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Poesia & Contos Infantis

 

 

 


AO SUL A NEGRITUDE
AO SUL A NEGRITUDE

 

 

                                                                                                                                   

 

 

 

 

A terra verde e dourada do Sul está habitada por homens e mulheres que tem a tez mais morena e escura do que as pessoas do norte, sua característica comum é a negritude. A uma parte desses povos de raça negra, os antigos egípcios, seus vizinhos do rio da abundância, sob cujas águas se encontrava uma grande reserva de ouro, chamavam kusitas. Mas, nessa terra dourada e verde, também viviam outros grupos étnicos, como os negros sudaneses e os bantúes, que tinham uma língua comum, os mesmos costumes e similar cultura.

Nos grandes lagos africanos se originou a raça bantú, e todos os que a formavam mantiveram sempre sua própria personalidade e não se misturaram com outros grupos, como os bereberes ou qualquer outro povo de costumes semitas. Os monarcas, cuja principal pretensão e obrigação era conseguir a paz para seu povo, governavam entre os bantúes. Esses monarcas, chamados kakabas, não tinham uma relação direta com os homens e mulheres que pertenciam as classes simples, mas se comunicavam com seu povo mediante tambores.

Pelo modo que soavam os tambores e por seu ritmo e variações se podia saber o poder que tinha o rei bantú, sua categoria e o conteúdo da mensagem que estava mandando à seu povo. Havia tambores de grande tamanho, até tal ponto que alguns chegavam a ter dois metros de diâmetro. Os tambores eram guardados em templos e lugares sagrados, e eram custodiados dia e noite. Os encarregados de vigiar os tambores formavam uma espécie de casta que tinha certos privilégios e seus integrantes eram admirados pelos habitantes das povoações vizinhas e pelos habitantes dos reinos dos grandes lagos.

Cada uma das tribos africanas tem suas lendas, de modo que há uma grande variedade de mitos, relatos e narrações fabulosas em cada zona. Assim, por exemplo, entre as tribos de camponeses e pescadores que se estendiam ao longo da ribeira do rio Níger, existia a crença de que a natureza estava povoada e cheia de espíritos e pequenos génios, aos quais havia que se adorar, pois deste modo se aplacavam, para que não espantassem a pesca ou arruinassem e destruíssem as colheitas. Nas águas dos rios, das fontes e dos mananciais, da mesma forma que no ar e na terra, habitavam inumeráveis espíritos.

Mas, a terra também estava habitada por outras criaturas de maior tamanho, como o voraz e faminto gigante Maka, que tinha que estar comendo dia e-noite, pelo que devorava animais tão pesados e volumosos como o hipopótamo; e também bebia grande quantidade de água, de maneira que, às vezes, deixava os lagos muito minguados.

Logo existia, também, Haraké, uma jovem formosa e luxuriante cujo poder de atração era tão grande que todos os que a encontravam pessoalmente não sabiam se era uma deusa ou uma mulher mortal. Se dizia que Haraké não só era muito formosa, como também que tinha os cabelos longos e finos, quase transparentes, de modo que se confundiam com a cor das águas do lago em que morava.

Ao entardecer, quando os raios do Sol se encurtavam e os bosques ficavam em penumbra, a formosa Haraké se sentava na margem do rio Níger e esperava até que chegasse seu amante. Transcorridos alguns instantes, as folhas secas rangiam sob a pisada dos pés desnudos de um homem jovem e de corpo bem proporcionado que vinha reunir-se com a formosa dama do lago. Haraké o esperava com os braços abertos e ali, com a cumplicidade do silêncio do bosque, se desenvolvia a mais delicada cena de amor de todos os tempos. Depois, Haraké abraçava seu namorado e juntos desciam às profundezas das águas encantadas.

A jovem levava o escolhido de seu coração através dos caminhos e sendas maravilhosas que desembocavam nas portas de bronze, lavrado com figuras que representavam cenas de amor, que davam acesso ao recinto que guardava e albergava as mais suntuosas e magníficas cidades jamais vistas.

No centro da cidade se levantava um maravilhoso palácio branco, cujas paredes brilhavam como a prata. Tinha as portas de ouro e as janelas com cristais artísticos de grande colorido. Uma torre quadrada sobressaía por cima do conjunto e colocado na sua atalaia havia um tambor sagrado que soava sem parar. Na esplêndida sala principal, ao som dos tambores e ao som do tanta, teria lugar a cerimónia dos esponsais de Haraké e o escolhido de seu coração. Os dois amantes se uniriam em matrimónio para sempre.

Outra das lendas africanas alude à importância que era dada aos astros, as estrelas e, em geral, ao Céu, entre os negros africanos. E assim, por exemplo, os senegaleses se destacavam por sua cosmologia e conhecimento do céu. Suas fábulas mostram que as duas luminária, quer dizer, tanto o Sol como a Lua, eram já consideradas como superiores aos demais astros.

O mito cosmogônico pretende estabelecer as diferenças entre ambos os corpos astrais, e se propõe explicar -de uma maneira muito simples, mesmo que carregada de conotações míticas e legendárias- as grandes diferenças entre a Lua e o Sol. O brilho, o calor e a luz que se desprendem do astro-rei impedem que sejamos capazes de olhá-lo fixamente; já a Lua podemos contemplá-la com insistência sem que nossos olhos sofram dano algum. Segundo a lenda, isto ocorre assim porque, em certa ocasião, estavam banhando-se nuas as mães de ambas as luminária e enquanto o Sol manteve a atitude cheia de pudor e não dirigiu seu olhar nem por um instante para a nudez de sua progenitora, a Lua, no entanto, não teve vergonha em observar a nudez de sua predecessora.

Depois ao sair do banho, foi dito ao Sol: “Filho meu, posto que sempre me hás respeitado, desejo que a única e poderosa deidade te abençoe por isto. Teus olhos se afastaram de mim enquanto tomava banho nua e, por isso, quero que desde agora, nenhum ser vivo possa olhar para ti sem que sua vista sofra danos”.

E à Lua lhe foi dito: “Filha minha, tu não me hás respeitado enquanto tomava banho. Me olhaste fixamente, como se fosse um objeto brilhante e, por isso, eu quero que, a partir de agora, todos os seres vivos possam mirar-te sem que suas vistas sofram danos e nem se cansem seus olhos”.

 

 

                      

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