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Series & Trilogias Literarias
Ele tinha lido o livro pelo menos uma dúzia de vezes, mas tudo bem. Era um bom livro e ele chegou até a dar a cada personagem uma voz própria. Também ajudava ser um dos seus livros favoritos- Something Wicked This Way Comes, de Ray Bradbury. Para a maioria, pode parecer um livro estranho para se ler, considerando-se os moradores de uma casa para deficientes visuais, mas todos que já tinham lido o livro pareciam gostar.
Ele estava perto do final, e sua última residente estava devorando o livro. Ellis, uma mulher de cinquenta e sete anos, lhe havia dito que nasceu cega e viveu os últimos onze anos naquela casa, depois que seu filho decidiu que não queria mais carregar o peso de se ter uma mãe cega e colocou-a na Wakeman Home.
Ellis pareceu gostar dele imediatamente. Mais tarde, ela disse que contou para alguns dos outros moradores sobre ele porque ela gostava de ter a atenção dele só para si. E tudo bem para ele. Na verdade, isso era perfeito na opinião dele.
Ainda melhor, há cerca de três semanas ela insistiu para que saíssem da parte térrea da casa; ela queria aproveitar a narrativa dele ao ar fresco, com a brisa em seu rosto.
Não havia muita brisa hoje - estava, na verdade, terrivelmente quente - tudo bem para ele. Estavam sentados em um pequeno jardim de rosas, a meio quilômetro de distância da casa. Era um lugar, ela disse, que visitava muito. Ela gostava do cheiro das rosas e do zumbido das abelhas.
E agora, da voz dele, contando a história de Ray Bradbury.
Ele estava feliz que ela gostava tanto dele. Ele também gostava dela. Ellis não interrompia sua leitura com centenas de perguntas, como alguns dos outros. Ela simplesmente sentava-se lá, olhando para o espaço que ela nunca tinha visto de verdade, e apegava-se a cada palavra.
Quando chegou ao fim de um capítulo, ele olhou para o relógio. Ele já havia ficado dez minutos depois da hora habitual. Ele não tinha outros residentes que planejava visitar hoje, mas tinha planos para mais tarde na noite.
Colocando seu marcador entre as páginas, ele colocou o livro para baixo. Sem a história para distraí-lo, ele percebeu o quão opressivamente o calor do Sul estava atingindo suas costas.
"É isso por hoje?" Ellis perguntou.
Ele sorriu por causa da observação. Nunca deixou de se surpreender com o quão bem os outros sentidos compensavam a falta de visão. Ela o ouviu mudar de posição no banco pequeno perto do centro do jardim, então, ouviu o ruído suave do livro que foi colocado em sua perna.
"Sim, eu acho que sim," disse ele. "Eu já ultrapassei dez minutos."
"Quanto resta?" Perguntou ela.
"Cerca de quarenta páginas. Então, vamos finalizar isso na próxima semana. Parece bom?"
"Parece perfeito," disse ela. Ela, então, franziu a testa ligeiramente e acrescentou: "Você se importa se eu lhe pedir... Bem, você sabe... É tão bobo, mas..."
"Não, está tudo bem, Ellis."
Ele se inclinou para perto dela e deixou-a tocar seu rosto. Ela passou as mãos ao longo dos contornos. Ele entendeu a necessidade disso (e Ellis não era a única mulher cega que tinha feito isso com ele), mas isso ainda causava um certo estranhamento para ele. Um breve sorriso veio até a boca dela quando ela contornou a cabeça dele e depois tirou as mãos.
"Obrigada," disse ela. "E obrigada pela leitura. Eu estava pensando se você já tinha alguma ideia para o próximo livro?"
"Depende do que você está com vontade."
"Um clássico, talvez?"
"Este é de Ray Bradbury," disse ele. "Isso é tão clássico quanto eu. Eu acho que tenho The Lord of the Flies em algum lugar."
"Esse é o dos meninos encalhados na ilha, certo?"
"Basicamente, sim."
"Parece bom. Mas este... este Something Wicked This Way Comes é brilhante. Ótima escolha!"
"Sim, é um dos meus favoritos."
Ele ficou bastante feliz porque ela não podia ver o sorriso tortuoso no rosto dele. Algo perverso assim vem, mesmo, ele pensou. Fazendo alusão a tradução do título do livro.
Ele pegou seu livro, gasto e maltratado por anos de uso, aberto pela primeira vez há cerca de trinta anos. Ele esperou para que ela ficasse de pé com ele, como em um encontro impaciente. Ela tinha a sua bengala com ela, mas ela raramente usava aquilo.
A caminhada de volta para o Wakeman Home foi curta. Ele gostava de ver o olhar de concentração em seu rosto quando ela começava a andar. Ele se perguntou o que deve ser confiar em todos os outros sentidos para se deslocar. Deve ser cansativa a locomoção pelo mundo sem poder vê-lo.
Enquanto ele estudava o rosto dela, ele esperava, acima de tudo, que Ellis tivesse apreciado o que tinha ouvido do livro.
Ele segurou seu livro com força, quase decepcionado porque Ellis nunca descobriria como ele terminaria.
Ellis encontrou-se pensando nos jovens de Something Wicked This Way Comes. Era outubro no livro. Ela desejou que fosse outubro aqui. Mas não... Era o final de julho no Sul da Virgínia, e ela não achava que poderia ficar ainda mais quente. Mesmo depois de planejar sua caminhada antes do crepúsculo, a temperatura ainda estava nos cruéis trinta e dois graus, de acordo com o Siri no iPhone.
Tristemente, ela conhecia bem o Siri. Era uma ótima maneira de passar o tempo; falando com ela com sua voz robusta e meio robótica, informando Ellis com o trivia, atualizações climáticas e placares esportivos. Havia algumas pessoas da tecnologia na casa que sempre se certificavam de que todos os seus aparelhos computadorizados estavam atualizados. Ela tinha um MacBook equipado com iTunes e uma biblioteca musical bastante substancial. Ela também tinha o iPhone mais recente e até mesmo um aplicativo muito atual que respondia a um dispositivo anexado que lhe permitia interagir em Braille.
Siri havia acabado de dizer-lhe que a temperatura era de trinta graus lá fora. Isso parecia impossível, já que eram quase 7:30 da noite. Ah, tudo bem, ela pensou. Um pouco de suor nunca prejudicou ninguém. Ela pensou em esquecer sua caminhada. Era uma caminhada que ela fazia pelo menos cinco vezes por semana. E ela já havia feito uma vez hoje para se encontrar com o homem que lia para ela. Ela não precisava do exercício, mas... Bem, ela tinha certos rituais e rotinas. Isso a fazia se sentir normal. Isso fazia com que ela se sentisse sã.
Além disso, havia algo ao som da tarde enquanto o sol estava se pondo. Ela podia sentir e ouvir algo como um zumbido elétrico suave no ar quando o mundo caiu em silêncio, puxando o anoitecer com a noite em seus calcanhares.
Então, ela decidiu dar uma volta. Duas pessoas dentro da casa disseram tchau para ela, vozes familiares-uma cheia de tédio, a outra com um entusiasmo apagado. Ela apreciou a sensação de ar fresco em seu rosto quando saiu no gramado principal.
"Mas que diabos você está indo fazer, Ellis?"
Era outra voz familiar-o gerente da Wakeman, um homem alegre chamado Randall Jones.
"Minha caminhada habitual," ela respondeu.
"Mas está tão quente! Seja breve. Eu não quero que você desmaie! "
"Ou perca o ridículo toque de recolher," disse ela.
"Sim, ou isso," Randall disse com um pouco de desprezo.
Ela continuou com sua caminhada, sentindo a presença iminente da casa segui-la. Ela sentiu um espaço aberto à frente dela, o gramado a aguardava. Além dele, estava a calçada e, meio quilômetro depois, o jardim de rosas.
Ellis odiava a ideia de que ela estava quase com sessenta anos e ainda assim tinha que obedecer a um toque de recolher. Ela entendia, mas isso a fazia se sentir como uma criança. Ainda assim, apesar da falta de visão, ela gostava da Wakeman Home. Até havia aquele homem legal que lia para ela uma vez por semana - e às vezes, duas. Ela sabia que ele lia para alguns outros, também. Mas essas eram pessoas em outras casas. Aqui, na Wakeman, ela era a única para quem ele lia. Isso a fez se sentir especial. Isso fez com que ela sentisse que ele a preferia.
Ele reclamou para ela que a maioria dos outros gostavam de novelas de romance ou de best-sellers. Mas com Ellis, ele podia ler as coisas que ele gostava. Duas semanas atrás, eles tinham terminado Cujo de Stephen King. E agora havia esse livro de Bradbury e...
Ela parou em sua caminhada, levantando a cabeça ligeiramente.
Ela pensou ter ouvido algo perto dela. Mas depois de pausar, ela não ouviu nada novamente. Provavelmente apenas um animal que atravessava a floresta à minha direita, pensou. Era o Sul da Virgínia, afinal... E havia muitas florestas e muitos bichos vivendo nelas.
Ela bateu a bengala à frente, encontrando um tipo estranho de conforto em seu barulho familiar: "clique, clique", quando batia na calçada. Embora ela obviamente nunca tivesse visto a calçada ou a estrada ao lado dela, elas haviam sido descritas várias vezes para ela.
Ela também tinha uma imagem mental, conectando cheiros com as descrições de flores e árvores que alguns dos ajudantes e cuidadores da casa lhe haviam dado. Dentro de cinco minutos, ela podia cheirar as rosas vários metros à frente. Ela podia ouvir as abelhas zumbindo ao redor delas. Às vezes, pensava que podia até mesmo sentir o cheiro das abelhas, cobertas de pólen e qualquer mel que elas produzissem em algum outro lugar.
Ela conhecia o caminho para o jardim de rosas tão bem que poderia ter ido sem o uso de sua bengala. Ela tinha feito aquilo pelo menos mil vezes ao longo de seus onze anos na casa. Ela gostava de ir para lá para refletir sobre sua vida, sobre como as coisas ficaram tão difíceis que seu marido a deixou há quinze anos atrás e depois seu filho há 11 anos.
Ela não sentia falta do bastardo do seu ex-marido, mas sentia falta da sensação das mãos de um homem sobre ela. Se ela estivesse sendo sincera consigo mesma, era uma das razões pelas quais ela gostava de sentir o rosto do homem que lia para ela. Ele tinha um queixo quadrado que parecia pertencer a um homem forte, maçãs do rosto altas e um daqueles sotaques do Sul, era viciante ouvir sua voz. Ele poderia ler a lista telefônica e ela iria gostar do mesmo jeito.
Ela estava pensando nele enquanto se sentia entrar nos contornos familiares do jardim. O concreto era áspero e duro sob seus pés, mas tudo mais à frente dela parecia macio e convidativo. Ela parou por um momento e descobriu que, como costumava acontecer naquelas tardes, ela tinha o lugar todo só para si. Ninguém mais estava lá.
Novamente, ela parou. Ouviu algo por trás dela.
Sinta, também, pensou.
"Quem é?" Perguntou ela.
Ela não recebeu nenhuma resposta. Ela tinha saído tarde porque sabia que o jardim ficaria deserto. Muito poucos saíam depois das seis da tarde, porque a cidade de Stateton, na qual a Wakeman Home estava localizada, era um pequenino lugar.
Quando ela se afastou há quinze minutos atrás, ela ouviu o movimento de qualquer outra pessoa que estivesse no gramado da frente e não ouviu a voz de ninguém. Ela também não ouviu ninguém mais na calçada quando chegou ao jardim.
Havia a possibilidade de que alguém pudesse ter saído com a intenção de assustá-la, mas isso poderia ser arriscado. Havia repercussões desse comportamento nessa cidade, leis que foram aplicadas por uma força policial do Sul que não tolerava "merdas" quando se tratava de adolescentes locais e baderneiros tentando perturbar as pessoas com deficiência.
Mas lá estava de novo.
Ela ouviu o barulho, e a sensação de que alguém estava lá era muito mais forte agora. Ela sentiu o cheiro de alguém. Não era um mau cheiro. Na verdade, era familiar.
O medo percorreu o corpo dela, então, e ela abriu a boca para gritar.
Mas antes que pudesse, de repente, sentiu uma pressão imensa em sua garganta. Ela sentiu outra coisa, também, irradiando da pessoa, como um calor.
Ódio.
Ela foi amordaçada, era incapaz de gritar, falar, respirar e sentiu-se caindo de joelhos.
A pressão apertou sua garganta e aquele sentimento de ódio parecia penetrá-la, enquanto a dor se espalhava por todo o corpo e, pela primeira vez, Ellis ficou aliviada por ser cega. Ao sentir sua vida escapar dela, ela ficou aliviada de não ter que colocar os olhos no rosto do mal. Em vez disso, ela tinha apenas aquela escuridão tão familiar atrás de seus olhos para recebê-la no que seja lá o que for que a esperava depois desta vida.
CAPÍTULO UM
Mackenzie White, sempre em movimento, era perfeitamente feliz em ser confinada ao seu pequeno espaço de cubículo. Ela ficou ainda mais feliz quando, três semanas atrás, McGrath a chamou e disse a ela que havia um escritório vago graças a uma rodada de demissões do governo e que era dela se ela o quisesse. Ela esperou alguns dias e, quando ninguém mais o pegou, ela foi em frente e se mudou.
Era minimamente decorado, apenas com sua mesa, uma lâmpada de assoalho, uma pequena estante e duas cadeiras em frente à mesa. Um grande quadro branco com marcações de calendário estava pendurado na parede. Ela estava encarando o calendário enquanto dava um intervalo entre responder e-mails e fazer ligações em sua tentativa de encontrar detalhes sobre um caso em particular.
Era um caso antigo... um caso ligado ao único cartão de visitas que ela tinha no calendário do quadro branco, pendurado ali por um imã.
Antiguidades Barker
Era o nome de uma empresa que, aparentemente, nunca existiu.
Quaisquer linhas de investigação que surgiram, geralmente, foram frustradas logo em seguida. O mais próximo que eles haviam chegado de algum lugar foi quando o Agente Harrison descobriu um lugar em Nova Iorque que era uma possível ligação. Mas aquilo acabou não resultando em nada além de um homem que havia vendido velhas falsificações de antiguidades em sua garagem no fim dos anos 1980.
Ainda assim, havia uma sensação de que ela estava bem perto de encontrar algum fio que a levaria às respostas que ela estava procurando-respostas a respeito da morte de seu pai e do assassinato aparentemente correlato que havia ocorrido mais cedo neste ano, apenas seis meses atrás.
Ela tentou se sustentar nessa sensação de algo estando lá fora, balançando sem ser visto, mas não obstante, de alguma forma, também bem na sua frente. Ela precisava disso em dias como hoje, nos quais ela possuía três pistas em potencial se extinguindo de súbito através de ligações telefônicas e e-mails.
O cartão de visitas havia se tornado uma peça de quebra-cabeças para ela. Ela o encarava todos os dias, tentando descobrir alguma abordagem que ela ainda não havia tentado.
Estava tão enamorada com ele que quando alguém bateu na porta de seu escritório, ela deu um pequeno sobressalto. Ela olhou para a porta e viu Ellington ali. Ele enfiou a cabeça para dentro e olhou ao redor.
"É, um ambiente de escritório continua não lhe caindo bem."
"Eu sei," disse Mackenzie. "Eu me sinto como uma fraude. Entre."
"Ah, eu não tenho muito tempo," ele disse. "Estava apenas pensando se você gostaria de ir almoçar."
"Posso fazer isso," ela disse. "Encontre-me lá em baixo daqui a mais ou menos uma hora e-"
O telefone em sua mesa tocou, interrompendo-a. Ela leu o visor e viu que vinha da extensão do McGrath. "Um segundo." ela disse. "É do McGrath."
Ellington assentiu e fez uma divertida cara sisuda.
"Aqui é a Agente White," ela disse.
"White, é o McGrath. Eu preciso vê-la no meu escritório o quanto antes a respeito de um novo caso. Reúna-se com Ellington e traga-o com você."
Ela abriu a boca para dizer Sim senhor, mas McGrath terminou a chamada antes mesmo que ela pudesse reunir o fôlego.
"Parece que o almoço vai ter que esperar," ela disse. "McGrath precisa nos ver."
Eles compartilharam um olhar desconfortável enquanto o mesmo pensamento ocorria entre eles. Muitas vezes eles se perguntaram por quanto tempo seriam capazes de manter o relacionamento romântico em segredo para os colegas de trabalho, particularmente para McGrath.
"Você acha que ele sabe?" perguntou Ellington.
Mackenzie deu de ombros. "Eu não sei. Mas ele disse que ele precisa nos ver a respeito de um caso. Então, se ele realmente sabe, aparentemente, não foi o motivo por trás da ligação."
"Vamos descobrir então," disse Ellington.
Mackenzie desconectou do seu usuário no computador e juntou-se a Ellington enquanto se dirigiam através do prédio em direção ao escritório do McGrath. Ela tentava dizer a si própria que ela realmente não se importava se McGrath tinha conhecimento sobre eles. Não era motivo para suspensão ou qualquer coisa do tipo, mas ele provavelmente nunca lhes permitiria trabalharem juntos novamente, caso ele realmente descobrisse.
Então, embora ela tentasse dar o seu melhor para não se importar, sempre havia alguma preocupação. Ela deu o seu melhor para engolir isso ao se aproximarem do escritório do McGrath, tentando andar propositalmente o mais distante de Ellington quanto possível.
***
McGrath os mirou desconfiadamente ao se sentarem nos dois assentos em frente à sua mesa. Era um assento com o qual Mackenzie estava começando a se acostumar, sentar ali e ser repreendida ou elogiada por McGrath. Ela se perguntou qual seria hoje antes que ele os entregasse a tarefa.
"Então vamos lidar com algumas questões domésticas primeiramente," disse McGrath. "Se tornou claro para mim que há algo rolando entre vocês dois. Eu não sei se é amor ou apenas uma aventura ou o quê... e, honestamente, eu não ligo. Mas esse é o único e último aviso de vocês. Se isso interferir com o trabalho de vocês, vocês nunca serão colocados como parceiros novamente. E isso seria uma maldita pena, porque vocês trabalham muito bem juntos. Estou entendido?"
Mackenzie não via sentido em negar. "Sim, senhor."
Ellington ecoou a resposta dela e ela sorriu desajeitadamente quando percebeu que ele parecia constrangido. Ela notou que ele não era do tipo que estava acostumado a ser repreendido pelos superiores.
"Agora que temos aquilo fora do caminho, vamos para o caso," disse McGrath. "Nós recebemos uma ligação do xerife de uma pequena cidade do sul chamada Stateton. Há um lar para cegos localizado lá-e isso é tudo o que há por lá, pelo que percebi. Na noite passada, uma mulher cega foi morta extremamente perto das dependências. E, apesar de isso ser certamente trágico o suficiente, é o segundo assassinato de uma pessoa cega no estado da Virgínia no prazo de dez dias. Em ambos os casos, parece haver trauma no pescoço, indicando estrangulamento, assim como irritação ao redor dos olhos."
"A primeira vítima também era membro de um lar?" perguntou Mackenzie.
"Sim, embora de um muito menor pelo que pude perceber. Foi especulado originalmente que o assassino era um membro da família, mas levou menos de uma semana para que todos fossem inocentados. Com um segundo corpo e o que parece ser um conjunto de alvos bem específico, provavelmente, não é apenas coincidência. Então vocês podem entender a urgência dessa situação, eu espero. Honestamente, eu tenho a sensação de uma cidadezinha pacata nesse caso. Não há muita gente por lá, então deve ser mais fácil encontrar um suspeito rapidamente. Eu estou atribuindo a vocês dois, porque eu espero plenamente que vocês tenham o caso fechado em quarenta e oito horas. Menos seria ainda melhor."
"O Agente Harrison não estará envolvido nesse caso?" perguntou Mackenzie. Não tendo falado com o mesmo desde o falecimento da mãe dele, ela se sentia quase culpada. Embora ele nunca tenha realmente parecido um parceiro, ela ainda o respeitava.
"O Agente Harrison foi solicitado em outro lugar," disse McGrath. "Para este caso, ele será um recurso para as suas... pesquisas, informações ágeis e coisas dessa natureza. Você está desconfortável em trabalhar com o Agente Ellington?"
"De forma alguma, senhor," ela disse, arrependendo-se de ter dito qualquer coisa.
"Ótimo. Pedirei ao recursos humanos para reservar um quarto para vocês em Stateton. Eu não sou idiota... então vou requisitar apenas um quarto. Se nada mais sair dessa pequena aventura entre vocês dois, pelo menos eu vou poupar o departamento de gastos com hospedagem."
Mackenzie não tinha certeza se era uma tentativa de McGrath com humor. Era difícil dizer, porque o homem parecia nunca sorrir.
Ao se levantarem para seguir para a tarefa, ocorreu a Mackenzie quão vaga havia sido a resposta de McGrath sobre Harrison. Ele foi solicitado em outro lugar, pensou Mackenzie. O que isso significa?
Contudo, isso não dizia respeito a ela. Ao invés de se preocupar, ela foi atribuída a um caso que McGrath estava esperando uma reviravolta rápida. Ela já podia sentir o desafio fermentando dentro dela, impelindo-a para começar imediatamente.
CAPÍTULO DOIS
Mackenzie sentiu um calafrio passar por ela enquanto Ellington os guiava pela Rota Estadual 47, se aprofundando no coração da Virgínia rural. Virgínia rural. Alguns milharais apareceram aqui e ali, quebrando a monotonia dos extensos campos e florestas. A quantidade de milharais não era páreo para o que ela estava acostumada no Nebraska, mas a vista deles ainda a deixava um pouco apreensiva.
Felizmente, quanto mais perto eles chegavam da cidade de Stateton, menos milharais ela via. Eles foram substituídos por acres de terra recém-nivelada que foram devastados por madeireiras locais. Fazendo pesquisas sobre a área durante a viagem de quatro horas e meia, ela viu o local onde havia um distribuidor de madeira bem grande na cidade vizinha. Quanto à cidade de Stateton, entretanto, havia o Lar para Cegos Wakeman, umas poucas lojas de antiguidade e quase mais nada.
"Esses arquivos do caso lhe dizem alguma coisa da qual eu ainda não esteja a par? É difícil ler o fluxo constante de e-mails daqui do banco do motorista."
"Nada na verdade," ela disse. "Parece que vamos ter que passar pelos mesmos procedimentos de sempre. Visitar as famílias, o lar para cegos, coisas do tipo."
"Visitar as famílias... deve ser fácil em uma cidadezinha consanguínea como essa, hein?!"
Ela ficou chocada a princípio, mas então deixou passar. Ela havia aprendido, após algumas semanas juntos como o que ela supôs que poderia ser considerado "um casal", que Ellington tinha um senso de humor relativamente ativo; contudo, poderia ser seco algumas vezes.
"Você já passou muito tempo em um lugar como esse?" perguntou Mackenzie.
"Acampamento de Verão," disse Ellington. "É um pedaço dos meus anos de adolescente que eu realmente gostaria de esquecer? Era ruim desse jeito no Nebraska?"
"Não desse jeito, mas ficava desolado algumas vezes. Há momentos nos quais eu acho que eu prefiro a calma lá fora, em lugares como esse, mais do que eu gosto do tráfego abarrotado e das pessoas em lugares como DC."
"É, eu acho que posso entender isso."
Era divertido para Mackenzie conseguir conhecer Ellington melhor sem as armadilhas de um relacionamento tradicional de encontros. Mais do que aprender um sobre o outro em jantares chiques ou em longas caminhadas em um parque, eles iriam se conhecer durante viagens de carro e no tempo passado em escritórios do FBI ou em salas de conferência. E ela apreciava cada minuto disso. Algumas vezes ela se perguntava se algum dia ela ficaria cansada de conhecê-lo.
Até agora, ela não tinha certeza de que isso fosse possível.
Em frente, uma pequena placa ao lado da estrada lhes dava as boas vindas a Stateton, Virgínia. Uma estrada de duas pistas simples os levou através de mais árvores. Umas poucas casas e seus gramados quebraram a monotonia da floresta por cerca dois quilômetros, antes que algum sinal real de uma cidade predominasse. Eles passaram por um restaurante de copo sujo, uma barbearia, duas lojas de antiguidades, uma loja de suprimentos para fazenda, dois pequenos mercados, um posto dos correios e, então, depois de cerca de três quilômetros de tudo isso, uma construção de tijolos perfeitamente quadrada logo ao lado da rua principal. Uma placa de estilo bem militar logo na entrada dizia Departamento de Polícia e Instalações Carcerárias do Condado de Staunton.
"Já viu isso antes?" perguntou Ellington. "Uma delegacia e a cadeia do condado em um só prédio?"
"Algumas vezes no Nebraska," ela disse. "Acho que é muito comum em lugares como este. A prisão de verdade mais próxima de Stateton fica em Petersburg, que fica a aproximadamente cento e trinta quilômetros de distância, eu acho."
"Jesus, esse lugar é pequeno. Vamos conseguir terminar isso bem rápido."
Mackenzie assentiu enquanto Ellington virava na entrada e para o estacionamento da grande construção de tijolos que parecia estar literalmente no meio do nada,
O que ela estava pensando mais não disse era: eu só espero que você não tenha nos dado azar.
***
Mackenzie sentiu o cheiro de café preto e de alguma coisa parecida com Febreze quando entraram no pequeno saguão na frente do edifício. Parecia bastante agradável no interior, mas era um prédio antigo. Sua idade podia ser vista nas rachaduras do teto e na óbvia necessidade de um novo carpete no saguão. Uma mesa enorme ficava junto à parede dos fundos e, embora também parecesse ser tão velha como o restante do edifício, estava bem conservada.
Uma mulher mais velha se sentava atrás da mesa, folheando um grande fichário. Quando ela ouviu Mackenzie e Ellington entrarem, olhou para cima com um enorme sorriso. Era um belo sorriso, mas também mostrava a idade dela. Mackenzie supôs que ela estivesse atingindo os setenta.
"Vocês são os agentes do FBI?" perguntou a velha senhora.
"Sim, senhora," disse Mackenzie. "Eu sou a Agente White e esse é meu parceiro, o Agente Ellington. O xerife está por aí?"
"Ele está," ela disse. "De fato, ele me pediu para encaminhá-los diretamente para o escritório dele. Ele está bem ocupado fazendo ligações sobre a última horrível morte. Basta descer pelo corredor à esquerda de vocês. A sala dele é a última à direita."
Eles seguiram as direções dela e ao descerem o longo corredor que levava aos fundos do edifício, Mackenzie foi surpreendida pelo silêncio do lugar. No meio de um caso de assassinato, ela esperaria que o lugar estivesse repleto de atividade, mesmo estando no meio do nada.
Enquanto iam para o fundo do corredor, Mackenzie reparou alguns poucos avisos que foram postados nas paredes. Um dizia: Acesso a Prisão Requer Cartão. Em outro se lia: Todas as Visitas à Prisão Devem Ser Liberadas por Policiais do Condado! Aprovação Deve Ser Apresentada No Momento da Visita!
Sua mente começou a correr com pensamentos sobre a manutenção e regulamentos que deveriam ser instaurados para que uma prisão e um departamento de polícia compartilhassem o mesmo espaço. Era bem fascinante para ela. Mas antes que sua mente pudesse ir além, eles chegaram ao escritório nos fundos do corredor.
Letras douradas haviam sido pintadas na parte superior de vidro da porta, onde se lia Xerife Clarke. A porta estava parcialmente aberta, então Mackenzie a abriu devagar para o som de uma forte voz masculina. Quando ela espreitou dentro, viu um homem corpulento atrás de uma mesa, falando alto no telefone da mesa. Outro homem estava sentado em uma cadeira no canto, digitando furiosamente em seu celular.
O homem atrás da mesa-Xerife Clarke, Mackenzie presumiu-interrompeu-se ao telefone quando ela abriu a porta.
"Um minuto, Randall," ele disse. Ele cobriu o captador e olhou intermitentemente entre Mackenzie e Ellington.
"Vocês são do FBI?" ele perguntou.
"Nós somos," disse Ellington.
"Graças a Deus," ele suspirou. "Dê-me um segundo." Ele então descobriu o captador do telefone e continuou com sua outra conversa. "Olhe, Randall, a cavalaria acabou de chegar. Você estará disponível em quinze minutos? Sim? Ok, ótimo. Vejo você então."
O homem corpulento desligou o telefone e veio ao redor da mesa. Ele ofereceu a mão carnuda a eles, aproximando-se primeiro de Ellington. "Prazer em conhecê-los," ele disse. "Sou o Xerife Robert Clarke. Esse," ele disse indicando com a cabeça o homem sentado no canto, "é o Policial Keith Lambert. Neste momento, meu delegado está fora patrulhando as ruas, fazendo o melhor para encontrar algum tipo de pista nesse crescente desastre."
Ele quase se esqueceu de Mackenzie quando terminou de apertar a mão de Ellington, oferecendo outro aperto de mão para ela quase como uma consideração posterior. Quando apertou a mão dele, ela fez as introduções, esperando que o atentaria para o fato de que ela era tão capaz de liderar essa investigação quanto os homens na sala. Instantaneamente, velhos fantasmas do Nebraska começaram a agitar as correntes na cabeça dela.
"Xerife Clarke, eu sou a Agente White e esse é o Agente Ellington. Você será nosso contato aqui em Stateton?"
"Querida, eu vou ser quase tudo de vocês enquanto estiverem aqui," ele disse. "A força policial de todo o condado reúne colossais doze pessoas. Treze se você contar a Frances lá na recepção e no despacho. Com essa matança acontecendo, estamos bem esparsos."
"Bom, vamos ver o que podemos fazer para aliviar o seu fardo," disse Mackenzie.
"Quem me dera que fosse fácil assim," ele disse. "Mesmo se resolvermos esta maldita coisa hoje, eu vou ter metade do conselho de supervisores do condado no meu rabo."
"Por que isso?" perguntou Ellington.
"Bem, os jornais locais acabaram de tomar conhecimento da identidade da vítima. Ellis Ridgeway. A mãe de um emergente político nojento e babaca. Alguns dizem que ele pode conseguir chegar ao senado dentro de mais cinco anos."
"E quem é esse?" perguntou Mackenzie.
"Langston Ridgeway. Vinte e oito anos de idade e acha que é a merda do John Kennedy."
"Sério?" Disse Mackenzie, um pouco surpresa que isso não tenha sido incluído nos relatórios.
"Sim. Como o jornal local conseguiu essa informação está além de mim. Os idiotas não conseguem soletrar direito metade do tempo, mas isso eles conseguem."
"Eu vi as placas do Lar para Cegos Wakeman no caminho para cá," disse Mackenzie. "Fica apenas a nove quilômetros daqui, correto?"
"Cem por cento," disse Clarke. "Eu acabei de falar com Randall Jones, o gerente de lá. Era com quem eu estava no telefone quando vocês entraram. Ele está por lá agora para responder quaisquer perguntas que vocês tenham. E quanto antes melhor. A mídia e alguns mandachuvas do condado estão ligando para ele e o importunando."
"Bem, vamos até lá," disse Mackenzie. "Você vai com a gente?"
"De jeito nenhum, querida. Estou atolado por aqui. Mas, por favor, volte quando terminarem com Randall. Eu vou ajudá-los da forma que eu puder, mas, realmente... eu adoraria passar essa bola para vocês."
"Sem problema," disse Mackenzie. Ela não sabia ao certo como lidar com Clarke. Ele era honesto e sem rodeios, o que era bom. Ele também parecia adorar soltar palavrões. Ela também pensou que quando ele a chamou de querida, ele não estava sendo ofensivo. Era aquele estranho tipo de charme sulista.
Além disso, o homem estava estressado além da conta.
"Nós voltaremos direto para cá quando terminamos no lar," disse Mackenzie. "Por favor, nos ligue se você souber de algo novo até lá."
"É claro," afirmou Clarke.
No canto, ainda digitando no telefone, o Policial Lambert grunhiu em acordo.
Tendo gasto menos de três minutos no escritório do Xerife Clarke, Mackenzie e Ellington andaram de volta pelo corredor e saíram pelo saguão. A mulher mais velha, que Mackenzie assumiu ser a Frances que Clarke mencionara, acenou-lhes vivamente enquanto eles saíam.
"Bem, isso foi... interessante," disse Ellington.
"O cara está sobrecarregado até a cabeça," ela disse. "Dê uma folga a ele."
"Você só gosta dele, porque ele te chama de querida," disse Ellington.
"E?" ela disse com um sorriso.
"Ei, eu posso começar a chamar você de querida."
"Por favor, não," ela disse ao entrarem no carro.
Ellington os conduziu por meio quilômetro até a Rodovia 47 e então pegou a esquerda na estrada de volta. Logo de cara, viram uma placa indicando o Lar para Cegos Wakeman. Ao se aproximarem da propriedade, Mackenzie começou a imaginar porque alguém teria escolhido um lugar tão aleatório e isolado como local de um lar para cegos. Certamente, havia algum tipo de significado psicológico por trás disso. Talvez estar localizado no meio do nada os ajudasse a relaxar, removidos dos zumbidos de uma grande cidade.
Tudo o que ela sabia com certeza era que, enquanto as árvores ficavam mais espessas ao redor deles, ela começava a se sentir mais sufocada do resto do mundo. E pela primeira vez em um logo período, quase ansiou pela familiar vista daqueles milharais da sua juventude.
CAPÍTULO TRÊS
O Lar para Cegos Wakeman não parecia nada com o que Mackenzie estava esperando. Em contraste com o Departamento de Polícia e Instalações Carcerárias do Condado de Staunton, o Lar para Cegos Wakeman parecia com uma maravilha moderna do design e da construção-e essa era a vista que Mackenzie tinha antes mesmo de entrar.
A frente do lugar era composta de grandes janelas de vidro que pareciam formar a maior parte das paredes. Na metade da calçada até a entrada, Mackenzie já conseguia ver o interior. Ela viu um amplo saguão que se assemelhava com algo saído direto de algum tipo de spa. Era amigável e convidativo.
Era uma sensação que apenas se intensificou uma vez que entraram. Tudo era muito limpo e parecia novo. Na pesquisa que ela havia feito a caminho de Stateton, ela descobriu que o Lar para Cegos Wakeman fora construído apenas em 2007. Quando foi construído, houve uma ligeira comemoração no Condado de Staunton, já que trouxe novos postos de trabalho e comércio. Agora, no entanto, enquanto ainda era um dos edifícios mais proeminentes do condado, a excitação havia morrido e o lar parecia ter sido engolido pelo seu entorno rural.
Uma jovem mulher sentava-se atrás de um balcão curvo ao longo da parede do fundo. Ela os cumprimentou com um sorriso, mas evidente que estava perturbada. Mackenzie e Ellington se aproximaram, se apresentaram e foi-lhes solicitado que se tomassem um assento na área de espera enquanto Randall Jones saía para encontrá-los.
Como se viu, Randall Jones estava muito ansioso para conhecê-los. Mackenzie ficou sentada por não mais que dez segundos antes que um conjunto de portas duplas que levavam aos fundos do edifício se abrissem no outro lado da sala de espera. Um homem alto, vestindo uma camisa social e calças cáqui as atravessou. Ele tentou um sorriso enquanto se apresentava, mas, assim como a recepcionista, não conseguia esconder o fato de que ele estava cansado e muito conturbado.
"Eu estou feliz que vocês estejam aqui tão cedo," disse Jones. "Quanto mais cedo conseguirmos finalizar isso, melhor. As fofocas dessa pequena cidade estão em fogo com isso."
"Nós também gostaríamos de derrubar isso o quanto antes," disse Mackenzie. "Você sabe exatamente onde o corpo foi encontrado?"
"Sim. é um jardim de rosas a cerca de oitocentos metros daqui. Originalmente, seria o local para o Wakeman, mas alguma estranha regulação de zoneamento do condado atrapalhou tudo."
"Você poderia nos levar até lá?" perguntou Mackenzie.
"Claro. Tudo o que vocês precisarem. Venham comigo."
Jones os levou através das portas duplas que ele havia atravessado. No outro lado, havia uma pequena alcova que levava diretamente para o lar. As primeiras portas pelas quais passaram eram escritórios e espaços de depósito. Estas eram separadas dos quartos do residentes por uma área aberta de escritório onde um homem e uma mulher estavam sentados atrás de um espaço de balcão bem parecido com uma ala hospitalar.
Ao passarem pelos quartos, Mackenzie espreitou dentro de um que estava aberto. Os quartos eram bastante espaçosos e eram enfeitados com uma bela mobília. Ela também viu notebooks e tablets em alguns dos quartos.
Apesar de estar localizado no meio do nada, aparentemente não havia uma escassez de fundos para manter o lugar funcionando, ela pensou.
"Quantos residentes vivem aqui?" perguntou Mackenzie.
"Vinte e seis," ele disse. "E eles vêm de todos os lugares. Nós temos um senhor mais velho que veio da Califórnia, por causa do serviço excepcional e da qualidade de vida que nós podemos proporcionar."
"Perdoe-me caso seja uma pergunta ignorante," disse Mackenzie, "mas que tipo de coisas eles fazem?"
"Bem, nós temos aulas que cobrem uma grande variedade de interesses. A maioria tem que ser especializada para atender as necessidades deles, é claro. Nós temos aulas de culinária, programas de exercício, clube de jogos de tabuleiro, clubes de trívia, aulas de jardinagem, artesanato, coisas do tipo. Também, algumas vezes por ano, organizamos passeios para permitir-lhes fazer trilhas ou nadar. Ainda temos duas almas corajosas que são levadas para canoagem sempre que saímos."
Ouvir tudo isso fez Mackenzie se sentir insensível, mas também feliz. Ela não tinha ideia de que pessoas que eram completamente cegas poderiam se tornar adeptas a coisas como canoagem e natação.
Próximo ao fim do corredor, Jones os levou a um elevador. Quando entraram e desceram, Jones se escorou na parede, claramente exausto.
"Sr. Jones," disse Mackenzie, "você tem alguma ideia de como os jornais da região já tenham descoberto sobre o assassinato?"
"Não faço ideia," ele disse. "Essa é uma das razões para eu estar tão cansado. Eu estive interrogando minha equipe extensivamente. Mas todos estão limpo. Certamente, há um vazamento, mas eu não tenho noção de onde ele esteja vindo."
Mackenzie assentiu. Não é muito de se preocupar, ela pensou. Um vazamento em uma cidade pequena como essa é quase certo. No entanto, isso deve ficar no caminho da investigação.
O elevador parou e os deixou em um pequeno tipo de porão com acabamento. Algumas cadeiras estavam espalhadas aqui e ali, mas Jones os levou para uma porta logo a frente deles. Eles saíram e Mackenzie se viu atrás do edifício, de frente para um estacionamento para funcionários.
Randall os levou até o carro dele e quando entraram, ele não perdeu tempo para ligar o ar condicionado. O interior do carro era como uma fornalha, mas o ar condicionado logo começou seu trabalho.
"Como a Sra. Ridgeway chegou ao jardim?" perguntou Ellington.
"Bem, considerando que estamos no meio do nada, nós permitimos aos nossos residentes certa liberdade. Nós temos um toque de recolher às nove horas durante o verão-o qual cai para as seis horas no outono e no inverno, quando escurece mais cedo. O jardim de rosas para o qual nos dirigimos é um local que alguns dos residentes vão apenas para dar uma volta. Como vocês irão perceber, é uma caminhada rápida sem qualquer perigo."
Randall os levou para fora do estacionamento e virou na estrada. Ele se deslocou para na direção oposta do departamento de polícia, revelando um novo seguimento da estrada para Mackenzie e Ellington.
A estrada era uma reta que se afastava para mais distante, de volta para a floresta. Mas dentro de trinta segundos, Mackenzie foi capaz de ver os pequenos portões de ferro fundido que limitavam o jardim de rosas. Randall estacionou em uma pequena faixa de estacionamento, no qual havia apenas três outros carros parados, um dos quais era uma viatura policial abandonada.
"O Xerife Clarke e seus homens estiveram por aqui a maior parte da noite passada e cedo nessa manhã," Randall disse. "Quando ele ouviu que vocês estavam vindo, ele a abandonou. Ele realmente não quer atrapalhar, sabem?"
"Nós certamente apreciamos isso," disse Mackenzie, saindo do veículo de volta para o calor sufocante.
"Nós sabemos de fato que esse foi o último lugar que Ellis Ridgeway visitou," disse Randall. "Ela passou por outros dois residentes a caminho da saída, assim como por mim. Provas adicionais disso podem ser vistas nas câmeras de segurança no lar. Ela estava muito distraída indo nessa direção-e todos no lar sabem que ela gosta de dar passeios tarde da noite por aqui. Ela o fazia pelo menos quatro ou cinco vezes na maioria das semanas."
"E ninguém mais estava aqui com ela?" perguntou Mackenzie.
"Ninguém do lar. Honestamente, não são muitas pessoas que vêm aqui na metade mórbida do verão. Eu não sei se vocês repararam que nós estamos no meio de um período quente bem árduo."
Ao se aproximarem do lado leste do jardim, Mackenzie foi quase arrebatada com os aromas. Ela pegou uma lufada de rosas, hortênsias e do que acreditou ser lavandas. Ela supôs que deveria ser uma boa escapada para os cegos- uma forma de realmente desfrutar dos outros sentidos.
Quando chegaram a uma dobra na trilha que curvava ao longe, de volta para o leste, Jones se virou e apontou para trás deles. "Se vocês olharem através daquele espaço nas árvore no outro lado da estrada, vocês podem ver a lateral do Wakeman," ele disse tristemente. "Ela estava bem perto de nós quando morreu."
Então ele saiu da calçada e se esgueirou por dois grandes vasos de plantas contendo rosas vermelhas. Mackenzie e Ellington o seguiram. Eles chegaram a um portão dos fundos que esteve quase escondido por todas as flores, árvores e vegetação. Havia um espaço de cerca de um metro e trinta centímetros que estava vazio, a não ser por alguma grama dispersa.
Ao atravessarem, ela pode perceber instantaneamente como parecia um lugar perfeito para um assassino obstinado atacar. Randall Jones o disse ele mesmo-ninguém vem muito até aqui quando está tão quente. O assassino certamente sabia disso e usou ao seu favor.
"Aqui é onde eu a encontrei," disse Jones, apontando para o espaço vazio entre os dois grandes vasos e os portões de ferro fundido. "Ela estava deitada de bruços e curvada como em forma de 'U'."
"Você a encontrou?" perguntou Ellington.
"Sim. Aproximadamente às nove e quarenta e cinco da noite. No momento em que ela não retornou para o recolhimento obrigatório, eu comecei a me preocupar. Depois de meia hora, achei que eu deveria vir verificar se ela havia caído ou entrado em pânico ou algo assim."
"Todas as roupas dela estavam no lugar?" perguntou Mackenzie.
"Tanto quanto eu poderia dizer," disse Randall, claramente surpreso pela pergunta. "No momento, eu não estava realmente pensando dessa maneira."
"E não há absolutamente qualquer coisa naquelas imagens de vídeo no lar?" perguntou Ellington. "Ninguém a seguindo?"
"Ninguém. Vocês estão convidados para olhar as imagens por si quando voltarmos."
Enquanto eles retornavam pelo jardim, Ellington levantou uma questão que estava fermentando na cabeça de Mackenzie. "O lar parece bem quieto hoje. Por quê?"
"Eu acho que você chamaria isso de luto. Nós temos uma comunidade muito unida no Wakeman e Ellis era muito querida. Por todo o dia, pouquíssimos dos nossos residentes saíram dos quartos. Nós também fizemos um anúncio pelo sistema de som de que teríamos agentes de DC vindo investigar o assassinato de Ellis. Desde então, quase ninguém saiu dos quartos. Eu acho que eles estão assustados... com medo."
Isso, mais o fato de ninguém tê-la seguido para fora do lar, eliminam que algum residente seja o assassino, pensou Mackenzie. O parco arquivo sobre a primeira vítima declarava que o assassinato ocorreu entre onze horas e meia noite... e a uma boa distância de Stateton.
"De alguma forma seria possível que nós falássemos com alguns de seus residentes?" perguntou Mackenzie.
"Está absolutamente tranquilo por mim," disse Jones. "É claro, se eles estiverem desconfortáveis com isso, eu terei que pedi-los para parar."
"É claro. Acho que eu poderia-"
Ela foi interrompida pelo toque do celular dela. Ela verificou e viu no visor que não era um número familiar.
"Um segundo," ela disse atendendo a chamada. Ela se afastou de Jones e respondeu: "Aqui é a Agente White."
"Agente White, é o Xerife Clarke. Olha, eu sei que vocês acabaram de sair daqui, mas eu realmente apreciaria se vocês se apressarem de volta para cá o quanto antes."
"Certamente. Está tudo ok?"
"Já esteve melhor," ele disse. "Eu acabo de receber essa irritante perda de espaço que é o Langston Ridgeway por aqui. Ele exigiu falar com vocês sobre o caso da mãe dele e ele está começando a fazer uma cena."
Mesmo no meio do mato você não pode escapar da política, pensou Mackenzie.
Irritada, ela fez o melhor para responder de maneira profissional. "Dê-nos cerca de dez minutos," ela disse e desligou.
"Sr. Jones, nós teremos que voltar para o xerife por agora," ela disse. "Você poderia preparar aquelas filmagens de segurança para nós, quando voltarmos?"
"É claro," disse Randall, os guiando de volta para o carro dele.
"E enquanto isso," acrescentou Mackenzie, "eu gostaria de uma lista de qualquer um sobre o qual você tenha a menor suspeita. Eu falando de funcionários e de outros residentes. Pessoas que saberiam o alcance a câmera de segurança no jardim."
Jones assentiu sombriamente. O olhar em seu rosto dizia a Mackenzie que era algo que ele próprio havia considerado, mas não se atreveu a colocar muita fé. Com aquela mesma expressão no rosto, ele deu partida no carro e os levou de volta para o Wakeman. Ao longo do caminho, Mackenzie notou novamente o silêncio da pequena cidade-não tranquila, mas mais como a calmaria antes de uma tempestade.
CAPÍTULO QUATRO
O primeiro pensamento que brotou na cabeça de Mackenzie quando ela viu Langston Ridgeway foi que ele parecia um louva-deus. Ele era alto e magro e movia os braços como estranhas pequenas pinças quando falava. O fato dos seus olhos estarem enormes de fúria enquanto gritava com todos que tentavam conversar com ele não ajudava.
O Xerife Clarke os guiou à pequena sala de conferências no fim do corredor-uma sala que não era muito maior que seu escritório. Lá, com as portas fechadas, Langston Ridgeway ficou tão alto quanto podia enquanto Mackenzie e Ellington aturavam sua ira.
"Minha mãe está morta, se foi," ele lamentou, "e eu estou inclinado a culpar a incompetência dos funcionários do maldito lar. E já que esse deplorável xerife se recusa a me deixar falar com Randall Jones pessoalmente, eu gostaria de saber o que vocês dois capangas do FBI tem intenção de fazer sobre isso."
Mackenzie hesitou um segundo antes de responder. Ela estava tentando medir o nível de luto dele. Da forma que ele estava se comportando, era difícil dizer se sua ira era uma expressão de sua perda ou se ele realmente era apenas um homem atroz que gostava de gritar ordens para os outros. Até então, ela não conseguia dizer.
"Muito francamente," disse Mackenzie, "eu concordo com o xerife. Agora você está com raiva e machucado e parece que você está procurando passar a culpa. Sinto muito pela sua perda. Mas a pior coisa que você poderia fazer agora é confrontar o gerente do lar."
"Culpa?" Ridgeway perguntou, claramente não acostumado com as pessoas não se curvarem e concordarem com ele imediatamente. "Se aquele lugar é responsável pelo que aconteceu com minha mãe, então eu-"
"Nós já visitamos o lar e conversamos com Sr. Jones," disse Mackenzie o cortando. "Eu posso garanti-lo que o que aconteceu com sua mãe foi influência de fontes externas. E se forem internas, então certamente o Sr. Jones sabe nada sobre elas. Eu posso dizer tudo isso com absoluta confiança."
Mackenzie não tinha certeza se o olhar de choque que veio sobre o rosto de Ridgeway foi o resultado de seu desacordo com ele ou porque ela havia o interrompido.
"E você entendeu tudo isso com aquela única conversa?" ele perguntou, claramente cético.
"Sim," ela disse. "Obviamente, essa investigação ainda está muito nova, então eu não posso estar certa de coisa alguma. O que eu posso dizer a você é que é muito difícil conduzir uma investigação quando eu recebo chamadas que acabam me fazendo ter que deixar a cena de um crime apenas para escutar pessoas gritarem e reclamarem."
Ela quase podia sentir a fúria saindo dele agora. "Eu perdi minha mãe," ele disse, cada palavra como um suspiro. "Eu quero respostas. Eu quero justiça."
"Ótimo," disse Ellington. "Nós queremos a mesma coisa."
"Mas para conseguirmos," disse Mackenzie, "você precisa nos deixar trabalhar. Eu entendo que você possui influência por aqui, mas francamente, eu não ligo. Nós temos um trabalho a fazer e não podemos deixar sua raiva, luto ou arrogância ficarem no caminho."
Durante a conversa inteira, Xerife Clarke sentava-se à pequena mesa de conferências. Ele estava fazendo o seu melhor para conter um sorriso.
Ridgeway ficou quieto por um momento. Ele ia e voltava com o olhar entre os agentes e o Xerife Clarke. Ele assentiu e quando uma lágrima escorreu pela lateral de seu rosto, Mackenzie pensou que ela pudesse ser real. Mas também ainda conseguia ver a raiva nos olhos dele, logo ali na superfície.
"Tenho certeza que você está acostumado a distribuir ordens para policiais de cidadezinhas, para suspeitos e para sei lá mais quem," Langston Ridgeway disse. "Mas deixe-me dizer isso a você... se você deixar a bola cair nesse caso ou, por qualquer motivo, me desrespeitar de novo, eu farei uma ligação para DC. Eu vou falar com seu supervisor e vou enterrar você."
A parte triste é que ele acha que é completamente capaz de tal coisa, Mackenzie pensou. E talvez ele seja. Mas com certeza eu adoraria ser uma mosca na parede quando alguém como Langston Ridgeway começa a latir para McGrath.
Ao invés de agravar a situação, Mackenzie decidiu permanecer calada. Ela deu uma olhada para o lado e viu que Ellington estava abrindo e fechando o punho... um pequeno artifício ao qual ele recorria sempre que estava à beira de ficar irracionalmente nervoso.
No fim, Mackenzie disse, "Se você nos deixar fazer nosso trabalho sem obstáculos, não chegará a isso."
Estava claro que Ridgeway estava procurando por algo mais para dizer. Tudo o que ele pode elaborar foi um abafado hunf. Ele seguiu isso se afastando rapidamente e deixando a sala. O que muito lembrou Mackenzie de uma criança no meio de uma birra.
Após alguns segundos, Xerife Clarke inclinou-se para frente com um suspiro. "E agora vocês veem com o que eu venho lidando. Aquele garoto acha que o sol nasce e se põe ao redor do seu rabo mimado. E ele pode continuar falando sobre ter perdido a mãe o quanto ele quiser. Tudo com o que ele se preocupa é a mídia em grandes cidades descobrindo que ele a despejou em um lar... mesmo que seja um bem agradável. Ele se preocupa com a própria imagem mais do que qualquer outra coisa."
"Sim, eu tive essa mesma sensação," disse Ellington.
"Você acha que podemos esperar alguma outra interferência dele?" perguntou Mackenzie.
"Eu não sei. Ele é imprevisível. Ele fará tudo o que ele achar que possa melhorar suas chances de conseguir atenção pública, a qual depois se tornará votos para qualquer horizonte maldito que ele almeja."
"Então certo, Xerife," disse Mackenzie, "se você tem alguns minutos, porque não nos sentamos e repassamos o que sabemos?"
"Não vai demorar muito," ele disse. "Porque não há muito mesmo."
"É melhor que nada," disse Ellington.
Clarke assentiu e ficou de pé. "Vamos de volta para meu escritório, então," ele disse.
Enquanto caminhavam pelo pequeno corredor, ambos Mackenzie e Ellington deram um sobressalto quando Clarke berrou, "Ei, Frances! Passe uma garrafa de café, você poderia, querida?"
Mackenzie e Ellington trocaram um olhar perplexo. Ela estava começando a ter uma sensação muito boa sobre o Xerife Clarke e a maneira que ele conduzia as coisas. E, embora eles possam ser um pouco rústicos, ela estava descobrindo que gostava um pouco dele-linguagem suja e sexismo não intencional à parte.
Com a noite avançando, Mackenzie e Ellington se aconchegaram ao redor da mesa de Clarke e repassaram o material existente no caso.
CAPÍTULO CINCO
Logo antes de Frances trazer o café, o Policial Lambert retornou. Agora que ele não estava digitando no telefone, Mackenzie viu que ele era um homem jovem, no início dos seus trinta. Ela achou estranho que um policial estivesse servindo como mão direita de Clarke, ao invés de um delegado, mas não deu muita atenção a isso.
Cidade pequena, ela pensou.
Os quatro se sentaram ao redor da mesa de Clarke repassando o material. Clarke parecia estar mais do que feliz em deixar Mackenzie conduzir. Ela estava feliz em ver que ele parecia estar se recuperando rapidamente... aceitando-a mais como um igual.
"Então vamos começar com o mais recente," ela disse. "Ellis Ridgeway. Cinquenta e sete anos de idade. Como eu estou começando a aprender, ela tem um filho muito arrogante e cheio de si. Fora o fato de ela ser obviamente cega, o que mais vocês podem me dizer sobre ela?"
"Isso é tudo, realmente," disse Clarke. "Ela era uma senhora doce. Pelo que posso concluir, todos no lar a adoravam. O que me assusta em toda essa situação é que o assassino tem que ser familiar para ela, certo? Ele tinha que saber que ela havia deixado a casa para atingi-la dessa forma".
"Meu cérebro também queria ir nessa direção," disse Mackenzie. "Mas se essas mortes estiverem conectadas-e certamente parece que estão-isso significa que para alguém local que a conheça o tenha feito, haveria muita viagem envolvida. A outra morte foi o que... duas horas e meia de distância?"
"Quase três," disse Clarke.
"Exatamente", disse Mackenzie. "Sabe, eu até imaginei por um momento que pudesse ter sido outro residente, mas eu fui informado com boa autoridade por Randall Jones que ninguém a seguiu ontem. Aparentemente, há provas em vídeo sobre isso, as quais nós ainda não vimos graças à interferência de Langston Ridgeway. E a respeito dos residentes ou funcionários deixarem o lar quando Sra. Ridgeway estava ausente, não há evidência para embasar outra pessoa saindo durante esse tempo-nem residentes, nem empregados, ninguém."
"E então, voltando para aquele primeiro assassinato," disse Ellington, "nós precisaremos ir conversar com os membros da família em breve. O que você pode nos dizer sobre a primeira vítima, Xerife?"
"Bem, foi em outro lar para cegos," ele disse. "E tudo o que eu sei sobre isso está naquele arquivo que você tem, tenho certeza. Como eu disse, fica há quase três horas daqui, quase em West Virgínia. Um lugar precário pelo que pude reunir. Não é realmente um lar, mais similar a uma escola, eu acho."
Ele deslizou uma folha de papel para ela e ela viu o breve relatório policial da primeira cena. Foi em uma cidade chamada Treston, a cerca de vinte e cinco milhas de Bluefield, West Virgínia. Kenneth Able de trinta e oito anos foi estrangulado até a morte. Havia sinais de abrasão ao redor dos olhos. O corpo foi descoberto escondido no armário do quarto no qual ele ficava a maior parte do tempo dentro do lar.
Os fatos eram muito robóticos, sem detalhes. Mesmo havendo observações sobre a investigação estar em andamento, Mackenzie duvidou que fosse algo sério.
Aposto que agora está, no entanto, ela pensou.
Essa nova morte foi muito explícita para negar. As vítimas eram muito semelhantes, bem como eram os sinais de agressão nos corpos.
"Eu pedi a Randall Jones para compilar uma lista de empregados ou de outros associados com o lar que pudessem ser, mesmo levemente, possíveis suspeitos," disse Mackenzie. "Eu acho que nossa próxima melhor aposta é falar com esse lugar em Treston para ver se há alguma ligação."
"A desvantagem aqui é que Treston fica longe para caramba," apontou Ellington. "Mesmo se isto acabar por ser moleza, vai haver algumas viagens envolvidas. Parece que nós não conseguiremos ter tudo ajeitado tão rapidamente quanto o ilustre Sr. Ridgeway gostaria."
"Quando o trabalho de perícia completa será feito na Sra. Ridgeway?" perguntou Mackenzie.
"Estou esperando ouvir algo em poucas horas," disse Clarke. "Porém, uma investigação preliminar mostrou nada óbvio. Sem digitais, sem cabelos visíveis ou outros materiais deixados para trás."
Mackenzie assentiu e olhou de volta para os arquivos do caso. Quando ela havia acabado de começar a explorá-los propriamente, seu telefone tocou. Ela o abriu e respondeu: "Agente White."
"Randall Jones falando. Eu tenho uma lista de nomes para vocês, como você pediu. É curta e eu estou bem certo de que todos eles estão limpos."
"Quem são eles?"
"Há um cara da equipe de manutenção que não é muito confiável. Ele trabalhou o dia todo ontem, saindo logo depois das cinco. Eu perguntei por aí e ninguém o viu retornar. Há outro cara que trabalha para uma loja especial de serviços sociais. Ele vem e joga jogos de tabuleiro às vezes. Meio que vem e brinca com eles. Ele faz algumas coisas voluntariamente como serviços de limpeza ou mudar os móveis de lugar de tempos em tempos."
"Você pode me enviar por mensagem os nomes e qualquer informação de contato que você tenha?"
"Certo," disse Jones, claramente infeliz por considerar algum dos homens como suspeitos.
Mackenzie terminou a chamada e olhou de volta para os três homens na sala. "Era Jones com dois possíveis candidatos. Um trabalhador de manutenção e alguém que vai como voluntário e passa um tempo com os residentes. Xerife, ele vai me enviar os nomes por mensagem a qualquer momento. Você poderia dar uma olhada neles e-"
O telefone dela tocou ao receber a mensagem em questão. Ela mostrou os nomes ao Xerife Clarke e ele deu de ombros, derrotado.
"O primeiro nome, Mike Crews, é o cara da manutenção," ele disse. "Eu sei como fato que ele não estava matando ninguém depois do serviço na noite passada, porque eu tomei uma cerveja com ele no Rock's Bar. Isso foi depois que ele foi até a casa da Mildred Cann para consertar o ar condicionado dela de graça; Eu já posso dizer a vocês que Mike Crews não é o seu cara."
"E sobre o segundo nome?" perguntou Ellington.
"Robbie Huston," ele disse. "Eu só o vi de passagem. Estou bem certo que ele é enviado por algum tipo de loja de serviços sociais fora de Lynchburg. Mas pelo que eu entendo, ele é como um santo no lar. Lê para os residentes, é bem amigável. Como eu disse, ele está fora de Lynchburg. Fica a cerca de uma hora e meia de distância daqui-bem no caminho para Treston, de fato."
Mackenzie olhou de volta para a mensagem de Jones e salvou o número que ele havia fornecido para Robbie Huston. No melhor dos casos era uma pista frágil, mas pelo menos era alguma coisa.
Ela olhou para seu relógio e viu que era perto das seis horas. "Quando seu delegado e outros policiais vão reportar?" ela perguntou.
"Muito em breve. Mas ainda ninguém ligou com qualquer coisa. Eu os manterei atualizados se vocês quiserem sair e recolher seus pertences."
"Parece bom para mim," disse Mackenzie.
Ela pegou os arquivos do caso enquanto ficou de pé. "Obrigado por sua ajuda esta tarde," disse Mackenzie.
"É claro. Eu só queria oferecer mais assistência. Se vocês quiserem, posso chamar a Polícia Estadual até aqui para ajudar. Eles estiveram aqui nessa manhã, mas se espalharam bem rápido. Eu acho que pode haver alguns deles ficando aqui na cidade por um dia ou dois."
"Se chegar a esse ponto, eu te aviso" disse Mackenzie. "Boa noite, senhores."
Com isso, ela e Ellington saíram. O saguão da frente estava vazio agora, Frances tendo terminado o dia.
No estacionamento, Ellington hesitou por um momento ao tirar as chaves. "Hotel ou uma viagem a Lynchburg?" ele perguntou.
Ela pensou sobre isso e, apesar da forte tentação em continuar a investigação mesmo tarde da noite, sentiu que tentar entrar em contato com Robbie Huston pelo telefone produziria os mesmos resultados que uma viagem até Lynchburg. Mais do que isso, ela já estava começando a acreditar que o Xerife Clarke sabia o que ele estava fazendo-e se ele não possuía ressalvas sobre Huston, então ela confiaria nisso por enquanto. Era uma das melhores coisas em trabalhar em um caso em uma cidade pequena-quando todos se conheciam quase intimamente, as opiniões e instintos da polícia local podiam frequentemente ser bem confiáveis.
Ainda continuará válido ligar para ele quando acomodarmos, ela pensou.
"Hotel," ela disse. "Se eu não puder conseguir o que quero ligando para ele essa noite, nós paramos em Lynchburg amanhã."
"No caminho para Treston? Parece ser uma longa viagem."
Ela assentiu. Iria ser um monte de idas e vindas. Eles poderiam ter mais sucesso se eles se separassem amanhã. Mas eles poderiam discutir estratégia depois de dar entrada em um quarto com os arquivos dos casos em frente a eles e um ar condicionado explodindo ao lado deles.
Nem uma vez, pela atração da luxúria, a ideia de um condicionado nesse calor opressivo era muito boa para resistir. Eles entraram no carro ardendo em chamas, Ellington desceu as janelas e eles foram para oeste, para o que servia como o coração de Stateton.
***
O único motel de Stateton era um surpreendentemente bem cuidado quadradinho de construção chamado Pousada do Condado de Staunton. Continha doze quartos, nove dos quais estavam vagos quando Mackenzie entrou no saguão e solicitou um quarto para a noite. Agora que McGrath sabia sobre a relação dos dois, ela e Ellington não precisavam mais se preocupar sobre alugar dois quartos apenas para manterem as aparências. Eles reservaram um único quarto com uma só cama, após um dia estressante de dirigir no calor, fizeram bom uso dele assim que a porta fechou atrás deles.
Afinal, ao tomar banho, Mackenzie não podia deixar de apreciar o sentimento caloroso de ser desejada. Era mais que isso, porém; o fato de que eles haviam começado a tirar as roupas no momento em que ficaram sozinhos e de que eles tinham acesso a uma cama a fizeram sentir dez anos mais jovem. Era uma boa sensação, mas uma que ela tentava manter sob controle duramente. Sim, ela estava curtindo as coisas com Ellington e seja lá o que estivesse acontecendo entre eles era uma das coisas mais animadoras e promissoras que aconteceram a ela nós últimos anos, mas ela também sabia que se não fosse cuidadosa, poderia deixar isso interferir com seu trabalho.
Ela sentia que ele também sabia disso. Ele estava arriscando as mesmas coisas que ela: reputação, zombaria e desgosto. Embora ultimamente ela não estivesse certa que ele também estava preocupado com ter o coração partido. Ao conhecê-lo melhor, ela estava bem segura de que Ellington não era o tipo de cara que dormia por aí ou tratava mal as mulheres, mas ela também sabia que ela acabara de sair de um casamento frustrado e estava sendo muito cauteloso sobre o relacionamento deles-se este fosse o nome que estavam escolhendo chamar.
Ela estava ficando com a sensação de que Ellington não ficaria muito abalado se as coisas entre eles terminassem. Conquanto para ela... bem, ela não tinha certeza de como encararia isso.
Enquanto ela saia do banho e se secava, Ellington estava ali, no banheiro. Parecia que ele havia planejado se juntar a ela no banho, mas havia acabado de perder a chance. Ele estava dando um olhar para ela que mantinha um pouco da sua malícia usual, mas também algo concreto e estóico-algo que ela veio a pensar como a sua "expressão de trabalho."
"Sim?" ela perguntou divertidamente.
"Amanhã... eu não quero fazer isso, mas talvez nós devêssemos nos separar. Um de nós vai até Treston enquanto o outro fica aqui e trabalha com a Polícia local e o médico legista."
Ela sorriu, percebendo quão sincronizados eles poderiam ficar de tempos em tempos. "Eu estava pensando a mesma coisa."
"Você tem alguma preferência?" ele perguntou.
"Na verdade não. Eu vou pegar Lynchburg e Treston. Eu não me importo em dirigir."
Ela achou que ele iria discutir, querendo pegar o tempo na estrada. Ela achava que ele particularmente não gostava de dirigir, mas ele também não gostava da ideia de ficar na estrada sozinho.
"Parece bom," ele disse. "Se nós pudermos fechar o dia com novas informações sobre o lar em Treston com qualquer informação que conseguirmos do legista por aqui, talvez consigamos amarrar esse negócio rapidamente, como todos estão esperando."
"Parece ótimo," ela disse. Ela plantou um beijo na boca dele ao passar.
Um pensamento cruzou a cabeça dela ao voltar para o quarto, um que a fez sentir quase doente de amor, mas que não poderia ser negado.
E se ele não se sentir por mim da mesma maneira como eu me sinto por ele?
Ele parecia ligeiramente distante na última semana ou duas, e enquanto ele tenha feito o seu melhor para esconder dela, ela observou isso aqui e ali.
Talvez ele perceba como isso pode afetar nosso trabalho.
Era uma boa razão-uma razão na qual ela também pensava frequentemente. Mas ela não poderia se preocupar com isso agora. Com o relatório do legista sendo entregue a qualquer momento, este caso tinha potencial para se desenrolar bem rapidamente. E ela sabia que se a mente dela estivesse em assuntos de Ellington e no que eles significavam um para o outro, ela poderia se enrolar completamente.
CAPÍTULO SEIS
Quando ambos se separaram na manhã seguinte, Mackenzie ficou surpresa em notar que Ellington parecia particularmente sombrio sobre isso. Ele a abraçou no quarto do motel um pouco mais demoradamente que o normal e parecia meio triste quando ela o deixou no DP de Stateton. Com um aceno pelo para-brisa enquanto ele entrava, Mackenzie voltou para a estrada principal com uma viagem de duas horas e quarenta e cinco minutos a frente dela.
Estando na floresta, o sinal do seu telefone era irregular. Ela não foi capaz de fazer uma ligação para o segundo potencial suspeito de Jones, Robbie Huston, até que ela estivesse a cerca de quinze quilômetros fora dos limites da cidade de Stateton. Quando ela finalmente conseguiu fazer a ligação, ele respondeu ao segundo toque.
"Alô?"
"É Robbie Huston?" ela perguntou.
"É. Quem pergunta?"
"Aqui é a Agente Mackenzie White do FBI. Eu estava pensando se você teria tempo para conversar essa manhã."
"Hum... posso perguntar sobre o que se trata?"
Sua confusão e surpresa eram genuínas. Ela poderia perceber mesmo pelo telefone.
"Sobre uma residente do Lar para Cegos Wakeman que eu acredito que você conheça. Eu não posso revelar mais que isso pelo telefone. Se você puder me dar apenas cinco ou dez minutos do seu tempo essa manhã, eu agradeceria. Eu estarei passando por Lynchburg em cerca de uma hora."
"Claro," ele disse. "Eu trabalho em casa, então você é bem-vinda a passar pelo meu apartamento se você quiser."
Ela terminou a ligação após pegar o endereço dele. Ela o inseriu no GPS e ficou aliviada em ver que chegar ao apartamento dele adicionaria apenas outros vinte minutos na viagem.
No caminho para Lynchburg, ela se viu muito distraída pelos fatos deste caso atual, atolada com centenas de perguntas não respondidas sobre o antigo caso de seu pai e da nova morte que trouxe isso de volta a tona. Por alguma razão, as mesmas pessoas que mataram seu pai mataram mais alguém de forma muito similar.
E uma vez mais, eles haviam deixado um enigmático cartão de visitas para trás. Mas por quê?
Ela gastara semanas tentando descobrir. Talvez o assassino fosse apenas convencido. Ou talvez os cartões fossem destinados a levar os investigadores para algo mais... como um destorcido jogo de gato e rato. Ela sabia que Kirk Peterson ainda estava no caso-um humilde e dedicado detetive particular do Nebraska, o qual ela não conhecia muito bem para confiar completamente. Ainda, o fato de que alguém estava mantendo os rastros os mais frescos possíveis ativamente era reconfortante. Isso a fez sentir como se o quebra-cabeça pudesse estar quase completo para ela, mas que alguém furtara uma peça da mesa e a estava guardando, determinado a colocá-la no último instante.
Ela nunca se sentira tão derrotada por algo mais na vida. Não era mais uma questão de se ela poderia trazer o assassino de seu pai para a justiça ou não, mas principalmente sobre se ver livre de um mistério de décadas de idade. Enquanto sua mente envolvia tudo isso, seu telefone começou a tocar. Ela viu o número do xerife no display, atendeu esperando por algum tipo de pista para o caso atual.
"Bom dia, Agente White," disse o Xerife Clarke do outro lado. "Olha, você sabe que a recepção de celular aqui em Stateton é um lixo. Eu estou com o Agente Ellington aqui querendo falar com você rapidamente. O telefone dele não conseguiu fazer a ligação."
Ela escutou o telefone ser batido do outro lado da linha enquanto era passado para Ellington. "Então," ele disse. "Já perdida sem mim?"
"Dificilmente," ela disse. "Eu estarei me encontrando com Robbie Huston em pouco mais de uma hora."
"Ah, progresso. Falando no qual, eu estou olhando para o relatório do médico legista agora. Ainda quente da impressora. Informo a você se eu encontrar alguma coisa. Randall Jones também está vindo em breve. Eu posso ver se ele me deixaria falar com alguns dos outros residentes lá do lar."
"Soa bom. Eu estarei dirigindo por pastagens de vaca e campos vazios pelas próximas três horas."
"Ah, a vida glamorosa," ele disse. "Ligue para mim se você precisar de alguma coisa."
E com isso ele encerrou a chamada.
Era assim que eles trocavam farpas pra lá e para cá todo o tempo. Isso a fez sentir um pouco boba com as preocupações passadas acerca de como estava se sentido sobre o que quer que esteja evoluindo entre eles.
Com a chamada telefônica dando um fim nos pensamentos a respeito do antigo caso de seu pai, ela foi capaz de se focar melhor no caso em mãos. O termômetro digital no painel do carro dizia que já fazia trinta e um graus lá fora... e não eram nem nove da manhã ainda.
As árvores ao longo da lateral da estrada eram impossivelmente densas, penduradas sobre a estrada como um toldo. E enquanto havia alguma coisa misteriosamente bela sobre elas na luz fraca, cedo em uma manhã sulista, ela mal podia esperar pelas as vastas extensões das rodovias principais de quatro pistas que a levariam em direção a Lynchburg e Treston.
***
Robbie Huston morava em um moderno e pequeno complexo de apartamentos próximo ao coração central de Lynchburg. Era rodeado por livrarias da universidade e cafeterias que provavelmente só prosperavam devido a grande universidade particular cristã que se avultava sobre a maior parte da cidade. Quando ela bateu à sua porta às 9:52, ele respondeu quase imediatamente.
Ele parecia estar no início dos seus vinte anos-cabelos crespos sem pentear e o tipo de aspecto mole que fazia Mackenzie pensar que qualquer trabalho que ele já tenha feito fora atrás de uma mesa. Ele era bonitinho na maneira de um garoto de fraternidade e estava à beira de sua animação ou nervosismo em ter um agente do FBI realmente batendo em sua porta.
Ele a convidou para entrar e ela viu que o interior do apartamento era tão agradável e moderno quanto o exterior. A área de estar, cozinha e área de estudos eram todas um único cômodo amplo, separadas por pequenas divisões ornamentais e banhadas com luz solar natural que era derramada por duas amplas janelas em paredes opostas.
"Hum... posso trazer um café ou alguma outra coisa para você?" ele perguntou. "Eu ainda tenho um pouco sobrando na minha garrafa da manhã."
"Café realmente seria ótimo," ela disse.
Ela o seguiu até a cozinha, onde ele serviu uma xícara de café e a entregou. "Creme? Açúcar?"
"Não, obrigado," ela disse. Ela tomou um gole, achou muito bom e foi ao ponto. "Sr. Huston, você muitas vezes é voluntário no Lar para Cegos Wakeman, estou correta?"
"Sim."
"Com qual frequência?"
"Depende da minha carga de trabalho, na verdade. Algumas vezes eu só posso ir até lá uma ou duas vezes no mês. Porém, houve meses nos quais eu consegui ir uma vez por semana."
"E recentemente?" perguntou Mackenzie.
"Bem, estive lá na segunda-feira dessa semana. Semana passada eu fui na quarta-feira e na semana anterior eu fui lá na segunda-feira e na sexta-feira, eu acho. Eu posso mostrar meu horário a você."
"Talvez depois," ela disse. "Conversando com Randall Jones, eu descobri que você vai para jogar jogos de tabuleiro e talvez ajudar a mover os móveis e a limpar. Isso está correto?"
"Sim, é isso mesmo. De vez em quando eu leio para eles também."
"Eles? Para quais residentes em particular você leu ou jogou jogos de tabuleiro nas últimas duas semanas?"
"Alguns. Há um senhor mais velho que atende pelo nome de Percy, com o qual eu joguei Apples to Apples. Pelo menos um cuidador tem que jogar também... para sussurrar as cartas para ele. E na semana passada, eu conversei um pouco com Ellis Ridgeway sobre música. Eu também li para ela por um tempo."
"Você sabe quando você passou esse tempo com Ellis?"
"Nas duas últimas viagens até lá. Segunda-feira, eu a coloquei para escutar Brian Eno. Nós conversamos sobre música clássica e eu li um artigo on-line para ela sobre algumas maneiras que música clássica é usada para estimular o cérebro."
Mackenzie assentiu, sabendo que era tempo de jogar sua maior carta na mesa. "Bem, eu odeio ter que contar isso a você, mas Ellis foi encontrada morta na noite de terça-feira. Nós estamos tentando descobrir quem fez isso e, como estou certa de que você entende, nós temos que investigar qualquer pessoa que tenha passado tempo com ela recentemente. Especialmente voluntários que não estão sempre no lar."
"Meu Deus," disse Robbie, seu rosto se tornando mais pálido com o tempo.
"Antes da Sra. Ridgeway, houve outro assassinato em um lar em Treston, Virgínia. Você já esteve lá?"
Robbie assentiu. "Sim, mas apenas duas vezes. Uma vez foi para um tipo de serviço comunitário que nós fazemos pela Liberty, minha alma mater. Eu ajudei a remodelar a cozinha e fiz um pouco paisagismo. Eu voltei um mês ou dois depois para ajudar onde pudesse. Foi mais para construir relações."
"Há quanto tempo foi isso?"
Ele pensou sobre isso, ainda abalado pela notícia dois dos assassinatos. "Quatro anos, eu diria. Talvez mais perto de quatro e meio."
"Você se lembra de encontrar um homem chamado Kenneth Abel quando esteve lá? Ele também foi morto recentemente."
Novamente, ele parecia perdido em pensamento. Seus olhos pareciam quase congelados. "O nome não me parece familiar. Mas não significa que eu nunca tenha falado com ele enquanto eu estava por lá."
Mackenzie assentiu, ficando cada vez mais certa de que Robbie Huston estava longe de ser um assassino. Ela não poderia ter certeza, mas ela pensou ter visto os olhos dele reluzindo com lágrimas enquanto ela tomava um gole do café que ele havia lhe dado.
Não se pode ser cuidadosa demais, entretanto ela pensou.
"Sr. Huston, nós sabendo com certeza que a Sra. Ridgeway foi morta a oitocentos metros de distância do terreno do Wakeman, em algum momento entre sete e cinco e nove e quarenta e cinco da noite de terça-feira. Você tem algum tipo de álibi para esse período de tempo?"
Ela viu aquele olhar de busca pela terceira vez, mas então ele começou a acenar com a cabeça vagarosamente. "Eu estava aqui, no apartamento. Em uma chamada de conferência com três outros rapazes. Nós estamos iniciando essa pequena organizaçãozinha para ajudar os sem teto do centro da cidade e em outras cidades ao redor."
"Alguma prova?"
"Eu poderia mostrar a você onde eu fiz o login. Eu acho que um dos outros caras mantém anotações muito boas sobre as chamadas também. Terá todo tipo de tópicos de mensagens com horário, edições de anotações e coisas como essas." Ele já estava buscando seu notebook, sentando-se em uma mesa em frente a uma das largas janelas. "Aqui, eu posso mostrá-la se você quiser."
Agora ela estava certa de que Robbie Huston era inocente, mas ela queria levar a cabo. Dada a forma que as notícias o afetaram, ela também queria que Robbie sentisse que contribuiu com alguma coisa para o caso. Então ela assistiu por cima do ombro dele enquanto ele entrava no site da plataforma de conferência, fazia o login e abria o histórico dele, não apenas dos últimos dias, mas também das últimas várias semanas. Ela viu que ele esteve falando a verdade: ele participou de uma chamada de conferência e sessão de planejamento das 6:45 às 10:04 na noite de terça-feira.
O processo todo levou menos de cinco minutos para ele repassar, mostrar a ela as notas e edições e, também, quando fizera o login e saíra da chamada.
"Muito obrigado pela sua ajuda, Sr. Huston," ela disse.
Ele assentiu enquanto a acompanhava até a porta. "Duas pessoas cegas..." ele disse, tentando fazer sentido disso. "Por que alguém faria isso?"
"Eu mesma estou tentando descobrir isso," ela disse. "Por favor, me ligue se pensar em alguma coisa que possa ajudar," ela acrescentou, oferecendo um cartão a ele.
Ele o pegou, acenou um lento adeus e então fechou a porta quando ela saiu. Mackenzie quase sentia que ela acabara de dar a noticia dos assassinatos a membros da família, ao invés de um jovem rapaz de bom coração que parecia se importar genuinamente com ambos os falecidos.
Ela quase invejou isso... sentir remorso genuíno por estranhos. Ultimamente, ela estava vendo os mortos como nada mais que cadáveres-montes sem nome, repletos com vestígios em potencial.
Não era a melhor forma de viver a vida, ela sabia. Ela não podia deixar o trabalho liquidar seu senso de compaixão. Ou sua humanidade.
CAPÍTULO SETE
Mackenzie estacionou às 11:46 na frente do Lar para Cegos Treston, fazendo em melhor tempo do que o GPS havia estimado. Contudo, quando Mackenzie estacionou em frente do prédio, ela conferiu novamente o endereço que Clarke havia lhe dado. O lar parecia pequeno, não maior que a frente de uma loja comum. Era localizado distante no lado oeste da cidade de Treston, a qual, embora muito maior que Stateton, ainda não era muito do que se gabar. Enquanto a cidade estava muitos passos a frente da morbidez rural de Stateton, se vangloriava apenas com dois semáforos. A única coisa que a tornava pelo menos um pouco urbana era o McDonald's à margem da Main Street.
Confiante de que estava com o endereço certo-o que foi reforçado pela placa em ruínas que ficava na frente da propriedade-Mackenzie saiu do seu carro e caminhou pela calçada rachada. A porta da frente era separada da calçada por apenas três degraus de concreto que pareciam não ser varridos em anos.
Ela entrou, pisando no que servia como saguão e área de espera. Uma mulher estava sentada atrás de um balcão ao longo da parede frontal, falando ao telefone. A parede atrás dela era pintada por um surpreendente tom de branco. Um quadro branco à esquerda dela continha um punhado de anotações. Fora isso, a parede era nua e inexpressiva.
Mackenzie teve que caminhar até o balcão e ficar ali, pressionada contra ele e fazendo seu melhor para sugerir que ela precisava de assistência. A mulher atrás do balcão parecia terrivelmente irritada com isso e terminou a chamada relutantemente. Ela finalmente olhou acima para Mackenzie e perguntou: "Posso ajudá-la?"
"Estou aqui para falar com o gerente," ela disse.
"E você é?"
"Agente Mackenzie White, do FBI."
A mulher parou por um momento, como se não acreditasse em Mackenzie. Dessa vez foi a vez de Mackenzie de dar um olhar irritado. Ela mostrou seu distintivo e assistiu enquanto a mulher entrou em ação repentinamente. Ela pegou o telefone, pressionou uma extensão e falou brevemente com alguém. Ela evitou contato visual com Mackenzie o tempo inteiro.
Quando a mulher terminou, ela finalmente olhou acima de volta para Mackenzie. Estava claro que ela estava envergonhada, mas Mackenzie fez o seu melhor para não gozar muito disso.
"A Sra. Talbot a verá em um instante," a moça disse. "Se dirija para trás. O escritório dela é o primeiro que aparecerá."
Mackenzie andou pela única outra porta no lobby e entrou em um corredor. O corredor era bem curto, contendo apenas três portas. No final dele, um conjunto de portas duplas estava fechado. Ela assumiu que as acomodações ficavam atrás dessas portas e esperou que os quartos estivessem em melhor condição que o restante da construção.
Ela se aproximou do primeiro cômodo ao longo do corredor. A placa com nome ficava juntamente ao lado do portal e se lia Gloria Talbot. A porta estava parcialmente aberta, mas mesmo assim Mackenzie bateu. A porta foi atendida imediatamente por uma mulher com sobrepeso que vestia um grosso par de óculos bifocais.
"Agente White, por favor, entre," disse Talbot.
Mackenzie fez como lhe foi solicitado, tomando o único assento que ficava do lado oposto da pequena e bagunçada mesa.
"Eu vou assumir que isso se trata do assassinato de Kenneth Able?" perguntou Talbot.
"Sim senhora," disse Mackenzie. "Nós temos outro assassinato em uma cidade a cerca de duas horas e meia ao sul daqui. Outra pessoa cega-um membro de um lar para cegos."
"Duas horas e meia de distância?" perguntou Talbot. "Deve ser o Lar para Cegos Wakeman, certo?"
"É. E a maneiro pela qual a vítima foi morta parece ser idêntica a Kenneth Able. Eu estava esperando que você pudesse me mostrar o lar, incluindo o closet onde o corpo dele foi encontrado."
"Absolutamente," disse Talbot. "Venha comigo."
Talbot a levou de volta para fora no corredor e então através das portas duplas que Mackenzie havia visto no seu caminho até o escritório de Talbot. Elas adentraram um amplo espaço aberto que se esgotava no que parecia ser um tipo de sala comum. Dentro desse espaço aberto, Mackenzie contou oito quartos.
"Estes," disse Talbot, "são os quartos nos quais os residentes ficam. Diferentemente do Wakeman, nós não temos acomodações modernas estilosas."
Ela não dizia isso se desculpando. De fato, Mackenzie pensou ter ouvido certo veneno na voz de Talbot.
"Este aqui," disse Talbot, levando Mackenzie até a segunda porta na direita, "era o quarto de Kenneth."
Talbot destrancou a porta e elas entraram. O quarto cheirava a poeira e algum tipo de limpador químico que parecia forte demais. Mackenzie fez seu melhor para não parecer surpresa pelo estado do quarto em comparação com o que ela havia visto no Wakeman. Ela observou a cama, a pequena escrivaninha, a cômoda e a porta do closet. Tudo parecia envelhecido, embotado e de outra época.
Ela caminhou até o closet e o abriu. Ao olhar para o espaço vazio dentro, Mackenzie perguntou: "Você pode me contar como o corpo foi descoberto?"
"Havia outra residente aqui, Margaret Dunwoody," disse Talbot. "Ela e Kenneth brincavam que estavam namorando-o que é hilário, porque Kenneth tinha trinta e oito e Margaret tem, forçando, sessenta. Eles sempre estavam juntos, conversando na área comum, comendo as refeições juntos e coisas do tipo. De qualquer forma, ela veio até esse quarto a tarde para ver se ele queria sair para comer um lanche no McDonald's. Quando ele não respondeu a porta, ela entrou. Ela disse que sabia que havia algo errado logo de cara. Ela disse que o quarto parecia muito quieto. Ela estava apavorada, então foi até o guarda que estava aqui aquela noite-um jovem rapaz chamado Tyrell Price. Tyrell encontrou Kenneth no closet, morto."
"Enforcado, com contusões ao redor do olhos, correto?" perguntou Mackenzie.
"Isso mesmo," disse Talbot.
Mackenzie olhou dentro do closet, pegando a pequena Maglite do seu cinto e iluminando o interior. Ela tateou ao redor do carpete e do portal, mas não encontrou qualquer sinal de que o assassino tenha deixado vestígios não intencionais. A única coisa que foi encontrada no closet foi um cabide de casaco perdido, pendendo da barra de tensão próxima ao topo da estrutura.
Isso é muito mais ousado do que o que aconteceu com Ellis Ridgeway, ela pensou. Alguém realmente entrou no quarto para matá-lo. O que significa que alguém o deixou entrar. Eles sabiam quem ele era? Kenneth Able sabia quem foi?
"Como é a segurança por aqui?" perguntou Mackenzie.
"Não muito relevante," disse Talbot. "Há uma só câmera do lado de fora que filma o estacionamento, mas está quebrada há um mês ou dois. Nós temos dois seguranças que fazem rodízio de turnos nos dias úteis. E isso é tudo."
"Algum plano para consertar aquela câmera?" perguntou Mackenzie, um pouco irritada.
"Ah, sim. Mas como você pode ver, nós não somos o mesmo exemplo reluzente que o Wakeman é. Nosso orçamento é uma piada e arrumar aquela câmera vai custar mais de trezentas pratas."
"Há alguém aqui em todas as horas do dia?" perguntou Mackenzie, decidindo deixar o assunto da câmera passar por agora.
"Sim. Entre eu, dois cuidadores, os dois seguranças e, ocasionalmente, Tori lá na frente, sempre há alguém aqui."
"Há alguma forma de ver quem entrou e saiu do prédio no dia em que Kenneth morreu?"
"Não," disse Talbot com arrependimento. "Novamente... nós não recebemos muito dinheiro pelo que fazemos aqui. Nós não temos a boa sorte de ter doadores generosos com eles tem em Wakeman."
Esse é o tipo de lar que as pessoas são enviadas para serem esquecidas, Mackenzie concluiu tristemente.
"Tyrell Price está trabalhando hoje?" perguntou Mackenzie.
"Não. Ele não vem até amanhã a tarde. Na maioria das vezes, nossos rapazes da segurança não são solicitados para aparecerem por aqui até o cair da noite. Corte de gastos e tal."
"Entendo," disse Mackenzie. Ela estava ficando irritada com a forma da qual esse lugar era conduzido, mas ela também estava começando a sentir pesar por Gloria Talbot. "E quanto à Margaret, amiga de Kenneth? Eu poderia falar com ela?"
Antes que Talbot pudesse responder, um suave barulho de riso fez ambas as mulheres darem um pulo. Mackenzie se afastou do closet e viu uma mulher em pé na porta aberta para o quarto que uma vez hospedou Kenneth Able. Era uma mulher negra, fina como um corrimão com óculos bem escuros sobre os olhos. Ela segurava uma bengala em uma mão e segurava o portal com a outra.
"Meu Deus, Margaret," disse Talbot. "Você me assustou."
"Bom saber," disse Margaret. Ela levantou a cabeça levemente e pareceu farejar o ar. "Quem é a recém-chegada? Quem precisa falar comigo?"
"Desculpe a Margaret, por favor," disse Talbot. "Quando o Senhor levou a visão dela, ele a deu um silêncio de ninja quando ela anda."
"Isso realmente," disse Margaret com aquela mesma risada leve.
"Ela também é curiosa para diabo. Ela tem o mau hábito de bisbilhotar."
"Com certeza," disse Margaret com um sorriso.
"Eu sou a Agente Mackenzie White, do FBI," disse Mackenzie. "Estou aqui para tentar descobrir quem é o responsável pela morte de Kenneth".
Margaret assentiu. "Eu gostaria de falar com você, então. Eu duvido que eu possa ajudar muito, mas alguém precisa ser levado a justiça por ter matado aquele doce homem."
"Você está bem com isso?" Mackenzie perguntou Talbot.
"Absolutamente. Se você precisar de algo mais, estarei no meu escritório."
Margaret entrou no quarto quando Talbot saiu. A senhora mais velha então se manobrou pela cama e tomou um assento.
"FBI, hein?!" perguntou Margaret. "Eu acho que isso significa que isso vai além de Kenneth, certo? Alguém mais morreu?"
"Sim. Outra pessoa cega, a algumas horas daqui. Então, se você puder ajudar, seria muito apreciado. Para começar, você sabe se Kenneth esteve envolvido em algum tipo de discussão com alguém nos últimos meses?"
"Não que eu saiba. Ela não tem família por aqui e quando ele sai, eu normalmente estou com ele."
"Que tipo de humor ele estava demonstrando da última vez que você falou com ele?"
"Bem, foi no café da manhã no dia que ele morreu. E ele estava de muito bom humor. Havia acabado de pegar o audiolivro de algum antigo livro de George Carlin. Kenneth era esse tipo de piadista. Ele estava soltando piadas e sendo ele mesmo, como de costume."
"Você acha que ele-"
Ela foi interrompida pelo toque do seu celular. Ela verificou o visor e viu que era Ellington.
"Desculpe-me, Sra. Dunwoody. Preciso atender." Ela atendeu a ligação, não se importando em se afastar por educação. Ela nem tinha certeza de que isso era necessário quando falando com alguém que não podia ver.
"E aí, novidades?" ela perguntou.
"Eu estou quase exausto por aqui," disse Ellington. "O relatório do médico legista mostrou exatamente o que pensávamos-morte por estrangulamento. As varreduras toxicológicas ainda não estão completas, mas baseado no que estamos vendo, provavelmente vão estar limpas. Eu falei com alguns residentes no Wakeman e ninguém foi de ajuda por lá. Alguns falaram sobre o quão Ellis amava aquele jardim onde foi encontrada. Outra pessoa mencionou uma viagem recente que ela havia feito até uma biblioteca em Braille em Richmond. Mas em termos de alguma pista, eu estou surgindo com nada. Estou prestes a voltar para o jardim de flores para ver se eu posso conseguir algo novo, mas... sim. É onde estou agora."
"Eu estou no Lar para Cegos Treston agora," ela disse. "Até agora, há muito pouco o que relatar. Meu encontro com Robbie Huston pode confirmar que ele não é um suspeito. E é isso. Eu telefono quando estiver no caminho de volta."
Ela terminou a ligação, desejando que ele estivesse ali com ela. De repente, a ideia de dirigir de volta para Stateton sozinha pareceu miserável.
"Desculpe-me," disse Margaret. "Eu não estava escutando, eu prometo. Só ouço muito bem. A maioria de nós pode, você sabe." Mais uma vez, ela deu sua risada suave quase delicada. "Mas aquele homem mencionou uma biblioteca em Braille em Richmond, certo?"
"Sim, ele mencionou," disse Mackenzie, impressionada.
"Kenneth também visitou lá recentemente," disse Margaret.
"Visitou? Você tem certeza?"
"Ah, sim. Ele me convidou para ir, mas é um passeio de duas horas. Talvez mais. E eu odeio viajar."
"Há quanto tempo foi isso?"
Margaret pensou por um momento e então deu de ombros. "Talvez há um mês, dois dias a menos ou a mais."
"Foi a primeira vez que ele foi?" perguntou Mackenzie.
"Não. Eu acho que ele havia ido duas vezes antes."
"Desculpe-me se eu soar insensível," disse Mackenzie, "mas como ele foi até lá?"
Margaret deu aquela mesma risada novamente. "Não é insensível. Talvez um pouco bobo. Nós viajamos da mesma maneira de qualquer outra pessoa. Nós temos uma pequena van que eles utilizam para nos levar até a parada de ônibus na cidade. Kenneth pegou o ônibus para Richmond. Da parada de ônibus, eu assumo que ele tenha pegado um táxi. Há todo tipo de serviços na Internet que ajudam o pessoal cego com organização de viagens."
"Bem, muito obrigado pela sua ajuda," disse Mackenzie. "Isso é muito útil."
"Ótimo. Kenneth foi realmente o único amigo que tive. Ele não merecia o que lhe aconteceu. Espero que você encontre quem fez isso."
Eu também, Mackenzie pensou, ficando com a pesada sensação de que isso não estaria acabado nem próximo de quando McGrath ou Langston Ridgeway queriam.
CAPÍTULO OITO
Ela entrara em acordo com o fato de que uma viagem a Richmond comprometeria o resto do dia. Ela sabia que as viagens que ela estava fazendo eram necessárias, mas ela não podia se conter em sentir que o tempo dela no carro seria muito mais bem utilizado lá fora em campo, investigando de verdade. Desejando fazer o melhor uso do seu tempo, ela fez uma ligação para a biblioteca em Braille em Richmond, os informando que ela estava indo e que ela gostaria de falar com um supervisor ou gerente quando chegasse.
Além de dirigir, não havia qualquer outra coisa que ela pudesse fazer.
Ela estava em Richmond às 2:49 naquela tarde. Os seus ombros e costas estavam doloridos e tensos de dirigir apressada. Tudo isso estava a fazendo sentir que o dia estava fugindo enquanto a deixava exausta ao mesmo tempo.
A biblioteca em Braille ficava em uma agradável parte chique da cidade, longe o suficiente do centro para ainda ser pitoresca e idílica, porém com uma sensação de segurança que normalmente estava presente nas melhores partes da cidade. A biblioteca era uma pouco maior do que ela havia esperado, como era a norma para bibliotecas, muito silenciosa.
Das portas centrais na frente do edifício, ela se viu no centro de uma ampla sala. A biblioteca em si parecia ser a única sala, cortada em corredores como labirintos por dúzias de prateleiras de livros. Vários metros à frente dela, situado no meio da sala, havia um espaço de balcão em forma de círculo, com uma única abertura nos fundos para permitir o acesso dos bibliotecários aos computadores que ficavam lá.
Mackenzie se aproximou da mesa, identificou-se e esperou enquanto um dos bibliotecários enviava uma mensagem para o gerente. Ao esperar, Mackenzie olhou ao redor do lugar. Havia apenas mais cinco outros na biblioteca. Três estava situados em mesas, suas mãos deslizando sobre as páginas dos livros. Em uma mesa, parecia como se uma aula estivesse acontecendo-como se a pessoa mais jovem estivesse aprendendo a ler Braille de um instrutor.
Enquanto ela estudava isso, um homem muito elegante com cabelo grisalho e óculos de arame se aproximou dela do fundo da biblioteca. "Agente White?" ele perguntou.
"Sim e você é?"
"Sam Batiste," disse o homem, oferecendo a mão para um aperto.
Mackenzie a tomou e apertou. "Onde nós podemos conversar?" ela perguntou.
"Vamos pegar a mesa próxima ao fundo," ele disse enquanto liderava o caminho.
Eles estacionaram na mesa mais longe ao fundo. Ao se sentar, Mackenzie foi surpreendida novamente por quão grande era o lugar. Ela quase se sentiu culpado por assumir que uma biblioteca em Braille seria muito menor e quase indistinguível.
"Eu tenho que dizer," disse Batiste, "eu venho supervisionando essa biblioteca pela maior parte dos último doze anos e essa é a primeira vez que um agente do FBI entrou por nossas portas-bem, o primeiro que eu saiba, de qualquer forma. O que posso fazer por você, agente?"
"Eu estou investigando a morte de duas pessoas cegas," ela explicou. "Ambas foram morta dentro das últimas três semanas. Método de assassinato parece ser o mesmo em ambos os casos. Ambas as vítimas residiam em lares para cegos. Uma semelhança final, que eu só descobri hoje, é que ambos visitaram esta biblioteca no mês passado."
"Oh, meu Deus," disse Batiste.
"Pode parecer como uma coincidência de cinema, mas quando você considera que ambas as vítimas moravam a uma distância considerável daqui, começa a parecer ainda mais. É realmente muito relevante."
"Oh, absolutamente. O que eu posso fazer para ajudar?"
"Bem, eu gostaria que alguém verificasse para ver se alguma das vítimas retirou algum livro. Eu preciso descobrir quais outras similaridades eles possam compartilhar-qualquer coisa que possa estreitar a ligação dos dois."
"Eu posso fazer isso. Quais são os nomes deles?"
"Kenneth Able e Ellis Ridgeway."
"Oh, não," disse Batiste. "Sabe, na verdade eu me lembro muito bem do Sr. Able. Conversei com ele por cerca de vinte minutos quando ele esteve aqui."
"Há quanto tempo foi isso?"
"Há três semanas, eu diria. Talvez menos."
"Você se lembra sobre o que ele estava lendo?"
Batiste sorriu com a memória. "Sim. Eu acredito que foi O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa. Eu não sei se você está ciente disto, mas essa biblioteca foi criada e financiada como parte de um programa ministerial. A maioria dos textos aqui são de natureza religiosa. Sermões, devocionais, ficção cristã, esse tipo de coisa."
"Você tem alguma indicação de que Kenneth pudesse estar sendo perturbado durante suas visitas?"
"Bem, eu não me lembro de suas outras visitas, então eu não poderia dizer," respondeu Batiste. "Mas a sua visita de algumas semanas atrás me deu a impressão de que ele estava sobretudo feliz."
"Havia alguém com ele quando ele entrou?" perguntou Mackenzie.
"Não. Ele estava sozinho De fato, eu ajudei a garantir que ele chegasse ao táxi quando ele saiu."
"Mais alguém interagiu com ele enquanto ele esteve aqui?"
"Não que eu tenha conhecimento."
"E não há como relembrar a data exata?"
Batiste pensou sobre isso por um momento e então ficou de pé. Deixe-me verificar meu calendário e registros. Eu posso, no mínimo, estreitá-lo para você. Se ele pegou um livro emprestado, posso dizer a data exata... mas vamos ver."
"Isso seria ótimo. Obrigada."
Enquanto Batiste deixava a mesa, Mackenzie pegou o telefone e enviou uma mensagem para Ellington. Nela se lia: Você tem a data exata em que Ellis visitou a biblioteca em Braille?
Feito isso, ela andou até a estante mais próxima. A lombada de cada livro era marcada com um rótulo com seu título impresso, assim como uma barra que fornecia o título em Braille. Os títulos que ela viu refletiam o que Batiste lhe dissera sobre os livros serem de natureza religiosa. Ela viu títulos tais como Deus em Tempos Difíceis, Entendendo o Evangelho, Bênçãos na Escuridão, e assim por diante. Ela foi interrompida do seu rápido estudo pelo zumbido do celular.
Era uma resposta de Ellington: 9 de julho.
Hoje é vinte e seis de julho, ela pensou. Passaram-se mais de duas semanas desde que ela visitou essa biblioteca. Isso significa que, se o assassino encontrou Ellis aqui, ele planejou o assassinato meticulosamente... ou teve que tomar coragem.
Enquanto ela pensava sobre isso, Sam Batiste foi até ela a passos largos. Ele parecia estar com um pouco de pressa e tinha o esboço de um sorriso no canto da boca.
"Como se verificou," disse Sam, "Kenneth Able realmente retirou um livro naquele dia. Nosso sistema mostra que foi retirado no dia nove de julho."
E aí está uma conexão, ela pensou.
"Sr. Batiste, há alguma forma de descobrir quem mais esteve aqui naquele dia?"
"Certamente. Nós podemos ver quais outros livros foram retirados e pegar os nomes."
"Isso ajudaria. Se você não se importar, eu também gostaria dos nomes de todos da equipe que também estiveram aqui naquele dia. Zeladores, manutenção, bibliotecários, qualquer um."
O rosto de Batiste ficou sem expressão por um momento e então uma expressão preocupada tomou conta. "Quentin Neil," disse Batiste. "Ele estava trabalhando naquele dia. Ele foi demitido há um pouco menos de duas semanas-eu acho que isso foi poucos dias depois da última vez que Kenneth esteve aqui."
"E por que ele foi demitido?"
"Ele estava flertando com um monte de mulheres que vinham. Nós recebemos reclamações de que ele estava tirando vantagem da cegueira e as apalpando."
"Você sabe se uma dessas denúncias foi feita por Ellis Ridgeway?" ela perguntou.
"Creio que não. Nós pegamos os nomes das mulheres que fizeram as queixas."
"Por quanto tempo ele trabalhou aqui?"
"Por cerca de quatro meses," disse Batiste. "Ele era um assistente. Falava sobre fazer cursos de treinamento, mas sem ambição real para pegar aulas universitárias."
"Você tem o endereço do Sr. Neil?"
Batiste riu nervosamente. "Tenho algo ainda melhor. Eu posso contá-la alegremente que ele foi preso apenas duas semanas atrás por atentado ao pudor."
"Parece uma vitória," disse Mackenzie, sem a intenção de dizê-lo em voz alta, mas o fazendo mesmo assim. "Bem, muito obrigada. Se eu deixar meu endereço de e-mail com você, você poderia, por favor, me enviar a lista de pessoas que pegaram livros em nove de julho?"
"Se você esperar uns dois minutos, eu posso pegar para você agora. Vai ser uma lista bem curta. Nós não recebemos muitos visitantes e a maioria dos que nós recebemos raramente leva alguma coisa para casa."
"Eu ficaria grata," ela disse.
Enquanto seguia Batiste de volta para a mesa de circulação, ela enviou um texto em resposta a mensagem anterior de Ellington.
Kenneth Able também esteve na biblioteca em Braille no dia nove. Investigando um pista em potencial.
Enquanto esperava por Batiste gerar uma lista para ela, ela se perguntou como as coisas estavam indo para Ellington. Provavelmente tão produtivas quanto para mim, ela pensou. Com o assassino trabalhando em uma área tão vasta, não há o que dizer sobre onde ele possa estar. Ele quase certamente não está na cena de um de seus assassinatos.
Ela foi interrompida dos seus pensamentos quando Batiste veio até o balcão da mesa e a entregou a lista. Ele estava certo; não era longa. Havia apenas cinco nomes nela, assim como seus números da biblioteca e localização-neste caso, todos em Richmond, exceto por Kenneth Able. Em nenhum lugar ela viu o nome de Ellis Ridgeway.
Ao se despedir de Batiste, seu telefone tocou novamente. Era outra mensagem de Ellington. Parece uma descoberta de ouro, dizia. Precisamos nos realocar para Richmond?
Era uma ideia decente. Com a biblioteca aqui, a primeira pista real e mais recursos à disposição deles pela Polícia Estadual, caso precisem, fazia mais sentido do que suar sem rumo em Stateton.
Sim. Você pode fazer o nosso check out em Stateton e me encontrar aqui? Eu vou pegar um quarto para nós e enviar os detalhes para você.
Quase instantaneamente, ele respondeu com: Temos um encontro. Eu atualizarei McGrath.
Mackenzie saiu da biblioteca em Braille percebendo que ela tinha várias avenidas para explorar, mas sem direção real. Preciso começar por algum lugar, ela pensou.
Com isso, ela procurou o número para o Gabinete do Xerife da Cidade de Richmond. Era um pouco depois das três da tarde, mas ela sentiu de repente que o dia estava apenas começando.
CAPÍTULO NOVE
Embora sua tarde parecesse cheia, Mackenzie começou a se sentir como se estivesse fluindo tranquilamente. Após deixar a biblioteca, tudo simplesmente pareceu se encaixar. Falando com o gabinete do xerife no telefone, ela achou surpreendentemente fácil estar conectada com quem precisava falar e marcar uma reunião com o recém-preso Quentin Neil.
Devido à regulamentação e às políticas estabelecidas, certas pessoas precisavam estar presentes quando ela falasse com Neil e, por isso, não conseguiu se encontrar com ele até às 5:30. Ela enviou os detalhes para Ellington e ele topou imediatamente.
Ao invés de ficar desencorajada com a espera de duas horas, ela decidiu encontrar os endereços do maior número de pessoas da lista de Sam Batiste quanto podia-todas as pessoas que retiraram um livro da biblioteca em Braille em nove de julho. Ela passou as próximas duas horas reunindo-se com três dessas pessoas, todas as quais não ajudaram em nada. Um, no entanto, afirmou ter ouvido rumores sobre um bibliotecário assustador que pode ou não ter agarrado uma bunda ou duas no meio as estantes de livros.
Ela chegou à prisão-mais precisamente nomeado uma instalação correcional -que estava logo fora dos limites da cidade, quinze minutos antes. Lá, ela se encontrou com um delegado do xerife que lhe entregou os formulários necessários para falar com Neil. Ela os preencheu com sua escrita hábil e rápida, como se não fosse mais que uma formalidade.
"Eu tenho uma lista de pessoas que podem precisar de proteção," disse ela enquanto preenchia os papéis. "Tenho motivos para acreditar que um homem que até agora matou dois cegos possa estar focado neles".
"Pessoas cegas?" perguntou o delegado. "Que tipo de monstro faz algo assim? Você não acha que é esse esquisito do Neil, acha?"
"Ainda não sei com certeza. Mas você poderia ter alguém passando periodicamente pelos endereços nesta folha?", ela perguntou, deslizando os endereços das pessoas na lista de Batiste que ela havia obtido. "Considere-os um alvo potencial de um assassino nos próximos dois dias ou assim".
O delegado assentiu. Ele parecia preocupado, talvez pensando que Quentin Neil era mais monstruoso do que ele pensava originalmente-que ele poderia ser um assassino.
É duvidoso, ela pensou. Neil aparentemente esteve atrás das grades por muito tempo para ter matado Ellis Ridgeway. Mas é claro que é uma possibilidade que ele saiba quem é o assassino.
"Eu não ficaria surpreso," disse o delegado. "Você conhece crime dele, certo?"
"Atentado ao pudor?"
"Colocando de forma amena. Ele foi acusado de agressão sexual, atentado ao pudor e tentativa de estupro."
Parece que Sam Batiste não ouviu toda a história, Mackenzie pensou. "Você pode me dar os detalhes?"
"Curto e grosso... ele estava drogado e pulou em uma mulher em um beco em uma parte movimentada da cidade. Alguém na rua o viu dar um soco na mulher e quando alguém chegou lá para detê-lo, ele a havia imobilizado e estava tentando levantar a saia dela."
"Quem era a mulher?"
"Uma universitária de vinte anos. Uma estudante de medicina na MCV."
Antes que Mackenzie tivesse tempo para absorver isso tudo, uma voz familiar falou por detrás dela.
"Você está começando sem mim?" perguntou Ellington.
"Só a papelada," ela disse. Ela realmente esperava que ela escondesse o quão feliz ela estava em vê-lo-não somente dele, mas do outro policial em frente a ela. "Você ouviu a história de agora?"
"Ouvi. Parece que ele é um verdadeiro galã."
"Ele também foi acusado de agarrar mulheres cegas na biblioteca em Braille-da qual ele foi demitido."
"Um novo fundo para o poço," disse Ellington com um olhar de desgosto no rosto. "Deve ser."
Mackenzie deslizou a papelada de volta para o delegado. O policial pegou sem olhar e os levou para fora da área central de espera. Depois de guiá-los por um longo corredor, destrancar um portão e ,então, os levar por um pequeno corredor, ele os mostrou uma sala de interrogatório que parecia uma cela.
"Se você precisar de alguma coisa, avise-me," disse o delegado.
Com isso, Mackenzie e Ellington entraram na sala de interrogatório.
Quentin Neil estava sentado atrás de uma mesa básica de madeira, pequena e quadrada. Ele olhou acima para eles quase com um olhar entretido, como se ele estivesse vendo algo na televisão. Era óbvio que ele não estava esperando que alguém como Mackenzie entrasse na sala, entretanto. Ele não a comeu com os olhos, mas olhou um pouco mais demoradamente que o necessário.
"Esse é o seu primeiro e último aviso," Ellington disse a ele. "Nós conhecemos suas acusações. Olhe para ela assim de novo e eu vou ter que ter uma longa e estranha conversa com o chefe da minha sessão sobre porque eu espanquei um Zé ninguém pervertido em uma prisão na Virgínia. Entendido?"
"Sim," disse Neil rapidamente.
A bravata fez Mackenzie querer sorrir, mas ao mesmo tempo, havia uma parte dela que se sentia quase menosprezada quando Ellington interveio por ela dessa forma.
"Para sua sorte," disse Mackenzie, "nós não estamos aqui para fritar você com suas acusações atuais. Nós precisamos saber sobre os rumores em torno da sua demissão da biblioteca em Braille. Eu espero que você entenda que, baseado nos motivos para você estar aqui, nós estamos assumindo que os rumores sejam verdadeiros."
Neil parecia muito envergonhado, quase a ponto de chorar. De repente, ele achou muito difícil olhar para qualquer um deles, encarando o arranhado topo da mesa em frente a ele ao invés disso.
"Eu vou tomar isso como um sim," disse Mackenzie. "Sr. Neil, vou perguntar a você algumas questões muito fáceis. E se você respondê-las honestamente, isso vai demorar nada. Primeira questão... você estava trabalhando na biblioteca no dia nove de julho?"
Ele pensou sobre isso por um momento e então balançou a cabeça. "Não. Eu estava fora da cidade."
"Você está certo disso?" perguntou Ellington.
"Sim," disse Neil rapidamente. "Cerca de duas semanas atrás eu estava em uma viagem. Para o Manassas. Estou bem certo que foi dia 9."
"Por quanto tempo você esteve lá?"
"Viagem de um dia apenas."
"Alguma prova disso?" perguntou Mackenzie.
Neil pensou por um tempo e assentiu. "Você pode verificar com a biblioteca. Eu estive no trabalho todos os dias úteis pelos últimos meses, com exceção daquele dia."
"Enquanto você esteve trabalhando na biblioteca, você chegou a realmente falar com alguma das mulheres que você agrediu e tirou vantagem?"
Ele balançou a cabeça. "Não. Achei que isso pudesse ser muito arriscado. Parecia... não sei. Parecia burrice."
Mas agarrar mulheres cegas estava completamente ok? Mackenzie imaginou nervosa.
"Você já escutou alguma delas falando com outros bibliotecários ou outras pessoas visitando a biblioteca?" perguntou Ellington.
"Algumas vezes, sim."
"Você sabia o nome de algum deles?" perguntou Mackenzie.
Novamente, Neil entrou em modo pensar. "Uma se chamava Ashley, eu acho. Tenho certeza de que foi ela que descobriu e me fez ser despedido."
"Você sabe de uma mulher chamada Ellis Ridgeway?"
"Eu acho que não," disse ele. "Mas... como eu disse... eu não sabia o nome delas."
Sirenes de alarmes começaram a tocar na cabeça dela. Uma viagem no único dia que ela lhe perguntara? Parecia bom demais para ser verdade.
É ele, ela pensou, sentindo uma agitação de entusiasmo. Esse é o nosso assassino.
Ela o estudou por um momento, tentando lê-lo melhor. Ela havia visto isso várias vezes antes-um homem completamente ciente das coisas hediondas que fizera, mas sentindo-se desamparado e derrotado pela falta de habilidade de escapar disso. Ela não sentia qualquer pena dele, mas pensou que ele pudesse estar sentindo remorso genuíno... um pouco tarde demais, no entanto.
"Eu acho que isso é tudo por agora," disse Mackenzie. "Nós entraremos em contato com a instituição caso nós tivermos algo mais."
Ela meio que esperou que ele soltasse a velha conversa fiada Eu não sou assim de verdade, mas ele permaneceu em silêncio enquanto ela e Ellington se afastaram dele e saíram.
O delegado estava esperando por eles ao lado da porta. Quando Ellington fechou a porta ao passar, o delegado conferiu o relógio. "Foi rápido," disse ele. "Vocês já terminaram?"
"Sim," disse Mackenzie. "Obrigada novamente."
Quando ela e Ellington foram para fora, ela observou Ellington em pensamento profundo. "Você acha que é ele?" ele perguntou.
"Eu acho que é uma chance boa para caramba," ela disse. "Nós precisamos entrar em contato com Sam Batiste na biblioteca em Braille para ver se a história da viagem de Neil confere. Mas parece suspeita... quase boa demais para ser verdade."
"Ou, sabe... uma vitória limpa e ligeira como McGrath e meu novo melhor amigo Langston Ridgeway esperavam."
Ela tirou o telefone para fazer a ligação para Batiste-para seu número de telefone pessoal, ao invés da biblioteca, a qual fechava às cinco. Ao fazê-lo, o entusiasmo em suas entranhas diminuiu um pouco e deixou a lógica entrar. Quando o telefone começou a tocar, alguns pensamentos lhe ocorreram.
Baseado nos horários da morte de Kenneth Able e Ellis Ridgeway, se o horário de trabalho da biblioteca reiterar a história dele, ele não é o nosso cara. Também... esse cara é um agressor de mulheres. Matar Kenneth Able simplesmente não fazia sentido. E se ele estava preso aqui apenas há alguns dias por um crime violento, eu também aposto que as chances dos horários não baterem são boas.
"Alô?" disse Batiste.
"Aqui é a Agente White," ela disse. "Eu sei que você não está na biblioteca, mas você tem algum tipo de software em seu computador doméstico, com o qual você possa abrir os horários de trabalho da biblioteca?"
"Eu tenho um no meu notebook. Uma tabela para o ano todo. Do que você precisa?"
"Eu acabei de falar com Quentin Neil e ele está me dizendo que ele não estava no trabalho no dia nove de julho. Você pode confirmar isso?"
"Absolutamente. Dê-me um momento..."
Ela esperou por uma série de barulho enquanto o telefone foi abaixado, movido e abaixado novamente. Ela o ouviu digitar alguma coisa e, então, menos de um minuto depois, a voz dele estava de volta em seu ouvido.
"Ah, ele está certo," disse Batiste. "Eu me lembro disso agora que estou olhando. Ele tirou o dia nove de folga para ver um irmão ou irmã ou algo assim. Virgínia do Norte, eu acho. Desculpe-me por não ter feito essa conexão mais cedo."
Ela desligou e suspirou. "Ok. Então... Quentin Neil definitivamente não estava na biblioteca no mesmo dia em que ambos Kenneth Able e Ellis Ridgeway coincidiram de estar lá ao mesmo tempo. Isso ainda não o tira da lista como o assassino, mas..."
"Bem, isso tira," disse Ellington. "Quero dizer, não somente isso." Ele mostrou a cópia do relatório de prisão em PDF a ela, baixado no celular. Neil fora preso na noite de domingo e esteve em custódia policial desde então-dois dias antes de Ellis Ridgeway ser assassinada."
"Merda," disse Mackenzie.
Simplesmente assim, uma pista promissora veio desabando ao redor dela. Há menos de dez minutos ela tinha certeza de que ela esteve olhando o rosto do assassino e agora aqui estava ela, de volta para nada.
De repente, a tarde cheia que parecia estar fluindo tão bem para ela estava chegando ao fim. E tudo que ela tinha para mostrar era uma tarde de conversas infrutíferas e o conhecimento de que ainda havia um assassino à solta.
CAPÍTULO DEZ
Era uma daquelas noites, ele pensou, nas quais o calor do sul enche o campo como um gigante invisível do inferno empenhado em esmagar tudo. O som dos seus passos na calçada eram suaves e ainda soavam impossivelmente alto. Mesmo os sapos e os grilos soavam alto, quase como se algum tipo de estranho barulho falso estivesse tocando por um alto falante absurdamente alto.
Ele estava andando próximo aos prédios ao longo da rua, tentando seu melhor para manter a maior parte do seu corpo longe das parcas luzes dos postes quanto podia. O anoitecer havia se tornado noite a meia hora, lançando as ruas da pequena cidade em um estado se silêncio que era quase de outro mundo.
Mas o silêncio era todo o motivo pelo qual ele estava aqui-bem, talvez não o silêncio em si, mas o que o silêncio trazia.
Ao chegar ao fim da rua, ele viu o homem descendo do lado oposto. Sua sombra parecia o acompanhar, esticada em frente a ele em uma forma difusa devido às luzes dos postes. Ele andava com uma bengala e parecia estar olhando levemente para a esquerda, onde havia nada além de escuridão e a vazia rua de duas pistas que corria pela exígua cidadezinha.
Ele conhecia bem o rosto do homem. Ele falara com ele há vários dias, lendo para ele em um banco de um parque a apenas um quilometro e meio de onde ele estava atualmente. Seu nome era Wayne Nevins e ele foi cego durante toda a vida-todos os cinquenta anos dela.
Ele deu uma parada em seus passos, sabendo que Wayne logo seria capaz de sentí-lo-de escutá-lo e talvez até de cheirá-lo. Ele estava bem ciente de que os seres humanos liberavam um tipo de aroma quando ficavam animados-um aroma que os cegos podiam captar às vezes.
Assustador, ele pensou. Eles são como monstros... vivendo nas trevas, mas capazes de usar seus outros sentidos de maneiras que nós, pessoas normais, nunca entenderão.
Quando ele pensou que tinha o controle apropriado de si próprio, começou adiante novamente. Havia cerca de nove metros entre eles-incluindo o ponto onde as duas beiradas da calçada paravam para permitir um cruzamento. E foi quando, logo antes que ele se aproximasse do cruzamento, que seu mundo começou a ficar embaçado.
Ele engoliu uma arfada enquanto se encostava no prédio à sua esquerda. Sua visão fazia isso de tempos em tempos, ficava difusa e, então, confusa. Algumas vezes lhe sumia completamente, deixando-o em um estado de absoluta escuridão por até dez minutos. Frequentemente também vinha acompanhada de uma leve dor de cabeça, mas ele não sentiu qualquer dor dessa vez.
E quando isso acontecia, ele pensava na cozinha da casa em que ele crescera. Pensava no piso de linóleo rachado e descascando, na pia que sempre cheirava a mofo e sua enorme mãe de pé por cima dele, normalmente gritando alguma coisa.
Uma memória de sofrimento sempre se seguia a isso, mas ele dava um jeito de afastá-la na maioria das vezes.
Se quisesse ter sucesso essa noite, ele precisaria afastar aquela memória novamente. Se ele quisesse que a nebulosidade passasse, teria que superar aquelas memórias...
E assim, elas se foram. Aquele velho piso de linóleo desapareceu e ele via apenas a escuridão na rua à sua frente.
Ele continuou a focar-se em Wayne Nevins, na sua forma sombreada, agora nebulosa nas extremidades. Ele não poderia arriscar perdê-lo de vista, ou pior, o alarmar de qualquer maneira. Ele piscou os olhos rapidamente, como se tentasse mandar a confusão para longe. Esperava que ela passasse rapidamente, como fazia na maior parte das vezes. Se durasse mais que trinta segundos, ele perderia Wayne Nevins de vista e também sua oportunidade.
Enquanto lutava contra a força de desaparecimento de sua visão, foi bombardeado com as imagens que normalmente vinham com a aflição: a face com olhar malicioso de sua mãe, fazendo escárnio com ele e então chorando; sangue em uma pia; a coxa nua de sua primeira namorada e a elusiva, quase mítica, área que repousava logo na extremidade da mesma.
Elas vieram como um turbilhão e ele sentiu como se estivesse dentro delas. Seu estômago parecia que havia acabado de sair de uma montanha russa, pronto para ejetar a última refeição que comeu. Ele prendeu a respiração e lutou contra isso. Ele sabia que piscar repetidamente não fazia qualquer coisa para fazer isso parar, mas o fazia de qualquer forma. Isso o fazia sentir que pelo menos ele estava tentando dar um fim, como se ele tivesse algum controle sobre a situação.
Através das imagens tremeluzentes na sua mente, ele ainda via a forma de Wayne Nevins se aproximando. Por um momento sua forma distorcida, a escuridão das ruas e o jogo dos postes de luz, bem como o grau de imprecisão na sua visão, fez Wayne parecer a imagem do cartaz de O Exorcista.
Tal pensamento inesperado e estranho pareceu interromper o fluxo de memórias. Elas pararam de vir, desaparecendo completamente como uma piscada. Simultaneamente, sua vista foi completamente restaurada.
O coração dele batia forte dentro do peito. Sua boca parecia seca demais. Por um momento aterrorizante, ele quase se esqueceu de porquê estava ali.
Ele olhou para a rua. Não havia carros-nunca havia depois das nove. Essa cidade era como qualquer outra latrina na área bucólica da Virgínia. O lugar basicamente se dobrava como um cobertor depois das oito. E os poucos que ainda estavam fora de casa-majoritariamente adolescentes procurando maneiras de gastar o tempo e o dinheiro-estavam indo para as outras cidades vizinhas que tinham mais a oferecer para entretenimento e problemas.
Com senso de atenção e confiança, ele começou a andar para frente.
À sua frente, Wayne Nevins havia reduzido seu passo. Wayne, aparentemente, o havia sentido... talvez até farejado o medo e entusiasmo emanando dele.
Não vendo o ponto em tentar fingir que tudo estava bem, ele se distanciou do prédio para próximo de Wayne. Neste momento, apenas a rua ficava entre eles, já que atualmente estavam em pé no meio-fio das calçadas opostas.
"Sr. Nevins?" ele perguntou. "Como você está?"
Wayne parou por um momento e então sorriu. "Engraçado ver você aqui há essa hora," disse Wayne. Ele riu bem sem graça da própria piada.
"Bem, eu estava saindo para uma corrida," ele mentiu. Talvez essa história sobre correr fosse um bom pretexto para algum tipo de cheiro peculiar que ele estava exalando devido ao pânico do episódio que ele acabara de sofrer. "Mas dez minutos nisso e eu mudei de ideia. Não sou realmente muito de correr."
"O mesmo aqui," disse Wayne, novamente rindo da sua própria piada.
Oh, ele vai tomar uma com certeza, ele pensou.
"Enquanto eu estou aqui fora caminhando," ele disse, "você gostaria de uma companhia de volta ao lar?"
Wayne pareceu pensar a respeito e então deu de ombros. "Se você não estiver fazendo algo mais, sim. Seria bom."
"Quando é o toque de recolher?" ele perguntou.
Ele estava fingindo de bobo. Sabia que Wayne tinha que dar entrada não mais tarde que dez horas. E ainda faltava meia hora. O lar ficava a vinte minutos de distância, o que parecia uma distância muito longa no calor da noite.
Wayne era uma alma corajosa, isso com certeza. Mas ele sabia isso sobre Wayne-soube desde a primeira vez que ele o encontrou há três meses. Enquanto a maior parte das pessoas cegas já estava desconfortável demais para andar sozinha, Wayne o fazia a noite. Ele alegava que isso limpava sua cabeça, o fazia mais consciente de Deus, especialmente no silêncio dessa pequena cidade.
Ele se apressou e ficou ao lado de Wayne. "Lidere o caminho," ele disse, descobrindo que Wayne gostaria do humor seco e óbvio.
Funcionou perfeitamente. Mais perfeitamente do que ele pudesse ter esperado. A rota de volta ao lar levaria três quarteirões ao norte e, então, dois quarteirões para o oeste. Mas eles nunca foram para o oeste. No próximo quarteirão, havia um beco no qual eles iriam parar. E seria o último lugar que Wayne Nevins visitaria.
"Então," disse Wayne, sentindo a sua frente com sua bengala. O som de tap-tap-tap que ela fazia era quase musical. "O que você vai ler para mim quando nós acabarmos com Matadouro 5?"
"Ainda não sei," ele disse. "Você acha que vai estar no clima para quê?"
"Alguma coisa com um detetive. Tiroteios. Talvez uma cena de sexo ou duas."
"Estou certo de que posso encontrar alguma coisa," ele disse enquanto eles chegavam ao fim do quarteirão. Ele mirou em frente e viu o beco em questão, a cerca de nove metros a frente deles.
"Eu costumava ouvir Magnum P.I. quando passava na televisão," disse Wayne com um toque de nostalgia em sua voz. "Meu velho amava. Ele dava o melhor para descrever o que estava na tela durante o diálogo."
O beco estava chegando. Wayne Nevins tinha alguns momentos restantes para viver e ele estava os gastando falando sobre um programa de televisão dos anos 1980. Havia algo profundamente triste nisso.
"Você já assistiu esse programa alguma vez?" perguntou Wayne.
"Não. Eu era mais um cara do tipo MacGyver."
"Ah, sim," disse Wayne. "Eu ouvi falar desse programa. Mas eu não acho-"
Com uma verificação final para ter certeza de que não havia tráfego-de veículos ou pedestres-ele empurrou Wayne com força contra a lateral da construção mais próxima a eles. Antes que Wayne soltasse um choro, ele soltou um forte soco. Acertou o estômago de Wayne, tirando seu fôlego.
Enquanto Wayne lutava para respirar, ele foi empurrado para o beco. Sua bengala caiu e chacoalhou no concreto, o único som a ser ouvido naquelas ruas quentes e silenciosas.
CAPÍTULO ONZE
Mackenzie sentou-se na cama, arfando e agarrando o peito na sequência de mais um pesadelo. Ela estava desorientada ao olhar ao redor do quarto. Ela havia se mudado tanto nos últimos dois dias que mais ou menos pelos primeiros vinte segundos de vigília moderada, ela não sabia onde estava.
Ela viu Ellington na cama ao lado dela. Ele estava monopolizando os cobertores como normalmente fazia, deixando o corpo nu dela quase todo exposto.
Ela manteve os olhos em sua forma obscura até que seu cérebro acompanhasse. Ela estava no hotel Sleep Inn em Richmond. Pela manhã ela e Ellington iriam entrevistar as últimas duas pessoas na lista que Sam Batiste havia lhe dado. Afinal, quem sabe? Provavelmente seria de volta para Stateton para retraçar os passos deles, cavar alguma nova entrevista desesperada e esperar que o assassino voltasse a cena o seu assassinato mais recente.
Esses planos foram ofuscados pelo pesadelo que acabara de jogá-la acordada. A cena foi a mesma de sempre-o quarto de seus pais. O corpo de seu pai morto. Sangue por toda parte. Somente nessa noite, a cama também estava coberta em cartões de visita que liam Antiguidades Barker. E toda vez que ela tentava pegar um deles, ela se cortava como com uma faca. Ela perdeu o polegar e o mindinho antes de desistir. Ela se afastou da cama para deixar o quarto apenas para ter seu pai morto se levantar e gritar, "Desistente!"
Lentamente, ela saiu da cama. Foi ao banheiro e encheu um copo plástico com água fria da torneira. Ela bebeu devagar e, então, voltou para a cama. O relógio na mesa de cabeceira mostrava 4:05 e ela sabia que voltar a dormir seria impossível a nesse ponto.
Ela pegou o celular e verificou seus e-mails. Ela tinha alguns novos; vários eram de Quantico, atualizando-a em casos passados e trivialidades relacionadas a trabalho. Mas havia outro do Agente Harrison que tinha a linha de assunto "Cães?"
Ela o abriu e leu a breve mensagem, surpresa que McGrath tenha feito Harrison ajudá-la com tal empenho.
Um rápido alerta, no e-mail se lia. Fiz alguma investigação nas suas duas vítimas, Kenneth Able e Ellis Ridgeway. Parece que ambos usaram cães guia no passado. Apesar da distância entre os lares, os cães vieram da mesma agência. Aqui estão as informações: Provavelmente um tiro no escuro, mas um tiro de qualquer forma.
Ela viu que o endereço que ele havia fornecido para a agência era de Petersburg, uma cidade há um pouco mais de meia hora de Richmond.
Ok, ela pensou, abaixando o telefone e esperando ser capaz de conseguir pelo menos mais uma hora de sono. Uma agência de cães guia em Petersburg. Uma pista fracassada em Lynchburg. Uma biblioteca em Braille em Richmond. Mortes em Stateton e Treston. Nós vamos nos aventurar por todo esse estado quente como o inferno antes de conseguir alguma resposta de verdade para isso?
Incapaz de cair no sono novamente, ela brincou com a ideia de acordar Ellington de forma particularmente animadora, mas decidiu que não. Deixe-o dormir. Além disso... ela precisava pelo menos descansar, se não fosse dormir. Mesmo que esse descanso significasse deitar na cama inquieta, pelo menos era alguma coisa.
Seu telefone colocou um fim em quaisquer esperanças de descansar quando começou a tocar às 5:20. Ela o respondeu rapidamente, sabendo muito bem que uma ligação a tal hora não poderia ser qualquer coisa além de notícias ruins.
"Alô?"
"White? Oi, é o Harrison."
"Ah. Oi," ela disse, não ligando em esconder sua surpresa. "Como vai?"
"Houve outro assassinato. Outro deficiente visual."
"Onde?"
"Bem na sua vizinhança. Uma pequena cidade logo ao lado de Richmond chamada Chesterfield."
Estamos perto, ela pensou. Era igualmente emocionante e desconcertante ao mesmo tempo.
"Há um lar para cegos lá?"
"Sim. Vou lhe enviar as informações."
"Obrigada," disse ela. "Estaremos nisso."
Ao lado dela, Ellington se sentou quando ela terminou a chamada. Ele deu um bocejo e espreguiçou antes de dizer: "Ok... para onde vamos agora?"
***
Eles chegaram a Chesterfield às 6:35 da manhã, começando o dia com um rápido café da manhã de café e bagels. Eles pararam no pequeno estacionamento em frente ao Lar Mary Denbridge em meio a várias viaturas. Ao saírem e mostrarem seus distintivos para o policial responsável, alguns outros estavam ocupados colocando uma barreira que impediriam mais tráfego no estacionamento.
O policial encarregado assentiu para eles e deixou escapar um suspiro. "Bom ver vocês," ele disse. "Somente agora eu descobri que esse é o terceiro assassinato em um mês, certo?"
"Certo."
O policial balançou a cabeça em descrédito. "Venham... eu vou levá-los para dentro."
"A vítima foi morta aqui?" perguntou Mackenzie.
"Está começando a parecer que esse não é o caso," disse o policial. "Ele foi encontrado em um beco a cerca de dois blocos de distância, três horas após o recolhimento obrigatório."
Ele os levou para dentro do lar. Era quieto no interior, apesar do punhado de oficiais de polícia presentes. Alguns estavam falando entre si, enquanto alguns outros estavam falando com alguns dos moradores do lar.
"A mulher com a qual vocês vão querer falar atualmente está uma bagunça de soluços, lá na frente com um dos meus rapazes tentando acalmá-la."
"Há algum outro cuidador por aí?" perguntou Mackenzie.
"Sim, logo ali," o policial disse, apontando para uma mulher que falava com um dos policiais. "Seu nome é Henrietta Sheldon e ela vai ser sua melhor aposta agora. Venham, eu vou apresentá-los."
Henrietta Sheldon os viu chegando e se afastou do policial com o qual conversava. Mackenzie mostrou novamente o distintivo enquanto se aproximava deles.
"Sra. Sheldon, eu sou a Agente White e esse é o Agente Ellington. Entendemos que você é a melhor fonte de informação nesse momento. Poderia nos dar um minuto?"
"Absolutamente", ela disse. Mackenzie poderia dizer imediatamente que Henrietta pulou o processo de luto e tinha ido direto para a raiva. "O que posso fazer para ajudar?"
"Disseram-nos que a vítima foi encontrada em um beco e o corpo não foi descoberto até bem depois do toque de recolher. Você sabe onde ele esteve?"
"Bem, antes de tudo, a vítima é Wayne Nevins. E ele normalmente saia para uma caminhada por volta das oito nas terças à noite."
"E você sabe por onde ele andaria?"
"A mesma rota sempre. É uma caminhada de aproximadamente três quilômetros que o levava pela igreja Batista um pouco acima na estrada. Na maioria das noites de terça-feira, seu pequeno coral está praticando. Ela andava devagar para que ele os pudesse ouvir cantar."
"Então você sabe a rota exata?"
"Sim, acho que sim."
"Gostaríamos que você nos levasse lá," disse Ellington.
"Primeiro, porém, eu gostaria de ver o quarto dele," disse Mackenzie. "E quanto a câmeras de segurança? Que tipo de configuração vocês tem aqui?"
"O sistema em si é um pouco antiquado, mas funciona. Só para constar, alguns dos policiais já olharam as imagens de quando Wayne saiu ontem."
"Eu gostaria de dar uma olhada também, se estiver tudo bem," disse Mackenzie.
"Claro, por aqui."
Mackenzie então se viu sendo guiada pelo terceiro lar para cegos em três dias. Esse, o Lar Mary Denbridge, era muito melhor do que o que havia visitado em Treston, mas não era páreo para o Lar para Cegos Wakeman. A primeira hora estava agitada, já que parecia que todos os residentes estavam lá fora, se juntando e conversando com alguns dos policiais na cena.
Henrietta os levou para uma pequena sala parecida com um escritório ao lado de um escritório muito mais amplo. Havia dois policiais na sala, sentados em uma pequena mesa, assistindo uma série de monitores. Um policial estava manipulando um pequeno painel de controle, controlando o fluxo das cenas nas telas.
"Com licença, senhores," disse Mackenzie. Novamente, ela mostrou o distintivo e apresentou a si e a Ellington. "Alguma coisa relevante aqui?"
"Não que eu possa notar," disse o policial com os controles. "Estou passando as imagens já faz uma hora e não fui capaz de encontrar coisa alguma. Eu encontrei por onde Wayne Nevins deixou o lar e isso é bem... aqui," ele disse, parando a gravação. "Ninguém sai com ele." De fato, ninguém entra ou sai pela porta da frente novamente por uma hora e meia.
"Também há essa filmagem do estacionamento," ele disse, apontando para outra tela. Ele iniciou a gravação e eles assistiram enquanto Wayne Nevins andava ao longo da beirada do estacionamento e então desaparecia do monitor. Mackenzie, vigiou de perto e não viu ninguém o seguindo.
"Alguém mais aparece no estacionamento depois disso?"
"Ninguém. A próxima pessoa que você vê no estacionamento é o cara do FedEx quarenta minutos depois. Ele entregou alguns suprimentos de escritório."
Mackenzie disse nada, apenas assistiu os monitores enquanto o policial as rebobinava e dava continuidade, dessa vez em câmera lenta.
"Fique à vontade para guiar os controles," disso o policial, inclinando sua cadeira para trás e oferecendo a ela.
"Não, obrigado," ela disse. "Parece que vocês fizeram um trabalho meticuloso." Ele se virou para Henrietta Sheldon. "Pronta para dar uma volta conosco?"
"Qualquer coisa que seja necessário para pegar essa aberração," ela disse.
Novamente, Mackenzie pegou traços de raiva frustração na voz da cuidadosa. E segunda a segundo, a própria Mackenzie também estava começando a também senti-las.
***
"Qual a situação familiar do Sr. Nevins?'' perguntou Mackenzie enquanto eles saíram para rua com Henrietta acompanhando.
"Ambos os pais falecidos. Ele tem um irmão que mora no Arkansas, mas nós não conseguimos contatá-lo."
"Há algum residente no lar que você considera um amigo próximo do Sr. Nevin?"
"Infelizmente, não. Wayne era reservado. Ele era sociável, acolhedor e gentil, eu acho. Mas nunca participava de atividades em grupo. Esteve conosco por um ano e meio. Ele veio de outro lar para cegos em Nova Iorque. Ele requisitou a transferência, porque disse que Nova Iorque era demasiadamente cheia e agitada para ele."
Logo à frente, uma pequena igreja Batista surgia na esquina, a luz leve das 7:30 da manhã parecia pintar seus contornos. "Essa é a igreja pela qual ele passava?" perguntou Ellington.
"Sim, é," disse Henrietta. "Nós podemos parar no estacionamento e eu levo vocês pela rota dele, se vocês quiserem."
Não é uma má ideia, Mackenzie pensou enquanto dirigia diretamente para a pequena igreja Batista.
Ao andarem para fora do estacionamento e começarem pelas calçadas das cidades, o zumbido rítmico do tráfego matutino começou a se instalar ao redor deles. A maioria se dirigia para Richmond, indo para o trabalho sem saber que entre eles havia alguém matando pessoas cegas.
Enquanto andavam, Mackenzie percebeu que ela deveria testar a conexão que os dois casos anteriores pareciam compartilhar. "Sra. Sheldon, por acaso você sabe se Wayne já visitou a biblioteca em Braille em Richmond?"
"Oh, a maioria dos nossos residentes o faz," ela disse. "Nós hospedamos vinte residentes e eu diria que pelo menos quatorze deles frequentam a biblioteca em Braille. Eu sei que Wayne a visitava de tempos em tempos. Estou bem certa de que ele esteve lá no último mês ou por aí."
Mackenzie e Ellington compartilharam um olhar de reconhecimento.
Talvez o assassino esteja usando a biblioteca em Braille como campo de caça, ela pensou. Talvez seja onde ele esteja indo escolher seu alvos. Mas se for assim, como diabos nós o encontramos na multidão?
Parecia uma teoria fraca, de qualquer forma, mas ela ainda não estava querendo deixá-la passar. Talvez eu possa ligar para Sam Batiste e pedi-lo para imprimir uma lista de livros que as vítimas retiraram recentemente...
Enquanto esse pensamento criava raízes na mente dela, ela viu duas viaturas à frente. Havia três policiais de pé na rua, as luzes nas viaturas girando e piscando.
"Aqui é onde ele foi encontrado," disse Henrietta. Ela deu mais alguns passos e então se apoiou na construções na quina do beco-uma pequena delicatessen que ainda não estava aberta. "Eu vou ficar por aqui se vocês não se importam. Não consigo entrar aí. Pensar nisso me apavora."
Respeitando a vontade dela, Mackenzie e Ellington se deslocaram em direção ao beco. Quando os olhos dos policiais os encontraram, ambos mostraram os distintivos e fizeram uma rodada de apresentações. Ninguém ofereceu ajuda; os policiais simplesmente se afastaram e deixaram os agentes visitantes trabalharem.
"Onde o corpo foi encontrado exatamente?" perguntou Mackenzie sobre os ombros.
Uma jovem policial foi até eles e apontou alguns metros à frente deles, para a parede da delicatessen. Na placa de identificação no peito dela lia-se Carter.
"Bem ali," disse Carter. "Tipo meio sentado contra a parede pelo que eu entendo."
Mackenzie foi até a parede e olhou de perto para os tijolos e o pavimento. Ela não viu sinais de sangue e nenhum sinal real de luta. Ela olhou para baixo do curto beco e não viu qualquer coisa significativa por lá. Mas talvez a falta de significado por si fosse algo a ser considerado.
Kenneth Able foi encontrado em seu closet, no seu quarto, dentro do lar.
Ellis Ridgeway foi encontrada em um jardim público de flores a menos de oitocentos metros do Lar para Cegos Wakeman.
E agora, aqui está Wayne Nevins, morto a apenas dois quarteirões do Lar Mary Denbridge.
Essa cara conhece a área na qual ele está trabalhando. Talvez ele até conheça as rotinas e horários das vítimas; certamente parece ser assim nos casos Ellis e Wayne. O assassino sabia que Wayne saiu caminhando para ouvir o coro da igreja? Ele sabia que Ellis frequentava o jardim de flores?
Alguma coisa nisso parecia incompleta. Ela estava deixando alguma coisa passar.
Sem sinais de luta. Nem aqui, nem com Ellis e pelo que podemos dizer, nem com Kenneth também. De fato, há uma boa chance de Kenneth ter sido morto em seu quarto.
Então ou o assassino é incrivelmente furtivo... ou conhece as vítimas. Mais que isso, ele pode estar em uma posição de confiança-talvez as vítimas não o vissem como uma ameaça.
Mackenzie saiu do beco e olhou para baixo e para cima na rua. Se o seu senso de direção estava correto, eles retornariam para o lar caminhando por mais alguns blocos à frente e então virando à direita. Então ela olhou de volta para a igreja. Atualmente, estava fora de vista, mas ela conseguia imaginar facilmente sua proximidade até onde estavam.
Wayne estava caminhando sozinho, ela pensou. O que, para um homem cego, é bastante corajoso. Provavelmente ele tinha um Bastão de Hoover ou uma bengala. Talvez um cão guia.
Então ela se lembrou do e-mail que Harrison a enviara a respeito da possível pista da agência de cães guia. E assim, duas ideias lhe ocorreram,
"Policial Carter?"
"Sim?"
"Você sabe se um Bastão de Hoover ou uma bengala foram recuperados da cena?"
"Sim, na verdade foram, " disse Carter. "Uma bengala. Acredito que a Polícia de Richmond a tenha agora. Mantendo como uma evidência, eu presumo."
"Você poderia me dar o número da pessoa com a qual eu preciso falar para alguém dar uma olhada nela?"
"Eu posso fazer isso. Um segundo, por favor."
Enquanto Carter foi falar com um dos outros policiais, Ellington surgiu ao lado dela. Ela sorriu um pouco quando ele colocou a mão na sua lombar, percebeu que estava fazendo isso no trabalho e então a removeu rapidamente.
"Por que a bengala?" ele perguntou.
"Eu acho que nossas vítimas conhecem o assassino. Talvez até o considerem um amigo... alguém de confiança."
"Você acha que possamos conseguir digitais ou fibras da bengala?"
"É uma possibilidade."
"Por que não vamos até o DP para olhar por nós mesmos? Conversar com o departamento de forense?"
"Talvez depois," ela disse. "Por agora, eu estava pensando que devemos ir ver a respeito de uns cães."
"Cães? É uma piada estranha? Você sabe que eu não entendo seu senso de humor."
"Sem piada," ela disse. "Uma pista em potencial."
"Desde que você me diga no caminho, estou bem com isso. Também... você sabe o que mais você pode me dizer? Os sonhos que você tem a noite. Você estava tremendo durante o sono na noite passada. Gemendo."
Ela deu-lhe um olhar que devia ser sincero, mas ela temia que tivesse saído um pouco defensivo "Desculpe," ela disse. "Ainda não chegamos aí ainda."
Ele assentiu e deixou por isso. "Então. Cachorros, hein?!"
Ela deu um sorriso fino e afastou-se dele enquanto esperava pela volta de Carter com as informações de contato necessárias sobre a bengala. O silêncio vindo de Ellington era pesado, mas ela não deixou isso incomodá-la. Ao invés disso, ela se focou nas várias possibilidades que já haviam se aberto para eles nessa manhã e como qualquer uma delas poderia levar à prisão de um assassino.
CAPÍTULO DOZE
Eles chegaram à agência de cães guia logo depois das 9:00. O lugar não tinha nome e parecia exatamente igual a qualquer abrigo de animais. Ficava localizado bem ao lado da estrada estadual, rodeado por um pequeno campo em um lado e uma extensão de floresta no outro. Era flanqueado por uma entrada de brita e nada mais, o epitomo de um lugar comum.
Ao saírem do carro, Mackenzie pode ouvir alguns cães latindo felizes em algum lugar no outro lado da pequena construção de um andar. Ellington ligou adiantado para ter certeza de que alguém estaria lá para se encontrar com eles; foi uma boa coisa, já que a agência abria somente por agendamento.
Antes mesmo que eles chegassem a porta, uma mulher alta e esguia os encontrou. Ela abriu a porta para eles e os guiou para dentro com um sorriso. Quando Mackenzie passou por ela e entrou, ela captou o cheiro de comida de cachorro na mulher. Eles entraram em uma pequena área de espera que continha apenas quatro cadeiras e uma pequena mesa com algumas revistas. Ao longo da parede da frente, uma janela de vidro revelava uma pequena área de escritório e, além disso, sem qualquer parede para separar, uma sala de concreto cheia de grandes canis.
"Bem-vindos, bem-vindos," disse a mulher. "Meu nome é Gretchen Slater e eu gerencio a agência. Por favor... digam-me qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar com o caso de vocês. Como vocês podem imaginar, esse é um novo tipo de solicitação para nós."
"Bem, nós não podemos informar qualquer detalhe em profundidade sobre o caso a você, mas estamos esperando encontrar algum tipo de conexão entre três diferentes pessoas cegas, todas da Virgínia, mas espalhadas em distância."
"Bem, nós realmente atendemos ao estado todo," disse Gretchen. "Partes da Virgínia do Oeste da Carolina do Norte, também."
"Se eu lhe der três nomes, quanto tempo levaria para você me dizer se eles fizeram negócios aqui?"
"Talvez um minuto," disse Gretchen orgulhosamente. "Venham até o escritório e nós vamos ver o que eu posso fazer por vocês."
Gretchen os levou por uma porta para um pequeno e bagunçado escritório de canto, que não tinha qualquer coisa além de uma mesa e algumas cadeiras enfiadas no canto e uma grande área aberta que continha os canis e gaiolas. Gretchen se sentou atrás da área de trabalho e ligou seu notebook.
Enquanto esperava o computador ligar, Mackenzie perguntou: "Você fica sempre ocupada ou esse é tipo um nicho de negócio?"
"Nós ficamos a postos," disse Gretchen. "Recentemente, nós começamos a trabalhar com cães de serviço também. Mas nossa maior saída são cães guia."
"Quem entraria em contato com você sobre a aquisição de um?" perguntou Ellington.
"Normalmente é um cuidador do indivíduo cego," disse Gretchen. "De vez em quando nós recebemos chamadas de gerentes de lares para cegos."
"Você tem algum negócio com o Wakeman em Stateton?" perguntou Mackenzie.
"Sim, de fato," disse Gretchen. "Um lugar agradável que eles têm por lá. Por acaso vocês estiveram lá? É um dos melhores lares para cegos em toda a Costa Leste."
"Sim, estivemos," disse Mackenzie.
Com o computador ligado, Gretchen abriu um programa que parecia o Excel com alguns recursos extra. "Certo," ela disse. "Quais são os três nomes?"
"Ellis Ridgeway. Wayne Nevins. Kenneth Able."
Gretchen digitou todos os três nomes em uma barra de busca e, antes mesmo dos resultados aparecerem, Gretchen estava assentindo. "O nome Ellis Ridgeway me soa muito familiar," ela disse. "Eu acho que ela possa ter sido uma residente no Wakeman."
Mackenzie não respondeu que sim ou que não quando os resultados aparecerem. Ela viu os resultados na tela por si mesma quando Gretchen os reuniu para eles.
"Aqui vamos nós," ela disse. "Parece que apenas dois deles nos usaram no passado. Kenneth Able e Ellis Ridgeway. Bem aqui, embora esse pequeno ponto de exclamação ao lado de Wayne Nevins indica que ele entrou em contato e perguntou sobre os nossos serviços."
"Alguma ideia do porquê de ele nunca ter ido além?" perguntou Mackenzie.
"Não, nós não mantemos esses tipos de registros. Mas isso foi, vamos ver-"
Ela clicou em alguns botões e outra coluna de informações surgiu. "Foi há quase nove anos quando Wayne Nevins nos contatou. Então a informação é bem antiga, de qualquer forma."
"Sra. Slater," disse Ellington, "quantas pessoas você tem na equipe?"
"Apenas uma. Eu tenho um cara que vem e alimenta os cães, se certifica que eles estão todos limpos e saudáveis. Acontece que ele também é um treinador bom pra caramba. Todos os outros que vêm e vão são voluntários. Nós recebemos algumas crianças do colégio, uma senhora idosa que apenas ama cães e o veterinário que toma conta dos nossos cães não cobra pelos serviços."
"Você acha que nós poderíamos falar com o seu treinador?" perguntou Mackenzie.
"Oh, isso seria fácil. Ele está logo ali fora, indo dar o rango do dia."
Gretchen os levou pelas fileiras de canis. Mackenzie notou logo que os cães todos eram bem comportados. Alguns mordiam de leve as portas das gaiolas, enquanto a maioria permaneceu sentada quieta, erguendo as cabeças curiosamente para os recém-chegados.
Quando eles chegaram ao fundo a construção, uma porta tipo de celeiro deslizou aberta para uma pequena extensão de grama e terra. A cerca de seis metros atrás do edifício central da agência, havia uma velha construção de lembrava um celeiro. A porta estava aberta, revelando um interior bolorento. Um homem se deslocava no interior, jogando um saco de ração de cachorro para o lado para cobrir alguma coisa.
Gretchen bateu no lado do portal da porta aberta e subiu na pequena rampa de madeira que levava ao interior. "Oi, Mike," disse Gretchen. "Aviso. Tem duas pessoas aqui fora que precisam falar com você."
Um homem afro-americano saiu do galpão. Ele estava suando, enxugando gotas de suor em sua testa. Mackenzie sentia por ele. Eram apenas 9:15 da manhã e devia estar fazendo pelo menos trinta graus. Ele fitou Mackenzie e Ellington com um sorriso e assentiu.
"Eu ofereceria um aperto de mão," ele disse. "Mas eu estou suando um pouco demais para qualquer tipo de contato com pessoas que eu nunca vi."
"Muito agradecidos," disse Ellington.
Depois de uma rodada de introduções rápidas e de mostrar seus distintivos, os quatro deles voltaram a entrar apenas para sair do calor. Mike carregou um grande balde de comida de cachorro consigo e começou a distribuir nas gaiolas dos cães enquanto Mackenzie e Ellington começaram a questioná-lo.
"Então, para o que exatamente você treina os cães?" perguntou Ellington.
"Para ficar próximo ao mestre a todo o momento," disse Mike. "Eu os treino para ficarem sempre atentos para algo que seja ameaçador ou inesperado. Eu posso treiná-los para parar em cruzamentos movimentados e até para pegarem coisas como bengalas, sapatos, controles remotos."
"E você trabalha sozinho?" perguntou Mackenzie.
"Pela maior parte, sim. Algumas vezes, alguns dos voluntários do colégio que vem aqui servem de modelo de deficiente visual para ajudar os cães a se acostumarem com os comandos. Também há uma mulher da Carolina do Norte que vem uma ou duas vezes por ano para ter certeza de que os cães não tenham qualquer tipo de doenças ou que estejam infestados com carrapatos ou pulgas."
"Então sem empregados antigos suspeitos ou alguma coisa assim?" perguntou Ellington.
"Não," disse Gretchen.
"Sabe," disse Mike, jogando um pouco de comida em um compartimento na gaiola mais próxima. O labrador dentro da gaiola esperou pacientemente pela comida cair e então começou a comer. "Eu não sei exatamente por qual tipo de detalhes vocês estão procurando. Mas se vocês estiverem procurando por pessoas problemáticas com as quais nós tivemos alguma história, há uma que vem imediatamente à minha mente."
"Sim, esse tipo de informação seria muito útil," disse Mackenzie.
"Havia um cara chamado Charles King."
"Ah, Jesus," disse Gretchen. "Eu tratei de colocar aquele monstro fora da minha cabeça."
"Quem é Charles King?" perguntou Mackenzie.
Gretchen e Mike trocaram um olhar como se tentassem decidir quem falaria. No fim, foi Gretchen. Ela suspirou antes de começar; Mackenzie podia perceber que esse simples pensamento sobre o cara a colocava no limite.
"Ele foi um cliente de cerca de quatro anos atrás," ela disse. "Ele morava sozinho, mas também tinha uma cuidadora que dava uma olhada nele. Ele não era uma dessas pessoas que são cegas desde o nascimento. Ele esteve em algum tipo de acidente de trabalho e perdeu a visão-algum tipo de vazamento químico em uma fábrica, se eu me lembro corretamente. De qualquer forma, a cuidadora dele trabalhou conosco. Ela trouxe Charles e ele experimentou alguns dos nossos cães. Um deles se conectou com ele bem rapidamente."
"Sim, foi quase como se estivesse destinado," disse Mike com desgosto.
"Mas então, recebemos uma chamada mais ou menos um mês depois," disse Gretchen. "A cuidadora nos ligou para avisar que o Charles estava batendo no cachorro. Aparentemente, um dia ele acidentalmente tropeçou na coleira do cachorro e perdeu a cabeça."
"Eu fui até lá," disse Mike. "Encontrei um veterinário local e fiz uma visita de surpresa. Eu poderia ter espancado aquele cara, eu digo a vocês. Eu não me importo se ele é cego. Ele não estava alimentando o cão apropriadamente. O cão estava mancando e estava sem dois dentes. Nós removemos o cão do local e quando o levamos de volta para a clínica do veterinário, achamos uma fratura na perna traseira esquerda, duas costelas quebradas, machucados na gengiva e desnutrição geral."
"Nós o denunciamos," disse Gretchen, "mas até então, nada foi feito. Ele fez algumas ligações obscenas para nós, contudo. Uma vez nós reclamamos sobre isso com a polícia e ele parou. Eu assumo que os policiais foram até ele e o advertiram."
"Você acha que Charles King seria capaz de fazer esse mesmo tipo de coisas a um ser humano?" perguntou Mackenzie.
"Baseado em algumas coisa que ele estava falando quando ele ligou para cá, eu diria que sim," disse Mike.
"Você tem o endereço dele?"
"Sim," disse Gretchen. "Algum lugar próximo a Lynchburg, eu acho."
Perfeito, pensou Mackenzie. Pelo menos é de volta no caminho para Stateton e não do outro lado do maldito estado.
"Se vocês não se importam que eu pergunte," disse Mike, "Charles fez alguma coisa? Algo pior que agredir um cão?"
"Não sabemos." disse Mackenzie. "E embora eu não possa lhe dar qualquer detalhe sobre o caso no qual estamos trabalhando, nós certamente apreciamos sua ajuda."
No caminho de volta para o pequeno espaço de escritório, Mackenzie olhou para algumas das gaiolas. Um labrador dourado sorriu preguiçoso de volta para ela. Olhando para o extraordinário cão, ela tentou imaginar como seria precisar confiar em um animal para ajudar a se locomover de um lugar para outro. Certamente, havia frustração e uma sensação de vergonha no início, certo?
E se alguém não conseguisse superar essa vergonha? ela pensou. E se, ao invés de se conectar com o cão e começar a confiar nele, a pessoa se ressentisse com isso?
"Aqui está aquele endereço," disse Gretchen, entregando uma cópia impressa a ela.
Mackenzie a pegou, ainda sorrindo para o labrador.
"Eu espero que vocês encontrem o que estão procurando," disse Gretchen. "Sinta-se à vontade para nos ligar novamente se precisar de qualquer coisa."
Mackenzie assentiu seu reconhecimento enquanto caminhavam de volta para a área de escritório principal. Lá fora estava quente como o inferno-parecia que a temperatura havia saltado pelo menos cinco graus desde que eles encontraram Mike lá trás no celeiro.
"Então...Lynchburg?" disse Ellington.
"Sim. De novo."
CAPÍTULO TREZE
"Então, vamos pensar sobre os tipos de personalidade das pessoas que estamos considerando," disse Mackenzie.
Eles haviam deixado a agência de cães guia há menos de cinco minutos. No momento, Ellington estava virando na rodovia de quatros pistas que os levaria, daqui a cerca de cento e sessenta quilômetros, a Lynchburg.
"Por um lado," disse Mackenzie, "nós temos um homem covarde parasita que está batendo em um cão que foi treinado para não fazer qualquer coisa além de servir pessoas com deficiência. Por outro lado, temos um homem que é movido a matar pessoas cegas."
"Sim... parecem ser dois tipos diferentes de pessoas," concordou Ellington.
"Exatamente. É preciso um tipo especial de covarde para atacar um cão. Mas há pelo menos algum tipo de coragem-embora distorcida e doente-para manter a cabeça fria para matar alguém. Mas ao mesmo tempo, talvez bater em um cão signifique nada para alguém que mataria pessoas cegas. Talvez seja tudo a mesma coisa. Eu acho que pode ser um acerto."
"Outra coisa na qual eu venho pensado é," disse Ellington, "por que pessoas cegas? O que levaria alguém a mirar em pessoas cegas?"
"Eu pensei sobre isso também," disse Mackenzie. "A teoria mais plausível é que alguém próximo a ele era cego ou quase cego. Talvez ele tenha perdido essa pessoa e esses são, de alguma forma, assassinatos de vingança."
"Ou talvez tenha medo de pessoas cegas," disse Ellington. "Talvez, de alguma maneira, ele as veja como uma ameaça."
"Ou ele pode sentir repulsa por eles," ela sugeriu. "Mas novamente... por quê? O que me leva de volta a uma ligação de família. Sabe, se eu me lembro corretamente, há um caso de mais ou menos quinze anos atrás em algum lugar na Califórnia, no qual um homem espancou sua mãe cega-a colocou em coma. Quando ele foi interrogado disse que fez isso porque sua irmã havia abusado dele quando eles eram crianças. E sua mãe nunca viu. Ele a culpou por permitir que isso acontecesse. Eu imagino se o que está acontecendo aqui é parecido."
A conversa continuou assim por cerca da metade da viagem para Lynchburg. A melhor coisa sobre passar tanto tempo juntos no carro era que isso praticamente os forçava a explorar os cantos do relacionamento deles que não envolviam estarem nus. Mais que isso, isso dava mais noção a Mackenzie de como a mente de Ellington trabalhava. E quanto mais ela a via funcionando, mais ela percebia o quão brilhante ele era e o que a havia atraído nele.
Enquanto as teorias começaram a chegar ao fim e a conversa vinha em pequenas rajadas aqui e ali, a mente dela continuou a trabalhar em algumas outras teorias. Quando Ellington se aproximou de Lynchburg, uma teoria em particular parecia evoluir mais que qualquer outra.
E se for o oposto do exemplo que dei a Ellington? E se o assassino tivesse alguém na vida dele que era cego e essa pessoa morreu? Talvez ele pudesse estar matando essas pessoas porque ele sente que está libertando-as de uma vida de provações e obstáculos? Assassinatos de misericórdia de alguma maneira?
Era tudo especulação, é claro. Nesse momento, eles possuíam teorias demais e muito pouca evidência para apoiá-las.
Mas eles esperavam encontrar alguma evidência sólida em Lynchburg. Até agora, uma pessoa cega violenta, que aparentemente bateu em um cão no passado, certamente parecia ser a pista mais promissora... uma que fez Mackenzie começar a se nutrir em outra teoria.
E se o próprio assassino for cego?
***
Quando eles chegaram ao endereço que Gretchen havia lhes fornecido, a primeira palavra que veio a mente de Mackenzie foi miséria. Mesmo do lado de fora da casa, ela podia perceber que a mesma estaria em condições miseráveis por dentro. Ficava escondida no centro da cidade em uma área entre uma casa que claramente havia sido abandonada há muito tempo e outra residência onde duas mulheres negras idosas se sentavam na varanda fumando cigarros. Essas mulheres os encararam desconfiadamente enquanto eles subiam os degraus da encardida varanda da frente.
Aparentemente, Mackenzie e Ellington pareciam completamente diferentes de qualquer outro visitante na área. Uma das mulheres assim o disse com o comentário que ela fez antes de Ellington batesse na porta.
"Vocês são da polícia?" ela perguntou em uma voz alta esfumaçada.
"Não, senhora," disse Mackenzie, não dando muita atenção a ela.
"Governo?"
Mackenzie sorriu com a maneira que as palavras eram pronunciadas, mas disse nada. Ellington permaneceu quieto também enquanto ele finalmente bateu na porta da frente.
"Espero que sim," ela disse. "Estou cansada para caramba de ouvir os gritos desse idiota o tempo todo."
Agora interessada, Mackenzie olhou para a mulher na varanda do vizinho. "Que tipo de grito?" ela perguntou.
"Como o de chiliques. Birras. Como se ele fosse uma criança nervosa ou alguma coisa assim. Gritando todo tipo de loucura o dia inteiro. E você pensaria que uma pessoa cega fosse silenciosa. Parece estranho. Ele é um esquisito."
Ellington bateu novamente. Poucos segundos depois, Mackenzie ouviu o som de passos arrastados. "Já estou indo," uma voz disse, presumivelmente Charles King. "Quem diabos é?"
Ellington se aproximou da porta, falando suavemente para não ser ouvido por alguém próximo. "FBI," ele disse. "Precisamos falar com Charles King."
Os passos arrastados pararam por um momento e então continuaram. Alguns segundos depois, Mackenzie ouviu o chacoalhar de uma pequena corrente e, então, o ranger das dobradiças quando a porta da frente foi aberta. Um homem mais velho apareceu na porta. Ele parecia para ter de cerca de setenta, mais ou menos, mas seu cabelo despenteado e estatura fina o faziam parecer estar à beira da morte.
"FBI?" ele disse, cuspindo as três letras como se fosse algum tipo de piada.
"Sim, senhor," disse Mackenzie. "Queríamos saber se você pode ter um momento para falar conosco."
"Sobre o quê?" ele perguntou.
"Você é Charles King, sim?" disse Ellington.
"Sou." King então olhou na direção da mulher na varanda vizinha, aparentemente sentindo sua presença intrometida. "Agora," ele disse, mantendo a voz baixa, "sobre o que se trata?" ele perguntou novamente.
"Nós preferiríamos discutir isso lá dentro," disse Mackenzie, fazendo seu melhor para indicar as mulheres na varanda sem ser muito aparente.
King estava claramente confuso, mas ele suspirou e os indicou para entrar. "Então entrem," ele disse rispidamente.
Quando a porta foi fechada atrás dele, Mackenzie viu que ela estava certa. O lugar era uma bagunça, com louças sujas empilhadas na pia e roupas espalhadas aqui e ali. Surpreendentemente, apesar disso, não fedia. Foram necessários alguns momentos para detectar o incensário no pequeno corredor quando Charles King os levou até sua pequena sala de estar.
Um rádio estava tocando música bluegrass, marcada por um silvo de estática ao fundo. Mackenzie observou com admiração quando King caminhou até o rádio e abaixou o volume.
"Se vocês me perseguiram, presumo que saibam que eu sou cego," disse King.
"Sim, estamos cientes desse fato," disse Mackenzie. "E de fato, é a razão primária para estarmos aqui. Estamos trabalhando em um caso que envolve o assassinato de três pessoas cegas. Não parece haver qualquer área de interesse em particular, embora o caso tenha nos levado a Richmond ontem-a área de Chesterfield."
"Alguém no Mary Denbridge foi assassinado?" ele perguntou.
"Sim. E ele foi o terceiro."
King se sentou pesadamente em uma velha poltrona no canto da sala. "E como isso os trouxeram a mim?"
"Bem, duas das vítimas haviam usado auxílio de cães guia anteriormente," disse Ellington. "Até agora, isso e o fato de que ambos foram à Biblioteca em Braille em Richmond são as únicas conexões que temos. Então nós visitamos a agência que forneceu os cães a eles e seu nome surgiu."
Silêncio encheu a sala por um momento. Mackenzie observou o rosto de King, levemente fascinada por como ele parecia aferir tudo na sala. Cego ou não, ele estava muito confiante. E ela duvidava que fosse somente porque ele estava em um ambiente familiar. Ele parecia ser o tipo de homem que não é facilmente intimidado. Talvez fosse por isso que ele tenha escolhido não morar em um lar ou ter um cuidador pessoal próximo a todo o momento.
"Por acaso você teria alguma ideia do motivo pelo qual seu nome possa ter surgido na agência de cães guia local?" pressionou Mackenzie.
"Porque eu cometi um erro estúpido há vários anos," ele disse. "Cometi um erro estúpido e eu meio que cozinhei nele por um tempo."
"A mulher com a qual conversamos disse que mesmo depois de removerem o cão dos seus cuidados, você continuou a ameaçar a agência com ligações rudes."
"Eu fiz isso," disse King. "Não é algo do que me orgulho. Foi... inferno, eu não sei como explicar."
"Por favor, tente".
"Eu me deixei ter muito momentos de auto piedade. Algumas vezes isso sai pela culatra e se apresenta como raiva. De vez em quando, vem na forma desses surtos de ira. O cão somente aconteceu de andar na minha frente quando eu estava em um desses humores. Isso é tudo."
"E os telefonemas de ameaça?" perguntou Ellington.
"Eu estava irritado na situação e... espere, olhe. Você está me dizendo seriamente que vocês estão aqui por causa de um cão? Vocês acham que porque eu bati em um cão uma vez no passado eu também possa ser um assassino?"
"Temos que explorar todas as opções," disse Mackenzie. "Você acabou de dizer que você desliza em fúria de vez em quando."
King acenou um "deixe disso". "Faz uma eternidade que tive uma. Anos. Talvez seja velhice. Talvez, depois de um tempo você pare de se importar o suficiente para ficar irritado com as coisas."
Então um pensamento ocorreu a ela-não necessariamente sobre o caso em si, mas sobre a psicologia de pessoas cegas: Alguém que tivesse visão anteriormente e que a tenha perdido seria mais zangado com a situação do que uma pessoa que tenha nascido cega? A personalidade do Sr. King certamente parecia confirmar isso.
"Sr. King," disse Mackenzie. "Se nós lhe dermos uma lista de datas, você acha que você seria capaz de fornecer álibis?"
Ele riu nervosamente e balançou a cabeça. "Isso é insano. E não... eu não poderia. Mas eu poderia dar a vocês o número da mulher que vem até aqui três vezes por semana para dar uma olhada em mim. Ele é como uma cuidadora, mas não de verdade. Ela faz freelances. Mas ela conhece meu histórico médico, os medicamentos que tomo, cuida de mim o melhor que ela pode. Ela pode, provavelmente, responder a quaisquer questões estúpidas que vocês tiverem sobre onde eu estava quando os assassinatos aconteceram se é por isso que vocês estão procurando."
"Sim, eu ficaria grata com isso," disse Mackenzie, ignorando seu aborrecimento.
"O cartão dela está na mesinha na porta de entrada. Eu o deixo ali em caso de eu cair enquanto ela está fora e outra pessoa me descobrir."
"Obrigada," disse Mackenzie, caminhando naquela direção. Ela acenou para Ellington também ir até lá, ansiosa para sair dali. O caos do lugar a estava afetando e, bem francamente, ela sentia quase como se estivesse se intrometendo no único lugar seguro daquele homem cego.
Porém, algo a continuava corroendo. Ao sair pela porta da frente, ela parou e se virou de volta para King. "Posso perguntar algo a você sobre a sua condição?" ela perguntou.
"O quê?"
"A mulher da agência disse que ela acreditava que você perdeu a visão em um acidente de trabalho. Que idade você tinha quando isso aconteceu?"
"Trinta e sete. Há quase trinta anos."
"Você se sente mais traído com isso do que alguém que tenha nascido cego?" perguntou Mackenzie.
Um olhar pensativo cruzou o rosto de King e, após alguns momentos, ele balançou a cabeça. "Não," ele disse. "Pelo menos eu tenho memórias das coisas que eu vi. Eu sei como a grama se parece, os vários tons de azul que o seu pode ter. Essas são coisas que pessoas que nasceram cegas nunca saberão. Então não... eu não sou ganancioso, burro ou ingênuo. Outros lidam muito pior com isso."
"Obrigada," ela disse.
King assentiu, permanecendo em seu assento com aquele mesmo olhar pensativo em seu rosto. Ali também havia uma tristeza óbvia.
"Deixe-me lhe perguntar algo," ele disse.
"Claro."
"Por que alguém iria mirar em pessoas cegas? Isso parece covardia, não parece?"
"Parece," disse Mackenzie.
A simples pergunta de King desencadeou uma ideia na cabeça dela, uma que ela havia contornado antes, mas provavelmente merecia mais atenção.
Sim, é covardia, ela pensou. O que significa que o assassino provavelmente está com medo.
Mas, de quê?
CAPÍTULO QUATORZE
Mackenzie se sentia uma nômade. O caso os havia levado a praticamente todo o húmido estado da Virgínia e sem uma base central de operações. Quando ela e Ellington estacionaram em um estacionamento do Burger King, almoçando e estudando as suas notas, Mackenzie descobriu que ela realmente desejava o pequeno, mas com ar condicionado, escritório do Xerife Clarke em Stateton.
Ainda, ao mesmo tempo, havia algo singular e excitante sobre trabalhar em perseguição com Ellington. Era a primeira vez que ela podia realmente ter a sensação de trabalho em equipe entre eles. Embora o espaço apertado de um carro que cheirava a hambúrgueres e anéis de cebola pudesse não ser o melhor lugar para se trabalhar em um caso, adicionava um senso de urgência.
"Eu não sei você," disse Ellington ao dar uma mordida em seu hambúrguer, "mas eu estou bem certo que King não é o nosso cara."
"Eu não sei," ela disse. "Toda aquela raiva... quero dizer, só porque ele admite que tenha tido surtos de fúria no passado, não faz dele um santo contemporâneo. Eu não sei se você reparou ou não, mas ele era meio que um desgraçado."
"Mas uma pessoa cega fazendo a matança?" disse Ellington. "Parece exagero."
Ele estava certo. Realmente não parecia plausível que o assassino fosse cego. Mas também fazia um sentido doentio. Que era a razão pela qual Mackenzie não estava querendo descartar King tão rapidamente.
Uma simples ligação telefônica vai dar um fim ao assunto, ela pensou. Ela tirou o cartão de visitas que eles haviam pegado da entrada de King. Ellington a observou falar com a mulher do outro lado da linha. Levou alguns minutos para a cuidadora alinhar as datas em questão, mas ela acabou fornecendo álibis para cada data que Mackenzie lhe deu. Levou menos de sete minutos para ilibar Charles King.
De volta à estaca zero, ela pensou.
"Então a conexão com o cão se foi," ela disse, processando em voz alta. Ellington a conhecia bem o suficiente para assentir e falar apenas quando não descarrilharia o trem dos pensamentos dela. Ela estava ciente de que os olhos dele estavam sobre ela, observando-a enquanto ela fazia seu melhor para resolver as coisas. Geralmente, ela não tinha problemas em deslizar para dentro da mente de um assassino, mas o detalhe adicional de vítimas cegas adicionava todo um novo nível de complexidade.
"A biblioteca em Braille era uma conexão, mas ela também se foi," destacou Ellington.
"E pode não ter sido uma pista tão boa em primeiro lugar," ela disse. "As chances de pessoas cegas visitarem uma das mais populares bibliotecas em Braille no estado não são tão pequenas. Isso nos diz, no entanto, que nossas vítimas eram amantes de livros."
"Ellis Ridgeway gostava tanto que Robbie Huston ia ler para ela de tempos em tempos." apontou Ellington.
"Sim," disse Mackenzie, então acrescentou outro pensamento. "Mas quem o enviou? Ele teria que ser parte de algum tipo de agência ou pastoral através da faculdade, certo?"
Ellington deu de ombros, incitando Mackenzie a pegar o celular mais uma vez. Ela ligou para Robbie Huston novamente e ele ainda estava muito solícito e ansioso para agradar. Foi uma conversa rápida: ela perguntou se ele fazia parte de uma agência que enviou voluntários para lares para cegos e ele respondeu negativamente. Ele fazia parte de um ministério estudantil que trabalhava para servir àqueles deficientes da comunidade-ambos locais e distantes. Ele deu o nome e número do gerente do ministério a ela e eles terminaram a chamada.
Então, Mackenzie ligou para o número que Robbie lhe dera-para o gerente do ministério chamado Servant's Heart.
Alguém atendeu no quarto toque, logo quando Mackenzie estava convencida de que apenas deixaria uma mensagem.
"Alô?" uma mulher disse.
Muito casual, pensou Mackenzie. Esse realmente é um pequeno ministério. Provavelmente supervisionado pela faculdade, mas administrado por ex-alunos e estudantes.
"Oi", disse Mackenzie. "Eu estou procurando alguém para conversar sobre o Servant's Heart."
"Seria eu," disse a mulher. "Dori Eaves."
"Sra. Eaves, aqui é a Agente White do FBI. Estou ligando para perguntar sobre o processo de seleção dos voluntários-como você recebe os voluntários e como eles são enviados para fora." Então ela percorreu os breves detalhes do caso e como Robbie a levou a eles.
"Bem, eu posso te ajudar bem rapidamente com isso," disse Dori. "Nós tivemos apenas cerca de uma dúzia de voluntários no ano passado ou por aí. E apenas quatro deles estão aqui na cidade durante o verão. O resto são estudantes, de volta para casa nas férias de verão."
"Você sabe se algum dos outros três visitaram o Lar para Cegos Wakeman na semana passada ou próximo?"
"Não, senhora. Dois deles saíram em uma viagem missionária para a Nicarágua durante os últimos oito dias. O outro está aqui no escritório comigo hoje e eu posso lhe dizer com absoluta certeza de que ela esteve aqui em Lynchburg por pelo menos um mês sem viajar. Além disso, eu estou bem certa de que ela nunca esteve no Wakeman. Ela trabalha mais com sem-teto e veteranos em vez de cegos."
"Entendo," disse Mackenzie, não gostando da sensação de ter cada uma das suas perguntas de esperança derrubadas com tanta velocidade e eficiência. Por outro lado, era ótimo ter informações tão rápidas e precisas. Por outro lado, foi um monte de Xs contra eles em um período de tempo muito curto.
"Obrigada pelo seu tempo, Sra. Eaves."
Ela desligou o telefone, olhou para-brisa e tomou um gole de refrigerante. As engrenagens na sua cabeça ainda estavam girando, mas não a estavam levando a lugar algum.
"Falhando por todos os cantos, não estamos?" perguntou Ellington.
"Sim," ela disse. "Tenho mais uma ligação a fazer. Eu queria apenas confirmar com o lar em Treston para ver se eles já trabalharam com Servant's Heart alguma vez-o ministério do qual Robbie Huston fazia parte. Enquanto eu faço isso, você pode ligar para o Lar Mary Denbridge e perguntara mesma coisa?"
"Claro que sim," disse Ellington, dando uma longa golada da sua Coca antes de sair para prevenir conversa cruzada.
Mackenzie ligou para Treston e o telefone tocou apenas uma vez antes que a voz de Gloria Talbot respondesse. "Lar para Cegos Treston," ela disse em um tom monótono.
"Sra. Talbot, é a Agente White de novo. Desculpe-me incomodá-la, mas eu tenho mais uma rápida pergunta para você."
"Sem problemas. O que é?"
"Fomos levados a investigar uma pequeno ministério estudantil em Lynchburg que envia voluntários para ajudar todos os tipos de diferentes nichos e pessoas em necessidade. É um ministério chamado de Servant's Heart. Vocês já trabalharam com eles?"
"Nunca ouvi falar nele," ela disse. "Então, não... sem ajuda deles."
Mackenzie terminou a ligação, começando a se sentir um pouco desencorajada. Enquanto ela pensava sobre todas as respostas negativas dentro dos últimos quinze minutos ou por aí, ela escutou Ellington falar ao telefone do lado de fora do carro.
Todavia, quais são as chances desse cara realmente ser parte de uma organização de voluntários? Ela pensou. Se ele for inteligente, ele saberia que isso criaria uma trilha de documentos. Então, novamente, ele precisaria de algum tipo de cobertura se eles quer entrar nesses lares. Talvez haja algo aí no meio que estamos perdendo.
Enquanto ela ponderava isso, Ellington entrou de volta no carro. "Nada feito," ele disse. "Apesar do pessoal no Mary Denbridge tenha escutado falar do Servant's Heart, nunca usaram os serviços deles."
"Algum motivo?"
"Bem, não é financiado pelo estado. São todos voluntários. A mulher com a qual falei diz que eles se afastam disso por motivos de segurança."
Dada a natureza desse caso, talvez fosse uma estratégia sábia, pensou Mackenzie.
Ela olhou de volta para Ellington e, não pela primeira vez, desejou que pudesse espiar dentro da mente dele. Ele não trabalhava como ela. Ele se debruçaria em um aspecto do caso por horas e horas e então surgiria com algum tipo de teoria grande e muito efetiva; ela, por outro lado, gostava de analisar todos os detalhes em uma rápida resposta, montando cada pista e teoria como elos de uma corrente sendo construída.
Mas nesse instante, havia uma dobra na corrente. Ela sabia que ela precisava parar por um momento para restabelecer o equilíbrio. E como a pressão do caso era iminente, colocando-a para baixo e frustrando-a, parecia o tempo certo para abordar algo completamente diferente.
"Você ainda está OK com o que está acontecendo entre nós?" ela perguntou.
A questão obviamente o pegou de surpresa. Ele parou no meio do movimento, prestes a comer um punhado de batatas fritas. "Por que pergunta?"
Ele não deu uma resposta, ela pensou. Mas ele a conhecia bem demais para saber que ela não estava perguntando devido a algum tipo de mentalidade feminina insegura. Ele não levaria a questão como o aborrecimento e irritação de uma namorada pegajosa. Como tal, ela sabia que ela poderia ser honesta com ele sem destruir sua credibilidade.
"Parece que você está se esquivando," ela disse sem delongas.
Ele sorriu e assentiu. "Sim, acho que talvez eu esteja me afastando um pouco. Mas eu tendo a fazer isso quando fico assustado."
"Assustado com o que?"
Ele lutou para encontrar as palavras certas e, então, finalmente deu de ombros em derrota. "Com sentir não ter controle mesmo sobre a menor parte da minha vida."
"E sobre o que você está perdendo o controle?" ela perguntou.
"De como eu me sinto sobre você. Nomeadamente, a vontade que eu tenho há cerca de três semanas de pedir a você para ir morar comigo."
E assim de repente, a mesa se virou para ela. "Esse é o seu jeito de me pedir?" ela perguntou.
"Suponho que seja."
Ela sorriu apesar de si. "Eu não sei. É um passo enorme e eu precisaria pensar sobre isso antes que eu pudesse-"
O telefone tocou, assustando os dois.
"Salva pelo gongo," disse Ellington.
"Não," ela rebateu. "Apenas apertando o botão de pausa." Então ela atendeu a chamada com uma saudação que ainda lhe parecia surreal as vezes. "Aqui é a Agente Mackenzie White."
"Agente White, aqui é a Policial Octavia Carter. Eu encontrei com você esta manhã na cena do crime. Os relatórios da perícia sobre a guia de Wayne Nevins chegaram. Temos uma impressão digital sólida".
CAPÍTULO QUINZE
Ele estava totalmente ciente de que fazia mais sentido atacar durante a noite. A falta de luz provia uma fácil vantagem. Mas durante o dia, ninguém esperava qualquer coisa. O bônus adicional de que era pouco depois das cinco da tarde e todos estavam com pressa para chega em casa do trabalho tornava ainda mais fácil. Além disso, ele sabia os horários da mulher como a palma de suas mãos.
Ele estava sentado na traseira de um ônibus urbano da Cidade de Lynchburg. Ele havia acabado de parar na frente de um anexo de biblioteca de uma das faculdades locais menores. Lynchburg era uma dessas cidades sulistas escondidas bem na base das Montanhas Blue Ridge que ocultava três faculdades em suas dobras rústicas. Não era uma grande cidade como Richmond... mas também não era pequena.
Ele se sentou a duas fileiras do fundo e observou as pessoas da última parada entrarem. Ele sabia, por prospectar as coisas pelas últimas três semanas, que essa parada pegava apenas cerca de uma dúzia de pessoas. Oito dessas pessoas eram regulares e uma delas era a mulher que ele estivera seguindo por seis meses agora.
Quando ela se sentou na frente do ônibus, ele não ficou surpreso. Quando ela tirou seu telefone, ligou um par de fones de ouvido e o colocou nos ouvidos, ele conhecia cada movimento dela. Ele também sabia que quando ela saísse do ônibus em instantes, seria entre 5:47 e 5:50, dependendo do tráfego da tarde.
Ele também sabia que três outros sairiam naquela mesma parada. Dalí, ele conhecia cada passo que ela daria-e ele sabia que ele tinha uma estreita janela de oportunidade para agir. Mas ele estava pronto para isso. Tudo até esse ponto tinha sido absurdamente fácil. Ele estava começando a pensar que pudesse ter um talento especial para esse tipo de coisa... que era algo muito maior que apenas um lapso momentâneo na sua racionalização moral.
O ônibus engrenou com um sútil arranque e então atravessou o estacionamento. Ele permaneceu sentado no fundo, fechou os olhos e esperou.
Quando a terceiro ponto levou o ônibus a parar trinta minutos depois, ele abriu os olhos. Quando o fez, sentia-se como outra pessoa-um caçador, um assassino. Era uma parte dele que estava aprendendo a gostar bastante.
Quando o ônibus parou estremecendo, ele se levantou. Na frente do ônibus, a mulher cega estava em pé, segurando sua bengala longa a sua frente. Como sempre, o motorista de ônibus de meia idade a ajudou a descer as escadas na frente do resto das pessoas que estavam saindo do ônibus. Ele esperou pacientemente e quando o motorista subiu pelos degraus e tomou seu lugar atrás do volante, tudo estava bem.
Ele começou a seguir em frente... um caçador, um assassino.
Ele podia sentir sua pulsação, podia sentir os nervos ateando fogo em tudo dentro dele. Ele tentou focar somente nisso, temendo que sua visão pudesse começar a vacilar novamente. Ele estava correndo um risco aqui... em direção a alguém que ele não conhecia muito bem. Embora breves, ele formara relacionamentos com os outros. Mas essa... bem, essa havia simplesmente o intrigado.
Ela era bonita. Ela era... bem, ela era diferente.
Quando ele saiu do ônibus para a calçada, ele se sentia um novo homem. Era um dos poucos momentos em sua vida que ele podia ver tudo claramente, esse punhado de momentos antes do assassinato.
E com essa visão clara, ele viu a mulher a cerca de cinquenta metros a sua frente e pareceu que ela estava brilhando.
Ele respirou profundamente e sentiu as imagens daquele velho piso de linóleo emergindo para a superfície de sua mente.
Não, ele pensou, empurrando o comando através de seu corpo com toda a força mental que ele podia reunir.
E assim, elas se foram. Imagens da sua miserável mãe não o assombrariam desta vez.
Com essa certeza, ele começou a avançar com suas mãos já apertadas e prontas para trabalhar.
***
Cleo Colegrove estava bem certa de que havia alguém a seguindo.
Um dos truques que ela aprendera quando criança era andar com pés leves... a quase andar nas pontas dos pés sem parecer que ela o fazia. Isso a permitia caminhar em um ritmo normal enquanto assimilava seus arredores conjuntamente. Quando saiu do ônibus, ela havia feito exatamente isso; ela sempre o fazia.
Dentro de cinco segundos, ela ouviu vários pares de passos. Isso não era qualquer novidade, já que pelo menos sete outras pessoas saíram na mesma parada de ônibus que ela. Mas esses passos geralmente desapareciam todos e seguiam seus próprios caminhos em cerca de um quarteirão.
Mas ainda havia um conjunto de passadas atrás dos passos dela. Quem quer que fosse, estava mantendo distância.
Você está sendo paranoica, Cleo, ela pensou. Enfim, quem diabos a seguiria? Se for um assaltante, ele ficará dolorosamente despontado. E não é um estuprador; mesmo que você não consiga se ver, você sabe que não é muito atraente. Sua mãe se assegurou de dizer isso a você repetidamente quando era uma criança.
Ainda não completamente preocupada, Cleo continuou seu caminho. Ela acabara de sair de uma aula para aprender a digitar em um MacBook modificado que havia sido especificamente desenhado com os cegos em mente. Tipicamente, ela pegava rapidamente coisas do tipo e descobriu que ela pegaria o jeito após uma aula ou duas. Depois disso, ela pensou que provavelmente iria se inscrever em outra classe de história da música na faculdade comunitária. Ela secretamente desejava aprender a tocar piano e talvez um dia, quando ela finalmente tivesse superado a vergonha de ser limitada pela cegueira, reuniria coragem para fazê-lo. A aula com o MacBook era realmente apenas uma desculpa para se entrar na água com calma e-
Os passos atrás dela estavam mais claros agora. Ela se permitiu um momento para parar e focar no Ambiente. Ela sabia que estava de pé entre uma pequena padaria chamada Rising Grains e uma luxuosa agência de viagens. Ela sabia dessas coisas, porque sua cuidadora a havia auxiliado com um mapa assistido por voz da rota que ela pegava quase todas as manhãs e tardes saindo da faculdade. Além disso, ela podia sentir os vestígios fantasmas de pão da padaria, ainda que a mesma fechasse às 3:30 todos os dias. Finalmente, ela podia localizar seu local com precisão pelos os pequenos ecos que os toques da sua bengala fazia quando ela a batia na calçada.
Da sua posição atual, ela tinha que andar cerca de mais dois quarteirões completos antes que chegasse ao apartamento. Ela poderia fazê-lo em menos de cinco minutos, talvez um pouco mais se ela fosse pega no cruzamento no próximo cruzamento.
Outro pensamento crepitou em sua cabeça e foi o que a fez sentir um pavor real pela primeira vez-um pensamento que transformou uma preocupação incômoda em medo real. Era a realização de que a rua ao redor dela estava relativamente quieta; havia uma calmaria no tráfego por volta das 6:30 e 7:00 entre as pessoas indo para casa do trabalho e aquelas que se iriam sair para jantar ou beber.
Mais dois quarteirões, ela pensou. Mesmo se houver alguém me seguindo com más intenções, será perto do meu apartamento. Se algo ruim acontecer, certamente alguém vai ver e-
Seu pensamento foi interrompido por um movimento de arraste atrás dela. Ela percebeu o que era em menos de um segundo: o homem atrás dela agora estava avançando para frente, sem mais tentar ser furtivo.
Ela partiu em uma corrida, algo que ela nunca havia feito antes. Correr enquanto cega era, ela supôs, similar a dar um salto de fé de um penhasco e esperar que a água abaixo seja funda o suficiente para não quebrar seu pescoço. Ela não perdeu tempo com sua bengala, esperando que seus instintos e memória muscular a levassem até o apartamento.
Era dia claro, ela pensou em pânico. Que diabos esse cara está pensando?
Com isso, seu medo se transformou em raiva. Era uma emoção que Cleo conhecia bem. Ela havia escolhido nunca ser a vítima, nunca ter pena de si por causa da cegueira. O que ela havia feito ao longo da maior parte de sua vida, contudo, foi sentir muita raiva-de sua mãe, do mundo, dos seus instrutores os quais tinham a dádiva da visão e de Deus.
Ela nunca se fizera de vítima naquelas situações e ela estaria condenada se fizesse esse papel agora. Ela parou de correr e permaneceu absolutamente rígida. Ela ouviu o homem se aproximando. Ela podia sentir seu cheiro, pontuado com um cheiro quase azedo que ela assumiu ser criado pela excitação de sua pequena caçada doentia.
Ele está a cerca de quatro passadas de distância, ela pensou. Agora três...
Ela podia ouvir o agudo inspirar e expirar de sua respiração. E quando ela pode praticamente senti-lo sobre ela, ela levantou sua bengala e girou o corpo para trás com força. Ela mirou sua bengala para cima, pensando que, provavelmente, seria onde o rosto do homem estaria-uma tarefa difícil já que ela poderia apenas supor a altura dele. Ela sabia que ela perderia o equilíbrio, porque se virou muito rapidamente, mas isso estava bem. Ao começar a cair, ela sentiu e ouviu sua bengala de alumínio acertar alguma coisa dura. Isso foi seguido de um grito surpreso de dor.
O homem havia parado, provavelmente mais chocado do que ferido. Mas Cleo não se importava. Ela gritou alto e oscilou seu bastão mais uma vez enquanto batia no pavimento. Ela o acertou de novo, dessa vez na perna. Foi um golpe fraco, mas ainda assim mandou um arrepio de satisfação por ela.
Mas então, ele estava sobre ela. Ela sentiu as mãos dele no ombro dela, então em seus seios. Ela não pensou que o ataque tivesse qualquer coisa de natureza sexual; ele estava apenas procurando por uma maneira fácil de chegar a ela. As mãos dele finalmente encontraram o cabelo dela e ela se sentiu ser puxada para trás.
Cleo gritou novamente e quando ela levantou seu bastão dessa vez, ele foi golpeado para longe. Ela o ouviu tilintar ao longo da calçada a sua esquerda.
Pela dor no seu couro cabeludo, seus outros sentidos se ligaram a todo vapor. Foi assim que ela foi capaz de escutar o motor se aproximando. Seu senso de audição era muito acima da média, então ela duvidou que seu atacante sequer soubesse que alguém estava indo na direção deles.
Ela emitiu um grito e não estava esperando o soco em cheio que pareceu arrebentar o lado direito de seu rosto. Ela se sentiu ficando tonta, imaginando se poderia estar perdendo consciência.
Ela sentiu o gosto de sangue em sua boca quando escutou o barulho daquele motor ficando cada vez mais próximo.
Aparentemente, ficou à vista pelo seu agressor. Ela o ouviu soltar um frustrado "Merda!"
E com isso, ela o sentiu soltar seu cabelo. A parte de trás de sua cabeça acertou o pavimento e isso trouxe uma nova e estranha escuridão se movendo na direção dela. Ela achou que ela quase pudesse vê-la enquanto se aproximava, mas antes que ela conseguisse focar, Cleo Colegrove desmaiou.
CAPÍTULO DEZESSEIS
Quando a Mackenzie e Ellington chegaram ao departamento de perícia no centro de Richmond, a polícia, juntamente com um detetive local, já havia começado a correr a digital que haviam encontrado na bengala de Wayne Nevins. Enquanto esperavam por resultados, Mackenzie deu uma olhada nas cópias impressas a respeito da digital, da bengala e da cena do crime em si. Havia algumas fotografias incluídas no arquivo, ela se debruçou sobre todas elas enquanto esperava.
Ela pediu ao chefe da polícia uma pequena área de trabalho, onde também pegou um notebook emprestado. Ela entrou em seu e-mail e começou a imprimir cópias de todos seus próprios arquivo e fotos, de forma que pudesse ter uma cópia física de tudo. Trabalhar em mudança de cidade para cidade estava tornando manter a conta das pessoas e lugares envolvidos um pouco mais difícil que o normal
Ellington sentou-se do outro lado da pequena mesa dentro da pequena área de trabalho, separando os documentos e destacando detalhes que ele achava importante.
"Eu estive pensando," disse Ellington. "Eu acho que é seguro dizer que o assassino provavelmente mora em uma dessas cidades que ele atingiu."
"O que o faz afirmar isso?" ela supôs.
"Apenas um palpite que eu tenho. Parece encaixar com a maioria dos casos de assassinos em série que temos registrados."
"Encaixa," ela disse. "Mesmo os assassinos mais brutais na história normalmente começaram nos próprios quintais. Enquanto a maioria deles é esperta o suficiente para ir a outro lugar para não ser facilmente capturado, alguns até mantém tudo localmente. Mas nosso cara... ele tem um tipo de alvo muito específico. E ele está tendo que viajar por todo lado para encontrá-los."
"E deve haver algo aí, certo? Algum indício que possa nos ajudar a decidir onde ele possa tentar atacar novamente?"
"Harrison me enviou uma lista de todos os lares para cegos no estado da Virgínia, assim como comunidades de moradia assistida que atendem os cegos como negócio secundário. Há vinte e dois no total. Isso é muito para adivinhar. O departamento já entrou em contato com cada um deles para informá-los para ficarem bem alertas."
Ellington assentiu pensativo enquanto continuava a separar os papéis. Atrás dele, a Policial Carter entrou na sala. Ela sorriu para Mackenzie com o tipo de reconhecimento que ela parecia receber frequentemente de mulheres usando um distintivo. Era um sinal de que elas eram da mesma ninhada, um grupo de mulheres em uma força policial conduzida e operada principalmente por homens-mas elas haviam conseguido.
"Os resultados chegaram," disse Carter. "E são bem decepcionantes. A digital pertencia a cuidadora de meio expediente e, eu posso adicionar, amante de meio expediente também. Nós ligamos e conversamos com ela. Seus álibis conferem e ela ainda não sabia sobre a morte de Wayne. Foi muito difícil. Eu ficaria contente se nunca precisar fazer outra ligação como essa de novo."
"Isso é dureza," disse Mackenzie. "De qualquer maneira, obrigado por correr com isso."
Carter parecia que ia dizer mais alguma coisa, mas foi interrompida pelo toque do celular de Mackenzie. Mackenzie atendeu quase apologeticamente enquanto Carter esperava na porta.
"Aqui é a Agente White," ela respondeu.
"Agente White, aqui é o Xerife Lyle Dentron de Lynchburg, Virgínia. Por uma coincidência bem estranha, eu peguei seu número com Dori Eaves, a mulher encarregada do Ministério Servant's Heart."
"E que estranha coincidência seria essa?"
"Bem, aparentemente você está procurando por alguém que vem matando pessoas cegas. Isso está correto?"
"Correto."
"Bem, eu acho que ele pode ter tentado novamente. Dessa vez em Lynchburg, a cerca de uma hora e meia atrás."
"O que você quer dizer com tentado?"
"Bem, dessa vez, foi uma jovem moça que deve ter se saído melhor que ele. Ela está um pouco ferida, mas parece está bem no geral. E ela realmente quer falar com você."
"Um segundo, Xerife." Ela então cobriu o bocal com as mãos em concha e disse, "Policial Carter, quanto tempo de carro daqui até Lynchburg?"
"Cerca de duas horas e meia. Duas se você não se importa em acelerar e se conseguir escapar do tráfego."
Mackenzie removeu sua mão do bocal e respondeu o Xerife Dentron. "Envie-me uma mensagem com o endereço de onde ela está. Estarei lá em duas horas."
***
Mackenzie e Ellington chegaram a Lynchburg logo depois das 8:30, em um carro alugado que estava acumulando quilometragem. Eles foram diretamente para o Hospital Batista da Virgínia, onde uma mulher cega chamada Cleo Colegrove havia dado entrada após ter sido atacada em plena luz do dia na rua, a dois quarteirões de seu apartamento.
Depois de se apresentarem para o policial local de guarda na porta de Cleo e de receberem uma rápida atualização do médico que estava cuidando dela, eles foram autorizados a entrar no quarto dela. De acordo com o médico, ela não havia sofrido nenhum dano grave. Cleo, provavelmente, precisaria de um pequeno trabalho no dentista e ela precisou de sete pontos na nuca no local que ela bateu no pavimento. Ela também havia sofrido uma leve concussão, o que era o único motivo pelo qual ainda estava no hospital.
Quando Mackenzie e Ellington entraram no quarto dela, Cleo estava sentada na beirada da cama, de frente para uma mulher mais velha que estava sentada na cadeira de visitantes. Cleo e a outra mulher se viraram ao mesmo tempo para tomar consciência deles. Mackenzie mais uma vez se viu impressionada com a maneira que as pessoas cegas pareciam sentir e conhecer o mundo de maneira que pessoas com visão não poderiam.
O lado esquerdo da face de Cleo estava inchado. Do nariz para baixo, esse lado do seu rosto estava coberto com um hematoma roxo. Algum tipo de pomada ou creme recentemente aplicado por uma enfermeira ou médico reluzia na luz do quarto.
"Vocês são os detetives?" a mulher mais velha perguntou.
"Somos," disse Mackenzie, tirando um momento para apresentá-los para as duas mulheres.
"Obrigada por vir," a mulher mais velha disse. "Meu nome é Maggie Reynolds. Sou colega de quarta da Cleo."
"O que é uma maneira muito mais casual de dizer protetora ou cuidadora," disse Cleo empoleirada na cama. "Mas sim, ela é uma colega de quarto fodona também."
"Cleo, você está OK em responder algumas poucas perguntas?" perguntou Mackenzie.
"Absolutamente. Quando ouvi que havia alguém do FBI investigando uma série de assassinatos envolvendo pessoas cegas, eu quis falar com vocês imediatamente. Digo... eu não posso imaginar algo mais deplorável de se alvejar do que pessoas cegas. Que babaca."
"Perdoe-me pela estranha linha de questionamento," disse Mackenzie, "mas eu nunca tentei conseguir uma declaração de uma pessoa cega antes. Sem visão a sua disposição, o que você pode nos dizer sobre o seu atacante?"
"Era um cara. Eu posso dizer por causa das mãos. E estou bem certa de que minha bengala bateu no rosto dele. Se isso estiver correto, eu diria que ele tem bem próximo de um metro e oitenta. Ele não parecia especialmente forte, mas ele tem um soco bem sólido."
"E ele disse algo para você?" perguntou Ellington.
"Não. Ele disse apenas uma palavra-merda- e isso somente quando um carro começou a se aproximar."
"A propósito," disse Maggie, "eu falei com a polícia. O homem que encostou o carro na rua para dar uma olhada em Cleo nunca viu qualquer pessoa."
"Sim, ele era rápido," disse Cleo. "Isso tenho de admitir."
"Por quanto tempo você esteve fazendo aquele percurso?" perguntou Mackenzie.
"De vez em quando durante um ano e meio. Mas não é um caminho longo. Somente da parada de ônibus até meu apartamento. Apenas três quarteirões e meio."
"E você nunca teve um incidente antes desse?" perguntou Ellington.
"Nunca. Nem mesmo grosserias das pessoas na rua. Normalmente me perguntam se eu preciso de alguma ajuda... o que é gentil, mas também meio irritante depois de centésima vez."
Mackenzie começou a sentir todo um novo nível de frustração. Sabendo que sua testemunha não tinha visão e era incapaz de ver qualquer coisa, ela sentiu como se estivesse dando um tiro no escuro. Como ela faria perguntas diretas e informativas?
"De onde você estava vindo quando isso aconteceu?" perguntou Mackenzie.
"Da faculdade comunitária. Eu estava assistindo uma aula de computadores para cegos."
"Ele está sempre pegando aulas," disse Maggie. "Ela vai terminar com umas cinco graduações e mais conhecimento do que ela sabe o que fazer com ele."
"No ano passado ou próximo, você teve contato com alguém que realmente te deixou inquieta?" perguntou Mackenzie. "No ônibus ou nessas aulas que você assiste?"
"Na verdade não." disse Cleo. "Apenas a pessoa ocasional de bom coração que sente um pouco demais de pena por mim."
"Isso acontece muito?"
"Ah sim. E apenas de estranho que acham que eu sou cega de nascimento."
"Você não é?" perguntou Mackenzie.
"Nada. Eu fui diagnosticada com a doença de Stargardt quando tinha seis anos. Eu ainda não sei realmente se foi descoberto muito tarde ou se minha mãe meio que deixou passar por muito tempo. Ela não era exatamente a melhor figura maternal. Ela estava no terceiro marido quando fiquei doente. Eu comecei a ficar com a visão falha logo depois disso e estava completamente cega quando tinha oito anos. Ela finalmente me levou ao médico em algum momento no meio de tudo isso, mas era muito tarde... e caro."
Ela perdeu a visão quando criança, ela pensou. Charles King perdeu a visão em um acidente de trabalho. Eu não consigo nem começar a imaginar como deve ser viver uma vida de cegueira sabendo muito bem as coisas que você está perdendo.
"E você já considerou viver em um lar para cegos?" perguntou Ellington.
"Sem chance. Não é minha cena. Eu conheço a Maggie aqui desde que eu era pequena. Ela costumava ser professora na escola que eu ia quando fiquei cega."
"Eu era apenas uma auxiliar de professora," corrigiu Maggie.
"Ela permaneceu comigo através de tudo. Com ela como colega de quarto, não há necessidade de um desses lares."
"E você, Maggie?" perguntou Mackenzie. "Você cruzou com alguém recentemente que estava envolvido com Cleo de alguma forma que parecesse estranha ou que te assuste?"
"Não que eu saiba. Mas eu não ouço nada sobre todas essas pessoas que ela encontra nessas aulas, tenho certeza."
"Alguma conexão com sua mãe ou qualquer um de seus antigos namorados ou maridos?" Ellington tentou.
Cleo soprou em escárnio. "Não. De forma alguma."
"Diga-me, Cleo... você já visitou a biblioteca em Braille em Richmond?"
"Não. Eu sou o tipo de garota estritamente de audiolivros. Mas eu ouvi falar de lá."
"E você já contratou uma agência de cães guia?"
"Maggie e eu conversamos sobre isso, apenas como outra forma de companhia," disse Cleo. "Mas não... eu nunca puxei o gatilho nisso ainda."
"Vejo," disse Mackenzie, sentindo-se estúpida por ter corrido de Richmond até Lynchburg. Ela estava tendo respostas negativas para tudo agora. Ela apreciaria apenas um sim que levaria a mais informação. Inferno... mesmo um talvez já ajudaria.
"Eu só queria perguntar mais uma vez... não há qualquer coisa a mais sobre o seu agressor que você possa se lembrar?"
"Não. Apenas que quando eu o acertei no rosto, ele soltou um grito que pareceu o de uma garotinha." Ela sorriu vagamente com isso, mas então recolheu o sorriso. Mackenzie assumiu que sua bochecha machucada doía quando ela o fazia.
"Vou deixar meu cartão com Maggie," disse Mackenzie. "Se você se lembrar de algo mais que possa ajudar, por favor me ligue em seguida. Não importa a que horas do dia."
Ela deu seu cartão a Maggie enquanto ela e Ellington caminhavam para a saída. Tão logo quanto eles começaram a andar em direção aos elevadores, ela tirou o telefone para fazer uma rápida busca no Google.
"O que você está olhando?" Ellington a perguntou.
"Uma busca de causas médicas para cegueira," ela disse. "Eu nunca pensei por um ângulo médico antes. Pode haver algo aí que ressoe com nosso assassino."
"Como a doença da Cleo, doença de Stargardt?"
"Talvez. Vale a pena tentar. Nós não temos qualquer coisa além disso para seguir no momento. Pode até compensar entrar em contato com Harrison para ver se ele pode encontrar alguns nomes de especialistas no campo que estariam dispostos a falar conosco."
Eles entraram no elevador no fim do corredor e quando as portas deslizaram fechadas, Ellington colocou um braço ao redor da cintura dela. Era um pequeno gesto, mas significava muito. Significava que ele a conhecia bem o suficiente para saber que ela estava ficando frustrada e precisava de conforto-mas um conforto distante e quase obrigatório, ao invés de um conforto enjoado e sufocante que um namorado carente possa dar quando ele não pode consertar algo.
Ele quer que eu vá morar com ele, ela pensou do nada.
Isso a assustou. Isso foi inesperado e, se ela fosse honesta, bem agradável.
Então por que isso me aterroriza?
Era uma boa pergunta... mas uma que precisaria esperar. O elevador parou e eles voltaram pelo estacionamento, os olhos de Mackenzie se colaram com a tela brilhante do celular no calor sufocante de uma tarde de verão na Virgínia.
CAPÍTULO DEZESSETE
Eles passaram a noite em Lynchburg e quando a cabeça de Mackenzie atingiu o travesseiro, ela se sentiu em algum lugar muito além de cansada. Ela tentou se lembrar de um caso no qual ela tenha viajado esse tanto, mas nada surgiu. Mesmo quando ela e Ellington deram entrada no quarto, a noite ainda não havia acabado. Eles haviam trabalhado juntos fazendo ligações com todos os contatos que eles acumularam até agora: Xerife Clarke em Stateton, o chefe de polícia em Treston, Harrison em DC, o contato da polícia em Richmond.
Mas todos eles não foram capazes de oferecer qualquer informação nova. Isso deixava Mackenzie se sentindo exausta e imobilizada. Era frustrante, porque quando um assassino espalha seus crimes, a história mostra que eles tipicamente tendiam a ficar desajeitados e a deixar vestígios para trás. Mas não era o caso com esse assassino. Até agora, não havia impressões digitais-nem nos corpos, nem nas cenas dos crimes, nem em quaisquer objetos deixados na cena como a bengala longa de Cleo Colegrove.
Ambos Mackenzie e Ellington estavam tão desgastados que a mera ideia de fazer alguma coisa além de dormir uma vez que estivessem acomodados não era sequer uma opção. Ao se despir e deitar na cama, ela ouviu Ellington entrar no banho. Ela apagou antes que ele saísse.
Ele acordou pouco depois de meia noite por sentir a mão de Ellington em seu quadril nu. Ela se apertou contra ele, sentindo o formato dele contra ela. Seu peito nu contra as costas dela e suas pernas contra as dele a diziam que ele também estava nu. Ela deslizou nele de forma preguiçosa, mas provocante, e as coisas seguiram o curso natural.
Foi urgente, rápido e passional. Eles permaneceram naquela posição todo o tempo, de conchinha e com seus corpos apertados um contra o outro. Ela não percebeu o tanto que ansiava por isso até que começou. Não era um sexo movido a amor que abalaria o mundo dele, mas um ato físico de carência e frustração, eliminados com a ajuda um do outro. Quando ela atingiu o clímax e voltou a dormir satisfeita, não havia sido coisa alguma que os conectasse.
E ela estava bem com isso no momento. Ela estava simplesmente contente de senti-lo próximo a ela, igualmente satisfeito, quando o sono a roubou novamente.
Ela estava bem desperta às 4:55. No ano passado, ela havia se adaptado a um tipo de despertador interno que a acordava se ela dormisse mais que seis horas e meia. Como ela uma workaholic, contudo, esse alarme interno raramente tinha a chance de disparar. Mas a estava acordado agora ela sabia que não seria capaz de voltar a dormir.
Ela tomou um banho para ficar ainda mais desperta. Quando havia terminado e estava se vestindo, Ellington começou a acordar.
"Durma," ela disse. "Vou sair para pegar café."
"Você está me mimando," ele disse, sua cabeça ainda soterrada no travesseiro.
Ela avistou um Starbucks dois quarteirões abaixo na rua quando chegaram na noite passada. Ela se caminhou naquela direção, tirando seu telefone e verificando os e-mails enquanto o fazia. Ela não está nem um pouco surpresa em descobrir que ela tinha um e-mail de Harrison. Ele já havia compilado uma lista de médicos para entrar em contato a respeito de problemas médicos que resultavam em cegueira. Ele começou a lista com um médico que estava em Lynchburg.
Ela havia começado a imaginar por que McGrath enviara Harrison com ela apenas uma vez antes de removê-lo e a parear com Ellington. Vendo quão bem Harrison compilava dados e fazia pesquisa, ela pensou que ele pudesse acabar sendo um grampo em DC, estacionado atrás de uma mesa e recolhendo informações para agentes em campo. Ele certamente parecia ter um talento para isso.
Com a lista salva no telefone dela e café forte comprado, ela foi de volta para o hotel. Quando ela entrou no quarto, encontrou Ellington fazendo uma rápida rotina de exercícios matinais no chão. Ele estava vestido apenas com cueca boxer enquanto fazia uma série de abdominais. Normalmente, quando ela o via nesse tipo de estado despido, seus corpos estavam pressionados juntos, então ela nunca realmente teve a chance de apreciar o corpo dele. Ela o fez então, segurando os cafés e o observando terminar sua série.
"Ah, não ligue para mim," ela disse, colocando o café na mesa. "Sinta-se livre para continuar."
"Eu preciso de um banho depois disso," ele disse se colocando de pé. "Sabe... se você quiser se juntar."
"Por mais tentador que isso seja, eu recebi uma possível pista no meu e-mail essa manhã."
Nós acabamos de fazer sexo noite passada, ela pensou com um sorriso cansado. Isso a fez se sentir sexy. Isso a fez se sentir desejada-o que era algo que ela ainda não conseguiu se acostumar. E atrás disso tudo, a espreita, estava a realidade de ele querer que ela fosse morar junto a ele.
Ela, então, contou-lhe sobre a lista de médicos que Harrison a havia enviado. Mesmo que ainda fosse muito cedo pela manhã, ela pensou que pudesse ser uma boa ideia tentar entrar em contato com o médico local o quanto antes. Com a maneira que os dias pareciam estar escapando deles, ela planejou fazer uso de cada minuto. Era quase como se...
Era quase como se o assassino estivesse colocando distância entre os corpos propositalmente-como se ele planejasse dessa forma para manter as autoridades em movimento.
Embora não haja evidências claras a respeito disso, continuava sendo algo que valia a pena tomar nota. Então ela começou a olhar nos arquivos de casos enquanto escutava Ellington entrar no banho atrás dela. Ela ligou para o médico local, deixando uma mensagem para retornar a ligação assim que possível devido a uma questão potencialmente urgente.
Ela deu um gole no café, se debruçou sobre os arquivos do caso e começou um novo dia-com sorte um dia que os levaria ao assassino.
***
Afortunadamente, o médico que ela havia contatado mantinha funcionários ágeis e eficientes. Mackenzie recebeu uma ligação telefônica às 7:10, assim que Ellington terminou de se vestir-outro ritual que ela era capaz de assistir e apreciar sem distração.
Ela atendeu ao telefone no segundo toque, sua voz energizada pelo copo de café, agora vazio. "Agente White falando."
"Bom dia, Agente White. Aqui é Ben Holcomb. Você deixou uma mensagem no meu escritório essa manhã."
"Sim, senhor. Estou trabalhando em um caso no qual achamos que possa haver algum tipo de conexão entre vítimas assassinadas e o assassino referente a uma potencial doença que resulta em cegueira. Eu entendo que é de última hora, mas eu estava pensando se você poderia se encontrar conosco por um instante essa manhã para repassarmos algumas coisas."
"Bem, eu não vejo pacientes no meu consultório até às oito e meia. Se você puder vir até lá, eu posso dar alguns minutos a você."
Ela encerrou a chamada, assegurada pelo Dr. Holcomb que o consultório dele não ficava a mais de vinte minutos de distância do hotel, conquanto ficassem à frente do tráfego da manhã. Mackenzie e Ellington fizeram exatamente isso, pegaram um café da manhã rápido em um drive-thru e se dirigiram para o centro da cidade para consultório do Dr. Holcomb.
Uma recepcionista destrancou a porta para eles quando chegaram e os levou para o consultório do Holcomb. Dr. Ben Holcomb era um homem alto que parecia estar chegando próximo aos sessenta anos. Ele sorriu largamente para eles quando entraram em seu consultório e Mackenzie gostou dele instantaneamente. Ela assumiu que ele era o tipo de médico que acalma crianças em um instante e poderia rapidamente tranquilizar adultos com preocupações muito reais em suas mentes.
"Obrigada por se encontrar conosco," disse Mackenzie.
"Claro," ele disse. Ele estava trabalhando atrás de um notebook e pressionou um último botão quando Mackenzie entrou. Atrás dele, uma impressora liberou imediatamente uma folha de papel que caiu no topo de uma fina pilha de outros papéis.
"Eu tomei a liberdade de imprimir algumas doenças as quais se sabe que causam cegueira. Algumas deles eu conheço bastante, mas há outras que são muito raras e eu pessoalmente nunca as vi fora de palestras sobre os tópicos ou em conferências."
Ele entregou a folha para Mackenzie e ela a escaneou rapidamente. Ela viu a doença de Stargardt entre as doenças, a mesma que eventualmente levara Cleo Colegrove à cegueira.
"Então esta é a via pela qual estamos indo," disse Mackenzie. "Nós temos alguém matando pessoas cegas. Elas estão sendo mortas razoavelmente próximas às respectivas residências-todas dentro ou próximas a lares para cegos. Ontem, uma jovem moça que perdeu a visão devido à doença de Stargardt foi atacada aqui em Lynchburg. Estamos bem certos de que foi o assassino, tentando completar quatro vítimas. Atualmente não temos pistas sólidas, sem descrições do assassino e sem um MO real para se mencionar. Nós podemos teorizar que talvez o assassino tenha sido ferido por alguém que era cego-talvez um parente ou ex-amante. Mas eu também gostaria de olhar os aspectos médicos."
"Tais como?"
"Bem, se alguém que o assassino se importou em algum momento tenha sido afetado por uma doença que levou à cegueira, isso poderia abrir novas pistas para investigarmos. Por exemplo, a mulher de ontem perdeu a visão devido à um caso severo da doença de Stargardt quando ela era jovem."
"Entendo," disse Holcomb. "Bem, olhando nessa lista aí, você pode ver que não é uma lista enorme para se selecionar algo. Algumas das mais comuns se originam da diabetes, a qual é bem abundante hoje em dia. Perda de visão também é prevalente em pessoas que sofreram derrames, dependendo da severidade do derrames. Perda severa de visão também é comum em pessoas com problemas graves na tireoide."
"Algumas dessas outras doenças nessa lista," disse Mackenzie. "são raras ou difíceis de detectar nos pacientes?"
"Não necessariamente," ele disse. "Todavia, a maioria daquelas que eu listei podem ser contidas antes que seja apresentado qualquer problema real de visão. Por exemplo, eu vejo bastante sarcoidose no meu consultório-a maioria em idosos afro-americanos. Quando tratada adequadamente, o risco de perda de visão é pequeno. Mas se eles esperarem para vir e a sarcoidose começar a afetar o sistema nervoso central, pode haver um dano drástico na visão. Eu pessoalmente nunca vi um caso de cegueira total devido a isso, mas eu li casos nos quais aconteceu."
Mackenzie terminou de escanear a lista de doenças, completada com uma ou duas sentenças descrevendo-as ao lado de cada item. Com um cenho, ela a passou para Ellington para que ele também a pudesse estudá-la.
"Pela sua expressão," disse Holcomb, "eu não fui de muita ajuda."
"É difícil dizer agora," ela disse. "Enquanto certamente não há uma prova cabal nessa lista, ela pode ser útil posteriormente."
"Posso oferecer um pouco de experiência que eu tenho visto na minha linha de trabalho?" perguntou Holcomb.
"Claro."
"Pelo que eu já vi, há uma linha clara entre aqueles que nascem cegos e aqueles que se tornam cegos depois na vida. Enquanto tenho certeza de que realmente não é verdadeiro para todos os casos, parece haver mais hostilidade e negatividade entre aqueles que perderam a visão posteriormente na vida. Aqueles que nascem com cegueira aprendem a se adaptar quando bem jovens e meio que aprendem a crescer com isso. Eu assumo que você considerou que o homem que você está procurando deve ter problemas de visão?"
"Consideramos," disse Mackenzie, imaginando se o assassino possa ser afetado por uma das doenças na lista que Holcomb lhes dera. "Mas é bom saber que eu posso reforçar a teoria com a opinião qualificada de um oftalmologista. Obrigada, Dr. Holcomb."
Com isso, Mackenzie e Ellington se despediram. No caminho para o carro, Mackenzie continuou a pensar sobre um assassino que possa ter problemas de visão. Pode ser isso que o está estimulando?
Talvez a própria existência de pessoas cegas o aterrorize, porque é o resultado final no que ele tema que ele possa ficar, ela pensou. Talvez, a visão dele o falhou quando ele estava atrás de Cleo Colegrove e foi assim que ela conseguiu escapar...
"Isso foi de abrir os olhos," disse Ellington. "Eu sabia que havia alguns distúrbios e doenças que poderiam afetar sua visão, mas eu não sabia que a lista era tão longa. Talvez nosso cara sofra de algo da lista do Holcomb."
"É uma possibilidade," disse Mackenzie. Ela tirou uma foto da lista com o celular e enviou por mensagem para Harrison. Ela seguiu com uma mensagem na qual se lia: Você pode verificar se alguma das nossas vítimas sofre de uma dessas condições? Também olhe em registros médicos no estado da Virgínia para ver se algum paciente apresentando essas condições foi assinalado pelos médicos devido a comportamento ou instabilidade psicológica. Tiro distante, mas pode ajudar.
"Eu acho que deveríamos voltar para o Lar Mary Denbridge," Ellington sugeriu ao dar partida no carro. "É a cena mais próxima a nós e não conseguimos falar realmente com qualquer outro residente. Talvez eles tenham visto algo... ah inferno... não visto... você entende o que eu quero dizer."
"Eu estava pensando a mesma coisa," ela disse. "Mas estou mais inclinada em voltar para Stateton, para o Lar Wakeman. Não sei porque; eu sei que o lar Denbridge é mais recente, mas a coisa com Wakeman parece maior de alguma forma. Há muito dinheiro do estado envolvido por lá e eu acho que possa haver algumas respostas cobertas por um rastro de documentos. Nós só precisamos saber onde começar a trilha."
"Por que isso ajudaria?" perguntou Ellington. "Que tipo de rastro de documentos nos levaria ao assassino?"
"Estou bem segura que o assassino conhece as vítimas de um forma ou de outra. Ele tem que conhecê-las. Eu apostaria qualquer coisa com você que o assassino colocou o pé em cada um daqueles lares. E a presença dele é mais fresca lá."
"Então você quer voltar para o mato?" perguntou Ellington, brincando, mas certamente um pouco descontente. "No meio desse calor todo?"
"Nós podemos verificar a sua teoria antes," ela disse. "Não vai fazer mal."
"Jesus, obrigado," ele disse. "Porém, outra coisa rápida antes."
Antes que ela pudesse dizer o quê? Ele estava se inclinando sobre o apoio de braços. Ele pegou o lado de seu rosto entre as mãos e a beijou. Começou devagar, mas evoluiu para algo adornado com o calor e química normais deles. Quando ele se afastou, ela estava um pouco tonta.
Ela estava tão fora de si que quando seu telefone tocou no bolso, assustou-a mais do que deveria. Um pouco envergonhada, ela o procurou e tirou para fora. Nome de Harrison estava no visor.
"Eu lhe enviei uma mensagem a uns cinco minutos atrás," ela disse. "Se você já tem resultados para mim, você é um mágico."
"Bem, mande minha carta para Hogwarts... eu tenho um acerto para você."
Ela riu em silêncio por um instante com a piada. Ela pensou com força se ela já havia escutado Harrison contar uma piada de verdade antes.
"Acontece que você tinha tudo sob o nariz desde o início," disse Harrison. "Achei um homem que mora em um pequeno lugar chamado Randolph, Virgínia. Fica a quinze minutos ao norte de Stateton. A diabetes dele ficou sem tratamento por um longo tempo e ele não somente quase morreu em 2011, ele oficialmente perdeu cerca de oitenta por cento da visão no ano passado. Eu solicitei que um conjunto completo de registros médicos seja mandado para o seu e-mail."
"Essa é uma ótima correspondência, Harrison."
"Ah... fica melhor. Antes do Wakeman passar por suas maiores melhorias, era um lugar muito menor. E esse cavalheiro coincidiu de ser um cuidador-um cuidador que foi demitido por uma acusação de relacionamento sexual com um dos residentes."
"Para mim parece um pote de ouro," ela disse, seu coração já martelando no peito.
"Eu também achei que sim. Eu vou enviar o nome dele e também o endereço para você."
"Então, nós estamos indo de volta para Stateton," ela disse secamente. "Uma tonelada de obrigada, Harrison."
Quando ela terminou a ligação, Ellington estava olhando para ela, olhos levantados e a sua boca moldada em uma carranca. "Merda. Você estava certa, hein?!"
"Você disse isso, não eu," ela disse. "Para Stateton, por favor."
CAPÍTULO DEZOITO
Quando chegaram de volta à sede da polícia em Stateton, Mackenzie descobriu que, na verdade, estava bastante contente em ver o Xerife Clarke. Talvez fosse apenas seu rosto familiar no meio de um grupo de dias que os apresentara a inúmeros rostos que, no final, haviam sido muito de muito pouca ajuda. Ela ligou antecipadamente como cortesia para que Clarke soubesse que eles iriam atrás de um cara que parecia se encaixar no perfil-um cara que estava no quintal de Clarke e dentro de sua jurisdição a cerca de cinco quilômetros da borda do condado.
Clarke os encontrou na frente da delegacia quando estacionaram às 10:05. Ele estava fumando um cigarro e bebendo café. Ele não perdeu tempo quando Ellington parou. Ele acenou para irem até sua viatura, abrindo a porta do lado do passageiro para Mackenzie.
Olhe para isso, ela pensou. Uma exibição real da hospitalidade sulista da qual sempre ouvi falar tanto.
"Não vou mentir para você," disse Clarke. "Não estou muito entusiasmado com o que estamos prestes a fazer".
"Você disse que o conhecia quando nos falamos ao telefone," disse Mackenzie. "Quão bem você o conhece?"
"Lenny Peters," disse Clarke com um forte suspiro na voz. "Todos o conhecem muito bem por aqui, eu acho. Ele deve ter por volta de uns sessenta agora, eu acho... um pouco mais velho do que eu. Ele era um bom homem pelo que todos sabiam. Mas, então, ele ficou doente e todo esse negócio desagradável surgiu sobre ele."
"Você se refere à má conduta sexual com uma residente do Wakeman?," disse Ellington do seu lugar no banco de trás.
Clarke havia arrancado a viatura para a rua de duas pistas, agora mirando Ellington de volta pelo espelho retrovisor.
"Sim, é isso. Mas essa era apenas a ponta do iceberg. Uma vez que essa história surgiu-uma história que nunca foi provada, a propósito-mais duas mulheres falaram sobre as investidas sexuais. Uma delas aconteceu de ser uma jovem moça que disse que Lenny fez sexo com ela quando tinha quatorze anos e Lenny tinha quarenta e sete anos. Essa história acabou por ser verdade. Evidência e tudo. Então, depois que essa história foi comprovada, todos assumiram que a história do Wakeman também fosse verdade."
"Foi abuso?"
"Não, apenas passou a mão. Nada violento pelo que eu entendo. É difícil para eu compreender, sabe? É uma cidade pequena. Diabos... um pequeno condado. E eu conhecia Lenny. Eu nunca teria suspeitado de nada assim da parte dele. Mas fui eu quem teve que prendê-lo quando aquela mulher veio à frente sobre o sexo com menor de idade. Claro, não importa que fosse consensual. Ela tinha quatorze anos e é isso."
"Enfim... eu acho que talvez o estresse de tudo isso o tenha atingido. A diabetes dele o levou a perder a visão. Eu não acho que ele seja cego, mas ele pode ser, pelo o que eu ouvi. Eu me sinto mal pelo homem, de verdade. Sim, dormir com uma garota tão jovem é desagradável e inoportuno, mas esse foi o pecado dele, sabe? Estava feito. E agora ele foi reduzido a um homem com sobrepeso que mal pode ver, vivendo de programas sociais e com um hábito de beber muito pesado. Ele se tornou um fantasma".
"Quando foi a última vez que você falou com ele?", perguntou Mackenzie.
"Quando eu o prendi. Eu já o vi na rua aqui e ali e trocamos acenos. Mas isso é tudo. Mas olhe... sim, dormir com uma jovem garota é uma coisa. Mas eu vou pagar uma rodada de bebidas para vocês e para todos seus amigos de DC se Lenny Peters matou alguém."
"Por quê?"
"Ele está na merda. Ele parou de se importar consigo mesmo. Seria difícil para ele ser sorrateiro. Acho que vocês verão por si mesmos quando chegarmos à sua casa."
Clarke deixou nisso. Havia um olhar severo em seu rosto enquanto olhava à frente através do para-brisa. Mackenzie não tinha certeza se ele estava chateado pelo fato de que ele teria que questionar um homem local, do qual ele tinha dó, sobre os assassinatos ou porque um suspeito poderia ter estado logo abaixo do seu nariz todo esse tempo. O que quer que fosse, ela o deixou em silêncio enquanto ele continuava a os manobrando pelas estreitas estradas rurais e o dia ficava cada vez mais quente lá fora.
***
Lenny Peters morava em uma casa móvel no que para Mackenzie pareceu ser uma extensão solitária de terra escondida a cerca de quatrocentos metros ao lado da rua principal. A entrada da garagem era nada além de um caminho de terra que terminava em um quintal com a grama crescida demais. A casa em si era o que Mackenzie imaginava como o estereótipo de uma residência da classe baixa sulista. Embora não estivesse apoiada em blocos de concreto ou escoras, a varanda da frente parecia que poderia cair se empurrada da forma errada. Várias garrafas de cerveja vazia estavam espalhadas na varanda e uma planta morta em um vaso que há muito tempo estava tombada.
Clarke os levou acima pelos degraus da varanda raquítica e bateu na tela de alumínio da porta. O som que produziu, fez Mackenzie dar um passo para trás; era alto e oco e soou como se o trailer pudesse desabar bem agora na frente deles. Após poucos segundos, eles puderam ouvir uma resposta vindo de dentro, um movimento trovejante que ela assumiu ser passos em direção à porta.
Quando a porta foi atendida, a porta interior de madeira girou aberta para revelar o interior do trailer, um grande homem negro estava diante deles. Ele tinha facilmente cento e quinze quilos-e isso sendo generosa. Quando ele virou a cabeça lentamente para olhar para as três pessoas em sua varanda, a maneira que seu pescoço e barriga revelaram mais dobras de carne fez Mackenzie pensar que ele poderia ter perto de cento e quarenta quilos.
"Robert," disse Lenny Peters com um tom agravado. "Quem são essas pessoas?"
"Ei, Lenny. Como você está?" perguntou Clarke, tentando evitar a paranoia instantânea de Lenny.
"Estou o mesmo que tenho estado pelos últimos anos. Gordo, doente e meus malditos olhos param de funcionar de vez em quando."
"Na verdade esse é o motivo para essas pessoas estarem aqui comigo," disse Clarke.
"Eu sou a Agente White," disse Mackenzie dando um passo à frente. "E esse é meu parceiro, Agente Ellington. Somos do FBI, na cidade investigando um assassinato."
"Ellis Ridgeway, certo?" disse Lenny.
"Certo," disse Mackenzie ceticamente.
"Estava no jornal local ontem," disse Clarke apologeticamente. "Está por toda cidade agora. As pessoas estão em pé de guerra sobre isso."
"Então, por que vocês estão aqui na minha casa se Ellis Ridgeway foi morta?" perguntou Lenny.
"Podemos entrar para conversar sobre isso?" perguntou Ellington.
"Não. Estamos bem aqui na varanda."
Com isso, Lenny deu um passo à frente e saiu para a varanda. Quando seu peso adicional ficou sobre as tábuas, ela pode sentir toda a varanda oscilar um pouco. As pernas dela se estabilizaram e seus músculos estavam preparados para pular se necessário. Quando ele fechou a porta atrás dele, ela deu uma olhada no interior e estava aliviada por eles não entrarem. Ela estava bem certa de que ele os estava negando acesso à sua casa, não devido a qualquer tipo de culpa ou algo para esconder-mas porque estava uma bagunça. Ela viu uma sala de estar com vários pratos no chão, inúmeras garrafas e latas de cerveja vazias e uma pilha de revistas que tinha pelo menos trinta centímetros de altura, algumas das quais haviam caído no chão. Dizer que Lenny Peters vivia na miséria era colocar isso de maneira leve.
"Estamos aqui, bem francamente," disse Mackenzie, "porque sua condição atual o torna um suspeito. Embora-"
Ela não conseguiu ir além disso. Lenny começou a gargalhar, uma profunda risada que era algo entre um arquejo e um latido. "Ha! Esse sou eu, beleza. Um assassino sorrateiro e furtivo!" Ele, então, parou de rir e olhou Mackenzie diretamente nos olhos. "Vadia, olhe para mim. Você acha que eu tenho o tipo de corpo para me esgueirar por aí me escondendo e matando pessoas?"
"Opa, Lenny," disse Clarke. "Olha, eu também percebo que é uma acusação estúpida. Mas essa é uma agente federal. Chame-a assim novamente eu posso enfiar as algemas em você."
Lenny Peters balançou a cabeça com esse comentário, como se fosse ridículo. "OK. Falha minha. Então... você acha que eu sou um assassino, hein?!"
O inferno disso era que ela estava certa de que ele não era o assassino. Ele estava certo; a ideia de alguém da sua forma, tamanho, idade e na sua condição evadindo cenas de crime rapidamente com sucesso e sem deixar evidências para trás era absurda.
"Sr. Peters, você está empregado atualmente?" ela perguntou.
"Não."
"Então eu presumo que você tem algum tipo de assistência do governo o ajudando?"
"Isso e algum dinheiro que eu consegui vendendo alguns imóveis alguns anos atrás quando eu saí da prisão. Não que seja da sua conta. Eu faço pequenos reparos em motores também. Cortadores de grama e coisas assim."
"Se você não se importa com a minha pergunta... com que frequência sua visão começa a sumir?"
Ele deu de ombros e pareceu repentinamente cansado. Ele não mais parecia ofendido que tenha sido importunado por agentes do FBI sobre um crime que ele muito certamente não cometeu, mas ele realmente parecia um pouco abalado.
"Talvez três vezes na semana. Ficou melhor por um tempo. Mas... meu corpo está velho, cansado e gordo."
"Você pode ficar melhor," disse Clarke, como se ele achasse que ele precisava prover um toque de suporte e encorajamento local.
Lenny deu outra das suas risadas guturais e assentiu com a cabeça. "Sim, eu poderia. Mas todo médico que eu visitei fez soar como se fosse trabalho para caramba. E pode ser muito tarde, de qualquer forma."
Ele desistiu, Mackenzie pensou. É por isso que ele vive nesse trailer acabado entre pilhas de sujeira e lixo. É por isso que ele bebe tanto. Ele desistiu da vida-e esse tipo de falta de motivação não é característica de um assassino.
Mackenzie assentiu e olhou-o nos olhos, fazendo o que podia para ajudar Lenny a sentir-se importante e necessário. "Obrigada, Sr. Peters. Mas acho que acabamos por aqui."
"Não acha mais que eu seja um assassino?" ele disse com um sorrisinho triste.
"Não, não acho."
"Espero que você pegue o idiota," ele disse. "Alguém capaz de matar uma mulher tão doce quanto Ellis Ridgeway precisa ser pendurado por uma corda."
"Você a conhecia?" perguntou Ellington
"Não. Mas meu irmão é amigo de uma outra mulher no Wakeman que era amiga de Ellis. Nina Brady, acho que é o nome dela."
"Seria ela," disse Clarke, descendo as escadas e claramente satisfeito em ter terminado com esse detalhe. "Ela está bem avançada na idade, mas é quase como uma mãe para os residentes naquele lugar."
Mackenzie assentiu, sabendo qual seria a próxima parada deles-de volta para o Wakeman. Ela deu um rápido aceno de cabeça para Lenny enquanto descia a escada. "Obrigada novamente, Sr. Peters".
Os dois agentes e o xerife local desceram a escada da varanda e de volta para o carro. Ao deslizar para o banco do passageiro, Mackenzie observou Lenny caminhar de volta para sua casa. Simplesmente o fato de assistir o homem passar pela porta era desalentador. Sua postura por si já indicava que o homem havia desistido de quase tudo. Mackenzie imaginou que tipo de medicamentos lhe foram prescritos e, além disso, se ele sequer os tomava.
Enquanto Clarke os dirigia de volta pela estrada de terra e em direção a rodovia principal, o telefone dele tocou. Ele respondeu bruscamente, claramente um homem que odiava tais conveniências, e Mackenzie escutou a um lado de uma conversa muito curta e, aparentemente, grave.
Após apenas duas curtas respostas, Clarke desligou e jogou o celular sobre o painel do carro. "Merda," ele disse.
"Algo errado?" perguntou Mackenzie.
Ele deu um sorriso irônico e balançou a cabeça. "Parece que vocês voltaram na hora certa," ele disse. "Temos problemas na delegacia."
CAPÍTULO DEZENOVE
Quando Clarke havia dito problemas na delegacia, a mente de Mackenzie evocou o tipo de circo caótico que às vezes via em DC quando as coisas saiam do controle ou quando um caso havia sido finalmente agarrado pela mídia. Então quando eles chegaram ao DP de Stateton e ela viu apenas um punhado de carros e uma única van de reportagem, ficou aliviada.
Por um momento.
Eles saíram do carro e foram até as portas da frente, apenas para serem abordados por um único jornalista e um cinegrafista que parecia ter acabado de sair direto da faculdade. Mackenzie fez seu melhor para ignorar a repórter de baixa estatura, olhando além dela para as portas do DP. Ela viu algumas pessoas amontoadas lá, espiando para fora. Dentre elas estava um homem que ela teve o desprazer de conhecer por dez minutos há vários dias: Langston Ridgeway;
Eu assumiria que ele é a fonte do problema, ela pensou.
Mackenzie contornou a repórter sem uma palavra enquanto Ellington seguia atrás. Ao chegarem até as portas, ela ouviu Clarke cedendo ao repórter; ele não forneceu qualquer informação, contudo, mas apenas uma desculpa grosseira, a qual Mackenzie tinha certeza que estaria em todos os noticiários locais no prazo de uma hora.
Ao se aproximarem da porta, outro homem que ela conhecera brevemente alguns dias atrás abriu a porta para ela. O Policial Lambert sorriu rapidamente para ela ao entrar. Ela retornou o sorriso, mas os olhos dela estavam em Langston Ridgeway. Ela sentiu o ímpeto de dizer algo a ele, mas nunca teve a chance. Atrás dela, Clarke pareceu explodir pelas portas, se encaixando entre Mackenzie e Ellington para ficar cara a cara com Ridgeway.
"Isso é coisa sua, sua fuinha?!" disse Clarke. "Eu sei que você está acostumada a ter tudo nas mãos, então você achou que tivesse que fazer a mídia se intrometer para ajudá-lo a conseguir o que você quer dessa vez?"
"Como ousa!" Ridgeway estava indignado, embora Mackenzie tivesse certeza que parte disso era uma encenação, pura e simples. "Minha mãe está morta e você não obteve resultados. Mesmo esses rejeitos de Washington não conseguiram encontrá-la."
"Isso é verdade," disse Mackenzie, colocando uma mão reconfortante sobre o ombro de Clarke e gentilmente puxando-o de volta antes que ele fizesse algo que mais tarde se arrependeria. Ela, então, tomou o lugar dele, ficando cara a cara com Ridgeway. "Mas o que você não percebe ao tentar usar a mídia para conseguir o que você quer é que quando a mídia fica envolvida, ela dificulta o nosso trabalho. Logo, me faz imaginar se isso é apenas algum tipo de campanha de relações públicas glorificada para o seu próximo evento de votação. Porque, com certeza, não fará nada para ajudar a encontrar o assassino da sua mãe."
"Como você ousa falar comigo ass-"
"Eu estou logo em DC," ela disse. "Seu pequeno poder de posição não é novo para mim. Eu vejo isso todos os dias. Você não me impressiona. Então, se você realmente quer que encontremos o assassino da sua mãe, você deveria manter a boca fechada e parar de se lamentar para as agências de notícia."
Ridgeway parecia um animal encurralado. Estava claro que ele não estava acostumado a pessoas falarem com ele desse jeito.
"Seu supervisor vai ouvir sobre isso!"
Ellington riu de leve atrás de Mackenzie. Então ele tirou sua carteira, pegou um cartão de visitas e o jogou cautelosamente para Ridgeway. Acertou o peito dele e então pairou até o chão. "Esse é o cartão de visitas dele. Não se esqueça de dizê-lo que eu mandei um oi."
Ridgeway parecia ter recebido um tapa no rosto. Seu choque foi quase cômico. Ele olhou ao redor na sala, percebendo que, pela primeira vez, não havia qualquer pessoa para apoiá-lo.
"Agora," disse Clarke, "gentilmente, dê o fora da minha delegacia, antes que eu o prenda por interferir em um caso. Eu aposto que o cinegrafista e o repórter lá fora adorariam ver isso."
Ridgeway parecia que iria gritar ou chorar ou ambos ao mesmo tempo. "Você não acabou com isso. Lembre-se das minhas palavras."
"Considere-as lembradas," disse Clarke. "Agora saia."
Ridgeway fez como pedido, embora não antes de dar encaradas venenosas para os três. Quando ele passou pelas portas, pareceu mais que satisfeito em parar e conversar com a âncora do noticiário.
"Eu acho que isso poderia ter sido mais bem tratado," disse Clarke, mãos nos quadris e olhando para o escritório.
"Você tem que deixar isso fora da sua cabeça por agora," disse Mackenzie. "Eu sei que é mais fácil falando do que fazendo, mas tudo que isso faz é distrair você. Precisamos continuar trabalhando para os resultados."
Clarke assentiu. "Sim. Agora... se nós conseguíssemos encontrar algum..."
"Bem, eu acho que gostaria de retornar ao Wakeman," ela disse. "Se essa mulher que Lenny mencionou era próxima a Ellis, talvez ela possa nos dar alguma dica ou pista que nós negligenciamos de alguma forma."
"Nina Brady," ele disse. "Se você quiser falar com ela, eu posso fazer a ligação para o lar e avisá-los que vocês estão a caminho."
"Nós agradeceríamos."
Soltando o peso dos ombros e com uma irritação óbvia no rosto, Clarke desceu o corredor. "Me informe se vocês precisarem de alguma coisa de mim ou dos meus homens," ele gritou por cima dos ombros.
Quando Mackenzie e Ellington voltaram para fora, ela viu que Langston Ridgeway estava voltando para o carro dele. A equipe de reportagem de duas peças os viu sair e foram na direção deles. Mas tudo que foi preciso foi um olhar severo e uma balançar de cabeça de Mackenzie para fazê-los girar nos calcanhares, de volta para a pequena van de reportagem na extremidade do estacionamento.
"Você está bem?" Mackenzie perguntou Ellington ao entrarem no carro.
"Sim, por quê?"
"A ceninha com o cartão de visitas... foi engraçado, mas não muito a sua cara."
Ellington deu de ombros e suspirou. "Eu não sei. Esses politicozinhos chorões dão nos meus nervos. Aqueles das cidades pequenas, em particular, são os piores."
"Parece que você tem alguma experiência nessa área."
"Tenho, infelizmente. Onde eu cresci... era horrível." Ele, então, pareceu pensar sobre algo enquanto dava partida no carro. "Sabe, você e eu não compartilhamos esse tipo de coisa. Você acha que deveríamos?"
Uma pequena chama de pânico subiu por Mackenzie e ela não sabia bem o porquê. Ela apenas encolheu os ombros enquanto Ellington saiu do estacionamento para a estrada.
"Eu vou assumir que algo assim deixa você desconfortável," ele disse, "então eu, provavelmente, te assustei demais com toda essa coisa de se mudar, né?!"
O triste é que ele estava certo. Isso a havia assustado-e pensar nisso ainda a assustava.
"Olha, desculpe-me," ele disse. "Claro, talvez tenha sido um pouco exagerado e repentino, mas era como eu estava me sentindo. Como eu venho me sentindo por algumas semanas agora. É assustador demais para mim ... mas bem, aí está."
Eles estavam de volta na estrada agora, em direção ao Wakeman. Ela apreciava a vulnerabilidade dele, mas havia algo sobre vê-lo tão animado e exposto que também a assustava. Era, ela supôs, o que a fez dizer a primeira coisa que veio no coração.
"Nós não podemos morar juntos," ela disse. "Se nós estamos sendo honestos, o romance entre nós já está moldando a maneira como trabalhamos juntos. Eu sei que está para mim, de qualquer forma. Isso me faz sentir irresponsável-como se eu colocasse o trabalho em segundo lugar".
"Sim, mas acho que nós-"
"É uma má ideia," ela disse um pouco friamente. E então, machucando-o ainda mais, ela continuou com: "E eu gostaria que esse fosse o fim disso por enquanto. Nós temos um caso que está nos dando um pé na bunda e eu gostaria de colocar toda a minha atenção nele agora."
"Entendido," disse Ellington, a palavra saindo de sua boca como uma bala. Ele então lançou os olhos na pista à frente, sem piscar. Sua fronte estava franzida e ele estava claramente chateado, mas ele permaneceu calado.
Para evitar piorar as coisas, Mackenzie fez o mesmo.
CAPÍTULO VINTE
O livro de hoje era um que ele pessoalmente amava. Ele o lera pelo menos uma dúzia de vezes e embora fosse tecnicamente um livro para crianças, havia certo charme nele que ressoava com qualquer um-especialmente alguém lidando com ameaças à saúde ou algum tipo de deficiência física.
Ele lia Tuck Everlasting como se fosse um pastor lendo as escrituras. Ele sentia cada palavra em sua língua e a expressava com zelo. Não poderia escapar do peso que a história carregava em sua vida. Foi o que sua mãe lera para ele após aquele dia terrível-o dia no qual ele deitou no chão de linóleo, certo de que ela morreria e pensando que a dor nunca iria passar.
Ela havia feito tudo o que podia para compensar isso-por cerca de um ano ou quase. Depois disso, a vadia simplesmente desistiu e recorreu às suas antigas formas de abuso.
Mas agora, lendo o livro como um homem crescido, se parecia mais com a história dele. Ele podia fingir que sua mãe nunca o leu para ele e que ele o estava descobrindo por conta própria.
Em frente à ele, sentada na cadeira de balanço acolchoada, a mulher cega sorriu. Ele sorriu de volta, embora ela não pudesse ver, entre as sentenças. Alguma coisa sobre a maneira que eles confiavam nele, no coração dele, era doce. Eles poderiam facilmente alugar ou baixar audiolivros e escutá-los em seu próprio tempo. Mas ele sabia que algo acerca do aspecto da interação humana era realmente o porquê de eles o pedirem para ler. Uma vida e uma voz humana em pessoa carregavam certo peso e carisma que uma gravação de áudio não poderia, não importava o quão bom fosse o narrador.
Na verdade, algo sobre o processo o acalmava. O colocava tranquilo, o que não era algo que acontecia facilmente. Depois da maneira na qual seus últimos dias haviam ido, ele necessitava desse senso de calma, esse senso de ser reorientado.
A mulher em Lynchburg havia escapado dele. Sua visão condenada quase o falhou, atrasando-o tempo demais na sua tentativa de derrubar Cleo Colegrove. Mesmo após sentir aquela onda de instinto assassino reagir sobre ele, sua visão o havia deixado na mão... da mesma maneira que havia feito desde o dia que sua mãe o feriu tão seriamente.
Algumas vezes, eles ainda sentia o calor da chama no forno.
Algumas vezes ele ainda sentia sua própria carne queimando.
Tudo isso havia tentado subir sobre ele enquanto rastreava Cleo Colegrove, mas ele conseguiu, de alguma maneira, não deixar que isso o incapacitasse. No fim, foi o que fez com que ela fugisse. E ele não deixaria isso acontecer novamente.
Ele manteve os olhos nas notícias daquela área e a história havia recebido um pouco mais que um menção no noticiário da tarde e da noite, cada história terminando com a declaração subjetiva: uma investigação está em andamento. Ele ainda não havia visto qualquer história conectando o ataque aos assassinatos de três pessoas cegas pelo estado.
Ele não temia o dia no qual a conexão fosse feita. Ele simplesmente queria saber quando a pressão estava sendo aplicada. E até agora, não havia sido feita uma conexão ou as autoridades estavam preferindo mantê-la abafada.
Ele supôs que os assassinatos todos logo viriam à luz, seriam colocados na televisão, conectados e receberiam muita atenção. Ele não tinha certeza do que faria quando chegasse a esse ponto, mas imaginou que ainda não havia sentido em se preocupar sobre isso.
Então, por agora, ele só iria se concentrar na sua próxima tarefa-uma mulher de quarenta e nove anos chamada Dana Polson. Esta era a sua primeira vez lendo para ela e a cuidadora dela realmente parecia gostar dele. Ele estava sentado no que a maioria das pessoas chamaria de salão, sentado em um sofá e lendo Tuck Everlasting. A cuidadora, uma mulher idosa que tem ajudado os cegos desde quando ela era uma de moça vinte e cinco anos que acabara de sair da faculdade e estava procurando por oportunidades para se voluntariar em trabalho social, estava em algum outro lugar na casa.
Dana estava morando sozinha pelos últimos três anos, cansada da comunidade do lar de residência assistida no qual morou por tanto tempo.
Este também era mais próximo a ele. Não mais havia a necessidade de dirigir e perseguir seus alvos (embora isso tenha sido divertido e desafiador). Ele imaginou que ele mataria Dana e quando o corpo dela fosse descoberto, ele estaria em outro lugar. Talvez de volta a Treston, já que a segurança deles era uma piada. E além disso... havia pelo menos dois outros lá ele queria matar.
Ele não estava certo do que lhe chamava atenção nessas pessoas. Ele sabia que eles não conseguiam enxergar, mas ele sentia que eles podiam vê-lo. Mais que isso... ele estivera na pele deles por quatro meses da sua infância. Ele conhecia aquela escuridão especial, o mundo dos cegos. Ele viveu nele após sua mãe queimar sua face no forno, arruinando seu olho esquerdo completamente.
Sua visão inteira havia sumido por meses e, inexplicavelmente, voltou ao seu olho direito. Depois, fora-lhe dado um olho de vidro quando foi capaz de pagar por um-sua mãe não pagaria por ele, isso era certo.
E agora, com sua visão frequentemente falha, que parecia ir e voltar quando queria, ele via suas vítimas de maneira completamente nova. Quando ele estivera ali, naquela escuridão que apenas os cegos conhecem tão intimamente, ele compreendeu tudo. Os cegos podiam ver. Eles podiam ver melhor que a maioria das pessoas com visão. Eles conseguiam ver dentro das pessoas-ah, sim.
E alguns deles viam o interior dele. Eles viam a feiura dentro dele. Eles viam o que ele havia feito no passado-às suas namoradas e à sua mãe.
E ninguém poderia saber desses segredos.
Dana Polson o via. É claro, como os outros, ela não o estava julgando por isso. Ele sabia que ela via todas as formas de maldade nas pessoas. Os pecados dele era mínimos comparados aos outros. Mas ainda... ele não poderia viver sua vida com outros sabendo o que ele havia feito. Era muito vergonhoso.
Sim, Dana sabia. E ainda que pudesse demorar até que ele a despachasse, ele sabia que ela diria nada sobre o que ela havia visto nele. Nenhum deles jamais o fez.
E estava tudo bem por ele. Seu percalço na outra noite estava dizendo, de maneira plenamente, clara que ele precisava ir mais devagar. Afinal, ele estava sem pressa alguma. Ele tinha todo o tempo do mundo. E embora ele planejasse matar Dana Polson, ele poderia fazê-lo depois-na próxima semana, no próximo mês.
Bem, não seria no próximo mês. Ele estava bem certo disso.
Ele estava bem certo de que ele estaria completamente cego até lá. Ele sentia a piora. Ele teve isso por anos... e por isso ele havia finalmente decidido cuidar deste negócio. Ele precisava tomar conta disso antes que ficasse cego.
Dependendo de como a leitura de hoje se passasse... era como ele saberia quando atacar. Estabelecer confiança era importante. Ele não poderia simplesmente agir sem reflexão ou sem formar algum tipo de relacionamento. Ele aprendera da maneira mais difícil com Cleo Colegrove. Apenas estudar a rotina e os horários dela não havia sido suficiente. Ele começou estudar a rotina dela após ela passar por ele enquanto ele estava visitando o Ministério Servant's Heart para ver do que se tratava. A maneira que ela havia olhado para ele... ele sentiu. Ela sabia sobre as coisas que ele havia feito. Seus olhos sem visão haviam pairado sobre ele tempo demais para seu conforto.
Ele esperava que obtivesse sucesso com Cleo, provando que ele não precisaria gastar tempo conhecendo suas vítimas antes de atacar. Dessa forma, ele poderia despachar mais deles antes que ele perdesse a visão completamente.
Mas ele estava errado. Então, mesmo se fosse apenas uma ou duas sessões de leitura, ele teria que tirar o tempo para construir um nível de amizade e confiança com suas vítimas. Ellis Ridgeway era o exemplo perfeito. Ele lera para ela por dois meses antes que ele finalmente atacasse-e ela nunca anteviu. Mesmo no fim, quando ela deu seu último suspiro e seus olhos cegos estavam procurando por sentido por trás do que estava acontecendo a ela, ela não soube.
Logo em breve, ele veria aquele mesmo olhar vazio e ainda sim aterrorizado nos olhos de Dana Polson.
Ele imaginou como esse olhar se pareceria enquanto lia para ela.
E ele não poderia deixar de imaginar como seus próprios olhos pareceriam no dia que ele desse seus últimos suspiros.
CAPÍTULO VINTE E UM
Isso é ridículo, pensou Mackenzie enquanto ela e Ellington caminhavam de volta para o Lar para Cegos Wakeman. Havia um ar de tensão entre eles agora e a lembrava dos dramas dos romances negligentes do colegial. Certamente, o coração dela doía ao pensar sobre a maneira que ela falou com ele no carro no caminho até lá, mas ao mesmo tempo, ela também percebia que era tolice.
Foi desse modo que ela foi tão facilmente capaz de deixar isso para trás e focar no caso-nos quietos e entristecidos corredores do Wakeman. De maneira melancólica, ela estava quase contente em estar de volta a um lugar quieto como esse, mesmo se essa quietude fosse o resultado da tristeza provocada por uma morte.
Antes que eles sequer pudessem chegar à pequena mesa da recepcionista, Randall Jones veio andando pelo corredor. Havia uma mulher mais velha com ele, andando um pouco atrás dele com uma corcunda. Ela andava com uma bengala que dava batidinhas musicais enquanto progredia pelo corredor. Randall olhou por cima dos ombros para se certificar de que ela estava bem e então saudou Mackenzie e Ellington na mesa.
"Olá, Agentes," ele disse. "Xerife Clarke me disse que vocês poderiam querer falar com essa jovem senhora." Ele, então, se voltou para a mulher idosa atrás dele e deu um sorriso orgulhoso para ela. "Agentes White e Ellington, conheçam Nina Brady."
"Prazer em conhecê-la," disse Mackenzie. "Você se importa em falar sobre algumas coisas?"
"É sobre Ellis?" perguntou Nina. A voz dela era doce, mas esfarrapada, revelando sua idade e sugerindo anos de tabagismo pesado.
"É," disse Mackenzie.
"Então, sim, eu adoraria falar com vocês. Naturalmente, eu preferiria que Randall ficasse comigo. Eu espero que vocês entendam que para uma pessoa cega é difícil demais confiar em alguém após ouvir que uma amiga cega foi morta pelo que parece ser maldade pura."
"É perfeitamente compreensível," disse Ellington.
Nina sorriu, virando a cabeça na direção de Ellington. "Hum... Randall, esse rapaz soa bonito. Bom porte?"
"Sra. Brady, não vamos fazer isso."
Nina riu e balançou a cabeça. "Sr. Agente, você se importaria em acompanhar uma velha senhora até o sofá na sala comum?" ela estendeu o braço, como se esperasse por um pretendente entrelaçasse o próprio braço por ele.
"Sim, senhora," Ellington foi compelido, pegando-a gentilmente pelos braços como se saísse pela a cidade com uma namorada. Mackenzie não pode deixar de sorrir.
Randall foi à frente até a sala comum que ficava no fundo do edifício. Uma grande janela dava para um pequeno jardim de flores e uma grande extensão de grama e densas florestas mais além. Ellington ajudou Nina até o assento dela enquanto Mackenzie e Randall tomaram seus lugares em poltronas reclináveis opostas ao sofá. Havia apenas uma outra pessoa na sala de convivência, um residente que estava ouvindo alguma coisa em um iPad com fones de ouvido enquanto mirava o jardim de flores.
Ela notou que Ellington optou por se sentar próximo a Nina e nem olhou na direção dela. Ele estava sendo intencionalmente frio e no que dizia respeito a Mackenzie, ela honestamente, não se importava. Mackenzie olhou para além disso, recusando-se a ser empurrada para qualquer tipo de drama desnecessário.
"Sra. Brady, eu vou ser honesto com você. Ellis não foi a única pessoa cega morta recentemente. Houve três assassinatos ao longo de duas semanas. E logo ontem, uma mulher em Lynchburg foi atacada por um homem que acreditamos ser o assassino."
"Meu Deus," disse Nina, a beira de lágrimas.
"O assassino é muito inteligente ou muito sortudo," continuou Mackenzie. "Nós não temos evidências, nem pistas e nem ideia real de para onde olhar a seguir. Ouvimos que você era amiga da Sra. Ridgeway, então eu estava esperando que você pudesse ser capaz de fornecer algumas ideias as quais nós negligenciamos. Se há qualquer coisa que você possa pensar sobre ela-de coisas que ela fez ou disse nos últimos poucos dias que pareciam peculiares-seria de grande ajuda."
"Bem, Ellis era uma senhora peculiar, de qualquer forma," disse Nina. "Mas absolutamente da melhor maneira."
"Como assim?" perguntou Mackenzie.
"Bem, muitas vezes ela agia de forma um pouco imatura. Ela fazia piadas que jovens crianças poderiam fazer. Ela amava os livros de Harry Potter e curtia muito a coisa toda... ser classificada em casas e citar os livros por aqui."
"Ela lia muito?" perguntou Mackenzie, percebendo o quão completamente estúpida a questão soava no momento em que saiu de sua boca.
Nina percebeu e riu. "Bem, ela ouvia a muitos audiolivros. Mas ela preferia mais ter outra pessoa lendo para ela."
"Quem lia para ela? Cuidadores aqui?"
"Algumas vezes. Eu acredito que no último verão havia uma garota do colegial que vinha e lia para ela. Ela realmente gostava disso. E então, não muito tempo atrás, havia outra pessoa que vinha e começava a ler para ela. Um jovem rapaz, eu acho."
"Há quanto tempo?" perguntou Mackenzie.
"Muito recentemente. Eu até chegaria a dizer que ele esteve aqui um dia, talvez dois, antes de ela morrer."
Pela primeira vez desde que voltou para o Wakeman, Mackenzie e Ellington olharam um para o outro. Mackenzie, então, olhou para Randall Jones e perguntou: "Você sabe quem era?"
"Não de imediato. Mas nós temos um nome nos nossos registros. No registro do visitantes."
"Ah, o nome dele era Robbie, eu acho," disse Nina. "Ellis gostava bastante dele. Ele era um voluntário em uma organização chamada-"
"Servant’s Heart," disse Mackenzie.
"Exatamente," disse Nina.
Ela pareceu encantada por ter ajudado a fazer a conexão, mas o olhar no rosto de Mackenzie era o completo oposto. Havia voltado para Robbie Huston, o quão ela já descartara. Outro beco sem saída.
Contudo, o conceito de um registro de visitantes a deixou intrigada. Já que, mesmo se eles não soubessem qual nome olhar especificamente, talvez existisse alguma coisa lá que eles nem sabiam procurar.
Ela ficou de pé, seus olhos ainda em Randall Jones.
"Vamos dar uma olhada no registro de visitantes de vocês", disse ela.
***
Mackenzie havia visto Randall Jones apenas prestativo, empático e encorajador com os seus residentes. Então vê-lo lívido e fervilhando dez minutos depois foi chocante. Ele segurava o registro de visitantes em sua mão-o livro físico real-enquanto também percorria os sinal táteis maniacamente.
Ele estava fumegando no balcão de entrada enquanto uma das cuidadoras-uma jovem mulher que parecia aterrorizada no momento-permanecia com os olhos arregalados e paralisada.
"Nós temos um residente confirmando a visita de um voluntário um ou dois dias antes que Ellis Ridgeway ser morta," ele disse. "Então me diga como em nome de Deus não há qualquer nome no registro de visitantes?"
"Eu não sei," disse a jovem moça. "De qual voluntário você está-"
"Aquele que veio ver para Ellis!"
"Ah, sim, eu me lembro de ele vir. Ele era o cara baixinho, o homem bem calado com a bengala."
"Bengala?" perguntou Mackenzie. Ela queria ter certeza que os havia escutado corretamente, porque se assim for, era uma grande ajuda na busca pelo assassino.
"Sim, acho que sim."
"O voluntário que eu tinha em mente era um jovem rapaz. Talvez em meados dos vinte anos."
"Não, esse é o Robbie," disse a jovem garota. "Esse é um homem totalmente diferente. Mais velho... talvez em meados dos trinta. Não mais velho que quarenta. E ele anda com uma bengala."
"Merda," disse Randall, batendo o registro de visitantes com força no balcão.
"Você sabe sobre quem ela está falando?" perguntou Mackenzie.
"Sim. E com certeza não é Robbie Huston. O nome desse cara é Ian Osborne. Ele é bem agradável também. Eu nunca realmente conversei por muito tempo com ele. Tudo o que eu sei é que ele diz que ele costumava ter problemas com a visão devido a um tumor. Ele tem próximo de um metro e setenta, eu acho. Eu sempre assumi que os problemas que ele teve com o tumor e com sua visão o tornaram meio que simpático para com os residentes. Mas olha... eu conversei com ele. Não há como ser ele. Ele é muito amável."
"Bem, esse pode ser o caso," disse Mackenzie. "Mas nós temos um homem que seus empregados estão dizendo que esteve aqui muito próximo à morte da Sra. Ridgeway e você não tem registro real disso. Isso faz dele um suspeito."
"Deixe-me verificar algo bem rapidamente," disse Randall. Ele folheou o registro de visitantes, escaneando cada página enquanto o fazia. Seus dedos percorriam as páginas e ele ficava mais e mais frustrado a cada página que virava. Finalmente, ele parou e levantou suas mãos para o ar, como se estivesse desistindo.
"Eu sinto que preciso me desculpar," ele disse. "O nome do Ian está aqui apenas uma vez-e isso de quatro meses atrás. E mesmo que de fato eu saiba que ele esteve aqui pelo menos uma dúzia de vezes, é a última vez que o nome dele está realmente nos registros."
Ele olhou acima para a recepcionista com calor fumegante nos olhos.
"Bem, eu não posso falar por todos que se sentam atrás dessa mesa," disse a mulher, "mas é como você disse. Ele era um cara agradável... te deixa tranquila, sabe? Muito amigável. Eu acho que eu simplesmente nunca verifiquei os registro depois que ele chegava para ter certeza de que ele havia assinado."
Randall esfregou suas têmporas, como ele estivesse afastando uma dor de cabeça. Ele, então, olhou para Mackenzie e Ellington com uma carranca, a raiva agora derretendo. "Sinto muito," ele disse. "Nós não temos registros dele vindo aqui pelos últimos quatro meses embora eu possa reforçar que ele esteve aqui pelo menos seis vezes. Talvez mais."
Foi um pouco decepcionante não ter as datas nas quais novo sujeito-Ian Osborne-havia visitado, mas estava tudo bem. Agora, ela tinha um nome e um histórico médico bem astuto em andamento. Rastrear um homem que voluntariava seu tempo aos cegos e que tinha um histórico médico que incluía um tumor seria bem fácil.
"Sr. Jones?" a mulher perguntou.
"Sim?" ele perguntou, claramente irritado.
"Sabe, também havia aquele outro homem. Aquele com o olho de vidro..."
"Certo," disse Randall. "Mas eles era mais novo... certo?"
"Sim," disse a mulher.
"Você se recorda do nome dele?"
Ela balançou a cabeça. "Estou bem certo de que era algo como Ken ou Carl. Talvez Keith? Ele era muito calado. Eu nunca conversei com ele realmente." Ela hesitou. "Parece que, hum, o nome dele também não está no registro."
"E a respeito dos outros cuidadores e recepcionistas?" perguntou Mackenzie. "Eles já conversaram com ele?"
"Eu não sei," ela disse.
"Jesus, não parece que estamos operando uma entidade bem eficiente?!" disse Randall, levantando da cadeira atrás da mesa com tanta força que a mandou derrapando para trás contra a parede.
"Esse outro homem," disse Mackenzie, fazendo seu melhor para ignorar a absoluta negligência nos registros do Wakeman. "Você disse que ele tinha um olho de vidro?"
"Sim," disse a mulher.
"E quando foi a última vez que você o viu?"
"Ah, não tenho certeza. Há alguns dias, talvez?"
"E você, Sr. Jones?" perguntou Ellington.
"Se ele for um voluntário, eu só participo durante a parte burocrática. Uma vez que eles são aprovados, eu pergunto aos residentes o que eles acham deles-tipo uma sessão de feedback. Enquanto eles estiverem felizes, eu estarei feliz."
"OK," disse Mackenzie, agora mais frustrada do que nunca. "Eu preciso falar com cada residente aqui," ela disse. "E, então, eu preciso ver a documentação de cada voluntário que veio aqui para ler para os residentes-seja individualmente ou através de uma organização como a Servant's Heart. E, correndo risco de parecer antipática, eu preciso de tudo feito agora ."
Randall assentiu e ficou de pé. "Vou reunir todos na sala comum. Talvez seja mais rápido com todos em um só lugar."
Mackenzie assentiu, virando-se para olhar para Ellington. "Algo mais?" ela perguntou.
Ele estava segurando o telefone e franzindo a testa. Ele assentiu e disse, "Sim. Acabamos de receber uma mensagem do McGrath... e ele está puto."
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Primeiro um político do interior irritado, então Ellington e agora McGrath, Mackenzie pensou enquanto discava o número de McGrath. Eu imagino quem mais eu posso conseguir irritar hoje.
Quando o telefone começou a tocar em seu ouvido, ela saiu do Lar para Cegos Wakeman para o sol escaldante da Virgínia. Ellington estava atrás dela e a fim de evitar qualquer frustração ou confusão, ela colocou a chamada no viva-voz.
McGrath respondeu ao quarto toque e não perdeu tempo com formalidades.
"O nome Langston Ridgeway diz alguma coisa para você, White?"
"Sim, senhor," ela disse, não se incomodando em tentar tornar as coisas mais bonitas do que eram. "Falei com ele há cerca de meia hora. Um verdadeiro babaca. Acha que é muito mais homem do que realmente é."
"Eu não me importo com o que você acha dele," ele disse. "Você está aí para investigar a morte da mãe dele e você joga um cartão de visitas nele?"
"Para ser justo," disse Ellington, "eu joguei o cartão de visitas nele."
"Isso é inaceitável," disse McGrath. "E, além disso, outra coisa inaceitável é que vocês já estejam nessa coisa há quase quatro dias agora e tudo que vocês têm para mostrar é um fluxo de trânsito sem fim. Eu preciso lembrar a vocês que isso é um caso e não alguma chance de fuga para romance?"
"Isso está absolutamente certo, senhor. Mas o assassino está se deslocando por todos os lugares."
"Mas vocês estão de volta em Stateton agora?" ele perguntou.
"Sim, senhor. O caso nos levou de volta para cá para falar com um dos outros residentes."
"E isso produziu alguma coisa?"
"Não sabemos ainda, senhor."
Houve um silêncio na linha por um momento antes que McGrath respondesse novamente. "Quatro dias sem resultados é muito para o meu gosto, especialmente quando vocês estão antagonizando os entes amados de falecidos recentes. Eu estou lhes dando mais vinte e quatro horas antes que eu traga vocês de volta e mande alguém mais para fazer o trabalho de vocês. Ambos são muito talentosos para ficarem presos nesse inferno furioso nesse momento."
"Senhor, se você-" Mackenzie começou.
"Um dia," ele interrompeu.
"Sem problemas," disse Ellington, girando em seus calcanhares e indo para o carro.
"White?" disse McGrath.
"Sim, senhor."
Com isso, McGrath terminou a ligação. Mackenzie encarou o telefone em frustração e, então, para Ellington.
"Onde diabos você está indo?" ela perguntou.
"Fazer as malas," ele disse. "Você é mais que bem vinda para ficar por aqui nesse calor abafado e correr em círculos."
"Você não pode estar falando sério."
Ele suspirou e voltou em direção a ela, ficando em frente às portas do Wakeman. "Eu não sei uma maneira de dizer isso sem parecer superdramático, mas dado o estado atual do nosso relacionamento, parece burrice da minha parte ficar por perto. Eu só vou atrapalhar."
"Você diz isso só porque eu não estou pronta para ir morar com você?"
"Entre outras coisas."
"Que outras coisas?" ela perguntou. "Jesus, Ellington...isso é ridículo."
"Sim, é," ele disse. "E eu sinto muito por isso. Olha... eu estou apenas tentando ser honesto com você."
"E você pode apenas partir? Assim de repente?"
"Poderia muito bem," ele disse. "Você ouviu McGrath. Vinte e quatro horas e nós estaremos fora disso. E dada a maneira como as coisas aconteceram nesse caso até agora, vinte e quatro horas não são nem próximas de suficiente. Então eu acho que eu vou me poupar de um pouco de sofrimento e partir agora."
"Eu vou ficar," ela disse naturalmente.
"Eu imaginei que você iria. Eu vou levar esse carro para a delegacia e pedir para o Clarke pegar você. Eu pego um alugado de algum lugar."
Ela mal ouviu essas ultima logística final. Estava muito inundada de emoções: raiva, frustração, tristeza, confusão. Ela queria gritar, mas estava muito confusa para fazê-lo. Mesmo seus pulmões pareciam estar momentaneamente congelados pela brusquidão do momento.
É minha culpa? Eu o estou afastando?
Era uma questão que se esgueirou por cima dela, pegando-a de surpresa. Pior que isso, porém, foi o fato de que mesmo que se fosse o caso, ela não se importava realmente. Talvez ela ainda não estivesse pronta para um relacionamento. Talvez ela fosse uma dessas mulheres que era essencialmente casada com o trabalho.
Ela quase o chamou, pedindo-o para ficar. Mas não conseguiria se levar a fazer isso. Além disso... estava perfeitamente claro que ele não queria estar ali naquele instante.
No fim, ela disse nada. Deu as costas para ele e entrou. Sim, machucou deixá-lo para trás, sabendo que esse poderia ser muito bem o fim do relacionamento deles. Mas ela não se permitiria ser consumida por isso. Havia um assassino à solta e ela sentia como se ele fosse um fantasma-uma força que conseguiu se esquivar dela completamente até agora. E a única coisa que não havia mudado acerca de Mackenzie desde quando se envolveu com Ellington era que o trabalho vinha primeiro.
Trabalho sempre viria primeiro.
Ela tirou um momento para se recompor antes de entrar na sala comum. Ela encontrou o banheiro feminino na pequena área de espera na frente e correu até ele. Ela trancou a porta ao entrar e simplesmente se encarou no espelho. Enquanto o fazia, ela se viu pensando sobre um milharal do Nebraska, o lugar onde sua longa história mais ou menos começou. Foi onde ela vira seu primeiro corpo, a primeira vítima do Assassino Espantalho. Isso foi há um pouco mais de dois anos, embora parecesse em outra vida.
Eu pensei que nós nunca pegaríamos aquele bastardo, ela pensou. E com esse pensamento, ela quase podia sentir a superfície parecida com seda dos talos de milho e cheirar a terra remexida sob seus pés.
Ela respirou profunda e longamente, focando-se e colocando os pensamentos em ordem. Eu pensei que nós nunca o pegaríamos, mas nós o fizemos. Eu o fiz. E eu vou pegar esse também.
Ela se forjou e entrou na sala comum, onde Randall Jones e duas cuidadoras estava auxiliando os residentes para os seus lugares. Estranhamente, sem Ellington com ela, ela se sentia mais sozinha do que ela havia suspeitado.
E talvez isso foi uma boa coisa.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
Sem mais nada de valor descoberto no Wakeman, Mackenzie caminhou de volta para o calor austero. Ela viu o Xerife Clarke estacionado no exato ponto onde o carro de Ellington estava estacionado meia hora mais cedo. Clarke estava sentado atrás do volante, sua cabeça pendia confortavelmente para trás. O motor estava ligado e ela podia ouvir o ar condicionado soprando. Quando ela se aproximou da porta do passageiro e a abriu, viu que ela não estava dormindo. Ele estava simplesmente encarando o teto da viatura, mergulhado em pensamentos.
"Suponho que você é a minha carona de volta para a estação?" Mackenzie perguntou-lhe.
"Parece que sim. Ellington deixou o carro para você. Um táxi o pegou dez minutos atrás. Eu estive aqui fora esperando por você desde então."
Ela entrou no carro, apreciando a sensação da viatura policial. Ela iniciou a carreira em um desses e tudo desde o cheiro rançoso do banco de trás até o silvo e crepitação do painel do sistema de rádio era calorosamente reconfortante.
"Sinto muito por qualquer atrito que esteja acontecendo entre vocês dois," disse Clarke. Soou como se ele sinceramente quisesse dizer isso. "De qualquer maneira... para onde agora?"
"De volta para o DP por agora, eu acho. Randall e o pessoal dele estão procurando nos arquivos por um pouco de informação para mim. Não deve demorar muito. No meio tempo, eu vou ligar para um dos meus caras em Quantico e pedi-lo para tentar acelerar as coisas para ajudá-los. E se eu puder mendigar uma mesa de você, eu vou apenas examinar os arquivos até que algo..."
Ela parou quando escutou seu nome, abafado pelo sopro do ar condicionado da viatura e pelo para brisas. Ela olhou pelo pequeno jardim em frente ao lar e viu Randall Jones correndo na direção deles. Ele estava agitando uma folha de papel para ela como algum jornaleiro perturbado dos anos 1990.
Mackenzie abaixou a janela enquanto ele chegava até o carro. Randall estendeu a folha para ela, um pouco orgulhoso de si mesmo. "Aparentemente nós precisamos ser mais rigorosos com nossa política de entrada de visitantes," ele disse, "mas nós realmente mantemos uma banco de dados caprichoso. O voluntário com o olho de vidro se chama Carl Windham. Eu não tenho endereço e o número de telefone no registro está morto-nós já tentamos-mas nós temos o nome da agência que o enviou."
"Isso vai ser suficiente por agora," ela disse. "Obrigada, Mr. Jones".
"Claro. Eu gostaria apenas que nós tivéssemos ajudado mais... e mais rápido."
Ela não lhe disse que esta pudesse ser a pista mais confiável que eles haviam tido o tempo todo. Mas ao olhar para a informação, claramente o era. "Obrigada, Sr. Jones," ela disse novamente e subiu a janela.
"Uma pista sólida?" perguntou Clarke enquanto colocava a ré no carro para fora do estacionamento.
"Pode ser que seja," ela disse.
Ela olhou para o endereço e suspirou.
Bedford, ela pensou. Se sua cabeça estava relembrando corretamente o mapa da Virgínia, Bedford era uma pequena cidade a cerca de trinta quilômetros de Lynchburg. Onde quer que fosse, provavelmente significaria que ela estaria dirigindo novamente antes que o dia acabasse.
Por agora, porém, ela foi felizmente capaz de manter o caso via telefone a partir da delegacia de polícia de Stateton.
***
A delegacia era um pequeno lugar, então não havia escritório para empréstimo. Ao invés disso, Clarke pareceu feliz em oferecer seu próprio escritório. Quando Mackenzie tentou recusá-lo, ele fez uma cara amarrada e balançou a cabeça.
"Eu seriamente não me importo," ele insistiu. "Eu preferia muito mais estar do lado de fora, bebendo café com Frances e me atualizando das fofocas da cidade. Apenas tenha certeza de me dizer se você precisar de qualquer coisa."
Com isso, Clarke havia tomado uma posição adiantada enquanto Mackenzie se sentava na sua cadeira bem desgastada atrás de uma mesa que parecia ser mais velha do que ela. A primeira coisa que ela fez foi ligar para o número da agência da folha que Randall Jones havia lhe dado. Era o número para um lugar chamado Agência e Serviços Temporários. Quando o telefone começou a tocar, ela puxou o seu mapa do estado da Virgínia, dobrado cuidadosamente na pasta de arquivo na qual ela havia mantido todas as notas até esse momento. Com cada parte desdobrada, mas e mais da mesa de Clarke foi engolida. Quando ele havia a maior parte dele revelada o telefone foi respondido na outra ponta.
"Guiding Sight," disse uma mulher soando cansada. "Como posso ajudá-lo?"
"Olá. Esta é a agente Mackenzie White do FBI. Estou trabalhando atualmente em um caso que levou um dos seus voluntários à minha atenção. Com que eu poderia falar sobre isso?"
"Seria eu," disse a mulher. "Kate Briggs. Eu comando o navio por aqui. Não somos uma grande agência. Quem é o voluntário pelo qual você procura?"
"Um homem chamado Carl Windham. Pelo que entendi, ele tem um olho de vidro."
Por um momento, houve silêncio na outra ponta da linha, uma culpa suspeita que dizia à Mackenzie que ela estava definitivamente em alguma coisa.
"Sra. Briggs?"
"Eu estou aqui. Sim. Carl costumava ser um voluntário para nós."
"Costumava? Como em não mais?"
"Certo."
"Posso perguntar por que ele não está mais com a agência?"
"Sinto muito," disse Briggs. "Eu preciso saber se eu realmente estou falando com uma agente antes de revelar esse tipo de informação. Você poderia me encontrar pessoalmente?"
"Sra. Briggs, eu estive por todo o estado da Virgínia nos últimos três dias. Atualmente, estou alocada em Stateton, cerca de duas horas de você. Eu realmente preferiria não gastar qualquer parte do meu tempo na estrada e, mais que isso, não gostaria de fornecer essa quantidade extra de tempo para o assassino escapar ou, pior que isso, atacar novamente."
"Eu entendi isso, mas eu-"
"Não, não acho que você entenda," disse Mackenzie. "Olha... eu sou a Agente Mackenzie White. O nome do chefe da minha sessão é McGrath. O número do distintivo é dois três sete-"
"Com licença," disse Briggs. "Mas se você realmente é uma agente do FBI, você saberia que dar informação pessoal pelo telefone sobre pessoas que se inscreveram para ser parte da minha organização pode ser considerado ilícito. Eu não vou me arriscar ou arriscar a minha empresa ao oferecer esse tipo de informação. Então, a não ser que eu possa ver um distintivo e uma pessoa de verdade cara a cara, você não vai conseguir nada de mim."
Mackenzie engoliu a raiva e tentou forçar mais. Através dos dentes cerrados, ela disse: "Quando eu chegar aí em duas horas, eu quero que você se lembre do quão difícil você foi. Se eu fosse uma cadela de verdade, eu poderia te prender por interferir em uma investigação do governo."
Briggs começou a dizer alguma coisa, mas Mackenzie desligou. Ela jogou o telefone na mesa do Clarke e resmungou uma nervosa difamação de palavrões sob sua respiração.
Ela olhou abaixo para o mapa, pegou uma caneta de uma caneca de café na mesa de Clarke e circulou cada área do ataque. Stateton. Treston. Richmond. Lynchburg. Tanto quanto ela poderia dizer, não havia um padrão real. A inclusão de Lynchburg na lista descartava o fato de que todas as cidades continham lares para cegos.
Havia nada substancial a ser encontrado no mapa.
Que diabos eu estou deixando passar?
Ela encarou o mapa por outros dois minutos, tentando pensar como um assassino. Talvez os locais todos possuíssem algum laço com o assassino. Ou talvez ele conheça todos de alguma forma-uma teoria improvável, dado que eram todas pessoas cegas. E realmente... quantas pessoas comuns, perfeitamente saudáveis conheciam uma pessoa cega?
Então tinha que ser o fato de que elas eram cegas. Não são as pessoas e as identidades delas. Nunca foi. É porque ela são cegas. Ele as está matando, porque elas são cegas.
"Mas por quê?" ela se perguntou.
Talvez ele ache que está lhes fazendo um favor. Talvez ele os veja como assassinato de misericórdia. Ou talvez elas o assustem por alguma razão. Parece mais uma extrapolação, mas definitivamente é uma possibilidade.
O mapa não havia fornecido nada. Ela poderia muito bem estar olhando para uma parede de tijolos. Ela o dobrou de volta, enfiou todas as suas anotações dentro dele e se dirigiu para a frente do edifício. Por mais que ela odiasse isso, ela ainda tinha outra viagem para fazer.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
Mackenzie cozinhou em sua raiva por toda uma hora e quarenta e cinco minutos que gastou para chegar a Bedford. Chegando lá, ela contornou Lynchburg, fazendo-a se sentir como se estivesse presa em algum tipo de ciclo estranho, lembrando-a de Bill Murray em Feitiço do Tempo. Ela podia sentir as vinte e quatro horas que McGrath havia lhe dado escapando a cada quilômetro e fez tudo em seu poder para permanecer calma e com visão de futuro.
Ela chegou a Bedford por volta de meio-dia. Era uma cidadezinha pitoresca, o tipo que era mergulhada em história, mas também parecia ser um pouco progressiva em alguns de seus negócios. Ela localizou a Guiding Sight na esquina distante de uma bonita, mas aparentemente esquecida rua, que era marcada por lojas de antiguidades e um escritório de seguradora.
Ela estava meio esperando que Kate Briggs não estivesse lá. Talvez a ideia de uma agente do FBI com raiva indo em direção a ela, poderia fazê-la fechar a loja pelo dia. No entanto, a porta estava destrancada, levando diretamente a uma pequena área de espera. O ar condicionado estava explodindo, o que era uma benção considerando que fazia facilmente trinta e cinco graus na sombra lá fora.
Uma mulher sentava-se atrás de uma pequena mesa, digitando algo em um notebook. Ela olhou acima, viu Mackenzie e se pôs de pé instantaneamente. Ela era uma mulher alta de meia idade com uma cabeça cheia de cabelo loiro avermelhado. Os óculos de armação fina que ela usava a faziam parecer mais como uma bibliotecária.
"Kate Briggs?" perguntou Mackenzie.
"Sim. E você é a Agente Wh-"
Mackenzie tirou o distintivo e praticamente o enfiou na cara de Kate. Kate deu um passo para trás e então soltou um suspiro trêmulo. "Bem, você não precisa ser tão ameaçadora a respeito disso!"
"Desculpe-me," disse Mackenzie. "Mas você acaba de gastar duas horas do meu tempo em um dia no qual eu estou em um prazo apertado para tentar parar um assassino antes que ele mate mais alguém. Um assassino que, a propósito, parece ter apenas pessoas cegas como alvo."
"Eu posso entender sua situação, mas eu também tenho que proteger a privacidade das pessoas que voluntariam para mim."
"Tenho certeza", disse Mackenzie. "Mas o que eu achei muito interessante foi a interrupção extremamente longa que eu senti pelo telefone quando eu disse a respeito de quem eu estava ligando."
Kate cambaleou um pouco, equilibrando-se com a mesa dela. Estava claro que ela não estava acostumada a ser pressionada desse modo.
"Carl Windham," disse Mackenzie. "Quem é ele?"
Kate saiu de trás de sua mesa e ofereceu várias folhas de papel para Mackenzie. A que estava no topo parecia ser algum tipo de inscrição. Foi preenchida em 20 de maio de 2014 por Carl Windham. De acordo com a informação que ele havia preenchido, ele teria trinta e seis anos quando se candidatou.
"Carl era alguém que eu acreditava ser muito passional por aqueles em necessidade," disse Kate. "E eu também posso divulgar isso, porque tenho a certeza de que surgiria mais cedo ou mais tarde-ele e eu tivemos um relacionamento por cerca de três meses."
"Defina relacionamento," disse Mackenzie.
"Estritamente sexual," respondeu Kate, corando um pouco. "Não namoro, apenas sexo razoavelmente frequente."
Talvez ela não tivesse problemas em admitir isso, porque ela tinha facilmente quarenta e cinco anos e ela estava fazendo sexo com alguém pelo menos doze anos mais novo que ela.
"O relacionamento aconteceu antes ou depois de ele se candidatar como voluntário?"
"Depois," ela disse. "Ele esteve aqui por cerca de um mês e meio antes que qualquer coisa acontecesse entre nós."
"O relacionamento é o motivo pelo qual ele saiu?"
"Não," disse Kate. "Eu o pedi para ir embora quando uma de nossas clientes reclamou que ele a estava ameaçando. Ela disse que ele era um pouco grosseiro na maneira com a qual falava com ela e a chingava algumas vezes."
"E você acreditou nela sem investigar?"
"Não no momento. Mas, então, outra mulher ligou e disse que ele havia tentado se aproveitar dela."
"E ambas as clientes eram cegas?"
"Sim."
"Esse é o único grupo que você atende por aqui?"
"Sim. Fazemos isso de várias maneiras. Nós temos um conjunto de voluntários que fazem praticamente qualquer coisa para as pessoas na comunidade de cegos dentro de cerca de cento e cinquenta quilômetros. Nós temos algumas pessoas que aparam a grama para os cegos, fazem compras de supermercado, servem como cuidadores temporários... esse tipo de coisa."
"E Carl? Que tipos de coisas ele fazia?"
"Um pouco de tudo," disse Kate. "Ele começou cortando grama e de alguma maneira acabou lendo para alguns clientes. Eles realmente pareciam gostar."
"E que tipo de requisitos seus voluntários precisam ter p para ser parte da Guiding Sight?"
"Depende no que eles planejam fazer?" ela disse. "Para Carl, como eu disse, ele começou apenas cortando grama. Então eu pedi algumas referências, as quais ele forneceu. Eu também fiz uma verificação de antecedentes, como faço para todos os meus candidatos, que saiu limpa."
Mackenzie escaneou a inscrição. Ela deu atenção especial para a sessão de Histórico de Trabalhos Anteriores. Carl Windham havia cortado grama para sua igreja local, mantendo o cemitério cuidado. Ele também possuía alguma experiência em reparação de pequenos motores. Quando ele tinha vinte e dois anos, trabalhou como assistente cuidador em um colégio em uma comunidade rural.
"Há quanto tempo que você o liberou como voluntário?" Pedido de Mackenzie.
"Faz cerca de oito meses, eu acho."
"E um dos detalhes que eu tenho sobre ele é que ele tem um olho de vidro. É isso mesmo?"
"Sim, apesar de às vezes usar um tapa-olho no lugar."
"Você sabe como ele perdeu o olho?"
"Algum tipo de acidente grotesco durante o corte da grama para uma igreja onde ele cresceu. Pelo que ele me disse, um pedaço de rocha se partiu sob a lâmina e ricocheteou para fora do chassi. Ela foi voando e o acertou bem no olho. Essa é a história dele de qualquer forma... apesar de eu nunca acreditar nele realmente."
"Por que não?"
Kate deu de ombros. "Eu não sei, de verdade. Eu só... eu podia dizer que ele estava mentindo. Ele nunca quis falar sobre isso realmente."
"Quando você escutou os relatos das suas clientes sobre a má conduta dele, veio como surpresa? Ele tem o tipo de personalidade que meio que indicava que pudesse haver algo sobre ele um pouco estranho?"
"Aqui e ali, eu suponho. Ele tinha uma paixão pelos os cegos, porque ele perdeu a visão por um tempo quando era criança. Ele nunca disse isso, mas acho que quando ele perdeu o olho, ele sentiu como se fosse um sinal... de Deus ou do universo ou de qualquer outra coisa. Ele ficava meio que esquisito e profundo sobre isso às vezes. Além disso, havia coisas que ele... bem, coisas que ele queria fazer no quarto que eu recusei. Coisas que me pegaram de surpresa."
Não há qualquer coisa de sexual nesses ataques, no entanto, pensou Mackenzie. Embora, se ele foi dispensado ou rejeitado por uma amante devido a um comportamento deplorável, uma inclinação para desvio sexual poderia facilmente se tornar violenta e agressiva.
"Você tem o endereço dele?" ela perguntou.
Um pequeno toque de arrependimento tocou o rosto de Kate enquanto ela assentia. "Tenho. Eu sei exatamente onde ele mora. Ninguém iria contratá-lo depois da confusão com as mulheres cegas, então ele trabalha em casa. Retifica cortadores de grama e motores na garagem dele, em acréscimo à assistência do governo pelo acidente com o olho dele. E acabou que você não perdeu a viagem para Bedford. Nós estamos atualmente a cerca de dez minutos da casa dele."
CAPÍTULO VINTE E CINCO
Mackenzie estacionou o carro no acostamento da rua em frente a uma casa branca de um andar. Era bem cuidada e tinha um jardim imaculado, prova da história de Windham sobre tomar conta de gramados. Uma única pick-up estava na sua pequena entrada de concreto, manchas pretas mostrando os fantasmas de trocas de óleo passadas.
Ela saiu do carro e subiu os degraus rachados de concreto. A escada, como o resto da casa, era claramente antiga, mas bem cuidada. A varanda dava um pouco abaixo dela quando ela se aproximou da porta e bateu.
"Sim!" veio uma voz do interior. Era um som masculino e soava bem alegre. "Um segundo!"
Mackenzie escutou alguém se aproximar do outro lado da porta e quando ela foi atendida, não era o tipo de homem que ela estava esperando. Carl Windham tinha obviamente menos de trinta anos de idade e era muito bonito, mesmo com o tapa-olho. Ele olhou para Mackenzie, perplexo.
"Oi? Como posso ajudá-la?"
Mackenzie mostrou seu distintivo. "Eu sou a Agente White do FBI," ela disse, achando estranho ter que se interromper antes de apresentar o ausente Agente Ellington. "Eu estou investigando um caso e seu nome acabou surgindo."
Ele franziu a testa; era uma expressão que ela havia visto pelo menos cem vezes antes. Era a carranca de um homem que pensava que ter vivido tempo demais para rastejar de sob as sombras do passado apenas para ter o passado ressurgindo nos seus calcanhares e engoli-lo por inteiro.
"Sim, eu sei sobre as acusações no seu passado," ela disse.
"Mais do que acusações," ele disse. "Eram todas verdadeiras. Eu fiz tudo. Obviamente não tenho orgulho disso, mas eu o fiz."
"Bem, independentemente disso, não é exatamente o porquê de eu estar aqui. Estou aqui, porque seu nome surgiu como um voluntário passado da Guiding Sight. E recentemente, houve um assassino no lar para cegos no qual seu nome foi listado no registro de convidados."
Ela deixou de fora a parte sobre o nome dele não estar lá por alguns meses. Com sorte, ele vai tropeçar e oferecer detalhes valiosos.
"Ah, meu Deus,. Foi no Wakeman?"
"Foi," disse Mackenzie. "Como você sabia?"
"Bem, foi o último lar no qual eu fui voluntário."
Ela notou que ele estava ficando tenso. Também, ele ainda não a havia convidado para entrar. Ela procurou por qualquer sinal de angústia ou medo no rosto dele, mas não os viu. Ela sentia quase como se ele estivesse sendo preconceituosa quando percebeu que a falta de um olho direito tornava muito difícil julgar a expressão dele com precisão.
"Sr. Windham, eu poderia entrar, por favor?"
Ele pareceu pensar sobre isso por um momento e então olhou para dentro, acima e abaixo na rua, eu um movimento rápido. Ele tem vergonha do seu passado, ela pensou. Ele não quer alguém vendo um mulher vestida dessa maneira-claramente uma oficial do governo-entrando na casa dele.
"Sim, acho que estaria ok."
Ele a conduziu para dentro da pequena casa, mas ele não era o homem feliz que atendeu a porta. Agora ele parecia inquieto e preocupado. Ele a levou para a área da cozinha e abriu a geladeira. Ela tomou um lugar à mesa, esperando que vê-la em uma posição relaxada o ajudasse a relaxar.
Windham pegou uma lata de refrigerante da geladeira, abriu e deu um gole.
"Sr. Windham, quando foi a última vez que você visitou o Lar para Cegos Wakeman?"
Ele pareceu pensar genuinamente na resposta enquanto engolia seu massivo gole de refrigerante. "Talvez oito ou nove meses?"
Alinha com o que Kate Briggs me contou, pensou Mackenzie. Mas não com o que Randall Jones e os residentes do Wakeman me disseram.
"Eu vou dar um momento para você retirar isso e me dizer a verdade," disse Mackenzie. "Eu falei com a gerência e com os residentes no Wakeman. E eles disseram que eles viram um dos voluntários de leitura muito recentemente. Houve dois lá com bastante regularidade ao longo dos últimos meses. Um deles foi descrito como um homem mais jovem com um olho de vidro. E você, Sr. Windham, é a única pessoa a se voluntariar lá que tem um olho de vidro. Então, eu lhe pergunto novamente: quando foi a última vez que você visitou Wakeman? "
Ele deu outro gole na lata de refrigerante, apenas uma tática básica de enrolação. Ao levar a lata até a boca, ela viu seu braço tremer.
Quando ele a afastou, ela viu que ele estava chorando. "Eu não fiz qualquer coisa errada. Não depois de eu ser preso pelas outras coisas que eu fiz. Eu estou limpo disso. Eu voltei para o Wakeman, porque as mulheres lá na recepção gostavam de mim. Eu sabia que eu podia contornar a assinatura do livro de visitas. Eu apenas senti falta de ler para eles. Havia outra mulher lá em particular que realmente gostava quando eu lia para ela. Sra. Ridgeway. Ela era..."
Sua voz sumiu nesse ponto. Era uma boa coisa também, porque Mackenzie está em alto alerta. Ele acabou de confessar ter lido para Ellis Ridgeway. Pode ser isso. Pode ser o cara.
Ela queria acreditar nisso, mas algo sobre ele não fazia sentido.
"Ellis Ridgeway foi a mulher do Wakeman que foi assassinada," ela disse.
A reação dele disse a ela tudo o que ela precisava fazer. Carl Windham era muitas coisas... mas não era o assassino. Ele parecia genuinamente com o coração partido e um pouco confuso. Ele também parecia irritado que ela tenha decidido contar a ele dessa maneira.
"Quando?" ele disse.
"Há cinco dias. E estive procurando o assassino desde então."
"Não fui eu," ele disse. "Eu amava aquela querida velha senhora. E... ela está morta? Quem faria uma coisa dessas?"
Padrões altos para um homem que agrediu sexualmente duas mulheres cegas, ela pensou.
"Eu não sei," ela disse. "Mas eu gostaria que você respondesse minha pergunta original e respondesse honestamente. Quando foi a última vez que você foi ao Wakeman?"
"Um pouco mais de uma semana atrás."
"Você está absolutamente certo disso?"
Ele assentiu, mas distraidamente. Ele parecia aéreo, encarando a lata de refrigerante em sua mão. "Eu sabia que não deveria," ele disse. "Eu nunca contei a eles que eu já não estava mais com a Guiding Sight e eles nunca perguntaram. Eles apenas assumiram que tudo estava bem e OK. Tudo com os outros casos foi liquidado na corte. Eu fui preso, paguei uma fiança e penalidades. Passei um pequeno período na cadeia. Mas não foi grande notícia. As pessoas no Wakeman nunca saberiam. Eu acho que Kate... bem, ela também nunca espalhou isso. Por que ela o faria? Iria parecer terrível para a Guiding Sight, não iria?!"
"Você está certo," disse Mackenzie, ficando de pé. "Foi errado. E dado tudo que aconteceu-"
"Não é quem eu sou mais! Estou terminado com isso! Estou limpo disso tudo e NÃO FUI EU"
Ele gritou, as palavras tão repentinas como uma bomba. Isso assustou Mackenzie e a pôs avançando para a sua arma. Ao mesmo tempo, em um momento quase cômico, Windham jogou a lata de refrigerante nela. Ela bateu na cabeça dela e, porque estava meio cheia naquele momento, só a irritou, deixando-a estupefata por cerca de dois segundos e com o lado do rosto molhado e pegajoso com refrigerante.
"Sr. Windham," ela disse, "você está tornando isso muito pior do que tem que ser. Apenas pare por aí e-"
"Não fui eu! Eu não mais assim!"
E antes que ela percebesse, ele estava correndo na direção dela. Ele o fez com tanta velocidade e surpresa que ela mal teve tempo de alcançar a arma. Ele tentou dar um soco no rosto dela, mas ela o bloqueou. Então ele deu um tapa com força na lateral do rosto dela e tentou dar uma joelhada, a qual ela também bloqueou.
Enquanto bloqueava o joelho dele, ela agarrou a perna dele, cruzou as mãos sob ela e se inclinou para baixo. Ela então levantou a perna dele e o mandou estirado no chão. Enquanto caia, ele flutuou para a mesa. Mackenzie percebeu um pouco tarde que não era para procurar por equilíbrio. Ele tinha agarrado uma tigela decorativa.
Ela percebeu isso apenas depois que ele a esmagou na lateral da sua cabeça. Era pesada e espessa e mandou rastros pretos de estrelas disparando pela vista dela. Ela lutou para manter conta dele, mas ele estava fora dela em um piscar de olhos. Então ela pegou sua Glock, piscando para expulsar aquelas estrelas pretas, mas Windham já havia saído pela porta de trás ao lado da geladeira.
Bem, isso evoluiu rapidamente, ela pensou em uma confusão meio atordoada.
Ela ficou de pé, sua cabeça ainda vacilando. Ela tomou um momento para se firmar contra a geladeira e então o seguiu para fora. Ela sacou sua Glock enquanto caminhava para fora em uma pequena sacada dos fundos. Ela viu um pequena galpão no extremidade do quintal, as portas batendo fechadas. Ela desceu os degraus da sacada para o quintal quando sua cabeça finalmente começou a clarear. O calor a pressionou para baixo, radiando tão intensamente que ela pensou que pudesse sentir as ondas dele enquanto o sol brilhava seus olhos nervosos nesse lado do mundo.
Ellington teria dado um jeito nisso em um pulo, ela pensou, limpando o refrigerante do rosto. Ela podia sentir o cheiro da doçura no calor impregnado no colarinho da sua blusa.
Ela parou antes de atingir o galpão. Não podia reagir apenas sob sua raiva e vergonha. Sem Ellington, ela teria que tomar uma abordagem diferente aqui. Ir sozinha poderia causar mais problemas. Quem saberia o que um homem desequilibrado assim poderia ter no seu galpão?
Ainda sim... ela estava irada. E quando ela ficava com muita raiva, mal era capaz de contê-la. Um fluxo de palavrões zumbia na cabeça dela como vespas, enquanto seus dedos se apertavam ao redor da Glock.
"Droga," ela resmungou, tirando seu telefone enquanto mantinha os olhos colados no galpão.
Antes que ela pudesse bolar um plano de ataque, ela ouviu algo que era a última coisa que ela esperaria: um motor, acelerando dentro do galpão.
"Aguenta aí!" ela gritou, mirando sua arma para as portas do galpão.
Uma das portas estourou aberta enquanto o barulho do motor aumentava.
O que é isso? Uma moto?
Ela recebeu a resposta dois segundos depois quando Windham saiu empinando uma velha Harley para fora do galpão. A moto estava em mal estado e quando Windham pilotou para fora do galpão em velocidade, ela bambeou. Mas a merda da moto estava indo bem na direção dela. A cena era tão surreal que Mackenzie foi lenta ao reagir.
Não há outra escolha, ela pensou.
Ela disparou um tiro enquanto Windham guiava a moto diretamente em sua direção.
Ela escutou um tinido por sobre o ronco do motor ao atirar na moto e ricochetear em outro lugar. Então a moto passou por ela, em direção à rua.
Ele não estava tentando me atropelar, ela pensou. O desgraçado está tentando escapar.
Felizmente, ele não iria tão longe quanto queria, já que a moto ainda estava balançando um pouco enquanto ele tentava dar a volta na casa em pânico.
Mackenzie saiu atrás dele, vendo uma janela de oportunidade que não terminava com ela tendo que explicar um civil morto para McGrath.
Ela correu o mais rápido que suas pernas atordoadas permitiam, a cabeça mais uma vez decidindo que era a dor do golpe da tigela. Quando ela estava próxima o suficiente da moto para se preocupar com o pneu de trás acertando seu joelho, ela se atirou para o lado e para a esquerda.
Seus pés deixaram o chão e ambas as mãos pousaram nos ombros de Windham. Ambos foram ao chão em um amontoado, mas suas mãos nunca saíram dos ombros de Windham. Ela bateu a lateral do corpo, mandando o ar para fora dela, mas ainda o empurrava com força no chão. Com suas costas viradas para ela, ela deu uma joelhada forte nas suas costelas e então puxou os braços deles para suas costas.
O coração dela estava explodindo no peito e ela podia literalmente sentir o gosto de adrenalina, salgada e similar a um químico na garganta. Apesar disso, seus músculos estavam calmos e firmes ao bater as algemas ao redor dos pulsos dele.
Mantendo a arma apontada para ele e não falando ainda diretamente com ele, ela tirou o celular e deu um comando de voz para ligar para o Departamento de Polícia de Bedford.
Ela ouviu Windham choramingando do chão. Ele estava ficando mole e estava começando a desabar... seus lamentos virando soluços sufocados.
A arma dela permaneceu mirada nele enquanto o telefone dela começava a tocar no ouvido.
***
Mackenzie estava calma e recomposta quando os dois carros de polícia chegaram derrapando até pararem em frente da casa de Carl Windham. A cabeça dela doía e seu lado esquerdo estava machucado, mas havia valido a pena. Ela estava bastante segura de que ela tinha o sujeito, ainda soluçando aos seus pés com suas mãos algemadas atrás das costas.
Depois de uma breve sequência de perguntas dos três policiais que apareceram, Mackenzie subiu de volta na sacada de trás, desejando olhar ao redor no interior da casa. Honestamente, a coisa toda pareceu anticlimática... mesmo após ela ser quase atropelada por uma Harley Davidson envelhecida (a qual descera a rua e colidiu com a caixa de correio do vizinho antes de chacoalhar ao chão).
Enquanto ela assistia os policiais erguerem Windham de pé e para fora do quintal, Mackenzie se viu desejando que Ellington estivesse ali. Tudo nela a dizia que Windham se encaixava-ele batia com o que eles estavam procurando e, afinal, ele reagira de forma culpada, apesar de não ter sido da forma de livro-texto que ela estava procurando. Ainda assim... ela não poderia deixar de sentir que havia sido muito fácil... como se houvesse praticamente caído em seu colo. Havia algo sobre Windham que não dançava com os três assassinatos e o ataque contra Cleo Colegrove.
Isso a fez pensar que ele tinha algo a esconder-se não vários assassinatos, então certamente alguma coisa. Seria legal compartilhar essa vitória com Ellington.
"Então, nós vamos rebocar esse cara até o DP," disse um dos policiais enquanto contornavam pela lateral da casa. "Vai ter alguma papelada para você. E é claro, você fica com a primeira rodada de interrogatório."
Mackenzie assentiu. "Eu agradeço. Estarei alguns minutos atrás de vocês. Eu quero verificar a casa dele para ver se há alguma coisa que valha a pena encontrar."
"Claro," disse o policial. "E ei... trabalho incrível."
"Obrigada," ela disse displicentemente enquanto se dirigia para cima da escada da sacada e para dentro da casa.
Ela entrou pela cozinha, mirando a lata de refrigerante que ele havia jogado nela. O resto do seu conteúdo havia derramado no chão de linóleo. Ela caminhou por isso e desceu o corredor estreito. Pulou a sala de estar, assumindo que nada incriminador estaria no cômodo central da casa.
Ao longo do corredor, ela encontrou um banheiro, um quarto e um quarto menor que servia como um pequeno tipo de escritório. Ela adentrou o escritório e encontrou um notebook, abriu-o e ligou na mesa. Quando ela clicou com o mouse para fazer a tela de descanso sumir, não conseguia acreditar na sua sorte. Não apenas o notebook não exigia uma senha para continuar a sessão anterior depois de ter saído do descanso, mas Windham aparentemente estava verificando seu e-mail quando ela chegou batendo à porta.
Ela olhou pelos e-mails na sua conta do Gmail, olhando na caixa de entrada assim como nos e-mails enviados. Então, ela encontrou um rótulo de categorias para Guiding Sight. A maioria deles eram e-mails inofensivos, detalhando as visitas que ele faria ao Wakeman e ao Lar Mary Denbridge. Todos eles eram de vários meses atrás e não havia evidência de e-mail de que ele havia visitado recentemente.
Ela também encontrou alguns e-mails de Kate Briggs, também datados de vários meses atrás. Alguns deles era promíscuos por natureza, insinuando futuros encontros que eles teriam, assim como fazendo referência a encontros românticos prévios. Um dos e-mails continha um anexo de uma foto de Kate Briggs na cama, eu uma posição comprometedora e vestindo praticamente nada.
Ela clicou fora da foto rapidamente e então puxou o diretório de arquivos do notebook. Windham matinha um notebook organizado, tudo enfiado nas próprias pastas. Uma busca rápida revelou nada incriminador. Então, ela olhou nas gavetas da mesa e encontrou-as igualmente organizadas. Assim, ela foi capaz de encontrar o cartão de memória muito rapidamente. Era o único à vista, tornando-o muito mais interessante.
Ela o conectou ao notebook, abriu os conteúdos e encontrou uma série de documentos não arquivados em pastas. Quando ela viu que os documentos eram arquivos de vídeo, ela ficou bem certa de que pudesse ter descoberto algo.
Vamos apenas esperar que não seja mais conteúdo lúgubre com participação de Kate Briggs, ela pensou.
Havia onze arquivos. Ela abriu apenas um antes que percebesse no que ela havia tropeçado. Trinta segundos do primeiro foi tudo que ela precisou.
Ela viu um quarto familiar. E uma mulher familiar.
Ellis Ridgeway...
Repugnância desceu sobre ela enquanto ela fechava os arquivos e o notebook. Ela retirou o computador da tomada, colocou o cartão de memória no bolso e carregou ambos para fora do escritório com ela.
Por trás da ojeriza, veio algo mais: incerteza. Baseada no que ela havia visto no notebook, talvez Windham não fosse o assassino.
Mas mesmo que ele não fosse, ele poderia ser potencialmente algo tão ruim quanto.
CAPÍTULO VINTE E SEIS
Mackenzie estava bebendo café e se sentindo um pouco irritada. Sem Ellington ao seu lado, ela não tinha interesse real em conhecer os policiais que estavam sentados na pequena mesa de conferência com ela. Dois dos três que haviam aparecido na casa de Windham estavam lá-chamados Smith e Burke-assim como estava o Xerife de Bedford.
Ela e o xerife-um homem rotundo com o último nome de Robinson na placa de identificação no peito-assistiram trechos dos vídeos somente depois que ela solicitou que o fizessem em privado, sem quaisquer outros policiais. Depois de assistir o suficiente (mais que o suficiente, se Mackenzie estivesse sendo honesta), ela ligou para McGrath e contou-lhe o que ela encontra. Ele pareceu satisfeito e, dada a natureza do que estava no notebook, parecia certo de que, uma vez mais, Mackenzie White havia encontrado seu sujeito. Ele, então, requisitou uma atualização completa depois que ela o interrogasse.
Enquanto ela, Robinson, Smith e Burke discutiam os eventos da tarde e o conteúdo dos arquivos de vídeo no cartão de memória, ela reparou que o Xerife Robinson parecia pálido. Como seus policiais, ele também não estava realmente acostumado com esse tipo de sujeira. E enquanto ela sabia que Clarke em Stateton provavelmente nunca lidara com esse tipo de coisa também, ela se viu desejando que isso tivesse se desenrolado em Stateton. Ela se sentia como uma nômade e isso a estava desgastando. Ela fez seu melhor para não demonstrar quando interagia com esses novos policiais, mas ela estava bem certa de que ela estava falhando.
O que ela havia descoberto no cartão de memória também não estava ajudando.
Ao passo que ela desejava não ver mais conteúdo lúgubre envolvendo Kate Briggs, esse pedido não lhe fora concedido. Dois dos arquivos de vídeo eram filmes de sexo caseiro, ambos com Kate. Eles eram filmados de um ângulo estranho, razoavelmente próximo da cama. Ela assumiu que eles foram filmados com o celular de Windham e sem o conhecimento de Kate.
Isso deixava nove arquivos de vídeo e eles apenas ficam pior daí.
Sete deles mostravam imagens de quartos de aparência estéril. Não foi até que viu o terceiro que Mackenzie reconheceu um dos quartos dos residentes do Lar para Cegos Wakeman. Mais que isso, ela também havia reconhecido a mulher nas imagens como sendo Ellis Ridgeway.
Como os filmes de sexo, as imagens haviam sido gravadas de ângulos discretos. Era evidente que as mulheres nas imagens não tinham ideia de que elas estavam sendo filmadas. Da mesma forma, a qualidade dos filmes deixava claro que haviam sido editados. Windham havia apagado trechos que eram entediantes para ele, mantendo apenas imagens que mostravam Ellis e quatro outras mulheres de quatro outros locais em vários níveis de nudez. Um dos filmes apresentava uma jovem mulher, talvez nos seus vinte e poucos anos, a qual parecia estava fazendo um pouco de auto exploração enquanto deitava na cama.
A terceira parte das cenas eram de Ellis Ridgeway, do Wakeman.
Ela estava bem certa de que a quinta era em um dos quartos no Lar Para Cegos Mary Denbridge em Richmond.
Embora ela não reconhecesse as outras mulheres nos filmes, ela pensou que o padrão era claro. Com exceção dos filmes de sexo com Kate Briggs, estas eram todas mulheres que moravam em lares de assistência para cegos.
"Já viu alguma coisa assim antes?" perguntou Robinson.
"Não como essa, não," ela respondeu. Ela ainda estava um pouco nervosa devido ao que ela havia descoberto no USB e isso estava trazendo à tona a antiga raiva de quase ser atropelada por uma moto. Ela estava com um humor podre e estava fazendo tudo que podia para manter-se profissional.
"Você acha que ele é o que você está procurando?"
"Ainda não sei," disse Mackenzie, respondendo honestamente. "Porém vou saber depois que conversar com ele."
"Bem, pelo que eu sei ele é todo seu," disse Robinson, demonstrando claramente seu nojo.
Sim, ele é, pensou Mackenzie, igualmente enojada.
E com isso, ela deixou a sala de conferências e seguiu para a pequena sala de interrogatório onde Carl Windham esteve esperando pela maior parte da última hora.
***
Windham ainda parecia o homem atormentado que tinha quase desmoronado em sua cozinha, mas Mackenzie também pode ver indícios do homem que foi longe demais, o qual quase colocou pneus entre os olhos dela. Esses dois lados dele pareciam estar lutando por domínio quando ela entrou na sala. Dessa vez, o obstáculo do tapa-olho não a impediu de sondar o humor dele de forma alguma.
Ele parecia irritado quando ela entrou na sala e tomou o assento em frente a ele na mesa de madeira próxima aos fundos da sala.
"Por que você não me conta sobre os vídeos que nós encontramos em um pen drive na sua mesa?" ela perguntou.
Ele não recuou. Ela supôs que ele havia assumido que eles o encontrariam. Ainda sim, ele olhou abaixo para a mesa, um sinal claro de vergonha. "Eles falam por si, não?"
"Sim, falam. E entre você e eu, você pode falar sobre isso com a polícia aqui em Bedford e com algum outro agente em algum ponto, eu acho. No entanto, aqueles vídeos e suas transgressões passadas não são o porquê de eu estar aqui. Não é o porquê de eu vir falar com você."
"Eu sei," ele irrompeu. "Você já me disse isso. Você disse que Ellis Ridgeway está morta... que alguém estava atacando pessoas cegas. Mas isso não é comigo."
Ela acreditava nele, embora não completamente. Havia algo realmente errado com Carl Windham e ela sabia que seria tolice dispensá-lo. Mas o voyeurismo nem sempre se amarrava tão bem com o mesmo tipo de estado mental que levaria alguém a matar-especialmente cegos.
"Eu quase acredito em você," ela disse. "E para intento dessa conversa, vamos apenas fingir que eu acredito cem por cento em você. Você é culpado de filmar secretamente essas mulheres cegas indefesas em seus quartos e residências, mas você não é um assassino. Vamos começar nesse campo de jogo. Está certo por você?"
Ele assentiu, ainda achando difícil olhar para ela.
"Um dos quarto que eu vi nos seus arquivos se parecia muito com um dos quartos de residentes do Lar Mary Denbridge em Chesterfield. Quem é a mulher no vídeo?"
"Vicki Connor," ele disse. "Ela tem quarenta anos. Cega por toda a vida."
Mackenzie assentiu e tirou o telefone do bolso. Ela enviou uma mensagem breve para Harrison na qual se lia: Ligue para o Lar Mary Denbridge ASAP. Certifique-se de que Vicki Connor está bem.
"Você lia para ela?"
"Sim. Algumas vezes. Ela gostava de ouvir as histórias lixo nos tabloides. Não livros ou qualquer coisa assim."
"Você teve relacionamentos com mais alguém no Lar Mary Denbridge?"
"Não. Só ela."
"Você chegou a conhecer algum dos residentes de passagem?"
"Na verdade não."
"O nome Wayne Nevins te soa familiar?"
Quando ele hesitou para pensar sobre isso, Mackenzie estava razoavelmente certa de que, na verdade, ele estava remexendo um Rolodex mental. Depois de alguns segundos, ele balançou a cabeça e, finalmente, olhou acima para Mackenzie.
"Ele é outro?" ele perguntou. "Outra vítima?"
"Ele é," ela disse. "Houve três até agora, com uma quarta tentada. Então, qualquer informação que você me der vai ajudar. E enquanto eu duvido honestamente que isso possa fazer muito para influenciar a aplicação da lei, pode te ajudar quando o julgamento chegar."
Ela odiava usar esse estratagema, porque, verdade seja dita, ela esperava que Carl Windham pegasse cada segundo solitário no tempo da cadeia que lhe fosse devido pelo que ele fizera a essas pobre mulheres.
"E sobre o Wakeman?" ela perguntou. A raiva estava começando a incendiar-se de volta e, francamente, ela não queria empurrá-la para baixo desta vez. "Você leu para mais de uma pessoa por lá?"
"Algumas na verdade," ele disse. "Havia uma chamada Becky Tosh. E outra mulher mais velha chamada Nina Brady. E, claro, havia Ellis."
Bem, eu sei por fato que Nina Brady está viva e fora de perigo nesse instante, ela pensou. A menos que ele seja o assassino e ele a tenha marcado para depois.
"Durante seu tempo como voluntário da Guiding Sight, você já cruzou com algum outro voluntário?"
"Algumas vezes," ele disse.
"Alguém que se destacou para você?"
Ele balançou a cabeça e olhou abaixo de volta para a mesa. "Eu nunca realmente tentei conhecê-los. Eu estava muito ocupado tentando esconder o que eu estava fazendo. Eu... eu sinto muito, sabe?"
Ele estava perto de chorar, mas Mackenzie não tinha piedade alguma por ele.
"Não gaste suas malditas lágrimas comigo," ela irrompeu. "Foque nas minhas perguntas. Você tem certeza?" ela perguntou. "Ninguém se destacou?"
"Não," ele disse, aparentemente havia ficado rígido com tom na voz dela. "Sinto muito."
"E as outras organizações?" perguntou Mackenzie. "Quando você foi voluntário pela Guiding Sight, houve outras para as quais você se candidatou?"
"Não. Mas há todo tipo de oportunidades de voluntariado. Nem sempre através de uma agência como a Guiding Sight."
"Você pode me dar alguns exemplos?" perguntou Mackenzie.
"Bem, sim. Eu sei com certeza que há um serviço perto de Lynchburg, através da grande faculdade Cristã de lá, onde os estudantes fazem coisas assim como serviço comunitário. Estou bem seguro de que há todo tipo de oportunidade de missões em pequenas igrejas também. É o que eu ouço, pelo menos. Diabo... eu conheço pessoas que precisavam pagar serviço comunitário por excesso de velocidade ou multas de estacionamento. Voluntários vêm de todos os lugares."
Enquanto Mackenzie circulava por tudo isso e organizava na cabeça, seu telefone tocou. Era Harrison, alerta como de costume. No seu texto de resposta se lia: Vicki Connor passa muito bem.
Windham não é o cara, ela pensou. Ele é um monstro e um pervertido, mas não um assassino.
Ela ponderou suas opções. Ela deveria dizer ao McGrath logo ou deixá-lo acreditar que um suspeito muito provável estava sendo detido em Bedford?
Eu preciso de mais nomes, ela pensou. E essa aberração na minha frente tem um boa ideia. Talvez não seja em organizações que eu precise olhar. Talvez seja mais o tipo de oportunidade de voluntariado mais fora dos radares...
"É isso," ela murmurou sob a respiração ao levantar da mesa. "Terminei com você."
Ela nem se importou em olhar de volta para Windham enquanto deixava a sala. Embora agora ela estivesse bem certa de que ele não era o assassino, ele ainda não era alguém do qual ela gostaria de estar por perto. Ela sabia que trazer alguém como ele para a justiça deveria ser considerado uma pequena vitória, mas o fato de que o seu assassino ainda estava a solta roubava qualquer prazer do fato.
Quando ela começou a caminhar novamente até a pequena sala de conferências no fim do corredor, seu celular tocou novamente. Quando o fez, ela olhou a hora antes mais nada. De alguma maneira, veio a ser 4:57 da tarde. Significava que ela tinha cerca de quinze horas restantes no relógio de vinte e quatro horas de McGrath.
Quando o telefone continuou a tocar na sua mão, ela finalmente olhou para o nome no visor. Era Ellington, querendo uma chamada de vídeo pelo FaceTime.
Ela o ignorou, colocando seu telefone no bolso e se apressando para informar ao Xerife Robinson que ela havia terminado com Windham. Mais que isso, ela havia terminado em Bedford. Ela não estava bem certa para onde ela iria de lá-provavelmente apenas para o estacionamento para formular seu próximo passo-mas ela precisava estar sozinha com seus pensamentos.
Havia algo quase à sua compreensão agora, especialmente depois de conversar com Windham. Ela sentia que estava perto, mas não conseguia agarrar. Era muito parecido com o calor opressivo esperando por ela lá fora-tão presente que ela sentia como se pudesse estender a mão e pegar nele, apenas para sair com a mão cheia de nada.
CAPÍTULO VINTE E SETE
Antes que Mackenzie tivesse tempo para por o ar condicionado do carro alugado funcionando propriamente, Ellington ligou novamente com outra solicitação do FaceTime. Ela quase o ignorou novamente, mas então percebeu que ela deveria atender no caso de ele ter algum tipo de mensagem urgente do McGrath ou algo sobre o caso.
Ela aceitou a chamada e estava um pouco envergonhada em ver quão bem ver o rosto dele fazia ao seu coração Ela tentou dizer a si própria que era apenas porque ela um rosto amigável e amável depois da provação que era passou recentemente-começando com ter uma lata de refrigerante atirada na sua cabeça e terminando com falar cara a cara com um Carl Windham bastante transtornado.
"Ei," ele disse. E antes que ela pudesse dizer uma única palavra, ele já havia continuado. Talvez para que ela não pudesse abatê-lo de imediato-o que ela tinha totalmente a intenção de fazer. "Olha, eu sei que eu fiz besteira. Não apenas conosco, mas profissionalmente. Esse é o porquê de eu... bem eu não voltei exatamente para Quantico."
"Então onde você está?" ela perguntou.
"De volta a Richmond. Eu planejei verificar o Lar Mary Denbridge, mas logo escutei que você fechou o caso. Então... parabéns, eu acho. Veja... tudo o que precisou foi eu te deixar sozinha um segundo para você embrulhar esse caso."
"Bem, não vamos nos deixar levar. O cara que eu peguei-um cara particularmente desagradável chamado Carl Windham-não é o nosso assassino. Estou bem certa disso."
"Bem, merda. McGrath parece achar que ele estava engarrafado."
"Por que ele ligou para você?" ela perguntou.
Ele fez sinal e deu de ombros. "Ele ainda está te examinando. Relatórios de progresso."
Claro que ele está, ela pensou com decepção. Mas esse era um assunto completamente diferente para se preocupar em um momento posterior.
"De qualquer forma," disse Ellington, "é o motivo de eu estar indo de volta para DC em instantes. Pensei que nós poderíamos nos encontrar e voltar juntos. Se você me perdoar por ter agido mais cedo como um menino de colegial com o coração partido."
"Eu ainda não acabei," ela disse. "Nós ainda temos mais ou menos quinze horas das vinte e quatro que ele nos deu."
"E eu suponho que você tenha uma ideia?"
O negócio era que ela realmente tinha uma ideia. Veio a ela no momento em que Ellington disse a ela que estava em Richmond. Mas ela não tinha certeza de que queria que ele soubesse qual era. Ela ainda estava irritada com ele e agora que ele a havia deixado, ela sentia que era o caso dela.
Isso é bem imaturo, ela pensou. A ajuda dele pode vir a calhar, mesmo se você não quiser admitir isso agora.
"Fique firme por agora," ela disse. "Você quer me fazer um favor e ligar para o Lar Para Cegos Treston e então para o Lar Mary Denbridge. Vai ser um pé no saco, mas eu quero que você peça por uma lista de todos voluntários que estiveram lá nos últimos seis meses. Eles são lares menores, então não deve ser uma lista muito longa em nenhum dos casos."
"Ok," ele disse interessado. "E você?"
"Eu vou ligar para o Wakeman e depois entrar em contato com Cleo Colegrove para ver se ela contratou algum tipo de ajuda externa. Não voluntário por si... algum tipo de assistência apenas. Então eu vou ligar para você e nós iremos comparar as anotações. Então..."
"...então aqueles que nós tivermos em comum," ele disse, "nós devemos achar facilmente baseados na organização na qual eles estão."
"Exatamente."
"Vamos lá," ele disse. "Ligue para mim quando terminar."
Ela nem se importou com uma despedida formal. Ela acabou com a chamada e discou instantaneamente para Wakeman. Ainda um pouco descontente devido às suas interações com Carl Windham, ela foi seca com a mulher que respondeu o telefone. Ela perguntou por Randall Jones diretamente, deu seu nome e foi encaminhada para ele logo em seguida.
"Sr. Jones, eu preciso que você faça algo por mim. Pode ser potencialmente uma perda de tempo, mas eu quero ter certeza de que a base está coberta."
"É claro. Do que você precisa?"
"Eu preciso dos nomes de cada pessoa que se voluntariou aí nos últimos seis meses. Não empregados ou cuidadores pagos... apenas voluntários."
"Homens e mulheres?" perguntou Randall.
Mackenzie estava bem certa de que o assassino dela era um homem baseada no relato de Cleo Colegrove, mas ela não via sentido em arriscar. "Sim, ambos, por favor. E quero que você os leia para mim pelo telefone. Eu estou meio que com pressa."
"OK, sim, eu posso fazer isso. Um segundo..."
Ela o escutou digitar algo em um computador, uns poucos cliques e, então, ele limpou a garganta.
"OK, aqui vamos nós. Não é uma lista muito longa e nós estamos começando alfabeticamente."
Usando um guardanapo de papel e uma caneta barata do porta luvas, Mackenzie registrou rapidamente a lista de nomes. Levou um pouco mais de quatro minutos e ela tinha vinte e dois nomes para sua aflição-dez mulheres e doze homens.
Estava claro que Randall queria saber o que estava acontecendo sem perguntar. Mas Mackenzie não deu tempo. Mais que isso, a cada nome que ele a dava, mais certa ela estava que isso iria funcionar... que isso era, de fato, algo que ela e Ellington deveriam ter tentado mais cedo.
Mas a conexão com um voluntário não era tão sólida até hoje mais cedo, ela pensou. Não havia como nós termos adivinhado.
Ela, então, ligou para o número de telefone celular de Cleo Colegrove. Ninguém atendeu, mas quando ela estava prestes a deixar uma mensagem, Cleo ligou para ela de volta.
"Agente White," ela disse. "Alguma sorte até agora?"
"Não sei ainda," ela respondeu. "Olha, odeio importunar você, mas eu preciso te perguntar sobre todos os cuidadores que você tem. Maggie Reynolds é a única pessoa que você tem te ajudando?"
"Sim."
"E quanto as aulas de faculdade que você disse que estava tomando? Tem algum tipo de instrutor especial que trabalha mais próximo a você ou de outros alunos cegos?"
"Bem, uma das aulas é apenas para estudantes cegos," ela disse. "Mas para as outras... não. De vez em quando o instrutor me pega depois da aula para ter certeza de que eu não me sinto em desvantagem, mas não. Nenhuma ajuda especial."
"Maggie já chamou algum tipo suplente?"
"Não. Se ela ficar doente ou precisar ir a algum lugar, fico por conta própria. Mas tudo bem. Sou uma garota crescida, afinal."
"Você é de fato," disse Mackenzie. "Obrigado pelo seu tempo, Cleo."
Novamente, ela finalizou a chamada antes que a pessoa do outro lado tivesse tempo para perguntar sobre o propósito por trás da ligação. Ela analisou a lista do Wakeman uma vez mais, certificando-se de dar a Ellington templo bastante para fazer suas duas ligações. Então, quando ela não podia mais conter a euforia, ela ligou para ele. Ela escolheu uma simples chamada de voz ao invés da conversa pelo FaceTime.
Ele respondeu ao primeiro toque. "Sincronia perfeita," ele disse. "Eu acabei de sair do telefone com o Lar Mary Denbridge. Eu tenho as duas listas e a do Treston é muito curta. Se você estiver pronta, eu vou lhe passar os nomes."
"Manda bala," ela disse.
Ellington leu os nomes e Mackenzie os anotou em colunas separadas com uma letra pequena no mesmo guardanapo com a lista do Wakeman. A lista de voluntários do Treston tinha apenas doze pessoas. Aquela do Lar Mary Denbridge era consideravelmente mais longa-mais longa até do que a lista de vinte e dois nomes que ela obteve do Wakeman.
Ela estudou as listas e quando ela via um nome mais de uma vez, ela o circulava.
"Conseguiu alguma coisa?" perguntou Ellington.
"Um segundo," ela disse, ainda comparando as listas. Demorou menos de um minuto e quando ela havia acabado, ela estava um pouco impressionada (e levemente frustrada) com o que ela viu.
Combinando as listas, havia um total de sessenta e três nomes.
Das três listas, dezenove nomes foram circulados duas vezes; dezenove pessoas diferentes foram voluntárias em pelo menos dois dos lares.
Mas havia oito nomes que foram circulados em todas as três listas.
É um desses nomes, ela pensou. Mas nenhum deles eram nomes que haviam surgido na investigação até agora.
"Oito pessoas," ela disse. "Eu tenho duas mulheres e seis homens que foram voluntários em todos os três lares."
"Puta merda. Não pode ser uma coincidência, certo?"
"Duvido muito. Agora, eu só preciso saber por qual agência todos eles passaram para se tornarem voluntários."
"OK, veja," disse Ellington, "aqui é onde eu compenso por ser um cuzão essa manhã. A lista do Treston tinha apenas doze pessoas, então eu fui à frente e solicitei as agências que os enviou."
"Bom," ela disse, fazendo vista grossa para a sua piadinha deficiente em esperança de uma reconciliação rápida. "OK, então nós vamos começar com os homens, porque parece encaixar muito mais facilmente no perfil. Assim, eu preciso saber os lugares que enviaram os seguintes nomes."
Ela recitou os seis nomes e quando ela estava no quarto, Ellington estava rindo.
"Qual é a graça?" ela perguntou.
"Eu acho que finalmente estamos pegando uma novidade," disse Ellington.
"Como assim?"
"Três desses homens foram enviados pela mesma agência. E sabe-se que dois deles têm problemas de visão. A agência é chamada Reading the World."
"É onde vamos começar, então."
"Nós?" ele perguntou esperançoso e com um leve toque cômico.
"Sim," ela disse. "Vamos descobrir a próxima-e espero que última parada-e nos encontraremos lá."
Ele estava prestes a dizer outra coisa, provavelmente algo fofo ou encantador, mas ela desligou antes que ele tivesse a chance.
E quando ela o fez, havia um sorriso satisfeito em seu rosto.
Em seguida, ela fez outra chamada, esta para Harrison em Quantico. "Harrison, eu preciso que você me consiga alguns endereços."
"Para que, posso perguntar?" respondeu Harrison. Ele soava cansado e um pouco irritado. Eu outras palavras, muito não-Harrison.
"Mais três suspeitos em potencial."
Harrison fez uma pausa e, então, começam a fazer um barulho de hummm. "Eu não sei, White," ele disse. "Olha, McGrath já parece bastante satisfeito. Por que forçar? Pelo que eu saiba, você já embrulhou o caso. Apenas feche o dia e venha para cá."
"Não posso. Ainda não. Eu só preciso ter certeza de que esses nomes conferem. Se o fizerem, vou largar isso e voltar."
O que ela pensou, mas não disse por medo de irritá-lo e de perder sua ajuda era: Sim, e se o caso não estiver acabado e voltarmos para DC e outra pessoa cega for morta em alguns dias, todos estaremos pedindo desculpas e aceitando humilhações.
"Tudo bem," disse Harrison. Ele estava quase parecendo feliz novamente. Rato de escritório ou não, ela sabia que ele gostava da emoção de uma perseguição. "Quais são os nomes?"
Ela os deu a ele, que soltou um suspiro. "Dê-me alguns minutos."
"Eu posso fazer isso," ela disse, desligando rapidamente mais uma vez.
Ela sentia que as coisas estavam andando rápido agora, o que era curioso, porque estava sentada perfeitamente imóvel em um carro alugado. Ter apenas que esperar foi exasperante. Ela gastou o tempo fazendo seu melhor para organizar todos os detalhes, almejando ter certeza de que ela tinha tudo no lugar antes de sair para a estrada novamente por um caso que já a havia levado por todo os estado torturosamente quente da Virgínia.
A provação no Wakeman com protocolo fajuto do livro de visitantes, provavelmente, não é isolada. Uma vez que um voluntário se estabelece, fica conhecido e confiável, ele provavelmente vai e vem sem alguém dar qualquer olhada. Então, tem que ser alguém com um fator de simpatia.
Embora também tenha que ser alguém tão demente e focado em matar essas pessoas que teve a paciência de viajar dirigindo para cada um desses lares. E não é como se estivessem todos próximos uns dos outros. É um bocado de condução... um inferno de tempo fomentando relacionamentos também.
Mas o caso Cleo Colegrove não se encaixa, Ele estava desesperado. Talvez arrogante. Mas se ele havia passado algum tempo conhecendo os outros, ele não gastaria tempo a conhecendo? Ou, pelo menos, aprendendo suas rotinas?
A grande questão disso tudo, é claro, era por quê? Ela ainda esperava que o assassino tivesse algum tipo de problema de visão ou que tivesse sido abusado por alguém com um problema de visão no passado.
Mas os diferentes lares é o aspecto curioso, ela pensou. Por que distribuir tão longe e espalhado? E por que conhecê-los primeiro? De acordo com os cuidadores no Wakeman e com Nina Brady, os voluntários eram quase um grampo. Rostos familiares, pessoas amigáveis ??que queriam construir relacionamentos, ao invés de simplesmente fazer um serviço e ir para casa.
"Construir relacionamentos," Mackenzie disse em voz alta.
Talvez haja algo aí. Algo por trás disso...
O celular tocou, quebrando sua concentração. Ela ficou aliviada ao ver que era Harrison, mas também perplexa ao ver que ela esteve perdida em seus próprios pensamentos por quase dez minutos enquanto ele havia adquirido as informações. Ao redor do carro, a tarde começava a ficar escura. Ela mirou o céu enquanto atendia, vendo as 'cabeças de trovão' em vez da escuridão natural da aproximação do crepúsculo.
"O que você tem?" ela perguntou.
"E olá para você, também," ironizou Harrison. "OK, então isso é um pouco estranho. Mas eu acho que torna seu trabalho meio que fácil. Dois desses caras-Albert Rose e Lou Carlton-residem na mesma cidade. Uma cidade bem pequena pelo que eu posso dizer. Um lugar chamado Keysville. Parece suspeito, não é?"
"Absolutamente. E o outro?"
"Jason Torrence. Mora em Blacksburg, Virgínia. Ele também é proprietário de uma enorme fazenda de gado e está fortemente envolvido o programa de agricultura na Virgínia Tech. O cara tem uma tonelada de dinheiro e influência pelo que eu posso perceber."
"Parece que eu estarei indo a Keysville. Onde diabos é isso?"
"Pelo que eu estou vendo, fica a cerca de uma hora e meia de Bedford, alguns minutos para mais ou para menos."
"Obrigada, Harrison. Você pode me mandar uma mensagem com os endereços exatos?"
"Claro, mas-"
Ela o cortou ao desligar novamente. Ela retornou do estacionamento, sua mente já girando com ideias e possibilidades.
Dois voluntários da mesma cidades, ela pensou. Dois voluntários que estiveram em todos os três lares...lares que estão espalhados por todo o estado. Há alguma coisa nisso, alguma coisa...
Foi quando ocorreu a ela. Algo que Carl Windham havia dito. Talvez não fosse uma agência que tenha mandado esses caras. Talvez fosse algum outro tipo de organização que enviava pessoas para ajudar os outros.
Logo, ela pensou acerca de Robbie Huston e de como ele estava tão envolvido com certos ministérios através de sua faculdade.
Talvez esses caras sejam parte de uma igreja, ela pensou. Porventura eles visitaram esses lares como algum tipo de projeto de missão local.
Eu imagino se eles estão juntos nisso...
Se Ellington estivesse com ela, ele seria capaz de ajudá-la a desagregar e colar tudo junto de volta. Eles trabalhavam bem juntos assim e ele-
"Droga," ela disse, tirando o celular. No seu entusiasmo, ela quase havia se esquecido de ligar para ele. Ele pegou o número dele ao parar em um semáforo, fazendo seu caminho para fora do distrito do centro de Bedford e de volta em direção a estrada de quatro pistas.
Ele respondeu rapidamente, como de costume. "Então, onde encontro você?" ele perguntou.
"Keysville, Virgínia. Dois dos homens na nossa lista moram lá."
"Parece... estranho. E promissor. Ah, e segura essa. Aquela agência Reading the World nem é uma agência."
"É relacionada a igreja, não é?"
"Como diabos você faz isso? Sim... é um pequeno ministério em uma igreja muito pequena chamada Cornerstone Baptist. Eu acabei de ver no site."
"Eu acho que é por aí," ela disse. "Olha, eu estou a cerca de uma hora e meia. Você?"
"Mais perto de duas horas, eu acho. Mesmo assim... eu acho que eu poderia chegar lá antes de você."
É muito difícil ficar brava com ele, ela pensou com um sorriso.
"Dificilmente," ela disse.
"Oh, absolutamente, eu vou. Eu poderia-"
Ele desligou na cara dele pela segunda vez em quinze minutos. Ele enviaria o endereço quando Harrison o enviasse para ela para ser justa. Sim... ela estava ansiosa para tê-lo de volta ao lado dela e, sinceramente, não gostando do fato de que, após menos de um dia inteiro, ela percebeu quão bem eles trabalhavam juntos e quanta falta ela sentia dele quando ele não estava lá.
Talvez nós deveríamos morar juntos, ela pensou.
"Uma coisa de cada vez," ela disse a si mesma.
A luz ficou verde e ela pressionou o acelerador. Com o avançar da tarde para 6:30, as 'cabeças de trovão' continuavam a se formar em algum lugar à sua frente. Era uma sensação sinistra, dirigir para um lugar onde ela achava que um assassino pudesse morar enquanto nuvens pesadas cresciam naquela direção.
Mas quando ela recebeu o endereço pela mensagem de Harrison, ela acelerou. Ela combateu o calor pelos últimos vários dias. Aquelas 'cabeças de trovão' podem parecer um presságio, mas provavelmente havia chuva nelas.
Apenas mais uma razão para ir naquela direção, ela pensou. Era a primeira vez desde quando chegou ao Lar para Cegos Wakeman que ela sentia que estava na trilha certa.
Ela continuou, as nuvens ficam cada vez mais escuras enquanto seu pé ficava mais e mais pesado no acelerador.
CAPÍTULO VINTE E OITO
A cidade de Keysville lembrava Mackenzie um pouco de Treston. Era uma pequena e Rockwelllesca, completa com uma farmácia, casas brancos com cercas brancas de piquete e uma genuína barbearia com um daqueles canudos de doce girando na porta. Contudo, a barbearia e a maioria dos outros negócios estavam fechados, já que eram 8:32 quando ela conduziu o carro alugado pela Main Street.
A direção estivera constantemente debaixo da sombra de nuvens de tempestade iminente e agora que ela estava desacelerando nas ruas residenciais, parecia que a alcançaram. Gordas gotas de chuva começaram a acertar seu para brisa-uma por uma, como se a chuva estivesse se levando lentamente para a chegada da noite.
O cair da noite de verdade ainda estava vinte minutos ou próximo de distância, mas as nuvens de tempestade acima faziam um bom trabalho em simulá-lo no momento. Naquela escuridão de noite falsa, Mackenzie tornou a conferir os endereços e seguiu as direções do GPS. Ele a tirou da Main Street para uma estrada secundária. Lá, as casas ficaram um pouco menos bonitas, embora elas ainda parecessem alguma coisa das pinturas de Rockwell graças ao sinistro jogo de cores do crepúsculo como cortesia das nuvens de tempestade.
Ela chegou ao primeiro endereço que Harrison a enviou-a residência de Lou Carlton-e, então, enviou uma mensagem para Ellington para ver onde ele estava. Ou... ela tentou enviar a mensagem. Ainda era outra cidadezinha na qual a cobertura era terrível. Ela tinha apenas uma barra de sinal que piscava. A mensagem para Ellington estava presa, esperando encontrar sinal suficiente para ser enviada.
Com um suspiro, Mackenzie olhou para a casa. Um caminhão desgastado estava na entrada de cimento. A casa parecia inocente o suficiente e ela podia perceber que havia alguém em casa; a luz denunciante da televisão que piscava mal poderia ser vista pelo que ela assumiu ser uma janela da sala de estar que dava para a varanda. Ela saiu do carro e a humidade do dia parecia diferente. Havia uma quietude no ar e uma queda de temperatura que quase parecia um calafrio.
Trovões retumbavam acima. Ela podia sentir o cheiro da tempestade se aproximando. Ao olhar acima para o céu, alguns pingos de chuva a atingiram no rosto.
Vai começar a chover em breve, ela pensou. E vai ser absolutamente uma chuva torrencial.
O instinto disse a ela para continuar e ir direto aos negócios. Por algum motivo, o pensamento de andar até a porta da frente no meio de uma tempestade era atemorizante. Ela caminhou lentamente até a varanda e olhou para as casas vizinhas. As casas ficavam a cerca de vinte metros de distância-não bem uma em cima da outra, mas também não gritavam privacidade.
Antes que ela chegasse às escadas, ela verificou o celular. A mensagem para Ellington ainda não havia saído.
Ela subiu a escada, tocando cautelosamente a lateral da cabeça. O ataque de Carl Windham não havia sido brutal, mas no caminho de carro até Keysville, ela notou que sua cabeça doía onde fora atingida com a tigela de cerâmica. Ela duvidava que houvesse grande risco de uma concussão, mas doía independente disso.
Preciso me apressar, ela pensou. Se esse cara não desenvolver, eu ainda tenho outro endereço-apenas três quarteirões de distância, mas mesmo assim...
Ela levantou a mão e bateu. Silêncio continuou do outro lado da porta. Ela se inclinou para um pouco mais perto e percebeu que ela podia escutar o som abafado da televisão. E então, atrás disso, um leve ranger. Ela pensou ser o som de passos nas pontas dos pés em direção à porta. Esperou alguns segundo a mais e bateu novamente. O ranger parou por um momento e depois continuou. Foi quebrado repentinamente por uma voz.
"Quem está aí?" a voz perguntou.
"FBI," ela disse.
E pronto. Se o assassino estivesse do outro lado da porta, ele sabia que o jogo havia começado. Os próximos cinco segundos mais ou menos determinariam a maneira que o resto da noite se desenrolaria.
Para sua surpresa, ela ouviu a porta destrancar do outro lado. Sua mão direita foi para seu lado, a centímetros da Glock.
Quando a porta abriu, Mackenzie não estava orgulhosa do fato de que ela ficou momentaneamente chocada pelo que viu. Era um homem de uns quarenta anos mais ou menos. A primeira coisa que ela reparou não foi o olho de vidro alojado no seu olho esquerdo. Pelo contrário, a primeira coisa que ela notou foram as velhas cicatrizes e o estado deformado do lado esquerdo de seu rosto.
Mas então, o cérebro dela registrou um dos detalhes muito reconhecíveis que Randall Jones e seus cuidadores apontaram quando descreveram os voluntários que haviam ido ao Lar para Cegos Wakeman.
Um olho de vidro...
Ela fez seu melhor para se recuperar rapidamente. Mas ela havia deixado um pequeno espaço para que o homem do outro lado falasse primeiro.
"FBI?" ele disse. "Hum... para quê?"
Eu não o quero achando que eu escolhi o nome dele especificamente, ela pensou rapidamente. Há uma boa chance de que seja ele ou um amigo dele o assassino. Preciso manter vago pelo maior tempo que eu puder.
"Estou trabalhando em um caso que me levou ao nome de um ministério na sua igreja."
"E como você sabe qual igreja eu frequento?"
"Seu nome é Lou Carlton, correto?"
Um trovão retumbou atrás dela e agora o som da chuva era uniforme e consistente. No quintal, na rua, no telhado da casa. Carlton ficou momentaneamente congelado e ela não acreditava que era pelo susto do trovão.
"Cornerstone Baptist, certo?" ela disse. "O ministério é o Reading the World. Deram os nomes de todos no ministério para mim. Então, eu venho falando com alguns de vocês pela maior parte da tarde. Acabou que você é o próximo na minha lista. Você se importa se eu entrar para sair do que parece ser uma tempestade massiva para falar com você sobre isso?"
Ele parecia muito inquieto. A cicatriz em seu rosto e aquele olho de vidro imóvel e inexpressivo o faziam parecer sombrio à luz da tempestade. Ele assentiu eventualmente e deu um fraco, "Sim, eu acho."
Mackenzie manteve sua mão casualmente ao lado direito do seu quadril onde a Glock esperava no coldre.
"Sr. Carlton, eu não quero te alarmar, mas há vários sinais apontando para o fato de que alguém na sua igreja possa ser o responsável por pelo menos três assassinatos. Mais especificamente, alguém dentro do ministério Reading the World."
"Bem, isso é ridículo," cuspiu Lou Carlton cuspiu. "Também, parece infundado."
"Não, temo que não."
Ele a levou a um pequeno gabinete que ficava adjacente a uma sala menor onde a televisão ainda sussurrava, mostrando uma reprise de uma daquelas séries de hospital cliché.
"Com quem mais você conversou então?" ele perguntou.
Ele está tentando desviar. Ele não está negando envolvimento da sua igreja sem rodeios. Ele quer mais nomes para que ele possa passar a culpa caso necessite...
"Eu acabo de chegar da casa de Albert Rose," ela disse. "Por favor, tenha em mente que eu não estou acusando qualquer pessoa de nada neste ponto. Mas eu tenho que interrogar todos envolvidos nesse ministério. Então... Sr. Carlton, você está envolvido com o Reading the World?"
Ele estava de pé na porta que levava a um corredor. Mackenzie estava em pé a menos de um metro e meio dele, muito ciente de que a porta provia um escape rápido se ele decidisse correr. Ela podia perceber que ele estava decidindo entre ser o mais sincero quanto podia ou mentir de uma vez.
"Sim," ele disse, finalmente. "É uma bela maneira de servir a comunidade. E eu acho difícil de acreditar que alguém que eu sirva junto seria capaz de matar. É um pouco insultuoso, para ser honesto."
"Estou certa de que é," ela disse. "Mas como eu disse... é apenas um questionamento nesse ponto. O que eu estou procurando realmente é por qualquer pessoa que já teve experiência como voluntário no Lar para Cegos Wakeman em Stateton. Você já esteve lá?"
Novamente, ele hesitou antes de responder, mas eventualmente disse, "Sim. Eu servi lá várias vezes."
"E como você serve?"
"Principalmente lendo."
"Para quem, exatamente?"
Aqui, ele pausou novamente e dessa vez ela viu preocupação genuína em seu rosto. Quando ele olhou para o chão com seu olho bom e o olho de vidro se manteve estacionário, isso a assustou. No entanto, também fez como que o medo em seu rosto fosse mais fácil de identificar. Trovões brandiam lá fora, fortes o suficiente para chacoalhar as vidrarias em uma cozinha mais no interior da casa que ela ainda não havia visto.
"Não me lembro dos nomes deles," ele disse.
Ele não olhava para ela. Suas mãos estavam enfiadas em seus bolsos e ela percebeu que estava sendo necessário tudo nele para não correr.
"Você tem certeza?"
"Sim."
"Nem mesmo o nome Alice Givens?" Era, claro, um nome falso-o nome de uma garota com a qual ela brincava quando criança.
Ela viu o alívio em seu rosto imediatamente quando ele não reconheceu o nome. "Não. Eu não me lembro desse nome."
"E Rebecca Wickline?" ela perguntou, fazendo referência a uma garota no colégio com a qual ela ficou bêbada após o baile de formatura.
"Não, esse também não," ele disse. O alívio era como uma máscara em seu rosto.
"E que tal Ellis Ridgeway?"
O alívio se despedaçou e o reconhecimento que tomou seu lugar era impossível de perder. Carlton, na verdade, se apoiou no portal com o som do nome.
Peguei você, pensou Mackenzie.
"Não," ele disse. "Nem ela." Mas a voz dele estava baixa e ela podia ver os tremores nos joelhos dele.
Ela fingiu frustração e suspirou. Ela também relaxou sua postura, esperando que o deixasse mais aliviado. Se ela pudesse pegá-lo com a guarda baixa assim mais uma ou duas vezes, seria o fim disto.
"Quantos lares para cegos você visitou pela Reading the World?" ela perguntou.
"Uns poucos," ele disse "Quatro, eu acho."
"Você já esteve em Treston?"
Ele assentiu. "Sim. Um pequeno lugar. Mas as pessoas de lá são bem agradáveis."
"Você já encontrou um homem chamado Kenneth Able quando esteve lá?"
Sem o colchão dos nomes falsos, o reconhecimento em seu rosto era a mesma expressão que alguém pode ter se quando recebe um tapa repentino na boca.
"O que você está fazendo?" perguntou Carlton. A voz dele estava um pouco trêmula e ele estava começando a se afastar do portal para o espaço aberto do vão da porta.
"Estou procurando pelo homem que matou três pessoas cegas e atacou uma quarta," ela disse.
Ele balançou a cabeça lentamente para a frente e para trás. De uma maneira, ele a lembrou um pouco de Carl Windham e da maneira que ele havia respondido quando ele sabia que ela estava sobre ele.
"Sr. Carlton? Você está bem?"
"Eu... eu tenho que," ele disse.
"Tem que o quê?" ela perguntou.
Ela podia sentir a eletricidade no ar e ela sabia que era mais do que apenas a tempestade lá fora. Ela se preparou, pronta para se mover em um piscar de olhos.
"Você não entende," alegou Carlton. "Ninguém entende."
"Então me diga," ela disse. "Ajude-me a entender."
Carlton lambeu os lábios e pareceu estudar o cômodo. Era como se ele estivesse procurando por outras pessoas, alguém mais que pudesse estar ali os escutando.
"Eu precisei... eu precisei. Eu também era cego. Por alguns meses quando eu era criança. Minha mãe, ela começou isso. Ela queimou meu rosto e... e..."
Ele então gritou e Mackenzie alcançou a arma imediatamente. Quando ela percebeu que ele estava tendo um episódio nervoso que beirava um ataque de pânico, contudo, ela relaxou. Aparentemente, Carlton também percebeu isso.
Foi quando ele disparou. Ele girou pelo portal com uma velocidade que Mackenzie não esperava. O corredor além era escuro, mal iluminado pela luz do escritório no qual ela estava no momento.
Ela sacou a Glock e deu três passos em direção à porta. "Sr. Carlton, não dificulte isso para si mesmo. Parece que você tem alguns problemas. E se você fez alguma coisa que você se arrepende, você pode conversar com alguém. Comece comigo. Deixe-me ajudar..."
Ela não tinha interesse de ajudar na verdade. Mas ela podia perceber pela forma com que ele implorou a ela, que deveria ter que fingir ser simpática se esperava trazê-lo para fora do corredor sem qualquer confronto físico.
Porém, ele não respondeu. Então, com seus músculos tensionados pela adrenalina e cada pedaço do treinamento vindo para frente de sua mente, ela caminhou até a porta. Ela espiou na escuridão à frente antes de caminhar por ela. Ela viu três portas-duas quase fechadas e uma escancarada. Carlton não estava à vista.
Ela avançou pelo portal para o corredor. À frente, algo tremeluzindo chamou sua atenção. Era um candelabro feito de papel, suas longas cordas penduradas e cintilantes, pegando a luz de forma confusa.
Ela viu o punho dele apenas uma fração de segundo antes de acertá-la entre os olhos e ela sabia que o acessório era destinado a confundir. O desgraçado estava se escondendo atrás do portal, esperando atacar.
Ela tropeçou para trás, e pela segunda vez em três horas, manchas pretas dispararam por sua visão. E antes que ela tivesse a chance de expulsá-las piscando, ela sentiu Carlton dinamitando por ela. O ombro dele atingiu seu lado direito e ela saiu rodando contra a parede.
Contudo, ele não está atacando agora, ela pensou. Ele está recuando.
Ela piscou a dor para fora e enquanto tentava seguir atrás dele, em direção à sala de estar, ela reparou que estava vendo uma nebulosa imagem dupla de tudo. Ela deu um passo a frente e se sentiu tonta. Então, fechou os olhos por um momento, recobrou o juízo e os abriu novamente. A visão dupla havia ido embora e ela caminhou para frente, a tontura havia se abrandado.
Ela tomou posição de tiro imediatamente, se abaixando e rastejando em direção à sala de estar. Uma rápida olhada no que ela podia enxergar da sala revelou que a única saída era pelo escritório. Dalí, ele teria acesso ao resto da casa ou à porta da frente. Mas ele teria que passar por ela antes.
Então, por que diabos ele entrou ali?
A resposta dela veio no que ela primeiro pensou ser o estrondo de um trovão. Mas então, ela viu Carlton correndo detrás da capa do pequeno sofá, uma pistola em suas mãos.
Ao mesmo tempo, ela sentiu como se algo em seu ombro esquerdo começasse a vazar. Isso foi seguido por uma entorpecida sensação de picada e quando ela percebeu, ela havia sido baleada.
Ela levantou a arma em direção à forma esvoaçante de Carlton e disparou uma vez, então outra. Ela não sabia se o havia acertado ou não, porque o mundo havia entrado no modo de visão dupla novamente. Ela viu sua forma se movendo, mas era isso. Ele poderia igualmente ser uma sombra. Ela disparou um terceiro tiro, sabendo que ela não acertaria, mas sentindo que precisava fazer isso de qualquer maneira.
Ela ouviu a porta da frente se abrindo e o som de chuva encheu a casa.
Ela olhou rapidamente para seu ombro esquerdo. Ela havia sido baleada, mas foi apenas de raspão. Se ela tirasse um tempo, ela estava certa de que encontraria a bala alojada na parede atrás dela-talvez com o tecido da sua blusa e um pouco de sua carne afixada.
Uma pontada de frustração rugiu através dela e pareceu afastar a névoa da dor em sua cabeça e ombro. Ele respirou profundamente e se dirigiu para a porta aberta. Ela o fez com cautela, recusando-se a cair vítima para um tiro barato disparado do canto, como ela o fez momentos antes.
Mas graças aos últimos fragmentos minguantes da luz da noite coberta de chuva, ela pode ver a forma de Carlton se movendo pelo gramado da frente. Ele estava correndo até o pequeno caminhão que ela viu quando chegou.
Ela correu para a sacada, ficando mais tonta ao se mover mais rápido. Ela atingiu o parapeito da sacada e se apoiou nele para firmar o braço. Ela mirou, seu ombro esquerdo reclamando sem trégua, e atirou.
Seu tiro vingou, tirando o joelho esquerdo de Carlton de ação. Ele gritou enquanto caia sobre o joelho. Ele se apoiou contra o caminhão, se inclinando sobre ele para se sustentar. Ao cair, ele também rolou e fez outro disparo. Mackenzie se agachou com o som. Foi muito para a direita e a teria errado de qualquer forma. O tiro arrancou uma lasca de madeira do portal da porta da frente.
Ela mirou novamente e retribuiu o tiro, não desejando matá-lo, mas incapacitá-lo. Ela viu que ele havia aberto a porta do motorista agora. Ele a estava usando como escudo enquanto subia lá dentro.
Mackenzie ficou de pé, mas continuou abaixada ao descer as escadas. Agora, ela atirou no caminhão, não acreditando que poderia atirar na parte superior do corpo de Carlton sem matá-lo. Ela acertou os dois pneus frontais e então pôs duas balas na grade do caminhão, esperando que fizessem algum dano sob o capô.
Imediatamente após seu tiro final, Carlton retornou com um dele. Esse também foi a largo, partindo um eixo do parapeito da sacada pela metade.
Mackenzie desceu as escadas, a chuva fazendo nada para ajudar sua visão nublada.
"Largue a arma, Sr. Carlton!"
Eles se entreolharam pela porta do motorista. A chuva espirrou na janela quando ele fechou a porta.
Eu vou ter que atirar nele novamente. E se matá-lo...
Repentinamente, ele deu partida no motor e começou a sair.
Mackenzie tentou um tiro limpo-sem matá-lo-mas era impossível.
Ela estava prestes correr no rumo da pick-up-um movimento ousado que provavelmente a machucaria-quando veio o som de outro motor se aproximando. Veio rugindo até a casa de Carlton e desviou rapidamente para a entrada. Era um Ford Focus preto que ela nunca havia visto antes. Ele parou diretamente em frente ao caminhão de Carlton, bloqueando seu caminho-e forçando Carlton a se chocar nele.
O Focus levou um forte batida, se inclinando para o lado, quase tombando. Mas então, ele se endireitou quando as rodas do caminhão ficaram atoladas da lama fresca.
Mackenzie estava surpresa e aliviada em ver Ellington tropeçar para fora do carro, atordoado, levantando a arma para mirar no caminhão de Carlton.
Contudo, Carlton pulara em cima dele. Ele se recuperou rapidamente da colisão, levantou a arma e mirou diretamente em Ellington.
"Não se mexa, otário," Mackenzie disse firmemente e friamente em seu ouvido, apenas a centímetros dele. Ela aproveitou a oportunidade para contorná-lo rastejando pelo lado do passageiro e agora ela tinha sua arma enfiada contra o pescoço dele.
Ele deve ter entendido o ponto, porque ela viu seu olho se arregalar de terror, então o observou largar a arma lentamente.
Ele mal havia acabado de fazer isso quando ela levantou as mãos, agarrou seus pulsos e puxou contra suas costas e o algemou.
Ele choramingou, caindo no seu assento, percebendo que tudo estava acabado.
Mackenzie deixou escapar um suspiro de alívio.
Ellington se apressou para frente, fazendo tudo o que podia para não parecer atordoado como estava.
"Você está bem?" perguntou Ellington.
Ela sorriu, estudando seu Focus, virado meio de lado.
"Eu não deveria te perguntar a mesma coisa?" ela disse.
Ambos sorriram, enquanto trovões ressoavam e a chuva desabava mais forte que nunca.
Finalmente, a tempestade havia caído.
CAPÍTULO VINTE E NOVE
Embora Mackenzie tenha conseguido evitar uma concussão pelas mãos (e tigela de cerâmica) de Carl Windham, ela havia sofrido uma pelo punho direito de Lou Carlton. Ela também recebeu vários pontos no ombro devido ao tiro errante da arma de Carlton. Ela esteve vagamente ciente de tudo isso que seguiu um breve apagão no quintal da frente de Carlton e idas e vindas de vigília na traseira de uma ambulância.
Na sua breve estadia no hospital, Ellington a repassou o que ele havia reunido do processo de interrogação após Carlton ser trazido.
"Ironicamente, a prisão mais próxima era em Stateton,' disse Ellington. "Quando Clarke viu Lou Carlton, eu pensei que a cabeça dele ia explodir. Clarke o conhecia-não bem, mas daquele jeito de cidade pequena que todo mundo conhece todo mundo, sabe? Dado que o bastardo tentara matar você e não teve escrúpulos em atirar nas pessoas, eu estava honestamente esperando uma baita de uma luta. Mas depois que nós o levamos àquela pequena sala de interrogatório, ele pareceu saber que estava acabado. E ele nos contou tudo."
Ela ponderou tudo, o olhar maníaco nos seus olhos, suas palavras enlouquecidas. Ela percebeu que ele deve ter sido terrivelmente agredido quando criança e, de alguma forma, ele carregou esta vingança durante toda sua vida. Paradoxalmente, ele tinha como alvo as pessoas cegas, mesmo que ele próprio tivesse sido cegado pela própria mãe. De certa forma, ela percebeu, ele não estava cheio de ódio apenas contra ela, mas em direção a si mesmo. Ele se culpava pelo que acontecera a ela.
E então, ele marcava pessoas como ele.
"Ele matou a mãe dele, não matou?" ela perguntou finalmente.
Ellington olhou de volta para ela, com surpresa nos olhos.
"Sim. Como você sabia?"
"A maneira como ele se referia a ela," ela disse. "Há quanto tempo?"
Ellington suspirou.
"Ele não tem certeza. Mas nós temos alguns caras no departamento investigando as alegações dele e elas parecem conferir. Em algum ponto cerca de vinte e cinco anos atrás, Deborah Carlton desapareceu. É tudo que sabemos por certo. Mas Lou Carlton nos disse onde enterrou o corpo altamente mutilado dela. E conferiu. Eles o encontraram em quatro horas a partir de quando Lou contou a eles. Ele matou sua namorada do colégio também. Mas não conseguia se lembrar de onde desovou o corpo."
Mackenzie processou tudo isso. Havia alguma coisa macabra sobre saber que o assassino que ela havia ajudado a deter estivera matando muito antes de ter tirado a vida de Kenneth Able e ninguém tinha qualquer ideia.
"Ele começou a procurar maneiras de entrar em locais onde pessoas cegas ficavam," continuou Ellington. "Por isso ele começou a frequentar a Cornerstone Baptist; ele ouviu sobre a Reading the World."
"E eles simplesmente o deixaram entrar?"
"Sim. Eu conversei com o pastor e alguns dos congregados. Eles ficaram chocados. Lou Carlton, aparentemente, era um cara correto pelo que eles podiam ver. Ele os enganou bem, parece."
"Mas... espera. E Cleo Colegrove? Ela não estava em um lar."
"Carlton diz que ele estava investigando ministérios em Lynchburg, já que há uma comunidade religiosa enorme por lá. Ele estava esperando entrar em mais lares para cegos, alguns fora do estado. Enquanto ele estava lá, alguém o disse para conferir com um instrutor que estava sendo voluntário para cursos de tecnologia para cegos. Ele viu Cleo lá e aparentemente..."
Ele suspirou.
"Ele não demonstra qualquer remorso."
Ela não estava surpresa.
Eles ficaram ali por um longo tempo em silêncio, processando tudo isso.
Finalmente, Ellington a surpreendeu ao se inclinar e beijar sua boca docemente. Quando ele se afastou, ele acrescentou: "Está feito. Você o pegou. Você quase morreu, mas o pegou."
Ela assentiu e dessa vez foi ela que começou o beijo. Este foi mais longo e demorou um pouco.
Quando ela havia terminado, o observou atenciosamente. "Eu posso fazer mais só mais uma pergunta?"
Ele revirou os olhos. "Suponho que sim."
"Você ainda que morar junto?"
Ele não respondeu imediatamente. Pelo menos, não com palavras. Ele começou com suas mãos e então com o resto de seu corpo.
***
Quando Mackenzie retornou ao trabalho dois dias depois, a maior parte da sua tarde consistiu em uma séria conversa com McGrath. Ele tinha que fazê-lo. Mas quando ele acabou, ela reparou um pequeno sorriso e seu olhar claro de admiração. Ela ficaria com serviço de escritório por pelo menos duas semanas enquanto se recuperava e os detalhes da altercação com Lou Carlton eram previamente investigados.
Ele estava bem com isso. Honestamente, ela teria aceitado de bom grado mais tempo de escritório. Ela ainda estava abalada pela cena na casa de Carlton-mais que isso, ela estava pensando em admitir isso para Ellington e certamente para McGrath.
Além disso, na mesa dela, ela seria capaz de dedicar mais tempo para o caso que esteve no fundo da sua cabeça pelos últimos quatro meses: o caso do seu pai, o qual foi reaberto e estava atualmente ativo (ainda que enterrado sob vários outros) no Nebraska. Isso daria mais tempo a ela para se reconectar via telefone com Kirk Paterson, o detetive que estava fazendo o possível para continuar no caso, mesmo que este ficasse mais frio a cada dia.
Ela sabia que ela eventualmente precisaria retornar ao Nebraska se esperava dar fechamento ao caso. Era um sentimento miserável, quase como planejar comparecer ao seu próprio funeral. Mas ela sabia que nunca teria paz de verdade até que tudo tivesse passado.
Seguindo esse primeiro dia de volta e o enfadonho encontro com McGrath, Mackenzie saiu do edifício sozinha. Ela estava indo para seu próprio apartamento, mas apenas por mais alguns dias. Ellington fora enviado de volta para Keysville, Virgínia, para continuar com os membros da igreja de Carlton e depois disso ele estaria viajando para Bedford para amarrar algumas coisas soltas no caso de Carl Windham. Após isso, eles iriam começar a mudá-la para o apartamento dele.
E daí... bem, quem sabe?
Mackenzie atravessou o estacionamento, em direção ao seu carro. Ela estava ocupada pensando em como seria a mudança e como definitivamente mudaria o relacionamento deles... e, por isso, ela não reparou o retângulo branco no seu para brisa até que estivesse ao lado do carro.
Havia um pedaço de papel no seu para brisas, enfiado entre o limpador e o vidro.
Não, não apenas um pedaço de papel.
Um cartão de visitas.
A sua respiração ficou presa na garganta enquanto lentamente alcançava o cartão. Mesmo antes de liberá-lo, ela sabia o que encontraria. Quando ela o arrancou do limpador, não ficou nem um pouco surpresa em descobrir que estava certa.
Na frente do cartão de visitas se lia Antiguidades Barker.
Um calafrio correu por ela ao virar o cartão. Na parte de trás, uma breve mensagem foi rabiscada em uma fina letra cursiva.
Pare de procurar.
Como o cartão de visita ainda em mãos, Mackenzie escaneou o estacionamento. Ela viu alguns dos seus colegas de trabalho se dirigindo para os seus veículos, mas nenhum suspeito. Então, ela procurou por qualquer figura sentada em um carro, parecendo deslocada ou fora do ordinário. Mas não viu qualquer coisa do tipo.
Ela entrou devagar no carro e deu partida no motor. Antes de arrancar, ela estudou o cartão novamente.
Pare de procurar.
Mackenzie embolsou o cartão e saiu do estacionamento. A mudança para o apartamento de Ellington era, de repente, a última coisa na cabeça dela.
Pare de procurar.
Com um olhar severo de desafio no rosto, duas palavras saíram de sua boca.
"Pro inferno," ela disse.
Ela foi para casa com o caso do seu pai pairando amplamente em sua mente, empurrada pela certeza de que ela não mais seria capaz de executar as tarefas do seu trabalho até que essa parte fragmentada do seu passado fosse deixada para trás.
Blake Pierce
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