Capítulo 13
Consumida por choque e sobrecarga emocional, eu não consigo processar o
que ele está me dizendo. Eu pisco para ele. — O quê?
— Eles não conseguiram encontrar a arma durante o julgamento, mas todos
pensavam que Sean Ferro a matou. — Sean se afasta com os ombros endurecendo
com cada palavra e eu sei que ele pode ouvir. O luto me rasga, mas algo parece
errado.
— Eu não entendo. — Eu enxugo as lágrimas do meu rosto e sujo a na
minha bochecha. — O que você está dizendo?
— Eu estou dizendo o que parece, senhorita Raymond. Embora não pode
ser inteiramente conclusivo neste momento, isso aponta a culpa do assassinato em
outra direção. Parece que Bryan Ferro atirou em Amanda, e por qualquer motivo
Sean voluntariamente assumiu a culpa. — O policial tem idade suficiente para
lembrar o julgamento. Ele olha depois para Sean com respeito em seus olhos. Não é
a animosidade típica que as pessoas oferecem quando veem esse homem. Eles
pensam que ele é um monstro sem coração e Sean se torna essa pessoa. No quarto
de Bryan eu tinha visto fotos antigas dos meninos quando eles eram jovens. Sean
sorria e seus olhos não tinha essa coisa oca assustadora que têm agora. É como se
ele está carregando um enorme segredo e eu não posso suportar a ideia de que
este policial está me dizendo à verdade. Bryan está morto por minha causa. Ele
caminhou direto para a linha de fogo para me proteger, então por que diabos ele
iria matar a esposa de Sean? Eu endireito e me viro para olhar para Sean.
Ele está rígido e tremendo, tentando se afastar, mas continua olhando por
cima do ombro até que ele para e se vira. Cruza os braços firmes sobre o peito e
olha para o corpo sem vida do seu primo com um olhar que anda na linha entre o
desprezo e admiração.
Eu não posso suportar isso. Algo dentro de mim quebra. Num acesso de
raiva de lágrimas e fúria, eu salto para cima e corro em direção a ele, gritando
descontroladamente. Quando colido em seu peito, ele mal se move, mas isso não
me impede de dar socos. Eu conecto meu punho com sua lateral firme uma vez,
antes que ele agarre meu pulso. Ele me puxa para perto, ele sussurra em meu
rosto: — Você não é a única sofrendo agora.
Eu puxo meu braço e quase tropeço para trás. Os policiais nos veem, mas
ninguém intercede desde que Sean parece calmo. Ele pode estar firme, mas eu não
estou. Eu sabia que Bryan não estaria comigo por muito mais tempo, mas Sean
roubou alguns minutos extras que tínhamos, e então isso – essa humilhação. Em
sua morte, Bryan é caluniado e acusado de um assassinato que não há nenhuma
maneira que ele tenha cometido. Eu grito para Sean. — É uma mentira. Ele não a
matou.
— Como você sabe? — A voz de Sean é fria e distante, embora seu olhar
esteja grudado em Bryan enquanto movem o seu corpo para um saco preto.
Olho para ele e caio de joelhos soluçando. — Ele não estaria aqui esta noite
se você não me fizesse terminar as coisas com Neil! Isso é culpa sua! Você disse a
ele! Ele não teria vindo se você não contasse a ele sobre Victor! — Eu soco o
pavimento com as mãos até que elas estão machucadas e sangrando. E Sean não
me responde, o que me deixa furiosa. — Admita isso! — Eu estou em seu rosto
novamente, falando em um sussurro morte. — Bryan não teria morrido hoje se não
fosse por você.
Três palavras. Isso é tudo o que ele diz. — Você está certa.
Eu começo a soluçar de novo e solto um grito. No momento há uma fila de
policiais e paramédicos. Os paramédicos tentam olhar para mim, mas eu não
posso deixar Bryan. Quando eles fecham o zíper do saco, peço-lhes para parar. —
Ele vai ficar bem. — Eu agarro o braço do cara quando ele fecha o saco. — Por
favor, pare! Eu não posso fazer isso de novo! Eu não posso! Ele vai ficar bem! Ele
tem que ficar!
Sean me afasta e me esmaga em seu peito. Seus olhos estão vidrados, mas
não há uma única lágrima. Eu o odeio. Eu me solto do seu abraço e cuspo em seu
rosto. Sean não se move para limpar isso. As pessoas que nos observam estão
segurando câmeras. Isso é quando eu sinto uma mão em meu ombro.
Eu me viro, esperando que ele seja um policial, mas não é. Uma parede de
cabelo vermelho me cumprimenta com um sorriso triste. — Eu disse que estaria
aqui para você. Por que você não me ligou?
Capítulo 14
Maggie me segura e abraça forte, me deixando desmoronar em seus braços.
Ela sussurra tolices e tira o cabelo do meu rosto.
Ela ajuda os paramédicos a me levar para uma ambulância para me
examinarem. Quando me sento, eu estremeço. O cara é jovem, mas ele percebe o
que isso significa. Ele chama por um funcionário do sexo feminino e uma policial se
aproxima. Ela é baixinha e seu olhar é simpático. — Querida, eu preciso falar com
você. — Ela sobe na ambulância e fecha uma das portas para que ninguém mais
possa ouvir. — Será que Victor Campone a estuprou?
Eu não sei o que dizer. Balançando a cabeça, eu digo a ela o que aconteceu.
É uma sensação como se fosse muito tempo atrás, mesmo que as queimaduras na
minha pele são frescas. Eu não as sentia até agora. — Minha pele arde.
— Deixe-me arranjar alguém para avaliá-la, então. Precisamos ver como as
queimaduras são para que possamos tratá-las. Ok, querida? Você já passou por
muita coisa hoje à noite. Deixe-os ajudá-la. — A policial está me olhando com pena
em seus olhos. Ela vê o anel em minha mão. Eu o coloco ali sem pensar. Eles
assumiram que eu estava noiva de Bryan. Eles não sabem sobre Neil e Cecily ainda,
então eu lhes digo. Seus olhos se arregalam e ela fala rapidamente em seu ombro.
Eu acrescento: — Eu acho que ele foi para as casas vizinhas também. Por favor,
verifique com eles. Sr. Thom sempre foi bom para mim. — Eu começo a balançar
novamente quando percebo que Victor pode tê-lo matado também.
Um médico vem até mim, mas eu não consigo me acalmar. — Quem é seu
parente mais próximo? — O médico fica perguntando, o que me faz chorar mais.
Ninguém. Sou sozinha.
Maggie diz palavras suaves e tenta me acalmar. Eu seguro a mão dela como
uma criança assustada e olho para ela. Ela sorri para mim. — Eu não vou a lugar
nenhum. Estamos nisso juntas. Eu lhe disse.
— Maggie é a minha família mais próxima. — Eu aponto para ela e assino
algo. Eles começam a perguntar-lhe como me tratar quando não estou coerente.
Eu divago e choro quando eu deveria dizer alguma coisa. A polícia tenta me fazer
perguntas, mas quanto mais eles perguntam, mais rápido que eu desmorono. É
Sean, que coloca um fim a isso.
Sua voz retumba alto do outro lado da porta. — Eu vi o tiroteio. Perguntem
a mim. Senhorita Raymond já teve o suficiente por esta noite.
— Precisamos de mais informações.
A voz de Sean cai. Ele diz algo que eu não consigo entender, mas ele
termina com: — O advogado dela está aqui e se você quiser jogar limpo, eu sugiro
que mostre alguma compaixão agora. Ela não vai esquecer esta noite. Nenhum
detalhe vai desaparecer de sua mente. Deixe-a em paz por agora.
Maggie está me observando na maca. Eu me deitando por que ficar sentada
está doendo. Gostaria de saber quanto de pele que me resta e que isso vai fazer
para mim. Eu vou estar marcada para sempre em um dos lugares mais íntimos no
meu corpo, mas não consigo me importar. Eu fico pensando em Bryan naquele saco
frio. O choro histérico começa novamente e Maggie pede-lhes para me dar alguma
coisa.
Uma agulha é empurrada no meu braço. Maggie canta suavemente,
enquanto acaricia minha testa. De repente minhas pálpebras parecem como
chumbo. Elas vibram quando eu as tento mantê-las abertas. Sean aparece entre as
piscadas e pergunta sobre mim. Com o consentimento de Maggie, eles lhe dizem o
que Victor fez comigo. Ele não diz uma palavra. O homem só olha para mim como
se eu fosse um pedaço de lixo, como se a vida do seu primo não valesse por isso.
— Ele me amou. — As palavras soam fortes e orgulhosas em minha mente,
mas elas caem dos meus lábios como um sussurro.
— Sem dúvida. — Sean responde e fica ali, observando-me adormecer.
Epílogo
O vento atravessa meu casaco quando eu ando para a sepultura, meu
embrulho perto do meu peito. Eu não deveria estar aqui, mas eu tinha que vir. Eu
sou atraída para aqui todos os meses. Eu tenho que falar com ele e esse parece ser
o lugar para fazer isso. Bryan prometeu que estaria sempre comigo, e embora eu
saiba que ele esteja, ainda é difícil. O bebê está dormindo em meus braços,
indiferente ao frio no ar. Eu o seguro da cabeça aos pés e aperto com força.
Desde a noite em que Bryan morreu, tantas coisas aconteceram. Eu me senti
tão sozinha sem ele, ou assim eu pensava até algumas semanas após a morte de
Bryan. Um teste de gravidez afirmou a minha suspeita e eu carregava um bebê
dele. Ele tem olhos verdes brilhantes, assim como seu pai. Ele é minha vida agora.
Maggie, o bebê e eu vivemos juntos, uma família improvável, mas contentes. Eu
ainda escrevo - um coração sangrando nunca cicatriza e as páginas me chamam.
Escrever me dá paz quando as coisas ficam insuportáveis.
Eu paro na frente do túmulo do meu pai antes de falar com ele sobre o seu
neto. — Eu dei-lhe o meu nome, pai. Bem, o seu nome. Eu não quero que eles
saibam sobre ele. Se descobrirem... — Esse é o meu maior medo. E se os Ferros
descobrirem sobre o pequeno Bryan Raymond? E se eles descobrirem que ele é o
único filho de Bryan, o herdeiro mais jovem dessa maldita fortuna? Eles vão levá-lo
de mim. Eu sei que vão. Então, dei-lhe o meu nome e quando os repórteres
perguntaram, eu disse que era de Neil. Que iriamos nos casar. Os jornais correram
selvagemente com artigos sobre Neil e eu, retratando-nos como um moderno
Romeu e Julieta. Eles não poderiam estar mais longe da verdade. Enquanto isso,
Bryan era ligado ao assassinato de Amanda Ferro e outro homem que encontraram
na floresta. A arma foi utilizada várias vezes. Bryan não era um assassino. A única
pessoa que ele matou foi Victor, e fez isso para me salvar. Eu não ligo para o que
dizem os investigadores. Eventualmente, eu parei de ler artigos sobre ele. E da
forma que tinham escrito sobre Sean era horrível, mas a maneira como caluniaram
Bryan era muito pior. Eu evito jornais e fico fora do Huffington Post. Eu vivo em
uma bolha com Maggie e meu bebê.
Depois de falar com o papai, eu dou isso como feito. O cemitério não está
exatamente repleto de visitantes hoje. Está muito frio. Vou até o túmulo de Bryan,
um enorme mausoléu com FERRO marcado na parte externa. Originalmente, a
família não ia permitir que ele fosse enterrado com eles, mas Sean brigou com eles
sobre isso, então aqui está ele - meu amor perdido. Eu me inclino contra a pesada
porta, empurrando-a na maior parte fechada. Eu não quero que ninguém saiba que
eu estive aqui, então eu mantenho aqui dentro escuro, iluminado apenas pela luz
do sol que faz o seu caminho através da porta. Está nublado hoje, por isso é mais
escuro do que o habitual. Eu mudo o bebê Bryan em meus braços quando ele
acorda. Ele sorri para mim com o mesmo sorriso que seu pai usou tantas vezes
antes.
— Estamos visitando papai. — Eu digo a ele e solto seus cobertores. — Ele
foi um grande homem e te ama muito. Agora, papai pode nos ver. Ele vai cuidar de
você, Bryan. — Estou em pé na frente do túmulo de Bryan, de costas para a porta.
Nem o ouvi entrar.
Quando ele fala, sua voz é mais suave do que as vozes dos seus irmãos. —
Hallie?
Assustada, eu me viro. Peter Ferro está de pé na porta, cercado de luz. Ele se
parece com um anjo quando caminha na grande sala. Ele está vestindo um casaco
de tweed e calça. Ele é diretor em algum lugar em Jersey. Eu já o vi por aí, mas nós
nunca conversamos muito. Eu não pensei que ele fosse próximo de Bryan, mas
devo ter suposto errado, caso contrário ele não estaria aqui.
— Sinto muito. Estou indo embora. — Eu vou a passar por ele, mas Peter
não me deixa. Ele dá um passo na minha frente e sorri.
— Você não tem que ir. Eu nunca vou manda-la sair, e eu nunca vou dizer-
lhes, mas eles vão perceber.
Eu fico calada porque não tenho outra opção. O medo está me sufocando e
eu mal posso cuspir as palavras. — Perceber o quê? Que eu vim aqui para dizer
adeus a alguém que eu amava? Eles já sabem disso. E Constance nunca contestou
a vontade de Bryan, então acho que estou bem.
— Você sabe o que quero dizer. — Ele olha para o bebê.
Bryan contempla Peter como o seu pai, grandes olhos verdes e cabelo
escuro brilhante. — Eu não estou com medo. — Eu seguro o bebê, e passo ao redor
de Peter, prestes a sair quando ele me para no caminho.
— Esse é o bebê de Bryan. Eles poderiam forçar um teste de paternidade
para provar isso, Hallie. Se a minha mãe já não sabe, logo o fará. Ela não vai
deixar um Ferro crescer fora da mansão.
Eu não nego isso. — Você cresceu lá. Diga-me, você quer que seu filho tenha
essa vida?
— Eu não posso mudar o passado, Hallie, e nem você pode.
— Eu sei disso. Você não acha que eu sei que isso é minha culpa, que o pai
dele está aqui por minha causa? Eu culpava Sean e Constance. Eu até culpei Jon,
mas a única razão que Bryan apareceu naquela noite foi por minha causa. E tudo o
que aconteceu depois. — Eu não posso nem mesmo dizer isso.
Peter diz com certeza absoluta. — A mídia estava errada. Olhe o que eles
fizeram com você e Neil. Você está me dizendo que toda essa merda é verdade?
Eu ri amargamente. — Longe disso.
— Então, não deixe que eles arruínem suas memórias dele. Bryan não
matou Amanda. — Ele parece tão certo.
— Como você pode saber disso?
— Porque eu estava com ele naquela noite e isso não faz sentido. Ele
gostava de Amanda. Nós todos gostávamos.
Algo da noite do assassinato de Bryan volta com a memória de Sean ali
parecendo horrorizado. — Ele não sabia que Bryan tinha essa arma, não é?
Peter ri uma vez suavemente, e balança a cabeça. — Sean nunca fala sobre
Amanda ou aquela noite, mas eu concordo com você nesse ponto.
Olho para Peter. — Enquanto Bryan estava morrendo, Sean o chamou de
idiota. Ele estava tão louco. Eu pensei que era porque levou um tiro.
— Eu acho que foi porque Bryan não deveria ter essa arma. Hallie, ele
salvou você e seu bebê, mas também salvou algumas outras pessoas no processo.
Ele deu a Sean sua vida de volta. Bryan foi altruísta. Ele faria qualquer coisa que
pudesse para ajudar alguém. Se o pegar com a arma ajudava, se assumir a culpa
ajudava, ele teria feito isso num piscar de olhos. Você não acha?
Concordo com a cabeça. Há silêncio quando nós dois olhamos para o lugar
de descanso final de Bryan. — É por isso que Sean brigou para ele estar aqui.
Bryan não matou aquelas pessoas.
— Eu suspeito que seja o caso.
— Assim como Sean.
Peter dá um sorriso torto. — O mais provável. — Depois de um momento,
ele acrescenta: — Você não deve vir mais aqui se não quer que criança cresça como
o resto da família. Na verdade, seria bom se você, Bryan e Maggie se mudassem.
Vá para algum lugar que não vão encontrá-los, por um tempo, pelo menos.
Dificulte para que eles não vejam o bebê ou tire fotos dele. Isso vai fazer você
ganhar tempo - tempo que não terá que se ficar aqui. — Ele desliza seus dedos
contra a bochecha do bebê. — Ele se parece com o pai.
— Eu sei. — Eu seguro meu pequeno bebê quando ele murmura para Peter.
— Aqui. — Ele me entrega seu cartão. — Se você precisar de alguma coisa é
só pedir. Eu nunca vi você e nunca vi o bebê de Bryan. — Ele pisca para mim, em
seguida, desliza pela porta, com as mãos nos bolsos e a cabeça caída entre os
ombros.
Eu o chamo de costas. — Peter, espere. — Corro para o ar fresco. — Estou
fazendo a coisa certa? Ele tem família. É a única coisa que eu nunca tive e sempre
quis. Eu me perguntei se mantê-los longe dele é a coisa certa a fazer.
— Ele tem família, Hallie. Ele tem você e Maggie. Não está faltando nada
para ele. Eu ouvi que dizer que alguma parte de Montana é lindo. Vá dar uma
olhada. — Peter nos sorri e vai embora.
Depois que Bryan morreu, eu nunca pensei que amaria novamente. Senti
meu coração quebrar e um pedaço de mim morreu junto com ele. A escuridão me
consumiu até que aquele pequeno bastão de plástico me disse que eu estava
grávida. O bebê de Bryan era forte e curou meu coração partido enquanto crescia
dentro de mim. Agora que ele está aqui, nos meus braços, eu vejo o rosto do seu pai
todos os dias e sei que sou abençoada.
Depois de colocar Bryan em seu assento de carro, eu entro e fecho a porta.
Depois de ligar o motor, pressiono um botão e ligo para Maggie. — Ei, o que você
acha de ir para Montana?
— Posso ter um cavalo?
— Para que você quer um cavalo se não sabe montar em um? — Eu sorrio e
olho para o túmulo de Bryan, sabendo que eu nunca o verei novamente. Maggie
está tagarelando sobre cavalos e eu finalmente a interrompo: — Sim, você pode ter
um cavalo.
— Estou dentro, quando partimos?
— Hoje à noite. Eles não podem encontrá-lo, Maggie, e um dos Ferros já
sabe a verdade. Tem certeza de que quer vir? Você não precisa. — Isso não é uma
coisa pequena para perguntar, e eu sei disso. Eu não quero ser egoísta e levá-la
comigo para o meio do nada.
— Porra, sim. Não há nada melhor que o meio do nada. Vou usar perneiras
de cowboy, um enorme chapéu ridículo e comprar um pônei. Sim, eu estou
chegando! — Ela ri. — Você é tão idiota, sabe disso? Eu sou sua irmã, talvez não
por nascimento, mas por escolha. Esse é o melhor tipo, sabe. Vou ligar e arrumar
um voo. Vamos sair daqui a poucas horas, Hallie. Vai ser bom para você e para o
pequeno bebê lindo Bryan. Nós podemos viver em uma fazenda!
Eu rio, surpresa com o quão fácil foi para convencê-la disso. Em seguida, eu
digo a ela: — Você sabia que teríamos que ir embora, não é?
— Algum dia, sim, especialmente se você quisesse esconder Bryan do Ferro.
Mas eu pensei que estaria indo para um lugar horrível como um pântano. Eu sou
totalmente a favor de Montana. Ouvi dizer que eles têm cowboys sensuais. Eu
nunca montei um cowboy.
— Maggie!
Ela ri. — Venha para casa. Vou arrumar nossas coisas. Você está pronta para
isso Hallie. É uma boa jogada. Vemo-nos daqui a pouco. — Ela desliga o telefone.
Eu jogo a minha cabeça contra o assento quando olho para o túmulo de
Bryan, e ouço seu filho fazer sons felizes no banco de trás querendo saber se estou
tomando a decisão certa.
— Queria que você estivesse aqui. Eu gostaria que você pudesse me dizer o
que fazer. — Eu digo as palavras para o ar, falando com o meu amor perdido.
Eu não sou boa em ficar desejando tudo. Como uma órfã, eu aprendi que é
um desperdício de tempo, mas logo que eu digo essas palavras, um raio de luz
corta através do céu cinzento. Um único raio de sol brilha para baixo e toca o topo
do mausoléu do Ferro. A cúpula de cobre cintila e todo o meu corpo se cobre de
formigamentos. O vento suaviza e eu juro que Bryan está aqui, me dizendo para ir embora.
Eu fecho os olhos, faço uma oração, e quando olhar para cima a luz dourada
desapareceu. Pela primeira vez desde a sua morte, a paz flui em mim e congratulo-
me com isso. Coloco o carro na estrada e eu falo sobre o meu ombro para o meu
homenzinho. — Bryan, vamos a um lugar divertido, e eu tenho certeza que a tia
Maggie conseguirá um pônei para você.
Capítulo 13
Consumida por choque e sobrecarga emocional, eu não consigo processar o
que ele está me dizendo. Eu pisco para ele. — O quê?
— Eles não conseguiram encontrar a arma durante o julgamento, mas todos
pensavam que Sean Ferro a matou. — Sean se afasta com os ombros endurecendo
com cada palavra e eu sei que ele pode ouvir. O luto me rasga, mas algo parece
errado.
— Eu não entendo. — Eu enxugo as lágrimas do meu rosto e sujo a na
minha bochecha. — O que você está dizendo?
— Eu estou dizendo o que parece, senhorita Raymond. Embora não pode
ser inteiramente conclusivo neste momento, isso aponta a culpa do assassinato em
outra direção. Parece que Bryan Ferro atirou em Amanda, e por qualquer motivo
Sean voluntariamente assumiu a culpa. — O policial tem idade suficiente para
lembrar o julgamento. Ele olha depois para Sean com respeito em seus olhos. Não é
a animosidade típica que as pessoas oferecem quando veem esse homem. Eles
pensam que ele é um monstro sem coração e Sean se torna essa pessoa. No quarto
de Bryan eu tinha visto fotos antigas dos meninos quando eles eram jovens. Sean
sorria e seus olhos não tinha essa coisa oca assustadora que têm agora. É como se
ele está carregando um enorme segredo e eu não posso suportar a ideia de que
este policial está me dizendo à verdade. Bryan está morto por minha causa. Ele
caminhou direto para a linha de fogo para me proteger, então por que diabos ele
iria matar a esposa de Sean? Eu endireito e me viro para olhar para Sean.
Ele está rígido e tremendo, tentando se afastar, mas continua olhando por
cima do ombro até que ele para e se vira. Cruza os braços firmes sobre o peito e
olha para o corpo sem vida do seu primo com um olhar que anda na linha entre o
desprezo e admiração.
Eu não posso suportar isso. Algo dentro de mim quebra. Num acesso de
raiva de lágrimas e fúria, eu salto para cima e corro em direção a ele, gritando
descontroladamente. Quando colido em seu peito, ele mal se move, mas isso não
me impede de dar socos. Eu conecto meu punho com sua lateral firme uma vez,
antes que ele agarre meu pulso. Ele me puxa para perto, ele sussurra em meu
rosto: — Você não é a única sofrendo agora.
Eu puxo meu braço e quase tropeço para trás. Os policiais nos veem, mas
ninguém intercede desde que Sean parece calmo. Ele pode estar firme, mas eu não
estou. Eu sabia que Bryan não estaria comigo por muito mais tempo, mas Sean
roubou alguns minutos extras que tínhamos, e então isso – essa humilhação. Em
sua morte, Bryan é caluniado e acusado de um assassinato que não há nenhuma
maneira que ele tenha cometido. Eu grito para Sean. — É uma mentira. Ele não a
matou.
— Como você sabe? — A voz de Sean é fria e distante, embora seu olhar
esteja grudado em Bryan enquanto movem o seu corpo para um saco preto.
Olho para ele e caio de joelhos soluçando. — Ele não estaria aqui esta noite
se você não me fizesse terminar as coisas com Neil! Isso é culpa sua! Você disse a
ele! Ele não teria vindo se você não contasse a ele sobre Victor! — Eu soco o
pavimento com as mãos até que elas estão machucadas e sangrando. E Sean não
me responde, o que me deixa furiosa. — Admita isso! — Eu estou em seu rosto
novamente, falando em um sussurro morte. — Bryan não teria morrido hoje se não
fosse por você.
Três palavras. Isso é tudo o que ele diz. — Você está certa.
Eu começo a soluçar de novo e solto um grito. No momento há uma fila de
policiais e paramédicos. Os paramédicos tentam olhar para mim, mas eu não
posso deixar Bryan. Quando eles fecham o zíper do saco, peço-lhes para parar. —
Ele vai ficar bem. — Eu agarro o braço do cara quando ele fecha o saco. — Por
favor, pare! Eu não posso fazer isso de novo! Eu não posso! Ele vai ficar bem! Ele
tem que ficar!
Sean me afasta e me esmaga em seu peito. Seus olhos estão vidrados, mas
não há uma única lágrima. Eu o odeio. Eu me solto do seu abraço e cuspo em seu
rosto. Sean não se move para limpar isso. As pessoas que nos observam estão
segurando câmeras. Isso é quando eu sinto uma mão em meu ombro.
Eu me viro, esperando que ele seja um policial, mas não é. Uma parede de
cabelo vermelho me cumprimenta com um sorriso triste. — Eu disse que estaria
aqui para você. Por que você não me ligou?
Capítulo 14
Maggie me segura e abraça forte, me deixando desmoronar em seus braços.
Ela sussurra tolices e tira o cabelo do meu rosto.
Ela ajuda os paramédicos a me levar para uma ambulância para me
examinarem. Quando me sento, eu estremeço. O cara é jovem, mas ele percebe o
que isso significa. Ele chama por um funcionário do sexo feminino e uma policial se
aproxima. Ela é baixinha e seu olhar é simpático. — Querida, eu preciso falar com
você. — Ela sobe na ambulância e fecha uma das portas para que ninguém mais
possa ouvir. — Será que Victor Campone a estuprou?
Eu não sei o que dizer. Balançando a cabeça, eu digo a ela o que aconteceu.
É uma sensação como se fosse muito tempo atrás, mesmo que as queimaduras na
minha pele são frescas. Eu não as sentia até agora. — Minha pele arde.
— Deixe-me arranjar alguém para avaliá-la, então. Precisamos ver como as
queimaduras são para que possamos tratá-las. Ok, querida? Você já passou por
muita coisa hoje à noite. Deixe-os ajudá-la. — A policial está me olhando com pena
em seus olhos. Ela vê o anel em minha mão. Eu o coloco ali sem pensar. Eles
assumiram que eu estava noiva de Bryan. Eles não sabem sobre Neil e Cecily ainda,
então eu lhes digo. Seus olhos se arregalam e ela fala rapidamente em seu ombro.
Eu acrescento: — Eu acho que ele foi para as casas vizinhas também. Por favor,
verifique com eles. Sr. Thom sempre foi bom para mim. — Eu começo a balançar
novamente quando percebo que Victor pode tê-lo matado também.
Um médico vem até mim, mas eu não consigo me acalmar. — Quem é seu
parente mais próximo? — O médico fica perguntando, o que me faz chorar mais.
Ninguém. Sou sozinha.
Maggie diz palavras suaves e tenta me acalmar. Eu seguro a mão dela como
uma criança assustada e olho para ela. Ela sorri para mim. — Eu não vou a lugar
nenhum. Estamos nisso juntas. Eu lhe disse.
— Maggie é a minha família mais próxima. — Eu aponto para ela e assino
algo. Eles começam a perguntar-lhe como me tratar quando não estou coerente.
Eu divago e choro quando eu deveria dizer alguma coisa. A polícia tenta me fazer
perguntas, mas quanto mais eles perguntam, mais rápido que eu desmorono. É
Sean, que coloca um fim a isso.
Sua voz retumba alto do outro lado da porta. — Eu vi o tiroteio. Perguntem
a mim. Senhorita Raymond já teve o suficiente por esta noite.
— Precisamos de mais informações.
A voz de Sean cai. Ele diz algo que eu não consigo entender, mas ele
termina com: — O advogado dela está aqui e se você quiser jogar limpo, eu sugiro
que mostre alguma compaixão agora. Ela não vai esquecer esta noite. Nenhum
detalhe vai desaparecer de sua mente. Deixe-a em paz por agora.
Maggie está me observando na maca. Eu me deitando por que ficar sentada
está doendo. Gostaria de saber quanto de pele que me resta e que isso vai fazer
para mim. Eu vou estar marcada para sempre em um dos lugares mais íntimos no
meu corpo, mas não consigo me importar. Eu fico pensando em Bryan naquele saco
frio. O choro histérico começa novamente e Maggie pede-lhes para me dar alguma
coisa.
Uma agulha é empurrada no meu braço. Maggie canta suavemente,
enquanto acaricia minha testa. De repente minhas pálpebras parecem como
chumbo. Elas vibram quando eu as tento mantê-las abertas. Sean aparece entre as
piscadas e pergunta sobre mim. Com o consentimento de Maggie, eles lhe dizem o
que Victor fez comigo. Ele não diz uma palavra. O homem só olha para mim como
se eu fosse um pedaço de lixo, como se a vida do seu primo não valesse por isso.
— Ele me amou. — As palavras soam fortes e orgulhosas em minha mente,
mas elas caem dos meus lábios como um sussurro.
— Sem dúvida. — Sean responde e fica ali, observando-me adormecer.
Epílogo
O vento atravessa meu casaco quando eu ando para a sepultura, meu
embrulho perto do meu peito. Eu não deveria estar aqui, mas eu tinha que vir. Eu
sou atraída para aqui todos os meses. Eu tenho que falar com ele e esse parece ser
o lugar para fazer isso. Bryan prometeu que estaria sempre comigo, e embora eu
saiba que ele esteja, ainda é difícil. O bebê está dormindo em meus braços,
indiferente ao frio no ar. Eu o seguro da cabeça aos pés e aperto com força.
Desde a noite em que Bryan morreu, tantas coisas aconteceram. Eu me senti
tão sozinha sem ele, ou assim eu pensava até algumas semanas após a morte de
Bryan. Um teste de gravidez afirmou a minha suspeita e eu carregava um bebê
dele. Ele tem olhos verdes brilhantes, assim como seu pai. Ele é minha vida agora.
Maggie, o bebê e eu vivemos juntos, uma família improvável, mas contentes. Eu
ainda escrevo - um coração sangrando nunca cicatriza e as páginas me chamam.
Escrever me dá paz quando as coisas ficam insuportáveis.
Eu paro na frente do túmulo do meu pai antes de falar com ele sobre o seu
neto. — Eu dei-lhe o meu nome, pai. Bem, o seu nome. Eu não quero que eles
saibam sobre ele. Se descobrirem... — Esse é o meu maior medo. E se os Ferros
descobrirem sobre o pequeno Bryan Raymond? E se eles descobrirem que ele é o
único filho de Bryan, o herdeiro mais jovem dessa maldita fortuna? Eles vão levá-lo
de mim. Eu sei que vão. Então, dei-lhe o meu nome e quando os repórteres
perguntaram, eu disse que era de Neil. Que iriamos nos casar. Os jornais correram
selvagemente com artigos sobre Neil e eu, retratando-nos como um moderno
Romeu e Julieta. Eles não poderiam estar mais longe da verdade. Enquanto isso,
Bryan era ligado ao assassinato de Amanda Ferro e outro homem que encontraram
na floresta. A arma foi utilizada várias vezes. Bryan não era um assassino. A única
pessoa que ele matou foi Victor, e fez isso para me salvar. Eu não ligo para o que
dizem os investigadores. Eventualmente, eu parei de ler artigos sobre ele. E da
forma que tinham escrito sobre Sean era horrível, mas a maneira como caluniaram
Bryan era muito pior. Eu evito jornais e fico fora do Huffington Post. Eu vivo em
uma bolha com Maggie e meu bebê.
Depois de falar com o papai, eu dou isso como feito. O cemitério não está
exatamente repleto de visitantes hoje. Está muito frio. Vou até o túmulo de Bryan,
um enorme mausoléu com FERRO marcado na parte externa. Originalmente, a
família não ia permitir que ele fosse enterrado com eles, mas Sean brigou com eles
sobre isso, então aqui está ele - meu amor perdido. Eu me inclino contra a pesada
porta, empurrando-a na maior parte fechada. Eu não quero que ninguém saiba que
eu estive aqui, então eu mantenho aqui dentro escuro, iluminado apenas pela luz
do sol que faz o seu caminho através da porta. Está nublado hoje, por isso é mais
escuro do que o habitual. Eu mudo o bebê Bryan em meus braços quando ele
acorda. Ele sorri para mim com o mesmo sorriso que seu pai usou tantas vezes
antes.
— Estamos visitando papai. — Eu digo a ele e solto seus cobertores. — Ele
foi um grande homem e te ama muito. Agora, papai pode nos ver. Ele vai cuidar de
você, Bryan. — Estou em pé na frente do túmulo de Bryan, de costas para a porta.
Nem o ouvi entrar.
Quando ele fala, sua voz é mais suave do que as vozes dos seus irmãos. —
Hallie?
Assustada, eu me viro. Peter Ferro está de pé na porta, cercado de luz. Ele se
parece com um anjo quando caminha na grande sala. Ele está vestindo um casaco
de tweed e calça. Ele é diretor em algum lugar em Jersey. Eu já o vi por aí, mas nós
nunca conversamos muito. Eu não pensei que ele fosse próximo de Bryan, mas
devo ter suposto errado, caso contrário ele não estaria aqui.
— Sinto muito. Estou indo embora. — Eu vou a passar por ele, mas Peter
não me deixa. Ele dá um passo na minha frente e sorri.
— Você não tem que ir. Eu nunca vou manda-la sair, e eu nunca vou dizer-
lhes, mas eles vão perceber.
Eu fico calada porque não tenho outra opção. O medo está me sufocando e
eu mal posso cuspir as palavras. — Perceber o quê? Que eu vim aqui para dizer
adeus a alguém que eu amava? Eles já sabem disso. E Constance nunca contestou
a vontade de Bryan, então acho que estou bem.
— Você sabe o que quero dizer. — Ele olha para o bebê.
Bryan contempla Peter como o seu pai, grandes olhos verdes e cabelo
escuro brilhante. — Eu não estou com medo. — Eu seguro o bebê, e passo ao redor
de Peter, prestes a sair quando ele me para no caminho.
— Esse é o bebê de Bryan. Eles poderiam forçar um teste de paternidade
para provar isso, Hallie. Se a minha mãe já não sabe, logo o fará. Ela não vai
deixar um Ferro crescer fora da mansão.
Eu não nego isso. — Você cresceu lá. Diga-me, você quer que seu filho tenha
essa vida?
— Eu não posso mudar o passado, Hallie, e nem você pode.
— Eu sei disso. Você não acha que eu sei que isso é minha culpa, que o pai
dele está aqui por minha causa? Eu culpava Sean e Constance. Eu até culpei Jon,
mas a única razão que Bryan apareceu naquela noite foi por minha causa. E tudo o
que aconteceu depois. — Eu não posso nem mesmo dizer isso.
Peter diz com certeza absoluta. — A mídia estava errada. Olhe o que eles
fizeram com você e Neil. Você está me dizendo que toda essa merda é verdade?
Eu ri amargamente. — Longe disso.
— Então, não deixe que eles arruínem suas memórias dele. Bryan não
matou Amanda. — Ele parece tão certo.
— Como você pode saber disso?
— Porque eu estava com ele naquela noite e isso não faz sentido. Ele
gostava de Amanda. Nós todos gostávamos.
Algo da noite do assassinato de Bryan volta com a memória de Sean ali
parecendo horrorizado. — Ele não sabia que Bryan tinha essa arma, não é?
Peter ri uma vez suavemente, e balança a cabeça. — Sean nunca fala sobre
Amanda ou aquela noite, mas eu concordo com você nesse ponto.
Olho para Peter. — Enquanto Bryan estava morrendo, Sean o chamou de
idiota. Ele estava tão louco. Eu pensei que era porque levou um tiro.
— Eu acho que foi porque Bryan não deveria ter essa arma. Hallie, ele
salvou você e seu bebê, mas também salvou algumas outras pessoas no processo.
Ele deu a Sean sua vida de volta. Bryan foi altruísta. Ele faria qualquer coisa que
pudesse para ajudar alguém. Se o pegar com a arma ajudava, se assumir a culpa
ajudava, ele teria feito isso num piscar de olhos. Você não acha?
Concordo com a cabeça. Há silêncio quando nós dois olhamos para o lugar
de descanso final de Bryan. — É por isso que Sean brigou para ele estar aqui.
Bryan não matou aquelas pessoas.
— Eu suspeito que seja o caso.
— Assim como Sean.
Peter dá um sorriso torto. — O mais provável. — Depois de um momento,
ele acrescenta: — Você não deve vir mais aqui se não quer que criança cresça como
o resto da família. Na verdade, seria bom se você, Bryan e Maggie se mudassem.
Vá para algum lugar que não vão encontrá-los, por um tempo, pelo menos.
Dificulte para que eles não vejam o bebê ou tire fotos dele. Isso vai fazer você
ganhar tempo - tempo que não terá que se ficar aqui. — Ele desliza seus dedos
contra a bochecha do bebê. — Ele se parece com o pai.
— Eu sei. — Eu seguro meu pequeno bebê quando ele murmura para Peter.
— Aqui. — Ele me entrega seu cartão. — Se você precisar de alguma coisa é
só pedir. Eu nunca vi você e nunca vi o bebê de Bryan. — Ele pisca para mim, em
seguida, desliza pela porta, com as mãos nos bolsos e a cabeça caída entre os
ombros.
Eu o chamo de costas. — Peter, espere. — Corro para o ar fresco. — Estou
fazendo a coisa certa? Ele tem família. É a única coisa que eu nunca tive e sempre
quis. Eu me perguntei se mantê-los longe dele é a coisa certa a fazer.
— Ele tem família, Hallie. Ele tem você e Maggie. Não está faltando nada
para ele. Eu ouvi que dizer que alguma parte de Montana é lindo. Vá dar uma
olhada. — Peter nos sorri e vai embora.
Depois que Bryan morreu, eu nunca pensei que amaria novamente. Senti
meu coração quebrar e um pedaço de mim morreu junto com ele. A escuridão me
consumiu até que aquele pequeno bastão de plástico me disse que eu estava
grávida. O bebê de Bryan era forte e curou meu coração partido enquanto crescia
dentro de mim. Agora que ele está aqui, nos meus braços, eu vejo o rosto do seu pai
todos os dias e sei que sou abençoada.
Depois de colocar Bryan em seu assento de carro, eu entro e fecho a porta.
Depois de ligar o motor, pressiono um botão e ligo para Maggie. — Ei, o que você
acha de ir para Montana?
— Posso ter um cavalo?
— Para que você quer um cavalo se não sabe montar em um? — Eu sorrio e
olho para o túmulo de Bryan, sabendo que eu nunca o verei novamente. Maggie
está tagarelando sobre cavalos e eu finalmente a interrompo: — Sim, você pode ter
um cavalo.
— Estou dentro, quando partimos?
— Hoje à noite. Eles não podem encontrá-lo, Maggie, e um dos Ferros já
sabe a verdade. Tem certeza de que quer vir? Você não precisa. — Isso não é uma
coisa pequena para perguntar, e eu sei disso. Eu não quero ser egoísta e levá-la
comigo para o meio do nada.
— Porra, sim. Não há nada melhor que o meio do nada. Vou usar perneiras
de cowboy, um enorme chapéu ridículo e comprar um pônei. Sim, eu estou
chegando! — Ela ri. — Você é tão idiota, sabe disso? Eu sou sua irmã, talvez não
por nascimento, mas por escolha. Esse é o melhor tipo, sabe. Vou ligar e arrumar
um voo. Vamos sair daqui a poucas horas, Hallie. Vai ser bom para você e para o
pequeno bebê lindo Bryan. Nós podemos viver em uma fazenda!
Eu rio, surpresa com o quão fácil foi para convencê-la disso. Em seguida, eu
digo a ela: — Você sabia que teríamos que ir embora, não é?
— Algum dia, sim, especialmente se você quisesse esconder Bryan do Ferro.
Mas eu pensei que estaria indo para um lugar horrível como um pântano. Eu sou
totalmente a favor de Montana. Ouvi dizer que eles têm cowboys sensuais. Eu
nunca montei um cowboy.
— Maggie!
Ela ri. — Venha para casa. Vou arrumar nossas coisas. Você está pronta para
isso Hallie. É uma boa jogada. Vemo-nos daqui a pouco. — Ela desliga o telefone.
Eu jogo a minha cabeça contra o assento quando olho para o túmulo de
Bryan, e ouço seu filho fazer sons felizes no banco de trás querendo saber se estou
tomando a decisão certa.
— Queria que você estivesse aqui. Eu gostaria que você pudesse me dizer o
que fazer. — Eu digo as palavras para o ar, falando com o meu amor perdido.
Eu não sou boa em ficar desejando tudo. Como uma órfã, eu aprendi que é
um desperdício de tempo, mas logo que eu digo essas palavras, um raio de luz
corta através do céu cinzento. Um único raio de sol brilha para baixo e toca o topo
do mausoléu do Ferro. A cúpula de cobre cintila e todo o meu corpo se cobre de
formigamentos. O vento suaviza e eu juro que Bryan está aqui, me dizendo para ir embora.
Eu fecho os olhos, faço uma oração, e quando olhar para cima a luz dourada
desapareceu. Pela primeira vez desde a sua morte, a paz flui em mim e congratulo-
me com isso. Coloco o carro na estrada e eu falo sobre o meu ombro para o meu
homenzinho. — Bryan, vamos a um lugar divertido, e eu tenho certeza que a tia
Maggie conseguirá um pônei para você.
Capítulo 13
Consumida por choque e sobrecarga emocional, eu não consigo processar o
que ele está me dizendo. Eu pisco para ele. — O quê?
— Eles não conseguiram encontrar a arma durante o julgamento, mas todos
pensavam que Sean Ferro a matou. — Sean se afasta com os ombros endurecendo
com cada palavra e eu sei que ele pode ouvir. O luto me rasga, mas algo parece
errado.
— Eu não entendo. — Eu enxugo as lágrimas do meu rosto e sujo a na
minha bochecha. — O que você está dizendo?
— Eu estou dizendo o que parece, senhorita Raymond. Embora não pode
ser inteiramente conclusivo neste momento, isso aponta a culpa do assassinato em
outra direção. Parece que Bryan Ferro atirou em Amanda, e por qualquer motivo
Sean voluntariamente assumiu a culpa. — O policial tem idade suficiente para
lembrar o julgamento. Ele olha depois para Sean com respeito em seus olhos. Não é
a animosidade típica que as pessoas oferecem quando veem esse homem. Eles
pensam que ele é um monstro sem coração e Sean se torna essa pessoa. No quarto
de Bryan eu tinha visto fotos antigas dos meninos quando eles eram jovens. Sean
sorria e seus olhos não tinha essa coisa oca assustadora que têm agora. É como se
ele está carregando um enorme segredo e eu não posso suportar a ideia de que
este policial está me dizendo à verdade. Bryan está morto por minha causa. Ele
caminhou direto para a linha de fogo para me proteger, então por que diabos ele
iria matar a esposa de Sean? Eu endireito e me viro para olhar para Sean.
Ele está rígido e tremendo, tentando se afastar, mas continua olhando por
cima do ombro até que ele para e se vira. Cruza os braços firmes sobre o peito e
olha para o corpo sem vida do seu primo com um olhar que anda na linha entre o
desprezo e admiração.
Eu não posso suportar isso. Algo dentro de mim quebra. Num acesso de
raiva de lágrimas e fúria, eu salto para cima e corro em direção a ele, gritando
descontroladamente. Quando colido em seu peito, ele mal se move, mas isso não
me impede de dar socos. Eu conecto meu punho com sua lateral firme uma vez,
antes que ele agarre meu pulso. Ele me puxa para perto, ele sussurra em meu
rosto: — Você não é a única sofrendo agora.
Eu puxo meu braço e quase tropeço para trás. Os policiais nos veem, mas
ninguém intercede desde que Sean parece calmo. Ele pode estar firme, mas eu não
estou. Eu sabia que Bryan não estaria comigo por muito mais tempo, mas Sean
roubou alguns minutos extras que tínhamos, e então isso – essa humilhação. Em
sua morte, Bryan é caluniado e acusado de um assassinato que não há nenhuma
maneira que ele tenha cometido. Eu grito para Sean. — É uma mentira. Ele não a
matou.
— Como você sabe? — A voz de Sean é fria e distante, embora seu olhar
esteja grudado em Bryan enquanto movem o seu corpo para um saco preto.
Olho para ele e caio de joelhos soluçando. — Ele não estaria aqui esta noite
se você não me fizesse terminar as coisas com Neil! Isso é culpa sua! Você disse a
ele! Ele não teria vindo se você não contasse a ele sobre Victor! — Eu soco o
pavimento com as mãos até que elas estão machucadas e sangrando. E Sean não
me responde, o que me deixa furiosa. — Admita isso! — Eu estou em seu rosto
novamente, falando em um sussurro morte. — Bryan não teria morrido hoje se não
fosse por você.
Três palavras. Isso é tudo o que ele diz. — Você está certa.
Eu começo a soluçar de novo e solto um grito. No momento há uma fila de
policiais e paramédicos. Os paramédicos tentam olhar para mim, mas eu não
posso deixar Bryan. Quando eles fecham o zíper do saco, peço-lhes para parar. —
Ele vai ficar bem. — Eu agarro o braço do cara quando ele fecha o saco. — Por
favor, pare! Eu não posso fazer isso de novo! Eu não posso! Ele vai ficar bem! Ele
tem que ficar!
Sean me afasta e me esmaga em seu peito. Seus olhos estão vidrados, mas
não há uma única lágrima. Eu o odeio. Eu me solto do seu abraço e cuspo em seu
rosto. Sean não se move para limpar isso. As pessoas que nos observam estão
segurando câmeras. Isso é quando eu sinto uma mão em meu ombro.
Eu me viro, esperando que ele seja um policial, mas não é. Uma parede de
cabelo vermelho me cumprimenta com um sorriso triste. — Eu disse que estaria
aqui para você. Por que você não me ligou?
Capítulo 14
Maggie me segura e abraça forte, me deixando desmoronar em seus braços.
Ela sussurra tolices e tira o cabelo do meu rosto.
Ela ajuda os paramédicos a me levar para uma ambulância para me
examinarem. Quando me sento, eu estremeço. O cara é jovem, mas ele percebe o
que isso significa. Ele chama por um funcionário do sexo feminino e uma policial se
aproxima. Ela é baixinha e seu olhar é simpático. — Querida, eu preciso falar com
você. — Ela sobe na ambulância e fecha uma das portas para que ninguém mais
possa ouvir. — Será que Victor Campone a estuprou?
Eu não sei o que dizer. Balançando a cabeça, eu digo a ela o que aconteceu.
É uma sensação como se fosse muito tempo atrás, mesmo que as queimaduras na
minha pele são frescas. Eu não as sentia até agora. — Minha pele arde.
— Deixe-me arranjar alguém para avaliá-la, então. Precisamos ver como as
queimaduras são para que possamos tratá-las. Ok, querida? Você já passou por
muita coisa hoje à noite. Deixe-os ajudá-la. — A policial está me olhando com pena
em seus olhos. Ela vê o anel em minha mão. Eu o coloco ali sem pensar. Eles
assumiram que eu estava noiva de Bryan. Eles não sabem sobre Neil e Cecily ainda,
então eu lhes digo. Seus olhos se arregalam e ela fala rapidamente em seu ombro.
Eu acrescento: — Eu acho que ele foi para as casas vizinhas também. Por favor,
verifique com eles. Sr. Thom sempre foi bom para mim. — Eu começo a balançar
novamente quando percebo que Victor pode tê-lo matado também.
Um médico vem até mim, mas eu não consigo me acalmar. — Quem é seu
parente mais próximo? — O médico fica perguntando, o que me faz chorar mais.
Ninguém. Sou sozinha.
Maggie diz palavras suaves e tenta me acalmar. Eu seguro a mão dela como
uma criança assustada e olho para ela. Ela sorri para mim. — Eu não vou a lugar
nenhum. Estamos nisso juntas. Eu lhe disse.
— Maggie é a minha família mais próxima. — Eu aponto para ela e assino
algo. Eles começam a perguntar-lhe como me tratar quando não estou coerente.
Eu divago e choro quando eu deveria dizer alguma coisa. A polícia tenta me fazer
perguntas, mas quanto mais eles perguntam, mais rápido que eu desmorono. É
Sean, que coloca um fim a isso.
Sua voz retumba alto do outro lado da porta. — Eu vi o tiroteio. Perguntem
a mim. Senhorita Raymond já teve o suficiente por esta noite.
— Precisamos de mais informações.
A voz de Sean cai. Ele diz algo que eu não consigo entender, mas ele
termina com: — O advogado dela está aqui e se você quiser jogar limpo, eu sugiro
que mostre alguma compaixão agora. Ela não vai esquecer esta noite. Nenhum
detalhe vai desaparecer de sua mente. Deixe-a em paz por agora.
Maggie está me observando na maca. Eu me deitando por que ficar sentada
está doendo. Gostaria de saber quanto de pele que me resta e que isso vai fazer
para mim. Eu vou estar marcada para sempre em um dos lugares mais íntimos no
meu corpo, mas não consigo me importar. Eu fico pensando em Bryan naquele saco
frio. O choro histérico começa novamente e Maggie pede-lhes para me dar alguma
coisa.
Uma agulha é empurrada no meu braço. Maggie canta suavemente,
enquanto acaricia minha testa. De repente minhas pálpebras parecem como
chumbo. Elas vibram quando eu as tento mantê-las abertas. Sean aparece entre as
piscadas e pergunta sobre mim. Com o consentimento de Maggie, eles lhe dizem o
que Victor fez comigo. Ele não diz uma palavra. O homem só olha para mim como
se eu fosse um pedaço de lixo, como se a vida do seu primo não valesse por isso.
— Ele me amou. — As palavras soam fortes e orgulhosas em minha mente,
mas elas caem dos meus lábios como um sussurro.
— Sem dúvida. — Sean responde e fica ali, observando-me adormecer.
Epílogo
O vento atravessa meu casaco quando eu ando para a sepultura, meu
embrulho perto do meu peito. Eu não deveria estar aqui, mas eu tinha que vir. Eu
sou atraída para aqui todos os meses. Eu tenho que falar com ele e esse parece ser
o lugar para fazer isso. Bryan prometeu que estaria sempre comigo, e embora eu
saiba que ele esteja, ainda é difícil. O bebê está dormindo em meus braços,
indiferente ao frio no ar. Eu o seguro da cabeça aos pés e aperto com força.
Desde a noite em que Bryan morreu, tantas coisas aconteceram. Eu me senti
tão sozinha sem ele, ou assim eu pensava até algumas semanas após a morte de
Bryan. Um teste de gravidez afirmou a minha suspeita e eu carregava um bebê
dele. Ele tem olhos verdes brilhantes, assim como seu pai. Ele é minha vida agora.
Maggie, o bebê e eu vivemos juntos, uma família improvável, mas contentes. Eu
ainda escrevo - um coração sangrando nunca cicatriza e as páginas me chamam.
Escrever me dá paz quando as coisas ficam insuportáveis.
Eu paro na frente do túmulo do meu pai antes de falar com ele sobre o seu
neto. — Eu dei-lhe o meu nome, pai. Bem, o seu nome. Eu não quero que eles
saibam sobre ele. Se descobrirem... — Esse é o meu maior medo. E se os Ferros
descobrirem sobre o pequeno Bryan Raymond? E se eles descobrirem que ele é o
único filho de Bryan, o herdeiro mais jovem dessa maldita fortuna? Eles vão levá-lo
de mim. Eu sei que vão. Então, dei-lhe o meu nome e quando os repórteres
perguntaram, eu disse que era de Neil. Que iriamos nos casar. Os jornais correram
selvagemente com artigos sobre Neil e eu, retratando-nos como um moderno
Romeu e Julieta. Eles não poderiam estar mais longe da verdade. Enquanto isso,
Bryan era ligado ao assassinato de Amanda Ferro e outro homem que encontraram
na floresta. A arma foi utilizada várias vezes. Bryan não era um assassino. A única
pessoa que ele matou foi Victor, e fez isso para me salvar. Eu não ligo para o que
dizem os investigadores. Eventualmente, eu parei de ler artigos sobre ele. E da
forma que tinham escrito sobre Sean era horrível, mas a maneira como caluniaram
Bryan era muito pior. Eu evito jornais e fico fora do Huffington Post. Eu vivo em
uma bolha com Maggie e meu bebê.
Depois de falar com o papai, eu dou isso como feito. O cemitério não está
exatamente repleto de visitantes hoje. Está muito frio. Vou até o túmulo de Bryan,
um enorme mausoléu com FERRO marcado na parte externa. Originalmente, a
família não ia permitir que ele fosse enterrado com eles, mas Sean brigou com eles
sobre isso, então aqui está ele - meu amor perdido. Eu me inclino contra a pesada
porta, empurrando-a na maior parte fechada. Eu não quero que ninguém saiba que
eu estive aqui, então eu mantenho aqui dentro escuro, iluminado apenas pela luz
do sol que faz o seu caminho através da porta. Está nublado hoje, por isso é mais
escuro do que o habitual. Eu mudo o bebê Bryan em meus braços quando ele
acorda. Ele sorri para mim com o mesmo sorriso que seu pai usou tantas vezes
antes.
— Estamos visitando papai. — Eu digo a ele e solto seus cobertores. — Ele
foi um grande homem e te ama muito. Agora, papai pode nos ver. Ele vai cuidar de
você, Bryan. — Estou em pé na frente do túmulo de Bryan, de costas para a porta.
Nem o ouvi entrar.
Quando ele fala, sua voz é mais suave do que as vozes dos seus irmãos. —
Hallie?
Assustada, eu me viro. Peter Ferro está de pé na porta, cercado de luz. Ele se
parece com um anjo quando caminha na grande sala. Ele está vestindo um casaco
de tweed e calça. Ele é diretor em algum lugar em Jersey. Eu já o vi por aí, mas nós
nunca conversamos muito. Eu não pensei que ele fosse próximo de Bryan, mas
devo ter suposto errado, caso contrário ele não estaria aqui.
— Sinto muito. Estou indo embora. — Eu vou a passar por ele, mas Peter
não me deixa. Ele dá um passo na minha frente e sorri.
— Você não tem que ir. Eu nunca vou manda-la sair, e eu nunca vou dizer-
lhes, mas eles vão perceber.
Eu fico calada porque não tenho outra opção. O medo está me sufocando e
eu mal posso cuspir as palavras. — Perceber o quê? Que eu vim aqui para dizer
adeus a alguém que eu amava? Eles já sabem disso. E Constance nunca contestou
a vontade de Bryan, então acho que estou bem.
— Você sabe o que quero dizer. — Ele olha para o bebê.
Bryan contempla Peter como o seu pai, grandes olhos verdes e cabelo
escuro brilhante. — Eu não estou com medo. — Eu seguro o bebê, e passo ao redor
de Peter, prestes a sair quando ele me para no caminho.
— Esse é o bebê de Bryan. Eles poderiam forçar um teste de paternidade
para provar isso, Hallie. Se a minha mãe já não sabe, logo o fará. Ela não vai
deixar um Ferro crescer fora da mansão.
Eu não nego isso. — Você cresceu lá. Diga-me, você quer que seu filho tenha
essa vida?
— Eu não posso mudar o passado, Hallie, e nem você pode.
— Eu sei disso. Você não acha que eu sei que isso é minha culpa, que o pai
dele está aqui por minha causa? Eu culpava Sean e Constance. Eu até culpei Jon,
mas a única razão que Bryan apareceu naquela noite foi por minha causa. E tudo o
que aconteceu depois. — Eu não posso nem mesmo dizer isso.
Peter diz com certeza absoluta. — A mídia estava errada. Olhe o que eles
fizeram com você e Neil. Você está me dizendo que toda essa merda é verdade?
Eu ri amargamente. — Longe disso.
— Então, não deixe que eles arruínem suas memórias dele. Bryan não
matou Amanda. — Ele parece tão certo.
— Como você pode saber disso?
— Porque eu estava com ele naquela noite e isso não faz sentido. Ele
gostava de Amanda. Nós todos gostávamos.
Algo da noite do assassinato de Bryan volta com a memória de Sean ali
parecendo horrorizado. — Ele não sabia que Bryan tinha essa arma, não é?
Peter ri uma vez suavemente, e balança a cabeça. — Sean nunca fala sobre
Amanda ou aquela noite, mas eu concordo com você nesse ponto.
Olho para Peter. — Enquanto Bryan estava morrendo, Sean o chamou de
idiota. Ele estava tão louco. Eu pensei que era porque levou um tiro.
— Eu acho que foi porque Bryan não deveria ter essa arma. Hallie, ele
salvou você e seu bebê, mas também salvou algumas outras pessoas no processo.
Ele deu a Sean sua vida de volta. Bryan foi altruísta. Ele faria qualquer coisa que
pudesse para ajudar alguém. Se o pegar com a arma ajudava, se assumir a culpa
ajudava, ele teria feito isso num piscar de olhos. Você não acha?
Concordo com a cabeça. Há silêncio quando nós dois olhamos para o lugar
de descanso final de Bryan. — É por isso que Sean brigou para ele estar aqui.
Bryan não matou aquelas pessoas.
— Eu suspeito que seja o caso.
— Assim como Sean.
Peter dá um sorriso torto. — O mais provável. — Depois de um momento,
ele acrescenta: — Você não deve vir mais aqui se não quer que criança cresça como
o resto da família. Na verdade, seria bom se você, Bryan e Maggie se mudassem.
Vá para algum lugar que não vão encontrá-los, por um tempo, pelo menos.
Dificulte para que eles não vejam o bebê ou tire fotos dele. Isso vai fazer você
ganhar tempo - tempo que não terá que se ficar aqui. — Ele desliza seus dedos
contra a bochecha do bebê. — Ele se parece com o pai.
— Eu sei. — Eu seguro meu pequeno bebê quando ele murmura para Peter.
— Aqui. — Ele me entrega seu cartão. — Se você precisar de alguma coisa é
só pedir. Eu nunca vi você e nunca vi o bebê de Bryan. — Ele pisca para mim, em
seguida, desliza pela porta, com as mãos nos bolsos e a cabeça caída entre os
ombros.
Eu o chamo de costas. — Peter, espere. — Corro para o ar fresco. — Estou
fazendo a coisa certa? Ele tem família. É a única coisa que eu nunca tive e sempre
quis. Eu me perguntei se mantê-los longe dele é a coisa certa a fazer.
— Ele tem família, Hallie. Ele tem você e Maggie. Não está faltando nada
para ele. Eu ouvi que dizer que alguma parte de Montana é lindo. Vá dar uma
olhada. — Peter nos sorri e vai embora.
Depois que Bryan morreu, eu nunca pensei que amaria novamente. Senti
meu coração quebrar e um pedaço de mim morreu junto com ele. A escuridão me
consumiu até que aquele pequeno bastão de plástico me disse que eu estava
grávida. O bebê de Bryan era forte e curou meu coração partido enquanto crescia
dentro de mim. Agora que ele está aqui, nos meus braços, eu vejo o rosto do seu pai
todos os dias e sei que sou abençoada.
Depois de colocar Bryan em seu assento de carro, eu entro e fecho a porta.
Depois de ligar o motor, pressiono um botão e ligo para Maggie. — Ei, o que você
acha de ir para Montana?
— Posso ter um cavalo?
— Para que você quer um cavalo se não sabe montar em um? — Eu sorrio e
olho para o túmulo de Bryan, sabendo que eu nunca o verei novamente. Maggie
está tagarelando sobre cavalos e eu finalmente a interrompo: — Sim, você pode ter
um cavalo.
— Estou dentro, quando partimos?
— Hoje à noite. Eles não podem encontrá-lo, Maggie, e um dos Ferros já
sabe a verdade. Tem certeza de que quer vir? Você não precisa. — Isso não é uma
coisa pequena para perguntar, e eu sei disso. Eu não quero ser egoísta e levá-la
comigo para o meio do nada.
— Porra, sim. Não há nada melhor que o meio do nada. Vou usar perneiras
de cowboy, um enorme chapéu ridículo e comprar um pônei. Sim, eu estou
chegando! — Ela ri. — Você é tão idiota, sabe disso? Eu sou sua irmã, talvez não
por nascimento, mas por escolha. Esse é o melhor tipo, sabe. Vou ligar e arrumar
um voo. Vamos sair daqui a poucas horas, Hallie. Vai ser bom para você e para o
pequeno bebê lindo Bryan. Nós podemos viver em uma fazenda!
Eu rio, surpresa com o quão fácil foi para convencê-la disso. Em seguida, eu
digo a ela: — Você sabia que teríamos que ir embora, não é?
— Algum dia, sim, especialmente se você quisesse esconder Bryan do Ferro.
Mas eu pensei que estaria indo para um lugar horrível como um pântano. Eu sou
totalmente a favor de Montana. Ouvi dizer que eles têm cowboys sensuais. Eu
nunca montei um cowboy.
— Maggie!
Ela ri. — Venha para casa. Vou arrumar nossas coisas. Você está pronta para
isso Hallie. É uma boa jogada. Vemo-nos daqui a pouco. — Ela desliga o telefone.
Eu jogo a minha cabeça contra o assento quando olho para o túmulo de
Bryan, e ouço seu filho fazer sons felizes no banco de trás querendo saber se estou
tomando a decisão certa.
— Queria que você estivesse aqui. Eu gostaria que você pudesse me dizer o
que fazer. — Eu digo as palavras para o ar, falando com o meu amor perdido.
Eu não sou boa em ficar desejando tudo. Como uma órfã, eu aprendi que é
um desperdício de tempo, mas logo que eu digo essas palavras, um raio de luz
corta através do céu cinzento. Um único raio de sol brilha para baixo e toca o topo
do mausoléu do Ferro. A cúpula de cobre cintila e todo o meu corpo se cobre de
formigamentos. O vento suaviza e eu juro que Bryan está aqui, me dizendo para ir embora.
Eu fecho os olhos, faço uma oração, e quando olhar para cima a luz dourada
desapareceu. Pela primeira vez desde a sua morte, a paz flui em mim e congratulo-
me com isso. Coloco o carro na estrada e eu falo sobre o meu ombro para o meu
homenzinho. — Bryan, vamos a um lugar divertido, e eu tenho certeza que a tia
Maggie conseguirá um pônei para você.
Capítulo 13
Consumida por choque e sobrecarga emocional, eu não consigo processar o
que ele está me dizendo. Eu pisco para ele. — O quê?
— Eles não conseguiram encontrar a arma durante o julgamento, mas todos
pensavam que Sean Ferro a matou. — Sean se afasta com os ombros endurecendo
com cada palavra e eu sei que ele pode ouvir. O luto me rasga, mas algo parece
errado.
— Eu não entendo. — Eu enxugo as lágrimas do meu rosto e sujo a na
minha bochecha. — O que você está dizendo?
— Eu estou dizendo o que parece, senhorita Raymond. Embora não pode
ser inteiramente conclusivo neste momento, isso aponta a culpa do assassinato em
outra direção. Parece que Bryan Ferro atirou em Amanda, e por qualquer motivo
Sean voluntariamente assumiu a culpa. — O policial tem idade suficiente para
lembrar o julgamento. Ele olha depois para Sean com respeito em seus olhos. Não é
a animosidade típica que as pessoas oferecem quando veem esse homem. Eles
pensam que ele é um monstro sem coração e Sean se torna essa pessoa. No quarto
de Bryan eu tinha visto fotos antigas dos meninos quando eles eram jovens. Sean
sorria e seus olhos não tinha essa coisa oca assustadora que têm agora. É como se
ele está carregando um enorme segredo e eu não posso suportar a ideia de que
este policial está me dizendo à verdade. Bryan está morto por minha causa. Ele
caminhou direto para a linha de fogo para me proteger, então por que diabos ele
iria matar a esposa de Sean? Eu endireito e me viro para olhar para Sean.
Ele está rígido e tremendo, tentando se afastar, mas continua olhando por
cima do ombro até que ele para e se vira. Cruza os braços firmes sobre o peito e
olha para o corpo sem vida do seu primo com um olhar que anda na linha entre o
desprezo e admiração.
Eu não posso suportar isso. Algo dentro de mim quebra. Num acesso de
raiva de lágrimas e fúria, eu salto para cima e corro em direção a ele, gritando
descontroladamente. Quando colido em seu peito, ele mal se move, mas isso não
me impede de dar socos. Eu conecto meu punho com sua lateral firme uma vez,
antes que ele agarre meu pulso. Ele me puxa para perto, ele sussurra em meu
rosto: — Você não é a única sofrendo agora.
Eu puxo meu braço e quase tropeço para trás. Os policiais nos veem, mas
ninguém intercede desde que Sean parece calmo. Ele pode estar firme, mas eu não
estou. Eu sabia que Bryan não estaria comigo por muito mais tempo, mas Sean
roubou alguns minutos extras que tínhamos, e então isso – essa humilhação. Em
sua morte, Bryan é caluniado e acusado de um assassinato que não há nenhuma
maneira que ele tenha cometido. Eu grito para Sean. — É uma mentira. Ele não a
matou.
— Como você sabe? — A voz de Sean é fria e distante, embora seu olhar
esteja grudado em Bryan enquanto movem o seu corpo para um saco preto.
Olho para ele e caio de joelhos soluçando. — Ele não estaria aqui esta noite
se você não me fizesse terminar as coisas com Neil! Isso é culpa sua! Você disse a
ele! Ele não teria vindo se você não contasse a ele sobre Victor! — Eu soco o
pavimento com as mãos até que elas estão machucadas e sangrando. E Sean não
me responde, o que me deixa furiosa. — Admita isso! — Eu estou em seu rosto
novamente, falando em um sussurro morte. — Bryan não teria morrido hoje se não
fosse por você.
Três palavras. Isso é tudo o que ele diz. — Você está certa.
Eu começo a soluçar de novo e solto um grito. No momento há uma fila de
policiais e paramédicos. Os paramédicos tentam olhar para mim, mas eu não
posso deixar Bryan. Quando eles fecham o zíper do saco, peço-lhes para parar. —
Ele vai ficar bem. — Eu agarro o braço do cara quando ele fecha o saco. — Por
favor, pare! Eu não posso fazer isso de novo! Eu não posso! Ele vai ficar bem! Ele
tem que ficar!
Sean me afasta e me esmaga em seu peito. Seus olhos estão vidrados, mas
não há uma única lágrima. Eu o odeio. Eu me solto do seu abraço e cuspo em seu
rosto. Sean não se move para limpar isso. As pessoas que nos observam estão
segurando câmeras. Isso é quando eu sinto uma mão em meu ombro.
Eu me viro, esperando que ele seja um policial, mas não é. Uma parede de
cabelo vermelho me cumprimenta com um sorriso triste. — Eu disse que estaria
aqui para você. Por que você não me ligou?
Capítulo 14
Maggie me segura e abraça forte, me deixando desmoronar em seus braços.
Ela sussurra tolices e tira o cabelo do meu rosto.
Ela ajuda os paramédicos a me levar para uma ambulância para me
examinarem. Quando me sento, eu estremeço. O cara é jovem, mas ele percebe o
que isso significa. Ele chama por um funcionário do sexo feminino e uma policial se
aproxima. Ela é baixinha e seu olhar é simpático. — Querida, eu preciso falar com
você. — Ela sobe na ambulância e fecha uma das portas para que ninguém mais
possa ouvir. — Será que Victor Campone a estuprou?
Eu não sei o que dizer. Balançando a cabeça, eu digo a ela o que aconteceu.
É uma sensação como se fosse muito tempo atrás, mesmo que as queimaduras na
minha pele são frescas. Eu não as sentia até agora. — Minha pele arde.
— Deixe-me arranjar alguém para avaliá-la, então. Precisamos ver como as
queimaduras são para que possamos tratá-las. Ok, querida? Você já passou por
muita coisa hoje à noite. Deixe-os ajudá-la. — A policial está me olhando com pena
em seus olhos. Ela vê o anel em minha mão. Eu o coloco ali sem pensar. Eles
assumiram que eu estava noiva de Bryan. Eles não sabem sobre Neil e Cecily ainda,
então eu lhes digo. Seus olhos se arregalam e ela fala rapidamente em seu ombro.
Eu acrescento: — Eu acho que ele foi para as casas vizinhas também. Por favor,
verifique com eles. Sr. Thom sempre foi bom para mim. — Eu começo a balançar
novamente quando percebo que Victor pode tê-lo matado também.
Um médico vem até mim, mas eu não consigo me acalmar. — Quem é seu
parente mais próximo? — O médico fica perguntando, o que me faz chorar mais.
Ninguém. Sou sozinha.
Maggie diz palavras suaves e tenta me acalmar. Eu seguro a mão dela como
uma criança assustada e olho para ela. Ela sorri para mim. — Eu não vou a lugar
nenhum. Estamos nisso juntas. Eu lhe disse.
— Maggie é a minha família mais próxima. — Eu aponto para ela e assino
algo. Eles começam a perguntar-lhe como me tratar quando não estou coerente.
Eu divago e choro quando eu deveria dizer alguma coisa. A polícia tenta me fazer
perguntas, mas quanto mais eles perguntam, mais rápido que eu desmorono. É
Sean, que coloca um fim a isso.
Sua voz retumba alto do outro lado da porta. — Eu vi o tiroteio. Perguntem
a mim. Senhorita Raymond já teve o suficiente por esta noite.
— Precisamos de mais informações.
A voz de Sean cai. Ele diz algo que eu não consigo entender, mas ele
termina com: — O advogado dela está aqui e se você quiser jogar limpo, eu sugiro
que mostre alguma compaixão agora. Ela não vai esquecer esta noite. Nenhum
detalhe vai desaparecer de sua mente. Deixe-a em paz por agora.
Maggie está me observando na maca. Eu me deitando por que ficar sentada
está doendo. Gostaria de saber quanto de pele que me resta e que isso vai fazer
para mim. Eu vou estar marcada para sempre em um dos lugares mais íntimos no
meu corpo, mas não consigo me importar. Eu fico pensando em Bryan naquele saco
frio. O choro histérico começa novamente e Maggie pede-lhes para me dar alguma
coisa.
Uma agulha é empurrada no meu braço. Maggie canta suavemente,
enquanto acaricia minha testa. De repente minhas pálpebras parecem como
chumbo. Elas vibram quando eu as tento mantê-las abertas. Sean aparece entre as
piscadas e pergunta sobre mim. Com o consentimento de Maggie, eles lhe dizem o
que Victor fez comigo. Ele não diz uma palavra. O homem só olha para mim como
se eu fosse um pedaço de lixo, como se a vida do seu primo não valesse por isso.
— Ele me amou. — As palavras soam fortes e orgulhosas em minha mente,
mas elas caem dos meus lábios como um sussurro.
— Sem dúvida. — Sean responde e fica ali, observando-me adormecer.
Epílogo
O vento atravessa meu casaco quando eu ando para a sepultura, meu
embrulho perto do meu peito. Eu não deveria estar aqui, mas eu tinha que vir. Eu
sou atraída para aqui todos os meses. Eu tenho que falar com ele e esse parece ser
o lugar para fazer isso. Bryan prometeu que estaria sempre comigo, e embora eu
saiba que ele esteja, ainda é difícil. O bebê está dormindo em meus braços,
indiferente ao frio no ar. Eu o seguro da cabeça aos pés e aperto com força.
Desde a noite em que Bryan morreu, tantas coisas aconteceram. Eu me senti
tão sozinha sem ele, ou assim eu pensava até algumas semanas após a morte de
Bryan. Um teste de gravidez afirmou a minha suspeita e eu carregava um bebê
dele. Ele tem olhos verdes brilhantes, assim como seu pai. Ele é minha vida agora.
Maggie, o bebê e eu vivemos juntos, uma família improvável, mas contentes. Eu
ainda escrevo - um coração sangrando nunca cicatriza e as páginas me chamam.
Escrever me dá paz quando as coisas ficam insuportáveis.
Eu paro na frente do túmulo do meu pai antes de falar com ele sobre o seu
neto. — Eu dei-lhe o meu nome, pai. Bem, o seu nome. Eu não quero que eles
saibam sobre ele. Se descobrirem... — Esse é o meu maior medo. E se os Ferros
descobrirem sobre o pequeno Bryan Raymond? E se eles descobrirem que ele é o
único filho de Bryan, o herdeiro mais jovem dessa maldita fortuna? Eles vão levá-lo
de mim. Eu sei que vão. Então, dei-lhe o meu nome e quando os repórteres
perguntaram, eu disse que era de Neil. Que iriamos nos casar. Os jornais correram
selvagemente com artigos sobre Neil e eu, retratando-nos como um moderno
Romeu e Julieta. Eles não poderiam estar mais longe da verdade. Enquanto isso,
Bryan era ligado ao assassinato de Amanda Ferro e outro homem que encontraram
na floresta. A arma foi utilizada várias vezes. Bryan não era um assassino. A única
pessoa que ele matou foi Victor, e fez isso para me salvar. Eu não ligo para o que
dizem os investigadores. Eventualmente, eu parei de ler artigos sobre ele. E da
forma que tinham escrito sobre Sean era horrível, mas a maneira como caluniaram
Bryan era muito pior. Eu evito jornais e fico fora do Huffington Post. Eu vivo em
uma bolha com Maggie e meu bebê.
Depois de falar com o papai, eu dou isso como feito. O cemitério não está
exatamente repleto de visitantes hoje. Está muito frio. Vou até o túmulo de Bryan,
um enorme mausoléu com FERRO marcado na parte externa. Originalmente, a
família não ia permitir que ele fosse enterrado com eles, mas Sean brigou com eles
sobre isso, então aqui está ele - meu amor perdido. Eu me inclino contra a pesada
porta, empurrando-a na maior parte fechada. Eu não quero que ninguém saiba que
eu estive aqui, então eu mantenho aqui dentro escuro, iluminado apenas pela luz
do sol que faz o seu caminho através da porta. Está nublado hoje, por isso é mais
escuro do que o habitual. Eu mudo o bebê Bryan em meus braços quando ele
acorda. Ele sorri para mim com o mesmo sorriso que seu pai usou tantas vezes
antes.
— Estamos visitando papai. — Eu digo a ele e solto seus cobertores. — Ele
foi um grande homem e te ama muito. Agora, papai pode nos ver. Ele vai cuidar de
você, Bryan. — Estou em pé na frente do túmulo de Bryan, de costas para a porta.
Nem o ouvi entrar.
Quando ele fala, sua voz é mais suave do que as vozes dos seus irmãos. —
Hallie?
Assustada, eu me viro. Peter Ferro está de pé na porta, cercado de luz. Ele se
parece com um anjo quando caminha na grande sala. Ele está vestindo um casaco
de tweed e calça. Ele é diretor em algum lugar em Jersey. Eu já o vi por aí, mas nós
nunca conversamos muito. Eu não pensei que ele fosse próximo de Bryan, mas
devo ter suposto errado, caso contrário ele não estaria aqui.
— Sinto muito. Estou indo embora. — Eu vou a passar por ele, mas Peter
não me deixa. Ele dá um passo na minha frente e sorri.
— Você não tem que ir. Eu nunca vou manda-la sair, e eu nunca vou dizer-
lhes, mas eles vão perceber.
Eu fico calada porque não tenho outra opção. O medo está me sufocando e
eu mal posso cuspir as palavras. — Perceber o quê? Que eu vim aqui para dizer
adeus a alguém que eu amava? Eles já sabem disso. E Constance nunca contestou
a vontade de Bryan, então acho que estou bem.
— Você sabe o que quero dizer. — Ele olha para o bebê.
Bryan contempla Peter como o seu pai, grandes olhos verdes e cabelo
escuro brilhante. — Eu não estou com medo. — Eu seguro o bebê, e passo ao redor
de Peter, prestes a sair quando ele me para no caminho.
— Esse é o bebê de Bryan. Eles poderiam forçar um teste de paternidade
para provar isso, Hallie. Se a minha mãe já não sabe, logo o fará. Ela não vai
deixar um Ferro crescer fora da mansão.
Eu não nego isso. — Você cresceu lá. Diga-me, você quer que seu filho tenha
essa vida?
— Eu não posso mudar o passado, Hallie, e nem você pode.
— Eu sei disso. Você não acha que eu sei que isso é minha culpa, que o pai
dele está aqui por minha causa? Eu culpava Sean e Constance. Eu até culpei Jon,
mas a única razão que Bryan apareceu naquela noite foi por minha causa. E tudo o
que aconteceu depois. — Eu não posso nem mesmo dizer isso.
Peter diz com certeza absoluta. — A mídia estava errada. Olhe o que eles
fizeram com você e Neil. Você está me dizendo que toda essa merda é verdade?
Eu ri amargamente. — Longe disso.
— Então, não deixe que eles arruínem suas memórias dele. Bryan não
matou Amanda. — Ele parece tão certo.
— Como você pode saber disso?
— Porque eu estava com ele naquela noite e isso não faz sentido. Ele
gostava de Amanda. Nós todos gostávamos.
Algo da noite do assassinato de Bryan volta com a memória de Sean ali
parecendo horrorizado. — Ele não sabia que Bryan tinha essa arma, não é?
Peter ri uma vez suavemente, e balança a cabeça. — Sean nunca fala sobre
Amanda ou aquela noite, mas eu concordo com você nesse ponto.
Olho para Peter. — Enquanto Bryan estava morrendo, Sean o chamou de
idiota. Ele estava tão louco. Eu pensei que era porque levou um tiro.
— Eu acho que foi porque Bryan não deveria ter essa arma. Hallie, ele
salvou você e seu bebê, mas também salvou algumas outras pessoas no processo.
Ele deu a Sean sua vida de volta. Bryan foi altruísta. Ele faria qualquer coisa que
pudesse para ajudar alguém. Se o pegar com a arma ajudava, se assumir a culpa
ajudava, ele teria feito isso num piscar de olhos. Você não acha?
Concordo com a cabeça. Há silêncio quando nós dois olhamos para o lugar
de descanso final de Bryan. — É por isso que Sean brigou para ele estar aqui.
Bryan não matou aquelas pessoas.
— Eu suspeito que seja o caso.
— Assim como Sean.
Peter dá um sorriso torto. — O mais provável. — Depois de um momento,
ele acrescenta: — Você não deve vir mais aqui se não quer que criança cresça como
o resto da família. Na verdade, seria bom se você, Bryan e Maggie se mudassem.
Vá para algum lugar que não vão encontrá-los, por um tempo, pelo menos.
Dificulte para que eles não vejam o bebê ou tire fotos dele. Isso vai fazer você
ganhar tempo - tempo que não terá que se ficar aqui. — Ele desliza seus dedos
contra a bochecha do bebê. — Ele se parece com o pai.
— Eu sei. — Eu seguro meu pequeno bebê quando ele murmura para Peter.
— Aqui. — Ele me entrega seu cartão. — Se você precisar de alguma coisa é
só pedir. Eu nunca vi você e nunca vi o bebê de Bryan. — Ele pisca para mim, em
seguida, desliza pela porta, com as mãos nos bolsos e a cabeça caída entre os
ombros.
Eu o chamo de costas. — Peter, espere. — Corro para o ar fresco. — Estou
fazendo a coisa certa? Ele tem família. É a única coisa que eu nunca tive e sempre
quis. Eu me perguntei se mantê-los longe dele é a coisa certa a fazer.
— Ele tem família, Hallie. Ele tem você e Maggie. Não está faltando nada
para ele. Eu ouvi que dizer que alguma parte de Montana é lindo. Vá dar uma
olhada. — Peter nos sorri e vai embora.
Depois que Bryan morreu, eu nunca pensei que amaria novamente. Senti
meu coração quebrar e um pedaço de mim morreu junto com ele. A escuridão me
consumiu até que aquele pequeno bastão de plástico me disse que eu estava
grávida. O bebê de Bryan era forte e curou meu coração partido enquanto crescia
dentro de mim. Agora que ele está aqui, nos meus braços, eu vejo o rosto do seu pai
todos os dias e sei que sou abençoada.
Depois de colocar Bryan em seu assento de carro, eu entro e fecho a porta.
Depois de ligar o motor, pressiono um botão e ligo para Maggie. — Ei, o que você
acha de ir para Montana?
— Posso ter um cavalo?
— Para que você quer um cavalo se não sabe montar em um? — Eu sorrio e
olho para o túmulo de Bryan, sabendo que eu nunca o verei novamente. Maggie
está tagarelando sobre cavalos e eu finalmente a interrompo: — Sim, você pode ter
um cavalo.
— Estou dentro, quando partimos?
— Hoje à noite. Eles não podem encontrá-lo, Maggie, e um dos Ferros já
sabe a verdade. Tem certeza de que quer vir? Você não precisa. — Isso não é uma
coisa pequena para perguntar, e eu sei disso. Eu não quero ser egoísta e levá-la
comigo para o meio do nada.
— Porra, sim. Não há nada melhor que o meio do nada. Vou usar perneiras
de cowboy, um enorme chapéu ridículo e comprar um pônei. Sim, eu estou
chegando! — Ela ri. — Você é tão idiota, sabe disso? Eu sou sua irmã, talvez não
por nascimento, mas por escolha. Esse é o melhor tipo, sabe. Vou ligar e arrumar
um voo. Vamos sair daqui a poucas horas, Hallie. Vai ser bom para você e para o
pequeno bebê lindo Bryan. Nós podemos viver em uma fazenda!
Eu rio, surpresa com o quão fácil foi para convencê-la disso. Em seguida, eu
digo a ela: — Você sabia que teríamos que ir embora, não é?
— Algum dia, sim, especialmente se você quisesse esconder Bryan do Ferro.
Mas eu pensei que estaria indo para um lugar horrível como um pântano. Eu sou
totalmente a favor de Montana. Ouvi dizer que eles têm cowboys sensuais. Eu
nunca montei um cowboy.
— Maggie!
Ela ri. — Venha para casa. Vou arrumar nossas coisas. Você está pronta para
isso Hallie. É uma boa jogada. Vemo-nos daqui a pouco. — Ela desliga o telefone.
Eu jogo a minha cabeça contra o assento quando olho para o túmulo de
Bryan, e ouço seu filho fazer sons felizes no banco de trás querendo saber se estou
tomando a decisão certa.
— Queria que você estivesse aqui. Eu gostaria que você pudesse me dizer o
que fazer. — Eu digo as palavras para o ar, falando com o meu amor perdido.
Eu não sou boa em ficar desejando tudo. Como uma órfã, eu aprendi que é
um desperdício de tempo, mas logo que eu digo essas palavras, um raio de luz
corta através do céu cinzento. Um único raio de sol brilha para baixo e toca o topo
do mausoléu do Ferro. A cúpula de cobre cintila e todo o meu corpo se cobre de
formigamentos. O vento suaviza e eu juro que Bryan está aqui, me dizendo para ir embora.
Eu fecho os olhos, faço uma oração, e quando olhar para cima a luz dourada
desapareceu. Pela primeira vez desde a sua morte, a paz flui em mim e congratulo-
me com isso. Coloco o carro na estrada e eu falo sobre o meu ombro para o meu
homenzinho. — Bryan, vamos a um lugar divertido, e eu tenho certeza que a tia
Maggie conseguirá um pônei para você.
Capítulo 13
Consumida por choque e sobrecarga emocional, eu não consigo processar o
que ele está me dizendo. Eu pisco para ele. — O quê?
— Eles não conseguiram encontrar a arma durante o julgamento, mas todos
pensavam que Sean Ferro a matou. — Sean se afasta com os ombros endurecendo
com cada palavra e eu sei que ele pode ouvir. O luto me rasga, mas algo parece
errado.
— Eu não entendo. — Eu enxugo as lágrimas do meu rosto e sujo a na
minha bochecha. — O que você está dizendo?
— Eu estou dizendo o que parece, senhorita Raymond. Embora não pode
ser inteiramente conclusivo neste momento, isso aponta a culpa do assassinato em
outra direção. Parece que Bryan Ferro atirou em Amanda, e por qualquer motivo
Sean voluntariamente assumiu a culpa. — O policial tem idade suficiente para
lembrar o julgamento. Ele olha depois para Sean com respeito em seus olhos. Não é
a animosidade típica que as pessoas oferecem quando veem esse homem. Eles
pensam que ele é um monstro sem coração e Sean se torna essa pessoa. No quarto
de Bryan eu tinha visto fotos antigas dos meninos quando eles eram jovens. Sean
sorria e seus olhos não tinha essa coisa oca assustadora que têm agora. É como se
ele está carregando um enorme segredo e eu não posso suportar a ideia de que
este policial está me dizendo à verdade. Bryan está morto por minha causa. Ele
caminhou direto para a linha de fogo para me proteger, então por que diabos ele
iria matar a esposa de Sean? Eu endireito e me viro para olhar para Sean.
Ele está rígido e tremendo, tentando se afastar, mas continua olhando por
cima do ombro até que ele para e se vira. Cruza os braços firmes sobre o peito e
olha para o corpo sem vida do seu primo com um olhar que anda na linha entre o
desprezo e admiração.
Eu não posso suportar isso. Algo dentro de mim quebra. Num acesso de
raiva de lágrimas e fúria, eu salto para cima e corro em direção a ele, gritando
descontroladamente. Quando colido em seu peito, ele mal se move, mas isso não
me impede de dar socos. Eu conecto meu punho com sua lateral firme uma vez,
antes que ele agarre meu pulso. Ele me puxa para perto, ele sussurra em meu
rosto: — Você não é a única sofrendo agora.
Eu puxo meu braço e quase tropeço para trás. Os policiais nos veem, mas
ninguém intercede desde que Sean parece calmo. Ele pode estar firme, mas eu não
estou. Eu sabia que Bryan não estaria comigo por muito mais tempo, mas Sean
roubou alguns minutos extras que tínhamos, e então isso – essa humilhação. Em
sua morte, Bryan é caluniado e acusado de um assassinato que não há nenhuma
maneira que ele tenha cometido. Eu grito para Sean. — É uma mentira. Ele não a
matou.
— Como você sabe? — A voz de Sean é fria e distante, embora seu olhar
esteja grudado em Bryan enquanto movem o seu corpo para um saco preto.
Olho para ele e caio de joelhos soluçando. — Ele não estaria aqui esta noite
se você não me fizesse terminar as coisas com Neil! Isso é culpa sua! Você disse a
ele! Ele não teria vindo se você não contasse a ele sobre Victor! — Eu soco o
pavimento com as mãos até que elas estão machucadas e sangrando. E Sean não
me responde, o que me deixa furiosa. — Admita isso! — Eu estou em seu rosto
novamente, falando em um sussurro morte. — Bryan não teria morrido hoje se não
fosse por você.
Três palavras. Isso é tudo o que ele diz. — Você está certa.
Eu começo a soluçar de novo e solto um grito. No momento há uma fila de
policiais e paramédicos. Os paramédicos tentam olhar para mim, mas eu não
posso deixar Bryan. Quando eles fecham o zíper do saco, peço-lhes para parar. —
Ele vai ficar bem. — Eu agarro o braço do cara quando ele fecha o saco. — Por
favor, pare! Eu não posso fazer isso de novo! Eu não posso! Ele vai ficar bem! Ele
tem que ficar!
Sean me afasta e me esmaga em seu peito. Seus olhos estão vidrados, mas
não há uma única lágrima. Eu o odeio. Eu me solto do seu abraço e cuspo em seu
rosto. Sean não se move para limpar isso. As pessoas que nos observam estão
segurando câmeras. Isso é quando eu sinto uma mão em meu ombro.
Eu me viro, esperando que ele seja um policial, mas não é. Uma parede de
cabelo vermelho me cumprimenta com um sorriso triste. — Eu disse que estaria
aqui para você. Por que você não me ligou?
Capítulo 14
Maggie me segura e abraça forte, me deixando desmoronar em seus braços.
Ela sussurra tolices e tira o cabelo do meu rosto.
Ela ajuda os paramédicos a me levar para uma ambulância para me
examinarem. Quando me sento, eu estremeço. O cara é jovem, mas ele percebe o
que isso significa. Ele chama por um funcionário do sexo feminino e uma policial se
aproxima. Ela é baixinha e seu olhar é simpático. — Querida, eu preciso falar com
você. — Ela sobe na ambulância e fecha uma das portas para que ninguém mais
possa ouvir. — Será que Victor Campone a estuprou?
Eu não sei o que dizer. Balançando a cabeça, eu digo a ela o que aconteceu.
É uma sensação como se fosse muito tempo atrás, mesmo que as queimaduras na
minha pele são frescas. Eu não as sentia até agora. — Minha pele arde.
— Deixe-me arranjar alguém para avaliá-la, então. Precisamos ver como as
queimaduras são para que possamos tratá-las. Ok, querida? Você já passou por
muita coisa hoje à noite. Deixe-os ajudá-la. — A policial está me olhando com pena
em seus olhos. Ela vê o anel em minha mão. Eu o coloco ali sem pensar. Eles
assumiram que eu estava noiva de Bryan. Eles não sabem sobre Neil e Cecily ainda,
então eu lhes digo. Seus olhos se arregalam e ela fala rapidamente em seu ombro.
Eu acrescento: — Eu acho que ele foi para as casas vizinhas também. Por favor,
verifique com eles. Sr. Thom sempre foi bom para mim. — Eu começo a balançar
novamente quando percebo que Victor pode tê-lo matado também.
Um médico vem até mim, mas eu não consigo me acalmar. — Quem é seu
parente mais próximo? — O médico fica perguntando, o que me faz chorar mais.
Ninguém. Sou sozinha.
Maggie diz palavras suaves e tenta me acalmar. Eu seguro a mão dela como
uma criança assustada e olho para ela. Ela sorri para mim. — Eu não vou a lugar
nenhum. Estamos nisso juntas. Eu lhe disse.
— Maggie é a minha família mais próxima. — Eu aponto para ela e assino
algo. Eles começam a perguntar-lhe como me tratar quando não estou coerente.
Eu divago e choro quando eu deveria dizer alguma coisa. A polícia tenta me fazer
perguntas, mas quanto mais eles perguntam, mais rápido que eu desmorono. É
Sean, que coloca um fim a isso.
Sua voz retumba alto do outro lado da porta. — Eu vi o tiroteio. Perguntem
a mim. Senhorita Raymond já teve o suficiente por esta noite.
— Precisamos de mais informações.
A voz de Sean cai. Ele diz algo que eu não consigo entender, mas ele
termina com: — O advogado dela está aqui e se você quiser jogar limpo, eu sugiro
que mostre alguma compaixão agora. Ela não vai esquecer esta noite. Nenhum
detalhe vai desaparecer de sua mente. Deixe-a em paz por agora.
Maggie está me observando na maca. Eu me deitando por que ficar sentada
está doendo. Gostaria de saber quanto de pele que me resta e que isso vai fazer
para mim. Eu vou estar marcada para sempre em um dos lugares mais íntimos no
meu corpo, mas não consigo me importar. Eu fico pensando em Bryan naquele saco
frio. O choro histérico começa novamente e Maggie pede-lhes para me dar alguma
coisa.
Uma agulha é empurrada no meu braço. Maggie canta suavemente,
enquanto acaricia minha testa. De repente minhas pálpebras parecem como
chumbo. Elas vibram quando eu as tento mantê-las abertas. Sean aparece entre as
piscadas e pergunta sobre mim. Com o consentimento de Maggie, eles lhe dizem o
que Victor fez comigo. Ele não diz uma palavra. O homem só olha para mim como
se eu fosse um pedaço de lixo, como se a vida do seu primo não valesse por isso.
— Ele me amou. — As palavras soam fortes e orgulhosas em minha mente,
mas elas caem dos meus lábios como um sussurro.
— Sem dúvida. — Sean responde e fica ali, observando-me adormecer.
Epílogo
O vento atravessa meu casaco quando eu ando para a sepultura, meu
embrulho perto do meu peito. Eu não deveria estar aqui, mas eu tinha que vir. Eu
sou atraída para aqui todos os meses. Eu tenho que falar com ele e esse parece ser
o lugar para fazer isso. Bryan prometeu que estaria sempre comigo, e embora eu
saiba que ele esteja, ainda é difícil. O bebê está dormindo em meus braços,
indiferente ao frio no ar. Eu o seguro da cabeça aos pés e aperto com força.
Desde a noite em que Bryan morreu, tantas coisas aconteceram. Eu me senti
tão sozinha sem ele, ou assim eu pensava até algumas semanas após a morte de
Bryan. Um teste de gravidez afirmou a minha suspeita e eu carregava um bebê
dele. Ele tem olhos verdes brilhantes, assim como seu pai. Ele é minha vida agora.
Maggie, o bebê e eu vivemos juntos, uma família improvável, mas contentes. Eu
ainda escrevo - um coração sangrando nunca cicatriza e as páginas me chamam.
Escrever me dá paz quando as coisas ficam insuportáveis.
Eu paro na frente do túmulo do meu pai antes de falar com ele sobre o seu
neto. — Eu dei-lhe o meu nome, pai. Bem, o seu nome. Eu não quero que eles
saibam sobre ele. Se descobrirem... — Esse é o meu maior medo. E se os Ferros
descobrirem sobre o pequeno Bryan Raymond? E se eles descobrirem que ele é o
único filho de Bryan, o herdeiro mais jovem dessa maldita fortuna? Eles vão levá-lo
de mim. Eu sei que vão. Então, dei-lhe o meu nome e quando os repórteres
perguntaram, eu disse que era de Neil. Que iriamos nos casar. Os jornais correram
selvagemente com artigos sobre Neil e eu, retratando-nos como um moderno
Romeu e Julieta. Eles não poderiam estar mais longe da verdade. Enquanto isso,
Bryan era ligado ao assassinato de Amanda Ferro e outro homem que encontraram
na floresta. A arma foi utilizada várias vezes. Bryan não era um assassino. A única
pessoa que ele matou foi Victor, e fez isso para me salvar. Eu não ligo para o que
dizem os investigadores. Eventualmente, eu parei de ler artigos sobre ele. E da
forma que tinham escrito sobre Sean era horrível, mas a maneira como caluniaram
Bryan era muito pior. Eu evito jornais e fico fora do Huffington Post. Eu vivo em
uma bolha com Maggie e meu bebê.
Depois de falar com o papai, eu dou isso como feito. O cemitério não está
exatamente repleto de visitantes hoje. Está muito frio. Vou até o túmulo de Bryan,
um enorme mausoléu com FERRO marcado na parte externa. Originalmente, a
família não ia permitir que ele fosse enterrado com eles, mas Sean brigou com eles
sobre isso, então aqui está ele - meu amor perdido. Eu me inclino contra a pesada
porta, empurrando-a na maior parte fechada. Eu não quero que ninguém saiba que
eu estive aqui, então eu mantenho aqui dentro escuro, iluminado apenas pela luz
do sol que faz o seu caminho através da porta. Está nublado hoje, por isso é mais
escuro do que o habitual. Eu mudo o bebê Bryan em meus braços quando ele
acorda. Ele sorri para mim com o mesmo sorriso que seu pai usou tantas vezes
antes.
— Estamos visitando papai. — Eu digo a ele e solto seus cobertores. — Ele
foi um grande homem e te ama muito. Agora, papai pode nos ver. Ele vai cuidar de
você, Bryan. — Estou em pé na frente do túmulo de Bryan, de costas para a porta.
Nem o ouvi entrar.
Quando ele fala, sua voz é mais suave do que as vozes dos seus irmãos. —
Hallie?
Assustada, eu me viro. Peter Ferro está de pé na porta, cercado de luz. Ele se
parece com um anjo quando caminha na grande sala. Ele está vestindo um casaco
de tweed e calça. Ele é diretor em algum lugar em Jersey. Eu já o vi por aí, mas nós
nunca conversamos muito. Eu não pensei que ele fosse próximo de Bryan, mas
devo ter suposto errado, caso contrário ele não estaria aqui.
— Sinto muito. Estou indo embora. — Eu vou a passar por ele, mas Peter
não me deixa. Ele dá um passo na minha frente e sorri.
— Você não tem que ir. Eu nunca vou manda-la sair, e eu nunca vou dizer-
lhes, mas eles vão perceber.
Eu fico calada porque não tenho outra opção. O medo está me sufocando e
eu mal posso cuspir as palavras. — Perceber o quê? Que eu vim aqui para dizer
adeus a alguém que eu amava? Eles já sabem disso. E Constance nunca contestou
a vontade de Bryan, então acho que estou bem.
— Você sabe o que quero dizer. — Ele olha para o bebê.
Bryan contempla Peter como o seu pai, grandes olhos verdes e cabelo
escuro brilhante. — Eu não estou com medo. — Eu seguro o bebê, e passo ao redor
de Peter, prestes a sair quando ele me para no caminho.
— Esse é o bebê de Bryan. Eles poderiam forçar um teste de paternidade
para provar isso, Hallie. Se a minha mãe já não sabe, logo o fará. Ela não vai
deixar um Ferro crescer fora da mansão.
Eu não nego isso. — Você cresceu lá. Diga-me, você quer que seu filho tenha
essa vida?
— Eu não posso mudar o passado, Hallie, e nem você pode.
— Eu sei disso. Você não acha que eu sei que isso é minha culpa, que o pai
dele está aqui por minha causa? Eu culpava Sean e Constance. Eu até culpei Jon,
mas a única razão que Bryan apareceu naquela noite foi por minha causa. E tudo o
que aconteceu depois. — Eu não posso nem mesmo dizer isso.
Peter diz com certeza absoluta. — A mídia estava errada. Olhe o que eles
fizeram com você e Neil. Você está me dizendo que toda essa merda é verdade?
Eu ri amargamente. — Longe disso.
— Então, não deixe que eles arruínem suas memórias dele. Bryan não
matou Amanda. — Ele parece tão certo.
— Como você pode saber disso?
— Porque eu estava com ele naquela noite e isso não faz sentido. Ele
gostava de Amanda. Nós todos gostávamos.
Algo da noite do assassinato de Bryan volta com a memória de Sean ali
parecendo horrorizado. — Ele não sabia que Bryan tinha essa arma, não é?
Peter ri uma vez suavemente, e balança a cabeça. — Sean nunca fala sobre
Amanda ou aquela noite, mas eu concordo com você nesse ponto.
Olho para Peter. — Enquanto Bryan estava morrendo, Sean o chamou de
idiota. Ele estava tão louco. Eu pensei que era porque levou um tiro.
— Eu acho que foi porque Bryan não deveria ter essa arma. Hallie, ele
salvou você e seu bebê, mas também salvou algumas outras pessoas no processo.
Ele deu a Sean sua vida de volta. Bryan foi altruísta. Ele faria qualquer coisa que
pudesse para ajudar alguém. Se o pegar com a arma ajudava, se assumir a culpa
ajudava, ele teria feito isso num piscar de olhos. Você não acha?
Concordo com a cabeça. Há silêncio quando nós dois olhamos para o lugar
de descanso final de Bryan. — É por isso que Sean brigou para ele estar aqui.
Bryan não matou aquelas pessoas.
— Eu suspeito que seja o caso.
— Assim como Sean.
Peter dá um sorriso torto. — O mais provável. — Depois de um momento,
ele acrescenta: — Você não deve vir mais aqui se não quer que criança cresça como
o resto da família. Na verdade, seria bom se você, Bryan e Maggie se mudassem.
Vá para algum lugar que não vão encontrá-los, por um tempo, pelo menos.
Dificulte para que eles não vejam o bebê ou tire fotos dele. Isso vai fazer você
ganhar tempo - tempo que não terá que se ficar aqui. — Ele desliza seus dedos
contra a bochecha do bebê. — Ele se parece com o pai.
— Eu sei. — Eu seguro meu pequeno bebê quando ele murmura para Peter.
— Aqui. — Ele me entrega seu cartão. — Se você precisar de alguma coisa é
só pedir. Eu nunca vi você e nunca vi o bebê de Bryan. — Ele pisca para mim, em
seguida, desliza pela porta, com as mãos nos bolsos e a cabeça caída entre os
ombros.
Eu o chamo de costas. — Peter, espere. — Corro para o ar fresco. — Estou
fazendo a coisa certa? Ele tem família. É a única coisa que eu nunca tive e sempre
quis. Eu me perguntei se mantê-los longe dele é a coisa certa a fazer.
— Ele tem família, Hallie. Ele tem você e Maggie. Não está faltando nada
para ele. Eu ouvi que dizer que alguma parte de Montana é lindo. Vá dar uma
olhada. — Peter nos sorri e vai embora.
Depois que Bryan morreu, eu nunca pensei que amaria novamente. Senti
meu coração quebrar e um pedaço de mim morreu junto com ele. A escuridão me
consumiu até que aquele pequeno bastão de plástico me disse que eu estava
grávida. O bebê de Bryan era forte e curou meu coração partido enquanto crescia
dentro de mim. Agora que ele está aqui, nos meus braços, eu vejo o rosto do seu pai
todos os dias e sei que sou abençoada.
Depois de colocar Bryan em seu assento de carro, eu entro e fecho a porta.
Depois de ligar o motor, pressiono um botão e ligo para Maggie. — Ei, o que você
acha de ir para Montana?
— Posso ter um cavalo?
— Para que você quer um cavalo se não sabe montar em um? — Eu sorrio e
olho para o túmulo de Bryan, sabendo que eu nunca o verei novamente. Maggie
está tagarelando sobre cavalos e eu finalmente a interrompo: — Sim, você pode ter
um cavalo.
— Estou dentro, quando partimos?
— Hoje à noite. Eles não podem encontrá-lo, Maggie, e um dos Ferros já
sabe a verdade. Tem certeza de que quer vir? Você não precisa. — Isso não é uma
coisa pequena para perguntar, e eu sei disso. Eu não quero ser egoísta e levá-la
comigo para o meio do nada.
— Porra, sim. Não há nada melhor que o meio do nada. Vou usar perneiras
de cowboy, um enorme chapéu ridículo e comprar um pônei. Sim, eu estou
chegando! — Ela ri. — Você é tão idiota, sabe disso? Eu sou sua irmã, talvez não
por nascimento, mas por escolha. Esse é o melhor tipo, sabe. Vou ligar e arrumar
um voo. Vamos sair daqui a poucas horas, Hallie. Vai ser bom para você e para o
pequeno bebê lindo Bryan. Nós podemos viver em uma fazenda!
Eu rio, surpresa com o quão fácil foi para convencê-la disso. Em seguida, eu
digo a ela: — Você sabia que teríamos que ir embora, não é?
— Algum dia, sim, especialmente se você quisesse esconder Bryan do Ferro.
Mas eu pensei que estaria indo para um lugar horrível como um pântano. Eu sou
totalmente a favor de Montana. Ouvi dizer que eles têm cowboys sensuais. Eu
nunca montei um cowboy.
— Maggie!
Ela ri. — Venha para casa. Vou arrumar nossas coisas. Você está pronta para
isso Hallie. É uma boa jogada. Vemo-nos daqui a pouco. — Ela desliga o telefone.
Eu jogo a minha cabeça contra o assento quando olho para o túmulo de
Bryan, e ouço seu filho fazer sons felizes no banco de trás querendo saber se estou
tomando a decisão certa.
— Queria que você estivesse aqui. Eu gostaria que você pudesse me dizer o
que fazer. — Eu digo as palavras para o ar, falando com o meu amor perdido.
Eu não sou boa em ficar desejando tudo. Como uma órfã, eu aprendi que é
um desperdício de tempo, mas logo que eu digo essas palavras, um raio de luz
corta através do céu cinzento. Um único raio de sol brilha para baixo e toca o topo
do mausoléu do Ferro. A cúpula de cobre cintila e todo o meu corpo se cobre de
formigamentos. O vento suaviza e eu juro que Bryan está aqui, me dizendo para ir embora.
Eu fecho os olhos, faço uma oração, e quando olhar para cima a luz dourada
desapareceu. Pela primeira vez desde a sua morte, a paz flui em mim e congratulo-
me com isso. Coloco o carro na estrada e eu falo sobre o meu ombro para o meu
homenzinho. — Bryan, vamos a um lugar divertido, e eu tenho certeza que a tia
Maggie conseguirá um pônei para você.
Capítulo 13
Consumida por choque e sobrecarga emocional, eu não consigo processar o
que ele está me dizendo. Eu pisco para ele. — O quê?
— Eles não conseguiram encontrar a arma durante o julgamento, mas todos
pensavam que Sean Ferro a matou. — Sean se afasta com os ombros endurecendo
com cada palavra e eu sei que ele pode ouvir. O luto me rasga, mas algo parece
errado.
— Eu não entendo. — Eu enxugo as lágrimas do meu rosto e sujo a na
minha bochecha. — O que você está dizendo?
— Eu estou dizendo o que parece, senhorita Raymond. Embora não pode
ser inteiramente conclusivo neste momento, isso aponta a culpa do assassinato em
outra direção. Parece que Bryan Ferro atirou em Amanda, e por qualquer motivo
Sean voluntariamente assumiu a culpa. — O policial tem idade suficiente para
lembrar o julgamento. Ele olha depois para Sean com respeito em seus olhos. Não é
a animosidade típica que as pessoas oferecem quando veem esse homem. Eles
pensam que ele é um monstro sem coração e Sean se torna essa pessoa. No quarto
de Bryan eu tinha visto fotos antigas dos meninos quando eles eram jovens. Sean
sorria e seus olhos não tinha essa coisa oca assustadora que têm agora. É como se
ele está carregando um enorme segredo e eu não posso suportar a ideia de que
este policial está me dizendo à verdade. Bryan está morto por minha causa. Ele
caminhou direto para a linha de fogo para me proteger, então por que diabos ele
iria matar a esposa de Sean? Eu endireito e me viro para olhar para Sean.
Ele está rígido e tremendo, tentando se afastar, mas continua olhando por
cima do ombro até que ele para e se vira. Cruza os braços firmes sobre o peito e
olha para o corpo sem vida do seu primo com um olhar que anda na linha entre o
desprezo e admiração.
Eu não posso suportar isso. Algo dentro de mim quebra. Num acesso de
raiva de lágrimas e fúria, eu salto para cima e corro em direção a ele, gritando
descontroladamente. Quando colido em seu peito, ele mal se move, mas isso não
me impede de dar socos. Eu conecto meu punho com sua lateral firme uma vez,
antes que ele agarre meu pulso. Ele me puxa para perto, ele sussurra em meu
rosto: — Você não é a única sofrendo agora.
Eu puxo meu braço e quase tropeço para trás. Os policiais nos veem, mas
ninguém intercede desde que Sean parece calmo. Ele pode estar firme, mas eu não
estou. Eu sabia que Bryan não estaria comigo por muito mais tempo, mas Sean
roubou alguns minutos extras que tínhamos, e então isso – essa humilhação. Em
sua morte, Bryan é caluniado e acusado de um assassinato que não há nenhuma
maneira que ele tenha cometido. Eu grito para Sean. — É uma mentira. Ele não a
matou.
— Como você sabe? — A voz de Sean é fria e distante, embora seu olhar
esteja grudado em Bryan enquanto movem o seu corpo para um saco preto.
Olho para ele e caio de joelhos soluçando. — Ele não estaria aqui esta noite
se você não me fizesse terminar as coisas com Neil! Isso é culpa sua! Você disse a
ele! Ele não teria vindo se você não contasse a ele sobre Victor! — Eu soco o
pavimento com as mãos até que elas estão machucadas e sangrando. E Sean não
me responde, o que me deixa furiosa. — Admita isso! — Eu estou em seu rosto
novamente, falando em um sussurro morte. — Bryan não teria morrido hoje se não
fosse por você.
Três palavras. Isso é tudo o que ele diz. — Você está certa.
Eu começo a soluçar de novo e solto um grito. No momento há uma fila de
policiais e paramédicos. Os paramédicos tentam olhar para mim, mas eu não
posso deixar Bryan. Quando eles fecham o zíper do saco, peço-lhes para parar. —
Ele vai ficar bem. — Eu agarro o braço do cara quando ele fecha o saco. — Por
favor, pare! Eu não posso fazer isso de novo! Eu não posso! Ele vai ficar bem! Ele
tem que ficar!
Sean me afasta e me esmaga em seu peito. Seus olhos estão vidrados, mas
não há uma única lágrima. Eu o odeio. Eu me solto do seu abraço e cuspo em seu
rosto. Sean não se move para limpar isso. As pessoas que nos observam estão
segurando câmeras. Isso é quando eu sinto uma mão em meu ombro.
Eu me viro, esperando que ele seja um policial, mas não é. Uma parede de
cabelo vermelho me cumprimenta com um sorriso triste. — Eu disse que estaria
aqui para você. Por que você não me ligou?
Capítulo 14
Maggie me segura e abraça forte, me deixando desmoronar em seus braços.
Ela sussurra tolices e tira o cabelo do meu rosto.
Ela ajuda os paramédicos a me levar para uma ambulância para me
examinarem. Quando me sento, eu estremeço. O cara é jovem, mas ele percebe o
que isso significa. Ele chama por um funcionário do sexo feminino e uma policial se
aproxima. Ela é baixinha e seu olhar é simpático. — Querida, eu preciso falar com
você. — Ela sobe na ambulância e fecha uma das portas para que ninguém mais
possa ouvir. — Será que Victor Campone a estuprou?
Eu não sei o que dizer. Balançando a cabeça, eu digo a ela o que aconteceu.
É uma sensação como se fosse muito tempo atrás, mesmo que as queimaduras na
minha pele são frescas. Eu não as sentia até agora. — Minha pele arde.
— Deixe-me arranjar alguém para avaliá-la, então. Precisamos ver como as
queimaduras são para que possamos tratá-las. Ok, querida? Você já passou por
muita coisa hoje à noite. Deixe-os ajudá-la. — A policial está me olhando com pena
em seus olhos. Ela vê o anel em minha mão. Eu o coloco ali sem pensar. Eles
assumiram que eu estava noiva de Bryan. Eles não sabem sobre Neil e Cecily ainda,
então eu lhes digo. Seus olhos se arregalam e ela fala rapidamente em seu ombro.
Eu acrescento: — Eu acho que ele foi para as casas vizinhas também. Por favor,
verifique com eles. Sr. Thom sempre foi bom para mim. — Eu começo a balançar
novamente quando percebo que Victor pode tê-lo matado também.
Um médico vem até mim, mas eu não consigo me acalmar. — Quem é seu
parente mais próximo? — O médico fica perguntando, o que me faz chorar mais.
Ninguém. Sou sozinha.
Maggie diz palavras suaves e tenta me acalmar. Eu seguro a mão dela como
uma criança assustada e olho para ela. Ela sorri para mim. — Eu não vou a lugar
nenhum. Estamos nisso juntas. Eu lhe disse.
— Maggie é a minha família mais próxima. — Eu aponto para ela e assino
algo. Eles começam a perguntar-lhe como me tratar quando não estou coerente.
Eu divago e choro quando eu deveria dizer alguma coisa. A polícia tenta me fazer
perguntas, mas quanto mais eles perguntam, mais rápido que eu desmorono. É
Sean, que coloca um fim a isso.
Sua voz retumba alto do outro lado da porta. — Eu vi o tiroteio. Perguntem
a mim. Senhorita Raymond já teve o suficiente por esta noite.
— Precisamos de mais informações.
A voz de Sean cai. Ele diz algo que eu não consigo entender, mas ele
termina com: — O advogado dela está aqui e se você quiser jogar limpo, eu sugiro
que mostre alguma compaixão agora. Ela não vai esquecer esta noite. Nenhum
detalhe vai desaparecer de sua mente. Deixe-a em paz por agora.
Maggie está me observando na maca. Eu me deitando por que ficar sentada
está doendo. Gostaria de saber quanto de pele que me resta e que isso vai fazer
para mim. Eu vou estar marcada para sempre em um dos lugares mais íntimos no
meu corpo, mas não consigo me importar. Eu fico pensando em Bryan naquele saco
frio. O choro histérico começa novamente e Maggie pede-lhes para me dar alguma
coisa.
Uma agulha é empurrada no meu braço. Maggie canta suavemente,
enquanto acaricia minha testa. De repente minhas pálpebras parecem como
chumbo. Elas vibram quando eu as tento mantê-las abertas. Sean aparece entre as
piscadas e pergunta sobre mim. Com o consentimento de Maggie, eles lhe dizem o
que Victor fez comigo. Ele não diz uma palavra. O homem só olha para mim como
se eu fosse um pedaço de lixo, como se a vida do seu primo não valesse por isso.
— Ele me amou. — As palavras soam fortes e orgulhosas em minha mente,
mas elas caem dos meus lábios como um sussurro.
— Sem dúvida. — Sean responde e fica ali, observando-me adormecer.
Epílogo
O vento atravessa meu casaco quando eu ando para a sepultura, meu
embrulho perto do meu peito. Eu não deveria estar aqui, mas eu tinha que vir. Eu
sou atraída para aqui todos os meses. Eu tenho que falar com ele e esse parece ser
o lugar para fazer isso. Bryan prometeu que estaria sempre comigo, e embora eu
saiba que ele esteja, ainda é difícil. O bebê está dormindo em meus braços,
indiferente ao frio no ar. Eu o seguro da cabeça aos pés e aperto com força.
Desde a noite em que Bryan morreu, tantas coisas aconteceram. Eu me senti
tão sozinha sem ele, ou assim eu pensava até algumas semanas após a morte de
Bryan. Um teste de gravidez afirmou a minha suspeita e eu carregava um bebê
dele. Ele tem olhos verdes brilhantes, assim como seu pai. Ele é minha vida agora.
Maggie, o bebê e eu vivemos juntos, uma família improvável, mas contentes. Eu
ainda escrevo - um coração sangrando nunca cicatriza e as páginas me chamam.
Escrever me dá paz quando as coisas ficam insuportáveis.
Eu paro na frente do túmulo do meu pai antes de falar com ele sobre o seu
neto. — Eu dei-lhe o meu nome, pai. Bem, o seu nome. Eu não quero que eles
saibam sobre ele. Se descobrirem... — Esse é o meu maior medo. E se os Ferros
descobrirem sobre o pequeno Bryan Raymond? E se eles descobrirem que ele é o
único filho de Bryan, o herdeiro mais jovem dessa maldita fortuna? Eles vão levá-lo
de mim. Eu sei que vão. Então, dei-lhe o meu nome e quando os repórteres
perguntaram, eu disse que era de Neil. Que iriamos nos casar. Os jornais correram
selvagemente com artigos sobre Neil e eu, retratando-nos como um moderno
Romeu e Julieta. Eles não poderiam estar mais longe da verdade. Enquanto isso,
Bryan era ligado ao assassinato de Amanda Ferro e outro homem que encontraram
na floresta. A arma foi utilizada várias vezes. Bryan não era um assassino. A única
pessoa que ele matou foi Victor, e fez isso para me salvar. Eu não ligo para o que
dizem os investigadores. Eventualmente, eu parei de ler artigos sobre ele. E da
forma que tinham escrito sobre Sean era horrível, mas a maneira como caluniaram
Bryan era muito pior. Eu evito jornais e fico fora do Huffington Post. Eu vivo em
uma bolha com Maggie e meu bebê.
Depois de falar com o papai, eu dou isso como feito. O cemitério não está
exatamente repleto de visitantes hoje. Está muito frio. Vou até o túmulo de Bryan,
um enorme mausoléu com FERRO marcado na parte externa. Originalmente, a
família não ia permitir que ele fosse enterrado com eles, mas Sean brigou com eles
sobre isso, então aqui está ele - meu amor perdido. Eu me inclino contra a pesada
porta, empurrando-a na maior parte fechada. Eu não quero que ninguém saiba que
eu estive aqui, então eu mantenho aqui dentro escuro, iluminado apenas pela luz
do sol que faz o seu caminho através da porta. Está nublado hoje, por isso é mais
escuro do que o habitual. Eu mudo o bebê Bryan em meus braços quando ele
acorda. Ele sorri para mim com o mesmo sorriso que seu pai usou tantas vezes
antes.
— Estamos visitando papai. — Eu digo a ele e solto seus cobertores. — Ele
foi um grande homem e te ama muito. Agora, papai pode nos ver. Ele vai cuidar de
você, Bryan. — Estou em pé na frente do túmulo de Bryan, de costas para a porta.
Nem o ouvi entrar.
Quando ele fala, sua voz é mais suave do que as vozes dos seus irmãos. —
Hallie?
Assustada, eu me viro. Peter Ferro está de pé na porta, cercado de luz. Ele se
parece com um anjo quando caminha na grande sala. Ele está vestindo um casaco
de tweed e calça. Ele é diretor em algum lugar em Jersey. Eu já o vi por aí, mas nós
nunca conversamos muito. Eu não pensei que ele fosse próximo de Bryan, mas
devo ter suposto errado, caso contrário ele não estaria aqui.
— Sinto muito. Estou indo embora. — Eu vou a passar por ele, mas Peter
não me deixa. Ele dá um passo na minha frente e sorri.
— Você não tem que ir. Eu nunca vou manda-la sair, e eu nunca vou dizer-
lhes, mas eles vão perceber.
Eu fico calada porque não tenho outra opção. O medo está me sufocando e
eu mal posso cuspir as palavras. — Perceber o quê? Que eu vim aqui para dizer
adeus a alguém que eu amava? Eles já sabem disso. E Constance nunca contestou
a vontade de Bryan, então acho que estou bem.
— Você sabe o que quero dizer. — Ele olha para o bebê.
Bryan contempla Peter como o seu pai, grandes olhos verdes e cabelo
escuro brilhante. — Eu não estou com medo. — Eu seguro o bebê, e passo ao redor
de Peter, prestes a sair quando ele me para no caminho.
— Esse é o bebê de Bryan. Eles poderiam forçar um teste de paternidade
para provar isso, Hallie. Se a minha mãe já não sabe, logo o fará. Ela não vai
deixar um Ferro crescer fora da mansão.
Eu não nego isso. — Você cresceu lá. Diga-me, você quer que seu filho tenha
essa vida?
— Eu não posso mudar o passado, Hallie, e nem você pode.
— Eu sei disso. Você não acha que eu sei que isso é minha culpa, que o pai
dele está aqui por minha causa? Eu culpava Sean e Constance. Eu até culpei Jon,
mas a única razão que Bryan apareceu naquela noite foi por minha causa. E tudo o
que aconteceu depois. — Eu não posso nem mesmo dizer isso.
Peter diz com certeza absoluta. — A mídia estava errada. Olhe o que eles
fizeram com você e Neil. Você está me dizendo que toda essa merda é verdade?
Eu ri amargamente. — Longe disso.
— Então, não deixe que eles arruínem suas memórias dele. Bryan não
matou Amanda. — Ele parece tão certo.
— Como você pode saber disso?
— Porque eu estava com ele naquela noite e isso não faz sentido. Ele
gostava de Amanda. Nós todos gostávamos.
Algo da noite do assassinato de Bryan volta com a memória de Sean ali
parecendo horrorizado. — Ele não sabia que Bryan tinha essa arma, não é?
Peter ri uma vez suavemente, e balança a cabeça. — Sean nunca fala sobre
Amanda ou aquela noite, mas eu concordo com você nesse ponto.
Olho para Peter. — Enquanto Bryan estava morrendo, Sean o chamou de
idiota. Ele estava tão louco. Eu pensei que era porque levou um tiro.
— Eu acho que foi porque Bryan não deveria ter essa arma. Hallie, ele
salvou você e seu bebê, mas também salvou algumas outras pessoas no processo.
Ele deu a Sean sua vida de volta. Bryan foi altruísta. Ele faria qualquer coisa que
pudesse para ajudar alguém. Se o pegar com a arma ajudava, se assumir a culpa
ajudava, ele teria feito isso num piscar de olhos. Você não acha?
Concordo com a cabeça. Há silêncio quando nós dois olhamos para o lugar
de descanso final de Bryan. — É por isso que Sean brigou para ele estar aqui.
Bryan não matou aquelas pessoas.
— Eu suspeito que seja o caso.
— Assim como Sean.
Peter dá um sorriso torto. — O mais provável. — Depois de um momento,
ele acrescenta: — Você não deve vir mais aqui se não quer que criança cresça como
o resto da família. Na verdade, seria bom se você, Bryan e Maggie se mudassem.
Vá para algum lugar que não vão encontrá-los, por um tempo, pelo menos.
Dificulte para que eles não vejam o bebê ou tire fotos dele. Isso vai fazer você
ganhar tempo - tempo que não terá que se ficar aqui. — Ele desliza seus dedos
contra a bochecha do bebê. — Ele se parece com o pai.
— Eu sei. — Eu seguro meu pequeno bebê quando ele murmura para Peter.
— Aqui. — Ele me entrega seu cartão. — Se você precisar de alguma coisa é
só pedir. Eu nunca vi você e nunca vi o bebê de Bryan. — Ele pisca para mim, em
seguida, desliza pela porta, com as mãos nos bolsos e a cabeça caída entre os
ombros.
Eu o chamo de costas. — Peter, espere. — Corro para o ar fresco. — Estou
fazendo a coisa certa? Ele tem família. É a única coisa que eu nunca tive e sempre
quis. Eu me perguntei se mantê-los longe dele é a coisa certa a fazer.
— Ele tem família, Hallie. Ele tem você e Maggie. Não está faltando nada
para ele. Eu ouvi que dizer que alguma parte de Montana é lindo. Vá dar uma
olhada. — Peter nos sorri e vai embora.
Depois que Bryan morreu, eu nunca pensei que amaria novamente. Senti
meu coração quebrar e um pedaço de mim morreu junto com ele. A escuridão me
consumiu até que aquele pequeno bastão de plástico me disse que eu estava
grávida. O bebê de Bryan era forte e curou meu coração partido enquanto crescia
dentro de mim. Agora que ele está aqui, nos meus braços, eu vejo o rosto do seu pai
todos os dias e sei que sou abençoada.
Depois de colocar Bryan em seu assento de carro, eu entro e fecho a porta.
Depois de ligar o motor, pressiono um botão e ligo para Maggie. — Ei, o que você
acha de ir para Montana?
— Posso ter um cavalo?
— Para que você quer um cavalo se não sabe montar em um? — Eu sorrio e
olho para o túmulo de Bryan, sabendo que eu nunca o verei novamente. Maggie
está tagarelando sobre cavalos e eu finalmente a interrompo: — Sim, você pode ter
um cavalo.
— Estou dentro, quando partimos?
— Hoje à noite. Eles não podem encontrá-lo, Maggie, e um dos Ferros já
sabe a verdade. Tem certeza de que quer vir? Você não precisa. — Isso não é uma
coisa pequena para perguntar, e eu sei disso. Eu não quero ser egoísta e levá-la
comigo para o meio do nada.
— Porra, sim. Não há nada melhor que o meio do nada. Vou usar perneiras
de cowboy, um enorme chapéu ridículo e comprar um pônei. Sim, eu estou
chegando! — Ela ri. — Você é tão idiota, sabe disso? Eu sou sua irmã, talvez não
por nascimento, mas por escolha. Esse é o melhor tipo, sabe. Vou ligar e arrumar
um voo. Vamos sair daqui a poucas horas, Hallie. Vai ser bom para você e para o
pequeno bebê lindo Bryan. Nós podemos viver em uma fazenda!
Eu rio, surpresa com o quão fácil foi para convencê-la disso. Em seguida, eu
digo a ela: — Você sabia que teríamos que ir embora, não é?
— Algum dia, sim, especialmente se você quisesse esconder Bryan do Ferro.
Mas eu pensei que estaria indo para um lugar horrível como um pântano. Eu sou
totalmente a favor de Montana. Ouvi dizer que eles têm cowboys sensuais. Eu
nunca montei um cowboy.
— Maggie!
Ela ri. — Venha para casa. Vou arrumar nossas coisas. Você está pronta para
isso Hallie. É uma boa jogada. Vemo-nos daqui a pouco. — Ela desliga o telefone.
Eu jogo a minha cabeça contra o assento quando olho para o túmulo de
Bryan, e ouço seu filho fazer sons felizes no banco de trás querendo saber se estou
tomando a decisão certa.
— Queria que você estivesse aqui. Eu gostaria que você pudesse me dizer o
que fazer. — Eu digo as palavras para o ar, falando com o meu amor perdido.
Eu não sou boa em ficar desejando tudo. Como uma órfã, eu aprendi que é
um desperdício de tempo, mas logo que eu digo essas palavras, um raio de luz
corta através do céu cinzento. Um único raio de sol brilha para baixo e toca o topo
do mausoléu do Ferro. A cúpula de cobre cintila e todo o meu corpo se cobre de
formigamentos. O vento suaviza e eu juro que Bryan está aqui, me dizendo para ir embora.
Eu fecho os olhos, faço uma oração, e quando olhar para cima a luz dourada
desapareceu. Pela primeira vez desde a sua morte, a paz flui em mim e congratulo-
me com isso. Coloco o carro na estrada e eu falo sobre o meu ombro para o meu
homenzinho. — Bryan, vamos a um lugar divertido, e eu tenho certeza que a tia
Maggie conseguirá um pônei para você.
Capítulo 13
Consumida por choque e sobrecarga emocional, eu não consigo processar o
que ele está me dizendo. Eu pisco para ele. — O quê?
— Eles não conseguiram encontrar a arma durante o julgamento, mas todos
pensavam que Sean Ferro a matou. — Sean se afasta com os ombros endurecendo
com cada palavra e eu sei que ele pode ouvir. O luto me rasga, mas algo parece
errado.
— Eu não entendo. — Eu enxugo as lágrimas do meu rosto e sujo a na
minha bochecha. — O que você está dizendo?
— Eu estou dizendo o que parece, senhorita Raymond. Embora não pode
ser inteiramente conclusivo neste momento, isso aponta a culpa do assassinato em
outra direção. Parece que Bryan Ferro atirou em Amanda, e por qualquer motivo
Sean voluntariamente assumiu a culpa. — O policial tem idade suficiente para
lembrar o julgamento. Ele olha depois para Sean com respeito em seus olhos. Não é
a animosidade típica que as pessoas oferecem quando veem esse homem. Eles
pensam que ele é um monstro sem coração e Sean se torna essa pessoa. No quarto
de Bryan eu tinha visto fotos antigas dos meninos quando eles eram jovens. Sean
sorria e seus olhos não tinha essa coisa oca assustadora que têm agora. É como se
ele está carregando um enorme segredo e eu não posso suportar a ideia de que
este policial está me dizendo à verdade. Bryan está morto por minha causa. Ele
caminhou direto para a linha de fogo para me proteger, então por que diabos ele
iria matar a esposa de Sean? Eu endireito e me viro para olhar para Sean.
Ele está rígido e tremendo, tentando se afastar, mas continua olhando por
cima do ombro até que ele para e se vira. Cruza os braços firmes sobre o peito e
olha para o corpo sem vida do seu primo com um olhar que anda na linha entre o
desprezo e admiração.
Eu não posso suportar isso. Algo dentro de mim quebra. Num acesso de
raiva de lágrimas e fúria, eu salto para cima e corro em direção a ele, gritando
descontroladamente. Quando colido em seu peito, ele mal se move, mas isso não
me impede de dar socos. Eu conecto meu punho com sua lateral firme uma vez,
antes que ele agarre meu pulso. Ele me puxa para perto, ele sussurra em meu
rosto: — Você não é a única sofrendo agora.
Eu puxo meu braço e quase tropeço para trás. Os policiais nos veem, mas
ninguém intercede desde que Sean parece calmo. Ele pode estar firme, mas eu não
estou. Eu sabia que Bryan não estaria comigo por muito mais tempo, mas Sean
roubou alguns minutos extras que tínhamos, e então isso – essa humilhação. Em
sua morte, Bryan é caluniado e acusado de um assassinato que não há nenhuma
maneira que ele tenha cometido. Eu grito para Sean. — É uma mentira. Ele não a
matou.
— Como você sabe? — A voz de Sean é fria e distante, embora seu olhar
esteja grudado em Bryan enquanto movem o seu corpo para um saco preto.
Olho para ele e caio de joelhos soluçando. — Ele não estaria aqui esta noite
se você não me fizesse terminar as coisas com Neil! Isso é culpa sua! Você disse a
ele! Ele não teria vindo se você não contasse a ele sobre Victor! — Eu soco o
pavimento com as mãos até que elas estão machucadas e sangrando. E Sean não
me responde, o que me deixa furiosa. — Admita isso! — Eu estou em seu rosto
novamente, falando em um sussurro morte. — Bryan não teria morrido hoje se não
fosse por você.
Três palavras. Isso é tudo o que ele diz. — Você está certa.
Eu começo a soluçar de novo e solto um grito. No momento há uma fila de
policiais e paramédicos. Os paramédicos tentam olhar para mim, mas eu não
posso deixar Bryan. Quando eles fecham o zíper do saco, peço-lhes para parar. —
Ele vai ficar bem. — Eu agarro o braço do cara quando ele fecha o saco. — Por
favor, pare! Eu não posso fazer isso de novo! Eu não posso! Ele vai ficar bem! Ele
tem que ficar!
Sean me afasta e me esmaga em seu peito. Seus olhos estão vidrados, mas
não há uma única lágrima. Eu o odeio. Eu me solto do seu abraço e cuspo em seu
rosto. Sean não se move para limpar isso. As pessoas que nos observam estão
segurando câmeras. Isso é quando eu sinto uma mão em meu ombro.
Eu me viro, esperando que ele seja um policial, mas não é. Uma parede de
cabelo vermelho me cumprimenta com um sorriso triste. — Eu disse que estaria
aqui para você. Por que você não me ligou?
Capítulo 14
Maggie me segura e abraça forte, me deixando desmoronar em seus braços.
Ela sussurra tolices e tira o cabelo do meu rosto.
Ela ajuda os paramédicos a me levar para uma ambulância para me
examinarem. Quando me sento, eu estremeço. O cara é jovem, mas ele percebe o
que isso significa. Ele chama por um funcionário do sexo feminino e uma policial se
aproxima. Ela é baixinha e seu olhar é simpático. — Querida, eu preciso falar com
você. — Ela sobe na ambulância e fecha uma das portas para que ninguém mais
possa ouvir. — Será que Victor Campone a estuprou?
Eu não sei o que dizer. Balançando a cabeça, eu digo a ela o que aconteceu.
É uma sensação como se fosse muito tempo atrás, mesmo que as queimaduras na
minha pele são frescas. Eu não as sentia até agora. — Minha pele arde.
— Deixe-me arranjar alguém para avaliá-la, então. Precisamos ver como as
queimaduras são para que possamos tratá-las. Ok, querida? Você já passou por
muita coisa hoje à noite. Deixe-os ajudá-la. — A policial está me olhando com pena
em seus olhos. Ela vê o anel em minha mão. Eu o coloco ali sem pensar. Eles
assumiram que eu estava noiva de Bryan. Eles não sabem sobre Neil e Cecily ainda,
então eu lhes digo. Seus olhos se arregalam e ela fala rapidamente em seu ombro.
Eu acrescento: — Eu acho que ele foi para as casas vizinhas também. Por favor,
verifique com eles. Sr. Thom sempre foi bom para mim. — Eu começo a balançar
novamente quando percebo que Victor pode tê-lo matado também.
Um médico vem até mim, mas eu não consigo me acalmar. — Quem é seu
parente mais próximo? — O médico fica perguntando, o que me faz chorar mais.
Ninguém. Sou sozinha.
Maggie diz palavras suaves e tenta me acalmar. Eu seguro a mão dela como
uma criança assustada e olho para ela. Ela sorri para mim. — Eu não vou a lugar
nenhum. Estamos nisso juntas. Eu lhe disse.
— Maggie é a minha família mais próxima. — Eu aponto para ela e assino
algo. Eles começam a perguntar-lhe como me tratar quando não estou coerente.
Eu divago e choro quando eu deveria dizer alguma coisa. A polícia tenta me fazer
perguntas, mas quanto mais eles perguntam, mais rápido que eu desmorono. É
Sean, que coloca um fim a isso.
Sua voz retumba alto do outro lado da porta. — Eu vi o tiroteio. Perguntem
a mim. Senhorita Raymond já teve o suficiente por esta noite.
— Precisamos de mais informações.
A voz de Sean cai. Ele diz algo que eu não consigo entender, mas ele
termina com: — O advogado dela está aqui e se você quiser jogar limpo, eu sugiro
que mostre alguma compaixão agora. Ela não vai esquecer esta noite. Nenhum
detalhe vai desaparecer de sua mente. Deixe-a em paz por agora.
Maggie está me observando na maca. Eu me deitando por que ficar sentada
está doendo. Gostaria de saber quanto de pele que me resta e que isso vai fazer
para mim. Eu vou estar marcada para sempre em um dos lugares mais íntimos no
meu corpo, mas não consigo me importar. Eu fico pensando em Bryan naquele saco
frio. O choro histérico começa novamente e Maggie pede-lhes para me dar alguma
coisa.
Uma agulha é empurrada no meu braço. Maggie canta suavemente,
enquanto acaricia minha testa. De repente minhas pálpebras parecem como
chumbo. Elas vibram quando eu as tento mantê-las abertas. Sean aparece entre as
piscadas e pergunta sobre mim. Com o consentimento de Maggie, eles lhe dizem o
que Victor fez comigo. Ele não diz uma palavra. O homem só olha para mim como
se eu fosse um pedaço de lixo, como se a vida do seu primo não valesse por isso.
— Ele me amou. — As palavras soam fortes e orgulhosas em minha mente,
mas elas caem dos meus lábios como um sussurro.
— Sem dúvida. — Sean responde e fica ali, observando-me adormecer.
Epílogo
O vento atravessa meu casaco quando eu ando para a sepultura, meu
embrulho perto do meu peito. Eu não deveria estar aqui, mas eu tinha que vir. Eu
sou atraída para aqui todos os meses. Eu tenho que falar com ele e esse parece ser
o lugar para fazer isso. Bryan prometeu que estaria sempre comigo, e embora eu
saiba que ele esteja, ainda é difícil. O bebê está dormindo em meus braços,
indiferente ao frio no ar. Eu o seguro da cabeça aos pés e aperto com força.
Desde a noite em que Bryan morreu, tantas coisas aconteceram. Eu me senti
tão sozinha sem ele, ou assim eu pensava até algumas semanas após a morte de
Bryan. Um teste de gravidez afirmou a minha suspeita e eu carregava um bebê
dele. Ele tem olhos verdes brilhantes, assim como seu pai. Ele é minha vida agora.
Maggie, o bebê e eu vivemos juntos, uma família improvável, mas contentes. Eu
ainda escrevo - um coração sangrando nunca cicatriza e as páginas me chamam.
Escrever me dá paz quando as coisas ficam insuportáveis.
Eu paro na frente do túmulo do meu pai antes de falar com ele sobre o seu
neto. — Eu dei-lhe o meu nome, pai. Bem, o seu nome. Eu não quero que eles
saibam sobre ele. Se descobrirem... — Esse é o meu maior medo. E se os Ferros
descobrirem sobre o pequeno Bryan Raymond? E se eles descobrirem que ele é o
único filho de Bryan, o herdeiro mais jovem dessa maldita fortuna? Eles vão levá-lo
de mim. Eu sei que vão. Então, dei-lhe o meu nome e quando os repórteres
perguntaram, eu disse que era de Neil. Que iriamos nos casar. Os jornais correram
selvagemente com artigos sobre Neil e eu, retratando-nos como um moderno
Romeu e Julieta. Eles não poderiam estar mais longe da verdade. Enquanto isso,
Bryan era ligado ao assassinato de Amanda Ferro e outro homem que encontraram
na floresta. A arma foi utilizada várias vezes. Bryan não era um assassino. A única
pessoa que ele matou foi Victor, e fez isso para me salvar. Eu não ligo para o que
dizem os investigadores. Eventualmente, eu parei de ler artigos sobre ele. E da
forma que tinham escrito sobre Sean era horrível, mas a maneira como caluniaram
Bryan era muito pior. Eu evito jornais e fico fora do Huffington Post. Eu vivo em
uma bolha com Maggie e meu bebê.
Depois de falar com o papai, eu dou isso como feito. O cemitério não está
exatamente repleto de visitantes hoje. Está muito frio. Vou até o túmulo de Bryan,
um enorme mausoléu com FERRO marcado na parte externa. Originalmente, a
família não ia permitir que ele fosse enterrado com eles, mas Sean brigou com eles
sobre isso, então aqui está ele - meu amor perdido. Eu me inclino contra a pesada
porta, empurrando-a na maior parte fechada. Eu não quero que ninguém saiba que
eu estive aqui, então eu mantenho aqui dentro escuro, iluminado apenas pela luz
do sol que faz o seu caminho através da porta. Está nublado hoje, por isso é mais
escuro do que o habitual. Eu mudo o bebê Bryan em meus braços quando ele
acorda. Ele sorri para mim com o mesmo sorriso que seu pai usou tantas vezes
antes.
— Estamos visitando papai. — Eu digo a ele e solto seus cobertores. — Ele
foi um grande homem e te ama muito. Agora, papai pode nos ver. Ele vai cuidar de
você, Bryan. — Estou em pé na frente do túmulo de Bryan, de costas para a porta.
Nem o ouvi entrar.
Quando ele fala, sua voz é mais suave do que as vozes dos seus irmãos. —
Hallie?
Assustada, eu me viro. Peter Ferro está de pé na porta, cercado de luz. Ele se
parece com um anjo quando caminha na grande sala. Ele está vestindo um casaco
de tweed e calça. Ele é diretor em algum lugar em Jersey. Eu já o vi por aí, mas nós
nunca conversamos muito. Eu não pensei que ele fosse próximo de Bryan, mas
devo ter suposto errado, caso contrário ele não estaria aqui.
— Sinto muito. Estou indo embora. — Eu vou a passar por ele, mas Peter
não me deixa. Ele dá um passo na minha frente e sorri.
— Você não tem que ir. Eu nunca vou manda-la sair, e eu nunca vou dizer-
lhes, mas eles vão perceber.
Eu fico calada porque não tenho outra opção. O medo está me sufocando e
eu mal posso cuspir as palavras. — Perceber o quê? Que eu vim aqui para dizer
adeus a alguém que eu amava? Eles já sabem disso. E Constance nunca contestou
a vontade de Bryan, então acho que estou bem.
— Você sabe o que quero dizer. — Ele olha para o bebê.
Bryan contempla Peter como o seu pai, grandes olhos verdes e cabelo
escuro brilhante. — Eu não estou com medo. — Eu seguro o bebê, e passo ao redor
de Peter, prestes a sair quando ele me para no caminho.
— Esse é o bebê de Bryan. Eles poderiam forçar um teste de paternidade
para provar isso, Hallie. Se a minha mãe já não sabe, logo o fará. Ela não vai
deixar um Ferro crescer fora da mansão.
Eu não nego isso. — Você cresceu lá. Diga-me, você quer que seu filho tenha
essa vida?
— Eu não posso mudar o passado, Hallie, e nem você pode.
— Eu sei disso. Você não acha que eu sei que isso é minha culpa, que o pai
dele está aqui por minha causa? Eu culpava Sean e Constance. Eu até culpei Jon,
mas a única razão que Bryan apareceu naquela noite foi por minha causa. E tudo o
que aconteceu depois. — Eu não posso nem mesmo dizer isso.
Peter diz com certeza absoluta. — A mídia estava errada. Olhe o que eles
fizeram com você e Neil. Você está me dizendo que toda essa merda é verdade?
Eu ri amargamente. — Longe disso.
— Então, não deixe que eles arruínem suas memórias dele. Bryan não
matou Amanda. — Ele parece tão certo.
— Como você pode saber disso?
— Porque eu estava com ele naquela noite e isso não faz sentido. Ele
gostava de Amanda. Nós todos gostávamos.
Algo da noite do assassinato de Bryan volta com a memória de Sean ali
parecendo horrorizado. — Ele não sabia que Bryan tinha essa arma, não é?
Peter ri uma vez suavemente, e balança a cabeça. — Sean nunca fala sobre
Amanda ou aquela noite, mas eu concordo com você nesse ponto.
Olho para Peter. — Enquanto Bryan estava morrendo, Sean o chamou de
idiota. Ele estava tão louco. Eu pensei que era porque levou um tiro.
— Eu acho que foi porque Bryan não deveria ter essa arma. Hallie, ele
salvou você e seu bebê, mas também salvou algumas outras pessoas no processo.
Ele deu a Sean sua vida de volta. Bryan foi altruísta. Ele faria qualquer coisa que
pudesse para ajudar alguém. Se o pegar com a arma ajudava, se assumir a culpa
ajudava, ele teria feito isso num piscar de olhos. Você não acha?
Concordo com a cabeça. Há silêncio quando nós dois olhamos para o lugar
de descanso final de Bryan. — É por isso que Sean brigou para ele estar aqui.
Bryan não matou aquelas pessoas.
— Eu suspeito que seja o caso.
— Assim como Sean.
Peter dá um sorriso torto. — O mais provável. — Depois de um momento,
ele acrescenta: — Você não deve vir mais aqui se não quer que criança cresça como
o resto da família. Na verdade, seria bom se você, Bryan e Maggie se mudassem.
Vá para algum lugar que não vão encontrá-los, por um tempo, pelo menos.
Dificulte para que eles não vejam o bebê ou tire fotos dele. Isso vai fazer você
ganhar tempo - tempo que não terá que se ficar aqui. — Ele desliza seus dedos
contra a bochecha do bebê. — Ele se parece com o pai.
— Eu sei. — Eu seguro meu pequeno bebê quando ele murmura para Peter.
— Aqui. — Ele me entrega seu cartão. — Se você precisar de alguma coisa é
só pedir. Eu nunca vi você e nunca vi o bebê de Bryan. — Ele pisca para mim, em
seguida, desliza pela porta, com as mãos nos bolsos e a cabeça caída entre os
ombros.
Eu o chamo de costas. — Peter, espere. — Corro para o ar fresco. — Estou
fazendo a coisa certa? Ele tem família. É a única coisa que eu nunca tive e sempre
quis. Eu me perguntei se mantê-los longe dele é a coisa certa a fazer.
— Ele tem família, Hallie. Ele tem você e Maggie. Não está faltando nada
para ele. Eu ouvi que dizer que alguma parte de Montana é lindo. Vá dar uma
olhada. — Peter nos sorri e vai embora.
Depois que Bryan morreu, eu nunca pensei que amaria novamente. Senti
meu coração quebrar e um pedaço de mim morreu junto com ele. A escuridão me
consumiu até que aquele pequeno bastão de plástico me disse que eu estava
grávida. O bebê de Bryan era forte e curou meu coração partido enquanto crescia
dentro de mim. Agora que ele está aqui, nos meus braços, eu vejo o rosto do seu pai
todos os dias e sei que sou abençoada.
Depois de colocar Bryan em seu assento de carro, eu entro e fecho a porta.
Depois de ligar o motor, pressiono um botão e ligo para Maggie. — Ei, o que você
acha de ir para Montana?
— Posso ter um cavalo?
— Para que você quer um cavalo se não sabe montar em um? — Eu sorrio e
olho para o túmulo de Bryan, sabendo que eu nunca o verei novamente. Maggie
está tagarelando sobre cavalos e eu finalmente a interrompo: — Sim, você pode ter
um cavalo.
— Estou dentro, quando partimos?
— Hoje à noite. Eles não podem encontrá-lo, Maggie, e um dos Ferros já
sabe a verdade. Tem certeza de que quer vir? Você não precisa. — Isso não é uma
coisa pequena para perguntar, e eu sei disso. Eu não quero ser egoísta e levá-la
comigo para o meio do nada.
— Porra, sim. Não há nada melhor que o meio do nada. Vou usar perneiras
de cowboy, um enorme chapéu ridículo e comprar um pônei. Sim, eu estou
chegando! — Ela ri. — Você é tão idiota, sabe disso? Eu sou sua irmã, talvez não
por nascimento, mas por escolha. Esse é o melhor tipo, sabe. Vou ligar e arrumar
um voo. Vamos sair daqui a poucas horas, Hallie. Vai ser bom para você e para o
pequeno bebê lindo Bryan. Nós podemos viver em uma fazenda!
Eu rio, surpresa com o quão fácil foi para convencê-la disso. Em seguida, eu
digo a ela: — Você sabia que teríamos que ir embora, não é?
— Algum dia, sim, especialmente se você quisesse esconder Bryan do Ferro.
Mas eu pensei que estaria indo para um lugar horrível como um pântano. Eu sou
totalmente a favor de Montana. Ouvi dizer que eles têm cowboys sensuais. Eu
nunca montei um cowboy.
— Maggie!
Ela ri. — Venha para casa. Vou arrumar nossas coisas. Você está pronta para
isso Hallie. É uma boa jogada. Vemo-nos daqui a pouco. — Ela desliga o telefone.
Eu jogo a minha cabeça contra o assento quando olho para o túmulo de
Bryan, e ouço seu filho fazer sons felizes no banco de trás querendo saber se estou
tomando a decisão certa.
— Queria que você estivesse aqui. Eu gostaria que você pudesse me dizer o
que fazer. — Eu digo as palavras para o ar, falando com o meu amor perdido.
Eu não sou boa em ficar desejando tudo. Como uma órfã, eu aprendi que é
um desperdício de tempo, mas logo que eu digo essas palavras, um raio de luz
corta através do céu cinzento. Um único raio de sol brilha para baixo e toca o topo
do mausoléu do Ferro. A cúpula de cobre cintila e todo o meu corpo se cobre de
formigamentos. O vento suaviza e eu juro que Bryan está aqui, me dizendo para ir embora.
Eu fecho os olhos, faço uma oração, e quando olhar para cima a luz dourada
desapareceu. Pela primeira vez desde a sua morte, a paz flui em mim e congratulo-
me com isso. Coloco o carro na estrada e eu falo sobre o meu ombro para o meu
homenzinho. — Bryan, vamos a um lugar divertido, e eu tenho certeza que a tia
Maggie conseguirá um pônei para você.
Capítulo 13
Consumida por choque e sobrecarga emocional, eu não consigo processar o
que ele está me dizendo. Eu pisco para ele. — O quê?
— Eles não conseguiram encontrar a arma durante o julgamento, mas todos
pensavam que Sean Ferro a matou. — Sean se afasta com os ombros endurecendo
com cada palavra e eu sei que ele pode ouvir. O luto me rasga, mas algo parece
errado.
— Eu não entendo. — Eu enxugo as lágrimas do meu rosto e sujo a na
minha bochecha. — O que você está dizendo?
— Eu estou dizendo o que parece, senhorita Raymond. Embora não pode
ser inteiramente conclusivo neste momento, isso aponta a culpa do assassinato em
outra direção. Parece que Bryan Ferro atirou em Amanda, e por qualquer motivo
Sean voluntariamente assumiu a culpa. — O policial tem idade suficiente para
lembrar o julgamento. Ele olha depois para Sean com respeito em seus olhos. Não é
a animosidade típica que as pessoas oferecem quando veem esse homem. Eles
pensam que ele é um monstro sem coração e Sean se torna essa pessoa. No quarto
de Bryan eu tinha visto fotos antigas dos meninos quando eles eram jovens. Sean
sorria e seus olhos não tinha essa coisa oca assustadora que têm agora. É como se
ele está carregando um enorme segredo e eu não posso suportar a ideia de que
este policial está me dizendo à verdade. Bryan está morto por minha causa. Ele
caminhou direto para a linha de fogo para me proteger, então por que diabos ele
iria matar a esposa de Sean? Eu endireito e me viro para olhar para Sean.
Ele está rígido e tremendo, tentando se afastar, mas continua olhando por
cima do ombro até que ele para e se vira. Cruza os braços firmes sobre o peito e
olha para o corpo sem vida do seu primo com um olhar que anda na linha entre o
desprezo e admiração.
Eu não posso suportar isso. Algo dentro de mim quebra. Num acesso de
raiva de lágrimas e fúria, eu salto para cima e corro em direção a ele, gritando
descontroladamente. Quando colido em seu peito, ele mal se move, mas isso não
me impede de dar socos. Eu conecto meu punho com sua lateral firme uma vez,
antes que ele agarre meu pulso. Ele me puxa para perto, ele sussurra em meu
rosto: — Você não é a única sofrendo agora.
Eu puxo meu braço e quase tropeço para trás. Os policiais nos veem, mas
ninguém intercede desde que Sean parece calmo. Ele pode estar firme, mas eu não
estou. Eu sabia que Bryan não estaria comigo por muito mais tempo, mas Sean
roubou alguns minutos extras que tínhamos, e então isso – essa humilhação. Em
sua morte, Bryan é caluniado e acusado de um assassinato que não há nenhuma
maneira que ele tenha cometido. Eu grito para Sean. — É uma mentira. Ele não a
matou.
— Como você sabe? — A voz de Sean é fria e distante, embora seu olhar
esteja grudado em Bryan enquanto movem o seu corpo para um saco preto.
Olho para ele e caio de joelhos soluçando. — Ele não estaria aqui esta noite
se você não me fizesse terminar as coisas com Neil! Isso é culpa sua! Você disse a
ele! Ele não teria vindo se você não contasse a ele sobre Victor! — Eu soco o
pavimento com as mãos até que elas estão machucadas e sangrando. E Sean não
me responde, o que me deixa furiosa. — Admita isso! — Eu estou em seu rosto
novamente, falando em um sussurro morte. — Bryan não teria morrido hoje se não
fosse por você.
Três palavras. Isso é tudo o que ele diz. — Você está certa.
Eu começo a soluçar de novo e solto um grito. No momento há uma fila de
policiais e paramédicos. Os paramédicos tentam olhar para mim, mas eu não
posso deixar Bryan. Quando eles fecham o zíper do saco, peço-lhes para parar. —
Ele vai ficar bem. — Eu agarro o braço do cara quando ele fecha o saco. — Por
favor, pare! Eu não posso fazer isso de novo! Eu não posso! Ele vai ficar bem! Ele
tem que ficar!
Sean me afasta e me esmaga em seu peito. Seus olhos estão vidrados, mas
não há uma única lágrima. Eu o odeio. Eu me solto do seu abraço e cuspo em seu
rosto. Sean não se move para limpar isso. As pessoas que nos observam estão
segurando câmeras. Isso é quando eu sinto uma mão em meu ombro.
Eu me viro, esperando que ele seja um policial, mas não é. Uma parede de
cabelo vermelho me cumprimenta com um sorriso triste. — Eu disse que estaria
aqui para você. Por que você não me ligou?
Capítulo 14
Maggie me segura e abraça forte, me deixando desmoronar em seus braços.
Ela sussurra tolices e tira o cabelo do meu rosto.
Ela ajuda os paramédicos a me levar para uma ambulância para me
examinarem. Quando me sento, eu estremeço. O cara é jovem, mas ele percebe o
que isso significa. Ele chama por um funcionário do sexo feminino e uma policial se
aproxima. Ela é baixinha e seu olhar é simpático. — Querida, eu preciso falar com
você. — Ela sobe na ambulância e fecha uma das portas para que ninguém mais
possa ouvir. — Será que Victor Campone a estuprou?
Eu não sei o que dizer. Balançando a cabeça, eu digo a ela o que aconteceu.
É uma sensação como se fosse muito tempo atrás, mesmo que as queimaduras na
minha pele são frescas. Eu não as sentia até agora. — Minha pele arde.
— Deixe-me arranjar alguém para avaliá-la, então. Precisamos ver como as
queimaduras são para que possamos tratá-las. Ok, querida? Você já passou por
muita coisa hoje à noite. Deixe-os ajudá-la. — A policial está me olhando com pena
em seus olhos. Ela vê o anel em minha mão. Eu o coloco ali sem pensar. Eles
assumiram que eu estava noiva de Bryan. Eles não sabem sobre Neil e Cecily ainda,
então eu lhes digo. Seus olhos se arregalam e ela fala rapidamente em seu ombro.
Eu acrescento: — Eu acho que ele foi para as casas vizinhas também. Por favor,
verifique com eles. Sr. Thom sempre foi bom para mim. — Eu começo a balançar
novamente quando percebo que Victor pode tê-lo matado também.
Um médico vem até mim, mas eu não consigo me acalmar. — Quem é seu
parente mais próximo? — O médico fica perguntando, o que me faz chorar mais.
Ninguém. Sou sozinha.
Maggie diz palavras suaves e tenta me acalmar. Eu seguro a mão dela como
uma criança assustada e olho para ela. Ela sorri para mim. — Eu não vou a lugar
nenhum. Estamos nisso juntas. Eu lhe disse.
— Maggie é a minha família mais próxima. — Eu aponto para ela e assino
algo. Eles começam a perguntar-lhe como me tratar quando não estou coerente.
Eu divago e choro quando eu deveria dizer alguma coisa. A polícia tenta me fazer
perguntas, mas quanto mais eles perguntam, mais rápido que eu desmorono. É
Sean, que coloca um fim a isso.
Sua voz retumba alto do outro lado da porta. — Eu vi o tiroteio. Perguntem
a mim. Senhorita Raymond já teve o suficiente por esta noite.
— Precisamos de mais informações.
A voz de Sean cai. Ele diz algo que eu não consigo entender, mas ele
termina com: — O advogado dela está aqui e se você quiser jogar limpo, eu sugiro
que mostre alguma compaixão agora. Ela não vai esquecer esta noite. Nenhum
detalhe vai desaparecer de sua mente. Deixe-a em paz por agora.
Maggie está me observando na maca. Eu me deitando por que ficar sentada
está doendo. Gostaria de saber quanto de pele que me resta e que isso vai fazer
para mim. Eu vou estar marcada para sempre em um dos lugares mais íntimos no
meu corpo, mas não consigo me importar. Eu fico pensando em Bryan naquele saco
frio. O choro histérico começa novamente e Maggie pede-lhes para me dar alguma
coisa.
Uma agulha é empurrada no meu braço. Maggie canta suavemente,
enquanto acaricia minha testa. De repente minhas pálpebras parecem como
chumbo. Elas vibram quando eu as tento mantê-las abertas. Sean aparece entre as
piscadas e pergunta sobre mim. Com o consentimento de Maggie, eles lhe dizem o
que Victor fez comigo. Ele não diz uma palavra. O homem só olha para mim como
se eu fosse um pedaço de lixo, como se a vida do seu primo não valesse por isso.
— Ele me amou. — As palavras soam fortes e orgulhosas em minha mente,
mas elas caem dos meus lábios como um sussurro.
— Sem dúvida. — Sean responde e fica ali, observando-me adormecer.
Epílogo
O vento atravessa meu casaco quando eu ando para a sepultura, meu
embrulho perto do meu peito. Eu não deveria estar aqui, mas eu tinha que vir. Eu
sou atraída para aqui todos os meses. Eu tenho que falar com ele e esse parece ser
o lugar para fazer isso. Bryan prometeu que estaria sempre comigo, e embora eu
saiba que ele esteja, ainda é difícil. O bebê está dormindo em meus braços,
indiferente ao frio no ar. Eu o seguro da cabeça aos pés e aperto com força.
Desde a noite em que Bryan morreu, tantas coisas aconteceram. Eu me senti
tão sozinha sem ele, ou assim eu pensava até algumas semanas após a morte de
Bryan. Um teste de gravidez afirmou a minha suspeita e eu carregava um bebê
dele. Ele tem olhos verdes brilhantes, assim como seu pai. Ele é minha vida agora.
Maggie, o bebê e eu vivemos juntos, uma família improvável, mas contentes. Eu
ainda escrevo - um coração sangrando nunca cicatriza e as páginas me chamam.
Escrever me dá paz quando as coisas ficam insuportáveis.
Eu paro na frente do túmulo do meu pai antes de falar com ele sobre o seu
neto. — Eu dei-lhe o meu nome, pai. Bem, o seu nome. Eu não quero que eles
saibam sobre ele. Se descobrirem... — Esse é o meu maior medo. E se os Ferros
descobrirem sobre o pequeno Bryan Raymond? E se eles descobrirem que ele é o
único filho de Bryan, o herdeiro mais jovem dessa maldita fortuna? Eles vão levá-lo
de mim. Eu sei que vão. Então, dei-lhe o meu nome e quando os repórteres
perguntaram, eu disse que era de Neil. Que iriamos nos casar. Os jornais correram
selvagemente com artigos sobre Neil e eu, retratando-nos como um moderno
Romeu e Julieta. Eles não poderiam estar mais longe da verdade. Enquanto isso,
Bryan era ligado ao assassinato de Amanda Ferro e outro homem que encontraram
na floresta. A arma foi utilizada várias vezes. Bryan não era um assassino. A única
pessoa que ele matou foi Victor, e fez isso para me salvar. Eu não ligo para o que
dizem os investigadores. Eventualmente, eu parei de ler artigos sobre ele. E da
forma que tinham escrito sobre Sean era horrível, mas a maneira como caluniaram
Bryan era muito pior. Eu evito jornais e fico fora do Huffington Post. Eu vivo em
uma bolha com Maggie e meu bebê.
Depois de falar com o papai, eu dou isso como feito. O cemitério não está
exatamente repleto de visitantes hoje. Está muito frio. Vou até o túmulo de Bryan,
um enorme mausoléu com FERRO marcado na parte externa. Originalmente, a
família não ia permitir que ele fosse enterrado com eles, mas Sean brigou com eles
sobre isso, então aqui está ele - meu amor perdido. Eu me inclino contra a pesada
porta, empurrando-a na maior parte fechada. Eu não quero que ninguém saiba que
eu estive aqui, então eu mantenho aqui dentro escuro, iluminado apenas pela luz
do sol que faz o seu caminho através da porta. Está nublado hoje, por isso é mais
escuro do que o habitual. Eu mudo o bebê Bryan em meus braços quando ele
acorda. Ele sorri para mim com o mesmo sorriso que seu pai usou tantas vezes
antes.
— Estamos visitando papai. — Eu digo a ele e solto seus cobertores. — Ele
foi um grande homem e te ama muito. Agora, papai pode nos ver. Ele vai cuidar de
você, Bryan. — Estou em pé na frente do túmulo de Bryan, de costas para a porta.
Nem o ouvi entrar.
Quando ele fala, sua voz é mais suave do que as vozes dos seus irmãos. —
Hallie?
Assustada, eu me viro. Peter Ferro está de pé na porta, cercado de luz. Ele se
parece com um anjo quando caminha na grande sala. Ele está vestindo um casaco
de tweed e calça. Ele é diretor em algum lugar em Jersey. Eu já o vi por aí, mas nós
nunca conversamos muito. Eu não pensei que ele fosse próximo de Bryan, mas
devo ter suposto errado, caso contrário ele não estaria aqui.
— Sinto muito. Estou indo embora. — Eu vou a passar por ele, mas Peter
não me deixa. Ele dá um passo na minha frente e sorri.
— Você não tem que ir. Eu nunca vou manda-la sair, e eu nunca vou dizer-
lhes, mas eles vão perceber.
Eu fico calada porque não tenho outra opção. O medo está me sufocando e
eu mal posso cuspir as palavras. — Perceber o quê? Que eu vim aqui para dizer
adeus a alguém que eu amava? Eles já sabem disso. E Constance nunca contestou
a vontade de Bryan, então acho que estou bem.
— Você sabe o que quero dizer. — Ele olha para o bebê.
Bryan contempla Peter como o seu pai, grandes olhos verdes e cabelo
escuro brilhante. — Eu não estou com medo. — Eu seguro o bebê, e passo ao redor
de Peter, prestes a sair quando ele me para no caminho.
— Esse é o bebê de Bryan. Eles poderiam forçar um teste de paternidade
para provar isso, Hallie. Se a minha mãe já não sabe, logo o fará. Ela não vai
deixar um Ferro crescer fora da mansão.
Eu não nego isso. — Você cresceu lá. Diga-me, você quer que seu filho tenha
essa vida?
— Eu não posso mudar o passado, Hallie, e nem você pode.
— Eu sei disso. Você não acha que eu sei que isso é minha culpa, que o pai
dele está aqui por minha causa? Eu culpava Sean e Constance. Eu até culpei Jon,
mas a única razão que Bryan apareceu naquela noite foi por minha causa. E tudo o
que aconteceu depois. — Eu não posso nem mesmo dizer isso.
Peter diz com certeza absoluta. — A mídia estava errada. Olhe o que eles
fizeram com você e Neil. Você está me dizendo que toda essa merda é verdade?
Eu ri amargamente. — Longe disso.
— Então, não deixe que eles arruínem suas memórias dele. Bryan não
matou Amanda. — Ele parece tão certo.
— Como você pode saber disso?
— Porque eu estava com ele naquela noite e isso não faz sentido. Ele
gostava de Amanda. Nós todos gostávamos.
Algo da noite do assassinato de Bryan volta com a memória de Sean ali
parecendo horrorizado. — Ele não sabia que Bryan tinha essa arma, não é?
Peter ri uma vez suavemente, e balança a cabeça. — Sean nunca fala sobre
Amanda ou aquela noite, mas eu concordo com você nesse ponto.
Olho para Peter. — Enquanto Bryan estava morrendo, Sean o chamou de
idiota. Ele estava tão louco. Eu pensei que era porque levou um tiro.
— Eu acho que foi porque Bryan não deveria ter essa arma. Hallie, ele
salvou você e seu bebê, mas também salvou algumas outras pessoas no processo.
Ele deu a Sean sua vida de volta. Bryan foi altruísta. Ele faria qualquer coisa que
pudesse para ajudar alguém. Se o pegar com a arma ajudava, se assumir a culpa
ajudava, ele teria feito isso num piscar de olhos. Você não acha?
Concordo com a cabeça. Há silêncio quando nós dois olhamos para o lugar
de descanso final de Bryan. — É por isso que Sean brigou para ele estar aqui.
Bryan não matou aquelas pessoas.
— Eu suspeito que seja o caso.
— Assim como Sean.
Peter dá um sorriso torto. — O mais provável. — Depois de um momento,
ele acrescenta: — Você não deve vir mais aqui se não quer que criança cresça como
o resto da família. Na verdade, seria bom se você, Bryan e Maggie se mudassem.
Vá para algum lugar que não vão encontrá-los, por um tempo, pelo menos.
Dificulte para que eles não vejam o bebê ou tire fotos dele. Isso vai fazer você
ganhar tempo - tempo que não terá que se ficar aqui. — Ele desliza seus dedos
contra a bochecha do bebê. — Ele se parece com o pai.
— Eu sei. — Eu seguro meu pequeno bebê quando ele murmura para Peter.
— Aqui. — Ele me entrega seu cartão. — Se você precisar de alguma coisa é
só pedir. Eu nunca vi você e nunca vi o bebê de Bryan. — Ele pisca para mim, em
seguida, desliza pela porta, com as mãos nos bolsos e a cabeça caída entre os
ombros.
Eu o chamo de costas. — Peter, espere. — Corro para o ar fresco. — Estou
fazendo a coisa certa? Ele tem família. É a única coisa que eu nunca tive e sempre
quis. Eu me perguntei se mantê-los longe dele é a coisa certa a fazer.
— Ele tem família, Hallie. Ele tem você e Maggie. Não está faltando nada
para ele. Eu ouvi que dizer que alguma parte de Montana é lindo. Vá dar uma
olhada. — Peter nos sorri e vai embora.
Depois que Bryan morreu, eu nunca pensei que amaria novamente. Senti
meu coração quebrar e um pedaço de mim morreu junto com ele. A escuridão me
consumiu até que aquele pequeno bastão de plástico me disse que eu estava
grávida. O bebê de Bryan era forte e curou meu coração partido enquanto crescia
dentro de mim. Agora que ele está aqui, nos meus braços, eu vejo o rosto do seu pai
todos os dias e sei que sou abençoada.
Depois de colocar Bryan em seu assento de carro, eu entro e fecho a porta.
Depois de ligar o motor, pressiono um botão e ligo para Maggie. — Ei, o que você
acha de ir para Montana?
— Posso ter um cavalo?
— Para que você quer um cavalo se não sabe montar em um? — Eu sorrio e
olho para o túmulo de Bryan, sabendo que eu nunca o verei novamente. Maggie
está tagarelando sobre cavalos e eu finalmente a interrompo: — Sim, você pode ter
um cavalo.
— Estou dentro, quando partimos?
— Hoje à noite. Eles não podem encontrá-lo, Maggie, e um dos Ferros já
sabe a verdade. Tem certeza de que quer vir? Você não precisa. — Isso não é uma
coisa pequena para perguntar, e eu sei disso. Eu não quero ser egoísta e levá-la
comigo para o meio do nada.
— Porra, sim. Não há nada melhor que o meio do nada. Vou usar perneiras
de cowboy, um enorme chapéu ridículo e comprar um pônei. Sim, eu estou
chegando! — Ela ri. — Você é tão idiota, sabe disso? Eu sou sua irmã, talvez não
por nascimento, mas por escolha. Esse é o melhor tipo, sabe. Vou ligar e arrumar
um voo. Vamos sair daqui a poucas horas, Hallie. Vai ser bom para você e para o
pequeno bebê lindo Bryan. Nós podemos viver em uma fazenda!
Eu rio, surpresa com o quão fácil foi para convencê-la disso. Em seguida, eu
digo a ela: — Você sabia que teríamos que ir embora, não é?
— Algum dia, sim, especialmente se você quisesse esconder Bryan do Ferro.
Mas eu pensei que estaria indo para um lugar horrível como um pântano. Eu sou
totalmente a favor de Montana. Ouvi dizer que eles têm cowboys sensuais. Eu
nunca montei um cowboy.
— Maggie!
Ela ri. — Venha para casa. Vou arrumar nossas coisas. Você está pronta para
isso Hallie. É uma boa jogada. Vemo-nos daqui a pouco. — Ela desliga o telefone.
Eu jogo a minha cabeça contra o assento quando olho para o túmulo de
Bryan, e ouço seu filho fazer sons felizes no banco de trás querendo saber se estou
tomando a decisão certa.
— Queria que você estivesse aqui. Eu gostaria que você pudesse me dizer o
que fazer. — Eu digo as palavras para o ar, falando com o meu amor perdido.
Eu não sou boa em ficar desejando tudo. Como uma órfã, eu aprendi que é
um desperdício de tempo, mas logo que eu digo essas palavras, um raio de luz
corta através do céu cinzento. Um único raio de sol brilha para baixo e toca o topo
do mausoléu do Ferro. A cúpula de cobre cintila e todo o meu corpo se cobre de
formigamentos. O vento suaviza e eu juro que Bryan está aqui, me dizendo para ir embora.
Eu fecho os olhos, faço uma oração, e quando olhar para cima a luz dourada
desapareceu. Pela primeira vez desde a sua morte, a paz flui em mim e congratulo-
me com isso. Coloco o carro na estrada e eu falo sobre o meu ombro para o meu
homenzinho. — Bryan, vamos a um lugar divertido, e eu tenho certeza que a tia
Maggie conseguirá um pônei para você.
H. M. Ward
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