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AQUELE QUE FOI ESQUECIDO
Lady Anne Baldwin deseja se libertar das amarras do que é apropriado. Quando encontra o misterioso Merrick, cujos olhos brilham como os de um lobo, ela pode conseguir mais do que aquilo que deseja.
Blackthorn Manor, Inglaterra, 1821
Lady Anne Baldwin tem uma reputação. E não é das boas, ou antes, é uma das melhores. Dizem que ela é gentil e doce, bem educada, e dócil como uma ovelha a maior parte do tempo. Ela tentou muito por toda sua vida ser uma criança agradável para sua tia e seu tio que se encontraram subitamente com o fardo de uma criança órfã quando tinham decidido não terem seus próprios filhos.
Mas, às vezes, Anne não sentia vontade de ser boazinha. Essa noite era uma dessas vezes. Ela saiu furtivamente da mansão no meio da noite para cavalgar através das charnecas. Algo extremamente proibido para ela desde a infância.
Uma cavalgada à meia noite não era algo tão ousado, não uma vez que Blackthorn Manor em Yorkshire era muito isolada e ela duvidava que encontrasse alguém... mas talvez ela pudesse encontrar algo.
Diziam que ainda havia lobos percorrendo as escassas florestas que cercavam Blackthorn Manor. A noite era perigosa. E era a perspectiva de encarar isso frente a frente que fazia o coração de Anne bater mais rápido, seu sangue vibrar através das veias. Um sentimento selvagem a conduziu ao caminho da rebelião. Anne estava entediada consigo mesma, e imaginou que os outros deveriam considerá-la muito entediante.
Ninguém a convidou desde que se estabeleceram na residência de campo. Daqui a três meses ela faria vinte e um anos e ninguém ainda havia pedido sua mão. Tudo porque ela era chata, Anne pensava. Mas ela jurou que mudaria isso... pelo menos por uma noite.
O estábulo estava escuro e vazio. Anne não pensou em trazer uma vela ou lanterna. Ser má era uma novidade para ela, ou ela supunha que não teria perdido tempo em colocar um modesto traje de montaria, meias, botas adequadas ou de ter prendido os cabelos. Ela deveria ter saído de casa com os cabelos soltos, vestida apenas com a camisola. O fato de não ter feito isso a desapontava.
Storm, sua égua, assustou Anne quando relinchou um comprimento.
- Quieta! – Anne sussurrou. – Você não deve acordar os criados do estábulo. Vamos sair para uma aventura.
Um freio estava pendurado num gancho perto da baia. Mesmo no escuro, Anne não teve dificuldades em encontrá-lo, e então deslizá-lo pela cabeça de Storm. Uma sela seria bem mais difícil. Ela teria que ir ao depósito e provavelmente ficar procurando até encontrar uma adequada. Ousaria cavalgar sem sela? Se assim fizesse, ela precisaria cavalgar com uma perna de cada lado.
Uma vez, quando tinha doze anos, ela dissera a seu velho cavalariço, Barton, que ela queria cavalgar de pernas abertas, como um homem. Barton quase caiu do próprio cavalo em choque. Ele disse que uma jovem dama nunca devia abraçar o cavalo entre as pernas. Ele disse que não era apropriado. Mas era uma noite para ações corajosas e Anne decidiu que cavalgaria sem sela. Ela ainda decidiu que o faria com os cabelos soltos, vestida apenas com as roupas de baixo.
Erguendo os braços, ela soltou os grampos dos cabelos, permitindo que a espessa massa caísse ao redor dos ombros. Com um maior temor ela foi até os botões na frente de seu modesto vestido de montaria. Ela debatia se despir-se não levaria a rebelião um pouquinho além da conta, então compreendeu que esse era um pensamento sensato e que ela não queria nenhum deles essa noite.
Depois que Anne se livrou do vestido, ela tremeu no ar noturno. Tateando no escuro, ela encontrou um banquinho, ergueu sua anágua e equilibrou um pé nele. Tirou a bota e rolou a delicada meia perna abaixo.
Ela estava no processo de remover a outra quando teve a primeira sensação estranha. De que alguém a observava. Arrepios percorreram seus braços. Ela olhou ao redor no escuro e deserto estábulo. Storm resfolegou e se movimentou em sua baia, como se a égua também sentisse algo estranho no ar.
- Tem alguém aí? – Anne sussurrou.
Nenhuma resposta.
- Calma, garota! – ela acalmou o cavalo. Anne suspeitou que o animal tivesse sentido seu próprio súbito receio e simplesmente reagisse a isso. Ela olhou ao redor mais uma vez e não viu nada... mas espere, ela viu algo. Junto às baias lá na frente ela viu um par de olhos brilhantes.
Seu coração disparou. O que era aquilo? Um animal selvagem? Mas não podia ser isso a menos que ele estivesse empoleirado sobre algo, pois os olhos não estavam próximos ao chão, mas bem mais para cima. Uma pederneira bateu. A pequena chama se moveu até a ponta de um cigarro e por um tempo muito breve para identificar feições, revelou a presença que estava com ela era pelo menos humana.
- Você é um ladrão de cavalos?
A respiração que Anne estava contendo saiu em um suspiro de alívio.
– Você me assustou. – ela disse. Quem quer que fosse o homem, ela não reconheceu sua voz. – Quem é você?
Ele não respondeu, ao invés disso, ela sentiu que os olhos dele a percorriam. Anne sabia que isso era impossível. Ele certamente não conseguia vê-la melhor do que ela o via.
- Sou o novo cavalariço chefe. – ele finalmente respondeu.
Ela ouvira o tio mencionar que contratara um novo homem para dirigir seu impressionante estábulo. Embora criação de ovelhas fosse o melhor que conseguissem fazer no terreno, Tio Theodore tinha uma fraqueza por cavalos e se orgulhava de ter os melhores. Deveria se apresentar ao novo cavalariço chefe? Boas maneiras ditavam que era o certo a fazer, mas ele não a delataria? Anne sabia que seus guardiões, o Conde e a Condessa, considerariam seu comportamento dessa noite indesculpável. Eles poderiam impedir que ela freqüentasse o estábulo ou de cavalgar. Que diferença faria se ela mentisse? Ele não podia vê-la.
- Eu sou Lady Anne, ah, sua criada. – ela disse. – Pensei em sair para uma cavalgada noturna.
- Vestindo nada além de pele e seda?
O calor inundou o rosto dela. Como ele sabia que ela estava apenas de roupas de baixo? Ele deveria tê-la ouvido se mexendo e de alguma forma deduziu que ela estava se despindo.
– Emprestei o traje de montaria da lady, mas achei melhor não usá-lo.
- Você não fala como uma criada.
Droga, ela era tão sem habilidade para enganar como para se má. Anne deveria ter pensado em imitar o sotaque cockney da maioria dos criados. Ele falava com um sotaque diferente também. Seus erres eram um pouco carregados. Escocês?
- Minha lady insiste de que meus modos sejam os dos bem nascidos, mesmo que eu não seja. – ela explicou.
- E para onde você vai? Encontrar seu amante? Você se despiu para economizar tempo?
Novamente o fato de ele saber que ela estava usando apenas as roupas de baixo deixou Anne nervosa. Seus planos deveriam ser abandonados agora, considerando-se tudo.
– Mudei de idéia sobre o passeio noturno. – ela disse. – Vou juntar minhas coisas e voltar para casa.
A ponta brilhante do cigarro caiu no chão. Desapareceu segundos depois, Anne supôs debaixo da bota dele.
- Não precisa ir... sem.
O que ele quis dizer com isso? Anne procurou por suas roupas na escuridão. Quando se endireitou, ela o sentiu às suas costas. O calor dele penetrou em sua pele gelada. Ele passou os cabelos dela por sobre um dos ombros.
- Seu amante vai ficar dolorosamente desapontado.
A familiaridade dele para com ela a impressionou, ou Anne supôs que essa era a razão por se ver enraizada no lugar.
– Não me importa nem um pouco. – ela conseguiu dizer, sua voz sem fôlego.
De forma bem suave os lábios dele esfregaram o lado de seu pescoço.
- Então não importa para mim também, pequena.
Um calafrio percorreu a espinha dela. Seu rosto se inflamou.
– O que você pensa que está fazendo? – ela perguntou, sua voz mais firme.
- Eu não penso que estou fazendo nada. – ele respondeu. – Eu sei o que estou fazendo.
Ele a puxou contra ele. Chocada, Anne derrubou as roupas que estava segurando. O corpo dele ele duro... inteirinho. Ele era mais alto do que ela; isso ela podia julgar. Mais alto. Maior. Mais forte.
- Insisto em que me solte nesse instante. – ela o advertiu. – Não sou do tipo que... – Anne abruptamente parou de falar. Ela disse a ele que era uma criada, não o corrigiu quando ele presumiu que ela estava saindo para encontrar seu amante. Ela mentira para ele. O que devia fazer agora?
- Você sabe quão doce é o seu cheiro?
A profundidade da voz dele fez com que os pêlos de seu braço se levantassem. Anne nunca ouvira uma voz como a dele. Profunda, mas suave, rítmica. Era hipnótica.
- Fico imaginando se você também tem um gosto tão bom.
Vagarosamente as mãos dele subiram em direção às costelas dela. Anne engoliu audivelmente, mas novamente não lutou. Ela não tinha certeza se tinha sido hipnotizada ou estava congelada de medo. As mãos dele pararam logo abaixo do volume dos seus seios. Um segundo depois ele os agarrou firmemente. Anne ofegou. Nenhum homem ousara tocá-la com intimidade antes. Ela virou a cabeça para protestar, mas ele capturou sua boca antes dela conseguir falar qualquer coisa. Enquanto a boca dele audaciosamente reclamava a dela, o cheiro dele a atingiu quase tão fisicamente quanto seu toque.
Era um cheiro físico, de musk, masculino, hipnotizante. O cheiro encheu a cabeça dela com visões de corpos nus entrelaçados sobre lençóis amarrotados – de pele lisa de suor e sussurros calmos. Ela gemeu maciamente contra os lábios dele, e sem se separarem, ele a virou de frente para ele. A boca dele pressionou a dela até que ela se abriu para ele. Então a língua dele deslizou para dentro.
Anna nunca havia sentido a língua de um homem dentro de sua boca e se qualquer pessoa lhe dissesse que os homens tinham o costume de fazer tal coisa, ela teria pensado que isso era nojento. Mas não era nojento. A lenta invasão a deixou sem fôlego. Ele tinha gosto de menta e um traço de tabaco. O cheiro dele obscureceu sua mente assim como a boca dele trabalhou contra ela e mexeu com sentimentos que ela nunca havia sentido antes. O que estava acontecendo com ela? Por que ela não o afastava? O mordia, fizesse o que fosse preciso para se livrar dele? Por que ela não queria fazer isso?
- Por favor! – ela murmurou.
- Por favor, o que? Faça isso? – Ele parou de beijá-la tempo suficiente para pressionar sua boca quente contra a orelha dela e mordiscar o lóbulo. Seus polegares esfregavam os mamilos dela e enviavam choques que chegavam até ao centro de sua feminilidade. Os joelhos dela tremiam embaixo das anáguas. Ela sentia dor em lugares que não deviam doer. Nada disso devia estar acontecendo.
O pecado viera morar em seu estábulo e Anne estava permitindo que ele brincasse com ela. Ela queria fazer algo ousado essa noite, mas nunca imaginara isso. Ela sacudiu a cabeça tentando clarear a mente. Era como se ele tivesse lançado um feitiço sobre ela e ela não conseguisse se libertar. Mas ela precisava.
- Você está tomando liberdades. – ela conseguiu dizer, e graças a Deus sua voz soou mais forte.
- Eu tomo o que posso. – ele argumentou. – Tomo o que você me der e lhe darei tudo o que desejar em troca.
Foi preciso mais força do que tinha para que Anne se afastasse dele. As mãos dele liberaram os seios dela, e ainda assim eles latejavam por causa do toque dele.
– E o que você tem para me dar? – ela perguntou, sua voz muito esnobe para ser a de uma criada. Era, de fato, um tom que Anne nunca usara. Ela não era do tipo que esnobava os criados.
O homem se aproximou e a puxou de volta para os braços dele.
– O suficiente para satisfazer uma ladrazinha que tinha um encontro noturno com seu amante. O suficiente para apostar que você voltará para mais uma sessão amanhã à noite.
Os lábios dele pressionaram os dela, e inocente ou não, Anne pensou ter entendido o que ele lhe oferecera. Ela entendeu também que o que ele lhe oferecera era demais. Criada por uma noite e ela já fora atacada e beijada pela primeira vez na vida, tocada em locais em que nenhum outro homem ousara tocá-la, e lhe prometeram algo que ela não tinha idéia se alguma mulher deveria ou poderia querer. Pelo menos Anne achava que sabia o que ele lhe oferecera.
- Novamente, o que é que você está pensando em me dar? – ela perguntou, encarando-o, embora não conseguisse enxergar nenhuma feição do rosto dele.
Ele se curvou sobre ela.
– Prazer além de sua mais selvagem imaginação. Você queria uma cavalgada noturna. Eu lhe darei uma da qual você não se esquecerá.
Quando ela engoliu, Anne ficou muito envergonhada ao ouvir o barulho seco que soou no silêncio. Nenhum outro homem ousara falar com ela em tais termos.
– Você é arrogante. – ela disse.
- Apenas confiante. – ele argumentou. – Há um bom colchão de palhas no palheiro lá em cima. – Ele passou a boca pelo pescoço dela e ela estremeceu. – Venha comigo.
Anne tinha bancado a má por tempo demais. Mas ela não conseguia pensar quando ele estava tão perto, quando ele exalava esse cheiro intoxicante, quando ele sussurrava palavras em orelha dela. Ela percebeu que ela queira ir ao palheiro com ele. O que quer que fosse que ele estivesse fazendo com ela, ela queria mais. Mas Anne não era uma criada de verdade, ela era uma jovem dama, e ela estava quase cometendo um erro que poderia arruinar o resto de sua vida. Ela encontrou o bom senso de se afastar dele e deu um passo para trás.
- Tenho de voltar para casa. Talvez alguma outra criada apareça daqui a pouco e você possa tentar a sorte com ela.
Ele a puxou de volta para seus braços.
– Não quero nenhuma outra. Ela não seria tão linda quanto você o é para mim. Ou teria um cheiro tão doce, ou um gosto tão bom, ou incendiaria minha fome como nenhuma mulher conseguiu antes.
Anne já havia recebido elogios de homens, mas nunca um tão audacioso. Esse homem estava obviamente tentado seduzi-la. E estava conseguindo. Ela estava muito perto da rendição. Sua vontade, geralmente tão forte para seu próprio bem, parecia derreter nos braços dele. Isso era ridículo e ela já levara o jogo longe demais.
- Se você não se afastar e permitir que eu saia, eu vou gritar. – ela disse.
O homem retrocedeu tão de súbito que ela tremeu pela falta do calor dele. Os olhos dela tinham acostumado o suficiente com a escuridão para perceber a brancura da camisa dele. Ele parecia estar apoiado contra uma baia.
- Não precisa gritar, pequena. Nunca pretendi mantê-la contra sua vontade. Pensei que estava procurando divertimento. Apenas pensei em providenciá-lo
Algo no modo preguiçoso dele, na calma que ele demonstrava quando seus nervos estavam estirados, seus sentidos mais aumentados do que já estiveram na vida a enervaram enormemente.
– Você é muito prestativo. – ela atacou, e sentiu uma irracional invasão de ciúme. Ciúme de si mesma? Ela estava confusa e precisava fugir do demônio e de seu cheiro intoxicante.
Rapidamente Anne se abaixou e recuperou suas coisas.
– Você cuida do cavalo – ela instruiu automaticamente, então percebeu que seu tom era o de uma pessoa acostumada a dar ordens e fazer com que fossem cumpridas. – Quer dizer, por favor – ela acrescentou. – eu coloquei o freio nela.
Os dentes dele brilharam brancos na escuridão.
– Eu cuido dela. – ele disse. – E estou pensando que em outra noite, eu cuidarei de você também.
Ela queria discutir o assunto com ele, mas Anne já havia falado muito na presença dele. Ele poderia não reconhecer seu rosto à luz do dia, mas se ela continuasse a conversar com ele, ele poderia reconhecer sua voz.
Por mais que ela quisesse se apressar, manter a cabeça alta como se a última observação dele não a afetasse, Anne não tinha escolha a não ser se movimentar vagarosamente através da escuridão do estábulo. Ela sentia os olhos dele observando-a. Bom Deus, quem era esse homem que conseguia tão facilmente fazer com que a mente de uma mulher se transformasse em mingau com nada além do som de sua voz, o toque de seus lábios e seu cheiro estranho? Ela tinha pena das pobres criadas que certamente cruzariam o caminho dele nos dias por vir...ou será que “pena” era a palavra certa?
Anne chegou até a porta sem cair de cara no chão e se apressou para fora. Ela precisava de ar fresco para clarear sua cabeça. Ela sentia picadas na nuca e soube que ele ainda a estava observando. A tentação de se virar e olhar para ele na luz do luar quase a venceu. Se ela visse as feições dele, então ele também seria capaz de ver as dela.
Amanhã Anne tinha de fingir que nunca havia visto o homem que quase a seduzira essa noite. Fingir que nunca sentira a boca dele se movendo contra a dela, o roçar dos dedos dele sobre sua pele, que nunca ouvira o som de sua voz enrouquecida. Essa noite ela contara sua primeira mentira. Anne supôs que amanhã ela teria que tentar atuar.
Era cedo na manhã seguinte quando Anne o encontrou. Os olhos dela estavam inchados por não ter dormido. Ela ficou acordada por muito tempo pensando nele quando chegou à segurança de sua cama. Os lábios dela estavam inchados também e ela sabia o motivo. Perdida em pensamentos, ela estava calmamente sentada tomando o café da manhã com seus tios quando um estranho entrou na sala. Anne nunca vira o homem, mas o reconheceu instantaneamente.
Suas narinas se alargaram, seu coração falhou uma batida e os cabelos em sua nuca se eriçaram. O homem não olhou em sua direção, mas passou por ela indo em direção do tio.
- O senhor mandou me chamar, milorde?
O tio dela limpou a boca no guardanapo.
– Sim. Pensei que devia conhecer minha sobrinha. Ela freqüenta o estábulo muito mais do que a Condessa e eu achamos adequado, mas por ela assim o fazer decidi providenciar uma apresentação. Você deve saber quem ela é e como deve ser tratada quando visitar o estábulo para cavalgar.
O novo cavalariço chefe inclinou a cabeça. Era uma cabeça escura. Seus cabelos eram tão negros como uma noite sem luar. Chegavam aos ombros e eram grossos e enrolados ao redor do colarinho. Seus cílios eram igualmente negros e grossos, encobrindo os olhos dele até que ele olhou na direção dela. Anne se esqueceu de respirar. Ele a prendeu com gelados olhos azuis e ela não conseguia formar qualquer pensamento. Ele a encarou e ela, sem saída, o encarou de volta.
Vagarosamente, o resto de suas feições foi entrando em foco. Alta maçã do rosto, mandíbula esculpida, sulcos ao redor da boca...uma boca moldada por uma mão gentil quando nada mais em sua aparência dava pista de qualquer ternura. Ele era grande e largo e lindo. E por um momento, ela pensou que já o havia visto em algum lugar antes, mas sabia que não podia ser.
- Minha sobrinha, Lady Anne Baldwin. – a voz do tio conseguiu penetrar a nevoa em sua cabeça – Lady Anne, esse é o nosso novo cavalariço chefe, Merrick.
- Lady, - o cavalariço chefe disse suavemente.
Anne sabia que tinha de responder. Ela não podia chamá-lo pelo nome. Era muita intimidade.
– Senhor....? –ela deixou a voz morrer.
Os olhos dele nunca desviaram dela. – Apenas Merrick. Não tenho sobrenome. Nasci do lado errado do cobertor. A senhorita pode me chamar pelo nome de batismo.
Ela simplesmente concordou com a cabeça, mas se recusou a fazê-lo.
- Eu lhe direi o que digo a todos os que trabalham para mim. – o tio dela interrompeu. – Você deve tratar minha sobrinha com o maior respeito. Ela passa muito tempo cavalgando e se escondendo no estábulo quando sabe que sua tia e eu não necessariamente aprovamos o gosto dela por tais coisas. Nós cedemos aos desejos dela aqui no campo onde isso não faz muita diferença. Mas estando no comando, eu espero que você a vigie, e é claro que mantenha a devida distância entre vocês enquanto o estiver fazendo.
- Tio! – Anne estava envergonhada pelas instruções dele e por sua rudeza na frente dela.
Ele ergueu a mão. – Um homem deve saber seu lugar, Anne. Algumas vezes um homem deve ser posto em seu lugar para que não se esqueça disso.
- Realmente, querido – tia Claire perturbou. – Você precisa envergonhar a menina logo pela manhã? Estou certa de que nosso novo homem sabe muito bem o lugar dele, não é, Merrick?
Como se relutasse, o olhar do cavalariço chefe se desviou de Anne para sua tia. – Já fui colocado em meu lugar vezes o suficiente para conhecê-lo, milady. – ele disse.
- Interessante. – o olhar de tia Claire o percorreu. – Você tem um nome inglês e um sotaque escocês.
- Minha mãe era escocesa. – ele explicou. – Cresci ouvindo-a falar, então naturalmente falo como ela. Quem quer que fosse meu pai, ele pediu a ela para me dar um nome inglês. Não o dele, veja bem, qualquer que fosse, mas um nome de batismo inglês.
- Isso é tudo, Merrick. – o tio de Anne cortou, dispensando o homem. – Minha sobrinha cavalga todas as manhãs às dez horas em ponto. O cavalo dela é a égua baia na cocheira cinco. Certifique-se de que o cavalo esteja pronto para Lady Anne.
Anne não poderia cavalgar essa manhã. Estava fora de questão. Ela precisava de tempo para se recompor. – Não vou cavalgar hoje. – ela revelou. – Não estou me sentindo bem. – ela explicou a tia e ao tio, que a olharam surpresos por sua declaração.
- Gostaria de ter uma palavra com sua criada.
Os olhos de Anne se voltaram na direção do novo cavalariço chefe. – O que?
- Sua criada – ele repetiu. – Gostaria de conversar com ela.
- A velha Berta? – Tia Claire franziu a testa. – Por que motivo você gostaria de falar com ela? Não que ela provavelmente conseguisse ouvir metade do que você dissesse. Ela está ficando completamente surda com o avanço da idade.
O novo cavalariço chefe não pareceu surpreso. Ele sabia. Anne suspeitava de que ele soubesse o tempo todo. Mas como era possível? Ele não poderia tê-la visto noite passada. Ela não conseguira vê-lo na escuridão.
- Deixe para lá, então. – ele disse. – Presumi que a dama levasse a criada para cavalgar com ela e pretendia perguntar a mulher qual cavalo ela gostaria de usar, mas se a senhora é velha...
- Você cavalgará com minha sobrinha. – o tio dela instruiu. – Pelo menos até que eu escolha um cavalariço mais adequado. O velho cavalariço dela não está mais conosco. Cavalgue com Lady Anne, mas a uma distância apropriada atrás dela, é claro.
- É claro. – ele disse, e Anne notou uma ponta de sarcasmo atrás de sua expressão fria. Ele era da classe trabalhadora. Mas não gostava disso. Nenhum pouco.
- Isso é tudo, milorde? – ele perguntou ao tio dela.
- Está dispensado. – Tio Theodore respondeu, retornando ao café da manhã. – Não se esqueça de minhas instruções com relação à jovem égua cinza.
O cavalariço chefe se virou para sair. Anne tinha curiosidade sobre tudo o que acontecia no estábulo. A jovem égua cinza era particularmente uma de suas favoritas, embora pertencesse ao tio. – O que tem a égua cinza?
Merrick, como ele a instruíra chamá-lo, hesitou olhando na direção do tio dela. – Esse assunto não diz respeito a ela. – ele disse ao homem. – Vá agora tratar de seus assuntos, ou melhor, dos meus assuntos – o tio dela disso com uma risada.
O bom humor do tio Theodoro falhou em arrancar um sorriso de Merrick, e Anne se pegou perguntando como seria a aparência dele quando sorrisse. Suavizaria as linhas duras de seu rosto? Merrick saiu da sala e ela o seguiu com os olhos até perceber o interesse da tia. Anne corou e suavemente voltou sua atenção ao café da manhã.
- Ele é muito bonito, seu novo cavalariço chefe, querido. – tia Claire comentou. – Não estou certa de ser uma escolha sábia quando ainda temos uma mulher jovem e bonita debaixo de nosso teto. É como colocar a raposa para tomar conta do galinheiro.
Anne se incomodou um pouco pela tia ter se referido a Blackthorn Manor como pertencente a seus guardiões. A casa pertencera à mãe de Anne e Blackthorn Manor juntamente com uma enorme herança proveniente da linhagem materna viria para Anne quando ela fizesse vinte e um anos. Ainda assim, ela não disse nada. Anne estava certa de que fora um descuido.
Tio Theodoro herdara o título do pai de Anne, mas seu pai havia sido um conde “nu”, já que ele não tinha nenhuma propriedade vinculada a seu condado. Fora a mãe de Anne que se casara abaixo dela. Um casamento por amor. Por não ter irmãos ou parentes do sexo masculino vivos pelo lado materno, o filho de Anne, se ela algum dia tivesse um, se tornaria um Marquês.
Tio Theodore acenou com a mão. – Uma vez que as galinhas se comportem, assim também o fará a raposa. – Ele olhou para cima, trocando um olhar peculiar com sua esposa que Anne teve dificuldade de interpretar. Um aviso?
Um silêncio desconfortável se instalou à mesa. Anne ainda estava curiosa em saber sobre a jovem égua e imaginou que seu tio poderia ficar mais falante agora que o cavalariço chefe se retirara. – Quais são seus planos para a jovem égua? – ela se aventurou novamente.
- Essa não é uma conversa adequada para uma jovem dama. – ele disse, franzindo a testa para ela. – Não é da sua conta, sobrinha.
- Sim, tio. – Anne respondeu obedientemente, embora a recusa dele em discutir o assunto apenas a deixasse mais curiosa. Talvez ela tivesse se apressado em sua decisão de ficar trancada em casa essa manhã. O cavalariço chefe sabia dos planos que seu tio tinha para a égua cinza. Se ela perguntasse, ele teria de responder, não teria?
- Posso me retirar? – ela perguntou. – Talvez um curto descanso agora pela manhã faça com que me sinta um pouco melhor.
- Sim, é claro que você deve ir deitar-se um pouquinho. – a tia disse, batendo na mão de Anne de forma distraída, uma resposta educada ao invés de uma que demonstrasse sentimentos. Ela tentou não ficar ressentida. Seus tios se tornaram seus guardiões quando os pais dela contraíram uma febre no exterior e ambos morreram, deixando-a órfã aos dez anos. Mas ela nunca mais se sentiu verdadeiramente amada, não como os pais a haviam amado. Seus tios estavam com ela em Blackthorn Manor quando a notícia sobre a morte dos pais dela chegou. Eles simplesmente ficaram.
Seu pai e seu tio eram irmãos. Não havia mais ninguém que pudesse acolher Anne, e talvez se houvesse, ela pelo menos poderia saber que seus tios escolheram criá-la por que desejavam isso, não porque precisaram fazê-lo. Anne pediu licença, levantou-se da mesa e subiu para seu quarto.
A velha Berta estava cochilando numa cadeira e roncando suavemente. O traje de montaria de Anne havia sido colocado na cama. Ela não podia evitar o novo cavalariço chefe para sempre. Além do mais, ela queria perguntar-lhe sobre os planos que o tio tinha para a jovem égua cinza.
Merrick sentiu o doce cheiro de Lady Anne antes mesmo de vê-la. Ele tinha um dom para cheiros e para visão. Sempre os tivera, mas ele obviamente não podia ler a mente de uma dama, pois a chegada súbita dela o surpreendeu. Ele estava parado diante da baia da jovem égua cinza pensando que seu novo patrão era um homem ignorante que não merecia os belos cavalos que possuía. Ele se virou e viu Lady Anne na entrada do estábulo. Ela estava vestida para montar.
- Mudou de idéia?
Era uma pergunta que poderia ter dois significados, e pelo leve rubor dela ele percebeu que ela era inteligente.
- Sim, decidi que devo cavalgar essa manhã. - ela afirmou, entrando no interior mal iluminado do estábulo. – Você selaria meu cavalo?
- É para isso que estou aqui. – Ele se afastou da baia da égua cinza. – Para atender a suas necessidades.
O rubor dela aumentou.
– Não é necessário que isso se torne desconfortável. Você cometeu um erro ontem à noite e nós devemos esquecer isso hoje e continuarmos em frente.
Merrick parou antes da cocheira da égua baia. Ele levantou uma sobrancelha.
– Eu cometi um erro? Não teria cometido se você não tivesse mentido para mim.
Mas mesmo isso era uma mentira. Tivesse Merrick sabido que ela era a sobrinha do patrão noite passada, ainda assim não teria parado. Ela era a mulher mais bonita que já vira. Merrick nunca havia reagido tão fortemente a uma mulher antes, fosse ela uma empregada ou uma dama bem nascida. Ele achava Lady Anne Baldwin irresistível.
Os cabelos dela eram da cor da rica cor do mel e quando soltos, como ela usara noite passada, eles cascateavam em ondas até a cintura fina. Seus olhos eram de um quente tom de marrom. Os cílios eram longos e grossos e sua pele pálida como um creme. Alguns poderiam considerar sua boca muito generosa, mas Merrick gostava dos lábios cheios e suculentos. Seu corpo era o sonho de qualquer homem. A dama não estava destinada a tipos como ele, mas isso não impedia que Merrick a desejasse.
- Foi errado eu ter mentido. – ela admitiu, mordendo o cheio lábio inferior. – Fique com medo que você contasse aos meus tios o que eu estava fazendo e eu sabia que eles não ficariam satisfeitos. Pensei que eles pudessem me proibir de vir ao estábulo e de cavalgar.
Julgando pelo que sabia dos tios dela, Merrick imaginou que eles não ficariam satisfeitos em saber dos atos dela noite passada, certamente não com os dele. – Então isso pode ser considerado nosso segredo. – Ele colocou os freios na égua, abriu a cocheira e conduziu a égua baia para fora. Ele olhou para Lady Anne, notando que seu queixo se levantou um pouco.
- Penso que isso seria mais vantajoso para você do que para mim.
Merrick reprimiu o desejo de revirar os olhos e parar na frente dela. – Não sou tão burro que não saiba disso. Não é necessário me ameaçar, pequena.
Anne não pretendia ter dito isso. Ela sempre se orgulhara de ser gentil com os outros, mesmo com aqueles de classe inferior – mesmo aqueles considerados párias entre a sociedade. Por que agora ela estava colocando esse homem em seu lugar? Por que se sentia ameaçada por ele? Seu olhar o percorreu e ela viu a resposta. Ele era perigoso. Ser má não era tão difícil afinal das contas. Era preciso somente ter o incentivo correto. O incentivo correto estava parado na frente dela agora, alto e lindo como o pecado, olhando para ela com os rebeldes olhos azuis.
- Não sou como eles. – ela insistiu. – Não sou uma esnobe.
O olhar dele a percorreu de cima a baixo. – Sim, você é. – ele disse. – Você apenas não sabe disso ainda.
Ela o observou conduzir Storm até a sala de selas e a amarrar. Anne estava tentando pensar em algo para dizer quando ele passou por ela, caminhou até o final do estábulo e retirou um garanhão preto com longas pernas de sua baia. Ela nunca vira o cavalo antes, e num instante esqueceu-se do seu mau humor com o cavalariço chefe.
- Ele é lindo. – ela suspirou. Anne amava cavalos e se considerava uma boa conhecedora sobre eles. O garanhão era feito para a velocidade. Sua cabeça era pequena, seu pescoço grosso e sua longa crina e rabo estavam bem cuidados.
- Ele é um ótimo cavalo – Merrick concordou, parando diante dela para que ela pudesse acariciar o pelo sedoso do animal. – Mas não tem pedigree. Peguei-o como potro selvagem e o domestiquei para mim. Não sei a linhagem dele, da mesma forma que não sei a minha. Somos ambos bastardos, acho.
Anne levantou uma sobrancelha. – Ele se ressente disso tanto quanto você?
Os olhos azuis se arregalaram de surpresa por um momento, como se ele não esperasse que ela fosse tão intuitiva. Então deu de ombros. – Não. – ele respondeu. – Mas ele é muito estúpido para perceber a diferença. Acho que ele é abençoado por isso.
Percebendo que o parentesco de Merrick era um assunto obviamente doloroso, Anne não fez mais nenhum comentário. Ao invés disso, ela observou enquanto ele continuava a selar Storm e o garanhão negro. Merrick se movia com uma graça que poucos homens, mesmo entre os de nível mais alto, possuíam. Calças pretas abraçavam seus quadris estreitos e suas pernas musculosas ao ponto da vulgaridade. Ele usava uma camisa branca, simples, mas limpa, aberta no pescoço, tão aberta de fato que ela viu uma parte de seu peito bronzeado e de pêlos negros. Por alguma razão, Anne achou isso indecente também. Ou talvez ela simplesmente reagisse a ele de forma imprópria.
A falta de brilho de suas botas de cano alto a relembrou de que ele pertencia à classe trabalhadora e não tinha um valete para cuidar delas durante a noite. O cabelo dele estava solto quando ele apareceu na casa durante o café da manhã, mas agora ele o prendera com uma fita negra. Ao fazer isso ele apenas acentuou as linhas esculpidas de seu rosto e destacou o azul de seus olhos. Ela tinha de admitir, nesse momento, que nunca vira um homem tão lindo como ele.
Apenas de olhar para ele parecia que ela tinha borboletas no estômago. O sangue corria pelas veias e respirar normalmente era difícil. Oh sim, ele era perigoso. Anne tinha de se policiar perto dele, o que era algo que ela nunca tivera de fazer antes.
- Eu lhe dou uma mãozinha. – Merrick disse, e ela percebeu que ela ainda estava encarando e os cavalos já estavam selados e prontos.
Lutando contra um rubor, ela caminhou até Storm onde ele a esperava. A sela de lado colocada sobre as costas da égua fez com que Anne franzisse a testa. Era um lembrete de que sua aventura noite passada não tinha incluído o sonho de cavalgar de pernas abertas como um homem. Seus pensamentos se dispersaram com a mão de Merrick circulando sua cintura. Elas eram quente mesmo através do leve traje de montaria. Ele a levantou para a sela como se ela não pesasse nada. Ele olhou para ela por um momento e seus olhares se fixaram. Foi preciso uma grande dose de força de vontade para que Anne desviasse os olhos.
Perturbada, ela conduziu seu cavalo ao redor do grande garanhão e saiu para o dia um tanto sombrio. Anne estava agradecida pelo ar fresco a reanimar. Ela desejava que Merrick não tivesse sido encarregado de acompanhá-la em suas cavalgadas. Ela temia que nada de bom acontecesse com os dois passando muito tempo juntos.
Tentando se concentrar na cavalgada e se esquecer de seu acompanhante, Anne tomou uma trilha familiar através dos campos ao redor do lado norte da mansão. O cheiro denso de terra e de ar limpo sempre a faziam se sentir melhor. Anne era uma garota do campo no coração, embora conseguisse se sentir bem também na cidade.
- Quais são os planos de meu tio para a jovem égua cinza? – ela falou por sobre os ombros, esperando que Merrick a estivesse seguindo a uma distância discreta como fora ordenado a fazer.
- Lembro-me de ouvir seu tio dizer que não era da sua conta.
Ela se virou para encontrar Merrick ao lado dela. Não a surpreendeu que ele não tivesse seguido as instruções do tio dela. Anne suspeitava que Merrick raramente seguisse as regras de alguém, a não ser as próprias.
- Como meu tio disse, eu tenho muita afeição aos cavalos e ao estábulo. A jovem cinza tem linhas excelentes. Ele não vai vendê-la, não é?
Os lábios de Merrick subitamente se curvaram levemente nos cantos. – Não – ele respondeu. – Ela está no período dela. Ele quer cruzá-la.
Anne compreendeu por que seu to se recusou a discutir o assunto com ela. Tais coisas não eram discutidas na presença das damas. Sempre a avisaram para ficar longe dos estábulos na época da procriação. O novo cavalariço chefe parecia estar se divertindo ao dizer algo tão chocante na presença dela. Ela não daria a ele a satisfação de fazê-la corar novamente.
- Com qual garanhão? – ela perguntou. – Espero que não com Ascot, o grande alazão. Ele é muito robusto. Um potro gerado por ele provavelmente seria muito grande para a jovem égua parir. Eu pessoalmente escolheria Shadow, o garanhão cinza carvão. Ele é menor e a coloração combinaria, creio eu.
Quando Merrick não respondeu, ela olhou para ele. Os lábios dele ainda estavam curvados naquele modo perturbador que atraiam seu olhar para eles, mas os olhos dele brilhavam com um cintilar de respeito.
- Exatamente o que eu penso. – ele disse. – Contudo, seu tio não me parece o tipo de homem que aprecie os meus conselhos, então não os oferecerei.
- É um direito seu, não é? – Anne perguntou. – Aconselhá-lo em tais assuntos? Pensei que fosse esse o motivo por ele tê-lo contratado para dirigir seu estábulo.
Ele riu e ela viu um brilho de seus dentes brancos novamente. – Ele me contratou para dizer que tem o melhor. Ele gosta do melhor, seu tio. Sua tia também, eu acho.
Agora ele tinha passado dos limites. Anne enfureceu-se. Seus tios sempre exigiam o melhor de tudo, mas isso estava fora de questão.
- Esse não é um assunto com o qual está familiarizado e você deve evitar fingir que esteja. – ela censurou. – E você supostamente não devia estar cavalgando a uma distância apropriada atrás de mim?
O sorriso desapareceu dos lábios dele. – Quando tiver me familiarizado com a trilha, então cavalgarei discretamente atrás de você, milady. Se for esse seu desejo. – ele acrescentou, como se o assunto estivesse em questão.
- Por que não seria? – Anne acrescentou defensivamente.
- Nunca disse que seria. – ele argumentou.
- Você fica imaginando muitas coisas – ela bufou de raiva. – Você não deve presumir que me conhece ou que sabe o que eu desejo ou não simplesmente porque cometeu um erro noite passada.
Ele arqueou uma sobrancelha escura. – Esta me dizendo que você não cometeu nenhum erro? Talvez não tenha se importado tanto em me ter me passado uma idéia errada.
A facilidade com que ele a confundia fazia com que Anne sentisse uma irritação que normalmente era inexistente nela. Ao invés de discutir com ele, ela voltou sua atenção ao caminho, batendo com os saltos no flanco de Storm e partindo. Anne deixou que Storm vagasse, ambas familiarizadas com a trilha. Merrick a alcançou pouco depois.
Storm era rápida, mas Anne duvidava que ela pudesse ultrapassar o cavalo negro. O garanhão era maior e mais forte. Anne, contudo, sentava-se mais leve na sela. Ela estava sentindo a rebelião chegar novamente e pressionou Storm a um galope mais rápido. Em frente, a trilha se estreitava, deixando para trás os campos abertos e contornando através das árvores.
Anne supunha que não era um ato de boa educação a ser feito, forçar o homem a segui-la numa corrida perigosa através de uma trilha a que ele não estava familiarizado, mas ela suspeitava que poderia deixá-lo para trás com muita facilidade. Ele tinha de ser colocado em seu lugar... embora ela nunca tivesse sido o tipo que realmente pensasse em “lugares” e “colocar pessoas neles” antes.
Talvez ela apenas quisesse se exibir. Anne raramente tinha a oportunidade de exibir suas habilidades de amazona. As trilhas em Londres, Rotten Raw e as demais, eram enfadonhas para seus talentos. Um tora estava caída logo em frente na trilha e ela e a égua pularam com facilidade. Anne aprofundava seu caminho através da trilha na floresta, sempre consciente de que o cavalariço chefe e seu garanhão estavam colados na traseira de Storm.
Quando a trilha se alargou, Merrick estava subitamente ao lado dela. Em frente, a trilha se estreitava novamente e ela não podia deixá-lo passar na frente dela. Isso faria com ele fosse o condutor e ela a seguidora. Anne apressou Storm.
Merrick praguejou, então liberou as rédeas para permitir que o garanhão tivesse mais liberdade. O animal disparou para frente tão rapidamente que Anne se sentiu afundar. Sua égua não era páreo para a velocidade do garanhão. Aconteceu bem o que Anne queria evitar, Merrick passou a sua frente na trilha estreita e ela foi forçada a seguir ao invés de conduzir.
A trilha se alargou novamente e eles chegaram a uma campina. Ele diminuiu seu cavalo, e quando ela se colocou ao lado dele Merrick se aproximou e arrancou Anne da sela. Ela ficou tão assustada como o movimento que imediatamente lutou e quase foi para o chão. Um braço forte se colocou ao redor da sua cintura e ele facilmente fez com que o teimoso garanhão parasse. Merrick deixou que Anne deslizasse para o chão e desmontou rapidamente.
- O que pensa que está fazendo? – ela disse alto, pela segunda fez no espaço de poucas horas após estar na companhia dele.
Ele soltou as rédeas do freio do garanhão e a puxou a certa distancia do animal excitado.
– Estou fazendo meu trabalho. – Merrick gritou de volta. – Me certificando de que você não quebre seu lindo pescoço enquanto tenta se exibir para mim e me colocar em meu lugar.
- Eu sou uma amazona muito competente. – Anne se defendeu. – Pensei que tivesse percebido isso.
Merrick a encarou. Por apenas um momento seus olhos azuis se suavizaram sobre ela.
– Eu percebi. – ele disse. – Mas não vou deixar que se machuque no meu primeiro dia de serviço porque você quis me impressionar.
Já que ela meio que admitiu que estava tentando impressioná-lo, Anne não viu razão para negar tal fato.
– Eu o impressionei? – ela perguntou.
Um sorriso se formou no canto de sua boca sensual
– Você é uma amazona habilidosa. – ele admitiu. – Você tem um posicionamento adorável. Você teria me proporcionado uma corrida mais puxada se não fosse pela sela lateral. Ela pesa mais.
Anne olhou para seu cavalo, a égua tinha parado tão logo sua condutora não estava mais no controle da rédea para guiá-la.
– Eu odeio essa sela. – Anne admitiu, então corajosamente anunciou. – Gostaria de cavalgar com as pernas abertas, como um homem.
Ela esperava que sua declaração o chocasse. Até mesmo o velho Barton ficara chocado quando ela disse a mesma coisa com doze anos. Merrick simplesmente deu de ombros.
– Então por que não o faz?
É claro que ele não entenderia. Anne o esclareceria sobre o assunto.
– Não é considerado apropriado para uma dama cavalgar... cavalgar dessa maneira. – ela o informou. – Meus tios jamais permitiriam isso.
Merrick olhou ao redor pela clareira.
– Não estou vendo seus tios.
Anne chegou perigosamente perto de sorrir. Quão simples a vida dele devia ser comparada com a dela. Ela o invejava naquele momento. Anne passara grande parte de sua vida atenta a todas as regras da sociedade de modo a agradar seus tios. De modo a ganhar o amor deles.
- Meu antigo cavalariço, Barton, quase morreu de choque quando eu sugeri isso quando tinha doze anos. – Lembrar-se de Barton trouxe-lhe lágrimas aos olhos. Anne tinha sido muito apegada a ele. – Ele morreu mês passado. Sinto saudades dele.
Merrick colocou seu dedo debaixo do queixo dela e a forçou a olhar para ele. Os olhos dele tinham uma expressão tão suave que derreteu seu coração. Fez com que ela baixasse a guarda – relembrando-a do poder que ele tivera sobre ela noite passada. Anne se afastou e piscou para afastar as lágrimas.
- Você deve pensar que sou uma boba. – ela disse, caminhando na direção de Storm para agarrar as rédeas caídas da égua.
- Não sei o que pensar. – ela o ouviu dizer a suas costas. – E eu geralmente sei sem hesitação.
Anne decidiu aqui e agora que devia reprimir seus sentimentos incontroláveis por um homem que ela mal conhecia. Seria muito melhor se eles fossem simplesmente amigos. Ela respirou fundo e se voltou para encarar Merrick.
- Podemos recomeçar? – ela perguntou. – Sinto como se tivéssemos começado com o pé esquerdo um com o outro.
Por alguma razão, sua sugestão o fez rir. Não um sorriso genuíno, mas um sorriso forçado.
– Você acha que pode me manter afastado com uma oferta de amizade? Você acha que isso vai me fazer esquecer seu toque, seu cheiro, seu gosto?
Calor explodiu em seu rosto e percorreu todo seu corpo. Anne nunca conhecera um homem que não pudesse domar com uma amostra de boas maneiras e uma oferta de amizade. Mas ela sentia que esse homem era diferente de todos os que conhecera antes.
– Acredito que teve a impressão errada a meu respeito.
Ele caminhou vagarosamente na direção dela.
– Aí é que você se engana, pequena. Penso que posso conhecê-la mais do que você mesma.
Quando Anne olhou para ele, tentou aparentar tão calma como ele se mostrava perante ela.
– O que quer dizer com isso?
A suavidade voltou aos olhos dele e Anne pensou que somente essa expressão poderia ser mais perigosa do que o cheiro que ele exalava noite passada no estábulo.
- Você anseia ser algo que não é. Eu entendo isso muito bem. Você deseja coisas que não pode ter. Eu entendo isso, também. Você quer cavalgar seu cavalo com as pernas abertas como um homem, à meia noite, vestindo apenas suas roupas intimas. Do que você está fugindo, Lady Anne? Ou você está correndo na esperança de encontrar o que quer que esteja faltando em sua vida?
O homem não tinha o direito de lhe fazer perguntas tão pessoais. Ele não tinha o direito de supor tanto sobre ela. E maldito seja, ele não tinha o direito de conhecê-la melhor do que ela mesma, bem como ele afirmara. Essa intimidade entre eles tinha de acabar.
- Quero voltar agora. – ela disse com rigor. Anne se virou para montar em seu cavalo. Merrick estava às suas costas num instante. Suas mãos se fecharam na cintura dela.
- Ainda não. – ele disse. – Não até que pelo menos um de nós consiga algo que deseja.
Anne se virou rapidamente para encará-lo, quase colidindo com ele, pois ele estava muito próximo. Os olhos dela passaram pelos pêlos escuros que a provocavam através do colarinho aberto, subiram pelos ombros largos, pelos pêlos de barba que cobriam seu queixo e rosto até os gelados olhos azuis, mas não, eles não estavam frios. O calor voltara neles. O olhar dele desceu até os lábios dela e eles se abriram como se ele tivesse ordenado isso. Ele a beijaria novamente? O que era aquele algo que ele queria? E importava o que ela queria? Ou ela queria a mesma coisa?
Ele levantou uma mão, quase tocando seus cabelos, então rapidamente a retirou.
– Você queria montar de pernas abertas como um homem, e hoje você vai.
Merrick se afastou dela e se dirigiu até seu garanhão. Ele desencilhou o cavalo rapidamente enquanto ela ficou parada cambaleando pelo ataque da proximidade dele, seus lábios formigando pela antecipação de um beijo que não aconteceu.
- Você vai fazer isso dessa vez, não é? – ele perguntou enquanto carregava a sela para a montaria dela e colocando-a no chão. – Odiaria ter todo esse trabalho apenas para que você escapulisse e fugisse como fez noite passada.
Um brilho de provocação surgiu nos olhos dele, mas Anne não o achou engraçado. Ter ficado noite passada estava fora de questão. Sem dizer no que poderia ter acontecido se ela não tivesse recuperado o bom senso e fugido para a segurança da casa. E sem dizer em como ela frequentemente se perguntava exatamente o que teria se passado entre eles se ela não tivesse escapado quando o fez.
- Eu cavalgarei com as pernas abertas. – ela lhe garantiu.
Ele não comentou, mas tirou a sela de Storm, então colocou na égua a leve sela Inglesa que ele usara no garanhão. Merrick ajustou os estribos e então se voltou para ela.
- Pode montar.
Anne olhou para o próprio vestido.
– Desejaria estar com calças masculinas. E botas altas como a que está usando.
Ele colocou as mãos sobre o coração.
– Eu poderia não sobreviver a tal visão. Você tem pernas adoráveis, pequena.
Ela combateu um novo rubor. Merrick teria visto as pernas dela? E como ele teria conseguido ver qualquer coisa quando ela não pudera ver mais do que a silhueta dele na escuridão? Ele não poderia, ela garantiu a si mesma.
- Não estou bem certa de como proceder. – Anne tentou mudar de assunto. Apenas para ter de trazê-lo de novo à tona quando olhou significativamente para a saia de seu vestido de montaria.
Merrick fez com que ela se aproximasse com um aceno de cabeça.
– Venha, eu a ajudo a subir, então você terá de se virar com o resto.
- E você não contará nada a minha tia ou a meu tio sobre isso? – Anne queria garantias.
- Você tem a minha palavra.
Por alguma razão, Anne acreditou nele, teve certeza de que podia contar com a palavra dele. Por que, ela não fazia idéia. Talvez o homem realmente tivesse lançado um feitiço sobre ela. Ela permitiu que ele a ajudasse a erguer a perna. Para sentar de pernas abertas sobre a sela, ela teve de dobrar sua saia ao redor dos joelhos. Isso deixou suas panturrilhas cobertas pelas meias expostas aos olhos dele, mas ela esperava que ele não olhasse. Ele olhou.
- Muito bom. – ele disse. – Bem como eu me lembrava.
Ignorando-o, Anne fez com que Storm se movimentasse, estranhando no inicio a posição com as pernas abertas sobre o cavalo. Levou apenas alguns passos para Anne se tornar corajosa e colocar o cavalo em trote. A sensação era estranha, para dizer o mínimo. Anne decidiu que um galope seria menos perturbador e logo ela estava no caminho, percorrendo-o cavalgando com as pernas separadas e percebendo o quão cruel era fazer as mulheres cavalgarem com as selas laterais.
Ela riu alto com a absoluta liberdade que sentia, olhou para trás e viu Merrick cavalgando sem sela atrás dela. Ele parecia um bárbaro e o coração dela deu um estranho salto dentro do peito.
- Então o que você acha? – Merrick perguntou, rapidamente a alcançando.
- É maravilhoso. – ela respondeu. – É dessa maneira que se deve conduzir os cavalos. Acho que nunca mais vou querer cavalgar com a sela lateral novamente.
- E quanto a cavalgar em seus trajes íntimos, sem sela, à meia noite, pelas charnecas? Ainda é corajosa o suficiente para fazer isso?
Anne diminuiu a velocidade. Estaria Merrick provocando-a?
– Não com um acompanhante. – ela garantiu a ele.
Ele sorriu em resposta. Durante o café da manhã Anne se perguntou como seria vê-lo sorrindo. Ela decidiu que era melhor não saber. Ele tinha um sorriso que poderia derreter uma geleira.
- Você o faria se tivesse um par de calças de homem e botas?
Ela ergueu uma sobrancelha.
– E onde eu conseguiria isso?
Ele deu de ombros.
– Eu posso consegui-los para você. O rapaz que varre as baias, Brennan, ele não é muito maior do que você.
O que Merrick disse era verdade. O garoto que ajudava no estábulo tinha apenas dez anos, mas era alto para a idade. E Anne supunha que os pés dele ainda eram pequenos. Ela ousaria? Ela quisera ousar noite passada. Mas noite passada se provou um erro, e ela tinha a sensação de que se encontrar como o novo cavalariço chefe na calada da noite para uma cavalgada noturna seria outro.
- Posso ir sozinha?
Ele sacudiu a cabeça morena.
– Não posso permitir isso. Você pode ir se me deixar ir com você, para tomar conta de você.
A sugestão dele a irritou. Se seus tios não eram pessoas particularmente afetuosas para com ela, eles sempre fizeram questão que ela sempre estivesse bem acompanhada durante toda sua vida. Ela queria a liberdade de cavalgar sozinha.
- Não preciso que tomem conta de mim. – ela disse. – Sou uma mulher adulta e, como você mesmo disse, uma amazona habilidosa.
Merrick se inclinou para frente na sela e coçou o queixo.
– Você já cavalgou sem sela, então?
Anne franziu a testa.
– Bem, não, mas...
- Quando eu sentir que você sabe o que está fazendo, então você poderá ir sozinha e eu guardarei seu segredo.
Anne não era uma pessoa de natureza desconfiada. Mas já não era tão inocente como no dia anterior. – Por que você está fazendo isso? – ela perguntou.
Ele olhou para ela e piscou. – Para ver você de calças, é claro.
Ela não tinha idéia se ele a estava provocando. Considerando o que acontecera entre eles noite passada, ela pensou que devia perguntar. – Você não vai tentar fazer algo como fez na noite passada, vai?
Merrick deu de ombros. – Provavelmente. É de minha natureza agarrar as jovenzinhas que tropeçam em meu caminho durante a noite. – A expressão dele era perfeitamente séria.
- Então não devo aceitar.
A expressão séria que ele mostrava desapareceu e ele a surpreendeu com uma gargalhada. Anne não se importou por ele estar rindo dela.
- O que é tão engraçado? – ela perguntou com rigor.
Ele puxou as rédeas e parou o cavalo. Anne fez o mesmo. – Noite passada não sabia quem você era. Hoje eu sei. Isso muda tudo, pequena.
Anne ignorou a leve ferroada que sentiu em seu ego. – Você disse que não se esqueceria. – ela o relembrou.
O calor ganhou vida nos olhos dele enquanto ele a encarava. – Oh, com certeza não esquecerei. Mas uma criada procurando diversão com seu amante e uma dama que apenas queria uma cavalgada noturna sobre seu cavalo são duas coisas diferente. Você está segura comigo... acho.
Foi esse pensamente posterior que fez com que Anne ficasse nervosa. Mas esse temor foi facilmente sobrepujado pela chance de fazer algo que ela queria fazer a tanto tempo. Era uma chance que ela poderia nunca mais ter.
- Tudo bem. – ela disse. – Encontre-me à meia noite no estábulo. Tenha as roupas com você.
Merrick teve de se perguntar se ele deu férias ao bom senso. Fazer ofertas, manter segredos, ficar muito próximo de uma mulher a quem ele não tinha o direito de chegar perto. Lady Anne era uma dama decente. Ele era um bastardo, um cavalariço chefe que tinha um bom salário para sustentar uma mulher comum, mas não uma grande dama como a sobrinha de seu empregador. Não que Merrick estivesse pensando em se casar com a tentadora Lady Anne, mas ele estava certamente pensando em levá-la para a cama.
Ele conseguira as roupas, pagou ao menino do estábulo uma moeda por elas e pela promessa de que ele não perguntaria para que o novo cavalariço chefe precisava delas. Ele estava com os cavalos selados e prontos. Ele tinha tudo, menos um cérebro em sua cabeça. Ele quase esperava que ela não aparecesse. Seria melhor para os dois se ela recuperasse o bom senso e decidisse que ele não era um homem a quem deveria confiar nem seus segredos, nem sua virtude. Ela provavelmente estaria certa ao pensar isso, embora ele sempre tentasse ser um homem de palavra antes.
Havia muito pouco na vida que Merrick levava além de sua palavra e sua habilidade com cavalos. Ele se recordava de ter dado sua palavra para outra mulher. Sua mãe em seu leito de morte. Ela pedira que ele não saísse procurando pelo passado. Ela pediu que ele se contentasse com o que recebera da vida. Não sonhar com coisas além de seu alcance. E Merrick prometera.
Agora ele estava correndo atrás de uma mulher de quem não tinha o direito de correr atrás. Merrick e Lady Anne eram diferentes como a noite e o dia. Merrick era, de fato, diferente de qualquer homem que conhecera. Ele tinha habilidades estranhas que nem mesmo sua mãe sabia. Ele tinha seus segredos mesmo se escolhesse não reconhecer suas diferenças na maioria das vezes. Ele não compreendia seus “dons” ou por que ele os possuía. Ele não estava certo de serem dons. Talvez, ao invés disso, eles fossem uma maldição.
Embora sua mente lhe dissesse que seria melhor Lady Anne não aparecer essa noite no estábulo, Merrick vigiava a porta para ver se ela estava vindo. Ele a queria para ele, e ao fazer isso estava descumprindo a palavra dada a sua mãe. Ele queria tudo o que prometera a ela não querer. Bem lá no fundo, ele se ressentia de que seu sangue fosse de certa forma azul, mas ainda assim corria vermelho como o plebeu que era.
Sua mãe, que descansasse em paz, levara para o túmulo o nome de seu pai. Quem quer que tenha sido o homem, Merrick se ressentia muito com ele. Como um homem podia tratar uma criança como um segredo imundo? Como um erro, facilmente ignorado e então esquecido? Enquanto o homem estava vivo, ele se certificara de Merrick e sua mãe tivessem de tudo, mas depois de sua morte, foi como se ele tivesse desejado enterrar seus segredos junto com ele. Merrick, apenas um jovem naquela época, e sua mãe foram subitamente forçados a aceitar qualquer serviço que aparecesse para conseguirem se sustentar. Ele achava que isso não fazia a menor diferença, mas ele ficava pensando se enquanto ele e sua mãe se esforçavam e passavam fome, em algum lugar, os filhos legítimos do homem estavam vivendo no maior luxo.
Os cavalos sempre foram uma coisa natural para Merrick. Ele conhecia uma boa linhagem quando via uma. Ele sabia qual égua cruzar com qual garanhão para conseguir um bom potro. Ele sabia cuidar dos animais, como mantê-los limpos, como cavalgá-los. Ele fez o próprio nome nessa profissão, ainda que não fosse a mais sublime das profissões e ainda que seu nome fosse apenas o primeiro nome. Ainda assim, ele havia aprendido a estar satisfeito... até a noite passada.
Ele sentiu o cheio de Lady Anne antes de ela chegar ao estábulo. Por que ela tinha de cheirar desse modo, como uma bala de goma, toda macia e açucarada e que derretia na boca? Por que ela tinha de ser como uma fina seda debaixo de suas mãos calejadas? Por que ela tinha de ter o gosto intoxicante do vinho, quente e úmido? Por que ela tinha de confiar na palavra dele quando seu corpo já se movimentava com vida por querê-la e ele estava pensando em quebrar sua promessa?
- Merrick! – ela sussurrou na escuridão, e só o som de seu nome nos lábios dela quase o fez gemer.
- Aqui. – ele disse, então teve que limpar a rouquidão de sua garganta.
- Você conseguiu as roupas?
- Na sala das selas. – ele respondeu. – Eu as deixei na frente de sua sela lateral. As botas estão no chão perto delas.
- Você vai ficar aqui fora enquanto me troco?
Ela ainda desconfiava dele. O que provava que ela era esperta além de bonita.
– A menos que você precise de minha ajuda. – ele respondeu.
- Não vou precisar. – ela garantiu a ele.
- Apresse-se então. Não temos a noite toda.
Sua audição anormal o torturou com os sons dela se despindo pouco depois. O roçar das roupas contra a pele. As imagens se formando em sua mente. Ele queria vê-la à luz do luar. Ver seu lindo rosto se iluminar com risadas como acontecera quando ela cavalgara de pernas separadas anteriormente. Por que tal mulher ainda não tinha sido pedida em casamento? Seriam os homens da classe social dela todos estúpidos? Ela era tudo o que ele desejava em uma mulher e nada do que poderia ter.
- Estou pronta.
Perdido em pensamentos, Merrick não prestara atenção à aproximação dela. Ele a via delineada na escuridão. Se ele quisesse, se ele olhasse demoradamente e de forma forçada por tempo suficiente, ele poderia ver as feições dela claramente, mas eles precisavam se afastar do estábulo.
- Vou lhe ajudar a subir. Nós desencilharemos a égua quando estivermos longe da casa, e eu a ensinarei a cavalgar sem sela.
Ela trouxe seu cheiro doce e suas suaves curvas femininas perto dos cavalos e parou próxima a ele. Quando as mãos dele circundaram a pequena cintura dela, ele desejou ensiná-la bem mais do que apenas cavalgar sem sela. Os lábios dela eram inocentes noite passada. Suculentos e maduros e ele pensou que ela nunca tinha sido beijada antes. Pelo menos não corretamente.
Ele a levantou facilmente e ela se espalhou na sela. Merrick passou ao lado dela e montou o garanhão negro. Como ladrões, eles cavalgaram silenciosamente do estábulo, apenas ousando apressar o passo quando estavam a certa distância da casa.
Encontrando a campina novamente, Merrick parou o garanhão negro, desmontou e foi ajudar Lady Anne. Ela veio para os braços dele talvez com mais facilidade do que fosse sábio, então ficou parada diante dele, olhando para cima. A luz da lua banhava suas adoráveis feições com uma luz branca. Os olhos dela cintilavam e seus cabelos caiam quase até seus quadris. Ele sentia dor por dentro apenas de olhar para ela. Doía como nunca doera antes. Desejava como nunca tinha desejado antes.
- Você é tão linda. – ele disse, olhando para ela. – Faz com que a mente de um homem vire um mingau, faz com que se esqueça de suas promessas.
O sorriso que pairava nos suculentos lábios dela se extinguiu. Ela o fitou nos olhos e ele pensou ter visto a mesma fome que sentia o encarando de volta em seus quentes olhos castanhos. Então ela sacudiu a cabeça como se para clareá-la. – Você me deu sua palavra. Fui tola em confiar em você?
Assim parecia. Merrick nunca havia sido sutil sobre o que queria e desejava. – Quero beijá-la novamente.
Mesmo na escuridão ele viu a vermelhidão se instalando no rosto dela. – Então devo exigir que me leve de volta ao estábulo e acabe com essa missão tola.
Ele concordava, mas seu desejo de conhecê-la mais intimamente evitou que ele falasse ou fizesse o que ele sabia ser o melhor. – Por que você pensa que fazer algo que você sonha em fazer é uma tolice, Anne?
Anne havia esperado que ou ele tentasse beijá-la ou que a levasse de volta ao estábulo. Ela se surpreendeu quando ao invés de fazer qualquer uma dessas coisas ele lhe fizera a pergunta e parecia genuinamente interessado na resposta. Ela não estava acostumada que alguém se importasse com seus sentimentos. Oh, ela gostava de se enganar acreditando que seus tios simplesmente tinham problemas para demonstrar afeição, mas ela sabia que esse não era o caso. E ela, de algum modo, se culpava por se considerar impossível de ser amada.
- Que diferença faz se eu aprender a cavalgar em pêlo ou se eu cavalgar com as pernas separadas? – ela disse dando de ombros. – Não são assuntos que possam ser discutidos com outras pessoas. Nem são habilidades que possa exibir a alguém. E nenhum deles são feitos que orgulhariam a meus tios.
As mãos quentes dele se fecharam em seus ombros. – Você nunca fez algo apenas por si mesma? Apenas porque a agradasse e pro diabo com todos os outros?
Nada a não ser cavalgar, e as damas eram conhecidas por adorarem um bom passeio, embora poucas admitissem que tivessem interesse nisso da forma como Anne se interessava. Criação, corrida, todas as coisas relacionadas com cavalos. Haviam homens que adoravam tais coisas, mas, até agora, ela não conhecera nenhum que ela imaginasse que pudesse compreender seu próprio amor por isso.
- Seria diferente se eu fosse um homem. – ela explicou. – Porque sou uma mulher, devo ser agradável. Devo ser gentil e ter consideração para com os outros. Devo querer o que todas as jovens mulheres de minha classe social desejam. Sonhar em fazer ou ser qualquer outra coisa além do que é esperado é tolice.
Ele a puxou para perto. – Nunca é tolice ter sonhos próprios. Para alguns de nós, isso é tudo que podemos ter. E por que você parece ressentida com sua vida quando me parece que você tem de tudo?
- Tudo não. – ela argumentou, então percebeu que ela estava revelando muito de si mesma para ele. Que patética ela soaria se dissesse a ele que não tinha a única coisa que mais queria na vida. Ser amada. Apenas por si mesma. – Mas eu pareço ingrata e superficial. – ela acrescentou, abaixando seu olhar. – Você deve entender que tudo o que se espera de mim é que eu faça um bom casamento. Ser agradável para que um homem deseje se casar comigo. É a função da mulher fazer com que seu marido se sinta confortável. Dar a luz a seus filhos e administrar sua casa. Pelo menos é desse modo para uma mulher de minha classe. – Estranhamente, os guardiões de Anne não a empurraram para o casamento, não pareciam preocupados com sua falta de pretendentes, embora Anne estivesse com quase vinte e um anos.
Merrick subitamente a soltou e se virou de costas. – Entendo o que está dizendo. Presumo que mulheres de minha classe possam apenas aspirar a parir os bastardos dos homens de sua classe e esperar que ele não morra e as abandonem com as crianças para se virarem por si mesmas.
Anne percebeu que havia sido insensível. Ela devia parecer uma completa tola para ele, choramingando sobre sua vida privilegiada. – Sinto muito. – ela sussurrou. – Foi isso o que aconteceu a sua mãe?
Ele se voltou para ela. – Não viemos aqui para falarmos sobre mim. Pensei que tínhamos vindo aqui para que você ousasse fazer o que estava querendo. Se não tem coragem para isso, vamos voltar. Alguns podem dormir o dia inteiro depois de ficar fora a noite toda.
Ela o havia magoado. Ela havia mexido com os ressentimentos dele. Anne não desejara fazer isso. Mas ele estava certo. Ela tinha sido presenteada com essa oportunidade de fazer algo apenas por si mesma. Merrick lhe dera essa oportunidade, e, contudo, apesar de ser errado, ela não podia evitar de quase chegar a amá-lo por fazer isso.
- Tudo bem – ela disse. – Chega de falar sobre coisas que não nenhum de nós pode controlar. Diga-me o que fazer.
Merrick a encarou durante muito tempo e Anne ficou com medo de que ele tivesse mudado de idéia. Então ele suspirou e passou por ela para desencilhar Storm. Depois que ele colocou a sela e o cobertor no chão, ele pulou facilmente para as costas da égua.
- Observe-me primeiro. – ele disse. – Você deve se segurar com suas pernas. Pressione-as bem firme contra as laterais do cavalo. Dessa forma.
Anne observou quando ele fazia a cavalo descrever um círculo. Ele primeiramente fez a égua caminhar, então a cutucou para um trote e depois um galope. Observá-lo fez com que Anne se sentisse esquisita. Toda dolorida e parecendo estar com febre, como se ela estivesse ficando doente. Apesar de sua linhagem, Merrick sem sobrenome, era realmente lindo de se olhar. Novamente, Anne não pode evitar a impressão de já tê-lo visto antes. Talvez em seus sonhos.
Storm era conhecida por ser teimosa algumas vezes, mas Merrick a conduzia melhor do que Anne jamais fizera, e a égua parecia sentir que ele era um homem que não toleraria insensatez da parte dela. Anne ficou imaginando se ele lidaria dessa forma com todas as fêmeas.
- Está pronta para tentar?
- Sim. – Anne respondeu. – Mas acredito que você faz isso parecer muito mais fácil do que é.
Ele fez com que a égua parasse ao lado de Anne, passou uma perna por cima e facilmente deslizou para o chão. – Você se sairá bem. – ele garantiu a ela. – Você se sairá bem porque é algo que quer fazer. Talvez algo que você tenha de fazer.
Opressão e ser mulher nascida em um mundo masculino andam de mãos juntas. Anne estava acostumada à opressão contra suas vontades, seus desejos, seus sonhos, até mesmo de seus pensamentos. Ela nunca conhecera um homem que encorajasse uma mulher a ser ousada. Era uma mudança refrescante para ela.
- Eu a ajudo a subir, já que não há estribo. – ele disse e se inclinou dobrando suas mãos em um tipo de degrau.
Anne colocou sua mão no ombro dele, sentindo os sólidos músculos debaixo da camisa. Ela colocou um pé nas mãos dele e ele a levantou facilmente até o lombo do cavalo.
- Lembre-se de agarrá-la com suas pernas. – ele instruiu, e Anne tentou não corar na luz do luar.
Pernas e agarrar algo com elas poderia ser considerado um assunto vulgar para um homem discutir na presença de uma dama. Recordando-se de que estava usando roupas masculinas, Anne decidiu que nessa noite nem ela era uma dama, nem Merrick um cavalheiro. Ela acenou concordando e pegou as rédeas que estavam colocadas sobre o pescoço de Storm.
Anne começou bem devagar, acostumando-se a sentir o cavalo debaixo dela sem a sela. Ela fez Storm caminhar em círculos algumas vezes antes de se sentir confiante para levá-la a um trote. O caminhar irregular do cavalo quase fez com que Anne caísse do seu lombo e ela apressou a égua para um galope mais suave.
- Você aprende rápido. – Merrick disse. – Está se saindo muito bem.
Concentrando-se em se manter sentada, Anne perguntou – Podemos ir até as charnecas? Cavalgar por elas sem sela na luz do luar como sonhei que faria? – Ela olhou para ele.
Ele sacudiu a cabeça. – Não hoje à noite, pequena. Você precisa de mais prática antes de ousar fazer isso.
Quem sabia se Anne teria coragem para sair escondida de casa novamente e fugir por aí com o novo cavalariço chefe? Ela poderia recobrar o bom senso a qualquer hora. Retornar àquela velha forma de ser boa e casta e totalmente sem graça. Sua tia poderia decidir subitamente que o campo estava muito parado para seu gosto e ordenar que todos fizessem as malas e partissem para Londres. Essa noite poderia ser a única chance que Anne teria para realizar seu sonho.
- Eu vou. – ela decidiu. – Fique para trás se quiser. De fato, volte para o estábulo, então se eu for descoberta ou algo me acontecer você não será responsabilizado.
Tendo dado as ordens, Anne virou Storm para o caminho que eventualmente conduziria às charnecas.
- Volte aqui, Anne. – Merrick ordenou. – Eu disse que você ainda não está preparada.
Anne quase obedeceu simplesmente por estar acostumada. A necessidade de se rebelar havia se enraizado dentro dela agora e ela não tinha certeza se queria impedir isso. Quem era ele para lhe dar ordens, de qualquer forma? Merrick não a entregaria, já que ele também fora cúmplice ao ajudá-la hoje à noite. Não a menos que quisesse perder seu emprego.
Já o conhecendo muito mais do que deveria, Anne não descartava que ele a seguisse e a arrancasse do lombo do cavalo. Anne forçou com os joelhos para que o animal saísse em galope. Atrás dela, ela ouviu Merrick praguejar um tanto quanto alto.
O caminho era fácil de ser seguido devido à brilhante luz da lua que brilhava acima...pelo menos até que Anne estivesse profundamente dentro da floresta. Ela ouvia o bater dos cascos atrás dela e sabia que Merrick a seguia. Anne também sabia que ele poderia facilmente pegá-la se ela continuasse na trilha. Numa decisão de segundos ela conduziu Storm para fora da trilha.
Por Anne ter um bom senso de direção, ela pensou que podia chegar facilmente até as charnecas. O que ela não antecipou foi a dificuldade de manobrar um cavalo através da densa relva ou do tronco em seu caminho que ela viu tarde demais. Pular em cima de um cavalo era uma tarefa muito mais difícil quando o cavalo estava sem sela. Anne perdeu o equilíbrio e caiu.
A queda a estremeceu até os dentes. Perdeu a respiração e quando conseguiu respirar novamente, ela se sentou tentando determinar se havia se machucado. Ela moveu as pernas para cima e para baixo, seus braços; nada estava quebrado. Como Storm havia sido ensinada, a égua parou quando ninguém a estava guiando pelas rédeas. Anne vagarosamente se levantou do chão, seu traseiro ainda ardendo enquanto ela se movia na direção da égua.
De repente Storm levantou a cabeça. A égua resfolegou, então seus olhos se viraram para trás na cabeça e ela disparou, fugindo pela floresta como se os cães do inferno a perseguissem. Anne queria gritar. Ela deveria ter dados ouvidos a Merrick. Ele estava certo. Ela ainda não estava pronta para tentar o que queira. Agora ela estava a pé, perdida na floresta e sozinha. Ou não estava?
Os cabelos em sua nuca se espetaram. Ela sentiu que estava sendo observada. O que assustara Storm? O cavalo não disparava assim tão facilmente. Olhando ao redor, Anne percebeu o quão escura era a noite quando as árvores acima encobriam a luz da lua. Ela não conseguia distinguir formas. Ela também não conseguia achar o caminho. Onde estava a trilha? Se ela fosse naquela direção, certamente encontraria Merrick procurando por ela.
Ela deu um passo, mas um movimento que ela captou pelo canto dos olhos a fez girar para a direita. Anne deu uma olhada para as sombras. Outra forma se juntou a primeira. E então outra. Lobos. Seu sangue congelou. Então a lenda era verdadeira. Ainda havia lobos percorrendo algumas partes da Inglaterra.
Anne não ousava tirar os olhos das sombras imóveis, imaginando quanto tempo elas ainda ficariam paradas. Ela precisava de uma arma. Olhando ao redor, ela tentou divisar o formato de um galho, uma pedra, qualquer coisa que pudesse usar em sua defesa. Uma sombra tinha se aproximado quando ela olhou para cima. Anne engoliu seco.
- Não se mova.
A instrução não passara de um sussurro; então ela sentiu o calor de Merrick a suas costas. Seus joelhos quase cederam de alivio. Uma sombra arrastou-se mais perto. Olhos brilharam na escuridão. Seu coração subiu para a garganta. Merrick se colocou na frente dela, bloqueando o perigo, protegendo-a de sua tolice, talvez com a própria vida.
As sombras continuaram a se aproximar até que eles estavam cercados. Apavorada, Anne deslizou os braços pela cintura de Merrick e pressionou o rosto contra as costas dele. O coração dele batia debaixo de sua orelha, forte, estável, mas não disparado como o dela estava naquele momento. O silêncio ecoava ao redor dela; então bem suave, bem baixo, ela ouviu um rosnado. Ele partia não das feras da noite, mas do homem que estava na frente dela contra as feras.
Arrepios subiram pelos braços dela. Anne não sabia se soltava o aperto ao redor de Merrick e corria ou se devia se agarrar mais forte contra ele. Ela fechou os olhos e rezou. Por quanto tempo ficou unida a ele, ela não sabia. Parecia uma eternidade.
- Está tudo bem agora, pequena. Eles se foram.
Anne abriu os olhos, embora na escuridão que os rodeava tanto fazia abri-los. Ela não via nada nas sombras, mas não significava que não havia nada ali.
- Tem certeza? – ela sussurrou. – Como você sabe?
- Porque eu sei. – ele respondeu, virando-se para encará-la. – Eles se foram e levaram seus cheiros com eles. Eles estavam apenas curiosos para começar. Curiosos para saber que tipo de tolo anda sozinho na floresta durante a noite.
Um pouco de vergonha se misturou a seu medo. Ele estava certo; ela era uma tola. Anne podia se considerar uma chata anteriormente, mas nunca havia se considerado tola até hoje à noite.
- Sinto muito. Você estava certo. – ela admitiu. – Eu não deveria ter partido sozinha. Foi tolo e perigoso.
Ele não respondeu, e quanto ela olhou para ele, Anne ofegou. A sombra dele era alta e escura contra a noite, mas seus olhos brilhavam como os das feras da floresta.
- Seus olhos. – ela sussurrou. – Eles brilham no escuro como os olhos de um animal.
Ele desviou os olhos, como se para protegê-los da visão dela. Anne se lembrou do rosnado baixo que ele emitira enquanto ela estava agarrada a ele com medo. E seu cheiro, o que ela sentia nele agora. Aquele que superava o medo e confusão e a atraia para ele mesmo quando o bom senso dizia que ela devia fugir. Havia algo muito estranho sobre Merrick. Mas talvez fosse apenas a histeria que a fizesse pensar assim.
- Merrick? – ela sussurrou. – Quem é você? Digo, realmente?
Era uma pergunta que Merrick se havia feito muitas vezes no passado. Quem ou o que? Ele sabia que era diferente dos outros homens. Ele não entendia o por quê. Ele tinha sido capaz de ler os pensamentos dos lobos ou, antes, sentir o que eles estavam sentindo. Ele os advertira para irem embora e eles foram, sem dúvida tão amedrontados do estranho humano como os humanos ficariam se soubessem de toda a verdade sobre ele.
- Sou um homem como qualquer outro. – ele mentiu. – Simplesmente tenho algumas habilidades um tanto quanto estranhas.
Uma dessas habilidades permitia que ele visse a expressão dela na escuridão. Por um momento ela sentiu medo dele; agora a testa dela estava franzida e uma curiosidade natural assumiu.
- Que tipo de habilidades?
O caminho que Merrick percorria era perigoso. Ele não devia ter contado a ela tanto quanto contara. E ainda assim, ele queria falar para ela. Por que ele o fazia? Já era ruim o suficiente tudo o que se colocava entre eles. Suas posições na vida. Por que ele queria ampliar essa lacuna? Talvez para aumentar a distância entre eles. Talvez para simplesmente ver a reação dela.
- Eu posso ver no escuro. – ele respondeu. – Eu vejo seu rosto. Noite passada, no estábulo, eu vi você claramente como se fosse à luz do dia, parada em sua roupa intima, descendo a meia por suas pernas bem torneadas. Sua combinação tinha uma rosa vermelha bordada na frente.
Os olhos dela se arregalaram. Ela inconscientemente deu um passo para trás, e Merrick tentou ignorar o quanto isso o afetou. – Como você pode saber sobre isso? – ela perguntou. – Como você podia ver tão claramente na escuridão? É impossível.
Ele desejava que fosse impossível. Merrick a sentiu se distanciando dele. Mesmo que a mente dela dissesse que era impossível, sua consciência começou a temê-lo. Era isso que ele queria, colocar distância entre eles. Mas não parecia ser o que ele queria de modo algum. Não, se ele fosse honesto consigo mesmo ele admitiria que a queria de volta em seus braços. Ele queria beijá-la. Ele queria fazer muito mais do que beijá-la.
Talvez fosse um ato inconsciente da parte dele, mas ele soube pelo ligeiro alargamento das narinas dela, o modo como os olhos dela subitamente se tornaram pesados que ele estava exalando o cheiro. Aquele que atraia as mulheres para ele. Merrick sabia que não era certo. Ele sabia, mas o que quer que fosse, o instinto dentro dele que queria seduzir Lady Anne Baldwin assumiu o controle. Ele queria que ela o desejasse tanto quanto ele a desejava. Ele queria esquecer sobre seus dons estranhos e a lacuna que o separava de Anne. Ele queria que ela também esquecesse.
Vagarosamente, ele se inclinou e capturou os lábios separados dela. Eles eram tão doces como ele se lembrava e mais receptivos do que haviam sido no estábulo. Ele não era mais um estranho para ela, o que parecia estar funcionando como vantagem. Ela gemeu suavemente quando ele traçou o contorno de seu lábio inferior com a língua. Ela se abriu ainda mais para ele e ele inclinou a boca sobre a dela, explorando-a, saboreando-a, seduzindo-a.
Anne se apertou contra ele e ele a puxou para mais perto, moldando suas suaves curvas contra ele. Ele colocou as mãos em concha sobre seus seios, o sangue dele se aquecendo nas veias quando ela não se afastou. Ela arfou suavemente quando ele esfregou seu mamilo com o polegar através do tecido da camisa. Ele a queria nua. Ele queria tocar sua pele.
Merrick apoiou as costas dela contra o troco de uma árvore grossa. Ele a beijou no pescoço, soltou os laços da frente da camisa dela até que ela se abriu e ele pode deslizar a mão para dentro. A consciência sussurrava que isso não era a mesma coisa como na noite no estábulo. Ele saiba quem ela era agora. Ele sabia que ela era inocente. Ainda assim ele não conseguia se segurar.
Anne sabia que devia pará-lo. Sua mente estava nublada pela paixão. Paixão que ela nunca antes sentira. O que havia com esse homem que ela não conseguia resistir? Talvez fosse uma combinação de tudo sobre ele. A boca dele se movendo contra a dela, as mãos dele em seus seios, excitando-a além do bom senso. Ela conseguia até mesmo ignorar a áspera casca da árvore pressionada contra suas costas se ele apenas continuasse a beijá-la...a tocá-la.
A boca dele desceu para seu pescoço, mordendo sua pele gentilmente antes de descer ainda mais, empurrando sua camisa para o lado. A sensação da boca úmida contra seu mamilo, mesmo sobre sua camisa, a sacudiu. Anne enroscou os dedos nos longos cabelos dele e tentou se lembrar de respirar.
- Você sabe o quanto é bonita? – ele murmurou contra sua pele. – O quão perfeita de todas as formas?
Anne nunca se sentira bonita antes. Certamente os homens diziam que ela era, mas nenhum havia feito ela se sentir bonita. Num nível mais profundo Anne sabia que desejava tanto o toque de Merrick porque lhe havia sido negada a afeição enquanto estava crescendo. Ele lhe dera o que lhe havia sido negado, e em troca, ela não queria negar nada a ele. Mas por mais certo que isso parecesse, Anne sabia que o que estava acontecendo entre eles era errado.
Resistir a ele se tornou ainda mais difícil quando ele levou seu mamilo para dentro da boca e o sugou gentilmente. Suas unhas se enterraram no couro cabeludo dele. Seus joelhos quase cederam. O lugar entre suas pernas ficou úmido. Ela sentia dor ali, doía como se seu corpo precisasse de algo que sua mente não compreendia.
Anne se afundou ainda mais na névoa do desejo. A boca quente dele subiu por seu pescoço novamente; então ele a estava beijando. Quando ele colocou a língua dentro de sua boca, Anne respondeu do mesmo modo. Foi quando ela sentiu os dentes dele. Eles estavam mais compridos do que ela se lembrava... quase como presas.
Ela abriu os olhos e achou que ele parecia diferente. Suas feições faciais estavam um tanto quanto borradas. Ela tentou lutar, mas ele a prendeu seguramente contra a árvore. Com o corpo dele colado contra o dela, ela sentiu a excitação dele. Então ela não podia jurar, mas ela pensou tê-lo ouvido rosnar.
- Merrick. – ela sussurrou. – Você está me assustando.
A boca dele estava em seu pescoço novamente. Ela sentiu a ponta afiada dos dentes dele antes dele subitamente se obrigar a afastar-se dela. Ele virou de costas; então desapareceu dentro da floresta. Anne piscou na escuridão. Seu coração disparado no peito. Ele a deixara sozinha.
Um lobo uivou à distância e Anne prendeu a respiração. Ela remexeu nas pontas abertas de sua camisa e as puxou próximo ao pescoço. Devagar ela deslizou ao chão. Onde estava Merrick? E por que ele a deixara sozinha na escuridão?
Quando um galho se partiu, ela pulou. Uma figura alta surgiu das sombras. Merrick estava agora parado na frente dela, olhando para baixo. – Venha, Anne. – ele disse. – Deixe-me levá-la até Sin.
- Sin? – ela sussurrou.
- O garanhão. Eu a levarei para casa.
Por um breve momento ela pensou que não podia confiar nele. Seus olhos tinham se acostumado o suficiente com a escuridão para ver que ele mantinha sua mão estendida para ela. O que acontecera momentos atrás? Ela havia imaginado ou ele teria parecido diferente? Ela havia ficado assustada anteriormente. Talvez ainda estivesse sentindo os efeitos disso.
- Anne, pegue minha mão. - Merrick persuadiu suavemente.
Ela deslizou sua mão na grande mão dele. Elas eram mãos de trabalhador, mas tinham parecido seda contra a pele dela um pouco antes. Ele a pôs de pé. Anne cambaleou levemente. Ela se sentia tonta, indisposta.
- O que está acontecendo comigo? – ela perguntou. – Por que eu respondo a você dessa forma, e o que você quer de mim, Merrick?
Ele não disse nada por um momento. Talvez ele não soubesse a resposta. Então disse. – Por agora, quero levá-la para casa. Quero que esteja segura.
Segura contra os lobos ou contra ele? Anne pensou. Ela devia ir para casa. Ela devia ir para casa e retornar a vida segura, chata que ela conhecia antes dela o beijar no estábulo. Um estranho. Um homem que trabalhava para seu tio. Mas um homem que a fazia sentir como nunca tinha se sentido antes. Um homem que não tinha medo de lhe mostrar afeição. Um homem que dissera que ela era bonita.
Merrick a conduziu atrás dele através da floresta. A trilha não estava realmente muito longe e eles tropeçaram nela assustando o garanhão negro que estava parado esperando eles voltarem. Merrick falou maciamente com o animal e ele se acalmou. Merrick subiu na sela e puxou Anne para frente dele.
- E quanto a Storm? – Anne saiu de seu estado entorpecido para perguntar. – E a sela e o cobertor que deixamos para trás?
- Creio que Storm deve ter voltado ao estábulo. Se ela não estiver lá quando chegarmos, volto para procurá-la. Volto para buscar a sela também.
Ele encobriria Anne. Apagaria os erros dela dessa noite. Ele possivelmente salvara a vida dela mais cedo. Merrick com suas estranhas habilidades e seu cheiro que ainda a afetava. Ele poderia ter se aproveitado dela na floresta. Anne tinha absoluta certeza de que teria permitido que ele a seduzisse completamente. Por que ele não o fizera? E ela apenas tinha imaginado que as feições dele estavam borradas por um momento, tinham parecido deformadas, seus dentes como presas?
Claro que tinha. Os lobos lhe deram um susto e ela estava reagindo a isso. A sensação do peito duro pressionado contra suas costas a afetava agora. Suas coxas fortes moldadas contra os dois lados dela. Anne precisava de uma distração. Ele fazia o cavalo caminhar, ela presumia em seu beneficio, mas o passo vagaroso apenas prolongava a tortura de estar apertada contra ele.
- Por que você chama seu cavalo de Sin? – ela perguntou.
- Porque ele é escuro como o pecado.
O silêncio entre eles se alongou novamente. O calor de Merrick penetrava as costas de seu traje de montaria e ela imaginou como seria sentir a pele nua dele contra a sua.
- Ele parece rápido, seu cavalo. – ela puxou conversa.
- Sim. – ele respondeu, e sua respiração resvalou na orelha dela, fazendo-a estremecer. – Rápido como nenhum que já vi.
- Você corre com ele? Eu o faria, se ele fosse meu, quer dizer, e é claro se eu fosse um homem.
- Eu corro com ele. – ele respondeu. – Na maioria das vezes em pequenas feiras do interior, e apenas se o prêmio for bom. O cavalo adora correr. Ele gosta da competição.
O cavalo não parecia nem um pouco ansioso de conduzi-los rapidamente para o estábulo naquele momento. Anne não tinha certeza de estarem indo na direção certa agora que pensara sobre isso.
- Merrick, você sabe para onde está indo? – ela perguntou. – Eu não acho que esse seja o caminho para casa.
- Eu sei para onde estou indo. – ele garantiu a ela.
Momentos depois eles deixaram o abrigo das árvores para trás. Merrick parou o garanhão e Anne ofegou. Perante eles, o solo sem vegetação e rachado, estava as charnecas. A luz da lua brilhava sobre ela e o chão que se estendia perante eles parecia estranhamente bonito.
- Está pronta, Anne? – Merrick perguntou próximo de sua orelha.
Ela sabia agora por que ele a trouxera até aqui. Seu coração se elevou por ele ter feito isso, por ele saber o quão importante era para ela – viver esse sonho.
- Estou pronta. – ela sussurrou.
- Segure firme.
Ele atiçou o cavalo e eles dispararam para frente em direção à luz da lua.
Não era exatamente o sonho de Anne de estar em roupas intimas e sozinha, e cavalgando sem sela, mas era melhor. Melhor porque ela tinha Merrick para compartilhar esse momento. Ele riu junto com ela, e ela soube que ele partilhava de sua alegria. Ele a entendia como nenhum homem jamais a entendera antes. E ele estava certo. Todos deviam ter um sonho, mesmo um pequeno como esse.
Anne riu alto com o absoluto prazer de correr através das charnecas à luz do luar, o vento em seus cabelos, Merrick às suas costas, os braços dele ao seu redor mantendo-a em segurança na frente dele. Ele estava certo. Ela nunca cavalgara um cavalo tão rápido quanto esse garanhão. Os cascos de Sin trovejavam pelo caminho rachado, arremessando pedaços pela trilha.
- Quer ir mais rápido? – ele se aproximou para perguntar.
- Oh sim. – ela suspirou; então ambos se inclinaram juntos e o garanhão disparou para frente.
O sangue dela cantava nas veias. Anne fechou os olhos e simplesmente viveu o momento – sentiu o cavalo poderoso e seguro debaixo dela, sentiu o vento dançar pelo seu rosto e um forte coração masculino batendo contra suas costas. Ela queria que isso nunca terminasse, mas é claro que era preciso.
Merrick diminuiu a velocidade do garanhão. A respiração de Sin nublou o ar quando ele bufou protestando. Merrick conhecia bem o garanhão. Ele amava correr.
- Vai ter uma feira no distrito não muito distante de Blackthorn Manor semana que vem. – ela disse a Merrick. – Você devia correr com Sin.
- E você vai estar lá para nos ver?
Anne adorava feiras do interior, ainda que seus tios as achassem chatas. – Se meus tios me levarem. – ela respondeu. – Geralmente eles não ligam para essas coisas. Minha tia preferiria comparecer a um grande baile em Londres.
- E você, Anne? O que você prefere?
Ele parou o cavalo. A luz da lua banhava a terra ao redor deles com uma luz suave, novamente fazendo com que ela se maravilhasse que tal paisagem dura pudesse ser linda.
- Eu prefiro a feira. – ela respondeu honestamente. – Embora minha tia acredite que seja desperdício de tempo. Não há cavalheiros finos na feira para que eu possa atrair. Não há nada lá que ela aprove. Nenhum mercado de casamento.
Merrick puxou os agora embaraçados cabelos de Anne por sobre um dos ombros. O roçar dos dedos dele em seu pescoço a ver estremecer. – Por que você ainda não se casou, Anne? Os cavalheiros em Londres são cegos ou idiotas?
Ela podia apenas ser sincera com ele. – Sou entediante.
Quando ele riu, a respiração quente acariciou suas orelhas. – Você, entediante? Uma mulher que sai escondida de casa durante a noite e se despe até ficar de roupas intimas para poder cavalgar através das charnecas? Uma mulher que se arrisca sozinha na floresta para enfrentar lobos? Uma mulher...
- Normalmente eu não faço essas coisas. – Anne interrompeu, virando-se para poder olhá-lo. – Estou numa fase de rebeldia. Tenho certeza de que isso vai passar.
- Vai?
A boca dele estava subitamente a apenas um sussurro da dela. Teria ele a trazido aqui para continuar com a sedução? Algo mau dentro dela disse que se assim fosse, isso não seria uma coisa ruim. A cavalgada havia incendiado seu sangue. A cavalgada e Merrick encostado nela. Essa noite podia ser tudo o que eles tinham. Anne sabia que sua rebeldia não duraria. Alguma hora ela tinha de recuperar o bom senso e votar a sua vida sem graça e previsível...mas talvez ainda não.
A dama queria que ele a beijasse. Merrick estava tentado. Tentado quase além de seu controle. Mas algo mais estranho que o normal tinha acontecido com ele essa noite. Na floresta, enquanto estivera beijando Anne, tocando-a, desejando-a como nunca desejara uma mulher antes, algo havia se movido debaixo de sua pele. Ele o sentiu crescendo dentro dele. Isso chegou bem perto de consumi-lo... o que quer que isso fosse.
O desejo que sentira por ela se tornara animalesco. Seus pensamentos se tornaram desarticulados, como se estivessem escapando dele. Como se ele estivesse se transformando em outra coisa. Por um momento, ele realmente sentiu medo de que pudesse machucar Anne. Fora esse medo que penetrara em seu desejo por ela e o fizera se separar dela, sumir tempo suficiente para se recuperar do que quer que estivesse acontecendo com ele.
Agora ela o tentava a perder o controle novamente. No passado, mulheres da classe social de Anne vinham atrás dele, esgueirando-se no estábulo onde ele trabalhava na calada da noite. Elas queriam se divertir com ele, e Merrick as usava, ele supunha, para a vingança contra a classe delas que ele guardava em seu coração. Mas Anne, ela não era como essas outras mulheres. O que ele sentia por ela não era o mesmo. E o que ela o fazia sentir era algo que ele nunca sentira antes.
Ele sentia prazer com a alegria dela. A inocência dela era como um bálsamo para sua alma cansada. O que ele queria dela não era uns poucos momentos roubados durante a noite. Ele temia muito que o que ele queria. Era tudo aquilo que ele prometera à sua mãe que abriria mão.
- Se eu fosse um cavalheiro, eu a levaria à feira. – ele disse, tirando um cacho emaranhado de cabelo do lindo rosto dela. - Eu a levaria numa charrete reluzente e a exibiria. Eu usaria uma fita sua sobre meu braço quando corresse com Sin.
Ela sorriu para ele sob a luz do luar e o coração dele se torceu dentro do peito. – Mas eu não sou um cavalheiro, Anne. Você não deve se esquecer disso.
O doce sorriso dela se apagou. À luz da luz, ele viu o rosto dela ficar vermelho. – Você é mais cavalheiro do que imagina. – ela disse suavemente. – Ou não estaria me aconselhando a não perder a cabeça. Você não estaria me lembrando de meu lugar, ou do seu.
Era algo audaciosamente fora de seu caráter. Merrick nunca se importara em pegar o que lhe era oferecido, secretamente ressentido por algumas vezes ser tratado como um garanhão do estábulo e não como homem. Ele pensava que Anne era diferente, mas seria? Talvez ela pensasse o mesmo dele. Uma distração de sua vida ordeira. Apenas parte de sua rebelião. Então deveria sentir culpa por seduzi-la? Divertir-se com ela como ela faria com ele?
Os olhos dela era grandes e inocentes enquanto encaravam os dele. Suaves como os olhos de uma corça. Não, ele não estava errado sobre ela, mesmo que quisesse se dizer que estava nesse momento. – Você quer mais do que posso lhe dar, Anne. Mais do que um homem como eu jamais será capaz de dar a você. Eu a levarei para casa.
Por um momento, o olhar dela sobre ele brilhou, como se seus olhos se tivessem enchido de lágrimas. – Isso é pedir demais? – ela sussurrou. – Ser amada?
Era isso que ela queria dele? Merrick tinha dificuldade em acreditar nisso. Era mais do que provável que ela simplesmente estivesse confusa sobre o que era amor. Não que ele mesmo realmente o soubesse. Ele nunca se apaixonara por uma mulher antes. Ele certamente sabia o que era ser rejeitado. Ele se pouparia disso com ela.
- Tenho certeza de que é amada, Anne. Seus tios...
- Têm problemas para mostrar afeição por mim. – ela interrompeu. Anne piscou para afastar as lágrimas. – Fiz tudo o que podia fazer para ganhar o coração deles, mas sinto que fracassei. Fico imaginando se a culpa não é minha. Se há algo em mim que faz com que eu não mereça ser amada?
Era isso que ela pensava? Como alguém podia não amar Anne? Ela era boa e doce e linda, e ele sabia disso instintivamente. Ele sabia que ela era o oposto dele. Talvez fosse por isso que ele a achava irresistível. Ela era tudo o que ele não era. Ela tinha tudo o que ele não tinha. Mas talvez eles fossem mais parecidos do que ele imaginara. Ambos queriam o que aparentemente não podiam ter.
- Você merece ser amada, Anne. – ele disse. – Talvez eles não mereçam você. – E ele também não.
Merrick virou o cavalo na direção da Blackthorn Manor. Anne se endireitou na sela na frente de Merrick. Eles cavalgaram em silêncio. Ele saboreou a sensação de senti-la contra ele. O doce cheiro dela em suas narinas. Um momento no tempo em que nada os separava, mesmo que amanhã tudo voltasse a ser como deveria. Anne em sua grande casa. Ele no estábulo. Ela uma dama esperando por tudo aquilo que merecia na vida, tudo o que ele sentia que seria dela com o tempo. E ele...Bem, Merrick nem mesmo tinha certeza de quem era. Um homem a quem Lady Anne Baldwin deveria evitar. Ele sabia disso com certeza.
A feira em Devonshire era uma grande visão; barracas de mercadores, comércio de cavalos, comércio de ovelhas e até mesmo um grupo itinerante se apresentando. Anne traçava seu caminho através da multidão, seu passo vagaroso para que sua amada Bertha pudesse acompanhá-la. Seus tios passeavam logo à frente, vestidos como se estivessem em um grande baile ao invés de em uma feira do interior. Anne havia se decidido por um vestido de dia simples, um chapéu modesto e um xale velho. Ela não queria se destacar na multidão.
Ela estava muito carregada de energia para bancar a grande dama hoje. Desde que ela e Merrick haviam escapulido na escuridão, ela vinha se mantendo longe do estábulo. Ela estava com medo, Anne admitiu. Com medo de seus sentimentos por Merrick. Nenhum bem poderia vir deles, mas saber disso não parecia impedi-la de querer ficar com ele.
Merrick estava aqui hoje. Ele havia saído ao raiar do dia, avisando seu tio para apostar nele e em seu garanhão na corrida. Se não fosse pela perspectiva de ganhar dinheiro em uma aposta, ela duvidava que seus tios tivessem o desejo de comparecer à feira.
Uma mulher que advinha a sorte chamou Anne quando ela estava passando. – Venha conhecer sua sorte, boa dama.
Confusa, Anne parou na tenda de cores brilhantes. Os olhos da advinha estavam pesadamente maquiados. Ela usava um lenço amarrado ao redor da cabeça e um anel em cada dedo. Anne pegou sua bolsinha e retirou uma moeda. – Isso é tudo o que tenho – ela disse, o que não era inteiramente verdade, mas era tudo o que tinha para tal tolice que era ler a sorte.
A mulher agarrou a moeda e segurou a mão dela. Ela estudou a palma de Anne. – Você tem uma linha da vida longa. – ela disse. – Mas vejo problemas em seu futuro.
Anne supunha que a maioria das pessoas devia esperar problemas de algum tipo em seu futuro. Ela simplesmente sorriu para a mulher.
- Há um homem. – a mulher disse, olhando para Anne através dos cílios. A mulher olhou para baixo novamente, então subitamente soltou a mão dela. Seus olhos se arregalaram. Seu rosto moreno empalideceu. – Tenha cuidado com o lobo em seu estábulo. – ela sussurrou. – Fique longe dele ou trará a maldição dele sobre vocês dois.
Anne piscou para a mulher. – Desculpe-me?
- Vá agora. – a mulher ordenou. – Não posso fazer nada além de lhe avisar.
Anne se sentiu enganada, para dizer o mínimo. Não havia nenhum lobo em seu estábulo e ela estava esperando que lhe contassem que ela encontraria um homem especial e que teria um futuro brilhante. Era esse tipo de coisa que uma mulher gosta de ouvir. Subitamente Anne ficou pensando se esse lobo não se referia de fato a um homem a quem ela deveria evitar.
- Esse lobo é um homem ou um animal? – ela perguntou à mulher.
A vidente estremeceu. – Ele é ambos. – ela respondeu, então se levantou e desapareceu na multidão.
Arrepios percorreram os braços de Anne. Ela puxou o xale a seu redor.
- Aí está a senhorita, Lady Anne. – Bertha bufou de raiva ao lado dela. – Eu a perdi na multidão por um momento e estava terrivelmente preocupada.
Ainda apreensiva, Anne se aproximou e apertou o braço da criada. – Estou bem. Parei apenas para ler minha sorte.
Bertha bufou. – É um desperdício de dinheiro. Suponho que ela lhe disse que vai encontrar um jovem e que terão um futuro feliz juntos. Esses tipos sempre dizem o que as pessoas querem ouvir.
As palavras de Bertha apenas aumentaram a preocupação de Anne. Ela também pensara assim. Uma perturbação mais adiante na rua além das barracas dos vendedores e dos artistas atraiu sua atenção. Os cavalos levantavam poeira no ar. A corrida de cavalos estava para começar.
- Vamos, Lady Anne. – Bertha instruiu. – Seus tios vão ficar pensando o que aconteceu conosco. Vamos nos juntar a eles para ver as corridas e comer um bom lanche.
A criada de Anne nunca perdia uma refeição, o que era óbvio pela sua forma arredondada. Bertha apressou Anne pela travessa na direção da campina onde a corrida de cavalo aconteceria. Anne não pode evitar olhar por sobre os ombros na direção onde vira a vidente pela última vez. A mulher estava parada encarando-a. Rapidamente, Anne desviou os olhos.
Ela espiou os tios descansando sobre um cobertor estendido no chão. Millicent, a criada pessoal da tia, tinha vindo junto, transportando coisas da carruagem para o conforto de sua patroa. A mulher se ajoelhou sobre o cobertor desempacotando os lanches.
- Aí está você. – Tia Claire disse ao ver Anne. – Venha e sente-se, Anne. Estamos famintos.
Obediente como sempre, Anne correu para o cobertor e se sentou. – Não posso deixar de expressar meu agradecimento novamente por terem me trazido aqui hoje, tio Theodore e tia Claire. Sei que ambos acham essas feiras uma chatice, mas estou me divertindo muito.
Distraída sua tia se aproximou e deu uma palmadinha na mão de Anne. – Gostaria que um evento social colocasse esse brilho em seus olhos e essa cor em seu rosto como esse passeio rude. Talvez você não tenha sido feita para ser uma esposa que goste de vida social. Não me admira que nenhum cavalheiro adequado tenha pedido sua mão, Anne. Você tem gostos estranhos para uma garota bem nascida. Você deve ter adquirido isso da parte de sua mãe.
Anne ficou olhando para suas mãos unidas. – Sinto muito ser tal desapontamento para a senhora, querida tia. – ela disse. – Tentarei com todas as forças atrair a atenção de um solteiro adequado em nossa próxima visita à Londres.
- Deixe a menina em paz. – seu tio perturbou. – Nós queremos que ela tenha um casamento feliz, não é querida esposa?
A tia deu uma palmadinha em Anne novamente. – É claro que queremos. Leve o tempo que for preciso, Anne. Não há pressa.
A atitude de tia Claire era realmente estranha. Muitas mães estavam tão desesperadas para encontrar parceiros adequados para suas filhas que nada mais era conversado a partir do momento em que a garota tivesse idade suficiente para se casar. Uma vez que seus tios mostravam tão pouca afeição real por ela, Anne suspeitava que eles ficariam felizes ao se livrarem dela. Talvez por ela ser tão obediente para tentar ganhar o amor deles ela não fosse considerada um fardo.
- Devo tentar com mais vigor. – ela admitiu. – Logo terei vinte e um anos, praticamente considerada solteirona.
- Pensamos que poderíamos continuar no campo até depois de seu aniversário. – seu tio soltou. – Pensamos que você adoraria ainda mais se pudesse sair com seu cavalo e vagar por ai como adora fazer.
Anne ficou surpresa. Seu aniversário ainda demoraria uns três meses para chegar. Ela não conseguia imaginar sua tia passando todo esse tempo longe das festas de Londres e de seus amigos. Anne havia pensado que na realidade seus guardiões lhe ofereceriam um baile de aniversário. Seria uma oportunidade de atrair pretendentes para ela.
- Quanta gentileza de vocês. – ela disse honestamente. – Eu realmente prefiro o campo à agitação de Londres, mas sei que vocês dois preferem passar o tempo na cidade.
- É seu aniversario. – sua tia disse, abrindo mão da palmadinha dessa vez. – Queremos que você o aproveite da melhor forma possível.
Anne sentiu uma explosão de ternura por seus tios. Ela supunha que algumas vezes os julgava injustamente. Somente porque eles não demonstravam sua afeição não significava que eles não se importavam com ela.
- Me deixaria muito feliz passar meu aniversário no campo.
- Então está decidido. – sua tia disse, olhando para a comida que sua criada havia posto para eles. – Vamos comer antes de os cavalos levantarem ainda mais poeira e arruinarem nossa refeição.
Eles começaram a comer. Anne se viu sem apetite. Ela estava nervosa. Talvez por Merrick e pelo garanhão negro. Talvez por causa de seu encontro com a vidente. Ninguém parecia perceber o quão pouco Anne estava comendo. Seus tios estavam muito ocupados falando sobre a última fofoca de Londres.
- Dois deles estão casados agora. – tia Claire disse. – Dizem que estão sendo aceitos pela sociedade por causa da amizade deles com a duquesa mãe. Eu acho isso uma vergonha. Estou feliz por Anne não ter perdido a cabeça por causa daquele Jackson Wulf como todas as outras mulheres para quem ele exibe aquelas covinhas.
A atenção de Anne se voltou para a tia. Ela falava dos irmãos Wulfs. Os Selvagens Wulfs de Londres, como alguns os chamavam. De súbito a compreensão atingiu Anne com a força de um golpe. “Wulf” ela sussurrou.
- O que disse, querida? – sua tia perguntou.
Lutando com a súbita percepção de quem Merrick lhe lembrava, Anne meramente sacudiu a cabeça e não respondeu. Merrick era igualzinho a Jackson Wulf, só que ele tinha cabelos escuros ao invés de claros e olhos claros ao invés de escuros. Não era de admirar que ela pensasse que já o havia visto antes naquela manhã que o conhecera na sala de jantar.
Que estranho eles se parecerem tanto um com o outro, pelo menos nas feições faciais e tamanho. Seu olhar automaticamente se desviou para a campina onde os cavalos estavam sendo alinhados. Ela não conseguia ver sobre a multidão e se levantou, encobrindo os olhos contra o sol.
Uns poucos homens altos bloqueavam a visão de Anne. – Não consigo ver. – ela disse aos tios. – Vou um pouquinho mais lá para frente.
- Bertha, vá com ela. – sua tia instruiu. – Ela vai ficar olhando distraidamente e não ficará atenta para alguém roubando sua bolsa.
A criada, ainda envolvida com sua comida, resmungou, colocou seu prato de lado, e pesadamente colocou-se de pé. – Estou ficando muito velha para correr atrás dela. – ela reclamou.
Anne não esperou por Bertha. Ela se apressou por entre a multidão, agora compelida para ver Merrick. Ela não prestava a menor atenção nas pessoas que empurrava para abrir caminho. Parada agora na frente da multidão, ela procurou pelos corredores preparando seus cavalos para a corrida. Merrick já estava montado sobre o grande garanhão negro. Os dois eram uma visão formidável. Ambos escuros. Ambos magníficos.
Sua respiração ficou presa na garganta quando Merrick empinou o garanhão perto dos outros competidores, obviamente com a intenção de intimidá-los. Os cabelos de Merrick estavam amarrados para trás, chamando a atenção para sua impressionante beleza. Ele usava uma camisa branca, aberta no pescoço, franzida e aparentemente deslocada entre o povo simples do campo. Estava com calças justas pretas e suas botas estavam polidas e brilhantes. Ela nunca vira um homem mais bonito. Além dos outros irmãos Wulfs.
Todos eram realmente bonitos. Jackson era um amigo íntimo dela. Eles se encontraram no exterior ano passado. Agora ele estava casado. Uma mulher que alguns diziam ser bruxa, mas Anne gostara de Lady Lucinda no momento em que a conhecera. Por Deus, Merrick se parecia mesmo com Jackson. Parecia tanto a ponto de serem irmãos.
Ela devia contar a Merrick sobre sua estranha semelhança com Jackson Wulf. Isso responderia a algumas questões que Merrick tinha sobre seu pai. Mas também poderia simplesmente trazer problemas para os irmãos Wulf, e Deus sabia que eles já tinham problemas suficientes por si só.
Anne estava num impasse sobre suas suspeitas. Ela valorizava sua amizade com Jackson, achava que ele era engraçado e charmoso e nenhuma das coisas que frequentemente comentavam sobre ele. Mas Merrick tinha o direito de ter o conforto de pelo menos saber de onde veio, se de fato suas suspeitas estivessem corretas. E como não estariam? Merrick tinha que ser um Wulf; estava lá tudo o que tinha de estar.
Tenha cuidado com o lobo em seu estábulo. O aviso da vidente subitamente voltou à mente de Anne. Não o lobo, mas Wulf. Merrick era reconhecidamente ilegítimo, mas ele era um Wulf apesar de tudo. Ela estava realmente com muita vontade de dizer a ele que havia resolvido o mistério de quem seu pai havia sido.
Os corredores se alinharam perante ela. Seus cavalos dançando e empinando na prontidão da corrida. Atrás dela, ela ouvia homens fazendo apostas. Merrick era o favorito, muitos apostando no novo homem do Conde.
Ela também ouvia murmúrios das mulheres presentes. Sussurros velados sobre a beleza e a boa forma do cavalariço chefe – conversa que a fez endireitar as costas.
- Imagino que Lady Baldwin passe mais tempo do que o normal perto dos cavalos do marido por esses dias. – uma mulher fez piadas. - Ouvi que ela gosta de seus amantes jovens e viris.
- Ela não ficará desapontada com esse, então. – Outra mulher riu. – Suponho que o homem esteja acostumado a servir as mulheres de seus patrões, como todo bom garanhão.
As mulheres riram à socapa e Anne se afastou da conversa e do sentimento mau que lhe trouxe ao estômago. Ela havia notado o olhar que sua tia havia lançado a Merrick naquela manhã na sala de jantar. Viu o olhar dela vagar por ele de modo avaliativo. Anne não pensara muito sobre isso, além de que ele era o tipo de homem que atraia a atenção de uma mulher, jovem ou não. Certamente sua tia não havia se aproximado dele no estábulo e se exibido para ele, sugerindo que estava pronta para uma aventura.
Subitamente o ciúme rasgou Anne. Ela não tinha direito de sentir essa emoção. Ela não tinha o direito de suspeitar que sua tia estivesse algo além de atraída pela aparência dele, sem demonstrar seu interesse. Então Anne se lembrou da advertência que o tio fez a elas sobre as galinhas se comportarem. Teria o aviso sido endereça a esposa ao invés de a Anne?
- Tolice! – ela se censurou. Ela nunca sentira ciúmes por causa de um homem antes e não gostou da emoção. Faz com que a pessoa não pense racionalmente. Querendo acalmar suas repentinas preocupações, ela olhou ao redor procurando pelos tios. Eles haviam se juntado à multidão de observadores que esperavam a corrida. Eles estavam poucos passos à frente, sua tia encarando Merrick enquanto ele acalmava o garanhão, enquanto seu tio claramente estava apostando no resultado da corrida.
Merrick, como se sentindo a observação de tia Claire, olhou na direção da mulher, manteve seu ousado olhar por um momento, então o desviou, ela supunha na procura de uma presa mais jovem e bonita. Os olhos dele pousaram em Anne. Ela tentou desviar o olhar, mas não conseguiu. Engraçado, ela nunca sentia esse tremor no estômago e a aceleração do pulso quando Jackson Wulf olhava para ela. Tão parecidos e ainda assim tão diferentes.
Uma trombeta soou e Merrick desviou o olhar, seu interesse agora focado na corrida. Anne corou por ele ter conseguir prender o olhar dela e olhou ao redor nervosa. Ela viu a tia observando-a, sua desaprovação óbvia pela carranca com que a olhava. Anne se recusou a se sentir envergonhada, depois de ouvir o que acabara de ouvir sobre a tia e seu gosto por homens mais jovens. Estava claro que ela podia se comportar mal, mas Anne não. Ela levantou o queixo numa demonstração de desafio, e foi recompensada pelo súbito olhar de surpresa da tia.
Um tiro foi disparado e Anne voltou sua atenção à corrida. Os cavalos e cavaleiro dispararam e vivas soaram na multidão. Como ela desejava tomar parte na corrida. Estar cavalgando a uma velocidade absurda através da campina, seus cabelos voando atrás dela, de pernas abertas no controle do cavalo. Ela se viu envolvida na atividade e gritou junto com a multidão quando Merrick passou à frente dos outros competidores.
Tinha acabado quase antes de começar. Merrick ganhou facilmente, e a maioria da multidão se empurrava para ir cumprimentá-lo. Anne não pode fazer o mesmo. Não seria apropriado, mas por um momento ela desejou estar entre aqueles que se juntavam ao redor de Merrick. Ela ansiava por jogar-se em seus braços e beijá-lo.
A culpa por seus ousados pensamentos transpareceram. Ela olhou para trás para seus tios, esperando que eles não tivessem notado seu entusiasmo pela corrida. Eles não estavam prestando a menor atenção a ela, mas pareciam estar envolvidos em uma ardente discussão. Ela apostaria que era algo relacionado a Merrick. Olhou outra vez para o cavalariço chefe, e percebeu que ele também estava prestando atenção em seus tios.
Era um absurdo, Anne pensou, mas Merrick parecia estar ouvindo a conversa deles. Ele não poderia possivelmente ouvir o que quer que eles estavam conversando na distância em que se encontravam, sem mencionar os gritos e tapas nas costas daqueles que se reuniam em volta dele, mas quando ele olhou para Anne, ela leu um certo alarme em sua expressão geralmente afetada.
Momentos depois ele foi distraído pela entrega do prêmio ao vencedor da corrida. Os tios estavam repentinamente ao lado de Anne.
- Vamos para casa agora, Anne – sua tia instruiu. – Acho que você teve excitação suficiente por hoje.
A careta de desaprovação ainda marcava os lábios finos da tia. Geralmente, Anne teria ficado devastada por ser a razão do desapontamento seja da tia, seja do tio. Hoje, isso parecia ter menos importância. Apesar de tudo, ela seguiu obedientemente a eles e voltaram para a carruagem.
Merrick voltaria para casa, também, embora ela duvidasse que ele cavalgasse junto com eles. Ele parecia gostar de ficar sozinho. Um lobo solitário. Um Wulf na verdade, ela se relembrou. Contaria a ele sobre suas suspeitas? Isso resolveria algo ou apenas traria mais problemas?
Não era da conta dele, Merrick tentou se assegurar pela centésima vez desde que retornara à residência. Ele era um criado, nada mais. Não era sua função se envolver com a vida de Anne. Ainda assim, a conversa que ouvira entre Lorde e Lady Baldwin o incomodava. Deveria contar a Anne o que ouvira, e ela acreditaria nele se o fizesse?
Merrick andava de um lado ao outro dentro do estábulo escuro, tomado pela indecisão. Ele nunca se envolvera em tais assuntos antes. Mas então ele já estava envolvido, querendo ou não. Maldita seja sua super audição e todas as coisa estranhas sobre ele. Era uma maldição algumas vezes.
Mas Anne precisava ser avisada. Ele se importava demais com ela para deixá-la ser traída. Ela ficara longe do estábulo por uma semana. Estava tudo bem, já que ele estava cruzando a égua cinza e sabia que o tio de Anne não teria desejado que ela testemunhasse o acasalamento. Ainda assim, havia perturbado Merrick não vê-la. Também serviu para que ele percebesse o quão enamorado estava. O que não lhe fez nenhum bem.
Embora fosse tarde da noite, Merrick pensou que era melhor falar com Anne imediatamente. Ele sabia qual quarto no andar superior era o dela. Ele a vira parada na janela olhando para fora uma ou duas vezes na semana passada. Merrick poderia jogar uma pedra para chamar a atenção dela. Ele quase a derrubou quando estava saindo do estábulo.
- Bom Deus. – ela ofegou. – Você quase me mata de susto. O que você está fazendo deslizando por ai a essa hora da noite?
Ela lhe dera um começo também. – O que você está fazendo deslizando por aí a essa hora da noite? – ele devolveu.
- Preciso falar com você. – ela respondeu. – Em particular, então eu pensei que era melhor esperar até todo mundo ter ido para a cama.
Embora ele estivesse curioso em saber o porquê de Anne procurar por ele, suas preocupações sobre o que ouvira mais cedo estavam predominantes na mente de Merrick. – Também preciso falar com você. Eu ouvi algo hoje que acho que você deve saber.
- Ouviu algo? – a testa dela franziu. – Diz respeito a mim?
Eles estavam parados na entrada do estábulo, em plena visão se alguém quisesse ver ou estivesse acordado até mais tarde. Merrick pegou no braço dela e a puxou para dentro.
- Eu escutei sua tia e seu tio discutindo na feira.
Anne olhou para ele de forma estranha. – Como você pode ouvi-los? Pelo que vi, você nem chegou nem perto da distância necessária para falar ou ouvir meus tios essa tarde.
Ele não iria entrar em detalhes sobre sua habilidade de audição anormal. Ele já contara a ela muitas coisas sobre seus estranhos dons. – Eu os ouvi. – ele insistiu. – E eles estavam discutindo sobre você.
Embora estivesse claramente confusa sobre como ele poderia ter ouvido a conversa de seus tios, uma luz de interesse brilhou nos adoráveis olhos dela. – Discutindo sobre mim?
- Sim. – ele respondeu. – Sua tia estava preocupada sobre nós dois. Sobre o modo como olhamos um para o outro. Ela disse que eles fizeram o melhor que podiam para garantir que você não encontrasse um homem para se casar que fosse adequado e ela não deixaria que você cometesse um erro com um que não fosse.
- Como? – Anne sacudiu a cabeça. – Isso não faz nenhum sentido. Não é que eles queriam que eu não me casasse, simplesmente ninguém adequado pediu a minha mão.
- Anne. – Merrick pegou os ombros dela nas mãos. – Imagino que houve muito mais pedidos do que você teve conhecimento. Você é adorável. E doce. Eles não querem que você se case porque se você não estiver casada quando completar vinte e um anos, sua herança irá para o controle deles. Eles querem sua fortuna, Anne.
Ela se afastou dele como se ele a tivesse golpeado. – Isso não é verdade. Eu vou ficar com minha herança quando fizer vinte e um anos. Isso é conhecido há muito tempo.
Merrick tinha de fazê-la compreende. – Apenas se você estiver casada, Anne. Eu os ouvi dizer isso. Senão, eles assumirão o controle de sua herança até que você faça vinte e cinco anos, que então virá para você quer esteja ou não casada. Aposto que até eles já terão gasto tudo, ou a investido de tal maneira que você não consiga reavê-la.
Ela parecia abalada. – Mas essa é minha herança. – ela insistia. – Nunca soube que havia algo relacionado com casamento envolvido.
Anne não queria acreditar nele, Merrick percebeu. Ela ainda estava ligada à esperança de que seus tios se importavam mais com ela do que suas ações demonstravam. – Eles não queriam que você soubesse. Eles estão profundamente endividados. Eu ouvi sua tia dizer isso quando conversava com seu tio, embora mantivessem a voz baixa. Mesmo o teto sobre a cabeça deles algum dia passará a ser de seu marido. Eles podem perder tudo se você se casar, Anne.
A dúvida ainda nublava seus olhos. Era difícil para ela confiar nas palavras de um estranho sobre o que ela queria acreditar sobre seus tios. – Não tenho desejo de machucar você, Anne. – ele disse. – Se não quiser acreditar em mim, então não o faça. Pelo menos eu lhe disse o que ouvi e minha consciência está limpa.
Com o dever cumprido, ele pensou que devia se afastar dela e retornar ao quarto onde dormia antes de cair na tentação de puxá-la para seus braços. Merrick se lembrou de que ela viera lhe dizer algo. – O que é que você queria me contar?
Ainda usando uma expressão confusa, ela mordeu seu lábio inferior. – Eu...não era nada. Nada de minha conta, como isso não era da sua. Deixe para lá.
Ele a magoara querendo ou não. Mesmo que Anne suspeitasse que seus tios não a amassem, ouvir que eles apenas pensavam nela como um meio para atingir um fim, conquistando seus próprios desejos egoístas, a havia ferido profundamente.
Merrick entendia a dor de não ser querido. Ainda assim, talvez ela precisasse de tempo para pensar no que ele lhe havia contado antes que isso pudesse penetrar – antes que ela pudesse aceitar que ele não tinha motivos para mentir para ela. Ele havia começado a se afastar dela novamente quando seus ouvidos afiados perceberam o leve ruído de um galho se partindo. O ruído de chinelos sobre as pedras que faziam o caminho da casa para o estábulo.
- Está vindo alguém. – ele disse. – Melhor se esconder até vermos quem é e o que quer.
Anne parecia estar se sacudindo mentalmente. Ela olhou ao redor. – Não ouço nada.
- Quieta! – Merrick a advertiu novamente. Ele a pegou pelo braço e a conduziu até uma baia vazia. – Fique aí dentro e não saia até a pessoa que está chegando tenha ido embora.
- Mas, - ela começou a protestar. Merrick não permitiu que ela o fizesse. Ele gentilmente a empurrou para dentro da baia e rezou para que ela ficasse quieta. Ele não precisava ser encontrado sozinho com ela a essa hora da noite.
Uma pessoa apareceu na entrada do estábulo momentos depois. Merrick não se surpreendeu pela visita dela. Era a tia de Anne. A mulher estava de olho nele desde daquela manhã em que fora apresentado a ela. Ele estava acostumado com as visitas das esposas de seus antigos patrões. Merrick geralmente se divertia com o interesse delas, mas não essa noite, e não com essa mulher em particular.
- Posso lhe ser útil, milady? – ele perguntou.
Ela caminhou sinuosamente na direção dele.
– Espero que sim. Reparei em algo que me perturbou hoje e pensei que devíamos esclarecer o assunto. Não vi razão para envolver meu marido.
- Imagino que não. – Merrick disse secamente.
- Diz respeito à Lady Anne. – a mulher continuou. – Temo que ela esteja se afeiçoando a você. E que você possa estar tirando vantagem da inocência dela.
- A senhora acha?
A mulher se aproximou ainda mais. A tia de Anne não era uma mulher sem atrativos, mas ela era velha o bastante para ser a mãe de Merrick e a cara amarrada que ela sempre usava havia aprofundado as linhas em sua testa e ao redor da boca.
– Vi o modo como olha para ela...e o modo como ela olha para você. Anne é uma linda jovem e não duvido que a ache de seu gosto, mas não quero que você a seduza.
Merrick se apoiou casualmente contra a baia onde Anne estava escondida.
– É muito honrado de sua parte protegê-la.
Ela deu de ombros.
– Suponho que mesmo uma garota sensata como Anne possa perder a cabeça por causa de um rosto bonito. E tenho certeza de que você está muito acostumado com as mulheres se jogando para você, Merrick. Não há necessidade, contudo, de correr atrás dela quando existe outra opção para você.
Embora ele já soubesse qual seria a resposta dela, Merrick perguntou. – E qual outra opção seria?
A mão dela se levantou e seus dedos traçaram um caminho preguiçoso pelo peito dele. – Eu, é claro. – ela respondeu. – Deflorar uma inocente é uma coisa. Ter um caso com uma mulher experiente é outra. Meu marido me chateia e o tem feito desde uma semana após casarmos.
Merrick não queria que a mulher o tocasse, mas Anne precisava ser convencida de que seus tios não levavam seu melhor interesse no coração, não importando que ela quisesse pensar o contrário. – A senhora está preocupada de que eu arruíne Lady Anne antes que arrumem um bom casamento para ela?
- Não seja tolo! – a mulher rebateu. – Para ser honesta, eu estava simplesmente sentindo que ela estava se intrometendo em meu território. Eu considero tudo aqui minha propriedade...inclusive você. A mulher virou a cabeça para o lado. – Agora que você mencionou isso, até que não seria uma má idéia. Veja, eu preferiria que Anne não se casasse. Seria benéfico para mim se ela não o fizesse.
Merrick sabia que cada palavra dita pela mulher despedaçava Anne, mas talvez Anne fosse muito inocente para seu próprio bem.
– Então agora a senhora está me pedindo para arruiná-la para que ela não sirva para ser esposa de um cavalheiro de sua própria classe social?
- É uma possibilidade. – a mulher respondeu. – Mas primeiro, eu quero me saciar com você. Temos um acordo?
Ele parou a mão da mulher que tinha subido pelo seu peito. – Não. Não temos. Eu não sou seu para que me dê ordens. Você não me possuiu como um cavalo no estábulo de seu marido. Eu não quero levá-la para a cama, Lady.
O rosto dela, talvez antigamente bonito, mas agora apenas amargo encheu-se de cor. – Você está me repelindo?
- Não tenho muitos direitos, mas imagino que decidir a quem dou ou não prazer seja um deles. – ele garantiu a ela. – Volte para casa e consiga o que necessita de seu marido.
A boca da mulher se abriu. – É Anne, não é? Você quer apenas ela.
Merrick pensou antes de responder. – Eu me preocupo com Anne. Eu não a humilharia do modo como a senhora quer que eu faça, e certamente não para seu beneficio.
- Como você pode saber que é de meu beneficio? – os olhos da mulher se estreitaram sobre ele. – E por que você se importaria desde que você conseguisse o que deseja...a menos. – Ela subitamente riu. – Oh querido, você se apaixonou por ela.
De verdade? Merrick nunca havia se apaixonado antes. Ele apenas sabia que queria proteger Anne. Ele queria que ela fosse feliz. – A senhora deve ir. – ele disse a mulher. Anne já ouvira tudo o que precisava ouvir.
- Pobre tolo! – a mulher disse rindo. – Até mesmo Anne sabe o lugar dela na vida, e o seu. Não pense que você é o primeiro a se sentir atraído. Tivemos que expulsar os pretendentes a tapas, embora Anne não esteja consciente disso. Prefiro que ela não saiba. Deixe-a pensar que ela não é interessante o suficiente para atrair a atenção de um homem. Pelo menos por mais um tempinho.
- Posso contar a ela o que a senhora acabou de me dizer. – Merrick disse.
A dama arqueou uma sobrancelha.
– Você não ousaria. E ela não acreditaria em você de qualquer maneira. Anne vê o melhor em nós e sempre viu. Ela é amaldiçoada dessa maneira, suponho. Coitadinha, sempre faminta por amor.
Raiva por Anne o queimou por dentro.
– Como vocês não a amam? – ele não pretendia que o pensamento soasse alto.
Lady Baldwin se endireitou.
– Cumpri minha obrigação para com Anne. Eu não queria crianças. Eu nem mesmo gosto delas, mas meu marido me convenceu que haveria uma recompensa se ficássemos com Anne e a criássemos. Não permitirei que minha recompensa me seja arrancada. E acho que seu tempo aqui chegou ao fim. Você não quer cooperar e então eu farei com que seja despedido. Eu simplesmente direi a meu marido que você não apenas tentou levar Anne até seu quarto, como também me fez propostas. Arrume suas coisas, você partirá assim que amanhecer.
Com esse aviso, Lady Baldwin se virou e partiu apressadamente do estábulo. Merrick esperou um pouco para ter certeza de que ela havia ido embora. Ele então abriu a baia atrás dele e entrou. Encontrou Anne aconchegada no chão coberto de palha. As mãos dela cobriam o rosto e seus ombros se sacudiam. O coração dele se partiu por ela. Ele se agachou perto dela e a tocou gentilmente.
Anne olhou para cima, lágrimas descendo pelo rosto.
– Eu não queria acreditar em você. Estava tão cega por minhas esperanças. Sinto-me uma idiota. Isso o deixa feliz?
Antigamente, Merrick supunha que lhe traria algum prazer expor a traição da tia dela, separar uma família, uma da classe superior de qualquer modo. Merrick não sentiu prazer ao ver as lágrimas de Anne. Elas pesavam em seu coração.
– Sinto muito. – foi tudo o que conseguiu dizer.
Em sua dor, ele esperava que ela o ofendesse, e ele entenderia, mas ao invés disso, ela apenas cobriu o rosto com as mãos e se inclinou contra o corpo dele.
– O que é que vou fazer?
Merrick a pegou pelos ombros e a forçou a se sentar.
– Olhe para mim, Anne. Você precisa se casar. E quanto mais cedo, melhor.
Ela piscou para ele.
– Casar? Com quem?
- Com qualquer um. – Merrick insistiu. – Vocês dois podem fugir para Gretna Green. Vocês podem se casar antes que seus tios possam impedi-los.
Anne passou uma mão trêmula sobre os cabelos. – Isso é impossível. Primeiro eu teria de ir até Londres e encontrar alguém, depois teria de convencê-lo a se casar comigo. Meus tios nunca me deixariam ir sem eles. Não posso ir sozinha. Não o caminho todo sem algum tipo de proteção. Há ladrões nas estradas. Não seria seguro.
Merrick seria despedido amanhã de qualquer maneira. – Eu posso levá-la até Londres, Anne. Agora, essa noite. Eu posso protegê-la.
Seus grandes olhos de corça se ergueram para ele. Ela se aproximou e gentilmente o tocou no rosto. – Por que o faria? Por que você se importa, Merrick?
Por que realmente? Ele nunca fora de se meter em assuntos que não lhe diziam respeito antes. Mas sentia que Anne lhe dizia respeito.
– Sei como é se sentir como se não significasse nada para alguém. Mas você não é nada, Anne. Eu não os deixarei fazer com que se sinta assim.
Embora seu coração estivesse partido, Anne sentiu que ele voltava a vida nesse momento. Ninguém se importara com ela como Merrick parecia se importar. Ele encorajara suas esperanças e sonhos. Ele a protegera quando ela precisara de proteção, e ele havia exposto a traição dos seus tios para ela, quando ela tinha sido muito inocente para percebê-la sozinha. Anne não conseguia pensar em nenhum cavalheiro de Londres com quem desejasse se casar. Mas ela conhecia um homem que a fazia se sentir como nenhum outro homem o fizera, ou qualquer outro jamais o faria.
- Case-se comigo, Merrick. – ela sussurrou.
Os olhos dele se arregalaram por um momento.
– Não, Anne. – ele disse suavemente. – Você não pode se casar comigo. Você sabe disso.
- Eu posso. – ela argumentou. – Podemos fugir juntos hoje à noite, como você disse. Podemos ir para Gretna Green.
Merrick sacudiu a cabeça escura. – Você não sabe o que está dizendo, Anne. Você está chateada, não está pensando claramente.
Anne sabia exatamente o que queria, talvez pela primeira vez em sua vida. Ela amava Merrick. Como, quando ou por que não parecia importar nesse momento. Ela sabia que ele se importava com ela, se, é claro, ele não a amasse. Mas ela estava acostumada com isso. Ela tinha de fazê-lo querer se casar com ela por motivos que seriam melhores para beneficiá-lo. Ela tristemente entendeu isso agora também.
- Você é amargo por causa da vida que lhe foi negada – ela disse a ele. – Que vingança melhor do que se casar nela? Tudo o que tenho será seu. Você não terá mais que dormir no estábulo, Merrick.
Ele sacudiu a cabeça novamente, mas Anne viu que ele estava pensando sobre o que ela acabara de dizer. Considerando a oferta dela. – Se tudo o que tem irá para um homem de qualquer maneira, por que simplesmente não deixa seu tio ficar com tudo? – ele raciocinou.
Anne não podia mentir para ele sobre isso. – Estou com raiva. – ela admitiu. – E magoada. Passei minha vida dançando no ritmo deles na esperança de conseguir a aprovação deles, seu amor. Eu tenho algumas condições se você se casar comigo.
Ele levantou a sobrancelha. – Que seriam?
- Minha independência. – ela respondeu. – Espero fazer o que me agradar.
- E o que você vai esperar de mim?
Olhando nos olhos dele, ela queria dizer que esperava que ele a amasse, mas Anne havia aprendido sua lição sobre amor. Ela sabia agora que não era algo que uma pessoa pudesse arrancar de outra. Tinha que ser oferecido de bom grado, livremente.
– Espero que você faça o que lhe agradar também. – ela respondeu. – Desde que não interfira com o que me agrade.
Ele fez um ruído na garganta.
– Você me quer em seu poder.
Não era isso o que Anne realmente queria, mas ela não podia dizer a ela o que realmente desejava. Mostraria a ele que ela não havia aprendido nada.
– Não estou tão cega quanto ontem, ou mesmo anteontem. Entendo agora que minha visão de mundo não era real. Pessoas não são boas e gentis simplesmente por ser o melhor a se fazer. Elas sempre querem algo.
A resposta dela partiu o coração dele. Merrick havia destroçado sua visão do mundo. Ele já havia roubado sua inocência. Mas ela estava certa. Que melhor vingança contra uma classe que havia ofendido a ele e sua mãe do que entrar nela através do casamento? Ter tudo o que havia sido negado a ele? Ter tudo... menos Anne. Ainda assim, ele não era um tolo. E Anne precisava de sua ajuda.
- Tudo bem. – ele disse. – Eu me caso com você, Anne.
Anne passou a manga do vestido pelo nariz.
– Não tenho nenhum dinheiro comigo.
Isso não era um problema no momento. Merrick supunha que não seria um problema em seu futuro também.
– Tenho o prêmio que ganhei hoje. Vai nos levar para onde devemos ir e nos trazer de volta.
Eles olharam um para o outro na escuridão. Merrick sentiu a súbita indecisão dela, ficou contente por isso, para dizer a verdade. Ele seria um tolo por recusar a oferta dela. Mas se ela se decidisse voltar à razão, ele não poderia dizer que não se sentiria aliviado. Ela respirou profundamente pouco depois.
- Sele os cavalos. – ela disse.
Merrick e Anne estavam acampados a menos de um dia de cavalgada de Gretna Green. Anne havia colocado as calças e botas do menino que ajudava no estábulo antes deles fugirem. Merrick havia se provado, sem surpresa, muito útil durante a viagem. Ele sabia quando ir pela floresta e quando usar a estrada. Onde encontrar comida fresca. Ele sabia muitas coisas para um mero mortal. Essa noite ele disse que poderiam acender uma fogueira.
Eles se sentavam perante ela agora, comendo um coelho assado que ele havia capturado e tirado a pele mais cedo. Merrick estava sentado de frente a ela. Seus olhos brilhavam na escuridão. Anne tentou se dizer que era devido à luz da fogueira...mas ela já os havia visto brilhar antes quando não havia fogo.
Ela não havia contado a ele sobre suas suspeitas com relação ao pai dele. A fuga deles de Blackthorn Manor não havia deixado tempo para pensar em mais nada a não ser partir. Mas agora ela tinha de contar a Merrick. Ele merecia saber.
- Venho tentando lhe contar uma coisa. – ela disse.
- O que é?
Por um momento Anne ficou hipnotizada pela visão de Merrick lambendo a gordura de seus longos e finos dedos. A carne estava meio bagunçada e eles não tinham todos os luxos que teriam numa casa.
- Anne? – ele perguntou.
Ela tentou recuperar os pensamentos.
– Creio saber quem foi seu pai.
Seus olhos estranhos se fixaram nela na escuridão.
– Como você poderia saber disso? Nem eu mesmo sei.
Anne usou as calças grosseiras que vestia para limpar as próprias mãos engorduradas.
– Quando eu o vi pela primeira vez, quero dizer a luz do dia, tive a estranha impressão de já tê-lo visto antes. No dia da corrida, eu compreendi que era porque você é parecidíssimo com Lorde Jackson Wulf. A razão de eu não ter notado antes é por você ter cabelos escuros e olhos claros enquanto que com ele é o oposto.
Merrick franziu a testa.
– Wulf? Eu ouvi falar deles. Qualquer homem que entenda algo sobre cavalos ouviu falar deles. Nunca os vi. Eles não passam muito tempo em Londres, que eu saiba.
- Não. – ela concordou. – Eles preferem ficar na propriedade de campo a maior parte do tempo. Eles...bem, há muitos boatos sobre eles.
Seus olhos encontraram os dela novamente. – Amaldiçoados. – ele disse suavemente. – Dizem que são amaldiçoados pela insanidade.
Anne sacudiu a mão num gesto de negação.
– Não acredito que sejam amaldiçoados. Lorde Jackson é realmente muito gentil se algum se dispuser a conhecê-lo e tão são quanto qualquer homem. Não estou muito familiarizada com os outros irmãos, mas tenho certeza de que são muito educados quando querem. Lorde Jackson e eu somos amigos.
Merrick levantou uma sobrancelha.
– Amigos?
Ela poderia estar se enganando novamente, mas Anne pensou ter captado uma nota de possessividade na voz dele.
– Ele é casado. – ela revelou. – Quero dizer, ele não era quando nos encontramos no exterior, mas agora ele é.
Merrick continuou a estudá-la, como se tentando decidir se a amizade dela com Lorde Jackson pudesse ser mais do que inocente. Finalmente ele perguntou.
– E eu me pareço com ele?
Ela concordou com a cabeça.
– Muito. Demais para ser coincidência.
Levantando um cantil, Merrick bebeu. – O pai está morto, se me lembro bem.
- Sim. – Anne respondeu. – Pouco mais de dez anos atrás. Ele...ele se matou. Dizem que estava louco quando fez isso, e sua mulher, louca também, morreu pouco depois. Isso causou um escândalo.
Ele ficou em silêncio, como se digerindo o que ela lhe contara.
– O que você disse pode ser verdade, Anne, mas não acho que faça diferença agora.
A resposta dele a surpreendeu. Anne se levantou do tronco onde estava sentada.
– Não faz diferença? Saber que você é um Wulf? Saber que você tem meio irmãos? Isso não faz diferença para você?
Merrick deu de ombros.
– Não muda nada para mim, Anne. – Ele também se levantou. – Ainda sou um bastardo. Um segredo que meu pai quis manter escondido do resto do mundo. Seu segredinho sujo. Duvido que os irmãos me dêem boas vindas na família de braços abertos, que desejem dividir suas vidas e sua fortuna comigo. Ainda não tenho nada. Nenhum nome, e agora, nenhuma posição.
Anne deu a volta na fogueira para se juntar a ele.
– Amanhã tudo isso vai mudar. – ela o relembrou. – Amanhã você terá o que eu tenho. Mais importante, amanhã você terá a sua vingança.
Os brilhantes olhos dele sustentaram os dela. – E você terá a sua. Certo, Anne?
Ela teve de desviar os olhos dos dele. Para ela, o casamento não era uma simples questão de vingança. Mas Merrick não precisava saber disso.
– Sim. – ela respondeu. – Eu terei minha vingança.
O toque dos dedos dele em seu rosto era gentil. Ele a forçou a olhar para ele novamente.
– Você deveria querer mais do que isso, Anne. Eu, eu corto minha carne pela necessidade de vingança. Mas você não é como eu. Você é diferente.
Lágrimas queimavam os olhos dela. Ela piscou para afastá-las. Ele estava errado. Ela estava amarga.
– Gastei minha vida tentando ser a pessoa que pensei que meus tios queriam que eu fosse. Gastei minha vida tentando fazê-los me amarem. Era tudo o que eu queria, ser amada novamente.
Os dedos dele afastaram uma lágrima perdida no rosto dela. Os olhos dele estavam suaves enquanto olhava para ela. – E você merecer ser... amada. Estou pensando que não posso fazer isso, Anne. Casar-me com você. Nem mesmo por vingança.
Merrick também a rejeitaria? Essa possibilidade não ocorrera a Anne quando ela fugira pela noite com ele. – Você também não me quer. – ela sussurrou.
Ele fechou os olhos por um momento, como se a acusação o magoasse. – Eu a quis desde o primeiro instante em que a vi. Há coisas que nem mesmo eu entendo sobre mim mesmo, Anne. Você é boa e gentil e inocente, e você merece mais do que isso. Um acordo.
Ela acreditava que se endurecesse o coração contra o mundo, isso a pouparia de sofrer novamente. Mas agora Anne entendeu que ela era tudo o que aspirara ser quando crescesse. Seu coração era terno, e era terno por esse homem. Ela se aproximou e o tocou no rosto.
- Você é um homem melhor do que acredita ser. Nenhum homem jamais me fez sentir as coisas que você me faz sentir.
Merrick subitamente se afastou dela e ficou de costas.
– Eu faço todas as mulheres sentirem coisas. – ele disse, seu tom cruel – Esse é um dos meus “dons”.
Anne não tinha certeza do que ele estava dizendo. Ela supunha que ele estava considerando a aparência física dele como um dom. A voz dele, baixa e ritmada, que fluía por ela doce como mel, ela imaginava que podia ser considerado um dom, também. Mas Anne sabia que sua atração por ele estava além da beleza exterior. O cheiro dele, embora a atraísse, não poderia fazê-la sentir algo que ela não sentisse honestamente dentro dela.
Quisesse ou não, Merrick tinha princípios morais. Ela suspeitava fortemente que ele não tiraria a inocência dela hoje a noite sem se casar com ela amanhã. O que deixava Anne sem escolha a não ser seduzi-lo. Ela não podia voltar atrás agora. Ela não queria voltar atrás.
Anne diminuiu a distância entre eles e tocou-o no ombro. Ele se voltou para olhar para ela. Colocando-se na ponta dos pés ela pressionou a boca contra a dele. Embora inexperiente na arte da sedução, Anne sentia que devia se livrar de toda inibição – simplesmente agir conforme suas emoções e deixá-las carregá-la, e ele com ela, ela esperava.
Os lábios de Merrick eram quentes, firmes, e infelizmente, indiferentes. Ela olhou para ele por baixo dos cílios. Seus olhos estavam abertos. Ela encerrou o contato.
- Diga-me que me quer, Anne.
Certamente ele sabia que ela o queria. Certamente ele tinha experiência para saber.
– Você sabe que eu o quero.
Merrick sacudiu a cabeça.
– Não, eu não sei. É o meu cheiro que a faz me querer? A razão tem algo a ver com isso? Diga que você me quer, Anne. Apenas a mim.
Ele estendeu a mão e a trouxe mais para perto. O cheiro dele estava no ar agora e Anne tinha de admitir que era um poderoso afrodisíaco. Mas era o homem que ela queria. O homem que a ensinara a cavalgar sem sela, que a levara para correr pelas charnecas à luz da lua. O homem que a salvara dos lobos. O homem que se importara com ela o suficiente para avisá-la sobre a traição dos seus tios. O homem que daria às costas a uma fortuna porque achava que ela merecia mais do que um acordo feito por vingança.
Durante toda sua vida, Anne havia esperado ser amada novamente. Ansiado por ser amada novamente. Naquele momento, ela compreendeu que Merrick a amava. Talvez ele nem soubesse disso, mas ela sabia, e no momento, era só o que importava.
- É o homem que eu quero, Merrick. – ela respondeu. – É o homem que eu amo.
Os olhos dele brilharam na escuridão.
– Você me ama? Um bastardo? Um homem com dons estranhos que ele não compreende e um coração amargo contra um mundo que não tem um lugar adequado para ele?
Os braços dela enlaçaram o pescoço dele.
– Seu lugar é comigo. O destino nos uniu. Eu preciso de sua força e você precisa de minha suavidade.
Vagarosamente, ele abaixou a cabeça. Seus lábios tocaram os dela suavemente.
– Você tem força suficiente em você, Anne. – ele disse.
- Faça amor comigo. – ela sussurrou. – Compartilhe tudo o que você é comigo. E eu compartilharei com você tudo o que sou, ou possuo.
Merrick fez um som baixo na garganta, quase um rosnado. Seus olhos brilhavam como fogo azul na noite.
– Não me tente, Anne. Você sabe que eu a quero.
Ela levantou o queixo.
– Então me possua, Merrick.
Ele sorriu pela ousadia dela.
– Você quer me fazer cair na armadilha de lhe tirar a inocência para então ser obrigado a dizer os votos amanhã. Muito esperta, Anne.
Embora o que ele dissesse fosse verdade, ele não precisava fazer parecer que essa era a única razão para Anne desejá-lo. Quem melhor do que ele? Um homem que entendia seu amor por cavalos e cavalgadas? Um homem que a deixaria ser independente e que não se importaria muito quando ela quisesse ser má de vez em quando, talvez desde que fosse apenas com ele? Não era errado enganá-lo para que fizesse amor com ela. Anne o amava. Ele podia não dizer, mas ele também a amava. Ou ela achava que ele a amava. Estaria se enganando novamente?
- Você me ama, Merrick?
Ele afastou um cacho de cabelo rebelde do rosto dela.
– Você é uma mulher difícil de não se amar.
Isso não era uma resposta. Não realmente.
– Você me ama? – ela repetiu.
Ele desviou os olhos dela. Ela pensou que ele não fosse responder; então ele olhou novamente nos olhos dela.
– Você sabe que eu amo.
O coração dela disparou no peito. A alegria cresceu dentro dela, porque ela sabia que ele não estava mentindo para ela. Ele não estava tentando enganá-la. Afinal ela conseguiu o que queria. Corajosamente, Anne tirou sua camisa e combinação. Ela ficou parada perante ele nua até a cintura.
- Mostre-me que você me ama. – ela disse.
O fogo nos olhos dele aumentou. O olhar dele percorreu sua carne nua. Onde ele olhava, sua pele se aquecia. Seus mamilos endureceram no frio ar da noite.
- Jesus, pequena. – ele sussurrou, sua voz baixa e enrouquecida. – Você é linda. Sua pele parece uma fina porcelana – tão pálida e macia que eu temo que vou quebrá-la se tocar em você.
- Eu não vou quebrar. – ela garantiu a ele, sua própria voz entrecortada. – Toque-me e veja.
Os olhos de Merrick se fixaram nos dela. Ele se aproximou e a tocou no rosto, acariciando-a gentilmente antes de abaixar as mãos até seus seios. Eles cabiam nas mãos dele como se fosse feitos somente para ele.
Ela ofegou levemente quando ele esfregou o polegar sobre o mamilo sensível. Ele se inclinou, beijou-a no pescoço, então desceu até sua língua realizar a mesma dança hipnotizante que seu polegar fizera pouco antes. Anne agarrou-se aos cabelos dele. Seus joelhos quase cederam quando ele tomou o bico e sua boca quente e o sugou. Ele se endireitou, olhou-a dentro dos olhos, então a levantou nos braços como se ela não pesasse nada.
Os cobertores deles estavam arrumados para a noite e ele a levou para o dele, abaixou-a gentilmente e se ajoelhou ao lado dela.
– O que você sabe sobre o que acontece ente um homem e uma mulher?
- Não muito. – ela respondeu. – Minha tia nunca conversou comigo sobre essas coisas. Minha criada me disse que haveria dor na minha primeira vez com um homem.
Merrick correu um dedo sobre o braço dela.
– Não sei como é estar com uma mulher em sua primeira vez. Mas sei que pode haver prazer entre nós. Você está disposta a passar pela dor primeiro?
Ele estava oferecendo uma última oportunidade para ela recuperar o bom senso. Anne não queria recuperá-lo. Ela confiava nele. Ela tinha de confiar nele. Não haveria amor sem confiança.
- Sim. – ela respondeu. – Eu confio em você, Merrick.
Bem devagar, ele puxou a camisa por sobre a cabeça. Anne nunca o vira sem camisa, e ela rapidamente pensou que era algo que ela faria frequentemente no futuro. A pele dele resplandecia ao luar.
Uma leve camada de pelos negros cobria o peito dele, estreitando-se em uma fina linha que descia por seu estômago bem definido para desaparecer dentro da cintura de suas calças. Ela queria tocá-lo. Queria tanto que estendeu a mão e correu os dedos pelo peito dele. Ele era quente, como ela sabia que seria. Ela não sabia que um homem pudesse parecer tão macio e ser tão duro. Não havia excesso nele. Apenas músculos de aço e gloriosa pele dourada.
- Você é lindo. – ela sussurrou.
- Venha para meus braços. – ele ordenou. – Sinta minha pele contra a sua. Sinta a diferença entre nós.
Ela foi de boa vontade. O toque da pele dela contra a dele era algo como ela nunca experimentara antes. Ele enroscara as mãos nos cabelos dela e puxou sua cabeça para trás. Então ele abaixou sua boca sobre a dela e a beijou.
Eles se afundaram em um beijo onde bocas se fundiam, línguas colidiam, e a gentileza deslizava na brisa noturna. A subida suave do peito dele provocava os mamilos dela e fazia o calor fluir no lugar entre suas pernas. Ele a abaixou sobre o cobertor, as bocas ainda unidas, pele contra pele. Apenas quando a cabeça dela tocou o chão, protegida pela mão dele, ele terminou o beijo. Merrick a encarou, hipnotizando-a com seus estranhos olhos noturnos; então se curvou para beijá-la no pescoço.
Ele foi descendo, encontrando seu mamilo e atraindo-o para bem dentro da boca o que a fez enterrar as unhas nos ombros dele. Os quadris dela se arquearam para cima por uma força incontrolável. Entre as pernas ela começou a pulsar. Vagarosamente a mão dele começou a passear pelo seu corpo. Ele chegou à amarra das calças dela e a soltou, então puxou as calças para baixo dos quadris e pelas pernas.
Anne sempre fora uma pessoa tímida por natureza. Não era fácil perder essa timidez apenas em uma noite. Mas quando Merrick a beijou novamente, ela começou a relaxar. Enquanto ela a distraia com a habilidade de sua boca, ele a apresentou à habilidade de seus dedos.
O primeiro toque a fez pular, ter a mão dela lá, onde nenhum homem jamais estivera antes. Ele a acalmou com palavras gentis, mas continuou a beijá-la, não fazendo nada além de acariciar os caracóis que protegiam seu monte. Não era tão estranho, Anne decidiu, mais distraída pela língua dele aprofundando-se em sua boca do que por saber a intenção que a mão dele escondia.
Quando ela não resistiu, ele se tornou ousado. Gentilmente ele deslizou um dedo para dentro de sua fenda e esfregou um lugar onde todas as sensações dela certamente ficavam. Anne ofegou e tentou fechar as pernas.
- Não. – ele disse suavemente. – Não se feche para mim. Deixe-me lhe dar prazer antes de lhe provocar a dor.
O rosto dela ardeu de vergonha.
– Eu... eu estou molhada lá, por algum motivo.
Ele sorriu e lhe deu um beijo rápido e suave.
– Se você não estivesse, eu não estaria fazendo meu serviço. Você está molhada para que nossos corpos possam se unir. É para me acolher dentro de você, então não se feche para mim.
Anne obrigou seu corpo a relaxar. Ela nunca imaginara o que toda a intimidade com um homem exigiria, mas ela pensara que seria um encontro rápido, ambos expondo apenas as partes necessárias para completar o ato, então rapidamente arrumariam suas roupas e iriam dormir. Partes necessárias ficou martelando em sua mente.
- Eu posso tocar em você, também. – ela perguntou. – Quero dizer, aonde eu quiser?
Ele arqueou uma sobrancelha.
– Curiosa?
- Sim. – ela respondeu.
Ele se inclinou e a beijou novamente.
– Meu corpo é seu essa noite. – Ele rapidamente ficou de pé, tirou as botas, depois foi para os laços de sua calça estilo cossaco. Anne se virou de lado colocando a mãos sobre a cabeça e o observava. Ela achou que ele levou um tempo anormalmente longo para soltar as amarras das calças. Ela até chegou a pensar que ele estava enrolando, que ele talvez fosse mais tímido do que pretendia se mostrar, mas então compreendeu que ela estava prendendo a respiração, seus olhos grudados nas amarras enquanto os dedos deles sem pressa as soltavam, e que ele fazia isso para o prazer dela.
Finalmente as amarras foram soltas e ele deslizou as calças pelos quadris e pernas e as deixou cair. Ele se endireitou e ficou parado nu diante dela. Ela supôs que seus olhos se arregalaram – assemelhando-se a luas gêmeas. Palavras sussurradas pelas mulheres na feira como “garanhão” voltaram à mente dela e por boa razão.
- Você gosta do que vê, Anne?
Ela olhou para cima, para o rosto dele. Sombras escondiam suas feições, mas seus olhos ainda tinham um brilho azulado. Vagarosamente, os olhos dela passearam por ele novamente. Passou pelos ombros largos, seu peito musculoso e abdômen reto, para o membro sobressaindo-se orgulhosamente do corpo, e particularmente impressionante. Os quadris dele eram estreitos, seus flancos macios, suas pernas musculosas eram longas e cobertas de pelos negros.
- Sim. – ela sussurrou. – Seja qual for sua linhagem, você é um belo espécime de homem.
Ele foi para perto dela, inclinando-se ao lado dela. Embora os olhos dele estivessem em chamas, seu toque era gentil. Ele a beijou suavemente – provocando os lábios dela até que ela deslizou os braços ao redor de seu pescoço e entrelaçou os dedos em seus cabelos. Ele se deitou ao lado dela e a puxou para seus braços e o contato de pele contra pele, masculino contra feminino aqueceu o corpo dela e destruiu qualquer defesa que ainda restava. Vagarosamente, ele traçou com o dedo a descida do pescoço ao umbigo dela e depois desceu mais.
- Quero tocar você, saborear você, fazê-la minha... para sempre.
Ela queria isso também. Ser possuída por ele, possuí-lo também. Corajosamente, ela estendeu a mão e o tocou, deixando seus dedos deslizarem pelo peito largo, pelo estômago chato, e envolverem o sexo dele. Ele estremeceu levemente e Anne rapidamente retirou a mão.
- Machuquei você? – ela sussurrou.
- Não. – ele garantiu. – Apenas me pegou de surpresa.
Novamente ela estendeu a mão e o tocou.
– É sempre assim tão... tão..?
- Não. – ele assegurou a ela novamente. – Embora quando estou perto de você, sim, a maioria das vezes.
Ela queria perguntar-lhe mais coisas, mas ele se inclinou e a beijou novamente. Anne era inocente, mas não tão inocente que não entendesse que ele encerrara a conversa. Ele foi se abaixando e a beijou no pescoço, depois desceu mais. Enquanto provocava os mamilos com seus dentes e língua, sua mão desceu novamente até o monte feminino, e ela não se fechou para ele. Ele a acariciou lá como fizera antes, a acariciou até que ela mordesse o lábio e se movesse contra a pressão de seus dedos. Uma força começou a crescer dentro dela – uma necessidade desesperada – uma fome que ela nunca sentira antes.
A respiração dela se tornou irregular. Suas unhas se enterraram nas costas dele, e debaixo dele ela se contorcia como se não tivesse controle sobre seu corpo. Ele aumentou a pressão e quando deslizou um dedo para dentro dela ela quase pulou para fora do cobertor.
- Calma. – ele disse contra a boca dela e Anne pensou que esse era o mesmo tom que ele usava para acalmar cavalos ariscos. A pressão parou e ela queria se choramingar – implorar – mas pelo que ela ainda não tinha certeza. Gentilmente, ele abriu as pernas dela com seus joelhos e se posicionou entre elas. Instintivamente, Anne ficou tensa debaixo dele, mas ele a beijou, distraindo-a de seu repentino temor, e quando ele não fez qualquer outro movimento, ela começou a relaxar, a saborear a boca dele movendo-se contra a dela, a língua dele aprofundando-se em sua boca num ritmo que seus quadris queriam acompanhar por alguma estranha razão.
As mãos dele deslizaram entre eles novamente e ele retomou a tortura. Ele dissera que ela devia estar molhada lá e Anne ficou contente por isso ou teria ficado terrivelmente envergonhada. Ele usava dessa umidade, esfregando seu ponto sensível até que ela pensou que algo dentro dela iria explodir. Então ela o sentiu se posicionando na entrada de sua feminilidade.
Ele era grande lá, assim como todo ele era grande, e ela sentiu que ele a estirava com a ponta de seu membro. Ele se moveu um pouco mais para dentro dela e ela ofegou com a pressão. Ele ofegou também, mas por um tipo diferente de agonia, ela pensou.
- Droga. – ele sussurrou. – Você não devia ser tão boa de se tocar. Estou tentando ir devagar com você, Anne. É muito difícil fazer isso quando você é tão doce.
E dito isso, ele a penetrou profundamente.
A dor foi aguda e afiada e a pegou de surpresa. Ela não gritou, embora a respiração que saiu de seus lábios fosse mais forçada do que a anterior. Lágrimas queimaram seus olhos, e por um momento ela se perguntou como ele conseguira seduzi-la para esse fim. Ele se aprofundou e ela se preparou para mais dor. Ela não veio. Não que ela não estivesse muito consciente dele, seu tamanho a preenchendo, a esticando, mas não havia dor, apenas pressão.
- Agora que a dor já se foi, posso lhe dar prazer. – ele disse. – Você está bem?
Ela acenou com a cabeça. Ele a beijou profundamente, enquanto lá embaixo ele vagarosa, mas constantemente invadia seu corpo. Ele se moveu, e se movia de tal maneira que a estimulava, da mesma forma como fizera com seus dedos antes. Não era desagradável
Os quadris dela se arquearam para ele. Ele respirou fundo e mergulhou mais profundamente. Ela respirou fundo, também, e então seu corpo tomou o controle, seus instintos, sua paixão por ele, e o gentil galanteio se acabou. O cheiro dele preenchia seus sentidos e algo primitivo surgiu dentro dela. Suas unhas se afundaram nas costas dele, seus dentes o mordiscaram no pescoço, e ele impulsionava mais fundo, mais forte, arrancando um gemido de prazer dela. Ela começou a latejar e depois a pulsar onde eles estavam unidos. O desespero a fazia se mover selvagemente debaixo dele. Ele a empurrou de volta, entrelaçou os dedos nos cabelos dela e a encarou, seus olhos brilhando de paixão.
Foi então que ela encontrou o prazer, quando a pressão tinha chegado a um ponto que não mais podia ser contida. O calor se espalhou por ela, e seu corpo continuou a se contorcer e a convulsionar contra ele, e ele ainda se movia, ainda impulsionava, apenas prolongando o prazer até que ela pensou que fosse morrer. Quando ela pensou que não poderia mais agüentar ele a penetrou profundamente, rosnou seu nome, e se manteve lá, parado, como se estivesse à beira da morte. Então ela o sentiu estremecer. Ela se agarrou a ele, seus corações batendo selvagemente um contra o outro, corpos cobertos de suor, respirações rápidas e irregulares.
Ela pensou que havia terminado, que a tempestade que caíra sobre eles, os espancara e os cansara os levaria apenas a ficarem deitados exaustos, mas então Merrick gemeu e rolou para longe dela. Ele se dobrou, agarrando-se ao estômago.
Anne lutou para se deitar de lado, Seus membros pareciam não terem ossos.
– O que é isso, Merrick?
Ele não respondeu, mas seu corpo se sacudiu. Anne não tinha conhecimentos sobre fazer amor, mas ela não achava que isso fizesse parte do ato.
– Merrick. – ela tentou novamente. – Olhe para mim! Diga-me o que está acontecendo!
Ele inclinou a cabeça para trás. Seus olhos tinham um brilho azulado, que não era algo estranho para ela, mas quando ele ofegou com a dor, o luar brilhou nos dentes dele e eles não estavam parecidos com o que eram momentos atrás. Seus caninos tinham aumentado e se pareciam com presas. Ela o tocou no rosto e ele agarrou o pulso dela. Anne quase gritou. Os dedos dele estavam encurvados, suas unhas sobressaindo-se das pontas dos dedos como garras.
Olhando para suas mãos, como ela o fizera, Merrick rapidamente a soltou. – O que eu sou? – ele sussurrou, e sua voz soou distorcida. – O que eu sou? – ele gritou, sua voz em agonia enquanto seu corpo começou a se convulsionar e a se retorcer.
Anne se arrastou para longe dele. Agarrou seu cobertor no chão e se enrolou nele. Tremendo, ela observava, inútil e aterrorizada. O que ela via acontecendo perante ela não podia ser real. Tais coisas apenas aconteciam em pesadelos. Merrick ainda jazia no chão, nu, contorcendo-se, mas enquanto ela observava, pêlos começaram a cobrir o corpo dele. Seus membros encolheram, suas feições mudaram, e onde antes havia um homem deitado, agora se levantava um animal nas quatro patas, parado, olhando para ela na escuridão.
- Merrick? – ela sussurrou.
A fera não respondeu. Ao invés disso, olhou na direção do céu para a lua cheia. O lobo uivou, e naquele som Anne ouviu toda a dor e a raiva de um homem traído.
O animal abaixou a cabeça e olhou para Anne. Ele arreganhou a boca, mostrando as presas impressionantes. Amada por ele como homem, morta por ele como fera. Esse pensamento flutuou na mente de Anne antes de a escuridão descer sobre sua visão, cercando-a por todos os lados, engolindo-a como um todo.
O sol brilhando entre as árvores acordou Anne. Ela estava enrolada como uma bola, seu cobertor apertado contra ela. Por um momento ela não conseguiu se lembrar de onde estava ou por que. Ela tentou se mexer e seus músculos protestaram. A dor entre suas pernas trouxe a noite anterior à sua mente. Ela se sentou abruptamente e olhou ao redor do acampamento.
Merrick estava sentado em um tronco olhando para ela. Ele vestira as calças e se sentava com o cobertor enrolado ao redor dos ombros, tremendo. Ele parecia humano novamente...quase. Seus olhos pareciam assombrados.
- O que aconteceu comigo, Anne?
Ela não queria pensar sobre isso. Ela queria desesperadamente fingir que a noite passada não tinha existido...pelo menos depois de certo ponto.
– Você se transformou em lobo.
Ele piscou.
– O que você quer dizer? Eu agi como um animal?
Anne tinha dificuldade em captar o que tinha acontecido noite passada, quanto mais explicar, e para a pessoa com quem tinha acontecido. Ela apenas podia ser direta. – Não, Merrick. Um lobo. Um animal. Você se transformou em um diante de meus próprios olhos.
Ele passou uma mão trêmula sobre os cabelos; então segurou a mão diante dele e olhou para ela. – O que você está dizendo é impossível!
- É possível. – ela argumentou, apertando ainda mais o cobertor ao redor dela no ar frio da manhã. – Nunca teria acreditado nisso...até noite passada.
Ele se levantou e se livrou do cobertor. – Devemos ter sonhado com isso. – ele disse, e o olhar que lhe lançou implorava para que ela concordasse com ele.
Poderia Anne fingir? Toda sua vida havia sido um fingimento até agora. Ela devia ser honesta com ele e consigo. – Seus dons. – ela disse. – Isso pode ser mais um deles?
- Dons? – ele rosnou. – Se o que você diz aconteceu comigo não é um dom, Anne. É uma maldição.
- O que você se lembra da noite passada? – ela perguntou.
Sua expressão raivosa se suavizou por um momento. Merrick se juntou a Anne, abaixando-se ao lado dela. – Nós. – ele respondeu. – Juntos. Como um. Então a dor. A dor horrível. Depois disso, nada até que acordei nu e tremendo na floresta essa manhã.
Anne abaixou os olhos, para suas mãos agarradas ao cobertor. – Pensei que fosse morrer. – ela confessou, olhando para ele novamente. – Quando você ficou parado na minha frente como um lobo, pensei que você fosse me matar.
Os olhos dele nublaram, e ele desviou o olhar. – Nunca machucaria você, Anne. Tiro minha própria vida antes de me permitir, em qualquer forma, tirar a sua. – Ele olhou para ela de novo. – Tenho de ir embora daqui.
Hoje era para seu o dia de seu casamento. E não, não seria um grande acontecimento com flores e uma igreja e toda a sociedade comparecendo, mas fosse como fosse, era para ser o dia dela. Noite passada, Anne tinha encontrado o que procurara nesse homem. Ela não podia deixar o sonho morrer.
- Talvez não aconteça novamente. – Talvez fosse a expressão de um desejo, mas Anne não tinha certeza de não estar certa. Talvez noite passada os dois estivessem drogados, drogados um pelo outro, quando ela pensou que ele tinha se transformado em lobo.
- E se acontecer, Anne?
- E se não acontecer? – ela contra-atacou.
Ele a olhou nos olhos por um longo tempo antes de dizer. – Tudo bem. Vamos aguardar mais uma noite. Espero que não seja um erro, Anne.
Merrick saiu para caçar durante a tarde. Seus sentidos, sempre mais fortes, ele suspeitava, do que os de um homem normal, estavam agora aumentos em dez vezes. Ele ouvia como nunca ouvira antes. Via movimentos nos arbustos e na distância que nenhum homem normal poderia ver. Às vezes, quando ele olhava para um animal, ele não via o animal, apenas o sangue correndo vermelho através das veias.
Poderia o que Anne dissera que ocorrera ontem à noite ter realmente acontecido? Ele vira flashes em sua mente o dia todo. Flashes deles juntos, fazendo amor, então a dor, a visão de suas mãos, cobertas de pêlos, garras saindo de suas unhas, Ele se sentia quase enjoado com as lembranças...enjoado, e ainda assim quando olhava para Anne se movendo ao redor do acampamento ele sentia algo mais. Algo primitivo. O instinto de se acasalar com ela novamente.
Merrick sacudiu a cabeça e tentou expulsar o pensamento. Ele lançara sua semente dentro de Anne noite passada, na certeza de que se casaria com ela hoje. Se ele realmente fosse essa fera agora, esse homem durante o dia e um animal durante a noite, ele não poderia se casar com ela. E ainda assim ele poderia ter gerado seu bastardo. Ele acima de qualquer outro homem deveria agir melhor do que isso com qualquer criança.
- Anne, venha aqui. – ele chamou.
Ela olhou para ele lançando outra braçada de lenha no fogo, onde um espeto assava o jantar deles. Ele esperava que ela se mostrasse cautelosa com ele agora, mas ela não hesitou em se aproximar dele.
- O que é, Merrick?
Ela parou perante ele, tão linda, seus olhos mostrando preocupação... preocupação com ele, ele percebeu.
– Sente-se. – ele acenou na direção do lugar próximo a ele.
- Mas nosso jantar... – ela começou.
- Pode esperar. – ele completou.
Anne se sentou ao lado dele. Ele pegou a mão pálida e delicada dela nas dele. – Hoje à noite, quando a lua estiver alta, se acontecer novamente, quero que você me faça uma promessa.
- Aquela árvore. – Anne disse, acenando na direção onde seus cobertores estavam espalhados. – Eu posso subir nela facilmente se...
- Não. – ele interrompeu, olhando-a profundamente nos olhos. – Não quero que fuja de mim, Anne. – Merrick pegou a pistola que estava em sua cintura e estendeu para ela. – Eu quero que você me mate.
Os adoráveis olhos dela se arregalaram. Ela se recusou a pegar na arma que ele tentava forçar em suas mãos. – Não, Merrick. – ela murmurou. – Não me peça para fazer isso. Eu amo você.
O coração dele se torceu dentro do peito. Ele pegou a mão dela e a forçou a agarrar a pistola.
– Se você me ama, você fará isso para mim, Anne. Eu não terei uma vida. Um homem durante o dia, uma fera à noite. Estarei melhor morto.
Os olhos dela se encheram de lágrimas. Ela sacudiu a cabeça.
– Você pode ter uma vida, Merrick. Comigo. Como planejamos. Estive pensando. Podemos procurar os irmãos Wulf...
- Não. – ele interrompeu-a. – Não vou me rastejar implorando a eles. Eu tenho meu orgulho, Anne. Se eles são meus parentes de sangue, nosso pai não queria que eles tivessem nada a ver comigo ou teria me criado junto com eles. Ele teria feito com que soubessem a meu respeito antes de morrer.
- Mas talvez eles saibam o que está acontecendo com você. – Anne insistiu. – Dizem que eles são amaldiçoados. Talvez a maldição não seja a insanidade, como todos acreditam. Talvez eles sofram o que você está sofrendo agora. Talvez eles saibam como...
- Anne. – ele disse mais gentilmente. – Você não vê? É porque meu pai devia saber que algo estava errado comigo que ele me manteve em segredo, escondido, envergonhado e embaraçado por minha causa. Não. Não vou procurá-los.
Ela jogou a pistola e se levantou, olhando para ele. – Você prefere morrer? – ela perguntou. – É isso, Merrick? Seu orgulho vale mais do que sua vida, do que nossa vida juntos?
Ele se levantou para olhá-la, olho no olho. – Não temos uma vida juntos. – ele falou com franqueza como se ela fosse uma criança sem inteligência. – Não se acontecer novamente essa noite. Agora, prometa-me.
Anne sacudiu a cabeça. – Não vou lhe prometer nada. Não acho que você vá me machucar, Merrick. Você poderia ter feito isso ontem à noite. Eu estava inconsciente. Você pode não se lembrar do que aconteceu, mas eu acredito que você continue de alguma forma sendo você, mesmo quando a fera toma sua forma física.
- Você acreditava que seus tios se importavam mais com você do que com sua herança também. – ele a relembrou com maldade. Quando ela deu um passo para trás, como se ele a tivesse golpeado, ele realmente se sentiu como um animal. – Perdoe-me por isso. – ele disse suavemente. – Foi uma crueldade dizer isso.
Anne endireitou-se e levantou o queixo. – A verdade é geralmente cruel. Então enquanto estamos tratando do assunto honestidade, talvez você devesse examinar seus próprios motivos para recusar qualquer tipo de ajuda vinda de quem quer que seja. Acho que você gosta disso, Merrick. De ser um bastardo. De ser amargo. Querendo sua vingança. Se você tiver tudo isso, então você não precisa de mais nada, ou de alguém. Você não precisa ser responsável. Você não precisa compartilhar seu coração. Você não precisa se dar. Você não precisa ter sucesso onde sente que seu pai falhou. Você não tem de olhar no espelho um dia e perceber que você é igualzinho a ele.
- Eu não sou como ele! – Merrick não tinha pretendido gritar – não pretendera fazê-la pular – mas maldição, ele não era como a triste justificativa do homem que o havia gerado. Ele nunca abandonaria um filho seu...ou abandonaria? Por tudo que sabia ele já podia estar fazendo isso. Merrick não estava mais com fome. Ele precisava de tempo para pensar. Ele foi embora.
Ele meio que esperava que Anne o impedisse, mas ela não o fez. Foi melhor que ela não o tivesse feito. Sua fome física desaparecera, mas sua fome por ela era outro assunto. Ele a queria. Mas se não a pudesse ter por amor, não a teria por luxuria. O homem sabia disso...a fera que rondava dentro dele não.
Anne estava cochilando quando Merrick a acordou. Ele se espalhara nu em seu cobertor. Ela começara a temer que ele não voltaria. Ela fora checar os cavalos amarrados numa campina próxima para se certificar de que o garanhão ainda continuava ao lado de sua égua. Anne havia comido, limpado o acampamento, feito tudo o que se lembrara para passar o tempo; então ficara sonolenta sem nada para distraí-la.
- Anne. – ele murmurou, puxando-a para junto de si. Ela foi de boa vontade, aninhando-se no calor dele. Os cabelos dele estavam úmidos. Ele obviamente encontrara um riacho e se banhara, e ela ansiava fazer o mesmo. Ela se limpara o melhor que pudera mais cedo com a água que tinham nos cantis.
- Você sabe que seu cheiro viaja através da floresta e me encontra não importa o quão longe eu esteja? – ele perguntou, esfregando o nariz gentilmente contra a garganta dela. – Seu cheiro sempre me chama de volta para você. Não consigo resistir a ele.
As mãos dela passearam sobre ele como se ela não tivesse controle sobre elas. Poderiam ela e Merrick ter sonhado noite passada? Poderiam duas pessoas, unidas pelo corpo, pela alma e pelo coração compartilhar o mesmo pesadelo?
Mais do que tudo, Anne queria acreditar que eles podiam, que de fato eles tinham. Suas mãos, movendo-se pelo o corpo quente e musculoso dele, diziam que ele era apenas um homem. Ele se pressionou contra ela e ela sentiu que ele estava pronto para ela. Seu pulso se acelerou. Anne fechou os olhos e se recusou a pensar no que acontecera noite passada. Atrás das pálpebras fechadas ela não veria se os olhos dele tinham um brilho azulado na escuridão. – Beije-me. – ela sussurrou.
Ele o fez, muito gentilmente, o que quase partiu o coração dela. O corpo dele tremia de desejo por ela, e ainda assim, seus lábios eram suaves. Ela soube nesse instante que não devia temê-lo nunca. Não importava se compartilharam o pesadelo ou se o pesadelo havia sido real, Merrick não tinha em seu coração a intenção de feri-la. Fosse ele quem fosse, o que quer que fosse, ela o amava.
As mãos dela agarraram os cabelos dele e ela inclinou a boca debaixo da dele, se abrindo mais e convidando-o a invasão. Ele o fez. A ternura se esvaiu com o crescimento da paixão. Subitamente ele estava puxando as roupas dela, e ela fazia tudo o que podia para ajudá-lo. Suas respirações ficaram irregulares com os beijos. As mãos dele vagavam sobre ela, em todo o lugar, nos seios, no estômago, entre as pernas.
Ela já estava molhada para ele quando os dedos dele a acariciaram. Ele gemeu dentro da boca dela e separou suas pernas com os joelhos. Ele havia sido gentil com ela ontem à noite. Essa noite ele partiu para cima, penetrando profundamente em um único movimento estável que a vez ofegar.
- Abrace-me com suas pernas, Anne – ele ordenou.
Sem hesitação, ela obedeceu. Ele agarrou os quadris dela e impulsionou profundamente de novo e de novo, vez após vez até que ela começar a latejar, sentir dor e prazer, segurando-se a ele enquanto ele os levava à beira da sanidade. Ele se tornou primitivo, mordendo o pescoço dela, mas nunca com força suficiente para arrancar sangue, e ela, por sua vez, usava as unhas nas costas dele, encorajando-o, tornando-se primitiva como ele. A tensão se formava dentro dela – crescendo até que ela explodiu. Ela se arqueou contra ele e gritou seu nome. Um mergulho profundo e ela o sentiu pulsando dentro dela, sentiu-o liberando sua semente.
Ela se agarrou a ele, ambos com dificuldade em respirar, seus corações batendo selvagemente...então o primeiro espasmo a dor o atingiu. Merrick se afastou dela.
- A pistola, Anne. – ele disse rangendo os dentes. – Pegue a pistola!
Ela se sentou, puxando o cobertor contra os seios nus, olhando para ele. Seus olhos se encontraram e se fixaram. Vagarosamente, ela sacudiu a cabeça. – Não, Merrick. Não vou pegar.
A dor o fez se contrair, o fez se enrolar como uma bola, seus joelhos contra o peito. Seus olhos tinham um brilho azulado, mas mesmo na escuridão ela os viu se encherem de lágrimas.
- Por favor, Anne. – ele conseguiu dizer. – Eu morreria se algum dia a machucasse. Eu amo você.
Ela se aproximou e tocou os cabelos dele, retirando-os do rosto. – Eu confio em você, Merrick. Agora você deve encontrar a força para confiar em si mesmo.
- Maldição, Anne! – ele gritou. – Seu coração confiante vai levar você à morte!
Outra contração, ainda mais forte, o sacudiu. Anne se afastou dele. Ela se apoiou contra a árvore que tinha dito a ele que escalaria se se sentisse ameaçada, mas ainda não estava pronta para se por em ação. A pistola estava na bolsa que ela havia deixado perto da árvore. Com as mãos trêmulas, ela procurou dentro da bolsa e retirou a arma.
Perante ela, no cobertor onde haviam acabado de se amar, Merrick dançava a dança do lobo. Seu corpo se retorcia e se virava. O pêlo cresceu, então os dentes, as garras, seu corpo se encolheu e então ele havia sumido. O lobo rapidamente se colocara em pé.
Apesar do que dissera a Merrick, seu primeiro instinto foi agarrar a pistola firmemente, levantá-la e fazer mira. O animal a olhou bem dentro dos olhos. Eram os olhos de Merrick olhando para ela através do rosto do lobo. Anne abaixou a pistola.
- Você quer me matar, então vá em frente. – ela disse com suavidade. – Mas o homem com quem compartilha o corpo vai ficar muito zangado.
O lobo inclinou a cabeça para o lado. Pouco depois se virou e saiu caminhando para a noite. Anne soltou a respiração que estivera prendendo. Ela deixou a pistola à mão e puxou o cobertor a seu redor. Ela esperaria pela manhã para ver se Merrick lhe dissera a verdade. Se seu cheiro sempre o trazia de volta para ela.
Anne passou a noite toda aguardando, ouvindo, esperando que Merrick retornasse para ela na forma do homem que amava. Um galho se partiu e ela olhou para cima. Merrick estava parado nu nos arbusto. Ele tremia no ar da manhã. Anne apertou mais o cobertor, levantou-se e foi para perto dele. Eles simplesmente se olharam por um momento antes de ela se aproximar, abrir seu cobertor e envolvê-lo junto com ela. A pele dele estava gelada.
- Por que você não fez o que lhe pedi para fazer, Anne? – ele perguntou contra o cabelo dela. – Ambos sabemos que não foi um sonho que compartilhamos.
- E ambos sabemos que você não me feriu. – ela argumentou.
- Sim.– ele rangeu os dentes.
Ela inclinou a cabeça para olhar para ele.
– Por que você sempre pensa o pior de si mesmo, Merrick?
Ele a olhou com os olhos endurecidos.
– E como você pode ficar aqui comigo, compartilhando seu calor, quando você sabe o que sou agora?
Ela puxou o cobertor mais apertado ao redor deles.
– Porque eu te amo. – ela respondeu. – É isso que é o amor, Merrick. É incondicional. Seu amor por mim não é o mesmo?
Ele lutou para se livrar do cobertor e se afastar dela. Merrick caminhou até onde tinha deixado suas roupas na noite anterior e começou a se vestir.
– É porque eu te amo que devo fazer o que é melhor para você, Anne. Vou levá-la para Londres.
O coração dela afundou.
– Londres?
- Você certamente tem amigos lá com quem possa ficar. Você encontrará um homem adequado e terá que ser rápida com isso, bem como devia ter feito desde o inicio.
Anne franziu a testa para ele.
– Não vou partir. Estamos a um dia de cavalgada de Gretna Green e pretendo ir para lá e me casar com você, do modo como combinamos.
Merrick puxou a camisa sobre a cabeça.
– Não vou me casar com você, Anne. Não agora.
Estavam de volta a isso novamente. Anne sentiu a frustração amarrando seu estômago.
– Então você deve me levar de volta para casa. – ela disse. – Não para Londres.
Merrick parou de ser vestir para esfregar a testa.
– Você não pode voltar para lá e você sabe disso. Não até...
- Não vou me casar com outro. – ela o interrompeu. – Vou voltar para casa e fazer o melhor de minha vida, mais sábia agora com relação a meus tios. Talvez com o tempo você volte. Talvez com o tempo você venha a me amar como eu amo você.
Ele amaldiçoou e partiu para o lado dela.
– Não é que eu não te ame, Anne. Você sabe que eu amo. Mas...
- Mas seu orgulho faz com que você se afaste de tudo o que poderia ser seu. – ela o interrompeu novamente.
Merrick imaginava o que havia de errado com a garota. Ela não percebia que era impossível para eles ficarem juntos agora? Que ele era amaldiçoado? Que ela ficaria amaldiçoada junto com ele? Sem considerar que ela já poderia estar apesar do que ele era, mas por causa do que ele era. Foi tolice dele concordar com a proposta de casamento dela. No que ele estava pensando? Que ela poderia fazê-lo ser mais do que era?
Ela já fizera dele mais do que ele jamais sonhara em ser. Ser amado por uma mulher como ela. Pensamentos sobre vingança contra a classe social dela desapareceram diante da maravilha do seu amor. Ele julgara a todos devido ao ato de um homem. Anne lhe havia mostrado que ainda havia bondade sobrando no mundo, gentileza a ser encontrada nos outros, sem se importar se eles moravam numa mansão ou em um estábulo.
Através dela, ele havia sentido esperança. Esperança de que pudesse se elevar acima de quem era e se tornar um homem melhor. Agora ele sabia que ser um homem melhor não dependia da condição de seu nascimento ou onde ele chamasse de lar. Mas ele aprendera essas lições tarde demais. Agora ele não era nem mesmo um homem. Ele era algo mais.
Merrick olhou para Anne, de pé com seu cobertor enrolado em seu corpo, o queixo erguido. Mesmo sem as roupas finas e suas maneiras afetadas, ela era uma dama da cabeça aos pés. Sua mãe teria gostado dela. E Anne estava certa. Era seu maldito orgulho que o tornava menos do que podia ser. Tinha sido sempre seu orgulho.
- O que você quer que eu faça, Anne?
Os olhos dela se suavizaram.
– Quero que se case comigo, Merrick. Quero que vá até seus meio irmãos e fale com eles sobre o que está acontecendo com você. Se eles convidarem você a fazer parte da vida deles, então você deve aceitar e declarar que eles são sua família. Da mesma forma que eu farei.
Ele respirou profundamente. Seu orgulho era uma coisa dura de se deixar de lado, mas por ela, ele o faria.
– Se é o que você deseja, Anne. Por você, eu abrirei mão de meu orgulho. Por você, eu farei qualquer coisa.
O rosto dela pareceu se iluminar de dentro para fora. O sorriso dela quase o cegou. Ela começou a se aproximar dele, mas a dor subitamente veio até Merrick novamente. Ele se dobrou. Colocou as mãos nos joelhos, tentando conseguir respirar. A próxima dor o enviou ao chão.
- Merrick!
A voz de Anne chegava até ele de muito longe. O suor empapou sua testa. Isso não podia estar acontecendo. Ainda era dia, não noite, com a lua cheia pendurada no céu. Seria essa maldição algo que ficava mais forte a cada dia? Logo ele deixaria de ser um homem completamente?
- Merrick!
Ele sentiu a mão de Anne sobre seu ombro e se livrou dela.
– Não, Anne. – ele advertiu. – Fique afastada! Está acontecendo novamente. – Os olhos dele procuraram freneticamente pelo acampamento. – A pistola, Anne. Onde está?
- Eu não vou usá-la. Não preciso dela. – ela disse, curvando-se ao lado dele. – Eu confio em você, Merrick. Você ainda não aprendeu a confiar em si mesmo.
Ela estava vulnerável. Ela nem mesmo estava usando roupas para protegê-la de seus dentes, de suas garras, se ele a atacasse. Confiar era fácil quando você tinha o controle sobre si mesmo, mas quando o animal o dominava...
- Onde está a pistola? – ele repetiu, outra dor afiada rasgando seu estômago.
Ela não respondeu, mas seus olhos se moveram na direção da bolsa na base da árvore onde ela havia colocado os cobertores deles para a noite. Ele levantou aos tropeções e se dirigiu até onde estava a bolsa. Anne estava na cola dele e ambos agarraram a bolsa ao mesmo tempo.
- Não, Merrick! – ela soluçou.
Ele a empurrou e enfiou a mão dentro da bolsa, removendo a pistola. A arma estava fria em suas mãos e ele tremia tanto que pensou se conseguiria engatilhá-la e atirar. Maldição se ele viveria sua vida como um animal. Ele firmou a arma, olhou para o cano longo e liso; então seu olhar se voltou para Anne. Seus lindos olhos estavam inundados de lágrimas, implorantes, amorosos. Ela estendeu a mão para ele.
- Não faça isso comigo. – ela sussurrou. – Se você tirar sua vida, você tirará a minha.
Ele hesitou.
- Confie em si mesmo, Merrick. – ela disse. – Confie em mim.
Ele poderia? Ele nunca confiara em ninguém além de sua pobre mãe. Ela havia confiado em um homem uma vez. Um homem que a deixara de lado rapidamente quando soube que ela carregava seu filho. Era da natureza do homem, Merrick aprendera logo, pegar o caminho mais fácil. Tinha sido a sua...até agora. Bem devagar, ele abaixou a arma.
- Por você, eu prometi que faria qualquer coisa. Confiarei como você confia, Anne.
Subitamente Merrick foi lançado de costas contra a árvore. Isso fez com que perdesse ao ar, e quando abriu a boca para respirar, uma luz azul lançou-se para fora. Sua visão ficou borrada. Sua garganta queimava. Lágrimas corriam de seus olhos e ele não conseguia fechar a boca, não conseguia respirar. A luz assumiu uma forma, assumiu um formato que era o de um lobo. Apenas quando o formato se completou e parou entre ele e Anne ele conseguiu sugar o ar para os pulmões. O animal o encarou enquanto ele lutava para recuperar a respiração. Merrick o encarou de volta.
- Vá embora daqui, lobo. – ele rosnou.
A forma fugiu vagarosamente através da floresta.
- Merrick! – Anne estava ao lado dele, suas mãos geladas afastando os cabelos do rosto dele. – O que aconteceu?
Ele não tinha certeza...mas ele se sentia diferente agora. Diferente do que jamais se sentira antes. Era quase como se estivesse cego, surdo, mas não, suas habilidades apenas tinham se enfraquecido ao que ele supunha fosse a visão e audição das pessoas normais. Ele olhou para o rosto pálido de Anne.
- Acho que ele saiu de dentro de mim. – disse a ela. – Os dons, a maldição, o que quer que fosse. Foi embora.
- Embora. – ela sussurrou. – Tem certeza, Merrick?
Ele tinha, e Merrick não sabia como se sentia sobre isso ainda. Os dons haviam sido parte dele; a maldição ainda era uma coisa recente. Ele era apenas um homem agora. Mas não, ele era um homem que amava uma mulher. Uma que ficaria ao lado dele, amaldiçoado ou não.
- Tenho certeza. – ele respondeu.
Anne se sentou sobre os calcanhares, parecendo um tanto abalada pelo que acabara de acontecer.
– O que devemos fazer?
Havia apenas uma coisa a ser feita. Continuar com o resto da vida deles. Ele pegou a mão gelada de Anne na sua e beijou seus dedos.
– Estou pensando que devemos ir para Gretna Green. Planejo me casar com você hoje, Lady Anne.
Os lábios dela tremeram quando ela sorriu, mas ela era feita de um material mais duro do que imaginara. Então ela franziu a testa.
– Acabou de me ocorrer que você não tem sobrenome para me dar, Merrick.
Ele pensou sobre isso, mas apenas por um momento.
– Meu nome é Wulf, Merrick Wulf, e estou pensando que depois de nos casarmos é hora de irmos visitar meus meio irmãos. Poderemos precisar da ajuda deles nos dias que virão.
Lágrimas brilharam nos olhos dela.
– Você faria isso por mim?
Merrick a puxou para seus braços.
– Eu lhe disse, farei qualquer coisa por você, Anne.
- Qualquer coisa? – ela perguntou, olhando-o por debaixo dos cílios.
Ela estava nua debaixo do cobertor e Merrick estava pensando que não demoraria muito para se recuperar do que acontecera e o tornara um homem e apenas um homem. Ele pensou que sabia o que essa dama adorável queria.
- Temos o dia todo para chegar até Gretna Green. – ele disse, inclinando-se para beijá-la. – O que você queria me pedir, Anne?
Ela colocou um dedo sobre o lábio dele para pará-lo.
– Quero cavalgar seu cavalo, sem sela e totalmente nua.
Merrick piscou olhando para ela. Não era o início que havia imaginado para a nova vida deles, mas como prometera, ele não podia negar-lhe nada.
- E você vai. – ele garantiu a ela, inclinando-se novamente para beijá-la. – Mas mais tarde.
Ronda Thompson
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