Biblio VT
Series & Trilogias Literarias
Joey Nestler sabia que ele seria um bom policial um dia. Seu pai tinha sido policial e também o seu avô. O avô de Joey, na verdade, levou um tiro no peito em 1968, causando a sua aposentadoria antecipada. Ser um policial estava no sangue de Joey e mesmo tendo apenas 28 anos de idade e recebendo atribuições insignificantes, ele sabia que um dia chegaria ao topo.
Hoje não foi o dia, no entanto. Tinham-lhe atribuído outra tarefa estúpida. Joey sabia que ele tinha pelo menos mais seis meses de atribuições estúpidas como essas. Estava tudo bem para ele. Viajar pelo litoral de Miami em um carro da polícia durante o final da primavera era um bom negócio. As moças estavam ansiosas para usar seus shorts curtos e biquínis já que o clima ficou mais agradável, e tais coisas eram mais fáceis de prestar atenção e apreciar quando ele era incumbido de tarefas secundárias.
Ele pretendia voltar a inspecionar as ruas em busca dessas belezas quando percebeu que havia recebido a sua mais recente tarefa. Ele estacionou na frente das casas chiques, cada novo conjunto de casas era cercado por um conjunto pretensiosamente bem conservado de palmeiras. Ele saiu do carro de patrulha sem nenhuma pressa, tinha quase certeza de que ele estava prestes a entrar em um simples caso de conflito doméstico. Mesmo assim, ele teve que admitir que os detalhes da tarefa despertaram a sua curiosidade.
Uma mulher ligou para a delegacia naquela manhã, alegando que sua irmã não estava atendendo telefonemas ou e-mails. Normalmente, isso não desperta muito interesse, mas quando eles acharam o endereço da irmã, a casa estava logo ao lado de uma moradia que foi denunciada com uma queixa de barulho na noite anterior. Aparentemente, um cão tinha latido furiosamente toda a noite. Telefonemas e batidas na porta para que os proprietários calassem a boca não foram respondidos. E quando a polícia ligou para a mulher de novo para perguntar sobre sua irmã, foi confirmado que sua irmã, de fato, tinha um cão.
E agora aqui estou eu, Joey pensou enquanto subia as escadas para a porta da frente.
Ele já tinha parado na porta do escritório do proprietário para pegar uma chave, e isso por si só tornou a tarefa um pouco mais interessante do que suas atribuições típicas. Ainda assim, ele sentiu-se subutilizado e um pouco bobo quando bateu na porta. Dado tudo o que sabia sobre o caso, ele nem sequer esperava uma resposta.
Ele bateu de novo e de novo, o cabelo suando sob o seu boné ao sol.
Depois de dois minutos, ainda sem resposta. Ele não se surpreendeu.
Joey tirou a chave e abriu a porta. Ele abriu-a um pouco e gritou lá dentro.
-Olá? Sou o Oficial Nestler do DP de Miami. Estou entrando na casa e--
O latido de um cão pequeno o interrompeu, ele veio correndo na direção dele. Era um terrier Jack Russell e mesmo fazendo o seu melhor para intimidar o homem estranho na porta, ele também parecia um pouco assustado. Suas pernas traseiras estavam tremendo.
-Ei, amigo, Joey disse quando entrou. Onde estão a sua mamãe e o seu papai?
O cãozinho choramingou. Joey deu um passo ainda mais para dentro da casa. Ele deu dois passos no pequeno hall de entrada, indo para a sala de estar, quando sentiu o fedor horrível. Ele olhou para o cão e franziu a testa.
-Ninguém tem deixado você sair, não é?
O cão mexeu sua cabeça, deixando-a pendurada, como se tivesse compreendido perfeitamente a pergunta e tivesse vergonha do que tinha feito.
Joey entrou na sala de estar, ainda gritando e chamando para ver se havia alguém.
-Olá? Estou procurando o Sr. ou a Sra. Kurtz. Novamente, sou o Oficial Nestler do DP de Miami.
Mas ele não obteve resposta, e tinha certeza que não obteria. Ele passou através da sala de estar, encontrando-a impecável. Ele então entrou na cozinha adjacente e colocou a mão no rosto para cobrir a boca e o nariz. A cozinha era onde o cão decidiu usar como banheiro; havia poças de urina por todo o chão e duas pilhas de fezes na frente da geladeira.
Vasilhas vazias, sem comida e água estavam do outro lado da cozinha. Sentindo-se mal pelo cão, Nestler encheu a tigela de água da pia da cozinha. O cão começou a bebê-la avidamente quando Nestler saiu da cozinha. Ele então foi para o lance de escadas logo do lado de fora da sala e continuou.
Quando ele veio para o corredor no topo, Joey Nestler sentiu o que seu pai chamava de instinto de um policial pela primeira vez em sua carreira. Ele soube imediatamente que algo estava errado ali. Ele sabia que encontraria algo ruim, algo que ele não esperava.
Ele sacou a arma, sentindo-se um pouco bobo enquanto caminhava pelo corredor. Ele passou por um banheiro (onde encontrou outra poça de urina do cão) e um pequeno escritório. O escritório era meio bagunçado, mas não havia sinais de perigo ou alertas.
No fim do corredor, uma terceira e última porta aberta, revelando o quarto principal.
Nestler parou na porta, o seu sangue esfriou.
Ele olhou durante um total de cinco segundos antes de pisar lá dentro.
Um homem e uma mulher-presumivelmente Sr. e Sra. Kurtz-deitados mortos na cama. Ele sabia que eles não estavam dormindo devido à quantidade de sangue no lençóis, paredes e tapetes.
Joey deu dois passos para dentro, mas parou. Isso não era para ele. Ele precisava pedir apoio em antes de ir mais longe. Além disso, ele podia ver tudo o que precisava de onde estava. O Sr. Kurtz tinha sido esfaqueado no peito. A Sra. Kurtz tinha a garganta cortada de orelha a orelha.
Joey nunca tinha visto tanto sangue em sua vida. Era quase vertiginosa a cena.
Ele saiu do quarto, sem pensar em seu pai ou avô, sem pensar no grande policial que um dia ele queria ser.
Ele emocionalmente desabou lá fora, chegou ao final das escadas, e lutou contra uma onda intensa de náuseas. Enquanto ele se atrapalhava com o microfone de ombro em seu uniforme, ele viu o Jack Russell que vinha correndo para fora da moradia, mas não se importou.
Ele e o cãozinho ficaram na frente da casa quando Nestler ligou para pedir apoio, o cão latindo para o céu como se de alguma forma pudesse mudar os horrores que tinham acontecido lá dentro.
CAPÍTULO UM
Mackenzie White sentou-se em sua cabine e habitualmente correu seu dedo indicador ao longo das bordas de um cartão de visita. Era um cartão de visita no qual ela fixou sua atenção há vários meses, um cartão que estava de alguma forma ligado ao seu passado. Ou, mais especificamente, ao assassinato de seu pai.
Ela voltava para ele sempre que encerrava um caso, perguntando-se quando se permitiria ter algum tempo fora do expediente de trabalho como uma Agente para que pudesse voltar a Nebraska e ver a cena de morte de seu pai com olhos revigorados, um olhar sem ser regulado por uma mentalidade de Agente do FBI.
O trabalho estava fazendo ela se sentir desgastada ultimamente e com cada caso encerrado por ela, a atração pelo mistério que envolve o seu pai ficou mais forte. Estava ficando tão forte que estava sentindo menos o sentimento de realização, quando encerrava um caso. O mais recente tinha sido pegar dois homens que planejavam levar cocaína para uma escola de Baltimore. O trabalho durou três dias e tudo ocorreu de forma tão fácil que nem parecia trabalho.
Teve mais do que uma partilha justa de casos notáveis desde que chegou à Quantico e foi empurrada através de um turbilhão de ações, negociações de bastidores, e escapadas por um triz. Ela tinha perdido um parceiro, conseguiu irritar praticamente todos os supervisores que ela já teve, e fez seu nome na corporação.
A única coisa que não tinha era um amigo. Havia o Ellington, com certeza, mas havia algum tipo de química contaminante entre ele, o que tornava uma amizade algo difícil. E ela tinha oficialmente dado em cima dele, de qualquer maneira. Ele a rejeitou duas vezes até agora-por diferentes razões-e não seria feita de boba de novo. Estava bem por sua relação de trabalho ser a única coisa que os mantinha juntos.
Ao longo das últimas semanas, ela também chegou a conhecer o seu novo parceiro-um novato desajeitado, mas ansioso de nome Lee Harrison. Ele recebeu uma variedade de papéis, ocupações, e pesquisas, mas estava fazendo um trabalho esplêndido. Sabia que o Diretor McGrath estava apenas vendo como ele lidaria com a situação sendo inundado com tanta coisa para ser feita. E até agora, Harrison estava ganhando de todos.
Ela pensou vagamente em Harrison ao olhar para o cartão de visita. Ela pediu-lhe em algumas ocasiões para pesquisar todos os negócios chamados Barker Antiguidades. E ele tinha encontrado mais resultados do que qualquer outra pessoa nos últimos meses, mas tudo ainda levava para um beco sem saída.
Enquanto pensava sobre isso, ela ouviu passos suaves se aproximando de sua cabine. Mackenzie deslizou o cartão de visita sob uma pilha de papéis ao lado de seu laptop e depois fingiu que estava verificando seu e-mail.
-Ei, White, disse uma voz masculina familiar.
O cara é tão bom que pode praticamente me ouvir pensar sobre ele, pensou. Ela girou em sua cadeira e olhou para Lee Harrison observando sua cabine.
-Nada de White, disse ela. Apenas Mackenzie. Mac, se você for realmente corajoso.
Ele sorriu sem jeito. Ficou claro que Harrison ainda não tinha descoberto a forma adequada de falar com ela, ou ainda, como até mesmo agir ao seu redor. E para estava tudo bem. Às vezes, ela se perguntava se McGrath o havia designado como seu parceiro ocasional apenas para acostumá-lo a nunca ter certeza de onde e com quem trabalharia. Se for isso, ela pensou, é uma jogada genial.
-Ok, então... Mackenzie, disse ele. Eu só queria que você soubesse que acabei de terminar o processo dos traficantes desta manhã. Eles querem saber se você precisa de mais alguma informação deles.
-Não. Tudo ok, disse ela.
Harrison assentiu, mas antes de sair, ele fez uma carranca que estava começando a pensar que era uma característica dele. Posso te perguntar uma coisa? Perguntou ele.
-Claro.
-Você está... bem, você está se sentindo bem? Você me parece muito cansada. Seu rosto parece, talvez, um pouco avermelhado.
Ela facilmente poderia ter rido dele por causa de tal comentário e assim fazê-lo se sentir anormal, mas ela decidiu não fazer isso. Ele era um bom Agente e não queria ser o tipo de Agente (pois ela mesma era novata) que tirava onda com o novato. Então, em vez disso, ela disse: -Sim, eu estou bem. Apenas não tenho dormido o suficiente ultimamente.
Harrison concordou. Eu entendo, disse ele. Bem... boa sorte com o repouso. Ele então fez a tal careta, sua marca, e saiu. Ele provavelmente foi enfrentar alguma trabalheira que McGrath tinha passado para ele, em seguida.
Distraída com o cartão de visita e os inúmeros mistérios não resolvidos que ele apresentava, Mackenzie se permitiu deixar isso para trás. Ela focou em seus e-mails e arquivou alguns dos papéis acumulados em sua mesa. Não tinha muita chance de experimentar esses momentos menos fascinantes e era grata por isso.
Quando o telefone tocou no meio de tudo isso, ela o agarrou ansiosamente. Faço qualquer coisa para sair desta mesa.
-Mackenzie White falando, ela respondeu.
-White, é McGrath.
Ela permitiu que o mais breve dos sorrisos cruzasse o seu rosto. Enquanto McGrath estava longe de ser a sua pessoa favorita, Mackenzie sabia que sempre que ele ligava ou até mesmo ia até a sua cabine, era geralmente para lhe dar algum tipo de atribuição.
Parece que era por isso que ele estava ligando. Mackenzie nem sequer teve tempo de dizer olá antes que ele começasse a falar de novo, na sua habitual forma de se comunicar rapidamente.
-Eu preciso de você no meu escritório imediatamente, disse ele. E traga o Harrison com você.
Mais uma vez, não foi dada à Mackenzie a chance de responder. A linha caiu antes de uma única palavra saltar de sua língua.
Mas tudo bem para ela. Aparentemente, McGrath tinha um caso novo para ela. Talvez isso fosse aguçar a sua mente e dar-lhe um último momento de clareza antes que ela possivelmente se afastasse por um tempo para se concentrar em questões sobre o caso antigo de seu pai.
Com uma espécie borbulhante de excitação empurrando-a, ela levantou-se e saiu em busca de Lee Harrison.
***
Observar a maneira como Harrison se comportava no escritório de McGrath foi uma ótima maneira para Mackenzie alicerçar a si mesma. Ela o viu sentado rigidamente na borda de seu assento quando McGrath começou a falar com eles. O mais jovem Agente estava claramente nervoso e ansioso para agradar. Mackenzie sabia que ele era um perfeccionista e que ele tinha algo muito próximo de uma memória fotográfica. Ela se perguntou que tipo de memória ele tinha-se ele estava, talvez, absorvendo cada palavra que saía da boca de McGrath como uma esponja.
Ele me faz lembrar um pouco de mim mesma, ela pensou enquanto também se concentrava em McGrath.
-Aqui está o que eu tenho para vocês dois, disse McGrath. Ontem de manhã, a Polícia do Estado de Miami ligou e nos deu o relato de uma série de assassinatos. Ambos os casos, foram assassinatos de casais. Então, são quatro corpos. Os assassinatos têm sido bastante brutais e sangrentos e, até agora, não parece haver nenhuma ligação óbvia. O estilo brutal dos assassinatos, bem como o fato de que eles eram casais casados, mortos na cama, está fazendo o DP do Estado achar que é um serial killer agindo. Eu, pessoalmente, acho que é muito cedo para fazer tal afirmação.
-Você acha que poderia ser apenas uma coincidência? Perguntou Mackenzie.
-Eu acho que é uma possibilidade, sim, disse ele. De qualquer forma, eles pediram nossa ajuda e eu quero enviar vocês. Harrison, esta será uma grande oportunidade para você entrar em ação e sentir a coisa. White, espero que você o supervisione, mas não mande nele como se fosse a chefe. Entendeu?
-Sim, senhor, disse Mackenzie.
-Eu enviarei os detalhes e arranjos do voo dentro de uma hora. Eu não vejo isso tomando mais do que um dia ou dois. Alguma pergunta?
Mackenzie sacudiu a cabeça. Harrison deu um rápido -Não senhor, e Mackenzie poderia dizer que ele estava dando o seu melhor para conter sua excitação.
Não podia criticá-lo. Ela sentiu isso também.
Apesar do que pensava McGrath, ela já havia sentido que este caso seria bem fora da sua rotina.
Casais.
Esta foi a primeira vez para ela.
E não podia resistir, sentiu que este pequeno caso de -rotina- ficaria muito pior.
CAPÍTULO DOIS
Enquanto Mackenzie estava bem ciente de o estereótipo do governo era de que tudo se movia lentamente, ela também sabia que isso não era geralmente o caso do FBI com os seus Agentes em cena. Apenas 14 horas depois de ser chamada para o escritório de McGrath, Mackenzie estava puxando um carro alugado para uma vaga de estacionamento em frente a uma fileira de casas de condomínio. Ela foi para o lado de um carro da polícia e notou uma Oficial sentada lá dentro.
A seu lado, no banco do passageiro, Harrison estava revendo as informações sobre o caso. Ele estava tranquilo durante a maior parte da viagem e Mackenzie quase começou a puxar conversa. Não sabia dizer se ele estava nervoso, intimidado, ou um pouco de ambos. Mas ao invés de forçá-lo a começar a falar com ela, ela pensou que poderia ser melhor para o desenvolvimento dele sair de sua concha por conta própria-especialmente se McGrath planejava colocá-los para trabalhar juntos, como parceiros, em um futuro previsível.
Mackenzie levou um momento para processar tudo o que sabia sobre o caso. Ela reclinou a cabeça ligeiramente para trás, fechou os olhos e puxou todas as informações à tona. Sua tendência de ficar obcecado com os detalhes de arquivos de casos tornou bastante fácil para ela simplesmente se aprofundar em sua própria mente e vasculhar através delas como se houvesse um armário mental no seu crânio.
Um casal morto, isso traz algumas perguntas para a superfície imediatamente. Por que dois? Por que não apenas um?
Tenho que me manter atenta para que qualquer coisa que possa parecer, mesmo que remotamente, fora do lugar. Se o ciúme é a causa destas mortes, é provável que alguém tenha inveja de suas vidas de alguma forma.
Sem arrombamento; a família Kurtz voluntariamente deixou o assassino entrar.
Abriu os olhos e, em seguida, abriu a porta. Ela poderia especular tudo o que quisesse com base no que tinha visto nos arquivos. Mas nada disso seria tão eficaz como pisar na cena do crime e dar uma olhada ao redor.
Harrison saiu do carro ao lado dela sob o brilhante sol de Miami. Ela podia sentir o cheiro do mar no ar, salgado e com os mais suaves vestígios de um cheiro de peixe, que não era necessariamente desagradável.
Quando e Harrison fecharam suas portas, a Oficial no carro da polícia ao lado deles também saiu. Esta, Mackenzie supôs, era a Oficial que tinha sido encarregada de encontrá-los. Quarenta anos ou algo assim, era bem bonita de um jeito simples, seu cabelo loiro sujo e curto estava sendo banhado pelo brilho do sol.
-Agentes White e Harrison? Perguntou a Oficial.
-Somos nós, disse Mackenzie.
A mulher estendeu a mão dela enquanto se apresentou. Eu sou a Oficial Dagney, disse ela. Qualquer coisa que você precisar, é só me avisar. O lugar, é claro, foi limpo, mas eu tenho um arquivo inteiro preenchido com fotografias tiradas quando a cena estava fresca.
-Obrigada, disse Mackenzie. Para começar, eu acho que gostaria de dar uma olhada lá dentro, em primeiro lugar.
-É claro, disse Dagney, subindo as escadas e retirando uma chave do bolso. Abriu a porta e fez um gesto para Mackenzie e Harrison entrarem na frente dela.
Mackenzie sentiu imediatamente o cheiro de alvejante ou algum outro tipo de produto de limpeza. Ela lembrou do relatório afirmando que um cão tinha sido preso dentro da casa por pelo menos dois dias e tinha usado um cômodo como banheiro várias vezes.
-Água sanitária, disse Harrison. Usaram para limpar a bagunça do cão?
-Sim, disse Dagney. Isso foi feito ontem à noite. Nós tentamos deixar a cena como estava até vocês chegarem, mas o fedor era-era ruim.
-Tudo bem, disse Mackenzie. O quarto está lá em cima, correto?
Dagney concordou e levou-os até as escadas. A única coisa que foi modificada aqui é que os corpos e o lençol foram removidos, explicou ela. O lençol ainda está lá, no chão e colocado sobre uma folha de plástico. Ele teve que ser tirado para que os corpos fossem tirados da cama. O sangue... bem, vocês verão.
Mackenzie notou que Harrison diminuiu a intensidade de sua abordagem um pouco, ficando em segurança atrás dela. Mackenzie seguiu Dagney para a porta do quarto, notando que ela ficou na porta e fez de tudo para não olhar lá para dentro.
Uma vez dentro do quarto, Mackenzie viu que Dagney não havia exagerado, nem os relatórios. Havia muito sangue-muito mais do que ela já tinha visto em qualquer lugar.
E por um momento horrível, estava de pé em um quarto em Nebraska-um quarto em uma casa que sabia que estava abandonada agora. Estava olhando para uma cama encharcada de sangue que continha o corpo de seu pai.
Ela jogou a imagem para longe, ao som dos passos de Harrison se aproximando lentamente atrás dela.
-Você está bem? Perguntou ela.
-Sim, disse ele, embora sua voz soasse um pouco ofegante.
Mackenzie observou que a maior parte do sangue estava na cama, como era esperado. O lençol que tinha sido removido do leito e esticado no chão era off-white no passado. Mas agora a maior parte estava coberta de sangue seco, tornando-se uma sombra enferrujada de tom marrom. Ela lentamente se aproximou da cama, quase certa de que não haveria provas. Mesmo que o assassino tivesse acidentalmente deixado para trás um fio de cabelo ou qualquer coisa com DNA, isto estaria enterrado em todo aquele sangue.
Olhou para as manchas na parede e carpete. Olhou para o tapete, em particular, procurando para ver se qualquer um dos respingos de sangue tinha marcas de sola de sapato.
Pode haver algum tipo de pegada, pensou. Para matar alguém de tal forma- para ter tanto sangue na cena do crime, o assassino teria que se sujar de sangue também. Então, mesmo se não houver pegadas, talvez haja sangue em algum lugar dentro da casa, sangue que ele poderia ter acidentalmente cair ao sair da casa.
Além disso, como o assassino conseguiu pegar ambos, ainda na cama? Matando um, o outro provavelmente teria acordado. Ou o assassino é muito rápido ou ele montou a cena com os corpos na cama após cometer os assassinatos.
-Que bagunça, hein? Disse Harrison.
-É, disse Mackenzie. Diga-me... você vê de imediato algo que consideraria uma indicação, uma pista, ou qualquer coisa para se analisar com profundidade?
Ele balançou a cabeça, olhando para a cama. Ela concordou, sabendo que todo aquele sangue tornaria muito difícil encontrar qualquer evidência. Ela até ficou com suas mãos e joelhos no chão, olhou debaixo da cama para ver se havia alguma coisa lá embaixo. Não viu nada além de um par de chinelos e um velho álbum de fotos. Ela deslizou o álbum e o folheou. As primeiras páginas mostravam um casamento, da noiva andando pelo corredor de uma grande igreja até o casal cortando feliz o seu bolo.
Com uma careta, ela deslizou de volta o álbum para onde ele estava. Ela então se virou para Dagney, ainda de pé na porta do quarto e de costas. Você disse que tem arquivos com fotos, certo?
-Tenho. Um segundo e eu trarei tudo. Ela respondeu rapidamente e com um pouco de urgência, claramente ansiosa para voltar lá em baixo.
Quando Dagney se foi, Harrison voltou para o corredor. Ele olhou de volta para o quarto e suspirou profundamente. Você já viu uma cena de crime como esta?
-Não com tanto sangue, ela respondeu. Eu vi algumas terríveis, mas esta está no topo da lista por quantidade de sangue.
Harrison parecia pensar muito sobre isso enquanto Mackenzie saiu do quarto. Eles se dirigiram de volta para baixo juntos, entrando na sala de estar, assim que Dagney voltou pela porta da frente.
Eles se encontraram no barzinho que separava a cozinha da sala de estar. Dagney colocou a pasta no bar e Mackenzie a abriu. Imediatamente, a primeira imagem mostrava a mesma cama do andar de cima, coberta de sangue. Na foto, havia dois corpos, um homem e uma mulher. O casal Kurtz.
Ambos estavam vestidos, segundo o que Mackenzie pensou, com o que usavam para dormir. O Sr. Kurtz (Josh, de acordo com os relatórios) estava usando uma camiseta e uma boxer. A Sra. Kurtz (Julie) usava um top listrado e um short de ginástica. Havia uma variedade de fotografias, algumas tiradas de tão perto dos corpos que Mackenzie percebeu que estava se encolhendo, algumas vezes, ao vê-las. A foto do pescoço cortado da Sra. Kurtz era particularmente horrível.
-Eu não vi nos relatórios nenhuma identificação sobre a arma usada, disse Mackenzie.
-Isso porque ninguém pensou a respeito. Todos pensaram em uma faca.
Uma grande faca, pelo que parece, Mackenzie pensou ao desviar os olhos do corpo da Sra. Kurtz.
Viu que, aparentemente, mesmo na morte, a Sra. Kurtz tinha estendeu a mão para o conforto do seu marido. Sua mão direita estava envolvendo, quase preguiçosamente, a coxa de seu marido. Havia algo muito doce nisso, mas isso também partiu seu coração.
-E o primeiro casal que foi morto? Perguntou Mackenzie.
-Os Sterlings, disse Dagney, puxando várias fotos e folhas de papel da parte de trás da pasta.
Mackenzie olhou para as imagens e viu uma cena semelhante a que tinha visto nas fotos anteriores, também no andar de cima. Um casal, deitado na cama, sangue por toda parte. A única diferença era que o marido, nas fotos dos Sterling, tinha dormindo nu ou teve suas roupas tiradas pelo assassino.
Essas cenas são muito semelhantes, pensou Mackenzie. É quase como se tivessem sido montadas. Olhou as semelhanças, olhando para trás e para frente entre os Kurtz e as fotos dos Sterling.
A coragem e força de vontade para matar duas pessoas ao mesmo tempo-e de uma forma tão brutal. Esse cara é incrivelmente determinado. Muito motivado. E, aparentemente, não se opõe à violência extrema.
-Corrija-me se eu estiver errada, disse Mackenzie, -mas o DP de Miami está trabalhando sob a suposição de que estas foram invasões rotineiras de moradia, correto?
-Bem, estávamos pensando isso, primeiramente, disse Dagney. Mas pelo que podemos dizer, não há sinais de saques ou roubos. E este é o segundo casal a ser morto desde semana passada, parece cada vez menos provável que sejam simples invasões de casas.
-Eu concordo com isso, disse ela. E as ligações entre os dois casais? Perguntou Mackenzie.
-Até agora nada surgiu, mas nós temos uma equipe trabalhando nisso.
-E com os Sterlings, houve quaisquer sinais de luta?
-Não. Nada.
Mackenzie novamente voltou a olhar as fotos e duas semelhanças saltaram aos seus olhos ao mesmo tempo. Uma delas, em particular, fez sua pele arrepiar.
Mackenzie olhou para as fotos dos Kurtz. Viu a mão morta da mulher descansando sobre a coxa de seu marido.
E ela soube então: este foi realmente o trabalho de um assassino em série.
CAPÍTULO TRÊS
Mackenzie seguiu Dagney quando os levou para a delegacia. No caminho, ela notou que Harrison estava fazendo anotações na pasta. Ele tinha ficado praticamente obcecado por ela durante a maior parte da viagem de DC até Miami. No meio da escrita, ele fez uma pausa e olhou para ela com curiosidade.
-Você já tem uma teoria, não é? Perguntou.
-Não. Eu não tenho uma teoria, mas eu notei algumas coisas nas imagens que pareciam um pouco estranhas para mim.
-Quer compartilhar seus pensamentos?
-Ainda não, disse Mackenzie. Se eu tiver que falar disso agora e, em seguida, novamente com para a polícia, eu vou me reanalisar. Dê algum tempo para mim.
Com um sorriso, Harrison voltou para suas anotações. Ele não se queixou por não dividir seus pensamentos com ele (não estava escondendo nada) e ele não insistiu mais. Ele estava fazendo o seu melhor para ser obediente e eficaz ao mesmo tempo, ela admirava isso.
Na viagem para a delegacia, ela começou a dar espiadas no oceano através de alguns dos edifícios que passavam. Ela nunca foi encantada com o mar da forma como algumas pessoas são, mas ela podia entender essa atração. Mesmo agora, em busca de um assassino, ela podia sentir a sensação de liberdade que o mar representava. Salpicado por palmeiras imponentes e sol impecável de uma tarde de Miami o mar se tornava ainda mais bonito.
Dez minutos mais tarde, Mackenzie seguiu Dagney para o estacionamento de um grande edifício da polícia. Como quase tudo na cidade, ele tinha uma espécie de sensação praiana. Diversas palmeiras enormes estavam ao longo da estreita faixa de gramado na frente do edifício. A arquitetura simples também conseguia transmitir uma sensação relaxante, mas requintada. Era um lugar acolhedor, uma sensação que se manteve mesmo depois que Mackenzie e Harrison estavam lá dentro.
-Só vai ter de três pessoas, incluindo eu, Dagney disse quando levou-os para um espaçoso corredor. Agora que vocês estão aqui, meu supervisor vai provavelmente ter uma abordagem que fará vocês se sentirem bastante livres.
Ótimo, pensou Mackenzie. Quanto menos réplicas e argumentos, melhor.
Dagney levou-os para uma pequena sala de conferências, no final do corredor. No interior, dois homens estavam sentados à mesa. Um deles ligava um projetor em um MacBook. O outro estava digitando algo furiosamente em um tablet.
Ambos olharam para cima quando Dagney os levou para a sala. Quando o fizeram, Mackenzie ganhou aquela olhada habitual... aquela costumeira que estava deixando ela cansada. Era um olhar que parecia dizer: Nossa, uma gata. Eu não esperava isso.
Dagney fez uma rápida sessão de apresentações quando Mackenzie e Harrison se sentaram à mesa. O homem com o tablet era Chefe de Polícia Rodriguez, um homem grisalho com linhas profundas em seu rosto bronzeado. O outro homem era bastante jovem, Joey Nestler. Nestler, como era sabido, foi o Oficial que descobriu os corpos dos Kurtzes. Enquanto ele se apresentou, conseguiu ligar com sucesso o monitor do laptop. O projetor brilhou uma luz branca brilhante em uma pequena tela afixada na parede na frente da sala.
-Obrigado por terem vindo, disse Rodriguez, deixando o tablet de lado. Olha, eu não vou ser aquele policial local típico que fica no caminho. Vocês me dizem o que precisam e se for razoável, vocês terão. Em troca, eu só peço que vocês ajudem a resolver rapidamente o caso e não transformem a cidade em um circo enquanto trabalham.
-Parece que nós queremos as mesmas coisas, então, disse Mackenzie.
-Então, o Joey aqui tem de todos os documentos existentes sobre este caso, disse ele. Os relatórios do legista acabaram de chegar esta manhã e foi como esperávamos. Os kurtzes foram cortados e sangraram. Sem drogas. Totalmente limpos. Até agora não temos ligações discerníveis entre os dois crimes. Então, se você tiver alguma ideia, eu gostaria de ouvi-la.
-Oficial Nestler, Mackenzie disse, você tem todas as fotos da cena do crime de ambos os
lugares?
-Tenho, disse ele. Ele lembrava demais o Harrison-ansioso, um pouco nervoso, e visivelmente procurando agradar seus superiores e colegas de trabalho.
-Você poderia puxar todas as imagens do corpo e colocá-las lado a lado na tela, por favor? Perguntou Mackenzie.
Ele trabalhou rapidamente e pôs as imagens na tela do projetor, lado a lado, dentro de dez segundos. Ver as imagens com uma luz tão brilhante em uma sala semiescura foi assustador. Sem permitir que as pessoas na sala focassem na gravidade das imagens e perdessem o foco, Mackenzie foi direto ao ponto.
-Eu acho que é seguro dizer que estes assassinatos não foram resultado de uma típica invasão de domicílio. Nada foi roubado e, de fato, não há nenhuma indicação clara de invasão de qualquer tipo. Não há sequer quaisquer sinais de luta. Isso significa que quem os matou era provavelmente convidado ou, pelo menos, tinha uma chave. E os assassinatos tinham que ter acontecido rapidamente. Além disso, a ausência de sangue em qualquer outro lugar dentro da casa faz com que pareça que os assassinatos aconteceram no quarto- não houve crime em qualquer outro lugar dentro da casa.
Falar em voz alta a ajudou a entender como isso parecia estranho.
O cara não só foi convidado, mas aparentemente, convidado para entrar no quarto. Isso significa que a probabilidade de que ele tenha realmente sido convidado é pequena. Ele tinha uma chave. Ou sabia onde estava uma chave reserva.
Ela prosseguiu antes que de se distrair com novos pensamentos e projeções.
-Eu quero olhar para essas fotos porque há duas coisas estranhas que se destacam para mim. Primeira... olhe como todos os quatro estão perfeitamente deitados de forma plana sobre suas costas. Suas pernas estão relaxadas e bem posicionadas. É quase como se eles tivessem sido posicionados para ficarem dessa forma. E depois há uma outra coisa, se estamos lidando com um assassino em série, acho que esta pode ser a coisa mais importante para notarmos. Olhe a mão direita da Sra. Kurtz.
Ela deu as outras quatro pessoas na sala a chance de olhar. Perguntou-se se Harrison perceberia onde ela queria chegar e deixaria escapar alguma coisa. Ela deu-lhes cerca de três segundos e quando ninguém disse nada, ela continuou.
-Sua mão direita está descansando na coxa de seu marido. É a única parte de seu corpo que não está perfeitamente deitada. Assim, ou esta é uma coincidência ou o assassino colocou seus corpos nesta posição, propositadamente movendo a mão dela.
-E daí, se ele fez? Perguntou Rodriguez. Qual é a importância disso?
-Bem, agora olhe para os Sterlings. Olhe para a mão esquerda do marido.
Desta vez, não precisou dos três segundos. Foi Dagney que viu o que estava pontuando. E quando respondeu, sua voz estava fina e nervosa.
-Ele está colocando a mão na coxa de sua esposa, disse ela.
-Exatamente, disse Mackenzie. Se fosse apenas com um dos casais, eu não teria sequer mencionado isso. Mas esse mesmo gesto está presente em ambos os casais, tornando-se evidente que o assassino fez isso com alguma intenção.
-Mas por quê? Perguntou Rodriguez.
-Simbolismo? Harrison sugeriu.
-Pode ser, disse Mackenzie.
-Mas isso não é realmente muito para continuarmos, não é? Perguntou Nestler.
-Não mesmo, disse Mackenzie. Mas pelo menos é alguma coisa. Se é simbólico para o assassino, há uma razão para isso. Então, aí é onde eu gostaria de começar: Eu gostaria de ter uma lista de suspeitos que foram recentemente colocados em liberdade condicional por crimes violentos que foram ligados a invasões de domicílio. Eu ainda não acho que foi uma invasão de domicílio, por si só, mas é o lugar mais plausível para começarmos.
-Certo, podemos fazer isso para você, disse Rodriguez. Mais alguma coisa?
-Nada por agora. Nosso próximo curso de ação é falar com os familiares, amigos e vizinhos dos casais.
-Sim, falamos com os familiares dos Kurtzes, parentes mais próximos, um irmão, irmã e pais de um deles. Vocês são mais do que bem-vindos para voltar lá, mas eles não têm muita coisa a oferecer. O irmão de Josh Kurtz disse que, pelo que sabia, eles tinham um ótimo casamento. A única vez que eles brigaram foi durante a temporada de futebol, quando os Seminoles jogaram com os Hurricanes.
-E os vizinhos? Perguntou Mackenzie.
-Nós falamos com eles, também. Mas foi algo breve. Principalmente sobre a queixa de barulho que apresentaram sobre o cachorro latindo.
‘‘Então, é aí que vamos começar, Mackenzie disse, olhando para Harrison.
E sem mais palavras, eles se levantaram e saíram.
CAPÍTULO QUATRO
Mackenzie achou um pouco inquietante revisitar as moradias. Enquanto aproveitavam o bom tempo eles se aproximavam da casa dos vizinhos, saber que havia uma cama coberta de sangue na próxima casa daquele condomínio parecia surreal. Mackenzie suprimiu um arrepio e olhou para longe da casa dos Kurtzes.
Enquanto ela e Harrison caminhavam até as escadas para a porta da frente dos vizinhos, o telefone de Mackenzie tocou, mostrando que ela havia recebido uma mensagem de texto. Ela tirou o telefone e viu que o texto era de Ellington. Ela revirou os olhos enquanto o lia.
Como está o novato? Já sente falta de mim?
Quase respondeu, mas não queria encorajá-lo. Ela também não queria parecer distante ou distraída na frente de Harrison. Sabia que era uma coisa presunçosa de se pensar, mas ela tinha certeza que ele a via como um exemplo. Por isso, ela colocou o telefone de volta no bolso e caminhou até a porta da frente. Ela permitiu que Harrison batesse na porta e ele fez isso com muita cautela e cuidado.
Alguns segundos depois, uma mulher com aparência nervosa atendeu a porta. Ela parecia estar com seus quarenta e poucos anos. Estava vestida com uma blusa folgada e um shorts que poderia muito bem ser nada mais do que uma calcinha. Parecia que ela, provavelmente, era uma frequentadora regular das praias, e obviamente tinha feito uma plástica no nariz e, possivelmente, nos seus seios.
-Posso ajudá-los? Perguntou ela.
-Você é Demi Stiller?
-Sou eu. Por quê?
Mackenzie lançou seu distintivo com uma rapidez de especialista, estava ficando muito melhor naquilo a cada dia. Nós somos os Agentes White e Harrison do FBI. Nós gostaríamos de falar com você sobre seus vizinhos.
-Tudo bem, eu acho, disse Demi. Mas nós já falamos com a polícia.
-Eu sei, disse Mackenzie. Eu espero que cheguemos um pouco mais fundo. Pelo que eu entendi, houve um mal-estar sobre o cão ao lado quando falaram com você.
-Sim, houve, disse Demi, conduzindo-os e fechando a porta atrás deles. Claro, eu não tinha ideia de que eles estavam mortos quando eu fiz essa ligação.
-É claro, disse Mackenzie. Nós não estamos aqui para falar sobre isso, de qualquer maneira. Nós esperamos que você possa nos dar alguns insights sobre as vidas deles. Você os conhecia bem?
Demi os levou para a cozinha, onde Mackenzie e Harrison se sentaram no bar. O local era como na residência dos Kurtzes. Mackenzie viu Harrison olhando ceticamente para as escadas fora da sala de estar adjacente.
-Nós não éramos amigos, se é isso que vocês querem saber, disse Demi. Apenas nos cumprimentávamos quando nos víamos, sabe? Nós fizemos alguns churrascos no pátio algumas vezes, mas é só isso.
- Há quanto tempo eles eram seus vizinhos? Perguntou Harrison.
-Um pouco mais de quatro anos, eu acho.
-E você os considerava bons vizinhos? Mackenzie prosseguiu.
Demi balançou os ombros. Na maior parte, sim. Eles tiveram alguns encontros barulhentos aqui e ali durante a temporada de futebol, mas não foi tão ruim. Eu, honestamente, quase desisti de ligar para fazer a denúncia sobre o cão imbecil. A única razão que me fez ligar é que ninguém atendeu a porta quando eu bati.
-Suponho que você não sabe se eles tiveram visitas regulares, não é?
-Eu não acho que tiveram, disse Demi. Os policiais me perguntaram o mesmo tipo de coisa. Meu marido e eu pensamos a respeito e eu não me lembro de ver qualquer carro estacionado ali regularmente, com exceção do próprio carro deles.
-Bem, você sabe se eles estavam envolvidos em qualquer coisa que possa nos levar a algumas pessoas para conversar? Qualquer tipo de clubes ou interesses estranhos?
-Não que eu saiba, disse Demi. Enquanto ela falava, estava olhando para a parede, como se estivesse tentando ver através dela, lá dentro da casa dos Kurtzes. Ela parecia um pouco triste, pela perda dos Kurtzes ou simplesmente por ter sido arrastada para o meio desta história.
-Você tem certeza? Mackenzie insistiu.
-Muita, sim. Acho que o marido dela jogava raquetebol. Eu o vi saindo algumas vezes, quando voltava da academia. Quanto a Julie, eu não sei. Eu sei que ela gostava de desenhar, mas só porque ela me mostrou algumas coisas uma certa vez. Mas, além disso... não. Eles praticamente ficaram sozinhos.
-Há mais alguma coisa sobre eles-qualquer coisa-que se destaca para
você?’
-Bem, Demi disse, ainda olhando para a parede, -Eu sei que é meio lascivo, mas era bastante evidente para o meu marido e eu que os Kurtzes tinham uma vida sexual bastante ativa. Ou as paredes aqui são muito finas-ou os Kurtzes eram muito escandalosos. Eu nem sei dizer quantas vezes ouvimos eles tendo relações sexuais.
Às vezes, nem eram ruídos abafados; dava para ouvir eles chegando lá, sabe?
-Qualquer indício de violência? Perguntou Mackenzie.
-Não, nunca soou assim, Demi disse, agora parecendo um pouco envergonhada. Eles eram muito entusiasmados. Era algo que sempre nos fez ter vontade de reclamar com eles, mas nunca fizemos isso. É meio embaraçoso falar disso, sabe?
-Claro, disse Mackenzie. Você mencionou o seu marido algumas vezes. Onde ele
está?
-No trabalho. Ele trabalha das nove às cinco. Eu fico aqui e faço um serviço editorial em meio período, trabalho em casa.
-Você poderia, por favor, perguntar a ele as mesmas coisas que eu lhe perguntei apenas para me certificar de que consegui todas as informações possíveis? Perguntou Mackenzie.
-Sim, claro.
-Muito obrigada pelo seu tempo, Sra. Stiller. Posso ligá-la mais tarde, se surgirem outras perguntas.
-Tudo bem, Demi disse enquanto os levava de volta para a porta da frente.
Quando eles estavam lá fora e Demi Stiller tinha fechado a porta, Harrison olhou para trás, ele olhou para a casa que Josh e Julie Kurtz uma vez chamaram de lar. Então, todos o que nós conseguimos foi saber que eles tinham uma ótima vida sexual? Perguntou ele.
-Parece-me que sim, disse ela. Mas isso nos diz que eles tinham um casamento sólido, possivelmente. Acrescente as declarações da família sobre o casamento perfeito e se torna mais difícil encontrar uma razão para os assassinatos. Ou, por outro lado, poderia ser mais fácil agora. Se eles tinham um bom casamento e não tinham problemas, encontrar alguém com algo contra eles poderia revelar-se mais fácil. Agora... dê uma olhada nas suas anotações. Onde você acha que devemos investigar, em seguida?
Harrison parecia um pouco surpreso com a pergunta, mas ele obedientemente olhou para o notebook onde havia as suas anotações e arquivos. Precisamos checar a primeira cena de crime -a residência do casal Sterling. Os pais do marido moram a dez quilômetros da casa, por isso pode valer a pena conversar com eles.
-Parece bom para mim, disse ela. Você tem os endereços?
Ela atirou as chaves do carro nele e se dirigiu para a porta do passageiro. Ela ficou um momento admirando o olhar de surpresa e orgulho em seu rosto com o gesto simples ao pegar as chaves.
-Então, mostre o caminho, disse ela.
CAPÍTULO CINCO
A residência do casal Sterling estava a quase dezoito quilômetros de distância da moradia dos Kurtzes. Mackenzie não podia deixar de admirar o lugar quando Harrison parou na longa calçada de concreto. A casa ficava a cerca de cinquenta metros fora da estrada principal, forrada com um canteiro de flores lindo e árvores finas e altas. A casa em si era muito moderna, em sua maioria composta por janelas e vigas de madeira com uma aparência rústica. Parecia uma casa bucólica e cara de um casal rico. A única coisa que quebrava essa ilusão era a tira de fita amarelo demarcando a cena do crime ao longo da porta da frente.
Quando eles começaram a caminhar em direção à porta da frente, Mackenzie observou o quão tranquilo era o lugar. Estava separado das outras casas vizinhas de alto preço por uma espessa linha de arvoredos, uma parede verde exuberante que parecia tão bem conservada e cara como as casas ao longo deste trecho da cidade. A propriedade não estava na praia, mas ela podia ouvir o mar murmurando em algum lugar distante.
Mackenzie mergulhou sob a fita da cena do crime e pegou a chave reserva que Dagney tinha lhe dado no inquérito inicial do DP de Miami. Eles entraram em um grande foyer e Mackenzie foi novamente surpreendida pelo silêncio absoluto. Ela deu uma olhada em volta, observou o layout da casa. Um corredor se estendia à sua esquerda e terminava em uma cozinha. O resto da casa era bastante aberto; uma sala de estar e uma área grande conectadas uma à outra, levando para mais longe e fora da vista, para uma varanda cercada por vidros.
-O que sabemos sobre o que aconteceu aqui? Mackenzie perguntou Harrison. Ela, é claro, já sabia. Mas ela queria deixá-lo exibir sua inteligência e comprometimento, esperando que ele rapidamente se sentisse confortável antes que o caso realmente começasse.
-Deb e Gerald Sterling, disse Harrison. Ele tinha trinta e seis e ela tinha trinta e oito. Mortos em seu quarto da mesma maneira que os Kurtzes, embora estes assassinatos tenham ocorrido pelo menos três dias antes dos assassinatos dos Kurtzes. Seus corpos foram descobertos pela empregada logo após oito horas da manhã. Relatórios do legista indicam que eles foram assassinados na noite anterior.
A investigação inicial não trouxe absolutamente nenhuma evidência de qualquer tipo, embora o departamento forense esteja atualmente a analisando os fios de cabelo encontrados no batente da porta da frente.
Mackenzie concordou quando ele recitou os fatos. Estava estudando o andar de baixo, tentando entender que tipo de pessoa eram os Sterlings antes de ir para o quarto onde eles haviam sido mortos. Ela passou por uma grande estante embutida entre a sala de estar e área.
A maioria dos livros eram ficção, principalmente de King, Grisham, Child e Patterson. Havia também alguns livros relacionados com arte. Em outras palavras, livros básicos que não davam insights sobre as vidas pessoais dos Sterlings.
Uma mesa decorativa estava contra a parede na área. Mackenzie levantou a tampa e olhou lá dentro, mas não havia nada de interesse, apenas canetas, papel, algumas fotos, e outros objetos domésticos.
-Vamos continuar, disse ela.
Harrison assentiu e respirou fundo, trêmulo.
-Ok, disse Mackenzie. A casa do casal Kurtz também me abalou. Mas confie em mim... esses tipos de situações ficam mais fáceis de se encarar com o tempo.
Você sabe que isso pode não ser necessariamente uma coisa boa, certo? Ela pensou consigo mesma. Quantos locais terríveis se tornaram sem efeito desde a primeira mulher pendurada em um mastro nos milharais de Nebraska?
Ela sacudiu o pensamento para longe quando e Harrison chegaram ao topo das escadas. O andar de cima consistia em um longo corredor que abrigava apenas três quartos. Um grande escritório estava à esquerda. Tudo estava tão arrumado a ponto de parecer vazio, olhando para o bosque de árvores ao longo da parte de trás da casa. O enorme banheiro ostentava as pias dele e dela, um grande chuveiro, uma banheira e um armário, que era tão grande quanto a cozinha de Mackenzie.
Assim como no andar de baixo, não havia nada para se ter uma ideia exata de como eram os Sterlings ou por que alguém os mataria. Sem perder mais tempo, Mackenzie caminhou em direção ao final do corredor onde a porta do quarto estava aberta. A luz do sol veio se derramando através de uma grande janela no lado esquerdo do cômodo. A luz engolia a extremidade da cama, transformando o marrom de lá em uma sombra alarmante avermelhada.
Era vertiginoso de certa forma, entrar no quarto de uma casa impecável para ver todo aquele sangue na cama. O piso era de madeira, mas Mackenzie podia ver respingos de sangue aqui e ali. Não havia tanto sangue nas paredes aqui como na residência do casal Kurtz, mas havia algumas gotículas, como uma pintura abstrata mórbida.
Havia um leve odor de cobre no ar, o aroma de sangue derramado secando. Era fraco, mas parecia encher o lugar. Mackenzie caminhou ao redor da borda da cama, olhando para os lençóis cinza claro que tinham sido profundamente manchados de vermelho. Viu uma única marca no lençol de cima que poderia ter sido a consequência de uma facada. Ela observou isso mais perto e descobriu que era exatamente o que estava procurando.
Com uma única volta em torno da cama, Mackenzie tinha certeza de que não havia nada aqui que levaria o caso a diante. Olhou em outros lugares ao redor do quarto-mesas de cabeceira, as gavetas, e para a pequena estante-procurando pelo mais ínfimo pormenor.
Viu um suave entalhe na parede, não era maior do que uma moeda de vinte e cinco centavos. Mas não havia mancha de sangue em torno dele. Havia mais sangue por baixo, um ligeiro fluxo que tinha secado sobre a parede e uma mancha menor no tapete sob o entalhe.
Ela foi até o entalhe na parede e olhou para ele de perto. Era uma forma peculiar, e o fato de que havia sangue centrado em torno dele a fez pensar que um era o resultado do outro. Ela se endireitou e verificou o alinhamento do pequeno buraco com o seu corpo. Ela levantou o braço um pouco e o inclinou. Ao fazer isso, seu cotovelo ficou alinhado com aquele orifício quase que perfeitamente.
-O que você achou? Perguntou Harrison.
-Os sinais de uma luta, eu acho, respondeu ela.
Ele se juntou a ela e tomou nota do entalhe. Não há muito para irmos em frente, não é? Ele perguntou.
-Não, de fato não. Mas o sangue torna a situação notável. Isso e o fato de que esta casa está em bom estado. Isso me faz pensar que o assassino fez tudo o que podia para ocultar quaisquer sinais de luta. Ele quase arrumou a casa, de certa forma. Mas este sinal de luta não pôde ser
escondido.
Olhou para a pequena mancha de sangue no carpete. A mancha estava desbotada e havia até mesmo traços muito leves de vermelho em torno dela.
-Veja, disse ela, apontando. Bem ali, parece que alguém tentou limpar isso. Mas ele estava com pressa ou este último pedacinho não foi visto.
-Talvez nós deveríamos verificar de novo a casa Kurtz, então.
-Talvez, ela concordou, embora se sentisse confiante de que tinha analisado o lugar exaustivamente.
Ela deu um passo para longe da parede e foi para a enorme closet. Olhou dentro dele e viu mais organização.
Viu sim uma única coisa que poderia ser considerada como bagunça dentro daquela casa. Uma camisa e uma calça que estavam amassadas, empurradas quase contra a parede do armário. Ela puxou a camisa para longe das calças e viu que eram roupas masculinas, talvez as últimas roupas que Gerald Sterling tinha usado.
Ela foi até cada um dos bolsos da frente. Em um deles, ela encontrou dezessete centavos. No outro, ela encontrou um recibo amassado. Ela o abriu e viu que era de uma mercearia há cinco dias... o último dia de sua vida. Olhou para o recibo e começou a pensar.
Como podemos descobrir o que eles fizeram nos seus últimos dias de vida? Ou na última semana, ou até mesmo no último mês?
-Harrison, nesses relatórios, o DP de Miami verificou nos telefones dos falecidos todos os sinais de alerta?
-Está certo, Harrison disse quando ele cautelosamente pisou em torno da cama sangrenta. Contatos, chamadas recebidas e efetuadas, e-mails, downloads, tudo.
-Mas nada como um histórico de pesquisa na internet ou qualquer coisa assim?
-Não, não que eu me lembre.
Colocando o recibo de volta no jeans, Mackenzie saiu do armário e, em seguida, do quarto. Ela voltou lá embaixo, ciente de que Harrison estava seguindo atrás dela.
-O que é isso? Perguntou Harrison.
-Um palpite, disse ela. Uma esperança, talvez.
Ela caminhou de volta para a mesa na área e abriu-a novamente. Na parte de trás, havia uma pequena cesta. Algumas canetas presas do lado de fora, assim como um único talão de cheques. Se eles mantinham uma casa tão arrumada, eu diria que os cheques deles estavam na mesma condição.
Pegou o talão de cheques e descobriu que estava correta. Os números foram mantidos com um cuidado meticuloso. Cada transação foi escrita de forma muito legível e com o máximo de detalhes possível.
Até mesmo saques em caixa eletrônico foram contabilizados. Demorou cerca de vinte segundos para perceber que este talão de cheques era um tipo de conta secundária e não a principal conta dos Sterlings. No momento da morte deles, a conta tinha pouco mais de sete mil dólares.
Olhou através do registro de verificação para conseguir qualquer coisa que pudesse lhe dar algum tipo de pista, mas nada teve destaque para ela. Ela, no entanto, viu algumas abreviaturas que não reconheceu. A maioria das transações para eram para valores de cerca de sessenta a duzentos dólares. Uma das que não reconheceu era de dois mil dólares.
Enquanto nada no registo parecia interessante, ela permaneceu focada nas abreviaturas e iniciais com as quais não estava familiarizada. Ela tirou algumas fotos desses registros com seu telefone e, em seguida, devolveu o talão de cheques para o lugar em que se encontrava.
-Você tem uma ideia ou algo assim? Perguntou Harrison.
-Talvez, disse ela. Você poderia ligar para a Dagney e pedir para que alguém puxe os registros financeiros dos Sterlings ao longo do último ano? Contas correntes, cartões de crédito, até mesmo PayPal, se eles usavam isso.
-Claro, disse Harrison. Ele imediatamente pegou o seu telefone para completar a tarefa.
Eu não me importaria de trabalhar com ele, pensou Mackenzie.
Ela o ouviu falando com Dagney enquanto fechava a mesa e olhou para trás em direção às escadas.
Alguém andou até as escadas quatro noites atrás e matou um casal, ela pensou, tentando imaginar isso. Mas, por quê? E, novamente, por que não havia sinais de invasão?
A resposta era simples: Assim como com os Kurtzes, o assassino foi convidado. E isso significa que eles sabiam quem era o assassino e deixaram ele entrar ou o assassino -encenou- em determinada parte... agindo como alguém que eles conheciam ou alguém que precisava de ajuda...
A teoria parecia frágil, mas sabia que havia algo. No mínimo, isso criava um vínculo frágil entre os dois casais.
E por agora, isso era o suficiente para irem em frente.
CAPÍTULO SEIS
Enquanto ela esperava não ter que falar com as famílias dos falecidos, Mackenzie estava cumprindo os afazeres de sua lista de tarefas mais rápido do que ela esperava. Depois de deixar a casa dos Sterlings, naturalmente, o próximo lugar para se conseguir respostas era a casa dos parentes mais próximos. No caso dos Sterlings, a familiar mais próxima era uma irmã que morava a menos de dezesseis quilômetros da moradia dos Kurtzes. O resto da família vivia no Alabama.
Os Kurtzes, no entanto, tinham muitos familiares nas proximidades. Josh Kurtz não se mudou para muito longe de casa, vivendo a cerca de trinta e dois quilômetros não só da casa de seus pais, mas também de sua irmã. E já que o DP de Miami já havia falado bastante com os Kurtzes no início do dia, Mackenzie optou por falar com a irmã de Julie Kurtz.
Sara Lewis parecia mais do que feliz em se encontrar com eles, e embora a notícia sobre a morte de sua irmã tivesse sido dada há menos de dois dias, ela parecia ter se conformado, da maneira como uma pessoa de vinte e dois anos consegue se conformar.
Sara convidou ambos para entrar em sua casa em Overtown, uma pitoresca casa de um andar que era um pouco mais do que um pequeno apartamento. A casa era pouco decorada e tinha aquela espécie de silêncio irritante que Mackenzie havia sentido em tantas outras casas onde alguém estava lidando com uma perda recente. Sara sentou-se na borda de seu sofá, com uma caneca de chá nas mãos. Ficou claro que ela tinha chorado recentemente; ela também parecia não ter dormido muito.
-Suponho que se o FBI está envolvido, disse ela, -isso significa que houve mais assassinatos?
-Sim, houve, Harrison disse ao lado de Mackenzie. Ela franziu a testa brevemente, desejando que ele não tivesse tanta boa vontade em divulgar aquela informação.
-Mas, Mackenzie disse, interrompendo antes Harrison pudesse continuar, -nós, claro, não podemos fazer quaisquer afirmações sólidas sobre uma conexão sem uma investigação completa. E é por isso que fomos chamados.
-Eu vou ajudar o quanto puder, disse Sara Lewis. Mas eu já respondi às perguntas da polícia.
-Sim, eu entendo, e eu agradeço por isso, disse Mackenzie. Eu só quero cobrir algumas coisas que eles podem ter deixado para trás. Por exemplo, você por acaso tem alguma ideia de como a sua irmã e seu cunhado estavam financeiramente?
Ficou claro que Sara pensava que era uma pergunta estranha, mas ela fez o seu melhor para responder. Ok, suponho que sim. Josh tinha um bom emprego e eles realmente não gastavam muito dinheiro. Julie, às vezes, me repreendia, por gastar muito levianamente. Quero dizer, eles certamente não eram ricos... não pelo que eu sei. Mas viviam bem.
-Agora há pouco, um vizinho nos disse que Julie gostava de desenhar. Era apenas um hobby ou estava ganhando dinheiro com isso?
-Mais hobby, disse Julie. Era muito boa, mas sabia que não era nada de espetacular, sabe?
-E seus ex-namorados? Ou talvez ex-namoradas de Josh?
-Julie teve alguns, mas nenhum deles causou problemas. Além disso, todos eles vivem do outro lado do país. Eu sei que dois deles são casados. Quanto ao Josh, eu não acho que haveria qualquer ex envolvida. Quero dizer... inferno, eu não sei. Eles eram apenas um ótimo casal. Estavam realmente bem juntos-repugnantemente fofos em público. Esse tipo de casal.
A visita parecia muito breve para acabar, mas Mackenzie tinha apenas uma outra rota para perseguir e não tinha certeza de como se referir a ela sem ser repetitiva. Ela pensou nas estranhas transações no talão de cheques dos Sterlings, ainda incapaz de entendê-las.
Provavelmente nada, pensou. Pessoas usam seus talões de cheques de forma diferente, é só isso. Ainda assim, vale a pena analisar.
Pensando nas abreviaturas que ela tinha visto no talão de cheques dos Sterlings, Mackenzie continuou. Quando abriu a boca para falar, ela ouviu o telefone de Harrison vibrando no bolso dele. Ele rapidamente verificou a tela, em seguida, ignorou a chamada. Desculpem-me, disse ele.
Ignorando a perturbação, Mackenzie perguntou: -Você por acaso sabe se Julie ou Josh estavam envolvidos com qualquer tipo de organização ou talvez até mesmo clubes ou academias? O tipo de lugar em que eles rotineiramente pagariam taxas?
Julie pensou sobre isso por um momento, mas balançou a cabeça. Não que eu saiba. Como eu disse... eles realmente não gastavam muito dinheiro. A única taxa mensal que eu sei que Julie pagava, fora as contas, era a sua conta do Spotify, e isso custa apenas dez dólares.
-E você tem sido contatada por alguém, como um advogado, sobre o que aconteceu com as finanças deles? Perguntou Mackenzie. Sinto muito por perguntar isso, sei que posso estar pressionando.
-Não, ainda não, disse ela. Eles eram tão jovens, eu não sei mesmo se eles tinham um testamento. Merda... Eu acho que tenho que olhar tudo isso, não é?
Mackenzie ficou de pé, incapaz de responder à pergunta. Mais uma vez obrigada por falar conosco, Sara. Por favor, se você pensar em algo mais em relação às perguntas que eu lhe fiz, eu agradeceria se puder me ligar.
Com isso, ela entregou Sara um cartão de visita. Sara pegou o cartão e o guardou enquanto os levava até a porta. Não estava sendo rude, mas estava claro que ela queria que eles fossem embora o mais rápido possível.
Com a porta fechada atrás deles, Mackenzie encontrou-se de pé na varanda de Sara com Harrison. Ela considerou corrigi-lo rapidamente por ter deixado Sara saber que houve mais assassinatos e que poderiam estar relacionados com o assassinato de sua irmã. Mas tinha sido um erro motivado pela sinceridade, algo que ela tinha feito uma ou duas vezes no começo. Então, ela deixou isso passar.
-Posso te perguntar uma coisa? Perguntou Harrison.
-Claro, disse Mackenzie.
-Por que você estava tão focada nas finanças? Isso tem algo a ver com o que você viu na casa dos Sterlings?
-Sim. É apenas um palpite por enquanto, mas algumas das transações estavam--
O telefone de Harrison começou a vibrar novamente. Ele pegou-o do bolso com um olhar envergonhado em seu rosto. Ele verificou a tela, quase ignorando-a, mas em seguida, manteve o objeto nas mãos enquanto eles caminhavam de volta para o carro.
-Desculpe-me, eu tenho que atender, disse ele. É minha irmã. Ela ligou enquanto estávamos lá dentro, também. O que é estranho.
Mackenzie não lhe deu tanta atenção ao entrar no carro. Ela mal estava ouvindo o final da conversa de Harrison quando ele começou a falar. No entanto, até o momento em que ela puxou o carro de volta para a rua, ela podia dizer pelo seu tom de voz que algo estava muito errado.
Quando ele terminou a chamada, havia uma expressão de choque em seu rosto. Seu lábio inferior tinha uma espécie de curva, algo entre uma careta e um franzir de rosto.
-Harrison?
-Minha mãe morreu esta manhã, disse ele.
-Ah meu Deus, disse Mackenzie.
-Ataque cardíaco... assim. Ela--
Mackenzie poderia dizer que ele estava lutando para não romper em lágrimas. Ele virou a cabeça para longe dela, olhando para fora da janela do lado do passageiro, e começou a desabafar.
-Eu sinto muito, Harrison, disse ela. Vamos levá-la de volta para casa. Vou marcar o seu voo agora. Você precisa de qualquer outra coisa?
Ele só fez um breve aceno de cabeça, ainda olhando para longe dela enquanto chorava um pouco mais abertamente.
Mackenzie primeiro ligou para Quantico. Não conseguiu falar com McGrath ao telefone, então ela deixou uma mensagem com a recepcionista dele, deixando-a saber o que tinha acontecido e que Harrison pegaria um voo de volta para DC o mais rápido possível. Ela então ligou para a companhia aérea e pegou o primeiro voo disponível, que partia em três horas e meia.
No momento em que o voo foi reservado e ela terminou a chamada, o telefone tocou. Olhando para o Harrison com um olhar simpático, ela respondeu a ligação. Parecia terrível voltar a sua atenção para uma mentalidade de trabalho após a notícia de Harrison, mas ela tinha um trabalho para fazer -e ainda não havia pistas sólidas.
-Sou a Agente White, disse ela.
-Agente White, sou a oficial Dagney. Eu pensei que você iria gostar de saber que temos uma potencial pista.
-Potencial? Ela perguntou.
-Bem, certamente ele se encaixa no perfil. Este é um cara que tem passagens por várias invasões de domicílio, duas das quais incluíam violência e agressão sexual.
-Nas mesmas áreas dos Kurtzes e dos Sterlings?
-É onde a coisa fica promissora, disse Dagney. Um dos casos que envolviam agressão sexual aconteceu no mesmo conjunto de casas onde os Kurtzes viviam.
-Nós temos um endereço do cara?
-Sim. Ele trabalha em uma oficina de carros. Uma pequena oficina. E nós temos a confirmação de que ele está lá agora. O nome dele é Mike Nell.
-Envie-me o endereço e eu terei uma conversa com ele. E algo sobre os registros financeiros solicitados pelo Harrison? Perguntou Mackenzie.
-Ainda não. Nós temos alguns caras trabalhando nisso, no entanto. Não deve demorar
muito.
Mackenzie encerrou a chamada e fez o seu melhor para deixar que Harrison tivesse o seu momento de dor. Ele já não estava chorando, mas claramente tinha que fazer um esforço para se manter firme.
-Obrigado, disse Harrison, enxugando uma lágrima em seu rosto.
-Pelo quê? Perguntou Mackenzie.
Ele encolheu os ombros. Ligou para McGrath e o aeroporto. Lamento, este é um incômodo imenso no meio do caso.
-Não é, disse ela. Harrison, eu sinto muito pela perda.
Depois disso, o carro caiu em silêncio e querendo ou não, a mente de Mackenzie voltou para o modo trabalho. Havia um assassino em algum lugar lá fora, aparentemente com algum tipo estranho de vingança para casais felizes. E ele poderia estar à sua espera neste exato momento.
Mackenzie mal podia esperar para conhecê-lo.
CAPÍTULO SETE
Deixar o Harrison no hotel era doce e amargo ao mesmo tempo. Ela queria poder fazer mais por ele ou, no mínimo, oferecer algumas palavras mais reconfortantes. Ao final, no entanto, ela só lhe deu um aceno sem entusiasmo quando ele entrou no seu quarto para arrumar suas coisas e chamar um táxi para levá-lo ao aeroporto.
Quando sua porta se fechou, Mackenzie colou o endereço que Dagney enviou no GPS. A oficina Lipton Auto Garage estava exatamente a dezessete minutos do hotel, uma distância que ela começou a percorrer imediatamente.
Estar sozinha no carro era estranho, mas ela novamente se distraiu com o cenário de Miami. Era diferente de qualquer outra cidade praiana em que ela esteve. As cidades menores situadas à beira da praia pareciam um pouco arenosas e quase desbotadas, mas tudo em Miami parecia brilhar apesar da areia tão próxima e da brisa salgada do oceano. De vez em quando, ela via um edifício que parecia fora de lugar, negligenciado e desamparado-um lembrete de que tudo tinha suas imperfeições.
Chegou à garagem mais cedo do que esperava, sendo distraída pelas paisagens da cidade. Ela estacionou em um pátio que estava superlotado com carros e caminhões que foram obviamente desmontados para a retirada de peças sobressalentes. Parecia o tipo de operação que estava praticamente em estado de quase falência.
Antes de entrar no lugar, ela fez uma rápida análise do lugar. Havia uma fachada de escritório aos pedaços e que atualmente estava abandonada. A oficina anexa possuía três entradas, apenas uma delas continha um carro; ele estava suspenso, mas não parecia estar sendo consertado. Na garagem, um homem estava revirando uma caixa de ferramentas em forma de prateleira. Outro estava na parte de trás da garagem, de pé em uma pequena escada e revirando uma série de caixas velhas de papelão.
Mackenzie foi até o homem mais próximo dela, o que estava revirando a caixa de ferramentas. Ele parecia estar se aproximando dos quarenta anos, com cabelos oleosos que desciam até os ombros. Os pêlos em seu rosto não eram uma barba. Quando ele olhou para ela se aproximando, ele abriu um grande sorriso.
-Ei, querida, disse ele com um pouco de sotaque sulista. Como posso ajudá-la hoje?
Mackenzie lançou seu distintivo. Você pode parar de me chamar de querida em primeiro lugar. Então, você pode dizer-me se é Mike Nell.
-Sim, sou eu, disse ele. Ele estava olhando para o distintivo dela com um sentimento parecido com medo. Ele então olhou para o rosto dela, como se estivesse tentando decifrar se aquilo era parte de alguma brincadeira.
-Sr. Nell, eu gostaria que você--
Ele se virou rapidamente e empurrou-a. Forte. Ela tropeçou para trás e seus pés atingiram um pneu que estava deitado no chão. Quando perdeu o equilíbrio e foi caindo para trás, viu Nell fugindo. Ele estava saindo da oficina, correndo e olhando por cima do ombro.
Isso se intensificou rapidamente, ela pensou. Ele tinha certeza que ele era culpado de alguma coisa.
Seus instintos queriam que ela pegasse a arma. Mas isso causaria alarde. Então ela se levantou e iniciou a perseguição. No entanto, quando se levantou, sua mão caiu sobre outra coisa que havia sido deixada no chão. Era uma chave de roda-possivelmente a chave que tinha tirado o pneu no qual ela tinha caído.
Pegou-a e rapidamente se levantou. Ela correu para a frente da garagem e viu Nell na calçada, prestes a atravessar a rua. Mackenzie olhou rapidamente para ambos os sentidos, viu que não havia carros por perto, e puxou o braço para trás.
Ela lançou a chave de roda através do ar com toda força que podia. Ele lançou a chave e cobriu os cinco metros que a separavam de Nell, atingindo-o em cheio nas costas. Ele soltou um grito de surpresa e dor antes de cambalear para a frente e cair de joelhos, quase plantando o rosto na lateral da rua.
Ela correu atrás dele, jogando um joelho em suas costas antes que ele pudesse sequer pensar em ficar de pé novamente.
Ela prendeu os braços dele para trás e empurrou para baixo. Ele tentou se contorcer, mas então percebeu que tentar fugir só causaria mais dor, pois seus ombros estavam esticados para trás. Com uma rapidez que ela vinha praticando há meses, ela puxou o par de algemas de seu cinto e bateu com ele em torno do pulso de Nell.
-Isso foi estúpido, disse Mackenzie. Eu só queria fazer algumas perguntas... e você me deu a resposta que eu estava procurando.
Nell não disse nada, mas ele acabou aceitando que não poderia fugir dela. Enquanto os carros passavam, o outro homem da oficina veio correndo.
-Que diabos é isso? Perguntou.
-Sr. Nell acabou de atacar uma Agente do FBI, disse Mackenzie. Receio que ele não será capaz de terminar o expediente para você.
***
Mackenzie observou Mike Nell por trás do duplo espelho da sala de observação. Ele parecia provocado e envergonhado-uma carranca tinha permanecido em seu rosto desde quando Mackenzie o puxou e algemou na frente do seu chefe. Ele mastigava nervosamente o lábio, uma indicação de que ele provavelmente estava ansioso para ter um cigarro ou uma bebida.
Mackenzie desviou o olhar para estudar o arquivo em suas mãos. Tinha uma breve, mas conturbada história sobre Mike Nell, um adolescente fugitivo aos dezesseis anos, preso por furto e assalto agravado pela primeira vez aos dezoito anos. Os últimos doze anos da sua vida pintavam o retrato de um conturbado perdedor-assalto, roubo, invasão de domicílio, algumas passagens pela prisão.
Ao lado de Mackenzie, Dagney e o Comandante Rodriguez olharam para Nell com um certo desprezo.
-Acho que você já lidou muito com ele no passado, certo? Perguntou Mackenzie.
-Sim, disse Rodriguez. E de alguma forma, os tribunais continuam batendo algemas nos pulsos dele e é só isso. A sentença mais longa que ele cumpriu foi a que ele acabou em liberdade condicional, e foi uma sentença de um ano. Se este idiota for responsável por esses assassinatos, os tribunais terão que enfiar o rabo entre as pernas.
Mackenzie entregou o relatório a Dagney e deu um passo em direção à porta. Bem, então vamos ver o que ele tem a dizer, disse ela.
Ela saiu de lá e ficou no corredor por um momento antes de sair para interrogar Mike Nell. Pegou o telefone, olhou-o para ver se tinha recebido uma mensagem de texto de Harrison. Ela presumiu que ele estaria no aeroporto agora, talvez falando com outros membros da família para ter uma ideia melhor do que estava acontecendo em casa. Ela realmente sentiu pena dele e mesmo não o conhecendo tão bem, ela desejava que houvesse algo que ela pudesse fazer por ele.
Deixando suas emoções de lado por um momento, ela colocou o telefone no bolso e entrou na sala de interrogatório. Mike Nell olhou para ela e não se incomodou em esconder o olhar de desprezo. Mas agora havia algo mais, também. Ele nem tentou esconder o fato de que estava comendo ela com os olhos, seus olhos demoravam mais tempo do que o necessário olhando para ela, especialmente, nos quadris de Mackenzie.
-Vê algo que você gosta, o Sr. Nell? Ela perguntou quando se sentou.
Claramente perplexo com a pergunta, Nell riu nervosamente e disse: -Acho que sim.
-Eu suponho que você sabe que está em apuros por ter colocado suas mãos em uma Agente do FBI, mesmo que tenha sido apenas um empurrão.
-E sobre o seu pequeno truque chave de roda? Perguntou.
-Você teria preferido a minha arma? Um tiro certeiro na panturrilha ou no ombro para
pará-lo? Nell não tinha nada a dizer sobre isso.
-Está claro que não seremos melhores amigos tão cedo, disse Mackenzie, -então vamos pular a conversa fiada. Eu gostaria de saber todos os lugares em que você esteve ao longo da última semana.
-É uma lista longa, Nell disse desafiadoramente.
-Sim, eu tenho certeza que um homem com o seu caráter vai para todos os lugares. Então, vamos começar com duas noites atrás. Onde você estava entre seis da noite e seis da manhã?
-Duas noites atrás? Eu estava com um amigo. Jogando baralho, bebi um pouco. Nada
demais.
-Alguém que não seja o seu amigo pode confirmar isso?
Nell encolheu os ombros. Eu não sei. Havia alguns outros caras jogando baralho com a gente. Que diabos é isso?
Mackenzie não o porquê de arrastar isso mais longe do que o necessário. Se não estivesse tão distraída com o que estava acontecendo com Harrison, ela poderia ter interrogado esse cara ainda mais antes de ir direto ao ponto, esperando que ele se enrolasse, caso fosse de fato culpado.
-Um casal foi encontrado morto em sua casa de condomínio duas noites atrás. Em uma casa localizada no mesmo complexo de moradias onde você foi preso por tentativa de roubo e agressão. Unindo os dois fatos, além do fato de que você está em liberdade condicional por pouco menos de um mês, coloca você no topo da lista de pessoas para serem interrogadas.
-Isso é besteira, disse Nell.
-Não, isso é lógico. Algo, que eu suponho, não seja familiar para você com base no seu registro criminal.
Ela podia ver que ele queria respondê-la, mas ele se deteve, novamente mordendo o lábio inferior. Eu não estive nesse lugar desde que eu saí, disse ele. Que droga de sentido isso faria?
Olhou para ele com ceticismo por um momento e perguntou: -E seus amigos? São caras que você conheceu enquanto estava na prisão?
-Um deles, sim.
-Algum deles está envolvido com roubo e assalto, também?
-Não, ele cuspiu a resposta. Um dos caras tem uma acusação por arrombamento e invasão de quando ele era um adolescente, mas não... eles não matariam ninguém. Nem eu-
-Mas arrombar, invadir e bater em alguém está OK?
-Eu nunca matei ninguém, disse ele novamente. Ele estava claramente frustrado e fazendo força para não atacá-la. E isso era exatamente o que estava procurando. Se ele fosse culpado dos assassinatos, a chance de ficar instantaneamente defensivo e irritado seria muito maior. O fato de que ele estava dando o melhor de si para ficar fora de problemas, mesmo atacando verbalmente a uma Agente do FBI, mostrava que ele provavelmente não tinha conexão com os assassinatos.
-Ok, então vamos dizer que você não está relacionado com esses assassinatos. Do quê você é culpado? Presumo que você está fazendo algo que não deveria. Por qual outro motivo você me empurraria, uma Agente do FBI, e tentaria correr?
-Eu não falo, disse ele. Não até que eu veja um advogado.
-Ah, eu esqueço que você é um profissional neste jogo. Então, sim, tudo bem... vamos chamar o seu advogado. Mas eu suponho que você também sabe como é o trabalho da polícia. Nós sabemos que você é culpado de algo. E nós vamos descobrir o que é. Então me diga agora e e ficará bom para todo mundo.
Seus cinco segundos seguidos de silêncio indicavam que ele não pretendia fazer tal coisa.
-Eu vou precisar dos nomes e dos números dos caras com quem você afirma ter estado duas noites atrás. Você vai me dar isso e se o seu álibi for verdadeiro, você está livre.
-Tudo bem, Nell resmungou.
Sua reação a isso foi mais um sinal de que ele era, provavelmente, inocente dos assassinatos. Não houve alívio imediato em seu rosto, apenas uma espécie de irritação que ele tinha de alguma forma sentido mais uma vez na sala de interrogatório.
Mackenzie pegou os nomes dos caras para que Dagney ou quem estivesse no comando de tal tarefa pudesse checar no celular de Nell os seus números. Ela saiu da sala de interrogatório e voltou para observação.
-Então? Disse Rodriguez.
-Ele não é o nosso cara, disse Mackenzie. Mas apenas para o protocolo, aqui está uma lista dos amigos com quem ele disse que estava na noite em que os Kurtzes foram assassinados.
-Você tem certeza disso?
Ela balançou a cabeça afirmando.
-Não houve alívio real quando eu disse que ele provavelmente poderia sair depois de seu álibi ser consultado. E eu tentei provocá-lo, para fazê-lo tropeçar. Seu comportamento simplesmente não é indicativo de culpa. Mas como eu disse, devemos verificar com os cúmplices, só para ter certeza. Nell é com certeza culpado de alguma coisa. Eu estou com o traseiro dolorido por causa de uma queda que prova isso. Você acha que os seus caras conseguem descobrir o que é?
-É isso aí. Ela deixou a delegacia, confiante de que Mike Nell não era o cara. Além disso, porém, ela começou a pensar em seu pai.
Supôs que estava prestes a acontecer. Havia algumas semelhanças entre o seu caso e o caso atual dela. Alguém tinha entrado nas casas dos casais sem sinais de entrada forçada, insinuando que os casais conheciam o assassino e que deixaram ele entrar de bom grado. Viu flashes de seu pai, esparramado e sangrando na cama, ao recordar as imagens que tinha visto dos Kurtzes e Sterlings nos arquivos do caso.
Pensar em um pai falecido a fez sentir mais fortemente a situação de Harrison. Ela chegou ao hotel o mais rápido que pôde, no entanto, quando bateu em sua porta, ele não respondeu. Mackenzie foi até a recepção e encontrou uma recepcionista com cara de tédio, passando páginas de uma revista de celebridades.
-Com licença, mas o meu parceiro já saiu do hotel?
-Sim, ele saiu cerca de cinco minutos atrás. Eu chamei um táxi para levá-lo ao
aeroporto.
-Obrigada, disse Mackenzie, desapontada.
Ela deixou a recepção se sentindo estranhamente alienada. Claro, ela tinha sentido isso em alguns casos antes, especialmente quando trabalhava como uma detetive em Nebraska. Mas estar em uma cidade estranha, sem um parceiro a fez se sentir particularmente sozinha. Isso a fez se sentir um pouco desconfortável, mas não havia como tentar ignorar isso.
Com esse sentimento de deslocamento crescendo a cada segundo, Mackenzie percebeu que colocaria um fim nisso da única maneira que sabia: afogando-se no trabalho. Ela voltou para o seu carro e foi direto de volta para a delegacia, pensar em continuar no caso a sós pode ser um pouco deprimente, mas também poderia ser apenas a motivação que ela precisava para encontrar o assassino antes que o dia chegasse ao fim.
CAPÍTULO OITO
Sua motivação para trazer o assassino sozinha foi rapidamente silenciada por uma falta de respostas e várias horas que pareciam ser absolutamente desperdiçadas na delegacia. Ela se sentou em um pequeno escritório oferecido por Rodriguez quando as poucas atualizações escassas vieram. A primeira atualização foi que, depois de menos de três horas, cada um dos cúmplices de Mike Nell confirmou sua versão. Havia agora evidências de várias fontes que Nell tinha estado longe da moradia do casal Kurtz na noite dos assassinatos.
No entanto, essas mesmas três horas também tinham feito o DP de Miami localizar um quilo de heroína escondida em um pequeno compartimento secreto de seu caminhão. Algumas ligações também provam que ele teve alguns encontros para vender a droga, um dos clientes tinha apenas quinze anos de idade.
A segunda atualização foi um pouco mais útil, mas forneceu muito pouco para seguirem em frente. Duas das transações no talão de cheques dos Sterlings que Mackenzie não reconheceu foram contabilizadas. Uma era de um abrigo local de animais, eles tinham feito contribuições para esse abrigo duas vezes no ano. A outra tinha sido uma pequena campanha política de base, e a outra ainda era um mistério.
Com as outras duas eliminadas, Mackenzie foi capaz de se concentrar na remanescente. As iniciais em questão eram DCM. Joey Nestler foi o oficial que trouxe para ela os resultados das duas primeiras, e antes que ele pudesse deixar aquele pequeno espaço de trabalho, Mackenzie o parou.
-Oficial Nestler, você tem alguma ideia do que estas iniciais podem significar? Existem quaisquer empresas, organizações ou mesmo indivíduos na cidade que possam ter relação com isso?
-Eu estive pensando sobre isso desde que peguei os resultados, disse ele. Mas eu não cheguei à nenhuma conclusão. Nós temos alguns caras trabalhando nisso, no entanto. Também estamos olhando os registros financeiros dos Kurtzes para ver se há qualquer tipo de
conexão.
-Ótimo trabalho, disse ela.
Nestler deixou ela sozinha depois disso. Ela, então, voltou sua atenção para as fotos da cena do crime. Foi estranho, mas a grande quantidade de sangue em ambas as fotos não era o que a perturbava mais.
Havia algo ainda mais horrível sobre a maneira como os corpos tinham sido arrumados. Pelo que ela sabia, não havia dúvida de que os corpos haviam sido movidos e arrumados para ficarem deitados de costas. Com a evidência de algum tipo de luta tendo ocorrido na residência do casal Sterling, isso era um indício de que as cenas tinham sido propositadamente criadas.
Mas por quê?
Ela ficou olhando para a postura das mãos. O que ele está tentando nos dizer? Que os casais estão ligados de alguma forma? Ele está enfatizando que um precisava do outro?
Estava certa de que havia algum tipo de simbolismo na pose das mãos em ambas as fotos: na foto dos Kurtzes, a mão de Julie estava tocando a coxa de seu marido, quase envolvendo ela amorosamente; na foto dos Sterlings, era a mão de Gerald Sterling que estava caída sobre a coxa de sua esposa.
Não há como isso ter sido um acidente, pensou Mackenzie.
Mas o que significa isso?
Ela estudou cada imagem das cenas do crime, mas não encontrou nada. Então, ao invés de tentar encontrar algo novo, ela começou a voltar nas coisas que eles já sabiam. Ao eliminar as coisas óbvias, pelo menos, fez a lista dos motivos se tornar um pouco menor.
Estes assassinatos não eram apenas invasões rotineiras de casas.
Nada roubado. Não há sinais imediatos de arrombamento.
Estes pareciam ser fatos óbvios, mas diziam muita coisa. Os assassinatos não eram por causa de dinheiro, então a possibilidade de roubo poderia ser eliminada (e foi uma das principais razões que fizeram Mackenzie dispensar tão facilmente o Mike Nell). E, ela poderia dizer que eles também não eram explicitamente sobre sexo.
Ela voltou para o posicionamento das mãos.
Tem que haver algo aí, alguma coisa. Ele está matando casais e tendo a certeza de que seus corpos se tocarão apenas um pouco. O que eu não estou vendo?
Quando afundou o seu cérebro nisso, bateram à sua porta. Olhou para cima e viu Rodriguez parado lá.
-Inferno, White... você está acostumada a trabalhar longas horas?
Mackenzie olhou para o relógio, chocada ao ver que de alguma forma já eram sete da noite. Ela esticou as costas na cadeira e fechou os arquivos que estavam na frente dela.
-Sim, o tempo tende a escapar de mim de vez em quando.
-Bem, obviamente, não sou seu chefe, mas por que não chamar isso de um expediente? Não há realmente nada que você possa fazer aqui. Embora tenhamos feito agora uma conexão possível. O DCM no talão de cheques dos Sterlings é provavelmente uma referência a um clube privado. E não conseguimos descobrir o que ele representa. Tanto quanto sabemos, não há nenhum significado para ele, são apenas três letras.
-Que tipo de clube? Perguntou Mackenzie.
-É um clube privado. Mas o consenso geral é de que é uma espécie de bobagem para ricos da alta sociedade. Você paga uma taxa de vez em quando e começa a sair com outras pessoas esnobes para beber vinho caro ou usar uma pista de dança que ninguém mais na cidade pode usar.
-Nós temos informações de contato? Ela perguntou.
-Apenas um site que dá um número de telefone. Mas nós tentamos ligar e ninguém atendeu.
-Você pode me enviar o link? Ela perguntou.
-Claro. Agora... é sério. Acabou o expediente. Todos nós podemos trabalhar juntos amanhã para achar esse DCM. O pressuposto é que qualquer número que esteja no site simplesmente não atenderá após o horário comercial.
Soou como uma boa ideia. Não tinha a menor dúvida de faria uma investigação própria durante a noite sobre um clube chamado DCM, ela percebeu que com o passar do tempo ela ficou com muita fome. Jantar, talvez uma bebida, e então ela investigaria o site e o clube.
Ela deixou a delegacia e voltou para o hotel. Durante a viagem, o peso de estar a sós no caso em uma cidade estranha, mais uma vez recaiu sobre ela. Não era apenas a sensação de estar sozinha para resolver o caso, mas era se sentir solitária. Algo sobre aquilo, uma cidade estranha, apenas com pessoas desconhecidas e que não poderiam ajudá-la, era bem triste de uma forma que não sabia descrever.
Poderia muito bem fazer o papel de solitária, ela pensou quando foi para o estacionamento da Papa John’s. Ela entrou, pediu uma pizza, e depois atravessou o estacionamento até a loja Kroger, enquanto esperava. Pegou uma embalagem com seis cervejas e um saco de batatas fritas. Quando passou pelo caixa de autoatendimento, sentiu-se submissa e deprimida de um jeito que nunca havia se sentido desde quando foi para Quantico.
Enquanto caminhava de volta para pegar a pizza com sua embalagem de seis cervejas Dos Equis na mão, um pensamento cômico cruzou sua mente.
Eu me pergunto o que McGrath pensaria de mim se me visse agora. Então, no ápice daquele pensamento: Se há um céu e Bryers está olhando para mim agora, o que ele está pensando de mim?
Com um sorriso fino sobre esse pensamento, pegou sua pizza e voltou para o hotel. Ela colocou roupas confortáveis-uma camiseta confortável e shorts-e abriu a pizza sobre a mesa ao lado da cama. Ela então abriu seu laptop. Quase começou a trabalhar, mas uma ideia penetrou em sua cabeça-uma ideia de liberdade que a surpreendeu, mas era muito atraente.
Ela colocou o laptop e uma das cervejas na tampa da caixa de pizza, a cerveja estava no lado onde ficam as bebidas. Pegou tudo e, em seguida, saiu do quarto novamente, mas desta vez, ela caminhou para uma pequena calçada lateral que ela tinha visto antes, quando deu carona para o Harrison. Ela desceu a calçada um pouco, ouvindo o som das ondas quebrando logo à frente.
Mais alguns metros adiante levaram ela para a parte traseira do hotel e edifícios circundantes. Um amplo passeio de madeira separava as construções da área da praia, que estava logo abaixo.
Ela foi para a água passando pela areia. Ela tirou os sapatos e as meias, carregando-os de um jeito estranho junto com a pizza, a cerveja e o laptop. Ela adorava a sensação da areia na ponta dos pés; era quase hipnótico, facilmente uma das melhores sensações que ela há muito tempo não sentia.
Viu um banco de madeira vazio escondido ao lado de uma pequena duna de areia e sentou-se lá. Havia algumas palmeiras erguidas acima de sua cabeça e por um breve momento, ela sentiu como se tivesse escapado do mundo e estivesse nas férias de seus sonhos.
Ela ainda estava a cerca de quarenta e cinco metros do oceano, mas tudo bem. O som e o cheiro do oceano eram suficientes para ela, assim como a brisa do mar que se arrastava pela praia. Abriu sua cerveja, começou a comer uma fatia de pizza, e depois abriu o laptop.
Ela digitou o link que Rodriguez tinha enviado e foi direcionada para um site simples. A conexão estava lenta, já que estava quase fora do alcance do Wi-Fi do hotel, mas o navegador, finalmente, levou-a para onde ela precisava. O site surgiu sem muitos atrativos. Havia apenas um fundo liso com muito pouco texto. Sem páginas adicionais ou menus suspensos.
O texto diz: DCM. Um clube privado. Apenas para convidados. Para maiores informações: 786.555.6869.
Parecia sem sentido até mesmo ter uma página se isso era toda a informação que podiam fornecer. Ela, claro, sabia que com um pouco de tempo e esforço, alguém com experiência em codificação poderia descobrir a fonte do site e talvez até mesmo a quem pertence e quem o opera. Mas sabia que não havia quase nenhuma suspeita sobre o DCM para justificar tal pesquisa. Algumas transações no talão de cheques de um casal falecido não significavam nada-e provavelmente essa era a situação.
Ainda assim, a falta de qualquer informação real sobre o site fez ela refletir a respeito. O site parecia um pouco suspeito demais para ela. Quase chamou Rodriguez para ver se ele poderia colocar uma equipe trabalhando nisso de imediato, mas decidiu não fazer isso. Não queria causar problemas, especialmente agora que estava sozinha, comandando o show sozinha.
Com duas fatias de pizza e sua primeira cerveja, Mackenzie fechou a tampa do seu laptop. O céu estava escurecendo, o oceano ficando com um aspecto belo e misterioso. Estava tentada a trazer o resto das cervejas, bebê-las sozinha na praia, e ficar curtindo o momento antes de dormir. No entanto, o lado responsável sabia que eram quase nove horas e ela precisava do máximo de sono possível enquanto o caso ainda demandava um trabalho mais efetivo. Girando o pescoço para relaxar os músculos em seus ombros, ela lançou para o oceano uma carinhosa despedida e voltou para o hotel.
De volta ao seu quarto, ela esperou um momento para tirar a areia de seus pés. Foi uma sensação boa-quase algo infantil. Depois de um tempo, ela tirou a roupa e se permitiu tomar um bom e longo banho.
Enquanto a água quente era incrivelmente gostosa e era uma experiência, em geral, de uma sensação de paz; sua mente não tinha clareza. Honestamente, sua mente nunca ficou em repouso ou teve total clareza. Mesmo quando estava relaxada e descontraída, havia sempre uma coisa constante, remanescente no fundo de sua mente: o caso de seu pai.
Ela tinha sentido por alguns meses que, de alguma forma, ela seria a única a resolver o caso. Desde quando ele foi reaberto e ela deu uma olhada nele, ela sentia como se fosse o caso dela-era a dona dele. McGrath estava sendo brando o suficiente para deixá-la ter uma visão mais abrangente do caso, mas ela entendia perfeitamente o porquê do caso não ser atribuído a ela.
Além disso, parecia que havia um beco sem saída esperando por ela mais uma vez. Aquele maldito cartão da Barker Antiguidades a assombrava como um fantasma de uma casa assombrada que ela nunca tinha visitado.
Ela permaneceu sob a água até ela começar a ficar fria. Ela saiu, enrolou uma toalha em torno de si, e caminhou de volta para a sala, onde abriu outra cerveja. Assim que estava prestes a trocar a toalha pelo seu traje noturno, camiseta e calcinha, ouviu uma batida na porta.
Foil um som tão inesperado que quase deixou cair sua cerveja. Confusa, ela correu para a porta e olhou pelo olho mágico.
Que diabos?
Olhou de novo, só para ter certeza que tinha visto corretamente a pessoa lá fora.
Estava tão surpresa que nem pensou com clareza suficiente quando tirou a corrente e começou a abrir a porta. Não percebeu que ainda estava apenas de toalha até o ar da noite gelada envolver suas pernas expostas e ainda ligeiramente molhadas.
Com a porta aberta, não havia dúvida sobre a identidade da pessoa que tinha batido. Não havia nenhum olho mágico para distorcer suas características.
Ela ficou ali, ainda chocada, com a porta parcialmente aberta.
Ellington estava do outro lado com um olhar chocado em seu rosto-outro lembrete final de que estava apenas com uma toalha.
-O que você está fazendo aqui? Perguntou ela.
Ellington sorriu para ela. Vestido demais.
CAPÍTULO NOVE
Mackenzie permitiu que ele entrasse, ainda sem entender o que Ellington estava fazendo ali. Ela também não tinha ideia de porque não conseguia acessar a parte lógica de sua mente e correr para o banheiro para colocar as malditas roupas.
Este homem não deveria fazê-la se sentir assim, ela pensou consigo mesma.
Era verdade. Mas não podia negar que vê-lo a fez se sentir mais feliz do que deveria. Ela ficou muito feliz em vê-lo-uma alegria que ficou mais forte do que a confusão do momento.
-McGrath me enviou logo depois que ele recebeu a mensagem sobre a mãe do Harrison e seu retorno à Quantico, Ellington explicou.
-Ele não perdeu tempo, não é?
-Não. E antes de irmos mais longe nisso, eu preciso salientar que, devido ao nosso passado, eu vou achar esta conversa muito mais fácil se você colocar algumas roupas.
Ele não disse isso de um jeito mesquinho ou desrespeitoso. Ele estava sendo educado. Mais do que isso, viu algo mais em seus olhos-uma espécie quase adolescente de constrangimento. Ele queria assimilar o que estava vendo-o corpo coberto apenas do topo dos seios até as coxas-mas não queria parecer rude.
-Desculpe-me, disse ela. Um segundo.
Pegou suas roupas na beirada da cama, pegando também um jeans de sua mala. Ela, então, rapidamente entrou no banheiro. Quando cruzou na frente dele, ela o viu olhando para ela. Ele a fez se sentir sexy, algo que não sentia há algum tempo.
Ela entrou no banheiro, fechando rapidamente a porta. Ela secou os cabelos um pouco mais com uma toalha antes de colocar suas roupas. Tem pizza e cerveja, ela avisou através da porta.
-Sirva-se.
-Obrigado, disse ele. Vou aceitar a cerveja.
Com o seu cabelo seco o máximo possível sem um secador, pegou suas roupas. Ela hesitou por um momento, olhando para a porta. Um pensamento correu através de sua mente como um furacão.
Teve um pensamento semelhante antes e tudo deu muito errado. Ele não tinha, necessariamente, rejeitado ela-ele simplesmente fez a coisa certa.
Isso tinha sido há quase dois meses, no entanto. E com a maneira como ela tinha se sentido desde que Harrison a deixou-sozinha, sentindo-se um pouco inútil e, francamente perdida-o pensamento parecia ser justificado. Mais do que isso, ele parecia certo.
Mackenzie, em que diabos você está pensando?
Ela suspirou e colocou as roupas de volta na borda da pia.
Não faça isso, uma pequena parte dela gritou. Não. Isso pode ser ruim. Isso pode arruinar a sua relação de trabalho.
Mas ele foi seguido por um outro pensamento: A maneira como ele me olhou alguns segundos atrás... havia algo no ar.
Ela estendeu a mão para a maçaneta da porta com um último pensamento: Para o inferno com ele.
Havia quase um ano desde que ela tinha saído com um homem, desde que ela se permitiu não ser vulnerável para um homem, ela se permitiu realmente desfrutar não apenas do sexo, mas da ideia de se conectar com um homem sobre algo mais do que seu trabalho.
Mackenzie abriu a porta do banheiro. Ellington estava de costas para ela, olhando para os arquivos do caso. Ele pegou uma das cervejas, tomava um gole, sem saber o que estava atrás dele.
Ela sentia-se incrivelmente sexy e nervosa ao mesmo tempo. Foi uma sensação inebriante.
-Tudo bem, disse ela. Assim está melhor?
Ele se virou e sua boca literalmente se abriu com o que viu. Ele estava claramente confuso, mas ele também não fez nenhuma tentativa de desviar o olhar.
-Mackenzie, que diabos você está fazendo?
Ela entrou no quarto, plenamente consciente de que não era boa em fazer coisas sexys: tipo olhar com uma cara de vem cá.
-Está tudo bem, disse ela. E se você realmente me quer, eu explicarei algumas coisas para você mais tarde.
Sobre o meu dia... sobre o caso, como estou me sentindo. Ou eu poderia também fazer isso agora. Se você realmente quer que eu fale agora, de pé e despida, esperando por você, eu posso fazer isso. Posso--
Ele colocou sua cerveja em algum lugar e foi até ela dando dois passos rápidos. Ele não perdeu tempo olhando para ela ou lentamente se inclinando. Ele a abraçou e a beijou. Foi um beijo forte, mas a força dele parecia traduzir a tensão que ambos sentiram na maior parte desses últimos seis meses.
Mackenzie perdeu-se no beijo. Foi tão rápido e vertiginoso que ela nem estava plenamente consciente de que ele tinha colocado ela na cama até ela sentir um pouco de seu peso sobre ela. E depois disso, ela se perdeu de novo-e aproveitou cada segundo daquele êxtase.
***
Mais tarde, eles não ficaram na cama, fazendo carícias ou olhando nos olhos um do outro.
Era bom saber que o Ellington era tão empenhado em trabalhar como ela. Eles se revezavam para ir ao banheiro para se refrescar e se encontravam na beirada da cama. Mackenzie usava o seu típico traje de dormir, ela tinha essa intenção anteriormente; Ellington estava apenas de calça, mostrando o seu abdômen e ombros tonificados, eles pareciam tão tensos agora como momentos atrás na cama.
Mackenzie separou os arquivos do caso quando Ellington começou a olhar para eles.
-E estes são os únicos dois casais até agora? Perguntou.
-Sim. E a única coisa que tenho que pode ser considerada como uma espécie de motivação é a posição das mãos dos casais nas fotos.
-O que isso tem a ver?
Ela apontou mostrando como a mão de um dos cônjuges tinha sido posicionada para tocar o seu parceiro propositadamente em cada imagem.
-Isso parece um pouco estranho, hein? Ele disse.
-Sim. A questão é se é apenas uma espécie estranha de cartão de visita do assassino ou se isso significa que o assassino acredita que os dois casais estão de alguma forma ligados.
-Você acha que tal indício significa que talvez estes dois casais são as únicas vítimas?
-Eu não sei, respondeu Mackenzie. Com dois casais envolvidos, é difícil dizer. Se fosse apenas um casal, eu estaria à procura de um amante abandonado ou um ex ciumento. Perguntei a família de Julie Kurtz sobre essas coisas e essa não é uma opção.
-Você teve fez alguma pista?
-Na verdade, não, disse ela. Abriu seu laptop de novo e mostrou-lhe o site do DCM. Esta é a única coisa que me interessa. DCM estava no talão de cheques dos Sterlings. E ainda por cima nem estamos cem por cento certos de que DCM é este lugar.
-Um clube exclusivo com um site obscuro...sempre vale a pena investigar, Ellington enfatizou.
-Exatamente o que penso.
Ellington pensou sobre as coisas um pouco e, em seguida, disse: -Eu não quero entrar e assumir que este caso é tão meu quanto seu. Você está liderando essa coisa. McGrath apenas me enviou para ajudá-la.
-Você não pediu isso?
-Não. Ele sabe que trabalhamos bem juntos. Foi uma jogada inteligente da parte dele. Eu acho que ele se arrepende de ter colocado você com Harrison. Nós somos o par ideal para o trabalho, eu acho.
Ambos deixaram o peso desse comentário afundar. Os arquivos do caso estavam na frente deles e a realidade sobre o que eles tinham acabado de fazer pairava no ar. Não era tensão, mas também parecia carregar um tom de inquietação.
-Ok, eu serei o cara desprezível e soltarei algumas insinuações, disse Ellington. Devo ir em frente e reservar o meu próprio quarto para esta noite?
Mackenzie considerou isso por um tempo antes de finalmente concordar. Sim. Eu acho que você deveria. Para eliminar suspeitas quando os relatórios de despesas forem enviados.
-Bem pensado, disse ele. Eu vou arranjar o meu próprio quarto. Mas depois, eu pensei que poderia voltar aqui e instigar algumas coisas.
-Eu acho que você precisa do seu próprio quarto, disse Mackenzie, -Eu não vejo nenhuma necessidade de esperar por algo instigante.
Ela sorriu para ele e se esticou na cama.
-Se o convite se parece com isso, o que eu estaria fazendo não seria instigar, disse ele. White, está tudo nos detalhes.
-Ah meu Deus-, ela zombou. Você poderia calar a boca e apenas ficar aqui?
Com um sorrisinho, Ellington obedeceu.
CAPÍTULO DEZ
Mackenzie caminhou lentamente pela casa onde cresceu. Sua mãe estava dormindo no sofá. Ela parou e olhou para ela. Era a sua mãe do jeito como ela preferia se lembrar dela, quando ainda tinha aquela aparência e, provavelmente, ainda se agarrava a alguns dos sonhos de vida que acabariam por não se tornar realidade.
Ela passou a mão suavemente sobre o rosto da mãe. Deixou um rastro molhado e fino de sangue.
Caminhou pela pequena sala de estar, pelo corredor e foi para o quarto dos pais. Ela lentamente abriu a porta e viu seu pai. Ele estava dormindo, uma perna para fora da coberta.
Ele não se mexeu quando entrou. Ele estava profundamente adormecido.
Levantou a mão e viu que estava carregando uma pistola-uma pistola simples, a marca e o modelo não pôde determinar no sonho.
Andou na ponta dos pés até o seu pai, colocou a arma na cabeça dele.
Ela puxou o gatilho.
Mackenzie acordou às 5:22, a respirando com dificuldade.
Ela rolou e gemeu, e se obrigou a voltar a dormir, para tirar isso de sua cabeça.
Conseguiu gradualmente voltar a dormir um pouco. A próxima vez em que ela se sentiu agitada e acordou, foi por causa do alarme de seu telefone que tocou às 6:15. Ao lado dela, a cama estava vazia.
Foi uma decisão que tinham tomado um pouco antes da meia-noite. Mesmo não se arrependendo do sexo (ainda), eles perceberam que havia algo um pouco mais intimista sobre dormir na mesma cama. Foi uma decisão amigável e quando saiu da cama, Mackenzie se sentiu reanimada e surpresa ao ver que não tinha qualquer arrependimento sobre suas ações na noite passada.
Tomou banho novamente, ficou com um pouco de suor da noite passada. Uma pequena parte estava um pouco envergonhada do quão ousada ela tinha sido. Teve dois encontros casuais na faculdade, eles foram o resultado de excesso de bebida e uma necessidade de ser rebelde. Ela nunca tinha sido tão descarada como na noite passada... e algo sobre isso parecia quase revolucionário. Era mais do que um simples progresso-era confiança. E aquela confiança tinha muito pouco a ver com sua aparência. Era sobre como se sentia, sobre si mesma... uma sensação de controle e autoconfiança que só agora estava começando a entender.
Quando saiu do chuveiro, ouviu seu telefone tocar do outro cômodo. Pela segunda vez em menos de doze horas, ela se viu correndo para fora do banheiro enrolada em uma toalha. No visor do seu telefone, viu um número desconhecido com um código de área de Miami.
-Agente White, ela respondeu.
-Agente White, é Joey Nestler. O chefe pediu para eu ligar para você.
-Está tudo bem?
-Não, disse Nestler. Nós encontramos outro casal assassinado.
Seu coração pulou com uma batida de medo.
-Envie o endereço, disse ela.
Mackenzie desligou o telefone e se vestiu rapidamente. Quando fechou a porta, viu Ellington voltando da recepção com duas xícaras de café. Ele estava vestido para o expediente e parecia contente. Ela pensou em perguntar como ele se sentia com relação à noite passada, mas eliminou tais pensamentos rapidamente. Não podia deixar a aventura da noite passada atrapalhar o caso.
-Fico feliz em ver que você está preparado, disse Mackenzie. Eu acabei de receber um telefonema de um dos policiais envolvidos com o caso. Eles encontraram outro casal assassinado.
O bom humor em seu rosto desbotou um pouco. Ele balançou a cabeça e lhe ofereceu um dos cafés, que pegou graciosamente.
-Bem, então, vamos começar a trabalhar, disse ele.
E assim, eles estavam trabalhando juntos novamente. E ela percebeu que Ellington tinha razão sobre a noite passada. Algo sobre isso parecia natural. Eles eram de fato uma boa parceria... agora, aparentemente, em mais de uma maneira.
***
O terceiro casal não vivia muito longe da moradia dos Kurtzes. Era uma pequena casa modesta escondida atrás de uma subdivisão requintada, de propriedade de Stephen e Toni Carlson. Palmeiras plantadas ao longo das ruas em uma espécie genérica de passagem. Os gramados eram bonitos e uniformemente cortados, perfeitamente simétricos como a orla e os canteiros. Dentro da casa do casal, no entanto, as coisas não eram assim tão idílicas.
Mackenzie entrou com Ellington, Rodriguez e Nestler. A porta da frente se abriu para uma sala que não estava bagunçada, mas estava precisando de uma limpeza. Livros estavam espalhados aqui e ali, um prato perdido permanecia na mesa de café, e dois cobertores estavam enrolados em pilhas desarrumadas no sofá.
Quando Mackenzie estudava a condição da sala, o cheiro a atingiu pela primeira vez.
Ela sentiu anteriormente esse cheiro apenas uma vez, mas sabia muito bem o que era.
Era o cheiro de algo morto. Algo que já estava morto há algum tempo.
-Jesus, Rodriguez disse, dobrando-se até a frente da sala.
-O oficial disse que o quarto principal é na parte de trás, disse Nestler. Ele nos avisou que o quarto estava macabro pra caralho. Ele disse que quase chorou.
-Como ele soube sobre os corpos, em primeiro lugar? Perguntou Mackenzie, abaixando a cabeça em uma tentativa de reduzir o mau cheiro.
-O patrão do marido chamou a polícia ontem depois que percebeu que não conseguia falar com ele nem ao telefone nem através de mensagens ou e-mail ao longo dos últimos cinco dias.
-Chefe dele? Perguntou Ellington. Que estranho.
-Ele era aparentemente um workaholic, explicou Nestler. Ele era responsável pelo desenvolvimento de negócios com esta empresa de telecomunicações financiada pela força militar. Para ele perder um dia sem de antemão fazer uma ligação era estranho o suficiente. Após o quinto dia em absoluto silêncio, o chefe ficou preocupado. Até dirigiu até aqui na última noite e bateu na porta, mas ninguém respondeu. Ele viu os dois carros na garagem e então ligou.
Isso era tudo Mackenzie precisava ouvir. Ainda com a cabeça para baixo para evitar o cheiro, ela foi adiante. Ela também notou que a casa estava bastante úmida, o que obviamente não ajudava em nada para eliminar aquele cheiro. Ela espiou o termostato na parede da sala e viu que atualmente fazia vinte e sete graus no interior. Ela diminuiu o ar para vinte e um graus e ouviu o ar condicionado funcionando em outras partes da casa.
Eles saíram da sala, caminhando por uma grande cozinha e depois foram para o único corredor da casa. Ao passarem pela cozinha, o cheiro se intensificou. Atrás dela, Nestler tossiu e soltou um pequeno gemido.
Quando eles caminharam pelo corredor em direção ao quarto, Rodriguez se afastou por um momento para permitir que Mackenzie e Ellington passassem na frente dele. Quando se aproximou da porta o cheiro ficou pior do que nunca e foi então que ela percebeu o quão abafada e parada estava a casa. Parecia que estavam andando em uma catacumba.
A porta do quarto estava fechada. Mackenzie a empurrou lentamente e a primeira coisa que viu foram os riscos marrons nas paredes.
Então, é claro, havia o casal assassinado na cama-os Carlsons.
Como os casais anteriores, eles estavam deitados de costas. Eles foram massacrados, com vários grandes cortes em seus estômagos e peitos. Stephen Carlson também teve sua garganta cortada. Toni Carlson estava vestindo uma camisola de seda, encharcada de sangue. Stephen usava uma cueca boxer.
O sangue estava seco, coagulado em alguns lugares. Estava por todo o tapete do lado de Toni. A forma de uma pegada podia ser vista.
-Uma potencial luta, disse Mackenzie, apontando para a área.
Ela ganhou movimentos de cabeça como resposta. Parecia que todo mundo estava com medo de falar, não querendo sentir o mau cheiro do lugar mais do que era necessário.
O cheiro estava denso aqui, quase como se fosse uma outra parede no interior do quarto. Já havia uma certa rigidez cadavérica instalada. A pele de ambos estava pálida, quase branca em algumas áreas.
-Eu acho que podemos dizer que os Carlsons foram mortos antes dos Sterlings ou Kurtzes, Rodriguez disse com uma voz fina e sufocada.
-Mas não muito tempo antes, disse Mackenzie. Talvez dois dias. Três no máximo. Isso significa que esse cara já matou seis pessoas no período de seis ou sete dias.
Forçando-se a ir em frente, Mackenzie se aproximou da cama. Olhou para os cortes e feridas. Estava bastante claro que uma faca tinha sido usada. Mas essa percepção foi quase secundária. Seus olhos estavam focados na mão esquerda de Toni Carlson. Estava descansando na coxa de seu marido.
Assim como nas outras duas cenas de crime.
-Que diabos está acontecendo? Perguntou Rodriguez. Isso não pode ser apenas uma merda de invasão de casa, certo?
-Definitivamente não, disse Mackenzie. Eu estou apostando que é como nos outros casos. Vamos dar uma olhada ao redor da casa e eu garanto que não haverá sinais de entrada forçada. Assim como os Kurtzes e Sterlings, eu aposto que o assassino apenas entrou. Provavelmente foi convidado.
-Nestler, você pode começar a procurar sinais de arrombamento? Perguntou Rodriguez.
-Com prazer, Nestler disse, caminho rapidamente para fora da sala.
Mackenzie afastou-se da cama. Olhou ao redor do quarto, muito arrumada, com exceção do sangue nas paredes e tapetes. Ela verificou a mesa de cabeceira de Stephen. Havia um par de óculos de leitura e uma biografia de John Kennedy. A de Toni tinha um copo de água e um romance cafona.
Em seguida, ela caminhou para o armário. Como o quarto, não havia bagunça. As roupas de Stephen estavam penduradas na parede da direita, as de Toni no lado esquerdo. Uma prateleira ao longo da parede de trás guardava algumas embalagens de presente. Uma pequena câmera de vídeo portátil estava entre as embalagens. Em uma prateleira sob as embalagens havia cerca de uma dúzia de pequenas fitas cassetes... Após uma inspeção mais detalhista, Mackenzie viu que eram minifitas... provavelmente gravadas com a câmera portátil. Na etiqueta frontal de cada fita havia uma data. Algumas tinham sete anos. A mais recente tinha dois anos.
Fitas em um armário do quarto, ela pensou. Quase tendo certeza do que isso significava. Pode valer a pena investigar isso em busca de pistas.
Para testar sua teoria, abriu uma das embalagens e olhou lá dentro. Viu algemas forradas com veludo, vários brinquedos sexuais, e algumas vendas.
Sim... Eu estava certa.
Um pouco envergonhada, ela fechou a embalagem e caminhou de volta para a sala. Há alguns vídeos lá, disse ela. Tenho quase certeza de que são filmes eróticos caseiros. Eles merecem ser analisados. Se eles voluntariamente convidaram alguém e eram tão sexualmente aventureiros como o armário indica, pode haver uma pista aí.
-Eu colocarei alguém para olhar isso, disse Rodriguez.
Mackenzie estava de pé no pé da cama novamente, à procura de algo que ela poderia ter perdido ali ou nas outras cenas. Mas não havia nada. Apenas um mundo de vermelhidão e o avassalador cheiro da morte.
Ela saiu da sala e Ellington a seguiu. Rodriguez saiu por último e eles caminharam para a próxima porta para o corredor. Era um tipo de sala de estudos pequena, uma sala dividida entre um escritório e uma biblioteca improvisada. Uma única mesa contra a parede mais próxima e quatro estantes de livros alinhadas na parede dos fundos.
Mackenzie olhou para alguns dos títulos ao longo das prateleiras, dando mais uma espiada na vida dos Carlsons. Erotismo nos anos de 1500, Sexo e Esclarecimentos, Segredos Tântricos, Descoberta Sexual no Casamento.
Em uma das prateleiras, viu uma pequena caixa. Ela reconheceu aquilo imediatamente como o tipo de caixa de cartões de visita. Olhou lá dentro e viu cerca de cem cartões de visita, todos decorados com o nome de Stephen Carlson e as informações de contato para o que ela supôs ser um trabalho feito em casa, chamado Carlson Contabilidade.
Ela folheou e viu que a pilha ficava diferente na parte de trás. Os últimos nove cartões de visita eram de outras empresas-negócios que o Stephen Carlson, aparentemente, recolheu ao longo dos anos. Havia um para um encanador, um para um organizador de festas, dois cartões diferentes para lojas de automóveis na região, um para um contador... e um que fez Mackenzie parar.
-Ellington, olhe para isto, disse ela, arrancando um dos últimos cartões para fora da caixa.
Ele veio e eles olharam para aquilo juntos.
DCM. Somente Convidados. Havia um endereço e, logo abaixo, Gloria: 786-555-0951.
-Esse número é diferente do que vimos no site, não é? Perguntou Ellington.
-Sim. E é também a nossa primeira pista.
CAPÍTULO ONZE
Quando Gloria Benitez respondeu a ligação de Mackenzie, ela parecia alegre e muito simpática. Ela tinha jeito para marketing, em particular, para esse tipo de ligação.
-Olá? Disse Gloria.
-Senhora Benitez, é a Agente Mackenzie White do FBI. Eu gostaria de ter uma conversa com você.
Houve uma pausa antes de Gloria responder. Quando finalmente respondeu, a maior parte da alegria desapareceu de sua voz. Posso perguntar a respeito de quê?
-Houve uma série de assassinatos ao longo da última semana. Três casais, para ser exata. Acreditamos que pelo menos dois deles estão ligados a um clube conhecido como DCM. Um dos casais tinha um cartão de visita com o seu número de telefone. E até então, você é a única ligação entre as vítimas.
-Meu Deus, disse ela. Quem... Posso perguntar quem?
Mackenzie pensou por um momento e decidiu contar a ela. Pelo menos, isso lhe daria tempo para procurar em seus registros algo entre agora e o momento em que se encontraram.
-Os Kurtzes, os Sterlings e os Carlsons.
O silêncio do outro lado da linha era denso. Ela podia ouvir a respiração de Gloria e quando finalmente voltou a falar, sua voz estava fina e frágil. Era difícil dizer por telefone, mas Mackenzie achou que o choque e a tristeza de Gloria eram genuínos.
-O que posso fazer por você, Agente White?
-Eu gostaria de encontrá-la o mais rápido possível para fazer algumas perguntas sobre esses casais. Eu tenho o endereço do DCM. Você está lá agora?
-Não, mas eu posso estar em dez minutos.
Mackenzie ficou satisfeita com a resposta rápida, e assim estacionou o carro na frente de um edifício muito simples, mas bem conservado em Midtown, menos de uma hora depois de deixar a residência dos Carlsons. Era o tipo de edifício que conseguia ficar escondido perto do tamanho e do glamour da maioria dos edifícios circundantes. O edifício não tinha nenhuma placa de propaganda de algum negócio, nem mesmo letras de vinil na porta.
O que Mackenzie viu na porta foi uma mulher que estava do outro lado, esperando por eles. Era muito esbelta, vestindo uma calça de yoga muito apertada e uma blusa que acabava muito acima do umbigo. Ela tinha um cabelo loiro brilhante e um olhar que Mackenzie tinha certeza que havia laçado bem mais do que alguns homens.
Assim que Mackenzie estacionou o carro, Gloria saiu do edifício para encontrá-los na calçada. Olhou para cima e para baixo na rua, como se estivesse se certificando de que ninguém estava espionando o que estava acontecendo. Embora houvesse algum tráfego de pedestres nas ruas, ninguém que passava parecia notar ou se preocupar com o que estava ocorrendo entre as três pessoas na frente do reles edifício.
Uma rodada rápida de apresentações foi feita antes que Gloria os levasse para dentro do prédio. Quando Mackenzie e Ellington estavam lá dentro, Gloria trancou a porta. Enquanto ela os levava para baixo, em um pequeno corredor, Gloria virou a cabeça para que pudesse falar com eles. Ela parecia um guia turístico muito relutante.
-Este edifício é mais ou menos a sede do DCM, ela disse com um pequeno sorriso. Se o DCM fosse um clube de campo, este edifício seria o local dos eventos.
O corredor chegou ao fim, abrindo-se para uma sala pequena, mas elegante. A área do bar estava à esquerda todos os copos virados para cima e o espaço atrás do bar estava vazio. Havia algumas cabines ao longo da outra parede com quatro mesas no estilo de bar entre as cabines e o bar.
-E que tipo de clube é DCM? Perguntou Mackenzie.
-Somos um clube de swingers, disse ela.
Mackenzie raramente se chocava, mas foi surpreendida por este comentário. Uau, ela pensou. Não esperava por isso. Isso oferece uma tonelada de possibilidades para o caso.
-Como uma troca de casais? Perguntou Ellington, claramente tão surpreendido pela revelação quanto Mackenzie.
-Essa é uma forma mais grosseira de se apresentar a situação, disse Gloria -mas, sim.
-E funciona apenas por convites, correto? Perguntou Mackenzie.
-Sim, Gloria confirmou. Na maioria das vezes, os novos casais são trazidos pelos membros existentes.
-E este edifício é o que, exatamente? Perguntou Mackenzie.
-É basicamente um ponto de encontro. Se dois ou mais casais se atraem e querem saber mais sobre si mesmos antes da intimidade, eles usam este edifício. Nós também temos, frequentemente, eventos do tipo palestra aqui, uma vez por mês ou algo assim.
-E quantos casais são membros atualmente? Perguntou Mackenzie.
-Atualmente, eu acredito que nós temos quarenta e um casais. Bem... depois do que você me disse no telefone, eu suponho que trinta e oito agora.
-Então, você pode confirmar que todos os três casais eram membros?
-Sim.
-Gloria, você permite que solteiros façam parte do clube? Perguntou Mackenzie.
-Sim, mas somos seletivos. Mais uma vez, tudo funciona por referências. Às vezes, um casal não quer fazer swing com outro casal... eles só querem mais uma pessoa na transa. E se eles não têm amigos dispostos a fazer isso, nós cuidamos dessa parte para eles.
-Você basicamente é a proprietária? Perguntou Mackenzie.
-Meu marido e eu começamos o clube, sim. Ele faleceu há dois anos. E eu sei que pode soar mórbido, mas eu senti que precisava manter este lugar aberto. Eu sei que o swing tem uma espécie de estereótipo negativo, mas quando você vê os resultados do meu ponto de vista, daí você conhece a história real.
-Qual é a história real? Perguntou Mackenzie.
Gloria pensou sobre isso por um tempo e quando respondeu, pareceu ter sido genuína e sincera. Alguns casais que frequentam apenas gostam muito de sexo. E eles estão confortáveis o suficiente com o seu casamento para experimentar coisas como esta. Alguns descobrem rapidamente que isso não é para eles e saem. Outros, no entanto, descobrem que isso melhora as suas vidas sexuais e permanecem com a gente.
-Há outros que vêm aqui porque o casamento matou a libido. Estamos falando de pessoas que foram casadas por vinte anos ou mais. Eles querem uma faísca de excitação para reacender a chama. Seus casamentos estão frios e sem graça. Então, eles se tornam membros do DCM. Eu vi casamentos se salvarem por causa do que fazemos aqui.
Pessoalmente, Mackenzie achou isto difícil de acreditar. Ela sempre viu o swing ou qualquer outro tipo de compensação como uma forma de adultério. E não importa o quão legal ou descontraído um cônjuge é, sempre haverá um sentimento de ciúmes envolvido.
O ciúme é provavelmente o motivo por trás desses assassinatos, pensou Mackenzie. Isso, ou algum tipo de rejeição. E isso nos dá um motivo-uma razão para alguém procurar os casais.
-Você conhecia bem qualquer um dos casais assassinados? Perguntou Mackenzie.
-Honestamente, eu só tinha uma relação de trabalho com os Sterlings, disse Gloria. Eu os apresentei para outros casais algumas vezes. Eu conhecia os Carlsons apenas pelo nome. Toni era uma mulher muito bonita e seu nome surgia muito nas conversas.
Quanto aos Kurtzes, eu os conheci há alguns anos atrás. Tenho certeza de que eles não tiveram qualquer atividade no DCM por mais de um ano. Talvez mais.
-E você consegue pensar em quaisquer ligações entre eles? Perguntou Ellington.
-Não de imediato, não.
-Será que um dos casais indicou os outros para o DCM?
Gloria começou a parecer muito desconfortável. Olhou para o chão por um momento, lutando claramente contra alguma coisa. Olhe, ela finalmente disse. Em uma indústria como essa, eu tenho que proteger a privacidade dos meus clientes e membros. Certamente você pode entender isso. E se eu for muito mais fundo nessa linha de interrogatório, eu estarei traindo esse princípio.
-E uma lista de casais com os quais estes três casais assassinados se envolveram?
-Eu não sei... parece errado. A traição da confiança.
Mackenzie sabia que estava certa, mas estava esperando que o fato de que três de seus casais membros tinham morrido recentemente pudesse fazê-la ignorar isso.
-Você já teve que expulsar membros do DCM por qualquer motivo? Perguntou Mackenzie.
-Só dois. Um deles foi simplesmente por uma questão financeira. O outro... bem, o casal dava muito trabalho. O marido era violento e meio abusivo e a esposa tinha essa coisa estranha de ser dominatrix-e não era de uma forma sexy. Era de um jeito lascivo e quase gratuitamente aterrorizante.
-Será que qualquer um dos três casais assassinados teve relações com este
casal?
Novamente, Gloria olhou para o chão. Merda, disse ela. Tudo bem... olha, eu vou falar a respeito. Mas só isso. E mesmo assim, eu gostaria que vocês não deixassem ninguém saber onde obtiveram a informação. O DCM já é investigado demais por ser o que é.
-Eu entendo, disse Mackenzie. Por favor. O que você pode me dizer?
-O casal expulso, Jack e Vanessa Springs. Eles pareciam perfeitos em um primeiro momento.
Boa aparência, moderadamente ricos, e todos pareciam se dar bem com eles. Mas quando os casais se envolviam com eles, a história ficava diferente. O incidente que os expulsou envolveu um casal que não era um desses pobres casais assassinados. Eles voltaram para casa do casal e, em algum momento, a esposa do outro casal viu que as coisas estavam ficando fora de controle. A situação ficou ruim. Os maridos entraram em uma briga que se tornou sangrenta. Vanessa
Springs, aparentemente, abusou da outra esposa com algum tipo de brinquedo sexual. E quando a história se espalhou, eu comecei a ouvir comentários de outros casais que se envolveram com eles relatando um comportamento similar. Um desses casais eram os Kurtzes.
-Você sabe quantas vezes os Kurtzes e os Springs se encontraram?
-Não. Mas eu tenho certeza que foi, pelo menos três vezes.
-Perdoe-me, Ellington disse, -mas eu tenho que perguntar. O que são os outros quartos neste edifício?
As pessoas sempre se encontram aqui?
-De vez em quando, sim. Mas não há dinheiro passando pelas mãos deles.
-Então, qual é a taxa do clube? Perguntou Mackenzie.
-As pessoas pagam para o DCM uma taxa de adesão apenas pelos meus serviços. E por serviços, quero dizer, para mantê-los na rede de casais e fazer o papel de cupido.
-E você já participou com qualquer um dos seus membros? Perguntou Mackenzie.
Gloria deu uma olhada dura quase com raiva para ela. Eu não vou responder a essa pergunta, disse ela. Isso não tem nada a ver com a sua investigação.
Então, isso é um sim.
-Então, o que pode você me dizer sobre a investigação, então? Perguntou Mackenzie. A única ligação que temos entre estes três casais é o DCM. E nós nem sequer sabíamos que os Kurtzes eram membros até que você confirmou isso por telefone.
-Bem, quando os casais solicitam a adesão, nós verificamos para ver se há alguma história de violência ou quaisquer outros alertas. Essa foi uma das razões que me fizeram ficar tão chocada quando os Springs se tornaram um problema. Nada apareceu quando checamos o histórico deles. Então, o que eu estou dizendo é que acho muito difícil acreditar que tenho um membro matando as pessoas.
-Bem, você acabou de dizer que o casal Springs lhe surpreendeu, Ellington enfatizou.
-Sim. Ainda assim... tem que haver alguma outra opção.
-E pode haver, disse Mackenzie. Uma opção muito possível é que há alguém que pode conhecer o DCM e ser contra isso. Talvez alguém rejeitado-alguém que se candidatou, mas não conseguiu separar as coisas.
-Isso seria realmente para uma pequena lista, disse Gloria.
-Então, não seria um problema passar isso para nós? Perguntou Mackenzie.
Parece ser um bom caminho para ser seguido. Estes poderiam ser assassinatos feitos por uma espécie de vingança estranha, por um membro envergonhado ou rejeitado pelo clube, ela pensou.
Gloria novamente parecia em desacordo com a sua situação, mas ela finalmente concordou. Sim. Eu posso conseguir isso para você. Eu também vou te dar a lista de casais que estão ligados aos três casais falecidos. Eu imagino que a lista não seja longa.
-E as informações de contato dos Springs, também, por favor, Mackenzie acrescentou.
Gloria deu um aceno de cabeça e afastou-se deles. Ela se dirigiu para o fundo da sala e entrou por uma porta, em outro lugar dentro do edifício.
-Bem, isso tomou um rumo estranho, né? Disse Ellington.
-No mínimo, disse Mackenzie.
-Muitas coisas estranhas ocorridas no último dia- Ellington acrescentou com um sorriso.
-Se você está se referindo a noite passada e chamando-a de estranha, eu não tenho muita certeza de como responder a isso.
-Bem, foi uma coisa estranha boa. Algo estranho que eu gostaria de experimentar de novo para talvez chegar a um termo melhor.
Esse vai-e-vem de conversas era agradável, mas sabia que não podia deixar que sua mente se desviasse. Ela colocou sua mente de volta aos trilhos, plenamente consciente de que com uma ligação entre os três casais mortos e uma pista sólida, o caso poderia ser resolvido mais rapidamente do que ela ousava esperar.
E então, talvez ela e Ellington pudessem fazer coisas estranhas novamente, mais cedo ou mais tarde.
Era uma fonte insatisfatória de motivação, mas ela ficou bastante envergonhada ao descobrir que aquilo funcionava. Enquanto esperavam Gloria retornar com a informação, Mackenzie voltou a pensar nesses três casais mortos, particularmente no estado deplorável dos Carlsons.
Tudo era sangue. Aquele fedor.
E assim, sua mente estava longe dos pensamentos de outra brincadeira entre os lençóis com Ellington. Em vez disso, eles se concentraram em encontrar um assassino que, se o seu palpite estiver certo, tinha estado na mesma sala que ela em algum lugar no passado.
CAPÍTULO DOZE
Uma série de telefonemas levaram Mackenzie à conclusão óbvia de que tanto Jack quanto Vanessa Springs tinham empregos que demandavam boa parte do tempo deles. Qualquer tentativa de conseguir falar com qualquer um deles ao telefone foi infrutífera. Foi tão frustrante que Mackenzie quase decidiu visitar seus locais de trabalho sem se importar com as suas reputações. No final, porém, o bom senso prevaleceu. Ela e Ellington passaram algumas horas da tarde na delegacia, revendo os detalhes mais delicados do DCM e Gloria Benitez com Rodriguez e sua equipe. Foi feita uma solicitação de uma lista de criminosos com desvios sexuais, de qualquer tipo, em seus registros e Dagney começou a trabalhar nisso de imediato.
À medida que a tarde caia, Mackenzie e Ellington voltaram para perto de Midtown. Como sabiam, os Springs viviam a apenas 15 minutos da sede do DCM. Eles viviam em uma área moderna, onde havia uma piscina em quase todos os quintais-pareciam que alguém tinha copiado e colado as imagens de propagandas de viagem atrás de cada residência.
Quando Mackenzie estacionou na garagem, não viu nenhum carro. O que talvez não significava nada, embora, ambas as portas da enorme garagem estivessem fechadas.
-Se eles ainda não estão em casa, Ellington disse: -Eu digo que devemos ir para um mergulho na piscina. Você vê o tamanho dessa coisa?
Mackenzie lançou um olhar em direção à piscina, rodeada por uma cerca de madeira, e balançou a cabeça. A piscina em si, provavelmente, custava mais do que qualquer casa que ela já tinha sonhado em ter. A residência dos Springs não parecia enorme do lado de fora, mas tinha a aparência de um lugar com toneladas de tesouros e segredos internos.
Subiram uma série de escadas de concreto polido até a porta da frente. Mackenzie tocou a campainha e achou um pouco peculiar um clube como o DCM atrair um tão vasto leque de pessoas-dos Springs, com sua casa que foi facilmente valia mais de um milhão de dólares, até os Kurtzes, em seu pequeno e simples sobrado. Ela se perguntou quanto era a taxa de adesão do DCM.
Depois de trinta segundos, por aí, a porta foi atendida por uma mulher com um biquíni muito revelador. Foi a segunda vez no dia em que Mackenzie se viu com uma perda momentânea de palavras. A mulher que estava na frente deles, bloqueando a porta aberta, era uma loira peituda clichê.
Mackenzie tinha certeza que não estava usando nenhuma maquiagem, nem precisava. Ela parecia estar com seus trinta e cinco anos, mas tinha a pele de uma garota de dezesseis anos de idade.
-Sim? A mulher disse, sorrindo quase maliciosamente enquanto notava o quão assustados Mackenzie e Ellington estavam.
-Oi, Mackenzie disse. Você é a Vanessa Springs?
-Sou eu, disse ela. E você é a?
-Nós somos os Agentes White e Ellington do FBI.
-Oi? A confiança que ela tinha mostrado desde que chegou à porta vacilou um pouco e Mackenzie ficou sentiu muita alegria com isso. FBI? Como eu posso ajudar?
-Seu marido, Jack, está em casa? Perguntou ela.
-Sim. Estávamos terminando de dar um mergulho. Acho que ele está trocando de roupa agora, na verdade.
-Podemos entrar? Perguntou Mackenzie. Precisamos fazer algumas perguntas a respeito de um casal que vocês podem conhecer-Josh e Julie Kurtz.
Vanessa pensou sobre o nome por cerca de dois segundos antes do reconhecimento aparecer na sua feição. E não era um sorriso ou uma cara de lembrei-me, finalmente, que bom.
Outra voz veio da casa por trás.
-Espere um maldito minuto... quem é?
Um homem apareceu. Ele estava usando uma sunga que não era do tipo Speedos. Assim como Vanessa, ele tinha um corpo tonificado e sarado.
-Jack Springs? Perguntou Mackenzie.
-Sim. Quem diabos é você?
Antes que Mackenzie pudesse responder, Vanessa interrompeu. Eles são do FBI. Eles querem saber sobre os Kurtzes.
-Sim, eu ouvi essa parte, disse Jack Springs. E é por isso que eu vou lhe pedir para gentilmente cair fora da nossa propriedade.
-Eu tenho medo que eu não posso fazer isso-, disse Mackenzie.
-Olha, disse Jack. Eu não sei o que esses idiotas lhe disseram, mas estou ficando cansado de ver meu nome arrastado pela lama e eu--
-Eles não disseram nada sobre você, Mackenzie disse, interrompendo em voz alta. Eles foram assassinados. Junto com outros dois casais. E eles eram todos membros do DCM-um clube que eu acredito que vocês dois conhecem e já foram afiliados.
Viu claramente o choque no rosto de ambos quando mencionou que os Kurtzes tinham morrido. O que não viu, porém, foi remorso. Na verdade, ela tinha certeza de que tinha visto algo muito parecido com alívio no rosto de Jack Springs.
-Lamento ouvir isso, disse Jack. Mas cansei de falar sobre eles.
Com isso, ele tentou fechar a porta. Ellington se aproximou e estendeu a mão, impedindo que a porta se fechasse.
-A coisa é a seguinte, disse Ellington. Você coopera e nos oferece alguns minutos do seu tempo, ou você pode nos obrigar a obter um mandado de busca para a sua casa.
-Para quê, exatamente? Perguntou Vanessa.
-Qualquer coisa a respeito dos Kurtzes.
-Mas não sabemos nada--
-Ah, e deixe-me acrescentar, Mackenzie interrompeu, -se nós formos descuidados com os canais por onde conseguiremos o mandado, a mídia não terá muito problema para descobrir que vocês tiveram Agentes do FBI investigando a sua casa.
Jack começou a tremer. Mackenzie lembrou-se do caráter violento que Gloria disse que ele tinha. Ela ficou tensa, pronta para qualquer coisa.
-Você decide, gênio, disse Ellington.
E isso foi tudo. Jack Springs deu um enorme passo em frente e empurrou Ellington. Foi um empurrão um pouco forte, mas Ellington conseguiu manter o equilíbrio, só tropeçou para trás um pouco.
-Estou tão feliz que você fez isso, disse Ellington com um sorriso malicioso. Isso é tecnicamente um ataque a um Agente federal. Ele retirou suas algemas e mostrou para Jack. Posso colocar isso em você agora, ou você vai querer dar um show antes?
Mackenzie podia ver na cara de Jack que ele percebeu que tinha cometido um erro enorme. Ele suspirou e balançou a cabeça com raiva.
-Boa escolha, disse Ellington, dando um passo à frente e batendo as algemas nos pulsos grossos de Jack.
CAPÍTULO TREZE
Mackenzie assegurou que Vanessa e Jack Springs ficassem separados, logo que chegaram ao recinto. Assim que a reação juvenil inicial da maioria dos Agentes do sexo masculino por causa da Vanessa passou, os Springs foram rapidamente conduzidos para salas separadas. Como Jack tinha sido o único preso, ele foi colocado em uma sala de interrogatório, onde Ellington e Rodriguez questionaram ele.
Mackenzie, por sua vez, levou Vanessa Springs ao pequeno escritório que ela tinha pedindo emprestado desde que chegou em Miami ontem. Ela ofereceu à Vanessa um café e uma cadeira dobrável que rangia e juntava poeira no canto do cômodo, e depois sentou-se cara-a-cara com ela.
-Eu suponho que você sabe o motivo de separarmos você e seu marido, disse Mackenzie.
-Então, nós responderemos às mesmas perguntas e vocês poderão comparar nossas respostas para ver se estamos mentindo ou não, disse Vanessa. Estava fazendo o seu melhor para parecer desafiadora, mas ficou claro que estava assustada e desconfortável.
-É isso mesmo, disse Mackenzie. Portanto, a melhor coisa a fazer é dizer a verdade. E se você percebeu, ou não, a reação do seu marido com relação ao mero nome dos Kurtzes diz-me o suficiente para saber que há algo que vale a pena investigar.
Vanessa teve um momento para recompor-se, mordendo o lábio e piscando rapidamente, a fim de evitar as lágrimas. Ele é tão estúpido, disse ela. Sempre que ele é interrogado ou ameaçado de alguma forma, ele perde a paciência. Ele é como um menino.
-Ok, então vamos tirá-lo de cena por enquanto, disse Mackenzie. Sabia que a decepção de Vanessa com o seu marido poderia fazer esta conversa ficar muito mais fácil. Conte-me sobre os Kurtzes. Você os conheceu através do DCM?
-Sabe, disse ela, um pouco envergonhada, ninguém deve saber quem é membro. A privacidade foi uma das razões pelas quais decidimos nos tornar membros.
-Eu sei. Mas falamos com Gloria Benitez esta manhã. Quando soube que havia três casais assassinados, ela foi muito útil. Ela só nos deu nomes. Não entrou em detalhes. E ela ficou arrasada por ter nos dado a informação que ela deu.
Vanessa balançou a cabeça e disse:
-Sim, nos conhecemos através do DCM.
-Eles se aproximaram de vocês ou vocês que se aproximaram deles?
-Nós dissemos para a Gloria o que queríamos... o tipo de casal que estávamos procurando. Ela nos colocou em contato com eles.
-E por quê?
Vanessa olhou para o chão, começando claramente a se sentir envergonhada.
-Pedimos um casal que fosse atraente e com uma vida modesta. A esposa... era linda. Mas ela também era baixinha. E eu... aquilo que me atraiu. Eu gosto de estar no controle entre quatro paredes. E o Jack não. Então, pensamos que uma mulher bonita e baixinha... eu não sei. Apimentaria as coisas.
-E o Josh Kurtz?
-Nós nem queríamos ele. Mas eles só aceitavam propostas como um casal. Ele veio como parte do pacote, sabe? E quando chegaram à nossa casa e nós estávamos no quarto, ele ficou bem aventureiro. Ele começou a mexer comigo e eu deixei. Era parte do jogo e tudo aquilo. Foi legal, eu acho. Mas Jack não estava preparado para ver isso. Ele ficou bravo. E... ah merda. Tenho vergonha de tudo isso...
-Está tudo bem, disse Mackenzie. Você pode pular os detalhes. Eu só preciso saber de sobre as brigas.
-Bem, eles começaram a brigar e... bem, isso me deixou excitada. Então, eu meio que amarrei a Julie no chão. Eu pensei que ela gostava disso. Não lutou muito. Mas eu me empolguei... fui motivada pelo jeito como o Jack estava se comportando...
-Alguém se machucou? Perguntou Mackenzie.
-Não. Houve um soco e eles lutaram. Quando Jack deixou o Josh ir, os Kurtzes saíram. Eles apresentaram uma queixa no DCM e Gloria nos expulsou.
-Foi o primeiro casal que vocês contataram através do DCM?’
-Não. Houve outros dois. Mas ambas as vezes correu tudo bem.
-Eu ainda não entendo porque o Jack ficou tão chateado ao ouvir o nome deles. Disse Mackenzie. Ele agiu como se tivesse algum grande problema com eles.
-Teve depois, disse ela. Jack não se calou com relação à Julie. Ele estava apaixonado por ela e não tinha problema em me deixar saber isso. Tornou-se um problema, de tal forma que consideramos a ideia de um casamento aberto. Mas, no final, desistimos. Então, você assume que alguns problemas matrimoniais resultaram do envolvimento com os Kurtzes, e então, o fato de que eles reclamaram do Jack para Gloria, e depois o temperamento sórdido do Jack deu nisso tudo...
-Ele levou isso para o lado pessoal, disse Mackenzie.
-Sim, basicamente.
Mackenzie pensou sobre isso por um momento antes de prosseguir.
Com base nisso, Jack Springs é certamente digno de uma especulação mais próxima, ela pensou. Mas eu me pergunto se ele poderia matar essas pessoas sem que a Vanessa soubesse.
Ela perguntou para Ellington como estava o interrogatório de Jack.
-Vanessa, qual foi sua impressão dos Kurtzes antes das coisas saírem de controle?
-Eles foram realmente doces, disse ela. Eles eram um daqueles casais que são doentiamente felizes quando estão um com o outro. Você poderia dizer que eles realmente se amavam. Jantamos antes de irmos para o quarto. Eu fiquei chocada em saber que eles estavam envolvidos em clubes de swingers. Mas Jack e eu somos um exemplo perfeito de que gosto é gosto, sabe?
-Você disse que os Kurtzes estavam envolvidos em clubes de trocas de casal? Perguntou Mackenzie. Em mais de um?
-Sim. Eles mencionaram outro do qual eram membros antes do DCM. Eu acho que esse era um pouco superficial para eles.
-Você se lembra o nome dele?
-Tidal Hills, disse Vanessa com um tom baixo de voz. Jack e eu ouvimos falar dele antes, e nunca de um jeito positivo.
-Fica aqui em Miami?
-Sim. Em algum terreno privado perto da Biscayne Bay. Eles fazem propaganda do lugar, muito discretamente, como um retiro espiritual. Mas todos na comunidade de swing sabem o que realmente é.
-E eles têm uma má reputação? Perguntou Mackenzie.
-Sim. Basicamente qualquer um pode entrar. E correndo o risco de soar esnobe, é meio pobre. O DCM é mais privado, você sabe que as pessoas são bem arrumadas, respeitáveis, e de boa aparência.
Querida, isso vai muito além de ser esnobe... especialmente para uma mulher como você, que obviamente, tinha colocado muito silicone.
-Você e Jack já frequentaram outro clube de swing?
-Existem eventos esporádicos aqui e ali, disse ela. Vamos a alguns deles. Vamos para um amanhã, na verdade. É um cruzeiro privado. Mas não, há fomos para outros clubes.
-Há mais alguma coisa sobre os Kurtzes que você acha que eu deveria saber?
-Nada que eu possa lembrar.
-E os Sterlings e Carlsons? Você os conhece?
-Não. Eu me lembro que quase perguntamos sobre as Sterlings. Eles pareciam muito interessantes para nós. Mas, no final, nós preferimos os Kurtzes.
Mackenzie estava chegando ao fim de suas perguntas, que foram até bem. Uma batida na porta de seu escritório improvisado tirou sua atenção. Ela se virou e viu Ellington parado lá. Ele parecia aliviado e satisfeito.
-Você está bem aqui? Perguntou. Precisa de alguma coisa?
Mackenzie olhou para Vanessa e assentiu. Qualquer coisa que você deseja adicionar?
Vanessa sacudiu a cabeça. Lamento o Jack ter engrossado com você, ela disse, olhando para Ellington. Como eu estava dizendo para a sua parceira aqui... ele é um idiota, às vezes.
-Não se preocupe, disse Ellington. Ele foi cooperativo, acredite ou não. Ele está preenchendo alguns formulários agora, mas vocês estão livres para ir, assim que ele acabar.
Vanessa Springs deu-lhes um aceno educado e, em seguida, deixou o escritório. Dagney entrou em cena atrás de Ellington e levou Vanessa para a frente do edifício. Quando eles foram embora, Ellington entrou no pequeno escritório e olhou em volta.
-Boas tentativas, disse ele.
-Engraçado. O que você conseguiu do charmoso Mr. Springs?
-Além de inveja e a sensação de que eu preciso intensificar minha rotina de exercícios? Um bocado de coisas. Ele admitiu ter ficado violento com Josh Kurtz quando os casais estavam juntos. Ele também admitiu ter uma suave obsessão por Julie Kurtz. Mas além disso, nada. Ele deu álibis para as datas suspeitas dos assassinatos e todos foram verificados.
-Parece que eles disseram a mesma história, então, disse Mackenzie.
-Eu também acho que sei de um outro ponto para verificarmos ligações, disse Ellington.
-Pode estar fora, em Biscayne Bay?
-Sim.
Mackenzie olhou para o relógio. São quase sete, disse ela. Quer ir para lá para ver o que podemos encontrar?
-Soa como um plano. E se pudermos jantar no caminho, talvez podemos até chamá-lo de encontro.
Ela sorriu para ele enquanto se levantava. Nós não estamos namorando, disse ela. Nós só estamos dormindo juntos.
-Ah, então parece que estamos no caso certo.
Ela se encolheu enquanto se dirigiam para fora do escritório. Essa foi de péssimo gosto, Ellington.
Ele encolheu os ombros e quando passou por ele, ela ignorou o desejo feroz que passou por ela, um desejo que pedia para ela beijá-lo.
Ela considerou como uma vitória ser capaz de lutar contra o desejo. Agora que eles estavam conseguindo pistas e estava se sentindo ativa e produtiva, o caso estava no topo de sua mente.
Eles tinham impulso. E, pelo que ela poderia dizer, a emoção de um caso revelado era uma sensação ainda melhor do que uma ótima noite de sexo.
CAPÍTULO QUATORZE
Quanto mais se aproximavam de Biscayne Bay, mais Mackenzie era capaz de ver o horizonte de Miami. Melhor ainda, Ellington se ofereceu para dirigir, permitindo que não só comesse o cheeseburger e as batatas fritas do drive-thru sem problemas, mas se maravilhasse com o pôr do sol pairando sobre Miami.
-Meio estranho, não é? Disse Ellington. Você sempre ouve sobre coisas como clubes de troca de casal, mas supõe que são algo do submundo. Mas agora, após algumas horas investigando isso, percebe-se que é algo rotineiro.
-Você não está sendo afetado pelo submundo de uma cidade bonita, está?
-Bonita? Disse Ellington. Dificilmente. Esta é a casa dos Dolphins.
-Vai lembrar de esporte à essa hora? É sério?
Ele deu de ombros. Eu tenho que mantê-la pensando em como serei macho se te levar de volta para a cama.
Ela revirou os olhos para ele, mas a ideia de estar de volta na cama com ele aparecia em sua cabeça toda hora durante todo o dia, também. Foi uma versão, no final dos vinte anos, de uma paquera com alguém no ensino médio. Isso a deixava desconfortável, mas ao mesmo tempo, animada. Era uma pena eles terem finalmente cruzado essa linha enquanto estava no meio de um caso realmente horrível.
Eles chegaram a Biscayne Bay, assim que o sol começou a lançar tons dourados nos topos dos edifícios e das ondas pulsando no mar. A partir da borda da baía, que era incrivelmente bonita.
Eles chegaram na entrada de Tidal Hills vários minutos mais tarde. A placa na frente da entrada nem sequer têm o nome do lugar. Tudo o que a placa dizia era: Um resort privado.
-Parece apropriadamente sombrio, disse Mackenzie.
Ellington dirigiu para mais perto do prédio, uma pequena estrada que saía em um estacionamento escondido por um bosque de palmeiras e uma cerca pequena para manter a privacidade do local. Quando ele estacionou, Mackenzie notou que por trás das palmeiras e da cerca, a estrada principal ao longo da baía não podia ser vista.
Havia alguns outros carros no estacionamento, mas nenhuma pessoa à vista. Eles saíram do carro juntos e caminharam para o prédio atrás deles. O local foi construído para se assemelhar à uma casa de praia, em destaque ao longo do alpendre com vigas que pareciam troncos. Quando subiu as escadas até o alpendre ornamentado, Mackenzie observou a placa pendurada no painel de vidro no topo das portas duplas. Ele dizia: Este é um resort privado. Se você é membro deste lugar, sabe disso. E se não é, por favor, respeite nossa privacidade.
-Nenhuma informação de contato, Ellington apontou.
Quase exatamente como o DCM, pensou Mackenzie.
Ela bateu na porta e deu um passo atrás para que pudesse ver através de painel de vidro ao longo da parte superior da porta. Como ninguém tinha respondido vinte segundos depois, ela bateu novamente. Desta vez, alguém apareceu quase que imediatamente. Um homem com aparência de irritado olhou através do vidro para eles. Ele, então, apontou para a placa de vidro, como se não tivessem visto aquilo.
Em resposta, Mackenzie balançou a cabeça, e em seguida, mostrou seu distintivo. Ela apertou-o contra o vidro para mostrá-lo melhor. Quando retirou o distintivo, viu a expressão de confusão no rosto do homem. Ele deu um passo para trás, abriu a porta e saiu até a varanda para encontrá-los. Ele fechou a porta e ficou na frente dela, deixando claro que eles não seriam convidados para entrar.
Ele tinha seus quarenta e tantos anos, cabelos grisalhos e uma barba delineando o seu rosto. Ele parecia um pouco magro, quase magro demais.
-Posso ajudá-los? Ele perguntou com ceticismo olhando a identificação de Mackenzie, enquanto ela a colocava de volta no bolso interno do casaco.
-Sim, nós gostaríamos de falar com o indivíduo que opera e mantém um clube conhecido como Tidal Hills, disse Mackenzie.
-Bem, seria o Samuel, o homem disse. E Tidal Hills não é nenhum clube.
-O Samuel está aqui? Perguntou Mackenzie, ignorando a última alfinetada do homem.
-Ele está, mas ele está muito ocupado. Ele está meditando e se preparando para um evento hoje à noite.
-Nós precisamos falar com ele, disse Mackenzie.
-Eu receio não poder permitir que vocês entrem, enquanto ele estiver fazendo seus preparativos.
-Tudo bem, disse Mackenzie. Traga-o aqui para nós, então. Vou te dar três minutos. E se ele não vier, vamos entrar para falar com ele.
O homem acenou com a cabeça rapidamente, alcançando a maçaneta da porta. Ele ainda parecia irritado, mas ele também parecia muito preocupado. Ele abriu a porta e voltou para dentro muito rapidamente. Mackenzie observou que por estar com pressa, ele não tinha trancado a porta. Ela optou por ficar lá fora, não querendo contrariar sem justa causa.
-Esse cara parece doente, disse Ellington.
-Magro como um corrimão, Mackenzie concordou.
-Isolado, tranquilo, e sem ser visto da estrada, disse Ellington. Parece mais um culto do que um clube, você não acha?
-Sim, tem essa vibe.
Eles esperaram por mais um minuto até que o homem muito magro retornou. Ele abriu a porta e olhou para eles. Samuel os convidou para entrar. Por favor, entrem.
Ele abriu a porta para eles e eles entraram. Eles entraram em uma sala escura que parecia um santuário de igreja, mas sem os bancos e símbolos religiosos. O homem magro levou-os por esta sala em direção à uma porta na parte de trás. Ele virou-se para eles com um sorriso incerto e disse: -É um privilégio, acreditem. Não é sempre que Samuel convida não-membros para entrar em seu espaço privado.
Uau, isso está começando a parecer mais e mais com um culto, pensou Mackenzie. Ela e Ellington trocaram um olhar do tipo isso é sério? Ellington sacudiu a cabeça, escondendo um sorriso desconfortável.
O homem magro abriu a porta e levou-os em um pequeno corredor. O corredor continha seis portas, todas estavam abertas, exceto uma. Esta estava na outra extremidade do corredor-exatamente a porta para onde o homem magro estava conduzindo eles.
Quando chegaram à porta, o homem bateu e novamente deu-lhes um tipo animado de sorriso. Ele, então, abriu e revelou uma sala vazia com apenas um tapete de decoração. Três velas queimadas no fundo da sala, iluminando a figura de um homem que estava sentado no centro do tapete.
-Por favor, disse o homem. Entrem, visitantes-
Mackenzie entrou na sala, dominada por completo por duas coisas: uma sensação assustadora que caiu sobre ela como uma onda, e o fato de que o homem no tapete estava nu, com apenas uma cueca boxer de seda muito apertada. O homem era o Samuel, se ela estiver adivinhando corretamente-parecia estar na casa dos cinquenta. Como o homem magro, ele também parecia quase desnutrido... o que era estranho, já que ele tinha um abdominal definido e músculos tonificados nos braços e pernas. Ele estava sentado no tapete com as pernas cruzadas e as costas ligeiramente arqueadas.
Quando o homem magro fechou a porta e despediu-se, o outro homem pôs-se de joelhos e depois em uma posição ereta. Ele não parecia estar incomodado pela falta de roupas.
-Prazer em conhecê-los, disse ele. Eu sou Samuel, o guru da Tidal Hills.
-Nós somos os Agentes White e Ellington do FBI, disse Mackenzie. E admito que estou confusa... o que você quer dizer com guru?
-Eu faço o meu melhor para levar meus amigos e membros até um estado de paz através da iluminação e da maneira adequada de abraçar o prazer.
-Prazer, disse Ellington. Você quer dizer relações sexuais?
-Sim. E quaisquer outros prazeres da carne. Enquanto a maioria das religiões ensinam seus seguidores que o sexo é para ser uma coisa vergonhosa e cheia de culpa, nós aqui no Tidal Hills nos juntamos ao prazer. Acreditamos que o ato sexual e a intimidade derivada dela podem levar os seres humanos a um estado iluminado.
-Com todo respeito, Mackenzie disse, -ouvimos dizer que há pessoas que frequentam o Tidal Hills como um clube improvisado de swingers.
-Samuel franziu a testa para a insinuação, mas assentiu. Sim, eu consigo ver o porquê de alguns pensarem uma coisa dessas. Nos primeiros dias, foi assim que começou. Este era um lugar para as pessoas explorarem sua sexualidade, para expandir seus apetites. E de alguma forma se transformou em um lugar para casais se envolverem com outros casais. Tornou-se a tendência do lugar e nós acolhemos isso.
-E as coisas ainda funcionam assim aqui?
-Sim. Mas não é apenas para casais casados. Nós temos solteiros de vez em quando, querendo encontrar respostas sobre a sua própria sexualidade.
-Seu amigo disse que você raramente tem visitantes, perguntou Mackenzie. Por quê?
-A maioria do mundo não entende a nossa intenção. Alguns a veem como pecaminosa e repugnante. Outros conseguem compreender, mas rotulam como uma forma de pornografia. E o que fazemos aqui não é nenhum dos dois.
-Ele também disse que estava se preparando para um evento, disse Ellington. O que ele quer dizer?
-Nós temos um encontro hoje à noite. Gosto de meditar e preparar o meu
corpo.
-Você participa nestes eventos? Perguntou Mackenzie.
Samuel parou antes de responder. Quando me chamam e eu sinto que é apropriado, sim.
Mackenzie sentiu a conversa dar várias voltas estranhas e se esforçou para colocá-la de volta nos trilhos.
-Samuel, estamos aqui como parte de uma investigação sobre uma série de assassinatos que envolvem casais, disse ela. Nós soubemos recentemente que um dos casais em questão foi membro daqui.
-Ah, meu Deus. Posso perguntar quem eram eles?
-Josh e Julie Kurtz. Você se lembra deles?
-Sim, disse ele, com o rosto se afrouxando. Eles não ficaram conosco por muito tempo. Eu acredito que a esposa, em particular, não era totalmente receptiva às nossas práticas.
-E quando eles saíram, foi de forma amigável? Ela perguntou.
-Ah, sim. Toda vez que alguém quer sair, é respeitado. Tudo o que pedimos é que não compartilhe detalhes específicos sobre o que acontece aqui.
-Será que os Kurtzes brigaram com alguém daqui?
-Não, muito pelo contrário. Eles eram um casal adorável. Muito legais, muito doces.
-Quantos casais são membros da Tidal Hills?
-Agora, eu acredito que nós temos quinze casais ativos e sete solteiros.
-Existe uma taxa para participar? Perguntou Ellington.
-Sim. No entanto, tenho certeza que você entende que, devido à privacidade, eu prefiro não dar detalhes.
-Claro, Ellington respondeu secamente.
-Dos casais que são atualmente membros, você conhece todos eles? Perguntou Mackenzie.
-Sim, eu conheço todos eles muito bem.
-Alguma vez você já teve problemas com algum deles? Qualquer coisa alarmante sobre
eles?
-Não, não atualmente.
-Você tem como saber se qualquer um dos seus membros atuais se interessou por outros clubes ou eventos para swingers?
-Isso eu não sei, disse Samuel. E eu faço questão de não saber. Quaisquer membros passam por um processo de entrevista rigoroso comigo. Mas, nesse processo, eu pergunto sobre suas histórias e suas vidas sexuais, mas eu não pergunto qualquer coisa assim. É uma questão deles onde gastam o tempo e o dinheiro que possuem. Eu não cruzo essa linha.
-Então, você não conhece uma única pessoa que saiu, talvez resistente, aos seus pensamentos? Ou talvez, alguém que você teve que dispensar como membro?
Samuel pensou sobre isso, olhando pensativamente para uma das chamas das velas dançando. Sabe, houve um jovem por volta de um ano e meio atrás. Ele passou pelo processo de entrevista com bastante facilidade. Parecia um bom rapaz. Mas quando ele foi ao seu primeiro evento, acho que ele se confundiu.
Ele não causou uma grande confusão, mas ele saiu naquela noite nos xingando de todos os nomes possíveis.
Nos chamou de pervertidos e disse que iríamos para o inferno. Ele contatou-me mais tarde, desculpando-se e pedindo para voltar, mas eu recusei.
-Mais alguma coisa?
-Bem, ele me telefonou várias vezes e continua enviando e-mails. Ele veio aqui uma vez nos últimos meses, bateu na porta. A cada vez que ele entrava em contato comigo, parecia um pouco mais hostil.
-Você acha que ele é perigoso? Mackenzie.
-Eu não sei. Ele foi rejeitado. Expulso. Mas em um de seus e-mails, ele prometeu vingar-se de mim.
-Nós poderíamos saber o nome dele?
Samuel parecia em desacordo com a ideia, mas quando ele soltou um suspiro derrotado, Mackenzie soube que ele daria a informação.
-Seu nome era Chino Castillo. Posso dar-lhe o seu número, endereço de e-mail e endereço físicos-supondo que ele ainda esteja vivendo no mesmo lugar, é claro. Mas esta é uma violação de privacidade. Eu prefiro que você não deixe que ele saiba onde conseguiu essa informação. Embora, dada a natureza do caso, presumo que será óbvia a fonte.
Engraçado, pensou Mackenzie. Tanta ênfase na privacidade com esse cara e Gloria Benitez... não é algo que você esperaria de pessoas que promovem casamentos abertos.
-Obrigada por sua ajuda, disse Mackenzie.
-Claro, disse Samuel, embora fosse evidente que ele ficou chateado com tudo aquilo. Ele conduziu-os até a porta. Ele os seguiu de volta pelo corredor em direção à grande sala da frente.
-Sabe, ele disse, -Eu estou bem ciente do estigma associado com o que fazemos aqui. E eu até entendo. Mas há muito mais bem do que mal no que fazemos. Eu convido vocês para retornar sem distintivos ou armas e participar.
Mackenzie não tinha certeza, mas ela pensou ter ouvido Ellington sufocar uma risada.
-Eu agradeço a oferta, Mackenzie disse, -mas eu não acho que seria a melhor ideia. Nós estamos no meio de um caso e, francamente, não ficaria bem para os nossos supervisores.
-Eu entendo. E eu certamente espero que você encerre o seu caso
rapidamente.
-Você realmente acredita que Chino Castillo seria capaz de assassinar
pessoas?
-Eu honestamente não tenho ideia, disse Samuel. Eu não acho que ele seria capaz de expressar a mesma raiva que ele expressou quando foi expulso, mas ela está lá mesmo assim. Tudo bem se eu te enviar uma mensagem com a informação?
-Claro, disse Mackenzie. Ela deu a Samuel o seu número e acrescentou: -Quanto mais cedo, melhor.
-Ah, eu enviarei para você dentro de dez minutos.
Samuel levou-os de volta para a porta da frente, ainda vestido com apenas uma cueca de seda. O homem magro estava na sala grande, colocando uma variedade de tapetes no chão. Deu-lhes um aceno e um tchauzinho enquanto passavam.
Lá fora, Ellington parecia estar com pressa para chegar ao carro. Quando Mackenzie chegou ao carro, ela o encontrou rindo e balançando a cabeça.
-Algo engraçado? Ela perguntou.
Ele olhou para ela, um pouco envergonhado. Eu sinto muito. Eu sei que é pouco profissional. Mas entre Samuel e o casal Springs, acho que já alcancei a cota de estranhos quase nus por hoje.
-Tem sido demais, disse ela. Mas se ver um homem careca envelhecido com sua cueca extremamente apertada é o que é preciso fazer para obter uma pista...
-Então, o tempo foi bem gasto, Ellington concluiu para ela.
Eles saíram de Tidal Hills, o horizonte de Miami agora lançava-se em sombras, já que o sol tinha desistido da luta, abrindo caminho para a lua. Para Mackenzie, tudo isso significava que outro dia tinha passado sem que pudessem encontrar o assassino. E o assassino parecia mais longe do que nunca, apesar das novas pistas.
CAPÍTULO QUINZE
A música estava tocando. Era um techno-pop horrível que ele podia sentir as batidas em seu crânio como punhais. Ele estava bebendo scotch para entorpecê-lo, mas isso não estava fazendo bem para ele. Na verdade, quanto mais ele bebia, mais parecia ser capaz de tolerar a música.
Ele sabia que não podia beber muito mais. Ele já tinha bebido dois e sabia que cinco era o seu limite. Ele não só precisava ser capaz de dirigir de volta para casa, como também era necessário manter a mente clara. Ele sabia por que estava ali, mas ele já tinha certeza de que aquilo não iria funcionar.
Ele queria esquecer as coisas que tinha feito ao longo da última semana. Mas, além disso, ele queria virar a página. Ele queria parar. E é por isso que ele estava ali. Ele imaginou que poderia encontrar alguém. Ninguém especial, apenas alguém para passar a noite com ele. Talvez outro casal. Talvez ele seria capaz de se lembrar como tudo deveria ser.
Naturalmente, esta casa noturna de merda não era o motivo pelo qual ele estava ali. Ele estava ali porque ele sabia o que aconteceu na sala do andar de cima. Era um segredo um pouco conhecido-um segredo que ele guardava a cerca de dois anos. Ele foi duas vezes, não era o suficiente para que qualquer pessoa no clube reconhecesse o seu rosto.
Ele sentou-se sozinho em uma pequena mesa redonda em frente ao bar complementar do clube. Ele estava sentado lá porque aquele lugar oferecia uma vista panorâmica para a escada que levava ao andar de cima. Ele tinha visto três casais indo lá para cima na última meia hora. O evento, que ele conhecia, começava em cerca de dez minutos. Não havia ninguém de pé nas escadas para impedir as pessoas que quisessem subir. Mas ele sabia que haveria algumas pessoas no corredor em frente ao salão que impediriam a entrada de pessoas indesejadas.
Ele também sabia que não poderia subir sozinho. Você tinha que ter pelo menos uma outra pessoa com você. Era uma coisa para casais-casais de swingers. Às vezes, havia eventos de swingers onde solteiros podiam aparecer e se misturar. Às vezes, um corpo extra era necessário, e tudo bem.
Mas este não era um desses momentos.
À medida que o momento se aproximava, ele ficava animado. Ele não estava excitado, como de costume. Esta noite não tinha a perspectiva de sexo ou de conhecer alguém que o interessasse. Não, esta noite era completamente sobre reconexão... lembrar, primeiramente, o porquê de já ter se envolvido em uma cena como esta.
Sua esperança era de que isso ajudaria a limpá-lo. Que isso o ajudaria a se livrar da raiva, e talvez, até mesmo apagar as memórias dos assassinatos que ele havia cometido.
Ele tomou a bebida e saiu da mesa. Ele rapidamente pagou sua conta com o barman. O bar estava lotado com pessoas na faixa e vinte e poucos anos. As meninas usavam roupas muito curtas; havia provavelmente mais maquiagem em seus corpos do que roupas. Ele se perguntou quantos deles sabiam o que acontecia lá em cima... e como eles reagiriam se fossem apresentados à situação.
Ele analisou o ambiente com interesse, sem ser indiscreto. Ele contou cinco grupos separados de pessoas-grupos distintos dentro do bar. A maioria deles eram pares, mas ele viu uma mesa com três pessoas, duas mulheres e um homem, eles ficavam lançando olhares em direção às escadas.
Ele olhou para o relógio. O evento começaria em dez minutos. Se ele fosse tentar, teria que ser agora.
Ele caminhou até a mesa com três pessoas sentadas ele não usou pretextos. Ele sorriu enquanto se aproximava do trio. O homem era bonito, uma espécie de modelo Abercrombie.
Seu cabelo estava penteado para trás e você podia praticamente ver seu abdominal através de sua camisa. As mulheres não tinham mais de trinta anos e se vestiam como se tivessem apenas dezoito e tivesse saído de casa, por conta própria, pela primeira vez na em suas vidas. A mulher à direita não estava usando sutiã, isso ficou evidente pelo fato de que seu seio esquerdo estava prestes a pular para fora de sua blusa.
-Vocês irão lá para cima? Ele perguntou.
Todos os três instantaneamente ficaram tensos. A mulher à esquerda deu ao homem uma olhada do tipo hein, que porra é essa.
-Tudo bem, disse ele. Eu já estive aqui antes. Eu estive lá em cima antes. Minha namorada mudou de ideia no último minuto. Eu estou procurando alguém para fazer um casal e subir.
A maior parte disso era verdade. A única parte falsa era que ele tinha uma namorada que havia desistido. Ele não tinha uma namorada. Tudo o que ele tinha era um ex-mulher muito descontente que estava dormindo com outra pessoa por aproximadamente um ano até ele descobrir tudo.
-Não, cara, disse o homem. Estamos bem aqui.
Quase como se fosse uma reflexão tardia, porque se sentiram mal por ele, a mulher com o peito esquerdo quase exposto moveu a cabeça para a direita. Mas acho que aquela mesa ali está à procura de um cara.
Ele olhou naquela direção e fez um pouco de careta. Eram dois rapazes e uma moça. A menina parecia bêbada e fora de si (alguns deles precisavam disso para conseguir participar do que acontecia lá em cima, ele sabia disso por experiência) e dois homens mais velhos. Um deles tinha uns vinte anos, o cara mais velho que estava com a moça.
Não era uma situação ideal; novamente, se estava com homens mais velhos, ele duvidava que ela fosse exigente. E não seria nada como se ele estivesse tentando ficar com ela. Ele só queria conseguir subir.
Ele caminhou até a mesa. Quando ele fez isso, ele viu um movimento embaixo dela. Um dos homens tinha as mãos dentro da saia da mulher e não era muito discreto para fazer isso.
Ele quase voltou ali mesmo. Mas ele tinha que tentar. Ele tinha que fazer algum tipo de esforço para se reconectar... para fazê-lo parar com aquilo que ele vinha fazendo durante toda a semana.
-Ei, pessoal, disse ele, sendo o mais simpático possível enquanto se aproximava do lado da mesa. Ali estava mais escuro devido às luzes difusas do bar.
-Ei, disse um dos homens-aquele que estava com as mãos ocupadas por baixo da mesa.
-Olha... Eu sei que parece suspeito, mas a minha namorada acabou de me mandar uma mensagem. Disse que não conseguiria fazer isso. Então, eu estou tentando encontrar um grupo para me juntar e conseguir ir lá para cima.
Ambos os homens olharam instantaneamente chocados. Eles pareciam fugir para perto da mulher. Enquanto isso, ela começou a sorrir... um sorriso que, eventualmente, irrompeu em uma gargalhada.
-Cara, disse ela. Hum... não. Isso é assustador pra caralho. Nós não conhecemos você.
-Pois é, disse ele, tentando reprimir sua raiva. Eu entendo. Mas não sou novo nisso. Eu já estive aqui antes. Isso não--
-Não interessa, disse ela. E embora ela estivesse claramente bêbada e suas palavras saíssem sem qualquer tipo de filtro, elas ainda assim doíam. Isso é nojento. Não aja como se você nos conhecesse.
Ela continuou rindo, então, dando tapas na mesa e olhando para ele como se ele fosse um idiota.
-Ela está certa, disse o homem mais velho. Eu não tenho certeza se há uma etiqueta para coisas como esta, mas se houver, isso seria uma violação, tenho certeza. Agora, por favor... vá embora antes que isso fique realmente incômodo e estranho.
Assim como a cena na mesa, o que vocês estão prestes a fazer lá em cima é incômodo e estranho também. Ele pensou consigo mesmo.
Ele queria bater neles. Ele desejou estar com a sua faca. Ele sentiu seu sangue ferver e isso demandou todo o controle que ele tinha dentro dele para não atacá-los. Atacar especialmente a puta bêbada enquanto ela ainda estava rindo.
Ele zombou deles e virou.
Ele ficou desapontado por não conseguir ir para a sala no andar de cima. Ele também estava chateado por ter parecido tão desesperado. A mulher tinha o direito de rir dele (embora talvez nem tanto, devido à sua companhia). Ele era um constrangimento, e ele tinha que entender que as coisas nunca mais seriam da maneira que tinham sido antes.
Mais do que isso, ele tinha vergonha de si mesmo por se tornar vítima da raiva tão facilmente.
Ele realmente esperava ser capaz de exorcizar seus demônios hoje à noite- através do sexo, deixando-se levar com um estranho, sendo parte de algo que fez sentido para ele uma vez.
Mas não... agora tudo o que havia para se sentir era ódio.
Ele sabia como expulsar isso... como se livrar disso por um tempo. Ele não queria, mas ele sabia que se não o fizesse, ficaria mais forte. Ele tinha colocado isso de lado pelo máximo de tempo possível, por um tempo muito longo... e quando isso finalmente desencadeou... bem, ele tinha as imagens dos corpos ensanguentados dos Carlsons para lembrá-lo daquele sentimento.
Ele teria que fazer aquilo novamente.
Mas por quanto tempo eu consigo manter isso? Ele se perguntou.
A resposta era simples. E parecia acalmar a raiva dentro dele.
Durante o tempo que for preciso.
CAPÍTULO DEZESSEIS
Mackenzie decidiu que porque eram apenas 8:05, poderiam fazer uma vista para Chino Castillo. Como perceberam, a sua casa estava diretamente no caminho de volta para a delegacia, a cerca de trinta minutos de carro de Tidal Hills. A cidade estava quase tomada pela escuridão da noite quando chegaram à sua rua. Não era uma parte decadente da cidade, mas estava longe de ser como as casas de luxo dos Carlsons e dos Springs.
Quando estacionou em frente ao endereço que Samuel lhes tinha dado, eles avistaram um homem ao lado da casa. Ele estava agachado na frente de um cortador de grama, raspando a parte inferior da lâmina. Ele estava trabalhando com o auxílio da luz da varanda, que tinha atraído um enxame de mosquitos e outros insetos.
Mackenzie se aproximou dele lentamente com Ellington atrás dela. O homem olhou para eles com uma cara um pouco preocupada.
-Você é o Chino Castillo? Perguntou Mackenzie.
-Sim, sou eu. Quem é você?
Mackenzie passou por seu ato introdutório, dando seus nomes e mostrando o seu distintivo. Seu nome foi dado por alguém com quem falamos sobre um caso em que estamos trabalhando. Nós esperamos que você tenha algum tempo para falar com a gente.‘
-Claro, disse ele, embora fosse claro que ele estivesse desconfortável com a ideia. Ele colocou o cortador no chão e tirou as luvas que usava enquanto raspava a parte inferior da máquina. O que está acontecendo?
-Bem, nós estamos procurando por um suspeito que esteve em Tidal Hills, bem como um clube privado conhecido como DCM. Nós sabemos que você esteve em pelo menos um desses lugares.
-Isso mesmo. Tidal Hills.
Ele ficou em silêncio, em seguida, como se esperasse por eles para dizer porque aquilo era importante. Mackenzie poderia dizer que ele estava com medo. Isso não era necessariamente uma indicação de culpa, mas normalmente significava que havia algo em sua vida que valia a pena esconder.
-Entendemos que houve alguns problemas, Mackenzie continuou. Você foi importunado pelo homem que se chama o guru?
Chino zombou disso enquanto conduzia Mackenzie e Ellington para a sua varanda. É disso que se trata? Aquele imbecil reclamou de mim?
-Ele se queixou sim sobre você, disse Mackenzie. Mas isso não é o motivo de nossa visita. Estamos interrogando ele sobre o mesmo caso. Durante o interrogatório, seu nome veio à tona.
-Que piada, disse Chino.
-Bem, isso é o que esperamos, disse Mackenzie. Mas só para esclarecer as histórias, você poderia nos dizer o que aconteceu?
Chino olhou para as bordas de sua varanda enquanto ele se sentou em uma cadeira de jardim velha e deteriorada. Sim, mas é embaraçosa essa retrospectiva. Veja, eu tinha um amigo que tinha ouvido falar sobre o que eles fazem em Tidal Hills. Algum tipo de bobagem espiritual, mas na verdade é sobre sexo. Uma desculpa para ter orgias ou troca de casais. E eu estava em um período de seca... quase fiquei viciado em pornografia. Então, quis fazer uma tentativa. Fui até lá e o Samuel me fazer passar por um ridiculamente extenso processo de entrevista, daí eu entrei.
-Por quanto tempo você foi membro? Perguntou Ellington.
-Cerca de uma semana, disse Chino. Eu fui uma noite e nada realmente aconteceu. Me juntei com essa mulher, mas não foi muito longe. Eu só... Eu não sei. Eu não estava pronto para isso. Eu me apavorei. Por isso, fizemos por um tempo e depois saí da sala onde tudo rolando. Nós saímos para a varanda fora do prédio e apenas conversamos.
-Você voltou lá alguma vez? Perguntou Mackenzie.
-Sim. Uma vez. Minha última noite como um membro, eu acho. Eu não fiquei lá por muito tempo. Eu fiquei com a mulher que eu tinha encontrado pela primeira vez. Estávamos brincando, mas... a maneira como eles fazem as coisas... todo mundo enroscado na frente de todos os outros. É um grande espaço aberto. Eu acho que há salas privadas que o Samuel usa, mas eu nunca vi. De qualquer forma, esta mulher e eu, estávamos prestes a começar a ter relações sexuais. Mas era muito estranho para mim. Então eu parei. Comecei a colocar as minhas roupas.
-E Samuel chamou a sua atenção?
-Não a princípio. Eu não acho que ele sequer notou. Ele estava lá do outro lado da sala, assistindo a este grupo de pessoas. Mas alguém me viu saindo e fez um comentário realmente bruto. Disse que eu era um tarado. Alguém também me chamou de virgem. Respondi e quando o Samuel acabou se envolvendo, ele me pediu para sair. Ele foi muito rude também. Então eu disse para ele ir se foder e depois saí de lá. E eu nunca mais voltei.
-Bem, Mackenzie disse: -O Samuel afirma que você tem perturbado ele. Ele diz que você está pedindo para se tornar um membro de novo.
-Sério? Bem, isso é apenas uma mentira descarada.
-Ele disse que você enviou e-mails, disse Mackenzie.
-Mais mentiras, disse ele. Você está convidada para dar uma olhada no meu computador. Faça o que você precisar fazer.
-Obrigada, disse Mackenzie. Se nada realmente aparecer, nós vamos aceitar o seu convite. Enquanto isso, diga-me... enquanto você estava em Tidal Hills, você alguma vez encontrou um casal chamado Kurtzes?
Chino pensou sobre isso por um tempo e depois sacudiu a cabeça. Não que eu saiba. A única pessoa com quem eu realmente falei foi a mulher com quem eu quase fiquei. E para ser honesto, eu não me lembro o nome dela. Anna, talvez? Annette?
-Existe alguma coisa que você pode nos dizer sobre Tidal Hills? Perguntou Ellington.
Chino balançou os ombros. Eu tentei esquecer esse lugar. Foi assustador. Eu sei que eles fazem propaganda por aí como um retiro espiritual exclusivo, mas isso é um disparate. É uma desculpa para ter orgias. É isso aí. É quase como um culto ao sexo. O Samuel tenta fazer uma besteira de meditação e despertar da consciência, mas isso dura cerca de cinco minutos no início. E então, as pessoas já estão em pares umas com as outras.
Mackenzie concordou balançando a cabeça. Ela também sentiu uma vibe assustadora só de ficar perto de Samuel. Se houve alguma coisa estranha acontecendo lá quando os Kurtzes eram membros, talvez houvesse algo mais para se investigar.
-Aconteciam abusos? Perguntou Mackenzie.
-Eu não sei, disse ele. Samuel, porém... ele tinha um jeito estranho de convencer as pessoas de que ele era um guru calmo. As mulheres ficavam loucas por ele. Na noite em que eu saí, ele estava assistindo três pessoas enquanto outras duas mulheres arranhavam ele de um jeito sexual. É nojento. A mulher com quem eu estava brincando... ela ainda disse que ela tinha ouvido falar de outras mulheres que não fizeram entrevistas. Eles só tiveram que fazer uma audição com ele.
-Audição? Perguntou Ellington.
-Sim, disse Chino. Use sua imaginação.
Mackenzie já tinha ouvido o suficiente. Estava completamente enojada e bastante chateada consigo mesma por saber que Samuel tinha jogado tão bem.
Talvez eu estava muito assustada e ansiosa para sair de lá, ela pensou. Mas ele estava definitivamente tramando algo.
-E você nunca ligou para ele? Perguntou Mackenzie.
-Por Deus, não, disse Chino. Ele enfiou a mão no bolso e tirou o telefone. Ele entregou a ela e disse: -Você pode verificar isso também. Computador, telefone, nada.
Mackenzie pegou seu telefone depois que Chino colocou o código de acesso. Ela rolou através de seus contatos, e-mails, fotos, tudo. Não viu nada que instantaneamente o ligasse ao Samuel.
-Tudo bem para você se nós ligássemos para a empresa de telefonia para ver seus registros de chamadas?
-Se você tem que fazer isso, disse Chino. Pode fazer qualquer coisa que você precisar para provar que não tenho conexões com aquele idiota, você tem a minha permissão.
Mackenzie assentiu e entregou o telefone de volta para ele.
-Eu não acho que isso seja necessário, disse ela. Sr. Castillo, muito obrigada pelo seu tempo e boa vontade de ajudar.
-Sem problema, respondeu ele. Fico feliz de saber que ele está sendo mostrado como é.
Mackenzie não viu motivos para explicar que o Samuel não era o objeto de seu interesse.
No entanto, agora que ela tinha certeza que ele tinha mentido descaradamente para eles.
Ela e Ellington voltaram para o carro. Quando eles se entreolharam sobre o capô antes de entrar, Ellington disse: -Estamos voltando para Tidal Hills?
-Sim-
-Aceitando o convite do Samuel para participar?
-Não.
-Você não é divertida, ele brincou.
-Cale a boca e entre no carro.
Quando voltou, mais uma vez rumo a Tidal Hills, ela começou a sentir uma sensação de progresso. Os Kurtzes estavam conectados com o Samuel, ainda que pouco. E agora que ela tinha apanhado o Samuel com uma mentira bem grande, não podia resistir, começou a perguntar que outras informações ele poderia estar escondendo.
Talvez, se tivessem sorte, seria um caminho direto até o assassino.
CAPÍTULO DEZESSETE
Mackenzie fez algumas prisões muito estranhas no passado. Mas quando se aproximaram de Tidal Hills pela segunda vez, ela tentou imaginar como poderia ser a prisão de um homem enquanto ele orquestra uma orgia esquisita com cara de ritual. O conceito daquilo não a convencia, o que a fez se sentir muito grata quando chegaram no local e antes de qualquer outra coisa acontecer.
Como antes, a porta da frente estava trancada. Não perdeu tempo, batendo nela com o punho. Ela podia ouvir múltiplas vozes murmurando do outro lado. Ela podia até mesmo ver algumas pessoas olhando em direção ao vidro ao longo da parte superior- umas poucas mulheres de meia-idade e um homem mais jovem. Eles pareciam confusos, talvez até um pouco preocupados.
Finalmente, depois de ter batido na porta por cerca de 15 segundo, alguém chegou. Era o mesmo homem magro de antes. Ele parecia irritado, mas ela também viu o medo em seus olhos. Esse medo não estava lá a primeira vez que ela o viu. Era o tipo de expressão muito reveladora. Apenas vê-lo quando ele abriu a porta mostrou para ela que alguém-talvez não ele, mas certamente alguém que ele conhecia, era culpado de alguma coisa.
Ele abriu a porta e fez o seu melhor para aparecer desafiador. Sinto muito, Agentes. Nós estamos no meio de uma reunião aqui e--
-Do que eu posso ver daqui, disse Mackenzie, todo mundo ainda está vestido. Então, eu farei o meu melhor para entrar e sair antes de qualquer coisa muito nojenta acontecer.
-Mas você não pode simplesmente--
Mackenzie avançou, deixando claro que se ela tivesse que passar por cima dele, ela passaria. Ele deu um passo para o lado, permitindo que ambos entrassem. Eles entraram na grande sala aberta em que tinham estado menos de uma hora e meia atrás. Mackenzie fez uma contagem rápida na sala enquanto ela caminhava em direção à frente, onde Samuel estava de pé sobre uma plataforma elevada. Ela contou vinte e duas pessoas ao todo. A maioria das mulheres claramente não usavam sutiãs sob suas blusas; ela supôs que a maioria também estava sem calcinha por baixo de seus shorts e saias.
Ela andou metade do caminho por entre as pessoas antes de Samuel começar a falar do palco.
-Desculpe, amigos, disse ele, desculpando-se com a multidão reunida. Parece que algumas pessoas simplesmente não têm nenhuma consideração pela privacidade alheia.
Mackenzie sorriu para ele quando chegou ao pequeno palco. Ela manteve a voz baixa para que só ele pudesse ouvi-la, fazendo o seu melhor para ser o mais profissional possível.
-E parece que algumas pessoas, disse ela, -não têm nenhuma consideração em ser verdadeiras com Agentes federais.
Samuel deu à sua plateia um sorriso de desculpas do tipo fazer o quê e, em seguida, inclinou-se para mais perto de Mackenzie. Agente White, eu não sei do que você está falando, mas posso garantir para você que este não é o momento nem o lugar.
-Ah, eu tenho certeza que esta sala cheia pessoas maiores de idade é plenamente capaz de transar uns com os outros sem que você os observe, disse ela. Além disso... se você tiver provas de que o Chino Castillo enviou e-mails para você ou ligou, eu irei embora. Mais do que isso, eu vou pedir desculpas aos seus amigos daqui e assumirei que foi um erro meu.
Ela leu seu rosto enquanto seus olhos corriam de um lado para o outro, procurando uma maneira de escapar. Quando ele finalmente respondeu, foi a gota d’água, a prova de culpa que ela precisava.
-E se eu não lhe mostrar isso? Perguntou.
-Então, você será levado para prestar contas ao FBI. Se você não fizer muito escândalo, eu talvez permitirei que você tenha a dignidade de não usar algemas na frente de seus seguidores excitados.
-Eu não tenho a prova aqui comigo.
-Nem Chino Castillo, ela respondeu. A única diferença é que eu olhei o telefone dele e ele estava mais do que disposto a me mostrar seus registros telefônicos para provar o que me disse. Ele me encorajou a examinar o celular, na verdade. Então... Eu preciso de uma prova.
-Eu. Não. Tenho.
Mackenzie teve que engolir um sorriso. Quase se sentiu mal com a facilidade com que ela o deixou irritado. Olhou para Ellington e viu que ele estava de pé no fundo da sala com o porteiro magro.
-Então, eu tenho que pedir para você vir com a gente, disse ela.
-Isso não vai acontecer, disse ele. Ele ainda estava sussurrando, mas estava ficando cada vez mais agitado.
-Se você não descer deste palco agora, eu terei que acompanhá-lo, eu mesma. E então, o que todas essas mulheres ávidas pensarão? Vendo você ser maltratado por uma mulher baixinha qualquer?
-Você não se atrev--
Ele não foi capaz de terminar a palavra atreveria. Mackenzie rapidamente agarrou seu braço esquerdo e o balançou de leve. Quando ele perdeu o equilíbrio, ela então, o puxou e torceu o braço dele para cima. Todo o movimento levou menos de dois segundos. Quando acabou, Samuel estava no chão com Mackenzie ajoelhada em cima dele, com um dos joelhos em suas costas.
Algumas pessoas vieram correndo até a frente para ajudar o guru.
De costas, Ellington rugiu: -FBI! Qualquer pessoa que der mais um passo em direção à minha parceira passará algum tempo com o seu destemido líder ali na parte de trás do nosso carro a caminho da sala de interrogatório.
Todo mundo parou imediatamente, olhando curiosos e interessados.
Mackenzie colocou Samuel de pé e imediatamente começou a empurrá-lo para a frente. Mackenzie viu olhares de choque e tristeza em alguns dos rostos e realmente se sentiu mal por eles. Que tipo de mentira o Samuel tinha dito a eles? Como, exatamente, ele os manipulou?
Talvez eles gostem disso, ela pensou quando o empurrou através da multidão, em direção ao fundo da sala. E, talvez, Samuel sabia disso... E explorava isso.
Seja qual for a razão, ela o levou para fora do edifício em silêncio absoluto enquanto as pessoas atordoadas presentes observavam.
***
Quando o dia chegava mais perto da meia-noite, Samuel foi colocado em uma sala de interrogatório. Enquanto Mackenzie e Ellington trabalhavam nos detalhes de sua visita a Tidal Hills com Rodriguez e outros membros do departamento, uma pequena equipe tinha a tarefa de investigar o passado de Samuel.
Quando o histórico ficou pronto, havia muita coisa para se relatar. Várias páginas de informações foram entregues a Mackenzie, enquanto ela e Ellington tomavam um copo de café tarde da noite. Eles verificavam juntos o relatório quando começou a sentir os primeiros sinais de cansaço pairando sobre ela. Estava mais do que acostumada a trabalhar durante longos dias e tinha aprendido a combater o cansaço por um tempo. Sabia que se necessário fosse ela poderia continuar por mais seis a oito horas, sem parar.
O breve relatório que tinha sido entregue contava uma história rápida, mas ainda assim lasciva. O homem que se auto rotula um -guru- era Samuel Netti. Ele tinha cinquenta e três anos de idade e era um residente de Miami ou áreas próximas há vinte anos ou mais. Antes, ele tinha vivido em Houston, Texas, onde tinha começou a acumular passagens complicadas. Ele foi preso duas vezes por ser pego com prostitutas. Ele também tinha uma única denúncia doméstica contra ele, movida por uma mulher com quem ele se envolveu por um período de quatro meses.
Ele, então, veio para Miami, quando foi auditado pelo IRS (Imposto de Renda). Ele não teve problemas com o IRS. Samuel tinha sido objeto de especulação em um caso envolvendo uma pequena rede de prostituição. Todas as mulheres questionadas, no entanto, deram provas suficientes para livrá-lo. Comentários sobre o seu envolvimento em um tipo de spa exclusivo ou clube rodaram a cidade, mas não foram levados a sério.
-Soa como um indivíduo de classe, disse Ellington, levantando-se da mesa. Ele tomou seu café e girou a cabeça em torno de seu pescoço, soltando os músculos.
-Sim, disse Mackenzie. Um real vencedor.
Eles deixaram a sala de descanso e informaram Rodriguez que eles estavam prontos para questionar Samuel Netti. Rodriguez, que também parecia muito cansado, caminhou com eles até a sala e deu-lhes o controle total da situação.
-Eu estarei assistindo com alguns dos meus homens, disse ele. Deixe-nos saber o que podemos fazer para ajudar.
Quando ele estava fora do alcance da voz e indo para a sala de observação, Ellington disse:
-Você quer um policial bonzinho ou um policial mau?
-Ambos, disse ela, e entraram.
Samuel olhou para eles com desdém. O medo e a incerteza não estavam mais em seus olhos. Ele, aparentemente, tinha aceito a sua posição e tentava ao máximo manter a calma.
Bom, ela pensou. Eu gostaria de estar longe desse cara o mais rápido possível.
Ela normalmente não gostava de mentir para os suspeitos; ela sentia que isso enfraquecia seu argumento, especialmente se o suspeito fosse capaz de fazê-la tropeçar. Ainda assim, neste caso, ela tinha certeza de que Samuel havia mentido para eles e, consequentemente, Chino Castillo havia dito a verdade.
-O negócio é o seguinte, disse ela. Os registros do telefone estão aí. Não há ligações feitas do telefone de Chino Castillo para o seu telefone celular. Com os e-mails é a mesma coisa. Então me diga o motivo de ter mentido para nós sobre isso.
A preocupação que atravessou seu rosto disse para Mackenzie que suas suspeitas estavam mortas. Samuel suspirou e olhou para os dois com uma expressão resignada.
-Porque eu queria que vocês fossem embora, disse ele. Achei que vocês fossem apenas mais um par de policiais que havia descoberto o que fazemos no Tidal Hills e que queria nos investigar.
-Isso se chama sentir-se culpado, disse Mackenzie. Isso e o seu passado sórdido em Houston mantêm você paranoico, eu suponho. Mas você poderia ser inteligente o suficiente para não mentir para Agentes federais. Além disso, mesmo quando você soube por que estávamos lá, você decidiu mentir. Por quê? Será que você tem algo contra o Chino Castillo?
-Claro. Ele foi duas vezes, ficou de olho em tudo, e depois foi embora. Eu tenho uma política muito forte de proibição de voyeurs. E é isso que ele estava fazendo. Felizmente, essa foi a única vez que tal coisa ocorreu no Tidal Hills. Ele sair assim, depois de ter visto o que se passa lá dentro... Isso me deixa muito desconfortável.
-E o que rola lá dentro? Perguntou Ellington. Pelo que Castillo nos disse, há pouca espiritualidade e muita merda.
Samuel, na verdade, parecia ter tomado um tapa forte no rosto. A obscenidade, aparentemente, pegou Samuel de surpresa, quase deixando ele com nojo da situação.
-Isso não é verdade. É--
-Não, eu acho que é, disse Mackenzie. Esse negócio me faz mal, mas não há tecnicamente nada de ilegal nisso. Claro, não tenho ideia de como você gasta o dinheiro que as pessoas pagam. Embora, eu tenha certeza de que pode valer a pena investigar isso.
-Olha, o que você quer de mim? Perguntou Samuel.
-Eu preciso saber sobre os Kurtzes, disse Mackenzie.
-A este respeito, eu não estava mentindo. Eles não estiveram comigo por muito tempo e quando eles saíram, foi de forma amigável. Nenhuma hostilidade. Pelo que me lembro, eles foram muito legais. Muito gentis e divertidos, do que me lembro.
-E há más vibrações com qualquer outra pessoa? Perguntou Mackenzie.
-Não. Se eles fizeram isso, aconteceu nos bastidores e eu nunca soube a respeito.
Mackenzie estava andando até então. Ela, finalmente, sentou-se em frente à mesma em que Samuel estava sentado.
-Você tem certeza disso? -Mackenzie perguntou, embora ela tivesse certeza de que ele estava dizendo a verdade. Parece-me que um homem tão popular quanto você, dentro de um grupo tão pequeno, saberia sobre quase tudo.
-Sim, eu juro, disse Samuel. Ela podia ouvir a súplica em sua voz. Ele estava aparentemente sentindo que ela e Ellington já estavam sem argumentos para o seu interrogatório.
-E sobre as audições? Perguntou Mackenzie. Você já permitiu que uma mulher fizesse um teste para entrar no seu clubinho?
-Audição?
Mackenzie ficou de pé. Sabia que o caminho escolhido não tinha nada a ver com o caso. Mas Deus, ela odiava aquele homem.
Você conscientemente mentiu quando um Agente do FBI lhe fez uma pergunta, disse ela. Há acusações criminais ligadas a isso. Normalmente, você pode levar uma multa ou ser algemado.
Mas com os seus antecedentes--
-Olhe. Eu não sei nada sobre esses Kurtzes, disse ele. Eu juro. Se você quiser, eu posso perguntar a alguns dos outros membros, mas eu sinceramente não sei.
Olhou para ele, tentando entender se ele estava sendo honesto. Ela tinha certeza de que ele estava, mas ela também sentiu o ressentimento e a raiva em relação a ele começando a queimar seu coração. Ela virou de costas para ele e andou até a porta.
-Você está bem? Ellington perguntou quando passou por ele.
-Só preciso de um segundo, disse ela.
Sem outra palavra ou qualquer explicação, ela deixou a sala de interrogatório. Estava entre as portas da sala de interrogatório e da sala de observação, recostando-se contra a parede de concreto.
Era raro que um suspeito chegasse até ela por tais razões obscuras. Samuel Netti não tinha machucado ela ou atingido alguém que ela conhecia. Era simplesmente um personagem-um homem que era hábil em manipular as mulheres e utilizar a natureza da sexualidade humana a seu favor.
Tudo isso é verdade, pensou. Mas há outra coisa aí, Mac. Você sabe. Você sente... Então, que diabos é isso?
Na visão da sua mente, viu as camas dos casais assassinados. Ela pensou sobre alguém que os casais conheciam entrando na casa e matando-os.
Assim como com o pai, ela pensou.
E foi assim. Em meio a tudo isso, Samuel Netti normalmente não iria incomodá-la mais do que qualquer outro depravado. Mas o fato de que este caso estava ecoando o caso de seu pai lhe animou até mais do que ela queria admitir.
Segure a onda, ela disse a si mesma. Este é apenas um caso como qualquer outro e, a partir de agora, você está às cegas.
Ela respirou profundamente uma série de vezes e voltou para a porta. Ao fazer isso, a porta para a sala de observação se abriu. Rodriguez veio correndo com seu celular colado ao ouvido. Ele parecia muito alarmado, quase animado.
-Agente White, disse ele, sua voz beirando a preocupação. Houve outro assassinato.
-Um casal?
-Sim.
-Onde?
-Onde desta vez? Rodriguez perguntou a quem estava do outro lado da linha. Depois de alguns segundos, e um olhar muito confuso, Rodriguez disse: -Obrigado, em seguida, terminou a chamada.
-Onde? Perguntou Mackenzie.
-Bem, é estranho pra caramba..., mas esses corpos estão em um navio de cruzeiro.
-Ele está na água ou atracado?’
-Na água. Mas está voltando para a porto enquanto falamos.
-Então, os assassinatos ocorreram enquanto ele estava no mar?
-Não há como saber, disse Rodriguez. Mas sabemos que esses corpos estão frescos. Eles provavelmente foram mortos nas últimas horas.
De repente, Mackenzie não sentiu os dedos rastejantes do esgotamento rastejando sobre ela. Com um recente assassinato e uma área restrita, neste caso, ficou muito mais acessível.
Abriu a porta da sala de interrogatório, ignorando completamente Samuel Netti. Os olhos dela encontraram os de Ellington e viu que ele estava percebendo a sua excitação.
-Vamos lá, disse ela. Parece que temos que embarcar em um navio.
CAPÍTULO DEZOITO
Segundo a instrução de Mackenzie, ninguém estava autorizado a deixar o navio. Como resultado, viu centenas de pessoas andando em massa e de forma confusa em torno dos decks quando estacionou o carro perto do setor de bagagens e equipamentos do cruzeiro, ao lado da plataforma de acoplagem do navio. Dois carros de patrulha do DP de Miami estacionaram atrás dela. Eles não estavam com suas sirenes ou piscas ligados, não queriam alarmar ainda mais os passageiros. Pelo que Mackenzie sabia, nenhum dos passageiros sabia o motivo pelo qual o cruzeiro tinha voltado à costa apenas algumas horas depois de zarpar.
Mackenzie caminhou em direção à entrada do navio. Lá, um homem com uma barriga bastante grande que pairava sobre a cintura da calça jeans estava esperando por ela. Quando viu Mackenzie e Ellington com Rodriguez e alguns de seus oficiais trás deles, ele caminhou em direção a eles com a mão estendida para cumprimentá-los.
-Oi, Agentes, este homem disse. Eu sou Bill Hudson, chefe de segurança do navio.
Apresentações foram feitas e, em seguida, Hudson escoltado todos rapidamente até o navio. No interior, três outros membros da segurança do navio se juntaram a eles, juntamente com Rodriguez e os cinco oficiais que tinham a tarefa de acompanhá-los. Primeiramente, Mackenzie pensou que tantas pessoas seria um exagero, embora ela tivesse pedido alguns dos homens de Rodriguez para ajudar nas tarefas de interrogatório na hora falar com todos os passageiros.
Mas assim que eles saíram da área de carga para o convés, estava contente por ter mais pessoas com ela. Vários dos membros de segurança e do DP de Miami tiveram que abrir caminho para ela e Ellington percorrerem seu caminho até um pequeno corredor que levava ao elevador central do navio.
Mackenzie e Ellington subiram com Rodriguez e Hudson, enquanto os outros oficiais e membros de segurança permaneceram nos pisos inferiores. Quando estavam fora do elevador e andando pelo corredor longo e estreito do terceiro andar Hudson começou a falar. Mesmo assim, ele falou em voz baixa, apesar do fato de que todos os passageiros tinham sido convidados a desocupar o terceiro andar.
Tivemos segurança e a maioria da tripulação chamou todos os passageiros para fora, para o convés, é um procedimento de segurança, disse Hudson. Procedimento padrão. Fazemos isso em todos os cruzeiros. E nós salientar realmente isso-tanto que temos tripulantes passando por cada andar, batendo em cada porta para garantir que todos participem. Mas, honestamente, também é algo que fazemos para garantir que não haja nada de obscuro acontecendo. Isso nos permite bisbilhotar os corredores, enquanto todo mundo está fora no convés.
-Hudson parou no quarto 341 e pegou um cartão-chave em seu bolso. Ele não o inseriu. Com um tom pesado em sua voz, ele continuou. Um dos nossos membros da tripulação de serviço de quarto verificou este quarto durante o procedimento de segurança e encontrou esses corpos. Só para deixar vocês precavidos... é horrível. Eu nunca vi nada como isso, então, isso é novo para mim.
Com isso, ele deslizou o cartão-chave e abriu a porta.
Mackenzie e Ellington entraram em primeiro lugar. Rodriguez os seguiu com Hudson relutantemente atrás. O quarto era pequeno, assim como a maioria dos quartos de cruzeiro, mas arrumado. A exceção, é claro, era a cama. Como as outras três camas que Mackenzie tinha visto em cenas de crime nos últimos dois dias, era uma bagunça de lençóis e sangue.
Ela se aproximou da cama com cautela. O sangue ainda estava fresco por isso brilhava sob as suaves luzes da cabine. Estava prestes a perguntar Hudson a identidade das vítimas, mas descobriu que não precisava.
-Merda, ela respirou. Ellington...
-Sim, disse ele, esgueirando-se ao lado dela. Eu os reconheço, também.
Não fazia sentido e parecia bastante irreal, mas Mackenzie estava olhando para os corpos recentemente assassinados de Jack e Vanessa Springs.
***
Sua mente girou com a descoberta como se um milhão de pensamentos corressem por sua cabeça. Quando viu a cena, agora também percebendo respingos de sangue sobre o tapete e as paredes, ela acessou sua memória, tentando recordar tudo o que o casal Springs havia dito. Eles mencionaram um cruzeiro? Eles mencionaram férias?
Não, ela pensou. Mas Vanessa me disse que eles tinham um outro evento muito em breve.
-Sr. Hudson, qual é a natureza desse cruzeiro?
-Só um cruzeiro normal pelo Caribe, ele respondeu. Três dias e duas noites. Só para adultos.
-Havia algum evento particular programado?
-Não. Apenas as atividades usuais do cruzeiro. Shuffleboard, dança, cursos de mixologia, coisas assim. O que você está procurando, exatamente?
Rodriguez pegou seu celular e começou a escrever mensagens de texto para alguém. Eu estou verificando algo com a delegacia, disse a todos. Talvez haja um histórico de eventos de swing nestes cruzeiros.
-Swing? Perguntou Hudson. O que você quer-espere. Swing... como coisas de
sexo?
-Sim, disse Mackenzie. Você ouviu rumores de algo assim?
-Não, quero dizer... É uma espécie de tabu, certo? Há cruzeiros que fazem isso?
-Eu duvido que eles fazem propaganda disso, disse Ellington. Mas, aparentemente, sim.
Hudson parecia se aprofundar nisso enquanto Mackenzie continuava a observar a cena. Como as outras cenas, era evidente que uma faca foi usada. Não houve precisão nos cortes, sem nenhuma arte, havia simplesmente um ato selvagem e violento.
Viu algumas gotas de sangue espalhadas no tapete, incluindo uma que estava logo abaixo da porta do banheiro. Ela caminhou até lá e abriu a porta. No interior, duas toalhas de mão estavam no chão. Uma delas estava opaca de sangue. Alguns produtos de higiene pessoal de uma bolsa de viagem também estavam no chão.
-Há evidência de luta aqui-, disse ela.
Ellington e Rodriguez vieram para dar uma olhada, enquanto Mackenzie voltou sua atenção para o Hudson.
-Em um cruzeiro como este, quem planeja os eventos que ocorrem a bordo?
-A coordenadora de eventos. Ela está falando com o capitão agora, tentando resolver a confusão por termos voltado.
-Você pode, por favor, trazê-la? Perguntou ela. Eu gostaria de falar com ela.
-É claro, disse ele. Em cinco minutos.
Ele saiu rapidamente, já puxando o seu telefone do bolso para fazer uma chamada. Mackenzie voltou a sua atenção para o casal Springs. Jack estava completamente nu. Vanessa usava um biquíni amarelo que estava quase todo coberto de sangue. Viu que a mão de Jack tinha sido colocada na coxa de Vanessa.
Uma cópia carbono das outras cenas de crime, pensou. Mas em um navio de cruzeiro, eles podem ter aberto a porta para qualquer um. Mesmo assim... o assassino tem que estar no navio, em algum lugar.
Era um pensamento emocionante, mas ainda havia um outro. Ela voltou para o banheiro. Não conseguia ver muita coisa na bolsa de viagem além do que estava derramado. Não havia nada no pequeno balcão ou na pia. Ela voltou para o quarto e olhou para as gavetas. Elas estavam todas vazias. Suas malas estavam ao longo da parede oposta, com as etiquetas de identificação ainda sobre as alças, era o check-in para o cruzeiro.
-O que você está procurando? Ellington perguntou a ela.
-A prova de que eles tinham desfeito as malas, disse ela. Eu estou tentando obter um indicador de quando eles foram mortos-no mar ou antes que o barco se afastasse da plataforma.
-Você acha que o assassino agiu antes do barco partir? Perguntou Rodriguez.
-É uma possibilidade, disse ela.
Era deprimente ouvir isso saindo de sua boca. Assim, a esperança de que o processo fosse simplificado, tendo o assassino isolado em um navio de cruzeiro foi frustrada. Não estava de volta à estaca zero, mas era como se estivesse.
E quanto mais ela olhava, mais certeza ela tinha de que o casal tinha sido assassinado pouco depois de chegar no quarto. Vanessa teve apenas tempo suficiente para colocar seu biquíni. Sendo que Jack estava nu, Mackenzie supôs que ele tinha sido atacado no banheiro enquanto se preparava para trocar de roupa. Isso ou ele foi despido, como algum tipo de gesto simbólico feito pelo assassino-um gesto que Mackenzie ainda não podia decodificar.
Quando seguiu o sangue no chão e no banheiro, teve uma melhor imagem do que tinha acontecido. Um deles-presumivelmente o Jack nu-tinha sido morto no banheiro e, em seguida, levado para a cama, para que pudesse ser colocado na mesma pose presente nas outras cenas. O assassino foi convidado e saiu sem que nenhum dos outros ocupantes apressados do terceiro andar percebessem.
Hudson voltou para o quarto com uma mulher de aparência frenética se arrastando atrás dele. Estava vestida com um uniforme de membro da tripulação e parecia estar no começo dos seus cinquenta anos.
-Agentes, esta é Dana Crosby, a coordenadora de eventos, disse Hudson.
Mackenzie não queria desperdiçar nenhum tempo. Se o assassino tinha conseguido sair do navio antes da breve viagem, o tempo estava literalmente se esvaindo a cada segundo.
-Sra. Crosby, eu quero saber se havia algum evento privado programado para este cruzeiro.
-Sim, havia, na verdade, disse ela. Eu estava verificando isso quando Bill me ligou. Foi apenas uma reunião de alguns amigos de infância, eu acho.
-E o dinheiro tinha que passar pelas suas mãos para reservar um evento como
esse?
-Sim. Cinco mil dólares foram pagos por noite para ter o clube do deck inferior por duas horas em ambas as noites.
***
-Quantas pessoas deveriam participar desse evento? Perguntou Mackenzie.
-Por volta de sessenta pessoas, disse ela. A maioria eram casais casados, eu acredito. Eu estou agindo para conseguir uma lista completa dos participantes. O casal Springs estava entre eles, no entanto. Eu tenho certeza.
-E quem lhe pagou os cinco mil dólares por noite? Perguntou Mackenzie.
-Bem, o dinheiro não veio para mim. Eu era apenas a mediadora. Mas a reserva e o agendamento eram tarefas minhas.
-Você conheceu a pessoa que reservou o clube?
-Sim. Ela está sendo interrogada por alguns dos caras da segurança de Bill. Quando eu estava descendo para me encontrar com você, acredito ter visto alguns dos policiais indo nessa direção também.
-Onde ela está neste exato momento?
-No deck da piscina no último andar.
-Você poderia me levar até ela?
Eles passaram de volta para o corredor e entraram no elevador. As coisas pareciam apressadas e corridas quando o pequeno grupo subiu: Mackenzie, Ellington, Crosby, Rodriguez e Hudson. Mas para Mackenzie estava tudo bem. Trabalhar em ritmo acelerado a fez se sentir como se estivesse chegando ao seu objetivo. Mesmo quando eles andaram para a parte superior da piscina os olhares desconfiados de atendentes do navio caiam sobre ela, ela se sentiu como se seus olhares estivessem empurrando ela pelo trajeto, para mais perto de resolver o caso.
Dana Crosby levou-os onde vários homens uniformizados estavam falando com uma mulher jovem. Erai bastante marcante, seu cabelo loiro caindo perfeitamente ao longo dos lados de seu rosto e sobre seus ombros. Estava vestida com um maiô que não era tão apertado e revelador como o de Vanessa Springs. Mackenzie supôs que ela tinha trinta e poucos anos.
Mackenzie passou através da pequena multidão de Agentes de segurança e policiais. Ela mostrou seu distintivo rapidamente, observando quando Ellington fez o mesmo ao seu lado.
-Eu sou a Agente Mackenzie White, ela disse rapidamente. Eu fui informada de que você tinha organizado algum tipo de evento durante o cruzeiro. Isso está correto?
-Eu estou encrencada? Perguntou a mulher.
-Não, se você for honesta com a gente. Acreditamos que os assassinatos a bordo estão diretamente relacionados a um caso delicado. Eu não tenho tempo a perder e honestamente não vou tolerar uma falta de cooperação. Então, por favor, não tente pintar um quadro mais bonito do que o que eu preciso ver. Este evento... o que era realmente?
A mulher franziu a testa e Mackenzie percebeu que não tinha sequer perguntado o nome da mulher. Ela corrigiu isso imediatamente, não querendo parecer impessoal e fria. Qual é seu nome? Perguntou ela.
-Alexa Myers.
-Alexa... ouça. O casal que foi assassinado... Eu sei em que tipo de coisas eles estavam envolvidos. Então, basta dizer a verdade. Se você não estiver conectada a eles de uma forma real, o seu envolvimento nisso pode acabar aqui.
Comum um suspiro, Alexa balançou a cabeça e disse: -Era um evento de swingers. Nós chamamos o evento de Acasalando Casais. Era uma coisa somente para convidados.
-E como foram escolhidos os convidados?
-Eu me viciei em tudo isso há algum tempo e de alguma forma acabei sendo um tipo de líder de um grupo de swingers. Começamos com dois eventos por ano-geralmente em minha casa, mas, como ficou maior, fomos para locais privados.
-E eu suponho que foi para isso que você alugou o clube embaixo do convés? Perguntou Mackenzie.
-Sim.
Mackenzie virou-se para Dana Crosby. Você tinha ideia disso?
-Absolutamente, não. O desgosto em seu rosto era genuíno. Mackenzie acreditava nela e sentiu uma espécie de pena dela.
-Alexa, eu preciso de uma lista de todos a bordo que foram convidados para esse evento.
-Eu... Eu não posso, disse ela. Eu tenho que respeitar a privacidade deles.
-Havia um contrato assinado? Perguntou Mackenzie.
-Não.
-Então, isso não é problema. Sra. Crosby tem pessoas em torno do navio, tentando criar uma lista. Mas se você pudesse simplesmente entregar uma lista, você iria nos poupar horas de trabalho e potencialmente nos ajudar a chegar muito mais perto de pegar o assassino.
Alexa olhou ao redor do convés, em seguida, olhou para a escuridão do céu noturno. Merda, disse ela.
-Alexa?
-Está no meu quarto.
-Eu vou acompanhá-lo, disse ela. Sr. Hudson, você se importaria de vir junto também?
Bill Hudson, também parecendo um pouco enojado (mas talvez um pouco intrigado, também) concordou. Alexa levou-os para longe da piscina e voltou para os elevadores. Mackenzie olhou de volta para o convés para onde Ellington estava falando com Rodriguez e, atrás dele, os hóspedes do navio se misturavam em uma tagarelice nervosa.
Olhou para o relógio e viu que era 1:07 da manhã.
Parece que vai ser uma noite sem sono. Ela entrou no elevador com Alexa e Hudson e dirigiram-se para baixo. Ela se perguntou se o assassino tinha usado este elevador. Perguntou-se se o assassino conhecia Alexa.
E pior do que tudo isso, ela se perguntou o quão longe o assassino estava escapando através das ruas de Miami, enquanto estava correndo atrás do próprio rabo em um navio de cruzeiro.
CAPÍTULO DEZENOVE
Enquanto Mackenzie acompanhava Alexa até sua cabine, Ellington trabalhava com Rodriguez e alguns dos outros membros da equipe de segurança de Bill Hudson. Quando todos se reuniram novamente no quarto apertado de Hudson no convés, Mackenzie tinha uma lista impressa dos participantes do evento de swing de Alexa. Enquanto isso, Ellington aprendeu algumas coisas bastante deprimentes sobre o sistema de segurança do navio-principalmente, que não era um sistema.
Havia três câmeras em cada andar. Elas foram posicionadas de uma maneira que capturava o comprimento de cada braço de corredor. Havia algumas outras sobre os decks da piscina e no grande lobby que ligava os quatro diferentes locais de refeição, mas isso era tudo. Realmente, estava longe de ser o que precisavam.
Hudson voltou a gravação da câmera até a parte onde o quarto 341 foi localizado. Enquanto colocava as imagens no ponto em que o casal Springs entrou no quarto pela primeira vez, Mackenzie começou a olhar a lista de Alexa. Alexa, que havia sido convidada para ver a filmagem e revelar se seria capaz de fornecer um nome para um possível rosto capturado, estava parada na porta aberta do escritório de Hudson. Estava muito nervosa, mas parecia estar aguentando firme.
Ao olhar a lista, ela manteve-se atenta a quaisquer nomes familiares: Kurtz, Sterling, Carlson. Nenhum deles apareceu.
No meio da folha, viu onde Alexa tinha marcado um conjunto de nomes com um marcador preto.
-Qual é esse nome aqui? Ela perguntou, apontando para a lista de nomes riscados.
-Os O'Learys, disse Alexa. Pessoas agradáveis, mas circulou um boato de que Devin, o marido, tem HIV. Eu queria checar isso, então eu tentei entrar em contato com eles. Mas ele não atendeu minhas chamadas nem respondeu meus e-mails.
-E a esposa dele?
-Bem, de acordo com os rumores, ela o deixou. Ele contraiu o HIV em um caso. São rumores, tenho que enfatizar. Mas eu mantive o nome dele lá, apenas por precaução. Mas, em seguida, cerca de uma semana atrás, ele finalmente respondeu um dos meus e-mails.
-Então, foram apenas boatos?
-No começo, sim... isso era o que eu pensava.
-Você conhece bem seus membros?
-O máximo que posso. Lembre-se... Eu não fazia este papel antes. Eu era uma afiliada, também. Mas o casal que organizava isso se separou. Pouco antes de se separarem, a esposa me pediu para dirigir o grupo. Fiquei feliz com a proposta.
-E qual era o nome dela?
-Tanya Rose.
Mackenzie escreveu o nome dela em seu aplicativo de anotações em seu telefone.
-Então, de volta aos rumores de HIV, disse ela.
-Bem, no e-mail que enviei para o Devin O'Leary, eu tinha perguntado se os rumores eram verdadeiros e tudo o que ele respondeu foi... bem, aqui... Eu vou lhe mostrar.
Alexa pegou o telefone, abriu seu e-mail cliente e abriu um e-mail em particular.
Mackenzie leu a mensagem, pensando que cada palavra montava um cenário. Claro, as datas tinham que ser verificadas.
Na troca de e-mails, Alexa escreveu: -Eu ouvi alguns rumores terríveis sobre você e queria falar com você sobre isso antes de confirmar a sua presença no cruzeiro. Claro, se esses rumores são verdadeiros, não posso permitir que você participe. Eu também ouvi que Janelle te deixou como resultado destes rumores. Poderia, por favor, enviar o contato dela para que eu possa entrar em contato com ela também?
A resposta do Devin O'Leary veio três dias depois, exatamente seis dias atrás. Os rumores não são da sua conta. E não, você não pode ter o contato da Janelle. Foda-se você e seu evento de putaria.
Mackenzie entregou o telefone de volta para Alexa. Ele era problemático?
-Não. De modo nenhum. Por isso suponho que o rumor sobre o HIV é verdade. O caso com outra mulher também. Que choque.
-E os outros que planejavam vir para o evento sabiam sobre os rumores?
-Sim, disse Alexa. Foi assim que eu ouvi falar sobre isso.
Mackenzie se inclinou para Rodriguez e sussurrou em seu ouvido. Você pode fazer uma ligação para ver se seus rapazes podem puxar os registros de Devin O'Leary?
Rodriguez concordou. Quando ele puxou o telefone para fazer a chamada, Hudson reclinou para trás na cadeira, arqueando as costas. Ok, então vamos lá, disse ele.
Todos os olhos se voltaram para os monitores coloridos instalados dentro de um painel de madeira. Apenas três estavam em uso, todos mostrando as partes separadas do corredor do terceiro andar.
-Bem aqui, disse Hudson durante o ir e vir de pessoas na imagem, -podemos ver o casal Springs entrar em seu quarto.
Ele apontou para um casal puxando duas malas. O corredor estava cheio de outras pessoas que estavam indo para os seus próprios quartos. Mas, quando o Jack Springs virou-se para a porta do quarto 341 e pegou o cartão-chave, Mackenzie pôde ver seu rosto claramente. Todos eles assistiram quando o Jack e a Vanessa entraram no quarto, fechando a porta em seguida.
Hudson, em seguida, acelerou a filmagem um pouco, mas não tão rápido a ponto de perder se alguém entrou no quarto. Eles assistiram por cerca de dois minutos com as pessoas indo e vindo em um movimento rápido. Eles não viram ninguém saindo ou entrando no quarto do casal Springs.
-Estamos chegando na parte do procedimento de segurança, disse Hudson. O anúncio foi feito no sistema de transmissão do navio, às dez horas em ponto.
Aqui, os corredores não estavam tão agitados. Apenas umas poucas pessoas circulavam. O contador no canto da tela mostrou que as imagens que eles estavam assistindo foram registradas às 10 horas. Dentro de poucos segundos, as pessoas começaram a sair de seus quartos para o procedimento de segurança. Muitos deles já estavam vestindo biquínis e maiôs.
Quando o tráfego dentro dos corredores começou a se intensificar, Mackenzie viu uma única pessoa caminhando contra o fluxo do tráfego. Ele estava indo em direção ao quarto 341 e andava com a cabeça para baixo. Ficou muito claro que essa pessoa não tinha qualquer interesse em fazer contato visual com ninguém. Todos eles assistiram quando esta figura se aproximou do quarto 341 e bateu.
Do ângulo da câmera, era evidente que a pessoa batendo na porta era do sexo masculino. Mas era difícil ver quaisquer características reais em seu rosto. Ele estava com uma mochila sobre o ombro direito e parecia não ter muita coisa dentro dela.
-Alexa, Mackenzie disse: -Eu não acho que você consiga dizer a partir deste ângulo, se é o Devin O'Leary, não é?
Alexa olhou de soslaio para a tela e, depois de alguns instantes, sacudiu a cabeça. É impossível dizer. Poderia ser. Parece ter a mesma altura.
Aporta foi aberta. O homem ficou de pé ali por um momento e em seguida entrou. Depois disso, a porta se fechou.
Hudson deixou a filmagem em uma velocidade elevada mais uma vez. Mackenzie manteve os olhos no painel na parte inferior da tela. Quando a porta se abriu o mesmo homem, mais uma vez, apareceu na tela aos quatro minutos e nove segundos. O homem olhou para a esquerda, depois para a direita e, em seguida, caminhou até o final do corredor. Lá, ele pegou o elevador.
-Agora, se olharmos a única imagem da câmera de entrada e saída lá embaixo, disse Hudson, -vemos esta mesma pessoa oitenta segundos depois, saindo do barco.
Eles viram quando o homem apareceu na cena mencionada. Ele caminhou rapidamente, falou com as duas pessoas dos quiosques de check-in e serviço de passageiros e, em seguida, saiu do navio.
-Droga, disse Ellington.
Mackenzie sentiu a mesma frustração. Ela havia trabalhado no pressuposto de que o suspeito tinha conseguido sair do navio antes da viagem se iniciar, mas tinha uma pequena esperança de que ele tivesse permanecido. Até agora.
-Sr. Hudson, eu preciso falar com esses dois funcionários, disse ela, apontando para as duas pessoas com quem o suspeito tinha falado.
-É possível, disse Hudson. Mas eles não estão no navio. Eles só trabalham fora dos escritórios, creio eu. Ainda assim, eu posso descobrir quem estava no cronograma e conseguir
informações.
-Alexa, você tem o endereço de Devin O'Leary? Perguntou Mackenzie.
-Não, desculpe-me. Apenas um número de telefone e o e-mail.
-Não importa, disse Rodriguez. Eu posso pedir para alguém na delegacia puxar isso para você em poucos minutos.
-Isso vai funcionar, disse Mackenzie. Ela, então, virou-se para olhar para Alexa. Em qualquer das imagens que você viu, você tem certeza que não dá para identificá-lo como sendo Devin O'Leary?
-Nada de concreto, não. Como eu disse... tem o mesmo tipo físico.
-Mackenzie, Ellington e Rodriguez compartilharam um olhar desconfortável. Isso não é o suficiente para continuarmos, não é?
Rodriguez perguntou.
-Não, não é o suficiente para pegá-lo, disse Mackenzie.
-Mas eu acho que é mais do que suficiente para um mandado acordá-lo muito cedo pela manhã.
-Quer meus homens com você? Perguntou Rodriguez.
-Não, Mackenzie disse, já indo para a porta. Apenas certifique-se que temos uma sala de interrogatório aberta.
Ela se despediu sem dar sequer um único adeus ou obrigado a Hudson, Alexa e Rodriguez. Ellington a alcançou enquanto saía do navio e olhou para ela curioso.
-Você está bem? Perguntou.
-Não, disse ela. Esse cara é valente e habilidoso. E pior do que isso, eu continuo me sentindo como se eu estivesse andando em círculos.
-Não, estamos fazendo algum progresso, disse Ellington. Os O'Learys parecem ser uma pista. Enquanto estamos em busca dele, farei algumas chamadas para ver se ele pode estar ligado ao Tidal Hills ou ao DCM.
Ela concordou, mais uma vez, sentindo-se sair do controle, assim como aconteceu enquanto interrogava Samuel Netti. A elusividade deste caso-ainda por cima com um homem que parecia estar indo e vindo, como desejava, para matar suas vítimas-tinha muita semelhança com o caso de seu pai. E ela odiava o fato de que isso estava lhe deixando nervosa com tanta facilidade.
Eles estavam de volta no carro às 1:40. Mackenzie ficou quieta e pensativa quando voltou para atrás do volante. A hora tardia já não a incomodava. A ideia de fadiga estava longe de sua mente agora. Tudo o que ela podia ver eram aqueles lençóis recentemente manchados de sangue no quarto do casal Springs e a figura iminente na porta deles na filmagem da câmera de segurança.
Sabia que eles não tinham conseguido ver o rosto dele, mas ainda sentia que o bastardo sorria para ela, provocando-a, uma história que continuava a assombrá-la.
CAPÍTULO VINTE
Devin O'Leary vivia em uma casa bastante interessante de dois andares na parte menos badalada de Golden Beach. O bairro estava escuro e silencioso quando Mackenzie levou seu carro alugado para o endereço que Rodriguez tinha lhe enviado logo após deixar o navio de cruzeiro. Quando e Ellington foram para a calçada de O'Leary, ela leu outra informação que Rodriguez havia enviado-informação que o DP de Miami tinha rápida e eficientemente encontrado para ela.
O'Leary não tinha muita coisa em seu histórico. Alguns bilhetes de estacionamento que não foram pagos e uma confusão causada por embriaguez em seus tempos de faculdade. Fora isso, ele parecia estar com a ficha limpa.
Além do envolvimento em um clube de swing, Mackenzie pensou quando e Ellington subiram os degraus da varanda dele.
Ela bateu na porta com força e, em seguida, tocou a campainha algumas vezes. Ela podia ouvi o soar da campainha sendo silenciado através das paredes da casa. Ela esperou por dez segundos e depois começou novamente.
Lá de dentro, ela ouviu uma resposta compreensivelmente irritada. Quem está fazendo essa merda? Janelle, é você?
Isso lembra os rumores sobre o abandono de sua esposa, pensou Mackenzie.
Quando Devin O'Leary abriu a porta, ele passou por uma ampla gama de emoções em poucos segundos. Primeiro sentiu raiva, então, confusão, depois ficou em estado de alerta. Ele observou-os com os olhos claramente sonolentos, era incapaz de formar qualquer palavra.
-Você é Devin O'Leary? Perguntou Mackenzie.
-Sim. Quem são vocês?
-Agentes White e Ellington do FBI, ela disse. Eu peço desculpas pela hora, mas há uma questão extremamente urgente em que você pode ser capaz de nos ajudar.
Ou ele estava ainda parcialmente adormecido ou estava confuso, porque tudo o que conseguiu sair foram algumas gaguejadas incompreensíveis. Finalmente, ele pareceu ter acordado e perguntou: -Do que você está falando?
-Precisamos saber onde você estava mais cedo esta noite, especialmente entre oito e onze horas, disse Ellington.
-Eu estava aqui.
-Fazendo o quê? Mackenzie perguntou.
-Enchendo a cara, já que você quer saber, disse O'Leary.
-Você conhece alguém que possa provar isso?
-Não, mas eu tenho uma porrada de garrafas vazias em aqui. Olha... que porra é essa? A Janelle tem a ver com isso?
-Ela é a sua esposa, certo? Mackenzie perguntou. Ela o deixou?
Um olhar infeliz passou pelo rosto de O'Leary. Parecia que ele daria um soco em Mackenzie a qualquer momento.
-Sim, disse ele. E por que mandaram dois caras do FBI bater na minha porta às duas da manhã?
-Nós estamos aqui por algo muito diferente disso, disse Mackenzie. Sr. O'Leary, você conhece um casal de nome Jack e Vanessa Springs?
Os olhos de O'Leary vagaram um pouco e ele balançou a cabeça lentamente. Swing. É sério? É disso que se trata? Não poderia ter esperado até de manhã? Eu não sou idiota. Swing não é ilegal.
-Não, mas assassinato é, disse Mackenzie. O casal Springs foi encontrado morto em uma cama de um cruzeiro esta noite. Um navio de cruzeiro em que eu sei que você iria embarcar.
-Sim, disse ele, distraído, ainda aparentemente processando a notícia de que o casal Springs estava morto.
-Mas não deu muito certo.
-Há rumores por aí, disse Mackenzie.
-Sobre minha saúde.
Mackenzie apenas balançou a cabeça para confirmar. Ela poderia dizer que ele estava processando um monte de coisas naquele momento. Ele estava cansado, em estado de choque, e segundo ele, bêbado.
-Você conhecia bem os Springs? Mackenzie perguntou.
Ele balançou a cabeça. Eu não falarei sobre isso. Não agora. Eu não consigo. Eu bebi muito, eu tenho lidado com umas notícias de merda recentemente, e eu... droga. Eu não consigo--
E então algo inesperado aconteceu. Devin O'Leary começou a soluçar. Ele cobriu o rosto com as mãos e caiu de joelhos. Ele se encostou no batente da porta aberta e lamentou.
-Pode me levar, disse ele chorando. Leve-me. Eu não me importo. Eu só... Eu não aguento mais. Eu não consigo. Estou fudido. Mal...-
Mackenzie e Ellington trocaram um olhar por cima dele. Mackenzie deu a Ellington um aceno, um olhar que dizia: Você algema ele.
Ellington começou a fazer exatamente isso quando Mackenzie passou por O'Leary e entrou na casa dele. Ela ouviu Ellington atrás dela, tentando se aproximar do cenário com o máximo de profissionalismo e cuidado possível.
-Vamos, Sr. O'Leary, ele estava dizendo. Vamos levá-lo até a delegacia. Nós vamos lhe dar um pouco de café e resolver isso tudo.
Mackenzie, enquanto isso, entrou ainda mais na casa de O'Leary para ver se sua história era real. Na cozinha, ela descobriu que oito garrafas de cerveja vazias foram empilhadas em cima de uma lata de lixo que quase transbordava. Um copo estava na borda da pia. Ela sentiu o cheiro de uísque.
Ela se aventurou no quarto e encontrou um jeans e uma T-shirt enrolados ao pé da cama. Olhou nos bolsos da calça jeans e encontrou um punhado de moedas, juntamente com um recibo amassado. Isso provava que O'Leary estava dizendo a verdade.
Ele havia comprado uma caixa de cerveja em uma loja de conveniência local às 19:56 daquele dia. Para ele ter feito isso, ido para o navio, assassinado duas pessoas e, em seguida, voltado para casa e ficar tão bêbado... impossível.
Mas há definitivamente algo acontecendo com ele, ela pensou quando voltou de sua casa. Ela fechou a porta, pensando que o fato de que ele tinha conhecido o casal Springs era algo que valia a pena investigar.
Ela se juntou a Ellington no carro enquanto ele estava fechando a porta do passageiro. Tudo bem aí? Perguntou ele.
-Sim, disse ela. Ele não é o nosso cara, mas--
-Mas sim, disse Ellington. Alguma coisa está acontecendo com ele.
Eles se afastaram da calçada com O'Leary ainda chorando em silêncio no banco de trás. Quando eles voltaram para a delegacia, Mackenzie começou a olhar para fora na direção do mar. Ele estava em algum lugar, mas escondido pelos edifícios e pela noite. Mesmo as palmeiras pareciam ameaçadoras, como iminentes gigantes tentando bater nela enquanto levavam Devin O'Leary para a delegacia.
***
Talvez foi por causa do O'Leary chorando por todo o caminho de casa até a delegacia... ou talvez fosse o relógio biológico. Fosse o que fosse, Mackenzie descobriu que não podia mais lutar contra o cansaço. Ela sentiu a fadiga acelerando quando se sentou em frente a O'Leary na sala de interrogatório. Embora tivesse estado nesta sala há menos de sete horas depois de interrogar Samuel Netti, parecia um novo lugar.
-Na sua varanda, você disse que tinha feito algo ruim, disse Mackenzie. E então, você desmoronou. Eu sei que isto não é uma igreja e estou muito longe de ser uma pastora ou um padre, mas há algo que você quer nos dizer? Se você esconder isso, vamos achar de qualquer maneira. Você nos deu muitas razões para ficarmos desconfiados em sua varanda.
-Está bem, disse ele. Ele parecia muito triste, mas já não estava chorando. Sua explosão antes o esgotou. Ele parecia vazio e exaurido.
Ela poderia dizer que O'Leary era um homem derrotado. Ela supôs que ele já estava farto de tudo. Não podia imaginar como era receber a notícia de que você tem uma doença que pode ser fatal.
-Minha esposa e eu estávamos praticando o swing há anos. Eu nunca gostei de pornografia, então quando as coisas começaram a ficar frias no quarto, optamos pelo swing. Eu sei que isso parece estranho e estúpido, mas ajudou. Sei lá. Nunca me importei com a psicologia da coisa. Mas no ano passado, nós fizemos swing com este casal e... Eu não sei. A esposa do cara e eu, tipo, rolou um clima. Começamos a nos ver regularmente. Tivemos um caso... não era como no swing, sabe.
-E quem era esse outro casal? Perguntou Mackenzie, pensando se poderia ser um dos quatro casais mortos que ela tinha visto recentemente.
-Os Bryants, disse ele. Eu queria que... cara, eu só queria que as coisas pudessem ter sido diferentes. É tudo uma bagunça. Eu descobri há três meses que eu não era o único cara com quem ela saía.
E nisso, eu comecei a ficar doente. Eu peguei o diagnóstico há três semanas. Eu contei tudo para a minha esposa. Sobre o HIV. Sobre o caso. Tudo. Estou com tanto medo de ter passado isso para Janelle, sabe? Mas... merda. Eu com medo pra caralho, sabe? Assustado. Louco. Então, eu--
Ele começou a se perder e embora Mackenzie já soubesse onde ele queria chegar, sua tendência para tentar encontrar o melhor das pessoas não veio à tona. Mas as palavras que ele falou em seguida confirmaram tudo.
Entre soluços, ele continuou. Mackenzie estava sozinha na sala com ele, mas ela poderia muito bem sentir a tensão dentro da sala de observação com o Ellington e o Rodriguez ouvindo tudo.
-Eu dormi com duas outras mulheres depois do diagnóstico. Eu era... como um monstro. Eu queria espalhar essa doença. Parecia que eu estava fazendo justiça... parecia... com o mundo inteiro.
Meu Deus, pensou Mackenzie.
Ela sentiu-se tremendo de raiva e com algo que parecia tristeza.
Ela se levantou de sua cadeira e de repente era quase impossível olhar para Devin O'Leary. Ela fechou os punhos de suas mãos, apertando-os para suprimir o tremor. Ela engoliu respostas incisivas e acusações que seriam totalmente antiéticas. Estava cansada, estava chateada, e tudo parecia que estava se esvaindo.
Você vai ter um ataque de pânico se você não sair desta sala agora.
Sem dizer uma palavra para ele, Mackenzie saiu da sala de interrogatório tão rapidamente quanto pôde, sem deixar transparecer que estava incomodada. Ela pulou a sala de observação completamente e foi para o pequeno escritório em que estava trabalhando. Ela ficou ali na escuridão e respirou fundo várias vezes.
O que há de errado com as pessoas?
Não era a primeira vez que ela se perguntava isso. Ficou centrada sobre esse questionamento. Ela pensou no homem sentado na sala de interrogatório e se perguntou em que ponto de sua vida as coisas começaram a dar errado. Infância? Colegial? Faculdade?
Ela ouviu passos atrás dela. Ela se virou para ver o Ellington cautelosamente se aproximando dela. Ele olhou para ela com mais interesse do que ele já tinha mostrado antes. Isso a fez querer abraçá-lo, ficar nos braços dele em silêncio até que seu corpo caísse no sono.
-Mackenzie, disse ele, com sua voz suave. O que está acontecendo?
Ela apertou as mãos, não querendo que ele a visse tremer. É muito, disse ela. A mãe de Harrison morrendo, essa porra de caso... com o crápula no andar de cima. E nesse caso. Foi demais--
-Muito pra mim.
-Ela balançou a cabeça. Apenas me dê um segundo. Eu estarei de volta daqui a pouco. Eu precisava me afastar do O'Leary por alguns minutos ou perderia o controle.
-Você precisa de mais do que alguns minutos, disse Ellington. Eu sei que uma noite juntos não me faz um especialista em Mackenzie White, mas você precisa dormir. Ou, pelo menos, descansar.
-Você também não descansou, ela ressaltou.
-Eu tive uma boa noite de sono na noite anterior a viagem, disse ele. E você está assim há três dias. Volte para o hotel. Deite e feche os olhos. Você tem a minha palavra de que vou lhe acordar às oito.
Olhou para o relógio e viu que já eram 03:05.
-Nem pense nisso, disse ele. O'Leary é um monstro com certeza, mas ele não é o assassino. E ele não consegue nos levar ao assassino. Se queremos um dia produtivo amanhã, você precisa descansar.
Ela balançou a cabeça e disse, -Tudo bem. Mas me chama às sete, e não às oito.
-Durona, disse ele.
Ela caminhou em direção a porta e passou por ele. Ela queria beijá-lo, mas também não queria parecer uma donzela vulnerável em perigo que precisava de um homem, sempre que estava se sentindo tristinha.
-Precisamos dos nomes das mulheres com quem ele dormiu desde então, disse ela ao sair. Elas precisam saber.
-Rodriguez está fazendo isso agora, disse ele. Ele parou por um momento e, em seguida, escolhendo cada palavra cuidadosamente, acrescentou: -Você quer que eu vá com você? Você precisa de alguém com você lá?
A ideia era muito agradável, mas ela balançou a cabeça. Não, obrigada.
Ele concordou e observou-a saindo.
Não há nenhum problema em precisar de alguém, ela pensou quando passou pelos corredores e pelo lobby principal. Porque você faz isso? Por que você se recusa a procurar a ajuda de outras pessoas?
Por um momento, ela pensou na cama ensanguentada de seu pai, o seu lugar final de descanso antes de ser enterrado. Ela também pensou na sua mãe ausente que não tinha estado ao lado dela quando precisava.
E lá se vai a minha resposta fácil, ela pensou.
Ela saiu na quietude das primeiras horas da manhã. Não sabia se já havia se sentido tão perdida em sua vida-e isso tinha muito pouco a ver com o caso.
Ela entrou em seu carro e quando deu vida ao motor, olhou para a noite. O assassino estava lá fora, em algum lugar, ocupando essa mesma escuridão.
Em sua mente, viu cada cena do crime e como as mãos de um parceiro sempre estaria ligeiramente tocando o outro em poses arranjadas. Havia algo ali, mas não conseguia entender o que era. Isso permaneceu em sua mente enquanto ela se dirigia para o hotel, mas desapareceu quando o magnetismo do sono ficou mais forte com o passar de cada quarteirão.
CAPÍTULO VINTE E UM
Ela alegremente desabou na cama às 3:40. Ela chutou os sapatos e ficou só de calcinha e sutiã, ficou assim. Até mesmo o simples pensamento de ficar em um confortável traje de dormir era demais para se pensar. Teve apenas tempo suficiente para olhar o relógio na mesa de cabeceira antes de começar a dormir.
E, quase tão rapidamente, ela encontrou-se arrastada pela força da correnteza de um sonho.
Ela encontrou-se de pé no quarto de Josh e Julie Kurtz. A cama estava manchada de sangue-havia mais sangue do que tinha na cena real. Agora estava espalhado por todas as paredes e tapetes. O sangue também escorria do teto, formando novas poças no chão.
Seu pai estava ao lado dela. Havia um buraco na cabeça dele, onde a bala havia rasgado e dado fim à vida dele. Ele estava olhando para a cena com ela, como se fosse perfeitamente normal, como se ele também tivesse um distintivo do FBI no bolso e tivesse acompanhado este caso com ela desde o início.
-Muito sangue, disse ele. Algo muito ruim aconteceu aqui.
Sua voz era robótica e muito distante-como se alguém estivesse falando através dele a partir de um megafone a duas casas de distância.
Seu pai, em seguida, caminhou até a cama e se arrastou para cima dela. De uma forma bem-humorada, ele caiu nos lençóis manchados de sangue. Fica mais fácil para você assim? Perguntou ele. É por isso que você nunca vai escapar dessa memória sobre mim. Por que você está tão presa a isso?
Naquele momento, uma figura veio tropeçando de dentro do armário do quarto dos Kurtzes. Era Vanessa Springs, vestida com seu biquíni super revelador. Suas facadas estavam lá, mutilando o peito e o estômago dela. Ela se aproximou de Mackenzie andando de um jeito um pouco sensual e arrogante. Quando sorriu para Mackenzie, uma linha fina de sangue vazou sobre o seu lábio inferior. Ela colocou uma mão manchada de sangue no ombro de Mackenzie e a outra mão deslizou para dentro da parte superior de seu biquíni desfiado. Ela retirou um retângulo branco, manchado de sangue.
Mackenzie pegou aquilo e não estava surpresa com o que viu.
Era um cartão de visita. Barker antiguidades.
-Mackenzie, disse o pai de cima da cama. Ele estava pálido agora e sem vida, exatamente do jeito que ele estava quando o viu morto há muitos anos, quando era uma garota. Que diabos você está esperando?
Ele começou a rir e Vanessa Springs seguiu seu exemplo. O sangue saiu da boca dela, formando uma poça no chão e nos pés de Mackenzie.
Ela acordou dando um solavanco, seu coração estava batendo muito forte.
Por um momento de pânico, olhou para a cama, meio que esperando estar na cama sangrenta de Josh e Julie Kurtz. Mas estava no hotel, descansando como o Ellington tinha fortemente sugerido. Em seguida, ocorreu-lhe que seu telefone estava tocando. Ela simplesmente não tinha sido arrancada de seu sono pelo pesadelo, mas pelo toque do telefone.
Quando chegou até ele, viu no relógio sobre a mesa que eram 6:46.
-Olá? Ela disse, respondendo à chamada e tentando não parecer tão cansada quanto ela se sentia.
-Ei, Agente White, disse uma voz masculina melancólica. É o Lee.
Ouvir a voz de Harrison foi surreal. Ele a fez se perguntar se ela ainda estava sonhando.
Estranhamente, a primeira coisa que conseguiu dizer foi: -Eu te disse... me chame de Mackenzie. Nada dessa coisa de Agente White.
-Eu sei. Desculpe-me. Olha... Estou ligando para agradecer por você ter resolvido as coisas para mim quando recebi o telefonema sobre a minha mãe.
-Claro, disse ela. Tudo o que fiz foi fazer algumas ligações. Como você está?
-Tudo bem, eu acho. Estou na casa da minha irmã em Arlington. O funeral é
amanhã.
-Com todo o respeito, você não precisa me chamar às seis e quarenta e cinco da manhã para me agradecer, disse ela. O que está acontecendo, Lee?
-Bem, eu recebi um telefonema ontem à noite de um contato que eu estava usando por debaixo dos panos. Nada oficial... uma espécie de pau para toda obra. McGrath permitiu isso. Era um cara que eu estava usando para ver se eu conseguia quaisquer pistas sobre o caso do seu
pai.
Agora completamente desperta, Mackenzie se sentou na cama. E você não me contou?
-Não. Foram ordens do McGrath e, francamente, eu pensei que era uma boa ideia. Não há sentido em você ficar excessivamente obcecada com o caso quando você não está oficialmente nele.
Isso a irritou tremendamente, mas sabia que era o certo. Ainda assim, não evitou, sentiu-se largada na escuridão.
-Então, o que esse cara queria? Perguntou ela, dando o seu melhor para seguir em frente.
-Ele disse que acha que conseguiria uma pista sobre uma loja antiga chamada Barker Antiguidades. Está fechada há anos. E mesmo quando estava aberta e em funcionamento, aparentemente não ia bem.
-Onde era?
-Nova Iorque. Ele está fazendo algumas chamadas hoje para confirmar e ligará para mim. Olha... Eu nem disse isso para o McGrath ainda. Achei que deveria passar para você, em primeiro lugar. Eu estou lhe dizendo isso, mas por mais difícil que seja, por favor guarde isso por um dia ou mais. E se o McGrath lhe der a notícia, tente fingir que é uma novidade.
Já, a necessidade de se aprofundar nisso era esmagadora. Especialmente depois de sair do pesadelo que ela tinha acabado de ter.
Prioridades, disse a si mesma. Sua primeira preocupação é resolver este caso dos swingers.
-Sim, disse ela. Eu consigo.
-Ok. Como vão as coisas? Ouvi dizer que ele enviou o Ellington no meu lugar.
-Sim, ele fez isso. Tudo vai mais devagar do que eu gostaria, mas eu acho que nós estamos fazendo algum progresso. Quanto a você... deixe-me saber se eu posso fazer qualquer coisa por você quando eu voltar para a cidade. Lamento, novamente, sobre a sua mãe.
Eles terminaram a chamada e ela rolou para fora da cama. Ela tirou a roupa íntima e tomou um banho rápido. Estava colocando a última peça de roupa quando ouviu uma batida na porta. Ela verificou a hora e viu que eram 7:20.
Ele está atrasado, pensou com um sorriso. De propósito, eu tenho certeza, querendo me dar mais alguns minutos de sono. Se ele soubesse...
Abriu a porta e encontrou o Ellington esperando do outro lado. De alguma maneira ele se parecia muito acordado. Ele sorriu e ofereceu-lhe um dos dois cafés que ele tinha nas mãos.
-O café é essencial, disse ele. Ele simplesmente não pode esperar. Café da manhã... Achei que poderíamos sentar em algum lugar e tomar café juntos. Parece algo que você toparia fazer?
-Parece ótimo, disse ela.
Mas no fundo da sua cabeça e do seu coração, ela se perguntou o que o contato de Harrison havia encontrado e que tipo de links foram feitos com o seu cartão de visita de um negócio há muito tempo esquecido em Nova Iorque.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Ele acordou pouco depois de sete horas. Como de costume, ele reservou um tempo para si mesmo antes de sair da cama. Às vezes, ele simplesmente precisava orientar-se, para se certificar de que sabia onde ele estava e o que tinha potencialmente acontecido na noite anterior. Ele nunca bebia, isso confundia seus pensamentos e ações, então efeito da ressaca sobre o qual ele tinha ouvido falar não era um problema. Não, para ele o problema era outra coisa. Algo mental. Algo com o qual ele tinha vivido desde que era um menino.
Ele sentiu uma perna estendida sobre ele. Ele olhou para a direita e viu uma mulher loira, bastante jovem. Estava completamente nua, dormindo em cima das cobertas, seu corpo parcialmente agarrado ao dele. Era muito bonita e tinha manchas de delineador na parte lateral do seu rosto. Lentamente, os acontecimentos da noite passada vieram à tona. Ele ficou ao mesmo tempo satisfeito e triste com eles.
Ele a pegou em um bar-o tipo de lugar que vende cervejas de dois dólares duas vezes por semana e tem uma noite das mulheres, onde drinques aguados de bebidas frutadas são oferecidos. Ela foi uma conquista fácil em comparação com a maioria das outras mulheres. Se ele estava correto, ela disse algo sobre um namorado ter dado o fora nela há dois dias. Compreendendo sua necessidade de vingança, ele passou o resto da noite com ela, e ao final, foi para a casa dela.
Ele não tinha certeza se o sexo tinha sido bom ou não. Ele mal se lembrava. Além disso, da mesma maneira que estava usando ele para esquecer um ex, ele estava usando ela, também. Ele precisava de uma liberação sexual, se fosse terminar o seu trabalho.
Pensando no trabalho, ele gentilmente retirou a perna dela para longe de seu corpo e saiu da cama. Ele observou-a dormindo por um momento, certificando-se de que não acordaria. Ela parecia morta, com respirações profundas e alheia ao seu movimento.
Ele saiu do quarto e silenciosamente caminhou pelo pequeno corredor até encontrar o banheiro. Lá, ele limpou-se. Ele lavou o rosto, lavou-se da cintura para baixo para tirar os vestígios das atividades da noite passada, usou enxaguante bucal, e jogou água fria no rosto. Ele, então, retornou para o quarto, pegou suas roupas e saiu.
Ele deixou o apartamento sem ela soubesse que ele havia saído. Foi a segunda vez que ele fez tal coisa nas últimas duas semanas.
Ele tinha feito isso várias vezes desde que sua esposa o deixou. Ele sabia que não era a maneira típica de um recém solteiro de quarenta anos viver, mas era necessário.
Ele tinha se preparado para os assassinatos por cerca de três meses. E mesmo não havendo um real aliciamento sexual nos assassinatos, aquilo causou uma certa luxúria após o ocorrido. E ele tinha aprendido há muito tempo que qualquer forma de luxúria o deixava confuso- quase, violento.
E isso era estranho para ele, porque o próprio ato de matar o fazia se sentir estranhamente em paz. Ele não era ingênuo o suficiente para achar que havia um certo tipo de justiça naquilo. Nem achava que estava fazendo um favor ao mundo. Mas isso o fazia sentir como se tivesse feito algo correto.
Ele ainda estava ligeiramente vibrando com a energia criada por ter matado os Springs no cruzeiro. Tinha sido muito fácil. Vanessa tinha aberto a porta para ele, pensando que ele estava chegando para fazer o que Jack tinha chamado de aquecimento a três para a noite de eventos.
Ele matou ambos de um jeito fácil demais, Jack primeiro, porque ele era um grande filho da puta. O elemento surpresa foi eliminado quando ele pegou o Jack no banheiro. Foi uma dor de cabeça enorme colocá-lo de volta na cama para montar a cena.
Mas, em seguida, duas horas mais tarde, ele estava naquele bar. Bater papo com a loira parecia normal, me senti bem. Os assassinatos eram mentalmente registrados-era um exercício exaustivo que ele mantinha escondido no fundo de sua mente enquanto se aproxima mais e mais para conseguir dormir com a loira.
Quando chegou nos degraus da frente do conjunto de apartamentos, ele respirou o ar da manhã. Ele podia sentir o cheiro do mar e a exaustão do tráfego matutino.
Era um novo dia.
E foi um dia onde ele planejou totalmente o término do seu trabalho. Ele tinha mais um casal com quem ele precisava... se encontrar. O encontro já havia sido planejado, e com voracidade, ele não pôde deixar de ficar excitado com aquilo.
Ele tinha guardado o melhor para o final. Ele reservou um lugar especial em seu coração para este último casal. A visão da mulher, nua e por cima dele, tinha se fixado em sua mente por muito tempo. Esse tinha sido um dos poucos motivos que fizeram o seu casamento terminar.
Mas, primeiro, café. E então, talvez, ele iria para casa e para começar o trabalho.
Ele caminhou em direção ao ponto de ônibus mais próximo, seu carro ainda estava estacionado perto do bar da noite passada. O sol estava brilhando, o céu tinha um belíssimo azul, e a magia de Miami parecia esvoaçar e dançar ao redor dele.
Seria um grande dia.
Até o final do dia, este último casal estaria morto.
E, finalmente, ele estaria livre.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Mackenzie estava aparentemente com mais fome do que ela pensava. Depois de tomar duas xícaras de café, ela comeu dois ovos, dois pedaços de bacon, batatas fritas e uma tigela de mingau de aveia. Ellington, terminando a sua omelete recheada à moda do Sudoeste, não pôde deixar de rir.
-Como você mantém essa silhueta maravilhosa eu não faço ideia. Eu apareci tarde da noite há duas noites e você devorava uma pizza. E agora este café da manhã... Nossa.
-Uma garota tem que comer, disse ela.
-Você conseguiu descansar? Ele perguntou.
Ela encolheu os ombros. Foi o suficiente. E você? Você tem estado ligado por um bom tempo, também.
-Eu tirei um cochilo entre quatro e meia e seis e meia. Estarei bem até hoje à noite. E espero que até lá nós sejamos capazes de resolver isso. Alguma ideia?
Ela tinha algumas, mas estava hesitante porque todas pareciam frágeis. Algumas, disse ela. Eu quero investigar esta mulher que a Alexa mencionou... Tanya Rose. Se era parte do grupo em que a Alexa é responsável, talvez ela conheça pessoas do tipo imprevisível que que poderíamos observar. E você?
-Eu provavelmente vou debruçar sobre mais papeladas e arquivos na delegacia. Posso colocar alguns oficiais em busca dessa Tanya Rose para você, também. Quer se juntar a
mim?
-Não particularmente, disse ela.
-Você é o tipo de Agente que precisa sair para fazer as coisas e para se sentir produtiva, certo? Disse ele.
-Na maioria das vezes.
A mesa ficou em silêncio por um momento quando Mackenzie arrematou o seu café da manhã. Ellington sentou-se na beirada da cadeira, parecendo ansioso.
-Como vão as coisas com o caso em Nebraska? Perguntou. Com o seu pai e esta mais recente vítima?
-Do mesmo jeito, disse ela. Não sabia por que estava escondendo dele a nova revelação de Harrison. Por agora, aquilo parecia pessoal demais. Ela também não tinha certeza de porque não se sentia confortável com o Ellington falando sobre o caso de seu pai.
Porque não é da conta dele, ela pensou. Claro, ele só está tentando ser simpático. Ele realmente se preocupa com ela. Talvez ele cometeu o erro de pensar que porque estavam dormindo juntos, ele poderia fazer mais perguntas pessoais.
Era um pensamento doce, mas não estava pronta para ir mais a fundo com ele ainda. E não tinha nada a ver com ele. Não queria falar sobre o caso de seu pai com ninguém. Especialmente agora que havia uma potencial pista.
-Você está bem? Ele perguntou.
-Sim-, disse ela. E então, supondo que ele seria capaz de lidar com a verdade nua e crua, ela acrescentou: - o caso do meu pai não é algo que eu gostaria de falar a respeito.
-Eu entendo isso. Mas você tem que falar com alguém sobre isso, certo? Quero dizer, você tem que aquele detetive em Nebraska de olho em tudo, certo?
Ela honestamente não tinha pensado sobre Kirk Peterson por um bom tempo-não até o Harrison ter ligado esta manhã. Isso fez ela ter vontade de chamar o Peterson ali mesmo para obter mais detalhes. Mas, novamente, ela se distraiu com o quanto Ellington sabia sobre o caso de seu pai.
-Como você sabe tanto sobre o caso? Perguntou ela.
Ele encolheu os ombros, mas uma olhada desconfortável o atingiu. Ele sentiu que tinha pisado em território perigoso, mas poderia ser tarde demais para voltar atrás. Quando eu me interessei por você, eu me interessei pelo caso.
-Mas eu nunca falei com você sobre isso, disse ela.
-Eu sei. Mas eu queria... inferno, Mackenzie. Eu queria saber mais sobre você. E não foi por egoísmo. Você é uma grande Agente. Eu soube que você seria uma grande Agente desde a primeira vez que eu a vi; é por isso que eu recomendei que você tentasse ir para Quantico, em primeiro lugar. Além disso... você falou comigo sobre isso uma vez, rapidamente. Em Nebraska, quando fui enviado para lá para ajudar com o Assassino Espantalho. Lembra?
Ela honestamente não se lembrava de ter mencionado isso pra ele. Mas ela tinha ficado tão apaixonada e dominada pela presença dele quando retornou, que então, tudo era uma lembrança constrangedora. Ela tinha tentado colocar, com muita dificuldade, esse primeiro encontro com Ellington fora de sua mente. Tanto que aquilo era apenas uma lembrança confusa para ela agora.
-E você fez o quê? Perguntou ela, sabendo que havia um surto de raiva em sua voz, mas nem se importava. Achou que bisbilhotaria por aí e descobriria mais sobre mim e meu passado?
-Hum... não. Mas eu olhei o arquivo do caso apenas para me familiarizar com ele. Isso é tão ruim assim?
-Não, não é ruim. É que... isso é muito pessoal para mim.
Ele ergueu as mãos como uma falsa rendição e-por algum motivo, aquilo a ofendeu mais do que qualquer outra coisa. Tudo bem-, disse ele. Desculpe-me. Isso não vai acontecer de novo.
-Não é algo para ser tão irreverente a respeito, disse ela. Ela sentiu um tremor em sua voz, mas não tinha certeza se era o resultado da iminente raiva ou se era tristeza.
-Eu não estou sendo leviano, disse ele. Olha, sério, eu sinto muito. Eu não sabia que era algo tão importante. E eu--
-É claro que é importante, disse Mackenzie. Ela sentiu a raiva se erguendo nela como um enxame irritado de zangões e, com honestidade, não tinha nenhuma ideia real de onde aquilo estava vindo. Claro, sentiu-se um pouco traída, mas no fundo daquilo tudo, sabia que estava exagerando. Talvez ela estivesse muito cansada, ou talvez estivesse se sentindo envolvida demais neste caso.
-Jared, eu sei que você não fez por mal, mas por favor, cale a boca.
-Não conseguia se já tinha usado o primeiro nome dele antes. Parecia monumental de uma maneira estranha. Parecia íntimo.
-Cale a boca? Ele disse, claramente irritado.
-Sim. Só isso--
Ellington se levantou, nem mesmo olhando para ela. Vou pegar um táxi de volta para a delegacia e começar a trabalhar. Talvez passe por aqui e diga um -oi- quando você não estiver tão irracional.
Quase pediu para ele ficar, mas ela mordeu as palavras de volta, não querendo parecer muito desesperada. Ela o viu se afastar e olhou para sua caneca agora vazia, sem café.
Ótimo, ela pensou. Tudo o que eu preciso: um drama relacional no meio deste caso sem solução. Como eu cheguei neste ponto? Como isso foi acontecer?
A garçonete veio e encheu seu copo. Mackenzie tomou um gole devagar, olhando para o nada e fazendo o seu melhor analisar os nomes, eventos e cenas dos crimes em sua cabeça. Com a mente ainda querendo dormir mais, foi surpreendentemente fácil se concentrar em singulares pensamentos. Isso abrandou o seu ritmo normalmente frenético de raciocínio.
Com Samuel agora fora cena e com Gloria e o DCM, aparentemente, sendo um beco sem saída, o que resta? Para começar, fico enojada com Miami-saber que esses decadentes e pequenos clubes de sexo estão prosperando tanto. Como, em nome de Deus, eu vou encontrar uma única ligação entre todas as vítimas? Se estas coisas são tão isoladas, eles fazem isso no mar em cruzeiros, como eu posso ter certeza de alguma coisa?
Ela pensou sobre o cruzeiro, sobre ver um pedaço da filmagem. O assassino tinha entrado e, em seguida, deixado o quarto dos Springs. Tinha a certeza de que era a última coisa que eles precisam para resolver o caso. Mas não... aqui estava ela, mais perdida do que nunca.
Talvez a emoção de ver o assassino na tela deixou algumas pontas soltas, pensou. Há mais lá, detalhes sobre o cruzeiro e o evento dos swingers que estavam intocados.
Sabia que isso era o certo e se sentia irresponsável por deixar tantas coisas para trás. Derramou rapidamente a sua terceira xícara de café, abriu o aplicativo de anotações em seu telefone e puxou as informações que tinha registrado na noite passada, enquanto ela e Ellington saíram do navio de cruzeiro.
Ela anotou o número do telefone da Alexa por causa de uma promessa entusiasmada da Alexa para ajudar da maneira que pudesse. Assim como a Gloria no DCM, Alexa parecia genuinamente chocada e enojada com a ideia de que alguém com quem ela poderia ter se envolvido no âmbito profissional estava matando pessoas.
Mackenzie digitou o número e a chamada foi respondida depois de três toques.
-Olá? Disse Alexa, com sua voz áspera e cansada.
-Alexa, é Mackenzie White. Você tem um tempo para falar?
Ela esfregou suavemente o rosto no telefone. Apesar de ser mais de oito horas da manhã, ficou claro que Alexa ainda estava na cama. Fazia sentido, já que ela provavelmente acabou indo para a cama mais tarde do que Mackenzie na noite anterior.
-Sim. E aí?
-Eu espero fazer mais algumas perguntas para você sobre o evento que havia sido planejado para ontem à noite.
-Eu acho que eu poderia fazer isso, disse ela. Eu tenho certeza que o navio acabou sair esta manhã. Eu não sei quantas pessoas do evento ficaram.
-Tudo bem, disse Mackenzie. Eu tenho apenas algumas perguntas básicas para fazer.
-Ok. Você acha que poderia pedir café da manhã?
Mackenzie olhou para o prato e o copo vazios com um sorriso. Sim, eu posso fazer isso. Onde e quando você pode me encontrar?
-Preciso de uma hora, por favor, disse Alexa. Ela, então, falou para Mackenzie um lugar de encontro e as mulheres encerraram a chamada.
Quando Mackenzie foi para o carro, menos de dez minutos haviam se passado desde que o Ellington a tinha deixado. Ela pensou em chamá-lo para que ele soubesse onde estava indo. Mas se ele fosse como ela, ele provavelmente precisava de algum tempo para esfriar.
Se alguma coisa surgir desta reunião com Alexa, eu vou chamá-lo de imediato.
Ela ligou a carro e pegou o tráfego da manhã. Estava cansada, estava perdendo em termos do caso, e se ela tomasse mais café ficaria raivosa. Se não encontrasse alguma grande revelação entre agora e o início da tarde, ela teria que descansar um pouco-mais do que apenas um punhado de horas, desta vez.
Enquanto dirigia, uma bela manhã em Miami estava se revelando diante dela. Ela mal notou isso. Sua mente estava enrolada em torno deste caso com tanta força que até mesmo as recentes notícias sobre o caso de seu pai foram momentaneamente reduzidas. Ela dirigiu-se para o seu encontro com o Alexa, sentindo o lindo sol à beira-mar através do para-brisa, mas mal aproveitava a situação.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
Ela se viu quarenta minutos depois em outro restaurante de comida gordurosa. Ela optou pela água em vez do café e, ficou surpresa ao descobrir que ainda estava um pouco com fome, pediu uma fruta e um parfait de iogurte, esperando que os açúcares naturais da fruta dessem para ela um pouco de um impulso energético.
Alexa não se preparou muito antes de sair. Ela usava uma calça de jogging justa e uma blusa de mangas compridas. Seu cabelo estava preso com um rabo de cavalo bagunçado e não usava maquiagem. Ela ainda assim estava muito bonita e Mackenzie achou estranho que uma mulher com a aparência dele estivesse envolvida em algo como um clube do submundo do sexo e do swing.
-Eu sei o que você pensa sobre mim, disse Alexa, como se estivesse lendo a mente de Mackenzie.
-O que quer dizer?
-Eu lido com isso o tempo todo, disse Alexa. Especialmente com alguns dos meus amigos mais próximos que sabem o que faço. Tenho trinta e quatro anos e tenho um corpo que uma garota de vinte e um anos de idade adoraria ter. Eu não digo isso por vaidade-Eu suei pra caramba para ter este corpo. Mas o consenso geral é que porque eu sou uma mulher se aproximando dos quarenta, eu deveria estar pensando sobre arranjar um marido e dar à luz à uma criança.
Não era bem o que Mackenzie tinha pensado, mas quase. Ela só balançou a cabeça em resposta.
Alexa balançou os ombros. Eu não tenho quaisquer razões para isso. Honestamente, eu não sou mesmo uma daquelas mulheres que tem de ter relações sexuais. Eu já vi mulheres assim antes e sei que algumas delas estão perdidas.
Algumas sentem que precisam daquilo por causa de algum abuso sofrido no passado-elas acham que só servem para isso. Eu também vi mulheres entrando nesses clubes, porque elas querem muito agradar seus maridos. Mas eu... eu não sei. Eu gosto da energia. E com certeza... quando estou com disposição para isso, é legal. Faz você se sentir querida...desejada.
-Com todo o respeito, Mackenzie disse, -eu não a chamei para você se justificar sobre sua necessidade de estar em um clube como este.
-Ah, eu sei. É que depois da noite passada, eu acho que entendi melhor o estigma sobre esse tipo de coisa. Se você não conhecer realmente as pessoas com quem está se envolvendo, essas coisas podem ser muito perigosas. Há um nível de confiança exigido, eu acho que está faltando isso nesses eventos, na maioria das vezes.
-Falando sobre nível de confiança, disse ela, gostaria de saber mais sobre o casal Springs. Foi esta a primeira vez que você os viu?
-Não. Há alguns frequentadores que surgem na maioria desses eventos, e eles eram um desses casais.
-E os Kurtzes, Carlsons e Sterlings? Esses sobrenomes são familiares?
Lentamente, quase como se fosse movida por uma mola enferrujada, Alexa balançou a cabeça afirmando que sim. A descoberta amanheceu em seus olhos quando começou a entender o que isso poderia significar.
-Como você os conheceu? Perguntou Mackenzie, sentindo que uma enorme conexão poderia estar ao seu alcance.
-O Sterlings foram a dois dos eventos que eu fiz, disse ela. Os Kurtzes foram a um. Quanto aos Carlsons, eu acredito que eles se inscreveram para um, mas não apareceram. Mas se eles se inscreveram para um dos meus eventos, eu posso praticamente garantir que eles estavam envolvidos em outros eventos de swing ou clubes de sexo.
Mais do que você sabe, pensou Mackenzie.
Aparentemente, estava muito cansada para fingir. O rosto de Alexa estava um pouco pálido e seus olhos se estreitaram de preocupação. Eles estão... todos eles foram mortos?
-Foram, disse Mackenzie. E até agora, você é o único recurso que eu tenho que se conecta a cada uma das vítimas. Então, por favor... pense muito sobre o que eu lhe perguntar. Você pode apontar qualquer casal que esteve envolvido com todos os quatro casais?
Alexa olhou fixamente para o seu café da manhã, parcialmente comido. O choque e a surpresa ainda estavam em seu rosto, mas ela balançou a cabeça. Consigo pensar em dois imediatamente. Mas um deles se mudou cerca de sete ou oito meses atrás. Atlanta, eu acho. Mas o outro... sim, eu os conheço muito bem. Eles se divorciaram há pouco tempo.
O swing, aparentemente, não funciona tão bem como alguns parecem pensar, pensou Mackenzie. Parece haver um monte de divórcios...
-Preciso de um nome, disse Mackenzie.
-Os Fallens, disse ela. Mark e Ellie. Eu não sei se eles estavam envolvidos com todos os quatro casais, mas eu sei com certeza, que eles podem ser conectados ao casal Springs e aos
Carlsons.
-Você tem alguma ideia do motivo de divórcio dos Fallens? Perguntou Mackenzie.
-Não, com certeza, não. Há rumores de que Ellie conheceu outro cara e preferiu ficar com ele do que com o seu marido.
-Você sabe se esse outro cara que ela conheceu fazia parte de algum clube?
-Não faço ideia. Mas se me lembro bem, os Fallens eram bons amigos do casal Springs. Tenho certeza que eles foram para alguns outros eventos e clubes juntos. Eles eram tipo... bem, eles eram um tipo de complemento. Todos os quatro.
-Marke e Ellie Fallen, disse Mackenzie, memorizando a informação.
-Sim.
-E o que você pode me dizer sobre a Tanya Rose? Se ela costumava dirigir este pequeno clube, você acha que ela saberia mais do que você sobre alguns dos membros?
-Eu não sei, disse Alexa. Provavelmente não. Correndo o risco de soar dramática, era uma vaca. Duvido que ela se lembre dos nomes de qualquer um dos membros. Depois que ela e seu marido se divorciaram, ela se mudou para a Califórnia ou ficou com a cara com quem estava dormindo.
-E o marido? Você conhece ele?
-Não muito bem. Eu encontrei com ele algumas vezes. Parecia um cara legal. Sempre junto com ela.
-Eu suponho que você não tem o contato deles, não é?
-Eu tenho um e-mail para a Tanya, mas a última vez que mandei algo para ela voltou para mim como não entregue. Eu acho que ela encerrou a conta. Ela realmente queria se distanciar do mundo do swing, sabe?
Mackenzie deslizou para fora do assento e ficou de pé. Eu odeio ter que deixar você sozinha para terminar o seu café da manhã, Mackenzie disse, -mas eu preciso ir.
-Claro. E boa sorte. Por favor, fale para mim se há alguma coisa que eu possa fazer para lhe ajudar.
-Eu farei isso. Obrigada mais uma vez.
Mackenzie pagou pela sua refeição minúscula e, em seguida, caminhou rapidamente para fora do restaurante. Antes que ela fosse para o carro, tirou seu telefone celular novamente. Desta vez, ela ligou para Gloria, do DCM.
-Alô? Disse Gloria. Ela parecia nervosa, como se estivesse esperando uma chamada desde que Mackenzie e Harrison tinham falado com ela para dar a má notícia.
-Gloria, é Mackenzie White. Ouça... Eu tenho outro nome de casal envolvido no swing. Eu sei que você veementemente não queria entregar uma lista com o nome de cada membro, mas eu preciso ver se esse nome está na sua lista de membros. E correndo o risco de soar como ameaça, você precisará cumprir ordens. Se você não fizer isso, as coisas ficarão muito difíceis para você. Eu odeio fazer isso, mas a situação exige essa postura.
Gloria nem sequer hesitou, embora parecesse irritada quando respondeu. Qual é o nome?
-Mark e Ellie Fallen.
-Sim, eu conheço esse nome. Eu acho que eles não estão na ativa por um bom tempo. Posso verificar meus registros para confirmar isso.
-Não há necessidade, Mackenzie disse, assumindo que Gloria não sabia que os Fallens tinham se divorciado. Você conhece qualquer casal com quem os Fallens poderiam ter se envolvido?
-Bem, eles eram muito próximos do casal Springs, disse Gloria. E eu acho que, pelo menos, falaram com os Kurtzes, embora eu não nunca tenha os visto juntos. Se eles fizeram isso, foi por conta própria.
-Obrigado, disse Mackenzie.
Ela ouviu a Gloria começar a dizer alguma coisa, mas Mackenzie desligou a chamada. Ela entrou no carro e puxou mais um número. Quase pressionou o nome de Ellington, mas não estava pronta para isso ainda. Além disso, não queria usá-lo como um garoto de recados. Em vez disso, ela chamou o Oficial Dagney.
Dagney respondeu no segundo toque. Ela parecia muito entusiasmada e alegre para o gosto de Mackenzie. Agente White, disse ela. O que posso fazer por você?
-Eu preciso do endereço e do contato de Mark e Ellie Fallen. Quanto mais cedo, melhor.
-Eu vou enviar uma mensagem para você dentro de cinco minutos.
Mais uma vez, Mackenzie voltou para a estrada. Não ter o Ellington no banco do passageiro era aliviante, por um tempo. Assim não tinha que fingir estar vigorosamente energizada. Estava cansada demais e sem ninguém por perto, ela poderia demonstrar isso.
Seu celular apitou dois minutos mais tarde, com um texto que chegou. Era Dagney, trabalhando rapidamente, como de costume. Mackenzie inseriu o endereço dos Fallens em seu GPS e, em seguida, ligou para o número de Mark Fallen.
Eram quase dez horas da manhã e o dia já parecia terrivelmente longo. Mas com uma pista sólida que ligava cada um dos casais assassinados, Mackenzie começou a sentir um faniquito do progresso enquanto o seu corpo lutava contra a lentidão e encontrava o seu segundo fôlego.
CAPÍTULO VINTE E CINCO
Durante os próximos dois minutos, Mackenzie falou com tanto com Mark quanto com Ellie Fallen, enquanto viaja para o endereço que Dagney tinha enviado para ela. Embora nenhum deles parecesse muito ansioso para falar com ela, Mackenzie foi capaz de montar um quebra-cabeça dos últimos meses de vida dos Fallens.
Ela falou com Ellie primeiro. Estava no trabalho e, como resultado, parecia apressada. Mesmo depois que Mackenzie havia se identificado como funcionária do FBI, Ellie Fallen (ainda não tendo organizado a papelada para mudar o seu sobrenome) foi resistente.
-Eu estou no trabalho e realmente não tenho tempo para isso, ela soltou.
-Eu entendo, disse Mackenzie. Mas o que será mais fácil? Responder a algumas perguntas no telefone ou me receber no seu trabalho para eu aborrecê-la aí?
-Isso seria rude e impossível, disse Ellie. Eu me mudei para Jacksonville após o divórcio-, disse ela. Você disse que está em missão em Miami... e isso levaria tempo pra caramba de carro.
-Senhora Fallen, o tempo que você gastou comigo reclamando, poderia ter sido usado para responder às minhas perguntas.
-Jesus. Está bem. O que você quer?
-Eu quero saber sobre o seu relacionamento com Jack e Vanessa Springs. Eu também gostaria de saber sobre o seu histórico de participação em todos os eventos de swing que você e seu ex-marido foram, mas apenas os organizados por uma mulher chamada Alexa.
-Você está brincando comigo, disse Ellie.
-Não, eu não estou. Receio que alguém com quem você e seu ex-marido possam ter se envolvido esteja matando casais da comunidade de swing.
-Bem, você terá que falar com Mark sobre isso, disse Ellie. Isso não faz parte da minha vida mais.
-Sim, mas--
Com isso, Ellie Fallen desligou. Agora a meio caminho para a residência de Fallen, Mackenzie ligou para o Mark Fallen. Ele respondeu imediatamente e parecia bastante feliz. Ao fundo, Mackenzie podia ouvir uma música suave.
-Alô?
-Sr. Fallen? Sou Mackenzie White, uma Agente do FBI.
-FBI?
-Isso mesmo.
Ela esperou um segundo e a música de fundo parou. Desculpe-me, um segundo... bem, então... FBI? Ele perguntou de novo. Hum, o que posso fazer por você?
-Sr. Fallen, por acaso você está em casa?
-Estou. Eu trabalho em casa.
-Que bom. Eu preciso falar com você sobre uma investigação. Eu estarei aí em quinze minutos.
***
Mark Fallen estava claramente vivendo a vida de um homem recém-divorciado. A casa não era necessariamente uma bagunça, mas certamente não tinha sido devidamente limpa há algum tempo. Havia latas de refrigerante vazias e papéis espalhados ao longo de toda a mesa de café na sala de estar.
Mark tentou levar Mackenzie rapidamente através da bagunça para o seu escritório. Seu escritório não estava em uma condição muito melhor do que a sala de estar, mas pelo menos tinha algum toque de profissionalismo. Por causa dos cartazes e da arte nas paredes, ela supôs que ele era algum tipo de designer gráfico.
-Sr. Fallen, isso não deve demorar muito, disse Mackenzie, sentando-se em uma cadeira no lado oposto de sua mesa de escritório. E eu certamente espero que você me ajude mais do que a sua esposa ao telefone.
-Bem, eu posso quase garantir isso, ele disse. Vejo que ela decidiu se transformar em uma cadela monstruosa e cheia de fúria. O que está acontecendo?
-Bem, uma série de assassinatos levou o FBI à uma busca do que poderiam ser considerados clubes do submundo. Clubes de swing e coisas assim.
-Não diga mais nada, disse Mark. Culpado, pelo visto. Ellie e eu experimentamos isso para ver se poderíamos acender uma faísca no nosso casamento morto. Funcionou por um tempo, mas... de qualquer maneira, deixa pra lá. O que posso fazer para ajudá-la?
-Bem, você e sua esposa parecem ter tido algum tipo de envolvimento com todos os assassinados até agora. Falamos com três diferentes locais que se dedicam ao swing e, até agora, esta é a única coisa concreta que temos.
-Ah meu Deus, disse Mark. Posso... perguntar quais casais?
Ela disse a ele os nomes dos quatro casais e ele parecia legitimamente chocado.
-E... são recentes?
***
-Tudo nos últimos oito dias, disse Mackenzie.
-Jack e Vanessa? Ele perguntou, claramente à beira das lágrimas. Você tem certeza?
-Sim.
-Meu Deus. Você... você disse isso para a Ellie quando você falou com ela?
-Não. Ela, realmente, não me deu essa chance. Agora, Sr. Fallen... não podemos considerar você e sua ex-esposa como suspeitos ainda-nem quero-mas eu não posso ignorar o fato de que vocês estão conectados com todos eles. Então, eu preciso que você relembre de todas as interações que teve com estes casais. Você pode pensar em qualquer outra conexão? Qualquer outra forma de conectá-los?
Mark Fallen reclinou sombriamente em sua cadeira. Seus olhos rolavam de lado a lado enquanto ele pensava sobre isso. Lentamente, ele se sentou e começou a morder habitualmente o lábio inferior.
-Eu não sei se seria importante ou não, disse ele. Mas a primeira vez em que Ellie e eu estávamos com os Springs, nós também nos reunimos com os Sterlings por acaso. Foi no DCM. Eles estavam rindo desse cara que tinha tentado entrar no grupo. É uma coisa que casais, sabe? Na maioria das vezes, há indivíduos relacionados com clubes de trocas de casal só porque alguns casais gostam de ter mais uma pessoa na brincadeira... sabe?
Enfim... eles estavam dizendo que esse cara, depois de ter levado um fora, ficou todo choroso e deprimido. E isso fez Ellie e eu nos lembrarmos do mesmo tipo de coisa, alguns meses antes, em outro evento.
-Havia uma conexão entre eles? Perguntou Mackenzie.
-Nunca descobrimos, disse Mark. Mas uma descrição do cara parecia bater com a pessoa sobre a qual os Sterlings estavam falando.
-Você fazia parte de um clube quando conheceu os Sterlings e falou sobre este homem?
-Sim, do DCM. Nossa primeira vez lá.
-Por quanto tempo vocês ficaram no DCM?
-Não muito, respondeu Mark. Depois de tentarmos o swing através dos eventos da Alexa algumas vezes, nós meio que decidimos que aquilo não era para nós. O DCM foi o nosso último lugar frequentado. Mesmo quando fizemos amizade com os Springs, isso nunca deu certo. Foi emocionante e tal, mas... não é realmente para nós.
-Você disse que o homem que os Sterlings mencionaram lembrava o homem de um outro evento. Que evento foi esse?
-Houve uma história muito estranha de um evento em um hotel há dois anos. Ellie e eu estávamos no evento com o casal Springs. Não é um dos meus melhores momentos mais, mas... as coisas ficaram fora de controle. Havia quatro de nós... quatro casais ao mesmo tempo. Os Kurtzes eram um deles. Então, havia o casal Springs, os Kurtzes, em seguida, Ellie e eu. E, então, o quarto casal.
As coisas estavam apenas começando a esquentar... ele ficou doido, sabe. Começou a surtar. Eu não estou tentando ser engraçado, mas ele não conseguia ter uma ereção. Ele ficou absolutamente irado. E mesmo com raiva, ele ainda continuava tentando fazer parte, sabe? Mas nem mesmo a sua esposa queria ele perto dela. Ele acabou sendo excluído.
-Como? Ela perguntou. Seguranças?
-Não, não havia muita segurança nesse tipo de coisa. Não... Jack lhe deu um soco e depois outro cara puxou-o para fora. Lembro-me ainda que Ellie tentou parar a briga. Quando Jack socou o cara, ela tentou ajudar ele. Ela foi a única que tentou ajudá-lo.
-Você se lembra do nome do outro cara?
-Não.
-Você se lembra de qualquer outra pessoa que estava no evento?
-Eu reconheço os rostos, eu acho. Mas não me lembro dos nomes.
-Ok... verificamos que você conhecia o casal Springs, os Sterlings e os Kurtzes. Você já se encontrou com os Carlsons?
-Se eu os encontrei, não me recordo.
Mackenzie pegou o telefone, abriu um PDF do caso, e abriu uma imagem .jpeg dos Carlsons. Era da página do Facebook de Toni Carlson. Ela mostrou para o Mark e viu como reconhecimento floresceu em seu rosto.
-Sim. Esse é um dos caras que expulsaram ele.
E agora todos os pontos se conectam, Mackenzie pensou. Esse cara estava no mesmo grupo com os Kurtzes e o casal Springs com certeza. Então Stephen Carlson o expulsou do prédio depois que ele ficou com raiva. E ele é provavelmente o mesmo cara demente que os Sterlings estavam falando a respeito quando os Fallens os conheceram. Ele está conectado a todos os casais mortos.
Então, por que não Mark e Ellie Fallen? Perguntou-se.
Mark apenas disse que Ellie foi a única que tentou ajudá-lo. Talvez ele viu isso como um ato de bondade e deixou o casal fora da lista de matança.
-Tem certeza de que não se lembra do nome do homem? Perguntou Mackenzie.
-Tenho. Eu sinto muito. Eu estava prestes a dizer que acho que Alexa pode conhecê-lo, mas isso foi logo depois que ela assumiu a diretoria. Estava no evento, mas eu não acho que viu nada disso.
-E outros casais com os quais ele poderia ter se envolvido?
Mark encolheu os ombros. Eu não sei mesmo. Mas eu tenho certeza que ele e a esposa saíram com esse casal algumas vezes-os Vaughans.
-Você tem certeza disso?
-Sim.
-Foi através da Alexa ou do DCM?
-DCM, eu acho. Esse cara nunca mais apareceu para os eventos da Alexa.
Mackenzie começou a ligar os pontos em sua cabeça. Ela agora tinha uma pista potencial sobre o assassino (supondo que Alexa tinha um nome), bem como outro casal que poderia estar correndo um sério risco. Parecia uma equação muito perigosa, mas pelo menos estava chegando a algum lugar agora.
-Muito obrigada pelo seu tempo, disse ela, de pé e movendo-se imediatamente para a porta.
-Isso é terrível, disse Mark, seguindo lentamente atrás dela. Você acha que os Vaughans estão em apuros?
Quase certamente, ela pensou.
Mas o que ela disse foi: -Eu não sei. Mas se estão, eu acho que a sua disponibilidade para responder às minhas perguntas pode mantê-los seguros.
Ela deixou a casa dele com a sensação de que poderia ter mentido para ele, mas estava mais determinada do que nunca, justamente por ter dito a verdade.
Andando de volta para o seu carro, ela chamou Alexa mais uma vez. Desta vez, Alexa respondeu ao primeiro toque e não parecia cansada.
-Ei, Agente White. Novidades?
-Talvez-disse ela. Acabei de falar com Mark Fallen. Ele me contou sobre um evento que você realizou em um hotel há dois anos. Houve algum tipo de briga e--
-Sim, eu me lembro. Esse foi o meu primeiro evento oficial. Se você quiser chamá-lo assim. Eu acho que Jack Springs perdeu a paciência e bateu em alguém.
-Mark contou isso de um jeito um pouco diferente. Ele disse que esse cara ficou realmente louco. Ele estava tendo problemas sexuais e ficou muito chateado. Começou a assustar as pessoas. Você se lembra do nome desse cara?
Alexa ficou quieta por um momento, aparentemente percebendo o que isso poderia significar. Ela, então, deu a Mackenzie um nome e, quando o fez, até mesmo seu tom de voz indicava que elas tinham provavelmente se deparado com a identidade do assassino.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
Byron Decker observou o casal de trás do volante de sua picape pequena. Ele estava os observando por um tempo. Três meses, na verdade.
Droga, ele pensou. Três meses já?
Este casal era o último. Este seria o fim de seu trabalho. Finalmente, ele seria capaz de viver sua vida livre do ridículo e da dor que o assombravam nos últimos dois anos.
Ele tinha observado eles por três meses, mas Decker ainda não sabia com certeza qual era o trabalho deles. Sempre que o homem saía de casa, vestia um bom terno completo com gravata, ou short de malha e uma camiseta, para as corridas matutinas e vespertinas (dependendo do dia da semana). E quando a mulher saía de casa ela, normalmente, vestia uma roupa casual.
Nenhum deles saía com regularidade, fazendo Decker pensar que ambos trabalhavam em casa ou o homem fazia serviços bancários ou algum tipo de comércio esquisito-algo que o fazia se vestir bem de vez em quando, mas também lhe dava a liberdade de ir e vir quando quisesse, quando fosse conveniente.
Este casal foi complicado de analisar. Os outros casais tinham pelo menos alguma regularidade em seus horários. Depois de algumas semanas, ele era capaz de atacar com confiança. Mas este casal... eles eram como moscas. Zumbindo por aí sempre que quisessem. No mês passado, eles ficaram fora durante nove dias seguidos, aparentemente era algum tipo de férias, as malas que levaram eram uma indicação disso.
Ambos saíram juntos hoje cedo. Eles saíram em um carro caro e, em seguida, voltaram para casa três horas depois. Agora, pouco antes do meio-dia, eles estavam vagando pelo jardim, aparando as plantas. Era uma tarefa bem doméstica, -exibicionista e bonita, tudo ao mesmo tempo. O marido estava carregando sacos de adubo, enquanto a mulher estava tirando as ervas daninhas dos grandes canteiros de flores. Estava vestida de tal forma que o fez pensar que ela quer não tinha ideia de como se vestir para trabalhar no quintal ou simplesmente não se importava em ver suas roupinhas justas sujas.
Ele os tinha visto antes, é claro. Ele os tinha visto nus, bem vulneráveis. E vê-los agora, perfeitamente felizes e aparando o estúpido gramado, o enfureceu.
Eu poderia matá-los agora, ele pensou. Eu poderia andar por lá como qualquer pedestre ou andarilho. E finalizaria tudo.
Por mais tentador que fosse, ele sabia que tinha que manter a calma. Ele estava esperando pelo fim disso por quase dois anos-primeiro criando coragem e, em seguida, passando esta última semana na busca de cada um dos casais para matá-los. Arruinar tudo agora significaria tornar inútil todo o esforço anterior... não faz sentido.
Além disso... esta era a última casa, o último casal. Ele estacionou a duas quadras, observando-os. Nos últimos meses, ele dividiu o seu tempo entre as cinco diferentes casas, observando o vai e vem dos casais. Aprendeu sobre os seus horários e, em alguns casos, até sabia onde a chave reserva estava escondida.
No final, ele contava com a bondade humana para entrar. Ele bateu nas portas em que não foi capaz de pegar as chaves. Todos reconheceram o seu rosto. Os Kurtzes e os Carlsons quase bateram à porta na cara dele.
Mas seus apelos para simplesmente poder falar, poder ser ouvido, conseguiu convencê-los. Ele se desculpou, falsamente, por seu comportamento há dois anos no hotel. O único obstáculo no plano tinha sido o casal Springs.
Ele quase não foi capaz de estar a bordo no navio e acabou gastando dois mil dólares para conseguir um bilhete-que foram reembolsados quando fingiu estar doente e afirmou não ser capaz de fazer a viagem.
Ele imaginou que poderia acabar tendo problemas-um sinal de alerta infalível para os policiais em um futuro muito próximo. Mas até lá, ele planejava estar no México. Um antigo amor dele vivia em Juarez e tinha uma casinha legal onde ele poderia ficar bêbado todos os dias com cerveja mexicana.
Mas, primeiro, este casal. Os Vaughans.
Ele agiria esta noite. Já que eram o último casal, ele não teria que ser tão cuidadoso. Claro, ele posicionaria eles assim como os outros. Mas se ele fosse um pouco mais desorganizado do que o habitual, tudo bem. No momento em que ele os matasse, ele iria embora. No momento em que a polícia descobrisse o que tinha acontecido, ele estaria cruzando a fronteira.
Isso fez ele querer agir imediatamente. Com os outros, ele esperou até que tivesse certeza de que estavam quase na cama. Ou, no caso dos Sterlings, um pouco depois de saber que tinham apagado as luzes e ido para a cama.
Mas com os Vaughans, ele não tinha certeza se poderia esperar até lá. O bairro era tranquilo. Se ele agisse rapidamente, ninguém sequer o veria. Ele sumiria no interior do bairro. Não havia nada de suspeito sobre ele, nem nada sobre sua aparência que se destacasse.
Faça isso, ele pensou. Basta fazer isso agora e pronto.
Deus, foi tentador.
Mas ele tinha que pelo menos esperar até que estivessem lá dentro. Ele não podia matá-los como desejava no pátio, em plena luz do dia.
Tudo bem, pensou ele. Esperei quase dois anos. Até perdi uma esposa por esta pequena cruzada. Posso aguardar mais algumas horas.
Então foi o que ele fez.
Byron Decker sentou-se na sua pickup, apertando o volante em suas mãos, aguardando o momento certo para atacar e acabar com a farra de matança.
CAPÍTULO VINTE E SETE
Mackenzie mal conseguia se lembrar de que estava esgotada no início da manhã. O Ellington fazendo a sábia sugestão de que ela deveria descansar um pouco, tarde da noite, era uma memória distante. Porque, quando voltou para a delegacia e chamou o Ellington, ela se sentiu subitamente ligada. Sentia que este caso estava chegando ao fim. Mais do que isso, ela sentia o tempo empurrando ela como uma maré, enquanto ela fazia tudo o que podia para garantir que um quinto casal não fosse morto.
A voz de Ellington soou em seu ouvido quando atendeu o telefone. Ei, ele disse. Sua voz não era nem fria nem alegre. Ele claramente ainda estava chateado, mas superava aquilo.
-Falei com Alexa novamente esta manhã, disse ela. Ela me contou sobre outro casal que estava ligado a todos os casais assassinados. Acabei de falar com o marido e ele me contou sobre esse cara... Um homem muito irritado que também estava ligado a todos os casais mortos. Um cara que foi ridicularizado e talvez até mesmo humilhado. E ainda por cima ele é o ex-marido da mulher que dirigia o clube de swing antes de Alexa.
Houve uma longa pausa.
-Você tem o nome desse cara?
-Byron Decker. Eu também tenho o nome de um quinto casal que está diretamente relacionado com esse cara e seus problemas. Alguém precisa encontrá-los para que fiquem em estado de alerta. Eu não tenho os primeiros nomes.
-Um segundo, disse ele. Rodriguez está aqui perto. Eu estou colocando você no viva-voz. Então parece que precisamos ter o endereço deste Byron Decker e, em seguida, procurar o casal.
Você tem um sobrenome?
-Vaughan. Eu acho que nós podemos percorrer as listas de membros do DCM, Tidal Hills e a lista de Alexa. Não deve demorar muito.
-Parece bom, disse Ellington. Você voltará aqui enquanto nos movimentamos?
-Sim. Estou cerca de meia hora de distância.
Ela terminou a chamada, descobrindo que estava muito feliz em estar rapidamente de volta na companhia do Ellington. Era mais do que apenas uma parceria e tê-lo como carona para dar um fim ao caso. Sabia que trabalhava melhor com ele.
Sabia que sua lógica parecia mais nítida agora e estava sempre tentando fazer o seu melhor. Não que não se sentisse fazendo o seu melhor sozinha; era apenas melhor fazer seu melhor com o Ellington.
Ela se entrou na interestadual e aumentou a sua velocidade para noventa. A emoção da caçada a empurrava adiante. O céu azul brilhante de Miami de repente parecia vibrante e cheio de promessas. E mesmo não podendo ouvir o mar de onde estava, ela podia senti-lo à distância, amplo e sem fim, e as ondas quebrando ao longo da costa como uma inspiração.
***
Houve uma agitação de excitação na delegacia, quando Mackenzie correu lá para dentro. Rodriguez, Dagney e Nestler estavam se preparando e revendo os detalhes das próximas horas. Ela admirava a maneira como eles trabalhavam- a uma máquina bem azeitada, certificando-se de que cada engrenagem estava em seu devido lugar. Ellington estava com eles e quando ele pôs os olhos em Mackenzie, deu-lhe um sorriso.
-Temos endereços? Perguntou Mackenzie.
-Temos um para Byron Decker, disse Rodriguez. Nós ainda estamos trabalhando para conseguir os nomes e o endereço para o casal Vaughan ligado a DCM ou Tidal Hills.
-Que bom, vamos lá.
-Um segundo, disse Ellington. Venha comigo rapidamente, pode ser? Ele parecia muito sério quando pegou-a pelo braço e levou-a para o corredor.
-Sim. O que é?
Ele levantou um dedo, dizendo-lhe para esperar um momento, enquanto se apressavam até a pequena sala de conferências. Ele a conduziu para dentro e fechou a porta s. Ele se virou para ela, sem dizer nada e a beijou.
A frustração queria entrar em cena. Que diabos ele está fazendo? Nós estamos com pressa e não há tempo para isso.
Mas seu coração e seu corpo cederam. Ela mergulhou no beijo e o devolveu. Foi um beijo breve que foi quebrado após cerca de cinco segundos. Quando ele recuou, ele suspirou e sorriu para ela novamente. Desculpe-me, disse ele. Eu tinha que fazer isso. Esta manhã... sim, eu talvez a pressionei demais e--
-E eu fui uma cadela. Nós dois estávamos errados. Água passadas.
-Bom, ele disse. Agora, vamos começar a trabalhar.
Eles voltaram para o corredor e se juntaram aos três oficiais na parte da frente do edifício.
Mackenzie olhou para Rodriguez quando Nestler e Dagney ficaram ao lado dele.
-Rodriguez, você tem o endereço, então você nos leva lá. Mas quando chegar ao endereço, Ellington e eu assumiremos a liderança. Quando chegarmos lá, você nem sequer sai do seu carro até nos ver lá dentro-quando as coisas ficarão fáceis ou difíceis. Entendeu?
-Alto e em bom som, disse Rodriguez.
Os cinco saíram da delegacia e se dirigiram para os carros. Enquanto Mackenzie dirigia atrás de Rodriguez, ela contava para Ellington sobre como foi a sua manhã. Enquanto ela contava tudo, novamente se perguntou como mulheres assim como Gloria e Alexa nunca tinham pensado em mencionar Byron Decker e suas ações.
Tinha sido negligência voluntária ou ambas realmente pensaram que ele não oferecia qualquer tipo de risco?
Eu posso ver a razão, suponho, ela pensou. Um homem com problemas de impotência que estava envergonhado em um ambiente swinger, provavelmente, não iria querer mostrar seu rosto novamente. Isso não o tornava uma ameaça.
Por trás de tudo isso, havia ainda um outro pensamento: Não fique muito convencida. Mesmo havendo ligações claras e evidentes sobre esse cara, não há garantia de que ele é o assassino.
Ela tentou manter esta realidade em mente, mas algo sobre esta pista parecia sólido. Na academia, ela tinha ouvido falar sobre um determinado pressentimento que os Agentes muitas vezes têm durante o trabalho-um pressentimento de que estão perto de algo importante, ou talvez diretamente próximos de uma prisão de sucesso... ou perigo potencial.
Estava sentindo isso agora. E com Ellington de volta ao lado dela, e fazendo-a se sentir um pouco mais completa do que ela se sentia no início do dia, ela sentiu um impulso irrefreável.
Levou dezenove minutos para chegar à residência de Byron Decker. Era uma casa modesta no estilo saltbox e com um andar em um bairro de classe média baixa. O jardim parecia bem cuidado e a varanda estava limpa.
Algumas plantas verdes penduradas nos cantos, perto de morrer, mas ainda vibrantes. A casa não tinha uma garagem anexa, e não havia veículos estacionados na frente da casa ou na pequena calçada de concreto.
Ela e Ellington caminharam lentamente até a pequena varanda. Se ela precisasse de qualquer confirmação adicional de que realmente as coisas estavam chegando ao fim, ela instintivamente colocaria a mão direita sobre a coronha da sua Glock. Ela tocou-a levemente enquanto subiam as escadas.
Olhou para trás e viu que Rodriguez e sua equipe tinham feito conforme as instruções; eles permaneceram em seu carro, observando quando Mackenzie e Ellington se aproximavam da porta da frente.
Ellington bateu na porta. Eles foram recebidos com silêncio do outro lado.
Ellington bateu de novo e balançou a cabeça.
-Está claro que ele não está em casa, disse ele.
Mackenzie pensou sobre as coisas, imaginando qual seria a melhor abordagem. O bairro era tranquilo e ermo, paralisado pela ausência de pessoas no meio do dia.
Nós tecnicamente precisamos de um mandado, ela pensou. Enquanto os sinais apontam para ele, não há nada de concreto ainda.
Mas se ele é o assassino e nós esperarmos para colocar tudo em ordem... haverá mais um casal. Talvez mais de um. Que ele poderá facilmente matar de novo-o seu rápido tempo de resposta é uma prova disso.
Ellington poderia dizer que estava pensando muito sobre isso. A sua chamada-, disse ele.
Quase pediu para ele chutar a porta. Mas não queria que ele fosse responsabilizado se eles fossem repreendidos por isso mais tarde.
Ela lhe deu um aceno rápido, puxou-a Glock, e deu um passo para trás. Ela se lançou para frente e jogou sua perna rápido e forte. Foi diretamente abaixo da maçaneta, bem na borda. Não podia negar a onda de satisfação que passou através dela quando a porta se abriu ao som de madeira quebrada quando o batente rachou.
Ela só teve um vislumbre da expressão impressionada de Ellington quando entrou. Estava vagamente consciente do som das portas de um carro se abrindo e fechando atrás dela enquanto Rodriguez, Dagney e Nestler saíam do carro deles e se aproximavam, caminhando pelo gramado.
No interior, o lugar era tão arrumado quanto a varanda. A porta da frente levava diretamente para uma pequena sala de estar, que era decorada com uma televisão bonitinha e um pequeno canto que servia como uma área de leitura. Uma pequena área separava a sala de estar da cozinha e do corredor que saía da cozinha em direção ao restante da casa.
Ela e Ellington lentamente inspecionaram a casa. Eles chegaram ao único banheiro da casa, depois ao quarto principal e ao quarto de hóspedes. À primeira vista, não havia nada suspeito. Decker parecia ter uma vida agradável e organizada. Ele tinha um guarda-roupas decente, e os utensílios na cozinha eram todos de marca e estavam limpos.
-Ninguém está em casa, Mackenzie disse quando eles passaram pelo último cômodo.
-Isso faz com que a nossa entrada forçada seja exagerada, então, Ellington comentou.
Ouvindo Rodriguez e seus parceiros calmamente andando pelo corredor, Mackenzie entrou no corredor e balançou a cabeça. Estamos sozinhos.
Nestler e Dagney foram incapazes de esconder sua decepção, embora Rodriguez tenha feito isso melhor. Mackenzie passou por todos ele quando voltou para a sala de estar. Lá, ela foi para o pequeno escritório de canto. Ela ligou o laptop que estava na mesa de canto e, como esperado, frustrou-se com a tela principal que exigia uma senha.
-Bem, há algumas boas notícias nisso tudo, disse Rodriguez. Momentos antes de vocês entrarem, eu recebi um telefonema da delegacia. Acreditem ou não, temos dois casais Vaughans para investigar.
-Ambos envolvidos com clubes de swing? Mackenzie perguntou quando olhou os papéis bem organizados e livros sobre a mesa de Decker.
-Sim, disse ele. Um parece ser um casal mais jovem e rico e o outro é um pouco mais velho. Alguém na delegacia falou com a Gloria do DCM e ela confirmou que teve relações com ambos os casais, embora um deles não esteja na ativa por um tempo.
-Mackenzie assimilou tudo isso enquanto olhava através dos diversos itens ao redor da mesa. Ao fazer isso, Ellington falou por cima do ombro dela. Eu vou vasculhar ao redor do quarto e ver se consigo encontrar alguma coisa.
-Eu vou para o banheiro, disse Nestler.
Mackenzie não conseguiu encontrar nada incriminador em torno da área do escritório. No entanto, quando folheou um dos poucos livros sobre sua mesa (uma cópia maltratada do que parecia ser um livro de autoajuda intitulado -Isso É Coisa Da Sua Cabeça- It’s Not All in Your Head), uma foto Polaroid antiga caiu.
Pegou aquilo e a natureza flagrante do que viu a chocou. Era uma foto da vagina de uma mulher, mas não era mostrada de uma forma pornográfica. Era uma foto feita muito de perto e, obviamente, não foi tirada à força.
Ela deslizou a foto de volta e olhou para trás para a tela de senha. Sabia que, se necessário, ela poderia conseguir alguém para entrar no sistema em questão de minutos. Mas talvez não chegasse a isso.
-Ei, Agente White?
Era o Nestler, chamando do banheiro.
-Sim? Ela perguntou, caminhando para se juntar a ele.
-Seu suspeito supostamente tem problemas de impotência, certo?
Antes que Mackenzie pudesse responder, Nestler estava saindo do banheiro em direção a ela. Mandou para ela um frasco de comprimidos. O rótulo tinha o nome Decker nele e era para uma dose relativamente elevada de um remédio comum para tratar disfunção erétil.
Definitivamente no caminho certo, ela pensou.
Outra voz soou da parte de trás da casa. Desta vez, era Ellington. Eu tenho uma espécie de tesouro aqui atrás, ele a chamou.
Mackenzie voltou para o quarto principal e viu que Ellington estava perto da mesa de cabeceira. A única gaveta da mesa estava aberta; o Ellington tinha tirado vários itens para fora e espalhado todos eles sobre a cama.
Entre os itens havia várias fotografias. Tinham sido impressas em papel fotográfico brilhante de alta qualidade. Elas eram um pouco granuladas, sugerindo que as fotos tivessem sido tiradas por uma câmera digital e depois redimensionadas de forma inadequada. Ainda assim, o assunto das imagens era fácil de se ver.
E bastante assustador.
As quatro fotos mostravam quatro pessoas nuas. Em algumas, duas estavam em uma cama enquanto as outras duas as cercavam. As duas na cama estavam fazendo sexo. Porque a mulher estava por cima e de frente para a câmera, seu rosto era claramente visível.
Era Vanessa Springs.
Como os dois na beira da cama, a mulher não pôde ser claramente vista, já que estava de joelhos e de costas para a câmera. O homem que estava atendendo, no entanto, era mais visível. Sua cabeça estava arqueada e desviando o olhar da câmera, mas era claramente Jack Springs.
Olhou imagem a imagem, tentando ter uma visão melhor do homem e da mulher. Em um deles, ela podia ver o reflexo do homem na cama em um espelho à direita. O reflexo na imagem granulada não ficou nítido, mas ele parecia muito com um rosto que tinha visto muito recentemente em fotos da cena do crime.
Era Josh Kurtz... levando Mackenzie a acreditar que a mulher de joelhos na frente de Jack Springs era Julie.
-Eu quero saber quem está fazendo as imagens, disse Ellington.
-O assassino? Perguntou Rodriguez, olhando por cima do seu ombro.
-Possivelmente, disse Mackenzie. De qualquer maneira, isso confirma que Byron Decker estava realmente ligado a estes dois casais mortos.
-E os Vaughans são o único outro casal que sabemos, com certeza, que estava ligado a ele, Ellington acrescentou.
Precisamos chegar até eles antes do assassino, pensou Mackenzie.
-Nós precisamos nos separar, disse ela. Rodriguez, você leva sua equipe para um dos endereços e Ellington e eu iremos para o outro.
-Alguma preferência? Perguntou ele.
-Não. Apenas me envie o primeiro deles.
Rodriguez balançou a cabeça e pegou o seu telefone para fazer exatamente isso. Mackenzie fez foi até a porta e saiu. Como todos saindo Nestler fez o seu melhor para fechar a porta de uma forma que a entrada forçada não ficasse tão óbvia.
-Você se sente bem com isso? Ellington perguntou-lhe quando entraram no carro.
-Temos oito pessoas mortas, disse ela. Não há nada de bom nisso tudo. Eu suponho que você esteja me perguntando se eu acho que estamos prestes a rastrear o assassino?
-Sim, estou.
-Nesse caso, sim... Eu acho. Vamos esperar conseguir chegar até os Vaughans antes do Decker.
Ela acionou o carro e se afastou do meio-fio.
Eram 12:47 e ela foi para o oeste, longe da praia que ficava a menos de meia milha atrás da casa em que ela tinha entrado à força. Ela foi a mais veloz possível sem ser imprudente.
E, mesmo assim, Mackenzie não pode evitar, mas sentiu que eles estavam provavelmente atrasados demais.
CAPÍTULO VINTE E OITO
Mackenzie ainda podia sentir a sensação de urgência quando saiu do carro. Ainda assim, ela se manteve calma, forçando-se a ter uma noção adequada do lugar. A casa era muito agradável, uma das mais agradáveis na vizinhança. Era um bairro muito parecido com o que o casal Springs tinha vivido, só que era quase do outro lado da cidade.
Olhou para cima e para baixo nas ruas e viu alguns carros estacionados aqui e ali. O mais próximo deles era um caminhão modelo antigo com carroceria. Dois quarteirões para baixo, um homem corria, corria na direção oposta. Mais longe, ela ouviu o zumbido de um motor de motocicleta. Fora isso, a rua estava praticamente deserta.
Uma das portas da garagem para dois carros estava aberta. Ela revelou um grande caminhão GMC. A carroceria estava aberta e uma série de sacolas plásticas vazias foram colocadas em um canto.
-Há sempre a chance de que essas pessoas trabalhem, disse Ellington. Como pessoas normais. É sexta-feira, afinal de contas.
-Possivelmente, disse Mackenzie.
No entanto, quando eles foram para mais perto da varanda da frente, Mackenzie começou a duvidar disso. Viu serragem espalhada por todo lado, como se tivesse caído acidentalmente no quintal. Provavelmente caiu desses sacos vazios na parte de trás do GMC, ela pensou.
Ela então olhou para os belos canteiros de flores e viu que eles eram bonitos por uma razão. Eles tinham sido arrumados recentemente. Se a espátula e um par de luvas de jardinagem no degrau da varanda fossem uma indicação, arrumaram os canteiros muito recentemente... como se isso tivesse sido feito no último par de horas.
Mackenzie apontou para as luvas e Ellington balançou a cabeça. Há uma boa chance de alguém estar em casa, disse ela. Você viu o caminhão?
-Na garagem. Sim.
Este trabalho de jardinagem foi feito dentro das últimas horas, ela pensou. Parece que chegamos aqui antes do Decker. Espero que-
Alguém gritou de dentro da casa. Não foi um grito de dor, mas de surpresa. O grito foi seguido por uma voz que Mackenzie mal podia ouvir. Enquanto essa voz falava, ela também ouvia um leve barulho de algo batendo.
Ela correu para a porta e bateu com força. Sem esperar por uma resposta, ela gritou para quem podia ouvi-la do outro lado.
-Eu sou uma Agente do FBI, ela disse em voz alta. Sr. e Sra. Vaughan, eu estou entrando.
Ela tentou abrir a porta e estava bloqueada.
Outro grito soou de lá de dentro. Este foi mais alto e, mas não era cheio de dor, carregava um monte de medo. Ela então ouviu passos altos e algo cair, quebrando.
Então, quando deu um passo atrás para disparar a arma na maçaneta da porta trancada, outro grito veio através da porta.
-Socorro!
Mackenzie levantou a arma e disparou um tiro onde ela achava que estava o cadeado. Imediatamente após isso, Ellington deu um chute forte no mesmo lugar. A porta abriu rangendo e Ellington graciosamente chutou embaixo dela e assim conseguiram entrar rapidamente na casa.
Mackenzie seguiu-o, outra vez com sua arma levantada. Mas ela nem sequer teve tempo para assumir a posição de um atirador.
Quando Ellington arrebentou a porta, um homem veio do nada. Ele parecia ter se escondido atrás da própria porta, esperando que ela fosse derrubada. Mackenzie mal avistou o movimento rápido do homem que logo colidiu com Ellington. Os dois homens foram para a parede e quando eles se atacaram, ela ouviu Ellington soltar um suspiro de dor.
Mackenzie sabia que não conseguiria dar um tiro certeiro sem potencialmente machucar o Ellington, então ela estendeu a mão até o braço direito do homem.
Foi quando viu a faca na lateral do corpo de Ellington.
Isso foi distração suficiente para ela se tornar indefesa por uma fração de segundo. Assim, viu a mão direita do homem vir até ela para lhe acertar com um soco e ela foi capaz de usar a sua própria mão para bloqueá-lo, ele ainda assim acertou ela. Sua mão direita a acertou na mandíbula e ela cambaleou para trás, com estrelas negras que floresciam em sua visão.
Ele foi até ela, suas mãos foram em direção à sua garganta, mas Mackenzie começou a levantar sua arma. Ele deu um tapa nela, aproveitando seu torpor temporário, e ele fez isso com tanta força que a lançou girando até bater na parede.
Ela esperou que ele atacasse novamente, erguendo-se e fazendo o seu melhor para afastar aquela visão turva causada pela pancada certeira em sua mandíbula.
Em vez disso, ela ouviu os passos dele. Ela também ouviu Ellington respirando de forma pesada, agora caído no chão à sua direita.
De outro lugar nas proximidades, ela ouviu uma mulher chorando.
Sra. Vaughan, ela pensou.
Mackenzie quis ficar de pé. Olhou para Ellington e viu que ele não tinha perdido muito sangue, mas ele parecia fora de si. A faca ao seu lado cravada cerca de quatro polegadas. Não era especialista em anatomia, mas sabia que no ângulo em que a lâmina estava e no local em que estava, ou as coisas estariam muito ruins para Ellington ou ele poderia potencialmente sair quase ileso.
Ela então se perguntou, quase morbidamente, se a faca saindo dele era a mesma faca que tinha sido usada para matar os quatro casais vistos nos últimos dias.
Ela ficou de pé, jogando para longe a última névoa do soco. Viu o homem que os tinha atacado a caminho de uma grande sala à frente deles. Ele estava indo para a sala, onde Mackenzie viu o corpo pela primeira vez.
Era um homem, deitado de bruços. Ele estava rastejando para a frente, deixando manchas de sangue no tapete azul claro. O agressor estava indo na direção do homem-tendo, aparentemente, atacado ele uma vez.
Mackenzie correu em direção a ele. Ele a viu com o canto do olho e se virou para encontrá-la. Ele recuou o punho quando levantou a arma. Ele atacou ela, agachado. Ela baixou a arma e disparou um tiro. Em seguida, ela sentiu que ele conseguiu golpeá-la na clavícula. Não foi um soco forte, mas deu uma sensação de alfinetadas e agulhadas percorrendo por seu braço. Chocada, o braço ficou mole e ela deixou cair a arma.
O agressor-o homem que ela agora tinha certeza de que era Byron Decker-em seguida, ele agarrou-a pelos ombros e tentou bater com um joelho em seu estômago. Em vez disso, Mackenzie bloqueou o joelho e agarrou sua perna. Ela tentou jogá-lo no chão com um golpe fireman’s carry, mas seu braço direito ainda estava formigando. Então, ao invés, ambos foram tropeçando para trás embolados de uma forma estranha.
Decker soltou ele e quando o fez, ela saltou nele.
Ela percebeu o seu erro tarde demais.
Ela bateu nele com força e eles caíram para trás novamente, tropeçando cegamente.
Viu a porta de vidro atrás deles um momento antes de colidirem com ela.
Ela sentiu o vidro cortando a pele dela uma fração de segundo depois de ouvir o barulho dos estilhaços.
De repente, estava deitada de costas na varanda dos Vaughans. Estava olhando para o céu azul impecável e já podia sentir a viscosidade do seu próprio sangue, já que ele derramava de seu antebraço e da parte de trás do seu pescoço.
Em algum lugar ao seu lado estava o assassino. E sua arma. Ela tinha deixado cair a maldita arma quando bateu na madeira da varanda.
Ela rolou para localizar Decker. Sua mão esquerda deslizou no vidro. Parecia que dezenas de insetos a picavam enquanto minúsculos fragmentos e estilhaços perfuravam sua pele.
E então, lá estava ele-Byron Decker, de pé sobre ela com um grande vaso de flores suspenso sobre sua cabeça como uma pedra enorme, intenção era jogá-lo para baixo para esmagar o crânio de Mackenzie.
CAPÍTULO VINTE E NOVE
Quando Decker jogou o vaso de flores para baixo, Mackenzie levantou a perna e bateu com o máximo de força que, saiu um chute que atingiu diretamente no meio das pernas dele. Seus joelhos se dobraram e o vaso foi derrubado no pátio. Mackenzie rolou para a direita e se esquivou, sentindo ainda mais o vidro em seus antebraços e mãos expostos.
A dor não foi tão ruim, honestamente, mas parecia estar por toda parte. Estava sangrando o suficiente para que pudesse realmente sentir o cheiro do próprio sangue.
Preocupe-se com os ferimentos mais tarde, ela disse a si mesma. Por agora, tenha este idiota sob controle.
Ele já estava ficando de pé. O vidro quebrado tinha ferido ele também. Seu rosto foi cortado em quatro lugares diferentes e um corte profundo na parte de baixo de seu braço estava pingando sangue na sua mão e em seus dedos.
Ele deu um soco que ela bloqueou facilmente. Ela então pegou o braço bloqueado e torceu ele com força. Ele caiu de joelhos na hora, uivando. Como ela o empurrou para a frente e dobrou o braço mais para trás, ele usou o outro braço como um porrete.
Ele bateu com o seu cotovelo na carne da coxa dele, fazendo-a tropeçar para trás. A dor não era intensa. Não conseguia descobrir por que de primeira, mas em seguida, olhou para baixo e viu um caco de vidro pulando para fora da sua calça. A área estava pegajosa por causa sangue e de alguma forma ela ainda não tinha notado isso.
Aparentemente, percebendo que ele não iria ganhar uma luta, Decker saiu em direção aos degraus da varanda. Ele quase caiu em sua fuga, dando para Mackenzie, talvez, dois segundos completos para ela se livrar da dor na perna.
Percebendo que não seria uma corredora eficaz com a ferida na perna (o vidro ainda saindo dela), ela reuniu forças, tomou um impulso de corrida, e depois lançou-se no ar pouco antes de alcançar o primeiro degrau da escada.
Decker olhou para trás bem a tempo de vê-la cair com o todo o seu peso sobre suas costas. Ela caiu em cima dele e quando ele atingiu o chão ela pôde literalmente sentir o ar saindo dos pulmões dele com o impacto. Ele mexeu por debaixo dela, mas um cotovelo rápido entre os ombros dele pôs um fim a isso.
Sabia que o tinha sob controle, mas honestamente não conseguia se conter. Com ele preso debaixo dela, com o rosto plantado no chão, ela deu dois socos cruéis na parte superior das costas deles. Ela ouviu o suspiro quando o vento voou para fora dele e uma onda de dor correu pelo corpo dele.
Ela espremeu os joelhos dele no chão com seus próprios joelhos, pressionando apenas o suficiente para garantir que quaisquer tentativas de fuga doeriam pra caramba. Ela, então, tirou as algemas do cinto e colocou-as nele o mais rápido que pôde.
Quando percebeu que suas mãos estavam tão pegajosas com o próprio sangue que quase deixou cair as algemas, ela se perguntou se estaria mais ferida do que pensava.
Quando Decker tentou lutar com ela quando pegou o seu braço esquerdo, ela agarrou o braço dele e puxou para cima um pouco demais. Ela fez uma careta, esperando ouvir o estalo da quebra do antebraço. Mas ela tinha parado na hora certa. Ele gritou por baixo dela quando fechou as algemas.
-Mackenzie...
Ela se virou e viu Ellington cambaleando na varanda. Ele não tinha tirado a faca, provavelmente sabendo que removê-la poderia piorar a situação.
-Você está bem? Perguntou ele.
-Não sei, disse ele. Ele olhou para as escadas da varanda, parecia considerar descê-las e, em seguida, sentou-se com força. Chame por apoio, disse ele fracamente. Você está bem?
-Sim, disse ela, embora ela ainda não tivesse certeza.
Estava tremendo quando ficou de pé. Transportar o Decker seria uma façanha, mas ela conseguiu, segurando-o firmemente enquanto tentava enfrentá-la.
-Nem pense nisso, Ellington gritou fracamente da varanda. Se você tentar se afastar poucos centímetros dela, eu arranco o seu joelho direito.
Decker parou, em seguida, baixou a cabeça em derrota como uma criança sem saída.
-Até as escadas, Mackenzie disse, cutucando-o.
Ele não se moveu. Ele permaneceu no local e começou a murmurar alguma coisa.
-Eu disse para subir as escadas, disse ela.
-Se eles não estão mortos, ele disse, -então tudo isso foi para nada. Os outros oito não significaram absolutamente nada se os Vaughans não estão mortos. Eu não posso--
-Eu disse, ande, disse Mackenzie.
-Ela plantou o pé diretamente em sua bunda e empurrou-o para a frente. Ele tropeçou no primeiro passo e caiu, quase batendo com o rosto nas escadas acima dele.
Espero que ele quebre sua bosta de nariz, ela pensou.
-Fique de pé e comece a subir as escadas, Mackenzie disse o mais calmamente possível.
Decker obedeceu, dando os passos lentamente, um por um. Quando chegaram ao topo, Ellington fracamente chutou a arma caída de Mackenzie para fora de seu caminho, assim Decker não pensaria em pegá-la.
Mackenzie não gostou do olhar de Ellington. Ele estava em choque. E havia mais sangue do que ela tinha visto cerca de três minutos atrás. Estava começando a se formar uma poça de sangue em seu colo. Ele estava tentando parecer firme, mas ela podia perceber que era um esforço tremendo.
Mackenzie pegou sua Glock e colocou-a em Decker. Pra dentro, ela disse duramente.
Mais uma vez, ele obedeceu. Ela tinha certeza de que ele estava choroso desta vez.
Quando o seguiu para dentro, ela se ajoelhou perto de Ellington. Ela agiu como se a única razão para agachar fosse pegar suas algemas.
Embora ela já tivesse colocado as suas em Decker, ela sentiu que poderia precisar de duas, se segurasse Decker sozinha. Mas ela também se ajoelhou a fim de ter uma visão melhor do Ellington. Ele não parecia muito mal, mas também não teve sorte.
-Eu vou dar um jeito nisso, ela disse, tentando manter a calma... Você apenas fique aí.
-Tá, Ellington disse fracamente, rolando os olhos.
Com isso, ela se dirigiu para dentro por trás de Decker para ver quanto dano ele causou antes da chegada deles.
***
Para garantir que Decker não escaparia enquanto ela investigava a casa, Mackenzie teria de imobilizá-lo. E não tinha nenhum problema com isso.
Com sua Glock ainda apontada para ele, ela apontou para o sofá dos Vaughans na sala de estar. Senta aí, disse ela.
Quando ele obedeceu ao comando, ele parecia exageradamente derrotado. Ela tinha certeza de que não teria nenhum problema com ele. Enquanto ele se sentava, Mackenzie cuidadosamente se ajoelhou a seus pés.
Ela ficou tensa, esperando bloquear quaisquer chutes ou outros ataques, que ele pudesse tentar. Mas ele estava completamente dócil quando estalou as algemas de Ellington em torno de seus tornozelos.
-Isso faz você se sentir como se tivesse conseguido alguma coisa? Perguntou ele.
-Me prender. Me bater. Você se sente bem com isso?
-Honestamente, sim, disse ela. É uma sensação maravilhosa.
Ele soltou uma pequena risada maníaca e começou a olhar para o chão. Seus olhos foram atraídos para o vidro quebrado que ele e Mackenzie tinham espalhado quando bateram e transpassaram a janela de vidro.
Havia tanta coisa que ela queria dizer a ele, mas não confiava em si mesma para tentar falar com ele civilizadamente. Então, ao invés disso, ela voltou para a sala de estar e olhou o homem que ela tinha visto rastejando em uma poça de sangue.
Ele teve todo o braço fatiado e havia uma ferida no peito. Quando ele respirava, ele fazia um som molhado que fez Mackenzie estremecer. Quando se ajoelhou ao lado dele, sabendo que a esposa estava em algum lugar da casa, ela temia Ellington e ela tivessem chegado tarde demais.
Os olhos do homem cruzaram na sua direção e viu um olhar distante lá.
Pensando o rapidamente possível, Mackenzie pegou dois panos de prato pendurados em uma das maçanetas do armário na cozinha. Ela apertou eles contra o peito do homem, cobrindo a ferida. O sangue imediatamente jorrou quente sob suas mãos, mesmo com os panos.
-Você pode pressionar isso? Ela perguntou.
Ele balançou a cabeça e pegou os panos com uma mão trêmula. Ele apertou tão forte quanto pôde e deixou escapar um gemido de dor.
-Patricia, disse ele. Ela...?
-Espere, Mackenzie disse, não querendo sair do lado dele.
Ela levantou-se e virou-se, só para ver a mulher em pé atrás dela. Seu rosto estava manchado de lágrimas e havia sangue em sua blusa branca. Pelo que Mackenzie poderia dizer, estava ilesa. Mas os olhos arregalados e a postura rígida fizeram Mackenzie achar que estava em estado de choque.
-É você a Patricia? Ela perguntou.
A mulher concordou.
-Patricia Vaughan?
Novamente, outro aceno. Ela, então, respirou profundo estremecendo quando seus olhos caíram sobre o seu marido. Seja qual for o estado de fuga em que estava, tudo desmoronou naquele momento. Quase entrou em colapso enquanto corria até ele e deixou escapar um soluço.
-Patricia, disse Mackenzie. Eu sei que é difícil, mas você precisa para ficar longe dele por agora. Nós não sabemos a gravidade dos ferimentos dele.
Patricia parou centímetros longe dele. Ela estendeu a mão e pegou a mão dele. Mackenzie sentiu uma minúscula centelha de esperança quando viu que ele tinha força suficiente para apertar a mão de sua esposa.
* **
-Patricia, eu sei que é assustador, mas eu preciso que você tente falar comigo. A polícia e uma ambulância estão a caminho e não podemos fazer muita coisa, até então. Então, você acha que você pode responder a algumas perguntas rápidas?
-Sim, sim... eu ... o que aconteceu?
-Como é que este homem entrou na sua casa? Perguntou ela, balançando a cabeça de volta para onde Decker estava algemado no sofá.
-Ele bateu na porta, respondeu Patricia. Conhecemos ele-há um tempo. Ele estava pedindo desculpas por algo que fez há alguns anos. Ele parecia genuinamente arrependido, começou a chorar. Então, nós deixamos ele entrar. E assim que a porta se fechou... ele... ele puxou a faca e atacou o Henry. Tentei ajudar, mas eu estava em estado de choque, eu acho, não conseguia me mover, não conseguia...-
O som das sirenes que se aproximavam a distraiu. O barulho parecia trazer um novo nível de ansiedade. Em vez de aliviá-la por saber que a ajuda estava a caminho, a comoção estridente de lá de fora parecia alertar Patricia ainda mais ao fato de que seu marido estava em sérios apuros.
Talvez Ellington, também, pensou. Ela queria desesperadamente correr para ele, mas por agora, os Vaughans tinham que ser a prioridade.
-Patricia... você está ferida?
-Não, disse ela. O sangue na minha blusa é do Henry... você veio e nos salvou... na hora certa. Obrigada.
E com isso, Patricia se perdeu. Ela começou a chorar. Do seu lado, Henry fez o seu melhor para confortá-la, dizendo seu nome, mas ele não foi capaz de usar sua voz-soava mais como um som distorcido de dor e sangue.
Quando Mackenzie ouviu o barulho de pneus e portas na frente, ela correu para Ellington. Mover-se naquela velocidade a fez lembrar que não estava em condições, também. A ferida em sua coxa ardia e latejava. A parte inferior de sua palma estava em carne viva, onde pequenos cacos de vidro haviam perfurado e ralado a sua pele.
Na varanda de trás, viu que Ellington tinha reunido forças para ficar em pé. Ele estava encostado ao lado da casa, parecendo que ficaria pior a qualquer momento.
-Como está? Ela perguntou.
-Dói pra caralho. Parece melhor quando eu fico de pé. Estou começando a me sentir um pouco tonta, mas eu acho que ficarei bem.
-A ajuda acabou de chegar, disse ela.
Ele balançou a cabeça e fechou os olhos. Ela poderia dizer que ele estava fazendo o seu melhor para não deixá-la saber que ele estava sentindo muita dor.
-Você fez bem, disse ele. Culpa minha. Eu não deveria ter ido tão rápido, tão agressivamente. Eu não deveria ter--
-Cale a boca, disse ela. Poupe suas forças.
Ele balançou a cabeça e soltou um gemido. Mackenzie deu mais uma olhada para a faca ainda saindo da lateral do seu corpo e percebeu o quão arriscada era a situação. Até que a faca estivesse fora e ele fosse devidamente atendido, não havia como saber quanto estrago tinha sido feito.
Ela ouviu a porta da frente aberta e ela começou a avançar quando os paramédicos e polícia vieram. Ela fez deu dois passos em direção a porta de vidro quebrado antes que Ellington a parasse.
-Ei... eu sei que você é como uma super-heroína e quer estar lá..., mas é egoísta da minha parte pedir para ficar aqui comigo?
Não pôde reprimir seu sorriso. Ele estava certo. Ela sentia a necessidade de entrar e ajudar de qualquer maneira. Mas ela também queria ficar lá com ele.
Ela caminhou até ele e pegou sua mão. Ela o sentiu tremer sob seu toque, seu corpo respondendo da única maneira que sabia já que o trauma era duradouro.
Ela ficou ao seu lado, a mão dele na dela, até que o primeiro dos paramédicos foi para a varanda dos fundos.
CAPÍTULO TRINTA
A tarde foi um mar de caos para Mackenzie. Ela ficou com Ellington enquanto pôde. Ela foi com ele para o hospital na parte de trás de uma ambulância.
Ele estava sóbrio durante todo o tempo, mas houve algumas ocasiões em que ele parecia estar que estava a ponto de desmaiar. No momento em que chegaram ao hospital e ele foi internado, a notícia que os médicos foram capazes de dar para não foi tão ruim quanto poderia ter sido, mas não foi nada simples, também.
A faca tinha arranhado uma das suas costelas. Se não fosse por isso, teria perfurado o pulmão dele. Ainda tinha uma chance de que havia um furo menor que não seria encontrado até ele se submeter a um exame mais aprofundado.
Enquanto esperava por notícias de Henry Vaughan e Ellington, ela foi atendida. Ela gastou duas horas com os médicos, foram quatro pontos na lateral da mão direita e oito em sua coxa.
Os da coxa doeram como o inferno, mas ela aguentou firme. Retirar os cacos de vidro de seus braços também não foi divertido.
Ainda assim, estava pronta às cinco horas da tarde. Ela recebeu a notícia de que Ellington também tinha sido atendido, embora ele obviamente precisasse de pontos, ele também ficaria de cama por um tempo.
Quanto a Henry Vaughan, era um caso indefinido. Ao chegar ao hospital, os primeiros indícios sugeriram que ele não passaria daquela noite. Daí, no momento em Mackenzie tinha sido liberada, ele já estava mostrando sinais promissores de recuperação.
Antes de deixar o hospital, Mackenzie andou pelo quarto de Ellington. Ela deu uma olhada lá dentro, mas viu que ele estava dormindo. Ela ficou na porta por um momento e ficou maravilhada com a estranheza da vida.
Ela tinha chegado em Miami com Harrison, Ellington não era nada mais do que uma mancha considerável em seu radar. E agora, depois de apenas alguns dias, as coisas eram muito diferentes. Agora, ela poderia facilmente ficar no quarto dele, sentada lá só para observá-lo, até que ele acordasse.
Além disso... eles tinham pego o assassino, mas o caso não tinha acabado definitivamente. Ela tinha que estar em outro lugar. E por causa da lesão de Ellington, ela tinha esse dever.
Com um último olhar apaixonado para Ellington, Mackenzie deixou o hospital e foi para a delegacia.
***
Quando entrou pela porta da frente, havia uma espécie sufocante de silêncio enquanto as poucas pessoas no lobby notavam sua chegada. Então algo surreal aconteceu. As pessoas começaram a aplaudir. Ela tinha visto esse tipo de coisa em filmes e tinha ouvido algumas histórias na academia sobre esse tipo de coisa acontecendo. Mas foi estranho acontecer com ela, especialmente quando sentia que aquilo não foi merecido.
Ela deu alguns vagos sorrisos quando passou de volta para o escritório de Rodriguez. Como ela esperava, estava vazio. Ela se desviou para o corredor em direção a sala de interrogatório -parte do prédio com a qual estava ficando muito familiarizada.
Ela contornou a sala de interrogatório e se dirigiu para a porta da sala de observação. Ela bateu na porta e a porta foi aberta por Nestler. Ele a conduziu rapidamente, com o mesmo olhar de apreciação em seu rosto, o mesmo que ela tinha visto no lobby dos trabalhadores e oficiais.
Dagney e outros dois oficiais que ela ainda não conhecia também estavam na sala. Eles estavam olhando através do vidro, onde Decker e Rodriguez ocupavam a sala do outro lado.
-Há quanto tempo ele está sendo interrogado? Perguntou Mackenzie.
-Cerca de vinte minutos, disse Nestler. Mas o Decker ficou lá por cerca de uma hora e meia.
-Eu acho que Rodriguez não vai se importar que você se junte a ele, acrescentou Dagney.
Mackenzie balançou a cabeça, estudando Byron Decker através do vidro. Ele parecia fraco e cansado. Ele se sentou desleixado, com o ombro curvado e sua cabeça baixa. Ela lentamente saiu da sala e caminhou para a sala de interrogatório. Ela bateu na porta e, em seguida, abriu a porta, colocando a cabeça lá dentro.
-Eu posso entrar? Ela perguntou.
Rodriguez parecia um pouco aliviado ao vê-la. Ele balançou a cabeça e acenou para ela entrar. Decker olhou para ela e depois diretamente de volta para baixo, para o seu colo. Havia um curativo na testa dele e seu antebraço inteiro estava enfaixado. A tarde tinha sido tão agitada e violenta que ela tinha quase se esquecido que Decker tinha tomado uma surra, também-não apenas dela, mas da porta de vidro deslizante.
Rodriguez esgueirou-se ao lado dela e sussurrou em seu ouvido. Ele não está sendo conflituoso. Ele quer falar, eu acho. Ele já admitiu ter matado os quatro casais e tentando matar os Vaughans. Ele coopera, só... não vá com tudo.
Mackenzie deu um passo em direção à mesa. Decker ainda não olhava para ela.
-Sr. Decker... depois que eu algemei você, você começou a chorar. E agora você não vai sequer olhar para qualquer um de nós. Você sente vergonha porque foi pego?
Ele balançou a cabeça. Não, eu estou envergonhado, mas não porque eu fui pego. Isso era inevitável. Mesmo se eu tivesse feito com o Juarez... Eu teria sido pego. Eu sabia disso no instante em que eu decidi fazer isso. E isso era um tesão. Foi o maior de todos. Exceto matar Vanessa Springs. Isso foi erótico pra caralho.
-E Juarez, Sr. Decker?
Ele ficou em silêncio.
Através da névoa de lágrimas viu a loucura à espreita. Talvez nem mesmo insanidade, mas o mal. Ela acreditava mesmo que o verdadeiro mal existia e que, em alguns casos, ele residia em seres humanos.
Ela pensou em tomar um novo rumo.
-Você matou aqueles casais porque você se sentiu menosprezado, não foi isso? Perguntou ela.
Ele não respondeu por um longo tempo. Depois, finalmente, ele disse, em voz baixa: -Eu fui ridicularizado. Zombaram de mim.
Ela respirou fundo, tentando conter sua raiva.
-E isso foi o suficiente para essas pessoas morrerem? Porque você não conseguia ficar de pau duro?
A raiva brilhou em seus olhos, mas ele engoliu-a como uma cobra. Ele sorriu para ela. Você seria um sucesso em um desses clubes. Eu sei que alguns homens fariam o que eu fiz na semana passada por uma chance de ficar com você. Sabia?
Ela ficou vermelha de raiva.
-Eu não estou exatamente lisonjeada, disse ela. Sr. Decker... onde estava a sua esposa em tudo isso?
Decker olhou para cima, surpreso porque ela ainda não sabia. Ela começou isso comigo... o swing. Mas nós paramos quando minha esposa começou a ter um caso e me deixou. Eu não pod ... eu não podia agradá-la sexualmente.
-Então, você continuou tentando ser parte daqueles ambientes de swing depois que ela saiu, certo?
Ele ficou em silêncio novamente.
Finalmente, ele balançou a cabeça. Você nunca entenderá.
Ela saiu da sala com pressa, sentindo uma série de emoções semelhantes às que fizeram ela sair rapidamente da sala antes.
Que diabos está errado comigo?
Ela ficou fora da sala de interrogatório, com uma série de respirações profundas. Rodriguez saiu, claramente sem saber como se aproximar dela.
-Você está bem? Ele perguntou.
-Estarei, disse ela.
-Eu não posso agradecê-los o suficiente pelo que você e seu parceiro fizeram. A menos que haja alguma coisa pressionando você, eu a encorajo a relaxar. Vá descansar um pouco. Fique com o seu parceiro. Está tudo sob controle. Eu ligarei para o seu diretor e ele saberá sobre o bom trabalho que vocês fizeram aqui.
-Obrigado.
Com isso, ela acatou seus conselhos. Ela voltou para fora de seu carro. Ela pensou em ligar para o McGrath para informá-lo. Ela já tinha falado com ele uma vez hoje enquanto esperava pelos pontos. Ele solicitou que ela permanecesse em Miami até Ellington ficar bem o suficiente para voltar com ela.
Ela voltou para o hospital, irritada com a coceira e leve fisgada dos pontos em sua coxa e mão. No entanto, olhou pela janela e viu palmeiras em cada esquina e uma porção de céu azul da tarde dando lugar ao roxo do crepúsculo e sentiu-se em paz.
Miami certamente teve sua cota de beleza, mas, com certeza, não perderia isso.
CAPÍTULO TRINTA E UM
Assim, Ellington foi liberado para deixar o hospital às 8:30 da manhã seguinte. Mackenzie recebeu a notícia depois de ser acordada na cadeira do quarto de hospital, quando o médico sorriu calorosamente para ela.
Ellington não mostrou sinais de infecção e embora houvesse algumas cicatrizes menores na superfície do pulmão dele, não havia nenhum furo ou dano real. Após um check-up feito uma semana depois em DC, parecia que ele teve muita sorte no encontro com Byron Decker.
Havia um silêncio confortável entre eles durante a finalização do processo. Ela o informou sobre o interrogatório de Decker na delegacia da melhor forma possível.
A última atualização que recebeu tinha chegado na noite anterior, quando Rodriguez a chamou para contar que tudo havia terminado, foi mamão com açúcar. Decker tentou negar nada do que ele tinha feito; mais do que isso, ele começou a entrar em detalhes sobre como ele tinha planejado tudo.
Quando Ellington entrou no banheiro para tirar o roupão hospitalar e colocar suas roupas de normais, Mackenzie viu a ferida onde a faca tinha entrado. Os médicos haviam feito um belo trabalho com os pontos, mas eles estavam escondidos por uma dupla camada de gaze. Ver aquilo fez Mackenzie se sentir desconfortável. Um centímetro a mais e a faca poderia ter prejudicado muito ele. Poderia até ter matado ele.
Eu tenho passado muito tempo em quartos de hospital ultimamente, ela pensou. Infelizmente, uma imagem de Bryers no quarto do hospital veio à sua mente. Não pôde deixar de sorrir, apesar de tudo. Ele estaria orgulhoso dela por gerenciar a resolver este caso, poupando os Vaughans e entregando o assassino para a justiça.
Quando ele voltou estava vestido com jeans e uma camiseta dos Washington Redskins. Os médicos tinham sugerido que ele usasse calças de moletom, malha ou qualquer outro material elástico até ficar curado. Não tendo nenhum daqueles materiais em sua mala, ele teve que se contentar com o jeans.
-Eu pensei em não abotoá-la, para ficar mais folgada no corpo, ele disse quando saiu do banheiro, batendo com as mãos em seu jeans. Mas eu não queria provocá-la. Parece que eu estou fora de operação por um tempo.
-Que pena, disse ela. Foi uma brincadeira tímida, mas ela realmente quis dizer isso.
-Sabe, disse ele, -eu não sou um fã de calças ou bermudas com strech, mas eu acho que tenho uma ideia. Você me ajudaria?
Ela lhe deu um sorriso cético brincalhão enquanto se dirigiam para a porta do quarto de hospital. Eu não sei muito como digerir essa pergunta.
-Apenas confie em mim, disse ele, pegando a mão dela como se fosse a coisa mais natural do mundo.
De mãos dadas, eles se dirigiram para fora do quarto.
Apenas confie em mim, disse ele.
Mackenzie estava um pouco surpresa por perceber que ela confiava nele-firmemente e totalmente.
***
A ideia que ele teve era infantil e um pouco irresponsável, mas Mackenzie foi junto com ele de qualquer maneira. Entre o hospital e o hotel, eles pararam em uma pequena loja de surf, onde Ellington comprou sungas com cores dolorosamente brilhantes.
Quando eles estavam de volta ao hotel, ele colocou a sunga, precisando da ajuda de Mackenzie para equilibrar-se enquanto ele descia a calça jeans e colocava a roupa de banho. Mackenzie, em seguida, carregou as malas enquanto Ellington pagava as contas de quartos.
Levou menos de dois minutos para eles chegarem na praia. Ellington tinha que andar muito lentamente pela passarela de madeira que levava à praia. Ela notou que ele gemeu quando eles desceram os degraus e foram para a areia.
Uns noventa metros ou mais à frente deles, as ondas caiam ao longo da praia. Gaivotas mergulhavam no céu, emitindo sons umas para as outras. À esquerda, algumas crianças estavam jogando um frisbee na água rasa, dançando em torno das ondas.
Era o mesmo pedaço da praia onde Mackenzie usou o seu laptop. Eles acharam o mesmo banco em que ela se sentou; estava desocupado, embora houvesse uma toalha molhada caída sobre ele, a toalha foi deixada e esquecida por um banhista.
Quando se sentaram, Ellington olhou para o oceano com o temor de uma criança. Você gosta de praia? Perguntou.
-Foi indiferente na maior parte da minha vida, disse ela. Mas alguma coisa neste caso me fez sentir atração pela praia. É um lugar calmo de uma maneira caótica.
-Parece com a base da minha vida, disse Ellington. Ele suspirou e olhou para o relógio. Tem ideia de quando sairá o próximo voo para DC? Perguntou.
-Eu nem olhei isso ainda. Eu darei uma olhada nisso em um minuto.
Ele balançou a cabeça, ainda olhando para o oceano. Mackenzie... a noite passada foi incrível. E não há uma parte de mim que não se arrepende. Mas eu sei que você... Eu conheço sua ética de trabalho. Se você acha que vai lhe atrapalhar ou interferir, então eu--
Ela interrompeu-o com um beijo. Foi um beijo lento, apaixonado e intencional. Quando parou, ela sorriu docemente para ele. Eu não estou pensando nisso, disse ela. Eu estou apenas deixando as coisas acontecerem e vivendo o agora.
Ellington pensou sobre isso por um momento, mas depois concordou.
-Desculpe-me, pela patada que eu lhe dei ontem de manhã, disse ela. Sobre o meu pai. Essa coisa toda... isso mexe comigo, mais do que eu imaginava. Mas eu estou processando
isso em mim.
-Está tudo bem. Eu entendi. É pessoal. Dói.
-Sim, é verdade. Mas... bem, tenho feito progressos. Progressos muito recentes. E eu estou cansada de internalizar tudo isso. Eu vou lhe contar tudo, se você quiser ouvir.
-Agora?
-Sim, é.
Ele parecia à vontade. Ele não estava olhando para o oceano. Ele agora estava olhando para ela, dando-lhe a mesma e entusiasmada atenção.
E então, ela contou tudo para ele. Ela começou a contar sobre quando era uma menina em Nebraska, quando foi para o quarto dos pais e encontrou seu pai morto, com um tiro na cabeça. Ela terminou com a descoberta de um cartão de visita em uma situação recente-o cartão em que está escrito o Barker Antiguidades.
Em cada palavra, Mackenzie podia sentir o peso saindo de dentro dela. Era libertador. Era como ter passado por um exorcismo, como sentir uma carga estranha e desagradável sendo expulsa de dentro dela.
Em um determinado momento, ele pegou a mão dela e fez a tarefa de contar tudo aquilo se tornar mais fácil.
Olhou para o Ellington e, em seguida, para o oceano. Algo sobre as ondas a fez se sentir como uma criança novamente. Ela sentia que cada momento de sua história que ela deixava sair era purificado pelas ondas e era sugado pelo mar, para nunca mais ser visto novamente.
Mas isso era uma esperança tola.
Ela disse para o Ellington que o seu passado tinha impregnado nela e isso era inegavelmente verdade. As marcas eram profundas e, de tempos em tempos, machucavam bastante.
Mas, quando contou a história do caso de seu pai e o progresso atual relacionado à reabertura do caso, ela sentiu como se talvez, apenas talvez, um dia ela pudesse ser capaz de remover isso dela de uma vez por todas.
Blake Pierce
O melhor da literatura para todos os gostos e idades