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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


AO SOM DE UMA CANÇÃO / Eduardo Kasse
AO SOM DE UMA CANÇÃO / Eduardo Kasse

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Nunca consegui entender como as pessoas se entregam ao álcool ou à ruína por causa das suas ações. Nem como podem passar suas curtas vidas choramingando pelos cantos, apáticas ou até mesmo desesperadas, em um sofrimento desmedido e, de certa forma, caricato. Para mim, o bem ou o mal são apenas circunstanciais. Um predador, um lobo que caça uma ovelha podem ser considerados mau? Creio que não. São apenas instintos e necessidade de sobrevivência.
Quando se é imortal, muitos dos sentimentos humanos perdem sua força, seu sentido. E, depois de séculos resistindo nessa terra, apenas o prazer me interessa. O meu prazer, é claro.
Sempre fui assim. Desde muito jovem, na bela Atenas, eu buscava o deleite nos braços de paixões regadas a vinho e mel. E as descartava com a mesma agilidade com que as possuía no meu leito. Já ouvi muitas juras de amor, nunca as retribuí. Já se mataram por mim e o máximo que fiz foi deixar flores recém-colhidas sobre os corpos inertes.
Patético...

 


 


Pessoas vêm e vão. Nomes são entalhados na madeira, mas, quando o incêndio da paixão se apaga, restam apenas cinzas.

Enquanto muitos choravam eu sorria.

Todos os amores e amantes que tive são apenas emoções passageiras, rostos que se perderam em meio à multidão. De centenas, devo recordar o nome de três ou quatro. Meia dúzia, para ser mais honesto.

Por isso fui escolhido. Porque ele sabia que a eternidade nunca seria monótona para mim. De fato, continuo me divertindo até hoje, gargalhando das coisas mais banais, vivendo de exageros e excessos. Amado pelo bem-estar que proporciono, odiado pelo desprezo à mesmice, às súplicas por atenção, por amor ou por um simples sinal de afeto.

Não. Não espere isso de mim. Posso ser um monstro, mas saiba que sou sincero. E não me importo com os seus desejos, importo-me somente com a minha satisfação. Suas dores não me comovem.

Gosto de jogar com as pessoas. Muitos apostam alto, na ilusão de que podem vencer, e eu alimento essa esperança, somente para ver a queda, ver os mais confiantes, arrogantes e soberbos desmoronarem.

Não há como haver dois reis em um mesmo palácio.

Sinto a repulsa emanando de você. Sinto que você quer se levantar e partir. Talvez até cuspir no meu rosto. Será que teria coragem? Vá em frente!

Seria melhor que isso acontecesse, aviso-lhe: evitaria uma grande frustração. Mas você não consegue. Parece que sua mente deseja correr para fora desse aposento, porém o seu corpo não obedece, parece estar colado a essa cadeira.

Por quê? Você se pergunta.

Eu lhe respondo: porque você me deseja!

Por favor, não se culpe. Nem tente me ludibriar com esse falso espanto. Seus olhos não mentem. Sua mente já me disse toda a verdade assim que nos encontramos.

Quem não cobiça o que é belo? Quem não admira a perfeição e não tem vontade de se entregar ao ser vivo mais próximo de um deus?

Sei que você já fez essas comparações. E sei que sente um desejo incontrolável pela minha divindade, quase como uma adoração. Não é?

Sim, estou certo. Sempre estou.

Vejo que admira o meu sorriso, os dentes brancos perfeitamente alinhados e os caninos um pouco mais pontiagudos que o normal. Também gosto de me ver nos espelhos de prata. Se, quando mortal, eu era lindo, agora sou esplêndido. Ah, sinto-me como Narciso!

Eu serei belo para sempre. Você, ao contrário, definhará. As rugas no seu rosto, que agora são pequenas linhas, charmosas até, se aprofundarão, transformando essa pele macia em algo ressequido como a terra que há muito não recebe chuva. E os anos voarão até você não passar de um ser carcomido, apenas a sombra do que foi outrora.

Uma casca podre que vai ser roída pelos vermes.

Isso são lágrimas? Eu lhe disse algo que você já não sabia? Vida e morte são a base da existência humana. A mais simples de todas.

Talvez tenha sorte e Tânato não o deixe padecer da velhice. Talvez não... Quem sabe os dados já não foram lançados? Os deuses gostam de se divertir conosco.

Essa é a realidade.

Antes repulsa, depois cobiça, agora é um ódio inflamado que o domina, não é? Como vocês, humanos, são instáveis! Incendeiam com a mínima fagulha. Mas o fogo não se sustenta, queima rápido e logo se apaga como se nunca tivesse existido. Resta apenas fumaça, tóxica e debilitante. Não me lembro de ter sido assim um dia, mas pode ser que a minha memória não esteja tão clara.

.

.

.

Adoro quando você cospe essas ofensas contra mim. Os perdigotos voando junto à rispidez das palavras! Um hálito tão doce contaminado por termos tão feios.

Tsc, tsc, tsc.

Você preferia que eu não lhe dissesse a verdade? Mesmo a mais óbvia? Creio que já passou da idade da ingenuidade, e sabe tão bem quanto eu qual é a minha natureza. Foi por isso que você me procurou, que se arriscou durante anos esquadrinhando ruas escuras, praças desertas e ruínas atrás do meu rastro. E, tal como os ratos, vasculhava os restos que eu deixava para trás.

O mundo comum é enjoativo. As pessoas comuns são previsíveis e cansativas. Em mim você reencontrou um fogo há muito perdido. Um motivo para deixar de lado seus problemas e sua rotina sufocante.

Você sentia a minha presença, como se eu estivesse sempre ao seu lado, sussurrando nos seus ouvidos, causando-lhe arrepios e desejos carnais. Por quantas vezes você não se desesperou depois de mais uma noite frustrante, de busca solitária! Dos meus esconderijos ouvi você praguejar porque o Sol surgia no horizonte. Até pensei em me apresentar mais cedo, contudo eu ainda queria ver até onde você iria. Admirei-me com a sua persistência!

Por quantas vezes você se esqueceu de comer ou beber andando à minha procura até os pés sangrarem, até a fadiga e fraqueza causarem desmaios? Fui seu parasita sem tocar em você, na mesma medida em que lhe dei um novo propósito de vida.

Confesso que por diversas vezes eu adormeci sorrindo pela sua decepção, embalado pelos seus gritos de ódio e dor. Esse jogo de gato e rato era uma diversão a mais nas minhas noites. Seu pranto era melodia. Será que os deuses se sentem assim a cada pedido lamurioso? Divertem-se como eu? Duvido...

Ahahah! Se eu sou o mal encarnado? Não... Tenho até meus momentos de misericórdia. Lembra-se de quando precisou passar semanas na prisão porque creditaram a você a responsabilidade por algumas mortes que causei?

Por favor, acalme-se!

Esse desespero, esse descontrole afetado me dá vontade de ir embora. E sair tão rápido que você pensaria que simplesmente desapareci no ar. Você me soa como um cão ganindo após ter as costelas chutadas. Um pouco de dignidade não dói.

Respire...

Isso, melhor assim.

Escute: não foi de propósito. Tampouco me arrependo disso, como pode perceber. Você escolheu me seguir. Você decidiu chafurdar atrás de cada passo meu. Que tolice! Já se passaram alguns anos desde a sua estadia no cárcere, achei que tinha superado essa, digamos, adversidade.

E não fui de todo mau; fui eu que paguei a sua fiança.

Sim, fui eu.

Sua expressão de surpresa é linda! Mas não pense que tem alguma dívida comigo. A vantagem de me alimentar dos ricos e poderosos é ter o prazer do sangue e das fortunas.

Dinheiro nunca foi problema para mim. Tenho montes e mais montes de moedas, joias, ouro e prata em baús espalhados por essas terras. Certamente muitos ficarão perdidos para sempre, outros serão encontrados por miseráveis que se acharão sortudos demais ao conquistarem migalhas.

Aliás, perdoe-me pela minha indelicadeza! Não lhe ofereci nada para beber ou para comer. A conversa sempre fica mais aprazível com o estômago forrado. Ou menos desprezível, não é?

Releve as minhas divagações. Isso acontece com os velhos e com quem passa muito tempo sozinho. É que, ao contrário de você, eu tenho todo o tempo do mundo.

Vejamos o que temos por aqui...

Um bom vinho, pelo que me lembro. Na minha mocidade eu adorava abrir as ânforas e sentir o aroma das uvas fermentadas. Ficava respirando o vapor delicioso antes de saborear a bebida. Era quase um momento sensual, ainda mais se havia alguém me beijando na nuca ou qualquer parte mais sensível minha.

Sirva-se à vontade. E pode comer todas essas frutas e queijos se quiser. Eles não terão mais serventia para o dono dessa casa, tampouco para mim. Espero que não se ressinta por não ter companhia nessa refeição. Estou satisfeito.

Vejo que gosta da minha risada. Foi uma contração do seu rosto por causa do vinho? Ou o esboço de um sorriso?

Ah! Melhor assim! Vamos nos divertir.

Parece que o mundo ficou cinzento e as pessoas se esqueceram de como festejar e aproveitar a vida. Tudo agora é dor e pecado.

Você come com gosto. Isso me faz lembrar dos banquetes de que participei. Nunca fui tão afoito com a comida, mas me divertia com os glutões. Ah, como me aproveitei deles! Em troca de pequenos mimos, doces ao paladar, consegui tantas coisas. Para muitos, um pouco de ambrosia funcionava melhor do que uma noite de sexo. Velhotas felizes ao se empanturrar até ficarem sem fôlego se contentavam com alguns beijos no pescoço e carícias no meio das pernas roliças.

Eu sorria ao vê-las tendo espasmos ao simples toque dos meus dedos, hábeis pela prática em dedilhar a lira. Elas gemiam e gritavam sem qualquer constrangimento, mesmo sob olhares curiosos.

Aliás, já comentei que sou ateniense, mas creio que não me apresentei adequadamente.

Jura? Você sequer sabe o meu nome? Precisamos reparar esse erro agora, e, se você quiser ouvir um pouco da minha história, a noite ainda só está no início.

Pois bem... Está confortável em sua cadeira? Comecemos do princípio então.

Meu nome é Diodoros. Nasci em Atenas em 431 A.C., o primeiro ano da Guerra do Peloponeso em que começamos as batalhas contra os espartanos. Ou foram eles que começaram? Não me recordo... Mas não importa!

Sim, você ouviu certo, sou bastante antigo. Nasci 431 anos antes do tal Cristo, que nem sei ao certo se existiu. E, se existiu, morreu crucificado como um ladrãozinho da ralé. Creio que você não consegue compreender a dimensão da minha existência. Eu mesmo me perco em vários momentos.

Mas voltando à minha vida, cresci em um período bem turbulento, quer dizer, mais turbulento que o normal. O investimento na guerra empobreceu a cidade, e nem os eupátridas, como os meus familiares, escaparam das dificuldades. Muitas rotas de comércio foram interrompidas e muitos homens foram recrutados para as batalhas, o que diminuiu a força de trabalho e minguou as riquezas. Não que tenhamos ficado pobres, longe disso. Mas quem se acostumou com o luxo sofre ao viver com menos.

Como eu era apenas um rapazola, não senti muito os impactos do primeiro e segundo períodos da guerra, época em que deixei de lado as brincadeiras de criança e passei a me entreter com jogos, bebidas e sexo. Confesso que a guerra era apenas uma sombra distante para mim.

Sombra da qual não pude escapar, pois fui obrigado a me juntar ao exército no terceiro período. Caçula de cinco irmãos, meu pai não hesitou em me mandar para a batalha. Contudo, pela sua influência e importância, não caí em um navio qualquer. Fui enviado como tripulante no trirreme sob o comando do estratego Alcibíades.

Nunca fui um excelente guerreiro, tampouco era o primeiro a investir contra os inimigos. Sobrevivi praticamente incólume e com poucas cicatrizes. Toquei mais vezes a minha flauta do que saquei a minha espada. Eu sabia entreter os homens e conseguir favores dos mais experientes, e até mesmo certa proteção.

Não pense que sou um covarde. Isso nunca fui! Apenas lutei quando não tive alternativa, por isso me mantive vivo. E até me saí bem nas escaramuças. É mentira que somente os heróis são lembrados. Os sobreviventes também ganham suas canções, ainda mais se souberem recompensar bem os bardos.

Vencemos em Cízico e em Arginuse e a nossa confiança estava alta. Éramos bem recebidos nas cidades em que aportávamos. Antes de seguir para Bizâncio, fui acometido por uma tosse catarrenta, cansaço, suores noturnos e uma febre fraca e persistente. Não pude embarcar com os meus companheiros, tampouco insisti nisso.

O próprio Hipócrates, médico amigo de meu pai, me deu o veredito depois de me examinar: eu estava com phthisis. Naquela época, como hoje, essa doença era quase uma sentença de morte. Fui tratado com chá de alho e própolis, poções de agrião, mel e claras de ovos. Entupiram-me de infusões de calêndula e me obrigaram a inalar vapores de vinagre que me faziam ter náuseas.

Nada adiantou e a tísica se enraizou nos meus pulmões, fazendo-me cuspir sangue a cada acesso de tosse. Por várias vezes quase sufoquei nas minhas próprias secreções. Tinha apenas vinte e dois anos.

Não, não precisa ter dó de mim, afinal, estou aqui, vivo e perfeito, não é? Se o seu tédio ainda não for muito grande, permita-me continuar a minha história.

Aproveite e sirva-se de mais vinho. Adoro quando suas faces se ruborizam por causa da bebida.

Como lhe contei há pouco, sempre fui adepto da diversão. E mesmo com a doença me consumindo eu participava constantemente de festas e banquetes, nos dias e noites em que não estava tão mal. Eu sabia que iria morrer em breve, portanto resolvi aproveitar a vida. E deixei a vida se aproveitar de mim. Nós nos usávamos mutuamente. Nós nos abusávamos, para ser mais fiel aos fatos.

Entreguei-me de corpo e alma à esbórnia. Queria provar e provocar cada vez mais homens e mulheres. E esse ritmo desregrado apressou o meu fim. Talvez eu durasse mais uns anos, quem sabe, com sorte, até mesmo uma década.

Preferi viver intensamente a me fadar às regras e privações do tratamento. Monotonia nunca foi uma escolha para mim. Eu tinha dor, escolhi aplacá-la com vinho e com o prazer proporcionado por cada amante. Mesmo quando não conseguia desfrutar do momento, eu fingia. Ah, e que ator eu era! Ri da morte, mesmo estando em seus braços. Afinal, quem quer viver para sempre?

Que ironia!

Em poucos meses não conseguia mais me alimentar e emagreci de saltar as costelas. E a minha estimada beleza me abandonou. E, com ela, todos os que viviam ao meu redor nos momentos de farra me deixaram. A flor murchou e os insetos que se alimentavam do seu néctar partiram.

Nunca recebi uma visita sequer. Somente a dos cobradores de impostos e de thetas desesperados por trabalho. Passei a ficar confinado no meu aposento, coberto por lençóis salpicados de sangue, respirando um ar constantemente nauseabundo. Eu estava apodrecendo, tal como um cadáver que se recusava a morrer.

Comecei a ter nojo de mim mesmo. Senti a angústia da solidão, de não ser mais idolatrado por onde passava. Eu sempre quis ser o centro das atenções...

Eu me transformara naquilo que mais desprezava.

Você se incomoda se eu abrir a porta? Gosto da brisa da noite, do aroma das madressilvas que crescem logo depois do pasto. Elas me fazem lembrar minha mãe. Sim, até um monstro como eu já teve uma mãe, porém deixemos esses sentimentalismos para outro momento, pois ainda há muito a ser contado.

Numa noite insone ele apareceu. Pensei se tratar de um vulto criado pela alucinação da febre. Os delírios estavam cada vez mais constantes naqueles dias, a ponto de eu confundir a realidade com os devaneios. As lamparinas de azeite estavam apagadas e a noite era escura, a Lua encoberta por densas nuvens de chuva. Ele se prostrou ao lado da cama e ficou imóvel. Esfreguei os olhos remelentos e me sentei com dificuldade, sentindo um imenso cansaço, o peito queimando. O ar me faltou e a minha respiração emitia um chiado agudo, angustiante. Tonteei.

Parecia que eu tinha corrido por milhas e mais milhas.

Lutei contra esse sofrimento sufocante por um bom tempo até recuperar o fôlego e conseguir raciocinar com certa clareza.

Queria que as lamparinas estivessem acesas. De súbito isso aconteceu e o quarto clareou como se os meus pensamentos tivessem sido ouvidos. Não tive tempo para entender o que se passava, pois o homem puxou uma cadeira e sentou-se à minha frente.

Devia ter por volta dos cinquenta anos, talvez menos, os cabelos completamente grisalhos e a pele branca como as estátuas de mármore. Ele me encarava com seus olhos azuis como o mar, tinha o nariz grande e os lábios finos demais. Não posso dizer que era belo, contudo senti imensa atração por ele, algo que ia além do carnal.

Ele vestia um quíton de linho que o cobria somente até as coxas e era preso por um cinto de couro na cintura e por um broche de ouro no ombro esquerdo. Não usava capa ou qualquer outro adereço. Pude perceber que, apesar da idade, seu corpo era bem torneado.

– Ah, meu querido Diodoros! – Sua voz era rouca e acolhedora. – O que você fez aos deuses para ganhar tal castigo? Será que algum deles se enciumou com a sua beleza e resolveu fazê-lo definhar tal como um cão doente?

– Quem é você? – Mal consegui falar, a respiração ofegante incomodava.

– Você não se lembra? – Ele se aproximou e segurou as minhas mãos entre as suas, frias como metal.

Neguei com a cabeça e olhei-o fixamente. Seus olhos azuis pareciam me desnudar e me penetrar sem qualquer pudor.

– Eu me chamo Zotikos, e venho observando-o há tempos, desde que voltou para Atenas – sorriu e mostrou as presas pontiagudas. – Frequentei as mesmas festas que você, caminhei pelas mesmas ruas, adentrei os mesmos bordéis e me deliciei vendo-o tentar ludibriar cortesãs experientes, que sabiam fingir com maestria teatral. Como eu me diverti ao ver as pessoas atiradas aos seus pés enquanto você só buscava o seu prazer. Era magnífico vê-lo fazer homens poderosos se prostrarem de joelhos e implorarem algum carinho seu. Como a sua indiferença esnobe o destacava na multidão! Você me atraiu e eu atendi o seu chamado.

– Eu não me esqueceria de um rosto como o seu – tossi e escarrei num pano. – Creio que o senhor me confundiu com outro.

– Não, Diodoros – o homem afagou meus cabelos. – Não há como confundi-lo com mais ninguém. Você é único. De fato você nunca me viu, pelo menos não diretamente; é quase certo que você já me olhou de relance, sem prestar muita atenção. Eu sei bem me ocultar nas sombras, ficar praticamente invisível se assim desejar, dom que herdei de Érebo. Nos últimos tempos sempre estive ao seu lado, mesmo quando a doença o impedia de sair. Vi o belo jasmim murchar até restar isso – encarou-me.

– E por que resolveu se revelar esta noite? – puxei a minha mão de entre as suas. – Veio escarnecer de mim? Não preciso que me lembre do que já fui um dia. Sinto essa dor incessantemente.

– Escarnecer? – suas expressões eram quase imutáveis. – Não, meu querido Diodoros. Eu não pretendia me mostrar a você. Não ainda. Contudo, sinto que os fios que prendem seu espirito a esse corpo já estão sendo cortados, um a um.

– Quer dizer que irei morrer esta noite? – Eu sabia que não duraria muito, porém ouvir isso de uma maneira tão convicta e convincente foi como levar um soco na boca do estômago.

– Essa noite, a outra, quem sabe em mais uns três dias... – O homem se levantou e caminhou com as mãos para trás. Seus passos não emitiam qualquer ruído. – Pode ser que você sufoque daqui a uns instantes.

Senti algo me tapar a garganta, como se as palavras dele tivessem poder.

– O que é você? O que você quer de mim? – As lágrimas mornas escorreram pelo rosto sulcado.

– O que eu sou? – Zotikos observava o céu lá fora. – É uma boa pergunta... Deixei de ser humano há tanto tempo que não posso me chamar de homem. Tampouco sou um deus, apesar de ter ganhado esta nova vida de um deles. Então, acho que você pode apenas me chamar de Zotikos, o imortal, ou Zotikos, o noturno, se assim preferir.

– Imortal?

– Sim, meu querido Diodoros, eu caminho por essa terra há muitos séculos. Nasci em Micenas. Outrora fui um marinheiro que singrava o Egeu levando tecidos, alimentos e armas para quem me contratasse. Quando meu barco foi destroçado pela tempestade e eu, moribundo, fui parar em Creta, renasci como um ser que precisa do sangue para existir, que está confinado às trevas e só pode caminhar à noite. E assim vivo desde então: como um andarilho das sombras.

– Você se alimenta de sangue? – Aquilo me enojou. – Que tipo de monstro você é?

– Não me vejo como um monstro – ele se sentou ao meu lado novamente. – Confesso que no começo eu sofri e me entristeci por cada morte que causei. Praguejei por ter que me enfiar em buracos escuros antes do Sol nascer e nunca mais poder ver a beleza dos dias claros. Contudo não houve injustiça ou maldição. Eu escolhi isso. Quando a vida me abandonava na praia rochosa em Creta, as sombras me abraçaram e Érebo me ofereceu outra chance. E eu a aceitei sem hesitar.

– E foi isso que você veio me oferecer, Zotikos? – Eu segurei no seu braço frio. – Uma nova chance?

Sem dizer nada, ele mordeu o pulso e o levou à minha boca. Tentei afastá-lo, mas eu estava fraco, impotente. O sangue espesso escorreu pela minha garganta, amargo. Eu senti náuseas. Eu me debati e chorei.

Até a magia acontecer.

Quanto mais sangue eu ingeria, menos cansaço eu sentia e a costumeira falta de ar se amenizou. Olhei-o e ele sorria. Vamos beba e se fortaleça, Zotikos falou diretamente na minha mente. Dei mais alguns longos goles e ele puxou delicadamente o braço. Eu não queria soltá-lo, eu queria mais. Ele colocou a mão na minha testa e me empurrou. Quase que no mesmo instante o rasgo no seu pulso se fechou. E aquilo me espantou.

– Você pode ficar em pé? – Zotikos levantou-se.

Firmei os pés no chão e, depois de muitas semanas definhando na cama, consegui manter-me em pé sem nenhum cansaço ou vertigem. Não lembro ao certo, mas devo ter gargalhado.

– Que tal um passeio? – ele me convidou. – Acho que lhe fará bem.

Assenti, animado pela minha melhora. Calcei as minhas sandálias de couro e o acompanhei. Andamos pelo pomar e paramos debaixo de uma figueira. A mesma que por tantas vezes fora testemunha dos meus momentos de prazer, com amigos, amigas ou sozinho.

Estava um breu, mas eu conseguia enxergá-lo perfeitamente, não com os olhos, mas com a minha mente. Era muito estranho. Mas o que não estava estranho naquela noite?

Ele colheu um dos figos maduros e me deu. Senti meu estômago roncar e consegui comer depois de dias.

– E se eu lhe dissesse que você também pode viver para sempre? – Zotikos me encarou com os olhos azuis fulgurantes.

– Eu me entregaria à eternidade – respondi, devorando o último bocado da fruta doce.

– Saiba que terá várias privações e muitas provações – o homem pegou um fruto maduro, cheirou-o e atirou-o longe. – Vê esses figos suculentos? Aproveite bem o seu sabor, pois nunca mais poderá provar deles ou de outras delícias sem sentir asco.

– Nada pode ser pior do que morrer jovem – eu estava totalmente convicto. – E creio que, quando eu pagar o barqueiro, atravessar o rio Aqueronte e a minha alma ficar para sempre no Hades, não terei manjar ou carnes tenras. Não! Não quero morrer!

Ele ficou alguns instantes em silêncio, somente me olhando, pensativo.

– Você vai ser o meu primogênito, talvez o único – Zotikos se aproximou devagar. – Estarei ao seu lado nos primeiros passos do seu renascimento, mas sinto que por um longo tempo ficaremos distantes.

Então o homem deu o bote e mordeu o meu pescoço ossudo. Sugou com força o meu sangue fraco e doentio. Bebeu de mim até me deixar no limiar entre a vida e a morte. Ele sustentava o meu corpo amolecido com firmeza em seus braços.

– Você quer mesmo se tornar um filho das sombras? – sua boca estava manchada de vermelho.

Uma coruja deu um rasante ao nosso lado e cravou suas garras em um rato. Ele morreu instantaneamente e ela se fartou. Seria um presságio dos deuses?

– Si-sim – a minha voz quase não saiu. – E-eu quero.

Ele me mordeu novamente e me esvaziou mais. Então, o tempo parou e um silêncio opressivo me envolveu. Eu não ouvia mais o vento, não sentia mais o chão sob os pés, nem podia sentir os braços de Zotikos ao redor do meu corpo desfalecido.

Pensei que eu havia morrido, que ele havia feito tudo aquilo apenas para zombar de mim. Que pelo menos colocasse um óbolo sob a minha língua para eu entregar a Caronte.

Então veio o fogo e retornei ao meu corpo. Senti a brisa, o abraço, o aroma dos figos maduros. Eu ainda estava vivo, mas tudo parecia diferente. Os sons mais altos, as cores mais vivas, mesmo na escuridão.

Zotikos me soltou e, apesar de fraco, consegui me sustentar. Dei alguns passos olhando ao redor. A coruja branca me encarou com os olhos enormes, alaranjados, e voou com o restante da carcaça.

Senti uma pontada no estômago. Soltei uma golfada de vômito, figo misturado com sangue. Em seguida minhas tripas se contorceram e não consegui segurar: o jorro de merda pastosa me escorreu pelas pernas. A dor aumentou, como se todo o meu corpo estivesse sendo espetado por agulhas.

Caí de joelhos, depois de lado, ainda vomitando e me cagando como um bebê, sem controle algum sobre o meu corpo.

Zotikos apenas me observava, o rosto sem qualquer expressão, as mãos para trás.

– Filho de uma cadela, o que você fez comigo!? – praguejei.

Ele não respondeu.

Fui tomado por tremores, a visão se embaçou e senti o coração acelerar, assim como a minha respiração. Essa agonia pareceu durar muito tempo, não sei ao certo quanto, só sei que o meu coração parou repentinamente. E a dor cessou. E pela segunda vez naquela noite tive a sensação de ter morrido.

.

.

.

Despertei. Ele estava agachado ao meu lado, afagando os meus cabelos. Inspirei e o ar entrou facilmente nos meus pulmões, enchendo-os por completo. Fiquei parado por um tempo, apenas respirando. Não havia chiados, engasgos ou sufocamento. Eu estava limpo, como se nunca tivesse tido a maldita tísica.

Zotikos me estendeu a mão e eu me levantei com um pulo. E o mundo ao meu redor era fascinante.

– Estou com sede – senti a garganta seca e o estômago vazio.

Meu criador sorriu.

– Venha, vamos caçar – ele me guiou pela mão e eu me deixei levar como o pupilo que segue seu mestre.

Caminhamos pela noite e bebemos de mendigos, prostitutas e soldados embriagados. Eu queria mais, mas a noite estava quase no fim. Zotikos me levou até a sua alcova, que ficava no subterrâneo do androceu de uma bela casa, ladeada por jardins bem cuidados. Ele tinha alguns empregados e escravos que nos cumprimentaram com respeito quando passamos por eles.

Eles não desconfiam da minha natureza por causa do meu poder, da minha vontade – falou diretamente na minha cabeça. Com o tempo você ficará cada vez mais forte e desenvolverá dons incríveis.

Isso me fez sorrir. Ele parou em frente a uma grande porta de madeira maciça reforçada com ferro. Fechou os olhos e eu pude ouvir o barulho de trancas sendo abertas.

Ele empurrou a porta com a mão e ela se abriu num rangido. Passamos pelo pórtico e ele a trancou sem tocar nela. Isso me fez levar a mão à boca. Zotikos fizera isso somente com um pensamento, assim como acendeu velas e lamparinas somente com o estalar dos dedos.

– Que magia é essa? – olhei impressionado para o salão de pedra em que nos encontrávamos.

– Magia? – ele riu. – Se prefere chamar os meus poderes de magia, que assim seja!

Gargalhou.

Ele me banhou e limpou todas as imundícies do meu corpo. Depois de bebermos, a nossa pele não estava tão fria e o seu toque me excitava. Penteou os meus cabelos com suavidade e me perfumou com água de flores.

– Agora venha, Diodoros, você precisa descansar – apontou para a sua cama.

Obedeci e deitei-me com ele. Antes do torpor do sono me dominar completamente, bebi um pouco mais dele e ele de mim e isso me deu um imenso prazer.

*

Vejo que ainda não adormeceu. Sou um bom contador de histórias?

Sim, concordo, tudo isso é fascinante. Eu mesmo me pego lembrando esses tempos que passei ao lado do meu mestre, do meu querido Zotikos. Ele foi um pai, um amigo, um amante... Foi meu confidente sem nunca me julgar, foi aquele que, pela primeira vez na minha vida, mostrou-me que eu não estava sozinho.

Onde ele está? Essa é uma boa pergunta! Nos separamos há dois séculos...

Não, nós não brigamos. Ao contrário, a nossa separação foi com muito pesar, com muitas promessas de reencontro. Por mim ainda estaria junto dele, absorvendo tudo aquilo que ele me provia, contudo ele me disse que tinha assuntos a resolver no Oriente. Não me contou detalhes, como era do seu feitio, apenas disse que queria conhecer “alguém tão antigo quanto ele”.

Sim, há vários de nós. Não tantos quanto os mortais, claro. Durante meus séculos de vida cruzei com três imortais, todos mais novos do que eu. Dois gêmeos recém-renascidos para as trevas, e que fui obrigado a matar...

Ah, essa é uma longa história. Eles eram muito insolentes e estavam causando problemas ao caçar desregradamente na minha querida Atenas. Isso poderia afetar a minha paz. E o equilíbrio conquistado por Zotikos. Eu lhes dei três chances, eles me esnobaram, continuaram as matanças. Viraram cinzas ao ser tocados pelo Sol. Machuquei-os muito. Destruí seus corpos. Amarrei as carcaças moribundas em uma árvore e deixei Hélio fazer o seu trabalho. Ouvi os gritos de agonia enquanto suas carnes se transformavam em carvão. Confesso que eles me deram muito prazer.

Viu só, até um monstro como eu segue um padrão, digamos, aceitável. Eles poderiam estar vivos, bastava ir embora e nunca mais voltar. Sequer me escutaram, ignoraram todos os meus avisos, vociferaram maledicências, preferindo continuar com o seu perigoso jogo. Eram dois imprestáveis que nunca deveriam ter ganhado o nosso dom. Não vão fazer falta. Nenhuma.

A outra era uma menina, Tita, a romana. Ela tinha um nome comprido, difícil e pomposo, do qual não me recordo. Apenas me lembro dela como Tita, a garota sardenta que me fez rir pelas várias noites que passamos juntos. Não tinha nem cem anos de transformada e já era experiente e letal; seus poderes não condiziam com a sua pequena estatura e corpo franzino. Ao contrário de mim, quem a transformou não lhe ensinou nada, ela foi jogada nas trevas sem qualquer ensinamento. A menina Tita teve que aprender tudo sozinha e sofreu bastante por isso. Em contrapartida ficou forte. Eu a vejo de vez em quando nos meus sonhos, vagando pela Itália, e sei que ela também pode me ver.

O que ela veio fazer aqui? Ela veio procurar os deuses. Como os da sua Roma não passavam de estátuas inertes, ela tinha esperança de encontrar algum vivo por esses lados. Frustrou-se, a pobrezinha. Eu mesmo nunca esbarrei em um. E só acredito na existência deles por causa do meu mestre Zotikos, que fora transformado em imortal por um deus.

E desde o encontro com Tita eu prossigo sozinho a cada noite. Sei que reencontrarei meu salvador, mas não agora. Quem sabe daqui a uns anos ou séculos? Nosso destino já está traçado e já percorremos os caminhos definidos, e quando for o momento certo, poderei revê-lo.

*

Sei que você aprecia as minhas histórias, contudo sinto seu espírito e sua mente irrequietos. Eles me transmitem a imagem de um mar revolto, ondas que se quebram em um rochedo e ventos fortes que açoitam as plantas nas encostas.

Você se deleitou com cada palavra, com total devoção, mas agora quer algo mais, não é? Quer ir além e descobrir se minhas histórias eram reais. Na verdade você não duvida delas, quer apenas senti-las.

Você quer algo mais concreto.

Não precisa olhar para baixo, nem tentar disfarçar, você não consegue. Não poderia nem que usasse toda a usa energia para ocultar seus pensamentos de mim.

Sim, eu nunca me engano, suas ideias são claras como uma bela noite de lua cheia e céu estrelado. Você clamou tanto por mim que resolvi ceder. Queria saber tanto quem eu era e eu lhe contei uma parte da minha longa vida. Agora sei que quer mais. Seus olhos suplicam. Sua ansiedade é palpável. E dolorosa.

Agora eu lhe pergunto: por que eu deveria atender aos seus anseios?

Você pode dar um argumento melhor do que esse. Pare de espernear e pense em uma resposta digna!

Sim, eu quero a verdade nua, não quero meias-palavras, quero que você me escancare tudo, apesar de eu já conhecer cada recôndito da sua alma.

Melhor assim. Quem não se fascina com a imortalidade? Quem não quer ter o poder de um deus? Ah, como somos atraídos pelo poder! Somos como mariposas atraídas pelo brilho das chamas.

Logo irá amanhecer teremos que ser breves. Ou podemos deixar tudo para a próxima noite?

Ahahaha! Eu sei que você não aguentaria, posso ouvir seu coração daqui, explodindo no peito.

O que aconteceria se eu desaparecesse? Sumisse por umas semanas, meses ou anos? Eu tenho todo o tempo do mundo. E você, saberia se controlar? Acredito que não. Você viraria um trapo, com a mente em frangalhos, enlouqueceria e vagaria pelas ruas imundas sem saber para onde está indo.

Se eu teria coragem de fazer isso com você? Claro! Como já lhe disse, não tenho qualquer arrependimento. Essas maldadezinhas me animam. Mesmo porque eu não teria qualquer culpa. Você veio a mim e eu nunca disse que era bom ou caridoso.

Não adianta se atirar de joelhos e agarrar as minhas pernas tal como uma criança birrenta faz com a sua mãe. Você nunca poderia me prender. Levante-se antes que a última migalha da sua dignidade se acabe.

Assim... Eu prefiro o seu abraço, sentir o calor do seu corpo junto ao meu.

Você não sabe o que está me pedindo. O meu beijo não é tão gostoso quanto imagina. Por que não esquecemos tudo e você vai viver a sua vida? Você ainda tem longos anos pela frente, seu desespero é injustificável.

Como você se oferece com tanta facilidade. Como se apega a uma ideia que nem tem certeza de como é na realidade. E se eu for um mentiroso? E se a minha vida não passar de uma grande merda? E se eu fingi, encenei tudo? Você arriscaria mesmo assim? Jogaria tudo para o alto?

Coragem e convicção não estão muito distantes da idiotice. Andam de mãos dadas.

Nada que eu falar o fará mudar de ideia, certo? Você deseja o meu beijo mais que tudo. E sofre por ainda não ter conseguido. E, mesmo que eu o abandone, você continuará a me perseguir enquanto viver, não é?

Que seja feita a sua vontade! Você quer o meu beijo? Então você o terá!

.

.

.

Por mais que eu beba, não me enjoo do sangue. E o seu é delicioso, sinto a presença do vinho que você acabou de beber.

Fui generoso em não lhe causar qualquer dor. Eu poderia, se assim desejasse, tornar esse momento um fardo, fazer com que as suas veias doessem como se estivesse sendo rasgadas. Você não merece. Apesar da sua insistência estúpida e patética, gostei de você.

Descanse na minha cama. Sei que exauri as suas forças, mas logo tudo estará acabado.

Sim, mesmo à beira da morte o seu sorriso é lindo. Gostaria de ouvir um pouco de música? Quer me ouvir tocar a lira? Permita-me cantarolar uma canção de amor, sei que ela é perfeita para esse momento.

“Quantas vidas vivi sem encontrar o amor?

Meu coração bate no peito sem qualquer calor

Caminho no vazio perdido da negra solidão

A felicidade partiu, restou-me a escuridão.”

Ouço o badalar do sino. Logo o Sol irá raiar majestoso. Espero que você tenha aproveitado muito bem os seus dias, a sua vida, pois nunca mais vai desfrutar do amanhecer.

“Você acreditou nas minhas promessas

E me entregou seu sangue, seu coração

Agora sua vida se esvai sem pressa

Enquanto você ouve ecos dessa canção.

O sangue mancha o branco lençol

O brilho das velas tal como um farol

Que guia a alma atordoada

Pelo começo da longa jornada.

Nunca lhe prometi nada, continuo sem arrependimentos

E agora você dorme e sonha ser imortal

Aproveite a ilusão desse momento

Enquanto sua alma se despede do corpo carnal.”

Depois do meu beijo, o último suspiro. Pousei a lira no peito que já não se movia e voei pela noite com a primeira claridade do dia às minhas costas. E a canção que acabara de inventar não me saía da cabeça.

 

 

                                                   Eduardo Kasse         

 

 

 

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