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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


AO SABOR DA SEDUÇÃO / Sandra Marton
AO SABOR DA SEDUÇÃO / Sandra Marton

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

                                 CAPITULO UM

Aos trinta e dois anos, Cameron Knight tinha um metro e noventa e três de altura. Os olhos eram verdes e o corpo, musculoso, herança do pai inglês. Os cabelos pretos e as maçãs do rosto salientes eram graças à mãe, uma mestiça da tribo indígena Comanche. Cameron gostava de belas mulheres, de carros velozes e do perigo.

Cam continuava sendo o garoto mau, bonito e perigoso, desejado por metade das meninas de Dallas, no Texas. A única mudança foi que o jovem havia transformado a paixão pelo perigo em uma carreira. Primeiro, nas Forças Especiais. Depois, no Serviço Secreto. E, agora, na empresa que fundara com os irmãos.

O rapaz enriquecera com Knight, Knight e Knight. Homens dos três continentes lhe pediam ajuda quando a situação saía do controle. Agora, fora o próprio pai quem fizera isso. E o rapaz havia concordado em ajudá-lo. Por esse motivo Cameron estava sobrevoando o Atlântico em um pequeno jatinho particular, dirigindo-se a um ponto no mapa chamado Baslaam.

Cameron deu uma olhada no relógio. Meia hora para aterrissar. Tudo acontecera tão rapidamente que o rapaz teve de passar a maior parte do vôo lendo os arquivos sobre o pai. Agora, tinha tempo para relaxar.

 

 

 

 

Cam inclinou para trás o assento da poltrona, fechou os olhos e deixou o pensamento vagar. O rapaz refletiu sobre a própria vida, sobre o quanto havia chegado perto das amargas previsões do pai. "Você é um inútil. Nunca vai chegar a nada", era comum o pai dizer isso quando Cameron era criança.

Cam tinha de admitir que parecera determinado a provar que o pai estava certo. O rapaz matara aulas, ficara bêbado e fumara maconha, embora não por muito tempo. Não gostava da perda do autocontrole que vinha com a rápida euforia.

Aos dezessete anos, Cam era um jovem com problemas. Vivia zangado com a mãe por esta estar morrendo, e com o pai, que se preocupava mais com dinheiro do que com a esposa e os filhos.

Certa vez, tarde da noite, ao dirigir um caminhão em alta velocidade por uma estrada, o rapaz percebeu que passara pela casa de um policial. Há um ano, esse tira o tratara de forma rude a pedido do Senhor Khight. “Seu velho pai queria que eu desse ao jovem algo para que pensasse a respeito", Cam ouviu o policial dizer ao parceiro.

Com aquelas palavras ecoando na mente, Cameron desviou o caminhão da estrada, subiu em uma árvore, abriu uma janela com um pé-de-cabra e ficou observando o policial, que dormia e roncava. Depois, Cam foi embora da mesma forma que entrou.

Foi uma experiência tão divertida que o rapaz fizera isso algumas vezes, invadindo as casas daqueles que obedeciam ao pai dele. Cameron não levava nada dessas invasões, exceto a satisfação do sucesso.

Certa noite, tudo desmoronou. Naquela época, Cam estava na faculdade. Então, foi para casa para um longo fim de semana... E se deparara com um sussurro de que seria capturado.

Brincar com jogos perigosos era uma coisa. Ser estúpido era outra. Cam largou os estudos, entrou para o Exército e foi recrutado pelas Forças Especiais. Quando o Serviço Secreto demonstrou interesse, o rapaz respondeu sim. Pensava ter encontrado um lar. Não era verdade. Às vezes, o governo pedia coisas que o faziam sentir-se um estranho.

Seus irmãos trilharam caminhos semelhantes — carros velozes, mulheres bonitas, roleta-russa. Os três freqüentaram a mesma faculdade, com bolsa de estudos devido ao futebol americano. Todos, inclusive, marcaram pontos no mesmo jogo, numa tempora_da memorável de campeonato.

Depois, largaram os estudos e entraram para o Exército. Em seguida, as Forças Especiais e, final_mente, o Serviço Secreto.

Como se desiludiram com o que encontraram lá, retornaram a Dallas e montaram um negócio juntos. Knight, Knight e Knight: Especialistas em Gerencia_mento de Risco. Cam surgira com o nome.

— Mas o que isso significa? — Matt perguntara.

— Significa que vamos ganhar uma fortuna — Alex respondeu, sorrindo. E foi o que aconteceu. Clientes poderosos pagavam quantias exorbitantes para que os rapazes fizessem coisas que deixariam os estômagos de muitos homens embrulhados por conta do medo. Coisas que a lei não daria conta — ou tal_vez não pudesse resolver.

A única pessoa que parecia não saber do sucesso dos Knight era o pai dos rapazes... Então, na noite an_terior, Avery aparecera no apartamento de Cam.

O pai explicou que o negociador dos contratos de petróleo em Baslaam não dava notícias há quase uma semana. E que não era possível fazer contato por ce_lular ou computador.

Cam ouvira, quieto. Depois, Avery ficou em silên_cio. O filho continuou sem dizer nada, embora sou_besse o que havia levado o pai até ali. O tempo pare_cia correr devagar. Avery começou a se sentir enver_gonhado.

— Que inferno, Cameron, você sabe o que estou pedindo.

— Me desculpe, pai. Vai ter que me dizer.

Por um segundo, Cam imaginou que Avery iria embora. Em vez disso, o pai respirou fundo.

— Quero que pegue o avião e vá para Baslaam ver que diabos está acontecendo. Não importa qual seja o seu preço, eu dobro o valor.

— Não quero o seu dinheiro.

— Então, o que quer?

Quero que implore, Cam pensou. Mas o maldito código de honra martelava em sua cabeça, devido à influência do Exército, das Forças Especiais, do Ser_viço Secreto e talvez até mesmo por causa das pró_prias convicções. E, assim, o rapaz não pôde dizer tais palavras.

Aquele era o pai dele, o mesmo sangue. E foi por isso que, menos de dezoito horas depois, o rapaz de_sembarcava no deserto. Um homem baixo, vestindo um traje branco, correu em direção ao rapaz e disse:

— Bem-vindo a Baslaam, Senhor Knight. Sou Salah Adair, o assessor pessoal do sultão.

— Senhor Adair. Que bom conhecê-lo! O repre_sentante das Indústrias Knight não está com você?

— Ele foi visitar as planícies além das Montanhas Azuis. Não o avisou?

— Tenho certeza de que comunicou ao meu pai. Deve ter esquecido de me falar.

Adair o conduziu a uma limusine preta, parte de um comboio de velhos jipes e novos Hummers. Em todos os veículos havia soldados armados. .

— O sultão enviou uma escolta em sua honra — Adair disse.

Pior que era verdade. Nenhuma escolta teria en_volvido tantos homens armados. E onde estavam to_dos os cidadãos de Baslaam? A estrada pavimentada que conduzia à cidade estava vazia. Entretanto, deve_ria haver trânsito ali. Afinal, era a única estrada em um país que tentava entrar no século XXI.

— O sultão preparou uma festa. Você vai provar muitas iguarias. Gastronômicas... E relacionadas aos prazeres da carne.

— Maravilha — Cam comentou, reprimindo um tremor. Naquela parte do mundo, iguarias gastronô_micas podiam embrulhar o estômago de um homem. E com relação aos prazeres da carne... O rapaz prefe_ria escolher por conta própria suas parceiras de cama, e não que alguém fizesse isso por ele.

Algo estava errado. Knight tinha de se manter alerta. Isso significava nada de comidas estranhas. Nem bebedeira. Nem mulheres.

Onde se encontravam as mulheres?

Leanna não sabia há quanto tempo estava trancada naquela cela suja e sem ventilação. Dois dias, talvez dois dias e meio. E ainda não vira um rosto feminino. Esperava ver um porque uma mulher a escutaria e a ajudaria a escapar dali.

Leanna deu uma olhadela no pouco de água que ainda restava no balde que lhe fora dado naquela ma_nhã. Se a bebesse, será que lhe dariam mais? A gar_ganta da moça estava seca.

A jovem não tinha relógio — os homens que a se_qüestraram o haviam arrancado do pulso dela. Entre_tanto, a moça sabia que a luz do sol já começara a cair por trás das montanhas porque as sombras naquela prisão aumentavam. E, com a escuridão, as lacraias e as aranhas apareciam.

Leanna fechou os olhos, respirou fundo e disse a si mesma para não pensar mais. Havia coisas piores do que lacraias e aranhas à espera dela naquela noite. Um dos guardas, que falava um pouco de inglês, lhe contara isso. Ao se lembrar da risada dele, a moça es_tremeceu.

A noite, Leanna seria levada à presença do homem que a comprara — o rei ou o chefe daquele lugar. Os insetos, o calor, os insultos dos seqüestradores pare_ceriam lembranças agradáveis.

— O Grande Asaad vai tê-la esta noite — o guarda dissera, e o sorriso e o gesto obsceno garantiram que a moça compreendesse a mensagem.

Leanna começou a tremer. A moça abraçou a si mesma, querendo que a tremedeira parasse. Dizia a si mesma que seria um grande erro ter medo. Era apenas difícil imaginar como isso acontecera.

Em um minuto, a jovem estava ensaiando "O Lago dos Cisnes" com o resto do corpo de baile no palco de um antigo teatro em Ankara, capital da Tur_quia. No minuto seguinte, a bailarina saíra dali para um intervalo. E, então, fora agarrada e jogada na par_te detrás de um furgão fedorento...

A porta se abriu. Dois homens entraram na cela. Um deles gesticulava e resmungava algo. A moça presumia que fosse para acompanhar ambos.

A bailarina queria sentar e gritar. Em vez disso, permaneceu em pé e fitou os seqüestradores. O que quer que fosse que viesse em seguida, a moça enfren_taria com toda a coragem possível.

— Aonde vão me levar? — A jovem notou que os surpreendeu. Por que não? Surpreendera a si mesma.

— Você virá.

— Vou pro inferno!

Os homens vieram na direção da bailarina. Quan_do colocaram as mãos nos braços dela, a jovem fin_cou os calcanhares na palha que cobria o chão. Mas isso não adiantou. Ambos a ergueram e a arrastaram.

Ainda assim, a moça lutou. Os dois eram fortes, mas ela também era. Durante anos, o treino em ficar na ponta dos pés e na barra haviam enrijecido os mús_culos da bailarina. Leanna também chutava alto. E foi graças a essa habilidade que, uma vez, a moça conseguira uma vaga em um musical, em Las Vegas. E a dançarina colocava isso em prática no momento.

Leanna acertou um dos gigantes bem naquele lu_gar vital para um homem. O seqüestrador se contorceu de tanta dor. O comparsa achou a situação engra_çada. Porém, antes que a dançarina pudesse lhe dispensar o mesmo tratamento, o outro gigante puxou um dos braços da moça para trás das costas dela. De_pois, encostou o rosto no da bailarina e rosnou algo que a jovem não conseguiu entender. Nem precisava. A mensagem era clara, bastava sentir o cheiro da res_piração e o hálito ruim daquele homem.

Ainda assim, por que aquilo a deteria? A moça sa_bia o que viria em seguida. O gigante falante lhe dis_sera de manhã, embora a jovem já suspeitasse. Duas outras garotas da trupe haviam sido seqüestradas também. Uma, assim como Leanna, concluíra que elas tinham sido seqüestradas para serem trocadas por resgate. Porém, a outra logo descartou essa possi_bilidade.

— Eles negociam escravos, vão nos vender — a outra moça havia sussurrado, horrorizada.

Comerciantes de escravos? Neste século? Leanna teria dado uma risada, mas a garota acrescentou que vira uma reportagem na televisão sobre o comércio de escravas brancas.

— Mas para quem nos venderiam? — a primeira garota indagou.

— Para qualquer patife que possa pagar por nós — a terceira moça respondeu, a voz trêmula. Então, adi_cionou detalhes, o suficiente para fazer com que a ou_tra vomitasse.

Leanna nunca fora o tipo de pessoa que costumas_se vomitar ou desmaiar. No palco, as bailarinas pare_ciam princesas de contos de fada. Mas a verdade é que a vida de quem dança é difícil. Principalmente se você faz parte de um programa de dança de uma fun_dação pública, e não de um estúdio caro de Manhat_tan.

Enquanto uma garota vomitava e a outra tremia, Leanna lutava para se livrar das cordas que a amarra_vam. Mas os seqüestradores entraram, derrubaram-nas e injetaram algo nos braços das três. Assim, Leanna viera parar naquela cela horrível, sozinha, sa_bendo que fora vendida...

Tratava-se apenas de uma questão de tempo até que o dono a reivindicasse. Agora, a hora havia che_gado. Os gigantes a arrastaram por um longo corre_dor que fedia a suor e miséria humana. Os dois a em_purraram para dentro de um cômodo pequeno com paredes de concreto manchadas e um escoadouro no meio do chão. Aí, fecharam a porta. A moça ouviu o som de um ferrolho, mas jogou-se de encontro à porta assim mesmo, batendo nela até se machucar.

Então, deixou-se cair no chão frio e cobriu o rosto com as mãos. Muito tempo depois, a moça ouviu o ferrolho se abrindo. Leanna começou a tremer.

— Não deixe que vejam o quanto está assustada — a moça disse a si mesma. A bailarina sabia que isso só iria piorar as coisas. Lentamente, a jovem se levantou e ergueu o queixo.

Uma mulher entrou no cômodo. Leanna arqueou, aliviada. Dois homens com olhos frios e mortais per_maneceram atrás dela. Mas o comportamento da mu_lher deixou claro que ela estava ali a trabalho.

— Você fala inglês? — Leanna perguntou. Nenhu_ma resposta, mas isso não provava nada.

— Espero que sim. Houve um terrível enga...

— Você vai se despir.

— Você fala inglês! Oh, estou tão...

— Deixe suas roupas no chão.

— Me escute, por favor! Sou uma dançarina. Não sei o que pensa que eu...

— Faça isso rapidamente, ou estes homens vão fa_zer isso por você.

— Esta me escutando? Sou uma dançarina! Uma cidadã americana. Minha embaixada...

— Não há nenhuma embaixada em Baslaam. Meu amo não reconhece o seu país.

— Bem, deveria. Do contrário...

A mulher virou a cabeça na direção dos homens. Leanna gritou quando um deles a agarrou pela gola da camiseta.

— Pare! Tire suas mãos da...

A camiseta foi rasgada. Leanna tentou atacá-lo, mas o homem riu e prendeu as mãos da moça, erguendo-a para que o comparsa pudesse tirar-lhe os tênis e as calças.

Quando a jovem estava apenas de calcinha e sutiã, os dois a colocaram no chão. Leanna se encostou na parede e fechou os olhos. Talvez estivesse sonhando. Isso não podia ser real.

A moça gritou quando lhe jogaram água morna no rosto. Leanna abriu os olhos. Havia criadas ao redor dela. Algumas com jarros de água quente, outras com sabonete e toalhas. Os homens tinham levado uma enorme tina de madeira para dentro do cômodo...

— Tire suas roupas íntimas e lave-se direito. Se não estiver limpa o suficiente, será punida. Meu amo, o sultão Asaad, não vai tolerar sujeira — a mulher en_carregada de arrumá-la disse.

Leanna piscou. Ela estava em um banheiro impro_visado. Era por isso que havia o escoadouro no chão.

A moça sentiu vontade de dar uma risada histérica. O dirigente daquele lugar esquecido por Deus a havia comprado e jogado em um buraco no chão, infestado de vermes. E agora faria dela seu mais novo brinque_do sexual.

De repente, tudo parecia inacreditável. Leanna riu. As criadas a fitaram, descrentes. Uma soltou uma risadinha e logo levou uma das mãos à boca, mas não foi rápida o suficiente. A mulher encarregada do ba_nho da bailarina deu um tapa na criada que ousou rir e gritou com outra. Depois, com raiva, aproximou-se da dançarina.

— Talvez prefira aparecer antes que meu amo a deixe roxa de pancada!

Leanna a fitou, cansada de sentir medo. Além dis_so, considerando tudo, o que poderia perder?

— Talvez você prefira aparecer diante dele para lhe explicar o quanto tentou danificar a mercadoria.

A mulher ficou pálida. O coração de Leanna batia acelerado. Porém, a moça sorriu com frieza.

— Diga aos seus capangas para saírem daqui e eu entro na tina.

A mulher ordenou e os homens foram embora. Leanna se despiu e entrou na tina. A moça deixou que o corpo relaxasse enquanto imaginava um plano de fuga.

Infelizmente, quando a avisaram que já estava lim_pa, a moça ainda não havia pensado em nada. Impro_visação era para atores, não para dançarinas clássi_cas.

Mas Leanna nunca fora covarde. Se fosse preciso, morreria provando isso.

 

                               CAPÍTULO DOIS

Cam vira muitos lugares em convulsão social ou po_lítica.

Baslaam não estava nessa situação, e sim em co_lapso. Não era preciso ser um espião para ver isso. Sem pessoas. Sem veículos. Um céu cinza, repleto de fumaça. E os abutres sobrevoando o local. A situação não era boa.

Adair não deu nenhuma explicação. Cameron, que não era idiota, também não pediu. Limitava-se a pen_sar que a pistola que escondera na mala poderia ser útil.

O sultão o esperava em um corredor de mármore, sentado em uma poltrona dourada elevada em uma pla_taforma de prata. E não era o homem que Avery des_crevera. Segundo o pai, o sultão tinha uns oitenta anos. Era pequeno, magro, de olhar duro e determinado.

O homem sentado no trono tinha cerca de quarenta anos. Era grande e musculoso, podendo ser conside_rado gordo. A única semelhança com a figura que Avery havia descrito era com relação aos olhos. Mas a dureza refletida neles falava mais de crueldade do que de determinação.

Será que houvera um golpe? Isso explicaria muitas coisas, inclusive o desaparecimento do representante de Avery. Talvez o pobre homem fosse uma das al_mas infelizes atraindo a atenção dos abutres.

Cam tinha apenas uma pergunta. Por que não ha_viam acabado com ele também? O homem no trono devia querer algo. O quê? Knight tinha de descobrir, e fazer isso sem revelar o jogo.

Adair fez as apresentações:

— Excelência, este é o Senhor Cameron Knight. Senhor Knight, este é o nosso amado sultão, Abdul Asaad.

— Boa-tarde, Senhor Knight.

— Excelência. — Cam sorriu, educado, e comen_tou: — Esperava que fosse mais velho.

— Você pensava que encontraria meu tio, que, in_felizmente, faleceu de forma inesperada na semana passada.

— Meus sentimentos.

— Obrigado. Sentimos falta dele. Também pensei que o dono da empresa Knight Petróleo fosse mais velho.

— Meu pai é o dono da empresa. Sou um emissá_rio dele.

— De fato. E o que o traz à nossa humilde nação?

— Meu pai pensou que o sultão — devo dizer que ele pensou que você preferisse discutir os detalhes fi_nais do contrato comigo a fazê-lo com o negociador usual.

— E por que eu desejaria isso?

— Porque o represento integralmente. E posso chegar a um acordo em nome dele. Sem nenhum in_termediário para retardar o processo.

— Excelente sugestão. Seu antecessor e eu discor_damos de alguns pontos. Ele queria fazer alterações no contrato aceito por seu pai e por mim.

— Nesse caso, foi bom eu ter vindo, Excelência.

— Tenho certeza de que Adair explicou que o ca_valheiro em questão foi visitar as planícies além das Montanhas Azuis.

— Sim, Adair comentou.

— A sugestão foi minha. Pensei que fosse bom para ele sair um pouco da cidade. As planícies são muito bonitas nessa época do ano.

A mentira acabou com a última esperança de que o representante do pai pudesse estar vivo. Era feroz o desejo que Cam sentia de agarrar o sultão pela gar_ganta. Entretanto, o americano forçou um sorriso educado.

— Boa idéia. Tenho certeza de que ele está apro_veitando.

— Oh, posso garantir que está descansando bas_tante.

O patife abriu um largo sorriso devido ao comen_tário de duplo sentido, Mais uma vez, Cam conteve o desejo de avançar rumo ao sultão. O rapaz seria mor_to antes que se aproximasse uns trezentos metros.

— Enquanto ele descansa, você e eu podemos fi_nalizar as coisas — o sultão disse e bateu palmas. Adair correu em direção a Asaad com uma caneta e um maço de papéis que Cam logo reconheceu.

— Só é necessária a sua assinatura, Senhor Knight. Poderia fazer a gentileza...?

Foi por isso que o negociador morrera e Cam ainda estava vivo. Asaad precisava de uma assinatura para prosseguir com a negociação.

— Claro. Porém, primeiro, gostaria de descansar. A viagem foi longa.

— Assinar um documento não é algo tão difícil.

— Certamente, e é por isso que dá para esperar até amanhã.

— Nesse caso, permita que eu ajude a diminuir o estresse da viagem. Preparei uma pequena comemo_ração para a sua chegada.

— Aprecio seu gesto, senhor, mas realmente...

— Não vai me desapontar, rejeitando minha hos_pitalidade.

Será que a tal comemoração era parte de um plano para aliciar Cam de forma que o rapaz se submetesse ao acordo? Ou teria outras razões mais sinistras? De qualquer forma, Cameron fora apanhado em uma ar_madilha. O sultão havia planejado uma festa. Não ha_via como escapar.

— Senhor Knight? O que diz? Vai ser meu convi_dado? — Asaad indagou.

— Obrigado, Excelência. Ficaria encantado — Cam respondeu.

Três horas mais tarde, as festividades se encerra_vam. A noite começara com um banquete. Travessas de carnes grelhadas, doces, pastéis... E tigelas com outras especiarias que tinham sido costume em déca_das passadas.

Da primeira vez que tal prato apareceu, Cam sen_tiu o estômago embrulhar. O rapaz sorriu, educado, e começou a balançar a cabeça. Foi quando percebeu que o silêncio caiu sobre dúzias de homens armados, sentados ao longo da mesa. Todos os olhos voltados para o visitante. O sultão ergueu as sobrancelhas e comentou:

— Trata-se de uma iguaria deliciosa, Senhor Knight. Mas vamos entender se não estiver prepara_do para comê-la. Nem todos podem ser como os ho_mens de Baslaam.

Seria isso uma disputa idiota? Uma versão baaslâmica de "Sou mais forte que você"? Se fosse, Cam não poderia perder. O rapaz sorriu e serviu-se daque_la comida.

— Uma iguaria, Excelência? Nesse caso, não pos_so passar adiante.

Cameron comeu rapidamente, sentindo um gosto ruim, contendo-se para que o estômago não se rebe_lasse. Lembrava-se de que já havia comido coisas muito ruins antes. Um soldado em campo não podia escolher. Insetos, lagartos, cobras... Tudo era proteí_na, disse a si mesmo.

Houve um murmurinho quando o rapaz ingeriu o último pedaço da refeição. Cam sorriu. O sultão não retribuiu o sorriso. A fisionomia dele era de mau hu_mor. O patife perdera a primeira rodada e não havia gostado disso.

— Delicioso — Cam disse, educado.

Asaad bateu palmas. Um criado entrou, carregan_do um vaso enorme.

— Uma vez que gostou tanto dessa iguaria, talvez queira experimentar outra. Uma bebida, feita de... Não vou lhe contar os ingredientes. Mas asseguro que é mais potente do que qualquer coisa que tenha experimentado antes.

Ao aceno da cabeça do sultão, o criado encheu duas taças com um líquido marrom. Asaad pegou uma e entregou a outra a Cam, provocando-o:

— A menos que não queira...

Era uma disputa idiota. Mas que escolha Cameron teria exceto aceitar o desafio? Qualquer demonstração de fraqueza e o americano poderia acabar se jun_tando ao representante da empresa do pai. Asaad pre_cisava da assinatura do rapaz e havia formas de con_seguir isso sem precisar fingir que eram uma família feliz.

— Senhor Knight?

— Excelência — Cam disse, levantando a taça até os lábios. O líquido cheirava a peixe podre, mas o ra_paz sobrevivera ao enfrentar coisas piores em Belarus, ex-República da antiga União Soviética, quando bebera doses infindáveis de vodka caseira durante uma discussão com um líder guerrilheiro estúpido. O americano conteve a respiração e bebeu tudo com um só gole.

— Maravilhoso — Cam disse, mostrando a taça vazia. Ouviu-se outro murmúrio de aprovação. A fi_sionomia do sultão ficava cada vez mais sombria.

— Sabe andar a cavalo? — Asaad indagou. Talvez o sultão fosse estúpido também. Perguntar a um texano se ele sabia andar a cavalo era a mesma coisa que perguntar se um pombo podia voar.

— Sim — Cameron respondeu, educado.

Momentos mais tarde, ambos estavam do lado de fora, em um pátio iluminado por tochas. Competiam com pôneis semi-selvagens que saltavam por cima de sacos de areia. Tratava-se de um jogo que envolvia bastões tão espessos quanto os de beisebol, uma bola de couro e uma corda, sob a forma de alça, pendurada em uma árvore.

Cam não tinha a menor idéia de quais eram as re_gras. Porém, permaneceu montado enquanto tentava não ser atingido pelos homens que manejavam os bastões e arremessavam a bola na direção do laço.

Os homens do sultão aplaudiram. O rosto de Asaad ficou roxo. E o sultão gritou, pedindo silêncio.

— Você é um adversário de valor, e devo recom_pensá-lo.

Com o quê? Uma faca atravessada na garganta? Uma bala na cabeça? Perca o jogo e está morto. Ven_ça, e está morto também. Asaad era um psicopata.

Cam ficou tenso e lutou para manter a calma ao di_zer:

— Obrigado, Excelência, mas a única recompensa que quero é...

As palavras ficaram presas na garganta. Dois dos homens de Asaad vinham na direção deles. Eram maiores do que o sultão... E duas vezes maiores do que a mulher que arrastavam junto. A primeira coisa que Cam notou foi que as mãos da jovem estavam amarradas. E a segunda foi que a moça estava nua. Não. Apenas a pele dela era de um dourado-claro e o pouco que vestia era uma sombra mais escura.

Tudo era dourado — o que lhe cobria os seios, a tira na barriga. A corrente fina que enfeitava-lhe a cintura esguia. As fitas que pendiam da corrente e os_cilavam a cada movimento das pernas.

Nos pés, sandálias também douradas. Minúsculos sinos pendiam das tiras das sandálias e tiniam suave_mente a cada passo da moça. Os cabelos eram doura_dos também, e caíam desordenados ao redor do rosto abatido.

— Gosta da sua recompensa? — O sultão questio_nou.

— Ela é...

Droga! Cam pigarreou. Não havia esperado nada como essa criatura dourada e acabara atordoado. E o sultão notou o abalo.

— Uma visão surpreendente, Excelência — o americano comentou.

— De fato. Posso mandar que a tragam para mais perto, sim? — Asaad perguntou.

A resposta óbvia era não. Aquela mulher era uma armadilha. Não era preciso ser um gênio para saber disso. Cam comera e bebera. Também fora entretido com um jogo maluco de pólo no deserto. Asaad o amolecera e agora iria matá-lo. Uma hora com aquele anjo e o rapaz assinaria o contrato, sem fazer pergun_tas. Estaria satisfeito demais para fazer qualquer ou_tra coisa.

Ao menos, era isso que Asaad imaginava. E, dro_ga, era uma tentação. Cam podia imaginar como seria lançar as mãos naqueles cabelos, erguer o rosto da mulher de forma que pudesse ver se era tão perfeito quanto o resto. Podia se imaginar saboreando os seios da moça, atirando longe aquela tira dourada...

— Senhor Knight? — Asaad perguntou.

— Como desejar, Excelência — Cam respondeu. O sultão estalou os dedos. Os homens arrastaram a mulher, aproximando-a. A moça ergueu a cabeça e fi_tou Cam.

O rapaz ficou com a respiração presa na garganta. A jovem tinha olhos da cor do Mediterrâneo, margea_dos por cílios escuros. Um nariz pequeno e reto. Um queixo delicado e uma boca... Era tudo com o que um homem poderia sonhar. Cam sentiu-se ficar rígido como uma pedra, tão excitado que teve de se mexer para aliviar o desconforto.

Asaad gritou uma ordem. Os guardas empurraram a mulher para a frente. Ela tropeçou. Mas, depois, re_cuperou o equilíbrio. Um dos homens disse algo em tom ríspido, e a moça obedeceu ao que deve ter sido uma ordem para curvar a cabeça novamente.

— O que acha? — sorrindo, o sultão se aproxi_mou, pegou algumas mechas dos cabelos da moça e levantou-lhe a cabeça, indagando:

— Não é primorosa?

— Muito bonita.

— Sim. Também é corajosa. Uma criatura magní_fica, certo?

Quem era? Uma mulher do harém? Mas as mãos estavam amarradas. Por quê?

— Sim, Excelência. — Cam fez uma pausa. Não queria parecer curioso. Se parecesse, Asaad esticaria o jogo.

— Uma prisioneira? — o rapaz indagou. O sultão suspirou e explicou:

— Sim. Infelizmente, não concorda? O que pode ver dela é belo. — Aslaad deslizou uma das mãos pelo pescoço da moça, passando pelos seios. Primei_ro, um. Depois, o outro. Quando a jovem _HYPERLINK "http://tentou.se"_tentou se _afastar, o sultão agarrou-lhe um dos pulsos.

— Mas a alma dela é feia — Asaad acrescentou. Cam olhou para os dedos do sultão machucando a pele da moça. E o rapaz comentou:

— É difícil imaginar que uma mulher como essa pudesse fazer algo tão terrível que irritasse um ho_mem como você, Excelência — Knight disse, espe_rando que a mentira funcionasse.

Parecia ter dado certo. Asaad afrouxou a mão que apertava o pulso da moça, e comentou:

— Você está certo, Senhor Knight. Sou um ho_mem gentil, generoso. Mas Layla me persuadiu além da resistência humana.

O nome combinava com o cenário. Assim como o traje. Mas os olhos azuis e os cabelos dourados o con_fundiram. Eram raros naquele lugar, desconhecidos.

— Imagino que esteja pensando que ela não é da_qui — o sultão comentou.

Acertou em cheio, seu patife. Cam sorriu como se fosse algo que não tivesse muita importância.

— Eu me surpreendi.

— Eu a comprei. Não da forma como parece, eu lhe asseguro. Somos de uma cultura antiga, mas abo_minamos a escravidão. A senhorita veio até mim por vontade própria. É uma dançarina. É o que prefere di_zer que é. Mas, na verdade, é... Acho que a palavra que o seu povo usa é prostituta.

Cam balançou a cabeça, concordando. Estivera nesta parte do mundo antes. Mulheres assim se intitu_lavam modelos, atrizes, dançarinas... mas Asaad estava certo. Eram prostitutas à venda para quem as ar_rematasse pelo preço mais alto.

A loura permaneceu empertigada sob o olhar examinador de Cam. Será que tremia? Talvez, mas o vento que soprava do deserto era frio e ela estava quase nua. Isso explicaria. Assim como o fato de a moça ser prisioneira de Asaad, o que faria qualquer um tremer.

O sultão aproximou-se mais da jovem e comentou:

— Eu a conheci quando estava de férias, no Cairo. Ela estava se apresentando em um clube. Enviei uma mensagem... Bem, você sabe como essas coisas fun_cionam. Layla é uma mulher de talento significativo. Foi por isso que, na hora de voltar para casa, me ofe_reci para trazê-la comigo.

Cam lançou outro olhar em direção à mulher que levantara a cabeça. A dançarina fitava a escuridão além do pátio, e tremia.

— E ela aceitou — Cam retrucou.

— Claro. Sabia que valeria a pena. Tudo correu bem por algumas semanas. Era criativa, tinha imagi_nação. Mas eu me cansei. Um homem precisa de va_riedade, não é assim?

— Não seria mais simples mandá-la de volta ao Egito do que torná-la sua prisioneira, Excelência?

O sultão jogou a cabeça para trás e riu ao comen_tar:

— Você é divertido, Senhor Knight. Sim, claro. Muito mais simples. E era isso que eu estava tentado a fazer. Arrumei as coisas para enviá-la para casa — com um bônus substancial. Ontem, antes de partir, fi_quei sabendo que ela havia roubado uma jóia precio_sa dos meus aposentos. Isso depois de tudo o que lhe dei! Quando a confrontei, Layla tentou cravar um pu_nhal no meu peito. Venho tentado decidir o que fazer com ela.

O que fazer? O sultão queria dizer, como fazer. A penalidade para roubo e tentativa de assassinato só poderia ser a morte. Era um milagre que a mulher ti_vesse sobrevivido um dia. No dia seguinte, a dançari_na seria comida de abutres. Mas hoje à noite... Aí, en_tão, Cam compreendeu. Asaad tinha um plano.

A mulher tremia, estava exposta — mas era dócil. Por quê? Se a vida dela estava em risco, por que não estava implorando por perdão? Só deveria haver um motivo. O sultão deve ter lhe prometido misericór_dia. Tudo o que a moça tinha a fazer era seguir as or_dens dele. A dançarina era um presente para o ameri_cano.

Cameron a levaria para a cama, a jovem usaria de truques que o impedissem de pensar e Asaad a deixa_ria viver. Mas por quê? Será que era para a dançarina colocar uma faca na barriga de Cam enquanto fingia paixão? Não. Asaad desejaria Knight vivo até que as_sinasse o contrato.

Talvez o patife só quisesse espiar por um buraco na parede. Talvez os homens do sultão entrassem no quarto e o agarrassem quando o rapaz estivesse fa_zendo amor com a moça. Talvez aquela fosse a ver_dadeira diversão da noite.

— Layla tentou me matar. Não é digna da sua preocupação, Senhor Knight.

— Francamente, Excelência, minha única preocu_pação deve-se ao fato de o mundo perder os talentos da senhorita.

— De fato. Então, vai ficar feliz em saber que de_cidi dá-la a você por esta noite.

— Muita generosidade da sua parte. Mas deve lembrar-se do que eu disse antes. Tive um dia longo, e estou...

— Cansado. — Asaad piscou e acrescentou:

— Mas somos guerreiros, e sabemos qual é a me_lhor forma de renovar nossas forças. A menos que... Layla não é do seu agrado? Ela tem a moral de uma víbora do deserto, mas você não tem nada a temer. Meus homens vão montar guarda do lado de fora do quarto. Ela lhe dará um prazer que irá além dos seus sonhos mais selvagens.

— Estou certo que sim, Excelência. Ainda...

— Dê uma olhada melhor — o sultão o incitou. Asaad colocou uma das mãos em um dos seios da moça e, por cima do tecido dourado, beliscou o mamilo. A jovem se encolheu, mas não emitiu nenhum som. Cam colocou as mãos nos bolsos das calças para impedir a si mesmo de agarrar o sultão pelo pescoço. E se Asaad a maltratasse? A moça era dele e o sultão podia fazer o que quisesse.

Cameron vira coisas piores nos anos em que traba_lhara para o Serviço Secreto. Ainda assim, algo sobre o que estava prestes a acontecer deixou o estômago dele embrulhado.

— Toque-a você mesmo. Veja como a pele dela é macia — o sultão voltou a incitá-lo.

Asaad passou uma das mãos pelo corpo da moça, dos seios até a barriga. A jovem engoliu em seco e respirou fundo. O sultão riu e Cam sentiu o próprio corpo reagir.

O rapaz queria tocá-la. Cameron queria tirar Asaad do caminho e colocar as mãos em Layla. Sen_tia desprezo por si mesmo por causa disso, mas o de_sejo queimava dentro dele.

Cam queria desnudar os seios da moça, ver se os mamilos eram rosados como as pétalas de uma rosa ou da cor-de-ferrugem como damascos. O rapaz que_ria saboreá-los enquanto passava as mãos pelas coxas da jovem até o ponto central, quente e úmido.

Knight disse a si mesmo que havia uma razão lógi_ca para essa loucura. Toda a adrenalina que havia queimado nas últimas horas, prevendo o perigo, indo ao encontro dele, mantendo-se em alerta constante...

Qualquer homem estaria pronto para soltar essa adrenalina por meio do sexo. Não importava se a mu_lher era uma prostituta, uma ladra. Layla era bonita, e Cam a queria... Mas o rapaz não a tomaria para si. A moça era uma armadilha. Cam recuou e comentou:

— Faça o que quiser com ela. Não estou interes_sado.

Houve silêncio. Então, a mulher levantou a cabeça e sorriu com insolência enquanto o fitava, antes de dizer:

— O que ele quer dizer, Lorde Asaad, é que não é homem suficiente para me usar de forma adequada.

Layla falou em inglês, mas o insulto fora claro. E o sultão soltou uma risada. Então, Cam puxou a tira que sustentava o sutiã dourado da moça e o rasgou ao meio.

A jovem ficou pálida. Tentou cobrir-se, mas Cam agarrou-lhe as mãos.

— Gosta de jogar duro? — Knight sorriu e a exa_minou. Os seios eram perfeitos, cabiam nas palmas das mãos dele. Os mamilos eram como damascos ma_duros.

— Muito bem — Cam comentou.

Com os olhos presos aos da jovem, Cameron er_gueu uma das mãos, passando-a pelos seios dela. Quando a moça tentou se esquivar, os guardas a agar_raram e a forçaram a ficar quieta.

— Mudei de idéia. Vou ficar com ela — o ameri_cano disse.

O grito da jovem se perdeu em meio aos uivos de prazer da multidão quando Cameron a pegou, jogou-a por cima dos ombros e se dirigiu ao palácio.

 

                             CAPÍTULO TRÊS

A multidão de bárbaros rindo se afastou quando o americano passou por todos. Leanna surgira com um plano, mas dera errado.

Uma mão afagou o bumbum da moça. A dançarina gritou. O porco que a tocara disse algo que fez com que os outros rissem ainda mais.

— Por favor, você entendeu tudo errado — a jo_vem disse a Cam.

Knight resmungou. Nem podia ouvi-la. A moça estava dependurada em um dos ombros do rapaz como se fosse um saco de roupas. Desesperada, com as mãos amarradas, a jovem tentava segurar as pontas esfarrapadas do sutiã.

Algumas horas antes, tudo parecia claro. O que e como Leanna faria. Os gigantes a levaram até o sul_tão, que a examinara e sorrira como se a moça fosse um rato encurralado por um gato.

— Muito bom — Asaad disse.

Então, o sultão lhe dissera que teria de adiar a pri_meira vez deles juntos, como se ser violentada fosse algo pelo que a moça ansiasse.

— Tenho um convidado, um sócio — um empre_sário americano. Leve-o para a cama, mantenha-o ocupado de forma que só escute e veja você. Vou re_compensá-la fazendo com que a levem ao aeroporto e a mandem para casa.

Asaad nunca a libertaria, mas Leanna decidira que o melhor a fazer seria fingir que concordava. A dan_çarina seria levada ao quarto do americano como um presente. A porta seria fechada, o rapaz iria sorrir e a moça diria baixinho, porque as paredes têm ouvidos: Graças a Deus, você veio. Sou americana, fui rapta_da. Esperam que eu o mantenha ocupado de forma que fique surdo e cego para o que quer que seja que o sultão está planejando fazer a você. Temos de sair deste lugar horrível antes que isso aconteça.

Em vez disso, Leanna foi entregue como se fosse um pacote, na frente do sultão. Tudo bem. Esperaria até que estivesse a sós com o americano.

Nunca lhe ocorrera que o rapaz recusasse o pre_sente de Asaad. Os olhos de Cameron brilharam de desejo ao vê-la. O corpo dele enrijeceu. Tinha sido impossível não notar.

Então, o olhar quente se transformou em gelo. A dançarina não tinha a menor idéia do motivo de aqui_lo ter acontecido. Leanna precisava fazer algo, e rápi_do.

Knight era o exemplo de masculinidade — o rosto rígido, o corpo musculoso, a barba por fazer, os jeans desbotados e as botas de couro. Não era o tipo de ho_mem que aceitaria um insulto.

Então, a moça o provocou. O lado ruim foi que a provocação funcionara bem demais. Cameron rasga_ra o sutiã dela ao meio com um desejo tão gélido que a amedrontara mais do que qualquer coisa que acon_tecera até então... Mas não era tarde demais, Knight era compatriota dela. Isso tinha de contar a seu favor.

Os guardas às portas da entrada do palácio solta_ram risadinhas quando Cam passou por eles. As por_tas se fecharam. A dançarina e o americano estavam a sós.

Agora, Leanna disse a si mesma, e respirou fundo. A moça sabia que precisava permanecer calma, pare_cer racional. Se agisse dessa forma, conseguiria fazer com que. Knight a compreendesse.

— Senhor Knight? Esse é o seu nome, certo? O americano começou a subir as escadas.

— O sultão mentiu. Não roubei nada. Não tentei matá-lo. Nem mesmo me chamo Layla.

A moça sabia que o americano podia ouvi-la. Não havia multidão, nenhum barulho, apenas o som dos saltos das botas batendo no chão de mármore enquan_to o homem atravessava o corredor. Por que não dizia algo? — Está me ouvindo? Nenhuma resposta.

— Senhor. Me responda. Diga algo. Diga que en_tende o que eu...

— Cale a boca.

Leanna estremeceu e o golpeou nas costas. Era como se batesse em uma parede de pedra com seixos.

— Dane-se — a jovem gritou, e o mordeu em um dos ombros.

— Faça isso de novo e darei o troco.

— Você tem que me ouvir! Sei o que Asaad lhe disse, mas...

— Quer ser amordaçada?

Oh, Deus! O americano era mais selvagem que o sultão. Como fora estúpida ao pensar que o fato de terem a mesma nacionalidade criaria uma relação de decência naquele lugar esquecido por Deus.

A moça ouviu mais risadas e viu outra dupla de guardas. Knight passou por eles e por algumas portas antes de entrar em um enorme quarto. O americano a jogou na cama, dirigiu-se até as portas e as trancou.

— Finalmente a sós — Cameron comentou, frio. Leanna se encolheu na cabeceira da cama e disse, desesperada:

— Senhor Knight, sei o que pensa... Cam riu e comentou:

— Aposto que sim.

— Mas está errado. Não sou o que o sultão...

A moça abriu bem os olhos quando o americano co_meçou a desabotoar a camisa. Leanna acrescentou:

— Espere. Por favor. Não compreende.

O olhar de Cam baixou até os seios que a jovem tentava esconder.

— Tire isso.

— O quê?

— Livre-se desse sutiã rasgado. Gostei do que vi no pátio, Layla. Quero ver novamente.

— Meu nome não é Layla. É...

— Não ligo a mínima para qual seja o seu nome. Não vamos beber vinho e trocar números de telefone. Vamos direto ao que interessa. Livre-se desse sutiã.

— Não sou prostituta. Não sou nada do que Asaad disse.

— Nada de jogos. Não estou a fim de fingir que sou o bárbaro e você, a donzela.

— Não estou jogando, apenas tentando...

— Como quer fazer isso?

— Eu não sigo...

— Da forma mais fácil? Se quiser, posso fazer com que seja bom para você.

— Não quero! Continuo dizendo, sou americana, assim como você.

— Não é como eu. Se fosse, não iria querê-la na minha cama.

— Me dê um minuto. Posso explicar. Asaad disse coisas a meu respeito, mas...

— Mas não é verdade.

— Sim! Graças a Deus! Entendeu! Você... O que está fazendo?

Era uma pergunta desnecessária. Era óbvio o que Knight estava fazendo. O americano estava se des_pindo, descalçando as botas, livrando-se da camisa.

Leanna sentiu um aperto no coração. A jovem sen_tira a força do americano quando este a carregara. Mas, ao vê-lo daquela forma, com o peito exposto, os ombros nus, a moça sabia que não tinha chances con_tra ele. O homem que a tinha por uma noite era como uma pantera, e mortal.

O americano dissera que não estava a fim de brin_cadeiras, mas estava jogando, deixando-a balbuciar e implorar por misericórdia. Talvez isso o divertisse. A única certeza da moça era que, quando o rapaz se can_sasse daquele jogo, ele a dominaria sem nenhum es_forço.

— Sei que está chateado comigo, mas...

— Só estou cansado de ouvi-la falar.

— O que eu disse lá embaixo... Só queria chamar a sua atenção.

— Conseguiu.

— Tinha que encontrar um jeito de ficar sozinha com você.

— Estou sensibilizado.

Cameron tirava o cinto. A moça ficou aterrorizada como se fosse um animal pequeno querendo escapar, mas Leanna sabia que isso poderia excitá-lo ainda mais.

— Preciso da sua ajuda. Juro! Só me escute e...

— Não respondeu à minha pergunta. — Cameron disse e caminhou em direção à moça. O olhar dele percorria os seios, a barriga, as coxas da dançarina.

— Posso tomá-la lentamente, ou sem quaisquer preliminares. Você decide.

Leanna sufocou um soluço quando Cam chegou à cama. A jovem tentou rolar para fora dali, mas o ame_ricano segurou-lhe um dos tornozelos e a puxou para o meio do colchão.

— Da forma mais difícil. Tudo bem — Knight res_mungou.

— Não — a moça disse. Cam estava por cima da dançarina e a jovem lutava pela própria vida, chutan_do, investindo contra o americano, tentando alcançar o ponto frágil dele, dando-lhe uma joelhada.

— Tudo bem, então é isso — Cameron disse, im_placável.

O rapaz foi rápido ao soltar a corda que estava nas mãos da moça, amarrando-a à cabeceira da cama. Quando Leanna chutou com mais força, Cam tirou o cinto que estava nos jeans e o amarrou em torno do tornozelo direito da jovem, prendendo-o a um dos pés da cama. Depois, o americano levantou-se e re_tornou com um lenço, prendendo o tornozelo esquerdo da dançarina e o amarrando ao outro pé da cama. A bailarina gritou, aterrorizada.

— Grite. Por mim, tudo bem. Pode apostar que te_mos uma multidão ouvindo atrás da porta. Gritando, você torna o show mais interessante.

— Não, por favor — a moça sussurrou.

— Por que não? Porque não paguei a entrada? — Cam deitou-se ao lado dela.

— Oh, Deus — Leanna disse. A moça desviou o rosto, fechou os olhos e deixou que as lágrimas caís_sem. Tudo o que podia fazer agora era sobreviver.

A dançarina era boa, Cam pensou. Que apresenta_ção! De uma mulher tentadora sensual a uma inocen_te aterrorizada em, quanto, vinte minutos? Infeliz_mente, o discurso era quase tão real quanto a oferta — da moça como presente — feita por Asaad.

Por que aquela cena? Primeiro, a provocação. De_pois, o desinteresse. A única certeza era que a senhorita era boa atriz. Provavelmente, ainda melhor como parceira de cama. Quantos homens será que pagaram pelos serviços dela? O americano deixou o olhar se mover devagar, passando pelos seios nus, as coxas douradas estendidas para o prazer dele.

Cameron estava tão excitado que morreria se não a tomasse logo. Então, por que hesitava tanto? O medo da moça não era real. Fazia parte da apresentação. Tudo bem.

Além disso, a jovem não lhe dera escolha. O tipo de jogo que a moça fazia só podia levar a uma conclu_são. Era um jogo, não? Seria possível que Leanna es_tivesse falando a verdade? Que não queria nada com ele? Não. Impossível. Se fosse o caso, poderia ter o desejo dela atendido sem qualquer esforço. Knight dissera ao sultão que não a queria.

Por que, então, a moça o havia provocado? A me_nos que quisesse fazê-lo mudar de idéia. Os olhos de Cam se apertaram. Tudo aquilo cheirava a um plano ilegal para conseguir dinheiro. A moça fora arrastada até ali como uma criminosa. Asaad dissera que a ma_taria. A jovem afirmara que Cam não era homem su_ficiente. Depois, implorara ajuda.

Será que tudo o que acontecera era para aumentar a carga erótica da situação de forma que o americano pensasse com os hormônios, e não com a cabeça? Se fosse isso, havia funcionado. Mas Cameron se acal_mara. Voltara a pensar. E lembrava-se de que a porta e as janelas estavam trancadas. O americano tinha uma Beretta — uma pistola automática — embaixo do colchão e uma linda mulher na cama.

O corpo de Cam voltou a se contrair. E o america_no iria possuí-la. O estresse tinha conseqüências. A vida nas Forças Especiais e, depois, no Serviço Se_creto lhe ensinara isso. A meditação tinha sua hora. Porém, em certas ocasiões, era preciso mais do que isso.

Alguns homens usavam o álcool. Outros optavam pelas drogas. Cam aprendera que o que funcionava com ele era sexo, selvagem e ardente. Sexo com uma mulher bonita e experiente para fazê-lo esquecer-se das sutilezas do comportamento civilizado.

Layla se encaixava no que o americano precisava. Alguns longos minutos sentindo o calor doce como mel, saboreando aquela boca suave e Cameron estaria bem. Ficaria melhor quando a moça admitisse que desejava também. A jovem era boa ao fingir que não queria. Porém, dera um passo em falso, mostrando que queria, há alguns minutos, quando Cam estava despindo a camisa.

O rapaz não vira medo nos olhos da moça. E, sim, que a jovem tomara consciência dele como homem. E era assim que Cameron queria, agora que havia reas_sumido o controle das próprias emoções.

Jogos? Certamente. Uma mulher magnífica que era dele, mas fingia não querer ser, podia gerar excitação. Mas violentá-la, não. Era hora de a encenação acabar e a realidade começar.

Cam voltou a olhar para a mulher deitada embaixo dele. Era bela, uma criatura de pele clara, dourada, e cabelos dourados mais escuros. Era uma dançarina, Asaad dissera. Não importava o resto. Era assim que pensaria agora, a moça como sua parceira em uma dança erótica com a qual ambos se deleitariam.

— Olhe para mim — Cam disse.

Como a moça não olhou, o rapaz pegou-lhe o quei_xo e a forçou a fitá-lo, dizendo:

— Abra os olhos.

Lentamente, a jovem fez o que o americano orde_nara. Os olhos eram de um azul profundo como um céu de verão. Os cílios eram longos e espessos, e es_tavam molhados. Lágrimas? Definitivamente, a moça era boa no que fazia. Sabia fazer um homem desejá-la, e Cam a queria muito.

— Nunca paguei por uma mulher. Mas, se fizesse isso, começaria com você.

Com a ponta de um dos dedos, o americano traçou o contorno do lábio inferior da moça e sentiu-a tre_mer. Cam abaixou a cabeça e a beijou.

— Durante todo o tempo em que estivemos no pá_tio, fiquei pensando na sua boca — Knight sussurrou.

Devagar, o rapaz voltou a beijá-la. Dessa vez, com mais intensidade.

— Pare de fingir que não quer. Me beije. Deixe-me sentir seu gosto e fazer isso da forma certa — o americano comentou.

A moça tentou se afastar quando o americano vol_tou a baixar a cabeça. Cam acariciou-lhe os cabelos, enquanto mantinha a boca da jovem presa à dele.

O jogo continuava. Knight a beijou. A boca da jo_vem era quente e suave. Cam gemeu, mudou o ângulo do beijo até que a moça emitiu um pequeno som e os lábios dela se abriram.

— Isso — Cameron disse e a beijou novamente, sentindo a delicadeza doce do tremor da jovem en_quanto a saboreava. Aquela mulher o estava enlou_quecendo. O gosto daquela boca. O cheiro da pele. Os seios nus contra o peito dele...

Cameron se afastou e acariciou-lhe os seios. A moça estava com os olhos bem abertos e ficou corada.

— Você tem seios incríveis — Cam disse, a voz rouca.

— Por favor, eu lhe imploro... — a moça sus_surrou.

— O quê? — Knight observava os olhos da jovem enquanto acariciava um dos mamilos e ouviu a respi_ração dela.

— Gosta disso? Me diga do que gosta.

Cam se abaixou e beijou-lhe um dos mamilos. A moça gemeu e arqueou o corpo em direção ao ameri_cano. E um soluço explodiu na garganta, o som era alto e selvagem, repleto de algo que o rapaz não con_seguia definir bem. Seria admiração?

Knight a desejava. Queria ser o primeiro homem que tivesse arrancado aquele som dessa mulher que se deitara, só Deus sabe, nos braços de tantos outros.

A jovem respirava de forma descontrolada, ge_mendo, contorcendo-se conforme Cameron a acari_ciava e beijava-lhe o corpo quente. Não dissera nada que o americano pudesse ouvir, apenas sussurrava quando o rapaz a tocava.

— Me diga o que eu faço você sentir — Knight disse, a voz repleta de desejo.

Cam passou uma das mãos por entre seus corpos. Acariciou-lhe uma das pernas. Sentiu o calor daquela pele feminina e o cheiro inconfundível de desejo que a jovem exalava.

— Deus — a moça sussurrou.

Leanna ergueu a cabeça, suspirou e ofereceu-se para beijá-lo. Com um rosnado forte, Cam aceitou, sentindo o toque daquela língua feminina. Ouviu a moça suspirar e sabia que a estava levando consigo para um redemoinho de desejo onde nada nem nin_guém importavam, exceto aquele momento.

Cameron voltou a senti-la tremendo. Pare, uma voz dentro dele sussurrou. Isso é um erro. Mas era tarde demais. O americano ansiava pela rendição da jovem tanto quanto pela própria libertação.

A moça mexeu-se, um pequeno roçar das coxas que o fez gemer. Era excitante fazer amor com aquela mulher, e senti-la reagir. Afinal, a dançarina per_manecia vulnerável, com os pulsos e os tornozelos presos.

Mas Cam queria mais. Queria os braços daquela mulher em torno do pescoço dele, as pernas femini_nas apertando seus másculos quadris enquanto mer_gulhava naquele corpo macio.

Knight passou a mão por uma das coxas da moça. A pele dela queimava, assim como o americano. Cameron beijou-a no pescoço e disse:

— Agora, me diga do que gosta, o que quer. Farei com que se torne realidade, prometo.

— Por favor, me desamarre, e eu lhe mostrarei — a moça sussurrou.

Cameron hesitou, mas por pouco tempo. Então, o americano soltou-lhe os pulsos. Knight estremeceu quando a moça passou as mãos por aqueles braços másculos até chegar ao peito. O rapaz a beijou e Leanna mordiscou-lhe os lábios.

— Por favor — a moça disse.

A hesitação de Cameron foi mais longa dessa vez. Mas a bela bruxa se mexia com a delicadeza de uma gata. O americano parou de pensar, e soltou-lhe os tornozelos. Depois, voltou a beijá-la, lentamente. As_sim como seria quando os dois corpos se fundissem, no minuto seguinte. Não dava para esperar mais.

Knight a tomaria para si de uma vez, rapidamente. Depois, devagar, de forma que durasse muito tempo. A moça voltou a mexer-se. Cam a fitou. Os olhos dela brilhavam.

— Você disse que me mostraria o que quer — o ra_paz sussurrou.

— Sim, farei isso.

— Me mostre — Knight voltou a dizer. Então, fi_cou quieto ao sentir o aço frio contra o próprio ab-dome.

A mulher sorria. Depois, falou aos ouvidos dele:

— Tenho uma faca encostada na sua barriga. Se fi_zer algum movimento estúpido, juro que vou usá-la.

 

                             CAPÍTULO QUATRO

A reação de Cam foi tudo o que a moça havia espera_do. Tivera sorte ao guardar a pequena espátula de unhas. A moça a agarrara quando estava sendo vesti_da pra o encontro com o sultão. Aí, guardou-a dentro da tira dourada para o momento em que pudesse usá-la. E, agora, esse momento chegara.

Quando Knight aspirou, tentando, de alguma for_ma, manter distância entre ele e a ponta aguda, a jo_vem quase chorou de felicidade. Era a primeira coisa que dava certo.

Só agira errado até agora, subestimando Asaad, o visitante... E subestimando a própria reação do que acabara de acontecer naquela cama. Knight a amarra_ra, a tocara, a beijara. Leanna lutara, fizera tudo o que podia para mantê-lo longe...

E, então, algo mudara. O terror que sentira se per_dera em uma maré crescente de calor. As mãos más_culas nos seios dela, o gosto daquele homem na boca da jovem...

Nada tinha importância. A situação se invertera. A dançarina tinha uma arma. A balança de poder se in_vertera, e permaneceria dessa forma.

Quando a jovem sentiu que o americano começava a se mexer, Leanna agiu, pressionando ainda mais a lima.

— Não faça nada estúpido — a jovem sussurrou.

— Que diabos pensa que está fazendo? — Cam perguntou com uma voz suave. A bailarina sabia que o americano estava mantendo a voz baixa de forma que ninguém, com os ouvidos à porta, suspeitasse do que estava acontecendo.

— Estou pressionando a ponta de uma faca muito afiada contra o seu estômago, Senhor Knight. Não me faça usá-la.

— Vá devagar, tudo bem? Fique calma e me diga o que quer que eu faça.

— Quero que saia de cima de mim.

— Certamente. Sem problemas. Você só precisa — Ei! Vá devagar com essa lâmina.

— Não tente me enganar. Quero que saia de cima de mim. E, depois, quero que me tire deste lugar.

— Tudo bem. Me dê a faca e conversaremos sobre isso.

Leanna quase riu. Será que Knight pensava que a moça era estúpida? Se a dançarina fizesse o que o americano pedia, Cam a amarraria antes que a jovem pudesse piscar. Depois, a puniria pelo que havia fei_to. Aquele corpo poderoso a jogaria de encontro ao colchão. O americano a beijaria até que a moça im_plorasse por misericórdia... até que aquele corpo fe_minino traiçoeiro se derretesse ao toque dele como acontecera antes.

Irritada com o americano, consigo mesma, com o fato de que nada fazia sentido, a dançarina respon_deu, friamente:

— Não há nada a dizer. Faça o que eu quero ou vou furá-lo.

— Foi essa faca que tentou usar contra Asaad?

— Exatamente.

— Pensei que tivesse me dito que não havia tenta_do matá-lo.

— Menti.

— Por quê? Qual o sentido em...

Leanna pressionou a ponta da lâmina contra a bar_riga do americano e disse:

— Lembra-se do que disse sobre termos uma con_versa? Eu não me esqueceria disso, se fosse você. Nada de explicações. Sou eu quem dá as ordens agora.

— Então, tente dar uma que me livre de você. É di_fícil pensar com essa coisa na minha barriga... e com a senhorita embaixo de mim.

Leanna sentiu o rosto corar. O americano estava certo com relação ao fato de a moça estar embaixo dele. Continuavam juntos como se fossem amantes. E, por mais que parecesse impossível, Cameron per_manecia excitado.

— Além disso, se não começarmos a fazer algo em breve, teremos o quarto repleto de pessoas querendo o dinheiro delas de volta.

A dançarina piscou e perguntou:

—- O quê?

A voz de Cam era suave como um sussurro, como se o americano estivesse falando coisas que um ho_mem deveria dizer a uma mulher na cama.

— Não me diga que não imaginou que tivéssemos uma audiência.

— Você diz... gente vendo?

— Talvez. Mas, certamente, ouvindo. Como Asaad saberá o momento de dar o próximo passo?

Dessa vez, a moça é quem ficou surpresa e per_guntou:

— Sabe que o sultão vai fazer algo contra você?

— Imagino que sim.

— Bem, se imaginou isso, deve ter alguma idéia. Um homem astuto teria. Mas, na última meia hora,

Cam sabia que havia sido qualquer coisa, exceto as_tuto. Ainda assim, o americano tinha a Beretta ao al_cance de uma das mãos. E a moça tinha uma faca en_costada na barriga dele.

— Eu tenho — Cameron confessou.

— Qual é?

— Você tira essa faca daqui. Então, eu lhe conto o meu plano.

— Esqueça isso. — A dançarina hesitou. Depois, perguntou:

— Tem algum lugar onde possamos conversar sem que nos ouçam?   '

— Talvez.

— Onde?

— No banheiro. As paredes e o chão são de már_more. Nós entramos, fechamos as portas, ligamos o chuveiro para abafar o som das nossas vozes. Aí, tal_vez tenhamos uns cinco minutos de conversa antes que fiquem nervosos.

— Se estiver certo — se estivermos sendo vigia_dos —, não vão questionar nossa ida ao banheiro? Podem pensar que só iríamos lá se quiséssemos nos livrar deles.

— Não se jogarmos as cartas certas.

— O que quer dizer?

— Vou fazer algo para que pensem que quero lhe dar um banho.

A moça pressionou ainda mais a ponta da faca na

barriga de Cam.

— Você usa essa coisa, e a nossa chance de esca_par cai de um para zero. — Cam desviou-se, os olhos do americano sempre presos aos da dançarina.

— Sabe o que quero? — Cameron perguntou em voz alta e acrescentou:

— Um banho. Óleo perfumado, velas... A moça o fitou.

— Diga alguma coisa — o americano sibilou.

— Um banho? Isso parece...

— Sim.

Cam a tirou da cama, segurou a respiração e esperou pelo que quer que fosse que a moça tivesse na mão — uma faca de trinchar, uma faca de cortar carne. Knight queria saber o tamanho daquela faca, pois a moça tinha sido capaz de escondê-la na tira dourada.

— Hora do banho — o americano disse em voz alta enquanto a carregava até o banheiro, fechando a porta ao empurrá-la com um dos cotovelos.

A moça começou a falar. O rapaz calou-a, colo_cando um dos dedos sobre os lábios dela. E esperou. Nada aconteceu. Nenhuma batida à porta do quarto, nenhum grito, nenhum passo no corredor. Ainda segurando-a, esticou-se para abrir as torneiras da ba_nheira. A água caía, batendo forte contra o mármore.

— Agora, me dê a faca — o americano disse, cal_mamente.

— Me conte o seu plano. Depois, a faca.

Cam cerrou a mandíbula. A senhorita era tão difí_cil quanto bonita. O rapaz teria de lidar com a moça com mais cautela.

— Vou colocá-la no chão. Não faça nada de que possa vir a se arrepender.

— Você é quem vai ter mais a lamentar do que eu.

— Tudo bem. Me conte o que sabe.

— Asaad está planejando algo.

— E?

— Quer que eu o distraia.

— É isso?

— Não é suficiente?

Cameron passou uma das mãos pelos cabelos e murmurou:

— Que maravilha! Minha própria Salomé.

— O quê?

— Salomé. Lembra? A moça bonita que fez com que um sujeito ficasse tão excitado que nem percebeu quando ela o decapitou para o rei.

— Enquanto tenta bancar o astuto, provavelmente, Asaad se prepara para nos matar. O que vamos fazer?

Nós? Cam quase riu. Não havia "nós". O america_no só se interessava em tirar a arma que a jovem man_tinha contra ele. Depois, o rapaz diria adeus e iria em_bora.

Leanna estava sozinha. Se Cam a levasse consigo, a moça seria uma responsabilidade a mais.

— Tudo bem — Cam disse, mentindo. E acres_centou:

— Mas você não vai gostar do meu plano.

— Experimente.

— Estão à espera do grande momento, do clímax, como se houvesse um.

A moça ficou corada e perguntou:

— Acha isso divertido?

Leanna voltou a se aproximar e Cam sentiu a lâmi_na novamente encostada na barriga dele. A jovem co_mentou:

— Talvez você ache isso divertido também.

— O que eu acho é que você fala demais.

O americano a empurrou de encontro à parede, se_gurou-lhe o rosto com uma das mãos e voltou a beijá-la. A moça arfava, surpresa. Então, Cam aprofundou ainda mais o beijo. Leanna gemeu e Cameron lem_brou a si mesmo de que aquilo era uma encenação.

Tudo uma encenação, pensou... E, com um dos polegares, pressionou uma artéria entre a clavícula e a garganta da moça. Leanna perdeu as forças e tombou nos braços do americano. A arma com a qual a dança_rina o ameaçara caiu em uma das mãos dele. Não era uma faca, mas uma lima de uns sete centímetros e meio.

Cam ergueu os olhos até o rosto da moça. A cor es_tava voltando aos poucos.

— O que fez comigo? — sussurrou.

— Um pequeno truque, só isso.

— Patife!

— Oh, você não gosta de truques. É adepta da ver_dade... como o que fez na cama. O gemido. O suspiro. Tudo real, certo?

— Fiz o que tinha de fazer.

— Lembre-se daquelas palavras — o americano disse, e foi quando Leanna soube que Knight escapa_ria sem ela.

A dançarina não podia deixar que isso aconteces_se. Tinha de haver um meio de fazê-lo concordar em levá-la junto, mas qual?

— Tudo bem. Aqui está como vamos fazer isso. Você fica aqui. Vou voltar ao quarto e...

— Não.

— O que quer dizer com não?

— Ficamos juntos.

— Essa é a única maneira.

Droga, era verdade. A arma estava no quarto, e as botas, assim como a janela que dava para uma trilha que levava ao pátio.

— Por que devo esperar aqui se você vai ao quarto?

— Tenho uma arma lá. Preciso pegá-la.

— Está planejando sair por uma das janelas do quarto.

— Não seja maluca.

Leanna moveu o queixo na direção de uma enorme janela perto da banheira e perguntou:

— E essa aqui?

— O que tem?

— Será que abre?

— Claro que abre. — Provavelmente. Knight ten_tara abrir as janelas do banheiro, não aquela, mas o que importava? Não a usaria.

— Me mostre.

— Eu lhe disse, minha arma...

— Está mentindo. Não há arma alguma. Só quer escapar sem mim.

— Por que eu faria isso?

— Veja. A água está quase chegando ao topo da banheira — Leanna o avisou.

— Sim. — Cam fechou as torneiras e disse: — Tudo bem. Vou abrir a porta e...

— Você vai abrir a janela — a moça disse e gritou. Cam abriu bem os olhos, descrente. O americano xingou, tapou-lhe a boca com uma das mãos, mas era tarde demais. Algo se chocara contra as portas do quarto.

Knight rodopiou e trancou a porta do banheiro. Entretanto, o ferrolho era velho e não agüentaria mais do que alguns golpes. Porém, qualquer atraso era melhor do que nenhum.

Salomé já estava à janela, empurrando a tranca quando comentou:

— Emperrou!

Cam xingou, empurrou a moça para o lado e bateu na tranca com um dos punhos. A lima. Será que...? Sim. Algumas estocadas e a tranca abriria.

Os sons vindos do quarto cresciam cada vez mais. As portas seriam abertas a qualquer segundo.

— Estão vindo! — Leanna sussurrou, apavorada.

— Que surpresa... — Cam murmurou enquanto empurrava as venezianas, chutava o vidro e subia no peitoril.

— Por favor! Não me deixe aqui!

Cameron virou-se, olhou para a mulher, viu os ca_belos dourados por cima dos seios nus, os olhos cor de céu repletos de esperança e de terror. A jovem se metera naquela confusão, viera àquele lugar infernal para tirar o que conseguisse de Asaad, e agora o for_çava a uma fuga sem preparo. A Beretta, que podia ser a única chance de sobrevivência, estava tão longe do alcance dele quanto o mundo que o rapaz deixara para trás quando saíra de Dallas.

— Por favor, não me deixe — a moça sussurrou.

Os sons vindos do lado de fora aumentaram, como se as portas estivessem sendo golpeadas com um aríete.

— Por favor — a jovem disse, desesperada.

— Se me causar qualquer problema, eu a deixo. Entendeu?

— Sim.

Cam estendeu-lhe uma das mãos e a puxou para cima do peitoril.

— Vamos pular e correr quando tocarmos o chão — o americano a avisou.

— Correr para onde?

— Para qualquer lugar que eu disser. Pronta?

— Pronta.

Leanna estava assustada. Bom, o americano pensou. Devia ser mais fácil de lidar com a moça uma vez que estava assustada.

— Um, dois...

Os dois pularam. Cam deu uma olhada rápida ao redor. Estavam em um corredor.

— Você é tão boa para correr quanto é em promover jogos na cama, Salomé? — Cam não esperou por uma resposta, nem pretendia esperar por uma. Em vez disso, ele a empurrou para trás de si e disse:

— Me siga. Corra como se cães de caça, vindos do inferno, estivessem atrás de você.

Cameron era rápido. Podia correr quase oito quilômetros sem problema. Se a moça pudesse acompanhar, bem. Caso contrário...

O americano parou quando chegaram a uma esquina. A moça bateu de encontro ao rapaz. Cam gesticulou para que a dançarina ficasse atrás dele. Depois, espiou a seu redor. Os veículos que haviam participado do comboio continuavam estacionados ali.

— Fique aqui — Knight sussurrou.

— De jeito nenhum.

— Fique aqui, droga! — Cam agarrou uma das mãos da moça, deu-lhe a lima e disse:

— Use isso se precisar.

O americano começou a sair dali, das sombras.

— Espere! — Leanna sussurrou, a voz indicando urgência.

Cam virou-se e a fitou.

— O quê?

— Não sei o seu nome. Quero dizer, não posso continuar chamando-o de Senhor Knight.

— É Cameron. Cam.

— Cam — a moça repetiu e sorriu, trêmula.

Em um impulso, Knight enterrou uma das mãos nos cabelos da jovem, agarrou-lhe a cabeça e a bei_jou. Depois, respirou fundo, agachou-se e começou a correr em direção aos veículos estacionados.

A sorte estava ao lado dele. Os motoristas não ha_viam retirado as chaves da ignição. Cam pegou cada uma delas, de todos os veículos, e as jogou em um dos bolsos das calças.

Knight acabara de chegar ao Humvee, que encabe_çava a fileira de veículos, quando um resmungo de uma multidão irritada quebrou o silêncio da noite. A esquadra de capangas do sultão havia derrubado a porta e não encontrara ninguém. Cam girou e gritou:

— Salomé, corra!

A jovem correu ao encontro do americano e jogou-se dentro do veículo enquanto Knight virava a chave. O motor entrou em funcionamento e o Humvee saiu em disparada no momento em que os primeiros ho_mens de Asaad surgiram.

— Abaixe-se — Cam ordenou. Como a moça não se mexeu rápido, o americano esticou-se e, com a palma de uma das mãos, empurrou a cabeça dela para que ficasse embaixo do assento.

— Droga, o que foi que eu disse? Faça o que eu mandar.

— Deixei a lima cair — a moça contou, sem ar.

— Isso é ruim — Cam comentou, ríspido, enquan_to trocava as marchas. E acrescentou: — Acho que você vai ter que se virar.

Cameron sabia muito bem que a moça havia pen_sado na lima como uma arma perdida. Porém, agora, ambos tinham preocupações maiores graças a ela. A dançarina o forçara a uma fuga que o americano não planejara e para a qual não estava preparado.

O barulho de um rifle Kalashnikov atravessou a noite, mas os dois se afastavam rapidamente. Em pouco tempo, os homens e as balas estavam para trás, distantes demais para serem motivo de preocupação.

À frente deles, o deserto infindável. E qualquer que fosse a escassa esperança que os dois tinham de sobreviver.

 

                                   CAPÍTULO CINCO

O Humvee cruzou a areia do deserto, voando. Cam jogou pela janela todas as chaves dos veículos que pegara enquanto Leanna se ajeitava com o que sobra_ra do sutiã. De alguma forma, a moça conseguiu amarrar as pontas. Era surreal atravessar um deserto, em alta velocidade, ao lado de um homem como Cameron Knight.

Será que a jovem realmente estivera dançando em Ankara alguns dias antes? Agora, estava em um lugar governado por psicopatas. A vida da bailarina estava nas mãos de um estranho, que dirigia como se esti_vesse numa corrida de carros, os olhos fixos no que quer que fosse que estivesse à frente deles.

Areia, a jovem pensou, com amargura. Era isso que havia à frente dos dois. Areia e a vida dela, nas mãos enérgicas daquele homem. Entretanto, aquelas mãos não haviam sido rudes quando a tocaram. A pele da moça ainda formigava devido à carícia do americano.

Sentindo o rosto quente, a jovem desviou-se em direção à janela lateral. Por que pensar nisso? Era uma dançarina preparada. Sabia como representar. Foi o que fizera nos braços dele, e sem muito esforço.

Agora, a moça tinha outro papel a representar. Ti_nha de evitar que o americano a largasse e, para isso, precisava ser...

— ...útil.

Leanna piscou e perguntou:

— O quê?

— Eu disse, que tal fazer algo de útil?

— Como o quê?

Como encontrar uma maneira de se cobrir, Cam pensou. O americano segurou o volante com força. Ao menos, a dançarina conseguira ajeitar o sutiã e os seios estavam cobertos. Mas ainda ameaçavam pular daquelas taças douradas. As pernas, estendidas e realçadas pelas fitas que serpenteavam, tinham de es_tar a mil quilômetros de distância. E se aquela maldi_ta tira na barriga abaixasse um pouco mais...

— Veja o que consegue encontrar para levarmos conosco quando nos livrarmos do Hummer.

— Por que nos livraríamos do veículo?

— Porque é um alvo fácil demais.

Leanna abriu um compartimento e fez uma busca minuciosa pelo local.

— Temos um bloco e uma caneta — a dançarina avisou.

— Algo mais?

— Fósforos. E uma coisa grudenta que cheira mui_to bem.

— Me mostre.

A jovem lhe mostrou uma massa de cor creme. Cam comentou:

— Halvah. É um doce rico em proteína e gordura, típico do Oriente Médio e da Ásia. Uma mistura de queijo com gergelim torrado, coberto com açúcar ou mel. Bom achado. Algo mais?

— Essa caixa pequena. Algum tipo de engenhoca elétrica.

Uma luz bruxuleante refletida no espelho chamou a atenção de Cam. O americano a olhou por alguns segundos. Faróis, porém muito atrás, distantes deles. Os homens de Asaad os haviam encontrado, mas a dupla ainda tinha algum tempo.

O olhar de Salomé seguiu o de Knight. A jovem indagou:

— É Asaad?

— Não se preocupe. Deixe-me ver a engenhoca. Cam desviou o olhar do pára-brisa e comentou:

— É um GPS. Um aparelho chamado Sistema de Posicionamento Global. Supondo que ainda tenha eletricidade, seremos capazes de saber onde estamos.

— E o que faremos?

— Darei as coordenadas para algumas pessoas que podem nos ajudar.

— Como?

— Tenho um telefone celular.

— Um celular? Então, por que não...

— Tentei hoje de manhã mais cedo, mas não con_segui sinal.

A moça recostou-se no banco e cruzou os braços, tampando os seios. Não, não por cima deles, exata_mente. Os braços estavam embaixo deles. Assim, as taças douradas ergueram, como se ofertassem aquela pele cuja essência de mel o americano ainda sentia na boca.

— Droga — Cam disse, furioso com a dançarina, consigo mesmo, com a estupidez de pensar em sexo em uma hora como aquela. E acrescentou:

— Não fique aqui sentada. Vá para o banco trasei_ro. Veja o que mais consegue encontrar. Você precisa colocar alguma roupa.

— Estou bem.

— Faz frio no deserto à noite. Se você tiver um choque térmico, vai me retardar. Vá lá para trás e apareça com algo.

Leanna o fitou de um jeito que não parecia amigá_vel, mas ficou de joelhos e vasculhou a parte traseira do veículo. Foi uma mudança infeliz. O bumbum fi_cou em evidência. Cam grudou os olhos no pára-bri_sa. Parte do quadril da jovem roçava em um dos om_bros do americano. Algumas fitas douradas pendiam pela coxa do rapaz e, de repente, Knight teve uma vi_são daquelas fitas enfeitando o colo dele quando a puxasse para si.

— Encontrei algo! — a moça exclamou.

— O quê?

— Uma mochila. Há coisas dentro. Água. Uma ca_misa. Uma camiseta. E...

— E o quê?

— Nada. Pensei que houvesse algo, mas... Não é nada.

E pior que havia. A dançarina estava mentindo, mas por quê?

— Maravilha. Fique com a camisa. Jogue para mim a camiseta.

A moça subiu no banco. Uma das coxas voltou a roçar nele. O americano pensou em como havia colo_cado uma das mãos entre as pernas da jovem e sentira o calor daquela pele feminina... O veículo deu uma guinada.

— Viu alguma coisa? — a dançarina indagou. Droga, Cam vira a própria falta de habilidade para arranjar a situação. Mas o americano entendera o pro_blema. Frustração sexual. Estivera prestes a conse_guir o que queria, o que Salomé prometia mas não entregava, e fora interrompido.

Cam precisava completar o que havia iniciado. Tomaria Salomé nos braços, então ele a deitaria na areia e ambos fariam amor até que estivessem exaus_tos. Dessa forma, Knight poderia se concentrar em salvar a própria pele e, conseqüentemente, a dela.

— Agarre-se ao volante. A moça apoiou-se em Cameron. Rapidamente, rapaz vestiu a camiseta.

— Tudo bem. Pode voltar a se sentar — Cam disse.

— Não me respondeu, Cameron. Viu algo? Porque acho...

— Me chame de Cam. E me faça um favor. Não pense. Não quero que se canse mentalmente. Apenas vista aquela maldita camisa e jogue o resto do que achou dentro da mochila.

Leanna olhou para Cam. Então, a moça pegou a camisa e a vestiu. Muito melhor. A dançarina estava mais quente, e não precisava vê-lo lançando-lhe olhares como se ela fosse alguma rainha de vídeo para menores de dezoito anos.

Esse homem era o patife mais indelicado que a jo_vem conhecera. Tudo bem, talvez tivesse complicado um pouco as coisas, arriscado demais, feito o ameri_cano sair sem a arma. Porém, sem a ajuda dela, talvez o sujeito estivesse morto.

Ou talvez ainda estivessem na cama. A dançarina puxou a mochila para perto de si, como se aquilo a confortasse. A última vez que carregara uma mochi_la, Leanna tinha doze anos e era escoteira. Lá dentro, havia um cantil, um pacote de cereais, frutas secas e um sanduíche de creme de amendoim.

Agora, a mochila nos braços dela tinha água, halvah, fósforos e um GPS... E uma arma automática. Era tudo o que a moça sabia, mas era o suficiente. Não estava mais indefesa.

Leanna deu uma olhadela em Cam. Era um patife insensível. Entretanto, a dançarina tinha de admitir que o americano também era grande, forte e atraente, um exemplo esplêndido de masculinidade.

E daí? Não confiava no americano. O fato de ter boa aparência não mudava nada. Sentira o peso da_quele homem enquanto estivera presa à cama. Senti_ra-o poderoso e forte. E Leanna, feminina e suave, Quando Cam colocou uma das mãos por entre as per_nas dela... se a moça tivesse se mexido, só um pou_quinho...

— Estão atrás de nós — Cam a avisou.

Leanna olhou para trás e viu uma série de luzes. A moça ficou com o coração apertado, sentiu medo e perguntou:

— Não podemos ir mais rápido?

— Já pisei no acelerador.

— O que podemos fazer?

— Precisamos de diversão.

— Que diversão?

— Estou tentando ver o que há lá fora.

— Areia é o que tem lá fora.

— Posso avistar o contorno de algo. Rochas. Uma colina. Se eu conseguir desviar os capangas dessa co_lina, talvez tenhamos alguma chance.

Leanna agarrou a mochila contra si. Podia sentir a arma. Talvez agora fosse o momento de lhe contar sobre a pistola. Talvez pudesse confiar nele.

Cam desviou o veículo para a direita e disse:

— Abra a sua porta.

— Abrir a minha porta?

— Não foi o que eu disse?

A dançarina o fitou. Depois, fez o que o americano ordenara.

— Bom. Agora, respire fundo e pule.

— Pular?

— Pare de repetir tudo. Vou reduzir. Quando eu fizer isso, você pula. Tente pular longe. Role. Faça direito e não vai se machucar.

O coração da jovem disparou. A idéia que fazia dele estava correta. Cam era frio como uma pedra. Decidira salvar a si mesmo entregando-a a Asaad.

Leanna tirou a arma da mochila, e o mirou.

— Continue dirigindo — a dançarina ordenou. Cam olhou para a jovem e perguntou:

— De onde veio isso?

— Não importa. Juro que vou atirar a menos que pise no acelerador e nos tire daqui — Leanna disse.

— Me dê a arma.

— Vou contar até três. Está me ouvindo? Um. Dois...

— Cuidado!

Era o truque mais antigo do mundo, mas funcio_nou. Leanna virou-se para confrontar o suposto perigo atrás dela. O veículo perdeu a direção quando Cam agarrou-lhe um dos pulsos, e o apertou o sufi_ciente até fazer a moça gritar e a arma cair.

— Não, seu patife! Não pode fazer isso...

— Lembre-se de rolar — Cam a avisou e a empur_rou para fora do veículo.

Imediatamente, o americano puxou o volante para a esquerda, aumentou a velocidade e olhou pelo espe_lho. Como havia esperado, os homens do sultão esta_vam bem atrás dele.

Já usara esse truque antes, mas nunca com uma mulher. Fizera o melhor possível. Reduzira a veloci_dade. Dissera a Salomé como deveria ser a queda. Se a moça tivesse seguido os próprios instintos, estaria bem.

Uma arma... Cam sabia que a dançaria encontrara algo, mas uma arma? Nunca imaginaria isso. E, de_pois, apontá-la para ele...

O americano deu uma última olhada pelo espelho. Se fosse mais longe, nunca a encontraria quando vol_tasse. Era uma tentação deixá-la sair daquela confu_são sozinha...

Um declive se aproximava. Precisava disso para que o plano funcionasse. Reduziu a velocidade e es_perou até que o veículo estivesse quase no topo. En_tão, abriu a porta e pulou. Primeiro, bateu no chão com um dos ombros e rolou o máximo possível. De_pois, permaneceu agachado.

O Hummer descia a ladeira, seguido por pontos desconhecidos. O americano ficou deitado na areia durante a perseguição dos veículos. Depois, estreme_ceu ao se levantar. Um dos ombros doía, mas não devia ser nada mais do que uma contusão. Logo, o rapaz verificou se a arma continuava presa à cintura. Então, jogou a mochila por cima de um dos braços e come_çou a andar.

Tudo o que tinha de fazer agora era seguir os ras_tros dos pneus e encontrar Salomé. Só que isso não acontecia. Onde será que a dançarina estava?

— Salomé. Onde você...

A moça pulou em cima dele como uma tigresa. A mochila caiu no chão quando a jovem tentou arranhá-lo no rosto. Um dos joelhos da dançarina o teria atin_gido em cheio se o americano não tivesse sido rápido.

— Ei! Calma! Sou eu.

Tudo o que Cam conseguiu foi um soco na mandíbula antes que a jovem se afastasse. Tudo bem, se ti_nha que ser assim, que fosse.

A dançarina era rápida, mas não sabia o básico so_bre luta. Cameron dissimulou para a esquerda, saben_do que a jovem o seguiria. Quando Leanna fez isso, o rapaz a pegou, envolvendo-a nos braços e levantando-a.

— Está maluca?

— Maluca por pensar que me ajudaria.

Cam pensou em dizer que nunca lhe oferecera aju_da, mas prevaleceu o bom senso. Agora não era hora de ter lógica.

— Acalme-se!

— Me acalmar? Você me jogou para fora de um carro em movimento!

— Diminuí para que pudesse sair. Se tivesse pula_do como eu fiz, provavelmente estaria com algumas costelas quebradas.

— Você quis se livrar de mim!

— Então, por que eu voltaria para encontrá-la?

— Não fez isso. Apenas tropeçou em mim.

— Isso não faz sentido, nem para você.

— Deixe-me ir!

— Com prazer. Apenas lembre-se, se me bater de novo, vou...

— Vai o quê? Me amarrar? Me jogar por cima de um dos seus ombros? Já fez tudo isso, lembra? Que tipo de homem você é?

Cam a colocou no chão e disse:

— O tipo que não tem que tolerar críticas desse tipo. Devia ter isso em mente.

Leanna o fitou. A moça já sabia o quanto o ameri_cano era forte. Agora, sabia que Knight faria qual_quer coisa para evitar ser capturado. E talvez para salvá-la.

O vento jogou-lhe os cabelos nos olhos. Trêmula, a moça ergueu uma das mãos para afastá-lo. Será que Knight voltara por causa dela? Talvez. Ainda assim, tudo o que a moça sabia era que o americano era um homem que faria amor com uma mulher que lhe im_plorava para que não fizesse isso.

Leanna implorara para que Knight parasse, não? Claro que fizera isso. Aquelas coisas que a moça sen_tira quando o americano afagara os seios dela, quan_do a beijara...

— Seu rosto é como um livro aberto, Salomé.

A voz de Cam era sensual e rude. Os olhos da jo_vem moveram-se em direção aos dele. Será que o americano sabia o que a moça estivera pensando?

— Nesse caso, sabe que, se tentar mais algum tru_que, eu vou...

— O quê? Me apunhalar? Dar um tiro em mim? Que outros brinquedinhos você tem guardados?

— Guardados? — A moça olhou para si mesma. A camisa tamanho grande estava aberta. A jovem sol_tou uma risada e comentou:

— Você deve estar brincando.

— Eu deveria revistá-la.

— Já disse, não tenho...

— Sim. É isso que diz. Vou revistá-la. Apenas f que quieta, aceite isso e tudo será rápido.

— Não! Não vou deixar... — A moça prendeu respiração quando o americano passou as mãos pelos braços dela, e reclamou:

— Droga! Pare com isso! O que pensa que está... As mãos de Cam foram parar embaixo da camisa da dançarina. Subiram até os seios. Os olhos do ame_ricano se prenderam aos da moça enquanto a tocava. A fisionomia dele mostrava frieza, mas Leanna podia ver um pequenino músculo da face pulsando. E, para o horror da bailarina, os mamilos dela ficaram rígi_dos.

— Não tem o direito...

Uma das mãos de Cam percorreu a barriga da jo_vem. Oh, Deus! Um calor úmido brotou entre as co_xas da moça.

— Pare com isso! Não tenho nenhuma arma es_condida.

Claro que tinha, Cam pensou, e passou as mãos por entre as coxas da dançarina. Logo, o corpo inteiro da moça ficou rígido. Knight também estava assim.

O americano podia sentir o calor da jovem queiman_do na palma da mão dele. Seria possível uma mulher fingir daquela forma? Poderia tremer diante de um toque masculino a menos que quisesse? Poderia o corpo dela ficar quente de desejo a menos que esti_vesse louca para ser tomada por um homem? Aquela mulher podia. Cam tinha de manter isso em mente.

— Só estou verificando — Knight comentou.

— Verifique novamente, e vou matá-lo.

— Volte a deixar de me contar algo importante e não vai ficar aqui o bastante para tentar — Cam avi_sou. Depois, pegou a mochila e a jogou em um dos ombros. Então, acrescentou:

— Eu estaria em uma posição mais vantajosa se não tivesse você grudada em mim. Estou sendo cla_ro?

— Perfeitamente — Leanna respondeu e seguiu adiante, passando pelo americano. A dançarina ape_nas dera alguns passos quando Cam agarrou-lhe um dos braços.

— Essas sandálias — o americano comentou.

A bailarina olhou para os próprios pés. Nenhuma mulher em sã consciência teria escolhido sandálias de salto fino para uma caminhada no deserto. Mas, então, nenhuma mulher em sã consciência teria esco_lhido um homem como aquele para ser o guia.

— O que tem as sandálias? — Leanna perguntou.

— Tire-as.

— Dê-me uma boa razão... Ei!

Um puxão e a moça estava sentada. Cam se ajoe_lhou, desamarrou-lhe as sandálias e quebrou os sal_tos. Depois, disse:

— Ponha as sandálias e me siga. Cada minuto que tenho que lidar com você é tempo perdido. A moça o seguiu.

A passada de Cam era grande e o americano não a diminuíra por causa da companhia indesejável. Quanto mais a moça apressasse o passo, melhor. A dançarina era um fardo que Knight não pedira. Po_rém, agora, a moça era responsabilidade dele. Isso fa_zia parte do código segundo o qual o americano vive_ra durante boa parte da vida. Mas Cam não via ne_nhum motivo para contar isso à bailarina. Deixaria que a moça ficasse preocupada com a possibilidade de ser abandonada por ele.

Isso talvez ajudasse a fazer com que a jovem não discutisse tanto. Para a surpresa de Cam, a moça mantinha o passo firme há um bom tempo. Bem, por que não? Estava em boa forma.

Em boa forma ou não, caminhar contra o vento era algo difícil. A moça começou a ficar para trás, o que era inevitável. Não podiam parar, mas Cameron tam_bém não podia deixar que a dançarina caísse. Não quando estavam alcançando o que parecia ser uma colina, antes do nascer do Sol.

Cameron parou e a manteve quieta. A respiração de Leanna estava descontrolada e o rosto, vermelho. E a moça tremia devido ao cansaço, ao frio da noite. Isso era um mau sinal. A jovem poderia recuperar o fôlego se Cam a deixasse sentar, mas a areia estava fria. A única solução era colocar os braços ao redor dela e encostá-la em seu corpo. Como a moça protes_tou, Knight disse:

— Pare de ser idiota. Apóie-se em mim e recupere o fôlego.

Depois de alguns segundos, a tremedeira passou.

— Isso. Deixe-me aquecê-la.

Cam apertou o abraço. O americano havia conhe_cido todos os tipos de mulheres. Não era um idiota: sabia que uma mulher bonita podia ser forte também, mas não havia esperado isso de Salomé. A jovem pa_recia delicada, mas não demonstrara fraqueza no mo_mento em que o ameaçara com aquela ridícula lima. Sem lágrimas. Sem reclamações. Sem pedir favores pelo fato de ser mulher.

Cameron fechou os olhos. A dançarina era muito feminina e cheirava bem. Salomé cheirava a flores, baunilha, mulher...

— Aposto que adoraria um copo de suco de laran_ja. — O americano comentou enquanto passava as mãos pelas costas dela.

— Isso. Me torture.

— E um bife — Cam acrescentou. O rapaz mante_ve um dos braços ao redor da jovem enquanto se esti_cava para pegar a mochila.

— Como gosta do seu bife? Malpassado? Bem passado?

— Malpassado, mas queimado por fora.

— Por quê? Você deve ser do Texas, assim como eu.

— Você é realmente do Texas?

— Dallas.

— Por isso usa aquelas botas!

— Você quer dizer, por isso eu as usava. Mas está certa. Nenhum Texano que se preza sai sem suas bo_tas.

A dançarina sorriu. Cam queria aplaudir, o que era ridículo. Por que se importava se a moça sorria ou não? Só fazia sentido desviar um pouco o pensamen_to dela dos problemas de ambos.

— Aqui. Beba um pouco d'água. Mais — o ameri_cano disse quando a jovem começou a devolver a gar_rafa.

— Agora, o bife. — Cam lhe deu o pedaço de halvah. Leanna deu uma mordidinha. Depois, fechou os olhos ao sentir o gosto doce.

A jovem emitiu um som de prazer. Cam lembrou-se dela emitindo o mesmo som quando desnudou-lhe os seios e os beijou. O halvah era doce, mas o gosto da dançarina fora mais ainda. Então, ficou excitado. Cam girou, inclinou a garrafa na direção da própria boca para um gole rapidamente. Depois, guardou a água na mochila junto com o que havia sobrado do doce.

— Tudo bem. Hora de continuar — Knight disse.

— Você não bebeu água suficiente. E não comeu nada.

— Estou bem.

Leanna o fitou. Cam dizia a verdade. A moça tre_mia de frio e de cansaço. Os músculos ardiam e os pés pareciam estar em carne viva, apesar da provi_dência inteligente que o rapaz tomara em relação às sandálias dela.

Knight não tinha nada nos pés. A camiseta não era muito grande. O americano impusera um passo mortal, mas não dava a entender que isso fosse mais do que um passeio. Talvez todos aqueles músculos fos_sem reais.

— Você faz isso com freqüência? — Leanna per_guntou.

— Bem, vamos ver. Da última vez que escapei de um lunático e cruzei o deserto com uma mulher boni_ta foi há duas, talvez, três semanas. Então, diria, sim, com freqüência.

— Não quis dizer...

A moça viu a risada no rosto de Cam e riu também. Foi a primeira vez que Knight ouviu a risada dela e isso o surpreendeu. Uma mulher que havia percorri_do metade do mundo para jogar com um sultão não deveria ter uma risada tão franca e inocente.

— Estava falando sobre caminhar por um terreno árduo sem ter problemas com a respiração. Parece que isso lhe é familiar — a moça explicou.

Cam pensou nos anos que passou nas Forças Espe_ciais e no Serviço Secreto. Nada com relação a esses anos tinha sido familiar. Um homem precisava aprender como fazer todas as coisas que ele fizera.

— Fui soldado por muito tempo — Cameron ex_plicou.

— Nesta parte do mundo?

— Entre outras. — Cam franziu as sobrancelhas. Leanna estava tremendo novamente.

— Você ainda está com frio. Aqui. — O america_no se esticou, agarrou as lapelas da camisa e a puxou para si, dizendo:

— Abotoe. Vai ajudar.

— Posso fazer isso — a moça disse, mas os dedos dele já estavam nas casas dos botões, roçando suave_mente os seios da dançarina. Leanna respirou fundo. Cam viu o rosto da jovem ficar corado, sentiu o san_gue correndo pelo corpo. Agora, pensou. Nesse mo_mento. Podia tombá-la na areia, mergulhar nela...

Salomé recuou e disse:

— Estou bem. Só preciso recomeçar a andar. Silêncio entre ambos.

— Por quê? — Cam perguntou.

— Bem, por causa da energia eu...

— Por que se vendeu para Asaad? A moça se encolheu, como se o rapaz a tivesse atingido.

— É uma pergunta fácil. Por que fez isso? — Cam continuou.

Por que será que doía saber que o americano acre_ditava no pior sobre ela?

— Estava desesperada por dinheiro? — Cam in_sistiu.

— Quer saber se a minha avó está morrendo de al_guma doença da qual ninguém nunca ouviu falar? Se a minha mãe está prestes a perder a casa da família para um canalha bigodudo? Me desculpe. Acabou meu estoque de histórias piegas.

— Pelo amor de Deus! Que tipo de mulher você é?

— O tipo que deveria saber que você não é dife_rente do seu amigo, o sultão.

O americano a puxou contra si e disse:

— Está certa. Não sou diferente. Uma mulher como você me provoca, e pretendo aceitar esse de_safio.

Cam a beijou. Leanna tentou virar-se, mas o ame_ricano foi implacável. Colocou as mãos no rosto dela. Depois, deslizou as mãos pelas costas da moça, de modo que pudesse levantá-la. A dançarina lutou. Mas, de repente, soltou um gemido, colocou os bra_ços em torno do pescoço dele e correspondeu ao beijo.

Sem piedade, Cam saqueou toda aquela doçura.

Mudou o ângulo do beijo, aprofundando-o enquanto as últimas estrelas da noite, que já caía, giravam aci_ma dos dois.

Foi Knight quem acabou com o beijo. O ex-soldado soltou as mãos da jovem que estavam no pescoço dele, levando-as até a boca e mordiscando-as suave_mente.

Depois, o americano pegou uma das mãos da moça para que a dançarina sentisse o quanto ele estava ex_citado.

— O que aconteceu naquela cama não acabou. Sa_bemos disso.

Cam a olhou pela última vez. Depois, virou-se, pe_gou a mochila e começou a andar.

 

                                   CAPÍTULO SEIS

Os dois chegaram à colina ao nascer do sol.

— A montanha é real — Leanna comentou, exci_tada.

— Eu não chamaria de montanha. Mas, sim, é real — Cam disse, sorrindo.

Há pouco, o americano se perguntara se ambos es_tavam tendo a mesma miragem. Ali, qualquer coisa era possível. Mas a montanha estava à frente deles, e parecia ser a salvação.

— Pronta para subir? — Cam indagou.

A moça acenou com a cabeça, concordando. O ra_paz via o cansaço estampado no rosto da jovem, mas a dançarina sorria. A Salomé dele era surpreendente, e...

O sorriso de Cam deu lugar a um semblante amea_çador. O rapaz forçou-se a desviar o olhar. Passou a observar a colina, o sol, a areia... E os pés dela.

— Pelo amor de Deus, seus calçados estão se des_fazendo — Cam disse.

O olhar da moça seguiu o dele. Claro que estavam. Por que Knight parecia tão surpreso?

— Não pode escalar essas pedras assim.

Sem dizer uma palavra, a jovem olhou para os pés descalços de Cam.

— Comigo é diferente — o rapaz logo disse.

— Como é diferente?

O treinamento de Cam nas Forças Especiais envol_vera caminhada descalça em terrenos piores do que aquele, mas o rapaz não pretendia dar explicações.

— É diferente porque digo que é — Cam afirmou.

— Já passou horas ensaiando uma nova dança? — Leanna perguntou.

— O quê?

— Dança. Sabe alguma coisa sobre isso?

— Não. Você sabe?

O tom de voz de Cam era rude e monótono. Assim como a fisionomia dele. Há poucos minutos, Leanna estivera pensando que somente um homem como Cameron poderia tê-los levado tão longe. Como podia ter sido tão estúpida a ponto de pensar coisas boas so_bre o americano?

— Sim, eu sei. E se você soubesse alguma coisa sobre a minha profissão...

— Acredite em mim. Sei muito sobre a sua profis_são.

Uma das mãos da moça girou no ar. Cam a pegou antes que o atingisse na mandíbula e disse:

— Não faça isso. A menos que esteja preparada para as conseqüências.

— Gostaria de nunca ter colocado meus olhos em você!

— Certo. Exceto que, de acordo com você e Asaad, a senhorita estaria a caminho da sua execução neste exato momento.

— Se realmente acredita nisso, é um idiota. Eu es_taria na cama do sultão.

— Fico contente em ouvir que admite isso.

— Por que eu negaria? Era para isso que Asaad me queria.

— A verdade, ao menos.

— O que um homem como você saberia sobre a verdade?

Cam a fitou, dividido entre o desejo de lhe dizer que estava certa, pois ele não sabia nada sobre a ver_dade, e o de puxá-la para si e beijá-la. O que aquela bruxa estava fazendo? Salomé não era uma mulher para quem você pudesse revelar a sua alma.

— Chega de conversa. Quer escalar aquela pedra? Precisa de mais alguma coisa nesses pés. — Knight disse ao observá-la. O olhar dele pousou sobre os seios da moça.

— Tire o seu sutiã — Cam disse.

— Só em sonho.

— Tire o sutiã ou farei isso.

Ambos se entreolharam por um longo minuto. Então, Leanna livrou-se do sutiã.

— Seu desejo é uma ordem — a moça disse. Sem desviar os olhos do americano, a dançarina fez o truque conhecido por qualquer garota que tem de se despir em uma casa compartilhada com três irmãos. Por baixo da camisa, abriu o sutiã, abaixou as alças, puxando uma por um dos braços e pelo punho da camisa. Depois, fez a mesma coisa com a outra alça.

— Que diabos acabou de fazer? — Cam perguntou.

— Tirei meu sutiã. Desapontado? — A moça indagou.

Que inferno, não! Agora, Knight podia ver o contorno perfeito dos mamilos sob a camisa, apenas esperando pela carícia das mãos dele. Ao se sentir excitado, o rapaz ficou furioso e ordenou:

— Sente-se.

Como a moça não se mexeu logo, o americano disse:

— Droga, quando lhe digo algo...

Cam ficou de cócoras, agarrou um dos tornozelos da dançarina e o puxou. Leanna caiu sentada e disse:

— Você é detestável.

— Levante um dos pés. Faça isso, ou terá de subir aquela montanha descalça.

— Pensei que tivesse dito que não a chamaria de montanha.

— Tudo será feito como eu disser. Segure essas fi_tas.

— Que fitas?

Cam resmungou algo e agarrou as fitas douradas que pendiam da roupa da dançarina. Havia pedras pequenas espalhadas ao redor, perto dos pés deles. O americano escolheu uma com uma ponta afiada e a usou para cortar as fitas ao meio. Depois, rasgou o su_tiã, envolvendo cada pé com uma parte do sutiã e os amarrando com as fitas.

— Oh — a moça exclamou. Cam olhou para cima e disse:

— Desculpas aceitas.

— Você está certo. Me desculpe. Knight levantou-se e disse:

— Tudo bem. Vamos lá. Quero estar do outro lado daquela coisa antes que o sol suba mais.

Os sapatos improvisados agüentaram, mas a maior surpresa foi o que os dois encontraram quando chegaram ao topo da montanha. Abaixo deles, estendia-se um mar de grama e flores... E, mais adiante, as paredes brancas de um palácio de alabastro se erguiam contra um céu azul-brilhante.

Era surpreendente como era mais rápido descer do que subir. Em pouco tempo, ambos estavam pisando na grama suave, ouvindo o canto de passarinhos e sentindo a carícia gentil da brisa perfumada das flo_res. Era como pular de um lugar para outro. Mas algo fez Leanna estremecer. .

— O que há de errado?

— Nada. Não sei. Estou...

— Agitada.

— Sim.

Cam pegou uma das mãos da moça. Sem hesitar, a dançarina deixou que os dedos deles ficassem entre_laçados.

— Isso é bom. Não é hora de abrirmos a guarda — o americano comentou.

— Fico me perguntando de quem é esse palácio... E se os homens de Asaad já estão lá, à nossa espera.

— Sim, eu também.

— Como encontramos as respostas?

— Esse é o meu trabalho. Você fica aqui enquanto eu...

— Não. E, antes que me diga para calar a boca e fazer o que me diz, apenas lembre-se de que fui eu quem o meteu nessa confusão.

— Vou lhe contar um segredo. Eu não planejava testar a hospitalidade de Asaad por muito mais tem_po.

— Se eu não tivesse apressado as coisas, você teria tido tempo para elaborar um plano decente.

— Talvez. Mas, aí, eu não teria tido uma compa_nheira de viagem tão interessante. Acredite em mim, querida. É melhor que fique aqui. Vou checar a situa_ção e volto.

— Nada feito.

Knight pensou em lembrá-la de que não estavam combinando nada, mas o queixo rebelde da jovem lhe disse que a dançarina já se decidira. Uma discussão seria perda de tempo. Além disso, por tudo o que o americano sabia, a moça estaria mais segura se ficas_se com ele.

— Tudo bem. Venha comigo. Apenas fique perto,

— E?

— E me dê um beijo de boa sorte.

A moça o fitou. Os olhos dele eram de um verde frio e brilhante. Que mal haveria em apenas um bei_jo?

Cam deixou que a jovem lhe desse um beijo casto. Então, puxou-a para mais perto e a beijou de forma que pudesse saboreá-la. Leanna colocou os braços em torno do pescoço dele. Quando os lábios dos dois se separaram, a jovem suspirou.

Knight a segurou por um longo momento. Quando a deixou, o rosto de Leanna estava corado e o que o americano viu nos olhos da moça o deixou com vontade de beijá-la novamente. Em vez disso, entrelaçou a mão da dançarina na dele e perguntou:

— Pronta?

A bailarina balançou a cabeça, concordando, e os dois começaram a caminhar em direção ao palácio.

— É lindo, mas continuo querendo saber quem mora aqui. O Mago... Ou a Bruxa Malvada? — a moça indagou.

Os portões do palácio se abriram a um toque. Um caminho de pedra os conduziu a escadas de mármore que terminavam em duas enormes portas de bronze.

— Cam. Onde está todo mundo? — Leanna sus_surrou.

As portas de bronze se abriram lentamente.

— Fique atrás de mim — Cam disse, mas a figura que surgiu estava longe de ser ameaçadora. Era uma mulher, esguia e de cabelo cor-de-prata, vestindo uma túnica branca. Ela curvou-se, em cortesia. De_pois, levantou-se, e disse:

— Bem-vindo, meu lorde. — A voz dela era sua_ve, o inglês claro e com um ligeiro sotaque.

Cam apertou a mão de Leanna enquanto a condu_zia adiante, e perguntou:

— Que lugar é esse?

— Você chegou ao Palácio da Lua, meu lorde — a mulher respondeu e sorriu para a dançarina, dizendo:

— E você, minha senhora. Bem-vinda, também. Vocês tiveram uma longa jornada.

— Obrigada. — A voz de Leanna era forte, mas a mão dela tremia agarrada à de Cam. O americano co_locou um dos braços ao redor da moça e a puxou para mais perto.

— Eu me chamo Shalla.

— Parece que estava à nossa espera — Cam co_mentou.

A mulher riu e disse:

— Me desculpe, senhor. Devia ter imaginado que vocês fariam perguntas. Sim, esperávamos por vocês. Nossos vigias nas torres viram quando se aproxima_ram. Além disso, estamos sempre preparados para a chegada de viajantes exaustos. Aqui é um lugar sa_grado, um refúgio entre as terras perigosas do Oeste e o mundo lá fora.

Era uma boa história, talvez até verdadeira. Cam sabia que os mitos e as lendas do passado geralmente se baseavam na realidade.

— Ninguém pode vir aqui para fazer o mal, lorde, a menos que essa pessoa deseje despertar a vingança dos deuses.

— Ficamos felizes em ouvir isso.

Shalla gesticulou, indicando as portas abertas, e disse:

— Por favor, entrem. Vou mostrar os quartos. Po_dem tomar um banho e descansar enquanto o jantar é preparado.

Cam ouviu Salomé suspirar. O ex-soldado não po_dia pedir à dançarina que continuasse sem comida e repouso. Ambos podiam ficar ali o suficiente para que a jovem se recuperasse da caminhada forçada e para que ele tentasse entrar em contato com o mundo lá de fora.

Knight acenou com a cabeça, concordando, e os dois seguiram Shalla pelo maravilhoso corredor de entrada do Palácio da Lua. Meia dúzia de passos de_pois, Salomé parou e observou, pasma.

— Uau — a moça exclamou.

O chão era de mármore preto e brilhava com a luz que caía de uma cúpula dourada aberta, alguns me_tros acima das cabeças deles. Arcos mouros se esten_diam pelo vasto interior. Uma escadaria levava ao se_gundo andar.

O palácio era espetacular, uma fantasia de cores e texturas, algo como as Noites da Arábia. Era o tipo de lugar aonde um homem levaria uma mulher para al_guns dias e noites de prazer. Cam olhou para Salomé. Mesmo agora, com o rosto sujo, as roupas esfarrapa_das, cansada, a moça era tão bonita quanto um sonho.

Quantos homens a olharam e pensaram a mesma coisa? E, por que isso deveria importar? Cam não se preocupava em saber com quem a jovem estivera ou para quem fora vendida. Não procurara aquele lugar para uma fantasia romântica. Foram parar ali por sor_te, e aproveitariam o máximo possível do local.

Precisavam de descanso, comida, suprimentos. Mais do que tudo, Cameron necessitava de um plano que os conduzisse de volta à civilização...

A boca do americano esmaeceu. A quem engana_va? Cam precisava de Salomé na cama. As pernas da moça enroladas nos quadris dele. O corpo da dança_rina...

— Meu lorde? Poderia me seguir, por favor? — Shalla indagou.

— Sim, claro — Cam respondeu.

Essa história precisava de um fim, Knight pensou enquanto os dois seguiam Shalla e subiam as escadas.

Salomé o estava deixando louco, e o americano não gostava disso. Distração era a última coisa de que um homem precisava em uma situação desse tipo.

Só havia um jeito de resolver o problema. E, quan_to mais cedo isso acontecesse, melhor.

 

                                     CAPÍTULO SETE

Shalla os conduziu a uma suíte. Depois de dois dias em uma cela suja e uma noite percorrendo a pé o de_serto, Leanna consideraria o paraíso qualquer coisa com paredes limpas e uma janela. E aquele lugar pa_recia competir ao título de Esconderijo Romântico do Ano.

— Oh, meu Deus — a moça exclamou. Cam pegou as mãos da moça e comentou: — Tirou as palavras da minha boca, querida.

Querida? A dançarina o fitou como se o americano tivesse perdido a memória. Cameron sorriu, levou uma das mãos de Leanna à boca e a beijou. O olhar que o rapaz lhe deu foi aguçado. Não discuta comigo, dizia. Apenas concorde com o que eu disser.

A sala de estar era elegante, decorada com flores em vasos de cristais. O foco do quarto era uma cama coberta com seda nas cores carmim e creme. Até o banheiro era espetacular, com afrescos nas paredes, chão de mármore branco, acessórios dourados em forma de cisne... e uma banheira de mármore preto, do tamanho de um lago pequeno.

— Espero que esteja do seu agrado, meu lorde. Cam acenou com a cabeça, concordando, como se esperasse encontrar tamanho luxo, e comentou:

— Está bem, obrigado. Leanna pigarreou e disse:

— De fato, estava me perguntando se há um se_gundo quarto em algum lugar no...

Cam apertou a mão da dançarina e disse:

— Tudo bem, amor. Suspeito que Shalla já tenha percebido nosso segredo. Tenho certeza de que não somos os primeiros amantes a fugir para casar e en_contrar um refúgio como este. Não estou certo, Shal_la?

A mulher com cabelos cor-de-prata sorriu e disse:

— Está certo, meu lorde. A presença de vocês é um deleite para nós. Vou arranjar roupa e comida para ambos.

— Minha senhora e eu estamos encantados com a sua generosidade. Não é verdade, querida?

— Encantados — Leanna retrucou.

O sorriso de Cam desapareceu assim que fechou a porta, e comentou:

— Finalmente, a sós.

Porém, os olhos deles continuavam repletos de preocupação.

— Amantes fugindo para casar? Está malu... — A moça disse com a voz entrecortada quando Cam a pu_xou para os braços dele e a beijou.

— Nem mais uma palavra sequer enquanto eu che_co a situação — o americano sussurrou.

— Quer dizer, você acha...

— Sim.

A moça o seguiu por todos os cômodos, vendo-o examinar a mobília, as lâmpadas, as molduras, até que o americano se deu por satisfeito.

— Nada de escutas, câmeras. Tudo bem — Cam comentou.

— Acha que Shalla mentiu sobre esse lugar ser um santuário?

— Acho que seríamos loucos em aceitar qualquer coisa como verdade.

— Está certo. Eu deveria ter pensado em... O que está fazendo?

— Me despindo. Quero tomar um banho.

— Eu também, mas...

— Mas quer ir primeiro. Sem problemas. A ba_nheira é grande o suficiente para nós dois.

— Não vou tomar banho com... — A moça pren_deu a respiração. Cam estava tirando a camisa.

— Tem que fazer isso? — a dançarina perguntou.

— Fazer o quê?

— Despir-se como se eu não estivesse aqui. Não é educado.

— Me dê um tempo. Já a acariciei entre as pernas. Acha que vou acreditar que o seu suspiro ao me ver tirando a roupa é muito para uma senhorita como você?

— Nojento!

A moça estava certa. Cam estava deixando de agir como era de seu costume para ofendê-la, e o rapaz praguejava porque sabia o motivo... A dançarina fin_gia ser inocente quando lhe convinha. Depois, agia de forma selvagem nos braços dele quando parecia ser a melhor escolha. Assim, só havia uma forma de acabar com a tensão entre ambos.

— Vamos lá — Cameron disse ao jogar a camiseta no chão, e acrescentou:

— Desabotoe essa camisa e...

A dançarina fitava o braço esquerdo do rapaz.

— É uma tatuagem. Uma águia. Não notou antes? — Knight indagou.

— Não — Leanna respondeu.

— Olhe mais de perto. Não mordo. Eu poderia, mas, se fizesse isso, você gostaria — Cam comentou, com um sorriso sensual.

Cam aproximou-se da moça e dobrou o braço de forma que a dançarina pudesse ver a tatuagem em de_talhes. Nu da cintura para cima, o americano era uma visão magnífica.

A águia, de asas abertas, garras estendidas, olhos dourados pegando fogo, combinava perfeitamente com Cam.

— O que acha? — Knight perguntou.

Leanna desviou o olhar, voltando a fitar a tatua_gem. A águia era bonita, um predador eficiente e mortal. Ao vê-la, de repente, a moça soube como uma presa se sentiria se fosse varrida do céu. A percepção do que viria depois era inevitável, de que nada na vida poderia ter tanto significado quanto ser escolhi_da e tomada por aquele homem...

— Salomé.

A moça ergueu a cabeça. O olhar que lançou para Cam foi primitivo. O rapaz jogou a camisa no chão, deu um passo à frente, ergueu a cabeça da jovem e a beijou.

— Não — Leanna sussurrou, mas já estava colo_cando os braços ao redor do pescoço dele, facilitando o beijo.

— Dessa forma — Cam disse, puxando-a para mais perto, de maneira que a moça pudesse sentir o quanto ele a queria.

A cabeça da dançarina tombou para trás, e Knight a beijou no pescoço, mordiscando-a. Depois, suavizou a ferida com um beijo.

Cameron emoldurou-lhe o rosto com as próprias mãos. Beijou-a. Passeou com as mãos pelos braços da moça. Depois, abraçou-a.

— Diga-me que esperava por isso — o rapaz sussurrou.

Leanna tremeu. Cam estava certo. A dançarina o queria. Quisera aquilo desde a primeira carícia. Knight era o cavaleiro dela, e a moça era...

A bailarina era a Salomé dele. Era a mulher que Cam queria. Uma sedutora que vivia para o prazer da carne, que podia jogar com ele e nunca olhar para trás. Será que Cameron era o tipo de homem que ela desejaria como o primeiro da vida dela?

— Não. — A jovem se contorceu, mas o rapaz não parou. As mãos dele estavam embaixo da camisa da dançarina, em suas costas, levantando-a...

— Pare. Não quero! — a moça disse, a voz em tom de pânico.

Primeiro, a bailarina pensou que o ex-soldado não a tinha ouvido, ou não quisera ouvi-la. Depois de algum tempo, Cam abaixou os braços e comentou:

— Você brinca com o perigo.

Os olhos de Knight eram frios. Pela primeira vez, desde que o americano a lançara para fora do veículo em movimento, Leanna sentiu medo, mas sabia que era melhor não demonstrar. Se você não é forte o suficiente para rechaçar o ataque de uma águia, precisa de coragem para enfrentar a situação.

— Cometi um erro.

— Sim.

— Imaginei que não queria fazer isso. Eu quero... Leanna gritou quando Cam agarrou um de seus braços, puxando-o para trás das costas dela.

— Sei exatamente o que quer. Quer que eu suba pelas paredes porque me provocou tanto que meus miolos derreteram — Knight completou.

— Está errado! E está me machucando. Deixe-me ir! Se não deixar...

— O quê? Vai gritar? — Cam riu e acrescentou:

— Não importa o que Shalla ouça vindo daqui, não fará coisa alguma. Nada mudou nesta parte do mundo há mil anos. Mencione os direitos das mulheres por aqui, e ganhará um olhar perplexo.

O ex-soldado abaixou a cabeça até que ambos os rostos estivessem bem próximos e disse:

— Estou no controle da situação. Você é descartável. Entendeu?

A moça ficou pálida. Tentava resistir a Cam, mas tremia muito. Que inferno, o ex-soldado pensou, e livrou-se da jovem, erguendo as próprias mãos, como se tivesse percebido que tocara algo que nunca tencionara antes.

— Chega! Tome seu banho, faça o que quiser. Só fique longe de mim porque, se tentar jogar novamente, prometo que vou ganhar.

A jovem soluçou ao passar por Cam, e o americano quase riu. Qualquer um que tivesse presenciado aquela ceninha teria pensado que a moça era uma virgem lutando pela vida. E que Knight, sem dúvida, era o vilão.

A dançarina bateu a porta do banheiro, trancando-a. Quem se importaria? Era um gesto sem sentido. Será que a moça realmente pensava que uma tranca a protegeria se ele mudasse de idéia?

Cam cruzou os braços e fitou a porta. Como não ouvia barulho de água caindo na banheira? Porque, provavelmente, a dançarina agora estava encostada à parede, rindo dele. A moça o ligava e o desligava como uma máquina desde que o americano havia posto os olhos nela. E Knight fora idiota o suficiente para deixá-la agir assim.

Cam se afastou da porta do banheiro e caminhou pelo quarto como se fosse um tigre enjaulado. Era ruim demais não marcar pontos. Por ora, provavelmente, seria zero para o time da casa e cem para o dela.

Nada de barulho de água escorrendo. A moça continuava no banheiro, rindo da última vitória. E Cam estava do lado de fora, deixando pegadas no carpete. Mas isso não ficaria assim por muito tempo. A jovem se cansaria de se divertir às custas dele. A dançarina abriria a torneira e tiraria as roupas. E prenderia os cabelos sedosos que caíam em ondas douradas sobre os seios.

De repente, parecia que o quarto não tinha ar. Cam salvara o belo pescoço da dançarina do cepo, tirando-a das garras de Baslaam. E como a jovem lhe agradecia?

Knight rosnou de raiva e bateu à porta. Uma vez. Duas vezes. A madeira cedeu e o rapaz entrou no banheiro.

Leanna veio na direção dele como uma gata selvagem. O americano conseguiu esquivar-se. Cam grunhiu quando a dançarina lhe deu uma cotovelada na altura do intestino. A moça era rápida e forte. Talvez tenha resistido, lutado com outro homem...

Mas não com Cam. O ex-soldado estava louco de raiva, frustrado, desejando o que vinha lhe vinha sendo negado há tanto tempo. Em algum recanto da mente, Knight sabia que cruzara a tênue linha entre o lado civilizado e o selvagem, mas não se importava com isso. Nada o deteria em relação ao que a dançarina começara.

— Vou matá-lo. Deus me ajude, faça isso e eu...

Com uma das mãos, Cam pegou os pulsos da jovem, prendeu-os acima da cabeça dela e usou o próprio corpo para prendê-la junto à parede. Mergulhou uma das mãos nos cabelos da dançarina, enrolou uma parte no próprio pulso e a beijou sem piedade, mordiscando a pele macia.

A jovem lutou, mordendo-lhe o lábio inferior, que chegou a sangrar. Mas isso não tinha importância. Naquela noite, ao menos, Cam conseguiria o que a dançarina prometera.

— Patife — a moça sibilou e gritou quando o ame_ricano colocou um dos joelhos entre as coxas dela, levantando-a do chão de forma que a jovem pudesse senti-lo excitado.

— Lembra-se do que lhe perguntei da primeira vez? Estou perguntando novamente. Como quer isso? Posso fazer com que seja bom para você, ou posso tomá-la de forma bruta e rápida, voltar a me vestir e ir embora.

A dançarina estremeceu, e disse:

— Oh, Deus! Cameron...

Havia algo na forma como a moça dissera o nome dele. Algo que Cam nunca ouvira antes na voz de uma mulher. Algo que dizia que o medo da jovem mascarava uma emoção diferente, algo que a dançarina não estava pronta para confrontar. Mesmo em meio à fúria, o americano percebera aquela emoção.

— Salomé — o ex-soldado sussurrou... A moça estremeceu e ergueu o rosto na direção dele, o olhar cego.

— Cam — a jovem repetiu, e o rapaz gemeu, puxou-a para perto dele e a beijou, um misto de desejo e ternura. Knight voltou a pronunciar o nome da dançarina. Depois, carregou-a até a cama e a deitou nos travesseiros. Os olhos da moça brilharam com as lágrimas, mas agora cintilavam como estrelas. A boca estava rosada e inchada devido aos beijos.

O coração de Cam voltou a bater. O rapaz mentira para a dançarina, para si mesmo. Nunca a teria tomado à força. Queria e precisava de que a moça lhe pe_disse para ser dele.

— Diga-me — Cameron pediu, como fizera antes... Exceto que, dessa vez, o americano sabia qual seria a resposta da moça.

— Por favor. Faça amor comigo — Leanna disse.

Cam deitou-se ao lado dela. Aí, abriu um dos botões da camisa da moça. Depois, outro. Desajeitado, o rapaz rosnou, frustrado. Então, agarrou as pontas do tecido de algodão e o rasgou, desnudando-lhe os seios.

Já os vira antes. E tocara neles. Então, fingira que não tinham importância. Agora, o ex-soldado queria que a dançarina soubesse que nada mais importava.

— Você é linda — Cam disse. Aí, abaixou-se e beijou-lhe a pele dourada e um dos mamilos.

Leanna soltou um gemido e arqueou o corpo.

— Tão linda — Cam disse, e passou uma das mãos por baixo da tira dourada.

A dançarina estava quente. Molhada. Apenas para ele. A moça gemeu o nome do americano quando este a acariciou intimamente. Os olhos de Leanna ficaram sombrios de prazer, e Cam quase perdeu o controle.

Aos poucos, a mente dele sussurrava, mas o corpo do ex-soldado tinha um horário próprio. Não podia esperar mais.

Knight a tomaria de forma rápida da primeira vez. Apenas abriria os jeans e mergulharia naquele corpo feminino, voando com ela até o sol. Depois, faria amor devagar, descobriria todas as coisas que a excitavam, e ambos os corpos se fundiriam em um só... Oh, Deus! Não tinha preservativos.

— Cam? Qual o problema?

O americano a fitou. Os olhos dela eram como piscinas de um azul profundo, na luz suave do fim de tarde. Cam pensou em como seria fundir-se àquele corpo feminino sem proteção. Aí, sentou-se e disse:

— Não podemos fazer isso.

— Mas pensei que quiséssemos... Cam a beijou.

— Sim, querida, queremos. Mas não tenho preservativo.

— Um preser... — A moça ficou corada.

— Sim. — Por um segundo, Cam desejou ser um garoto de dezessete anos, que sempre tinha um preservativo na carteira.

— Não precisa. É seguro. Tomo pílula. Meu ciclo é irregular. Isso acontece com algumas dançarinas.

Cam sentiu um nó no estômago. Por que ir adiante com aquela explicação quando ambos sabiam muito bem o motivo de ela tomar pílula?

— É por causa de todo o exercício. E não são essas pílulas que se tem que tomar todo dia, então...

— E é uma boa coisa não ser — o ex-soldado disse, frio, dando as boas-vindas à própria raiva, sabendo que isso era muito mais seguro do que qualquer coisa que chegara perto de sentir há alguns minutos. Sorrindo, o americano rolou na cama, afastando-se dela e comentou:

— Obrigado. Mas há mais a ser considerado além de um calendário...

— Quer dizer, a possibilidade de uma doença? Cam queria sacudi-la. A moça parecia tão inocente quanto uma colegial. Como o americano poderia ter se esquecido de que a jovem era boa atriz?

— Sim. É exatamente isso a que me refiro — Cameron respondeu.

— Eu não... Quero dizer, eu não posso... Não sou... — A moça ficou ainda mais corada.

— Sim. Tenho certeza de que não é. Provavelmente, você tem um certificado do departamento de saúde provando isso.

— Patife!

— Pare de me xingar. Estou cansado disso. Apenas vá tomar o seu banho. Vou ver a refeição que Shalla prometeu para nós.

— Prefiro ficar com fome a comer com...

Mas Leanna estava falando sozinha. Cam já deixara o quarto.

Vá tomar o seu banho? Foi isso que o ex-soldado dissera? Cameron Knight não conseguia dizer uma frase sequer sem torná-la uma ordem. Entretanto, a água quente, o sabonete e uma esponja fariam bem à jovem.

A moça estava limpa, a pele quase em carne viva de tanto esfregar a si mesma — como se fosse possível livrar-se das impressões invisíveis das mãos de um homem. Então, abriu um armário no banheiro e o encontrou repleto de roupões de seda, em cores diversas. A jovem escolheu um e o vestiu, abotoando-o do pescoço aos pés. Havia chinelos que combinavam, mas, quando a dançarina tentou calçá-los, estremeceu. Os dedos do pé esquerdo estavam frágeis, susce_tíveis à dor.

Era melhor ficar descalça do que arriscar uma lesão que pudesse prejudicá-la ao dançar, a jovem pensou... e quase riu. Voltar a dançar era a menos importante de suas preocupações. Primeiro, teria de sair viva daquele lugar.

Entretanto, a jovem sabia que nunca seria capaz de fazer isso sozinha, e essa constatação a matava. Se Cam a tivesse abandonado... Não. Não tomaria conclusões precipitadas.

Encontrou uma pequena caixa laqueada com grampos de marfim. Leanna os usou para prender os cabelos em um coque, no alto da cabeça.

A moça abriu a porta do banheiro. O quarto estava vazio. Assim como a sala de estar. Porém, alguém estivera ali. O cômodo estava iluminado por uma vela. E havia uma mesa repleta de comida e bebida.

Leanna encheu um copo com água e a bebeu enquanto caminhava rumo às portas envidraçadas que conduziam a uma larga varanda de pedra. A lua pendia do céu como um camafeu em um veludo preto que resplandecia devido ao fogo de bilhões de estrelas. Jardins se estendiam em todas as direções. As flores perfumavam a noite. Abaixo do terraço, tochas iluminavam uma piscina.

A paisagem era alegre, mas até o cenário de uma apresentação de bale era mais real do que aquilo. Cameron Knight não era um príncipe, assim como a moça não era uma princesa, esperando para ser acor_dada por um beijo dele. As características que o ha_viam tornado tão atraente aqui, onde a sobrevivência dependia dos níveis de testosterona, seriam um des_gosto em qualquer outro lugar.

Cam não tinha nenhuma das qualidades que Lean_na queria em um homem. O americano ferira o orgulho dela, mas... A dançarina conteve a respiração e recuou, voltando a ficar na sombra. O ex-soldado se dirigia à piscina, caminhando como se fosse o dono do mundo.

O que o americano estava fazendo? Knight despiu a camiseta. Será que não lhe ocorrera que alguém pudesse estar vendo? Que ela... A dançarina ficou com a boca seca quando Cam se livrou dos jeans. Deus, aquele homem era bonito! O rosto firme, perigoso. Os cabelos pretos, longos e enroscados na nuca. Os ombros largos e o peito amplo, abdômen retesado...

A moça abaixou os olhos. Cam continuava excitado. A dançarina sentiu-se inundada de desejo. Não havia sentido em mentir para si mesma. Nunca admitiria isso ao americano. Mas como uma mulher podia ver aquele homem e não o querer?

Cameron caminhou até a beira da piscina. Depois, mergulhou. Um segundo se passou. Então, a cabeça dele voltou à superfície. O ex-soldado nadou de uma borda a outra. Aí, virou-se e nadou novamente, e fez isso várias vezes até a moça perder a conta.

Ao final, Knight saiu da água. E, ao fazer isso, olhou para o terraço. O coração de Leanna quase parou. Aí, a moça lembrou-se de que o americano não podia vê-la. Mas que ela o via.

Todo aquele exercício não ajudara em nada a diminuir a frustração dele. Não seria adorável se Leanna pudesse fazer algo para torná-la ainda pior? Cam a acusara de tê-lo provocado deliberadamente, mas a dançarina não fizera isso. Porque, se tivesse feito, se realmente quisesse deixá-lo maluco...

Não faça isso, Leanna. A moça ouviu um sussurro dentro de si, alto e claro. Leanna, não! A jovem o observou vestir os jeans. Cam cruzou os braços, e fitou a varanda, embora não pudesse vê-la.

Leanna respirou fundo, fechou os olhos, e deixou que a música começasse a tocar na mente dela. Era "Bolero". Adorava ouvir isso, mas nunca dançara, o que não era nenhuma surpresa, considerando que a moça se dedicava ao bale. Entretanto, essa noite faria uma dança, idealizada por ela, para um homem a quem desprezava pelo que perdera.

Lentamente, a jovem saiu das sombras em direção à luz da lua. A noite parecia quieta. Leanna olhou para baixo e observou a fisionomia de Cam se alterar ao vê-la.

Algo quente e selvagem percorreu-lhe a corrente sangüínea. De olhos fechados, cabeça erguida, a moça balançava e mergulhava na música que apenas ela podia ouvir. A cabeça pendeu para trás. O corpo ficou arqueado. Leanna ergueu os braços na direção da lua, como se a batida da música e a do coração dela fossem uma só.

O tempo correu célere. A jovem levou as mãos ao primeiro botão do robe. Devagar, ainda balançando, Leanna desabotoou-se até que a vestimenta ficou aberta, expondo o corpo nu para a noite... E para o ho_mem que a observava.

Leanna tirou os grampos dos cabelos e os deixou cair sobre os ombros, como se fossem ondas doura_das. Levou as mãos até os seios e os cobriu. Depois, deixou as palmas das mãos contornarem as curvas do próprio corpo, passando pela barriga, pelas coxas.

A música alcançou um nível febril, intenso. A moça permaneceu quieta. Devagar, como se a última nota desaparecesse em meio à noite, a dançarina dei_xou o robe cair no chão.

Nua, ergueu os braços em direção à lua — e soube que não havia dançado para atormentar o homem que a observava. Dançara para seduzi-lo. Silêncio. Então, a jovem ouviu Cam pronunciar o nome dela.

— Salomé.

A dançarina abriu os olhos. Tarde demais. Cam desaparecera. O americano vinha ao encontro dela.

A porta da sala de estar se abriu. A moça rodopiou na direção do som e o viu entrar. Leanna quase podia sentir o calor que aquele homem exalava, o cheiro de tanta masculinidade.

De repente, a moça teve medo e cobriu os seios com as mãos, dizendo:

— Espere, Cam...

O americano bateu a porta e veio na direção da dançarina, chutando uma cadeira que estava no caminho. Quando chegou perto de Leanna, tomou-a nos braços.

— Nada de esperar mais, Salomé — Cam disse e a deitou no carpete.

— Cam...

Mas o americano não ouvia nem pensava em mais nada. Knight a beijou, colocou um dos joelhos entre as coxas da moça, prendeu-lhe os braços acima da ca_beça, e disse:

— Olhe para mim. Quero ver seu rosto enquanto nos tornamos um só.

Os dois corpos se fundiram de forma rápida e intensa. Leanna gritou e Knight estremeceu. Depois, ficou paralisado. Deus, seria verdade? Salomé era virgem.

 

                                       CAPÍTULO OITO

Virgem? A mulher que viera até ele vestida como uma huri? Que viera a Baslaam como um brinquedo sexual de Asaad? Não havia dúvida com relação à frágil barreira que os afastava.

Com a testa suada, cada músculo do corpo de Cam ficava tenso enquanto o americano lutava para não mergulhar na dançarina.

— Salomé, por que não me contou?

— Eu tentei antes quando você disse que não tinha preservativo, mas...

— Ah, Deus, como fui idiota.

— Shh. Não importa. Apenas... — A moça mexeu suavemente os quadris, mas foi o suficiente para o americano fechar os olhos e gemer.

— Não... não faça isso, querida. Apenas fique quieta. Vou recuar e... — A respiração sibilava por entre os dentes. A jovem voltara a se mexer, erguendo-se sutilmente em direção a Cam. Leanna o queria.

Ao se imaginar pleno, Cameron foi tomado por uma alegria tão intensa que ficou chocado. A dança_rina dourada nunca se deitara nos braços de nenhum homem. Agora, estava nos dele. E o queria.

Mas era virgem. Um presente raro que um homem poderia encontrar neste mundo brutal, de cabeça para baixo. Como Cam pôde tomar-lhe a inocência? A moça não estava pensando direito. O perigo. A adrenalina. Além disso...

Knight não merecia o presente que a dançarina es_tava lhe dando. A moça era corajosa, forte e bela. E a pureza da jovem pertencia a outra pessoa, não a alguém como ele. Se tivesse de fazer algo certo na vida, seria isso.

— Cam?

O sussurro da jovem estava repleto de perguntas, mas o ex-soldado tinha a única resposta que fazia sentido. Lentamente, o americano começou a des_prender-se dela.

— Não — Leanna disse, e os músculos da jovem se prenderam com mais força ao redor do corpo dele.

O coração de Cam retumbava no peito. Será que um homem poderia morrer de prazer? Por fazer a coisa certa?

— Shh. Tudo bem, querida — o rapaz murmurou.

O corpo de Knight estremeceu quando, finalmente, conseguiu separar-se do dela. A moça protestou, e o ex-soldado a beijou delicadamente.

— Salomé. Perdoe-me.

— Você não poderia saber.

— Deveria tê-la escutado, querida, mas fui muito teimoso.

— Então, ouça-me agora. Não quero que pare. Quero que faça amor comigo.

— Você acha que é isso que quer, mas não é.

— Não me quer?

Cam a enrolou com o roupão e a puxou para os braços dele, dizendo:

— Mais do que qualquer coisa na vida.

— Então, por quê...

— Porque sou tudo que você disse a meu respeito. Cada nome de que me xingou. — Cam ergueu o rosto dela, acariciando-lhe os cabelos e puxando-os para trás. Então, acrescentou:

— Você merece alguém melhor.

— Não! Não diga isso.

— Deixe-me apenas segurá-la, querida. Venha. Encoste-se em mim.

Os segundos se arrastavam. O americano podia sentir o corpo da dançarina amolecendo. Finalmente, a jovem suspirou.

— Entendo. Conversa de garotas. Algumas dizem que a virgindade é um fardo.

— É um presente, Salomé. É por isso que só quero segurá-la em meus braços, e que peço a Deus que me perdoe por todas as acusações que dirigi a você.

— Acreditou em Asaad. Não o culpo. O sultão fez com que tudo parecesse lógico.

— Eu devia ter visto a verdade. Você arriscou sua vida, avisando-me que Asaad estava preparando uma armadilha para mim.

Cam fez uma pausa. Depois, continuou:

— Como isso aconteceu?

O americano sentiu a moça estremecer e, em silên_cio, xingou a si mesmo por ter pedido à jovem que re_vivesse lembranças terríveis.

— Não se preocupe. Não devia ter perguntado — Cam disse.

— Tudo bem. Quero lhe contar. Talvez se eu disser tudo em voz alta, essa história pareça menos real.

Leanna engoliu em seco e continuou:

— Eu estava com um grupo de dança em um tour pela Europa Oriental. Um dia, durante um ensaio, duas outras garotas e eu saímos do teatro para tomar um pouco de ar. Um furgão apareceu. Alguns ho_mens pularam lá de dentro, nos agarraram e nos joga_ram na parte traseira. Pensei que fossem nos matar, mas uma garota disse que eram comerciantes de es_cravos, e...

— E ela estava certa — Cam disse.

Leanna acenou com a cabeça, concordando, e con_tinuou:

— Asaad me comprou. O sultão ia me usar quando você apareceu. Ele disse que me deixaria livre se eu fizesse certas coisas com você. Eu sabia que era men_tira, mas você era americano. E imaginei...

— Imaginou que eu estivesse montado em um ca_valo branco para salvá-la, e então descobriu que eu era a versão americana de Asaad.

— Não! Você não tem nada a ver com o sultão, Cameron! Você salvou minha vida. Se não tivesse ido a Baslaam, se não tivesse escapado e me levado junto...

— Querida, você escapou. Apenas fui junto, pe_guei carona.

Leanna sorriu, como o ex-soldado esperara, e par_te da escuridão abandonou os olhos da moça. A dan_çarina era uma mulher surpreendente.

Se tivessem se encontrado na outra metade do mundo, em uma festa... Se tivessem se encontrado de uma forma que não o fizesse lembrar o porquê de ele não merecer uma mulher como aquela... Talvez tudo ficasse bem.

Em outra época, outro lugar, teria mandado para o inferno toda a cortesia. Salomé era bela e brilhante, qualidades às quais o americano não teria resistido.

Cam teria perseguido a jovem — enviando flores, levando-a para jantar, beijando-a à porta da casa dela, sussurrando que odiaria deixá-la. E a moça o teria convidado para ficar. Então, teriam ido para a cama. O americano teria dito todas as coisas certas, exceto aquilo que ele sabia mais do que acreditava — o que a moça merecia.

Após algumas semanas ou alguns meses, Knight te_ria ido embora. Seria tudo muito civilizado e as mulhe_res que passavam pela vida dele conheciam as regras. Salomé não, e Cam amaldiçoaria a si mesmo se fosse o homem que a introduzisse nesse jogo. Só de_sejava que a moça, ali nos braços dele, não fosse tão maravilhosa.

Com cuidado, Knight mexeu-se. Se não tivesse feito isso, a evidência do desejo que o americano sen_tia seria ainda óbvia demais. Então, ergueu o rosto da moça e a beijou, dizendo:

— Sabe o que mais?

— O quê?

— Se eu não comer algo logo, minhas costelas vão dar adeus à minha coluna. Leanna riu, e comentou:

— Como posso esquecer que você é um autêntico

garoto do Texas?

— Sem piadas, querida. Estou faminto. E você? O estômago da dançarina roncou, respondendo à pergunta dele. Cam riu e virou-se enquanto vestia os jeans e se levantava.

— Vamos ver se podemos encontrar algum bom churrasco no banquete que Shalla providenciou.

A moça ria enquanto Cam a levantava. Sorrindo, o americano manteve o olhar no rosto da jovem en_quanto abotoava o roupão dela. Mas quando, por aci_dente, os dedos dele tocaram a pele macia da moça, Knight conteve um gemido. Como sobreviveria àquela noite?

Sentaram-se a uma mesa redonda, na varanda, conversando enquanto comiam. Depois, Salomé fi_cou em silêncio. Cam pegou uma das mãos da moça e perguntou:

— Ei, por que está tão triste?

Porque nada daquilo duraria. Porque Cam real_mente era o belo príncipe que havia tropeçado na princesa adormecida. Porque Leanna sabia, tão bem quanto o americano, que talvez não sobrevivessem.

Porque, se Leanna tivesse de deixar este mundo, a moça queria saber que, ao menos por um momento, pertencera a Cameron Knight.

— Querida?

Leanna o tocou no rosto. Cam pegou a mão dela e beijou-lhe a palma.

— Cam. Quero lhe pedir uma coisa. Se não quiser fazer... se acha que estou sendo muito atrevida...

— Peça o que quiser.

— Você disse que não quer dormir comigo.

— Não. O que eu disse foi que não posso dormir com você. Deus sabe o quanto eu quero.

— Mas há... quero dizer, há outras coisas...

A moça ficou corada à medida que a voz desapare_cia. Cam a fitou e pensou nessas outras coisas, e sabia que nunca seria forte o suficiente para sobreviver a essas experiências.

— Querida, você está certa. Há outras coisas. Mas não sou santo. Se eu colocar minha boca em... Se eu fizer essas outras coisas, tenho medo de que...

— Podíamos tomar banho juntos.

— Banho? Juntos?

— Sim. Naquela grande banheira. Você numa ponta. Eu na outra. Muitas bolhas de espuma de modo que ninguém veja nada e... Oh, Deus, não me olhe assim! Me desculpe. Não devia nunca ter...

— É uma grande idéia.

— É?

— Sim. Você toma banho. Eu lhe faço companhia.

— Não é a mesma coisa.

Claro que não é, Cam pensou, mas limitou-se a sorrir.

Havia uma espreguiçadeira no banheiro. Cam acomodou-se nela enquanto Salomé providenciava o banho. O ex-soldado viraria de costas quando chegasse o momento. Por ora, não havia problema em vê-la abrindo a torneira, ou escolhendo um óleo de banho de um dos pequenos frascos de cristal na prateleira, perto da banheira.

Ninguém podia culpá-lo também por observá-la erguendo os cabelos, afastando-os dos ombros e prendendo-os com um grampo de forma que suaves anéis caíssem nas costas dela.

— Perfeito — a moça disse.

Perfeito, o rapaz pensou, e estremeceu ao suave aperto do próprio corpo. A moça estava de costas para o americano. Cam podia dizer que a dançarina estava desabotoando o roupão, que deslizou pelos ombros dela. Era hora de desviar o olhar. Mas não fez isso. Os olhos do ex-soldado estavam cravados nas graciosas linhas das costas da jovem.

— Cam? A banheira está tão funda... Poderia me ajudar a entrar?

O americano acenou com a cabeça, concordando. Era mais seguro do que falar, Cameron pensou ao se dirigir à dançarina. Se mantivesse os olhos cravados, se a jovem não se virasse...

Mas Leanna virou-se lentamente, o suficiente para fazer o coração dele quase parar, e o fitou, sussurran_do:

— Cam?

Todas as perguntas que uma mulher podia fazer a um homem estavam nos olhos dela. Todas as respostas que Cam queria lhe dar pulsavam através da corrente sangüínea do americano.

Devagar, Knight deixou que o olhar dele percorresse os seios da moça, a barriga, as coxas. O americano lembrou-se de que já sentira aquela pele quando a tocara. Agora, como seria senti-la se a beijasse? Queria beijar-lhe o corpo, sentir aquele perfume feminino, observar o rosto da dançarina enquanto a beijava...

— Salomé, você está tentando me seduzir.

— Tentei uma vez e não funcionou.

E agora, ambos sabiam, a jovem estava tentando novamente. Knight não sabia se ria ou chorava. Leanna nunca estivera com um homem. Já o americano estivera sabe-se lá com quantas mulheres, e a dançarina pensava que poderia seduzi-lo?

Cam era mais forte do que isso — e homens fortes não são covardes. O americano pensou no que a moça lhe havia pedido antes, se não existiam outras coisas que os dois pudessem fazer em vez daquilo que am_bos queriam. Coisas que dariam aos dois momentos de um prazer doce, sem matar. Talvez, até oferecer algum alívio.

Cam sorria. O ex-soldado despiu os jeans. Depois, pegou a dançarina no colo e entrou na água. Agora, tudo o que tinha a fazer era colocá-la de pé, ter certe_za de que poderia estabelecer o ritmo...

Os braços da moça estavam presos ao pescoço dele. E, quando Cam mergulhou na banheira, a jovem acabou caindo no colo do americano.

Cameron tinha de tirá-la dali. Só um pouquinho. Se a dançarina continuasse onde estava... O america_no a moveu e perguntou:

— Certo, como está se sentindo? Salomé suspirou e respondeu:

— Maravilhosa.

Será que falavam sobre a água? Ou estavam co_mentando sobre a excitação de Cam?

— A água está morna.

Bom. Ambos falavam sobre a água.

— É mágico — a moça sussurrou.

A dançarina é que era mágica. A jovem parecia tão suave nos braços dele... A cabeça da moça estava en_costada em um dos ombros do americano e seus olhos estavam fechados. As pontas dos cabelos estavam molhadas e pendiam sobre os seios como montes dourados e a boca... parecia uma pétala.

Cam abaixou a cabeça e a beijou suavemente, sus_surrando:

— Doçura.

A moça correspondeu ao beijo e Cameron sentiu o sangue pulsar forte.

— Vou lhe dar banho agora, Salomé.

A voz era grave. O coração estava disparado. Gen_tilmente, ergueu-a e a colocou entre as pernas dele. Depois, apanhou uma esponja e a mergulhou na água.

— Primeiro, seu rosto e seu pescoço — Cam sus_surrou.

A moça fechou os olhos.

— Depois...

Lentamente, Cam passou a esponja pelos seios dela. Sentiu-a tremer. O americano também tremia ao passar a esponja pela barriga da moça. Depois, mais abaixo...

A esponja caiu da mão dele. Knight abaixou a ca_beça, beijou os seios da dançarina enquanto passava uma das mãos por entre as coxas da jovem. Leanna soltou um gemido e o toque do americano demorou, centrando-se naquele local proibido.

— Isso é... — A cabeça da dançarina tombou para trás.

— Como é, Salomé? — Cam perguntou, com o corpo pegando fogo.

A dançarina suspirou. O ex-soldado aumentou a carícia e avisou a si mesmo que isso era apenas para a moça. Não para ele. Não para...

O grito da jovem ecoou pela noite. Um prazer, ar_dente e elementar, percorreu-lhe o corpo. Cam fizera isso, dera-lhe isso.

A sensação era tão profunda, intensa, que o rapaz ficou aterrorizado. Rapidamente, levantou-se e to_mou a dançarina nos braços. Saiu com a jovem agar_rada ao pescoço dele, beijando-a. Devagar, colocou-a em pé e a embrulhou em uma toalha.

Depois, voltou a beijá-la e a levantá-la. Carregou-a do banheiro até o quarto, onde a deitou com cuida_do, como se a moça fosse o tesouro mais precioso do universo.

— Não me deixe — Leanna sussurrou.

Nunca, o americano pensou. Nunca mais a dei_xaria.

— Shh — Cam disse e a beijou.

Knight trancou a porta da sala. Como a porta do quarto não tinha tranca, o rapaz colocou uma cadeira ali atrás. Isso deveria resolver.

Quando voltou para a cama, Salomé já havia ador_mecido. Cam sentou-se ao lado da dançarina, sorrin_do enquanto a observava, os cabelos espalhados pe_los travesseiros. A moça era o retrato de bondade e inocência. E, em algum lugar, no deserto que rodeava aquele palácio, Asaad a procurava.

O sorriso do ex-soldado esmaeceu. De forma que não a acordasse, o rapaz a beijou. Depois, deitou-se ao lado dela e a abraçou. Salomé suspirou e ajeitou a cabeça em um dos ombros do americano. Cam pegou uma das mãos da moça e a beijou. Em seguida, fe_chou os olhos e adormeceu também.

 

                                 CAPITULO NOVE

Leanna acordou sozinha na cama. À escuridão do quarto, juntava-se um silêncio tão grande que a moça podia ouvir as batidas do próprio coração.

— Cam?

Nenhuma resposta. Os olhos da dançarina come_çaram a se ajustar à escuridão. A porta para a sala de estar estava aberta. E, através dessa porta, a jovem podia ver Cam, em pé, na varanda.

A moça suspirou aliviada e começou a afastar a manta acolchoada. Então, parou. Talvez o ex-soldado precisasse de um tempo sozinho. Leanna, não. A dan_çarina precisava estar com o americano, mas não ha_via motivo para o rapaz se sentir da mesma forma. Principalmente depois do que acontecera na ba_nheira.

O rosto de Leanna queimava. Talvez Cam estives_se decepcionado com a jovem. A dançarina não con_seguia acreditar que fora tão atrevida. Nunca se inte_ressara muito por sexo. A dança era tirana. Deixava a pessoa com pouco tempo ou energia para qualquer outra coisa. Mas, aí, conhecera Cameron Knight...

E se apaixonara por aquele homem. O coração da jovem deu uma pequena sacudidela. Como isso era possível? A moça o conhecia há poucas horas. Sim, mas ambos haviam experimentado uma vida inteira nessas horas. Quem mais sabia quanto tempo os dois ainda tinham?

Leanna sentou-se e jogou a coberta acolchoada para o lado. Não iria se preocupar com o que Cam pensava dela. Tempo era algo precioso demais para ser desperdiçado.

Havia um roupão aos pés da cama. A moça o ves_tiu, atravessou o quarto, a sala, indo em direção a Cameron. A dançarina parou quando estava quase chegando às portas envidraçadas da varanda e deixou que os próprios olhos se deleitassem com a imagem que tinha dele naquele momento.

Knight estava em pé, as pernas um pouco abertas, as mãos no parapeito da varanda. Vestira os jeans, mas não os abotoara. A moça podia dizer isso pela forma como as calças estavam baixas, penduradas nos quadris.

O olhar da dançarina moveu-se rumo aos ombros musculosos e ao longo das linhas das costas nuas do ex-soldado. Meu belo guerreiro, a moça pensou, e sorriu, dizendo:

— Cameron?

— Salomé — Cam retrucara, e a moça podia dizer por aquela palavra que o americano soubera desde o início que a jovem estava ali. Claro. Era bom demais no que fazia para não tê-la escutado.

A dançarina queria correr para aqueles braços másculos. Porém, o americano virou-se. Havia certa rigidez na postura dele, e isso fez com que a moça re_cuasse.

— Acordei você? — Cam indagou.

— Não. Eu...

— Venha cá — o ex-soldado disse. Cameron es_tendeu-lhe um dos braços, e tudo mudou — a forma como o rapaz a fitava, como se comportava, o peso que, de repente, se instalara no coração da moça.

Leanna voou na direção de Cam, que a abraçou, mantendo-a contra si. A noite estava fria, mas a pele dele estava quente. O perfume do óleo que a jovem usara no banho impregnou-lhe o olfato, misturando-se ao aroma que a dançarina mais gostava, o próprio cheiro do ex-soldado.

Leanna se aproximou ainda mais. Cam fechou os olhos. Deus, aquela mulher era uma maravilha nos braços dele.

— Não está com frio aqui fora? — Leanna pergun_tou e lhe deu um beijo em um dos ombros.

— Estou bem. Aqui. Deixe-me esquentá-la. Cam desfez o laço do roupão e deslizou as mãos pelo corpo dela. A pele da jovem era sedosa. Leanna emitiu um som como se fosse uma gata ronronando.

— Bom — a moça sussurrou.

Knight só pretendia esquentá-la. Mas, droga, o corpo dele o trairia novamente. O rapaz se mexeu, vi_rou-se um pouco, na esperança de que a moça não descobrisse a verdade.

— Está acordado há muito tempo? — Leanna in_dagou.

— Há pouco tempo — Cam respondeu, dando de ombros.

— O que o acordou?

Perguntas que não tinham respostas, o americano pensou. Onde estava Asaad? Será que já encontrara o rastro dos dois? E havia ainda a pergunta mais impor_tante de todas: Como Cam salvaria Salomé?

A jovem não precisava ouvir nenhuma daquelas perguntas. Ambos haviam encontrado um oásis, e ainda não havia necessidade de desistir daquela paz.

— Estava com sede. Levantei para beber água. O que a acordou?

A moça ficou corada, mas permaneceu fitando-o ao dizer:

— Senti sua falta.

Cam a puxou para si e a beijou. Depois, abraçou-a e pousou o queixo no topo da cabeça da jovem. Tal_vez o americano estivesse errado. Talvez fosse a hora de lhe contar um pouco do que se passava na mente dele.

— Pensei em ir lá fora e dar uma olhada ao redor.

— Ir lá fora? Deveria levar-me com você. Imagine se algo acontecer?

— Não aconteceria nada. Estamos seguros aqui.

— Por enquanto.

— Sim. Por enquanto. Queria olhar ao redor en_quanto o resto do lugar dormia. Imaginei: quanto me_nos olhos observando, melhor.

— O que achou?

— Este lugar é como aquele reinado místico, Shangri-La. Não acho que tenha sido tocado pelo mundo nos últimos cem anos, pelo menos.

— Por que tenho a sensação de que isso não é bom?

— Porque não há nada aqui que possamos usar. Nada de carros, caminhões, telefone. Nem mesmo um rádio.

— Você tem um telefone celular. E encontramos o GPS.

Cam tentara usar o celular no deserto, na monta_nha, fora do palácio há pouquinho, logo depois de fa_zer uma leitura com o GPS. Apenas uma barra de transmissão havia aparecido na tela do celular. O ex-soldado ligara para o escritório e deixara as coorde_nadas do GPS no correio da caixa postal telefônica. Porém, a barra solitária desaparecera antes que o ra_paz acabasse de falar.

Sim, mas Salomé estava com os olhos cheios de esperança. Seria a omissão realmente uma mentira?

— Sim. Podemos tentar usar os dois pela manhã.

— Bom — a moça disse e sorriu.

Cam estava mentindo. Leanna podia ouvir o enga_no no tom de voz alegre demais, mas fingiria não ter percebido. O americano estava mentindo para prote_gê-la. Knight era assim. Era o tipo de homem pelo qual a dançarina esperara, para quem se guardara, embora não soubesse disso.

A moça não fizera um esforço consciente para manter sua pureza. Ocorre que, entre a escola e o bale, não houvera muito tempo para garotos. Agora, havia ainda menos. Ensaios e apresentações toma_vam todo o tempo e toda a energia da jovem. Além disso, os homens que a dançarina conhecera não eram nem um pouco interessantes.

Em Vegas, onde Leanna dançara para ganhar di_nheiro rápido e suficiente para financiar a própria mudança para Nova York, os homens estavam acos_tumados a comprar o que quisessem.

Em Manhattan, a jovem havia conhecido homens apaixonados por si mesmos e suas respectivas ima_gens. Foi a cidade que a conquistou. Era onde o bale clássico vivia. Leanna não passara na audição para o Bale de Nova York. Porém, ganhara uma cobiçada vaga no Bale Manhattan.

A moça estava sempre ocupada demais para os ho_mens. Ainda assim, houve momentos em que a dan_çarina se perguntara se era normal. Se os hormônios estavam bem, porque sexo não parecia ser um item prioritário.

Então, vira-se em um pesadelo e fora resgatada por um estranho de fala dura. Aí, descobriu que não apenas queria que esse homem lhe ensinasse tudo so_bre sexo, mas que também a fitasse e dissesse que a amava.

Quanta besteira! Leanna estava velha demais para acreditar em milagres. Cam não a amava... Mas isso não significava que a dançarina não pudesse amá-lo. Agora. Amanhã. Sempre.

— Ei.

A moça piscou e o olhou.

— Não há nada com o que se preocupar, querida. Amanhã cedo, vamos checar tudo.

Cam forçou um sorriso e acrescentou:

— Conhece aquele velho ditado, "Depois de uma noite escura sempre vem o amanhecer"?

— Não tem que me proteger da verdade, Cam. Sei que estamos em uma situação difícil.

— Sim, estamos, mas vou pensar em algo.

— Já fez isso. Salvou minha vida.

— Já lhe disse, foi você quem se salvou. Se não ti_vesse dado aquele grito tão agudo, eu ainda estaria no banheiro.

— Não, não estaria. O que eu disse antes é verda_de. Você teria escapado, mas com um plano.

— O que eu disse antes também é verdade. Não te_ria tido você comigo.

— Quer dizer, suas chances seriam muito me_lhores.

— Errado. Cem por cento de erro. Como pensou nisso?

— Você teria se virado melhor sozinho.

— Não é verdade. Você manteve um ritmo que te_ria feito com que muitos caras caíssem.

— Fala sério?

— Claro.

Cam abaixou a cabeça e a beijou. Depois, acres_centou:

— Eu deveria saber. Esse é o meu trabalho.

— Quer dizer que arrisca sua vida o tempo todo?

— Não. Bem, eu costumava fazer isso. Agora, apenas aceito trabalhos que ninguém mais quer. Meus irmãos e eu...

— Você tem irmãos?

— Dois. Somos muito chegados. Matt, Alex e eu estávamos juntos no serviço militar. Depois, traba_lhamos para uma agência do governo.

A dançarina estava certa. Cam era um guerreiro. A moça perguntou:

— O FBI?

— Nada honesto, legal. Nada com as iniciais que você reconheceria. Fiz coisas... Fizemos.

— Coisas perigosas.

— Sim, mas...

— Para o país de vocês.

— Certamente, mas...

— Alguém tem que fazer essas coisas por todos nós, Cameron.

O americano a fitou. Leanna quisera dizer cada pa_lavra. Foi nisso que o ex-soldado acreditara também, em um primeiro momento. Que inferno, ainda acredi_tava nisso. No coração dele, sabia que era verdade. O que acontece é que você se cansa de tudo, da fraude, dos truques...

— Sim. Mas, após algum tempo, você começa a esquecer. Todos nós fizemos isso, Matt, Alex e eu. Foi quando soubemos que era hora de dar o fora. En_tão, voltamos para casa...

— Dallas.

— Certo. E formamos a Knight, Knight e Knight: Especialistas em Gerenciamento de Risco.

— Quer dizer, vocês ainda são apaixonados por situações excitantes.

Cam sempre fora. Agora, toda a excitação da qual o americano precisara estava bem ali, nos braços dele.

— Meu cavaleiro em uma armadura brilhante — a dançarina disse, rindo e beijando-o.

— Como tive tanta sorte em encontrá-lo em Baslaam?

Cam pegou as mãos da moça e as levou ao peito, dizendo:

— É uma longa história. A última linha relata que eu estava lá, a negócios, para o meu pai.

— Então, por que Asaad queria que eu o distraís_se? Por que o sultão queria machucá-lo?

— O que Asaad queria era a minha assinatura em um contrato, mas sabia que eu não assinaria. Talvez tenha imaginado que, se me pegasse quando eu esti_vesse distraído, teria sido mais fácil lidar comigo. Os homens dele teriam me atacado. Depois, deixariam claro que iriam machucá-la, a menos que eu coope_rasse.

Leanna não perguntou mais nada a esse respeito. Em vez disso, concentrou-se no que Cam dissera so_bre cooperação.

— E, uma vez que tivesse feito... Asaad o teria as_sassinado e se divertido comigo.

A voz da dançarina sumira. Cam fechou os olhos, tentando bloquear a raiva que o invadia, sabendo que a jovem precisava de palavras de conforto, e não de promessas malucas de matar Asaad com as próprias mãos.

— Não tenha medo. O sultão nunca tocará em você. Eu prometo.

Leanna ergueu o rosto na direção de Cam. No es_curo, com o torso nu, ele parecia o soldado arrebata_do e orgulhoso que era.

— Como posso ter medo de alguma coisa se estou em seus braços?

As palavras da jovem eram como um punhal no coração dele. Cam lhe fizera uma promessa que era mais uma oração. Muita coisa podia dar errado e, se isso acontecesse, só havia um jeito de salvá-la do sul_tão.

Knight não queria pensar nisso. O que o americano queria era carregá-la de volta à cama, fazer amor com a dançarina até que a moça esquecesse tudo, e só pen_sasse nele. Porque o que o ex-soldado sentia por Leanna era...

— Cam? Quero lhe agradecer pelo que fez antes. No banho. Foi muito generoso. — A moça disse e fi_cou corada.

Generoso? A dançarina fez com que aquilo pare_cesse uma contribuição de caridade.

— Você foi um cavalheiro — Leanna acrescentou. Cam não se sentira galante. O corpo dele estava pegando fogo.

— Foi por isso que decidi dormir no sofá — a moça disse.

— Você o quê?

— O sofá na sala de estar. Vou dormir no...

— Não vai.

— Claro que vou. Sei por que deixou a cama. Não sou idiota.

— Saí da cama porque acordei e queria um gole de água.

— Saiu de lá por minha causa. É por isso que vou dormir no...

— Do que está falando?

Primeiro, a moça falava que o queria, depois o chamava de cavalheiro. Agora, a jovem insinuava que o rapaz perdera o autocontrole. Não era verdade. Tinha muito autocontrole.

— Você vai dormir naquela cama comigo.

— Não vou. Você precisa descansar.

— Eu decido do que preciso. E veja como fala co_migo.

— Boa-noite, Cameron.

— Chame-me de Cam.

— Durma bem.

— Não ouse me dar as costas e ir embora. Knight a viu, boquiaberto, indo embora. A postura dela era a de uma rainha que acabara de dispensar um dos súditos. O que teria acontecido? Em um minuto, a dançarina estava nos braços dele, doce e sensual. No minuto seguinte, a moça lhe fazia um afago e ia embora.

— Droga, acha que é a única a ter problemas com isso? — Cam gritou.

— Não estou tendo problema com nada. Você foi generoso comigo quando estávamos na banheira e...

Cheio de raiva, o americano a seguiu. Virou-a e disse:

— Não se afaste de mim, mulher!

— Por favor, calma.

— Pareço um homem generoso para você?

— Foi um elogio.

— Bem, não quero esse tipo de elogio — Cam fa_lou com rispidez, embora uma voz dentro dele afir_masse que estava agindo como um idiota.

— Elogios são a última coisa que quero de você — acrescentou.

— Verdade?

— Sim.

— Então, o que quer de mim?

— Bruxa!

Leanna sorriu e ficou de pé. A moça colocou os braços em torno do pescoço do ex-soldado e o beijou enquanto Cam a pegava ao colo e a carregava até a cama.

— Não vou parar dessa vez — o americano sus_surrou.

— Não pare. Não pare jamais. Não...

Cam despiu os jeans. Pegou a dançarina dourada nos braços e a beijou novamente, um beijo fundindo-se a outro. Isso era o que um homem procurava por toda a sua vida, o que ele havia procurado sem saber.

Leanna tocou o rosto do americano. Como vivera todos esses anos sem aqueles beijos?

— Toque-me — a dançarina sussurrou, arqueando-se na direção dele, enroscando as pernas nos qua_dris do ex-soldado. Os corpos se tocaram. Cam, excitado, gemeu e rangeu os dentes, sentindo uma corrente elétrica percorrer-lhe o corpo devido àquele toque, àquela carícia.

Agüente, disse a si mesmo, recue um pouco. Essa era a primeira vez da dançarina. Cam estava pronto. Deus, ele estava mais do que pronto, mas ainda tinha algum controle. Não muito, mas o suficiente para saber que queria que tudo fosse feito da forma certa. Para que aquele momento fosse tudo para a moça.

Leanna suspirou, arqueou o corpo na direção de Cam, e o americano se perdeu. Knight rosnou, abaixou a cabeça e beijou-lhe os seios até que a moça gri_tasse de prazer. Então, o americano mexeu-se devagar, beijando-a até o umbigo e chegando à junção das coxas.

— Não, Cam...

— Sim — o ex-soldado retrucou, pegando as mãos da dançarina quando esta tentou afastá-lo. Cam ergueu os braços de Leanna, prendendo as mãos da moça acima da cabeça. Depois, acariciou-a intimamente, sentindo o cheiro daquela mulher. Cam inten_sificou as carícias até que a bailarina gritou de prazer.

Knight a olhou e viu que a jovem se debatia contra os travesseiros. O ex-soldado soltou-lhe as mãos, deslizando as dele pelo corpo da moça, erguendo-a e voltando a saboreá-la.

— Por favor — Leanna soluçava, os olhos cegos de desejo, as mãos agarradas aos ombros do rapaz.

Os dois corpos se fundiram bem lentamente, em_bora o coração dele estivesse acelerado. Leanna sus_surrou o nome do americano e Cam abaixou-se e bei_jou-a, deixando que a jovem sentisse o gosto do pró_prio desejo.

Cameron não seria capaz de continuar por muito mais tempo. Aqueles gemidinhos de prazer, o gosto da boca da dançarina... A jovem sussurrou o nome dele quando o americano intensificou o contato.

— Estou machucando você? Não quero machucá-la.

A jovem se mexeu, e Knight sabia que não poderia mais voltar atrás. Em um movimento rápido, Cam acabou com a frágil barreira que protegera a inocên_cia de Salomé. A moça arfava; os olhos bem abertos e o americano se forçou a ficar quieto, esperando, ob_servando até ver o rosto dela brilhando de alegria.

— Salomé. Minha Salomé...

— Fico feliz que tenhamos tido aquela discussão.

— Que discussão? — Leanna perguntou, embora o tom rosado no rosto da moça indicasse ao americano que sabia muito bem o que ele queria dizer.

— Aquela que você provocou, e que estava prestes a causar problema.

A dançarina soltou uma risada, suave e sensual.

— Isso é problema? — A moça sussurrou enquan_to passava as mãos pelas costas do ex-soldado.

— Continue assim, e será — Knight disse, sor_rindo.

— Que promessa adorável!

Cam a beijou de novo. A boca da dançarina era doce, a pele carregava o cheiro de quem havia acaba_do de fazer amor. O americano acariciou-lhe os seios e voltou a beijá-los.

Salomé fechou os olhos, e soltou um suave gemi_do. Cameron fizera amor com a moça novamente du_rante a noite, tomando-a devagar, demorando-se para descobrir os segredos do corpo da dançarina. Mas o tempo estava se tornando inimigo do casal.

— Querida. Temos que nos levantar.

— Eu sei.

— Vamos tentar usar o celular. E quero fazer algu_mas perguntas a Shalla. Deve haver algum tipo de transporte aqui que eu não tenha visto — um carro, um caminhão, alguma coisa.

— Só desejo...

— Sim?

— Desejo...

— Eu sei — Cam disse. E, a despeito de todas as boas intenções, o americano a puxou para os braços dele e voltou a beijá-la. Os beijos se aprofundavam e o americano se excitava à medida que a jovem res_pondia aos carinhos dele.

— Cameron — a moça sussurrou, quase sem ar, e Cameron esqueceu tudo, exceto aquele momento, a sensação de tê-la ali, o calor dela, a expressão da dan_çarina quando os dois corpos se fundiram e se com_pletaram.

Uma criada levou roupas para o casal, e disse:

— Minha senhora deseja saber se vocês gostariam de tomar o café-da-manhã no jardim.

Cameron respondeu que sim, e a empregada se re_tirou. Os dois tomaram banho, mas não se tocaram. Depois, vestiram-se. Para Leanna, calças de linho, na cor branca, e uma blusa de seda combinando. Para Cam, calças de brim e uma camiseta branca. Havia sandálias de couro para ambos.

A dançarina estava linda naquele traje, tão linda que era difícil ir embora daquele mundinho que os dois haviam criado. Porém, Cam sabia que tinham de fazer isso.

O americano se ajoelhou ao lado da cama e pegou a arma que escondera embaixo do colchão. Leanna o viu prender a pistola junto à cintura e, em seguida, cobri-la com a camiseta.

— Acha que algo vai acontecer esta manhã? — A dançarina indagou.

— Acho que o melhor é estar preparado. Por que não vou lá embaixo, tenho uma conversinha com a nossa anfitriã, checo as coisas? E, depois, você se junta a mim para... Qual o problema?

— Você não vai descer sem mim. Cameron decidiu não discutir. Até que soubesse mais, ele se sentiria melhor mantendo Salomé por perto. Não que o americano fosse servir de muita pro_teção para a dançarina se os homens de Asaad atacassem o palácio. Porém, o ex-soldado tinha uma arma. E a usaria contra o inimigo... e para impedir que Salomé caísse nas mãos do sultão, se isso acontecesse.

Aquele pensamento deve ter transparecido no rosto do ex-soldado porque a dançarina se aproximou e| o abraçou, sussurrando:

— Não importa o que acontecer, quero estar cor você.

— Querida, se as coisas derem errado, se não houver saída...

Leanna o beijou e sussurrou:

— Eu sei. E quando Cam a fitou, percebeu que a moça realmente sabia.

Os dois tomaram o café-da-manhã no terraço, sob um céu azul e uma treliça repleta de parreiras que os protegia do sol. Nas árvores, pássaros batiam as asas. Borboletas voavam sobre rosas.

Shalla apareceu enquanto os dois tomavam café. Será que tudo estava do agrado do casal? A comida? As roupas? A mulher parecia amigável, entretanto, Cam não confiava nela. Mais um motivo para ter cui_dado na hora de fazer alguma pergunta.

— Não vejo nenhum tipo de veículo por aqui. Cer_tamente, deve haver algum.

— Veículos?

— Sim. Caminhões. Carros. Algo para trazer su_primentos para cá.

— Ah. Somos auto-suficientes. Plantamos nossa própria comida, tosquiamos nossas ovelhas. Tudo o que vocês vêem foi feito por nós.

A roupa de linho e de seda? Os móveis pomposos? As comidas exóticas? Cam não podia acreditar, mas sabia que seria melhor fingir do que chamar Shalla de mentirosa.

— Muito impressionante, mas a quem se refere quando diz "nós"? Não vi ninguém exceto você e uma criada.

— Há outros na vila.

— Onde fica a vila? — Cam perguntou. Pela pri_meira vez, o americano sentiu certa esperança.

— Não fica longe daqui, senhor.

— Certamente, deve haver algum tipo de transpor_te lá.

— Algumas carroças e mulas, e só.

Carroças e mulas contra um exército de Humvees. Ainda assim, era alguma coisa. Ganhariam um pouco de tempo mais do que se caminhassem. Além disso, quando Cam beijou os pés de Salomé esta manhã, no_tou que seus dedos estavam vermelhos e inchados. Quando lhe perguntou a respeito, a moça se esquivou do assunto.

— Meus pés são a parte mais forte do meu corpo. Quem dança se acostuma a sentir um pouco de dor. Às vezes, deixamos o palco com sangue nos sapatos.

Leanna riu diante da expressão de choque de Cam, e acrescentou:

— Só parecemos frágeis. Isso faz parte da ilusão.

Uma carroça serviria, o americano pensou. Então, sorriu educadamente para Shalla e disse:

— Nesse caso, gostaria de visitar a vila o mais rá_pido possível.

— Claro, senhor. Tenho algumas tarefas para fa_zer antes. Vou levá-los quando o sol estiver alto. As_sim está bom?

Toda aquela situação não era conveniente, mas o que o americano podia fazer para mudá-la?

— Está bem — Cam respondeu.

Leanna esperou até Shalla ir embora. Então, en_costou-se em Cameron e comentou:

— Carroças e mulas? Será que é tudo que vocês têm?

— É o que Shalla afirma.

— Acredita nela?

— Acredito que carroças e mulas se resumem a tudo o que conseguiremos. Ei, veja o lado bom. Não teremos que nos preocupar em achar postos de gaso_lina. De um jeito ou de outro, farei tudo para levá-la de volta para casa.

— Para levar nós dois para casa. Não quero ir, a não ser que você vá junto. Entende?

O americano viu a expressão no olhar da moça e soube o que a dançarina lhe dizia. Leanna achava que havia se apaixonado pelo ex-soldado.

Cam sabia mais. O que ambos sentiam era uma mistura selvagem de paixão, atração sexual e perigo. Uma sensação mais forte para a dançarina porque o americano fora seu primeiro amante. Uma sensação mais forte para o ex-soldado porque... a moça era es_pecial. Mas isso não era amor.

Knight não acreditava em amor. Não daquele tipo. Amava o país em que nascera, os irmãos, os homens que haviam lutado ao lado dele. Mas romantismo era criação de canções baratas e filmes ruins. As pessoas que acreditavam nisso se tornavam fracas e vulnerá_veis.

Por que mais a mãe dele tolerara a frieza do mari_do? A constante desaprovação daquele homem? Por que outro motivo a mãe sucumbira à doença e mor_rera?

Não, Cam não acreditava em amor. No poder do sexo, sim. Adicione perigo à mistura e você tem uma infusão potente, memorável. Knight não amava Salomé, assim como a dançarina também não o amava. A moça apenas pensava que sim, e o americano apenas pensava que...

Cam afagou os cabelos de Leanna e ergueu o rosto da dançarina. Depois, beijou-a devagar, dizendo-lhe com aquele beijo que a protegeria com a própria vida. Honra era uma emoção que o ex-soldado compre_endia.

— Tudo vai ficar bem, querida.

— É possível que Asaad tenha desistido de nos procurar?

Desistido? De jeito nenhum. Duas pessoas escapa_ram de Baslaam. Os dois levaram a melhor com rela_ção ao pequeno e bem armado exército. Em vez de um contrato que vale milhões, Asaad foi humilhado. Ainda assim, um pouco de esperança nunca era de_mais.

— Tudo é possível — Cam disse.

— Sim. Tudo é possível — a dançarina retrucou, abraçada ao ex-soldado. Cam a beijou. Por mais um pouco, ambos podiam viver um sonho.

O casal tentou usar o celular uma dúzia de vezes. Na escadaria principal, no jardim e ao lado da pisci_na. Sem sucesso. Nenhum sinal.

— Nunca funcionam quando se precisa. Talvez mais tarde. Talvez o satélite não esteja na posição certa. Talvez... — Leanna disse.

Cam agarrou uma das mãos da moça e fez com que a dançarina sentasse na grama macia, dizendo:

— Não há sentido em se preocupar com isso. Mais uma hora, e Shalla vai me levar até a vila e...

— Shalla vai nos levar até a vila.

— Não. — Gentilmente, o americano a deitou na grama, e acrescentou:

— Vou sozinho.

— Imagine se for uma armadilha e que os homens de Asaad estejam à sua espera na vila.

— Quero que fique aqui com a porta trancada e a arma a seu lado.

— Você não pode ir sem a arma. Não vou deixar.

— Posso pensar em coisas melhores a fazer do que discutir.

— Só está tentando mudar de assunto.

— Mulher inteligente!

— Cam. Se algo acontecer...

— Nada vai acontecer.

— Eu sei... mas se algo...

A moça soltou um gritinho quando o ex-soldado a fez rolar pela grama até ficar embaixo dele.

— Sempre foi atrevida? — Cam indagou. Leanna riu e respondeu:

— Sim.

Cam sorriu e beliscou a pontinha do nariz da moça, dizendo:

— Conte-me.

— Contar o quê?

— Conte-me sobre você.

— A história da minha vida, quer dizer? Tudo bem, mas tenho que lhe fazer uma pergunta antes.

— Sim?

— Sim.

A moça ergueu uma das mangas da camiseta do americano e passou as pontas dos dedos pela águia estampada naquele bíceps masculino.

— Fale-me sobre isso aqui — Leanna pediu.

— É uma tatuagem idiota — Cam respondeu.

— Uma tatuagem espetacular — a moça retrucou.

— Você acha? Bem, isso é bom. Meus irmãos e eu também gostamos. Temos um ano de diferença cada um. Terminei o colegial primeiro. Na véspera de eu ir embora para a faculdade, nós três nos demos conta de que era a primeira vez que íamos nos separar.

— Então, vocês todos fizeram a mesma tatuagem?

— Sim. Coisa de garoto, eu sei, mas depois...

— Mas depois acabou se tornando um laço entre vocês. Meus irmãos iriam gostar da idéia.

— Também são dançarinos?

— Meus irmãos? Oh, meu Deus, se ouvissem você dizer isso... — A moça comentou, rindo.

— Não? — Cam disse, rindo com a jovem tam_bém. Adorava a risada dela. Era natural, assim como a dançarina.

— São policiais. Tiras da SWAT. Bateriam em você se ouvissem chamá-los de dançarinos. Bem, não. Provavelmente, não seriam capazes de bater em você. Quero dizer, são grandes também. Mas...

— Mas tentariam.

— Certamente. Ainda me provocam por causa da dança toda vez que podem.

Cam colheu uma margarida do jardim e passou as pétalas pelos lábios da jovem, dizendo:

— Os dois riem, mas aposto que sentem orgulho de você.

— Agora sim. Claro, era diferente no início, quan_do comecei a dançar. Eu tinha seis anos e apresenta_mos o Quebra-Nozes — sabe o que é?

— Acredite em mim. Temos cultura assim como churrasco no Texas.

— Bem, a família toda foi me ver. Mas não lhes contei antes que eu dançaria a parte...

— Da Fada Açucarada?

— Uma boneca embaixo da árvore de Natal. Que_ro dizer, eu simplesmente caía sentada e não me me_xia. Oh, acabaram comigo! Decidi mudar, saí do bale e passei para o sapateado.

— Que perda para o bale!

— Bem, não. Porque, de fato.

— De fato, você é maravilhosa. Aquela dança que você fez para mim, ontem à noite, por exemplo...

A moça ficou corada e disse:

— Não quero falar nisso.

— Eu quero. Quando olhei lá para cima e vi você...

— Nunca dancei assim antes. Uma garota que co_nheci em Vegas tentou me convencer a me candidatar a uma vaga no show em que ela estava. Mas, simples_mente, não conseguia me ver, você sabe...

— Tirando a roupa em público — Cam disse e abriu um largo sorriso ao vê-la corada novamente.

— E isso é uma coisa boa porque, se eu imaginasse que outro cara tivesse visto você assim, eu teria que matá-lo — Knight complementou.

Aquelas palavras a excitaram, e a jovem disse:

— Você é muito protetor.

— Sim. Isso é ruim?

— Não. Adoro a forma como você me faz sentir como se realmente...

— Como se eu realmente o quê?

Leanna o fitou. Como se você realmente me amas_se, a dançarina pensou... Mas sabia que isso não era verdade. Cam era amante dela, não o homem que a amava.

— Como se pudesse fazer qualquer coisa que ti_vesse imaginado — a jovem completou.

— Espero que isso seja verdade. Espero conseguir tirar nós dois daqui.

Knight a beijou. Um beijo longo e profundo que quase fez a moça desmair de prazer.

— Cam? Vamos subir? — Leanna sussurrou. O ex-soldado logo ficou excitado, e respondeu:

— Vamos.

Levantando-se, pegou-a nos braços e a carregou até o santuário dos dois. Cameron a despiu devagar, adorando a paixão estampada no rosto da jovem. O rapaz a acariciou, beijou-a, levou-a a um ponto no qual a dançarina não podia fazer nada a não ser solu_çar o nome dele. Depois, despiu-se e a carregou para a parede espelhada no quarto.

— Veja o quanto você é bonita — Cameron sus_surrou, virando-a de frente para o espelho.

Leanna deu uma olhadela em si mesma. Cam tirara a pureza da jovem, fizera amor com ela, dera-lhe ba_nho. Beijara cada centímetro do corpo da dançarina. Nada mais com relação àquele corpo feminino era se_gredo para o americano. A moça pensava que o ex-soldado experimentara tudo com ela.

Agora, a bailarina sabia que não. Ver a si mesma refletida nos olhos do seu amante não era como olhar para um espelho enquanto faziam amor. Cam acari_ciou os seios da jovem. Leanna arfava diante daquela sensação.

— Veja — o rapaz sussurrou.

A moça não teria conseguido desviar o olhar do es_pelho mesmo que tentasse. Uma das mãos dele ainda cobria-lhe um dos seios. A outra seguia a curva da cintura, de uma das coxas, espalhando-se lentamente pela barriga dela. Era um gesto tão erótico e posses_sivo que os joelhos da jovem se curvaram.

— Cam — Leanna disse com a voz embargada ao sentir a boca do americano em sua nuca.

— Veja — o rapaz voltou a dizer, agora em tom de ordem.

Cameron passou uma das mãos por entre as coxas da dançarina. Leanna arfava. O corpo cada vez mais quente. Então, aquele corpo feminino arqueou-se quando o choque do êxtase o transformou em um raio de luz.

Leanna estivera nos braços dele nas outras vezes que fizeram amor, mas nunca assim. Cam a segurou com força, querendo que aquele momento durasse para sempre.

— Cam, oh, Deus, Cam...

O americano a ergueu e os dois corpos se fundiram em um só. Leanna gritou e prendeu as pernas em tor_no da cintura dele, enquanto os corpos se fundiam cada vez mais. Apenas a força daquele homem a im_pediu de cair no chão.

Ambos explodiram de prazer. Leanna chorou. Cam gritou. O rapaz a reconduziu ao chão e a mante_ve abraçada. Algo estava acontecendo com o ex-soldado. Algo que Cameron não entendia ou queria ou...

De repente, um rugido absurdo. As janelas treme_ram e Leanna gritou de pavor. Cam curvou-se sobre a moça quando pedaços de vidro voaram para dentro do quarto. Do lado de fora, um enorme helicóptero preto pairava sobre o jardim, bloqueando o céu.

 

                                         CAPITULO ONZE

— Cam, o que está acontecendo? — Leanna gritou. O rapaz rolou, afastando-se dela, agarrou as calças e as vestiu. O helicóptero saíra do ângulo de visão do casal e estava pousando. Dava para ouvir o barulho das hélices.

— Eles nos encontraram, querida.

— Os homens do sultão? Mas Shalla disse que este lugar era um santuário.

— Shalla mentiu. — Havia cacos de vidro nos ca_belos dele. Podia sentir pedaços pequeninos sob os pés, mas o americano estava bem. Então, agarrou Salomé, deu uma olhada rápida na moça e respirou com mais facilidade ao se convencer de que ela não se ma_chucara.

— Vista-se!

Trêmula, a jovem pegou as roupas e vestiu-se. Cam pegou a arma e dirigiu-se à porta. Leanna correu atrás dele, dizendo:

— Cam, espere!

O americano virou-se, o peito nu, descalço, a arma em uma das mãos, e disse:

— Tranque a porta quando eu sair.

— Não! Vou com você!

— Tranque a porta e não a abra, não importa o que ouça. A menos que eu diga para abrir.

— Não vou deixar que você vá lá fora sozinho.

— Vai sim.

Leanna fitou Cameron. Por um momento, o rapaz parecia um estranho perigoso. Mas não era. Era o homem a quem a dançarina amava. O que quer que acontecesse, a moça queria estar com o americano, mesmo que isso significasse morrer junto dele.

— Vou com você, Cam. Não pode me impedir.

— Droga, Salomé. Não tenho tempo para discutir!

— Está certo. Você não tem. Então, acostume-se. Vou...

Cam a agarrou pelos ombros, e disse:

— Que inferno!

Homens gritavam a distância. Knight tinha de descer as escadas, deixar-se ser visto. Correr. Conduzir os patifes para longe dela e eliminar tantos quantos fosse possível.

Dispunha de apenas alguns minutos para tentar salvar a dançarina dourada. E, se não conseguisse, manteria uma bala para a moça. Uma morte rápida e sem dor seria tudo o que o americano poderia lhe dar para lembrar-se dele por toda a eternidade.

— Querida...

— Não vou deixar que saia sozinho.

Leanna estava falando sério. Cam podia ver o brilho de determinação no olhar da jovem. Entretanto, ele não a levaria consigo de jeito algum. Knight tivera treinamento em sobrevivência, podia lidar com o que o esperava lá fora. A jovem estaria à mercê dos matadores que viriam atrás deles.

— Chega de discussão. Você fica — Cam disse. Leanna colocou as mãos no peito dele e o fitou, olhos cheios d'água, dizendo:

— Por favor. Sei que está tentando me proteger. E eu o amo por isso. Amo você por tudo que é. Está me ouvindo? Eu amo você!

Ali estavam as palavras que o ex-soldado sabia que a dançarina queria dizer, as palavras que sabia que não podiam ser verdade. Então, por que invadiam o coração dele?

— E por isso que tem que me deixar ir com você. Não vê? Eu o amo! — a moça explicou.

Cam tinha de silenciá-la. Precisava forçá-la a ficar. Só havia uma forma de fazer isso, mesmo que a magoasse. Então, o americano tirou as mãos da moça que estavam no peito dele e disse:

— Não seja criança. Fizemos sexo. Não confunda isso com amor.

— Está errado. Eu amo você — a moça disse, o rosto empalidecendo.

— E eu adoro respirar — Cam retrucou, odiando a si mesmo mais do que pensava ser possível. Essa não era a forma adequada de o romance dos dois acabar, mas o americano não tivera escolha. Salvá-la era tudo o que importava. A honra dele exigia isso. En_tão, Knight acrescentou:

— Vou lá fora. Você fica aqui até eu voltar. Enten_deu?

A moça estava pálida, e a boca tremia. Cam xingou, puxou-a para si e a beijou. A dançarina não correspondeu e o ex-soldado poderia ter jurado que sentira a própria alma se despedaçar quando a deixou.

— Lembre-se de trancar a porta — Knight a avisou. Então, o americano saiu, esperou até ouvir o barulho da tranca e desceu as escadas correndo.

 

Os bandidos do sultão estavam no pátio. Seis homens. Não, oito. Cam sentiu a velha e familiar onda de adrenalina. Respirou fundo. Depois, gritou e começou a correr. O tiroteio rolava enquanto o america_no corria.

Dois homens caíram. Um terceiro. Depois, um quarto. Cam correu para a lateral do prédio, as balas zunindo acima da cabeça dele. O ex-soldado dobrou a esquina e encontrou-se à parede. Pela primeira vez, deixou-se pensar que ele e Salomé deveriam apenas sobreviver a esse... exceto que havia mais homens vindo.

Muitos homens. Muitas armas. Era isso, então. Chegara a hora de voltar para Salomé. Segurá-la nos braços. Dizer-lhe que aqueles poucos dias haviam sido maravilhosos. Beijá-la, colocar a arma na têm_pora da moça...

Algo o atingiu no peito. Parecia um martelo de forja. Mas por que alguém manejaria um martelo...

— Ahhh.

A dor desabrochou como uma flor de múltiplas pétalas, irradiando pelo peito, pelos ombros, pelos bra_ços. Cam foi caindo, escorregando pela parede. O rapaz olhou para baixo, tocou o peito, manchas verme_lhas nos dedos.

O som do tiroteio diminuiu. Uma bota chutou-lhe uma das pernas. O americano ergueu os olhos e avis_tou um homem ali em pé. Era difícil ver com clareza. Por alguma razão, tudo à sua volta se tornou confuso. Entretanto, Cameron conhecia aquele rosto cruel.

— Asaad?

— Senhor Knight? — Um sorriso de satisfação. Outro chute com a bota.

— Como é bom vê-lo novamente — Asaad disse. Cam resmungou e tentou ficar de pé. O sultão riu, colocou um dos pés no peito do americano e o empurrou para trás.

— Lamento que não vá a lugar algum, Senhor Knight. Realmente pensou que podia escapar de mim?

Salomé. Onde ela estava? Cam tinha de buscá-la.

— Está procurando por alguém? Claro que sim. Está procurando pela garota do meu harém.

— Não é sua. Nunca...

Asaad jogou a cabeça para o lado e gritou uma or_dem. Um dos homens veio, arrastando algo — al_guém.

Os olhos de Cam se encheram de lágrimas. Era Sa_lomé. Uma corda enrolada no pescoço da jovem; as mãos amarradas. O rosto estava sujo e machucado. E a dançarina chorava.

— Cam, oh! — Leanna soluçava.

Asaad assistia à cena, sorrindo. O sultão deixou que a moça ficasse a alguns centímetros de Cameron. Depois, agarrou-a pelos cabelos e a puxou para trás, dizendo:

— Só lamento que não. vai viver para me ver des_frutando do meu prêmio, Senhor Knight. Suponho que também não vá viver o suficiente para assinar aquele contrato de arrendamento de petróleo. Porém, quase vale o privilégio de ver você...

Cam ergueu a arma. Os olhos do sultão ficaram bem abertos, chocados.

— Bum! — Knight sussurrou e puxou o gatilho. Um buraco apareceu no meio da testa de Asaad, que caiu morto. Um dos homens do sultão gritou. Cam olhou para Salomé. Agora, disse a si mesmo. Agora. Restava uma bala para evitar a agonia da moça. Deus, não. Knight não podia...

Um pássaro gigante caiu do céu, um helicóptero falcão preto apareceu camuflado no deserto. Tiros. Os homens de Asaad se dispersaram. Tarde demais. Eram alvos fáceis.

Então, houve silêncio, exceto pelo suspiro do ven_to. Cam lutou para levantar a cabeça. Tentou falar o nome da dançarina dourada. Tentou chegar até a moça.

— Cameron? Será que não podemos tirar os olhos de você por um minuto?

Cam piscou. A visão estava ficando cinzenta, mas o rapaz poderia jurar que vira os dois irmãos caminhando em sua direção.

— Droga, Cam, mantenha os olhos abertos. Está ouvindo? Está morrendo em cima de nós, irmão, iremos perdoá-lo — a voz de Matt era dura, mas as mãos eram suaves.

— Mantenha a cabeça dele levantada — Alex dis_se.

— Salomé — Cam sussurrou. Matt abaixou a cabeça e perguntou:

— O quê?

— Salomé. Minha dançarina dourada...

Então, o cinza virou preto, e Cam caiu no oceano da escuridão.

Barulho. Luzes. Dor aguda como a lâmina de uma faca. Alfinetadas e uma dor mais obscura, pulsando a cada batida do coração.

Salomé. Salomé. E, então, novamente, escuridão. Vozes. Algumas eram familiares, outras não.

— Nada bem.

— ... o melhor que podemos, mas...

— ... perda significativa de sangue.

— ... jovem. Forte. Nenhuma promessa, mas...

E sempre um único nome na mente do ex-soldado: Salomé.

E então, numa manhã, Cameron abriu os olhos. O americano estava em um quarto de paredes brancas. Luzes traçavam padrões irregulares em um monitor. Algo apitava com uma freqüência irritante. Tubos de plástico enrolados nos braços, e um mastodonte invi_sível acampado no peito dele.

Cam gemeu. Não podia estar morto. Mesmo que acreditasse no paraíso e no inferno, nenhum dos dois lugares se pareceria com aquele. A boa notícia era que o rapaz estava em uma cama de hospital. E a má era que nenhum dos rostos ao redor era o de Salomé.

— Ei, irmão.

Cam virou um pouquinho a cabeça. Alex abriu um largo sorriso, e disse:

— Fico contente que tenha decidido ficar por aqui. Cameron tentou responder, mas sentia-se como se alguém tivesse tirado toda a areia do deserto e jogado em sua garganta.                                                    

— Ele quer água — alguém comentou. Era Matt que se aproximava e agarrava-lhe um dos ombros, di_zendo:

— Bom ver você de novo.

— Pedaços de gelo — outra voz disse, com autori_dade, e acrescentou:

— A enfermeira disse que não era para dar água, lembram? Aqui, deixem que eu faço isso.

Cam piscou quando o pai colocou uma das mãos em torno da nuca do ex-soldado e o ajudou a pegar um copo plástico com gelo. O velho pai? Curvando-se sobre o filho com olhos úmidos? Talvez realmente estivesse morto. Mas o gelo era real. Avery sorriu.

— Bem-vindo à sua casa, querido. É bom ter você de volta.

— Sim. É bom estar de volta.

O ex-soldado respirou fundo, tentando não estre_mecer diante da repentina dor no peito.

— Salomé?

O pai franziu as sobrancelhas. Os irmãos se entreolharam.

— Quem?

— Salomé. Minha dançarina dourada — Cam res_pondeu, impaciente.

— Ah, a mulher. Ela está bem. Sem um arranhão sequer — Alex afirmou.

Cam fechou os olhos e disse:

— Quero vê-la.

Os irmãos se entreolharam.

— Claro. Assim que você estiver melhor — Matt retrucou.

— Quero vê-la agora — Cam afirmou, e o quarto começou a girar.

— Cameron — o pai disse, mas a voz dele parecia vir de muito longe.

O rapaz mergulhou na escuridão.

Cam acordou algumas vezes, mas era sempre a mesma coisa. Os irmãos, o pai, médicos, enfermei_ras, máquinas. E nada de Salomé.

E então, finalmente, saiu das profundezas escuras. Cameron abriu os olhos e sabia que estava melhor. O mastodonte no peito fora substituído por um elefante. Havia apenas um tubo em um dos braços e as máqui_nas que apitavam tinham ido embora.

Cam virou a cabeça e olhou ao redor. Os irmãos estavam esparramados em duas pequenas cadeiras perto da janela.

— Ei — Cameron disse.

O som que saiu parecia o coaxo de um sapo doen_te, mas os dois o ouviram. Pularam das cadeiras, qua_se tropeçaram um no outro quando correram para junto do irmão.

— Ei — Matt disse. Cam perguntou:

— Quanto tempo?

— Duas semanas — Alex retrucou.

— Salomé?

— O que tem essa Salomé? — Matt perguntou.

— Quero vê-la.

Os irmãos se entreolharam, e Matt respondeu, cauteloso:

— Bem, assim que você ficar de pé, tenho certeza de que será capaz de...

— Ela não está aqui?

— Não — Alex respondeu.

Será que havia sonhado que os irmãos lhe disse_ram que a moça estava segura?

— Vocês não a tiraram de lá junto comigo? Fize_ram isso, não? Não deixaram...

— Calma. Claro que a tiramos de lá. E a levamos para o helicóptero. Deixamos você a bordo de um na_vio americano. Você estava por um fio. Precisava de cuidados médicos urgentes — Alex explicou.

— O que aconteceu a Salomé?

— O helicóptero a levou para Dubai.

— E?

— E... Depois disso, não sei — o irmão confessou.

— O que quer dizer? Não sabe?

— Alex quer dizer que não sabemos. Ficamos a seu lado no navio enquanto os médicos o atendiam. Quando a sua situação ficou estável, eles o colocaram em um avião— Matt explicou.

— Vocês nunca checaram para ver o que aconte_ceu a Salomé em Dubai?

— Não. Nunca nos ocorreu isso. Estávamos ocu_pados demais nos certificando de que você não fizes_se algo estúpido como, por exemplo, morrer — Alex disse.

Cam olhou para os irmãos. Os olhos dos dois refle_tiam o que haviam passado nas últimas semanas.

— Sim. Certo. Um de nós nunca poderia se afastar dos outros, eu acho.

— Isso. Até o velho ficou grudado em você como se fosse cola — Matt comentou.

— Obrigado por tudo. Quero dizer, por um mo_mento lá, imaginei ver vocês pulando daquele pássa_ro tão grande e belo. E Asaad? Realmente o peguei?

— O patife é história. Você também teria sido se aquela ligação que fez através do seu celular não ti_vesse entrado na caixa postal. Conseguimos informa_ção suficiente para descobrir onde você estava.

— E salvar minha vida.

— Nós e alguns companheiros dos velhos tempos salvamos sua vida, e não pense que vamos deixar que você esqueça isso.

— Salomé telefonou, certo? Houve um silêncio desconfortável.

— Telefonou? Para saber como eu estava?

— De fato, não. Não para mim — Alex disse.

— Matt? Ouviu algo?

— Lamento. Ela não entrou em contato. —-Mas...

Mas por que a dançarina ligaria? Cam dissera coi_sas para magoá-la. Ou... talvez não pudesse ligar. Talvez nunca tivesse chegado a Dubai.

— Cam?

— Tenho que descobrir o que aconteceu a Salomé. Matt pegou um bloco e um lápis, e disse:

— Tudo bem. Dê-me o nome dela e o endereço, e eu...

— Não sei.

— Apenas o nome, a cidade... O quê?

— Já disse, não sei.

— A cidade?

— Não sei nada, onde vive, de onde vem. Nem mesmo sei o nome dela.

Os irmãos o fitaram como se Cam tivesse perdido a memória. Não podia culpá-los. Como pudera passar dias e noites com Salomé e nunca ter perguntado o nome da moça?

— Não é Salomé? — Alex indagou. Cam riu com amargura e respondeu:

— Fui eu quem inventou isso.

Matt franziu as sobrancelhas ao perguntar:

— Não sabe o nome dessa belezura?

— Não fale dela assim — Cam disse.

— Então, como devo chamá-la? Salomé?

— Não. Sou o único que pode chamá-la assim... Cameron ficou em silêncio. Depois, continuou:

— Tenho que encontrá-la.

E, do jeito que dissera, os irmãos sabiam que Cam estava certo.

Salomé havia desaparecido. Era como se a moça nunca tivesse existido, exceto nos sonhos de Came_ron.

O ex-soldado solicitou um telefone ao lado da cama. Os médicos não deixaram. O paciente precisa_va descansar. Cam disse que sabia do que precisava mais do que os médicos. E, depois que as enfermeiras o encontraram rastejando corredor abaixo em direção a um telefone público, os médicos concordaram e Cam passou a ter um telefone ao lado da cama.

Não que isso tenha ajudado. Cameron ligou para o consulado americano em Dubai. O cônsul estava de férias e a assistente disse que adoraria ajudar, mas será que o Senhor Knight tinha idéia de quantos ame_ricanos passavam pela embaixada toda semana?

— A questão é, senhor... — Milhares de quilôme_tros separavam Cam da assistente, mas o americano quase podia ver a mulher erguendo as sobrancelhas ao dizer:

— Se soubesse o nome da senhorita...

— Não sei — Cam retrucou.

— Tem certeza de que ela veio para a embaixada? Cam precisava admitir que não tinha certeza. Salomé estava sem o passaporte, mas isso não significava que a moça tivesse ido para a embaixada. Talvez ape_nas tivesse ligado para alguém. Alguém da trupe de dança. Alguém que ainda estivesse no local onde a jovem tinha sido seqüestrada. Que inferno, Knight não sabia nada!

Eu amo você, a moça dissera. Sim, mas, se o amas_se, teria ido ao encontro dele ou telefonado. Droga, a jovem sabia o nome do ex-soldado e que o rapaz era de Dallas. Poderia tê-lo encontrado. Por que não fize_ra isso?

Porque você estava certo, uma voz dentro do ame_ricano dizia, friamente. Aquela sensação de plenitu_de se devia ao sexo e ao perigo, não a você. Cam cer_rou os punhos e fitou o teto.

Era verdade. Soubera isso desde o início. Mas o ex-soldado salvara a vida dela. Será que a jovem nem queria saber se o ex-soldado sobrevivera ou morrera?

Ela não lhe deve nada, Knight, a voz dizia, ainda mais fria. Que inferno, a moça realmente não lhe de_via nada. Mas o americano tinha o direito de vê-la mais uma vez, escutá-la admitir que o que pensara sentir por ele evaporara assim que se sentiu segura. Então, o americano poderia esquecê-la completa_mente.

Os médicos explicaram que Cam ficaria hospitali_zado mais duas semanas. O paciente tinha de recupe_rar as forças, comer o mingau que lhe serviam, levan_tar-se com a ajuda de alguém e caminhar pelo corre_dor por quinze minutos, três vezes ao dia. Depois, tal_vez o ex-soldado pudesse ir embora, mudar-se para a casa de Matt ou de Alex ou do pai por algum tempo.

— Certo — Cam disse, e fez seus planos.

O ex-soldado ligou e pediu as próprias refeições: carne, massa, proteína e carboidratos. Acordava sozi_nho na hora que queria, caminhava vinte minutos. Depois, quarenta. Então, levantava-se da cama e fica_va lá fora. No outro dia, pediu por suas roupas. Tro_cou o pedido educado por uma solicitação quando a enfermeira tentou intimidá-lo com o que dissera ser uma regra sobre usar vestimentas de hospital.

Cameron estava em pé, à janela, de jeans, tênis e moleton. Foi quando os médicos apareceram — o pneumologista, que tratou de um dos pulmões doen_tes do americano, e o cirurgião torácico, que remove_ra a bala que quase havia atingido o coração do ex-soldado.

— Estar de pé e vestido me faz sentir humano no_vamente — Cam disse.

Mais tarde, Knight foi para casa. Já estava farto de perder tempo, Quanto mais tempo levasse para come_çar a procurar por Salomé, mais tarde a encontraria.

O americano estava repleto de perguntas, e iria bus_car as respostas.

Knight tomou um avião para Dubai, mas não con_seguiu nenhuma informação. O americano voltou para casa mais irritado do que antes. Então, contatou um investigador particular e lhe contou tudo o que sa_bia. Salomé era dançarina. Que tipo? O rapaz relem_brou as conversas que os dois haviam tido. A jovem falara de Las Vegas, sobre sapateado. O investigador fez anotações. Oh, e tinha três irmãos que eram poli_ciais. O homem acenou com a cabeça, como se aque_la informação fosse realmente útil, e fez mais anota_ções.

— Uma foto ajudaria — o investigador disse, e ar_rumou para que Cam se encontrasse com uma mulher que fazia retratos falados para a polícia. Três horas mais tarde, os dois já tinham um desenho admissível de Salomé.

O investigador fez algumas centenas de cópias e as distribuiu por Vegas. Cam não deu muita importân_cia a isso e pegou o avião seguinte. Então, foi a ho_téis, clubes, e nada. Ninguém reconhecia o retrato fa_lado. Ninguém conhecia Salomé.

De volta a Dallas, numa sexta-feira à noite, os ir_mãos o arrastaram até um bar que freqüentavam. Sa_biam que Cam queria falar, então deixaram-no fazer isso.

Matthew e Alexander hesitaram para perguntar o porquê de Cam estar tão desesperado para encontrar uma mulher cujo nome ele sequer sabia, e que não fizera nenhum esforço para encontrá-lo. Porém, final_mente, Matt fez a pergunta.

— Então, ela é importante para você, certo? Essa mulher, quero dizer.

— Quero saber o que aconteceu a Salomé. Algum problema nisso?

— Nenhum problema — Matt respondeu logo.

— Desculpem-me. Estou apenas... — Cam disse.

— Nervoso — Alex completou e acrescentou: — Qualquer um estaria depois do que passou. O que não entendo é como um homem se envolve com uma bai... com uma mulher e não pergunta o nome dela.

Cam pensou em dizer que Alex não tinha nada a ver com aquilo, mas sabia que os irmãos só queriam o bem dele. Os dois o amavam. Ambos estavam ape_nas tentando entender o que se passava.

— Estávamos numa corrida. Era uma situação de vida ou morte. Eu lhe dei um apelido e colou.

— Salomé — Alex disse, olhando de soslaio para Matt.

— Como a dançarina que conseguiu a cabeça de um sujeito em uma travessa — Matt disse.

— O que conseguiu fazer sem dificuldade, porque o seduziu.

— Querem dizer algo, então digam.

— Relaxe, homem. Amamos você, é tudo. Esta_mos preocupados. Você levou um tiro, perdeu muito sangue, quase morreu...

— E qual é a questão? — Cam perguntou.

— Apenas o que vocês já sabem. Fugindo, vida ou morte... Isso acaba aumentando as coisas, sabe? — Alex comentou.

Cam acenou com a cabeça, concordando. Aí, pe_gou a cerveja e, depois, pousou o copo novamente so_bre a mesa.

— Eu disse isso a Salomé.

Alex acenou com a cabeça, concordando, e co_mentou:

— Bom que tenha entendido isso, porque...

— Claro que entendi. Foi Salomé que não entendeu.

Matt suspirou aliviado e explicou:

— Não sabe o quanto estamos contentes em ouvi-lo dizer isso porque, você sabe, por um momento...

Cam bateu com um dos punhos na mesa e disse:

— Salomé mentiu, droga! Disse que me amava. Então, onde está?

Alex disse, cauteloso:

— Mas como você acabou de dizer...

— Ninguém mente para mim e vai embora — Cameron afirmou.

Os irmãos se entreolharam. Cam acabara de dizer que essa mulher a quem chamava de Salomé não o amara de verdade. Depois, dissera que não ia deixá-la ir embora sem amá-lo.

Nenhum dos dois foi idiota para salientar aquela inconsistência interessante. Como eram homens pru_dentes, terminaram os drinques em silêncio.

Avery ligou mais tarde, em um sábado frio.

— Como está, filho?

Cam ainda não se acostumara ao novo tom de voz do pai, mas gostava disso. O velho ditado era verda_de. Antes tarde do que nunca.

— Estou bem, pai. — Também gostava de pensar em Avery como "pai".

— Não tenho visto muito você ultimamente.

— Ando ocupado.

— Tenho um daqueles eventos beneficentes para ir hoje à noite. Esperava que pudesse ir comigo.

— Obrigado, pai, mas...

— Pensei em passarmos um tempinho juntos. É um recital. Não posso me livrar disso, mas também não consigo me imaginar lá, do início ao fim. Com você junto, dois pagãos culturais lado a lado, acho que posso agüentar.

Era tão diferente de qualquer coisa que o pai já lhe dissera que Cam sentiu a garganta apertar.

— Sua mãe costumava adorar esse tipo de coisa — Avery disse com uma risadinha.

Cam conteve a respiração. Não conseguia lem_brar-se do pai mencionando a esposa antes.

— Mamãe gostava? — o filho perguntou.

— Foi por causa dela que comecei a suportar essas coisas: Conselho de Arte, teatro, museu.

Avery pigarreou e continuou:

— Não sei a razão, mas tenho pensado muito em sua mãe nas últimas semanas, no quanto ela ficaria orgulhosa de ver você e seus irmãos crescidos e bem-criados.

— Sim — Cam engoliu com dificuldade e acres_centou: — Também pensamos muito nela.

— Eu a amava tanto, Cameron, tanto que tinha medo de demonstrar. Sei que parece loucura, mas...

Inesperadamente, a imagem de Salomé, com os olhos azuis sombrios de paixão, atravessou a mente de Cameron. O rapaz sacudiu aquela imagem quando o pai voltou a falar.

— Bem, e hoje à noite? Se não quiser, vou enten_der.

— Eu quero, pai.

— Ótimo filho. Vou buscá-lo à seis e meia da tar_de.

Cam barbeou-se, tomou uma chuveirada e vestiu o smoking. O rapaz disse a si mesmo que uma noite fora seria uma ótima idéia. Não pensaria em Salomé. A jovem tinha ido embora, saíra da vida dele.

— Uma noite com as artes. Será interminável, Ca_meron. Um pouco disso, um pouco daquilo, nada que seja bom. Falas. Apresentações. Um soprano miando, um coral de meninos tentando parecer angelical. Um violonista flamenco e, bom Deus, um corpo de bale. Obrigado por ter vindo, filho. Serei eternamen_te grato.

Cam acenou com a cabeça, concordando. De algu_ma forma, pai e filho conseguiram agüentar a primei_ra metade da noite. Ambos saíram para beber durante o intervalo, disseram "olá" para muitas pessoas. Quando as luzes piscaram, os dois retornaram a seus assentos.

Cameron sentou-se ao lado do pai. O rapaz conteve um bocejo enquanto uma senhorita gorjeava para um sujeito, ambos obesos. Depois, o ex-soldado ajeitou-se na cadeira durante a apresentação de outro cara que, tentando parecer sombrio e misterioso, arruinava o que poderia ter sido um momento maravilhoso no violão.

Aplausos educados para o violonista. Sussurros. Tosses. As cortinas se abriram novamente; uma música suave. Cam cruzou os braços e viu um grupo de bailarinas dançar no palco.

— Tenho que admitir que são um colírio para os olhos — o pai sussurrou...

E Cam quase pulou da cadeira porque a última bailarina na ponta dos pés era Salomé.

 

                               CAPÍTULO DOZE

Cam deve ter feito algo. Ou ficou tenso ou começou a levantar-se, porque o pai agarrou-lhe um dos braços e disse, em voz baixa:

— Cameron?

O filho voltou a sentar-se, fitando o palco onde uma dúzia de bailarinas rodopiava. Entretanto, o americano tinha olhos apenas para uma das moças.

Os cabelos dela estavam puxados para trás em um coque. A jovem usava uma coisa branca rendada — como se chamava aquilo? Um tutu, uma saia de tule. Nos tornozelos, as fitas brancas de cetim das sapatilhas.

Knight sentiu o coração pular. Olhá-la era como ter uma miragem. Quase podia saborear o gosto daquela pele doce. Ver a perfeição dos seios escondidos sob a renda branca. Ouvir a jovem sussurrar o nome dele.

Era a dançarina dourada. Salomé se movimentava no palco, braços erguidos em um arco gracioso, assim como na noite em que a moça dançara para o americano à luz da lua.

A música era rápida e intensa. Uma valsa. Um, dois, três. A pulsação dele seguia o mesmo ritmo. Olhe para mim, Cam queria dizer. Mas os olhos da bailarina estavam abaixados, a cabeça inclinada em um ângulo que mostrava a delicadeza do pescoço. A jovem não ergueria o olhar. Cam não podia desviar o dele.

Vegas, sapateado, a moça dissera. Nunca mencionara bale ou, sim, talvez tenha mencionado. Porém, apenas de modo superficial. Cam sorriu. Daquela . noite em diante, o ex-soldado amaria bale. Afinal, o bale a trouxera de volta para ele. A jovem estava ali...

A dançarina dourada estava na cidade do texano. E não viera vê-lo. Nem telefonara. A moça sabia que o ex-soldado morava em Dallas. Sabia o nome dele, a profissão, e nem tentara descobrir se o rapaz sobrevivera.

— Cameron?

O pai inclinou-se, preocupado. Cam devia estar prestes a explodir. O rapaz estava sentado, rígido, os punhos cerrados no colo.

— Filho, qual o problema? Está se sentindo mal?

Cam estivera certo o tempo todo. Tinha sido a ex-citação, o perigo. A jovem não o amara, não dera a mínima para o ex-soldado...

Tudo bem. Cameron também não dera a mínima para a dançarina. Mas estava furioso, com raiva. Durante todas essas semanas, Knight se preocupara com o que poderia ter acontecido à jovem. Mas ela...

— Filho?

— Estou bem, pai. Só preciso de um pouco de ar. Avery começou a se levantar, mas Cam fez com que o pai voltasse para a cadeira.

— Fique até o fim. Eu me encontrarei com você lá fora.

Cameron se levantou e chegou ao corredor. Então, parou e olhou para o palco. Porém, a cabeça da dançarina dourada estava virada, olhos ainda fixos no chão enquanto a jovem rodopiava.

Vá para o inferno, o americano pensou. Depois, dirigiu-se ao saguão.

Mais tarde, Cam e Avery saíram para jantar e conversaram um pouco. O filho fez o possível para convencer o velho homem de que estava tudo bem. E o pai não precisava ligar para o médico.

Quando imaginou que já havia se passado tempo demais, o rapaz alegou que tinha muito trabalho na manhã seguinte e foi para casa. Lá, passou o resto da noite na cama, fitando o teto.

— Supere isso. Não veio. Não ligou. E daí? — Cam disse a si mesmo. De fato, era um homem de sorte. Era melhor saber que a moça o esquecera do que lidar com uma bailarina cega de amor.

De manhã, Cam foi para o escritório, falou em tom ríspido com a secretária, com os irmãos. Depois, pegou a jaqueta, disse que tinha um compromisso e saiu. Entrou no próprio Porsche, ligou o motor e diri_giu para fora da cidade, sem rumo, até que parou em_baixo de alamos. Então, saiu do carro e caminhou por uma trilha que levava a um lago.

Que tipo de mulher era aquela? Que se entregava a um homem, fazendo-o acreditar que ele era tudo o que a jovem queria, até dizer que o amava, quando tudo era mentira?

A adrenalina, lembra? Foi isso. E, em caso de haver alguma dúvida, você lhe deu uma dose de mundo real.

— Fizemos sexo. Não confunda isso com amor — você disse.

Cam chutou uma pedra. A moça nunca o amara. Que inferno, nunca acreditara que a dançarina o amasse. Mas ele salvara sua vida...

Pelo amor de Deus, homem, vai voltar a isso? É patético. Além do mais, a vida que você estava salvando era a sua. O que aconteceu é que a jovem foi junto, pegou uma carona.

Não. Não era verdade. No final, a vida dele já não tinha importância. A vida da dançarina era tudo o que importava a Cam.

Droga! Cam queria respostas! Então, tirou o celu_lar do bolso. Como sempre, aquela coisa miserável não funcionou. Porém, dessa vez, bastou voltar à estrada para que o sinal voltasse.

Knight ligou para o investigador particular e lhe disse o que queria. O nome de uma dançarina da companhia de bale que estava se apresentando no Music Hall.

Será que o Senhor Knight poderia tornar as coisas um pouco mais claras? Ele tinha aquele retrato falado que a policial fizera, mas...

— Será simples identificá-la. É a única loura. E preciso saber onde posso encontrá-la. Ela tem que estar em algum lugar — um apartamento, um hotel. Preciso do nome — Cam disse ao detetive.

— Tudo bem, Senhor Knight. Para quando precisa dessa informação?

Cameron fechou um pouco os olhos. Será que o programa do Music Hall dizia algo sobre uma apre_sentação limitada? Pelo que sabia, hoje era a última noite de Salomé em Dallas.

— Preciso disso para ontem — Cam disse, e can_tou pneu ao dar a volta e ir para casa.

A platéia continuava aplaudindo. O corpo de bale permanecia no palco, mas Leanna escapou para o ca_marim. Não podia esperar para trocar de roupa e vol_tar para o hotel. Mais uma noite, e deixaria Dallas para trás.

As mãos da dançarina tremiam enquanto tirava os grampos dos cabelos e os soltava. A semana tinha sido horrível, pensando em Cam o tempo todo, vendo o rosto dele em cada sombra.

E, na noite passada, a jovem tivera certeza de que o ex-soldado estivera no teatro. Loucura, claro, mas a dançarina sentira a presença dele. Parecia ridículo, mas a jovem o sentira fitando-a.

Leanna nem ousou levantar a cabeça. A compa_nhia fizera apenas uma rápida apresentação nesse show, dançando um ato do Lago dos Cisnes.

— Olhos baixos — Nikolai dissera. Durante o en_saio, quando uma garota ergueu o olhar, ele havia gri_tado. E, se isso acontecesse novamente, ele as cansa_ria até que caíssem.

Todas estavam quase caindo. Principalmente Leanna, graças à estada no hospital enquanto lutava contra a infecção em um dos pés. Obediente, a moça mantivera os olhos baixos enquanto dançava.

Além disso, se tivesse erguido o olhar e visto Cam na platéia na véspera à noite, provavelmente, a dan_çarina teria... A verdade era que a jovem não sabia o que teria feito. Quase enlouquecera quando vira a programação da companhia.

— Dallas? — perguntou a Ginny, que dividia o quarto com ela quando viajavam.

— Mudança de planos no último minuto — Ginny respondera.

— Não posso ir a Dallas.

— Oh, é uma cidade maravilhosa. Vários restau_rantes espetaculares. Boas compras. E os homens...

— Não posso ir.

— Qual o problema?

Qual, de fato? Ninguém sabia sobre ela e Cam, nem precisava saber. Já era ruim o suficiente ter de viver com as lembranças do tempo em que estiveram juntos. Então, a moça murmurou uma desculpa idiota sobre ter odiado o calor quando estivera no Texas.

— É inverno, Lee. Estará frio em Dallas.

— Oh, claro.

Então, tinha ido a Dallas. Que escolha restava? Pre_cisava do emprego. Permanecia perplexa pelo fato de a companhia ter mantido a vaga dela, depois de todo o tempo em que estivera fora. Primeiro, por causa do se_qüestro. E, depois, porque estivera doente.

Leanna vivera uma semana de inferno em Dallas. Cam, a moça pensava. Cam estava aqui.

Quantas vezes quase fizera algo estúpido? Não dava para contar, mas chegara perto. Oh, tão perto! Procurara o nome dele na lista telefônica. O endereço residencial não estava listado, mas o da empresa sim. Knight, Knight e Knight: Especialistas em Gerenciamento de Risco. Não que fosse fazer algo com relação a isso, Leanna dissera a si mesma...

Mas tomara um táxi, fora até o endereço, ficara observando a torre de vidro e aço enquanto formulava todas as razões possíveis para entrar no prédio e pedir para ver Cameron Knight. Afinal, aquele homem salvara a vida dela.

Obrigada, Leanna diria. Oh, e a propósito, você estava certo, o que aconteceu lá, no outro lado do mundo, foi apenas uma bobagem. A dançarina não fez isso. Ainda lhe restava um pouco de orgulho.

Ao menos, a semana de tormento acabara. No dia seguinte, pela manhã, a jovem tomaria um ônibus, fecharia os olhos e, quando os abrisse novamente, Dallas seria apenas uma lembrança. Assim como Cam.

Leanna passou creme no rosto. Não fazia sentido ficar pensando em Cameron. A dançarina estava de volta ao mundo real, assim como o ex-soldado. E, embora a moça tenha sonhado com isso umas mil ve_zes, Cam não fizera nenhuma tentativa para entrar em contato com a jovem. Mas por que o americano faria isso?

Cam fora claro com relação ao que o relaciona_mento dos dois haverá significado para ele. A jovem sabia que o ex-soldado fora rude. Então, a bailarina cumpriria as ordens do americano. Mas a essência do que Knight dissera havia sido a pura verdade. O que acontecera entre ambos havia sido um conto de fadas, e contos de fadas nunca duram para sempre.

Com um lencinho de papel, Leanna limpou o ros_to. A bailarina estava suada e exausta. Os músculos queimavam e, antes mesmo de desamarrar os cadarços das sapatilhas, a jovem sabia que os pés estavam sangrando. Era o que acontecia quando dançava na ponta dos pés. Normalmente, a moça não prestava muita atenção a isso. Porém, depois do que acontecera semanas antes, a jovem sabia o suficiente para ser cautelosa.

Leanna desmaiou no helicóptero que a levou para Dubai. Em um segundo, a bailarina estava chorando, implorando aos homens que a conduziam ao helicóptero para deixá-la voltar para Cam. No minuto seguinte, o mundo ficou cinza. A jovem voltou a si al_guns dias depois, em uma cama de hospital. Antibióticos na veia, uma infecção no pé esquerdo e uma febre tão alta que deixou a jovem inconsciente metade do tempo.

Quando Leanna voltou a si, as primeiras palavras que a dançarina ouviu foram as do médico. Ele disse que a moça tivera sorte. Mais alguns dias sem antibióticos, e a jovem poderia ter perdido o pé e até morrido.

As primeiras palavras que Leanna disse foram sobre Cam.

— Ele está vivo? — a moça sussurrou.

O médico deu de ombros. Não sabia nada sobre alguém chamado Cam. Leanna implorou por notícias de Cameron, mas ninguém sabia do que a moça estava falando. A dançarina não tinha telefone.

— Não se estresse — as enfermeiras diziam.

Porém, finalmente, a dançarina conseguiu um celular, às escondidas. Leanna ligou para a embaixada e explicou sua urgência em falar com o cônsul. Entretanto, ele estava saindo de férias. A moça implorou tanto que o cônsul concordou em descobrir o que pu_desse sobre um homem chamado Cameron Knight.

Uma hora depois, o cônsul ligou de volta. Came_ron Knight estava vivo. O rapaz fora levado para os

Estados Unidos, para um hospital em Dallas, no Te_xas. E era tudo o que podia lhe dizer.

Leanna ligou para a central de informações de Dallas, conseguiu os números de diversos hospitais e ligou para todos. Finalmente, encontrou o hospital certo. Sim, havia um paciente chamado Cameron Knight. A situação dele constava como estável. Não podiam lhe dizer mais nada.

A dançarina ligou todos os dias, e ouviu que a con_dição de Cam passara de estável a satisfatória. A moça continuou ligando mesmo depois de ter deixa_do o hospital. Leanna telefonou de Paris, onde teve uma reunião com a trupe de dança. A jovem ligou de Londres e de Seattle, depois que voltou a dançar.

E, então, um dia, a dançarina ligou e falou com a telefonista que atendera à maioria dos telefonemas da jovem.

— O Senhor Knight foi liberado. Ele está bem. Querida, você poderia saber mais coisas se entrasse em contato com a família Knight diretamente.

Contatar a família Knight? E dizer-lhes o quê? Que havia dormido com Cam? Que tinha sido uma idiota, pensando que se apaixonara por ele? Porque o ex-soldado estava certo, não fora amor, apenas uma paixão passageira.

De repente, a porta do camarim se abriu. As outras meninas entraram, rindo e conversando.

— Lee, você perdeu! O público nos chamou de volta três vezes! — Ginny disse ao sentar-se no ban_co ao lado de Leanna.

A dançarina dourada levantou-se, despiu a saia e vestiu jeans e um suéter.

— Eu sei. Ouvi os aplausos.

— E a coisa mais surpreendente acabou de acon_tecer! Um repórter quer falar comigo — Ginny co_mentou.

— Gin, isso é maravilhoso.

— Não é? Ele disse que está escrevendo sobre pro_fissões incomuns para a seção de domingo. Não sei como consegui ser tão sortuda... Quero dizer, ele ter vindo até mim, saber o meu nome, mas estou emocio_nada.

— Aposto que sim! Mas quando é a entrevista? Se vamos embora amanhã...

— Ele vai me levar para jantar... — Ginny olhou para o relógio na parede e disse, arfando:

— Em dez minutos!

— Então, é melhor se apressar — Leanna disse, puxando os cabelos da amiga para trás, em um rabo-de-cavalo.

Ginny olhou-se no espelho enquanto aplicava um pouco de creme no rosto.

— Vou encontrá-la naquele bar mais tarde. Todo mundo vai estar lá. Você sabe, a última noite na ci_dade.

— Não vou.

— Oh, Lee! Vamos lá. Você tem que sair um pou_quinho. Sei que a situação pela qual passou deve ter sido horrível. Primeiro, o seqüestro. Depois, o hospi_tal. Mas você precisa voltar a levar uma vida normal, sabe disso?

Leanna sabia. Não havia retomado nada em sua vida, exceto a dança. Não conseguia ter ânimo para encontrar o pessoal à noite ou no café-da-manhã.

Principalmente quando todos ainda perguntavam à jovem sobre o que havia acontecido.

As outras garotas que haviam sido raptadas fala_vam sobre como tinham sido levadas a um mercado e quase que, imediatamente, resgatadas pela polícia lo_cal. Leanna apenas disse ter sido vendida a um sultão e resgatada por americanos que estavam em Baslaam a negócios. Considerando todos os fatos, não era exa_tamente uma mentira.

— Você está certa. Mas estou cansada.

— Seu pé?

— Sim — Leanna concordou porque era mais fácil dizer isso do que admitir a verdade.

Toda aquela história de paixão passageira era mentira. Leanna amava Cam. Era um homem bravo, sem coração... e a bailarina sempre o amaria. Quanto mais cedo deixasse Dallas, melhor.

Cam estava dentro do carro, do outro lado da rua, em frente ao hotel que hospedava o corpo de baile que visitava a cidade. O ex-soldado passara a noite andando de um lado para outro no próprio gabinete. Não conseguia ficar em pé. Também não conseguia sentar-se. Até os exercícios respiratórios falharam.

Quando Cam percebeu que estava checando o re_lógio a cada trinta ou quarenta segundos, murmurou uma blasfêmia, pegou a jaqueta de couro e mais ou_tras coisas, e dirigiu-se à porta.

Knight dirigira sem destino por algum tempo. O americano pegou uma estrada que o havia conduzido para fora da cidade. Depois, voltou a Dallas. O rapaz tinha um bom plano.

Sim. Porém, quanto mais tempo Cam ficava ali sentado, do lado oposto ao hotel, esperando pelo tele_fonema do investigador, mais sabia que tinha de fazer isso. Então, voltou a checar o relógio.

— Vamos lá. Por que está demorando tanto? — o rapaz resmungou, impaciente.

Knight estava com o estômago embrulhado. Tam_bém sentia-se agitado. Só pensava em confrontar uma estranha chamada Leanna DeMarco. Esse era o nome da bailarina. Nascida em Boston, viveu em Ma_nhattan, dançou bale a vida toda e estava em uma turnê com aquela companhia há seis meses.

O investigador telefonou no final da tarde com to_das as informações pertinentes. O nome da moça, o passado, o nome do hotel, o número do quarto. Ainda dissera que a jovem dividia o quarto com alguém. Por um segundo, o mundo escureceu.

— Outra dançarina da companhia: Virgínia Adams. Ambas parecem ser amigas — o investigador disse.

Cam suspirou. Outra garota. Sim. Tudo bem, exceto que isso poderia apresentar um problema de logística.

— Isso é bom? Quando Leanna deixar o teatro hoje à noite, será que vai estar na companhia dessa Adams? — Knight questionou. E o investigador res_pondeu que sim, as duas bailarinas costumavam sair juntas.

Um problema de logística, mas não insolúvel. Meia hora, e Cam imaginara uma forma de lidar com aquela situação. Rich Williams, um sujeito com quem havia jogado futebol americano na faculdade, escrevia para o jornal Dallas Register.

Um telefonema. Diversos "como vai" e "lembra quando". Então, um pedido.

— Quer que eu entreviste uma bailarina de uma companhia de bale que está visitando a cidade? — Rich perguntou.

— Hoje à noite, depois da apresentação.

— Antes não precisava de uma armação como essa para marcar pontos — Rich riu.

— Muito engraçado — Cam retrucou.

— Bem, está com sorte. Estou escrevendo sobre profissões incomuns. Não há nada demais em acres_centar uma bailarina a essa mistura.

— Ótimo! Leve-a para jantar, por minha conta. Mantenha-a ocupada por algumas horas.

— A belezura que vou entrevistar não é a que você está de olho?

— É a colega de quarto. Sabe como são as mulhe_res: viajam juntas.

— Entendi — Rich voltou a rir.

Tudo estava planejado. Então, por que o investiga_dor não ligava? Cam olhou rapidamente o celular. O aparelho estava ligado, a bateria carregada.

Cameron estava pronto para ir, e queria acabar com aquilo de uma vez. Sabia quem era Salomé. Não apenas o nome dela. Conhecia a mulher. E compreen_deu que ela nunca havia sido real.

Engraçado. Cam e os irmãos costumavam fazer piada sobre a maioria das mulheres que conheciam por não poderem ser consideradas "reais".

— Tire a maquiagem, o creme de cabelo, as roupas e quem sabe o que sobra? — Matt diria.

— Uma belezura nua — Alex diria, solene, e todos iriam rir.

Isso não era mais engraçado. O que sobrava, Cam pensou, era uma mulher que não existia. Uma mulher que inventara a si mesma para servir à ocasião. Uma mulher que dissera que o amava. Que mentira!

A vida dela era uma fantasia. Cam vira isso na noi_te anterior. A música. Os cenários. As roupas. Salo_mé dançava para viver. Um dia, uma princesa virginal. No outro, uma feiticeira.

Era como uma daquelas bailarinas de brinquedo que ganham vida quando se abre a tampa da caixinha de música. E, então, sem aviso, a moça se encontrara desempenhando o papel de uma vida inteira. Uma mulher em perigo, com um homem diferente dos que pertenciam ao mundo dela, assim como a noite do dia.

Dormir com aquele homem fora um passeio pelo lado selvagem da vida. Assim como para Cam... O ex-soldado fora atraído para aquela fantasia.

Agora, era hora de deixar aquela experiência para trás. E a forma de fazer isso seria confrontando Leanna. Cameron tinha de se lembrar de quem a moça realmente era.

Cam pensou em esperá-la do lado de fora do tea_tro. Porém, imaginou que a moça estaria rodeada de gente. E o ex-soldado não queria que a última cena do pequeno drama dos dois tivesse platéia.

O melhor era ir para o hotel. E abordá-la quando estivesse entrando. Exceto que a moça ainda estaria com outras pessoas. Amigas ou talvez um sujeito.

A bailarina era boa na cama. Incrível. Algumas, semanas se passaram, e Cameron não havia esquecido os sussurros da bailarina. O toque daquela mulher. O calor daquele corpo quando os dois se tornavam um só.

Cam bateu com um dos punhos no volante. Por que o telefone não tocava? Por fim, decidiu abordá-la quando estivesse desprevenida. Era a melhor forma. Knight vestiria roupas escuras e usaria a noite como escudo. Entraria no quarto da bailarina e a assustaria de forma que a jovem soubesse que não o faria mais de idiota. Depois, o americano iria embora, acabando com tudo aquilo.

O celular tocou. Cam respirou aliviado e atendeu o telefone.

— Estou do lado de fora do teatro. A colega de quarto da pessoa em questão está seguindo rumo ao leste, com um homem. Estatura mediana. Cabelos claros.

Cam acenou com a cabeça, concordando. Rich fizera a parte dele.

— E a pessoa em questão?

— Está indo rumo ao oeste, na direção do hotel.

— Está sozinha?

— Sim.

Perfeito. Cam desligou o celular, jogou-o no banco do carona e preparou-se para esperar.

 

                                   CAPITULO TREZE

As plantas do hotel estavam no arquivo da cidade. Cameron as estudara cuidadosamente. No final da tarde, tinha ido o hotel e checado tudo. Nunca colocaria um grupo de bailarinas em um lugar como aquele. Nem tinha certeza de que o lugar merecia ser chamado de hotel.

Um corretor de imóveis diria que aquele prédio era em estilo vitoriano. Era apenas um monte de tijolos velhos. Aquele bairro também não era dos melhores.

— Não era ruim. Mas, certamente, não era o tipo que a Câmara do Comércio anunciaria.

A idéia de Salomé caminhar pela rua à noite, sozi_nha... Exceto que a moça não era nada dele. E se tinha de lhe dar algum crédito, era que a bailarina podia to_mar conta de si mesma.

O prédio era grande. Quando o ex-soldado entrou, notou que era relativamente bem conservado. Não que a condição do imóvel tivesse alguma importân_cia. A única preocupação de Cameron tinha sido en_contrar o caminho para o quarto de Salomé desviando-se da portaria principal do hotel.

O reconhecimento feito previamente indicara uma viela que conduzia à parte detrás do prédio, onde ha_via uma escadaria de incêndio que parecia a ossada de um dinossauro. A janela do quarto de Salomé dava para a saída de incêndio. Isso era perfeito para um intruso. Perfeito para um ex-soldado.

Algo se movia do outro lado da rua. Cam pegou os binóculos que estavam no banco do carona. Um ba_que no coração. Era Salomé caminhando rapidamen_te pela calçada. Aqueles cabelos dourados, o passo altivo...

Knight a viu entrar no hotel. Então, o rapaz deixou os binóculos de lado e colocou um rolo de corda den_tro de um dos bolsos da jaqueta. Saiu do carro e atra_vessou a rua.

Um olhar rápido para se certificar de que ninguém estava vindo. Então, cruzou a viela que conduzia à parte detrás do prédio. Ficou na sombra, olhou para o terceiro andar... E viu luz no quarto que, de acordo com o investigador e também com as plantas do pré_dio, era o da bailarina.

Cam respirou fundo. Então, jogou a corda sobre a escadaria de incêndio, que estava suspensa, e come_çou a subir.

Leanna trancou a porta do quarto e viu a névoa da própria respiração contrastar com o ar gelado. A moça sempre pensara que Texas era um lugar quente. Bobagem. Era um estado enorme com climas dife_rentes. Nessa época do ano, o tempo em Dallas era frio.

Parecia ainda mais frio naquela sala sombria. Leanna e Ginny tentaram de tudo para que o velho aquecedor emitisse mais calor. Sacudiram o botão que liga e desliga, viraram-no para cima, para baixo. Mas nada adiantou.

Para a surpresa das moças, não havia falta de água quente. Um banho quentinho era excelente para rela_xar os músculos. Além disso, aquecia os ossos.

A bailarina tirou a jaqueta, foi para o banheiro e começou a se despir. Nua, prendeu os cabelos no topo da cabeça. Depois, acrescentou óleo de banho à água fumegante.

O óleo cheirava à lavanda, não a flores. Isso signi_ficava que não havia motivo para que aquele cheiro a fizesse pensar em Cam. Ainda assim, a jovem estava pensando em Knight, em como se sentira em seus braços ao entrar naquela banheira de mármore.

Leanna piscou. Quanto mais cedo estivesse fora daquela cidade, melhor. A moça fechou a porta do banheiro e entrou na banheira. Era maravilhoso sen_tar-se ali e deixar que o calor agisse de forma mágica.

Nada como um banho quente para acalmar no fim de um dia longo e estressante... Nada como um banho quente com o seu amor para transformar um dia lon_go e estressante em um prelúdio de uma noite longa e maravilhosa.

Pare com isso! Não passaria por tudo aquilo nova_mente. Todas aquelas semanas dizendo a si mesma que Cam telefonaria. Que o americano viria até ela e lhe diria que a amava. Que o que dissera naquele dia não era verdade.

A jovem levara um bom tempo antes de enfrentar a realidade, e não se afastaria disso agora. Cam não viria atrás dela. Nem telefonaria. Ele nunca fizera promessas de eternidade. Nem se apaixonara. Leanna sim... E ainda o amava.

Estar ali onde Knight vivia e trabalhava, sabendo que bastava discar um número para ouvir a voz dele... Isso a matava. Um telefonema. Apenas um. Leanna não teria de dizer nada, exceto à secretária. Então, a bailarina poderia ouvir a voz de Cam, acrescentar aquela lembrança às outras.

De repente, o banho pareceu frio. Leanna esvaziou a banheira, saiu dali, enrolou-se em uma toalha e abriu a porta do banheiro...

Tudo escuro. O coração disparou. Como podia ser? Deixara a luz do quarto acesa. Mesmo que a lâm_pada tivesse queimado, deveria haver luz vindo pela janela. Sempre fora cuidadosa em deixar a janela trancada — a escadaria de incêndio lá fora não a tran_qüilizava. Mas nunca puxava as cortinas até que ela e Ginny estivessem prontas para dormir. O quarto dava para uma parede de tijolos. Ninguém podia ver nada lá dentro. Porém, a luz que vinha da viela, embora fraca, era bem-vinda.

Será que Ginny já voltara? Será que tinha sido a amiga quem puxara as cortinas? Será que a lâmpada queimara? Será que tudo aquilo podia ter acontecido ao mesmo tempo?

— Ginny? É...?

Algo se mexeu nas sombras. Uma pessoa. Alta. Ombros largos. Um homem. Leanna cambaleou para trás, aterrorizada. Oh, Deus...

A luz de uma lanterna brilhou no rosto da moça. A dançarina soltou um grito e levantou uma das mãos para cobrir os olhos.

— Oi, Salomé — uma voz rude disse.

— Cameron? — Leanna passou do terror à excitação em um segundo. O ex-soldado estava ali! Viera atrás dela. A moça sussurrou o nome do americano e começou a se dirigir até Cam...

A jovem gelou quando o brilho da luz desceu pelo corpo dela, demorando-se nos seios. Depois, voltou a subir, retornando ao rosto da bailarina. Apesar da ale_gria que sentira ao ouvir a voz do ex-soldado, di_versas perguntas povoaram a mente da moça. Como Cam entrara no quarto? Por que a esperava no es_curo?

— Não parece muito feliz em me ver. Leanna desviou a cabeça da luz, dizendo:

— A luz. Não posso ver.

A lanterna passou a iluminar o chão. A jovem pis_cou, tentando ajustar-se à escuridão. Agora, podia ver Cam vindo em sua direção. O coração da moça disparou.

Leanna desejara tanto vê-lo novamente. E agora, Cameron estava ali. Mas o que a jovem sabia a res_peito do ex-soldado? Aquele homem salvara-lhe a vida e fizera amor com ela. Por fim, despedaçara-lhe o coração.

À parte isso, era um estranho perigoso. Trabalhara para uma agência do governo, um lugar tão secreto que a moça não teria reconhecido as iniciais. Ao me_nos, tinha sido isso que Cam dissera.

Knight estava a alguns centímetros dela. Leanna recuou e os ombros tocaram a parede.

— Não — a dançarina disse.

— Não, o quê, Salomé? — As palavras dele eram suaves como seda. Mas até mesmo a seda podia ser mortal nas mãos certas.

— Ainda estou esperando que me diga o quanto está feliz em me ver — Cam comentou.

— Não posso vê-lo direito. Como entrou no meu quarto?

— A gerência precisa fazer alguma coisa com re_lação à saída de incêndio. E a tranca da janela não vale nada. Como tem passado, querida? É uma per_gunta idiota. Conheço a resposta. Você tem andado muito ocupada.

A voz dele era rude, e ele acrescentou um tom gé_lido à última palavra. A moça pensou nos dias que passara no hospital. Mas o que isso importaria ao ho_mem que estava em pé, diante dela? O Cameron que conhecera havia sido carinhoso. Aquele ali não sabe_ria o significado dessa palavra.

— Cam. Por que invadiu o meu quarto? Tudo o que tinha a fazer, se queria me ver, era...

— Por que eu iria querer vê-la? Passamos um bom tempo juntos, você e eu, mas acabou.

A lanterna caiu no chão. Então, Cam a agarrou pe_los ombros, dizendo:

— O que tivemos acabou no dia em que os homens de Asaad nos encontraram, não foi?

A bailarina não respondeu. Cam a sacudiu, di_zendo:

— Responda, droga. Não foi assim?

— Por que está fazendo isso? — Leanna questio_nou, os olhos cheios dágua.

— Porque quero respostas.

— Cam, por favor, me solte. Está me machucando.

— Não disse isso na última vez em que a toquei. A moça arfava quando Cam rasgou a toalha que a cobria e a prendeu de encontro à parede, uma das mãos dele em torno do pescoço da jovem.

— Lembra, Salomé? Mais, você disse. Mais, Ca_meron.

Uma das mãos dele cobriu-lhe um dos seios. Leanna gritou de medo. Porém, o corpo dela a traiu, derretendo-se sob as carícias que nunca haviam sido esquecidas.

— Não, Cam, eu lhe imploro...

— Bom. Implore. É isso que quero de você esta noite.

Cam abaixou a cabeça e a beijou, dizendo:

— Continue! Implore. Diga o que quer.

Uma das mãos dele deslizou pela barriga da moça, indo até o ponto que guardava os mais íntimos segredos daquele corpo feminino — segredos que apenas Cam conhecera.

— É isso que quer de mim?

Cameron abaixou a cabeça e beijou-lhe um dos mamilos. A moça emitiu um som que poderia ter sido de desespero ou prazer. O ex-soldado não sabia, não se importava... Exceto que se importava.

— Salomé — Cam sussurrou. E o toque dele mu_dou. O coração também. A mão que estava ao redor do pescoço de Leanna passou para o seu rosto.

— Salomé — Cam disse novamente. E, enquanto a beijava, o ex-soldado sabia que o que queria daque_la mulher era estar com ela pelo resto da vida. Knight a amava, com o coração, a mente e a alma. Isso o assustava. Mas o que o amedrontava mais era que a jo_vem podia não amá-lo.

— Cameron. Por favor. Não faça isso. O que tivemos...

— O que tivemos, Salomé?

— Você disse. Foi uma fantasia. O perigo. A excitação...

— Foi só isso?

A bailarina não respondeu, apenas abaixou o olhar. Knight rezou para que fosse uma indicação de que a moça o amava.

— Salomé. Lembra-se do que eu disse no deserto? Disse para parar de pensar. É o que quero que faça agora. Não pense. Apenas sinta e me diga o que se passa em seu coração.

Cam respirou fundo e continuou:

— Diga que me ama tanto quanto eu amo você.

A jovem o fitou em silêncio. Então, quando o ame_ricano já perdia a esperança, a moça disse:

— Oh, Cameron, meu amado.

O mundo, a raiva, a desilusão que Cam carregara consigo, tudo desaparecera. O ex-soldado a tomou para si e a beijou.

O gosto da moça era o mesmo dos sonhos do ame_ricano, doce como mel. As lágrimas da jovem eram quentes como uma chuva de verão. E, quando Leanna suspirou o nome do ex-soldado, Cameron soube que a perdoaria por não ter ido ao encontro dele, que a perdoaria por qualquer coisa desde que não a perdes_se mais.

— Salomé — Knight suspirou.

O americano a tomou nos braços, beijou-a e a car_regou até a cama. Deitou-a devagar, dividido entre a vontade de continuar beijando-a para sempre e a ne_cessidade de se livrar das próprias roupas, mergulhar naquela mulher e torná-la dele novamente.

Leanna acariciou os cabelos de Knight, dizendo:

— Não me deixe novamente.

— Nunca.

Cam pegou as mãos da moça e as beijou. Depois, abaixou a cabeça e mordiscou-lhe o pescoço, beijan_do-lhe os seios, sentindo seu perfume. Quando Lean_na gritou de prazer, Knight livrou-se da jaqueta, da camisa. Em seguida, puxou-a para si, gemendo alto ao sentir a pele macia da jovem na dele.

— Diga que sentiu minha falta. Diga que sonhou comigo fazendo isso.

— Sim. Senti sua falta. Sonhei com você, Cam. Venha, fique comigo. Vamos fundir nossos corpos. Quero você comigo. Quero senti-lo. Preciso...

A moça arqueou o corpo em direção a Cam en_quanto este deslizava uma das mãos por entre as suas coxas. Leanna estava quente, pronta para Cam. O ex-soldado não podia esperar mais...

O grito da dançarina, quando os dois corpos se fundiram, ecoou pela noite. A moça colocou os bra_ços em torno do pescoço de Cameron, e as pontas dos dedos marcavam as costas dele. Ambos se deleitaram em uma onda de êxtase.

Cam a beijou ardentemente, chegando inclusive a sentir gosto de sangue. Não sabia se era o dele ou o da moça. Não importava.

Soluçando o nome do americano, Salomé caiu por cima dos travesseiros. Knight jogou a cabeça para trás, gritou e ambos viajaram até o paraíso.

Leanna lera que os franceses, às vezes, se referiam ao orgasmo como a pequena morte. A frase parecia elegante, mas impossível. Agora, a jovem sabia a verdade com relação a isso.

Certamente, a moça morrera de êxtase nos braços do amante. Longos segundos se passaram. De algu_ma forma, conseguira encher os pulmões de ar. Cam rolou na cama abraçado à jovem.

— Minha Salomé — disse, suavemente, beijando-a nas pálpebras.

A Salomé dele. O coração da moça se envaidecia ao som do nome que pertencia apenas aos dois.

— Cam. Estou tão contente que esteja bem.

— Estou bem — Cameron disse, rindo. Leanna sorriu e disse:

— Sim. Você está. Mas eu quis dizer, estou tão contente que você...

— Está contente que eu o quê?

— Tenha sobrevivido — a moça disse.

Seria imaginação dela, ou o americano havia se afastado um pouquinho?

— Sim. Bem, eu também. Se isso era importante para você, por que nunca...

— Nunca o quê?

— Nunca telefonou — Knight respondeu.

O americano tentou não demonstrar como se sen_tia, como um menino que perdera tudo porque, droga, sem a dançarina dourada, Cam não tinha nada. O rapaz levantou-se, apoiando-se em um dos cotovelos, e a fitou.

— Não veio me ver. E Deus, eu a queria. Eu a de_sejava. Mas você não...

— Eu telefonei — Leanna disse e, com uma das mãos, cobriu a boca do americano para impedir que continuasse falando.

— Todos os dias. Todas as noites. Todo o tempo em que esteve no hospital — a moça explicou.

Cam a fitou e indagou:

— Você fez isso?

— Quase enlouqueci por não estar com você. Mes_mo depois do que me disse, que não me amava...

— Eu estava mentindo, querida. Para você e para mim. Teria dito qualquer coisa para mantê-la naquele quarto.

Cam a beijou, e continuou:

— E estava com medo de admitir que a amava. Leanna fechou os olhos. Depois, voltou a abri-los e disse:

— Eu pensei... acreditei...

— Foi por isso que não veio me ver durante todas aquelas semanas em que fiquei no hospital?

— Não podia. Eu estava doente, Cam.

— Doente?

Cameron sentou-se, abraçando-a. A jovem podia sentir o coração dele acelerado.

— O que aconteceu? Por que não deixou que eu soubesse?

— Uma infecção em um dos meus pés. Não podia deixar que soubesse. Quero dizer, primeiro, eu estava muito doente. E, depois, quando melhorei...

A moça soluçou e disse:

— Eu sabia que você não me queria.

Cam a beijou, e a jovem quase sentiu o amor jorrando do coração do ex-soldado e inundando o dela.

— Eu queria você a cada momento. Aquelas semanas infindáveis no hospital, todas desde... Só conseguia pensar em você.

— Então, por que não me procurou? Lágrimas nos olhos da bailarina.

— Quando soube que você estava fora do hospital, deixei que a esperança renascesse. Cada vez que o te_lefone tocava, que chegava a correspondência, que alguém batia à porta... Meu coração dizia: é ele, é Cameron. Ele veio. E você nunca...

A moça começou a chorar. Cam a beijou e disse:

— Minha doce Salomé. Não podia ir até você, querida. Você era a minha dançarina dourada. Meu amor para sempre.

Cam riu.

— Só um problema, querida. Eu não sabia o seu nome.

Leanna recuou e o fitou.

— O quê?

— Seu nome verdadeiro. Eu não sabia. Foi por isso que não fui até você. Não podia encontrá-la. To_mei um avião até Dubai. Contratei um detetive, fiz tudo o que podia, inclusive deixar meus irmãos lou_cos. Então, quando já havia perdido as esperanças, meu velho pai me convenceu a ir a uma apresentação no...

— Music Hall! Sabia que estava lá! Senti. Oh, Cam...

Knight a beijou com doçura.

— Desculpe-me se a assustei hoje à noite.

— Você me emocionou. Quando vi que era você...

— Salomé. Quero dizer, Leanna... A bailarina o beijou e sussurrou:

— Não. Salomé. Prefiro.

Cam e Leanna rolaram pela cama de forma que a moça ficou embaixo dele.

— Nunca mais vou perdê-la.

Isso fez com que o americano ganhasse outro bei_jo.

— Não vou deixar.

— Vou ter que mantê-la onde possa vê-la.

Os olhos do ex-soldado ficaram sombrios. Cameron abaixou-se e a beijou no pescoço, dizendo:

— Na cama, comigo. Alguma objeção?

— Humm — Leanna gentilmente mexeu os qua_dris.

— Claro. Posso pensar em outra forma.

— Sim?

— Salomé, minha dançarina amada, você quer se casar comigo?

Leanna respondeu-lhe com um beijo. 

 

                                                                  Sandra Marton

 

 

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