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RELATOS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

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Operações no Norte da França

Queda de Nantes: Amplia-se a cabeça-de-ponte

Luta na Bretanha

Avanço à Rennes e aos portos da Bretanha

A queda de Nantes

Conquista de Saint Malo

 

A luta na França entre as forças aliadas e as alemães, nos últimos dias de julho de 1944, estava bem definida. As tropas anglo-americanas empenhavam-se em completar a ofensiva no território francês, aprofundando-se numa linha que ia de Caen até Avranches, de nordeste a sudoeste, aproximadamente por 160 km. Na península de Cotentin, isolado pela linha do avanço aliado, as defesas alemães já estavam desorganizadas e dispersas. Donos absolutos do espaço aéreo, os aviões aliados bombardeavam sem cessar as colunas alemãs em movimento. Veículos destroçados interrompiam o tráfego nas estradas, convertendo-se em obstáculo até mesmo para o avanço das forças que perseguiam os nazistas em retirada. O Marechal-de-Campo Günther von Kluge, comandante do 7o Exército alemão, falando de seu posto de comando em Le Mans, a 130 km a sudeste de Avranches, informava por telefone ao General Günther Blumentritt, chefe do Estado-Maior do Comando do Oeste: "... Não se pode fazer idéia do que está acontecendo aqui... Os comandantes estão completamente desligados de suas tropas e perdemos o controle das unidades..."

 

A luta, na verdade, estava a ponto de se transformar numa catástrofe para os nazistas. A rapidez do avanço aliado representava um perigo seríssimo para os alemães, que não teriam como evitar o extermínio total de seus exércitos.

 

Von Kluge, sem titubear, dispôs imediatamente as medidas a serem tomados para diminuir a velocidade do cerco. O marechal-de-campo baseava sua estratégia numa ordem emitida ao comandante do 25o Corpo, Fahrmbacher: "As tropas que se acham na área de Saint Malo devem transferir-se imediatamente para o leste, na direção de Pontaubault, 6 km ao sul de Avranches, e daí lançar um inesperado contra-ataque para o norte, visando reconquistar Avranches e impedir que os Aliados continuem a perseguição". A ordem de von Kluge determinava que de nenhum modo se poderia permitir o ingresso do inimigo na península da Bretanha, onde estavam os importantíssimos portos de Saint Malo, Brest, Lorient e Saint Nazaire.

 

Para efetuar a missão, Fahrmbacher dispunha de tropas provenientes de duas frentes de combate, ainda não entrosadas entre si. Parte de seus homens integravam as forças destacadas para a defesa da costa e constituíam unidades sem valor combativo e de pouca experiência de combate. O resto das formações escapara recentemente ao cerco aliado em Cotentin, refugiando-se na Bretanha; achavam-se esgotadas e diminuídas pelas baixas sofridas. Encontravam-se na zona do combate, ainda, importantes unidades navais e da Luftwaffe, que não estavam sob o comando de Fahrmbacher e que, por isso, deveriam permanecer inativas enquanto não recebessem diretivas específicas que possibilitassem sua entrada na luta. Numa urgente mensagem ao Führer, enviada às primeiras horas da madrugada de 1o de agosto, o Marechal von Kluge solicitou a permissão correspondente para que a 2a Divisão de Pára-Quedistas, distribuída a leste de Brest, entrasse no combate. Pediu que para o mesmo fim se retirasse a 319a Divisão de Infantaria das ilhas do Canal da Mancha. Hitler concedeu suo autorização ao reforço dos pára-quedistas, mas negou-se terminantemente a retirar os efetivos das ilhas.

 

Von Kluge, sem perda de tempo, transladou os pára-quedistas para o leste, dispondo-os estrategicamente para reforçar as defesas que deveriam atravancar o deslocamento dos Aliados sobre a Bretanha.

 

O avanço para Rennes

 

Os efetivos da 4a Divisão Blindada americana, sob o comando do General Wood, iniciaram na tarde de 1o de agosto o avanço para o sul, partindo de Pontaubault. O objetivo se encontrava a 60 km e era a cidade de Rennes, capital da Bretanha, com uma população de 80.000 habitantes. Sua importância como objetivo militar explicava-se pelo fato de ser um entroncamento rodoviário de onde partiam dez estradas fundamentais para o transporte aos portos da região.

 

As tropas da 4a Blindada chegaram às imediações de Rennes pelas primeiras horas da noite do mesmo dia, após se deslocarem com extraordinária rapidez. O assalto inicial, a cargo de uma companhia blindada apoiada por 25 tanques Sherman, chocou-se contra uma resistência desesperada por parte dos nazistas. Na defesa da cidade achavam-se duas companhias da Luftwaffe com canhões antiaéreos de 88 mm, além de uma unidade de apoio formada por uns cem soldados da infantaria com 8 metralhadoras e 3 canhões antitanque. Somavam-se alguns soldados dispersos que totalizavam uma companhia de infantaria.

 

A resistência alemã via-se dificultada pela falta de trabalhos de fortificação que permitissem defesa adequada, à altura da qualidade e da quantidade das tropas atacantes. Em vista disso, Fahrmbacher, ao mesmo tempo que enviava um grupo de combate para Pontaubault, a fim de atrasar o avanço americano, transferiu uma reduzida força para Rennes, para colaborar na defesa da importante cidade.

Os acontecimentos, a essa altura, faziam sentir a verdade das palavras de von Kluge a Blumentritt, durante a conversa telefônica: "... a atividade aérea do inimigo é terrível e estrangula praticamente todos os movimentos de nossa parte. Em troca, cada movimento do inimigo está disposto e protegido por sua força aérea... São enormes as perdas em homens e material... As unidades compõem-se de grupos isolados que há muito não formam uma força coordenada, e o moral das tropas sofreu gravemente sob o contínuo e mortífero fogo inimigo. É impossível continuar assim... Temos que trazer tropas novas do 15o Exército, ou de qualquer parte!... Os franceses, na Primeira Guerra Mundial, usaram os ônibus parisienses para transportar tropas à frente de luta. Temos que fazer como eles... utilizar todos os meios disponíveis!".

 

As forças enviadas por Fahrmbacher chegaram a Rennes pouca antes das linhas avançadas americanas. De qualquer modo, fracassaram em sua tentativa de defender o aeroporto do cidade, rapidamente capturado pelos blindados atacantes. Durante a luta, mais dois batalhões da Wehrmacht vieram reforçar as defesas com um total de 1.900 homens provenientes de Le Mans.

 

Ainda durante o noite de 1o de agosto os aviões americanos, especialmente P-47, Thunderbolts, em número de trinta, lançaram violento e demorado ataque sobre as posições nazistas. A artilharia, ao mesmo tempo, martelava sem cessar as linhas de defesa, "amaciando" as posições alemães para o assalto final.

 

À meia-noite chegaram dois canhões de assalto para os escassos efetivos assediados em Rennes. Com eles veio o comandante da 91a Divisão, Koenig, que tomou a si a organização das tropas que guarneciam a capital da Bretanha, até ali sem comando efetivo.

 

No lado americano, enquanto isso, acrescentaram-se ao ataque as forças do 13° Regimento de Infantaria e da 8a Divisão que marchara na retaguarda da 4a Divisão em Cotentin. A situação manteve-se estacionária durante o dia 2 de agosto. Os alemães continuavam resistindo encarniçadamente e as forças americanas viam frustrar-se suas tentativas de desalojá-los da cidade.

 

Ao cair a noite do dia 1o de agosto o chefe americano, General Wood, decidiu alterar os planos de ataque. Ordenou às tropas que cercassem o perímetro urbano de Rennes, movimentando para isso a 8a Divisão. Ao mesmo tempo, deixando a cidade sitiada, partiu com a 4a Divisão Blindada para o sul, apressando dessa maneira a conquista de outros pontos da região.

 

Com a continuação do avanço Wood conseguiria isolar por completo a península da Bretanha e cortar as comunicações alemãs, desbaratando-as.

 

A marcha para o sul iniciou-se na manhã do dia 3. As tropas, em duas colunas, movimentaram-se ao redor de Rennes pelo oeste. Ao cair a tarde as vanguardas já se encontravam em Bain-de-Bretagne, a 30 km de distância, e Derval, a 40 km. Os dois povoados localizavam-se mais ou menos na metade do caminho entre Rennes e Nantes, à beira da estrada que ligava esses importantes centros. As forças blindadas distribuíram-se, sem encontrar oposição, numa área cuja superfície oscilava entre 100 e 200 km.

 

Em Rennes, no entanto, a luta mantinha-se ainda acesa. O assédio à cidade continuava e de ambos os lados combatia-se ferozmente. Os alemães, entretanto, já começavam a demolir as instalações que pudessem mais tarde ser úteis aos Aliados. Finalmente, atacados pelo norte pelos efetivos do 13° Regimento de Infantaria, começaram a abandonar a cidade pelo único setor não ocupado pelo inimigo: o sudeste. As unidades em retirada, movimentando-se em desordem, sofreram o ataque das tropas americanas que o General Wood, em virtude da retirada, deslocara para o norte. Os nazistas, defendendo-se isoladamente, foram desbaratados pela superioridade dos americanos e acabaram entregando-se em maioria. Algumas unidades, contudo, que haviam partido de Rennes às 3h da madrugada do dia 4, conseguiram alcançar Saint Nazaire, 130 km ao sul. Representavam ao redor de 2.000 homens e sua retirada, utilizando os meios que encontravam, efetuou-se durante cinco dias de incessante marcha.

 

Na manhã do dia 4 de agosto a população de Rennes, depois de longo tempo nas mãos dos alemães, libertada finalmente, recebeu com aclamações a entrada na cidade dos efetivos do 13° Regimento.

 

No dia seguinte, pela manhã, o Grupo de Comando A, constituído pela coluna que se encontrava a 30 km de Rennes, recebeu ordem de deslocar-se para oeste, na direção de Vannes, porto situado a 90 km da posição. As vanguardas do GCA partiram às 14h, movimentando-se em linha reta por campo aberto, e chegaram sete horas mais tarde às proximidades do objetivo. O aeroporto de Vannes, antes que os americanos entrassem na cidade, já se encontrava nas mãos de um batalhão das Forças Francesas do Interior, degaullistas. As tropas alemãs, atacadas de surpresa, não tiveram tempo de efetuar os costumeiros planos de demolição e os americanos tomaram intactas os pontes e as instalações portuárias da cidade. A resistência foi nula e os alemães abandonaram a posição completamente desordenados ou se entregaram.

 

A conquista do porto de Vannes veio completar o cerco à península da Bretanha, que ficava assim isolada por completo do resto da França. Dentro da península as forças alemães agrupavam-se na defesa desesperada dos importantes pontos estratégicos que lhes restavam: Loriant, Saint Nazaire, Nantes, Saint Malo e Brest.

 

O deslocamento dos Aliados continuou sem interrupção. No dia 7 de agosto alcançaram o porto de Auray, 15 km a oeste de Vannes. E a 30 km de Auray, sempre em direção oeste, situava-se o porto e a base naval de Loriant, importante reduto de submarinos alemães.

 

Rumo a Loriant

 

Enquanto o GCA tomava e ocupava Vannes e Auray o GCB avançava sob o comando do General Dager diretamente para Loriant. As forças americanas fizeram uma volta com o intuito de organizar a aproximação pelo norte, capturando antes a localidade de Pont-Scorff. O avanço continuou com rapidez e sem interrupções, atingindo os subúrbios de Loriant no dia 7 de agosto. Uma surpresa, porém, esperava os Aliados. Abrindo violento fogo de artilharia, destruindo numerosos veículos blindados e causando significativas perdas às forças atacantes, os alemães detiveram rapidamente as unidades americanas. Foi necessário que se reagrupasse as tropas para continuar depois a investida.

 

Os ataques aliados chocaram-se durante dois dias contra uma barreira de resistência. A tenacidade e a violência da defesa surpreenderam os comandos americanos que não esperavam encontrar tantas dificuldades em Loriant. Depois de 48 horas de lutas incessantes, diante da impossibilidade de seguir avançando para o centro da cidade, os americanos compreenderam que a guarnição de Loriant era demasiadamente poderosa para ser superada apenas por uma divisão. Os nazistas, segundo os informes das FFI, estavam capacitados para resistir a um longo assédio, pois haviam acumulado grande quantidade de víveres e não lhes faltavam munições.

 

Os preparativos para o combate foram feitos sobre um cálculo que estimava em 12.000 o número de combatentes alemães; no entanto, a verdade era bem diferente: Loriant contava com uma massa humana formada por 25.000 soldados, acrescidos de 10.000 civis franceses que trabalhavam para os nazistas e que representavam um perigo potencial. Os alemães, além disso, defendiam algo que de maneira nenhuma poderia cair nas mãos dos Aliados, como determinavam as diretivas que recebiam.

 

Porém, sem dúvida nenhuma as defesas de Loriant não estavam dispostas da melhor forma. Alguns setores da cidade não se encontravam defendidos e muitas tropas não tinham treinamento suficiente para oferecer resistência eficaz. E em lugar das 500 peças de artilharia calculadas pelos americanos, possuíam 197 canhões, dos quais só 80 eram antitanque.

 

Loriant, ainda assim, resistiu até o final. Sua guarnição defendeu-a com firmeza contra todos os ataques aliados. Manteve-se de pé até o dia 10 de maio de 1945, quando Fahrmbacher rendeu-se após a conclusão da guerra. Antes, entretanto, os americanos já tinham diminuído a intensidade dos ataques à cidade, dando prioridade à conquista de Brest e Saint Malo, de acordo com as ordens do Alto Comando.

 

A queda de Nantes

 

Nantes situava-se às margens do Loire, a 90 km ao sul de Rennes. O GCA recebeu ordens de ataca-la. As tropas movimentaram-se pela manhã do dia 10 de agosto de 1944, alcançando os subúrbios da cidade no dia seguinte. O dia transcorreu sem incidentes enquanto as unidades avançadas consolidavam posições e efetuavam sondagens para avaliar a firmeza das fortificações. Pouco antes do anoitecer, porém, ouviram-se explosões que indicavam a destruição das instalações mais importantes da cidade: os nazistas, prevendo a queda de Nantes, apressavam-se a destruí-la.

 

As unidades americanas, ajudadas pelos grupos das FFI, atacaram a guarnição alemã no dia seguinte, 12 de agosto. Na tarde do mesmo dia a cidade já estava nas mãos da 4a Divisão Blindada após alguns combates travados com violência durante o decorrer da jornada. Era mais um passo significativo no avanço aliado sobre a península da Bretanha. A superioridade das forças atacantes manifestava-se nos resultados obtidos até ali: durante os primeiros vinte dias do mês de agosto, sem deter a sua arrancada, os Aliados tinham feito mais de 5.000 prisioneiros e capturado 250 veículos. Por sua vez, perderam 35 veículos, entre caminhões e tanques, sofrendo 98 baixas, 362 feridos e 11 desaparecidos. Sua superioridade fôra total.

 

Para Brest!

 

O avanço sobre Brest foi efetuado como parte extremamente importante da tomada da Bretanha. A cidade constituía-se numa importante fortaleza alemã e sua base naval tinha grande valor estratégico. Situada no extremo da península, os americanos sabiam que iriam encontrar ali uma efetiva resistência. Coube à 6a Divisão Blindada efetuar o avanço para Brest, movimentando-se paralelamente com a marcha da 4a Divisão Blindada para o sul, logo depois do cerco de Rennes. A 6a Divisão estava nas proximidades de Avranches. Recebeu ordens de deslocar-se para Pontaubault e torcer o rumo nesta localidade, seguindo em direção oeste, acompanhando a costa. Cumprindo essas diretivas, as tropas movimentaram-se no dia 1° de agosto de 1944, divididas em duas colunas de avanço. Após alguns quilômetros de marcha formaram-se em três grupamentos que avançaram abertas em leque. Avançando mais 60 km, todas as unidades movimentaram-se conjuntamente para oeste separadas aproximadamente por 20 km.

 

O objetivo imediato era Dinan, 20 km ao sul de Saint Malo. Porém, quando se aproximavam da cidade, receberam ordens de deixá-la para trás e seguir adiante, diretamente para oeste, para Brest, no extremo da Bretanha. A resistência até àquele momento tinha-se limitado à oposição exercida quando as tropas passavam pelos arredores de Brée, 10 km ao sul de Pontaubault. Os nazistas, escondidos em posições camufladas, abriram fogo de artilharia contra as vanguardas americanas, que se compunham de uma companhia de tanques, acompanhada de infantaria e de uma bateria de canhões. O combate deteve os Aliados por três horas, durante as quais viram-se sob fogo de artilharia, morteiros e armas leves. Voltando-se finalmente contra os alemães, causaram-lhes a perda de vários canhões de 88 mm e de peças de artilharia, fazendo mais de 100 prisioneiros e infligindo 70 baixas ao inimigo, entre mortos e feridos. Depois, seguiram novamente adiante.

 

As três colunas chegaram à metade do caminho para Brest na noite de 3 de agosto, num avanço incrivelmente rápido. Continuavam no rumo oeste, marchando separadas pela mesma distância de 20 km.

 

No dia seguinte achavam-se, pela manhã, a 60 km do objetivo. Mudando o rumo, dirigiram-se para o norte e aproximaram-se pouco a pouco entre si. No dia 6, juntaram-se a uns 30 km a nordeste de Brest. Começaram então a aproximar-se, vindas do norte, divididos em três colunas. Nesse momento puderam fazer uma idéia da resistência que os alemães estavam decididos a oferecer e dos elementos de que dispunham para isso: ante a aparição das vanguardas americanas foi iniciado violentíssimo fogo de artilharia pesada, arrasando com o avanço inimigo. Conscientes, porém, da superioridade de seus efetivos e antevendo um combate que apenas prolongaria o momento da queda de Brest em suas mãos, o comando americano, antes de iniciar os ataques, decidiu intimar a guarnição alemã, exigindo a sua capitulação. Vinte e quatro horas depois, na manhã do dia 8, as linhas de defesa avançada alemães viram chegar até elas, conduzindo a correspondente bandeira branca, o sargento americano Alex Gastle e o Major Ernest Mitchell. Em seguida, após remover os obstáculos que impediam a passagem dos emissários, um jipe alemão dirigido por um jovem subtenente conduziu os americanos até a retaguarda, ao posto de comando das forças. Ali, na presença dos chefes alemães, depois de breve saudação militar, o Major Mitchell entregou  ao oficial de maior patente o envelope que continha o ultimato. Pediram então que ele mesmo lesse em voz alta. Mitchell abriu o envelope, pegou o documento e leu os termos da rendição:

"Quartel-General da 6a Divisão Blindada americana. Posto do Comando Geral de Tropas. APO 256, Exército dos Estados Unidos, 8 de agosto de 1944. Memorando ao comandante das forças de Brest.

"1. As forças do exército, da marinha e da aviação dos Estados Unidos estão em condições de destruir a guarnição sediada em Brest.

"2. Este memorando é uma oportunidade de rendição para o comando alemão, evitando-se a morte desnecessária de muitos combatentes.

"3. Sentir-me-ia satisfeito em receber sua rendição antes das 15h de hoje. O oficial portador deste acompanharia o senhor e os membros de seu estado-maior, em número de até seis, para que se transladassem ao meu quartel-general. (Ass.) Major-General R. W. Grow, USA, Comandante."

 

O oficial alemão, sem alterar a voz, afirmou imediatamente que os nazistas rechaçavam a intimação. Levantando-se, saudou os americanos com seu braço estendido e um "Heil Hitler!". O Major Mitchell respondeu à saudação com uma continência firme e girou sobre si mesmo. Escoltado por uma patrulha, voltou com o sargento para as linhas americanas. A tentativa de evitar a luta fracassara.

 

O General Grow compreendeu que não teria outro caminho senão entrar em luta pela posse da cidade. Solicitou por conseguinte que enviassem apoio aéreo para as operações do dia 9 de agosto. Ordenou um ataque de três horas de duração, realizado em ondas sucessivas, determinando que os aviões bombardeassem os destacamentos de artilharia pesada, os depósitos de combustíveis e as concentrações de tropas da infantaria. O ataque imediato por parte das unidades terrestres ficaria a cargo de duas colunas que avançariam pelo nordeste.

 

Grow confiava plenamente no êxito e esperou com otimismo o desenrolar do combate. Sabia que embora os subúrbios estivessem defendidos por poucos destacamentos isolados, as defesas principais, entretanto, organizadas numa segunda linha, eram formadas por obstáculos antitanque de cimento armado e aço, inúmeras barricadas, ninhos de metralhadoras e lança-chamas, casamatas que protegiam grande número de peças de artilharia pesada. Mesmo assim, estava tranqüilo quanto ao resultado da luta.

 

No dia anterior ao ataque, porém, uma patrulha do 212° Batalhão de Artilharia capturou o jipe que conduzia o General Karl Spang e os oficiais de seu estado-maior, comandantes da 226a Divisão alemã. Os documentos em poder do chefe alemão comprovavam que suas unidades estavam distribuídas entre Dinan e Saint Malo apenas em pequena proporção, estando o grosso dos efetivos reforçando as defesas de Brest. Analisando as informações, o General Grow resolveu suspender o ataque ordenado para o dia seguinte, 9 de agosto. Os informes capturados demonstravam que a guarnição de Brest era demasiadamente poderosa para ser atacada unicamente pela divisão blindada de que dispunha, mesmo com o apoio do batalhão de infantaria que completava o grupo de combate sob o seu comando. Ordenou, entretanto, que se realizassem assaltos isolados para testar a firmeza da resistência.

 

Dois dias mais tarde, apoiados pelo batalhão de infantaria, os combatentes do GCA entraram em luta com as companhias alemães. Os choques entre os dois exércitos sucederam-se até o dia seguinte, 12 de agosto, quando Grow determinou um ataque em maior escola às posições inimigas. A investida desfez-se por completo diante da encarniçada resistência dos efetivos que defendiam a cidade. O comandante aliado sentiu então a necessidade da artilharia para neutralizar os canhões de Brest; pedindo-a imediatamente, foi informado que não poderia ser atendido: a artilharia pesada fôra enviada a Saint Malo para apoiar o ataque àquele importante porto da Bretanha. Os americanos, diante disso, tiveram que deter seus ataques, mantendo-se em posições situadas em torno da linha inimiga à espera de reforços. Dentro da cidade, organizados para defendê-la furiosamente, os alemães totalizavam ao redor de 35.000 homens pertencentes às três armas. A guarnição, comandada pelo Coronel Hans von der Mosel, bem armada e constituída por soldados jovens, de comprovado valor e grande disciplina, estava em condições de resistir por muito tempo. As fortificações, inclusive as construídas pelos franceses antes da guerra, eram sólidas e representariam obstáculo quase intransponível para os atacantes. Hitler, por outro lado, distribuíra ordens decisivas; a guarnição, em cumprimento das mesmas, preparava-se para resistir até o último homem.

 

A conquista de Saint Malo

 

A conquista de Saint Malo, porto sobre a costa norte da Bretanha, foi determinada em conseqüência do avanço para Brest. O General Patton, no comando geral das tropas americanas, dispusera a criação de uma força especial, denominada Força Tarefa A, como passo prévio à tomada da cidade-fortaleza no extremo da península. A linha férrea que ligava Brest a Rennes cortava a Bretanha de leste a oeste, numa extensão de aproximadamente 200 km, correndo paralela à costa. Para os Aliados, sua conservação tinha importância vital.

 

A Força-Tarefa A teria a missão de custodiar as pontes que cruzavam a via, protegendo-as das incursões dos sabotadores alemães.

 

No dia 1o de agosto, depois de reunir seus subordinados, o General Earnest, nomeado comandante da Força-Tarefa, comunicou que possivelmente as tropas entrariam em combate apoiando a 6a Divisão Blindada durante o ataque à Brest. Concluídos os preparativos para o movimento, os efetivos da Força-Tarefa deixaram Avranches em 3 de agosto.

 

O objetivo deveria ser alcançado seis dias mais tarde, nas proximidades de Brest. Conseqüentemente a unidade estava abastecida com rações suficientes para esse prazo, além de receber combustível para uns 250 km de marcha.

 

No mesmo dia da partida, depois de cruzar Avranches, Pontaubault, Brée e Pontersen, a Força-Tarefa girou para oeste e marchou sobre Dol, onde os alemães tentaram a primeira resistência. Fugindo à luta, as tropas seguiram para sudoeste e continuaram para a frente.

 

A situação estava nesse pé quando o Alto Comando, modificando os planos estabelecidos, enviou ao General Earnest a ordem de seguir para o norte e atacar as defesas exteriores de Saint Malo. As tropas deveriam efetuar alguns ataques superficiais visando experimentar as fortificações da cidade. O General Earnest, seguindo as diretivas, descambou com as tropas para a norte e organizou-as para entrar em luta nesse mesmo dia.

 

Os primeiros embates ocorreram na localidade de Miniac, a 20 km de Saint Malo, tendo os nazistas oposto ali uma débil oposição, rapidamente superada. A Força Tarefa, pouco depois, alcançava Chatevuneuf, onde a resistência se fez mais firme e obrigou o General Earnest a recuar e pedir reforços ao Alto Comando. Faltavam 10 km para chegar a Saint Malo.

 

A probabilidade de uma luta demasiado intensa determinou, ainda no mesmo dia, que o General Middleton ordenasse que a 83a Divisão se dirigisse, sob o comando do General Macen, para a zona de combate, coordenando sua ação com os efetivos da Força-Tarefa A.

 

Assim, ao primeiro assalto, Chateauneuf foi imediatamente dominada pelos Aliados. Os alemães que a defendiam retiraram-se rapidamente para Saint Malo.

 

No dia 5 de agosto realizou-se o primeiro ataque em grande escala às posições alemães. A investida ficou a cargo dos soldados da 83a Divisão, apoiados pelos elementos da Força-Tarefa, que se dispersaram em três frentes, atacando pelo sul, pelo sudoeste e pelo norte. O flanco sul estava nas mãos do 331o Regimento: o ataque central foi realizado pelo 329o Regimento e o 330° Regimento realizou a investida do norte.

 

Os choques sucederam-se noite adentro, mantendo-se igual a posição de ambos os exércitos até a madrugada seguinte. Durante a manhã do dia 6, os efetivos dos 329° e 330° Regimentos conseguindo ocupar um terreno favorável ao avanço, chegaram até as portas da cidade e cobriram um setor de costa de aproximadamente três quilômetros. O 331° Regimento, no entanto, tropeçara com uma resistência maior e avançava lentamente. Encontrava-se, no dia 6, a 12 km da costa.

 

Os três regimentos recomeçaram seus assaltos no dia seguinte, depois de uma preparação de quinze minutos por parte da artilharia. No setor central, coberto pelo 329° Regimento, as defesas alemães, formadas por destacamentos de artilharia de grosso calibre, conseguiram frear o avanço americano. Os combatentes alemães atacaram de um ponto situado numa colina estrategicamente fortificada, ameaçando convertê-la num obstáculo infranqueável. Novo e intenso fogo de artilharia pesada, porém, "amaciou" lenta mas firmemente a resistência dos nazistas naquela posição, até que os defensores da colina, uns quatrocentos homens ao todo, hastearam a bandeira branca dois dias depois, rendendo-se. Depois de cinco dias de violentos ataques, durante os quais foram capturados mais de 3.500 soldados alemães, os americanos conseguiram finalmente eliminar a maioria dos pontos fortificados que se localizavam em torno de Saint Malo. Caíram em suas mãos a colina de São José e os importantes setores defensivos de Saint Servan e Paramé. A resistência, contudo, continuava sendo firme, principalmente no setor denominado Cidadela, localizado numa desértica península paralela à cidade. A artilharia alemã, dali, conseguia martelar ininterruptamente as posições ocupados pelos atacantes.

 

O General Earnest decidiu então empregar no ataque à Cidadela todos os efetivos de que dispunha. Os ataques, mesmo assim, foram devolvidos golpe por golpe, tendo os nazistas resistido de pé firme aos blindados americanos. As forças alemães, fortemente entrincheiradas, estabeleceram em Cidadela um reduto verdadeiramente intransponível, e os americanos compreenderam que não poderiam desalojá-los sem o reforço de novas unidades.

 

Finalmente, alternando-se com os tanques aliados, que castigavam, juntamente com a artilharia pesada, os setores defendidos pelos efetivos alemães, entraram na luta os aviões bombardeiros enviados pelo Alto Comando. Atacaram sem trégua, em ondas sucessivas, lançando seus explosivos sobre as instalações levantadas na península durante mais de uma hora. No dia seguinte, 15 de agosto, os bombardeiros voltaram a atacar as linhas alemães durante trinta minutos, seguindo-se um ataque por parte das forças de terra. O General Earnest novamente lançou ao assalto cem por cento dos seus efetivos. Os atacantes, porém, viram-se imediatamente sob o fogo das metralhadoras alemãs e foram obrigados a recuar em todos os setores, abandonando o campo de luta. Diante da impossibilidade de tomar a posição com o assalto das tropas, os americanos continuaram o bombardeio de artilharia. Cidadela apresentava-se inesperadamente como um sério obstáculo para os Aliados e sua conquista apresentava-se cada vez mais difícil. Os americanos, por fim, decidiram utilizar todos os meios capazes de ajudá-los, fossem quais fossem. Ordenaram o avanço de dois canhões de oito polegadas, que se aproximaram, numa operação quase suicida, a mil e trezentos metros do principal reduto alemão, um forte, atacando-o a canhonaços diretos e à queima-roupa. A força aérea lançou-se conjuntamente ao ataque, descarregando enorme quantidade de explosivos e utilizando bombas de gasolina sólida que depois seriam conhecidas como "napalm". A intensidade dos ataques aumentou gradualmente até o dia 17 de agosto, quando a aviação ultimou os preparativos de um bombardeio em escala gigantesca. Este ataque, no entanto, não chegou a produzir-se. Quarenta minutos antes, uma bandeira branca começou a tremular sobre a posição alemã.

 

A queda de Cézembre

 

Cézembre era uma ilha situada a quatro quilômetros da costa, exatamente em frente de Saint Malo. Nos seus dois quilômetros de comprimento por quinhentos metros de largura estavam destacados numerosos canhões costeiros que martelavam as posições ocupadas pelos americanos. O comando aliado, antes de ataca-la, enviou ao comandante da ilha uma intimação para render-se. O chefe nazista, em resposta, manifestou sua decisão de combater até o final. Os Aliados imediatamente fizeram notar a falta de lógica de qualquer resistência, indicando que a zona já se encontrava totalmente em suas mãos. Os alemães rechaçaram mais uma vez a proposta.

 

Os aviões que deveriam atacar Cidadela foram, por isso, destacados no mesmo dia 17 de agosto para bombardear Cézembre. Os ataques, entretanto, tiveram que repetir-se, em conseqüência da resistência alemã, até o último dia de agosto, quando vinte e quatro P-38 descarregaram projéteis de "napalm" sobre a ilha. No dia 1o de setembro, trinta e três P-38 lançaram novas cargas de "napalm", enquanto uma esquadrilha de bombardeiros médios do 9o Comando e da RAF realizava ataques devastadores. Uniu-se à luta o encouraçado inglês Warspite, abrindo fogo. A artilharia de costa, ao mesmo tempo, colocou em ação seus canhões de 155 e 240 mm, transformando Cézembre num inferno.

 

Nova tentativa de rendição, no entanto, foi rechaçada.

 

No dia seguinte, 2 de setembro, quando os componentes do 330° Regimento iniciavam um assalto anfíbio, a guarnição nazista içou a bandeira branco sobre Cézembre. A rendição dos germânicos, porém, dera-se pela falta de água potável.

 

Anexo

"The Old Hickory"

A ordem chegou mais ou menos pelas 5h da manhã. O chefe da Companhia, um irlandês chamado Murphy, foi quem a recebeu. O objetivo era a cidade de Tessy, ou, como estava nos mapas franceses, Tessy-sur-Vire. Vire era o rio que a Companhia tinha atravessado exatamente um dia antes. Murphy recebeu a ordem com bom humor. Nada, pelo menos, vinha alterar os costumes da "velha Hickory", sua companhia; isto, tanto para ele como para os soldados, era o mais importante. Não havia coisa mais "perniciosa e desagradável" (eram suas palavras) do que modificar um hábito saudável e tradicional. Sim, porque todos os dias a Hickory se punha em marcha às 6h da manhã. Nunca importava muito para quê, mas era indispensável que a essa hora todo mundo (pertencente à Hickory) começasse a trabalhar.

As 6h em ponto, a companhia iniciou sua marcha, avançando em campo aberto. Pouco depois, seguindo uma estrada em declive, chegaram a um quilômetro de Tessy.

Surgindo na encosta que descia até à cidade, a Hickory despertou com sua presença o fogo da artilharia inimiga, sendo atacada pelos morteiros e, sobretudo, pelo ninho de metralhadoras que encontrou logo pela frente. As rajadas fustigavam bastante os comandados de Murphy. O soldado Carlos J. Ruiz, explorador e guia, conseguiu no entanto silenciar o fogo, matando os dois atiradores ocultos no seu reduto, saltando em seguida uma cerca para acabar com um terceiro que fugia.

Os alemães começaram a retroceder, lançando uma chuva de bengalas luminosas para mostrar à artilharia a posição da Hickory. A Companhia avançou mais quatrocentos metros e fez fogo sobre as posições de onde saíam as bengalas verdes. Um canhão antitanque, porém, parou novamente o seu avanço. Lonnie M. Groves, soldado raso de vinte e um anos, arrastou-se, dando uma volta em torno da bateria alemã. Quase chegando à beira da posição, lançou duas de suas granadas e pôs fim ao perigo.

A Hickory entrou em Tessy às 9h e 80m. Murphy desejava ardentemente não ter que entrar em luta. Deu-se o contrário. Logo se encontraram sob violento fogo cruzado, vindo de todas as direções. Dois batalhões entraram em combate na rua principal, disputando casa por casa, enquanto o batalhão de armas pesadas avançava cobrindo os flancos. Durante a luta na rua. principal, fazendo uso de um fuzil-metralhadora Browning, um dos soldados destruiu um trator que arrastava um canhão de 88 mm. Groves, por sua vez, recebeu o apelido, muito justo, de "Mata-Canhão": conseguiu destruir, com uma granada apenas, uma peça antiaérea.

Murphy passou a desejar que o inimigo se retirasse logo. Uma vez mais, porém, viu-se frustrado em seus desejos: um contra-ataque nazista, apoiado pelo fogo dos canhões de 88 mm e pelos morteiros lançados da outra margem do Vire, conseguiu forçar a Companhia a uma retirada até o limite da cidade. Ali, entrincheirando-se num muro que rodeava as casas, Murphy reorganizou os soldados. Pediu o apoio da artilharia pesada que ficara na retaguarda e silenciou assim, em poucos minutos, as peças inimigas. Voltou então ao ataque apoiado por quatro tanques Sherman, Os blindados provocaram um impacto psicológico tanto nas tropas alemães como nas próprias tropas atacantes "Os tanques podiam até ser de madeira, porque o moral de nossos soldados ficou muito alto", comentou Murphy mais tarde.

O fôlego dos Aliados aumentou na proporção em que diminuía o dos alemães. Tessy imediatamente teve que ceder diante do poderio da "velha Hickory". A artilharia alemã, mesmo assim, continuou atacando a cidade. Um projétil de 150 mm caiu diretamente sobre o posto de comando de Murphy, mas não explodiu.

Murphy ficou pálido alguns instantes e logo depois benzeu-se várias vezes Fôra de qualquer modo, o último sobressalto. Os nazistas abandonaram as posições e Tessy passou definitivamente para as mãos da Hickory.

 

O fim da jornada

"Procuramos um refúgio, mesmo inseguro, nos arrabaldes do povoado. Mas encontramos uma desolação como só pode existir igual na Lua. Onde antes se levantavam casas de quatro pavimentos, encontramos filas e filas de imensas crateras no solo. Até a terra estava reduzida ao pó original. Casas após casas tinham sido derrubadas e depois trituradas até desaparecerem confundidas com o chão. Não restavam ruas nem caminhos, e nada evidenciava que seres humanos, um dia, ali tivessem residido. Havia uma espécie de anarquismo naquela destruição, alguma coisa contra a qual a mente se rebela. Sentia-se uma violência inútil e sem razão, estéril e sem sentido. Esperamos, agachados em meio à poeira escura, que o canhoneio tivesse fim. Parecia inútil continuar. Pelo visto, estávamos diante do fim do mundo, do fim da guerra, diante da expressão final do instinto destruidor do homem. Não sendo o pó, nada mais havia para ver. Devíamos estar um pouco febris, pois ainda assim nos ocorriam idéias como aquelas. Um dos companheiros falou:

- Quatro horas... Temos o tempo exato para telegrafar e alcançar a última edição.

Telegrafar o quê? Falar da poeira? Que tudo virara pó? Não era um grande relato...

Fomos andando pelas colinas, sem precauções. Os binóculos dos canhões nazistas eram muito potentes. Viram-nos, é claro. Atacaram-nos o tempo que levamos sobre a colina. Corríamos vinte ou trinta passos entre cada granada e imediatamente nos estendíamos no chão até a próxima descarga. O terreno fôra tão revirado pelos explosivos, durante toda a semana anterior, que as próprias trincheiras desmoronavam-se ao primeiro toque. O cão que nos acompanhava foi atropelado por um tanque durante a tarde, e depois um caminhão avariou seriamente o nosso jipe. Em seguida, pó e poeira... poeira e pó!

Os desalentadores lances de todo o dia atravessavam, um a um, os nossos pensamentos. Pareciam invadir o cérebro, deixando-nos conturbados, enquanto ficávamos estendidos no chão, na expectativa de sermos ou não alcançados. Por fim, conseguimos nos refugiar no porão de uma casa de camponeses na colina, ouvindo ainda o intenso canhonear a nossa volta. Agora, porém, vinha mais forte e dos lados das linhas aliadas: eram as nossas tropas que avançavam. Não sei como os alemães podiam suportar algo tão terrível... Quando o fogo diminuiu um pouco de intensidade, decidimos escapar dali na corrida, fugindo um a um com intervalo de cinqüenta metros. Fui o último a sair e estava ainda em plena carreira quando uma voz me chamou:

- Ei! Você ê do SHAEF (QG Supremo das Forças Expedicionárias Aliadas), por acaso?

- Eu? Não!, por quê?

- Então, quer fazer o favor de não correr assim? Meus homens, quando o vêem na disparada, preocupam-se com o que pode ter havido.

Eu estava muito assustado para ficar zangado. Não obstante, teria sentido prazer se matasse aquele oficial. Que sarcasmo contra o SHAEF! De qualquer modo, porém, enviamos os despachos a tempo para a primeira edição. No dia seguinte já reinava relativa tranqüilidade. Também já havia coisas para se ver. A igreja estava intacta e umas cinco mil pessoas, acreditando que Deus ajudaria se se refugiassem ali, apinhavam-se entre suas paredes. Cada família ocupava uns seis metros de superfície, e tinha gente escondida até na cripta. O mau cheiro era insuportável.

Do lado de fora, na praça, uma reduzida multidão se reuniu para presenciar a cerimônia da libertação do povoado. Uma bandeira francesa foi hasteada e cantaram a Marselhesa. O hino elevava-se entre as ruínas, sobre o intermitente canhoneio, como um grito de triunfo do espírito latino, como uma coisa superior, inclusive às lágrimas, aos mortos...

'Aux armes, citoyens!' Empunhando pistolas-metralhadoras, teatralmente sérios, seis jovens franceses dirigiram-se para o rio, onde resistiam os últimos atiradores alemães. O tenente esforçava-se em fazê-los marchar a passo. `Aux armes, citoyens!'

Estavam desacostumados ao passo unido e à guerra. Antes que avançassem quinhentos metros, o tenente caiu morto."

Alan Moorehead  "Eclipse"

 

Para desmoronar o inimigo

- É absurdo, francamente absurdo! Quando se sobrevoa um campo de batalha não se consegue ver a linha de frente! - exclamou um general.

O tema era velho. A discussão aumentava à medida que os Aliados avançavam na França.

Sobre a mesa estavam dispostas várias maquetes de quadrimotores para ilustrar o problema. Uns sustentavam que os bombardeiros deveriam ser usados exclusivamente para o bombardeio estratégico das cidades da Alemanha; outros, ao mesmo tempo, entendiam que todos os elementos disponíveis deveriam ser empregados na luta em terras da Normandia.

Os últimos, finalmente, ganharam a questão. O general que dissera que isto tudo era absurdo deixou-se cair, visivelmente cansado, numa poltrona. A partir de então os aviões receberam ordem de atacar não mais os objetivos específicos, como pontes, estradas de ferro ou cidades, mas sim posições em campo aberto, onde os nazistas se ocultavam, invisíveis para os pilotos. Como argumentara o general, não se distinguia nada da linha de frente. Nada se via que não fossem colunas de fumaça, indefinidas. Toda a Normandia estava nestas condições e por isso foi muito difícil determinar quais eram realmente os objetivos.

Além disso, havia ainda um problema maior: as bombas tinham que ser lançadas a um quilômetro ou menos das próprias linhas aliadas. Uma série de erros, em conseqüência, fez com que tropas inglesas e americanas sofressem ataques de seus próprios bombardeiros, sofrendo danos maiores que o inimigo. Os responsáveis pela estratégia voltaram a se reunir e consumiram toneladas de tabaco e milhares de xícaras de café. Compreenderam, por fim, que aquele tipo de ataque não era plenamente efetivo e que, em verdade, fôra até mesmo "perigoso" para as próprias tropas. O general que gritara "Absurdo!" foi reabilitado e voltou a ocupar seu posto na junta de assessoramento. Depois de muito discutir resolveu-se que os bombardeiros operariam "em franja". Lançariam suas bombas sobre os lados dos caminhos que seriam percorridos pelos tanques e pela infantaria. Deste modo seriam liquidadas as peças antitanque e todos os soldados inimigos que estivessem nos flancos. Os aviões mais ligeiros, depois, lançariam bombas menores, capazes de causar baixas ao inimigo sem esburacar os caminhos para os tanques que viriam em seguida. Além disso, enquanto os tanques estivessem a caminho, a artilharia empreenderia um bombardeio que precederia o avanço, mantendo a cortina de fogo constantemente a uma distância determinada dos veículos atacantes. Assim os blindados poderiam operar protegidos por uma muralha protetora de explosivos. Tudo dependia de uma sincronização perfeita. O general reabilitado fez uma cara muito especial, mas não disse uma palavra. O plano, em verdade, não deu resultado. As bombas não atrapalharam as baterias inimigas. Os artilheiros ocultavam-se nos refúgios subterrâneos até cessar o bombardeio. Depois disparavam à queima-roupa sobre as centenas de tanques que avançavam, como alvos perfeitos, pela planície. Em poucos dias perdeu-se mais ou menos duzentos tanques ingleses. Os Lancaster, é certo, destruíram diversos povoados, mas os nazistas não se encontravam em nenhum deles. Quando os alemães puseram em ação os Tigres e Panteras, aumentando em muito seu poder de fogo, foram maiores as dificuldades dos Aliados. A Wehrmacht, por sua vez, realizou diversos ataques a destacamentos britânicos, enquanto estes descansavam à noite. O avanço aliado, conseqüentemente, perdeu o ímpeto e acabou por ver-se paralisado. Alguns dias depois efetuaram novas tentativas usando métodos inteiramente originais. Inventaram-se nuvens de fumaça rosada para ocultar os movimentos ao inimigo; à noite os refletores eram dirigidos para as nuvens a fim de dar a impressão da claridade de Lua. Quando resolveram disparar bengalas de cor sobre as linhas inimigas, para orientar os bombardeiros, os alemães dispararam bengalas da mesma cor sobre as linhas aliadas. Resolveu-se então que os bombardeiros atacariam em conjunto com a infantaria e as baixas, com isso, começaram a ser realmente sérias. Era impossível atacar os objetivos com precisão. As bombas destruíram um posto de comando e causaram centenas de vítimas entre os canadenses. Fato semelhante ocorreu no setor americano. O exército começou a temer sua própria aviação. Mesmo que os bombardeiros tenham produzido mais benefícios que danos, o efeito sobre o moral das tropas foi desastroso. Os soldados das vanguardas temiam tanto os aviões aliados como os alemães.

Os aviões lança-foguetes, no entanto, constituíram uma exceção brilhante. Chegaram a possuir tamanha precisão que os pilotos atacavam até mesmo tanques isolados. Embora os resultados não tenham sido completos, os tripulantes dos tanques alemães eram obrigados a se esconder.

A artilharia, entretanto, atuava com intensidade e transformava as proximidades da frente em algo tremendo. Centenas de canhões abriam fogo subitamente de dentro dos matagais dos dois lados dos caminhos, e o fragor produzia dores nos tímpanos que perduravam por várias horas depois.

O número de tanques aliados era extraordinário. Para os soldados, ver arder na planície uma centena de tanques não era nada de espantoso, desde que seus tripulantes estivessem a salvo. Sabiam que outros cem tanques viriam substituir imediatamente os que estavam destruídos.

O plano aliado consistia em atacar sem descanso, não dando tempo ao inimigo de se organizar. Bombardeavam-no todo o tempo que fosse possível, imprensando-o em seu caminho para o Sena. A noite, mantê-lo sob constantes ataques de artilharia. Cercá-lo com a infantaria durante todas as horas, apertando-o, estrangulando todos os seus movimentos.

A capacidade da fogo dos Aliados era imensa, Em agosto de 1944, essa capacidade se estendia sem interrupção sobre centenas de milhas da frente.

 

"Não me promovam!"

Richard M. Dudley, nos começos da guerra, dirigia uma gráfica em Scarsdale, Nova York. Quando incorporado ao exército, perambulou por diversas companhias até ser designado para um batalhão da Polícia Militar. Mais tarde, descoberto por um dos homens do General Bradley, viu-se requisitado para encarregar-se do Cassino de Oficiais durante a campanha da França.

As coisas começaram a sofrer uma mudança fundamental depois da chegada de Dudley. O Cassino, antes, brindava aos oficiais uma certa dose de comodidades semelhantes a muitos outros cassinos do exército. Porém, um certo dia, os oficiais não puderam dar crédito aos seus olhos: as mesas passaram a oferecer delicados manjares, vinhos de velhas colheitas, iguarias finas e raras. Até mesmo as paredes estavam decoradas com motivos novos e elegantes. O Cassino transformara-se num monumento ao bom-gosto e todos estavam muito contentes.

- Sargento Dudley, espero que não me leve a mal, mas não acha que tantas comodidades são discutíveis na frente de combate? disse-lhe um dia, cuidadosamente, o General Bradley.

- Meu General - contestou o sargento, visivelmente contrariado -, faça o senhor a guerra, que eu me ocuparei do seu nível de vida! Bradley achou melhor deixar as coisas como estavam. Mas o problema, na realidade, não estava só na superabundância e refinamento do Cassino; corria o rumor de que Dudley, pela sua maneira particular de conseguir alguns produtos, era chamado de "pirata vermelho". Dudley era índio.

Depois, em várias oportunidades, o General Bradley pensou em promover o sargento a oficial, mas êle se negava, preferindo continuar em setz pôsto como encarregado do bem-estar da oficialidade.

Por fim, a guerra já no final, Dudley consentiu em ser promovido. Passou, como tenente, ao comando de um destacamento.

Passado algum tempo, durante um jantar de camaradagem, o General Bradlev perguntou-lhe:

- Dudley, por que aquela negativa constante a que lhe promovêssemos? Não acha que foi um excesso de humildade?

- Não, General. A promoção me faria perder meu posto e, creia-me, no Cassino eu sempre conseguia muitas coisas além de estar longe das balas...

 

O confessionário de Bradley

"Quando iniciávamos o avanço na Bretanha, em princípios de agosto, mudei meu posto de comando para um caminhão de transporte de carroceria fechada, revestido em seu interior, que me proporcionava muitas facilidades para o trabalho com grandes cartas e mapas. Tinha o comprimento de um carro 'pullman' e uma plataforma de aço montada na parte posterior formando uma espécie de varanda, ligando-o ao caminhão de duas e meia toneladas no qual eu continuava alojado. Eisenhower, durante a visita que fez à cabeça-de-praia no dia 4 de julho, achara incômodo o espaço livre do pequeno caminhão que me servia como alojamento e posto de comando.

- Por que o senhor não abandona este condenado cartucho - disse-me - e não prepara um reboque como o de Montgomery para os trabalhos de cartografia?

Com essas palavras eu tinha a autorização que me faltava.

Quando o reboque foi terminado na Inglaterra, preparado segundo as complexas indicações de Hansen, era tão completo e confortável que muitas vezes senti-me impulsionado a pedir desculpas pela comodidade que me oferecia. Durante o dia recebia a luz através de quatro painéis de 'plexiglass' distribuídos no teto e umas instalações de lâmpadas fluorescentes iluminavam as paredes laterais onde estavam as cartas e os mapas. Na parte interior do caminhão, curva, a parede estava revestida de painéis e ali se encontrava o escritório atapetado que se parecia um pouco a uma bem preparada igreja. Certa vez, quando o Marechal-do-Ar Tedder entrou pela primeira vez no reboque, dirigiu-se para o pequeno terraço que separava o escritório de operações da sala de cartografia e se ajoelhou no banco junto à porta. Olhando para o alto, falou com voz muito séria: "Pai! Vim fazer a comunhão...". Mais tarde, terminada a guerra, fiz algumas investigações em 1947, através das vias regulamentares, para encontrar o paradeiro do reboque. O ritmo caótico da desmobilização, no entanto, acabou por extraviar e confundir os arquivos e não pude descobrir nem rastros do veículo. Quanto ao caminhão de duas toneladas e meia, segui sua pista até a Inglaterra. Um fazendeiro escreveu-me para informar que o havia comprado num leilão de materiais de guerra como sucata americana. Acrescentava que o caminhão proporcionara-lhe uma confortável residência para o zelador de seus rebanhos, acompanhando-o pelos pântanos úmidos e pelos campos de pastagens."

General Omar Bradley ("Relato de um Soldado")

 

Batalhões alemães na Normandia

Eis um quadro comparativo da disposição dos batalhões alemães na frente de combate da Normandia, nos primeiros dias de agosto de 1944.

Na primeira coluna encontramos a situação como se apresentava no dia 1o de agosto; na segunda, em que se transformou cinco dias mais tarde, a 6 de agosto.

 

1º de agôsto

"Grupo Panzer Oeste"

Corpo 86

Divisão 346

Divisão 272

Divisão 711

1o Corpo SS Panzer

Divisão SS Panzer 12

Divisão SS Panzer n° 1

Divisão Panzer 9

2o Corpo SS Panzer

Divisão 271

Divisão SS Panzer 10

Divisão 277

Corpo 74

Divisão 276

Divisão 326

Divisão Panzer 21

"Sétimo Exército"

2o Corpo de Pára-Quedistas

3a Divisão de Pára-Quedistas

Corpo Panzer 47

2a Divisão Panzer

2a Divisão Panzer SS

17 Grupo de Combate SS de Granadeiros Panzer de Divisão

Grupo de Combate de Divisão 352

Grupo de Combate de Divisão 275

Regimentos da Divisão Panzer Lehr

Corpo 84

Grupo de Combate 353 de Divisão

Grupo de Combate 243 de Divisão

Divisão 363

Divisão Panzer 116

Elementos da 5a Divisão de Pára-Quedistas

Elementos da 13a Divisão Antiaérea

Regimentos das Divisões 77 e 91

 

Uma leitura atenta permitirá observar as trocas realizadas com os diferentes corpos e grupos. A Divisão SS Panzer n° 1, por exemplo, a 1o de agosto pertencia ao 1o Corpo Panzer SS, passando a integrar o 47 Corpo Panzer no dia 6 de agosto. Por outro lado, o que se denominava "Grupo Panzer Oeste" passou a chamar-se "Quinto Exército Panzer".

6 de agosto

"Quinto Exército Panzer"

Corpo 86

Divisão 346

Divisão 272

Divisão 711

1o Corpo SS Panzer

Divisão 89

Divisão 271

Divisão Panzer SS 12

Corpo 74

Divisão 277

Divisão 276

Divisão 326

2o Corpo SS Panzer

Divisão Panzer 21

Divisão SS Panzer n° 9

Divisão SS Panzer n° 10

"Sétimo Exército"

2o Corpo de Pára-Quedistas

3a Divisão de Pára-Quedistas

Divisão 363

Elementos da Divisão SS Panzer n° 10

Corpo 84

Grupo de Combate 353 de Divisão

Grupo de Combate 243 de Divisão

Grupo de combate 275 de Divisão

Divisão 84

Corpo Panzer 87

Divisão Panzer 116

2a Divisão Panzer

2a Divisão Panzer SS

17 Grupo de Combate SS de Granadeiros Panzer de Divisão

Corpo 81

9a Divisão Panzer

Divisão 708

Elementos da 5a Divisão de Pára-Quedistas

Elementos da 13a Divisão Antiaérea

 

Os profissionais

"Durante a campanha da Europa perguntaram-se muitas vezes por que os comandantes alemães não abandonavam a insensata resistência que, prolongada, não poderia fazer outra coisa senão agravar o desastre que caíra sobre o Reich. George Patton, quando visitou meu posto de comando a princípios de agosto, no momento em que fechávamos o círculo em volta do 7o Exército alemão, deu explicação à minha pergunta.

- Os alemães ou estão loucos ou não sabem o que está ocorrendo disse -. Os profissionais, com toda a certeza, já devem estar sabendo que o jogo está perdido.

Patton ilustrou sua resposta contando-me o caso do general alemão que o 3o Exército fizera prisioneiro alguns dias antes. Quando lhe perguntaram por que não se rendera antes, mesmo que isso tivesse como objetivo impedir apenas uma destruição maior da Alemanha:

- Sou um soldado profissional - respondera o alemão sem mudar sua atitude - e obedeço às ordens que recebo...

A maioria dos profissionais teria dado essa mesma resposta. São poucos os soldados que possuem competência suficiente para determinar em que ponto a resistência militar começa a ser um erro fatal e um suicídio político. Pétain foi um dos que se arriscaram a fazer esse julgamento; o exemplo não foi um dos que devem ser seguidos."

General Omar Bradley ("Relato de um Soldado")

                                                                                      

 

                      

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