9° livro / ADORÁVEL IMPOSTORA
O executivo Cade McMann rastreava os passos da adorável Jessie Clayton desde o primeiro dia de seu estágio na Editora Elliot. Embora suas razões para ficar de olho nela nem sempre fossem de caráter profissional, Cade desconfiava que Jessie escondia algo.
Apesar de saber que seu plano secreto poderia destruir o império editorial dos Elliot, Cade estava determinado a desvendar todos os mistérios de Jessie, e a sedução parecia o melhor meio para atingir seu objetivo...
DO DIÁRIO DE MAEVE ELLIOT
Ainda hoje sou assombrada pelos mesmos sonhos, ou eu deveria dizer pesadelos? Neles, ouço o choro de um recém-nascido e os soluços de minha filha mais nova, forçada a abrir mão do bebê que ela acabara de dar à luz. Depois ouço a voz de meu marido, dizendo:
— É para o bem dela.
Desde esse dia, há mais de duas décadas, Finola carrega consigo a marca da raiva, e eu, a da culpa.
Mas o que eu poderia fazer? Finola tinha apenas 15 anos e era uma Elliot. Não poderia criar uma filha sob o olhar da sociedade nova-iorquina. Nós fizemos tudo o que estava ao nosso alcance. Dissemos a todos que a estávamos levando para um lugar onde ela terminaria os seus estudos. As lembranças daquele convento onde minha neta nasceu ainda me perseguem, assim como a Finola. Ela nem chegou a ver o seu bebê, nunca pôde tê-lo nos braços... Suas feridas ainda estão em carne viva, impressas em seus olhos verdes, assim como em meu coração cansado.
Meu marido, Patrick, diz que nós fizemos a coisa certa para a família. Eu já não tenho tanta certeza. Por isso, deito-me à noite e sonho com o que pode ter acontecido àquela linda menina, filha de Finola.
Cade McMann era o tipo de homem que farejava um problema a quilômetros de distância, e esse cheirava a madressilva — doce, fresco e... convidativo — e parecia estar vindo na sua direção.
Eis que o problema se posta à sua frente, pigarreia e diz:
— Queria me ver, Cade?
Ele desviou o olhar da Park Avenue, dezessete andares abaixo de seu escritório, e girou a cadeira para olhar para a jovem cujos óculos de armação pesada e lentes de cor lilás mal conseguiam disfarçar a expectativa em seu olhar.
Cade tinha certeza de que Jessie Clayton não estava usando aqueles óculos no dia da entrevista, seis meses atrás. Desde o seu primeiro dia de estágio na Charisma, porém, ela vinha insistindo em se esconder por trás deles, além de manter os cabelos que iam até a cintura sempre presos numa trança ou num coque. Ao final do dia, porém, algumas mechas sedosas conseguiam escapar de sua prisão e acariciar a pele alva de suas bochechas. Acariciar?!
Meu Deus! Aquilo estava ficando sério.
Cade se esforçou para manter a atenção nos assuntos estritamente profissionais e abandonar a sua repentina veia poética.
— Eu precisava vê-la, Jessie — disse ele, indicando uma das cadeiras vazias. — Sente-se, por favor.
Ela apertou a agenda contra o peito e, com o olhar ainda preso ao dele, perguntou, enquanto se sentava:
— Tudo tranqüilo, Cade?
Não! Quem poderia permanecer tranqüilo com toda aquela vivacidade de seus vinte e poucos anos?
— Tranqüilo, Jessie — respondeu ele, deixando escapar um sorriso.
Seu gracejo foi recompensado pelo som da gargalhada de Jessie, que já havia se tornado comum nos cubículos da revista Charisma.
— Cuidado, Cade. Você está começando a falar como uma das leais leitoras da Charisma e não como um chefe — disse ela, tirando uma daquelas mechas descuidadas do rosto.
— Eu só tenho trinta anos, Jessie. Posso muito bem falar desse jeito. Além do mais, eu sou apenas o braço direito da verdadeira chefe! E por falar em chefe, acho que tenho uma ótima notícia para você.
Ele poderia jurar que havia algumas sardas despontando por baixo da maquiagem dela, tão naturais quanto às mechas mais escuras de seu cabelo cor de canela.
— Verdade?
Ela fez menção de abrir a agenda para fazer anotações, mas ele a deteve.
— Não precisa tomar nota de nada. Tenho certeza de que você não vai se esquecer do que eu vou dizer.
Ela ergueu os olhos na direção dele, com um sorriso hesitante.
— Você foi escolhida para ser a sombra de Finola Elliot.
O sorriso dela congelou e então desapareceu, sendo substituído por algumas rugas na testa. Ela engoliu em seco, dando a perceber que estava lutando contra as emoções.
— A sombra de Finola? Isso soa meio misterioso.
— Todo ano nós escolhemos um estagiário para ser a sombra do editor-chefe da revista durante um mês. Se Fin for a uma reunião, você terá de ir com ela, se ela tiver de ir à gráfica para fazer alguma prova da edição do mês seguinte, você irá com ela também. Se Fin tiver de sair com um anunciante, você...
— Acho que já compreendi.
Ele esperou enquanto ela engolia em seco novamente.
Aquela reação havia acabado de confirmar a suspeita que o havia motivado a escolhê-la para o cargo. Não que Jessie não tivesse as qualificações necessárias — era inteligente, esforçada e querida por todos — , mas havia algo nela que definitivamente não batia. Era melhor que ele passasse a prestar mais atenção no comportamento dela do que na base do seu pescoço. Estava ficando cada vez mais difícil se concentrar nos negócios quando ela estava por perto.
— Engraçado — disse ele, lentamente. — Achei que você fosse ficar exultante com essa oportunidade.
Ela balançou a cabeça minimamente, numa negativa, e colocou os óculos no lugar, com firmeza.
— Eu não posso aceitar essa função.
— Como?
— Estou certa de que existem outros estagiários mais qualificados do que eu. Além disso, Scarlet acabou de me incumbir de um projeto de layout incrível e... você sabe, com toda essa história familiar... Acho que não é uma boa hora para assumir mais coisas.
Cade respirou fundo.
— Está se referindo à disputa pelo comando da editora?
Ela se ajeitou, um pouco desconcertada.
— Sim. Todos sabem que Patrick, quero dizer, o Sr. Elliot, estabeleceu uma disputa entre as quatro revistas da editora para ver qual dos irmãos vai assumir a presidência da empresa no seu lugar.
O assunto era voz corrente no trabalho. Não era de surpreender que Jessie Clayton estivesse a par da situação. Especialmente se suas suspeitas a respeito dela estivessem corretas.
Por que ela estava relutando tanto em aceitar aquilo que qualquer outro estagiário consideraria como a maior das honras?
— Deixe-me ver se entendi bem. Está me dizendo que não quer acompanhar o trabalho de Finola Elliot durante o mês de setembro, é isso? — perguntou Cade, sem tentar dissimular a incredulidade em sua voz.
Ela passou a língua pelos lábios, tão secos quanto a sua garganta.
— É isso mesmo.
Ele riu, sem acreditar.
— Você sabe que esta é a função mais cobiçada entre os estagiários desta revista?
Jessie arregalou os olhos, cuja cor era muito difícil de discernir por trás daquelas lentes escuras.
— Eu estou muito honrada e grata pela indicação, Cade. Não sei por que escolheram logo a mim, mas...
— Porque você é uma excelente candidata — interrompeu ele. — Porque tem idéias novas, está sempre disposta, nunca se atrasou, nem faltou nesses cinco meses e porque parece ter uma carreira muito promissora no ramo editorial.
E porque você tem feito de tudo para evitar qualquer tipo de contato com Finola Elliot. Cade, porém, não acrescentou este último detalhe. Afinal, Jessie não sabia que seu comportamento pouco comum havia chamado a sua atenção. É claro que sua pele aveludada e seu corpo delgado, aquele rostinho de porcelana e sua risada melódica também haviam contribuído para isso. Demais até, mas fora a sua insistência em evitar a mulher que a maioria dos estagiários perseguia tentando impressionar que determinara, em última instância, aquela oferta.
— Você é uma estagiária exemplar e mereceu essa recompensa.
Ela abriu a boca para dizer alguma coisa, mas se conteve, ajeitando novamente os óculos.
— Obrigada, mas eu prefiro não aceitar mais essa atribuição.
Todas as células bem treinadas do corpo de Cade entraram em estado de alerta. A sua frente estava uma jovem inteligente, atraente, qualificada e suficientemente ambiciosa para trabalhar de graça e aprender o que podia na editora. Por que ela rejeitaria uma chance daquelas de subir na carreira?
— Por que não? — perguntou ele.
— Nós estamos a poucos dias da entrega da edição de janeiro, e Scarlet me incumbiu de todo o layout da seção "Quimera de Primavera" de março, o que significa que eu vou ter de ir ao estúdio para acompanhar as fotografias, participar de reuniões com... — Ela passou a língua sobre os lábios novamente. — Eu preferiria não assumir mais nenhum compromisso neste momento — concluiu em voz baixa.
Só havia uma explicação possível. Ela não queria que Finola pudesse examiná-la de perto, e deveria ter uma boa razão para isso.
Seu instinto para negócios lhe dizia que nada do que perguntasse a ela naquele momento faria com que ela revelasse o seu segredo, apesar do rubor em suas faces. Ele precisava pensar em algo mais engenhoso.
— Sabe, Jess — disse ele, curvando-se para a frente —, eu não estou engolindo essa história.
Ela ficou atordoada.
— Como assim?
Cade balançou a cabeça.
— Você está me escondendo alguma coisa.
Os olhos de Jessie se arregalaram por trás das lentes coloridas. Se o palpite de Cade estivesse certo, ela deveria ser uma agente da Pulse, da Snap, ou até mesmo da Buzz, contratada por um dos irmãos de Finola para espioná-la.
Ele ia descobrir a verdade. Só precisava fazê-la baixar a guarda por um momento.
— Eu tenho uma idéia — disse ele, apoiando os cotovelos sobre a mesa e baixando o tom de voz. — Por que não tomamos algo juntos depois do trabalho e conversamos melhor sobre isso num ambiente mais agradável? Talvez você esteja precisando de um pouco de tempo para pensar no assunto.
— Tomar alguma coisa?
Ele tinha conseguido desarmá-la! Jessie havia ficado na dúvida. Não sabia se o seu editor executivo a havia convidado para um encontro ou apenas para uma reunião de negócios.
— Você conhece o Bull and Bear, no Waldorf? — Ao vê-la assentir, ele disse: — Ótimo. Podemos conversar sobre isso lá, então.
Ele manteve o olhar no dela por um minuto mais do que o necessário, o que não era nada difícil para quem estava se esforçando havia meses para não flertar com aquele dínamo de cabelos avermelhados. Seu profissionalismo, porém, exigia que ele nunca se envolvesse com os empregados da revista. Seria um erro muito grave. Se bem que aquilo não era exatamente um encontro, mas sim a única maneira de fazê-la confessar tudo.
Jessie Clayton estava escondendo alguma coisa, e ele pretendia descobrir o que era e como aquilo poderia afetar a revista.
— Que tal as seis, lá no bar?
— Eu não sei...
Ele piscou para ela.
— Vamos, lá, Jess. Só uma bebidinha. Ela ajeitou os óculos novamente.
— Às seis, então, no Waldorf.
Se ao menos ele pudesse enxergar seus olhos para descobrir o que ela estava escondendo... O que será que ele teria de fazer para convencê-la a tirá-los?
Jessie deixou o escritório, mas o cheiro de problema continuou pairando no ar.
— Ele já saiu? — perguntou Jessie ao telefone para Lainie Sinclair, a amiga com quem dividia o apartamento, que tinha, de sua baia, uma visão privilegiada do escritório de Cade.
— Há alguns minutos — disse Lainie baixinho. — Foi ao banheiro, depois saiu com a gravata ajeitada, mas não passou gel, nem colônia.
— Você daria uma ótima espiã — disse Jessie, rindo. Ela sabia que Cade McMann jamais colocaria gel no cabelo dourado. Ele o usava despenteado, informal. Perfeito para o toque. Ela sentiu um frio na barriga, já pela milésima vez desde que havia deixado o escritório. — Deseje-me sorte.
— Mais ainda? A chefe do seu chefe a alçou da completa obscuridade do mundo dos estagiários para o trabalho mais legal de toda a companhia! Eu ainda não consegui entender por que você não quer aceitar o cargo.
Jessie foi tomada por uma necessidade urgente de confessar tudo àquela que havia virado sua melhor amiga desde o seu primeiro dia em Nova York. Se havia alguém em quem ela podia confiar, essa pessoa era Lainie.
Aquela, porém, não era a hora certa para isso. Sua amiga era uma pessoa adorável, mas Jessie tinha consciência de que seu segredo ia se transformar na maior fofoca da editora desde que Patrick Elliot havia decretado a grande batalha pela presidência da empresa e sabia que até mesmo bons amigos podiam ter dificuldade para guardar segredos.
— Bancar a sombra de Fin não vai me acrescentar muita coisa, Lainie. Eu teria de abrir mão do layout da "Quimera de Primavera", que a Scarlet me ofereceu.
— Isso não faz o menor sentido. Você já falou com a Scarlet sobre o assunto?
— Ela saiu para uma sessão de fotos. Acho que foi por isso que incumbiram Cade de me dar a notícia.
— Isso ainda não explica por que ele quer esticar a conversa num bar de hotel. Será que ele reservou um quarto para vocês?
— Caia na real, Lainie. — Não que aquela idéia também não lhe tivesse ocorrido. Dessa vez, porém, não foram as suas fantasias de rolar com ele sobre os lençóis que fizeram o seu coração saltar dentro do peito. — Nós só vamos beber alguma coisa juntos.
Ainda que o convite para isso tivesse vindo acompanhado de um olhar que a fez se arrepiar dos pés à cabeça.
Lainie sabia muito bem que Jessie vinha alimentando uma paixão por Cade McMann do tamanho do terreno de seu pai, no Colorado, e, ela tinha de reconhecer, não tinha dito uma palavra a respeito a ninguém.
— Ouça o que ele tem a dizer — disse Lainie. — Talvez você consiga organizar seus horários de modo a manter os dois trabalhos.
Não havia nada neste mundo que pudesse convencê-la a passar tanto tempo ao lado de Finola Elliot, mas também não tinha como explicar isso à amiga no momento.
— Vamos ver — disse ela, vagamente. — E melhor eu me apressar.
— Quer que eu a espere acordada? — perguntou Lainie, num tom provocador.
— Eu vou chegar em casa às oito — prometeu Jessie.
— Da manhã?
— Muito engraçado!
Jessie foi saudada por uma brisa típica das noites de setembro assim que saiu da editora e começou a caminhar pela turbulenta Park Avenue. Momentaneamente arrebatada pelo contato com o ar fresco, respirou fundo, mas foi logo trazida de volta à realidade pela fumaça de um táxi.
Ela se deteve para se concentrar e criar coragem. Mesmo depois de quase seis meses em Nova York, Jessie ainda tinha de olhar para as placas e fazer alguns cálculos antes de descobrir exatamente para que lado ir. Aquilo era muito triste para uma menina que havia crescido aprendendo a discernir o sul do norte a partir das cores dos raios de sol sobre as montanhas.
Olhou para o corredor interminável de arranha-céus alinhados ao longo da Park Avenue. Um vale bem diferente dos acres verdes e dourados que rodeavam o Rancho da Lua Prateada.
A última vez em que havia sentido uma brisa de montanha soprar em seus cabelos tinha sido no dia em que ela partira do Colorado em busca de suas origens.
Uma mulher cheia de sacolas de compras se desculpou enquanto passava apressadamente por ela.
Suspirando, ela parou na esquina antes de atravessar. Alguns nova-iorquinos nativos, ousados, enfrentavam o sinal vermelho. Talvez algum dia ela tivesse coragem para fazer isso também, mas por enquanto, preferia aguardar para atravessar em segurança.
Seu celular tocou.
— Oi, pai! — disse ela, feliz, já atravessando a rua, mas ainda olhando cuidadosamente para os dois lados. — Você não imagina onde é que eu estou!
— Diga, meu anjo.
A voz de barítono de Travis Clayton soava tão forte como se ele estivesse ao seu lado, olhando para as montanhas cobertas de neve em torno do rancho.
— Estou atravessando a Park Avenue — disse ela, rindo. — Legal, né?
— Tome cuidado, querida — preveniu Travis. — Esses motoristas de Nova York são completamente loucos.
Ela aceitou o conselho do pai sem revirar os olhos. Estava com muita saudade para implicar com ele.
— Como é que você está, papai? E o Oscar?
— Eu dei uma volta com ele hoje. Tenho certeza de que este cavalo está sentindo a sua falta.
Jessie fechou os olhos e se imaginou montada em seu cavalo.
— Mas não o suficiente para perdoá-la por ter lhe dado esse nome.
Jessie riu.
— Onde é que você está, papai? Na varanda?
— É. Ainda tenho de passar no estábulo, mas achei que poderia pegá-la a caminho de casa.
— Eu não estou indo para casa. Estou prestes a entrar no Waldorf-Astoria! O que você acha disso?
— Que você está muito longe do Colorado, minha querida.
Jessie percebeu a melancolia em sua voz.
Talvez não tivesse sido uma boa idéia deixar o pai sozinho no Colorado, ainda que já se tivessem passado três anos desde a morte de sua mãe.
— O que é que você vai fazer num hotel tão chique? Um camareiro abriu a porta do Waldorf com um daqueles sorrisos de apreciação que os homens de Nova York lançavam para as mulheres bonitas, e Jessie agradeceu com uma pequena reverência.
— Estou indo para uma reunião com o editor-executivo da revista para a qual estou trabalhando.
— Será que eles finalmente vão começar a lhe pagar?
Ela olhou ao redor à procura da entrada do Bull and Bear e avistou um sofá, no qual se sentou para terminar a conversa.
— Os estágios duram um ano, papai, e pode ter certeza de que qualquer um dos meus amigos do Instituto de Artes faria qualquer coisa por uma oportunidade como esta. Não se preocupe, eu estou economizando cada centavo.
— Eu sei, minha querida. — A voz dele ficou mais suave, bem como seus olhos, imaginou Jessie. — Sua mãe lhe deixou bastante dinheiro para você fazer o que quiser. Se morar em Nova York e trabalhar numa grande revista — de graça! — a faz feliz, eu também fico feliz.
Jessie visualizou o rosto de sua mãe. Sua verdadeira mãe. Aquela que a havia criado, aquela...
Ela foi tomada de uma súbita urgência de confiar seu segredo ao pai.
— E sobre o que é esta reunião, afinal? Você tem tempo de me contar?
Ela olhou para o relógio. Precisaria de bem mais do que os três minutos que faltavam para as seis para lhe contar toda a verdade, mas a necessidade de compartilhar era muito intensa.
— Eles me ofereceram a oportunidade de ser a sombra de Finola Elliot, a editora-chefe. — Ela esperou um pouco para saber se ele reagia à menção daquele nome. — Mas não sei se vou aceitar.
— E por que não?! Parece uma oportunidade excelente. Eles certamente não a teriam escolhido se você não fosse qualificada para isso.
Ela respirou fundo.
— Eu não quero passar tanto tempo perto de Finola Elliot.
— Mas isso não é bom para a sua carreira? Você pode acabar sendo contratada e finalmente receber pelo que faz!
Jessie teve de sorrir. Seu pai não se conformava com o fato de o estágio não ser remunerado.
— Tem razão.
— Então, por que desperdiçar uma chance dessas?
— Eu não quero ficar tão exposta ao olhar de Fin.
— Por que não?
Ela respirou fundo, fechou os olhos e sussurrou as palavras que vinham reverberando em sua mente havia quase um ano. Ela tinha de dizê-las em voz alta. Tinha de contar para alguém.
— Porque Finola Elliot é a minha mãe biológica.
Jessie chegou dez minutos atrasada no Bull and Bear. Os conselhos do pai ainda ecoavam em sua cabeça.
Não vá esperando que ela solte fogos de artifício quando descobrir... É pouco provável que ela queira se confrontar com um passado que deixou para trás há 23 anos. Se ela realmente quisesse encontrá-la, já teria feito alguma coisa há muito tempo, não acha?
Nem mesmo o fato de que Finola havia incluído o seu nome num site sobre adoção a havia convencido de que a sua mãe biológica poderia nutrir a mesma esperança que ela.
Jessie amava imaginar o momento em que Fin Elliot olharia para ela e, abrindo os braços, exclamaria: "Minha filha!"
Seu pai, porém, poderia ter razão. Jessie não havia visto nada nesses últimos cinco meses que indicasse que aquela workaholic de 38 anos estivesse interessada em descobrir, conhecer e amar uma criança que ela havia entregado para adoção aos 15 anos de idade.
Revelar a verdade poderia ser um erro fatal.
A visão de um deus louro na mesa do canto trouxe-a de volta à realidade. Desde o dia em que havia entrado em seu escritório para a entrevista, Jessie havia sentido uma ponta de... desejo por Cade McMann. No início, era só por causa da sua aparência — um metro e oitenta de músculos perfeitos, firmes, cabelos louro-escuros que ele deixava crescer durante o verão, e aqueles olhos verde-acinzentados que enxergavam através dela. Não foi preciso muito tempo para que ela percebesse que, além do belo porte, ele também tinha um forte espírito de liderança e um belo senso de humor.
Jessie o havia observado de longe e sabia que ele ponderava longamente cada decisão que tomava, e que raramente cometia um erro.
Por que então ele havia convidado uma estagiária para sair?
E por que ele estava lá, agora, olhando para ela como um homem que desejava algo mais? O que ele poderia querer com ela?
O belo rosto de Cade se abriu num lento sorriso. O coração de Jessie quase saltou do peito. Ela não sabia ao certo o que ele queria, mas esperava ardentemente que fosse a ela.
— Desculpe-me pelo atraso — disse Jessie, enquanto ele puxava uma cadeira.
— Nem me fale. Scarlet já me ligou passando mais de vinte coisas para você fazer antes de ir embora.
Jessie pousou a bolsa e ajeitou os óculos para ter certeza de que seus olhos verdes estavam resguardados. Ele poderia reconhecer o formato e a cor dos olhos da mulher para quem ele trabalhava, mesmo naquela penumbra.
— Eu estava ao celular com meu pai e não tive como desligar.
Ele arqueou as sobrancelhas.
— Ele está no Colorado, não é?
Será que ele se lembrava do que ela dissera na entrevista? Ou será que tinha investigado o seu passado?
— Sim, nós temos um rancho lá.
O garçom anotou os pedidos. Jessie pediu apenas um vinho. A última coisa que queria era perder o controle. Se bem que ficar tão perto do homem a quem ela vinha admirando, desejando havia cinco meses já era motivo de descontrole suficiente.
Cade tirou o paletó e o colocou casualmente sobre o encosto da cadeira. Jessie se parabenizou por conseguir não olhar para os seus músculos firmes que despontavam por baixo da camisa branca.
— Como é que uma garota que cresceu num rancho do Colorado vem parar nesta selva? — perguntou ele, inclinando-se para a frente e passando a mão distraidamente pela barba cerrada.
Jessie já havia reparado que ela sempre crescia durante o dia e alimentava um desejo secreto de roçar a mão no queixo dele.
— É como eu lhe disse na entrevista. Sou formada pelo Instituto de Artes do Colorado com especialização em Design Gráfico. Todos as disciplinas eletivas que eu fiz, porém, foram relacionadas à moda. Para onde mais eu poderia ir, se não para Nova York?
— Para conciliar o amor pela arte com a paixão pela moda?
— Eu leio a Charisma desde os meus catorze anos — admitiu ela. — Sempre adorei a revista e sempre adorei a moda.
O dia em que ela tinha descoberto que a mãe biológica era a editora-chefe da revista, porém, havia mudado a sua vida por completo.
— Quer dizer então que esse é o emprego dos seus sonhos — disse ele.
— Com certeza.
— Exceto pelo pagamento — disse Cade, piscando, deixando-a toda arrepiada.
O garçom trouxe o seu vinho e uma cerveja para Cade.
— Parece que a maioria das pessoas por aqui bebe martíni.
— Acho que são pessoas um pouco mais velhas que nós. Por que você escolheu este lugar, afinal?
— Eu sabia que não encontraríamos ninguém da nossa editora por aqui. As outras revistas têm espiões espalhados por tudo quanto é canto — disse Cade, olhando diretamente para ela.
— Eu não sabia — disse ela, erguendo a taça. — Espero que a Charisma vença a disputa. Pela Finola — forçou-se a dizer.
Cade brindou com ela.
— É o que nós esperamos. Você chegou a fazer alguma entrevista na redação das outras revistas da Editora Elliot antes de procurar a Charisma.
— Nem pensei nisso — respondeu ela, deixando transparecer sua absoluta surpresa. — Eu reconheço o valor de todas elas, mas sempre fui apaixonada por moda. Vim para Nova York uma semana depois da minha formatura — prosseguiu ela — e fiz a minha entrevista na Charisma.
— E o que os seus pais acham de você ter vindo morar assim tão longe deles?
Jessie tocou novamente em seus óculos. Eles funcionavam como uma verdadeira muleta para ela. Disfarçavam a cor de seus olhos e compunham o seu visual nova-iorquino.
— Meu pai — disse ela suavemente. — Minha mãe faleceu há três anos.
— Sinto muito.
Ele roçou os nós dos dedos dela com a ponta dos seus. Aquele era o gesto mais natural do mundo, mas o contato provocou uma torrente de sensações totalmente novas pelo seu corpo.
— Ela teve um aneurisma. Foi tudo muito repentino e difícil.
— Meu pai morreu há cinco anos — disse ele. — Foi um golpe duro para a minha mãe e as meninas.
— As meninas devem ser as suas quatro irmãs mais novas de quem eu já ouvi falar — disse ela, torcendo para que o foco da conversa recaísse sobre ele. — Onde é que elas estão?
— Com a minha mãe. Acredite, eu tenho o meu próprio fã-clube lá em Chicago.
— Não admira que você saiba lidar tão bem com as mulheres lá da Charisma.
Cade tomou um gole da sua cerveja e então pousou o copo.
— Mas nós estávamos falando de você. Também tem irmãos?
— Eu sou filha única.
Será que ela deveria lhe contar que era adotada? Aquilo talvez atiçasse a sua curiosidade. Será que ele sabia alguma coisa sobre o passado de Finola? Jessie baixou o tom de voz e acrescentou, propositadamente, um brilho a seu olhar.
— Quer saber de um segredo?
Ele se curvou para a frente, como se ela o tivesse prendido a uma corrente e puxado a ponta.
— Você não imagina o quanto.
— Esta é minha primeira vez aqui em Nova York.
Cade se recostou novamente na cadeira.
— Não é possível.
Ela assentiu, desfrutando imensamente do prazer de manter o olhar preso ao dele e do brilho do sorriso que curvava os cantos de sua boca perfeita.
— Devo dizer que você está se aclimatando muito bem — disse ele.
Jessie torceu o nariz.
— Eu ainda não consigo atravessar a rua com o sinal vermelho para os pedestres.
Ele balançou a cabeça, fingindo estar desapontado.
— E já consegue parar um táxi?
— Eu não tenho dinheiro para táxis. — Ela deu um tapinha na mão dele, só pelo prazer de tocá-lo novamente. — Vocês não me pagam, esqueceu?
— É verdade. E como é que você faz para pagar o seu aluguel em Manhattan? Sem falar nas roupas, na comida.
Jessie deslizou os dedos pela haste de sua taça.
— Minha mãe me deixou algum dinheiro, e eu decidi usá-lo para me sustentar enquanto invisto na minha formação. Divido o apartamento com Lainie Sinclair, a revisora e responsável pelas chaves do Grande Armário — disse ela com um sorriso cúmplice. Todos sabiam que a única vantagem de pertencer ao baixo escalão era a chance de pegar algumas peças emprestadas daquele armário recheado de roupas fashion da Charisma. — E além do mais, eu não como muito.
Cade ficou em silêncio e Jessie começou a achar que ele estava duvidando da sua palavra.
— O que foi? Eu pareço comer muito? — perguntou ela com um meio sorriso.
— Não — disse ele.
— Então por que é que você está olhando desse jeito como se eu fosse culpada de alguma coisa?
Ele teve de rir.
— Eu só estava tentando decidir para onde eu deveria levá-la para jantar. Dinheiro não vai ser problema, já que você não come muito. Do que é que você gosta?
De você, pensou ela, num rasgo de ousadia.
— Eu gosto de comida francesa, mexicana, japonesa. Sou uma estagiária faminta. Como qualquer coisa.
Era só impressão, ou ela realmente tinha acabado de aceitar um convite de seu chefe e braço direito de Finola Elliot para jantar?
A julgar pelo olhar, Cade estava tão surpreso e feliz quanto ela.
Aquilo decididamente não estava saindo como o planejado. Cade pagou a conta enquanto ela ia ao toalete, lembrando a si mesmo que o seu verdadeiro intuito naquela noite era descobrir por que Jessie estava evitando Fin e não até que ponto aquele encontro poderia ir. Envolver-se com uma estagiária da revista podia não ser exatamente proibido, mas não era uma conduta nem um pouco profissional.
Poderia ser um erro.
E ele não tinha chegado aonde chegara cometendo erros. Algo em Jessie Clayton, porém, o incitava a correr esse risco.
Ela havia confirmado tudo o que constava na sua ficha quando da entrevista, mas seu sexto sentido lhe dizia que Jessie Clayton estava escondendo alguma coisa, e tendo em vista a briga pela presidência da editora, ele não podia correr riscos.
Os Elliot jogavam para ganhar, e era por isso que Cade gostava de estar entre eles. Mas será que eles seriam suficientemente maquiavélicos para pegar uma garota inocente do Colorado para bancar a espiã? Ele tinha de descobrir.
Fora esse o motivo de ele a ter convidado para jantar. Aquilo não tinha nada a ver com seu sorriso brilhante ou sua risada, que soava como... como a coisa mais linda que ele já tinha ouvido na vida.
Cade se levantou e pegou o paletó, observando-a voltar. Jessie ainda estava usando óculos, mas devia ter refeito a trança antes de deixar o escritório, pois seus cabelos estavam mais presos do que o de costume àquela hora. Ela não se vestia com a mesma exuberância de algumas das modelos com quem ele tinha namorado nos últimos anos, mas tinha um corpo tão longo e delgado quanto elas.
Devia ser por causa de todas aquelas horas que ela passava cavalgando. O pensamento fez suas entranhas se contraírem, e alguns músculos abaixo delas também.
Calma, rapaz. Nada de enganos. Isso é apenas uma pesquisa.
Ela sorriu para ele ao se aproximar, tão leve e genuinamente quanto fazia nas reuniões de equipe.
Jessie era realmente encantadora. Não tinha um pingo de afetação, ao contrário das mulheres com quem ele vinha saindo ultimamente.
Não que aquilo fosse um encontro.
— E então, Cade, o que vai ser? — perguntou ela, pegando a bolsa. — Comida francesa, japonesa... Eu conheço um belo restaurante chinês na Times Square.
Ele se obrigou a retomar a investigação.
— Como é que pode? Você nunca esteve antes em Nova York e já tem um apartamento, amigos, trabalho...
Ela o olhou de soslaio enquanto eles seguiam rumo ao lobby.
— Eu consegui o trabalho antes do apartamento — disse ela. — Conversando com Lainie, depois da entrevista, descobri que a amiga com quem ela dividia o apartamento ia se casar. Foi pura coincidência.
— Eu me lembro da sua entrevista — disse ele, enquanto segurava a porta para ela. Ele se aproximou um pouco mais do seu ouvido e baixou a voz: — Você ainda não usava esses óculos.
Cade não esperava que ela ficasse tão pálida. Estava, na verdade, esperando aquele riso suave, melódico... E talvez que ela tirasse os óculos. Em vez disso, ela os ajeitou como se tivesse de se certificar de que eles ainda estavam lá.
— Eu não posso usar lentes de contato — disse ela, quase se desculpando.
Ele percebeu que ela havia tomado aquilo como um insulto.
— Jessie — disse ele, detendo-se e segurando-lhe o cotovelo para que ela também parasse. — Eu não quis dizer que você não é... bonita. Apenas percebi que você não usava óculos antes.
Jessie se desvencilhou dele.
— Eles fazem parte do meu novo estilo. E então, para onde é que nós vamos?
— Comida francesa. Soho. Você vai adorar. — Ele a conduziu em direção à esquina. — Mas nós precisamos pegar um táxi na outra direção.
Com uma rápida olhada no tráfego, ele colocou a mão em suas costas e começou a atravessar a rua. Ela deu alguns passos e parou, ao ver um táxi avançando na sua direção.
Ele a empurrou suavemente, apressando-a.
— Nunca hesite. — Eles atravessaram e o táxi passou raspando por trás deles. — Nunca demonstre que você está na dúvida. Jamais permita que eles percebam que têm algum poder sobre você. Essas são as regras da cidade.
E as regras da sua vida também.
— É como cavalgar — disse ela, rindo. — É preciso fazer o cavalo saber quem está no comando.
— Exatamente. — Cade ergueu o braço e chamou um táxi. — Eu vi as fotografias na sua baia. Você deve amar cavalos.
Cade deixou que ela entrasse no carro primeiro e, depois de acomodado, deu o endereço ao motorista. Percebeu que havia se sentado no meio do banco de Irás, bem mais próximo dela do que jamais ficaria de qualquer outro colega de trabalho. Decidiu ignorar aquele pensamento e passou o braço por trás do assento. Aquilo era tão natural, tão... bom. Jessie não parecia estar se importando. Para falar a verdade, ela ainda trazia no rosto aquele sorriso que ele havia conseguido extrair dela com o sermão sobre como atravessar a rua.
— Eu adoro cavalos — disse ela. — Sinto mais falta do Oscar do que de qualquer outra coisa.
Ele deu uma risada.
— Oscar? Isso não parece nome de cavalo. Eles costumam se chamar Silver ou Jerônimo.
Jessie cutucou-lhe a costela, fazendo todo o seu corpo se tencionar.
— Eu dei esse nome ao meu cavalo em homenagem a um famoso estilista.
— De La Renta?
— E existe outro Oscar? Eu lhe disse que amava moda. Foi por isso que eu vim trabalhar na Charisma. — Ela baixou os óculos o suficiente para olhar para ele por sobre as lentes. — Ou você não acredita em mim?
Seus olhos eram verdes! Mais que isso. Eram profundos, infinitos e intrigantes mares de esmeraldas, e tudo o que Cade queria fazer agora era olhar para aqueles olhos por horas a fio.
— E por que eu não acreditaria em você? — perguntou ele. — Você não está mentindo para mim, está?
Ela recolocou os óculos na posição.
— Certamente não sobre um cavalo chamado Oscar.
Ele riu, e continuou rindo duas horas depois, numa mesa de canto de um restaurante superbadalado do Soho, dividindo um sorbet de pêra com Jessie. Cade praticamente havia esquecido a razão pela qual a havia convidado para jantar.
Jessie era refrescante e saborosa como aquela sobremesa. Ele se flagrou compartilhando histórias com ela, que nunca havia contado para as mulheres com quem tinha namorado. Não que aquilo fosse um encontro. Aquele mantra definitivamente não estava funcionando, pois quanto mais eles chegavam perto um do outro, mais ele queria beijá-la. E aquilo não podia, de forma alguma, ser classificado como pesquisa ou trabalho. Aquilo era um erro.
Ela pegou um pouco de sorbet com a colher e a estendeu para ele.
— Mais um pouquinho?
O que ele queria mesmo era provar do restinho que havia ficado nos lábios dela.
— Não, eu só quero ver esse restinho se desmanchar na sua boca.
Ela sorriu e olhou para o prato, e então novamente para Cade. Ela estava flertando com ele!
— Eu não costumo comer comida francesa com muita freqüência.
— Você está começando a me fazer sentir culpado quanto à nossa política com os estagiários.
— Não há motivo para isso. Essa é uma prática padrão, e eu estou feliz por fazer a minha parte.
— Mas não o suficiente para aceitar ser a sombra de Fin — disse ele, congratulando-se internamente por ter conseguido retomar o assunto.
Ela pousou a colherinha.
— Eu já lhe disse que não estou interessada.
— Por que é que você não me conta o verdadeiro motivo?
Ela limpou o canto da boca e depois pousou o guardanapo na mesa, ao lado do prato. Seu olhar deixava transparecer o seu desapontamento ao perceber o verdadeiro motivo daquele convite.
— Não importa — disse ele, num impulso. — Pense um pouco mais sobre o assunto. Conversamos a respeito amanhã.
— Tudo bem — disse ela, com um sorriso que, ele sabia, não havia alcançado os seus olhos, embora ele não pudesse vê-los por trás daquelas lentes. — Vamos voltar às suas irmãs. Está planejando vê-las em breve?
Ele balançou a cabeça.
— Duvido que eu consiga tirar algum tempo livre este ano. E você, Jessie — retrucou ele. — Vai para o rancho este ano?
— Estou pensando em ir no Natal. Sinto muita falta do meu pai.
— E do Oscar — disse ele, com uma piscadela provocante. — O cavalo fashion.
Jessie colocou os cotovelos sobre a mesa e apoiou o queixo nas mãos.
— Você pode não acreditar, mas eu sinto falta do som do galope dele.
— Esse com certeza não é um som muito comum aqui em Nova York.
— Nem o som, nem as montanhas, nem os rios, os vales ou as flores.
— Há algumas plantas nos canteiros da Park Avenue. Isso conta?
— Claro que sim — respondeu ela com um sorriso. — Quando eu cheguei aqui, na primavera, o Departamento de Parques havia plantado alguns lilases.
— Acho que eu não percebi.
— Provavelmente não. Os lilases eram as flores preferidas da minha mãe. Ela tinha um canteiro repleto deles. Todos os meses de abril e maio eles explodiam num incrível mar lavanda e violeta. E o cheiro, então...
Ela fechou os olhos e respirou fundo, como se pudesse sentir o perfume que acabara de descrever. — Eu cheguei a achar que aqueles lilases eram uma espécie de mensagem da minha mãe, dizendo-me que eu havia tomado a decisão certa ao vir para cá.
— Como não? — perguntou ele. — Você adora moda e design!
Jessie não disse nada por um momento. A chama da vela sobre a mesa deixou-o entrever um lampejo de tristeza por trás das lentes.
Ela suspirou.
— Eu até uso um perfume com esse cheiro de vez em quando para me lembrar dos lilases.
Dessa vez foi ele quem respirou fundo, aproximando-se um pouco mais dela com a desculpa de sentir-lhe o perfume.
— Achei que era madressilva.
Jessie não recuou nem um milímetro sequer.
— As madressilvas têm um cheiro bem mais doce.
— Esse me parece deliciosamente doce. — Ele inspirou novamente. — Você deixou um rastro no meu escritório hoje à tarde. Um rastro de problemas.
Cade cerrou os dentes ao perceber o que tinha dito a ela riu.
— Justo eu, que nunca causei problema algum à revista!
— Não foi isso o que eu quis dizer — disse ele, baixando o rosto até quase sentir o sabor de sua boca — e você sabe disso.
Cade não podia mais se conter. Sem dizer uma única palavra, tirou-lhe os óculos. Ela se retraiu de início, mas sustentou o olhar dele.
— Quem é que se esconde por trás disto aqui, Jessie Clayton? — provocou ele.
Ela arregalou os olhos sem, no entanto, desviá-los dos dele. Cade continuou olhando fundo naqueles olhos tentadores, tão verdes e profundos quanto perigosos.
— Eu não sou nenhum problema e não estou escondendo nada — disse Jessie.
— Está sim.
— Estou? — perguntou ela com voz trêmula, sem que nenhum dos dois desviasse o olhar um do outro.
— Você está escondendo seus lindos olhos.
Ele parou de lutar contra o desejo e a beijou. Seus lábios estavam frios por causa do sorbet, mas eram tão macios quanto ele havia imaginado.
Ele nem tentou invadir a sua boca. Deixou apenas que seus lábios se unissem, deixando uma promessa de mais eletricidade pairando no ar, e então se afastou dela, muito lentamente.
— Você tem certeza de que queria fazer isso, Cade?
Ele nunca havia tido tanta certeza de alguma coisa em toda a sua vida.
— Eu devo ter feito alguma coisa errada para você ter de perguntar isso.
— Você não fez nada de errado. Ela recolocou os óculos, fazendo com que uma sensação de perda e desapontamento tomasse conta de Cade. — Eu apenas fiquei surpresa.
— Você precisa mesmo usar esses óculos? — perguntou ele, louco para tirá-los novamente e olhar no fundo daqueles olhos até que o sorbet no prato não fosse mais que uma poça de peras e ela fosse sua pelo resto da noite.
— Eu só os tiro para beijar.
Ele se inclinou e aproximou os lábios de sua orelha, deixando-os roçar em alguns fios de seus cabelos sedosos.
— Acho que você vai ter de dar mais uma chance as lentes de contato, Jessie.
Ela olhou para ele sem entender.
— Por quê?
Ele hesitou por um momento até decidir abandonar de vez qualquer vestígio de cuidado.
— Porque eu gostaria de beijá-la. Muitas vezes.
— Eu preciso do seu colo.
Jessie desviou os olhos do memorando que estava lendo — ou pelo menos tentando — para olhar para os olhos faiscantes de Scarlet Elliot.
— Você tem um colo muito bonito, Scarlet — respondeu ela. — Pergunte a John Harlan se quiser uma segunda opinião.
Scarlet sorriu à menção do homem que ela amava.
— Ele tem uma certa preferência pelo meu, é verdade — disse ela com uma piscadela audaciosa — , mas decidi que você tem os seios perfeitos para o que eu preciso.
Jessie não estava gostando nada do rumo daquela conversa.
— Vou ter de refazer a seção "Cor & Charisma". O tema do mês de janeiro vai ser "Até onde você pode baixar o decote", e eu acho que você... — Scarlet se inclinou na direção de Jessie e puxou o decote em V de sua blusa de algodão até exibir a ponta de um sutiã branco muito funcional. — ...pode baixar bastante, vestindo alguma coisa do Grande Armário, é claro.
— De jeito nenhum — disse Jessie. — Eu não sou modelo.
— Mas poderia muito bem ser uma, se tirasse esses óculos e soltasse o cabelo. Seja como for, esta seção nunca mostra o rosto das pessoas fotografadas. E eu mandei dois fotógrafos para a rua para fazer algumas fotografias de colos valorizados pelo bom uso das cores, e olhe só o que eles me trouxeram.
Scarlet jogou as provas sobre o seu memorando. As cores eram sem-graça, e as fotos não tinham nada de mais.
— Isso realmente não serve — concordou Jessie.
Aquela era uma das seções mais populares da revista. Os fotógrafos flagravam mulheres anônimas usando alguma cor especial que as favorecia. Cada edição tinha um tema diferente, e os fotógrafos sempre escolhiam ângulos que mantinham os rostos das mulheres irreconhecíveis para que a revista não corresse o risco de ser processada.
— Você tem um bom olho, Jessie. Eu sabia que você também ia achar isso aqui uma porcaria. Por favor... Eu tenho uma roupa na cabeça e o corpo perfeito para ela. O seu!
Jessie apertou os olhos e olhou para Scarlet. Por que hoje, justo no dia em que ela queria ficar escondida no seu cantinho e reviver cada momento de seu encontro com Cade? Especialmente aquele último beijo em frente à sua porta. Ou talvez aquele outro, dentro do táxi, quando a língua dele tocou a sua e...
— Por que é que você não pede isso a outra pessoa, Scarlet? Eu tenho tanta coisa para fazer...
Scarlet pegou o memorando.
— Como ler um memorando da semana passada?
Droga! Aquele memorando tinha sido a primeira coisa que ela havia pegado para parecer ocupada, enquanto pensava na maneira como Cade havia segurado a sua mão, o seu cheiro, a sua voz, e, meu Deus, o seu beijo...
— Oooiii — disse Scarlet, agitando a mão à sua frente.
Ela começou a rir.
— Eu só estou um pouco cansada.
— Pois eu tenho a cor perfeita para despertá-la — disse Scarlet, puxando-a de sua cadeira. — As estagiárias são obrigadas a posar pelo menos uma vez para a "Cor & Charisma" durante o período em que estão aqui. São as regras, querida.
Suspirando profundamente, Jessie acompanhou-a até o Grande Armário, onde Lainie guardava a sete chaves as diversas peças dos mais famosos estilistas de todo o mundo e os mais incríveis acessórios. O Grande Armário ficava perigosamente perto da sala de Cade, mas ele ainda não tinha chegado. Como ele nunca se atrasava, Jessie concluiu que ele estava numa reunião fora do escritório.
— Vejo que você arranjou uma vítima — disse Lainie ao entregar um molho de chaves enorme para Scarlet.
— Por que é que você mesma não faz as fotos? — perguntou Jessie à amiga.
Lainie colocou as mãos sobre os seios.
— Porque o meu manequim 42 não é muito exuberante.
Jessie olhou para os próprios seios.
— O meu manequim é apenas um acima do seu.
— Quase dois — insistiu Scarlet, abrindo a porta do armário e acendendo a luz. — E eu tenho um sutiã aqui que vai fazer ele aumentar ainda mais, em tempo recorde. Lainie, por favor, solte a trança dela.
Jessie protegeu a cabeça instintivamente. Não queria que ninguém prestasse atenção em seus cabelos e notasse a semelhança entre a sua cor e textura e as dos cabelos de tantos outros membros da família Elliot.
— Eu não posso ficar com ele preso?
— De jeito nenhum — disse Scarlet, já dentro do armário. — E nem pense em usar esses óculos. É uma ordem.
Vinte minutos depois, Jessie estava na Park Avenue, usando um suéter amarelo berrante com um zíper preto gigante na frente e uma calça de couro preta, com os cabelos ao sabor da brisa, e os óculos esquecidos em algum lugar na mesa de Lainie. Scarlet não parava de baixar o bendito zíper.
Jessie ergueu o zíper para cobrir o fecho da frente do sutiã de renda preta que estava usando.
— Isso não é um sutiã. É uma ilusão de ótica. Scarlet caiu na gargalhada e baixou o zíper novamente.
— Isto é real. Só está um pouco melhorado.
Ela se afastou para admirar o seu trabalho e fez um sinal para o fotógrafo.
— Estamos prontos, Nick. — Depois se voltou novamente para Jessie. — Vá caminhando em direção a ele e pense em coisas picantes.
Coisas picantes. Essa era a primeira coisa fácil que lhe pediam hoje.
Cade McMann decididamente era muito picante.
— Queixo erguido, ombros para trás. Pense em algo provocante — ordenou Scarlet.
Cade McMann.
Scarlet jogou os longos cabelos de Jessie por sobre os seus ombros.
— Continue caminhando em direção a Nick — disse ela, enquanto saía de quadro. — Empine o peito. Olhe para a rua e pense em algo bem pecaminoso.
Cade McMann.
Jessie pôs-se a pensar no sorriso de Cade. Nos seus olhos brilhantes. Na sua boca incrível.
E então tropeçou numa pedra na calçada.
O objeto de suas fantasias estava logo ali, de braços cruzados e um amplo sorriso no seu rosto.
— Isso é o que eu chamo de uma cor carismática! — disse Cade caminhando na sua direção e olhando-a da cabeça aos pés e então novamente para o seu decote.
Jessie sentiu um calor tão forte na parte de baixo do corpo que pensou que a calça de couro que estava usando iria derreter.
— Quando você publicar essa foto, Scarlet — disse ele, aproximando-se de Jessie e comendo-a com os olhos — , as vendas de zíperes vão bater todos os recordes e o amarelo vai virar a cor da estação.
Jessie perdeu a fala. Olhou para Cade com o coração mais acelerado do que mil cavalos em disparada sobre a pradaria do Colorado. Ele a fitou no fundo dos olhos por um bom tempo até ela se lembrar de que havia deixado os óculos lá em cima.
O olhar de lobo de Cade a engoliu por inteiro, fazendo todo o resto desaparecer. Ele se inclinou em direção à sua orelha e sussurrou:
— Você está parecendo uma abelha prestes a picar a mais insuspeitada das vítimas.
Ela sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha e riu, lançando-lhe um olhar provocante, enquanto a câmera de Nick não parava de trabalhar.
— Saia do quadro, Cade! — gritou Scarlet. — Nós estamos tentando fazer uma foto.
— Não se preocupe, Scarlet — disse Nick, de longe. — Eu já consegui o que queria. Você vai adorar.
Cade seguiu para a editora e, no caminho, pediu a Scarlet que desse o suéter a ela de presente.
Jessie observou-o entrar no edifício. Seus ombros largos preenchiam praticamente toda a passagem, e seu cabelo dourado roçava a parte de trás de seu paletó.
— Maravilhosa! — exclamou Scarlet, analisando a foto na câmera digital. — Venha ver, Jessie.
Nick havia flagrado Cade inclinando-se como se fosse beijar o cabelo de Jessie, olhando diretamente para seus seios.
— Olhe só a sua cara! — exclamou Scarlet, cutucando Jessie.
Nick havia capturado o seu olhar provocante, flertando com Cade, e o olhar de desejo no rosto dele. Era uma fotografia perfeita para a "Cor & Charisma".
— Não se esqueça de disfarçar os rostos — disse Jessie.
— Você só pode estar brincando! — reagiu Scarlet. — Isso é só para nos proteger de questões legais. Você pode assinar uma autorização de uso de imagem. Esta fotografia está muito sensual. Se eu não a conhecesse tão bem, acharia que está desperdiçando o seu talento como atriz. Você parece completamente apaixonada por Cade nessa foto.
— Eu fiz algumas aulas de teatro na faculdade — disse ela.
Só não disse que mal havia passado no curso. E que aquilo não era representação. Ela estava realmente apaixonada.
Cade foi até a janela e ficou tentando ver o que se passava lá embaixo. Não conseguia tirar a imagem de Jessie da cabeça, com suas curvas sinuosas recobertas pelo tecido amarelo, seus cabelos castanhos ao vento e seus olhos verdes fixos nos dele enquanto flertavam um com o outro.
A mesma mulher vibrante que o havia beijado na noite passada durante a sobremesa... e no táxi... e na porta de sua casa. Ela era muito jovial e muito atraente também.
Cade estava completamente encantado por ela. O que será que ela tinha que o deixava daquele jeito?
Ele olhou para as flores lá embaixo.
Como é que ele podia ter feito aquele mesmo caminho todos os dias sem notar os lilases durante a primavera?
Eu até uso um perfume com esse cheiro de vez em quando.
A voz inconfundível de Chloe na comunicação interna interrompeu seus devaneios.
— Fin está esperando na sala de reuniões.
Droga! Ele olhou para o relógio e percebeu que estava dez minutos atrasado.
— Eu já estou indo.
Cade pegou o arquivo que estivera analisando no dia anterior, pouco antes de Jessie Clayton entrar em seu escritório e recusar a função de sombra de Fin.
Sua investigação da noite anterior não lhe havia revelado muito a respeito das razões de Jessie Clayton para evitar Fin. Ele tentara lançar mão de seu poder de sedução, mas o feitiço acabou virando contra o feiticeiro.
Ele tinha se esquecido de seu intuito inicial e só conseguia pensar no quanto havia gostado de passar aquela noite com uma jovem tão charmosa, doce e viva, que falava sobre flores.
Droga! Aquilo não parecia coisa dele. Cade não conseguia se lembrar da última vez em que havia se divertido tanto. Ao sair do táxi esta manhã e vê-la na i rua com o cabelo ao vento, aquela roupa aderindo às suas curvas e sua expressão perdida em algum tipo de fantasia...
Ele ligou para Chloe e pediu que ela avisasse a Fin que ele ainda tinha que dar um telefonema. Sabia que, se não agisse rápido, acabaria tendo tempo para pensar no que estava fazendo e desistiria da idéia. Ele podia até tentar se convencer de que estava apenas tentando conhecer Jessie Clayton melhor por razões profissionais, mas sabia muito bem que aquela era uma desculpa para passar um pouco mais de tempo ao seu lado.
Assim que conseguiu o que queria, Cade pegou os arquivos e saiu em disparada para a sala de reuniões. Usou a entrada do corredor para dar uma olhada nos cubículos e ver que Jessie não estava. Talvez estivesse no Grande Armário se trocando, baixando o zíper daquele suéter até deixar ver a renda...
— Terra chamando McMann.
Ele se voltou para a porta da sala de reuniões ao ouvir a voz impaciente de Fin.
— Desculpe-me, Fin — disse ele. — Eu só estava checando o movimento. Hoje é sexta-feira, e o pessoal costuma ficar um pouco exaltado.
Sentada na ponta da mesa, Fin afastou uma mecha de seu cabelo castanho e lhe lançou um sorriso que fez seus olhos brilharem como esmeraldas.
— Quem parece exaltado é você, Cade.
— Ora, Fin, por favor!
Ele puxou uma cadeira para si e jogou os arquivos sobre a mesa, olhando para a parede na qual as primeiras páginas da edição de janeiro haviam sido expostas para serem revisadas pela equipe.
— Nossas vendas não andam muito bem.
Ela franziu a testa e abriu os arquivos, analisando-os.
— Não é nada de desesperador, mas talvez fosse melhor você agendar uma reunião com Liam.
— Eu já fiz isso.
Fin desviou os olhos dos papéis e olhou novamente para Cade, sem qualquer resquício do brilho anterior.
— Nós vamos ganhar essa disputa, não é, Cade?
— Claro — disse ele, com total confiança. — Você merece isso, Fin, e nós temos capacidade para chegar lá. Fomos os líderes na marca dos seis meses, c se não cometermos nenhum erro de agora até o final do ano, sairemos vitoriosos. Ela assentiu.
— Nós temos de nos concentrar nas nossas tarefas. Ela tinha razão. Não era hora de flertar com estagiárias sob o pretexto de descobrir suas intenções secretas. A presidência da editora era o prêmio máximo que Fin, uma workaholic assumida, viciada em sucesso, desejava mais do que qualquer outra coisa na vida.
Patrick Elliot, porém, não baseava suas decisões nos desejos de quem quer que fosse. A ele só importavam os lucros, por isso, o prêmio seria dado ao Elliot-chefe que obtivesse o maior rendimento durante o uno. Cade ansiava por aquela honra tanto quanto Fin, não só porque aquilo significaria uma promoção automática, mas também porque ele a respeitava e admirava e acreditava que a editora não poderia ficar em melhores mãos.
Cade a avaliou enquanto ela analisava novamente o arquivo. Havia sempre uma certa tristeza em sua expressão. Todo seu empenho no trabalho parecia, na verdade, uma tentativa de aliviar seu sofrimento. Sua relação com os pais era extremamente tensa, especialmente com Patrick. De todos os irmãos, somente Shane, seu irmão gêmeo e editor-chefe da Buzz, parecia ter uma relação mais próxima com ela.
— Você vai ser um excelente editor-chefe quando eu assumir a presidência, Cade. Não posso imaginar ninguém mais qualificado para o cargo.
— Obrigado, Fin. Nós somos uma grande equipe e vamos conseguir.
Fin passou então a uma minuciosa revisão de todos os dados listados.
Como de costume, fez uma série de perguntas, raramente se contentando com a primeira resposta obtida.
— Eu vou conversar com Liam — disse Cade, após a análise do balancete.
— Sim, mas, enquanto isso, mantenha as rédeas curtas com a edição de janeiro. Muita coisa pode acontecer nesses quatro meses.
— Eu sei — concordou ele. — Podemos passar para as contratações?
Eles se puseram a analisar as atribuições de cada função relacionada. Ao chegar ao último item, Fin perguntou:
— Não está na época de escolhermos um estagiário para me acompanhar no trabalho?
— Talvez não seja uma boa idéia manter alguém tão próximo a você no momento. Algumas das suas reuniões deste mês vão tratar de assuntos extremamente delicados.
— Nós poderíamos contratar alguém por meio período — sugeriu ela. — Eu agendarei as minhas reuniões para a parte da tarde.
— Está bem.
Ela olhou para a lista dos cinco estagiários.
— Você já escolheu alguém?
— Eu ainda estou fazendo algumas entrevistas.
— Mas quem é o seu favorito no momento?
Por que mentir? Ela era a sua favorita, por diversos motivos.
— Jessie Clayton.
Fin ergueu a sobrancelha.
— Nós já conversamos sobre essa moça. Parece que ela tem feito de tudo para me evitar. Você já descobriu por quê?
— Ainda não. Scarlet lhe passou uma incumbência importante para a edição de março, e eu não sei se ela vai conseguir conciliar as duas funções.
— Eu gosto do trabalho dela e Scarlet sempre elogia as suas idéias de layout e de design — disse Fin.
Mas você disse que iria investigá-la.
— Eu chequei o passado dela. Não sei por que ela a está evitando, mas sei que está fazendo um ótimo trabalho aqui na revista.
— Nenhum outro estagiário é tão bom quanto ela,disse Fin, olhando novamente para a lista. — Ela parece ser inteligente e bastante popular.
E cheira como um jardim na primavera. Cade pigarreou e pegou o arquivo das mãos de Fin.
— Eu vou escolher o melhor estagiário para você até a semana que vem.
Fin se deu por satisfeita e começou a guardar suas coisas. Mal eles saíram da sala e um coro de "oohhhs" e "aaahss" femininos irrompeu do corredor.
Cade viu a recepcionista carregando um buquê gigante de lilases e teve de conter um sorriso. Deu mais alguns passos para conseguir ver o impagável olhar no rosto de Jessie quando o vaso foi colocado sobre a sua mesa.
— Nossa! — disse Finola por trás dele. — Parece que a nossa estagiária tem um admirador.
— Não é de surpreender — comentou ele, num tom propositadamente casual, enquanto Jessie abria o cartão. — Ela é uma jovem muito bonita.
Fin olhou para Jessie cuja risada contagiante estava quase sufocada pelos comentários e brincadeiras de seus colegas.
— É difícil dizer. Ela nunca tira aqueles óculos.
Jessie balançou a cabeça quando alguém tentou tirar o cartão de suas mãos, segurando-o com força contra o peito.
Olhou então para o corredor, em direção à sala de reuniões, direto para ele, que foi o único a notar o seu imperceptível meneio de cabeça.
Finola ainda estava na mesa de sua assistente, checando algumas mensagens.
— Vai fazer alguma coisa nesse fim de semana, Cade?
— Para falar a verdade, eu tenho um encontro esta noite.
Ela olhou para ele, curiosa.
— Alguém especial?
— Muito.
Ele não conseguiu tirar aquele sorriso do rosto, mas Fin foi suficientemente elegante para não insistir no assunto.
Jessie atravessou a Rua 57 com outros intrépidos nova-iorquinos. O táxi que vinha em sua direção parou para deixá-la passar. Talvez fosse o seu suéter amarelo... ou a sua decisão.
Aquele pensamento a fez sorrir, algo que ela vinha fazendo com freqüência, desde a chegada do mais incrível buquê de lilases do mundo e de um bilhete de tirar o fôlego.
"Encontre-me no Columbus Circle as seis para desfrutar de um pouco de espaço a céu aberto e cavalos no melhor estilo nova-iorquino."
Lainie havia levado as flores para casa e, fazendo jus ao título de melhor amiga, nem sequer perguntou quem as havia enviado. Jessie não havia contado nada a ninguém da revista. Continuou trabalhando normalmente até o final da tarde e então trocou a blusa branca pelo suéter amarelo e agradeceu aos céus por ter ido trabalhar de calça preta naquele dia.
Vestida para um encontro que ela nem sabia que tinha, Jessie seguiu para o Columbus Circle no meio do agito do final de sexta-feira da cidade de Nova York.
Um grupo de dançarinos de break agitava uma multidão num canto, com a batida de hip hop guiando os passos determinados de Jessie. Seus olhos vagavam pelos transeuntes à procura de um belo homem de um metro e oitenta de altura, cabelos dourados e olhos verde-acizentados hipnotizantes.
Ela ouviu o som de patas de cavalos se aproximar por trás dela. Ainda não acostumada às carruagens que passeavam pelo Central Park, Jessie parou para admirar um elegante cavalo que puxava uma carruagem alta e vermelha. No comando, um jovem de smoking sorria amplamente para ela.
Ao ver Cade se inclinando para fora da janela, porém, Jessie perdeu o fôlego.
— Aqui está ela — disse Cade ao condutor, que imediatamente parou para que ele pudesse saltar.
Pela segunda vez naquele dia, ela estava parada, sem fala, diante dele.
Ele indicou o cavalo com um meneio.
— Foi o que eu consegui de mais parecido com o Oscar por aqui.
Ela só conseguiu rir, balançar a cabeça e pegar na mão dele.
— Você é demais.
Ele a ajudou a subir, disse algo em voz baixa para o condutor e então se colocou ao seu lado, bem pertinho.
— Eu não quero correr o risco de você ficar com tanta saudade de cavalos e de lugares abertos a ponto de voltar para o Colorado.
Ela respirou fundo, sentindo o cheiro familiar de cavalos misturado ao de Cade.
— Seu plano maquiavélico está funcionando direitinho — confessou ela com um suspiro. — Muito obrigada.
— De nada. — Seu olhar recaiu sobre o zíper que não estava nem de longe tão baixo quanto Scarlet havia querido esta manhã.
— Vejo que ficou com o suéter.
E com o sutiã mágico também, que, a julgar pela expressão do rosto de Cade, continuava criando ilusão de ótica.
— Scarlet disse que eu fiz por merecê-lo depois da minha atuação improvisada como modelo.
Ele passou-lhe o braço por trás e aproximou o rosto do rosto dela.
— Você estava maravilhosa esta manhã. E ainda está.
Mais uma vez, uma onda de calor atravessou todo o seu corpo.
— Obrigada.
— Você também parecia enxergar muito bem.
Ela se retraiu e olhou para ele, piscando várias vezes.
— Como?
— Eu estava havia pelo menos quatro metros de distância quando você me avistou na rua. — Ele lentamente deslizou os óculos pelo seu nariz. — Você não precisa disso, senhorita Clayton.
Havia algo de muito íntimo no modo de ele tirar seus óculos. Algo de extremamente sensual no fato de estar tão perto dele sem que nada se interpusesse entre os dois. Ela estava sendo cautelosa demais. Ele ia olhar para ela de repente e exclamar: "Você tem os olhos de Fin!"
— Eu os uso como um acessório — disse ela suavemente, fechando os óculos e guardando-os no bolso do paletó. — Mas posso tirá-los para você — disse, com um sorriso malicioso.
Cade piscou charmosamente para ela.
— Eu me sinto muito honrado. Você gostaria de um pouco de champanhe?
Ele pegou uma cesta de vime que estava escondida debaixo do assento onde havia uma garrafa de champanhe no gelo, duas taças e alguns contêineres cobertos.
— Nós estamos comemorando alguma coisa? — perguntou ela, pegando a taça que ele havia lhe estendido.
— A sexta-feira à noite? Aos cavalos e aos espaços abertos? — Ele verteu algumas gotas do líquido dourado na taça, que borbulhou como o sangue que corria em suas veias. — Você pode escolher.
— Acho que gostaria de comemorar o quanto você está diferente.
— Diferente?
— Você está tão relaxado aqui fora — provocou ela. — É como se tivesse abandonado o papel de chefe lá na Charisma e fosse apenas um cara normal.
Um cara normal, divertido, sexy, intrigante, muito bonito, e que tinha feito tudo aquilo por ela. Essa percepção fez seu coração bater com mais força do que as patas dos cavalos contra o chão.
— Ao que vai ser Jessie?
— Aos caras normais e surpreendentes.
Eles brindaram. As bolhas do champanhe fizeram cócegas em seu nariz e em seus lábios. Tudo aquilo parecia mágico e irreal.
— Quando foi que você organizou tudo isso? — perguntou Jessie.
— Esta tarde.
— Logo depois de ter encomendado os lilases?
Ele sorriu.
— Eu não pude resistir.
Ela olhou desconfiada para ele.
— Eu não sou tão irresistível assim, nem mesmo no meu suéter de abelha.
— Eu decido o que acho irresistível ou não — disse ele, recostando-se no assento de couro. — Você despertou o meu interesse por cavalos e ar fresco.
— Imagino que você nem queira saber o quanto eu sinto falta dos búfalos.
Ele riu e passou o braço em torno dela, puxando-a um pouco mais para perto.
— Também não vamos exagerar.
O Colorado parecia tão distante, mas, pela primeira vez em quase seis meses, Jessie pareceu não se importar com isso.
Uma hora depois, após terem passado pelos carros e pelo rinque de skate, o condutor parou num parque verdejante, anunciando que haviam chegado ao Sheep Meadow. O sol estava se pondo, tingindo a copa das árvores de um tom laranja avermelhado. No amplo campo verde, dezenas de casais, famílias e grupos de amigos desfrutavam da deliciosa noite no parque.
Eles estenderam uma toalha num lugar vazio.
Ele vai voltar daqui a pouco — disse Cade, indicando o condutor. — Você está com fome?
— Morrendo. O que é que tem aí nessa cesta?
— Não faço idéia. Eu encomendei a cesta completa de uma delicatessen perto do escritório.
Eles abriram os embrulhos um a um. Havia petiscos de camarão, frango assado, pães frescos e até morangos cobertos de chocolate. Puseram-se então a falar de Nova York e do quanto era difícil — ou, no caso de Cade, fácil — acostumar-se a essa cidade.
— Depois que eu comprei o meu apartamento, soube que ia ficar aqui para sempre.
— Onde é que você mora? — perguntou Jessie.
Ele apontou com a cabeça em direção ao sul.
— Columbus Circle.
— Numa daquelas torres novas?
Ele assentiu e lhe ofereceu um camarão.
— Não é enorme — disse ele. — Mas fica no vigésimo nono andar e tem uma vista indescritível.
Ela olhou na direção dos prédios, conseguindo enxergar apenas seu topo.
— Isso lhe dá a sensação de viver no ar? Rindo, ele deu uma mordida no seu petisco.
— Não, eu tenho um chão e paredes. Quer ver? Ela sentiu um calor lhe subir pelas faces.
— Está me convidando para ir ao seu apartamento? Ele capturou o seu olhar com uma expressão séria.
— Só se você quiser.
Ela não disse nada por um momento, presa ao reflexo daqueles olhos verde-acinzentados, incapaz de desviar o olhar.
— Cade, isto por acaso é um encontro?
Ele tocou a ponta de seus lábios, fazendo-a experimentar um pouco do molho que havia em seu dedo.
— É. Pelo menos ele era honesto.
— Por quê?
— Por quê? — Ele teve que rir.
— Porque eu gosto de você.
— Mas por quê?
— Você quer um espelho? É muito fácil compreender por quê.
— Eu sei muito bem que você não sai com ninguém na Charisma. Venho observando você há meses.
— Verdade? — disse ela em tom de provocação — Então somos dois, porque eu também venho observando você este tempo todo. — O que eu não compreendo — disse ela, medindo as palavras — é por que alguém tão profissional como você decidiria romper com todas as regras de uma hora para outra e namorar uma estagiária.
— Não existe nenhuma regra proibindo o namoro entre os funcionários da editora. Isso, na verdade, depende de cada chefia, que, no caso, sou eu.
— E você ficou tão atraído que decidiu me convidar para sair?
— Jessie — disse ele, já um pouco exasperado — Você faz perguntas demais. Parece até a Fin.
Aquelas palavras lhe causaram um arrepio na espinha
— Pareço?
— Ela sempre quer chegar até o fundo de tudo — disse ele, mergulhando um camarão no molho e estendendo-o para Jessie. — Aliás, ela perguntou por você hoje.
Toda a sua confiança desapareceu como que por encanto. Será que ele sabia? Será que Fin sabia?
— Sério? E por que ela se importaria com uma simples estagiária como eu?
— Fin gosta de conhecer todos os que trabalham na Charisma, profissional e pessoalmente. É um dos segredos do seu sucesso.
— O que ela queria saber?
— Se você ia ser a sombra dela este mês.
Jessie tentou se manter ocupada, abrindo uma garrafa d'água.
— E o que foi que você respondeu?
— Que eu estava avaliando os candidatos.
Ela se deteve.
— Você não disse a ela que eu não tinha aceitado a função?
— Não.
Ele pegou a garrafa de suas mãos e a abriu com facilidade.
— Eu fiquei de dar uma posição na semana que vem.
Jessie tomou um bom gole d'água, deixando que o líquido lhe refrescasse a garganta repentinamente seca. Como ela poderia namorar Cade sem lhe revelar um segredo tão importante?
— Ela acha que você a evita de propósito.
Jessie engasgou.
— Você está bem? — perguntou Cade, batendo gentilmente em suas costas.
— Estou — respondeu ela, para então tossir novamente. — A água desceu pelo lugar errado.
Ele deslizou a mão pelas suas costas e puxou-a para porto de si delicadamente.
— De verdade? O quê? Como se ela não soubesse.
— É verdade que você a está evitando de propósito?
Um milhão de respostas passou pela cabeça de Jessie. De todas, porém, a única que ela jamais daria era a verdadeira. A única solução que encontrou para não mentir foi evitar o assunto por completo.
Ela se virou para ele lentamente e tocou seu rosto, fazendo seus olhos escurecerem.
— Você me faria um favor?
Cade a olhou como se ela pudesse lhe pedir a lua, mas apenas concordou com a cabeça.
Ela desfez as suas rugas de preocupação com a ponta dos dedos.
— Já que decidimos oficialmente que isto é um encontro, poderíamos não falar de trabalho?
Ele inclinou a cabeça para beijar-lhe a ponta dos dedos, ainda sustentando seu olhar.
— Como você quiser.
— Obrigada — disse ela. — Por tudo. Os lilases, os cavalos e o espaço. Você matou todas as minhas vontades.
— O prazer foi todo meu — disse ele, baixando o rosto até sua boca.
Os lábios de Cade se apossaram dos dela, e Jessie se entregou à emoção do momento sem reservas.
— Você está com gosto de morango — disse Cade, entre um beijo e outro, já sentado novamente na carruagem.
— E você está com gosto de chocolate — disse Jessie, fechando os olhos e beijando-o mais uma vez com um leve gemido.
Ele a puxou para si, ciente de que o passeio já estava quase terminando. A noite, porém, ainda não.
Os dois haviam permanecido agarradinhos no conforto do banco de couro da carruagem, torturando um ao outro com beijos longos e molhados.
Cade estava enlouquecendo de desejo. Queria mais, muito mais, embora ainda não a tivesse tocado. Pelo menos não como gostaria.
Ainda não havia puxado o zíper preto do seu suéter até abri-lo por completo. Ainda não a havia colocado em seu colo com as pernas afastadas em torno de seus quadris, nem deslizado a mão pelas suas costas para puxá-la para si, pressionando o corpo dela contra o seu para que ela pudesse sentir exatamente o quanto ele estava excitado.
Sua respiração estava ofegante, suas mãos ardiam de desejo de tocá-la, mas ele se conteve e mandou o condutor parar.
Jessie olhou para fora para ver onde eles estavam.
— Eu posso pegar o metrô aqui.
Cade pagou o cocheiro e olhou incrédulo para ela.
— Você não vai pegar o metrô a esta hora — disse ele, ajudando-a a descer.
— Está bem. Eu pego um táxi.
Assim que os cavalos se afastaram, ele a puxou para um abraço longo e íntimo.
— Não vá — sussurrou ele, junto aos seus cabelos.
Ela se inclinou para trás e olhou para ele. O desejo e a excitação estampados em seus olhos eram os mesmos presentes nos dele.
— Cade — disse ela. — Você é o meu chefe, e eu sou apenas uma estagiária.
Ele colocou um dedo sobre os seus lábios.
— Você me fez prometer que nós não falaríamos de trabalho.
— Sim, mas agora...
— Agora o quê?
— Agora é hora de dar boa-noite.
Ele beijou sua boca, deslizando a língua pelos seus lábios e dentes até acabar com qualquer resquício de sobriedade e razão da parte dela.
— Por favor, Jessie. Você também não quer ir embora.
Sua única resposta foi gemer suavemente e enroscar-se com mais força em seu pescoço. — Isso foi um sim?
Ela fechou os olhos e concordou com a cabeça.
Cade não lhe deu chance de mudar de idéia. Nem a ela, nem a ele mesmo, embora naquele exato momento, ele não estivesse nem um pouco propenso a ficar se controlando para não cometer erros. Virando-a ainda em seus braços, ele a conduziu em direção ao seu prédio, passando os dedos pela trança grossa que pendia sobre as suas costas.
— Ainda bem. Eu acho que ia morrer se não visse o seu cabelo solto novamente.
Sem dizer uma palavra, ela atravessou o amplo e suntuoso lobby de mármore em direção aos elevadores.
Cade não perdeu tempo e a abraçou assim que se viram sozinhos no elevador.
— Jessie — disse ele com a voz rouca, enquanto se aproximava dela para beijá-la. — Você tem mesmo certeza de que quer ficar?
Ele estava preparado para qualquer resposta, disposto mesmo a recuar e colocá-la num táxi se ela decidisse voltar para casa.
— Eu quero ficar.
Aquela declaração simples e direta teve efeito fulminante sobre ele. Ele a beijou longamente ali mesmo, no elevador, e depois no corredor, outra vez mais na porta de casa e outra ainda quando eles finalmente entraram.
Cade a prendeu contra a parede e invadiu a boca de Jessie com a língua. Ela a sugou em resposta, enquanto suas mãos passeavam sob seu paletó, tão ávidas por tocá-lo quanto ele a ela.
Ele começou a enfiar os dedos por entre as mechas grossas da trança de Jessie.
— Seu cabelo é lindo — sussurrou ele, salpicando beijos em seu pescoço. — Você é linda.
Quando a trança finalmente se desfez por completo, ele jogou os cabelos de Jessie sobre os ombros dela, deixando que eles caíssem sobre seu peito. Continuou acariciando as mechas e cobriu os seios dela com as palmas de suas mãos.
Cade sentiu os bicos dos seios dela enrijecerem sob o suéter. Jessie ofegava por entre os lábios abertos.
— Quero ver você nua — disse ele em meio a um beijo, finalmente segurando a ponta do zíper que a estilista havia acrescentado àquele suéter só para atormentar os homens. — Eu não pensei em outra coisa o dia inteiro.
Quando começou a se abrir o zíper, ela arqueou o corpo, sentindo toda a extensão da ereção de Cade e oferecendo-lhe os seios. Uma alça do sutiã preto despontou sob o suéter.
Aquela visão deixou-o de garganta seca.
— Cortesia do Grande Armário — disse ela, rindo calorosamente.
Traçando um caminho de beijos por seu pescoço, ele mergulhou entre os seios de Jessie, deslizando a língua pela pele clara, sedosa e feminina.
— Lembre-me de agradecer a Scarlet.
— Não se atreva — disse ela, arfando.
Cade riu e baixou ainda mais o zíper, para então puxar o suéter para baixo.
Ele traçou o contorno da renda preta com a língua, levando-a à loucura.
Jessie ficou na ponta dos pés para se oferecer ainda mais a ele.
Cade deslizou o dedo por sobre o tecido sedoso do sutiã, acariciando-lhe o bico do seio.
— Cade... — Sua voz estava rouca de desejo. — Poe favor, eu mal consigo ficar de pé.
Jessie não precisou dizer mais nada. Ele a ergueu em seus braços e a carregou para o quarto sem parar de beijá-la. Depois deitou-a sobre a cama e Jessie o puxou para cima dela.
Num entrelaçamento de mãos selvagens e famintas, Cade tirou o suéter e a calça de Jessie, deixando-a apenas de sutiã e calcinha de renda preta com os cabelos espalhados pela cama.
— Eu não posso acreditar nisso — disse ele, com a voz rouca de desejo e ansiedade. — Você é ainda mais linda do que eu tinha imaginado.
Ela sorriu hesitante enquanto abria a camisa dele.
— Você tinha imaginado?
Cade fechou os olhos e deixou que ela terminasse de abrir os botões de sua camisa para então tirá-la de vez. Ele se deitou ao lado dela e a puxou pela cintura fina para virá-la em sua direção, respirando profundamente, tentando conter o desejo.
Ele sabia que em pouco tempo estaria dentro dela, como havia sonhado tantas vezes. Antes, porém, queria que ela soubesse que aquilo não era um simples I caso entre colegas de trabalho.
— Ouça — disse ele. — Quero que você saiba de uma coisa antes de fazermos amor. |Jessie olhou para ele no escuro, com os olhos arregalados e os lábios afastados.
Ele podia sentir o seu coração batendo loucamente, fazendo todo o seu corpo pulsar com a mesma intensidade.
— Você chamou a minha atenção no momento em que entrou no escritório para a entrevista — disse Cade, lembrando-se da primeira vez em que havia sentido aquele cheiro de primavera invadir sua sala e visto os olhos verdes de Jessie Clayton. — Eu me lembro bem da palavra quê me veio à mente quando a vi pela primeira vez.
— E qual foi?
— Frescor. — Ele ergueu o rosto dela para olhar em seus olhos enquanto compartilhava as suas lembranças. — Você é muito diferente das outras mulheres, que eu conheci. Você é tão...
Cade acariciou-lhe a pele, deslizando um dedo sobre o seu belo seio, subindo pelo colo que havia habitado os seus pensamentos desde que ele a tinha visto na rua esta manhã.
— Você me deixa à vontade — admitiu ele.
— Engraçado, você provoca o efeito exatamente contrário em mim.
— É mesmo? — perguntou ele, estreitando um pouco mais o abraço.
Ela sorriu.
— Eu fiquei muito nervosa durante aquela entrevista.
— Por quê?
— Porque eu achei você o homem mais sexy que tinha visto na vida.
Ele quase engasgou.
— Verdade?
— É muito desconfortável ficar assim tão... — Ela pressionou os quadris contra o corpo dele e passou-lhe a perna em torno da cintura — excitada durante uma entrevista.
— Meu Deus! — murmurou ele, enterrando o rosto em seu colo e deitando-a suavemente de costas. — Se eu soubesse, teria...
Ele abriu o fecho da frente do seu sutiã. Depois tirou a peça por completo, deixando os bicos rosados e enrijecidos de seus seios à mostra, prontos para serem tomados pelos seus lábios. ...feito isso...
Jessie respirou fundo quando ele começou a sugar um de seus seios enquanto acariciava o outro.
Ela gemeu, rendendo-se aos seus carinhos, contorcendo-se por inteiro. Com a boca ainda em seu seio ele passeou com a ponta dos dedos pelo seu estômago até alcançar os quadris, que se moviam involuntariamente em resposta à intensa excitação.
— Continua se sentindo muito desconfortável, querida? — provocou ele, avançando por dentro da renda da calcinha.
— Demais.
Ele deslizou a mão ainda mais para baixo, roçando os seus pêlos até chegar ao centro quente e úmido de sua feminilidade.
— Eu poderia morrer assim — disse ela, sem ar.
Ele inseriu um dedo dentro dela, fazendo saltar um gemido de prazer do pescoço quente que ele beijava avidamente.
— Eu não quero que você se sinta desconfortável — sussurrou ele em seu ouvido, mordendo o lóbulo de sua orelha enquanto a estimulava com seu dedo.
Ela balançou a cabeça, incapaz de falar, completamente arfante.
Cade beijou todo o seu corpo, traçando um caminho até onde a estava tocando, ansioso e faminto por sentir o seu sabor, louco para deixá-la selvagem, insana e desesperadamente fora de si.
Ele puxou a sua calcinha para baixo e Jessie enterrou os dedos em seus cabelos, guiando a sua cabeça, e tremeu ao sentir a língua dele tomar o lugar de suas mãos, sussurrando o seu nome.
Ela sussurrou seu nome ao sentir a respiração quente de Cade.
Ela segurou a cabeça dele com força, enlouquecida, enquanto ele a lambia, adorando vê-la gemer e se contorcer até finalmente estremecer desesperadamente num longo e doce clímax.
Cade conseguiu tirar a própria roupa em meio aos beijos na parte interna das coxas de Jessie e as leves mordidas no declive do seu estômago, passando em seguida para a base dos seus seios, até alcançar-lhe o pescoço.
— Ainda está desconfortável? — provocou ele.
Ela riu em meio a um suspiro.
— Não tanto quanto você vai ficar agora.
Jessie fechou as mãos em torno da sua ereção e o acariciou, sentindo-o intumescer e vibrar imediatamente em reação ao seu toque.
Cade se deixou cair na cama, sentindo uma forte descarga de prazer percorrer todo o seu corpo. Ela salpicou beijos por todo o seu corpo, deixando seus cabelos longos e sedosos tocarem o peito e o estômago de Cade ao aproximar intimamente o rosto de seu membro e tomá-lo na boca.
Ele grunhiu em êxtase, sentindo todo o corpo se incendiar. Os lábios de Jessie pareciam luvas de seda. Suas mãos se mantinham firmes e incansáveis em torno dele, pressionando-o e acariciando-o enquanto ela o sugava e lambia até ele quase gritar como um louco.
— Venha cá, Jessie.
Ela subiu pelo corpo dele, deixando um rastro de beijos pelo caminho.
Seus lábios estavam salgados e macios. Ele estendeu o braço até o criado-mudo, pegou uma camisinha e a colocou, sem interromper o longo beijo que se seguiu.
Ansiando pelo calor que ele sabia que encontraria dentro dela, Cade se posicionou sobre ela, que ergueu os quadris permitindo que ele deslizasse lentamente para dentro dela. O prazer tomou conta dos traços de Jessie e o fluxo de sangue enrubesceu a sua pele, enrijecendo também os mamilos.
Ela sussurrou o nome dele e o puxou para um beijo, arqueando o corpo para abrigá-lo ainda mais fundo dentro de si. Enroscou então as pernas em torno dos seus quadris, fazendo-o arfar, sem conseguir acreditar no calor e no desejo selvagem que ela despertava nele.
A cada nova investida, ela repetia o seu nome, desejando senti-lo por inteiro dentro de si, cravando as unhas em suas costas. Ele foi tomado de um prazer inebriante, perdido dentro do corpo daquela mulher tão doce e intensa.
Ao senti-la tremer convulsivamente, ele se entregou de vez àquela tempestade de sensações e gozou profunda e intensamente dentro dela.
Eles passaram um longo tempo em silêncio, nos braços um do outro, até recuperarem o fôlego. Cade se afastou um pouco para olhar para a mulher com quem acabara de fazer amor.
Seu cabelo estava completamente despenteado e seus olhos eram grandes piscinas do verde mais bonito que ele já havia visto. Ela era estonteante.
— Se eu lhe fizer uma pergunta pessoal, você promete me dizer a verdade?
Aquilo a fez sorrir.
— Se você não puder confiar em mim assim nua, lânguida e completamente relaxada, nós estaremos provavelmente encrencados.
— Você está certa. — Ele se apoiou sobre um cotovelo e começou a brincar com alguns fios de seu cabelo. — Eu realmente preciso saber uma coisa sobre você.
— O que é, Cade?
— Por que é que você esconde os seus olhos e os seus cabelos?
A pergunta de Cade a aterrorizou.
— Como? — perguntou ela, tentando ganhar tempo.
— O que é que você está escondendo?
Ela tentou rir como se aquela fosse uma pergunta completamente ridícula.
— Eu pareço estar escondendo alguma coisa? — perguntou ela, exibindo o corpo nu.
— Eu quero dizer na editora.
— Nós combinamos não falar de trabalho, lembra?
— Eu só acho que uma mulher tão bonita como você deveria gostar de se exibir.
— Eu gosto do meu visual. Se você não acha...
— Eu gosto de você — retrucou ele, beijando a ponta de seu nariz para enfatizar o que estava dizendo. — Não dá para perceber?
Ela suspirou e esfregou as pernas nas dele.
— Dá, mas você não acha...
— Que as outras pessoas também vão perceber? — completou ele.
— Nós vamos ter de ser discretos. Nada de sexo no escritório.
— E na sala de reuniões? Ela teve de rir.
— Quem sabe no Grande Armário.
Eles riram e se enroscaram mais uma vez. Cade era o seu amante. Seu fabuloso amante.
— E Fin? A pergunta a trouxe de volta à Terra.
— O que tem ela?
— Ela vai descobrir.
— Você não precisa contar nada a ela.
— Não vai ser preciso. Ela é esperta, sabe de tudo. Nem tudo. Ela não sabe que eu sou a filha dela.
— Vamos tentar manter segredo. Pode ser que isso não dure
— Vai durar, sim — disse ele, abraçando-a.
Jessie ergueu o rosto lentamente até encontrar o olhar de Cade. Ele a beijou longamente, com uma intensidade que fez sua cabeça girar e seu corpo arder novamente de desejo.
A manhã de sábado se transformou na tarde de domingo. Jessie já passeava à vontade pelo apartamento de Cade, vestindo uma grande camiseta que ele lhe havia emprestado. Eles tomaram uma ducha, comeu uma omelete e fizeram amor a tarde toda.
À noite, pediram comida chinesa e assistiram a um filme na TV a cabo. Depois Jessie encontrou um álbum de fotografias numa das prateleiras da sala e "conheceu" a família de Cade em Chicago.
— As meninas brigavam muito entre si — disse ele apontando para as irmãs. — Por qualquer coisa. Sapatos, roupas, secador de cabelo. Isso sem falar no tempo que elas demoravam no banheiro.
— Deve ter sido divertido crescer numa família assim Cade. Eu só tive a companhia dos cavalos.
— Mas você tinha toda a atenção dos seus pais e o banheiro só para si. Seus pais não quiseram ter mais filhos?
Jessie engoliu em seco. Ela nunca havia mentido sobre as suas origens. Não fazia sentido esconder isso justamente dele.
— Eu sou adotada — disse ela, esperando pela sua reação.
Os olhos dele brilharam com a novidade.
— Verdade? Existe muita coisa que eu ainda não sei a seu respeito.
Ele sentiu o coração dela acelerar enquanto esperava pela próxima pergunta. Aquela que todos sempre faziam: "Você alguma vez quis procurar a sua mãe verdadeira?"
Antes que ele a fizesse, ela deslizou as mãos por baixo da camiseta dele e acariciou seu peito. Cade gemeu baixinho, deixando bem claro o quanto havia gostado daquela carícia. Ela roçou os dedos pela sua pele, até afundá-los no cós de seus jeans e tocar a ponta da ereção que parecia constante.
Cade se contorceu, dando início à dança já familiar aos dois. Ainda bem que era fácil distraí-lo. Ela mordiscou-lhe o queixo e então alcançou sua boca com um longo e apaixonado beijo.
Em minutos eles estavam tirando as roupas e cedendo à tentação de tocar e saborear um ao outro.
Nua e pronta para o amor, Jessie roçou os seios no peito largo e musculoso de Cade, sentindo os seus pêlos dourados arrepiarem a pele dele. Ele agarrou os quadris de Jessie com as mãos fortes e a guiou em direção à sua ereção.
Ela fechou os olhos quando ele a penetrou e jogou a cabeça para trás, quando a força de suas investidas alcançou a parte mais profunda e íntima do seu corpo.
— Você não me deixou concluir o meu raciocínio - disse ele suavemente.
Ela arregalou os olhos, sem conseguir acreditar que ele tinha voltado àquele assunto, justamente na hora em que eles estavam...
— Eu sei o que você ia dizer — sussurrou ela, beijando sua bochecha. — Eu também estou feliz por ter sido adotada por um casal tão especial.
Ela esperava que aquele assunto terminasse ali, mas estava se sentindo muito mal por omitir coisas importantes dele.
Quando Cade chegou ao clímax, fazendo juras de amor, usando palavras doces e afetuosas, ela soube que teria de lhe contar a verdade se eles aprofundassem aquela relação.
E então tudo mudaria.
— Mas o que é isso? — perguntou Cade, batendo na porta do banheiro. — Você está vestida?
— Pode imaginar uma coisa dessas? — disse Jessie, rindo diante da incredulidade na voz dele. Ela puxou o zíper de seu novo suéter predileto e acrescentou: — Já são quase cinco horas da tarde. Eu preciso ir para casa para me organizar para o trabalho amanhã.
Cade esfregou a mão no queixo já levemente escurecido, embora ele tivesse feito a barba pela manhã, sob o olhar de Jessie. Aquele havia sido um momento quase tão íntimo quanto aqueles em que eles haviam feito amor.
— Acho que não vai dar para nós dois alegarmos alguma doença, não é? — disse ele, sorrindo. — As pessoas podem estranhar.
— Elas iam estranhar mesmo, pois como você deve ter notado, eu nunca faltei ao trabalho por motivos de saúde.
— Nem eu.
Ele se apoiou sobre o batente e a avaliou lentamente com um sorriso sensual.
Rindo, ela se virou para a cômoda para guardar os poucos produtos de maquiagem que trouxera consigo. Ao vê-la pegar a escova de dentes que ele lhe tinha dado, ele fechou suas mãos na dela.
— Você pode manter isso aqui.
Jessie olhou para o reflexo dele no espelho. Seu sorriso havia desaparecido.
— Tem certeza?
— É claro — disse ele, sustentando-lhe o olhar. — Eu já lhe disse que isso não é apenas um casinho rápido.
— Isso foi tudo, menos rápido — disse ela, com uma risadinha.
— Eu estou falando sério. — Ele apertou os olhos e segurou o pulso dela com mais força. — Eu quero que você volte. Muitas vezes.
Por um momento, ela não conseguiu dizer uma palavra. Vários pensamentos lhe passaram pela cabeça. De todas as perguntas que lhe haviam ocorrido, a única que saltou de sua boca foi:
— E Fin?
— Eu cuido dela — disse Cade. — Já lhe disse que não existem regras na editora referentes a relacionamentos entre funcionários.
— Mas eu sei muito bem que você não comete erros.
— Eu tento, é verdade. Mas isso não é um erro. Pode, no máximo, ser um pouco complicado. — Ele tirou a escova de dentes de sua mão e a recolocou no lugar, ao lado da sua. — E nós podemos lidar com as implicações.
Será que podiam mesmo? Ele nem tinha idéia do tipo de complicação que ainda estava por vir.
— Isso pode ser difícil.
Ele a virou para poder olhá-la diretamente nos olhos.
— Isso pode ser maravilhoso. — Sua voz estava tensa, e dessa vez não era de desejo. Ele tirou-lhe o cabelo do rosto, olhou para a sua boca e então para os seus olhos novamente. — Eu estou disposto a correr os riscos que forem necessários e a superar algumas implicações para ficar com você.
— Eu sou a mesma garota que era na semana passada. Você só me viu por trás das minhas lentes.
— E gostei muito do que vi. Ele beijou-lhe a testa e a puxou de encontro ao peito.
— Eu não sei como, Cade, mas você consegue me convencer a não ligar para as outras coisas.
— Você faz o mesmo comigo.
O interfone tocou.
— Cade? É Fin. Você está em casa?
Fin! Uma descarga de adrenalina deixou Jessie no estado de alerta.
— Falando em complicações... — Ele apertou o interfone para falar. — Estou aqui, Fin. O que houve?
— Eu estava a caminho do escritório e pensei em lhe deixar um balancete para você se preparar para a reunião com Liam. Posso subir?
Ele fechou os olhos por um segundo, balançando a cabeça.
— Ela nunca pára de trabalhar — resmungou Cade.
Jessie se desvencilhou de seus braços, certa de que ele poderia ouvir o bater do seu coração se ela não se afastasse. Terminou de guardar suas coisas com mãos trêmulas e passou por Cade.
— Eu não quero estar aqui quando ela subir. Por favor, Cade. Eu sou uma estagiária, e você é o chefe.
E Fin é a minha mãe verdadeira.
Jessie afastou aquele pensamento, tentando se concentrar em sair dali o mais rápido possível. Olhou ao redor apressadamente, à procura de sua bolsa.
Cade pousou uma mão firme sobre o seu ombro.
— Pare, Jessie. Eu vou levá-la até sua casa. Não quero que você saia fugida desse jeito.
— Eu não estou fugindo. Só não quero vê-la, Cade.
— Nós não estamos fazendo nada de errado. Somos livres e desimpedidos e gostamos um do outro. Muito.
Ela se soltou dele e foi até a porta.
— É que eu...
Ele a imobilizou com a intensidade do seu olhar.
— Será que você pode me dizer por que faz tanta questão de evitá-la?
— Eu não a evito! — Mentirosa, mentirosa! — Por que é tão difícil entender que uma simples estagiária não queira ser flagrada dormindo com um executivo da editora em que trabalha?
— Mas você sempre a evitou.
A campainha tocou e Jessie ficou entre a cruz e a espada.
— Vamos deixar uma coisa bem clara — disse nele. — Eu não tenho vergonha do que sinto por você.
A honestidade e a paixão daquelas palavras tocaram sem o seu coração. Aquilo não tinha nada a ver com vergonha ou o fato de eles gostarem um do outro, mas ele não sabia disso.
Jessie chegou a pensar em confessar tudo. Abriria a porta, se colocaria na frente de Fin e lhe diria em alto e bom som: "Eu sou sua filha."
Algo, porém, lhe dizia que seu mundo poderia desmoronar, justo agora, quando, pela primeira vez desde que ela havia chegado a Nova York, tudo parecia muito perfeito.
— Você pode ir embora se preferir, mas eu não vou escondê-la como se fosse uma qualquer. Tenho muito orgulho de você.
Sustentada por essas palavras, Jessie ajeitou os ombros e se postou ao lado de Cade, enquanto ele abria a porta.
Fin arregalou seus belos olhos verdes ao vê-la.
— Oh, olá, Jessie.
— Olá, Fin — disse ela, tentando o seu melhor sorriso — Eu j á estava de saída.
— Entre, Fin. Jessie, você pode ficar se quiser. Fin apenas veio me deixar alguns papéis.
Ela levantou um pouco mais sua bolsa e estendeu a mão em direção à porta.
— Obrigada, mas eu tenho mesmo de ir. Até amanhã, Fin.
Fin ainda estava processando a cena toda, mas era por demais educada para dizer qualquer outra coisa além de adeus.
— Eu já volto, Fin — disse Cade, acompanhando Jessie até o elevador de mãos dadas com ela. — Eu realmente preferiria levá-la em casa — disse ele a Jessie.
— Quem sabe numa próxima vez? Ela tocou no botão. Duas vezes.
— Não me venha com "quem sabe", Jessie — retrucou ele. — Vai haver uma próxima vez com certeza.
— É claro que sim, eu deixei a minha escova de dentes aí. — Ela lhe deu um abraço rápido quando a porta do elevador se abriu e sussurrou em seu ouvido: — Obrigada por ter me deixado tão à vontade.
Ela pôde ouvir o riso de Cade enquanto a porta se fechava, e foi só então que percebeu que seus óculos haviam ficado no bolso de seu paletó.
Fin ainda estava esperando na entrada, com uma expressão divertida.
— Eu estou pasma, senhor McMann.
— Fico feliz em saber que ainda posso surpreendê-la, Fin. Você trouxe os arquivos?
— Sinto muito, Cade — disse ela rapidamente. — Se eu soubesse que você estava, ah... ocupado, não teria passado por aqui.
Ele cruzou os braços e lhe lançou um olhar de advertência. Estava decidido a proteger a reputação de Jessie.
— Jessie é bem mais do que uma ocupação, Fin.
Ela olhou para Cade.
— Tudo bem, é só que...
— O quê?
— Uau!
Fin ergueu o arquivo, fingindo se defender.
— Não precisa ficar tão ofendido. É que ela é estagiária da Charisma, além de ser bem mais jovem do que você.
Ele teve de conter ainda mais sua irritação.
— Eu estou bastante familiarizado com as regras que regem a Editora Elliot, Fin, e sei que não há nenhuma que proíba o namoro entre os funcionários. Além disso, ela tem 23 anos, o que a faz apenas sete anos mais nova do que eu. Como você vê, eu não estou molestando uma menor.
— Você a escolheu para ser a minha sombra este mês.
Ele fechou a porta e seguiu em direção à sala.
— Ainda não.
— As pessoas vão dizer que você a protegeu.
— Então talvez seja melhor não indicá-la para essa função. — Ele foi até a cozinha e abriu a geladeira vou escolher outro estagiário.
— Mas ela é a melhor candidata.
Cade pegou uma cerveja.
— Quer beber alguma coisa?
Ao ver que Fin não respondia, ele jogou a tampa da cerveja no lixo e voltou para a sala. Fin estava na janela, admirando a vista.
— Ela tem alguma coisa muito... especial — disse Fin.
Ele resmungou.
— Não diga.
Fin virou-se para ele com uma expressão determinada que ele conhecia muito bem.
— Eu quero que ela seja a minha sombra — declarou Fin. — Nós calaremos aqueles que reclamarem de favoritismo com a verdade. Sou eu quem está tomando esta decisão, e não você.
Cade sentiu um aperto no peito. Ele sabia que Jessie realmente não queria aquela função, embora não conhecesse os seus motivos. Será que ele a estaria traindo se aceitasse aquilo?
— Fin, se você estiver fazendo isso porque suspeita de que ela possa estar espionando a revista, desista. Eu tenho certeza de que ela não está fazendo nada disso.
— Eu não a estou acusando de nada, Cade, e também não tenho nada a ver com o que você faz da sua vida afetiva, contanto que isso não afete a revista.
— É claro — disse Cade, com uma boa dose de amargura. — É só isso que importa para você.
— Cade! — Seus olhos escureceram de desapontamento, fazendo-o lembrar, por um momento, dos olhos da mulher com quem ele havia passado o fim de semana. Tudo agora parecia fazê-lo lembrar de Jessie.
Ele respirou fundo, irritado consigo mesmo por ter feito aquele comentário ferino.
— E verdade — admitiu Fin. — Talvez a revista seja realmente a única coisa que importa para mim, mas eu desejo que você seja feliz. Você é como um irmão para mim, e sabe disso.
Aquela declaração só fez deixá-lo ainda mais culpado.
— Desculpe-me, Fin. Eu não estou com a cabeça no lugar.
Ela sorriu e pousou uma mão sobre o seu ombro.
— Ouvi dizer que o amor faz isso com as pessoas.
— Amor? — Ele engasgou ao dizer a palavra. — Este foi o nosso primeiro encontro.
Os olhos dela brilharam.
— Aquele que começou na sexta-feira?
Ele sorriu.
— Isso mesmo.
— Está bem, então. Digamos que o desejo também pode fazer isso com as pessoas.
Ele ficou esfregando o rótulo da cerveja, pensando como responder.
— Também não creio que seja apenas desejo.
— Ouça — disse ela. — Enquanto você descobre o que é exatamente, eu gostaria de conhecer essa garota melhor.
— Essa mulher — disse Cade, desviando os olhos
Fin pegou a garrafa e sorriu.
— Uma jovem. Eu não vejo problema algum em você namorá-la, mas continuo querendo saber quem é ela, ainda mais agora que vocês estão se envolvendo. Pense em mim como uma irmã mais velha que você nunca teve.
Ele revirou os olhos.
— Eu já tenho irmãs suficientes, muito obrigado!
— Que pena. Eu também tenho muitos irmãos, mas é sempre bom ter mais um. Cade, ela é a estagiária mais qualificada para a função. Não escolhê-la seria um desserviço para a revista.
Ele tomou um gole de cerveja, olhando para ela.
— Essa foi uma decisão típica de Fin Elliot.
— Ótimo. Quer dizer que você concorda comigo. Ela começa amanhã de manhã. Vai trabalhar todos os dias das oito às doze.
Ele tentou engolir a bebida, mas ela ficou presa em sua garganta. Jessie não ia gostar daquilo, e ele ainda não sabia por quê. Amanhã, porém, ele certamente descobriria.
Jessie nem sequer tentou esconder a verdade de Lainie embora tivesse tomado bastante cuidado para não expor a intimidade de Cade.
Aquilo tudo ainda era muito novo, especial e maravilhoso para ser tratado como se fosse um simples flerte.
Cade havia lhe levado uma xícara de café, com pequena dose extra de leite, exatamente como ela gostava. Ele tinha lhe parecido ainda mais atraente com aquele paletó, agora que ela já sabia o que se escondia por baixo dele.
Ele pousou os seus óculos silenciosamente sobre a mia mesa, antes de seguir para o seu escritório, e ela os colocou rapidamente, assim que ele desapareceu.
Jessie passou uma hora tentando ler seus e-mails, cedendo, porém, o tempo todo, aos arrepios que tomavam conta de seu corpo cada vez que ela revivia a sensação de ter Cade dentro de si, ou quando ela se lembrava dele perdendo o controle, sua expressão quando lhe pedira para deixar a escova de dentes em sua casa... Só pode ser amor. Jessie se virou num sobressalto para ver Scarlet sentada ao seu lado com as pernas cruzadas e as mãos acima da cabeça.
— Como?
— Eu já estou aqui há cinco minutos — disse Scarlet, com um sorriso malicioso. — Você não só não me ouviu, como também passou horas relendo o mesmo e-mail de apenas quatro frases sobre o novo procedimento do setor de correios.
— Verdade? — Jessie sentiu um rubor cobrir-lhe as faces. — Quer dizer, é verdade. Talvez você não saiba, Scarlet, mas esses procedimentos são vitais para o nosso sucesso aqui.
Scarlet sorriu.
— Pode cortar esse papinho furado, senhorita Clayton. O lugar já é seu.
— O quê?
— O sonho dourado de todo estagiário. Para falar a verdade, você já está atrasada para a sua reunião com... — Scarlet consultou a agenda — o gerente de vendas e propaganda.
— E por que eu participaria de uma reunião com ele?
— Acho que eles iam rever a distribuição da edição de janeiro, mas Fin não entrou em detalhes.
Jessie sentiu o estômago se contrair ao ouvir o nome de Fin. Não podia ser. Ele não podia ter feito isso com ela.
— Do que é que você está falando?
A expressão provocadora de Scarlet se transformou em pura alegria ao estender os braços para abraçar Jessie.
— Parabéns, você é a mais nova sombra de Finola Elliot.
Todo o sangue que estava até então aquecendo seu corpo desceu imediatamente para os pés.
A sombra de Finola? Mas ela havia pedido a Cade para não indicá-la.
— Tem certeza? Há outros estagiários muito...
— Aqui está o memorando. Scarlet lhe estendeu uma folha de papel e tudo o que Jessie conseguiu ler foi "De: Cade McMann" na primeira linha. Quer dizer então que ele tinha tomado uma decisão, redigido um memorando e o distribuído sem se dar ao trabalho de lhe dizer uma única palavra sobre isso.
O café cremoso que ela estava saboreando até então ficou repentinamente amargo.
— Não se preocupe — disse Scarlet, tentando lhe passar segurança. — Cade me disse que você não iria abandonar o layout da "Quimera de Primavera", mas isso não vai ser necessário. Você só vai trabalhar com a Fin até o meio-dia. Ainda vai ter a tarde toda para trabalhar nos nossos projetos. — O rosto de Scarlet brilhava de excitação. — Jessie, isso é praticamente uma garantia de emprego no final do estádio, Remunerado!
Jessie não estava conseguindo digerir a idéia. Ele havia conversado sobre a sua agenda com Scarlet sem falar com ela?
— Qual é o problema, Jessie? Você não quer dinheiro?
Jessie não conseguiu sequer rir da piada.
— Não estou me sentindo bem.
Os olhos de Scarlet se encheram de preocupação, e tocou a testa de Jessie com a ponta dos dedos.
— Você está com febre?
Bem, essa seria uma maneira de descrever o que| ela estava sentindo.
— Eu acho que... tenho de ir para casa.
O rosto de Scarlet revelava um misto de preocupação e choque.
— Tem certeza?
Ela assentiu. Tinha de sair dali. Se não o fizesse, acabaria adentrando o escritório de Cade para tomar satisfações.
— Acho que era por isso que eu estava tão aérea — disse Jessie rapidamente, abrindo a gaveta de baixo para pegar a bolsa. — Eu estou passando mal, Scarlet. Vou para casa me recuperar.
— Quer que eu providencie um táxi para você. Talvez o motorista de Fin ainda esteja aí embaixo.
— Não! — Ao ver a reação de Scarlet à sua resposta tão apressada, Jessie pigarreou. — Obrigada. Eu não quero... Eu vou para casa tomar alguma coisa. Vou ficar bem. Só preciso descansar.
Jessie estava a meio caminho do corredor, perto da mesa de Lainie, quando viu a porta do escritório de Cade se abrir. Ela poderia enfrentá-lo ou ignorá-lo por completo.
Sentindo-se completamente covarde e louca para ficar sozinha, ela fez a sua escolha.
— Até logo, Scarlet. Eu telefono.
Cade teve de conter a urgência de empurrar o diretor de assinaturas porta afora, usando, em vez disso toda a sua diplomacia para finalizar a reunião rapidamente. Quanto tempo ainda aquele cara ia continuar falando de densidade demográfica e distribuição? Será que ele não conseguia perceber o quanto Cade estava ansioso? Ele tinha de ter falado com Jessie antes que aquele memorando tivesse sido impresso e distribuído, mas sua assistente havia agendado aquela reunião para esta manhã e ele havia sido atrasado na sala de reuniões antes de conseguir conversar com ela.
Apressado, Cade seguiu pelo corredor, torcendo para que Jessie estivesse livre para almoçar com ele. Mais aquela mulher de cabelos castanhos no saguão parecera Jessie. Ele foi até o cubículo dela à sua procura, mas só encontrou Scarlet, de pé, com as mãos nos quadris e um olhar de consternação.
Ele se deteve e olhou para a cadeira vazia de Jessie.
— Onde está ela?
Os olhos de Scarlet se arregalaram com aquela pergunta.
— Ela foi para casa, não estava se sentindo muito bem.
— Meu Deus! O que é que ela tinha?
— Acho que é mal de amor.
— Ela disse o que estava sentindo?
Scarlet balançou a cabeça.
— Foi a coisa mais estranha do mundo. Eu lhe disse que ela havia sido escolhida para ser a sombra de...
— Você disse a ela?
— Claro, ela trabalha para mim! Que mal há nisso?
— Nenhum — disse ele com um ar ausente, notando que ela havia deixado o computador ligado e a mesa completamente desarrumada. Maldita reunião
— Ela não parecia muito animada com o trabalho — disse Scarlet.
— Você poderia dizer à minha assistente para cancelar o resto dos meus compromissos por hoje?
Ela franziu a testa.
— Sim, mas por quê?
— Eu não estou passando bem.
Cade saiu correndo em direção ao saguão, mais ainda teve tempo de ouvir a última pergunta d Scarlet.
— Será que alguém pode me explicar o que é que está acontecendo aqui?
Só havia uma pessoa que conseguiria compreendê-la. Jessie rezou para que ele não tivesse saído para cavalgar.
Ela estava precisando desesperadamente do pai. Sua mãe seria ainda melhor, mas ela enterrou a tristeza que acompanhou aquele pensamento e conseguiu chegar em casa sem derramar uma única lágrima.
Para seu alívio, Travis atendeu o celular depois do primeiro toque e admitiu que ainda estava tomando café. Outrora um madrugador, ele agora passava horas na cozinha, pensando na vida, desde que sua mulher havia falecido.
Ela explicou toda a situação em dez minutos, deixando de lado o fato de que havia passado o fim de semana com Cade. Aquilo não era coisa para se com partilhar com o próprio pai.
— Você não deveria ter fugido, Jess — disse Travis imediatamente.
Ela já havia chegado a essa conclusão durante a viagem de metrô. Sabia que deveria ter enfrentado Cade, mas o que estava feito estava feito, e ela agora linha de criar um plano.
— Eu sei, papai, mas é muito complicado.
— Ele não conhece a sua verdadeira situação, minha querida. Não tem como compreender por que você não quer um emprego que é, como disse aquela mulher, o sonho dourado de todos os estagiários e a promessa de um emprego remunerado.
— Papai — disse Jessie suspirando e afundando ainda mais no sofá — , você sabe que eu não vim para i a por causa do dinheiro.
— Não deveria ter feito isso sem me contar.
— Você teria tentado me impedir.
— E com razão. Essa mulher tinha apenas quinze anos quando você nasceu. A última coisa que essa grande executiva nova-iorquina quer na vida é uma lembrança desse episódio ocorrido há 23 anos.
— Mais um motivo para que o seu passado não a acompanhe como uma sombra durante metade do dia.
— Minha querida, ela não tem razão alguma para perceber que você é a filha dela.
— Papai, agora é você quem vai me ouvir. — Ela levantou como se aquilo pudesse ajudá-la a se impor. — Eu sou a filha de Travis e Lauren Clayton, e não há DNA na face da Terra que possa mudar isso.
— Jessie, meu anjo, eu sei disso. — Só que... a mamãe morreu...
— Bem, eu gostaria mulo de estabelecer alguma relação com Fin...
— Você sentiu algum tipo de conexão com essa tal de Fin?
Jessie suspirou. As únicas coisas a que Finola Elliot estava conectada eram a revista Charisma e a Editora Elliot. Ela não parecia ter mais nada na vida além disso.
— Bem, não há como negar uma semelhança física. E claro que seria preciso estar atento a isso para perceber, mas dá para notar.
— Eu não estava me referindo a esse tipo de conexão.
— Eu sei que não. Bem, acho que não temos conexão alguma. Eu só a observei de longe e me mantive fora do seu caminho.
Travis ficou em silêncio por algum tempo. Depois suspirou e disse:
— Talvez você tenha de cruzar o caminho dela. Ele tinha razão.
— Papai, ela se registrou num site especializado em adoção. Você não acha que isso pode significar que ela estava tentando me encontrar?
— Não sei, minha querida. Ela vive num mundo diferente do nosso, e pelo que você diz, é uma workaholic de primeira. Ela não me parece um tipo muito maternal.
— E não é mesmo — reconheceu Jessie triste mente.
— Eu só não quero que você se magoe, meu bem Não quero que nenhuma dessas pessoas lhe faça mal.
Tarde demais. Mas Jessie não queria turvar a quês tão discutindo sua relação com Cade com o pai, Aquele romance não ia durar mesmo. Ela não podia confiar nele. Ele nem sequer havia lhe comunicado sua decisão. Ela apertou os olhos para conter a dor que tomava conta dela cada vez que pensava naquilo.
— Você deve ter razão. Costuma ter. Ela o ouviu rindo baixinho.
— Acho que eu me sentiria melhor a respeito de lhe contar toda a verdade se você descobrisse que ela tomou alguma atitude mais efetiva para encontrar você do que simplesmente se registrar num site.
— Vou tentar fazer isso. Isso é como viver uma guerra — disse Jessie, caminhando de uma ponta da sala a outra. — Eu odeio isso.
— Posso imaginar. Esta história de bancar a sombra dela pode ser a sua saída, Jessie. Você vai ter tempo de conhecê-la melhor e talvez até descobrir se ela está disposta a enfrentar o passado.
Jessie parou em frente à porta e folheou alguns envelopes que Lainie havia deixado na cesta de contas próxima da parede.
— Acho que você tem razão. A função de sombra pode me dar a oportunidade perfeita de investigar um pouco mais.
— Ela não vai suspeitar de você — assegurou-lhe Travis. Seja você mesma e tire proveito daquilo que estão lhe oferecendo.
— Eu estou me sentindo tão mal por ter me comportado daquele jeito. Essa indicação é um grande voto de confiança. Eu posso ter começado esse trabalho secreto com uma determinada intenção, mas facilmente gosto do que estou fazendo, e sou boa nisso.
— Não tenho dúvida. Isso quer dizer que você nunca mais vai voltar para casa? — perguntou Travis sem conseguir disfarçar a decepção.
— Vou voltar — prometeu ela. Mas então pensou em Cade. Ela não só amava trabalhar na revista, como também amava estar com ele. Aquele sentimento, porém, poderia não ser recíproco, e seu pai parecia estar precisando de um pouco de segurança também.
— Ei — disse ela, com uma forte injeção de ânimo na voz — , você sabe muito bem o quanto amo você.
— Só quero que você seja feliz, meu amor.
— Eu sei.
E ela estava feliz... ontem.
Cade estava parado do outro lado da porta, com mão erguida. Ele tinha corrido até o prédio de Jessie passado pela portaria aproveitando a saída de outro morador, descoberto o número do seu apartamento na caixa de correio e subido às pressas os quatro andares de dois em dois degraus.
Seu coração estava acelerado, mas não por causa do esforço físico. Ele havia ouvido a voz de Jessie através da porta de madeira.
Isso é como viver uma mentira. Eu odeio isso.
O que era como viver uma mentira? Ele se aproximou um pouco mais.
Acho que você tem razão. A função de sombra vai me dar a oportunidade perfeita de investigar um pouco mais.
Ele ficou desconcertado ao ouvi-la descrever seu trabalho secreto.
Eu vou voltar. Ei, você sabe muito bem o quanto eu amo você.
Aquelas palavras o atingiram em cheio. Ele desistiu de bater e foi para o mais longe que pôde da porta do Jessie Clayton.
Ele não está, Jessie — disse Chloe. Você tem reunião marcada com ele?
— Na verdade, não. Talvez devesse. Essa poderia ser a única maneira de conseguir fazer com que Cade voltasse a falar com ela. Jessie ainda não podia acreditar que ele não tinha tempo para ela.
— Vou pedir a ele para entrar em contato com você assim que chegar — disse Chloe. — Você está melhor? Scarlet disse que você passou mal ontem.
— Eu melhorei sim, obrigada. — Jessie respirou i «indo. — E estou pronta para começar a trabalhar com a Fin.
O rosto de Chloe se iluminou.
— E mesmo? Parabéns! Fin costuma estar a postos antes das oito, mas teve uma tarefa extra esta manhã. Pode deixar que eu aviso quando ela chegar.
— Ótimo. Eu mal posso esperar.
— Mal pode esperar pelo quê? As pernas de Jessie fraquejaram ao ouvir a voz de Cade. Tentando parecer o mais indiferente possível, ela se virou para vê-lo seguindo em direção ao seu escritório.
— Para ser a sombra de Fin — respondeu ela com muita coragem.
Ele apertou os olhos tão imperceptivelmente que ela teve certeza de que Chloe não havia notado. Só alguém que tivesse passado 48 horas seguidas memorizando cada expressão de seu rosto teria percebido.
— Fico feliz em saber que você está se sentindo bem — disse ele, causando-lhe arrepios.
Ele parou na mesa da sua assistente e pegou alguns lembretes. Ao ver que ele havia baixado os olhos para lê-los em vez de olhar para ela, Jessie maldisse o desapontamento que a atingiu com a mesma força de um coice de Oscar.
— Cade. — A palavra saltou de sua boca antes que ela pudesse se conter na frente de Chloe.
Ele olhou para ela.
— Hum?
— Nada de complicações, não é?
Às favas com Chloe. Aquilo era bem mais importante.
— Jessie — disse ele lentamente, indicando sua sala. — Por que não entra para conversarmos um pouco?
Cade a deixou esperando sozinha em seu escritório por alguns minutos enquanto olhava mais uma vez as mesmas mensagens que já estavam na mesa de Diana desde a noite anterior.
— E então — disse ele, propositadamente sem emoção alguma na voz, enquanto fechava a porta — O que foi que a fez mudar de idéia? Eu não esperava encontrá-la tão entusiasmada.
Jessie saiu da janela. Tinha tirado os óculos durante o tempo em que ele a havia feito esperar. Quer dizer então que ela queria mesmo jogar sujo.
— Parece que não tenho outra escolha — disse ela, num tom de voz artificial. — Acho que me comportei como uma tola. É claro que eu quero a oportunidade de ser a sombra de Fin.
Ele assentiu pensativamente, mas não fez nenhum movimento. O único som que se ouviu no recinto foi o suave tique-taque do relógio em sua mesa.
— O que há com você? — perguntou ela finalmente
— Por que está agindo dessa maneira comigo?
— Por que você não me diz o quanto está zangada comigo por eu ter tomado a atitude que lhe prometi não tomar?
Ele estava lhe dando uma chance de contar a verdade. Talvez fosse mesmo a coisa certa a fazer.
— Eu já superei isso.
— Mesmo? Fácil assim?
Cade. — Ela deu um passo à frente, incapaz de manter tão longe dele. — Foi você quem traiu a minha confiança. Eu gostaria que você tivesse falado comigo antes. Mas...
Ele ergueu a mão para detê-la.
— Eu só quero a verdade, Jessie. Por que foi que você mudou de idéia?
Ela deu de ombros.
— Eu me dei conta de que essa era uma grande oportunidade e que eu deveria tirar proveito dela.
— A-hã!
— E o que foi que fez você mudar de idéia, Cade?
— A decisão de contratá-la partiu, na verdade, de Fin. Só que eu não tive chance de lhe contar isso.
— Eu não estou falando disso. O que foi que o fez mudar de idéia a meu respeito? Por que é que você está agindo como se não fosse o mesmo homem de quem eu me despedi no domingo à tarde?
— Nós estamos no trabalho — disse ele friamente.;
— Achei que você não tinha vergonha do nosso relacionamento.
A mágoa na voz dela lhe causou um aperto no coração.
— Eu não tenho — disse ele, forçando-se a parecer casual. — Só achei que você ia ficar com tanta raiva que...
— Eu não estou com raiva — disse ela, aproximando-se um pouco mais. Seu perfume floral o estava torturando. — Essa é uma grande oportunidade, e eu quero tirar proveito disso.
Bem, ele também poderia tirar proveito daquela situação, não é mesmo? Seus braços já estavam coçando para abraçá-la e sentir novamente o gosto do seu beijo.
Como se a mente dela estivesse na mesma sintonia que a dele, ela cruzou o espaço que os separava e olhou para ele. Seus braços deslizaram em torno dele e não houve força da natureza que pudesse impedi-lo de abraçá-la.
— Eu senti a sua falta — sussurrou Jessie, olhando para ele com toda a sinceridade do mundo.
— Eu também — disse ele, e não estava mentindo.
Cade tomou a boca e o beijo que ela estava lhe oferecendo, aumentando ainda mais a sua tortura. Uma tortura doce, deliciosa, ardente.
A língua de Jessie deslizou para dentro da sua boca e a tomou, puxando-a contra si para que ela sentisse a sua indisfarçável reação à sua proximidade. Por mais que tentasse pensar naquilo como uma possibilidade de tirar proveito daquela situação, Cade sabia que nunca mais poderia fazer amor com Jessie. Aquilo certamente seria um enorme erro.
Jessie chegou à sala de reuniões pouco antes da 8h30. Fin chegaria a qualquer momento para sua reunião diária com diversos membros da equipe. Essa já era a quarta reunião a que Jessie compareceria como "a sombra" de Fin.
Ela havia feito tudo o que estava ao seu alcance para evitar qualquer tipo de contato pessoal com Cade, mas não teria como evitá-lo hoje, pois ele era único membro da equipe escalado para a reunião.
A única coisa mais impressionante do que o gelo que Cade estava lhe dando era o contrastante impacto que Fin estava provocando nela nos últimos dias.
Finola Elliot era firme, determinada, inteligente paciente e estratégica. Vestia roupas maravilhosas e escondia algumas sardas sob uma fina camada de maquiagem, que ficavam visíveis ao final do dia. Tinha sempre um sorriso estampado no rosto e era dona de um senso de humor bastante sutil.
Sua mãe verdadeira era uma mulher contraditória, e isso cativava Jessie, embora esse sentimento também a deixasse insegura. E se ela se deixasse levar por ele e decidisse revelar o seu segredo e Fin...
— Espere só até você ver isso — disse Scarlet, entrando na sala de reuniões, em direção ao último espaço vazio na parede onde eram afixados os layouts. — Venha cá.
Os olhos de Jessie se fixaram no amarelo brilhante da fotografia que Scarlet havia colocado na cortiça com um ar de vitória.
— Olhe só para você! — exclamou Scarlet, afastando-se para admirar a obra.
O coração de Jessie deu um salto. O fotógrafo havia capturado o seu olhar de soslaio, flertando com Cade e seu sorriso convidativo. Os olhos famintos e o queixo caído de Cade não deixavam dúvidas sobre o poder de atração de um suéter com o zíper aberto até a metade e um sutiã de renda preta.
— Essa não é a "Cor & Charisma" mais sexy que nós já fizemos? A impressão que dá é que vocês vão sair correndo à procura do quarto mais próximo e...
— Acho que seria melhor desfocar os rostos. Jessie teve um sobressalto ao ouvir a voz de Cade. Scarlet olhou para ele como se aquela fosse a maior das heresias.
— Você enlouqueceu? A alma da foto está justamente nos rostos! Que química! O criador desse suéter vai vender como água! Todas as mulheres vão querer que seus homens babem por elas desse jeito.
Olhar para Cade na fotografia era um pouco mais fácil de suportar do que a sua presença real, especialmente quando ele estava com aquela expressão severa que ele só usava quando estava prestes comunicar algo desagradável à sua equipe.
— Desfoque os rostos — disse ele novamente, ignorando a exuberância de Scarlet e colocando alguns arquivos e um palm top eletrônico na cadeira em que costumava se sentar. — Essa é a política da revista.
— Só quando fotografamos pessoas anônimas e corremos o risco de sermos processados — retrucou Scarlet. — Nós vamos desperdiçar uma tremenda oportunidade se não mostrarmos os rostos como estão. Você não concorda, Jessie?
Ela sentiu os dois olhares exigentes recaírem sobre ela. Sua vontade era transformar aquela imagem num outdoor. Ela adorava aquela fotografia, embora não parecesse causar o mesmo impacto em Cade.
— Não tenho intenção de processar a revista — disse ela calmamente, enquanto voltava para o seu lugar na mesa, ao lado de onde Cade havia deixado as suas coisas. Sem dizer uma palavra, ela pegou o material e o transferiu para algumas cadeiras adiante, deixando algum espaço livre entre os dois. — Se você acha que a fotografia vai ser mais eficaz assim, por mim tudo bem. — Ela conseguiu olhar para Cade sem expressão alguma. — A menos que você esteja preocupado com sua reputação, Cade.
Ele abriu um arquivo, impassível.
— Não estou não.
— Você vai arrasar com muitos corações quando as nossas leitoras virem o modo como você estava olhando para a Moça de Amarelo — disse Scarlet.
— Eu acho que nós deveríamos ser coerentes com o nosso procedimento habitual. Nossas leitoras estão acostumadas ao anonimato das pessoas fotografadas nessa seção. Faz parte do segredo do sucesso da revista — disse ele, usando um tom apático que Jessie supôs ser fruto do seu treinamento com as irmãs para evitar mais provocações.
Nós podemos lidar com complicações... Pois sim. Lá estava o homem que lhe dissera ter orgulho de seu relacionamento com ela, completamente embaraçado por algum dia ter se encantado por ela.
Jessie teve medo de se trair, por isso sentou simplesmente sem dizer uma palavra.
— Vamos deixar que a Fin decida — sugeriu, Scarlet ao ver sua chefe entrando na sala de reuniões.
— Decidir o quê? — perguntou Fin, com um sorriso amigável para o grupo.
— Veja o layout dessa "Cor & Charisma" — insistiu Scarlet, passando a prova para Fin. — Não é fabuloso? Cade quer desfocar os rostos.
Fin pôs-se a analisar o material enquanto Scarlet aguardava, ansiosa.
Cade ficou mexendo casualmente no seu equipamento eletrônico, como se aquela decisão não lhe dissesse respeito.
Tudo o que Jessie pôde fazer foi conter a respirado.
— Isso é... — Fin ergueu o olhar lentamente, focando-o em Jessie — incrível!
Fin voltou a olhar para a foto e então novamente para Jessie, avaliando-as intensamente. — Oh, meu Deus!
— Você parece...
Agora...É agora...
— Você parece... Comigo...
— Sim?
— ...tão diferente sem os óculos. Você deveria usar lentes de contato.
Ela soltou a respiração, disfarçando seu alívio com uma risada.
— Você acha mesmo?
A total ineficiência da resposta deve ter passado despercebida a Scarlet, que continuava batendo um dedo nervoso sobre a fotografia.
— Desfocar ou não desfocar, esta é a questão.
— Eu não sei — disse Fin, olhando depois para Cade com uma expressão provocadora. — Você também está muito sensual, Cade. Esta expressão certamente nos ajudaria a vender muitas revistas e suéteres.
Cade deu de ombros.
— Acho que o anonimato confere um ar de mistério a essa seção que agrada às nossas leitoras, mas se vocês quiserem me usar como garoto-propaganda do culto ao suéter, fiquem à vontade — disse ele, lançando um sorriso indolente para Jessie que quase a tirou do sério.
— Culto ao suéter! Você é brilhante, Cade. Essa vai ser a manchete — disse Scarlet, prendendo o layout novamente na cortiça para depois ir embora. — Boa reunião para vocês.
Jessie só conseguiu sobreviver aos 45 minutos seguintes evitando olhar para Cade, quer fosse em duas ou em três dimensões.
Ao final da reunião, Fin fechou o seu portfolio de couro e se levantou para ir embora, inclinando a cabeça em direção à fotografia ainda presa na parede.
— Eu não queria argumentar na frente de Scarlet, mas se algum de vocês preferir permanecer no anonimato, eu lhes darei cobertura.
Jessie sentiu o olhar de Cade pousar sobre ela, mas manteve sua atenção voltada para Fin.
— Obrigada. Isso foi muito gentil da sua parte.
Fin respondeu com um meneio de cabeça.
— Por que vocês não discutem o assunto em particular por alguns minutos? — Ela juntou seus papéis e seguiu em direção à porta. — Jessie, eu tenho de dar um telefonema pessoal, mas vou encontrá-la depois no saguão. Nós temos uma reunião com os anunciantes esta tarde.
Antes que qualquer um dos dois pudesse se opor, ela já havia saído do recinto e fechado a porta.
— Isso foi embaraçoso — disse Cade.
— Eu achei muito gentil — disse ela.
— Gentil? — repetiu Cade, quase engasgando com a palavra.
Jessie virou sua cadeira na direção de Cade, tirou os óculos e lhe lançou aquele olhar infinito cheio de atenções e perguntas.
— Eu acho que Fin tratou do assunto com muita classe — disse Jessie calmamente. — Ela percebeu que isso poderia nos incomodar. Ou seja, embaraçoso, como eu tinha dito. Mas isso não tem que ser assim.
Cade ficou tentando imaginar como é que ela reagiria se ele lhe contasse que havia ouvido a sua conversa ao telefone naquele maldito dia. Que ele sabia que ela via a função de sombra de Fin como uma chance para investigar. Que ela havia prometido a alguém que voltaria e que havia declarado o seu amor a essa pessoa.
— Eu só estou tentando ser profissional — disse Cade.
Se ele usasse os seus trunfos agora e a acusasse de espionagem, ela certamente fugiria e ele jamais descobriria quem a havia contratado. Não, ele já havia cometido erros suficientes com Jessie Clayton.
— Eu gosto muito da fotografia — disse Jessie.
— É claro que você gosta — disse ele ironicamente. — Eu estou com os olhos vidrados em você.
Ela enrubesceu.
— Não é por isso que eu gosto dela.
Ele permaneceu em silêncio, esperando que ele concluísse o seu raciocínio.
— Eu gosto dessa foto porque... — Seu olhar deslizou até ele e ela se inclinou mais para perto. Se perfume o atingiu com a força de um soco no peito — Esse foi um dia muito especial para mim.
Ou ela era uma atriz muito bem treinada ou uma mentirosa nata. Tudo em seu rosto e em seus olhos transpirava veracidade.
— Foi mesmo.
O tempo do verbo era muito importante.
Para a sua surpresa, ela se levantou e ele não pôde deixar de admirar suas curvas.
Amaldiçoando o fluxo de sangue que correu para seu rosto, ele se forçou a olhar para a sua agenda.
— É melhor decidirmos logo. Eu tenho uma reunião e você tem o encontro com o pessoal da Revlon.
Ao erguer novamente o olhar, ele a encontrou de pé em frente ao layout, com as mãos nos quadris, acentuando suas curvas enquanto avaliava a fotografia.
A lembrança da sensação do corpo dela em suas mãos e contra o seu próprio corpo tomou-o de assalto.
— Bem — disse ele, procurando manter um tom casual para dissimular o que estava acontecendo abaixo de sua cintura. — O que você acha?
— Eu acho que nós precisamos conversar. Posso passar na sua casa hoje à noite? — disse ela, esfregando as mãos nos quadris e pousando-as sobre as coxas.
Cade não sabia se aquilo era nervosismo ou pura invenção. Meu Deus, será que ele, algum dia, ia confiar numa mulher novamente?
Ela podia estar jogando, mas ele também não era uni retardado! Podia muito bem fazer sexo com ela sem revelar segredos da empresa entre os lençóis.
Por que não, se era ela mesma quem estava propondo isso a ele? Bastava silenciar aquela voz interior que teimava em lhe dizer que ela era especial, diferente, fresca.
Ele era um macho de sangue quente, repleto de testosterona. Podia muito bem fazer sexo casual. Aquele fim de semana não precisava virar o seu mundo de cabeça para baixo.
— Claro — disse ele com um sorriso forçado. — Ótimo.
Ele podia jurar que ela havia empalidecido. Será que ela estava apenas blefando, esperando que ele se negasse a recebê-la?
— E quanto à fotografia? — perguntou ela. — Vamos nos esconder ou exibir os nossos rostos?
— Eu não tenho nada a esconder, Jessie. Você tem?
Ela tirou uma mecha de cabelo do rosto, sem desviar o olhar.
— Nós conversaremos à noite — disse ela. Cade, porém, não acreditava que fosse haver muita conversa, a menos que ela estivesse planejando s extremamente honesta com ele. Aquele pensamento o manteve dividido e excitado pelo resto do dia.
Jessie resistiu à tentação de caprichar na maquiagem ou na roupa para ir à casa de Cade. Ela estava muito embaraçada por ter tido que promover aquele encontro. Sua única concessão à vaidade foi tirar o óculos e soltar o cabelo.
Ao se ver em frente à porta de Cade, porém, ela se perguntou se aquilo seria suficiente para derreter gelo entre eles.
De qualquer modo, ela não estava ali para pular em cima dele, e sim para obter respostas a alguma perguntas. Ela tinha o direito de saber por que o mesmo homem que havia lhe garantido que aquilo que eles haviam vivido não era apenas um caso estava agora querendo tratá-la de maneira "profissional".
Ela bateu na porta.
Nada mais de perguntas. Nada mais de ter de analisar cada nuance de seu comportamento. Eles haviam dormido juntos e trocado juras de amor. Haviam explorado os corpos um do outro e trocado os mais ternos prazeres. Haviam...
Cade abriu a porta e Jessie só conseguiu olhar para ele e se imaginar fazendo tudo aquilo novamente. Imediatamente. Sem falar nada.
Ele estava usando apenas um jeans. Sua expressão era algo entre o desdém e a expectativa.
— Oi — disse ele.
— Oi.
O olhar de Jessie pousou sobre seu peito desnudo coberto de pêlos dourados que se encaracolavam deliciosamente em torno dos seus mamilos, seguindo numa única linha pelo abdômen bem definido até o botão aberto de sua calça.
Aquilo não era justo, ela quase sussurrou. Definitivamente, não era justo.
— Entre — disse ele, dando um passo para trás.
Ela olhou para os seus pés descalços e notou os minúsculos fios dourados em seus dedos que combinavam com os pêlos do peito.
— Você está ocupado? — perguntou ela.
Que pergunta idiota. Ele estava quase sem roupa, com olheiras debaixo dos olhos. Ele provavelmente i estava descansando, vendo TV ou...
Ao segui-lo até a sala, ela viu a resposta à sua pergunta sobre a mesa de jantar. Arquivos, papéis e um lap top.
— Você está trabalhando.
— Pois é.
Ele seguiu para a cozinha.
— Eu estava indo pegar uma cerveja. Você está com sede? Fome?
Ela acompanhou os seus movimentos, vendo dos músculos de suas costas enquanto ele ia até a geladeira. Sim, ela estava faminta, sedenta. Dele.
— Eu gostaria de um pouco de água.
Ele voltou em um minuto com uma cerveja na mão e uma garrafa de água na outra.
— Você pode se sentar — disse ele, estendendo-lhe a garrafa.
— No que é que você está trabalhando? — perguntou ela, sentando-se e abrindo a garrafa, tentando ignorar o fato de que ele não o havia feito para ela.
Ele tomou um bom gole de cerveja e se sentou no sofá de couro. Aquele onde eles haviam feito amor uma semana antes.
— Números — disse ele. — Eu tenho uma reunião com Liam Elliot amanhã de manhã.
— Liam — disse ela, repassando os nomes dos Elliot em sua mente. — O diretor de finanças da editora, não é?
Cade assentiu.
— E também um grande amigo meu. Agora... — Sua voz foi desaparecendo e ele tomou mais um bom gole de cerveja.
A visão do líquido descendo pela garganta de Cade deixou a sua completamente seca.
— Agora o quê?
Ele focou o olhar na garrafa.
— Você sabe o que está acontecendo na editora, Jessie. A escolha do futuro presidente da editora depende dos lucros que cada revista obtiver este ano.
Ela tomou um pouco de água sob o olhar cheio de expectativa de Cade. Pelo jeito, ela ia ter de tomar a iniciativa.
— Cade, eu não vim aqui para discutir finanças.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Do que é que você quer falar então, Jessie?
— Você está falando sério? — perguntou ela, prontamente decepcionada. — Vai agir como se o fim de semana passado não tivesse existido?
Ele pousou a garrafa na mesa e se inclinou para a ela, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e lhe lançando um olhar nebuloso que a deixou completamente desarmada.
— E como é que você gostaria que eu agisse, Jessie?
Ela suspirou, desgostosa.
— Eu não quero que você haja de modo algum. Só quero o verdadeiro, honesto, gentil, amoroso...
— Amoroso?
Jessie sentiu as pontas de seus dedos ficarem dormentes com o tom que ele usou.
— Sim. — Ela se empertigou e olhou firme para
Ela odiava ter de dizer aquilo, mas precisava fazê-lo.
— Ou aquilo era um desejo puro e simples, sem a responsabilidade de se transformar em alguma coisa a mais?
Seus olhos acinzentados se aqueceram quase imperceptivelmente, uma mudança que somente uma mulher que o tivesse estudado profundamente perceberia.
— O amor — disse ele, suavemente — está invariavelmente ligado à confiança.
Ela o encarou.
— Você está agindo como se eu tivesse traído a sua confiança quando foi você quem tomou uma decisão que ia diretamente contra a minha vontade. Ela balançou a cabeça. Aquilo parecia tão claro para ela e no entanto ele parecia achar que ela estava mentindo. — Você deixou que eu descobrisse tudo por terceiros.
— E você está apaixonada por outra pessoa.
Seu queixo caiu ao ouvir aquelas palavras.
— O quê?
— Isso sem falar no fato de que você está usando a Charisma, a mim e a Fin para obter informações valiosas para a competição.
Ela só conseguiu piscar e olhar para ele.
— Do que é que você está falando?
— Eu fui até o seu apartamento na segunda à tarde a ouvi dizer a alguém do outro lado da linha que essa seria uma boa oportunidade para investigar, alguém a quem você declarou amar.
Um misto de alívio, compreensão e algo que e ainda não era capaz de definir tomou conta dela.
— Meu Deus! — Ela se recostou na cadeira compreender o que estava acontecendo. — Eu estava falando com o meu pai.
— Sobre espionar a Charisma?
— Do que é que você está falando?
— Primeiro você evita a Fin a qualquer custo e recusa a ser sua sombra. Depois muda radicalmente de postura e diz a alguém que só está aceitando o trabalho para aproveitar a oportunidade de investigar.
Ela finalmente compreendeu o que ele estava pensando.
— Você acha que eu estou espionando para as outras revistas?
Aquilo era tão patético que ela teve de rir. Ele, porém, sequer esboçou um sorriso.
— Você pode negar que disse a alguém que estava vivendo uma mentira, que se referiu à função de sombra a como uma possibilidade de investigar e que prometeu a alguém que ia voltar e que o amava? Pode, Jessie? Porque foi isso que eu ouvi.
Ela abriu a boca para falar, mas se deteve, como se toda a situação tivesse acabado de se cristalizar em sua mente. A única maneira de fazê-lo acreditar nela seria contar-lhe toda a verdade.
Ela se deu conta de que não haveria outra maneira de dissuadi-lo daquilo que afinal de contas era uma condição bastante razoável.
— O que é que você faria se eu pudesse provar que você está completamente errado, sem a menor sombra de dúvida?
Ele se levantou lentamente, olhando para ela.
— Se você pudesse provar que eu estou errado Jessie, eu...
— Você o quê, Cade?
O amor está inevitavelmente ligado à confiança.
— Eu me sentiria um idiota completo.
Ela riu baixinho, apesar da emoção que estava tomando conta dela.
— Você não é um idiota, Cade. Pelo menos não até a segunda-feira à tarde.
Ele estendeu uma mão na sua direção e ela deixou que a puxasse da cadeira até ficar de pé em frente a ele. Ambos permaneceram em profundo silêncio enquanto olhavam um para o outro e a eletricidade ricocheteava nos poucos centímetros que os separavam.
— Prove-me que eu estou errado, Jessie. — Com se não pudesse deter a força da natureza, ele a puxo um pouco mais para perto de si. — Você não tem idéia do quanto quero estar errado.
Sua voz e o cheiro de sua pele desnuda estavam levando Jessie à loucura.
— Eu sei que você detesta essa idéia — disse erguendo o rosto em direção à sua boca, quase saboreando seu beijo, sentindo seu sexo já úmido de expectativa — mas você cometeu um erro, Cade.
Cade cobriu a boca de Jessie com a sua num beijo reprimido por quatro longos dias e quatro noites intermináveis. Ela pressionou seu corpo contra o de adorando sentir a ereção dele contra seu estômago.
Ele gemeu suavemente, do fundo do peito, deslizando a língua ainda mais fundo dentro da sua boca enquanto ela arqueava o corpo, erguendo os seios em direção dele. Cade enterrou as mãos no cabelo de Jessie e inclinou a cabeça para beijá-la ainda mais profundamente.
— Jessie — murmurou ele, contra a sua boca, seu rosto, seus ouvidos, sua garganta. — Prove que estou errado. Conte-me a verdade.
— Você está errado, Cade, eu juro. As mãos dele agarraram seus ombros e deslizaram sobre seus seios, apertando-os.
— Então me diga. Sobre o que é que você estava falando com o seu pai? O que é que você está investigando? Por que é que você tem a sensação de estar vi vendo uma mentira?
Aquelas eram perguntas absolutamente legítimas, lia abriu os olhos e se afastou do calor estonteante e sexy de suas mãos para pensar com clareza. Ela não podia contar nada a ele antes de falar com Fin, mas ainda precisava de algumas provas para se certificar que ela reagiria bem àquela notícia.
— Diga-me — insistiu ele, acariciando as suas costas e pressionando-a contra a sua ereção. — Eu preciso tanto fazer amor com você, Jessie. Tanto, tanto... — Sua voz estava rouca, sua respiração, arfante.
— Você tem de acreditar em mim, Cade — sussurrou Jessie em meio aos beijos, já latejando de desejo sentindo a calcinha umedecida.
Cade se afastou dela com muita dificuldade. Seus olhos estavam turvos de desejo e excitação e seus lábios, inchados pelos beijos apaixonados.
— Eu quero confiar em você, Jessie, mas você tem de confiar em mim também.
— Eu já lhe disse que estava falando com o meu pai.
— Certo — disse ele, evidentemente duvidando da sua palavra. — E do que é que vocês estavam falando?
— Cade — disse ela, olhando-o no fundo dos olhos. — Eu não posso contar a você. Você vai ter de confiar em mim.
Ele deu um passo para trás como se só pudesse se controlar mantendo uma distância física entre eles.
— Por que é que você não pode me contar?
— Eu não posso. Por favor, Cade. Eu não vou falar.
Ele balançou a cabeça lentamente.
— Eu não acredito nisso.
— A única coisa que eu posso lhe dizer é que real mente existe algo que você não sabe, mas eu não sou nenhuma espiã, não estou tentando obter informação alguma de você, nem estou apaixonada por outra pessoa.
Cade olhou para ela.
— Você acredita em mim?
Os olhos dele ficaram frios e sua boca se transformou num traço fino e severo.
— Eu quero acreditar, mas... Mas.
Sem dizer mais nenhuma palavra, ela passou por ele e foi embora, sem olhar para trás.
Liam Elliot desviou o olhar do seu hambúrguer e |observou o amigo.
— Você não está me pedindo um conselho amor, está?
Cade teve de rir, pousando o próprio hambúrguer no prato.
— Bem, você sabe como são as mulheres. Liam revirou os olhos.
— Pelo menos as erradas. — Ele deu uma mordida no seu sanduíche.
— Quer dizer então que você conheceu uma garota. Você gosta dela, mas acha que ela não está sendo muito honesta com você e não quer lhe dizer por quê. É isso mesmo?
— Basicamente.
O que mais ele poderia dizer?
Cade havia decidido almoçar propositadamente na lanchonete da editora, para poder entabular uma conversa mais informal com seu amigo e esquecer, por alguns instantes, que se tratava do diretor de finanças da editora Elliot.
— Onde foi que você a conheceu? — perguntou Liam.
Cade desviou o olhar, observando a decoração ultra-moderna da lanchonete. O lugar estava cheio funcionários famintos.
Liam suspirou ao perceber finalmente o que ele estava querendo dizer.
— Uau! Será que você nunca ouviu que não come a carne onde se ganha o pão?
Cade pareceu ofendido.
— Isso é carne — disse ele, erguendo o seu hambúrguer. — Ela não.
— Se você está dizendo.
Eles comeram em silêncio até Cade resolver deixar a comida de lado e retomar a conversa.
— Ela é uma estagiária — disse ele finalmente.
— Uma estag... — Liam engasgou com um gole de água. Arregalou os olhos e tossiu, conseguindo finalmente engolir. — Não é aquela de cabelos avermelhados com os óculos engraçados que tem acompanhado a Fin por aí, é?
— O nome dela é Jessie. E ela fica muito mais bonita sem os óculos.
— Ela não fica nada mal com eles — notou Lia — Mas ela é muito jovem.
— Ela tem 23 anos.
— Com tantas mulheres em Nova York, você precisava escolher justamente uma estagiária de 23 anos?
Cade lhe lançou um olhar penetrante.
— Isso não é uma brincadeira, Liam. Eu estou precisando de ajuda.
— Certo — disse ele, erguendo a mão. — Nada brincadeiras. Eu prometo.
Cade respirou fundo e olhou novamente para o mar de empregados entrando na lanchonete.
— Eu ouvi uma conversa dela ao telefone e sei que ria está escondendo alguma coisa de mim. Ela me disse que eu teria de confiar nela e que me explicaria indo mais tarde. Acha que eu devo acreditar nela?
Liam deu de ombros.
— Depende.
— Do quê?
— Do quanto você gosta dela, do quanto você a deseja e do tamanho desse segredo. — Liam limpou a boca e jogou o guardanapo no lixo. — Vamos começar do começo. A quantas anda a coisa?
Cade resmungou, sem saber ao certo como descrever os seus sentimentos.
— Acho que vou classificar isso como "bastante frio" — disse Liam, rindo. Ele se deteve de repente.
— Não me diga que você j á passou da fase do simples olhar para... Droga! Será?
— Eu ainda não tenho certeza, mas sei que não é só sexo. É mais sério que isso.
— Não é só sexo?! Quer dizer que você já traçou ela?
— Nós fizemos amor!
— Ih, cara. — Liam tentou conter o riso. — Eu sinto muito. Não estava querendo caçoar de você. Vamos então à terceira pergunta: quão importante é o segredo que ela está escondendo?
Se o diretor de finanças da Editora Elliot suspeitasse de alguma coisa como espionagem, certamente mandaria averiguar os fatos, e se as suspeitas de Cade estivessem certas, Jessie seria mandada embora e sua reputação ficaria arruinada.
— É complicado — disse ele de maneira propositadamente vaga.
Ele realmente a estava protegendo, apesar de uma parte do seu ser acreditar no pior? Para um homem cuidadoso como ele era, aquilo era um verdadeiro flerte com o desastre.
Liam se inclinou para a frente e apoiou os cotovelos na mesa.
— Eu acho que você está completamente apaixonado, cara.
Aquele definitivamente não era o conselho que ele esperava ouvir de Liam.
— Quer dizer que agora você é um especialista em assuntos do coração!
Liam sorriu.
— Quantos encontros vocês já tiveram?
— Um. — Ao ver que Liam ia irromper numa risada, ele acrescentou: — Mas um bem longo.
— Você está apaixonado.
— Eu estou é disperso e com o sono atrasado.
— Dá no mesmo. — Liam baixou a voz para dar mais ênfase ao que ia dizer. — Falando sério, Cade. Se você a ama, dê-lhe o benefício da dúvida. Você vai saber lidar com isso, seja lá o que for. Você não está correndo o risco de acabar com a sua vida ou arruinar a sua carreira.
Cade viu Shane Elliot passar pela mesa deles, antes que pudesse responder. Ele trazia uma enorme bandeja de comida nas mãos e um largo sorriso no rosto. Liam e Cade abriram espaço para ele na mesa, mas Shane declinou.
— Obrigado, mas eu tenho de falar com uma pessoa da minha equipe — disse Shane. — Nós não podemos deitar sobre os louros — completou ele, com um sorriso cúmplice para Liam. — Mais uma vez, obrigado pelas boas notícias.
— Do que é que ele estava falando? — perguntou Cade.
Liam ergueu as sobrancelhas.
— Ele está na frente? — perguntou Cade, sem hesitar. — A Buzz assumiu a liderança?
Liam olhou para Cade, embaraçado.
— Você sabe que eu não tenho permissão para falar sobre isso.
Cade coçou o queixo e olhou para o amigo. Liam não podia revelar quem estava na frente, e Cade não iria forçá-lo a ferir a ética.
— Mas foi isso o que ele deu a entender.
Liam pigarreou.
— Os números não mentem. Cade levantou-se lentamente.
— Eles estão na frente — afirmou ele novamente.
— Ainda faltam quatro meses, Cade. Muita coisa pode acontecer até lá.
Sim, qualquer coisa poderia acontecer, e se dependesse de Cade, isso não incluiria erros de espécie alguma.
Eu estou convencido de que é melhor tirar esta estagiária da cabeça e me concentrar nos negócios.
— Assim é que se fala — disse Liam, levantando-se também. — Embora eu tenha de reconhecer que nunca vi você assim por causa de mulher alguma.
Cade respirou profundamente, admitindo a verdade daquilo que Liam dissera.
— Ela não se parece com as mulheres que eu já conheci. Eu não consigo parar de pensar nela.
Eles deixaram a bandeja na esteira e se encaminharam para a porta.
— Você acha que pode estar sendo muito duro com ela? — perguntou Liam quando eles chegaram ao elevador. — Talvez você esteja tirando uma conclusão errada.
— Pode ser.
— Se ela é tão especial assim — acrescentou Liam, enquanto chamava o elevador — , talvez valha a pena arriscar.
Jessie, na verdade, não havia feito nada de errado. Talvez merecesse realmente algo mais do que aquele julgamento apressado. Sim, ela era especial a esse ponto.
— Eu acho que vou lhe dar o benefício da dúvida E algo mais — disse ele, correndo em direção às portas do saguão. — Vejo você depois.
Liam franziu a testa quando o elevador chegou.
— Você não vai voltar para o escritório?
— Tenho de fazer uma coisa antes.
Cade foi até a Park Avenue e hesitou por um momento. Aquilo que estava prestes a fazer poderia lhe render uma multa. Mas não importava. Qualquer coisa valeria a pena para devolver o brilho aos olhos de Jessie.
Chloe bateu na porta do escritório de Fin.
— Ei,Srtª. Sombra! Fin ainda não chegou?
Sentada na mesa redonda no canto do espaçoso escritório, Jessie desviou o olhar da prova que estava à sua frente.
— Oi! Ela me disse que só voltaria no final da tarde.
Ao ver o olhar interrogativo de Chloe, Jessie acrescentou.
Nós terminamos o que tínhamos de fazer esta manhã e eu fiquei aqui para revisar este artigo. Tenho muita dificuldade em me concentrar na minha baia.
— Sei muito bem o que você quer dizer — disse |Chloe. — Eu mal consigo soletrar o meu nome quando os telefones tocam todos de uma vez. Fique aí o tempo que precisar.
Bingo. Ela havia obtido a permissão da própria secretária para ficar no escritório de Fin. Seu coração saltou.
— Obrigada, Chloe. Eu não vou demorar muito.
— Será que você poderia me fazer um favor? A assistente de Cade está num curso e eu estou morrendo de fome e louca para dar uma olhadinha nas vitrines. Deus abençoe os hábitos consumistas de Chloe.
— Eu atendo os telefonemas — ofereceu-se Jessie rapidamente. — Pode ficar tranqüila.
— Acho que não vai haver muito movimento — disse Chloe. — Cade vai passar quase o dia inteiro e a manhã e nenhum dos dois tem compromissos agenda para esta tarde. Se você não se importar...
— Eu anotarei os recados para Fin. Pode fazer assuas comprinhas.
Ela lhe mandou um beijo.
— Você é uma fofa, Jessie. Eu estou muito feliz por você ter sido escolhida para ser a sombra de Fin.
Jessie sorriu, odiando a súbita vergonha que fez seu peito se apertar.
— Obrigada, Chloe. Eu estou aprendendo muito por aqui.
E quando estivesse sozinha e segura, poderia aprender muito mais.
O suficiente, esperava ela, para tomar uma decisão quanto a quando e como contar a verdade a Fin. E tinha de fazer isso, se não quisesse perder Cade.
Jessie se deteve por um instante depois que Chloe se foi e respirou fundo.
Tudo o que ela queria era alguma prova de que Fin estava interessada em encontrar a filha. Ela não tinha idéia do que isso poderia ser ou onde isso poderia e estar, mas tinha de tentar.
A mesa de Fin era tão limpa e organizada quanto mulher que a utilizava. Era certamente ali que ela guardava os seus arquivos particulares.
Ela tinha permissão para estar ali. Chloe havia pedido para atender os telefones. Se alguém entrasse no escritório, compreenderia perfeitamente a presença da sombra de Fin anotando o nome de alguém q acabara de ligar.
Jessie sentou na cadeira de Fin e se inclinou para direita para ver se não havia ninguém do lado de fora do escritório, apurando os ouvidos para checar se n havia ninguém se aproximando.
Colocou então uma folha em branco do lado direi to da mesa junto com uma caneta. O telefone estava a alguns centímetros de sua mão. Ela poderia até mesmo levantar o fone e colocá-lo no gancho como se estivesse encerrando uma ligação.
Com a respiração ofegante, ela abriu a gaveta e começou a remexer nas pastas. Quatro delas traziam os nomes de fundações para onde Fin havia feito trabalhos filantrópicos. Duas delas tinham nomes de médicos, uma outra se chamava Design e Decoração e outra ainda estava identificada com o nome da empregada de Fin.
Jessie quase riu com a estupidez e a ingenuidade de seu plano. É claro que Fin não ia deixar um arquivo contendo algum material referente à adoção de sua filha tão exposto.
Um fato, porém, era irrefutável. Fin havia se registrado num site canadense especializado em encontrar crianças que haviam sido entregues para adoção, e Jessie havia nascido num convento no Canadá.
Ela olhou para o computador de Fin e tocou numa tecla para desativar a tela de descanso.
Senha.
Isso já era demais. Ela não era nenhuma personagem de Missão Impossível para tentar entrar no computador de Fin. Sua frustração começou a aumentar. Recostando-se novamente na cadeira, começou a admirar o belo escritório de Fin.
Talvez fosse melhor esquecer a coisa toda. Ela conhecia Fin e gostava dela. Será que precisava realmente de mais do que isso?
Sim, ela precisava parar de mentir para o homem que era muito importante para ela. Ele precisava conhecer a verdade que havia por trás do trecho de conversa que ele havia ouvido. Tinha sido demais pedir a ele que acreditasse nela sem nenhuma prova.
O telefone a despertou de seus devaneios. Ela ergueu o fone, apertou o botão e impostou a voz no melhor tom profissional.
— Escritório de Finola Elliot.
— Jessie? — A voz de Fin demonstrava surpresa. — É você?
— Oh, olá, Fin. Chloe teve de dar uma saída em estou atendendo os telefonemas.
— Deixe-me adivinhar. Uma liquidação na Blingdales?
Jessie riu, divertindo-se ao ver o quanto Fin conhecia seus funcionários.
— Não, na Saks.
— Que bom que você está aí. Pode me fazer um favor?
— Claro.
— Eu deixei um arquivo com nomes de escritores freelance em cima do meu console. Estou precisando do número de telefone de David Luongo.
— Só um minuto. Vou ver se consigo encontrar.
A prateleira dos arquivos suspensos no console guardava algumas pastas coloridas, e Jessie encontrou uma com a etiqueta freelances em questão de segundos.
— Aqui está, Fin — disse ela, lendo o número pedido e fechando o arquivo em seguida.
— Obrigada, Jessie. Você já fez revisão o artigo?
— Com certeza. Vou levá-lo para a produção esta tarde.
— Você está fazendo um ótimo trabalho, Jessie. Acho que vou ficar dependente de você no final de setembro —, disse Fin afetuosamente.
— Obrigada, Fin. Eu estou aprendendo muito.
Jessie desligou o telefone e recolocou o arquivo no lugar com um sorriso nos lábios. Fin realmente gostava dela. Elas combinavam.
O que poderia acontecer de terrível, afinal, se ela descobrisse a verdade?
Ela havia vindo para Nova York para encontrar na mãe verdadeira e agora sabia quem ela era, mas isso não era o bastante. Jessie queria estabelecer uma ligação com ela. Mas será que este também era o desejo de Fin?
Num impulso, Jessie abriu a gaveta do console pura pesquisar outros arquivos. Dessa vez tratava-se de informações referentes à equipe. Ela sentiu um arrepio. Não queria espionar os seus colegas.
Os arquivos da gaveta à direita tratavam especificamente de finanças — contas a pagar, lucros dos meses anteriores, folha de pagamento.
No fundo da gaveta, porém, havia um arquivo com li etiqueta "Simpson, detetive particular". É claro que eles deviam usar esse recurso de vez em quando no mundo dos negócios, mas aquilo não deveria estar na gaveta pessoal de Fin?
Ela pegou o arquivo.
Sentindo-se extremamente culpada, ficou imóvel em frente do arquivo, sem conseguir abri-lo. Sabia que não tinha o direito de fazer aquilo. Era errado, mas necessário. Ela virou a primeira página e leu:
"De Robert F. Simpson, detetive particular, para a sra. Elliot."
Jessie engoliu em seco e se forçou a continuar leu do.
"Recebemos o seu cheque no valor de U$ 2.500,00 como pagamento para a pesquisa nos registros de adoções ocorridas no Canadá em 1982."
Seu coração parecia galopar. Deus do céu! Fin via contratado um detetive particular para encontrá-la.
Ela conseguiu fechar o arquivo e guardá-lo na veta com as pernas trêmulas, tomada de adrenalina alegria.
— Encontrou alguma coisa interessante?
Um soluço saltou de sua garganta ao se virar para ver quem era.
O tom de acusação de Cade era tão penetrante quanto a decepção em seus olhos. O pior, porém, era braçada de flores amarelas que ele trazia nas mãos
O sangue fugiu das faces de Jessie e seu corpo começou a tremer visivelmente.
— Nem tente mentir — disse Cade em voz baixa. — Eu já estou aqui há alguns minutos.
Mais precisamente desde que havia ouvido a sua voz, ao telefone e se aproximado com uma boa dose de esperança e confiança. O que ele havia descoberto, porém, fez com que toda e qualquer esperança que ele tinha de um futuro com Jessie Clayton murchasse muito antes das flores.
Se ela ao menos estivesse mexendo em qualquer coisa que não fossem aqueles arquivos. Mas só havia uma razão para ela estar bisbilhotando ali.
— Eu não vou mentir — disse ela com voz firme, apesar da culpa.
Ele apertou o ridículo buquê de flores que tinha acabado de roubar do meio da Park Avenue com tanta força que o caule de algumas delas acabou se quebrando.
— Eu posso explicar — prosseguiu ela —, mas não exatamente agora.
E claro que não — retrucou ele com sarcasmo.
— Você primeiro vai ter de falar com quem está lhe pagando para fazer isso.
Ela balançou a cabeça.
— Cade, você precisa...
— Não. — Ele tentou conter o impulso infantil de jogar as flores no chão. — Você precisa ir embora, agora.
Ela jogou a cabeça para trás como se ele tivesse lhe dado um tapa na cara.
— Está me despedindo?
Ele não podia estar falando sério.
— Jessie, eu acabei de flagrá-la lendo registros confidenciais. Não há nenhuma outra razão plausível para você estar mexendo naquela gaveta que não seja para acessar informações que possam beneficiar nossos adversários.
Ela abriu a boca, mas ele ergueu a mão, impedindo-a de falar.
— Nem se incomode. Fin jamais lhe pediria para pegar alguma coisa nesses arquivos, portanto é melhor não inventar nada. Pegue as suas coisas e vá embora. Eu não vou chamar a segurança.
— Segurança? — disse ela, engasgando. — Cade você vai se arrepender muito quando descobrir o erro que está cometendo.
— Eu já estou muito arrependido por ter confiado em você. Estou arrependido por... — Não, ele não tava arrependido por ter dormido com ela. Não teria aberto mão daquele prazer e daquela conexão por nada neste mundo. — Meu único erro foi ter me apaixonado por você.
Ela ficou olhando para ele. Recuperou a cor lentamente e ergueu o queixo numa postura desafiadora. Depois caminhou em direção a ele com os ombros erguidos e o olhar firme.
Por um agonizante e insano momento, ele achou que ela ia beijá-lo.
Em vez disso, porém, ela se deteve diante dele, tirou os seus óculos deliberadamente e os jogou no chão. Sem tirar os olhos de cima dele, ela pisou neles e os quebrou.
— Você não tem idéia de por quem foi que você se apaixonou, Cade.
Ela saiu pisando duro, deixando um rastro daquele perfume poderoso de problema no escritório de Fin e um par de óculos esmigalhado no chão.
Jessie se sentou no Central Park e ficou observando as pessoas que passeavam por lá. Nenhuma delas havia tido a felicidade extrema de obter o melhor das pessoas para depois ter o coração partido em poucos minutos.
Ela sabia que nem todos os pais que utilizavam esses serviços ansiavam realmente por reencontrar seus filhos. Muitos deles desejavam apenas obter uma garantia de que tudo estava bem com eles. Talvez Fin só quisesse saber se ela estava viva e se havia sido criada por uma boa família.
Com um profundo suspiro, Jessie fechou os olhos.
Tentou imaginar a expressão no rosto de Fin quando ela descobrisse a verdade, mas só conseguiu ver os olhos cinza gelados de Cade olhando-a como se ela fosse uma criminosa.
Meu único erro foi ter me apaixonado por você. Uma dor quase insuportável se apoderou dela novamente. Jessie nunca ia conseguir esquecer que ele a havia demitido sem nem mesmo se dispor a ouvir o que ela tinha a dizer.
No final das contas, a despeito de todo o seu trabalho de observação, ela havia confiado no executivo errado. Era Cade quem colocava o trabalho na frente das relações pessoais, e não Fin. Era a Cade que ela deveria ter evitado, e não a Fin.
Ela olhou para o seu relógio. Fin deveria estar de volta a qualquer momento.
Jessie se levantou e começou a caminhar em direção ao tráfego atribulado de Manhattan, sem nenhuma hesitação.
Ela não tinha mais medo de Nova York.
Cade se jogou na cadeira em frente a Fin, ainda com os cacos dos óculos nas mãos.
— Pare de se censurar — disse Fin com firmeza, — Você não é o primeiro homem a se deixar seduzir por uma carreirista, nem será o último.
— Eu não fui seduzido, Fin.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Mas você tem de admitir que não estava pensando exatamente com o seu cérebro.
— Como eu gostaria que as coisas fossem tão simples assim.
Fin olhou-o mais de perto.
— Está querendo me dizer que realmente gostava dela?
— Sim, é exatamente isso o que eu estou dizendo,
— Bem — disse Fin —, ela realmente é uma graça. Ela me ganhou em apenas uma semana.
Ela saiu daqui pisando duro, dizendo que eu não sabia com quem estava falando.
— O que foi exatamente que ela disse? — perguntou Fin. — Este tipo de ameaça não me parece muito conveniente com o caráter dela.
— E quem sabe qual é o verdadeiro caráter dela?
— Ela me disse: "Você não tem idéia de por quem foi que você se apaixonou, Cade." — Ao ver Fin erguer as sobrancelha, ele acrescentou: — Eu lhe disse Que estava arrependido por ter me apaixonado por ela
— Isso foi muito grosseiro.
— Fin! Ela estava fuxicando seus arquivos, lendo anotações confidenciais! O que você queria que eu dissesse? "Como você está linda aí espionando para os nossos adversários. Posso ajudá-la em alguma coisa?"
Ele olhou pensativamente para o console.
— Em que gaveta ela estava mexendo?
— Ele indicou vagamente o lado direito.
— Na de finanças. Mas ela também olhou a folha pagamento. — Ele balançou a cabeça, revivendo o momento em que havia parado na porta do escritório ao ouvi-la falar com Fin ao telefone.
A atenção de Fin continuou voltada para o arquivo do console.
— E por falar em adversários — acrescentou Cade —, eu me esqueci completamente da melhor parte deste dia excelente.
— O que foi?
— A Buzz está na frente.
— Como? — Ela voltou toda a sua atenção para ele. — Como é que você sabe disso?
— Liam... Bem, ele não me contou exatamente nada, mas eu vi Shane na lanchonete com um sorriso inabalável no rosto. Liam não confirmou, nem negou nada, mas disse que os números não mentiam.
Fin se jogou na cadeira com desgosto.
— Nós não podemos perder, Cade.
— Eu sei. Será que foi o seu irmão gêmeo quem contratou a nossa espiã?
Ela balançou a cabeça.
— Shane não. Também não consigo imaginar que Michael ou Cullen fossem capazes de descer tão baixo.
— Talvez Daniel tenha feito alguma coisa antes ele e Amanda decidirem viajar e lançar a nova revista sobre aventuras e Michael tenha esquecido de avisar isso a Cullen quando ele assumiu a revista.
Fin balançou a cabeça.
— Gannon?
O filho de Michael era o seu braço direito e ocupava o mesmo cargo que Cade na Pulse.
— Eu duvido muito. O casamento com Erika o acalmou.
— A felicidade não tira de ninguém o desejo de vencer uma contenda.
— Eu não posso acreditar que Shane esteja na frente — disse Fin, ausente.
— Ele é o seu irmão gêmeo, Fin. Tem o mesmo DNA competitivo em suas veias.
— Ele corre nas veias de todos os membros de nossa família — disse ela — e é por isso que eu não consigo negar com toda a certeza a sua teoria de que Jessie Clayton é uma espiã.
— É um fato, não uma teoria — disse Cade, erguendo-se da cadeira com os pedaços de óculos e as Mores. — Pode jogar isso fora para mim?
Ela pegou os restos, olhando para as flores com um olhar agridoce de simpatia.
— Eu não tinha idéia de que você era tão romântico Cade.
— Tão estúpido, você quer dizer.
— Você não é estúpido, Cade. O fato é que ela era muito melhor atriz do que nós todos pudemos supor. E apontou para os óculos.
— E até usava o seu próprio disfarce.
Fin olhou para os cacos.
— Fico me perguntando por que ela queria tanto se esconder.
— Porque ela era uma farsa, do início ao fim. Uma mentirosa.
— Não deixe que o amor o torne amargo, Cade.
— Amor? — repetiu ele, praticamente cuspindo a palavra. — Isso não tem nada a ver com amor. Eu só me aproximei dela por causa das minhas suspeitas.
— Bem, parece que o seu plano falhou, não é?
— Tudo o que eu queria era saber por que ela a estava evitando. Eu deveria tê-la pressionado mais.
— Ela sabe que foi por isso que você a convidou para sair? — perguntou Fin.
Ele deu de ombros.
— Provavelmente não. Mas agora nós estamos quites, porque eu a desmascarei e isso é tudo o que importa.
— Não, isso não é tudo o que importa.
Cade teve um sobressalto ao ouvir a voz de Jessie virando-se para vê-la na porta, com os seus cabelos castanhos soltos sobre os ombros e seus olhos cor de esmeralda brilhando como as pedras de uma coroa.
— O que você está fazendo aqui? — interpelou ele.
— Eu preciso falar com Fin.
Cade deu um passo para o lado como se quisesse defender Fin do ataque de um inimigo.
— Ela não tem nada para falar com você.
— Mas eu tenho uma coisa para dizer a ela e mereço essa oportunidade.
— Vou chamar a segurança, Fin — disse ele, dirigindo-se para o telefone.
— Cade — disse Fin, levantando-se e dando a volta na mesa —, eu vou ouvir o que ela tem a dizer.
— Obrigada — disse Jessie. — Finalmente alguém se dispõe a ouvir uma explicação.
— Mas eu não estou disposta a ouvir mentiras — disse Fin com firmeza.
— Nada de mentiras — disse Jessie —, mas eu gostaria de falar com você em particular.
— Não — respondeu Fin, rapidamente. — Eu não tenho segredos para Cade. Você também o enganou, ele tem todo o direito de ouvir o que você tem a dizer.
— Acredite, Fin, você não vai querer que ele ouça o que eu tenho a dizer.
Cade viu a expressão transtornada no rosto de Fin.
— Isso é particular — disse Jessie, dando mais um passo para dentro do escritório. — Só diz respeito a você e a mim.
A respiração de Fin ficou presa na garganta. Seus olhos tão verdes quanto os de Jessie se arregalaram ao olhar para ela.
— Quantos anos você tem?
Cade ficou confuso com a pergunta de Fin. O que a idade de Jessie tinha a ver com tudo aquilo? Jessie, porém, não se retraiu diante da pergunta. Na verdade, ela deu um passo à frente e ergueu um pouco mais o queixo.
— Eu tenho 23 anos, Fin — disse ela, como se aquilo realmente importasse.
Fin continuou olhando fixamente para ela. De repente, todos os pêlos de seu braço se arrepiaram. Ele olhou para Jessie e viu sua boca tremer e os olhos brilharem. Meu Deus! Ela estava chorando também? O que é que estava acontecendo ali?
— Eu encontrei uma carta no arquivo — disse Jessie, com a voz embargada, mal conseguindo articular as palavras. — Por isso, espero que você realmente esteja procurando por mim.
— Oh, meu Deus! — Fin cobriu a sua boca enquanto as lágrimas rolavam pela sua face. — É você! Como foi que eu não percebi isso antes?
Fin soltou um grito e as duas mulheres caíram uma nos braços da outra. Jessie enterrou o rosto no pescoço de Fin, tremendo.
— Eu não sabia se devia lhe contar — murmurou Jessie entre lágrimas.
— Você não tem idéia — sussurrou Fin — de como eu sonhei com este dia.
Nada, absolutamente nada do que ele estava vendo fazia algum sentido. Por que elas estavam chorando? E por que estavam se abraçando? Ele pigarreou com força.
— Será que alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui?
Fin olhou para ele, ainda agarrada a Jessie, com se toda a sua vida dependesse daquilo. As lágrimas haviam borrado toda a sua maquiagem e a sua boca tremia.
— Jessie é minha filha.
Sua filha? Aquelas palavras lhe tiraram o fôlego. Sua filha? Jessie também se voltou para Cade. Ele procurou em seu rosto alguma resposta, explicação ou pedido de desculpas que pudesse reconectá-los, mas tudo o que encontrou foi aquilo que ela havia tentado esconder por meses.
Seus olhos tinham exatamente o mesmo formato e a mesma cor que os de Fin.
Ele deu um passo para trás, erguendo as mãos como que para deter a onda de emoção que vinha das duas mulheres e a sua própria decepção ao perceber que Jessie o havia enganado por uma boa razão, e ele, idiota, estúpido, havia acreditado no pior.
— Eu vou deixar vocês a sós — foi tudo o que ele conseguiu dizer. — Tenho certeza de que vocês têm muita coisa para dizer uma à outra.
Fin fechou os olhos e apertou novamente Jessie em seus braços. Jessie, porém, sustentou o olhar de Cade por mais alguns segundos para lhe lançar uma mensagem clara. Ela nunca o perdoaria por não ter confiado nela.
Fin não conseguia desgrudar de sua filha. Cada vez que Jessie se afastava para dizer alguma coisa, Fin a apertava com mais força, com um suspiro extasiado.
Os segredos e as eternas perguntas, as observações, e principalmente o medo de não saber qual seria reação de Fin haviam ficado para trás.
Fin afastou Jessie o suficiente para poder avaliá-la por inteiro.
— Você é uma Elliot — anunciou Fin com um riso suave. — Como foi que eu não percebi isso antes?
— Eu fiz o melhor que pude para você não de cobrir.
— Por que você esperou tanto tempo para me contar? — perguntou Fin, apertando os ombros de Jessie — Quando foi que você descobriu? Oh, meu Deus, você se empregou aqui para me conhecer, não foi? — Seus olhos escureceram ao olhar para o console. — Você não estava espionando os documentos da Charisma. Você encontrou o arquivo do detetive.
— Sinto muito, Fin.
Ela colocou um dedo sobre os lábios de Jessie.
— Eu compreendo.
Um peso insuportável saiu do coração de Jessie,
— Obrigada, Fin.
— Por querer conhecê-la? Você está brincando? Fiz de tudo para encontrar você desde que deixei de depender do meu pai.
— Seu pai? — A imagem do homem rude de cabelos brancos que ela havia visto apenas de longe lhe veio à mente. Seu avô biológico. — Ele sabia? Ele não queria que você me encontrasse?
Fin fechou os olhos e respirou fundo.
— Nós temos tanta coisa para conversar.
— Temos mesmo — concordou Jessie. — Vinte e três anos pelo menos.
— Eu mal posso acreditar que você está aqui — repelia Fin incessantemente, quase sem conseguir falar. Fin tocou o rosto de Jessie mais uma vez. — Você é tão bonita, tão doce, tão inteligente.
Jessie riu, sem graça.
— Você é suspeita.
— Pode apostar nisso. E também tenho muito orgulho de você.
— E eu de você — disse ela, finalmente capaz de olhar Fin nos olhos. — Eu acho você surpreendente.
Fin conteve as lágrimas.
— Como foi que você me encontrou?
— Através da irmã Tarsisius.
— Como? Jessie sorriu.
— A madre superiora do convento Santa Teresa da Pequena Flor. Ela finalmente me revelou o seu nome. Eu precisei investigar um pouco, mas com base no que minha mãe já havia me contado... — Jessie vacilou e suspirou. — Minha mãe, minha mãe adotiva, faleceu há três anos.
— Oh, minha querida. Eu sinto muito. Posso imaginar o quanto vocês eram próximas.
Jessie avaliou a expressão de Fin tentando descobrir se aquele assunto a incomodava.
— Nós éramos muito unidas, assim como o meu pai e eu.
— Ele está no Colorado?
— Sim, eu cresci num rancho em Colorado Springs.
Fin fez uma reverência.
— Então você entende tudo de gado!
— E de cavalos também, mas o meu pai é que é verdadeiro rancheiro. — Jessie se deteve por um mento. — Eu quero dizer, o meu pai adotivo.
Fin tomou a mão de Jessie nas suas.
— Querida. Você não tem de fazer essas ressalvas. Seus pais criaram e amaram você e fizeram um trabalho maravilhoso. Eu serei eternamente grata a eles.
Jessie se recompôs e enxugou as lágrimas com n palma da mão.
— É melhor nós arranjarmos uma caixa de lenços, de papel — disse ela, rindo.
— É verdade. Nós vamos precisar de muitos lenços e de muito tempo. — A voz de Fin falhou um pouco. — Eu queria ficar sozinha com você sem ser interrompida por ninguém até nós colocarmos estes 23 anos em dia.
Chloe abriu a porta e colocou o rosto na fresta. Seus olhos escuros faiscaram ao ver as duas abraçadas.
— Está tudo bem? — perguntou Chloe.
Jessie se empertigou. Será que Fin ia querer que todo mundo soubesse que ela era a sua filha?
— Tudo maravilhoso! — exclamou Fin. — Mas você vai ter de me fazer um favor.
Chloe abriu um pouco mais a porta, franzindo testa ao olhar para Fin e então para Jessie.
— Vocês estão chorando?
Fin deu um passo à frente, instintivamente protegendo Jessie.
— Nós estamos tendo um momento de emoção, Chloe. Todas as mulheres têm esse direito.
— É claro — concordou Chloe. — Do que é que precisa, Fin?
— Cancele todos os meus compromissos de hoje e a semana que vem.
Chloe quase engasgou.
— Está falando sério? Você tem alguns encontros importantes, inclusive um com o seu pai.
— Meu pai pode saltar do alto do prédio se quiser.
Jessie e Chloe tomaram um susto, mas Fin apenas sorriu.
— Ele me deve este tempo que eu estou tirando de folga.
— E a disputa? — perguntou Chloe. — E os prazos?
— Minhas prioridades acabam de mudar — disse Fin, radiante, passando os braços em torno de Jessie estreitando o seu abraço. — Cade pode cuidar de tudo enquanto eu estiver fora.
— Bem, se é isso o que você quer. — Chloe olhou para Jessie como se a estivesse vendo pela primeira vez. — Creio que você vai continuar como a sombra da Fin.
— Sim — disse Jessie, sorrindo para Fin. — Pode-se dizer que sim.
— Não precisa explicar nada a ninguém — disse Fin. — Apenas informe a todos que eu vou tirar um tempo para resolver questões pessoais e que não quero ser perturbada em hipótese alguma.
Chloe assentiu, saindo da sala.
— Vai dizer isso tudo a Cade antes de ir embora?
Fin abriu a boca, mas então franziu a testa como estivesse repensando a resposta para dar àquela pergunta. Ela olhou para Jessie.
— Imagino que você queira falar com ele.
Será? Que satisfação ela poderia obter daquela situação? Ele lhe pediria desculpas e talvez ficasse zangado por ela não ter lhe contado a verdade, ou então lhe daria alguma falsa explicação para o fato de tê-la convidado para sair que não a de que a estava investigando.
Ela ainda se lembrava muito bem das palavras que o ouvira proferir ao se aproximar do escritório de Fin, pronta para confessar tudo.
Eu só me aproximei dela por causa das minhas suspeitas.
Então era por isso que ele tinha dormido com ela? Será que ele achava que ia arrancar alguma confissão dela em meio aos espasmos de prazer?
O desgosto tomou conta dela. Não. Ela não tinha mais nada a dizer a Cade.
— Eu não quero falar com ele — disse Jessie, nu voz baixa.
— Mas eu quero falar com você. — Lá estava ele, mais uma vez de pé, na porta do escritório, só que, com um olhar bem menos acusador do que antes — Se for possível.
Fin cutucou Jessie.
— Vá lá — disse ela, indicando da sala de reuniões ao lado de seu escritório. — É melhor você conversar com antes de irmos embora.
Cade olhou agradecido para Fin, enquanto Jessie saia para a sala ao lado sem dizer uma palavra. Ao chegar lá, ela se dirigiu imediatamente para as janelas e permaneceu lá enquanto ele fechava a porta.
— Eu sinto muito, Jessie.
— Pelo quê, Cade? — disse ela, sem se virar. — Por ter me convidado para sair com segundas intenções, por ter feito falsas suposições a meu respeito ou por ter ameaçado chamar a segurança quando eu quis falar com Fin?
Ela finalmente se voltou para ele. A luz que entrava pela janela evidenciava o brilho em seus olhos verdes, mostrando tanta amargura quanto a sua voz.
— Por tudo isso — disse ele. — Eu deveria ter acreditado em você, não deveria ter feito o comentário sobre a segurança, mas eu não a convidei para sair só por causa das minhas suspeitas.
A expressão de Jessie deixou bem claro que ela não acreditava no que ele acabara de dizer.
— E acima de tudo, eu só fiz amor com você porque aquilo era...
— Bom? Incrível?
— Real.
Ela fechou os olhos e não respondeu.
— Por que você não me contou?
— Fin tinha o direito de saber antes.
— É claro que sim.
Ele também havia chegado a essa conclusão nos últimos dez minutos que tinha passado em seu escritório tentando juntar as peças daquele quebra-cabeças.
— Você não teria acreditado em mim. — Ela cruzou os braços e deu um passo em sua direção. — O que acaba de acontecer aqui com Fin foi a coisa mais maravilhosa que ocorreu comigo nos últimos tempos. Eu esperei a minha vida inteira para saber... Sua voz falhou e ele instintivamente estendeu a mão na sua direção.
— Jessie, eu estou muito feliz por você.
Ela endureceu quando ele tocou os seus ombros.
— Como foi que você descobriu que Fin era a sua mãe verdadeira?
Ela o encarou.
— Eu descobri o nome dela e vi que ela tinha se inscrito num site de pesquisas sobre adoções.
— Quer dizer que você veio para cá só para conhecê-la?
Ela se desvencilhou dele.
— Eu sou formada em design gráfico e estudei moda, se é isto o que você está insinuando.
— Eu não estou insinuando nada.
Como eles estavam longe da proximidade daquele fim de semana...
— Quando eu descobri que a mulher que comandava a minha revista favorita era a minha mãe verdadeira, tudo fez sentido para mim. O gene da moda do design deve ser bastante forte. Eu quis conhecer e saber se ela realmente queria encontrar uma razão e saber porque ela havia entregado para adoção havia tantos anos. Foi por isso que eu me candidatei ao estágio.
— E por que você a evitou por tanto tempo?
— Porque achei que bastaria ela olhar para mim e descobrir quem eu era — disse ela, indicando o rosto.
Como é que ele não tinha percebido o quanto ela se parecia com Fin? O arco das sobrancelhas, a leve inclinação para cima dos olhos verdes e até mesmo o queixo delicado e as sardas que lhe davam um ar de pimentinha.
— É engraçado como a gente não enxerga as coisas quando não as está procurando. Acho que eu não teria feito a conexão mesmo se você não usasse aqueles óculos.
Ela ficou em silêncio por um momento, olhando-o com aqueles olhos cheios de dúvida e dor.
— Você me magoou muito — disse ela finalmente.
A simplicidade daquela afirmação acabou com ele.
— Eu sinto tanto, Jessie. Você acha que pode me perdoar?
— Eu posso perdoá-lo, Cade. Posso até compreender que você pensou o que pensou. — Ele estendeu a mão em sua direção, mas ela deu um passo para o lado evitando o seu toque. — Mas eu pude ver quem você realmente era, Cade.
— Quem eu realmente era? — Ele odiou o tom da voz — Eu estava tentando tomar cuidado para...
Ela o silenciou erguendo uma mão.
— Você fez o que achava que era certo. Você colocou a companhia e o trabalho na frente, e isso é admirável.
— Mas?
— Mas você fez amor comigo duvidando de mim o tempo todo.
— Não é verdade. Não depois de ter passado algum tempo com você. — Como é que ele poderia fazê-la acreditar em suas palavras? — Mas quando eu a ouvi ao telefone falando daqueles segredos. Quando você não quis me dar respostas, tudo fez sentido para mim.
— Pois para mim não.
— Jessie. — Dessa vez ele agarrou as suas mãos e a puxou em sua direção, enlaçando-a. — Por favor, me dê outra chance.
Cade baixou a cabeça e beijou suavemente os seus cabelos. Ele estava disposto a esperar. Estava disposto a deixar que ela elaborasse aquele enorme acontecimento.
Ela se soltou do seu abraço.
— Eu esperei demais por esse dia para permitir que qualquer coisa o estrague — disse ela, voltando ao escritório de Fin sem se virar para trás.
Ele fechou os olhos e sentiu a dor transpassar seu corpo. Seu olhar recaiu sobre a fotografia na parede Ela estava tão sexy, tão bonita, tão fresca. Aquela fotografia havia capturado tudo o que ele mais amava em Jessie.
Amava? Sim, por que lutar contra os seus sentimentos? Aquilo era amor, e era real. E podia ter acabado de chegar ao fim.
Para um homem que odiava cometer erros, ele havia cometido o pior deles.
Jessie estava saboreando um vinho depois de um longo e delicioso jantar na casa de Fin.
Ela e Fin já haviam conversado por horas, sem, no entanto, tocar em diversos assuntos importantes.
Fin parecia obcecada por resgatar todos os momentos da vida de Jessie de que ela não havia podido participar — seus primeiros passos, suas primeiras palavras, os tempos de escola.
Agora, porém, com o cair da noite, Fin parecia finalmente pronta a também fazer as suas revelações.
— Eu sempre disse a mim mesma que conseguiria encontrá-la para poder perdoar os meus pais.
— O que foi que aconteceu naquela época? — perguntou Jessie suavemente. — Como foi que você tomou a decisão de abrir mão do seu bebê?
Fin revirou os olhos.
— Eu não tomei nenhuma decisão, minha querida. Eu tinha apenas 15 anos e era a filha do homem mais dominador e controlador que você pode imaginar, casado com uma mulher que não tinha coragem de se opor a ele, pelo menos não publicamente.
A imagem de uma adolescente atormentada e assustada naquela situação não combinava com a mulher ambiciosa e dinâmica que Jessie havia aprendido a amar. Seu coração ficou apertado ao pensar em como ela devia ter sofrido na época.
Fin remexeu nas franjas da almofada em seu colo antes de conseguir olhar novamente para Jessie.
— O nome dele era Sebastian Deveraux, e eu o amava, tanto quanto é possível amar alguém aos 15 anos de idade.
— Sebastian Deveraux — disse Jessie, pronunciando pela primeira vez na vida o nome de seu pai biológico. — Muito sexy.
Fin riu.
— Ele era mesmo.
— Era? Ela pegou na mão de Jessie.
— Ele morreu, querida.
— Quando?
— Cinco anos depois que você nasceu, num acidente de carro. Eu nunca mais o vi depois que os meus pais descobriram que eu estava grávida. Ele pertencia a uma família da mesma classe social que nossa. Os pais dele ficaram tão aborrecidos com a situação quanto os meus. Eles o enviaram para uma academia militar pouco depois de os meus terem me enviado para uma instituição para eu terminar os meus estudos — disse ela — que, como você sabe era apenas um eufemismo para falar do convento Santa Teresa da Pequena Flor, onde eu tive você.
— Você... — O estômago de Jessie grudou em sua coluna. — Você chegou a pensar em ficar comigo?
— Oh, meu Deus. — Fin jogou a almofada n chão para abraçá-la. — Você não imagina o quanto. Quando aquela freira a levou embora... — A voz Fin falhou ao encostar sua bochecha na de Jessie.
— Eu nunca vou esquecer aquele momento enquanto eu viver. Aquela mulher horrorosa vestida de preto, desaparecendo com o meu pequenino bebê. — Ela tremeu e apertou Jessie com mais força. — Elas não me deixaram tomar você nos braços. Uma das freiras, porém, sussurrou: "Você deu à luz uma menina perfeita."
O coração de Jessie revirou dentro do peito.
— Eu repeti essas palavras para mim mesma mais de um milhão de vezes depois disso — admitiu Fin.— Eu tenho uma menina perfeita. Em algum lugar do mundo.
Mãe e filha permaneceram abraçadas por um bom tempo.
— É claro que eu culpei o meu pai — prosseguiu ela, como se não pudesse mais parar depois de ter começado a contar a sua história. — Ele as instruiu para não me deixar abraçá-la, para não me deixar ficar um minuto com você. Eu o odiei por isso e também a minha mãe por ter cooperado com tudo.
— Oh, Fin. Ela balançou a cabeça.
— Uma mulher que deu à luz tantos filhos deveria ter mais compaixão.
O impacto das palavras de Fin se abateu sobre Jessie. Será que seus avós iam se recusar a aceitá-la?
Uma leve batida na porta de Fin surpreendeu as duas.
— O porteiro não avisa antes de deixar alguém subir? — perguntou Jessie.
— Não quando a visita também mora no prédio — disse Fin, levantando-se para abrir a porta. — É você, Shane?
— O que é que está acontecendo, Fin? — perguntou Shane do outro lado da porta. — — Por que você desapareceu desse jeito? Chloe me disse...
Fin abriu a porta e olhou para seu irmão gêmeo.
— O que foi que Chloe disse?
Shane olhou para Jessie.
— Chloe me disse que vocês duas estavam chorando e agindo de forma muito estranha.
— Eram lágrimas de felicidade, Shane. Venha cá, eu quero que você conheça uma pessoa.
Jessie se levantou lentamente. Ela já tinha visto Shane na editora. Não havia como ignorar aquela versão masculina de Fin, seu tio de sangue.
Shane entrou no apartamento, sorrindo para Jessie, mas olhando estranhamente para a sua irmã.
— Vocês estão numa reunião ou coisa parecida?
Fin passou o braço em torno do ombro de Shane e o guiou até a sala de estar. Seus olhos brilhavam e seus lábios exibiam um sorriso triunfante e secreto que transmitiu a Jessie a necessária injeção de confiança de que ela tanto precisava.
— Shane, essa é Jessie Clayton.
Ele estendeu uma mão para cumprimentá-la.
— Acho que já fomos apresentados. Você não estagiária da Charisma.
Jessie inclinou a cabeça enquanto apertava a sua mão.
— Entre outras coisas.
— Shane — disse Fin, apertando o braço do irmão. — Olhe bem para ela.
Ele o fez. Longamente. Uma expectativa tomou tonta de Jessie.
— Olhe para ela — repetiu Fin, abandonando-o pura se colocar ao lado de Jessie e enlaçá-la pela cintura. — Adivinhe quem é essa? Não dá para perceber?
Shane franziu a testa e se pôs a observá-las. A ruga entre os seus olhos de repente se aprofundou e ele deu um passo para trás.
— Não!
Fin apertou a cintura de Jessie.
— Sim!
— Meu Deus! Você a encontrou, Fin! — Ele passou os dedos no cabelo, rindo e balançando a cabeça enquanto olhava para Jessie. — Você a encontrou!
— Ela me encontrou — disse Fin suavemente. Shane deu um passo para a frente e envolveu Jessie num caloroso e apertado abraço.
— Eu não posso acreditar nisso!
Jessie era puro deleite ao se deixar abraçar por Shane com seu explícito entusiasmo, desde já concorrendo ao posto de tio favorito. Assim como Fin havia feito anteriormente, ele se afastava, olhava para ela e abraçava novamente. Assim como Fin também, ele tinha milhares de perguntas para lhe fazer e as interrompia o tempo todo, surpreso por ela ser uma Elliot característica e ter passado desapercebida todo este tempo.
A conversa então se concentrou em torno de Patrick Elliot. Shane e Fin trocaram um olhar que dizia tudo.
— Vocês podem falar francamente — disse Jessie. — Ele vai me odiar.
Nenhum deles respondeu.
— E a mãe de vocês? — perguntou Jessie.
Eles trocaram olhares mais uma vez. Fin cruzou os braços desafiadoramente.
— Eu não me importo com o que nenhum dele disser. Eles roubaram você de mim. Quer dizer, meu pai a roubou, mas a minha mãe permitiu que ele o fizesse.
Shane pousou sua mão sobre o ombro de Fin para confortá-la.
— Já se passaram muito anos, Fin.
— Nós estamos falando de Patrick Elliot, o grande controlador.
— Vocês acham que ele vai me rejeitar abertamente? — perguntou Jessie. — E a sua mãe também
Shane balançou a cabeça.
— A mamãe vai fazer o que for melhor para a família, seguindo as diretrizes do papai.
— Ele nunca engoliu o fato de que a queridinha dele ficou grávida aos 15 anos — disse Fin. — Mas eu vou proteger você. Se alguém se meter com você vai ter de se haver comigo.
— E comigo também — disse Shane, levantando se. — Para falar a verdade, isso precisa de uma celebração.
Fin olhou para ele.
— No que é que você está pensando?
Ele sorriu.
— Numa festa oficial de boas-vindas a Jessie. Acho que já é hora dos Elliot deixarem essa competição de lado e calçarem seus sapatos de dança.
— Dança? — repetiu Jessie, rindo.
— Exatamente — disse Shane. — Dança, champanhe, roupa a rigor. Esse é um evento enorme na história dos Elliot. Como um casamento, um nascimento, um bodas de ouro.
— Oh, Shane! — exclamou Fin, batendo palmas em deleite. — Eu adorei a idéia.
Shane se agachou na frente de Jessie.
— Sabe, Jessie, nós perdemos alguns membros da família ao longo dos últimos anos. — Ele tomou a sua mão e a apertou. — Eu gostaria muito de promover um evento de gala para mostrar à nossa família e a lodo o resto do mundo o quanto você é bem-vinda. Posso?
Jessie piscou e ficou olhando para o seu tio, e então para Fin, que já não se importava em esconder as lágrimas que rolavam pelo seu rosto.
— Eu não posso acreditar na minha sorte.
— Não, Jessie — sussurrou Fin, pegando novamente a almofada e apertando-a contra o peito. — Quem tem sorte aqui sou eu.
— Nós precisamos fazer uma lista de convidados anunciou Shane. — Todos os membros da família, os amigos mais próximos, os executivos de todas as revistas.
— Não. — Diante da surpresa de ambos com a sua rejeição, ela acrescentou: — Isso é só para a família e os amigos, não é?
— Mas nós somos amigos da maioria das pessoas que trabalham conosco — disse Shane.
Fin lançou um olhar cúmplice para Jessie.
— É por causa de Cade, não é?
Fin sabia que eles haviam tido um relacionamento e estava presente quando ele a acusou de espionagem. Shane, porém, não tinha idéia de nada disso.
— Cade McMann deve estar se roendo por dentro depois do que aconteceu esta noite.
Aquele pensamento deu a Jessie uma certa satisfação.
— Está bem, pode incluir o nome dele na lista. Por que não, afinal?
— Onde está a chave do Grande Armário? — perguntou Jessie ao telefone, em voz baixa.
— Do que é que você está falando? — perguntou Lainie com a voz sonolenta. — Onde é que você está?
— Eu estou no trabalho e preciso da chave.
Jessie tinha dormido na casa de Fin na sexta à noite e passado o sábado lá também. Havia ligado para Lainie e seu pai no domingo. Travis tinha ficado muito feliz com o fato de Fin a ter acolhido tão bem, mas Lainie a havia atormentado com uma série de perguntas que ela não quis nem queria responder ainda.
— Que horas são? O que é que você está fazendo aí?
— São quase 23h15 — disse Jessie.
— E o que é que você quer do Grande Armário?
— O vestido verde do Oscar de La Renta.
— Ohh — agitou-se Lainie. — Vestida para matar. Eu acho que é o seu tamanho.
— Fin disse que eu poderia vesti-lo na minha festa de boas-vindas.
— Você vai ficar linda com aquele vestido. Ele combina muito bem com os seus olhos.
— Obrigada. Agora me diga onde está a chave? Aqui está muito escuro e assustador.
— No canto esquerdo da minha gaveta, ao fundo.
— Obrigada, Lainie. — Jessie imaginou ter ouvido um som no corredor, mas não avistou ninguém em meio à escuridão. — Depois conversamos melhor. Jessie entrou no Grande Armário e acendeu uma luz suave por trás da cabine. Ela não queria chamar a atenção do guarda-noturno. Ele jamais acreditaria que ela era a filha da editora-chefe da revista e que sua mãe havia lhe dado permissão para pegar um De La Renta emprestado para usar numa festa em sua homenagem.
Andando na ponta dos pés, ela seguiu direto em busca do seu objetivo. Com mãos reverentes, ela abriu o zíper da proteção que envolvia a roupa. Ela havia se apaixonado por aquele vestido desde a primeira vez em que o havia visto. A parte de cima era uma espécie de camisola de alças, inteiriça, até os quadris, mas a parte de baixo era feita de cerca de vinte camadas sedosas e transparentes de organza que caíam em cascata até o chão.
Aquele homem era realmente um gênio. Jessie tirou o vestido do cabide. Ela não queria levar aquela criação para casa de metrô sem ter absoluta certeza de que queria vesti-lo na festa. Tinha de experimentá-lo antes.
Ela tirou os jeans que havia pegado emprestado de Fin e a camiseta branca que estava usando. Tirou também o sutiã e deu uma olhada em sua lingerie. Seria um crime usar algo tão prático debaixo daquele vestido. Ela tirou sua calcinha e caminhou nua para seção de lingeries, pegando um conjunto de sutiã e calcinha de renda cor de pêssego que só havia sido fotografado sobre uma mesa para a seção "Agentes Secretos". Ela vestiu a calcinha e entrou então cuidadosamente no vestido, quase gargalhando de deleite no sentir o toque mágico do tecido roçando suas pernas.
O vestido havia sido feito para modelos bem mais altas que ela, por isso as últimas camadas se amoldaram um pouco na base. Ela calçou um par de sandálias altíssimas prata e ficou se olhando no espelho, sorrindo.
— Eu amo você, Oscar de La Renta!
Aquele vestido era perfeito para a noite em que ela ia ser recebida pela família. Ela ia se sentir bonita, confiante e gloriosa. E Cade a veria.
Suspirando, ela soltou e balançou os cabelos, tentando imaginar o penteado e a maquiagem que usaria na festa e então se visualizou dançando com Cade.
Aquela imagem a arrepiou dos pés à cabeça. Pôs-se então a imaginar as mãos fortes de Cade tocando seu corpo. Ela quase podia sentir o sabor do seu beijo longo e apaixonado depois de uma dança sensual.
Ela estava morrendo de saudade dele.
— Será que eu errei ao rechaçá-lo? — murmurou ela para si mesma. — Como é que eu vou viver sem ele? Eu o amo.
— Tem certeza?
Num sobressalto, ela olhou para o espelho e viu a imagem de Cade de pé na porta parcialmente aberta.
— O que é que você está fazendo aqui?
— Apreciando a sua devoção a Oscar de La Renta. — Ele abriu a porta suavemente com o pé e se apoiou contra o batente, admirando-a com um olhar faminto. — E gostei demais do que vi.
Ela tocou o vestido e o fulminou com um olhar.
— Você não precisa chamar a segurança. Fin disse que eu podia pegá-lo emprestado.
— Jessie — disse ele com a voz mais suave. — Eu não a estou acusando de nada. Esse vestido — disse ele, com a voz tão lânguida quanto o seu olhar — foi feito para você.
— Obrigada.
Ela ficou remexendo num dos babados, mas a sua atenção estava mesmo voltada para o modo como a sua camiseta preta aderia ao seu corpo e para aquele jeans capaz de elevar a temperatura de qualquer mulher.
— Quer dizer então que você não pode viver sem ele. Você o ama.
— Parece que você está se especializando em me ouvir atrás da porta.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Eu vi a luz acesa e vim verificar o que estava acontecendo.
— E o que é que você está fazendo aqui a esta hora?
— Trabalhando.
— Às 23h30 de um domingo à noite?
— Eu estraguei o meu fim de semana — disse ele, dando de ombros.
— O que foi que você fez?
Ele cruzou os braços com uma expressão triste.
— Não foi nada bonito.
— Você vai ficar bem — disse ela, sentindo-se segura naquele lindo vestido com aquele homem maravilhoso olhando-a cheio de desejo.
— Você acha mesmo?
Cade deu um passo à frente. Ela tinha que parar aquele jogo imediatamente, antes que perdesse feio.
— Você vai superar isso — disse ela simplesmente. A luz suave da cabine lançava uma sombra sobre o rosto de Cade. Parecia que ele não fazia a barba desde sexta.
— Eu não quero superar isso, Jessie.
— O que é que você quer então?
— Você.
— Cade.
Seu nome saltou de seus lábios, mas ela mal pôde ouvi-lo por causa da pulsação que ecoava em seus ouvidos.
Ele estava a distância de um braço, parecendo acabar com todo o oxigênio que havia naquele lugar e lodo o bom senso também.
— Jessie — disse ele, estendendo a mão na sua direção, até tocar a sua cintura.
Com o cuidado de quem estivesse manuseando um autêntico vaso da dinastia Ming, ele a virou para que ela ficasse de frente para o espelho. Tudo o que ela viu foi um mar de seda oliva e Cade atrás dela, baixando a cabeça para beijar o seu ombro desnudo. Seus lábios correram pela sua pele e seus dentes mordiscaram as finíssimas alças que mantinham o vestido sobre o seu corpo.
— Eu cometi o maior erro da minha vida — sussurrou ele, deslizando um dedo sob a alça como se a estivesse testando — e quero desfazê-lo.
O que ele estava prestes a desfazer era o vestido mais bonito do mundo, juntamente com a sua razão e toda a sua capacidade de resistir. Ela tentou se lembrar da raiva e do ressentimento que havia sentido, mas nenhum desses sentimentos veio à tona naquele momento.
— Eu sinto muito, muito por tê-la magoado — disse Cade, olhando-a pelo espelho. — Eu faria qualquer coisa para voltar atrás. Para ter outra chance. Para não cometer o mesmo erro e não perder você.
Ela tentou dizer o seu nome, mas não conseguiu dizer nada ao ver a sinceridade em seus olhos no reflexo do espelho.
— Jessie, eu não vou me afastar — continuou ele, com a voz rouca, enquanto suas mãos ternas acariciaram seus braços e se fecharam sobre seus ombros. — Eu não quero superar isso — disse ele baixando uma das alças para em seguida começar a empurrar a outra. — Eu não vou esquecê-la. — As duas alças que sustentavam o vestido já estavam pendendo para os lados, fazendo-o cair perigosamente. — Eu não vou parar — disse ele, puxando-o ainda mais para baixo até os mamilos dela despontarem da borda do tecido —, a menos que você queira.
Jessie recostou a cabeça no peito de Cade, rendendo-se às sensações de prazer e desejo que ele estava despertando nela.
Seis mil dólares de organza e seda cor de menta caíram no chão. Sua imagem estava refletida na frente, à direita e à esquerda e num milhão de espelhos refletidos. Ela estava nua, exceto por um pedaço de renda cor de pêssego e uma piscina verde a seus pés.
Ela viu as mãos fortes de Cade se fecharem sobre os seus seios e arfou de prazer, sentindo um calor subir por entre as suas pernas e os bicos de seus seios se enrijeceram contra as palmas dele. Ele acariciou seus seios lentamente, fazendo suas pernas fraquejarem a acabando com qualquer resistência possível da parte dela.
Lânguida e gradualmente, ele deslizou as suas mãos pelo seu estômago, puxando-a para si para que ela pudesse sentir a protuberante ereção que avançava em direção a ela contra as suas costas nuas. Seus dedos longos e masculinos seguiram pela sua pele clara até alcançar o triângulo minúsculo de seda e as finas tiras que mantinham a calcinha presa aos seus quadris.
Jessie mantinha os olhos fixos no espelho, completamente enfeitiçada.
Cade deslizou um dedo pela borda da renda e acariciou o tenro monte. Ela quase desfaleceu ao sentir a corrente de prazer abrindo caminho por entre as suas coxas. Ele levou a mão para o lado e usando apenas o seu dedo indicador, puxou a calcinha de Jessie até a altura das suas coxas, expondo os cachos umedecidos entre as suas pernas.
Mais uma vez ele a puxou para si, respirando com força junto ao seu ouvido, enquanto seu coração batia forte contra o ombro de Jessie e a sua ereção roçava em sua lombar.
Deslizando então as duas mãos pelo seu estômago, ele alcançou o seu sexo inserindo um dedo, arrancando dela um profundo gemido de prazer. Jessie se contorcia despudoradamente em suas mãos.
Cade fechou a boca sobre o ombro de Jessie e sugou a concavidade entre a sua clavícula e a garganta imprimindo a essa carícia o mesmo ritmo do dedo que dançava dentro dela.
— Deixe-me entrar em você, Jessie — sussurrou ele contra a sua pele. — Deixe-me fazer amor com você novamente.
Ela fechou os olhos e assentiu, incapaz de falar.
Em um único movimento, ele a tirou de dentro daquela montanha de organza verde e empurrou o vestido com os seus pés, para depois apoiá-la contra o espelho. Ela não conseguia mais pensar no vestido, no recinto, nem na possibilidade de ser flagrada. Tinha consciência apenas da superfície fria em suas costas e da força de Cade.
Ele a beijou com fúria, soltando um gemido profundo.
— Eu não pensei em outra coisa nas últimas 48 horas — disse ele, acariciando todo o seu corpo. Ela virou a cabeça enquanto ele traçava uma trilha de beijos pela sua bochecha até alcançar o lóbulo de sua orelha e provocá-la com a sua língua, e voltou a ver a sua imagem completamente nua nos braços de Cade refletida num milhão de dimensões. — É mágica, querida — sussurrou ele, vendo para onde ela estava olhando.
— É loucura — respondeu ela
Ele então começou a descer pelo seu corpo, beijando-a por onde passava. Nada no mundo a faria fechar os olhos e deixar de olhar para os infinitos reflexos de Cade agachado à sua frente, adorando os seus seios com sua boca doce, deslizando as suas mãos pelas suas costelas, lambendo o seu umbigo e beijando o centro de sua feminilidade.
Ele lambeu a parte interna das coxas de Jessie e puxou a sua calcinha pelos joelhos até chegar aos seus pés e tirá-la cuidadosamente pelos seus saltos altos.
Cade olhou para cima e lhe lançou um sorriso depravado.
— As sandálias podem ficar.
Depois se ergueu novamente e olhou no fundo dos olhos de Jessie com os dentes cerrados e a respiração ofegante.
Ela puxou a camiseta de Cade para fora do seu jeans.
— Eu quero você.
Ele arrancou a camiseta e a jogou no chão. Depois se ergueu contra o espelho, quase tirando os seus pés do chão. Ardendo de desejo, Jessie arqueou todo o seu corpo e começou a se esfregar descontroladamente em sua ereção. Ansiosa por senti-lo dentro de si, ela baixou o zíper de sua calça e sorriu para ele.
— Agora, Cade.
— Só um segundo — disse ele, pegando uma camisinha do bolso de trás de sua calça. Ele segurou o envelope entre os dentes e suplicou: — Mas não tire suas mãos de mim. Ela riu e arranhou o peito dele com as suas unhas
Enquanto ele tirava o jeans e a cueca e os jogava ao lado da montanha esvoaçante de organza.
Ele abriu a camisinha quase sem tirar os olhos dela. Já protegido, ele deslizou a sua ereção entre as coxas de Jessie, reclamando o seu corpo nu por sobre o vidro deslizante enquanto ela abria as pernas para recebê-lo.
Ele invadiu a boca de Jessie com a sua língua no mesmo instante em que a penetrou. Tudo parecia quente, úmido e incrivelmente adequado. Jessie se agarrou nos ombros largos de Cade e enroscou suas pernas em torno dos seus quadris, repetindo o nome dele a cada novo movimento.
— Olhe para nós — pediu ele, enquanto entrava e saía de dentro dela repetidas vezes, virando o seu rosto na direção do espelho ao lado. Ela fechou os olhos ao se contorcer desesperadamente em busca de alívio para aquela excitação crescente, mas voltou a abri-los quando tremeu de prazer repetidas vezes em espasmos violentos. Jessie viu quando ele cerrou os dentes, soltou um gemido longo e rouco de êxtase e satisfação, investindo contra ela com mais força e firmeza e apertando-a com mais força entre seus braços.
Exausto, ele deixou sua cabeça cair sobre o ombro dela e fechou os olhos. Jessie viu a sua boca se mover, dizendo as mesmas palavras que ecoavam na sua própria cabeça.
Eu te amo.
Cade, porém, não sabia que ela o estava vendo, e sabia que dizer aquilo em voz alta poderia ser o maior erro de todos.
— Eu estou me sentindo uma verdadeira nômade — disse Jessie aninhada ao corpo de Cade, enroscando suas pernas em torno dos seus quadris.
Ele a acariciou desde o queixo até o umbigo num único e longo movimento, deleitando-se com o contato de sua pele macia e sedosa.
— Uma nômade jamais teria uma pele dessas. — Ele afundou a cabeça em seu pescoço e ela tremeu ao sentir a língua dele na base de sua garganta.
— Eu já não durmo em casa há dias. Passei a sexta e sábado na casa de Fin e a noite passada aqui na sua casa.
— Desculpe, mas eu não estava a fim de dormir no Grande Armário. Mas você não é uma nômade. Lembre-se de que tem uma escova de dentes aqui.
— Eu também tenho uma na casa de Fin. Está vendo? Eu estou completamente à deriva.
Ele a colocou em cima dele. Sua ereção matinal já dava sinais de vida, ansiosa pelo calor do corpo de Jessie.
— Fique um pouco mais por aqui, então. Eu só preciso trabalhar daqui a uma hora.
— E eu vou tirar essa semana de folga, portanto... Ela montou nele e passou as pernas em torno dos seus quadris, deixando seus cabelos avermelhados se espalharem sobre o rosto e o pescoço de Cade.
— Talvez você nunca mais precise trabalhar — disse ele aspirando o seu cheiro inebriante enquanto as suas mãos a agarravam por trás, posicionando-a sobre ele. — Você é a filha da editora-chefe, a sua supervisora é a sua prima e...
Ela arqueou o seu corpo, esperando que ele completasse o seu raciocínio.
— Diga.
— E tem um relacionamento especial com a gerência.
Seu belo sorriso desapareceu e ela saiu de cima dele, sem aviso. Depois cobriu o rosto e gemeu baixinho.
— Eu não queria que as coisas acontecessem desse jeito.
— Não se preocupe, minha querida — disse ele trazendo-a mais para perto. — Isso não muda nada.
Ela ergueu o braço para olhar para ele.
— Isso muda tudo.
— Que diferença pode fazer o fato de nós estarmos juntos? — perguntou ele. — É certo que a sua relação com Fin vai abalar os alicerces da editora, e ao que parece, você vai ter algumas dificuldades com Patrick e Maeve, mas nós...
Como é que ele ia dizer a ela que aquilo não era só sexo, que o que ele sentia por ela era algo muito maior e melhor do que apenas desejo?
— Eu não imaginei que fosse me envolver em tantas complicações quando vim para cá. Só queria conhecer Fin.
— Quer dizer então que eu voltei a ser uma complicação na sua vida.
— E o trabalho também.
— O que você quer dizer?
Ela suspirou.
— Eu quero um emprego.
— Mas a sua boa performance como sombra do Fin praticamente já lhe garante o cargo de editora assistente depois que o estágio terminar.
Ela se alinhou ao longo do seu corpo.
— Mas eu queria que isso fosse feito de uma maneira clara e justa — disse ela — e não porque você quis dormir comigo...
Ele abriu a boca para protestar, mas ela colocou uma mão sobre os seus lábios e prosseguiu.
— ...ou porque estava querendo descobrir por que eu estava evitando Fin, nem por causa das circunstâncias do meu nascimento. Eu quero conquistar um emprego porque sou competente.
— Mas você é competente — assegurou-lhe Cade. — Você teria sido escolhida para ser a sombra de Fin, mesmo se não tivesse chamado a minha atenção por evitá-la. Scarlet nunca poupou elogios a você.
— Mas será que todos vão saber disso?
Ele deu de ombros.
— A intriga faz parte do ambiente de trabalho, Jess, e você vai ter de superar isso. Você já deu provas suficientes da sua capacidade profissional na Charisma e eu a quero na equipe. Para mim é o fim da discussão.
— Até nós rompermos.
— Isso não vai acontecer.
— Como é que você pode ter tanta certeza? Eu li um artigo outro dia que falava justamente sobre relacionamentos entre funcionários de uma mesma empresa. Dizia que a pessoa que ocupa um cargo mais baixo invariavelmente perde o seu emprego quando o caso chega ao fim. Isso talvez não afete a sua carreira, mas pode arruinar a minha.
— Para começo de conversa, você anda lendo revistas demais — disse ele, aproximando-se dela. — E em segundo lugar, esse não é um "romance de escritório".
— De armário, então? — perguntou ela, rindo.
Ele gemeu ao lembrar da cena.
— Como eu adoro aquele armário.
— Falando sério — disse ela. — Ninguém vai acreditar que eu consegui o cargo pelos meus próprios méritos.
Ele não podia ir contra argumentos tão legítimos.
— Eu entendo que você se sinta dessa maneira — disse ele — mas o que é que nós podemos fazer? Nos esconder de todo mundo? Fingir que não é verdade? Agir como se nós não estivéssemos... interessados um no outro?
— Sim.
Cade sentiu seu peito se apertar.
— Eu não quero me esconder, Jessie. A não ser, é claro, que seja no Grande Armário — disse ele com um sorriso malicioso.
— Eu quero manter isso em segredo — disse ela, ignorando a provocação e agarrando seu ombro para frisar o que estava dizendo. — Por favor, Cade. Eu não quero que ninguém saiba. Não até eu superar esse obstáculo com os Elliot.
— E quanto tempo isso ia levar? Eu posso encontrá-la enquanto isso?
— Secretamente.
— Eu vou aceitar, então. Acho que não tenho mesmo outra escolha, não é?
Jessie teclou o número de telefone do pai assim que saiu do metrô. Ela mal tinha sentido a semana passar com toda a agitação com Fin e alguns membros seletos da família Elliot e as noites secretas de amor com Cade.
Na sexta à noite, contudo, ela havia deixado tudo de lado e feito uma parada mais que necessária em seu próprio apartamento para se preparar para a festa na noite seguinte.
Shane havia descoberto, por intermédio de um contato do trabalho, que uma noiva havia desistido do casamento às vésperas da cerimônia, deixando o salão de baile do Waldorf-Astoria disponível na data marcada. Os convites para a festa de Jessie foram enviados às pressas por e-mail e meia dúzia de assistentes administrativos foram encarregados de tratar das confirmações de presença.
— Alô, papai — disse Jessie. — Lembra de mim?
— Não sei — provocou ele. — Você não é a minha melhor assistente que foi embora para Nova York?
Ela riu.
— Oh, papai. Desculpe por ter demorado tanto para ligar, mas esta semana foi uma loucura.
— É o que está me parecendo mesmo. E então, está encantada?
Seu coração quase saltou pela boca.
— Por Fin? É claro. Nós estamos nos divertindo muito. Ela adora fazer compras e conversar, e nós estamos virando boas amigas.
— Fico feliz com isso, minha querida. E quando é que você volta para casa?
Ela atravessou a rua rapidamente.
— Meu estágio só termina na próxima primavera. — Ela engoliu em seco. — Eu espero conseguir um bom emprego na Charisma depois disso.
Alguém buzinou atrás dela, reclamando, e um silêncio se fez do outro lado da linha.
— Papai? Você ainda está aí?
— Sim, eu só estava pensando.
— Mas eu vou visitá-lo antes disso. Prometo.
— Ou então eu vou a Nova York. Estou com muita saudade de você, Jessie.
— Eu também estou com muita saudade de você, papai.
Jessie já havia chegado à outra esquina, e estava olhando para os tijolos vermelhos do seu prédio, contendo uma lágrima repentina.
Aquela parecia ser a sua casa dali por diante, mas isso não queria dizer que ela não poderia visitar Silver Moon.
— O que acha de eu passar um fim de semana aí no mês que vem?
— Eu adoraria — respondeu ele, aliviado. — Escolha o dia.
Ela se lembrou de que Fin havia lhe dito que gostaria de conhecer o seu pai.
— Eu gostaria de levar Fin comigo para que você a conhecesse.
Ele resmungou.
— Você acha que essa mulher da cidade vai querer vir para um rancho no Colorado? Será que ela sabe que aqui não tem shopping centers?
Jessie sorriu.
— Acho que você vai gostar dela — disse Jessie. — O que você acha de aproveitarmos o próximo feriado? Nós já vamos ter fechado a edição de fevereiro, e Fin e eu poderemos ficar de sexta até terça.
— Perfeito.
Sua atenção foi então atraída para o chão da entrada de seu prédio. E para os degraus, seguindo até o primeiro andar.
— Oh, meu...
— O que foi? — perguntou Travis.
— Lilases — sussurrou ela.
— Lilases?
Sim, por toda parte, para onde quer que ela olhasse.
— Oh, Cade.
Seu coração quase saltou do peito de tanto amor.
— Do que é que você está falando, minha querida?
— Nada, papai. É que alguém deixou uma encomenda para mim no meu apartamento.
Ela pisou na ponta dos pés por entre as pétalas e, no dobrar a escada para subir mais um andar, encontrou mais lilases ainda.
— Quem é Cade?
— Ele é... um cara lá do meu trabalho.
— O editor-executivo — disse seu pai. — Aquele com quem você foi se encontrar no Waldorf outro dia, para falar a respeito da função de sombra de Fin.
As escadas para o terceiro andar também estavam repletas de flores.
— É impressionante como você presta atenção e tudo o que eu digo, papai.
— E claro que eu presto. Esse Cade está aí com você agora?
De certa maneira. Ela subiu o último lance de escadas até chegar ao seu andar.
— Não, eu estou no meu apartamento. Nossa, tem mais aqui!
Havia um buquê enorme num vaso de vidro em sua porta com um cartão em meio às flores.
— Mais o quê?
— Sinto muito, papai. Eu tenho de ir. Acabei chegar em casa e... encontrei uma mensagem.
— Querida, você está me escondendo alguma coisa a respeito desse Cade?
Ela pegou o cartão e se apoiou na porta, enquanto seu olhar passeava pelo leito de pétalas que se e tendia por todo o caminho.
— Bem, eu estou...
— Apaixonada.
Ela conteve um riso.
— Não sei ao certo... Pode ser.
— É melhor trazê-lo com você na semana que vem, então — disse o pai. — Eu quero ver como ele se vira em cima de um cavalo.
— Eu não posso — disse ela. — Ele não pode ir Colorado comigo.
— Por que não?
— Porque eu quero manter isso em segredo. Nós trabalhamos juntos. Ele é uma espécie de chefe.
Seu pai pigarreou.
— Meu amor, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Eu não quero que você se magoe.
— Eu estou tomando cuidado, papai. Ela abriu o cartão.
"Vou sentir sua falta esta noite. Com amor, Cade."
— Como eu gostaria que a sua mãe estivesse aqui para aconselhá-la.
O olhar de Jessie recaiu sobre os lilases.
— Ela está aqui — sussurrou Jessie.
Fin estava deslumbrante no dia da festa. Usava um vestido preto sem alças, justo, que valorizava as suas curvas e seu cabelo castanho solto, roçando-lhe os ombros.
Jessie estava se sentindo linda e confiante no vestido dos seus sonhos. Ela já se sentia amada e acolhida pelos Elliot, independentemente da reação que Patrick e Maeve pudessem ter.
Será que as suas duas famílias iam se misturar algum dia? Jessie queria que seu pai gostasse de Fin tanto quanto ela, e que ele tivesse a certeza de que, apesar de as duas terem virado grandes amigas e confidentes, Jessie sempre seria a filha de Travis e Lainin Clayton.
Esta noite, porém, ela estaria às voltas com o lado nova-iorquino de sua família.
— Ele não vem — sussurrou Shane.
Jessie procurou o seu olhar.
— Cade?
Uma surpresa brilhou nos olhos de Shane.
— Não, eu acho que Cade respondeu ao convite no mesmo dia em que o recebeu. Estava falando de Patrick.
— Elliot?
Shane ergueu uma sobrancelha.
— Eu não conheço nenhum outro.
Antes que ela pudesse responder, Fin interveio.
— Qual é o problema?
Shane e Jessie trocaram um olhar e Fin ergueu queixo, assumindo um ar desafiador.
— Eu sabia que ele não viria — disse ela.
— Nós não temos certeza disso — responde Shane. — Liam me disse que papai tinha dito que i passar o fim de semana com a mamãe em casa, relaxando.
A casa em questão era a luxuosa mansão da família em Hamptons, chamada Tides. Jessie sabia que Patrick costumava se locomover de helicóptero, de modo que ir e voltar para lá no espaço de um fim de, semana não seria problema para ele.
Ou seja, ele só não viria à festa se não quisesse. Aquele pensamento a deixou com um nó na garganta, mas o mais doloroso foi ver a mesma emoção no rosto de Fin.
— Está tudo bem — disse Jessie suavemente. De verdade.
— Está tudo errado — retrucou Fin. — Mas eu não me importo.
Ela, porém, se importava, e Jessie sabia disso.
Liam Elliot foi o primeiro convidado a chegar. Fin pousou uma mão sobre o ombro de Jessie.
— Você já conhece o meu sobrinho, Liam Elliot?
— Não formalmente — disse Jessie.
— Liam, eu quero que você conheça Jessie Clayton, a quem eu tenho o orgulho de apresentar como minha filha. Jessie foi criada pelos pais adotivos no Colorado, como você sabe, e eu espero que você se junte a nós para lhe dar as boas-vindas na família Elliot.
Aquelas palavras provocaram arrepios em Jessie. Ela lançou um olhar grato a Fin antes de cumprimentá-lo.
— Parece que nós somos primos, Liam — disse ela, com um sorriso caloroso.
— Bem-vinda à família, Jessie. — Ele apertou-lhe n mão, estudando seu rosto de perto, à procura de uma semelhança que sem dúvida encontraria. — Agora eu entendo por que Cade saiu do mercado.
Jessie ficou de queixo caído.
— Cade? — perguntou Shane. — Como assim, saiu do mercado?
Liam piscou para Jessie, mas Fin o puxou pelo braço.
— É verdade que o meu pai não virá à festa? O olhar de Liam se suavizou.
— Acho que ele não vem, Fin. Ela fechou os olhos e suspirou.
Jessie a enlaçou pela cintura.
- Não deixe que isso estrague a nossa noite.
— Você tem razão. Veja só quem está aqui. — O rosto de Fin se iluminou com um sorriso. — Summer e Zeke!
Jessie só havia visto a irmã gêmea de Scarlet uma única vez. Seu olhar pousou sobre o noivo de Summer, o famoso rock star Zeke Woodlow.
— Eu vou apresentá-la oficialmente a mais alguns de seus primos. Você vai ver que o bad boy não é tão mau quanto parece.
Fin fez as apresentações arrancando um gritinho de deleite de Summer e um meneio de cabeça de Zeke. Scarlet e seu noivo Harlan se juntaram a eles pouco depois.
— Pode economizar o seu discurso de como ela é especial, Fin — disse Scarlet. — Eu já a amo.
Gannon Elliot entrou na roda com os braços e torno de sua mulher grávida, Erika.
— O melhor desse reencontro é isso aqui — disse ele, indicando o salão repleto de gente.
— A festa? — perguntou Jessie.
Gannon sorriu para ela.
— Uma razão maravilhosa para deixar a competição de lado ao menos por uma noite e desfrutar companhia de nossa família e dos nossos amigos, que continuam aumentando — disse Gannon, com a m sobre a barriga protuberante de Erika.
Scarlet e Fin cuidaram para que Jessie fosse incluída na conversa para que ela pudesse conhecer um por um da família. A ausência de seus avós biológicos, porém, não parava de importuná-la. Assim como ela, Fin também olhava constantemente para a porta, cheia de expectativa, embora não estivessem à procura da mesma pessoa.
Jessie sabia onde estava Patrick Elliot, mas onde estaria Cade?
Uma hora depois, a sala estava repleta de longos, jóias e smokings, e os suaves acordes de uma banda de jazz embalavam o ambiente misturando-se ao som das conversas e dos risos dos convidados. Fin apresentou-a formalmente a todos os membros da família, mesmo àqueles que já conheciam Jessie da editora.
Fin seguiu de mãos dadas com Jessie por entre os grupos de convidados, parando apenas uma vez para pegar duas taças de champanhe.
— Beba um pouco e pare de olhar para a porta. Ele vai chegar logo.
Jessie sorriu e brindou com ela.
— Você também não pára de olhar para a porta, Fin.
Fin deu de ombros.
— Eu não seria humana se não quisesse que meu pai e a minha mãe viessem. Eles devem isso a mim. E a você.
Jessie a olhou compreensivamente.
— Ele vai superar isso, Fin. Só precisa de um pouco de tempo.
— Eu não me importo — disse ela um pouco superficial demais. — Mas onde está Cade? Ele me disse que estava louco para vê-la nesse vestido.
Jessie enrubesceu.
— Eu devo ter mencionado que você me deixou provar o De La Renta emprestado.
— Pode ficar com ele — disse Fin, tomando mais um gole de champanhe.
— Eu não posso fazer isso.
— É claro que... — seu olhar foi para além de Jessie. Ela empalideceu e seu sorriso desapareceu — ...pode.
Jessie seguiu os olhos de Fin e quase deixou sua taça cair ao avistar o distinto senhor de cabelos grisalhos na porta, de olhos azuis como uma chama de gás. O patriarca da família Elliot estava ali, altivo e orgulhoso, ao lado da gentil irlandesa que já estava casada com ele havia 57 anos.
Todos os convidados pararam para olhar na mesma direção, com a respiração suspensa, à espera do que iria acontecer em seguida. Só a música prosseguiu normalmente.
— Eu não acredito nisso — sussurrou Fin para si mesma.
Jessie apertou a sua mão.
— Pode acreditar.
Fin se empertigou e empinou um pouco o queixo para encarar o pai. As pessoas ao redor pareceram estar se movendo em câmera lenta, permitindo que duas mulheres atravessassem o salão de mãos dadas Jessie estava com o peito apertado, e seu coração batia acelerado no mesmo ritmo do de Fin. Jessie olhou para Maeve e encontrou um misto de calor e curiosidade em seus olhos verdes, muito parecidos com os seus próprios olhos e os de Fin. Sua avó já estava com 75 anos, mas tinha poucas rugas no rosto. Será que era porque ela não estava sorrindo?
Jessie arriscou um olhar para Patrick, que ainda estava olhando para ela e não para Fin.
Aquela travessia pareceu durar uma eternidade. Quando elas finalmente chegaram, os quatro permaneceram como que paralisados por alguns instantes.
Fin pigarreou e Jessie resolveu olhar diretamente para o avô.
— Eu estou tão feliz por vocês terem vindo — disse Fin, com voz firme porém suave. — E estou deleitada em lhes apresentar Jessie Clayton. Ela é minha...
— Oh! — Maeve soltou um grito que emocionou Jessie. Ela tomou as mãos da avó nas suas e Maeve reagiu prontamente.
— Olhe só para você! — sussurrou ela. — Não há dúvida de que é uma de nós.
Jessie arriscou um olhar para Patrick. Ele agora estava olhando para Fin, sem dizer nada.
— Papai, eu gostaria que você desse as boas-vindas a Jessie à nossa família. — Aquilo era uma exigência e não um pedido.
Jessie viu Shane se aproximar e se colocar ao seu lado.
— Não é maravilhoso? — disse ele, passando um braço em torno de Jessie. — Nós a encontramos depois de todos esses anos.
— Para dizer a verdade — disse Maeve, apertando as mãos de Jessie e olhando para o marido —, foi ela quem nos encontrou.
— E eu serei eternamente grata por isso — disse Fin.
Uma veia saltou no pescoço de Patrick ao olhar para a filha.
— Eu fiz o que achei que era certo.
Fin fez um leve meneio de cabeça.
— E agora eu estou fazendo o que é certo.
Ele desviou seu olhar para Jessie.
— E um prazer conhecê-lo — disse Jessie suavemente. — Eu estou honrada e muito impressionada com a sua família... senhor.
Alguns segundos se passaram. Uma taça de cristal bateu na outra, um saxofone tocou as últimas notas de uma canção, a porta do elevador se abriu e alguém sussurrou ao longe.
Jessie manteve o foco o tempo todo em Patrick Elliot, o homem que havia moldado sua vida ao decidir o seu destino.
— Meus netos me chamam de vovô.
Ela sentiu Fin enrijecer.
— E como é que Jessie deve chamá-lo? — perguntou Fin.
Um suspiro escapou dos lábios de Patrick.
— Vovô.
Aquelas palavras a tomaram de assalto. Maeve deu um passo à frente e a abraçou com força. A música recomeçou e o salão irrompeu num aplauso espontâneo. Jessie fechou os olhos e aspirou o suave perfume de Maeve Elliot, sabendo que, quando os abrisse, as lágrimas rolariam por sua face.
Cade estava evitando ficar muito próximo dela. Satisfez-se em acompanhá-la de longe, captando os olhares ocasionais que ela lhe lançava e se satisfazendo com a certeza de que ela o estava procurando.
A lembrança de que ele já a havia visto fora daquele vestido, fora de seu juízo e de seu controle estava causando seu costumeiro efeito no corpo de Cade.
Ele estava olhando tão intensamente para ela, envolvida numa conversa com Scarlet e Summer, que nem notou quando Fin se aproximou.
— Sabe o que eu acho, Cade McMann?
Ele se virou para sua chefe e sorriu.
— Na maioria das vezes, sim. É o meu trabalho.
— E você é muito bom nisso — disse ela, erguendo uma taça de champanhe. — Mas você sabe o que eu acho de Jessie?
Seu sorriso se ampliou, e ele usou a menção do seu nome como um pretexto para olhar para ela novamente.
— Acho que você deve estar muito feliz por ter finalmente encontrado um pedaço seu que faltava.
— Oh. Eu não acredito que você disse isso. É exatamente assim que eu me sinto. Eu não poderia ter descrito melhor.
Desta vez foi ele quem ergueu sua taça.
— Eu lhe disse. Saber o que você pensa faz parte do meu trabalho.
Fin inclinou a cabeça em reconhecimento.
— Acho que Jessie é um pedacinho do meu coração que estava ausente havia 23 anos. Mas acho também que eu não sou a única pessoa neste recinto que encontrou alguém para preencher o vazio do coração.
Ele não disse nada por um momento, deixando o olhar vagar pelo salão.
— Como estamos poéticos esta noite, não?
— A felicidade faz isso comigo — disse Fin, rindo. — Mas eu estou certa, não é, Cade?
Jessie riu ao longe e ele ouviu o som musical de seu riso atravessar o salão e alcançá-lo.
— Está, Fin.
— E o que é que você vai fazer a esse respeito? Ele se voltou para Fin.
— Por acaso está me perguntando quais são as minhas intenções para com a sua filha?
Fin ficou séria.
— Eu estou lhe pedindo, na qualidade de mãe de Jessie, que você a trate com todo o amor e respeito que ela merece.
— Fin, isto não é um caso passageiro. Jessie me pediu para mantermos isso em segredo. Estou surpreso que você esteja a par do que está acontecendo.
— Eu tenho passado muito tempo com ela — disse Fin —, e ela é transparente.
Jessie olhou na direção dos dois e flagrou-os olhando para ela. Seus olhos brilharam e ela disse alguma coisa para as gêmeas. Depois pousou sua taça deliberadamente e atravessou o salão, movendo-se como a brisa.
— Talvez ela esteja pronta — disse Fin. — Como eu disse, ela é transparente.
— O que é que vocês estão cochichando aí? — perguntou Jessie com um brilho nos olhos. — Como se eu não soubesse.
Cade teve de usar todas as suas forças para não estender a mão, puxá-la para si e beijar a sua boca.
— Nós estávamos discutindo poesia — disse ele.
Jessie pareceu surpresa, e Cade riu com ela. Fin, porém, não estava rindo. Na verdade, estava tentando conter as lágrimas.
— O que foi, Fin? — perguntou Cade, colocando a mão em seu braço. — Qual é o problema?
Ela riu, um pouco embaraçada.
— Eu não tenho chorado muito nesses últimos anos. — Ela olhou para Jessie. — Há 23 anos, para ser mais precisa.
— O que foi, Fin? — perguntou Jessie. Ela olhou para um e depois para outro.
— Eu tenho de dizer uma coisa muito importante a vocês dois.
Eles a olharam cheios de expectativa quando ela tomou a mão de cada um deles nas suas.
— Não permitam que outras pessoas ditem o destino de vocês. Não... — Ela fechou os olhos, deixando cair uma lágrima. — Não caiam na asneira de se preocupar com o que as outras pessoas pensam de vocês. A paixão é mais forte do que tudo.
Os três permaneceram em silêncio por um longo momento. Ao fundo, as primeiras notas de uma antiga canção de amor começavam a preencher o ambiente.
— Vocês estão entendendo o que eu estou dizendo? — perguntou Fin.
— Acho que sim — disse Jessie com um sorriso hesitante.
Cade colocou o braço em torno dela.
— Então ouça o conselho de sua mãe e dance comigo.
Seu sorriso se ampliou.
— Eu adoraria.
Cade piscou para Fin enquanto conduzia Jessie até a pista de dança, certo de que obteria a sua aprovação para aquilo que estava prestes a fazer.
Jessie deslizou por entre os seus braços como se tivesse estado ali desde sempre, como se fosse ficar ali para sempre. Ele a puxou de encontro ao peito, e ela enlaçou-lhe o pescoço, olhando para cima enquanto eles começavam a se mover no ritmo da música.
— Poesia, é? — perguntou Jessie com um sorriso. — Como vocês são cheios de surpresas.
— Você gostou dos lilases?
— Adorei.
Ela fechou os olhos e ele baixou o rosto quase a ponto de beijá-la, mas sussurrou em sua orelha:
— Você é a mulher mais bonita aqui esta noite.
— Eu achei que você não vinha — disse ela. — Você nunca se atrasa.
— Eu tinha uma coisa importante para fazer.
— O quê?
— Posso beijá-la? Aqui, na frente de todo mundo que você conhece em Nova York? Eu não quero mais esconder isso, Jessie, eu quero que todos saibam que...
Antes que pudesse terminar a frase, ela se colocou na ponta dos pés, enroscou-se com força em torno do seu pescoço e cobriu sua boca com um longo beijo sensual que espalhou faíscas por todo o seu corpo e, a julgar pela reação de alguns deles, entre os convidados também.
— O que é que você quer que todo mundo saiba, Cade? — perguntou ela ao interromper o beijo, com um sorriso triunfante.
— Que eu te amo — sussurrou ele.
O sorriso dela congelou.
— Eu te amo — disse ele novamente, um pouco mais alto.
Ela arregalou os olhos e abriu a boca, sem conseguir dizer uma palavra.
— Eu te amo.
Desta vez, todos na pista de dança ouviram.
A música parou e todos se voltaram na direção deles.
O salão permaneceu em silêncio por um segundo, e ele aproveitou a oportunidade para fazer com que todos na festa soubessem a verdade.
— Eu te amo, Jessie Clayton.
O salão irrompeu mais uma vez em aplausos, enquanto a banda iniciava uma nova canção. O único som que Cade conseguiu ouvir, porém, foi o do belo riso que ele aprendera a amar.
— Venha comigo — sussurrou ele em seu ouvido. — Eu ainda tenho mais uma surpresa para você.
Com um rápido olhar na direção de Fin, Jessie colocou a sua mão na de Cade e se deixou guiar até o elevador.
— Para onde estamos indo? — perguntou ela, com o coração batendo forte e ansiosa pela chance de lhe dizer que também o amava.
Ao chegarem à rua, ele tirou a casaca e a colocou sobre os ombros de Jessie.
— Está um pouco frio, mas vai valer a pena, eu prometo.
Ela se aninhou no tecido sedoso, feliz com o calor que a protegia do frio de setembro.
— Por que é que estamos deixando a festa?
— Porque você precisa de um pouco de espaço ao ar livre e de cavalos.
— Agora?
— É, agora.
A rua estava lotada de pedestres e turistas, mesmo àquela hora da noite, e os táxis passavam voando, bem acima do limite de velocidade, mas a sua atenção recaiu somente sobre algumas carruagens alinhadas à espera de um casal romântico à procura de um passeio.
— Lá está.
— Quem? — perguntou ela.
Cade sorriu para ela e continuou andando, detendo-se apenas ao chegar em uma carruagem especialmente bonita, pintada de um branco brilhante e decorada com dois enormes buquês de...
— Lilases. — Ela riu para ele e se aninhou em seus braços. — Você é doido, sabia?
Eles se sentaram na carruagem digna de contos de fadas e começaram o passeio, embalados pelo som das patas dos cavalos batendo ritmadamente contra o concreto e iluminados por uma lua quase cheia que saiu de trás de uma nuvem.
— Isso é perfeito — disse Jessie, recostando-se no couro preto. — Todos vão querer saber para onde nós fomos, mas eu não me importo.
— Nós vamos contar a eles — disse Cade, passando o braço em torno dela — porque isso não é mais um segredo.
Ela olhou para ele e sustentou o seu olhar.
— Será que eu posso dizer o que estou querendo dizer desde que a dança acabou?
— Não — respondeu ele. — Ainda não. Ela abriu a boca para protestar.
— Cade, você não quer saber que eu...
Ele colocou uma mão sobre a sua boca e a outra no bolso de sua calça. Paralisada, Jessie conseguiu apenas mover os olhos e olhar para a caixinha preta que ele tinha agora em sua mão.
— Tudo o que eu quero é que você diga sim.
Ele abriu a caixa e o diamante refletiu a luz do luar. Jessie ficou olhando para o anel de noivado sem palavras, nem condições de se mover.
Ela finalmente ergueu seu olhar para encontrar o dele.
— Jessie, isso não é um caso, nem um breve romance sem maiores conseqüências. — Seus olhos ardiam de necessidade de que ela acreditasse nele. — Isso é real. É amor. Você aceita se casar comigo?
Um pequeno riso misturado a um soluço saiu de sua garganta.
— Sim — sussurrou ela. — Aceito.
Cade tirou o anel da caixa e o colocou em seu dedo, com a mão trêmula.
— Agora — disse ele, com um sorriso —, o que é que você queria me dizer?
Ela apoiou a cabeça em seu ombro e deixou que o trotar dos cavalos jogasse seu corpo contra o dele.
— Eu vou lhe dizer mais tarde — disse ela —, e todos os outros dias da minha vida.
Roxane St. Claire
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