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Carta de Fernando Pessoa a Mário de Sá-Carneiro
Lisboa, 6 de Dezembro de 1915
Meu querido Sá-Carneiro:
Como lhe escrevo esta carta, antes de tudo, por ter a necessidade psíquica absoluta de lhe escrever, Você desculpará que eu deixe para o fim a resposta à sua carta e postal hoje recebidos, e entre imediatamente naquilo que ficará o assunto desta carta.
Estou outra vez presa de todas as crises imagináveis, mas agora o assalto é total. Numa coincidência trágica, desabaram sobre mim crises de várias ordens. Estou psiquicamente cercado.
Renasceu a minha crise intelectual, aquela de que lhe falei mas agora renasceu mais complicada, porque, à parte ter renascido nas condições antigas, novos fatores vieram emaranhá-la de todo. Estou por isso num desvairamento e numa angústia intelectuais que você mal imagina. Não estou senhor da lucidez suficiente para lhe contar as coisas. Mas, como tenho necessidade de lhes contar, irei explicando conforme posso.
A primeira parte da crise intelectual, já você sabe o que é; a que apareceu agora deriva da circunstância de eu ter tomado conhecimento com as doutrinas teosóficas. O modo como as conheci foi, como você sabe, banalíssimo. Tive de traduzir livros teosóficos. Eu nada, absolutamente nada, conhecia do assunto. Agora, como é natural, conheço a essência do sistema. Abalou-me a um ponto que eu julgaria hoje impossível, tratando-se de qualquer sistema religioso. O carácter extraordinariamente vasto desta religião-filosofia; a noção de força, de domínio, de conhecimento superior e extra-humano que ressumam as obras teosóficas, perturbaram-me muito.
Coisa idêntica me acontecera há muito tempo com a leitura de um livro inglês sobre “Os Ritos e os Mistérios dos Rosa-Cruz”. A possibilidade de que ali, na Teosofia, esteja a verdade real me [?]. Não me julgue você a caminho da loucura creio que não estou. Isto é uma crise grave de um espírito felizmente capaz de ter crises desta.
Ora, se você meditar que a Teosofia é um sistema ultracristão – no sentido de conter os princípios cristãos elevados a um ponto onde se fundem não sei em que além-Deus – e pensar no que há de fundamentalmente incompatível com o meu paganismo essencial, você terá o primeiro elemento grave que se acrescentou à minha crise.
Se, depois, reparar em que a Teosofia, porque admite todas as religiões, tem um carácter inteiramente parecido com o do paganismo, que admite no seu Panteão todos os deuses, você terá o segundo elemento da minha grave crise de alma. A Teosofia apavora-me pelo seu mistério e pela sua grandeza ocultista, repugna-me pelo seu humanitarismo e apostolismo (você compreende?) essenciais, atrai-me por se parecer tanto com um “paganismo transcendental” (é este o nome que eu dou ao modo de pensar a que havia chegado), repugna-me por se parecer tanto com o cristianismo, que não admito. E o horror e a atração do abismo realizados no além-alma.
Um pavor metafísico, meu querido Sá-Carneiro!
As páginas seguintes são extraídas do “Livro dos Preceitos de Ouro”, uma das obras lidas pelos estudiosos do misticismo no Oriente. O seu conhecimento é obrigatório naquela escola cujos ensinamentos são aceitos por muitos teosofistas. Por isso, como sei de cor muitos destes preceitos, o trabalho de traduzi-los foi para mim fácil tarefa.
É bem sabido que na Índia os métodos de desenvolvimento psíquico divergem segundo os Gurus (professores ou mestres), não só porque eles pertencem a diferentes escolas filosóficas, das quais há seis, mas também porque cada Guru tem o seu sistema, que em geral mantém cuidadosamente secreto. Mas, para além dos Himalaias, não há diferença de métodos nas escolas esotéricas, a não ser que o Guru seja simplesmente um Lama, pouco mais sabendo do que aqueles a quem ensina.
A obra, de onde são os trechos que traduzo, forma parte da mesma série de onde são tiradas as estrofes do “Livro de Dzyan” sobre que “A Doutrina Secreta” se baseia. Juntamente com a obra mística chamada “Paramartha”, a qual segundo nos diz a lenda de Nagarjuna, foi ditada ao grande Arhat pelos Nagas ou serpentes – nome dado aos antigos iniciados – “O Livro dos Preceitos Áureos” invoca a mesma origem. As suas máximas e conceitos, porém, por nobres e originais que sejam, encontram-se muitas vezes, sob formas diversas, em obras sânscritas, tais como o “Jnaneshevari”, esse soberbo tratado místico em que Krishna descreve a Arjuna, em cores brilhantes, a condição dum iogue plenamente iluminado; e ainda em certos Upanishads. Isto, afinal, é naturalíssimo, visto que quase todos, senão todos, os maiores Arhats, os primeiros seguidores do Gautama Buda, foram hindus e árias, e não mongóis, sobretudo aqueles que emigraram para o Tibete. As obras deixadas apenas por Aryasanghas são, por si só, numerosíssimas.
Os preceitos originais estão gravados sobre lâminas oblongas delgadas; as cópias, muitas vezes, sobre discos. Estes discos ou chapas são geralmente conservados nos altares dos templos ligados aos centros onde estão estabelecidas as chamadas escolas “contemplativas” ou Mahayana (Yogacharya). Estão escritos de diversas maneiras, às vezes no idioma tibetano, mas principalmente em ideógrafos. A língua sacerdotal (senzar), além de por um alfabeto seu, pode ser traduzida em várias maneiras de escrita em caracteres cifrados, que têm mais de ideogramas do que de sílabas. Um outro método (lug, em tibetano) é o de empregar os números e as cores, cada um dos quais corresponde a uma letra do alfabeto tibetano (trinta letras simples e setenta e quatro compostas), formando assim um alfabeto criptográfico completo.
Quando se empregam os ideógrafos há uma maneira certa de ler o texto, pois, neste caso, os símbolos e os sinais usados na astrologia, isto é, os doze animais zodíacos e as sete cores primárias, cada uma tripla em seu matiz (claro, primário e escuro), representam as trinta e três letras do alfabeto simples, formando palavras e orações. Porque, neste método, os doze animais, cinco vezes repetidos e juntos aos cinco elementos e às sete cores, compõem um alfabeto completo de setenta letras sagradas e doze signos. Um signo posto no princípio de um parágrafo indica se o leitor tem de soletrar segundo o modo índio (em que cada palavra é apenas uma adaptação, sânscrita), ou segundo o princípio chinês de ler os ideógrafos.
O método mais fácil é, porém, aquele que não deixa o leitor empregar qualquer língua especial, ou o que quiser, visto que os sinais e os símbolos eram, como os números ou algarismos arábicos, propriedade comum e internacional entre os místicos iniciados e os seus seguidores. A mesma peculiaridade é característica de uma das maneiras chinesas de escrever, que pode ser lida com igual facilidade por qualquer pessoa conhecedora dos caracteres: por exemplo, um japonês pode lê-la na sua língua tão prontamente como um chinês na sua.
“O Livro dos Preceitos Áureos” – alguns dos quais são anteriores ao budismo, ao passo que outros pertencem a um época posterior – contém uns noventa pequenos tratados distintos. Destes aprendi de cor, há muitos anos, trinta e nove. Para traduzir os outros, teria de me referir a apontamentos dispersos entre um número de papéis e notas, representando um estudo de 20 anos e nunca postos em ordem, demasiado grande para que a tarefa fosse fácil. Nem poderiam ser, todos, traduzidos e dados a um mundo por demais egoísta e atado aos objetos dos sentidos, para que pudesse estar preparado a receber, com a devida atitude do espírito, uma moral tão elevada. Porque, a não ser que um homem se entregue perseverantemente ao culto do conhecimento de si próprio, nunca poderá de bom grado dar ouvidos a conselhos desta natureza.
E, contudo, esta moral enche tomos e tomos da literatura oriental, sobretudo nos Upanishads. “Mata todo o desejo de viver” – diz Krishna a Arjuna. Esse desejo mora apenas no corpo, veículo do ser encarnado, e não na própria Individualidade, que é “eterna, indestrutível, que não mata nem é mortal”.
“Mata a sensação”, ensina o Sutta Nipata; “olha do mesmo modo para o prazer e para a dor, para o ganho e para a perda, para a vitória e para a derrota”. E ainda “busca abrigo só no eterno” (ibid.).
“Destrói o sentido da existência separada” – repete Krishna de variadas maneiras. “O Espírito (Manas), que segue os sentidos vagabundos torna a alma (Budhi) tão inerte como o barco que o vento arrasa sobre as águas” (Bhagavad Gita, II 67).
Por isso se julgou melhor fazer uma escolha judiciosa só entre aqueles tratados que mais sirvam aos poucos verdadeiro místicos que há na Sociedade Teosófica, e que com certeza se ajustem às suas necessidades. Só esses compreenderão estas palavras de Krishna-Christos, a Personalidade Superior.
“Sábios, não choreis nem pelos vivos nem pelos mortos. Nunca deixei de existir, nem vós, nem estes reis dos homens; nem no futuro deixará qualquer um de nós de existir” (Bhagavad Gita, II 11-12).
Fragmento I – A Voz do Silêncio
Estas instruções são para aqueles que não conhecem os perigos dos Iddhi [1] inferiores.
Aquele que quiser ouvir a voz de Nada [2], o Som sem som, e compreendê-la, terá de aprender a natureza do Dharana [3].
Tendo-se tornado indiferente aos objetos da percepção, deve o aluno procurar o Raja dos sentidos, o produtor de pensamentos, aquele que acorda a ilusão.
A Mente é a grande assassina do Real.
Que o discípulo mate o assassino.
Porque quando para si mesmo a sua própria forma parece irreal, como o parecem, ao acordar, todas as formas que ele vê em sonhos; quando deixar de ouvir os muitos, poderá divisar o Um - o som interior que mata o exterior.
Então, e só então, abandonará ele a região de Asat, o falso, para chegar ao reino de Sat, o verdadeiro.
Antes que a Alma possa ver, deve ser conseguida a harmonia interior, e os olhos da carne tornados cegos a toda a ilusão.
Antes que a Alma possa ouvir, a imagem (o homem) tem de se tornar surda aos rugidos como aos segredos, aos gritos dos elefantes em fúria como ao sussurro prateado do pirilampo de ouro.
Antes que a Alma possa compreender e recordar, ela deve primeiro unir-se ao Falador Silencioso, como a forma que é dada ao barro se uniu primeiro ao espírito do escultor.
Porque então a Alma ouvirá e poderá recordar-se.
E então ao ouvido interior falará a Voz do Silêncio, e dirá:
Se a tua Alma sorri ao banhar-se ao sol da tua vida; se a tua Alma canta dentro da sua crisálida de carne e de matéria; se a tua Alma chora dentro do seu castelo de ilusão; se a tua Alma se esforça por quebrar o fio de prata que a liga ao Mestre [4]; sabe, ó discípulo, que a tua Alma é da terra.
Quando ao tumulto do mundo a tua Alma [5] que desabrocha dá ouvidos; quando à voz clamorosa da grande ilusão [6] a tua Alma responde; quando se assusta ao ver as lágrimas quentes da dor, quando a ensurdecem os gemidos da angústia, quando a Alma se retira, como a tartaruga tímida, para dentro da concha da personalidade, sabe, ó discípulo, que do seu Deus silencioso a tua Alma é um sacrário indigno.
Quando, já mais forte, a tua Alma vai saindo do seu retiro seguro; quando, deixando o sacrário protetor, estende o seu fio de prata e avança; quando, ao contemplar a sua imagem nas ondas do espaço, ela murmura, “Isto sou eu” – declara, ó discípulo, que a tua Alma está presa nas teias da ilusão [7].
Esta terra, discípulo, é a sala da tristeza, onde existem, pelo caminho das duras provações, armadilhas para prender o teu Eu na ilusão chamada “a grande heresia” [8].
Esta terra, ó discípulo ignaro, não é senão a triste entrada para aquele crepúsculo que precede o vale da verdadeira luz – essa luz que nenhum vento pode apagar, e que arde sem óleo nem pavio.
Diz a Grande Lei: “Para te tornares o conhecedor da Personalidade Total [9], tens primeiro de conhecer a Personalidade”. Para chegares ao conhecimento dessa Personalidade, tens de abandonar a personalidade à não-personalidade, o ser ao não-ser, e poderás então repousar entre as asas da Grande Ave. Sim, suave é o descanso entre as asas daquilo que não nasce, nem morre, mas é o AUM [10] através de eras eternas [11].
Cavalga a Ave da Vida, se queres saber [12].
Abandona a tua vida, se queres viver [13].
Três salas, ó cansado peregrino, conduzem ao fim dos trabalhos. Três salas, ó conquistador de Mara, te trarão através de três estados [14] até ao quarto [15], e daí até aos sete mundos [16], os mundos do descanso eterno.
Se queres saber os seus nomes, escuta-os e aprende-os.
O nome da primeira sala é Ignorância – Avidya. É a sala em que viste a luz, em que vives e hás de morrer [17].
O nome da segunda sala é a Sala da Aprendizagem [18]. Nela a tua Alma encontrará as flores da vida, mas debaixo de cada flor uma serpente enrolada [19].
O nome da terceira sala é Sabedoria, para além da qual se estende o mar sem praias de Akshara, a fonte indestrutível da onisciência [20].
Se queres atravessar seguramente a primeira sala, que o teu espírito não tome os fogos da luxúria que ali ardem pela luz do sol da vida.
Se queres atravessar seguramente a segunda, não pares a aspirar o perfume das suas flores embriagantes. Se queres ver-te livre das peias cármicas, não procures o teu Guru nessas regiões mayávicas.
Os sábios não se demoram nas regiões de prazer dos sentidos.
Os sábios não dão ouvidos às vozes musicais da ilusão.
Procura aquele, que te dará o ser [21], na Sala da Sabedoria, a sala que está para além, onde todas as sombras são desconhecidas e onde a luz da verdade brilha como uma glória imorredoura.
Aquilo que é incriado está dentro de ti, discípulo, assim como está naquela sala. Se queres possuí-lo, e unir as duas coisas, tens de despir os teus negros trajes de ilusão. Abafa a voz da carne, não deixes que qualquer imagem dos sentidos se entreponha entre a sua luz e a tua, para que assim as duas se fundam em uma. E, tendo aprendido a tua Ajnana [22], abandona a Sala da Aprendizagem. Essa sala é perigosa pela sua beleza pérfida, e só é precisa para a tua provação. Acautela-te Lanu, não vá a tua Alma, entontecida pelo brilho ilusório, demorar-se e enredar-se na sua luz enganadora.
Esta luz brilha na joia do grande enganador (Mara) [23]. Enfeitiça os sentidos, cega o espírito e deixa o descuidado naufragado e sozinho.
A borboleta atraída para a chama da tua lâmpada noturna está condenada a ficar morta no azeite. A alma incauta, que não pode defrontar-se com o demônio escarninho da ilusão, voltará ao mundo escrava de Mara.
Olha as hostes das Almas. Vê como elas pairam sobre o mar tempestuoso da vida humana, e como, exaustas, sangrando, de asas quebradas, caem, uma após outra, nas ondas encapeladas. Batidas pelos ventos ferozes, perseguidas pelos vendavais, são arrastadas para os sorvedouros e somem-se pelo primeiro grande vértice que encontram.
Se, passando pela Sala da Sabedoria, queres chegar ao vale da felicidade, fecha, discípulo, os teus sentidos à grande e cruel heresia da separação, que te afasta dos outros.
Que aquilo que em ti é de origem divina não se separe, engolfando-se no mar de Maya [24], do Pai Universal (a Alma), mas que o Poder de Fogo [25] se retire para a câmara interior, a câmara do coração [26], e o domicílio da Mãe do Mundo [27].
Então do coração esse poder subirá até à sexta região, à região média, ao lugar entre os teus olhos, quando se toma a respiração da Alma Única, a voz que enche tudo, a voz do seu Mestre.
É só então que te podes tornar um “que anda nos céus” [28], que pisa os ventos por cima das ondas, cujo passo não toca nas águas.
Antes que ponhas o pé sobre o degrau superior da escada, da escada dos sons místicos, tens de ouvir de sete maneiras a voz do teu Deus interior [29].
A primeira é como a voz suave do rouxinol cantando à sua companheira uma canção de despedida.
A segunda vem como o som de um címbalo de prata dos Dhyanis, acordando as estrelas lucilantes.
A terceira é como o lamento melodioso de um espírito do oceano prisioneiro na sua concha.
E a esta segue-se o canto da vina [30].
A quinta, como o som de uma flauta de bambu, grita aos teus ouvidos.
Muda depois para um clamor de trompa.
A última vibra como o rumor surdo de uma nuvem de trovoada.
A sétima absorve todos os outros sons. Eles morrem, e não tornam a ouvir-se.
Quando os seis [31] estão mortos e postos aos pés do mestre, então se entrega o aluno no Único [32], se torna esse Único e nele vive.
Antes que possas entrar para esse caminho, tens de destruir o teu corpo lunar [33], e limpar o teu corpo mental [34], assim como o teu coração.
As águas puras da vida eterna, límpidas e cristalinas, não podem misturar-se com as torrentes lamacentas da tempestade de monção.
O orvalho do céu brilhando ao primeiro raio do sol no coração do lótus, quando cai na terra torna-se uma, gota de lama; vede como a pérola se tornou uma porção de lodo.
Luta com os teus pensamentos desonestos antes que eles te dominem. Trata-os como eles te querem tratar, porque, se os poupas, criarão raízes e crescerão, e repara, esses pensamentos dominar-te-ão até que te matem. Acautela-te, discípulo, não deixes aproximar-se mesmo a sua sombra. Porque ela crescerá, aumentará em tamanho e poder, e então essa coisa escura observará o teu ser antes que te apercebas da presença do monstro hediondo e negro.
Antes que o poder místico [35] te possa fazer um Deus, Lanu, deves ter adquirido a faculdade de matar, quando quiseres, a tua forma lunar.
A pessoa da matéria e a Pessoa do Espírito nunca se podem encontrar. Uma delas tem de desaparecer; não há lugar para ambas.
Antes que a mente da tua Alma possa compreender, deve a flor da personalidade ser esmagada em botão, e o verme dos sentidos destruído até não poder ressurgir.
Não podes caminhar no Caminho enquanto não te tornares, tu próprio, esse Caminho [36].
Que a tua Alma dê ouvidos a todo o grito de dor como a flor de lótus abre o seu seio para beber o sol matutino.
Que o sol feroz não seque uma única lágrima de dor antes que a tenhas limpado dos olhos de quem sofre.
Que cada lágrima humana escaldante caia no teu coração e aí fique; nem nunca a tires enquanto durar a dor que a produziu.
Estas lágrimas, ó tu de coração tão compassivo, são os rios que irrigam os campos da caridade imortal. É neste terreno que cresce a flor noturna de Buda [37], mais difícil de achar, mais rara de ver, do que a flor da árvore Vogay. É a semente da libertação do renascer. Ela isola o Arhat tanto da luta como da luxúria, leva-o através dos campos do ser para a paz e a felicidade que só se conhecem na terra do silêncio e do não-ser.
Mata o desejo; mas se o matares, cuida bem em que ele não renasça da morte.
Mata o amor da vida; mas se matares Tanha [38], que isso não seja pela ânsia da vida eterna, mas para substituir o evanescente pelo eterno.
Não desejes nada. Não te indignes contra o Carma, nem contra as leis imutáveis da natureza. Mas luta apenas com o pessoal, o transitório, o evanescente e o que tem de perecer.
Auxilia a natureza e trabalha com ela; e a natureza ter-te-á por um dos seus criadores, obedecendo-te.
E ela abrirá de par em par diante de ti as portas das suas câmaras secretas, desnudará ao teu ornar os tesouros ocultos nas profundezas do seu seio virgem. Impoluída pela mão da matéria, ela revela os seus tesouros apenas aos olhos do Espírito - os olhos que nunca se fecham, os olhos para os quais não há véu em todos os seus remos.
Então ela te mostrará o meio e a senda, a primeira porta, e a segunda, e a terceira, até à própria sétima porta. E então a meta, para além da qual estão, banhadas pelo sol do Espírito, glórias indizíveis, que só o olhar da Alma pode ver.
Há só uma senda até ao Caminho; só chegado bem ao fim se pode ouvir a Voz do Silêncio. A escada pela qual o candidato sobe é formada por degraus de sofrimento e de dor; estes só podem ser calados pela voz da virtude. Ai de ti, pois, discípulo, se há um único vício que não abandonaste; porque então a escada abaterá e far-te-á cair; a sua base assenta no lodo fundo dos teus pecados e defeitos, e antes que possas tentar atravessar esse largo abismo de matéria, tens de lavar os teus pés nas águas da renúncia. Acautela-te, não vás pousar um pé ainda sujo no primeiro degrau da escada. Ai daquele que ousa poluir um degrau com seus pés lamacentos. A lama vil e viscosa secará, tornar-se-á pegajosa, e acabara por colar-lhe o pé ao degrau; e, como uma ave presa no visco do caçador sutil, ele será afastado de todo o progresso ulterior. Os seus vícios tomarão forma e puxá-lo-ão para baixo. Os seus pecados erguerão a voz, como o riso e soluço do chacal depois do sol se por; os seus pensamentos tornar-se-ão um exército e levá-lo-ão consigo, como um escravo cativo.
Mata os teus desejos, Lanu; torna os teus vícios impotentes, até dares o primeiro passo na jornada solene.
Estrangula os teus pecados, torna-os mudos para sempre, antes que ergas um pé para subir a escada.
Faze calar os teus pensamentos e concentra toda a tua atenção sobre o teu Mestre, que tu por enquanto não vês, mas sentes.
Funde num só sentido todos os teus sentidos, se queres tomar-te seguro contra o inimigo. É só por aquele sentido que está oculto no vácuo do teu cérebro, que o caminho íngreme que conduz ao teu Mestre se pode revelar aos olhos indecisos da tua, Alma.
Longa e fatigante é a senda ante ti, ó discípulo. Um único pensamento a respeito do passado que abandonaste puxar-te-á para baixo, e terás novamente de começar a ascensão.
Mata em ti toda a recordação de experiências passadas. Não te voltes para trás ou estás perdido.
Não creias que a luxúria pode alguma vez ser morta se é satisfeita ou saciada, porque isso é uma abominação inspirada por Mara.
É alimentando o vício que ele se expande e torna forte, como o verme que se alimenta no seio da flor.
A rosa tem de tornar a ser o botão, nascido da sua haste paterna, antes que o parasita lhe tenha roído o seio e bebido a seiva da sua vida.
A árvore dourada dá flores de joia, antes que o seu tronco esteja gasto pela tormenta.
O aluno tem de tornar ao estado de infância que perdeu antes que o primeiro som lhe possa soar ao ouvido.
A luz do único Mestre, a única, eterna, luz dourada do Espírito, derrama os seus raios fulgurantes sobre o discípulo desde o princípio. Os seus raios atravessam as nuvens espessas e pesadas da matéria.
Ora aqui, ora ali, esses raios iluminam-na, como os raios do sol iluminam a terra através das espessas folhas da floresta. Mas, ó discípulo, a não ser que a carne seja passiva, a cabeça lúcida, a Alma firme e pura como um diamante que cintila, o fulgor não chegará à câmara, a sua luz do sol não aquecerá o coração, nem os sons místicos das alturas akashicas [39] chegarão ao ouvido, por atento que ele esteja, no estágio inicial.
A não ser que ouças, não poderás ver.
A não ser que vejas, não poderás ouvir. Ouvir e ver, eis o segundo estágio.
***
Quando o discípulo vê e ouve, e quando cheira e gosta, com os olhos fechados, os ouvidos fechados, tapados o nariz e a, boca; quando os quatro sentidos se fundem e estão prontos a tornar-se o quinto, aquele do tato interior - então passou ele para o quarto estágio.
E no quinto, á matador dos teus pensamentos, todos estes têm de ser outra vez mortos até não ser possível reanimarem-se [40].
Retira a tua mente de todos os objetos externos, de todas as vistas externas. Retira as imagens internas, para que não lancem uma sombra negra sobre a luz da tua Alma.
Estás agora em Dharana [41], o sexto estágio.
Quando tiveres passado para o sétimo, ó bem-aventurado, não mais verás os Três sagrados [42], porque te terás, tu próprio, tornado esses Três. Tu próprio e a mente, como gêmeos sobre uma linha, a estrela que é o teu guia brilha por cima, nas alturas [43]. Os Três que moram na glória e na felicidade inefáveis, agora perderam os seus nomes no mundo de Maya. Tornaram-se uma só estrela, o fogo que arde mas não queima, o fogo que é o Upadhi [44] da chama.
E isto, ó iogue do sucesso, é aquilo a que os homens chamam Dhyana [45], o verdadeiro precursor do Samadhi [46].
E agora a tua personalidade está perdida na Personalidade, tu para contigo próprio imerso naquela Personalidade de onde primeiro irradiaste.
Onde está a tua individualidade, Lanu, onde está o próprio Lanu? É a fagulha perdida no meio do fogo, a gota dentro do oceano, o raio de luz sempre presente tornado o Todo e o fulgor eterno.
E agora, Lanu, tu és o agente e a testemunha, o que irradia e a irradiação, a luz no som, e o som na luz.
Conheces, ó bem-aventurado, os cinco impedimentos. Tu és o seu conquistador, o mestre do sexto, libertador dos quatro modos da verdade [47] – A luz que cai sobre eles brilha de ti, à tu que foste discípulo, mas agora és professor.
E destes modos da verdade:
Não atravessaste tu o conhecimento de toda a dor – primeira verdade?
Não venceste tu o rei dos Maras em Tsi, a porta da reunião [48] – segunda verdade?
Não destruíste tu o pecado à terceira porta, atingindo a terceira verdade?
Não entraste tu para Tau, o caminho que leva ao conhecimento [49] a quarta verdade?
E agora, descansa sob a árvore de Bodhi, que é a perfeição de todo o conhecimento, porque, sabe-o, és possuidor de Samadhi – o estado da visão infalível.
Vê! Tornaste-te a luz, tornaste-te o som, és o teu Mestre e o teu Deus. Tu próprio és o objeto da tua busca: a voz sem falha, que ressoa através de eternidades, isenta de mudança, isenta de pecado, os sete sons em um, a Voz do Silêncio.
Om Tat Sat
Fragmento II – Os Dois Caminhos
E agora, ó Mestre da compaixão, ensina tu o caminho aos outros homens. Olha, todos aqueles que, batendo para que os admitam, esperam na ignorância e na escuridão ver abrir-se a porta da suave Lei!
A voz dos candidatos:
Não quererás tu, Mestre da tua própria misericórdia, revelar a doutrina do coração [50]? Recusar-te-ás a conduzir os teus servos até ao Caminho da libertação?
Diz o mestre:
Os caminhos são dois; as grandes perfeições três; seis as virtudes que transformam o corpo na árvore da sabedoria [51].
Quem se aproximará delas?
Quem primeiro entrará para elas?
Quem primeiro ouvirá a doutrina dos dois caminhos em um, a verdade sem véu a respeito do Coração Secreto [52]? A lei que, rejeitando o aprender, ensina a sabedoria, revela uma história de dor.
Ai de nós, ai de nós, que todos os homens possuam Alaya, sejam unos com a grande Alma, e que, possuindo-a, Alaya de tão pouco lhes sirva!
Repara como, qual a lua se reflete nas ondas tranquilas, Alaya é refletida pelos pequenos e pelos grandes, espelhado nos átomos ínfimos, e contudo não consegue chegar ao coração de todos. Ai de nós, que tão poucos sejam os homens que se aproveitem do dom, do dom sem preço, de aprender a verdade, a verdadeira percepção das coisas existentes, o conhecimento do não-existente!
Diz o aluno:
Ó Mestre, que farei eu para atingir a sabedoria? Ó Sábio, que farei para conseguir a perfeição?
Procura os caminhos. Mas, ó Lanu, sê puro de coração antes que comeces a tua jornada. Antes que dês o primeiro passo, aprende a separar o real do falso, o transitório do eterno. Aprende sobretudo a separar a ciência da cabeça da sabedoria da Alma, a doutrina dos “olhos” da doutrina do “coração”.
Sim, a ignorância é como uma vasilha fechada e sem ar; a Alma uma ave dentro dela. Não canta, nem pode mexer uma pena; mas jaz num torpor e morre de não poder respirar.
Mas mesmo a ignorância é melhor do que a ciência de cabeça sem a sabedoria de Alma para a iluminar e guiar.
As sementes da sabedoria não podem germinar e crescer no espaço sem ar. Para viver e comer experiência, o espírito precisa espaço e profundidade e pontos que o guiem para a Alma de Diamante [53]. Não procures esses pontos no reino de Maya; mas ergue-te acima das ilusões, busca o eterno e imutável Sat [54], desconfiando das falsas sugestões de fantasia.
Porque a mente é como um espelho; cobre-se de pó ao mesmo tempo que reflete [55]. Precisa que as brisas leves da sabedoria de Alma limpem o pó das nossas ilusões. Procura, ó principiante, fundir a tua mente e a tua Alma.
Afasta-te da ignorância e da ilusão também. Vira o rosto às decepções do mundo; desconfia dos teus sentidos; eles mentem. Mas dentro do teu corpo – escrínio das tuas sensações – procura no impessoal o Homem Eterno [56] e, tendo-o procurado, olha para dentro; tu és Buda [57].
Rejeita o aplauso, ó crente; o aplauso conduz à ilusão de si próprio. O teu corpo não é Personalidade, a tua Personalidade é, em si, sem corpo, e o elogio ou a censura não a atingem.
O contentamento de si próprio, ó discípulo, é uma torre altíssima, à qual um insensato orgulhoso subiu. Ali se senta em orgulhosa solidão, invisível a todos, salvo a si próprio.
A falsa ciência é rejeitada pelos sábios, e espalhada aos ventos pela Boa Lei. A sua roda gira para todos, tanto para os humildes como para os orgulhosos. A doutrina dos olhos é para a multidão; o doutrina do coração para os eleitos. Os primeiros repetem, orgulhosos: “Vede, eu sei”; os últimos, aqueles que humildemente fizeram a sua colheita, confessam em voz baixa: “Assim ouvi” [58].
“A Grande Joeira” é o nome da Doutrina do Coração, ó discípulo.
A roda da Boa Lei gira rapidamente. Noite e dia mói. Afasta o joio do trigo dourado, e a casca da farinha. A mão do Carma guia a roda; as rotações marcam o bater do coração cármico.
O verdadeiro conhecimento é a farinha, a falsa ciência é a casca. Se queres comer o pão da sabedoria, tens de amassar a tua farinha com a água límpida de Amrita [59]. Mas, se amassas cascas com o orvalho de Maya, só podes criar alimento para as pombas negras da morte, as aves da nascença, da decadência e da tristeza.
Se te disserem que para te tornares Arhan tens de deixar de amar todas as coisas - dize-lhes que mentem.
Se te disserem que para te libertares tens de odiar a tua mãe e desprezar o teu filho; de renegar o teu pai e chamar-lhe dono de casa [60]; de renunciar toda a compaixão pelos homens e pelos animais - dize-lhes que as suas palavras são falsas.
Assim ensinam os Tirthikas [61], os descrentes.
Se te ensinarem que o pecado nasce da ação e a felicidade da inação absoluta, dize-lhes que se enganam. A não-permanência da ação humana, a libertação da mente da sua escravidão pela cessação do pecado e das culpas não são coisas para os Eus Devas [62]. Assim reza a doutrina do coração.
O Dharma [63] dos olhos é a corporização do externo e do não-existente.
O Dharma do coração é a corporização de Bodhi [64], o eterno e o permanente.
A lâmpada brilha bastante quando estão limpos pavio e óleo. Para limpá-los é preciso quem os limpe. A chama não sente o processo de limpeza. “Os ramos de uma árvore são sacudidos pelo vento; o tronco fica imóvel”.
Tanto a ação como a inação podem caber em ti; o teu corpo agitado, a tua mente tranquila, a tua Alma límpida como um lago de montanha.
Queres tu tornar-te um iogue do círculo do tempo? Então, ó Lanu:
Não creias que sentando-te em florestas escuras, em orgulhosa reclusão, longe dos homens; não creias que a vida alimentada a plantas e raízes, saciada a sede com a neve da. grande Cordilheira – não creias, ó devoto, que isto te levará à meta da libertação final.
Não julgues que o partir dos ossos, o rasgar da carne e dos músculos, te unirá à tua Personalidade silenciosa [65]. Não julgues que quando estão vencidos os pecados da tua forma grosseira, ó vítima das tuas sombras [66], o teu dever está cumprido para com a natureza e com os homens.
Os bem-aventurados não quiseram fazer assim. O Leão da Lei, o Senhor da Misericórdia [67], percebendo a verdadeira causa da dor humana, imediatamente abandonou o repouso suave mas egoísta das solidões sossegadas. De Aranyaka [68] tornou-se o Mestre da humanidade. Depois de Julai [69] ter entrado para o Nirvana, ele pregou em montanhas e planícies, fez sermões nas cidades, aos Devas, aos homens e aos Deuses [70].
Semeia boas ações e colherás o seu fruto. A inação num ato de misericórdia passa a ser a ação num pecado mortal.
Assim diz o Sábio:
Por que queres abster-te da ação? Não é assim que a tua Alma conseguirá a sua liberdade. Para chegar ao Nirvana é preciso chegar ao conhecimento de Si próprio, e o conhecimento de Si próprio é filho de ações caridosas.
Tem paciência, candidato, como quem não teme falhar, nem procura triunfar. Fixa o olhar da tua Alma na estrela cujo raio és [71], a estrela chamejante que brilha nas profundezas sem luz do ser eterno, nos campos sem limite do desconhecido.
Tem perseverança, como aquele que tem de sofrer eternamente. As tuas sombras vivem e desaparecem [72]; aquilo que em ti viverá para sempre, aquilo que em ti conhece (porque é o conhecimento) não é da vida transitória; é o Homem que foi, que é, e que há de ser, para quem a hora nunca soará.
Se queres colher a suave paz e o descanso, discípulo, semeia as sementes do mérito nos campos das colheitas futuras. Aceita as dores da nascença.
Afasta-te da luz do sol para a sombra, para dares mais espaço aos outros. As lágrimas que regam o solo árido da dor e da tristeza fazem nascer as flores e os frutos da retribuição cármica. Da fornalha da vida humana e do seu fumo denso, saltam chamas aladas, chamas purificadas, que, erguendo-se alto, sob o olhar cármico, tecem por fim o tecido glorioso das três vestes do Caminho [73].
Essas vestes são: Nirmanakaya, Sambhogakaya, e Dharmakaya, traje sublime.
A veste Shangna, [74] é certo, pode comprar a luz eterna. A veste Shangna, por si só, dá o Nirvana da destruição; interrompe o renascer, mas, ó Lanu, também mata a compaixão. Os Budas perfeitos, que vestem a glória do Dharmakaya, já não podem contribuir para a salvação humana. Ai de nós! Devem as personalidades ser sacrificadas a uma só? Deve a humanidade ser sacrificada ao bem de indivíduos?
Aprende, ó principiante, que este é o caminho aberto, o caminho para a felicidade egoísta, evitado pelos Bodhisattvas do Coração Secreto, os Budas da Compaixão.
Viver para servir a humanidade é o primeiro passo. Praticar as seis virtudes gloriosas [75] é o segundo.
Vestir a veste humilde do Nirmanakaya é rejeitar para si a felicidade eterna, para poder auxiliar a salvação humana. Chegar à felicidade do Nirvana, mas renunciar a ela, é o passo supremo, final – o mais alto no caminho da renúncia.
Aprende, ó discípulo, que é este o caminho secreto, escolhido pelos Budas da perfeição, que sacrificaram a sua Personalidade a personalidades mais fracas.
Mas, se a doutrina do coração é alta demais para ti, se precisas te auxiliar a ti próprio e receias oferecer auxílio aos outros – então, tu de coração tímido, acautela-te a tempo; contenta-te com a doutrina ocular da Lei. Continua esperando. Porque se o Caminho Secreto não é atingível hoje, amanhã [76] estará ao teu alcance, Aprende que não há esforço, por pequeno que seja quer no bom sentido, quer no mau – que possa perder-se e desaparecer no mundo das causas. Mesmo o fumo dado ao vento não é sem rastro. “Uma palavra brusca dita em vidas passadas não se perde, mas renasce sempre” [77]. A pimenteira não produz rosas, nem a estrela de prata do jasmim se torna espinho ou cardo.
Podes criar hoje tuas oportunidades de amanhã. Na Grande Jornada [78], as causas semeadas cada hora produzem cada qual a sua colheita de efeitos, porque uma justiça inalterável rege o mundo. Com o vasto alcance de ação infalível ela traz aos mortais vida de alegria ou de angústia, a prole cármica dos nossos pensamentos e ações anteriores.
Aceita, pois, tanto quanto o mérito te reserva, ó de coração paciente. Anima-te e contenta-te com a sorte. Tal é o teu Carma, o Carma do ciclo dos teus nascimentos, o destino daqueles que, na sua dor e tristeza, nascem a ti ligados, riem e choram de vida a vida, presos às tuas ações anteriores.
Age tu por eles hoje, e eles agirão por ti amanhã.
É do botão da renúncia da sua própria personalidade que nasce o fruto doce da libertação final.
Condenado a perecer é aquele que por medo de Mara deixa de auxiliar os homens, receando agir em proveito próprio. O peregrino que quer refrescar os seus membros lassos em águas correntes, mas não mergulha por medo à corrente, arrisca-se a morrer de calor. A inação baseada no medo egoísta não pode dar senão mau fruto.
O devoto egoísta vive inutilmente. Vive em vão o homem que não realiza na vida a obra para que nasceu.
Segue a roda da vida; segue a roda do dever para com a tua raça e os do teu sangue, para com o amigo e o inimigo, e fecha a tua mente tanto aos prazeres como à dor. Esgota a lei da retribuição cármica. Adquire siddhis [79] para o teu nascimento futuro.
Se não podes ser o sol, sê então o humilde planeta. Sim, se te é impossível brilhar como o sol do meio-dia sobre o monte nevado da pureza eterna, então escolhe, ó neófito, uma carreira mais humilde.
Aponta o caminho – por vagamente que o faças, e perdido entre a multidão – como a estrela da tarde àqueles que caminham pela escuridão.
Olha Migmar [80], quando nos seus véus carmesins o seu olhar se derrama sobre a Terra que dorme. Olha a aura de fogo da mão de Lhagpa [81] estendida com amorosa proteção por sobre as cabeças dos seus ascetas. Ambos são agora servos de Nyima [82], ficando, na sua ausência, como sentinelas silenciosas na noite. Foram, contudo, em kalpas passados, Nyimas brilhantes, e talvez em dias futuros se tornem outra vez dois sóis. Tais são as descidas e subidas da lei cármica na natureza.
Sê, ó Lanu, como eles. Dá luz e conforto ao peregrino cansado, e procura aquele que sabe ainda menos do que tu; que na sua desolação miserável está faminto do pão da sabedoria e do pão que alimenta a sombra, sem Mestre, esperança ou consolação, e fá-lo ouvir a Lei.
Dize-lhe, ó candidato, que aquele que faz do orgulho e do egotismo servos da devoção; que aquele que, tenaz da sua existência, em todo o caso depõe a sua paciência e submissão à Lei como uma flor aos pés de Shakya-Thub-pa [83], se torna um Srotapatti [84] neste nascimento. Os Siddhis da perfeição podem ainda estar longe, muito longe; mas está dado o primeiro passo, ele entrou para o rio, e pode adquirir a visão da águia das montanhas, o ouvido da tímida corça.
Dize-lhe, ó aspirante, que a verdadeira devoção pode tornar a dar-lhe o conhecimento, aquele conhecimento que era seu nas suas vidas anteriores. A visão dévica e o ouvido dévico não se podem obter em uma breve vida.
Sê humilde, se queres adquirir a sabedoria: sê mais humilde ainda, quando a tiveres adquirido.
Sê como o oceano, que recebe todos os rios e riachos. A calma imensa do oceano não se perturba; recebe-os e não os sente.
Domina o teu ser interior com o teu ser divino. Domina o divino com o eterno.
Sim, grande é aquele que mata o desejo: maior ainda é aquele em quem a divina Personalidade matou o próprio conhecimento do desejo.
Põe-te de guarda ao inferior, para que não macule o superior.
O caminho para a libertação final está dentro da tua personalidade. Esse caminho começa e acaba fora da personalidade [85].
Sem elogios de todos os homens e humilde é a mãe de todos os rios na vista orgulhosa de Tirthika [86]; vazia a forma humana, ainda que cheia das águas suaves de Amrita ao olhar dos insensatos. E, contudo, a origem dos rios sagrados é a terra sagrada [87], e aquele que possui a. sabedoria é respeitado por todos os homens.
Arhans e Sábios da visão ilimitada [88] são raros como a flor da árvore Udumbara. Os Arhans nascem à meia-noite, com a planta sagrada de nove e sete caules [89], a flor sagrada que desabrocha e floresce na escuridão, saída do orvalho puro e do leito gelado das alturas nevadas, alturas que nenhum pé pecador pisou.
Nenhum Arhan, ó Lanu, se torna um naquela vida em que pela primeira vez a Alma começa a ansiar pela libertação final. E, contudo, ó ansioso, a nenhum guerreiro oferecendo-se voluntariamente para a terrível luta entre o vivo e o morto [90], a nenhum recruta pode ser recusado o direito de entrar no caminho que conduz ao campo de batalha.
Porque ou vence ou cai.
Sim, se vence, o Nirvana será seu. Antes de abandonar a sua sombra, de enjeitar a sua veste mortal, essa causa abundante de angústia e de dor ilimitável, os homens honrarão nele um Buda grande e sagrado.
E se cai, mesmo assim não cai em vão; os inimigos que abateu na última batalha não tornarão a viver na sua próxima encarnação.
Mas, se queres chegar ao Nirvana, ou rejeitar esse prêmio [91], não deixes o fruto da ação e da inação ser o teu motivo, ó de coração indômito.
Aprende que ao Bodhisattva que troca a libertação pela renúncia para vestir as angústias da vida secreta [92], chama-se três vezes venerado, ó candidato à dor através dos ciclos.
O Caminho é um, discípulo, mas, no fim, duplo. Marcados estão os seus estágios por quatro e sete portas. A uma extremidade a felicidade imediata, à outra, felicidade renunciada. Ambos são a recompensa do mérito: a escolha a ti pertence.
O um toma-se os dois, o Aberto e o Secreto [93]. O primeiro leva à meta, o segundo à imolação de si próprio.
Quando ao permanente o mutável se sacrifica, o prêmio é teu; volta a gota ao lugar de onde veio, O Caminho Aberto conduz à mudança imutável – Nirvana, o estado glorioso de absoluto, a felicidade para além da concepção humana.
Assim, o primeiro caminho é a Libertação.
Porém, o segundo caminho é a Renúncia; por isso é chamado o Caminho da Dor.
O Caminho Secreto conduz o Arhan a uma angústia mental inexprimível; dor pelos mortos que estão vivos [94], e compaixão inútil pelos homens da tristeza cármica; o fruto do Carma não ousam os Sábios fazer parar.
Porque está escrito: “Ensina a evitar todas as causas; à maré do efeito, como à grande onda, deixarás seguir o seu curso”.
O Caminho Aberto, mal chegaste ao seu fim, levar-te-á a rejeitar o corpo bodhisattvico, e far-te-á entrar para o estado três vezes glorioso de Dharmakaya [95], que é o eterno esquecimento dos homens e do mundo.
A estrada secreta também conduz à felicidade paranirvânica – mas ao termo de kalpas inúmeros; Nirvanas ganhos e perdidos por uma piedade e compaixão ilimitadas pelo mundo de mortais iludidos.
Mas diz-se: “O último será o maior”. Samyak Sambuda, o Mestre da perfeição, abandonou a sua Personalidade para salvação do mundo, parando no limiar do Nirvana, o estado de pureza.
***
Tens agora o conhecimento a respeito dos dois Caminhos. Chegará o momento em que terás de escolher, ó de Alma ansiosa, quando tiveres chegado ao fim e passado as sete portas. A tua mente está lúcida. Já não estás preso a pensamentos ilusórios, porque aprendeste tudo. Sem véu está ante ti a Verdade, e fita-te gravemente. Diz ela:
“Doces são os frutos do descanso e da libertação por causa da Personalidade; porém, mais doces ainda os frutos do dever longo e amargo; sim, da renúncia por amor aos outros, aos homens que sofrem”.
Aquele que se converte em Pratyeka-Buda só presta obediência à sua Personalidade.
O Bodhisattva que ganhou a batalha, que tem o prêmio na mão, mas exclama, na sua divina compaixão:
“Por amor aos outros abandono esta grande recompensa” – realiza a renúncia maior.
Ele é um Salvador do Mundo.
***
Repara! A meta da felicidade e o longo Caminho da dor estão no extremo fim. Podes escolher um ou outro, ó aspirante à tristeza, através dos ciclos que hão de vir!
Om vairapani hum
Fragmento III – Os Sete Portais
Upadhya [96], a escola está feita. Anseio pela sabedoria. Rasgaste já o véu que escondia o caminho secreto e ensinaste o Yana [97] superior. O teu servo aqui está, pronto para que o guies.
Está bem, Shravaka [98]. Prepara-te, porque terás de seguir sozinho, O mestre só pode apontar a direção. O caminho é um para todos, o meio de chegar à meta deve variar de peregrino para peregrino.
Qual é que vais escolher, ó de coração indômito? O Samtan [99] da doutrina dos olhos, o quádruplo Dhyana, ou abrirás caminho através das Paramitas [100], seis em número, nobres portas da virtude conduzindo a Bodhi e a Prajna, sétimo passo da sabedoria?
O caminho árduo do quádruplo Dhyana ondula montanha acima. Três vezes grande é aquele que chega ao píncaro altíssimo.
As alturas de Paramita são atravessadas por um caminho ainda mais íngreme. Tens de forçar o teu caminho através de sete portas, sete fortalezas guardadas por poderes cruéis e ardilosos – paixões encarnadas.
Anima-te, discípulo; tem sempre presente o preceito áureo. Uma vez passada a porta Srotapatti [101], “aquele que entrou para o rio” cujo pé foi posto sobre o leito do rio nirvânico nesta vida ou em qualquer vida futura, tem apenas diante dele mais sete nascimentos, ó homem de vontade de ferro.
Repara. Que vês tu diante dos teus olhos, ó aspirante à sabedoria divina?
“O manto da escuridão cobre a profundeza da matéria; nas suas dobras me debato. Aprofunda-se, Senhor, à medida que para ele olho; um gesto da tua mão o desfaz. Mexe-se uma sombra, arrastando-se como as dobras coleantes da serpente... Cresce, alastra-se, e desaparece na escuridão”.
É a sombra de ti próprio fora do Caminho, caindo sobre a escuridão dos teus pecados.
“Sim, Senhor, vejo o Caminho; o seu princípio fincado no lodo, o seu cimo perdido na nirvânica luz gloriosa: e agora vejo os portais cada vez mais estreitos na estrada árdua e espinhosa para Jnana” [102].
Vês bem, Lanu. Esses portais levam o aspirante a atravessar o rio para a outra margem [103]. Cada portal tem uma chave de ouro que abre a sua porta; e essas chaves são:
1. Dana, a chave da caridade e do amor imortal.
2. Shila, a chave da harmonia nas palavras e nos atos, a chave que contrabalança a causa e o efeito, não deixando mais espaço à ação cármica.
3. Kshanti, a paciência suave, que nada pode alterar.
4. Vairagya, a indiferença ao prazer e à dor, a ilusão vencida, só a verdade vista.
5. Virya, a energia indômita que abre o seu caminho para a verdade suprema, erguendo-se acima das mentiras terrenas.
6. Dhyana, cuja porta de ouro, uma vez aberta, leva o Naljor [104] para o reino de Sat, o eterno, e para a sua contemplação sem fim.
7. Prajna, cuja chave faz de um homem um Deus, criando-o um Bodhisattva, filho dos Dhyanis.
Tais são as chaves de ouro para esses portais.
Antes que te possas acercar do último, ó tecedor da tua liberdade, tens de possuir estas Paramitas da perfeição – as virtudes transcendentais em número de seis e dez – por esse longo caminho.
Porque, ó discípulo, antes que estivesses apto a encontrar o teu Mestre frente a frente, o teu Senhor luz a luz, que foi que te disseram?
Antes que te possas acercar da porta mais próxima tens de aprender a separar o teu corpo do teu espírito, e a viver no eterno. Para isto, tens de viver e respirar em tudo, como tudo que vês respira em ti; sentir-te existir em todas coisas, e todas as coisas em ti.
Não deixarás os teus sentidos fazer do teu espírito campo para o seu recreio.
Não separarás o teu ser do Ser, e do resto, mas fundirás o oceano na gota de água, e a gota de água no oceano.
Assim estarás em acordo com tudo quanto vive; ama os homens como se eles fossem os teus condiscípulos, discípulos do mesmo Mestre, filhos da mesma boa mãe.
Professores há muitos; a Alma-Mestra [105] é uma, Alaya, a Alma Universal. Vive nesse Mestre como o seu raio em ti. Vive nos teus semelhantes como eles nela.
Antes que estejas no limiar do Caminho; antes que entres pela primeira porta, tens de fundir os dois em um e sacrificar o pessoal à Personalidade impessoal, e assim destruir o caminho entre as duas – Antahkarana [106].
Tens de estar pronto para responder a Dharma, a lei austera, cuja voz te perguntará ao teu primeiro passo, ao teu passo inicial.
“Obedeceste a todas as regras, ó de altas esperanças?”.
“Puseste o teu coração e a tua mente de acordo com a grande mente e o grande coração de toda a humanidade? Porque, como a voz sonora do grande rio, na qual todos os sons têm o seu eco [107], assim deve o coração daquele que queira entrar para o rio vibrar em resposta a cada suspiro e a cada pensamento de tudo quanto vive e respira”.
Os discípulos podem ser comparados a cordas da vina que produz eco nas almas; a humanidade, à sua caixa de ressonância; a mão que a vibra, à respiração melodiosa da Grande Alma do Mundo. A corda que não vibra ao toque o Mestre, em harmonia suave com todas as outras, quebra-se e é deitada fora. Assim as mentes coletivas dos Lanu-Shravakas. Têm de ser afinadas para vibrar de acordo com o espírito do Upadhya – uno com a Super-Alma – ou se quebrará.
Assim fazem os irmãos da sombra – os assassinos das suas Almas, a horrível seita dos Dad-Dugpa [108].
Puseste o teu ser de acordo com a grande dor da humanidade, ó candidato à luz?
Fizeste assim?... Podes entrar. Antes, porém, que dês um passo no duro caminho da tristeza, é bom que aprendas quais são os perigos da estrada.
***
Armado com a chave da caridade, do amor e da terna misericórdia, podes estar tranquilo ante a porta de Dana, a porta que fica à entrada do Caminho.
Vê, ó ditoso peregrino! O portal que tens diante de ti é alto e largo, parece de fácil acesso. A estrada que o atravessa é reta, suave e relvada. É como uma clareira cheia de sol no meio da floresta escura e funda, um lugar na terra refletindo o paraíso de Amitabha [109]. Ali rouxinóis de esperança e aves de penas radiosas cantam em bosques verdejantes, trilando triunfos aos peregrinos sem receio. Cantam as cinco virtudes do Bodhisattva, a fonte quíntupla do poder do Bodhi, e dos sete degraus no conhecimento.
Passa, segue para diante! Trouxeste a chave: estás salvo.
Para a segunda porta a entrada é verde também, mas é íngreme e serpenteia montanha acima – sim, até ao cimo rochoso da montanha. Névoas cinzentas cobrirão o seu píncaro rude e pedregoso, e para além será tudo escuridão. À medida que avança, o cântico da esperança soa cada vez mais débil no coração do peregrino. O arrepio da dúvida atinge-o; os seus passos tornam-se mais incertos.
Acautela-te com isto, ó candidato; acautela-te contra o medo que, como as asas negras e silenciosas do morcego noturno, se alastra entre o luar da tua Alma e a tua grande meta que surge na distância, muito longe ainda.
O medo, ó discípulo, mata a vontade e demora a ação. Se é falho da virtude Shila, o peregrino tropeça, e pedras cármicas ferem-lhe os pés pelo caminho pedregoso.
Pisa com segurança, ó candidato. Banha a tua alma na essência de Kshanti; porque te acercas agora do portal que tem esse nome, a porta da fortaleza e da paciência.
Não feches os olhos, nem percas de vista Dorje [110]; as setas de Mara atingem sempre o homem que não chegou ao Vairagya [111].
Não tremas. Sob o hálito do medo enferruja a chave de Kshanti; a chave ferrugenta já não pode abrir.
Quanto mais avançares, mais e mais serão os perigos que cercarão os teus passos. O caminho que segue para diante é iluminado por uma chama – a luz da audácia ardendo no coração. Quanto mais ousares, mais conseguirás. Quanto mais temeres, mais a luz esmorecerá – e só ela te pode guiar. Porque como o último raio do sol no píncaro do alto monte é seguido pela noite escura quando cessa, assim é a luz do coração. Quando se apaga, uma sombra negra e ameaçadora cairá do teu coração sobre o Caminho, e prenderá os teus pés pávidos no chão.
Acautela-te, discípulo, com essa sombra letal. Nenhuma luz que brilhe do Espírito pode dispersar a escuridão da Alma inferior, a não ser que todo o pensamento egoísta de lá tenha fugido, e que o peregrino diga: “Abdiquei deste corpo que passa; destruí a causa; as sombras, meros efeitos, não podem mais subsistir”. Porque teve lugar agora a última grande batalha, a guerra final entre o ser superior e o inferior. Vê, o próprio campo da batalha se engolfou na grande guerra, e deixou de existir.
Mas, uma vez passada a porta de Kshanti, está dado o terceiro passo. O teu corpo é teu escravo. Prepara-te agora para a quarta porta, a porta das tentações que enleiam o homem interior.
Antes que possas acercar-te dessa meta, antes que a tua mão se erga para levantar o fecho da quarta porta, deves ter dominado todas as alterações mentais em ti, e matado o exército das sensações-pensamentos que, sutis e insidiosas, se introduzem, sem que tu queiras, no sacrário luzente da Alma.
Se não queres que elas te matem, deves tornar inofensivas as tuas criações, os filhos dos teus pensamentos, invisíveis, impalpáveis, que enxameiam em torno à humanidade, prole e herdeiros do homem e das suas presas terrestres. Tens de estudar o vácuo do aparentemente cheio, o cheio do aparentemente vazio. Ó aspirante intemerato, olha bem para dentro do poço do teu coração, e responde. Conheces bem os poderes da Personalidade, ó observador das sombras externas?
Se os não conheces, está perdido.
Porque, no quarto caminho, a mais leve brisa da paixão ou do desejo fará tremer a luz firme nos muros brancos e puros da Alma. A mais pequena onda de ânsia ou de saudade pelos dons ilusórios de Maya, ao passares por Antahkarana – o caminho que há entre o teu Espírito e a tua Personalidade, a estrada-real das sensações, as despertadoras de Ahamkara [112] – um pensamento rápido como a luz do relâmpago far-te-á perder os teus três prêmios - os três prêmios que ganhaste. Aprende que no Eterno não há mudança.
“Abandona para sempre as oito cruéis angústias; se não, por certo que não chegaste à sabedoria, nem ainda à libertação”, diz o grande Senhor, o Tathagata da perfeição, “aquele que seguiu as passadas dos seus predecessores” [113].
Austera e exigente é a virtude de Vairagya. Se queres possuir o seu caminho, tens de ter a tua mente, as tuas percepções mais do que nunca livres da ação mortal.
Tens de te saturar do puro Alaya, de te identificar com o pensamento da alma da Natureza. Unificado com ele és invencível; separado dele, torna-te o campo de recreio de Samvritti [114], origem de todas as ilusões do mundo.
Tudo é transitório no homem, salvo a pura e clara essência do Alaya. O homem é o seu raio cristalino; por dentro um raio de luz imaculada, uma forma de barro material na superfície inferior. Esse raio é o teu guia de vida e a tua Personalidade verdadeira, a sentinela e o pensador silencioso, a vítima do teu ser inferior. A tua Alma não pode ser ferida senão através do teu corpo pecador; domina e rege os dois e estarás salvo quando estiveres cruzando as proximidades da Porta do Equilíbrio.
Anima-te, audaz peregrino, para a outra margem. Não dês ouvidos ao segredar das hostes de Mara; afasta os tentadores, esses espíritos de má índole, os Lhamayn [115] no espaço infinito.
Mantém-te firme! Acerca-te agora do portal médio, da porta da dor, com as suas dez mil armadilhas.
Domina os teus pensamentos, ó ansioso pela perfeição, se queres atravessar o limiar dela.
Domina a tua alma, ó ansioso pelas verdades eternas, se queres chegar à meta.
Concentra o olhar da tua alma na luz única e pura, na luz que nada afeta, e serve-te da tua chave de ouro.
***
O árduo trabalho está feito, a tua tarefa quase finda. O grande abismo, que se abria para te tragar, está quase passado.
***
Atravessaste a vala que circula a porta das paixões humanas. Venceste já a Mara e à sua horda furiosa.
Tiraste a impureza do teu coração e sangraste-o de desejos impuros. Mas, ó combatente glorioso, a tua tarefa ainda não está no fim. Constrói alto, Lanu, o muro que há de defender a tua Ilha Sagrada [116], o dique que protegerá o teu espírito do orgulho e do contentamento ao pensares no teu grande feito.
Um sentimento de orgulho macularia a tua obra. Sim: ergue forte o muro, não vá o impulso feroz das ondas em guerra, que sobem e batem na sua costa, vindas do grande Mundo do oceano de Maya, engolfar o peregrino e a ilha; sim, no próprio momento da vitória.
A tua “ilha” é a corça, os teus pensamentos os galgos que cansam e perseguem o seu avanço até ao rio da vida. Ai da corça que é atingida pelos galgos malignos antes que chegue ao vale do refúgio – Jnana-Marga [117], “o caminho do puro conhecimento”.
Antes que te possas estabelecer em JnanaMarga e chamar-lhe teu, a tua Alma tem de se tornar como o fruto maduro da mangueira: mole e doce como a sua polpa dourada para as angústias dos outros, duro como o caroço desse fruto para as tuas próprias dores e angústias, ó triunfador da alegria e da tristeza.
Torna a tua Alma dura contra as armadilhas da tua personalidade; faze com que ela mereça o nome de Alma de Diamante.
Porque, como o diamante enterrado fundo no coração vivo da terra não pode refletir as luzes terrenas, assim são a tua mente e a tua Alma; imersos no Jnana-Marga, nada devem refletir do meio ilusório de Maya.
Quando chegares a esse estado, os portais que tens de vencer no teu caminho abrem de par em par as suas portas, para que passes e os poderes maiores da natureza não têm força para te embargar o passo. Serás dono do sétuplo caminho: mas só então o serás, ó candidato a provas indizíveis.
Até ali, espera-te uma tarefa muito mais difícil: tens de te sentir todo pensamento, e contudo exilar da tua alma todos os pensamentos.
Tens de chegar àquela fixidez de espírito em que nenhuma brisa, por mais que cresça, pode soprar um pensamento material para dentro dele. Assim purificado, o sacrário deve ficar vazio de toda a ação, som ou luz da terra; assim como a borboleta, atingida pela geada, cai morta no limiar – assim todos os pensamentos materiais devem cair mortos ante o tempo.
Vê que está escrito:
“Antes que a chama dourada possa arder com um brilho firme, deve a lâmpada estar guardada num lugar livre de toda a aragem”. Exposta à brisa volúvel, a chama tremerá, e, tremendo, lançará sombras enganosas, negras, e sempre variantes, sobre o sacrário branco da Alma.
E então, ó perseguidor da verdade, a alma da tua mente tornar-se-á como um elefante louco, que se enfurece na floresta. Tomando as árvores por inimigos vivos, morre ao tentar matar as sombras sempre incertas bailando no muro dos rochedos inundados de sol.
Acautela-te, não vá a tua alma, ao cuidar da tua Personalidade, perder pé no terreno do conhecimento Deva.
Acautela-te, não vá a tua Alma, ao esquecer a Personalidade, perder o seu domínio sobre o seu espírito trêmulo, perdendo assim o justo prêmio das suas conquistas.
Acautela-te contra a mudança, porque a mudança é o teu grande inimigo. A mudança lutará contigo, afastar-te-á, atirar-te-á para fora do caminho que trilhas, para dentro de pântanos viscosos de dúvida.
Prepara-te e acautela-te a tempo. Se experimentaste e falhaste, ó lutador indômito, não percas, porém, a coragem: continua a lutar, e volta ao embate repetidamente.
O guerreiro destemido, ainda que o sangue da sua vida lhe escorra das feridas abertas, continuará a atacar o inimigo, expulsá-lo-á do seu forte, vencê-lo-á mesmo, antes que ele próprio expire. Agi, pois, todos vós que falhais e que sofreis, como esse soldado; e do forte da vossa Alma expulsai todos os vossos inimigos – a ambição, a cólera, o ódio, até a sombra do desejo – mesmo quando tiverdes falhado...
Lembra-te, tu que lutas pela libertação humana [118], que cada falência é um triunfo, e cada tentativa sincera a seu tempo recebe o seu prêmio. Os santos germes que brotam e crescem invisíveis na Alma do discípulo, dobram como juncos mas não quebram, nem podem eles perder-se. Mas quando a hora soa, desabrocham [119].
***
Mas se vieste preparado, então não temas nada.
***
Daqui em diante é claro o teu caminho, que vai direto à porta de Virya, o quinto dos sete portais. Estás agora no caminho que conduz ao porto do Dhyana, o sexto portal, o portal Bodhi.
A porta do Dhyana é como um vaso de alabastro, branco e transparente; dentro dele arde uma luz firme e dourada, a chama de Prajna, que de Atman irradia.
Esse vaso és tu.
Afasta-te dos objetos dos sentidos, seguiste pelo caminho da visão, pelo caminho da audição, e estás agora na luz do conhecimento. Chegaste agora ao estado de Titiksha [120].
Ó Naljor, estás salvo.
***
Aprende, vencedor dos pecados, que uma vez que um Sowani [121] tenha atravessado o sétimo caminho, toda a natureza estremece de alegria e se sente submissa. A estrela prateada eis que cintila esta nova às flores da noite, o riacho murmura esse conto às pedras; as ondas escuras do oceano o cantam aos rochedos cheios de espuma, as brisas perfumadas cantam-no aos vales, e os pinheiros altivos segredam misteriosamente: “Surgiu um Mestre, um Mestre do Dia” [122].
Ele se ergue agora como uma coluna branca ao ocidente, sobre cuja fronte o sol nascente do pensamento eterno derrama as suas primeiras ondas gloriosas. O seu espírito, como um oceano ilimitado em calmaria, alastra-se no espaço sem praias. Ele tem a vida e a morte na sua mão poderosa.
Sim, ele é poderoso. O poder vivo tornado livre nele, esse poder que é Ele próprio, pode erguer o tabernáculo da ilusão muito acima dos Deuses, acima dos grandes Brahma e Indra. É agora, por certo, que ele conseguirá o seu grande prêmio!
Não usará ele os dons, que isso confere, para seu descanso e felicidade, para seu proveito e glória tão bem ganhos - ele o subjugador da grande ilusão?
Não, ó candidato à ciência secreta da natureza! Se quiseres seguir os passos do santo Tathagata, esses dons e poderes não são para ti próprio. Irás assim por um dique às águas nascidas em Someru [123]? Irás desviar o rio para teu serviço, ou fazê-lo subir até à sua nascente, pelos cerros dos ciclos?
Se quiseres que esse rio de conhecimento bem ganho, de sabedoria de divina origem, fique uma corrente pura, não deves deixar que ele se torne um lago estagnado.
Aprende: se quiseres tornar-te cooperador de Amitabha, a Idade Ilimitada, então deves derramar a luz adquirida, como os dois Bodhisattvas [124], sobre a extensão de todos os três mundos [125].
Aprende que a corrente de conhecimento sobre-humano e a sabedoria Deva, que adquiriste, deve, de ti, o canal de Alaya, ser derramada para outro leito.
Aprende, ó Naljor, tu do caminho secreto, que as suas águas puras devem ser empregadas para tornar mais doces as ondas amargas do oceano – esse grande mar de sofrimento formado pelas lágrimas dos homens.
Ai de ti! Uma vez que te tornaste como a estrela fixa no alto céu, esse claro orbe celeste deve, das profundezas do espaço, brilhar para todos, menos para si mesmo; dar luz a todos, e a nenhum tirá-la.
Ai de ti! Uma vez tornado como a neve pura nos vales das montanhas, fria e insensível ao tato, quente e protetora para a semente que dorme fundo sob o seu seio – agora é essa neve que deve receber a geada mordente, os vendavais do norte, protegendo assim do seu dente fino e cruel a terra que contém a colheita prometida, a colheita que dará pão aos que têm fome.
Por ti próprio condenado a viver através de Kalpas futuros sem que os homens te vejam ou te agradeçam; apertado como uma pedra contra inúmeras outras que formam o “Muro da Guarda” [126], tal é o teu futuro se passares a sétima porta. Construído pelas mãos de muitos Mestres da Compaixão, erguido pelas suas torturas, cimentado pelo seu sangue, ele protege a humanidade, desde que o homem é homem, livrando-a de novas e maiores angústias e tristezas.
O homem, porém, não o vê, não o quer ver, nem quer dar ouvidos à palavra da Sabedoria, porque não a conhece.
Mas tu ouviste-a, tu sabes tudo, ó de Alma ansiosa e imaculada... e tens de escolher. Escuta ainda.
No Caminho de Sowan, ó Srotapatti, segues seguro. Sim, nesse Marga, onde apenas a escuridão vem ao encontro do peregrino cansado, onde, rasgadas por espinhos, as mãos gotejam sangue, os pés são rasgados por pedras agudas e duras, e Mara emprega as suas armas mais fortes – para além dele, imediatamente há um grande prêmio.
Calmo e impassível, o peregrino vai até ao rio que conduz ao Nirvana. Ele sabe que quanto mais os seus pés sangrarem, mais lavado e limpo ele próprio ficará. Ele sabe bem que depois de sete breves e transitórias nascenças, o Nirvana lhe pertencera...
Tal é o caminho de Dhyana, o porto do iogue, a meta sagrada que o Srotapattis buscam.
Não é assim quando atravessou e conquistou o caminho Arhat [127].
Ali Klesha [128] é destruído para sempre, e as raízes de Tanha [129] arrancadas; mas para, discípulo... escuta uma palavra ainda. Podes tu destruir a divina compaixão? A compaixão não é um atributo. É a Lei das leis – a harmonia eterna, o próprio Ser de A1aya, uma essência universal sem praias, a luz da justiça eterna, o acordo de tudo, a lei do eterno amor.
Quanto mais com ela te unificares, fundindo o teu ser no seu ser, tanto mais a tua Alma se unirá àquilo que é, tanto mais te tornarás a Compaixão Absoluta [130].
Tal é o caminho Arya, caminho dos Budas da perfeição.
Mas o que significam os livros sagrados que te fazem dizer:
“Om! Creio que nem todos os Arhats obtêm o doce gozo do caminho nirvânico”.
“Om! Creio que no Nirvanadharma não entram todos os Budas” [131].
Sim, no caminho de Arya já não és um Srotapatti, és um Bodhisattva [132]. Atravessaste o rio. É certo que tens direito à veste do Dharmakaya; mas um Samhbogakaya é maior do que um Nirvani, e maior ainda é um Nirmanakaya – o Buda da Compaixão [133].
Inclina agora a tua fronte e escuta bem, ó Bodhisattva – a compaixão fala e diz:
“Pode haver felicidade quando tudo quanto vive tem de sofrer? Quererás salvar-te ouvindo todo o mundo chorar?”
Agora ouviste o que se disse:
Chegarás ao sétimo degrau e atravessarás a porta do conhecimento final, mas apenas para tomares a dor por esposa – se queres ser Tathagata, seguir os passos do teu predecessor, conservar-te altruísta até ao fim sem fim.
Estás iluminado – escolhe o teu caminho.
***
Olha a luz suave que inunda o céu oriental. Céu e terra unem-se em gestos de adoração. E dos poderes quadruplamente manifestados sobe um cântico de amor, tanto do fogo que brilha como da água que corre, da terra perfumada e do vento que passa.
Escuta!... Do grande e insondável vórtice daquela luz dourada em que o Vencedor se banha, toda a voz sem palavras da natureza se ergue para em mil tons proclamar:
Saúdo-vos, ó homens de Myalba. [134]
Um peregrino regressou da “outra margem”.
Nasceu um novo Arhan. [135]
Paz a todos os seres. [136]
Notas
1. A palavra páli Iddhi equivale ao Siddhis sânscrito, as faculdades “psíquicas” os poderes anormais do homem. Há duas espécies de Siddhis – um grupo que compreende as energias inferiores, grosseiras, “psíquicas” e mentais, ao passo que o outro exige o mais alto cultivo das capacidades espirituais. Diz Krishna no Shrimad Bhagavat:
“Aquele que está ocupado na execução da Ioga, que venceu os seus sentidos e concentrou o seu espírito em mim (Krishna) – a tais iogues como esse estão todos os Siddhis prontos a servir”. [voltar]
2. A voz sem som, ou a “voz do silêncio”. Literalmente, isto devia talvez traduzir-se “voz no som espiritual”, visto que Nada é o equivalente sânscrito do termo Senzar. [voltar]
3. Dharana é a concentração intensa e perfeita do espírito sobre qualquer objeto interior, acompanhada da abstração completa de tudo quanto pertença ao universo exterior, ou mundo dos sentidos. [voltar]
4. O “grande Mestre” é o termo que os chelas empregam para designar a Personalidade Superior. Equivale ao Avalokiteshvara, e é o mesmo que o Adi-Buda dos ocultistas do budismo, que o Atmandos Brâmanes, e que o Christos dos antigos Gnósticos. [voltar]
5. “Alma” é aqui empregado para designar o Eu ou Manas humano, a que na nossa oculta divisão setenária se chama a Alma humana, para distingui-la das Almas espirituais e animais. [voltar]
6. Maha-Maya, a grande ilusão, o universo objetivo. [voltar]
7. Sakkayaditthi, a ilusão da personalidade. [voltar]
8. Attavada, a heresia da crença na Alma, ou antes, na separação da Alma ou Personalidade do Ser universal, uno e infinito. [voltar]
9. O Tattvajnani é o conhecedor ou discriminador dos princípios na natureza e no homem; e Atmajnani é o conhecedor de Atman ou da Personalidade Única universal. [voltar]
10. Kala Hamsa, a ave ou cisne. Diz o Nadavindupanishat (Rig Veda) traduzido pela Sociedade Teosófica de Kumbakonam – “Considera-se a sílaba ‘A’ como a asa direita da ave Amsa, ‘U’ a asa esquerda, ‘M’ a cauda, e o Ardhamatra (meio metro) diz-se ser a sua cabeça”. [voltar]
11. A eternidade tem para os orientais um sentido diverso do que tem para nós. Representa em geral os 96 anos ou idade de Brahma, a duração de um Mahakalpa, ou seja, um período de 311.040.000.000.000 anos. [voltar]
12. Diz o citado Nadavindu, “Um iogue que cavalga o Hamsa (assim contempla sobre o AUM) não é afetado por influências cármicas ou efeitos de pecados”. [voltar]
13. Abandona a vida da personalidade física se queres viver em Espírito. [voltar]
14. Os três estados de consciência, que são: Jagrat, o de vigília; Svapna, o de sonho; e Sushupti, o estado de sono profundo. Estas três condições iogues conduzem ao quarto, o Turiya (ver nota #15) [voltar]
15. O Turiya, o que está além do estado do sono sem sonhos, um estado de alta consciência espiritual. [voltar]
16. Alguns místicos orientais indicam sete planos do ser, os sete Lokas ou mundos espirituais dentro do corpo de Kala Hamsa, o cisne fora do tempo e do espaço, conversível em o cisne dentro do tempo, quando se torna Brahma em vez de Braman. [voltar]
17. O mundo fenomênico só dos sentidos e da consciência terrena. [voltar]
18. A sala da aprendizagem da época da provação. [voltar]
19. A região astral, o mundo psíquico das percepções super-sensuais e das visões ilusórias – o mundo dos médiuns. É a grande “serpente astral” de Éliphas Lévi. Nenhuma flor colhida nesse mundo foi alguma vez trazida para a terra sem que trouxesse a sua serpente enroscada na haste. É o mundo da grande ilusão. [voltar]
20. A região da plena consciência espiritual, para além da qual já não há perigo para quem lá chegou. [voltar]
21. Ao Iniciado, que conduz o discípulo, pelos conhecimentos que lhe ministra, à sua segunda nascença, ou nascença espiritual, chama-se o pai, Guru ou Mestre. [voltar]
22. Ajnana é a ignorância ou não-sabedoria, o contrário do conhecimento, Jnana. [voltar]
23. Mara é, nas religiões exotéricas, um demônio, um Asura, mas na filosofia exotérica é a personificação da tentação pelos vícios humanos; traduzido literalmente, quer dizer “aquilo que mata” a alma. É representado como um rei (dos Maras) com uma coroa onde brilha uma joia de tal fulgor que cega aqueles que para ela olham, e esse fulgor representa, é claro, a fascinação que o vício exerce sobre certas naturezas. [voltar]
24. Ilusão. [voltar]
25. O “poder de fogo” é Kundalini. [voltar]
26. A câmara interior do coração, chamada em sânscrito Brahma-Pura. [voltar]
27. O “Poder” e a “Mãe do Mundo” são nomes dados a Kundalini – um dos poderes místicos iogues. É o Budi considerado como princípio ativo e não passivo (o que ele em geral é quando o consideramos como simples veículo ou cofre do espírito supremo, Atman). É força eletro-espiritual, o poder criador que, quando chamado à agir, pode tão facilmente matar como criar. [voltar]
28. Kechara, “o que passeia”, ou “anda”, nos céus. Conforme se explica no sexto Adhyaya dessa rainha das obras místicas, os Jnaneshvari – o corpo do iogue se torna como que feito de vento; como “uma nuvem de onde nasceram membros” depois do que – “ele (o iogue) contempla as cousas para além dos mares e das estrelas; ouve e compreende a linguagem dos Devas (deuses) e percebe o que se está passando no espírito da formiga”. [voltar]
29. A individualidade superior. [voltar]
30. Vina é um instrumento de corda índio parecido com o alaúde. [voltar]
31. Os seis princípios que constituem o homem; isto acontece quando a personalidade inferior é destruída e a individualidade íntima se funde e perde no sétimo espírito (Atman). [voltar]
32. O discípulo torna-se uno com Braman ou Atman. [voltar]
33. A forma astral produzida pelo princípio cármico, o Kama Rupa, ou corpo de desejo. [voltar]
34. Manasa Rupa. Assim como o Kama Rupa se refere ao ser astral ou pessoal. Manasa Rupa se relaciona com a individualidade, ou Eu reencarnante, cuja consciência no nosso plano, ou Manas inferior, tem de ser paralisada. [voltar]
35. Kundalini, o poder serpentino ou fogo místico; chama-selhe o poder serpentino ou anelar por causa do seu progresso ou caminho espiraliforme no corpo do asceta que está desenvolvendo em si esse poder. É um poder oculto ou foático elétrico e ígneo, a grande força primitiva que está por dentro de toda a matéria orgânica e inorgânica. [voltar]
36. Este Caminho é mencionado em todas as obras místicas. Como diz Krishna no Jnaneshvari: “Quando se contempla este caminho... quer sigamos para o Oriente em flor, quer para as câmaras do Ocidente, Sem movimento, é portador do arco, é a viagem nesta estrada. Neste caminho, qualquer que seja o lugar para onde queiramos ir, esse lugar nos tornamos”. “Tu és o caminho” – diz-se ao Adepto Guru, e diz este ao discípulo, depois da Iniciação. “Eu sou a estrada e o Caminho” – diz um outro Mestre. [voltar]
37. O grau de Adepto – a flor de Boddhisattva. [voltar]
38. Tanha – a vontade de viver, o medo da morte e amor à vida, aquela força ou energia que causa o renascer. [voltar]
39. Os sons místicos, ou a melodia mística, ouvidos pelo asceta no princípio do seu ciclo de meditação, chamado Anahatashabda pelos iogues. O Anahaha é o quarto dos Chakras. [voltar]
40. Isto quer dizer que no sexto estágio de desenvolvimento, que, no sistema oculto, é Dharana, cada sentido, como faculdade individual tem de ser “morto” (ou paralisado) neste plano passando a ser, e fundindo-se com o sétimo sentido, o mais espiritual. [voltar]
41. Dharana é a concentração intensa e perfeita do espírito sobre qualquer objeto interior, acompanhada da abstração completa de tudo quanto pertença ao universo exterior, ou mundo dos sentidos. [voltar]
42. Cada estágio de desenvolvimento na Raja Ioga é simbolizado por uma figura geométrica. Esta é o triângulo sagrado e precede o Dharana. O “D” é o sinal dos altos chelas, ao passo que outra espécie de triângulo é o dos altos Iniciados. O “1” é o símbolo de que Buda falou e que empregou como símbolo da forma incorporada de Tathagata quando liberta dos três métodos de Prajna. Os estágios preliminar e inferiores uma vez passados, o discípulo já não vê o “D” mas sim (a abreviatura do) o setenário completo. A sua verdadeira forma não é aqui dada porque é quase certo que seria aproveitada por qualquer charlatão e profanada no seu uso para fins fraudulentos. [voltar]
43. A estrela que brilha nas alturas é a Estrela da Iniciação. O sinal dos Shaivas, ou devotos da seita de Shiva, patrono de todos os iogues, é um ponto circular negro, agora, talvez, símbolo do sol, mas o da Estrela da Iniciação no ocultismo de outros tempos. [voltar]
44. A base (Upadhi) da chama sempre inatingível, enquanto o asceta está nesta vida. [voltar]
45. Dhyana é o último estágio antes do final, nesta terra, a não ser que nos tornemos pleno Mahatma. Como já se disse, neste estado o Raja Ioga é ainda espiritualmente consciente da sua personalidade e da operação dos seus princípios superiores. Mais um passo, e estará no plano para além do Sétimo, o quarto, segundo certas escolas. Estas, depois da prática de Pratyahara – uma educação preliminar, para dominar o espírito e os pensamentos – contam Dharana, Dhyana e Samadhi, e envolvem os três sob o nome genérico de Sannyama. [voltar]
46. Samadhi é o estado em que o asceta perde a consciência de toda a individualidade, incluindo a sua. Torna-se o Todo. [voltar]
47. Os quatro modos da verdade são, no budismo do norte: Ku, o sofrimento ou miséria; Tu, a reunião das tentações; Mu, a destruição delas; e Tau, o Caminho. Os “cinco impedimentos” são o conhecimento da angústia, a verdade a respeito da fraqueza humana, restrições opressivas, e a absoluta necessidade de separação de todas as peias da paixão, e mesmo dos desejos. O “Caminho da salvação” é o último. [voltar]
48. No portal da reunião está o rei dos Maras, o Maha-Mara, tentando cegar o candidato com o brilho da sua joia. [voltar]
49. Este é o quarto dos cinco caminhos do renascer, que conduzem e arrastam todos os seres humanos para um perpétuo estado de tristeza e de alegria. Esses caminhos não passam de subdivisões do caminho único, o caminho seguido pelo Carma. [voltar]
50. Às duas escolas da doutrina do Buda, a esotérica e a exotérica, chama-se respectivamente a doutrina do “coração” e a doutrina dos “olhos”. A Budhidharma, a religião da sabedoria da China - donde os nomes passaram para o Tibete – chamou-lhes os homens do Tsung (escola esotérica) e os Kiau (escola exotérica). A primeira é assim chamada porque é o ensinamento que emanou do coração do Gautama Buda, ao passo que a doutrina dos olhos foi produto da sua cabeça ou cérebro. A doutrina do coração também se chama o selo da verdade, ou o verdadeiro selo, símbolo esse que se encontra encimando quase todas as obras esotéricas. [voltar]
51. A árvore da sabedoria é o título dado pelos aderentes da Religião da Sabedoria (Bodhidharma) àqueles que atingiram a altura do conhecimento místico – aos Adeptos. A Nagarjuna, o fundador da Escola Madhyrnika, chamavam a “Árvore-Dragão”, sendo o dragão o símbolo da sabedoria e do conhecimento. A árvore é respeitada porque foi sob a árvore Bodhi (da sabedoria) que Buda recebeu a sua nascença e esclarecimento, pregou o seu primeiro sermão, e morreu. [voltar]
52. O Coração Secreto é a doutrina esotérica. [voltar]
53. A Alma de Diamante, Vajrasattva, um título do Buda supremo, Senhor de todos os mistérios, chamado Vajradhara e Adi-Buda. [voltar]
54. Sat, a única realidade e verdade eterna e absoluta, sendo tudo mais ilusão. [voltar]
55. Da doutrina de Shin-Sien, que ensina que a mente humana é como um espelho que atrai e reflete todos os átomos de pó, e, como esse espelho, tem de ser cuidada e limpa todos os dias. Shin-Sien foi o sexto patriarca da China Setentrional, que ensinou a doutrina esotérica do Bodhidharma. [voltar]
56. Os Budistas do Norte chamam ao Eu reencarnante o Homem Eterno, que se torna, em união com o seu ser superior, um Buda. [voltar]
57. Buda significa “Iluminado”. [voltar]
58. A fórmula costumeira que precede as escrituras budistas, e significa que o que segue foi notado de direta tradição oral do Buda e dos Arhats. [voltar]
59. A imortalidade. [voltar]
60. Rathapala, o grande Arhat, assim se dirige a seu pai na lenda chamada Rathapala Sutrasanne. Mas como todas essas lendas são alegóricas (por exemplo: o pai de Rathapala tem uma casa com sete portas), compreende-se a reprimenda àqueles que as aceitam literalmente. [voltar]
61. Brâmanes ascéticos, visitadores de sacrários, sobretudo lugares de banhos sagrados. [voltar]
62. Os Eus reencarnantes. [voltar]
63. Doutrina, lei, dever. [voltar]
64. A sabedoria verdadeira e divina. [voltar]
65. A Personalidade Superior, o sétimo princípio. [voltar]
66. Nossos corpos físicos são chamados sombras, nas escolas místicas. [voltar]
67. Buda. [voltar]
68. Um eremita que se retira para as selvas, vivendo numa floresta ao tornar-se iogue. [voltar]
69. Julai é o nome chinês para Thatagata, título dado ao Buda. [voltar]
70. Todas as tradições do Norte e do Sul concordam em mostrar que Buda saiu da sua solidão logo que resolveu o problema da vida – isto é, recebeu o esclarecimento interior – e ensinou publicamente aos homens. [voltar]
71. Segundo o ensinamento esotérico, cada Eu espiritual é um raio de um espírito planetário. [voltar]
72. Às personalidades, ou corpos físicos, chamam-se sombras, por serem evanescentes. [voltar]
73. Esta mesma reverência popular chama “Budas da Compaixão” àqueles Bodhisattvas que, tendo chegado ao grau de Arbat (isto é, tendo completado o quarto ou sétimo Caminho), recusam-se a passar para o estado nirvânico ou “vestir a veste do Dharmakaya e passar para a outra margem”, visto que então já não poderiam auxiliar os homens mesmo o pouco que o Carma permite. Preferem continuar invisivelmente (no espírito, por assim dizer) no mundo, e contribuir para a salvação humana, influenciando os homens a seguir a boa Lei, isto é, levando-os para o Caminho da Virtude. É costume entre os exotéricos do budismo do Norte venerar estes grandes seres como santos e mesmo rezar a eles, como fazem os gregos e os católicos aos seus santos e padroeiros; mas os ensinamentos esotéricos não permitem essas orações. Há grande diferença entre as duas doutrinas. O exotérico laico mal sabe o verdadeiro sentido da palavra Nirmanakaya - daí a confusão e as explicações insuficientes dos orientalistas. Por exemplo: Schlagintweit crê que Nirmanakaya significa forma física assumida pelos Budas quando encarnam na terra – “o menos sublime dos seus invólucros terrenos” (ver O Budismo no Tibete) – e passa a dar opinião inteiramente falsa sobre o assunto. A verdadeira doutrina é, porém, esta:
Os três corpos ou formas búdicas são denominados:
I. Nirmanakaya.
II. Sambhogakaya.
III. Dharmakaya.
O primeiro é aquela forma etérea que ele assumiria quando, abandonando o corpo físico, aparecesse no corpo astral – tendo a mais todos os conhecimentos de um Adepto. O Bodhisattva desenvolveu-o em si mesmo à medida que avança no caminho. Tendo chegado à meta e recusado a fruição da recompensa, permanece na terra como um Adepto; quando morre, em vez de entrar para o Nirvana, fica no corpo glorioso que para si teceu, invisível à humanidade não-iniciada, para velar por ela e protegê-la.
Sambhogakaya (literalmente “Corpo de Compensação”) é o mesmo Nirmanakaya, mas com o brilho adicional de três perfeições, uma das quais é a obliteração de todas as preocupações terrenas.
O corpo Dharmakaya é o de um Buda completo, isto é, não é corpo nenhum, mas o sopro ideal; a consciência imersa na consciência universal, ou a alma despida de todos os atributos.
Uma vez tornado um Dharmakaya, um Adepto ou Buda abandona toda a possível relação com, ou pensamento ligado a esta terra. Assim, para poder auxiliar a humanidade, um Adepto que adquiriu o direito ao Nirvana, “renuncia ao corpo Dharmakaya”, falando misticamente; guarda, do Sambhogakaya, apenas os grandes e completos conhecimentos, e fica no seu Nirmanakaya. A escola esotérica ensina que Gautama Buda, com vários dos seus Arhts, é um Nirmanakaya deste gênero, acima do qual, pela grande renúncia e sacrifício pela humanidade, não existe ninguém. [voltar]
74. A veste Shangna, do Shangnavesu de Rajagriha, o terceiro grande Arhat, ou patriarca, segundo a terminologia que os orientalistas adaptam para a hierarquia dos trinta e três Arhats que espalharam o budismo. “A veste Shangna” significa metaforicamente a aquisição de sabedoria com que se entra para o Nirvana da destruição (da personalidade). Literalmente, quer dizer a veste da Iniciação dos neófitos. Edkins afirma que este tecido de ervas foi trazido para a China do Tibete na dinastia do Tong. “Quando nasce um Arhan, esta planta encontra-se crescendo num lugar limpo” – diz a lenda chinesa, assim como a tibetana. [voltar]
75. “Praticar o caminho Paramita” quer dizer tornar-se iogue com o fim de se tornar asceta. [voltar]
76. “Amanhã” quer dizer a renascença ou reencarnação seguinte. [voltar]
77. Dos preceitos da escola Prasanga. [voltar]
78. A grande jornada é o ciclo completo de existências em uma volta. [voltar]
79. Siddhis são as faculdades psíquicas, os poderes anormais do homem. [voltar]
80. Migmar ou Marte, na astrologia tibetana, é simbolizado por um olho. [voltar]
81. Lhagpa ou Mercúrio é simbolizado por uma mão. [voltar]
82. Nyima é o sol na astrologia tibetana. [voltar]
83. Buda. [voltar]
84. Srotapatti ou “aquele que entra na corrente do rio” do Nirvana, a não ser que atinja a meta devido a razões excepcionais, raras vezes poderá atingir o Nirvana em uma só vida. Em geral diz-se que um chela começa o esforço ascensional em uma vida e o acaba ou chega à meta apenas na sua sétima nascença depois dessa. [voltar]
85. Isto é, o ser inferior pessoal. [voltar]
86. Os Tirthikas, sectários bramânicos de além dos Himalaias, são chamados infiéis pelos budistas na terra sagrada, o Tibete, e vice-versa. [voltar]
87. O Tibete. [voltar]
88. A visão ilimitada, ou seja, a visão psíquica, sobre-humana. Diz-se que um Arhan vê e sabe tudo, perto ou longe que esteja. [voltar]
89. A veste Shangna, do Shangnavesu de Rajagriha, o terceiro grande Arhat, ou patriarca, segundo a terminologia que os orientalistas adaptam para a hierarquia dos trinta e três Arhats que espalharam o budismo. “A veste Shangna” significa metaforicamente a aquisição de sabedoria com que se entra para o Nirvana da destruição (da personalidade). Literalmente, quer dizer a veste da Iniciação dos neófitos. Edkins afirma que este tecido de ervas foi trazido para a China do Tibete na dinastia do Tong. “Quando nasce um Arhan, esta planta encontra-se crescendo num lugar limpo” – diz a lenda chinesa, assim como a tibetana. [voltar]
90. O vivo é o Eu superior e imortal e o morto o Eu inferior e pessoal. [voltar]
91. Esta mesma reverência popular chama “Budas da Compaixão” àqueles Bodhisattvas que, tendo chegado ao grau de Arbat (isto é, tendo completado o quarto ou sétimo Caminho), recusam-se a passar para o estado nirvânico ou “vestir a veste do Dharmakaya e passar para a outra margem”, visto que então já não poderiam auxiliar os homens mesmo o pouco que o Carma permite. Preferem continuar invisivelmente (no espírito, por assim dizer) no mundo, e contribuir para a salvação humana, influenciando os homens a seguir a boa Lei, isto é, levando-os para o Caminho da Virtude.
É costume entre os exotéricos do budismo do Norte venerar estes grandes seres como santos e mesmo rezar a eles, como fazem os gregos e os católicos aos seus santos e padroeiros; mas os ensinamentos esotéricos não permitem essas orações. Há grande diferença entre as duas doutrinas. O exotérico laico mal sabe o verdadeiro sentido da palavra Nirmanakaya – daí a confusão e as explicações insuficientes dos orientalistas. Por exemplo: Schlagintweit crê que Nirmanakaya significa forma física assumida pelos Budas quando encarnam na terra – “o menos sublime dos seus invólucros terrenos” (ver O Budismo no Tibete) – e passa a dar opinião inteiramente falsa sobre o assunto. A verdadeira doutrina é, porém, esta:
Os três corpos ou formas búdicas são denominados:
I. Nirmanakaya.
II. Sambhogakaya.
III. Dharmakaya.
O primeiro é aquela forma etérea que ele assumiria quando, abandonando o corpo físico, aparecesse no corpo astral – tendo a mais todos os conhecimentos de um Adepto. O Bodhisattva desenvolveu-o em si mesmo à medida que avança no caminho. Tendo chegado à meta e recusado a fruição da recompensa, permanece na terra como um Adepto; quando morre, em vez de entrar para o Nirvana, fica no corpo glorioso que para si teceu, invisível à humanidade não-iniciada, para velar por ela e protegê-la.
Sambhogakaya (literalmente “Corpo de Compensação”) é o mesmo Nirmanakaya, mas com o brilho adicional de três perfeições, uma das quais é a obliteração de todas as preocupações terrenas.
O corpo Dharmakaya é o de um Buda completo, isto é, não é corpo nenhum, mas o sopro ideal; a consciência imersa na consciência universal, ou a alma despida de todos os atributos.
Uma vez tornado um Dharmakaya, um Adepto ou Buda abandona toda a possível relação com, ou pensamento ligado a esta terra. Assim, para poder auxiliar a humanidade, um Adepto que adquiriu o direito ao Nirvana, “renuncia ao corpo Dharmakaya”, falando misticamente; guarda, do Sambhogakaya, apenas os grandes e completos conhecimentos, e fica no seu Nirmanakaya. A escola esotérica ensina que Gautama Buda, com vários dos seus Arhts, é um Nirmanakaya deste gênero, acima do qual, pela grande renúncia e sacrifício pela humanidade, não existe ninguém. [voltar]
92. A vida secreta é a vida como Nirmanakaya. [voltar]
93. O Caminho Aberto é o que é ensinado ao lado, é o exotérico e geralmente aceito, ao passo que o Caminho Secreto é um cuja natureza é explicada na Iniciação. [voltar]
94. Os homens ignorantes das verdades e sabedoria esotéricas, são chamados de os mortos que vivem. [voltar]
95. O corpo Dharmakaya é o de um Buda completo, isto é, não é corpo nenhum, mas o sopro ideal; a consciência imersa na consciência universal, ou a alma despida de todos os atributos.
Uma vez tornado um Dharmakaya, um Adepto ou Buda abandona toda a possível relação com, ou pensamento ligado a esta terra. Assim, para poder auxiliar a humanidade, um Adepto que adquiriu o direito ao Nirvana, “renuncia ao corpo Dharmakaya”, falando misticamente; guarda, do Sambhogakaya, apenas os grandes e completos conhecimentos, e fica no seu Nirmanakaya. A escola esotérica ensina que Gautama Buda, com vários dos seus Arhts, é um Nirmanakaya deste gênero, acima do qual, pela grande renúncia e sacrifício pela humanidade, não existe ninguém. [voltar]
96. Upadhya é um preceptor espiritual, um Guru. Os budistas do Norte escolhem-no em geral entre os Naljor, homens santos, eruditos na Gotrabhujnana e no Jnana-darshana-shuddi, professores da sabedoria secreta. [voltar]
97. Yana significa veículo: assim, Mahayana é o Grande Veículo e Hinayana o Veículo Menor, nomes estes de duas escolas de ciência religiosa e filosófica no budismo do Norte. [voltar]
98. Shravaka – um ouvinte, ou estudante que segue as instruções religiosas. Do radical Shru. Quando da teoria passa à prática ou realização do ascetismo, torna-se um Shramana, o que exerce Shrama, ação. Como mostra Hardy, as duas formas correspondem às palavras gregas akoustikoi e asketai. [voltar]
99. O Samtan tibetano é o mesmo que o sânscrito Dyana, ou estado de meditação, do qual há quatro graus. [voltar]
100. Paramitas, as seis virtudes transcendentais: caridade, moralidade, paciência, energia, contemplação e sabedoria. Para os sacerdotes há dez, as seis apontadas, e, além delas, o emprego dos meios justos, a ciência, votos religiosos e força de propósito (O Budismo Chinês, da Eitel). [voltar]
101. Srotapatti – literalmente, “aquele que entrou para o rio”, que conduz ao oceano nirvânico. Este nome indica o primeiro Caminho. O nome do segundo é o Caminho do Sakridagamin, “aquele que receberá a nascença (só) uma vez mais”. Ao terceiro chama-se aquele do Anagamin, “aquele que não tornará a ser reencarnado”, a não ser que assim deseje para auxiliar a humanidade. O quarto Caminho é conhecido como o do Rahat ou Arhat. É este o mais alto. Um Arhat vê o Nirvana durante a sua vida. Para ele não é um estado para depois da morte: é o seu Samadhi, durante o qual experimenta toda a felicidade do Nirvana.
Para se ver quão pouca confiança se pode ter nos orientalistas no que diz respeito à exatidão de palavras e do seu sentido, basta ver o que disseram três pretensas autoridades nesta matéria. Assim, os quatro nomes que citamos são dados por R. Spence Hardy como sendo: 1. Sowan; 2. Sakradagami; 3. Anagami; e 4. Arya.
Pelo Rev. J. Edkins são dados como: 1. Srotapanna; 2. Sagardagam; 3. Anaganim; e 4. Arhan. Schlagintweit escreve-os de maneira diversa, e cada um desses orientalistas dá a essas palavras sentidos diferentes. [voltar]
102. Conhecimento, sabedoria, ciência. [voltar]
103. “Chegar à margem” é, para os budistas do Norte, sinônimo de atingir o Nirvana pelo exercício das seis e dez Paramitas (virtudes). [voltar]
104. Um homem sem pecado, um santo (Upadhya é um preceptor espiritual, um Guru. Os budistas do Norte escolhem-no em geral entre os Naljor, homens santos, eruditos na Gotrabhujnana e no Jnana-darshana-shuddi, professores da sabedoria secreta). [voltar]
105. A Alma-Mestra é Alaya, a Alma Universal ou Atman de que cada homem tem um raio em si, e com que se supõe que é capaz de se identificar e se fundir. [voltar]
106. Antahkarana é o Manas inferior, o caminho de comunicação ou comunhão entre a personalidade e o Manas superior ou Alma Humana. Na morte se destrói como caminho ou meio de comunicação, e os seus restos sobrevivem sob uma forma, como o Kamarupa – a casca. [voltar]
107. Os budistas do Norte, e, de resto, todos os chineses, sentem no rugido fundo de alguns rios grandes e sagrados a nota mestra da natureza. Daí o símile. É um fato bem conhecido, tanto na ciência física quanto no ocultismo, que o som agregado da natureza como no rugido dos grandes rios, ou no ruído produzido pela oscilação dos cimos das árvores numa grande floresta, ou no som de uma cidade ouvido à distância – é um tom único e definido de alcance perfeitamente apreciável. Mostram-no físicos e músicos. Assim, o prof. Rice (A Música Chinesa) diz que os chineses reconheceram o fato há milhares de anos, dizendo que as águas do Hoang-ho, ao correr, davam o Kung, chamado “o grande tom” na música da China; e mostra que este tom corresponde ao lá, “considerado pelos físicos modernos o tom essencial da natureza”. O Prof. B. Silliman cita-o, também, no seu Princípio da Física, dizendo que “este tom é dado como sendo o lá médio do piano, que pode, portanto, ser considerado a nota mestra da natureza”. [voltar]
108. Os Bhöns e Dugpas e as várias seitas dos “barretesvermelhos”, são considerados como os mais hábeis feiticeiros. Vivem no Tibete Ocidental, no Tibete Menor e no Butham. São todos Tantrikas. É absolutamente ridículo encontrar orientalistas que visitaram as fronteiras do Tibete, como Schlagintweit e outros, a confundir os ritos e nojentas práticas desta gente com as crenças religiosas dos Lamas orientais, os “barretes-amarelos” e os seus Naljors ou homens santos. [voltar]
109. Amitabha, o Imortal Iluminado, nome de Gautama Buda.
Na simbologia do budismo setentrional diz-se que Amitabha ou o espaço ilimitado (Parabrahman) tem no seu paraíso dois Bodhisattvas – Kuan-shi-yin e Tashishi – que não cessam de irradiar luz sobre os três mundos onde viveram, incluindo o nosso, para, com esta luz (do conhecimento), auxiliar a instrução dos iogues, os quais, por sua vez, salvarão os homens. A sua alta posição no reino de Amitabha é – diz a alegoria – devida a atos de misericórdia por ambos praticados, como tais iogues, quando na terra. [voltar]
110. Dorje é o sânscrito Vajra, arma ou instrumento nas mãos de alguns Deuses (os Dragshed tibetanos, os Devas que protegem os homens) e é considerado como tendo o mesmo poder oculto de repelir más influências – purificando o ar – que o ozone tem na química. É também um Mudra, gesto e posição usados ao sentar para a meditação. É, em resumo, símbolo de poder sobre más inf1uências invisíveis, quer como posição, quer como talismã. Os Bhöns e Dugpas, porém, tendo apropriado o símbolo, aproveitam-se dele sinistramente para os fins da magia negra. Para os barretes-amarelos, ou Gelugpas, é símbolo de poder, como a cruz para os cristãos, e é tampouco superstição como esta. Para os Bhöns é, como o duplo triângulo invertido, o sinal da bruxaria. [voltar]
111. Vairagya é o sentimento de absoluta indiferença para com o universo objetivo, ao prazer e à dor. “Nojo” (como o nojo da sociedade) não dá bem a idéia, mas é o mais próximo que há (“Despaixão” seria, talvez o termo mais apropriado). [voltar]
112. Ahamkara – o sentimento da sua própria personalidade, a noção do “eu sou”. [voltar]
113. “Um que segue as passadas dos seus predecessores” é o verdadeiro sentido do nome Tathagata. [voltar]
114. Samvritti é aquela das duas verdades que demonstra o caráter ilusório ou o vácuo de todas as coisas. Neste caso significa a verdade relativa. A escola Mahayana ensina a diferença entre estas duas verdades – Paramarthsatya e Samvrittisatya (Satya-verdade). É este o pomo de discórdia entre os Madhyamikas e os Yogacharyas, os primeiros dos quais negam, e os segundos afirmam, que todo o objetivo existe devido a uma causa anterior ou por concatenação. Os Madhyamikas são os grandes niilistas e negadores, para quem tudo é Parikalpita, uma ilusão e um erro no mundo do pensamento subjetivo tanto como no universo objetivo. Os Yogacharyas são os grandes espiritualistas. Samvritti, portanto, por ser apenas a verdade relativa, é a origem de toda a ilusão. [voltar]
115. Os Lhamayin são elementais e maus espíritos adversos aos homens, e seus inimigos. [voltar]
116. O Eu superior, ou personalidade pensante. [voltar]
117. Jnana-Marga é, literalmente, o caminho de Jnana, ou o Caminho do Conhecimento Puro, de Paramartha ou (em sânscrito) Svasamvedana, a reflexão evidente por si mesma, ou autoanalítica. [voltar]
118. É esta uma alusão a uma crença bem conhecida no Oriente (como, de resto, também no Ocidente) de que cada Buda ou santo a mais é um novo soldado no exército daqueles que trabalham pela libertação ou salvação da humanidade. Nas regiões do budismo do Norte, onde é ensinada a doutrina dos Nirmanakayas – aqueles Bohisattvas que renunciam à justamente merecida veste do Nirvana ou do Dharmakaya (qualquer dos quais os isolam para sempre do mundo dos homens) para invisivelmente auxiliar a humanidade e conduzi-la finalmente ao Paranirvana – cada novo Bodhisattva, ou Grande Adepto Iniciado, é denominado o libertador da humanidade. A afirmação, feita por Schlagintweit no livro O Budismo no Tibete, de que Prulpai ku ou Nirmanakaya é “o corpo em que os Budas ou Bodhisattvas aparecem na terra para ensinar os homens” é absurdamente errônea e nada explica. [voltar]
119. Uma referência às paixões e pecados humanos que são chacinados durante as provações do noviciado, e servem de terreno bem adubado onde podem nascer os germes ou sementes das virtudes transcendentais. As virtudes, talentos ou dons preexistentes têm-se por adquiridos numa nascença anterior, o gênio é sem exceção um talento ou aptidão trazido de uma vida anterior. [voltar]
120. Titiksha é o quinto estado da Raja Ioga – um estado de suprema indiferença; a submissão, se for preciso, ao que se chama “o prazer e a dor para todos”, mas não tirando nem prazer nem dor de tal submissão – em suma, o tornar-se física, mental, e moralmente indiferente e insensível quer ao prazer, quer à dor. [voltar]
121. Sowani é aquele que pratica o Sowan, o primeiro caminho em Dhyana, um Srotapatti. [voltar]
122. Dia aqui significa todo um Manvantara, um período de incalculável duração. [voltar]
123. Meru, a montanha sagrada dos Deuses. [voltar]
124. Na simbologia do budismo setentrional diz-se que Amitabha ou o espaço ilimitado (Parabrahman) tem no seu paraíso dois Bodhisattvas - Kuan-shi-yin e Tashishi – que não cessam de irradiar luz sobre os três mundos onde viveram, incluindo o nosso, para, com esta luz (do conhecimento), auxiliar a instrução dos iogues, os quais, por sua vez, salvarão os homens. A sua alta posição no reino de Amitabha é – diz a alegoria – devida a atos de misericórdia por ambos praticados, como tais iogues, quando na terra. [voltar]
125. Estes três mundos são os três planos do ser - o terreno, o astral e o espiritual. [voltar]
126. O “Muro da Guarda”, ou “Muro da Proteção”. É-nos ensinado que os esforços acumulados de longas gerações de Iogues, Santos e Adeptos, especialmente dos Nirmanakayas, criaram, por assim dizer, um muro de proteção em torno da humanidade, que a guarda invisivelmente contra males ainda maiores. [voltar]
127. Do sânscrito Arhat ou Arham. [voltar]
128. Klesha é o amor ao prazer ou à alegria terrena, quer seja boa ou má. [voltar]
129. Tanha, a vontade de viver, aquilo que causa o renascer. [voltar]
130. Esta compaixão não deve ser tida por análoga ao “Deus, o divino amor” dos teístas. A compaixão significa aqui lei abstrata, impessoal, cuja natureza, sendo a harmonia absoluta, se torna confusa pela discórdia, pelo sofrimento, e pelo pecado. [voltar]
131. Na fraseologia do budismo do Norte todos os grandes Arhats, Adeptos e Santos são denominados Budas. As citações atuais são feitas do Thegpa Chenpoido, o Mahayana Sutra, “invocações aos Budas da Confissão”, Parte I. IV. [voltar]
132. Um Bodhisattva é, hierarquicamente, menos do que um Buda perfeito. Na linguagem exotérica os dois são muito confundidos. Mas a percepção popular, correta e inata, colocou um Bodhisattva, devido ao seu grande sacrifício, mais alto no seu respeito do que um Buda. [voltar]
133. Esta mesma reverência popular chama “Budas da Compaixão” àqueles Bodhisattvas que, tendo chegado ao grau de Arbat (isto é, tendo completado o quarto ou sétimo Caminho), recusam-se a passar para o estado nirvânico ou “vestir a veste do Dharmakaya e passar para a outra margem”, visto que então já não poderiam auxiliar os homens mesmo o pouco que o Carma permite. Preferem continuar invisivelmente (no espírito, por assim dizer) no mundo, e contribuir para a salvação humana, influenciando os homens a seguir a boa Lei, isto é, levando-os para o Caminho da Virtude. É costume entre os exotéricos do budismo do Norte venerar estes grandes seres como santos e mesmo rezar a eles, como fazem os gregos e os católicos aos seus santos e padroeiros; mas os ensinamentos esotéricos não permitem essas orações.
Há grande diferença entre as duas doutrinas. O exotérico laico mal sabe o verdadeiro sentido da palavra Nirmanakaya – daí a confusão e as explicações insuficientes dos orientalistas. Por exemplo: Schlagintweit crê que Nirmanakaya significa forma física assumida pelos Budas quando encarnam na terra – “o menos sublime dos seus invólucros terrenos” (ver O Budismo no Tibete) – e passa a dar opinião inteiramente falsa sobre o assunto. A verdadeira doutrina é, porém, esta:
Os três corpos ou formas búdicas são denominados:
I. Nirmanakaya.
II. Sambhogakaya.
III. Dharmakaya.
O primeiro é aquela forma etérea que ele assumiria quando, abandonando o corpo físico, aparecesse no corpo astral – tendo a mais todos os conhecimentos de um Adepto. O Bodhisattva desenvolveu-o em si mesmo à medida que avança no caminho. Tendo chegado à meta e recusado a fruição da recompensa, permanece na terra como um Adepto; quando morre, em vez de entrar para o Nirvana, fica no corpo glorioso que para si teceu, invisível à humanidade não-iniciada, para velar por ela e protegê-la.
Sambhogakaya (literalmente “Corpo de Compensação”) é o mesmo Nirmanakaya, mas com o brilho adicional de três perfeições, uma das quais é a obliteração de todas as preocupações terrenas.
O corpo Dharmakaya é o de um Buda completo, isto é, não é corpo nenhum, mas o sopro ideal; a consciência imersa na consciência universal, ou a alma despida de todos os atributos.
Uma vez tornado um Dharmakaya, um Adepto ou Buda abandona toda a possível relação com, ou pensamento ligado a esta terra. Assim, para poder auxiliar a humanidade, um Adepto que adquiriu o direito ao Nirvana, “renuncia ao corpo Dharmakaya”, falando misticamente; guarda, do Sambhogakaya, apenas os grandes e completos conhecimentos, e fica no seu Nirmanakaya. A escola esotérica ensina que Gautama Buda, com vários dos seus Arhts, é um Nirmanakaya deste gênero, acima do qual, pela grande renúncia e sacrifício pela humanidade, não existe ninguém. [voltar]
134. Myalba é a nossa terra – propriamente chamada de Inferno – que a escola esotérica chama o maior de todos os infernos. A doutrina esotérica não conhece inferno, ou lugar de castigo, a não ser um planeta habitado ou terra. Avichi é um estado e não um lugar. [voltar]
135. Isto significa que nasceu um novo salvador da humanidade, que conduzirá os homens ao Nirvana final, isto é, depois do fim do ciclo de vidas. [voltar]
136. Esta é uma das variantes da fórmula que invariavelmente fecha todo o tratado, invocação ou instrução. “Paz a todos os seres”, “Bênçãos sobre tudo quanto vive”, etc. [voltar]
Epílogo: A Bendita Maldição
Artigo de autoria de Murillo Nunes de Azevedo (Sociedade Teosófica do Brasil).
Nada é uniforme na natureza. A Terra é cheia de irregularidades que vão desde o deserto mais inóspito até ao pico nevado da montanha. Os seres humanos seguem a mesma lei. A grande maioria, entretanto, é plana, sem qualquer atração. Só poucos seres, psicologicamente falando, atingiram as culminâncias das montanhas. Pouquíssimos são os Himalaias do espírito. Esses picos isolados não são compreendidos pelos homens da planície. Surgem daí o ataque, a crucificação, as lanças, as balas, a cicuta, os aviões assassinos cruzando os céus, recursos usados pela mediocridade em defesa de sua tranquilidade ameaçada.
A Sabedoria Eterna da índia nos fala das três qualidades da Natureza: Tamas, Rajas e Satva. Tamas é a inércia, que vai desde a imobilidade do mineral até a mente do homem comum, fechada aos estímulos da vida espiritual. Rajas é o movimento que está presente em tudo. A força do vento, das marés, da energia contida no átomo e nas estrelas. E a pressão que está sempre modificando o existente a fim de que uma nova forma de vida possa nascer. Os jovens, os revolucionários e todos que lutam de infinitas maneiras para promover as transformações, são instrumentos dessa Lei suprema. Por fim, a harmonia de Satva. O equilíbrio dentro do aparentemente instável. A conscientização de uma Paz que está no coração de tudo desde todo o sempre e que foi esquecida. Uma visão ampla da realidade mostra essas três qualidades sempre em ação.
Os que se arriscaram em ir contra a ordem estabelecida das coisas colheram em todas as épocas os resultados negativos dessa atitude. C.G. Jung afirma, em seu livro “A realidade da alma”:
Pensar de modo diverso do aceito pela corrente do momento tem sempre um caráter clandestino e danoso, quase indecente, doentio, ou blasfemo, e por essa razão é socialmente perigoso para o indivíduo. Aquele que pensa por conta própria está nadando insensatamente contra a corrente.
A única observação que podemos fazer, discordando em parte do famoso autor, é que se não tivesse a raça humana homens que lutaram a qualquer preço, “insensatamente contra a corrente”, estaríamos talvez ainda morando nas cavernas. A Sabedoria Divina da Natureza serve-se desses homens predestinados como instrumentos da transformação do mundo. Há, sem dúvida, por trás de todos os acontecimentos aparentemente sem significação um Governo Oculto. Uma afirmativa dessa natureza pode escandalizar os “modernos”, os de mente científica que não compreendem a verdadeira Ciência, os materialistas que só acreditam no que veem e, no entanto, são cegos de nascença que nunca poderão compreender, por mais que falem, o que seja o Sol.
Esse Governo, inúmeras vezes analisado por vários autores, entre os quais o controvertido Renê Guenon, é uma realidade. Sente-se a sua presença no cair de uma folha, nas forças desencadeadas num terremoto, no brilhar de uma estrela. Tudo está significativamente ligado dentro de um Plano maior, cujo desígnio não compreendemos. Os verdadeiros cientistas, nos seus laboratórios de pesquisa, sentem a presença dessa predestinação.
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Helena Petrovna Blavatsky, ou melhor, H. P. B. – como é conhecida de muitos – foi um desses seres predestinados de que falamos. Sua vida a qualifica como uma das mais extraordinárias criaturas de todos os tempos. Algo fora do espaço e do tempo, que se movia em dimensões que não eram as comuns. Sua atuação foi tal que levantou contra si, bem como os que a cercavam como discípulos fiéis, toda sorte de ataques. Ainda hoje, apesar de ter morrido em 1891, muitos são os que a consideram como a maior charlatã do século XIX. Aos poucos a verdade histórica está sendo restabelecida e das nuvens das calúnias surge o pico da verdade que ela tão bem defendeu.
Recentemente, Jacques Bergier apresenta em seu livro “Les livres Maudits” uma série de meias verdades. Segundo ele, pesa sobre Blavatsky uma terrível maldição. Seu crime foi o de ter revelado ao mundo as chamadas “Estâncias de Dzyan” (os textos que compõe esta edição foram retirados de lá). O texto, cuidadosamente guardado nos mais fechados mosteiros do Tibet, é defendido de todas as formas contra a divulgação. Leva o selo de “Secreto” e ninguém poderá profaná-lo impunemente. Seu conhecimento revela as chaves do conhecimento do passado mais remoto e põe à disposição do leitor estranhos poderes. Os trechos que H. P. B. divulgou são apenas os que levantam uma ponta do véu sobre a origem do Universo, da terra e do homem e são curiosamente “modernos”.
Bergìer vai mais além, ao denunciar a existência de uma misteriosa fraternidade dos “homens de negro”. Uma espécie de máfia do espírito humano, que tem por função manter a humanidade escravizada aos seus obscuros dogmas e interesses. Aqui está uma das meias verdades que mencionamos. É preciso mencionar que acima desses homens existe uma Fraternidade Negra que se opõe a tudo que poderá libertar o homem. Suas ramificações e sub-ramificações são insondáveis. À primeira vista estão completamente desligadas. Olhadas em profundidade, notasse claramente suas conexões. Por assim dizer, a mesma mão que assassinou Erico Mattei, crucificou Cristo e levantou contra H. P. B. todas as calúnias.
Essa super-máfia era antigamente simbolizada pela figura do demônio, o Príncipe do Mal, o Senhor das Trevas. É uma força que existe efetivamente, como declarou o Papa Paulo VI, e está sempre atenta para atuar em todos os campos. Basta o equilíbrio ser ameaçado, uma luz começa a surgir, uma ideia nova proliferar para que esse super-mecanismo de censura seja automaticamente acionado. São inúmeras as vítimas dessa Organização das Trevas. Sócrates bebendo cicuta estava sendo assassinado para que não colocasse a inquietação filosófica na mente dos homens. Giordano Bruno torrando na fogueira dava a vida pelo crime de dizer ao homem que os mundos eram infinitos... Todas as ideias de abertura e aprimoramento são um estágio da evolução que leva o homem a Deus.
São conceitos muito perigosos, porque podem promover o despertar das massas que essa Fraternidade Negra tanto teme. Ela se serve habilmente da chamada Opinião Pública para arrasar os que pretende destruir. Corrompe de todas as formas o discernimento da criatura humana. A Sociologia levantou um pouco o véu ao estudar o mecanismo dos grupos de pressão e suas técnicas de defesa daquilo que julgam o certo. Utilizam desde a corrupção pura e simples às contas numeradas dos bancos suíços, não vacilando em recorrer ao assassinato, se necessário. Blavatsky tinha consciência dessa enorme pressão e assim se referia à chamada opinião pública:
“A opinião pública é um tirano invisível, intangível, onipresente; uma hidra de mil cabeças; é a mais perigosa das bestas, pois é composta de mediocridades individuais”.
***
Vejamos quais os tabus que H.P.B. teve a coragem de quebrar e de onde nasceram os virulentos ataques que teve de suportar em vida e depois de morta. Podemos apontar oito causas fundamentais:
1. Querer ser verdadeiramente mulher, totalmente emancipada e não uma boneca escrava dos homens para ser utilizada como mera fábrica de prazer ou trabalho;
2. Viajar constantemente pelo mundo, numa época em que as comunicações eram difíceis e o sentido de informação praticamente não existia;
3. Possuir poderes psíquicos de grande desenvolvimento e que provocavam, inúmeras vezes, grande curiosidade em torno de si;
4. Ter repudiado publicamente o Cristianismo e se convertido ao Budismo. Contra ela caía a cólera dos missionários que tentavam em vão converter os “infiéis”;
5. Apresentar ao mundo o valor imenso do conhecimento tradicional da Índia. Foi ao ler os livros de Helena Blavatsky que Gandhi encontrou a sua vocação;
6. Não possuir título universitário e ter a coragem de escrever contestando inúmeras ideias em vigor na época;
7. Ser russa de nascimento, o que já era condição não muito favorável. Suas constantes deslocações no mundo causavam em muitos círculos a suspeita de que fosse espiã a soldo do czar. Contra ela movimentaram-se serviços de contraespionagem de vários países;
8. Ter total desprezo pela opinião pública. Não pretendia ser agradável a ninguém, e adotou como divisa a frase que mais tarde se tornou o lema da Sociedade Teosófica, por ela fundada: “Não há religião superior à verdade”.
Qualquer desses pontos sendo perigoso por si, o que não seria então o poder combinado deles? A vida fantástica de H. P. B. contém vários romances de aventura que estão à espera de um autor, definitivo, apesar das inúmeras biografias publicadas. Cada vez mais se faz sentir a necessidade desse livro; à medida que o tempo passa e as cinzas das paixões deixam de a fumegar, a figura magistral dessa mulher começa a surgir nítida no panorama dos grandes vultos da história humana.
***
Helena Petrovna Blavatsky, a predestinada, foi cercada de fatos extraordinários desde o seu nascimento, em 30 de julho de 1831. A pequena localidade de Ekaterinoslava, na Ucrânia, estava, como toda a Rússia, varrida por uma epidemia de cólera. As igrejas regurgitavam de gente pedindo aos céus que a ira divina fosse aplacada. Nas estradas as carroças afundavam na lama, cheias de corpos, e ali permaneciam à espera dos abutres. Por toda parte as cores negras, as janelas fechadas, o medo do contágio. Um dos primeiros biógrafos de Blavatsky, Sinnett, afirma: “ela entrou no mundo no meio de caixões e lágrimas”.
Seu batizado, cercado de toda a pompa da igreja ortodoxa russa, reúne no templo toda a família e os servos. Subitamente uma vela mal segura põe fogo nos mantos do sacerdote que oficiava. A cerimônia foi interrompida e o sacerdote retirado, seriamente queimado. A superstição dos mujiques via nesse acontecimento o dedo do destino e logo uma série de histórias estranhas começou a circular enquanto a pequenina Helena crescia como os animais, solta, livre, misturava-se com os camponeses nos seus folguedos, montava a cavalo em pelo.
Certo dia, brincava perto de um riacho com um garoto de sua idade. Enfurecida por qualquer razão, manda o seu companheiro, numa praga, para o reino de Rossalka, o temido demônio feminino das lendas da Ucrânia. Por coincidência trágica, o menino morre afogado ao fugir espavorido, aumentando ainda mais a aura estranha em tomo dela.
Seu avô era então Governador de Saratov, onde vivia num velho castelo em que a pequena gostava de brincar. O que a atraía, entretanto, não eram os salões luxuosamente adornados à francesa, e sim os subterrâneos onde ninguém entrava porque eram, segundo a tradição, assombrados por aqueles que ali morreram acorrentados. Muitas vezes o avô teve que mandar grupos de servos com archotes à procura de sua neta no meio desse labirinto de celas e passagens, indo encontra-la perdida em contemplação junto a algum esqueleto. Apesar dessas fugas, das corridas loucas nos campos, a jovem recebeu uma educação tradicional. Lia e falava corretamente francês, fazia trabalhos manuais, estudava piano, pintava aquarela. Seguia o modelo tradicional da época, em que uma moça nobre devia ser um objeto de adorno para os salões iluminados.
Convém notar que H. P. B. não recebeu qualquer tintura de educação universitária, fato que mais tarde iria surpreender muita gente tal o grau de erudição por ela apresentado nos mais diversos campos. Aos 18 anos é obrigada a se casar com o General Nikifor Vassilyevich Blavatsky, vários anos mais velho que ela. Não se submete de forma alguma ao marido, e ele a mantém praticamente prisioneira, com guarda permanente para evitar qualquer fuga. Consegue entretanto burlar a vigilância, e escapar. Auxiliada finalmente pelo pai, começa uma das mais extraordinárias vidas de que há memória. É impressionante o número de viagens e regiões visitadas por ela. Façamos um rápido resumo:
1849-50 – Cruza a Turquia, a Grécia, o Egito e atinge a França.
1851 – Encontra pela primeira vez seu mestre. Aquele que iria daí por diante orientar sua vida espiritual.
1851 (Outono) – Parte para o Canadá, onde irá investigar a maneira de viver dos índios. Reúne-se a uma tribo próximo a Quebec e permanece durante algum tempo estudando a medicina natural. Pouco depois vamos encontrar a sua passagem em Nauvoo, Ilinois, procurando conhecera comunidade Mormon, que tinha se deslocado para Salt Lake City, no Utah.
1851 (Inverno) – Vamos encontrá-la às voltas com o ritual de feitiçaria Vudu em Nova Orleans. Parte para o Texas em direção à América Central, via México.
1852 – Encontra no Texas um velho canadense, chamado Père Jacques, famoso pelos seus poderes divinatórios. Chega ao Peru descrevendo com detalhes vários templos na sua obra “Isis sem Véu”.
1852 (Verão-Inverno) – Encontra nas índias Ocidentais um inglês que tinha conhecido na Alemanha e estava procurando a mesma coisa que ela. Em Petrovsk, no Cáucaso. Volta à Itália.
1865-1867 – Consegue penetrar no Tibete onde recebe instruções num mosteiro na região de Chigadze.
1867 (Primavera) – Novamente na região balcânica, em particular na Hungria. Há notas manuscritas em que ela fala da sua jornada de barco pelo Danúbio e de diligências passando pelas cidades de Brasso, Szeben, Fehervar, Belgrado e outras.
1867 (Outono) – É encontrada em Bologna, na Itália, onde está envolvida com revolucionários italianos. Lutou ao lado de Garibaldi na Batalha de Mentana, onde foi ferida no dia 2 de novembro.
1868 – Vamos encontrá-la em Florença, de onde parte para Belgrado, na Iugoslávia, e daí para Constantinopla. Depois de algum tempo na Turquia dirige-se mais uma vez para a índia.
1869 – H. P. B. está mais uma vez no Tibete em companhia de seu mestre.
1869-1870 – Permanece recebendo treinamento em vários mosteiros tibetanos. Há uma carta entregue à sua tia, em Odessa, na Rússia, que diz: “Os nobres parentes de Madame Blavatsky não têm qualquer causa para preocupação. Sua filha e sobrinha não deixou este mundo. Está viva e deseja que aqueles que a amam saibam que está bem e sente-se muito feliz nesse distante e desconhecido local que selecionou para si. Esteve muito doente, mas já está boa; graças à proteção do Senhor Sang-gyas encontrou amigos devotados que tomaram conta dela material e espiritualmente. Que as senhoras fiquem portanto calmas. Antes de 18 novas luas terem surgido, ela voltará à sua família”.
1870 – No fim desse ano está na índia retornando à Europa pelo Canal de Suez.
1871 (Verão) – Parte para o Egito procedente do porto grego de Pireu a bordo do SS Eunomia que afundou, em virtude de uma explosão entre as ilhas de Doxos e Hydra, no dia 21 de junho. Este fato é mencionado como tendo sido produzido pelos homens de negro para destruí-la em virtude de ter sido iniciada nas “Estâncias de Dzyan”. Seja com for, Helena Blavatsky foi uma das poucas sobreviventes da catástrofe, tendo recebido toda assistência do Governo Grego que a envia para Alexandria, no Egito.
1871 (Outono) – Forma uma Sociedade Espírita, no Cairo, a fim de investigar os fenômenos mediúnicos. Fracassa no empreendimento. Parte do Cairo em abril de 1872, indo para a Síria e a Palestina. Entra em contato com a comunidade dos Druzos do Monte Líbano.
1872 (Verão) – Retoma a Odessa antes das 18 luas, conforme indicado por seu mestre, mas não permanece muito tempo.
1873 – Já está na Rumânia, em Bucarest, de onde parte para Paris, indo residir com seu primo na Rue de l'Université, 11. Subitamente parte para a América onde chega no dia 7 de julho. Passa dificuldades financeiras em virtude da morte de seu pai. Trabalha na imprensa, escreve artigos para jornais russos, traduz. Muda-se constantemente. É intensa a curiosidade que desperta em todos os círculos.
1874 – É enviada para presenciar os estranhos acontecimentos espíritas ocorridos no caso dos Eddy, em Vermont. Lá encontra, no dia 14 de Outubro, seu companheiro de ideal, o Coronel Henry Steel Olcott, que estava em missão jornalística. Escreve como consequência um artigo intitulado “As manifestações Eddy” para o The Daily Graphic.
1875 – Entre inúmeras atividades, funda a Theosophical Society (Sociedade Teosófica), que iria ter uma atuação marcante na formação do mundo do século XX.
1876 – Escreve sem parar “Isis sem Véu”, que seria o seu primeiro marco como ocultista. Colabora em vários jornais norte-americanos e russos.
1878 – Naturaliza-se norte-americana. Parte para a índia mais uma vez, no SS Canadá, acompanhada de Henry Olcott.
1879 – Permanece algum tempo em Bombaim, morando em Girgaum Back Road 108, no bairro nativo da cidade. Encontra-se com Alfred Sinnett, chefe da redação do jornal The Pioneer, que possuía grande penetração na Índia. Visita as cidades do norte da Índia. As grutas de Karli, Rajputana, Allahabad, Cawnpore, Jajmow, Butpore, Jeypore, Amber, Meerut e outras.
1880 – Intensa atividade da propagação da Teosofia. Parte para o Ceilão onde recebe a consagração como Budista. Volta à Índia, onde vai para Simla, Amritsar e Benares.
1881 – Novamente em Simla, Umballa, Dhra Dun, Saharanpore, Meerut e outras.
1882 – H. P. B. está em plena atividade na Índia. Seu dinamismo e surpreendente. No dia 9 de outubro está novamente em território tibetano nas fronteiras do Sikkim. Nesse ano é comprado o parque de Adyar, em Madras, onde permanece a Sociedade Teosófica até hoje.
1883 – Foi novamente um ano de grande movimentação na Índia.
1884 – Volta à França, onde trabalha na sua obra máxima, “A Doutrina Secreta”. Visita a Inglaterra no interesse do trabalho, bem como a Alemanha. Em novembro encontra-se no Cairo com o célebre egiptólogo Maspero. Parte para o Ceilão, onde chega no dia 17 de dezembro. Em dezembro a Sociedade de Pesquisas Psíquicas publica o seu primeiro relatório confidencial a respeito dos estranhos poderes de H. P. B.
1885 – Adoece ao ponto de todos pensarem na sua morte. Subitamente volta ao normal. Deixa a índia, para nunca mais voltar, a bordo do navio SS Tibre. Hospeda-se na Torre del Greco próxima a Nápoles. Visita a Suíça de passagem e instala-se em Wurzburg, na Ludwigstrasse, nº 6. Mergulha firme na elaboração da “Doutrina Secreta”. O segundo relatório da Sociedade de Pesquisas Psíquicas é publicado. Nele o pesquisador Richard Hodgson revela que todas as cartas e fenômenos ocorridos pela atuação de H. P. B. seriam forjados. O escândalo é enorme. Blavatsky defende-se provando por todos os meios a sua inocência, mas a calúnia é insidiosa e iria durante anos refletir na sua imagem. Depois da sua morte, ficou definitivamente afastada qualquer possibilidade de fraude. Prova-se que Hodgson tinha sido ludibriado na sua fé pelo casal Coulomb, que tinha forjado as provas contra H. P. B. E que por trás de todos os acontecimentos estavam alguns missionários da Índia que viam temerosos o avanço das ideias defendidas por Blavatsky. Jacques Lantier, no livro publicado em 1970, “La Théosophie ou l'invasion de la spiritualité orientale”, reconhece que “o escândalo orquestrado visivelmente pelo Governo Inglês e as missões, atingiu o mundo inteiro. Exageraram de indústria as conclusões denunciadas”.
1886 – Continua em Wurzburg, escrevendo “A Doutrina Secreta”. Em julho parte para Ostende, na Bélgica.
1887 – Cai gravemente enferma. O término de “A Doutrina Secreta” parece cada vez mais difícil. Reúne todas as suas forças e continua a trabalhar infatigavelmente. Muda-se para Londres onde passa a residir em Lansdowe Road.
1888 – Em outubro é publicada em dois volumes “A Doutrina Secreta”. A pequena edição de 500 exemplares esgota-se rapidamente.
1889 – Reside na França em Fontainebleau, onde escreve de cor “A Voz do Silêncio”. Nesse mesmo ano surge “The key to Theosophy” (A chave para a Teosofia).
1890 – Já muito doente, continua o seu trabalho de difusão da Sabedoria Antiga.
1891 – No dia 8 de maio, H. P. B. falece, em Londres.
Todos esses acontecimentos aqui apresentados, de forma quase telegráfica, permitem situar sua figura impressionante no cenário mundial. Sua vida foi um turbilhão de acontecimentos, desde o nascimento até o dia em que fechou os olhos. A maldição que caiu sobre as suas costas foi a de auxiliar o nascimento de uma nova consciência do ser humano. Sua participação no plano do pensamento é tão importante quanto a de Einstein na revolução da física de Newton. O Programa Original da Sociedade Teosófica, emitido por ela em 1886, é tão importante para o mundo quanto a Carta das Nações Unidas. Os seus objetivos são os seguintes:
1. A Fraternidade Universal.
2 . Nenhuma distinção poderá ser feita por qualquer membro entre raças, credos, posições sociais, devendo cada um ser retratado de acordo com os seus méritos pessoais.
3. Estudar as filosofias do Oriente – especialmente as da Índia, apresentando-as gradualmente ao público em vários trabalhos que interpretarão as religiões esotéricas à luz dos ensinamentos esotéricos.
4. Oposição ao materialismo e ao dogmatismo teológico de todas as formas possíveis, demonstrando a existência de forças desconhecidas da ciência na natureza, e a presença de poderes psíquicos e espirituais no homem.
A importância de tais ensinamentos no mundo de hoje é enorme. Vivemos o limiar de uma real unificação aos povos, acima de todas as divisões ilusórias de fronteiras. O planeta em que vivemos é um só. Os nossos problemas interessam a toda a raça humana. Dessa forma, a Fraternidade Universal como uma vivência terá de nascer.
Teilhard de Chardin, entre os pensadores cristãos, foi um arauto desse novo mundo. Da mesma forma, o filósofo Aurobindo, na Índia, falava a mesma linguagem. Aos poucos, apesar de todos os esforços dos homens de negro que não descansam jamais, o limiar de uma nova era está nascendo. Foi essa a extraordinária missão recebida por Helena Petrovna Blavatsky. A sua Bendita Maldição.
H. P. Blavatsky
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