em tempo integral.

 

- É, eu tenho me sentido assim também - Falou Jorge levemente.

 

- É hora de testar nossos talentos no mundo real, você não acha? - perguntou Fred.

 

- Definitivamente - disse Jorge.

 

E antes que Umbridge pudesse dizer uma palavra eles levantaram suas varinhas e disseram ao mesmo tempo:

 

- Accio Vassouras!

 

Harry ouviu um crack alto em algum lugar distante. Olhando para a esquerda ele desviou bem em tempo. As vassouras de Fred e Jorge, uma ainda levantou a pesada corrente e o prego de ferro com os quais Umbridge as tinha prendido na parede, estavam rugindo pelos corredores na direção de seus donos; viraram à esquerda, voaram escada a baixo e pararam exatamente na frente dos gêmeos, a corrente batendo com barulho no chão de pedra polida.

 

- Nós não te veremos logo - falou Fred para a professora Umbridge, passando a perna sobre sua vassoura.

 

- É, a gente não se preocupa em manter contato - falou Jorge, montando sua própria.

 

Fred olhou em volta para os alunos, a multidão que observava silenciosa.

 

- Se alguém quiser comprar pântanos portáteis como nos demonstramos lá em cima venha ao número noventa e três do Beco Diagonal, As Gemialidades Weasley - falou em voz alta. - Nossas novas premissas!

 

- Descontos especiais para alunos de Hogwarts que jurem que vão usar nossos produtos para se livrar dessa morcega velha - adicionou Jorge, apontando para a professora Umbridge.

 

- Segurem eles! - gritou Umbridge mas era tarde demais.

 

Enquanto o Esquadrão Inquisidor fechava em volta dos gêmeos Fred e Jorge saíram do chão, subindo quatro metros e meio no ar, a corrente de ferro sacudia perigosamente abaixo. Fred olhou para o outro lado do saguão para o poltergeist flutuando um nível acima da multidão.

 

- Mande o inferno pra ela por nós, Pirraça.

 

E Pirraça, que Harry nunca tinha visto obedecer a um aluno antes, tirou seu chapéu uivante da cabeça e sacudiu para saudar enquanto Fred e Jorge faziam a volta sobre aplausos tumultuosos dos alunos abaixo, aceleraram para as portas abertas da frente em direção a um pôr-do-sol glorioso.

 

 

GRAWP

A história do vôo para a liberdade de Fred e Jorge era narrada tão freqüentemente durante os dias que se seguiram que Harry estava apostando que a matéria logo se tornaria lenda de Hogwarts: dentro de uma semana testemunhas estavam meio convencidas que tinham visto os gêmeos mergulharem bombardeando Umbridge nas vassouras e tinham jogado Bombas de Bosta antes de zunir pela saída. E imediatamente depois desta partida houve um grande falatório sobre os copiar. Harry freqüentemente ouviu estudantes que diziam coisas como "Honestamente tem dias que eu tenho vontade de saltar em minha vassoura e deixar este lugar" ou então "Mais uma lição como esta e posso fazer como o Weasley".

 

Fred e Jorge tinham certeza que ninguém os esqueceria tão cedo. Em primeiro lugar não tinham deixado instruções em como remover o pântano que agora enchia o corredor do quinto andar da ala oeste. Umbridge e Filch tinham sido vistos tentando vários meios diferentes de o remover mas sem sucesso. Eventualmente a área era interditada por Filch enquanto rangendo os dentes furiosamente chutava os estudantes para as salas de aulas. Harry tinha certeza que professores como McGonagall ou Flitwick teriam removido o pântano em um segundo mas no caso de Fred e Jorge terem se espalhado com tanto divertimento eles pareciam preferir assistir a luta de Umbridge.

 

Haviam dois buracos moldados em forma de vassoura na porta do escritório de Umbridge, que as Cleansweeps de Fred e Jorge fizeram pra retornar aos seus mestres. Filch fixou uma nova porta e retirou a Firebolt de Harry da masmorra, foi o que disseram, Umbridge tinha colocado um trasgo como segurança e armado para vigiá-la. Porém seus problemas estavam bem longe de acabar.

 

Inspirados nos exemplos de Fred e Jorge, um grande número de estudantes estavam agora competindo pelas vagas recentemente desocupadas de Encrenqueiros-Chefes. Apesar da nova porta, alguém conseguiu pôr um peludo Pelúcio dentro do escritório de Umbridge, a qual prontamente vasculhou separadamente o lugar a procura de objetos brilhantes, pulando em Umbridge quando entrou, roendo os anéis em seus dedos grossos.

 

Freqüentemente foram jogadas Bombas de Bosta e Bolotas Fedorentas nos corredores e se tornou uma nova moda para os estudantes executarem feitiços Cabeça-de-Bolha antes de deixar a aula, para assegurar uma provisão de ar fresco, embora quando usassem suas cabeças tivessem uma aparência peculiar embaixo da bolha de peixe dourado.

 

Filch rondava os corredores com um chicote pronto nas mãos dele, desesperado para pegar um miserável mas o problema é que havia tantos deles agora que nunca sabia de que modo prosseguir. O Esquadrão Investigador estava tentando ajudá-lo mas coisas estranhas estavam acontecendo com seus sócios, Warrington, do time de quadribol da Sonserina, chegou a ala hospitalar com uma irritação de pele horrível que o fez parecer coberto de flocos de milho; Pansy Parkinson, para o prazer de Hermione, perdeu todas a lições do dia seguinte, porque haviam brotado chifres de sua cabeça.

 

Enquanto isso, ficou claro quantas Skiving Snackboxes Fred e Jorge venderam antes de saírem de Hogwarts. Umbridge só teve que entrar na sala de aula dela para os estudantes juntos começarem a desmaiar, vomitar, tendo febres altíssimas ou então escorrendo sangue das narinas. Gritando com raiva e frustração ela tentou localizar a fonte dos sintomas misteriosos, mas os estudantes obstinados lhe falaram que estavam sofrendo de "Umbridgetise aguda". Depois de pôr quatro classes sucessivas em detenção e não descobrindo o segredo deles ela foi forçada a se render e deixar alunos com hemorragia, desmaiando, suando e vomitando deixar a classe.

 

Mas nem mesmos os usuários das Snackboxes podiam competir com o mestre do caos, Pirraça, que parecia ter levado boas parte das palavras de Fred no coração. Cacarejando loucamente, planou pela escola, derrubando mesas, estourando quadros-negros, tombando estátuas e vasos; duas vezes fechou Madame Nor-r-ra dentro de uma armadura da qual foi salva, enquanto berrava, pelo zelador furioso. Pirraça quebrou lanternas e apagou velas, passando tochas ardentes por cima das cabeças dos estudantes a gritar, empilhando propositalmente pergaminhos e tacando fogo ou os jogando pela janela, inundando o segundo andar quando abriu todas as torneiras dos banheiros, derrubando um saco de tarântulas no meio do Salão Principal durante o café da manhã e sempre fingia uma fratura, gastando horas do seu tempo sobrevoando Umbridge e gritando alto, palavras grosseiras toda vez que ela falava.

 

Mais ninguém do pessoal do Filch parecia estar se mexendo para ajudar. E naturalmente, uma semana depois da partida de Fred e Jorge, Harry testemunhou a professora McGonagall dando um sermão em Pirraça, que estava determinado a soltar um lustre de cristal e poderia ter jurado que a ouviu falar ao poltergeist pelo canto da boca "Esse não tem volta".

 

A propósito, Montague ainda não tinha se recuperado de sua curta estada no banheiro; permaneceu confuso e desorientado e seus pais foram vistos na manhã de terça-feira, vindo pela entrada, parecendo extremamente zangados.

 

- Nós deveríamos dizer algo? - disse Hermione com uma voz preocupada, encostando a bochecha dela contra a janela da sala de feitiços de forma que pudesse ver o Sr. e a Sra. Montague que caminhavam para dentro. - Sobre o que aconteceu com ele? Poderíamos ajudar Madame Pomfrey a curá-lo?

 

- Claro que não, ele vai ficar bem - disse Rony, indiferente.

 

- De qualquer maneira, mais problemas pra Umbridge, não é? - disse Harry com uma voz satisfeita.

 

Ele e Rony bateram juntos nas xícaras, estavam supostamente encantando com suas varinhas. Na de Harry brotaram quatro pernas muito curtas que não puderam atravessar a mesinha e serpentearam sem rumo. Na de Rony cresceram quatro pernas longas muito magras e duras pra fora da escrivaninha, tremeram durante alguns segundos, então dobraram, fazendo a xícara quebrar em dois.

 

- Reparo - disse Hermione depressa enquanto reparava a xícara de Rony com um movimento de sua varinha. - Quer dizer que está tudo muito bem mas e se isso prejudicar Montague permanentemente?

 

- Quem se preocupa? - disse Rony impaciente enquanto a xícara dele se levantava bêbada novamente, tremendo seus joelhos violentamente. - Montague não deveria ter tentado levar todos esses pontos para a Grifinória, deveria? Se você quer se preocupar com qualquer um Hermione, se preocupe comigo!

 

- Você? - disse enquanto pegava a xícara dela que pulava alegremente para fora da mesa com quatro pequenas pernas de salgueiro moldadas e robustas, e tirando da sua frente. - Por que eu me preocuparia com você?

 

- Quando a próxima carta de mamãe finalmente chegar na fortaleza da Umbridge - disse Rony amargamente enquanto sustentava a xícara e suas pernas delicadas tentaram debilmente apoiar seu peso - eu vou estar encrencado. E não ficarei surpreso se ela mandar um outro Berrador.

 

- Mas...

 

- Será minha culpa que Fred e Jorge partiram, espera só - disse Rony, zangado - Ela dirá que deveria ter impedido os dois de partir, eu deveria ter agarrado na cauda das vassouras, deveria ter feito algo... Ah, sim, será tudo minha culpa.

 

- Bem, se ela disser será muito injusto, você não poderia ter feito nada! Mas eu tenho certeza que ela não vai, eu quero dizer, se é realmente verdade que eles têm permissão de ir ao Beco Diagonal, eles devem ter planejado isso há anos.

 

- É, mas tem outra coisa, como eles conseguiram as permissões? - disse Rony enquanto batia duro com sua varinha na xícara. - É um pouco astucioso, não é? Eles precisarão de muitos galeões para alugar um lugar no Beco Diagonal. Ela vai querer saber como conseguiram ganhar tanto ouro.

 

- Bem sim, isso também me ocorreu - disse Hermione, permitindo que a xícara dela se sacudisse para circular em pequenos círculos ao redor da de Harry, cujas pequenas pernas curtas e grossas ainda não puderam sair do centro da mesa -, eu queria saber se Mundungo os persuadiu a vender bens roubados ou algo terrível.

 

- Ele não fez - disse Harry brevemente.

 

- Como você sabe? - perguntaram Rony e Hermione juntos.

 

- Porque... - Harry hesitou mas o momento para confessar finalmente parecia ter chegado. Ele não ganharia nada mantendo o silêncio e ninguém poderia suspeitar que Fred e Jorge eram criminosos - Porque eles ganharam o ouro de mim. Eu dei a eles o meu prêmio do Torneio Tribruxo no ano passado.

 

Houve um silêncio chocado então a xícara de Hermione sacudiu na extremidade da mesa e se espatifou no chão.

 

- Oh Harry, você não fez isso! - ela disse.

 

- Sim, eu fiz - disse Harry, rebelde. - E eu não me arrependo disto. Eu não precisava do ouro e eles teriam uma ótima loja de logros.

 

- Mas isso é excelente! - disse Rony, parecendo emocionado - É tudo sua culpa, Harry. Mamãe não pode me culpar de nada! Eu posso falar pra ela?

 

- É, eu suponho que isso ajudaria - disse Harry estupidamente - especialmente se ela pensa que eles estão recebendo caldeirões roubados ou algo assim.

 

Hermione não disse nada pelo resto da aula mas Harry suspeitou que ela estava se contendo para a primeira oportunidade que teria para quebrar o silêncio. Depois que deixaram o castelo pararam para aproveitar os raios de sol de maio, ela fixou Harry com um olho pequeno e abriu a boca dela com um ar determinado.

 

Harry a interrompeu antes que ela pudesse começar.

 

- Não foi nenhuma boa ação minha mas está feito - disse firmemente. - Fred e Jorge têm o ouro, gastaram uma boa parte, também, isto é certo, e eu não posso voltar atrás e eu não quero. Assim economize seu fôlego, Hermione.

 

- Eu não ia dizer nada sobre Fred e Jorge! - ela disse com uma voz ferida.

 

Rony bufou desacreditado e Hermione lhe lançou um olhar de desprezo.

 

- Não, eu não ia! - disse nervosa. - De fato eu ia perguntar para o Harry quando ele vai voltar ao Snape e pedir mais lições de Oclumancia!

 

O coração de Harry afundou. Uma vez que haviam abandonado o assunto da partida dramática de Fred e Jorge, que assumia, havia levado muitas horas, Rony e Hermione queriam ouvir notícias de Sirius e em primeiro lugar tinha sido difícil pensar no que lhes falar, terminou dizendo que, de fato, Sirius queria que Harry retomasse lições de Oclumancia. Vinha lamentado isto desde então; Hermione não deixaria o assunto por isso mesmo e continuou a insistir, o que Harry já esperava.

 

- Você não pode negar que teve alguns sonhos engraçados - disse Hermione - porque Rony me falou que você andou murmurando novamente ontem à noite enquanto dormia.

 

Harry lançou um olhar furioso a Rony. O amigo ficou sem graça até para parecer envergonhado.

 

- Você só estava murmurando um pouco - resmungou com uma expressão de desculpa. - Algo sobre... Ah, só um pouco mais adiante.

 

- Eu sonhei que eu estava assistindo uma partida de quadribol - Harry mentiu brutalmente. - Eu estava tentando fazer com que você fosse um pouco mais adiante para agarrar a goles.

 

As orelhas de Rony ficaram vermelhas. Harry sentiu um tipo de prazer vingativo e não teve, é claro, um sonho com qualquer coisa do tipo.

 

Na noite anterior estava de novo caminhando nos corredores do Ministério da Magia. Passou por uma sala circular, uma sala cheia de luzes piscando e dançando, então se encontrou de novo naquela sala cavernosa cheia de estantes empoeiradas com esferas de vidro.

 

Então se apressou para o corredor da porta número noventa e sete, virando à esquerda e adiante... Provavelmente foi quando ele falou em voz alta....Só um pouco mais adiante... E depois que chegou perto da porta se encontrou em sua cama de novo, envolta de seus pôsteres.

 

- Você está tentando bloquear sua mente, não é Harry? - disse Hermione, olhando braba para ele. - Você está continuando com sua Oclumancia?

 

- Claro que eu estou - disse Harry, tentando soar como se a pergunta o tivesse insultado mas não a encarou nos olhos. O curioso é que estavam mais intensos sobre aquela sala cheia de esferas empoeiradas e que fazia os sonhos continuarem.

 

O problema é que em um mês estaria sob exames, então todos os momentos livres seriam devotados às revisões, sua mente estava cheia de informações que levava para a cama e ficava muito difícil dormir, quando conseguia seu cérebro se enchia de sonhos estúpidos sobre provas. Suspeitava que parte de sua mente, à parte em que a voz de Hermione falava, agora se sentia culpada quando vagueava por aqueles corredores escuros que terminavam naquela porta escura, então tentava acordar antes que pudesse chegar ao fim das viagens.

 

- Você sabe - disse Rony, ainda com as orelhas vermelhas - que se Montague não voltar para o jogo da Sonserina contra a Lufa-lufa, nós temos uma grande chance de vencer a copa.

 

- É eu suponho que sim - disse Harry, contente com a mudança de assunto.

 

- Eu quero dizer, nós ganhamos uma, perdemos uma... Se a Sonserina perder para a Lufa-lufa sábado que vem...

 

- É, você tem razão - disse Harry, aceitando a última derrota. Cho Chang estava atravessando o pátio, determinada a não olhar para ele.

 

A última partida da temporada de quadribol, Grifinória versus Corvinal, aconteceria na última semana de maio. Embora a Sonserina tivesse sido derrotada pela Lufa-lufa na última partida a Grifinória não estava tão confiante da vitória, devido principalmente (embora ninguém dissesse isso a ele) ao inacreditável recorde de Rony. Porém ele parecia estar otimista.

 

- Bem, eu não posso me sair pior não é? - disse nervoso a Harry e Hermione durante o café da manhã no dia da partida. - Nada de perder agora, né?

 

- Sabe - disse Hermione quando ela e Harry caminhavam por entre a multidão excitada -, eu acho que o Rony pode fazer melhor sem Fred e Jorge à sua volta. Eles nunca lhe deram muita confiança.

 

Luna Lovegood os deixou passar com o que parecia ser uma águia viva empoleirada em cima da cabeça dela.

 

- Oh não, eu esqueci! - disse Hermione, mirando a águia agitando suas asas enquanto Luna caminhava calmamente por um grupo de sonserinos que riam e apontavam. - Cho vai jogar, não vai?

 

Harry, que não tinha esquecido, somente grunhiu.

 

Acharam acentos na fila mais alta da arquibancada. Estava bom, um dia limpo; Rony não poderia desejar melhor e Harry se encontrava esperançoso de que o amigo não desse motivo aos sonserinos de gritar em coro desencorajador de "Weasley é nosso Rei". Lino Jordan, que tinha estado muito abatido desde que Fred e Jorge tinham partido, estava narrando como sempre. Conforme os times zuniam para dentro do campo ele ia nomeando os jogadores como algo nada mais do que o habitual.

 

- ...Bradley... Davies... Chang - ele dizia e Harry sentia o estômago fazer um pequeno estremecimento, uma sacudidela fraca quando Cho caminhou para dentro do campo, com seu cabelo preto brilhante, ondulando na brisa leve. Ele não estava seguro sobre o que aconteceria exceto que queria estar de pé na última fila. Até mesmo a visão da conversa animada de Rogério Davies para prepararem e montarem suas vassouras causava um leve ciúme nele. - E lá vão eles! - disse Lino - E Davies leva a goles imediatamente, Davies, o capitão da Corvinal com a posse da goles, dribla Johnson, Bell, e passa por Spinnet e vai diretamente para os aros! Ele vai atirar... E... E... E... - Lino diz um palavrão muito alto. - E ele marca.

 

Harry e Hermione gemeram com o resto da torcida Grifinória. Praguejando horrivelmente, os sonserinos do outro lado que começaram a cantar:

 

"Weasley não pode salvar nada, ele não pode bloquear um aro."

 

- Harry - disse uma voz rouca na orelha de Harry -, Hermione...

 

Harry olhou à sua volta e viu a face barbuda e enorme de Hagrid, que estava atrás de seus assentos. Aparentemente ele esteve todo o tempo ali na fileira de trás, na primeira e segunda cadeira, para o primeiro e segundo ano tinha passado um pouco de arrepio, com o olhar sobre eles. Por alguma razão, Hagrid estava curvado sobre eles, como alguém que não queria ser visto, entretanto ainda era pelo menos umas quatro cabeças mais alto que todo mundo.

 

- Escutem - sussurrou. - Hum, podem vir comigo? Agora? Enquanto todos estão assistindo a partida?

 

- Er... Você não pode esperar, Hagrid? - perguntou Harry. - Pode esperar a partida terminar?

 

- Não. Não Harry, preciso que seja agora... Enquanto todo mundo está olhando o outro lado... Por favor?

 

O nariz de Hagrid estava gotejando sangue suavemente. Os olhos dele estavam assombrosos. Harry não o tinha visto daquele jeito desde o seu retorno à escola, ele o olhou totalmente abatido.

 

- Claro - disse Harry imediatamente. - Claro que nós iremos.

 

Ele e Hermione foram para a fileira de trás, fazendo vários estudantes rosnarem para que saíssem da frente deles. As pessoas na fila de Hagrid não estavam reclamando, tentando fazer mínimo quanto possível somente.

 

- Eu fico muito grato por isto, a vocês dois, eu realmente agradeço - disse Hagrid quando chegaram aos degraus. Continuou dando olhadas nervosas quando desceram para o gramado. - Eu espero que ela não nos note indo.

 

- Você está falando da Umbridge? - disse Harry. - Ela não vai, ela está com o Esquadrão Inquisitor inteiro sentada com ela, você não viu? Ela está esperando por algum problema na partida.

 

- Ah, bem, menos um problema - disse Hagrid enquanto parava para observar ao redor para ter certeza de que o caminho estava livre até sua cabana. - Nos dá mais tempo.

 

- O que foi, Hagrid? - disse Hermione, olhando para ele com uma expressão preocupada na face dela quando se apressavam para a extremidade da Floresta.

 

- Ah, vai ver em um momento - disse Hagrid observando pelo ombro uma grande rosa que brotou numa roseira que estava atrás deles. - Hey... Alguém fez ponto?

 

- Foi a Corvinal - disse Harry severamente.

 

- Bom... Bom... - disse Hagrid distraído. - Isso é bom...

 

Tiveram que correm para manter o ritmo pelo gramado, dando uma olhada para os lado em todos os passos. Quando chegaram à cabana Hermione virou automaticamente em direção a porta. Porém Hagrid passou direto indo para as sombras das extremidades da Floresta onde apanhou uma arma medieval que estava apoiada em uma árvore. Quando percebeu que não estavam com ele, virou-se.

 

- Nós iremos por aqui - disse enquanto apontava a cabeça peluda na direção contrária.

 

- Na Floresta? - disse Hermione, perplexa.

 

- É, venham agora, rápido, antes que nos vejam.

 

Harry e Hermione olharam um para o outro, então entraram por entre as árvores atrás de Hagrid, que já se encontrava longe na escuridão verde e com sua arma sobre o braço. Harry e Hermione correram para o alcançar.

 

- Hagrid por que você está armado? - disse Harry.

 

- Só por precaução - disse, encolhendo os ombros volumosos.

 

- Você não trouxe sua arma no dia que nos mostrou os Testrálias - disse Hermione timidamente.

 

- Ah, bem, nós vamos um pouco mais longe. E de qualquer jeito, isso foi antes de Firenze deixar a Floresta, não foi?

 

- Por que a partida de Firenze faz diferença? - perguntou curiosamente Hermione.

 

- Porque os centauros estão...Ah... Aborrecidos comigo, é esse o porquê - disse Hagrid baixo, olhando a sua volta. - Eles costumam ser, bem, não podemos chamar de amigáveis, mas nós estamos bem. Bandos pra lá e pra cá... Buh, sempre às voltas como se eu quisesse ordens. Nada de mais.

 

Ele suspirou profundamente.

 

- Firenze disse que eles estão irritados porque ele foi trabalhar para Dumbledore - Harry disse tropeçando em uma raiz porque se distraiu enquanto olhava para Hagrid.

 

- É - disse Hagrid pesadamente - Bem, não estão tão irritados assim. Estão furiosos. Se eu não tivesse aparecido aqui acho que eles o pisoteariam até a morte...

 

- Eles o atacaram? - disse Hermione, chocada.

 

- Aham - disse Hagrid asperamente enquanto forçava sua entrada por entre vários ramos. - Eles usaram metade de todo o seu bando contra ele.

 

- E você os parou? - disse Harry, surpreso e impressionado. - Você fez isso mesmo?

 

- Claro que eu fiz, não podia ficar assistindo eles o matando, podia? - disse Hagrid. - Sorte que eu estava por ali, realmente... E eu pensava que Firenze se lembraria disto mas depois ele começou a me chamar de estúpido! - adicionou calorosa e inesperadamente.

 

Harry e Hermione olharam um para o outro novamente, assustados, mas Hagrid, com o olhar zangado, não se importou.

 

- De qualquer maneira - ele disse, respirando um pouco mais pesadamente que o habitual -, desde que os centauros ficaram brabos comigo tenho tido muitas dificuldades pois eles sem muita influência na Floresta... Criaturas se abrigam aqui.

 

- E por isto que estamos aqui, Hagrid? - perguntou Hermione. - Os centauros?

 

- Ah, não - disse Hagrid, estremecendo sua cabeça ao negar. - Não, não por eles. Bem é claro, eles podem complicar o problema, ah... Mas você vocês vão ver o que eu quero dizer daqui a pouco.

 

Depois desta frase incompreensível ele se calou e foi um pouco mais à frente, andando com um passo largo que era três vezes maior que o seu, de forma que tiveram grande dificuldade para manter o ritmo dele.

 

O caminho estava se adensando cada vez mais, as árvores ficavam mais juntas conforme avançavam dentro da Floresta que estava tão escura, como se já tivesse anoitecido. Logo estavam bem longe do lugar em que Hagrid os havia mostrado os Testrálias mas Harry não se sentia preocupado até que Hagrid pisou inesperadamente para fora do caminho e começou a ir em direção ao coração escuro da Floresta.

 

- Hagrid! - disse Harry enquanto lutava para poder passar por uma densa amoreira na qual Hagrid passou com facilidade e, lembrou-se vividamente o que tinha acontecido na outra ocasião que tinha ido para fora do caminho da Floresta. - Aonde nós vamos?

 

- Mais adiante - disse Hagrid por cima do ombro. - Venha Harry... Nós precisamos nos manter juntos agora.

 

Era uma grande luta manter o ritmo de Hagrid, com as moitas cheias de espinhos das quais o meio gigante passava tão facilmente como se fossem teias de aranha mas que enroscavam nas vestes de Harry e Hermione, freqüentemente tinham que parar durante minutos para se livrar deles. Os braços e pernas de Harry logo estavam cheios de pequenos cortes e arranhões. Agora estavam tão embrenhados na floresta que às vezes o que Harry podia ver era uma forma escura volumosa de Hagrid à sua frente. Qualquer som parecia ameaçador no amortecido silêncio. A quebra de um galho ecoou ruidosamente e o barulho minúsculo de um movimento, embora tivesse sido feito por um pardal inocente, fazia Harry procurar na escuridão por um culpado. Ocorreu a ele que nunca tinha estado tão distante na Floresta sem se encontrar com algum tipo de criatura; a ausência delas o deixou com uma má impressão.

 

- Hagrid, tudo bem se nós iluminarmos nossas varinhas? - disse Hermione baixo.

 

- Er... Tudo bem - Hagrid sussurrou pelas costas. - Na verdade...

 

Ele parou de repente e se virou, Hermione, que caminhava atrás dele, bateu em suas costas. Harry bateu nela e caiu no chão da Floresta.

 

- Talvez nós devêssemos parar por um momento, assim eu posso... Informar vocês - disse Hagrid. - Antes de nós chegarmos lá.

 

- Bom! - disse Hermione enquanto Harry sentava atrás dela em seus pés. Os dois murmuraram "Lumus" e a ponta de ambas varinhas acendeu. O rosto de Hagrid vagou da escuridão para a luz das varinhas que irradiava oscilante e Harry viu de novo que ele parecia nervoso e triste.

 

- Certo. Bem... Vejam... A coisa é assim... - ele deu um grande suspiro. - Bem, há uma grande chance de eu ter que sair, de me demitir mais dia ou menos dia.

 

Harry e Hermione olharam um para o outro, então voltaram para ele.

 

- Mas você tem que terminar o ano... - Hermione tentou dizer. - O que te faz pensar...

 

- Umbridge acha que fui eu que coloquei aquele Pelúcio no escritório dela.

 

- E foi? - disse Harry, antes que pudesse parar.

 

- Não, definitivamente não fui! - disse Hagrid, indignado. - Oh, qualquer coisa que envolva criaturas mágicas ela acha que tem algo a ver comigo. É, sabem, ela está tentando se livrar de mim desde que voltei. Eu não quero ir, é claro, mas isso não... Bem... As circunstâncias especiais em que estou, tenho que explicar, eh, deixar tudo claro agora, antes que ela tenha a chance de fazer isso na frente da escola inteira, como fez com a Trelawney.

 

Harry e Hermione fizeram barulhos de protesto mas Hagrid os calou com um aceno de uma das mãos enormes.

 

- Não é o fim do mundo, eu sou capaz de ajudar Dumbledore uma vez ou outra aqui, eu posso ser útil a Ordem. E vocês terão muitas Grubbly-Plank, ah vão... Ah, vão ter que sair bem nos exames...

 

A voz dele tremeu e parou.

 

- Não se preocupem comigo - disse apressadamente quando Hermione bateu levemente no braço dele. Ele puxou um lenço manchado enorme do bolso do colete e esfregou seu olhos. - Olha, eu não queria é falar isto se eu não tivesse que falar. Veja, se eu vou... Bem, seu eu sair daqui... Tenho que falar pra alguém... Porque eu... Eu preciso que vocês dois me ajudem. E Rony, se ele estiver disposto.

 

- Claro que nós o ajudaremos - disse Harry imediatamente. - O que você quer que a gente faça?

 

Hagrid deu uma grande suspiro dando uma batida "leve" no ombro de Harry, que sentiu como se uma árvore o tivesse batido.

 

- Eu sabia que diriam sim - disse Hagrid por entre o seu lenço - mas eu não vou... Nunca... Esquecerei... Bem... Venham... É só um pouco mais à frente... Tomem cuidado agora, há urtigas...

 

Ficaram em silêncio durante mais uns quinze minutos; Harry abriu a boca para perguntar quanto mais adiante deveriam ir quando Hagrid levantou o braço para sinalizar que deveriam parar.

 

- Realmente fácil - ele disse suavemente. - Está muito quieto, agora...

 

Eles se arrastaram até mais adiante e Harry viu que estavam indo para um monte extenso, uma terra lisa e tão alta quanto Hagrid que pensou com um estremecimento de medo ser a toca de algum animal enorme. Tinham sido cortadas árvores pelas raízes ao redor do monte, de forma que isso havia feito uma depressão nua no chão cercada por troncos de árvores e ramos que formavam um tipo de cerca ou barricada atrás do qual Harry, Hermione e Hagrid estavam agora.

 

- Dormindo - suspirou Hagrid.

 

Certo o suficiente, Harry podia ouvir um estrondo distante, ritmo parecido como os de pulmões enormes em trabalho. Olhou pelo canto do olho Hermione, que estava contemplando o montículo com sua boca ligeiramente aberta. Ela olhava totalmente impressionada.

 

- Hagrid - ela disse num sussurro pouco audível se comparando ao som da criatura dormente. - Quem é ele?

 

Harry achou que a pergunta certa seria... "O que é isso?", era o que tinha pensado perguntar.

 

- Hagrid, você nos falou... - disse Hermione com a varinha tremendo na mãe dela. - Você nos contou que nenhuma deles quis vir!

 

Harry olhou dela a Hagrid e então como uma pancada compreendeu, olhou atrás para o monte com um pequeno suspiro de horror.

 

O grande monte de terra na qual ele, Hermione e Hagrid podiam ver facilmente estava se movendo lentamente para cima e para baixo profundamente, grunhindo e respirando. Não era um monte. Era à parte de trás curvada do que era claramente.

 

- Bem... Não... Ele não queria vir - disse Hagrid, soando desesperado. - Mas eu o fiz vir, Hermione, Eu tinha que trazer!

 

- Mas por quê? - perguntou Hermione, que soou como se ela quisesse chorar. - Por que... Isso... Oh, Hagrid.

 

- Eu sabia que eu tinha que lhe trazer - disse Hagrid, soando como se já fosse chorar. - E... E... Lhe ensinaram alguns modos... Eu seria capaz de o levar lá pra fora e mostrar para todos como ele é inofensivo!

 

- Inofensivo! - disse Hermione, guinchando e Hagrid fazendo sinais frenéticos com as mãos para silenciar os barulhos, a criatura enorme atrás deles grunhiu ruidosamente e se virou em seu sono. - É ele que tem te ferido este tempo todo, não é? É por isso que você está todo machucado!

 

- Ele não sabe a força que tem! - disse Hagrid sinceramente. - Ah, é que ele melhora, ele não é nenhum lutador, nada de mais...

 

- Ah sim, isto é porque levou dois meses para chegar em casa! - disse insensatamente Hermione. - Oh Hagrid, por que você não o devolveu, se ele não queria vir? Ele não ficaria mais contente com o pessoal dele?

 

- Todos o ameaçavam, Hermione, por ele ser tão pequeno!

 

- Pequeno? - disse Hermione. - Pequeno?

 

- Hermione, eu não podia deixá-lo - disse Hagrid com lágrimas rolando em seu rosto e se perdendo em sua barba. - Olha... Ele é meu irmão!

 

Hermione simplesmente o encarou de boca aberta.

 

- Hagrid, quando você diz meu irmão - disse Harry lentamente - você que dizer...?

 

- Bem, meio-irmão - emendou Hagrid. - Me disseram que minha mãe esteve com outro gigante depois que ela me deixou com meu pai e que ela teve o Grawp, que está aqui...

 

- Grawp? - disse Harry.

 

- É... Bem, é assim que diziam ser o nome dele - disse Hagrid ansiosamente. - Ele não fala muito inglês... Tenho tentado ensiná-lo... De qualquer maneira, ela não parece ter gostado mais dele do que gostava de mim. Veja, com os gigantes, que estão produzindo boas e grandes crianças, ele tem sido sempre um pouco tampinha para um gigante, só tem uns 5 metros.

 

- Oh sim, minúsculo! - disse Hermione com um tipo de sarcasmo histérico. - Absolutamente mínimo!

 

- Ele era chutado por todos eles... Se eu não o tivesse trazido...

 

- Madame Máxime queria trazê-lo pra cá? - perguntou Harry.

 

- Ela... Bem, ela pôde ver como era importante pra mim - disse Hagrid, torcendo suas mãos enormes. - Mas ... Mas, cansada, ela o aceitou muito tempo depois, eu tenho que admitir... Assim nós dividimos a jornada, ela prometeu não contar a ninguém, entretanto...

 

- Como você voltou por terra sem que ninguém o notasse? - disse Harry.

 

- Bem, é por isso que levou tanto tempo, veja. Só podíamos viajar durante à noite, pelo meio de áreas rurais ou selvagens. Claro que ele era bem coberto quando estávamos em terra , quando ele deixava, mas ele queria voltar.

 

- Oh, Hagrid, por que quando estavam em terra não o deixou ir! - disse Hermione, indo para baixo e sentando num tronco de árvore, enterrando seu rosto nas mãos. - O que você acha que vai ter com um gigante violento que nem mesmo quer estar aqui!

 

- Bem, agora...Violento é um pouco de severo - disse Hagrid, ainda torcendo as mãos descontroladamente. - Admito que a força dele me espanta quando está de mau humor mas ele melhorará, vai se controlar melhor.

 

- Para que são essas cordas, hein? - Harry perguntou.

 

Ele tinha notado há pouco cordas grossas esticadas nas árvores ao redor da depressão em torno do lugar que Grawp estava encolhido no chão com suas costas, voltada a eles.

 

- Você tem que o manter amarrado aí em cima? - disse Hermione fracamente.

 

- Bem, eh... - disse Hagrid, parecendo ansioso. - Olha... É como eu disse, ele realmente não conhece a própria força.

 

Harry entendeu agora por que tinha havido uma certa suspeita de que qualquer outra criatura vivendo nesta parte da Floresta.

 

- Então, o que você quer que Harry, Rony e eu façamos? - Hermione perguntou apreensiva.

 

- Cuidem dele - disse Hagrid com um grasnido. - Depois que eu me for.

 

Harry e Hermione trocaram olhares infelizes, Harry constrangido, ciente que havia prometido que faria tudo que Hagrid pediria.

 

- E o que... O que isso envolve exatamente? - Hermione inquiriu.

 

- Nada de comida ou qualquer coisa! - disse Hagrid avidamente. - Ele pode conseguir sua própria comida, sem problemas. Pássaros e cervos o alimentam... Não, é companhia que ele precisa. Se eu soubesse de alguém que pudesse o treinar ajudaria um pouco, ensinar ele, entendem.

 

Harry não disse nada mas virou para olhar atrás a forma gigantesca deitada dormindo no chão à frente deles. Hagrid parecia somente um homem enorme mas Grawp era estranhamente disforme. O que Harry tinha pensado ser um enorme pedregulho cheio de musgo à esquerda no monte de terra, reconheceu agora, era a cabeça de Grawp. Era muito maior em proporção ao corpo que uma cabeça humana, quase perfeitamente redondo e coberto de um cabelo cacheado, avermelhado e crescente como uma samambaia. Apenas uma única orelha carnuda era visível no topo da cabeça, dava a impressão, ser um pouco parecida com a de tio Válter, colada nos ombros, sem pescoço nenhum. Sua costas debaixo do que parecia ser um avental castanho encardido contendo peles de animais costuradas toscamente juntas era muito larga; e como Grawp dormiu parecia que tinha puxado um pouco a costura de peles. As pernas estavam enroladas debaixo do corpo. Harry podia ver as solas dos pés enormes, nus, imundos, grandes como trenós, descansando no topo de outro monte de terra no chão da Floresta.

 

- Você quer que nós o ensinemos - Harry disse numa voz rouca. Ele entendeu o que a advertência de Firenze significava agora. "A tentativa dele não está funcionando. Ele faria melhor se o abandonasse." É claro, as outras criaturas que moram na Floresta devem ter ouvido Hagrid tentando em vão ensinar inglês a Grawp.

 

- É... Até mesmo se for pra falar pouquinho - Hagrid disse, esperançoso. - Por que eu acho, que se ele puder falar com as pessoas entenderá o que nós gostamos realmente e vai querer ficar.

 

Harry olhou para Hermione, que observada por entre seus dedos no seu rosto.

 

- Tipo, você não quer que resgatemos Norberto, quer? - disse e ela deu uma risada trêmula.

 

- Farão isto então? - disse Hagrid, que parecia não ter captado o que Harry há pouco tinha dito.

 

- Nós vamos... - disse Harry, compelido pela sua promessa. - Nós vamos tentar, Hagrid.

 

- Eu sabia que podia contar com você, Harry - disse Hagrid, o olhos brilhando cheios de água e limpando seu rosto novamente com o lenço. - E eu não quero que venham para cá muito, como... Eu sei que vocês têm exames... Se vocês pudessem vir só de vez em quando aqui, talvez debaixo da capa de invisibilidade, uma vez por semana e ter uma pequena conversa com ele. Eu vou acordá-lo então, para apresentar vocês.

 

- O q... Não! - disse Hermione, pulando à frente. - Hagrid não, não o acorde, realmente, nós não precisamos...

 

Mas Hagrid já tinha passado pelo grande tronco de árvore à frente e prosseguido na direção de Grawp. Quando estava aproximadamente uns 3 metros de distância pegou um ramo longo, quebrado no chão, sorriu tranqüilamente por cima do ombro a Harry e Hermione, cutucou Grawp forte no meio das costas com a ponta do ramo.

 

O gigante de um rugido que ecoou ao redor da Floresta silenciosa. Pássaros nos topos das árvores voaram de seus ninhos para longe. Na frente de Harry e Hermione, entretanto, o gigante Grawp tinha levantado do chão, que estremeceu quando colocou a mão enorme para ajudar a se levantar e ficar de joelhos. Virou sua cabeça para ver o que o tinha perturbado.

 

- Tudo bem, Grawp? - disse Hagrid, em uma voz alegre, voltando com o longo ramo, pronto para cutucar Grawp novamente. - Teve um sono agradável, hein?

 

Harry e Hermione recuaram até onde puderam enquanto ainda mantinham o gigante dentro de suas vistas. Grawp ajoelhou entre duas árvores que ainda não tinha arrancado. Observaram surpreso o enorme rosto dele, que se assemelhava a uma lua cheia cinzenta atordoado na escuridão da clareira. Era como se seus traços tivessem sido esculpidas em uma grande bola de pedra. O nariz era curto e grosso, a boca torta para um lado e cheia de dentes amarelados, disformes do tamanho de metade de um tijolo; os olhos, pequenos para os padrões gigantescos, eram de um marrom barrento-esverdeado, agora meio fechado pelo sono. Grawp levou o nó dos dedos sujos, tão grandes quanto bolas de críquete, para os olhos, esfregou vigorosamente, então sem aviso, deu um impulso com seus pés numa velocidade e agilidade surpreendente.

 

- Minha nossa! - Harry ouviu Hermione gritar, apavorada, ao seu lado.

 

As árvores da outra extremidade das cordas que cercavam os pulsos e tornozelos de Grawp estavam presas e rangeram vacilantes. Ele era como Hagrid disse, tinha pelo menos 5 metros de altura. Contemplando ofuscadamente ao redor, Grawp, com uma mão do tamanho de um guarda-sol, agarrou o ninho de um pássaro nos galhos superiores e o virou de ponta-cabeça com um rugido de desgosto, aparentemente por não ter nenhum pássaro nele, ovos caíam como granadas pelo chão e Hagrid colocou os braços em cima da cabeça para se proteger.

 

- De qualquer maneira, Grawp - gritou Hagrid, observando apreensivo os vários ovos caídos diante deles - eu trouxe alguns amigos para conhecerem você. Se lembra que eu pedi a você se podia? Lembra, quando eu disse que poderia ter que fazer uma pequena viagem e os deixaria cuidar de você um pouco? Se lembra disso, Grawp?

 

Mas Grawp deu um outro rugido mais baixo; era difícil dizer se estava escutando o que Hagrid dizia ou se até mesmo reconhecia os sons que Hagrid estava fazendo com a fala. Agarrou um galho no topo de um pinho, puxando-o para si, evidentemente pelo simples prazer de vê-lo voltar com toda força para trás quando o fizesse.

 

- Agora Grawp não faça isso! - gritou Hagrid. - Aquilo que você terminou de soltar pode cair em cima dos outros...

 

E seguro o bastante Harry pôde ver a terra ao redor das raízes das árvores que começavam a rachar.

 

- Eu consegui companhia para você! - Hagrid gritou. - Companhia, veja! Olhe para baixo, você, palhaço grande, eu trouxe alguns amigos para você!

 

- Oh Hagrid não faça isso - gemeu Hermione mas Hagrid já tinha levantado novamente o ramo e cutucou o joelho de Grawp.

 

O gigante foi para o topo da árvore, que chacoalhou alarmantemente, inundou Hagrid com ramos do pinheiro, e olhou para baixo.

 

- Este - disse Hagrid, indo em direção a Harry e Hermione - é Harry, Grawp! Harry Potter! Ele é que virá te visitar se eu tiver que ir embora, entendeu?

 

Só agora é que o gigante percebeu que Harry e Hermione estavam ali. Eles olharam, em grande agitação, como ele abaixou sua enorme cabeça de pedregulho, de forma que pôde os observar.

 

- E esta é Hermione, viu? Ela... - Hagrid hesitou. Virou para Hermione e disse. - Você se importaria se ele a chamasse de Mione, Hermione? É um nome muito difícil para ele lembrar.

 

- Não, não - gemeu Hermione.

 

- Esta é Mione, Grawp! E ela vai vir e tudo mais! Não é adorável? Hein? Dois amigos para você... GRAWP, NÃO!

 

Grawp atirou sua mão na direção de onde Hermione estava; Harry a agarrou e a puxou para trás de uma árvore, de forma que o punho de Grawp raspou no tronco mas parou fraco no ar.

 

- GRAWP MAU! - eles ouviram Hagrid gritar, Hermione se agarrando em Harry atrás da árvore, tremendo e choramingando. - MENINO MUITO MAU! VOCÊ NÃO PODE PEGAR... AI!

 

Harry tirou a cabeça de trás da árvore e viu Hagrid virado para trás, a mão em cima do nariz, Grawp aparentemente perdendo interesse, tinha puxado e soltado novamente o ramo do pinheiro para ver até onde iria.

 

- Certo - disse Hagrid densamente, levantando a mão que segurava o nariz sangrando e a outra agarrava sua arma. - Bem... Vocês então... Estão apresentados e... E agora ele os reconhecerá quando vocês voltarem. É... Bem...

 

Ele olhou para Grawp, que estava soltando ramo do pinheiro com uma expressão de prazer estancada no rosto de pedra; as raízes estavam rachando o chão em volta.

 

- Bem, acho que já foi o bastante por um dia. Nós vamos... Errr... Nós devemos voltar agora, não é?

 

Harry e Hermione acenaram com a cabeça. Hagrid pôs sua arma nos ombros de novo, ainda segurando seu nariz, e os conduziu para trás das árvores.

 

Ninguém falou durante algum tempo, nem mesmo quando ouviram um estrondo distante, que significada que Grawp finalmente tinha tirado o pinheiro da terra. O rosto de Hermione estava pálido e rígido. Harry não conseguia pensar em nada para dizer. O que será que aconteceria quando alguém descobrisse que Hagrid havia escondido Grawp na Floresta Proibida? E tinha prometido que ele, Rony e Hermione continuariam o ato insensato de Hagrid de tentar civilizar o gigante. Como pôde Hagrid, até mesmo com a imensa capacidade de se iludir de que os monstros armados eram amavelmente inofensivos, se enganar e achar que Grawp poderia se misturar com os humanos?

 

- Esperem - disse Hagrid abruptamente, justamente quando Harry e Hermione lutavam contra um pedaço cheio de sanguinárias atrás dele. Arrancou uma seta do seu saco e a colocou em sua arma. Harry e Hermione levantaram as varinhas; agora que pararam de andar também conseguiram ouvir movimentação perto deles. - Oh, sublime - disse Hagrid baixo.

 

- Eu pensei que nós o tivéssemos avisado, Hagrid - disse uma voz masculina profunda - que você não é bem-vindo aqui?

 

O dorso nu de um homem parecia estar flutuando para eles em meio à meia-luz esverdeada; então viram que a sua cintura se unia suavemente ao corpo castanho de um cavalo. Este centauro era orgulhoso, tinha as maças do rosto ressaltadas e cabelos pretos longos. Como Hagrid, estava armado; uma aljava cheia de setas e um arco atirado por cima dos ombros.

 

- Como você está, Morgorian? - disse Hagrid cautelosamente.

 

As árvores atrás do centauro sussurraram e mais quatro ou cindo centauros emergiram atrás dele. Harry reconheceu o negro corpulento e barbudo Ronan, que tinha encontrado quase quatro anos antes na noite em que conheceu Firenze. Ronan não deu nenhum sinal de que alguma vez tinha visto Harry antes.

 

- Então - disse com uma inflexão sórdida na voz, antes de virar imediatamente para Morgorian. - Nós concordamos, eu acho, o que faríamos se víssemos o rosto desse humano novamente na Floresta?

 

- Este humano agora, sou eu? - disse Hagrid determinado. - Todos que passaram por aqui vocês mataram?

 

- Você não devia ter se intrometido, Hagrid - disse Morgorian. - Nossos modos e leis não são de sua conta. Firenze nos traiu e desonrou.

 

- Eu não sei como vocês são tão desinformados - disse Hagrid impaciente. - Ele não fez nada exceto ajudar Alvo Dumbledore...

 

- Firenze entrou em servidão aos humanos - disse um centauro cinzento com o rosto duro profundamente vincado.

 

- Servidão! - disse sarcasticamente Hagrid. - Ele só está fazendo um favor a Dumbledore, é tudo...

 

- Ele está passando nosso conhecimento e segredos para os humanos - disse Morgorian tranqüilamente. - Não há retorno para tal desgraça.

 

- Se vocês estão dizendo - disse Hagrid, encolhendo os ombros - mas pessoalmente eu acho que o que vocês estão fazendo é um grande erro...

 

- Com você, humano - disse Ronan - entrando em nossa Floresta, quando nós já o advertimos...

 

- Agora vocês vão ter que me escutar - disse Hagrid furiosamente. - Até agora tem sido nossa Floresta, é a mesma tanto para vocês. Não podem impedir que venham aqui...

 

- Não mais para você, Hagrid - disse Morgorian suavemente. - Eu o deixarei passar hoje, porque você está acompanhado por seus jovens...

 

- Eles não são dele! - interrompeu Bane Ronan desdenhosamente. - Estudantes, Morgorian, de dentro da escola! Eles provavelmente já tiveram proveito do que o traidor do Firenze os ensinou.

 

- Não obstante - disse calmamente Morgorian - o assassinato de potros é um crime terrível... Nós não tocamos um inocente. Hoje, Hagrid, você passa. Daqui em diante fique longe desse lugar. Você perdeu amizade quando você ajudou o traidor do Firenze a escapar.

 

- Eu não vou ser colocado para fora desta Floresta por um bando mulas velhas como vocês! - disse Hagrid estrondosamente.

 

- Hagrid - disse Hermione em uma voz alta e terrificada quando ambos, Ronan e o centauro cinzento avançaram. - Vamos embora, por favor, vamos embora!

 

Hagrid foi para frente, sua arma na frente dos olhos mirando fixo e ameaçadoramente em Morgorian.

 

- Nós sabemos o que você esta escondendo na Floresta, Hagrid! - falou Morgorian depois que os centauros já estavam saindo se sua vista. - E a nossa tolerância está se esgotando!

 

Hagrid virou, cedendo aparentemente à vontade de querer ir atrás de Morgorian.

 

- Você tolerará, contanto, que ele esteja aqui, ele é tanto da Floresta como você! - gritou, enquanto Harry e Hermione o empurravam com toda a força contra o colete de toupeira, esforçando-se para empurrá-lo para trás. Ainda fazendo carranca, olhou para baixo; a expressão mudou para um de surpresa moderada quando viu ambos o empurrando; ele parecia não os ter sentido.

 

- Se acalmem vocês dois - disse, virando-se para caminhar enquanto colocava sua arma atrás de si. - Mulas velhas grossas, então hein?

 

- Hagrid - disse Hermione sem fôlego, cortando retalhos da saia para cobrir os cortes das urtigas que tinham acabado de passar -, se os centauros não querem humanos na Floresta, realmente não vejo como Harry e eu seremos capazes...

 

- Ah, você ouviu o que eles disseram - disse Hagrid, não admitindo -, eles não feririam potros... Quer dizer, crianças. De qualquer maneira, nós não podemos deixar que ele seja expulso por aquele bando.

 

- Boa tentativa - Harry murmurou para Hermione, que parecia desanimada.

 

Afinal voltaram ao caminho e depois de outros dez minutos as árvores começaram a diminuir, puderam ver retalhos do céu azul claro novamente e ao longe os sons definidos de gritos alegres.

 

- Aquilo foi um outro gol? - perguntou Hagrid, parando e se escondendo nas árvores com a visão do estádio de quadribol. - Ou acham que a partida terminou?

 

- Eu não sei - disse Hermione miseravelmente. Harry viu que ela parecia muito pior que o usual, o cabelo estava cheio de ramos e folhas, as vestes foram rasgado em vários lugares e havia numerosos arranhões em seu rosto e braços. Sabia que ele estava um pouco melhor.

 

- Eu acho que terminou, sabem! - disse Hagrid, piscando para o campo. - Olha... O pessoal já está saindo... Se vocês forem depressa podem se misturar dentro da multidão e ninguém saberá que vocês não estavam lá!

 

- Boa idéia - disse Harry. - Bem... Até logo então, Hagrid.

 

- Eu não acredito - disse Hermione em uma voz muito oscilante no momento que saíram do alcance de voz de Hagrid. - Eu não acredito. Eu realmente não acredito

 

- Se acalma.

 

- Se acalma! - disse febrilmente. - Um gigante! Um gigante na Floresta! E nós provavelmente vamos lhe dar aulas de inglês! Sem dizer, é claro, que nós podemos ser expulso por um rebanho assassino de centauros caminho afora! Eu... Não... Acredito!

 

- Nós não temos que fazer qualquer coisa, entretanto! - Harry tentou assegurar em voz baixa quando se uniram ao fluxo tagarela da Lufa-lufa que ia na direção do castelo. - Ele não nos está pedindo para fazer qualquer coisa a menos que saia daqui e isso não pode acontecer mesmo.

 

- Oh, cai na real, Harry! - disse Hermione furiosamente, parando desanimada no seu caminho, tanto que a pessoas atrás dela tiveram que desviar. - Claro que ele vai sair, pra ser honesta, depois do que há pouco vimos, quem pode culpar Umbridge?

 

Houve uma pausa em que Harry a encarou e os olhos dela se encheram lentamente com lágrimas.

 

- Você não quis dizer aquilo - disse Harry baixo.

 

- Não... Bem... Certo... Eu não queria - disse, esfregando os olhos furiosamente. - Mas por que ele tem que tornar a vida tão difícil para ele... Para nós?

 

- EU NÃO ACREDITO...

 

- Weasley é nosso rei, Weasley é nosso rei, ele não deixa a goles passar, Weasley é nosso rei...

 

- Eu queria que ele parassem de cantar aquela canção estúpida - disse Hermione miseravelmente -, não nos gozaram o suficiente?

 

Uma maré de estudante estava saindo do campo indo para o gramado.

 

- Oh, vamos embora antes que nós nos encontremos os sonserinos - disse Hermione.

 

- Weasley pode salvar qualquer coisa. Ele nunca deixa um único aro. É por isso que a Grifinória toda canta: Weasley é nosso rei.

 

- Hermione... - disse Harry lentamente.

 

A canção estava ficando mais alta mas não estava sendo emitida de uma multidão verde e prata dos sonserinos mas de uma massa vermelha e dourada que se movia lentamente para o castelo, levantando uma única figura em seus muitos ombros.

 

- Weasley é nosso rei, Weasley é nosso rei. Ele não deixou a goles passar, Weasley é nosso rei...

 

- Não? - disse Hermione numa voz fraca.

 

- SIM! - disse Harry, gritando.

 

- HARRY! HERMIONE! - gritou Rony, levantando a taça de prata de Quadribol no ar e olhando em direção ao lado deles. - NÓS CONSEGUIMOS! NÓS GANHAMOS!

 

Eles sorriram para ele quando passou. Havia uma grande briga no bolo à porta do castelo e a cabeça de Rony deu uma batida ruim no batente mas ninguém parecia querer deixá-lo. Ainda cantando a multidão se apertou no corredor de entrada e saíram de vista. Harry e Hermione os assistiram, irradiados, até que os últimos versos de "Weasley é nosso rei" se extinguiram. Então viraram um para o outro, com um sorriso fraco.

 

- Nós guardaremos nossas notícias até amanhã, certo? - disse Harry.

 

- Sim, certo - disse Hermione, cansada. - Eu não estou com pressa.

 

Andaram juntos. Em frente à porta ambos olharam instintivamente para trás, a Floresta Proibida. Harry não tinha certeza ou se foi imaginação mas pensou que havia visto uma nuvem pequena de pássaros estourar no ar no topo de uma árvore distante, a árvore perto da que tinham estado aninhados há pouco, tinha sido levantada pelas raízes.

 

 

N.O.M.s

A euforia de Rony em ter ajudado a Grifinória a conquistar a Taça de Quadribol era tão grande que ele não conseguia falar em mais nada no dia seguinte. Tudo o que queria era falar sobre a partida, deixando difícil para Harry e Hermione acharem uma chance de falar sobre Grawp. Não que eles tenham tentado; nenhum deles queria trazer Rony de volta à realidade de forma tão brutal. Como era um dia ótimo e quente o persuadiram a se juntar a ambos para revisar as matérias embaixo da faia que ficava na beira do lago, onde teriam menos chance de serem ouvidos do que se estivessem na sala comunal. Rony não estava particularmente satisfeito com a idéia no início - estava perfeitamente satisfeito por receber tapinhas nas costas por os todos alunos da Grifinória que passavam por sua cadeira, sem mencionar a ocasional explosão de "Weasley é nosso Rei!" mas depois concordou que um pouco de ar puro faria bem.

 

Espalharam seus livros na sombra da faia e sentaram enquanto Rony falava sobre sua primeira defesa na partida, pelo que pareceu uma dúzia de vezes.

 

- Bem, digo, eu já tinha deixado passar aquela do Davies então eu não estava me sentindo tão confiante mas eu não sei, quando Bradley veio pra cima de mim não sei de onde, eu pensei "Você pode fazer isso!" e levei quase um segundo para decidir pra onde voar, sabem, por que ele parecia que estava mirando o aro da direita, minha direita, claro, à esquerda dele, mas eu tive uma estranha sensação de que ele estava blefando e então eu fui pra esquerda, à direita dele, digo, e, bem, vocês viram o que aconteceu - concluiu modestamente, jogando o cabelo para trás desnecessariamente, então olhou para trás parecendo interessado se pessoas que estavam mais próximas deles, um bando de alunos do terceiro ano da Lufa-lufa fofocando, tinha o ouvido. - E então quando Chambers veio direto para mim cinco minutos depois... O quê? - perguntou Rony, parando no meio da frase ao olhar para o rosto de Harry. - Por que está rindo?

 

- Não estou -, disse Harry rapidamente, olhando para suas anotações de Transfiguração. A verdade é que Rony o lembrava um outro jogador de quadribol da Grifinória que certa vez havia sentado debaixo desta mesma árvore arrumando seu cabelo. - Eu apenas estou feliz porque nós ganhamos, só isso.

 

- É - disse Rony vagarosamente, saboreando as palavras. - Nós ganhamos. Você viu a cara da Cho quando a Gina pegou o pomo debaixo do nariz dela?

 

- Eu suponho que ela chorou, não? - disse Harry, amargo.

 

-Bem, é, mais perdendo a compostura, acho... - disse Rony pensativo. - Mas você viu quando ela atirou a vassoura para longe quando chegou ao chão, não é?

 

- Er.

 

- Bem, realmente... Não, Rony - disse Hermione com um profundo suspiro, baixando o livro que tinha nas mãos e olhando para ele cheia de culpa. - Na realidade a única parte que o Harry e eu vimos foi o primeiro gol de Davies.

 

Rony calmamente despenteou o cabelo, parecendo murchar, desapontado.

 

- Vocês não assistiram a partida? - disse fracamente, olhando de um para o outro. - Vocês não me viram fazer nenhuma daquelas defesas?

 

- Bem... Não - disse Hermione, levando uma mão em direção a ele. - Mas Rony, nós não quisemos sair, nós tivemos que sair!

 

- É? - disse Rony com a face ficando muito vermelha. - Por quê?

 

- Foi o Hagrid - disse Harry. - Ele decidiu nos dizer por que estava cheio de machucados desde que voltou da viagem para achar os gigantes. Ele quis que nós fôssemos com ele para a Floresta, você sabe como ele é. De toda forma...

 

A história foi contada em cinco minutos e no final a indignação de Rony se transformou em total incredulidade.

 

- Ele trouxe um gigante de volta e o escondeu na floresta?

 

- Sim - disse Harry.

 

- Não! - disse Rony, como se dizendo isso tudo se tornasse uma inverdade. - Não, ele não pode...

 

- Bem, foi o que ele fez - disse Hermione firmemente. - Grawp tem uns seis metros, adora arrancar árvores de dez metros do chão, e me chama de - bufou - Mione.

 

Rony deu uma risada nervosa.

 

- E Hagrid quer que nós... ?

 

- O ensinemos ele a falar, sim - disse Harry.

 

- Ele ficou doido! - disse Rony numa voz aterrorizada.

 

- Sim - disse Hermione irritada, virando uma página de Transfiguração Intermediária e olhando para uma série de diagramas mostrando uma coruja se tornando um par de óculos de ópera. - Sim, eu estou começando a achar que ficou mesmo. Mas infelizmente ele fez com que Harry e eu prometêssemos.

 

- Bem, vocês vão quebrar sua promessa - disse Rony firmemente. - Digo, ora, vamos... Nós temos exames e estamos assim - disse, mostrando o indicador e o polegar quase encostados - de sermos expulsos. E além disso... Lembram de Norberto? Lembram de Aragogue? O que ganhamos em nos misturar com os amigos monstros de Hagrid?

 

- Eu sei. Mas nós prometemos - disse Hermione com a voz sumindo.

 

Rony embaraçou seu cabelo novamente, parecendo preocupado.

 

- Bem - suspirou -, Hagrid não foi expulso ainda, não é? Ele conseguiu vir até aqui, talvez consiga ficar até o final do período letivo e nós não precisaremos chegar perto de Grawp afinal.

 

Os terrenos do castelo estavam brilhando à luz sol do como se tivesses sido pintados; o céu sem nuvens sorria para si mesmo na superfície calma do lago; a grama verde acetinada ondulava ocasionalmente em uma brisa gentil. Junho havia chegado mas para os alunos do quinto ano isso significava somente uma coisa: seus testes para os N.O.M.s estavam chegando.

 

Seus professores não estavam mais passando dever de casa; as lições eram destinadas a revisar os tópicos que achavam que apareceriam nos exames. Uma atmosfera proposital e febril tirava tudo da mente de Harry, apesar de ocasionalmente imaginar se Lupin havia dito a Snape que devia continuar dando aulas de Oclumancia. Se tinha feito isso Snape tinha ignorado Lupin da mesma maneira que estava agora ignorando Harry. Isto estava bem para Harry; estava bastante ocupado e tenso sem aulas extras com Snape e, para seu alívio, Hermione estava ocupada demais naqueles dias para perturbá-lo com a Oclumancia; estava gastando muito tempo murmurando para si mesma e não tinha feito nenhuma roupa para os elfos por dias.

 

Ela não era a única pessoa agindo estranhamente enquanto os N.O.M.s se aproximavam. Ernie Macmillan desenvolveu um estranho hábito de interrogar as pessoas sobre suas práticas de revisão.

 

- Quantas horas vocês acham que está gastando por dia? - perguntou a Harry e Rony enquanto estavam na fila para sair da aula de Herbologia, um brilho maníaco nos olhos.

 

- Não sei - disse Rony. - Umas poucas.

 

- Mais ou menos que oito?

 

- Menos, acho - disse Rony, parecendo realmente alarmado.

 

- Estou gastando umas oito horas - disse Ernie, estufando o peito. - Oito ou nove. Estou fazendo uma hora antes do café da manhã. Eu posso fazer dez num fim de semana. Não tanto na terça. Só sete horas e 15 minutos. Então na quarta...

 

Harry estava profundamente grato que a professora Sprout os conduziu para a estufa três naquele momento, forçando Ernie a abandonar seu recital.

 

Enquanto isso Draco Malfoy achou uma forma diferente de induzir ao pânico.

 

- Claro, não é o que você sabe - ele era visto falar a Crabbe e Goyle alguns dias antes dos exames começarem -, é quem você conhece. Agora, papai tem sido amigo do diretor da Autoridade de Exames de Magia há anos, a velha Griselda Marchbanks. Ela já foi jantar lá em casa e tudo o mais...

 

- Acha que é verdade? - perguntou Hermione, alarmada a Harry e Rony.

 

- Não há nada que possamos fazer se for - disse Rony com tristeza.

 

- Eu não penso que seja - disse baixinho Neville atrás deles -, porque Griselda Marchbanks é amiga da minha avó e nunca mencionou os Malfoy.

 

- Como ela é, Neville? - perguntou Hermione imediatamente. - Ela é rígida?

 

- Um pouco como minha avó, realmente - disse com uma voz triste.

 

- Conhecê-la não diminui suas chances, não é? - disse Rony, encorajando-o.

 

- Oh, eu não acho que fará qualquer diferença - disse ainda mais miserável. - Vovó sempre dizia à professora Marchbanks que eu não sou bom como o meu pai... Bem... Vocês viram como ela é lá no St. Mungus.

 

Neville olhou fixamente para a porta. Harry, Rony e Hermione se olharam mas não sabiam o que dizer. Era a primeira vez que Neville tinha falado que haviam se encontrado no hospital dos bruxos.

 

Enquanto isso um próspero mercado-negro comerciava auxiliares de concentração e melhoradores de agilidade mental e vivacidade entre os alunos do quinto e sétimo ano. Harry e Rony foram muito tentados pela garrafa de Elixir de Cérebro do Baruffio oferecido pelo aluno do sexto ano da Corvinal, Eddie Carmichael, que jurou que tinha sido responsável pelos nove níveis "Excelente" que ganhou nos N.O.M.s no verão anterior e estava oferecendo uma dose por meros 12 galeões. Rony prometeu a Harry que ele o reembolsaria pela sua metade no momento que saíssem de Hogwarts e conseguisse um emprego mas antes de fecharem o negócio Hermione confiscou a garrafa de Carmichael e jogou todo o conteúdo num vaso.

 

- Hermione, nós queríamos comprar aquilo! - gritou Rony.

 

- Não sejam estúpidos - disse ela. - Vocês se sairiam melhor com o Pó de Garra de Dragão de Harold Dingle.

 

- Dingle tem Pó de Garra de Dragão? - disse Rony avidamente.

 

- Não tem mais. Eu confisquei também. Nada disso realmente funciona, sabe?

 

- Garra de Dragão funciona! - disse Rony. - Ela é dita como incrível, realmente dá um aumento na performance do cérebro, você fica realmente esperto por algumas horas. Hermione, me deixe pegar um pouco, vai, não vai machucar...

 

- Estas coisas podem, sim - disse Hermione assustadoramente. - Eu verifiquei e na realidade eram fezes de fadas mordentes.

 

Essa informação retirou de Harry e Rony o desejo de usar estimulantes de cérebro.

 

Receberam seus horários dos exames e os detalhes do procedimento dos N.O.M.s durante a aula de Transfiguração.

 

- Como podem ver -, disse a professora McGonagall à classe enquanto escreviam as datas e horas de seus exames do quadro negro - sus N.O.M.s estão estendidos por duas semanas consecutivas. Vocês vão ter suas provas teóricas pela manhã e as práticas serão à tarde. Sua prova prática de Astronomia será, é claro, à noite. Agora, eu preciso avisá-los que os mais severos feitiços anticola serão aplicados às suas provas escritas. Penas de resposta automática serão banidas da sala de prova como também os Lembróis, Lápis de punhos destacáveis e tinta auto corrigível. Todo ano, eu sinto em dizer, pelo menos um aluno ou aluna acha que pode burlar as regras da Autoridade de Exames de Magia. Só espero que este não seja ninguém da Grifinória. Nossa nova "Diretora"... - e a professora McGonagall falou esta palavra com a mesma expressão que a tia Petúnia fazia quando contemplava uma teimosa mancha de sujeira - mandou os diretores das casas dizerem aos alunos que as trapaças serão punidas severamente por que, é claro, seus resultados refletirão no novo regime que a diretora tem imposto à escola.

 

A professora McGonagall deu um pequeno suspiro; Harry viu as narinas ficarem finas de raiva.

 

- Porém, não há razão para vocês não mostrarem seu melhor. Vocês têm seus próprios futuros para pensar.

 

- Por favor, professora - disse Hermione com a mão no ar -, quando receberemos nossos resultados?

 

- Uma coruja será enviada a vocês em algum momento de julho.

 

- Excelente! - disse Dino Thomas num sussurro audível. - Então não teremos que nos preocupar até as férias.

 

Harry se imaginou sentado no seu quarto na rua dos Alfeneiros durante seis semanas, esperando seus resultados dos N.O.M.s.

 

"Bem...", pensou vagarosamente. "Haverá pelo menos uma carta para mim no verão."

 

Seu primeiro exame, Teoria dos Feitiços, tinha sido marcado para segunda pela manhã. Harry concordou em testar Hermione depois do almoço de domingo mas desistiu imediatamente; ela estava muito agitada e ficava tirando o livro da mão dele para verificar se tinha respondido completamente certo, finalmente o acertando no nariz com a borda do Realizando Encantamentos.

 

- Por que você apenas não faz por si mesma? - disse ele, entregando o livro para ela com os olhos cheios de lágrimas.

 

Enquanto isso Rony estava lendo dois anos de importantes anotações sobre feitiços com seus dedos nas orelhas, seus lábios se movendo sem som; Simas Finnigan estava deitado de costas no chão, recitando a definição de um Feitiço Substantivo, Dino verificava se estava certo no Livro Padrão de Feitiços (4ª série); e Parvati e Lilá, que estavam praticando os Feitiços de Locomoção, estavam fazendo suas caixas de lápis apostarem corrida sobre a mesa.

 

No jantar Harry e Rony não falaram muito mas comeram com animação, tendo estudado duro todo o dia. Hermione, por outro lado, ficava soltando sua faca e seu garfo a todo instante e mergulhava por trás da mesa para alcançar sua bolsa, de onde tirava um livro para verificar um fato ou expressão. Rony estava dizendo para ela ter uma refeição decente ou não dormiria à noite quando ela deixou cair o garfo de seus dedos frouxos e se baixou, quase encostando no prato.

 

- Oh, meu Deus - disse ela fracamente, olhando para o Saguão de Entrada. - São eles? São os Examinadores?

 

Harry e Rony viraram-se nos seus bancos. Pelas portas do Salão Principal podiam ver Umbridge em pé como um pequeno grupo de velhos bruxos e bruxas. Umbridge, Harry estava satisfeito em ver, parecia bem nervosa.

 

- Vamos olhar mais de perto? - disse Rony.

 

Harry e Hermione concordaram e eles se apressaram em direção às portas duplas do Saguão de Entrada, diminuindo o passo quando pisaram o solado da porta para passar serenamente pelos examinadores. Harry pensou que a professora Marchbanks devia ser a menor e mais curvada deles e tinha um rosto tão cheio de linhas que parecia coberto por uma teia de aranha; Umbridge estava conversando com ela respeitosamente. A professora Marchbanks parecia ser um pouco surda; respondia à professor Umbridge alto, considerando que estavam afastadas apenas uns 30 centímetros.

 

- A viagem foi boa, a viagem foi boa, nós a fizemos muitas vezes antes - disse ela impacientemente. - Agora, não tenho ouvido sobre Dumbledore ultimamente! - disse, olhando pelo Salão como se ele pudesse surgir de algum armário. - Suponho que não tenha idéia de onde ele está?

 

- Não - disse Umbridge com um olhar maligno para Harry, Rony e Hermione, que estavam gastando um tempo aos pés da escadaria enquanto Rony fingia amarrar os cordões dos sapatos. - Mas eu me atrevo a dizer que o Ministro da Magia o encontrará em breve.

 

- Eu duvido -gritou a pequena professora Marchbanks. - Não se Dumbledore não quiser ser encontrado! Eu deveria saber... Examinei ele pessoalmente em Feitiços e Transfiguração quando tentou os N.I.E.M.s... Fez coisas com um varinha que eu nunca havia visto antes.

 

- Sim... Bem... - disse a professora Umbridge enquanto Harry, Rony e Hermione arrastavam seus pés na escadaria de mármore tão lentos quanto podiam. - Deixe-me lhes mostrar a sala dos professores. Aposto que vocês gostariam de uma xícara de chá depois da sua viagem.

 

Foi uma noite realmente desconfortável. Todos estavam fazendo revisões de última hora mas ninguém parecia estar indo muito longe. Harry foi para a cama cedo mas ficou acordado pelo que pareceram horas. Lembrou sua consulta sobre a carreira e a declaração furiosa da professora McGonagall de que o ajudaria a se tornar um Auror mesmo que fosse a última coisa que fizesse. Desejou que tivesse tido mais ambição agora que os exames haviam chegado. Sabia que não era o único acordado mas nenhum dos outros no dormitório falava e finalmente, uma a um, caíram no sono.

 

Nenhum dos alunos do quinto ano falou muito no café da manhã no dia seguinte, tão pouco: Parvati praticava encantamentos com todo o fôlego enquanto o saleiro na frente dela girava; Hermione estava novamente lendo Realizando Encantamentos tão rápido que seus olhos pareciam borrados; Neville continuava deixando sua faca e garfo caírem no seu prato de marmelada.

 

Quando o café da manhã terminou os alunos do quinto e sétimo ano se empurravam no Saguão de Entrada enquanto os outros alunos se dirigiam às suas lições; então, às nove e meia, foram chamados turma por turma para entrar no Salão Principal, que havia sido arrumado exatamente como Harry tinha visto na penseira quando seu pai, Sirius e Snape tinham feito seus N.O.M.s; as quatro mesas das casas tinham sido removidas e substituídas por muitas mesas individuais, todas viradas para a mesa dos professores no fim do Salão, onde a professora McGonagall estava parada olhando para eles. Quando estavam sentados e quietos ela disse.

 

- Podem começar - e virou uma enorme ampulheta ao seu lado, onde também haviam penas de reserva, vidros de tinta e rolos de pergaminho.

 

Harry virou seu teste, seu coração batendo forte - três filas à sua direita e quatro assentos à frente Hermione já estava escrevendo - e baixou os olhos para a primeira questão:

 

  1. a) Diga o encantamento e b) descreva o movimento de varinha necessário para fazer objetos voarem.

 

Harry teve uma lembrança de uma clava se elevando alto no ar e caindo com estrépito na pequena cabeça de um trasgo... Sorrindo, levemente se curvou sobre o papel e começou a escrever.

 

- Bem, não foi muito ruim, não é? - perguntou Hermione, ansiosa, no Saguão de Entrada duas horas depois, ainda agarrada a um pedaço de papel do exame. - Não tenho certeza que fiz justiça nos Encantamentos de Animar, eu fiquei sem tempo. Vocês colocaram o contra-feitiço para soluços? Eu não tenho certeza se eu devia, achei demais e na questão vinte e três...

 

- Hermione - disse Rony severamente -, nós já passamos por isso antes... Não vamos repassar cada exame, já é demais fazê-los uma vez.

 

Os alunos do quinto ano almoçaram com o resto da escola (as quatro mesas das casas reapareceram para a refeição), então foram para uma pequena câmara ao lado do Salão Principal enquanto esperavam para serem chamados para seu exame prático. Enquanto pequenos grupos de estudantes eram chamados em ordem alfabética aqueles que ficavam murmuravam encantamentos e praticavam movimentos de varinha, ocasionalmente batendo uns nos outros nas costas ou num olho.

 

Hermione foi chamada. Tremendo, deixou a câmara com Antônio Goldstein, Gregório Goyle e Dafne Greengrass. Estudantes que já tinham sido testados não retornavam à câmara, então Harry e Rony não tinham idéia do que Hermione havia feito.

 

- Ela ficará bem. Lembra que conseguiu cento e vinte por cento em um de seus exames de Feitiços? - disse Rony.

 

Dez minutos depois o Professor Flitwick chamou.

 

- Pansy Parkinson, Padma Patil, Parvati Patil, Harry Potter.

 

- Boa sorte - disse Rony baixinho. Harry entrou no Salão Principal apertando sua varinha tão forte que sua mão tremia.

 

- Professor Tofty está livre, Potter - guinchou o professor Flitwick, que estava em pé logo na porta. Ele apontou para o examinador que estava sentado atrás de uma pequena mesa no canto, perto da professora Marchbanks, que estava no meio do Salão, testando Draco Malfoy.

 

- Potter, não é? - disse o professor Tofty, consultando suas notas e olhando por cima do seus óculos enquanto Harry se aproximava. - O famoso Potter?

 

Com o canto do seu olho, Harry distintamente viu Malfoy dar um olhar de lástima para ele: o cálice de vinho que Malfoy estava levitando caiu no chão e se quebrou. Harry não pôde deixar de sorrir; o professor Tofty sorriu de volta par ele, encorajando-o.

 

- É isso - disse ele com sua voz trêmula e velha -, não precisa ficar nervoso. Agora, quero pedir para pegar este ovo e faça para mim algumas rotações.

 

No geral, Harry achou que foi bem. Seu encantamento de levitação foi certamente muito melhor que o de Malfoy, mesmo que tivesse desejado não ter misturado os encantamentos de Mudança de Cor e de Crescimento, o que fez o rato que deveria deixar alaranjado inchar e ficar tão grande quanto um texugo antes de Harry corrigir o erro. Estava feliz que Hermione não estivesse no Salão Principal naquele momento e evitou comentar com ela depois do exame. Podia contar a Rony, de qualquer forma; Rony conseguiu transformar um prato em um grande cogumelo e não tinha nem idéia de como havia feito.

 

Não havia tempo para relaxar naquela noite; foram direto para a sala comunal depois do jantar e se enfiaram na revisão para o Exame de Transfiguração no dia seguinte; Harry foi para a cama com sua cabeça zumbindo com os modelos e teorias de feitiços complexos.

 

Esqueceu a definição para o Feitiço de Troca durante seu exame escrito mas seu exame prático poderia ter sido bem pior. Pelo menos conseguiu fazer sua iguana desaparecer por completo, enquanto Anna Abbott perdeu a cabeça completamente na mesa próxima e de certo modo conseguiu multiplicar seu furão num grupo de flamingos, fazendo com que o exame fosse interrompido por dez minutos enquanto os pássaros eram capturados e retirados do Salão.

 

Fizeram seus exames de Herbologia na quarta (fora uma mordida de um Gerânio Dentuço, Harry achou que foi bastante bem); então na quinta Defesa Contra as Artes das Trevas. Pela primeira vez Harry teve certeza que passou. Não teve nenhum problema com as questões escritas e teve um prazer particular durante seu exame prático, enquanto mostrava todas as contra-azarações e feitiços defensivos bem na frente da Umbridge, que olhava friamente de perto das portas Saguão de Entrada.

 

- Oh, bravo! - gritou o professor Tolty, que estava examinando Harry novamente quando demonstrou um feitiço que fez com que um bicho-papão desaparecesse. - Muito bom, realmente! Eu acho que é tudo, Potter... A menos que...

 

Ele se inclinou um pouco para frente.

 

- Eu soube pelo meu querido amigo Tiberius Ogden que você pode produzir um Patrono? Bom, um ponto extra...?

 

Harry levantou sua varinha, olhou diretamente para Umbridge e a imaginou sendo demitida.

 

- Expecto patronum!

 

Seu cervo prateado saiu da ponta de sua varinha e galopou por todo o Salão. Todos os examinadores olhavam enquanto o cervo percorria o Salão e quando se dissolveu numa neblina prateada o professor Tofty bateu palmas com suas mãos nodosas e cheia de veias entusiasticamente.

 

- Excelente! Muito bem, Potter, você pode ir!

 

Enquanto Harry passava por Umbridge ao lado da porta seus olhos se encontraram. Havia um sorriso horrível na sua boca grande e frouxa mas ele não se importou. A menos que estivesse muito enganado (e ele não diria a ninguém, no caso de estar) acabara de conseguir um "Excelente" N.O.M.

 

Na sexta, Harry e Rony tiveram o dia livre enquanto Hermione fazia seu exame de Runas Antigas e como tinham todo o fim de semana pela frente se permitiram uma folga das revisões. Espreguiçaram-se e bocejaram ao lado da janela aberta, de onde o ar quente do verão estava entrando enquanto jogavam uma partida de xadrez de bruxo. Harry podia ver Hagrid à distância, dando uma aula na orla da floresta. Imaginava que criaturas estavam estudando - deviam ser unicórnios, porque os garotos estava a alguma distância - quando o buraco do retrato se abriu e Hermione entrou, parecendo perfeitamente de mau humor.

 

- Como foi as Runas? - disse Rony, bocejando e se espreguiçando.

 

- Eu errei a tradução de ehwaz - disse Hermione furiosa. - Significa sociedade, não defesa. Eu misturei com eihwaz.

 

- Ah, bem - disse Rony preguiçoso -, foi apenas um erro, não é, você ainda tem...

 

- Oh, cale-se! - disse Hermione furiosa. - Um erro pode ser a diferença entre passar ou não. E tem mais. Alguém colocou outro pelúcio no escritório da Umbridge. Eu não sei como passaram pela porta mas eu passei lá perto e a Umbridge estava gritando a todo volume, pelo que eu pude ouvir o pelúcio tentou arrancar um pedaço da perna dela...

 

- Bom! - disseram Harry e Rony juntos.

 

- Não é bom! - disse Hermione irritada. - Ela acha que é Hagrid que está fazendo isso, lembram? E nós não queremos que Hagrid seja demitido!

 

- Ele está ensinado agora; ela não pode culpá-lo - disse Harry, apontando para a janela.

 

- Oh, você é tão ingênuo às vezes, Harry. Você realmente acha que Umbridge vai esperar por provas? - disse Hermione, que parecia determinada em se manter chateada, e se dirigiu para o dormitório das garotas, batendo a porta atrás de si.

 

- Uma garota amável e doce - disse Rony, bem baixinho, fazendo com que sua rainha derrotasse um dos cavalos de Harry.

 

O mau humor de Hermione permaneceu pela maior parte do fim de semana, de forma que Harry e Rony acharam bem fácil ignorá-la enquanto gastavam a maior parte do sábado e do domingo revisando Poções, que estava marcada para segunda, o exame que Harry menos esperava para fazer - e o qual tinha certeza que seria sua queda na ambição para a carreira de Auror. Claro, achou o teste escrito difícil embora tenha achado que conseguiu a maior pontuação na questão sobre a poção Polissuco; pôde descrever os efeitos corretamente, tendo feito essa poção ilegalmente no seu segundo ano.

 

O exame prático da tarde não foi tão terrível quanto esperou. Com Snape ausente dos procedimentos achou que estava muito mais relaxado do que ficava enquanto estava fazendo poções. Neville, sentado perto de Harry, também parecia mais feliz do que nunca o havia visto durante a aula da matéria. Quando a professora Marchbanks disse.

 

- Afastem-se dos seus caldeirões, por favor, o exame está terminado.

 

Harry tampou seu frasco de amostra sentindo que talvez não tivesse conseguido uma boa pontuação mas tinha, com um pouco de sorte, evitado uma falha.

 

- Só faltam quarto exames - disse Parvati Patil, cansada, enquanto se dirigiam para a sala comunal da Grifinória.

 

- Só! - disse Hermione, irada. - Eu tenho Aritmancia e é provavelmente a matéria mais difícil que há!

 

Ninguém era tolo de discordar então ela não podia expressar seu rancor e se atirar contra nenhum deles, então se limitou a repreender alguns alunos do primeiro ano por rir alto demais na sala comunal.

 

Harry estava determinado a se dar bem no exame de Trato de Criaturas Mágicas na terça de modo que Hagrid não ficaria mal. O exame prático foi aplicado à tarde na orla da Floresta Proibida, onde os alunos foram solicitados a identificar corretamente um ouriço escondido entre dúzias de porcos-espinho (o truque era oferecer leite a cada um deles: ouriço, criaturas muito desconfiadas dos quais os espinhos têm muitas propriedades mágicas, geralmente ficam furiosos quando vêem alguém tentando os envenenar); então demonstrar o correto manuseio de um Tronquilho; alimentar e limpar um caranguejo de fogo sem sofrer queimaduras sérias e escolher, de uma grande seleção de comidas, a dieta para um unicórnio doente.

 

Harry podia ver Hagrid olhando ansioso da janela de sua cabana. Quando o examinador de Harry, uma bruxa pequena e redonda, sorriu para ele e lhe disse que podia ir Harry deu a Hagrid um passageiro dedão para o ar, mostrando que tinha se saído bem, antes de se dirigir ao castelo.

 

O exame teórico de Astronomia na quarta de manhã foi bem o suficiente. Harry não tinha certeza de ter colocado os nomes corretos de todas as luas de Júpiter mas estava plenamente confiante de que nenhuma delas era habitada por ratos. Tinham que esperar até à noite para seu exame prático; a tarde foi então devotada a Adivinhação.

 

Mesmo para os baixos padrões de Harry em Adivinhação o exame correu muito mal. Tentou ver figuras se movendo na mesa como também na teimosa bola de cristal; perdeu a cabeça completamente durante a leitura de folhas de chá, dizendo que parecia que a professora Marchbanks logo encontraria um estranho redondo, encharcado e escuro, e terminou com um total fiasco quando misturou as linhas da vida e da cabeça na palma das mãos dela, informando que ela deveria ter morrido na terça anterior.

 

- Bem, nós sempre falhamos nessa aí - disse Rony com tristeza enquanto subiam a escadaria de mármore. Tinha acabado de fazer Harry se sentir melhor quando disse ao examinador os detalhes de um homem feio com uma verruga no nariz na sua bola de cristal, apenas para ver depois que estivera descrevendo o reflexo do examinador.

 

- Nós nunca devíamos ter pegado esta matéria desde o início - disse Harry.

 

- Pelo menos nós podemos sair agora.

 

- É. Nada mais de fingir se importar com o que acontece quando Júpiter e Urano ficam próximos.

 

- E a partir de agora eu não me importo se minha folhas de chá dizem "morra, Rony, morra". Eu vou apenas jogá-las na lata de onde vieram.

 

Harry ria quando Hermione veio correndo atrás deles. Parou de sorrir de imediato, no caso de isso a perturbar.

 

- Bem, eu acho que me saí bem em Aritmancia - disse ela e Harry e Rony suspiraram de alívio. - Temos tempo de dar uma olhada rápida nos gráficos estelares antes do jantar, então...

 

Quando chegaram ao topo da Torre de Astronomia às onze horas da noite encontraram uma perfeita noite para olhar as estrelas, firme e sem nuvens. Os terrenos da escola eram banhados pela luz da lua e havia uma leve friagem no ar. Cada um preparou seus telescópios quando a professora Marchbanks falou que começassem a preencher os gráficos estelares que tinham recebido.

 

Os professores Marchbanks e Tofty passeavam por eles, olhando enquanto colocavam as posições precisas das estrelas e planetas que estavam observando. Tudo estava quieto exceto pelo arranhado nos pergaminhos, um rangido ocasional de um telescópio enquanto eram ajustados nos seus suportes. Meia hora havia passado, então uma hora; os pequenos quadrados dourados nos terrenos abaixo começaram a sumir enquanto as luzes do castelo eram apagadas.

 

Quando Harry completou a constelação de Órion no seu mapa, porém, as portas do castelo se abriram diretamente abaixo do parapeito onde ele estava, luz saiu pelos degraus de pedra e atravessou o gramado. Harry olhou para baixo enquanto fazia um ajuste leve na posição do telescópio e viu cinco ou seis sombras alongadas se movendo através da luz brilhante antes das portas se fecharem e o gramado ficar como um mar de escuridão novamente.

 

Harry colocou seu olho no telescópio novamente e ajustou o foco, agora examinando Vênus. Olhou para o seu mapa para colocar o planeta lá mas algo o distraiu; parando sua pena acima do pergaminho olhou para os terrenos sombrios abaixo e viu meia dúzia de figuras andando sobre a grama. Se não estivesse se movendo e a luz da lua não estivesse brilhando sobre suas cabeças seria impossível de serem distinguidos do terreno escuro onde andavam. Mesmo à distância, Harry tinha uma estranha sensação de reconhecer o andar de um deles, o que parecia liderar o grupo.

 

Não imaginava o que levaria Umbridge a dar um passeio do lado de fora depois da meia noite, muito menos acompanhada por outros cinco. Então alguém tossiu atrás dele e se lembrou que estava no meio do exame. Tinha esquecido a posição de Vênus. Apertando o olho contra o telescópio o achou novamente e estava para apontar o local no gráfico quando, alertado por um estranho som, ouviu uma distante batida que ecoou através dos campos desertos, seguida imediatamente pelo latido abafado de um grande cão.

 

Olhou para cima, seu coração batendo rápido. Havia luzes nas janelas da cabana de Hagrid e as pessoas que havia observado se movendo pela grama estavam agora com suas silhuetas formadas por elas. A porta se abriu e viu distintamente seis figuras atravessarem a soleira. A porta se fechou novamente e se fez silêncio.

 

Harry se sentiu preocupado. Olhou ao redor para ver se Rony ou Hermione tinham visto o que ele viu e a professora Marchbanks veio andando por trás dele naquele momento, não querendo parecer que estava tentado olhar o trabalho de ninguém, Harry se curvou rapidamente sobre seu gráfico e fingiu estar fazendo anotações enquanto olhava por cima do parapeito em direção à cabana de Hagrid. Figuras agora se moviam pelas janelas, bloqueando temporariamente a luz.

 

Podia sentir os olhos da professora Marchbanks nas suas costas e colocou novamente o olho no telescópio, fixo na lua, que havia marcado uma hora atrás, mas a professora Marchbanks se moveu no momento que um rugido veio da distante cabana e ecoou através da escuridão até o topo da Torre de Astronomia. Várias pessoas ao redor de Harry saíram de trás de seus telescópios e olharam diretamente para a cabana de Hagrid.

 

O professor Tofty deu uma leve tossida.

 

- Tentem se concentrar, meninos e meninas - disse levemente.

 

A maioria das pessoas voltou para trás de seus telescópios. Harry olhou para sua esquerda. Hermione mirava fixamente a cabana de Hagrid.

 

- Aham. Vinte minutos para terminar - disse Professor Tofty.

 

Hermione saltou e voltou para seu gráfico estelar; Harry olhou para o seu próprio e reparou que tinha anotado erradamente Vênus com Marte. Ele se curvou para consertar.

 

Houve um alto "BANG" nos campos. Várias pessoas gritaram "Ouch!" quando acertaram a si mesmo com os telescópios quando tentaram rapidamente ver o que estava acontecendo lá embaixo.

 

A porta da cabana de Hagrid estava arrebentada e pela luz que saía e eles o viram claramente, uma figura massiva urrando e levantando os punhos, cercado por seis pessoas que, julgando pelos finos fios de luz vermelha, estavam mirando em sua direção, parecendo tentar nocauteá-lo.

 

- Não! - gritou Hermione.

 

- Meu Deus! - disse o professor Tofty numa voz escandalizada. - Isto é um exame!

 

Mas ninguém estava mais dando atenção aos gráficos estelares. Jatos de luz vermelha ainda voavam pela cabana de Hagrid, ainda que parecesse que estavam ricocheteando nele, ainda em pé e parado e, pelo que Harry podia ver, lutando. Choros e berros ecoavam pelos terrenos da escola; um homem gritou:

 

- Seja razoável, Hagrid!

 

Hagrid rugiu.

 

- Razoável uma ova. 'cês não vão me 'var assim, Dawlish!

 

Harry podia ver uma fina linha ao redor de Canino, tentando defender Hagrid, saltando repetidamente nos bruxos ao redor deles até um Feitiço Estuporante acertá-lo e ele cair no chão. Hagrid deu um uivo de fúria, levantando o atacante do chão e o arremessando; o homem voou o que pareceu uns quatro metros e não se levantou mais. Hermione arfou, ambas as mãos cobrindo sua boca; Harry olhou para Rony e viu que também estava assustado. Nenhum deles tinha visto Hagrid realmente zangado antes.

 

- Olhem! - gritou Parvati, que estava inclinada sobre o parapeito e apontava para as portas do castelo que se abriam novamente; mais luz se derramou sobre o gramado escuro e uma sombra comprida estava agora ondulanda sobre a grama.

 

- Ora, realmente! - disse o professor Tofty, ansioso. - Restam apenas dezesseis minutos agora!

 

Mas ninguém lhe deu a mínima atenção: estavam olhando para a pessoa que corria direto para a briga perto da cabana de Hagrid.

 

- Como se atrevem! - gritou a figura enquanto corria. - Como se atrevem!

 

- É McGonagall! - murmurou Hermione.

 

- Soltem-no! Soltem-no, estou dizendo! - disse a voz da professora McGonagall na escuridão. - Com que acusações o estão atacando? Ela não fez nada, nada para merecer essa...

 

Hermione, Parvati e Lilá gritaram. As figuras ao redor da cabana dispararam nada menos que quatro Feitiços Estuporantes na professora McGonagall. A meio caminho entre a cabana e o castelo os feitiços a atingiram; por um momento pareceu se iluminar e brilhar num vermelho assustador e então ela caiu de costas e não se mexeu mais.

 

- Gárgulas galopantes! - gritou o professor Tofty, que parecia também ter se esquecido do exame completamente. - Sem nenhum aviso! Isso é vergonhoso!

 

- COVARDES! - urrou Hagrid; sua voz ecoou até o topo da torre e várias luzes se acenderam dentro do castelo. - SEUS COVARDES! TOMEM ISSO, E ISSO...

 

- Oh meu Deus - arfou Hermione.

 

Hagrid deu dois golpes massivos nos atacantes mais próximos; a julgar pelo modo como caíram foram nocauteados. Harry viu Hagrid se dobrar e pensou que havia sido finalmente acertado por um feitiço. Mas pelo contrário. Logo depois Hagrid ficou novamente de pé com o que parecia um saco nas costas, então Harry percebeu que era um corpo mole sobre os seus ombros.

 

- Pegue ele! - gritou Umbridge mas seu último ajudante parecia muito relutante em chegar perto dos punhos de Hagrid; realmente estava se afastando tão rápido que tropeçou nos seus colegas inconscientes e caiu. Hagrid se virou e começou a correr com Canino ainda ao redor do seu pescoço. Umbridge atirou um último Feitiço Estuporante nele mas errou e Hagrid, correndo a toda para os portões distantes, desapareceu na escuridão.

 

Houve um silêncio agitado por longos minutos enquanto todos estavam com suas bocas abertas, olhando para o terreno da escola. Então a voz do professor Tofty disse fracamente.

 

- Um... Cinco minutos para terminar, todos vocês.

 

Apesar de ter preenchido apenas dois terços do seu gráfico Harry estava desesperado para o exame terminar. Quando finalmente terminou, ele, Rony e Hermione forçaram seus telescópios nos estojos e desceram correndo a escadaria em espiral. Nenhum dos estudantes estava indo para cama; estavam todos falando alta e excitadamente aos pés da escada sobre o que haviam presenciado.

 

- Aquela mulher má! - arfou Hermione, que parecia ter dificuldade de falar devido a sua raiva. - Tentando pegar Hagrid sorrateiramente no meio da noite!

 

- Ela claramente quis evitar uma cena como a de Trelawney - disse Ernie Macmillan sabiamente, apertando-se para se juntar a eles.

 

- Hagrid estava bem, não é? - disse Rony, que parecia mais alarmado que impressionado. - Como ele conseguiu suportar todos aqueles feitiços?

 

- É o sangue de gigante - disse Hermione. - É muito difícil estuporar um gigante, eles são como trasgos, realmente fortes... Mas pobre professora McGonagall... Quatro feitiços estuporantes direto no peito e ela não é jovem, não é?

 

- Terrível, terrível - disse Ernie, balançando sua cabeça pomposamente. - Bem, eu vou indo pra cama. Noite, todos.

 

As pessoas ao redor deles iam se dissipando, ainda falando sobre o que tinham acabado de ver.

 

- Pelo menos eles não vão levar Hagrid para Azkaban - disse Rony. - Eu espero que ele tenha ido se juntar a Dumbledore, não é?

 

- Acho que ele foi - disse Hermione, parecendo chorosa. - Oh, isso é horrível, eu realmente pensava Dumbledore voltaria depois de algum tempo mas agora nós perdemos Hagrid também.

 

Perambularam de volta até a sala comunal da Grifinória e a encontraram lotada. A perturbação que veio dos jardins acordou muitas pessoas, que agora se apressavam em acordar os amigos. Simas e Dino, que chegaram antes de Harry, Rony e Hermione, estavam agora contando a todos o que haviam visto do topo da Torre de Astronomia.

 

- Mas por que despedir Hagrid agora? - perguntou Angelina Johnson, balançando a cabeça. - Ele não é como Trelawney; ele esteve ensinado muito melhor que o normal este ano!

 

- Umbridge odeia meio-humanos - disse Hermione amargamente, sentando-se no braço de uma cadeira. - Ela estava sempre tentando expulsar Hagrid.

 

- E ela pensou que Hagrid estava colocando pelúcios no escritório dela - afirmou Katie Bell.

 

- Oh, não - disse Lino Jordan, cobrindo sua boca. - Fui eu quem estive colocando os pelúcios no escritório dela. Fred e Jorge me deixaram um casal; eu os estive levitando através da janela dela.

 

- Ela o teria despedido de qualquer jeito - disse Dino. - Ele estava muito próximo de Dumbledore.

 

- É verdade - disse Harry, afundando na cadeira ao lado de Hermione.

 

- Eu espero que a professora McGonagall esteja bem.

 

- Eles a levaram de volta ao castelo, nós vimos pela janela do dormitório - disse Colin Creevey. - Ela não parecia muito bem.

 

- Madame Pomfrey vai cuidar dela - disse Alícia Spinnet firmemente. - Ela nunca falhou antes.

 

Era perto das quatro da manhã quando a sala comunal começou a esvaziar. Harry se sentia muito acordado; a imagem de Hagrid fugindo para a escuridão o estava perseguindo; estava com tanta raiva de Umbridge que não podia pensar um castigo ruim o suficiente para ela, mesmo que Rony tenha sugerido dá-la como comida para uma caixa de Explosivins famintos tenha tido seu mérito. Adormeceu contemplando vinganças horríveis e se levantou da cama três horas depois, sentindo-se distintamente cansado.

 

Seu exame final, História da Magia, não aconteceria até a tarde. Harry teria gostado muito de voltar para a cama depois do café mas estava contando com a manhã para fazer uma revisão de última hora, então ao invés disso sentou com a cabeça apoiada nas mãos olhando pela janela da sala comunal, tentando não cochilar enquanto lia um metro e vinte centímetros de anotações que Hermione lhe emprestou.

 

Os alunos do quito ano entraram no Salão Principal às duas horas da tarde e se sentaram de frente para os exames que estavam virados para baixo. Harry se sentia exausto. Ele só queria que isso acabasse, então poderia ir dormir; então no dia seguinte ele e Rony iriam ao campo de quadribol - ele voaria um pouco na vassoura de Rony e saborearia sua liberdade de revisões.

 

- Virem seus exames - disse a professora Marchbanks na frente do Salão, tocando de leve na ampulheta. - Podem começar.

 

Harry mirou fixamente a primeira questão. Vários minutos passaram até que lhe ocorreu que não tinha entendido uma só palavra dela; um zumbido constante que vinha de uma das janelas acima o distraía. Vagarosa e  tortuosamente ele finalmente começou a escrever uma resposta.

 

Estava tendo dificuldade em se lembrar de nomes e continuava a confundir datas. Simplesmente pulou a questão quatro (Na sua opinião, a lei da varinha deveria contribuir ou conduzir a um melhor controle sobre as rebeliões dos duendes no século dezoito?), pensando em voltar a ela se tivesse tempo no final. Teve alguma vantagem na questão cinco (Como era o Estatuto de Segredo criado em 1749 e que medidas introduziu para prevenir uma renovação?) mas tinha uma irritante suspeita de que tinha esquecido vários ponto importantes; sentia que tinha vampiros na história em algum lugar.

 

Avançou até uma questão que podia definitivamente responder e seus olhos se alinharam na dez: Descreva as circunstâncias que levaram à formação da Confederação Internacional de Bruxos e explique por que os Feiticeiros de Liechtenstein recusaram a se unir.

 

"Eu sei isso", pensou Harry, mesmo que seu cérebro estivesse lento e adormecido. Podia visualizar um cabeçalho na escrita de Hermione: A Formação da Confederação Internacional dos Bruxos... Tinha lido essas anotações naquela manhã.

 

Começou a escrever, olhando para cima agora e para verificar a grande ampulheta na mesa ao lado da professora Marchbanks. Estava sentado bem atrás de Parvati Patil, cujos longos cabelos negros caíam atrás da sua cadeira. Uma ou duas vezes se achou olhando fixamente as pequenas luzes douradas que cintilavam quando movia sua cabeça levemente e tinha que balançar sua própria para acordar.

 

"...o primeiro Cacique Supremo da Confederação Internacional dos Bruxos foi Pierre Bonaccord mas sua eleição foi contestada pela comunidade bruxa de Liechtenstein, porque..."

 

Ao redor de Harry penas estavam arranhando pergaminhos como ratos cavando apressados. O sol estava muito quente atrás de sua cabeça. O que foi que Bonaccord fez para ofender os Feiticeiros de Liechtenstein? Harry tinha um pressentimento que tinha algo a ver com trasgos... Olhava inexpressivamente para as costas de Parvati novamente. Se pudesse usar Legilimencia, abrir uma janela atrás da cabeça dela e ver o que havia sobre o que os trasgos tinham causado para haver essa ruptura entre Pierre Bonaccord e Liechtenstein...

 

Harry fechou os olhos e colocou o rosto nas mãos, então a luz vermelha brilhante nas suas pálpebras ficou escura e fria. Bonaccord tinha ajudado a parar com a caça aos trasgos e a criar os direitos dos trasgos... Mas Liechtenstein estava tendo problemas com uma tribo de trasgos montanheses particularmente cruel... Era isso.

 

Abriu os olhos; doeram e lacrimejaram ao olharem para o pergaminho branco. Vagarosamente, escreveu duas linhas sobre o pergaminho, então leu o que havia escrito até ali. Não parecia muito informativo ou detalhado, já que tinha certeza que as anotações de Hermione sobre a Confederação se estendiam por página e páginas.

 

Fechou seus olhos novamente, tentando vê-las, tentando lembrar... A Confederação se reuniu primeiramente na França, sim, já tinha escrito isso...

 

Duendes tinha tentado entrar mas foram expulsos... Já tinha escrito isso também...

 

E ninguém de Liechtenstein tinha querido vir...

 

"Pense", disse a si mesmo, seu rosto nas mãos enquanto as penas ao seu redor arranhavam pergaminhos com respostas sem fim e a areia escorria através da ampulheta...

 

Estava novamente andando pelo corredor frio e escuro do Departamento de Mistérios novamente, andando de forma decisiva e firme, às vezes começando a correr, determinado a chegar ao seu destino finalmente... A porta escura se abriu para ele como sempre e estava então na sala circular com muitas portas...

 

Atravessou o chão de pedra e a segunda porta... Trechos de luz dançavam nas paredes e no chão e havia um estranho clique mecânico mas não havia tempo para explorar, tinha que se apressar...

 

Correu os últimos metros para a terceira porta que se abriu exatamente como as outras...

 

Novamente estava na sala com o tamanho de uma catedral, cheia de estantes e esferas de vidro... Seu coração estava batendo muito rápido agora... Conseguiria agora... Quando chegou ao número noventa e sete virou e se apressou pelo corredor entre duas estantes...

 

Mas havia uma forma estranha no final do corredor, uma forma negra se movendo como um animal ferido... O estômago de Harry contraiu com o medo... Com a excitação...

 

Uma voz que parecia sair de sua própria boca, um voz aguda, fria e vazia, totalmente sem aparência humana...

 

- Pegue-a pra mim... Levante-a agora... Eu não posso tocá-la... Mas você pode...

 

A forma negra no chão mudou um pouco. Harry viu uma mão com dedos longos e brancos se elevar como seu próprio braço... Escutou a voz aguda e fria dizer "Crucio!".

 

O homem no chão deixou escapar um grito de dor, tentando se levantar mas caiu novamente, contorcendo-se. Harry estava gargalhando. Levantou sua varinha e o feitiço cessou e a figura gemeu e ficou imóvel.

 

- Lord Voldemort está esperando...

 

Muito vagarosamente, seus braços tremendo, o homem no chão levantou seus ombros alguns centímetros e levantou sua cabeça. Seu rosto estava ensangüentado e abatido, torcido pela dor porém rígido e desafiante...

 

- Terá que me matar... - sussurrou Sirius.

 

- Sem dúvida eu farei no final - disse a voz fria. - Mas você vai pegá-la para mim primeiro, Black... Você pensa que já sofreu o suficiente? Pense novamente... Nós temos horas pela frente e ninguém para ouvir você gritar...

 

Mas alguém gritou enquanto Voldemort baixava sua varinha novamente; alguém berrou e caiu ao lado de uma mesa quente no chão de pedra frio; Harry acordou quando bateu no chão, ainda gritando, sua cicatriz ardendo como fogo, enquanto todo o Salão Principal irrompeu ao seu lado.

 

 

FORA DA LAREIRA

- Eu não vou... Eu não preciso de assistência médica...Eu não quero...

 

Estava tentando se desvencilhar do professor Tofty, que estava vigiando Harry com muito cuidado após ajudá-lo sair da sala, com os estudantes o observando.

 

- Eu... Eu estou bem, senhor - falou Harry gaguejando, limpando o suor de seu rosto. - Realmente... Eu só cochilei por um momento... Tive um pesadelo...

 

- É a pressão dos exames! - disse o velho bruxo, batendo amigavelmente no ombro de Harry. - Isso acontece! Isso acontece! Beba um copo de água e talvez você estará bem para retornar ao Salão Principal? O exame está perto de terminar mas você estará bem para repetir a sua resposta calmamente?

 

- Sim - disse Harry excitadamente. - Eu disse... Não... Eu fiz... Fiz tudo o que pode, eu acho...

 

- Muito bem, muito bem - disse o velho bruxo gentilmente. - Eu verei seus exames e sugiro que você vá dormir.

 

- Eu farei isso. Muito obrigado.

 

No segundo que o velho desapareceu através do Salão Principal Harry subiu os degraus de mármore tão rapidamente que os retratos que passava perto diziam palavras de reprovação, subindo mais os andares e finalmente abriu violentamente a porta da ala hospitalar, assustando Madame Pomfrey, que tinha um líquido azul brilhante na colher de Montague.

 

- O que você acha que está fazendo Potter?

 

- Eu preciso ver a professora McGonagall - murmurou ofegante. - Agora... É urgente!

 

- Ela não está aqui, Potter - disse tristemente Madame Pomfrey. - Ela foi transferida para o St. Mungus esta manhã. Quatro Feitiços Estuporantes direto no tórax na idade dela? É um milagre que não a mataram.

 

- Ela... Se foi? - disse, chocado.

 

A sineta tocou fora da ala hospitalar e ouviu um ruído distante dos estudantes saindo das aulas. Ficou quieto, olhando Madame Pomfrey. Um medo surgia dentro de si.

 

Não havia ninguém para contar. Dumbledore se fora, Hagrid também mas sempre achou que a professora McGonagall estaria ali, dura e inflexível, talvez, mas sempre ali presente...

 

- Eu também estou chocada, Potter - disse Madame Pomfrey com uma cara de desaprovação. - Como se um deles pudessem substituir Minerva McGonagall! Covardia é o que foi... Covardia explicita... Se eu não tivesse preocupada com o que poderia acontecer com os estudantes sem mim protestaria.

 

- Sim - disse Harry confusamente.

 

Ele saiu às cegas da ala hospitalar pelo corredor, em pânico, não podia pensar no que fazer...

 

"Rony e Hermione", disse uma voz em sua cabeça.

 

Correu de novo, empurrando estudantes para fora de seu caminho, obviamente sob muitos protestos furiosos. Desceu dois andares e do topo de um degrau de mármore os avistou indo apressadamente ao seu encontro.

 

- Harry! - disse Hermione, olhando-o assustadoramente. - O que aconteceu? Você está bem? Você estará?

 

- Onde você esteve? - disse Rony.

 

- Venham comigo - disse Harry rapidamente. - Vamos, tenho algo para contar.

 

Foram até primeiro andar, foi numa sala de aula vazia da qual rapidamente fechou a porta atrás de Rony e Hermione no momento que entraram.

 

- Voldemort pegou Sirius.

 

- O quê?

 

- Como você...

 

- Eu vi. Agora. Quando eu fiquei desacordado durante o exame.

 

- Mas... Mas onde? Como? - disse Hermione, ficando pálida.

 

- Eu não sei como. Mas eu sei exatamente onde. Existe uma sala no Departamento de Mistérios cheia de esconderijos com pequenas bolas de cristal e estavam no final da porta noventa e sete... Estava tentando usar Sirius para conseguir algo que ele queria de lá... Torturava Sirius... Dizendo que no final iria matá-lo!

 

Harry achou sua voz trêmula, como se estivesse em pânico. Puxou uma cadeira e sentou, contendo-se.

 

- Como nós chegaremos lá? - Harry perguntou a eles.

 

Fez-se um momento de silêncio. Depois Rony disse.

 

- Che-chegar lá?

 

- Chegar ao Departamento de Mistérios, então poderemos resgatar Sirius - gritou Harry.

 

- Mas Harry... - murmurou Rony.

 

- O quê?

 

Ele não pôde entender por que os dois olhavam para ele como se estivesse pedindo algo irracional.

 

- Harry - falou Hermione, assustada. - Ahn... Como... Como você sabe que Voldemort entrou no Ministério da Magia sem ninguém notar?

 

- Como eu sei? - observou Harry. - A pergunta é como nós chegaremos lá!

 

- Mas... Harry, pense nisso! São cinco horas da tarde... O Ministério da Magia deve estar cheio de gente... Como Voldemort e Sirius entraram sem serem vistos? Harry... Eles provavelmente são os dois bruxos mais procurados no mundo... Você acha que poderiam chegar num prédio cheio de Aurores sem serem notados?

 

- Eu não sei, Voldemort usou uma capa de invisibilidade ou coisa semelhante! - berrou. - De qualquer forma, o Departamento de Mistério estava sempre completamente vazio quando eu estive...

 

- Você nunca esteve lá, Harry - disse Hermione tranqüilamente. - Você sonhou com esse lugar, só isso.

 

- Não são sonhos comuns - berrou, levantando-se e se aproximando dela. Queria sacudi-la. - Como você explica aquilo sobre o pai de Rony? Quando ele veio eu já sabia o que tinha acontecido com ele!

 

- É um bom argumento - falou tranqüilamente Rony, olhando Hermione.

 

- Mas isso é... É impossível! - disse Hermione desesperadamente. - Harry, como Voldemort capturou Sirius se estava em Grimmauld Place todo este tempo?

 

- Sirius provavelmente não agüentou e foi respirar um ar puro - falou Rony, parecendo preocupado. - Ele estava desesperado para sair daquela casa por anos...

 

- Eu não sei, pode ter muitos motivos! - Harry se afastou de Hermione. - Talvez Sirius seja só mais uma pessoa que Voldemort não liga em machucar...

 

- É só um pensamento - disse Rony. - O irmão de Sirius era um Comensal da Morte, não era? Talvez contou a Sirius o segredo de como obter a arma!

 

- É... Então é por isso que Dumbledore estava tão preocupado em manter Sirius trancafiado nesse lugar o tempo todo! - falou Harry.

 

- Olha, eu sinto muito - chorou Hermione - mas nada faz sentido, nós não temos provas de nada disso, nenhuma prova de que Voldemort e Sirius estão lá...

 

- Hermione, Harry os viu! - disse Rony, rondando-a.

 

- Ok - disse, olhando assustada mas ainda determinada. - Eu tenho que dizer isso...

 

- O quê?

 

- Você... Isso não é uma crítica, Harry! Mas você faz... Uma espécie de... Eu digo... Não que você tenha um pouco de um... Extinto de salvar pessoas? - ele a contemplava.

 

- E o que vem a ser o significado de "extinto de salvar pessoas"?

 

- Bem... Você... - ela olhou apreensivamente para ele. - Quero dizer... Ano passado, por um instante... No lago... Durante o Torneio... Você não deveria... Quero dizer, você não precisava salvar a irmã de Delacour... Você ficou um pouco... A levou...

 

Uma fúria se alastrou pelo corpo de Harry, como ela cometeria um erro desses?

 

- Quero dizer, foi bom para você e tudo... - falava Hermione rapidamente, olhando positivamente para o rosto de Harry. - Todos acharam algo maravilhoso que você fez...

 

- Foi engraçado - disse Harry entre os dentes - porque eu definitivamente lembro de Rony dizendo que eu perdi tempo bancando o herói... É o que você acha disso? Você acha que eu agi como o herói de novo?

 

- Não, não, não! - disse Hermione, olhando apavorada. - Não é o que eu quis dizer!

 

- Bem, nós entendemos o que você quis dizer, por que nós estamos perdendo tempo aqui! - Harry gritou.

 

- Eu estou tentando dizer, Voldemort conhece você, Harry! Ele pegou Gina e foi até a Câmara Secreta para atrair você para lá, é algo que ele faz, ele sabe que você é o tipo da pessoa que socorreria Sirius! É o que ele está tentando fazer, atraí-lo para o Departamento de Mistérios!

 

- Hermione, não importa se ele vai me atrair ou não, levaram McGonagall para St. Mungus, agora não existe ninguém da Ordem em Hogwarts para nós dizemos, então se nós não formos Sirius morrerá!

 

- Mas Harry, o que você sonhou... Era só um sonho, não era?

 

Harry suspirou frustrado. Hermione andava atrás dele em alarme.

 

- Você não conseguiu! - Harry gritou para ela. - Eu não estou tendo alucinações, isto não é um sonho! O que você acha que eram as aulas de Oclumancia, por que você acha que Dumbledore queria me prevenir dessas coisas? Porque eram REAIS, Hermione, Sirius capturado, eu nunca mais o verei. Voldemort o pegou e ninguém mais sabe, isso significa que nós somos os únicos que podemos salvá-lo, se nós não fizermos isso tudo bem mas eu vou, entendeu? E se eu me lembro corretamente você não tem um problema com meu extinto de salvar pessoas quando era você, eu a salvei dos dementadores - ele se virou para Rony. - Ou quando foi sua irmã, eu a salvei do basilisco.

 

- Eu nunca disse que eu tinha um problema! - disse Rony.

 

- Mas Harry, você acabou de dizer - disse Hermione -, Dumbledore queria que você aprendesse a tirar essas coisas da sua mente, se você fez Oclumancia você jamais verá isso...

 

- SE VOCÊS ACHAM QUE EU APENAS ESTOU AGINDO COMO EU NUNCA TIVESSE VISTO...

 

- Sirius disse a você que não há mais nada importante do que você mantivesse controle da sua mente!

 

- ENTÃO EU ESPERAVA QUE ELE DISSESSE ALGO DIFERENTE SE SOUBESSE O QUE EU ACABEI...

 

A porta da sala se abriu. Harry, Rony e Hermione se entreolharam. Gina entrou curiosa, seguida por Luna.

 

- Oi - disse Gina. - Nós reconhecemos a voz de Harry. O que você estão falando?

 

- Nunca - disse Harry rudemente.

 

Gina levantou as sobrancelhas

 

- Não há necessidade de falar comigo dessa forma - ela disse tristemente. - Eu só iria perguntar se podia ajudar.

 

- Bem, você não pode - disse brevemente Harry.

 

- Você está sendo muito rude, você sabe - disse Luna serenamente.

 

Harry se virou. A última coisa que queria era conversar com Luna Lovegood.

 

- Espere - disse Hermione rapidamente. - Espere... Harry, elas podem ajudar.

 

Harry e Rony olharam para ela.

 

- Olha - ela continuou -, Harry, nós precisamos nos certificar se Sirius realmente deixou o Quartel General.

 

- Eu já lhe disse, eu vi...

 

- Harry, Eu estou pedindo a você - desesperou-se Hermione. - Por favor, vamos verificar que Sirius não está em casa antes de sairmos de Londres. Se descobrimos que ele não está lá eu juro que eu não impedirei você. Eu irei, eu farei qualquer coisa para tentar salvá-lo.

 

- Sirius está sendo torturado AGORA! - gritou Harry. - Nós não temos tempo a perder.

 

- Mas se for uma armadilha de Voldemort, Harry, nós precisamos ter certeza, nós precisamos.

 

- Como? - reclamou Harry. - Como nós teremos certeza?

 

- Nós usaremos a lareira da professora Umbridge e se conseguimos entrar em contato com ela - disse Hermione com um olhar encorajador - usaremos isso de novo mas precisamos de alguém para vigiar, por isso precisamos de Gina e Luna.

 

Tentando entender o que estava se passando, Gina disse imediatamente.

 

- Sim, nós faremos isso.

 

- Quando você disse "Sirius", você estava falando sobre Stubby Boardman? - perguntou Luna.

 

Ninguém respondeu.

 

- Ok - disse Harry agressivamente para Hermione. - Ok, se você acha que vai ser rápido estou com você, se não eu estou indo para o Departamento de Mistérios agora mesmo.

 

- Departamento de Mistérios? - disse Luna, um pouco surpresa. - Mas como você pretende chegar lá?

 

Harry a ignorou novamente.

 

- Certo - disse Hermione, torcendo as mãos entre as cadeiras. - Certo... Bem... Um de nós vai encontrar Umbridge e mandá-la na direção oposta, mantê-la longe da sua sala. Elas podem dizer... Eu não sei... Que Pirraça está agindo fora do comum...

 

- Eu farei isso - disse Rony imediatamente. - Eu falarei que Pirraça está arruinando a sala de Transfiguração ou coisa parecida, são milhas de distância da sala dela. Vamos pensar nisso, eu posso convencer Pirraça a fazer isso, se eu o encontrar no caminho.

 

Com aquela situação, Hermione não foi contra destruir a sala de Transfiguração.

 

- Ok - ela disse. - Agora, nós precisamos manter os estudantes fora do caminho da sala enquanto tentamos entrar ou alguém da Sonserina vai tirá-la do caminho.

 

- Luna e eu podemos ficar até o final do corredor - disse Gina - e avisar as pessoas para não descerem porque alguém soltou Garrotting Gás - Hermione a olhou surpresa, não poderia acreditar que Gina estivesse inventando aquilo. A menina continuou. - Fred e Jorge estavam planejando isso antes deles saírem.

 

- Ok. Depois, Harry, você e eu estaremos debaixo da capa de invisibilidade e entraremos na sala e falaremos com Sirius...

 

- Ele não está lá, Hermione!

 

- Eu disse, você pode verificar se Sirius está ou não enquanto eu vigio, eu não acho que você deve está lá sozinho, Lino já provou que as janelas são frágeis, mandando aqueles pelúcios através delas.

 

Mesmo estando com raiva e impaciente Harry achou que a companhia de Hermione era uma prova de solidariedade e lealdade.

 

- Eu... Ok, obrigado - murmurou.

 

- Certo, bem, mesmo fazendo isso tudo eu não acho que poderemos ficar lá por mais de cinco minutos - disse Hermione, olhando aliviada para Harry por ter aceitado seu plano -, não com Filch rondando por aí.

 

- Cinco minutos serão o suficiente - disse Harry. - Vamos.

 

- Agora? - disse Hermione, chocada.

 

- Claro que agora! - disse Harry, feroz. - O que você acha, nós esperaremos até o final do jantar ou algo? Hermione, Sirius está sendo torturado bem agora!

 

- Eu... Oh, certo - disse ela desesperadamente. - Você vai e pega a capa de invisibilidade e iremos ao seu encontro no final do corredor de Umbridge, ok?

 

Harry não respondeu, saiu da sala às pressas. Subiu dois andares e encontrou Simas e Dino, que o cumprimentaram e disseram que planejavam fazer uma comemoração até o dia amanhecer para celebrar o fim dos exames, na sala comunal. Harry os ouviu até o buraco do retrato enquanto falavam quantas cervejas amanteigadas precisariam, a capa da invisibilidade e a faca de Sirius estavam em sua mochila, antes de notarem ele os deixou.

 

- Harry, você quer par de galeões quebrados? Harold Dingle queria vender a nós um Firewhisky...

 

Mas Harry se afastou e avançou pelo corredor, em poucos minutos encontrou Rony, Hermione, Gina e Luna, estavam juntos no final do corredor.

 

- Consegui. Prontos?

 

- Certo - murmurou Hermione. - Então Rony, você vai e até Umbridge... Gina, Luna, se vocês conseguirem desviar as pessoas do corredor... Harry e eu ficaremos embaixo da capa e esperamos até o caminho estar limpo...

 

Rony caminhou até o fim da passagem enquanto Gina empurrava estudantes na outra direção, seguida por Luna.

 

- Por ali - murmurou Hermione. - Você está bem, Harry? Você está pálido.

 

- Eu estou bem - disse secamente, tirando a capa da invisibilidade de sua mochila. Na verdade sua cicatriz estava doendo mas não tanto a ponto de achar que Voldemort já tivesse dado a Sirius um feitiço fatal, doeu muito mais quando Voldemort falou Avada...

 

- Aqui - disse, jogando a capa por cima deles.

 

- Você não pode descer! - Gina estava falando para as pessoas. - Sinto muito mas vocês terão que rodear porque alguém jogou Garrotting Gás por ali...

 

Eles podiam ouvir pessoas reclamando, uma voz disse "Eu não vejo nenhum gás".

 

- Porque é invisível - disse Gina num tom convincente - mas se você quiser atravessar tome cuidado, depois nós teremos o seu corpo como prova para o próximo idiota que não acreditar na gente.

 

Aos poucos todos desviaram. As notícias sobre o Garrotting Gás pareciam ter se espalhado e ninguém mais vinha por aquela direção. Quando o último barulho se cessou Hermione falou.

 

- Eu acho que foi o melhor que conseguimos, Harry, vamos.

 

Foram até o final do corredor onde Luna estava de pé, passaram por Gina e Hermione sussurrou.

 

- Não se esqueça do sinal.

 

- Que sinal? - murmurou Harry quando se aproximaram da porta de Umbridge.

 

- Uma música alta "Weasley é o nosso rei" se virem Umbridge vindo.

 

Harry pôs o canivete de Sirius entre a porta e a parede. A porta se abriu e entraram na sala. Hermione suspirou aliviada

 

- Achei que ela poderia ter acrescentado uma segurança extra depois do segundo pelúcio.

 

Saíram debaixo da capa; Hermione se apressou e foi até a janela, prestar atenção no sinal. Harry foi até a lareira, pôs o Pó de Flu e jogou nela, surgindo chamas esmeraldas. Ele se ajoelhou e pôs sua cabeça dentro das chamas e disse.

 

- Número doze, Grimmauld Place!

 

Sua cabeça começou a rodar mas ele permaneceu firme com os joelhos no chão frio da sala. Manteve seus olhos fechados e quando o rodopio parou os abriu, viu a cozinha de Grimmauld Place.

 

Não tinha ninguém ali. Aguardou, sentiu-se em pânico, um frio na barriga por apenas ver a sala deserta.

 

- Sirius? - gritou. - Sirius, você está aí?

 

Sua voz ecoou pela sala mas não teve resposta, exceto por um baixo ruído.

 

- Quem está aí? - disse.

 

Kreacher, o elfo-doméstico, apareceu. Ele viu suas mãos enfaixadas.

 

- É o menino Potter, sua cabeça está no fogo - Kreacher informou para a cozinha vazia. - Para que ele veio, Kreacher quer saber?

 

- Onde está Sirius, Kreacher?

 

O elfo-doméstico deu um gemido.

 

- O mestre se foi, Harry Potter.

 

- Para onde? Para onde, Kreacher?

 

Kreacher se calou.

 

- Eu estou lhe avisando... E Lupin? Olho-Tonto? Algum deles, algum deles está aí?

 

- Ninguém está aqui! - disse o elfo-doméstico num gemido e se virou em direção à porta da cozinha. - Kreacher acha que ele terá uma conversa com sua senhora agora, sim, ele não tinha uma chance por um bom tempo, o mestre de Kreacher foi afastado dele por ela... Mestre não diz ao pobre Kreacher onde ele estava indo - disse o elfo quieto.

 

- Mas você sabe! - gritou Harry. - Não sabe? Você sabe onde ele está!

 

Fez-se um momento de silêncio, depois o elfo começou a falar.

 

- Mestre não vai voltar do Departamento de Mistérios - disse alegre. - Kreacher e sua senhora estão sós de novo!

 

E ele desapareceu pela sala.

 

- Você!

 

Mas antes que pudesse insultá-lo Harry sentiu uma grande dor no topo de sua cabeça, inspirou muita cinza, chocado, foi arrastado através das chamas e viu o rosto pálido da professora Umbridge.

 

- Você acha - murmurou - que depois de dois pelúcios eu deixaria mais um tolo entrar em meu escritório sem meu conhecimento? Eu tenho Feitiços Sensoriais escondidos, instalados no caminho da minha porta depois de você ter entrado - gritou para alguém que ele não pôde ver, resolveu tirar sua varinha do bolso. Não estava lá.

 

Harry ouviu um barulho atrás da porta e soube que Hermione também fora pega.

 

- Eu estava tentando pegar minha Firebolt! - rosnou Harry.

 

- Mentiroso - ela bateu na cabeça dele. - Sua Firebolt está debaixo das masmorras, como você sabe muito bem, Potter. Você tinha sua cabeça no fogo. Com quem você estava se comunicando?

 

- Com ninguém - disse Harry, tentando fugir dela, sentiu algo evitando sua fuga.

 

- Mentiroso! - gritou Umbridge. Ela o jogou para longe. Agora ele pôde ver Hermione olhando com raiva para Emília Bulstrode. Malfoy estava aprendendo a jogar a varinha de Harry no ar e a pegava de novo.

 

Muitos alunos da Sonserina entraram, segurando Gina, Rony, Luna e Hermione e, para a surpresa de Harry, Neville, que estava sendo arrastado por Crabbe e parecia sufocado. Todos foram pegos.

 

- Pegamos todos eles - disse Warrington, olhando Rony, apontou para Neville. - Esse tentou fazer com que eu parasse de falar com ela - apontou para Gina - então eu o trouxe também.

 

- Bem, bem - disse Umbridge, olhando Gina. - Bem, parece que Hogwarts vai ter uma área livre para os Weasley, não é?

 

Malfoy riu alto. Umbridge lhe deu um sorriso largo e se sentou, olhando para os alunos capturados.

 

- Então, Potter, você pôs espiões em volta do meu escritório e mandou esse bufão - apontou para Rony e Malfoy riu mais alto - dizer-me que Pirraça estava se vingando na Sala de Transfiguração, quando eu sabia perfeitamente que ele estava ocupado limpando os telescópios da escola, o Sr. Filch tinha acabado de me informar. Claramente, era muito importante para você falar com alguém, foi Alvo Dumbledore? Ou o tonto do Hagrid? Duvido que foi Minerva McGonagall, eu escutei que ela está muito mal para falar com alguém.

 

Malfoy e outros amigos do Esquadrão Inquisitorial riram. Harry se encontrou tão aborrecido e irritado que estava balançando.

 

O rosto de Umbridge estava contraído.

 

- Muito bem - disse falsamente. - Muito bem, Sr. Potter... Eu lhe dei a chance de você falar espontaneamente. Você recusou. Eu não tenho alternativa para forçar você. Draco, chame o professor Snape.

 

Malfoy colocou a varinha de Harry em seu bolso e saiu da sala contente mas Harry não se importou. Não pôde acreditar que fora tão estúpido para esquecer. Havia todos os outros membros da Ordem, todos poderiam que ajudá-lo a salvar Sirius se foram mas estava errado. Ainda havia um membro da Ordem da Fênix em Hogwarts, Snape.

 

Fez-se silêncio no escritório exceto pela inquietação e esforço dos alunos da Sonserina em manter Rony e os outros sob controle. Os lábios de Rony estavam sangrando no carpete de Umbridge, lutava contra Warrington; Gina estava tentando bater no pé de uma garota do sexto ano, Neville estava ficando púrpura enquanto Crabbe o apertava com os braços; Hermione estava tentando afastar, em vão, Emília Bulstrode para longe. Luna, no entanto, estava livre do outro lado do carpete, olhando vagamente a janela e aborrecida pelo o que aconteceu.

 

Harry olhou por trás de Umbridge, que o estava vigiando depressa. Tentou mostrar tranqüilidade quando ouviu passos no corredor e Draco Malfoy seguido por Snape.

 

- Você queria me ver, senhora? - disse Snape, olhando para os estudantes capturados com indiferença.

 

- Ah, professor Snape - disse Umbridge, sorrindo e se levantando. - Sim, eu gostaria de outro pote de Veritasserum, o mais rápido que você puder, por favor. Você pode fazer mais, não pode? - disse com sua voz ficando branda e doce como sempre acontecia quando ficava brava.

 

- Certamente - disse Snape -, vai demorar um ciclo lunar, então eu terei em torno de um mês.

 

- Um mês? - estremeceu Umbridge. - Um mês! Mas eu preciso disso essa tarde, Snape! Eu acabei de encontrar Potter usando minha lareira para se comunicar com pessoa ou pessoas desconhecidas!

 

- É mesmo? - falou Snape com interesse, olhando Harry. - Isso não me surpreende, Potter nunca mostrou muito interesse para seguir as regras da escola.

 

Seus olhos frios fitaram Harry, que tentou se manter concentrado no sonho que tivera, talvez Snape estivesse pronto para ler sua mente, para entender...

 

- Eu gostaria de interrogá-lo! - repetiu Umbridge, irritada, e Snape passou a olhar seu rosto furioso. - Eu quero que você providencie uma poção que o force me falar a verdade!

 

- Eu já lhe disse - disse Snape tranqüilamente - que eu não tenho um Veritasserum no meu estoque. Mesmo que você queira enfeitiçar Potter, e eu lhe asseguro que ficarei contente se o fizer, eu não posso lhe ajudar. O único problema é que a maioria da ação da poção é temporária, a vítima não tem muito tempo para dizer a verdade.

 

Snape olhou de novo fixamente para Harry, que estava querendo se comunicar com ele sem palavras.

 

"Voldemort pegou Sirius no Departamento de Mistérios", pensou desesperadamente. "Voldemort pegou Sirius..."

 

- Você está com problemas - guinchou a professora Umbridge e Snape voltou a olhar para ela, as sobrancelhas levantadas. - Você está sendo tolo! Eu esperava, Lúcio Malfoy sempre falou bem de você! Agora saia do meu escritório!

 

Snape deu um sorriso irônico e se virou para partir. Harry sabia que era a única chance de alguém da Ordem saber o que estava acontecendo sair da sala.

 

- Ele pegou Almofadinhas! - Harry gritou. - Ele pegou Almofadinhas no lugar em que estava escondido!

 

Snape parou com a mão na maçaneta da porta.

 

- Almofadinhas? - chorou a professora Umbridge, olhando para Harry e Snape. - O que é Almofadinhas? Onde estava escondido? O que significa, Snape?

 

Snape olhou em volta e parou em Harry. Seu rosto impassível. Harry não pôde dizer se havia entendido ou não mas não ousava falar mais na frente de Umbridge.

 

- Eu não faço idéia - disse Snape secamente. - Potter, quando você me falou algo que não faz sentido eu deveria ter lhe dado Babbling Beverage - Crabbe soltou Neville um pouco.

 

Ele fechou a porta atrás dele fortemente, deixando Harry preocupado. Snape era sua última esperança. Olhou para Umbridge, que parecia estar se sentindo do mesmo modo.

 

- Muito bem - disse Umbridge. - Muito bem... Eu não tenho escolha... É mais um problema de disciplina da escola... E isso falha do Ministério... Sim... Sim...

 

Ela parecia estar falando consigo mesma ou algo parecido. Estava se movendo nervosamente, batendo sua varinha na mão e respirando apressadamente enquanto ele a olhava, Harry se sentiu sem poderes com a ausência de sua varinha.

 

- Você está me provocando, Potter... Eu não quero fazer isso - disse Umbridge enquanto se movia pela sala - mas às vezes as circunstâncias justificam o uso... Eu estou certa que o Ministro vai entender que eu não tinha escolha...

 

Malfoy a olhava com uma expressão satisfeita no rosto.

 

- Terei que usar a Maldição Cruciatus - disse Umbridge quietamente.

 

- Não! - gritou Hermione. - Professora Umbridge, é ilegal.

 

Mas Umbridge não se manifestou, olhou para Harry com uma expressão que nunca tinha visto antes, ela levantou sua varinha.

 

- O Ministro não quer que você quebre as leis, professora Umbridge! - chorou Hermione.

 

- O que Cornélio sabe que eu não vou feri-lo - disse Umbridge, agora apontando sua varinha para partes diferentes do corpo de Harry, provavelmente tentando decidir onde doeria mais. - Ele jamais saberá que eu mandei os dementadores atrás de Harry verão passado mas decidiu lhe dar uma chance, não expulsá-lo.

 

- Foi você? - gritou Harry. - Você mandou os dementadores atrás de mim?

 

- Alguém precisava agir - respirou Umbridge e sua varinha apontando para a testa de Harry. - Eles estavam tentando silenciar você mas eu fui a única que fiz algo a respeito... Somente você torcia para isso, não, Potter? Não hoje, não agora - e respirando profundamente, ela chorou. - Cruc...

 

- NÃO! - berrou Hermione atrás de Emília Bulstrode. - Não, Harry, nós temos que contar para ela!

 

- Sem chance! - respondeu Harry.

 

- Nós teremos, Harry, ela nos forçará de qualquer forma, mas... Mas contar o quê?

 

Hermione começou a chorar fracamente atrás de Emília Bulstrode, que parou de espremê-la contra a parede imediatamente.

 

- Ora, ora, ora! - disse Umbridge triunfante. - A senhorita sabe-tudo vai nos dar algumas respostas! Vamos, vamos!

 

- É... Meu... Nós... Não! - gritou Rony através da mordaça.

 

Gina olhava fixamente para Hermione como se nunca a tivesse visto antes. Neville, ainda ofegante, a fitava. Mas Harry notou algo. Hermione estava soluçando desesperadamente escondendo seu rosto mas não havia nenhum sinal de lágrimas.

 

- Me perdoem - disse Hermione. - Mas eu não consigo aturar isso...

 

- Está certo, está certo garota! - disse Umbridge, segurando Hermione pelos ombros e a colocando na cadeira. - Agora... Com quem Potter estava falando ainda há pouco?

 

- Bem - soluçou Hermione dentro de suas mãos. - Bem, ele estava tentando falar com o professor Dumbledore.

 

Rony congelou, arregalou os olhos; Gina parou de bater no pé da menina do sexto ano e até Luna olhou surpresa. Felizmente, Umbridge estava concentrada exclusivamente em Hermione.

 

- Dumbledore? - disse Umbridge. - Você sabe onde Dumbledore está?

 

- Bem... Não! - soluçou Hermione. - Nós tentamos o Caldeirão Furado no Beco Diagonal e no Três Vassouras em Hogsmeade...

 

- Idiota... Dumbledore não ficará num bar com todo o Ministério da Magia procurando por ele! - gritou Umbridge, desaprovando o que ela disse.

 

- Mas nós precisamos dizer a ele algo importante! - lamentou Hermione, Harry entendeu a ausência de lágrimas.

 

- Sim? - disse Umbridge, excitada. - O que você queria dizer a ele?

 

- Nós... Nós queríamos dizer que está pronto!

 

- O que está pronto? - vociferou Umbridge, agora agarrando os ombros de Hermione de novo e a balançando. - O que está pronto, garota?

 

- A... A arma.

 

- Arma? Arma? - disse Umbridge. - Você estava desenvolvendo um tipo de método de resistência? Uma arma que pudesse ser usada contra o Ministério? Sob as ordens do professor Dumbledore, é claro?

 

- S-s-sim - soluçou Hermione -, mas ele teve que sair antes de terminar e ag-ag-agora nós terminamos para ele e não conseguimos encontrá-lo para dizer!

 

- Que tipo de arma é essa? - disse Umbridge rudemente, as mãos ainda nos ombros de Hermione.

 

- Nós não ent-ent-entendemos isso. Nós ap-ap-apenas fizemos o que o professor Dumbledore disse para a gente fazer.

 

Umbridge se endireitou, olhando exultante.

 

- Leve-me até a arma.

 

- Eu não mostrarei... Eles - disse Hermione, olhando para os alunos da Sonserina, através de seus dedos.

 

- Isso não é para você nessas condições - disse a professora Umbridge rudemente.

 

- Bem - disse Hermione, agora se escondendo em suas mãos. - Deixe-os ver, eu espero que eles usem isso em você! De fato, eu queria que você chamasse muitas e muitas pessoas para vir ver! Veria se serve bem em você, eu adoraria que toda a escola soubesse onde está e como usá-la e se você incomodasse algum deles poderiam acabar com você!

 

Essas palavras tiveram um grande impacto em Umbridge: ela olhou rápida e suplicantemente envolta dela o Esquadrão Inquisitorial, fixou seu olhar um momento em Malfoy, que disfarçou o olhar ardente e ganancioso que aparecia em seu rosto.

 

Umbridge contemplou Hermione por outro momento, depois falou num tom maternal.

 

- Certo, querida, vamos fazer apenas eu e você... E levaremos Potter também, devemos? Levante-se agora.

 

- Professora - disse Malfoy -, professora Umbridge, eu acho que alguém do Esquadrão deve ir com você para olhar...

 

- Eu sou totalmente qualificada, Malfoy, você acha que eu não posso acompanhar dois bruxos adolescentes sozinha? - perguntou Umbridge rudemente. - De qualquer forma, não parece que esta arma é algo que alunos devem ver. Você vai permanecer aí até eu retornar e se certificar que esses - gesticulou para Rony, Gina, Neville e Luna. -  não... Escapem.

 

- Está bem - disse Malfoy, parecendo de repente despontado.

 

- E vocês dois, podem ir à minha frente e me mostrar o caminho - disse Umbridge, apontando Harry e Hermione com sua varinha. - Conduzam-me.

 

 

LUTA E VÔO

Harry não fazia idéia de qual era o plano de Hermione ou até mesmo se tinha um. Andou meio passo atrás dela e saíram da sala de Umbridge, sabendo que parecia suspeito se aparentasse que não sabia onde estavam indo. Não se atreveu a falar com ela; Umbridge estava andando tão perto atrás deles que pôde ouvir sua profunda respiração.

 

Hermione os conduziu para o Salão Principal. O barulho alto de vozes animadas dos estudantes ecoava no corredor do saguão, parecia impossível para Harry que a vinte passos deles havia pessoas que estavam jantando, celebrando o final do exame, sem se preocupar com nada no mundo...

 

Hermione seguiu direto para fora, dava para sentir o vento calmo da tarde. O sol estava se pondo atrás das copas das árvores da Floresta Proibida agora e Hermione estava marchando pela grama.

 

- Está escondido na cabana de Hagrid, não? - disse Umbridge próximo a orelha de Harry.

 

- É claro que não - disse Hermione calmamente. - Hagrid explodiria acidentalmente.

 

- Sim - disse Umbridge. - Sim, ele poderia ter feito isso.

 

Ela riu. Harry sentiu uma enorme vontade de virar e agarrá-la pela garganta mas resistiu. Sua cicatriz estava palpitando com o ar da tarde mas ainda não estava queimando, como se soubesse que Voldemort estava indo para matá-lo.

 

- Então... Onde está? - perguntou Umbridge com um tom de incerteza quando Hermione se dirigia para a Floresta.

 

- Por ali, é claro - disse Hermione, apontando para as escuras árvores. - Se tivesse que ser um lugar onde os estudantes não fossem descobrir acidentalmente teria que ser lá, não?

 

- Claro - disse Umbridge, parecendo apreensiva. - É claro... Muito bem, agora... Vocês dois fiquem atrás de mim.

 

- Você pode dar sua varinha, se nós formos primeiro? - Harry perguntou a ela.

 

- Eu não acho que sim, Sr. Potter - disse Umbridge docemente, pondo-o atrás de si com a varinha. - O Ministro dá mais valor à minha vida do que a sua.

 

Passaram pelas primeiras árvores, Harry tentou ficar vigiando Hermione; entrando na Floresta sem varinha parecia ser tão tola. No entanto, o jeito de Umbridge se mover, suas pernas curtas, com dificuldade de se equilibrar.

 

- É muito longe? - perguntou Umbridge, sua roupa se rasgando.

 

- Ah sim - disse Hermione. - Sim, está bem escondido.

 

A apreensão de Harry aumentava. Hermione não estava falando no caminho, estavam indo ver Grawp, o único caminho que ele seguira na Floresta fora três anos antes, até a toca de Aragogue. Hermione não estava com ele nessa ocasião; duvidava que ela soubesse do perigo que a esperava.

 

- Você tem certeza que é o caminho certo? - ele perguntou a ela.

 

- Sim - ela disse, descendo o terreno íngreme, pensou que havia um barulho estranho. Atrás dele Umbridge tropeçava. Nenhum deles parou para ajudá-la. Hermione falou por cima dos ombros. - É ainda um pouco mais para dentro!

 

- Hermione, fale baixo - Harry murmurou. - Qualquer coisa pode ser percebida aqui...

 

- Eu quero que eles ouçam - respondeu tranqüilamente, Umbridge tropeçou bruscamente atrás deles. - Você vai ver...!

 

Andaram por um longo tempo, até que estavam tão dentro da Floresta que as árvores bloqueavam a luz do sol. Harry já tinha se sentido assim quando esteve na Floresta, olhos invisíveis o observando.

 

- Quanto mais? - reclamou Umbridge atrás dele.

 

- Não tanto agora! - ela gritou quando entraram numa escuridão. - Só um pouco mais...

 

Um arco cortou o céu e parou com ameaça na árvore que tinha acabado de passar, bem próximo à cabeça. Começaram a escutar uivos; Harry podia sentir a floresta tremendo; Umbridge deu um grito e o puxou para frente como se fosse um escudo.

 

Ele se desvencilhou dela e se virou. Cerca de cinqüenta centauros apareceram, seus arcos levantados, apontados para Harry, Hermione e Umbridge. Retornaram para o centro da clareira, Umbridge estava aterrorizada. Harry e Hermione se entreolharam. Ela estava dando um triunfante sorriso.

 

- Quem é você? - disse uma voz.

 

Harry olhou à esquerda. Um centauro chamado Magorian estava os rondando em círculos, como os outros, com o arco levantado. À direita de Harry, Umbridge estava ainda limpando sua varinha trêmula e apontou para o centauro.

 

- Eu perguntei quem é você, humana - disse Magorian rudemente.

 

- Eu sou Dolores Umbridge! - disse Umbridge numa voz amedrontada. - Subsecretária do Ministério da Magia e diretora da escola de Hogwarts!

 

- Você é do Ministério da Magia? - disse Magorian e os centauros sussurrando em volta.

 

- Sim! - disse Umbridge. - Então tenha muito cuidado! Pelas leis estabelecidas pelo Departamento para o Regulamento e Controle das Criaturas Mágicas qualquer ataque por mestiços como vocês com humanos...

 

- Do que você nos chamou? - gritou um centauro negro e selvagem que Harry reconheceu como Agouro.

 

- Não os chame disso! - Hermione disse furiosa mas Umbridge não pareceu escutá-la. Ainda apontando a varinha para Magorian, continuou. - A lei Quinze "B" está claramente dizendo que qualquer ataque de uma criatura que tem uma mente semelhante aos humanos é considerado responsável por seus atos.

 

- Próximo à inteligência humana? - repetiu Magorian e Agouro e muitos outros rugiram com raiva e bateram no chão. - Nós consideramos isso um grande insulto, humana! Nossa inteligência, ainda bem, é superior a sua.

 

- O que vocês estão fazendo na nossa floresta? - perguntou o centauro com a face cinza, Harry e Hermione o tinham visto na última vez que foram para a Floresta. - Por que vocês estão aqui?

 

- Sua Floresta? - disse Umbridge, movendo-se não só com medo mas também com indignação. - Eu gostaria de lembrá-lo que você mora aqui porque o Ministério da Magia permite você habitar essas áreas...

 

Uma flecha passou de raspão pela sua cabeça e pegou um pouco de seu cabelo passando; ela gritou e pôs suas mãos em cima da cabeça, enquanto alguns centauros abaixaram de aprovação e outros deram uma risada rouca. Pareciam selvagens, suas risadas ecoando pela clareira e o olhar deles sobre as patas eram extremamente amedrontadores.

 

- De quem é essa floresta agora, humana? - perguntou Agouro.

 

- Cinqüenta mestiços! - ela gritou, suas mãos ainda estavam sobre sua cabeça. - Bestas! Animais descontrolados!

 

- Fique quieta! - gritou Hermione mas já era tarde: Umbridge apontou sua varinha para Magorian e gritou.

 

- Incarcerous!

 

Cordas voaram como cobras, enrolaram os apertando em volta do dorso dos centauros e amarrando seus braços: ele chorou de raiva e elevou suas pernas, tentando se libertar, enquanto outros centauros atacavam.

 

Harry agarrou Hermione e a empurrou para o chão, o rosto virado para o chão, sentiu medo por um momento quando ouviu cascos batendo em volta dele mas o centauro saltou sobre eles e gritou com raiva.

 

- Nãaaaaaao! - ouviu Umbridge bradar. - Nãaaaaaaao... Eu sou subsecretária... Vocês não podem. Soltem-me, seus animais... Nãaaaaaao!

 

Harry viu uma luz vermelha e soube que ela quase virou um deles; depois gritou muito alto. Levantando sua cabeça ele viu pequenas polegadas, Harry viu que Umbridge foi agarrada por Agouro e levantada no ar, amarela e contorcida com o medo. Sua varinha saiu da sua mão até o chão, o coração de Harry bateu forte. Se ele pudesse pegá-la...

 

Mas assim que ele tentou chegar até a varinha uma pata de centauro levantou a varinha e a quebrou no meio.

 

- Agora! - falou uma voz na orelha de Harry e um braço cabeludo vindo do ar e o arrastou para cima. Hermione também estava suspensa. Após isso, muitas cabeças coloridas dos centauros. Harry viu Umbridge sendo furada nas árvores por Agouro. Gritando para que parasse, sua voz ficou menor e menor até eles não puderem mais ouvi-la, o barulho dos cascos sufocando-os.

 

- E esse? - disse o centauro de rosto cinza, levantando Hermione.

 

- Eles ainda são jovens - disse uma voz fraca atrás de Harry. - Nós não atacamos os pequenos.

 

- Eles a trouxeram aqui, Ronan - respondeu um centauro com suas garras em Harry. - E eles não são tão jovens... Ele está próximo da maturidade, este aqui.

 

Ele levantou Harry por trás de sua roupa.

 

- Por favor - disse Hermione. - Por favor, não nos ataque, nós não pensamos como ela, nós não somos empregados do Ministério da Magia! Nós só viemos aqui porque nós esperávamos que vocês se livrassem dela por nós.

 

Harry soube no momento, pela expressão do centauro cinza que estava segurando Hermione, que ela cometeu um grande erro dizendo isso. O centauro cinza o atirou de volta e suas pernas bateram furiosamente, e se baixou.

 

- Você vê, Ronan? Eles já têm a arrogância do tipo deles! Então vocês estavam fazendo trabalho sujo, estavam, garota humana? Nós devíamos agir como seus servos, tirar seus inimigos do seu caminho como um cão de guarda?

 

- Não! - disse Hermione em estado de choque. - Por favor, eu não quis dizer isso! Eu só esperava que você se dispusesse a nos ajudar...

 

Mas parece que ela piorou a situação.

 

- Nós não ajudamos humanos! - rosnou um centauro, levantando Harry. - Nós não vamos permitir você sair daqui, vangloriando-se que nós fizemos suas vontades!

 

- Nós não falaremos nada disso! - Harry gritou. - Nós sabemos que vocês não iam fazer porque nós pedimos.

 

Mas ninguém pareceu o ouvir. Um centauro com barba gritou.

 

- Eles vieram aqui sem avisar, eles devem sofrer as conseqüências!

 

Um som de aprovação com essas palavras e um centauro pardo gritou.

 

- Eles podem se juntar à mulher!

 

- Você disse que não machucaria inocentes! - gritou Hermione, com lágrimas reais em seu rosto agora. - Nós não fizemos nada para machucá-los, nós não usamos varinhas ou armadilhas, nós apenas queremos voltar para a escola, por favor, nos deixe ir...

 

- Nós não somos como o traidor Firenze, garota humana! - gritou o centauro cinza, rígido de aprovação de seus companheiros. - Talvez você acha que somos apenas cavalos? Nós somos um povo antigo que não agüenta invasões e insultos dos bruxos! Nós não conhecemos suas leis, não reconhecemos sua superioridade, nós somos...

 

Mas não ouviram o que mais os centauros eram, por um momento se ouviu um barulho da borda da clareira tão alto que todos, Harry, Hermione, e os cinqüenta centauros, olharam em volta. O centauro de Harry o deixou cair no chão de novo e suas mãos caíram no arco. Hermione foi solta também e Harry se apressou para perto dela, dois troncos de árvores espessas se partiram sinistramente e a forma gigantesca e monstruosa de Grawp apareceu na passagem estreita.

 

Os centauros perto dele voltaram atrás; a clareira agora estava uma floresta de arcos e flechas pronta para ser atirada, todas apontando para cima e o enorme rosto cinza surgiu debaixo da passagem da os galhos. A boca de Grawp se abriu; podiam ver seus dentes amarelos, seus profundos olhos se estreitaram e foram em direção das criaturas que estavam em seus pés. Cordas se partiram em seus tornozelos.

 

Ele abriu sua boca largamente.

 

- Hagger.

 

Harry não pode entender o que "Hagger" significava ou que linguagem era essa, estava olhando para os pés de Grawp, que eram tão grandes quanto todo o corpo de Harry. Hermione segurou seu braço fortemente; os centauros estavam em silêncio, encarando o gigante, enorme, movendo sua cabeça de um lado a outro, continuou a procurar por algo que deixou cair.

 

- Hagger! - ele disse de novo, mais insistente.

 

- Saia daqui, gigante! - chamou Magorian. - Você não é bem-vindo aqui!

 

Essas palavras pareciam não ter efeito em Grawp. Ele parou um pouco (os braços dos centauros ainda rijos segurando os arcos), depois abaixou.

 

- HAGGER!

 

Poucos centauros olharam preocupados agora. Hermione, no entanto, respirou ofegante.

 

- Harry! - ela murmurou. - Eu acho que ele está tentando dizer "Hagrid"!

 

Nesse momento Grawp os olhou, os únicos dois humanos num mar de centauros. Baixou sua cabeça e o outro pé, olhando fixamente para eles. Harry pôde sentir Hermione se movendo quando Grawp abriu sua boca novamente e disse, num ruído.

 

- Mione.

 

- Meu deus! - disse Hermione, segurando nos braços de Harry tão fortemente que parecia que ela ia desmaiar. - Ele... Ele se lembra!

 

- MIONE! - gritou Grawp. - ONDE ESTÁ HAGGER?

 

- Eu não sei! - falou Hermione aterrorizada. - Eu lamento, Grawp, eu não sei!

 

- GRAWP QUER HAGRID!

 

Uma das mãos do gigante estava abaixada. Hermione deu um grito, deu uns passou para trás e caiu. Sem uma varinha, Harry se preparou para bater, chutar ou qualquer coisa que parecesse que sua mão estivesse tateando, bateu numa perna de um centauro branco.

 

Era o que parecia que o centauro estava esperando, os dedos de Grawp estavam a um pé de Harry quando cinqüenta flechas cortaram o ar e atingiram o rosto do gigante, causando nele dor e raiva, levantou-se esfregando seu rosto com as mãos, quebrando as flechas, forçando suas cabeças para dentro.

 

Suspendeu seu enorme pé e o centauro saiu do caminho, gotas do sangue de Grawp caíram em Harry, empurrou Hermione e um par de gotas de sangue caiu tão rápido quanto puderam se esconder entre as árvores. Quando olharam para trás Grawp estava pegando cegamente os centauros e sangue escorria por seu rosto, os centauros estavam confusos, galopando pelas árvores até o outro lado da clareira. Harry e Hermione viram Grawp dando outro urro de fúria e mergulhando atrás deles, batendo nas árvores.

 

- Oh não - disse Hermione, tremendo tanto que seus joelhos tremiam. - Oh, foi horrível, ele provavelmente vai matar todos eles.

 

- Eu não estou essa confusão, para ser franco - disse Harry amargamente.

 

Os sons dos galopes dos centauros e o urro do gigante ficaram menor e menor. Harry sentiu sua cicatriz pulsar novamente e um grande terror o invadiu.

 

Perderam muito tempo, o tempo que tinham para resgatar Sirius tinha se passado desde que Harry teve a visão. Não por Harry ter perdido sua varinha mas estavam no meio da Floresta Proibida sem meio de transporte.

 

- Plano esperto - ele deu um tapinha em Hermione, soltando um pouco de sua fúria. - Realmente um bom plano. Para onde nós vamos?

 

- Nós precisamos voltar para o castelo - disse fracamente.

 

- Pelo tempo que nós temos Sirius provavelmente estará morto! - disse Harry, chutando uma árvore próxima.

 

- Bem, nós não podemos fazer nada sem varinhas - disse Hermione esperançosa, levantando-se com dificuldade de novo. - De qualquer forma, Harry, como você pretende chegar em Londres?

 

- Sim, nós estamos querendo saber disso - disse uma voz conhecida atrás dela.

 

Harry e Hermione se mexeram em direção as árvores.

 

Rony vinha olhando para eles, seguido por Gina, Neville e Luna. Todos pareciam preocupados, estavam arranhados, da garganta até a bochecha de Gina; o olho direito de Neville estava púrpuro e inchado; os lábios de Rony estavam sangrando pior que antes mas todos pareciam felizes consigo mesmo.

 

- Então - disse Rony, largando a varinha de Harry. - Alguma idéia?

 

- Como vocês vieram aqui? - perguntou Harry maravilhado, pegando sua varinha.

 

- Um pouco de Stunners, um Feitiço de Desarmamento, Neville fez uma boa azaração de Impedimento - disse Rony ofegante, agora entregando a varinha de Hermione. - Mas Gina foi a melhor, ela pegou Malfoy, Feitiço do morcego-fantasma, foi soberbo, seu rosto coberto de muitas asas. De qualquer forma, nós os vimos pela janela entrando na Floresta e seguimos. O que vocês fizeram com Umbridge?

 

- Ela foi levada - disse Harry. - Pelos centauros.

 

- E eles os deixaram para trás? - perguntou Gina, atônita.

 

- Não, eles foram afastados por Grawp - disse Harry.

 

- Quem é Grawp? - perguntou Luna.

 

- Irmão caçula de Hagrid - disse Rony. - Não importa agora. Harry, o que você descobriu no fogo? Você-Sabe-Quem pegou Sirius ou...

 

- Sim - disse Harry com sua cicatriz doendo de novo. - E eu tenho certeza que Sirius está vivo mas não consigo ver como nós vamos chegar lá para ajudá-lo.

 

Todos ficaram em silêncio, olhando assustados; o problema parecia insuportável.

 

- Nós vamos voar, não vamos? - disse Luna parecendo preocupada.

 

- Ok - disse Harry irritado, rodeando-a. - Primeiramente, nós não teremos nada se você se incluir nisso, então...

 

- Eu tenho uma vassoura! - disse Gina.

 

- Sim, mas você não vai - disse Rony com raiva.

 

- Com licença mas eu me preocupo com Sirius tanto quanto você! - disse Gina, seu jeito parecia com Fred e Jorge com raiva.

 

- Você também... - Harry começou mas Gina disse ferozmente.

 

- Eu sou três anos mais velha que você quando lutou contra Você-Sabe-Quem pela Pedra Filosofal, é por minha causa que Malfoy ainda está na sala de Umbridge com espíritos o atacando...

 

- Sim, mas...

 

- Nós estamos todos juntos - disse Neville calmamente. - Isso é, tudo sobre lutar contra Você-Sabe-Quem, não é? E essa é a nossa primeira chance de fazer algo real... Ou tudo isso é apenas um jogo ou algo parecido?

 

- É claro que não é... - disse Harry impaciente.

 

- Então devemos ir também - disse Neville. - Nós queremos ajudar.

 

- Isso mesmo - disse Luna, sorrindo, feliz.

 

Harry e Rony se entreolharam. Sabia que Rony estava pensando exatamente como ele: se pudessem escolher alguns membros do ED excetuando Rony e Hermione para se juntar para resgatar Sirius não traria Gina, Neville ou Luna.

 

- Bem, não importa, de qualquer forma - disse Harry entre os dentes. - Porque nós ainda não sabemos como chegar lá.

 

- Eu achei que já tínhamos falado - disse Luna rudemente. - Nós voamos!

 

- Olhe - disse Rony, contendo dificilmente sua raiva. - Você pode voar sem um cabo de vassoura mas o resto de nós não pode fazer brotar asas nem nós...

 

- Existem métodos de voar sem vassouras - disse Luna calmamente.

 

- Eu acho que devemos montar nas costas de Kack Snorgle ou seja, o que for? - Rony perguntou.

 

- O Crumple-Horned Snorkack não pode voar - disse Luna - mas eles podem e Hagrid diz que são muito bons em encontrar lugares escondidos.

 

Harry olhou em volta. Entre duas árvores haviam olhos brancos, eram dos Testrálias, olhando sua conversa como se entendessem cada palavra.

 

- Sim! - murmurou, movendo-se em direção a eles. Eles jogaram suas cabeças de réptil, jogando para trás suas crinas pretas, e Harry estendeu sua mão e bateu levemente no pescoço do mais próximo; como podiam ser tão feios?

 

- São aqueles cavalos maus? - disse Rony incerto, olhando fixamente para o Testrália à esquerda que Harry estava acariciando. - Aquele você não podia ver utilidade, você viu os cheiro deles?

 

- Sim - disse Harry.

 

- Quantos?

 

- Só dois.

 

- Bem, precisamos de três - disse Hermione, que estava ainda olhando um pouco chocada mas determinada.

 

- Quatro, Hermione - disse Gina com cara feia.

 

- Eu acho que há seis de nós - disse Luna calma, contando.

 

- Não seja burra, todos nós não podemos ir! - disse Harry feroz. - Olha, vocês três - apontou para Neville, Gina e Luna. - Vocês não estão envolvidos nisso então vocês não...

 

Eles explodiram de protestos. Sua cicatriz estava novamente doendo. Cada minuto que perdiam era precioso; não tinha tempo para argumentar.

 

- Ok, tudo bem, é sua escolha - disse secamente. - A menos que consigamos encontrar mais Testrálias vocês não vão...

 

- Oh, mais deles estão vindo - disse Gina confiante, Rony estava olhando na direção errada, achando que sob pressão ela estava vendo cavalos.

 

- O que você acha que é?

 

- Porque, caso você não notou, você e Hermione estão cobertos de sangue - disse friamente. - E nós sabemos que os Testrálias de Hagrid adoram carne crua. É por isso que esses dois vieram para aqui.

 

Harry sentiu um puxão em sua roupa no momento que olhou para baixo, perto onde o Testrália estava arrasando sua manga; coberta do sangue de Grawp.

 

- Ok, então - disse, acabando de ter uma idéia. - Rony e eu vamos pegar esses dois e seguimos em frente e Hermione pode ficar com vocês aqui e ela vai atrair mais Testrálias...

 

- Eu não vou ficar para trás! - disse Hermione furiosa.

 

- Não tem necessidade - disse Luna sorrindo. - Olhem, aqui vêm mais... Vocês dois devem estar realmente cheirando a...

 

Harry se virou: não mais que seis ou sete Testrálias estavam em seu caminho, tinham grandes asas em seu corpo, seus olhos brilhavam na escuridão. Não tinha desculpas agora.

 

- Está bem - disse com raiva. - Pegue um e vamos.

 

 

O DEPARTAMENTO DE MISTÉRIOS

Harry envolveu sua mão fortemente na crina do Testrália mais próximo, apoiou um pé num toco que estava perto e subiu desajeitadamente nas sedosas costas do cavalo. Este não protestou, virou sua cabeça, com presas expostas, e tentou continuar a lamber suas vestes.

 

Harry descobriu que havia uma maneira de alojar seus joelhos por trás das juntas das asas que o fazia se sentir mais seguro, então olhou para os outros. Neville já havia quase subido nas costas do Testrália ao lado e agora tentava suspender uma pequena perna por trás das costas da criatura. Luna já estava montada, sentado numa sela feminina e arrumando as vestes, como se fizesse aquilo todo dia. Rony, Hermione e Gina, no entanto, continuavam imóveis no mesmo local, olhando para eles de boca aberta.

 

- Quê é? - disse ele.

 

- Como vamos subir - perguntou Rony debilmente - quando não podemos ver as coisas?

 

- Ah... é fácil! - disse Luna, deslizando amavelmente de seu Testrália e marchando em direção a ele, Hermione e Gina. - Venham cá...

 

Elas os empurrou na direção dos Testrálias restantes e os ajudou, um a um, a montar. Todos três pareciam extremamente nervosos enquanto ela envolvia suas mãos na crina dos cavalos e dizia para agarrarem fortemente antes que voltasse para seu próprio Testrália.

 

- Isso é loucura - murmurou Rony, movendo sua mão para cima e pra baixo no pescoço do cavalo. - Louco... Se ao menos eu pudesse vê-lo...

 

- É melhor torcer para continuar invisível - disse Harry sombriamente. - Todos prontos, então?

 

Todos concordaram com as cabeças e ele viu cinco pares de joelhos se apertarem por baixo de suas vestes.

 

- Ok...

 

Olhou para a brilhante costa da cabeça de seu Testrália e ordenou:

 

- Ministério da Magia, entrada de visitantes, Londres, então... - disse incerto. - Er... Se vocês souberem... onde é...

 

Por um momento o Testrália de Harry não fez nada; então, com um movimento majestoso que quase o derrubou de sua sela, as asas dos dois lados se estenderam; o cavalo se curvou lentamente, então saiu em disparada como um foguete, para cima, de forma tão rápida e íngreme que Harry teve que travar fortemente seus braços e suas pernas em volta do cavalo para evitar que escorregasse por seu ossudo traseiro. Fechou os olhos e afundou seu rosto na sedosa crina do cavalo enquanto arrancavam pelos galhos mais altos das árvores e se elevavam em um pôr-de-sol vermelho-sangue.

 

Harry achou que nunca havia se movido tão rápido, o Testrália saiu como um raio na direção do castelo, suas asas batendo fortemente; a brisa refrescante esbofeteava o rosto de Harry; os olhos apertados contra do vento cortante, olhou à sua volta e viu seus cinco companheiros também subindo atrás dele, todos se curvando o máximo possível no pescoço de seus Testrálias para se protegerem de suas rajadas.

 

Já estavam fora das terras de Hogwarts; haviam passado por Hogsmeade; Harry podia ver montanhas e gaivotas sob eles. Enquanto a luz do dia começava a desaparecer, Harry viu pequenas coleções de luzes enquanto passavam por mais vilarejos, então uma estrada serpeante, na qual um único carro seguia seu caminho para casa, através das colinas...

 

- Isso é bizarro! - Harry mal ouviu Rony gritar de algum lugar atrás dele, imaginou como devia estar se sentindo, voando cada vez mais rápido, àquela altura, sem nenhum suporte.

 

O crepúsculo chegou: o céu agora se transformava numa malha púrpura, leve e sombria com pequeninas estrelas prateadas, logo somente a luz das cidades trouxas deu a eles a idéia de o quão rápido estavam viajando. Os braços de Harry estavam enroscados firmemente no pescoço de seu cavalo enquanto desejava que fosse ainda mais rápido. Quanto tempo teria passado desde de que vira Sirius deitado no chão do Departamento de Mistérios? Quanto tempo Sirius seria capaz de resistir a Voldemort? Tudo que Harry tinha certeza era que seu padrinho não havia nem feito o que Voldemort queria nem morrido, pois tinha certeza que qualquer dos dois acontecimentos teriam feito o jubilação ou fúria de Voldemort viajar por seu próprio corpo, fazendo sua cicatriz queimar tão dolorosamente quanto no dia em que Sr. Weasley fora atacado.

 

Nisso, continuaram a voar pela escuridão que crescia; o rosto de Harry estava dolorido e frio, suas pernas adormecidas de tanto forçá-las ao redor do Testrália mas ele se atreveu a mudar de posição para não escorregar... Estava surdo por causa da barulhada que o vento forte fazia em seus ouvidos e sua boca estava seca e congelada por causa do vento frio. Mão fazia idéia de quanto já haviam voado; toda sua fé estava depositada na fera sob ele que, propositadamente, voava na velocidade de um raio pela noite, mal batendo suas asas enquanto acelerava mais ainda, avante.

 

Se fosse tarde demais...

 

"Ele ainda está vivo, ainda está lutando, posso sentir isso..."

 

Se Voldemort percebesse que Sirius não ia se submeter...

 

"Eu saberia..."

 

O estômago de Harry afundou; a cabeça Testrália de repente estava apontando para o chão, sentiu que havia escorregado um pouco pra frente também. Finalmente estavam descendo... Ouviu um gritinho atrás dele e virou perigosamente pra trás mas não viu sinal de corpo caído...presumidamente todos receberam o mesmo choque que ele com a mudança de direção.

 

Agora luzes laranjas brilhantes estavam crescendo cada vez mais e cada vez mais a volta; podiam ver o topo dos prédios, raios de luz dos faróis como olhos de insetos luminosos, nos quadrados de cerca amarela haviam janelas. Do nada, estavam descendo em direção a calçada; Harry agarrou seu Testrália com toda força que ainda tinha em seu corpo, reforçado para um próximo impacto mas o Testrália tocou o chão negro tão suavemente como uma sombra e Harry escorregou de suas costas, olhando para a rua onde o container transbordante continuava um pouco afastado da cabine telefônica vandalisada, ambos consumindo a luz laranja, forte de deslumbrante, dos postes.

 

Rony desceu logo depois e caiu de seu Testrália no pavimento.

 

- Nunca mais - disse ele, pondo-se de pé. Parecia querer sair o mais rápido possível de perto de seu Testrália mas, sem poder vê-lo, colidiu com seus quartos e quase caiu de novo. - Nunca mais, nunca mais mesmo... Essa foi a pior...

 

Hermione e Gina pousaram nos dois lados dele: todas desceram de seus cavalos mais graciosamente que ele mas com a mesma expressão de alívio por estar em chão firme; Neville desceu, tremendo; Luna desmontou suavemente.

 

- Pra onde vamos agora? - ela perguntou a Harry numa voz educadamente interessada, como se aquilo fosse um interessante passeio do dia a dia.

 

- Por aqui - disse ele. Deu a seu Testrália um leve tapinha em agradecimento então seguiu rápido, em direção à cabine telefônica e abriu a porta. - Vam'bora! - apressou os outros enquanto hesitavam.

 

Rony e Gina marcharam para dentro, obedientemente; Hermione, Neville e Luna se apertaram depois deles; Harry lançou um último olhar aos Testrálias, agora farejando restos de comida no container, então se forçou para dentro da cabine também.

 

- Quem quer que esteja perto do telefone, disca, 62442! - disse ele.

 

Rony fez isso, seu braço inclinando bizarramente para alcançar o discador; enquanto isso zumbiu de volta ao seu lugar, a voz feminina fria soou dentro da cabine:

 

- Bem-vindos ao Ministério da Magia. Por favor diga seu nome e o que quer.

 

- Harry Potter, Rony Weasley, Hermione Granger - disse Harry muito rápido -, Gina Weasley, Neville Longbottom, Luna Lovegood... Estamos aqui pra salvar alguém a não ser que o seu Ministério possa fazer isso primeiro!!

 

- Obrigado - disse a voz fria. - Visitantes, por favor peguem os crachás e os ponham na frente de suas vestes.

 

Meia dezena de crachás voou da calha de metal de onde, normalmente, saíam moedas retornadas. Hermione os agarrou e os passou, calada, para Harry, por cima da cabeça de Gina; ele olhou para o primeiro, Harry Potter, Missão de Resgate.

 

- Visitantes, vocês serão inspecionados e suas varinhas deve ser apresentadas para registro no balcão de segurança, localizado ao final do Átrio.

 

- Tá!! - disse Harry alto enquanto sua cicatriz dava outra fisgada. - Agora será que dá pra gente de mover!?

 

O chão da cabine estremeceu e o pavimento começou a subir por suas janelas de vidro; os Testrália estavam sumindo de vista; a escuridão tomou conta de tudo e com um estranho rangido afundaram paras as profundezas do Ministério da Magia.

 

Um fino raio de luz dourada iluminou seus pés e, crescendo, subiu para seus corpos, Harry se ajoelhou com varinha em punho, o máximo que podia em tal ocasião, enquanto checava pelo vidro se havia alguém esperando por eles no Átrio mas parecia estar completamente vazio. A luz estava mais fraca do que quando era de dia; não havia fogo a queimar abaixo das chaminés mas enquanto subiam na cabine, lentamente, ele pôde ver que os símbolos dourados, brilhantes, continuavam a se mover, mudando de posição, no teto azul escuro.

 

- O Ministério lhes deseja uma noite agradável - disse a voz da mulher.

 

A porta da cabine se abriu; Harry marchou para fora dela seguido por Neville e Luna. O único barulho no Átrio era da água da fonte dourada, onde jatos de águas saíam das pontas das varinhas do bruxo e da bruxa, da ponta da flecha do centauro, da ponta do chapéu do duende e das orelhas do elfo para a fonte à volta deles.

 

- Vamos - disse Harry baixinho e os seis atravessaram o Hall, Harry à frente, passaram a fonte, indo em direção à mesa onde o bruxo pesou a varinha de Harry, a qual estava deserta agora.

 

Harry sentiu que deveria haver alguém da segurança ali, tinha certeza que sua ausência não era bom sinal e seus sentimentos de agouro começaram a crescer enquanto passavam pelos portões que levavam para os elevadores. Apertou o botão "pra baixo" mais próximo e um elevador apareceu quase que imediatamente, as grades douradas se abriram com uma grande "click", ecoou, então entraram. Harry pressionou o botão nove; as grades fecharam com um "bang" e o elevador começou a descer, devagar e rangendo. Harry não havia percebido o quão barulhentos eram os elevadores quando havia ido lá com Sr. Weasley; tinha certeza que a barulheira atrairia alguém da parte da segurança mas quando o elevador parou a fria voz feminina disse:

 

 - Departamento dos Mistérios - as grades se abriram. Saíram, em direção ao corredor onde nada se movia, a não ser o fogo das tochas com a rajada de ar do elevador.

 

Harry virou em direção à porta preta. Depois de meses e meses sonham com ela, ali estava, finalmente.

 

- Vam'bora - suspirou e seguiu caminho pelo corredor, Luna logo atrás dele, olhando à volta com sua boca meio aberta.

 

- Ok, escutem - parou Harry de novo, a uns metros da porta. - Talvez... Talvez alguns de nós devessem ficar aqui como... Para cobertura, e...

 

- E como vamos lhe avisar que algo está vindo? - perguntou Gina, a sobrancelha erguida. - Você poderia estar a milhas.

 

- Vamos com você, Harry - disse Neville.

 

- Vamos andar com isso - disse Rony firmemente.

 

Harry ainda não queria levar todos com ele mas parecia não ter escolha. Virou e encarou a porta, então andou em sua direção... Assim como fez nos sonhos, ela abriu e ele marchou por ela, os outros em seu calcanhar.

 

Estavam numa grande sala circular. Tudo era preto, incluindo a porta e o teto; portas idênticas, sem maçanetas e pretas estavam postas em intervalos iguais na parede negra, intercaladas por velas cujo fogo era azul; suas luzes frias e brilhantes eram refletidas no chão, fazendo parecer que havia água negra no piso.

 

- Alguém feche a porta - murmurou Harry.

 

Ele se arrependeu por dar essa ordem no momento em que Neville a obedeceu. Sem o longo feixe de luz que vinha do corredor atrás deles o lugar ficou tão escuro que por um momento as únicas coisas visíveis eram as pontas das velas nas paredes e seus fantasmagóricos reflexos no chão.

 

No seu sonho, Harry sempre andava propositadamente pela sala para porta exatamente oposta à da entrada e entrava nela. Mas havia uma dezena de portas ali. No momento em que começou a pensar e ir em direção à porta oposta a ele, tentando decidir ainda qual era a certa, houve um ronco estranho e as velas começaram a se mover. A parede circular estava se movendo. Hermione agarrou o braço de Harry, como se estivesse com medo de o chão se mover também mas este não se moveu. Por alguns segundos as velas deixavam linhas de néon, enquanto a parede se movia; então, quase tão de repente quanto havia começado, o ronco parou e tudo voltou a ficar parado.

 

Os olhos de Harry tinham linhas azuis; era tudo que podia ver.

 

- Que foi isso? - pergunto Rony, com medo.

 

- Acho que é pra gente não saber por qual porta entramos - disse Gina numa voz apressada.

 

Harry percebeu de cara que ela estava certa: tão cedo não ia identificar que porta entraram, era como procurar uma agulha naquele chão negro; a porta que precisavam entrar poderia ser qualquer uma daquelas.

 

- Como vamos sair de volta?? - perguntou Neville estranhamente.

 

- Bem, isso não importa agora - disse Harry forçadamente, piscando o máximo para tentar apagar as linhas azuis de sua visão, segurando sua varinha com mais força que nunca. - Não vamos sair até acharmos Sirius...

 

- Também não vá sair chamando por ele hein! - disse Hermione urgentemente mas Harry nunca havia precisado menos de um conselho dela; seu instinto era para se manter o mais quieto possível.

 

- Para onde vamos então Harry? - perguntou Rony.

 

- Eu não... - Harry começou. Engoliu seco. - Nos meus sonhos eu passo pela porta no fim do corredor, logo depois que saio do elevador e entro numa sala. Essa aqui. E então eu entro por outra porta e a outra sala é meio... Reluzente. Devíamos tentar algumas portas - disse apressado. - Vamos!

 

Ele marchou direto para a porta que estava à sua frente, os outros o seguiram bem de perto, encostou sua mão em sua superfície gelada e brilhante, levantou a varinha pronto para atacar no momento em que ela se abrisse e empurrou. Abriu facilmente.

 

Depois da escuridão da primeira sala as lâmpadas iluminando as correntes douradas penduradas do teto davam a impressão de que essa sala era muito mais iluminada mas não havia nada reluzente, nenhuma luz reluzente, como Harry havia visto em seus sonhos. O lugar estava bem vazio, exceto por algumas mesas e, bem no meio, um enorme tanque de vidro repleto de um líquido verde escuro, grande o suficiente para todos nadarem nele; um número de objetos branco-perolados estavam flutuando dentro dele.

 

- O que são aquelas coisas?! - suspirou Rony.

 

- Não sei - disse Harry.

 

- São peixes? - respirou Gina.

 

- Aquavirius Maggots! - disse Luna excitadamente. - Papai disse que o Ministério estava criando...

 

- Não - disse Hermione. Soou estranha. Aa andou em direção ao tanque e olhou melhor, de lado. - São cérebros.

 

- Cérebros?!

 

- É... Mas o que estariam fazendo aqui?

 

Harry se juntou a ela. Com certeza não havia dúvidas agoras que podia vê-los melhor. Lampejando assustadoramente, afundavam e subiam no líquido verde, parecendo couves-flores viscosas.

 

- Vamos sair daqui - disse Harry. - Não é essa, temos que tentar outra porta.

 

- Há mais portas aqui também - disse Rony, apontando para a parede a volta deles. O estômago de Harry afundou; qual era o tamanho daquele lugar?!

 

- No meu sonho eu saio da sala escura para a reluzente, então acho melhor tentarmos de novo de lá.

 

Então se apressaram, de volta para a escura sala circular; as formas fantasmagóricas dos cérebros estavam agora nadando em frente aos olhos de Harry, ao invés das linhas azuis das velas.

 

- Esperem! - disse Hermione bruscamente, quando Luna ia fechar a porta da sala dos cérebros. - Flagrate!

 

Ela gritou com sua varinha no ar e um "X" flamejante apareceu na porta. A porta mal havia se fechado quando houve um grande ronco e, de novo, a parede começou a se mover rápido mas agora havia um borrão vermelho-dourado entre as luzes azuis e, quando tudo ficou quieto de novo, o "X" flamejante ainda queimava, mostrando a porta na qual já haviam passado.

 

- Bem pensado - disse Harry. - Ok, vamos tentar essa...

 

De novo, caminhou diretamente para a porta à sua frente e a empurrou, sua varinha ainda em punho, os outros em seus calcanhares.

 

A sala era maior que a outra, fracamente iluminada e retangular, sua entrada era "afundada", formando algo como uma arena de uns vinte pés de profundidade. Estavam na parte mais alta do que pareciam ser assentos de pedra por todo canto, que desciam, como num teatro ou o tribunal no qual Harry fora interrogado pela Confederação Internacional de Bruxos. No entanto, ao invés de uma cadeira com correntes havia uma plataforma no centro da arena, onde havia uma passagem em arco, parecia tão velha, rachada e desmoronando que Harry ficou impressionado em ver que a coisa ainda estava de pé. Sem apoio nenhum, a passagem em arco estava coberta por uma cortina ou véu negro o qual, num lugar onde não havia sinal de qualquer brisa, estava balançando levemente, como se alguém tivesse acabado de tocá-lo.

 

- Quem está aí? - disse Harry, pulando para o assento abaixo. Ninguém respondeu mas o véu continuou a se mexer.

 

- Cuidado! - suspirou Hermione.

 

Harry foi descendo pelos assentos, um a um, até que alcançou o fundo da arena. Seus passos ecoaram alto enquanto andava lentamente em direção à plataforma. De onde estava agora a passagem parecia muito maior, mais alta do que quando a observara lá de cima. O véu ainda balançava gentilmente, como se alguém tivesse acabado de atravessá-lo.

 

- Sirius? - Harry falou de novo mas mais baixo, agora que estava mais perto.

 

Ele tinha a estranha sensação de que havia alguém ali bem atrás do véu, do outro lado da passagem. Agarrando sua varinha com bastante força, rodeou a plataforma mas não havia ninguém ali; tudo que era visível era a parte de trás véu negro.

 

- Vam'bora! - chamou Hermione do meio do caminho. - Não é esta, Harry, vamos, vam'bora!

 

Ela parecia assustada, muito mais assustada do que estava na sala dos cérebros mas ainda sim Harry pensou que a passagem tinha um tipo de beleza, por mais velha que fosse. O movimento gentil do véu o estava intrigando; estava com uma vontade louca de subir na plataforma e atravessá-lo.

 

- Harry! Vam'bora, vamos? - disse Hermione com mais força.

 

- Aham - disse mas não se moveu. Ele havia ouvido algo. Haviam suspiros, murmúrios vindo do outro lado do véu.

 

- O que você está dizendo? - disse ele, muito alto, e suas palavras ecoaram pelos assentos de pedra.

 

- Ninguém está falando Harry! - disse Hermione, agora indo em sua direção.

 

- Alguém está sussurrando lá atrás - disse ele, fugindo do alcance dela e franzindo a testa para o véu. - É você, Rony?

 

- Eu tô bem aqui, cara - disse Rony, aparecendo ao lado da passagem.

 

- Ninguém mais consegue ouvir?! - demandou Harry, pois os sussurros e murmúrios estavam ficando mais altos; sem a menor intenção de fazer isso, ele se achou em cima da plataforma.

 

- Posso ouvi-los também! - respirou Luna, juntando-se aos outros, próxima à passagem e olhando intrigada para o véu. - Tem gente aí dentro!

 

- O que você quer dizer com, "aí dentro"? - demandou Hermione, descendo e parecendo muita mais revoltada do que antes. - Não há ninguém, aí dentro, é apenas uma passagem! Não há nenhuma sala para ter alguém dentro! Harry, pára, sai de perto!

 

Ela agarrou o braço dele e puxou mas ele resistiu.

 

- Harry, estamos aqui para achar o Sirius! - disse ela numa voz aguda e alto.

 

- Sirius - Harry repetiu, ainda olhando fixamente para o véu, hipnotizado. - É...

 

Algo finalmente voltou ao lugar em seu cérebro; Sirius, capturado, atado, torturado, e ele olhando praquela passagem...

 

Harry deu vários passos para trás, para longe do véu, e arrancou seus olhos dele.

 

- Vam'bora - disse ele.

 

- Isso é o que eu estou tentando... Bem, vamos logo então! - disse Hermione e seguiram caminho para fora da plataforma.

 

Do outro lado, Gina e Neville estavam olhando para o véu também. Sem falar, Hermione agarrou o braço de Gina, Rony agarrou o de Neville e os levaram de volta para os assentos de pedra, subiram de volta para a porta.

 

- O que você acha que era aquele arco? - Harry perguntou a Hermione enquanto voltavam para a sala circular.

 

- Não sei, mas o que quer que fosse era perigoso! - disse Hermione firmemente, marcando de novo o "X" na porta.

 

De novo a parede girou e depois parou. Harry se aproximou de novo da porta mais próxima e a empurrou. Ela não se moveu.

 

- O que foi? - perguntou Hermione.

 

- Está... Trancada... - disse Harry, jogando seu peso contra a porta mas ela não abriu.

 

- É isso né? - disse Rony excitado, juntando-se a Harry na tentativa de forçar a porta a abrir. - Tinha que estar trancada!

 

- Sai do caminho! - disse Hermione bruscamente. Ela apontou a varinha para onde a maçaneta estaria, numa porta comum, e disse: - Alorromora!

 

Nada aconteceu.

 

- O canivete de Sirius! - disse Harry. Puxou isso de dentro de suas vestes e enfiou na fresta entre a porta e a parede. Todos observaram ansiosamente enquanto corria a lâmina bela borda da porta e depois jogava seu corpo contra a porta novamente. Continuava tão firme quanto antes. E ainda por cima quando Harry olhou para a faca viu que sua lâmina havia derretido.

 

- Bem, deixamos esse pra lá - disse Hermione decisivamente.

 

- Mas e se essa for a certa? - disse Rony, olhando para a porta com um olhar ao mesmo tempo, apreensivo e desejoso.

 

- Não pode ser, Harry podia passar por todas as portas no sonho - disse Hermione, marcando a porta com um "X" enquanto Harry guardava o, agora inútil, cabo do canivete de Sirius no bolso.

 

- Sabe o que podia ter lá dentro? - perguntou Luna, ansiosa, enquanto a parede rodava de novo.

 

- Algo ácido, sem dúvida! - disse Hermione, baixinho, e Neville deu um pequeno risinho nervoso.

 

A parede parou e Harry, com o sentimento de desespero crescendo, abriu a próxima porta.

 

- É AQUI!

 

Ele sabia de cara por sua lindas e dançantes luzes cor de diamante. Quando os olhos de Harry se acostumaram com a luz forte viu relógios brilhando em cada superfície, grandes e pequenos, antepassados e de porte, entre estantes ou em cima das mesas que enchiam a sala, fazendo com que vários "tic-tacs" enchesse o lugar, como milhares de pezinhos marchando. A fonte da luz forte era uma jarra de cristal comprida, no final da sala.

 

- POR AQUI!

 

O coração de Harry estava pulando freneticamente agora que sabia que estavam no lugar certo; saiu andando por entre as mesas, avante, como havia feito no seu sonho, em direção à fonte da luz, a jarra de cristal tão alta quanto ele estava em cima de uma mesa e parecia estar cheia de um vento crescente e brilhante.

 

- Ah, olhe! - disse Gina enquanto chegavam mais próximos, apontando bem para o coração do recipiente.

 

Mergulhando na corrente brilhante do recipiente havia um pequeno ovinho. Conforme subia pelo recipiente o ovo abria e um pintinho saia dele, subia até o topo da jarra mas na medida que afundava de novo o corpo do pássaro ia regredindo e quando chegava ao fundo já havia se transformado num ovinho novamente.

 

- Continuem andando! - disse Harry bruscamente, porque Gina mostrou sinais de querer parar e ficar olhando a transformação do ovo em pássaro.

 

- Você perdeu um bom tempo lá naquela passagem! - disse ela em resposta mas o seguiu quando passou pela jarra, em direção a porta atrás.

 

- É aqui - disse Harry de novo e seu coração estava batendo tão forte agora que achou que melhor interromper o discurso. - Por aqui...

 

Ele olhou para todos; todos tinham sua varinhas em punho e pareciam, de repente, sérios e ansiosos. Olhou para a porta e a empurrou. Abriu.

 

Lá estavam eles, havia encontrado o lugar: alto como uma igreja e cheio de nada mais que prateleiras altas cobertas por poeira e pequenas orbes de vidro. Brilhavam fracamente, iluminadas pelas luz de velas posta entre as prateleiras. Como aquelas na sala circular, suas chamas eram azuis. A sala era muito fria.

 

Harry andou devagar e fitou um beco escuro entre duas fileiras de prateleiras. Não ouviu nada nem viu o menor sinal de movimento.

 

- Disse que era no "beco" noventa e sete - sussurrou Hermione.

 

- É - respirou Harry, olhando para o final do "beco" mais próximo. Abaixo das velas havia uma figura prateada com os números cinqüenta e três.

 

- Acho que temo que ir para a direita - sussurrou Hermione, espiando o próximo "beco". - É... Aquele é o cinqüenta e quatro...

 

- Mantenham suas varinhas prontas - disse Harry suavemente.

 

Seguiram em frente, lançando olhares por cima dos ombros a todo o tempo enquanto passavam pelos longos corredores de prateleiras, em direção à cada vez mais crescente escuridão. Pequenas etiquetas douradas haviam sido postas entre as orbes nas prateleiras; algumas tinham um estranho brilho enquanto outras eram escuras e negras.

 

Passaram pelo "beco" oitenta e quatro... Oitenta e cinco... Harry estava apreensivo para qualquer sinal de movimento mas Sirius deveria estar amordaçado ou até mesmo inconsciente... Ou, disse uma voz estranha na sua cabeça, ela pode estar morto...

 

"Eu teria sentido", disse para si mesmo, seu coração agora pressionado contra seu pomo de Adão, "eu saberia...".

 

- Noventa e sete! - sussurrou Hermione.

 

Ele ficaram ali, agrupados, olhando para o final do "beco". Não havia ninguém lá.

 

- Ele está bem no final - disse Harry, cuja boca havia se tornado seca de repente. - Não dá pra ver daqui.

 

E então ele os levou para o "beco" entre as altas prateleiras com as bolas de vidro, algumas brilharam suavemente enquanto passaram.

 

- Ele devia estar por aqui - sussurrou Harry, convencido, a cada passo, que veria a qualquer momento a forma de Sirius, amordaçado, no chão escuro. - Por aqui... Perto...

 

- Harry? - disse Hermione tentativamente mas ele não queria responder. Sua boca estava muito seca.

 

- Algum... Lugar... Por... Aqui... - disse ele.

 

Eles haviam chegado ao final do "beco" onde havia mais velas e não havia ninguém ali. Só um silêncio ecoante.

 

- Ele deve estar... - Harry sussurrou roucamente, fitando o próximo "beco". - Ou talvez... - apressando-se a olhar para o outro depois desse.

 

- Harry? - disse Hermione de novo.

 

- Quê? - rosnou Harry.

 

- Eu... Eu acho que o Sirius não está aqui.

 

Ninguém falou nada. Harry não queria olhar pra nenhum deles. Sentiu-se mal. Ele não entendia por que Sirius não estava ali. Ele tinha que estar ali. Era ali onde ele, Harry, o tinha visto...

 

Ele correu pelos "becos", olhando para cada um deles. Vazio atrás de vazio. Correu para o outro lado, passando pelos companheiros. Não havia nenhum sinal de Sirius nem nenhum sinal de luta em lugar nenhum.

 

- Harry? - chamou Rony.

 

- Quê?

 

Ele não queria ouvir o que Rony tinha a dizer; não queria ouvir Rony dizer que havia sido idiota ou sugerir que deveriam voltar para Hogwarts mas estava ficando cada vez mais irritado e tinha vontade de afundar naquele chão e ficar por ali um bom tempo até poder sair para a claridade do Átrio e encarar os olhares acusadores dos outros...

 

- Você viu isso? - disse Rony.

 

- Quê? - disse Harry, ansioso desta vez, tinha que ser um sinal de que Sirius esteve ali, uma pista. Voltou para onde estavam mas não achou nada a não ser Rony olhando para uma das orbes empoeiradas na prateleira. - Quê? - repetiu num resmungo.

 

- Tem... Tem seu nome aqui - disse Rony.

 

Harry se aproximou mais. Rony estava apontando para umas das pequenas orbes, que brilhava com uma luz estranha, mesmo estando um tanto empoeirada e parecia não ser tocada por muito anos.

 

- Meu nome?! - disse Harry, branco.

 

Andou na direção dele. Sem ser tão alto quanto Rony teve que esticar o pescoço para ler a etiqueta dourada fixada na prateleira, bem abaixo da orbe empoeirada. Numa letra muito comprida e fina estava escrita a data de uns dezesseis anos atrás e logo abaixo:

 

S.T.P para A.P.W.B.D.

 

Lord das Trevas

 

e (?) Harry Potter

 

Harry ficou olhando aquilo.

 

- O que é isso? - perguntou Rony, soando nervoso. - Q´que seu nome ta fazendo aí?

 

Ele olhou para as outras etiquetas coladas na prateleira.

 

- Eu não estou aqui - disse ele soando perplexo. - Nenhum de nós está aqui.

 

- Harry, acho que você não deveria tocar isso - disse Hermione bruscamente quando ele esticou a mão para tocar a orbe.

 

- Por que não?! Tem algo haver comigo, não tem?

 

- Não Harry! - disse Neville de repente. Ele olhou para a cara redonda de Neville, que estava brilhando em suor. Parecia que não podia agüentar mais tanto suspense.

 

- Tem meu nome aqui!

 

Se sentindo um tanto imprudente, fechou os dedos em volta da superfície da orbe. Pensou que fosse fria mas não era. Ao contrário, parecia ter sido exposta ao sol por horas, como se o pouquinho de luz de dentro a estivesse esquentando. Esperando, e até desejando, que algo dramático acontecesse, algo excitante que fizesse toda aquela viagem valer a pena, Harry levantou a bola de vidro e a tirou da prateleira. Ficou olhando para ela.

 

Nada aconteceu. Os outros se aproximaram, olhando para a orbe enquanto limpava a poeira.

 

E então, logo atrás deles, uma voz arrastada soou:

 

- Muito bem, Potter. Agora vire-se, devagar e dê isso pra mim.

 

 

ATRÁS DA CORTINA

Escuras figuras surgiam do fino ar que os cercava, bloqueando seus caminhos, olhos brilhavam através das fendas de seus capuzes, tinha uma dúzia de luzes saindo da ponta das varinhas diretamente para seus corações; Gina ofegou horrorizada.

 

- Para mim, Potter - repetiu lentamente a voz de Lúcio Malfoy enquanto estendia sua mão com a palma para cima.

 

O interior de Harry remexeu de forma nojenta. Estavam encurralados e estavam em desvantagem de dois para um.

 

- Para mim - disse Malfoy novamente.

 

- Onde está Sirius? - disse Harry.

 

Vários dos Comensais da Morte riram; uma cruel voz feminina, no meio das figuras sombrias, à esquerda de Harry, disse triunfante:

 

- O Lorde das Trevas sempre sabe!

 

- Sempre! - repetiu Malfoy com cuidado. - Agora, me dê a profecia, Potter.

 

- Eu quero saber onde está Sirius!

 

- "Eu quero saber onde está Sirius" - Imitou a mulher que estava à direita de Harry.

 

Ela e seu companheiro Comensal se aproximaram, ficando um metro de distância de Harry e dos outros, a luz que saía das varinhas cegava os olhos de Harry.

 

- Você o pegou - disse Harry, ignorando o pânico que crescia em seu peito, o medo que lutava contra desde de que entraram na nonagésima sétima sala. - Ele está aqui, eu sei que está.

 

- A pequena criança acordou assustada e achou que o que ela sonhou era verdade! - falou a mulher em uma horrorosa e zombeteira voz de criança. Harry sentiu Rony se mexer ao seu lado.

 

- Não faça nada - Harry murmurou. - Ainda não...

 

A mulher que o tinha imitado soltou um grito rouco de risada.

 

- Você o escutou? Você o escutou? Dando instruções para a outra criança, achando que vai lutar conosco.

 

- Ah, você não conhece Potter como eu, Bellatrix - disse Malfoy calmamente. - Ele tem uma grande queda pro heroísmo; o Lord das Trevas sabe disso. Agora, me dê a profecia, Potter.

 

- Eu sei que Sirius está aqui - disse Harry, apesar do pânico que fazia seu peito contrair, como se não pudesse respirar normalmente. - Eu sei que você o pegou!

 

Mais Comensais da Morte riram, a mulher ainda riu mais alto que todos.

 

- Está na hora de você aprender a diferença entre sonhos e realidade, Potter - disse Malfoy. - Agora me dê a profecia ou começaremos a usar varinhas.

 

- Vão em frente - disse Harry, levantando sua varinha na altura do peito enquanto as cinco varinhas de Rony, Hermione, Neville, Gina e Luna levantaram na mesma altura que a dele. Os nós no estômago de Harry apertavam. Se Sirius realmente não estivesse lá ele teria levado seus amigos para a morte, sem motivo.

 

Mas os Comensais da Morte não atacaram.

 

- Solte a profecia e ninguém precisa ficar ferido - disse Malfoy friamente.

 

Agora era a hora de Harry rir.

 

- Claro! Eu te dou essa... Profecia, é isso não é? E vocês vão simplesmente nos deixar escapar para casa, não vão?

 

As palavras mal saíram da boca de Harry quando a Comensal gritou:

 

- Accio profec...

 

Harry já estava preparado para ela: berrou "Protego" antes que pudesse terminar de falar e, apesar de a esfera de vidro ter escorregado para a ponta de seus dedos, conseguiu segurá-la.

 

- Ah, ele sabe brincar, pequeno Potter - ela falou, seus nervosos olhos o fitavam através da fenda em seu capuz. - Muito bem, então...

 

- EU FALEI PARA VOCÊ NÃO ATACAR! - Lúcio Malfoy rosnou para a mulher. - Se você quebrar isso...

 

A cabeça de Harry estava girando. Os Comensais da Morte queriam aquela empoeirada esfera de vidro. E ele não tinha interesse nenhum naquilo. Só queria tirar todos vivos dali para ter certeza de que nenhum de seus amigos pagaria um terrível preço por sua estupidez...

 

A mulher andou para frente, longe de seus companheiros, e tirou seu capuz. Azkaban esburacou o rosto de Bellatrix Lestrange, tornando-a abatida e na forma de crânio mas estava viva com um febril e fanático brilho em seu rosto.

 

- Você precisa de mais persuasão? - seu peito crescia e diminuía rapidamente. - Muito bem, pegue a menor - ordenou para o Comensal perto dela. - Deixe-o assistir enquanto torturamos a pequena garota. Eu vou fazer isso.

 

Harry sentiu os outros se aproximarem de Gina, andou para o lado, então ficou bem à frente dela, levantando a profecia para o seu peito.

 

- Vocês vão ter que quebrar isso se quiserem atacar qualquer um de nós - disse para Bellatrix. - Eu não acho que seu chefe vai ficar muito satisfeito se você voltar sem isso, não é?

 

Ela não se moveu, só o encarou com a ponta de sua língua umedecendo sua magra boca.

 

- Então - disse Harry -, de que tipo de profecia vocês estão falando?

 

Ele não sabia o que fazer mas continuaria falando. O braço de Neville estava sendo pressionado contra o dele, podia senti-lo tremer; pôde sentir cada um dos outros respirando rapidamente por trás de sua cabeça. Esperava que todos estivessem pensando muito sobre um jeito de sair de lá porque sua mente estava vazia.

 

- Que tipo de profecia? - repetiu Bellatrix, o falso riso desapareceu de seu rosto. - Você está brincado, Harry Potter.

 

- Não, sem brincadeiras - disse Harry, seus olhos passavam de Comensal para Comensal, procurando um elo, um espaço que pudesse escapar. - O que faz Voldemort querer isso?

 

Muitos dos Comensais da Morte soltaram baixas vaias.

 

- Você ousa falar o nome dele? - murmurou Bellatrix.

 

- Sim - disse Harry, apertando a bola de vidro com força, esperando outro feitiço contra ele. - Sim, não vejo problema nenhum em dizer Vol...

 

- Cale a boca! - Bellatrix berrou. - Você ousa falar o nome dele com sua desonrosa boca, você ousa manchá-lo com essa sua língua de sangue-ruim, você ousa...

 

- Você sabia que ele é sangue-ruim também? - disse Harry de forma imprudente. Hermione soltou um baixo ruído em sua orelha. - Voldemort? Sim, sua mãe era bruxa mas o pai era um trouxa... Ou quer dizer que ele vem contando que é puro sangue?

 

- ESTUP...

 

- NÃO!

 

Um raio de luz vermelha saiu da varinha de Bellatrix Lestrange mas Malfoy o desviou, seu feitiço fez com que o feitiço de Bellatrix atingisse a prateleira a um pé à esquerda de Harry e muitas esferas de vidro quebraram.

 

Duas imagens brancas como perolas apareceram na fumaça como fantasmas, abrindo-se do fragmento de vidro quebrado em cima do chão, cada um começou a falar, suas vozes competiam uma com a outra, então só algumas partes do que falavam podia ser escutadas sobre os gritos de Malfoy e Bellatrix.

 

- ...No solstício vai surgir um novo... - falou a imagem de um velho homem barbudo.

 

- NÃO ATAQUE! PRECISAMOS DA PROFECIA!

 

- Ele ousou... Ele ousou... - berrou Bellatrix confusa. - Ele insistiu... Asqueroso sangue-ruim...

 

- ESPERE ATÉ TERMOS A PROFECIA! - vociferou Malfoy.

 

- ...E nenhum virá depois... - disse a imagem de uma jovem moça.

 

E as duas imagens que explodiram das esferas quebradas evaporaram no ar. Nada deles restou ou de seus anteriores lugares, somente os fragmentos de vidro no chão. Tinham, de qualquer maneira, dado a Harry uma idéia. O problema seria para comunicar para os outros.

 

- Você não me falou o que tem de tão especial nessa profecia, eu vou quebrá-la - falou, fazendo um jogo. Moveu seu pé devagar para o lado, procurando por alguém.

 

- Não brinque conosco Potter - disse Malfoy.

 

- Eu não estou brincando - disse Harry com metade do pensamento na conversa e a outra metade no pé que buscava por algo. Então encontrou o dedo de alguém e o apertou. Uma aguda respiração atrás dele mostrou que era Hermione.

 

- Quê? - ela murmurou.

 

- Dumbledore nunca lhe contou a razão de você carregar a cicatriz está nas entranhas do Departamento de Mistérios? - falou Malfoy com desprezo.

 

- Eu... O quê? - disse Harry. Por um momento ele esqueceu completamente de seu plano. - O que tem minha cicatriz?

 

- O quê? - murmurou Hermione em tom de urgência por trás dele.

 

- Como pode ser? - disse Malfoy, parecendo malicioso e satisfeito, alguns dos Comensais da Morte estavam rindo de novo e, sobre as risadas, Harry assobiou para Hermione, movendo seus lábios menos que podia:

 

- Prateleiras quebradas...

 

- Dumbledore nunca te falou? - repetiu Malfoy. - Bem, isso explica por que você não veio mais cedo, Potter. O Lord das Trevas deseja saber por que...

 

- ... Quando eu disser agora...

 

- ...Você não veio correndo quando ele mostrou para você o lugar que ela estava guardada em seus sonhos. Ele pensou que a curiosidade natural faria você querer ouvir uma explicação...

 

- Ele pensou? - disse Harry. Atrás dele, sentiu melhor ouvindo Hermione passando sua mensagem e preferiu se manter falando, para distrair os Comensais da Morte. - Então ele queria que eu viesse e pegasse isso, não é? Por quê?

 

- Por quê? - Malfoy pareceu extremamente deliciado. - Porque as únicas pessoas que são permitidas a resgatar uma profecia do Departamento de Mistérios, Potter, são aqueles para quem ela foi feita, o Lord das Trevas descobriu isso enquanto tentava usar outros para roubá-la para ele.

 

- E por que ele quer roubar uma profecia sobre mim?

 

- Sobre os dois, Potter, os dois... Você nunca teve curiosidade em saber por que o Lord das Trevas tentou te matar quando você era um bebê?

 

Harry fitou dentro da fenda, o buraco dos olhos de Malfoy, os quais estavam brilhando. Era essa profecia a razão pela qual os pais de Harry tinham morrido, a razão pela qual carregava aquela cicatriz em forma de raio? Era a resposta para tudo aquilo que ele agarrava na mão?

 

- Alguém fez uma profecia sobre mim e Voldemort? - Harry disse calmamente, encarando Lúcio Malfoy, seus dedos apertavam a quente esfera de vidro. Não era muito maior que um pomo de ouro e continuava empoeirado. - E ele me fez vir e pegá-la para ele? Por que ele não poderia ter vindo e pegado ele mesmo?

 

- Ele vir pegar? - fritou Bellatrix por cima de uma louca gargalhada. - O Lord das Trevas andaria no Ministério da Magia quando ignoram tão facilmente sua volta? O Lord das Trevas se revelaria para Aurores enquanto eles preocupados com meu querido primo?

 

- Então ele está fazendo você fazer o trabalho sujo para ele, não é? - disse Harry. - Como quando tentou fazer Sturgis roubar isso... E Bode?

 

- Muito bem, Potter, muito bem... - disse Malfoy devagar. - Mas o Lord das Trevas sabe que você não está uni...

 

- AGORA! - berrou Harry.

 

Cinco diferentes vozes atrás dele gritaram "REDUCIO!". Cinco feitiços voaram em cinco diferentes direções e as prateleiras à sua frente explodiram quando foram atingidas; a alta estrutura inclinou enquanto cem esferas de vidros explodiram, imagens brancas como pérola surgiram no ar e flutuaram lá, suas vozes ecoando de quem sabia da morte depois de muito tempo no meio de correntes de vidros quebrando e madeiras despedaçadas que agora choviam sobre o chão.

 

- CORRAM! - gritou Harry enquanto a prateleira inclinava de forma precária e mais bolas de vidro caiam. Agarrou as vestes de Hermione e a puxou para frente, mantendo o braço sobre a sua cabeça enquanto pedaços de prateleiras e cacos de vidro caiam sobre eles.

 

Um Comensal da Morte avançou através da nuvem de sujeira e Harry o acotovelou fortemente em sua face encapuzada; estavam todos gritando, chorando, junto com o barulho das colisões enquanto as prateleiras desmoronavam sobre eles, estranhamente ecoando pedaços dos profetas de suas esferas.

 

Harry achou um caminho limpo para frente e viu Rony, Gina e Luna correndo à sua frente, seus braços estavam sobre suas cabeças; alguma coisa pesada o acertou no rosto mas ele simplesmente abaixou a cabeça e correu adiante; uma mão o agarrou no ombro, escutou Hermione gritando: "Estupefaça" e a mão o soltou imediatamente.

 

Estavam no final da fileira noventa e sete quando Harry virou para direita e começou a correr confiante; podia escutar passos logo atrás de si e a voz de Hermione encorajando Neville; mais à frente a porta na qual tinham chegado estava entreaberta, Harry podia ver a brilhante luz do sino; jogou-se através da entrada, a profecia se mantinha bem agarrada e a salvo em sua mão, esperou pelos outros para empurrá-la em cima do piso antes que a porta batesse atrás dele.

 

- Colloportus! - respirou Hermione e a porta se fechou sozinha com um estranho silêncio.

 

- Onde... Onde estão os outros? - suspirou Harry.

 

Ele achava que Rony, Gina e Luna estavam logo na frente deles e estariam o esperando nessa sala mas não havia ninguém lá.

 

- Eles devem ter pegado o caminho errado - sussurrou Hermione com uma expressão assustada.

 

- Escutem - murmurou Neville.

 

Passos e tiros ecoavam por trás da porta que tinham acabado de fechar; Harry colocou sua orelha perto da porta e ouviu Lúcio Malfoy rosnar.

 

- Abandonem Nott, abandonem, quer dizer... Seus ferimentos não serão nada para o Lord das Trevas comparado à perda da profecia. Jugson, volte aqui, nós precisamos organizar! Vamos nos separar em pares e procuraremos, não esqueçam, sejam amigáveis com Potter até conseguirmos a profecia, podem matar os outros se acharem necessário, Bellatrix, Rodolphus, vocês pegam a esquerda, Crabbe, Rabastan, para a direita, Jugson, Dolohov, a porta à frente, Macnair e Avery, por aqui, Rookwood para lá, Mulciber venha comigo!

 

- O que vamos fazer? - Hermione perguntou para Harry, tremendo da cabeça aos pés.

 

- Bom, ficar aqui parado esperando que eles nos achem já é um começo - disse Harry. - Vamos nos distanciar dessa porta.

 

Correram o mais silenciosamente que conseguiram, passando o brilhante sino onde o pequeno ovo estava chocando em direção a saída dentro da entrada circular no final da sala. Estavam quase lá quando Harry escutou algo grande e pesado colidindo com a porta que Hermione havia trancado com feitiço.

 

- Continuem aí dentro - disse uma grossa voz. - Alorromora!

 

Quando a porta abriu Harry, Hermione e Neville mergulharam debaixo de mesas. Podiam ver a base das vestes dos Comensais da Morte se aproximarem rapidamente.

 

- Eles devem ter corrido através do salão - falou a voz grossa.

 

- Olhe debaixo das mesas - disse outro.

 

Harry viu os joelhos do Comensal dobrarem; colocando a varinha para fora, debaixo da mesa, ele gritou.

 

- ESTUPEFAÇA!

 

Um jato de luz vermelha acertou próximo do Comensal, caiu para trás, em um relógio de parede golpeando para cima; o segundo Comensal pulou para dentro, para evitar o feitiço de Harry e apontou sua varinha para Hermione, que estava se rastejando para fora da mesa, para conseguir uma mira melhor.

 

- Avada...

 

Harry se jogou pelo chão e agarrou o joelho do Comensal, fazendo-o tombar, assim não mirava mais. Neville derrubou uma mesa na sua ansiedade para ajudar; apontando sua varinha desordenadamente para os dois, que lutavam, gritou:

 

- EXPELLIARMUS!

 

A varinha de Harry e do Comensal da Morte voaram para longe de suas mãos e caíram na direção da entrada do Salão da Profecia, ambos se arrastaram e foram atrás delas, o Comensal na frente, Harry saltou com entusiasmo, Neville segurou suas costas, simplesmente horrorizado pelo que tinha feito.

 

- Saia do caminho, Harry - gritou Neville, claramente arrependido pelo o que tinha feito.

 

Harry se jogou para o lado enquanto Neville apontou a varinha de novo e gritou:

 

- ESTUPEFAÇA!

 

O raio de luz vermelha voou sobre o ombro do Comensal da Morte e acertou um vidro que estava na frente de um armário, com a parede cheia de formatos de horas de vidro; o armário caiu no chão e estourou, vidros voando para todos os lados, lançando-se de volta para a parede, totalmente consertada, então, caiu de novo e destruiu-se...

 

O Comensal agarrou sua varinha, que estava no chão, ao lado do brilhante sino. Harry se jogou embaixo de outra mesa enquanto o homem voltava; sua máscara tinha escorregado, então não podia enxergar. Ele a rasgou com sua mão livre e gritou:

 

- ESTUP...

 

- ESTUPEFAÇA - gritou Hermione, que tinha acabado de alcançá-los. O jato de luz vermelha acertou o Comensal no meio do peito; ele congelou, seus braços continuavam levantados, sua varinha caiu no chão e ele caiu para trás, perto do sino brilhante. Harry esperava ouvir um "clunk" do homem que caiu duro no chão e empurrou a jarra mas em vez disso sua cabeça mergulhou através do sino, enquanto não tinha nada, somente bolhas de sabão, e começou a dormir, jogado de costas na mesa, sua cabeça dentro da jarra cheia de vento brilhante.

 

- Accio varinha! - chamou Hermione. A varinha de Harry voou de um canto escuro até as mãos da garota, que a jogou de volta para ele.

 

- Obrigado. Certo, vamos sair daqui...

 

- Olhem lá! - disse Neville, horrorizado. Estava fitando a cabeça do Comensal dentro do sino.

 

Os três levantaram suas varinhas novamente mas ninguém atacou: estavam todos encarando apavorados e de boca aberta o que acontecia com a cabeça do homem.

 

Ela estava encolhendo rapidamente, ficando cada vez mais careca, o cabelo preto e o pêlo arrepiado saiam de dentro de seu crânio; sua bochecha começou a ficar plana, seu crânio redondo, coberto com penugem de pêssego.

 

Uma cabeça de bebê grotesca era vista do grosso músculo do pescoço do Comensal enquanto ele lutava para ficar de pé novamente mas enquanto assistiam com suas bocas abertas a cabeça começo a crescer novamente, um grosso cabelo preto estava brotando da cabeça e do queixo...

 

- Está na hora - disse Hermione com uma voz apavorada. - Hora...

 

O Comensal da Morte sacudiu sua horrível cabeça novamente, tentando limpá-la mas antes que conseguisse puxá-la junto a cabeça começou a voltar para a infância novamente...

 

Houve um tiro de um quarto próximo, depois uma batida e um grito.

 

- RONY? - berrou Harry, virando rapidamente do lugar da monstruosa transformação. - GINA? LUNA?

 

- Harry! - Hermione gritou.

 

O Comensal da Morte tirou sua cabeça do sino. Sua aparência era totalmente bizarra, sua pequena cabeça de bebê chorou alto enquanto seus grossos braços batiam perigosamente em todas as direções, por pouco em Harry, que abaixou a cabeça. Levantou sua varinha mas para seu desapontamento Hermione segurou seu braço.

 

- Você não pode machucar um bebê!

 

Não tinha tempo para discutir; Harry podia ouvir mais passos se aproximando do Hall da profecia e ele sabia, era muito tarde, ele não deveria ter gritado e dado sua posição.

 

- Venha! - disse, deixando a horrorosa cabeça de bebê do Comensal balançando atrás deles, saíram pela porta no final da sala, ainda aberta, que levava para o negro saguão.

 

Tinham corrido a metade dele quando Harry viu através da porta aberta mais dois Comensais correndo o saguão preto atrás deles, desviando para a esquerda, surgiu dentro de um pequeno, escuro e misturado escritório, então bateu a porta atrás de si.

 

- Collo... - começou Hermione mas antes que ela pudesse continuar o feitiço a porta abriu com uma explosão e dois Comensais entraram empurrando.

 

Com um grito triunfante, os dois berraram:

 

- IMPEDIMENTA!

 

Harry, Hermione e Neville foram todos golpeados por trás de seus pés. Neville foi jogado em cima da mesa e sumiu de vista; Hermione bateu em uma estante de livros e estava completamente coberta por uma cascata de livros pesados; as costas da cabeça de Harry bateram na parede de pedra atrás dele, minúsculas luzes explodiram na frente de seus olhos e por um momento estava muito vertiginoso e confuso para reagir.

 

- NÓS O PEGAMOS! - berrou o Comensal próximo a Harry. - EM UM ESCRITÓRIO DE...

 

- Silencio! - gritou Hermione e a voz do homem estava extinta. Ele continuava a mexer a boca através do buraco de sua máscara mas nenhum som saiu. Ele foi empurrado pelo seu companheiro Comensal.

 

- Petrificus Totalus! - lançou Harry no momento que o segundo Comensal levantou sua varinha. Seus braços e pernas se fecharam juntos e ele caiu para trás, o rosto para baixo no tapete embaixo dos pés de Harry, duro como uma tábua, incapaz de se mover.

 

- Muito bem, Har...

 

Mas o Comensal que Hermione tinha acabado de calar fez um grande movimento com sua varinha; uma linha, que parecia uma chama roxa, atravessou o peito de Hermione. Ela soltou um pequeno "Oh!" apesar da surpresa e se apoiou no chão, onde caiu imóvel.

 

- HERMIONE!

 

Harry caiu nos seus joelhos ao lado dela enquanto Neville engatinhou na sua direção por debaixo da mesa, sua varinha foi levantada na sua frente. O Comensal chutou fortemente a cabeça de Neville no mesmo momento que ele surgiu - seu pé quebrou a varinha de Neville em duas e ligou com o rosto de Neville. Ele deu um berro de dor e recuou, agarrando com força seu nariz e boca. Harry girou ao redor sua varinha, segurando-a no alto, viu que o Comensal que tinha rasgado sua máscara e estava apontando sua varinha diretamente para ele, que reconheceu o longo, pálido e deformado rosto do Profeta do Diário: Antonin Dolohov, o Comensal que tinha assassinado os Prewetts.

 

Dolohov deu uma risada forçada. Com sua mão livre apontou a profecia, ainda segura nas mãos de Harry, para ele mesmo, e então para Hermione. Desde que não podia mais falar seu significado não poderia ser mais claro. Dê-me a profecia, ou você terá o mesmo que ela teve.

 

- Como se você não fosse nos matar de qualquer jeito quando eu largar isso - disse Harry.

 

Um lamento de pânico na cabeça dele o estava prevenindo para pensar propriamente: tinha uma mão no ombro de Hermione, que continuava armada, ainda que não ousasse olhá-la direito. "Não a deixe morrer, não a deixe morrer, é minha culpa se ela morrer."

 

- Qualquer toisa que bocê fider, Harry - disse Neville ferozmente de debaixo da mesa, abaixando suas mãos para mostrar um nariz quebrado e um rio de sangue debaixo de sua boca e queixo. - Não bê para ele!

 

Então houve um barulho de fora da porta e Dolohov olhou por cima de seus ombros - o Comensal cabeça-de-bebê apareceu na entrada, sua cabeça gritando, seus grandes punhos continuavam a bater em tudo ao seu redor. Harry aproveitou a chance.

 

- PETRIF1CUS TOTALUS!

 

O feitiço acertou Dolohov antes que pudesse bloqueá-lo então caiu para frente, em cima de seu companheiro, os dois duros como tábuas e incapazes para mover um dedo.

 

- Hermione - Harry disse de uma vez, sacudindo-a enquanto o Comensal cabeça-de-bebê se enganava fora de vista novamente.

 

- O que ele fez com ela? - disse Neville, saindo engatinhando debaixo da mesa, ajoelhando-se de seu outro lado, sangue escorria rapidamente de seu nariz inchado.

 

- Eu não sei...

 

Neville tocou o pulso de Hermione.

 

- Dem pulsação, Harry. Estou cerdo que dem.

 

Uma poderosa onda de alívio atravessou Harry, que por um momento fez com que sentisse sua consciência leve.

 

- Ela está viva?

 

- Sim, eu acho de sim.

 

Teve uma pausa do pensamento de Harry para o barulho de mais passos mas a única coisa que podia escutar era o choramingo e resmungos do Comensal cabeça-de-bebê no quarto ao lado.

 

- Neville, nós não estamos longe da saída - Harry sussurrou. - Nós estamos próximos daquela sala circular... Se conseguirmos levá-la para cruzá-la e encontrar a porta certa antes que nenhum Comensal da Morte, eu aposto que você pode levar Hermione para o corredor e dentro do elevador... Então você pode achar alguém... Aperte o alarme.

 

- E o de você vai fader? - disse Neville, esfregando seu nariz com sua manga ao mesmo tempo em que franzia suas sobrancelhas.

 

- Eu tenho que encontrar os outros.

 

- Bom, eu bou encontrá-los com bocê. - disse Neville com firmeza.

 

- Mas Hermione...

 

- Nós bamos lebá-la conosco. - disse Neville com firmeza. - Eu bou lebá-la, bocê é belhor lutando do que eu.

 

Ele se levantou e agarrou um dos braços de Hermione, encarando Harry, que hesitou, então agarrou o outro e ajudou a erguer Hermione para os ombros de Neville.

 

- Espere - disse Harry, agarrando a varinha de Hermione do chão e a enfiando na mão de Neville. - É melhor você pegar isso.

 

Neville chutou para o lado os pedaços de sua varinha enquanto andava devagar a caminho da porta.

 

- Minha avó bai me batar - disse Neville desesperadamente, sangue saía de seu nariz enquanto falava. - Essa barinha era do meu avô.

 

Harry colocou sua cabeça para fora da porta e olhou cautelosamente. O Comensal cabeça-de-bebê estava gritando e batia em coisas, derrubando relógios de paredes e mesas, gritava confuso enquanto o vidro à frente da cabine, que Harry agora suspeitava que continha vira-tempos, continuava a cair, destruindo-se e se concertava na parede atrás dele.

 

- Ele nunca vai nos notar - murmurou ele. - Venha... Mantenha-se perto de mim...

 

Eles rastejaram para fora do escritório e voltaram a caminho da porta da negra entrada, que agora parecia totalmente deserta. Deram alguns passos para frente, Neville cambaleando um pouco devido o peso de Hermione. A porta da sala do tempo balançou e se trancou, as paredes começaram a girar de novo. O recente sopro atrás da cabeça de Harry pareceu ter morrido por alguns instantes; encolheu seus olhos, inclinando levemente antes que as paredes começassem a mexer de novo. Com um aperto no coração, Harry viu que as cruzes inflamáveis de Hermione tinham desaparecido da porta.

 

- Então, que caminho você lem...

 

Mas antes que pudesse decidir que caminho tomar uma porta sua direita caiu, abrindo-se, e três pessoas caíram de lá.

 

- Rony! - resmungou Harry, jogando-se na direção deles. - Gina, vocês todos estão...

 

- Harry - disse Rony, sorrindo fracamente, inclinando para o lado, agarrando a frente do traje de Harry e olhando para ele com olhos ofuscados. - Aí está você... Ha, ha, ha... Você parece engraçado, Harry... Nós estamos todos complicados...

 

O rosto de Rony estava pálido e alguma coisa escura estava pingando do canto da boca dele. No segundo seguinte seus joelhos cederam mas ainda agarrava com força a frente da roupa de Harry, então estava sendo puxando em uma forma de arco.

 

- Gina? - disse Harry amedrontado. - O que aconteceu?

 

Mas Gina balançou sua cabeça e escorregou encostada na parede, sentada, ofegando e segurando seu tornozelo.

 

- Eu acho que ela quebrou seu tornozelo, eu escutei alguma coisa quebrar - murmurou Luna, que estava curvada sobre ela e parecia ser a única que não estava ferida. - Quatro deles nos perseguiram dentro de um quarto escuro cheio de planetas, era um lugar muito estranho, em algum instante nós estávamos flutuando no escuro...

 

- Harry, nós vimos Urano tão de perto - disse Rony ainda sorrindo com fraqueza. - Entendeu, Harry? Nós vimos Urano... Ha, ha, ha...

 

Uma bolha de sangue saiu do canto da boca de Rony e estourou.

 

- ... De qualquer jeito, um deles agarrou Gina pelo pé e eu usei o feitiço de redução nele e lancei Plutão no seu rosto, mas...

 

Luna fez um gesto de esperança para Gina, que estava respirando de uma maneira superficial, seus olhos se mantinham fechados.

 

- E o que aconteceu com Rony? - disse Harry, receoso enquanto Rony continuava sorrindo, ainda agarrando à sua roupa.

 

- Eu não sei o que fizeram com ele - disse Luna tristemente - mas ele ficou muito estranho, eu quase não consegui trazê-lo.

 

- Harry - disse Rony, puxando a orelha de Harry para perto de sua boca, continuava sorrindo estranhamente. - Você sabe quem é essa garota, Harry? Ela é louca... Louca Lovegood... Ha, ha, ha...

 

- Nós temos que sair daqui - disse Harry firmemente. - Luna, você pode ajudar Gina?

 

- Sim - disse Luna, colocando sua varinha atrás de sua orelha, para segurança, então colocou o braço em volta da cintura de Gina, colocando-a de pé.

 

- É só meu tornozelo, posso fazer isso sozinha - disse Gina impacientemente mas no mesmo momento caiu para o lado, agarrando Luna como suporte. Harry colocou o braço em volta dos ombros de Rony, somente alguns meses antes tinha segurado Duda. Olhou em volta: só tinham uma chance em vinte para achar a saída certa de primeira...

 

Levantou Rony a caminho da porta; estavam a alguns passos dela quando outra porta abriu bruscamente e três Comensais da Morte saíram com velocidade, liderados por Bellatrix Lestrange.

 

- Eles estão aqui - berrou ela.

 

Muitos feitiços foram lançados pelo salão; Harry amassou seu caminho até a porta, lançando Rony sem cerimônia, depois mergulhou para ajudar Neville com Hermione, estavam em cima do solado da porta, justamente em tempo para bater a porta contra Bellatrix.

 

- Colloportus! - gritou Harry e escutou três corpos batendo do outro lado da porta.

 

- Isso não importa! - disse uma voz masculina. - Tem outras maneiras de entrar. NÓS O PEGAMOS! ELES ESTÃO AQUI!

 

Harry olhou ao redor, estavam de volta à sala dos cérebros e, com certeza, tinha muitas portas em volta das paredes, podia escutar passos na sala ao lado deles enquanto iam chegando cada vez mais Comensais da Morte para se unirem ao primeiro.

 

- Luna, Neville, me ajudem!

 

Os três checaram em volta do salão, fechando as portas; Harry bateu em uma mesa e rolou até o topo dela por causa de sua afobação para fechar a próxima porta.

 

- Colloportus!

 

Havia passos correndo por trás das portas, toda hora um corpo pesado se jogava contra a porta e ela tremia e rangia; Luna e Neville estavam trancando as portas da parede oposta - então, no mesmo momento que Harry checava o final do salão, escutou Luna gritar:

 

- Collo... Aaaaaaaaargh!

 

Ele se virou a tempo para ver Luna voando pelo ar; cinco Comensais estava entrando na sala através da porta que ela não teve tempo de fechar; Luna acertou uma mesa, escorregou sobre sua superfície e foi parar no outro lado, jogada no chão, como Hermione.

 

- Peguem Potter! - berrou Bellatrix e correu na direção dele; ele se esquivou dela, correu a toda velocidade para o outro lado da sala; estava a salvo enquanto achassem que poderia quebrar a profecia.

 

- Hey! - disse Rony, que tinha balançado em seus pés e estava agora cambaleando, bêbado na direção de Harry, sorrindo. - Hey Harry, têm cérebros aqui, ha, ha, ha, isso não é estranho, Harry?

 

- Rony, saia do caminho, abaixe-se...

 

Mas Rony já havia colocado sua varinha dentro do tanque.

 

- Realmente, Harry, são cérebros... Olhe... Accio cérebro.

 

A cena parecia congelada por um momento. Harry, Gina e Neville e todos os Comensais viraram mortificados para ver a o topo do tanque, enquanto cérebros brotavam do liquido verde, como um saltitante peixe: por um momento pareceu suspenso no ar, então voou na direção de Rony, dilatado como veio, e pareciam tiras de imagens movimentadas voando, desatando como rochas de filmes...

 

- Ha, ha, ha, Harry olhe para cá... - disse Rony, observando aquilo vomitando suas nojentas vísceras. - Harry, venha aqui e encoste nisso, aposto que é estanho...

 

- RONY, NÃO!

 

Harry não sabia o que aconteceria se Rony tocasse os tentáculos de imaginação, agora voando em baixo dos cérebros, mas estava certo de que não seria nada bom. Ele se lançou na frente de Rony mas ele já havia pegado o cérebro com sua mão estendida.

 

No momento que entraram em contato com sua pele os tentáculos começaram a se embrulhar em volta dos braços de Rony, como se fossem roupas.

 

- Harry, olhe o que aconteceu... Não, não... Eu não gostei disso... Não, pare... Pare!

 

Mas as finas tiras estavam prolongadas em volta do peito de Rony agora; ele as puxava e as rasgava enquanto o cérebro estava o puxando fortemente, como um polvo.

 

- Diffindo! - berrou Harry, tentando partir a antena antes que cobrissem Rony até seus olhos mas não quebravam. Rony caiu, ainda lutando contra os laços.

 

- Harry, isso vai sufocá-lo - gritou Gina, imobilizada no chão por causa de seu tornozelo quebrado. De repente um jato de luz vermelha voou da varinha de um dos Comensais e a acertou diretamente no rosto. Ela inclinou para o lado, e caiu inconsciente.

 

- ESTUBEFAÇA! - gritou Neville, girando e flutuando a varinha de Hermione no Comensal mais próximo. - ESTUBEFAÇA! ESTUBEFAÇA!

 

Mas nada aconteceu.

 

Um dos Comensais soltou um feitiço para Neville; errou por pouco. Harry e Neville agora eram os únicos que ainda brigavam contra os cinco Comensais, dois deles enviaram jatos de luz prateada como flechas, que erravam mas deixavam crateras na parede atrás deles. Harry correu enquanto Bellatrix Lestrange correu até ele; segurando a profecia em cima de sua cabeça, correu a toda velocidade para o outro lado da sala; tudo que conseguia pensar em fazer era atrair os Comensais da Morte longe dos outros.

 

Isso parecia ter dado certo, eles correram atrás dele, derrubando cadeiras e mesas mas não ousaram a atacar Harry para não acertar a profecia, ele se jogou através da única porta que ainda estava aberta, a mesma pela qual os Comensais tinham entrado; por dentro, rezava que Neville ficaria com Rony, para achar um jeito de curá-lo. Correu alguns metros dentro da nova sala e sentiu o chão desaparecer -.

 

Ele estava caindo pendurando em degrau de pedra após degrau de pedra, pulando todas as fileiras até a última, com uma batida que mandou todo seu ar para fora de seu corpo, aterrissou horizontalmente, afundado em um buraco onde a pedra arcada agüentava um balcão. A sala inteira estava envolvida com a risada dos Comensais: olhou para cima e viu os cinco, que estavam na sala do cérebro, descendo em sua direção enquanto muitos outros surgiam de outras portas e começaram a pular de assento para assento em sua direção. Harry ficou em pé, apesar de suas pernas tremerem tanto que quase não se agüentava: a profecia continuava milagrosamente inteira na sua mão esquerda, sua varinha agarrada na mão direita, foi para trás, olhando em volta, tentando manter todos os Comensais da Morte em sua vista, as costas de suas pernas colidiram com alguma coisa dura: tinha alcançado o balcão que o arco sustentava. Escalou de costas em cima dele.

 

Os Comensais da Morte pararam, encarando-o. Alguns estavam ofegando tanto quanto ele. Um estava sagrando muito; Dolohov, libertado do feitiço de corpo preso, olhava atravessado, sua varinha apontava diretamente para o rosto de Harry.

 

- Potter, sua caçada está correndo - Malfoy falou lentamente, tirando sua máscara. - Agora me dê a profecia como um bom garoto.

 

- Deixe... Deixe os outros irem e eu te dou a profecia! - disse Harry desesperadamente.

 

Alguns Comensais riram.

 

- Você não está em posição para negociar, Potter - seu rosto pálido ruborizou com satisfação. - Veja, têm dez de nós e somente um de vocês... Ou quer dizer que Dumbledore nunca lhe ensinou a contar?

 

- Ele dão está sozinho! - gritou uma voz a cima deles. - Ele ainda dão está!

 

O coração de Harry afundou: Neville estava descendo os bancos pedra até eles, segurou a varinha de Hermione rapidamente na mão que tremia.

 

- Neville... Não... Volte para Rony...

 

- ESTUBEFAÇA! - Neville gritou, apontando sua varinha para todos os Comensais da Morte. - ESTUBEFAÇA! ESTUB...

 

Um dos maiores Comensais agarrou Neville por trás, cortando seus braços nas pontas. Ele lutou e o chutou; muitos dos Comensais riram.

 

- Ele é Longbottom, não é? - desprezou Lúcio Malfoy. - Bem, sua avó costuma perder parentes por nossa causa... Sua morte não vai ser um choque tão grande.

 

- Longbottom? - repetiu Bellatrix e um verdadeiro sorriso maldoso surgiu em seu magro rosto. - Eu tive o prazer de encontrar seus pais, garoto.

 

- EU SEI QUE VOCÊ TEVE! - rosnou Neville e ele lutou duramente contra sua captura até algum Comensal berrou:

 

- Alguém acabe com ele!

 

- Não, não, não - disse Bellatrix. Ela olhava viva, com entusiasmo, espiou Harry e depois voltou a olhar Neville. - Não, vamos ver quanto Neville agüenta antes de enlouquecer como seus pais... A não ser que Harry nos dê a profecia.

 

- NÃO BÊ DARA ELES! - rugiu Neville, que apareceu ao seu lado, chutando e se contorcendo, enquanto Bellatrix ia se aproximando dele e do Comensal, sua varinha levantada. - NÃO BÊ DARA ELES, HARRY!

 

Bellatrix levantou sua varinha.

 

- Crucio!

 

Neville berrou, suas pernas foram até seu peito, então o Comensal que o segurava o deixou no chão. O Comensal o soltou e ele caiu no chão, debatendo-se e gritando de agonia.

 

- Isso só foi o começo - disse Bellatrix, levantando sua varinha, o que fez os gritos de Neville pararem, e ele ficou deitado aos pés dela, chorando. Ela se virou e encarou Harry. - Então, Harry, a não ser que você nos dê a profecia vai assistir o seu amiguinho morrer do pior jeito.

 

Harry nem precisa pensar: não tinha escolha. A profecia estava quente com o calor da sua mão, que a agarrava, então ele a soltou. Malfoy pulou para frente para pegá-la.

 

Então, logo a cima deles, mais duas portas abriram com um estrondo e mais cinco pessoas entraram na sala: Sirius, Lupin, Moody, Tonks e Kingsley.

 

Malfoy virou e levantou sua varinha mas Tonks já havia lançado um forte feitiço na direção dele. Harry não esperou para ver se tinha feito efeito, mergulhou debaixo do balcão para fora do caminho. Os Comensais da Morte estavam totalmente distraídos por causa da aparição dos membros da Ordem, que agora lançavam feitiços para cima deles, no mesmo momento em que pulavam de fileira para fileira para o chão afundado. Através dos corpos voando, relâmpagos de luz, Harry viu um Neville engatinhando sozinho. Ele se esquivou de outro jato de luz vermelha e se jogou no chão para resgatá-lo.

 

- Você está bem?  - berrou enquanto outro feitiço ecoou centímetros de suas cabeças.

 

- Sim - disse Neville tentando ficar em pé.

 

- E Rony?

 

- Acho que ele está bem, ele ainda estaba lutando com o cérebro quando eu saí...

 

O chão de pedra no meio dos dois explodiu quando um feitiço o atingiu, fazendo uma cratera onde a mão de Neville estava somente alguns segundos antes; ambos se arrastaram para longe de lá, de repente um grosso braço surgiu de algum lugar, agarrou Harry pelo pescoço e o levantou, fazendo com que seus dedos mal tocassem o chão.

 

- Me dê - murmurou uma voz em sua orelha. - Me dê a profecia...

 

O homem apertava com tanta força a traquéia de Harry que ele mal conseguia respirar. Através de seus olhos encharcados viu Sirius lutando com um Comensal a alguns dez metros; Kingsley estava lutando com dois ao mesmo tempo; Tonks continuava no meio do caminho, em cima dos assentos, lançando feitiços em Bellatrix - ninguém parecia notar que Harry estava morrendo. Ele virou sua varinha de trás para o lado do homem mas não tinha ar para falar algum feitiço e a mão livre do homem estava tateando perto da mão em que Harry segurava a profecia...

 

- AARGHH!

 

Neville foi disparado de algum lugar; sem condições para articular um feitiço, enfiou fortemente a varinha de Hermione dentro do buraco do olho da máscara do Comensal. O homem largou Harry no mesmo momento com um berro de dor. Harry girou, ficando cara a cara com o homem e respirou:

 

- ESTUPEFAÇA!

 

O homem inclinou para trás e sua máscara escorregou: era o assassino Macnair Buckbeak, um de seus olhos estava inchado e sangrando.

 

 - Obrigado! - disse Harry para Neville, empurrando-o para o lado enquanto Sirius e seu Comensal se se moviam, duelando tão ferozmente que suas varinhas eram borrões; então o pé de Harry fez contato com alguma coisa dura e redonda e ele escorregou. Por um momento achou que tinha tropeçado na profecia mas então viu o olho mágico de Moody girando pelo chão.

 

Seu dono estava deitado ao seu lado, sangrando pela cabeça, e o homem que o atacou estava agora se sustentando em cima de Harry e Neville: Dolohov, seu longo rosto pálido estava deformado com alegria.

 

- Tarantallegra! - gritou ele, sua varinha apontada para Neville, suas pernas entraram em uma frenética dança, desequilibrando-o e o fazendo cair no chão de novo. - Agora, Potter...

 

Ele fez o mesmo penetrante movimento com a varinha de quando atacou Hermione, no mesmo tempo que Harry gritou:

 

- Protego!

 

Harry sentiu algo atravessar seu rosto, como uma faca sem cerra; a força disso o empurrou para o lado, fazendo-o cair sobre as pernas trêmulas de Neville mas o feitiço escudo tinha evitado o pior do outro feitiço.

 

Dolohov levantou sua varinha novamente e gritou:

 

- Accio profe...

 

Sirius tinha aparecido de algum lugar e atingiu Dolohov com seu ombro, mandando-o, voando, para outro lado. A profecia tinha voado da ponta dos dedos de Harry novamente mas ele conseguiu segurá-la. Agora Sirius e Dolohov lutavam, suas varinhas relampejavam como espadas, faíscas surgiam da ponta delas...

 

Dolohov puxou sua varinha para trás, para fazer o mesmo feitiço que usou contra Harry e Hermione. Pulando, Harry gritou:

 

- Petrificus Totalus!

 

Novamente os braços e pernas de Dolohov se uniram ao seu corpo e ele se inclinou para trás, caindo de costas com uma batida.

 

- Muito bom! - gritou Sirius, empurrando a cabeça de Harry para baixo no mesmo momento que um par de feitiços voaram na direção deles. - Agora eu quero que você saia...

 

Os dois desviaram novamente; um jato de luz verde errou Sirius por pouco. Pela sala, Harry viu Tonks cair no meio do caminho da escada de pedra, ela mancava, caindo de um assento de pedra para outro assento e Bellatrix, triunfante, correu em direção a briga.

 

- Harry, pegue a profecia, agarre Neville e corra! - Sirius gritou, lançando-se ao encontro de Bellatrix. Harry não viu o que aconteceu depois: Kingsley inclinou através de seu campo de visão com o Comensal cheio de marcas de varíola e não mais mascarado Rookwood: outro jato de luz verde voou por cima da cabeça de Harry no mesmo momento que se lançou em direção de Neville...

 

- Você consegue ficar em pé? - falou alto na orelha de Neville enquanto a perna do garoto tremia e mexia incontrolavelmente. - Coloque seu braço em volta do meu pescoço...

 

Neville obedeceu e Harry o levantou, suas pernas de Neville ainda iam para todas as direções, elas não o agüentariam, e então, saindo de algum lugar, um homem apareceu: os dois caíram para trás, as pernas de Neville flutuavam desordenadamente como um martelo derrubado, Harry com seu braço esquerdo segurou o ar tentando salvar a pequena bola de vidro de ser quebrada.

 

- A profecia, me dê a profecia, Potter! - resmungou a voz de Lúcio Malfoy em sua orelha e Harry sentiu a ponta da varinha de Malfoy pressionar fortemente o meio de sua costela.

 

- Não... Me... Solta... Neville, pegue!

 

Harry lançou a profecia pelo chão, Neville passou por cima de si mesmo e levantou a bola para seu peito. Malfoy apontou a varinha instantaneamente para Neville mas Harry enfiou sua própria varinha por cima de seu ombro e gritou:

 

- Impedimenta!

 

Malfoy foi lançado pelas costas enquanto Harry engatinhou ao redor e viu Malfoy bater no balcão no qual Sirius e Bellatrix estavam agora duelando. Malfoy mirou sua varinha em Harry e Neville de novo mas antes que pudesse respirar para atacar Lupin havia pulando entre eles.

 

- Harry, reúna os outros e saia!

 

Harry agarrou Neville pelo o ombro de sua roupa e o levantou, colocando-o na primeira fileira de degraus de pedra; a perna de Neville tremia e mexia, não suportaria seu peso; Harry o levantou novamente com todas as forças que possuía e então subiu mais um degrau...

 

Um feitiço acertou o assento de pedra, no calcanhar de Harry; a pedra esfarelou e Harry caiu de volta no degrau de baixo. Neville caiu no chão, suas pernas ainda tremiam e sacudiam, e ele colocou a profecia no seu bolso.

 

- Vem cá! - disse Harry desesperadamente, puxando a roupa de Neville. - Somente tente e prossiga com suas pernas...

 

Ele levantou de forma assombrosa e o traje de Neville se rasgou até a última fenda - a pequena bola de vidro escorregou de seu bolso e antes que algum dos dois conseguisse pegá-la um dos pés flutuantes de Neville a chutou: ela voou alguns dez metros para a direita, bateu no degrau mais abaixo deles. Os dois fitaram o lugar que ela caiu, apavorados com o que aconteceu, uma imagem branca como pérola com enormes olhos se ergueu no ar, não notada por ninguém além dos dois. Harry podia ver a boca dela se mover mas com todas as colisões, gritos e berros os cercando nenhuma palavra da profecia podia ser ouvida. A imagem parou de falar e se dissolveu no meio do nada.

 

- Harry, eu minto muito! - gritou Neville, seu rosto angustiado e suas pernas ainda mexiam. - Eu minto muito! Eu bão queria fader...

 

- Isso não importa - Harry berrou. - Somente tente ficar em pé e vamos sair daqui...

 

- Dumbledore! - seu úmido rosto de repente aliviou, encarando por cima do ombro de Harry.

 

- Quê?

 

- DUMBLEDORE!

 

Harry virou para olhar onde Neville estava encarando. Exatamente a cima deles, emoldurado na entrada da sala do cérebro, estava Alvo Dumbledore, sua varinha para cima, seu rosto branco e furioso. Harry sentiu uma espécie de carga elétrica surgindo através de todas as partículas de seu corpo - estavam salvos.

 

Dumbledore desceu rapidamente, passando por Neville e Harry, que não tinha mais pensamentos em ir embora. Dumbledore já estava na ponta dos degraus quando os Comensais da Morte mais próximos perceberam que ele estava lá e gritaram para os outros. Um dos Comensais correu para lá, escalando como um macaco os degraus de pedra contrários. O feitiço de Dumbledore o colocou para trás facilmente como se ele tivesse sido capturado com uma linha invisível...

 

Somente mais uma dupla estava lutando, aparentemente, inconsciente da nova chegada. Harry viu Sirius desviar do jato de luz vermelha de Bellatrix: ele estava rindo dela.

 

- Vamos lá! Você pode fazer melhor que isso! - gritou, sua voz ecoava na sala cavernosa.

 

O segundo jato de luz o acertou diretamente no peito. O riso não saiu completamente de seu rosto mas seus olhos se arregalaram em choque.

 

Harry soltou Neville, que estava incapaz de fazer algo. Estava pulando os degraus novamente, pegando sua varinha enquanto Dumbledore também virou em direção do balcão.

 

Pareceu pegar Sirius numa geração avançada: seu corpo, curvado em um gracioso arco, enquanto afundava para trás no áspero véu, suspenso pelo arco.

 

Harry viu no olhar uma mistura de medo e surpresa em seu padrinho, gasto, uma vez bonito, enquanto caía através da velha entrada e desaparecia por trás do véu, que se sacudia agitado, apesar do vento forte, depois caiu de volta no lugar.

 

Harry escutou um grito triunfante de Bellatrix Lestrange mas sabia que isso não significava nada - Sirius só tinha caído através da passagem arcada e ele reapareceria do outro lado em qualquer minuto...

 

Mas Sirius não apareceu.

 

- SIRIUS! - Harry gritou. - SIRIUS!

 

Ele se estendeu no chão, sua respiração veio em cauterizadas arfadas. Sirius tinha que estar logo atrás da cortina, ele, Harry poderia puxá-lo de volta...

 

Mas enquanto se alcançava o chão e corria a toda velocidade até o balcão Lupin agarrou Harry pelo peito, puxando-o de volta.

 

- Não há nada que você possa fazer, Harry...

 

- Pegue-o! Salve-o, ele está simplesmente lá dentro!

 

- ...É muito tarde Harry.

 

- Nós ainda podemos alcançá-lo... - Harry se debateu dura e cruelmente mas Lupin não o deixaria ir...

 

- Não ha nada que você possa fazer, Harry... Nada... Ele se foi.

 

 

O ÚNICO QUE ELE JÁ TEMEU

- Ele não se foi! - gritou Harry.

 

Ele não acreditava; não podia acreditar; ainda lutava com Lupin com todas as forças que tinha. Lupin não entendia; as pessoas estavam escondidas atrás da cortina; Harry as tinha escutado sussurrar na primeira vez que entrou na sala. Sirius estava escondido, só isso...

 

- SIRIUS! - ele exclamou. - SIRIUS!

 

- Ele não pode voltar, Harry - disse Lupin, sua voz falhando enquanto tentava conter Harry. - Ele não pode voltar porque ele está m...

 

- ELE NÃO ESTÁ MORTO! - rugiu Harry. - SIRIUS!

 

Havia movimento à volta deles, flashes de mais feitiços. Para Harry não passavam de barulho sem sentido, as maldições desviadas voando à sua frente não importavam, nada importava, exceto que Lupin devia parar de fingir que Sirius - que estava a alguns metros dele, atrás da cortina - não ia aparecer a qualquer momento, chacoalhando seus cabelos negros e louco para voltar à batalha.

 

Lupin arrastou Harry para longe do tablado. Harry, ainda olhando para a passagem em arco, estava brabo com Sirius por tê-lo deixado esperando...

 

Mas parte dele percebia, embora lutasse para se libertar de Lupin, que Sirius nunca o tinha deixado esperando antes... Sirius arriscaria tudo, sempre, para ver Harry, para ajudá-lo... Se Sirius não estava aparecendo sob a passagem, mesmo com Harry gritando por ele como se sua vida dependesse disso, a única explicação possível era a de que ele não ia voltar... Era que ele estava realmente...

 

Dumbledore tinha agrupado a maior parte dos Comensais da Morte no centro da sala, aparentemente imobilizados por cordas invisíveis; Olho-Tonto Moody tinha rastejado em direção a Tonks, que estava caída, e tentava acordá-la; atrás do tablado ainda havia flashes de luz, gemidos e gritos - Kingsley tinha corrido para continuar o duelo de Sirius com Bellatrix.

 

- Harry?

 

Neville tinha escorregado pelos bancos, um por um, até o lugar onde Harry estava. Harry já não lutava para se desvencilhar de Lupin, que mantinha seu braço seguro, só por precaução.

 

- Harry... Eu sinto buito... - disse Neville. Suas pernas ainda estavam dançando sem controle. - Aquele hobem, o Sirius Black, era um abigo seu?

 

Harry concordou.

 

- Aqui - disse Lupin calmamente e, apontando sua varinha para as pernas de Neville, disse - Finite - o feitiço foi quebrado: as pernas de Neville ficaram caídas no chão e permaneceram quietas. O rosto de Lupin estava pálido. - Vamos, vamos encontrar os outros. Onde estão todos, Neville?

 

Lupin virou às costas para a passagem em arco enquanto falava. Ele soava como se cada palavra estivesse lhe causando dor.

 

- Eles esdão lá atrás - disse Neville. - Um cérebro adacou Rony bas eu acho que ele esdá bem, e Herbione esdá inconsciente, bas nós podemos sendir sua bulsação...

 

Ouviu-se um barulho alto e um grito veio de trás do tablado. Harry viu Kingsley cair no chão, gritando de dor: Bellatrix Lestrange tentava fugir enquanto Dumbledore se virava com rapidez. Ele jogou um feitiço nela mas ela se desviou; estava a meio caminho da saída agora...

 

- Harry, não! - gritou Lupin mas Harry já tinha escapado das suas mãos negligentes.

 

- ELA MATOU SIRIUS! - exclamou Harry. - ELA O MATOU... E EU VOU MATÁ-LA!

 

E ele saiu correndo, tropeçando nos bancos de pedra; pessoas gritavam atrás dele mas não se importava. A bainha do manto de Bellatrix sumiu de vista logo à frente e eles passaram à sala em que os cérebros nadavam...

 

Ela mirou uma maldição por sobre o ombro. O tanque levantou no ar e entornou. Harry se inundou na poção malcheirosa que saiu dele: os cérebros escorregaram e começaram a girar seus longos e coloridos tentáculos mas Harry gritou "Vingardium Leviosa!" e eles voaram sobre sua cabeça. Deslizando, correu em direção à porta; pulou sobre Luna, que estava gemendo no chão, passou por Gina, que disse, "Harry... O quê...?", passou por Rony, que sorriu com delicadeza, e Hermione, que ainda estava inconsciente. Abriu a porta com violência, indo para o hall negro circular e viu Bellatrix desaparecer por uma porta do outro lado da sala; além dela estava o corredor que levava de volta aos elevadores.

 

Correu mas ela bateu a porta atrás de si e as paredes começaram a rodar. Mais uma vez ele foi cercado por fechos de luz azul vindos do candelabro.

 

- Onde está a saída? - gritou desesperado quando as paredes pararam. - Onde está a saída?

 

A sala parecia estar esperando que perguntasse. Uma porta logo atrás dele abriu de repente e o corredor para os elevadores apareceu, iluminado por tochas e vazio. Correu...

 

Podia ouvir o barulho de um elevador logo à frente; correu a toda a velocidade pela passagem, voou pela esquina e bateu o punho no botão para chamar um segundo elevador. Fez ruídos cada vez mais próximos; as grades se abriram e Harry pulou para dentro, agora martelando o botão que dizia "Átrio". As portas se fecharam deslizando e ele começou a subir...

 

Forçou sua saída do elevador antes que as grades estivessem completamente abertas e olhou em volta. Bellatrix estava quase no elevador do telefone, do outro lado, mas ela olhou para trás quando ele veio correndo em sua direção e mirou outro feitiço nele. Ele desviou para trás da Fonte dos Irmãos Mágicos: o feitiço zumbiu ao seu lado e acertou os portões dourados do outro lado do Átrio, fazendo-os soar como um sino. Ele ouviu passos. Ela tinha parado de correr. Ele agachou atrás das estátuas, escutando.

 

- Apareça, apareça, pequeno Harry! - chamou ela, imitando a voz de um bebê, que ecoou no assoalho polido de madeira. - Por que você veio atrás de mim, afinal? Eu pensei que você estivesse aqui para vingar o meu querido primo!

 

- E estou! - gritou Harry e um coral de Harry's fantasmagóricos pareceu dizer "E estou! E estou! E estou!" por toda a sala.

 

- Aaaaaah... Você o amava, bebezinho Potter?

 

O ódio cresceu em Harry como nunca antes; voou de trás da fonte e exclamou "Crucio!".

 

Bellatrix gritou: o feitiço a tinha feito cair no chão mas ela não se retorceu nem berrou de dor como Neville - ela já estava se levantando, sem ar - e não ria mais. Harry se desviou para trás da fonte dourada novamente. O contra-ataque dela acertou a cabeça do simpático bruxo, que explodiu e aterrissou a metros de distância, cavando longos arranhões no chão de madeira.

 

- Nunca usou uma Maldição Imperdoável antes, não é, garoto? - ela gritou. Não estava mais usando a voz de bebê. - Você precisa querer usá-las, Potter! Você precisa realmente querer causar a dor, aproveitá-la, raiva moralista não vai me machucar por muito tempo, eu mostrarei a você como se faz, certo? Eu lhe darei uma lição...

 

Harry estava rodeando a fonte até o outro lado quando ela gritou "Crucio!" e ele foi forçado a abaixar de novo quando o braço do centauro, segurando um arco, foi arrancado e caiu com um estrondo no chão, próximo da cabeça dourada do bruxo.

 

- Potter, você não pode me vencer! - ela gritou.

 

Ele podia ouvi-la se mover para a direita, tentando ter uma boa visão dele. Rodeou a fonte para longe dela, agachando atrás das pernas do centauro, sua cabeça do lado da cabeça do elfo doméstico.

 

- Eu fui e sou a serva mais leal do Senhor das Trevas. Eu aprendi a Arte das Trevas diretamente dele e eu sei feitiços tão poderosos com os quais você, menininho patético, nunca poderá competir...

 

- Estupefaça! - gritou Harry. Tinha dado a volta até o local em que estava o duende, indo até o bruxo sem cabeça, e mirou nas costas dela, enquanto espiava atrás da fonte. Ela reagiu tão rápido que ele mal teve tempo de se abaixar.

 

- Protego!

 

Num jato de luz vermelha, seu próprio feitiço de atordoamento, refletiu e voltou em sua direção. Harry tropeçou para trás e uma das orelhas do duende saiu voando pela sala.

 

- Potter, eu vou lhe dar uma chance! - gritou Bellatrix. - Me dê a profecia, role-a na minha direção agora e eu talvez poupe a sua vida!

 

- Bem, você vai ter que me matar porque ela não existe mais! - exclamou Harry e, enquanto gritava uma dor queimou em sua testa; sua cicatriz estava pegando fogo novamente e ele sentiu uma onda de ódio que estava completamente desconectada de seu próprio ódio. - E ele sabe! - disse Harry, dando uma risada louca parecida com a de Bellatrix. - Seu velho amigo Voldemort sabe que ela não existe mais! Ele não vai ficar feliz com você, não é?

 

- O quê? O que você quer dizer? - gritou ela e pela primeira vez havia medo em sua voz.

 

- A profecia quebrou quando eu estava tentando puxar Neville nos degraus! O que você acha que Voldemort vai dizer disso, hein?

 

Sua cicatriz queimava... A dor que sentia estava fazendo seus olhos lacrimejarem...

 

- MENTIROSO! - ela gritou mas ele podia ouvir o terror por trás da raiva agora. - ELA ESTÁ COM VOCÊ, POTTER, E VOCÊ VAI ENTREGÁ-LA PARA MIM! Accio profecia! ACCIO PROFECIA!

 

Harry gargalhou novamente pois sabia que isso a irritava, a dor aumentava tanto em sua cabeça que parecia que se seu crânio ia explodir. Ele abanava as mãos vazias de trás do duende sem orelha e as retirava rapidamente quando ela mandava outro jato de luz verde em sua direção.

 

- Nada aqui - ele gritou. - Nada para convocar! Ela quebrou e ninguém ouviu o que ela disse, diga isso ao seu chefe!

 

- Não! - ela gritou. - Não é verdade, você está mentindo! MESTRE, EU TENTEI, EU TENTEI... NÃO ME CASTIGUE...

 

- Não gaste saliva! - berrou Harry, seus olhos apertados devido a dor em sua cicatriz, agora mais terrível do que nunca. - Ele não pode ouvi-la daí!

 

- Eu não posso, Potter? - disse uma voz fria e aguda.

 

Harry abriu os olhos.

 

Alto, magro e com um capuz negro, seu terrível rosto branco e seco de cobra, seus olhos vermelhos... Lord Voldemort tinha aparecido no meio do hall, sua varinha apontada para Harry, que estava congelado, incapaz de se mover.

 

- Então, você quebrou a profecia? - disse Voldemort calmamente, olhando para Harry com aqueles cruéis olhos vermelhos. - Não Bella, ele não está mentindo... Eu vejo a verdade me olhando de dentro de sua mente inútil... Meses de preparação, meses de esforço... E meus Comensais da Morte deixaram que Harry Potter frustrasse meus planos novamente...

 

- Mestre, eu sinto muito, eu não sabia, eu estava lutando contra o animago Black! - chorou Bellatrix, lançando-se aos pés de Voldemort, que se aproximava vagarosamente. - Mestre, você precisa entender...

 

- Silêncio Bella - disse Voldemort perigosamente. - Eu vou lidar com você num minuto. Você acha que eu entrei no Ministério da Magia para ouvir suas desculpas chorosas?

 

- Mas mestre... Ele está aqui... Lá embaixo...

 

Voldemort não prestou atenção.

 

- Eu não tenho mais nada a dizer para você, Potter - disse calmamente. - Você me molestou demais, por muito tempo. AVADA KEDAVRA!

 

Harry nem chegou a abrir a boca para resistir; sua mente estava em branco, sua varinha apontava inutilmente para o chão.

 

Mas a estátua dourada do bruxo sem cabeça da fonte ganhou vida, saltando de seu pedestal e aterrissando com um estrondo no chão, entre Harry e Voldemort. O feitiço tinha quase alcançado seu peito quando a estátua voou para protegê-lo.

 

- O que... - gritou Voldemort, olhando para os lados. E então ele disse num suspiro. - Dumbledore!

 

Harry olhou para trás, seu coração aos pulos. Dumbledore estava parado na frente dos portões dourados.

 

Voldemort levantou sua varinha e outro jato de luz verde voou na direção de Dumbledore, que se virou e sumiu no giro da sua capa. No segundo seguinte reapareceu atrás de Voldemort e agitou sua varinha na direção das estátuas restantes na fonte. Elas ficaram vivas. A estátua da bruxa correu atrás de Bellatrix, mergulhou em sua direção e a prendeu contra o chão. Enquanto isso o duende e o elfo escaparam em direção às lareiras na parede e o centauro de um só braço galopou para Voldemort, que sumiu e reapareceu perto da piscina. A estátua sem cabeça empurrou Harry para trás, para longe da luz; Dumbledore avançou na direção de Voldemort e o centauro galopou em volta dos dois.

 

- Foi tolo de sua parte vir até aqui esta noite, Tom - disse Dumbledore calmamente. - Os Aurores estão a caminho...

 

- Quando eles chegarem eu já terei ido e você estará morto! - rebateu Voldemort. Ele jogou outra maldição mortal em Dumbledore mas errou, ao invés disso acertou a mesa do guarda, que explodiu em chamas.

 

Dumbledore deu um peteleco em sua varinha: a força do feitiço que emanou dela era tão grande que Harry, embora protegido por seu guardião dourado, sentiu seu cabelo ficar em pé e desta vez Voldemort foi forçado a conjurar um escudo prateado no ar para se proteger. O feitiço, não importa qual, não causou estragos visíveis no escudo, embora uma nota profunda, como a de um gongo, tenha reverberado dele - um estranho som arrepiante.

 

- Você não quer me matar, Dumbledore? - perguntou Voldemort, seus estreitos olhos cor escarlate aparecendo sobre o escudo. - Você está acima de tal brutalidade?

 

- Nós dois sabemos que existem outras maneiras de destruir um homem, Tom - disse Dumbledore calmamente, continuando a caminhar em direção de Voldemort como se não tivesse medo algum, como se nada pudesse interromper seu passeio pelo salão. - Meramente tirar sua vida não me deixaria satisfeito, eu admito...

 

- Não há nada pior do que a morte, Dumbledore! - resmungou Voldemort.

 

- Você está errado, - disse, ainda se aproximando de Voldemort e falando tão suavemente como se estivessem discutindo o assunto enquanto bebiam. Harry sentiu medo ao vê-lo andar, sem defesa, sem escudo; quis gritar um aviso mas seu guarda sem cabeça o continuava empurrando para trás, junto à parede, bloqueando todas as suas tentativas de sair de trás dele. - Deveras, a sua falha ao compreender que há coisas muito piores do que a morte sempre foi sua grande fraqueza...

 

Outro jato de luz verde voou de trás do escudo prateado. Desta vez foi o centauro sem braço, galopando na frente de Dumbledore, que levou a rajada e foi despedaçado em milhares de cacos mas antes que os fragmentos caíssem Dumbledore moveu sua varinha como se manejasse um chicote. Uma longa chama voou da sua ponta; ela embrulhou Voldemort com escudo e tudo. Por um momento pareceu que Dumbledore tinha vencido mas então a corda de fogo se transformou em uma serpente, que cedeu à influência de Voldemort rapidamente e se virou, sibilando furiosamente, para encarar Dumbledore.

 

Voldemort desapareceu; a cobra se suspendeu do chão, pronta para atacar...

 

De repente aconteceu uma explosão de fogo no ar sobre Dumbledore e Voldemort reapareceu, ficando de pé no plinto, no meio da piscina, onde tão recentemente as cinco estátuas tinham estado.

 

- Cuidado! - gritou Harry.

 

Mas enquanto ele gritava outro jato de luz verde voou na direção de Dumbledore da varinha de Voldemort e a cobra deu o bote...

 

Fawkes desceu, entrando na frente de Dumbledore, abriu seu bico e engoliu o jato de luz verde: queimou, transformando-se em chama, e caiu no chão, pequeno, enrugado e incapaz de voar. No mesmo momento Dumbledore brandiu sua varinha num movimento longo e fluido - a cobra, que estava a alguns instantes de afundar suas presas nele, voou no ar e desapareceu numa nuvem de fumaça escura; a água da piscina se ergueu e cobriu Voldemort como um casulo de vidro derretido.

 

Por alguns segundos Voldemort ficou visível somente como uma figura escura, ondulada e sem rosto, trêmula e indistinta sobre o plinto, claramente lutando para sair daquela massa sufocante...

 

Então ele sumiu e a água caiu novamente na piscina, fazendo barulho, vazando pelas bordas, encharcando o assoalho polido.

 

- MESTRE! - gritou Bellatrix.

 

Certo de que era o fim, certo de que Voldemort tinha decidido fugir, Harry correu de trás da estátua que mantinha guarda mas Dumbledore exclamou:

 

- Fique onde está, Harry!

 

Pela primeira vez Dumbledore soou assustado. Harry não entendia o porquê: o salão estava vazio a não ser por eles, a chorosa Bellatrix ainda presa sob a estátua da bruxa e o bebê fênix Fawkes grasnava delicadamente no chão...

 

Então a cicatriz de Harry se abriu e ele soube que estava morto: era dor muito além do que podia imaginar, muito além do que ele podia suportar...

 

Ele não estava mais no salão, estava trancado no interior de uma criatura com olhos vermelhos, tão presa que Harry não sabia onde seu corpo acabava e a criatura começava: estavam fundidos num só, unidos na dor, e ele não tinha como escapar...

 

E então a criatura falou, usou a boca de Harry, que sentiu mexer em sua agonia...

 

- Mate-me agora, Dumbledore...

 

Cego e morrendo, cada parte de seu corpo gritando por liberdade, Harry sentiu a criatura usá-lo novamente...

 

- Se a morte não é nada, Dumbledore, mate o garoto...

 

"Faça a dor parar", pensava Harry... "Deixe que ele nos mate... Acabe com isso, Dumbledore... Morte não é nada comparado a isso..."

 

"E eu verei Sirius de novo..."

 

E ao sentir o coração de Harry se encheu de emoção, o interior da criatura se afrouxou, a dor sumiu; Harry estava deitado com o rosto no chão, sem óculos, tremendo como se estivesse deitado sobre gelo, não madeira...

 

E ele ouviu vozes ecoando pelo salão, mais vozes do que deveria haver... Harry abriu os olhos, viu seus óculos caídos perto de onde a estátua sem cabeça estivera cuidando dele mas que agora estava caída, rachada e imóvel. Colocou os óculos e levantou um pouco a cabeça, vendo o nariz curvo de Dumbledore a poucos centímetros do seu.

 

- Você está bem, Harry?

 

- Sim - disse Harry, tremendo tão violentamente que não conseguia manter sua cabeça levantada direito. - Sim, eu, onde está Voldemort, onde... Quem são todos esses... O que...

 

O Átrio estava cheio de gente; o chão estava refletindo as chamas verde-esmeralda que foram acesas em todas as lareiras das paredes; rios de bruxos e bruxas emergiam delas. Enquanto Dumbledore o ajudava a levantar Harry viu as pequenas estátuas do duende e elfo guiando um abobado Cornélio Fudge.

 

- Ele esteve aqui! - gritou um homem com roupas escarlate e um rabo-de-cavalo, que estava apontando para uma pilha de cascalho dourado do outro lado do salão, onde Bellatrix estava presa momentos antes. - Eu o vi, Sr. Fudge, eu juro que era Você-Sabe-Quem, ele agarrou a mulher e desapareceu!

 

- Eu sei, Williamson, eu sei, eu também o vi! - gaguejou Fudge, que estava usando pijamas debaixo de sua capa listrada e estava arfando como se tivesse corrido por vários quilômetros. - Pelas barbas de Merlin, aqui, aqui! No Ministério da Magia! Pelos céus, não pode ser possível, minha palavra, como isso pode ser...?

 

- Se você descer até o Departamento de Mistérios, Cornélio, - disse Dumbledore, aparentemente satisfeito que Harry estivesse bem e andou para que os recém-chegados pudessem perceber pela primeira vez que estava lá (alguns deles levantaram suas varinhas; outros simplesmente pareciam espantados; as estátuas do elfo e duende aplaudiam e Fudge pulou tão alto que seus pés cobertos por chinelos saíram do chão - você encontrará alguns dos Comensais da Morte que escaparam contidos na Câmara da Morte, presos por uma azaração Anti-Desaparatação e esperando sua decisão do que será feito deles.

 

- Dumbledore! - engasgou Fudge, espantado. - Você... Aqui... Eu... Eu...

 

Ele olhava loucamente à sua volta para os Aurores que tinham vindo com ele e parecia a ponto de chorar "Peguem-no!".

 

- Cornélio, eu estou pronto para lutar com seus homens... E vencer, novamente! - disse Dumbledore numa voz de trovão. - Mas há alguns minutos você viu com seus próprios olhos a prova da verdade que eu vinha lhe dizendo há um ano. Lord Voldemort retornou, você tem seguido o homem errado por doze meses e está na hora de você ouvir a razão!

 

- Eu... Não... Bem... - gabou-se Fudge, olhado à sua volta como se esperasse que alguém fosse lhe dizer o que fazer. Como ninguém fez nada, ele disse. - Muito bem, Dawlish! Williamson! Desçam até o Departamento de Mistérios e vejam... Dumbledore, você... Você vai precisar me dizer exatamente... A Fonte dos Irmãos Mágicos... O que aconteceu? - acrescentou num tipo de lamúria, fitando o chão à sua volta, onde os restos das estátuas da bruxa, do bruxo e do centauro estavam.

 

- Nós podemos discutir isso depois que eu levar Harry de volta para Hogwarts - disse Dumbledore.

 

- Harry... Harry Potter?

 

Fudge girou e olhou para Harry, que ainda estava parado perto da parede em que a estátua caída o tinha protegido durante o duelo entre Dumbledore e Voldemort.

 

- Ele... Aqui? - disse Fudge. - Por que... O que significa tudo isso?

 

- Eu explicarei tudo devidamente - repetiu Dumbledore - quando Harry estiver novamente na escola.

 

Ele se afastou da fonte e foi até o lugar em que a cabeça dourada do mago jazia no chão. Apontou sua varinha para ela e sussurrou "Portus". A cabeça tomou um brilho azul e tremeu com um ruído no assoalho de madeira por alguns segundos, então parou novamente.

 

- Agora, veja bem, Dumbledore! - disse Fudge enquanto Dumbledore pegava a cabeça e andava na direção de Harry, carregando-a. - Você não tem autorização para usar essa Chave de Portal! Você não pode fazer coisas como essa bem na frente do Ministro da Magia, você... Você...

 

A voz dele vacilou quando Dumbledore o inspecionou de maneira absoluta sobre seus óculos de meia lua.

 

- Você dará a ordem para retirar Dolores Umbridge de Hogwarts - disse Dumbledore. - Você dirá para seus Aurores pararem de procurar pelo meu professor de Trato de Criaturas Mágicas, para que ele possa voltar ao trabalho. Eu lhe darei... - Dumbledore olhou para seu relógio. - ...meia hora do meu horário esta noite, que eu acredito ser mais do que suficiente para cobrir os pontos importantes do que aconteceu aqui. Depois disso eu terei que voltar para a minha escola. Se você precisar de mais ajuda de mim, você será, claro, mais do que bem-vindo para me contatar em Hogwarts. Cartas dirigidas ao diretor chegarão até mim.

 

Fudge girou os olhos pior do que nunca; sua boca estava aberta e sua cara redonda estava mais rosada sob seu cabelo cinza.

 

- Eu... Você...

 

Dumbledore virou as costas para ele.

 

- Segure essa Chave de Portal, Harry.

 

Ele segurou a cabeça dourada da estátua e Harry colocou a sua mão sobre ela, sem pensar no que faria depois ou para onde iria.

 

- Eu vejo você em meia hora - disse Dumbledore calmamente. - Um... dois... três...

 

Harry sentiu uma sensação familiar de um solavanco dentro do umbigo. O chão de madeira polida desapareceu debaixo dos seus pés; o Átrio, Fudge e Dumbledore - todos sumiram - estava voando num redemoinho de sons e cores...

 

 

A ÚLTIMA PROFECIA

Os pés de Harry tocaram o chão duro, seus joelhos se dobraram um pouco e a cabeça dourada do bruxo caiu no chão com um sonoro "clunk". Ele olhou em volta e percebeu que tinha chegado à sala de Dumbledore.

 

Tudo parecia ter voltado ao seu lugar durante a ausência do diretor. Os delicados instrumentos de prata estavam mais uma vez recostados sobre as mesas com pés em espiral, soprando e silvando serenamente. Nos quadros, os grandes bruxos e bruxas cochilavam em suas molduras, as cabeças caídas sobre os ombros ou encostadas nas bordas das telas. Harry olhou pela janela. Havia uma linha ínfima de um verde pálido no horizonte: a manhã começava a chegar.

 

O silêncio e a tranqüilidade do lugar, quebrados apenas pelos grunhidos e suspiros ocasionais de algum retrato adormecido, eram terríveis para ele. Se esses ruídos pudessem refletir os sentimentos dentro dele os retratos estariam gritando de dor. Caminhou pela sala silenciosa respirando rapidamente e tentando não pensar. Mas ele tinha que pensar... Não havia saída...

 

Era sua culpa Sirius ter morrido, era tudo culpa sua. Se ele, Harry, não tivesse sido estúpido o suficiente para cair nos truques de Voldemort, se não estivesse tão convencido de que aquilo que vira em seu sonho era real, se apenas tivesse aberto sua mente para a possibilidade de Voldemort estar, como Hermione havia dito, apostando no gosto de Harry por bancar o herói...

 

Era intolerável, não devia pensar sobre isso, não agüentaria isso... Havia um vazio terrível dentro dele, o qual não queria sentir nem examinar, um buraco escuro onde Sirius estivera, onde Sirius desaparecera; não queria ter de ficar sozinho com aquele imenso e silencioso vazio, não agüentaria isso.

 

Um retrato atrás dele fez um grunhido particularmente alto e uma voz fria disse "Ah... Harry Potter...". Phineas Nigellus deu um longo bocejo, esticando os braços enquanto examinava Harry com seus astutos e estreitos olhinhos castanhos.

 

- E o que traz você aqui nas primeiras horas da manhã? - disse Phineas casualmente. - Essa sala é supostamente barrada a todos menos ao legítimo diretor. Ou terá Dumbledore mandado você aqui? Oh, não me conte - estremeceu novamente. - Outra mensagem para o meu desprezível tataraneto?

 

Harry não podia falar. Phineas Nigellus não sabia que Sirius estava morto mas Harry não conseguiria contar a ele. Dizê-lo em voz alta seria tornar isso final, absoluto, irremediável.

 

Mais alguns dos retratos estavam acordando agora. O terror de ser interrogado fez Harry cruzar o aposento a passos largos e agarrar a maçaneta da porta.

 

Não abriu. Ele estava trancado ali.

 

- Eu espero que isto signifique - disse o bruxo corpulento de nariz vermelho que estava pendurado na parede atrás da mesa do diretor - que Dumbledore logo estará de volta entre nós?

 

Harry se virou. O bruxo o estava examinando com grande interesse. Harry fez que sim com a cabeça. Torceu novamente a maçaneta atrás dele, que continuou imóvel.

 

- Oh, bem - disse o bruxo. - Tem sido muito aborrecido sem ele, muito aborrecido, na verdade.

 

Ele se acomodou na cadeira semelhante a um trono na qual havia sido pintado e sorriu benevolente para Harry.

 

- Dumbledore tem um grande conceito a seu respeito, como estou certo de que você sabe - disse confortadoramente. - Oh, sim. Tem você em grande estima.

 

A culpa que retorcia o vazio no peito de Harry era como um monstro, um verme pesado. Harry não podia agüentar isso, não podia agüentar mais ser quem ele era... Nunca tinha se sentido tão aprisionado em sua própria mente e corpo, nunca havia desejado tão intensamente poder ser outra pessoa, qualquer outra...

 

A lareira vazia subitamente explodiu em chamas verde-esmeralda, fazendo com que Harry saltasse de perto da porta, olhando para o homem que surgia dentro da grelha. Enquanto a alta figura de Dumbledore se revelava do fogo os bruxos e bruxas nas paredes sussurravam e se regozijavam, alguns chegando a chorar dando as boas-vindas.

 

- Obrigado, muito obrigado - disse docemente Dumbledore.

 

Ele não olhou logo para Harry, caminhou até o poleiro ao lado da porta e retirou de um bolso interno de sua capa a minúscula e feia Fawkes, totalmente sem penas, a quem colocou gentilmente no leve ninho de cinzas sob o pilar dourado onde a renascida e adulta Fawkes costumava ficar.

 

- Bem, Harry - disse Dumbledore, finalmente deixando o frágil pássaro -, você gostará de ouvir que nenhum de seus amigos e colegas sofrerá maiores danos por causa dos acontecimentos desta noite.

 

Harry tentou dizer "Ótimo" mas nenhum som saiu. Parecia pra ele que Dumbledore o estava lembrando de quanto dano havia causado e embora o diretor estivesse olhando para ele diretamente e sua expressão fosse mais amistosa que acusatória Harry não ousava encontrar seu olhar.

 

- Madame Pomfrey está colocando todo mundo de pé e bem - disse Dumbledore. - Nymphadora Tonks pode precisar ficar um tempo maior em St. Mungus mas parece que ela terá total recuperação.

 

Harry se contentou em inclinar a cabeça, olhando o tapete, que ficava mais e mais brilhante à medida que o dia clareava lá fora. Tinha certeza de que todos os retratos estavam ouvindo cuidadosamente cada palavra que Dumbledore pronunciava, perguntando-se onde ambos estiveram e por que teria havido danos.

 

- Eu sei como você está se sentindo, Harry - disse Dumbledore calmamente.

 

- Não, não sabe - disse Harry e sua voz estava de repente alta e clara; uma fúria branca e quente se agitava dentro de si; Dumbledore não tinha a menor idéia sobre seus sentimentos.

 

- Você vê, Dumbledore? - disse Phineas Nigellus maliciosamente. - Nunca tente compreender os alunos. Eles odeiam isso. Eles prefeririam muito mais ser tragicamente incompreendidos, chafurdar na autopiedade, afundar em seus próprios...

 

- É o suficiente, Phineas - disse Dumbledore.

 

Harry virou de costas para Dumbledore e olhou determinadamente pela janela. Podia ver o campo de quadribol ao longe. Sirius tinha aparecido lá uma vez, disfarçado como o grande cão negro, assim podia observar Harry jogando... Ele provavelmente tinha ido ver se Harry era tão bom quanto Tiago fora... Harry nunca lhe perguntara.

 

- Não há vergonha no que você está sentindo, Harry - disse a voz de Dumbledore. - Pelo contrário... O fato de você ser capaz de sentir uma dor como essa é sua maior força.

 

Harry sentiu a fúria branca e quente o lambendo por dentro, queimando no terrível buraco, enchendo-o com o desejo de ferir Dumbledore por sua calma e suas palavras vazias.

 

- Minha grande força é essa? - disse Harry, a voz tremendo à medida que continuava a olhar o estádio mas já sem enxergá-lo. - Você não tem a menor idéia... Você não sabe...

 

- O que eu não sei? - perguntou calmamente Dumbledore.

 

Isso foi demais. Harry se voltou, tremendo de raiva.

 

- Eu não quero falar sobre como eu me sinto, está bem?

 

- Harry, sofrer desse jeito prova que você ainda é um homem. Essa dor faz parte de ser humano...

 

- ENTÃO EU NÃO QUERO SER HUMANO! - urrou Harry, agarrando o delicado instrumento de prata da mesa ao seu lado e arremessando-o pela sala; ele se espatifou em centenas de minúsculos pedaços contra a parede. Muitos dos retratos soltaram gritos de raiva e medo e a pintura de Armando Dippet disse:

 

- Realmente!

 

- EU NÃO ME IMPORTO - gritou Harry para eles, apanhando um lunoscópio e jogando-o na lareira. - TEM SIDO DEMAIS, TENHO VISTO COISAS DEMAIS, EU QUERO SAIR, EU QUERO QUE ISSO TERMINE, EU NÃO ME IMPORTO MAIS.

 

Ele apanhou a mesa na qual o instrumento de prata estivera e a atirou também. Ela se partiu no chão e os pés rolaram em várias direções.

 

- Você se importa, sim - disse Dumbledore. Ele não havia hesitado ou feito um único movimento para impedir Harry de destruir sua sala. Sua expressão era calma, quase distante. - Você se importa tanto que sente como se fosse sangrar até a morte com tanta dor.

 

- EU... NÃO! - Harry gritou tão alto que parecia que sua garganta se rasgaria e por um segundo quis correr até Dumbledore e quebrá-lo também; romper aquela calma no rosto velho, sacudi-lo, machucá-lo, fazê-lo sentir um pouquinho de todo o horror dentro dele.

 

- Oh, sim, você, sim - disse Dumbledore, ainda mais calmamente. - Você perdeu seu pai, sua mãe e agora a coisa mais próxima de um pai que você conheceu. É claro que você se importa.

 

- VOCÊ NÃO SABE COMO EU ME SINTO! - Harry berrou. - VOCÊ... SEMPRE AÍ... VOCÊ...

 

Então as palavras já não eram suficientes, destruir as coisas não ajudava mais; Harry queria correr, queria correr e correr e nunca olhar para trás, queria estar em qualquer lugar onde não pudesse ver os límpidos olhos azuis a fitá-lo, aquela odiosa calma e velha face. Virou-se nos calcanhares e correu até a porta, agarrou a maçaneta e a torceu com força. Mas a porta não se abria.

 

Harry se virou para Dumbledore.

 

- Deixe-me sair - disse. Ele tremia da cabeça aos pés.

 

- Não - disse Dumbledore simplesmente.

 

Por alguns segundos se olharam nos olhos.

 

- Deixe-me sair - disse Harry novamente.

 

- Não - repetiu Dumbledore.

 

- Se você não deixar... Se você me prender aqui... Se você não me...

 

- Certamente continuaria a destruir meus objetos - disse Dumbledore serenamente. - Ouso dizer que tenho muitos - ele caminhou para sua mesa e sentou-se atrás dela, olhando Harry.

 

- Deixe-me sair - disse Harry mais uma vez, com uma voz fria e quase tão calma quanto a de Dumbledore.

 

- Não até eu dizer o que é preciso - falou Dumbledore.

 

- Você... Você acha que eu quero... Você acha que eu dou um... Eu não me importo com o que VOCÊ TEM A DIZER - urrou Harry. - Eu não quero ouvir nada do que você tem a dizer.

 

- Você ouvirá - respondeu Dumbledore, firme. - Você pode estar furioso comigo mas não está nem perto do quão furioso pode ficar. Se está disposto a me agredir, como sei que está perto de fazer, eu gostaria de ter a chance de merecê-lo realmente.

 

- Do que você está falando...?

 

- É minha culpa a morte de Sirius - disse Dumbledore claramente. - Ou eu deveria dizer, quase que inteiramente minha culpa, não serei tão arrogante a ponto de assumir a responsabilidade por tudo. Sirius era um homem bravo, esperto e disposto e este tipo de homem normalmente não se contenta em ficar sentado em casa escondido enquanto acredita que outros podem estar correndo perigo. Todavia, você nunca deveria ter acreditado, nem por um só momento, que havia qualquer necessidade de você ir ao Departamento de Mistérios esta noite. Se eu tivesse sido aberto com você, Harry, como eu deveria ter sido, você saberia há muito tempo que Voldemort tentaria atrair você ao Departamento de Mistérios e você nunca teria sido enganado para entrar lá esta noite. E Sirius não teria ido depois de você. Esta culpa me pertence, e somente a mim.

 

Harry ainda estava parado com a mão na maçaneta da porta mas nem percebia. Olhava para Dumbledore, a respiração difícil, escutando, ainda que pouco entendendo o que estava ouvindo.

 

- Por favor, sente-se - disse Dumbledore. Não era uma ordem, era um convite.

 

Harry hesitou mas depois caminhou devagar pela sala, cheia de fragmentos de prata e madeira espalhados pelo chão, e tomou a cadeira em frente à mesa de Dumbledore.

 

- Devo entender - disse Phineas Nigellus, à esquerda de Harry, devagar - que meu tataraneto, o último dos Black... Está morto?

 

- Sim Phineas - disse Dumbledore.

 

- Não acredito nisso - disse Phineas bruscamente.

 

Harry virou a cabeça a tempo de ver Phineas saindo de sua moldura e soube que ele tinha ido visitar seu outro retrato em Grimmauld Place. Ele caminharia, talvez de retrato em retrato, chamando por Sirius pela casa...

 

- Harry, eu lhe devo uma explicação - disse Dumbledore. - Uma explicação sobre os erros de um velho homem. Pois vejo agora o que tenho e o que não tenho feito em relação a você suportar as marcas das passagens da idade. Um jovem não pode saber como pensa e sente um homem velho. Mas os homens velhos são culpados, esquecem de como era ser jovem... E parece que eu tenho esquecido ultimamente...

 

O sol estava começando a nascer agora, via-se uma ofuscante coroa alaranjada sobre as montanhas e o céu sobre elas era claro e sem cor. A luz atingiu Dumbledore, caiu no prateado de suas sobrancelhas e barba, nas linhas profundamente esculpidas do seu rosto.

 

- Eu soube quinze anos atrás - continuou Dumbledore -, quando vi a cicatriz em sua testa, o que ela significava. Seria o sinal de uma conexão entre você e Voldemort.

 

- O senhor já tinha me falado isso, professor - disse Harry asperamente. Não se importou de ser rude. Nada mais tinha muita importância.

 

- Sim - disse Dumbledore justificativamente. - Sim, mas veja, é necessário começar pela sua cicatriz. Pois se tornou aparente, logo após você voltar ao mundo mágico, que eu estava correto e que sua cicatriz lhe enviava sinais quando Voldemort estava perto de você ou a emoção poderosa de outro sentimento.

 

- Eu sei - falou cansadamente Harry.

 

- E essa habilidade sua, detectar a presença de Voldemort mesmo disfarçado e saber o que ele está sentindo quando suas emoções estão exacerbadas, tornou-se mais e mais pronunciada desde que Voldemort retornou ao próprio corpo e aos seus poderes.

 

Harry nem se preocupou em dizer ou fazer nada. Ele já sabia de tudo isso.

 

- Mais recentemente - retomou Dumbledore - minha preocupação era de que Voldemort percebesse a existência dessa conexão entre vocês. Como previ, chegou a hora em que você entrou tão a fundo em sua mente e seus pensamentos que ele sentiu sua presença. Estou falando, é claro, da noite em que você testemunhou o ataque ao senhor Weasley.

 

- É, Snape falou comigo - resmungou Harry.

 

- Professor Snape, Harry - corrigiu Dumbledore serenamente. - Mas você não se perguntou por que não fui eu quem explicou isso a você? Por que eu não ensinei a você o encantamento da Oclumancia? Por que fiz pouco mais do que olhar para você por meses?

 

Harry olhou para cima. Agora via que Dumbledore parecia triste e cansado.

 

- Sim - murmurou Harry. - Eu  me perguntei.

 

- Veja - continuou Dumbledore -, acreditei que não demoraria muito até Voldemort tentar forçar uma entrada em sua mente, Harry, para manipular e confundir seus pensamentos, e certamente eu não estava ansioso por dar a ele maiores incentivos. Eu estava certo de que se ele percebesse que nosso relacionamento era, ou fora alguma vez, mais próximo do que o de professor e aluno ele agarraria a chance de usar você para espionar a mim. Eu temi pelo uso que ele faria de você, a possibilidade de ele tentar e possuir você. Harry, creio que eu estava certo em pensar que Voldemort usaria você dessa maneira. Nas raras ocasiões em que eu e você tivemos contato mais próximo pensei ter visto a sombra dele se agitar atrás dos seus olhos...

 

Harry se lembrou de ter sentido como se uma serpente adormecida crescesse nele, pronta para atacar, naquelas ocasiões em que seu olhar e o de Dumbledore se encontraram.

 

- O alvo de Voldemort ao possuir você, como ficou demonstrado esta noite, não seria a minha destruição. Seria a sua. Ele esperava, quando possuiu você rapidamente há pouco tempo atrás, que eu fosse sacrificar você na esperança de matá-lo. Portanto, você vê, eu vinha tentando, mantendo-me distante de você, protegê-lo Harry. O erro de um homem velho...

 

Ele suspirou profundamente. Harry deixava que as palavras simplesmente escorressem por ele. Teria estado muito interessado em saber de tudo isso há alguns meses mas agora era insignificante comparado ao vazio dentro dele que era a perda de Sirius; nada mais importava.

 

- Sirius me contou que você sentiu Voldemort acordar dentro de você na noite em que teve a visão do ataque a Arthur Weasley. Eu soube então que meus piores medos estavam corretos: Voldemort havia percebido que podia usar você. Numa tentativa de armar você contra os assaltos de Voldemort à sua mente, fiz os arranjos para que você tivesse as lições de Oclumancia com o professor Snape.

 

Ele fez uma pausa. Harry olhou a luz do sol que deslizava devagar cruzando a superfície polida da mesa de Dumbledore, iluminando um tinteiro e uma elegante pena escarlate. Harry percebeu que todos os retratos em volta deles estavam acordados e ouvindo extasiados a explicação de Dumbledore; ele podia ouvir o ruído ocasional das roupas, um limpar de garganta. Phineas Nigellus ainda não retornara...

 

- Professor Snape descobriu - retomou Dumbledore - que você sonhou com a porta do Departamento de Mistérios por meses. Voldemort, sem dúvida, esteve obcecado com a possibilidade de ouvir a profecia desde que recuperou seu corpo e, assim como ele, você tinha a porta em sua mente, embora não soubesse o que significava. E então você viu Rookwood, que trabalhava no Departamento de Mistérios antes de ser preso, contando a Voldemort o que nós sabíamos, que as profecias guardadas no Ministério da Magia estão fortemente protegidas. Apenas as pessoas a quem elas se referem podem ouvi-las sem ficarem loucas: neste caso ou Voldemort teria que ir ele mesmo ao Ministério, correndo o risco de se revelar, afinal, ou você teria que apanhar para ele. Tornou-se, assim, de grande e crescente importância que você dominasse o feitiço da Oclumancia.

 

- Mas eu não o fiz - disse Harry. Falou alto, para tentar aliviar o peso morto da culpa dentro dele: uma confissão certamente aliviaria um pouco da terrível pressão que espremia seu coração. - Eu não pratiquei, não me importei, eu poderia ter impedido a mim mesmo de continuar a ter aqueles sonhos, Hermione vivia me dizendo para fazê-lo, se eu nunca tivesse mostrado a mim mesmo aonde ir, e... Sirius não teria... Sirius não teria...

 

Algo irrompeu na cabeça de Harry: uma ânsia de se justificar, de explicar.

 

- Eu tentei me certificar de que ele realmente havia levado Sirius, fui à sala da Umbridge, falei com Kreacher na lareira e ele disse que Sirius não estava lá, disse que ele tinha saído!

 

- Kreacher mentiu - disse Dumbledore calmamente. - Você não é mestre dele, ele poderia mentir a você sem nem mesmo ter que se punir. Ele tinha intenção de fazer você ir ao Ministério da Magia.

 

- Ele me mandou ir de propósito?

 

- Oh, sim. Kreacher, temo que ele venha servindo a mais de um mestre há meses.

 

- Como? - disse Harry, debilmente. - Ele não sai de Grimmauld Place há anos.

 

- Kreacher teve sua oportunidade logo depois do Natal - disse Dumbledore -, quando Sirius, aparentemente, gritou a ele "vá embora". Ele pegou Sirius pela palavra e interpretou isso como uma ordem para deixar a casa. E se dirigiu ao único membro da família Black por quem ele ainda tinha algum respeito... A prima Narcissa, irmã de Bellatrix e esposa de Lúcio Malfoy.

 

- Como você sabe de tudo isso? - perguntou Harry. Seu coração estava batendo muito depressa. Ele se sentia mal. Lembrou de sua preocupação com a esquisita ausência de Kreacher no Natal, lembrou de ele voltando outra vez no sótão.

 

- Kreacher me contou ontem à noite - disse Dumbledore. - Veja, quando você deu ao professor Snape aquele aviso oculto ele percebeu que você tivera uma visão de Sirius amarrado no Departamento de Mistérios. Ele, assim como você, tentou contato com Sirius. Eu devo explicar que os membros da Ordem da Fênix têm métodos de comunicação mais confiáveis que o fogo na sala de Dolores Umbridge. Professor Snape descobriu que Sirius estava vivo e seguro em Grimmauld Place. Quando, no entanto, você não voltou da sua ida à floresta com Dolores Umbridge, professor Snape viu crescer sua preocupação: você ainda acreditava que Sirius era prisioneiro de Lord Voldemort. Então alertou imediatamente alguns membros da Ordem.

 

Dumbledore deu um enorme suspiro e continuou.

 

- Alastor Moody, Nymphadora Tonks, Kingsley Shacklebolt e Remo Lupin estavam no quartel-general quando ele fez contato. Todos concordaram em ir a seu auxílio imediatamente. Professor Snape pediu a Sirius para ficar, era necessário que alguém permanecesse para me contar o que havia acontecido, já que eu chegaria em breve. Nesse meio tempo ele, Professor Snape, pretendia ir à floresta procurar você. Mas Sirius não desejaria ficar para trás enquanto outros iam à sua procura, Harry. Ele delegou a Kreacher a tarefa de me contar o que havia acontecido. E foi assim que, quando cheguei em Grimmauld Place logo em seguida à saída de todos rumo ao Ministério, foi o elfo quem me disse, rindo até quase estourar, onde Sirius havia ido.

 

- Ele estava rindo? - disse Harry numa voz oca.

 

- Oh, sim - respondeu Dumbledore. - Veja Harry, Kreacher não poderia nos trair totalmente. Ele não é um Guardião Secreto da Ordem, não poderia dar aos Malfoy nossa localização ou contar a eles qualquer um dos planos confidenciais os quais tenha sido proibido de revelar. Ele estava obrigado por encantamentos da sua raça, o que significa dizer que ele não poderia desobedecer a uma ordem direta do seu mestre Sirius. Mas ele deu a Narcissa informações que se tornaram muito valiosas para Voldemort, embora possam ter parecido muito triviais para Sirius sequer pensar em proibir Kreacher de repetir.

 

- Como o quê?

 

- Como o fato de que a pessoa com quem Sirius mais se importava no mundo era você - disse Dumbledore serenamente. - Como o fato de você estimar e respeitar Sirius como uma mistura de pai e irmão. Voldemort já sabia, evidentemente, que Sirius era membro da Ordem e que você sabia onde ele estava mas a informação de Kreacher fez com que percebesse que a única pessoa a qual você percorreria qualquer distância para salvar era Sirius Black.

 

Os lábios de Harry estavam frios e dormentes.

 

- Então... Quando perguntei a Kreacher se Sirius estava lá naquela noite...

 

- Os Malfoy, sem dúvida instruídos por Voldemort, disseram a ele para encontrar uma maneira de manter Sirius fora do caminho uma vez que você tivesse a visão dele sendo torturado. Assim, se você decidisse verificar se Sirius estava ou não em casa Kreacher poderia fingir que não. Kreacher feriu o hipogrifo ontem e, quando você fez sua aparição no fogo, Sirius estava lá em cima cuidando dele.

 

Harry sentia seus pulmões praticamente sem ar; sua respiração era breve e superficial.

 

- E Kreacher contou a você tudo isso... E riu?

 

- Ele não queria me contar - explicou Dumbledore. - Mas sou suficientemente aperfeiçoado na magia de Legilimens para saber quando estou sendo enganado e o persuadi a me contar toda a história antes que eu fosse ao Departamento de Mistérios.

 

- E - sussurrou Harry, sentindo as mãos cerradas e geladas sobre os joelhos - Hermione nos dizendo para tratá-lo bem...

 

- Ela estava quase certa, Harry. Eu avisei a Sirius quando adotamos o número 12 da Grimmauld Place como nosso quartel-general que Kreacher devia ser tratado com bondade e respeito. Também disse a ele que Kreacher poderia se tornar perigoso para nós. Não creio que Sirius tenha me levado muito a sério ou que ele alguma vez tenha olhado Kreacher como sendo um ser com sentimentos tão profundos quando os humanos.

 

- Não o culpe... Não fale... Dele... De Sirius... Assim - Harry mal respirava, não conseguia expressar as palavras mas a raiva que estava acalmada por um instante ressurgiu dentro dele: não deixaria Dumbledore criticar Sirius. - Kreacher é um mentiroso, um tolo... Ele mereceu.

 

- Kreacher é o que os bruxos fizeram dele, Harry. Sim, ele é digno de nossa piedade. A existência dele tem sido tão miserável quanto a do seu amigo Dobby. Kreacher era obrigado a obedecer a Sirius por ele ser o último da família à qual estava escravizado, não havia lealdade verdadeira. E qualquer que tenha sido a culpa de Kreacher devemos admitir que Sirius nada fez para tornar seu destino mais fácil...

 

- NÃO FALE DE SIRIUS DESSE JEITO! - berrou Harry.

 

Ele estava em pé novamente, furioso, pronto para voar sobre Dumbledore, que realmente não tinha entendido Sirius, quão bravo ele era, o quanto ele sofrera...

 

- E o que me diz de Snape? - Harry cuspiu. - Sobre ele nada é falado, não é? Quando eu disse a ele que Voldemort tinha Sirius ele zombou de mim como sempre.

 

- Harry, você sabe que o professor Snape não tinha outra opção a não ser fingir para Dolores Umbridge que não tinha levado você a sério - disse Dumbledore com firmeza - mas, como já expliquei, ele informou à Ordem assim que pôde sobre o que você havia dito. Foi ele quem deduziu onde você tinha ido quando você não voltou da Floresta. Foi ele, também, quem deu Veritasserum falso à professora Umbridge quando ela tentava forçar você a contar a ela sobre Sirius.

 

Harry desconsiderou tudo isso; sentia um prazer selvagem em culpar Snape, parecia acalmar seu próprio senso tenebroso de culpa e queria ouvir Dumbledore concordar com ele.

 

- Snape... Snape pro... Provocou Sirius... Sobre ficar em casa... Fez parecer que Sirius era um covarde.

 

- Sirius era adulto e esperto o suficiente para permitir que zombarias tão fracas o atingissem.

 

- Snape parou de me dar as lições de Oclumancia! - Harry se embaraçou. - Ele me expulsou da sala dele!

 

- Estou ciente disso - respondeu Dumbledore com firmeza. - Eu já disse que foi um erro não o ensinar eu mesmo, embora eu estivesse certo, naquela ocasião, que nada poderia ser mais perigoso do que abrir sua mente para Voldemort em minha presença.

 

- Snape tornou ainda pior, minha cicatriz sempre doeu mais depois das lições com ele - Harry lembrou que Rony pensava sobre isso - e como você sabe que ele não estava tentando me amaciar para Voldemort, tornando mais fácil para ele entrar em minha...

 

- Eu confio em Severo Snape - disse Dumbledore simplesmente. - Mas eu esqueci, outro engano de um homem velho, que certas feridas são muito profundas para serem curadas. Eu acreditava que o professor Snape pudesse superar os sentimentos dele a respeito de seu pai, Harry. Eu estava errado.

 

- Mas tudo bem, não é? - gritou Harry, ignorando os rostos escandalizados e os murmúrios de desaprovação dos retratos nas paredes. - Tudo bem que Snape odeie meu pai mas não que Sirius odeie Kreacher?

 

- Sirius não odiava Kreacher - afirmou Dumbledore. - Ele o considerava um serviçal sem muito interesse ou valor. Indiferença e negligência são muitas vezes mais prejudiciais do que a antipatia direta... A fonte que destruímos esta noite disse uma mentira. Nós, bruxos, temos maltratado e abusado de nossos companheiros por muito tempo e agora estamos tendo nossa retribuição.

 

- ENTÃO SIRIUS TEVE O QUE MERECEU, É? - gritou Harry.

 

- Eu não disse absolutamente isso nem você jamais me ouvirá dizer tal coisa - replicou Dumbledore suavemente. - Sirius não era um homem cruel, era gentil com os da casa, com elfos em geral. Ele não tinha amor por Kreacher porque Kreacher era a lembrança viva do lar que Sirius havia odiado.

 

- É, ele realmente odiou - disse Harry, a voz como um chicote, virando às costas para Dumbledore. O sol brilhava dentro da sala e os olhos de todos os retratos o seguiram enquanto ele caminhava, sem se dar conta do que fazia, sem enxergar a sala. - Você o fez ficar trancado naquela casa e ele odiou, era por isso que ele queria sair na última noite...

 

- Eu estava tentando manter Sirius vivo - respondeu Dumbledore serenamente.

 

- As pessoas não gostam de ser trancadas! - disse Harry em fúria, andando em volta de Dumbledore. - Você fez isso comigo durante todo o ultimo verão!

 

Dumbledore fechou os olhos e cobriu o rosto com suas mãos de dedos finos e longos. Harry olhou para ele mas os sinais nada habituais de exaustão ou tristeza ou o que fosse de Dumbledore não o comoveram. Ao contrário, sentiu-se ainda mais irritado por Dumbledore estar mostrando sinais de fraqueza. Ele não tinha nada que ser fraco quando Harry estava enfurecido com ele.

 

O diretor baixou as mãos e olhou bem para Harry através das meia-luas dos óculos.

 

- Chegou a hora de eu dizer o que devia ter contado a você cinco anos atrás, Harry. Por favor, sente-se. Eu vou contar tudo. Peço apenas um pouquinho da sua paciência. Você terá a chance de se enfurecer comigo, de fazer o que quiser, quando eu terminar. Não vou impedi-lo.

 

Harry o olhou com fúria por um momento, então se atirou novamente na cadeira oposta à de Dumbledore e esperou.

 

Dumbledore encarou por um momento as faixas de terra iluminadas pelo sol do lado de fora, depois olhou novamente para Harry e disse:

 

- Cinco anos atrás você chegou a Hogwarts, Harry, seguro e intacto, como eu planejara e pretendera. Bem, não totalmente intacto. Você sofrera. Eu sabia que isso aconteceria quando deixei você na porta da casa de seus tios. Eu sabia que estava condenando você a dez anos escuros e difíceis.

 

Ele se calou. Harry nada disse.

 

- Você deve querer saber, com razão, por que tinha que ser assim. Por que alguma família bruxa não poderia ter adotado você? Muitas o teriam feito com mais do que boa-vontade, sentiriam-se honradas e felizes por criar você como um filho. Minha resposta é que minha prioridade era manter você vivo. Você correria mais perigo do que praticamente qualquer um mas eu percebi. Voldemort havia sido vencido horas antes mas seus apoiadores, e muitos são tão terríveis quanto o próprio Lord, ainda estavam por perto, zangados, desesperados e violentos. E eu tive que tomar minha decisão, também, levando em consideração os anos pela frente. Eu acreditava que Voldemort tinha ido embora para sempre? Não. Não sabia se seriam dez, vinte ou cinqüenta anos até ele retornar mas eu tinha certeza de que ele o faria e estava certo, também, por conhecê-lo bem, que ele não descansaria até matar você. Eu sabia que o conhecimento de mágica de Voldemort é, talvez, mais extenso do que o de qualquer bruxo vivo. Eu sabia que mesmo meus mais complexos e poderosos encantos e magias de defesa não seriam suficientes se ele retomasse seu poder plenamente. Mas eu sabia, também, onde Voldemort era fraco. Então tomei minha decisão. Você seria protegido por uma antiga magia que ele conhece, a qual despreza e que, conseqüente, sempre subestimou, e pagou o preço. Estou falando, certamente, do fato de sua mãe ter morrido para salvar você. Ela deu a você proteção duradoura como ele nunca imaginou, uma defesa que flui em suas veias até hoje. Eu então pus minha confiança no sangue de sua mãe. Entreguei você à irmã dela, sua única parenta viva.

 

- Ela não me ama - disse Harry de imediato. - Ela não se importa nem um pouco...

 

- Mas ela o recebeu - atravessou Dumbledore. - Ela pode ter ficado com você rancorosamente, enfurecida, amargamente e sem vontade mas ainda assim ela o recebeu. E fazendo isso selou o encanto que eu pus sobre você. O sacrifício de sua mãe fez dos laços de sangue o mais forte escudo que eu poderia ter dado a você.

 

- Eu ainda não...

 

- Enquanto você puder chamar de lar o lugar onde mora o sangue de sua mãe lá você não poderá ser alcançado ou ferido por Voldemort. Ela derramou seu sangue mas ele vive em você e na irmã dela, sua tia. O sangue dela se tornou seu refúgio. Você precisa voltar lá apenas uma vez por ano mas enquanto você puder chamá-lo de lar, enquanto estiver lá, ele não pode ferir você. Sua tia sabe. Eu expliquei o que havia feito na carta que deixei com você na porta da casa dela. Ela sabe que recebê-lo em casa pode muito bem tê-lo mantido vivo nos últimos quinze anos.

 

- Espere. Espere um momento.

 

Ele se sentou mais ereto na cadeira, encarando Dumbledore.

 

- Você mandou aquele Berrador. Você disse a ela que lembrasse, era sua voz...

 

- Imaginei - disse Dumbledore, inclinando levemente a cabeça - que ela precisasse se recordar do pacto que tinha selado ao aceitar você. Suspeito que o ataque dos dementadores a tenham despertado para os perigos de ter você como um filho-hóspede.

 

- Foi, sim - disse Harry serenamente. - Bem, mais ao meu tio do que a ela. Ele queria me chutar para fora mas depois do Berrador ela... Ela disse que eu tinha que ficar.

 

Ele encarou o chão por um momento, depois falou:

 

- Mas o que isso tem a ver com... - e não conseguiu dizer o nome de Sirius.

 

- Cinco anos atrás, então - continuou Dumbledore, ainda que não tivesse feito pausa em sua história - você chegou a Hogwarts, não tão feliz ou bem alimentado quanto eu desejaria, talvez, mas ainda assim vivo e saudável. Você não era um principezinho mimado mas um garoto tão normal quanto eu poderia esperar sob tais circunstâncias. Até então meu plano estava funcionando bem. E então... Bem, você vai lembrar dos acontecimentos no seu primeiro ano em Hogwarts tanto quanto eu. Você triunfou de forma magnífica sobre o desafio dirigido a você e em seguida, muito mais em seguida do que eu previra, achou-se frente a frente com Voldemort. E sobreviveu novamente. Fez mais. Você retardou o retorno dele à plenitude de sua força e poderes. Você travou o combate de um homem. Eu estava... Mais orgulhoso de você do que posso dizer. Contudo, havia uma falha neste meu plano maravilhoso. Uma falha óbvia que, eu sabia, poderia arruinar tudo. No entanto, sabendo quão importante era que meu plano prosseguisse, eu disse a mim mesmo que não permitiria que esta falha arruinasse tudo. Eu sozinho pude prever isso então eu sozinho seria ser forte. E aqui estava meu primeiro teste, enquanto você estava no hospital, fraco da luta contra Voldemort.

 

- Não entendo o que você está falando.

 

- Você lembra de ter perguntado a mim, enquanto estava no hospital, por que Voldemort havia tentado matá-lo enquanto você era um bebê?

 

Harry fez que sim com a cabeça.

 

- Deveria eu ter contado, então?

 

Harry fitou os olhos azuis e não disse nada mas seu coração estava batendo como que aos pulos novamente.

 

- Você ainda não vê qual era a fraqueza no plano? Não... Talvez não. Bem, como você sabe, eu decidi não responder a você. Onze anos, eu disse a mim mesmo, muito jovem para saber. Nunca tive a intenção de contar a você quando você tinha onze anos. O conhecimento poderia ser demasiado para tão tenra idade. Eu deveria ter percebido os sinais de perigo, então. Devia ter perguntado a mim mesmo por que eu não ficara mais perturbado pelo fato de você já ter feito a pergunta para a qual, eu sabia, um dia teria que dar uma resposta terrível. Eu devia ter percebido que estava muito feliz para pensar em não fazer isso naquele dia em particular... Você era muito jovem, muito, muito jovem. E então chegamos ao seu segundo ano em Hogwarts. E mais uma vez você enfrenta desafios jamais encarados mesmo por bruxos adultos; outra vez você se supera além dos meus sonhos mais selvagens. Entretanto, você não me perguntou novamente por que Voldemort deixou a marca em você. Falamos sobre sua cicatriz, oh sim... Chegamos perto, muito perto da questão. Por que não contei tudo a você... Bem, pareceu-me que doze anos eram, afinal, pouco melhor do que onze para receber tal informação. Permiti a você deixar minha presença ensangüentado, exausto mas regozijado e se senti alguma pontada de desconforto por, quem sabe, o dever de ter contado a você foi rapidamente silenciada. Você ainda era muito jovem, como vê, e não encontrei forças em mim para arruinar aquela noite de triunfo... Você percebe, Harry? Vê agora onde está a falha em meu plano? Tenho caído na armadilha que previ, que havia prometido a mim mesmo poder evitar.

 

- Eu não...

 

- Eu me importei muito com você - disse Dumbledore com simplicidade. - Me preocupei mais com a sua felicidade do que com o seu conhecimento da verdade, mais com sua paz de espírito do que com meu plano, mais com sua vida do que com as vidas que seriam certamente perdidas se o plano falhasse. Em outras palavras, agi exatamente como Voldemort espera que nós, os tolos que amam, ajam. Isso é uma defesa? Eu desafio qualquer um que tenha observado você como eu, e eu o tenho feito mais de perto do que você possa ter imaginado, a não querer salvá-lo de mais dor além daquelas que você já sofrera. Que me importava se pessoas e criaturas sem nome e sem rosto pudessem ser massacradas em um futuro incerto, se aqui e agora você estivesse vivo e bem e feliz? Eu nunca sequer sonhei que teria alguém assim nas mãos. Chegamos ao seu terceiro ano. Acompanhei à distância enquanto você lutava para repelir os dementadores, enquanto você encontrava Sirius, aprendia quem ele era e o salvava. Deveria eu ter contado a verdade a você quando triunfantemente libertou seu padrinho das garras do Ministério? Mas aos treze anos minhas desculpas estavam terminando. Você era jovem mas já havia provado que era excepcional. Minha consciência não estava à vontade, Harry. Eu sabia que a hora chegaria em breve... Mas você saiu do labirinto no último ano tendo visto Cedrico Diggory morrer, tendo escapado da morte quase certa... E não contei a você embora eu soubesse, agora que Voldemort retornara, que deveria fazer isso logo. E agora, esta noite, eu soube que você estava há muito preparado para o conhecimento do qual o mantive longe por tanto tempo, porque você provou que eu deveria ter lhe dado esta carga antes disso. Minha única defesa é essa: tenho visto você lutando sob mais aflições do que qualquer outro estudante que já tenha passado por esta escola e não seria eu a trazer a você mais uma aflição, a maior de todas.

 

Harry esperou mas Dumbledore não disse palavra alguma.

 

- Eu ainda não entendo.

 

- Voldemort tentou matá-lo quando você era um bebê por causa de uma profecia feita um pouco antes de você nascer. Ele sabia que ela existia embora não a conhecesse totalmente e partiu para matar você enquanto era um bebê, acreditando que estava cumprindo os termos da profecia. Ele descobriu, a duras penas, que estava enganado, quando o feitiço dirigido a você foi devolvido. E assim, desde o retorno ao seu corpo e particularmente desde que você escapou dele de maneira extraordinária no último ano, ele tem estado determinado em escutar a profecia na sua totalidade. Ela é a arma que ele vem procurando tão assiduamente desde sua volta: o conhecimento de como destruir você.

 

O sol tinha nascido totalmente agora: a sala de Dumbledore estava banhada em sua luz. O estojo de vidro no qual repousava a espada de Godric Gryffindor refulgia branco e fosco, os fragmentos dos instrumentos que Harry jogara ao chão cintilavam como gotas de chuva. Atrás dele a pequena Fawkes fazia leves gorjeios em seu ninho de cinzas.

 

- A profecia está destruída - disse Harry sem forças. - Eu e Neville estávamos na sala... Onde estava guardada... Eu mexi... E então caiu...

 

- O que se quebrou foi simplesmente o registro da profecia feita pelo Departamento de Mistérios. Mas a profecia foi proferida a alguém e esta pessoa tem os meios de recuperá-la perfeitamente.

 

- Quem a ouviu? - perguntou Harry, embora tivesse a sensação de já saber a resposta.

 

- Eu. Em uma noite úmida e fria há dezesseis anos atrás, numa sala sobre o bar na estalagem Hog's Head. Eu havia ido até lá para examinar uma candidata ao posto de professor de Adivinhação, embora fosse contra minha vontade permitir a continuação da disciplina. A postulante, entretanto, era a tataraneta de um bruxo muito famoso e poderoso e considerei que seria um gesto de cortesia encontrá-la. Fiquei desapontado. Pareceu-me que ela não tinha qualquer traço do dom mágico. Disse a ela, cortesmente, eu espero, que não a considerava apta.

 

Dumbledore se ergueu e caminhou para trás de Harry, até o armário preto ao lado do pilar dourado de Fawkes. Abriu-o, destravou um fecho e tirou de dentro a rasa bacia de pedra com signos mágicos entalhados nas bordas, na qual Harry tinha visto seu pai atormentando Snape. Dumbledore voltou para trás da mesa, colocou a penseira sobre ela e colocou a varinha em sua própria têmpora. Dali ele retirou pensamentos em finíssimos fios prateados agarrados à varinha e os depositou na bacia. Sentou-se novamente e por um momento observou seus pensamentos girando dentro da penseira. Então, com um suspiro, ergueu sua varinha e tocou a substância prateada com a ponta.

 

Ergueu-se uma figura envolta em véus, os olhos enormemente aumentados atrás dos óculos, e se virou lentamente, seus pés na bacia de pedra. Mas quando Sibila Trelawney falou não foi com sua voz etérea, mística e sim naquele tom rouco e áspero que Harry já a tinha visto usar uma vez:

 

- Aquele com o poder de vencer o Lord Negro se aproxima... Nascido daqueles que por três vezes o desafiaram, nascido ao fim do sétimo mês... E o Lorde Negro vai marcá-lo como seu igual mas ele terá um poder desconhecido pelo Lord Negro... E um deve morrer pelas mãos do outro porquanto nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... Aquele com o poder de vencer o Lord Negro se aproxima... Nascido daqueles que por três vezes o desafiaram, nascido ao fim do sétimo mês...

 

Girando lentamente, a professora Trelawney mergulhou de volta na massa prateada e desapareceu.

 

O silêncio no interior da sala era absoluto. Nem Dumbledore nem Harry e nenhum dos retratos fez qualquer manifestação. Até mesmo Fawkes se aquietou.

 

- Professor Dumbledore? - disse Harry suavemente pois Dumbledore, ainda olhando para a penseira, parecia completamente mergulhado em pensamentos. - Isso... Isso quer dizer... O que isso significa?

 

- Isto significa que a única pessoa que pode por bem vencer Lord Voldemort nasceu no final de julho, há quase dezesseis anos. Esse menino nasceria de pais que já tivessem enfrentado Voldemort três vezes.

 

Harry sentiu como se algum coisa estivesse se fechando sobre ele. Respirar parecia novamente muito difícil.

 

- Isso quer dizer... Eu?

 

Dumbledore o fitou por um instante através dos óculos.

 

- O mais estranho, Harry, é que poderia não ser você. A profecia de Sibila, na verdade, poderia ser aplicada a dois meninos bruxos, ambos nascidos no final de julho, ambos filhos de pais que eram membros da Ordem da Fênix e haviam escapado por pouco de Voldemort por três vezes. Um deles, obviamente, era você. O outro era Neville Longbottom.

 

- Mas então... Mas então, por que era o meu nome na profecia e não o de Neville?

 

- O registro oficial foi re-classificado depois que Voldemort o atacou ainda criança. Pareceu correto ao guardião do Salão da Profecia que Voldemort só poderia ter tentado matar você porque o reconheceu como aquele de quem falava a profecia de Sibila.

 

- Então, poderia não ser eu?

 

- Eu temo - disse Dumbledore lentamente, parecendo que cada palavra lhe custava um grande esforço - que não haja dúvidas. É você.

 

- Mas você disse... Neville também nasceu no final de julho... E seus pais...

 

- Você está esquecendo da próxima parte da profecia, a característica final para identificar o menino que poderia vencer Voldemort... O próprio Voldemort marcaria o menino como seu igual. E assim ele fez, Harry. Ele escolheu você, não Neville. Ele lhe deu a cicatriz que tem provado ser tanto uma benção quanto uma maldição.

 

- Mas ele pode ter escolhido errado! Ele pode ter marcado a pessoa errada!

 

- Ele escolheu o menino que parecia representar um perigo maior para ele. E perceba, Harry: ele escolheu não o sangue puro (o qual, de acordo com sua crença, é o único tipo de bruxo que deve existir), mas o sangue-ruim, como ele. Voldemort se viu em você antes mesmo de tê-lo visto e, marcando-o com essa cicatriz, ele não o matou, como pretendia, mas deu poderes a você e um futuro, o que você precisou para escapar dele não uma mas quatro vezes, algo que nem seus pais nem os pais de Neville nunca conseguiram.

 

- Mas então por que ele fez isso? - disse Harry, sentindo uma dormência fria. - Por que ele tentou me matar ainda bebê? Ele poderia ter esperado para ver entre eu e Neville quem pareceria mais perigoso quando fôssemos mais velhos e então tentar matar quem quer que fosse...

 

- Este, certamente, teria sido o caminho mais prático, exceto que a informação de Voldemort acerca da profecia estava incompleta. O Hog's Head, que Sibila preferia por ser barato, há muito atraía, deve-se dizer, uma clientela muito mais interessante que o Três Vassouras. Como você e seus amigos descobriram, para o desgosto de vocês e eu para o meu naquela noite, é um lugar onde jamais é seguro supor que você não está sendo escutado. É claro que eu nem sonhava, quando saí para encontrar Sibila Trelawney, que ouviria algo tão valioso. A minha, nossa, porção de boa sorte foi o intruso ter sido percebido logo no início da profecia e colocado para fora do lugar.

 

- Então ele ouviu apenas...?

 

- Ele escutou apenas o início, a parte anunciando o nascimento de um menino em julho de pais que haviam desafiado Voldemort por três vezes. Conseqüentemente, ele não pôde avisar ao seu mestre que atacar você seria arriscar transferir poderes para você e marcá-lo como um igual. Assim, Voldemort nunca soube que poderia haver perigo em atacar você, que seria melhor esperar, aprender mais. Ele não sabia que você poderia ter poder que o Lord Negro desconhece.

 

- Mas eu não tenho! - disse Harry com um fiapo de voz. - Não tenho nenhum poder que ele não tenha, não poderia lutar como ele lutou esta noite, não posso possuir pessoas ou... Matá-las...

 

- Há uma sala no Departamento de Mistérios - interrompeu Dumbledore -, ela é mantida constantemente trancada. Contém uma força que é a um só tempo mais maravilhosa e mais terrível do que a morte, do que a inteligência humana, do que as forças da natureza. É também, talvez, o mais misterioso dos inúmeros assuntos para estudo que vivem ali. É o poder que habita aquela sala o que você tem em tamanha quantidade e o qual Voldemort não possui em absoluto. Foi esse poder que o levou a socorrer Sirius esta noite. Este poder também salvou você de ser possuído por Voldemort, porque ele não toleraria permanecer em um corpo tão cheio da força que detesta e despreza. Afinal, não importou que você não pudesse manter sua mente fechada. Foi seu coração que o salvou.

 

Harry fechou os olhos. Se não tivesse ido salvar Sirius, Sirius não teria morrido... Mais para retardar o momento em que teria que pensar em Sirius novamente, Harry perguntou, sem ligar muito para a  resposta:

 

- O final da profecia... Era algo sobre... Nenhum poderá viver...

 

- ...enquanto o outro sobreviver - completou Dumbledore.

 

- Então - disse Harry, escolhendo as palavras no que sentia ser uma porção de desespero dentro dele -, então isso significa que... Que um de nós tem que matar o outro... No fim?

 

- Sim.

 

Por muito tempo nenhum deles falou. Em algum lugar muito além das paredes da sala Harry podia ouvir o som de vozes, estudantes descendo para o café da manhã, talvez. Parecia impossível haver pessoas no mundo que ainda desejassem comida, que rissem, que sequer tivessem conhecido Sirius Black ou soubessem que ele se fora para sempre. Sirius parecia estar já a um milhão de milhas; mesmo agora uma parte de Harry ainda acreditava que se ele apenas tivesse puxado o véu teria encontrado Sirius olhando para ele, saudando-o, talvez com sua risada semelhante a um latido...

 

- Sinto que lhe devo outra explicação, Harry - acrescentou Dumbledore, hesitante. - Você talvez tenha se perguntado por que nunca o escolhi como monitor? Devo confessar... Você tinha responsabilidades demais para isso.

 

Harry olhou para ele e viu uma lágrima caindo pelo rosto de Dumbledore, indo se perder em sua longa barba prateada.

 

 

A SEGUNDA GUERRA COMEÇA

"AQUELE-QUE-NÃO-DEVE-SER-NOMEADO RETORNA

Numa breve declaração na sexta-feira à noite o Ministro da Magia, Cornélio Fudge, confirmou que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado retornou a este país e está novamente na ativa.

 

'É com grande pesar que eu venho confirmar que o bruxo que se autodenomina Lord... Bem, vocês sabem de quem eu estou falando... Está vivo e entre nós novamente', disse Fudge, parecendo cansado e confuso enquanto falava com os repórteres. 'É quase com o mesmo pesar que eu comunico a revolta em massa dos dementadores de Azkaban, que decidiram não mais continuar a serviço do Ministério. Nós acreditamos que os dementadores estão agora sob comando de Lord... Você-Sabe. Nós pedimos encarecidamente que toda a toda população mágica se mantenha vigilante. O Ministério está, no momento, publicando guias básicos de defesa pessoal e defesa da casa que serão entregues gratuitamente em todas as casas de bruxos durante esse mês.'

 

O depoimento do Ministro foi visto com medo e alarme pela comunidade mágica que recentemente - na última quarta-feira - recebeu afirmações do Ministério de que 'não são verdadeiros os rumores persistentes de que Você-Sabe-Quem está operando entre nós novamente'.

 

Os detalhes do evento que levaram o Ministério a mudar de opinião ainda estão confusos, embora se acredite que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado e um seleto grupo de seguidores (conhecidos como Comensais da Morte) conseguiram entrar no próprio Ministério da Magia quinta-feira à noite.

 

Alvo Dumbledore, recentemente renomeado diretor da Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts, renomeado membro da Confederação Internacional de Bruxos e Bruxo Chefe Cacique Supremo da Confederação Internacional de Bruxos, esteve indisponível para comentários até o momento. Ele insistiu durante o último ano que Você-Sabe-Quem não estava morto como se acreditava mas sim recrutando seguidores novamente para mais uma tentativa de conquistar o poder. Enquanto isso, o Menino Que Sobreviveu..."

 

- É isso aí, Harry, eu sabia que eles iam meter você no meio disso de algum jeito - disse Hermione, olhando-o por sobre o jornal.

 

Estavam na ala hospitalar. Harry estava sentado na ponta da cama de Rony e estavam ouvindo Hermione ler a primeira página do Profeta Diário. Gina, cujo tornozelo tinha sido colocado numa tipóia por Madame Pomfrey, estava curvada ao pé da cama de Hermione; Neville, cujo nariz também tinha retornado ao seu tamanho e forma normais, estava numa cadeira entre as duas camas; e Luna, que tinha aparecido para uma visita, segurava a última edição do The Quibbler, estava lendo a revista de ponta-cabeça e aparentemente não ouvia uma só palavra do que Hermione dizia.

 

- Então agora ele voltou a ser o "Menino Que Sobreviveu", né? - disse o Rony ironicamente. - Não é mais o doido metido?

 

Ele encheu a mão com os sapos de chocolate que estavam numa imensa pilha em seu criado-mudo, jogou alguns para o Harry, Gina e Neville e rasgou com os dentes o pacote do seu. Ainda existiam marcas profundas em seus antebraços, onde os tentáculos dos cérebros haviam se enrolado. De acordo com Madame Pomfrey, pensamentos podiam deixar cicatrizes mais profundas do que qualquer outra coisa, mesmo que parecesse ter havido alguma melhora desde que ela havia começado a aplicar doses de Dr. Ubbly's Oblivious Unction.

 

- Sim, eles são muito lisonjeiros sobre você agora, Harry - disse Hermione, dando uma olhada no artigo. - "A voz solitária da verdade... Perseguido como desequilibrado mas sem nunca hesitar em sua história... Forçado a agüentar calúnias e ridicularizações..." Hmm - disse franzindo a sobrancelha. - Eu notei que eles não mencionaram o fato de que foram eles que fizeram todas essas calúnias e ridicularizações no Profeta...

 

Ela recuou levemente e colocou as mãos em suas costelas. O feitiço que Dolohov tinha usado nela, mesmo que menos efetivo do que se tivesse dito em voz alta, tinha causado, mesmo assim, nas palavras de Madame Pomfrey, "danos o bastante". Hermione, que tinha que tomar dez tipos diferentes de poção todo dia, estava melhorando muito e já estava entediada com a ala hospitalar.

 

- A Última Tentativa De Dominação Do Você-Sabe-Quem, páginas 2 a 4, O Que O Ministério Devia Ter Nos Dito, página 5, Por Que Ninguém Deu Ouvidos ao Alvo Dumbledore, páginas 6 a 8, Entrevista Exclusiva com Harry Potter, página 9... Bem - disse Hermione, dobrando o jornal e colocando-o de lado -, isso certamente deu a eles muito que escrever. E essa entrevista com Harry não é exclusiva, é a que saiu no Te Quibbler meses atrás...

 

- Papai vendeu a eles - disse Luna de maneira vaga, virando a página do The Quibbler. - Ele conseguiu um ótimo preço por ela, aliás... Então nós vamos embarcar numa expedição para Suécia nesse verão para tentar pegar um Crumple-Horned-Snorkack.

 

Hermione pareceu lutar consigo mesma por um momento, então ela disse.

 

- Isso parece ótimo.

 

Gina cruzou seu olhar com o de Harry mas desviou rapidamente, rindo.

 

- Então, de qualquer forma - disse Hermione, sentando-se um pouco mais ereta e recuando novamente -, o que está acontecendo na escola?

 

- Bom, Flitwick se livrou do pântano do Fred e do Jorge - disse Gina. - Ele limpou tudo em menos de três segundos. Mas deixou um pouco debaixo da janela, em destaque...

 

- Por quê? - perguntou Hermione, parecendo surpresa.

 

- Ah, ele só disse que foi mágica muito bem feita - disse Gina, encolhendo os ombros.

 

- Eu acho que ele deixou lá como um monumento ao Fred e ao Jorge - disse Rony com a boca cheia de chocolate. - Eles me mandaram todos esses, sabe? - disse a Harry, apontando para a pequena pilha de sapos ao seu lado. - Eles devem estar se dando bem com aquela loja de logros, né?

 

Hermione, com um tom de desaprovação, perguntou.

 

- Então os problemas acabaram agora que Dumbledore está de volta?

 

- Sim - disse Neville -, tudo está de volta ao normal.

 

- Eu suponho que Filch está feliz, não? - perguntou Rony, apoiando na sua jarra de água uma figurinha dos Sapos de Chocolate mostrando Dumbledore.

 

- De jeito nenhum - disse Gina. - Ele está muito, muito deprimido, na verdade... - diminuiu sua voz a um suspiro. - Ele fica dizendo que Umbridge foi a melhor coisa que já aconteceu para Hogwarts...

 

Todos olharam em volta. A professora Umbridge estava deitada numa cama do lado oposto da sala, olhando fixamente para o teto. Dumbledore foi sozinho até a Floresta para resgatá-la dos centauros; como ele tinha feito isso - como tinha saído do meio das árvores carregando a professora Umbridge sem nenhum arranhão - ninguém sabia e Umbridge certamente não diria. Desde de que voltara ao castelo ainda não tinha pronunciado uma palavra sequer, ao menos não que algum deles soubesse. Ninguém sabia, tampouco, o que estava errado com ela. Seu cabelo, de um castanho acinzentado e normalmente organizado, estava desarrumado e ainda havia pequenos ramos e folhas nele mas fora isso ela parecia estar ilesa.

 

- Madame Pomfrey diz que ela está apenas em choque - cochichou Hermione.

 

- Parece que está de mau humor, isso sim - disse Gina.

 

- É, ela mostra sinais de vida se você fizer isso - disse Rony, e com a língua fez um som de trote. Umbridge se levantou de repente, ereta e alarmada, olhando ao redor desordenadamente.

 

- Algo errado, professora? - perguntou Madame Pomfrey, colocando a cabeça para fora de seu escritório.

 

- Não... Não... - disse Umbridge, afundando novamente em seus travesseiros. - Não, eu devo estar sonhando...

 

Hermione e Gina abafaram o som de suas risadas nos lençóis.

 

- Falando em centauros - disse Hermione, parando de rir - quem vai ser nosso professor de Adivinhação agora? Firenze vai continuar aqui?

 

- Ele tem que continuar - disse Harry -, os outros centauros não vão aceitá-lo de volta.

 

- Parece que os dois, ele e Trelawney, vão dar aula - disse Gina.

 

- Aposto que o Dumbledore queria ter se livrado da Trelawney de vez - disse Rony, mastigando seu décimo quarto Sapo. - Se você quiser saber, a matéria toda é inútil pra mim, Firenze não é muito melhor...

 

- Como você pode dizer isso? - Hermione reclamou. - Depois que nós acabamos de descobrir que existem profecias de verdade?

 

O coração de Harry começou a acelerar. Ele não tinha contado nem a Rony nem a Hermione nem a qualquer outra pessoa qual era a profecia. Neville contou a todos que ela tinha se quebrado enquanto Harry o puxava pra cima na escada da Sala da Morte e Harry ainda não tinha corrigido essa impressão. Ele não estava pronto pra ver a expressão de seus amigos quando lhes contasse que ele tinha de ser ou assassino ou vítima, não havia outra maneira...

 

- É uma pena que quebrou - disse Hermione serenamente, balançando a cabeça.

 

- É, que pena - disse Rony. - Pelo menos Você-Sabe-Quem também nunca descobriu o que era, aonde você vai? - ele continuou, parecendo surpreso e desapontado ao ver Harry se levantar.

 

- Eh... Hagrid - disse Harry. - Você sabe, ele acabou de voltar e eu prometi que ia lá vê-lo e contar como vocês estavam.

 

- Ah, então tudo bem - disse Rony irritado, olhando pela janela do dormitório para um pedaço de céu azul e brilhante do lado de fora. - Queria que também pudéssemos ir.

 

- Diga oi pra ele por nós! - pediu Hermione enquanto Harry caminhava em direção à porta. - E pergunte a ele como está o seu... O seu amiguinho!

 

Harry acenou para mostrar que tinha ouvido e entendido enquanto saía da sala.

 

O castelo estava muito silencioso, mesmo para um domingo. Todos estavam, com certeza, do lado de fora, nos campos ensolarados, aproveitando o fim das suas provas e o fato de terem alguns últimos dias do ano letivo livre de lições de casa ou revisões. Harry andou lentamente pelo corredor deserto, observando através das janelas pelas quais passava; via pessoas voando despreocupadas pelo campo de quadribol e alguns alunos nadando no lago, acompanhados pela lula gigante.

 

Estava achando difícil decidir se queria ficar com as pessoas ou não; quando estava com outras pessoas queria ficar só mas quando estava sozinho queria a companhia de outras pessoas. Mas pensou em realmente ir visitar Hagrid, afinal Harry ainda não havia conversado com ele desde que tinha voltado...

 

Harry tinha acabado de descer o último degrau da escada de mármore em direção ao Saguão de Entrada quando Malfoy, Crabbe e Goyle saíram de uma porta à direita que Harry sabia que dava na sala comunal da Sonserina. Harry parou abruptamente; o mesmo fez Malfoy e os outros dois. Os únicos sons eram os gritos, risadas e o som de água vindos dos campos que invadiam o local pelas portas de entrada que estavam abertas.

 

Malfoy olhou ao redor - Harry sabia que ele estava procurando por sinais de professores - então olhou novamente para Harry e disse num tom baixo.

 

- Você está morto, Potter.

 

Harry levantou as sobrancelhas.

 

- Engraçado - disse ele -, você pensar que eu ia parar de andar por aí...

 

Malfoy parecia mais brabo do que Harry jamais o vira; sentiu uma certa satisfação ao ver sua fronte pálida e pontuda contorcida de raiva.

 

- Você vai pagar - disse Malfoy, num tom não muito mais alto do que um sussurro. - Eu vou fazer você pagar pelo que você fez com meu pai...

 

- É, agora eu estou com medo - disse Harry, de modo sarcástico. - Eu suponho que Lord Voldemort seja só um aquecimento comparado a vocês três, qual o problema? - continuou, pois Malfoy, Crabbe e Goyle pareciam chocados ao ouvirem aquele nome. - Ele é um amigo do seu pai, não é? Você não está com medo dele, está?

 

- Você se acha tão corajoso, Potter - disse Malfoy, começando a avançar com Crabbe e Goyle na retaguarda. - Pode esperar. Eu vou te pegar. Você não pode colocar meu pai na prisão...

 

- Eu achei que eu tinha acabado de fazer isso.

 

- Os dementadores deixaram Azkaban - disse Malfoy calmamente. - Meu pai e os outros estarão livres mais cedo do que você imagina...

 

- É, eu espero que sim. Pelo menos todos já sabem a escória que eles são...

 

A mão de Malfoy voou em direção à sua varinha mas Harry foi muito rápido para ele; tinha pegado sua varinha antes mesmo que Malfoy pudesse alcançar seus bolsos.

 

- Potter!

 

A voz soou através do Saguão de Entrada. Snape acabara de subir a escada que dava no seu escritório nas masmorras e ao vê-lo Harry sentiu uma fagulha de ódio mais forte do que qualquer coisa que sentia por Malfoy... Não importava o que Dumbledore dissesse, nunca perdoaria Snape... Nunca...

 

- O que você está fazendo, Potter? - perguntou Snape, frio como sempre, enquanto caminhava em direção aos quatro garotos.

 

- Estou tentando decidir que feitiço usar contra Malfoy, senhor - disse Harry ferozmente.

 

Snape o encarou.

 

- Guarde essa varinha agora - disse secamente. - Dez pontos para Grifi...

 

Snape olhou para as ampulhetas gigantes na parede e deu um sorriso desprezível.

 

- Bem, eu vejo que não há mais pontos para serem retirados da ampulheta da Grifinória. Nesse caso, Potter, nós simplesmente teremos que...

 

- Adicionar mais alguns?

 

Professora Minerva acabara de subir, com certa dificuldade, os degraus do castelo, carregava uma bolsa de viagem xadrez numa mão e se apoiava pesadamente numa bengala com a outra, fora isso parecia muito bem.

 

- Professora McGonagall! - disse Snape, indo em sua direção. - Eu vejo que saiu do St. Mungus...

 

- Sim, professor Snape - disse Professora a Minerva, contorcendo-se para tirar a capa de viagem. - Estou praticamente como nova. Vocês dois, Crabbe, Goyle...

 

Ela chamou os dois de forma imperativa e eles vieram arrastando os pés, desajeitados.

 

- Aqui - disse a professora, jogando sua mala de viagem no peito de Crabbe e sua capa sobre Goyle -, levem isso para meu escritório para mim.

 

Eles se viraram e subiram as escadas de mármore a passos pesados.

 

- Certo - disse a professora Minerva, olhando para as ampulhetas na parede. - Bom, eu acho que Potter e seus amigos devem receber cinqüenta pontos cada por alertarem o mundo sobre a volta de Você-Sabe-Quem! O que você acha, professor Snape?

 

- O quê? - disse Snape, tentando disfarçar mas Harry sabia que ele tinha ouvido perfeitamente. - Ah, bem... Eu creio...

 

- Então temos cinqüenta pra cada um, Potter, os dois Weasley, Longbottom e a srta. Granger - disse a professora Minerva e uma chuva de rubis caiu na metade de baixo da ampulheta da Grifinória enquanto ela falava. - Ah, e cinqüenta para a Srta. Lovegood, eu suponho - continuou e um certo número de safiras caiu na ampulheta da Corvinal. - Agora eu acho que você queria tirar dez pontos Sr. Potter, professor Snape... Então, aí está...

 

 Alguns rubis voltaram para a parte de cima, mantendo, mesmo assim, uma quantidade generosa na parte inferior.

 

- Bem, Potter, Malfoy, eu acredito que vocês deveriam estar lá fora num dia maravilhoso como esse - a professora Minerva terminou rapidamente.

 

Harry não precisou ouvir duas vezes; enfiou sua varinha de volta no bolso e se direcionou para a porta de entrada sem olhar pra trás.

 

O sol quente o atingiu como uma rajada enquanto atravessava o gramado em direção à cabina de Hagrid. Alunos deitados à sua volta, na grama, tomando sol, conversando, lendo o Profeta Diário e comendo doces, olhavam pra ele enquanto passava; alguns o chamavam ou acenavam, claramente tentando mostrar que eles, assim como o Profeta, tinham decidido que ele era um herói. Harry não disse nada a nenhum deles. Ele não fazia idéia do quanto sabiam sobre o que acontecera três dias antes mas ele, até agora, tinha tentado evitar ser questionado e continuaria a fazê-lo.

 

Achou que Hagrid não estava quando bateu na porta da cabana pela primeira vez mas então Canino veio correndo pela lateral e quase o derrubou, tão grande era seu entusiasmo com a chegada do garoto. Hagrid transpirava - estava pegando feijões corredores no jardim que ficava atrás de sua cabana.

 

- Tudo certo, Harry? - disse ele, brilhando, quando Harry se aproximou da cerca. - Entre, entre, vamos tomar um suco de ervas... Como estão as coisas? - Hagrid perguntou, enquanto sentavam à mesa de madeira, cada um com um copo de suco gelado. - Você... Hum... Está bem?

 

Harry sabia pelo olhar de preocupação na cara de Hagrid que não estava se referindo ao seu bem estar físico.

 

- Estou bem - disse Harry rapidamente, porque sabia o que passava pela cabeça de Hagrid e não ia agüentar falar sobre isso. - Então, por onde você tem andado?

 

- Estive me escondendo nas montanhas. Numa caverna, como Sirius fez quando ele...

 

Hagrid parou, limpou sua garganta de forma grosseira, olhou para Harry e tomou um longo gole de suco.

 

- De qualquer forma, estou de volta - disse, com a voz fraca.

 

- Você... Você parece melhor - disse Harry, determinado a manter a conversa longe de Sirius.

 

- O quê? - disse Hagrid, levantando sua mão pesada e sentindo sua face. - Ah... Ah é. Bem, Grawp está se comportando bem melhor agora, bem melhor. Na verdade ele pareceu muito feliz em me ver quando eu voltei. Ele é mesmo um bom rapaz... De fato, eu estive pensando em arrumar uma amiga pra ele...

 

Normalmente Harry teria tentado persuadir Hagrid a tirar essa idéia da cabeça; a idéia de um segundo gigante tendo a Floresta como residência era definitivamente alarmante mas por algum motivo Harry não conseguia encontrar a energia necessária para argumentar seu ponto de vista. Começou a desejar estar sozinho de novo e pensando em acelerar sua partida, tomou longos goles de suco, esvaziando seu copo pela metade.

 

- Agora todo mundo sabe que você sempre contou a verdade, Harry - disse Hagrid, baixinho e inesperadamente. Estava olhando Harry com atenção. - Deve ser bem melhor, não?

 

Harry encolheu os ombros.

 

- Olha... - Hagrid se debruçou sobre a mesa na direção de Harry. - Eu conhecia Sirius há mais tempo do que você... Ele morreu na batalha e é dessa forma que gostaria de ter ido...

 

- Ele nem queria ter ido! - disse Harry com raiva.

 

Hagrid curvou sua grande cabeça desgrenhada.

 

- É acho que ele não queria mesmo - disse calmamente. - Mesmo assim, Harry... Ele nunca foi do tipo que fica parado em casa deixando que outras pessoas lutem. Ele não conseguiria viver consigo mesmo se não tivesse ido ajudar...

 

Harry se levantou num salto.

 

- Eu tenho que ir visitar Rony e Hermione na ala hospitalar - disse ele de forma mecânica.

 

- Ah - disse Hagrid, parecendo desapontado. - Ah... Tudo bem então, Harry... Se cuida e apareça por aqui se tiver temp...

 

- Tá... Tá...

 

Harry foi até porta o mais rápido que pôde e a abriu; estava do lado de fora, sob o sol, antes mesmo que Hagrid pudesse terminar de se despedir, foi andando pelo gramado. Mais uma vez as pessoas chamavam por ele enquanto passava. Fechou os olhos por algum tempo desejando que todos sumissem, que quando abrisse os olhos estivesse sozinho no gramado...

 

Alguns dias antes, antes das provas finais terem acabado e antes de ter a visão que Voldemort colocou em sua mente, teria dado quase tudo para que o mundo mágico soubesse que estava dizendo a verdade, que Voldemort estava de volta e que não era nem mentiroso nem louco. Agora, no entanto...

 

Andou um pouco na beira do lago, sentou-se à sua margem, protegido por arbustos dos olhares das pessoas que passavam, e observou a água resplandecente, pensando...

 

Talvez o motivo pelo qual queria ficar sozinho era que tinha se sentido isolado de todos desde a sua conversa com Dumbledore. Uma barreira invisível o separava do resto do mundo. Ele era - sempre tinha sido - um garoto marcado. Apenas nunca tinha entendido o que isso significava...

 

E mesmo sentado ali, à beira do lago com o peso terrível do sofrimento tomando conta dele, com a perda de Sirius tão próxima e crua dentro de si, ele não conseguia se mostrar amedrontado. Fazia sol e os campos ao seu redor estavam cheios de pessoas felizes e mesmo se sentindo tão distante dessas pessoas quanto se pertencesse a uma outra raça, era ainda muito difícil acreditar que sua vida devesse incluir ou terminar em assassinato...

 

Ficou sentado lá por muito tempo, encarando a água, tentando não pensar em seu padrinho ou lembrar que fora exatamente do outro lado, na margem oposta, onde Sirius havia caído tentando se defender de cem dementadores...

 

O sol já tinha desaparecido quando percebeu que estava com frio. Ele se levantou e voltou ao castelo, secando sua face na manga de suas vestes.

 

Rony e Hermione, completamente curados, deixaram a ala hospitalar três dias antes do final do ano. Hermione continuava a tentar falar sobre Sirius mas toda vez que mencionava seu nome Rony fazia "shh" pra que se calasse. Harry ainda não tinha certeza se queria falar sobre seu padrinho ou não; sua vontade dependia do seu humor. Mas uma coisa sabia: por mais infeliz que estivesse agora sentiria muita falta de Hogwarts em alguns dias, quando estaria de volta à rua dos Alfeneiros, 4. Mesmo que agora entendesse exatamente por que tinha que voltar para lá todo verão, não se sentia melhor em fazê-lo. Na verdade ele nunca havia temido o retorno tanto quanto agora.

 

A professora Umbridge deixou Hogwarts um dia antes do fim do ano. Aparentemente saiu mancando da ala hospitalar durante o jantar, evidentemente tentando partir sem que ninguém a notasse mas para a sua infelicidade encontrou Pirraça no meio do caminho e ele reconheceu essa como sua última chance de cumprir a ordem de Fred, perseguiu-a alegremente por todo o caminho, batendo em sua cabeça ora com uma bengala ora com uma meia cheia de giz. Muitos alunos correram para o Saguão de Entrada para ver a professora fugir e os diretores das casas tentavam barrá-los sem muito esforço. De fato, a professora Minerva afundou em sua cadeira, na mesa dos professores, depois de alguns protestos desanimados e expressou claramente seu arrependimento por não conseguir correr atrás de Umbridge também, visto que Pirraça pegara sua bengala emprestada.

 

A última noite dos alunos na escola chegou afinal; a maioria das pessoas já tinha terminado de fazer as malas e estavam descendo para o banquete de despedida de fim de ano mas Harry ainda nem começara.

 

- Faça isso amanhã! - disse Rony, que estava esperando na porta do quarto. - Vamos, eu estou faminto.

 

- Eu não vou demorar... Olha, vai na frente...

 

Mas quando a porta do dormitório se fechou atrás de Rony, Harry não se esforçou para arrumar as malas mais depressa. A última coisa que queria fazer era comparecer ao Banquete de Despedida. Estava preocupado que Dumbledore fizesse alguma referência a ele no seu discurso. Com certeza mencionaria o retorno de Voldemort; afinal ele havia falado sobre isso no ano anterior...

 

Harry tirou algumas vestes amarrotadas do fundo da mala para colocar as que estavam passadas e dobradas quando notou um pacote mal embrulhado num canto, no fundo. Não podia imaginar o que aquilo fazia ali. Ele se inclinou, pegou o pacote, que estava debaixo do seu tênis, e o examinou.

 

Percebeu o que era em questão de segundos. Sirius dera aquilo pra ele na porta da frente na rua Grimmauld, número 12. "Use se você precisar de mim, tá?"

 

Harry afundou em sua cama e desembrulhou o pacote. De dentro caiu um pequeno espelho quadrado. Parecia velho; com certeza estava sujo. Harry o levou à altura do rosto e viu seu reflexo.

 

Ele virou o espelho. O verso mostrava uma mensagem rabiscada por Sirius.

 

 

 

"Esse é um espelho de comunicação. Eu tenho o outro do par. Se você precisar falar comigo é só dizer meu nome pra ele; você vai aparecer no meu espelho e eu poderei falar no seu. Tiago e eu costumávamos usá-los quando estávamos em detenções separadas."

 

 

 

O coração de Harry disparou. Lembrou de quando viu seus falecidos pais no espelho de Ojesed, quatro anos antes. Ele poderia falar com Sirius novamente, agora, ele sabia...

 

Olhou ao redor pra ter certeza de que não havia mais ninguém ali; o quarto esta vazio. Voltou a encarar o espelho, levou-o à altura do rosto com suas mãos trêmulas e disse, alto e claro.

 

- Sirius.

 

Seu ar embaçou a superfície do vidro. Segurou o espelho ainda mais perto, transbordando de ansiedade, mas os olhos que piscavam pra ele através da bruma eram os seus, definitivamente.

 

Ele limpou o espelho e disse, de tal forma que cada sílaba soasse claramente por todo o quarto:

 

- Sirius Black!

 

Nada aconteceu. O rosto frustrado olhando pra ele do espelho era, com certeza, o seu próprio...

 

"Sirius não tinha seu espelho com ele quando passou pela passagem em arco", disse uma voz baixa na cabeça de Harry. "É por isso que não está funcionando..."

 

Harry ficou calado por um tempo então atirou o espelho de volta na mala, fazendo com que se quebrasse. Estivera convencido, por todo um maravilhoso minuto, de que veria Sirius, falaria com ele novamente...

 

A decepção queimava em sua garganta; levantou e começou a jogar suas coisas de qualquer jeito dentro da mala, sobre o espelho quebrado...

 

Mas então uma idéia veio à sua cabeça... Uma idéia melhor do que um espelho... Uma idéia muito maior, muito mais importante... Como ele nunca havia pensado nisso antes... Por que ele nunca havia pedido?

 

Ele saiu correndo pra fora do dormitório e desceu a escada em espiral batendo nas paredes sem notar, enquanto corria; atravessou a sala comunal vazia, passou pelo buraco do retrato e seguiu pelo corredor, ignorando a mulher gorda, que gritou para ele: "O banquete já vai começar, sabia? Você vai perder!"

 

Mas Harry não tinha a menor intenção de ir ao banquete...

 

Como era possível que o lugar estava sempre cheio de fantasmas quando você nunca precisava deles mas agora...

 

Desceu as escadas correndo e seguiu pelo corredor sem encontrar ninguém, nem vivo, nem morto. Estavam no Salão Principal, obviamente. Do lado de fora da sala de Feitiços ele parou, ofegando e desconsolado ao pensar que teria que esperar até mais tarde, até o fim do banquete...

 

Mas assim que ele havia desistido, viu alguém translúcido flutuando no final do corredor.

 

- Hey, hey , Nick! NICK!

 

O fantasma tirou sua cabeça da parede, revelando o extravagante chapéu emplumado e a cabeça, balançando perigosamente, de Sir Nicholas de Mimsy-Porpington.

 

- Boa noite - disse ele, recuando o resto do corpo da pedra sólida e sorrindo. - Então eu não sou o único a estar atrasado? Embora - suspirou - em um sentido muito diferente, é claro...

 

- Nick, posso te pedir uma coisa?

 

Uma expressão muito peculiar tomou conta do rosto de Nick Quase Sem Cabeça enquanto colocava o dedo morto no colarinho em seu pescoço e tentava deixá-lo mais reto com um tranco, aparentemente para ter mais tempo para pensar. Ele só desistiu quando seu pescoço parcialmente partido pareceu ceder completamente.

 

- Ahn, agora, Harry? - perguntou Nick, parecendo embaraçado. - Você não pode esperar até depois do banquete?

 

- Não, Nick... Por favor. Eu preciso muito falar com você. Podemos entrar aqui?

 

Harry abriu a porta da classe mais próxima e Nick Quase Sem Cabeça suspirou.

 

- Ah, está bem - disse ele, parecendo resignado. - Eu não posso fingir que não esperava por isso.

 

Harry segurou a porta aberta pra ele mas em vez disso passou pela parede.

 

- Esperando o quê? - Harry perguntou enquanto fechava a porta.

 

- Que você viesse me procurar - disse Nick, que agora flutuava ao lado da janela olhando os campos escuros do lado de fora. - Isso acontece, às vezes... Quando alguém sofre uma... Perda.

 

- Bem - disse Harry, recusando ser ignorado. - Você estava certo, eu vim... Eu vim te procurar.

 

Nick não disse nada.

 

- É que... - disse Harry, achando isso mais esquisito do que ele havia imaginado... - É só que... Você está morto. Mas você continua aqui, certo?

 

Nick suspirou e continuou a encarar os campos.

 

- É isso, não? - Harry o encorajou. - Você morreu mas eu estou falando com você... Você pode andar por Hogwarts e tudo mais, não é?

 

- É - disse Nick Quase Sem Cabeça calmamente. - Eu ando e falo, sim.

 

- Então você voltou, não foi? - disse Harry com urgência. - As pessoas podem voltar, não é? Como fantasmas. Eles não têm que desaparecer completamente. Então? - continuou impaciente quando Nick seguiu sem dizer uma palavra.

 

Nick Quase Sem Cabeça hesitou e então disse.

 

- Nem todo mundo pode voltar como um fantasma.

 

- O que você quer dizer? - perguntou Harry rapidamente.

 

- Só... Só bruxos.

 

- Ah - disse Harry e quase riu, aliviado. - Bom, então tudo bem, a pessoa de quem eu estou falando é um bruxo. Então ele pode voltar, certo?

 

Nick se desvencilhou da janela e olhou para Harry melancolicamente.

 

- Ele não vai voltar.

 

- Quem?

 

- Sirius Black.

 

- Mas você voltou - disse Harry, com raiva. - Você voltou. Você está morto e você não desapareceu...

 

- Bruxos podem deixar uma cópia deles mesmos na Terra para andar de forma tênue por onde andavam quando vivos - disse Nick, parecendo miserável. - Mas poucos bruxos escolhem esse caminho.

 

- Por quê? - Harry perguntou. - De qualquer forma, não importa, Sirius não vai se importar se é incomum, ele vai voltar, eu sei que vai!

 

Harry acreditava tão piamente nisso que chegou a virar sua cabeça para olhar a porta, certo por um segundo de que veria Sirius novamente, branco como uma pérola e transparente mas luminoso, andando em sua direção.

 

- Ele não vai voltar - Nick repetiu. - Ele terá... Seguido em frente.

 

- Como assim "seguido em frente"? - perguntou Harry, falando rápido. - Seguido pra onde? Olha, de qualquer forma, o que acontece quando você morre? Pra onde você vai? Por que não é todo mundo que volta? Por que esse lugar não está cheio de fantasmas? Por que...?

 

- Eu não posso responder.

 

- Você está morto, não está? - perguntou Harry, perdendo a paciência. - Quem pode responder melhor do que você?

 

- Eu estava com medo da morte - disse Nick, serenamente. - Eu escolhi ficar para trás. Às vezes imagino se eu não deveria... Bem, isso é meio relativo... Na verdade eu sou meio relativo... - ele deu uma risada breve e triste. - Eu não sei nada sobre os segredos da morte, Harry, pois ao invés dela eu escolhi a minha pobre imitação. Eu acredito que bruxos instruídos estudam esse assunto no Departamento de Mistérios...

 

- Não fale comigo sobre aquele lugar! - disse Harry ferozmente.

 

- Eu sinto muito por não poder ser de mais ajuda - disse Nick gentilmente. - Bem... Bem, me dê licença... O banquete, sabe...

 

E ele saiu da sala deixando Harry sozinho ali, sem expressão, encarando a parede pela qual Nick desaparecera.

 

Quando Harry perdeu a esperança de poder ver ou falar com Sirius novamente sentiu quase como se tivesse perdido seu padrinho outra vez. Voltou, devagar e miseravelmente, pelo castelo vazio, imaginando se alguma vez ele sentiria feliz de novo.

 

Fez a curva em direção ao corredor da mulher gorda quando viu alguém mais à frente, fixando um recado num quadro na parede. Ao olhar novamente Harry percebeu que era Luna. Não havia um bom lugar para se esconder por ali, com certeza ela ouvira seus passos e, de qualquer forma, Harry não conseguiria reunir a energia necessária para evitar alguém naquela hora.

 

- Olá - disse Luna vagamente, olhando para ele ao se afastar do aviso.

 

- Por que você não está no jantar? - Harry perguntou.

 

- Bem, eu perdi a maior parte das minhas coisas - disse Luna serenamente. - As pessoas pegam e escondem, sabe. Mas como é a última noite eu realmente preciso delas de volta, então eu estou colocando cartazes.

 

Ela fez um gesto em direção ao quadro de recados, no qual realmente tinha colocado uma lista de todos os seus livros e roupas perdidos, com um pedido para que fossem devolvidos.

 

Um sentimento estranho surgiu em Harry; uma emoção bem diferente da raiva e dor que tinham preenchido seu peito desde a morte de Sirius. Isso foi pouco tempo antes de perceber que estava sentindo pena de Luna.

 

- Por que as pessoas escondem suas coisas? - ele perguntou, franzindo as sobrancelhas.

 

- Oh... Bem... - ela deu de ombros. - Eu acho que eles pensam que eu sou um pouco estranha, você sabe. Algumas pessoas me chamam de "Louca" Lovegood, na verdade.

 

Harry olhou para ela e o sentimento voltou mais forte e doloroso.

 

- Isso não é motivo para que eles peguem suas coisas - disse sem rodeios. - Você quer ajuda para encontrar tudo?

 

- Oh, não - disse sorrindo. - Elas acabam aparecendo, sempre voltam no final. Era só por que eu queria empacotar tudo hoje. De qualquer forma... Por que você não está no jantar?

 

Harry deu de ombros.

 

- Eu só não tive vontade.

 

- Não - disse Luna, observando-o com seus olhos estranhamente úmidos e protuberantes. - Eu acho que você não estaria mesmo. Aquele homem que os Comensais da Morte mataram era seu padrinho, não? Gina me contou.

 

Harry mostrou que sim mas percebeu que por alguma razão não se importava que Luna falasse sobre Sirius. Ele tinha acabado de lembrar que ela, também, podia ver Testrálias.

 

- Você... - ele começou. - Quero dizer, quem... Alguém que você conhecia morreu?

 

- Sim - disse Luna simplesmente -, minha mãe. Ela era uma bruxa extraordinária, sabe, mas gostava de experimentar e um dos seus feitiços deu errado um dia. Eu tinha nove anos.

 

- Sinto muito - Harry murmurou.

 

- Sim, foi bem horrível - disse Luna de maneira casual. - Eu ainda sinto muita tristeza por causa disso, às vezes. Mas eu ainda tenho o papai. E, de qualquer forma, isso não significa que eu nunca mais verei a mamãe, não é?

 

- Ahn... Não é? - disse Harry sem certeza.

 

Ela sacudiu a cabeça sem acreditar.

 

- Ah, vamos lá. Você os ouviu, atrás do véu, não foi?

 

- Você quer dizer...

 

- Naquela sala com a passagem em arco. Eles estavam escondidos, longe de nossas vistas, isso é tudo. Você os escutou.

 

Eles se entreolharam. Luna estava sorrindo levemente. Harry não sabia o que dizer ou o que pensar; Luna acreditava em tantas coisas extraordinárias... Ainda assim, tinha certeza de que tinha ouvido vozes atrás do véu também.

 

- Tem certeza de que não quer ajuda para encontrar suas coisas? - disse ele.

 

- Oh, não - disse Luna. - Não, eu acho que vou descer e comer um pouco de pudim e esperar que tudo apareça... Sempre aparece no fim das contas... Bem, tenha ótimas férias, Harry.

 

- Sim... Sim, você também.

 

Ela se afastou dele e enquanto ele a observava percebeu que o peso terrível em seu estômago parecia ter diminuído um pouco.

 

A jornada para casa no Expresso de Hogwarts no dia seguinte foi movimentada de várias maneiras. Primeiro Malfoy, Crabbe e Goyle, que esperaram a semana inteira pela oportunidade de atacar sem que houvesse professores vigiando, tentaram emboscar Harry no meio do trem quando voltava do banheiro. O ataque talvez tivesse dado certo se não fosse pelo fato de eles terem escolhido um péssimo lugar: à frente de um compartimento cheio de membros do ED, que viram o que estava acontecendo pelo vidro e correram para socorrer Harry. Na hora em que Ernie Macmillan, Anna Abbott, Susan Bones, Justino Finch-Fletchley, Anthony Goldstein e Terry Boot terminaram de usar toda a variedade de feitiços e magias que Harry tinha ensinado a eles Malfoy, Crabbe e Goyle pareciam lesmas gigantes espremidas num uniforme de Hogwarts e Harry, Ernie e Justino os enfiaram na prateleira de bagagem e saíram de lá.

 

- Eu tenho que dizer, mal posso esperar para ver a cara da mãe de Malfoy quando ele sair do trem - disse Ernie, satisfeito ao ver Malfoy se contorcer acima dele. Ernie não tinha realmente superado o fato de Malfoy ter roubado pontos de Lufa-lufa durante sua breve participação no Esquadrão Inquisitorial.

 

- A mãe de Goyle, no entanto, vai ficar feliz - disse Rony, que tinha vindo investigar a fonte de tanta comoção. - Ele está bem mais bonito agora... De qualquer forma, Harry, o carrinho de comida acabou de parar, se você quiser alguma coisa...

 

Harry agradeceu os outros e acompanhou Rony de volta ao compartimento, onde comprou montes de bolos de caldeirão e tortinhas de abóbora. Hermione estava lendo o Profeta Diário novamente, Gina estava fazendo um quiz no The Quibbler e Neville estava acariciando sua Mimbulus mimbletonia, que tinha crescido bastante neste ano e agora fazia barulhos estranhos quando encostavam nela.

 

Harry e Rony passaram a maior parte da viagem jogando xadrez bruxo enquanto Hermione lia fragmentos do Profeta. Agora estava cheio de artigos sobre como repelir dementadores, tentativas do Ministério de rastrear Comensais da Morte e cartas histéricas de uma pessoa que dizia ter visto Lord Voldemort andando perto da sua casa naquela manhã...

 

- Ainda não começou de verdade - suspirou Hermione, dobrando o jornal de novo. - Mas não vai demorar muito...

 

- Hey, Harry - disse Rony, apontando para a janela de vidro do corredor.

 

Harry olhou. Cho estava passando, acompanhada de Marietta Edgecombe, que estava usando uma balaclava. Os olhos dele e de Cho se cruzaram por um momento. Cho ficou vermelha e continuou andando. Harry voltou os olhos para o tabuleiro a tempo de ver que um de seus peões estava fugindo de um dos cavalos de Rony.

 

- O que afinal... Ahn... Está rolando entre vocês? - perguntou Rony.

 

- Nada - disse Harry sinceramente.

 

- Eu... Ahn... Ouvi falar que ela está saindo com outra pessoa agora - disse Hermione.

 

Harry ficou surpreso ao descobrir que essa informação não o feriu de maneira alguma. Impressionar Cho parecia coisa do passado que não tinha mais nada a ver com ele; muito do que queria antes da morte de Sirius não tinha mais sentido... A semana desde a última vez que viu Sirius pareceu durar muito, muito tempo; ela se esticou entre dois universos, um com Sirius e outro sem ele.

 

- Você está bem melhor assim, amigo - disse Rony com decisão. - Quero dizer, ela é bonita e tal mas você precisa de alguém um pouco mais alegre.

 

- Ela provavelmente pode ser alegre o suficiente para outra pessoa - disse Harry, dando de ombros.

 

- Com quem ela está, afinal? - Rony perguntou a Hermione mas foi Gina quem respondeu.

 

- Michael Corner.

 

- Michael... Mas... - disse Rony, virando em sua poltrona, olhando para ela. - Mas era você que estava saindo com ele!

 

-- Não mais - disse Gina resoluta. - Ele não gostava do fato da Grifinória ganhar da Corvinal no quadribol e ficou muito rabugento, então eu larguei dele e ele correu para os braços da Cho - ela coçou o nariz distraída com a ponta de sua pena, virou o The Quibbler de ponta cabeça e começou a marcar suas respostas. Rony parecia contente.

 

- Bem, eu sempre achei que ele era meio idiota - disse, movendo sua rainha em direção à torre de Harry. - Bom pra você. Só escolha alguém... Melhor... Da próxima vez.

 

Ele deu uma olhadela para Harry ao dizer isso.

 

- Bem, eu escolhi Dino Thomas, você diria que ele é melhor? - pergunto Gina vagamente.

 

- O QUÊ? - gritou Rony, derrubando o tabuleiro: Bichento saiu caçando as peças e Edwiges e Pichitinho gorjearam e piavam raivosamente sobre as cabeças deles.

 

Enquanto o trem diminuía a velocidade ao chegar em King's Cross Harry pensou que preferia nunca mais sair de lá. Até chegou a pensar rapidamente no que aconteceria se simplesmente se recusasse a sair, ficando sentado lá até o dia primeiro de setembro, quando iria de volta para Hogwarts. Quando o trem finalmente parou, no entanto, levantou a gaiola de Edwiges e se preparou para arrastar seu malão como sempre.

 

Quando o funcionário do trem fez um sinal para Harry, Rony e Hermione indicando que podiam atravessar com segurança a barreira entre as plataformas nove e dez, encontrou uma surpresa esperando por ele do outro lado: um grupo de pessoas o aguardava para saudá-lo.

 

Lá estavam Olho-Tonto, um tanto sinistro com seu chapéu-coco puxado para baixo, escondendo seu olho mágico, suas mãos nodosas seguravam um longo cajado, seu corpo enrolado em uma volumosa capa de viagem. Tonks estava parada perto dele, seu cabelo num cor-de-rosa-chiclete, brilhando na luz do sol que passava pelo sujo teto de vidro da estação, vestindo um jeans muito remendado e uma camiseta púrpura com os dizeres "As Esquisitonas". Perto de Tonks estava Lupin, rosto pálido, cabelo ficando grisalho, um casaco longo e surrado cobrindo sua blusa e calças. Na frente do grupo estavam o Sr. e a Sra. Weasley, vestidos no melhor estilo trouxa, e Fred e Jorge que estavam ambos vestindo jaquetas de um verde pavoroso, de um material escamoso, novas em folha.

 

- Rony, Gina! - chamou a Sra. Weasley, correndo na direção deles e abraçando seus filhos com força. - Oh, Harry, querido, como você está?

 

- Bem - mentiu Harry enquanto ela o puxava num abraço apertado. Sobre seu ombro ele viu Rony analisando as roupas novas dos gêmeos.

 

- O que é isso? - perguntou, apontando para as jaquetas.

 

- Pele de dragão da boa, maninho - disse Fred, dando uma puxadinha no zíper. - Os negócios estão de vento em popa e pensamos em nos darmos um presente.

 

- Olá Harry - disse Lupin quando a Sra. Weasley o soltou e se voltou para dizer olá para Hermione.

 

- Oi - disse Harry. - Eu não esperava... O que todos vocês estão fazendo aqui?

 

- Bem - disse Lupin com um leve sorriso -, nós pensamos em bater um papinho com seu tio e tia antes que eles o levem pra casa.

 

- Eu não sei se isso é uma boa idéia - disse Harry na hora.

 

- Oh, eu acho que é - disse Moody, que tinha chegado mais perto. - São eles ali, certo Potter?

 

Ele apontou com o dedão por sobre seu ombro; seu olho mágico estava evidentemente conferindo por trás de sua cabeça e chapéu. Harry espiou para ver a quem Olho-Tonto se referia e ali, com certeza, estavam os Dursley, que pareciam positivamente apavorados ao ver a comitiva de recepção de Harry.

 

- Ah, Harry! - disse o Sr. Weasley, dando às costas aos pais de Hermione, que tinham acabado de rever sua filha e agora a abraçavam alternadamente. - Bem... Vamos lá, então?

 

- Sim, eu acho que sim, Arthur - disse Moody.

 

Ele e o Sr. Weasley se adiantaram, cruzando a estação na direção dos Dursley, que aparentemente estavam enraizados no chão. Hermione se soltou dos braços de sua mãe e se juntou ao grupo.

 

- Boa tarde - disse o Sr. Weasley de maneira agradável ao parar na frente do tio Válter. - Você deve se lembrar de mim, meu nome é Arthur Weasley.

 

Como o Sr. Weasley tinha destruído sozinho a maior parte da sala de estar dos Dursley dois anos antes Harry ficaria surpreso se o tio Válter tivesse esquecido dele. Como previsto, tio Válter ficou levemente roxo e olhou furioso ao Sr. Weasley mas preferiu não dizer nada, talvez pelo fato de os Dursley estarem em menor número. Tia Petúnia olhou ao mesmo tempo com medo e envergonhada; ficava olhando para os lados, como que apavorada, com medo de que alguém que conhecesse a visse em tal companhia. Duda, enquanto isso, estava tentando parecer pequeno e insignificante, apesar de estar falhando redondamente.

 

- Nós pensamos que seria bom dar uma palavrinha com o senhor sobre Harry - disse o Sr. Weasley, ainda sorrindo.

 

- Sim - murmurou Moody. - Sobre o modo que ele está sendo tratado na sua casa.

 

O bigode do tio Válter pareceu se eriçar de indignação. Ele então se dirigiu a Moody, possivelmente porque o chapéu-coco lhe dava a impressão totalmente errada de que ele estava lidando com um igual.

 

- Eu não sei como é da sua conta o que acontece dentro da minha casa...

 

- Eu imagino que as coisas que você não sabe encheriam vários livros, Dursley - murmurou Moody.

 

- De qualquer forma, esse não é o ponto - interrompeu Tonks, cujo cabelo rosa parecia ofender a tia Petúnia mais do que tudo, pois ela preferiu fechar os olhos ao invés de olhá-la. - O ponto é que se nós descobrirmos que você foi horrível para Harry...

 

- ...E não tenha dúvidas de que nós temos como saber - acrescentou Lupin com prazer.

 

- Sim - disse o Sr. Weasley -, mesmo que você não deixe Harry sequer usar o felitone...

 

- Telefone - sussurrou Hermione.

 

- Isso, se nós tivermos qualquer indício de que Potter está sendo maltratado de qualquer forma você terá que responder por isso - disse Moody.

 

Tio Válter se inchou de forma ameaçadora. Seu senso de ultraje parecia ter ultrapassado até mesmo seu medo em relação àqueles seres bizarros.

 

- O senhor está me ameaçando? - disse ele tão alto que as pessoas que passavam chegaram a virar e encarar.

 

- Sim, eu estou - disse Olho-Tonto, que parecia sentir prazer ao ver a reação rápida do tio Válter à sua resposta.

 

- E eu pareço o tipo de homem que pode ser intimidado? - latiu tio Válter.

 

- Bem... - disse Moody, levantando seu chapéu e revelando seu sinistro olho mágico girando na órbita. Tio Válter deu um pulo para trás num gesto de horror e deu uma batida dolorida num carrinho de bagagem. - Sim, eu diria que você é, Dursley.

 

Ele se afastou de Válter e analisou Harry.

 

- Então, Potter... Dê um grito se precisar de nós. Se nós não tivermos notícias suas por três dias seguidos mandaremos alguém...

 

Tia Petúnia choramingou. Não podia ser mais óbvio o que ela estava pensando: o que os vizinhos pensariam se vissem algumas dessas pessoas marchando no seu jardim.

 

- Adeus, então, Potter - disse Moody, segurando o ombro de Harry por um momento com sua mão nodosa.

 

- Cuide-se Harry - disse Lupin calmamente. - Mantenha contato.

 

- Harry, nós vamos tirar você daqui assim que pudermos - a Sra. Weasley sussurrou, abraçando-o novamente.

 

- Nós nos veremos logo, amigo - disse Rony ansiosamente, chacoalhando a mão de Harry.

 

- Logo, logo, Harry - disse Hermione. - Nós prometemos.

 

Harry acenou com a cabeça. Não conseguia achar palavras para dizer a eles o que isso significava para ele, ver todos juntos ali, ao seu lado. Ao invés disso sorriu, levantou a mão num sinal de adeus, virou-se e andou em direção à saída da estação em direção à rua iluminada, com tio Válter, tia Petúnia e Duda correndo atrás dele.

 

 

                                                                                                    J. K. Rowling

 

 

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