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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


AMANTE DESPERTO / J. R. Ward
AMANTE DESPERTO / J. R. Ward

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

Irmandade da Adaga Negra

AMANTE DESPERTO

 

Nas sombras da noite no Caldwell, New York, inicia-se uma guerra mortífera entre vampiros e seus assassinos. Mas, existe também uma Fraternidade secreta que não pode ser comparada a nenhuma outra que tenha existido — seis guerreiros vampiros, protegendo sua raça. Destes, Zsadist é o mais assustador membro da Irmandade da Adaga Negra.

Zsadist, que durante séculos foi um escravo de sangue, ainda carrega as cicatrizes de um passado forjado à base de sofrimento e humilhação. Conhecido pela sua insaciável raiva e sinistros atos, é um selvagem, temido igualmente entre os seres humanos e vampiros. A raiva é sua única companheira e o terror sua única paixão... Até que ele resgata uma bela aristocrata da Sociedade do mal Lessers.

Bela se sente enfeitiçada de imediato pelo ardente poder que emana de Zsadist. Porém, quando o desejo de ambos começa a consumi-los a irrefreável sede de vingança que Zsadis sente pelos torturadores de Bela o leva ao limite da loucura. Agora, Bela deve ajudar seu amante a superar as feridas de seu atormentado passado e encontrar um futuro junto a ele...

 

 

— Maldito seja, Zsadist! Não salte…

A voz de Phury apenas se escutou por cima do som da batida do carro diante deles. E, isso não deteve seu gêmeo que saltou do Escalade enquanto iam a cinqüenta milhas por hora.

— V, ele está lá fora! A um e oitenta de nós!

O ombro de Phury golpeou ruidosamente contra a janela quando Vishous derrapou controladamente com o SUV. Os faróis dianteiros se balançaram e Z rolou sobre o asfalto coberto de neve como uma bola. Uma fração de segundo mais tarde, arrastou seu traseiro e se levantou sobre seus pés, indo à caça do sedan dentado que agora tinha um pinheiro como enfeite sobre a capota.

Phury vigiou seu gêmeo e tirou o cinto de segurança. Os lessers que estavam perseguindo no limite rural de Caldwell poderiam ter acabado com seu maldito passeio segundo as leis da física, mas isso não significava que estivessem fora de serviço. Aqueles bastardos não mortos eram duradouros.

Quando o Escalade parou, Phury abriu apressadamente a porta enquanto pegava seu bastão. Não sabia quantos lessers havia no carro ou que tipos de munições levavam. Os inimigos da raça dos vampiros viajavam em grupos e sempre iam armados — Santo inferno! — Três dos assassinos de cabelos claros tinham saído e só se via o cambaleante condutor.

As pequenas probabilidades não detiveram Z. Era um maníaco suicida, que se dirigia diretamente para o trio de não mortos com apenas uma adaga negra em sua mão.

Phury se moveu rapidamente através da estrada, escutando Vishous correr pesadamente atrás dele. Mas não eram necessários.

Enquanto as silenciosas rajadas de ar formavam redemoinhos e o doce aroma de pinheiro se mesclava com o escapamento de gás do destroçado carro, Z derrubou aos três lessers apenas com a faca.

Cortou-lhes os tendões posteriores dos joelhos para que não pudessem correr, rompeu-lhes os braços para que não pudessem se sustentar, e os arrastou pelo chão até que ficaram alinhados como se fossem horríveis bonecas.

Levou-lhe quatro minutos e meio, incluindo despojá-los de suas identificações. Então, Zsadist fez uma pausa para tomar fôlego. Quando olhou para baixo, ao gordurento sangue negro derramado que manchava a branca neve, o vapor se elevava sobre seus ombros, uma aprazível névoa jogava com o frio vento.

Phury colocou o bastão na cartucheira de seu quadril e se sentiu enjoado, como se tivesse comido seis pacotes de bacon gordurento. Esfregando o peito, olhou a sua esquerda, a Rota 22 estava mortalmente tranquila esta noite e estar fora dos subúrbios de Caldwell era adequado. As testemunhas humanas seriam improváveis. Os cervos não falam.

Sabia o que viria depois. Sabia que era melhor não tentar detê-lo.

Zsadist se ajoelhou sobre um dos lessers, sua cara com cicatrizes deformada pelo ódio, seu destroçado lábio superior se torcendo para trás, suas presas largas como as de um tigre. Com o cabelo raspado e os ocos sob suas maçãs do rosto, parecia o Grim Reaper[1], e como a morte, trabalhava cômodo com o frio. Vestia apenas um pulôver de gola alta e calças folgadas negras, ia mais armado que vestido: a pistola negra, marca registrada da Irmandade da Adaga Negra cruzada sobre seu peito e mais duas facas, amarradas com uma correia sobre suas coxas. Também usava um cinturão com dois SIG Sauers.

Não é que nunca usasse os nove milímetros. Quando matava, gostava de fazê-lo pessoalmente. Na realidade, era o único momento em que se aproximava de alguém.

Z agarrou ao lesser pelas lapelas de sua jaqueta de couro e golpeou com força o tórax do assassino sobre o chão, obtendo um estreito boca a boca.

— Onde a mulher está? — quando não obteve mais resposta que um malvado sorriso, Z levantou sem consideração ao assassino. O estalo ecoou através das árvores, um som duro como o de um ramo que se quebra ao meio — Onde a mulher está?

O assassino burlou-se sorrindo abertamente, então a raiva de Z elevou-se tanto que fez seu próprio círculo ártico. O ar ao redor de seu corpo carregou-se magneticamente e tornou-se mais frio que a noite. Os flocos de neve não caíam a seu redor, como se se desintegrassem com a força de sua cólera.

Phury escutou um som estridente e olhou sobre seu ombro. Vishous estava acendendo uma bomba caseira, as tatuagens em sua têmpora esquerda e o cavanhaque ao redor de sua boca destacavam-se sobre o brilho alaranjado.

Ante o som de outra pequena explosão, V respirou profundamente e fez rodar seus diamantinos olhos.

— Está bem, Phury?

Não, não estava. A natureza selvagem de Z sempre era matéria de um conto de horror, mas ultimamente fez-se tão violento que era duro olhá-lo em ação. Um poço sem fundo, sem alma depois que Bela tinha sido seqüestrada pelos lessers.

E, ainda não a tinham encontrado. Os Irmãos não tinham nem pistas, nem informação, nada. Inclusive com o duro interrogatório de Z.

Phury estava confuso sobre o rapto. Não conhecia Bela o suficiente, mas tinha sido encantadora, uma mulher que andava no mais alto nível dentro da aristocracia de sua raça. Entretanto, para ele tinha sido mais que sua linhagem. Muito mais. Ela tinha ido mais à frente do homem sob a disciplina de seu voto de celibato, removendo algo profundo. Estava tão desesperado quanto Z por encontrá-la, mas depois de seis semanas, tinha perdido a fé de que tivesse sobrevivido. Os lessers torturavam aos vampiros para obter informação sobre a Irmandade e como todos os civis ela sabia pouco sobre os Irmãos. Certamente agora estava morta. Sua única esperança é que não tivesse agüentado dias e dias infernais antes de falecer.

— O que fizeram com a mulher? — grunhiu Zsadist ao seguinte assassino. Quando tudo o que lhe disse foi um “Foda-se”, Z pegou a Tyson e golpeou ao bastardo.

Por que Zsadist se preocupava com uma mulher civil, ninguém na Irmandade podia entender. Conheciam-no por sua infernal… Misoginia, temiam-lhe por isso. Por que se importava com Bela era o que todos se perguntavam. Entretanto, ninguém, nem Phury, como seu gêmeo, podia predizer as reações do homem.

Enquanto o eco do brutal trabalho de Z era isolado pelo bosque, Phury sentiu-se quebrar pelo interrogatório enquanto o lesser se mantinha firme e não dava nenhuma informação.

— Não sei quanto mais poderei agüentar disto. – disse em um sussurro.

Zsadist era o único a quem tinha na vida, à parte da missão de proteger à Irmandade da raça dos lessers. Cada dia Phury se deitava sozinho e não dormia, absolutamente. A comida dava-lhe pouco prazer. As mulheres estavam descartadas devido a seu celibato. E, cada segundo estava preocupado pelo que Zsadist faria e quem seria ferido no processo. Sentia como se estivesse morrendo por mil cortes, sangrando lentamente. Por intermédio de todas as cruéis intenções de seu gêmeo.

V estendeu a mão enluvada e apertou a garganta de Phury.

– Olhe-me, homem.

Phury o olhou e encolheu-se. O olho esquerdo do Irmão, que tinha as tatuagens a seu redor, dilatado até não ver-se mais que um negro vazio.

— Vishous, não… Eu não… — merda. Não tinha por que inteirar-se de seu futuro agora mesmo. Não sabia como dirigiria o fato de que as coisas só fossem piorar.

— A neve cai devagar esta noite. — disse V, esfregando o polegar para frente e para trás sobre sua grosa veia jugular.

Phury piscou quando a tranqüilidade chegou, seu coração desacelerou ao ritmo do polegar de seu Irmão.

— O que?

— A neve… Cai muito devagar.

— Sim… Sim, faz.

— E, tivemos muita neve este ano, verdade?

— Uh… Sim.

— Sim… Muita neve e vai haver mais. Esta noite. Amanhã. O mês que vem. No próximo ano. As coisas vêm quando vêm e caem onde caem.

— Assim é. — disse Phury brandamente — Não há nada que o pare.

— Não, a menos que você seja o pedaço de terra. — o polegar se deteve — Meu Irmão, não vejo você como um pedaço de terra. Não o deterá. Nunca.

Uma série de pequenas explosões e brilhos apareceu quando Z apunhalou ao lesser no peito e os corpos se desintegraram. Então, só restou o apito do radiador do carro destroçado e a pesada respiração de Z.

Como uma aparição, levantou-se do enegrecido chão, o sangue dos lessers manchava seu rosto e seus antebraços. Sua aura era uma brilhante neblina de violência que deformava a paisagem que tinha atrás, o bosque atrás dele estava ondulante e impreciso emoldurando seu corpo.

— Vou ao povoado. — disse ele, limpando seu punhal na coxa – Procurar mais.

 

Antes que o senhor O voltasse a caçar vampiros, liberou a trava de segurança da sua nove milímetros Smith & Wesson e olhou no interior do canhão. A arma precisava de uma limpeza e seu Glock também. Uma droga que quisesse fazer, mas apenas um idiota permitiria que seu zelo diminuísse. Infernos, os lessers tinham que estar bem armados. A Irmandade da Adaga Negra não era a classe de objetivo com o qual se descuidar.

Caminhou através do quarto de tortura, fazendo um pequeno desvio ao redor da mesa de autópsias que utilizavam para seu trabalho. A distribuição da sala não tinha nenhuma separação, o piso estava sujo, mas como não havia janelas, o vento, em sua maior parte, mantinha-se fora. Havia uma cama de armar onde dormia. Uma ducha. Nenhuma privada ou cozinha porque os lessers não comiam. O lugar ainda cheirava a madeira fresca, por que o tinham construído fazia apenas um mês e meio.

O único acessório fixo eram as estantes que se estendiam das sujas vigas descendo por toda a parede de quarenta pés de comprimento. Os instrumentos estavam colocados, cuidadosamente limpos, em vários níveis: facas, parafusos de segurança, tenazes, martelos. Se havia algo que pudesse arrancar um grito de dor de uma garganta, eles o tinham.

Mas, o lugar não só era para a tortura, utilizava-se também como armazém. Manter vampiros prisioneiros durante um tempo era um desafio, por que eles podiam fazer “Poof… Desapareci!” diante deles, se fossem capazes de estar calmos e concentrarem-se. O aço impedia o ato de desaparecer, mas uma cela com barras não os protegeria da luz do sol e uma sala de aço no edifício era pouco prática. Funcionava bastante bem, embora fossem uns jogos de tampas de boca-de-lobo metálicos colocados verticalmente no chão. Ou três deles, como era o caso.

O teve a tentação de ir às unidades de armazenagem, mas sabia que se o fizesse, não retornaria à caça e tinha cotas a cumprir. Ser o Fore-lesser, segundo na hierarquia tinha alguns atrativos extras, como ter acesso a este lugar. Mas se tinha a intenção de proteger sua privacidade, teria que ter um desempenho adequado.

Significava que tinha que cuidar de suas armas, mesmo que preferisse estar fazendo outras coisas. Separou com uma cotovelada um estojo de ferramentas, pegou a caixa de limpeza da pistola, e aproximou um tamborete à mesa de autópsias.

A única porta do lugar se abriu de repente sem nenhuma batida. O olhou sobre seu ombro, mas quando viu quem era, obrigou-se a reduzir a expressão de chatice ao mínimo.

O Senhor X não era bem-vindo, mas ele era o responsável pela Sociedade dos Lessers e não podia negar-se. Só por razões de auto-preservação.

De pé sob a luz da lâmpada, o Fore-lesser não era um bom oponente se quisesse permanecer inteiro. De um metro e noventa, era como um carro: quadrado e duro. E, como todos os membros da Sociedade que tiveram sua iniciação há muito tempo, era totalmente pálido. Sua pele branca nunca ruborizava e não conseguia bronzear-se. Seu cabelo era branco, os olhos de cor cinza clara como um céu nublado e igualmente sem brilho e neutros.

Com um passo informal, o Senhor X começou a olhar ao redor, não observando a disposição dos objetos, mas procurando.

— Disseram que você conseguiu outro.

O deixou a barra de limpar a arma e analisou as armas que usava agora. Uma faca para lançar sobre sua coxa direita. Uma Glock na zona lombar. Sentia não ter mais.

— Agarrei-o no centro da cidade faz uns quarenta e cinco minutos fora do ZeroSum. Está em um dos buracos, perto daqui.

— Bom trabalho.

— Penso em sair outra vez. Agora mesmo.

— De verdade? — o Senhor X parou diante das estantes e pegou uma faca de caça denteada — Sabe, ouvi algo que é bastante alarmante.

O seguiu seu apagado falatório e colocou a mão sobre sua coxa, aproximando a lâmina mais.

— Não vai perguntar o que é? — disse o Fore-lesser enquanto caminhava sobre as três unidades de armazenagem do chão — Talvez por que já sabe o segredo.

O escamoteou a faca em sua mão enquanto o Senhor X se atrasava sobre as redes metálicas que cobriam o alto dos tubos de rede de esgoto. Não dava nada pelos dois primeiros cativos. O terceiro não era assunto dele.

— Nenhuma vaga, Senhor O? — a ponta da bota do Senhor X tamborilava dando batidinhas contra um dos jogos de cordas que desapareciam debaixo de cada um dos buracos — Pensava que tinha matado dois depois de perceber que não tinham nada que valesse a pena dizer.

— Fiz.

— Então com o civil que agarrou esta noite, deveria haver um tubo vazio. Em troca, isto está lotado.

— Agarrei outro.

— Quando?

— Ontem à noite.

— Mentira. — o Senhor X começou a levantar a coberta da terceira unidade.

O primeiro impulso de O foi levantar-se, dar dois passos longos e rápidos e perfurar a garganta do Senhor X com a faca. Mas, não poderia fazê-lo nem de longe. O Fore-lesser tinha o elegante truque de poder congelar aos subordinados no lugar. E, tudo o que tinha que fazer era olhá-lo.

Então, O ficou quieto, tremendo pelo esforço de manter seu traseiro sobre o tamborete.

O Senhor X tirou uma caneta-lanterna de seu bolso, acendendo-a e a dirigiu para o buraco. Quando um amortecido grito saiu, seus olhos se abriram de par em par.

— Jesus Cristo, realmente é uma fêmea! Por que demônios não me disseram isso.

O ficou de pé devagar, deixando a faca pendurar pela coxa, entre as dobras de sua calça de cargo.

— É nova. — disse ele.

— Não foi isso o que ouvi.

Com passos rápidos, o Senhor X foi ao banheiro e retirou a cortina de plástico transparente. Com uma maldição, chutou os fracos de xampu e o óleo que estavam alinhados na esquina. Então foi ao armário das munições e tirou a geladeira portátil que estava oculta atrás deles. Virou-a e a comida caiu de repente ao chão. Como os lesser não mastigavam nem engoliam, estava tão claro como qualquer confissão.

A pálida face do Senhor X estava furiosa.

— Esteve mantendo uma mascote, não é verdade?

O considerou negá-lo enquanto media a distância entre eles.

— É valiosa. Uso-a nos interrogatórios.

— Como?

— Os homens da espécie não gostam de verem fêmeas feridas. É um estímulo.

Os olhos do Senhor X se estreitaram.

— Por que não me disse nada?

— Este é meu centro. Você deu-me para dirigi-lo como quisesse. — e quando encontrasse o desgraçado mexeriqueiro, ia rasgar o bastardo em tiras — Cuido do negócio aqui e você sabe. Não deveria importar-se como trabalho.

— Deveria ter dito isso. — bruscamente, o Senhor X lhe disse — Está pensando fazer algo com essa faca na mão, filho?

Sim, papai, na realidade penso em fazer.

— Sou o responsável aqui ou não?

Quando o Senhor X trocou o peso sobre seus pés, O se preparou para o choque.

Mas, o telefone celular tocou. O primeiro toque soou estrondoso no tenso ambiente, como um grito. O segundo soou menos que uma intrusão. E o terceiro não o deixou BDF[2].

Enquanto sua mente desbaratava-se, O se deu conta de que não estava pensando claramente. Ele era um tipo grande e um lutador malditamente bom, mas não era competidor para os truques do Sr. X. E se O fosse ferido ou morresse, quem cuidaria de sua esposa?

—Atenda. — ordenou-lhe o Senhor X — E, ponha no viva-voz.

As informações eram de outro dos Primes. Três lessers tinham sido eliminados próximos a uma estrada a duas milhas de distância. Seu carro tinha sido encontrado embaixo do tronco de uma árvore e as manchas das queimaduras de suas desintegrações tinham chamuscado a neve.

Filhos da puta. A Irmandade da Adaga Negra. Outra vez.

Quando O finalizou a chamada, o Senhor X disse:

— Olhe, quer lutar contra mim ou ir trabalhar? Um caminho o levará a uma morte segura agora mesmo. É sua escolha.

— Sou o responsável por este lugar?

— Enquanto obtiver o que necessito.

— Trouxe muitos civis aqui.

— Mas isso não é o que muitos dizem.

O se aproximou e deslizou sobre a rede do terceiro buraco, assegurando-se de que o Senhor X o visse sempre. Então, colocou sua bota de combate sobre a coberta e encontrou seu olhar com o do Fore-lesser.

— Não posso ajudar se a Irmandade guarda o segredo de sua própria espécie.

— Talvez só deva concentra-se com um pouco mais de vontade.

Não diga que se foda, pensou O. Foda esta prova e sua fêmea será alimento para os cães.

Enquanto O tentava controlar seu temperamento, o Senhor X sorriu.

— Seu controle seria admirável se esta não fosse a única resposta apropriada. Agora, sobre o que aconteceu esta noite. Os Irmãos irão ao encontro daqueles assassinos aos que destruíram. Vá quanto antes à casa de H e pegue-o. Atribuirei alguém ao lugar de A e eu mesmo cobrirei D.

O Senhor X fez uma pausa na porta.

— Sobre essa fêmea. Se a usa como instrumento, está bem. Mas, se a mantém por qualquer outra razão, teremos um problema. Pegue leve ou alimentarei Ômega com você, pedaço por pedaço.

O não estremeceu. Tinha sobrevivido às torturas de Ômega uma vez e calculou que poderia voltar a fazê-lo outra vez. Por sua fêmea passaria pelo que fosse.

— Então, o que me diz? — exigiu o Fore-lesser.

— Sim, mestre.

Enquanto O esperava que o Senhor X partisse em seu carro, seu coração parecia explodir como uma granada. Queria tirar a mulher e senti-la contra ele, mas então nunca iria. Para tentar tranqüilizar-se, rapidamente limpou seu S&W e se armou. Isto na verdade não o ajudou, mas ao menos suas mãos tinham deixado de tremer por um tempo enquanto o fazia.

Caminhado para a porta recolheu as chaves de seu caminhão e conectou o detector de movimento do terceiro buraco. O apoio tecnológico era um verdadeiro salva-vidas. Se o laser infravermelho se danificasse, a arma triangular do sistema dispararia e qualquer curioso apanhado estaria com um sério caso de filtrações.

O vacilou antes de sair. Deus, queria abraçá-la. Pensar em perder sua mulher, inclusive hipoteticamente, deixava-o louco. Aquela fêmea vampira… Era sua razão para viver agora. Não a Sociedade. Nem o assassinato.

— Estou indo, esposa, seja boazinha. — O esperou — Voltarei logo e a lavarei. —quando não houve nenhuma resposta, disse — Esposa?

O engoliu saliva compulsivamente. Embora se dissesse que devia ser um homem, não podia obrigar-se a sair sem ouvir sua voz.

— Não me deixe ir embora sem um adeus.

Silêncio.

A dor penetrou em seu coração, fazendo com que o amor que sentia subisse vertiginosamente. Suspirou, o delicioso peso do desespero se apoderou de seu peito. Tinha pensado que sabia o que era o amor antes de ser transformado em lesser. Tinha pensado que Jennifer, a mulher com quem havia transado e pela qual tinha lutado tantos anos, tinha sido especial. Mas, tinha sido um idiota ingênuo. Agora sabia o que era realmente a paixão. Sua mulher cativa era a dor que o queimava e quem o fazia parecer um homem outra vez. Ela era a alma que substituía a que tinha entregado a Ômega. Por ela vivia, embora fosse um não morto.

— Retornarei assim que puder, esposa.

 

Bela encurvou-se dentro do buraco quando ouviu que se fechava a porta. O fato de que o lesser partisse intranqüilo porque não respondera, agradava-a. Agora a loucura era completa verdade?

Era engraçado que esta loucura fosse a morte que a esperava. No momento em que despertou no tubo há muitas semanas, presumiu que sua morte ia ser convencional, do tipo de corpo destroçado. Mas, não, a sua era a morte em si mesma. Enquanto seu corpo subsistia com uma saúde relativa, seu interior não viveria muito.

A psicose estava apanhando-a, e como uma enfermidade do corpo, tivera suas etapas. No princípio se sentia muito petrificada para pensar em algo que não fosse a tortura que sentiria. Mas, então os dias passaram e nada aconteceu. Sim, o lesser lhe batia e seus olhos sobre seu corpo a repugnavam, mas não fazia com ela o que fazia aos outros de sua raça. Tampouco a estuprara.

Em resposta, seus pensamentos gradualmente mudaram, seu espírito reanimou-se enquanto manteve a esperança de que a resgatariam. Esse período de fênix fora o mais longo. Uma semana inteira, talvez, embora fosse difícil medir a passagem dos dias.

Mas, então tinha começado o irreversível deslizamento e o que o provocara foi o próprio lesser. Havia demorado um tempo para compreender, mas tinha um estranho poder sobre seu captor e depois que passou algum tempo, tinha começado a usá-lo. Ao princípio o provocou para provar os limites. Mais tarde começou a atormentá-lo sem outra razão mais que o ódio e o desejo de feri-lo.

Por alguma razão o lesser que a capturou… a amava. Com todo seu coração. Às vezes gritava com ela e realmente a aterrorizava quando ele tinha algum de seus caprichos, mas quanto mais dura era com ele, melhor a tratava. Quando ela punha os olhos nele, este entrava em uma crise de ansiedade. Quando ele trazia presentes e os rechaçava, chorava. Com crescente ardor, preocupava-se com ela, mendigava sua atenção, acomodava-se contra ela e quando o rechaçava, ele ficava triste.

Jogar com suas emoções era seu mundo, odiava-o e a crueldade que a alimentava, a estava matando. Uma vez fora um ser vivo, uma filha, uma irmã… Uma alguém… Agora se endurecia, como concreto em meio ao seu pesadelo. Embalsamada.

Querida Virgem do Fade, sabia que ele nunca a deixaria partir. Estava segura que se ela se matasse abertamente, ele tomaria seu futuro. Tudo o que tinha agora era apenas o espantoso, infinito presente. Com ele.

O pânico, uma emoção que não tinha tido durante um tempo, elevou-se em seu peito.

Desesperada por voltar para o intumescimento, concentrou-se no quanto estava frio o chão. O lesser a tinha mantido vestida com a sua própria roupa, que tinha tirado de suas gavetas e armários e estava abrigada por um comprido Johns de lã, quentes meias três-quartos e botas. Contudo, o frio era implacável, movendo-se entre as roupas, entrando nos seus ossos, convertendo seus tutanos em gelo.

Seus pensamentos transladaram-se para sua granja, onde tinha vivido durante um período tão curto de tempo. Recordou o alegre fogo que tinha feito no lugar em sua sala de estar e a felicidade que tinha sentido ao estar sozinha… Eram más visões, más lembranças. Faziam-na recordar sua antiga vida, sua mãe… Seu irmão.

Deus, Rehvenge. Rehv a havia deixado louca com seu comportamento dominante, mas tinha tido razão. Se ela tivesse ficado com sua família, nunca teria conhecido Mary, a humana que vivia ao lado. E, nunca teria cruzado o prado entre sua casa aquela noite para assegurar-se de que estava bem. E, nunca teria tido que correr atrás do lesser… Nunca teria terminado morta e respirando.

Perguntou-se quanto tempo seu irmão a teria procurado. Já teria se rendido? Provavelmente. Nem sequer Rehv poderia continuar durante tanto tempo sem esperança.

Apostava que a tinha procurado, mas por uma parte se alegrava de que não a tivesse encontrado. Embora fosse um homem extremamente agressivo, era civilizado e se sentiria responsável se o ferissem caso ele viesse resgatá-la. Aqueles lessers eram fortes. Cruéis e poderosos. Não, para que a salvassem seria necessário alguém igualmente monstruoso como aquele que a retinha.

Uma imagem de Zsadist lhe veio à mente, clara como uma fotografia. Viu seus escuros olhos selvagens. A cicatriz que atravessava seu rosto e deformava o lábio superior. O escravo de sangue com tatuagens na garganta e nos pulsos. Recordou os sinais dos açoites sobre suas costas. E, os piercings que penduravam de seus mamilos. E, os músculos, também o corpo magro.

Pensou em sua cruel vontade, inflexibilidade e todo o ódio totalmente volátil. Era aterrador, um horror da espécie. Arruinado, não, quebrado, nas palavras de seu gêmeo. Mas, isso era o que o faria um bom salvador. O único rival para o lesser que a tinha levado. O tipo de brutalidade de Zsadist era provavelmente a única coisa que poderia tirá-la daí, embora tivesse melhor critério que pensar que alguma vez tentaria encontrá-la. Ela era somente uma civil com a qual se encontrou um par de vezes.

E, a segunda vez, lhe tinha feito jurar que nunca voltaria a se aproximar.

O medo a rodeava e tentou refrear a emoção dizendo-se que Rehvenge ainda a procurava. E, apelaria à Irmandade se encontrasse alguma pista de onde estava. Então, talvez Zsadist viesse procurar por ela, por que seria necessário, como parte de seu trabalho.

— Olá? Olá? Há alguém aí? — a instável voz masculina soava como amortecida, um tom metálico.

Era o cativo mais novo, pensou. Eles no princípio sempre tentavam reagir.

Bela se esclareceu a garganta.

— Estou… Aqui.

Houve uma pausa.

— Oh, meu Deus… É a mulher que levaram? É Bela?

Escutar seu nome foi um choque. Infernos, o lesser a chamava de esposa a tanto tempo, que quase tinha esquecido que tinha sido algo mais.

— Sim… Sim, sou eu.

— Ainda está viva.

Bem, seu coração ainda pulsava, de todos os modos.

— Conheço você?

— Eu... Eu fui ao seu enterro. Com meus pais, Ralstam e Jilling.

Bela começou a tremer. Sua mãe e seu irmão… A tinham posto para descansar. Sua mãe era profundamente religiosa, grande crente das Velhas Tradições. Uma vez que se convenceu que sua filha estava morta, teria insistido na cerimônia apropriada para que Bela pudesse entrar no Fade.

Oh… Deus. Pensar que eles desistiram e saber que desistiram eram duas coisas diferentes. Ninguém viria buscá-la. Nunca.

Escutou algo estranho. E, compreendeu que soluçava.

— Fugirei. — disse o homem com força — Levarei você comigo.

Bela permitiu que seus joelhos dobrassem e deslizou para baixo pela parede acanalada do tubo até que ficou deitada no fundo. Agora estava realmente morta, verdade? Morta e bem morta.

Que horrivelmente adequado que ela estivesse presa na terra.

 

As shitkickers de Zsadist o levaram através de um beco fora da Rua Trade, suas passadas soavam com força sobre os atoleiros de neve em parte congelados e esmagados pelos rastros dos pneus. Estava totalmente escuro, porque não havia janelas nos edifícios de tijolo de um e outro lado e as nuvens se fecharam sobre a lua. Inclusive caminhando assim, sua visão noturna era perfeita, penetrando em toda parte. Como sua raiva.

Sangue negro. Precisava de mais sangre negro. Necessitava-o sobre suas mãos, golpeando em seu rosto e salpicando sua roupa. Precisava de oceanos dele correndo pelo chão e gotejando na terra. Em honra à memória de Bela, sangraria aos assassinos, cada morte seria uma oferenda.

Sabia que não tinha sobrevivido, sabia em seu coração que devia ter sido assassinada de um modo espantoso. Então, por que sempre perguntava a esses bastardos onde estava? Inferno, não sabia. Só era a primeira coisa que saía de sua boca, sem importar quantas vezes se dissesse que estava morta.

Ele ia seguir fazendo essa maldita pergunta. Queria saber onde, como e com o que, eles o tinham feito. A informação só o devoraria, mas precisava saber. Tinha que saber. E um deles falaria em algum momento.

Z se deteve. Cheirou o ar. Rezou para que o suave aroma de talco para bebê fosse até seu nariz. Maldito fosse, não podia suportar isto… Não saber nada por mais tempo.

Mas, então riu com um repugnante ruído. Sim, o inferno não poderia enfrentá-lo. Graças a seus cem anos de cuidadosa educação com a Mistress, não existia nenhum nível de merda ao qual não sobrevivesse. Dor física, angústia mental, abatendo-se nas profundidades da humilhação e a degradação, desespero, impotência: este aqui, agüenta.

Assim, sobreviveria a isto.

Levantou a vista ao céu e quando sua cabeça se inclinou para trás, balançou. Com um rápido movimento de mão se estabilizou, logo suspirou e esperou para ver se a sensação de enjôo passava. Não teve sorte.

Hora de alimentar-se. Outra vez.

Maldição, esperava poder sair sem dificuldade mais uma noite ou duas. O mais seguro era que tinha arrastado seu corpo por pura força de vontade as duas últimas semanas, mas isso não era nada insólito. E, esta noite não queria tratar com a sede de sangue.

Vamos, vamos… Concentre-se, idiota.

Obrigou-se a continuar, espreitando pelos becos do centro, serpenteando o perigoso labirinto urbano de Caldwell, os clubes de New York e os cenários de drogas.

Às três da manhã, estava tão faminto de sangue que se sentia como uma pedra e foi a única razão pela qual se apresentou. Não podia agüentar mais a dissociação, o intumescimento em seu corpo. Recordava-lhe muito a letargia do ópio ao qual lhe tinham obrigado a tomar quando era um escravo de sangue.

Caminhando tão rapidamente como podia, dirigiu-se ao ZeroSum, a guarida atual da Irmandade no centro da cidade. Os seguranças lhe permitiram evitar a fila de espera, o acesso fácil era um dos benefícios das pessoas que deixava cair dinheiro efetivamente, como faziam os Irmãos. Infernos, o hábito da fumaça vermelha de Phury valia só um par de notas ao mês e V e Butch gostavam apenas da chamada que lhes chegava da prateleira superior das bebidas. Estavam regularmente nas compras de Z.

O clube estava quente e escuro por dentro, uma espécie de úmida caverna tropical com música techno no ar. As pessoas lotavam a pista de dança, dando voltas, bebendo água, suando enquanto se moviam com os lasers coloridos ritmicamente.

Tudo ao redor, corpos contra as paredes, em pares ou trios, retorcendo-se, tocando-se.

Z se dirigiu a área VIP e a multidão abria espaço para ele, separando-se como um pano de veludo rasgado. Apesar do alto consumo de ecstasy e cocaína superaquecer seus corpos, ainda tinham suficiente instinto de sobrevivência ao ver sua aparência mortal que esperava passar.

Na parte de trás, um segurança com um interfone permitiu sua entrada na melhor zona do clube. Aqui, na relativa tranqüilidade, vinte mesas com assentos de tamborete estavam espaçadas, com piso de mármore negro iluminado do teto. O lugar da Irmandade estava perto da saída de incêndios e não se surpreendeu de ver Vishous e Butch ali com copos curtos em frente deles. O copo de Martini de Phury estava totalmente sozinho.

Os dois camaradas não pareceram alegrar-se ao vê-lo. Não… Pareciam resignados com sua chegada, como se tivessem esperado tirar uma carga e ele acabasse de lhes lançar um motor em bloco.

— Onde está ele? — perguntou Z, apontando para o Martini de seu gêmeo com a cabeça.

— Fazendo fumaça vermelha na parte de trás. — disse Butch — Ficou sem O-Z´S[3].

Z se sentou à esquerda e inclinou-se para trás, retirando-se da brilhante luz que caía sobre a mesa. Quando deu uma olhada a seu redor, reconheceu os rostos insignificantes dos desconhecidos. A área VIP tinha os rudes clientes habituais, mas nenhum dos grandes esbanjadores interagia com o fechado grupo. De fato, o clube inteiro estava impregnado por sensações de “não me pergunte, não me fale”, o que era um dos motivos pelos quais os Irmãos iam ali. Inclusive embora o ZeroSum fosse propriedade de um vampiro, tinham que procurar passar despercebidos pelo que eram.

Com o passar do século, a Irmandade da Adaga Negra se tornou reservada sobre suas identidades dentro da raça. Havia rumores, certamente, e os civis sabiam alguns de seus nomes, mas tudo era guardado no QT[4]. Tudo tinha começado quando a raça se fragmentou tragicamente fazia um século aproximadamente, a confiança se converteu em um assunto dentro da espécie. Mas, agora, também havia outra razão. Os lessers torturavam aos civis procurando informação sobre a Irmandade, por isso era imperativo continuarem escondidos.

Como resultado, os poucos vampiros que trabalhavam no clube não estavam seguros de que os grandes homens que se vestiam de couro, bebiam e deixavam cair dinheiro fossem membros da Adaga Negra. E, felizmente, se não fosse assim com clientela social, a forma de olhar dos Irmãos evitava perguntas.

Zsadist se moveu em seu lugar, impaciente. Odiava o clube, realmente o odiava. Odiava tantos corpos tão perto dele. Odiava o ruído. Os aromas.

Em um barulhento grupo, três mulheres humanas se aproximaram da mesa dos Irmãos. As três trabalhavam essa noite, entretanto o que serviam não cabia em um copo. Eram as típicas putas de classe alta: apliques no cabelo, peitos falsos, rostos moldados por cirurgiões plásticos, roupa cara. Havia algumas se deslocando fazendo algazarra pelo clube, particularmente na seção VIP. O Reverendo, proprietário e dirigente do ZeroSum, acreditava na diversificação do produto como uma estratégia de negócio, oferecendo seus corpos assim como o álcool e as drogas. O vampiro também emprestava dinheiro e tinha uma equipe de corredores de apostas e só Deus sabe quais outros serviços que prestava em seu escritório de trás, sobre tudo para sua clientela humana.

Enquanto as três prostitutas riam e falavam, ofereceram-se para negociar. Mas nenhuma delas era o que Z procurava e V e Butch não as escolheriam tampouco. Dois minutos mais tarde, as mulheres se aproximaram da mesa seguinte.

Z estava malditamente faminto, mas era inegociável quando se tratava da alimentação.

— Hei, queridinhos! — disse outra mulher — Algum de vocês procura um pouco de companhia?

Ele a olhou. Esta mulher humana tinha um rosto duro que combinava com seu duro corpo. A roupa de couro negro. Os olhos frágeis. O cabelo curto.

Droga, era perfeita.

Z pôs sua mão na base da luz sobre a mesa, levantou dois dedos, logo golpeou com os nódulos duas vezes sobre o mármore. Quando Butch e V começaram a mexer-se no assento, sua tensão o incomodou.

A mulher riu.

— Bom, bom.

Zsadist se inclinou para frente e se levantou em toda sua estatura, seu rosto ficou iluminado pelo projetor. A expressão da prostituta ficou solidamente congelada quando deu um passo para trás.

Nesse momento Phury saiu da porta da esquerda, seu espetacular cabelo refletia as luzes que piscavam inconstantes. Diretamente atrás dele havia um vampiro macho durão com um mohawk[5]: o Reverendo.

Quando os dois pararam junto à mesa, o dono do clube riu forte. Seus olhos cor ametista perceberam a vacilação da prostituta.

— Boa noite, cavalheiros. Vai a algum lugar, Lisa?

O alarde de Lisa retornou com vingança.

— A qualquer um onde ele queira, chefe.

— Resposta correta.

Suficiente para um yakkies[6], pensou Z.

— Fora. Agora.

Empurrou a porta contra incêndio e a seguiu ao beco posterior ao clube. O vento de dezembro soprava pela jaqueta ampla que tinha posto para cobrir seus braços, mas não se preocupava com o frio e menos pela Lisa. Embora as rajadas geladas jogassem seu cabelo e ela estivesse quase nua, confrontou-o sem medo, levantando o queixo.

Agora que se comprometeu, estava pronta para ele. Uma verdadeira profissional.

— Fazemos aqui. — disse ele, dando um passo para as sombras. Pegou duas notas de cem dólares de seu bolso e deu a ela. Seus dedos dobraram-se antes que o dinheiro desaparecesse em sua saia de couro.

— Como quer? — perguntou, aproximando-se furtivamente dele, tratando de chegar a seus ombros.

Fê-la girar e a colocou com a cara contra a parede de tijolo.

— Eu toco. Você não.

Seu corpo esticou e o medo causou coceira em seu nariz, como um ácido. Mas, sua voz foi dura.

— Olhe, idiota. Volto com machucados e ele perseguirá você como a um animal.

— Não se preocupe, vai sair disto perfeitamente bem.

Mas ainda a assustava. E, ele estava felizmente intumescido pela emoção.

Geralmente o medo da mulher era a única coisa que podia animar a ele, a única maneira que deixava duro o que tinha dentro de suas calças. Ultimamente, entretanto o gatilho não funcionava, o que estava bom. Aborrecia a resposta daquela coisa detrás de seu zíper e visto que a maioria das mulheres se acorvadavam diante dele, isso conseguia excitá-lo muitíssimo mais do que queria. Nada teria sido melhor. Droga, era provavelmente o único homem sobre o planeta que queria ser impotente.

— Incline a cabeça para o lado. — disse ele — A orelha contra seu ombro.

Devagar, ela obedeceu, expondo o pescoço. Esta era a razão pela qual a tinha escolhido. O cabelo curto significava que não teria que tocar nada para limpar o caminho. Odiava ter a necessidade de pôr suas mãos sobre elas em todas as partes.

Quando olhou fixamente sua garganta, sua sede aumentou e suas presas se alargaram. Deus, estava tão seco para esgotá-la.

— O que vai fazer? — o interrompeu — Morder-me?

— Sim.

Mordeu-a rapidamente e a sustentou enquanto ela o golpeava. Para fazê-lo mais fácil, ele a acalmou mentalmente, relaxando-a, lhe dando algo que sem dúvida lhe era muito familiar. Enquanto ela se tranqüilizava, ele bebeu tanto como pôde sem engasgar-se, provando a cocaína e o álcool em seu sangue assim como aos antibióticos que tomava.

Quando terminou, lambeu os sinais da espetada para iniciar o processo de cura e para que não sangrasse. Então, lhe colocou rapidamente um colar para ocultar a dentada, limpou suas lembranças e a enviou de volta ao clube.

A sós, de novo, apoiou-se contra os tijolos. O sangue humano era tão fraco, apenas conseguia o que necessitava, mas não podia fazê-lo com as mulheres de sua própria espécie. Não outra vez. Nunca.

Elevou a vista para o céu. As nuvens que as rajadas de vento haviam trazido antes, foram-se e entre os edifícios se podia ver um pedacinho do céu claro, salpicado de estrelas. As constelações lhe diziam que só tinha duas horas para permanecer fora.

Quando teve a força necessária, fechou os olhos e se materializou no único lugar em que queria estar.

Agradecia a Deus que ainda tivesse suficiente tempo para ir ali. Estar ali.

 

John Matthew gemeu e girou até ficar de costas na cama.

A mulher seguiu seu exemplo, seus peitos nus pressionaram sobre o seu amplo peito descoberto. Com um sorriso erótico, ela alcançou abaixo entre as pernas dele e encontrou sua pesada ereção. Ele jogou a cabeça para trás e gemeu enquanto ela apertava sua ereção, para cima e para baixo. Quando ele agarrou seus joelhos, ela começou a montá-lo lentamente.

Oh, sim…

Com uma mão tocava a si mesma, com a outra o atormentava, passando a palma de sua mão sobre os peitos e subindo até seu pescoço, agarrando o comprido, cabelo loiro enquanto ela tinha um orgasmo. Sua mão se moveu para seu rosto, e logo seu braço estava sobre sua cabeça, um arco cheio de graça de carne e ossos. Ela se arqueou para trás e seus peitos se sobressaíram, os duros mamilos dilatados, rosados. Sua pele era tão pálida que parecia neve fresca.

— Guerreiro. — disse ela, rangendo os dentes — Pode agüentar isto?

Agüentar? Maldição, podia. E, então quando estava deixando claro quem agüentava o que, ele agarrou suas coxas e empurrou seus quadris até que ela gritou.

Quando se retirou, lhe sorriu, montando-o mais e mais rápido. Ela era hábil e apertada, e sua ereção estava no céu.

— Guerreiro, pode agüentar isto? — sua voz era mais profunda agora pelo esforço.

— Inferno, sim. — grunhiu. Homem, a segunda vez que ela gozasse, ia lhe virar e empurrar dentro dela uma vez mais.

— Pode agüentar isto? — ela o bombeou ainda mais duro, ordenhando-o. Com seu braço ainda sobre sua cabeça, ela o montava como a um touro, corcoveando sobre ele.

Isto era um grande sexo… Imponente, incrível, grandioso…

Suas palavras começaram a curvar-se, deformar-se... Caindo sob a investigação de uma fêmea. Pode agüentar isto? John sentiu um calafrio. Algo estava mau.

— Pode agüentar isto? Pode agüentar isto? — de repente a voz de um homem saía de sua garganta, a voz de um homem que se burlava dele — Pode agüentar isto?

John lutou para empurrá-la, mas ela estava presa a ele como se tivesse braçadeiras, e a transa não parava.

—Acredita que pode agüentar isto? Acredita que pode agüentar isto? Acredita que pode agüentar isto? — a voz masculina gritava agora, rugindo da cara da fêmea.

A faca veio para John de cima da cabeça dela… Só que ela era um homem agora, um homem com a pele branca, o cabelo pálido e olhos da cor da névoa. Enquanto a lâmina reluzia como prata, John conseguiu bloqueá-la, mas seu braço não era musculoso como antes. Estava magro, enfraquecido.

— Pode agüentar isto, guerreiro?

Com uma navalhada cheia de graça, a adaga atingiu diretamente o meio de seu peito. Uma dor ardente se acendeu onde lhe tinha penetrado, um violento ardor derramando-se através de seu corpo, ricocheteando pelo interior de sua pele até que esteve vivendo em agonia. Ofegou e se afogou em seu próprio sangue, afogado e amordaçado até que nada entrou em seus pulmões. Segurando-se, lutou contra a morte que trás dele…

— John! John! Acorde!

Seus olhos se abriram de repente. Seu primeiro pensamento foi que sua cara doía, embora não tivesse nem idéia do por que, já que tinha sido apunhalado no peito. Então, se deu conta de que sua boca estava aberta tensamente, acomodando o que teria sido um grito se ele tivesse nascido com cordas vocais. Tal como estava, tudo o que ia fazer era soltar uma corrente estável de ar.

Então sentiu as mãos… Mãos que imobilizavam seus braços. O terror voltou, e no que foi para ele uma quebra de onda incrível, jogou seu pequeno corpo para fora da cama. Aterrissou de cara, sua bochecha patinando sobre o tapete.

— John! Sou eu, Wellsie.

A realidade voltou com o som do nome, tirando-o do histerismo como uma palmada.

Oh, Deus… Estava bem. Ele estava bem. Estava vivo.

Jogou-se nos braços de Wellsie e enterrou seu rosto em seu comprido cabelo vermelho.

— Está bem. — ela o empurrou para seu colo e acariciou suas costas — Está em casa. Está a salvo.

Casa. Segurança. Sim, depois de seis semanas estava em casa… A primeira que ele tinha tido depois de crescer no orfanato de Nossa Senhora e em barracões até que completou dezesseis anos. Wellsie e Tohrment eram o lar.

E, não estava somente a salvo, tinha-o compreendido. Infernos, tinha aprendido a verdade sobre si mesmo. Até que Tohrment tinha vindo e o tinha encontrado ele não sabia por que sempre tinha sido diferente das outras pessoas ou por que ele era tão fracote e débil. Mas, os vampiros masculinos eram assim antes que passassem pela transição. Inclusive Tohr, que era um membro da Irmandade da Adaga Negra, quando jovem era pequeno.

Wellsie inclinou a cabeça de John para cima.

— Pode me contar que era?

Ele sacudiu a cabeça e a enterrou mais profundamente nela, apertando-a tão forte que estava surpreso de que ela pudesse respirar.

 

Zsadist se materializou diante da granja de Bela e amaldiçoou. Alguém tinha estado no lugar outra vez. Havia marcas frescas de pneus na neve, distribuídas no caminho de entrada e rastros à porta. Ah, droga… Ali havia muitos rastros, tanto na frente e como atrás, como se um carro tivesse estacionado ali e parecia que as coisas estivessem sendo levadas.

Isto o fez sentir-se inquieto, como se pequenas coisas dela estivessem desaparecendo.

Inferno santo. Se sua família desmontasse a casa, ele não saberia onde iria estar com ela.

Com um olhar duro, olhou fixamente ao pórtico dianteiro e às janelas largas da sala de estar. Talvez ele devesse recolher algo dela para ele. Isto seria fazer uma canalhice, porque então, não seria melhor que um ladrão.

Outra vez, perguntou-se sobre a família dela. Sabia que eram aristocratas de classe social alta, mas isso era tudo, e não queria conhecê-los para averiguar mais. Inclusive em seu melhor dia, ele era horrível com as pessoas, mas a situação com Bela o fazia perigoso, não somente repugnante. Não, Tohrment era o adequado para lidar com os laços de sangue, e Z era sempre cuidadoso para não encontrar-se com eles.

Foi para a parte de trás da casa, entrou pela cozinha, e desligou o alarme de segurança. Como fazia toda noite, verificou primeiro os peixes. Farelos de comida estavam pulverizados em cima da água, prova de que alguém tinha cuidado deles. Ficava de saco cheio por alguém lhe ter roubado a oportunidade.

A verdade era, que pensava nessa casa como seu espaço agora. Tinha limpado a casa depois que a tinham seqüestrado. Tinha regado às plantas e tinha cuidado dos peixes. Tinha andado pelos andares e pela escada e tinha olhado fixamente pelas janelas e se sentou sobre cada cadeira, sofá e cama. Infernos, já tinha decidido comprar a maldita coisa quando sua família a vendesse. Embora nunca tivesse tido uma casa antes ou muitos bens pessoais, estas paredes e este teto e a droga de dentro… Ele possuiria tudo. Um santuário dela.

Z fez uma viagem rápida pela casa, catalogando as coisas que tinham sido tiradas. Não era muito. Uma pintura e um prato de prata da sala de estar, e um espelho do vestíbulo de entrada. Tinha curiosidade de saber por que aqueles objetos em particular tinham sido escolhidos e devolvidos aonde pertenciam.

Enquanto entrava na cozinha outra vez, imaginou o quarto depois que ela tinha sido seqüestrada, todo o sangue, os pedaços de vidros, as cadeiras e a porcelana quebradas. Seus olhos baixaram até uma listra negra de borracha sobre o chão de pinheiro. Podia adivinhar como tinha sido feita. Bela lutando contra o lesser, sendo arrastada, a sola de seu sapato chiando enquanto deixava um rastro.

A cólera avançou lentamente através de seu peito até que esteve ofegando pelo feio e familiar sentimento. Exceto Cristo… Tudo isso não tinha sentido: ele procurando-a, obcecando-se como um merda e andando ao redor de sua casa. Eles não tinham sido amigos. Infernos, nem sequer tinham sido conhecidos. E, ele não tinha sido agradável com ela nas duas ocasiões em que se encontraram.

Homem, lamentava isso. Durante aqueles poucos momentos em que esteve com ela, desejava que tivesse sido… Bom, não levantar-se rapidamente depois que tivesse averiguado que estava excitada por causa dele, teria sido um começo realmente bom. Exceto, pelo fato de que não tivesse nenhum modo de engolir a resposta. Nenhuma fêmea exceto aquela bruxa doente da Mistress tinha estado molhada por ele, assim estava seguro como o inferno que ele não associava a escorregadia carne feminina com nada bom.

Enquanto recordava de Bela estando contra seu corpo, ainda se perguntava por que ela queria deitar-se com ele. Seu rosto parecia um quadro. Seu corpo não estava muito melhor, ao menos suas costas. E, sua reputação fazia com que Jack, o estripador, parecesse um escoteiro. Maldição, ele estava zangado com todos e tudo sempre. Ela tinha sido bonita, suave e amável, uma fêmea da realeza, aristocrata de uma estirpe privilegiada.

Ah, mas suas contradições tinham sido o ponto, verdade? Ele tinha sido o macho de “desvio de caminho” para ela. Um passeio pelo seu lado selvagem. A criatura selvagem que a impressionaria e a tiraria de sua pequena vida agradável durante uma hora ou duas. E, mesmo que lhe tinha doído ser reduzido precisamente ao que ele era, ainda pensava que ela era… Encantadora.

Atrás dele, ouviu o relógio do avô começar a soar. As cinco.

A porta de entrada da casa se abriu com um rangido.

Rápida e silenciosamente, Z pegou uma adaga negra de seu peito e se grudou contra a parede. Inclinou a cabeça para ter uma vista do corredor até o vestíbulo.

Butch levantou as mãos e entrou.

— Só sou eu, Z.

Zsadist baixou a lâmina, então a devolveu a sua bainha.

O antigo detetive de homicídios era uma anomalia em seu mundo, o único humano que alguma vez tinham deixado entrar no círculo interior da Irmandade. Butch era o companheiro de quarto de V, o companheiro de levantamento de pesos de Rhage no ginásio, que compartilhava a puta roupa de Phury. E, por razões que só ele sabia, estava obcecado com o seqüestro de Bela, assim então tinha alguma coisa em comum com Z, também.

— O que há, policial?

— Está chegando à solução? — a Pergunta do tipo poderia ter sido emoldurada como uma pergunta, mas era mais uma sugestão.

— Não agora mesmo.

— Perto da luz do dia.

O que seja.

— Phury te enviou a minha procura?

— Foi minha escolha. Quando não voltou depois de pagar, pareceu-me que poderia terminar aqui.

Z cruzou os braços sobre o peito.

— Se preocupava que tivesse matado àquela fêmea que tomei no beco?

— Não. Vi-a trabalhando no clube antes de partir.

— Então, por que estou olhando você agora mesmo?

Enquanto o macho olhava para baixo como se estivesse reunindo palavras em sua cabeça, seu peso se movia para frente e para trás naqueles sapatos caros dos quais gostava. Então desabotoou o elegante casaco negro de cachemira.

Ah… Assim, Butch era um mensageiro.

— Desembuche, policial.

O humano esfregou um polegar sobre sua sobrancelha.

— Sabe que Tohr esteve falando com a família de Bela, verdade? E, que seu irmão é um autêntico exaltado? Bom, ele sabe que alguém esteve vindo aqui. Pode contá-lo pelo sistema de segurança. Cada vez que desliga ou se acende, recebe um sinal. Quer que as visitas parem, Z.

Zsadist mostrou as presas.

— Pois ele que agüente!

— Vai colocar guardas.

— Por que demônios se preocupa?

— Vamos, homem, é a casa de sua irmã.

Filho da puta.

— Quero comprar a casa.

— Isto é uma área proibida, Z. Tohr disse que a família não vai colocar a casa no mercado logo. Querem mantê-la.

Z apertou os dentes durante um momento.

— Policial, se faça um favor e saia daqui.

— Melhor levar você para casa. O amanhecer está malditamente perto.

— Sim, realmente necessito de um humano me dizendo isso.

Butch amaldiçoou com uma exalação.

— Bom, faça barulho se quiser. Somente não volte aqui outra vez. Sua família já sofreu o bastante.

Logo que a porta da frente se fechou, Z sentiu um calor subir por seu corpo, como se alguém o tivesse envolvido apertadamente em uma manta elétrica e ligado à tomada. O suor descia por seu rosto e peito, e o estômago deu um tombo. Levantou suas mãos. As palmas estavam úmidas e os dedos tremiam.

Sinais fisiológicos de tensão, pensou.

Estava tendo claramente uma reação emocional, embora malditamente não soubesse qual era. Tudo o que reconhecia eram sintomas auxiliares. Dentro de si mesmo não havia nada, nenhum sentimento que pudesse identificar.

Olhou ao redor e quis colocar fogo na granja, incendiar a coisa até os alicerces, assim ninguém poderia tê-la. Melhor isso que saber que não podia entrar mais.

O problema era, que queimar sua casa era como ferir a ela.

Se não podia deixar um montão de cinzas para trás, queria pegar algo. Enquanto pensava no que poderia levar com ele e ainda desmaterializasse, pôs sua mão sobre a corrente fina que se estendia ao redor de seu pescoço.

O colar com seus diminutos diamantes inseridos era dela. Tinha-o encontrado nos escombros uma noite depois que tinha sido seqüestrada, sobre o piso de terracota embaixo da mesa de cozinha. Tinha limpado o sangue, tinha arrumado a tranca quebrada, e o tinha usado após.

E, os diamantes eram eternos, verdade? Eles duravam para sempre. Justo como suas lembranças dela.

Antes que Zsadist partisse, deu uma última olhada no aquário. O alimento quase tinha desaparecido, devorado da superfície por pequenas bocas, bocas que vinham das profundezas.

 

John não sabia quanto tempo esteve nos braços de Wellsie, mas demorou um momento para retornar à realidade. Quando ele finalmente se retirou, lhe sorriu.

— Seguro que não quer me contar o pesadelo?

As mãos de John começaram a mover-se, e ela as olhou fixamente com força porque estava aprendendo a linguagem dos sinais. Ele sabia que ia muito rápido, assim que se inclinou e pegou um de seus blocos e uma caneta da mesinha de cabeceira.

— Não era nada. Estou bem agora. Obrigado por me despertar.

— Quer voltar para a cama?

Ele assentiu. Parecia que não tinha feito nada exceto dormir e comer durante o mês e meio passado, mas não havia nenhum fim para sua fome ou seu esgotamento. Então outra vez, tinha vinte e três anos de fome e insônia para compensar.

Deslizou-se entre os lençóis, e então Wellsie se moveu devagar a seu lado. Sua gravidez não se notava muito se estivesse de pé, mas quando se sentava havia uma elevação sutil sob sua camisa frouxa.

— Quer que acenda a luz do banheiro?

Ele sacudiu a cabeça. Isso só lhe faria com que se sentisse como uma joaninha, e agora mesmo seu ego tinha agüentado todas as humilhações que podia agüentar.

— Vou estar na minha sala de estudo, certo?

Quando ela partiu, ele se sentiu mal por ser do tipo que precisava ser tranqüilizado, mas agora que o pânico tinha desaparecido estava envergonhado de si mesmo. Um homem não agia como ele tinha feito. Um homem teria lutado contra o demônio de cabelo pálido no sonho e teria ganhado. Inclusive se tivesse estado aterrorizado, um homem não se agacharia trêmulo como um menino de cinco anos quando despertasse.

Então, outra vez, John não era um homem. Ao menos não ainda. Tohr havia dito que a mudança não aconteceria até que estivesse próximo dos vinte e cinco, e ele não podia esperar os próximos dois anos passarem. Porque mesmo que agora entendesse por que só tinha um metro e sessenta e oito de altura e cinqüenta e um quilos e quinhentas gramas, ainda era resistente. Odiava olhar seu corpo ossudo todos os dias no espelho. Odiava vestir roupas de adolescente mesmo que pudesse legalmente dirigir, votar e beber. Abatido ante o fato de que nunca tinha tido uma ereção, nem sequer quando despertava de um de seus sonhos eróticos. E, nunca tinha beijado a uma mulher, tampouco.

Não, ele não se sentia parte do departamento masculino ao redor. Sobre tudo considerando o que tinha ocorrido fazia quase um ano. Deus, o aniversário daquele ataque tinha passado, verdade? Com um estremecimento tratou de não pensar naquela suja escada ou no homem que havia sustentado uma faca em sua garganta ou naqueles momentos horríveis quando algo irrecuperável tinha sido tirado dele: sua inocência violada, ida para sempre.

Forçando sua mente a sair daquela queda em desassossego, disse-se que ao menos já não estava desesperado. Algum dia, ele se transformaria em um homem.

Era reconfortante pensar no futuro, retirou as cobertas e foi até seu armário. Enquanto abria as duas portas, ainda não estava acostumado ao que viu. Nunca havia possuído tantas calças, camisas de jérseis em toda sua vida, mas aqui estavam… Tão frescos e novos, todos os zíperes funcionavam, não faltava nenhum botão, não estavam desfiados, nem quebrados. Até tinha um par de Nike Air Shox.

Ele tirou um suéter e o pôs, logo empurrou suas pernas largas e magras em um par de calças. No banheiro lavou as mãos e a cara e penteou seu cabelo negro. Então se dirigiu à cozinha, andando através de quartos que tinham linhas limpas, modernas, mas que estavam decorados com móveis, tecidos e arte do Renascimento italiano. Parou quando ouviu a voz de Wellsie sair do estudo.

— …uma espécie de pesadelo. Quero dizer, Tohr, estava aterrorizado… Não, ele evitou quando perguntei o que era, e não lhe pressionei. Penso que é hora de que veja Havers. Sim, UAH-Hugh[7]. Deveria conhecer primeiro Wrath. Bom. Quero-te, meu hellren. O que? Deus, Tohr, sinto-me da mesma maneira. Não sei como alguma vez vivemos sem ele. Ele é uma bênção.

John se apoiou contra a parede do corredor e fechou os olhos. Engraçado, ele se sentia da mesma maneira sobre eles.

 

Horas mais tarde, ou ao menos pareciam horas, Bela escutou o som da prancha da rede deslizando-se para trás. O aroma doce dos lesser tinha emanado até embaixo, onde ela estava, dominando o acre e úmido aroma de terra.

— Olá, esposa. — o cinto ao redor de seu torso a apertou quando ele a tirou.

Um olhar a seus pálidos olhos marrons e ela soube que agora não era o momento de empurrar qualquer limite. Ele estava nervoso, seu sorriso se mostrava muito excitado. E, lhe desequilibrar não era bom.

Justo quando seus pés bateram no chão, ele puxou as guarnições e então ela caiu contra ele.

—Eu disse “olá, esposa.”.

—Olá, David.

Ele fechou os olhos. Gostava quando ela dizia seu nome.

— Tenho algo para você.

Deixou as correias sobre ela e a conduziu à mesa de aço inoxidável no centro do quarto. Quando a algemou a coisa, ela sabia que ainda devia estar escuro lá fora. Ele relaxava sua segurança durante o dia, quando ela não poderia correr.

O lesser saiu pela porta e a deixou totalmente aberta. Ruídos de arrasto e grunhidos lhe seguiram e então voltou arrastando a um vampiro civil tonto. A cabeça do macho pendurava sobre seus ombros como se estivesse sobre uma dobradiça frouxa, e o arrastava pelos dedos dos pés. Estava vestido no que tinha sido uma agradável calça negra e um suéter de cachemira, mas agora as roupas estavam rasgadas e molhadas de sangue.

Com um gemido afogado em sua garganta, Bela retrocedeu até onde suas correntes permitiu. Não podia olhar a tortura, não podia.

O lesser forçou o macho a colocar-se sobre a mesa e o estendeu sobre ela. As algemas foram colocadas com eficiência ao redor de seus pulsos e tornozelos, e os elos foram presos com clipes metálicos. Assim que os olhos brumosos do civil se cravaram na estante com as ferramentas, invadiu-lhe o pânico. Puxou as correntes de aço, as fazendo repicar contra a mesa de metal.

Bela encontrou com os olhos azuis do vampiro. Estava aterrorizado, e queria lhe tranqüilizar, mas sabia que não era inteligente. O lesser olhava sua reação, esperando.

E, logo tirou uma faca.

O vampiro sobre a mesa gritava enquanto o assassino se inclinava sobre ele. Mas, tudo o que David fez foi dar um puxão no suéter do macho e cortá-lo, expondo seu peito e garganta.

Embora Bela tentasse lutar contra isso, a sede de sangue lhe revolvia o estômago. Tinha passado muito tempo desde a última vez que tinha se alimentado, possivelmente meses, e toda a tensão sob a que tinha estado significava que seu corpo necessitava o que só beber do sexo oposto podia lhe dar.

O lesser a agarrou pelo braço e a puxou, as algemas deslizaram pelo sulco da mesa com ela.

— Pensei que devias estar sedenta agora. —o assassino estendeu a mão e esfregou sua boca com seu polegar — Assim, consegui isto para você, para que te alimente.

Seus olhos se abriram.

— Assim é. Ele é somente para você. Um presente. É fresco, jovem. Melhor que os dois que tenho nos buracos agora. E, podemos mantê-lo enquanto te sirva. — o lesser separou seu lábio superior de seus dentes — Maldição… Olhe essas presas alargando-se. Faminta, verdade, esposa?

Sua mão a segurou fortemente pela nuca e a beijou, lambendo-a com a língua. De algum modo ela conteve seu reflexo de mordê-lo até que ele levantou sua cabeça.

— Eu sempre me perguntei o que parece. — disse ele, os olhos vagando por seu rosto — Vai me excitar? Não estou seguro se quero ou não. Acredito que eu gosto de você pura. Mas tem que fazer isto, correto? Ou morrerá.

Empurrou sua cabeça para baixo para a garganta do macho. Quando ela resistiu, o lesser riu brandamente e falou em seu ouvido.

— Esta é minha garota. Se tivesse ido de bom grado, penso que lhe teria batido por ciúmes. — lhe acariciou o cabelo com sua mão livre — Agora, bebe.

Bela olhou nos olhos do vampiro. Oh, Deus…

O macho tinha deixado de lutar e a olhava, seus olhos a ponto de sair de suas órbitas. Embora estivesse faminta, não podia suportar a idéia de beber dele.

O lesser agarrou seu pescoço com força, e sua voz se fez repugnante.

— Melhor beber dele. Meti-me em muitos problemas de merda para conseguir isto para você.

Ela abriu a boca, sua língua parecia papel de lixa por causa da sede.

— Não…

O lesser pôs uma faca à altura de seus olhos.

— De uma maneira ou outra ele vai sangrar no minuto e meio seguinte. Se eu for trabalhar sobre ele, não vai durar muito tempo. Assim talvez queira tentar, esposa?

Os seus olhos encheram de lágrimas ante a violação que cometeria.

— Sinto tanto. — sussurrou ela ao macho encadeado.

Sua cabeça foi jogada para trás de um puxão, e a palma do lesser bateu em seu rosto do lado esquerdo. A bofetada reverberou pela parte superior de seu corpo, e o assassino agarrou uma mecha de seu cabelo para lhe impedir de cair. Puxou com força, arqueando-a contra ele. Ela não tinha nem idéia de aonde a faca tinha ido.

— Não peça perdão por isso. — apertou sua mão em seu queixo, cavando as gemas dos dedos nos ocos sob suas maçãs do rosto — Sou o único com quem tem que se preocupar. Está claro? Disse, está claro?

— Sim. — ofegou ela.

— Sim, o que?

— Sim, David.

Ele pegou seu braço livre e o dobrou atrás de suas costas. A dor disparou por seu ombro.

— Diga que me ama.

Do nada, a cólera surgiu como uma tormenta de fogo em seu peito. Nunca lhe diria essa palavra. Nunca.

— Diga que me ama. — gritou ele, explodindo o pedido em seu rosto.

Seus olhos cintilaram e despiu as presas. No instante em que o fez a excitação dele disparou fora de controle, seu corpo começou a tremer, seu fôlego se converteu em um ofego rápido. Estava preparado para brigar com ela, excitado com a batalha, preparado como se estivesse ereto para o sexo. Esta era a parte da relação para a qual vivia. Amava lutar contra ela. Tinha-lhe contado que sua antiga mulher não tinha sido tão forte como ela, não tinha sido capaz de durar tanto antes de partir.

— Diga que me ama.     

— Eu. Te. Desprezo.

Enquanto ele levantava sua mão e a fechava em um punho, lhe fulminava com o olhar, séria, tranqüila, preparada para receber o golpe. Ficaram assim durante muito tempo, seus corpos suspensos em arcos gêmeos como um coração, atados pelas cordas da violência que corria entre eles. Ao fundo o macho civil sobre a mesa choramingou.

De repente o lesser a rodeou com seus braços e enterrou a cara em seu pescoço.

— Amo-te. — disse ele — Amo-te tanto… Não posso viver sem você.

— Merda Santa. — disse alguém.

O lesser e Bela contemplaram ao dono da voz. A porta do centro de tortura estava totalmente aberta e um assassino de cabelo pálido estava parado na entrada.

O tipo começou a rir e logo disse as três palavras que provocaram tudo o que aconteceu a seguir:

— Eu vou contar.

David foi atrás do outro lesser em uma corrida mortal, lhe perseguindo do lado de fora.

Bela não vacilou quando os primeiros golpes da luta ressoaram lá fora. Ela trabalhava sobre as correntes que prendiam o pulso direito do civil, liberando os ganchos, desenredando os elos. Nenhum deles disse uma palavra enquanto ela liberava sua mão e logo começava com seu tornozelo direito. Logo que pôde, o macho trabalhou tão rápido como ela, desesperadamente desatando seu lado esquerdo. No segundo em que esteve livre, desceu da mesa e olhou as algemas de aço que a atavam.

— Não pode me salvar. — disse ela — Ele tem as únicas chaves.

— Não posso acreditar que ainda esteja viva. Inteirei-me sobre você…

— Vai embora, vá…

— Ele matará você.

— Não, não o fará. — ele somente ia fazê-la desejar estar morta — Vai embora! Essa luta não vai durar para sempre.

— Voltarei por você.

— Somente chegue em casa. — quando ele abriu a boca, ela disse — Fecha-a, infernos e fique atento. Se puder, diga a minha família que não estou morta. Vai!

O macho tinha lágrimas nos olhos quando os fechou. Ele tomou dois fôlegos longos… E, se desmaterializou.

Bela começou a tremer tanto que caiu no chão, seu braço estirado sobre sua cabeça onde estava algemado à mesa.

Os ruídos da luta pararam bruscamente. Houve um silêncio e logo um brilho de luz e o som de uma explosão. Ela soube sem dúvida nenhuma que seu lesser tinha ganhado.

Oh, Deus. Isso ia ser mau. Este ia ser um dia muito, muito mau.

 

Zsadist ficou de pé sobre a grama nevada de Bela até o último momento possível, e logo se desmaterializou, ao monstro gótico, onde toda a Irmandade vivia. A mansão se parecia com algo de um filme de terror, todas as gárgulas e sombras e janelas de vidro de chumbo. Diante da montanha de pedra havia um pátio cheio de carros, assim como a casa do guarda que era onde Butch e V se alojavam. Uma parede de vinte pés de altura rodeava o complexo e havia uma porta dupla de entrada assim como um bom número de surpresas repugnantes para desencorajar visitantes não desejados.

Z caminhou através das portas de aço da casa principal e abriu um lado delas. Dando um passo no vestíbulo, teclou um código em um teclado numérico e conseguiu acesso imediatamente. Ele fez uma careta enquanto entrava no vestíbulo. O espaço muito alto com suas cores brilhantes, suas folhas de ouro e seu selvagem mosaico do chão se pareciam com um balcão lotado: muito estímulo.

A sua direita, ouviu os sons da cozinha cheia: o tinido suave da prata sobre a porcelana, palavras indistintas de Beth, um sorrisinho de Wrath…Então, a voz baixa de Rhage brincando. Houve uma pausa, provavelmente porque Hollywood fazia uma careta, e logo a risada de todo mundo misturada, saindo em turba como mármores brilhantes através de um piso limpo.

Não estava interessado em misturar-se com seus irmãos, muito menos comer com eles. Todos eles saberiam agora que tinha sido jogado da casa de Bela como um criminoso por passar muito tempo ali. Poucos segredos eram guardados dentro da Irmandade.

Z se encaminhou à magnífica escada, subindo os degraus de dois em dois. Quanto mais rápido ia, mais se emudeciam os sons do jantar, e mais tranqüilo ficava ele. No alto da escada se dirigiu à esquerda e foi ao longo de um corredor comprido enfeitado por estátuas greco-romanas. Os atletas e guerreiros de mármore estavam iluminados por uma iluminação indireta, seus braços, pernas e peitos brancos de mármore formavam um modelo contra a parede vermelho sangue. Se andasse bastante rápido, era como ir pela calçada quando estava em um carro, o ritmo dava animação aos corpos das estátuas quando de fato não se moviam.

A suíte onde dormia estava ao final do corredor, e quando abriu a porta, uma parede de frio o golpeou. Nunca ligava o aquecedor ou o ar condicionado, assim como nunca dormia na cama ou usava o telefone ou punha algo nas antigas escrivaninhas. O armário era a única coisa que necessitava, e foi até ali para desarmar-se. Suas armas e munições estavam guardadas em um gabinete incombustível na parte de trás, e suas quatro camisas e três calças de couro estavam penduradas perto. Com nada mais, freqüentemente pensava em ossos quando estava ali dentro, todos os cabides vazios que pareciam longos e frágeis.

Despiu-se e tomou banho. Tinha fome de comida, mas gostava de manter-se assim. A pontada de fome, o desejo seco da sede… Essas negações que estavam dentro de seu controle sempre o aliviavam. Infernos, se pudesse evitar dormir, evitaria isso também. E, a maldita sede de sangue… Ele queria estar limpo. Por dentro.

Quando saiu da ducha passou o barbeador elétrico sobre sua cabeça para manter seu cabelo baixo sobre sua cabeça e logo fez a barba rapidamente. Nu, com frio, cansado pela fome, aproximou-se de sua plataforma no chão. Quando esteve de pé em cima das duas mantas dobradas que ofereciam tanto amortecimento como um par de tiras, pensou na cama de Bela. A dela era muito grande e toda branca. Capas de travesseiro brancas e lençóis grandes, um edredom branco, um tapete branco aos pés da cama.

Deitou-se em sua cama. Freqüentemente gostava de pensar que podia cheirá-la nela. Às vezes, até se mexia em cima dela, a suavidade cedendo sob seu duro corpo. Era quase como se ela o houvesse roçado então, e melhor que se em realidade o fizesse. Não podia suportar que alguém lhe tocasse… Embora desejasse ter permitido a Bela encontrar um pedaço de sua carne somente uma vez. Com ela, ele poderia ter sido capaz de agüentar.

Seus olhos se moveram pelo crânio enquanto se sentava no chão ao lado da plataforma. As órbitas eram buracos negros, e ele imaginou a combinação da íris e da pupila que uma vez tinham olhado fixamente para fora. Entre os dentes havia uma tira de couro negro de aproximadamente duas polegadas de largura. Tradicionalmente, a expressão de devoção ao falecido estavam inscritas sobre ela, mas a correia que tinha entre as mandíbulas estava em branco.

Quando se deitou, pôs sua cabeça ao lado da coisa e o passado voltou, o ano era 1802…

O escravo estava parcialmente acordado. Estava deitado sobre suas costas e lhe doía por toda parte, embora não pudesse pensar por que… Até que recordou ter passado por sua transição na noite anterior. Durante horas tinha estado mutilado pela dor de seus músculos brotando, seus ossos alargando-se, seu corpo transformando-se em algo enorme.

…Era estranho, de verdade, seu pescoço e seus pulsos doíam de um modo diferente.

Abriu os olhos. O teto estava longe, em cima dele, e marcado com barras magras negras inseridas na pedra. Quando girou sua cabeça, viu uma porta de carvalho com mais grades colocadas verticalmente por suas tábuas grossas. Sobre a parede, também, havia tiras de aço… Na masmorra. Ele estava na masmorra, mas por quê? Fazia seus deveres antes.

Ele tentou sentar-se, mas seus antebraços e tornozelos estavam presos. Seus olhos se ampliaram, puxou…

— Preocupe-se com você. — era o ferreiro. E, havia sido tatuado tiras negras sobre os pontos de bebida do escravo.

Ah, Virgem querida no Fade, não. Não este…

O escravo lutou contra as amarrações, e o outro macho o olhou, furioso.

— Acalme-se! Não serei açoitado por uma falta que não cometi!

— Rogo-lhe isso… — a voz do escravo não soava correta. Era muito profunda — Tenha compaixão.

Ele ouviu uma risada suave, feminina. A Mistress da casa tinha entrado na cela, seu vestido comprido de seda branca se arrastava atrás dela sobre o ladrilhado, seu cabelo loiro descia ao redor de seus ombros.

O escravo deixou cair seus olhos como era apropriado e compreendeu que estava totalmente nu. Ruborizado, envergonhado, desejava estar coberto.

— Está acordado. — disse ela, aproximando-se dele.

Ele não podia compreender por que ela tinha vindo para ver alguém tão humilde como ele. Só era um mero moço da cozinha, alguém mais baixo ainda que as criadas que limpavam seus quartos privados.

— Olhe-me. — ordenou a Mistress.

Fez o que lhe havia dito, embora isto fosse contra tudo o que alguma vez tinha conhecido. Nunca lhe tinham permitido olhá-la fixamente antes.

O que viu foi um choque. Ela o olhava de um modo que nenhuma fêmea o tinha olhado antes. A ganância marcava os refinados ossos de seu rosto, seu olhar escuro estava aceso com alguma espécie de intenção que não podia identificar.

— Olhos dourados. — murmurou ela — Que raros. Que bonito.

Sua mão desceu sobre a coxa nua do escravo. Ele se moveu nervosamente, rechaçando o contato, sentindo-se incômodo. Isto estava mau, pensava. Ela não deveria estar tocando-o.

— Você se converteu em uma surpresa magnífica. Preciso ter cuidado com você, alimentei a alguém que te trouxe para minha atenção.

— Mistress… Imploraria-lhe que me deixasse ir trabalhar.

— Oh, irá. — sua mão foi à deriva através da união de sua pélvis, onde suas coxas se encontravam com seus quadris. Ele saltou e ouviu a maldição suave do ferreiro — E, um favor para mim. Meu escravo de sangue foi vítima de um acidente desafortunado hoje. Assim que seus quartos estejam renovados, será transladado para eles.

O escravo perdeu seu fôlego. Ele sabia do macho que ela tinha mantido preso, já que tinha levado comida à cela. Às vezes, tinha deixado a bandeja com os guardas, tinha ouvido estranhos sons saindo detrás da pesada porta.

A Mistress devia ter reparado em seu medo, porque se inclinou sobre ele, ficando tão perto que pôde cheirar sua perfumada pele. Ela riu brandamente, como se tivesse provado seu medo e o prato a tivesse agradado.

— De verdade, não posso esperar para te ter.

Quando ela se voltou para partir, olhou colericamente ao ferreiro.

— Recorde o que disse ou te enviarei ao amanhecer. Nenhum engano com a agulha. Sua pele é muito perfeita para danificá-la.

A tatuagem foi terminada pouco tempo depois, e o ferreiro levou a vela com ele, deixando o escravo preso sobre a mesa na escuridão.

Ele tremeu de desespero e horror quando seu novo estado se fez real. Agora era o mais baixos dos baixos, mantido vivo unicamente para alimentar a outro… E, só a Virgem sabia o que lhe esperava.

Passou um comprido momento antes que a porta se abrisse outra vez e a luz da vela lhe mostrasse que seu futuro tinha chegado: a Mistress com um vestido negro e dois machos conhecidos por seu amor a seu próprio sexo.

— Limpem-no para mim. — ordenou ela.

A Mistress olhou como o escravo foi lavado e lubrificado com azeite, ela se moveu ao redor de seu corpo enquanto a luz da vela se movia, nunca permanecia quieta. O escravo tremia, odiando a sensação das mãos dos machos sobre seu rosto, seu peito, suas privacidades. Ele tinha medo de que um ou ambos tentassem tomar a ele de um modo sujo.

Quando terminaram, o mais alto deles disse:

— Testaremo-lo para você, Mistress?

— O guardarei para mim esta noite.

Ela deixou cair seu vestido e agilmente subiu à mesa, sentando-se com uma perna de cada lado sobre o escravo.

Suas mãos procuraram sua carne privada, e enquanto o acariciou ele era consciente dos outros machos pegando-se a si mesmos com as mãos. Quando o escravo permaneceu flácido, ela o cobriu com seus lábios. Os sons no quarto eram horrorosos, os gemidos dos machos e a boca da Mistress chupando e açoitando-o.

A humilhação foi completa quando o escravo começou a chorar, lágrimas derramando-se pelos cantos de seus olhos, caindo por suas têmporas até os ouvidos. Nunca o haviam tocado entre suas pernas antes. Como um macho de pre-transição, seu corpo não tinha estado preparado para o acoplamento ou capaz disso, embora isso não lhe tivesse impedido de pensar com muita ilusão em estar um dia com uma fêmea. Sempre tinha imaginado que a união seria maravilhosa, já que nos quartos dos escravos tinha visto o ato de prazer em algumas ocasiões.

Mas, agora… Ter intimidade acontecendo deste modo, envergonhava-se de haver-se atrevido a desejar algo.

Bruscamente, a Mistress o liberou e o pegou com a mão através do rosto. A impressão da palma picava sobre sua bochecha enquanto ela descia da mesa.

— Tragam-me o bálsamo. — disse ela bruscamente — Sua coisa não está funcionando.

Um dos machos avançou para a mesa com um pequeno pote. O escravo sentiu que alguém deslizava uma mão sobre ele, não estava seguro quem, e logo houve uma sensação ardente. Um curioso peso se instalou em sua virilha, sentia que algo mudava em sua coxa e então devagar se moveu através de seu estômago.

— Ah… Santa Virgem do Fade! — disse um dos machos.

— Grande tamanho. — respirou o outro — Poderia derramar-se completamente no profundo de um poço…

A voz da Mistress também soava assombrada.

— É enorme.

O escravo levantou a cabeça. Havia uma coisa poderosa aumentada, caída sobre seu ventre, que não se parecia com nada que tivesse visto antes.

Inclinou-se para trás outra vez enquanto a Mistress montava seus quadris. Esta vez sentiu algo o engolindo, um pouco molhado. Levantou a cabeça outra vez. Ela estava aberta sobre ele e ele estava dentro de seu corpo. Ela se movia contra ele, montando-o para cima e para baixo, ofegando. Era fracamente consciente de que os outros machos no quarto estavam gemendo outra vez, os sons guturais cresciam mais fortes à medida que ela se movia mais e mais rápido. E, logo houve gritos, os dela, os deles.

A Mistress derrubou-se sobre o peito do escravo. Enquanto ainda respirava pesadamente, ela disse:

— Mantenham sua cabeça baixa.

Um dos machos pôs a palma sobre a testa do escravo e logo lhe acariciou o cabelo com sua mão livre.

— Tão encantador. Tão suave. E, olhe todas as cores.

A Mistress enterrou o rosto no pescoço do escravo e o mordeu. Ele gritou pela espetada e ela tomou. Ele tinha visto machos e fêmeas beberem uns dos outros antes, e sempre tinha parecido correto… Mas, isto doía e o fazia sentir-se enjoado, e quanto mais duro sugava ela de sua veia, mais enjoado se sentia.

Devia ter desmaiado, porque quando despertou ela levantava a cabeça e lambia os lábios. Ela desceu dele, vestiu-se e os três o deixaram sozinho na escuridão. Momentos depois, os guardas a quem conhecia entraram.

Os outros machos evitaram lhe olhar, embora ele tivesse amizade com eles antes, porque ele lhes tinha dado sua cerveja. Agora, eles mantinham seus olhos afastados e não lhe falavam. Quando olhou para baixo, envergonhou-se de que qualquer bálsamo que lhe tivessem posto ainda funcionasse, porque sua parte privada ainda estava rígida e grosa.

O brilho sobre isso lhe deu náuseas.

Quis dizer desesperadamente a qualquer um dos machos que não era sua culpa, que estava tentando fazer com que sua carne baixasse, mas estava muito diferente para falar quando os guardas liberaram seus braços e tornozelos da mesa. Quando levantou, balançou, porque tinha estado sobre suas costas durante horas e só tinha passado um dia desde sua transição. Ninguém lhe ajudou enquanto lutava por permanecer ereto, e sabia que era porque não queriam tocá-lo, não queriam estar perto dele agora. Foi cobrir-se, mas eles lhe puseram grilhões de uma maneira tão perita que não ficou com nenhuma mão livre.

A vergonha piorou quando teve que andar pelo corredor. Podia sentir o pesado peso em seus quadris saltando com seus passos, balançando-se obscenamente. Lágrimas derramando-se e deslizando-se por suas bochechas, e um dos guardas soprou com repugnância.

O escravo foi levado a uma parte diferente do castelo, a outro quarto solidamente murado com barras de aço embutidas. Este tinha uma plataforma com uma cama, um urinol apropriado, uma manta e as tochas sobre as paredes. Quando foi introduzido, havia comida e água, provisões deixadas pelo moço da cozinha a quem conhecia de toda a vida. O macho em pre-transição também se recusou a olhá-lo.

As mãos do escravo foram liberadas e foi trancado.

Desnudo e trêmulo, aproximou-se de uma esquina e se sentou no chão. Aconchegou seu corpo com cuidado, como ninguém mais, e tratou de ser amável com sua nova forma depois da transição… Uma forma que tinha sido usada de um modo incorreto.

Enquanto se balançava para frente e para trás, preocupou-se com seu futuro. Nunca tinha tido nenhum direito, nenhum estudo, nenhuma identidade. Mas, ao menos antes tinha sido livre de mover-se ao redor. E, seu corpo e seu sangue eram dele.

A lembrança da sensação daquelas mãos sobre sua pele lhe provocou uma quebra de onda de náuseas. Olhou para baixo a suas partes e se deu conta de ainda podia cheirar a Mistress nele. Perguntou-se quanto tempo duraria o inchaço.

E, o que aconteceria quando ela voltasse a procurar por ele.

 

Zsadist esfregou seu rosto e voltou-se. Ela havia voltado a procurar por ele. E, nunca tinha vindo sozinha.

Fechou os olhos contra as lembranças e tentou dormir. A última coisa que cintilou por sua mente foi uma imagem da granja de Bela com seu prado nevado.

Deus, aquele lugar estava tão vazio, deserto embora estivesse cheio de coisas. Com o desaparecimento de Bela tinha sido despojado de sua função mais importante: embora ainda fosse uma boa estrutura e capaz de manter fora ao vento, ao tempo e aos estranhos, já não era mais um lar.

Sem alma.

De algum jeito, a granja era assim como ele.

 

O amanhecer tinha chegado quando Butch O'Neal deixou o Escalade no pátio. Enquanto saía, podia ouvir G-Unit soando a todo volume na Cova, assim sabia que seu companheiro de quarto estava dentro. V tinha que ter sua música de rap, essa droga era como o ar para ele. Dizia que essas pulsações do baixo lhe ajudavam a manter as intrusões dos pensamentos de outras pessoas em um nível manejável.

Butch caminhou para a porta e teclou o código. Um ferrolho se abriu de repente, com um pequeno som e entrou em um vestíbulo, onde fez outro registro. Os vampiros eram grandes especialistas em sistemas de portas duplas. Assim, nunca se preocupavam se por acaso alguém invadia sua casa com luz solar, porque uma das portas estava sempre fechada.

A casa, também chamada a Cova, não era muito fantástica, só uma sala de estar, uma cozinha, e duas suítes com dormitório e banheiro. Mas, gostava, e gostava do vampiro com o qual vivia. Seu companheiro de quarto e ele estavam unidos como… Bom, irmãos.

Quando entrou na sala, os sofás de couro negro estavam vazios, mas o SportsCenter estava na TV de plasma, e o perfume achocolatado da fumaça vermelha estava por toda parte. Assim, Phury estava em casa, ou acabava de sair.

— Olá, Lucy. — gritou Butch.

Os dois Irmãos chegaram por suas costas. Ambos ainda estavam vestidos com suas roupas de luta, o couro e as botas de cowboy lhes fazendo parecer-se exatamente os assassinos que eram.

— Parece cansado, policial. — disse Vishous.

— Realmente, sinto-me feito pó.

Butch observou a boca fina de Phury. Embora tivesse deixado seus dias de drogas há muito tempo, esta noite quase recaiu e pediu um trago dessa fumaça vermelha. A coisa era, que já tinha dois vícios assim, estava bastante ocupado.

Sim, beber uísque escocês e sentir-se nostálgico depois de que um vampiro fêmea não lhe quisera era tudo para o que tinha tempo. Além disso, não havia razão para estragar um sistema que funcionava. O rechaço alimentava a bebida, e quando estava bêbado, sentia ainda mais falta de Marissa, assim queria tomar outro gole… E, ali o tem. Um inferno de ciclo vicioso. Inclusive, o quarto dava voltas, também.

— Falou com Z? — perguntou Phury.

Butch tirou seu casaco de cachemira e o pendurou no armário.

— Sim. Não estava feliz.

— Vai se manter afastado dali?

— Acredito que sim. Bom, presumindo que não botou fogo no lugar depois que me expulsou a chutes. Tinha esse brilho especial em seus olhos quando saí, sabe, aquele que faz com que seus testículos se apertem quando está a seu lado?

Phury passou uma mão entre seu escandaloso cabelo. Caíam sob seus ombros, fios loiros, vermelhos e castanhos. Seria um tipo de aparência agradável sem esse cabelo, com essa juba, era… Bem, bem, o irmão era lindo. Butch não era desse time, mas o tipo era bem visto por um montão de mulheres. Vestia-se melhor que a maior parte das senhoras também, quando não vestia suas roupas de chutar traseiros.

Homem, era uma coisa boa que lutasse como um sujo bastardo ou poderia ter sido tomado por uma Nancy.

Phury inspirou com uma respiração profunda.

— Obrigado por falar com...

Uma campainha soou em um escritório cheio de computadores.

— Fora de linha. — murmurou V, indo a seu centro IT.

Vishous era o gênio dos computadores na Irmandade, realmente era um gênio em tudo e se encarregava das comunicações e da segurança no lugar. Dirigia tudo dos Quatro Brinquedos, como chamava o seu quarteto de PCs.

Brinquedos… Sim, claro. Butch não sabia muito a respeito de computadores, mas se essas tolices eram brinquedos, então estavam no campo de jogo do Departamento de Defesa também.

Enquanto V esperava a chamada para enviá-la ao correio de voz, Butch percorreu Phury com o olhar.

— Então, mostrei a você meu novo traje Marc Jacobs?

— Já chegou?

— Sim, Fritz o comprou mais cedo e o arrumou.

— Genial.

Enquanto iam aos dormitórios, Butch teve que rir. Era tão culpado quanto Phury de começar essa onda metrossexual[8]. Era engraçado, já que não tinha dado nada por suas roupas quando era um policial. Agora, que estava com os Irmãos, estava trabalhando seu caminho na alta costura e o amava. Assim, como Phury, tinha sorte de brigar sujo.

O Irmão estava acariciando a fina lã negra em um cabide e fazendo apropriados "ahhhs” quando V entrou.

— Bela está viva.

Butch e Phury giraram suas cabeças ao redor enquanto o traje aterrissava no chão, amontoando-se.

— Um varão civil foi seqüestrado do beco que há atrás do Zero-Sum esta noite e levado para um lugar no bosque com o propósito de alimentar a Bela. Viu-a. Falou com ela. De certa forma, ela lhe ajudou a escapar.

— Diga-me que pode encontrar o lugar outra vez. — suspirou Butch, consciente da urgência sufocante. E, ele não era o único em alerta instantâneo. Phury se via tão tenso que não parecia capaz de falar.

— Sim. Marcou sua rota de escapamento, desmaterializando-se duzentas jardas cada vez até que alcançou a Rota 22. Envia-me por correio eletrônico o caminho em um mapa. Malditamente bem preparado para um civil.

Butch saiu correndo para a sala de estar, dirigindo-se para seu casaco e as chaves do Escalade. Não tinha tirado seu coldre, assim que seu Glock ainda estava preso sob seu braço.

Mas, V se pôs entre ele e a porta.

— Aonde vai, homem?

— Já recebeu esse mapa através de seu correio eletrônico?

— Pare.

Butch olhou a seu companheiro de quarto.

— Não pode sair durante o dia. Eu posso. Por que infernos deveríamos esperar?

— Policial. — a voz de V se tornou suave — Isto é assunto da Irmandade. Não vai se meter nisto.

Butch paralisou. Ah, sim, suspender a operação outra vez.

Seguramente, podia trabalhar perto de sua periferia, fazer alguma análise da cena do crime, pôr seu cérebro para pensar sobre os problemas táticos. Mas, quando a briga começava, os Irmãos sempre lhe mantinham fora do campo.

— Maldito seja, V.

— Não. Não vai se encarregar disto. Esquece.

 

Foi só duas horas depois que Phury tinha bastante informação para ir ao quarto de seu gêmeo. Acreditava que não teria que perturbar Zsadist com a metade da história, e tinha levado um tempo esboçando um plano.

Quando bateu na porta e não houve uma resposta, entrou e se sobressaltou. O quarto estava frio como uma geladeira.

— Zsadist?

Z jazia em um par de mantas dobradas na esquina mais longínqua, seu corpo nu coberto contra o frio do quarto. Havia uma cama suntuosa a não mais de dez pés dele, mas nunca tinha sido usada. Z dormia no chão sempre, não importava onde vivesse.

Phury se aproximou e ajoelhou ao lado de seu gêmeo. Não ia tocar ao varão, especialmente quando podia lhe pegar despreparado. Z provavelmente lhe atacaria.

Meu Deus, pensou Phury. Dormindo assim, toda sua cólera dissolvida, Z era quase frágil.

Maldição, tire o quase. Zsadist sempre tinha estado tão malditamente magro, tão terrivelmente fraco. Agora, entretanto, simplesmente era ossos grandes e veias. Quando tinha ocorrido isto? Cristo, durante o rythe de Rhage, todos tinham estado nus na Tumba, e Z certamente não parecia um esqueleto. Disso tinham passado aproximadamente só seis semanas.

Justo antes do seqüestro de Bela.

— Zsadist? Desperte, irmão.

Z se moveu, seus olhos negros abrindo-se lentamente. Usualmente despertava depressa e com o ruído mais leve, mas tinha se alimentado, assim estava preguiçoso.

— Foi encontrada. — disse Phury — Bela foi encontrada. Estava viva esta manhã cedo.

Z piscou um par de vezes, como se não estivesse seguro de que não estava sonhando. Logo levantou seu torso fora da plataforma. Os anéis dos mamilos se refletiram com a luz do vestíbulo enquanto esfregava o rosto.

— O que disse? — perguntou com voz grave.

— Temos uma confirmação de onde Bela está. E, que está viva.

Z ficou alerta, sua consciência movendo-se como um trem, reunindo-se depressa, criando poder por momentos. Com cada segundo sua força voltava de novo, a vitalidade cruel surgindo até que já não se viu fraco, absolutamente.

— Onde está? — perguntou.

— Em uma casa no bosque. Um varão civil fugiu porque ela o ajudou a escapar.

Z saltou sobre seus pés, aterrissando agilmente no chão.

— Como me aproximo dela?

— O varão que escapou enviou a V pelo correio eletrônico as instruções. Mas...

Z se dirigiu para seu armário.

— Obtém um mapa para mim.

— Não é o momento, meu irmão.

Z se deteve. Abruptamente uma explosão de frio saiu de seu corpo, fazendo com que a temperatura do quarto se sentisse balsâmica. E, seus olhos negros se tornaram perigosos como pregos quando brilharam sem parar sobre seu ombro.

— Envie o policial. Envie o Butch.

— Tohr não deixará.

— À merda com isso! O humano vai.

— Zsadist, pare. Pense. Butch não teria nenhum apoio, e poderia haver vários lessers no lugar. Quer se arriscar a que a mate em uma tentativa de resgate incompetente?

— O policial pode cuidar-se.

— É bom, mas é só um humano. Não podemos lhe enviar ali dentro.

Z deixou suas presas descobertas.

— Talvez Tohr esteja mais preocupado que o tipo fique preso e nos delate em uma de suas mesas.

— Vamos, Z, Butch sabe, droga. Sabe uma parte de merda a respeito de nós. Assim, é óbvio que há uma parte disso.

— Mas se ela ajudou um cativo a escapar, então que diabos pensa que esses lessers lhe estão fazendo agora mesmo?

— Se um grupo de nós vai ao pôr-do-sol, então temos mais probabilidades de tirá-la com vida. Sabe. Temos que esperar.

Z permaneceu de pé ali, nu, respirando profundamente, seus olhos eram fatias estreitas de ódio rancoroso. Quando finalmente falou, sua voz era um grunhido sujo.

— Melhor que Tohr reze a Deus para que ainda esteja viva quando a encontrar esta noite. Ou terei sua fudida cabeça, irmão ou não irmão.

Phury pousou seus olhos na caveira do chão, pensando que Z já tinha provado o quanto era bom na decapitação.

— Ouviu-me, irmão? — gritou o varão.

Phury inclinou a cabeça. Homem, tinha um mau pressentimento sobre como ia sair tudo isto. Realmente tinha.

 

Enquanto O conduzia seu F-150 ao longo da Rota 22, o sol poente das quatro lhe irritava os olhos e sentia como se tivesse ressaca. Sim… Junto com a dor de cabeça, tinha os mesmos efeitos no corpo que costumava ter depois de uma noite bebendo muito, pequenos tremores agitando sob sua pele, como vermes.

A longa linha de arrependimento que vinha depois também lhe recordava seus dias de ressaca. Como quando despertou ao lado de uma mulher feia, a qual desprezava, mas com quem havia transando de todas as formas. Tudo era justo assim… Só que muito, muito pior.

Moveu suas mãos no volante. Seus nódulos estavam claramente machucados e sabia que tinha arranhões no pescoço. Enquanto as imagens do dia lhe cegavam, seu estômago se revolvia. Estava aborrecido pelas coisas que tinha feito a sua mulher.

Bom, agora estava aborrecido. Quando as estava fazendo… Tinha sido correto.

Cristo, deveria ter sido mais cuidadoso. Era um ser vivo, depois de todo… Droga, o que ocorreria se tivesse ido muito longe? Oh, homem… Nunca deveria ter se deixado levar dessa forma. O problema era que assim que viu que ela tinha libertado o varão que havia lhe trazido, ficou perdido. Somente explodiu diretamente contra ela.

Levantou seu pé da embreagem. Queria voltar, tirá-la de seu tubo e reconfortar-se sabendo que ainda respirava. Porém, não havia tempo suficiente antes que a reunião dos Primes começasse.

Enquanto pisava no acelerador, soube que não poderia deixá-la uma vez que a visse de qualquer maneira, logo o Fore-lesser lhe faria uma visita. E, isso seria um problema. O centro de tortura parecia um desastre. Maldição.

O desacelerou e virou à direita, com o caminhão movendo-se da Rota 22 a uma estrada de terra de mão única.

A cabana do Senhor X, também quartel general da Sociedade Restritora, estava no meio de um bosque de setenta e cinco acres, completamente isolada. O lugar não era nada mais que um pequeno grupo de tábuas com um teto verde escuro de uma só sala e um quarto acessório da metade do tamanho atrás dela. Quando O parou no caminho, havia sete carros e caminhões estacionados com uma configuração imprecisa, todos eles domésticos, muitos deles com menos de quatro anos de uso.

O caminhou para dentro da cabana e viu o último que desejava. Outros dez Principais estavam apinhados no sombrio interior, suas caras pálidas, seus corpos pesados, com músculos. Estes eram os Lessers mais fortes da Sociedade, os que tinham estado mais tempo. O era a única exceção quanto ao tempo de serviço. Tinham passado só três anos desde sua iniciação, e nenhum deles gostava dele porque era novo.

Não era que tivessem voto. Era tão resistente como qualquer Principal e tinha provado. Fodidos ciumentos… Homem, nunca ia ser como eles, somente era superado pelo Ômega. Não podia acreditar que os idiotas estivessem orgulhosos de sua palidez com o passar do tempo e o desaparecimento de suas identidades. Ele brigava contra o desvanecimento. Coloria seu cabelo para conservá-lo de cor café escuro que sempre tinha tido, e temia o empalidecimiento gradual de sua íris. Não queria parecer-se com eles.

— Chegou tarde. — disse o Sr. X. As costas do Fore-lesser estavam apoiadas contra um refrigerador que não estava ligado, seus pálidos olhos pousando-se sobre os arranhões que havia por todo o pescoço de O. — Esteve lutando?

— Já sabe como são esses Irmãos.

O encontrou um lugar para ficar na frente. Embora ele inclinasse a cabeça para seu sócio, U, não reconheceu a nenhum outro.

O Fore-lesser seguia olhando-o.

— Alguém viu o Senhor M?

Droga, pensou O. Esse lesser se pôs em seu caminho e ele e sua esposa tinham que ser levados em consideração.

— O? Tem algo a dizer?

Da esquerda, U falou sem temor.

— Vi o M. Justo antes de amanhecer. Brigando com um Irmão no centro.

Enquanto o Senhor X desviava seu olhar fixo à esquerda, O estava friamente horrorizado pela mentira.

— Você o viu com seus próprios olhos?

A voz do outro lesser foi estável.

— Sim.

— Por acaso você está protegendo O?

Era o que tinha que perguntar. Os lessers eram valentões, sempre lutando uns com os outros pela posição. Ainda entre sócios havia pouca lealdade.

— U?

A pálida cabeça do tipo se sacudiu.

— Atua sem ajuda de ninguém. Por que perderia minha pele pela dele?

Claramente, nisso havia algo de lógico e o Senhor X sentiu que podia confiar, porque continuou com a reunião. Depois que as cotas de presas e capturas fossem atribuídas, o grupo se dissolveu.

O se aproximou de seu sócio.

— Eu tenho que voltar para o centro antes de sairmos para caçar. Quero que me siga.

Tinha que inteirar-se porque U lhe tinha salvado o traseiro, e não estava preocupado que o outro lesser visse a forma em que o lugar tinha ficado. U não causaria problema. Ele não era particularmente agressivo ou um pensador independente, era mais operador que inovador.

O que tornava ainda mais estranho que tivesse tomado a iniciativa que tinha tomado.

 

Zsadist cravou os olhos no relógio de parede do vestíbulo da mansão. Pela colocação dos ponteiros do relógio sabia que tinha oito minutos antes que o sol estivesse oficialmente posto. Graças a Deus que era inverno e as noites eram longas.

Observou os portões, sabendo justamente aonde iria logo que pudesse passar através deles. Aprendeu de cor a localização que o varão civil lhes tinha dado. Podia desmaterializar-se e estar ali em uma piscada.

Sete minutos.

Seria melhor esperar até que o céu estivesse totalmente escuro, mas que se fudessem. No instante em que a bola de fogo deixada pela mão de Deus escorregasse pela borda do horizonte, sairia. Ao inferno se com isso acabasse como uma cadela bronzeada.

Seis minutos.

Voltou a verificar as adagas em seu peito. Tirou a SIG Sauer do coldre de seu quadril direito e a examinou rapidamente uma vez mais, logo fez o mesmo com a que estava na esquerda. Tratou de tocar a pequena faca colocada em suas costas e as estrela de seis polegadas que tinha em sua coxa.

Cinco minutos.

Z girou a cabeça para o lado, fazendo estralar seu pescoço para relaxá-lo.

Quatro minutos.

À merda com isto. Ia agora...

— Fritará você. — disse Phury atrás dele.

Z fechou seus olhos. Seu impulso foi repartir golpes, e o desejo se tornou irresistível enquanto Phury seguia falando.

— Z, amigo, como vai ajudá-la se cair em cheio sobre sua cara e começa a jogar fumaça?

— Tenta ser um desmancha-prazeres? Ou isso sai de forma natural? — o olhar de Z brilhou intensamente sobre seu ombro, teve uma lembrança repentina daquela noite quando Bela tinha vindo à mansão.

Phury tinha parecido tão assanhado por ela, e Z recordou aos dois juntos, falando, justo onde suas botas estavam plantadas agora. Tinha-os observado das sombras, querendo-a enquanto ela tinha sorrido e rido com seu gêmeo.

A voz de Z se voltou mais definida.

— Pensava que a queria de volta, sendo que ela queria você e droga, pensei que fosse bonito. Ou… Talvez queira que desapareça por isso. Seu voto de celibato foi sacudido, meu irmão?

Como Phury se sobressaltou, o instinto de Z pela fraqueza se liberou.

— Todos nós lhe vimos examinado-a na noite que veio aqui. Olhava-a, verdade? Sim, fez isso, e não só a sua cara. Perguntou-se como ela se sentiria debaixo de você? Ficou nervoso sobre romper a promessa de não ter sexo?

A boca de Phury se apertou em uma linha, e Z esperou que a resposta do varão fosse suja. Queria algo duro de retorno a ele. Talvez, ainda pudesse lutar nos três minutos restantes.

Mas só houve silêncio.

— Nada a dizer? — Z percorreu o relógio com o olhar.

— Está bem. É hora de ir.

— Sangro por ela. Tanto quanto você.

O olhar de Z retornou a seu gêmeo, presenciando a dor na cara do varão à distância, como se estivesse olhando através de um par de binóculos. Teve um pensamento passageiro sobre que deveria sentir algo, algum tipo de vergonha ou pena por obrigar Phury a fazer uma revelação tão íntima, amarga.

Sem falar, Zsadist se desmaterializou.

Triangulou seu reaparecimento em uma área arborizada a aproximadamente cem jardas de onde o varão civil disse que tinha fugido. Quando Z tomou forma, a luz mortiça no céu lhe cegou, lhe dando a impressão de que tinha se alistado como voluntário para uma massagem facial com ácido. Ignorou o ardor e se dirigiu em direção nordeste, correndo sobre a neve que cobria a terra.

Então, ali estava, na metade do bosque, a cerca de uns cem pés de um rio: havia uma casa de um só cômodo com um Ford negro F-150 e um Taurus prateado difícil de descrever estacionado a um lado. Z se moveu de lado pela estrutura, ficando atrás dos finos ramos dos pinheiros, movendo-se silenciosamente na neve enquanto trabalhava o perímetro do edifício. Não tinha janelas e só uma porta. Através das paredes finas podia ouvir movimento, conversa.

Tirou uma de suas SIGs, tirando a trava de segurança, e considerou suas opções. Desmaterializar-se dentro era um movimento tolo, porque não sabia o desenho interior. E, sua única alternativa, embora boa, não era muito estratégica tampouco: derrubar a porta a pontapés e entrar disparando era malditamente atraente, mas por mais suicida que fosse, não ia arriscar a vida de Bela iluminando o lugar.

Salvo pelo milagre dos milagres, um lesser saiu do edifício, a porta fechando-se com uma bofetada. Momentos mais tarde um segundo o seguiu, e então ali estava o pip pip de um alarme de segurança ativando-se.

O primeiro instinto de Z foi atirar na cabeça de ambos, mas pôs o dedo ao lado do gatilho. Se os assassinos tinham ativado o alarme, havia uma boa probabilidade que não houvesse ninguém mais na casa, e suas oportunidades de tirar bela tinham melhorado. Mas, o que ocorreria se apesar de tudo o lugar estivesse vazio? Então, tudo o que faria era anunciar sua presença e fazer explodir uma tempestade de merda.

Observou aos dois lessers enquanto subiam ao caminhão. Um deles tinha o cabelo cor café, o que usualmente queria dizer que o assassino era um novo recruta, mas este tipo não atuava como um novato imbecil: estava seguro em suas botas e dirigia a conversa. Seu camarada de cabelo pálido era o que mostrava uma inclinação na cabeça.

O motor pôs-se a funcionar e o caminhão girou, amontoando neve sob suas rodas. Sem luzes dianteiras, o F-150 se dirigiu por um caminho apenas perceptível através das árvores.

Ver partir a esses dois bastardos era uma prova de escravidão, com Z convertendo os grandes músculos de seu corpo em cordas de ferro sobre seus ossos. Era fazer isso ou já estaria na capota do caminhão, fazendo pedaços do pára-brisa com seu punho, tirando os filhos da puta de seus lugares para poder lhes morder.

Quando o som do caminhão se desvaneceu, Z escutou atentamente o silêncio que seguiu. Quando não ouviu nada, voltou a querer saltar através da porta, mas pensou no alarme e verificou seu relógio. V estaria ali em aproximadamente um minuto e meio.

Mataria a ele. Mas, esperaria.

Enquanto avançava com suas botas de cowboy, deu-se conta do aroma, algo no ar… Que entrou pelo nariz. Havia propano perto, em algum lugar fechado. Provavelmente alimentando o gerador. E, o querosene de um aquecedor. Mas, havia algo distinto, uma espécie de fumaça, de queimado. Olhou suas as mãos, perguntando-se se estava em chamas e não se dera conta. Não.

Que diabos?

Seus ossos esfriaram de repente quando se deu conta do que era. Suas botas estavam plantadas na metade de um círculo tostado de terra firme, um do tamanho de um corpo. Algo tinha sido incinerado nas últimas doze horas, justo onde estava parado, pelo aroma.

Oh… Deus. Tinham-na deixado do lado de fora, no sol?

Z dobrou suas pernas agachando-se, pondo sua mão livre sobre a terra murcha. Imaginou Bela ali quando o sol saiu, imaginou sua dor dez mil vezes pior que o que tinha sentido ao materializar-se.

O lugar enegrecido se tornou pouco definido.

Esfregou o rosto e logo cravou os olhos em sua palma. Havia umidade nela. Lágrimas?

Sondou seu peito para saber o que sentia, mas o único que chegou foi informação a respeito de seu corpo. Seu torso arqueava porque seus músculos estavam fracos. Sentia-se enjoado e vagamente doente. Mas, isso era tudo. Não havia emoções nele.

Esfregou o peito e estava a ponto de fazer outra varredura com suas mãos, quando um par de botas entrou em sua linha de visão.

Olhou para cima, ao rosto de Phury. A coisa era uma máscara, todo frio e duro.

— Isso era ela? — disse com voz rouca, ajoelhando-se.

Z se sacudiu para trás, com muita dificuldade conseguindo deixar a pistola fora da neve. Não podia estar em nenhum lugar perto de alguém agora mesmo, especialmente de Phury.

Em uma repugnante confusão, ficou de pé.

— Vishous já está aqui?

— Justo atrás de você, meu irmão. — murmurou V.

— Há… — esclareceu a garganta. Esfregando o rosto no antebraço — Há um alarme de segurança. Penso que o lugar está vazio, porque dois assassinos acabam de sair, mas não estou seguro.

— Estou com o alarme.

Z sentiu vários aromas de repente ressoando através dele. Toda a Irmandade estava ali, inclusive Wrath, o qual como rei não se supunha que estaria no campo. Estavam todos armados. Todos tinham vindo para levá-la de volta.

O grupo se alinhou contra a casa enquanto V forçava o ferrolho da porta. Seu Glock entrou primeiro. Quando não houve reação, escorregou dentro e trancou-se. Um momento mais tarde houve um pip comprido. A porta abriu.

— Bom, vamos.

Z se apressou a seguir na frente, virtualmente empurrando ao varão.

Seus olhos penetraram nas esquinas escuras da sala. O lugar era uma desordem, com sujeira esparramada por todo o piso… Roupas, facas, algemas e fracos de… Xampu? E, que merda era isso? Deus, um estojo de primeiros-socorros aberto, a gaze e o esparadrapo fora da tampa quebrada. A coisa parecia que tinha sido golpeada até que se abriu.

O coração golpeava em seu peito, o suor floresceu por todo seu corpo, procurou Bela e viu apenas objetos inanimados: uma parede com uma estante que tinha instrumentos de tortura. Uma cama de armar. Um armário de metal a prova de fogo do tamanho de um carro. Uma mesa de autópsias com quatro conjuntos de algemas de aço pendurado de suas esquinas… E, o sangue manchando sua superfície lisa.

Pensamentos aleatórios disparavam através do cérebro de Z. Estava morta. Esse ovalóide queimado o provava. Mas, o que ocorreria se fosse somente outro cativo? O que ocorreria se tivesse sido transferida ou algo pelo estilo?

Seus irmãos ficaram atrás, tinham melhor critério que meter-se no meio, Z foi ao armário a prova de fogo, levando uma pistola na mão. Abriu as portas, somente puxando os painéis de metal e os dobrou até que as dobradiças se romperam. Atirou as pesadas partes, ouvindo-as cair estrepitosamente.

Armas. Munição. Explosivos plásticos.

O arsenal de seus inimigos.

Entrou no banheiro. Nada, exceto uma ducha e uma bacia sanitária.

— Não está aqui, meu irmão. — disse Phury.

Em um ataque de fúria Z se lançou sobre a mesa de autópsia, agarrando-a com uma mão e empurrando-a contra uma parede. No meio do vôo, uma corrente se chocou com ele, lhe batendo no ombro, cravando-se até o osso.

E, logo ouviu. Um som suave de choramingos.

Sua cabeça girou à esquerda.

Na esquina, no chão, havia três tubos cilíndricos de metal projetando-se da terra firmes, e selados com uma tampa de malha blindada, marrom escuro como a sujeira do chão. O que explicava que não os tivesse percebido.

Aproximou-se e chutou fora uma das cobertas. O choramingo se tornou mais forte.

Repentinamente enjoado, caiu de joelhos.

— Bela?

Gritos subiram da terra para lhe responder. Deixou cair sua pistola. Como elevá-la...? Havia umas cordas saindo do que parecia uma boca-de-lobo. Pegou uma delas e puxou devagar.

O que emergiu foi um varão sujo, ensangüentado, teriam passado dez anos desde sua transição. O civil estava nu e trêmulo, seus lábios azuis, seus olhos percorriam ao redor.

Z lhe arrastou para fora, e Rhage abrigou ao varão com seu casaco de couro.

— Tire ele daqui. — disse alguém enquanto Hollywood cortava as cordas.

— Pode desmaterializar-se? — perguntou outro Irmão ao varão.

Z prestou pouca atenção à conversa. Ia ao seguinte buraco, mas não havia cordas que saíssem de debaixo, e seu nariz não detectou perfume. A coisa estava vazia.

Estava dando um passo para o terceiro, quando o cativo gritou:

— Não! Implantou uma armadilha!

Z congelou.

— Como?

Com os dentes batendo feito castanholas, o civil disse:

— Não sei. Mas ouvi o l-lesser advertir a um de seus homens sobre ela.

Antes que Z pudesse perguntar, Rhage começou a percorrer o quarto.

— Há uma arma aqui. Apontada nessa direção.

Houve estalos de metal e deslocamento.

— Já não está armada.

Z olhou por cima do buraco. Montado sobre as vigas expostas do teto, aproximadamente a quinze pés do chão, havia um dispositivo pequeno.

— V, o que temos aqui?

— Laser óptico. Se o interromper, provavelmente se acionará.

— Mantêm-te firme. — disse Rhage — Há outra pistola para esvaziar aqui.

V acariciou seu cavanhaque.

— Deve haver um ativador por controle remoto, embora o tipo provavelmente o levasse com ele. Isso é o que eu faria. — olhou de esguelha o teto — Esse modelo, em particular, funciona com baterias de lítio. Assim, não podemos destroçar o gerador para fechá-lo. E, têm seu truque para desarmar-se.

Z olhou a seu redor em busca de algo que pudesse usar para tirar a tampa e pensou no banheiro. Entrou, arrancou a cortina da ducha, e colocou o pau na qual estava pendurada nas costas.

— Todo mundo fora.

Rhage falou agudamente.

— Z, homem, não sei se encontrei todos os...

— Leve o civil com você. — quando ninguém se moveu, amaldiçoou — Não há tempo para perder, e se alguém ficar ferrado então, vou ser eu. Jesus Cristo, saiam, Irmãos!

Quando o lugar ficou vazio, Z se aproximou do buraco. Voltando a colocar nas costas umas das armas que tinha tirado, acaso tivesse estado em sua linha de fogo, deu um golpe com o pau. Um disparo saiu com um som retumbante.

Z percebeu o golpe em sua perna esquerda. O impacto abrasador lhe fez cair sobre um joelho, mas o ignorou e se arrastou para o pescoço do tubo. Segurou as cordas que prendiam a tampa na terra firme e começou a puxar.

A primeira coisa que viu foi seu cabelo. O cabelo comprido, belo da cor mogno de Bela estava por toda parte ao redor dela, um véu sobre seu rosto e seus ombros.

Dobrou-se e a perdeu de vista, em parte desfalecendo-se, mas até através do enjôo de seu corpo, continuou puxando. De repente o esforço tornou-se mais fácil… Porque havia mais mãos lhe ajudando… Outras mãos na corda, outras mãos colocando-a amavelmente sobre o chão.

Vestida com uma modesta camisola manchada com seu sangue, não se movia, mas respirava. Cuidadosamente, lhe separou o cabelo do rosto.

A pressão sangüínea de Zsadist subiu.

— Oh, doce Jesus… Oh, doce Jesus… Oh, doce…

— O que fizeram...? — quem quer que tenha falado não podia encontrar as palavras para terminar.

As gargantas se esclareceram. Um par de tosses foi afogado. Ou, talvez fossem amordaçadas.

Z a agarrou em seus braços e só… A abraçou. Tinha que levá-la para fora, mas não podia mover-se pelo que lhe tinham feito. Piscando, enjoado, gritando por dentro, balançou-a amavelmente. As palavras caíam de sua boca, lamentações por ela no Velho Idioma.

Phury se agachou sobre seus joelhos.

— Zsadist? Temos que levá-la para fora daqui.

A consciência voltou para Z às pressas, e repentinamente tudo no que podia pensar era em levá-la à mansão. Cortou em rodelas a correia presa a seu troco, logo se levantou com dificuldade com ela em seus braços. Quando tentou caminhar, sua perna esquerda se bambeou e tropeçou. Mas, durante uma fração de segundo não pôde pensar no por que.

— Deixe-me levá-la. — disse Phury, levantando as mãos —Atiraram em você.

Zsadist negou com a cabeça e passou roçando a seu gêmeo, mancando.

Levou Bela para o Taurus que estava estacionado diante do edifício. Sustentando-a contra seu peito, quebrou a janela do acompanhante com o punho, logo colocou o braço dentro e abriu enquanto o alarme soava. Abrindo a porta traseira, agachou-se e a pôs no assento. Quando lhe dobrou as pernas ligeiramente para colocá-las dentro, a camisola subiu e ele se sobressaltou. Tinha machucados. Um montão deles.

Enquanto o alarme silenciava, disse:

— Alguém me dê uma jaqueta.

No segundo em que estendeu a mão para trás, o couro bateu sua palma. Agasalhou-a cuidadosamente no que se precaveu, era o casaco de Phury, e logo fechou a porta e se meteu atrás do volante.

A última coisa que ouviu foi a ordem de Wrath.

— V, põe suas mãos pra trabalhar. Este lugar precisa ser uma tocha.

Indo para estrada, Z tirou o sedã da cena, como uma alma que leva o diabo.

 

O pôs seu caminhão na sarjeta de uma seção escura da Décima Rua.

— Ainda não entendo por que mentiu.

— Se chegar a ser enviado para a casa de Ômega, então onde nos levará isso? É um dos assassinos mais fortes que tivemos.

O lhe olhou com desagrado.

— É um empresário?

— Orgulho-me de nosso trabalho.

— Como em 1950, Howdy Doody.

— Sim, e essa merda salvou seu traseiro, agradeça.

Que seja. Em todo caso, tinha mais coisas pelas quais se preocupar que com a tolice de U.

U e ele saíram do caminhão. O ZeroSum, o Screamer e o Snuff estavam a um par de blocos mais embaixo, e embora fizesse frio, havia fila de espera para entrar nos clubes. Alguns entre as massas trêmulas eram, sem dúvidas, vampiros, e até se não fossem, a noite estaria cheia. Sempre havia brigas com os Irmãos com as quais relaxar.

O teclou o alarme de segurança, colocou as chaves em seu bolso… E, parou em seco na metade da Décima Rua. Literalmente, não podia mover-se.

Sua esposa… Jesus, sua esposa realmente não tinha uma boa aparência quando tinha saído com U.

O agarrou a parte da frente de seu pescoço tornando-o negro, sentindo-se como se não pudesse respirar. Não se preocupava com a dor que ela sentia, tinha procurado. Mas, não poderia suportar se morresse, se lhe deixasse… O que ocorreria se estivesse morrendo agora mesmo?

— O que ocorre? — perguntou U.

O procurou as chaves do carro, a ansiedade queimando em suas veias.

— Tenho que ir.

— Está louco? Perdemos nossa cota a última noite.

— Só tenho que voltar para o centro durante um segundo. L está caçando na Quinta Rua. Vai com ele. Encontramo-nos em trinta minutos.

O não esperou uma resposta. Saltou ao caminhão e se foi velozmente do povoado, tomando a Rota 22 através da extensão rural de Caldwell. Estava a quase quinze minutos do centro de tortura quando viu as luzes do carro de polícia na frente. Amaldiçoou e freou, esperando que fosse simplesmente um acidente.

Mas, não, desde que tinha saído, o maldito policial tinha estabelecido outro de seus pontos de controle de consumo de bebidas alcoólicas. Dois carros patrulha estavam estacionados em cada lado da Rota 22, e os cones alaranjados e as luzes estavam no centro da estrada. À direita, havia um sinal refletor anunciando o Programa Segurança Primeiro do Departamento de Polícia de Cadwell.

Deus Santo, por que tinham que fazer isto aqui? No meio do nada? Por que não estavam no centro, perto dos bares? Não obstante, as pessoas da cidade de merda que havia ao lado de Caldwell tinham que conduzir para casa depois de irem ao clube na cidade grande...

Havia um carro diante dele, uma mini-van, e O tamborilou em cima do volante. Metade de sua mente queria pegar seu Smith&Wesson e fazer explodir ao policial e ao condutor como recompensa. Somente por frear sua marcha.

Um carro se aproximou na direção oposta, e O olhou através da estrada. O Ford Taurus pouco notório parou com um chiado de freios, seus faróis dianteiros sujos e escuros.

Homem, essas drogas de carros eram muito baratos, mas U tinha escolhido essa marca e modelo para ele mesmo. Integrar-se com a população humana geralmente era necessário para guardar em segredo a guerra com os vampiros.

Enquanto o policial se aproximava do PDM[9], O pensou que era estranho que a janela do condutor estivesse baixa em uma noite fria como aquela. Logo, teve um sobressalto pelo tipo que havia atrás do volante. Santa Merda. O bastardo tinha uma cicatriz tão grossa quanto um dedo descendo por seu rosto. E, um brinco em sua orelha. Talvez o carro fosse roubado.

O policial obviamente teve a mesma idéia, porque sua mão estava na parte traseira sobre sua pistola quando se aproximou para dirigir a palavra ao condutor. E, a merda realmente baixou quando enfocou sua lanterna no assento traseiro. Abruptamente, seu corpo se sacudiu com força como se tivesse aparecido algo entre seus olhos, e alcançou seu ombro, pegando o que devia ser seu transmissor. Mas, o condutor colocou a cabeça para fora da janela e ficou olhando o oficial. Houve um momento congelado entre eles.

Logo o policial deixou cair seu braço e casualmente deixou o Taurus passar, sem sequer comprovar a identidade do condutor.

O olhou à polícia cumprindo com seu dever no seu lado do caminho. O desgraçado ainda retinha a soccer-mom special[10] em frente à mini-van como se estivesse cheia de vendedores de drogas. Em troca, o camarada do lado deixara passar ao que se parecia com um assassino em serie através do controle sem nem um “olá, como está?”. Era como se estivesse no caminho errado da guarita de pedágio.

Finalmente, O se deteve no caminho. Foi tão civilizado como pôde, e um par de minutos mais tarde já pisava no acelerador. Tinha percorrido cinco milhas quando o fulgor de uma luz brilhante se destacou na paisagem à direita. Perto de onde estava o centro de tortura.

Pensou no aquecedor de querosene. Que gotejava.

O pisou fundo no acelerador. Sua mulher estava inserida na terra… Se havia um fogo...

Cortou pelo bosque e acelerou sob os pinheiros, sacudindo-se para cima e para baixo, com a cabeça batendo contra o teto enquanto tratava de controlar o volante. Reconfortou-se com o fato de que pelo caminho não se via nenhuma incandescência alaranjada de chamas. Se tivesse havido uma explosão, então, haveria chamas, fumaça.

Seus pensamentos anteriores deram meia-volta. O centro de tortura fora eliminado, reduzido a cinzas.

O pressionou o freio para evitar que o caminhão investisse contra uma árvore. Logo, olhou ao redor do bosque para assegurar-se de que estava no lugar correto. Quando ficou claro que estava, saiu e caiu no chão.

Agarrando punhados de pó, olhou cuidadosamente os resíduos até que a droga entrou em seu nariz, sua boca e cobriu seu corpo como uma túnica. Encontrou pedacinhos de metal derretido, mas nada maior que sua palma.

Através do rugido de sua mente, recordou ter visto este pó fantasmal antes.

O inclinou sua cabeça para trás e lançou sua voz até os céus. Não sabia o que saía de sua boca. Tudo o que sabia era que a Irmandade tinha feito isto. Porque o mesmo tinha ocorrido na academia de artes marciais do lesser seis meses atrás.

Removeu o pó… As cinzas… E, levaram a sua esposa.

Oh, Meu Deus estava viva quando a tinham encontrado? Ou tinham levado seu corpo com eles? Estava morta?

Era culpa dela, tudo culpa dela. Tinha estado determinado a castigá-la, esqueceu-se das implicações da escapada do civil. O varão tinha ido à Irmandade e lhes havia dito onde ela estava, e tinham chegado às primeiras horas da noite e a tinham levado.

O secou as lágrimas desesperadas de seus olhos. E, logo deixou de respirar. Girou a cabeça, percorrendo a paisagem. O Ford Taurus prateado de U não estava.

O posto rodoviário. A droga da blitz rodoviária. A droga de homem horripilante atrás do volante, de fato, não era um homem. Era um membro da Irmandade da Adaga Negra. Tinha que ser. E, a esposa de O estava no assento traseiro, respirando ou totalmente morta. Isso era o que havia deixado o policial transtornado. Tinha-a visto quando investigava a parte de trás do veículo, mas o Irmão lavou seu cérebro para que deixasse o Taurus passar.

O balançou bruscamente no caminhão e pisou fundo no acelerador, conduzindo ao leste, dirigindo-se para o lugar onde U estava.

O Taurus tinha um sistema LoJack[11].

O que significava que com o equipamento correto, poderia encontrar esse PDM em qualquer lugar que estivesse.

 

Bela tinha a vaga idéia de encontrar-se em um automóvel. Entretanto, como isso era possível? Devia estar alucinando.

Não... Realmente soava como um automóvel, com o regular ronrono do motor. E, se sentia como um automóvel, uma sutil vibração que se via interrompida por uma sacudida como se algo no caminho se colocasse debaixo dos pneus.

Tentou abrir os olhos, deu-se conta que não podia, e tentou novamente. Como o esforço a esgotava, deu-se por vencida. Deus, estava cansada... Como se tivesse gripe. Também lhe doía tudo, especialmente a cabeça e o estômago. E, tinha náuseas. Tratou de recordar o que tinha acontecido, como tinha se libertado, caso tivesse se libertado. Mas, tudo o que conseguiu foi uma imagem do Lesser que a amava entrando pela porta, coberto de sangue negro. O resto era névoa.

Tateando ao seu redor, encontrou algo cobrindo seus ombros e puxou para aproximá-lo mais. Couro. E, cheirava a... Nada como a enjoativa doçura de um Lesser. Era a essência de um macho de sua raça. Inspirou várias vezes mais pelo nariz. Quando captou o aroma do talco de bebê dos assassinos, sentiu-se confusa até que pressionou o nariz contra o assento. Sim, no tapete. Este era o automóvel de um Lesser. Mas, então por que havia aroma de macho vampiro no objeto que usava? E, havia outra coisa, outro aroma... Um escuro almíscar com um toque imperecível.

Bela começou a tremer. Recordava esse aroma muito bem, recordava-o da primeira vez que tinha ido ao complexo de treinamento da Irmandade, recordava-o de um tempo depois disso, quando tinha ido a sua mansão.

Zsadist. Zsadist estava nesse automóvel com ela.

Seu coração pulsou com força. Lutou para abrir os olhos, mas ambas as pálpebras se negaram a obedecê-la ou talvez já estivessem abertas era só que estava muito escuro para que pudesse ver algo.

— Fui resgatada? — perguntou — Veio me buscar, Zsadist?

Mas, nenhum som saiu de sua boca, embora movesse os lábios. Formou as palavras outra vez, forçando o ar através de sua caixa de ressonância. Emitiu um áspero gemido, nada mais.

Por que seus olhos não funcionavam?

Começou a mexer-se de um e outro lado e logo ouviu o som mais doce que alguma vez tivesse chegado a seus ouvidos.

— Estou com você, Bela. — a voz de Zsadist. Baixa. Cheia de força — Está a salvo. Fora dali. E, nunca voltará.

Tinha vindo procurá-la. Tinha vindo procurá-la...

Começou a soluçar. Pareceu que o automóvel diminuía a velocidade, mas então a dobrou, acelerando.

Seu alívio foi tão grande, que se deslizou para a escuridão.

Zsadist abriu com um golpe a porta de seu quarto, fazendo saltar o mecanismo da fechadura limpamente. O som foi forte, e Bela se mexeu em seus braços, gemendo. Congelou-se quando começou a girar a cabeça de um lado a outro na curva de seu braço.

Isso era bom, pensou. Isso era muito bom.

— Vamos, Bela, volte para mim. Desperte. — mas ela não recuperou a consciência.

Foi para o colchão e a deitou onde ele dormia. Quando olhou para cima, Wrath e Phury estavam na entrada, os dois enormes machos bloqueando a maior parte da luz que provinha do corredor.

— Precisa ir para o Havers. — disse Wrath — Precisa de tratamento.

— Havers pode fazer o que tiver que fazer aqui. Não sairá deste quarto.

Z ignorou o comprido silêncio que se seguiu, totalmente hipnotizado observando como Bela respirava. O peito subia e baixava a um ritmo regular, mas parecia muito superficial.

O olhar de Phury era um que ele conhecia bem.

— Zsadist...

— Esquece. Verá a ela aqui. E, ninguém vai tocar nela sem minha permissão ou sem que eu esteja presente. — quando olhou para cima, seus irmãos, Wrath e Phury pareciam totalmente confusos — Pelo amor de Cristo, querem que o diga no Idioma Antigo no caso de ambos terem esquecido como falar português? Não vai a nenhum lugar.

Com uma maldição, Wrath abriu seu celular e falou rápida e firmemente.

Quando o fechou, disse:

— Fritz já está na cidade, e vai recolher o doutor. Chegarão aqui em vinte minutos.

Z assentiu e olhou as pálpebras costuradas de Bela. Desejava ser o responsável por vingar-se daqueles que fizeram isso com ela. Desejava que ela se sentisse aliviada agora. Oh, Deus... Como devia ter sofrido.

Deu-se conta de que Phury se aproximou, e não gostou que seu irmão se ajoelhasse.

Os instintos de Z eram fazer uma barricada diante do corpo de Bela com o seu próprio, evitando que seu gêmeo, Wrath, o doutor, ou qualquer macho pudesse vê-la. Não entendia esse impulso, não sabia a origem, mas era tão forte que quase se lançou no pescoço de Phury.

E, então seu gêmeo estirou a mão para lhe tocar o tornozelo. Os lábios de Z se retiraram para mostrar as presas, lhe saindo um grunhido da garganta.

A cabeça de Phury se elevou rapidamente.

— Por que está agindo assim?

Ela é minha, pensou Z.

Mas, no instante que lhe chegou essa convicção, afastou-se. Que demônios estava fazendo?

— Está ferida. — murmurou — Só não se meta com ela, ok?

Havers chegou quinze minutos depois. O alto e magro médico trazia uma maleta de couro na mão e estava preparado para realizar seu trabalho. Mas, quando se adiantou, Z se precipitou para ele, interceptando o macho e pondo-o contra a parede. Os pálidos olhos de Havers lhe saíram das órbitas atrás de seus óculos com armação de tartaruga marinha, e deixou cair sua maleta ao chão.

Wrath amaldiçoou.

— Jesus...

Z ignorou as mãos que tratavam de afastá-lo e cravou o olhar no médico.

— Tratará dela melhor do que faria com alguém de seu próprio sangue. Se ela sofrer uma só sacudida desnecessária, eu cobrarei em sua pele multiplicado por cem vezes o que tenha sofrido.

O magro corpo de Havers tremia, a boca se movia sem emitir som.

Phury lhe deu um forte puxão sem conseguir afastá-lo.

— Z, fique calmo...

— Fique fora disto. — disse bruscamente — Estamos de acordo, doutor?

— Sim... Sim, senhor. — quando Z o soltou, Havers tossiu e arrumou a gravata. Logo franziu o cenho — Senhor...? Está sangrando. Sua perna...

— Não se preocupe comigo. Preocupe-se com ela. Agora.

O macho assentiu, manuseando a maleta, aproximou-se do colchão. Quando se agachou ajoelhando-se ao lado de Bela, Z desejou que as luzes do quarto se acendessem.

A áspera inalação de Havers foi o mais próximo a uma maldição que um macho educado como ele poderia proferir. Murmurou em voz baixa no Idioma Antigo:

— Fazer isto a uma fêmea... Pela misericórdia do Fade.

— Tire os pontos. — demandou Z, aparecendo por sobre o médico.

— Primeiro tenho que examiná-la. Devo verificar se tem feridas mais graves.

Havers abriu a maleta e pegou um estetoscópio, um aparelho para medir a pressão e um lápis lanterna. Mediu-lhe o pulso e a respiração, olhou dentro dos ouvidos e do nariz e mediu a pressão. Quando lhe abriu a boca ela se encolheu um pouco, mas logo quando levantou sua cabeça começou a lutar a sério.

Justo quando Zsadist se precipitava para o médico, o pesado braço de Phury se fechou sobre o peito de Z e o puxou para trás.

— Não a está machucando e sabe disso.

Z lutou contra o agarro, odiando a sensação do corpo de Phury contra o seu. Mas, seu gêmeo não afrouxou, sabia que era o melhor. Estava atuando impulsivamente, e derrubar o doutor teria sido uma jogada estúpida. Demônios, provavelmente não deveria estar armado nesse momento.

Obviamente Phury tinha seguido uma linha de pensamento similar nesse instante. Tirou as adagas que Z levava no peito e as entregou a Wrath. Também lhe tirou as pistolas.

Havers olhou para cima e pareceu aliviado de que as armas se fossem.

— Eu... Ah, vou lhe dar uma medicação suave para a dor. A respiração e o pulso são suficientemente fortes, assim poderá suportá-lo bem, e fará que o resto do exame e o que seguir seja mais fácil de tolerar para ela. Ok?

Não foi até que Z assentiu, então o médico lhe administrou um injetável. Quando a tensão no corpo de Bela diminuiu, o doutor tirou um par de tesouras e se dirigiu para a parte de abaixo da ensangüentada camisa que a cobria.

Enquanto levantava o tecido, Z sentiu uma raiva vermelha.

— Pare!

O Doutor protegeu a cabeça com os braços esperando que o golpeasse, mas tudo o que Z fez foi enfrentar o olhar de Phury e logo de Wrath.

— Nenhum de vocês dois vai vê-la nua. Fechem os olhos ou fiquem de costas.

Ambos o olharam por um momento. Logo Wrath deu as costas e Phury baixou as pálpebras, embora mantivesse seu agarro firme sobre o peito de Z.

Zsadist olhou duramente ao Doutor.

— Se for lhe tirar a roupa, cobre-a com algo.

— O que deveria usar?

— Uma toalha de banho.

— Eu a trarei. — disse Wrath. Depois de entregar-lhe voltou para seu lugar olhando para a porta.

Havers estendeu a toalha sobre o corpo de Bela e logo cortou a camisola de um lado. Olhou para cima antes de levantar nada.

— Preciso ver todo seu corpo. E, vou ter que lhe tocar o estômago.

— Para que?

— Tenho que apalpar os órgãos internos para determinar se algum está inchado por ter recebido um traumatismo ou por causa de uma infecção.

— Que seja rápido.

Havers afastou a toalha para um lado...

Z fraquejou contra o forte corpo de seu gêmeo.

– Oh... Nalla. – sua voz se enrouqueceu — Oh, doce Jesus... Nalla.

Tinha algo cortado na pele do estômago que pareciam ser letras maiúsculas de três polegadas, em português. Como era analfabeto, não podia saber o que dizia, mas tinha um horrível pressentimento...

— O que diz? — gritou.

Havers esclareceu sua garganta.

— É um nome. David. Diz David.

Wrath grunhiu.

— Sobre sua pele? Esse animal...

Z interrompeu o seu Rei.

— Vou matar a esse Lesser. Juro por Deus, vou mastigar seus ossos.

Havers inspecionou os cortes, brandamente, com muito cuidado.

— Deve te assegurar que não toque sal perto dos cortes. Senão, as cicatrizes ficarão com esta forma.

— Não me diga. — como se não tivesse experiência em como as cicatrizes se convertiam em permanentes.

Havers a cobriu e foi para os pés, inspecionando-os e logo se voltando para as panturrilhas. Afastou a camisola enquanto se dirigia para os joelhos. Logo moveu uma das pernas para um lado, separando as coxas.

Z se impulsionou para frente, arrastando Phury com ele.

— Que droga está fazendo?!

Havers retirou as mãos rapidamente, as sustentando sobre a cabeça.

— Preciso lhe fazer um exame interno. Ante a possibilidade de que tivesse sido... Violada.

Com um rápido movimento, Wrath parou na frente de Z e rodeou a cintura de Z com os braços. Através das lentes escuras, o olhar do rei queimava.

— Deixe que o faça, Z. É melhor para ela se fizer.

Zsadist não podia olhar. Deixou cair a cabeça contra o pescoço de Wrath, perdendo-se no comprido cabelo negro do macho. Os firmes corpos de seus irmãos o rodeavam, mas estava muito horrorizado para sentir pânico ante o contato. Fechou os olhos fortemente e respirou profundamente, as essências de Phury e Wrath invadindo seu nariz.

Ouviu um ruído como um sussurro, como se o médico estivesse buscando na maleta. Logo houve dois estalos, como se o macho estivesse colocando luvas. Um roçar de metal contra metal. Uns ruídos. Logo… Silêncio. Não, não realmente. Pequenos sons. Logo um par de clicks.

Z se recordou que todos os Lessers eram impotentes. Mas, só podia imaginar como compensavam essa deficiência.

Tremeu por ela até seus dentes baterem.

 

John Matthew olhou para o assento dianteiro do Range Rover. Tohr estava preocupado enquanto entravam na parte rural de Caldwell, e embora John estivesse assustado pela reunião com Wrath, o Rei, estava mais preocupado a respeito de toda esta calma. Não podia entender o que era que estava mau. Bela tinha sido salva. Agora estava a salvo. Assim, todo mundo deveria estar contente, verdade? Exceto quando Tohr tinha vindo para casa recolher ao John, tinha envolvido seus braços ao redor de Wellsie na cozinha e permanecido ali por muito tempo. Suas palavras, suaves e no Idioma Antigo, tinham saído do que soava como uma garganta obstruída.

John queria conhecer todos os detalhes do que tinha passado, mas era difícil bisbilhotar estando no automóvel, na escuridão, quando ele precisava fazer-se entender por gestos ou escrever. E, não parecia que Tohr tivesse vontade de conversar.

— Aqui estamos. — disse Tohr.

Com uma rápida curva à direita os colocou sobre uma rota de terra calçada, e John se deu conta que já não podia ver nada através das janelas. Havia uma estranha névoa nos gelados bosques que os rodeavam, uma barreira que o fazia sentir-se um pouco enjoado.

Como que saída de nenhuma parte, uma grande grade se materializou na brumosa paisagem, e deslizaram até deter-se. Havia outro conjunto de grades justo depois da primeira, e quando entraram no espaço que havia entre as duas, ficaram enjaulados como um touro em uma rampa para o abate. Tohr baixou a janela, introduziu uma espécie de código em um painel de telefone, e foram liberados para passar ao outro lado para…

Jesus, o que é isto?

Um túnel subterrâneo. E, enquanto se dirigiam para baixo, dentro da terra com tranqüila compostura, apareceram várias portas mais, e as defesas se faziam cada vez mais e mais fortificadas até a última. Esta era a maior de todas, um brilhante monstro de metal que tinha um letreiro de alta voltagem pintada no meio. Tohr olhou para a câmera de segurança, e logo houve um som de click. As comportas se abriram.

Antes que avançassem, John bateu no antebraço de Tohr para que lhe prestasse atenção.

— É aqui onde vivem os irmãos? — falou por gestos, lentamente.

— Mais ou menos. Primeiro, levarei você ao centro de treinamento e logo iremos à mansão. — Tohr pisou no acelerador — Quando começarem as aulas deverá vir aqui de segunda-feira à sexta-feira. O ônibus te recolherá em frente à nossa casa, as quatro em ponto. Meu irmão Phury está neste lugar, assim o resguardará nas primeiras aulas. — ante o olhar que lhe dirigiu John, Tohr explicou — O Complexo está interconectado subterraneamente. Mostrarei a você como acessar ao sistema de túneis que liga todos os edifícios, mas guarde o dado para si mesmo. Qualquer um que apareça em qualquer lugar sem convite, vai enfrentar sérios problemas. Seus companheiros de classe não são bem-vindos, me entendeu?

John assentiu enquanto paravam na área de estacionamento, recordou uma longínqua noite. Deus, sentia-se como se tivessem acontecido cem anos desde que tinha vindo aqui com Mary e Bela.

Ele e Tohr desembarcaram do Rand Rover.

— Com quem treinarei?

— Com outra dúzia de machos de sua mesma idade, aproximadamente. Todos têm um pouco de sangue guerreiro nas veias, que é pelo que os escolhemos. O treinamento perdurará ao longo de suas transições e logo seguirá por outro comprido período, até que pensemos que estão preparados para sair ao campo.

Caminharam para um par de portas de metal e Tohr as abriu completamente. No outro lado havia um corredor que parecia não terminar nunca. Enquanto o transitavam, Tohr lhe mostrava uma sala de aulas, o ginásio, uma sala para pesar-se e um vestuário. O macho se deteve quando chegou a uma porta feita de vidro cristalizado.

— Aqui é aonde venho, quando não estou em casa ou no campo.

John entrou. A sala estava quase vazia e era muito pouco notória. O escritório era de metal e estava coberto com equipamentos de informática, telefones e papéis. Havia arquivos alinhados na parede do fundo. Só havia dois lugares onde sentar-se, assumindo que virar o cesto de papéis para sentar-se sobre ele não era uma opção. Sobre uma esquina, havia uma cadeira das que usualmente se utilizavam para equipamento de escritório. A outra estava atrás da mesa e era bem feia: uma monstruosidade com o estofado rasgado, de couro cor verde abacate com bordas engraçados, o assento frouxo e um par de pés que davam um novo significado à palavra firme.

Tohr pôs a mão sobre o alto respaldo da coisa.

— Pode acreditar que Wellsie me obrigou a me desfazer disto?

John assentiu fazendo gestos:

— Sim, posso.

Tohr sorriu e caminhou para um gabinete alto até o teto. Quando abriu a porta e digitou uma série de números no tabuleiro, a parte traseira se abriu a uma espécie de passagem escura.

— Aqui vamos nós.

John entrou, embora não pudesse ver muito.

Um túnel de metal. Suficientemente largo para que entrassem três pessoas caminhando lado a lado, e tão alto que sobrava espaço inclusive sobre a cabeça de Tohr. As luzes estavam embutidas no teto a cada dez pés ou coisa assim, mas não iluminavam muito na escuridão reinante.

Esta é a coisa mais incrível que vi em minha vida. — pensou John quando começaram a caminhar.

O som das botas de cowboy de Tohr ricocheteou nas paredes de aço, como também fez sua profunda voz.

— Olhe, a respeito de conhecer Wrath. Não quero que se preocupe. É intenso, mas não há nada a temer. E, não te assuste por seus óculos escuros. Está quase cego e é hipersensível à luz, assim deve usá-los. Mas, embora não possa ver, mesmo assim, lerá em você como em um livro aberto. Suas emoções serão tão claras para ele como a luz do dia.

Um pouco mais tarde, à esquerda apareceu uma escada baixa, que levava até uma porta e a outro painel. Tohr se deteve e apontou para o túnel, que até onde John podia ver, continuava eternamente.

— Se seguir direito por ali, chegará à casa do guarda a umas cento e cinqüenta jardas. — Tohr subiu os poucos degraus, manipulou o painel, e abriu a porta. Uma brilhante luz alagou o lugar como água liberada de um dique.

John olhou para cima, com um estranho sentimento ressonando em seu peito. Tinha a estranha sensação de que estava sonhando.

— Tudo está bem, filho. — Tohr sorriu, seu rosto duro suavizando-se um pouco — Nada vai machucar-te aqui em cima. Confie em mim.

 

— OK, está feito. — disse Havers.

Zsadist abriu os olhos, podendo ver unicamente o grosso cabelo negro de Wrath.

— Foi…?

— Ela está bem. Não há sinais de relações forçadas nem de nenhum tipo de trauma. — ouviu-se um estalo, como se o médico estivesse tirando as luvas.

Zsadist fraquejou e seus irmãos agüentaram o peso. Quando finalmente levantou a cabeça, viu que Havers tinha afastado a sangrenta camisa, e havia coberto novamente Bela com a toalha, estava colocando um novo par de luvas. O macho se inclinou sobre a maleta, tirou um par de ferramentas e umas pinças, e logo olhou para cima.

— Eu me ocuparei de seus olhos agora, está bem? — quando Z assentiu, o médico sustentou os instrumentos — Tome cuidado, senhor. Se me assustar, poderia deixá-la cega com estas pinças. Entendeu?

— Sim. Só não lhe faça mal…

— Não sentirá nada. Prometo-o.

Z observou esta parte, e foi eterna. Tinha uma vaga idéia de que estava na metade da consulta e já não estava sustentando-se. Phury e Wrath estavam carregando todo seu peso para mantê-lo em pé, a cabeça lhe pendurava sobre o flanco do maciço ombro de Wrath enquanto olhava atentamente.

— A última. — murmurou Havers — Bom, tirei todas as suturas.

Todos os machos do quarto respiraram fundo, até o doutor, e logo Havers voltou para seus medicamentos e pegou um tubo. Pôs um pouco de ungüento sobre as pálpebras de Bela, logo guardou tudo em sua maleta.

Quando o médico ficou em pé, Zsadist se soltou de seus irmãos e caminhou um pouco. Wrath e Phury estenderam os braços.

— As feridas dela são dolorosas, mas por agora, nenhuma põe sua vida em risco. —disse Havers — Amanhã ou depois de amanhã estarão curadas, sempre que a deixem sozinha. Está desnutrida e precisa alimentar-se. Se for ficar neste quarto, é preciso ligar a calefação e levá-la à cama. Quando despertar deve ingerir comida e bebida. E, outra coisa mais. No exame interno encontrei… — seus olhos passaram por Wrath e Phury, e logo se fixaram em Zsadist — Algo de índole pessoal.

Zsadist foi para o doutor.

— O que?

Havers o levou para um lugar e falou devagar.

Quando o macho terminou, Z estava aturdido, sem palavras.

— Está seguro?

— Sim

— Quando?

— Não sei. Mas, relativamente logo.

Z olhou para Bela. Oh, Cristo…

— Agora, assumo que tem aspirinas ou Motrin na casa?

Z não tinha idéia, nunca tomava remédios para dor. Olhou Phury.

— Sim, temos. — disse seu irmão.

— Subministrem-lhes e lhes darei algo mais forte como respaldo para o caso de que não aliviem toda dor.

Havers tirou um pequeno frasco de vidro que tinha um selo de borracha vermelho como tampa e colocou na palma da mão duas seringas hipodérmicas envoltas em pacotes estéreis. Escreveu algo em um pequeno bloco de papel, e logo entregou o papel e os medicamentos a Z.

— Se durante o dia sentir muita dor quando despertar, pode lhe dar uma injeção disto de acordo com minhas indicações. É a mesma morfina que acabo de lhe administrar, mas deve prestar atenção a dose que lhe indico. Chame-me se tiver perguntas ou se quiser que lhe ajude no procedimento de dar injeções. Por outra parte, se o sol já se pôs, virei e lhe darei a injeção eu. — Havers olhou a perna de Z — Quer que examine sua ferida?

— Posso banhá-la?

— Definitivamente sim.

— Agora?

— Sim. – Havers franziu o cenho — Mas, senhor, sua perna…

Z entrou no banheiro, abriu as torneiras da jacuzzi, e colocou a mão debaixo do jorro. Esperou até que estivesse suficientemente quente, logo voltou para buscá-la.

Naquele tempo, o doutor já se fora, mas Mary, a mulher de Rhage, estava na entrada do quarto, querendo ver Bela. Phury e Wrath falaram com ela brevemente e negaram com a cabeça. Ela se foi, parecendo abatida.

Quando a porta se fechou, Z se ajoelhou perto do colchão e começou a levantar Bela.

— Espere, Z. — a voz de Wrath era dura — Sua família deve cuidar dela.

Z se deteve e pensou em quem teria alimentado a seus peixes. Deus… Provavelmente, isto não estivesse certo. Mantê-la aqui, longe daqueles que tinham todo o direito de cuidar dela em sua dor. Mas, a idéia de deixá-la ir era intolerável. Acabava de encontrá-la…

— Irá com eles manhã. — disse — Esta noite e o dia de amanhã permanecerá aqui.

Wrath sacudiu a cabeça.

— Não está…

— Acredita que está pronta para viajar neste estado? — disse Z bruscamente — Deixem-na em paz. Façam com que Tohr chame à família e diga a eles que a entregaremos amanhã, ao cair da noite. Agora, necessita um banho e um pouco de repouso.

Wrath apertou os lábios. Houve um comprido silencio.

— Então a poremos em outro quarto, Z. Não ficará com você.

Zsadist se levantou e se aproximou do Rei, afundando o dedo no abdômen do macho.

— Só faz o intento de movê-la.

— Pelo amor de Cristo, Z. — ladrou Phury — Retrate-se…

Wrath se inclinou para frente, até que os narizes quase se tocaram.

— Tome cuidado, Z. Sabe condenadamente bem que me ameaçando conseguirá algo mais, além de que te parta a mandíbula.

Sim, tinham passado por isso no verão. Legalmente, Z podia ser executado sob as velhas regras de conduta se forçava isto muito mais à frente. A vida do Rei era valorizada acima da de todos os outros.

Não era algo que a Z importasse em nada nesse momento.

— Pensa que uma sentença de morte me preocupa? Por favor. — entrecerrou os olhos — Mas, te direi isto. Tanto se decidir fazer valer sua realeza sobre meu traseiro ou não, levará ao menos um dia para me condenar com a Virgem Escriba. Mesmo assim, Bela dormirá aqui esta noite.

Voltou para onde ela estava e a levantou o mais cuidadosamente que pôde, enquanto se assegurava de que a toalha permanecesse em seu lugar. Sem olhar a Wrath nem seu gêmeo, entrou no banheiro e fechou a porta com um golpe atrás dele.

A banheira já estava cheia até a metade, assim a sustentou enquanto se inclinava e comprovava a temperatura. Perfeita. Colocou-a dentro da água e logo estendeu seus braços para os lados para que se apoiasse nas bordas.

A toalha se molhou em seguida e se colou ao seu corpo. Ele pôde apreciar claramente a suave curva dos seios, a pequena caixa torácica, a plana extensão do estômago. Ao subir a água, a bainha da toalha flutuou solta e acariciou a parte de cima das coxas.

O coração de Z bateu fortemente no peito e se sentiu como um libertino, observando-a quando estava ferida e fora de si. Com a esperança de defendê-la de seus olhos e querendo lhe dar a privacidade que merecia, foi para o armário procurar gel para lhe fazer um banho de espuma. Não havia nada mais que sais de banho, e estava seguro como o inferno de que ele não usava essas coisas.

Estava a ponto de se virar, quando foi golpeado pelo fato de que o espelho sobre a pia era muito grande. Não queria que ela se desse conta do aspecto que tinha, quanto menos soubesse a respeito do que lhe tinham feito, melhor. Cobriu o espelho com duas toalhas grandes, segurando o tecido de feltro atrás da moldura.

Quando retornou, ela havia afundado mais na água, mas ao menos a parte de cima da toalha ainda se sustentava em seus ombros e basicamente se mantinha em seu lugar. Agarrou-a por baixo de um de seus braços e a elevou, logo pegou a esponja. No instante em que começava a lavar o lado de seu pescoço, começou a agitar-se, salpicando-o com água. Suaves sons de pânico saíam de sua boca, e não pararam nem sequer quando deixou a esponja de lado.

Fale com ela, idiota.

— Bela... Bela, está bem. Está bem.

Ficou quieta e franziu o cenho. Logo seus olhos se abriram e começou a piscar várias vezes. Quando tratou de esfregar as pálpebras, separou-lhe as mãos do rosto.

— Não. É um medicamento. Deixe-o aí.

Ela congelou. Esclareceu a garganta até que pôde falar.

— Onde… Onde estou?

A voz, embora vacilante e rouca, soou-lhe bonita.

— Está com... Comigo. Está com a Irmandade. Está a salvo.

Enquanto seu vítreo e desfocado olhar passeava pelo banheiro, ele se inclinou para um interruptor na parede e atenuou as luzes. Embora estivesse delirando e não havia dúvida de que quase cega pelo ungüento, não queria que se visse. A última coisa que precisava preocupar-se era com o que aconteceria se as cicatrizes não se curassem completamente.

Quando baixou os braços à água e travou os pés na base da banheira, fechou a torneira e se inclinou para trás sentando-se sobre os pés. Não era bom tocando pessoas, assim não era uma grande surpresa que ela não pudesse suportar suas mãos sobre o corpo. Mas, maldição, não tinha idéia do que fazer para aliviá-la. Via-se tão machucada… Muito à frente do pranto e próxima a uma paralisante agonia.

— Está a salvo… — murmurou, embora duvidasse de que lhe acreditasse. Ele não o teria feito se fosse ela.

— Zsadist está aqui?

Franziu o cenho, não sabendo o que deduzir sobre isso.

— Sim, estou justo aqui.

— Está?

— Justo aqui. Justo ao seu lado. — se esticou torpemente e lhe apertou a mão. Ela devolveu-lhe o apertão.

E, logo pareceu que começava a delirar. Murmurava, fazendo pequenos sons que poderiam ter sido palavras, e se agitava. Z agarrou outra toalha, enrolou-a, e a pôs debaixo da cabeça para que não batesse contra a dura borda da jacuzzi.

Espremeu o cérebro pensando no que podia fazer para ajudá-la, e como foi a única coisa que lhe ocorreu, cantarolou um pouquinho. Quando pareceu que isso a acalmava um pouco, começou a cantar brandamente, escolhendo um hino no Idioma Antigo dedicado à Virgem Escriba, um que falava de céus azuis, brancas corujas e verdes prados.

Gradualmente, Bela relaxou e inspirou profundamente. Fechando os olhos, reclinou-se contra o travesseiro de toalha que ele tinha fabricado.

Como cantar era o único consolo que podia lhe dar, cantou.

 

Phury olhou para o colchão onde Bela tinha estado deitada, pensando que a camisa rasgada que ela trazia o adoecia. Logo seus olhos se dirigiram ao esqueleto que jazia no chão à direita. O esqueleto de uma mulher.

— Não posso permitir isto. — disse Wrath quando se sossegou o som de água que corria no banheiro.

— Z não vai machucar ela. — murmurou Phury — Olhe a forma em que a trata. Cristo, atua como um macho emparelhado.

— O que ocorrerá se mudar de humor? Quer que o nome de Bela figure na lista de mulheres que matou?

— Golpeará até o teto se a separarmos dele.

— É um assunto de merda...

Os dois ficaram congelados. Logo lentamente ambos olharam para a porta do banheiro. O som que provinha do outro lado era suave, rítmico. Como se alguém estivesse…

— Que demônios? — murmurou Wrath.

Phury não podia acreditar, tampouco.

— Está cantando para ela.

Embora extinta, a pureza e a beleza da voz de Zsadist era surpreendente. Sua voz de tenor sempre tinha sido assim. Nas raras ocasiões que cantava, os sons que saíam de sua boca eram comoventes, capazes de fazer com que o tempo parasse e logo se deslizasse até o infinito.

— Deus... Demônios. — Wrath empurrou suas lentes para cima, até a testa e esfregou os olhos — Vigia-o, Phury. Vigia-o bem.

— Não faço isso sempre? Olhe, tenho que ir ver o Havers esta noite, mas só o tempo suficiente para que repare minha prótese. Farei com que Rhage o mantenha vigiado até que retorne.

— Faz isso. Não vamos perder essa fêmea enquanto estamos cuidando dela, está claro? Jesus Cristo… Esse seu gêmeo faria com que qualquer um se lançasse de um precipício, sabia isso? — Wrath saiu majestosamente do quarto.

Phury olhou novamente para o colchão e imaginou Bela jazendo ali perto de Zsadist. Isto estava mau. Z não sabia uma maldita coisa a respeito de dar afeto. E, essa pobre mulher tinha passado as últimas seis semanas na terra fria.

Eu deveria ter estado ali dentro, com ela. Lavando-a. Confortando-a. Cuidando-a.

Minha, pensou, olhando a porta de onde saía o canto.

Phury começou a dirigir-se para o banheiro, repentinamente furioso além do impossível. A cólera territorial acendia seu peito como uma fogueira, levantando uma chama de poder que lhe rugia no corpo. Agarrou fortemente a fechadura da porta… E ouviu esse formoso som que era a melodia que entoava o tenor.

Phury ficou ali de pé, tremendo. Enquanto a irritação se convertia em um desejo que o assustava, apoiou a testa contra o marco da porta. Oh, Deus… Não.

Apertou os olhos fechando-os, tratando de encontrar outra explicação para seu comportamento. Não havia outra. E, depois de tudo ele e Zsadist eram gêmeos.

Assim teria sentido que desejassem à mesma fêmea. Que terminassem… Vinculando-se à mesma mulher.

Soltou uma maldição.

Merda Santa, isto eram problemas… Do tipo que lhe enterrariam em monte. Para começar, dois machos emparelhados atados à mesma mulher era uma combinação letal. Adicionava-se ao fato que estes fossem dois guerreiros, tinha potencial para que ocorressem sérios danos. Depois de tudo, os vampiros eram animais. Caminhavam e falavam e eram capazes de raciocínios mais elevados, mas fundamentalmente eram animais. Assim, havia alguns instintos que nem sequer o mais engenhoso dos cérebros podia superar.

O bom era que ainda não tinham chegado a esse ponto. Sentia-se atraído por Bela e a desejava, mas não tinha chegado a sentir o profundo sentido de posse que era a carta de apresentação de um macho emparelhado. E, não tinha detectado a essência de emparelhamento irradiando-se de Zsadist, assim talvez ainda houvesse esperanças.

Mesmo assim, ambos tinham que afastar-se de Bela. Os Guerreiros, provavelmente por sua natureza agressiva, emparelhavam forte e rapidamente. Assim, tinha esperanças de que ela se fosse logo com sua família, a quem pertencia.

Phury soltou o pomo da porta e saiu do quarto. Desceu as escadas como um zumbi e se dirigiu para fora, para o pátio. Queria que o frio lhe golpeasse para poder esclarecer seus pensamentos. Mas, o único que conseguiu foi que sua pele ficasse arrepiada.

Estava a ponto de acender um fino cigarro de fumaça vermelha quando se deu conta que o Ford Taurus, em que Z tinha feito uma ligação direta para trazer Bela para casa, estava estacionado na frente da mansão. Ainda estava com o motor ligado, esquecido ante todo drama.

Bom, essa não era a classe de escultura de grama que precisavam. Só Deus sabia que classe de dispositivo de rastreamento havia nele.

Phury se meteu no sedã, pôs a coisa em movimento e se dirigiu para a saída.

 

Quando John saiu do túnel subterrâneo, ficou momentaneamente cego pela luminosidade. Logo sua vista se adequou. Oh, meu Deus. É bonito.

O vasto vestíbulo era um vívido arco íris, tão colorido que pareceu que suas retinas não poderiam admirá-lo em sua totalidade. Das colunas verdes e vermelhas de mármore até o mosaico multicolorido do chão, dos painéis dourados que se achavam por todos os lados até o…

Santo Anjo Miguel, olhe esse teto.

Achavam-se três andares acima, as pinturas de anjos, nuvens e guerreiros sobre grandes cavalos cobriam uma extensão que parecia tão grande como um estádio de futebol. E havia mais… Ao redor de todo o segundo andar havia um balcão dourado que tinha painéis inseridos com representações similares. Depois, vinha a esplêndida escada com seu intricado corrimão.

As proporções de espaço eram perfeitas. As cores, deliciosas. A arte, sublime. E, não era ao estilo pretensioso Donald Trump. Inclusive John, que não sabia nada a respeito de estilo, tinha a curiosa sensação de que o que estava olhando era verdadeiramente de bom gosto. A pessoa que construiu esta mansão e a decorou sabia o que fazia e tinha o dinheiro para comprar tudo de boa qualidade: um verdadeiro aristocrata.

— Belo, não? Meu irmão D construiu este lugar em 1914. — Tohr colocou as mãos sobre os quadris enquanto olhava ao redor, logo esclareceu ligeiramente a garganta — Sim, tinha um gosto excelente. O melhor do melhor para ele.

John estudou cuidadosamente o rosto de Tohr. Nunca o tinha ouvido utilizar esse tom de voz. Tanta tristeza…

Tohr sorriu lhe pondo uma mão sobre o ombro, apressou John para que seguisse caminhando.

— Não me olhe assim. Sinto-me como uma salsicha nua quando o faz.

Dirigiram-se ao segundo andar, caminhando por um tapete vermelho tão macio que era como caminhar sobre um colchão. Quando John chegou acima, olhou sobre o balcão ao desenho do chão do vestíbulo. Os mosaicos se fundiam em uma espetacular representação de uma árvore frutífera em plena floração.

— As maçãs fazem parte de nossos rituais. — disse Tohr — Ou ao menos, são quando os praticamos. Ultimamente não tivemos muitos desses, mas Wrath está convocando a todos para realizar a primeira cerimônia do solstício de inverno dos últimos cem anos ou algo assim.

— É nisso que Wellsie esteve trabalhando, verdade? — disse John por gestos.

— Sim. Está encarregada de quase toda a logística. A raça está ansiosa por voltar a praticar os rituais, e já era hora.

Dado que John não deixava de admirar o esplendor do lugar, Tohr lhe disse:

— Filho? Wrath está nos esperando.

John assentiu e o seguiu, indo do patamar para um par de portas duplas marcadas com alguma espécie de selo. Tohr estava levantando a mão para bater quando as aldravas de bronze giraram e o interior foi revelado. Não havia ninguém do outro lado. Então, como se abre essas coisas?

John olhou para dentro. A sala era de um tom azul mar e lhe recordava as fotos de um livro de história. Era francês, não? Com todas as flores e os móveis elegantes…

Repentinamente, John teve problemas para engolir.

— Meu senhor. — disse Tohr, fazendo uma reverência e adiantando-se.

John ficou de pé na entrada. Atrás de um espetacular escritório francês que era muito bonito e muito pequeno para ele, achava-se um imponente homem, com ombros maiores que os de Tohr. O comprido cabelo negro lhe caía reto a partir das pronunciadas entradas de sua testa, e o rosto… A dura compostura do mesmo era como se soletrasse “não mexa comigo”. Deus, os envolventes óculos de sol o faziam parecer induvidavelmente cruel.

— John? — disse Tohr.

John foi ficar ao lado de Tohr, escondendo-se um pouco. Sim, era um pouco covarde de sua parte, mas nunca havia se sentido menor ou tão dispensável em sua vida. Demônios, estando tão perto do poder que desprendia o homem que estava diante deles, estava quase convencido de que era totalmente insignificante.

O Rei se moveu na cadeira, inclinando-se sobre a escrivaninha.

— Vem aqui, filho. — a voz era baixa e com acento, estendendo bastante o “q” antes de terminar a palavra.

— Vai. — quando não se moveu, Tohr lhe deu uma ligeira cotovelada — Está tudo bem.

John tropeçou em seus próprios pés, movendo-se através da sala sem nada de aprumo. Parou em frente à escrivaninha como se fosse uma pedra que tivesse rodado até deter-se.

O Rei se levantou e se manteve elevado até que pareceu alto como um arranha-céu. Wrath devia medir mais de dois metros, e a roupa negra que usava, particularmente a de couro, o fazia parecer ainda mais alto.

— Vem, te aproxime.

John olhou para trás para assegurar-se de que Tohr ainda estava ali.

— Está bem, filho. — disse o Rei — Não vou machucar você.

John deu a volta na escrivaninha, seu coração pulsando como o de um camundongo. Quando inclinou sua cabeça para olhar para cima, o braço do Rei se estendeu para frente. A parte interior do mesmo, do pulso até o cotovelo, estava coberta de tatuagens. E, o desenho era como o que John tinha visto em seus sonhos, que tinha colocado no bracelete que usava…

— Sou Wrath. — disse o homem. Logo fez uma pausa — Quer apertar minha mão, filho?

Oh, com certeza. John estendeu a mão, meio esperando que seus ossos fossem esmagados. Em vez disso, quando entraram em contato, só sentiu uma firme quebra de onda de calor.

— Esse nome que está em seu bracelete. — disse Wrath — É Tehrror. Quer que lhe chamemos assim ou John?

John entrou em pânico e olhou a Tohr, porque não sabia o que queria e não sabia como comunicar isso ao Rei.

— Tranqüilo, filho. — Wrath riu brandamente — Pode decidir depois.

O rosto do Rei girou bruscamente para um lado, como se fixasse sua atenção em algo fora, no corredor. Com igual rapidez, um sorriso se estendeu por seus duros lábios formando uma expressão de total reverência.

— Leelan. — suspirou Wrath.

— Lamento chegar tarde. — a voz de mulher era suave e bonita — Mary e eu estamos muito preocupadas com Bela. Tentamos encontrar a maneira de ajudá-la.

— Encontrarão a forma. Vêm conhecer John.

John se virou para a porta e viu uma mulher…

Repentinamente uma luz branca tomou o lugar de sua visão, fazendo impreciso tudo o que via. Foi como se tivesse sido golpeado por um raio ultrabrilhante. Piscou, várias vezes… E, logo vindo do infinito nada, viu a mulher novamente. Tinha cabelo escuro, com olhos que recordavam a alguém que amava… Não, não lhe recordavam… Os olhos dela eram os de seu… O que? Seu o que?

John cambaleou. O som das vozes lhe chegava distante.

Em seu interior, em seu peito, no mais profundo de seu coração palpitante, sentiu que se quebrava, como se o estivessem partindo em dois. Estava-a perdendo… Estava perdendo a mulher de cabelo escuro… Estava…

Sentiu que abria a boca, esforçando-se como se estivesse tentando falar, mas logo ficou presa pelos tremores, que sacudiram seu pequeno corpo, fazendo com que cambaleasse sobre seus pés, e caísse no chão.

 

Zsadist sabia que era hora de tirar Bela da banheira, porque tinha estado ali quase uma hora e sua pele estava enrugando. Mas, então olhou através da água para a toalha que tinha estado mantendo sobre o corpo dela.

Merda… Tirá-la com essa coisa ia ser um problema.

Com uma careta a alcançou e a pegou.

Olhando para outro o lado rapidamente, jogou a toalha molhada no chão e agarrando uma seca, colocou-a justo ao lado da banheira. Apertando os dentes, inclinou-se para frente e colocou os braços na água, procurando seu corpo. Seus olhos terminaram justo ao nível dos seios.

Oh, Deus… Eram perfeitos. De um branco cremoso com pontas rosadas. E, a água lhe acariciava os mamilos, importunando-os com ondeantes beijos que os faziam brilhar.

Apertou as pálpebras fechando os olhos, tirou os braços da água e se sentou sobre os pés. Quando esteve preparado para tentar de novo, concentrou-se na parede que tinha em sua frente e se inclinou para frente… Só para sentir uma repentina dor nos quadris. Olhou para baixo, confuso.

Havia um inchado vulto em suas calças. Isso estava tão duro, que tinha surgido uma tenda de campanha na frente de suas calças esportivas. Evidentemente tinha apertado a coisa contra a banheira quando se inclinou, e essa era a causa da pontada que havia sentido.

Amaldiçoando, empurrou a coisa com a palma da mão, odiando a sensação da pesada carga, a forma em que a dura longitude se enredava em suas calças, o fato de ter que lutar com isso. Entretanto, não importava quanto o tentasse, não podia colocá-la corretamente, ao menos não sem colocar a mão dentro das calças para agarrá-la, o que, maldita fosse, não estava disposto a fazer. Ao final, se deu por vencido e deixou a ereção presa, retorcida e doendo.

Que servisse de lição para a sacana.

Zsadist inspirou fundo, inundou os braços profundamente na água, e os envolveu debaixo do corpo de Bela. Puxou-a, novamente impressionado pela sua leveza, logo a colocou contra a parede de mármore usando o lado de seu quadril e uma mão sobre a clavícula. Levantou a toalha que tinha deixado na borda da jacuzzi, mas antes de envolvê-la ao redor dela, deslocou seu olhar para as letras gravadas na pele do estômago.

Algo estranho se sacudiu em seu peito, uma grande opressão… Não, era uma sensação descendente, como se estivesse caindo, embora estivesse perfeitamente equilibrado. Estava pasmo. Havia muito que nada entrava através de sua ira e insensibilidade. Tinha a sensação de estar... Triste?

O que fosse. Ela tinha a pele de todo o corpo arrepiado. Assim, aquele não era o momento de tentar entender a si mesmo.

Envolveu-a e a pôs na cama. Afastou o cobertor para um lado, deitou-a, lhe tirando a toalha molhada. Enquanto a cobria com os lençóis e as mantas, deu outra olhada em seu estômago.

A estranha sensação de estar caindo retornou, como se seu coração fosse em uma viajem de gôndola para o estômago. Ou talvez para suas coxas.

Agasalhou-a e logo se dirigiu para o termostato. De cara com o controle, olhando os números e palavras que não podia entender, não tinha idéia de onde girá-lo. Moveu o pequeno indicador de onde se achava, bem à esquerda, para um lugar entre o meio e o extremo direito, mas não estava muito seguro de que é o que tinha feito.

Olhou para a escrivaninha. As duas seringas e o frasco com morfina estavam ali onde Havers os tinha deixado. Z foi ali, recolheu uma seringa, a droga e as instruções de dosagem, logo fez uma pausa antes de sair do quarto. Bela estava tão quieta na cama, tão pequena contra os travesseiros.

Imaginou ela dentro daquele tubo, enterrado na terra. Assustada. Sentindo dor. Frio. Logo imaginou ao lesser lhe fazendo o que lhe tinha feito, prendendo-a a força enquanto ela lutava e gritava.

Desta vez, Z sabia o que sentia.

Ânsias de vingança. Fria, gelada vingança. Tanta, que a merda ia se estender até o infinito.

 

John despertou no chão, com Tohr a seu lado e Wrath olhando-o de cima.

Onde estava a mulher de cabelo escuro? Tratou de sentar-se precipitadamente, mas umas fortes mãos o mantiveram em seu lugar.

— Só fica deitado um pouco mais, companheiro. — disse Tohr.

John esticou o pescoço, olhando ao redor e ali estava ela, perto da porta, parecendo ansiosa. No momento em que a viu, cada neurônio de seu cérebro disparou, e voltou à luz branca. Começou a tremer, o corpo batendo contra o chão.

— Merda, aí vai de novo. — murmurou Tohr, inclinando-se para frente para tratar de controlar o ataque.

Quando John sentiu que estava sendo absorvido para baixo, estendeu uma mão em direção à mulher de cabelos escuros, tratando de alcançá-la, esticando-se.

— O que precisa, filho? — a voz de Tohr, por cima dele, estava decaindo como uma estação de rádio com estática — Conseguiremos isso pra você…

A mulher…

— Vá a ele, leelan. — disse Wrath — Pegue sua mão.

A mulher de cabelo escuro se adiantou, e no instante que suas mãos o tocaram, tudo ficou negro.

Quando recuperou a consciência novamente, Tohr estava falando.

— …de qualquer forma, vou levá-lo para ver Havers. Oi, filho, você retornou.

John se sentou, sentindo vertigem. Levou as mãos ao rosto, como se isto pudesse ajudá-lo a permanecer consciente, e olhou para a porta. Onde ela estava? Tinha que… Não sabia que tinha que fazer. Mas, era algo. Algo que envolvia a ela…

Fez gestos freneticamente.

— Foi-se, filho. — disse Wrath — Manteremos vocês separados até que tenhamos uma idéia do que te acontece.

John olhou a Tohr e fez gestos devagar. Tohr traduziu.

— Diz que precisa cuidar dela.

Wrath pôs-se a rir brandamente.

— Acredito que tenho exercido esse posto, filho. É minha companheira, minha shellan, sua Rainha.

Por alguma, razão John relaxou ante essas notícias, e gradualmente voltou à normalidade. Quinze minutos depois pôde ficar em pé.

Wrath lançou um duro olhar a Tohr.

— Quero falar com você de estratégia, assim te necessito aqui. E, como Phury vai à clínica esta noite por que não leva o moço?

Tohr duvidou e olhou a John.

— Concorda, filho? Meu irmão é um bom tio. Em todos os sentidos.

John assentiu. Já tinha causado suficientes problemas esparramando-se no chão como se sofresse um ataque de histeria. Depois disso, estava mais que disposto a mostrar-se amigável.

Deus, o que a mulher teria pensado? Agora que se foi, não podia recordar por que tanto alvoroço. Nem sequer podia recordar seu rosto. Era como se sofresse um caso de amnésia.

— Deixe-me levar você ao quarto de meu irmão.

John pôs a mão no braço de Tohr. Quando terminou de fazer gestos, olhou a Wrath.

Tohr sorriu.

— John diz que foi uma honra te conhecer.

— Foi um prazer te conhecer também, filho. — o Rei voltou para a escrivaninha e se sentou — E, Tohr, quando voltar, traz o Vishous com você.

— Sem problema.

 

O chutou o lado do Taurus de U com força, a bota amassou o pára-lama.

A maldita caixa de merda estava atolada em um lado da estrada. Em algum lugar escolhido ao azar da Rota 14, a vinte e cinco milhas do centro da cidade.

Tinha levado uma boa hora na frente do computador de U para encontrar o carro, porque o sinal LoJack havia sido bloqueado por causa de Deus sabe o quê. Quando o maldito sinal apareceu na tela, o Taurus se movia velozmente. Se O tivesse conseguido reforços, teria deixado alguém ao computador enquanto pegava o caminhão e ia procurar o sedã. Mas, U estava caçando no centro, e tirar ele ou qualquer outro da patrulha teria chamado muita atenção.

E, O já tinha problemas suficientes… Problemas que estavam fazendo soar seu celular outra vez, sendo esta chamada a de número oitocentos. A coisa tinha começado a soar fazia vinte minutos, e depois as chamadas não tinham parado de chegar. Tirou o Nokia da jaqueta de couro. O identificador de chamadas mostrava o número como desconhecido. Provavelmente U, ou ainda pior, o senhor X.

Já haviam sido informados que o Centro tinha sido incinerado.

Quando o celular deixou de tocar, O digitou o número de U. Tão logo respondeu, O disse:

— Estava me procurando?

— Cristo, o quê aconteceu aí? O senhor X disse que o lugar estava destruído!

— Não sei o que aconteceu.

— Mas, estava ali, verdade? Disse que ia para lá.

— Disse isso ao senhor X?

— Sim. Escuta, será melhor que te cuide. O Fore-lesser está furioso e te procurando.

O se apoiou contra a carroceria fria do Taurus. Inferno sagrado. Não tinha tempo para isto. Sua esposa estava em algum lugar, separada dele, viva ou morta, e sem importar em que estado se encontrasse, precisava ter ela de volta. Logo, tinha que ir atrás desse Irmão com a cicatriz que a tinha seqüestrado e pôr a esse feio bastardo em baixo da terra. Cruelmente.

— O? Está aí?

Maldito seja… Talvez devesse ter feito que parecesse que tinha morrido na explosão. Poderia ter deixado o caminhão no lugar para desaparecer caminhando através do bosque. Sim, mas e depois, o que? Não tinha dinheiro, nem transporte, nem reforços contra a Irmandade enquanto ia atrás do da cicatriz. Seria um ASHI[12] lesser, o que significava que se alguém se desse conta de seu ato de desaparecimento, toda a Sociedade o caçaria como a um cão.

— O?

— Honestamente não sei o que aconteceu. Quando cheguei ali, tudo era pó.

— O senhor X pensa que incendiou o lugar.

— Claro que pensa. Assumir isso é conveniente para ele, embora se o pensa não tenho motivos. Chamarei você depois.

Fechou o celular e o guardou na jaqueta. Logo, voltou a tirá-lo e o desligou.

Enquanto esfregava o rosto, não podia sentir nada, e não era por causa do frio.

Homem, estava na merda até as sobrancelhas. O senhor X precisava culpar alguém por essa pilha de cinzas, e O ia ser essa pessoa. Se não o matassem no ato, o castigo imaginado para ele seria muito severo. Deus sabia que a última vez que lhe tinham dado uma reprimenda, o Ômega quase o tinha matado. Maldito fosse… Quais eram suas opções?

Quando a solução lhe chegou, estremeceu. Mas, o tático nele se regozijou.

O primeiro passo era ter acesso aos pergaminhos da Sociedade antes que o senhor X o encontrasse. Isso significava que precisava de uma conexão com a Internet. O que queria dizer que ia voltar onde estava U.

 

John deixou o escritório de Wrath e caminhou pelo corredor para a esquerda, mantendo-se perto de Tohr. Havia portas mais ou menos a cada nove metros, dispostas na parede contrária ao balcão, como se fosse um hotel. Quantas pessoas viviam ali?

Tohr se deteve e bateu em uma das portas. Como não obteve resposta, voltou a bater e disse:

— Phury, cara, tem um segundo?

— Estava me procurando? — chegou uma profunda voz por trás deles.

Um homem com um montão de bonito cabelo vinha caminhando pelo corredor. Aquilo em sua cabeça era de todas as cores diferentes, caindo sobre as costas em ondas. Sorriu a John, logo olhou a Tohr.

— Oi, irmão. — disse Tohr. Logo ambos mudaram, falando no Idioma Antigo enquanto o homem abria a porta.

John olhou dentro do dormitório. Havia uma enorme e antiga cama com dossel, com travesseiros alinhados contra a cabeceira esculpida. Montões de elegantes coisas decorativas. O lugar cheirava a Starbucks.

O homem do cabelo voltou a falar em português e o olhou com um sorriso.

— John, sou Phury. Acredito que ambos iremos ver o médico esta noite.

Tohr pôs a mão sobre o ombro de John.

— Então, vejo você depois, certo? Tem o número de meu celular. Envie-me uma mensagem de texto se necessitar de algo.

John assentiu e olhou como Tohr saía do quarto a pernadas. Ver afastar-se esses amplos ombros o fez sentir muito sozinho.

Ao menos, até que Phury disse calidamente:

— Não se preocupe. Nunca está muito longe, e cuidarei de você muito bem.

John olhou para cima, a esses quentes olhos amarelos. Uau… As coisas eram da cor dos pintassilgos. Quando se deu conta de que estava relaxando, reconheceu o nome. Este Phury era o homem que seria um dos seus professores.

— Bom. — pensou John.

— Entre. Acabo de chegar, após dar um pequeno recado.

Ao cruzar a porta, o fumegante aroma de café se fez mais forte.

— Alguma vez fosse ver o Havers?

John negou com a cabeça e descobriu uma poltrona contra uma janela. Foi para lá e se sentou.

— Bom, não tem nada com o que se preocupar. Asseguraremo-nos de que lhe tratem bem. Assim, suponho, que colheram uma amostra de sangue?

John assentiu. Tohr lhe havia dito que iriam lhe tirar sangue para fazer um exame físico. Provavelmente ambas as coisas fossem boa idéia, dada a paralisia, a queda e o tremor que tinha sofrido no escritório de Wrath.

Tirou seu bloco de papel e escreveu:

— Por que você vai ao médico?

Phury se aproximou e olhou o que estava escrevendo. Com um ágil giro de seu grande corpo, apoiou uma enorme bota de vaqueiro na borda da poltrona. John se afastou um pouco enquanto o homem arregaçava as calças de couro.

Oh, meu Deus… A parte inferior de sua perna era feita de varinhas e parafusos.

John estendeu a mão para tocar o reluzente metal, e olhou para cima. Não tinha dado conta de que tocava sua garganta até que Phury sorriu.

— Sim, sei tudo a respeito do que significa perder uma parte da gente.

John olhou de volta ao membro artificial e sacudiu a cabeça.

— Como aconteceu? — quando John assentiu, Phury duvidou e logo disse — Arranquei-me isso com um tiro.

A porta se abriu de repente e a dura voz de um macho alagou o quarto.

— Preciso saber…

John voltou o olhar enquanto as palavras morriam. Logo se encolheu novamente na poltrona.

O homem que estava na entrada tinha uma cicatriz, o rosto desfigurado por um corte que a atravessava pela metade. Mas não foi isso o que fez que John quisesse encolher-se fora da vista. Os olhos negros nesse rosto arruinado eram como sombras de uma casa abandonada, cheia de coisas que provavelmente lhe machucariam.

E, para arrematar, o homem tinha sangue fresco sobre a perna da calça e sobre a bota esquerda.

Esse olhar cruel se estreitou e olhou diretamente no rosto de John como uma rajada de ar gelado.

— O que está olhando?

Phury baixou a perna.

— Z…

— Fiz uma pergunta a você, menino.

John rabiscou no bloco de papel. Escreveu rápido e entregou apressadamente a folha ao outro homem, mas de alguma forma isto só piorou a situação.

O disforme lábio superior se levantou, revelando imponentes presas.

— Vá à merda, guri.

— Pare já, Z. — interrompeu Phury — É mudo. Não pode falar. — Phury inclinou o bloco de papel para ele — Está se desculpando.

John resistiu ao impulso de se esconder atrás da poltrona quando ficou exposto à vista. Mas, então a agressividade que irradiava do homem se suavizou.

— Não pode falar nada?

John sacudiu a cabeça.

— Bom, eu não sei ler. Assim estamos BJ[13] você e eu.

John moveu rapidamente sua Bic. Enquanto estendia o bloco de papel a Phury, o macho de olhar negro franziu o cenho.

— O que o guri escreveu?

— Diz que está bem. Que é bom escutando. Que você pode levar toda a conversa.

Esses olhos sem alma se afastaram.

— Não tenho nada pra dizer. Agora, como merda regulou o termostato?

— Ah, vinte e um graus. — Phury foi para o outro lado do quarto — O indicador deve marcar aqui. Vê?

— Não o girei o suficiente.

— E, deve te assegurar que o interruptor de baixo esteja na extrema direita. De outra forma, não importa onde esteja marcando o indicador, não esquentará.

— Sim... Obrigada. E, pode ler para mim o que colocou aqui?

Phury olhou o pedaço de papel.

— É a informação para a dose da injeção.

— Não enche. E, que faço?

— Está intranqüila?

— Agora, não, mas quero que leia isto para mim e diga o que devo fazer. Preciso ter uma dose preparada caso Havers não possa vir depressa.

Phury tomou o frasco e desembrulhou a agulha.

— Certo.

— Fez certo. — quando Phury terminou com a seringa, voltou-a a tampar e logo ficaram a falar no Idioma Antigo. Logo o cara horripilante perguntou — Quanto tempo estará ausente?

— Talvez uma hora.

— Então, primeiro me faça um favor. Desfaça-se desse sedã no qual a trouxe.

— Já o fiz.

O homem da cicatriz assentiu e deixou o quarto, fechando a porta.

Phury colocou as mãos sobre os quadris e olhou o chão.

Logo foi para uma caixa de mogno que havia sobre a escrivaninha e tirou o que parecia um cigarro. Sustentando o cigarro enganchado na mão entre o polegar e o indicador, acendeu-o aspirando profundamente, mantendo a fumaça em seus pulmões por um momento para logo exalar lentamente, fechando os olhos. Quando exalou, a fumaça cheirava como uma combinação de grãos de café torrado e chocolate quente. Delicioso.

Quando os músculos de John relaxaram, perguntou-se do que era feita essa coisa. Estava seguro de que não era maconha. Mas, não era um cigarro comum.

— Quem é ele? — escreveu John, e lhe mostrou o bloco de papel.

— Zsadist. Meu gêmeo. — Phury começou a rir brevemente quando o queixo de John afrouxou — Sim, sei, não nos parecemos muito. Ao menos, não agora. Escute, é um pouco sensível, assim provavelmente queira lhe dar um pouco de espaço.

Não fode, pensou John.

Phury colocou uma cartucheira e pôs uma pistola em um dos lados e uma adaga negra no outro. Foi para um armário e voltou usando um jaquetão de couro negro.

Pôs o cigarro ou o que fora em um cinzeiro de prata próximo à cama.

— Bom, vamos.

 

Zsadist entrou silenciosamente em seu quarto. Depois de fixar o termostato e colocar a seringa sobre a mesa, aproximou-se da cama e se apoiou contra a parede, ficando nas sombras. Ficou suspenso no tempo enquanto se inclinava sobre Bela e apreciou a leve ascensão e descida das mantas que marcavam sua respiração. Podia sentir os minutos se transformando em horas, e mesmo assim não pôde mover-se, mesmo quando suas pernas se intumesceram.

À luz da vela viu sua pele curar-se frente a seus olhos. Era milagroso, os machucados desvanecendo-se do rosto, o inchaço ao redor dos olhos e os cortes desaparecendo. Graças ao profundo sono em que se achava, seu corpo estava eliminando os danos, e quando sua beleza foi revelada de novo, esteve condenadamente agradecido. Nas altas esferas em que ela se movia, evitariam a uma fêmea com imperfeições de qualquer classe. Os aristocratas eram assim.

Imaginou o rosto bonito e sem cicatrizes de seu gêmeo e soube que Phury deveria ser quem cuidasse dela. Phury era um perfeito herói, e era óbvio que ela gostava. Além disso, ela gostaria de despertar ao lado de um macho assim. Qualquer fêmea gostaria.

Então, por que, demônios, não a agarrava e a colocava na cama de Phury? Agora mesmo.

Mas, não podia mover-se. E, enquanto a olhava agora que estava sobre os travesseiros que ele nunca tinha usado, entre lençóis que nunca tinha levantado para ele, recordou o passado…

Tinham passado meses desde que o escravo tinha despertado pela primeira vez em seu cativeiro. Neste tempo não havia nada que não lhe tivesse feito, nele ou sobre ele, e havia um ritmo previsível no abuso.

A Mistress estava fascinada por suas partes privadas e sentia a necessidade de mostrá-las a outros machos que ela favorecia. Trazia esses forasteiros à cela, tirava o bálsamo, e o mostrava como um cavalo premiado. Ele sabia que era para manter os outros inseguros, já que podia ver o prazer em seus olhos quando os machos sacudiam suas cabeças com assombro.

Quando as inevitáveis violações começaram, o escravo fez todo o possível para sair de sua pele e ossos. Era muito mais suportável quando podia elevar-se no ar, e subia mais alto e mais alto até que ricocheteava ao chegar ao teto, uma nuvem dele mesmo. Se tivesse sorte, podia transformar-se completamente e só flutuar, lhes vendo de acima, recreando-se sendo a testemunha da humilhação, dor e degradação de alguém mais. Mas, nem sempre funcionava. Às vezes, não podia liberar-se, e era forçado a suportá-lo.

A Mistress sempre teve que usar o bálsamo sobre ele, e ultimamente tinha notado algo estranho: inclusive quando estava preso em seu corpo e tudo o que lhe faziam era intenso, mesmo que os sons e os aromas se aninhassem como ratos em seu cérebro, havia um deslocamento curioso debaixo de sua cintura. O que fosse que sentisse ali embaixo era registrado como um eco, como algo separado do resto dele. Era estranho, mas estava agradecido. Qualquer classe de intumescimento era bom.

Sempre que o deixavam só, trabalhava para aprender a controlar os enormes músculos e ossos de depois da transição. Ele o obteve, e tinha atacado aos guardas várias vezes, totalmente persistente em seus atos de agressão. Na verdade, já não sabia se conhecia aqueles machos que o vigiavam, os que sentiam tanta repugnância pela sua tarefa: seus rostos lhe eram familiares como figuras de sonho, só restos nebulosos de uma vida desgraçada da que deveria ter desfrutado mais.

Cada vez que o tinha feito, tinha sido golpeado durante horas, embora só sobre as palmas das mãos e as plantas dos pés, porque a Mistress gostava que se mantivesse agradável à vista. Como conseqüência de sua agressividade, agora era vigiado por um grupo rotatório de guerreiros, todos usavam cota de malha se por acaso entrasse em sua cela. Além disso, a plataforma do leito agora tinha algemas embutidas que podiam ser abertas pelo lado de fora, de modo que depois que tivesse sido usado, os guardas não tinham que pôr suas vidas em perigo ao soltá-lo. E, quando a Mistress queria vir, era drogado até a submissão fosse por seu alimento ou por dardos que lhe disparavam por uma fissura na porta.

Os dias passavam devagar. Estava concentrado em encontrar a debilidade nos guardas e em afastar-se tanto como pudesse da depravação… Quando, na realidade, já estava morto. E, tão morto que inclusive quando estivesse longe da Mistress, em realidade nunca estaria vivo outra vez.

O escravo comia na cela, tratando de conservar as forças para o seguinte enfrentamento com os guardas, quando viu que o painel se abria e um tubo oco aparecia. Saltou, embora não houvesse onde esconder-se, sentiu a primeira picada no pescoço. Tirou o dardo tão rápido como pôde, mas foi atingido por outro e logo outro até que seu corpo ficou pesado.

Despertou sobre o leito, com os grilhões postos.

A Mistress estava sentada diretamente a seu lado, a cabeça baixa, o cabelo lhe cobrindo o rosto. Como se soubesse que estava consciente, pousou seu olhar no dele.

— Ficarei noiva.

Ah, doce Virgem do Fade, as palavras que tinha desejado escutar. Seria livre agora, já que ela não necessitaria a nenhum escravo de sangue se tinha um hellren. Poderia voltar para seus deveres na cozinha… O escravo se obrigou a dirigir-se a ela com respeito, embora para ele fosse uma fêmea indigna.

— Mistress, me deixará ir?

Só houve silêncio.

— Por favor, deixe-me ir. — disse ele grosseiramente. Considerando tudo pelo que tinha passado, deixar seu orgulho de lado pela possibilidade de ser livre era um sacrifício fácil.

— Rogo, Mistress, me libere deste confinamento. — quando ela o olhou, havia lágrimas em seus olhos.

— Averiguo que não posso… Tenho que te manter. Devo te manter.

Ele começou a lutar, e quanto mais forte lutava contra as ataduras, mais crescia o olhar de amor sobre seu rosto.

— É tão magnífico. — disse, baixando as mãos para tocá-lo entre as pernas. Seu rosto era… Melancólico, quase de adoração — Nunca vi um macho como você. Se não estivesse tão abaixo de mim… Mostraria sua face em minha corte como meu consorte.

Viu seu braço mover-se devagar acima e abaixo e soube que devia estar trabalhando essa corda de carne que tanto a interessava. Felizmente, não podia senti-lo.

— Deixe ir…

— Nunca te endurece sem o bálsamo. — murmurou com voz triste — E, nunca encontra a liberação. Por quê?

Acariciou-lhe com mais força até que sentiu que lhe queimava abaixo onde ela o tocava. Havia frustração em seus olhos, obscurecendo-os.

— Por quê? Por que não me quer? — quando ficou em silencioso, ela deu um puxão em sua parte masculina — Sou bonita.

— Só para os outros. — disse antes de poder deter as palavras.

Seu fôlego se deteve, como se a tivesse afogado com suas próprias mãos. Então, seus olhos se deslizaram sobre seu estômago e do peito ao rosto. Ainda estavam brilhantes com lágrimas, mas a raiva também os enchia.

A Mistress levantou da cama e o olhou. Então, lhe esbofeteou com a mão tão forte que devia ter machucado a palma. Enquanto cuspia sangue, perguntou-se se um de seus dentes não iria junto.

Enquanto seus olhos lhe perfuravam, esteve seguro de que faria com que o matassem, e a calma se apoderou dele. Ao menos o sofrimento terminaria então. A morte… A morte seria gloriosa.

Bruscamente lhe sorriu, como se conhecesse seus pensamentos, como se tivesse esticado a mão e os tivesse tirado dele, como se os tivesse roubado tal como tinha roubado seu corpo.

— Não, não te enviarei ao Fade.

Inclinou-se e beijou um de seus mamilos, logo o sugou em sua boca. Sua mão foi à deriva sobre suas costelas, logo a seu ventre.

Sua língua revoou sobre sua carne.

— Está esgotado. Tem que te alimentar, verdade?

Desceu por seu corpo, beijando e chupando. E, logo, rapidamente, ocorreu. O bálsamo. Ela colocando-se sobre ele. Aquela horrível união de seus corpos.

Quando fechou os olhos e girou a cabeça, ela o golpeou com a mão uma vez… Duas vezes… Muitas vezes mais. Mas, se recusou a olhá-la, e ela não era forte o bastante para girar seu rosto, inclusive quando lhe agarrou por uma das orelhas.

Enquanto se negava a olhá-la, o gemido cresceu, tão ruidoso como o som de sua carne contra seus quadris. Quando terminou, foi-se em um redemoinho de seda, e não muito tempo depois disso foi liberado das algemas.

O escravo se levantou sobre o antebraço e limpou sua boca. Olhando o sangue em sua mão, surpreendeu-lhe que continuasse sendo vermelho. Sentia-se tão sujo, que não estranharia que fosse algum tipo de marrom ferrugento.

Desceu da cama, ainda enjoado pelos dardos, e encontrou a esquina a qual sempre ia. Sentou-se com as costas para a junção das paredes e encolheu as pernas para cima, contra o peito, de modo que os tornozelos estivessem apertados contra suas partes masculinas.

Algum tempo depois, escutou uma luta fora de sua cela, e logo os guardas empurraram a uma fêmea pequena para dentro. Ela caiu em um montão, mas se lançou à porta quando esta se fechou.

— Por quê? — gritou ela — Por que me castigam?

O escravo se levantou, sem saber o que fazer. Não tinha visto uma fêmea com exceção da Mistress desde que tinha despertado no cativeiro. Esta era uma criada ou algo assim. Recordou-a de antes…

A fome de sangue despertou nele quando captou seu aroma. Depois de tudo o que a Mistress lhe tinha feito, não podia vê-la como alguém de quem beber, mas esta fêmea diminuta era diferente. De repente, estava morto de sede, as necessidades de seu corpo emergindo como um coro de gritos e demandas. Deu uns poucos passos cambaleantes para a criada, sentindo só o instinto.

A fêmea golpeou a porta, mas então pareceu notar que não estava sozinha. Quando se voltou e viu com quem a tinham encerrado, gritou.

O escravo quase foi superado por seu impulso de beber, mas se forçou a ir para longe dela e voltou de novo para onde tinha estado. Agachou-se, envolvendo os braços ao redor de seu trêmulo corpo nu para mantê-lo no lugar. Voltando o rosto para a parede, tentou respirar… E, se encontrou a beira do pranto pelo animal ao que o tinham reduzido.

Um pouco depois, a mulher deixou de gritar, e depois de mais um tempo ainda, disse:

— É você, verdade? O moço da cozinha, que levava a cerveja.

Assentiu com a cabeça, sem olhá-la.

— Tinha ouvido rumores de que haviam lhe trazido aqui, mas eu… Acreditei quando disseram que tinha morrido durante sua transição. — houve uma pausa — É muito grande. Como um guerreiro. Por quê?

Ele não tinha nem idéia. Nem sequer sabia que aspecto tinha, pois não havia espelho na cela.

A fêmea se aproximou cautelosamente. Quando a olhou, ela estava olhando suas listras tatuadas.

— Na verdade, o que lhe fazem aqui? — sussurrou ela — Dizem que… Coisas terríveis são feitas ao varão que mora neste lugar.

Quando não disse nada, ela se sentou a seu lado e lhe tocou brandamente o braço. Ele estremeceu com o contato e então se deu conta que o acalmava.

— Estou aqui para te alimentar, não é assim? Essa é a razão pela qual me trouxeram. —depois de um momento lhe separou a mão ao redor de sua perna e lhe pôs seu pulso na palma.

— Deve beber. — então ele chorou, chorou por sua generosidade, por sua amabilidade, pela sensação de sua mão tenra enquanto esfregava seu ombro… O único toque ao qual tinha dado boas-vindas em… Sempre. Finalmente lhe apertou o pulso contra sua boca.

Embora suas presas saíssem e ele a desejou, não fez nada, só beijar sua tenra pele e rechaçá-la. Como poderia tirar dela o que era tomado regularmente dele? Ela o oferecia, mas a estavam forçando a fazê-lo, prisioneira da Mistress justo como ele era.

Os guardas entraram mais tarde. Quando a encontraram embalando-o, surpreenderam-se, mas não foram duros com ela. Enquanto se iam, olharam ao escravo, com preocupação em seus rostos.

Momentos mais tarde, os dardos vieram a ele, tantos pela porta que era como se o houvessem coberto com cimento. Enquanto se deslizava para a inconsciência, pensou vagamente que a natureza frenética do ataque não era de bom agouro.

Quando despertou, a Mistress estava de pé sobre ele, furiosa. Havia algo em sua mão, mas não podia ver o que era.

— Pensa que é muito bom para os presentes que te dou?

A porta se abriu e o corpo brando da jovem fêmea foi jogado. Enquanto os guardas saíam, caiu pesadamente ao chão como um trapo. Morta.

O escravo gritou em sua fúria, o rugido ricocheteando nas paredes de pedra da cela, como um trovão amplificado. Puxou a corrente de aço até que o corte lhe chegou ao osso, até que um dos postes se rachou com um ruído… E, ainda gritava.

Os guardas se afastaram. Inclusive a Mistress pareceu insegura da fúria que tinha desatado. Mas, como sempre, não passou muito tempo antes que tomasse o comando.

— Deixem. — gritou aos guardas.

Esperou até que o escravo se esgotou. Então, se inclinou para ele, só para ficar pálida.

— Seus olhos. — sussurrou olhando-o — Seus olhos…

Por um momento, pareceu assustada com ele, mas então se cobriu com uma capa de majestoso autodomínio.

— As fêmeas que te ofereço? Beberá delas. — jogou uma olhada ao corpo sem vida da criada — E, é melhor que não deixe que lhe consolem, ou farei isto outra vez. É meu e de ninguém mais.

— Não beberei. — gritou — Nunca!

Deu um passo atrás.

— Não seja ridículo, escravo.

Ele mostrou suas presas e vaiou.

— Olhe-me, Mistress. Observe como me enfraqueço!

Gritou a última palavra, sua retumbante voz enchendo o quarto. Enquanto ela estava rígida de fúria, a porta voou aberta e os guardas entraram com as espadas para fora.

— Deixem-nos. — grunhiu, a face vermelha, o corpo tremendo.

Levantou a mão e havia uma vara nela. Com uma sacudida brusca do braço, golpeou com a arma que cruzou o peito do escravo. Sua carne se rasgou e sangrou, e ele riu dela.

— Outra vez. — gritou — Faz outra vez. Não senti, é tão débil!

Algum grilhão se arrebentou em seu interior, e as palavras não paravam… Insultou-a enquanto o açoitava até que a plataforma do leito fluía com o que tinha estado em suas veias. Quando finalmente não pôde levantar mais o braço, ofegava e estava salpicada de sangue e suor. Ele estava concentrado, gelado, tranqüilo, a pesar da dor. Embora fosse ele quem tinha sido golpeado, ela era a que tinha se quebrado primeiro.

Sua cabeça caiu para baixo, como em submissão, enquanto arrastava o fôlego por seus lábios brancos.

— Guarda. — chamou com voz rouca — Guarda!

A porta se abriu. O macho uniformizado que entrou vacilou quando viu o que tinha sido feito, o soldado empalideceu e oscilou em suas botas.

— Sustente a cabeça dele. — a voz da Mistress era aguda enquanto deixava a vara cair — Disse que sustentasse sua cabeça. Agora.

O guarda tropeçou, apressando-se sobre o chão escorregadio. Então, o escravo sentiu uma palma carnuda em sua testa.

A Mistress se inclinou sobre o corpo do escravo, ainda respirando com força.

— Não te… Permito… Morrer.

Sua mão encontrou sua carne masculina e logo passou aos pesos gêmeos abaixo. Apertou e retorceu, fazendo com que seu corpo inteiro tivesse espasmos. Enquanto ele gritava, ela mordeu seu pulso e o sustentou sobre sua boca aberta, e sangrou.

 

Z se afastou da cama. Não queria pensar na Mistress na presença de Bela… Como se todo aquele mal pudesse escapar de sua mente e colocá-la em perigo enquanto dormia e se curava.

Aproximou-se da plataforma e compreendeu que estava curiosamente cansado. Esgotado, na realidade.

Enquanto se esticava no chão, sua perna palpitou malditamente.

Deus, tinha esquecido que tinha levado um tiro. Tirou as botas de combate, as calças e acendeu uma vela ao lado para iluminar. Levantando e girando a perna, inspecionou a ferida sobre sua panturrilha. Havia um buraco de entrada e outro de saída, assim sabia que a bala tinha transfixado. Viveria.

Apagou a vela com um sopro, cobriu os quadris com as calças, e deitou. Abrindo-se à dor de seu corpo, converteu-se em um recipiente para a agonia, recolhendo todos os matizes de suas dores e ardências.

Ouviu um barulho estranho, como um pequeno grito. O som se repetiu, e logo Bela começou a lutar sobre a cama, os lençóis rangendo como se estivesse sacudindo-se.

Levantou do chão e se aproximou, justo quando ela inclinou a cabeça para ele e abriu os olhos.

Piscou, olhou-o… E, gritou.

 

— Quer comer algo, amigo?

Disse Phury a John enquanto caminhavam para a mansão. O menino parecia cansado, mas qualquer um estaria. Ser pinçado e cravado era duro. Ele mesmo se sentia um trapo.

Quando John sacudiu a cabeça e a porta do vestíbulo se fechou, Tohr vinha descendo a escada apressado, com aspecto de um pai nervoso. Apesar de Phury ter ligado e lhe dado um relatório a caminho de casa.

A visita a Havers tinha ido bem. A pesar do ataque, John estava saudável, e os resultados dos exames de linhagem estariam disponíveis logo. Com sorte, encontrariam alguma coincidência com seus ancestrais, e isto ajudaria John a encontrar sua família. Assim não havia nenhum motivo de preocupação.

De todos os modos, Tohr pôs o braço ao redor dos ombros do moço e o menino relaxou. Uma espécie de comunicação olho a olho ocorreu, e o irmão disse:

— Acredito que te levarei para casa.

John assentiu e fez alguns gestos. Tohr levantou os olhos.

— Diz que se esqueceu de perguntar como está sua perna.

Phury levantou o joelho e tocou a panturrilha.

— Melhor, obrigado. Cuide-se, John, certo?

Observou como os dois desapareciam pela porta sob a escada.

Que bom menino, pensou, e graças a Deus que o tinham encontrado antes de sua transição.

Um grito feminino rasgou o vestíbulo, como se o som estivesse vivo e tivesse caído martelando o balcão.

A coluna vertebral de Phury congelou. Bela.

Precipitou-se ao segundo andar e correu pelo corredor de estátuas. Quando abriu a porta de Zsadist, a luz espalhou-se pelo quarto e ele gravou a cena em sua memória imediatamente: Bela sobre a cama, encolhida contra a cabeceira, o lençol apertado contra a sua garganta. Z agachado diante dela, as mãos levantadas, nu da cintura para abaixo.

Phury perdeu o controle e se lançou para Zsadist, agarrando seu gêmeo pela garganta e jogando-o contra a parede.

— O que acontece com você? — gritou enquanto batia Z contra a parede — Maldito animal! — Z não se defendeu quando o golpeou outra vez.

— Saia. Saia daqui. — foi tudo que disse.

Rhage e Wrath irromperam no quarto. Ambos começaram a falar, mas Phury não podia ouvir nada exceto o rugido em seus ouvidos. Nunca tinha odiado Z antes. Tinha sido tolerante a tudo devido ao que ele tinha passado. Mas ir atrás de Bela…

— Maldito doente. — gritou Phury. Empurrando aquele duro corpo à parede uma vez mais — Maldito doente… Deus, repugna-me.

Z simplesmente o olhava, seus olhos negros como o asfalto, opacos e sem vida.

De repente os enormes braços de Rhage os prenderam como uma armadilha, unindo-os em um esmagante abraço de urso. Em um sussurro, o irmão disse:

— Bela não precisa disto agora, rapazes.

Phury diminuiu seu aperto e recobrou-se. Ajeitando o casaco em seu lugar, disse bruscamente:

— Tirem ele daqui até que a removamos.

Deus, tremia tanto que quase hiperventilava. E, a ira não lhe abandonava, inclusive enquanto Z abandonava o quarto voluntariamente, com o Rhage em seus calcanhares.

Phury esclareceu garganta e olhou a Wrath.

— Meu senhor, permite-me atendê-la em privado?

— Sim, claro. — a voz de Wrath era um desagradável grunhido enquanto movia-se para porta — E, nos asseguraremos que Z não volte por um tempo.

Phury olhou Bela. Tremia enquanto piscava e limpava seus olhos. Quando se aproximou, ela se encolheu contra os travesseiros.

— Bela, sou eu, Phury.

Seu corpo relaxou um pouco.

— Phury?

— Sim, sou eu.

— Não posso ver. — sua voz tremia como o inferno — Não posso…

— Sei, é o remédio. Deixe pegar algo para limpá-lo.

Entrou no banheiro e voltou com um pano úmido, imaginando que precisava olhar a seu redor mais do que necessitava do ungüento.

Ela estremeceu quando ele a segurou pelo queixo.

— Tranqüila, Bela… — quando pôs o pano sobre seus olhos, debateu-se e logo o segurou.

— Não, não… Baixe suas mãos. Eu o tirarei.

— Phury? — disse com voz rouca — É você?

— Sim, sou eu. — sentou-se na borda da cama — Está no recinto da Irmandade. Trouxeram-lhe aqui faz aproximadamente sete horas. Sua família foi informada de que está a salvo, e quando desejar pode chamá-los.

Quando ela pôs sua mão no seu braço dele, ele congelou. Com um toque inseguro, apalpou desde seu ombro até o pescoço, logo tocou seu rosto e finalmente o cabelo. Sorriu um pouco quando sentiu as grosas ondas e então levou algumas a seu nariz. Respirou profundamente e pôs a outra mão em sua perna.

— Realmente é você. Lembro do aroma de seu xampu.

A proximidade e o contato faiscaram através da roupa e da pele de Phury, entrando diretamente em seu sangue. Sentia-se um bastardo por sentir algo sexual, mas não podia parar seu corpo. Especialmente, quando acariciou seu comprido cabelo até tocar seu peito.

Seus lábios se abriram, sua respiração tornou-se superficial. Desejou arrastá-la contra seu peito e sustentá-la apertada. Não pelo sexo, embora fosse verdade que seu corpo a desejava. Não, agora precisava sentir seu calor e assegurar-se de que estava viva.

— Deixe-me cuidar de seus olhos. — disse. Jesus, sua voz era profunda.

Quando ela assentiu, limpou cuidadosamente suas pálpebras.

— Como está?

Piscou. Sorriu um pouco e pôs a mão em seu rosto.

— Posso ver-te melhor agora. — mas então franziu o cenho — Como saí de lá? Não posso recordar nada, exceto... Deixei o outro civil fugir e David retornou. E, depois estava em um carro. Ou foi um sonho? Sonhei que Zsadist me salvava. Ele fez isso?

Phury não estava com vontade de falar de seu irmão, tangencialmente. Levantou-se e deixou o pano molhado na mesinha de cabeceira.

— Vamos, levarei você a seu quarto.

— Onde estou agora? — olhou ao redor, e então ficou boquiaberta — Este é o quarto de Zsadist.

Como infernos sabia?

— Vamos.

— Onde está? Onde está Zsadist? — a urgência se filtrava em sua voz — Preciso vê-lo. Necessito…

— Levarei você a seu quarto…

— Não! Quero ficar…

Estava tão agitada que decidiu não seguir tentando falar com ela. Retirou as cobertas para ajudá-la a levantar-se...

Droga, estava nua. Deu um puxão nas cobertas novamente e as pôs no lugar.

— Ah! Perdão... — levou uma mão ao cabelo. Oh, Deus... As graciosas linhas de seu corpo eram algo que nunca ia esquecer — Deixe-me... Um, deixe-me conseguir algo para você vestir.

Foi ao armário de Z e ficou atônito por quanto vazio estava. Não havia nem sequer um roupão para cobri-la, e maldito fosse se colocasse nela uma das camisas de luta de seu irmão. Tirou a jaqueta de couro e caminhou para ela outra vez.

— Virarei enquanto veste isto. Encontraremos um roupão para você…

— Não me leve para longe dele. — sua voz se quebrou ao lhe suplicar — Por favor. Deve ter sido ele quem estava parado ao lado da cama. Não sabia, não podia ver. Mas, devia ser ele.

Seguro como o inferno que era ele. E, o bastardo tinha estado nu como o pecado e preparado para saltar sobre ela. Em vista de tudo pelo que tinha passado, era uma vergonha. Homem... Há anos Phury tinha pego Z fazendo sexo em um beco com uma prostituta. Não tinha sido bonito, e a idéia de Bela passando por isso o pôs doente.

— Ponha a jaqueta. — Phury virou-se — Aqui, você não fica. — quando finalmente a ouviu mexer na roupa de cama e o ruído do couro, respirou profundamente — Está decente?

— Sim, mas não quero ir.

Olhou sobre seu ombro. Via-se diminuta na jaqueta que ele sempre vestia, seu comprido cabelo castanho caindo ao redor de seus ombros, as pontas frisadas como se os tivesse lavado e secaram sem ser escovados. Imaginou ela na banheira, com água limpa correndo sobre sua pele pálida.

E, então viu Zsadist surgindo ameaçador sobre ela, olhando-a com olhos negros sem alma, desejando transar com ela, provavelmente só porque estava assustava. Sim, seu medo seria o que lhe excitaria. Era bem sabido que o terror em uma fêmea lhe excitava mais que algo encantado ou quente ou digno.

Tire ela daqui, pensou Phury. Agora.

Sua voz ficou trêmula.

— Pode caminhar?

— Estou enjoada.

— Levarei você. — aproximou-se, incapaz de acreditar que ia pôr os braços ao redor de seu corpo. Mas, então já estava acontecendo... Deslizou a mão ao redor de sua cintura e chegou embaixo, pegando-a por trás dos joelhos. Notando apenas seu peso, seus músculos aceitando-o facilmente.

Enquanto caminhava à porta ela relaxou contra ele, pondo a cabeça em seu ombro, agarrando sua camisa com mão.

Oh... Doce Virgem. Isto era tão bom.

Phury a levou pelo corredor ao outro lado da casa, ao quarto contíguo ao seu.

 

John estava em piloto automático quando ele e Tohr deixaram as instalações de treinamento e caminharam através do estacionamento onde tinham deixado o Range Rover. Seus passos ecoavam no baixo teto de concreto, ricocheteando através do espaço vazio.

— Sei que tem que ir buscar o resultado. — disse Tohr quando chegavam ao SUV — Desta vez vou contigo, aconteça o que acontecer.

Na realidade, John desejava poder ir sozinho.

— Qual é o problema, filho? Está zangado porque não te levei esta noite? — John pôs a mão no braço de Tohr e sacudiu a cabeça vigorosamente.

— Bom, só queria estar seguro.

John olhou ao longe, desejando não ter ido nunca ao doutor. Ou pelo menos quando esteve ali, ter mantido a boca fechada. Infernos. Não deveria haver dito nenhuma palavra sobre o que tinha lhe acontecido no ano passado. O problema foi, que depois de todas as perguntas sobre sua saúde, tinha estado em modo “respostas”. Assim, quando o doutor tinha perguntado por sua história sexual, ele se referiu à coisa que aconteceu em janeiro. Pergunta. Resposta. Como todas as demais... Quase.

Por um momento se sentiu aliviado. Nunca tinha ido ao médico nem nada antes, e no fundo de sua mente sempre tinha estado preocupado a respeito do que talvez devesse ter feito. Imaginou que ao menos ao justificar-se conseguiria que lhe fizessem uma verificação completa e dessa forma acabar de uma vez por todas com o assunto do ataque. Em vez disso, o doutor tinha começado a falar a respeito de fazer uma terapia e da necessidade de falar sobre a experiência.

Como se desejasse revivê-la? Tinha passado meses tentando enterrar a maldita coisa, assim de maneira nenhuma desenterraria esse cadáver em decomposição. Havia custado muito enterrá-lo.

— Filho? O que aconteceu? — não iria ver nenhum terapeuta. Trauma do passado. Que se foda.

John tirou seu bloco e escreveu:

— Cansado.

— Certeza? — assentiu com a cabeça e olhou Tohr para que o homem pensasse que não mentia. Enquanto isso, encolhia-se por dentro. O que Thor pensaria se soubesse o que tinha acontecido? Os verdadeiros homens não permitiam que lhes fizessem isso sem importar que tipos de arma tivessem contra suas gargantas.

John escreveu:

— A próxima vez vou ao Haver sozinho, ok?

Tohr franziu o cenho.

— Ah... Isso não é muito inteligente, filho. Você precisa de um guardião.

— Então, deve ser outro. Você não. — John não podia olhar Tohr quando mostrou o papel. Houve um longo silêncio.

A voz de Tohr ficou muito baixa.

— OK. Isso... Ah, isso está muito bom. Possivelmente, Butch possa te levar.

John fechou os olhos e exalou. Quem quer que fosse este Butch lhe serviria.

Tohr arrancou o carro.

— Como queira, John.

John. Não filho.

Enquanto saíam, tudo o que ele podia pensar era, querido Deus, não deixe que Tohr descubra nunca, por favor.

 

Enquanto Bela desligava o telefone, rondou-lhe o pensamento de que o que estava ocorrendo no interior de seu peito era tão explosivo, que ia partir ela em pedacinhos a qualquer momento. Não havia maneira de que seus delicados ossos e sua frágil pele suportassem o tipo de emoção que estava sentindo.

Com desespero, olhou ao redor do quarto, vendo os indefinidos e imprecisos perfis de pinturas a óleo, móveis antigos e abajures feitos de vasos orientais e… Phury olhando-a de uma poltrona.

Recordou que igual a sua mãe, era uma dama. Assim, ao menos devia fingir que tinha algum autocontrole. Clareou a garganta.

— Obrigado por ficar aqui enquanto ligava a minha família.

— De nada.

— Minha mãe ficou... Muito aliviada por ouvir minha voz.

— Posso imaginar.

Bom, ao menos sua mãe havia dito palavras tranqüilizantes. Seu afeto havia sido tão suave e calmo como sempre. Deus… Ela era um lago de águas calmas. Inalterável ante os acontecimentos terrenos por mais cruéis que fossem. E, tudo pela sua devoção a Virgem Escriba. Para sua mãe, tudo ocorria por alguma razão... Inclusive, nada lhe parecia verdadeiramente importante.

— Minha mãe… Ficou muito aliviada. Ela… — Bela se deteve.

Já havia dito essas mesmas palavras, verdade?

— Mamãe ficou… Realmente ficou… Ficou aliviada.

Mas, teria ajudado se ao menos ela não tivesse sufocado seus sentimentos. Ou tivesse mostrado algo que não fosse a beata aceitação da espiritualidade ilustrada. Por Deus, a fêmea tinha enterrado a sua filha e tinha sido testemunha de sua ressurreição. Caberia pensar que mostrasse algum tipo de reação emocional. Em troca, foi como se tivessem se falado um dia antes, e nada das seis semanas passadas tivessem ocorrido.

Bela olhou para o telefone. Abraçando-se ao estômago.

Sem nenhuma advertência do que ia ocorrer, desmoronou-se. Os soluços saíram dela como espasmos: rápidos, duros, sacudindo-a com sua ferocidade.

A cama se inclinou e uns fortes braços a rodearam. Ela lutou contra a atração, pensando que um guerreiro não quereria lidar com tal torpe debilidade.

— Perdoe-me…

— Está bem, Bela. Apóie-te em mim.

Oh, demônios… Ela se deixou cair contra Phury, deslizando seus braços por sua magra cintura. Seu comprido e formoso cabelo lhe fez cócegas no nariz e cheirava tão bem que era maravilhoso tê-lo sob seu rosto. Enterrou-se nele, respirando profundamente.

Quando finalmente se acalmou, se sentiu mais leve, mas não era agradável. As furiosas emoções a atingiram em cheio, tinham-lhe dado curvas e peso. Agora, que sua pele não era mais que uma peneira, estava filtrando-se, convertendo-se em ar… Convertendo-se em nada.

Queria desaparecer.

Inalou e se separou do abraço de Phury. Piscando rapidamente, tentou enfocar o olhar, mas o atordoamento produzido pelo ungüento persistia. Deus, o que tinha feito aquele lesser? Tinha a sensação de que tinha sido mau...

Ela levantou as pálpebras.

— O que ele me fez?

Phury só sacudiu a cabeça.

— Foi tão ruim?

— Acabou. Está a salvo. Isso é tudo o que importa.

Não sinto nada disso sobre mim, pensou ela.

Mas, então Phury sorriu, seu olhar amarelo incrivelmente terno, um bálsamo que a tranqüilizou.

— Seria mais fácil se estivesse em sua casa? Porque se quiser, encontraremos uma maneira de te levar, embora o amanhecer esteja muito próximo.

Bela lembrou-se de sua mãe e não pôde imaginar-se na mesma casa que essa fêmea. Não precisamente agora. E, indo mais fundo na questão, havia Rehvenge. Se seu irmão a visse com qualquer tipo de ferida, ia ficar louco, e o último que ela precisava era que ficasse em pé de guerra contra os lessers. Queria que a violência terminasse. Por isso no que a ela concernia, David podia ir para o inferno neste mesmo momento, contudo não queria que ninguém a quem amava arriscasse sua vida por enviá-lo ali.

— Não, não quero ir para casa. Não até que esteja completamente curada. E, estou muito cansada… — sua voz foi debilitando-se enquanto olhava os travesseiros.

Depois de um momento, Phury se levantou.

— Estou na porta do lado, se me necessitar.

— Quer que te devolva o casaco?

— Oh, sim… Deixe-me ver se há um roupão aí. — ele desapareceu em um armário e voltou com um roupão de cetim negro pendurado no braço — Fritz abastece este quarto de convidados para homens, assim provavelmente é muito grande.

Ela agarrou o roupão e ele se virou. Quando encolheu os ombros para tirar o pesado casaco de pele o ar a esfriou, assim se envolveu rapidamente no roupão.

— Está bem. — disse ela, agradecida por sua discrição.

Quando Phury virou para ela, pôs-lhe o casaco nas mãos.

— Sempre estou te dando obrigado, não? – murmurou ela.

Ele a olhou durante um longo momento. Então, lentamente levantou seu casaco até o rosto e aspirou profundamente.

— É… — sua voz decaiu. Deixou escorregar o couro a um lado e uma curiosa expressão apareceu em seu rosto.

Realmente, não, isso não era uma expressão. Era uma máscara. Ele tinha se escondido.

— Phury?

— Estou contente de que esteja conosco. Tente dormir um pouco. E, se puder, come o que te trouxe. — a porta se fechou depois, sem fazer nenhum ruído.

 

A volta à casa de Tohr foi embaraçosa, e John passou o tempo olhando pela janela. O celular de Tohr tocou duas vezes. Ambas as conversas foram no Idioma Antigo, e o nome de Zsadist se mencionou várias vezes.

Quando viraram para o caminho da entrava, um carro desconhecido tinha estacionado. Um Volkswagen Jetta vermelho. Ainda assim, Tohr não pareceu surpreso e passou facilmente a seu lado e entrou na garagem.

Parou o motor do Range Rover e abriu a porta.

— Por certo, as aulas começam depois de amanhã.

John levantou os olhos enquanto desabotoava o cinto de segurança.

— Já? — gesticulou ele.

— Tivemos a última inscrição para treinamento esta noite. Estamos preparados para começar.

Os dois cruzaram a garagem em silêncio. Tohr ia à frente, seus largos ombros movendo-se com os longos passos que dava. A cabeça do homem ia baixa, como se estivesse contando buracos no chão de concreto.

John parou e assobiou.

Tohr diminuiu o passo e depois parou.

— Sim? — disse com tranqüilidade.

John pegou seu bloco de notas, escreveu algo rapidamente e o mostrou.

As sobrancelhas de Tohr baixaram enquanto lia.

— Não há nada pelo que estar arrependido. O que seja, contanto que fique cômodo.

John se adiantou e apertou o bíceps do homem. Tohr sacudiu a cabeça.

— Está tudo bem. Vamos, não quero que fique na friagem aqui fora. — o homem olhou quando John não se moveu — Ah, demônios… Só estou… Estou aqui por você. Isso é tudo.

John pôs a caneta sobre o papel.

— Não o duvidei nem por um momento. Nunca.

— Bom. Não deveria. Para mim, sinto como se fosse seu… — houve uma pausa enquanto Tohr passava o polegar de um lado a outro da testa — Olhe, não quero te perturbar. Vamos entrar.

Antes que John lhe pedisse que terminasse a frase, Tohr abriu a porta da casa. A voz de Wellsie chegou… Assim, como a de outra mulher. John franziu o cenho enquanto virava para a cozinha. E, então parou em seco enquanto uma mulher loira o olhava sobre seu ombro.

Oh… Uau!

Tinha o cabelo cortado à altura da mandíbula e seus olhos eram da cor das folhas novas. Aquele jeans de cintura baixa que vestia tinha o cós tão baixo na cintura… Deus, podia ver seu umbigo e quase uma polegada embaixo dele. E seu pulôver negro de gola virada era… Bom, posto assim podia dizer exatamente o quanto seu corpo era perfeito.

Wellsie sorriu.

— Meninos, chegam bem a tempo. John, esta é minha prima Sarelle. Sarelle, este é John.

— Olá, John. — a fêmea sorriu.

Presas. Oh, sim. Olhe essas presas… Algo passou como uma brisa quente por sua pele, deixando-o tremente dos pés à cabeça. Saindo de sua confusão, abriu a boca. Então pensou, uh-huh, bom. Como se algo fosse sair de seu buraco inútil.

Enquanto ruborizava como um demônio e se aproximava, levantou a mão em uma saudação.

— Sarelle está me ajudando com o festival de inverno, — disse Wellsie — e ficará para um lanche antes que amanheça. Por que não põem a mesa vocês dois?

Enquanto Sarelle sorria de novo, esse agradável formigamento se fez mais forte, sentiu-se como se fosse levitar.

— John? Quer ajudar a pôr a mesa? — sugeriu Wellsie.

Ele assentiu. E, tentou recordar onde estavam as facas e os garfos.

 

Os faróis de O oscilaram em frente da cabana do Senhor X. A pequena caminhonete do Fore-lesser estava estacionada à direita, junto à porta. O parou seu caminhão atrás do Town & Country, bloqueando-o.

Quando saiu e o ar frio entrou em seus pulmões, ficou consciente de que se encontrava na área. Apesar do que estava a ponto de fazer, suas emoções repousavam como suaves plumas em seu peito, tudo arrumado, nada fora do lugar. Seu corpo estava totalmente sereno, movendo-se com seu poder contido, uma pistola pronta para disparar.

Demorou um montão de tempo batalhando com os pergaminhos, mas tinha encontrado o que necessitava. Sabia o que tinha que fazer.

Abriu a porta da cabana, sem bater.

O Senhor X olhou da mesa da cozinha. Seu rosto estava impassível, sem franzir o cenho, sem brincadeira, sem agressão de nenhum tipo. Nem tampouco surpresa.

Assim, ambos estavam na área.

Sem uma palavra, o Fore-lesser levantou, levando uma mão as costas. O soube o que tinha ali, e sorriu enquanto desembainhava sua própria faca.

— Assim, Sr. O…

— Estou preparado para uma promoção.

— Perdão?

O girou a espada agarrando-a com as duas mãos, virou-a para ele mesmo, colocando sua ponta sobre o peito. Com um movimento, apunhalou seu próprio peito.

A última coisa que viu, antes que o grande inferno branco se agitasse jogando a merda nele, foi a surpresa no rosto do Senhor X. Surpresa que se converteu rapidamente em terror quando o homem se deu conta de onde O iria. E, o que O ia fazer quando estivesse ali.

 

Deitada na cama, Bela escutava os tranqüilizantes sons que a rodeavam: as vozes masculinas no hall, graves, rítmicas… O vento lá, fora golpeando a mansão, caprichoso, instável… O chiado da madeira do piso, rápido, estridente.

Forçou-se a fechar os olhos.

Um minuto depois, estava de pé andando, sentindo o suave tapete persa sob seus pés nus. Nem sequer a elegância a seu redor tinha sentido, e sentia que era incapaz de descrever o que estava vendo. A normalidade, a segurança em que se encontrava encharcada, parecia outro idioma, um que ela tinha esquecido de falar ou ler. Ou possivelmente fosse um sonho?

Na esquina do quarto o antigo relógio marcava cinco horas da manhã. Exatamente, há quanto tempo estava livre? Quanto tinha passado desde que A Irmandade tinha ido resgatá-la, tirando-a da terra e levando-a ao ar livre? Oito horas? Possivelmente, porém era como se fossem minutos. Ou possivelmente como se fossem anos?

A quantidade imprecisa do tempo parecia com sua visão, isolando-a, atemorizando-a.

Apertou mais o roupão de seda. Tudo isto estava mau. Deveria estar contente. Deus, sabia que depois de passar tantas semanas em um tubo enterrada com esse lesser vigiando-a, deveria estar chorando com doce alívio.

Em troca, sentia que tudo o que a rodeava era falso e irreal, como se estivesse em uma casa de bonecas de tamanho natural, cheia de falsificações de papel maché.

Parou frente à janela e se deu conta de que só havia uma coisa que parecia real. Ela desejava estar com ele.

Zsadist, devia ser ele quem havia ido ao lado de sua cama quando despertou a primeira vez. Tinha sonhando que estava de volta ao buraco negro com o lesser. Quando abriu os olhos, tudo o que viu foi uma grande forma negra parada sobre ela, e por um momento, não foi capaz de distinguir a realidade do pesadelo.

Ainda tinha o mesmo problema.

Deus, queria estar com Zsadist agora, queria voltar para seu quarto. Mas, em meio de todo o caos, depois que gritou, ele não tinha impedido que se afastasse, verdade? Possivelmente, preferia que estivesse em outro lugar.

Bela forçou seus pés a moverem-se de novo, traçou um pequeno caminho ao redor dos pés da gigantesca cama, em torno da cadeira, uma volta rápida pelas janelas, depois uma grande mudança de cenário para a cômoda a porta do hall e o antigo escritório. A casa se alongava até chegar à lareira e a estante dos livros.

Um passo mais. Um passo mais. Um passo mais.

Finalmente, foi ao banheiro. Não parou em frente ao espelho, não queria saber que aspecto tinha. O que procurava era água quente. Queria tomar centenas de duchas, um milhar de banhos. Queria tirar a tiras a primeira camada de sua pele e raspar o cabelo que aquele lesser tanto tinha amado, cortar as unhas e lixar as plantas dos pés.

Abriu a torneira da ducha. Quando a água estava morna tirou o roupão e entrou embaixo do chuveiro. No instante em que a corrente bateu em suas costas, cobriu-se por instinto, um braço sobre os seios, uma mão protegendo o vértice das coxas… Até que se deu conta de que não tinha que se esconder. Estava sozinha. Aqui, tinha privacidade.

Endireitou-se e se forçou a levar as mãos aos flancos, sentindo como se tivesse passado uma eternidade desde que lhe tinha permitido banhar-se sozinha. O lesser tinha estado sempre aí, olhando, ou pior, ajudando.

Graças a Deus, nunca tinha tentado ter relações sexuais com ela. Ao princípio, um de seus maiores temores era a violação. Tinha estado aterrorizada, estava segura de que a ia forçar, mas então descobriu que era impotente. Não importava quanto a olhasse, seu corpo sempre tinha permanecido flácido.

Com um estremecimento, pegou o sabonete que tinha ao lado, ensaboando suas mãos e as deslizando sobre os braços. Estendeu a espuma sobre o pescoço e através dos ombros e seguiu para baixo…

Bela franziu o cenho e se inclinou. Havia algo em seu ventre… Cicatrizes pálidas. Cicatrizes que… Oh! Deus. Era um D, verdade? E a seguinte… Era um A. Depois um V e um I e outro D.

Bela soltou o sabonete e cobriu o estômago com as mãos, deixando-o cair contra os ladrilhos. Tinha seu nome no corpo. Em sua pele. Como uma repugnante paródia do ritual matrimonial mais elevado de sua espécie. Realmente era sua mulher…

Saiu cambaleando da ducha, escorregando no chão de mármore, puxou uma toalha e se envolveu nela. Agarrou outra e fez o mesmo. Teria pego três, quatro... Cinco, se tivesse encontrado mais.

Trêmula, com náuseas, dirigiu-se ao embaçado espelho. Inspirando profundamente, limpou-o com os braços. E, se olhou.

 

John limpou a boca e de alguma forma conseguiu derrubar o guardanapo. Amaldiçoando-se, agachou-se para recolhê-lo… Sarelle também o fez, e o pegou primeiro. Vocalizou a palavra obrigada quando o alcançou.

— De nada. — disse ela.

Menino, amava sua voz. E, amava a forma que cheirava a loção corporal de lavanda. E, amava suas longas e magras mãos.

Mas, odiava comer. Wellsie e Tohr levavam a conversa por ele, dando a Sarelle uma versão resumida de sua vida. O pouco que ele tinha escrito em seu caderno de notas parecia uma coisa estúpida.

Quando voltou a levantar a cabeça, Wellsie estava sorrindo-lhe. Mas, então esclareceu a garganta, como se estivesse tentando jogar limpo.

— Assim, como ia dizendo, uns pares de mulheres da aristocracia estavam acostumadas a organizar a cerimônia do solstício de inverno no Antigo País. A mãe de Bela era uma delas, por certo. Quero falar com elas. Assegurar-me de que não esqueci nada.

John deixou transcorrer a conversa, sem prestar muita atenção, até que Sarelle disse:

— Bom, melhor ir. Faltam trinta e cinco minutos para que amanheça. Meus pais ficarão preocupados.

Afastou a cadeira, e John se levantou como todos outros. Enquanto se despediam, encontrou-se perdido no fundo. Ao menos, até que Sarelle o olhasse diretamente.

— Acompanha-me? — perguntou.

Deslocou os olhos para a porta. Acompanhá-la? A seu carro?

Em um ataque repentino, um cru instinto masculino brotou em seu peito, tão poderoso que o sacudiu um pouco. Subitamente, as palmas de suas mãos começaram a fazer cócegas, e as olhou, sentindo como se tivesse algo nelas, como se estivesse sustentando algo… Então, podia protegê-la.

Sarelle esclareceu garganta.

— Ok… Um…

John se deu conta de que estava esperando por ele e rompeu seu pequeno transe. Adiantando-se, indicou-lhe com a mão a porta da rua.

E, enquanto saíam lhe perguntou:

— Está ansioso para treinar?

John assentiu e notou que seus olhos vagavam pelos arredores, procurando entre as sombras. Sentiu como se esticava e como as palmas começavam a picar de novo. Não estava seguro do que procurava exatamente. Só sabia que tinha que mantê-la a salvo a qualquer preço.

Ela tirou as chaves da bolsa.

— Acredito que meu amigo vai estar em sua classe. Presumo que se matriculou esta noite. — abriu o carro — De toda forma, sabe por que estou aqui realmente, não?

Ele negou com a cabeça.

— Acredito que querem que te alimente de mim. Quando passar por sua transição.

John pigarreou pelo choque, estava seguro de que os olhos lhe tinham saído das órbitas e estavam rolando rua abaixo.

— Sinto. — sorriu — Deduzo que não lhe disseram isso.

Sim, ele teria lembrado dessa conversa.

— Parece-me legal. — disse ela — E, a você?

Oh. Meu Deus.

— John? — ela esclareceu a garganta — Dê sua opinião. Tem algo em que possa escrever?

Torpemente, negou com a cabeça. Tinha esquecido o bloco de papel em casa. Idiota.

— Dê-me sua mão. — quando ele a estendeu, tirou uma caneta de algum lugar e a deslizou sobre sua mão. A ponta deslizava brandamente pela sua pele — Este é o meu email. Estarei online em mais ou menos uma hora. Mande-me uma mensagem, ok? Falaremos.

Olhou o que ela tinha escrito. Só olhou.

Ela se encolheu um pouco.

— Quero dizer, não tem por que fazê-lo. Só que… Já sabe. Pensei que poderíamos ir nos conhecendo dessa forma. — deteve-se, como esperando uma resposta — Um… De qualquer forma. Não há pressa. Quero dizer...

Agarrou sua mão, tirou-lhe a caneta e escreveu em sua mão.

— Quero falar com você. — escreveu.

Então, ela olhou diretamente nos seus olhos e fez a coisa mais assombrosa.

Sorriu-lhe.

 

Enquanto amanhecia e as persianas se fechavam sobre as janelas, Bela ajustou o roupão negro e saiu do quarto que lhe tinham atribuído. Com um rápido olhar, examinou o corredor de ambos os lados. Sem testemunhas. Bom. Fechando a porta silenciosamente, deslizou sobre o tapete persa, sem fazer ruído. Quando chegou ao início da grande escada parou, tentando recordar que caminho tomar.

O corredor com estátuas, pensou, recordando outra excursão por aquele comprido corredor fazia muitas, muitas semanas.

Caminhou depressa para depois pôr-se a correr, agarrando as lapelas do roupão e mantendo as bordas fechadas à altura das coxas. Passou ao lado das estátuas e portas, até que chegou ao final e parou na frente do último par. Não se preocupou em recompor-se, porque ela não tinha concerto. Perdida, desmotivada, em perigo de desintegração— não havia nada que recompor. Bateu na porta com força.

Através desta escutou:

— Foda-se. Estou quebrado.

Girou o pomo e empurrou. A luz proveniente do corredor entrou inesperadamente, iluminando uma porção de escuridão. Quando o resplendor alcançou Zsadist, este se sentou em um colchonete de mantas no canto mais longínquo. Estava nu, os músculos flexionados marcando-se o sob a pele, os aros de seus mamilos brilharam prateados. O rosto, com aquela cicatriz, era um anúncio da categoria de tipos duros.

— Disse, foda-se... Bela? — cobriu o rosto com as mãos — Jesus Cristo. O que está fazendo?

Boa pergunta, pensou ela enquanto sua coragem diminuía.

— Posso… Posso ficar aqui, com você?

Ele franziu o cenho.

— O que está... Não, não pode.

Recolheu algo do chão e o sustentou em frente a suas coxas enquanto se levantava. Sem desculpar-se por olhá-lo fixamente, ela se embebedou com sua visão: as listras de escravo tatuadas sobre os pulsos e o pescoço, a argola em sua orelha esquerda, os olhos duros, cortantes, o cabelo raspado. Seu corpo era tão absolutamente enxuto como recordava, todo músculos esculpidos com veias salientes e puros ossos. O poder cru emanava dele como uma essência.

— Bela, vá embora daqui, ok? Este lugar não é para você.

Ela ignorou a ordem de seus olhos e sua voz porque, embora sua coragem tivesse desaparecido, o desespero lhe dava a força que necessitava.

Agora a voz não ia tremer.

— Quando me colocaram no carro, você estava ao volante não é certo? — ele não respondeu, mas tampouco necessitava que o fizesse — Sim, foi, foi você. Falou-me. Foi o único que foi me procurar, verdade?

Ele se ruborizou.

— A Irmandade te resgatou.

— Mas, você dirigiu para me tirar dali. E, me trouxe aqui primeiro. Ao seu quarto. —ela olhou a luxuosa cama. Os cobertores estavam jogados para trás, o travesseiro afundado no lugar onde tinha repousado sua cabeça — Deixe-me ficar.

— Olhe, precisa estar a salvo...

— Estou a salvo com você. Você me salvou. Não permita que esse lesser me pegue de novo.

— Ninguém pode te tocar aqui. Este lugar está cercado como o jardim do Pentágono.

— Por favor...

— Não. — rugiu ele — Agora, sai de uma vez daqui.

Ela começou a tremer.

— Não posso ficar sozinha. Por favor, me deixe ficar com você. Necessito… — necessitava a ele especialmente, mas não acreditava que ele aceitasse isso muito bem — Preciso estar com alguém.

— Então, Phury se aproxima mais ao que está procurando.

— Não, ele não. — ela queria ao homem que tinha em sua frente. Mesmo com toda sua crueldade, confiava nele por instinto.

Zsadist passou a mão pela cabeça umas quantas vezes. Então seu peito se alargou.

— Não faça isso. — sussurrou.

Quando amaldiçoou, ela suspirou com alívio, imaginando que era o mais próximo a um sim que ia conseguir.

— Tenho que vestir algo. — ele murmurou.

Bela deu um passo para entrar e fechou a porta, baixando o olhar só um momento. Quando o levantou de novo, ele tinha virado e estava subindo pelas coxas uma cueca preta de nylon.

As costas, marcadas por cicatrizes, flexionada enquanto se inclinava. Observando o desumano mapa, golpeou-lhe a necessidade de saber exatamente pelo que tinha passado. Tudo isso. Todas e cada uma das chicotadas. Tinha ouvido rumores sobre isso, mas queria sua versão.

Tinha sobrevivido ao que lhe tinham feito. Possivelmente ela também pudesse.

Ele virou-se.

— Comeu?

— Sim, Phury me trouxe comida.

Uma expressão fugaz lhe cruzou o rosto, mas foi tão rápida que não pôde lê-la.

— Dói-te algo?

— Não particularmente.

Ele se aproximou da cama e afofou os travesseiros. Então, permaneceu de pé a um lado, olhando ao chão.

— Deite.

Enquanto se aproximava, desejou rodeá-lo com seus braços, e ele se esticou, como se pudesse lhe ler a mente. Deus, sabia que não gostava que o tocassem, tinha aprendido da pior maneira. Mas de todas as formas queria aproximar-se dele.

Por favor, me olhe, pensou.

Quando estava aponto de pedir, notou que usava algo ao redor de seu pescoço.

— Meu colar. — sussurrou — Usa meu colar.

Esticou a mão, mas ele se inclinou para trás. Com um movimento rápido tirou a frágil corrente de ouro com seus pequenos diamantes e o depositou em sua mão.

— Aqui o tem. Devolvo-lhe.

Ela baixou o olhar. Diamantes puros. Da Tiffany. Tinha-os usado durante anos… Sua jóia favorita. Tinha sido uma parte dela, sempre se sentia nua se não os colocasse. Agora, os frágeis elos pareciam totalmente alheios a ela.

Estava quente, pensou, tocando um diamante. Esquentado por sua pele.

— Quero que fique com ele. — resmungou ela.

— Não.

— Mas...

— Chega de bate-papo. Deite na cama ou saia daqui.

Guardou o colar no bolso do roupão e o olhou. Seus olhos estavam fixos no chão, e quando respirava as argolas de seus mamilos capturavam a luz.

Olhe-me, pensou ela.

Como não o fez, deitou-se na cama. Quando ele se inclinou, moveu-se para lhe deixar um lugar, mas tudo o que ele fez foi cobri-la e então voltou para esquina, ao colchonete no chão.

Bela olhou o teto durante uns poucos minutos. Então, agarrou um travesseiro, saiu da cama e foi atrás dele.

— O que está fazendo? — sua voz se elevou. Alarmada.

Soltou o travesseiro e se deitou, no chão atrás de seu grande corpo. Seu aroma era agora muito mais forte, cheirando a folhas e destilando poder masculino. Procurando seu calor, aproximou-se pouco a pouco até que apoiou a testa na parte de trás de seu braço. Era tão sólido, como um muro de pedra, mas era quente, e o corpo dela relaxou. Perto dele, era capaz de sentir o peso de seus ossos, o duro chão embaixo ela, o ar do quarto que trazia o calor. Através de sua presença, conectou-se de novo ao mundo que a rodeava.

Mais. Mais perto.

Moveu-se até ficar grudada a seu lado, do peito até os pés.

Ele se moveu com uma sacudida, retrocedendo até ficar junto à parede.

— Desculpa. — murmurou, aproximando-se dele de novo — Necessito isto de você. Meu corpo precisa — de você — de algo quente.

Abruptamente, ele se levantou de um salto.

Oh, não. Ia enxotá-la…

— Vamos. — disse ele bruscamente — Vamos para cama. Não posso suportar a idéia de que esteja no chão.

 

Quem te disse que não se pode vender algo duas vezes, nunca conheceu o Ômega.

O virou-se sobre seu estômago e se apoiou nos débeis braços. O vômito era mais fácil assim. A gravidade ajudava.

Enquanto vomitava, recordou a primeira e pequena negociação que tinha feito com o pai de todos os lessers. Na noite da incorporação de O à Sociedade dos Lessers, tinha vendido sua alma, assim como o sangue e o coração, para converter-se em um imortal, aprovado e assassino apoiado.

E, agora tinha outro negócio. O Sr. X já não existia. O agora era o Fore-lesser.

Infelizmente, O também era a prostituta de Ômega agora.

Tentou levantar a cabeça. Quando conseguiu que a sala deixasse de dar voltas, estava muito cansado para preocupar-se com sentir mais náuseas. Ou possivelmente já não havia mais inconvenientes nesse departamento.

A câmara. Estava na câmara do senhor X. E, guiando-se pela luz, já tinha amanhecido. Enquanto piscava pelo débil brilho, olhou para baixo. Estava nu. Marcado com feridas. E, odiou o sabor que tinha na boca.

Ducha. Precisava de uma ducha.

O se arrastou no chão usando a cadeira que havia ao lado da mesa. Quando ficou em pé, as pernas lhe fizeram pensar em lavas vulcânicas por alguma estranha razão. Provavelmente porque sentia ambas como se fossem líquidas.

O joelho esquerdo dobrou-se e ele caiu na cadeira. Enquanto se abraçava, decidiu que o banho podia esperar.

Cara… O mundo era novo outra vez, verdade? E, ele tinha aprendido muitas coisas durante sua promoção. Antes de sua mudança de status, não sabia muito mais do Fore-lesser salvo que era o líder dos caçadores. De fato, o Ômega estava preso no outro extremo e necessitava um canal para fazer-se temporário. O lesser nº 1 era o guia que o Ômega utilizava para encontrar o caminho durante a travessia. Todos os Fore-lesser tinham que abrir o canal e converter-se no farol.

E, havia grandes benefícios em ser o lesser no comando. Benefícios que faziam com que a técnica de congelamento de corpos que o senhor. X estava acostumado a utilizar parecesse uma brincadeira de crianças.

Senhor X… Bom e velho sensei. O se pôs a rir. Apesar de sentir-se como uma merda esta manhã, o senhor X se sentia pior. Garantido.

As coisas tinham ido muito bem depois da rotina de espadas em seu peito. Quando O se jogou aos pés de Ômega, tinha apresentado sua solicitação para uma mudança de liderança. Insinuou que os alistados à Sociedade estavam diminuindo em número, especialmente os Alfas. A Irmandade estava ficando mais forte. O Rei Cego tinha subido ao trono. O senhor X não estava apresentando uma retaguarda forte.

E, tudo era verdade. Mas, nenhum deles aceitou a negociação.

Não, a aproximação tinha ocorrido por causa da atração de Ômega por O.

Na história da Sociedade, tinham existido alguns exemplos nos quais Ômega tinha tomado um interesse pessoal, caso se pudesse chamar assim, por um lesser específico. Não era a bênção que ninguém acreditava. O afeto de Ômega era intenso e de curta duração, e as separações eram horríveis, segundo os rumores. Mas, O estava disposto a mendigar, fingir e mentir para conseguir o que necessitava, e Ômega tinha pego o que lhe tinha dado.

Que horrível forma de matar um par de horas. Mas, valia à pena.

Perguntou-se prazerosamente o que estaria acontecendo agora ao senhor X. Quando O tinha sido libertado, o Ômega tinha ido para chamar o Sr. X ao lar dos outros caçadores e isso já devia ter acontecido. A formação de armas do Fore-lesser estava na mesa, seu telefone celular e o BlackBerry, também. E, havia uma marca de estrela chamuscada sobre a porta de entrada.

O olhou o relógio digital do outro lado da sala. Embora se sentisse muito mal, era hora de se mexer. Pegou o telefone do senhor X, digitou os números, e o levou a orelha.

— Sim, sensei? — respondeu U.

— Produziu-se uma mudança de líder. Quero que seja meu segundo no comando.

Silêncio. Então:

— Bendita merda. O que aconteceu ao senhor X?

— Está comendo sua carta de demissão neste momento. Assim, está comigo?

— Ah, sim. Com certeza. Sou seu garoto.

— Está encarregado dos reconhecimentos neste momento. Não há razão para fazê-lo em pessoa. O correio eletrônico estará bem. E, vou manter os esquadrões como estão. Alfas em duplas. Betas em grupos de quatro. Faz o anúncio sobre o senhor X. Depois traz seu traseiro até a câmara.

O desligou. Não ia conceder nenhuma merda à Sociedade. Não se importava o mínimo com a estúpida guerra com os vampiros. Tinha dois objetivos: pegar sua mulher viva ou morta. E, matar ao Irmão com cicatrizes que a tinha levado.

Enquanto levantava, lhe ocorreu olhar para baixo, a sua flácida masculinidade. Um horrível pensamento serpenteou por sua mente.

Os vampiros, ao contrário dos lessers, não eram impotentes.

Imaginou a sua bela e pura esposa… Viu ela nua, o cabelo sobre os pálidos ombros, as elegantes curvas do esbelto corpo captando a luz. Magnífico. Perfeito, perfeito, perfeito. Absolutamente feminino.

Algo para ser adorado e possuído. Mas nunca transado. Uma Madonna.

Porém, nada que tivesse pênis iria querer isso. Vampiro, humano, lesser. Nada.

A violência o atravessou, e bruscamente esperou que estivesse morta. Porque se aquele horrível bastardo tivesse tentado ter sexo com ela… Cara, O ia castrar àquele Irmão com uma colher, antes de matá-lo.

E, que Deus a ajudasse se o desfrutava.

 

Quando Phury despertou, eram três e quinze da tarde. Tinha dormido como se estivesse morto, ainda estava muito ferrado pelo que tinha acontecido na noite anterior antes que suas glândulas de adrenalina fizessem horas extras. O que dificilmente o conduzia a fechar os olhos.

Procurou um charuto e o acendeu. Enquanto levava a fumaça vermelha até seus pulmões e a retinha, tentava não imaginar-se indo ao quarto de Zsadist e derrubando seu irmão com murro direto à mandíbula. Mas, a fantasia era justamente atraente.

Maldito seja, não podia acreditar que Z houvesse tentando levar Bela dessa forma, e nestes momentos odiava a seu gêmeo por sua depravação. Odiava-se a si mesmo também, por sentir-se estupidamente surpreso. Durante muito tempo, tinha estado convencido de que algo em Z tinha sobrevivido a sua escravidão… Que algum pequeno pedaço de alma restou no homem. Depois da noite passada? Não tinha mais dúvida sobre a natureza cruel de seu irmão gêmeo. Nenhuma.

E, merda, sentia-se como um asno sabendo que tinha decepcionado Bela. Nunca deveria tê-la deixado no quanto de Z. Não podia suportar ter sacrificado a segurança dela por sua própria necessidade de acreditar no irmão.

Bela…

Pensou em como ela tinha permitido sustentá-la. Nesses momentos fugazes havia se sentido poderoso, capaz de protegê-la contra um exército de lessers. Durante uma pequena fração de tempo, tinha-o transformado em um verdadeiro homem, um que era necessitado e que servia a um propósito.

Que revelação para ele, que não era outra coisa que um parvo reativo que perseguia um louco suicida e destrutivo.

Queria desesperadamente passar a noite com ela, e só partiu porque era o correto. Estava exausta, mas sobre tudo — apesar de seu voto de celibato — porque não era confiável. Queria socorrê-la com seu corpo. Queria venerá-la e saná-la com seus ossos e sua pele.

Mas não podia pensar assim.

Phury inalou profundamente o charuto, deixando sair o ar com um gemido. Mantendo a fumaça dentro, sentiu como relaxava a tensão dos ombros. Enquanto a calma se estendia sobre ele, olhou seu contrabando. Já estava acabando, por mais que odiasse ia ter que ir ver o Reverendo, precisava de mais.

Sim. Considerando como se sentia a respeito de Z, ia necessitar muito mais. A fumaça vermelha era só um relaxante muscular suave, realmente, nada como a maconha ou qualquer dessas perigosas beberagens. Mas, confiava em manter-se nesse nível, como outros tipos tomavam coquetéis. Se não tivesse que ir ao Reverendo para conseguir mais, diria que era um passatempo perfeitamente inofensivo.

Absolutamente inofensivo e o único alívio que tinha na vida.

Quando terminou o charuto, apagou-o em um cinzeiro e saiu da cama. Depois de colocar a prótese, foi ao banheiro para barbear-se e tomar banho, depois vestiu umas calças folgadas e uma de suas camisas de seda. Calçou tanto no pé real como no que não podia sentir uns mocasins de Penetre Haan.

Observou-se no espelho. Penteou o cabelo. Inspirou profundamente.

Foi ao quarto contíguo e bateu na porta brandamente. Quando não obteve resposta tentou de novo, e então abriu. A cama estava desfeita, mas vazia, e ela não estava no quarto.

Enquanto voltava pelo corredor, um alarme ressoou em seus ouvidos. Antes de dar-se conta, estava apressando o passo e depois correndo. Correu para frente do início da escada e girou pelo corredor das estátuas. Não se incomodou em bater na porta de Z, abriu-a de um empurrão.

Phury ficou mortalmente quieto.

Seu primeiro pensamento foi que Zsadist ia cair da cama. O corpo de seu irmão estava em cima do cobertor e na beira do colchão, tão longe como lhe era possível. Jesus… A posição parecia tão incômoda como o inferno. Os braços de Z rodeavam seu peito nu como se o estivesse mantendo unido, e tinha as pernas encolhidas e virada para um lado com os joelhos suspensos no ar.

Mas, tinha a cabeça virada na direção contrária. Para Bela. E, os lábios desfigurados estavam levemente separados em vez de franzidos com desprezo. As sobrancelhas, normalmente franzidas de forma agressiva estavam livres, relaxadas.

Sua expressão era de sonolento assombro.

O rosto de Bela estava inclinado para o homem que tinha ao lado, a expressão tão pacífica como um anoitecer. E, o corpo abraçado ao de Z, tão próximo como os lençóis e as mantas sob as quais estava o permitiam. Demônios, era óbvio que se pudesse cobrir-se com ele, o teria feito. E, era igualmente óbvio que Z tinha tentado afastar-se dela até que não pôde ir mais longe.

Phury amaldiçoou brandamente. O que tinha ocorrido durante a noite, certamente não tinha sido algo desagradável ao que Z a tivesse arrastado. De nenhuma forma. Não com este par buscando-se como estavam fazendo agora.

Fechou os olhos. Fechou a porta.

Como um completo lunático, considerou brevemente retornar e lutar com Zsadist pelo direito de deitar perto dela. Podia se ver lançando-se a um mano a mano, tendo um antiquado cohntehst com seu gêmeo, para saber quem tinha direito a tê-la.

Mas, isto não era o Antigo País. E, as mulheres tinham o direito de escolher a quem procurar. Ao lado de quem dormir. Com quem unir-se.

E, ela sabia onde estava Phury. Disse-lhe que seu quarto era a porta seguinte. Se o quisesse, podia ter dirigido-se a ele.

 

Z conscientizou-se de uma sensação estranha enquanto despertava: estava quente. Não acalorado, só… Quente. Teria se esquecido de desligar a calefação depois que Bela se foi? Devia ser isso. Porém, notou algo mais. Não estava no acolchoado. E, vestia cueca, verdade? Moveu as pernas tentando baixar uma, pensando que sempre dormia nu. E, seu aquecimento mudou de forma, deu-se conta de que aquilo estava duro. Duro e pesado. O que…

Abriu os olhos de repente. Bela. Estava na cama com Bela.

Separou-se de um salto dela…

E, caiu do colchão, aterrissando sobre o traseiro.

Imediatamente, ela se arrastou atrás dele.

— Zsadist?

Quando se inclinou sobre a borda, o roupão que vestia abriu e seus olhos ficaram presos no seio que ficou exposto. Era tão perfeita como tinha sido na banheira, a pálida pele tão suave e os pequenos mamilos tão rosas... Deus, ele sabia que o outro era exatamente igual, mas por alguma razão precisava vê-lo de todo jeito.

— Zsadist? — apareceu mais, com o cabelo escorregando pelos ombros e deslizando-se pela borda da cama, uma brilhante cascata de mogno profundo.

A coisa entre suas coxas se esticou. Pulsou com o batimento de um coração de seu coração.

Juntou os joelhos e manteve as coxas juntas, não querendo que ela visse.

— O roupão. — disse ele asperamente — Feche-o. Por favor.

Ela olhou para baixo e então juntou as lapelas, ruborizando-se. Oh, demônios... Agora tinha as bochechas tão rosadas como os mamilos, ele pensou.

— Vai voltar para a cama? — perguntou-lhe ela.

A parte mais escondida e decente dele sugeriu que não era uma boa idéia.

— Por favor? — sussurrou ela, colocando o cabelo atrás da orelha.

Ele mediu o arco de seu corpo e o negro cetim que ocultava a pele de seu olhar e seus grandes olhos azul safira e a esbelta coluna de sua garganta.

Não… Realmente não era uma boa idéia aproximar-se dela neste momento...

— Afaste-se. — disse ele.

Enquanto ela deslizava para um lado, ele olhou para a tenda de campanha que tinha entre as pernas. Cristo, aquela maldita coisa era enorme, parecia que tinha outro braço em sua cueca. E, esconder um troço assim podia requerer uma ajuda.

Olhou a cama. Com um fluído movimento saltou entre os lençóis.

O que foi uma dolorosa má idéia. No momento em que esteve embaixo deles, ela se acomodou contra seu duro flanco como se fosse outra manta. Uma suave, cálida, que respirava…

Z se aterrorizou. Havia muito dela contra ele e não sabia o que tinha que fazer. Queria empurrá-la longe. Queria-a mais perto. Queria… Oh, cara. Queria montá-la. Queria tomá-la. Queria fazer amor com ela.

O instinto era tão forte que se viu levando-o a cabo: virando-lhe sobre o estômago, puxando os quadris da cama, levantando-se atrás dela. Imaginou pondo a coisa dentro dela e empurrando com as coxas…

Deus, era repugnante. Querer pegar essa coisa suja e forçá-la dentro dela? Também podia lhe colocar uma escova de cabelo na boca.

— Está tremendo… — disse ela — Tem frio?

Ela se moveu para aproximar-se mais a ele, e sentiu seus peitos, suaves e quentes, na parte de trás de seu antebraço. A coisa crispou grosseiramente, saltando contra sua cueca.

Merda. Tinha a sensação de que essa ação aguda queria dizer que estava perigosamente acordado.

Sim, você acredita? Demônios, o bastardo estava pulsando, e as bolas sob a coisa doíam, e estava tendo visões de investi-la como um touro. Mas, se era o medo feminino o único que fazia com que aquela coisa endurecesse, e ela não estava assustada. Assim, por que estava respondendo?

— Zsadist? — disse brandamente.

— O que?

As quatro palavras que ela disse quase convertem seu peito em um bloco e lhe congelou o sangue. Mas, ao menos a outra tolice acabou.

 

Quando a porta de Phury se abriu sem nenhum aviso, as mãos dele paralisaram na camiseta que estava pondo pela cabeça.

Zsadist permaneceu entre as ombreiras, nu até a cintura, com os olhos negros ardendo.

Phury amaldiçoou brandamente.

— Alegra-me que tenha vindo. Sobre a noite passada… Devo-te uma desculpa.

— Não quero escutá-la. Vêm comigo.

— Z, equivoquei-me ao…

— Vêm. Comigo.

Phury puxou a barra da camiseta baixando-lhe e verificou seu relógio.

— Tenho que dar aulas em meia hora.

— Isto não levará muito tempo.

— Ah… Bom, certo.

Enquanto seguia Z pelo corredor, imaginou que podia desculpar-se pelo caminho.

— Olhe, Zsadist, sinto muito por ontem à noite. — o silêncio de seu gêmeo não era uma surpresa — Precipitei-me e cheguei a uma conclusão errônea. Sobre Bela e você. — Z caminhou inclusive mais depressa — Deveria saber que não lhe faria mal. Queria te oferecer um rythe.

Zsadist parou e olhou por cima dos ombros.

— Para que demônios?

— Ofendi-te. Ontem à noite.

— Não, não o fez.

Phury só pôde sacudir a cabeça.

— Zsadist…

— Estou doente. Sou asqueroso. Não se pode confiar em mim. Só porque tenho meio cérebro e tenha imaginado que não, isso não significa que precise me acariciar o traseiro com essa merda de desculpa.

Phury ficou com a boca aberta.

— Jesus… Z. Você não é…

— Oh, por uma fodida consideração, pode deixar de encher o saco?

Z caminhou rapidamente para seu quarto e abriu a porta.

Bela se sentou na cama, juntando as lapelas do roupão até o pescoço. Parecia estar totalmente confusa. E, muito formosa para descrevê-lo com palavras.

Phury olhou de um lado a outro entre ela e Z. Então se concentrou em seu gêmeo.

— O que é isto?

Os olhos negros de Z se cravaram no chão.

— Vai com ela.

— Perdão?

— Precisa se alimentar.

Bela fez um ruído engasgando-se, como se tivesse ficado sem respiração.

— Não, espere, Zsadist, quero… A você.

— Não pode me ter.

— Mas, quero…

— Agüenta-te. Estarei fora.

Phury se sentiu empurrado ao quarto e então a porta se fechou de repente. No silêncio que seguiu, não estava seguro se queria gritar de triunfo ou… Simplesmente gritar.

Inspirou profundamente e olhou para a cama. Bela estava encolhida com os joelhos contra o peito.

Bom Deus, nunca tinha permitido a uma mulher beber dele antes. Por seu celibato, não queria arriscar-se. Com suas ânsias sexuais e seu sangue de guerreiro, sempre tinha temido que se permitisse que uma mulher tomasse sua veia ficaria confuso e quereria meter-se nela. E, se fosse Bela, ia ser inclusive mais difícil permanecer quieto.

Mas, ela precisava beber. Além disso, o que tinha de bom em um voto se era fácil de manter? Isto podia ser seu teste, sua oportunidade de provar sua disciplina sob as mais extremas circunstâncias.

Esclareceu a garganta.

— Ofereço-te.

Quando os olhos de Bela levantaram, sua pele se tornou muito pequena para seu esqueleto. Isso era o que um rechaço fazia a um homem. Justamente lhe encolher imediatamente.

Afastou seu olhar e pensou em Zsadist, o que podia sentir estando fora do quarto.

— Ele possivelmente não seja capaz de fazê-lo. É consciente de seu… passado, verdade?

— É cruel de minha parte pedir isso a ele? — sua voz estava cheia de cansaço, agravada por sua luta — É?

Provavelmente, pensou ele.

— Seria melhor se usasse a qualquer outro. — Deus,por que não pode tomar-me ?Por que não pode me necessitar em lugar dele? — Não acredito que fosse apropriado pedir a Wrath ou Rhage, eles estão unidos. Possivelmente poderia pedir a V…

— Não… Necessito a Zsadist. — suas mãos tremiam e as levou a boca — Sinto tanto.

Assim, era ele.

—Espere aqui.

Quando saiu ao corredor, encontrou Z justo ao lado da porta. O homem tinha a cabeça entre as mãos, com os ombros encurvados.

— Acabou tão rápido? — perguntou, abaixando as mãos.

— Não. Não ocorreu.

Z franziu o cenho e o olhou de acima a abaixo.

— Por que não? Tem que fazê-lo, cara. Ouviu o Havers…

— Quer a você.

— Assim entrará aí e abrirá uma veia…

— Ela só terá a você.

— Necessita-o, assim…

Phury elevou a voz.

— Não quero alimentá-la!

Z franziu a boca e seus olhos negros se estreitaram.

— Droga. Fará por mim.

— Não, não farei. Porque ela não me permitirá isso.

Z se inclinou para frente, apertando como uma prensa os ombros de Phury.

— Então, fará por ela. Porque é o melhor para ela, porque te enternece e porque quer fazê-lo. Faz por ela.

Cristo. Poderia matar. Estava morrendo por querer voltar ao quarto de Z. Arrancar a roupa dela. Cair no colchão. Apertar Bela contra seu peito e senti-la afundar os dentes em seu pescoço e separar suas pernas, entrado dentro dela entre seus lábios e entre suas coxas.

As fossas nasais de Z dilataram.

— Deus… Posso cheirar o quão desesperadamente quer fazê-lo. Assim vai. Vai com ela, alimenta-a.

A voz de Phury se quebrou.

— Não me quer, Z. O que ela quer…

— Ela não sabe o que quer. Acaba de sair de um inferno.

— É o único. Para ela, é o único.

Quando os olhos de Zsadist deslizaram pela porta fechada, Phury o empurrou, embora, pensou que isso o mataria.

— Escute o que estou dizendo, irmão. Pode fazer isto por ela.

— Uma merda que posso fazer.

— Z, faz.

Aquela cabeça raspada se sacudiu de um lado a outro.

— Vamos, a merda que há em minhas veias está contaminada. Sabe disso.

— Não, não está.

Com um grunhido, Z se inclinou para trás e lhe mostrou os pulsos, brilhando as listras de escravo de sangue tatuadas em seu pulso.

— Quer que ela morda através disto? Pode suportar imaginar sua boca nelas? Porque, tão seguro como o inferno, que eu não posso.

— Zsadist? — a voz de Bela se deslizou sobre eles. Sem que ele tivesse notado, levantou-se e abriu a porta.

Enquanto Z entrecerrou os olhos, Phury suspirou:

— Você é o único a quem ela quer.

A resposta de Z quase não foi audível.

— Estou poluído. Meu sangue pode matá-la.

— Não. Não pode fazer.

— Por favor… Zsadist. — disse Bela.

O tom do humilde e suplicante pedido converteu as costelas de Phury em uma caixa de gelo, e observou, gelado, intumescido, como Z girava lentamente para ela.

Bela deu um passo para trás, mantendo os olhos nele.

Os minutos se converteram em dias… Décadas… Séculos. E, então Zsadist pôs-se a andar e entrou no quarto. A porta fechou.

Phury estava cego enquanto se voltava e punha-se a andar pelo corredor.

Não havia nenhum lugar no qual lhe necessitassem?

A sala de aula. Sim, ia dar aulas agora.

 

Dez minutos depois das quatro, John subiu ao ônibus local enquanto arrastava sua esteira.

— Olá! Senhor. — disse o doggen alegremente atrás do volante — Bem-vindo.

John o saudou com a cabeça e olhou aos doze tipos sentados aos pares que o olhavam fixamente.

Uau! Realmente o sentimento do amor não estava ali, cara, pensou.

Sentou em um assento vazio atrás do condutor.

Quando o ônibus começou a mover-se, uma divisão baixa fez com que os aprendizes ficassem encerrados juntos na parte posterior e não pudessem ver a frente. John caminhou arrastando os pés de forma que se sentou de lado. Observar o que estava acontecendo atrás dele parecia uma boa idéia.

Todas as janelas estavam obscurecidas, mas as luzes acesas no chão e no teto eram bastante brilhantes para que pudesse se dar conta de seus companheiros de classe. Eram todos como eles, magros e pequenos, embora tivessem a cor do cabelo diferente, alguns loiros, alguns escuros. Um deles era ruivo. Como John, todos estavam vestidos com o traje branco de artes marciais jis. E, todos tinham a mesma esteira nos seus pés, um Nike de nylon negro o bastante grande para levar uma roupa de reserva e muita comida. Cada um deles levava uma mochila também e especulou se continha os mesmos materiais que levava na sua: um caderno e algumas canetas, um telefone celular, uma calculadora. Tohr tinha enviado uma lista com as provisões requeridas.

John apertou a mochila aproximando-a a seu estômago e ficou olhando-a fixamente. Isto o ajudou a pensar em todos os números da mensagem de texto, então os repetiu muitas vezes em sua cabeça. O de casa. O celular de Wellsie. O celular de Tohr. O número da Irmandade, o de Sarelle…

Pensar nela, o fez sorrir. Tinha passado horas online noite passada. Homem, MSN, uma vez que conheceu a onda, era o modo perfeito de comunicar-se com ela. Com ambos escrevendo as palavras, parecia que eram iguais. E, se havia gostado dela no jantar, realmente estava com ela agora.

— Como te chama?

John olhou por cima de um par de assentos. Um tipo com o cabelo comprido loiro e um brinco de diamante falava com ele.

Ao menos utilizam o português, pensou.

Quando abriu a mochila e tirou o caderno, o tipo disse:

— Olá? É surdo ou algo assim?

John escreveu seu nome e girou o bloco de papel.

— John? Que diabos de nome é esse? E, por que está escrevendo?

Oh, amigo... Esse lance de escola ia ser aborrecido.

— Qual é seu problema? Não pode falar?

John olhou ao tipo diretamente nos olhos. As leis da probabilidade promulgavam que dentro de cada grupo, havia um macho-alfa chato e este cabeleira suave com o brilhante na orelha o era, claramente.

John negou com a cabeça para responder à pergunta.

— Não pode falar? Absolutamente? — o tipo levantou a voz como se quisesse que todos se inteirassem — Que diabos está fazendo, treinando para ser soldado se não puder falar?

— Você não luta com palavras, verdade? — escreveu.

— Sim, e todos esses músculos que você faz saltar realmente dão medo.

Como os teus, quis rabiscar.

— Por que tem um nome humano? — a pergunta foi feita pelo ruivo do assento de atrás.

John escreveu:

— Cresci com eles. — e, logo girou o bloco de papel.

— Hum. Bom, sou Blaylock. John… Uou, estranho.

Por impulso, John puxou a manga e mostrou o bracelete que tinha feito, com os caracteres com os quais tinha sonhado.

Blaylock se inclinou. Colocando seus pálidos olhos azuis em cima.

— Seu nome real é Tehrror.

Sussurros. Muitos sussurros.

John dobrou seu braço e relaxou contra a janela outra vez. Desejou ter deixado a manga abaixada. Que diabos eles estavam pensando agora?

Depois de um tempo, Blaylock se lembrou da educação e apresentou aos outros. Todos tinham nomes estranhos. O loiro era Lash. E, como isso era apropriado?

— Tehrror… — murmurou Blaylock — É um nome muito velho. É o nome de um verdadeiro guerreiro.

John franziu o cenho. Seria melhor afastar dele a atenção destes moços, escreveu:

— E, o teu? E, o do resto deles?

Blaylock negou com a cabeça.

— Temos um pouco de sangue dos guerreiros em nós, por isso fomos escolhidos para treinar, mas nenhum de nós tem um nome assim. De que linha descende? Deus… É criado pela Irmandade?

John franziu o cenho. Nunca tinha se dado conta de que poderia ser relacionado com a Irmandade.

—Acredito que ele é muito bom para te responder. —Disse Lash.

John deixou passar. Sabia que tropeçaria com todo tipo de ligações sociais, fazendo explodir minas a direita e esquerda, devido a seu nome, a crescer com os humanos e a incapacidade de falar.

Tinha o pressentimento de que esse dia na escola ia ser uma infernal prova de resistência, por isso teria que economizar energia.

A viagem durou aproximadamente quinze minutos, com os últimos cinco mais ou menos envolvendo muitas marchas e paradas, o que significava que estavam atravessando o sistema de portas dentro do recinto de treinamento.

Quando o ônibus parou e a separação se retraiu, John colocou a esteira sobre seus ombros e a mochila, e saiu primeiro. O estacionamento subterrâneo estava tal como tinha estado ontem à noite: sem carros, só outro ônibus local como o que eles tinham entrado. Separou-se para um lado e olhou como os outros circulavam em massa, uma multidão de jis brancos. Suas vozes lhe recordaram o som de pombas batendo as asas.

As portas do centro abriram de repente e o grupo paralisou.

Mas, Phury podia fazer isso com uma multidão. Com seu cabelo espetacular e seu grande corpo vestido de negro, era suficiente para fazer que alguém paralisasse.

— Oi, John. — disse ele, saudando-o com a mão — Como vai?

Os tipos viraram-se o olharam fixamente.

Sorriu a Phury. Depois se ocupou de ficar em segundo plano.

 

Bela olhou Zsadist caminhar pelo quarto. Recordava como ele havia se sentido na noite anterior quando ela tinha saído para procurá-lo: enjaulado, infeliz. Muito provocado.

Por que demônios o forçava a isto?

Quando abriu a boca para suspender tudo isto, Zsadist parou diante da porta do banheiro.

— Preciso de um minuto. — disse ele. Então, se fechou.

Perplexa, aproximou-se e se sentou sobre a cama, esperando-o para saber por que recuou. Quando ele se manteve lá dentro e abriu a ducha, ela entrou em introspecção.

Tentou imaginar-se voltando para casa para sua família e caminhando por aquelas salas tão familiares, sentando-se em suas cadeiras, abrindo as portas e dormindo na cama de sua infância. Sentiu que tudo estava errado, como se fosse um fantasma naquele lugar que conhecia tão bem.

E, como a tratariam sua mãe e seu irmão? E a glymera?

No mundo aristocrático, tinha sido desonrada além de ter sido seqüestrada. Agora, a evitariam terminantemente. Sendo controlada por um… Lesser… Enterrada na terra… A aristocracia não agüentava bem aquele tipo de monstruosidade e a culpariam. Infernos, era provavelmente por isso que sua mãe tinha sido tão reservada.

Deus, pensou Bela. O resto de sua vida ia ser como agora?

Quando o temor a afogava, a única coisa que a mantinha inteira era pensar em permanecer nesse quarto e dormir durante dias com Zsadist bem perto dela. Ele era o frio que a fazia condensar-se outra vez. E, o calor que parava seus tremores.

Era o assassino que a mantinha a salvo.

Mais tempo… Mais tempo com ele, primeiro. Então, talvez pudesse confrontar o mundo exterior.

Ela franziu o cenho, percebendo que ele tinha estado na ducha durante bastante tempo.

Seus olhos se moveram para a plataforma que havia na esquina mais afastada. Como podia dormir ali noite pós noite? Sentido o chão duro em suas costas e não havia nenhum travesseiro para a cabeça. Nem cobertas para cobrir-se se protegendo do frio, tampouco.

Ela se concentrou no crânio que havia ao lado das mantas dobradas. A correia de couro negra entre os dentes o proclamava como alguém a quem tinha amado. Obviamente fora casado, embora ela não tivesse ouvido rumores sobre isso. Sua shellan tinha ido ao Fade por causas naturais ou a tinham afastado de seu lado? Era por isso que estava tão zangado?

Bela olhou na direção do banheiro. O que estava fazendo ali?

Aproximou-se e chamou. Quando não houve nenhuma resposta, abriu a porta devagar. Uma fria rajada de vento a atingiu e ela retrocedeu.

Reforçando-se, entrou no ar glacial.

— Zsadist?

Através da porta de vidro da ducha, viu-o sentado sob o chuvisco de água gelada. Balançava-se para frente e para trás, gemendo, esfregando os pulsos com uma esponja.

— Zsadist! — correu e abriu o vidro. Procurando examinar os acessórios, fechou a água — O que está fazendo?

Ele olhou para ela com olhos selvagens, loucos enquanto seguia balançando-se e esfregando, balançando e esfregando. A pele ao redor das tatuadas listras negras estava vermelha brilhante, completamente em carne viva.

— Zsadist? — controlou-se para manter seu tom aprazível e estável — O que está fazendo?

— Eu… Eu não posso me limpar. Não quero que te suje, também. — levantou seu pulso e o sangue lhe gotejava pelo antebraço — Vê? Olhe a sujeira. Está toda sobre mim. Dentro de mim.

Sua voz a alarmou como nunca o tinha feito antes, suas palavras transmitindo uma estranha e infundada lógica de loucura.

Bela recolheu uma toalha, deu um passo entrando no compartimento e se agachou. Capturando suas mãos, tirou-lhe a esponja.

Quando, com cuidado, secou sua carne ferida, disse:

— Está limpo.

— Oh, não, não estou. — sua voz começou a elevar-se, crescendo com um ímpeto terrível — Estou asqueroso. Estou muito sujo. Estou sujo, sujo… — agora balbuciava, as palavras saíam juntas, o volume se elevou emitindo um som de histerismo nos azulejos e enchendo banheiro — Pode ver a sujeira? Eu a vejo por toda parte. Cobre-me. Presa dentro de mim. Posso sentir na minha pele…

— Shhh. Permita-me… Só…

Vigiando-o, como se fosse a… Deus, nunca tinha pensado que… Agarrou às cegas uma toalha e a arrastou para ducha. Colocando-a ao redor de seus grandes ombros, cobriu-o com ela, mas quando tentou pô-la sobre seus braços, ele recuou.

— Não me toque. — disse com aspereza — Você se sujará.

Ficou de joelhos na frente dele, seu roupão encharcando-se de água, absorvendo-a. Até que não notou o frio.

Jesus… Ele parecia alguém que tivesse estado em um naufrágio: seus olhos muito abertos e dementes, sua calça molhada aderindo-se aos músculos de suas pernas, a pele do peito arrepiada. Seus lábios estavam azuis e seus dentes tocavam castanholas.

— Sinto muito. — sussurrou ela. Queria tranqüilizá-lo dizendo que não havia nenhuma sujeira sobre ele, mas sabia que só o exaltaria outra vez.

Enquanto a água gotejava da ducha até o azulejo, o rítmico som que produzia era como uma armadilha de canos entre eles. Em meio aos golpes, ela se encontrou recordando a noite que o tinha seguido até este quarto… À noite em que ele havia tocado seu excitado corpo. Dez minutos depois de que fez isso, o tinha encontrado agachado sobre o vaso sanitário, vomitando por que tinha posto as mãos sobre ela.

Sou asqueroso. Estou tão sujo. Estou sujo, sujo…

A claridade chegou a ela da mesma maneira que mudam os pesadelos, que se ancoram no conhecimento com uma iluminação glacial, lhe mostrando algo feio. Era óbvio que tinha sido golpeado como escravo de sangue e tinha presumido que por isso não gostava que o tocassem. Mas, ser golpeado, tirando a parte de ser doloroso e espantoso, não lhe faria sentir tão sujo.

Mas, o abuso sexual faria.

Seus escuros olhos de repente enfocaram seu rosto. Como se houvesse sentido a conclusão a que tinha chegado.

Conduzida pela compaixão, inclinou-se para ele, mas a cólera que sangrava em seu rosto a deteve.

— Cristo, mulher. — explodiu — Quer te cobrir?

Ela olhou para baixo. Seu roupão estava aberto até a cintura, a elevação de seus seios exposta. Deu um puxão às lapelas, as juntando.

No tenso silêncio era difícil encontrar onde olhar, então se concentrou em seu ombro… Seguindo a linha do músculo até a clavícula, para a base do pescoço. Seus olhos foram à deriva sobre a grosa garganta… À veia que bombeava sob sua pele.

A fome a atravessou como um relâmpago, fazendo com que lhe alargassem as presas. Oh, inferno. Como era que em uma hora dessas desejava sangue?

— Por que me quer? — resmungou, claramente sentindo sua necessidade — É melhor que isto.

— Você é…

— Sei que sou.

— Não está sujo.

— Maldita seja, Bela…

— E, só quero a você. Olhe, realmente sinto e temos que…

— Sabe o que? Não conversar mais. Estou farto de falar. — esticou o braço sobre o joelho, o pulso para cima e seus escuros olhos ficaram desprovidos de qualquer emoção, inclusive zanga — Este é seu funeral, mulher. Faz, se quiser.

O tempo parou enquanto ela olhava fixamente o que a contra gosto ele oferecia. Deus ajudasse aos dois, mas ia tê-lo. Com um movimento rápido, ela se curvou sobre sua veia e o mordeu. Embora lhe doesse, ele não se afastou, absolutamente.

No instante em que o sangue golpeou sua língua, gemeu de prazer. Alimentou-se de aristocratas antes, mas nunca de um homem da classe dos guerreiros e certamente nunca, de um membro da Irmandade. Seu sabor era um delicioso rugido em sua boca, uma invasão, uma epopéia, uma explosão barulhenta e logo engoliu. A corrente de poder a atravessou, um fogo florestal no tutano de seus ossos, uma explosão que bombeou seu coração com uma rápida força gloriosa.

Tremeu tanto que quase perdeu o contato com seu pulso e teve que agarrar-se ao antebraço dele para estabilizar-se. Bebeu muito, avaros puxões, faminta não só pela força, mas por ele, por este homem.

Para ela, ele era… O único.

 

Zsadist lutou para manter a calma enquanto Bela se alimentava. Não queria incomodá-la, mas cada puxão em sua veia, só o que conseguia era aproximar-se da perdição. A Mistress tinha sido a única que alguma vez se alimentou dele, e as lembranças daquelas violações eram tão agudas como as presas enterradas em seu pulso agora. O medo chegou, duro e vivo, nenhuma sombra do passado nunca mais, agora era um pânico presente.

Merda Santa… Estava enjoado. Ia perder a consciência como um completo afeminado.

Em uma tentativa desesperada por concentrar-se, concentrou-se no cabelo escuro de Bela. Tinha uma mecha perto de sua mão livre e o fio brilhou à alta luz da ducha, tão adorável, tão grosso, tão diferente do loiro da Mistress.

Deus, o cabelo de Bela parecia realmente suave… Se tivesse coragem enterraria sua mão — não, seu rosto inteiro — naquelas ondas mogno. Poderia controlar-se? Perguntou-se. Estando tão perto de uma mulher? Ou se afogaria quando o medo o golpeasse?

Se fosse Bela, pensou que seria capaz de fazê-lo.

Sim… Realmente gostaria de pôr seu rosto ali, em seu cabelo. Talvez se movendo entre ele, encontraria o caminho ao pescoço e… Pressionaria um beijo. Realmente suave.

Sim… E, logo poderia ir movendo-se e roçaria seus lábios contra sua bochecha. Talvez ela lhe deixasse fazer isto. Não iria para sua boca. Não podia imaginar que ela quisesse estar perto de sua cicatriz e de toda forma o lábio superior estava ferrado. Além disso, não sabia como beijá-la. A Mistress e seus ajudantes sabiam manter-se a distância de suas presas. E, depois ele nunca quis aproximar-se tanto de uma mulher.

Bela fez uma pausa e inclinou a cabeça, seus olhos de cor azul safira giraram para ele, examinando-o para se assegurar de que estava bem.

A preocupação dela lhe mordeu o orgulho. Cristo, pensar que estava tão fraco que não podia controlar a alimentação de uma mulher… E, lhe dava vergonha compreender que ela sabia disso enquanto estava em sua veia. Pior, era aquela expressão em seu rosto a uns momentos, aquele horror que significava que ela tinha entendido de que outra maneira ele tinha sido usado além de como escravo de sangue.

Não podia suportar sua compaixão, não queria esses olhares de preocupação, não estava interessado nos mimos e carícias. Abriu a boca, para lhe dizer que separasse sua cabeça, mas de certa forma a cólera se perdeu na viagem entre suas vísceras e sua garganta.

— Tudo bem. — disse bruscamente — O pulso está estável. Pulso firme.

O alívio nos olhos dela foi outra tapa em seu traseiro.

Quando começou a beber outra vez, ele pensou, odeio isto.

Bom… Odiava em parte. Ok, odiava a merda em sua cabeça. Mas quando os aprazíveis puxões continuaram, compreendeu que gostava.

Ao menos, até que pensasse no que ela estava bebendo. Sangue sujo… Sangue oxidado… Corrosivo, infectado, repugnante. Homem, simplesmente não podia compreender por que ela tinha rechaçado ao Phury. O homem era perfeito por dentro e por fora. Entretanto, estava sobre o ladrilho frio e duro, mordendo sobre sua marca de escravo, com ele. Por que o fazia…

Zsadist fechou os olhos. Sem dúvida, depois de tudo pelo que tinha passado, ela acreditava que não merecia nada melhor que alguém que estava poluído. Aquele lesser provavelmente tinha quebrado seu amor próprio.

Homem, Deus era sua testemunha, faria que o último fôlego do bastardo desaparecesse espremido entre suas mãos.

Com um suspiro, Bela liberou seu pulso e relaxou contra a parede da ducha, as pálpebras fechadas, seu corpo débil. A seda da roupa estava molhada e aderia às pernas, perfilando as coxas, os quadris… A união do meio.

Enquanto aquilo se engrossava em suas calças rapidamente, quis cortar-lhe

Levantou o olhar para ela. Meio esperando que tivesse algum ataque ou algo assim, e tentou não pensar em toda a imperfeição que ela tinha engolido.

— Está bem? — perguntou-lhe.

— Obrigado. — disse com voz rouca — Obrigado por me deixar…

— Sim, já pode parar. — Deus, sentia que não a tinha protegido dele mesmo. A essência da Mistress o bombardeava, os ecos da crueldade daquela mulher estavam presos no infinito circuito de suas artérias e veias, circulando por todo seu corpo. E, Bela acabava de tomar um pouco daquele veneno em suas vísceras.

Deveria ter lutado mais duramente contra isso.

— Vou te levar para a cama.

Como ela não se opôs, recolheu-a, tirou-a da ducha e fez uma pausa no lavabo para pegar uma toalha.

— O espelho. — murmurou — Por que cobriu o espelho?

Ele não respondeu enquanto se dirigia ao dormitório, não podia conversar sobre essas horríveis coisas, ela não suportaria.

— Estou com uma aparência tão ruim assim? — sussurrou contra seu ombro.

Quando chegou à cama, colocou-a de pé.

— O roupão está molhado. Deve tirá-lo. Usa isto para te secar, se quiser.

Ela pegou a toalha e começou a afrouxar o laço da cintura. Ele rapidamente se virou, escutando o movimento do tecido, alguma agitação e depois o movimento dos lençóis.

Quando estava instalada, algo muito básico, antigo lhe exigia que se deitasse com ela agora. E, não para abraçá-la. Queria estar em seu interior, movendo-se… Liberando-se. De algum modo lhe parecia correto fazê-lo, lhe dar não só o sangue de suas veias mais finalizar com o ato sexual, também.

Estava totalmente fodido.

Passou uma mão pelo cabelo, perguntando-se de onde infernos lhe tinha chegado essa maldita idéia.

Homem, tinha que afastar-se dela…

Bom, ia passar logo, certo. Ela partiria à noite. Iria para sua casa.

Seus instintos ficaram loucos, fazendo-o querer lutar para que permanecesse em sua cama. Amaldiçoou seu estúpido e primitivo coração. Tinha que fazer seu trabalho. Tinha que sair, encontrar a um lesser em particular e matar o desgraçado por ela. Era o que tinha que fazer.

Z se dirigiu para o armário, vestiu uma camisa e se armou. Enquanto colocava a cartucheira sobre o peito, pensou em lhe pedir uma descrição do assassino que a tinha levado. Mas, não queria traumatizá-la… Não, Tohr perguntaria, porque o irmão conduzia bem esse tipo de coisa. Quando fosse devolvida a sua família esta noite, então Tohr falaria com ela.

— Já vou. — disse Z enquanto fixava a bainha de couro de suas adagas que atravessava suas costelas — Quer que eu diga a Fritz que te traga comida antes de partir?

Como não houve nenhuma resposta, olhou do batente da porta. Estava de lado, olhando-o.

Outra onda de severo instinto o golpeou.

Queria vê-la comer. Depois do sexo, depois de estar em seu interior, queria que comesse o alimento que lhe trouxesse, e queria que o comesse de sua mão. Infernos, queria sair e matar algo para ela, trazer a carne, cozinhá-la ele mesmo e alimentá-la até que estivesse cheia. Então quis estar a seu lado com uma adaga na mão, protegendo-a enquanto dormia.

Retornou ao armário. Homem, estava ficando louco. Totalmente louco.

— Trarei alguma coisa para você.

Verificou as lâminas de sua duas adagas negras, as testando no interior de seu antebraço, cortando a pele. Quando a dor lhe zumbiu no cérebro, olhou fixamente a marca que Bela tinha feito sobre seu pulso.

Sacudindo-se para concentrar-se, colocou a cartucheira ao redor de seus quadris e pôs nela o par de SIG Sauers. Os nove milímetros tinham o tambor cheio de balas e havia outros dois automáticos enfiados nas reentrâncias do cinturão. Escorregou um punhal de lançamento em uma pequena fivela de suas costas e se assegurou de que tinha algumas Hira shuriken[14]. As botas de combate eram o seguinte. O leve blusão impermeável para cobrir o arsenal era o último.

Quando saiu, Bela ainda tinha a vista elevada para ele, da cama. Seus olhos eram tão azuis. Azuis como a noite. Azuis como…

— Zsadist?

Lutou contra o impulso de bater em si mesmo.

— Sim?

— Sou desagradável para você? — como ele retrocedeu, ela colocou as mãos sobre o rosto — Não importa.

Enquanto se escondia dele, ele pensou na primeira vez que a viu, quando ela o tinha surpreendido no ginásio por volta de umas tantas semanas. Fascinou-o, deixando-o como um estúpido e ela ainda tinha esse efeito sobre seu cérebro. Era como se tivesse um interruptor do qual só ela tivesse o controle remoto.

Esclareceu-se garganta.

— É como sempre foi para mim.

Virou-se, só para ouvir um soluço. Então, outro. E, outro.

Olhou sobre o ombro.

— Bela… Inferno Santo…

— Sinto. — disse dentro das palmas — Sou lamentável. Só vai. Estou bem… Sinto, estou bem.

Enquanto se aproximava e sentava sobre o colchão, desejava ter o dom das palavras.

— Não tem por que sentir.

— Invadi seu quarto, sua cama. Obriguei-te a dormir perto de mim. Fiz com que me desse de sua veia. Sou tão… Sinto. — suspirou e se recolheu, porém seu desespero permaneceria muito tempo, trazendo o aroma terroso das gotas de água sobre a calçada quente — Sei que deveria partir, sei que não me quer aqui, mas só necessito… Não posso ir para minha granja. O lesser me levou dali, por isso não posso suportar a idéia de retornar. E, não quero ficar com minha família. Eles não entenderão o que me passa agora e não tenho energia para explicar-lhes. Só necessito um pouco de tempo, necessito conseguir de algum jeito que minha cabeça saia disso, mas não posso sozinha. Embora não queira ver ninguém, exceto…

Quando acabou, ele disse.

— Fique aqui o quanto quiser.

Ela começou a soluçar, outra vez. Maldita seja.

Isto era o que devia dizer.

— Bela… Eu… — o que supunha que estava fazendo?

Estenda-lhe a mão, idiota. Pegue sua mão, pedaço de merda.

Não podia fazê-lo.

— Quer que me mude? Que te dê espaço?

Mais choro, no meio dos quais ela murmurou:

— Necessito-te.

Deus, se a tinha ouvido bem, compadecia-se por ela.

— Bela, deixe de chorar. Deixa de chorar e me olhe. — finalmente ela suspirou e limpou o rosto.

Quando ele esteve seguro de que tinha sua atenção, disse-lhe:

— Não se preocupe com nada. Ficará aqui enquanto quiser. Está claro?

Ela só o olhou fixamente.

— Acene com a cabeça para mim, então saberei que me escutou. — quando ela o fez, ele levantou — Eu sou o último que você necessita. Então, deixa de dizer bobagens agora mesmo.

— Mas…

Dirigiu-se à porta.

— Retornarei antes da alvorada. Fritz sabe como encontrar a todos.

Depois de deixá-la, Z cruzou o corredor de estátuas, virou na ala esquerda e rapidamente passou diante do estudo de Wrath e pela magnífica escada. Três portas mais à frente, ele chamou. Não houve resposta. Voltou a chamar.

Dirigiu-se para baixo e encontrou quem procurava na cozinha.

Mary, a mulher de Rhage, cortava batatas. Muitas batatas. Como um exército delas. Seus olhos cinza levantaram e sua faca de cozinha parou sobre uma batata Idaho golden. Olhou a seu redor, perguntando-se se ele estava procurando a alguém mais. Ou talvez só esperasse não ficar a sós com ele.

— Poderia adiar isto um pouquinho? — disse Z, apontando com a cabeça para o montão de batatas.

— Um, claro. Rhage sempre pode comer outra coisa. Além disso, de todos os modos, Fritz está tendo uma manha de criança porque eu ia cozinhar. O que… Ah, que necessita?

— Eu não. Bela. Agora mesmo, ela precisa de uma amiga.

Mary abaixou a faca e a batata meio cortada.

— Estou querendo vê-la.

— Está em meu quarto. — Z girou, já pensando em qual dos becos do centro da cidade ia bater.

— Zsadist?

Ele parou com a mão sobre a porta do mordomo.

— O que?

— Está cuidando muito bem dela.

Ele pensou no sangue que tinha deixado que ela bebesse. E, a urgência de ter um orgasmo em seu corpo.

— Não realmente. — disse por sobre o ombro.

 

Às vezes, tem que se começar pelo princípio, pensou O enquanto corria pelo parque.

Aproximadamente a dois quilômetros e meio de onde tinha estacionado o caminhão, as árvores diminuíam de quantidade até formar um prado rasteiro. Parou enquanto ainda estava escondido entre os pinheiros.

Entre a branca manta de neve, estava a granja onde tinha encontrado sua esposa e à mortiça luz do dia sua casa era toda Norman Rockwell, uma postal do Hallmark, a perfeita Middle America. A única coisa que faltava era um pouco de fumaça saindo da chaminé de tijolo vermelho.

Tirou seus binóculos e explorou o local, logo se concentrou na casa. As marcas de pneus no caminho da entrada e na porta faziam com que se preocupasse que a granja tivesse sido vendida e os promotores tivessem vindo. Mas, ainda havia móveis dentro, móveis que reconheceu de quando tinha estado ali com ela.

Deixou cair o binóculo, deixando que pendurasse de seu pescoço e agachou. Esperaria por ela ali. Se estivesse viva, iria para casa ou quem quer que a cuidasse viria buscar algumas de suas coisas. Se estivesse morta, alguém começaria a tirar suas porcarias.

Ao menos, esperava que algo assim acontecesse. Não tinha nada mais para continuar, não sabia seu nome ou o paradeiro de sua família. Além disso, não podia adivinhar onde estaria. Sua única opção era sair e perguntar aos civis. Como nenhuma outra mulher tinha sido seqüestrada, certamente seria o tema de conversas dentro de sua raça. O problema era que esse caminho podia levar semanas… Meses. E, a informação dada através de técnicas persuasivas não era sempre sólida.

Não, provavelmente observando a casa conseguiria mais resultados. Sentaria e esperaria que alguém lhe estendesse a mão e o conduzisse até ela. Talvez seu trabalho fosse ainda mais fácil e o irmão com cicatrizes poderia ser quem o mostrasse.

Isso seria perfeito.

O se apoiou sobre os tornozelos, não ligando para o vento frio.

Deus… Esperava que estivesse viva.

 

John manteve a cabeça baixa e tratou de unir esforços. O vestuário estava cheio de vapor, vozes e o estalo de toalhas molhadas nos traseiros nus. Os aprendizes se desfizeram de seus jis suarentos, tomando banho antes do descanso para comer e logo teriam uma aula de golpes como parte da educação.

Era um grupo de caras normais, exceto John, por isso não quis despir-se. Mesmo sendo todos de seu tamanho, isto era, sem rodeios, pior que cada pesadelo que agüentou na escola secundária até que pôde sair do sistema aos dezesseis. E, agora mesmo estava evidentemente muito exausto para lidar com a cena.

Supunha que era meia-noite, mas se sentia como... Se fossem às quatro da madrugada, da manhã seguinte. O treinamento era exaustivo. Nenhum dos outros machos era forte, mas todos eles puderam manter o ritmo com as posturas que Phury e logo Tohr introduziram. Infernos, uns quantos tinham talento. John era um desastre. Seus pés eram lentos, suas mãos estavam sempre no lugar e no momento errado, e não tinha coordenação motora. Homem, não importava o quanto tentasse, não encontrava o equilíbrio. Seu corpo era como uma bolsa cheia de água em movimento, caso se movesse em uma direção, todo resto lhe caia em cima.

— Melhor que te apresse. — disse Blaylock — Só temos mais oito minutos.

John olhou a porta das duchas. Os jorros de água ainda funcionavam, mas não podia ver ninguém ali. Tirou o ji, o suspensório e se meteu rapidamente dentro da...

Droga. Lash estava na esquina. Como se o estivesse esperando.

— Oi, grande homem. — o cara arrastou as palavras — Realmente nos ensinou uma coisa ou duas lá fora...

Lash parou de falar e fixou o olhar no peito de John.

— Você, pequeno beijo no traseiro. — disse bruscamente. E, logo saiu furioso da ducha.

John olhou para a marca circular em cima de seu peitoral esquerdo, com a qual ele tinha nascido... A que, segundo lhe disse Tohr, recebiam os membros da Irmandade em sua iniciação.

Genial. Agora poderia acrescentar essa marca de nascimento à crescente lista de coisas das quais não queria ouvir seus companheiros falar.

Quando saiu da ducha com a toalha ao redor da cintura, todos os machos, inclusive Blaylock, mantinham-se unidos. Enquanto o inspecionavam como uma sólida e silenciosa unidade, perguntou-se se os vampiros tinham instintos de manada, como os lobos ou os cães.

Como continuaram lhe cravando o olhar, pensou, um, certo. Isso era uma grande afirmação.

John abaixou a cabeça e foi vestir a roupa, desesperado para que o dia acabasse.

 

Por volta das três da madrugada, Phury caminhou rapidamente pela Décima Rua para o ZeroSum. Butch estava esperando lá fora na entrada de vidro cromado do clube, matando tempo, apesar do frio. Envolto em seu comprido casaco de cachemira e com o boné dos Red Sox bem introduzida, via-se bem. Anônimo, mas bem.

— Que faz? — perguntou Butch enquanto batia as mãos.

— A noite é uma merda da parte dos lesser. Ninguém encontra nada. Oi, homem, obrigado pela companhia, necessito dela.

— Sem problema. — Butch se enfiou no boné dos Sox ainda mais. Como os Irmãos, não chamava atenção. Enquanto era detetive de homicídios, ajudou a enviar a um numeroso grupo de camelos para a prisão, por isso era melhor para ele passar despercebido.

Dentro do clube, a música tecno era irritante. Também havia luzes piscando e muitos humanos. Mas, Phury tinha suas razões para vir, e Butch estava sendo amável. De certo modo.

— Este lugar é só para estranhas preciosidades. — disse o policial, olhando ao tipo vestido com um traje anos 70 rosa choque com a maquiagem combinando — Melhor picolé caseiro e cerveja todos os dias do que esta sandice da cultura X.

Quando foram à área VIP, a corda de cetim rosa foi abaixada imediatamente para lhes deixar passar.

Phury saudou o segurança, logo olhou a Butch.

— Não demorarei muito.

— Já sabe onde me encontrar.

Enquanto o policial ia para a mesa, Phury andou por trás da ária VIP, parando diante dos dois seguranças que vigiavam a porta privada do Reverendo.

— Direi que você está aqui. — disse o da esquerda.

Uma fração de segundo mais tarde permitiram a entrada de Phury. O escritório era uma cova, fracamente iluminada com teto baixo, e o vampiro dentro do escritório dominava o espaço, especialmente quando se levantou.

Reverendo media uns dois metros, e a estreita crista que usava em seu cabelo combinava tanto quanto o fazia seu excelente e luxuoso traje Italiano. Seu rosto era desumano e inteligente, o tornando legitimamente perigoso no negócio no qual estava. Embora, seus olhos... Seus olhos não encaixavam. Eram curiosamente bonitos, da cor das ametistas, um púrpura tão profundo que resplandecia.

— De volta tão rápido? — disse o macho, com sua voz grave, profunda, mais dura que de costume.

Pegue o produto e parta logo, pensou Phury.

Pegou seu maço de dinheiro, separando três das grandes. Desdobrou as notas de mil em cima da escrevinha cromada.

— O dobro do de costume. E, a quero cortada.

Reverend sorriu friamente e virou a cabeça para esquerda.

— Rally, dê ao macho o que necessita. E, embainha essa O-Zs. — um subordinado saiu da escuridão e saiu através da porta de trilho na esquina mais afastada da sala.

Quando estavam sozinhos, Reverendo rodeou a escrivaninha lentamente, movendo-se como se tivesse azeite nas veias, todo poder sinuoso. Quando deu a volta, aproximou-se o bastante para tocar Phury deslizando sua mão no casaco e encontrando uma de suas armas.

— Tem certeza que não está interessado em algo um pouco mais forte? — disse Reverendo — Essa fumaça vermelha é para um consumidor moderado.

— Se quisesse algo mais, pediria.

O vampiro se deteve ao seu lado. Muito, muito perto.

Phury franziu o cenho.

— Algum problema?

— Tem um bonito cabelo, sabe? É como o das fêmeas. Todas essas cores diferentes. — a voz do Reverendo era estranhamente hipnótica, seus olhos púrpuras, puramente ardilosos — Falando de fêmeas, ouvi dizer que não te aproveita do que minhas damas oferecem. É verdade?

— Por que te importa?

— Só quero estar seguro de que suas necessidades estão sendo atendidas. A satisfação do cliente é malditamente importante. — o macho se aproximou ainda mais mostrando com a cabeça o braço de Phury, que desapareceu dentro do seu casaco — Sua mão está na culatra da pistola, não? Tem medo de mim?

— Só quero estar seguro de que posso me encarregar de você.

— Oh, de verdade?

— Sim. No caso de precisar de uma pequena Glock para pronunciar uma reanimação.

Reverendo sorriu amplamente, cintilando as presas.

— Sabe, ouvi esse rumor... Sobre um membro da Irmandade que é celibatário. Sim, imagine um guerreiro que se abstém. E, ouvi algumas outras coisas sobre esse macho. Não tem uma perna. Tem um sociopata cicatrizado como gêmeo. Por acaso não conhece esse Irmão?

Phury negou com a cabeça.

— Não.

— Hum. Curioso, vi-te rondando com um tipo que parecia levar uma máscara de Halloween. Na realidade, vi-te com um par de grandes machos que estão de acordo com os tipos dos quais ouvi falar. Não acredita...

— Faça o favor de me dar minha erva. Esperarei lá fora. — Phury partiu de volta. Estava de mau humor para começar: frustrado por não ter encontrado uma briga, sangrando por dentro por haver-se fechado com Bela. Agora não tinha tempo para outro conflito. Dificilmente estava dentro de seus nervos.

— É celibatário porque você gosta dos machos?

Phury o olhou enfurecido por cima do ombro.

— O que aconteceu com você esta noite? Sempre é estranho, mas agora mesmo também está sendo um verdadeiro idiota.

— Sabe, possivelmente só precise de sexo. Não transo com varões, mas estou seguro que poderíamos te encontrar a um complacente.

Pela segunda vez em vinte e quatro horas, Phury explodiu. Avançou através do escritório, agarrou o Reverendo pelas lapelas de seu Gucci, e o cravou na parede.

Phury pressionou o peito do tipo.

— Por que está procurando briga?

— Você me beijará antes do sexo? — murmurou Reverendo, ainda brincando — Acredito que é o mínimo que pode fazer, considerando que só nos conhecemos profissionalmente. Ou não gosta das preliminares?

— Foda-se.

— Isso é uma resposta original. Teria esperado algo um pouco mais interessante de sua parte.

— Certo. Como esta?

Phury presenciou-se irrefutavelmente na boca do macho, o beijo, uma pressão entre rostos, nada remotamente sexual. E, o fez só para apagar a expressão na cara do bastardo. Funcionou. Reverendo ficou rígido e grunhiu, e Phury soube que tinha descoberto as intenções do tipo. Mas, só para assegurar-se que tinha aprendido a lição, cortou o lábio inferior do macho com uma presa.

No instante em que o sangue bateu em sua língua, Phury retrocedeu, com a boca aberta. Através da sacudida respirou:

— Bem, quem o diria, comedor de pecados.

Ao som da palavra, Reverendo cortou toda a sandice, ficando bem e completamente sério. No silêncio parecia estar considerando suas negativas plausíveis.

Phury negou com a cabeça.

— Nem o tente. Posso saborear.

Os olhos ametistas se estreitaram.

— O termo politicamente correto é symphath.

As mãos de Phury apertaram ao macho em um ato reflexivo. Merda sagrada. Um symphath. Aqui em Caldwell e vivendo entre as espécies. Fazendo-se passar por qualquer outro civil.

Homem, isso era uma informação crucial. A última coisa que Wrath precisava era outra guerra civil de raças.

— Só vou te avisar algo. — disse Reverendo brandamente — Se me delatar, perderá seu fornecedor. Pense nisso. Onde conseguirá o que necessita, se eu estiver fora de cena?

Phury olhou dentro daqueles olhos púrpuros, ainda refletindo sobre as implicações. Ia contar aos Irmãos logo que chegasse em casa, e ia vigiar o Reverendo de perto. E quanto a entregar o tipo... A discriminação que os symphaths haviam confrontando ao longo da história sempre lhe parecera injusta... Sempre e quando não começassem a jogar fora a porcaria e o metessem em apuros. E, Reverendo fazia funcionar o clube durante os últimos cinco anos sem problemas relacionados com o comportamento symphath.

— Vamos fazer um pequeno trato. — disse Phury, olhando enfurecidamente dentro do violeta e fixo olhar — Eu me calo e você se mantém no anonimato. Tampouco trate de ferrar-me outra vez. Não vou seguir tua cantilena para que me sugue as emoções, o que estava fazendo agora, não? Queria-me furioso porque estava faminto de sentimentos.

A boca de Reverendo abriu justo quando a porta do escritório se entreabriu. Uma vampiro fêmea entrou sem convite, parando bruscamente quando viu a inegável cena: dois machos juntos, o lábio de Reverendo sangrando, e sangue na boca de Phury.

— Por todos os infernos, fora daqui! — ladrou Reverendo.

A fêmea se foi tão rápido que tropeçou, golpeando o cotovelo com o marco da porta.

— Então, temos um trato? — picou Phury quando ela saiu.

— Se você admitir que é um Irmão.

— Não sou.

Os olhos de Reverendo relampejaram.

— Só para que saiba, não acredito em você.

Phury de repente teve a noção de que o tema da Irmandade ter surgido esta noite não foi acidental. Inclinou-se para o macho violentamente.

— Perguntando-se o que aconteceria caso sua identidade saísse à luz?

— Nós… — Reverendo tomou um profundo fôlego — Temos um trato.

 

Butch elevou a vista quando a mulher que enviou para inspecionar Phury retornou. Normalmente as compras eram feitas com rapidez, mas tinham passado uns bons vinte minutos.

— Meu menino ainda esta ali? — perguntou Butch, reparando distraidamente que ela se esfregava o cotovelo como se doesse.

— Oh, está ali. — quando lhe lançou um estreito sorriso, de repente se deu conta que era uma vampiro. Essa coisa como um pequeno sorriso era uma careta que todos eles faziam quando estavam entre humanos.

E, ela era de certo modo atrativa, supôs, com o comprido cabelo loiro e o couro negro em seus seios e quadris. Quando deslizou a seu lado no assento, sentiu seu perfume e pensou ociosamente em sexo pela primeira vez em... Bom, desde que se encontrou com Marissa no verão.

Tomou um comprido trago, acabando o escocês em seu copo. Então, percorreu com os olhos os seios da fêmea. Sim, o sexo estava em sua mente, porém mais como um reflexo físico que qualquer outra coisa. O interesse não era como o que tinha tido por Marissa. Então, a necessidade tinha sido... Urgente. Reverente. Importante.

A fêmea a seu lado lançou um olhar como se soubesse a direção de seus pensamentos.

— Seu amigo poderá demorar um pouco.

— Sim?

— Eles só estavam começando a ir ao ponto.

— A compra?

— O sexo.

A cabeça de Butch se elevou rapidamente e se olharam fixamente.

— Perdão?

— Oh, ui! — franziu o cenho — Estão juntos ou algo assim?

— Não, não estamos juntos. — disse bruscamente — De que demônios está falando?

— Sim, realmente não pensei que você fosse assim. Você se veste bem, mas não libera esse tipo de vibração.

— E, meu amigo não está com homens, tampouco.

— Está seguro sobre isso?

Pensou sobre seu celibato e começou a perguntar-se.

Dá no mesmo. Necessitava outra bebida, não precisava misturar-se nos negócios de Phury. Elevando o braço, fez gestos à garçonete, que se aproximou apressadamente.

— Outro escocês duplo. — disse. Para ser educado, voltou-se para fêmea a seu lado — Quer algo?

A mão dela aterrissou em sua coxa.

— De fato, sim. Mas, ela não pode me dar isso.

Quando a garçonete partiu, Butch se reclinou no reservado, esticando ambos os braços para fora, abrindo-se. A fêmea tomou como um convite, inclinando-se para ele, movendo sua mão para o sul. Seu corpo se agitou, o primeiro sinal de vida em meses, e teve um pensamento fugaz de que possivelmente poderia tirar Marissa da cabeça com um pouco de sexo.

Enquanto a fêmea lhe acariciava através das calças, observou-a com interesse clínico. Sabia aonde conduzia isto. Acabaria fazendo em um dos lavabos privados dali. Possivelmente levasse dez minutos, se chegasse. Levaria ela ao êxtase, feito o trabalho, ele se afastaria dela.

Deus, tinha jogado esse jogo rotineiro centenas de vezes durante sua vida. E, eram realmente só masturbações disfarçadas de sexo. Nenhum problema.

Pensou em Marissa… E, sentiu ardência nos condutos lacrimais.

A fêmea a seu lado se moveu tanto, que seus seios estiveram em cima de seu braço.

— Vamos lá para trás, carinho.

Pôs a mão sobre a sua entre perna e ela fez algum tipo de ronrono em sua orelha. Ao menos até que lhe tirou a mão.

— Sinto muito. Não posso.

A fêmea se separou e o olhou como se ele tivesse brincado com ela. Butch fixou o olhar diretamente atrás.

Não estava preparado para dizer que nunca mais voltaria a ter sexo. E, certamente não podia entender por que Marissa lhe tinha dado muito mais do que recebeu. Tudo o que sabia era que o velho costume de montar com mulheres aleatórias não era feito para ele esta noite.

De repente, a voz de Phury cortou o ruído ambiental do clube.

— Êh, policial, quer ir ou ficar?

Butch elevou o olhar. Houve uma leve pausa enquanto especulava a respeito de seu amigo.

Os olhos do Irmão se estreitaram.

— O que aconteceu, policial?

— Estou pronto para ir. — disse Butch, aliviando o embaraçoso momento.

Quando levantou, Phury jogou um duro olhar à loira. Um verdadeiro especial “mantém sua boca fechada”.

Uau!, pensou Butch enquanto se dirigia à porta. Então, Phury realmente era gay.

 

Um leve ruído despertou Bela, horas mais tarde. Olhando para a janela observou como desciam à persiana de aço. O amanhecer estava perto.

A ansiedade formigava em seu peito, e olhou para a porta. Desejava que Zsadist entrasse por ela, desejava cravar os olhos nele e assegurar-se de que estava inteiro. Embora parecesse que tinha retornado à normalidade quando saiu, tinha-lhe feito passar por muitas coisas.

Virou sobre suas costas e pensou sobre a revelação de Mary. Como Zsadist soube que ela necessitava de uma amiga? E, Deus, o fato de que tivesse pedido a Mary e…

A porta se abriu completamente, sem aviso prévio.

Bela sentou rapidamente, subindo as mantas até o pescoço. Mas, então a sombra de Zsadist foi um alívio impressionante.

— Sou eu. — disse bruscamente. Quando entrou trazia uma bandeja e havia algo em seu ombro. Uma bolsa — Importa-te se acender as luzes?

— Olá… — Estou tão contente de que esteja bem — Não, não me incomodo.

Acendeu várias velas, e ela piscou pelo repentino resplendor.

— Trouxe algumas coisas pra você de sua casa. — pôs a bandeja de comida na mesinha de cabeceira e abriu a bolsa — Peguei roupas e um casaco. O xampu que estava na ducha. Uma escova. Sapatos. Meias três-quartos para conservar seus pés quentes. Também o seu diário… Não se preocupe, não li nada.

— Eu me surpreenderia se o fizesse. É mais confiável que isso.

— Não, sou analfabeto.

Seus olhos flamejaram.

— De toda forma… — sua voz era tão dura como a linha de sua mandíbula — Acreditei que quereria algumas de suas coisas.

Quando pôs a bolsa a seu lado na cama, ela ficou olhando-o fixamente até que, afligida, estendeu a mão para alcançá-lo. Quando se sobressaltou, ruborizou e olhou o que ele havia lhe trazido.

Deus… A deixava nervosa ver suas coisas. Especialmente o diário.

Porém, foi reconfortante tirar seu suéter vermelho favorito, colocou-o no nariz e sentiu o cheiro do perfume que sempre usava. E… Sim, o pente, seu pente, que gostava com sua cabeça larga, quadrada e as pontas metálicas. Pegou o xampu, abrindo-o e inalando. Ahhh… Biolage[15]. Nada parecido ao perfume que o lesser lhe tinha feito usar.

— Obrigado. — a voz tremente enquanto pegava seu diário — Muito obrigado.

Acariciou a capa de couro de seu diário. Não queria abri-lo. Não agora. Mas, logo…

Elevou o olhar para Zsadist.

— Você me levaria para casa?

— Sim. Posso fazê-lo.

— Tenho medo de ir ali, mas certamente deveria.

— Só me diga quando.

Reunindo coragem, querendo tirar do caminho uma das coisas pendentes, disse:

— Quando anoitecer. Quero ir lá.

— Certo, iremos. — mostrou a bandeja — Agora, come.

Ignorando a comida, observou-o entrar no armário e desarmar-se. Era cuidadoso com suas armas, as verificando a fundo, e se perguntou onde tinha estado… O que tinha feito. Embora suas mãos estivessem limpas, seus antebraços tinham sangue negro.

Tinha matado esta noite.

Supôs que sentiria uma espécie de triunfo com um lesser a menos. Mas, enquanto Zsadist ia para o banho com umas calças sobre seus braços, estava muito mais interessada em seu bem-estar.

E, também… Em seu corpo. Movia-se como um animal, no melhor sentido da palavra, todo poder latente e elegante passo. O sexo que despertou nela a primeira vez que o viu, golpeou-a de novo. Desejava-o.

Quando a porta do banheiro se fechou e ouviu a ducha, esfregou os olhos decidindo que estava louca. O macho se separou da ameaça de sua mão em seu braço. Pensava que realmente queria deitar-se com ela?

Desgostosa com ela mesma, olhou a comida. Era algum tipo de frango com ervas, batatas assadas e abobrinha. Havia um copo de água e outro de vinho branco, assim como duas maçãs Granny Smith e um pedaço de bolo de cenouras. Pegou o garfo e pulverizou o frango pelo prato. Queria comer o que havia no prato só porque ele tinha sido tão atento ao trazer-lhe.

Quando Zsadist saiu do banheiro vestindo só as calças de náilon, congelou-se e não pôde afastar seu olhar. Os anéis do mamilo apanharam a luz das velas, assim como os duros músculos do estômago e braços. Junto com a marca estrelada da Irmandade, o peito nu tinha um recente e lívido arranhão que o atravessava e um machucado.

— Está ferido?

Foi para ela e examinou o prato.

— Não comeu muito.

Não lhe respondeu enquanto seus olhos estavam apanhados nos ossos curvos do quadril que se sobressaíam da cintura baixa das calças. Deus… Só um pouquinho mais baixo e poderia vê-lo todo.

De repente recordou dele esfregando-se rudemente porque pensava que era asqueroso. Engoliu em seco, perguntando-se o que lhe haviam feito, sexualmente. Deseja-lo como ela fazia parecia… Inapropriado. Invasivo. Porém, não mudava a maneira como ela se sentia.

— Não estou com muita fome. — murmurou.

Aproximou-lhe a bandeja.

— Come de toda forma.

Quando começou a comer outra vez o frango, ele pegou as duas maçãs e passeou pelo quarto. Mordeu uma delas, sentou no chão com as pernas cruzadas e os olhos fechados. Um braço cruzado sobre seu estômago enquanto mastigava.

— Jantou lá embaixo? — perguntou ela.

Negou com a cabeça e mordeu outra parte de maçã, o rangido ressonou por todo o quarto.

— É tudo o que comerá? — quando encolheu os ombros, ela resmungou — E, diz a mim que como pouco?

— Sim, faço. Continue comendo, mulher.

— Você não gosta de frango?

— Eu não gosto de comida. — os olhos nunca abandonaram o chão, mas sua voz foi mais aguda — Agora, come.

— Por que você não gosta de comida?

— Não posso confiar nela. — disse entre dentes — A menos que eu mesmo a prepare, ou que a veja sendo preparada não se pode saber o que há.

— Por que pensa que alguém pode alterar...

— Mencionei que eu não gosto de falar?

— Dormirá a meu lado esta noite? — a pergunte lhe escapou, imaginando que obteria sua resposta antes que se calasse completamente.

Suas sobrancelhas se moveram interrogativamente.

— Realmente quer isso?

— Sim.

— Então, sim. Farei.

Enquanto acabava as duas maçãs e ela limpava o prato, o silêncio não foi precisamente fácil, mas tampouco chocante. Quando acabou com o bolo de cenouras, foi ao banheiro e escovou os dentes. Quando ela retornou, ele roia o miolo da última maçã com suas presas, partindo os pedacinhos que restavam.

Não podia imaginar como podia lutar com semelhante dieta. Certamente deveria comer mais.

Sentiu-se como se devesse dizer algo, mas em troca deslizou na cama e enrolando-se, esperou-o. Enquanto passavam os minutos, e tudo o que ele fazia era mordiscar cirurgicamente essa maçã, ela não podia agüentar a tensão.

Basta, pensou. Realmente deveria ir para outro lugar da casa. Usava-o como uma muleta, e isso não era justo.

Afastou os lençóis justo quando ele se desenrolava do chão. Quando caminhou para a cama, ela ficou gelada. Deixou cair os miolos das maçãs no prato, pegou um guardanapo que ela tinha usado para limpar a boca. Depois de esfregar as mãos, pegou a bandeja e a tirou do quarto, deixando-a do lado de fora da porta.

Ao retornar foi ao outro lado da cama, e o colchão afundou quando se esticou em cima do edredom. Cruzando os braços sobre seu peito e os pés pelos tornozelos, fechou os olhos.

Uma a uma, as velas se apagaram no quarto. Quando ficou uma só vela queimando, disse:

— Deixarei essa acesa para que possa ver.

Olhou-lhe.

— Zsadist?

— Sim?

— Quando estava... — esclareceu-se garganta — Quando estava nesse buraco no chão, pensava em você. Queria que fosse me buscar. Sabia que me tiraria dali.

Suas sobrancelhas descenderam embora as pálpebras estivessem baixas.

— Eu também pensei em você.

— Fez? — moveu o queixo acima e abaixo, enquanto ela dizia — De verdade?

— Sim. Alguns dias... Você foi tudo no que eu podia pensar.

Bela sentiu que seus olhos aumentavam. Girou para ele e apoiou a cabeça em um braço.

— Sério? — quando não lhe respondeu, ela pressionou — Por quê?

Seu grande peito se expandiu e exalou um fôlego.

— Queria te recuperar. Isso é tudo.

Oh... Somente cumpria com seu trabalho.

Bela deixou cair o braço e lhe virou as costas.

— Bom... Obrigado por me buscar.

Em silêncio observou queimar a vela na mesinha de cabeceira. A chama em forma de lágrima ondulava tão bonita, tão elegante...

A voz de Zsadist era suave.

— Odiava a idéia de que estivesse sozinha e assustada. Que alguém tivesse feito mal a você. Não podia... Deixar.

Bela deixou de respirar e olhou por cima do ombro.

— Não pude dormir nessas seis semanas. — murmurou — Tudo o que podia ver quando fechava os olhos era você, pedindo ajuda.

Deus, embora seu rosto fosse muito rude, sua voz era tão suave e tão bonita, como a chama da vela.

Girou a cabeça para ela e abriu os olhos. Seu escuro olhar estava cheio de emoção.

— Não sei como pôde sobreviver tanto tempo. Estava seguro de que tinha morrido. Mas, então encontramos o lugar e te tirei desse buraco. Mas, quando vi o que te tinha feito...

Bela lentamente se virou, não querendo assustá-lo com uma retirada.

— Não recordo nada disso.

— Bom, isso é bom.

— Algum dia... Precisarei saber. Você me contará isso?

Ele fechou os olhos.

— Se realmente quiser os detalhes.

Ficaram em silêncio durante um tempo, e então ele se moveu para ela, rodando para um lado.

— Odeio lhe perguntar isso, mas como era? Pode recordar algo específico sobre ele?

Suficiente, pensou. Muito.

— Êh, ah, tingia o cabelo de castanho.

— O que?

— Quero dizer, estou quase segura que o fazia. Cada semana, assim que entrava no banheiro podia cheirar os produtos químicos. E, tinha raízes. Uma pequena linha branca em seu couro cabeludo.

— Mas, acreditava que empalidecer era bom porque significava que fazia tempo que pertenciam à Sociedade.

— Não sei. Acredito que tinha... Ou tem... Uma posição de poder. Pelo que podia ouvir do buraco, os outros lesser eram cautelosos a seu redor. E, o chamavam ‘O’.

— Algo mais?

Tremendo, retornou ao pesadelo.

— Ele me amava.

Um grunhido vibrou de Zsadist, grave e desagradável. Gostou desse som. A fazia sentir-se protegida. Deu-lhe força para seguir falando.

— O lesser, disse-me... Disse-me que me amava, e o fazia. Estava obcecado por mim. — lentamente soltou o fôlego, tratando de acalmar seu palpitante coração — No princípio estava aterrorizada, mas depois utilizei seus sentimentos contra ele. Queria lhe machucar.

— Fez?

— Às vezes, sim. Fiz-lhe... Chorar.

A expressão de Zsadist foi mais que estranha. Como se tivesse... Inveja.

— Como se sentiu?

— Não quero dizê-lo.

— Porque foi bom?

— Não quero que pense que sou cruel.

— A crueldade é diferente da represália.

No mundo de um guerreiro, imaginou que fosse certo.

— Não estou segura de estar de acordo.

Seus escuros olhos se estreitaram.

— Há alguns que quereriam te vingar. Sabe isso, não?

Pensou a respeito dele, saindo de noite para caçar ao lesser sem poder suportar a idéia que poderia machucar-se. Então, imaginou a seu irmão, tão furioso e orgulhoso, preparado também para rasgar ao assassino.

— Não… Não quero que faça isso. Nem você, nem Rehvenge. Nem ninguém.

De repente, uma corrente atravessou a habitação, como se tivessem aberto a janela de repente. Olhou ao redor e se deu conta que a onda fria tinha saído do corpo de Zsadist.

— Tem um companheiro? — perguntou abruptamente.

— Por que o… Oh, não, Rehvenge é meu irmão. Não meu companheiro.

Os grandes ombros relaxaram. Mas, então franziu o cenho.

— Teve algum?

— Ter um companheiro? Por um tempo, sim. Mas, as coisas não funcionaram.

— Por quê?

— Por meu irmão. — fez uma pausa — Realmente, isso não é certo. Mas, quando o macho não pôde enfrentar Rehv, perdi o respeito por ele. E, então… O tipo contou detalhes de nossa relação na glymera e as coisas… Se complicaram.

De fato, ficaram horríveis. A reputação do macho permaneceu intacta, é obvio, enquanto que a dela se fez migalhas. Possivelmente essa era a razão pela qual se sentia tão atraída por Zsadist. Não lhe importava o que pensassem dele. Não havia subterfúgios, nem maneiras corteses escondendo seus pensamentos e instintos. Era honesto, e essa franqueza, embora servisse para revelar sua cólera, a fazia sentir-se segura ao confiar nele.

— Vocês foram… — foi ficando sem fala.

— Fomos o que?

— Amantes? — em um áspero arrebatamento, Zsadist amaldiçoou — Não importa, não é por mim…

— Ah, sim, fomos, Rehv nos descobriu, e ali foi onde começaram os problemas. Já sabe como é a aristocracia. Uma mulher que se deita com alguém que não é seu marido? Pode jurar que está manchada por toda vida. Acredito que sempre desejei ter nascido civil. Mas, não se pode escolher sua ascendência, verdade?

— Amava o macho?

— Pensava que sim. Mas… Não. — pensou na caveira ao lado do colchonete de Zsadist — Esteve apaixonado alguma vez?

A esquina de sua boca se elevou em um grunhido.

— Que diabos acredita?

Quando ela retrocedeu, fechou os olhos.

— Sinto muito. Quero dizer, não. Isso seria um não.

Então por que conservava esse crânio? De quem era? Estava a ponto de perguntar quando cortou a pergunta.

— Seu irmão em pensa ir atrás do lesser?

— Indubitavelmente. Rehvenge é... Bom, foi meu guardião desde que meu pai morreu quando era muito jovem, e Rehv é muito agressivo. Extremamente agressivo.

— Bom, então lhe diga que não se mova. Eu vou vingar-te.

— Não. — disse lhe disparando um olhar.

— Sim.

— Mas, não quero que o faça. — não poderia viver consigo mesma se ele morresse no processo.

— Não posso me deter. — apertou com força seus olhos fechados — Jesus… Não posso respirar sabendo que esse bastardo está ali fora. Tem que morrer.

Medo e gratidão e algo completamente cálido se apertou em seu peito. Em um impulso, inclinou-se e lhe beijou nos lábios.

Saltou para trás com um gemido, os olhos mais abertos do que se lhe tivesse esbofeteado.

Oh, demônios. Por que tinha feito isso?

— Sinto muito. Sinto muito, eu…

— Não, está bem. Estamos bem. — virou sobre suas costas e elevou a mão até a boca. Esfregou os lábios com os dedos, como se limpasse dela.

Quando ela suspirou bem e fortemente, ele disse:

— O que ocorre?

— Sou tão desagradável ao gosto?

Ele deixou cair o braço.

— Não.

Que mentira.

— Possivelmente posso te conseguir um pano para te lavar, quer?

Quando ia sair disparada da cama, uma mão lhe segurou o braço.

— É meu primeiro beijo, ok? É só que não o esperava.

Bela ficou sem respiração. Como era possível?

— Oh, pelo amor de Deus, não me olhe assim. — deixou-a ir e voltou a olhar para o teto.

Seu primeiro beijo…

— Zsadist?

— O que.

— Você me deixaria fazê-lo outra vez?

Houve uma longa, longa pausa. Avançando lentamente para ele, pressionou seu corpo contra os lençóis e mantas.

— Não te tocarei com nada mais. Só meus lábios. Sobre os teus.

Gire a cabeça, desejava ferventemente. Gire a cabeça e me olhe.

E, ele o fez.

Não esperou um convite por escrito ou que ele mudasse de idéia. Pressionou os lábios contra os seus ligeiramente, então revoou sobre sua boca. Quando permaneceu quieto, lançou-se abaixo e esta vez o acariciou. Sua respiração se entrecortou.

— Zsadist?

— Sim. — sussurrou.

— Relaxe a boca para mim.

Com cuidado para não se jogar sobre ele, apoiou-se em seus antebraços e se aproximou de novo. Seus lábios eram chocantemente suaves, exceto pelas cicatrizes do lábio superior. Para assegurar-se que sabia que essa imperfeição não lhe importava, deliberadamente atendeu esse lugar, voltando ali uma e outra vez.

E, então aconteceu: devolveu-lhe o beijo. Foi só um leve movimento de sua boca, mas o sentiu até em seu coração. Quando o fez outra vez, elogiou-o gemendo um pouco e deixando tomar iniciativa.

Deus, era tão indeciso, movendo-se sondando sua boca com as mais suaves carícias. Beijou-a docemente e com cuidado, tinha sabor de maçãs e a espécie masculina. E, o contato entre eles, embora leve e lento, foi suficiente para que lhe doesse.

Quando ela tirou ligeiramente a língua e lhe lambeu, afastou-se bruscamente.

— Não sei o que estou fazendo aqui.

— Sim, sabe. — inclinou-se para manter o contato — Realmente sabe.

— Mas...

Sossegou-o com sua boca, e não muito tempo depois retornou ao jogo. Esta vez quando sua língua lhe acariciou, abriu os lábios, e sua própria língua a encontrou habilidosamente cálida. Uma volta lenta começou… E, então ele estava em sua boca, pressionando, procurando.

Sentiu a agitação sexual nele, o calor e a urgência cresciam em seu grande corpo. Estava desejosa de que estendesse a mão e a arrastasse contra ele. Quando não o fez, relaxou-se o olhando. Tinha as bochechas vermelhas e os olhos brilhando intensamente. Estava faminto dela, mas não fez nenhum movimento para aproximá-la. Nem o faria.

— Quero te tocar. — disse ela.

Mas, quando elevou a mão, esticou-se e lhe agarrou fortemente o pulso. O medo sobrevoou debaixo de sua superfície, podia senti-lo ondeando através de seu corpo, esticando-o. Esperou que ele recuperasse o sentido, sem lhe pressionar.

Seu agarro lentamente se afrouxou.

— Só... Vai devagar.

— Prometo.

Começou com o braço, percorrendo de cima a baixo com as pontas dos dedos a suave pele sem pêlo. Seguia inseguro o movimento com os olhos, mas ela não levou a mau, os músculos se moviam nervosamente, estremecendo-se a sua passagem. Acariciou-o lentamente, deixando que se acostumasse a seu toque, e quando estava segura que ele estava cômodo, inclinou-se para ele e pousou seus lábios nos bíceps, ombro, clavícula, a parte superior dos peitorais dele.

Dirigia-se para seu mamilo perfurado.

Quando estava perto da argola de prata com a pequena bola, elevou o olhar. Tinha os olhos muito abertos, tão abertos que se via todo o branco ao redor de sua íris.

— Quero te beijar aqui. — disse — Posso?

Assentiu com a cabeça e lambeu os lábios.

No momento em que sua boca fez contato, seu corpo se sacudiu como se alguém puxasse seus braços e pernas ao mesmo tempo. Ela não se deteve. Sugou o piercing e enroscou a língua em seu redor.

Zsadist gemeu, o som grave retumbou em seu peito, logo inspirou com um gemido. Sua cabeça caiu no travesseiro, mas manteve um ângulo que lhe permitia observá-la.

Quando ela deu batidinhas no aro de prata e o sacudiu um pouco, arqueou-se fora da cama, uma perna pendurada, o tornozelo afundado no colchão. Fez-lhe cócegas no mamilo uma e outra vez até que ele fez uma bola entre seus punhos com o edredom.

— Oh… Droga, Bela… — respirava em um ritmo violento, cru, irradiando calor — O que está me fazendo?

— Quer que pare?

— Isso ou o faz mais duro.

— Que tal um pouquinho mais?

— Sim… Um pouco mais.

Trabalhou-o com a boca, brincando com o anel, lhe conduzindo até que seus quadris começaram a balançar-se.

Quando olhou para seu corpo, perdeu o ritmo. Sua ereção era tão maciça que empurrava contra o magro nylon de suas calças de exercício, e ela via tudo: a arredondada cabeça com sua elegante crista, o grosso eixo, os testículos debaixo.

Meu Deus. Ele era… Enorme.

Estava completamente úmida entre as coxas e moveu seu olhar para encontrar o dele. Suas pálpebras ainda para trás e sua boca aberta com o sobressalto, a comoção e a fome guerreando em sua face.

Estendeu a mão e empurrou o polegar entre seus lábios.

— Sugue-me.

Pegou-o em seguida sugando fortemente e olhando como ela seguia. Um frenesi se apoderou dele, ela podia sentir. A luxúria crescia nele, lhe convertendo em um paiol de pólvora, e Santo Inferno, ela o desejava. Desejava que ele explodisse completamente. Dentro dela.

Soltou seu mamilo, tirou o polegar de sua boca, e se elevou para empurrar a língua entre seus lábios. Com essa invasão ele gemeu grosseiramente, seu grande corpo sacudindo-se contra o agarro que mantinha com as mantas.

Desejava que se soltasse e a tocasse, mas não podia esperar. Esta primeira vez, ela deveria ter o controle. Empurrou longe as mantas, deslizou a parte superior de seu corpo sobre seu peito, e jogou a perna sobre seus quadris.

No instante que seu peso caiu na parte superior dele, esticou-se e deixou de beijá-la.

— Zsadist?

Rechaçou-a com tanta força que ela ricocheteou sobre o colchão.

Zsadist escapou da cama, ofegando enlouquecido, seu corpo apanhado entre o passado e o presente, uma estreita linha entre os dois.

Parte dele queria mais do que Bela lhe estava fazendo. Caramba, morria por continuar explorando sua primeira excitação sexual. As sensações eram incríveis. Uma revelação. A única coisa boa que havia sentido… Alguma vez.

Pela Virgem do Fade, não era estranho que os machos matassem para proteger a suas companheiras.

Porém, ele não podia suportar ter uma fêmea em cima dele, inclusive se fosse Bela, e o pânico selvagem golpeou através dele, agora mesmo era perigoso. O que aconteceria se começasse a golpeá-la? Pelo amor de Deus, se ele já a tinha jogado sobre a maldita cama.

Deu-lhe uma olhada. Estava tão dolorosamente bela entre os lençóis revoltos e os travesseiros esparramados. Mas, estava aterrorizado dela, e por causa disso, aterrorizado por ela. Os toques e beijos, por mais que o tivesse envolvido no princípio, eram muito mais que um detonante para ele. E, não podia colocar-se nessa situação de confusão estando perto dela.

— Não faremos isso outra vez. — disse — Esta merda não passou.

— Você gostou. — sua voz foi suave, mas forte — Pude sentir seu sangue correndo velozmente sob minhas mãos.

— Sem discussão.

— Seu corpo se endureceu por mim.

— Quer que te faça mal? — enquanto apertava fortemente um travesseiro, ele a pressionou mais forte — Porque, vê se entende, o sexo e eu só seguimos um caminho, e não é algo do que queira tomar parte.

— Eu gostei da maneira que me beijou. Quero me deitar com você. Fazer amor com você.

— Fazer amor? Fazer amor? — estendeu os braços — Bela… Tudo que posso te oferecer são restos. Você não gostaria, e francamente eu não gostaria de fazer isso. Merece mais.

— Senti seus lábios sobre os meus. Foram suaves...

— Oh, por favor…

— Cale-se e me deixe terminar!

Z ficou boquiaberto, seguro que lhe tinha dado um pontapé no traseiro. Ninguém tinha falado nesse tom com ele. A anomalia só teria obtido sua atenção, mas o fato que fosse ela o deixou pasmo.

Bela jogou seu cabelo por cima do ombro.

— Se não desejar ficar comigo, concordo. Só tem que dizer. Mas, não te esconda atrás do querer me proteger. Acredita que não sei o quanto rude seria o sexo com você?

— É por isso que o deseja? — perguntou com voz mortal — Pensa que só merece que lhe façam mal agora, depois do lesser?

Ela franziu o cenho.

— Não. Mas, se for a única maneira de te ter, então assim é como te terei.

Esfregou a cabeça com a mão, esperando que a fricção pudesse lhe fazer funcionar o cérebro.

— Acredito que te equivoca. — baixou o olhar ao chão — Não tem nem idéia do que está dizendo.

— Arrogante bastardo. — disse ela bruscamente.

Z elevou a cabeça de repente. Bom, pontapé número dois…

— Perdão?

— Nos faça o favor de não tratar de pensar por mim, ok? Porque está equivocado em cada maldito momento. — com isso partiu para o banheiro e fechou a porta com uma batida.

Zsadist piscou um par de vezes. Que demônios tinha acontecido?

Percorreu com o olhar o quarto como se os móveis ou possivelmente as cortinas pudessem lhe dar uma mão. Logo sua aguda audição captou um leve som. Ela estava... Chorando.

Com uma maldição, se dirigiu ao banheiro. Não bateu, só girou a fechadura e entrou. Estava de pé junto à ducha, com os braços cruzados, as lágrimas enchendo seus olhos de cor safira.

Oh… Deus. O que se supunha que um macho tinha que fazer nesta situação?

— Sinto. — resmungou — Se eu… Uh, feri seus sentimentos.

Ela o olhou, furiosa.

— Não estou doída. Estou muito zangada e sexualmente frustrada.

A cabeça estalou bruscamente em sua coluna. Bom... Então. Certo.

Homem, seria necessária uma coleira depois dessa conversa.

— Direi isso outra vez, Zsadist. Se não quer te deitar comigo, está bem, mas não trate de me dizer que não sei o quero.

Z plantou sua mão nos ossos dos quadris e desceu o olhar para o azulejo de mármore. Não diga nada, idiota. Só mantém a boca…

— Não é isso. — soltou de repente. Enquanto as palavras flutuavam no ar, amaldiçoou-se. Falar era ruim. Falar era realmente uma ridícula idéia…

— Não é o que? Quer dizer que me deseja?

Pensou que aquilo ainda tentava achar o caminho de saída de suas calças. Ela tinha olhos. Podia ver essa maldita coisa.

— Sabe que sim.

— Então se estiver disposta a te ter… Duro… — fez uma pausa, e teve a sensação de que ela se ruborizava — Então podemos estar juntos?

Sua respiração diminuiu até que seus pulmões arderam e o coração pulsava fortemente. Sentiu-se como se estivesse olhando por cima da borda de um precipício. Meu Deus, realmente não podia contar-lhe, não?

Seu estômago revirou-se quando as palavras saíram.

— Ela sempre estava em cima. A Mistress. Quando ela… Vinha para mim, sempre estava em cima. Você, oh, rodou sobre meu peito e… Isso não rola.

Esfregou a face, enquanto tentava esconder que tratava de mitigar uma súbita dor de cabeça.

Ouviu como ofegou. Precavendo-se que era ela.

— Zsadist, sinto muito. Não sabia...

— Sim… Droga… Possivelmente poderia esquecer o que te disse. — Deus, precisava sair dali antes que sua boca começasse a balbuciar outra vez — Olhe, vou ao…

— O que te fez? — a voz de Bela era fina como um cabelo.

Deu-lhe um olhar duro. Oh, nem em sonhos, pensou.

Aproximou-se dele.

— Zsadist, ela… Tomou contra sua vontade?

Virou-se.

— Vou ao ginásio. Eu te verei mais tarde.

— Espere...

— Mais tarde, Bela. Eu não posso… Fazer isto.

Enquanto partia pegou seu Nike e seu MP3.

Uma boa e longa corrida era justo o que necessitava agora. Uma longa… Corrida. Embora não o conduzisse a nenhum lugar. Ao menos poderia ter a suarenta ilusão que escapava de si mesmo.  

 

Phury olhou com desgosto através da mesa de bilhar da mansão, enquanto Butch calculava sua jogada. Havia algo diferente com o humano, mas como o policial encaçapou três bolas com um só movimento, seguro como o inferno que este não era seu jogo.

— Jesus, Butch. Quatro vitórias seguidas. Recorde-me, por que me incomodo de jogar com você?

— Porque a esperança é eterna. — Butch bebeu de um só trago o último de seu escocês — Quer outra partida?

— Por que não? Não posso piorar.

— Jogue, enquanto vou buscar mais bebida.

Quando Phury recolheu as bolas dos buracos, deu-se conta de qual era o problema. Cada vez que se virava, Butch o olhava fixamente.

— Tem algo na cabeça, policial?

O homem verteu dois dedos do Lagavulin, depois tomou um comprido trago.

— Não particularmente.

— Mentiroso. Esteve me olhando estranho desde que voltamos do ZeroSum. Por que não admite e o soltas?

Os olhos pardos de Butch encontraram seu olhar firmemente.

— É gay, amigo?

Phury deixou caiu à bola oito e fracamente a ouviu bater no piso de mármore.

— O que? Por que você…?

— Disseram-me que estava muito perto do Reverendo. — enquanto Phury amaldiçoava, Butch agarrou a bola negra e a enviou rodando de volta sobre o feltro verde — Olhe, não tenho problema se for. De verdade, importa-me uma merda para que lado vá. Mas, eu gostaria de saber.

Oh, isto é genial, pensou Phury. Não só ia atrás da fêmea que desejava seu irmão, agora supostamente estava saindo com um fodido symphath.

Aquela fêmea que tinha interrompido a ele e ao Reverendo, claramente tinha uma boca grande e... Cristo. Butch já devia ter dito a Vishous. Os dois eram como um velho casal, sem segredos entre eles. E, V o diria a Rhage. E, uma vez que Rhage soubesse, era como pôr as notícias na linha da Reuters.

— Phury?

— Não, não sou gay.

— Não se sinta como se tivesse que esconder ou algo.

— Não o faço. Simplesmente não sou.

— É bi, então?

— Butch, deixa. Se algum dos irmãos anda com coisas estranhas, é seu companheiro de quarto. — ante o olhar surpreso do policial, murmurou — Oh vamos, a esta altura já teria que saber sobre V. Vive com ele.

— Obviamente não… Oh, olá, Bela.

Phury se virou. Bela estava parada na soleira do quarto, vestida com um traje negro de cetim. Ele não podia deixar de olhá-la. Sua encantadora face voltara a ter um brilho saudável, as contusões se foram, sua beleza era reveladora. Ela era... Assombrosa.

— Olá. — disse ela — Phury, acredita que posso falar um momento com você? Depois que acabem?

— Butch, te importa se dermos uma pausa?

— Sem problema. Vejo você depois, Bela.

Quando o policial se foi, Phury afastou seu taco com desnecessária precisão, deslizando a madeira polida e clara na prateleira da parede.

— Tem bom aspecto. Como se sente?

— Melhor. Muito melhor.

Porque tinha se alimentado de Zsadist.

— Então... O que aconteceu? — perguntou, tentando não imaginá-la na veia de seu gêmeo.

Sem responder, Bela se dirigiu às portas francesas, arrastando a borda de seu vestido no do chão de mármore como uma sombra. Enquanto caminhava, as pontas de seu cabelo roçavam a parte baixa de suas costas, movendo-se com o balanço de seus quadris. A fome o golpeou com força, e rogou que ela não tivesse captado o aroma.

— Oh, Phury, olhe a lua, está quase cheia. — sua mão foi à janela e a deixou no vidro. — Oxalá pudesse...

— Quer sair agora? Posso te trazer um casaco.

Ela lhe sorriu por cima do ombro.

— Não estou com sapatos.

— Trarei isso também. Espere aqui.

Não demorou nada para voltar com um par de botas de pele e uma capa vitoriana que Fritz, como a pomba mensageira que era, tinha tirado de algum armário.

— Trabalha rápido. — disse Bela enquanto ele cobria seus ombros com o veludo cor vermelho sangue.

Ele se ajoelhou diante dela.

— Permita-me te ajudar a pôr as botas.

Ela levantou um joelho, e enquanto Phury deslizava a bota em seu pé, tentou não notar o quanto era suave a pele de seu tornozelo. Ou quanto o tentava seu aroma. Ou como podia simplesmente afastar o traje e...

— Agora o outro. — disse roucamente.

Uma vez que ela estava calçada, abriu a porta. Caminharam para fora juntos, seus passos rangendo sobre a neve que cobria o terraço. Ao chegar sobre a grama, Bela se envolveu mais na capa e levantou o olhar. Seu fôlego deixava baforadas brancas, e o vento movia o veludo vermelho ao redor de seu corpo, como se acariciasse o objeto.

— O amanhecer não está longe. — disse ela.

— Virá logo.

Phury se perguntava de que ela queria falar, mas então, o rosto de Bela ficou sério e ele soube por que tinha vindo. Zsadist. É óbvio.

— Quero te perguntar sobre ele. — murmurou ela — Seu gêmeo.

— Que deseja saber?

— Como se converteu em um escravo?

Oh, Deus... Ele não queria falar do passado.

— Phury? Você me dirá isso? Perguntaria a ele, mas...

Ah, diabos. Não havia uma boa razão para não lhe responder.

— Uma babá o levou. Tirou-o furtivamente de casa, quando tinha sete meses. Não pudemos encontrá-los em nenhum lugar, e até onde pude descobrir, ela morreu dois anos mais tarde. Quem quer que o encontrou, vendeu-o em escravidão.

— Deve ter sido duro para toda sua família.

— Pior. Uma morte sem corpo para enterrar.

— E quando... Quando era um escravo de sangue... — ela inspirou profundamente — Sabe o que lhe aconteceu?

Phury esfregou a nuca. Como ele vacilou, ela disse:

— Não estou falando das cicatrizes ou das alimentações forçadas. Desejo saber sobre... O que mais lhe fizeram.

— Olhe, Bela…

— Preciso saber.

— Por quê? — embora soubesse a resposta. Ela queria deitar-se com Z, provavelmente já o tinha tentado. Esse era o porquê.

— Simplesmente tenho que saber.

— Deveria lhe perguntar.

— Ele não me contará isso, já sabe. — ela pôs a mão em seu antebraço — Por favor, me ajude a entendê-lo.

Phury permaneceu tranqüilo, dizendo-se que era porque respeitava a intimidade de Z, e em grande medida era verdade. Somente a menor parte de seu ser não queria ajudar para que Z caísse na cama de Bela.

Bela apertou seu braço.

— Ele disse que o prenderam. E, que não pode suportar ter uma fêmea em cima quando… — ela se deteve — O que lhe fizeram?

Merda. Zsadist tinha falado de seu cativeiro com ela?

Phury amaldiçoou brandamente.

— Utilizaram-no para algo mais que sua veia. Mas, isso é tudo o que vou dizer.

— Oh, Deus. — seu corpo fraquejou. Só precisava ouvir de alguém. Precisava saber com segurança.

Ao passar uma rajada fria de vento, Phury respirou profundamente e mesmo assim se sentiu sufocado.

— Deveria entrar antes que se resfrie.

Ela assentiu e se dirigiu a casa.

— Não vem?

— Vou dar uma respirada primeiro. Vai agora.

Ele não a olhou entrar na casa, mas escutou a porta fechar-se.

Pondo as mãos nos bolsos, olhou por cima da ondulante grama branca. Depois, fechou os olhos e viu o passado.

Logo que Phury passou sua transição, procurou seu gêmeo, sondando o Velho País, procurando as casas que eram bastante ricas para ter criados. Tempos depois, escutou um repetido rumor de que havia um macho do tamanho de um guerreiro que era retido por uma fêmea de alta posição dentro da glymera. Mas, não pôde precisá-lo.

Algo que tinha sentido. Naquela época, a princípios do século dezenove, a espécie seguia relativamente coesa, e as velhas regras e costumes sociais seguiam sendo fortes. Se qualquer pessoa tivesse sido encontrada retendo um guerreiro como escravo de sangue, teria morrido sob a lei. Por isso teve que ser discreto em sua busca. Se exigisse uma congregação da aristocracia e lançasse uma chamada pela volta de seu gêmeo, ou se o pegassem tentando encontrar Zsadist, era como se pusesse uma adaga no peito do macho: matar Zsadist e se desfazer do corpo era a melhor e única defesa da captora.

No final do século XIX quase tinha perdido toda esperança. Seus pais já tinham morrido de causas naturais. A sociedade vampírica se fragmentou no Velho País, e a primeira das migrações a América tinha começado. Estava desarraigado, percorrendo a Europa, indo atrás de sussurros e de insinuações... Quando, repentinamente, encontrou o que estava procurando.

Estava em chão inglês a noite que aconteceu. Tinha ido a uma reunião de sua classe em um castelo nos escarpados de Dover. Estava parado em uma esquina escura do salão de baile, ouviu por acaso dois machos falando da anfitriã. Comentavam que ela tinha um escravo de sangue incrivelmente dotado, que ela gostava de ser olhada e às vezes inclusive compartilhar o escravo.

Phury tinha começado a cortejar a fêmea essa mesma noite.

Não se preocupou que seu rosto o delatasse, embora ele e Zsadist fossem gêmeos idênticos. Primeiro de tudo, suas roupas eram as de um macho rico, e ninguém suspeitaria que alguém de sua classe fosse atrás de um escravo que tinha sido comprado legitimamente no mercado quando criança. E, em segundo lugar, teve sempre cuidado de estar disfarçado. Deixou crescer uma barba curta para disfarçar seus traços, e ocultou seus olhos detrás de óculos escuros, que explicou dizendo que sua visão era pobre.

Seu nome era Catronia. Uma aristocrata rica que se uniu a um comerciante mestiço que fazia negócios no mundo humano. Evidentemente, muitas vezes estava sozinha, já que seu hellren viajava muito, mas o rumor dizia que tinha um escravo de sangue desde antes de sua união.

Phury pediu que lhe dessem acolhida na casa, e como era bem educado e atencioso, ela lhe permitiu passar a um quarto, apesar de ter sido vago sobre sua linhagem. A corte estava cheia de pretensiosos, e ele lhe atraía, assim obviamente estava disposta a passar por cima de certas formalidades. Mas, era cautelosa, também. As semanas passaram, e embora ela passasse muito tempo com Phury, nunca o levou ante o escravo que se dizia que possuía.

Cada ocasião que tinha, rastreava os terrenos e os edifícios, esperando encontrar seu gêmeo em algum tipo de cela oculta. O problema era que havia olhos por toda parte, e Catronia o mantinha ocupado. Sempre que seu hellren saía, o que acontecia freqüentemente, ela ia ao quarto de Phury, e quanto mais ele fugia de suas mãos, mais ela o desejava.

Tempo... Tempo foi tudo o que levou. O tempo e sua incapacidade de resistir a lhe mostrar seu prêmio, seu brinquedo, seu escravo. Uma noite, justo antes do amanhecer, convidou-o a seu dormitório pela primeira vez. A entrada secreta que ele tinha estado procurando, estava situada no hall de Catriona, na parte de trás de seu guarda-roupa. Juntos desceram por uma escada extensa e escarpada.

Phury ainda podia recordar a grossa porta de carvalho aberta ao fundo, e a vista do macho nu, preso, com as pernas estendidas, em uma cama com plataforma coberta de tapeçaria.

Zsadist estava olhando fixamente o teto, com o cabelo tão comprido que caía sobre o chão de pedra. Estava barbeado e coberto de azeite, como se tivesse sido preparado para a diversão da fêmea, e cheirava a especiarias caras. A fêmea foi direitamente a ele e o acariciou carinhosamente, seus avaros olhos marrons estampando sua propriedade sobre todo o corpo.

A mão de Phury tinha ido para a adaga a seu lado antes de saber o que fazia. Como se detectasse o movimento, a cabeça de Zsadist tinha girado lentamente, e seus olhos negros mortos tinham cruzado a distância entre eles. Não houve reconhecimento. Só ódio fervente.

Comoção e pesar tinham atravessado Phury, mas ele se manteve enfocado, procurando a saída. Havia outra porta ao outro lado da cela, mas aquela não tinha nenhum pomo ou cabo, só um pequeno entalhe a um metro e meio do chão. Estava pensando que possivelmente poderia abrir cami…

Catronia começou a tocar seu irmão intimamente. Tinha algum tipo de pomada nas mãos, e enquanto esfregava o pênis de seu gêmeo, dizia coisas odiosas sobre como seria seu tamanho. Phury mostrou as presas à fêmea e levantou a adaga.

A porta do outro lado se abriu, de repente. No outro lado estava um macho débil da corte que levava um traje de arminho ajustado. Ficou frenético ao anunciar que o hellren de Catronia havia voltado inesperadamente e a estava procurando. Os rumores sobre ela e Phury evidentemente tinham alcançado os ouvidos do macho.

Phury se agachou, preparado para matar a fêmea e ao macho da corte. Mas, o som de pés golpeando, muitos deles, repetiu-se no quarto.

O hellren desceu com estrondo a escadaria secreta, entrando com seu guarda privado no quarto. O macho ficou pasmo, claramente não sabia que ela tinha um escravo de sangue. Catronia começou a falar, mas ele lhe deu uma bofetada tão forte que a fêmea ricocheteou nas paredes de pedra.

O caos explodiu. O guarda privado foi atrás de Phury. O hellren foi atrás de Zsadist com uma faca. Matar aos soldados da corte foi um processo demorado e sangrento, e assim que Phury conseguiu liberar-se da luta, não havia sinal de Zsadist, só um rastro sangrento saindo da cela.

Phury se lançou pelo corredor, correndo através do subsolo do castelo, seguindo as listras vermelhas. Quando emergiu do corredor quase tinha amanhecido, por isso soube que tinha que encontrar Zsadist com prontidão. Quando se deteve brevemente para orientar-se, escutou um ruído rítmico cortando o ar.

Chicotadas.

À direita, Zsadist tinha sido pendurado em uma árvore no escarpado, e contra a vasta cortina de fundo do mar, estava sendo açoitado com crueldade.

Phury atacou aos três guardas que estavam açoitando o seu gêmeo. Embora os machos lutassem arduamente, ele tinha uma fúria selvagem. Matou-os e depois liberou Zsadist, só para ver mais guardas sair do biombo em blocos de cinco.

Com o sol a ponto de sair e o resplendor lhe queimando a pele, Phury soube que não restava tempo. Jogou Zsadist sobre os ombros, pegou uma das pistolas dos guardas e a colocou em seu cinturão. Então observou o escarpado e o oceano embaixo. Não era a melhor rota à liberdade, mas muito melhor que tentar abrir caminho lutando de volta ao castelo. Começou a correr, esperando lançá-lo suficientemente longe para cair no oceano.

Uma adaga que lançaram o atingiu na coxa, e tropeçou.

Não perdeu seu equilíbrio nem seu ímpeto. Ele e Zsadist caíram sobre a borda do escarpado e escorregaram pela face da rocha até que a bota do Phury se enganchou em uma greta. Como seu corpo parou de um puxão, mexeu-se para segurar Zsadist, sabendo condenadamente bem que o macho estava inconsciente e que se afogaria se caísse desacordado na água.

A pele cheia de sangue de Zsadist escorregou do agarro de Phury, deslizando-se livre…

Phury pegou o pulso de seu gêmeo no último segundo e apertou com força. Houve um puxão intenso quando o corpo pesado do varão se deteve, e a dor se estendeu pela perna de Phury. Sua visão se foi. Retornou. Voltou a ir. Phury podia sentir o corpo de Zsadist pendurado no ar, um balanço perigoso que desafiava sem piedade seu agarro.

Os guardas olharam com fixidez sobre a borda e depois mediram a crescente luz, tampando seus olhos. Riram, guardaram suas armas, e deram Phury e Zsadist por mortos.

Enquanto o sol crescia no horizonte, a força de Phury se drenava rapidamente, e ele soube que não poderia sustentar Zsadist muito mais tempo. A luz era horrível, queimava, somando-se à agonia que ele já sentia. E, não importava o quão forte puxasse sua perna, seu tornozelo seguia preso.

Procurou averiguar a pistola, tirando-a de sua cintura. Com uma respiração profunda, apontou o canhão para sua perna.

Atirou em si mesmo debaixo do joelho. Duas vezes. A dor era assombrosa, uma bola de fogo em seu corpo. Phury deixou cair à arma. Apertando com força os dentes, plantou seu pé livre no escarpado e empurrou com tudo que tinha. Gritou quando sua perna se estilhaçou e se desprendeu.

E, então se fez o profundo vazio no ar.

O oceano estava frio, mas tinha lhe sacudido da inconsciência e selado sua ferida, evitando que sangrasse. Atordoado, nauseabundo e desesperado, tinha forçado sua cabeça por cima das ondas entrecortadas, a única constante era o agarro a Zsadist. Prendendo a seu gêmeo em seus braços, mantendo a cabeça do macho acima da água, Phury nadou para a borda.

Benditamente, havia uma entrada a uma cova, não longe de onde mergulharam, e ele utilizou sua última reserva de força para levar aos dois para a entrada escura. Depois de arrastar seu corpo e o de Zsadist fora da água, Phury estava quase cego ao avançar o mais longe que pôde dentro da cova. Uma curva na arquitetura natural foi o que lhes salvou, lhes dando a escuridão que necessitavam.

        Na parte de trás, longe do sol, protegeram-se detrás das grandes rochas. Colocando Zsadist entre seus braços para conservar seu calor corporal, olhou fixamente para a escuridão, totalmente perdido.

Phury esfregou os olhos, Deus, a imagem de Zsadist algemado a essa cama com plataforma...

Desde o resgate, ele tinha um repetitivo pesadelo, um que nunca falhava de ser um horror fresco cada vez que seu subconsciente o lançava para cima. O sonho era sempre igual: ele baixando velozmente essas escadas ocultas e abrindo a porta. Zsadist amarrado. Catronia na esquina, rindo. Logo que Phury estava na cela, Z girava a cabeça e seus olhos negros, sem vida olhariam de um rosto sem cicatrizes. E, com uma voz dura dizia:

— Deixe-me aqui. Desejo permanecer... Aqui.

Esse era o sinal para que Phury despertasse coberto de um suor frio.

— O que está fazendo, homem?

A voz de Butch soava irritada, mas bem-vinda. Phury esfregou seu rosto, depois olhou sobre seu ombro.

— Só desfrutando da vista.

— Deixe-me te dar um conselho. Isso é o que se faz em uma praia tropical, não estando parado nesta classe de frio. Olhe, venha comer conosco, ok? Rhage quer tortinhas, assim Mary assou uma assadeira completa de Bisquick[16] na cozinha. Fritz está a ponto de voar de tão preocupado que está por não poder ajudar.

— Sim. Boa idéia. — ao dirigir-se para dentro, Phury disse — Posso te perguntar algo?

— Claro. O que necessita?

Phury se deteve à altura da mesa de bilhar e pegou a bola oito.

— Quando trabalhou na homicídios, viu muita gente totalmente ferrada, verdade? Gente que tinha perdido a seus maridos ou suas esposas… Filhos ou filhas. — quando Butch assentiu, disse — Alguma vez soube do que tinha acontecido com eles? Refiro-me aos que ficaram para trás. Sabe se conseguiram superar toda essa merda?

Butch esfregou seu polegar sobre a sobrancelha.

— Não sei.

— Sim, suponho que na realidade não segue…

— Mas, posso te dizer que eu nunca o fiz.

— Quer dizer que a imagem desses corpos nos que trabalhou ficou com você?

O humano sacudiu a cabeça.

— Esqueceu-se das irmãs. Irmãos e irmãs.

— O que?

— As pessoas perdem maridos, esposas, filhos, filhas... E, irmãs e irmãos. Perdi uma irmã quando tinha doze. Dois rapazes a levaram atrás do campo interno de beisebol na escola e abusaram dela e bateram-lhe até matá-la. Nunca me recuperei disso.

— Jesus… — Phury parou, dando-se conta de que não estavam sozinhos.

Zsadist estava parado com o torso descoberto na soleira do quarto. Estava encharcado de suor da cabeça aos Nikes, como se lá embaixo no ginásio tivesse corrido vários quilômetros.       

Quando Phury olhou fixamente seu gêmeo, sentiu uma sensação familiar de fraqueza. Sempre era assim, como se Z fosse uma espécie de zona de baixa pressão.

A voz de Zsadist foi dura.

— Quero que vocês dois venham comigo, ao anoitecer.

— Aonde? — perguntou Butch.

— Bela quer ir até sua casa, e não vou levá-la ali sem reforços. Necessito de um carro, no caso de que queira trazer alguma de suas coisas quando voltarmos, e quero que alguém examine o lugar antes que aterrissemos ali. A coisa é que há um túnel para escapar para fora do porão, se as coisas se complicarem. Examinei-o ontem de noite quando fui procurar algumas coisas para ela.

— Estou preparado para ir. — disse Butch.

Os olhos de Zsadist se moveram pelo quarto.

— Você também, Phury?

Depois de um momento, Phury assentiu.

— Sim. Eu também.

 

Essa noite, enquanto a lua se elevava no céu, O levantou do chão com um gemido. Tinha estado esperando na borda do prado desde que o sol se pôs fazia quatro horas, esperando que alguém aparecesse na granja... Só que não havia nada. E, assim tinha sido os últimos dois dias. Bom, acreditava ter visto algo antes do amanhecer esta última manhã, uma espécie de sombra que se movia dentro do lugar, mas o que fosse, tinha visto uma vez e depois nada.

Desejava como o inferno poder utilizar os recursos de toda a Sociedade para ir atrás de sua esposa. Se enviasse a cada lesser que tinha... Só que seria como colocar uma arma diretamente na cabeça. Alguém contaria a Ômega que a atenção dele desviou-se a uma fêmea inconseqüente. E, então haveria grandes problemas.

Verificou seu relógio e amaldiçoou. Falando de Ômega...

O tinha uma reunião obrigatória com o amo esta noite e não tinha outra opção que comparecer ao maldito encontro. Permanecer viável como assassino era a única maneira de conseguir trazer sua mulher de volta, e não ia arriscar acabar desintegrado por perder uma reunião.

Tirou seu telefone e chamou três Betas para que vigiassem a granja. Posto que o ponto fosse um lugar conhecido de congregação de vampiros, ao menos tinha uma desculpa para atribuir à particularidade.

Vinte minutos depois, os assassinos vieram pelo bosque, os sons de suas botas de footing amortecidos pela neve. O trio, homens de ossos grandes, eram recém iniciados, assim seus cabelos seguiam escuros e suas peles coradas pelo frio. Claramente estavam emocionados por serem utilizados e preparados para lutar, mas O lhes disse que só estavam ali para olhar e fiscalizar. Se alguém aparecesse, não deviam atacar até que quem quer que aparecesse tentasse partir, e então qualquer vampiro devia ser detido vivo, fosse macho ou fêmea. Sem exceções. Segundo o que O tinha calculado, se ele fosse família de sua mulher, primeiro enviaria investigadores antes de deixar que se desmaterializasse em qualquer lugar próximo a casa. E, se ela estivesse morta e seus parentes estivessem recolhendo suas coisas, então queria seus parentes capturados em perfeito estado, para poder encontrar sua tumba.

Depois de assegurar-se que as cabeças dos Betas estavam na linha, O atravessou o bosque até chegar a seu carro, que estava oculto sob um suporte de pinheiros. Ao incorporar-se à rota 22, viu que os lessers tinham estacionado o Explorer em que tinham vindo justo na estrada, a menos de um quilômetro do desvio para a granja.

Chamou aos idiotas e lhes disse que usassem a merda de suas cabeças para pôr o carro bem camuflado. Então, conduziu até a cabine. Enquanto ia, imagens de sua mulher oscilaram em sua mente, lhe turvando a vista da estrada que tinha em frente. Viu-a em seu momento mais encantador, na ducha com o cabelo e a pele molhada. Era especialmente pura dessa forma...

Mas, então as visões mudaram. Viu-a nua de costas, debaixo desse vampiro feio que a tinha levado. O macho a estava tocando... Beijando-a... Bombeando em seu interior... E, ela gostava. A cadela gostava. Sua cabeça estava arremessada para trás e ela gemia e gozava como uma prostituta, querendo mais.

As mãos de O se encresparam no volante até que seus nódulos quase pularam fora de sua pele. Tentou acalmar-se, mas sua cólera era como um pitbull com uma corrente de papel.

Soube então, com absoluta certeza, que se ela já não estivesse morta, iria matá-la quando a encontrasse. Tudo o que tinha que fazer era imaginá-la com o Irmão que a tinha roubado e seu raciocínio acabava totalmente.

Isso punha O em um dilema. Viver sem ela seria horrível, e embora matar-se em um impulso suicida depois que ela morresse fosse muito atrativo, fazer algo assim só o levaria para o Ômega pela eternidade. Os lessers, depois de tudo, voltavam para o amo se eram extintos.

Mas, então lhe ocorreu uma idéia. Imaginou sua mulher depois de muitos anos, sua pele esbranquiçada, seu cabelo loiro, seus olhos da cor das nuvens. Uma lesser igual a ele. A solução era tão perfeita, seu pé deslizou do acelerador, e o carro parou no centro da rota 22.

Dessa maneira, ela seria sua para sempre.

 

Próximo à meia-noite, Bela vestiu um velho jeans azul e aquele pulôver vermelho grosso que gostava tanto. Depois, entrou no banheiro, puxou as duas toalhas que cobriam o espelho, e se olhou. Seu reflexo mostrava a fêmea que sempre tinha visto olhando-a de volta: olhos azuis. Bochechas altas. Lábios carnudos. Muito cabelo marrom escuro.

Bela levantou a borda do pulôver e olhou seu estômago. A pele ali não tinha defeitos, já não levava o nome do lesser. Ela posou a mão onde as letras tinham estado.

— Está preparada? — perguntou Zsadist.

Ela olhou para cima, no espelho. Ele apareceu atrás dela, vestido de negro, com armas que penduravam de seu corpo. Seus olhos como carvões estavam cravados na pele que Bela tinha exposto.

— As cicatrizes curaram. — disse ela — Em apenas quarenta e oito horas.

— Sim. E, me alegro.

— Tenho medo de ir a minha casa.

— Phury e Butch vêm conosco. Tem um montão de seguranças.

— Sei... — ela abaixou o pulôver — É só... E, se não for capaz de entrar?

— Então voltaremos a tentar outra noite. Todo o tempo que precise. — lhe aproximou o casaco.

Vestido o casaco, ela disse:

— Tem coisas melhores para fazer que cuidar de mim.

— Não, agora não. Dê-me sua mão.

Os dedos de Bela tremeram ao estendê-los. Teve o vago pensamento de que era a primeira vez que ele pedia que o tocasse, e esperava que o contato levasse a um abraço.

Mas, ele não estava interessado em abraçar. Pôs uma pistola pequena em sua mão sem nem sequer roçar sua pele.

Ela retrocedeu depressa.

— Não, eu…

— Pegue-a desta…

— Espere um minuto, não…

— …maneira. — ele colocou a pequena culatra contra sua palma — Aqui está a trava de segurança. Com. Sem. Entendeu? Com... Sem. Tem que estar perto para matar com isto, mas está carregada com duas balas que atrasarão o suficiente a um lesser para que possa escapar. Simplesmente, aponte e aperte o gatilho duas vezes. Não precisa prepará-la nem nada disso. E, aponte para o peito, terá um alvo maior.

— Não quero isto.

— E, eu não quero que o tenha. Mas, é melhor que te enviar sem nada.

Ela sacudiu a cabeça e fechou os olhos. Às vezes, este negócio de vida era tão feio.

— Bela? Bela, me olhe. — quando o fez, ele disse — Mantenha-o no bolso exterior de seu casaco, no lado direito. Vai querer a arma em sua mão boa se tiver que utilizá-la. —ela abriu a boca e ele falou justo por cima — Vai permanecer com Butch e Phury. E, enquanto esteja com eles, é extremamente difícil que precise utilizar isso.

— Onde você estará?

— Ao redor. — quando Zsadist virou, ela notou que tinha uma faca na parte baixa das costas… Acrescentando-se às duas adagas no peito, e o par de pistolas nos quadris. Perguntou-se quantas outras armas teria, as quais ela não podia ver.

Ele se deteve na soleira, com a cabeça inclinada.

— Vou assegurar-me de que não tenha que usar essa arma, Bela. Prometo-lhe isso. Mas não posso te ter desarmada.

Ela respirou profundamente. E, deslizou o pequeno pedaço de metal no bolso da capa.

Lá fora, no corredor, Phury estava esperando, apoiado contra o balcão. Também estava vestido para lutar, com pistolas e todas essas adagas sobre ele, uma calma mortal irradiando de seu corpo. Quando ela sorriu, ele assentiu e vestiu seu casaco negro de couro.

O celular de Zsadist tocou e ele o abriu.

— Está aí, policial? Como vai? — quando desligou, assentiu — Tudo bem, podemos ir.

Os três se dirigiram ao vestíbulo e depois saíram ao pátio. No ar frio, ambos os machos tocaram as pistolas, e então todos se desmaterializaram.

Bela tomou forma no alpendre de entrada, de cara a reluzente porta vermelha com sua fechadura de latão. Podia sentir Zsadist e Phury atrás dela, dois enormes corpos masculinos cheios de tensão. Soaram passos e ela olhou sobre seu ombro. Butch estava avançando para o alpendre. Sua arma também estava fora.

Para Bela a idéia de demorar um pouco e entrar tranqüila na casa pareceu perigosa e egoísta. Abriu a porta com sua mente e entrou.

O lugar ainda cheirava igual... Uma combinação da cera de limão do piso que tinha utilizado nos longos tabuleiros de pinheiro e as velas de romeiro que gostava de queimar.

Quando ouviu que a porta se fechava e o alarme de segurança desligava, olhou para trás. Butch e Phury estavam grudados aos seus tornozelos, mas não via Zsadist em nenhuma parte.

Bela sabia que ele não os tinha deixado. Mas, desejava que estivesse lá dentro com ela.

Respirou fundo e olhou ao redor de sua sala de estar. Sem nenhuma luz acesa, somente pôde ver sombras e formas familiares, ou melhor, o padrão dos móveis e as paredes que outra coisa.

— Tudo parece... Deus, exatamente igual.

Embora houvesse uma mancha branca no seu escritório. Faltasse um espelho, um que ela e sua mãe tinham escolhido em Manhattan fazia mais ou menos uma década, que Rehvenge sempre tinha gostado. Ele o tinha levado? Não estava segura se se sentia comovida ou ofendida.

Quando se moveu para acender um abajur, Butch a deteve.

—Nenhuma luz. Sinto muito.

Ela assentiu. Ao avançar mais profundamente na granja e ver mais coisas dela, ela sentiu como se estivesse entre velhos amigos aos quais não tinha visto por anos. Era encantador e triste. Embora, sobre tudo, um alívio. Estava tão segura de que se desgostaria.

Parou ao chegar à sala de jantar. Mais à frente do amplo arco, no fundo, estava à cozinha. O terror lhe enroscou as vísceras.

Armando-se de coragem, caminhou no outro espaço e parou. Ao ver tudo tão arrumado e intacto, recordou a violência que tinha havido no lugar.

— Alguém limpou isto tudo. — sussurrou.

— Zsadist. — Butch a ultrapassou, com a arma ao nível do peito e os olhos explorando ao redor.

— Ele... Fez tudo isto? — ela fez um gesto com a mão.

— À noite depois de que lhe levaram. Passou horas aqui. A parte de baixo também está como uma pintura.

Ela tentou imaginar Zsadist feito uma empregada, com um balde, limpando as manchas de sangue e os pedaços de vidro.

Por quê? Perguntou-se.

Butch encolheu os ombros.

— Disse que era pessoal.

Tinha falado em voz alta?

— Ele explicou... Por que era assim?

Enquanto o humano sacudia a cabeça, Bela se deu conta do interesse que Phury emprestava à parte exterior da casa.

— Quer ir a seu dormitório? — perguntou Butch.

Quando ela assentiu, Phury disse:

— Eu fico aqui em cima.

Embaixo, no porão, Bela encontrou tudo em ordem, arrumado... Limpo. Abriu o armário, passou pelas gavetas do aparador, vagou pelo banheiro. Os pequenos objetos a cativavam. Um vidro de perfume. Uma revista com data de antes do seqüestro. Uma vela que recordava ter acendido ao lado da banheira com pés de garra.

Parou, tocou, voltou gradualmente para seu lugar de uma maneira intensa, queria passar horas... Dias. Mas, podia sentir como aumentava a tensão em Butch.

— Acredito que vi o suficiente por esta noite. — disse ela, desejando poder ficar mais tempo.

Dirigindo-se de novo ao primeiro andar, Butch foi à frente. Quando entrou na cozinha, olhou Phury.

— Bela está pronta para partir.

Phury abriu seu telefone. Houve uma pausa.

— Z, hora de ir. Ligue o carro para o policial.

Quando Butch fechou a porta do porão, Bela se aproximou de seu aquário e olhou fixamente dentro. Perguntou-se se alguma vez voltaria a viver na granja. Tinha a sensação que não.      

— Quer levar algo? — perguntou Butch.

— Não, acredito...

Soou um tiro lá fora, o ruído oco ao detonar soou amortecido.

Butch a agarrou e apertou contra seu corpo.

— Fique quieta. — lhe disse ao ouvido.

— Lá fora e da frente. — falou Phury ao agachar-se. Apontou sua arma mais à frente do corredor, à porta pela qual tinham entrado.

Outro tiro. E, outro. Aproximando-se. Vindo ao redor da casa.

— Sairemos pelo túnel. — sussurrou Butch enquanto a movia e empurrava para a porta do porão.

Phury seguiu os sons com a boca da arma.

— Cubro-te as costas.

No momento que a mão de Butch se apoiou no pomo da porta do porão, o tempo se comprimiu em frações de segundos, homens caindo.

A porta francesa atrás deles se abriu em pedaços, estilhaçando o marco de madeira, quebrando os vidros.

Zsadist a levou para frente, com as costas, ao ser empurrado com enorme força através da porta. Ao aterrissar no chão da cozinha, sua cabeça caiu para trás e golpeou o azulejo tão forte que soou como um disparo de pistola. Então, com um grito horrível, o lesser que o tinha jogado através da porta saltou sobre seu peito e os dois deslizaram pela sala, dirigindo-se direto para as escadas do porão.

Zsadist estava quieto como uma rocha debaixo do assassino. Aturdido? Morto?

Bela gritou quando Butch a separou de um puxão. O único lugar aonde podia ir era a estufa, e ele a empurrou nessa direção, cobrindo-a com seu corpo. Só que agora estavam presos na cozinha.

Phury e Butch apontaram as armas para a confusão de braços e pernas do chão, mas não importou ao assassino. O não-morto levantou o punho e golpeou Zsadist na cabeça.

— Não! — rugiu Bela.

Estranhamente, o golpe pareceu despertar Zsadist ou possivelmente tinha sido sua voz. Seus olhos negros abriram de repente e uma expressão malvada apareceu em seu rosto. Com um impulso rápido afiançou as mãos debaixo das axilas do lesser e torceu com tanta força, que o torso do assassino se contorsionou em um arco vicioso.

Em um segundo, Zsadist estava em cima do lesser, escarranchado. Agarrou o braço direito do assassino e o estirou em um ângulo que lhe quebrou os ossos. Pôs o polegar debaixo do queixo do não-morto tão longe que só se podia ver meio dedo e descobriu umas presas largas que reluziam brancas e mortais. Mordeu ao lesser no pescoço, justo no esôfago.

O assassino uivou de dor, retorcendo-se violentamente entre suas pernas. E, isso foi só o princípio. Zsadist destroçou sua presa. Quando a coisa não se moveu mais, deteve-se ofegando e passou os dedos pelo cabelo escuro do lesser, separando uma parte de par em par, claramente procurando as raízes brancas.

Mas, ela poderia ter-lhe dito que não era David. Presumindo que pudesse encontrar sua voz.

Zsadist amaldiçoou e recuperou o fôlego, mas permaneceu agachado sobre sua presa, procurando sinais de vida. Como se quisesse continuar.

Depois franziu o cenho e levantou a vista, claramente dando-se conta que a batalha tinha acabado e havia testemunhas.

Oh... Jesus. Seu rosto estava marcado com sangue negro do lesser, e mais manchas cobriam seu peito e mãos.

Seus olhos negros giraram até encontrar os de Bela. Estavam reluzentes. Brilhantes. Justo como o sangue que tinha derramado para defendê-la. Rapidamente, olhou para outro lado, como se desejasse ocultar a satisfação que tinha conseguido com a matança.

— Os outros dois estão acabados. — disse ele, ainda respirando fortemente. Pegou a parte de abaixo de sua camisa e limpou o rosto.

Phury se dirigiu para o corredor.

— Onde estão? Na grama dianteira?

— Batem à porta da frente de Ômega. Apunhalei a ambos. — Zsadist olhou Butch — Leva-a para casa. Agora. Está muito emocionada para desmaterializar-se. E, Phury, você vai com eles. Quero que ligue no momento em que ela puser um pé no vestíbulo, entendido?

— E, você o que? — disse Butch, inclusive enquanto a movia ao redor do lesser morto.

Zsadist levantou e tirou uma adaga.

— Eu desvaneço a este e espero que venham outros. Quando estes merdas não se apresentarem, virão mais.

— Estaremos de volta.

— Não me importa o que façam desde que a levem para casa. Assim, diminuam o bate-papo e comecem a sair.

Bela estendeu a mão para ele, embora não estivesse segura do por que. Estava horrorizada pelo que ele tinha feito e pelo aspecto que tinha agora, todo ferido e golpeado, seu próprio sangue deslizando-se pelas roupas junto com o do assassino.

Zsadist moveu uma mão pelo ar, despedindo-a.

— Saiam de uma condenada vez daqui.

 

John saltou do ônibus, tão condenadamente aliviado de estar em casa que quase tropeçou. Deus, se os dois primeiros dias de treinamento eram um indicativo, os próximos dois anos seriam um inferno.

Ao chegar à porta dianteira, assobiou.

A voz de Wellsie veio de seu escritório.

— Olá! Como foi hoje?

Enquanto tirava o casaco, deu dois assobios rápidos, o que era uma espécie de bom, certo, tudo muito bem.

— Bom. Ah, Havers virá em uma hora.

John se dirigiu ao escritório de Wellsie e deteve-se na soleira. Sentada na frente do escritório, Wellsie estava rodeada por uma coleção de velhos livros, muitos dos quais estavam abertos. A visão de todas essas páginas encadernadas e estendidas recordou os cães impaciente deitados de costas, esperando que lhes acariciassem o ventre.

Ela sorriu.

— Parece cansado.

— Vou dormir um pouco antes que Havers venha. — escreveu.

— Está seguro de que está bem?

— Absolutamente. — ele sorriu para dar à mentira um pouco de substância. Odiava mentir, mas não queria entrar em seus defeitos. Em outras dezesseis horas ia ter que exibi-los outra vez. Precisava de uma pausa, e sem dúvida nenhuma eles também estavam esgotados, por ter tido tanto tempo de demonstração.

— Acordarei você quando o doutor chegar aqui.

— Obrigado.

Quando se virou, ela disse:

— Espero que saiba que não importa o que diga o exame, resolveremos.

Ele a olhou. Assim, ela também estava preocupada com os resultados.

Em um rápido movimento se aproximou e a abraçou depois se dirigiu ao seu quarto. Nem sequer pôs a roupa suja no condutor da lavanderia, só deixou cair às bolsas e deitou na cama. Deus, os efeitos cumulativos de oito horas de ironias eram suficientes para lhe fazer querer dormir uma semana.

Tudo o que podia pensar era sobre a visita de Havers. Deus, e se tudo fosse um engano? E, se não fosse converter em algo fantástico e poderoso? E, se suas visões noturnas não fossem mais que uma exagerada fixação pelo Drácula?

E, se fosse, acima de tudo, humano?

Isso mais ou menos teria sentido. Embora o treinamento estivesse só começando, estava claro que não era como os outros machos pré-transição da classe. Era uma merda em algo físico e era mais fraco que os outros meninos. Possivelmente, a prática lhe ajudaria, mas duvidava.

John fechou os olhos e esperou ter um bom sonho. Um sonho que o colocasse em um corpo grande, um sonho no qual seria forte e...

A voz de Tohr o despertou.

— Havers está aqui.

John bocejou e se esticou, tentando ocultar-se da compaixão no rosto de Tohr. Esse era outro pesadelo sobre o treinamento: tinham que chateá-lo todo o tempo diante de Tohr.

— Como vai filho… Digo, John?

John sacudiu a cabeça e escreveu:

— Estou bem, mas preferiria ser filho para você.

Tohr sorriu.

— Bom. Assim é como quero também. Agora, venha arrancar este selo sobre os exames, ok?

John seguiu Tohr à sala de estar. Havers estava sentado no sofá, parecendo um professor com seus óculos com armação de tartaruga marinha, jaqueta com desenhos de espigas e passarinhos vermelhos.

— Olá, John. — disse.

John levantou uma mão e sentou na cadeira mais próxima a Wellsie.

— Tenho os resultados de sua análise de sangue. — Havers tirou um pedaço de papel do interior de seu casaco esportivo — Levou um pouco mais de tempo, porque havia uma anomalia que não esperava.

John olhou Tohr. Depois a Wellsie. Jesus... E, se fosse inteiramente humano? O que lhe fariam? Teria que partir…?

— John, é completamente um guerreiro. Só tem um rastro muito pequeno de sangue de fora de nossa espécie.

Tohr riu em uma explosão ruidosa e juntou as mãos.

— Foda! Isso é genial!

John começou a sorrir e continuou até que seus lábios se esticaram em um grande sorriso.

— Mas, há algo mais. — Havers empurrou os óculos mais acima do seu nariz — É da linha de Darius de Marklon. Tão perto, que poderia ser seu filho. Tão perto... Que deve ser seu filho.

Um silêncio sepulcral invadiu a sala.

John olhou para frente e para trás entre Tohr e Wellsie. Os dois estavam totalmente congelados. Eram estas boas notícias? Más notícias? Quem era Darius? Guiando-se por suas expressões, o indivíduo possivelmente fosse um criminoso ou algo...

Tohr saltou do sofá e pegou John em seus braços, abraçando-o tão forte que os dois se converteram em um. Ofegando para obter ar, com os pés pendurados, John olhou a Wellsie. Ela tinha ambas as mãos sobre a boca, e por seu rosto rolavam lágrimas.

Abruptamente Tohr o soltou e retrocedeu. Tossiu um pouco, com os olhos brilhantes.

— Bom... O que descobriu.

O homem limpou a garganta, várias vezes. Esfregou seu rosto. Parecia um pouco aturdido.

— Quem é Darius? — escreveu John quando voltou a sentar.

Tohr sorriu lentamente.

— Era meu melhor amigo, meu irmão na luta, mi... Não posso esperar para te contar tudo sobre ele. E, isto significa que tens uma irmã.

— Quem?

— Beth, nossa rainha. A shellan de Warth…

— Sim, sobre ela. — disse Havers, olhando a John — Não entendo a reação que teve a ela. A tomografia computadorizada axial está muito boa, igual ao eletrocardiograma, e a análise completa de sangue. Acredito quando diz que ela foi o que causou os ataques, embora não tenho idéia de por que. Eu gostaria que permanecesse um tempo longe dela, para ver se isso acontece em outro ambiente, ok?

John assentiu, embora quisesse voltar a ver a mulher, especialmente se estava aparentado com ela. Uma irmã. Que genial...

— Agora, sobre o outro assunto. — disse Havers intencionalmente.

Wellsie se inclinou para frente e pôs sua mão no joelho de John.

— Havers tem algo sobre o que quer te falar.

John franziu o cenho.

— O que? — escreveu lentamente.

O doutor sorriu, tentando ser tranqüilizador.

— Eu gostaria que visse um terapeuta.

John ficou frio. Em pânico, procurou o rosto de Wellsie, depois Tohr, perguntando-se quanto lhes havia dito o doutor sobre o que lhe tinha acontecido fazia um ano.

— Por que teria que ir? — assinalou — Estou bem.

A resposta de Wellsie foi franca.

— É só para te ajudar a fazer a transição para seu novo mundo.

— E, sua primeira consulta é amanhã à tarde. — disse Havers, inclinando sua cabeça. Olhou fixamente o rosto de John sobre a borda de seus óculos, e a mensagem em seus olhos era: Ou vai ou digo a eles a verdadeira razão pela qual tem que ir.

John se viu superado, e isso lhe encheu o saco. Mas, supôs que era melhor submeter-se a chantagem compassiva do que Tohr e Wellsie saberem algo do que lhe tinham feito.

— Muito bem. Farei.

— Eu te levo. — disse Tohr rapidamente. Então franziu o cenho — Digo... Podemos encontrar alguém para que te leve… Butch o fará.

A cara de John queimava. Sim, não queria Tohr perto da cantilena do terapeuta. De maneira nenhuma.

A campanhia da frente soou.

Wellsie sorriu.

— Oh, bem. Essa é Sarelle. Veio para trabalhar no festival do solstício. John, possivelmente você gostaria de nos ajudar?

Sarelle estava aqui outra vez? Não tinha mencionado isso quando trocaram e-mails ontem de noite.

— John? Quer trabalhar com Sarelle?

Ele assentiu e tentou manter-se frio, embora seu corpo se acendesse como um anúncio de néon. Sentia formigamentos por todo corpo. Sim. Posso fazer isso.

Pôs as mãos em seu colo e baixou a vista para elas, tentando guardar seu sorriso.

 

Definitivamente, Bela voltaria para casa. Esta mesma noite.

Em ótimas circunstâncias, Rehvenge não era o tipo de macho que agüentasse bem a frustração. Por isso seu limite de tolerância já tinha sido mais que ultrapassado na espera que sua irmã voltasse para o lugar ao qual pertencia. Maldita fosse! Ele era mais que seu irmão, era seu guardião, e isso lhe dava direitos.

Enquanto arrancava de um puxão seu comprido casaco de Marta Cibelina, a pele formou redemoinhos ao redor de seu grande corpo, caindo sobre seus tornozelos. Usava um traje negro de Hermenegildo Zegna. Os revólveres gêmeos de nove milímetros que levava sob os braços eram Heckler & Koch.

— Rehvenge, por favor, não faça isto.

Olhou sua mãe. Madalina estava de pé, debaixo do candelabro do vestíbulo, era a imagem da aristocracia, com seu porte real, seus diamantes e seu vestido longo. A única coisa desconjurada era a preocupação em seu rosto, e esta não era por causa da tensão de desafinar com seu Harry Winston e a Alta Costura. Ela nunca se aborrecia. Jamais.

Respirou profundo. Era mais provável que conseguisse acalmá-la se seu infame temperamento não aparecesse, porém, em seu atual estado mental, era propenso a destroçá-la ali mesmo, e não seria justo.

— Ela voltará para casa desta forma. — disse.

A graciosa mão de sua mãe subiu até a garganta, um sinal seguro de que estava presa entre o que queria e o que pensava que era correto.

— Mas, é tão extremo.

— Querê-la dormindo em sua própria cama? Querê-la no lugar no qual deveria estar? —a voz começou a perfurar o ar — Ou quer que fique com a Irmandade? Eles são guerreiros, Mahmen. Sedentos de sangue, guerreiros famintos de sangue. Pensa que duvidariam em tomar a uma mulher? E, sabe perfeitamente bem que, por lei, o Rei Cego pode deitar-se com qualquer mulher que escolha. Quer a ela nessa classe de ambiente? Eu não.

Quando sua Mahmen deu um passo atrás, deu-se conta que estava gritando. Aspirou fundo novamente.

— Mas, Rehvenge, falei com ela. Não quer voltar para casa ainda. E, eles são homens de honra. No Antigo País…

— Já nem sequer sabemos quem faz parte da Irmandade.

— Eles a salvaram.

— Então, podem devolvê-la a sua família. Pelo amor de Deus! É uma mulher da aristocracia. Pensa que a glymera a aceitará depois disto? Já teve uma aventura.

E, que confusão tinha resultado disso. O macho era totalmente indigno dela, um completo idiota, e mesmo assim o bastardo tinha saído do apuro sem que trocassem uma palavra. Por outro lado, tinham cochichado a respeito de Bela por meses, embora ela quisesse demonstrar que não se preocupava, Rehv sabia que a tinha incomodado.

Odiava à aristocracia em que se achavam apanhados, realmente a odiava.

Sacudiu a cabeça, zangado consigo mesmo.

— Nunca deveria ter se mudado desta casa. Nunca deviria ter permitido.

E, logo que a tivesse de volta, nunca lhe permitiria sair outra vez sem seu consentimento. Ia fazer com que a consagrassem como uma mulher Sehcluded. Seu sangue era suficientemente puro para justificá-lo, e francamente já deveria ser uma. Uma vez que estivesse feito, a Irmandade estava obrigada legalmente a entregá-la aos cuidados de Rehvenge, e em conseqüência, não poderia deixar a casa sem sua permissão. E, ainda havia mais. Qualquer macho que quisesse vê-la teria que falar com ele como chefe da família, e ia negar a todos e cada um desses filhos da puta. Tinha falhado em proteger a sua irmã uma vez. Não permitiria que isso acontecesse novamente.

Rehv consultou o relógio, embora soubesse que era tarde para esses assuntos. Faria a petição do Sehclusion ao Rei, no escritório. Era estranho solicitar algo tão antigo e tradicional através de e-mail, mas agora essa era a forma de agir das coisas.

— Rehvenge…

— O que?

— Você a afastará.

— Impossível. Uma vez que me encarregue disto, não terá outro lugar aonde ir além desta casa.

Pegou a bengala e fez uma pausa. Sua mãe se via tão desventurada, que se inclinou e a beijou na bochecha.

— Não se preocupe com nada, Mahmen. Vou arrumar as coisas para que nunca mais seja ferida. Por que não prepara a casa para recebê-la? Poderia tirar sua roupa de luto.

Madalina negou com a cabeça. Com uma voz reverente disse:

— Não até que cruze a soleira. Poderia ofender à Virgem Escriba, ao assumir que retornará a salvo.

Conteve uma maldição. A devoção de sua mãe a Mãe da Raça era legendária. Demônios! Deveria ser um membro dos Escolhidos com todas as suas preces, regras e temores de que uma palavra desdenhosa poderia atrair certas desgraças.

Mas, que fizesse o que quisesse. Era sua jaula espiritual, não a dele.

— Como quiser. — disse, se inclinando sobre a bengala virando-a.

Moveu-se lentamente pela casa, confiando nos diferentes tipos de piso para que lhe dissessem em que sala se encontrava. Havia mármore no vestíbulo, um tapete Persa na sala de jantar, um longo tablado de madeira na cozinha. Usava a vista para que lhe dissesse que seus pés estavam solidamente apoiados e que era seguro depositar todo seu peso neles. Usava a bengala para o caso de que julgasse erroneamente e perdesse o equilíbrio.

Para entrar na garagem, sustentou-se no marco da porta antes de descer um pé e logo o outro para descer os quatro degraus. Depois de deslizar-se dentro do Bentley a prova de balas, acionou o controle remoto para abrir a porta e esperou que abrisse para sair.

Maldição! Desejava mais que tudo saber quem eram esses Irmãos e onde viviam. Iria ali, derrubaria a porta e arrebataria Bela.

Quando pôde ver o caminho de entrada atrás dele, pôs marcha no sedã e apertou o acelerador tão forte que os pneus chiaram. Agora que estava atrás do volante, podia mover-se à velocidade que desejava. Rápido. Ligeiro. Sem necessidade de andar com cautela.

Via o extenso prado de forma imprecisa enquanto corria pelo sinuoso caminho para as portas, que estavam localizadas atrás da rua. Teve que deter-se um instante enquanto as coisas se abriam, logo dobrou pelo Thome Avenue e continuou para baixo por uma das opulentas ruas de Caldwell.

Para manter sua família a salvo e para que nunca lhes faltasse nada, trabalhava em coisas desprezíveis. Mas, era bom no que fazia, sua mãe e sua irmã mereciam o tipo de vida que tinham. Ele lhes proporcionaria qualquer coisa que quisessem, ele lhes consentiria qualquer capricho que tivessem. Por muito tempo as coisas tinham sido muito duras para eles…

Sim, a morte de seu pai tinha sido o primeiro presente que lhes tinha dado. A primeira de muitas maneiras que tinha melhorado suas vidas e mantido a salvo de todo dano. E, não mudaria de rumo agora.

Rehv tomou um atalho e se dirigia para o centro quando sua nuca começou a formigar. Tratou de ignorar a sensação, mas em questão de segundos se condensou em um severo apertão, como se tivessem colocado um parafuso na parte superior de sua espinha dorsal. Levantou o pé do acelerador e esperou que a sensação passasse.

Logo, ocorreu.

Com uma pontada de pânico, sua visão se converteu em sombras de vermelho, como se tivessem posto um véu transparente sobre seu rosto: as luzes dos automóveis que vinham de frente eram de néon rosa, a estrada de uma cor ferrugem opaca, o céu um clarete[17] como o vinho da Borgonha. Consultou o relógio digital, cujos números agora tinham um brilho rubi.

Merda. Isto estava mau. Não deveria estar acontecen…

Pestanejou e esfregou os olhos. Quando voltou a abrir, não tinha percepção da profundidade.

Sim, demônio que isto não estava acontecendo. E, não conseguiria chegar até o centro.

Girou o volante para a direita e entrou em um desmantelado centro comercial, o mesmo em que se encontrava a Academia de Artes Marciais Caldwell antes que se incendiasse. Apagou as luzes do Bentley e conduziu por trás dos extensos e estreitos edifícios, estacionando ao nível dos tijolos para o caso de ter que sair depressa, o único que tinha que fazer era pisar no acelerador.

Deixando o motor ligado, tirou o casaco de Marta Cibelina e a jaqueta do traje, logo arregaçou o braço esquerdo. Através da névoa vermelha abriu o porta-luvas e tirou uma seringa hipodérmica e um pedaço de correia de borracha. As mãos tremiam tanto, que deixou cair à agulha e teve que agachar-se para levantá-la do chão.

Bateu nos bolsos da jaqueta, até que encontrou um frasco de dopamina neuro-moduladora. Colocou no painel do carro.

Fez duas tentativas para abrir o pacote estéril da hipodérmica, e quase quebrou a agulha enquanto a introduzia através da superfície de borracha da tampa da dopamina. Quando a seringa estava cheia, envolveu o pedaço de borracha ao redor de seus bíceps, usando uma mão e os dentes; logo tratou de encontrar a veia. Tudo era mais complicado, devido já que estava trabalhando em um campo visual plano.

Não podia ver suficientemente bem. Tudo o que via em sua frente era… Vermelho.

Vermelho… Vermelho… Vermelho. A palavra disparou em sua mente, golpeando no interior de sua cabeça. Vermelho era a cor do pânico. Vermelho era a cor do desespero. Vermelho era a cor de seu ódio por ele mesmo.

Vermelho não era a cor de seu sangue. Não nesse momento, de nenhuma forma.

Maldizendo-se, tocou o antebraço procurando uma plataforma de lançamento para a droga, uma super estrada que enviasse a droga para os receptores do cérebro. Porém, suas veias estavam sumindo.

Não sentiu nada quando afundou a agulha, o que era tranqüilizador. Mas logo veio… Uma pequena espetada no lugar da injeção. O intumescimento no qual se mantinha estava a ponto de terminar.

Enquanto procurava debaixo de sua pele, uma veia que pudesse utilizar começou a sentir seu corpo: a sensação de seu peso no assento de couro do automóvel. O calor queimando seus tornozelos. O rápido fôlego movendo-se dentro e fora de sua boca, lhe secando a língua.

O terror fez com que empurrasse o êmbolo e soltasse o torniquete de borracha. Só Deus sabia se o tinha feito no lugar correto.

Com o coração golpeando no peito, olhou o relógio.

— Vamos. — murmurou começando a balançar-se no assento do condutor — Vamos… Faz efeito.

Vermelho era a cor das mentiras. Estava preso em um mundo vermelho. E, um destes dias a dopamina não ia funcionar. Estaria perdido no vermelho para sempre.

O relógio mudou os números. Tinha passado um minuto.

— Oh, droga… — esfregou os olhos como se isso pudesse trazer de volta a profundidade a sua visão e o espectro normal de cor.

Seu celular tocou e ele o ignorou.

— Por favor… — odiava a súplica em sua voz, mas não podia pretender ser forte — Não quero me perder…

De repente, sua visão retornou, o vermelho escorrendo-se de seu campo visual, retornando a perspectiva tridimensional. Foi como se a maldade tivesse sido absorvida fora dele e seu corpo paralisou, as sensações evaporando-se até que só restaram os pensamentos em sua cabeça. Com a droga, tornava-se um vulto que se movia, respirava e falava e benditamente, só tinha quatro sentidos pelos quais preocupar-se agora, esse toque tinha sido receitado como queimador.

Derrubou-se contra o assento. O estresse pelo seqüestro de Bela e o resgate, o havia dominado. Era por isso que o ataque tinha sido tão forte e rápido. E, talvez precisasse ajustar a dose novamente. Iria ao Havers perguntar a respeito disso.

Passou um tempo antes que fosse capaz de levar o automóvel para a entrada. Enquanto saía do desmantelado centro comercial e deslizava dentro do trânsito, disse a si mesmo que só era outro sedã em uma longa fila de automóveis. Anônimo. Igual a qualquer outro.

De alguma forma, a mentira o aliviou… E, aumentou sua solidão.

Em um semáforo, consultou a mensagem que lhe tinham deixado.

O alarme de segurança de Bela tinha sido desligado por uma hora mais ou menos e logo tinha religado. Alguém esteve em sua casa, outra vez.

 

Zsadist encontrou o Ford Explorer negro, estacionado no bosque a duzentos e setenta e quatro metros do acesso à entrada do caminho de aproximadamente um quilômetro e meio de comprimento da casa de Bela. A única razão pela qual tinha encontrado a coisa era porque tinha estado explorando a área, muito inquieto para ir para casa, muito perigoso para estar na companhia de alguém mais.

Uma combinação de rastros na neve ia em direção a granja.

Fez uma viseira com as mãos e olhou o interior do automóvel através da janela. O alarme de segurança estava ativado.

Devia ser o veículo de um desses Lessers. Podia cheirar o doce aroma deles por todo o automóvel. Mas, com um só par de rastros, talvez o condutor tivesse deixado seus companheiros, e logo o tinha escondido? Ou talvez o SUV tivesse sido conduzido desde o outro lado?

Como fosse. A Sociedade voltaria em busca de sua propriedade. E, não seria genial saber aonde demônios se dirigiam com ele? Mas, como poderia rastrear a maldita coisa?

Colocou as mãos nos quadris… E, seu olhar se deteve casualmente na cartucheira que levava no cinturão.

Enquanto levantava o celular, pensou com carinho em Vishous, esse professor das artes, sábio tecnólogo filho da puta.

Necessidade, a mãe da invenção.

Desmaterializou-se debaixo do SUV para deixar o mínimo possível de rastros na neve. Enquanto seu peso era absorvido por suas costas, encolheu-se. Homem, ia pagar pela pequena viagem através da porta Francesa. E, pelo golpe na cabeça. Mas, tinha sobrevivido a coisas piores.

Tirou uma lanterna e olhou ao redor da armação inferior, tratando de escolher o lugar adequado. Necessitava algo suficientemente grande e não podia estar perto do escapamento, porque inclusive no frio que fazia, esse tipo de calor podia ser um problema. É obvio, teria preferido meter-se dentro do Explorer e pôr o celular debaixo de um assento, mas o sistema de alarme do SUV era uma complicação. Se o cortava podia não ser capaz de restabelecê-lo, por isso os Lessers saberiam que alguém tinha estado no automóvel.

Como se a janela batida não fosse uma pista.

Maldição… Deveria ter procurado nos bolsos desses Lessers antes de apunhalá-los até fazê-los cair no esquecimento. Um desses bastardos deveria ter a chave. Só que estava tão zangado, que tinha se movido muito rápido.

Z amaldiçoou, pensando na forma em que Bela o tinha olhado depois que tinha mastigado o assassino na frente dela. Seus olhos ficaram enormes em sua pálida face, sua boca frouxa de comoção pelo que ele tinha feito.

O problema era que o trabalho que fazia para a Irmandade protegendo à raça, era sujo. Era enredado e desagradável e às vezes confuso. Sempre sangrento. E, ainda por cima de todo isso, tinha visto a luxúria assassina nele. De alguma forma, estava disposto a apostar que isso era o que a tinha perturbado mais.

Concentre-te, maldito idiota. Vamos, tire ela da cabeça.

Z farejou ao redor um pouco mais, movendo-se debaixo do Explorer. Finalmente, encontrou o que estava procurando: um pequeno oco debaixo do eixo dianteiro. Tirou a jaqueta, envolveu o celular, e empurrou o maço dentro do buraco. Verificou o localizador improvisado para assegurar-se que estava ali dentro bem e ajustado, logo se desmaterializou saindo de debaixo do SUV.

Sabia que o acerto não ia durar muito ali embaixo, mas era muito melhor que nada. E, agora Vishous seria capaz de rastrear o Explorer da casa, porque esse pequeno Nokia bala de prata tinha um chip GPS nele.

Z se dissipou para a borda do prado para poder ver a parte de atrás da granja. Fez um bom trabalho de remendo na arruinada porta da cozinha. Felizmente, o marco ainda estava intacto, assim tinha sido capaz de fechá-la e de restabelecer os sensores do alarme. Logo encontrou uma lona plástica na garagem e cobriu o monstruoso buraco.

Arrumado, mas não de tudo.

Era engraçado… Não pensava que pudesse ter êxito se tratasse de reabilitar a opinião que Bela tinha a respeito dele. Mas… Maldita fosse… Não queria que pensasse que era um selvagem.

À distância, dois faróis dobraram na Rota 22 e brilharam pelo longo caminho privado. Quando chegou à casa de Bela o automóvel diminuiu a marcha, logo tomou seu caminho na entrada.

Isso era um Bentley? Pensou Z. Com certeza, se parecia com um.

Homem, um automóvel tão caro como esse? Devia ser um membro da família de Bela. Sem dúvida, tinham sido avisados que o alarme de segurança tinha sido desconectado por um tempo e voltado a ativar-se fazia uns dez minutos.

Droga. Esse não era um bom momento para que alguém fizesse um percurso de inspeção. Com a sorte de Z, os Lessers podiam escolher justo esse momento para retornar à procura do SUV… E, decidir dirigir… Perto da granja por prazer e diversão.

Amaldiçoando por baixo do fôlego, esperou que abrisse uma das portas do Bentley… Mas, ninguém saiu do automóvel e o motor continuou ligado. Isso era bom. Enquanto o alarme estivesse ativado, possivelmente não pensariam em entrar. Porque a cozinha era um desastre.

Z cheirou o ar frio, mas não pôde capturar nenhum aroma. Embora, o instinto lhe dissesse que havia um macho dentro do sedã. O irmão? Era o mais provável. Devia ser ele, quem revisasse o lugar.

Assim é, amigo. Olhe pelas janelas da frente. Vê? Não aconteceu nada de mau. Não há ninguém na casa. Agora, faça um favor a nós dois e vai-te a merda daqui.

O sedã ficou ali, parado pelo que pareceram como cinco horas. Logo retrocedeu, deu a volta em U na rua e se foi.

Z aspirou fundo. Cristo... Seus nervos estavam muito tensos essa noite.

O tempo passava. Enquanto estava ali de pé entre os pinheiros, ficou olhando a casa de Bela. E, se perguntou se agora ela teria medo dele.

O vento aumentou, o frio agitando-se sobre ele, lhe impregnando até os ossos. Com desespero, abraçou a dor que sentia.

 

John olhou sobre a escrivaninha que havia no escritório. Sarelle tinha a cabeça inclinada para baixo enquanto folheava um dos antigos livros, seu cabelo loiro curto pendurava sobre sua face através do qual o único que podia distinguir era seu queixo. Ambos tinham passado horas fazendo uma lista de encantamentos para realizar no festival do solstício. Enquanto isso, Wellsie estava na cozinha, organizando provisões para a cerimônia.

Enquanto Sarelle virava outra página, deu-se conta de que realmente tinha lindas mãos.

— Ok. — disse ela — Acredito que este é o último.

Levantou seu olhar até seus olhos e foi como se um relâmpago o golpeasse: um choque de calor e logo uma transportadora desorientação. Ainda mais, até podia acreditar que brilhava na escuridão, também.

Ela sorriu e fechou o livro. Logo, houve um comprido silêncio.

— Então… Um, suponho que meu amigo Lash está em sua classe de treinamento.

Lash era seu amigo? Ah, sensacional.

— Sim… E, diz que tem a marca da Irmandade no peito. — como John não lhe respondeu, disse — Tem?

John se encolheu e rabiscou na borda da lista que tinha feito.

— Posso vê-la?

Fechou os olhos fortemente. Como podia querer que ela se fixasse em seu ossudo peito? Ou na marca de nascimento que tinha provado ser um pontapé no traseiro?

— Não acredito que você mesmo tenha feito isso, como eles pensam. — disse rapidamente — E, quero dizer, não é como se quisesse te inspecionar ou algo assim. Nem sequer sei como se supõe que seja uma. Só tenho curiosidade.

Aproximou a cadeira e ele pôde aspirar uma baforada do perfume que usava… Ou talvez não fosse perfume. Talvez fosse só… Ela.

— De que lado está?

Como se a mão pertencesse a ela, ele bateu em seu peito esquerdo.

— Desabotoe um pouco a camisa. — inclinou-se para um lado, com a cabeça em ângulo para poder lhe olhar o peito — John? Por favor, posso vê-la?

Olhou para a entrada. Wellsie ainda estava falando por telefone na cozinha, assim provavelmente não fosse intrometer-se nem nada. Mas, o escritório ainda parecia muito público.

Oh… Deus. Realmente faria isto?

— John? Só quero... Ver.

Ok, ia fazer.

Parou e mostrou a porta com a cabeça. Sem dizer uma palavra Sarelle o seguiu, indo atrás dele, todo o caminho, do vestíbulo até seu dormitório.

Depois que entraram, fechou a porta quase por completo e pegou o primeiro botão da camisa. Obrigou-se a manter as mãos firmes, prometendo-se solenemente cortar-lhe se o envergonhassem. A ameaça pareceu funcionar, porque desabotoou a camisa até o estômago sem muito trabalho. Separou o lado esquerdo e olhou para outro lado.

Quando sentiu um ligeiro toque na pele, deu um salto.

— Sinto muito, minhas mãos estão frias. — Sarelle soprou a ponta dos dedos, logo voltou para seu peito.

Bom Deus. Algo estava acontecendo com seu corpo, algum tipo de selvagem mudança dentro da pele. A respiração acelerou, asfixiava-se. Abriu a boca para poder levar mais ar a seu interior.

— É tão incrivelmente genial.

Sentiu-se desiludido quando ela deixou cair à mão. Mas, logo lhe sorriu.

— Então, talvez queira sair uma vez? Já sabe, poderíamos ir jogar Quazar[18], seria genial. Ou, talvez, ao cinema.

John assentiu, como o parvo que era.

— Bom.

Seus olhos se encontraram. Era tão bonita que o fazia sentir-se enjoado.

— Quer me beijar? — sussurrou-lhe.

Os olhos de John se abriram de repente. Como se um globo tivesse explodido atrás de sua cabeça.

— Porque eu gostaria que o fizesse. — lambeu um pouco os lábios — Realmente, eu gostaria.

Uau… A oportunidade de sua vida, justo ali, justo agora, pensou.

Não desmaie. Desmaiar seria um completo suicídio

John rapidamente relembrou cada filme que tinha visto em sua vida… E, não obteve nenhuma ajuda. Como um fanático pelo terror, foi invadido por visões de Godzilla pisoteando Tóquio e do Tubarão mastigando o traseiro da Orca. Grande ajuda.

Pensou na teoria. A cabeça inclinada. Inclinar-se para frente. Fazer contato.

Sarelle olhou ao redor, ruborizando-se.

— Se não quiser, está bem. Só pensei…

— John? — A voz de Wellsie chegou do vestíbulo. E, se aproximava enquanto seguia falando — Sarelle? Onde estão, crianças?

Piscou. Antes de acovardar-se, tomou a mão de Sarelle, puxou-a, e lhe plantou um beijo na boca, os lábios apertados contra os dela. Sem língua, mas não havia tempo, e de qualquer forma provavelmente tivesse que chamar o 911 depois de algo como isso. Como estavam às coisas, já estava virtualmente hiperventilando.

Logo a afastou. E, começou a preocupar-se a respeito de como o tinha feito.

Arriscou um olhar. Oh… Seu sorriso era radiante.

Pensou que seu peito explodiria de felicidade.

Estava lhe soltando a mão quando Wellsie colocou a cabeça no quarto.

— Tenho que ir a… Ah… Sinto. Não sabia que vocês dois…

John tratou de adotar um sorriso “nada especial está ocorrendo” e notou que os olhos de Wellsie estavam fixos em seu peito. Olhou para baixo. Tinha a camisa completamente aberta.

Gesticular para fechar maldita coisa, só piorou a situação, mas não pôde deter-se.

— Melhor ir. — disse Sarelle tranqüilamente — Minha Mahmen quer que volte para casa cedo. John, estarei no computador mais tarde, ok? Planejaremos que filme ir ver ou o que seja. Boa noite, Wellsie.

Enquanto Sarelle saía do quarto e se dirigia à sala, não pôde evitar afastar o olhar de Wellsie. Olhou como Sarelle recolhia o casaco do armário do vestíbulo, o punha, e tirava as chaves do bolso. Momentos depois, o apagado ruído da porta principal fechando-se soou no vestíbulo.

Houve um comprido silêncio. Logo Wellsie pôs-se a rir e afastou para trás seu cabelo vermelho.

— Eu, ah, eu não tenho idéia de como lidar com isto. — disse— Salvo dizer que ela me agrada muito e que tem bom gosto com machos.

John esfregou o rosto, consciente de que estava da cor de um tomate.

— Vou passear. — falou por gestos.

— Bom, Thor acabou de ligar. Ia passar por casa para te pegar. Pensou que talvez quisesse ir com ele ao centro de treinamento, já que tem trabalho administrativo a fazer. De qualquer forma, é sua escolha ficar ou não. E, eu vou a uma reunião do Conselho Princeps.

Assentiu quando Wellsie tinha começado a virar-se.

— Ah, John? — fez uma pausa e olhou sobre seu ombro — Sua camisa... Humm, está mal abotoada.

Olhou para baixo. E, começou a rir. Embora não pudesse emitir som, precisava deixar sair sua alegria, e Wellsie sorriu, obviamente feliz por ele. Enquanto abotoava os botões corretamente, pensou que nunca tinha querido tanto a essa mulher.

 

Depois de retornar à mansão, Bela passou a seguinte hora sentada na cama de Zsadist com seu diário na saia. No princípio, não fez nada com o diário, muito presa ao que tinha acontecido em sua casa.

Jesus… Não podia dizer que estava surpresa porque Zsadist resultava ser exatamente a ameaça que pensou que era. E, a tinha salvado, verdade? Se esse Lesser que tinha matado tivesse posto as mãos sobre ela, teria terminado outra vez em um buraco na terra.

O problema era que não podia decidir se o que tinha feito era evidência de sua força ou de sua brutalidade.

Enquanto decidia que provavelmente fossem ambas, preocupou-se pensando se ele estaria bem. Tinha sido ferido e mesmo assim ainda estava lá fora, provavelmente tratando de encontrar mais assassinos. Deus… E, se ele…?

E, se. E, se... Se continuasse assim, ia ficar louca.

Desesperada por encontrar outra coisa em que concentrar-se, percorreu as páginas do que tinha escrito em seu diário o ano passado, o nome de Zsadist participava de um rol preponderante no qual as entradas estavam justo antes de ser seqüestrada. Estava tão obcecada por ele, e não podia dizer que isso tivesse mudado. De fato, seus sentimentos por ele eram tão fortes, inclusive depois do que tinha feito essa noite, que se perguntava se não…

Amava-o. Oh… Senhor.

De repente, não suportava estar sozinha, não com essa revelação projetando-se em sua cabeça. Escovou os dentes e o cabelo e foi ao primeiro andar, esperando encontrar alguém. Mas, na metade do caminho descendo as escadas, escutou vozes altas que provinham da cozinha. Estavam fazendo a última refeição da noite, mas a idéia de reunir-se a todos os Irmãos, Mary e Beth lhe parecia entristecedora. Além disso, Zsadist não estaria ali? E, como poderia enfrentá-lo sem ficar em evidência? Não havia forma que esse macho aceitasse bem que ela o amasse. De maneira nenhuma.

Ah, demônios. Cedo ou tarde teria que vê-lo. E, esconder-se não era o seu estilo.

Mas, quando chegou ao final da escada e se deteve sobre o piso de mosaicos do vestíbulo, deu-se conta que se esqueceu de calçar os sapatos. Como podia entrar na cozinha do Rei e da Rainha descalça?

Olhou para trás, para o segundo andar e se sentiu absolutamente exausta. Muito cansada para subir e voltar a descer, muito envergonhada para seguir adiante, ficou escutando os sons da comida: as vozes de homens e mulheres conversando e rindo. Uma garrafa de vinho foi desarrolhada emitindo um pop. Alguém agradeceu a Fritz por ter levado mais cordeiro.

Olhou seus pés descalços, pensando a parva que era. Uma parva transtornada. Estava perdida pelo que lhe tinha feito o Lesser. E, temerosa pelo que tinha visto Zsadist fazer essa noite. E, tão só depois de dar-se conta do que sentia pelo macho.

Estava a ponto de jogar a toalha e voltar a subir quando algo lhe roçou a perna. Saltou e olhou para baixo, encontrando os olhos verde jade de um gato negro. O felino piscou, ronronou, e esfregou a cabeça contra a pele de seu tornozelo.

Inclinando-se, acariciou sua pele com mãos inseguras. O animal era incomparavelmente elegante, deslizava-se com escassos e graciosos movimentos. E, sem nenhuma razão, seus olhos se turvaram. Quanto mais emocional ficava, mais se aproximava do gato, até que ficou sentada no último degrau da escada e o animal subiu em sua saia.

— Seu nome é Boo.

Bela ofegou e olhou para cima. Phury estava de pé em frente a ela, um macho muito alto que já não vestia roupa de combate, mas sim cachemira e lã. Tinha um guardanapo na mão, como se acabasse de levantar-se da mesa, e cheirava realmente bem, como se tivesse tomado banho e se barbeado recentemente. Olhando-o, deu-se conta de que a conversa e os sons da cozinha tinham desaparecido, deixando um silêncio que lhe dizia que todo mundo sabia que ela tinha descido e parado nos arredores.

Phury se ajoelhou e lhe pressionou o guardanapo de linho contra a mão. Dessa forma se deu conta de que havia lágrimas correndo por suas bochechas.

— Não se unirá a nós? — disse-lhe brandamente.

Secou seu rosto, ainda agarrada ao gato.

— Há alguma possibilidade de que possa levá-lo comigo?

— Absolutamente. Boo sempre é bem-vindo em nossa mesa. Igual a você.

— Não estou com sapatos.

— Não nos importa. — estendeu a mão — Vamos, Bela. Vêm te reunir conosco.

 

Zsadist entrou no vestíbulo, com frio e tão rígido que se arrastava para ir adiante. Queria permanecer na granja até que despontasse o amanhecer, mas seu corpo não funcionava bem com o ar gelado.

Embora não fosse comer, dirigiu-se a cozinha, só para deter-se nas sombras. Bela estava na mesa, sentada ao lado de Phury. Havia um prato de comida na frente dela, mas estava prestando mais atenção ao gato que tinha na saia. Estava mimando a Boo, e não deixou de acariciá-lo nem sequer quando elevou a vista para prestar atenção a algo que Phury dizia. Sorriu, e quando subiu a cabeça novamente, os olhos de Phury permaneceram em seu perfil como se estivesse bebendo dela.

Z caminhou rapidamente para a escada, indisposto a cair nessa cena. Estava quase a salvo quando Tohr saiu da porta oculta na primeira pausa. O irmão parecia carrancudo, mas bom, nunca estava para festa.

— Hei, Z, espere.

Zsadist amaldiçoou, e não baixou sua respiração. Não tinha nenhum interesse em ficar e escutar uma droga a respeito de política e procedimento, e isso era a única coisa que Tohr falava ultimamente. O homem estava enlouquecendo a Irmandade, organizando turnos, tentando converter a quatro tiros ao ar como eram V, Phury, Rhage e Z em soldados. Não estranhava que sempre parecesse que estava com dor de cabeça.

— Zsadist. Disse, espere.

— Agora não…

— Sim, agora. O irmão de Bela mandou uma petição a Wrath. Solicitando que lhe seja atribuído um estado de Sehclusion, com ele como seu Whard.

Oh, merda. Se isso ocorresse, seria o mesmo que Bela se fosse. Demônios, era como se fosse uma peça de bagagem. Nem sequer a Irmandade podia defender a ela de seu Whard.

— Z? Escutou o que te disse?

Assinale com a cabeça, idiota, disse-se a si mesmo.

Apenas conseguiu afundar o queixo.

— Mas, por que está me contando isso?

Tohr apertou a boca.

— Quer aparentar que ela não significa nada para você? Bom. Só pensei que quisesse saber.

Tohr se dirigiu para a cozinha.

Z agarrou o corrimão e esfregou o peito, sentindo como se alguém tivesse substituído o oxigênio de seus pulmões por alcatrão. Olhou para cima e se perguntou se Bela passaria por seu quarto antes de ir-se. Teria que fazê-lo, porque seu diário estava ali. Podia deixar a roupa, mas não seu diário. A não ser, é obvio, que já o tivesse pego.

Deus… Como lhe diria adeus?

Homem, deviam-se uma conversa. Não podia imaginar o que lhe diria, especialmente depois que ela viu a ele praticando sua odiosa magia com aquele assassino.

Z entrou na biblioteca, levantou um dos telefones, e discou o número do celular de Vishous, guiando-se pelo desenho das teclas. Escutou como soava no fone e também através do vestíbulo. Quando V respondeu, contou-lhe sobre o Explorer, o celular e as palhaçadas que tinha feito no trem dianteiro.

— Localizo. — disse V — Mas, onde está? Há um estranho eco no telefone.

— Chame-me se esse automóvel se mover. Estarei no ginásio. — desligou e se dirigiu ao túnel subterrâneo.

Supôs que poderia conseguir alguma roupa do vestuário e levar-se a um estado de absoluto esgotamento. Quando suas coxas gritassem, suas panturrilhas se convertessem em pedra e sua garganta estivesse seca por causa dos fôlegos, a dor lhe esclareceria mente, limpá-lo-ia… Ansiava a dor mais do que ansiava a comida.

Quando chegou ao vestuário, foi ao cubículo que lhe tinham atribuído e tirou seus tênis com amortecedores e bermuda para corrida. De qualquer forma preferia andar sem camisa, especialmente se estivesse só.

Tirou as armas e estava a ponto de despir-se, quando sentiu que algo se movia pelo vestuário. Rastreando o som em silêncio, interpôs-se no caminho de... Uma estranha sombra.

Houve um som de metal quando o pequeno corpo bateu contra um dos bancos do vestíbulo.

Merda. Era o moço. Qual era seu nome? John alguma coisa.

E, o moço, John parecia que ia desmaiar enquanto olhava para cima, com os olhos frágeis, saindo das órbitas.

Z olhou para baixo, desde toda sua estatura. Nesse momento, seu humor era absolutamente maligno, negro e frio como o espaço, e mesmo assim de alguma forma, não gostaria de rasgar um novo buraco no traseiro do moço que não tinha feito nada de errado.

— Sai daqui, moço.

John manuseou algo. Um bloco e um lápis. Enquanto punha os dois juntos, Z sacudiu a cabeça.

— Sim, não sei ler, recorda? Olhe, só vai-te. Tohr está lá em cima, na casa.

Z virou-se tirou a camisa de um puxão. Quando escutou um ofego, olhou sobre seu ombro. Os olhos de John estavam fixos em suas costas.

— Cristo, moço… Sai daqui, droga.

Quando Z escutou o som de passos afastando-se, desfez-se das calças, vestiu a bermuda de futebol preta, e sentou em um banco. Levantou os Nikes pegando-os pelos cordões e deixou que pendurassem entre os joelhos. Enquanto olhava as sapatilhas para correr, teve um estúpido pensamento sobre quantas vezes tinha metido os pés nelas e castigado seu corpo na fatigante rotina a que se dirigia. Logo, pensou sobre quantas vezes tinha deixado que o ferissem deliberadamente em brigas com lessers. E, quanta vez tinha pedido a Phury que o abatesse.

Não, não pedido. Ordenado. Houve momentos que tinha mandado que seu gêmeo lhe batesse uma e outra vez até que seu rosto com cicatrizes ficasse todo torcido e a palpitante dor nos ossos fosse tudo o que conhecesse. Para falar a verdade, não gostava de envolver Phury. Preferia ferir-se em privado e se tivesse podido ferir-se-ia ele mesmo. Mas era difícil golpear a si mesmo com força, e a sangue frio.

Lentamente, Z deixou as sapatilhas no piso e se inclinou para trás apoiando-se contra o fichário, pensando a respeito de onde estava seu gêmeo. Lá em cima, na cozinha. Ao lado de Bela.

Seus olhos se desviaram ao telefone que estava localizado na parede do vestíbulo. Talvez devesse ligar para casa.

Um suave assobio se escutou perto dele. Dirigiu os olhos para a esquerda e franziu o cenho.

O moço estava ali com uma garrafa de água na mão, e avançava lentamente, o braço esticado na frente dele, a cabeça inclinada. Como se quisesse relacionar-se com uma pantera e tivesse a esperança de sair da experiência com todos os membros ainda unidos.

John depositou a garrafa de Poland Spring[19] no banco, a três metros de Z. Logo, se virou e saiu correndo.

Z olhou a porta por onde o moço tinha desaparecido. Quando se fechou, pensou em outras portas do Complexo. Especificamente, nas portas principais da mansão.

Deus. Bela também iria logo. Inclusive, poderia estar indo embora nesse preciso momento.

Justo nesse minuto.

 

— Maçãs? Que merda faço me preocupando com maçãs? — gritou O ao celular. Estava a ponto de quebrar cabeças, estava de saco cheio, e U conversava a respeito das malditas frutas? — Só liguei para lhe dizer que temos três Betas mortos. Três deles.

— Mas, esta noite havia mil e oitocentos quilogramas de maçãs comprados em quatro diferentes...

O começou a passear pela cabana. Era isso que o ajudava, ia perseguir U até queimar suas bordas.

Logo que O retornou de Ômega foi para a granja, só para encontrar duas marcas chamuscadas na grama, assim como a porta traseira danificada. Olhando à cozinha através da janela, pôde ver o sangue negro por todo o lugar e outra marca de queimadura no azulejo.

Maldito inferno, pensou, imaginando a cena. Conhecia o irmão que tinha feito o trabalho, porque deixava a sujeira na cozinha, tinha cortado em tiras o lesser que tinha morrido no chão antes de ser apunhalado.

Sua mulher estava com o guerreiro nesse momento? Ou foi uma visita da família tratando de transladar suas coisas e o Irmão só estava protegendo-os?

Malditos fossem esses Betas. Esses três asnos piolhentos, bichas-frouxas, inúteis filhos da puta, mataram a si mesmos, então nunca teria respostas. E, se sua mulher não estivera ali, tão seguro como o inferno que se ela estava viva não retornaria logo, graças à briga que houve.

As tolices de U se enfocaram de novo.

— ...o dia mais curto do ano, em vinte e um de dezembro, será a semana que vem. O solstício de inverno é...

— Tenho uma idéia. — falou bruscamente O — Por que não corta a cantilena sobre o calendário. Quero que vá à granja e recolha o Explorer, deixe a esses betas para trás no bosque. Então...

— Escute o que digo. As maçãs são utilizadas na cerimônia do solistício em honra à Virgem Escriba.

Essas duas palavras, Escriba e Virgem, captaram a atenção de O.

— Como sabe disto?

— Estive por aqui os últimos duzentos anos. — disse U secamente — O festival não se celebrou em... Jesus, não sei, possivelmente um século. Supõe-se que as maçãs representam a espera da primavera. As sementes, o crescimento, essa tipo de merda da renovação.

— De que tipo de festival está falando?

— No passado, centenas deles se reuniam, e suponho que faziam algum tipo de cântico, algum ritual. Realmente não sei. De qualquer maneira, durante anos estivemos observando certo tipo de coisas nas compras durante épocas específicas do ano. Maçãs em dezembro. Cana-de-açúcar em abril. Foi mais por costume, que qualquer outra coisa, porque esses vampiros estavam condenadamente tranqüilos.

O se apoiou contra a porta da cabana.

— Mas, agora seu rei ascendeu. Assim, eles reviverão as chamas dos velhos costumes.

— E, você gostaria do sistema ISBN. Muito mais eficiente que ir perguntando por aí, os quais estavam acostumados a fazer. Como disse antes, uma enorme quantidade de maçãs Granny Smith foram compradas em várias localidades. Como se difundissem as ordens.

— Então está dizendo que em uma semana um montão de vampiros vai se reunir. Fazendo uma música e dança especial. Rezando à Virgem Escriba.

— Sim.

— Comendo maçãs?

— A meu entender, sim.

O esfregou a nuca. Havia sido reticente sobre expor todo assunto de converter a sua mulher em um lesser durante a sessão com Ômega. Precisava averiguar primeiro se estava viva, e logo trabalhar sobre algumas mudanças no conceito. Obviamente, o problema potencialmente insuperável era que ela era um vampiro, e o único contraponto era que ele podia fazer disso a arma secreta final. Uma fêmea de sua própria espécie? Os Irmãos nunca a veriam chegar...

Embora, é claro, que isso só seria um argumento para Ômega. Sua esposa nunca brigaria com ninguém, exceto com ele.

Sim, o projeto seria como uma venda agressiva, mas uma coisa que tinha a seu favor era que Ômega estava aberto às adulações. Então, não seria um grande e refrescante sacrifício em sua honra fazer maravilhas para lhe suavizar?

U ainda estava falando.

— ...estava pensando que poderia verificar nos mercados...

Enquanto U falava e falava, O começou a pensar em veneno. Em um montão de veneno. Em um tonel cheio.

Maçãs envenenadas. Quantas Brancas neves teriam?

— O? Está aí?

— Sim.

— Então, vou aos mercados e averiguo quando...

— Não, agora não. Lemme lhe dirá o que tem que fazer.

 

Quando Bela abandonou o escritório de Wrath tremia de fúria, e nem o rei nem Tohr tentaram detê-la ou fazê-la voltar à razão. O que provava que eram varões extremamente inteligentes.

Caminhou pesadamente pelo hall, com os pés nus, para o quarto de Zsadist, e logo fechou a porta com um golpe, foi ao telefone como se fosse uma arma. Discou o número de seu irmão.

Rehvenge atendeu e respondeu bruscamente.

— Quem é e como conseguiu este número?

— Não te atreva a me fazer isto.

Houve um comprido silencio. Então:

— Bela... Eu... Espere um segundo. — um som arrastado se ouviu através do telefone, então disse em voz cortante melhor — ...que acabe agora mesmo. Ficou claro? Se tiver que ir atrás dele, não vai gostar. — Rehvenge esclareceu garganta e retornou — Bela, onde está? Deixe que vá te buscar. Ou diga a um dos guerreiros que te leve a nossa casa e nos encontraremos ali.

— Pensa que vou a algum lugar perto de você agora?

— É melhor que a alternativa. — disse desagradavelmente.

— E, qual é?

— Os Irmãos lhe trarão para mim à força.

— Por que está fazendo…

— Por que estou fazendo isto? — com sua voz profunda e grave, exigentemente grave, a que ela estava acostumada — Tem alguma idéia do que foram estas últimas seis semanas para mim? Sabendo que estava nas mãos dessas malditas coisas? Sabendo que pus minha irmã... À filha de minha mãe... Nessa situação?

— Não foi sua culpa...

— Deveria estar em casa!

Como sempre, o jorro de fúria de Rehv a estremeceu, e recordou que em um nível básico, seu irmão sempre a tinha assustado um pouco.

Mas, então o ouviu aspirar profundamente. E, outra vez. Então, um estranho desespero se arrastou em suas palavras.

— Jesus, Bela... Só volte para casa, Mahmen e eu, necessitamos de você aqui. Temos saudades. Nós... Eu preciso ver-te para acreditar que está realmente bem.

Ah, sim… Agora seu outro lado, que realmente amava. O protetor. O fornecedor. O brusco e compassivo macho que sempre lhe tinha dado o que necessitava.

A tentação de submeter-se foi forte. Mas então se imaginou sem permissão para sair da casa outra vez. O que era algo malditamente capaz de lhe fazer.

— Rescindirá a ordem de isolamento?

— Podemos falar disso quando dormir outra vez em sua cama.

Bela agarrou o telefone.

— Isso significa não, verdade? — houve uma pausa — Olá? Rehvenge?

— Só te quero em casa.

— Sim ou não, Rehv. Diga-me isso agora.

— Nossa mãe não sobreviverá a algo assim outra vez.

— E, você crê que eu sim? — replicou-lhe bruscamente — Perdoe-me, mas mahmen não foi quem acabou com o nome do lesser tatuado em seu estômago!

No momento em que as palavras saíram de sua boca, amaldiçoou-se. Bom, essa classe de oportunos detalhezinhos iria certamente levá-lo ali. Que maneira de negociar.

— Rehvenge...

Sua voz estava completamente gelada.

— Quero-te em casa.

— Acabo de sair do cativeiro, não vou enjaular-me voluntariamente.

— E, o que vai fazer a respeito?

— Pressione-me um pouco mais e saberá.

Terminou a chamada e golpeou o sem fio com a mesa.

— Maldito!

Em um louco impulso, pegou o receptor e o fez girar, preparada para jogá-lo através do quarto.

— Zsadist! — agarrou como pôde o telefone, apanhando-o, segurando-o contra o peito.

De pé, silenciosamente ao lado da porta, Zsadist vestia uma bermuda para corrida e estava sem camiseta… E, por alguma absurda razão também se deu conta de que não usava sapatos.

— Joga-o se quiser.

— Não. Eu… Ah… Não. — virou-se e o colocou no pequeno suporte, tentando duas vezes para conseguir.

Antes de virar-se para Zsadist outra vez, pensou nele, agachado sobre o lesser, lhe batendo até a morte... Mas, então recordou que havia lhe trazido suas coisas de casa... Levando-a ali... E, tinha deixado ter sua veia embora se ficasse louco pela invasão. Enquanto se movia a seu redor, foi enredando-se em sua rede, apanhada entre a bondade e a crueldade.

Ele rompeu o silêncio.

— Não quero que fuja no meio da noite por causa do que seu irmão decidiu. E, não me diga que não era isso que estava pensando.

Maldito, era preparado.

— Mas, você sabe o que quer me fazer.

— Sim.

— E, por lei a Irmandade terá que me entregar, assim não posso ficar aqui. Pensa que eu gosto da única opção que tenho?

Porém para onde iria?

— O que tem de mal em ir para casa?

Olhou-o enfurecida.

— Certo, na realidade quero que me tratem como uma inútil, como uma menina, como... Um objeto que meu irmão possui. Concordo completamente.

Zsadist passou a mão sobre a cabeça. O movimento flexionou os bíceps, que se avultaram.

— É sensato ter a família sob o mesmo teto. São tempos perigosos para os civis.

Oh, homens… A última coisa que necessitava agora era que ele estivesse de acordo com seu irmão.

— Também é um tempo perigoso para os lessers. — resmungou — Guiando-me pelo que lhes fez esta noite.

Zsadist entrecerrou os olhos.

— Se quiser que me desculpe por isso, não o farei.

— Certamente que não. — replicou — Você não se desculpa por nada.

Negou lentamente com a cabeça.

— Está procurando briga, e está falando com o varão equivocado, Bela. Não te seguirei a corrente.

— Por que não? Você é único enchendo o saco.

O silenciou que seguiu lhe fez desejar gritar. Queria lhe enfurecer, algo que dava livremente a todo mundo, e ela não podia acreditar por que infernos estava aparentando autocontrole quando era ela.

Levantou uma sobrancelha, como se soubesse o que estava pensando.

— Ah, Demônios! — respirou — Estou-te crucificando, verdade? Sinto muito.

Encolheu seus ombros.

— Escolher entre o fogo e as brasas deixa qualquer um louco. Não se preocupe.

Sentou-se na cama. A idéia de escapar só era absurda, mas se negava a viver sob o controle de Rehvenge.

— Tem alguma sugestão? — perguntou em voz baixa. Enquanto elevava a vista, Zsadist estava olhando ao chão.

Estava tão autoconcentrado apoiado contra a parede. Com seu comprido e enxuto corpo, parecia uma greta de cor carne no gesso, uma fissura que se abriu muito na estrutura do quarto.

— Dê-me cinco minutos. — respondeu. Foi-se andando, sem camisa.

Bela se deixou cair para trás no colchão, pensando que cinco minutos não iriam resolver a situação. O que ela precisava era um irmão diferente esperando-a em casa.

Querida e doce Virgem Escriba… Além dos lessers, deveria ter feito melhor as coisas. Em lugar disso, sua vida estava totalmente fora de seu controle.

Concedeu que pelo menos agora ela poderia escolher o xampu.

Levantou a cabeça. Através da porta do banheiro viu a ducha e se imaginou sob o jorro de água quente. Isso seria bom. Relaxante. Refrescante. É, mas poderia chorar sua frustração sem vergonha.

Levantou-se e foi para o banho, abrindo a torneira. O som do jorro golpeando o mármore era calmante, assim como foi o quente jorro quando estava debaixo. Não chorou. Só pendurou a cabeça e deixou cair à água por seu corpo.

Quando finalmente saiu, deu-se conta que a porta do quarto estava fechada.

Provavelmente Zsadist havia voltado.

Envolvendo-se em uma toalha, não teve esperança absolutamente que tivesse encontrado uma solução.

 

Quando abriu a porta do banheiro, Z a examinou guardando uma maldição para si mesmo. Bela estava rosada da cabeça aos pés, o cabelo preso no alto da cabeça. Cheirava ao seleto sabão francês que Fritz insistia em comprar. E, essa toalha envolta em seu corpo só o fazia pensar em quanto seria fácil tê-la totalmente nua.

Um puxão. Isso era tudo o que necessitava.

— Wrath concordou em estar temporariamente inlocalizável. Mas, só é uma prorrogação de quarenta e oito horas, mais ou menos. Fale com seu irmão. Veja se pode trazer ele aqui. De outra maneira, Wrath terá que responder e realmente não poderá negar-se devido a sua linhagem.

Bela atou a toalha um pouco mais acima.

— Certo… Obrigado. Obrigado pelo esforço.

Inclinou a cabeça olhando para a porta, pensando em retornar ao plano A: pôr terra no meio. Era isso ou que Phury o atacasse.

Porém em vez de sair, pôs as mãos na cintura.

— Lamento uma coisa.

— O que? Oh… Por quê?

— Sinto que tivesse que ver o que fiz a esse assassino. — levantou a mão, então a deixou cair, resistindo ao impulso de esfregá-la na cabeça raspada — Quando disse que não me desculparia por isso, quis dizer que não lamento ter matado esses bastardos. Mas, eu não... Eu não gosto que tenha essas imagens em sua cabeça. Apagaria isso de você, se pudesse. Apagaria isso tudo... Suportaria tudo isso em seu lugar. Realmente sinto muito que isto tenha te acontecido, Bela. Ok, lamento tudo isto, incluindo... A mim.

Deu-se conta de que isto era seu adeus. E, estava perdendo forças, por isso apressou suas últimas palavras.

— É uma fêmea de valor. — baixou a cabeça — E, sei que encontrará...

Um companheiro, acabou para si mesmo. Certo, uma fêmea como ela poderia com toda segurança encontrar um companheiro. De fato, havia um nesta casa que não só a desejava, só não era apropriado para ela. Porém, Phury estava perto à volta da esquina.

Z elevou a vista, tentando dirigir seus pés para fora do quarto... E, bater em retorno a porta.

Bela estava bem em frente a ele. Quando pegou seu perfume, seu coração saltou como uma lebre, fazendo com que algo bom revoasse nele, aturdindo-o.

— É verdade que limpou minha casa? — disse-lhe.

Oh, Deus... A única resposta que tinha para isso era muito reveladora.

— Fez?

— Sim, fiz.

— Agora, vou abraçar você.

Z se esticou, mas antes que pudesse separar-se de seu caminho, uns braços lhe envolveram a cintura e uma cabeça encostou-se a seu peito nu.

Permaneceu em seu abraço sem mover-se, sem respirar, sem devolver-lhe. Tudo o que podia fazer era sentir seu corpo. Ela era uma fêmea alta, mas menor que ele uns bons 16 centímetros. E, embora fosse magro para ser um guerreiro, tinha ao menos trinta e dois quilos a mais em seus ossos que ela. Ainda lhe sobressaltava.

Deus, cheirava tão bem.

Fez um barulhinho, como um suspiro, e se afundou em seu corpo ainda mais. Seus seios pressionavam contra seu torso, e quando olhou para baixo, a curva de sua nuca era malditamente tentadora. Então, ali apareceu o problema. Essa coisa deixada da mão de Deus estava endurecendo, inchando, alongando. Rapidamente.

Colocou as mãos sobre os ombros de Bela, revoando simplesmente sobre sua pele.

— Sim, ah, Bela... Tenho que ir.

— Por quê? — mais perto. Ela se aproximou. Movendo os quadris contra ele, apertando os dentes quando as partes inferiores de seus corpos contataram completamente.

Droga, ela tinha que sentir aquela coisa entre suas pernas. Como podia evitar? A ereção empurrava contra sua barriga, e não acreditava que a maldita calça escondesse ao bastardo.

— Por que tem que ir? — sussurrou com o fôlego roçando seus peitorais.

— Por que...

Quando deixou a palavra no ar, ela murmurou:

— Sabe, eu gosto.

— Você gosta do que?

Tocou um dos anéis dos mamilos.

— Deles.

Tossiu um pouco.

— Eu, ah… Eu mesmo os fiz.

— Ficam bem. — deu um passo para trás e deixou cair à toalha.

Z cambaleou. Era tão condenadamente bela, esses seios, esse estômago plano, esses quadris… E, essa pequena e grácil vulva entre suas pernas que viu com dispensável claridade. As poucas humanas com as quais tinha estado tinham cabelo ali, mas ela era de sua raça, assim estava completamente depilada, desgarradamente suave.

— Realmente tenho que ir. — disse roucamente.

— Não vá.

— Tenho que fazê-lo. Se ficar...

— Deite comigo. — disse, relaxando-se contra ele outra vez. Tirou a presilha do cabelo, e as ondas escuras se derramaram sobre os dois.

Fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, em um intento de não ficar enterrado por seu perfume. Com voz resolvida, lhe respondeu:

— Só quer uma transa, Bela? Porque isso é tudo o que obterá de mim.

— Tem muito mais...

— Não, não tenho.

— Foi amável comigo. Cuidou de mim. Lavou-me e protegeu-me…

— Não me quer em seu interior.

— Já está, Zsadist. Seu sangue está dentro de mim.

Houve um longo silêncio.

— Conhece minha reputação?

Ela franziu o cenho.

— Isso não tem importância…

— O que as pessoas dizem de mim, Bela? Vamos, quero ouvir de você. Assim, saberei que o entende. — seu desespero foi evidente quando a pressionou, mas tinha que tirá-la do atordoamento no qual estava — Sei que ouviu algo sobre mim. As fofocas alcançam até seu nível social. Que dizem?

— Algo… Algo sobre que mata as fêmeas por esporte. Mas, não acredito…

— Sabe como consegui essa reputação?

Bela cobriu os seios e retrocedeu, negando com a cabeça. Ele se inclinou e lhe deu a toalha, então mostrou a caveira no canto do quarto.

— Matei esta fêmea. Agora me diga, pode tomar a um macho capaz de fazer algo assim? Um que pode machucar assim a uma fêmea? Quer esse tipo de bastardo em cima de você, bombeando em seu corpo?

— Era ela. — sussurrou Bela — Retornou e matou a ama, não?

Z estremeceu.

— Por um momento, pensei que isso me curaria.

— Não o fez.

Não, droga. Ela passou roçando-se nele e caminhou, a pressão aumentava nele até que abriu a boca para soltar:

— Um par de anos depois de partir, ouvi que ela… Droga, ouvi que tinha a outro macho nessa cela… Viajei sem parar durante dois dias, escondendo-me perto do amanhecer. — Z cabeceou. Não queria falar, realmente não queria, mas sua boca continuava em movimento — Jesus… Era tão jovem, tão jovem, como eu quando me tinha. Não tinha nenhuma intenção de matá-la, mas vinha andando justo quando eu fugia com o escravo. Logo que a vi… Soube que se não a golpeasse, chamaria aos guardas. Também soube que conseguiria outro varão e o prenderia ali e o… Ah, droga. Por que demônios estou contando isto?

— Amo você.

Z apertou seus já fechados olhos.

— Não é uma tragédia, Bela.

Deixou o quarto correndo, mas não foi além de quinze passos no corredor.

Ela o amava. Amava a ele?

Tolices. Pensava que amava. Logo que voltasse ao mundo real, ela se daria conta. Jesus, tinha saído de uma situação horrível e estava vivendo em uma fantasia ali no recinto. Nada disso fazia parte de sua vida, e passara muito tempo com ele.

E, ainda… Deus, queria estar com ela. Queria deitar-se a seu lado e beijá-la. Queria fazer inclusive mais que isso. Queria… Fazer tudo, beijar, tocar, chupar e lamber. Mas, onde exatamente ele pensava que levaria tudo isto? Inclusive, se tivesse a idéia de penetrá-la para o sexo, não podia arriscar-se a ejacular dentro dela.

Não que tivesse feito isso com alguma fêmea. Infernos, nunca tinha ejaculado sob nenhuma circunstância. Quando era um escravo de sangue, não ficava sexualmente excitado. E, depois quando esteve com as poucas prostitutas a quem tinha pago pra transar, nunca teve um orgasmo. Esses anônimos interlúdios eram somente experiências para comprovar que o sexo seguia sendo tão ruim como sempre.

Quanto a masturbar-se, não podia tocar essa maldita coisa para urinar, muito menos quando necessitava atenção. E, nunca quis aliviar-se a si mesmo, nunca tinha acordado sexualmente, inclusive quando “isso” estava duro.

Deus, tinham o destruído com essa droga de sexo. Que era como se houvesse um corte em seu cérebro.

A verdade é que tinha um montão deles, não?

Pensou em todos os espaços que tinha, os espaços em branco, os vazios onde os outros sentiam coisas. Quando se reduziu a isso, ele era só uma tela, mais vazada que sólida, as emoções que o golpeavam, apenas obtenção e reunião de cólera.

Só que não era completamente certo, não? Bela o fazia sentir coisas. Quando o tinha beijado antes, na cama, tinha feito ele se sentir… Quente e faminto. Muito masculino. Sexual, pela primeira vez em sua vida.

Saído de seu agudo desespero, algum eco do que tinha sido antes que a Mistress tivesse começado com ele, procurava seu espaço. Encontrou-se desejando outra vez esse sentimento que tinha obtido beijando Bela. E, queria excitá-la também. Desejava ela gemendo, sem fôlego e faminta.

Não era justo para ela… Mas, era um filho da puta, e estava ávido pelo que lhe tinha dado antes. Ela partiria logo. Só tinha esse dia.

Zsadist abriu a porta e entrou de novo.

Bela estava deitada na cama e obviamente surpresa por sua volta. Enquanto ela se sentava, sua visão lhe fez a decência retornar de repente. Como demônios poderia estar com ela? Deus, era tão… Bonita, e ele era um sujo, um sujo bastardo.

O momento passou, paralisou-se no meio do quarto. Prova que não era de tudo um bastardo, pensou. Mas, explicou primeiro.

— Desejo estar com você, Bela, e não só transar. – quando ela começou a dizer algo, silenciou-a levantando a mão — Por favor, só me escute. Desejo estar com você, mas não acredito que possa dar o que necessita. Não sou o homem adequado para você, e definitivamente não é o momento oportuno.

Soltou a respiração, pensando que era um completo idiota. Ali estava ele, lhe dizendo que não, brincando de ser um cavalheiro… Enquanto em sua mente, a jogava contra os lençóis e os substituíam com a manta de sua pele.

A coisa pendurava em frente de seus quadris golpeando como uma perfuratriz.

Como penetraria, perguntava-se, nesse doce e suave lugar entre suas pernas?

— Aproxime-se, Zsadist. — levantou as cobertas, descobrindo-se para ele — Pare de pensar. Vem para a cama.

— Eu… — palavras que nunca tinha falado a ninguém flutuavam sobre seus lábios, uma confissão, uma revelação perigosa. Afastou o olhar e sem pensar em nenhuma boa razão as deixou ir — Bela, quando era escravo as coisas foram… Ah, fizeram-me coisas. Drogas sexuais. — deveria deter-se agora mesmo — Houve varões, Bela. Contra minha vontade, houve varões.

Ouviu um pequeno ofego.

Isso era bom, pensou, inclusive quando se envergonhava. Possivelmente poderia obrigá-la a salvar-se a revoltando. Porque que fêmea poderia estar com um varão a quem fizeram esse tipo de coisas? Não era o ideal heróico. Nem muito menos.

Esclareceu a garganta e ficou olhando uma fresta no chão.

— Olhe, eu não… Não quero sua piedade. A razão pela qual contei isso não é te constranger. Só… Estou confuso. É como se tivesse os fios cruzados, sobre tudo… Já sabe, as fodidas coisas. Quero-te, mas não está certo. Não deveria estar comigo. Você é mais limpa que isso.

Houve um longo silêncio. Ah, droga… Tinha que olhá-la. No momento que o fez, ela levantou da cama como se estivesse esperando que levantasse os olhos. Caminhou para ele nua, nada sobre sua pele exceto a luz da única vela que ardia.

— Beije-me. — sussurrou na penumbra — Só me beije.

— Deus… O que está errado com você? — quando ela se sobressaltou, disse — Quero dizer, por quê? De todos os varões que poderia ter, por que eu?

—Desejo você. — pôs a mão sobre seu peito — É uma resposta natural e normal ao sexo oposto, não?

— Não sou normal.

— Sei. Mas, não é sujo, nem poluído nem indigno. — pegou suas trêmulas mãos e as colocou sobre seus ombros.

Sua pele era tão fina, a idéia de machucar a ela de alguma forma o congelou. Assim, como fez a imagem dele empurrando “isso” dentro dela. Porém, não deveria envolver a parte inferior de seu corpo, não? Isto poderia ser tudo para ela.

Oh, sim, pensou. Isto poderia ser por ela.

Virou-se e a apertou contra seu corpo. Com lentas carícias percorreu seu corpo de cima a baixo, pelas curvas da cintura e quadris. Quando ela arqueou a coluna e suspirou, pôde ver as pontas de seus seios por cima do ombro. Queria tocá-la ali… E, se deu conta que podia. Moveu suas mãos sobre a caixa torácica, sentindo o desenho dos ossos delicados até que as mãos envolveram os seios. A cabeça dela relaxou muito mais e sua boca abriu.

Quando se abriu assim para ele, teve o instinto de gritar, de entrar nela de qualquer forma possível. Em resposta, lambeu seu lábio superior enquanto fazia rodar um dos mamilos entre o polegar e o indicador. Imaginou-se colocando a língua à força em sua boca, entrando entre os dentes e presas, entrando nela dessa maneira.

Como se soubesse o que ele pensava, tratou de virar-se e ficar na frente dele, mas parecia muito perto de certa forma… Muito real que ela entregava-se a ele, que ia deixar alguém como ele fazer coisas íntimas, eróticas a seu corpo. Parou, agarrando-a pelos quadris e empurrando-a contra suas coxas. Rangeu os dentes sentindo seu traseiro contra a extensa ereção em suas calças.

— Zsadist… Deixe-me te beijar. — tentou virar-se outra vez e ele a deteve.

Quando lutou contra seu agarro, ele manteve-a em seu lugar facilmente.

— Será melhor para você desta maneira. Se não puder ver-me, será melhor.

— Não, não quero.

Baixou a cabeça até seu ombro.

— Se pudesse conquistar o Phury… Uma vez pareci com ele. Poderia fingir que era eu.

Liberou o corpo de suas mãos.

— Mas, não seria você. E, é você quem eu quero.

Enquanto ela o olhava com feminina espera, ele deu-se conta que se encaminhava para a cama, justo atrás dela. E, foi ao ponto. Mas, Deus… Não tinha nem idéia do que fazer para que ela sentisse prazer. Poderia muito bem ser virgem por toda merda que sabia sobre o prazer de uma fêmea.

Com essa pequena e feliz revelação, pensou sobre o outro varão que ela tinha tido, esse aristocrata, que sem dúvida sabia muito mais de sexo que ele. De um nada foi golpeado por um desejo totalmente irracional de perseguir a seu amante anterior e fazê-lo sangrar.

Oh... Demônios. Fechou os olhos. Oh... Merda...

— O que? — perguntou ela.

Esse tipo de impulso violento e territorial era característico do varão vinculado. A diferença de um, realmente.

Z levantou o braço e pôs o nariz em seus bíceps, respirando profundamente… O perfume vinculante saía de sua pele. Era fraco, provavelmente só reconhecível para ele, mas estava ali.

Droga. O que ia fazer agora?

Infelizmente, seus instintos responderam. Como se seu corpo gritasse, levantou-a e se encaminhou para cama.

 

Bela olhou o rosto de Zsadist enquanto a levava através do quarto. Seus olhos negros eram estreitas frestas, uma escura, erótica ânsia brilhava neles. Enquanto a deixava sobre a cama e olhava para seu corpo, ela teve o claro pensamento de que ele ia comê-la a viva.

Porém, só se inclinou sobre ela.

— Arqueie as costas para mim. — pediu.

Ok… Não era o que ela esperava.

— Arqueie as costas, Bela.

Sentindo-se estranhamente exposta, fez o que pedia, levantando seu corpo sobre o colchão. Enquanto ela se movia na cama, olhou à frente de sua cueca. Sua ereção deu um puxão violento, e a idéia de que ele logo estaria dentro dela a ajudou a relaxar.

Ele se inclinou e roçou um de seus mamilos com seus dedos.

— Quero isto em minha boca.

Uma deliciosa ânsia arraigou nela.

— Então, o beije.

— Shh. — o dedo viajou pelo meio de seus seios e desceu ao estômago. Deteve-se quando chegou ao umbigo. Com seu dedo indicador riscou um círculo pequeno ao redor do umbigo. Então, parou.

— Não pare. — gemeu ela.

Não o fez. Baixou mais, até que roçou o topo de sua fenda. Ela mordeu o lábio e esticou o corpo, aquele enorme guerreiro, com todos esses músculos totalmente duros. Deus… Ela estava realmente preparada para ele.

— Zsadist.

— Vou deitar sobre você. E, então não serei capaz de parar. — com a mão livre acariciou seus lábios, como se estivesse imaginando o ato — Está preparada para me deixar fazê-lo?

— Sim…

Ele riscou com um dedo o lado desfigurado de sua boca enquanto acariciava sua abertura.

— Desejaria ter um melhor aspecto para te oferecer. Porque você é perfeita aí embaixo. Sei.

Ela odiou a vergonha que veio com seu orgulho.

— Eu acredito que você é.

— Tem uma última oportunidade para me dizer que não, Bela. Se não fizer agora mesmo, vou estar sobre todas as suas partes. Não vou parar, e não acredito que possa ser gentil.

Ela manteve os braços longe dele. Ele assentiu uma vez, como se tivessem feito alguma espécie de pacto, e então foi ao final da cama.

— Separe as pernas. Quero te ver.

Um rubor nervoso se estendeu sobre ela.

Ele sacudiu a cabeça.

— Muito tarde, Bela. Agora… É muito tarde. Mostre-me.

Lentamente, ela levantou um de seus joelhos e foi se revelando gradualmente.

Seu rosto se enterneceu, a tensão e a dureza saíram dele.

— Oh… Deus… — sussurrou ele — É… Bonita.

Inclinando-se sobre os braços, espreitou pela cama para seu corpo, com os olhos fixos em sua pele secreta como se nunca tivesse visto algo assim. Quando acabou seu percurso, suas longas mãos nivelaram o caminho lhe levantando as coxas, abrindo-as inclusive mais.

Mas, então franziu o cenho e a olhou.

— Espere, supõe-se que tenha que beijar primeiro na boca, não? Quero dizer, os homens começam por cima e vão trabalhando para baixo, não o fazem assim?

Que estranha pergunta… Como se ele nunca tivesse feito assim.

Antes que ela pudesse responder, ele começou a retroceder, assim ela se sentou e capturou seu rosto entre suas mãos.

— Pode fazer o que quiser.

Os olhos dele cintilaram e manteve sua posição por uma fração de segundo.

Então, se equilibrou sobre ela, baixando à cama. Sua língua entrou em sua boca e enredou as mãos nos seus cabelos, esticando-a, arqueando-a, prendendo sua cabeça. A fome nele era feroz, a necessidade de sexo engrossava o sangue de um guerreiro. Ele ia arrebatá-la com toda força que tinha, e ela ia estar dolorida quando ele a possuísse. Dolorida e totalmente em êxtase. Ela não podia esperar.

De repente, ele parou e se separou de sua boca. Respirava profundamente e tinha as bochechas ruborizadas quando a olhou nos olhos.

E, então lhe sorriu.

Ela estava tão surpresa que não soube o que fazer. Nunca tinha visto essa expressão em seu rosto antes, e a elevação de sua boca eliminava a deformação no lábio superior, luzindo os dentes brilhantes e as presas.

— Eu gosto disto. — disse ele — Você debaixo de mim… É tão bom. É suave e morna. Peso muito? Aqui, me deixe…

Quando se sustentou com os braços, sua excitação pressionou contra o centro dela e seu sorriso se converteu rapidamente em uma respiração entrecortada. Era como se não gostasse da sensação, mas como podia ser isso? Ele estava excitado. Ela podia sentir sua ereção.

Com um ágil movimento, ele se reposicionou de forma que as pernas dela ficaram fechadas e os joelhos dele de cada lado dela. Ela não podia adivinhar o que tinha acontecido, mas a qualquer lugar aonde tivessem ido seus pensamentos, não era um bom lugar.

— É perfeito em cima de mim. — disse para distraí-lo — Exceto por uma coisa.

— O que?

— Você parou. Tire a cueca.

Seu peso baixou sobre ela imediatamente e sua boca foi para um lado do seu pescoço. Quando mordiscou sua pele, ela inclinou a cabeça no travesseiro e descobriu a coluna de sua garganta. Agarrando-o pela parte de atrás da cabeça, apertou-o contra sua veia.

— Oh, sim… — gemeu ela, querendo que ele se alimentasse.

Ele fez um ruído que era um não, mas antes que o rechaço pudesse murmurar através dela, estava beijando-a descendo por sua clavícula.

— Quero pegar seus seios. — disse ele contra sua pele.

— Faz.

— Precisa saber algo primeiro.

— O que?

Ele levantou a cabeça.

— À noite em que veio aqui… Quando te banhei? Fiz tudo o que pude para não te olhar. Realmente o fiz. Cobri-te com uma toalha, inclusive quando estava na água.

— Isso foi amável.

— Mas, quando a tirava… Vi estes. — sua mão capturou um de seus seios — Não pude evitar. Juro. Tentei permitir sua modéstia, mas você estava… Não podia deter meus olhos. Seu mamilo estava arrepiado pelo ar frio. Tão pequeno e rosado. Adorável.

Ele moveu o polegar de um lado a outro sobre seu duro topo, perturbando sua mente.

— Tudo bem. — murmurou ela.

— Não está. Estava indefesa e era incorreto te olhar.

— Não, se era você.

Ele se moveu e sua ereção pressionou no topo de suas coxas.

— Isto ocorreu.

— Que ps… Oh, excitou-te?

Apertou a boca.

— Sim. Não pude conter-me.

Ela sorriu um pouco.

— Mas, não fez nada, não é mesmo?

— Não.

— Então, está tudo bem. — arqueou as costas e viu como seus olhos se cravavam em seus seios — Beije-me, Zsadist. Justo onde está olhando. Justo agora.

Seus lábios separaram, e sua língua seguiu seu caminho enquanto se inclinava. Sua boca era cálida sobre sua pele, e tão vacilante, beijando, para depois sugar o mamilo dentro dela. Ele tirou, depois percorreu um lânguido círculo ao redor, depois o levou dentro de novo… E, todo o tempo suas mãos lhe acariciavam a cintura, os quadris e as pernas.

Que irônico que estivesse preocupado por não ser gentil. Longe de ser brutal, era positivamente reverente enquanto amamentava, suas pestanas sobre as bochechas enquanto a saboreava, seu rosto adorável e absorto.

— Cristo. — murmurou ele movendo-se para o outro seio — Não tinha nem idéia de que pudesse ser assim.

— Como… Assim? — Oh, Deus… Sua boca…

— Poderia te lamber para sempre.

Ela agarrou sua cabeça com as mãos, aproximando-o mais. Levou algum tempo, mas conseguiu tirar uma de suas pernas debaixo dele de forma que ele estava quase enterrado no berço de seu corpo. Morria por sentir sua excitação, porém ele apenas roçava seu corpo sobre o dela.

Quando ele se afastou, protestou, mas suas mãos foram ao interior de suas coxas e se moveu para descer sobre seu corpo. Quando ele separou suas pernas, o colchão começou a tremer embaixo dela.

Todo o corpo de Zsadist tremia enquanto a olhava.

— É tão delicada… E, brilha.

O primeiro movimento de seu dedo descendo para seu centro quase a lançou ao final. Quando ela deixou escapar um som rouco, seus olhos flamejaram fixos nos dela e amaldiçoou.

— Maldita seja, não sei o que estou fazendo. Estou tentando ser cuidadoso.

Ela o puxou pela mão antes que pudesse separá-la.

— Mais…

Ele pareceu duvidar por um momento. Então, a tocou de novo.

— É perfeita. E, Deus, é suave. Tenho que saber...

Ele se inclinou, os ombros dele esticaram duramente. Ela sentiu um roce de veludo.

Seus lábios.

Esta vez quando ela saltou na cama e disse seu nome, ele só pressionou outro beijo sobre ela de novo, e depois disso, o úmido golpe de sua língua. Quando ele levantou a cabeça e engoliu, o grunhido de êxtase que fez quase lhe pára o coração. Seus olhos se encontraram.

— Oh… Jesus… É deliciosa. — disse ele, baixando de novo sua boca.

Ele se estendeu na cama, passando os braços por debaixo dos joelhos dela aumentando o espaço entre suas coxas… Um homem que não ia a nenhum lugar durante muito tempo. Seu fôlego era quente e necessitado, a boca faminta e desesperada. Ele a explorou com uma necessidade erótica, lambendo e tateando com a língua, chupando com os lábios.

Quando seus quadris investiram, colocou um de seus braços sobre seu estômago, prendendo-a no lugar. Ela ondeou-se outra vez e ele se deteve sem levantar a cabeça.

— Está bem? — perguntou ele, a áspera voz amortecida, as palavras vibrando em seu centro.

— Por favor… — foi o único que lhe veio à mente.

Ele foi para trás um pouco, e tudo o que ela pôde fazer foi olhar os lábios brilhantes e pensar em onde tinham estado.

— Bela, não acredito que possa parar. Há um… Rugido em minha cabeça me dizendo que mantenha minha boca em você. Como posso fazer isto… Prazeroso para você?

— Faça-me… Gozar. — disse ela com voz rouca.

Ele piscou, como se estivesse surpreso.

— Como te faço gozar?

— Simplesmente continue o que estava fazendo. Só que mais rápido.

Ele aprendeu com muita rapidez enquanto descobria o que a fazia ficar selvagem, e foi desumano quando descobriu como lhe dar um orgasmo. Impulsionou-a duramente, olhando como ela explodia de prazer uma vez, duas vezes… Muitas vezes. Foi como se ele se alimentasse de seu prazer e fosse insaciável.

Quando levantou finalmente a cabeça, ela estava sem energia.

Ele a olhou seriamente.

— Obrigado.

— Deus… Sou eu que deveria estar dizendo isso.

Ele sacudiu a cabeça.

— Permitiu a um animal estar em sua parte mais bonita. Sou o único que deve sentir gratidão.

Ele se separou de seu corpo, com aquele rubor ainda nas bochechas. Aquela ereção ainda tensa.

Ela estendeu os braços.

— Aonde vai? Não acabamos.

Quando ele vacilou, ela recordou. Rodou sobre seu estômago e ficou engatinhando, uma oferta descarada. Quando ele não se moveu, olhou para trás. Ele tinha fechado os olhos como se sofresse, e isso a confundiu.

— Sei que só faz desta maneira.— disse ela brandamente — Isso é o que me disse. Está bem para mim. De verdade. — houve um longo silêncio — Zsadist, eu quero terminar isto entre nós. Quero te conhecer… Assim.

Ele esfregou o rosto. Ela pensou que ele ia sair, mas então se moveu rodeando-a até que ficou atrás dela. Suas mãos caíram brandamente sobre seus quadris e ele pediu que ela deitasse, sobre suas costas.

— Mas, você só…

— Não com você. — sua voz era áspera — Não desta forma, não com você.

Ela abriu as pernas, preparando-se para ele, mas ele só se sentou sobre os tornozelos.

Seu fôlego saía entrecortado.

— Deixe-me colocar uma camisinha.

— Por quê? Não estou fértil agora, assim não precisa. E, quero que você… Termine.

Suas sobrancelhas baixaram sobre seus olhos negros.

— Zsadist… Isto não foi suficiente para mim. Quero estar com você.

Ela esteve a ponto de levantar-se para ele quando ele se ajoelhou e levou as mãos à frente de suas calças de esporte. Manuseou o cordão e então o tirou para fora.

Bela tragou duramente.

Sua excitação era enorme. Uma perfeita, formosa e sólida rocha como uma aberração da natureza.

Sagrado… Moisés. Ela podia ajustar-se?

Suas mãos tremiam enquanto enganchava as calças sob os testículos. Então inclinou seu corpo, posicionando-se em seu centro.

Quando ela estendeu a mão para acariciá-lo, ele se afastou com um puxão.

— Não! — quando ela recuou, ele amaldiçoou — Sinto… Olhe, só deixe que eu me ocupe disto.

Ele moveu seus quadris para frente e ela sentiu a cabeça grossa e quente contra ela. Passou-lhe uma mão por debaixo de um dos joelhos e lhe estendeu mais a perna, então se introduziu um pouco, depois um pouco mais. Enquanto o suor cobria todo seu corpo, uma escura essência chegou até seu nariz. Por um momento, ela se perguntou se…

Não, não podia estar unindo-se a ela. Não estava em sua natureza.

— Deus... É tão apertada. — resmungou ele — Oh… Bela, não quero te despedaçar.

— Continue entrando. Só vai devagar.

Seu corpo se agitou sob a pressão e o esticamento. Inclusive, estando tão preparada, ele era uma invasão, mas ela adorou, especialmente quando o fôlego dele explodiu saindo do peito e tremeu. Quando estava completamente dentro dela, sua boca se abriu, com as presas alargando-se pelo prazer que sentia.

Ela deslizou as mãos por seus ombros, sentindo os músculos e a calidez dele.

— Está tudo bem? — perguntou ele através dos dentes apertados.

Bela comprimiu um beijo em um lado do pescoço e girou os quadris. Ele gemeu.

— Faça-me amor. — disse ela.

Ele gemeu e começou a mover-se como uma grande onda em cima dela, com essa parte grossa e dura dele acariciando seu centro.

— Oh, droga… — ele deixou a cabeça cair em seu pescoço. Seu ritmo se intensificou, seu fôlego saía com força, precipitando-se em seu ouvido — Bela… Droga, temo que… Mas, não posso… Parar…

Com um gemido ele se sustentou sobre os braços e permitiu aos seus quadris balançarem-se livremente, cada impulso cravando-o contra ela, empurrando-a mais para cima na cama. Ela se agarrou em seus pulsos para manter seu corpo no lugar sob o assalto. Enquanto ele investia, ela podia sentir como se aproximava do limite de novo, e quanto mais rápido ele ia, mais ela se aproximava.

O orgasmo explodiu em seu centro, depois atravessou seu o corpo, a força que se estendeu para ela foi imensa, ampla e prolongada. As sensações duraram uma eternidade, as contrações de seus músculos internos se agarravam à parte dele que a penetrava.

Quando ela retornou a sua própria pele, deu-se conta que ele estava imóvel, completamente gelado em cima dela. Piscando para afastar as lágrimas, estudou seu rosto. Os ângulos duros estavam tensos, assim como o resto de seu corpo.

— Machuquei-te? — perguntou apertadamente — Gritou alto.

Ela tocou seu rosto.

— Não de dor.

— Graças a Deus. — seus ombros relaxaram enquanto exalava — Não poderia suportar se te ferisse dessa forma.

Ele a beijou brandamente. E, então se retirou e desceu da cama, subindo os calções enquanto entrava no banheiro e fechava a porta.

Bela franziu o cenho. Ele tinha ejaculado? Parecia estar completamente ereto enquanto se retirava.

Ela deslizou para fora da cama e olhou para baixo. Quando viu que não havia nada entre suas coxas, vestiu o roupão e foi atrás dele, sem nem sequer incomodar-se em bater.

Os braços de Zsadist estavam apoiados no lavabo, a cabeça pendurada. Respirava com dificulta e parecia febril, a pele escorregadia, sua postura antinatural, tensa.

— O que é, nalla? — disse ele com um rouco sussurro.

Ela parou insegura de que tivesse ouvido bem. Mas, ele havia… Amada. Tinha-lhe chamado amada.

— Por que você não…? — ela não parecia poder concretizar as demais palavras — Por que parou antes que você…?

Quando ele só sacudiu a cabeça, foi até ele e lhe deu a volta. Através dos calções podia ver que sua excitação pulsava dolorosamente rígida. De fato, parecia que o corpo inteiro lhe doía.

— Deixe-me te ajudar. — disse, tocando-o.

Ele recuou contra a parede de mármore entre a ducha e o lavabo.

— Não, não o… Bela…

Ela pegou o roupão com as mãos e começou a ajoelhar-se a seus pés.

— Não! — ele a arrastou para cima.

Ela o olhou diretamente nos olhos e foi até sua braguilha.

— Deixe-me fazer isto por você.

Ele pegou suas mãos e apertou seu pulso até que doeram.

— Quero fazer isto, Zsadist. — disse com intensidade — Deixe-me cuidar de você.

Houve um longo silencio, e ela passou esse tempo avaliando o problema, o desejo e o medo nos olhos dele. Um golpe frio a atravessou. Não podia acreditar no que estava pensando, mas ela tinha realmente a vívida impressão de que ele nunca tinha se permitido ter um orgasmo antes. Ou estava precipitando-se ao tirar conclusões?

Possivelmente. Não era como se fosse perguntar-lhe. Ele vacilava a ponto de sair correndo, e se ela dissesse ou fizesse algo incorreto, ele ia sair do quarto.

— Zsadist, não quero te machucar. E, você pode ficar no controle. Pararemos se não se sentir bem. Pode confiar em mim.

Passou muito tempo antes que diminuísse o apertão nos seus pulsos. E, então finalmente ele a soltou e a aproximou de seu corpo. Titubeando, ele baixou os calções.

Aquela excitação saltou ao espaço entre eles.

— Só pegue. — disse ele com a voz partida.

— A você. Pegarei a você.

Quando ela o envolveu em suas mãos, ele deixou escapar um gemido, e sua cabeça retrocedeu. Deus, ele estava duro. Duro como ferro, entretanto rodeado de pele suave como a de seus lábios.

— É…

— Shh. — cortou-a — Sem… Falar. Não posso… Sem falar.

Ele começou a mover-se dentro de seu punho. Lentamente a princípio, e depois com crescente urgência. Pegou seu rosto entre as mãos e a beijou, e então seu corpo o dominou completamente com um bombeamento selvagem. Ele estava enlouquecendo, disparando-se mais e mais alto, seu peito e seus quadris eram tão bonitos enquanto se moviam com aquele antigo e encrespado movimento masculino. Mais rápido… Mais rápido… Lançando-se para frente e para trás…

Porém, alcançou algum tipo de estágio. Ele se esforçava, as cordas do pescoço quase abrindo caminho pela pele, seu corpo coberto de suor. Mas, parecia que não podia gozar.

Ele parou, ofegando.

— Isto não vai funcionar.

— Simplesmente relaxe. Relaxe e deixe que ocorra…

— Não. Necessito… — pegou uma das mãos dela e a colocou sobre seus testículos — Aperte. Aperte forte.

Os olhos de Bela levantaram para seu rosto.

— O que? Não quero te machucar…

Ele envolveu a mão dela com a sua como um parafuso e retorceu seus punhos até que gritou. Então, lhe sustentou o outro pulso, mantendo a palma da mão dela contra sua ereção.

Ela lutou contra ele, brigando para parar a dor que ele infringia a si mesmo, mas ele estava bombeando de novo. E, quanto mais duramente ela queria afastar-se, mais ele apertava sua mão na mais tenra parte de um homem. Seus olhos se alargaram sem piscar ante o ato, a agonia que ele devia…

Zsadist gritou, sua ruidosa exclamação ricocheteou no mármore até que ela ficou segura que todos na casa o tinham ouvido. Então, ela sentiu os poderosos espasmos de sua liberação, pulsos quentes umedecendo suas mãos e a frente do roupão.

Ele caiu sobre seus ombros, seu imponente corpo caindo sobre ela. Respirava como um trem de carga, os músculos tremiam, seu grande corpo estremecia com réplicas. Quando soltou as mãos dela, ela teve que separar a palma de seu testículo.

Bela estava gelada até os ossos enquanto suportava seu peso.

Algo feio tinha brotado entre eles neste momento, algum tipo de doença sexual que turvou a distinção entre o prazer e a dor. E, embora isso a fizesse cruel, quis fugir dele. Quis fugir do vergonhoso conhecimento de que lhe tinha machucado porque ele a tinha obrigado a fazer e que tinha tido seu orgasmo por isso.

Porém, a respiração dele se cortou em um soluço. Ou ao menos assim pareceu.

Ela conteve a respiração, escutando. O suave som voltou, e sentiu o tremor de seus ombros.

Oh, meu Deus. Estava chorando...

Ela o envolveu com seus braços, recordando-se que ele não tinha pedido para ser torturado como tinha sido. Nem havia se oferecido como voluntário aos efeitos secundários.

Ela tentou levantar a cabeça dele para beijá-lo, mas ele lutou contra ela, aproximando-a, escondendo-se em seu cabelo. Ela o embalou, sustentando-o e consolando-o enquanto ele lutava para mascarar o fato de que estava chorando. Finalmente, ele se moveu para trás e esfregou o rosto com as mãos. Evitou encontrar seu olhar enquanto se esticava e caminhava para a ducha.

Com um rápido puxão lhe tirou o roupão do corpo, fez uma bola com ele e o jogou no lixo.

— Espere, eu gosto desse roupão.

— Eu te comprarei um novo.

A instigou a entrar debaixo d’água. Quando ela resistiu levantou-a facilmente e a colocou sob o jorro, e começou a ensaboar suas mãos sem dissimular seu pânico.

— Zsadist, pare. – separou-se dele, mas ele a agarrou — Não estou suja… Zsadist, pare. Não preciso ser lavada, porque você…

Ele fechou os olhos.

— Por favor… Tenho que fazer isso. Não posso te deixar toda… Coberta com esta porcaria.

— Zsadist. — estalou ela — Olhe-me. — quando ele o fez disse — Isto não é necessário.

— Não sei mais o que fazer.

— Volte para a cama comigo. — ela fechou a torneira — Abrace-me. Deixe-me te abraçar. É a única coisa que precisa fazer.

E, francamente, ela também o necessitava. Estava estremecida até seu coração.

Ela pegou uma toalha ao redor e o empurrou para o dormitório. Quando estavam embaixo das cobertas, ela deitou junto a ele, mas estava tão tensa quanto ele. Tinha pensado que a proximidade podia ajudar. Não.

Depois de um longo tempo a voz dele lhe chegou através da escuridão.

— Se houvesse sabido como tinha que ser, nunca teria permitido que acontecesse.

Ela virou o rosto para ele.

— É a primeira vez que acontece?

O silêncio não foi uma surpresa. Então, finalmente respondeu.

— Sim.

— Alguma vez deste prazer a ti mesmo? — sussurrou, embora conhecesse a resposta. Deus… O que deviam ter sido aqueles anos como escravo de sangue. Todos aqueles abusos… Quis chorar por ele, mas sabia que lhe faria sentir-se incômodo.

Ele exalou.

— Eu não gosto de tocá-lo, absolutamente. Francamente, odeio o fato de que tenha estado dentro de você. Eu gostaria que estivesse em uma banheira agora, rodeada de desinfetante.

— Amei estar com você. Estou contente de que tenhamos transado. — só tive dificuldade com o que veio depois — Mas, sobre o que ocorreu no banheiro…

— Não quero que seja parte disso. Não quero você me fazendo isso que faz que eu… Não quero que conviva com isso.

— Eu gostei de te dar prazer. É só que… Preocupou-me muito te machucar. Possivelmente poderíamos tentar…

Ele se afastou.

— Sinto… Tenho que… Vou ver o V. Tenho trabalho a fazer.

Ela o pegou pelos braços.

— O que acontece se disser que penso que você é bonito?

— Diria que está em cima de uma onda de compaixão e isso me encheria o saco.

— Não tenho pena de você. Desejava que tivesse ejaculado dentro de mim, e acredito que é magnífico quando está excitado. É grosso e comprido, e eu esta morrendo de vontade de tocar em você. Ainda estou. E, quero tomar você em minha boca. Que tal isso?

Ele deu de ombros para soltar-se e ficou de pé. Com rápidos e bruscos movimentos se vestiu.

— Se precisa projetar uma luz diferente sobre este ato sexual para que possa tratá-lo, está bem. Mas, agora está mentindo para você mesma. Em algum momento, despertará ao fato de que ainda é uma fêmea de valor. E, então vai lamentar esta merda de transar comigo.

— Não farei.

— Espere.

Ele saiu pela porta antes que ela pudesse encontrar as palavras apropriadas para fazê-lo retornar.

Bela cruzou os braços e balbuciou com frustração. Então, chutou as mantas. Maldição, que calor fazia neste quarto. Ou possivelmente ela estivesse muito estimulada, estava oprimida pela química interior.

Incapaz de ficar na cama, vestiu-se e desceu pelo corredor das estátuas. Não importava onde acabasse, só queria sair e afastar-se desse calor.

 

Zsadist parou no túnel subterrâneo, a meio caminho entre a casa principal e a área de Vishous e Butch.

Quando olhou para trás, não viu nada exceto uma fileira de luzes no teto. Em frente havia mais do mesmo, uma fileira de placas resplandecentes que seguiam e seguiam. As portas, pela qual tinha entrado e pela qual devia sair, eram invisíveis para ele.

Bom, isso não era uma droga de uma perfeita metáfora da vida.

Sentou-se contra a parede de aço do túnel, sentindo-se preso apesar do fato de não estar retido por nada e por ninguém.

Oh, mas que loucura. Bela estava agarrando-o, prendendo-o, o amarrado com seu bonito corpo e seu coração amável a essa ilícita quimera de amor que resplandecia em seus olhos cor safira. Preso… Estava tão preso.

Com uma repentina mudança, sua mente se focou na noite em que Phury finalmente o tirou da escravidão.

Quando a Mistress apareceu com outro macho, o escravo se mostrou desinteressado. Depois de dez décadas, os olhos de outros machos já não lhe incomodavam, e as violações e invasões não tinham novos horrores para lhe ensinar. Sua existência era um trecho de constante queda para o inferno, o único repouso real na infinita natureza de seu cativeiro.

Mas, então havia sentido algo estranho. Algo… Diferente. Tinha virado a cabeça e olhado ao estranho. O primeiro que pensou era que o homem era enorme e vestido com luxo, assim tinha que ser um guerreiro. O seguinte foi que esses olhos amarelos o estavam olhando com uma vergonhosa pena. Na verdade, o estrangeiro que permanecia na porta tinha empalidecido até que sua pele pareceu de cera.

Quando o aroma do ungüento assaltou o nariz do escravo, voltou a olhar o teto, pouco interessado no que ocorreria a seguir. Mesmo assim, quando sua masculinidade foi manipulada uma quebra de onda de emoção surgiu na habitação. Voltou a olhar ao homem que estava dentro da cela. O escravo franziu o cenho. O guerreiro estava procurando uma adaga e olhando a Mistress como se fosse matá-la…

A outra porta se abriu de repente e um dos cortesãos falou em pânico. De repente, a cela encheu de guardas, armas e fúria. A Mistress foi agarrada bruscamente pelo macho à frente do grupo e esbofeteada tão duramente que bateu contra a parede. Então, o macho foi para o escravo desembainhando uma faca. O escravo gritou enquanto a lâmina era passada em seu rosto. Uma ardente dor cortou a testa, o nariz e a bochecha, então a escuridão o reclamou.

Quando o escravo recuperou a consciência, estava pendurado pelo pescoço, o peso de seus braços, pernas e torso o estrangulavam lhe tirando o direito à vida. Sua lucidez mental foi como se seu corpo soubesse que era seu último fôlego e o tivesse despertado no caso de seu cérebro poder ajudar. Uma penosa tentativa de resgate, ele pensou.

Querida Virgem, não deveria sentir dor? E, se perguntou se tinha sido salpicado com água, porque sua pele estava úmida. Então se deu conta de algo grosso gotejava nos seus olhos. Seu sangue. Estava coberto por seu próprio sangue.

E, o que era todo esse ruído ao redor dele? Espadas? Lutas?

Enquanto se asfixiava, levantou os olhos, e por uma fração de segundo todo tipo de sufoco o abandonou. O mar. Estava olhando ao vasto oceano. A alegria se elevou durante um momento… E, então sua visão nublou-se pela falta de ar. Suas pálpebras vacilaram e ele cedeu, pensando que estava agradecido por ter visto o mar uma vez mais antes de morrer. Ponderou vagamente se o Fade seria algo como este vasto horizonte, uma expansão infinita que era de uma vez inconquistável e um lar.

Justo quando via uma brilhante luz branca ante ele, a pressão em sua garganta cedeu e seu corpo foi manipulado bruscamente. Houve gritos e sacudidas, então uma trepidante e robusta cavalgada que terminou abruptamente. Durante o caminho, a agonia floresceu por todas as suas partes, assaltando seus ossos, golpeando como torpes punhos que o massacravam.

Dois disparos de um fuzil. Um grunhido de dor que não era dele. E, então um gemido e uma explosão de vento em suas costas. Cair… Ele estava no ar, caindo…

Oh, Deus, o mar. O pânico se estendeu por ele. O sal…

Sentiu o duro amortecimento da água só por um momento antes que a sensação do mar tocando sua pele em chagas sobrecarregasse sua mente. Desmaiou.

Quando voltou a si de novo, seu corpo não era mais que um saco frouxo cheio de dores. Deu-se conta confusamente que estava congelando de um lado e moderadamente quente do outro, e se moveu para ver se podia. Logo que o fez, sentiu que a calidez contra ele mudava em resposta… Estava em um abraço. Um homem estava contra suas costas.

O escravo empurrou violentamente o corpo para longe do dele e se arrastou pela terra. Sua visão empanada lhe mostrou o caminho, alcançando um canto arredondado na escuridão, lhe dando algo onde esconder suas costas. Quando estava resguardado respirou apesar do tormento em seus órgãos vitais, cheirando o salitre do mar e a desagradável podridão de peixes mortos.

E, também um aroma estanho. Um intenso, e estanho…

Ele apareceu na esquina da rocha. Embora seus olhos estivessem débeis, era capaz de reconhecer a figura do homem que tinha ido à cela com a Mistress. O guerreiro se incorporava contra a parede agora, seu cabelo comprido pendurava em tiras abaixo dos largos ombros. Suas elegantes roupas estavam rasgadas, e seu fixo olhar amarelo resplandecia com pena.

Esse era o outro aroma, pensou o escravo. Essa emoção triste que o homem estava sentindo tinha um cheiro.

Quando o escravo cheirou outra vez sentiu um estranho puxão no rosto, e levantou as pontas dos dedos até a bochecha. Havia um corte, uma linha rígida na pele… Seguiu até a testa. Então, para baixo aos lábios. E, recordou a lâmina da faca que vinha para ele. Recordou-se gritando enquanto o cortava.

O escravo começou a tremer e se envolveu em seus braços.

— Deveríamos nos dar calor um ao outro. — disse o guerreiro — Sinceramente, isso é tudo o que estava fazendo. Não tenho… Planos para você. Mas, te ajudaria se pudesse.

Todos os machos da Mistress queriam ficar com o escravo. Era por isso que ela os trazia. Ela gostava de olhar, também…

Mas, então o escravo recordou do guerreiro levantando a adaga, parecendo como se fosse estripar a Mistress como a um porco.

O escravo abriu a boca e perguntou com voz rouca:

— Quem é você, senhor?

A boca não funcionava como antes, e suas palavras foram confusas. Tentou outra vez, mas o guerreiro o cortou.

— Escutei sua pergunta. — o estanhado aroma da tristeza ficou mais forte até que anulou inclusive o fedor do pescado — Sou Phury. Sou… Seu irmão.

— Não. — o escravo sacudiu a cabeça — Na verdade, eu não tenho família. Senhor.

— Não, eu não sou… — o macho esclareceu a garganta — Eu não sou seu senhor. E, sempre teve uma família. Foi raptado. Procurei por você durante um século.

— Temo que esteja equivocado.

O guerreiro se moveu como se fosse levantar, e o escravo deu um salto para trás, baixando seus olhos e cobrindo a cabeça com os braços. Não poderia suportar ser golpeado outra vez, inclusive se o merecesse por sua insubordinação.

Rapidamente, ele disse com sua nova forma enredada:

— Não pretendia ofendê-lo, senhor. Eu lhe oferecia só meu respeito por sua melhor posição.

— Doce Virgem nas alturas. — um ruído estrangulado veio através da cova — Não te baterei. Está a salvo… Comigo, está a salvo. Foi encontrado, irmão.

O escravo sacudiu a cabeça outra vez, incapaz de escutar nada disso, porque se deu conta de repente do que ia acontecer ao anoitecer, o que tinha que acontecer. Era propriedade da Mistress, o que significava que teria que ser devolvido.

— Suplico ao senhor, — gemeu — não me devolva a ela. Mate-me agora… Não me mande de volta a ela.

— Matarei a ambos antes de permitir que volte a ficar ali de novo.

O escravo levantou o olhar. Os olhos do guerreiro ardiam através da escuridão.

O escravo olhou fixamente o brilho enquanto o tempo passava. E, então recordou, fazia muito, muito tempo, quando despertou pela primeira vez depois de sua transição em seu cativeiro. A Mistress lhe disse que adorava seus olhos… Seus olhos amarelo canário.

Entre sua espécie, havia muito poucos com a íris de cor dourada brilhante.

As palavras e as ações do guerreiro começaram a penetrar. Por que um estranho brigaria para libertá-lo?

O guerreiro se mexeu, escoiceou, e agarrou uma das coxas.

A parte de baixo de sua perna tinha desaparecido.

Os olhos do escravo aumentaram ante o membro perdido. Como tinha salvado o guerreiro a ambos na água com essa ferida? Ele teria que esforçar-se para manter-se simplesmente flutuando. Por que não tinha deixado simplesmente o escravo ir-se?

Só um laço de sangue podia engendrar esse tipo de falta de egoísmo.

— É meu irmão? — disse o escravo entre dentes através de seus lábios destroçados — Verdadeiramente, sou de seu sangue?

— Ora! Sou seu gêmeo.

O escravo começou a tremer.

— Mentira.

— Verdade.

Um curioso temor se instalou sobre o escravo, congelando-o. Enroscou-se em si mesmo apesar da fria carne que o cobria da cabeça aos pés. Nunca tinha lhe ocorrido que fosse outra coisa que não um escravo, que podia ter tido a oportunidade de viver de forma diferente… Viver como um homem, não como uma propriedade.

O escravo se balançava de lá para cá na sujeira. Quando parou, olhou uma vez mais ao guerreiro. O que sabia a respeito de sua família? Por que tinha acontecido isto? Quem era ele? E…

— Sabe se tinha um nome? — murmurou o escravo — Foi me dado alguma vez um nome?

O guerreiro delineou uma áspera respiração, como se uma de suas costelas estivesse quebrada.

— Seu nome é Zsadist. — a respiração do guerreiro se cortava até suas palavras se estrangularam — É filho… De Ahgony, um grande guerreiro. É o amado de nossa… Mãe, Naseen.

O guerreiro deixou sair um desventurado soluço e deixou cair à cabeça entre as mãos.

Enquanto ele chorava, o escravo o olhava.

Zsadist sacudiu a cabeça, recordando aquelas silenciosas horas que tinham seguido. Phury e ele tinham passado a maior parte do tempo simplesmente olhando um ao outro. Os dois estavam em má forma, mas Phury era o mais forte deles, inclusive com o membro amputado. Tinha reunido madeira flutuante e fios de algas marinhas e tinha juntado as coisas em uma balsa raquítica que não dava confiança. Quando o sol tinha caído se arrastaram pela costa para a liberdade.

Liberdade.

Sim, bom. Não era livre, nunca tinha sido. Aqueles anos perdidos tinham permanecido com ele, a fúria sobre o que lhe tinham extorquido e sobre o que lhe tinham feito estava mais viva do que ele.

Tinha ouvido Bela dizendo que o amava. E, quis lhe gritar algo.

Em vez disso, foi para a Cova. Não tinha nada digno dela exceto sua vingança, assim estaria malditamente bem que voltasse ao trabalho. Queria ver todos os lessers esmagados ante ele, empilhados na neve como troncos, um legado era o único que lhe podia oferecer.

E, para aquele que a pegou, que a feriu, haveria uma morte especial esperando-o. Z não tinha amor para dar a ninguém. Mas, o ódio que sentia o canalizaria por Bela até o último fôlego de seus pulmões.

 

Phury acendeu o cigarro e jogou um olhar aos dezesseis frascos de Aqua Net que estavam alinhadas na mesa de café de Butch e V.

— O que estão fazendo com spray de cabelo? Vão aborrecer os meninos?

Butch sustentava o tubo de PVC enquanto o perfurava.

— Um lançador de batatas, homem. Muito divertido.

— Perdão?

— Alguma vez foi a um acampamento de verão?

— As cestas de piqueniques e a oficina de madeira são para humanos. Não te ofenda, mas nós temos melhores coisas para ensinar a nossos jovens.

— Tá! A gente não viveu até ir a uma incursão de calças à meia-noite. De toda forma, põe a batata no final, enche a base com spray…

— E, então o acende. — cortou V de seu quarto. Saía em um roupão, esfregando uma toalha no cabelo úmido — Faz muito barulho.

— Um grande barulho. — repetiu Butch.

Phury olhou a seu irmão.

— V, fez isto antes?

— Sim, a noite passada. Mas, o lançador entupiu.

Butch amaldiçoou.

— A batata era muito grande. Malditos padeiros de Idaho. Vamos enfrentar a corte vermelha esta noite. Isto vai ser magnífico. É obvio, a trajetória pode ser uma puta…

— Mas, realmente é como o golfe. — disse V, soltando a toalha sobre uma cadeira. Vestiu uma luva na mão direita, cobrindo as tatuagens sagradas que lhe marcavam da mão às pontas dos dedos e todo o dorso — Quero dizer, deve pensar em seu arco no ar…

Butch assentiu destrambelhando.

— Sim, é como golfe. O vento tem um grande papel…

— Enorme.

Phury fumou enquanto eles terminavam as frases um do outro durante um par de minutos. Depois de um momento se sentiu obrigado a mencionar:

— Vocês dois estão passando muito tempo juntos, entendem-me?

V sacudiu a cabeça olhando o policial.

— O irmão não aprecia este tipo de coisas. Nunca o fez.

— Então, apontaremos para seu quarto.

— É verdade. E, está na frente do jardim…

— Assim não teremos que nos ocupar dos carros do pátio. Excelente.

A porta do túnel se abriu balançando-se, e os três se viraram.

Zsadist estava na entrada… E, o aroma de Bela estava sobre ele. Junto com a sufocante fragrância de sexo. Assim como com a mais ligeira insinuação da marca de união.

Phury se esticou e aspirou profundamente. Oh, Deus… Tinham estado juntos.

Cara, a necessidade de correr pela casa e verificar que ela ainda estava respirando eram quase irresistíveis. Assim como o desejo de esfregar o peito até que desaparecesse o doloroso buraco.

Seu gêmeo tivera a única coisa que Phury tinha desejado.

— O SUV se moveu? — disse Z a Vishous.

V foi para seus computadores e apertou algumas teclas.

— Não.

— Mostre-me.

Quando Zsadist se aproximou e se agachou, V mostrou na tela.

— Aqui está. Se começar a andar, posso seguir seu rastro.

— Sabe como entrar num desses Explorer sem ativar o alarme?

— Por favor. É só um carro. Se ainda estiver ali ao anoitecer, eu lhe farei isso como ao Flynn.

Z se endireitou.

— Preciso de um telefone novo.

Vishous abriu uma gaveta do escritório, tirou um, e o verificou duas vezes.

— Está pronto para partir. Mandarei uma mensagem de texto a todos com seu novo número.

— Ligue-me se essa coisa se mover.

Quando Zsadist lhes deu as costas, Phury aspirou de novo e manteve firmemente a respiração. A porta do corredor se fechou com força.

Sem nem sequer dar-se conta do que estava fazendo, Phury apagou o charuto e foi atrás de seu irmão.

No corredor, Z parou quando escutou outros passos. Enquanto o homem virava-se, a luz do teto marcava os espaços sob suas maçãs do rosto, a cortante linha de sua mandíbula e a linha da cicatriz.

— O que é? — perguntou, sua voz profunda ressonando. Então franziu o cenho — Deixe-me adivinhar. É sobre Bela.

Phury parou.

— Possivelmente.

— Definitivamente. — Z baixou o olhar e o fixou no chão do corredor — Pode cheirá-la em mim, certamente.

No longo silêncio que houve entre eles, Phury desejou desesperadamente ter um obstáculo entre os lábios.

— Só preciso saber… Se ela está bem depois que você… Deitou com ela.

Z cruzou os braços.

— Sim. E, não se preocupe, ela não vai querer fazer de novo.

Ok, Deus.

— Por quê?

— Eu fiz… — Z franziu o fino lábio — De tudo.

— O que? O que fez?

— Fiz ela me machucar. — quando Phury recuou, Z pôs-se a rir com um baixo e triste som — Sim, não precisa ser tão superprotetor. Ela não vai se aproximar de mim de novo.

— Como…? O que aconteceu?

—UAH-Hugh, bom. Deixe eu te dizer que de todas as formas em que você e eu não vamos estar.

De repente, sem nenhum aviso, Z enfocou o rosto de Phury. A força desse olhar foi uma surpresa, porque o homem raramente olhava alguém nos olhos.

— Direito para cima, irmão, sei como se sente a respeito dela e eu... Ah, espero que quando as coisas esfriarem um pouco, possivelmente possa... Ficar com ela ou algo.

Estava louco? Pensou Phury. Estava completamente louco?

— Como demônios acredita que isso poderia funcionar, Z? Está ligado a ela.

Zsadist esfregou a cabeça raspada.

— Não realmente.

— Sandice.

— Não importa, que tal isto? Rapidamente ela vai sair deste pós-trauma no qual está e vai querer a alguém real.

Phury sacudiu a cabeça, sabendo malditamente bem que um homem unido não deixa de lado seus sentimentos por sua mulher. Não a menos que morra.

— Z, está louco. Como pode dizer que quer que fique com ela? Isso te mataria.

A cara de Zsadist mudou e sua expressão foi um choque. Tanta dor, pensou Phury. Tão profunda que parecia impossível.

E, então o homem avançou. Phury se preparou para… Deus, não tinha nem idéia do que lhe vinha.

Quando Z levantou a mão, não havia fúria nem violência. E, enquanto Phury sentia a mão de seu gêmeo pousando-se brandamente em seu rosto, não pôde recordar a última vez que Z lhe havia tocado com carinho. Ou lhe houvesse tocado de qualquer forma.

A voz de Zsadist era baixa e suave enquanto movia o polegar pra frente e para trás pela bochecha sem marcas.

— É o homem que eu deveria ter sido. Tem o potencial que eu tive e perdi. É a honra, a força e a ternura que ela necessita. Cuidará dela. Quero que você cuide dela. — Zsadist baixou a mão — Será uma boa união para ela. Com você como seu hellren, poderá manter a cabeça erguida. Poderá se orgulhar de ser vista com você a seu lado. Será socialmente invencível. A glymera não será capaz de tocá-la.

A tentação formou redemoinhos e se condensou até converter-se no instinto de Phury. Mas, e seu gêmeo o que?

— Oh, Deus… Z. Como pode agüentar a idéia de que eu fique com ela?

Instantaneamente, toda a suavidade se foi.

— Quer seja você ou algum outro, a dor é a mesma. Além disso, pensa que não estou acostumado a ser ferido? — Z curvou os lábios em um pequeno sorriso desagradável — Para mim, é o doce lar, irmão.

Phury pensou em Bela e em como ela tinha rechaçado sua veia.

— Mas, não acredita que ela tem voz e voto nisto?

— Ela verá a luz. Não é estúpida. Não por muito tempo. — Z se girou e começou a caminhar. Então, parou. Sem olhar atrás. Disse — Há outra razão pela qual quero que a tenha.

— É a única que vai ter sentido?

— Deve ser feliz. — Phury deixou de respirar enquanto Zsadist murmurava — Vive menos de meia vida. Sempre o fez. Ela poderia cuidar de você, e isso… Isso seria bom. Eu gostaria disso para você.

Antes que Phury pudesse dizer algo, Z lhe cortou.

— Recorda naquela cova… Depois que me resgatou? Já sabe, o dia que nos sentamos juntos para esperar o pôr-do-sol?

— Sim. — sussurrou, percorrendo as costas de seu gêmeo.

— Aquele lugar cheirava a demônios, verdade? Recorda? O pescado?

— Recordo tudo.

— Sabe, ainda posso imaginar você contra a parede da cova, com o cabelo todo enredado, a roupa molhada e manchada de sangue. Parecia uma merda. — Z riu em um curto bufado — Eu tinha pior aspecto, com certeza. De toda forma… Disse-me que facilitaria as coisas para mim, se pudesse.

— Fiz.

Houve um grande silêncio. Então, um golpe de frio surgiu do corpo de Z e olhou sobre seus ombros. Seus olhos negros eram glaciais, seu rosto escuro como as insondáveis sombras do inferno.

— Acabou o ser ajudado. Jamais. Mas, com certeza há esperança para você, droga. Assim, pega à mulher que quer tão desesperadamente. Agarre-a e coloque um pouco de senso comum nela. A enxotaria de meu quarto se pudesse, mas ela simplesmente não quer sair.

Z se afastou a pernadas, suas botas golpeando o chão.

 

Horas mais tarde, Bela passeava pela mansão. Tinha passado parte da noite com Beth e Mary, e apreciou sua amizade. Mas, agora estava tudo silencioso, porque os Irmãos e todos os outros foram dormir. Só ela e Boo percorriam os corredores enquanto o dia passava, com o gato a seu lado como se soubesse que ela precisava de companhia.

Deus, estava esgotada, tão cansada que quase não podia ficar de pé, e estava sofrendo também. O problema era, que havia uma agitação que animava seu corpo, sua maquinaria interna recusava a estar ociosa.

Enquanto o rubor a atravessava, como se alguém tivesse posto um secador de cabelo em cada polegada de sua pele, supôs que estava ficando doente, embora não soubesse como. Tinha ficado com os lessers durante seis semanas, e não era como se tivesse pego um vírus dele. E, nenhum dos Irmãos ou suas shellans estavam doentes. Possivelmente, era algo emocional.

Sim, você acredita?

Chegou a uma esquina e parou, dando-se conta de que tinha voltado para o corredor das estátuas. Perguntou-se se Zsadist estaria em seu quarto agora.

E, se desiludiu quando abriu a porta e ele não estava.

Aquele homem, advertiu-se, era como um adesivo. Não era bom para ela, mas não era algo do qual pudesse afastar-se.

— Hora de deitar, Boo.

O gato miou, como se abandonasse seus deveres de escolta e se foi trotando pelo corredor, silencioso como a neve que cai e igualmente elegante.

Bela fechou a porta enquanto outro acaloramento a apanhava. Tirando o objeto de lã que vestia foi abrir a janela, mas é obvio as persianas estavam baixas: eram duas da tarde. Desesperada por acalmar-se, dirigiu-se à ducha e entrou sob a água fria durante só Deus sabe quanto tempo. Sentia-se inclusive pior quando saiu, picava-lhe a pele e sua cabeça pesava.

Envolvendo-se em uma toalha, foi à cama e arrumou as mantas enrugadas. Antes olhou ao telefone e pensou que deveria ligar para seu irmão. Precisavam encontrar-se cara a cara, e precisavam fazê-lo logo, porque o período de graça de Wrath não ia durar muito mais. E, como Rehv nunca dormia, poderia ser agora.

Entretanto, enquanto outra quebra de onda de calor a atravessava, soube que não podia lidar com seu irmão agora. Esperaria até que caísse a noite, depois de descansar um pouco. Quando o sol se pusesse poderia ligar a Rehvenge e encontrar-se com ele em algum lugar público e neutro. E, o persuadiria para que cortasse o aborrecimento.

Sentou-se na borda da cama e sentiu uma estranha pressão entre as pernas.

O sexo com Zsadist, pensou. Tinha passado muito tempo desde que tivera a um homem dentro dela. E, o único outro amante que tinha tido não era tão bem dotado. Não tinha se movido daquela forma.

As imagens de Zsadist balançando-se sobre ela, seu rosto tenso e escuro, seu corpo duro esforçando-se, enviaram uma pulsação que a deixou tremendo. Rapidamente uma sensação aguda transpassou seu centro, como se ele estivesse penetrando-a de novo, uma combinação de mel e ácido percorrendo suas as veias.

Franziu o cenho, afastou a toalha, e olhou seu corpo. Seus seios pareciam muito maiores que o normal, os mamilos de um profundo rosa. Vestígios da boca de Zsadist? Absolutamente.

Com uma maldição, deitou e se cobriu com um lençol. Mais calor sacudiu em seu corpo, e virou-se sobre o estômago. Abrindo as pernas. Tentando acalmar. Apesar disso, a dor pareceu tornar-se mais aguda.

 

Quando a neve começou a cair a sério e a luz da tarde começou a debilitar-se um pouco, ele conduziu seu caminhão para o sul, pela Rota 22. Quando chegou ao lugar correto se baixou e olhou a U.

— O Explorer está a uns 9 metros em linha reta daqui. Tira-o já desses bosques! Depois, comece a comprar todos os materiais dos quais necessitamos e fixa os dias de entrega. Quero essas maçãs localizadas e o arsênico preparado.

— Excelente. — U desceu desabotoando o cinto do assento — Mas, escute, precisa dirigir à Sociedade. É o habitual para o Lesser Principal.

— O que seja.

O olhou pelo pára-brisa, observando como os limpadores de pára-brisas afastavam os flocos de neve. Agora que já tinha a U organizando a idiotice do festival do solistício, voltou a atormentar seu cérebro com as respostas a seu principal problema: como demônios ia encontrar sua mulher agora?

— Mas, o Lesser Principal sempre se dirigiu aos membros na primeira vez que ocupa o lugar do antigo chefe.

Cristo, a voz de U estava começando realmente a lhe tirar a merda que tinha dentro. De modo que era do tipo de mentalidade de ‘seguir o regulamento’.

— O, necessita…

— Cale a droga de sua boca, cara. Não estou interessado em organizar encontros.

— Ok. — U alongou a palavra, sua desaprovação era óbvia — Assim, onde quer os esquadrões?

— Onde acha? No centro.

— Se encontrarem civis enquanto lutam com os Irmãos, quer que as equipes façam prisioneiros ou só que os matem? E, vamos construir outro centro de persuasão?

— Não me importa.

— Mas, necessitamos… — a voz de U era monótona.

Como ia encontrá-la? Onde poderia…

— O.

O olhou através do caminhão, preparado para explodir.

— O que.

A boca de U pareceu a de um peixe por um momento. Abrindo. Fechando.

— Nada.

— Está bem. Mais nenhuma de suas tolices. Agora sai daqui do meu caminhão e mantenha-se ocupado fazendo algo que não seja tagarelar comigo.

Apertou o acelerador no segundo em que as botas de U tocaram o cascalho. Mas, não foi muito longe. Girou pela vereda da granja e fez um reconhecimento à casa de sua mulher.

Não havia rastros na neve fresca. Não havia luzes. Estava deserta.

Malditos Betas.

O virou-se e dirigiu ao centro. Tinha os olhos secos pela falta de sono, mas não queria esbanjar as horas noturnas recarregando-se. Droga.

Cara… Se não conseguisse matar algo esta noite, ia ficar louco.

 

Zsadist passou o dia no centro de treinamento. Trabalhou contra o saco de boxe. Levantou pesos. Correu. Levantou mais pesos. Praticou com as adagas. Quando voltou para casa eram quase as quatro e estava preparado para sair e caçar.

No momento que pôs um pé no vestíbulo, parou. Algo estava errado.

Olhou ao redor do vestíbulo. Levantou a vista para o segundo andar. Escutou os misteriosos sons. Quando cheirou o ar, tudo o que pôde cheirar era que o café da manhã estava sendo servido na cozinha e foi para lá, convencido de que algo estava errado, mas incapaz de encontrar o que era. Encontrou aos Irmãos sentados e muito quietos, apesar de que Mary e Beth estavam comendo e falando tranqüilamente. Bela não estava à vista.

Interessava-lhe pouco a comida, mas se dirigiu ao assento vazio junto a Vishous de toda forma. Enquanto se sentava sentiu o corpo tenso, e soube que era do exercício duro que tinha feito durante o dia.

— O Explorer moveu-se? — perguntou a seu irmão.

— Não até que vim comer. Verificarei logo que voltar, mas não se preocupe. O computador pode rastrear qualquer rota que tome inclusive se não estiver ali. Seremos capazes de ver o rastro.

— Está seguro?

Vishous lhe enviou um olhar seco.

— Sim, estou. Eu mesmo desenhei o programa.

Z assentiu, então colocou uma mão sob o queixo e rangeu o pescoço. Cara, estava rígido.

Um segundo depois, Fritz chegou com duas lustrosas maçãs e uma faca. Depois de agradecer ao mordomo, Z começou a trabalhar em uma das Granny Smiths. Enquanto a cortava, acomodou-se na cadeira. Droga… Sentia as pernas estranhas, e também a parte baixa das costas. Possivelmente tinha se esforçado muito? Moveu-se de novo no assento, e se voltou a concentrar-se na maçã, girando-a uma e outra vez na mão, mantendo a lâmina apertada contra a polpa branca. Quase a transpassa quando se deu conta de que estava cruzando e descruzando as pernas sob a mesa como uma droga de uma Rockette.

Olhou os outros homens. V estava lançando ao ar a chama do isqueiro, abrindo-o e fechando-o e batendo com o pé. Rhage estava massageando seus ombros. Agora a parte de cima do braço. Agora seu peitoral direito. Phury fazia círculos com a taça de café e mordiscava o lábio inferior enquanto tamborilava os dedos. Wrath estava fazendo girar a cabeça, direita, esquerda, frente, atrás, tenso como um fio de alta tensão. Butch parecia estar nervoso também.

Nenhum deles, nem sequer Rhage, tinha comido.

Mas, Mary e Beth estavam suficientemente normais quando se levantaram e esvaziaram seus pratos. Começaram a rir e a discutir com o Fritz que deveriam ajudá-lo a trazer mais fruta e café.

As mulheres acabavam de deixar a sala quando a primeira onda de energia pulsou através da casa. A quebra de onda invisível foi diretamente à coisa entre as pernas de Zsadist, endurecendo-a instantaneamente. Esticou-se e viu como os Irmãos e Butch ficaram gelados também, como se cada um deles se perguntasse se realmente o havia sentido.

Um momento mais tarde uma segunda onda golpeou. A coisa nas calças de Z se esticou inclusive mais rápido, rápida como a maldição que lhe saiu da boca.

— Sagrada merda. — disse alguém com um grunhido.

— Isto não pode estar acontecendo. — outro grunhido.

A porta do mordomo balançou e Beth entrou, com uma bandeja de frutas cortadas nas mãos.

— Mary, traz mais café…

Wrath se levantou tão rápido que sua cadeira se inclinou e caiu ao chão. Espreitou a Beth… Tirou a bandeja de suas mãos e a deixou descuidadamente sobre a mesa. Enquanto fatias cortadas e partes de melão saltavam da bandeja e caíam no mogno, Beth o fuzilou com o olhar.

— Wrath, o que é…

Ele a apertou contra seu corpo, beijando-a dura e profundamente, inclinando-a para trás como se fosse avançar sobre ela na frente da Irmandade. Sem separar as bocas, a agarrou pela cintura e a levantou pelo traseiro. Beth riu brandamente e lhe rodeou os quadris com as pernas. O rosto do Rei estava enterrado no pescoço de sua leelan enquanto saía a pernadas da sala.

Outra onda retumbou pela casa, estremecendo os corpos masculinos da sala. Zsadist se agarrou à borda da mesa, e não foi o único. Os nódulos de Vishous ficaram brancos de tão forte que estava se pegando à coisa.

Bela… Devia ser Bela. Tinha que ser. Bela tinha entrado em sua necessidade.

Havers o tinha advertido, pensou Z. Quando o doutor lhe fez o exame interno, disse que parecia estar próxima a sua época fértil.

Sagrado inferno. Uma mulher em sua necessidade. Em uma casa com seis homens.

Só era questão de tempo antes que um dos Irmãos desse rédea solta a seus instintos sexuais. E, o perigo para todos era muito real.

Quando Mary atravessou a porta do mordomo, Rhage foi atrás dela como um tanque, lhe arrancando a cafeteira das mãos e soltando-a no aparador de tal forma que patinou e salpicou. Levantou-a contra a parede e a cobriu com seu corpo, baixando a cabeça, seu ronrono erótico foi tão forte que fez tilintar o vidro do abajur do candelabro. O sobressaltado arquejo de Mary foi seguido por um suspiro muito feminino.

Rhage a pegou em seus braços e saiu da sala como um raio.

Butch baixou o olhar para seu colo e depois o levantou para o resto deles.

— Escutem, não é por ser desagradável, mas está alguém mais… Ah…

— Sim. — disse V com os lábios apertados.

— Quer me dizer que demônios está acontecendo aqui?

— Bela está tendo sua necessidade. — disse V, atirando seu guardanapo — Cristo. Quanto falta para o anoitecer?

Phury olhou seu relógio.

— Quase 2 horas.

— Até então estaremos em apuros. Diga-me que tem um pouco de fumaça vermelha.

— Sim, um montão.

— Butch, te faça um favor e sai do imóvel rapidamente. A Cova não é suficientemente longe dela. Não acreditava que os humanos pudessem responder, mas já que você o faz, melhor que vá antes que te absorva.

Outro golpe os assaltou, e Z desabou contra a cadeira, seus quadris ondularam involuntariamente. Escutou os gemidos dos outros e se deu conta que estavam afundados na merda. Não importava o quanto civilizados pretendessem ser, os homens não podiam evitar responder a uma mulher em seu período fértil, e suas urgências sexuais se incrementariam à medida que a necessidade progredisse e se fizesse mais forte.

Se não fosse pela luz do sol, eles poderiam ter se salvado partindo. Mas, estavam presos no recinto, e no momento em que estivesse suficientemente escuro para poder sair, poderia ser muito tarde. Depois de uma exposição prolongada, os homens instintivamente resistiam a afastar-se da mulher. Não importava o que seus cérebros lhes dissessem, seus corpos lutariam contra a chamada ao afastamento, e se eles se separavam dela, sofreriam as pontadas da retirada que seriam piores que seus desejos. Wrath e Rhage tinham saída para sua resposta, mas o resto dos Irmãos estava com problemas. Sua única esperança era drogar-se.

E, Bela… Oh, Deus… A ela ia doer mais que a todos eles juntos.

V levantou da mesa, apoiando-se no respaldo da cadeira.

— Vamos, Phury. Precisamos começar a fumar. Agora. Z, vai com ela, não?

Zsadist fechou os olhos.

—Z? Z, vai servi-la… Não?

 

John levantou a vista da mesa da cozinha quando o telefone tocou. Sal e Regin, os doggen da família, estavam fora comprando comida. Respondeu à chamada.

— John, é você? — era Tohr na linha de baixo.

John assobiou e comeu outro bocado de arroz branco com molho de gengibre.

— Escute, por hoje as aulas foram canceladas. Estou chamando a todas as famílias agora.

John baixou o garfo e assobiou uma nota mais alta.

— Há uma… Complicação no recinto. Mas, devemos voltar amanhã ou na noite seguinte. Veremos como vão as coisas. À luz disto, mudamos sua entrevista com o Havers. Butch vai te buscar agora mesmo, ok?

John assobiou duas vezes, em sopros curtos e pequenos.

— Bom… Ele é humano, mas é legal. Confio nele. — a campainha da porta tocou — Esse é ele provavelmente… Sim, é Butch. Posso lhe ver no vídeo monitor. Escute, John… Sobre o tema do terapeuta. Se isso te assustar, não tem que voltar, ok? Eu não vou deixar que nada o faça.

John assobiou no telefone e pensou. Obrigado.

Tohr riu brandamente.

— Sim, eu tampouco gosto muito dessa merda emotiva… Ok! Wellsie, que demônios aconteceu?

Houve uma rápida conversa na Linguagem Antiga.

— De qualquer forma. — disse Tohr ao telefone — Mande uma mensagem de texto quando acabar, ok?

John assobiou duas vezes, desligou, e pôs o prato e o garfo na pia.

Terapia… Treinamento… Nenhuma das duas era algo pelo que esperar, mas todas estas coisas davam no mesmo, ia tomar qualquer vantagem sobre o Lash qualquer dia. Demônios, pelo menos a entrevista com o médico não duraria mais de 60 minutos. Lash teve que agüentar durante horas.

Na saída, pegou sua jaqueta e o bloco de papel de notas. Quando abriu a porta, o grande humano estava de pé diante dele olhando para baixo e sorrindo para ele.

— Olá, cara. Sou Butch. Butch O'Neal. Seu táxi.

Uau! Este Butch O'Neal era… Bom, o tipo estava vestido como um modelo do GQ, para começar. Debaixo de um casaco negro de cachemira levava um original traje de listras, uma gravata vermelha impressionante, uma camisa branca brilhante. O cabelo negro lhe caía sobre a testa em um estilo casual, como penteado com os dedos de maneira totalmente fascinante.

E, os sapatos… Uau! Gucci, realmente Gucci… Pele negra, com uma sianinha vermelha e verde, e um brilhante adorno dourado.

O curioso era que não era bonito, não do tipo Dom Perfeito, ao menos. O tipo tinha um nariz que tinha sido claramente quebrado duas ou três vezes, e os olhos cor de avelã eram muito sagazes e esgotados para serem considerados atrativos. Mas, era como uma arma carregada: tinha uma inteligência aguda e lhe rodeava um poder perigoso que respeitava. Porque a combinação era de um temível assassino, literalmente.

— John? Está bem?

John assobiou e estendeu a mão. Eles se saudaram e Butch sorriu de novo.

— Assim está pronto para ir? — perguntou o homem mais gentilmente. Como lhe havia dito, John tinha que voltar a ver o Havers para “falar com alguém”.

Deus… Todo mundo tinha que sabê-lo?

Enquanto John fechava a porta, imaginou que os tipos da sala de treinamento saberiam e quis vomitar.

Ele e Butch caminharam para o Escalade negro com janelas pintadas e algo realmente cromado (tipo de pintura para carros) nas rodas. No interior, o carro estava quente e cheirava a couro e a impressionante colônia que Butch usava.

Arrancaram e Butch ligou o estéreo, Mystikal soou através do carro. Enquanto John olhava pelas janelas, as nuvens de tormenta e a luz pêssego que estava emanando do céu, desejou realmente que estivessem indo a qualquer outro lugar. Bom, exceto a sala de aula.

— Assim, John... — disse Butch — Não vou fingir. Sei por que está indo à clínica, e quero te dizer que eu tive que ir ao psiquiatra também.

Quando John o olhou com surpresa, o homem assentiu.

— Sim, quando eu estava na polícia. Fui detetive de homicídios durante 10 anos, e em homicídios vi algumas perigosas, coisas que lhe horrorizam. Sempre havia algum tipo profundamente sincero, com óculos de avó e um divã, me aporrinhando para que falasse. Odiava-o.

John respirou fundo, curiosamente tranqüilo porque o tipo não tinha gostado mais da experiência do que ele estava gostando.

— Mas, o divertido foi… — Butch parou no sinal e pôs as luzes de alerta. Um segundo depois se lançaram ao tráfico — O divertido foi… Que acredito que me ajudou. Não quando eu estava sentado na frente do Dr. Earnest, compartilhe-teus-sentimentos super herói. Francamente, queria sair correndo todo o tempo, formigava-me muito a pele. Foi só… Depois, pensei nas coisas que falamos. E, sabe? Teve alguns pontos válidos. Refrescou-me jogar coisas fora, embora eu acreditasse que estava bem. Assim, foi de tudo bom.

John inclinou a cabeça para um lado.

— O que vi? — murmurou Butch. O homem permaneceu em silêncio durante um longo tempo. Não foi até que giraram para outra vizinhança, muito luxuosa, que respondeu — Nada especial, filho. Nada especial.

Butch girou para uma entrada, parou em um par de portas e baixou a janela. Depois que ele pulsou o intercomunicador e disse seu nome, lhes permitiram passar.

Quando estacionou o Escalade por trás de uma mansão estucada do tamanho de um instituto, John abriu sua porta. Quando encontrou Butch do outro lado do terreno, deu-se conta de que tinha tirado uma pistola: tinha a coisa na mão e a sustentava contra a coxa, quase não se notava.

John tinha visto este truque antes. Phury tinha se armado de forma parecida quando foram os dois à clínica fazia um par de noites. Os Irmãos não estavam seguros ali?

John olhou ao redor. Tudo parecia realmente normal, para uma propriedade de luxo.

Possivelmente, os Irmãos não estavam seguros em nenhum lugar.

Butch pegou John pelo braço e caminharam rapidamente para a porta de ferro maciço, esquadrinhando todo o tempo os dez carros estacionados atrás da casa, os carvalhos da periferia, os outros dois carros estacionados no que parecia a entrada da cozinha. John correu para manter-se no seu ritmo.

Quando chegaram à porta de trás, Butch mostrou o rosto a uma câmara, e os painéis de ferro em frente deles fizeram pequenos estalos e deslizaram para trás. Quando entraram em um vestíbulo, comportas se fecharam atrás deles, e um elevador de carga se abriu. Pegaram-no para descer um andar e saíram.

Na frente deles estava uma enfermeira que John reconheceu de antes. Quando ela sorriu e lhes deu as boas vindas, Butch guardou a pistola na capa sob seu braço esquerdo.

A enfermeira apontou com uma mão para o corredor.

— Petrilla está esperando.

Apertando seu caderno, John respirou fundo e seguiu à mulher, sentindo-se como se fosse para a forca.

 

Z se deteve em frente à porta do quarto. Ia simplesmente verificar como Bela estava e depois ia em linha reta para o quarto de Phury e conseguir sentir-se bem e drogado. Odiava qualquer tipo de bem-estar produzido pelas drogas, mas tudo era melhor que esta veemente urgência de ter sexo.

Abriu a porta de repente e se apoiou no marco. O aroma do quarto era como um jardim em plena floração, a coisa mais adorável que alguma vez tivesse entrado pelo seu nariz.

A frente de suas calças saltou, a coisa clamava por sair.

— Bela? — disse à escuridão.

Quando ouviu um gemido, entrou, fechando a porta atrás dele.

Oh, Deus. O perfume dela… Começou um profundo grunhido do fundo de sua garganta, e dobrou os dedos como garras. Os pés o levaram, caminhando para a cama, seus instintos deixavam sua mente atrás.

Bela estava retorcendo-se em cima das mantas, enredada nos lençóis. Quando o viu, gritou, mas então se sentou, como se desejasse acalmar-se.

— Estou bem. — rodou sobre seu estômago, juntando as coxas enquanto puxava o edredom sobre seu corpo — Estou… Realmente… Vai ser…

Outra quebra de onda saiu dela, tão forte que o impulsionou para trás enquanto ela se rendia como uma bola.

— Vai. — gemeu ela — É pior… Quando está aqui. Oh… Deus…

Quando ela soltou uma enfurecida maldição, Z voltou aos tropicões à porta, apesar de seu corpo rugir para ficar.

Conseguir sair ao corredor foi como afastar a um mastim de seu objetivo, e uma vez que fechou a porta, correu procurando Phury.

Por todo o corredor das estátuas podia sentir o cheiro do que tinha acendido seu irmão e V. E, quando ele irrompeu no quarto, o manto de fumaça era já quase tão espesso como a névoa.

Vishous e Phury estavam na cama, com grossos charutos entre os dedos, com as bocas apertadas e os corpos tensos.

— Que demônios está fazendo aqui? — perguntou V.

— Dê-me algo. — disse apontando com a cabeça à caixa de mogno entre eles.

— Por que a deixou? — V aspirou duro, a ponta alaranjada resplandeceu mais brilhante — A necessidade não passou.

— Ela disse que era pior se eu estivesse ali. — Z se inclinou para seu gêmeo e pegou um dos cigarros da mão. Teve problemas para acendê-lo porque suas mãos tremiam horrivelmente.

— Como é possível?

— Tenho pinta de ter alguma experiência com essa merda?

— Mas, se supõe que é melhor se tiver um homem com ela. — V esfregou o rosto, então o olhou com incredulidade— Espere um minuto… Não transou com ela, verdade? Z…? Z, responde a droga da pergunta.

— Não, não o tenho feito. — disse bruscamente, consciente de que Phury estava muito, muito calado.

— Como pode deixar a essa pobre mulher sem servi-la em sua condição?

— Ela disse que estava bem.

— Sim, bom, só está começando. Ela não vai estar bem. A única forma de aliviar a dor é se um homem ejacular dentro dela, entendeu-me? Não pode deixá-la assim. É cruel.

Z se dirigiu a uma das janelas. As persianas ainda estavam fechadas porque era dia, e ele pensou no sol, aquele enorme e brilhante carcereiro. Deus, desejava sair de casa. Sentia como se uma armadilha estivesse se fechando sobre ele, e a urgência por sair correndo era quase tão grande como a luxúria que desabrochava em seu corpo.

Pensou em Phury, que estava mantendo o olhar baixo e não dizia nenhuma palavra.

Agora é sua oportunidade, pensou Z. Só mande seu gêmeo corredor abaixo, para ela. Envia-o para servi-la em sua necessidade.

Vamos. Diga que saia deste quarto. Vá ao teu, tire sua roupa e a cubra com seu corpo.

Oh… Deus…

A voz de Vishous cortou sua auto-tortura, o tom era irritantemente razoável.

— Zsadist, está errado e você sabe, verdade? Não pode fazer isto, ela está…

— Que tal se deixar de encher o saco, meu irmão.

Houve um curto silêncio.

— Ok, cuidarei dela.

Z levantou a cabeça rapidamente, enquanto Vishous apagava o charuto e ficava de pé. Enquanto colocava as calças de couro, seu despertar erótico foi óbvio.

Zsadist lançou-se através do quarto tão rápido que nem sequer sentiu os pés. Jogou Vishous ao chão e com as mãos rodeou o grosso pescoço do irmão. Quando as presas lhe dispararam do lábio superior como facas, descobriu-os com um assobio.

— Aproxime-se dela e matarei você.

Houve uma louca correria atrás dele, sem dúvida Phury correndo para separá-los, mas V mandou por água a baixo qualquer intento de resgate.

— Phury! Não! — V fez entrar a força um pouco de ar — Entre ele… E eu.

Os olhos como diamantes de Vishous eram agudos enquanto olhava para cima, e embora lutasse por ter fôlego, sua voz foi tão forte como sempre.

— Relaxe, Zsadist… Maldito louco… — respirou profundamente — Não vou a nenhum lugar… Só precisava ter sua atenção. Agora solte… Seu agarro.

Z afrouxou a presa, mas não soltou ao irmão.

Vishous inalou fortemente. Um par de vezes.

— Sente sua corrente nestes momentos, Z? Sente esta urgência territorial? Está unido a ela.

Z quis negar, mas era difícil fazê-lo, considerando a rotina de defesa que acabava de atirar. E, o fato de que ainda tinha as mãos ao redor do pescoço do homem.

A voz de V baixou até que se converteu em um sussurro.

— Seu caminho para o inferno te espera. Ela está descendo para esse quarto. Não seja tolo. Vai com ela. Eu cuidarei dos dois.

Z balançou a perna e se deixou cair, permitindo-se rodar pelo chão. Para evitar pensar em caminhos e sexo, quis saber bobamente o que teria acontecido com o charuto que estava fumando. Olhando para a janela, notou que tinha tido a decência de apoiá-lo no batente antes de lançar-se para Vishous como um foguete.

Bom, ele não era um cavalheiro?

— Ela pode te curar. — disse V.

— Eu não estou procurando cura. Além disso, não quero deixá-la grávida, entende? Isso seria uma droga de grande confusão.

— É sua primeira vez?

— Não sei.

— Se for, as possibilidades são virtualmente nulas.

— “Virtualmente” não é bom o suficiente. Que mais pode ajudá-la?

Phury falou da cama.

— Ainda tem a morfina, não? Já sabe, aquela seringa de injeção que preparei com o que Havers tinha deixado? Use-a. Ouvi que é o que fazem as mulheres que não estão unidas.

V se sentou, balançando os grossos braços para os joelhos. Quando jogou o cabelo para trás, a tatuagem que se estendia por sua têmpora direita brilhou.

— Não solucionará completamente o problema, mas seguramente era melhor que nada.

Outra onda de calor se frisou através do ar. Os três gemeram e ficaram momentaneamente incapacitados, seus corpos golpeando, esticando-se, querendo ir onde sabiam que eram necessitados, onde podiam ser usados para aliviar a dor de uma mulher.

Logo que foi capaz, Z ficou em pé. Enquanto partia, Vishous estava subindo à cama de Phury e acendendo um charuto de novo.

Quando Z retornou ao outro extremo da casa, reforçou-se antes de voltar a entrar no quarto. Abrindo a porta, não se atreveu a olhar na direção dela enquanto forçava seu corpo a dirigir-se a escrivaninha.

Encontrou as seringas e pegou a que Phury tinha enchido. Aspirando profundamente virou-se, só para descobrir que a cama estava vazia.

— Bela? — caminhou para ela — Bela, onde…

A encontrou encolhida no chão, com um travesseiro entre as pernas, o corpo trêmulo.

Ela começou a soluçar enquanto ele se ajoelhava a seu lado.

— Dói…

— Oh, Deus… Sei, nalla. — separou seus cabelos dos olhos — Cuidarei de você.

— Por favor… Dói muito. — ela virou-se, os seios tensos e as pontas de um vermelho brilhante... Bonita. Irresistível — Dói. Dói tanto. Zsadist, não vai parar. Está piorando. Dói…

Em uma quebra de onda maciça, ela ondulou desenfreadamente, uma explosão de energia surgindo de seu corpo. A força dos hormônios que ela emitia o cegou, e ficou tão capturado pela resposta bestial de seu corpo que não pôde sentir nada… Apesar dela se agarrar a seu braço com suficiente força para lhe dobrar os ossos.

Quando o pico caiu, ele se perguntou se lhe teria quebrado o pulso. Não é que lhe preocupasse a dor, receberia tudo o que ela precisasse lhe causar. Mas, se ela estava agarrando-se a ele tão desesperadamente, só podia imaginar o que estava sentindo por dentro.

Com um sobressalto, deu-se conta de que ela estava mordendo o lábio inferior com suficiente força para fazê-lo sangrar. Limpou-lhe o sangue da boca com o polegar. Então, teve que esfregar-lhe na perna da calça para não lambê-lo e querer mais.

— Nalla… — ele olhou a seringa que tinha nas mãos.

Faz, disse a si mesmo. Droga-a. Tire-lhe a dor.

— Bela, preciso saber algo.

— O que? — gemeu ela.

— É sua primeira vez?

Ela assentiu.

— Não sabia que podia ser tão ruim… Oh, Deus…

Seu corpo sofreu um espasmo de novo, as pernas esmagavam o travesseiro.

Ele voltou a olhar para a seringa. Melhor que nada não era o suficientemente bom para ela, mas descarregar-se dentro dela lhe parecia um sacrilégio. Maldita fosse, suas ejaculações eram a pior das duas porcarias de opções que tinha, mas biologicamente falando, ele podia fazer mais por ela que a morfina.

Z levantou e pôs a agulha na mesinha de cabeceira. Então, parou e tirou as botas enquanto tirava a camisa pela cabeça. Baixou o zíper, liberando a repugnante e infernal longitude tirando as calças de couro.

Ele precisava de dor para chegar ao orgasmo, mas isso não lhe preocupava. Demônios, podia ferir-se o suficiente para obter uma liberação. Para isso tinha presas não é mesmo?

Bela se retorcia no infortúnio, enquanto ele a levantava e a colocava sobre a cama. Ela era tão magnífica sobre os travesseiros, as bochechas ruborizadas, os lábios abertos, a pele brilhando pela necessidade. Mas, estava sofrendo.

— Shhh… Tranqüila. — lhe sussurrou subindo a cama. Em cima dela.

Quando suas peles nuas se roçaram, ela gemeu e mordeu os lábios de novo. Esta vez ele se agachou e lambeu o sangue fresco de sua boca. O sabor, o formigamento elétrico de sua língua, fez-lhe estremecer. Espantou-o. Recordou que levava mais de um século vivendo de um alimento fraco.

Com uma maldição, empurrou todo seu estúpido e infeliz passado para fora do caminho e se centrou em Bela. Suas pernas se apertavam embaixo dele, e teve que a forçar para separá-las com as mãos, então as sujeitou com as coxas. Quando lhe tocou o centro com a mão, sacudiu-se. Ela estava ardendo, molhada, inchada. Ela gritou, e o orgasmo que seguiu aliviou sua luta um pouco, seus braços e suas pernas ficando quietas, a respiração tornando-se menos dura.

Possivelmente, ia ser mais fácil do que pensava. Possivelmente, Vishous estava equivocado em que ela precisava ter a um homem dentro. Nesse caso, poderia afundar-se nela uma e outra vez. Cara, amaria fazê-lo durante todo o dia. A primeira vez que tinha posto sua boca sobre ela não tinha durado o suficiente.

Ele observou sua roupa. Provavelmente podia ter ficado vestido…

A força da energia que saiu dela foi tão grande que foi como se lhe tivessem levantado seu corpo sobre o corpo dela, como se mãos invisíveis o tivessem empurrado pelo peito. Ela gritou com angústia enquanto ele colava-se sobre ela. Quando a quebra de onda o passou se colocou de novo sobre ela. O orgasmo obviamente tinha piorado a situação, e agora ela chorava tão forte que as lágrimas já não caíam de seus olhos. Tudo o que ela tinha era um estado de secos ofegos enquanto se retorcia e se contorsionava em baixo ele.

— Fique quieta, nalla. — disse ele freneticamente— Deixe-me entrar em você.

Mas, ela já estava muito longe para ouvi-lo. Teve que usar a força para mantê-la em seu lugar, empurrando-a para baixo pela clavícula enquanto lhe levantava uma perna e a separava para um lado. Tratou de posicionar a coisa para a penetração movendo os quadris, mas não podia obter o ângulo correto. Inclusive presa sob sua maior força e peso, ela continuava sacudindo-se.

Com uma maldição desagradável, Z procurou entre suas pernas e pegou a coisa que precisava usar nela. Guiou ao bastardo a sua entrada e então empurrou duro, unindo-os profundamente. Os dois gritaram.

E, então ele baixou a cabeça e se aferrou à estimada vida, sentindo-se perdido na sensação de seu apertado no escorregadio sexo. Seu corpo a penetrou, o quadril movendo-se como pistões, o castigador e demolidor ritmo criando uma poderosa pressão em seus testículos e baixo ventre.

Oh, Deus… Uma ejaculação estava chegando. Como a que teve no banheiro quando ela o havia sustentado enquanto ele vomitava. Só que mais quente. Mais selvagem. Fora de controle.

— Oh, Jesus! — gritou ele.

Seus corpos estavam agitando-se juntos e ele estava principalmente cego, suando sobre ela e a essência vinculante era um rugido a gritos em seu nariz… E, então ela disse seu nome e se agarrou a ele. Seu centro o apertou com espasmos que o ordenhavam até… Oh, droga, Deus, não…

Tentou separar-se por reflexo, mas o orgasmo o alcançou por trás, disparando-se por sua espinha dorsal e cravando-se na parte de atrás da cabeça enquanto sentia o alívio lançando-se de seu corpo ao dela. E, a maldita coisa não parou. Chegou-lhe em grandes ondas, vertendo-se nela, enchendo-a. Não havia nada que pudesse fazer para frear as erupções embora soubesse que estava derramando-se nela.

Quando terminou o último estremecimento, levantou a cabeça. Os olhos de Bela estavam fechados, sua respiração era uniforme, os profundos sulcos da face haviam desaparecido.

Suas mãos subiam pelas costelas dela para seus ombros e virou o rosto para seus bíceps com um suspiro. A calma no quarto, em seu corpo era vibrante. Assim, como o fato de que ele tinha ejaculado só porque lhe tinha feito sentir-se… Bem.

Bem? Não, isso não era suficiente. Tinha-lhe feito sentir-se… Vivo. Acordado.

Z lhe acariciou o cabelo, espalhando as escuras ondas através do cremoso travesseiro. Não houve dor para ele, para seu corpo. Só prazer. Um milagre…

Salvo quando ficou consciente da umidade que havia onde estavam unidos.

As implicações do que lhe tinha feito lhe fizeram ficar nervoso, e não podia lutar contra a compulsão de limpá-la. Saiu dela rapidamente e foi ao banheiro onde pegou uma toalhinha. Quando voltou para a cama, entretanto, ela havia voltado a ondular de novo, a necessidade remontava. Olhou para baixo a si mesmo e viu que a coisa que pendurava de sua virilha se alongou e endureceu em resposta.

— Zsadist… — gemeu ela — Isto… Volta.

Ele deixou a toalhinha e montou nela de novo, mas antes de introduzir-se nela olhou seus olhos frágeis e teve um ataque de consciência. Tão louco era que estava ansioso por mais quando as conseqüências eram tão odiosas para ela? Bom Deus, tinha ejaculado nela, e a droga estava sobre todas suas bonitas partes e na pele lisa de suas coxas e…

— Posso te drogar. — disse — Posso fazer que não sinta dor e não teria que me ter dentro de você. Posso te ajudar sem te ferir.

Baixou o olhar para ela, esperando sua resposta, capturado entre sua biologia e sua realidade.

 

Butch era uma completa confusão enquanto tirava o casaco e sentava na sala de espera do médico.

O bom era que a noite apenas tinha caído e qualquer cliente vampiro não apareceria ainda. Algum tempo sozinho era o que necessitava. Ao menos até se recompor.

A coisa era, que estava feliz e a pequena clínica estava localizada no porão da mansão de Havers. O que significada que Butch estava agora, neste preciso momento, na mesma casa que a irmã do tipo. Sim… Marissa, o vampiro fêmea que ele queria mais que nada no planeta, estavam sob o mesmo teto.

Homem, sua obsessão por ela era um pesadelo novo e diferente. Nunca tivera o tipo de suores como os que tinha por esta mulher antes, e não podia dizer que o recomendasse. Não mais que uma dor no traseiro. E, no peito.

Setembro passado, quando veio vê-la ela se trancou sem nem sequer ter um cara a cara com ele, jurou que não a incomodaria de novo. E, não o tinha feito. Tecnicamente. Essas visitas que tinha feito após, essas patéticas, afeminadas conduções nas que o Escalade de alguma forma acabava indo a sua própria casa, aquelas realmente não a tinham incomodado. Porque ela não sabia.

Era tão patético. Mas, enquanto ela não tivesse idéia de quanto maltratado estava, quase poderia agüentá-lo. Razão pela qual ele estava ao limite esta noite. Não queria que o pegasse freqüentando a clínica para que ela não pensasse que estava ali por ela. Afinal de contas, um homem tinha que ter seu orgulho. Pelo menos para o mundo exterior.

Verificou o relógio. Tinham passado míseros treze minutos. Imaginava que a sessão com o psiquiatra duraria uma hora, assim que o ponteiro maior de seu Patek Philippe teria que dar mais quarenta e sete voltas antes que pudesse colocar o menino de volta no carro e sair dali.

— Quer um café? — disse uma voz feminina.

Levantou o olhar. Uma enfermeira vestida com um uniforme branco estava frente a ele. Parecia muito jovem, especialmente enquanto brincava com uma das mangas. Ela também parecia desesperada por ter algo que fazer.

— Sim, com certeza. Um café seria bom.

Ela sorriu amplamente, as presas brilhando.

— Como você gosta?

— Preto. Preto está bom. Obrigado.

O sussurro de seus sapatos de sola suave decaiu enquanto se afastava pelo corredor.

Butch desabotoou a jaqueta cruzada e se inclinou para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. O traje de Valentino que pôs antes de vir era um de seus favoritos. Assim como a gravata de Hermes que levava ao redor do pescoço. E, os mocasins Gucci nos pés.

Se Marissa o flagrasse, planejou que deveria ter melhor aspecto de que jamais teve.

 

— Quer que te drogue?

Bela se concentrou no rosto de Zsadist enquanto ele se inclinava sobre ela. Seus olhos negros eram meras fendas, e ele tinha esse bonito rubor da excitação nas duras maçãs do rosto. Era pesado em cima dela, e quando a necessidade aumentou pensou nele liberando-se em seu interior. Ela sentiu um assombroso e refrescante alívio logo que ele começou a ejacular, o primeiro alívio desde que os sintomas de sua necessidade tinham começado fazia um par de horas.

Mas, a pressão estava voltando.

— Quer que te tire disto, Bela?

Possivelmente estivesse melhor se ele a drogasse, ia ser uma longa noite e pelo que entendeu, só se tornaria mais duro e mais intenso conforme passassem as horas. Era realmente justo de sua parte lhe pedir que ficasse?

Algo suave lhe acariciou a bochecha. Seu polegar, deslizando-se sobre sua pele.

— Não vou te deixar. — disse ele — Não importa quanto dure, não importa quantas vezes sejam. Eu te servirei e te deixarei tomar minha veia até que isto termine. Não te abandonarei.

Levantando os olhos fixamente a seu rosto, ela soube sem perguntar, que seria o único tempo que passariam juntos. A resolução estava em seus olhos. Podia vê-la claramente.

Uma noite e nada mais.

Bruscamente, ele se afastou e se esticou para a mesinha de cabeceira. Sua tremenda ereção destacava diretamente dos quadris, e justo quando ele voltava com a seringa ela prendeu sua dura carne.

Ele gemeu e se inclinou antes de agarrar-se baixando uma mão ao colchão.

— A você. — murmurou ela — Não a droga. Quero a você.

Ele deixou cair à agulha ao chão, lhe separando as coxas com os joelhos. Ela o guiou ao interior de seu corpo e sentiu um glorioso ímpeto enquanto a enchia. Com um poderoso fluxo, seu prazer cresceu e então se rompeu em duas necessidades separadas, uma por seu sexo, outra por seu sangue. Suas presas se alargaram enquanto cravava o olhar na grosa veia no lado de seu pescoço.

Como se pressentisse o que ela necessitava, girou seu corpo de forma que podia seguir dentro dela e lhe dava acesso a sua garganta.

— Alimente-se. — disse ele com voz rouca, movendo seu corpo dentro dela e retrocedendo — Toma o que necessite.

Ela o mordeu sem vacilação, perfurando pela direita a marca de escravo, entrando profundamente na pele. Quando seu sabor bateu na sua língua, ouviu um rugido saindo dele. E, então a força e o poder dele a banharam, atravessando-a.

 

O caiu em silêncio sobre seu cativo, inseguro de ter escutado bem. O vampiro que tinha capturado no centro e tinha levado à cabana estava preso à mesa, uma mariposa cravada em um suporte.

Tinha capturado ao homem só com planos de tirar a frustração. Nunca imaginou que pegaria algo útil.

— O que foi isso? — O aproximou a orelha da boca do civil.

— Chama-se… Bela. A única… A fêmea que voltou… Seu nome… Bela.

O se endireitou e uma violenta, balsâmica cor rosada fluiu por sua pele.

— Sabe se está viva?

— Pensei que estava morta. — o civil tossiu fracamente — Se foi fazia muito.

— Onde vive sua família? — quando não teve resposta imediata, O fez algo para garantir que o homem abrisse a boca. Quando o grito se desvaneceu, O disse — Onde está sua família?

— Não sei. Eu… Não sei, realmente. Sua família… Não sei... Não sei...

Murmurou, murmurou, murmurou. O civil caiu no estado de interrogatório de diarréia vocal, ficando de tudo inútil.

O esbofeteou a coisa em silêncio.

— Endereço. Quero um endereço.

Quando não houve resposta, proporcionou-lhe outro motivo de estímulo. O homem ofegou sob o recente ataque, e depois deixou escapar:

— Vinte e sete do Caminho de Formann.

O coração de O começou a pulsar, mas se inclinou sobre o vampiro de forma casual.

— Vou lá agora mesmo. Se estiver me dizendo a verdade te deixarei livre. Senão te matarei lentamente logo que retorne. Agora, quer mudar algo?

Os olhos do civil se abriram como uma flecha. Voltou.

— Olá? — disse O — Ouviu-me?

Para apressar ao civil, aplicou pressão em uma zona sensível. A coisa grunhiu como um cão.

— Diga-me. — disse O brandamente — E, te deixarei ir. Isto parará.

O rosto do homem se comprimiu, a boca se elevou e revelou os dentes apertados. Uma lágrima serpenteou por sua machucada bochecha. Embora tivesse a tentação de acrescentar outra porção de agonia como incentivo, O decidiu não transtornar a batalha entre consciência e sobrevivência.

— Vinte e sete, Thorne.

— Avenida, verdade?

— Sim.

O tirou a lágrima. Então, lhe fatiou a garganta.

— Que mentiroso é. — disse ao vampiro sangrando.

O não perdeu tempo, só pegou a jaqueta cheia de armas e saiu. Estava malditamente seguro de que os endereços não eram nada. Esse era o problema com a tortura. Realmente não podia confiar na informação que obtinha.

Ia averiguar algo nas duas ruas, mas estava claramente dando cabeçadas.

Perdendo seu maldito tempo.

 

Butch fez girar a última gota de café pelo fundo da xícara, pensando que a porcaria era da cor do escocês. Quando jogou a sujeira já fria, desejou que fosse um Lagavulin de alta graduação.

Verificou seu relógio. Seis minutos para as sete. Deus, esperava que a sessão fosse só de uma hora. Se tudo fosse tranqüilo, deixaria John com Tohr e Wellsie e poderia se sentar no sofá com um copo de escocês antes que começasse CSI[20].

Ele deu um grunhido. Não era estranho que Marissa não quisesse lhe ver. Grande partido ele era. Um alto funcionário alcoólatra vivendo em um mundo que não era dele.

Sim. Vamos caminhando para o altar.

Enquanto se imaginava em casa, teve um pensamento passageiro do aviso de V de manter-se longe do imóvel. O problema era, que estar fora da barreira, só nas ruas não era um bom plano, não com o humor que tinha. Estava tão frio como o tempo.

Uns poucos minutos depois, as vozes desciam pelo corredor, e John apareceu pela esquina com uma mulher mais velha. O pobre menino parecia como se tivesse passado por um ring. Tinha os cabelos levantados com pontas espetadas, como se tivesse passado as mãos por ele várias vezes, e o olhar fixo no chão. Levava aquele caderno agarrado ao peito como se fora um colete a prova de balas.

— Assim, nos veremos na próxima entrevista, John. — disse a voz feminina muito brandamente — Depois que tenha pensado sobre isso.

John não respondeu, e Butch esqueceu sua própria queixinha de merda. Qualquer coisa que tivesse acontecido no consultório ainda estava aí, e o menino necessitava um companheiro. Abraçou o menino tentativamente, e quando John se inclinou para ele, todos os instintos protetores de Butch se elevaram e grunhiram. Não importava que aquela terapeuta se parecesse com a Mary Poppins, queria lhe gritar por transtornar um menino pequeno.

— John? — disse ela — Terá que te pôr em contato comigo para a próxima consulta.

— Sim, ligaremos. — murmurou Butch. UAH-Hugh, ok.

— Disse que não há pressa. Mas, acredito que deve voltar.

Butch olhou à mulher, claramente molesto... Só que ao encontrar seus olhos, se espantou com o que eles lhes transmitiam. Eram tão malditamente sérios, tão graves. Que demônios tinha ocorrido nessa sessão?

Butch olhou à parte superior da cabeça de John.

— Vamos, j-homem.

John não se moveu, assim Butch lhe deu um pequeno empurrão, e o levou pelo caminho de saída da clínica, com um braço ainda por cima dos ombros do menino. Quando chegaram ao carro John subiu ao assento, mas não prendeu o cinto. Só olhou fixamente para frente.

Butch fechou a porta e colocou a chave no contato do SUV. Então, se virou e olhou a John.

— Não vou perguntar o que aconteceu. O único que preciso saber é aonde quer ir. Se quiser ir para casa, levarei você para Tohr e Wellsie. Se quiser relaxar na Cova comigo, iremos para o imóvel. Se só quiser que dirija, levarei você até o Canadá e voltaremos. Estou preparado para tudo, só tem que dizer uma palavra. E, se não quiser decidir agora, darei voltas pela cidade até que diga.

O pequeno peito de John se expandiu e se contraiu. Abriu rapidamente o bloco de papel e agarrou a caneta. Houve uma pausa, e então escreveu algo e mostrou o papel a Butch.

— Sétima Rua.

Butch franziu o cenho. Era uma parte da cidade realmente fodida.

Abriu a boca para perguntar por que ali entre todos os lugares, mas cortou sua inconveniência. O guri já tinha tido suficientes pergunta sobre ele esta noite. Além disso, Butch estava armado, e era aí aonde John queria ir. Uma promessa era uma promessa.

— Ok, companheiro. Partindo, Sétima Rua.

— Mas, conduz um momento primeiro. — escreveu o menino.

— Sem problema. Só nos esfriaremos.

Butch ligou o motor. Justo enquanto dava a volta ao Escalade, teve um flash de algo atrás dele. Um carro chegava à parte de trás da mansão, um muito grande e muito caro Bentley. Freou para que pudesse passar e...

Esqueceu de respirar.

Marissa saiu da casa por uma porta lateral. Sua longa cabeleira loira até os quadris se movia ao vento e se enredou na capa negra que usava. Movendo-se rapidamente através do estacionamento traseiro, evitou os montões de neve, saltando de parte de asfalto em parte de asfalto.

As luzes de segurança percorreram as linhas refinadas de sua face, seu maravilhoso cabelo pálido e a perfeita pele branca. Recordou o que tinha sentido ao beijá-la, a única vez que o tinha feito, e sentiu uma pontada no peito como se seus pulmões tivessem arrebentado. Superado, quis sair correndo do carro, atirar-se ao chão na neve e arrastar-se como o cão que era.

Exceto porque se dirigia ao Bentley. Viu como a porta abria para ela, como se o condutor se inclinasse e tivesse pegado o bracelete. Quando as luzes iluminaram o interior Butch não pôde ver muito, só o suficiente para dizer que era um homem, ou um macho, o que estava ao volante. Uns ombros tão largos não podiam ser de um corpo feminino.

Marissa juntou a capa com as mãos e deslizou dentro, fechando a porta.

As luzes se apagaram.

Confusamente, Butch escutou algum tipo de movimento perto dele e olhou a John. O menino se encolheu contra a janela e estava olhando através dos assentos com medo nos olhos. Foi então quando Butch se deu conta que tinha a pistola na mão e estava grunhindo.

Totalmente ultrapassado pela louca reação, tirou o pé do freio do Escalade e pisou fundo no acelerador.

— Não se preocupe, filho. Não vou fazer nada.

Enquanto giravam, olhou pelo retrovisor para o Bentley. Estava movendo-se agora, fazendo seu próprio giro no estacionamento. Com uma brusca maldição, Butch foi para o caminho de saída, as mãos agarravam o volante tão duramente que os nódulos lhe ardiam.

 

Rehvenge franziu o cenho enquanto Marissa entrava no Bentley. Deus, tinha esquecido o quanto era bonita. E cheirava tão bem… O limpo aroma do oceano encheu seu nariz.

— Por que não quer que vá à porta principal? — disse ele, apreciando o formoso cabelo e a pele sem falhas — Deveria me permitir te pegar apropriadamente.

— Já sabe como Havers é. — a porta se fechou com um som sólido — Vai querer que nos unamos.

— Isso é ridículo.

— E, você não é igual com sua irmã?

— Sem comentários.

Enquanto esperava que um Escalade saísse do estacionamento, Marissa lhe pôs uma mão sobre a manga negra.

— Sei que disse antes, mas sinto muito tudo o que aconteceu com Bela. Como vai?

Como demônios ele ia saber?

— Eu preferiria não falar dela. Não te ofenda, mas estou só… Sim, não quero falar dela.

— Rehv, esta noite não tem que acontecer. Sei que está passando por muitos problemas e francamente, estou surpresa de que apesar de tudo tenha querido me ver.

— Não seja ridícula. Estou agradecido de que me tenha ligado.

Esticou-se e pegou sua mão. Os ossos sob a pele eram tão delicados que teve que recordar-se que tinha que ser muito gentil com ela. Ela não era como as que estava acostumado.

Enquanto conduzia para a cidade, pôde sentir como seus nervos se esticavam.

— Tudo vai bem. Estou realmente encantado de que me tenha chamado.

— Mas, bem estou envergonhada, realmente. É só que não sei o que fazer.

— Nós faremos com calma.

— Só estive com o Wrath.

— Eu sei. Por isso quis vir buscar você de carro. Pensei que estaria muito nervosa para desmaterializar-te.

— Estou.

Enquanto paravam em um semáforo, lhe sorriu.

— Vou cuidar bem de você.

Seus pálidos olhos azuis deslizaram sobre ele.

— É um bom homem, Rehvenge.

Ele ignorou esse engano de cálculo e se concentrou no tráfego.

Vinte minutos depois estavam saindo de um elevador e entrando no vestíbulo do apartamento de cobertura. Seu espaço ocupava a metade do último andar da construção dos anos 30, sobre o rio Hudson e toda Caldwell. Com grandes janelas, ele nunca o usava durante o dia. Mas, era perfeito durante a noite.

Manteve as luzes baixas e esperou enquanto Marissa passeava ao redor e olhava as coisas que um decorador tinha comprado para sua guarida. Não lhe preocupavam as tolices ou a vista ou as intrigas elegantes. Preocupava-lhe a privacidade frente a sua família. Bela nunca tinha estado aqui, nem tampouco sua mãe. De fato, nem sequer sabiam que tinha o apartamento de cobertura.

Como se desse conta de que estava perdendo tempo, Marissa girou e o olhou. Sob as luzes sua beleza era absolutamente atordoante, e estava agradecido pela dose extra de dopamina que colocou no corpo fazia uma hora. A droga tinha efeitos contrários dependendo se a administrava em vampiros ou em humanos. A química incrementava a atividade de certos neurotransmisores e a recepção, assegurando-se que o Symphath não pudesse sentir prazer, não pudesse sentir… Nada. Com o tato de Rehv apagado, seu cérebro poderia agüentar melhor o resto de seus impulsos.

Essa razão era a única pela qual Marissa estava a salvo estando sozinha com ele, considerando o que iriam fazer.

Rehv tirou o casaco, então caminhou para ela, confiando em sua bengala mais que nunca porque não podia afastar os olhos dela. Equilibrando a bengala contra suas coxas, lentamente desfez o laço que mantinha a capa dela unida. Ela olhou para baixo, para as mãos que tremiam enquanto lhe deslizava a capa de lã negra pelos ombros. Ele sorriu para ela enquanto jogava seu peso em uma cadeira. Seu vestido era o tipo de coisa que sua mãe usaria e exatamente o que ele desejava que sua irmã pusesse mais freqüentemente: uma túnica azul pálido de seda que vestia perfeitamente. Era da Dior. Tinha que ser.

— Vêm aqui, Marissa.

Levou-a para um sofá de couro e a empurrou para sentá-la a seu lado. No resplendor das janelas, seu cabelo loiro era como um xale de seda, e pegou alguns entre os dedos. A fome dela era tão forte, que ele podia perceber com claridade.

— Esperou muito tempo, não?

Ela assentiu e olhou suas mãos. Juntou-as no colo, marfim contra cetim azul claro.

— Quanto?

— Meses. — suspirou.

— Então, necessita um montão, não? — quando ela ruborizou, ele a empurrou — Não o fará, Marissa?

— Sim. — ruborizou, obviamente incômoda com sua fome.

Rehv sorriu violentamente. Era bom estar ao redor de uma fêmea de importância. Sua modéstia e sua gentileza eram malditamente suplicantes.

Tirou a jaqueta e desabotoou a gravata. Preparou-se para lhe oferecer o pulso, mas agora que a tinha diante dele, queria-a em seu pescoço. Tinha passado uma eternidade desde que tinha permitido a uma fêmea alimentar-se dele, e estava surpreso de que lhe excitasse a perspectiva.

Desabotoou os botões do pescoço e o resto deles, descendo pelo peito. Com uma quebra de onda de antecipação puxou a camisa solta e a abriu mais.

Os olhos dela se ampliaram quando viu seu peito nu e suas tatuagens.

— Não sabia que estava marcado. — murmurou ela, com a voz lhe sacudindo todo o corpo.

Ele se acomodou no sofá, estendendo os braços e levantando uma das pernas.

—Vêm aqui, Marissa. Toma o que necessita.

Ela olhou seu pulso, coberto por um relógio francês.

— Não. — disse ele — Esta é a forma que eu quero que você faça. De meu pescoço. É o único que peço.

Quando ela vacilou, ele soube que os rumores sobre ela eram verdades. Verdadeiramente não tinha sido tocada por nenhum macho. E, a pureza dela era… Algo a ser tomado.

Ele fechou os olhos quando a escuridão nele revolveu e se revelou uma besta presa pela jaula da medicação. Cristo, possivelmente isto não fosse uma boa idéia.

Mas, ela estava se movendo para ele lentamente, arrastando-se sobre seu corpo, seu aroma como o do oceano. Entreabriu as pálpebras para ver sua face e soube que estava indefeso para deter a alimentação. E, ele não a desperdiçaria, tinha que permitir que algumas sensações viessem a ele. Afrouxando sua disciplina, abriu o canal de seu sentido do tato, e o recebeu com avareza inclusive com a droga, todo tipo de impetuosa informação surgindo através da névoa da dopamina.

O cetim que tinha posto era suave contra sua pele e sentiu como a calidez dela se mesclava com seu próprio calor. Seu leve peso se apoiou sobre seu ombro e… Sim, seu joelho estava entre suas coxas.

A boca dela se abriu e as presas surgiram.

Por um décimo de segundo, seu demônio interior rugiu e ele clamou por seu julgamento com pânico. Graças à Virgem, a maldita coisa veio ao resgate, a parte racional dele tomou apressadamente a dianteira, encadeando seus instintos, acalmando a muito sexual necessidade de dominá-la.

Ela cambaleou quando se inclinou para sua garganta, instável como se mantinha em cima dele.

— Deite sobre mim. — disse ele com voz gutural — Coloque-se… Sobre mim.

Com um sobressalto, ela permitiu que a parte baixa de seu corpo se aprofundasse na forquilha de suas coxas. Estava claramente preocupada em encontrar-se com uma ereção, e quando não encontrou nada do que esperava olhou entre seus corpos, como se pensasse que tinha batido contra o lugar equivocado.

— Não tem que preocupar-se com isso. — murmurou ele, lhe percorrendo com as mãos os esbeltos braços — Não de mim. — seu alívio foi tão evidente que ele se sentiu ofendido — Transar comigo seria tão difícil?

— Oh, não, Rehvenge. Não. — ela baixou o olhar aos grossos músculos do peito — É… Bastante encantador. É só que… Há outro. Para mim, há outro.

— Ainda ama Wrath.

Ela sacudiu a cabeça.

— Não, mas não posso pensar no único que quero agora. Não… Agora.

Rehv levantou o queixo.

— Que tipo de idiota não te alimentaria quando o necessitasse?

— Por favor. Não falemos mais disto. — abruptamente, seus olhos se fixaram em seu pescoço e se dilataram.

— Que fome. — grunhiu ele, iludido por ser utilizado — Segue adiante. E, não se preocupe em ser amável. Tome. Quanto mais duro melhor.

Marissa descobriu as presas e o mordeu. As duas penetrações agudas se dispararam através da neblina da droga, e a dor doce transpassou seu corpo. Enquanto gemia, pensou que nunca havia se sentido agradecido por sua impotência antes, mas estava agora. Se seu pênis funcionasse de tudo, tão seguro como o inferno que lhe tivesse tirado a túnica, separado as pernas e a tinha possuído de forma agradável e profunda enquanto se alimentava.

Quase imediatamente ela recuou e lambeu os lábios.

— Vou ter um sabor diferente de Wrath. — disse ele, contando com o fato de que como ela só se alimentou de um homem, não podia saber exatamente por que seu sangue lhe impactaria na língua de uma forma estranha. Realmente, a única razão pela qual a tinha podido ajudar era por sua inexperiência. Qualquer outra fêmea que tivesse tido um pouco mais de experiência saberia muito — Vamos, tome um pouco mais. Está acostumada a ele.

Ela deixou a cabeça cair outra vez e ele sentiu o formigamento de outra dentada.

Envolveu com seus pesados braços as frágeis costas dela e a abraçou mais estreitamente enquanto fechava os olhos. Tinha passado muito tempo desde que tinha sustentado a alguém, e embora não pudesse arriscar-se a receber muita experiência, achou-a sublime.

Enquanto ela sorvia de sua veia, ele teve o absurdo impulso de chorar.

 

O levantou o pé do acelerador do caminhão e passou a pouca velocidade diante de outro alto muro de pedra.

Maldição, as casa eram enormes na Avenida Thorne. Bom, não era que pudesse ver as mansões da rua. Só presumiu que com cercas e muralhas como estas, não eram um punhado de duplex e apartamentos do tipo de Cape Cods.

Quando esta barricada em particular se abriu para permitir uma entrada, apertou os freios. À esquerda havia uma placa pequena de latão em que se lia: 27, AVENIDA THORNE. Inclinou-se para frente, esticando-se para ver mais à frente, mas o caminho e o muro desapareciam na escuridão, não podia dizer o que havia do outro lado.

Com um caprichoso “que demônios”, girou e avançou pelo caminho. A uns bons noventa metros da rua havia um alto conjunto de portas, e ele se deteve, notando as câmeras montadas no alto delas, o sistema de intercomunicação e o ar de “não entre”.

Bom… Isto era interessante. O outro endereço tinha sido uma merda, só uma casa de classe média em uma vizinhança de classe média com humanos na sala, vendo televisão. Mas, o que fosse que estivesse atrás de um lugar assim era um grande negócio.

Agora, estava curioso.

Embora infiltrar-se através dessas barreiras requeresse uma estratégia de coordenação e uma execução cuidadosa. E, o último que precisava era a inconveniência de enredar-se com a polícia só porque tinha entrado em alguma mansão de um ricaço.

Mas, por que aquele vampiro tirou do traseiro aquele endereço para salvar-se?

Então, O viu algo estranho: uma fita negra amarada à porta. Não, duas, uma em cada lado, ondeando ao vento...

Como se estivessem de luto?

Fixado por seu próprio temor, saiu do caminhão e fez ranger o gelo, dirigindo-se à fita da direita. Estava amarrada a dois metros e meio do chão, assim teve que esticar o braço para tocá-la.

— Está morta, esposa? — sussurrou. Deixou a mão cair e olhou através das portas mais à frente, à negra noite.

Retornou ao caminhão e voltou pela entrada.

Precisava transpassar esse muro. Tinha que encontrar algum lugar para desfazer-se do F-150.

Cinco minutos depois estava amaldiçoando. Maldita fosse. Não havia onde estacionar na Thorne sem ser muito evidente. A rua não era mais que muros sem nenhuma margem. Maldita gente rica.

O apertou o acelerador e olhou à esquerda. À direita. Possivelmente, pudesse deixar o caminhão embaixo, ao fundo da colina e subir pela avenida principal. Era quase meia milha em declive, mas podia cobrir a distância suficientemente rápido. As luzes sob as que tinha que passar eram uma sacanagem, é obvio, mas não era algo que ninguém dos que viviam nesta rua pudesse ver de suas torres de marfim.

Seu celular tocou, e respondeu com um desagradável:

— O que.

A voz de U, a quem estava começando a odiar, era tensa.

— Temos um problema. Dois lessers foram presos pela polícia.

O fechou os olhos.

— Que demônios fizeram?

— Estavam capturando a um vampiro civil e um carro de polícia sem identificação foi atrás deles. Dois policiais se ocuparam dos assassinos e mais policiais apareceram. Os lessers estão sendo levados à prisão e tenho uma ligação agora de um deles.

— Pois, os tire sob fiança. — explodiu O — Por que está me ligando?

Houve uma pausa. Então o tom de U teve o fedor de, bom, é obvio, era completamente idiota.

— Porque você precisa saber. Escute, eles levavam um montão de armas ocultas, para nenhuma das quais tinham permissão, todas vindas do mercado negro, sem número de série nos canhões. Não há forma de que saiam sob fiança pela manhã. Nenhum advogado de ofício é tão bom. Precisa tirá-los.

O esquadrinhou à esquerda e à direita e então deu a volta em um caminho de entrada do tamanho de um campo do futebol. Sim, definitivamente não havia lugar para estacionar aqui. Tinha que descer pela Avenida Thorne desembocar na Rua Bellman e deixar o caminhão nessa pequena vila.

— O?

— Tenho coisas a fazer.

U tossiu como se engasgasse com o grande “não encha o saco”.

— Não te ofendas, mas não posso imaginar que nada seja tão importante como isto. Que tal se um desses assassinos se metesse em uma briga geral? Quer sangue negro fluindo, para que algum tipo do IML resolva que não são humanos? Tem que contatar com Ômega e conseguir que leve a estes dois para casa.

— Faz você. — O acelerou embora fosse encosta abaixo agora.

— O que?

— Sai e alcance Ômega. — chegou a um sinal vermelho no final da Thorne que não respeitou e girou à esquerda. Havia todo tipo de lojas de futilidades e tolices para o lar na rua e estacionou em frente de uma chamada “O apartamento de cobertura da Kitty”.

— O… Este tipo de petição tem que chegar do Lesser-Principal. Sabe disso.

O se deteve antes de parar o motor.

Tremendo. Justo o que ele queria. Mais um momento de qualidade com o professor bastardo. Maldito fosse. Não podia viver sem saber o destino de sua mulher durante mais tempo. Não tinha tempo para as merdas de sua Sociedade.

— O?

Apoiou a cabeça no volante. Golpeou-o um par de vezes.

Por outra parte, se esse contato com os humanos lá embaixo na delegacia de polícia lhe explodia na cara, Ômega ia vir em sua busca. E, então aonde poderia ir?

— Bom. Irei ver isso agora. — amaldiçoou quando pôs o caminhão a caminho. Antes, olhou para a Avenida Thorne de novo.

— E, O, tenho algo concernente à associação. Precisa te encontrar com os assassinos. As coisas estão sem controle.

— Você dirige os faturamentos.

— Eles querem ver você. Estão questionando sua liderança.

— U, sabe o que se diz dos mensageiros, verdade?

— Perdão?

— Muitas más notícias farão com que lhe disparem. — desligou o telefone e fechou a tampa.

Então, acelerou.

 

Enquanto Phury sentava na cama, estava tão tenso pela necessidade de ter sexo, que logo que pode, tomou outro gole de vodca. A garrafa tremia, o copo tremia. Infernos, o colchão inteiro tremia.

Olhou Vishous, que estava apoiado contra a cabeceira, a seu lado. O irmão se sentia nervoso e desventurado enquanto com a cabeça seguia o ritmo de The Massacre de 50 Cents.

Cinco horas de tempo fértil de Bela e pareciam uma merda, seus corpos eram principalmente instinto, suas mentes obscurecidas. A compulsão de estar na mansão não podia ser anulada, a necessidade instigando-os, paralisando-os. Graças a Deus pelos charutos vermelhos e Grei Goose. O intumescimento ajudava muito.

Embora Phury tentasse não pensar no que estava acontecendo no quarto de Z. Pois, como o irmão não voltou, era óbvio que seu corpo estava sendo usado e não a morfina.

Deus querido… Os dois. Juntos. Muitas vezes…

— Como você agüenta? — perguntou V.

— Combato igual a você, homem. — tomou um gole do copo, seu corpo nadando, perdido, afogando-se em eróticas sensações presas sob sua pele. Olhou o banheiro.

Esteve a ponto de levantar-se e dirigir-se à um pouco de intimidade, quando Vishous disse outra vez:

— Acredito que estou com problemas.

Phury teve que rir.

— Isto não durará para sempre.

— Não, quero dizer… Acredito que há algo errado. Comigo.

Phury estreitou os olhos. O rosto de seu irmão parecia tenso, mas por outro lado era o mesmo de sempre. Bonitas linhas, cavanhaque ao redor da boca, tatuagens na têmpora direita. Aqueles olhos de diamante eram agudos, intactos ainda pelo Grei Goose, diretos, necessitados. As pupilas negras brilhavam com uma inteligência enorme, incompreensível, um gênio tão poderoso que acovardava.

— Que tipo de problema, V?

— Eu, ah… — Vishous esclareceu garganta — Só Butch sabe disto. Não contará a ninguém mais, verdade?

— Sim. Sem problema.

V acariciou seu cavanhaque.

— Minhas visões acabaram.

— Quer dizer que não pode ver…

— O que vai acontecer. Sim. Não estou conseguindo nada. A última coisa que recebi foi há três dias, justo antes que Z fosse atrás de Bela. Vi-lhes juntos. Em um Ford Taurus. Vindo para cá. Depois disso, não houve… Nada.

— Isto aconteceu alguma vez antes?

— Não, e não consigo ouvir pensamentos de ninguém tampouco. É como se todo o assunto acabasse.

Bruscamente, a tensão do irmão parecia não ter nada há ver com a necessidade. Parecia rígido de… Medo. Merda Santa. Vishous estava assustado. E, a anomalia era completamente discordante. De todos os irmãos, V era um que nunca tinha medo. Era como se tivesse nascido sem os receptores do medo no cérebro.

— Talvez seja apenas por um tempo. — disse Phury — Ou pensa que possivelmente Havers possa ajudar?

— Isto não é fisiológico. — V terminou a vodca do copo e estendeu a mão — Não monopolize o Goose, irmão.

Phury lhe estendeu a garrafa.

— Possivelmente poderia falar com…

Mas, quem? Aonde V, que sabia tudo, poderia procurar respostas?

Vishous sacudiu a cabeça.

— Não quero… Não quero falar disto, na realidade. Esquece que disse algo. —enquanto vertia a vodka, seu rosto se fechou tensamente, uma casa trancada — Estou seguro de que voltará. Quero dizer, sim. Voltará.

Pôs a garrafa na mesa perto dele e sustentou sua mão enluvada.

— Depois de tudo, este assunto abandonado por Deus ainda brilha como um abajur. E, até que perca esta minha louca luz noturna, finjo que ainda sou normal. Bom… Normal para mim.

Durante um momento caiu o silêncio, Phury olhando seu copo, V olhando fixamente ao dele, o rap soando de fundo, golpeando, trocando à unidade G.

Phury esclareceu a garganta.

— Posso te perguntar sobre eles?

— Sobre quem?

— Bela. Bela e Zsadist.

V amaldiçoou.

— Não sou uma bola de cristal, sabe. E, odeio contar o futuro.

— Sim. Sinto muito. Esquece.

Houve uma longa pausa. Então, Vishous murmurou:

— Não sei o que vai acontecer-lhes. Não sei por que não posso… Ver nada.

 

Enquanto Butch saía do Escalade, olhou o edifício de sujos apartamentos e se perguntou outra vez porque infernos John queria vir ali. A Sétima Rua era repugnante e perigosa.

— É este?

Quando o moço assentiu, Butch ativou o alarme de segurança do SUV. Não estava particularmente preocupado sobre se desmontavam a coisa enquanto estivessem fora. As pessoas dali estariam convencidas de que um dos traficantes estava lá dentro. Ou alguém ainda mais exigente com suas merdas e, sobretudo que levaria armas.

John se aproximou da porta da moradia e empurrou. Abriu-se com um chiado. Nenhuma fechadura. Grande surpresa. Enquanto Butch lhe seguia, pôs sua mão dentro de seu casaco para poder chegar à arma, se a necessitasse.

John foi à esquerda por um corredor comprido. O lugar cheirava à fumaça velha de cigarros e a decadência mofada e era quase tão frio como as grandes portas de entrada. Os residentes internos eram como ratos: não vistos, só ouvidos, do outro lado das magras paredes.

Embaixo, ao final, o moço empurrou abrindo uma porta contra fogo.

Uma escada saía à direita. Os degraus tinham sido desgastados pelos elementos, e havia som de água que gotejava de algum lugar, um par de tubos acima.

John pôs sua mão sobre o corrimão que estava atarraxado sem apertar à parede, e subiu devagar até o patamar entre o segundo e o terceiro andar. Mais acima, a luz fluorescente afundada no teto estava em sua etapa de estertor da morte, os tubos piscando como se desesperadamente tentassem manter o serviço.

John olhou fixamente o linóleo rachado do chão, logo procurou a janela. O logotipo do Starburst cobria a coisa como se tivesse sido esmurrada com garrafas. A única razão de que o vidro imundo não estivesse quebrado era porque estava preso ao andar de cima com arame, saíram maldições, uma espécie de escopeta verbal que era indubitavelmente o princípio de uma luta. Butch esteve a ponto de sugerir que saíssem, quando John virou-se e começou a descer a escada correndo.

Estavam no Escalade e saindo da parte ruim da cidade menos de um minuto e meio depois.

Butch parou em um semáforo.

— Aonde?

John escreveu e mostrou o bloco de papel.

— Para casa. — murmurou Butch, ainda sem ter nem idéia de porque o moço tinha querido visitar aquele buraco na escada.

 

John disse um “olá!”, passando por Wellsie quando entrou na casa e logo foi para seu quarto. Estava agradecido por que ela parecesse entender que necessitava de um pouco de espaço. Depois que fechou a porta, deixou cair seu caderno sobre a cama, tirou o casaco, e imediatamente se dirigiu à ducha. Enquanto a água esquentava, despiu-se. Uma vez que ficou sob o jorro, deixou de tremer.

Quando saiu, vestiu uma camiseta e uma calça de treinamento, logo olhou seu notbook sobre a escrivaninha, sentou diante dele, pensando que talvez devesse escrever algo. A terapeuta tinha sugerido.

Deus… Falar com ela sobre o que lhe tinha acontecido tinha sido quase tão ruim como viver a experiência pela primeira vez. E, não queria ser tão sincero como tinha sido. Fazia somente… Aproximadamente vinte minutos de sessão quando foi derrotado e sua mão tinha começado a rabiscar e não tinha sido capaz de parar uma vez que a história tinha começado.

Fechou os olhos e decidiu recordar o aspecto daquele homem do qual tinha esquecido. Só uma imagem vaga veio à memória, mas recordou a faca claramente. Tinha cinco polegadas, um estilete dupla face com uma ponta aguda como um grito.

Deslocou o indicador sobre a tecla do mouse no notbook e o logotipo do Windows XP piscou. A conta de seu correio eletrônico tinha uma mensagem nova. De Sarelle. Leu três vezes antes de tentar responder.

Ao final, respondeu-lhe: Oi, Sarelle! Amanhã à noite não vai dar. Sinto muito. Vejo você em outra ocasião. TTYL[21], John.

Realmente… Não queria vê-la outra vez. Nem sequer para um rápido encontro, em qualquer caso. Não queria ver nenhuma fêmea exceto Wellsie, Mary, Beth e Bela. Não ia haver nada remotamente sexual em sua vida até que aceitasse o que lhe tinham feito há quase um ano.

Saiu do Hotmail e abriu um documento novo no Microsoft Word.

Descansou os dedos sobre o teclado durante só um momento. E, logo começaram a voar.

 

Zsadist arrastou sua cabeça para um lado e olhou o relógio. Dez da manhã. Dez… Às dez. Quantas horas? Dezesseis…

Fechou os olhos, tão esgotado que apenas respirar já era um martírio. Estava convexo de costas, as pernas estendidas para fora, os braços esticados em qualquer parte. Tinha estado naquela posição desde que tinha girado para fora de Bela, talvez fizesse uma hora.

Parecia que tinha passado um ano desde que tinha voltado para o quarto à noite anterior. Seu pescoço e pulsos ardiam pelo número de vezes que ela se alimentou dele, e a coisa entre suas pernas estava dolorida. O ar ao redor deles estava saturado com o aroma da união, e os lençóis estavam molhados com uma combinação de seu sangue e outra coisa que ela tinha necessitado dele.

Ele não mudaria um momento disso tudo.

Enquanto fechava os olhos, perguntava-se se poderia dormir agora. Tinha estado privado de comida e sangue, tão faminto que nem sequer sua inclinação por manter-se sobre a borda poderia anular as necessidades. Mas, não podia mover-se.

Quando sentiu uma mão acariciando sobre seu ventre, separou as pálpebras para olhar Bela. Os hormônios se elevavam nela outra vez, e a resposta que ela requeria dele respondia, isso estava endurecendo uma vez mais.

Zsadist lutou para virar a ela, pois assim poderia ir onde precisava estar, mas estava muito fraco. Bela se moveu contra ele e ele tratou de levantar-se outra vez, mas sua cabeça pesava seiscentos quilos.

Estendendo a mão, ele agarrou seu braço e a puxou para cima dele. Enquanto suas coxas se separavam sobre os quadris dele, ela o olhou assombrada e começou a engatinhar para descer.

— Tudo bem. — grasnou. Limpou a garganta, mas não ajudou com todo o cascalho — Sei que é você.

Seus lábios baixaram sobre os dele e ele a beijou, por sua vez mesmo que não pudesse levantar seus braços para sustentar-lhe. Deus, como gostava de beijá-la. Amava sentir sua boca contra a sua, amava tê-la perto de seu rosto, amava respirá-la em seus pulmões, amava-a? Era isso o que tinha acontecido essa noite? Tinha se entregado?

O aroma da vinculação que estava por toda parte de ambos lhe deu a resposta. E, a compreensão devia havê-lo sobressaltado, mas estava muito cansado para incomodar-se em lutar contra isso.

Bela elevou e deslizou isso dentro dela. Tão castigado como estava, ele gemeu em êxtase. A sensação dela era algo que não podia ter o bastante, e sabia que não era devido a sua necessidade.

Ela o montou, plantando suas mãos sobre seus peitorais e encontrando um ritmo com seus quadris porque ele não podia empurrar mais. Ele sentia crescer outra explosão, sobre tudo enquanto olhava o balanço de seus seios.

— É tão bonita. — disse com voz rouca.

Ela fez uma pausa para inclinar-se e beijá-lo outra vez, seu cabelo negro caindo ao redor dele, um refúgio aprazível. Quando ela se endireitou, ele se maravilhou com a vista. Ela estava brilhando com a saúde e vitalidade de tudo o que lhe tinha dado, uma fêmea resplandecente a quem ele…

Amava. Sim, amava.

Foi o pensamento que se disparou por seu cérebro enquanto ele ejaculava dentro dela outra vez.

Bela caiu em cima dele, exalou com um estremecimento, e de repente a necessidade terminou. A energia da fêmea foi à deriva pelo quarto, a tormenta tinha passado. Suspirando de alívio, separou-se dele, separando seu sexo magnífico de sua coisa. Enquanto isso se deixou cair pesadamente sem vida sobre seu ventre, sentiu o frio do quarto sobre sua carne, tão pouco atraente comparado com o calor dela.

— Está bem? — perguntou.

— Sim… — sussurrou ela, ficando de lado, quase dormindo — Sim, Zsadist… Sim.

Ela ia precisar de comida, pensou. Ele precisava ir lhe conseguir comida.

Juntando sua vontade, tomou um fôlego, e outro e outro… E, finalmente forçou seu corpo a sair da cama. Sua cabeça balançou grosseiramente, os móveis, o chão e as paredes se moviam, mudando de lugar, até que não ficou seguro se que estava no teto ou não.

A vertigem piorou quando tirou as pernas do colchão, e quando ficou de pé seu equilíbrio o abandonou completamente. Caiu contra a parede, batendo contra ela, teve que sustentar-se se agarrando às cortinas.

Quando estava preparado, soltou-se e se inclinou para ela. Levantá-la em seus braços era uma luta, mas sua necessidade de cuidar dela era mais forte que o esgotamento. Levou-a para plataforma e a deitou, logo a cobriu com o edredom que há muito tempo tinham empurrado ao piso. Ele estava virando-se quando ela o puxou pelo braço.

— Tem que te alimentar. — disse ela, tratando de atraí-lo mais perto — Vem para minha garganta.

Deus, estava tentado.

— Voltarei. — disse ele, tropeçando com seus pés. Cambaleou até o armário e vestiu uma boxers. Então, despojou a cama dos lençóis e travesseiros e partiu.

 

Phury abriu os olhos e compreendeu que não podia respirar.

O que fazia sentido, supôs. Seu rosto estava esmagado contra um montão de mantas. Moveu a boca e liberou o nariz do engarrafamento e tratou de enfocar os olhos. A primeira coisa que viu, a aproximadamente quinze centímetros de sua cabeça, foi um cinzeiro cheio de pontas de charutos queimados. No chão.

Que diabos? Oh... Estava pendurando na borda do colchão.

Quando ouviu um gemido, impulsionou-se para cima, virou a cabeça e se viu cara a cara com um dos pés de Vishous. A pouca distância estava a coxa de Butch.

Phury teve que rir, e isto atraiu o olhar fixo atordoado do policial de um travesseiro. O humano verificou a si mesmo e logo a Phury. Piscou duas ou três vezes, como se esperasse despertar de verdade.

— Oh, homem. — disse com a mais sobrecarregada voz. Então, olhou Vishous, que estava desacordado perto dele — Oh, homem, isto é muito estranho.

— Supere, policial. Não é atrativo.

— Justamente. — ele esfregou o rosto — Mas, isso não quer dizer que esteja de acordo em despertar com dois homens.

— V te disse que não voltasse.

— Certo. Foi uma má escolha.

Falar sobre uma longa noite. Finalmente, quando inclusive a sensação da roupa contra sua pele tinha sido muita, tinham perdido qualquer pretensão a modéstia. Tinha sido uma questão de agüentar a necessidade: acendendo um cigarro vermelho após outro, bebendo uísque escocês ou vodca, entrando no banheiro só para aliviar-se em privado.

— Assim, terminou? — perguntou Butch — Diga-me que terminou.

Phury saiu da cama.

— Sim, acredito nisso.

Recolheu um lençol e o lançou a Butch, que cobriu a si mesmo e a Vishous. V nem sequer se moveu. Estava dormindo como um morto sobre seu estômago, seus olhos fechados fortemente, um suave ronco saía de sua boca.

O policial amaldiçoou e reacomodou seu corpo, colocando um travesseiro contra a cabeceira e apoiando-se. Esfregou o cabelo até que o teve arrepiado e bocejou tão forte que Phury ouviu o rangido da mandíbula do tipo.

— Maldição, vampiro, nunca pensei que eu diria isto, mas não tenho absolutamente nenhum interesse por sexo. Graças a Deus.

Phury vestiu um par de calças de treinamento.

— Quer comida? Vou fazer uma excursão à cozinha.

Os olhos de Butch se abriram de felicidade.

— Vai trazer até aqui? Isto é, não tenho que me mover?

— Você me deverá isso, mas sim, estou disposto a repartir.

— É um deus.

Phury vestiu uma camiseta.

— O que quer?

— O que tiver na cozinha. Inferno, seja realmente útil e arraste o refrigerador aqui para acima. Estou morto de fome.

Phury desceu as escadas até a cozinha e estava a ponto de começar a procurar quando ouviu sons que saíam da lavanderia. Aproximou-se e empurrou a porta aberta.

Zsadist estava colocando lençóis na máquina de lavar roupa.

E, Virgem querida do Fade, ele parecia vir do inferno. Seu estômago era um buraco contraído, seus quadris se destacavam contra sua pele como postes de uma loja, sua caixa torácica parecia com um campo arado. Ele devia ter perdido vinte e um, trinta e dois quilos da noite para o dia. E, inferno santo, seu pescoço e pulsos estavam mastigados e em carne viva. Mas… Ele cheirava a formosas especiarias escuras, e havia uma paz sobre ele, tão profunda e improvável que Phury se perguntou se seus sentidos lhe estavam enganando.

— Irmão? — disse.

Z não o olhou.

— Sabe como funciona esta coisa?

— Ah, sim. Ponha um pouco daquele material na caixa e move aquele disco para cá, me deixe ajudar.

Z terminou de encher o tambor da máquina de lavar roupa e logo se afastou, seus olhos ainda fixos no chão. Quando a máquina estava enchendo-se de água, Z murmurou obrigado e se dirigiu à cozinha.

Phury lhe seguiu, seu coração na garganta. Queria perguntar se tudo estava bem, e não somente com Bela.

Tratava de escolher suas palavras com cuidado enquanto Z pegava peru assado do refrigerador, arrancava uma coxa e a mordia. Mastigou desesperadamente, limpando a carne do osso tão rápido como podia, e no momento em que o fez, arrancou a outra coxa e fez o mesmo.

Jesus… Seu irmão nunca comia carne. Entretanto, ele nunca tinha passado por uma noite como a passada antes. Nenhum deles o tinha feito.

Z podia sentir os olhos de Phury sobre ele, e teria deixado de comer se pudesse. Odiava que as pessoas o olhassem, especialmente quando mastigava algo, mas simplesmente não podia conseguir alimento rápido o bastante.

Observou-lhe alimentar-se a empurrões em sua cara enquanto tirava uma faca e um prato e começava a cortar finos filetes de peito de peru. Procurou pegar as melhores partes da carne para Bela. As partes estranhas, os encontros e a parte perto do coração, ele mesmo comeu, como se não fossem tão boas.

Que mais ela necessitaria? Queria que comesse coisas calóricas. E a bebida… Deveria lhe levar algo para beber. Voltou para o refrigerador e começou a fazer um montão com os restos para revisá-los. Escolheria com cuidado, lhe levando apenas o que fosse digno de sua língua.

— Zsadist?

Deus, tinha esquecido que Phury ainda estava caminhando sem rumo ao redor.

— Sim. — disse enquanto abria uma tigela de Tupperware.

O purê de dentro parecia bom, embora realmente tivesse preferido lhe levar algo que ele tivesse feito. Não é que ele soubesse como fazer isso. Cristo, ele não podia ler, não podia utilizar uma maldita máquina de lavar roupa, não podia cozinhar.

Tinha que deixá-la ir-se, assim poderia encontrar um macho que tivesse meio cérebro.

— Não quero bisbilhotar. — disse Phury.

— Sim, faz. — pegou uma barra do pão de levedura caseiro de Fritz do armário e a apertou entre seus dedos. Era suave, mas o cheirou de todos os modos. Bom, era bastante fresco para ela.

— Ela está bem? Você… Está?

— Estamos bem.

— Como foi? — Phury tossiu um pouco — Quero dizer, quero saber, não porque seja Bela. É somente… Ouvi muitos rumores e não sei em que acreditar.

Z pegou um pouco do purê de batatas e o pôs sobre o prato com o peru, então pegou com a colher um pouco de arroz selvagem e o cobriu com uma boa quantidade de molho. Lançou a pesada carga ao microondas, contente de que fosse uma máquina que sabia usar.

Enquanto olhava o alimento dar voltas, pensou na pergunta de seu gêmeo e recordou a sensação de Bela levantando-se sobre seus quadris. Aquela conexão, das dúzias que tinham tido durante a noite, era a que mais lhe sobressaia. Ela estava tão encantadora em cima dele, sobre tudo quando o tinha beijado...

Durante todo o tempo da necessidade, mas sobre tudo, durante aquela união particular, ela tinha mantido o passado longe, lhe amarrando, lhe marcando com algo bom. Guardaria aquele calor que lhe tinha dado pelo resto de seus dias.

O microondas soou e se deu conta que Phury ainda esperava uma resposta.

Z pôs a comida sobre uma bandeja e pegou alguns talheres de prata assim ele poderia alimentá-la corretamente.

Enquanto se virava e se dirigia ao quarto, murmurou:

— Ela é a mais bonita, tanto que não tenho palavras. — olhou para Phury — E, ontem à noite fui abençoado imensamente ao servi-la.

Por alguma razão, o irmão retrocedeu pelo choque e estendeu a mão.

— Zsadist, você…

— Tenho que levar alimento a minha nalla. Verei você mais tarde.

— Espere! Zsadist! Vocês…

Z somente sacudiu a cabeça e saiu.

 

— Por que não me mostrou isto assim que cheguei em casa? — perguntou Rehvenge ao doggen. Quando o criado ruborizou pela vergonha e horror, estendeu a mão ao pobre homem.

— Está bem. Não importa.

— Senhor, vim quando compreendi que havia voltado durante o dia. Mas, como estava dormindo. Não estando seguro do que era a imagem não quis incomodá-lo. Você nunca descansa.

Sim, a alimentação com Marissa o tinha desligado como a uma luz. A primeira vez que tinha fechado os olhos e tinha perdido a consciência em… Deus, sempre. Mas, esse era o problema.

Rehv se sentou diante da tela do computador e pôs de novo o arquivo digital. Era o mesmo, tal e como a primeira vez que o tinha visto: um homem com cabelo e roupas negras, parado diante das portas. Saindo de um caminhão. Avançando para tocar as fitas de luto que tinham sido amarradas às barras de ferro.

Rehv aumentou o zoom até que viu o rosto do homem claramente. Nada extraordinário, nem bonito nem feio. Mas, o corpo era grande. E, aquela jaqueta parecia que tinha sido preenchida ou cobrisse alguma arma.

Rehv congelou a imagem e fez uma cópia com a data e a hora de leitura na esquina inferior direita. Trocou de tela, abrindo os arquivos de outra câmara que fiscalizava a porta dianteira, a do sensor de calor. Com uma rápida ação, obteve a gravação desde aquela equipe exatamente no mesmo momento.

E, o que é que soube. A temperatura do corpo daquele “homem” estava ao redor dos cinqüenta graus. Um lesser.

Rehv mudou de tela outra vez e obteve uma imagem ajustada do rosto do assassino enquanto olhava as fitas. Tristeza, medo… Cólera. Nenhuma das emoções era anônima: por isso era algo pessoal. Tinha perdido alguma coisa.

Então, este era o bastardo que raptou Bela. E, tinha retornado por ela.

Rehv não se surpreendeu que o lesser tivesse encontrado a casa. A captura de Bela tinha tido toda uma notícia dentro da raça e o endereço da família nunca foi ocultado… De fato, pelo conselho espiritual de sua mahmen, a mansão da Thorne Avenue era muito conhecida. Tudo isto podia ter vindo da captura de um civil que sabia onde viviam.

A questão real era, por que o assassino não tinha transpassado as portas?

Deus, a que hora tinha sido? Às quatro da tarde. Droga.

— É um lesser. — disse Rehv, batendo com força o chão com sua bengala e levantando-se rapidamente — Evacuaremos a casa rapidamente. Procurará Lahni imediatamente e dirá à senhora que deve vestir-se. Então, levará ambas pelo túnel e as conduzirá à casa segura na caminhonete.

O doggen empalideceu.

— Amo, não tinha nem idéia do que era…

Rehv pôs a mão sobre o ombro do homem para impedir que se deixasse levar de novo pelo pânico.

— Fez bem com o que sabia. Mas, nos movamos rapidamente agora. Vá procurar Lahni.

Rehv caminhou o mais rápido que pôde para o quarto de sua mãe.

— Mahmen? — disse enquanto abria a porta — Mahmen, acorde.

Sua mãe sentou sobre os lençóis de seda da cama, seus cabelos brancos enrolados em uma touca de dia.

— Mas se… Não, ainda é de tarde. Por que…

— Lahni virá para te ajudar a vestir-se.

— Querida Virgem, Rehvenge. Por quê?

— Deixará esta casa.

— O que…

— Agora, mahmen. Explicarei isso mais tarde. — lhe beijou ambas as bochechas enquanto a criada entrava — Ah, bom. Lahni, vista à senhora, rapidamente.

— Sim, amo. — disse a doggen com uma reverência.

— Rehvenge! O que está…

— Depressa. Vai com o doggen. Ligarei para você.

Como sua mãe gritou lhe chamando, retornou a sua suíte privada e fechou as portas para não ouvi-la. Pegou o telefone e discou, devagar, o número da Irmandade desprezando o que devia fazer. Mas, a segurança de Bela vinha primeiro. Depois de deixar a mensagem que lhe produziu dor de garganta, caminhou para o armário.

Nesse momento, a mansão estava selada durante as horas de luz solar, de maneira que nenhum lesser poderia entrar. As persianas cobriam as janelas e as portas eram antibalas e anti-fogo, as casa era feita com paredes de pedra de setenta centímetros de espessura. Para finalizar, havia muitas câmaras e alarmes de segurança pelos quais saberia se alguém espirrasse em sua propriedade. Mas, de todos os modos, queria mahmen fora.

Ainda mais, assim que caísse a escuridão, abriria as portas de ferro e poria o tapete de boas-vindas. Queria que o lesser entrasse.

Rehv tirou o manto de visom e vestiu umas calças e um suéter de gola alta. Não tiraria as armas até que sua mãe se fosse. Se ela não estivesse já totalmente histérica, vê-lo coberto de metal a levaria diretamente a borda.

Antes de retornar para verificar o progresso da evacuação, olhou para o gabinete fechado de seu armário. Teria tempo mais tarde para sua dose de dopamina da tarde. Perfeito.

Sorrindo, abandonou o quarto sem injetar-se, preparado para tirar todos seus sentidos a atuar.

 

Como as persianas estavam levantadas durante a noite, Zsadist ficou de lado junto a Bela, observando seu sono. Estava de costas, apertada contra a dobra de seu braço, a cabeça ao nível de seu peito. Nenhum lençol ou manta cobriam seu corpo nu, porque ainda irradiava restos do calor da necessidade.

Quando retornou da viagem que tinha feito à cozinha, ela tinha comido de sua mão e tinha cochilado enquanto ele arrumava o leito com roupa de cama fresca. Tinham estado juntos completamente às escuras após.

Moveu a mão desde sua coxa para a parte inferior de seu peito e acariciou o mamilo com seu indicador. Tinha estado fazendo assim durante horas, acariciando-a, lhe cantarolando. Embora estivesse tão cansado que suas pálpebras estavam abertas pela metade, a calma entre eles era melhor que qualquer coisa que poderia obter se tivesse fechado os olhos.

Enquanto ela se movia contra seu quadril acariciando-o, ele se surpreendeu pelo impulso de pegar sua turgidez. Por agora calculava que o faria assim durante um tempinho.

Inclinou-se para trás e olhou para baixo sobre seu corpo. Pela abertura dianteira de seus boxers, a cabeça da coisa que tinha usado com ela tinha escapado, e como o eixo se alongou, a achatada ponta empurrava para fora mais e mais longe.

Sentindo como se quebrasse uma espécie de lei, utilizou o dedo que estava usando para fazer círculos sobre o mamilo de Bela e apertou a ereção. Estava rígida, então não se moveu para retornar ao lugar.

Fechou os olhos e com um estremecimento, capturou a excitação com a mão. Quando o acariciou se surpreendeu com a suave pele que se deslizava sobre o duro centro. E, as sensações foram estranhas. Não desagradáveis, na verdade. Em realidade, era do tipo que lhe recordavam o ter estado dentro de Bela, só que não tão bom. Nem muito menos.

Deus, era tão afeminado. Com medo de sua própria… Assume. Pinto? Pênis? Como diabos deveria chamá-lo? Como o chamavam os homens normais? Bom, George não era uma opção. Mas, de algum jeito referir-se a isso como… Isso, não lhe parecia correto nunca mais. Agora que se deram a mão, por assim dizê-lo.

Deixou a coisa e deslizou a mão pelo cós dos boxers. Estava enjoado e nervoso, mas calculou que teria que acabar a rotina do Lewis e Clark. Não sabia quando teria coração de fazer isto outra vez.

Mexeu no Dick, sim, começaria a chamá-lo de Dick… Ao redor era como se estivesse dentro, mas fora do caminho e logo tocou suas bolas por baixo. Sentiu aproximar um choque em cima da ereção do eixo e a ponta tremeu.

Aquilo era agradável.

Franziu o cenho quando explorou pela primeira vez o que a Virgem lhe tinha dado. Era engraçado que tudo isto que tinha estado amarrado, pendurando dele, durante muito tempo e que nunca o tivesse feito quando jovem, sem dúvida os homens pós-transição passavam dias inteiros fazendo isso.

Quando acariciou seus testículos outra vez, esticaram-se mais e Dick ficou ainda mais duro. As sensações ferviam na parte inferior de seu corpo e as imagens de Bela apareceram em sua mente, imagens deles tendo sexo, dele esticando as pernas para cima e introduzindo-se profundamente nela. Recordou com dolorosa clareza como a sentia debaixo dele, o canal dela, como estava apertada…

Tudo isto começou como uma bola de neve, as imagens em sua mente, as correntes de energia estendendo-se onde se encontrava sua mão. Sua boca abriu. O corpo fez uma espécie de quebra de onda, seus quadris impussionaram-se para frente. Com um impulso, rodou sobre as costas e empurrou os boxers para baixo.

E, logo compreendeu o que estava fazendo. O estava sacudindo? Ao lado de Bela? Deus, era um bastardo repugnante.

Aborrecido consigo mesmo, liberou sua mão e começou a dar puxões nos boxers de volta…

— Não pare. — disse Bela brandamente.

Uma explosão de frio disparou pela espinha de Z. Quebrado. Os olhos se dirigiram aos seus quando o sangue lhe subiu à cara. Mas, só lhe sorriu e lhe acariciou o braço.

— É tão bonito. De caminho pode te arquear neste momento. Termine-o, Zsadist. Sei que é o que quer fazer e não tem por que te envergonhar. Está muito bonito enquanto te toca.

Beijou-lhe o bíceps, seus olhos dirigindo-se para seus boxers.

— Termine. — sussurrou — Deixe-me ver você terminar.

Parecendo um idiota desejoso, mas curiosamente incapaz de parar, sentou-se e se despiu.

Bela fez um ruído de aprovação quando se deitou outra vez. Tomando a força dela, deslizou devagar a mão para baixo por seu estômago, sentindo esticarem-se seus músculos e a lisa pele sem cabelo que o cobria. A verdade é que não esperava ser capaz de continuar…

Merda Santa. A coisa estava muito dura, podia sentir o batimento do coração tamborilando por isso.

Olhou fixamente os profundos olhos azuis de Bela enquanto movia a palma da mão para cima e para baixo. Calafrios de prazer começaram a disparar-se e correr através de seu corpo. Deus… A ter olhando lhe funcionava, inclusive quando não teria que fazê-lo. Quando ele tinha sido observado antes…

Não, o passado não era bem-vindo. Se pensasse no que lhe tinha passado fazia um século, ia perder este momento com Bela.

Com um empurrão e um golpe fechou suas lembranças, distanciando-se do que lhe tinham feito diante de uma audiência. Os olhos de Bela… O olhavam. Estava neles. Afogava-se neles.

Seu olhar fixo era tão encantador, brilhante por cima de sua cor, abraçando-o como se estivesse entre seus braços. Olhou seus lábios. Seu estômago… A crescente necessidade em seu sangue deu um geométrico salto, explodindo de maneira que cada polegada que sentia era uma erótica tensão.

Os olhos de Bela foram à deriva para baixo. Enquanto o olhava travar isso, pegou o lábio inferior entre seus dentes. Suas presas eram duas pequenas adagas brancas e ele as queria sobre sua pele outra vez. Queria chupar dela.

— Bela… — gemeu ele. Droga, realmente estava nisto.

Levantou uma de suas pernas, os gemidos saíam de sua garganta enquanto movia a mão mais rapidamente e logo concentrava o movimento na ponta. Um segundo mais tarde, se perdeu. Gritou enquanto sua cabeça golpeava o travesseiro e suas costas se curvavam para o teto. Quentes motores golpeavam seu peito e seu ventre e as rítmicas liberações continuaram um momento enquanto terminava. Parou quando a cabeça esteve muito sensível para tocá-la.

Estava enjoado como o inferno e respirava com dificuldade quando se inclinou a seu lado e a beijou. Quando se retirou, seus olhos lhe mostraram quão claramente o lia. Ela sabia que o tinha ajudado esta primeira vez. Inclusive de algum jeito ela não o olhava com compaixão. Não parecia que se preocupasse que ele fosse um pobre asno que até agora não tinha sido capaz de merecer tocar-se.

Ele abriu a boca.

— Eu…

Uma batida cortou a declaração, não tinha o trabalho feito.

— Não abra a porta. — ladrou ele, limpando-se com os boxers. Beijou Bela e lhe colocou um lençol por cima antes de atravessar o quarto.

Reforçou seu ombro contra a porta, como se quem quer que estevisse do outro lado pudesse entrar no quarto. Foi um estúpido impulso, mas ninguém ia ver Bela em seu brilhante pós-necessidade. Isto era só para ele.

— O que. — disse ele.

A voz de Phury soou amortecida.

— O Explorer em que colocou seu telefone se moveu ontem à noite. Foi ao supermercado onde Wellsie comprou as maçãs do festival de solstício. Cancelamos as ordens, mas temos que fazer um reconhecimento. Reunião da Irmandade no escritório de Wrath em dez minutos.

Z fechou os olhos e apoiou a testa na madeira. A vida real tinha retornado.

— Zsadist? Ouviu-me?

Olhou Bela, pensando que seu tempo juntos tinha terminado. E, vendo como juntava os lençóis para seu queixo como se tivesse frio, ela também soube…

Deus… Doía, pensou ele. Na realidade, se sentia… Ferido.

— Estarei lá. — disse ele.

Deixando cair os olhos sobre Bela, girou-se e se dirigiu à ducha.

 

Quando a noite caiu, O enfurecido se aproximou da cabine e recolheu as munições que necessitaria. Havia voltado fazia meia hora e o dia que tinha passado tinha sido uma merda. Primeiro, tinha de se dirigido a Ômega e tinha recebido uma droga de uma reclamação. Literalmente. O amo tinha estado chateando os dois lessers que tinham sido detidos, como se tivesse sido falha de O, que esses incompetentes obtivessem uma bofetada e fossem dissecados.

Depois que O compartilhou a primeira onda, o bastardo do amo tirou os assassinos humanos, ultimando a sujeição sobre eles como se fossem cães com correias. De uma forma interessante, não foi fácil. Chamar os membros da Sociedade para que voltassem para casa não era o tipo de coisa que se conseguisse com um golpe de pulso facilmente, e a debilidade era algo a recordar.

Não é que a debilidade tivesse durado. Homem, O não tinha dúvidas de que aqueles dois lessers tinham lamentado o dia que negociaram suas almas. Ômega tinha começado com eles imediatamente e a cena tinha parecido um filme de Clive Baker. E, a coisa era que, os assassinos eram não mortos, então o castigo poderia seguir sem cessar até que Ômega se aborrecesse.

Tinha-o olhado muito concentrado quando O tinha saído.

À volta ao mundo, temporalmente, tinha sido uma total chamada ao assassinato. Durante a ausência de O, uma insurreição dos Betas tinha enraizado. Uma esquadrilha deles, quatro no total, estavam aborrecidos e tinham decidido atacar a outros lessers, em uma espécie de jogo de caça-e-mata que causou várias vítimas na Sociedade. Os correios de voz de U cada vez eram mais frenéticos, deixados sobre o curso de seis horas, eram o tipo de modernização que fazia com que um homem quisesse gritar.

Maldito fosse. U era um fracasso total como Segundo na hierarquia. Não tinha sido capaz de controlar os Betas na luta e um humano tinha morrido durante a luta. O não dava uma merda pelo tipo morto, mas o que o preocupou foi o corpo. O último que precisava era complicar-se com os policiais. Outra vez.

Assim, O foi à cena e sujou as mãos desfazendo-se do corpo, então se chateou umas duas horas para identificar os Betas pilantras e indo visitar cada um deles. Quis matá-los, mas se mais postos ficassem vazios nas filas da Sociedade, ia ter outro problema com o amo.

Quando terminou de golpear aquele quarteto de idiotas de merda, há apenas meia hora, estava totalmente raivoso. E, então foi quando U o tinha chamado com as felizes notícias de que toda a maçã encomendada que tinha sido disposta para o solstício tinha sido cancelada. E, então para que eram todas essas compras? De algum jeito, os vampiros tinham entendido que eles lhes tinham seguido a pista.

Sim, U honrava o trabalho cauteloso. De acordo.

Então, o tributo do assassinato em massa para Ômega se foi pela janela. Por isso, O não tinha nada para subornar ao amo. Se sua esposa estivesse viva, seria mais difícil convertê-la em um lesser.

O tinha perdido a paciência. Tinha gritado a U por telefone. Permitiu-se soltar toda classe de obscenidades. E, U tinha respirado como um gatinho açoitado, tranqüilizando-se, agachando-se. O silêncio tinha conduzido O à loucura, já que sempre tinha odiado que as pessoas não se defendessem.

Cristo. Tinha pensado que U era estável, mas na realidade era um bastardo débil e O estava farto disso. Sabia que tinha que colocar uma faca no peito de U e iria fazer, mas as distrações o detiveram.

Droga de Sociedade, U, Betas e Ômega. Tinha que fazer um trabalho que lhe importava.

O pegou as chaves do caminhão e subiu na cabine. Ia diretamente ao número 27 da Thorne Avenue para entrar naquela mansão. Talvez fosse uma atitude desesperada, mas estava seguro de que a resposta que estava procurando estava atrás daquelas portas de ferro.

Finalmente, averiguaria o onde e o porquê de sua esposa ter sido levada.

O estava quase no F-150 quando seu pescoço começou a zumbir, não duvidou que fosse por gritar com U. Ignorou a sensação e se colocou atrás do volante. Enquanto dirigia, puxava a gola da camisa, logo tossiu duas, três vezes, tentando afrouxar as coisas. Merda. Sentia-se estranho.

Oito quilômetros mais tarde, ele ofegava. Agarrando a garganta, sufocando-se, jogou o volante à direita e pisou forte no freio. Abrindo a porta, tropeçou para fora. O ar frio lhe trouxe durante um segundo ou dois um alívio e logo voltou a asfixiar-se.

O caiu sobre os joelhos. Enquanto caía de cara sobre a neve, sua visão se fez intermitente, parecendo-se com um abajur quebrado. E, logo desapareceu.

 

Enquanto Zsadist caminhava pelo corredor para o escritório de Wrath, percebeu que sua mente estava desperta embora seu corpo fosse lento. Quando entrou na sala, todos os irmãos estavam ali e o grupo ficou em silêncio. Ignorando-os, manteve os olhos no chão e se aproximou da esquina onde geralmente se apoiava. Escutou que alguém esclarecia a garganta para começar. Provavelmente era Wrath.

Tohrment falou:

— O irmão de Bela ligou. Solicitando adiar a petição de sehclusión e pediu que ela ficasse aqui durante um par de dias.

Z levantou a cabeça.

— Por quê?

— Não deu uma razão… — os olhos de Tohr se estreitaram sobre o rosto de Z — Oh… Meu Deus.

Os outros na sala lhe olharam e houve um par de ofegos. Então, a Irmandade e Butch só o olharam fixamente.

— Que merda vocês estão olhando?

Phury lhe indicou o antigo espelho que pendurava da parede ao lado das portas duplas.

— Veja você mesmo.

Zsadist atravessou a sala, preparado para enviá-los ao inferno. Bela era a que importava…

Sua boca se afrouxou ante seu reflexo. Com uma mão instável estendeu a mão para os olhos no espelho chumbado fora da moda. Suas íris não eram negras. Eram amarelas. Como as de seu gêmeo.

— Phury? – disse brandamente — Phury… O que me aconteceu?

Quando o homem ficou detrás dele, o rosto do irmão apareceu à direita de Z. E, logo o reflexo escuro de Wrath ressaltou no espelho, todo o cabelo negro e os óculos de sol. Então, a beleza de estrela caída de Rhage. E, o boné dos Sox de Vishous. E, o cabelo curto de Tohrment. E, o nariz quebrado de Butch. Um por um estenderam a mão e o tocaram, suas grandes mãos aterrissando com cuidado sobre os ombros.

— Bem-vindo de novo, meu irmão. — sussurrou Phury.

Zsadist olhou fixamente aos homens que estavam atrás dele. E, teve o estranho pensamento de que se fraquejasse e caísse para trás… Eles o pegariam.

 

Um pouco depois que Zsadist a deixou, Bela caminhou pelo quarto e foi em sua busca. Tinha estado a ponto de ligar para seu irmão quando compreendeu que devia cuidar de seu amante antes de voltar outra vez ao drama familiar.

Finalmente, Zsadist necessitava algo dela. E muito, também. Estava quase esgotado depois de estar com ela e sabia exatamente o quão faminto estava, sabia o desesperado que estava por alimentar-se. Com tanto de seu sangue em suas veias, podia sentir sua vívida fome, e sabia, também, com precisão onde estava na casa. Tudo o que tinha que fazer era estender seus sentidos e podia senti-lo, encontrá-lo.

Bela seguiu o impulso pelo corredor das estátuas, girou a esquina e para as portas duplas na cabeceira das escadas. Vozes masculinas zangadas saíam do escritório e a de Zsadist era uma delas.

— Um inferno, que vai sair esta noite. — gritou alguém.

O tom de Zsadist foi totalmente maligno.

— Não tente me manipular, Tohr. Desgosta-me muito e perde tempo.

— Olhe-se, é um maldito esqueleto! A não ser que te alimente, ficará.

Bela entrou na sala enquanto Zsadist dizia:

— Tenta me manter aqui e verá aonde te leva irmão.

Com toda a Irmandade olhando, os dois homens estavam nariz contra nariz, olhos cruzados, mostrando as presas.

Jesus, pensou ela. Tanta agressividade.

Mas… Tohrment tinha razão. Ela não tinha sido capaz de vê-lo na escuridão do dormitório, mas aqui com a luz, Zsadist parecia meio morto. Os ossos de seu crânio abriam caminho por sua pele, a camiseta estava pendurada pelo corpo, as calças penduravam. Seus escuros olhos eram tão intensos como sempre, mas o resto dele estava em má forma.

Tohrment negou com a cabeça.

— Seja razoável…

— Ver Bela vingada. Isso é totalmente razoável.

— Não, não é. — disse ela. Sua interjeição atraiu para ela todas as cabeças.

Quando Zsadist a olhou, sua íris mudou, do brilho de seus brilhantes escuros e zangados aos quais estava acostumada, ao incandescente amarelo.

— Seus olhos. — sussurrou ela — O que lhes aconteceu…?

Wrath a cortou.

— Bela seu irmão solicitou que fique um pouco mais.

Sua surpresa foi grande, olhou da distância a Zsadist.

— O que, meu senhor?

— Não quer que levante seu sehclusión agora, quer que fique aqui.

— Por quê?

— Nem idéia. Talvez pudesse perguntar-lhe.

Deus, como se as coisas não fossem confusas o suficiente. Voltou a olhar a Zsadist, mas ele estava concentrado na janela do outro lado da sala.

— É, certamente, bem-vinda se quiser ficar. — disse Wrath.

Zsadist esticou-se, ela se perguntou como isso seria certo.

— Não quero ser vingada. — disse ela forte. Quando a cabeça de Zsadist virou-se, falou-lhe diretamente — Estou agradecida por tudo o que tem feito por mim. Mas, não quero que ninguém seja ferido tentando pegar ao lesser que me raptou. Especialmente você.

Franziu o cenho.

— Isso não é problema seu.

— O inferno se não for. — quando o imaginou indo lutar, o terror lhe anulou tudo — Deus, Zsadist… Não quero ser responsável por que saia e que te matem.

— Esse lesser vai acabar em uma caixa de pinheiro, não eu.

— Não pode dizê-lo a sério! Virgem querida, se olhe. É impossível que possa lutar. Está muito fraco.

Houve um suspiro coletivo na sala, e os olhos de Zsadist se obscureceram. Oh… Merda. Bela colocou a mão sobre a boca. Fraco. Tinha-o chamado de fraco diante de toda a Irmandade. Não existia maior insulto. Simplesmente insinuar que um homem não podia manipular a força era imperdoável na classe guerreira, não importava a base. Mas, vir e dizê-lo diante de testemunhas, era uma total castração social, uma condenação irrevogável de seu valor como homem.

Bela se aproximou rapidamente.

— Sinto muito, não pensei…

Zsadist afastou os braços de seu alcance.

— Afaste-se de mim.

Ela colocou a mão sobre a boca quando deu um passo a seu redor como se fosse uma granada. Dirigiu-se para a porta e seus passos se dirigiram para o vestíbulo. Quando ela foi capaz, chocou-se contra o olhar desaprovador dos irmãos.

— Pedirei perdão a ele imediatamente. E, escutem agora, não duvido de sua coragem ou sua força. Preocupo-me com ele por que…

Diga-lhes, pensou ela. Eles certamente entenderão.

— Eu o amo.

Bruscamente, a tensão no lugar se aliviou. Bom, a maior parte dela. Phurye virou-se, se distanciando e se dirigiu para o fogo, inclinando-se para a lareira. Sua cabeça baixa como se quisesse entrar nas chamas.

— Alegra-me o que você sente. — disse Wrath — Ele o necessita. Agora, vá buscá-lo e lhe peça perdão.

Antes de sair do escritório, Tohrment ficou frente a ela e a olhou a seu nível.

— Tente alimentá-lo enquanto esteja nisso, ok?

— Reze para que me permita isso.

 

Rehvenge rondava pela casa, indo de sala em sala andando impacientemente. Seu campo visual era vermelho, seus sentidos vivos, a bengala foi abandonada horas atrás. Com calor mais que de costume, desfez-se do pulôver de gola alta, pendurando as armas sobre sua pele nua. Sentia todo o corpo, desfrutando com todo o poder de seus músculos e ossos. E, ali havia também outras coisas. Coisas que não tinha experimentado em...

Deus, tinha passado uma década desde que se deixara levar tão longe, e por isso foi manipulado, um retrocesso deliberado na loucura, sentiu-se com o controle... O que provavelmente era uma mentira perigosa, mas não lhe importava uma merda. Havia... Libertado-se. E, queria lutar contra o inimigo com um desespero que era completamente sexual.

Também estava frustrado como o demônio.

Apareceu em uma das janelas da biblioteca. Tinha deixado a porta principal bem aberta, para estimular às visitas. Nada. Nada. Zero.

O relógio do avô soou doze vezes.

Tinha estado tão seguro de que o lesser apareceria, mas ninguém atravessou a porta, ou subiu o caminho para a casa. E, segundo as câmaras de segurança da periferia, os carros que tinham passado pela rua eram apenas os nativos da vizinhança: várias Mercedes, um Maybach, alguns Lexus SUV, quatro BMW.

Malditos. Queria a esse assassino, o suficientemente mal para gritar, e o desejo de lutar para vingar a sua família e proteger seu território fazia sentido. Sua linhagem descendia da elite de guerreiros por parte de sua mãe, e a violência estava arraigada nele, sempre esteve. Acrescentando à sua natureza a cólera pelo que sua irmã passou e o fato que tivesse que tirar urgentemente a sua mahmen da casa em plena droga de luz do dia, era como um barril de pólvora.

Pensou na Irmandade. Teria sido um bom candidato, se o tivessem recrutado antes de sua transição... Porém quem infernos já sabia o que eles faziam? Tinham passado à clandestinidade quando a civilização vampiro desmoronou, convertendo-se nesse território desconhecido, protegendo a eles mesmos mais que à raça que tinham jurado defender.

Demônios, não ajudava pensar que se eles estivessem mais atentos em seu trabalho e menos em si mesmos podiam ter impedido o seqüestro de Bela ou encontrá-la imediatamente.

Uma nova rajada de cólera o atravessou, continuou passeando pela casa com um padrão aleatório, aparecendo às janelas e portas, verificando os monitores. Finalmente decidiu que a espera sem propósito era uma tolice. Ia perder a razão vagando por ali toda a noite, e tinha negócios para resolver no centro. Conectaria os alarmes e se eles disparassem, poderia materializar-se em uma piscada.

Quando chegou a seu quarto, foi para o armário e se deteve em frente do armário fechado ao fundo. Ir trabalhar sem medicar-se não era uma opção, inclusive se significasse que teria de utilizar uma pistola em vez de um mano a mano com o lesser, se o bastardo aparecesse.

Rehv tirou uma ampola de dopamina assim como uma seringa de injeção e um torniquete. Quando preparou a agulha e envolveu a borracha ao redor de seu antebraço, cravou os olhos no fluído claro que estava a ponto de introduzir em suas veias. Os enganadores tinham mencionado que com esse tipo de dose tão alta, a paranóia era um efeito secundário em alguns vampiros. E, Rehv tinha duplicado a prescrição desde... Jesus, desde que Bela tinha sido raptada. Então, possivelmente tinha ficado louco.

Mas, então pensou na temperatura do corpo dessa coisa que parou em frente das portas. Com cinqüenta graus não estava vivo. Não os humanos.

Injetou-se, esperando até recuperar a visão e o corpo. Então, se abrigou bem, agarrou a bengala e saiu.

 

Zsadist estava à espreita no ZeroSum, completamente consciente da preocupação silenciosa de Phury surgindo ameaçadoramente atrás dele como uma névoa úmida. O bom é que descobriu que seu gêmeo era fácil de ignorar, ou todo esse desespero lhe teria deixado seco.

Débil. Está tão débil.

Sim, bem, teria que ocupar-se disso.   

— Dê-me vinte minutos. — disse a Phury — Logo se reúna comigo no beco.

Sem perder tempo. Escolheu a uma prostituta humana que tinha os cabelos recolhidos em um coque, deu-lhe duzentos dólares, e virtualmente a empurrou fora do clube. Não parecia preocupada com seu rosto, seu tamanho ou pela maneira em que a levava. Tinha a vista perdida, estava tão alienada.

Quando estavam no beco, ria muito alto.

— Como quer? — disse, fazendo um pequeno baile em seus saltos muito altos. Tropeçou, então pôs as mãos sobre sua cabeça e se espreguiçou no frio — Parece-me que rude. O que está bom para mim.

Virou-a de cara aos tijolos e a segurou no lugar pela nuca. Quando riu nervosamente e fingiu lutar, a dominou, pensando nas inumeráveis humanas que tinha chupado durante anos. Quão limpa teria deixado suas memórias? Despertavam com pesadelos sobre ele quando seu subconsciente se removia?

Viciado, pensou. Era um viciado. Igual à Mistress.

A única diferença era que ele não tinha escolha.

Ou sim? Podia ter usado Bela esta noite, ela o desejava. Mas, se não se alimentava dela, era só porque ia ser mais duro para ambos deixá-la partir. E, era para ali que se dirigiam.

Ela não queria ser vingada. Não poderia descansar enquanto esse lesser ocupasse um espaço na terra...

Mais que isso, não podia suportar olhar Bela destruindo-se tratando de amar a um macho que não lhe convinha. Tinha que obrigá-la a afastar-se dele. Queria que estivesse feliz e a salvo, queria seus mil anos despertando com um tranqüilo sorriso em sua face. Queria-a bem emparelhada, com um macho do qual pudesse sentir-se orgulhosa.

Apesar da união que teve com ela, queria que conhecesse mais alegria da que teria com ele.

A prostituta rebolou.

— Faremos ou o que, queridinho? Porque estou um pouco excitada.

Z descobriu as presas e levantou a cabeça, preparando-se para o golpe.

— Zsadist... Não!

A voz de Bela veio a sua cabeça. Estava de pé no meio do beco, a uns quinze passos aproximadamente. Seus olhos estavam horrorizados, a boca aberta.

—Não. — disse roucamente — Não… O faça.

Seu primeiro impulso foi levá-la de volta à maldita casa e lhe gritar por sair. O segundo foi que tinha a oportunidade de cortar os laços entre eles. Seria uma manobra cirúrgica, com muita dor envolta, mas ela se curaria da amputação. Embora ele não.

A prostituta olhou por cima do ombro, então riu um gorjeio alto e feliz.

— Vai olhar? Porque isso te custará cinqüenta paus a mais.

Bela colocou a mão na garganta quando Zsadist segurou a humana entre seu corpo e a parede de tijolos do edifício. A dor em seu peito era tão grande que não podia respirar. Vê-lo tão perto de outra fêmea... Uma humana, uma prostituta, além disso... E, com o propósito de alimentar-se? Depois de tudo o que tinham compartilhado a noite anterior?

— Por favor. — disse — Utilize-Me. Tome. Não faça isto. — girou à fêmea até que ficaram frente a frente, então colocou um braço através do peito da mulher. A prostituta riu e se ondulou contra ele, esfregando seu corpo no seu, os quadris movendo-se em um sinuoso serpenteio.

Bela estendeu as mãos no ar gelado.

— Amo você. Não tive a intenção de te insultar frente aos Irmãos. Por favor, não faça isto em represália.

Os olhos de Zsadist olharam os seus. O sofrimento se projetava neles, uma absoluta desolação, mas deixou suas presas à descoberta... Então, afundou-as no pescoço da mulher. Bela gemeu enquanto ele tragava, a fêmea humana ria outra vez com um som rítmico e selvagem.

Bela cambaleou para trás. Enquanto seus olhos não se separaram dos dela, inclusive quando reposicionou a dentada e bebeu mais. Incapaz de olhar nem um minuto mais, se desmaterializou no único lugar no qual podia pensar.

A casa de sua família.

 

— Rehvenge quer te ver.

Phury olhou por cima do copo de água com gás que tinha pedido. Um dos enormes seguranças do ZeroSum se dirigia ele, o homem gotejava uma silenciosa ameaça.

— Por alguma razão em especial?

— Você é um cliente importante.

— Então, deveria me deixar sozinho.

— Isso é um não?

Phury arqueou uma sobrancelha.

— Sim, isso é um não.

O segurança desapareceu e retornou com reforços, dois tipos tão grandes como ele.

— Rehvenge quer lhe ver.

— Sim, já me disse isso.

— Agora.

A única razão pela qual Phury deslizou para fora da cabine foi que o trio parecia preparado para levar-lhe à força, e não necessitava esse tipo de atenção que viria quando os golpeasse.

Imediatamente ao entrar no escritório de Rehvenge, soube que o varão estava em um perigoso estado de ânimo. Não é que isso fosse novo.

— Deixem-nos. — murmurou o vampiro detrás de sua escrivaninha.

Quando a sala ficou vazia, sentou-se de novo na cadeira, ardilosos olhos violetas. O instinto fez Phury movesse com cuidado uma mão a suas costas, perto da adaga que levava no cinto.

— Estive pensando sobre nosso último encontro. — disse Rehvenge, fazendo um templo com os longos dedos. A luz sobre ele ressaltava as maçãs do rosto altas, a dura mandíbula e os largos ombros. Havia cortado a crista, a franja negra não tinha mais de cinco centímetros em seu crânio — Bom... Estive pensando sobre o fato de que conhece meu pequeno segredo. Sinto-me exposto.

Phury permaneceu em silêncio, perguntando-se aonde infernos conduziria tudo isso.

Revhvenge impulsionou-se para trás na cadeira cruzando as pernas, o tornozelo no joelho. Involuntariamente lhe abriu o caro traje, revelando um amplo peito.

— Pode imaginar como me sinto. Como me tem.

— Prove algum Ambien. Isso te porá fora de combate.

— Ou posso acender um montão de fumaça vermelha. Como você, não? — o macho passou uma mão sobre a crista, curvou os lábios em um sorriso matreiro — Bom, realmente não me sinto seguro.

Que mentira. O tipo se mantinha rodeado de seguranças que eram tão preparados como mortíferos. E, era definitivamente alguém que poderia se defender por si mesmo. Além disso, os sympath tinham vantagens em um conflito que ninguém mais tinha.

Rehvenge deixou de sorrir.

— Estava pensando que possivelmente poderia admitir seu segredo. Então, estaríamos empatados.

— Não tenho nenhum.

— Tolice... Irmão. — a boca de Rehvenge se curvou de novo nas esquinas, mas seus olhos eram de um frio púrpuro — Porque é um membro da Irmandade. Você e esses grandes machos que vêm aqui. Um com cavanhaque que bebe minha vodca. O tipo com o rosto destroçado que chupa minhas prostitutas. Não sei o que dizer do humano que sempre vem com você.

Phury olhou dura e fixamente através do escritório.

— Está violando todos os costumes sociais que nossa espécie tem. Mas, de todas as formas, por que esperaria um bom comportamento de um traficante de drogas?

— E, os viciados sempre mentem. Então, a pergunta foi inútil, não?

— Vai com cuidado, amigo. — disse Phury em voz baixa.

— Ou você o que? Está dizendo que é um Irmão, então melhor me por em forma antes que me faça mal?

— A saúde nunca deveria ser dada por suposta.

— Por que não admite? Ou os Irmãos têm medo que a raça a qual estão falhando em proteger se rebele? Estão se escondendo de todos nós por causa do trabalho de merda que estão fazendo ultimamente?

Phury partiu.

— Não sei do que está falando.

— Sobre a fumaça vermelha. — a voz de Rehvenge foi cortante como uma faca — Fiquei justamente sem ela.

Um brilho de ansiedade se apertou no peito de Phury. Olhou sobre seu ombro.

— Há outros traficantes.

— Divirta-se os encontrando.

Phury pôs a mão na fechadura. Quando não girou, voltou o olhar através da sala. Rehvenge lhe observava, tranqüilo como um gato. Prendendo-o no escritório contra sua vontade.

Phury apertou com força e puxou, rompendo em seguida a peça de latão. Quando a porta se abriu pendurada, lançou o trinco sobre a escrivaninha de Rehvenge.

— Acredito que vai ter que arrumar isto.

Deu dois passos antes que uma mão lhe agarrasse o braço. O rosto de Rehvenge era duro como uma pedra, assim como seu agarro. Com a piscada de um olho violeta, algo cintilou entre eles, algum tipo de câmbio... Uma corrente.

De um nada, Phury sentiu uma maré entristecedora de culpabilidade, como se alguém tivesse levantado a tampa de suas mais profundas preocupações e medos pelo futuro da raça. Tinha que responder a isso, não podia suportar a pressão.

De repente, encontrou a si mesmo falando rapidamente.

— Vivemos e morremos por nosso povo. A espécie é nossa primeira e única preocupação. Brigamos cada noite e contamos as jarras dos lessers que matamos. O sigilo é a maneira em que protegemos aos civis. Quanto menos saibam sobre nós, mais seguros estão. É por isso que desaparecemos.

Logo que disse essas palavras, amaldiçoou.

Maldito, nunca se pode confiar em um symphath, pensou. Ou nos sentimentos que tem enquanto está entre eles.

— Solte-me, comedor de pecados. — rangeu os dentes — E, deixa de foder minha cabeça.

O duro agarro se dissolveu e Rehvenge se inclinou um pouco, uma medida de respeito que lhe sobressaltou.

— Bom, como sabe, guerreiro... Um carregamento de fumaça vermelha acaba de chegar.

O varão passou perto dele e caminhou lentamente na multidão, a crista, os largos ombros, sua aura se perdia entre as pessoas de cujos vícios ele se alimentava.

 

Bela tomou forma diante da casa familiar. As luzes exteriores estavam apagadas, o que era estranho, mas estava chorando, assim de qualquer forma não era que estivesse vendo muito. Passou para dentro desativando o alarme, e entrou no vestíbulo.

Como Zsadist podia lhe fazer isto? Como doía, ele bem pôde ter sexo com ela. Deus, sempre soube que era cruel, mas isso tinha sido muito, inclusive para ele...

Porém não fora em represália pelo desprezo social, não? Não, isso era muito mesquinho. Suspeitava que tivesse mordido a essa humana como uma declaração de ruptura. Porque queria lhe enviar uma mensagem, uma total e inconfundível mensagem de que Bela não era bem-vinda em sua vida.

Bom, pois funcionou.

Diminuída, derrotada, olhou ao redor do vestíbulo. Tudo estava igual. O papel de parede azul claro, o chão de mármore negro, o cintilante lustre no alto. Era como voltar no tempo. Tinha crescido nesta casa, o último bebê que sua mãe tinha dado à luz, a irmã mimada de um irmão que a queria, a filha de um pai que nunca conheceu.

Espere um minuto. Estava tranqüilo. Muito tranqüilo.

— Mahmen? Lahni? — silêncio. Enxugou as lágrimas — Lahni?

Onde estava o doggen? Em sua mãe? Sabia que Rehv estaria fora fazendo o que fosse que fazia durante as noites, não esperava vê-lo. Mas, os outros sempre estavam em casa.

Bela caminhou para o espaço da escada e gritou.

— Mahmen?

Subiu, correu para o quarto de sua mãe. Os lençóis da cama estavam jogados, tudo revolto... Algo que a doggen normalmente não teria consentido. Com um sentimento de temor, desceu ao vestíbulo por volta do quarto de Rehvenge. A cama também estava desalinhada, os lençóis do Frette[22] e os montões e montões de edredons de pele que sempre utilizava jogados em um lado. A desordem era insólita.

A casa não era segura. Era por isso que Rehv tinha insistido que ficasse com a Irmandade.

Bela correu pelo corredor e desceu as escadas. Precisava estar fora para desmaterializar-se, porque as paredes da mansão estavam revestidas de aço.

Saiu rapidamente pela porta... Sem saber aonde ir. Tampouco conhecia a direção da casa refúgio de seu irmão, e era ali onde estariam sua mahmen e os doggen. Não podia perder tempo lhe chamando, nem na casa.

Não tinha escolha. Tinha o coração partido, estava zangada, exausta e a idéia de retornar à mansão da Irmandade o fazia pior. Mas, não era estúpida. Fechou os olhos e retornou à mansão dos Irmãos.

 

Zsadist terminou rapidamente com a prostituta, logo rastreou Bela. Porque seu sangue estava nela, podia sentir sua materialização em algum lugar para sudeste. Triangulou seu destino na área de Bellman Road e a Avenida Thorne: um bairro muito luxuoso. Obviamente tinha ido a sua casa.

Seus instintos se acenderam, porque a chamada de seu irmão tinha sido muito estranha. As possibilidades eram que algo ia mal ali. Por que o varão quereria que ficasse com a Irmandade depois de ter estado a ponto de condená-la a sehclusion?

Justo quando Z ia atrás dela, sentiu-a viajar outra vez. Esta vez, aterrissou fora da mansão da Irmandade. E, ficou ali.

Graças a Deus. No momento não tinha que preocupar-se com sua segurança.

De repente, a porta lateral do clube abriu, e Phury saiu vendo-se decididamente sério.

— Alimentaste-te?

— Sim.

— Então deveríamos ir para casa e esperar que a força nos golpeie.

— Já o fez. — de certo modo.

— Z.

Phury parou de falar, e ambos viraram rapidamente as cabeças para a Rua Trade. Na entrada do beco, três homens grisalhos vestidos de negro andavam em formação de um. Os lessers ficaram olhando fixamente como se tivessem encontrado um branco aproximando-se dele.

Sem dizer uma palavra, Z e Phury saíram em silenciosa carreira, movendo-se ligeiramente através da neve recém caída. Logo chegaram à Rua Trade e giraram, os lessers não tinham encontrado a nenhuma vítima, mas se reuniram com outro grupo... Dois dos quais tinham o cabelo castanho.

Z pôs a mão no punho de uma adaga e dirigiu os olhos ao par com as cabeças escuras. Querida Virgem do Fade, faz com que um deles seja o que estava procurando.

— Controle-se, Z. — gemeu Phury enquanto tirava o celular — Permanece quieto, vou pedir reforços.

— O que te parece chamar... — desencapou a adaga — Enquanto mato?

Z saiu, mantendo a faca na coxa, porque era uma área de alta exposição com humanos ao redor.

Os lesser o viram imediatamente, e se dividiram em postura de ataque, com os joelhos dobrados, os braços para cima. Para encurralar aos bastardos, correu em um grande círculo ao redor, e eles seguiram seu movimento, dando a volta, unindo-se em triângulo frente a ele. Quando voltou para as sombras, seguiram-no como uma unidade.

Depois que a escuridão tragasse a todos, Zsadist levantou alto sua adaga negra, descobriu as presas, e atacou. Rogava como o inferno que quando o violento baile e canção acabassem, um dos lessers com cabelos escuros tivesse as raízes brancas.

 

O amanhecer chegou justo quando U se aproximava da cabana e abria a porta. Freou enquanto entrava, saboreando o momento. O quartel general era dele, converteu-se no Fore-lesser. O já não o era.

U não podia acreditar que tivesse ido e o tivesse feito. Não podia acreditar que teve testículos para pedir a Ômega uma mudança de liderança. Na realidade não podia acreditar que o professor estivesse de acordo com ele e chamasse O para casa.

A liderança não estava na natureza de U, mas não teve outra opção, depois de tudo que ocorreu ontem com os Betas vagabundos, as detenções e as insurgências, a anarquia total entre os assassinos se aproximava rápida e dura. Enquanto isso, O estava no topo sem fazer nada. Inclusive, parecia zangado de ter que cumprir seu trabalho.

U estava entre a espada e a parede. Tinha pertencido à Sociedade durante quase dois séculos, e maldito fosse se via que a coisa se convertia em uma confederação desorganizada de incompetentes, mercenários assassinos dispersados que ocasionalmente iam atrás dos vampiros. Pelo amor de Deus, tinham esquecido quem se supunha fosse seu intermediário, e fazia três fodidos dias desde que O tinha deixado deslizar as coisas.

Não, a Sociedade devia ser conduzida a ter um objetivo, com mão dura durante um tempo. Assim, O teve que ser substituído.

U sentou na vasta mesa e ligou o notebook. A primeira coisa que iria fazer seria convocar uma assembléia geral e fazer alarde da força. Isso era a única coisa que O tinha feito bem. Os outros lessers lhe temiam.

U confeccionou uma lista dos Betas para encontrar um para sacrificar, como exemplo, mas antes de ir tão longe, foi imediatamente informado de umas desagradáveis notícias de última hora. A noite anterior uma sangrenta briga teve lugar no centro. Dois membros da Irmandade contra sete assassinos. Felizmente, parecia que os dois Irmãos foram feridos. Mas, só um dos lessers sobreviveu, por isso perderam mais membros da Sociedade.

Homem, o recrutamento ia ser importante. Mas, como diabo encontraria tempo? Primeiro, tomaria as rédeas.

U esfregou os olhos, pensado no trabalho que tinha pela frente.

Bem-vindo ao trabalho de Fore-lesser, pensou enquanto começava a digitar no notebook.

 

Bela olhou Rhage encolerizada, sem se importar que esse macho tivesse sessenta e nove quilos e vinte centímetros a mais que ela.

Infelizmente, o Irmão não parecia se importar que estivesse de saco cheio. E, não se moveu da porta que bloqueava.

— Mas, quero lhe ver.

— Agora não é o melhor momento, Bela.

— Quão sério é o dano?

— Estas são coisas da Irmandade. — disse Rhage brandamente — Esquece isso. Faremos-lhe saber o que acontece.

— Oh, certeza que o farão. Igual a quando me disseram que estava ferido. Pelo amor de Deus, tive que me inteirar pelo Fritz.

Nesse momento, a porta se entreabriu.

Zsadist estava mais sério do que alguma vez o tinha visto, e estava gravemente marcado. Um de seus olhos estava inchado e fechado, um lábio partido, e tinha o braço em uma tipóia. Pequenos cortes aleatórios por todo seu pescoço e crânio, como se tivesse saltado sobre pedregulhos ou algo do estilo.

Enquanto ela fazia uma careta de dor, ele a olhou de cima a baixo. Os olhos brilharam luzes de alerta do negro ao amarelo, mas então olhou para Rhage lhe falando rapidamente.

— Finalmente Phury está descansando. — inclinou a cabeça para Bela — Veio sentar-se a seu lado, deixa-a. Ele relaxará com sua presença.

Zsadist virou-se. Enquanto caminhava pelo vestíbulo, coxeava, a perna esquerda mancava atrás dele como se sua coxa não estivesse bem.

Com uma maldição, Bela foi atrás dele, embora ela não tivesse nem idéia do por que se ofendia. Não queria aceitar nada dela, nem seu sangue, nem seu amor... Certamente não sua simpatia. Não queria nenhuma maldita coisa dela.

Bom, exceto sua partida.

Antes que o alcançasse, Zsadist se deteve abruptamente e olhou para trás.

— Se Phury precisar alimentar-se, deixará que ele tome de sua veia?

Ela ficou gelada. Não só bebia de outra, lhe resultava fácil compartilhá-la com seu gêmeo. Um pó qualquer, nada especial. Jesus, ela estava tão disponível? Nada do que compartilharam tinha significado algo para ele?

— Deixará? — os olhos recém amarelos de Zsadist se estreitaram em seu rosto — Bela?

— Sim. — disse em voz baixa — Cuidarei dele.

— Obrigado.

— Acredito que agora mesmo te desprezo.

— Já era hora.

Girou sobre seus tornozelos, preparada para ir ao quarto de Phury, quando Zsadist lhe disse brandamente.

— Já tem o período?

Oh, fenomenal, outro constrangimento. Queria saber se a tinha deixado grávida. Ele ficaria aliviado, sem dúvida, quando ouvisse as boas notícias.

Olhou-o sobre o ombro.

— Tive cólica. Não tem que preocupar-se com nada.

Ele assentiu.

Antes que pudesse ir-se, cravou-lhe.

— Diga-me algo. Se estivesse grávida, você emparelharia comigo?

— Proveria a você e a seu bebê até que outro macho o fizesse.

— Meu bebê... Como se não fosse tua metade? — quando não respondeu lhe provocou — Não o reconheceria?

Sua única resposta foi cruzar os braços sobre o peito.

Ela negou com a cabeça.

— Céus... Realmente é frio até a medula, não?

Olhou a ela fixamente durante muito tempo.

— Nunca te pedi nada, não?

— Oh, não. Nunca o fez. — deixou escapar uma forte risada — Deus lhe proíbe que seja acessível por isso.

— Cuide de Phury. Ele precisa.

— Você também.

— Não me desafie dizendo o que preciso.

Sem esperar resposta partiu pelo vestíbulo, para a porta de Phury, empurrou Rhage fora, e se fechou com o gêmeo de Zsadist. Estava tão de saco cheio que demorou um segundo para dar-se conta que estava escuro e que o quarto cheirava a fumaça vermelha, um delicioso e achocolatado perfume.

— Quem é? — disse Phury roucamente da cama.

Esclareceu-se garganta.

— Bela.

Um desigual suspiro se levantou no ar.

— Olá.

— Olá. Como te encontra?

— Francamente animado, obrigado por perguntar.

Sorriu um pouco até que chegou a sua altura. Com a visão noturna, observou que estava convexo sobre as mantas, levando só um par de boxers. Tinha gaze ao redor de sua barriga e estava coberto de machucados. E… Oh, Deus… Sua perna.

— Não se preocupe. — disse secamente — Não tenho esse conjunto de pé e tíbia há um século. Na realidade, estou bem. Simplesmente algum dano estético.

— Então, por que tem essa atadura como uma bandagem?

— Faz-me o traseiro menor.

Ela riu. Tinha-o esperado meio morto, e parecia como se tivesse estado em um inferno de briga. Mas, não estava às portas da morte.

— O que aconteceu? — perguntou.

— Tenho um ferimento no flanco.

— Com o que?

— Com uma faca.

Agora, isso a fez cambalear. Possivelmente só parecia bem.

— Estou bem, Bela. Honestamente. Com outras seis horas estarei em condições de sair. — houve um curto silêncio — O que está acontecendo? Está bem?

— Só queria ver como estava.

— Bom… Estou bem.

— E, ah… Precisa se alimentar?

Esticou-se, logo abruptamente alcançou a colcha colocando-a sobre os quadris. Ela se perguntou por que estava atuando como se tivesse algo que esconder… Oh, certo. Uau!

Pela primeira vez o examinou como um macho. Realmente era bonito, com esse primoroso e exuberante cabelo, esse rosto classicamente bonito. Seu corpo era espetacular, coberto com o tipo de músculo duro do que seu gêmeo carecia. Mas, não importava o quanto sua aparência fosse agradável, ele não era o macho para ela.

Era uma lástima, pensou. Para ambos. Deus, como odiava lhe machucar.

— Necessita-o? — disse — Precisa se alimentar?

— Está-te oferecendo?

Ela tragou.

— Sim. Faço-o. Quer… Posso te dar minha veia?

Uma escura fragrância se estendeu pelo quarto, tão penetrante que eclipsou o aroma da fumaça vermelha: o aroma era o denso e rico perfume da fome de um macho. A fome de Phury por ela.

Bela fechou os olhos, rogando que se ele aceitasse pudesse passar por isso sem chorar.

 

Mais tarde, nesse mesmo dia, enquanto o sol descia, Rehvenge ficou olhando os tecidos de funeral que penduravam do retrato de sua irmã. Quando soou o telefone, olhou o identificador de chamadas e o abriu.

— Bela?

— Como sabe...

— Que é você? Número difícil de rastrear. — impossível de rastrear, se este telefone não pode localizar a fonte. Ao menos ela ainda estava a salvo no recinto da Irmandade, pensou. Onde quer que esteja — Alegra-me que ligue para mim.

— Ontem de noite fui a casa.

A mão de Rehv esmagou o telefone.

— Ontem de noite? Que diabos! Não queria que viesse…

Os soluços provinham do telefone, grandes e miseráveis soluços. O sofrimento silenciou suas palavras, sua cólera e fôlego.

— Bela? O que acontece? Bela? Bela! Oh, Jesus… Algum desses Irmãos te feriu?

— Não. — aspirando profundamente — E, não grite comigo. Não posso suportar. Terminei com você e os gritos. Nenhum mais.

Inspirou profundamente, medindo seu temperamento.

— O que aconteceu?

— Quando posso voltar para casa?

— Fale comigo.

O silêncio se alongou entre eles. Claramente, sua irmã já não confiava nele. Merda… Podia culpar a ela?

— Bela, por favor. Sinto-o… Fale comigo. — quando não houve resposta, disse — Hei… — se esclareceu garganta — Danifiquei tanto as coisas entre nós?

— Quando posso voltar para casa?

— Bela...

— Me responda, meu irmão.

— Não sei.

— Então, quero ir à casa de segurança.

— Não pode. Disse-lhe isso faz tempo, se houver um problema, não quero que você e mahmen estejam no mesmo lugar. Agora, por que quer sair dai? Faz só um dia que não queria ir a nenhum outro lugar.

Houve uma longa pausa.

— Terminei o cio.

Rehv sentiu o ar escapar dos pulmões e ficar preso na cavidade do peito. Fechou os olhos.

— Esteve com um deles?

— Sim.

Sentar-se era uma maldita boa idéia agora, mas não havia nenhuma cadeira perto. Apoiou-se na bengala e se ajoelhou no tapete Aubusson. Em frente a seu retrato.

— Está… Bem?

— Sim.

— E, ele te reclamou.

— Não.

— Perdão?

— Não me quer.

Rehv deixou as presas descobertas.

— Está grávida?

— Não.

Graças a Deus.

— Quem foi?

— Não diria mesmo que custasse minha vida, Rehv. Agora, quero sair daqui.

Cristo… Ela em pleno cio em um recinto cheio de varões… Cheio de guerreiros com profundos desejos. E, o Rei Cego… Merda.

— Bela, me diga que só foi um. Diga-me que foi só um e que não te fez mal.

— Por quê? Porque, tem medo de ter a uma prostituta por irmã? Assustado de que a glymera me rechace outra vez?

— Que se foda a glymera. É porque te amo… E, não suportaria pensar que está sendo usada pelos irmãos enquanto está tão vulnerável.

Seguiu uma pausa. Como ele esperava, a garganta ardia tanto que se sentia como se tivesse engolido uma caixa de tachinhas.

— Só foi um, e o amo. — disse — Também pode saber que me deixou escolher entre ele ou ser arrastada a inconsciência. Escolhi a ele. Mas, nunca te direi seu nome. Francamente, não quero falar dele nunca mais. Agora, quando posso voltar para casa?

Certo. Isso era bom. Ao menos poderia tirá-la dali.

— Só me deixe encontrar um lugar seguro. Ligue-me em trinta minutos.

— Espere, Rehvenge, quero que anule a petição de aihslamiento. Se fizer isso, voluntariamente me submeterei aos pormenores de segurança cada vez que saia, se isto te faz sentir melhor. Temos um trato?

Colocou as mãos sobre os olhos.

— Rehvenge? Diz que me ama. Prove. Rescinde essa petição e prometo que trabalharemos juntos... Rehvenge?

Deixou cair o braço e elevou o olhar para seu retrato. Tão bela, tão pura. Quereria conservá-la assim para sempre se pudesse, mas já não era uma menina. E, era muito mais resistente e forte do que ele tinha imaginado. Para ter vivido o que ela viveu, para ter sobrevivido.

— De acordo… O anularei.

— Ligarei para você em meia hora.

 

A noite caiu e a luz transpassava a cabana. U não saiu do computador durante todo o dia. Entre correios e o celular, tinha localizado aos vinte e oito assassinos restantes em Caldwell e programado uma assembléia geral para meia-noite. Nesse momento, ia reorganizar os esquadrões e atribuir a cinco homens o trabalho de recrutamento.

Depois da reunião desta noite, seriam atribuídos apenas dois esquadrões Betas no centro. Os vampiros civis não apareciam nos bares que eles freqüentavam, porque a muitos deles ele tinham persuadido a abandonar os arredores. Era tempo de mudar de lugar.

Depois de algumas idéias, decidiu enviar ao resto de seus homens às áreas residenciais. Os vampiros estavam ativos de noite. Em suas casas. Era realmente um problema encontrá-los entre os humanos…

— É como uma pequena cagada.

U saltou da cadeira.

O estava de pé e nu na porta principal da cabana. Tinha o peito coberto de marcas de garras, como se algo o tivesse agarrado fortemente, e seu rosto estava torcido, o cabelo desordenado. Parecia bem usado e de saco cheio.

E, quando os trancou com um golpe, U era incapaz de mover-se. Nenhum de seus longos músculos se rendeu se ajoelhado à defensiva e gritando, e isso lhe disse o que precisava saber sobre quem era o Fore-lesser agora. Unicamente o assassino superior tinha essa aula de controle físico sobre seus subordinados.

— Esqueceu duas coisas importantes. — O com indiferença tirou uma faca da capa que estava pendurada na parede — Um, Ômega é muito inconstante. E, dois, tem uma pessoal predileção por mim. Realmente não me custou muito trabalho retornar ao grupo.

Quando a faca foi para ele, U lutou, tratou de correr, queria gritar.

— Assim, dê boa noite, U. E, dê a Ômega um enorme “olá” quando o vir. Está esperando você.

 

As seis em ponto. Quase hora de partir.

Bela olhou ao redor do quarto de hóspedes em que estava e pensou que tinha recolhido tudo o que havia trazido. Não tinha muito, para começar, e de toda forma, tinha-o transladado tudo do quarto de Zsadist a noite anterior. A maioria de suas coisas estava ainda na mala L.L. Bean.

Fritz viria pegar suas coisas a qualquer momento, e as transladaria até Havers e Marissa. Graças a Deus que o par de irmãos estava disposto a conceder um favor a Rehvenge e acolhê-la. Sua mansão, e a clínica, eram realmente uma fortaleza. Inclusive Rehv ficou satisfeito de que estaria a salvo.

Logo, às seis e meia, se desmaterializaria para lá, e se reuniria com Rehv.

Compulsivamente, entrou no banheiro e revisou atrás da cortina da ducha de novo para assegurar-se de que tinha o xampu. Nada ali. E, tampouco tinha deixado nada no dormitório. Ou na casa, de fato. Quando se fosse, ninguém nunca notaria que estivera na mansão. Ninguém notaria...

Oh, Cristo. Pare já com isso, pensou.

Houve uma batida na porta. Caminhou para lá e a abriu.

— Olá, Fritz, minha mala está em cima da…

Zsadist estava de pé no vestíbulo, vestido para brigar. Couros. Pistolas. Espadas.

Ela saltou para trás.

— O que está fazendo aqui?

Entrou no quarto sem dizer nada. Mas Jesus, parecia preparado para jogar-se sobre algo.

— Não necessito de um guarda armado. — disse Bela, tentando manter a calma — Quero dizer, se isso for tudo. Vou me desmaterializar ali, e a clínica é perfeitamente segura.

Zsadist não disse uma palavra. Só a olhava fixamente, todo poder e força masculina.

— Veio me ameaçar? — disse bruscamente — Ou há uma razão para isto?

Quando fechou a porta atrás dele, seu coração começou a pulsar mais forte. Especialmente quando ouviu que a fechava com chave.

Retrocedeu até ficar contra a cama.

— O que quer, Zsadist?

Foi para ela como se a esquadrinhasse, com os olhos amarelos obcecados. Seu corpo era uma completa espiral de tensão e de repente não precisou ser um gênio para adivinhar que tipo de liberação estava procurando.

— Não me diga que veio aqui para te emparelhar.

— De acordo, não o fiz. — sua voz não foi nada a não ser um grunhido profundo e ronronante

Tirou a mão. Bem, isso marcará a diferença. Ele a podia tomar se quisesse, tanto se ela dissesse que sim ou que não. Só... Que como uma idiota não o rechaçaria. Até atrás de toda a merda que lhe tinha jogado, ainda o desejava. Maldita fosse.

— Não farei sexo com você.

— Não estou aqui por mim. — disse chegando próximo a ela.

Oh, Deus. Seu perfume… Seu corpo… Tão perto. Ia ficar louca.

— Afaste-se de mim. Já não te desejo mais.

— Sim, deseja. Posso cheirá-lo. — estendeu uma mão e tocou seu pescoço, percorrendo com o dedo indicador sua jugular — E, posso sentir o batimento do coração desta veia.

— Odiarei você se o fizer.

— Já me odeia.

Se só fosse verdade…

— Zsadist, de maneira nenhuma quero me deitar com você.

Inclinou-se até que a boca ficou em sua orelha.

— Não estou pedindo isto.

— Então o que quer? — empurrando-o pelos ombros. Sem resultado — Maldito seja, por que está fazendo isto?

— Porque venho do quarto de meu gêmeo.

— Perdão?

— Não o deixou beber de você. — a boca de Zsadist roçou seu pescoço. Então, retrocedeu e a olhou fixamente — Não o aceitará nenhuma vez, não? Nunca estará com Phury, não importa o quanto correto seja para você socialmente, pessoalmente.

— Zsadist, por todos os infernos, me deixe sozinha...

— Não estará com meu gêmeo. Assim, como nunca voltará aqui, verdade?

Exalou rapidamente.

— Não, não voltarei.

— Por isso tive que vir.

A fúria ferveu nela, crescendo até converter-se em desejo de sexo.

— Não compreendo. Aproveitasse cada oportunidade para me afastar. Recorda o pequeno episódio no beco na noite passada? Bebeu dela para me mandar passear, não? Não foi pelo comentário que fiz.

— Bela...

— E, logo quer que fique com seu irmão. Olhe, sei que não me quer, mas é consciente do que sinto por você. Tem alguma idéia do que é ouvir do macho que você ama que alimente a outro?

Deixou cair à mão. Retrocedendo.

— Tem razão. — esfregou o rosto — Não deveria estar aqui, mas não posso te deixar partir sem… No mais profundo de minha mente sempre pensei que retornaria. Sabe, para estar com Phury. Sempre pensei que te veria outra vez, embora fosse à distância.

Que Deus a ajudasse, estava farta disto.

— Por que infernos te importarias com me ver ou não?

Só negou com a cabeça e se voltou para a porta. O que a fez zangar-se ainda mais.

— Responda-me! Por que te importa se alguma vez retornasse?

Tinha a mão no pomo da fechadura enquanto lhe gritava.

— Por que te importa?

— Não me importa.

Lançou-se através do quarto com a intenção de lhe pegar, arranhá-lo, lhe machucar, estava tão frustrada. Mas, ele se virou e em vez de lhe esbofetear, lhe agarrou a cabeça e o arrastou para sua boca. Seus braços se fecharam ao redor dela, abraçando-a tão forte que não pode respirar. Enquanto a língua entrava em sua boca, levantou-a e se dirigiu para a cama.

O sexo feroz e desesperado era uma má idéia. Uma idéia muito ruim.

Estavam enredados no colchão em um segundo. Tirou-lhe as calças e estava a ponto de rasgar as calcinhas com os dentes, quando uma batida soou na porta.

A voz de Fritz se ouviu através dos painéis, agradável e respeitosa.

— Senhora, se as malas estiverem preparadas…

— Agora não, Fritz. — respondeu Zsadist com voz gutural. Deixou descobertas as presas, cortando a tira de seda entre as coxas, lambendo seu centro — Droga...

A língua desceu outra vez lambendo-a, gemendo. Ela mordeu o lábio para não gritar e lhe agarrando a cabeça girou seus quadris.

— Oh, amo, peço-lhe perdão. Pensei que você estava no centro de treinamento…

— Mais tarde, Fritz.

— Certamente. Quanto tempo…

O resto das palavras do doggen foram cortadas pelo erótico grunhido de Zsadist que disse a Fritz tudo o que precisava saber. E, provavelmente um pouco mais.

— Oh… Meu Deus. Perdoe-me, amo. Não retornarei para buscar suas coisas até que, ah… Logo.

A língua de Zsadist fazia círculos ao redor, enquanto as mãos prendiam suas coxas. Levou-a duramente, todo o tempo sussurrando coisas quentes, coisas famintas contra sua carne secreta. Ela se empurrou contra sua boca, arqueando-se. Foi tão rude, tão voraz… Ficou destroçada. Provocava-a alongando o orgasmo, mantendo-a nesse estado como se estivesse desesperado para que não se terminasse.

O silêncio do depois a deixou tão fria como a liberação de seu centro na boca dele. Elevou-se entre suas pernas, passando a mão por seus lábios. Quando a olhou, lambeu a palma da mão, apanhando cada bocado do que tinha retirado de seu rosto.

— Vai parar agora, não? — disse rudemente.

— Disse-lhe isso. Não vim aqui por sexo. Só queria isto. Só queria te ter contra minha boca uma última vez.

— Bastardo egoísta. — e quanto irônico era lhe chamar disto por não fazer amor com ela. Isto, Deus, era tão horrível.

Enquanto ela alcançava os jeans, ele fez um suave som no fundo de sua garganta.

— Acredita que não mataria para estar dentro de você neste instante?

— Vai para o inferno, Zsadist. Vai diretamente ali…

Moveu-se tão rápido como um relâmpago, baixando-a duramente contra a cama, esmagando-a com seu peso.

— Estou no inferno. — gemeu, pondo os quadris entre as suas coxas. Balançou contra seu centro, sua maciça ereção empurrava contra o suave lugar no qual esteve sua boca. Com uma maldição retrocedeu, abriu ao zíper de suas calças… E, penetrou nela, esticando-a tanto que quase doía. Ela gritou com a invasão, mas elevou os quadris para que pudesse penetrá-la ainda mais.

Zsadist lhe agarrou os joelhos e lhe esticou as pernas para cima, fazendo-a uma bola embaixo dele, logo bombeou contra ela, seu corpo de guerreiro não lhe regulou nada. Ela se agarrou a seu pescoço, o sangue fluindo, perdida em um ritmo demolidor. Isto era o que sempre tinha pensado que seria com ele. Forte, duro, selvagem… Rude. Enquanto tinha outro orgasmo, ele rugiu, explodindo nela. Jorros quentes a encheram, então se esparramaram em suas coxas como se não deixasse de bombear.

Quando finalmente paralisou sobre ela, soltou-lhe as pernas, respirando contra seu pescoço.

— Oh, Deus… Não posso acreditar que isto tenha acontecido. — disse finalmente.

— Estou bastante segura sobre isso. — afastou-o para um lado e se sentou mais cansada do que tinha estado em sua vida — Tenho que me reunir logo com meu irmão. Quero que vá.

Ele amaldiçoou, um som vazio e doloroso. Então, lhe estendeu as calças, embora não as soltou. Olhou-a um comprido instante, e como uma parva esperava que lhe dissesse o que queria ouvir: Sinto muito, fiz-te mal, quero-te, não vá.

Depois de um momento deixou cair sua mão e se levantou, arrumando-se, fechando as calças. Foi para a porta, movendo-se com essa graça letal com a que sempre caminhava. Ao olhar sobre seu ombro, ela se deu conta que tinha feito amor estando completamente armado e vestido.

Oh, mas só tinha sido sexo, não?

Com voz baixa disse:

— Sinto muito.

— Não me diga isso para me fazer sentir melhor.

— Então… Obrigado, Bela… Por… Tudo. Sim, de verdade. Eu… Agradeço-lhe isso.

E, então partiu.

 

John se atrasou no ginásio enquanto o resto da sala ia para o vestuário. Eram sete da noite, mas poderia ter jurado que eram três da manhã. Que dia. O treinamento tinha começado logo, porque os Irmãos queriam sair cedo, e tinham tido horas de aula de táticas e tecnologia de computação ensinada por dois Irmãos chamados Vishous e Rhage. Logo Tohr chegou ao pôr do sol e começaram os pontapés no traseiro. As três horas de treinamento tinham sido brutais. Correr umas voltas. Jiu-jítsu. Treinamento de armas e mano a mano, incluindo uma introdução aos nunchakus ou nunchucks.

Esses dois paus unidos por uma corrente eram os pesadelos de John, expondo todas as suas debilidades, especialmente sua horrível coordenação entre olho e mão. Mas, ele não se deu por vencido. Enquanto os outros meninos iam às duchas, retornou à sala de equipamentos e pegou um dos sets. Imaginou que praticaria enquanto vinha o ônibus e tomaria banho em casa.

Começou a girar os nunchucks lentamente a seu lado, o som das voltas curiosamente relaxava. Gradualmente incrementava a velocidade, segurou-os no vôo e então os balançou a sua esquerda. Tomando-os de volta. Uma e outra vez, até que o suor aflorou outra vez em sua pele. Uma e outra vez...

E, se golpeou com essa merda. Diretamente na cabeça.

O golpe lhe debilitou os joelhos, e depois de lutar durante um tempo, deixou-se cair. Apoiando-se com o braço, pondo uma mão em sua têmpora esquerda. Estrelas. Definitivamente via estrelas.

Em meio a toda essa piscada, uma suave risada proveio detrás dele. A satisfação do som lhe disse quem era, mas tinha que vê-lo de toda forma. Olhando por debaixo do braço, observou Lash de pé a uns seis passos atrás. O tipo de cabelo claro estava molhado, as roupas de rua perfeitas, o sorriso frio.

— É um perdedor.

John se concentrou no colchonete, sem realmente se importar que Lash o tivesse pegado golpeando o cérebro. O tipo já tinha visto isto em sala, assim não era uma nova humilhação.

Deus… Se só pudesse esclarecer os olhos. Negou com a cabeça estirando o pescoço… E, viu outro par de nunchucks no colchonete. Lash tinha-os jogado?

— Ninguém gosta de você, John. Por que não parte? Oh, espere. Isso quereria dizer que não poderia ir atrás dos Irmãos. Então, o que faria todo o dia?

A risada do tipo se cortou de repente, quando uma profunda voz grunhiu:

— Não te mexa, ruivinho, exceto para respirar.

Uma mão enorme apareceu frente o rosto de John que elevou a vista. Zsadist estava de pé ante ele. Vestido completamente para a guerra.

John foi agarrado pelo que estava frente a ele sem reflexos e o levantou facilmente do chão.

Os negros olhos de Zsadist se estreitaram, refletindo cólera.

— O ônibus está pronto, recolhe suas merdas. Nós nos reuniremos fora do vestuário.

John abriu passo através dos colchonetes, pensando que quando um macho como Zsadist lhe diz algo, o faça rápido. Quando chegou à porta, entretanto, teve que olhar para trás.

Zsadist tinha a Lash pego pelo pescoço e levantou o tipo do colchonete com os pés pendurando. A voz do guerreiro era mortalmente fria.

— Vi-te atirá-lo ao chão, e te mataria por isso, porém não estou interessado em lidar com seus pais. Escute bem, menino. Faz outra vez algo assim, e te tiro os olhos com os dedos e me alimento deles. Está claro?

Em resposta, a boca de Lash funcionou como uma válvula de uma só via.

O ar entrava. Nada saía. E, então urinou nas calças.

— Tomarei isto como um sim. — Zsadist o deixou ir.

John já não estava ali. Correu para o vestuário, pegou sua esteira e saiu ao vestíbulo um momento depois.

Zsadist estava esperando.

— Vêm.

John seguiu ao Irmão até o estacionamento do ônibus, perguntando-se todo o tempo como podia agradecer-lhe Mas, então Zsadist se deteve ante o ônibus e o empurrou dentro. Então, ele também entrou.

Cada um dos aprendizes se encolheu em seus assentos. Especialmente quando Zsadist desenbaiou uma de suas adagas.

— Nós nos sentaremos aqui. — disse a John, mostrando com a arma de lâmina negra o primeiro assento.

Sim, bom. Certo. Está bem.

John se apertou contra a janela quando Zsadist tirou uma maçã do bolso e lentamente se sentou.

— Estamos esperando a outro. — disse Zsadist ao condutor — E, John e eu seremos a última parada.

O doggen se inclinou respeitosamente atrás do volante.

— Certamente, senhor. Como você desejar.

Lash lentamente entrou no ônibus, a vermelha nervura em sua garganta era uma mancha em sua pálida pele. Quando viu Zsadist, tropeçou.

— Está nos fazendo perder tempo, menino. — disse Zsadist enquanto deslizava uma faca sob a pele da maçã — Senta seu traseiro.

Lash fez isso.

Enquanto o ônibus começava andar, ninguém disse nada. Especialmente, quando a porta se fechou e ficaram todos juntos fechados na parte de trás.

Zsadist cortou a Granny Smith em uma longa tira, a pele descendia pouco a pouco até que chegou ao chão da caminhonete. Quando terminou, cobriu o joelho com a verde tira, então partiu uma rodela da polpa branca e a estendeu a John com a faca. John pegou a peça com os dedos e a comeu enquanto Zsadist cortava uma parte para ele, levando-lhe à boca com a faca. Alternaram-se até que restou da maçã só um magro miolo.

Zsadist pegou a casca e os restos jogando-os no pequeno lixeiro ao lado da porta. Limpou a faca nas calças e começou a lançá-la ao ar e apanhá-la. Fez isso durante todo o caminho. Quando chegaram à primeira parada, houve uma longa vacilação depois da abertura da porta. E, dois dos meninos saíram rapidamente.

Os olhos negros de Zsadist os seguiram, com o olhar duro, como se memorizasse suas caras. E, durante todo esse tempo a faca, acima e abaixo, o negro metal cintilava, a grande mão o apanhava no mesmo lugar do punho depois de cada lançamento… Embora estivesse olhando a esses tipos.

Isso ocorreu em cada parada. Até que John e ele ficaram sozinhos.

Enquanto a porta se fechava, Zsadist deslizou a adaga na bainha do peito. Moveu-se de assento através do corredor e se apoiou contra a janela, fechando os olhos.

John sabia, mais que acreditava, que o macho estava acordado, porque sua respiração não mudou e não estava relaxado. Unicamente não queria interagir.

John tirou o bloco de papel e a caneta. Escreveu perfeitamente, dobrou o papel e o segurou na mão. Tinha que lhe agradecer. Embora Zsadist não pudesse ler, tinha que dizer algo.

Quando o ônibus parou e a porta se abriu, John deixou o papel no assento de Zsadist, sem tentar dar-lhe ao guerreiro. E, assegurando-se que não elevava o olhar enquanto dirigia seus passos para fora e cruzava a entrada. Parou em frente da grama para observar à partida do ônibus, entretanto, a neve caía sobre sua cabeça, ombros e esteira.

Quando o ônibus desapareceu na crescente tormenta, Zsadist se mostrou de pé no outro lado da rua. O Irmão lhe mostrou rapidamente a nota, pegando-a no ar entre o indicador e o dedo médio. Logo, inclinou a cabeça uma vez, guardou-a no bolso de trás e se desmaterializou.

John manteve os olhos fixos no lugar que Zsadist esteve. Espessos flocos de neve encheram seus rastros, o macho chuta-traseiros se foi.

Com um estrondo, a porta da garagem se abriu atrás dele, o Range Rover ia sair de ré pelo caminho. Wellsie baixou a janela. O cabelo vermelho estava recolhido no alto de sua cabeça, e levava um negro casaco de esqui. A calefação dentro do carro funcionava a toda, um surdo estrondo quase tão forte como o motor.

— Olá, John. — estendeu a mão e ele colocou a mão sobre a sua — Ouça, era Zsadist o que acabo de ver?

John assentiu.

— O que estava fazendo aqui?

John deixou cair à esteira e escreveu:

— Veio no ônibus comigo a casa.

Wellsie franziu o cenho.

— Eu gostaria que te afastasse dele, ok? Ele não… Está bem a maioria das vezes. Sabe o que quero dizer?

Realmente, John não estava tão seguro disso. Bom, o tipo lhe fazia pensar algumas vezes no homem do saco com afeto, mas evidentemente não era tão mau.

— De toda forma, vou pegar Sarelle. Encontramos um obstáculo com o festival e perdi todas as nossas maçãs. Ela e eu vamos fazer visitas a vários pais espirituais, e ver o que podemos fazer sobre isso tão perto da data. Quer vir?

John negou com a cabeça.

— Não quero me atrasar em Táticas.

— Muito bem. — Wellsie lhe sorriu — Deixei um pouco de arroz e molho de gengibre na geladeira.

— Obrigado! Estou faminto.

— Acreditei que estaria. Vemo-nos.

Despedia-se dela com as mãos enquanto ela dava marcha ré o resto do caminho e partia. Enquanto se dirigia a casa, observou distraidamente como as correntes que Tohr pôs no Rover faziam nítidas marcas na neve recente.

 

— Pare aqui. — O abriu a porta da Explorer antes que o SUV se detivesse ao chegar à Avenida Thorne. Lançou um olhar agudo para o topo da colina, depois lançou ao Beta atrás do volante um verdadeiro olhar de “fique esperto de uma puta vez”.

— Quero que circule pela vizinhança até que te chame, quando o fizer quero que venha ao número vinte e sete. Não pare na entrada do caminho, siga em frente. Há uma esquina na parede de pedra a aproximadamente quarenta e cinco metros adiante. Aí é onde te quero. — quando o Beta assentiu com a cabeça, O disse:

— Estrague isso e deixo que Ômega cuide de você.

Não podia deixar que o assassino cometesse algum tipo de estupidez. Tinha o sussurro de “sou confiável”. Bateu no pavimento e observou a inclinação gradual do caminho. Caminhou lentamente, ele era um arsenal móvel, seu corpo estava carregado com tantas armas e explosivos, que ele mesmo colocara, como se fosse uma Árvore de Natal paramilitar.

Passando os números até o vinte e sete, um par de pilares gêmeos emoldurava a entrada que desaparecia entre eles. Quatro quilômetros e meio depois ele estava na esquina da parede de estuque onde tinha indicado ao parvo Beta que fosse vê-lo. Tomou impulso três vezes antes de saltar no ar como um Michael Jordan de merda até alcançar o fim do muro de nove metros.

Saltou a distância sem problemas. Mas, quando suas mãos fizeram contato, a rajada de eletricidade que percorreu seu corpo era suficiente para frisar o cabelo. Se fosse humano ainda, teria torrado, mas até como assassino, a sacudida foi suficiente para deixá-lo sem fôlego. Apesar disso, conseguiu subir para logo jogar-se do outro lado.

As luzes de segurança brilharam e o obrigaram a esconder-se atrás de uma árvore. Pegou sua pistola com silenciador, se os cães atacassem estava preparado para arrebentá-los. Esperou os latidos, mas não houve nenhum. Tampouco pressa por acender as luzes da mansão nem carreiras dos guardas.

Levou uns minutos mais avaliando o lugar. A parte traseira da casa era magnífica, toda de tijolo vermelho, branco puro e brilhantes terraços com corredores no segundo andar. O jardim era perfeito também. Deus… O custo de manutenção de semelhante monstro em um ano devia ser o que uma pessoa da classe média gasta em dez.

Hora de aproximar-se. Moveu-se através da grama para a casa, correndo com os pés arrastando-se sobre a grama com a arma apontada para frente. Quando entrou apertando-se contra os tijolos, estava satisfeito. A janela mais próxima estava acoplada com trilhos que desciam por seus longos lados, em cima havia um reforço quadrado discretamente disfarçado.

Fechaduras de aço. Havia um conjunto em cada janela e porta, isso lhe parecia.

No nordeste, onde não teriam que preocupar-se com tormentas tropicais e furacões. Só existia um tipo de proprietário que usava esse tipo de astúcia sobre cada peça de vidro. A classe que precisa ser protegida do sol.

Aí viviam vampiros.

Os ferrolhos estavam abertos porque era noite. O olhou dentro da casa, estava escuro o que não era alentador. Mas, de qualquer maneira ia entrar.

A pergunta era como irromper na casa, por não dizer que o lugar estava cheio de alarmes até o traseiro, de detectores de som. E, ele apostava que quem eletrificou a borda da cerca não foi ADT[23]. Esse era algum tipo de tecnologia sofisticada.

Decidiu que seu melhor movimento era cortar a energia. Assim, começou a busca da linha principal de alimentação elétrica da mansão. Encontrou-a atrás da garagem para seis carros metida em um cano de merda do CVAA[24] que incluía três unidades de ar condicionado, um extrator de ar e um gerador de reserva. A linha principal de abastecimento elétrico estava revestida de metal. Saía da terra e entrava em uma série de quatro metros de fendas que sulcavam ao longo.

Pôs uma carga pequena de explosivo plástico C4 diretamente no tronco e outra igual no centro nervoso do gerador. Retrocedeu atrás da garagem e os fez explodir pelo controle remoto, houve duas pequenas explosões que dissiparam rapidamente a fumaça e a luz.

Esperou para ver se alguém vinha correndo. Ninguém o fez. Em um impulso, apareceu em um par de garagens, duas estavam vazias, as outras tinham carros muito bonitos, tão bonitos que não podia dizer de que tipos eram.

Com o fluido elétrico cortado, correu ao redor da casa até chegar à frente rodeando uma cerca de madeira de boj na qual terminava a fachada. Um conjunto de portas francesas resultava perfeito para entrada. Quebrando o vidro com o seu punho enluvado procedeu à abertura da fechadura. Assim que entrou, fechou imediatamente a porta, era crucial que os contatos do alarme de segurança estivessem no lugar correto em caso de que o gerador alternativo ligasse em… Santo... Deus.

Havia baterias de lítio nas portas… O que queria dizer que seus contatos não funcionavam com a corrente elétrica. E… Merda… Ele estava de pé exatamente no meio de um raio laser. Jesus. Isto era… De uma tecnologia muito alta, como no Museu de Belas artes, na Casa Branca, o dormitório de alta tecnologia do Papa.

A única razão pela qual pôde entrar na casa era por que alguém o queria aí.

Escutou. Silêncio total. Uma armadilha?

O ficou congelado durante um instante, logo respirou. Então, se assegurou de que seu revólver estivesse preparado antes de caminhar silenciosamente por um montão de salas que pareciam tiradas de alguma deslumbrante revista. Entraram-lhe vontades de esfaquear as pinturas nas paredes, atirar os lustres de luz e quebrar os finos pés das elegantes mesas e cadeiras. Queria queimar as toalhas, defecar no chão. Queria as destroçar por que eram bonitas e por que sua mulher sempre tinha vivido ali, isso significava que ela tinha vivido melhor que ele.

Virou na esquina, em uma espécie de sala de estar e parou em seco.

Em cima, na parede, em uma moldura adornada dourada havia um retrato de sua esposa… E, estava coberta por seda negra. Debaixo da pintura, sobre uma saliência de mármore, havia um cálice de ouro de barriga para baixo e uma toalha de pano branco com três filas de dez pequenas pedras. Vinte e nove eram rubis. O último, na esquina esquerda inferior, era negra.

O ritual era diferente do cristão com o qual ele tinha vivido como um humano, mas isto era em memória a sua esposa.

Os intestinos de O se converteram em serpentes, bulindo e assobiando dentro de seu ventre. Deu-lhe vontade de vomitar.

Sua mulher estava morta.

 

— Não me olhe assim. — murmurou Phury enquanto coxeava ao redor de seu quarto. O flanco lhe doía como um demônio. Tentava preparar-se para sair e Butch, como uma exaltada mamãe galinha, não ajudava.

O policial sacudiu a cabeça

— Precisa ver um doutor, grandalhão.

O fato de que o policial tivesse razão, causava ainda mais raiva a Phury.

— Não, não necessito.

— Vamos homem, se fosse passar o dia no sofá quem sabe, mas não lutando. Vamos homem, se Tohr soubesse que ia sair com isto, teria posto sua cabeça em uma estaca.

Certo.

— Estarei bem, só tenho que esquentar.

— Sim, treinar vai fazer muito bem a esse buraco que tem no fígado. De fato, talvez possa te conseguir alguns ben-gay[25] e simplesmente lhe daríamos massagens para te tirar a merda.

Phury o fulminou com o olhar através do quarto, Butch arqueou uma sobrancelha.

— Deixe-me em paz policial.

— Não me diga! Ouça isso… Pode me gritar enquanto te levo para o Havers.

— Não necessito escolta.

— Mas, se te levo, saberei aonde foi. — Butch tirou as chaves da Escalade do bolso e as balançou no ar — Além disso, sou um bom taxista. Pergunte a Jonh.

— Não quero ir.

— Bom em palavras de Vishous, um desejo em uma mão, merda na outra. Olhe que você tem o máximo.

Rehvenge estacionou o Bentley na frente do lar de Havers e Marissa e caminhou cuidadosamente até a magnífica porta. Levantou a pesada aldrava com cabeça de leão e a deixou cair com uma sonora repercussão. Imediatamente, foi recebido por um doggen e conduzido a uma sala.

Marissa levantou de um sofá de seda, e ele a saudou com uma breve inclinação enquanto dizia ao mordomo que ele conservaria o casaco. Quando ficaram sozinhos, Marissa se precipitou a tomar suas mãos, seu comprido vestido amarelo pálido se arrastava atrás dela como névoa. Ele pegou ambas as mãos e as beijou.

— Rehv… Estou tão contente que nos tenha ligado, queremos ajudar.

— Aprecio que tenham acolhido Bela.

— É bem-vinda a ficar sempre que o necessite, entretanto eu gostaria que pudesse nos dizer o que ocorre.

— Simplesmente são tempos perigosos.

— Certo. — ela franziu o cenho e olhou atrás de seu ombro — Ela não está com você?

— Reunirei-me a ela aqui, não deve demorar. — consultou seu relógio — Sim, cheguei cedo.

Ajudou Marissa a se sentar no sofá, pela maneira que eles o fizeram as dobras de seu casaco de cibelina caíram aos seus pés. Ela estendeu a mão e acariciou a pele, rindo um pouco. Ficaram em silêncio um tempo.

Estava ansioso para ver Bela, na realidade estava… Nervoso.

— Como você está? — perguntou tratando de enfocar-se em algo.

— Ah, fala de depois… — Marissa se ruborizou — Bem, muito bem… Muito obrigado.

Realmente gostava de suas maneiras, tão suaves e gentis, tão tímida e controlada, embora ela fosse uma das estranhas belezas de sua espécie, e todos sabiam. Homem, todos se perguntavam como Wrath pôde conter-se com ela.

— Virá para mim outra vez? — disse Rehv em voz baixa — Deixará-me te alimentar outra vez?

— Sim. — respondeu, baixando os olhos — Se me deixar.

— Não posso esperar. — grunhiu ele, pela maneira que ela o olhou forçou um sorriso embora na realidade não quisesse fazê-lo. Queria fazer outras coisas com a boca, nenhuma das quais seria do agrado dela. Graças a Deus pela dopamina — Não se preocupe, thally, só para te alimentar.

Ela pareceu avaliá-lo e afirmou com a cabeça

— E, se precisar… Precisar te alimentar…

Rehv baixou seu queixo e a olhou fixamente com as pálpebras entreabertas, imagens eróticas cintilaram em sua mente. Ela se retirou claramente alarmada por sua expressão, não se surpreendeu. De nenhum modo ela poderia dirigir o tipo de merda doente que ele era.

Rehv levantou a cabeça

— É uma oferta generosa, tahlly. Mas, o manteremos unilateralmente.

Houve alívio em sua face, quando seu celular começou a tocar e o tirou para verificar a identidade de quem o chamava. Seu coração começou a pulsar, era o encarregado da segurança de sua casa.

— Desculpe-me um momento.

Depois que escutou a mensagem de que alguém tinha saltado o muro, ativado um bom número de detectores de movimento e desligado a eletricidade, Rehv disse ao seu pessoal que desligasse todos os alarmes interiores, queria que o responsável permanecesse dentro.

Logo que visse Bela, retornaria a casa.

— Algo errado aconteceu? — perguntou Marissa assim que fechou o telefone.

— Não, em absoluto. — Pelo contrário.

Quando a aldrava da porta da rua soou, Rehv ficou rígido.

Um doggen passou diante da porta da sala para atender.

— Quer que lhes deixe sozinhos? — disse Marissa.

A grande porta da mansão se abriu e fechou. Houve um suave intercâmbio de vozes, uma delas a do doggen, a outra de Bela.

Rehv se apoiou em sua bengala e se levantou devagar quando Bela apareceu na entrada. Usava jeans azuis e um casaco negro, e seu comprido cabelo brilhava sobre os ombros. Parecia… Viva… Sã. Mas, havia marcas em sua face, novas linhas de preocupação e tensão punham um parêntese em sua boca.

Esperou que ela corresse a seus braços, mas somente o olhou fixamente… Isolada, inalcançável. Ou talvez somente estivesse tão intumescida depois de tudo pelo que tinha passado que já não tinha nenhuma reação que mostrar ao mundo.

Os olhos de Revh se umedeceram quando colocou sua bengala no piso e foi até ela mesma sem poder sentir o fino tapete sob seus sapatos, captou a surpresa em seu rosto quando a atraiu para ele.

Doce Virgem, como desejava poder sentir a maneira em que a abraçava. Amaldiçoou-se por não saber se lhe devolvia o abraço. Não queria forçá-la assim, se obrigou a deixá-la ir.

Quando deixou cair seus braços ela se agarrou a ele, não se moveu, mas permaneceu perto, então a abraçou de novo.

— Oh… Deus, Rehvenge… — estremeceu.

— Amo você, minha irmã. — disse brandamente sem vergonha do momento que era menos homem do que devia ser.

 

O saiu diretamente pela porta da mansão de tijolo deixando-a totalmente aberta atrás dele, enquanto descia pelo atalho, a neve formava redemoinhos no vento frio.

A visão daquele retrato era um eco em seu cérebro que não o deixaria, não apagaria. Ele tinha matado a sua mulher. Batera nela tão forte que tinha morrido. Deus… Deveria tê-la levado a um doutor. Ou talvez se aquele Irmão cheio de cicatrizes não a tivesse roubado, talvez tivesse vivido... Possivelmente tinha morrido porque a tinham transladado.

Então, O a tinha matado? Ou teria vivido se lhe tivessem permitido ficar com ele? Que tal se... Oh! Droga… Procurar a verdade era algo estúpido. Ela estava morta e ele não tinha nada que enterrar porque aquele Irmão bastardo a tinha afastado dele. Ponto.

Abruptamente, observou as luzes de um carro mais adiante. Quando estava mais perto viu que um SUV negro tinha parado ante as portas.

Esse maldito Beta, que diabos estava fazendo? O não tinha chamado ao assassino para recolhê-lo. E, o lugar era incorreto. Espera, o automóvel era um Range Rover não uma Explorer.

O correu através da neve, permanecendo nas sombras. Estava a uns dois metros quando as janelas do Rover desceram. Escutou uma voz feminina dizer:

— Com tudo o que ocorreu a Bela não sei se sua mãe nos receberá, mas pelo menos devemos tentar.

O caminhou até a porta e tirou seu revólver enquanto se escondia atrás de um dos pilares. Viu um brilho de cabelo vermelho quando a mulher atrás do volante apareceu e tocou o intercomunicador, ao lado dela havia outra mulher no assento de passageiros com o cabelo loiro e curto, esta disse algo e a ruiva sorriu, revelando suas presas.

Quando ela pressionou o intercomunicador, O disse alto:

— Não há ninguém em casa.

A ruiva elevou a vista e O apontou seu Smith & Wesson para ela.

— Sarelle, corre! — gritou ela.

O apertou o gatilho.

 

John estava profundamente concentrado, e preparado para que sua cabeça estrelasse contra o vidro da janela pelo esforço, quando alguém bateu a sua porta. Assobiou sem olhar por cima do manual.

— Êh. Filho. — disse Tohr — Como vai o estudo? — John esticou os braços sobre a cabeça, e fez gestos.

— Melhor que o treinamento físico.

— Não se preocupe com isso, já virá.

— Talvez.

— Não, de verdade. Eu me sentia igual depois de minha transição, perdido, acredite melhora.

John sorriu.

— Assim, chegou cedo em casa.

— Na realidade, pensava em ir ao centro e fazer um pouco do trabalho administrativo que fazem lá. Quer vir? Poderia estudar em meu escritório.

John assentiu e pegou um cachecol, depois pegou seus livros. Uma mudança de cenário lhe faria bem. Estava sonolento e ainda tinha mais vinte e duas páginas para estudar. Afastar-se de sua cama parecia uma boa idéia.

Desceram para a sala quando Tohr parou e se apoiou na parede, levou a mão ao coração e pareceu lutar para tomar fôlego.

John o sustentou alarmado pela cor do irmão, estava ficando realmente cinza.

— Estou bem… — Tohr esfregou o peito, agitado, respirou profundamente pela boca algumas vezes.

— Não, estou… Estou bem, só tenho um pouco de dor ou algo assim, provavelmente a porcaria que comi em Taco Hell a caminho de casa. Estou perfeito.

Porém, o homem estava pálido e doente. Entraram na garagem e se aproximaram do Volvo.

— Fiz com que Wellsie levasse o Range Rover esta noite. — disse Tohr quando abordaram o carro dela — Fiz com que lhe pusessem as correntes para que ela o usasse, odeio que dirija na neve. — parecia falar por falar, com palavras rápidas, apressadas — Ela pensa que sou superprotetor.

— Está seguro que quer que saiamos? — escreveu John — Parece doente.

Tohr hesitou antes de ligar o carro, todo o tempo massageando o peito sob a jaqueta de couro.

— Claro que não, estarei bem, não é grande coisa.

 

Butch olhou Havers trabalhar em Phury, as mãos do doutor eram estáveis e seguras enquanto lhe tiravam as bandagens.

Phury não estava realmente encantado com seu papel de paciente, sentado sobre uma mesa de exame sem camisa, seu enorme corpo dominava o pequeno espaço. Franzia o cenho como um ogro tirado de um conto dos Irmãos Grimm.

— Isto não está curando como deveria. — disse Havers — Diz que lhe feriram a noite de ontem, certo? Então, tudo isto deveria estar coberto por uma malha de cicatrização, entretanto, apenas esta se fechando.

Butch lançou a Phury o velho “eu não disse”.

O irmão lhe respondeu com “morda-me”, então murmurou:

— Está perfeito.

— Não senhor, não está. Quando foi a última vez que te alimentou?

— Não sei, faz tempo. — Phury esticou o pescoço e olhou a ferida. Franziu o cenho, como se estivesse surpreso pela má aparência.

— Tem que te alimentar. — o doutor rasgou um pacote de gaze e cobriu a ferida, as fixando com uma atadura em seu lugar.

— Deveria fazê-lo esta noite. — disse.

Havers tirou as luvas, jogou-as em um contêiner de material biológico e fez uma anotação na ficha. Duvidou ao chegar à porta.

— Há alguém a quem poderia visitar agora?

Phury sacudiu a cabeça, depois vestiu a camisa.

— Procurarei. Obrigado, doutor.

Quando estavam sozinhos, Butch disse:

— Aonde te levo, grandalhão?

— Ao centro, é hora de caçar.

— Sim, claro, já escutou ao homem com o estetoscópio ou pensa que estava brincando?

Phury saltou da mesa de exame, suas gastas botas aterrissaram com uma pequena explosão. Girou para recolher sua porta-adaga.

— Olhe, policial, leva tempo encontrar alguém da qual me alimentar, por que eu não… Por minha maneira de ser, só vou a certas mulheres e preciso falar com elas primeiro, você sabe, ver se realmente querem deixar que me aproxime de suas veias. O celibato é complicado.

— Faz essas ligações, não está preparado para lutar e sabe.

— Então, me use.

Butch e Phury viraram para o marco da porta, Bela estava de pé ali.

— Não tinha a intenção de espiar, a porta estava aberta, só caminhava por aqui. Meu ah… Irmão, só deixe-o ir.

Butch olhou Phury, o homem parecia congelado.

— O que mudou? — perguntou Phury com voz rouca.

— Nada, ainda quero te ajudar, assim te dou outra oportunidade de aceitar.

— Não teria passado por isso faz doze horas.

— O teria feito, você foi quem disse não.

— Teria chorado por todo o assunto.

Uau! Esta situação estava ficando pessoal.

Butch se dirigiu à porta.

— Espero lá fora.

— Espere, policial. — disse Phury — Caso não se importe.

Butch amaldiçoou e olhou ao redor. Havia uma cadeira perto da saída, deixou cair o traseiro nela e quis ser um objeto inanimado.

— Zsadist sabe…

Bela cortou a pergunta.

— Trata-se de você, não dele.

Houve um longo silêncio e o ar se encheu de um aroma parecido às escuras especiarias. Que emanava do corpo de Phury.

Como se a fragrância fosse algum tipo de resposta, Bela entrou na sala fechou a porta e começou a enrolar a manga.

Butch olhou Phury e viu que o tipo tremia, seus olhos brilhavam como o sol, seu corpo… Bem, ele obviamente havia despertado, pondo-se assim.

Ok, hora de partir…

— Policial, preciso que fique enquanto o faço. — a voz de Phury mais parecia um grunhido.

Butch gemeu, sabia condenadamente bem por que o irmão não queria ficar só com aquela fêmea. Emanava tanto calor erótico como um garanhão.

— Butch?

— Sim, ficarei. — embora isso não significasse que olharia, de maneira nenhuma, por alguma razão, queria estar na linha de quarenta e cinco metros de distancia enquanto Phury tivesse sexo.

Com uma maldição se apoiou nos joelhos, colocou as mãos na testa e se obrigou a observar fixamente seus mocasines Ferragamos.

Houve um som rasgado, como se o papel da mesa de exame se movesse porque alguém se levantava, depois o sussurro de um tecido.

Merda. Tinha que olhar.

Butch deu uma olhadinha e depois não pôde tirar os olhos de cima deles, nem para salvar sua vida. Bela se encontrava sobre a maca, as pernas penduravam de um lado, a palma da mão exposta sobre sua coxa. Phury a olhava fixamente, com fome e horror, o maldito amor em seu rosto, deixou-se cair sobre seus joelhos ante ela. Com as mãos trementes, tomou seu antebraço e a mão e desnudou suas presas. As condenadas coisas eram enormes agora, suficientemente grandes para lhe impedir de fechar a boca.

Com um gemido, baixou a cabeça até o braço de Bela. Ela se retorceu quando ele a tocou. Mas, seus olhos se mantiveram fixos na parede. Então, Phury se afastou, deixando-a enquanto seu olhar a buscava.

Isso foi rápido.

— Por que se deteve?

— Porque está…

Phury olhou a Butch. Que se avermelhou e olhou abaixo a seus mocasins outra vez.

O Irmão murmurou:

— Menstruou?

Butch se agitou. Oh, sim. Estava ficado difícil.

— Bela, poderia estar grávida? — Santo Deus. Isso era realmente difícil.

— Posso deixá-los sozinhos? — perguntou Butch, esperando que o expulsasse.

Quando ambos o negaram, voltou o olhar de novo a seus sapatos.

— Não acredito. — disse Bela — Eu realmente não… Você sabe, acredito… Tenho… Cólicas, concorda? Depois, sagrarei e tudo se acaba.

— Havers deveria te examinar.

— Vai beber ou não?

Mais silêncio. Então, outro gemido. Seguido de um gemido baixo.

Butch deu uma olhada. Phury sustentava o pulso de Bela, seu magro braço sepultado na prisão de seu corpo enquanto ele bebia com sorvos ávidos. Bela o olhava. Um instante depois, ela levantou a outra mão e a colocou sobre o multicolorido cabelo dele. Seu toque era terno. As lágrimas brilhavam em seus olhos...

Butch levantou da cadeira e saiu pela porta, escapando. Deixando-os sozinhos. A triste intimidade do que ocorria entre eles devia ocorrer em privacidade.

Fora do quarto, deixou-se cair contra a parede, de algum modo ainda se sentia preso ao drama, mesmo não estando mais lá.

— Olá, Butch.

Procurou com a cabeça ao redor. Marissa estava no outro extremo do corredor.

Por Deus!

Quando avançou para ele pôde cheirá-la, aquele aroma limpo do oceano que penetrava em seu nariz, no cérebro, em seu sangue. Tinha um penteado alto e vestiu um vestido amarelo império.

Jesus… As loiras, em sua maior parte, pareciam moribundas com essa cor. Ela estava radiante.

Clareou a garganta.

— Oi, Marissa. Como vai? Parece bem.

— Obrigado. — estava fantástica, mas teria muito cuidado para não dizer algo assim.

Homem, é como ser apunhalado, pensou. Sim… Olhar a esta mulher e ter seis polegadas de aço cravadas no peito era só as duas caras da mesma desgraçada moeda.

Merda. Tudo o que podia ver era ela entrando no Bentley com aquele homem.

— Como está? — perguntou ela.

Como ele tinha estado? Como um lunático idiota durante os cinco meses passados.

— Bem, realmente bem.

— Butch, eu…

Ele lhe sorriu e se endireitou.

— Você me faria um favor? Vou esperar no carro, diria isso a Phury quando ele sair? Obrigado. — alisou a gravata, abotôo a jaqueta de seu traje e recolheu seu casaco — Cuide-se, Marissa.

Foi direto ao elevador.

— Butch, espere…

Deus o ajudasse, seus pés se detiveram.

— Como está? — disse.

Considerou virar-se, mas se negava a ver-se envolvido.

— Como disse Jimmy Dandy, obrigado por perguntar, te cuide, Marissa.

Merda. Não havia dito isso, ou sim?

— Eu gostaria de… — deixou de falar — Ligará-me? Alguma vez?

Sua cabeça deu voltas, Maria doce mãe de Deus… Era tão bonita, tipo Grace Kelly, com seu acento vitoriano e suas maneiras gentis o fazia sentir-se como um completo derrotado. Todo um embusteiro balbuciante vestido com roupas caras.

— Butch? Possivelmente poderia me ligar?

— Por que o faria?

Ela se ruborizou incomodada.

—Esperava que…

— Que esperava?

— Que possivelmente…

— O que?

— Que poderia me ligar. Se tivesse tido tempo teria vindo… Ligado.

Cristo, já o tinha feito e ela se negou a vê-lo. Não havia maneira de que voluntariamente se colocasse em curso de colisão com seu ego. Esta mulher, fêmea… O que fosse… Era totalmente capaz de lhe chutar o traseiro e ele não queria mais esse tipo de mau trato, muito obrigado. Além disso, o Sr. Bentley estava exibindo-se na porta traseira.

Com esse pensamento, uma parte diabólica e muito masculina dele se perguntou se seguia sendo a virgem intacta que era quando a conheceu no começo do verão. Provavelmente não. E, mesmo que continuasse sendo tímida, durante o tempo que ficou longe de Wrath devia ter conquistado um amante. Demônios, sabia de primeira mão o tipo de beijos que essa mulher podia dar. Tinha-o deixado chorando sobre uma cadeira, tão quebrado. Tão, sim… Definitivamente tinha encontrado a um homem. Talvez uma parelha e só queria lhe ensinar o caminho do inferno.

Quando ela abriu o casulo perfeito e rosado de seus lábios outra vez, ele a cortou.

— Não vou te ligar, mas realmente acredito no que disse, espero que… Cuide-te.

De acordo, tinha usado três vezes a mesma frase, precisava colocar-se a caminho antes que o fizesse uma quarta.

Butch deu um grande passo ao elevador, por algum milagre a coisa se abriu assim que ele apertou o botão, entrou nele e manteve os olhos longe dela.

Quando as comportas se fecharam, pensou que possivelmente ela houvesse dito seu nome pela última vez, mas conhecendo-se sabia que só tinha imaginado. Realmente desejava que ela…

Cale-te, O´Neal, só te cale e a deixe.

Quando atravessou de uma pernada a porta da clínica, caminhava tão rápido que virtualmente corria.

 

Zsadist rastreou o solitário lesser no labirinto de becos do centro da cidade. O assassino se movia rapidamente na neve, alerta, explorando, procurando à presa entre as pessoas que estavam dispersas no balcão do frio clube.

Atrás dele, Z era rápido sobre o terreno, ficando perto, mas não muito. A alvorada chegava rápida e com força, e embora despontasse a borda do alvorecer agora mesmo, queria matá-lo. Tudo o que precisava era afastar ao assassino dos intrometidos olhos humanos…

O momento chegou quando o lesser diminuiu a marcha e considerou a intercessão da Rua Oito e a Comercial. Uma pausa, um debate interno entre ir à esquerda ou à direita.

Zsadist golpeou rápido, materializando-se diretamente atrás do assassino, pondo o braço ao redor do pescoço do bastardo, e puxando ele para a escuridão. O lesser agüentou, e a luta soava como bandeiras agitadas pelo vento, como dois machos sacudindo-se, jaquetas e calças sacudindo-se no ar frio. O lesser estava no chão em pouco tempo, Z examinou seus olhos quando levantou a adaga. Inundou a lâmina negra em seu grosso peito. A música pop e a labareda se desvaneceram rapidamente.

Quando Z se levantou, não havia nenhuma satisfação. Estava em um estado violento de piloto automático. Preparado, complacente, e capaz de matar, mas movendo-se como em um sonho.

Bela era tudo o que estava em sua mente. Realmente, era mais profundo. A ausência dela era um peso tangível em seu corpo: sentia falta dela com um tipo de desespero.

Ah, sim. Então, os rumores eram verdadeiros. Um macho vinculado sem sua fêmea poderia morrer. Tinha ouvido toda sorte de lendas antes e nunca acreditou. Agora, vivia a verdade implícita.

Seu celular tocou e respondeu automaticamente, porque era o que fazia desde que ela partiu. Não tinha nenhum interesse em saber quem era que estava do outro lado da linha.

— Z, meu amigo. — disse Vishous — Recebi uma mensagem realmente estranha no correio de voz. Um tipo que quer falar contigo.

— Falar comigo, disse meu nome?

— Realmente, era um pouco difícil de seguir porque foi tão vago, mas mencionou sua cicatriz.

O irmão de Bela? Perguntou-se Z. Embora agora que ela havia saído pelo mundo, sobre o que teria para falar com aquele macho?

Bem… Além disso, e do fato que sua irmã tinha sido atendida em sua necessidade e não houvesse nenhuma cerimônia de acoplamento no calendário. Sim, o irmão ficou zangado.

— Qual é o número?

Vishous recitou os dígitos.

— E, disse que seu nome era Ormond.

Recordou que o nome do irmão mais velho de Bela não era esse.

— Ormond? É um nome humano.

— Não posso te dizer. Terá que tomar cuidado.

Z desligou, digitou devagar, esperando ter conseguido marcar bem os números.

Quando a chamada foi respondida, não houve um olá do outro lado da linha. Apenas uma voz grave que disse:

— Fora de minha rede e indetectável. Então, você deve ser o Irmão.

— E, você é?

— Quero te conhecer pessoalmente.

— Sinto muito, eu sou contra encontros.

— Sim, posso imaginar que com essa cara não tem muita sorte. Mas, não te quero para sexo.

— Sinto-me aliviado. Agora, quem droga é?

— Meu nome é David. Soou o sino?

A fúria nublou a visão de Z até que tudo o que viu eram as marcas no estomago de Bela. Apertou o telefone até que só ouviu o chiar do aparado, que era impetuoso.

Forçando sua voz a uma pronúncia lenta, disse:

— Não, Davy. Mas, refresque minha memória.

— Pegou algo que é meu.

— Roubei sua carteira? Eu recordaria.

— Minha mulher! — gritou o lesser.

Cada instinto no corpo de Z disparou imediatamente, e não havia nenhuma reserva no grunhido que saiu de sua boca. Afastou o telefone para longe de seu rosto até que o som se apagou.

— …muito perto da alvorada.

— O que aconteceu? — disse Z com um fio de repugnância — Maldita conexão.

— Pensa que isto é uma maldita brincadeira? — cuspiu o lesser.

— Calma aí se não quiser ter uma embolia.

O assassino ofegou com fúria, mas conseguiu controlar-se.

— Quero te encontrar ao anoitecer. Temos muita terra para cobrir, você e eu, e não quero ser apressado pela alvorada. Além disso, estive ocupado nas últimas horas e preciso de um descanso. Fiquei com uma de suas fêmeas, uma ruiva bonita. Até arrebentá-la era boa.

Agora o grunhido de Z chegou ao telefone. O assassino riu.

— Vocês, os Irmãos são tão protetores, até você. Bom, há lógica nisso. Consegui outra. Outra fêmea. Persuadi-lhe para que me desse o numero onde te encontrar. Ela é realmente a próxima. Uma pequena loira bonitinha, também.

A mão de Z alcançou a manga de sua adaga.

— Onde quer que te encontre?

Houve uma pausa.

— Primeiro os termos. Naturalmente, quero que venha sozinho, e aqui está como vamos nos assegurar que isto aconteça. — Z ouviu um gemido feminino de fundo — Se qualquer um de meus sócios ver os seus Irmãos ao redor, cortam-na. Só levará uma chamada telefônica. E, eles o farão devagar.

Zsadist fechou seus olhos. Ele havia sentido a morte, o sofrimento e a dor. A própria e a dos outros. Essa… Pobre mulher.

— Onde?

— As seis em ponto no The Rocky Horror Picture Show no Lucas Square. Sente-se de costas. Encontrarei você.

O telefone ficou morto, e voltou a tocar imediatamente.

Agora a voz de V era estrangulada.

— Temos um problema. O irmão de Bela encontrou Wellsie com um disparo na entrada da casa. Vêm para casa, Z. Agora mesmo.

 

John olhou mais à frente do escritório quando Tohr desligou o telefone. As mãos do homem sacudiam o receptor.

— Ela provavelmente esqueceu de ligar o celular. Os lesser tentaram entrar na casa outra vez. — Tohr discou outra vez. Marcando rapidamente. Equivocou-se e teve que voltar a começar. E, em todo momento roçava o centro de seu peito, sobre sua camisa.

Tohr olhava fixamente ao vazio, congelado quando o telefone da casa tocou, John ouviu passos que desciam ao escritório. Um sentimento horrível passou por ele como uma febre, deu uma olhada à porta, logo voltou seus olhos a Tohr outra vez.

Tohr obviamente ouviu os passos, também. Com movimentos lentos, deixou cair o receptor sobre a escrivaninha, o som da linha aberta se ouviu no quarto. Seus olhos fixos na porta, suas mãos agarravam fortemente os braços da cadeira.

Quando tudo a seu redor rodou, a secretária eletrônica saltou e o som da voz de Wellsie saiu do receptor:

— Olá, somos Wellsie e Tohr. Não podemos atender ao telefone no momento…

Cada um dos Irmãos estava no corredor. E, Wrath estava diante deles implacável, era um grupo silencioso.

Houve um ruído e John olhou para trás, a Tohr. O homem ficou em pé e tropeçou com a cadeira. Tremia da cabeça aos pés, suor descia de sua camisa como grandes remendos até embaixo de seus braços.

— Meu Irmão. — disse Wrath. Havia um tom indefeso em sua voz, totalmente em desacordo com sua cara feroz. E, aquela impotência era aterradora.

Tohr gemeu e agarrou seu peito, esfregando-o rapidamente, desesperado.

— Você… Não pode estar aqui. Não vocês. —ele levantou uma mão como se empurrasse todos eles para longe e logo se sustentou — Deviam estar em qualquer lugar, menos aqui. — bateu contra um gabinete do arquivo — Wrath, não… Meu senhor, por favor, não a… Ah, Deus. Não diga. Não diga...

— Eu sinto…

Tohr começou a balançar-se de frente para trás, abraçando-se como se fosse vomitar. Seu fôlego era fraco e tão rápido que começou a soluçar, e não parecia exalar, absolutamente.

John se pôs a chorar.

Não disse nada. Mas, a realidade e o horror eram muito difíceis de agüentar. Deixou cair sua cabeça em suas mãos, e tudo no que podia pensar era em Wellsie apoiada na entrada como em qualquer outro dia.

Quando uma mão grande o puxou da cadeira e foi sustentado contra um peito, ele pensou que era um dos Irmãos. Mas, era Tohr. Tohr o sustentava com força.

O macho começou a murmurar como um enlouquecido, com palavras rápidas e incompreensíveis até que elas finalmente se fundiram em uma espécie de transe.

— Por que não me chamou? Por que não fez com que Havers me ligasse? Deveria ter me chamado… Ah, Deus, o bebê… Eu sabia que não deveria ter… Engravidado.

Abruptamente, tudo mudou no quarto, como se alguém tivesse aumentado a luz ou talvez a temperatura. John sentiu a mudança, primeiro ar, e logo as palavras de Tohr morreram quando ele obviamente também sentiu.

Os braços de Tohr se soltaram.

— Wrath? Isto é… O bebê, verdade?

— Tire o moço daqui.

John sacudiu a cabeça e se agarrou à cintura de Tohr com um forte apertão.

— Como ela morreu, Wrath? — a voz de Tohrment foi terminante e suas mãos se separaram de John — Diga-me isso agora. Tenho direito.

— Tire o menino daqui. — ladrou Wrath a Phury.

John lutou quando Phury o agarrou pela cintura e o levantou. Ao mesmo tempo, Vishous e Rhage se colocaram em ambos os lados de Tohr. A porta se fechou.

Fora do escritório, Phury pousou John e o reteve no lugar. Houve um momento ou dois de silêncio… E, logo um grito cru rompeu o ar como se o oxigênio fosse sólido.

A explosão de energia que se seguiu era tão forte que quebrou a porta de vidro. Os pedaços se estilhaçaram e voaram enquanto Phury abrigava John da metralha.

Uma atrás da outra em ambas as direções do corredor, as luzes fluorescentes do teto explodiram, cintilando brilhantes e deixando serpentinas de faíscas correndo das instalações. A energia vibrou pelo chão de concreto, e pelas gretas das paredes.

Pela porta quebrada, John viu um redemoinho no escritório, os Irmãos recuavam ante ele, com as mãos diante de seus rostos. Os móveis saíram voando ao redor de um buraco negro no centro do quarto, um que tinha vagamente a forma da cabeça e do corpo de Tohr.

Houve outro uivo sobrenatural e logo o vazio manchado de tinta desapareceu, o mobiliário estrelava, o tremor no chão cessou. Os papéis revoaram brandamente sobre o caos como a neve sobre um acidente de trânsito.

Tohrment se fora.

John se soltou das mãos de Phury e entrou correndo no escritório. Os Irmãos o olhavam, ele gritava com a boca aberta sem articular sons:

— Pai... Pai... Pai!

 

Alguns dias eram eternos, pensou Phury mais tarde. E, quando o sol se pôs, não havia nenhum final para ele.

Quando as venezianas se levantaram pela tarde, ele sentou em um sofá comprido e fino e olhou através do escritório de Wrath a Zsadist. Os outros Irmãos estavam tão mudos como ele.

Z acabava de deixar cair outra bomba no que já era uma zona de guerra. Primeiro, foi Tohr, Wellsie, e uma fêmea jovem. Agora isto.

— Jesus, Z… — Wrath esfregou seus olhos e sacudiu a cabeça. — Não pensou em mencioná-lo antes?

— Tivemos outra merda com que tratar. Além disso, eu me encontrarei com o assassino só, aconteça o que acontecer. Não é realmente uma discussão.

— Z, homem… Não posso te deixar fazer isto.

Phury se preparou para a reação de seu gêmeo. Como fizeram os outros no quarto. Estavam todos esgotados, mas sabendo disso Z, teria bastante bom senso para deixar-se golpear.

O irmão só encolheu os ombros.

— O lesser me quer, e devo tomar cuidado com ele. Por Bela. Pelo Tohr. Além disso, está com uma fêmea como refém. Tenho que ir, além disso o respaldo não é uma opção.

— Irmão, está caminhando para sua tumba.

— Então, farei um inferno e muito estrago antes que eles me apanhem.

Wrath cruzou seus braços sobre seu peito.

— Não, Z, não posso te deixar ir.

— Matarão a fêmea.

— Há outro modo de resolver isso. Só temos que encontrar qual é.

Houve uma pausa como um batimento de coração. Então, Z disse:

— Quero cada um de vocês fora do quarto, então poderei falar com Wrath. Exceto você, Phury. Você fica.

Butch, Vishous e Rhage se olharam uns aos outros, logo enfocaram ao Rei. Quando ele assentiu com a cabeça, partiram.

Z fechou a porta atrás deles e ficou com as costas apoiadas nela.

— Não pode me deter. Sou o ahvenging de minha shellan. Sou o ahvenging da shellan de meu irmão. Não tem nenhum direito de me deter. É meu direito como guerreiro.

Wrath blasfemou.

— Nunca empareaste.

— Não preciso de uma cerimônia para saber que é minha shellan.

— Z…

— E, Tohr? Diz que ele não é meu irmão? Você estava aqui na noite que me trouxeram para a Irmandade da Adaga Negra. Sabe que Tohrment é carne de minha carne. Possuo o direito de ahvenge também.

Wrath se apoiou contra sua cadeira, seu peso a fez ranger em protesto.

— Cristo, Zsadist, não digo que não possa ir. Só quero que não vá sozinho.

Phury olhava daqui para lá entre os dois. Nunca tinha visto Zsadist com tal calma. Seu irmão estava enfocado no que desejava, seus olhos perspicazes e com um propósito mortal. Se não fosse tão horripilante, seria notável.

— Não escrevi as regras deste guia. — disse Z.

— Morrerá se for atrás ele.

— Bem… De certo modo, estou preparado.

Phury sentiu que sua pele se esticava por toda parte.

— Perdoe-me? — assobiou Wrath.

Z se afastou da porta e caminhou pelo elegante escritório francês. Parou diante do fogo, e as chamas ricochetearam em seu rosto arruinado.

— Estou preparado para terminar com isto.

— Que demônios diz?

— Quero ir pegá-lo, quero capturar a este lesser para mim e quando o fizer, haverá verdadeiras labaredas de glória. Explodiremos em chamas com a minha energia.

A boca de Wrath se abriu.

— Pede-me permissão para suicidar-se?

A cabeça de Z foi daqui para lá.

— Não, porque a menos que me prenda, não vai impedir-me que vá ao cinema esta noite. O que quero é que te assegure de que ele não faça mal a ninguém mais. Quero que mande aos outros, sobre tudo a ele, — Z olhava intencionalmente a Phury — para longe.

Wrath tirou as lentes de sol e esfregou seus olhos outra vez. Quando elevou a vista, suas íris verdes pálidas brilhavam como lanternas em seu rosto.

— Já houve muitas mortes na Irmandade. Não faça isto.

— Tenho que ir. Vou. Somente ordene aos outros que se afastem.

Fez-se um longo silêncio, tenso. Então, Wrath deu a única resposta que podia.

— Assim será.

Com as rodas postas em movimento para a morte de Z, Phury se inclinou e pôs seus cotovelos sobre os joelhos. Ele pensou no gosto do sangue de Bela, e a especiaria muito especial que sua língua tinha descoberto.

— Sinto muito.

Quando sentiu que Wrath e Z reparavam nele, deu-se conta que tinha falado em voz alta. Ficou de pé.

— Sinto muito, me dão licença?

Zsadist franziu o cenho.

— Espere. Necessito algo de você.

Phury contemplou o rosto de seu gêmeo, remontando a cicatriz que o cruzava, absorvendo os matizes de um modo que nunca havia feito.

— Diga.

— Prometa-me que não deixará a Irmandade depois de que eu saia. — Z assinalou a Wrath — E, faz isso sobre seu anel.

— Por quê?

— Só faz isso.

Phury franziu o cenho.

— Por quê?

— Não quero que fique só.

Phury olhou fixamente e por muito tempo a Z, pensando nas vidas de ambos. Amigo, eles realmente tinham sido amaldiçoados, embora o porquê disso lhe fosse totalmente desconhecido. Talvez fosse má sorte, embora gostasse de pensar que havia uma razão.

Lógica… A lógica era melhor que o destino caprichoso que o atormentava com força.

— Bebi dela. — disse ele repentinamente — De Bela. Bebi a noite passada quando fui ver o Havers. Ainda tem vontade de que alguém me vigie?

Zsadist fechou os olhos. Como um esboço frio, uma onda de desespero saiu dele e passou pelo quarto.

— Alegro-me que o tenha feito. Agora, vai me dar sua palavra?

— Venha, Z…

— Tudo o que quero é sua promessa. Nada mais.

— Seguro. Nada mais.

Cristo, bom.

Phury, derrotado, foi para Wrath, dobrando o joelho, inclinou-se sobre o anel do rei. Na Velha Língua, disse:

— Enquanto respire, permanecerei dentro da Irmandade. Humildemente ofereço este voto, que pode ser aceitável para seus ouvidos, meu senhor.

— É aceitável. — Wrath respondeu — Oferece seus lábios ao anel e sela as palavras sobre sua honra.

Phury beijou o diamante negro do Rei e se levantou outra vez.

— Agora, se o drama terminou, vou-me daqui.

Quando chegou à porta, parou e olhou para trás ao rosto de Wrath.

— Alguma vez disse o quanto estou honrado de te servir?

Wrath retrocedeu um pouco.

— Ah, não, mas…

— Realmente foi uma honra. — quando os olhos do Rei se estreitaram, Phury sorriu um pouco — Não sei por que de repente me veio à cabeça. Provavelmente em vista de me prostrar aos seus pés justo agora.

Phury partiu e se alegrou quando viu Vishous e Buth fora do escritório.

— Ouçam-me, moços. — tocou-lhes brevemente nos ombros — São um verdadeiro par, vocês sabem? Nosso gênio residente e um tubarão humano juntos. O que lhes parece? — enquanto o olharam de uma maneira estranha, perguntou — Rhage está em seu quarto?

Quando assentiram, aproximou-se e bateu na porta de Hollywood. Rhage respondeu e Phury sorriu, pôs sua mão naquele grosso trinco.

— Ouça, irmão.

Devia de ter feito uma pausa muito longa, porque os olhos de Rhage se tornaram perspicazes.

— O que aconteceu, Phury?

— Nada. — deixou cair sua mão — Só passava por aqui. Tome cuidado com sua fêmea, entende-me? Afortunado, afortunado… É um macho afortunado, muito afortunado. É tarde.

Phury foi para seu quarto, desejando que Tohr estivesse perto… Desejava saber onde estava seu irmão. Enquanto se lamentava pelo macho, se armou, então verificou o corredor. Podia ouvir a Irmandade que falava no escritório de Wrath.

Evitando-os se desmaterializou no corredor de estátuas e entrou no quarto contíguo ao de Zsadist. Depois de fechar a porta, dirigiu-se ao banheiro e acendeu a luz. Contemplou seu reflexo no espelho.

Desembainhando uma de suas adagas, agarrou uma parte grossa de seu cabelo e pegou a faca, cortando as ondas. Fez isto repetidas vezes, deixando que o cabelo vermelho, loiro e castanho cobrisse o piso. Quando só restou aproximadamente uma polegada de comprimento em toda a cabeça, pegou uma lata de espuma de barbear, ensabôo sua cabeça, e pegou uma navalha de barbear debaixo do lavabo.

Quando ficou careca limpou os resíduos de seu couro cabeludo e de sua camisa. Picava-lhe o pescoço pelo cabelo que havia caído, sentia sua cabeça muito leve. Esfregou sua mão sobre seu couro cabeludo, apoiando-se no espelho, e se olhou.

Então, pegou a adaga e pôs a ponta em sua testa.

Com mão trêmula, desenhou com a faca para baixo do centro do rosto, terminando com um S a curva em seu lábio superior. O sangue emanou e gotejou. O limpou com uma toalha branca.

 

Zsadist se armou com cuidado. Quando estava preparado caminhou para seu armário. O dormitório estava às escuras, e andava por hábito mais que por ver algo, dirigindo-se para o fundo, ao banheiro. Foi ao lavabo, e se inclinou sobre a água que se precipitava, embalou a corrente fria em suas mãos. Salpicou seu rosto e esfregou os olhos. Bebeu um pouco com as mãos.

Quando estava se secando, sentiu que Phury entrava no dormitório e se movia a seu redor, embora não pudesse ver o macho.

— Phury… Ia te ver antes de partir.

Com a toalha sob seu queixo, Z olhou seu reflexo no espelho, vendo seus novos olhos amarelos. Pensou em sua vida e soube que a maior parte dela era uma merda. Mas, havia duas coisas que não o eram. Uma fêmea. E, um macho.

— Amo você. — disse com uma voz áspera, compreendendo que era a primeira vez que havia dito estas palavras a seu gêmeo — Só precisava dizer isto.

Phury caminhou para ele.

Z retrocedeu com horror ante o reflexo de seu gêmeo. Sem cabelo. Com uma cicatriz em seu rosto. Olhos planos e sem vida.

— Oh, Doce Virgem. — respirou Z — Que merda você fez…?

— Eu também te amo, irmão. — Phury levantou seu braço. Em sua mão havia uma seringa de injeção hipodérmica, um dos dois tinha sido abandonado por Bela — E, você tem que viver.

Zsadist virou-se e viu como o braço de seu gêmeo se balançava para baixo. A agulha cravou no pescoço de Z e ele sentiu que a morfina ia diretamente a sua jugular. Gritando, agarrou Phury pelos ombros. Quando a droga começou a surtir efeito, ele cedeu e com alívio, caiu ao chão.

Phury se ajoelhou a seu lado e acariciou seu rosto.

— Só tenho a você para viver. Se morrer, não tenho nada. Estou completamente perdido. E, você é necessário aqui.

Zsadist tentou estender a mão, mas não pôde levantar os braços quando Phury se levantou.

— Deus, Z, sigo pensando que nossa tragédia vai terminar. Mas, não se acaba, verdade?

Zsadist desmaiou com o som das botas de seu gêmeo que saiam do quarto.

 

John estava deitado na cama, enroscado de lado, olhando fixamente a escuridão. O quarto que lhe deram na mansão da Irmandade era luxuoso, anônimo e não o fazia sentir-se nem melhor nem pior.

Em algum lugar no canto, ouviu o soar do relógio uma vez, duas vezes, três vezes... Seguiu contando os tons baixos, rítmicos até que conseguiu chegar a seis. Virando-se sobre suas costas, considerou o fato que em outras seis horas seria o princípio de um novo dia. Meia-noite. Já não seria terça-feira, seria quarta-feira.

Pensou nos dias, semanas, meses e anos de sua vida, tempo que necessitaria para ter experiência e, portanto poder orientar a missão de seu caminho.

Quão arbitrária era esta diferença de tempo. Como humanos e vampiros, para ter que reduzir o infinito em algo que eles pudessem acreditar que controlavam.

Que sandice. Você nunca controlou nada em sua vida. E, tampouco na deles.

Deus, se houvesse um modo de fazer isto. Ou ao menos fosse capaz de voltar e fazer algumas coisas. Que maravilhoso seria se pudesse bater um botão de rebobinar e logo se corrigisse o inferno do dia anterior. Deste modo não se sentiria como se sentia agora.

Gemeu e virou-se sobre seu estômago. Esta dor era… Incomparável, uma revelação do pior tipo.

Seu desespero parecia uma enfermidade, afetando seu corpo inteiro, fazendo-o tremer embora não tivesse frio, sacudindo seu estômago embora estivesse vazio, fazendo florescer a dor em suas articulações e peito. Nunca tinha pensado que a devastação emocional era uma aflição, pior ainda, e sabia que ficaria doente um tempo.

Deus… Deveria ter ido com Wellsie, em vez de ficar em casa para estudar tática. Se estivesse naquele carro, talvez pudesse ter lhe salvado… Ou talvez estivesse morto também?

Bom, seria melhor que esta existência. Inclusive se não houvesse nada em sua vida futura, até se só desmaiasse, certamente seria melhor que isto.

Wellsie… Morta, morta. Seu corpo, eram cinzas. Isso, John tinha ouvido por acaso, Vishous tinha posto sua mão direita sobre ela no local e logo tinha pego o que restara. Uma cerimônia formal seria realizada, porém ninguém poderia realizá-la sem Tohr.

E, Tohr também se foi. Desapareceu. Possivelmente estava morto? A alvorada estava próxima quando partiu… De fato, talvez esse fosse o ponto. Talvez tivesse saído correndo à luz para poder ir com o espírito de Wellsie.

Partir, partir… Todos pareciam partir.

Sarelle… Perdida para os lessers também. Perdida antes que ele realmente a conhecesse. Zsadist ia tentar recuperá-la, mas quem sabe o que aconteceria?

John imaginou o rosto de Wellsie, seu cabelo vermelho e seu pequeno ventre arredondado. Ele viu o rosto de Tohr, seus olhos azuis marinhos e seus amplos ombros no couro negro. Imaginou Sarelle estudando minuciosamente aqueles velhos textos, suas letras maiúsculas, seu cabelo loiro, comprido, suas mãos passando as páginas.

A tentação de começar a chorar outra vez, aumentou, John se sentou rapidamente, freando o impulso. O pranto. Não choraria outra vez por ninguém. As lágrimas eram completamente inúteis, uma debilidade indigna de suas lembranças.

A força seria sua oferenda. O impulso, seu elogio. A vingança, a prece em suas tumbas.

John saiu da cama, usou o banheiro, logo se vestiu, escorregando seus pés nos Nikes que Wellsie lhe tinha comprado. Em minutos estava embaixo, passando pela porta secreta que conduzia ao túnel subterrâneo. Andava rapidamente pelo labirinto de aço, seus olhos fixos, seus braços balançando-se com o ritmo preciso de um soldado.

Quando caminhava pela parte de trás do armário e pelo escritório de Thor, viu que a bagunça havia sido limpa: o escritório estava de volta ao que era antes, e a horrível cadeira verde colocada dentro. Os papéis, canetas e arquivos todos em seus lugares. Inclusive o computador e o telefone estavam onde deviam estar, embora ambos tivessem sido despedaçados na noite anterior. Devem ser novos...

A ordem foi restaurada, e a mentira tridimensional trabalhou para ele.

Foi ao ginásio e acendeu as luzes da caixa do teto. Não haveria aulas hoje devido a tudo o que tinha acontecido, e se perguntou se com Tohr desaparecido a formação pararia totalmente.

John caminhou através das esteiras ao quarto de armas, seus tênis faziam ruídos contra os resistentes forros azuis. Do gabinete de facas tirou duas adagas e logo pegou de improviso uma cartucheira de peito suficiente pequena para ele. Uma vez que as armas estavam amarradas na correia, foi ao centro do ginásio.

Justo como Tohr lhe tinha ensinado, começou baixando a cabeça.

E, logo manuseou as adagas e começou a trabalhar com elas, vestindo-se de cólera contra seu inimigo, imaginando a todos os lessers que ia matar.

 

Phury caminhou pelo cinema e sentou-se na parte de trás. O lugar estava lotado, ouviam-se conversas, casais jovens e legiões de moços do clube estudantil masculino. Ouviu vozes baixas e fortes. Escutava risadas, ouvia o desembrulhar dos caramelos sorvidos ruidosamente e gente mascando.

Quando o pano de fundo subiu, as luzes se atenuaram e as pessoas começaram a gritar.

Soube quando o lesser se aproximou. Poderia cheirar a doçura no ar, por cima do aroma das pipocas de milho e dos perfumes de neném que emanam dos casais.

Um telefone celular apareceu diante de seu rosto.

— Pegue-o. Ponha-o em seu ouvido.

Phury o fez e ouviu fôlegos ásperos na linha.

A multidão no teatro gritou.

— Maldito, Janet, vamos miserável!

A voz do lesser chegou diretamente detrás de sua cabeça.

— Diga-lhe que vai vir comigo sem nenhum problema. Prometa-lhe que ela viverá porque você vai fazer o que lhe dizem. E, faça-o em português para que possa lhe entender.

Phury falou ao telefone, as palavras exatas que lhe disse o desconhecido. Tudo o que registrou foi o fato que a fêmea começou a soluçar.

O lesser pegou o telefone por detrás.

— Agora, ponha isto.

As algemas de aço passaram a seu colo. Algemou-se e esperou.

— Vê aquela saída à direita? É aonde nos dirigimos. Você vai primeiro, há um caminhão esperando lá fora. Entre pela porta do passageiro. Todo o tempo estarei atrás de você com o telefone em minha boca. Você me ferra, ou vejo qualquer um de seus Irmãos, e a mato. Ah, e para sua informação, há uma faca em sua garganta, assim não há nenhum risco. Entendeu?

Phury assentiu com a cabeça.

— Agora, se levante e mova-se.

Phury levantou e se dirigiu a porta. Quando caminhava pensava que poderia sair disto vivo. Estava bem armado, e tinha guardado algumas armas em vários lugares. Mas, este lesser era superior, amarando-o, segurando-o com a vida daquela fêmea civil.

Quando Phury deu um pontapé para abrir a porta lateral do teatro, sabia sem nenhuma dúvida que ele beijaria seu traseiro antes que a noite terminasse.

 

Zsadist saiu, por força de vontade, estendendo a mão pela neblina da droga e agarrando a consciência. Com um gemido, se arrastou pelo chão de mármore do banheiro e pelo tapete do dormitório. Sujeitando seu caminho através do tapete, empurrando com seus pés, assim que teve forças para chegar à porta aberta, com vontade, se determinou a isso.

Logo que chegou ao corredor de estátuas, tentou gritar. No princípio eram sussurros roucos, mas então deu um grito. E, outro. E, outro.

Passos pesados lhe embriagaram de alívio.

Wrath e Rhage se ajoelharam junto a ele e o recostaram. Começaram a lhe fazer perguntas, incapazes de seguir todas as suas palavras.

— Phury… Se foi… Phury… Se foi…

Quando seu estômago arqueou e deu tombos, voltou-se de lado vomitou. Esvaziar o estômago lhe ajudou, fazendo-o sentir-se um pouco mais acordado.

— Têm que encontrá-lo…

Wrath e Rhage ainda disparavam perguntas, falando rápido, Z pensou que possivelmente eles eram a causa do zumbido em seus ouvidos. Era isto ou sua cabeça estava a ponto de explodir.

Quando empurrou seu rosto do tapete, sua visão o fez girar, e agradeceu a Deus que a dose de morfina tivesse sido calibrada para o peso de Bela. Por que parecia uma confusão.

Sentiu outro espasmo e vomitou outra vez, jogando tudo sobre o tapete. Merda… Nunca tinha sido capaz de controlar-se drogado.

Ouviu mais passos pelo corredor. Mais vozes. Alguém limpando sua boca com um tecido molhado. Fritz. Quando a garganta de Z voltou a sentir as náuseas, empurraram-lhe um cesto de papéis sob seu rosto.

— Obrigado. — disse quando voltou a vomitar.

Com cada puxão, sua mente voltava a si e também seu corpo. Levou dois dedos para sua garganta para provocar outro vômito. Quanto mais rápido a eliminasse de seu sistema, mais rápido poderia sair em busca de Phury.

Aquele filho da puta heróico… Deus. Ia matar seu gêmeo, realmente. Phury era quem devia viver.

Mas, onde infernos tinha sido levado? E, como encontrá-lo? O cinema era o lugar inicial, mas não ficariam ali muito tempo.

Zsadist começou a arquear, porque não havia nada mais em seu estômago. Estando no meio, o vômito foi a única solução que lhe veio à mente, e quando o fez, seu estômago realizou toda a maldita droga. O caminho de seu gêmeo violou cada instinto que tinha.

Mais passos se ouviram abaixo no corredor. Vishous falava. Uma emergência civil. Uma família de seis, presos em sua casa, rodeada por lessers.

Z levantou a cabeça. Seu torso. Levantou-se. Com vontade, que por sua vez era a única graça que tinha, e lhe veio ao resgate outra vez. Isto tirou mais da droga, enfocou-o, limpou-o melhor que os vômitos.

— Irei pelo Phury. — disse a seus irmãos — Vocês tomem cuidado com o trabalho.

Houve uma breve pausa. Então, Wrath disse.

— Assim seja.

 

Bela sentou em uma cadeira Louis XIV, suas pernas cruzadas nos tornozelos, suas mãos em seu colo. Um resplendor chispou em uma lareira de mármore à esquerda, e havia uma taça de Conde de chá Cinza em seu colo. Marissa estava atravessada em um delicado sofá, preparando um fio de seda amarela para bordar um tecido. Não havia nenhum som nem movimento.

Bela pensou que ia gritar.

Levantou-se de um salto, ativada pelo instinto. Zsadist… Zsadist estava perto.

— O que é isso? — disse Marissa.

Esmurrando a porta principal ao longe parecia um tambor, um momento depois Zsadist entrou no salão. Estava vestido para seu trabalho, armas em seus quadris, adagas presas em uma correia em seu peito. O tenso doggen em seus calcanhares parecia terrivelmente assustado.

— Deixem-nos. — disse a Marissa — E, leve seu criado.

Quando a fêmea vacilou, Bela esclareceu garganta.

— Tudo bem. É… Vai.

Marissa inclinou a cabeça.

— Não estarei longe.

Bela se sustentou no lugar quando por fim saíram.

— Preciso de você. — disse Zsadist.

Ela entrecerrou seus olhos. Deus, aquelas palavras que tinha querido ouvir. Que cruel que tivessem chegado tão tarde.

— Para que?

— Phury tomou de sua veia.

— Sim.

— Preciso de você para encontrá-lo.

— Está perdido?

— Seu sangue está em suas veias. Necessito-te.

— Para encontrá-lo. Ouvi isso. Diga-me por que. — a breve pausa que se seguiu a esfriou.

— O lesser o tem. David o tem.

O fôlego deixou seus pulmões. Seu coração parou.

— Como…?

— Não tenho tempo para te explicar. — Zsadist avançou, olhando-a como se fosse pegar suas mãos, mas então parou — Por favor. Você é a única que pode encontrá-lo, porque seu sangue está nele.

— É obvio… É óbvio que o encontrarei para você.

Isto era o vínculo dos laços de sangue, pensou. Ela poderia localizar Phury em toda parte porque ele se alimentou dela. E, depois que ela esteve na garganta de Zsadist, ele seria capaz de rastreá-la pela mesma razão.

Ele pôs seu rosto diretamente no dela.

— Quero que me ponha a uma distância de quarenta e cinco metros dele, não mais perto, entendido? E, logo se desmaterialize direto aqui.

Ela o olhou nos olhos.

— Não te defraudarei.

— Desejaria que houvesse outro modo de encontrá-lo.

Oh, aquela dor.

—Sem dúvida o faz.

Ela deixou o salão e pegou seu casaco, logo estava de pé no vestíbulo. Fechou seus olhos e estendeu a mão no ar, perfurando primeiro as paredes da entrada do caminho, depois a estrutura externa da casa de Havers. Sua mente transcendia sobre os arbustos, a grama, através de árvores e casas… Por carros, caminhões e edifícios e através de parques, rios e cascatas. Mais longe ainda, às terras de lavoura e às montanhas…

Quando encontrou a fonte de energia de Phury, uma dor a assaltou, como se fosse o que ele sentia. Quando se balançou, Zsadist agarrou seu braço.

Ela o separou.

— Tenho-o. Oh, Deus… É ele.

Zsadist pegou seu braço outra vez e exigiu.

— Quarenta e cinco metros. Não mais perto. Está claro?

— Sim. Agora vou.

Ela saiu pela porta principal, desmaterializando-se e tomou forma a aproximadamente a dezoito metros de distância de uma pequena cabana nos bosques.

Sentiu que Zsadist a pegava pelo cotovelo.

— Vai. — assobiou — Sai daqui.

— Mas...

— Se quer ajudar, parte, assim não me preocuparei com você. Vai.

Bela examinou seu rosto e se desmaterializou.

Zsadist se aproximou furtivamente da cabana de madeira, agradeceu ao ar frio que lhe ajudou a limpar-se um pouco mais da morfina. Quando se comprimiu contra uma parede áspera, desembainhou a adaga e olhou atentamente em uma das janelas. Não havia ninguém, só algo rústico, um mobiliário de merda e um computador.

O pânico se apoderou dele, como uma chuva fria que corria por seu sangue.

E, logo ouviu o som… Um golpe. Então, outro.

Havia uma dependência menor, sem janelas, a aproximadamente vinte e dois metros atrás. Correu e escutou por uma fração de segundo. Então, trocou sua faca por uma barra e derrubou a porta.

A visão ante ele era seu próprio passado: um macho preso a uma mesa, golpeado até ficar em carne viva. Um psicopata demente estava de pé sobre a vítima.

Phury levantou seu rosto destroçado, com sangue que reluzia nos lábios inchados e seu nariz. O lesser que o golpeava com as soqueiras[26] as fazendo girar ao redor, pareceu momentaneamente aturdido.

Zsadist apontou sua arma ao filho da puta, mas o assassino estava justamente diante de Phury, um engano de cálculo mais leve e a bala perfuraria o seu gêmeo. Z deixou cair o canhão, apertou o gatilho, e a cravou na perna, rompendo seu joelho. O bastardo gritou e caiu ao chão.

Z foi para ele. Porém, quando agarrava ao não morto, outro disparo soou.

O resplendor do tiro chegou ao ombro de Z. Sabia que lhe tinha atingido, mas não podia pensar nisto agora. Concentrou-se na aquisição do controle da arma do lesser, que era a mesma coisa que o lesser tratava de fazer com a Sig de Z. Lutaram no chão, com cada tentativa de conseguir um apertão no outro, apesar do sangue que era a lubrificação entre eles. Os murros foram lançados, as mãos agarradas e as pernas açoitadas. Ambos os braços se perdiam na luta corpo a corpo.

Aproximadamente aos quatro minutos de luta a força de Z começou a decair a uma velocidade alarmante. Nesse momento, estava no chão, o lesser em seu peito. Z empurrou seu corpo para lançar o peso dele longe, mas embora sua mente desse a ordem, seus membros não obedeciam. Olhou seu ombro, este sangrava, sem dúvida porque aquela lesma tinha atingido uma artéria. E, a morfina em seu corpo não ajudava.

Na calma do enfrentamento, o lesser ofegava e estremecia, sua perna o estava matando.

— Quem… Merda… É você?

— O primeiro… A quem você queria. — disparou Z, respirando com força. Merda… Teve que lutar para impedir que sua visão se retirasse progressivamente — Sou o primeiro… Por quem me... Tomou.

— Como… Fez… Isto?

— Olhei as cicatrizes… Em seu estômago, se curaram. Até sua marca… Desapareceu.

O lesser se congelou.

Agora, era o momento para aproveitar a vantagem, porém Z estava muito esgotado.

— Ela está morta. — sussurrou o assassino.

— Não.

— Seu retrato.

— Está viva. Respira. E, não vai… Nunca encontrá-la outra vez.

A boca do assassino se abriu e um grito de fúria saiu como uma rajada.

No meio do barulho, Z se acalmou. De repente a respiração lhe era fácil. Ou talvez acabasse de parar totalmente. Olhou como o assassino se movia, desembainhado uma das adagas negras de Z e levantando-a para cima, com ambas as mãos.

Zsadist rastreou seus pensamentos com cuidado porque queria saber qual séria o último. Pensou em Phury e quis chorar, porque sem dúvida seu gêmeo não duraria muito tempo. Deus. Sempre falhava com aquele macho, não tinha…?

E, logo pensou em Bela. As lágrimas vieram a seus olhos como imagens dela piscando por sua mente… Tão vívidas, tão imprecisas… Até que sobre o ombro do lesser, uma visão dela apareceu. Era tão verdadeira, como se realmente estivesse de pé na entrada.

— Amo você. — sussurrou quando sua própria adaga descia em seu peito.

— David. — chamou sua voz.

O corpo inteiro do lesser sacudiu, a trajetória da adaga aterrissou no piso de madeira ao lado do braço de Z.

— David, vêm.

O lesser tropeçou em seus pés quando Bela lhe ofereceu seu braço.

— Está morta. — disse o lesser, com voz quebrada.

— Não.

— Fui a sua casa… Vi o retrato. Oh, Deus… — o lesser começou a gritar quando coxeou mais perto e mais perto dela, deixando um rastro de sangue negro — Pensei que tinha te matado.

— Não o fez. Vêm.

Z tentou desesperadamente falar, tinha a horrível suspeita que esta não fosse nenhuma visão. Começou a gritar, mas só saiu um gemido. E, logo o lesser estava nos braços de Bela, chorando abertamente.

Z olhou quando a mão dela subiu pelas costas do assassino. Com uma pequena pistola, que ele lhe deu no dia que foram à sua casa.

Oh,… Doce Virgem. Não!

Bela estava em um estado de estranha calma quando puxou a arma mais alto e mais alto. Movendo-se devagar, seguiu murmurando palavras que o acalmaram até que o canhão esteve em nível com o crânio de David. Ela se inclinou para trás, e quando ele levantou sua cabeça para encontrar seus olhos, levantou a boca da arma a seu ouvido.

— Amo-te. — disse ele.

Ela apertou o gatilho.

A explosão fez seu braço girar e separou sua mão, fazendo-a perder o equilíbrio. Quando o som se dissipou ouviu um ruído surdo e olhou para baixo. O lesser estava a seu lado, ainda oscilante. Tinha esperado que sua cabeça voasse ou algo assim, mas havia só um pequeno buraco agasalhado em sua têmpora.

A náusea a golpeava, mas não fez lhe conta, passou por cima do corpo e foi para Zsadist.

Oh, Deus. Havia sangue em todas as partes.

— Bela… — suas mãos se levantaram da terra e sua boca era lenta.

Ela o interrompeu, alcançando a cartucheira do peito e pegando a adaga restante.

— Tenho que enterrar-lhe em seu peito, verdade?

Ah, infernos. Sua voz estava tão ruim quanto seu corpo. Cambaleante. Débil.

— Executa-o… Tira… De...

— No coração, verdade? Ou não estará morto. Zsadist, me responde!

Quando assentiu com a cabeça, aproximou-se do lesser e o empurrou de costas com seu pé. Seus olhos a olhavam, e ela sabia que ia vê-lo em seus pesadelos durante anos. Agarrando a faca com ambas as mãos, elevou-a sobre sua cabeça, e a afundou no peito dele. A resistência que a lâmina encontrou a pôs doente a ponto de vomitar, mas o som que arrebentou e o brilho de luz era um fim.

Recuou e golpeou o chão, mas dois fôlegos eram tudo o que podia economizar. Foi para Zsadist, arrancando seu casaco de lã. Colocou o pulôver ao redor do ombro dele, logo tirou seu cinto, envolveu-o ao redor do grosso ombro, e o ajustou apertando para que ficasse em seu lugar.

Todo o tempo, Zsadist lutou contra ela, instigando-a a ir-se, a deixá-los.

— Cale-se. — lhe disse, e cortou seu próprio pulso — Bebe isto ou morra, é sua opção. Mas, decide rápido, porque tenho que verificar como Phury está e depois tenho que conseguir tirar vocês daqui.

Ofereceu-lhe o braço, diretamente sobre sua boca. Seu sangue emanava e gotejava em seus lábios fechados.

— Seu bastardo. — sussurrou ela — Você me odeia tanto...

Levantou sua cabeça e começou a tirar de sua veia, sua boca fria lhe dizia o perto que estava da morte. Ele bebeu devagar a princípio e logo com avareza crescente. Pequenos sons saíram dele, sons em desacordo com seu corpo grande de guerreiro. Soava como se miasse, um gato faminto em uma fonte de leite.

Quando deixou sua cabeça retroceder, seus olhos se encontraram com a saciedade. Seu sangue se infiltrou nele, ela o viu respirar pela boca aberta. Mas, não havia tempo para olhá-lo fixamente. Correu pelo abrigo para ver Phury. Estava inconsciente, preso à mesa, ensangüentado como o inferno. Mas, seu peito subia acima e abaixo.

Maldição. Aquelas algemas de aço tinham fechaduras mestras penduradas nelas. Ia ter que as cortar com algo. Aproximou-se pela esquerda de uma seleção horrorosa de instrumentos.

E, foi quando viu o corpo no canto. Uma fêmea jovem com o cabelo loiro curto.

As lágrimas emanaram e fluíram quando verificou para assegurar-se que a moça estava morta. Quando era óbvio que estava começando a debilitar-se, Bela bateu em seus próprios olhos claros e se obrigou a concentrar-se. Necessitava cuidar dos vivos, eles eram prioridade. Depois… Um dos Irmãos poderia voltar e…

Oh… Deus… Oh… Deus… Oh… Deus.

Estremecendo, perto da histeria, recolheu uma serra, ligou-a, e fez um trabalho rápido nas algemas de Phury. Quando ele não despertou depois daquele barulhão todo, aterrorizou-se outra vez.

Olhou Zsadist, que estava lutando para levantar do chão.

— Vou conseguir aquele caminhão da cabana. — disse ela — Você fica aqui e conserva sua força. Necessito-te para me ajudar a mover Phury. Está frio. E, a moça… —sua voz se afogou — Teremos que deixar seu…

Bela foi para a cabana pela neve, desesperada, esperando encontrar as chaves do caminhão, tentando com força não pensar o que aconteceria caso não conseguisse.

Virgem Misericordiosa, estavam no gancho da porta. Pegou-as, correu para o F-150, ligou a maldita coisa, e saiu disparada ao redor do abrigo. Uma curva rápida patinando e chegou à entrada.

Saía do lado do condutor quando viu Zsadist caminhando como bêbado entre as ombreiras da porta. Phury estava em seus braços, Zsadist não ia durar muito tempo sustentando todo aquele peso. Ela abriu a carroceria e os dois caíram, com todos os membros enredados e sangrando. Empurrou os corpos com seus pés, logo saltou e os puxou mais para trás por seus cintos.

Quando estavam o bastante longe da borda, elevou uma perna sobre a amurada do caminhão e saltou a terra. Fechou de repente a carroceria, os olhos de Zsadist fechando-se encontraram a ela.

— Bela. — sua voz era um mero sussurro, só um movimento de seus lábios feito uma cópia de segurança com um suspiro de tristeza — Não quero isto para você. Toda esta monstruosidade…

Ela virou-se para longe dele. Um momento depois, pisou fundo no acelerador.

O caminho, uma vereda que levava a cabana era sua única opção, e rezou para não encontrar ninguém no caminho. Quando saiu na Rota 22, rezou dando graças à Virgem Escriba e se dirigiu para o Havers por uma estrada morta.

Inclinando o retrovisor, examinou a carroceria do caminhão. Deviam estar congelando lá atrás, mas não se atreveu a reduzir a velocidade.

Talvez o frio detivesse a perda de sangue de ambos.

Oh… Deus.

 

Phury era consciente do vento gelado que soprava sobre sua pele nua e através de sua calva cabeça. Gemeu e se enroscou. Deus, estava frio. Tinha que passar por isso para desvanecer-se? Então, agradeceu a Virgem por só ter que passar por isso uma vez.

Algo se mexeu contra ele. Braços… Havia braços sobre ele, braços que o acolheram perto de uma espécie de calor. O tremor diminuiu até que quem quer que fosse o sustentou brandamente.

O que era esse ruído? Perto de seu ouvido… Um som além do vento uivante.

Uma canção. Alguém cantava para ele.

Phury sorriu um pouco. Perfeito. Os anjos que buscavam aos Desvanecidos realmente tinham vozes bonitas.

Pensou em Zsadist e comparou a melodia encantadora que agora ouvia com este que ele tinha escutado em vida.

Sim, Zsadist tinha uma voz como à de um anjo, verdadeiramente. Realmente.

 

Quando Zsadist despertou, seu primeiro instinto foi sentar-se. Má idéia de merda. Seu ombro soltou um grito e o paralisou com um puxão de dor tão intensa, que desmaiou outra vez.

Round dois.

Esta vez, quando despertou ao menos recordou o que não fazer, virou sua cabeça devagar em vez de tentar fazê-lo bruscamente. Onde infernos estava? O lugar parecia estar a meio caminho entre um dormitório de convidados e um hospital. Estava na clínica de Havers.

E, alguém estava sentado nas sombras do quarto desconhecido.

— Bela? — grasnou.

— Desculpe. — Butch, ansioso, avançou à luz — Sou eu.

— Onde ela está? — homem, estava rouco — Está bem?

— Ela está bem.

— Onde… Onde ela está?

— Ela está… Ah, ela saiu à cidade, Z. Realmente penso que ela já se foi.

Zsadist fechou seus olhos. Considerando brevemente os méritos de desmaiar outra vez.

Entretanto, ele não podia culpá-la por escapar. Cristo, a situação a qual esteve exposta. A menor parte foi ter matado o lesser. Era melhor que fosse para longe de Caldwell.

Embora sua perda lhe doesse por toda parte.

Limpou a garganta.

— Phury? Ele está…

— No quarto ao lado. Feito um desastre, mas bem. Os dois devem ficar fora do jogo durante um par de dias.

— Tohr?

— Ninguém faz idéia de onde está. É como se tivesse desvanecido. — o policial exalou — John teve que ficar na casa grande, mas não pudemos tirá-lo do centro de instrução, esteve dormindo no escritório de Tohr. Quer alguma outra atualização? —quando Z sacudiu a cabeça, o policial ficou a seus pés — Deixarei você em paz agora. Só presumi que se sentiria melhor ao saber como estavam as coisas.

— Obrigado… Butch.

Os olhos do policial flamejaram com o som de seu nome, fazendo Z compreender que nunca antes o tinha usado com ele.

— Claro. — disse o humano — Não há problema.

Quando a porta se fechou, Zsadist sentou. Enquanto virava a cabeça, deu um puxão nos monitores de seu peito e seu dedo indicador. Os alarmes começaram a soar, e os fez calar derrubando o suporte da maquinaria que estava ao lado da cama. Com o enredo dos monitores estes se desligaram, caindo ao chão, para depois emudecer.

Com uma careta, puxou o cateter e olhou as transfusões intravenosas que entravam em seu antebraço. Esteve a ponto de arrancá-lo da veia, mas então calculou o movimento friamente. Só Deus sabia o que entrava nele. Talvez o necessitasse.

Levantou-se e seu corpo pareceu debilitar-se, sentia-se como um saco de batatas. O suporte da transfusão ajudou bastante fazendo um bom passeio batendo no vestíbulo a sua passagem. Quando começou a mover-se para o quarto ao lado, as enfermeiras chegaram correndo de todas as direções. Encolheu-se e abriu a primeira porta que encontrou.

Phury estava na enorme cama, com tantos fios conectados que parecia um painel telefônico.

A cabeça do homem virou.

— Z… O que faz?

— Experimentando os médicos. — fechou a porta e caminho pelo quarto, dirigindo-se a cama — Maldição, são realmente rápidos.

— Não deveria estar…

— Cale-se e te mova.

Phury pareceu assustado como o inferno, moveu-se para o lado oposto quando Z situou seu corpo esgotado no colchão. Quando se sentou contra os travesseiros, os dois soltaram um suspiro idêntico.

Z esfregou seus olhos.

— É feio sem todo o seu cabelo, sabe.

— Isto significa que vai cultivar alguns?

— Não. Meus dias de Rainha da Beleza terminaram.

Phury riu entre dentes. Então, houve um comprido silencio.

Nesta tranqüilidade, Zsadist seguiu imaginando o que tinha sido ver o lesser, no abrigo e Phury preso com correias naquela mesa, sem cabelo, sua cara golpeada feito merda. Ter testemunhado a dor de seu gêmeo tinha sido… Uma agonia.

Z limpou sua garganta.

— Eu não deveria ter te usado como fiz.

A cama se meneou como se Phury tivesse sacudido sua cabeça ao redor.

— O que?

— Quando precisava de dor… Eu não deveria ter-te feito me golpear.

Não houve nenhuma resposta, e Z girou a vista, vendo quando Phury cobriu seus olhos com as mãos.

— Fui cruel. — disse Z no tenso e débil ar que havia entre eles.

— Lamentei te fazer isso.

— Sim, eu sabia quando te fiz me golpear até sangrar. Que eu me alimentasse de sua miséria era a parte mais crua. Nunca vou voltar a lhe pedir isso.

O peito nu de Phury se elevou e caiu.

— Prefiro ser eu que alguém mais. Quando necessitar, avisa-me. Farei.

— Cristo, Phury…

— O que? É o único modo em que me deixa te cuidar. A única forma em que me deixa te tocar.

Agora foi Z que cobriu seus frágeis olhos com o antebraço. Teve que tossir algumas vezes antes de falar.

— Olhe, nada de voltar a me salvar, irmão. Bom? Isto terminou agora. Acabou-se. É tempo de que me deixe.

Não houve nenhuma resposta. Então, Z o olhou, e viu como as lágrimas deslizavam pela bochecha de Phury.

— Ah… Droga. — resmungou Z.

— Sim. Mais ou menos. — outra lágrima rodou do olho de Phury — Deus… Maldição. Estão escapando.

— Bom, te anime.

Phury esfregou seu rosto com as mãos.

— Por quê?

— Porque acredito que vou te abraçar.

As mãos de Phury caíram e o olhou com uma expressão absurda.

Lançando um juramento, Z instigou seu gêmeo.

— Levante a cabeça, condenado. — Phury esticou o pescoço. Z deslizou seu braço por debaixo. Os dois congelaram na posição pouco natural — Sabe, este inferno era muito mais fácil quando estava frio naquele caminhão.

— Foi você?

— Pensa que foi Papai Noel ou alguma outra merda?

As cores de Z se elevaram por toda parte. Deus… Ele realmente estava exposto ali. Que demônios fazia?

— Pensei que fosse um anjo. — disse Phury brandamente quando pôs sua cabeça para trás, no braço de Z — Quando cantou, pensei que me enviava sem perigo ao Fade.

— Não sou nenhum anjo. — subiu e deslizou sua mão sobre a bochecha de Phury, limpando a umidade. Então, fechou as pálpebras do homem com as pontas dos dedos.

— Estou cansado. — murmurou Phury — Tão… Cansado.

Z contemplou o rosto de seu gêmeo, como se fosse a primeira vez. As contusões já se curavam, o inchaço baixava, o corte denteado que se fez desaparecia. O que se revelavam eram linhas de esgotamento e tensão, com não muita melhoria.

— Estivesse cansado durante séculos, Phury. É tempo de descansar.

— Não acredito que possa.

Zsadist inalou profundamente.

— A noite que me afastaram da família… Não, não, me olhe. Está muito… Perto. Não posso respirar quando faz… Cristo, só feche seus olhos, está bem? — Z tossiu, quando a única coisa que podia passar por sua garganta apertada eram pequenos sons — Essa noite, não foi por sua culpa que não lhe pegaram. E, não pode compensar o fato de que teve sorte e eu não. Quero que deixe de cuidar de mim.

O fôlego de Phury estremeceu.

— Você… Tem alguma idéia do que senti ao ver você naquela cela, nu e algemado e… Saber o que por muito tempo aquela fêmea te tinha feito?

— Phury…

— Sei tudo, Z. Sei tudo o que te aconteceu. Ouvi sobre os homens que… Estiveram ali. Antes que eu soubesse que era você de quem eles falavam, ouvi as histórias.

Zsadist tragou, ele se sentia doente.

— Eu sempre esperei que você não soubesse. Rezava por isso.

— Então, tem que entender por que posso morrer por você qualquer dia. Sua dor é a minha.

— Não, não é. Jure para mim que parará com isso.

— Não posso.

Z fechou os olhos. Quando estavam juntos, queria lhe pedir perdão por todas as coisas de merda que fez depois que Phury conseguiu libertá-lo… E, queria gritar a seu gêmeo por ser um maldito herói. Mas, sobre tudo queria devolver a Phury todos aqueles anos gastos. O homem merecia mais do que tinha tido na vida.

— Bom, então não me deixa nenhuma alternativa.

A cabeça de Phury se sacudiu do braço de Z.

— Se você se matar…

— Imagino que não devo me deixar apunhalar para não te causar mais ansiedade.

Z sentiu que o corpo inteiro de Phury tremia.

— Ah… Jesus.

— Entretanto, não sei como funcionará. Meus instintos… Foram afiados pela cólera, entende. Provavelmente sempre vou ser explosivo.

— Oh, Jesus…

— Mas, sabe, talvez possa trabalhar nisso. Ou algo assim. Droga, não sei. Provavelmente não possa.

— Oh… Jesus. Ajudarei você. Em qualquer caminho que tome.

Z sacudiu a cabeça.

— Não. Não quero sua ajuda. Tenho que fazê-lo sozinho.

Ficaram tranqüilos durante um tempo.

— Meu braço adormeceu. — disse Z. Phury levantou sua cabeça e Zsadist jogou o membro para trás, mas não se afastou.

 

Antes que Bela partisse, foi ao quarto que tinham dado a Zsadist. Esteve atrasando sua partida durante dias, dizendo-se que não era porque ela esperava que ele viesse. O que era uma mentira.

A porta estava ligeiramente aberta, então bateu. Perguntava-se o que ele diria quando a visse. Provavelmente nada.

— Entre. — disse uma fêmea.

Bela entrou no quarto. A cama estava vazia, um suporte para fiscalizar os equipamentos estava estilhaçado de um lado como se estivesse morto. Uma enfermeira recolhia pedaços no chão e os punha em um cesto de lixo. Claramente Zsadist estava por perto.

A enfermeira sorriu.

— Procura por ele? Está ao lado com seu irmão.

— Obrigado.

Bela foi ao quarto seguinte e chamou silenciosamente. Quando não houve resposta, entrou.

Os dois estavam costas contra costas, tão fortemente unidos um contra o outro que parecia que suas espinhas estivessem fundidas. Seus braços e pernas estavam enroscados em posições idênticas, seus queixos metidos em seus peitos. Ela os imaginou no útero de sua mãe, descansando juntos, inocentes de todos os horrores que lhes esperavam no exterior.

Estranho, pensou, seu sangue estava em ambos. Era sua única herança ao par, a única coisa que ela lhes deixava.

De repente, os olhos de Zsadist se abriram. O brilho amarelo-ouro foi tão impactante, que saltou.

— Bela… — estendeu a mão para ela — Bela.

Ela deu um passo para trás.

— Vim para dizer adeus.

Quando ele deixou cair sua mão, ela teve que olhar para outro lugar.

— Aonde vai? — perguntou — A algum lugar seguro?

— Sim. — ela baixou a cabeça — Para Charleston, na Carolina do Sul, ficar com uns parentes que estão felizes de me ter. — isto vai ser um novo começo para mim. Uma nova vida.

— Bom. Está bem.

Ela fechou seus olhos. Só uma vez… Só uma vez gostaria de ouvir um pouco de tristeza em sua voz enquanto ela partia. Já que este era seu último adeus, ao menos não teria que sofrer mais decepções.

— É tão valente. — disse ele — Devo minha vida a você e a dele, também. É assim… Valente.

Ao inferno, ela não era valente. Estava a ponto de derrubar-se completamente.

— Espero que você e Phury se curem rapidamente. Sim, espero-o…

Houve um longo silêncio. Então, ela deu um último olhar ao rosto de Zsadist. Já sabia então que, até se ela emparelhasse alguma outra vez, nenhum macho poderia tomar seu lugar.

Soava tão romântico, mas na realidade a idéia a molestava. Certamente supunha que triunfaria sobre a perda de tudo isso. Mas, o amava e não ia ficar com ele, tudo o que ela queria fazer era meter-se em uma cama em algum lugar, apagar as luzes, e ficar ali. Sozinha, por um século.

— Precisa saber algo, — disse ela — disse-me que um dia eu despertaria e lamentaria estar com você. Bem, faço-o. Mas, não devido ao que a glymera poderia dizer. — ela cruzou seus braços sobre seus seios — Tendo sido criticada pela alta sociedade uma vez, já não tenho medo da aristocracia, e estaria… Orgulhosa de estar de pé a seu lado. Mas sim, sinto ter ficado com você.

Porque deixá-lo era um golpe esmagante. Pior do que tudo o que ela passou com o lesser.

Considerando todas as coisas, seria melhor não saber o que perdia.

Sem outra palavra, virou-se e deixou o quarto.

 

Quando o amanhecer surgia na paisagem, Butch foi à Cova, tirou seu casaco, e se sentou no sofá de couro. O Sport Center estava em silêncio. Pulsa Registration do Kanye West tocava no som ambiental.

V apareceu na porta da cozinha, claramente depois de uma noite de enfrentamentos: ele estava sem camisa, ainda com suas calças de couro e botas militares.

— Como está? — perguntou Butch, observando a contusão que aparecia no ombro de seu companheiro de quarto.

— Não melhor que você. Parece maltratado, polícia.

— Certo. — ele deixou cair sua cabeça. Vigiar Z parecia ser o correto enquanto os outros Irmãos faziam seu trabalho. Mas, ele estava esgotado, embora tudo o que tinha feito fosse ficar sentado em uma cadeira durante três dias.

— Tenho algo aqui para te reanimar.

Butch sacudiu sua cabeça quando uma taça apareceu diante de seu rosto.

— Sabe que não bebo vinho tinto.

— Tente.

— Não, preciso de uma ducha e logo algo um pouco mais forte que isto. — Butch colocou suas mãos em seus joelhos e começou a levantar-se.

Vishous se atravessou em seu caminho.

— Precisa disto. Confie em mim.

Butch ficou sentado e pegou a taça de cristal. Cheirou o vinho. Bebeu uns goles. Não estava tão ruim. Um pouco grosso, mas não estava ruim.

— É um Merlot?

— Não realmente.

Ele inclinou sua cabeça para trás e o bebeu. O vinho era forte, queimava no caminho a seu estômago, fazendo com que ele se sentisse um pouco enjoado. O que lhe fez perguntar-se quando tinha comido pela última vez.

Quando sorveu até a última gota, franziu o cenho. Vishous o olhava estreitamente.

— V? Algo está errado? — ele pôs a taça de cristal sobre a mesa e levantou uma sobrancelha.

— Não… Não, tudo está bem. Agora, tudo vai ficar bem.

O pensamento de Butch caiu sobre os problemas de seu companheiro de quarto.

— Ouça, pensei em te perguntar sobre suas visões. Ainda não retornaram?

— Na realidade, tive uma faz aproximadamente uns dez minutos. Talvez estejam de volta.

— Está bem. Eu não gostaria de ver você todo confuso.

— Está bem, policial. Você compreende? — Vishous sorriu e passou uma mão por seu cabelo. Quando seu braço caiu, o olhar de Butch foi ao pulso do Irmão. Por dentro dele havia um corte vermelho, fresco. Como, se o tivesse feito há uns minutos.

Butch olhou a taça. Uma horrível suspeita levou seus olhos da bebida a seu companheiro de quarto.

— Jesus… Cristo. V, o que… O que fez? — parou justo quando o primeiro espasmo alcançou seu estômago — Oh, Deus… Vishous.

Correu ao sanitário para vomitar, mas não chegou longe. Logo que entrou em seu quarto, V o abordou, recostando-o na cama. Quando começou a ter náuseas, Vishous o jogou de costas e com sua mão fez subir o queixo de Butch mantendo sua boca fechada.

— Não lute. — disse V — Contem-no. Tem que contê-lo.

A barriga de Butch era um campo de batalha, afogava-se na merda que subia por sua garganta. Pânico, repulsão, incapacidade de respirar, empurrou contra o corpo pesado que se sentara escarranchado sobre ele e conseguiu golpear Vishous, afastando-o. Mas, antes que pudesse escapar, V o agarrou e forçou sua mandíbula fechando-a outra vez.

— Guarde… Isto… Engole… — V gemeu quando eles rodaram na cama.

Butch sentiu que uma perna grossa prendia suas coxas. O movimento de luta o cansou. Não podia mover-se. De todo modo, lutava.

Os espasmos e a náusea se intensificaram até que pensou que seus olhos fossem arrebentar. Então, houve uma explosão em seu intestino, e as faíscas começaram a fluir por toda parte de seu corpo… Faíscas que se acenderam com um formigamento… Agora, um zumbido. Parou de lutar quando as sensações já faziam parte dele.

O agarro de V se atenuou e tirou sua mão, embora mantivesse um braço ao redor do peito de Butch.

— Está bem… Só respire. Devagar.

O zumbido aumentava agora, convertendo-se em algo como o sexo, mas não realmente… Não, definitivamente não era nada erótico, mas seu corpo não sabia a diferença. Endureceu-se, a ereção empurrava contra suas calças, seu corpo de repente rugia pelo calor. Arqueou-se, com um gemido que saía de sua boca.

— Assim é. — disse V em seu ouvido — Não lute. Deixe-te levar.

Os quadris de Butch giraram por seu próprio acordo, e gemeu outra vez. Estava quente como o centro do sol, sua pele hipersensível, sua visão débil… E, logo o rugido dentro dele corria até seu coração. De um salto, todas as suas veias se acenderam como se tivessem gasolina nelas, seu interior se converteu em uma rede de fogo, ficando mais e mais quente. O suor o esvaziou quando seu corpo girou e se sacudiu, ele voltou sua cabeça contra o ombro de Vishous. Saíram grasnidos de sua boca.

— Eu… Vou morrer.

A voz de V estava com ele, vendo-o.

— Vai sobreviver, homem. Segue respirando. Isto não vai durar muito tempo.

Só quando Butch pensou que não poderia agüentar mais este inferno, um orgasmo de proporções incalculáveis o alcançou. Quando a cúpula de seu pênis saiu voando, Vishous o sustentou pelas convulsões, falando na Velha Língua. E, logo tinha terminado. A tormenta passou.

Ofegando, débil, Butch estremeceu, enquanto, V o cobria com uma manta.

— Por que… — Butch disse como bêbado — Por que, V?

O rosto de Vishous apareceu na sua frente. Os olhos de diamante do Irmão brilhavam… Até que, de repente, o esquerdo era todo negro, a pupila que se ampliava até a íris e a parte branca se fizeram um buraco infinito.

— O porquê… Não sei. Mas, vi que devia beber de mim. Era isto ou morria. — V estendeu a mão e alisou o cabelo do Butch — Dorme. Já que sobreviveu, você se sentirá melhor ao anoitecer.

— Isto poderia… Matar-me? — Bem, merda, sim. Tinha assumido que ia morrer.

— Eu não teria dado isso a você se não estivesse seguro que ficaria bem. Agora, feche os olhos. Deixe ir, correto? — Vishous se dirigiu à porta, mas se deteve na entrada.

Quando o Irmão olhou para trás, Butch sentiu uma estranha sensação… Uma obrigação que fluía entre eles, um pouco mais tangível que o ar entre seus corpos. Forjado no calor do que acabava de acontecer, profundamente como o sangue em suas veias… Uma união, uma conexão milagrosa.

Meu irmão, pensou Butch.

— Não vou deixar que nada te aconteça, polícia.

E, Butch sabia que era absolutamente verdade, embora realmente não apreciasse ser atacado em seus pontos fracos. Se soubesse o que havia nessa taça de cristal, nunca teria bebido a merda, por nenhum motivo.

— O que me faz isto? — perguntou brandamente.

— Nada que não fosse antes. Ainda é só um humano.

Butch suspirou com alívio.

— Escute, homem, me faça um favor. Advirta-me antes que me faça um truque assim. Prefiro escolher. — então sorriu um pouco — E, ainda não saímos de moda.

V riu em um estalo curto.

— Dorme, novato. Pode me dar um pontapé no traseiro mais tarde.

— Farei isso.

Quando o Irmão e seu amplo traseiro desapareceram sob sua saudação, Butch fechou os olhos.

Ainda só… Humano. Só… Um… Humano.

O sonho o reclamou como um prêmio.

 

À tarde seguinte, Zsadist vestiu calças de couro. Estava rígido, mas se sentia incrivelmente forte, sabia que era o sangue de Bela que ainda o alimentava, lhe dando poder, convertendo-o em um homem são.

Limpou sua garganta quando fechou o botão, tratando de não chorar por ela como um maricas.

— Obrigado por me trazer isso, policial.

Butch saudou com a cabeça.

— Sem problemas. Está indo a casa? Porque posso te levar no Escalade.

Z deu um puxão sobre sua cabeça, a seu pescoço de cisne negro, empurrando seus pés dentro das botas, parou-se.

— Z? Z, cara?

Examinou o policial. Piscou algumas vezes.

— Sinto muito, o que?

— Quer ir comigo?

Z enfocou o olhar em Butch pela primeira vez embora o macho tivesse entrado no quarto fazia dez minutos. Esteve a ponto de responder a pergunta do humano quando seus instintos se ligaram golpearam sua cabeça cheirou um pouco. Contemplou o homem. Que droga…?

— Policial, onde estiveste desde a última vez que te vi?

— Em nenhum lugar.

— Cheira diferente.

Butch se ruborizou.

— Nova loção pós-barba.

— Não. Não, isso não é…

— Então, quer ir de carona comigo? — os olhos avelã de Butch endureceram, não ia dar um só centímetro de vantagem sobre a questão.

Z deu de ombros.

— Bom, sim. E, vou chamar Phury. Ambos iremos com você.

Quinze minutos mais tarde partiam da clínica. No caminho à casa grande Z estava sentado atrás no Escalade e contemplava a paisagem de inverno. Nevava outra vez, os flocos caíam horizontalmente quando a SUV acelerou pela Rota 22. Podia ouvi-los nos assentos dianteiros, Phury e a conversa em tons baixos de Butch, mas pareciam longínquos, muito longínquos. Realmente, todo o caminho se sentiu… Desfocado, fora de contexto…

— Lar doce lar, senhores. — disse Butch quando entraram no pátio do complexo.

Jesus. Já tinham chegado?

Os três se dirigiram à mansão, a neve fresca chiava sob suas botas. Assim que entraram no vestíbulo as fêmeas da casa correram para eles. Ou melhor dizendo, para Phury. Mary e Beth jogaram seus braços ao redor do Irmão, suas vozes eram um encantador coro de boas-vindas.

Quando Phury envolveu as fêmeas nos seus braços, Z recuou às sombras. Olhou discretamente, perguntando-se o que sentiria se estivesse naquele nó de membros, desejando que também houvesse boas-vindas a casa para ele.

Houve uma pausa incômoda, tanto Mary como Beth lançou um olhar sobre o braço de Phury. As fêmeas rapidamente olharam para longe, evitando seus olhos.

— Bem, Wrath está em cima. — disse Beth — Esperando-os com os Irmãos.

— Alguma palavra sobre Tohr? — perguntou Phury.

— Não, e isto está matando-os. A John, também.

— Irei ver o menino mais tarde.

Mary e Beth deram a Phury um apertão final, então ele e Butch se dirigiram para a escada. Z os seguiu.

— Zsadist?

Deu um olhar sobre seu ombro para a voz de Beth. Ela estava tensa de pé com os braços sobre seus seios, e Mary a seu lado, de forma similar.

— Alegramo-nos que esteja de volta. — disse a rainha.

Z franziu o cenho, sabendo que não podia ser certo. Não acreditava que gostassem de tê-lo por perto.

Mary falou.

— Acendi uma vela por você. Rezei para que voltasse para casa a salvo.

Uma vela… Acesa para ele? Só para ele? Quando o sangue golpeou seu rosto, sentiu-se patético ao se dar conta do quanto significava para ele tanta bondade.

— Obrigado. — ele se inclinou ante elas e logo se precipitou para cima, seguro de que tinha a cor de um rubi. Deus… Talvez melhorasse na coisa das relações. Algum dia.

Porém, quando entrou no escritório de Wrath e sentiu o olhar de seus Irmãos por toda parte, pensou que talvez não. Ele não podia suportar o escrutínio, era muito quando era tão cru. Quando suas mãos começaram a tremer, empurrou-as nos bolsos e foi para seu canto habitual na esquina, longe de outros.

— Não quero que ninguém saia esta noite e lute. — anunciou Wrath — Agora mesmo temos muitas coisas em nossas cabeças para ser eficazes. E, quero que estejam na casa às quatro da manhã. Logo que o sol se eleve estaremos todo o dia de luto por Wellsie, quero que se alimentem antes que comecemos isso. Quanto à cerimônia para o Desvanecer, não poderemos realizá-la sem Tohr, então a faremos depois.

— Não posso acreditar que ninguém saiba onde foi. — disse Phury.

Vishous girou sua mão.

— Vou a sua casa todas as noites, e ainda não há nenhum sinal dele. Seu doggen não o viu ou teve notícias dele. Deixou suas adagas, suas armas, sua roupa, os carros. Poderia estar em qualquer lugar.

— E, o treinamento? — perguntou Phury — Vamos mantê-lo?

Wrath sacudiu sua cabeça.

— Eu gostaria, mas maldição, estamos desfalcados de pessoal, e não quero abusar sobretudo porque necessita de tempo para te recuperar.

— Posso ajudar. — interpôs Z.

Todas as cabeças se viraram em sua direção. A incredulidade em seus rostos seria motivo para brincadeiras se não os tivesse afetado tanto como o fez.

Ele limpou sua garganta.

— Quero dizer, Phury seria o responsável, e teria que dar a merda da aula porque não sei ler. Mas, sou bom com uma faca, sabem, punhos, também, armas e explosivos. Eu poderia ajudar com a formação física e a parte das armas. — quando não houve nenhuma resposta, olhou para baixo — Sim, ou talvez não. Tudo bem. O que seja.

O silêncio que seguiu lhe golpeou como o inferno. Movendo suas pernas de um lado a outro. Observando a porta.

Droga, pensou. Deveria ter mantido a boca fechada.

— Penso que seria maravilhoso. — disse Wrath devagar — Mas, está seguro que poderá?

Z deu de ombros.

— Poderia tentar.

Outra vez uma calma incômoda.

— Bom… Assim seja. E, obrigado por contribuir.

— Certo. Sem problemas.

Quando meia hora mais tarde terminaram, Z foi o primeiro a abandonar o escritório, não quis falar com seus Irmãos sobre o que tinha prometido fazer ou como se sentia. Sabia que eles sentiam curiosidade, provavelmente procuravam sinais do que o tinha redimido ou alguma outra merda.

Voltou a seu quarto para armar-se. Tinha uma difícil tarefa pela frente, uma tarefa longa, difícil, e queria terminá-la logo.

Porém, quando foi à gaveta de armas dentro do armário, seus olhos viraram para o traje de cetim negro que Bela tão freqüentemente tinha colocado. Há dias, ele o tinha jogado no lixo do banheiro, mas obviamente Fritz o tinha recolhido e pendurado. Z avançou e tocou o vestido, logo o tirou do gancho, cobriu-o com seu braço, e acariciou o tecido liso. Atraiu-o a seu nariz e respirou profundamente, sentindo tanto seu aroma como o aroma do laço que compartilharam.

Esteve a ponto de atirá-lo quando viu que algo caía ao chão junto a seus pés. Inclino-se, era o pequeno colar de Bela, tinha-o deixado.

Tocou a frágil corrente por um momento, só olhando os diamantes cintilarem, então o pôs e retirou suas armas. Quando voltou ao dormitório pensando em deixá-lo, seus olhos pousaram no crânio da Mistress que estava ao lado da cama.

Cruzando o quarto, ajoelhou-se frente à cabeça e olhou fixamente nas conchas dos olhos.

Um momento depois foi ao banheiro, pegou uma toalha, e se dirigiu ao crânio. Cobrindo-o com a toalha, recolheu-o e se moveu rápido, correndo ligeiramente, desceu ao corredor de estátuas. Pegou a magnífica escada ao primeiro andar, que conectava diretamente a cozinha e a despensa do mordomo, logo cruzou a cozinha.

A escada do porão estava na parte de trás, não acendeu a luz enquanto a descia. Quando desceu, o som rangente do forno de carvão antigo da mansão se fez mais forte.

Ao aproximar-se da grande besta de ferro sentiu seu calor, como se estivesse vivo e febril. Inclinou-se e olhou a pequena janela de vidro. As chamas laranja lambiam e roíam o carvão que lhe tinham dado, sempre faminto de mais alimento, puxou o fecho, abriu a porta sentindo uma rajada de calor no rosto. Sem vacilar, sacudiu o crânio junto com a toalha.

Não esperou, nem o olhou queimar-se, virando-se, subiu as escadas.

Quando chegou ao vestíbulo fez uma pausa e logo foi ao primeiro andar. No alto da escada pegou o caminho à direita, seguiu pelo corredor e bateu em uma das portas.

Rhage abriu a porta, com uma toalha ao redor da cintura. Parecia surpreso ao ver quem era.

— Olá, meu irmão.

— Posso falar com Mary um minuto?

Hollywood franziu o cenho, mas disse por sobre seu ombro:

— Mary, Z quer ver você.

Mary fechava um roupão de seda e o amarrava com uma faixa quando chegou à porta.

— Olá.

— Você se opõe se fizer isto em privado? — disse Z, olhando Rhage.

Quando o irmão franziu o cenho, Z pensou. Sim, os machos vinculados não gostavam que suas fêmeas ficassem a sós com ninguém mais. Sobre tudo com ele.

Esfregou a cabeça.

— Estaremos sós aqui no corredor. Não tomarei muito tempo.

Mary caminhou entre eles e deu uma cotovelada a seu hellren.

— Tudo bem, Rhage. Veja se consegue ter a banheira pronta.

Os olhos de Rhage cintilaram enquanto sua besta reagia. Houve uma longa pausa, então beijou a Mary profundamente na garganta e fechou a porta.

— O que aconteceu? — perguntou ela. Z podia cheirar seu medo, mas ela o olhou nos olhos.

Sempre tinha gostado dela, pensou.

— Ouvi dizer que ensinou a crianças autistas.

— Ah… Sim, ensinei.

— Eles eram lentos na aprendizagem de coisas?

Ela franziu o cenho.

— Bom, sim. Às vezes.

— Isto lhe… — ele limpou sua garganta — Alterou seus nervos? Quero dizer, sentiu-se frustrada?

— Não. Se eu me sentisse decepcionada, séria comigo por não encontrar um modo no qual eles pudessem aprender.

Enquanto ele assentia com a cabeça, teve que olhar longe de seus olhos cinza. Concentrou-se no painel da porta ao lado de sua cabeça.

— Por que a pergunta, Zsadist?

Ele respirou fundo e logo descarregou nervosamente. Quando terminou de falar, arriscou olhar para ela.

Sua mão estava sobre a boca e seus olhos eram tão amáveis que pareciam a luz do sol sobre ele.

— Ah, Zsadist, sim… Sim, eu farei.

 

Phury sacudiu sua cabeça quando ele entrou no Escalade.

— Tem que ser o ZeroSum.

Ele realmente tinha que ir ali naquela noite.

— Eu imagino. — disse V quando deslizou atrás da direção, Butch saltou atrás.

Os três saíram em silêncio enquanto realizavam a viagem à cidade. Só se ouvia a música que soava no carro.

Tanta morte, tanta perda, pensou Phury. Wellsie. Aquela fêmea jovem, Sarelle, cujo corpo V havia devolvido a seus pais.

E, o desaparecimento de Tohr parecia também uma morte. Assim como Bela.

A agonia de tudo isto o fez pensar em Z. Queria acreditar que Zsadist estava a caminho de uma espécie de recuperação ou algo assim. Mas, a idéia de que o macho pudesse mudar era completamente infundada. Só era questão de tempo antes que a necessidade da dor voltasse para seu irmão e o inferno começaria outra vez.

Phury esfregou o rosto. Essa noite sentia como se tivesse mil anos, na realidade os tinha, mas, além disso, se sentia ansioso e alterado… Embora sua pele tivesse curado, por dentro, estava traumatizado. Simplesmente não podia funcionar bem. Precisava de ajuda.

Vinte minutos mais tarde, Vishous chegou à parte de trás do ZeroSum e estacionou a SUV de forma ilegal. Os seguranças os deixaram entrar em seguida, e os três se dirigiram à área VIP. Phury pediu um Martini, que quando chegou terminou de um só trago.

Ajuda. Ele precisava de ajuda. Ele precisava de ajuda… Ou ia explodir.

— Perdoem-me, cavalheiros. — murmurou. Dirigiu-se para a parte de trás, ao escritório de Reverendo. Os dois enormes seguranças o saudaram com a cabeça, um falou por seu relógio. Um segundo mais tarde o deixaram passar.

Phury caminhou na cova e se concentrou em Reverendo. O macho sentava de forma primitiva atrás de sua escrivaninha, mais homem de negócios que motivador.

Reverendo sorriu com satisfação.

— Onde inferno está todo o seu bonito cabelo?

Phury olhou atrás dele, assegurando-se que a porta exterior estivesse fechada. Então, tirou três pacotes de notas.

— Quero um pouco de H.

Os olhos violetas de Reverendo se estreitaram.

— O que disse?

— Heroína.

— Está seguro?

Não, pensou Phury.

— Sim. — disse.

Reverendo passou sua mão de frente para trás por seu topete. Então, se apoiou e pressionou um botão do intercomunicador.

— Rally, quero aqui trezentos em valor da Rainha. Assegure-se que seja de grânulo fino. — disse Reverendo sentando-se em sua cadeira — Perdoe-me, não acredito que deva levar este tipo de pó para casa. Não precisa desta merda.

— Não é que dê atenção a seus conselhos, mas me disse que deveria ir para uma um pouco mais forte.

— Retrato-me daquele comentário.

— Pensei que os symphaths não tivessem consciência.

— Sou filho de minha mãe, também. Então, tenho um pouco.

— Você não é afortunado.

O queixo de Reverendo baixou, e por uma fração de segundo seus olhos ondularam em um puro e purpúreo mal. Então, sorriu.

— Não… Vocês são os afortunados.

Rally chegou momentos depois, fazendo com que a transação não tomasse muito tempo. O pacote dobrado com esmero foi parar dentro do bolso de Phury.

Quando partia Reverendo disse:

— A matéria é muito pura. Morte pura. Pode injetá-lo ou derretê-lo em seu cigarro e lhe chutar isso. Mas, um conselho. Seria mais seguro para você, se o fumar. Terá mais controle da dose.

— Está familiarizado com seus produtos.

— Não, nunca uso nada deste lixo tóxico. Isto mata. Mas, tenho informações das pessoas sobre como funciona. E, que te deixa uma etiqueta no dedo do pé.

A realidade do que fazia brilhou através da pele de Phury em uma repugnantemente sensação de comichão. Mas, quando retornou à mesa com os Irmãos não podia esperar para ir para casa. Queria entorpecer-se completamente. Queria a profunda sacudida de cabeça que tinha ouvido que a heroína dava. E, ele sabia que tinha comprado bastante da droga para tornar o inferno divino, várias vezes.

— O que se passa com você? — perguntou Butch — Não pode ficar quieto esta noite.

— Não há nada. — quando pôs sua mão dentro de seu bolso e sentiu o que ele tinha comprado, começou a tamborilar com seu pé sob a mesa.

Sou um toxicômano[27].

Porém, realmente, pouco se importava. A morte estava em todas as partes ao redor dele, o fedor da dor e do fracasso que poluía o ar que respirava. Precisava de um trem louco durante algum tempo, até se isto significasse a entrada em outro tipo de enfermidade.

Por sorte, ou talvez infelizmente, Butch e V não ficaram muito tempo no clube, e estavam em casa um pouco depois da meia-noite. Quando eles caminhavam pelo vestíbulo Phury estalava seus dedos, e um rubor se espalhava sob sua roupa. Não podia esperar para estar sozinho.

— Querem comer? — disse Vishous bocejando.

— Claro que sim. — disse Butch. Então, olhou sobre o ombro quando V foi para a cozinha — Phury, vem comer algo com a gente?

— Não, até mais tarde. — quando subiu pela escada, podia sentir os olhos do macho nele.

— Phury… — chamou Butch.

Phury blasfemou e olhou por sobre seu ombro. Um pouco de sua viagem maníaca morreu sabendo que os olhos do policial estavam fixos nele.

Butch sabia, pensou. De algum jeito o tipo sabia.

— Está seguro que não quer comer com a gente? — disse o humano com voz leve.

Phury não soube o que pensar. Ou talvez só o rechaçasse.

— Sim. Estou seguro.

— Cuidado, amigo. Algumas coisas são difíceis de desfazer.

Phury pensou em Z. Nele. No futuro de merda que tinha pouco interesse em agarrar.

— Acredita que não sei? — disse, e saiu.

Quando chegou a seu quarto fechou a porta e deixou cair seu casaco de couro em uma cadeira. Tirou o pacote, pegou um pouco de fumaça vermelha e um papel de arroz, e preparou um cigarro. Não pensava no que fazia. Viciava-se só de pensar, estava muito perto.

Ao menos, para esta primeira vez.

Ele lambeu a borda do papel de arroz, pressionou a união, logo se aproximou de sua cama e se recostou contra os travesseiros. Pegou-o rapidamente, aproximando-o da chama para lhe dar vida, e se inclinou sobre o brilho laranja, o fez rodar por sua mão entre os lábios.

A batida em sua porta o aborreceu. Butch, droga.

Apagou o isqueiro.

— O que é?

Quando não houve resposta, guardou o cigarro com ele e caminhou através do quarto. Abriu a porta.

John tropeçou para trás.

Phury respirou fundo. Uma vez mais. Relaxe. Ele tinha que relaxar-se.

— O que faz, filho? — perguntou-lhe, acariciando o cigarro com o dedo indicador.

John pegou seu bloquinho, escreveu umas linhas e mostrou a ele.

— Sinto lhe incomodar. Preciso que alguém me ajude com minhas posições de jiu-jítsu, e você é muito bom.

— Oh… Sim. Esta noite não, John. Sinto muito. Estou… Ocupado.

O menino sacudiu a cabeça, depois de uma pausa, John agitou um adeus. E, girou afastando-se.

Phury fechou a porta, fechou-a com chave, e foi direito à cama. Ele tirou o cigarro outra vez e o pôs entre seus lábios.

Justo quando a chama bateu na ponta do cigarro, congelou-se.

Não podia respirar. Não podia… Começou a ofegar. Quando suas mãos ficaram molhadas, o suor brotou em cima de seu lábio superior, sob suas axilas e desceu para seu peito.

Que merda estava fazendo? Que merda fazia?

Toxicômano… Toxicômano filho da puta. Toxicômano de baixos recursos… Filho da puta. Trazer heroína à casa do Rei? Acender a merda no complexo da Irmandade? Poluir-se porque era um fraco de merda para enfrentar seus problemas?

Infernos que não, ele não faria isso. Não desonraria seus irmãos e o seu rei, com isto. Bastava ser viciado em fumaça vermelha. Mas, H?

Tremendo da cabeça aos pés, Phury correu ao quarto, recolheu o pacote, e partiu ao banheiro. Jogou o cigarro e a heroína dentro da bacia do banheiro dando descarga uma e outra vez.

Tropeçando pelo quarto, correu pelo corredor do vestíbulo.

John estava na metade do caminho da magnífica escada quando Phury chegou tão rapidamente à esquina que quase caiu. Pegou o rapaz e o arrastou a seus braços com tanta força que aqueles ossos frágeis quase se dobraram.

Deixando cair sua cabeça no ombro do menino, Phury estremeceu.

— Ah, Deus… Obrigado. Obrigado, obrigado…

Pequenos braços o rodearam. Pequenas mãos acariciaram suas costas.

Quando Phury finalmente o soltou, teve que limpar seus olhos.

— Penso que é uma grande noite para trabalhar em suas posturas. Sim. É uma boa hora para mim também. Vamos.

Quando o menino o olhou… Seus olhos de repente pareceram surpreendentemente sábios. E, logo a boca de John trabalhou, movendo-se devagar, formando palavras que tinham um impacto mesmo que não tivessem som.

— Você está em uma prisão sem barras. Preocupo-me com você.

Phury piscou, preso em uma estranha deformação do tempo. Alguém mais lhe havia dito aquelas mesmas palavras… No verão passado.

A porta do vestíbulo se abriu, quebrando o momento. Phury e John o aceitaram sem pensar, Zsadist entrou no vestíbulo.

O irmão parecia abatido enquanto olhava para as escadas.

— Oh, oi, Phury. John.

Phury esfregou seu pescoço, tratando de voltar de qualquer deja vu da raridade que acabava de passar junto a John.

— Oi, Z, de onde vem?

— De uma pequena viagem. Uma pequena viagem muito longínqua. O que fazem?

— Vamos ao ginásio para trabalhar as posições de John.

Z fechou a porta.

— Eu me uno a vocês. Ou… Talvez eu devesse dizer: posso me unir a vocês?

Phury ficou olhando-o fixamente. John pareceu igualmente surpreso, mas ao menos o menino teve a graça de assentir com a cabeça.

Phury assentiu com a cabeça.

— Sim, é obvio irmão. Vem conosco. Sempre é… Bem-vindo.

Zsadist cruzou o brilhante piso de mosaico.

— Obrigado. Muito obrigado.

Os três se dirigiram para o porão.

Quando caminhavam ao centro de treinamento Phury olhou John e pensou que às vezes, falta apenas a espessura de um cabelo entre dois carros para evitar um acidente mortal.

Às vezes, uma vida inteira poderia depender de uma fração de centímetros ou o batimento de coração de um nano-segundo. Ou uma batida na porta.

Estes tipos de feitos faziam um macho acreditar no divino. Realmente o faziam acreditar.

 

Dois meses depois...

Bela se materializou em frente à mansão Brotherhood e olhou o severo cinza da fachada. Nunca tinha esperado retornar. Mas, o destino tinha outros planos para ela.

Abriu a outra porta e entrou no vestíbulo. Quando acionou o intercomunicador e mostrou seu rosto à câmara, sentiu como se estivesse em algum tipo de sonho.

Fritz abriu as portas de par em par e se inclinou com um sorriso.

— Senhora! Que prazer vê-la.

— Olá. — passou ao interior e sacudiu a cabeça quando tentou pegar seu casaco — Não ficarei muito. Só estou aqui para falar com Zsadist. Por um minuto.

— Mas, é obvio. O Professor está ali em cima. Siga-me, por favor? — Fritz a conduziu através do vestíbulo até um par de portas duplas, tudo enquanto conversava alegremente, pondo-a a par das coisas e o que todos tinham feito no Ano Novo.

O doggen fez uma pausa antes de abrir caminho para a biblioteca.

— Peço-lhe desculpas, senhora, mas você parece… Gostaria de anunciar-se você mesma? Quando estiver preparada?

— Oh, Fritz, como me conhece bem. Eu adoraria ter um minuto para mim mesma.

Ele assentiu, sorriu e desapareceu.

Respirou profundamente e escutou as vozes e passos na casa. Algumas eram bastante baixas e ruidosas para pertencer aos Irmãos, olhou seu relógio. As sete em ponto da noite. Deviam estar preparando-se para sair.

Perguntou-se como Phury estaria. E, se Tohr já tinha regressado. E, como John estava. Voltas… Estava dando voltas.

Agora ou nunca, pensou pegando no pomo da fechadura de cobre, girando-a. Metade da porta se abriu silenciosamente.

Ficou sem fôlego quando olhou ao interior da biblioteca.

Zsadist estava sentado ante uma mesa, inclinado sobre um pedaço de papel, um magro lápis em seu punho apertado. Mary estava perto dele, e entre os dois havia um livro aberto.

— Recorde as consoantes fortes. — disse Mary, apontando para o livro — Check. Catch. O k e o c nessas palavras soam fechadas, mas não é o mesmo. Tenta-o outra vez.

Zsadist passou uma mão por sua delgada cabeça. Em voz baixa disse algo que não captou e então moveu o lápis sobre o papel.

— Isso está bom! — Mary pôs a mão sobre seus bíceps — Conseguiu.

Zsadist levantou o olhar e sorriu. Então, virou a cabeça para Bela e perdeu a expressão.

Oh, boa Virgem do Fade, pensou ela enquanto bebia sua imagem. Ainda lhe amava. Sabia em suas vísceras.

Espere um minuto… Que de… Demônios? Seu rosto era realmente diferente. Algo tinha mudado. Não a cicatriz, mas havia algo diferente.

Como for, acabe com isto para que possa ir embora.

— Sinto interromper. — disse ela — Estava me perguntando se poderia falar com Zsadist.

Ela foi vagamente consciente de Mary levantando-se e aproximando-se, das duas abraçando-se, da mulher saindo e fechando a porta atrás dela.

— Olá. — disse Zsadist. Então, lentamente ficou em pé.

Os olhos de Bela se alargaram, e deu um passo atrás.

— Meu Deus. Está enorme.

Ele levou a mão ao musculoso peito.

— Um… Sim. Ganhei trinta e seis quilos, aproximadamente. Havers… Havers diz que provavelmente não vou ganhar muito mais.

Assim, era essa a mudança em seu rosto. Suas bochechas já não eram ocas, suas feições não estavam tão nuas, seus olhos não estavam afundados. Ele parecia… Quase atrativo na realidade. E, muito mais parecido com Phury.

Ele esclareceu a garganta.

— Sim, assim, Rhage e eu… Estivemos comendo juntos.

Jesus… Certamente o fizeram. O corpo de Zsadist não era em nada igual ao que ela recordava. Seus ombros eram enormes e cobertos com músculos que ela podia ver rastreando a camiseta negra justa que levava. Seus bíceps eram três vezes o tamanho do que eram antes, e seus antebraços eram bastante grandes agora para ajustar-se ao tamanho de suas mãos. E, seu estômago… Esse estômago estava contornado com força, e sua pele se estirava sobre fortes e definidos músculos.

— Você também esteve te alimentando. — murmurou ela. E, imediatamente desejou poder trazer as palavras de volta. Assim, como também o tom de censura.

Não era de sua incumbência de que veia bebia, embora doesse imaginar ele com outra de sua classe, e isso era certamente de quem ele bebia. Possivelmente o sangue humano não pudesse ser responsável por esse tipo de desenvolvimento.

Sua mão desceu do peito até seu flanco.

— Rhage tem um membro dos Eleitos que utiliza por que não pode tomar da veia de Mary para sustentar-se. Eu também estive me alimentando dela. — houve uma pausa — Você parece bem.

— Obrigado.

Outra longa pausa.

— Um… Bela, por que veio? Não que me importe.

— Tinha que falar com você.

Ele não parecia saber o que dizer quanto a isso.

— Assim, o que está fazendo? — perguntou ela, apontando para os papéis sobre a escrivaninha. Isso tampouco era de sua incumbência, mas estava desesperadamente entupida outra vez. Sua língua travou. Estava perdida.

— Estou aprendendo a ler.

Seus olhos flamejaram.

— Oh… Uau. Como está indo?

— Bom. Lento. Mas, estou trabalhando nisso. — ele baixou o olhar para os papéis — Mary é paciente comigo.

Silêncio. Um comprido silêncio. Deus, agora que estava frente a ele, não podia encontrar as palavras.

— Fui a Charleston. — disse ele.

— O que? — Havia ido vê-la ali?

— Demorei um tempo para te encontrar, mas o fiz. Fui na primeira noite que me liberei de Havers.

— Nunca soube.

— Não queria que soubesse.

— Oh. — ela respirou profundamente, a dor dançava como o mercúrio sob cada polegada de sua pele. Era hora de jogar-se da rocha, pensou ela — Escute, Zsadist, eu vim para te dizer…

— Não quero ouvir-te até que tenha terminado. — quando seus olhos amarelos fixaram-se nela, algo mudou no ar entre eles.

— Com o que? — sussurrou ela.

Ele baixou o olhar ao lápis em sua mão.

— Comigo.

Ela sacudiu a cabeça.

— Sinto muito. Não entendo.

— Quero te devolver isto. — tirou o colar dela do bolso — Ia deixar ele com você nessa primeira noite, mas então pensei… Bom, de toda maneira, o usei até que não pude pô-lo mais ao redor de minha garganta. Agora, só o trago perto.

Bela deixou escapar o fôlego, saindo com facilidade de sua boca até que ficou vazia de ar. Enquanto isso ele começou a esfregar a parte superior da cabeça, seus bíceps e seu peito tão grande agora, esticaram sua camiseta até deixar esticar as costuras.

— O colar era uma boa desculpa. — murmurou ele.

— Para que?

— Pensava que possivelmente pudesse ir a Charleston e me apresentar ante sua porta para lhe devolver isso e possivelmente… Possivelmente me deixaria entrar ou algo assim. Estava preocupado de que outro homem te estivesse cortejando, assim tentei ir tão rápido como pude. Quero dizer, imaginava que possivelmente se pudesse ler, e se me preocupasse um pouco mais comigo mesmo, e se tentasse deixar de ser tão filhinho da mamãe… — ele sacudiu a cabeça — Mas, não me interprete mal. Isto não quer dizer que esperasse que estivesse feliz de ver-me. Eu só… Sabe, esperava… Café, chá, uma oportunidade para falar ou alguma outra droga. Amigos, possivelmente. Exceto se tiver um homem, ele não permitiria. Assim, é por isso é que estive me apressando.

Seus olhos dourados se elevaram até os dela. Estava fazendo uma careta de dor, como se tivesse medo do que possivelmente estivesse mostrando seu rosto.

— Amigos? — disse ela.

— Sim… Quero dizer, não te desonraria pedindo mais que isso. Sei que lamenta... De todo modo, não podia deixar você ir sem… Sim, somente… Amigos.

Santo… Moisés. Tinha ido até ela. Com a intenção de voltar a afastar-se.

Homem, isso estava completamente fora de qualquer panorama que imaginou quando se preparou para falar com ele.

— Eu… O que está dizendo, Zsadist? — balbuciou, embora tivesse escutado cada palavra.

Seu olhar baixou ao lápis em sua mão e então se virou para a mesa. Passando para uma nova página na caderneta de espiral, inclinou-se e rabiscou sobre a parte superior do papel durante um tempo. Depois arrancou a folha.

Sua mão tremia quando a estendeu.

— Está sujo.

Bela pegou o papel. No irregular bloco de letras de um menino havia três palavras:

EU TE AMO

Seus lábios se apertaram em uma linha quando seus olhos se fixaram. A caligrafia ondulava e depois desaparecia.

— Possivelmente não possa lê-lo. — disse ele em voz baixa — Posso escrever de novo.

Ela negou com a cabeça.

— Posso lê-lo perfeitamente. É… Bonito…

— Não espero nada em troca. Quero dizer… Sei que… Já não sente isso por mim. Mas, queria que soubesse. É importante que saiba. E, se houver alguma oportunidade de que possamos estar juntos… Não posso deixar meu trabalho com a Irmandade. Mas, posso prometer que serei muito mais cuidadoso comigo mesmo. — ele franziu o cenho e deixou de falar — Merda. O que estou dizendo? Prometi a mim mesmo que não te poria nesta posição.

Amassou o papel contra seu coração, então se jogou contra ele, batendo em seu peito com tanta força que ele cambaleou para trás. Quando seus braços a rodearam com vacilação, como se não tivesse idéia alguma do estava fazendo ou por que, ela chorou abertamente.

Em todos os seus preparativos para esse encontro, a única coisa que nunca tinha considerado era que os dois possivelmente tivessem algum tipo de futuro.

Quando ele inclinou seu queixo e baixou o olhar ao seu tentou sorrir, mas a louca esperança que sentia era uma carga muito pesada e gozosa.

— Não supunha que te fizesse chorar.

— Oh, Deus… Zsadist, eu te amo.

Seus olhos se abriram desmesuradamente, suas sobrancelhas quase impactaram com a linha do cabelo.

— O que…?

— Eu te amo.

— Diga isso outra vez.

—Eu te amo.

— Outra vez… Por favor. — sussurrou — Preciso ouvir… Outra vez.

—Eu te amo…

Sua resposta foi começar a rezar à Virgem Escriba na Antiga Linguagem.

Sustentando Bela apertada, enterrou o rosto em seu cabelo, agradeceu com tal eloqüência que ela começou a chorar de novo.

Quando murmurou o último elogio passou novamente ao português.

— Estava morto até que me encontrou, embora respirasse. Estava cego, embora pudesse ver. E, então chegou você… E, despertei.

Ela tocou seu rosto. Em um lento movimento ele fechou a distância entre suas bocas, pressionando o mais suave dos beijos sobre seus lábios.

Tão docemente vinha para ela, pensou. Inclusive com seu tamanho e seu poder, vinha a ela… Com doçura.

Então ele separou-se um pouco dela.

— Mas, espere, por que está aqui? Quero dizer, me alegro de que você...

— Carrego seu filho.

Franziu o cenho. Abriu a boca. Fechou-a e sacudiu a cabeça.

— Desculpe… O que disse?

— Carrego seu filho. — esta vez não houve resposta alguma dele — Vai ser pai. —ainda nada — Estou grávida.

De acordo, estava ficando sem maneiras de dizer-lhe. Deus… O que aconteceria se ele não a quisesse?

Zsadist começou a cambalear-se em suas botas de combate e o sangue fugiu de seu rosto.

— Carrega meu filho em seu interior?

— Sim, carrego.

De repente agarrou seus braços com força.

— Está bem? Havers disse que está bem?

— Até agora. Sou jovem, mas possivelmente trabalhe a meu favor quando chegar o momento do parto. Havers disse que o bebê está bem e eu não estou sob nenhuma restrição… Bom, exceto não me permite desmaterializar-me depois do sexto mês. E, ah… — ruborizada… Ela realmente estava ruborizada agora — Não poderei ter sexo ou ser alimentada depois do décimo quarto até o nascimento. O que deve ser ao redor do décimo oitavo mês.

Quando o doutor tinha dado essas advertências, ela tinha pensado que nunca teria que preocupar-se com qualquer uma dessas coisas. Mas, possivelmente agora…

Zsadist estava assentindo, mas realmente não parecia bem.

— Eu posso cuidar de você.

— Sei que o fará. E, vai me manter a salvo. — disse ela.

Disse isso por que sabia que ele se preocuparia com isso.

— Ficará aqui comigo?

Ela sorriu.

— Eu adoraria.

— Você emparelhará comigo?

— Está perguntando?

— Sim.

Ele ainda estava verde. Estava literalmente da cor de um sorvete de hortelã. E, essas tradicionais palavras começaram a agitá-la.

— Zsadist… Está de acordo com isto? Um… Não tem que te emparelhar comigo, se não...

— Onde está seu irmão?

A pergunta a assustou.

— Rehvenge? Ah… Em casa, suponho.

— Iremos vê-lo. Agora. — Zsadist pegou sua mão e a arrastou tirando-a do vestíbulo.

— Zsadist.

— Obteremos seu consentimento e estaremos emparelhados esta noite. E, iremos no carro de V. Não quero que se desmaterialize outra vez.

Zsadist puxava-a tão rápido para a porta, que ela tinha que correr.

— Espera, Havers disse que poderia fazê-lo até o mês…

— Não quero que corra riscos.

— Zsadist, isto não é necessário.

De repente, parou.

— Está segura que quer a meu pequeno?

— Oh, sim. Oh, querida Virgem, sim. Inclusive mais agora… — sorrindo. Pegou sua mão pondo-a sobre seu estômago ainda liso.

— Vai ser um pai maravilhoso.

E, então foi quando ele caiu desacordado.

 

Zsadist abriu os olhos para encontrar Bela lhe olhando com o amor brilhando em seu rosto.

A seu redor estavam os membros da casa, mas ela era a única a quem ele via.

— Olá, aí. — disse ela brandamente.

Estendeu a mão e lhe acariciou o rosto. Não ia chorar. Não o faria.

Oh, ao diabo com isso.

Sorriu-lhe quando as lágrimas começaram a cair.

— Espero… Espero que seja uma menina e que seja igual a você.

Sua voz se cortou. E então, assim, igual a um completo descontrolado, desmoronou-se totalmente e chorou igual a um idiota. Na frente de todos os Irmãos. E de Butch. Beth e Mary. Não duvidava que estivesse horrorizando Bela com sua fraqueza, mas não podia fazer nada. Esta era a primeira vez em toda sua vida que tinha sido… Abençoado. Afortunado. Com sorte. Este momento, este perfeito e deslumbrante espaço no tempo, este único, sublime momento onde estava deitado sobre suas costas no vestíbulo, com sua amada Bela, e o bebê em seu interior, e a Irmandade a seu redor… Esse era seu dia mais feliz.

Quando seus patéticos soluços cessaram, Rhage se ajoelhou, sorrindo de maneira tão ampla que suas bochechas estavam a ponto de partir-se.

— Viemos correndo quando sua cabeça desabou contra o chão. Pegue aqui, papaizinho. Posso ensinar o pequeno patife a lutar?

Hollywood estendeu sua mão, e quando Zsadist pegou o sustentou para abraçá-lo. Wrath se agachou.

— Parabéns, meu irmão. Que as benções da Virgem estejam sobre você, sua shellan e seu filho.

No momento em que Vishous e Butch ofereceram suas elogiosas palavras, Z estava sentado. Enxugando-se. Deus, era tão frouxo chorando sobre si mesmo. Merda. Boa coisa que nenhum deles parecia notar. Depois de respirar profundamente, olhou a seu redor procurando Phury… E, ali estava seu gêmeo.

Nos dois meses depois da noite em que Phury saiu com aquele lesser, seu cabelo já tinha crescido até a linha de mandíbula, e a cicatriz que ele próprio fez em seu rosto havia desaparecido. Mas, seus olhos eram opacos e tristes. E, estavam tristes também agora.

Phury se adiantou e todo mundo ficou quieto.

— Eu adorarei ser tio. — disse ele lentamente — Estou tão feliz por você, Z e por você também… Bela.

Zsadist pegou a mão de Phury e a apertou tão forte que podia sentir os ossos de seu gêmeo

— Vai ser um bom tio.

— E, possivelmente o Guardião? — sugeriu Bela.

Phury arqueou a cabeça.

— Ficarei honrado de ser o Guardião do pequeno.

Fritz se apressou a entrar com uma bandeja de finas taças compridas. O doggen estava entusiasmado e muito excitado pela felicidade.

— Para brindar a ocasião.

As vozes variaram e se mesclaram e as taças foram passadas e soaram risadas. Zsadist olhava Bela quando alguém pôs uma taça em sua mão.

— Amo você. — murmurou ele. Ela sorriu virando-se para ele e pressionou algo no interior de sua mão. Seu colar.

— Use-o sempre. — murmurou ela — Para dar boa sorte.

Ele beijou sua mão.

— Sempre.

Wrath levantou precipitadamente em toda sua altura, levantando seu champanhe, e inclinando a cabeça para trás, com uma tremenda e estrondosa voz, gritou tão alto, que podia jurar que as paredes da mansão tremeram.

— Pelo pequeno!

Todo mundo ficou de pé, levantaram suas taças, e gritaram com toda a força de seus pulmões:

— Pelo pequeno!

Ah, sim… Certamente seu coro de vozes era audaz e bastante ensurdecedor para chegar aos ouvidos da Virgem Escriba, precisamente como mandava a tradição.

Um apropriado e próspero brinde, pensou Z enquanto puxava Bela e descia para beijá-la na boca.

— Pelo pequeno! — gritou a casa uma vez mais.

— Por você. — disse contra os lábios de Bela — Nalla.

 

— Sim, bom, poderia ter feito sem a parte do desmaio. — murmurou Z quando puxou para o meio-fio da segura casa em que vivia a família de Bela — E, tudo isso de vociferar a tradicional rotina de “meus olhos vermelhos” também. Definitivamente, poderia ter passado sem isto. Cristo.

— Penso que foi muito doce.

Com um gemido, desligou o motor, deu batidinhas em seu SIG Sauer, e deu a volta para ajuda Bela a sair do Escalade. Maldição. Ela já abrira a porta e estava caminhando na neve.

— Espere por mim. — cortou ele, agarrando seu braço.

Ela lhe lançou um olhar fixo.

— Zsadist, se continuar me tratando como uma taça de cristal, vou ficar louca nos próximos dezesseis meses.

— Escute, mulher, não quero que escorregue sobre este gelo. Está de salto alto.

— Oh, pelo amor da Virgem…

Ele fechou a porta do carro, beijou-a rapidamente, então pôs o braço ao redor da cintura dela e a conduziu pelo caminho principal a uma grande casa estilo Tudor. Explorou a distância coberta de neve, o dedo do gatilho pulsava como o inferno.

— Zsadist, quero que deixe a pistola de lado antes de conhecer meu irmão.

— Sem problemas. Estaremos na casa então.

— Não vamos ter problemas ali. Estamos no meio da propriedade da minha família.

— Se pensa que vou dar a mais ligeira oportunidade com você e meu filho, está perdendo a cabeça.

Sabia que estava sendo super-protetor como o inferno, mas não podia evitar. Era um homem emparelhado. Com uma mulher grávida. Havia poucas coisas, sobre o planeta, mais agressivas ou perigosas. E, esses bastardos se chamavam furacões e tornados.

Bela não discutiu com ele. Em vez disso, sorriu e cobriu a dura mão sobre sua cintura com uma das suas.

— Suponho que deveria ser cuidadoso com o diz.

— O que quer dizer? — moveu-a para a frente dele quando chegaram à porta, bloqueando-a com seu corpo. Odiava o alpendre iluminado. O fazia muito chamativo. Quando apagou a coisa com sua mente, ela riu.

— Sempre quis a você para me emparelhar.

Ele lhe beijou o lado do pescoço.

— Bom, obteve teu desejo. Estou profundamente emparelhado. De maneira profundamente emparelhada. Profunda, profunda, ultra.

Quando se inclinou para frente e bateu a aldrava de cobre, seu corpo entrou em completo contato com o dela. Ela fez um pequeno som de ronrono do profundo de sua garganta e se esfregou contra ele. Ele congelou.

Oh, Deus. Oh… Não, ele ficou instantaneamente ereto. Tudo o que tinha feito era captar um pequeno movimento dela e tinha uma enorme ereção.

A porta se abriu de repente. Ele esperava ver um doggen ao outro lado. Em vez disso ali estava uma alta e esbelta mulher com cabelos brancos, um comprido vestido negro e um montão de diamantes.

Droga. A mãe de Bela, Z ocultou a arma na pequena cartucheira de suas costas e se assegurou que seu casaco de botões duplos estivesse abotoado até embaixo. Então uniu suas mãos justo na frente do zíper.

Ele vestiu-se tão conservadoramente como foi possível, com um traje que nunca tinha usado. E, inclusive calçava um par de luxuosos mocasins. Quisera usar gola alta para cobrir a marca de escravo de sua garganta, mas Bela tinha proibido isso, e supôs que ela tivesse razão. Não tinha escondido o que fora, e ali também não o faria. Além disso, não importava o que vestisse igualmente, pois embora fosse um membro da Irmandade, a glymera nunca o aceitaria, não só por que tinha sido usado como escravo de sangue, como também pela sua aparência.

A coisa era que Bela não tinha nenhuma utilidade para eles, e ele tampouco. Assim, ia tentar montar um espetáculo cortês para sua família.

Bela se adiantou.

— Mahmen.

Quando ela e sua mãe se abraçaram formalmente, Z entrou na casa, fechou a porta, e olhou ao redor. A mansão era formal e rica, própria da aristocracia, mas ele não dava nada pelas cortinas e o papel pintado. O que ele aprovou foram os contatos de segurança de lítio em todas as janelas, os receptores laser nas soleiras e os detectores de movimento sobre o teto. Enormes pontos por tudo isso. Enormes.

Bela deu um passo atrás. Estava rígida junto de sua mãe, e ele podia ver o por que. Era óbvio pelo vestido e todos esses diamantes que a mulher era uma aristocrata de coração duro. E, os aristocratas tendiam a ser tão acolhedores como um montão de neve.

— Mahmen, este é Zsadist. Meu companheiro.

Z se preparou quando a mãe dela lhe olhou da cabeça aos pés.

Uma. Duas… E, sim, uma terceira vez.

Oh, cara esta ia ser uma tarde realmente longa.

Então, se perguntou se a mulher sabia que ele tinha deixado sua filha grávida também.

A mãe de Bela se adiantou e ele esperou que ela estendesse uma mão. Não lhe ofereceu nada. Em vez disso, seus olhos se umedeceram.

Fantástico. Agora o que ia fazer?

A mãe dela caiu a seus pés, seu vestido negro solto a redor dos luxuosos mocasins que usava.

— Guerreiro, obrigado. Obrigado por trazer minha Bela para casa.

Zsadist ficou olhando à mulher durante um batimento e meio de coração.

Então, se agachou e a levantou gentilmente do chão. Enquanto a sustentava torpemente, olhou para Bela… Que estava mostrando o tipo de expressão que as pessoas reservam geralmente para as proezas da magia. Uma maior que o inferno, mesclada com admiração.

Quando sua mãe se separou e limpou cuidadosamente os olhos, Bela esclareceu a garganta e perguntou:

— Onde está Rehvenge?

— Estou aqui mesmo.

A profunda voz fluiu da escura sala, e Zsadist olhou à esquerda para um enorme homem com uma bengala.

Merda. Oh… Merda. Isto não estava acontecendo.

O Reverendo. O irmão de Bela era esse pretensioso, olhos violetas, machão, traficante de drogas… Que, segundo Phury, era pelo menos meio simpath.

Que pesadelo louco. Tecnicamente, a Irmandade deveria jogar seu traseiro para fora da cidade. Em vez disso, Z estava olhando sua companheira dentro da família desse cara. Deus, Bela sabia quem e o que era seu irmão? E, não só a parte do traficante de drogas…

Z a olhou. Provavelmente não, seus instintos o diziam. Sobre ambos os assuntos.

— Rehvenge, este é… Zsadist. — disse ela.

Z olhou o homem outra vez. O par de olhos de profundidade púrpura lhe devolveu o olhar sem piscar, mas sob a calma havia uma pitada do mesmo tipo de sagrado inferno que Z estava sentindo. Homem… Exatamente como foram cair nisto?

— Rehv? — murmurou Bela — Um… Zsadist?

O Reverendo sorriu com frieza.

— Assim, vai casar com minha irmã agora que a engravidou? Ou só é uma visita social?

As duas mulheres deixaram escapar respectivos gritos de assombro e Zsadist sentiu centelhas negras em seus olhos. Quando indicou a Bela que viesse para seu lado, descobriu penosamente suas presas. Estava fazendo tudo o que podia para não envergonhar a ninguém, mas se o traficante deixava escapar alguma linha mais como essas de sua boca, Z ia arrastá-lo para fora e lhe tirar a golpes uma desculpa por incomodar às damas.

Estava malditamente orgulhoso de si mesmo quando só chiou um pouco.

— Sim, vou emparelhar com ela. Deixa de te fazer de duro, civil, e pode ser que lhe convidemos à cerimônia. De outra maneira, está fora da lista.

Os olhos do Reverendo cintilaram. Mas, então riu repentinamente.

— Tranqüilo, aqui, irmão. Só quero me assegurar que minha irmã estará bem cuidada.

O homem estendeu sua mão. Zsadist encontrou sua grande mão no meio do caminho.

— Cunhado, para você. Ela estará, não se preocupe com isso.

 

Vinte meses depois…

Oh… A agonia. Este treinamento ia matá-lo. Com certeza, queria entrar na Irmandade, ou ao menos ser um de seus soldados, mas como alguém podia sobreviver a isto?

Com o tempo, finalmente foi chamado, o novo candidato pré-transição tolerou porque a aula sobre corpo a corpo tinha terminado finalmente. Mas, ele não se atreveu a mostrar mais debilidade que essa.

Igual a todos os aprendizes estava apavorado e respeitava ao professor, um grande, guerreiro com cicatrizes, um completo membro da Irmandade da Adaga Negra. Abundavam rumores sobre o homem: aquele que comia aos lessers depois de assassiná-los, aquele que assassinava mulheres por esporte, aquele que se fazia cicatrizes só por que gostava da dor…

Aquele que tinha matado aos recrutas que se equivocaram.

— Vão às duchas. — disse o guerreiro, sua profunda voz enchendo o ginásio — O ônibus está esperando por vocês. Começaremos amanhã, às quatro em ponto. Assim, durmam bem esta noite.

O aprendiz saiu correndo com os outros e foi agradecido às duchas. Deus… Ao menos o restante de sua sala estava só aliviado e dolorido. Chegado a este ponto, todos eram como vacas, permanecendo sob a ducha, apenas pestanejando, piscando, estúpidos pelo esgotamento.

Graças à boa Virgem não teria que voltar para esses abandonados colchonetes azuis por outras dezesseis horas.

Quando foi vestir suas roupas de rua, deu-se conta que tinha esquecido seu moletom. Com vergonha, desceu ao hall e retornou furtivamente ao ginásio. O aprendiz parou em seco.

O professor estava cruzando o corredor, sem camiseta e treinando com um saco de boxe, os anéis de seus mamilos cintilavam quando dançava ao redor de seu objetivo. Querida Virgem do Fade… Tinha as marcas de um escravo de sangue, e as cicatrizes lhe percorriam toda as costas. Mas, amigo, podia mover-se. Tinha uma força, agilidade e poder incrível. Mortais. Muito mortais. Totalmente mortais.

O aprendiz sabia que deveria sair, mas era incapaz de separar seu olhar dele. Nunca tinha visto nada mover-se tão rápido ou golpear tão forte como os punhos masculinos. Obviamente, os rumores sobre o instrutor eram todos certos. Ele era um assassino preciso.

Com um som metálico, a porta do outro lado do ginásio abriu-se, e o som dos choros de um recém-nascido se elevaram até o teto. O guerreiro deteve-se no meio do golpe e virou-se quando uma adorável mulher levando a um bebê em uma manta rosa se aproximou dele. Seu rosto se suavizou, derretendo-se positivamente.

— Lamento te incomodar. — disse a mulher por cima dos choros — Mas, ela quer a seu papai.

O guerreiro beijou a mulher enquanto pegava o pequeno bebê em seus enormes braços, embalando o recém-nascido contra seu peito nu. O bebê levantou suas diminutas mãos e rodeou seu pescoço, então se acomodou contra sua pele, acalmando-se instantaneamente.

O guerreiro virou-se e olhou através dos colchonetes, cravando o novo aprendiz com um estudado olhar.

— O ônibus chegará logo, filho. Melhor apressar-se.

Então lhe deu uma piscada, e se afastou, pondo sua mão sobre a cintura da mulher, aproximando-a dele, beijando-a outra vez na boca.

O recruta ficou olhando as costas do guerreiro, vendo o que tinha estado oculto por todos ferozes movimentos. Sobre algumas de suas cicatrizes havia dois nomes na Antiga Linguagem sobre sua pele, um sobre o outro.

Bela… E, Nalla.

 

[1] Nota da revisora: é o anjo designado para remover a alma dos seres humanos.

[2] Nota da revisora: sigla de Big Dumb Face, que significa grande cara de idiota.

[3] Nota da revisora: refere-se à dose diária de droga, neste caso erva.

[4] Nota da revisora: jargão dos anos 50 que significava literalmente silêncio, calado e foi associada com a palavra fofoca, fofocas.

[5] Nota da revisora: cabelo raspado dos lados, deixando uma faixa central, chamado moicano.

[6] Nota da revisora: entrega de prêmios ao estilo do Oscar.

[7] Nota da revisora: expressão sarcástica de mau humor. Provém de “Wash”, uma forma de ilustrar um completo asco de compaixão por outros desafortunados, e de “Hugh”, alucinante.

[8] Nota da revisora: homem ligado a moda, ao seu lado feminino, narcisista.

[9] Nota da revisora: Pedaço De Merda, em inglês Peace of shit.

[10] Nota da revisora: veículo tipicamente dirigido por mães de família, que levam os filhos para atividades extra-escolares, tais como o futebol.

[11] Nota da revisora: dispositivo instalado nos carros de polícia, utilizado para encontrar veículos roubados.

[12] Nota da revisora: do espanhol, Ausente sem Sin Haberse Ido. Do inglês original: AWOL (Absent Without Official Leave). Em português: Ausente sem ter ido.

[13] Nota da revisora: em espanhol, Bien Jodidos. Em inglês, Shit out of luck. Em português, bem fodidos.

[14] Nota da revisora: estrela de arremesso, tipo a que os ninjas usavam.

[15] Nota da revisora: faz referência a marca do xampu.

[16] Nota da revisora: massa pronta para panqueca.

[17] Nota da revisora: em tons de rosa.

[18] Nota da revisora: jogo de pistolas lasers. Em inglês, Laser-tag, na Espanha se chama Quazar.

[19] Nota da revisora: marca da água mineral.

[20] Nota da revisora: programa fictício de investigação criminal.

[21] Nota da revisora: sigla de Talk To You Later, do inglês. Que em português significa: Falo com você depois.

[22] Nota da revisora: faz referência a marca de roupa de cama e banho.

[23] Nota da revisora: faz referência ao nome de uma empresa de seguros.

[24] Nota da revisora: calefação, ventilação e ar condicionado.

[25] Nota da revisora: pomada térmica de aplicação tópica para dores musculares.

[26] Nota da revisora: soco inglês.

[27] Nota da revisora: é toda pessoa que, partindo de um produto base, faz a escalada com outro produto e (ou então) o utiliza diariamente ou quase diariamente.

 

                                                                                J. R. Ward  

 

                      

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