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Series & Trilogias Literarias
CAPÍTULO 22
“Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém... Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim... E ter paciência para que a vida faça o resto...”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Muitos fiéis já estavam do lado de fora da igreja. Eu tinha ido até a imagem de Nossa Senhora, fiz ali uma oração sincera, pedindo pelo meu relacionamento, atestando a veracidade dos meus sentimentos e confessando meus medos e infantilidades. Não me confessaria. Ainda não tinha coragem para mentir diante de um padre, mas não seria ridícula a ponto de negar qualquer pecado diante da mãe de Jesus, afinal de contas, se for como eles ensinam, Deus já sabia de tudo mesmo, não?
Meu coração estava apertado e pequeno. Antes de sairmos para a missa dominical, tradição familiar que meu pai fazia questão de manter, eu tive uma conversa com Miranda. Precisava entender como ela estava se sentindo. Ardilosamente minha amiga inverteu nossos papéis e acabou sendo ela a me dar conselhos e a se preocupar com o meu relacionamento com Alex.
“– Case logo de uma vez. Que mal há? Vocês nasceram um para o outro, Charlotte, e eu sei que o casamento vai te fazer bem. Além do mais, nenhum homem aguenta esta pressão por tanto tempo. Todo mundo cansa um dia e Alex não me parece ser o tipo de homem que tem toda a paciência do mundo. Pense nisso. Ele quer se casar? Então aproveite. Poucos caras querem tanto um casamento.”
Ela disse antes de sermos interrompidas e forçadas a fingir que tudo estava maravilhosamente bem. Meu pai não aceitava mau humor, ou má vontade quando o assunto era a nossa missa dominical. Eu não entendia muito bem como aquilo funcionava na cabeça dele. Peter era anglicano desde que nasceu, assim como os seus ancestrais, mas no Brasil, ele era católico. Lógico que como uma derivava da outra, as diferenças eram poucas, e ele não seguia tudo o que a igreja católica determinava, era mais como um substituto, ou uma forma de estar na presença de Deus, como ele mesmo dizia.
Eu agradecia por isso. Era muito melhor ter um pai católico. Se ele já tinha uma obsessão pela minha virgindade sendo católico, imagine como seria se ele escolhesse ser evangélico, por exemplo? Não. Católico estava de bom tamanho.
Respirei fundo finalizando minha oração e só então me dei conta da presença de Alex do meu lado. Ele tinha chegado cedo à missa, o que agradou muito a meu pai e me deu vontade de revirar os olhos. Trocamos poucas palavras, apesar do seu carinho presente em cada toque discreto.
Alex me olhou e sorriu. Seus olhos estavam cheios de admiração e amor. Eles percorreram meu rosto, atentos e perscrutadores. Atentos até demais, para o meu gosto, o que me deixou envergonhada.
– O que foi? – desviei o olhar, encarando o chão enquanto escondia as mãos na saia cintada e cheia de pregas.
– Você fica muito misteriosa quando está na igreja – havia certo divertimento em suas palavras.
– Misteriosa? Eu fico silenciosa, isso se chama respeito. A igreja não é lugar para bate-papo – seu sorriso se ampliou.
– Em que estava pensando quando foi comungar? – engoli em seco e fingi não entender do que ele falava. – Vamos, Charlotte! Você ficou torcendo as mãos, mordendo o lábio e suas bochechas estavam com um rosado maravilhoso. Em que estava pensando?
– Em como não era nada louvável ter pensamentos impuros durante a missa e depois aceitar o corpo de Cristo como se eu não fosse uma grande pecadora – meu rosto esquentou significativamente.
– Eu deveria imaginar – ele riu discretamente.
– E pensei se seria verdade uma história que contavam na escola dominical. Eles diziam que, quando o pecador comungava, a hóstia virava sangue no contato com a língua – ele riu ainda mais alto, chamando a atenção dos meus pais, que estavam afastados, aguardando pelo padre Messias.
– Confirmou? – revirei os olhos e ele voltou a rir.
– Posso perguntar quais pensamentos seriam estes que poderiam fazer a hóstia virar sangue?
– Não – afastei-me um pouco evitando que meus pais prestassem atenção em nós dois. – É melhor não entrarmos neste assunto outra vez. Você não vai gostar.
Ele acariciou meu rosto, demorando-se em minha bochecha, sem perder o brilho dos olhos, nem deixar aquele amor latente se desfazer.
– Eu não me importo, pode falar – sua voz baixa e segura era um incentivo.
– Pensei no quanto eu realmente gostaria de conhecer um motel.
Ao invés de se mostrar aborrecido, ele sorriu. Aquele sorriso torto que virava o meu mundo de cabeça para baixo. Mas ele não disse nada, apenas continuou acariciando meu rosto e me mantendo presa àqueles olhos incríveis.
– Você também estava muito pensativo, apesar de ter participado ativamente.
O que foi uma grande surpresa. Alex conhecia a hora certa e o que falar em cada parte da missa, ganhando assim a admiração do meu pai. Eu nunca imaginei meu namorado um católico praticante, nem um religioso ativo.
– Eu já fui a algumas missas, casamentos, batizados, missas de sétimo dia – riu divertido. – Fui batizado – deu de ombros enquanto eu estreitava os olhos. – Eu realmente fiquei muito pensativo.
– E eu posso saber no que tanto pensava, professor? – ele umedeceu o lábio inferior e sorriu sem graça.
– No quanto seria lindo ver você entrando em uma igreja como esta, usando um vestido branco, segurando flores e caminhando em minha direção – seus olhos se fixaram em mim, cheios de súplicas.
Sem perceber, dei um passo em sua direção, diminuindo a distância entre nós. A promessa dos seus olhos quase me fez aceitar todas as suas condições.
– Eu não me vejo casando em uma igreja – seu sorriso se desfez enquanto ele ainda me encarava. – Quero casar em um lugar aberto – e voltou a se abrir, deixando-me ainda mais deslumbrada. – Quero um casamento todo branco.
– Todo branco? – eu podia sentir a emoção em suas palavras.
– Deixo a cor por conta das flores e do verde da grama, das árvores – seus olhos brilharam com mais intensidade. – Se eu pudesse, faria com que seus olhos fossem o destaque.
– Meus olhos?
– Sim – toquei seu rosto e sorri. – Amo o azul dos seus olhos – Alex inclinou o rosto na direção da minha mão, aproveitando o carinho.
– Fale mais sobre como quer o nosso casamento – sentindo o amor transbordar diminuí ainda mais a distância entre nós e sua mão quente envolveu a minha cintura.
– Quero uma cerimônia pequena, discreta – e eu sabia que jamais conseguiria que fosse assim. – Quero poder curtir a festa sem ficar presa a ela.
– Poucos convidados?
– Você se importaria? – Alex deu de ombros. – Eu entenderia.
– Claro que eu teria muitas pessoas para convidar por obrigação, no entanto não me sinto em dívida com nenhum deles e posso muito bem ter um casamento apenas com as pessoas que amo.
– Seria ótimo.
– Seria sim – seus olhos brilhavam de emoção e expectativa. – Vai ser tudo como você quiser, Charlotte. – Ele acariciou meu rosto com a mesma devoção de antes.
– Quero uma lua de mel em uma praia, dessas de surfista, para que eu possa ficar na areia olhando o meu marido exibir suas habilidades.
– Vamos ter que providenciar um arsenal de protetor solar, guarda-sol, chapéu... tudo para que você não tenha queimaduras que me impeçam de colocar minhas mãos em seu corpo.
– Eu gostei desta parte.
– E eu de saber que você pensa em nosso casamento – era a hora de recuar. Uma boa estratégia para não causar o problema do dia anterior.
– Ontem você não fez a sua proposta.
– Ah sim. Eu vou fazer, na hora certa.
– Mas...
– Charlotte, Alex? – papai, para variar, interrompeu-nos, deixando-me enfurecida.
Olhei para o grupo que se aproximava. Meu pai, minha mãe, padre Messias e Dona Carmelita, uma carola que achava que trabalhava para a igreja e tomava conta da vida de todo mundo.
– Alex, este é Padre Messias, ele cuida de Charlotte desde a nossa vinda para o Brasil, com pulso forte para mantê-la no caminho certo – todos me olhavam como se eu fosse uma criança. Que raiva! – Padre Messias, este é Alex Frankli, noivo de Charlotte. Ele fez questão de estar aqui hoje para conhecê-lo, já que deixamos clara nossa escolha do senhor para celebrar o casamento.
– Oh, que maravilha! A menina Charlotte é uma garota especial – o velhinho gordo, com cabelos alvos e rosto completamente enrugado, sorria com uma jovialidade invejável. – Apesar de não a ver mais por aqui, não é mesmo, Lottie?
– Final de faculdade, acabou consumindo todo o meu tempo – dei a minha desculpa sentindo meu rosto esquentar consideravelmente. Se ele soubesse o que eu andava fazendo...
– Para Deus sempre devemos ter tempo – advertiu padre Messias, com os olhos bem atentos em mim.
– Eu e Dandara, mãe do Alex, vamos procurar uma data para nos reunirmos e ajustar os detalhes desta união – minha mãe disse com orgulho, como se estivessem fazendo um grande investimento.
– Tenho certeza de que será uma festa linda. Dessas de passar mais de um mês sendo assunto em todas as revistas – Dona Carmelita se intrometeu deixando-me incomodada.
– Na verdade, não conversamos sobre o assunto ainda – revelei tentando me safar daquela conversa constrangedora. – Ainda teremos tempo.
– Não decidiram a data? – Padre Messias fez uma careta, como se fosse um sacrilégio não termos escolhido a data para o casamento.
– Ainda temos tempo – salientei reforçando a minha opinião.
– Claro que a nossa igreja é uma das mais solicitadas por todas as jovens moças da alta sociedade. Temos uma acústica perfeita, espaço considerável, decoração inspiradora – Dona Carmelita continuou tagarelando e eu só queria fugir dali. Droga! Eles conseguiam estragar todo o momento. – Estamos com a agenda lotada, mas lógico que conseguiremos uma brecha entre tantas datas, não é mesmo, Padre Messias? – O bom velhinho concordou com a cabeça sem deixar de avaliar Alex. – Temos quase um mês inteiro, deixe-me ver – ela sacou uma agenda da sua bolsa. – Claro! Vamos ficar sem grandes celebrações durante o próximo mês por causa de uma pequena reforma, não seria nada de mais se não tivéssemos poucos recursos, o que só atrasa a obra, porém se vocês querem tempo, deixa eu verificar aqui... hum! Não, realmente só teremos um ou outro fim de semana do próximo ano, mais para o final, entre outubro e novembro. Sim, é isso o que temos.
E eu podia imaginar o quanto uma igreja daquele porte, repleta de fiéis do mais alto nível, conseguia arrecadar de doações, sem contar que padre Messias era muito bem relacionado, era o bom pastor de grandes empresários, então custear uma obra, por maior que fosse, jamais deveria ser um problema financeiro.
Bom, eu não pretendia casar na igreja, então a falta de espaço em sua agenda pouco me importava. O problema seria a falta de disponibilidade do padre Messias, isso sim irritaria meu pai.
– Uma reforma demanda tempo – a mulher salientou olhando indiscretamente para o meu pai.
– De quanto estamos falando? Acredito que uma doação poderia adiantar qualquer obra, abrindo espaço para uma data mais próxima.
Lógico que Dona Carmelita olharia para a minha barriga, e ela não fez nenhuma cerimônia em me olhar com bastante atenção. Tal atitude não passou despercebida pela minha mãe, que ficou nitidamente irritada.
– Bom, eu não sabia que havia certa urgência então... vamos ver como poderíamos fazer. Uma doação vinda de um Middleton é sempre uma glória, não é mesmo padre Messias? Sim, claro que é.
Ela mesma respondeu, não dando a chance do pobre velhinho responder. Se bem que ele também olhou, de maneira mais discreta, é verdade, seus olhos foram da minha barriga para meu rosto, com uma expressão de pena, e depois se voltaram para Alex, com uma cobrança tão concreta que me assustou.
– Poderemos sim organizar uma data mais próxima, uma que atenda à necessidade de vocês – padre Messias falou finalmente.
Se ser vista como uma patricinha, adolescente, rica e infantil já era ruim, passar a ser a patricinha, adolescente, rica, infantil e que engravidou antes do casamento era muito pior.
– Como eu disse: não estamos com pressa. Eu e Alex concordamos que poderemos esperar um ano ou mais.
– Ou mais? – meu pai esqueceu a postura e me encarou como se quisesse me fuzilar.
– Ou menos – Alex rebateu apertando meus dedos como uma advertência.
– Que seja. Acontece que não pensamos ainda em uma data. Assim que decidirmos, começamos a organizar o evento – tentei encerrar a confusão.
– De qualquer forma, padre Messias, fazemos questão que a cerimônia seja realizada pelo senhor – minha mãe, assumindo uma postura superior, ignorou a outra mulher e tratou diretamente com o padre. – Quanto à data, Charlotte logo decidirá, eu tenho certeza disso. Caso seja em um ano, ou mais – ela me olhou e sorriu –, ou menos – falou para Alex também sorrindo –, não importa. A festa será linda de qualquer jeito.
Porra, eu amo a minha mãe!
– Com licença – ela me pegou pelo braço e saiu caminhando comigo pela igreja como se estivéssemos em um passeio turístico.
ALEX
Charlotte se afastou com a mãe, enquanto Peter finalizava a conversa com o Padre e a beata indiscreta. Aguardei um tanto ansioso. Charlotte parecia mais disposta a ceder e isso me trazia um grande alívio. Depois do que aconteceu um dia antes, quando Mary teve um mal-estar que a levou para o hospital, eu constatei que não poderia falhar naquela missão.
Seria insuportável saber que permiti que a mulher que eu amo não tivesse a mãe dela em seu casamento. Eu sabia, tinha certeza, de que Charlotte sofreria, então por que não lutar? Por que não fazer dar certo?
– Aguardarei o seu retorno, Alex – Padre Messias disse me olhando com atenção. – Existem muitos pontos que cabem apenas ao noivo e eu estarei à sua disposição.
– Grato. Com certeza participarei de todos os processos. Logo definiremos uma data.
– Assim eu espero – seu olhar severo me fez prender a respiração. Mais uma pressão. – Vejo vocês no próximo domingo, Peter?
– Se for a vontade de Deus – e havia mais verdade naquelas palavras do meu futuro sogro do que o pobre padre poderia imaginar.
– E então. Você foi embora cedo ontem. Charlotte não parecia muito satisfeita – Peter disse quando ficamos sozinhos.
– Eu tinha trabalho para fazer, ela não aceitou muito bem a minha desculpa – ele sorriu sabendo muito bem como a filha dele ficava quando contrariada. – E Mary?
– Bem melhor agora. Parece que estar em casa, ao lado das crianças, faz bem a ela.
Crianças? Peter realmente não via a realidade ao seu redor.
– Vi o xadrez sobre a mesa, vocês jogaram?
– Um pouco. Ensinei as regras a Charlotte, ela desistiu depois de eu ter vencido três partidas seguidas – meu futuro sogro fez uma careta, encarando-me com curiosidade.
– Ensinou as regras a Charlotte? E ainda conseguiu vencer três partidas seguidas?
– Sim, ela não parecia estar realmente interessada.
– Só se o motivo for realmente esse – fiquei intrigado. O que Peter estava querendo dizer?
– Como assim?
– Charlotte é uma ótima jogadora de xadrez. É uma estrategista. Ganha de todos que eu já vi jogar com ela. Muito me espanta te ouvir dizer que lhe ensinou as regras, e mais ainda que venceu três partidas, seguidas.
Olhei para minha noiva sem conseguir associar o que Peter me dizia. Em nada batia com a garota que sentou diante de mim no dia anterior e se deixou ensinar a jogar. E ela era péssima estrategista.
– Charlotte te pregou uma peça – Peter riu, parecendo orgulhoso da filha. – Minha garota é inacreditável!
– Você nem imagina o quanto – rosnei tentando conter a minha indignação.
Charlotte estava do lado de fora, conversando com Miranda. Johnny não estava em nenhum lugar, o que me levava a acreditar que tinha dado um jeito de escapar. Realmente não parecia muito a cara dele passar as manhãs de domingo em uma igreja. O que ele não fazia para agradar o padrinho?!
Mary conversava com mais duas mulheres, alguns degraus abaixo das meninas. Ela parecia frágil, o corpo mais magro do que quando a conheci, e fazia bem pouco tempo. Estremeci imaginando o quão rápido seu quadro evoluía e por quanto tempo a teríamos. Peter seguiu em direção à esposa, enquanto eu parei ao lado de Charlotte. Miranda se calou imediatamente, sem me olhar daquela forma acusadora, como vinha fazendo sempre que podia.
– Vocês vão à praia? – Miranda perguntou diretamente a mim.
– Agora? – fiquei confuso. Ela nunca falava comigo se não fosse para me agredir com suas palavras de duplo sentido.
– Hum, sim. Você não é surfista? Um dia como o de hoje é um convite para a praia.
– Na verdade não gosto de surfar em horários muito movimentados, pensei em fazer isso no final da tarde. Por quê? – ela ficou vermelha e desviou o olhar.
Miranda constrangida, incapaz de me encarar e visivelmente escondendo alguma coisa era algo novo. Custei a acreditar.
– Por nada. Eu vou encontrar duas amigas que estão me aguardando, então pensei que vocês tivessem planos – olhei para Charlotte, que negou com a cabeça.
– Nós vamos no fim da tarde.
Primeiro: ela estava nos convidando para passar o domingo ao seu lado ou sondando o que pretendíamos fazer para estar bem distante disso? Segundo: eu ainda tinha minhas restrições em relação a Miranda, e passar qualquer punhado de horas ao seu lado era um sacrifício. Graças a Deus Charlotte não tinha gostado da ideia.
– Vejo vocês depois – ela desceu as escadas, parando um pouco para falar com os padrinhos, depois se despediu saindo em direção à rua, provavelmente para pegar um táxi.
– Miranda não tem carro?
– Ela não gosta de dirigir – Charlotte virou em minha direção demonstrando falta de interesse na amiga. – O que vamos fazer hoje? Jogar xadrez, damas, cartas... o que vai ser?
Estreitei os olhos sem acreditar que ela conseguia fazer aquela cara de anjo inocente enquanto continuava tentando me enganar. Eu poderia bolar uma boa forma de fazê-la se arrepender, ou até mesmo colocá-la sobre os joelhos e lhe aplicar um belo corretivo, mas no momento eu queria apenas deixar claro que sabia a verdade e que estava aborrecido.
– Por que não me contou que sabia jogar?
Mantive os olhos bem atentos a sua reação. Charlotte corou, a vermelhidão descendo até o pescoço e alcançando as orelhas. Ela engoliu em seco e olhou para o pai, imaginando que ele a havia dedurado.
– Eu estava aborrecida e não queria continuar conversando sobre aquele assunto – revelou baixinho, não parecia nem um pouco arrependida de ter brincado comigo.
– Aí escolheu mentir para mim? Me fazer de idiota?
– Não – seus olhos alcançaram os meus e eles eram francos, tão transparentes quanto uma fonte pura de água. – Eu... – fez um gesto vago com as mãos – ... eu não sabia o que poderia fazer para acabar com aquele incômodo, e ganhar de você no xadrez não pareceu muito honesto, já que eu estava com raiva e com vontade de te socar, então preferi deixar você falar sobre as regras, as jogadas e tudo o que eu já conhecia. Pelo menos eu ficaria calada e você falaria até que todo o desconforto deixasse de existir.
– Permitindo que eu ganhasse?
– Ganhar foi uma consequência. Eu não conseguia me concentrar em mais nada, nem sabia o que estava fazendo quando mexia as peças.
– Por quê? – Charlotte mordeu o lábio inferior e rodou um pé, como uma criança insegura.
– Por um segundo eu desejei que você voltasse a ser o meu professor. Que fosse aquele homem que eu conheci e que apenas me guiava, mostrando-me o que eu podia ou não fazer.
– Charlotte!
– Deus! Eu sinto tanto falta disso, Alex! Sinto falta de poder passar as tardes com você, de sentir o seu desejo, de só ter um único medo, o de não ser aprovada. As coisas ficaram meio loucas entre a gente e eu sinto que estamos deixando escapar o que realmente somos, o que queríamos para nós dois.
– Isso porque você está baseando o nosso atual relacionamento no que tínhamos de sexo – falei mais baixinho, para que ninguém conseguisse nos ouvir.
– Era tudo o que tínhamos. Ficamos horas juntos em um mundo só nosso e era mágico – seus olhos ficaram úmidos e meu coração apertado.
– Você ouviu o que acabou de falar? – ela recuou como um gatinho assustado. – Sexo, o que fazíamos como preparação para o sexo, era tudo o que tínhamos. Eu quero mais, Charlotte! Quero muito mais do que horas de prazer. Quero mais do que o medo de sermos descobertos, mais do que sermos constantemente interrompidos, que sermos vigiados a cada segundo, que viver angustiado por não querer fazer nada errado e mesmo assim saber que está errando a cada passo. Eu não quero que sexo seja tudo o que nós temos. Foi o que nos uniu, mas agora precisa se expandir e se tornar muito mais do que isso. É o que eu quero, porém talvez não seja o que você quer.
– Não, Alex – implorou chorosa, com medo de qualquer decisão minha.
No entanto, eu já estava decidido. Eu entendia e aceitava os motivos de Peter. Eram nobres. Por outro lado, não dava para forçar tanto uma menina que nunca tinha vivido nada, que estava cheia de vida e ânsia para viver, a simplesmente esquecer os seus temores e se tornar a minha mulher.
Não dava para forçá-la. Eu não a forçaria. Não mais.
– Nós não vamos mais casar – afirmei sentindo meu coração partir. – Peter vai ter que entender, e... – droga! Aquilo seria o inferno – ... ele terá que aceitar, assim como eu terei que aceitar. Vamos adiar por tempo indeterminado.
– Não! – ela continuou em seu desespero juvenil, que eu sabia ser apenas medo de desafiar o pai.
– Charlotte! – segurei suas mãos quando ela tentou me abraçar. – Você não está pronta. Vamos zerar esta história e começar de novo. Vamos dar um passo de cada vez, está bom assim?
– Merda, Alex! – duas lágrimas caíram e muitas outras cairiam. Eu precisava dar um jeito de impedi-las ou então seria uma confusão dos infernos.
– Não chore. Vamos sair daqui. Vamos conversar em algum lugar. Eu vou falar com Peter.
– Ele não vai deixar – soluçou enquanto limpava as lágrimas, sem conseguir impedir que mais duas descessem.
– Eu já volto. Tente se recompor.
Saí de perto dela chegando rapidamente ao local em que Peter estava. Ele e Mary conversavam sozinhos e pareciam aguardar por nós dois. Seu olhar questionador deixava claro que sabia que algo estava errado.
– Nós vamos dar uma volta, tudo bem para você? – fui direto. Eu estava tão confuso e cansado quanto Charlotte, ou qualquer outro envolvido naquela história.
– Algum problema?
– Apenas precisamos conversar e definir alguns pontos – ele concordou com a cabeça. – Deixo ela em casa assim que terminarmos.
– Tudo bem – Peter apertou minha mão com força.
– Até mais tarde, querido – Mary se despediu me dando um beijo no rosto. Ambos acenaram para Charlotte, que preferiu ficar distante.
– Vamos.
Com a mão na cintura da minha noiva, ou ex-noiva, eu já não sabia mais, eu a conduzi até onde o meu carro estava. Ela, de cabeça baixa, as mãos unidas diante do corpo e com os cabelos escondendo as lágrimas que continuavam caindo, apenas caminhou e entrou no carro tão logo lhe dei passagem.
– Para onde vamos? – sua voz abatida e estrangulada pelo choro fez eu me odiar.
– Para a minha casa, Charlotte.
Ela me olhou surpresa, sem nada acrescentar e eu dirigi pensando na melhor maneira de fazer aquilo sem precisar esmagar o meu coração.
CHARLOTTE
Minha cabeça estava tão confusa que eu não conseguia organizar as ideias. Alex estava terminando comigo ou apenas não queria mais casar? Ele havia cansado? O que pretendia me levando para a sua casa?
Assim que entramos, eu tive dois pensamentos: a casa estava extremamente limpa e organizada, ou seja, ele havia mentido, provavelmente para evitar toda aquela conversa sobre sexo, ou falta de sexo; e, Deus, eu senti tanta falta daquele lugar!
Ele, segurando em minha mão, conduziu-me até a cozinha, alojou-me em um dos bancos altos, deu a volta, pegou duas taças em um dos armários, da adega retirou um vinho branco e serviu as taças levando-as para o balcão. Uma delas foi deixada diante de mim, assim como a garrafa, que ficou de lado sem nenhuma cerimônia.
Alex me encarou com uma expressão estranha e depois virou todo o conteúdo da taça em um só gole. Merda! Aquilo não era nada bom. Nada bom. Voltou a encher a taça e aguardou por mim. Dei um pequeno gole, sendo a covarde que naturalmente eu era. Ele terminaria comigo.
Droga! Droga! Droga!
Bebi outro gole, um pouco maior, procurando coragem para aquela conversa. O silêncio era aterrorizante! Angustiava e me sufocava.
– Você está terminando comigo?
Tomei coragem e falei logo de uma vez. Não dava para ficar aguardando Alex se embebedar para conseguir falar o que já estava nítido. Ele deu um sorriso triste e balançou a cabeça, negando as minhas palavras, em seguida bebeu um grande gole do vinho e voltou a me encarar.
– Não – disse por fim. – Mas estou dando a você a chance de fazer isso.
O quê? Como assim?
– Vai jogar a responsabilidade para mim? – meus olhos arderam e novas lágrimas se formaram. – O que... o que pretende com essa atitude? É por causa do meu pai? Não sabe como dizer a ele, então ser chutado será mais fácil do que chutar?
– Não seja infantil, Charlotte.
– Pelo visto é só o que eu sei ser. Só como você e todos os outros me veem – minha voz falhou. O desespero era tão grande que escondi minhas mãos embaixo do balcão para não revelar o quanto eu tremia.
– Você não quer ser minha namorada. Não quer viver o tipo de namoro que seus pais suportam aceitar. Não quer casar... – ele me encarou com amargura e recuou quando entendeu que exigia demais de mim. – Você quer o que tínhamos antes.
– Alex...
O choro me impedia de falar. Era tão ridículo e humilhante chorar daquele jeito na frente de uma pessoa que estava me dispensando! Era injusto. Não porque eu não devesse chorar, era impossível evitar, e sim porque seria muito mais digno se eu pudesse chorar em minha casa, longe do seu olhar piedoso. Seria muito mais digno se eu não estivesse a ponto de implorar, se conseguisse achar forças para ir embora quando meu único pensamento era o de que eu não poderia perder aquele homem.
– Você quer o que tínhamos antes, Charlotte. Sem compromisso, sem segurança, sem qualquer responsabilidade um pelo outro. Eram apenas algumas brincadeiras, claro que, por causa das atuais circunstâncias, vamos ter uma evolução daquele quadro. Vamos transar de verdade. Para valer. Não é o que você quer?
Não consegui responder. Alex estava tão magoado, tão cheio de raiva, mesmo tentando bravamente esconder seus sentimentos de mim. Suas palavras eram agressivas e, mesmo assim, dava para perceber o quanto ele lutava contra elas para não me magoar.
Alex levantou, deixando a taça sobre o balcão e deu a volta. Eu o encarava sem conseguir me movimentar. O que ele faria? Para onde iria? O que pretendia?
– Para onde você...
Ele me tomou em seus braços, impedindo-me de falar. Seus lábios se apossaram dos meus, sua língua pedindo passagem, suas mãos me mantendo presa, cativa, submissa. Estremeci. Eu conhecia aquela urgência, aquele pedido silencioso, aquela ânsia. Estranhamente, temi tudo aquilo.
Mesmo assim retribuí. Eu não tinha força para impedir o seu beijo, muito menos vontade. Era como se Alex fosse o controle, ele dizia como e eu apenas o seguia, completamente entregue. Havia dentro de mim um desconforto com a ideia e ao mesmo tempo, o desejo latente que me impulsionava a continuar.
Ele me levantou do banco, mantendo-me colada ao seu corpo, cheio de posse e fome. Minhas costas colidiram com a parede, enquanto nossos lábios não se desgrudaram. Suas mãos me exploraram, uma adentrando minha saia e se apossando da minha bunda, ousada o suficiente para ultrapassar minha calcinha e me tocar sem nenhum pudor. Gememos juntos.
A outra subiu pela lateral do meu corpo, buscando meus seios, apertando e afastando como podia a camisa para que o contato fosse mais legítimo. Ao mesmo tempo, seu corpo se esfregava no meu, buscando alívio e prazer, mostrando o que queria e me prometendo o mundo.
Deus, eu o queria! Eu queria tanto Alex que o sentimento parecia que explodiria dentro de mim a qualquer instante. Porém o desespero em suas atitudes ecoava com o do meu coração. Alex estava ultrapassando seus limites, abrindo mão do seu desejo e se sacrificando para me dar o que eu queria.
De repente eu já não sabia mais o que eu queria.
Senti meu coração acelerar à medida que suas investidas aumentavam. Um sentimento amargo me impedia de tocá-lo, de participar, e, aos poucos, meu corpo foi parando. Havia o desejo, evidente que havia, mas não daquela forma, não quando eu sabia que se aceitasse estaria permitindo que tudo mudasse, que nosso amor ficaria em segundo plano, que deixaria Alex acreditar que era apenas sexo o que eu queria dele.
– Alex, pare – tentei dizer, mas ele parecia não me ouvir.
Suas mãos insistentes continuavam me buscando, apertando lugares que me faziam estremecer e que repercutiam no centro entre as minhas pernas. Porra! Eu estava ávida de tesão. Louca para ser tomada e possuída por aquele homem que eu tanto amava.
Isso! Eu o amava. Eu. O. Amava. E justamente por isso não poderia ceder.
– Alex, chega. Pare!
Empurrei meu noivo que resistiu, afastando-se apenas alguns centímetros. Ele respirava com dificuldade. Uma mão apoiou o peso do corpo na parede e a outra foi para o meu pescoço, mantendo-me ali. Fechei os olhos com medo do que poderia encontrar quando os abrisse.
– Porra, Charlotte! O que você quer, pelo amor de Deus!
As palavras estranguladas não demonstravam raiva, apenas frustração e confusão. Abri os olhos e encontrei os dele fechados. O maxilar trincado impedia que mais palavras escapassem, as veias alteradas deixavam claro o esforço que fazia, apesar disso seus dedos em meu pescoço eram delicados, acariciando minha nuca e me tranquilizando.
Ele abriu os olhos, sorvendo minha alma para si. Alex era tão lindo! Mesmo triste como estava, mesmo com raiva, mesmo quando lutava contra o tesão que o impelia a continuar com o que fazíamos. Ele era lindo! E incrível!
– O que você quer?
O que eu queria? Meu Deus, o que eu queria?
Eu queria tudo. Queria uma vida em que eu não precisasse dizer adeus ao único homem que eu quis. Queria liberdade para amá-lo da minha forma. Queria estar em seus braços sem medo de que ele pensasse que sexo era a única coisa que importava naquele relacionamento. Eu sabia o que queria.
– Eu quero me casar com você.
Ele me encarou inexpressivo. Nenhum músculo respondeu aos meus temores, apenas o ar suspenso e a tensão da sua falta de resposta zumbiam em meu ouvido acompanhando o martelar do meu coração. E eu nunca tive tanta certeza das minhas palavras como tive das que tinha acabado de dizer.
CAPÍTULO 23
“E nesse momento de saudade, quando penso em você, quando tudo está machucando o meu coração e acho que não tenho mais forças para continuar; eis que surge tua doce presença, com o esplendor de um anjo; e me envolvendo como uma suave brisa aconchegante... tudo isso acontece porque amo e penso em você...”
William Shakespeare
ALEX
Não sei por que meu coração insistia em bater descompassado.
Estávamos deitados no sofá. A porta que dava para o jardim estava aberta, deixando uma brisa nos alcançar. Charlotte estava em silêncio, deitada em meu peito. O único indicador de que não dormia era o roçar suave dos seus dedos em minha camisa.
Eu recordava cada palavra trocada, cada estupidez dita e que no final serviu apenas para que fizesse tudo dar certo. Então por que eu estava com tanto medo?
A quem eu queria enganar? Não ia ser menos humilhante tentar esconder de mim mesmo o motivo do meu temor. Eu não tinha mais certeza se Charlotte queria mesmo casar ou se tinha aceitado as minhas condições por não conseguir me perder. Mas ela me perderia?
Não. Isso nunca passou pela minha cabeça. Eu queria apenas transar de uma vez com aquela garota e acabar com aquele plano ridículo de tentar convencê-la. Eu queria dar a ela o que tanto queria e me pedia. Faria migalhas do meu coração, mas voltaria a ser apenas o professor que divertia a aluna durante algumas horas, que no final do dia voltava para uma casa vazia, tentando sufocar o seu sentimento.
Era isso o que eu faria.
No entanto, Charlotte confundia tudo. Ela virava o mundo de cabeça pra baixo e, quando você começava a se acostumar com o que seria, ela voltava e girava tudo outra vez. Era como se eu fosse um globo nas mãos de uma menina curiosa. E era frustrante. Suspirei pesadamente.
Ela levantou o rosto e me encarou. Seus olhos azuis, claros como a tarde do lado de fora, estavam levemente vermelhos, por causa do choro, assim como a ponta do seu nariz. Não resisti e toquei aquela região, brincando com a pequena bolinha rubra que entregava a sua tristeza.
– Por que está tão calado? – sua voz estava fraca, temerosa.
Droga! Era horrível saber que ambos estávamos pisando em ovos. Respirei fundo e estreitei meus braços em sua volta.
Eu fiquei feliz ao ouvir que ela concordava com o casamento. Que faria como eu tanto queria. E, ao mesmo tempo, senti-me péssimo por ter alcançado meu objetivo depois de fazê-la temer me perder. Independentemente de mim, quando Charlotte disse sim, meu corpo reagiu por vontade própria e eu quis continuar de onde paramos.
Que todo o plano que tracei fosse para o inferno. Era muita infantilidade não transar com a mulher com quem eu ansiava casar. Mas ela recuou e me impediu. E isso me deixou ainda mais fodido.
Como entender o que Charlotte queria se quando eu estava disposto a lhe dar ela recuava? A história parecia se repetir a cada capítulo vencido.
“Eu não quero agora.” Ela disse quando questionei a sua recusa. Eu entendi, mas meu corpo não. Minha mente gritava que eu tinha estragado tudo e que agora ela seria infeliz para me fazer feliz. Como conviver com isso?
– Alex?
– Estou pensando no quanto tudo é confuso – evitei seus olhos, mesmo sabendo que seria a única maneira de conseguir resposta para todas as minhas dúvidas. – Não quero que você case por sentir medo, Charlotte – confessei. – Eu quero que seja feliz e se viver o que vivíamos é a sua vontade, a sua ideia de felicidade, de mágica, como você disse, então é o que vou lhe dar.
– Eu entendi – disse baixinho, voltando a deitar a cabeça em meu peito.
– Eu não estava terminando com você – meus dedos se afundaram em seus cabelos, acariciando seu couro cabeludo. – Estava te dizendo que tudo bem.
– Eu não quero apenas sexo, Alex. Eu quero mais. É tolice bater o pé como uma criança birrenta e não aceitar o óbvio: nós só vamos ter paz quando casarmos. Meu pai já deixou bem claro.
– Eu não quero mais seguir as regras do seu pai. Não quando elas te fazem infeliz.
– E eu não quero que o laço que você conseguiu criar com ele seja desfeito apenas por causa da minha insistência em desafiá-lo.
Voltei a ficar em silêncio. Não era um “sim, eu não vejo a hora de dividir a minha vida com você”, mas, porra! O que eu esperava? Há quanto tempo estávamos juntos? Quanto tempo era necessário para adquirir confiança e certezas? A única coisa que sabíamos era que nos amávamos e estávamos apostando todas as nossas fichas nisso.
Eu era maduro e experiente. Conhecia meus sentimentos de maneira firme e consciente, sem dúvidas, mas não para não temer, podia compreender o quanto era difícil para Charlotte. Apesar disso, almejava, com todas as minhas forças, que pudéssemos sair dali direto para a igreja, e depois voltaríamos para casa para darmos início àquela nova vida que eu tanto ansiava.
Eu era um filho da puta egoísta e podia estar jogando Charlotte em seu maior inferno.
O que eu estava fazendo?
– Você não acredita mais em mim, não é? – eu sabia que naquele instante Charlotte sofria tanto quanto eu, e me amaldiçoava por isso. Beijei o topo da sua cabeça e acariciei seu braço.
– Eu não acredito que seja esta realmente a sua vontade – ela me abraçou forte e depois levantou o rosto para me olhar.
– Eu tenho medo, Alex, por outro lado, sinceramente, quando eu não terei? Quando vai ser possível, para alguém como eu, sentir-se segura em um relacionamento com alguém como você.
– Isso porque você me supervaloriza.
– Na verdade não, eu simplesmente enxergo quem você é e, por mais que eu tente me fazer de burra, sei muito bem quem eu sou.
– Realmente você se faz de burra – ela sorriu sem ser realmente um sorriso de felicidade. – Eu posso ser tudo o que você acredita, ou posso não ser, mas o que vai contar em uma situação como esta é o que sentimos e o que queremos. Você precisa ter certeza.
– Eu nunca tive dúvidas, Alex. Não hesitei nem por um segundo quando você me pediu em casamento. Não existe outra pessoa com quem eu queira dividir a vida. Você é tudo o que eu sempre quis, mesmo quando eu não fazia ideia do que desejava. Eu só não entendo o porquê da urgência.
E eu entendia os motivos dela. Charlotte deveria ter o direito de saber. Ela sim deveria ter o direito de decidir. O problema era: como fazer isso sem criar um pânico capaz de paralisá-la? Como contar toda a verdade à minha noiva sem que ela se desesperasse a ponto de se perder?
Para ser honesto, eu não conseguia enxergar uma outra saída. Havia uma enorme chance de Charlotte parar sua própria vida, esquecer-se de si mesma e simplesmente perder o interesse por nossos planos.
Era um problema que eu não tinha ideia de como resolver. Por mais cruel que fosse, eu ainda acreditava que desviar sua atenção para o casamento, a formatura, ou qualquer evento importante era o melhor a fazer para evitar que ela paralisasse sua vida e deixasse de viver seus sonhos.
A ideia surgiu sem que eu tivesse a chance de pensar sobre ela ou descartá-la e, de repente, era o mais correto a ser feito.
– Tudo bem – tive o cuidado de não interromper o carinho em seu braço. – Eu vou te dar um motivo, só não vai ser agora.
– Ultimamente você anda protelando demais o que tem para me dizer – não entendi e o meu silêncio a fez continuar. – A proposta. Você ainda não fez.
– Ah! Sinto dizer que eu vou precisar desta proposta para fundamentar o meu motivo principal.
– Isso é chato – ela voltou a se deitar, mantendo seus braços em mim, segurando-me com força. – Por que não agora?
– Porque nós precisamos almoçar – ela fez um muxoxo, voltando a ser a Charlotte que eu conhecia. – E também porque acabei de me lembrar que Lana pediu que você fosse até a editora amanhã pela manhã.
– Amanhã? O que ela quer? E por que não me ligou?
– Porque eu quis te dar esta notícia, mas acabei esquecendo por causa dos últimos acontecimentos.
– Que notícia? Não vá me dizer que não pode falar agora também – ri sentindo que meus pés tocavam outra vez o chão.
– Amanhã você assinará o contrato.
Ela levantou a cabeça para me encarar e finalmente eu vi aquele brilho ansioso de volta aos seus olhos e um sorriso genuíno. Sim, estávamos voltando ao nosso eixo.
CHARLOTTE
Olhei uma última vez para o espelho, conferindo meu vestido cinza, nem tão justo nem tão largo, um pouco mais para executivo do que para estudante recém-formada. O cabelo estava preso em um coque, insistência de minha mãe, e a maquiagem era discreta e bem feita, cortesia de Miranda, que por sinal estava com um ótimo humor.
Os óculos... Bom, era ainda a mesma armação, que combinou perfeitamente bem com o restante da produção. E o conjunto, no geral, estava perfeito. Eu até parecia mais velha! Pensando bem, para que parecer mais velha? Passei a mão no cabelo desfazendo o coque e deixando os fios lisos descerem até moldarem meu rosto.
Minha mãe não ficaria nada satisfeita. Nada mesmo.
– Pronta?
Meu pai surgiu na porta do quarto olhando para dentro. Ele tinha insistido em me levar à editora. Queria verificar o contrato, certificar-se de que era algo realmente vantajoso. Eu suspeitava que, depois de eu ter sumido durante a tarde inteirinha e início da noite do dia anterior, ele estivesse disposto a me vigiar mais de perto.
Principalmente porque, segundo ele, eu havia voltado com atitudes estranhas, o que na verdade se tratava de um cansaço extremo e um enorme desgaste psicológico, fruto de toda a apreensão por causa da minha briga com Alex.
Alex!
Era impossível não suspirar quando pensava nos acontecimentos das últimas horas. Foi estranho, doloroso, desesperador, mas no fim, e por fim, acabou me fazendo entender que ele tinha razão e que eu poderia sentir medo, era natural, também era preciso sentir as certezas e colocar os pés no chão.
Não importava se tínhamos um dia, um ano, um século... nada disso era importante, apenas o que sentíamos e o que queríamos. Porque eu estava certa de que queria me casar e dividir a minha vida com ele, não faria diferença se o casamento acontecesse em dois dias ou dois anos.
– Lottie? Está pronta?
Saí do meu devaneio e encarei o meu pai. Ele queria tanto aquele casamento que, às vezes, dava vontade de rir. Por que era tão importante me ver casada?
– Prontíssima!
– Vamos? – ele me ofereceu o braço e eu aceitei, voltando a me sentir a garotinha do papai.
Fizemos o percurso até a editora em um agradável silêncio. Eu não me permitia pensar muito em tudo o que havia acontecido, ou minha mente daria um nó, então procurei focar no contrato e na felicidade que era o fato daquele meu sonho estar se concretizando, tornando-se algo real, e o mais gratificante, por meus próprios méritos.
Sim, meus próprios méritos. Seria muito fácil conseguir que qualquer editora me publicasse, sendo eu filha de quem era, tendo uma renda capaz de abrir qualquer porta. Obviamente eu não queria que fosse assim. Eu queria ser reconhecida como escritora, que lessem o meu texto e gostassem, e foi o que Alex fez. Ele acreditou em mim, mesmo quando me fez acreditar que tudo estava perdido.
Senti a emoção umedecer meus olhos quando estacionamos em frente ao prédio já familiar. Eu tinha ótimas lembranças daquele lugar, daquela sala, daquele sofá... ah, Alex! Eu queria tanto que pudéssemos viver aquela liberdade.
Pensar assim me fez recordar o dia anterior, quando Alex pensou que o que importava para mim era apenas sexo. Que tolo! Ele não entendia que eu sentia falta de estarmos juntos livremente, já que ele mesmo colocava meu pai entre a gente, até quando Peter não estava presente.
– E agora?
– Vamos até a recepção. Alguém deve estar nos aguardando.
– E Alex? – dei de ombros.
– Não tenho ideia de como funciona, mas acredito que ele deva aparecer em algum momento – sorri confiante.
– Então vamos.
Conferi novamente meu cabelo e a maquiagem. Depois, passei as mãos no vestido, desfazendo as pregas amassadas por causa da posição no carro. Os saltos não eram tão agradáveis, mas eu gostava de me sentir vestida apropriadamente para eventuais olhares desagradáveis, como o da garota da recepção.
Sim, eu não havia esquecido.
Fabiana era o seu nome. Ela era loira, não natural, obviamente, e não era tão magra nem tão elegante. Era uma figura que, sem maquiagem ou o elegante vestido que servia de uniforme, seria apenas mais uma à espera do metrô. Ok! Eu sou má! Talvez ela fosse mais magra do que eu me permitia admitir e muito provavelmente ficaria atraente em um jeans e salto alto. Isso eu nunca admitiria em voz alta.
– Bom dia! – cumprimentou sorridente, mas suas feições mudaram assim que me reconheceu.
– Charlotte Middleton, Alex Frankli está me aguardando – ela piscou se afastando da tela do computador. – Sou a noiva dele.
Nossa! Eu podia me abraçar. Os olhos da mulher ficaram imensos e ela apenas se deu ao trabalho de interfonar avisando a minha chegada.
– A noiva do Sr. Frankli encontra-se aqui e... ah! Claro. Sim. Agora mesmo.
Lógico que a forma irônica como ela anunciou a “noiva” do chefe a colocou em uma situação constrangedora, e certamente confirmou a minha posição. Mais um ponto para mim. Fabiana seria apenas uma garota do meu passado.
– A sra. Lamara irá aguardá-los na saída do elevador.
– Obrigada – sorri educadamente me sentindo tão bem que poderia até mandar um beijo para a garota.
– O local é bom – meu pai falou com admiração ao entrarmos no imenso elevador.
– Estamos na melhor e maior editora do Brasil, pai – eu me orgulhava de ser noiva do homem que construiu tudo aquilo.
Assim que as portas se abriram, demos de cara com João Pedro. Ele sorria, estava com o cabelo molhado e a pele bronzeada, como se tivesse acabado de chegar da praia. Talvez tivesse mesmo, quem sabe com Alex... droga! Só de imaginar Alex e aquele corpo maravilhoso, equilibrando-se sobre uma prancha, a pele bronzeada coberta por gotículas, o cabelo molhado descendo em seu rosto, aqueles olhos azuis que se confundiam com o mar...
– E Lana pediu para que eu apresentasse a editora a vocês enquanto ela e Alex finalizam uma reunião.
Pisquei algumas vezes me dando conta de que divaguei perdendo os cumprimentos e parte do que era do meu interesse naquela história. Por isso apenas concordei e deixei que João nos guiasse na direção contrária à da sala do meu noivo.
– Então vamos assinar, Charlotte? Que bom! Lana não fala de outra coisa. Ela realmente gostou do seu livro, disse que será um sucesso de vendas. Pelo que fiquei sabendo todos os três avaliadores deram parecer positivo.
– Que bom – respondi meio sem graça. Receber elogios em público, mesmo sendo este bem reduzido, sempre foi um embaraço para mim.
– Uma pena Alex estar deixando o cargo agora. Lana vai precisar de um bom tempo para se adaptar à carga de trabalho de um editor-chefe, se bem que ela está otimista.
– Alex não precisava abandonar o cargo – meu pai disse com aquela postura superior, como se entendesse de todo e qualquer assunto, para ser sincera, ele era bastante convincente. – Charlotte está começando, então não há razão para temer tanto uma repercussão negativa.
– Ele tem outros projetos em mente, vai precisar de maior disponibilidade de tempo. Além do mais, apesar de Alex ser realmente um puta profissional... – ele olhou de soslaio para meu pai, fazendo uma careta por ter usado um palavrão. Acabei rindo baixinho – Apesar de ser um excelente editor-chefe – corrigiu-se rapidamente –, já fazia um tempo que pensava em mudanças. Alex não nasceu para ficar trancado em um escritório.
– Qualquer pessoa em seu perfeito juízo não teria problemas em estar trancado em um escritório que lhe pertence. É assim que tem que ser. O homem precisa trabalhar, proporcionar um porto seguro à família... – blábláblá. Meu pai e todo o seu discurso machista.
João Pedro riu, colocando a mão no ombro de meu pai com muita intimidade.
– Peter, um homem como Alex pode dar conta das suas finanças trabalhando na praia. Ele tem capacidade para isso, só que, assim como eu, não gosta da rotina, das obrigações de uma gravata – e folgou a própria como se estivesse sufocando. – Ele realmente vai render muito mais se estiver em um computador na sua varanda, tomando uma cerveja gelada e colocando para fora tudo o que aquela mente brilhante é capaz de criar. Alex é um filho da puta de sorte – outra careta que me fez rir novamente. – Desculpe, mas é o que ele é. Ele tem o dedo de ouro, sabe? Se disser que um original tem potencial, com certeza ele tem, e vai vender. Você vai ver só se não vai ser assim com o livro da Charlotte. Foi assim com a Tiffany, ele recebeu o material e apostou. Foi o primeiro a dizer que ela seria campeã de vendas, e não foi o que ela se tornou? Alex sabe o que faz.
Quando trouxe o nome da Tiffany para dentro da conversa, todo o brilho do momento se perdeu. Eu não entendia como ela ainda conseguia ser o meu calcanhar de Aquiles. Quantas vezes Alex já havia me dado provas de que Tiffany nada mais era do que uma autora de sucesso com a qual ele era obrigado a conviver? E quantas vezes ele já havia provado o que sentia por mim? Então por que só ouvir o nome daquela mulher já me fazia tremer e sentir raiva? Eu não sabia dizer, mas era exatamente o que acontecia.
– Aqui fica a nossa equipe de edição – ele abriu a porta revelando cinco pessoas em frente aos seus respectivos computadores, todos com trabalhos em andamento. – Oi, pessoal! Essa é Charlotte Middleton, nossa mais nova autora e este é o seu pai, Peter Middleton.
Todos me cumprimentaram e ao meu pai. Pareciam satisfeitos, apesar de eu ter notado um ou outro com expressões mais cansadas.
– Eu estou mostrando a editora, então finjam que estão trabalhando para que ela não desista de publicar com a gente – eles riram e fizeram brincadeiras com João, que pelo visto era muito querido ali. – Vamos, quero mostrar onde a sua capa será feita.
Menos de quatro passos e estávamos em frente a outra porta. João a abriu, revelando uma sala um pouco menor com apenas duas pessoas. Um som pesado, mas baixo, criava um clima especial para o ambiente. Dois homens, com aparência estranha, devo revelar, pois um tinha uma trança longa no lugar da barba e o outro estava com metade do cabelo pintada de roxo. Eles sorriram assim que João entrou e também foram amáveis.
Ainda conhecemos o setor de publicidade e marketing, que era imenso e com muitas mulheres trabalhando, e vários outros que se confundiram em minha cabeça e eu já não sabia mais quem era quem e o que faziam. A editora era bem grande, com muitos funcionários, havia uma área na qual João disse gostar de ficar, onde os funcionários podiam jogar, relaxar, divertir-se, assistir à televisão, dentre outras coisas. Também uma lanchonete grande e uma biblioteca. Resumindo: era um lugar bom de trabalhar.
Encontramos alguns autores caminhando pelos corredores. Eles estavam acompanhando o processo dos respectivos livros, segundo informação do João, que frisou não achar isso muito saudável e completou dizendo que tirava um pouco a concentração do seu pessoal.
Passamos em frente à sala do Patrício, que estava abarrotada de papéis, e ele, vestido como um executivo, falava ao telefone, nervoso, como se alguma coisa tivesse dado errado. João acenou e Patrício ficou sem graça quando nos viu.
– Peter, Charlotte, como vão? – apertou a mão do meu pai enquanto eu tentava ignorá-lo sem chamar a atenção de Peter.
– Nunca mais vimos você – papai falou sem desfazer o aperto de mão.
– Bom... – Patrício pareceu enrubescer e me olhou rapidamente, provavelmente com medo do que eu poderia dizer. – Como está vendo, o trabalho tem consumido o que pode de mim.
– É o que podemos ver – não escondi a má vontade.
– Então, hoje você vai assinar o contrato? – ele desconversou, tentando ser gentil. Estreitei os olhos sem acreditar que aquele imbecil tentava puxar conversa comigo depois de tudo.
– É o que parece – Patrício recuou percebendo que eu não estava para muita conversa. – Será que Alex já terminou a reunião? – perguntei para João, virando de costas para o meu futuro cunhado.
– Hum! – João olhou de mim para Patrício e deu para perceber que ele sabia que eu não queria estar ali. – Vamos voltar para verificar. Vejo você no almoço, Paty? – Patrício ia responder, porém mordeu os lábios, furioso.
– Claro, Joãozinho! Por que não? – João sorriu cinicamente e abriu a porta para que passássemos.
– Vejo você em breve? – meu pai perguntou para Patrício que ficou ainda mais vermelho e engoliu com dificuldade.
– É provável.
Filho da puta! Por que não tinha coragem de dizer que tinha partido o coração da minha amiga? Por que não assumia que caiu fora porque era um covarde, idiota, imbecil...
– Vamos – João me pegou pelo cotovelo, levando-me em direção à porta e só então percebi que olhava para Patrício de uma forma assassina.
Caminhávamos em um silêncio desconfortável quando meu pai resolveu ser o inconveniente da vez.
– Não se incomoda que a sua esposa trabalhe mais do que você? – soltou para João assim que entramos outra vez no elevador. – Por que se ela vai assumir tudo isso certamente não poderá te acompanhar à praia, ou cuidar da casa, como deveria, ou até mesmo te dar filhos...
– Pai! – eu mal conseguia acreditar no que ele tinha acabado de falar. Olhei para João, desculpando-me quando vi que ele ria.
– Lamara nunca gostou de me acompanhar à praia. Eu trabalho fora da editora também e para fazer filhos só precisamos de alguns minutos – piscou para meu pai que ficou mudo imediatamente. Quase abracei João. – Lana gosta dessa vida, trabalhar até a exaustão, saber que produz, e eu fico feliz por ela poder se realizar seja da forma que for.
Saímos do elevador e voltamos para o andar onde ficava a sala do meu noivo.
– Eu sei que os tempos mudaram, as mulheres conseguiram o seu espaço no mundo e tudo mais que a modernidade nos trouxe, porém continuo acreditando que alguns pontos não podem ser negligenciados.
– Pai, ninguém mais pensa desta forma no mundo. Hoje você planeja ter filhos, planeja seu casamento, sua carreira, nada mais é feito apenas seguindo o curso da vida.
– Tudo bem, Charlotte – ele abriu um sorriso encantador. – Se vocês crianças gostam de pensar assim, então que seja. Só posso afirmar uma coisa, você segue o curso da vida, querendo ou não. Porque quando ela quer, não há como fazê-la alterar nada, acredite em mim.
– Eu acredito – João falou divertido, então tudo perdeu a importância para mim.
Ao fundo do corredor, um pouco à frente da sala que eu sabia ser do meu noivo, uma porta se abriu e revelou aquele homem espetacular. Alex estava maravilhoso, usando uma camisa social, gravata e calça. Sua pele bronzeada contrastava com a camisa branca, enquanto a gravata azul realçava seus olhos.
E foram seus olhos que me fizeram esquecer o mundo ao redor. Quando Alex me olhou, nada mais tinha importância. Havia tanto sentimento naquele olhar que eu senti o ar escapar de mim. Ele sorriu. Um sorriso largo, que começou no canto da sua boca, expandindo-se completamente, atraindo todo o meu foco.
Alex se adiantou, despedindo-se rapidamente dos três homens com quem estava reunido. Lana ainda não tinha saído da sala, mas o meu noivo já estava caminhando em minha direção.
Ele se deteve quando já estava perto o suficiente para fazer com que todo o meu corpo reagisse. Então parou, com o mesmo brilho no olhar, o mesmo sorriso largo e a ansiedade que não conseguia esconder, no entanto, não me tocou.
– Peter – ofereceu a mão a meu pai, o que me frustrou, apesar de saber da sua imensa necessidade de agradar. – Charlotte – e me deu um beijo no rosto.
No rosto?
Puta merda!
Eu queria ser tocada, sentir aqueles lábios quentes e sedentos nos meus. Sentir cada músculo do seu corpo encostado ao meu... Respirei fundo incapaz de esconder a minha decepção. Alex, obviamente, notou, porém nada disse, apenas bateu com alguns papéis no braço do João, que riu se esquivando.
– O contrato já está em minha mesa. Lana está em uma ligação, ela logo se unirá a nós – ele disse de maneira formal. – Conheceram a editora?
– Sim. É uma ótima empresa. Muito bem estruturada – meu pai bajulou meu noivo e eu me limitei a concordar, pois a comichão ainda me incomodava por ter recebido apenas um beijo no rosto.
– Conheceram a gráfica? – Alex parecia animado.
– Não. Charlotte estava muito ansiosa – João revelou.
– Vocês têm uma gráfica aqui no prédio? – fiquei curiosa. Não sabia que era vantajoso para as editoras terem a sua própria gráfica.
– Na verdade não é nossa. É uma parceria. Instalamos uma pequena parte da gráfica com quem trabalhamos aqui para atender às nossas necessidades. Como nossa demanda é grande, precisávamos de um atendimento mais personalizado, então propusemos que se instalassem em nosso prédio, o que reduziu um pouco os nossos gastos, além de ser vantajoso para eles também. Assim ficou muito mais fácil garantir os prazos.
– Brilhante! – Peter falou enchendo Alex de orgulho. – A ideia foi sua? – meu noivo sorriu sem graça.
– Não. A ideia, assim como todo o projeto, partiu de Lamara, e João foi um dos responsáveis pela viabilização.
– Hum! – meu pai olhou desconfiado para João Pedro. – Muito bom!
– Obrigado! – João fez uma reverência bem-humorada. – Eu cumpro as ordens da minha querida esposa.
– Ele sabe com quem está mexendo – Lana se juntou ao grupo, pendurando-se no ombro do marido. – Aqui eu mando e ele executa.
– Com o maior prazer, chefinha – João gracejou e Lana sorriu apaixonada.
Se Lana e João podiam agir assim, por que eu teria que me contentar com apenas um beijo no rosto? Que droga!
– Vamos? O contrato já está prontinho. Foi revisado pelo nosso setor jurídico e aprovado por Alex – Lana desatou a falar, conduzindo-nos para a sala do meu futuro marido. – Acredito que você veio conferir no que a sua filha está se metendo, não, Peter? – papai sorriu com satisfação para Lana.
– Sim. Não que eu não confie em vocês, mas um olhar de fora pode ajudar.
– Sempre – ela rebateu, acenando para a secretária impecável de Alex.
Entramos e minha mente rapidamente se encheu de lembranças. Ah, aquela sala! Se eu fechasse os olhos poderia até sentir as emoções daquele dia. Eu estava com tanto medo e tão decidida a seguir em frente com o plano. E Alex? Porra, ele foi incrível! Aquele homem tinha o dom de me ensandecer, levando-me a cometer as maiores loucuras.
Olhei para o sofá com saudade. Eu podia determinar o exato lugar onde estávamos e até podia visualizar a cena toda. O que eu não daria para ter apenas mais uma oportunidade?
– O que quer beber? Café, chá, refrigerante, água... – Lana continuava exercendo seu papel de boa anfitriã, enquanto eu ainda olhava para o sofá com ternura.
– Água, por favor – Peter respondeu.
Desviei os olhos do sofá e encontrei os de Alex, atentos a tudo o que eu fazia. Claro que meu rosto esquentou consideravelmente. Ele sabia o que eu estava pensando. Podia imaginar o meu nível de envolvimento e o quanto aquilo tudo me deixava excitada. E a forma como ele estava me olhando... Santo Deus! Alex parecia estar tão saudoso e excitado quanto eu.
Ele poderia facilmente me convencer a tirar a roupa se continuasse me olhando daquele jeito.
– Charlotte? – Lana falou do meu lado, fazendo-me estremecer. – Não sei como você consegue ficar tão aérea – e riu puxando-me pela cintura para sentar em uma das poltronas de frente para o sofá. – O que quer beber? – pensei em pedir uma tequila, mas desisti.
– Nada no momento, obrigada!
– Eu vou embora – João anunciou. – Tenho alguns assuntos para resolver e esse lance aqui não é muito a minha praia. Vejo você mais tarde, Lana – eles trocaram um olhar apaixonado e João, após se despedir de todos os presentes, saiu deixando a reunião um pouco mais séria.
– Vamos ao que importa – disse Lana ao entregar um copo com água ao meu pai. – Aqui está uma cópia, Charlotte. Peter pode analisar a nossa enquanto você fica ciente de como vai funcionar. O contrato é o padrão. Alex não queria te favorecer em nada – Lana foi firme ao falar, como se aquela fosse a sua vontade também.
– Acho justo – afirmei sentindo-me estranha.
Não seria agradável receber favorecimentos porque sou noiva do editor-chefe. Seria vergonhoso. Meu pai me deu um olhar de aprovação e continuou analisando o contrato. Ajustei os óculos, ainda incomodada com o sentimento, e procurei me ater ao que dizia o papel em minha mão.
– Certamente foi impossível não conceder alguns benefícios descritos em seu contrato, embora tudo o que foi colocado esteja diretamente ligado à qualidade e importância do seu material, Charlotte – Alex falou usando o seu tom profissional, sem tirar os olhos de mim. – Apesar de ser uma autora iniciante, nós tivemos ótimas avaliações e, como já havia dito, estamos apostando em seu livro.
– Livros – completou Lana sorridente. – Afinal, será uma trilogia – Alex também sorriu orgulhoso. – E, por falar nisso... – ela se levantou dando a volta no sofá e parando para se apoiar logo atrás de onde meu pai estava – ... trate de trabalhar. Nós temos prazos estabelecidos para a entrega do próximo volume.
– Farei o possível.
A conversa seguiu em torno do contrato e de como eles pretendiam fazer a divulgação. Eu prestei bastante atenção, afinal de contas era do meu interesse tudo o que aconteceria ali. No entanto, existia uma parte de mim que ainda se perguntava por que mereci apenas um beijo no rosto. E outra bastante significativa que insistia em repassar as imagens de tudo o que eu já havia feito naquela sala com o meu futuro marido.
Inferno!
Se já não era bom ficar excitada tendo Alex fugindo de mim como o diabo foge da cruz, ficar excitada sabendo que seria rejeitada, e ainda precisar fazer cara de filha santinha para o meu pai, era o fim do mundo.
ALEX
Por fim, Peter aprovou o contrato, todo sorridente com o charme que só Lamara conseguia lançar sobre seus clientes para conseguir o que desejava. Ela tinha este dom. Simplesmente encantava as pessoas que, instantaneamente, passavam a fazer tudo o que ela queria. Não fora o que aconteceu comigo e Patrício? Não era desta forma que ela mantinha João Pedro sob o seu comando? E por que seria diferente com qualquer outra pessoa?
Charlotte permaneceu calada, não demonstrando o menor entusiasmo, o que para mim era estranho, já que se tornar uma escritora de sucesso era o seu maior objetivo de vida, capaz de fazê-la cometer todas as loucuras possíveis.
Mordi o lábio evitando o sorriso que insistia em se expandir. Eu bem sabia tudo o que aquela menina fora capaz de fazer e a maneira astuta como me envolveu em seu plano diabólico.
Ah, Charlotte! E você nem faz ideia do quanto eu venero esta sua determinação!
Por fim, ela assinou e, no final de tudo, eu pude até notar um brilho especial em seus olhos e a maneira deliciosa como ela corou ao me olhar, provavelmente ecoando os meus pensamentos. Porque naquela hora eu apenas pensava: valeu a pena cada aula.
E se valeu!
– Agora um agrado especial – Lana disse com animação. – Eu, como nova editora-chefe desta casa, tomei a liberdade de providenciar a nossa comemoração – ela abriu a porta e falou alguma coisa com a minha secretária, depois voltou de lá com uma bandeja contendo algumas taças e um balde com gelo e champanhe. – Um brinde todo especial à minha futura cunhada.
Lana me passou a garrafa, dando-me a honra de estourá-la, o que fiz sem poupar floreios. Charlotte voltou a sorrir e seu sorriso me fez ganhar o dia. Ela era linda! Servi as taças e, após entregar cada uma delas, fizemos um brinde.
– À Charlotte – falei tomando a liberdade de fazer aquele discurso. – Pela menina insistente e determinada – ela sorriu com doçura. – E principalmente pela mulher incrível, inteligente, criativa – sorri, fazendo-a entender que eu também lembrava. – À nossa mais nova escritora best-seller.
– Posso colocar uma pontinha de discurso de pai? – Peter me interrompeu gracejando. – À filha mais teimosa e decidida que um pai antiquado poderia ter. Que o seu sonho se torne realidade, Lottie, e que as suas escolhas revelem sempre um caminho de felicidade e satisfação. Não foi o que eu planejei, no entanto, eu não poderia estar mais orgulhoso.
Até eu fiquei emocionado. Peter fazia o tipo figurão, o pai durão que jogava duro e de acordo com as suas regras. No fundo, ele era um homem com medo de perder o controle, de errar com as crianças que foram deixadas sob seus cuidados e que as amava acima de tudo, até dele mesmo. Ele era um bom pai e disso Charlotte não tinha dúvida.
E Charlotte? Ela olhou para cima, para os lados, respirou um pouco mais rápido e até mordeu o lábio inferior, tudo para tentar disfarçar a emoção que por pouco não escorreu pela sua face. A mania de ajeitar a armação dos óculos sob o nariz serviu apenas para me certificar do esforço que ela fazia para não chorar e, quando bebeu metade do conteúdo de sua taça de uma vez, usou como desculpa para os olhos úmidos.
Essa era a minha garota!
– Não vamos atrapalhá-los mais – Peter começou depositando a taça sobre a minha mesa. Disfarcei, circulando a sala, e acenei para Lana, que rapidamente entendeu o que eu queria. – Eu ainda tenho que trabalhar e Mary vai precisar de companhia para um jantar de arrecadação de fundos para uma de suas causas – sorriu como um bobo apaixonado. – Ela parece querer salvar o mundo.
– É sempre bom estarmos engajados em campanhas como as que Mary tanto se compromete – Lana cruzou o braço com o de Peter, levando-o para fora da sala. Eu e Charlotte saímos atrás dos dois.
– Sim, sim. E eu confesso que adoro saber que casei com uma mulher tão generosa. Mary sempre foi assim... – eles continuaram a conversa enquanto Charlotte atrasou mais um passo.
– Feliz? – ela me olhou como se eu tivesse falado a maior besteira do ano.
– Por que me deu só um beijo no rosto?
O quê? Precisei parar para pensar no que ela tinha acabado de dizer. Eu realmente ficava muito confuso com as maluquices da minha noiva. Havia imaginado um milhão de sentimentos partindo daquela garota, menos aquele, nunca. Nunca mesmo! Poderia até jurar que naquele momento Charlotte estaria leve como uma pluma. Realizada.
– Do que você está falando? – retardei mais um pouco os nossos passos, sem deixar que Peter percebesse.
– Você! – ela parou um pouco mais exaltada. – Por que me deu um beijo no rosto?
Olhei para Charlotte sem acreditar, então dei risada. Ela conseguia ser adulta e infantil ao extremo e com segundos de diferença.
– Amor, aqui é o meu trabalho – continuei sorrindo.
Tenho que admitir, eu ficava louco da vida com as infantilidades da minha noiva, porém amava cada uma delas. Era como se, de repente, Charlotte se transformasse em uma garota perdida, confusa e sem rumo.
– Lana e João Pedro não se preocuparam com isso – o vermelho suave que estava em suas bochechas ganhou um tom mais forte. – E você já fez muito mais do que me beijar naquela sala, Alex Frankli – falou baixinho me encarando com olhar desafiador.
Mordi o lábio olhando rapidamente para os dois que seguiam, Lana fazendo de tudo para que Peter se esquecesse de nós dois. Voltei a olhar Charlotte, o nariz empinado, o queixo projetado para cima, os olhos estreitos e aquele vermelho... Eu podia fazê-lo se expandir ainda mais.
Aproximei-me cuidadosamente, saboreando a reação dela, que aos poucos foi perdendo a postura desafiadora e assumindo uma de expectativa, mais submissa do que rebelde. Porra, eu amava aquela menina! Sem precisar pensar duas vezes, segurei em seu rosto e colei meus lábios aos dela. O sabor cítrico do champanhe, misturado ao doce do seu batom tornou o beijo mais prazeroso.
Ela abriu os lábios, permitindo que minha língua brincasse com a dela. Uma delícia. Mas eu precisava ser breve, até porque eu tinha planos e nada do que eu havia imaginado poderia acontecer ali.
Desfiz o beijo, ainda segurando o seu rosto e rocei a ponta do nariz até sua orelha. Antes, olhei para Peter, certificando-me de que estávamos seguros, então me voltei outra vez para Charlotte.
– Quer passar a tarde comigo? – vi quando os pelos do seu braço se eriçaram. Não resisti e deslizei meus lábios até seu pescoço e desci minha mão para sua pele arrepiada.
– Aqui? – aquela voz doce e fraca, carregada de tesão me deixou louco.
– Em um motel – sussurrei em sua pele, rezando para que apenas Charlotte fosse capaz de ouvir a minha proposta.
Ela se afastou me encarando com os olhos arregalados. O rosto afogueado, a respiração acelerada. Charlotte estava excitada, e eu estava adorando.
– Tenho uma proposta para te fazer.
CAPÍTULO 24
“O amor é dos suspiros a fumaça; puro, é fogo que os olhos ameaça; revolto, um mar de lágrimas de amantes... que mais será? Loucura temperada, fel ingrato, doçura refinada.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Ainda atônita, vi Alex se afastar, indo em direção ao meu pai. O que ele faria? O que diria? Porra, claro que Alex jamais pediria permissão a meu pai para me levar a um motel. Lógico que ele não teria coragem!
E o que eu faria? Ora, eu o acompanharia a qualquer lugar que ele quisesse me levar. Eu sempre seguiria Alex Frankli. Sempre.
Meu coração acelerado não dava trégua e eu assistia em câmera lenta Alex se aproximar do meu pai ao mesmo tempo que sentia cada partícula do meu corpo guerreando entre si, minhas células, alucinadas e em alvoroço, ansiosas demais pelo próximo passo.
Ainda existia uma parte de mim que tinha outro tipo de preocupação: a calcinha. Quando Alex me perguntou se eu queria passar o dia no motel com ele, minha cabeça deu um nó, e a minha calcinha tornou-se um problema inesperado.
Era mesmo uma merda que eu estivesse sempre preparada para ele, que desde quando surgiu a possibilidade de transarmos eu tivesse pensado em calcinhas, sutiãs, depilação e tudo o que uma garota normal precisa cuidar para estar sempre apresentável. Para meu azar naquele dia, talvez por ter a certeza de que nada aconteceria, ou pela frequente recusa de Alex, eu tenha pensado em uma calcinha mais confortável, que não marcasse o vestido, deixando o lado de fora mais apresentável do que o de dentro.
Merda!
Eu estava com uma calcinha imensa, daquelas que cobrem todo o bumbum e sobem quase até o umbigo. E para agravar o problema, ela era bege. Bege! Dá para acreditar?
E, como se a minha mente fosse realmente algo complicado demais para ser entendido, eu ainda conseguia me questionar sobre a razão para aquilo tudo. Não era possível ignorar a reação do meu namorado quando eu lhe fiz a mesma proposta. Ele havia sido categórico ao afirmar que não se sentiria à vontade em um lugar como aquele comigo.
Então, o que mudou? E o que me levar a um motel tinha a ver com a proposta que ele tanto insistia em fazer?
Eu não conseguia entender. Não conseguia. Mesmo assim, faria o que fosse possível para que Alex não voltasse atrás.
– Peter, eu gostaria que Charlotte ficasse – ele me olhou rapidamente mantendo uma postura tranquila. – Passasse a tarde aqui comigo.
– Aqui? – meu pai olhou de um para o outro com desconfiança. – No seu trabalho?
– Sim – Alex deu de ombros, colocando as mãos nos bolsos. – Eu não tenho mais nenhuma reunião agendada para hoje, apenas alguns assuntos para resolver.
– Ela não vai te atrapalhar?
– Pai! – quase gritei exasperada. – Não sou mais nenhuma criança, está legal?! Não preciso de autorização para passar a tarde com o meu noivo, nem de recomendações para não atrapalhar o trabalho dele. Que droga!
– Mocinha! – ele me ameaçou com o olhar, mas eu não senti medo.
– Ela não vai me atrapalhar, Peter – Alex afirmou divertido, puxando pela cintura para perto dele. – E eu quero conversar com ela sobre o casamento. Definir algumas coisas – sorriu confiante.
Não sei por quê, mas Alex conseguiu fazer meu pai recuar. Como se a palavra “casamento” fosse mágica e abrisse todas as portas. Pelo menos para mim. Não dava para acreditar que meu pai estava cedendo porque queria me ver casada com Alex. O que estava acontecendo com aquela família? Quer dizer que, se eu aceitasse casar sob os termos dele, estava liberada para transar?
Inacreditável!
Obviamente não rebati, nem argumentei. Era muito mais importante ir ao motel com Alex do que entrar em uma discussão com o meu pai sobre o meu “em breve”, ou não, casamento.
– Tudo bem – meu pai disse por fim. – Se não vai te atrapalhar... – ele me deu um olhar cheio de significados, o mais importante era: eu sei o que você vai fazer e não estou nada satisfeito. Então, por que aceitou, oras?
Revirei os olhos e cruzei os braços. Alex estreitou o braço em minha cintura como um alerta para que eu ficasse calada.
– Vejo você mais tarde.
– Combinado – Alex estendeu a mão para apertar a do meu pai. Aquele aperto demorou mais do que o necessário. – Ah, Alex? Charlotte está sem carro. Você deve levá-la para casa. Nada de táxi. O mundo está muito louco.
– O quê? – quis argumentar, mas Alex praticamente me jogou para trás me impedindo de falar.
– Claro, Peter! Até mais tarde.
E assim meu pai entrou no elevador nos olhando com desconfiança até a porta se fechar.
ALEX
Pronto. Estava feito. Tudo arrumado conforme o planejado e não havia mais como voltar atrás. Eu não voltaria, já Charlotte...
– Ok! Agora comece a se explicar – minha noiva, de braços cruzados, encarou-me aguardando por respostas.
– Eu acabei de dizer a seu pai que você não me daria nenhum trabalho – brinquei vendo-a ficar ainda mais irritada.
– Eu vou embora, tá? – Lana falou, ganhando a nossa atenção. Ela já estava afastada de nós. – Espero que o que quer que esteja passando pela cabeça de vocês dois, não aconteça no corredor – ela nos olhou séria e depois riu dando mais alguns passos para trás. – Ao trabalho, Alex. Ainda há muita coisa para fazer por aqui.
Lana se afastou, indo em direção às escadas, só que eu ainda precisava da minha irmã.
– Lana! – corri para encontrá-la. – Preciso que faça algo por mim.
– Agora?
– Hum! Não, mas em alguns minutos. Primeiro eu tenho que responder alguns e-mails e assinar alguns documentos, depois disso... – passei a mão no cabelo retirando os fios longos que caíam pela testa. Estava na hora de cortá-los – ... preciso de um tempo com Charlotte – e fiquei constrangido por conversar sobre esse assunto com a minha irmã, se bem que não era a primeira vez que ela me ajudava a conseguir algumas horas com a minha noiva.
– Você precisa começar a aprender a se virar sozinho, irmãozinho. Não me lembro de ter a sua ajuda quando precisei de tempo e espaço com o João.
– É completamente diferente.
– Ah, é?
– E eu fazia vista grossa quando você passava do horário. Dava um tempo ouvindo música no carro quando você fingia ter se perdido da gente nos shows, só para que Patrício não enlouquecesse te vendo entrar sozinha em casa.
– Droga! Você sabe mesmo como chantagear uma irmã caçula.
– É. Eu sei.
– O que quer que eu faça?
***
Ela ainda me encarava, sentada na cadeira em frente à minha. Eu fingia trabalhar, mas não havia como me concentrar no que eu precisava fazer. Lana cuidaria de tudo. No momento, eu precisava de duas coisas: resolver o problema e ter Charlotte em meus braços.
– Então? – Charlotte tentou mais uma vez.
– Então o que, amor?
– Não vai me dizer o que o fez mudar de ideia?
– Fora o fato de estar morto de saudade de você? – ela estreitou os olhos e sua boca se abriu um pouco, deixando-a ainda mais bonita. – Eu vou te dizer. Vou dizer tudo o que você quer ouvir, mas não aqui.
– A proposta.
– Isso. A proposta.
– Vamos logo então – esbravejou e eu ri.
– Preciso resolver algumas coisas – tentei voltar minha atenção para uma avaliação que Lana tinha me enviado há mais de uma semana e que eu ainda não havia conseguido verificar.
– Isso é uma droga – cruzou os braços novamente e se encostou na cadeira. – Só falta você me dizer que antes vamos almoçar – ri. Charlotte parecia uma criança fazendo birra.
– Assim eu vou me sentir culpado por levar uma garotinha birrenta a um motel – ela me mostrou a língua e depois começou a rir.
– Você é um idiota.
– Que falta de respeito.
Desliguei o computador sem voltar a olhar para ela. Depois levantei, organizei os papéis sobre a mesa, peguei minha carteira e a chave do carro, coloquei a cadeira no lugar e peguei meu paletó. Charlotte me observava com atenção.
– Já vamos?
– Não é o que você queria?
– E você não? – abracei minha noiva pela cintura e beijei seu pescoço, desarmando-a por completo.
– Não vejo a hora de tirar este vestido – revelei me dando conta do quanto eu realmente queria aquilo.
Charlotte me deu um sorriso sem graça e se afastou, torcendo os dedos uns nos outros. Eu, de verdade, não entendia aquela garota. Uma hora, ela me seduzia e me implorava para comê-la e, na outra, ficava envergonhada ao extremo porque eu disse que queria tirar a sua roupa.
Vá entender!
– Vamos antes que você desista – segurei em sua mão e a conduzi para fora.
– E o almoço? – corou timidamente.
– Pensei que estivesse com pressa – ela corou mais uma vez e baixou os olhos. – Eles servem almoço lá. Eu já estou com tudo pronto – puxei Charlotte de encontro a mim, deixando que ela sentisse a minha ereção. – Tudo pronto – sussurrei em seu ouvido fazendo-a estremecer.
CHARLOTTE
Tudo bem, eu poderia me livrar da calcinha em dois tempos, mas o que diria a Alex quando ele percebesse que eu estava sem ela? Uma coisa era eu tirar a calcinha para impressioná-lo antes de uma aula, outra era sair para assinar um contrato, sem nenhuma promessa feita, e me apresentar sem calcinha.
Para piorar tudo, Alex constantemente tentava me tocar. Não tocar de uma maneira normal, mas ele estava dirigindo, com uma mão em meu joelho que subia entre as minhas coxas tentando chegar ao local proibido.
Não consegui. Eu queria, porém não conseguia deixá-lo me tocar, não enquanto estivesse usando aquela calcinha horrorosa que provavelmente o faria rir de mim e perder metade do desejo que demonstrava sentir.
Não. Eu teria que dar um jeito. Qualquer coisa que impedisse Alex de me ver com aquela coisa ridícula que eu inventei de usar naquela manhã.
Ele estava achando divertido me atiçar enquanto dirigia. Talvez este fosse o fetiche de muitos homens, sentir o controle da máquina enquanto controlava o próprio corpo apenas estimulando, dando doses homeopáticas do que viria a seguir. É... este poderia ser um desejo dele. Um que eu teria o maior prazer em satisfazer, no entanto, não ali e, definitivamente, não com aquela calcinha.
Alex entrou em uma rua mais tranquila, com pouco movimento de carros, o que me deixou mais relaxada, porém nada menos apreensiva. Ele parou em frente a um portão que impedia que enxergássemos qualquer coisa além dele. Ao seu lado, uma cabine com vidros fumê e um microfone direcionado para o motorista.
Atrás daquele vidro havia uma pessoa. Provavelmente um homem, e ele, com certeza, estava naquele momento enxergando as minhas pernas, por causa da altura da cabine em relação ao carro, e sorria ironicamente pensando um monte de sacanagem. Claro que ele pensava assim, afinal de contas, todos os clientes daquele local estavam ali com a mesma finalidade: transar. E transar de todas as formas sacanas possíveis.
Merda! Por que eu tinha aqueles pensamentos? A pessoa que estava atrás do vidro poderia ser uma senhora, uma mãe de família, uma religiosa... não, aí seria demais. Mas poderia ser uma pessoa comum em um trabalho comum, que pouco se importava se a dona daquelas pernas iria abri-las de tal ou tal maneira. Ela podia simplesmente não se importar, ou estar ocupada com um problema de família, ou até mesmo finalizando um trabalho de faculdade, quem poderia saber?
A voz feminina que nos cumprimentou me deu um pouco mais de alívio. Não que eu quisesse continuar pensando que um homem certamente estaria sorrindo com pensamentos impróprios, o fato de saber que outra mulher estava do outro lado me deixava mais à vontade. Só um pouco.
– Fiz uma reserva. Suíte presidencial. Está em nome de Alex Frankli.
– Você deu o seu nome de verdade? – sussurrei sentindo meu rosto esquentar e meu coração acelerar.
Meu Deus! Qualquer pessoa poderia conseguir uma cópia daquela reserva e vender a informação. No dia seguinte, estaríamos estampados em todas as revistas de fofoca sob o título “O editor Alex Frankli passou uma tarde agradável até demais ao lado de uma garota misteriosa”. Puta merda! Meu pai me mataria. Eu tinha certeza! Alex riu e me encarou com diversão enquanto a mulher solicitava a identidade da acompanhante.
A minha identidade. Não, não, não.
– Charlotte? – ele estava com a mão estendida, aguardando o meu documento.
– Não vou entregar a minha identidade – segurei a minha bolsa com força.
– O quê?
– Você enlouqueceu? Ela pode vender esta informação para qualquer revista de fofoca. Não preciso do meu nome estampado embaixo de uma foto do seu carro entrando em um motel – tentei manter a voz baixa, mas o meu desespero era perceptível.
Alex me encarou sem acreditar em minhas palavras. Sua boca levemente aberta parecia querer dizer muitas coisas, mas ele apenas balançou a cabeça, passou a mão pelo cabelo, respirou fundo e voltou a me olhar.
– Amor, existem muitos pontos para serem explicados, mas não podemos discutir este assunto aqui, na portaria. Apenas me entregue a identidade e conversaremos lá dentro.
– Para quê? Por que ela precisa da minha identidade?
– Porque menores não podem entrar em motéis, Charlotte – havia certo divertimento em seu tom de voz, o que me irritava um pouco.
– Eu não sou menor de idade – rosnei mantendo a voz baixa.
– Ela não sabe disso – e me encarou com a confiança de um vencedor.
– E se ela vender a informação? E se algum paparazzi idiota oferecer dinheiro para saber com quem você entrou no motel? E se...
– Charlotte! – disse com a voz firme. – A identidade – e voltou a estender a mão. – Ou desistimos da nossa tarde.
Muito cautelosamente abri a bolsa e procurei pelo documento. Respirei fundo, fiz uma oração internamente e entreguei a Alex a minha vida, porque certamente eu a perderia se meu pai descobrisse onde passei a tarde.
Ele retirou o documento da minha mão e o passou por uma pequena fenda logo abaixo do vidro, quase imperceptível. Depois me olhou como se estivesse procurando alguma coisa em meu rosto, e começou a rir.
– Qual a graça?
– Você é... inacreditável.
– Sou?
– É sim.
Com a mão ele acariciou meu rosto, contornando minha bochecha com o polegar e depois os meus lábios. O tempo inteiro me manteve cativa dos seus olhos, azuis brilhantes, escuros e profundos. Uma perdição. Então a mulher anunciou que a suíte estava pronta e que poderíamos seguir para a cabine dezoito, logo em seguida devolveu o meu documento, e o portão começou a se abrir.
Alex ainda sorria do que quer que fosse que ele tivesse achado graça naquela situação e eu voltei a me preocupar com meus outros temores. A maldita calcinha que parecia pertencer à minha avó.
Pela forma como ele dirigia, percebi que aquele era um local familiar para Alex, e logicamente, senti raiva. Era frustrante ele ter uma vida sexual antes de mim enquanto, até pouco tempo, eu não sabia nem como me masturbar.
Assim que encontrou a cabine dezoito, um pouco mais afastada das outras, e também maior, ali cabiam três carros sem problemas... por que três carros? Oh, merda! Meu rosto esquentou e depois esquentou mais ainda quando imaginei se Alex já tinha feito algo desse tipo.
– Você já esteve aqui – afirmei para não lhe dar a chance de mentir.
– Ah... não neste quarto – desligou o carro e aguardou.
Continuei encarando o meu noivo ciente de que ter um ataque de ciúmes naquele momento não seria nada conveniente, afinal de contas, eu sabia que ele tinha um passado, assim como ele sabia que eu nunca havia estado em um local como aquele, nem em nada parecido acompanhada de um homem... Bom, sempre é bom frisar que nem de mulher.
– Isso é um problema para você? – senti a cautela em sua voz e me perguntei se eu tinha sido sempre um problema quando o assunto era as mulheres com quem ele já havia transado.
– O quê? O fato de você ter comido metade da cidade antes de me conhecer? – dei de ombros tentando parecer indiferente. – Não.
– Metade da cidade? – ele riu balançando a cabeça. – Nunca tive todo este tempo disponível, Charlotte.
– Ok! Você disse que tinha uma proposta – Alex parou de rir, e o clima mudou automaticamente.
– Direto ao assunto – resmungou apreensivo.
Se ele não queria fazer a tal proposta então por que ficou me tentando com a ideia durante tanto tempo?
– Nós podemos conversar sobre a possibilidade de amanhã estarmos em apuros, por causa da informação que, com certeza, aquela mulher vai vender ao primeiro que aparecer, ou quem sabe podemos passar uma boa parte desta tarde discutindo sobre o fato de eu ter sido recebida com um beijo no rosto para logo em seguida ser convidada para passar o dia em um motel, ou até mesmo sobre as mulheres que você trouxe aqui, em um passado não tão remoto.
Ele riu, mantendo um pouco do seu nervosismo e batucou no volante do carro.
– Prefiro passar o mínimo do nosso tempo conversando e o máximo te comendo.
Porra!
Engoli com dificuldade, sem conseguir me concentrar em mais nada. Por mim acabávamos a parte da conversa e partíamos para a segunda etapa. Aliás... sim, eu daria um jeito naquela calcinha.
– Imagino que seja algo ligado ao nosso casamento – arrisquei já sentindo o familiar desconforto que o assunto me causava e eu ainda não conseguia entender o motivo.
– Exatamente.
– Não podemos conversar lá dentro? Tem que ser aqui, no carro?
Alex se ajeitou no banco, virando-se em minha direção. Suas mãos caíram, juntas, dedos cruzados entre as pernas. Ele respirou fundo, tomando coragem para começar. Eu bem sabia o que viria, então me preparei para não pôr tudo a perder. Nós não precisávamos de mais mágoas, e eu já tinha aceitado diminuir aquele prazo, então...
– Eu quero lhe fazer uma proposta – ele começou. Concordei sem nada dizer, para que ele continuasse sem perder tempo. – Você sabe como eu me sinto estando em um motel com você – eu queria responder, no entanto Alex levantou uma mão me impedindo. – Eu amo você, Charlotte. Morro de tesão por você. Mas estar em um motel me faz pensar que isso tudo que construímos não tem valor. Eu sei que é uma babaquice e que vários casais costumam quebrar a rotina em lugares como este, porém, durante toda a minha vida sexual, eu utilizei estes lugares para estar com mulheres que acreditava não merecerem estar em minha casa, em minha cama. Era pura e unicamente satisfação física, nada mais que isso. Nunca estive em um quarto de motel com alguém por quem eu tivesse sequer um carinho especial. Isso pode ser uma questão de ponto de vista e, como não sou muito de sustentar uma idiotice como esta, resolvi que valia a pena tentar. Para mim, estar com você é sempre especial, mesmo achando não ser este um lugar para ficarmos juntos – sorriu sem graça.
– Você tem razão, isso tudo é uma bobagem, embora eu esteja muito feliz que tenha decidido me dar mais esta experiência.
– Mesmo você achando que alguém pode colocar nos jornais? – aquele sorriso foi realmente muito escroto. Alex estava desdenhando de mim?
– Isso pode acontecer.
– Não pode. E eu acredito que realmente não exista ninguém interessado em minhas idas ao motel.
– Idas?
– Você entendeu. Voltando ao assunto... – ele ficou sério de novo. – Eu quero realmente ter mais esta experiência com você, só quero que você saiba que, mais uma vez, estou passando por cima de algo em que acredito para satisfazer a uma vontade sua. Não que seja um sacrifício, não é. Preciso frisar que estou cedendo mais uma vez, Charlotte. Eu estou sempre cedendo – e me encarou com uma intensidade que me constrangeu.
Era verdade o que Alex dizia, e eu seria muito injusta se resolvesse ser a mimada da vez para desafiá-lo. Alex não apenas cedia, ele era sempre compreensivo e disposto a satisfazer as minhas vontades. Ele era o homem perfeito.
– Isso tudo tem um preço, não é mesmo? – vi quando ele recuou um pouco. Seus dedos se fecharam e abriram e seus olhos se desviaram dos meus. – É uma troca?
– Eu quero... eu preciso, Charlotte, que você acabe de uma vez por todas com esta angústia que me apavora todos os dias.
Meu coração acelerou. Eu não queria que Alex vivesse atormentado. Não queria que sofresse.
– E o que posso fazer?
Tive medo de perguntar, apesar de saber que não havia mais como fugir. A decisão precisava ser tomada. Mesmo assim minhas mãos tremeram e eu senti frio, apesar de o local estar relativamente quente. Por que era tão difícil dar aquele passo?
– Você sabe o que eu quero, Charlotte.
– Pensei que eu já tivesse concordado em revermos o prazo.
– Eu não quero somente rever o prazo. Eu quero casar o mais rápido possível – engoli em seco.
– E quando seria isso? – mais uma vez Alex puxou o ar com força e voltou a colocar as mãos no volante.
– A minha proposta é: eu fico aqui com você, passo por cima dos meus princípios, enfrento as regras do seu pai, faço mais uma vez a sua vontade e, em troca, você deixa que eu escolha a data do nosso casamento – sorri. Que importância tinha ele ou eu escolher uma data? Dei de ombros.
– Escolha a data então – Alex umedeceu os lábios. Ele estava nervoso. Muito nervoso! Seus dedos se fecharam no volante, deixando as juntas brancas. Havia muito mais do que uma simples escolha de data.
– Tem ideia do que está dizendo?
Pensei em tudo o que ele tinha dito até aquele momento. Era muito além do que eu poderia imaginar. Não dava para evitar o tremor do meu corpo, nem o incômodo em meu estômago. Levei a mão aos óculos e os retirei para limpar a lente no tecido do vestido.
– Não dá mais para esperar, Charlotte. Eu tentei de todas as formas aceitar as suas condições, tentei ser forte para as regras do seu pai, e realmente entendo o fato de ele ser assim, mas existe muito mais em jogo do que o seu medo de assumir algo mais sério comigo.
– Você tentou terminar e agora está me dando um ultimato? – Alex rosnou baixinho encostando-se no banco do carro.
– Não posso mais esperar. Eu te amo! Não quero precisar pedir permissão a seu pai sempre que quiser te tocar. Estou me consumindo em angústia e desespero.
– Alex! – parei a conversa antes que ficasse pior. – Por que não me diz o que está acontecendo? Por que não me conta o motivo real disso tudo? Você me disse que tinha um motivo, então qual é?
Ele me avaliou com olhos sofridos. Realmente ali na minha frente estava um homem consumido em angústia, e eu sabia como acabar com tudo aquilo.
– Vamos conversar lá dentro.
Alex desceu do carro sem aguardar por mim. Eu fiz o mesmo, saindo e observando cada passo dele. Droga! Era para ser um dia maravilhoso envoltos em lençóis e sem a calcinha da minha avó para atrapalhar. Como aquele se transformou no menor dos meus problemas de uma hora para outra?
Ele abriu a porta que dava passagem para o quarto, mas parou me permitindo entrar primeiro, como um perfeito cavalheiro. Eu estava confusa. Não sabia o que pensar diante da situação. Tínhamos conversado e ele parecia ter compreendido a minha posição em relação ao casamento precipitado. Agora estávamos ali, com a permissão do meu pai, o que era muito estranho, e Alex tentando a qualquer custo me convencer a casar o mais rápido possível.
Lógico que eu preferia esperar e, com o tempo, exorcizar todos os meus demônios tornando-me mais segura e confiante, sabendo ao certo como agir para não acabar estragando tudo, além de conhecer melhor o meu futuro marido. Por outro lado, ao ouvir os argumentos de Alex, era impossível não me sentir ansiosa. Eu o amava e gostaria de atender a todos os seus desejos, realizar os seus sonhos, como ele tinha dito que faria por mim. Será que essa seria a decisão correta?
Sem dizer nada, meu namorado começou a acender as luzes, revelando um espaço amplo, muito maior do que eu poderia imaginar. Logo ao lado da porta havia um sofá longo, daqueles que acolhe uma família inteira e mais alguns amigos. Meu pensamento voltou aos três carros que cabiam na garagem e em quantas vezes aquele mesmo quarto teria recebido grupos de pessoas para uma brincadeira mais ousada.
Nossa! Eu entendia por que Alex relutou tanto em me levar a um motel.
Por outro lado, eu nunca havia visto nada tão extraordinário e estimulante quanto aquele quarto. Tudo ali era apropriado. Apesar de dar uma ideia de ambiente normal, como a imensa porta que abria para os dois lados ao mesmo tempo girando sobre o próprio eixo e revelando um quarto grande com uma cama imensa, digna de grandes filmes de amor. Até então era uma mistura de moderno e clean.
Alex retornou e nas suas mãos, duas taças contendo o que deduzi ser vinho. Levantei imediatamente, recebendo a que ele estendeu em minha direção. Meu noivo ainda estava nervoso, eu podia jurar.
– Quer conhecer o restante do quarto? – concordei, aceitando a sua mão.
Passamos direto sem entrar no reservado para a cama. De frente para a parede que nos separava do quarto, estavam duas poltronas bem confortáveis e largas e na outra parede um telão. Notei óculos 3D sobre a mesa de centro e imaginei se alguém realmente ocuparia aquele quarto para ver filmes. Bom, alguns filmes talvez sim. E em 3D...
– Aqui.
Alex me fez continuar andando até darmos de cara com uma piscina maravilhosa. O teto solar permitia que o ambiente ficasse claro com a luz do dia e reservado como o ambiente pedia. O ar-condicionado mantinha a temperatura agradável. Uma pequena escada revelava um andar superior.
– O que tem lá em cima?
Alex se postou às minhas costas e alisou meus braços. Estremeci. O gelado da sua taça roçando um dos meus braços ajudava a me deixar naquele estado. Aquilo tudo só para nós dois era estimulante demais. Conseguia até se sobrepor à angústia que eu sentia por causa da conversa.
– Um balanço.
– Balanço? – ele riu.
– Um balanço erótico – e beijou meu ombro fazendo minha pele ficar arrepiada. – Um jardim de ambiente fechado – outro beijo e mais firmeza dos seus dedos em meus braços. – Um divã. Você gosta de divãs?
– Hum! – gemi ao sentir seus lábios subindo pelo meu pescoço. – Não sei dizer, mas posso descobrir.
– Tenho certeza de que sim. Também tem uma sala para refeições, um chuveiro grande e uma hidro.
– Legal – sussurrei.
– Tudo isso para apenas um dia?
– Normalmente, uma noite inteira, mas nós só temos algumas horas – ele se afastou um pouco, fazendo-me virar em sua direção. – Pensou na minha proposta?
– Isso é chantagem – tentei brincar sentindo o clima começar a se modificar. Alex levou uma mão a boca e apertou o lábio inferior. – Precisamos realmente voltar hoje?
– Não se esta for a sua vontade, Charlotte.
– A minha vontade não tem valido muita coisa nos últimos dias – rebati.
Certo! Fui infantil. Não era muito justo confrontar o homem que eu amava, especialmente quando estava implorando para que me casasse com ele. Tudo bem que este fato apenas me deixava ainda mais insegura, também não podia deixar de pensar que a maioria das mulheres gostaria de ter um homem como Alex em sua vida.
– A sua vontade é tudo o que está prevalecendo até agora – ele voltou a se aproximar, desta vez me encarando firmemente. – Aliás, a sua vontade é só o que tenho feito desde que tive a ideia maluca de ameaçar o seu projeto.
Engoli em seco. Alex estava com raiva? Será que o que eu mais temia tinha vindo ao meu encontro? Porque, desde que me permiti amar aquele homem, sabia que chegaria o momento em que ele me acharia infantil demais, jovem demais, inexperiente demais. Deixaria de curtir a ideia das aulas particulares ou qualquer coisa do tipo. Só não imaginava que seria tão cedo.
– Desculpe! – passou a mão pela testa tentando recuperar o controle. – O que você quer fazer? Quer voltar?
– É o que você quer? – encolhi-me com medo da sua resposta.
– Por que acha que eu viria até aqui com você para voltar logo em seguida?
– Não sei – dei de ombros temerosa. Ele tinha dito que me amava, então por que meu coração não parava de acelerar? – Pensei que você não quisesse desafiar o meu pai – arrisquei.
– Não estou desafiando. Você sabe que Peter imagina onde estamos.
– É. Eu sei. O que eu não consigo entender até agora é o que você fez para que ele concordasse tão prontamente com isso tudo, porque é inacreditável que uma pessoa com tantas regras e controle não faça vista grossa para o fato de que eu possa passar o dia no motel com o meu namorado. Isso não é estranho?
– Disse que casaríamos em quinze dias... – não desfez o nosso olhar, nem mesmo quando viu a minha cara de espanto. – Que eu conseguiria convencê-la – acrescentou sem demonstrar nenhum abalo.
– O quê? – as palavras quase não saíram. O ar estava preso em meu peito.
– Posso ligar para ele agora mesmo e falar que você não está de acordo. Neste caso, acredito que vai nos mandar retornar imediatamente. Volto a afirmar que a sua vontade prevalecerá.
Ele estava sério e me encarava com bastante segurança. Porém não demonstrava muita paciência, ou dava qualquer indício de que estava brincando. Minha cabeça girou e meus pulmões queimaram. Não percebi que lágrimas caíram. O que Alex tinha feito?
– Não precisa encarar isso como um pesadelo, Charlotte. Eu posso desfazer tudo com apenas uma ligação, basta me dizer o que deseja.
– Por que está fazendo isso comigo? – foi só o que consegui dizer.
Alex continuou parado onde estava. Ele não conseguia entender a minha reação e se dividia entre perder a paciência com a minha infantilidade e ceder mais uma vez e tentar me consolar.
– Ok! Vou ligar para Peter e dizer que estamos voltando.
– Não! – o desespero prestes a me dominar poderia estragar tudo.
– Charlotte, esqueça isso, certo? Vou encontrar uma maneira de convivermos com as nossas diferenças. Vamos embora.
Sem conseguir me conter me joguei em seus braços. Alex ficou imóvel, surpreso demais para me acolher, ou cansado demais para continuar? Eu não sabia. A cada segundo que ele demorava para reagir, meu peito afundava entregando-se a uma dor insuportável.
– Calma! – finalmente ele fechou os braços em volta de mim me abraçando com força, como se quisesse apaziguar os meus conflitos. – Está tudo bem, amor! Desculpe! – chorei copiosamente, permitindo que todos os meus temores saíssem em forma de lágrimas.
Alex me carregou em seus braços, levando-me para o quarto reservado. Com o rosto afundado em sua camisa, eu não prestei atenção em nada que havia lá dentro, até que ele me deitou na cama, com cuidado e carinho, sentando-se ao meu lado, acariciou meu rosto.
– Não chore mais – sussurrou. Eu estava estranha, encarava o homem que eu amava sentindo meu corpo inteiro tremer.
– Você está de saco cheio de mim, não é? – ele sorriu, mas havia tristeza em seu sorriso. Eu não aguentava mais vê-lo tão triste.
– Não. Eu te entendo. Você é mulher, consegue formular um milhão de teorias, sem nunca conseguir chegar à resposta mais correta, quando na realidade ela é sempre a mais fácil, simples e, naturalmente, a mais óbvia.
– Que absurdo! – tentei compactuar com sua brincadeira, porém as lágrimas ainda caíam e meu coração continuava oprimido, necessitando dele para voltar ao normal. – Então por que isso tudo? Por que este desespero, esta pressão?
– Vou precisar explicar novamente?
– Alex! Quinze dias? Isso é loucura! Casar em seis meses já seria estranho, imagine em quinze dias!
– Estranho para quem?
– Meu pai não pode ter concordado com essa loucura. Ele quer uma cerimônia inesquecível, cheia de pompa e circunstância... Ninguém vai conseguir fazer algo assim em tão pouco tempo. Sem contar que existem as fuxiqueiras que certamente vão dizer que eu estou grávida. Claro que todos vão achar isso. Você lembra como aquela mulher detestável lá na igreja reagiu quando entendeu que nosso casamento seria o mais breve possível?
– Charlotte, calma! Primeiro: o que seu pai quer não importa. É o nosso casamento e vai ser como você quiser. Pompa, pessoas importantes, câmeras para todos os lados, não é o que você quer. E quanto a acharem que você está grávida, quem está se importando?
– Eu estou – rebati sentindo um pavor absurdo se instalar em meu peito.
Merda! Eu estragaria tudo. Eu sabia que aquela era a minha última chance. Seria a última vez que Alex tentaria e depois disso, depois da minha recusa, eu o perderia. Não teria mais volta.
– Você tem certeza?
– Nunca estive tão certa em toda a minha vida – mordi os lábios sem saber o que responder.
Corria um sério risco de perder Alex caso recusasse, ou de ter um problema imenso com meu pai, esta parte era a que menos me preocupava. Como simplesmente concordar e receber imediatamente tudo o que combinamos que teríamos em um ano? Se não me sentia preparada nem para o plano anterior, imagine para o que ele estava me apresentando agora?
– Aparentemente você não está, então acho que devo colocar um freio em meus planos e aguardar até que você decida me fazer o homem mais feliz deste mundo.
Seus olhos estavam tristes, eu pressentia que Alex continuava tentando esconder seus reais sentimentos. Como colocar meus medos à frente dos sonhos do homem que eu amava? Como dizer não diante de tal apelo?
– Eu só queria entender. Não consigo assimilar o que está por trás de tudo. Nós conversamos e você aceitou que esperaríamos um ano. Concordamos que faríamos tudo conforme o figurino. Aí meu pai faz um escândalo, tem uma conversa suspeita com a minha mãe, você fica todo estranho, cheio de regras e desculpas, some e, quando aparece, resolve passar o dia em um motel comigo, com a permissão do meu pai e me informa que pretende antecipar o casamento para quinze dias. Quinze dias! Alex, eu estou com medo!
– Certo. Deixa eu tentar melhorar as coisas para você – ele levantou e passou as mãos pelos cabelos. Respirou fundo e me encarou. – Eu sei de todos os seus medos e já lhe disse que não têm o menor fundamento. Eu te amo e você pode ficar chata, insuportável, mais louca do que já é, gorda, neurótica...
– Gorda? – ele sorriu daquela maneira única.
– Sim. Gorda. Muito gorda.
– E se eu resolver ficar careca?
– Tudo bem, Charlotte!
– E se eu achar que devo fazer mestrado na China? Se eu cismar com isso e ninguém conseguir me convencer do contrário?
– Eu adoro comida chinesa.
– E se eu for para o Alasca?
– Bom... Eu duvido que você vá para o Alasca – seu sorriso se abriu ainda mais.
– Por quê?
– Porque você não gosta de frio – emudeci sem ter como argumentar. Como ele descobriu que eu não gosto de frio? – De qualquer forma eu iria com você até para Marte se fosse necessário. Pare de arranjar desculpas, Charlotte! Eu te amo e isso nunca vai mudar.
– Como pode estar tão certo? Casamentos terminam, e o amor se transforma em mágoas.
– Por vários motivos. Meus pais se amam até hoje. Os seus também. Eles são alguns exemplos. Eu não tenho como transformar em palavras a intensidade do meu amor, apenas posso te mostrar a cada dia o quanto desejo estar ao seu lado até o último segundo da minha vida. Não é assim para você?
Eu o amava. Tanto que doía. Deixava-me insegura. Desfazia qualquer plano. Não havia mais certeza. Aliás, havia. Porque eu seguiria Alex até a China, apesar de não ser muito fã de comida chinesa. E suportaria o frio do Alasca. Enfrentaria Tiffany, Anita e qualquer outra mulher. Enfrentaria meu pai, como enfrentei. Abriria mão da minha formatura, de publicar o meu livro... Eu deixaria tudo apenas para segui-lo. Meu Deus! Eu não tinha mais dúvidas.
– Funciona. Funciona exatamente assim, ou talvez de maneira ainda mais intensa.
– Então por que esperar? – seus olhos assumiram um brilho que o devolviam à vida. Oh, Deus! Ele me amava e só estava me pedindo em casamento e não para eu matar alguém. – Nos últimos dias, eu vivi as mais inusitadas experiências. Senti medo de perder você, precisei passar por cima dos meus desejos, voltei a ser um adolescente imaturo e inseguro, além disso, ouvi uma história que me tirou o chão. Minha alma está mortalmente ferida, Charlotte – toquei seu rosto desejando desfazer a sua dor. – Durante anos eu quis apenas ser um homem correto, seguro e independente. Investi tudo o que eu tinha para conseguir estabilidade para mim e minha família. Dediquei todo o meu tempo para garantir que nada saísse dos trilhos. Hoje eu vi que não posso mais agir assim. Um amigo...
Parou e fechou os olhos. Engoliu com dificuldade provavelmente procurando a melhor maneira de me contar o que realmente se passava em sua cabeça. Quando os abriu, eu percebi que estavam úmidos.
– Eu encontrei um amigo. Eu o julgava a pessoa mais complicada e difícil que já tinha conhecido... – fez uma pausa breve. – Por muitos motivos que não pretendo justificar agora – concordei com a cabeça para que ele pudesse continuar –, ele me contou que a esposa, a mulher que ele ama e amou a vida inteira, com quem sonhou ter filhos e embalar os netos, está morrendo sem que ele nada possa fazer para evitar. – Alex me olhou de uma maneira estranha, como se buscasse em mim uma resposta. – Eles escolheram viver seus últimos momentos da melhor maneira possível. Optaram por continuar suas vidas e tornar cada dia melhor do que o outro. Ele está tentando de todas as formas fazer com que ela possa ter um pouco de tudo, porque não quer que ela se vá antes de ter realizado todos os seus sonhos. Está tentando fazer com que ela não perca nada. Infelizmente o tempo deles é curto demais.
– Por que você está me contando tudo isso? – não sei dizer ao certo o porquê, mas eu me sentia especialmente envolvida com aquela história.
– Porque ela me fez perceber o quanto a vida é curta. É apenas um sopro. Uma brisa. Você fecha os olhos e, quando os abre novamente, tudo pode ter mudado. As pessoas morrem todos os dias, pelos mais diversos motivos, e esta é a nossa única certeza. Apesar disso, continuamos adiando as coisas. Adiamos o perdão, o amor, as alegrias, os prazeres... tudo. Eu não quero acordar um dia e descobrir que te perdi. Você pode virar uma esquina e não voltar mais.
– Alex!
Involuntariamente uma lágrima rolou pelo meu rosto em resposta a que descia pelo canto dos olhos do meu namorado. Dava para sentir todo o seu medo, porque naquele momento era o meu também.
– Eu sei que não posso impedir a morte, mas posso aproveitar o que ainda temos de vida. É por causa disso que quero me casar o quanto antes. Casaria hoje, se fosse possível, porque é com você que eu quero passar o resto dos meus dias. E quero poder realizar nossos sonhos enquanto ainda estamos aqui. Não quero mais seguir uma linha, um plano. Quero poder tirar os pés do chão, aventurar-me, arriscar tudo o que tenho... Quero fugir do padrão, ir contra todas as expectativas. Quero me casar com você apesar dos meus medos e inseguranças. Quero caminhar de mãos dadas sem medo de quem vamos encontrar. Quero poder ter apresentar como minha esposa. Quero ter nossa primeira briga por causa de um móvel fora do lugar, ou da minha mania de deixar as roupas espalhadas, ou por não respeitar seu espaço na prateleira do banheiro, quero poder te conhecer, te descobrir. Não quero ter medo, Charlotte. Nem pensar demais.
– Eu aceito – ele parou me olhando como se não entendesse o que eu havia acabado de dizer. Então sorriu. E aquele sorriso tirou o meu chão.
Sim, eu também queria aquilo tudo. Por que esperar? Por que desperdiçar nosso tempo juntos? A vida é fugaz. Alex tinha razão. Não precisávamos de mais nada se tínhamos um ao outro. Eu seria a sua esposa. Em quinze dias ou naquele mesmo instante.
Eu não tinha mais medo.
CAPÍTULO 25
“Quando fala o amor, a voz de todos os deuses deixa o céu embriagado de harmonia.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Curvando-se em minha direção, ele beijou meus lábios. Meus dedos percorreram seus cabelos sedosos. A sensação era maravilhosa. Sua língua pediu passagem, e minha boca imediatamente a recebeu. O seu sabor não poderia ser comparado a nada.
Alex acariciou meus ombros, deixando que seus dedos brincassem em meu pescoço. Com a outra mão, desceu até a curva dos meus seios, onde apenas os tocou levemente, deixando que um gemido baixinho escapasse dos seus lábios. Era incrível a forma como meu ventre se contorcia ao ouvir seus gemidos.
Puxei-o mais para mim sem quebrar o nosso beijo. Alex gemeu novamente, como se estivesse protestando, não como se aprovasse a minha atitude.
Tive medo do que ele faria. Na verdade, tive medo de tudo. Depois que eu finalmente disse sim, que finalmente aceitei e encarei aquela loucura, porque lógico, casar em quinze dias é uma loucura, eu não conseguia mais me ver longe de tudo aquilo. Passei a ansiar pelo casamento, pelos momentos em que poderíamos ficar juntos, apenas nós dois, sem regras, sem ninguém para nos interromper, fazendo apenas o que tínhamos vontade, vivendo uma vida a dois, nós dois... Meu bom Deus, eu queria tanto aquilo que doía. Então eu temi.
– Charlotte? – ele gemeu ainda em meus lábios.
Segurei em seu pescoço e o impedi de continuar. Naquele instante, eu queria apenas que Alex cumprisse com a sua promessa, que me levasse de volta para a nossa bolha, que esquecesse as diferenças dos últimos dias, as minhas infantilidades, a minha recusa... Eu queria que ele me fizesse a sua mulher, que me tomasse de maneira possessiva, que me dominasse e arrancasse de mim qualquer necessidade de escolha ou de decisão.
– Espere.
Tentou mais uma vez se afastar. Sem contar conversa e decidida a terminar de uma vez por todas com aquele assunto, afinal de contas eu disse “sim”, então era assunto encerrado, sentei em seu colo, enlaçando seu tronco com minhas pernas e me prendendo completamente a ele.
– Charlotte, calma! – Alex me segurou com força e me afastou de maneira a conseguir olhar em meus olhos.
– Alex! – protestei.
Meu corpo inteiro ardia e se contorcia pela urgência em ser dele e apenas dele. Eu precisava senti-lo, não somente me tocando, mas dentro de mim, alcançando o mais longe possível, atingindo não unicamente a minha carne, mas a minha alma. Só assim, só naquele momento, eu teria certeza de que todos os medos acabariam e que não havia um caminho onde eu quisesse mais estar.
– Charlotte, eu preciso... – escrutinou meu rosto procurando por sinais. – É o que você quer? Quer dizer... Eu quero me casar com você o quanto antes, hoje se for possível, mas não posso e não quero te forçar a nada – havia um sofrimento em seu olhar que me entristeceu. – Eu sei. Eu sei! Estou fazendo isso e fiz desde que entendi que não podia mais ficar sem você, mas por mais que eu queira e que seja egoísta para tentar me convencer de que é o que você quer também, eu preciso... eu só preciso...
– É o que eu quero. Eu não sabia disso até quinze minutos atrás, mas agora que sei, não há nada que eu queira mais nesta vida.
Ele acariciou meu rosto, deixando que um sorriso lindo se abrisse, alcançando os olhos. Seus dedos longos, capazes dos toques mais delicados com que uma garota podia sonhar, enroscaram-se na mecha de cabelo que insistia em escorrer para o meu rosto, e a puxou para trás, acomodando os fios em minhas costas. Em nenhum momento seus olhos deixaram os meus.
– Às vezes, eu fico me perguntando por que demorei tanto para entender que te amava – ele falava em um tom baixo, em confidência. – Se eu amo tudo em você. Desde o primeiro momento, quando coloquei meus olhos em você pela primeira vez, eu me vi pensando em como aquela garota era linda e singular e no quanto a sua timidez a valorizava. E, quando finalmente tomou coragem e me olhou nos olhos, eu fiquei confuso e admirado com a beleza deles. Existia uma personalidade forte, muito bem escondida por trás da máscara de uma boa menina de igreja – riu baixinho. – Eu te amei no primeiro encontro, Charlotte, mas não sabia disso.
Eu tentei segurar a emoção e ouvi-lo se confessar daquela maneira, em um momento tão apropriado, porém era impossível conter as lágrimas. O amor de Alex não deveria mais ser uma novidade para mim, mas ainda era. Cada vez que ele revelava um pouco como se sentia em relação a mim, eu me perguntava como poderia merecer um amor como aquele e o quanto Deus era bom e misericordioso comigo, porque um homem como Alex jamais teria a paciência de que eu precisava para entender a vida, no entanto ele tinha, até mais do que eu poderia esperar, e eu era tão grata por poder me sentir confusa, por ter o seu respeito pelos meus momentos, por saber que ele entendia as minhas inseguranças e que permanecia forte ao meu lado enquanto eu digeria os meus conflitos.
Sim, ele me amava. Provavelmente muito mais do que tinha se dado conta e eu tinha que fazer por merecer aquele amor.
– Alex? – sussurrei limpando as lágrimas e evitando fungar para não estragar o clima. – Faça amor comigo.
Supliquei e, como resposta, vi seus olhos ficarem mais escuros, sua boca abrir um pouco dando passagem para o ar, sua respiração ficar mais intensa e tudo em Alex ficar mais felino.
Sentada em seu colo, com as pernas cruzadas em seus quadris, eu poderia ser facilmente a pessoa que conduziria aquele momento. Mas não havia forma de superar toda a força de Alex em mim quando ele me olhava daquele jeito. Eu simplesmente aguardava e correspondia aos seus comandos, e me sentia incrivelmente livre assim.
Ele alinhou a coluna e, no instante em que suas mãos tocaram as minhas costas, eu já estava entregue. Senti seus dedos me buscando com posse, com a segurança dos grandes mestres. Ele me cercou, puxando-me para perto. Perto o suficiente para que nossos lábios estivessem separados pelo mínimo de espaço possível. Eu sentia a expectativa do beijo, a ansiedade que crescia e se avolumava em meu ventre e a necessidade que latejava entre as minhas pernas.
Uma mão subiu até minha nuca, prendendo-me para o seu bel prazer, mas Alex não me beijava. Ele respirava bem pertinho, eu sentia o seu hálito quente e cheio de promessas, enquanto ele roçava minimamente os lábios contornando os meus. Céus, eu tinha uma urgência que não se conformava com aquela brincadeira, e ao mesmo tempo, dentro de mim, a expectativa era o que alimentava o fogo que queimava as minhas veias e lambia minha pele em uma dança luxuriosa.
Eu estava ávida de desejo.
Sentada em seu colo, era certa a percepção do seu membro rígido entre as minhas pernas, provocando-me sem grandes atitudes de fato que pudessem me enlouquecer, era apenas a promessa do que seria e as lembranças.
Com uma mão pressionando a base da minha coluna, na junção com os quadris, e a outra na minha nuca, eu ficava presa, sem capacidade para me movimentar, roçar nem que fosse minimamente o meu corpo ao dele, e assim Alex me torturava, tornando um segundo a mesma extensão que uma hora, enquanto minhas células guerrilhavam, chocando-se umas contra as outras, meu sangue borbulhava, minha mente entrava em colapso, minha boca secava... Eu só tinha um único pensamento: me beije, me beije!
Seus grandes olhos azul turquesa, donos de um brilho inigualável e possuidor de uma força magnética capaz de atrair e dominar até os mais fortes dos seres, analisou com aprovação todo o meu rosto, para que, por fim, seus lábios finalmente colassem aos meus.
Porra! Eu estava tão ansiosa para beijá-lo que, no instante em que sua boca encostou na minha e sua língua tocou meus lábios, pensei que seria atingida por um orgasmo, tamanho o prazer que senti com o contato. Foi delicioso!
E não foi apenas o beijo. Como se tudo em mim estivesse apenas aguardando pelo comando inicial, uma sucessão de fatores atingiu meu corpo me fazendo estremecer. No mesmo instante em que Alex me tomou com seus lábios, suas mãos iniciaram os movimentos certos para me enlouquecer, puxando-me para perto, apertando e explorando o que encontravam.
E foi apenas isso? Claro que não! Alex nunca seria tão simplório. Seu quadril iniciou uma dança sensual em conjunto com as mãos, roçando-se em mim e me deixando roçar nele todas as vezes que suas mãos me puxavam. Senti seus dedos se fechando em meus cabelos, tornando tudo mais urgente.
Eu não sabia o que queria primeiro, se era acompanhar a sua língua, dando-lhe conforme me era solicitado, ou me apertar em seu corpo até que meu desejo encontrasse o alívio que tanto implorava, ou até mesmo se arrancava as nossas roupas e o forçava a me tomar sem nenhuma prévia. Eu queria tanto e tudo ao mesmo tempo que não conseguia fazer nada direito.
Ao perceber que ele começava a abandonar minhas costas para iniciar sua exploração pelas minhas pernas eu lembrei do que havia me feito temer aquele encontro: a maldita calcinha bege e imensa que eu tinha feito a loucura de usar.
Merda! Estava tão gostoso, tão perfeito! Doía só de pensar que teria que parar e encontrar logo uma solução para aquela peça. Logo mesmo, ou eu teria que simplesmente aceitar que Alex me veria, no dia em que finalmente aceitei casar o mais breve possível, e que era para ser o mais especial, sensual e romântico, usando a calcinha da minha avó.
– Espera – segurei suas mãos, ambas, que teimavam em tentar subir o meu vestido. Alex forçou avançando em minha boca para tentar me persuadir. – Alex, espere!
– O que foi?
Porra, eu amava aquela voz rouca, cheia de necessidade, tão instinto que contorcia o meu ventre!
– Eu tenho que...
“Pensa, Charlotte! Pensa!”. Minha mente gritava enquanto meus olhos corriam o quarto procurando uma solução. Puta merda! Não dava para esperar tanto.
– O que foi, amor? – ele desceu os lábios para o meu pescoço me fazendo perder o foco.
Ai, Deus! Eu amava aquela boca em mim.
– Eu... – fiquei confusa. Meu sexo latejava, castigado por dias de espera e de saudade. – Eu...
– Eu o quê? – brincou se divertindo com a minha confusão. – Venha, vou ajustar a sua cabeça – sua língua entrou em minha boca fazendo-me sucumbir ao desejo.
O que eu queria mesmo? Por que sentir a mão de Alex acariciando minha bunda por cima do tecido do vestido estava me deixando apreensiva? Merda! Não!
– Alex! – quase gritei me afastando o quanto pude. – Calma!
Respirar era quase impossível quando eu sentia meu corpo inteiro protestar por mais um pouco. Mas eu precisava. Nem havíamos casado e eu já começava a estragar tudo usando peças íntimas nada sensuais. Porra, isso é importante, não é? Não dava para encarar um relacionamento tão recente como o nosso, com uma calcinha como aquela. Para falar bem a verdade, eu não sabia se, mesmo depois de anos de casado, eu acharia normal estar tão pouco apresentável.
– Charlotte, você vai me enlouquecer com tantos “para”, “calma”, “espere” – ele se afastou contrariado retirando a gravata e abrindo alguns botões da camisa enquanto me observava.
Olhei para o peitoral bronzeado daquele homem que conseguia mexer comigo de todas as formas. Como eu amava tocá-lo, sentir seus músculos bem definidos, seus braços trabalhados, sua pele quente e deliciosa quando ficava sobre mim e...
– Charlotte? – pisquei confusa voltando ao meu dilema.
– É que eu...
– O quê? Você está tão vermelha que estou até com medo de saber o que está te incomodando tanto assim – e riu brincando com a alça do meu vestido. – É alguma coisa que quer que eu faça? – aproximou-se beijando meu ombro, a pele quente da sua mão tocando fogo na minha já fervente. – Ou algo que queira fazer?
– Ah, Alex! – gemi querendo que minha calcinha fosse abduzida e acabasse com aquele incômodo.
Sem conseguir me conter, deixei que minhas mãos desfizessem os outros botões da camisa dele e a puxei até que estivesse presa em seu punho. Alex se afastou levantando as mãos para que eu finalizasse o serviço. Assim que o vi sem a camisa, corri meus dedos pelo seu peitoral. A pele estava quente e o coração acelerado, tanto quanto o meu. E ele ficou arrepiado com o contato.
Porra, como resistir quando um homem como Alex estremece com o seu toque e se entrega ao ponto de deixar a pele ficar toda arrepiada? E eu só fiz deixar que meus dedos deslumbrados idolatrassem aquele corpo.
Ele chupou meu pescoço com mais força. Eu sabia que ficaria vermelho, que provavelmente deixaria uma marca que me faria ficar de cabelos soltos por mais de uma semana, porém não protestei, a pressão da sua boca vibrou em meu ponto mais sensível, deixando-me rapidamente lubrificada.
Depois ele roçou os dentes, descendo até o ombro e levando a alça para baixo, pronto para revelar meus seios. Seria um caminho sem volta. Não!
– Pare! – ele gemeu em protesto.
– É algum tipo de joguinho? – resmungou dando beijos leves em meu busto e cercando meu seio com a mão ainda por cima do vestido. Oh, Deus!
– Ah! – gemi e mordi os lábios para me impedir de me entregar. – Deus, Alex! Eu não posso...
– Não pode? – ele se afastou de mim para me olhar. – O que não pode?
– É que... – merda! – Eu estou com calor – ele estreitou os olhos se me encarou com divertimento.
– Vamos tirar sua roupa, amor.
– Não – impedi que Alex alcançasse a barra do meu vestido.
– Vou diminuir a temperatura, deixa só eu ver onde fica o comando e...
– Um banho – falei rápido demais.
Nossa, eu era um gênio!
– Eu preciso de um banho.
Alex deixou que aquele sorriso preguiçoso e indecente se puxasse em seus lábios. Eu tinha vontade de ter um orgasmo todas as vezes que ele sorria daquela maneira para mim. Seria fantástico! Ele sorria e eu gozava vendo o quanto ele ficava maravilhoso assim.
Foco, Charlotte!
– Um banho de banheira... – voltou a percorrer meu corpo com as mãos e a me beijar de leve. – De chuveiro, ou... – droga! Como ele conseguia tirar as minhas forças quando eu mais precisava delas? – Naquela piscina deliciosa lá fora?
Lá fora. Era tudo o de que eu precisava.
– Piscina – sussurrei presa aos encantos daquelas palavras que me prendiam a promessa de prazer que eu tanto sonhava.
– Então, vamos!
Rapidamente Alex me tirou do seu colo, colocando-me de pé, e, logo em seguida, já estava todo preso a mim, explorando-me e buscando-me de todas as formas que podia. Seus passos começaram a me conduzir para fora do quarto, mas eu ainda não havia conseguido me livrar daquela calcinha medonha.
– Não – desfiz o beijo e o afastei mantendo uma distância segura.
– O que foi, Charlotte?
Alex passou a mão pelo cabelo em uma atitude um pouco sem paciência. Pudera. Pela potência da sua ereção, eu podia entender o que tanto o angustiava. Seu peito subia e descia em uma respiração acelerada. E então ele tirou os sapatos e desafivelou o cinto. Meus olhos acompanharam quando ele desfez o botão da calça, revelando pelos baixinhos e escuros que eu sabia muito bem aonde poderiam me levar.
E como eu queria chegar lá!
– Qual é o problema, amor? – ele voltou a sorrir ao entender a minha cobiça.
– É que... – desviei os olhos daquele maldito botão que estava quase me fazendo cair de joelhos. – Eu preciso... – mordi os lábios. O que eu poderia dizer? Preciso tirar a calcinha antes porque ela é absurdamente mata tesão? Não. Eu não poderia dizer aquilo.
– Ah, tá! – ele me encarou com divertimento. – Você precisa de um pouco de privacidade?
Alex estava com uma expressão divertida e ao mesmo tempo sem graça. Como se ele estivesse invadindo um espaço que deveria ser só meu. Mesmo agradecendo por conseguir finalmente a desculpa perfeita para me livrar a peça, eu não conseguia me sentir confortável.
– Hum... sim!
– Tá! Tudo bem. Eu te espero na... – seu rosto ficou levemente vermelho, um tom quase imperceptível – ... piscina.
– Ok!
– Ah, é... o banheiro é ali.
Oh, droga!
Alex estava pensando que eu estava com dor de barriga? O que poderia ser pior, ser vista com uma calcinha que o faria broxar ou deixar que ele acreditasse que eu precisava fazer... hum... o número dois?
Isso sim era broxante! Porra! Quando você possui intimidade com o seu companheiro para situações como esta, eu acredito que seja desagradável estar em um motel e precisar usar o banheiro para essa finalidade, imagine quando você não possui a intimidade correta e ainda por cima acabou de aceitar casar-se em quinze dias. Meu rosto esquentou, e depois pegou fogo.
Merda, merda, merda!
– Eu preciso fazer xixi – falei bem rápido e isso deixou Alex ainda mais constrangido. – Apenas isso. Eu vou... Em dois minutos. Menos do que isso. Quem leva dois minutos para fazer xixi? – e ri nervosa deixando a situação ainda mais embaraçosa.
– Tudo bem – ele riu sem graça. – Espero você em dois minutos. Menos do que dois minutos – corrigiu-se rapidamente e saiu fechando a porta.
Puta merda!
ALEX
Certo.
Andei até a piscina, mas quando cheguei lá não sabia o que deveria fazer. Era irritante ser um cara experiente, ser o maduro da relação e me sentir tão perdido e confuso quanto como eu estava naquele momento. Isso tudo porque Charlotte me deixava louco. Em qualquer situação, ele sempre conseguia me deixar louco.
Eu não queria insinuar nada, não queria dizer que ela estava com dor de barriga, apenas quis deixá-la confortável para o que estivesse precisando fazer. Até porque aquele esquenta e esfria que ela estava me conduzindo era de deixar qualquer um alucinado. E se eu não podia tirar a sua roupa ou fazer amor com ela como a própria Charlotte tinha me pedido, então havia um motivo real.
E este podia ser ou não uma dor de barriga.
Caralho! Eu estava com vontade de rir da cara de Charlotte quando entendeu o meu embaraço. Ela ficou tão vermelha que seu rosto parecia um tomate. Ri baixinho sentando em uma das espreguiçadeiras, mas levantei rapidamente. Eu precisava fazer alguma coisa que não fosse esperar por ela, ou então a situação ficaria cada vez mais embaraçosa.
Retirei as meias e levei alguns segundos me perguntando se deveria ou não tirar a calça também. Não sei se Charlotte encararia numa boa eu já estar completamente à vontade, ou talvez estar completamente à vontade a deixasse da mesma forma.
Que merda! Eu parecia um adolescente que nunca tinha estado em um motel antes. Ali dentro só existia uma finalidade e esta foi a mesma que nos moveu para lá, independente se desta vez eu amava ou não a garota. O objetivo era único.
Tirei a calça, deixando-a sobre a espreguiçadeira, mas conservei a cueca. Respirei fundo sentindo raiva daquele nervosismo todo. Droga, era Charlotte! A mulher que eu amava e com quem eu queria passar o resto da minha vida, e que estava me deixando com um puta tesão, então por que não conseguia relaxar?
Caminhei até o bar e me servi de uma dose dupla de uísque, a qual entornei de uma vez só. Depois de algumas horas de atividade física, o álcool deixaria de fazer efeito e eu poderia dirigir sem me sentir culpado por isso. Ri sozinho. Até pouco tempo atrás esta era a menor das minhas preocupações.
Servi outra dose, decidido a voltar para a piscina, ligar a TV que ficava em frente, escolher um canal de música, porque eu nunca escolheria um canal de sacanagem para assistir com a minha noiva, e aguardar por ela para iniciarmos a nossa tarde.
Mas assim que cheguei, encontrei Charlotte dentro da piscina, a água cobrindo seus seios e os cabelos molhados. Ela estava apoiada em uma das bases e olhava fixamente para a TV, sem se dar conta de que eu tinha chegado. Seus olhos às vezes se estreitavam e ela entortava um pouco a cabeça, observando com atenção o que via, e parecia intrigada.
Aproximei-me devagar para saber o que tanto roubava a sua atenção e... puta que pariu! Charlotte estava assistindo um daqueles filmes que eu nunca me imaginei assistir com ela. Não sei explicar a razão, mas eu fiquei sem graça, como se fosse eu o inexperiente ali.
Bebi um longo gole do uísque, ainda sem tirar os olhos da TV. Uma mulher loira, dona de um corpo incrível, com algumas tatuagens, estava de quatro, gemendo de maneira muito artificial, mas que mesmo assim mexia com a imaginação dos homens, enquanto um homem grande a comia por trás sem nenhum cuidado.
Não havia nenhum tipo de envolvimento nesses filmes, apenas duas pessoas cumprindo com uma finalidade, que normalmente era fazer o homem gozar. No geral, eram filmes que davam tesão, uma vez que relações nada pessoais com o único objetivo de conseguir o prazer desejado foi a minha realidade por muito tempo. No entanto, filmes pornôs nunca conseguiram representar a realidade, pelo menos nunca a minha.
Eu nunca havia conhecido uma mulher que chegasse sem calcinha em minha sala e sem mais nem menos se abria para mim com toda a facilidade do mundo. Conheci sim, garotas que foram fáceis, que não me custaram nada além de um ou dois drinks e alguns amassos no carro, mas nada se comparava a aquilo. A mulher se deixava usar com o único intuito de satisfazer.
– Você gosta?
A voz de Charlotte me tirou do meu devaneio e então me dei conta de que estava encarando a tela com muita atenção, enquanto o homem continuava fazendo o que bem queria da garota. Fiquei outra vez sem graça, até porque eu estava com tesão. Não apenas pelas imagens, mas pelo fato de Charlotte estar nua, em uma piscina, aguardando por mim e pronta para ser minha. O filme era só um aperitivo, mesmo assim, não estava em meus planos.
Não soube o que responder. Sim, eu gostava de filmes pornográficos. Homens eram atiçados mais pelo visual do que pelos outros sentidos, não precisávamos de estímulos constantes para alcançar um orgasmo, já as mulheres... Lógico que um ato de sexo explícito me fazia sentir tesão. O que me afligia era confessar a Charlotte que eu sentia tesão vendo uma mulher ser fodida incontáveis vezes sem que isso a deixasse desconfortável ou segura.
Desviei meus olhos da TV e caminhei até a espreguiçadeira, ciente de que ela me observava com atenção. Bebi o resto do uísque de uma só vez, sentindo-o queimar minha garganta e depois deixei o copo sobre a mesinha pequena ao lado. Tirei a cueca, mesmo com uma puta ereção, estimulada também pelas imagens que tinha acabado de ver, e, sem parecer incomodado por isso, mesmo estando, desci os degraus da piscina para encontrá-la.
Charlotte me olhou, depois desceu seus lindos olhos até encontrar o meu pau. Vi quando ela corou e engoliu com certa dificuldade para logo em seguida voltar a olhar a TV. O que tanto a deixava curiosa naquela porcaria de filme? Percebi que aquilo estava me deixado mais inquieto do que deveria. Eu nunca me preocupei com o interesse ou falta de interesse das garotas por aqueles filmes, contudo saber que Charlotte preferiu olhar para a tela, enquanto o cara exibia seu pau, roçando-o na bunda da mulher antes de voltar a comê-la, deixava-me frustrado.
Será que todas as mulheres com quem eu já tinha ido para a cama se sentiam assim quando eu me interessava por estes filmes?
Merda! Eu não disse que Charlotte me enlouquecia, independentemente da situação?
Fui até ela abraçando-a pelas costas. Confesso que roçar meu pau em sua bunda, deixando-a sentir toda a minha ereção, foi uma forma de roubá-la só para mim, e também de ter logo buscado seus seios, fechando-os em minhas mãos, foi uma tentativa de colaborar com o meu plano.
Charlotte gemeu, jogou a cabeça um pouco para o lado, fechou os olhos aproveitando a sensação, mas logo em seguida os abriu, voltando a prestar atenção no filme. Droga!
– Vai ficar assistindo? – sussurrei em seu ouvido, deixando meus lábios roçarem em sua orelha. Eu sabia o quanto ela gostava daquilo.
– Você não gosta?
– Gosto mais de você – porque eu não poderia mentir afirmando não gostar. Ela riu.
– Tenho certeza disso.
– Mas você parece gostar mais do filme – arrisquei brincando com a sua atenção exagerada, porém Charlotte não se abalou e continuou encarando a TV.
– Esses filmes são curiosos – e se calou encostando o queixo nos braços para se acomodar melhor para assistir ao espetáculo.
Enquanto isso os gemidos da mulher ecoavam pelo cômodo, fazendo a minha imaginação brincar comigo. Deixei seus seios e desci minhas mãos pela sua cintura, acariciando sua pele arrepiada por dentro d’água. Toquei seu quadril, contornei sua bunda e deixei, propositalmente, que minha ereção se encaixasse entre as suas pernas. O movimento causava uma fricção gostosa.
– Você gosta? – repeti a sua pergunta para desviar um pouco a sua atenção. Charlotte ficou em silêncio por um tempo. Parecia debater sobre o que poderia responder.
– Eles são todos iguais – ela disse por fim.
A voz baixa e rouca revelava a sua excitação e eu não sabia se isso me deixava bem ou não. Mesmo assim ela empinou a bunda e contribuiu com a minha brincadeira, deixando-me preso entre as suas pernas, roçando em sua entrada sem conseguir alcançá-la.
Porra, eu lembrava da minha adolescência, quando as garotas ainda virgens não permitiam nada além de uma boa gozada entre as suas coxas. Charlotte lembrava aquelas garotas. Ela ainda parecia uma menina, o corpo frágil, apesar das curvas aparentes, os seios pequenos e duros, atitudes inocentes e excitada o suficiente para se deixar levar pelo carinha mais esperto e cheio de malícia. Ainda bem que aquele cara era eu, do contrário...
Era melhor não pensar mais sobre isso.
– Mas este...
Roubou a minha atenção com esta última frase. O que havia de especial naquele filme além de um homem exibindo um pau que nem era esse espetáculo todo. Eu era muito mais eu. Parei de roçar nela e esperei pelo que viria.
– Assisti alguns filmes para me ajudar com o livro. Você sabe, eu não tinha nenhuma experiência concreta para escrever sobre sexo e precisava entender. Poucas vezes um filme deste tipo me ajudou com o que eu precisava.
– Porque eles são apenas sexo e geralmente para a satisfação dos homens. Os seus livros pedem muito mais do que isso – e eu estava mesmo incomodado com aquela conversa.
Charlotte, percebendo que eu havia parado, levantou o corpo da borda e colou as costas em meu peito. Suas pernas se fecharam ainda mais, prendendo-me de uma maneira deliciosa. Involuntariamente minha mão correu pelo seu ventre, forçando-a para trás e meus quadris reiniciaram o movimento.
Subi uma mão até seu seio, brincando com o bico rígido e o apartei com vontade. Ela gemeu se entregando, ao mesmo tempo em que desci a outra até seu sexo e sem delicadeza apertei seu clitóris exigindo que ela fosse toda minha e apenas minha. Mais uma vez seu gemido, genuíno, superou o da mulher do filme.
– A vida real é muito mais gostosa – falei enquanto lambia seu pescoço.
– Eu gosto do filme – ela soltou sem perceber que aquilo me tiraria do eixo. Eu estava pronto para protestar, para me rebelar e desligar a TV quando ela disse: – Gosto de observar e saber que somos bem melhores. Aquele homem... – gemeu um pouco mais sentindo meu dedo procurar a sua entrada – ... aquele homem jamais conseguiria ser como você.
– E mesmo assim você está excitada vendo eles dois – e eu não sabia se começava a me sentir assim também pela revelação dela, ou se sentia raiva por não conseguir fazer Charlotte esquecer aquele filme de uma vez.
– Estou – revelou mordendo os lábios.
– Ah, Charlotte! – rosnei mordendo seu ombro. – Por quê?
– Porque fiquei aqui assistindo enquanto você não chegava e me vi querendo ser fodida enquanto observo eles dois.
Porra!
Um milésimo de segundo se passou antes que eu reagisse, contudo foi o suficiente para que eu sentisse toda a resposta do meu corpo. O que significava aquilo? Charlotte gostava de observar casais transando? Na vida real ou apenas em filmes? E eu? Eu gostava da ideia? Puta que pariu! Eu gostava sim! Desde que não estivesse expondo a minha mulher, desde que não fossemos nós a sermos os observados, eu gostava da ideia, apenas nunca tinha me imaginado em uma situação como aquela com a minha noiva.
Caralho! Charlotte era a mulher com quem eu me casaria e ela era pura, inocente, desprovida de experiências mais fortes e significativas, mas, mesmo assim, ela foi capaz de me pedir para gozar em sua boca quando ainda nem tínhamos transado, foi decidida o suficiente para me dizer que queria me tocar e me ver gozando, e me pediu inúmeras vezes para comê-la.
Sim, Charlotte era aquela mulher, mesmo sendo uma casca de menina inocente, de garota nova demais. Se ela não hesitou quando a pedi para se masturbar para mim, e nós nem tínhamos intimidade para isso, por que ela esconderia aquela vontade? E não era o que eu queria fazer por ela? Satisfazer todas as suas vontades?
Era só um filme e nós dois e... porra! Eu estava fodido de tesão por aquela pirralha cheia de vontades e coragem. Charlotte era incrível.
Sem esperar por mais nada, e mesmo sabendo que sexo na água dificultava a lubrificação das mulheres, abri as pernas de Charlotte e me enterrei nela com vontade.
E por alguns segundos eu não conseguia pensar em mais nada. Fechei os olhos segurando minha noiva com força e fiquei parado apenas sentindo o prazer em estar dentro dela mais uma vez. O calor da sua carne, o pulsar involuntário, o aperto já esperado, tudo isso ecoado pelo seu gemido de prazer e o acelerar da sua respiração me fez esquecer o restante do mundo.
Charlotte esperou por mim. Ela se apoiava na borda da piscina, mantendo o corpo firme. Abri os olhos encontrando seu ombro com algumas pintinhas que me faziam ter vontade de beijá-las. E então voltei a ouvir os gemidos da atriz e o som oco da batida das enterradas do cara. Olhei para a tela e vi a mulher com as mãos espalmadas na parede, ainda de quatro, a bunda completamente empinada e uma das pernas segurada pelo homem que se enterrava nela com força.
Percebi que Charlotte prestava atenção no filme e aguardava por qualquer atitude minha. E aquilo me deixou louco.
Testei nossos corpos e a sua elasticidade estando dentro de uma piscina. Entrei e sai com cuidado, sentindo seu corpo me puxar de volta para o conforto do seu sexo. As paredes apertadas ofereciam resistência, o que só aumentava o meu prazer. Entrei todo de uma vez e ela gemeu tão gostoso que precisei morder os lábios para não perder o foco.
– Ah, Alex!
Porra! Charlotte gemendo era mesmo algo que me fazia perder o juízo, mas Charlotte falando o meu nome enquanto sentia prazer era o acionar de todas as minhas válvulas. Eu estava tão excitado que não conseguiria esperar tanto.
Nos meus planos, eu faria amor com ela, como havia me pedido. Teria calma e aproveitaria cada segundo, mas pelo visto nada sai como planejado com aquela garota. Eu estava naquela piscina, observando um casal foder com vontade, sabendo que aquilo a excitava e ficando cada vez mais excitado com tudo o que estava acontecendo.
Eu poderia fazer amor com ela depois daquilo, afinal de contas, tínhamos a tarde toda.
Então dei um passo mínimo para trás e dois para o lado, puxando Charlotte para que ela ficasse inclinada o suficiente para me receber e fora da água o suficiente para que eu pudesse ver toda a nossa ação. A tela da TV continuava à nossa frente, ela era imensa, e isso facilitaria a imaginação da minha noiva e conduziria a minha.
Passei a mão em seus cabelos, ajustando-os para trás e juntando-os em uma única mão, onde segurei forte, prendendo-a igual a como estava a cena do filme. Ela gemeu, claro! Era o que Charlotte queria. Testei mais uma vez nossos corpos, entrando e saindo devagar, sem forçar muito a barra, mas segurando-a pelos cabelos com uma mão, o que a mantinha inclinada para mim, e em seu quadril com a outra, para facilitar os meus movimentos.
E estava muito, muito gostoso!
Charlotte não tirava os olhos da tela, ela via e sentia e eu, por incrível que pareça, comecei a gostar muito da situação. Era estimulante, olhar a minha noiva na posição em que estava, vendo meu pau entrar e sair dela enquanto lutava contra suas paredes apertadas, e, ao mesmo tempo, poder assistir ao filme que nada era além de ilustrativo. Um homem fodendo uma mulher sem nenhum constrangimento, explícito e carnal.
E eu podia ver tudo. Podia ver a bunda deliciosa de Charlotte, a água ultrapassando suas coxas, meu pau entrando e saindo conforme fosse a minha vontade, suas costas com gotículas escorrendo e a cabeça inclinada para trás, enquanto isso, outra bunda, só que bronzeada, com uma marca indecente de biquíni fio-dental, completamente depilada, e este era um ponto que eu realmente gostava, toda aberta sendo penetrada por trás, era exibida na tela da TV.
Tenho que admitir que foi excitante. Duplamente excitante.
Sem conseguir desgrudar os olhos das imagens à minha frente, soltei os cabelos de Charlotte e meus dedos se espalharam em seu pescoço, como uma coleira, segurando-a com firmeza a fiz se encaixar em mim com mais vontade e aumentei o ritmo das minhas estocadas. Ela gemeu com força, seus dedos se firmando sobre a borda, os braços absorvendo o impacto.
Os gemidos de Charlotte se misturavam aos da atriz, ao passo que os meus foram impossíveis de serem sufocados. Como eu sentia falta de estar dentro dela, de me sentir livre para brincar com aquele corpo que eu tanto amava, para tocá-la sem medo, com gosto.
Movido pela urgência dos nossos corpos, passei um braço por baixo da perna de Charlotte, levantando-a, como acontecia no filme, e esta posição quase me fez gozar de imediato. Eu consegui ir tão fundo e foi tão apertado que grunhi palavras desconexas, porque eu queria dizer muito e pouco conseguia sair pelos meus lábios naquele momento.
Ela deu um gritinho de satisfação que me fez estreitar meus dedos em seu pescoço e me curvar sobre seu corpo, tornando as estocadas menos longas, porém infinitamente mais gostosa.
Charlotte estava com os olhos semicerrados, dividida entre acompanhar o vídeo ou se entregar ao prazer que eu lhe proporcionava. E eu simplesmente me perdia naquele corpo maravilhoso, quente, pronto para mim, pulsando a cada entrada e me prendendo a cada saída.
– Alex! – ela gemeu forte me causando comichão. Eu me enterrei fundo em Charlotte fazendo-a gritar e parei dentro dela, aproveitando o pulsar forte da sua vagina.
– É assim que você quer?
– Oh, Deus! – ela levantou a cabeça e olhou para a tela. A mesma posição, o mesmo embalo. – Sim, é assim que eu quero – sussurrou com a voz fraca e carregada de tesão.
– Comigo ou com ele – provoquei saindo e entrando com mais força ainda.
– Porra! – ela gritou enquanto eu a levantava pelo rosto para trazê-la para mim.
– Esse tesão todo é por mim? – estendi sua perna até que o joelho estivesse sobre a borda, libertando o meu braço. Rapidamente minha mão foi para o seu sexo, todos os dedos roçando seu clitóris.
– Ah! – grunhiu com força deixando-me ansioso. – Por você. Sempre por você. Só você.
Caralho! Eu adorei ouvir aquilo.
– E você? – ela disse determinada. – É por mim ou por ela?
Beijei seu ombro e apertei seu sexo sentindo sua perna tremer quando reiniciei as estocadas, cada vez mais forte.
– Não existe boceta como a sua, Charlotte!
Nunca me imaginei sendo tão pouco romântico ou ousado com a mulher que eu amava, mas aquela ocasião pedia. João tinha razão, eu era um falso puritano de merda, eu me reprimia para não a assustar, ou, sendo mais idiota ainda, tinha medo de apresentá-la à vulgaridade, ao lado mais pesado do sexo, aos instintos mais animais. Simplesmente porque a amava e queria dar a Charlotte o que ela escrevia em seus contos de fadas. Eu queria ser o seu príncipe em um cavalo branco.
– Porra! – gemi me perdendo nela. – Vem cá, menina.
Saí de dentro da minha noiva virando-a com determinação para mim. Charlotte me encarou assustada, sem entender o que havia me feito parar e mudar o roteiro. Simples: não podia haver um roteiro para nós dois.
– Eu amo você!
Falei com fúria, com a certeza de que aquele filme era nosso e não de dois atores que nada sentiam um pelo outro. Nem tesão. Encostei Charlotte no azulejo molhado, imprensando-me nela com vontade e explorando o seu corpo com uma necessidade absurda, incapaz de ser controlada ou saciada.
O bico do seu seio provocava a palma da minha mão enquanto eu a apalpava e analisava as suas reações. Charlotte estava rendida.
– Olhe para mim –enterrei-me nela quando seus olhos encontraram os meus. Ela gemeu baixinho, fechando outra vez os olhos em prazer. – Abra os olhos, Charlotte – fui atendido prontamente. – Não há outra mulher que eu queira nesta vida – a necessidade só crescia e eu me afundava naquele corpo como se ele fosse a minha religião. – Não há outro corpo em que eu queria me enterrar, então não importa qual merda de filme eu esteja vendo, é sempre você quem eu vou querer comer, entendeu?
Charlotte acenou rapidamente com a cabeça.
– Então me tome para você – puxando o ar com força ela me enlaçou pelo pescoço e cruzou as pernas em minha cintura, abrindo-se para mim em uma oferta irrecusável. Minhas mãos correram soltas pelo seu corpo, eu me enfiava nela com tanta vontade que estava prestes a explodir.
Segurei seu seio e o beijei, chupando a pele saborosa e curtindo cada gemido que ela emitia. Seu sexo pulsou com mais força quando mordisquei o mamilo rosado. Ela se movimentava ao meu encontro, chocando nossos sexos. Porra, não existia filme mais sexy do que aquele que fazíamos.
O movimento da água revelava o acelerar dos nossos corpos, eu estava pronto para gozar. Fechei minha mão no cabelo de Charlotte, puxando-o para trás para que ela me encarasse.
– Eu vou gozar – revelei já no limite. – E quero que você goze assim, me olhando, me entregando o seu prazer – acelerei sem acreditar que seria possível. – Por mim, Charlotte, e para mim.
Ela gritou naquele instante, e como uma aluna fiel, não fechou os olhos nem por um segundo, gozando abertamente. Seu sexo pulsou e se contraiu, e foi forte, pois eu vi estrelas nos olhos da minha noiva, ou elas estavam nos meus? Não sei. Mas posso dizer que gozei de uma maneira esplendorosa, como há muitos dias eu precisava fazer.
Charlotte me abraçou, sem descruzar as pernas dos meus quadris e buscou pelos meus lábios em um beijo cheio de entrega e amor. Eu correspondi, porque não havia maneira melhor de expressar o quanto eu havia gostado e estava grato pela sua entrega.
CAPÍTULO 26
“Oh amor poderoso! Que às vezes faz de uma besta um homem, e outras, de um homem uma besta.”
William Shakespeare
ALEX
Estávamos nus, deitados na espreguiçadeira, abraçados e namorando sem nada dizer, apenas deixando que os lábios aproveitassem o momento e nossas mãos fizessem o reconhecimento dos corpos.
Charlotte deitou a cabeça em meu corpo e, em silêncio, brincou com meus pelos com as pontas dos dedos. Acariciei seus cabelos molhados, ainda absorto em pensamentos que me intrigavam e, ao mesmo tempo, deixavam-me bem. Foi uma novidade tudo o que vivi com Charlotte, mas foi uma deliciosa novidade, que deixava a porta aberta para muito mais.
No entanto, era importante pegar leve, até porque nem eu mesmo sabia até onde queria chegar com ela, o que me excitaria estando com Charlotte e o que deixaria de ser bom por estar justamente com ela. Era melhor esperar, tínhamos tempo para alcançar todos os passos.
– Nosso almoço deve chegar a qualquer momento – falei me dando conta de que eu estava faminto. Charlotte levantou o rosto para mim, mas nada disse – Com fome? – ela negou com a cabeça, sem sorrir ou me olhar com aquela habitual devoção. – O que foi?
– Nada – respondeu baixinho e deixou o olhar cair.
– Está aborrecida? Eu fiz alguma coisa? – Charlotte voltou a me olhar e sorriu.
– Não. Eu só estava aqui intrigada com uma coisa – acariciei seu rosto com a ponta dos dedos e enrolei uma mecha do seu cabelo no indicador.
– Ultimamente você anda sempre intrigada com alguma coisa.
– É? – concordei com um aceno de cabeça. – Eu não havia percebido.
– Eu posso dizer que só nas duas últimas horas isso aconteceu três vezes.
– Sério?
– Sério. O que está te intrigando agora? – seu rosto começou a ganhar um tom rosado adorável. Sorri satisfeito.
– Eu estava pensando se eles esvaziam, limpam e tornam a encher a piscina sempre que o cliente sai e um novo entra – fiz uma careta. Eu sabia muito bem aonde ela queria chegar. – Mas pensando bem no assunto, é impraticável, não? – mordi o lábio evitando o riso e o nojo por chegarmos àquele ponto, mas voltei a concordar com a cabeça. – Então, se outros casais transaram sem camisinha, como nós dois...
– Exatamente por isso que eu relutei tanto em te trazer para um lugar como este, amor – foi a vez dela de fazer uma careta e eu ri.
– Mas eles limpam os móveis? Quer dizer...
– Eu acredito que sim – ri da careta que ela fazia. – Por um preço como o que estou pagando, seria mais do que justo – Charlotte levantou o corpo olhando tudo com mais atenção. – Não pensar sobre isso ajuda.
– Eu acho que não. Eles trocam os lençóis?
– Claro que sim – não conseguia parar de rir.
– Graças a Deus! Pelo menos isso.
– Banheiras e piscinas de motel não são muito recomendáveis – revelei.
– Então por que... – ela parou no meio, detendo-se e estreitando os olhos sem terminar a frase.
– Vamos falar sobre os seus dois outros momentos – mudei rapidamente de assunto.
– Que momentos? – sentada ao meu lado, com o corpo virado em minha direção e os seios à mostra, Charlotte era o desenho perfeito da luxúria. Ainda mais me olhando de maneira tão desafiadora.
– Hum! O filme – mais uma vez ela corou me deleitando.
– Qual o problema com o filme? Mulheres não podem gostar?
– Podem sim, mas você... – levantei o corpo ficando apoiado em uma das mãos. – Você parecia estar mais do que gostando.
– Alex, às vezes você não tem vontade de deixar ser apenas só sexo? Não te excita a ideia de algo casual, apenas pelo prazer, mesmo que seja uma fantasia com a mulher com quem você vai casar?
Sentei me acomodando melhor para aquela conversa. A forma como Charlotte colocou o assunto me deixou intrigado e constrangido por ser exatamente o que eu fazia antes dela.
– Você tem esta vontade? – acariciei seu cabelo para que ela não pensasse que eu a estava intimidando. – Sexo casual, sem envolvimento...
– Bom, eu acho que é assim que tudo começa. Nós dois, por exemplo, eram apenas aulas, sem envolvimento, não?
– Muito diferente, Charlotte.
– Para você sempre é – rebateu sentando sobre os joelhos. – Mas foi exatamente o que fizemos.
– Ok, vamos pular esta parte. Eu já disse que te amava, só não sabia – ela riu baixinho. – Mas eu não penso em sexo casual desde que te conheci. Tudo se tornou diferente, então alguns costumes de antes ficaram estranhos agora.
– Como assistir filmes pornográficos.
– Ou ir a um motel – completei. – E é onde estamos – ela fez aquela cara de intrigada novamente, por isso resolvi me explicar de uma vez. – São conceitos ultrapassados e machistas, Charlotte. Eu já percebi isso e estou tentando me habituar, aceitando a mudança.
– Não foi bom lá na piscina? Nós... – desviou os olhos deixando o rosto voltar a ficar corado.
– Foi ótimo! Nunca imaginei que seria, apesar de preferir você prestando atenção em mim – ela mordeu o lábio inferior, colocando uma mecha atrás da orelha.
– Mas eu estava.
– Tudo bem. Próximo tópico. Você estava estranha lá no quarto, aliás, desde o carro, quando eu tentava te tocar e eu sei que não foi a sua extrema vontade de fazer xixi em menos de dois minutos.
Desta vez Charlotte corou pra valer. Ela respirou fundo, abaixou a cabeça e olhava para qualquer lado que não fosse para mim. Vi sua mão ir para o rosto, um gesto impensado, como se quisesse ajustar os óculos que não estavam lá. Uma demonstração típica de nervosismo.
– Não quer me dizer? Assim eu vou imaginar um monte de coisas.
– Certo. Eu vou dizer, mas você vai jurar que não vai rir de mim.
– Eu juro.
E esta era uma batalha perdida, pois eu já sabia que, com certeza, riria dela.
CHERLOTTE
Não seria muito legal depois de tudo o que fizemos eu deixar Alex imaginar que eu estava mesmo com dor de barriga, ou que eu estava suja ou qualquer outra coisa nojenta que um homem pode pensar de uma mulher que se recusa a deixá-lo tocá-la mesmo quando ela já está mortinha de desejo.
Então eu contaria sobre a calcinha da minha avó e enterraria aquele assunto com os outros três. Pronto. Problema resolvido.
– É... bom... eu...
Ele riu sem me deixar falar.
– Você prometeu.
– Mas você está engraçada gaguejando desta forma – e continuou rindo. Cruzei os braços e aguardei até que ele parasse, ou se esforçasse para falar. – Desculpe!
– Todos os dias eu me vestia e me preparava para um possível momento mais íntimo com você, mas nunca acontecia, pela sua insistência em manter as regras do meu pai – Alex fez uma cara engraçada, mas não riu. – Hoje, por ser um dia em que estaríamos na sua empresa, e por eu ter certeza de que meu pai me acompanharia até mesmo ao banheiro, não me preocupei em estar sexualmente apresentável para você e sim em estar vestida adequadamente para o momento.
– Ainda não consegui chegar no ponto do problema – revirei os olhos. Lógico que ele não entenderia, ele era homem!
– Eu estava com uma calcinha imensa, daquelas que usamos para não deixar marca no vestido – Alex me encarou, as sobrancelhas franzidas, sem entender o motivo da minha apreensão. – Bege – completei e ele entortou a boca. – Era imensa e bege, parecendo com as que minha avó usava, Alex! Você broxaria se me visse usando aquilo.
Meu noivo então explodiu em uma gargalhada que ecoou por todo imenso apartamento. Eu fiquei sem graça e depois com raiva. Droga! Nunca deveria ter revelado a existência daquela calcinha. Todas as vezes que Alex lembrasse da nossa primeira vez em um motel lembraria dela e isso seria um motivo de constrangimento eterno.
Ele continuou rindo e eu me enfurecendo cada vez mais, até que não aguentei e acertei um tapa em seu braço, e depois outro e outro até que o senti se agarrar a mim, ainda rindo, sem me deixar continuar de extravasar toda a minha frustração.
– Calma, amor! – Ficou com a voz cansada de tanto rir. – Calma! Não me bata – foi se deixando acalmar, mas ainda havia divertimento em sua voz. – Foi engraçado, Charlotte, admita.
– Não. Foi aterrorizante – ele riu mais um pouco e eu tive vontade de acertá-lo com mais uns tapas.
– Amor, tem noção de como a situação ficou engraçada para mim? Você estava toda entregue em meus braços e em seguida se retraía, e depois voltava atrás só para depois ficar tensa outra vez, e tudo isso por causa de uma calcinha?
– De uma calçola. E pare de rir.
– Está bem! Por causa de uma calcinha grande, fica melhor assim? – não ficava, mas eu concordei apenas para não alimentar a ideia. – Eu dava tudo para ver esta calcinha, Charlotte!
– Não! – meus olhos quase saltaram da órbita e meu coração acelerou.
– Você não pode ficar sem calcinha o dia todo – provocou.
– Eu vou vesti-la assim que você pagar a conta e não tiver mais chance de tentar tirar a minha roupa.
– Isso está ficando instigante – provocou me puxando para si e me mordiscando no ombro.
– Para, Alex!
– Quero te ver com aquela calcinha. Só eu posso dizer se ela é ou não broxante.
– Jamais. Eu toco fogo na peça antes que seus olhos consigam repousar sobre ela.
– Vamos fazer um acordo então – colocou um dos braços atrás da cabeça, revelando músculos perfeitos e um corpo muito bem definido. – Eu faço alguma coisa que você queira muito e você veste a calcinha para mim.
– Você já fez o que eu queria muito. Sem barganhas – acariciei seu braço com a ponta dos dedos, admirando o meu noivo. – E eu já fiz concessões demais por hoje – ele piscou e ficou sério, me encarando.
– Tem razão – e se acomodou melhor na espreguiçadeira. – Por falar nisso... – Alex levantou, nu, o corpo bronzeado e completamente hipnótico, uma bunda linda...– Você cobiça demais, Charlotte. Isso é pecado – brincou sem se dar ao trabalho de me olhar, saindo da área da piscina, mas ainda gritou do lado de fora. – Talvez uma conversa com o padre Messias resolva o seu problema.
– Eu não tenho problemas – resmunguei baixinho, sentindo-me uma idiota por isso.
Pouco tempo depois voltou com o celular na mão e usava um roupão branco com o nome do motel bordado em bordô, logo acima do peito. Levava outro na mão livre, que logo deduzi ser para mim.
– Vista. Logo alguém aparece com o almoço. Vou ligar para Lana. Ela tem que começar a organizar este casamento.
– Um cerimonial não seria mais adequado?
– Seria, e vamos ter um, mas esta parte vai ficar com você, sua mãe, a minha e Lana, claro!
– E Miranda – ele revirou os olhos.
– Sim, e Miranda.
– Eu não entendo. O que você tem contra ela?
– Nada – ele me olhou decidido a encerrar o assunto e se sentou ao meu lado. – Só não acredito que Miranda se empolgue muito com a organização de um casamento. E Lana jamais vai admitir que outra pessoa organize o meu casamento. Tem que ser tudo com a supervisão dela – eu me remexi incomodada. Não gostava da forma como Alex falava da minha melhor amiga.
– Quinze dias é pouco tempo, até mesmo para alguém como Lana. Sem contar que agora ela está mais do que ocupada com a transição dentro da editora. Não me parece muito justo.
– Ela jamais me perdoaria se não fosse assim. E não te perdoaria também, acredite em mim.
Alex começou a buscar o número da irmã e eu me acomodei na espreguiçadeira pensando em como seria aquele casamento. Eu sabia que queria e que Alex era o homem da minha vida, e nem estava mais incomodada com a brevidade dos fatos, só não conseguia me imaginar entrando em uma igreja lotada, em um cortejo enorme, sendo observada e parabenizada por pessoas que eu não tinha nenhuma familiaridade e depois ainda aguentar uma superfesta, que com certeza Lana não deixaria passar, sendo agradável com um monte de bajuladores.
Definitivamente não era o que eu queria.
Enquanto Alex aguardava Lana atender a ligação, brincou com os meu cabelos e meu rosto, fazendo carícias que provocavam cócegas. Ri colocando minhas pernas por cima do seu colo e ele imediatamente iniciou uma massagem deliciosa em meus pés.
Ah, as vantagens de se ter um homem apaixonado e apaixonante!
– Lana? – Alex tirou rapidamente o celular da orelha, com cara de espanto fazendo uma careta. Ainda consegui ouvir o grito da minha cunhada do outro lado da linha. – Ok. Ok. Dá para parar? – ele mantinha o aparelho afastado. Comecei a rir. – Certo... mesmo? Hummmmm! Ok! Pode ser. É? – Olhou para mim rapidamente e sorriu. – Seria ótimo! Claro, claro... – revirou os olhos. – Não, Lana! Eu disse que Charlotte precisa estar presente para aprovar qualquer detalhe... Sim, eu tenho certeza. Está aqui ansiosa para falar com você. Só um minuto.
Olhei para meu noivo sem acreditar que ele tinha feito aquilo. Quem disse que eu estava disposta a aguentar o entusiasmo da minha futura cunhada? Ele passou o telefone para mim fazendo cara de cansaço. Realmente, enfrentar a euforia de Lana era um trabalho árduo. Alex parecia satisfeito em poder me passar o aparelho e se livrar logo da irmã.
– Oi, Lana...
– Charlotteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! – gritou fazendo-me pular. O que era tudo aquilo? – Não se preocupe, estou com tudo organizado. Não sei se consigo fazer tudo o que tenho pensado desde que vocês apareceram com a ideia do casamento, mas vai dar tudo certo e você vai amar...
– Mas...
– Já sei onde encomendar as flores. Eu sei que o cerimonial vai oferecer a floricultura deles, mas não podemos aceitar, eu sei onde encontrar as flores perfeitas para vocês... Já tenho uma ideia de onde poderemos fazer a cerimônia. Tem ideia de quantos convidados serão? Bom, acho que Mary e Peter vão precisar fazer uma lista... Pode deixar que eu resolvo esta parte. Agora o bolo. Precisamos decidir o bolo, sim, porque não é fácil encontrar um bolo bonito e gostoso, já que ele será servido, lógico que será, mas as encomendas nunca são aceitas em tão pouco tempo, então...
– Bolo?
– Não existe casamento sem bolo de casamento – riu sozinha. – Eu achei um perfeito, mas vai dar trabalho conseguir alguém, e...
– Lana...
– Estamos aguardando por Paulo, o advogado da família, ele vai providenciar toda a papelada. Não seria fácil, se não tivéssemos o seu sobrenome contando, e toda a influência do seu pai. O padre não é problema, Alex me disse que será o da sua família.
– Lana, eu...
– Seu vestido tem que ser lindo! Épico! Acho que vou começar a ligar para alguns estilistas e... claro que amanhã bem cedo as costureiras estarão em sua casa, afinal de contas cada segundo conta, mas ele será simplesmente maravilhoso. Lógico que não será nenhum...
– Mas, Lana...
– Miranda ficou de pesquisar o modelo ideal para cada madrinha. Tem ideia de quantas serão?
– Lana, por favor...
– Não se preocupe. O modelo não vai ofuscar o seu. Será o casamento do ano, mas você ainda será a noiva do século... Ai, meu Deus! Nem acredito que vamos fazer isso tudo em quinze dias...
– LANA! – tentei impedir minha cunhada de continuar.
– Oi! Caramba, precisa gritar assim? Era só falar. Vou te contar, você e Alex formam um casal perfeito...
– Preciso de sua ajuda, Lana. Dá para me ouvir?
– Claro! Do que você precisa?
Olhei para meu noivo meio apreensiva. Como dizer a Lana que eu precisava de um conjunto de lingerie supersexy para a minha noite de núpcias? Ele sorriu, acariciando meus cabelos. Virei um pouco o rosto para o lado, como se assim pudesse evitar que ele me ouvisse.
– Eu preciso que você me ajude com... Bem... – Alex me fitava atentamente. Droga! Será que eu não podia ter um pouco da minha intimidade preservada? – O casamento é em quinze dias e... você sabe... tem coisas que não posso contar com minha mãe... – ele riu entendendo a minha apreensão.
– Não precisa de nada cobrindo este lindo corpinho para o que eu pretendo fazer com você – sussurrou em meu ouvido me fazendo corar completamente, além, é óbvio, de ficar excitada.
– Entendi – Lana riu do outro lado da linha, desviando minha atenção. – Pode deixar comigo vou providenciar tudo. Alex nunca mais vai esquecer esta data. Conheço a loja perfeita e você nem precisa ir lá. Podemos marcar um dia em minha casa e a personal vai comparecer para nos mostrar o que tem de melhor para a noite de núpcias – e riu de maneira infantil.
Não era para ser, porém o fato de termos aquela conversa tão íntima, mesmo sendo quase nada, deixou-me incrivelmente envergonhada.
– Ok, Lana! Obrigada! Falo com você depois – devolvi o celular a Alex que desligou imediatamente.
– Preocupada em agradar o marido?
– Sempre.
ALEX
Mais um espasmo e eu jorrei para dentro dela todo o meu prazer.
Charlotte estava linda, deitada naquela cama imensa, os cabelos espalhados pelo travesseiro com fronhas brancas, o rosto naturalmente corado, cheios de pintinhas, os olhos fechados e a boca levemente aberta, enquanto gemidos dengosos escapavam de seus lábios.
E ela estava embaixo de mim, recebendo-me entre as suas pernas, os seios subiam e desciam conforme o nosso movimento, as mãos em minhas costas, puxando-me cada vez mais ao seu encontro, enquanto eu me afundava em sua carne, idolatrando seu calor.
Porra! Eu adorava transar com Charlotte, amava a sua ousadia, delirava com as loucuras que ela aceitava fazer, mas nada se igualava ao prazer que eu sentia quando fazíamos amor. Nada como ter a mulher que você ama em seus braços, entregue, sem grandes malabarismos, apenas se entregando, namorando, curtindo um ao outro.
Era maravilhoso!
Mas precisávamos ir embora. Eu estava esgotado e Charlotte também. Havíamos passado a tarde inteira naquele quarto de motel e a noite já cobria o céu do Rio de Janeiro. Segundo Lana, todos se reuniriam na casa da minha noiva naquela noite para discutir e festejar o noivado. Eu ainda não tinha tomado coragem para contar a ela o que a aguardava.
– Hum!
Ela se espreguiçou ainda embaixo de mim, estirando as pernas e os braços. Encarei seu colo cheio de pintinhas, soltei um pouco do meu peso sobre ela e acariciei uma vez mais as suas curvas, enquanto ainda podia sentir o calor da sua intimidade úmida em um último momento de prazer.
Depois puxei seu rosto para mim e beijei seus lábios, fechando aquele dia com chave de ouro. Fora uma grande e deliciosa ideia ceder à vontade dela de conhecer um motel. Nada como não ser atrapalhado e poder se aventurar em tudo o que quiser.
– Acho que esta é a hora de eu te ver com aquela calcinha – ela riu me deixando sair do meio das suas pernas e rolar para o seu lado. – Hora de ir para casa, amor.
– Já? – ri acolhendo seu corpo quente em meus braços.
– Não podemos brincar com a paciência do Peter.
– Nós vamos nos casar em quinze dias, como ele queria, então mereço qualquer concessão.
– Você merece tudo – beijei seus lábios com carinho e acariciei seu rosto. – Mas Peter não vai aceitar, então...
– Merda! – ela se soltou dos meus braços, enrolando o lençol no corpo. – Sinto falta de passar uma noite inteira com você.
– Em quinze dias vamos passar todas as noites juntos.
Por um segundo eu pensei que Charlotte estivesse passando mal. Ela ficou pálida, seus olhos perderam o foco e não houve nenhuma expressão de humor ou de satisfação pelo que eu havia dito.
– É verdade – e desviou o olhar se preparando para levantar.
– Espere – segurei em seu braço, ainda sem saber como reagir àquilo tudo. – O que foi? – Charlotte não voltou a olhar para mim. – A ideia do casamento ainda te atormenta?
– Não a ideia de casar, mas do que será um casamento – seus olhos fixos demonstravam que ela ainda debatia internamente sobre o assunto. – Mas eu acho que toda noiva deve se sentir assim, não? – e como num passe de mágica tudo voltou ao normal. Ainda demorei um pouco para reagir à sua mudança súbita e ao sorriso encantador que ela me lançou. Por fim, sem querer me aprofundar no assunto, acariciei seu rosto e concordei.
– Deve ser assim mesmo.
– Bom... acho que vou procurar por aquela calcinha – inclinou-se rapidamente e acertou um beijo em minha boca antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Depois levantou indo em direção ao banheiro.
Levantei, fui buscar minhas roupas na área da piscina, vesti a cueca, a calça, as meias e peguei o celular. Muitas mensagens. Cinco apenas de Lana e duas de Patrício. Como bem conhecia a minha irmã, abri primeiro as do meu irmão.
“Mano, então é verdade mesmo? Quinze dias? Tem certeza disso?”
Revirei os olhos decidindo se deveria ou não ignorar a outra mensagem. Mas preferi saber logo de uma vez o que ele queria.
“Porra, Alex! Você é um filho da puta corajoso! Dei valor. Queria eu ter metade desta determinação.”
Respirei fundo e escrevi:
“Eu amo a Charlotte! Infelizmente, ou felizmente, você ainda não se deu conta de que ama a Miranda também.”
E me perguntei mil vezes se deveria mesmo ter escrito aquilo. Eu queria que Miranda e Patrício ficassem juntos? Não, claro que não. Miranda era dor de cabeça na certa. Mas contava a minha vontade ou tudo o que eu sabia da garota? Bom, deveria contar, uma vez que Patrício é meu irmão, mas, porra, se eu não queria revelar o que sabia então não podia exigir nada dele. E talvez, por um milagre da vida, Miranda tenha criado juízo. Sem contar que ela gostava mesmo do meu irmão.
Tomei coragem para conferir as mensagens de Lana. Duas perguntando onde estavam os documentos que ela precisava para dar seguimento aos nossos assuntos profissionais, uma para dizer que já tinha encontrado e que eu era um filho da puta imprestável, ri sozinho, mais uma para confirmar o jantar na casa de Charlotte, o que ainda era um problema, e a última para dizer que todos já tinham chegado menos nós dois. Porra!
Voltei para o quarto e Charlotte ainda estava no banheiro. O barulho do chuveiro chegou a ser estimulante. Um banho seria ótimo, mas eu não podia entrar naquele banheiro com a minha noiva ou nos atrasaríamos ainda mais.
– Charlotte, precisamos ir – falei aproximo à porta e voltei para ligar avisando que poderiam fechar a conta.
A porta se abriu e ela apareceu só de toalha. O corpo e cabelo molhados deixando uma poça sob seus pés, mas Charlotte não se importou. Ela me olhou e sorriu mordendo o lábio inferior. Muito sabiamente, porque minha noiva sabia o que fazer para me seduzir, deixou o olhar cair para os seus pés.
– Não vai entrar? – pensei duas vezes, com o interfone ainda na mão.
– Pois não? – a voz da atendente chamou a minha atenção. Voltei a olhar para Charlotte e outra vez para o interfone, então decidi.
– Poderia fechar a conta em trinta minutos, por favor? – Charlotte sorriu e voltou para dentro do banheiro. – Obrigado! – e desliguei antes que pudesse ouvir a resposta deles.
CHARLOTTE
Só quando deixamos o motel que eu percebi o quanto estava tarde. Peguei meu celular esperando um mundo de ligações perdidas e mensagens, apenas para me dar conta de que estava sem bateria. Merda! Como explicar ao meu pai?
– Como está se sentindo? – Alex segurou minha mão e a levou aos lábios.
– Ótima! – não entendi muito bem o porquê da pergunta. Ele sorriu de maneira cafajeste e aquilo mexia realmente comigo.
– Não abusei de você?
A voz cheia de orgulho indicava o motivo daquela demonstração de ego. Revirei os olhos, mas sorri sentindo o leve ardor em meu sexo, indicando o quanto ele de fato havia abusado de mim.
Meu Deus! Desde que tínhamos iniciados as nossas aulas de sexo nunca havíamos ficado tanto tempo nos dedicando apenas a isso. Tivemos a nossa primeira noite e esta também foi, como podemos dizer... abusiva, porém nada como aquele dia, horas inteiras de prazer em que Alex tinha demonstrado o quanto era capaz de me fazer enlouquecer. E eu enlouqueci, inúmeras vezes.
– Se você chegar em casa com este sorrisinho no rosto todo mundo vai entender o que aconteceu – provocou.
– E eu estou pouco me importando. Tenho vinte e um anos, sou independente, logo em breve serei uma mulher casada, tenho direito de transar quando e quantas vezes quiser – ele me olhou rapidamente e sorriu. Lindo! – Além do mais, é melhor para os meus pais saberem que você me satisfaz sexualmente do que passarem anos imaginando se eu não sou feliz no casamento.
– Existe muito mais em um casamento pleno do que a satisfação sexual –repreendeu-me fazendo uma careta de desagrado. – E você faz parecer que tudo gira em torno do sexo.
– Alex, acabei de descobrir o quanto sexo é bom, então me deixe curtir enquanto ainda tenho energia para isso. Terei muito tempo para descobri todos os outros sabores de uma vida a dois – ele voltou a sorrir e mais uma vez segurou minha mão, acariciando meus dedos com o polegar.
– É justo – e seu sorriso ficou imenso. – Por falar em sabores de uma vida a dois... – soltou minha mão e segurou com força no volante. – Por favor não faça disso um problema.
– O que, os sabores de uma vida a dois?
– Não. O que uma futura vida em conjunto exige.
– Mal aceitei o casamento e já vou ter que conviver com regras – resmunguei para diverti-lo, mas Alex ficou sério. – Manda.
– Nossas famílias estão reunidas em sua casa. Eles querem definir o casamento e organizar o quanto antes, então...
Alex me olhou e eu não consegui esconder minha boca aberta, os olhos imensos, assustados, a cor pálida... Droga!
– Você conhece meus pais, meus irmãos, por que isso é um problema? – engoli em seco tentando não ser mais infantil do que já tinha conseguido ser.
– Não é – respondi baixinho. – É só que...
– Charlotte!
– Pensei que conseguiria pelo menos esta noite para me adaptar a ideia. Também não pensei que enfrentaria todos de uma só vez e... meu Deus, Alex! – suspirei derrotada. – Não sei o que pensar. Não sei nem o que dizer.
– O que está te afligindo?
– A ideia... todos eles juntos, definindo tudo, falando e falando e...
– Calma!
Ele me calou segurando em minha mão e apertando-a. Olhei nossos dedos entrelaçados. Não. Eu não estava com medo do casamento, apenas da ideia de uma festa imensa, cheia de pompas e acontecimentos. Não. Eu não tinha dúvidas quanto a entregar a minha vida àquele homem.
– Tenha em mente que é o nosso casamento. Eles querem ajudar e vão, mas será como a gente quiser. Não tenha medo. Eu estarei lá e vou apoiar toda e qualquer decisão sua.
– Jura? – porra, eu amava aquele homem!
– Juro! – ele sorriu. – Tem que ser como você sonha. Eu quero que seja exatamente assim.
– Certo.
Ele não soltou mais a minha mão e eu não voltei a sentir medo.
CAPÍTULO 27
“Amor é um marco eterno, dominante, que encara a tempestade com bravura. É astro que norteia a vela errante, cujo valor se ignora lá na altura.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Antes de abrirmos a porta eu já podia ouvir a conversa do lado de dentro. Aquilo não era uma reunião para discutirmos os detalhes do casamento, era simplesmente um acontecimento. Ao fundo, pude ouvir o som de um dos clássicos do meu pai, Frank Sinatra, misturado a risadas e vozes animadas.
Céus!
Alex, ciente do meu desconforto, colocou as mãos em meus ombros, apertando-os levemente. Sorri tentando ser corajosa. Só que eu não era.
Ao colocar a chave no segredo da porta suspirei lentamente. Não precisava mais afirmar para mim mesma que era o que eu queria, porque era realmente o que eu queria, mas será que era mesmo?
Definitivamente não.
Quando em minha vida eu poderia decidir qualquer que fosse o evento que dissesse respeito apenas a mim? Era difícil para quem estava de fora compreender, só quem teve a vida controlada, detalhada, esmiuçada e desenhada, como eu tive, compreenderia o meu desânimo por ter a minha festa de casamento definida e decidida por outras pessoas.
Lógico que eu poderia dizer não a tudo, que poderia simplesmente me negar a discutir as minhas vontades. Era o meu casamento, oras! Contudo, quando se tem pais como os meus, ver a decepção em seus olhos por causa de um capricho poderia ser sufocante.
E como eu me sentia? Bom, eu me sentia partida ao meio. Uma parte me dizia para aceitar, afinal de contas era apenas uma festa e, se Deus quisesse, aquele seria o meu único casamento, então por que não agradar a todos e abdicar da minha vontade mais uma vez? A outra parte, a rebelde, dizia que eu deveria gritar, ignorar os olhares reprovadores, subir ao meu quarto, fazer um planejamento de como deveria ser e depois simplesmente comunicar a todos.
– Não vai abrir? – Alex apertou mais uma vez meus ombros.
– Alex?
– Sim?
– Como você quer que seja?
– O casamento? – sacudi a cabeça para que ele entendesse a minha intenção. Não tive coragem de me virar para encará-lo.
– Bom... – suas mãos deixaram meus ombros. Mordi os lábios em expectativa. – Eu não sei, Charlotte. Nunca me imaginei casando e, para ser franco, nunca acreditei que este seria um papel meu. Digo, pensar nos pormenores. Eu quero me casar com você e como vai ser, não importa.
Foi o suficiente para mim. Girei a chave e abri a porta, mas voltei para olhá-lo antes de encarar os demais. Sorri para o meu futuro marido, deixando claro que estava satisfeita. Ele sorriu de volta, cheio de uma expectativa e alegria que eu não sabia se conseguiria corresponder, eu tentaria com afinco.
– Finalmente! – Lana gritou de dentro do apartamento. – Não sabíamos mais o que fazer.
– Vocês demoraram – meu pai deu um passo à frente, uma mão no bolso da calça e outra segurando um copo. Seu olhar era pura acusação, o que me deixou imediatamente corada.
Olhei para a sala, todos estavam lá: Lana, João Pedro, meu pai, minha mãe, Dana, Adriano, Johnny, Miranda e... Patrício? Mas o que ele fazia lá? Senti a mão de Alex na minha. Claro! Ele era irmão do meu noivo e eu teria que me acostumar com aquilo. Voltei a olhar para a minha amiga, sentada distante dele, no sofá menor, fingindo indiferença.
– Fomos almoçar – Alex disse meio inseguro. – E saímos para conversar sobre o casamento.
– E fomos ao cinema – completei como a covarde que sempre seria. Eu não precisava de um pouco mais daquele olhar acusador. Além do mais, já havia concordado em casar tão rápido quanto a fofoca corre na língua dos desocupados.
– Ao cinema?
Ele olhou para Alex cobrando uma resposta. Lógico que meu pai duvidaria de qualquer coisa que eu dissesse. Ele desconfiava onde estávamos e imaginava o que fazíamos. Meu rosto esquentou significativamente e tive medo de que Alex negasse.
– Foram ao cinema? Não me diga que você assistiu “Quando acabar”! – Miranda falou alto, ganhando a atenção do meu pai. – Charlotte?! Nós tínhamos combinado de assistir juntas.
Porra, eu amava a minha amiga! Tínhamos assistido ao filme alguns dias antes, quando ela estava curtindo a fossa por causa do fora do Patrício. Miranda foi espetacular em pensar naquele filme, assim eu teria o que contar a respeito dele, caso a curiosidade do meu pai, ou de qualquer outro, falasse mais alto.
– Desculpa! – sorri envergonhada. – Nós queríamos fazer um programa de namorados, então convenci Alex a entrar no cinema. Podemos marcar outro dia, eu não me importo em assistir de novo, você sabe.
– Deus me livre! Você comenta sobre o que vai acontecer e isso mata a expectativa. Vou arrumar uma colega para ir comigo.
Naquele momento notei o olhar do Patrício em direção à minha amiga. Ele fingia não se importar, não prestar atenção nela, mas falhava, como naquele momento, quando ela mencionou “a colega” e deu para notar que ele pensou que seria “um colega”. Tive vontade de rir.
– Venha, Charlotte – minha mãe chamou estendendo uma mão para mim. – Sente-se aqui. Estávamos pensando no local ideal para a festa. Lana nos trouxe algumas opções interessantes – caminhei lentamente ao lado da minha mãe sem saber o que esperar, nem como começar a dizer o que eu pensava.
– Temos primeiro que definir o número de convidados. Posso ter uma vaga ideia de quantos serão da nossa parte da família. Conheço todos os amigos do Alex, as pessoas que são do interesse dos nossos pais, só precisamos resolver do lado profissional, quais são os que ele deseja que compareçam.
– Nossa lista é longa, apesar de não termos familiares no país – meu pai se aproximou introduzindo-se na conversa.
– Temos a sua tia – disse minha mãe.
– Tia-avó, como vocês dizem aqui. Sim, temos alguns poucos parentes distantes. Vamos enviar os convites, porém não acredito na presença deles.
– Thomas pode querer comparecer. Ele e Charlotte eram muito ligados – minha mãe sorriu com inocência e Alex imediatamente se interessou.
– Thomas?
– Ele é um dos primos distantes. Quando crianças, eles não se desgrudavam quando estávamos na Inglaterra. E ainda se divertem bastante quando Charlotte resolve aparecer. Ela não gosta muito de voltar às origens – minha mãe falou para Dana, que sorriu gentilmente.
– Thomas é um ótimo rapaz – colaborou meu pai. – Inteligente, assumiu o negócio da família quando ainda fazia faculdade. Dizem que ele é promissor, que vai ainda mais longe que o pai e eu acredito nisso. Um garoto de punho forte.
Alex estava incomodado com o assunto, apesar de não demonstrar. Só que eu o conhecia o suficiente para saber que qualquer conversa sobre um homem promissor, interessante e que vivia grudado em mim, o tiraria do sério.
O que ele não sabia era que Thomas nunca passou de um garoto idiota, cheio de si, completamente engomado, que vivia tentando me impressionar, sem nunca conseguir. Eu o aceitava, até porque Johnny gostava do cara, e em uma vida onde os homens não são bem-vindos, conseguir a permissão para ter um amigo era algo realmente revigorante. Às vezes, eu me divertia com as conversas dele, as bobagens que valorizava e me lembravam o tempo todo de que aquele era o tipo de pessoa com quem eu não queria me casar.
– Eu penso em poucos convidados – comecei e ninguém pareceu se importar comigo.
– A igreja tem um bom tamanho – Lana continuou. – Também temos a opção de fazer a cerimônia para um grupo restrito e a festa para os demais convidados.
– Não deveria ser o contrário? – João brincou se servindo de mais bebida.
– Deveria ser uma coisa só – Dana buscou a aprovação da minha mãe, que concordou.
– Neste caso, teremos uma lista reduzida. Quantas pessoas cabem naquela igreja? Trezentas, quatrocentas...
– Podemos obter esta informação – minha mãe disse sem se preocupar com a minha opinião.
– Ótimo! Vamos ao buffet – Lana trocou de assunto com ânimo. – Eu tenho uma sugestão. É o melhor que temos no Rio de Janeiro, mas é claro que se vocês já trabalham com algum podemos ficar com o que escolherem.
– A “Motivo” é um excelente buffet, Lana – Dana acrescentou assegurando minha mãe de que elas tinham o melhor.
– Não fazemos muitas festas pessoais aqui no Brasil, porém a “Motivo” é a empresa responsável por todos os eventos dos hospitais, não é mesmo, Peter? – meu pai deu de ombros.
– Não costumo me inteirar destes detalhes, querida – Dr. Frankli concordou com meu pai, sem nada acrescentar.
– Podemos verificar a disponibilidade deles – Dana deu continuidade ao assunto.
– Já verifiquei e, sendo um casamento de uma família tão especial, eles aceitam o desafio – Lana disse orgulhosa de si mesma.
– Ótimo! Então precisamos marcar uma reunião... – minha mãe tentou falar e mais uma vez Lana falou cheia de si.
– Amanhã pela manhã. Teremos um dia cheio. Graças a Deus ainda não assumi o cargo do Alex. Não ficaria nada contente se não pudesse acompanhar este casamento de perto.
– Quanta eficiência – Miranda disse admirada e também para fingir não estar atenta a Patrício.
– Eu sempre perguntei se ela não estava no ramo errado – Adriano brincou, fazendo Dana rir.
– Lana seria ótima em qualquer profissão que escolhesse – disse uma mãe coruja, que ganhou um sorriso carinhoso da filha.
Olhei para Alex pela primeira vez desde que sentei naquele sofá ao lado da minha mãe. Ele estava próximo do meu pai, segurava um copo de uísque e me encarava sem se manifestar. Ele estava atento ao que eu faria e parecia me pedir para interferir, para que eu não deixasse que decidissem tudo sem sequer me consultar.
– A lua de mel será um presente nosso, querida – Dana falou pegando em minha mão. – Adriano e eu fazemos questão. Vocês só precisam definir o roteiro.
– Paris – Lana quase gritou eufórica.
– Algo mais pitoresco. Quem sabe um tour pela África? – Miranda falou entrando no clima da conversa. – Charlotte já conhece a Europa toda e as praias da África são as mais bonitas.
– Se fosse o meu casamento, eu escolheria Las Vegas – Johnny falou sem vontade e me olhou como se quisesse me socorrer. – Ou Caribe.
– Tão original – Miranda debochou. – Não poderíamos esperar mais nada desta cabecinha.
– Então por que vocês não perguntam a Charlotte o que ela quer? – meu amigo replicou.
Todos se calaram e olharam para mim. Senti o ar preso nos pulmões. Uma reação normal para alguém que até um segundo atrás era invisível. Olhei para Alex e ele me lançou um olhar cheio de confiança, um incentivo para que eu fizesse como havia dito que queria.
– É o meu casamento, e... – olhei para meus pais, mas voltei a atenção para Alex – ... espero que seja o único – ele sorriu aprovando o que eu dizia. Ouvi o risinho baixo de Lana e senti a mão da minha mãe na minha. – Eu quero um casamento simples, muito íntimo, sem convidados por conveniência – olhei diretamente para o meu pai. – Eu sei o quanto vocês estão felizes, mas eu gostaria de fazer do meu jeito, como eu sou e como o Alex é.
– E como seria este casamento? – a voz doce da minha mãe me incentivou a continuar. Olhei para a minha futura sogra e continuei.
– Uma vez você me perguntou como eu sonhava que seria o meu casamento e eu respondi que não sonhava com isso. Mas, desde que Alex apareceu com a ideia e, quando finalmente aceitei que poderia ser o mais breve possível, tudo se arrumou em minha cabeça – Dana sorriu entendendo as minhas palavras. – Não existe outro lugar que fale tanto de mim e do Alex quanto Petrópolis.
– O lugar onde ele te pediu em casamento – Miranda falou com voz apaixonada.
– O lugar onde descobrimos que não dava mais para esperar o tempo confirmar o que sentíamos – Alex completou e a emoção em sua voz aqueceu o meu coração.
– Se não for incômodo para vocês, eu gostaria de casar no rancho – houve um momento de silêncio que me deixou constrangida.
– Ficaremos bastante limitados – Dana começou a falar. – Não temos espaço para tantos carros e a área aberta não comporta muito mais do que setenta pessoas, então...
– Não quero convidados – eu disse rápido com medo do que eles diriam. – Não quero convidados, por favor! – encarei minha mãe, segurando sua mão em súplica.
– Mas, Charlotte... – ela começou a falar.
– Mãe, eu não quero um grande acontecimento. Todas as pessoas que eu amo estão aqui nesta sala, não preciso de mais ninguém para compartilhar a minha felicidade. Eu sei o que a senhora está pensando, no entanto, um casamento pode ser lindo e perfeito apenas com a presença de nossos familiares, e ele será. Eu deveria ter casado naquele feriado, só que fui pega de surpresa e tive medo. Agora não tenho mais. Eu sei o que quero mãe. Para que seja uma festa perfeita, uma em que eu realmente me sinta feliz e realizada, tem que ser assim. Apenas com todos que estavam lá quando tomamos a decisão.
– Tiffany e Anita também? – Patrício perguntou com voz debochada.
Meu sangue ferveu na veia. Ele nunca tinha nada de interessante para falar? Olhei para Alex que sorria amplamente, divertindo-se com o comentário infeliz do irmão. Claro que ele se divertiria.
– Sem Anita e, principalmente, sem Tiffany.
– Anotado – Lana fingiu tomar nota da minha exigência.
– E então... – olhei para meu pai que me encarava sem acreditar em minhas palavras. – Alguns dias depois teremos a formatura. Aí vocês poderão fazer a festa da forma como quiserem, eu não vou me importar. Juro! – ele suspirou e colocou o copo sobre a mesa.
– A festa de formatura será à fantasia, Charlotte – eu sabia que não era como ele sonhava, no entanto o que deveria contar mais, o que eu queria como festa de casamento ou o que ele desejava?
– Eu gostei da ideia – minha mãe falou saindo em minha defesa. – Uma festa íntima, o que não será nem um pouco menos importante ou sem o brilho que um casamento exige. E o rancho é realmente maravilhoso, será tão romântico. Tenho certeza de que Lana conseguirá organizar a festa perfeita – e havia tanta emoção em seus olhos, um brilho que me impulsionava a desejar abraçá-la.
– Obrigada, Mãe!
– Que seja! – ouvi meu pai reclamar. – Ela sempre consegue tudo do jeito que quer mesmo. Eu estou te falando, Alex, não será nada fácil.
– Vai ser uma festa incrível – meu noivo respondeu alegremente.
– Certo – Dana falou chamando a nossa atenção. – O rancho é um lindo lugar e uma festa para poucos convidados pode ser até mesmo uma desculpa romântica, só acho que alguns convidados sejam inevitáveis.
– Um número reduzido – Lana completou. – Juro que será um número bastante reduzido, Charlotte. Apenas alguns amigos mais próximos que se sentirão ofendidos caso não sejam convidados.
– Tudo bem – tive que ser complacente, não dava para ser tudo como eu queria.
– Neste caso... – meu pai voltou a se interessar. – Acredito que também teremos direito a alguns convidados.
– Uma lista bem reduzida, Peter – minha mãe rebateu com voz firme. – Bem. Reduzida – eu tinha certeza de que ele havia entendido o recado.
– Vou repensar o vestido. Quer ver os modelos?
Lana se aproximou com um tablet e toda a noite girou apenas em torno do meu casamento perfeito.
ALEX
Foram os dias mais felizes e tranquilos da minha vida. Depois que finalmente Charlotte disse sim, que conseguiu encontrar um equilíbrio para a cerimônia do casamento, que convenceu nossas famílias a fazerem como ela desejava, minha vida tinha assumido uma calmaria deliciosa.
Em cinco dias, conseguimos avanços que até então nem acreditávamos. Charlotte resolveu caminhar com Miranda todas as manhãs e, às vezes, nós nos encontrávamos na praia. Todas as noites jantávamos juntos, na casa dela, sob a supervisão de Peter, que estava tão satisfeito com o nosso progresso que fazia vistas grossas.
Namorávamos no sofá, fazíamos planos, conversávamos e resolvíamos juntos qualquer problema.
Lana não dava sossego à minha noiva durante o dia inteiro. Era prova do vestido, escolha da comida, das flores, das músicas... Enquanto eu precisava resolver todas as pendências para conseguir me ausentar por alguns dias.
Tínhamos decidido que chegaríamos um dia antes ao rancho, para organizar tudo a tempo, e a família ficaria lá até um dia após o casamento, Charlotte e eu voltaríamos logo após a cerimônia e só viajaríamos em lua de mel depois da formatura.
Ainda havia o problema da faculdade. Tínhamos uma reunião agendada para dois dias após o meu casamento, em que ficaria decidido o futuro da minha noiva. Este era o ponto que mais me atormentava.
Naquela noite, cinco dias após termos passado uma tarde deliciosa no motel, Charlotte resolveu que era hora de termos um pouco mais de privacidade, e decidiu jantar em minha casa. Só nós dois. Um sonho para qualquer casal que só conseguiu alguns amassos nos últimos dias.
Ela havia ligado pela manhã para me avisar e disse que eu não precisaria me preocupar com Peter. Bom, eu realmente não me preocupei. Lana me fez passar parte da manhã experimentando smoking, em minha sala, entre uma papelada e outra. Descartei de imediato o azul e ela ficou indecisa entre o creme e o preto. Eu ficaria com o preto, mas era melhor deixar a decisão para a minha irmã caçula, ou não teria paz até o dia do casamento.
No período da tarde, após ela enfrentar duas reuniões, avisou-me que precisava ir para casa pois era necessário tratar de alguns detalhes do casamento com Charlotte. Para tanto, levou alguns documentos para analisar no período da noite.
Eu trabalhei o quanto pude, mas no horário apropriado para não me atrasar para o jantar, deixei a editora e enfrentei o congestionamento até chegar em casa. Ainda tive tempo de escolher o que comeríamos, retirar do congelador, decidir um vinho e tomar um banho. Quando desci de volta para a cozinha, ouvi o barulho do carro dela.
Eu ainda não entendia como Charlotte preferia andar com aquela coisa tendo dinheiro para comprar o carro mais caro e mais moderno fabricado no país, ou até fora dele. Deixei a vasilha sobre a bancada e larguei o pano de prato decidido a receber a minha noiva no meu melhor estilo.
Abri a porta quando ela bateu a do carro. Assim que Charlotte deu a volta e caminhou em direção à casa, eu notei que alguma coisa estava errada. Primeiro, ela estava apática, não sorriu, como costumava fazer. Segundo, a expressão de cansaço e dor a cada passada me deixou seriamente preocupado, a ponto de me adiantar alguns passos para pegar a bolsa da sua mão e auxiliá-la. Terceiro, assim que me aproximei percebi o quanto estava pálida, os lábios, sem batom, exibiam um tom levemente arroxeado, dispensando o rosa convidativo que sempre esteve lá.
– O que houve? – fui incisivo, mas ela apenas gemeu e se deixou abraçar. – Charlotte, o que aconteceu? Você está pálida.
– Eu estou bem – forçou os passos para que entrássemos em casa.
– Por que não me ligou para buscá-la? Por que dirigiu até aqui não se sentindo bem?
– Eu estou bem, Alex. Só preciso sentar.
Caminhamos para dentro de casa, no entanto eu não conseguia deixar de ficar inquieto. Charlotte sentou no sofá e encostou a cabeça, fechando os olhos.
– O que está sentindo?
– Cólica – revelou por fim. Levei um longo segundo para compreender o sentido total daquela palavra.
– Ah! – foi só o que consegui dizer.
Eu ainda estava preocupado. Claro que estava! Não gostava da aparência doentia que ela exibia, nem da falta de cor do seu rosto, mas tenho que ser honesto, cólica era algo que poderia ser resolvido com um comprimido, assim o que passou a ocupar minha mente era a frustração da nossa noite, que não aconteceria, óbvio!
– Desculpe! Eu fiquei menstruada no início da noite – revelou abrindo os olhos. Eu tive que sorrir. Por que ela se desculpava por menstruar? Tudo bem que tínhamos planos e eu estava mesmo frustrado. Fazer o quê... era a natureza.
– Tudo bem. Está tão ruim assim? Por que não ficou em casa, Charlotte? – vi quando seu olhar endureceu e ela tentou disfarçar. Ok, foi uma bola fora. – Eu iria até lá, ficar com você – contornei a tempo. – Não foi nada inteligente dirigir até aqui sentindo dor.
– Eu não sabia que ficaria menstruada hoje. Chegou adiantada. Acho que toda esta loucura de casamento em tão pouco tempo me deixou mais tensa do que eu imaginei e esta foi a consequência – suspirou se movendo no sofá para melhor se acomodar. – Eu não estava esperando. Então quando consegui sair da casa da Lana e tomar um banho para vir te encontrar, percebi que tinha menstruado. Eu estava com pressa, não queria pegar trânsito ruim, assim, acredito, acabei ignorando os sintomas, que se agravaram no caminho.
– O que quer tomar? – levantei para pegar um pouco de água.
– Preciso de leite, por favor. Não gosto de tomar comprimido com água – ela abriu a bolsa procurando provavelmente pelo remédio.
– Nem todos os comprimidos podem ser ingeridos com leite, Charlotte. Não sei como você consegue ser tão desatenta tendo um pai como Peter – ri sentindo meu corpo relaxar.
– Eu só tomo com leite – rebateu com teimosia e sem um pingo de divertimento. TPM. Só podia ser.
– Eu vou buscar.
Saí da sala pensando no quanto eu precisaria ser cuidadoso naquela noite. Era melhor não brincar quando Charlotte estava aborrecida, piorava quando ela estava de TPM. Quando voltei, ela segurava o comprimido em uma das mãos e permanecia de olhos fechados, com a cabeça apoiada no sofá.
– Por que não descansa um pouco? – sugeri ao lhe entregar o copo com leite. Charlotte ingeriu o remédio imediatamente. – Quantos comprimidos engoliu?
– Dois.
– Dois? Meu Deus, Charlotte! Por que não entendo logo de uma vez que preciso fiscalizar os seus atos?
– Porque eu não tenho dois anos. Sei o que estou fazendo – olhei para ela percebendo o quanto aquela situação a aborrecia.
– É sempre assim? – Charlotte me lançou um olhar fulminante. – Essa cólica, a dor, o mal-estar... Todos os meses você passa por isso?
– Oh, sim. E agora ainda terei que conviver com a angústia de tomar uma injeção todos os meses bem nesta época – mais uma vez me peguei pensando sobre o que ela estava falando, até que entendi, e gostei. Mordi o lábio, sentando-me ao seu lado. Segurei os pés de Charlotte para retirar suas sapatilhas.
– O que está fazendo?
– Cuidando de você – fiz com que ela deitasse e seus pés estivessem sobre meus joelhos. Charlotte me encarava com os olhos bem abertos, como se eu estivesse fazendo algo de errado.
– Não está aborrecido?
– Por quê?
– Porque eu fiquei menstruada – ri baixinho.
– Não. Só fico preocupado com esta reação todos os meses.
– Não se preocupe. Normalmente eu tomo remédios e durmo durante quase três dias inteiros.
– Que péssimo, Charlotte! Por que não faz algo a respeito?
– Porque até então eu não podia tomar anticoncepcional. Meu pai morreria do coração só de imaginar.
– Que absurdo!
– E eu nunca fiquei muito à vontade na presença de uma agulha.
– Não precisa ser assim. Existem outros métodos. Um DIU, um implante, por exemplo.
– Implante?
– Nunca ouviu falar? – massageei seus pés com carinho. – Bom, é um implante na parte interna do braço, aqui – levantei o braço mostrando o bíceps, ela sorriu de leve. Sempre Charlotte! – Um dispositivo pequeno e fininho que coloca embaixo da pele e que dispara a quantidade certa de hormônio para te proteger de engravidar e não permite que a mulher menstrue por até dois anos.
– Que sonho! – voltei a massagear os pés dela. – Mas se eu tiver que perder essa massagem todos os meses, prefiro arriscar a sentir dor – beijei seus pés e levantei.
– Eu tinha escolhido um lombo para o jantar, nas circunstâncias atuais acho melhor trocarmos por uma sopa, o que acha? – Charlotte fez cara de desagrado.
– Não quero comer.
– Mas precisa e a sopa é a melhor pedida.
Saí para trocar os pratos, deixando-a no sofá. Vasculhei o congelador encontrando uma sopa de abóbora com carne seca que era perfeita. Coloquei o lombo de volta e liguei o micro-ondas para aquecer o jantar.
Voltei para sala e encontrei Charlotte quase adormecida. Linda, apesar da palidez. A calça jeans colada ao corpo me fez imaginar se não estaria apertando o seu corpo a ponto de aumentar a cólica.
– Alex? – ela me pegou de surpresa observando o seu corpo.
– Não prefere tirá-la? – Charlotte fez cara de surpresa, sem acreditar em minha proposta. – Não está apertando?
– Não – sua voz fraca entregava o quanto aquela pergunta mexeu com ela. – Pelo contrário. Eu me sinto mais... – desviou o olhar, um leve rubor alcançando sua face e me deixando maravilhado – ... segura.
– Segura? – ri sem graça. – Segura em relação a mim?
– Não! – o rubor se intensificou. – Em relação a mim – ela se movimentou para sentar, mas desistiu e se acomodou no sofá.
– E o que você pode temer?
– Deus, Alex! Não vê que é um assunto constrangedor? – não entendi o que ela dizia. – Céus! – Charlotte cobriu o rosto com um braço. – Tenho medo que o absorvente não seja suficiente para conter o fluxo, caso a calcinha não consiga mantê-lo no lugar, então as roupas mais justas ajudam um pouco.
– Ah! – foi a minha vez de ficar sem graça. – Não gosta de absorventes internos?
– Jesus Cristo! Você é mesmo bem entendido dessas coisas, não? – ela me encarou com reprovação. Dei de ombros.
– Vou olhar a sopa – saí da sala voltando à cozinha no momento em que ouvi o apito do micro-ondas.
Retirei a vasilha, despejei o líquido, ainda gelado, na panela e levei ao fogo, mexendo aos poucos para não grudar no fundo. Enquanto cuidava do jantar, tentei ouvir qualquer movimento na sala, mas o silêncio era soberano. Charlotte com certeza estava sonolenta e poderia facilmente ter pegado no sono.
Servi dois pratos, coloquei-os em uma bandeja grande, acrescentei dois copos com água, uma pequena vasilha com torradas e equilibrei tudo até a sala. Charlotte estava com os olhos fechados, os abriu lentamente quando me ouviu chegar. Coloquei a bandeja sobre a mesinha, enquanto ela sentava no sofá.
– É abóbora?
– Sim. Gosta?
– Gosto – ajustou os óculos. – Estou mesmo sem fome, Alex.
– Tome pelo menos um pouco. O calor vai ajudar com a cólica.
Ela me lançou um olhar estranho, como se eu tivesse falando algo indevido. Mesmo assim, estendeu um guardanapo nos joelhos e segurou o seu prato, levando uma colher à boca. Fiz o mesmo observando tudo o que ela fazia.
– Eu estava aqui pensando... – começou e eu não consegui conter o girar dos meus olhos.
– Eu deveria imaginar – ri e ela outra vez ficou de cara fechada. – Fale, amor. – Charlotte engoliu um pouco mais da sopa, e desviou o olhar.
– Isso é um problema para você? – eu me perguntei se o vermelho em seu rosto era por causa da quentura da sopa ou do que ela estava pensando.
– Isso o quê?
– A mulher estar... – brincou com a colher no prato. – Você sabe... quando a mulher está menstruada... você...
– Se eu me importo em transar? – o vermelho se expandiu até suas orelhas. Sorri largamente. – Nunca aconteceu. Normalmente eu respeito o momento. As mulheres se sentem incomodadas, então esta é uma experiência que eu ainda não tive.
Ela me observava sem se mover um centímetro. Seus olhos não deixaram os meus, e sua boca estava levemente aberta. Quando terminei de falar, ela engoliu com dificuldade e voltou a brincar com a colher.
– E você...
– Charlotte, eu... – pensei no que poderia dizer a ela sem aborrecê-la ainda mais. – Eu nunca pensei no assunto, mas, para ser sincero, não consigo enxergar uma situação em que eu não queira transar com você. Imagino que com você neste estado não seja nada confortável, se não fosse a dor... sei lá. Talvez se estivéssemos no banho – ela mordeu levemente o lábio inferior, o que reverberou em minha virilha. – Não que eu me importe com a cama – um sorrisinho brincou em seus lábios. – E você só pensa em sexo, meu Deus! – Charlotte riu. Foi a primeira vez naquela noite e significou muito para mim. – Eu transaria com você até mesmo se estivesse em coma.
– Porra! – ela gargalhou e eu ganhei a noite. – Seu doente!
– Você é a minha doença – ela continuou rindo e voltou a tomar a sopa, desta vez com mais vontade.
– Como aprendeu tanto sobre essas coisas? – ela mudou o tom de voz, voltando a ficar mais dura. – São muitos detalhes para uma pessoa que não menstrua.
Olhei fixamente para a minha noiva. Eu não estava disposto a perder aquela noite e uma briga não poderia ter espaço entre nós dois.
– Andei pesquisando – continuei com o olhar fixo no dela. Charlotte estreitou os olhos, sem acreditar. – Você começou a usar anticoncepcional então achei que poderia ajudar me informando sobre o assunto – ela continuou não acreditando. – E ter uma irmã caçula ajuda um pouco – ela riu balançando a cabeça e colocou o prato quase vazio sobre a mesa, depois voltou a se deitar.
– Você é um grande mentiroso, Alex – suspirou fechando os olhos. A voz ainda era divertida e com um leve tom de cansaço.
– É. Às vezes, eu sou. Mas só um pouquinho – fui cauteloso. Ela ficou em silêncio por tempo demais. Quase acreditei que estava dormindo quando ela suspirou forte e falou.
– Alex? – a voz carregada de sono me surpreendeu.
– Sim.
– Eu não queria que você mentisse. Nunca.
Fiquei gelado. O que eu poderia dizer?
– Mentir é algo relativo, Charlotte – mantive a voz baixa. – Às vezes, é por uma causa nobre, outras é por necessidade e pode também ser essencial – ouvi sua respiração baixa. Coloquei o prato sobre a mesa e me aproximei dela. Charlotte dormia.
Encostei-me no sofá e fiquei incontáveis minutos pensando no quanto aquela mentira poderia me prejudicar. Era a segunda vez que ela me dizia que não queria que eu mentisse. Eu mentia? Não. Eu queria aquele casamento tanto quanto os pais dela. Era por amor e este motivo deveria ser o único a contar.
Voltei a olhar para Charlotte. Eu não queria acordá-la, nem deixá-la aquela noite, por isso tomei a decisão. Peguei o celular e liguei para Peter, que atendeu no segundo toque.
– Alex, aconteceu alguma coisa?
– Não – levantei me afastando para não acordá-la. – Na verdade, estou ligando para avisar que Charlotte pegou no sono. Eu poderia colocá-la no carro e levá-la para casa, mas prefiro deixá-la dormir – ele ficou em silêncio, depois soltou o ar com força.
– Você sabe que eu tenho vontade de socá-lo todas as vezes que me faz uma proposta como esta, não sabe? – recuei me afastando do telefone e olhando para o visor.
– Bom, ajudaria se eu te dissesse que ela apagou porque precisou tomar um remédio forte para cólica? Cólica menstrual – acrescentei rapidamente.
“Eles vão se casar em alguns dias, Peter!”
A voz de Mary chegou aos meus ouvidos, o que facilitava um pouco as coisas.
– Hum! – ele pareceu pensar no assunto. – Não é o que eu gostaria, neste caso, vou abrir uma exceção tendo conhecimento de como é este período para Charlotte, eu estou de acordo, mas quero minha filha em casa amanhã cedo.
– Pode deixar, Peter. Boa noite.
– Boa noite.
Ele desligou deixando-me surpreso. Voltei à sala, levei os pratos de volta para a cozinha, deixando tudo na máquina de lavar pratos e voltei para pegar minha noiva nos braços e levá-la ao nosso quarto.
Enquanto subia os degraus no escuro, peguei-me pensando no quanto estar ali com ela me agradava, mesmo que não fosse para fins sexuais.
CAPÍTULO 28
“Se ele é tolo ao amar o olhar dela. Ao amá-lo, eu caí numa esparrela. Às coisas vis, que não têm qualidade. O amor empresta forma e dignidade. Porque não vê com os olhos nem com a mente. Cupido é alado e cego, à nossa frente. Amor não tem nem gosto nem razão, asas sem olhos dão sofreguidão. Se cupido é criança, a causa é certa...”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Encontrei o pequeno pacote na poltrona que ficava ao lado da cama. Quando acordei nem imaginei onde estava, o que tinha acontecido. Precisei me mover na cama espaçosa para perceber que estava sem a calça, o sutiã e os sapatos, usava apenas a camiseta que havia escolhido para o jantar com Alex.
O incômodo logo me lembrou do motivo para que eu não tivesse lembranças do que aconteceu depois do jantar, e a sensação molhada me fez ter vontade de tomar banho o quanto antes.
Foi por isso que o pacotinho chamou tanto a minha atenção. Levantei, certificando-me de que a cama continuava incólume, caminhei até o embrulho onde havia um cartão escrito “Charlotte”. Peguei-o e desfiz o laço. Dentro da caixa havia uma calcinha, bege, relativamente grande, com aparência de confortável e adequada. Sorri largamente.
“Acredito que esteja sentindo falta da calcinha da sua avó.” Estava escrito no cartão de dentro. Alex era incrível!
Minha bolsa estava no mesmo local, então procurei o pacote de absorventes que eu havia colocado lá quando saí de casa e fui para o banheiro. Era delicioso poder me sentir limpa e pronta para o mundo.
Após o banho desci as escadas, sem ouvir qualquer indício da presença do meu noivo pela casa. Fui até a cozinha, onde encontrei outro cartão, sobre a bancada. “Tem suco na geladeira e bolo. Os pães e as cápsulas de café estão no armário. Espero que consiga achar tudo. Fui surfar. Te amo! Alex”. Lindo! Dava para ser menos apaixonante?
Abri a geladeira e retirei de lá a jarra de suco de laranja e o bolo. Escolhi o sabor do café e preparei a cafeteira. Sentei no balcão, reli o bilhete enquanto comia o bolo delicioso de milho, depois desfrutei de uma xícara fervente de café forte. Eu estava pronta para qualquer batalha.
Foi quando Alex chegou. Ele entrou sem a prancha, a roupa colada ao corpo e molhada indicava que ele realmente esteve surfando. Levava uma caixa nas mãos que parecia ter sido entregue pelos correios. Deixou a sandália ao lado da porta e me procurou com os olhos, encontrando-me sentada em um dos bancos altos, no balcão da cozinha.
Alex sorriu. Não um sorriso qualquer. Foi aquele sacana, cheio de promessas e expectativas, aquele que roubava despudoradamente todo o meu raciocínio, a minha decência. Era aquele sorriso que me despia sem sequer me tocar e me deixava úmida sem precisar de uma palavra.
E então, sentindo meu útero se contrair em espasmos nada agradáveis, dei-me conta de que nenhuma daquelas promessas poderia ser concretizada e, por alguns segundos, odiei a natureza feminina. Era tão desnecessário menstruar quando se tinha um noivo, futuro marido, lindo, dono de um corpo perfeito e totalmente disposto a realizar todas as suas fantasias sexuais!
Talvez eu pensasse mais seriamente sobre o implante.
Ele caminhou na minha direção, o corpo felino com movimentos decididos, transpirando sensualidade, a pele molhada e, com certeza, salgada, os músculos tonificados pelo esforço do surf, os olhos azuis que me sugavam para um mundo só nosso, o sorriso perfeito, safado, descarado, esticado para um dos lados do seu rosto... Menstruação, como eu te odeio!
– Bom dia! – inclinou-se beijando meus lábios e depois meu pescoço. Porra!
– Bom dia!
– Chegou isso para você – deixou a caixa sobre o balcão.
– Para mim? – Alex manteve o sorriso, deu a volta buscando por um copo ao lado da pia e voltou para se servir de suco de laranja. – O que poderia chegar na sua casa para mim?
– É só abrir, amor – sentou-se e me observou. Dei de ombros e comecei a abrir a caixa.
Ela era amarela, típica dos correios e constava o nome de uma empresa que eu não consegui identificar. Dentro dela um saco preto, sem nenhuma identificação. Olhei para Alex, que bebia o seu suco e me observava com divertimento.
– O que será? – ele riu baixinho.
– Pelo visto nunca viu nada parecido, não é mesmo?
Tentei entender o motivo daquele comentário, pois ele estava se divertindo enquanto eu não fazia ideia do que se tratava. Forcei o saco preto. Era forte e resistente, difícil de rasgar.
– Vou precisar de ajuda.
– Um minuto – ele levantou, abriu uma gaveta, retirou de lá uma tesoura e a colocou sobre o balcão. Depois me olhou, sugerindo que eu desse continuidade ao processo.
Retirei o saco de dentro da caixa. Ele era grande e relativamente pesado. Testei o meu tato, tentando identificar o que havia dentro dele. Eram vários objetos. Alex riu outra vez, o que me deixou irritada. Peguei a tesoura e abri pela ponta. Alex me assustou tamborilando no balcão como se estive rufando os tambores para acentuar a expectativa.
Revirei os olhos e meti a mão no saco para pegar qualquer um dos objetos que estava lá dentro e o que retirei de lá me deixou tão constrangida que senti a pele do meu rosto queimando.
– Isso é... – Alex riu alto e eu não tive coragem de olhá-lo nos olhos.
Bom... em minhas mãos estava uma embalagem quase anatômica, contendo o que parecia ser um pênis, só que moderno e rosa, sem contar que a inclinação não era muito adequada, além do pequeno gancho do lado. Rapidamente me lembrei da tarde em que Alex me fez escolher produtos em um site de artigos para adultos, e lembrei exatamente da sua sugestão sobre eu ter um vibrador.
Porra, eu tinha em mãos um vibrador. Um que foi escolhido pelo meu noivo, sugerido por ele e que além de me deixar ainda mais envergonhada, conseguia me deixar excitada.
– Uma pena não ser o período adequado – ele disse como se estivesse me falando sobre as ondas do mar naquela manhã. Engoli em seco. – Eu realmente gosto quando você cora deste jeito, Charlotte. Isso me leva a pensar se você está se recriminado ou fantasiando. Eu aposto no fantasiando.
– Você me conhece muito bem – falei baixinho, deixando um sorriso inocente se estender em meus lábios. Alex ficou sério e, por Deus, suas pupilas começaram a se dilatar. – Refresque a minha memória, professor – mantendo os cílios baixos, consegui olhar para ele, afastando a minha timidez. – Eu devo usar este acessório sozinha ou o senhor vai querer me ensinar?
Ele respirou fundo, afastou a cadeira e levantou-se, contornando o balcão. Alex me abraçou pelas costas, a pele quente dos braços aquecendo a minha. Seus lábios foram para o meu pescoço.
– Faço questão de te guiar, Charlotte – sussurrou rouco em minha orelha. – Vamos ver o que temos aqui.
Ele enfiou a mão no saco e retirou de lá um saquinho com um objeto de borracha, de um azul forte, em formato oval e com um furo no meio. Parecia um anel. Um anel peniano.
– Você vai gostar disso. Esta parte aqui de cima vibra, bem aqui – sua mão foi para o meio da minha perna, pressionando o meu centro de prazer.
– Alex! – gemi um misto de susto e desejo.
– E esta parte aqui vai fazer pressão bem aqui.
Porra! A outra mão de Alex se enfiou por baixo da cadeira, cercando-se da minha bunda e pressionando bem no meio, lá, naquele lugar tão proibido. Porra, um milhão de vezes. Sim, eu ainda lembrava do quase beijo, e de tudo o que eu senti apenas com a insinuação de que poderia acontecer.
Para piorar a minha situação, ele pressionou os dois dedos, nos dois pontos. Mesmo por cima do absorvente eu senti o que aqueles dois lugares estimulados ao mesmo tempo poderia fazer com o meu equilíbrio mental.
Então suas mãos deixaram meu corpo, não sem que Alex fizesse questão de se aproximar ainda mais, deixando seu sexo duro se esfregar em minha bunda, apenas para atiçar a minha imaginação. Eu nem vi quando ele retirou uma caixa de dentro do saco, apenas notei o seu gemido.
– Hum! Isso aqui eu realmente estava ansioso para experimentar.
Reconheci o vibrador que ele havia insistido para comprarmos, afirmando que estimularia nós dois ao mesmo tempo durante o ato sexual. O objeto me deixou insegura. Se eu era mesmo apertada como Alex afirmava todas as vezes que se enfiava em mim, como caberia aquilo e o seu... o seu membro, de uma vez só?
– Vai ser gostoso, amor – beijou meu ombro, segurando minha barriga para puxar-me ainda mais de encontro ao seu pau. – Pena que este vai esperar até depois do casamento.
– Como assim? – ele riu, abafando o som em minha pele.
– O melhor vem depois. Deixa eu ver o que mais temos aqui – ele pegou o saco e o virou de encontro ao balcão, deixando mais algumas caixinhas caírem. – Isso! Esse aqui também vai ser muito bem-vindo.
– O que é isso?
Peguei a embalagem da mão dele e virei a caixinha para todos os lados tentando entender. Era uma circunferência, parecendo-se com o anel peniano e que me fez deduzir que ele ficaria realmente no sexo do meu noivo, só não entendi por que acoplado a ele tinha um pênis de borracha, pequeno, um pouco longo, e fino.
– Pelo que tenho percebido este acessório vai ser interessante – outra vez sua mão me puxou de encontro ao seu sexo e seus lábios alcançaram meu pescoço. Mordi o lábio.
– Para que serve isso? Eu não consigo... – revirei a caixa outra vez na mão tentando encontrar o ângulo certo.
– É assim – ele abriu retirando o objeto lá de dentro. – Aqui – indicou o buraco –, eu entro.
– Você entra? E isso aqui? – segurei o pequeno pênis percebendo como ele era maleável.
– Isso... entra em você.
Puta merda!
– Em... mim? – minha voz quase não saiu.
– Sim.
– Co-co-como? – ele riu retirando meu cabelo do ombro.
– Eu estarei aqui em você – outra vez desceu a mão até o meio da minha perna. – E ao mesmo tempo ele vai...
– Ai, meu Deus!
– Você vai gostar – abraçou-me com força. – E eu também.
– Puta merda, Alex!
– Você vai gostar, amor!
– Eu sei – puxei o ar com força. – Eu sei.
– Então?
– Eu só quero entender... isso...
– Hum? – começou a deixar um rastro de beijos em meus ombros, pescoço, e tudo em mim acendeu.
– Alex?
– Diga, amor.
– Isso aqui vai entrar em meu... em minha... – ele riu.
– Vai.
– Enquanto você vai estar em minha...
– Exatamente.
– E a ideia é?
– Te proporcionar mais prazer.
– Apenas isso?
– Te deixar mais à vontade com a situação.
– Ah!
– Te mostrar que não tem por que temer. Que vai ser bom.
– Oh, droga!
Gemi sem saber se de medo ou de ansiedade. Claro que a ideia me atraía, afinal de contas, eu já tinha tido algumas demonstrações e em todas tive a certeza de que não recusaria um pedido dele. No entanto, pensar no assunto sem estar no ato de fato, era muito mais aterrorizante.
Porra, aquilo devia doer, ser desconfortável... sei lá! Deveria ser um monte de coisas, e mesmo assim, eu sabia que não conseguiria me negar.
– Deixa acontecer. Na hora, você decide.
– Você fala assim porque sabe que quando está com as mãos em mim, trabalhando junto com os lábios, em completa harmonia com a língua e todos eles juntos estão em perfeita sincronia com seu pau, eu não consigo ter um pensamento coerente.
Alex gargalhou.
– Vou tomar um banho e sair em vinte minutos. Você precisa voltar para casa ou seu pai me mata antes do casamento.
– Meu pai. Merda! O que você falou para ele? Merda!
– Eu falei que você se sentiu mal com cólica menstrual e acabou apagando por causa do remédio – foi inevitável sorrir. Meu pai conhecia o meu estado quando eu menstruava e saber que ele conhecia o fato me ajudaria a entrar em casa sem precisar responder a um questionário.
– Perfeito! Bom, vou andando – levantei-me afastando-me de Alex para não me sentir mais tentada.
– Vejo você à noite? – ele diminuiu a distância entre nós dois, atordoando-me.
– Hum! Claro! Vamos passar mais uma noite em que eu apago no sofá.
– Falta pouco agora.
– Nove dias – seu olhar se tornou tão intenso que me hipnotizou.
– Nove extensos dias – seus dedos longos tocaram meu rosto esquentando minha pele como fogo. Então ele se curvou e me beijou.
Ah, Deus! Eu adorava os beijos de Alex. Eram tão quentes, saborosos, apaixonados, intensos... e tudo aquilo era o que Alex era e ponto final.
Senti que estava perdendo a batalha contra o equilíbrio, quando minhas mãos agarraram a camisa úmida e colada ao corpo, subiram explorando cada músculo bem talhado, quando minhas pernas diminuíram a distância entre nós dois e fazendo meu corpo colar ao dele, aprofundando o beijo.
Santo Deus, o que eu não daria para estar na cama daquele homem naquele momento, sendo amada por ele?
– É melhor não nos empolgarmos, Charlotte – ele disse se afastando e mantendo a um braço de distância.
– Merda! – Alex riu.
– Uma grande merda!
ALEX
– Não!
Abri a porta da sala procurando Simone, mas ela não estava, então deixei a papelada sobre a mesa com um bilhete avisando para entregar ao pessoal da diagramação. Voltei para a sala encontrando um João Pedro ansioso.
– Lana vai matar você – avisei antes de voltar a sentar para conferir o arquivo que tinha acabado de receber.
– Lana não precisa saber dos detalhes. Só se você for muito filho da puta para contar.
– Você é um filho da puta por estar me fazendo esta proposta. Lana é minha irmã.
– Todos os homens merecem uma despedida de solteiro, Alex. Você está todo relutante porque só tem poucos dias com a menina. Vou esperar passar dez anos para ouvir a sua lamentação por ter recusado uma última trepada com estilo.
– Por que você é tão idiota? Aliás, como conseguiu me convencer a deixá-lo casar-se com a minha irmã? – Desisti do arquivo. João não me deixaria trabalhar mesmo.
– Porra, Alex! Só você vai foder nesta noite. Quer dizer, Patrício agora é solteiro e tal... mas eu prometo que não vou encostar um dedo em nenhuma das garotas. Juro! Se isso acontecer pode contar para a Lana.
– João, se eu vou estar trepando, quem vai ficar de olho em você? – ele me encarou sem saber o que responder, depois riu.
– Sabe o que está acontecendo? Você está dominado. Sua recusa é nada menos do que medo. Está morrendo de medo que Charlotte descubra e te abandone. Você é um cretino, Alex!
Ri. João era muito sem noção. Completamente sem noção.
– Existem dois pontos neste problema, João: primeiro, eu realmente não penso em transar com nenhuma outra mulher – ele ia protestar e eu o impedi. – Por mais gostosa que ela seja e, mesmo sendo apenas para fazer uma farra de despedida, uma última trepada antes do casamento. Não! Eu não quero nenhuma outra mulher. É uma pena perceber que para você funciona de forma diferente. Segundo, sim, eu estou com medo de Charlotte. Na sua despedida você quase surtou quando a garota sentou nua em seu colo e Patrício tirou uma foto.
– Patrício é um filho da puta de último escalão. Porra, ele ameaçou contar a Lana. Ele me mostrou a merda da foto no altar. Sabe o que é isso? Tem noção de como eu fiquei?
– Tenho. Eu estava lá para ver você quase se cagar todo no altar de tanto medo – comecei a rir lembrando-me daquele dia.
Claro que Patrício nunca mostraria a foto a Lana, por dois motivos: ele havia organizado a despedida de solteiro de João Pedro e, apesar de ter prometido que seriam somente alguns amigos, muita bebida e nada de mulheres, conseguiu fazer com que várias garotas que conhecia, todas lindas, é bem verdade, estivessem presentes. Aquela noite foi uma loucura, e era exatamente por isso que eu não podia permitir que o mesmo acontecesse comigo. Até hoje ninguém conseguiu descobrir se João transou ou não com a garota, de tão bêbados que ficamos.
Eu só sei que acordei nu, com três garotas nuas ao meu lado, e João agarrado às costas de uma delas, completamente desprovido de roupas. Um pouco mais distante estava Patrício, da forma como veio ao mundo, sentado na poltrona com duas garotas dormindo sentadas no chão e as cabeças nas pernas dele.
O motivo para isso era que Patrício preferia que João comesse qualquer outra garota a Lana. Pelo menos não antes do casamento. E como nossa irmã casaria virgem, ele ofereceu uma última noite de farra ao homem que se comprometeria a ter apenas a nossa irmã pelo resto da vida.
Eu não precisava de uma despedida de solteiro.
– Vamos lá, Alex! Ninguém precisa saber o que vamos fazer. Podemos dizer que vamos apenas nos reunir e beber. O local que fomos daquela vez seria perfeito. Ninguém descobriria.
– Não vou passar meus últimos momentos de solteiro na cama com uma puta, João. Charlotte não merece isso.
– Tudo bem então, nada de putas. Quem precisa de putas quando existem várias gostosas loucas para tirarem a roupa para você, hum? Vamos a um bar, usamos a técnica de sempre e depois terminamos em um hotel discreto, em uma farra particular.
– Eu tenho quase certeza de que comi a sua bunda na sua despedida de solteiro.
– Vá de foder! – ri e ele ficou irritado.
Eu e Patrício nos aproveitamos da amnésia do nosso amigo durante muito tempo, fazendo piadas sobre a virgindade anal dele, e de lembranças que fingíamos ter. João normalmente ficava desesperado, apesar de fingir saber que brincávamos.
– Não combinem nada, está legal? Nada! Não quero uma despedida de solteiro e, conhecendo Charlotte como conheço, isso vai virar um inferno se ela descobrir.
– Ok, idiota! Mas fique logo sabendo que Lana já fechou com um “clube das mulheres”. Ela vai oferecer a despedida de solteira da sua noiva, e eu espero mesmo que Charlotte encontre um dançarino bem-dotado em quem ela possa colocar uma nota de cem reais.
– Lana o quê?
CHARLOTTE
Era muito ruim ficar menstruada, piorava quando vinha acompanhada por cólicas, e fica ainda pior quando eu precisava sair de casa. Dois dias depois de ter passado a noite na casa de Alex, eu ainda penava com a minha situação. O fluxo havia diminuído, as dores não eram tão degradantes, no entanto o incômodo continuava.
Eu precisei passar na faculdade para confirmar as minhas notas e dar entrada no pedido do diploma. Miranda só poderia ir pela tarde, como eu tinha mais uma prova do vestido de noiva, precisei fazer pela manhã.
Naquele dia, em especial, eu estava muito irritada. Não apenas por estar menstruada, ou por ainda sofrer com as cólicas, nem mesmo por este fato me impedir de ter qualquer momento mais íntimo com o meu noivo, ou por não conseguir nenhuma hora livre do meu dia que não fosse para resolver coisas do casamento ou da formatura. Eu estava especialmente irritada por meu carro ter se recusado a pegar naquela manhã.
Tudo bem que ele era velho e que já vinha apresentando problemas há algum tempo, mas eu não o deixava se acabar, fazia de tudo para mantê-lo funcionando, cuidando das revisões, trocando sempre as peças por originais, mesmo quando eram absurdamente caras por serem difíceis de se encontrar. Não havia motivo para ele ter me deixado na mão.
– Eu não entendo como você prefere andar por aí com essa lata velha quando eu já lhe presenteei duas vezes com carros novos, muito mais adequados à sua posição – meu pai falou quando precisei lhe pedir carona.
Revirei os olhos segurando a língua para não fazer o meu discurso habitual. Ele não entendia.
De fato, quando eu fiz dezoito anos, fui presenteada com um carro lindo, que deixou Miranda e Johnny boquiabertos, mas eu já tinha metade do dinheiro para comprar meu carro e não queria ceder a mais aquela investida do meu pai. Então o carro ficou na garagem até que ele se irritasse e o vendesse.
Quando fiz vinte anos, ele tentou a mesma abordagem. E o resultado foi o mesmo. Há quase dois anos ele não trazia de volta o assunto, o que era um grande alívio para mim.
– Graças ao meu carro velho eu nunca fui assaltada nem sofri uma tentativa de sequestro – ele riu.
– Com certeza, não é graças ao seu carro velho.
E a antiga desconfiança de que eu era seguida por seguranças veio à tona. Um saco! Além de me deixar apreensiva, afinal de contas, eu havia me encontrado com Alex diversas vezes para aulas nada decorosas. Céus!
E foi com este pensamento que ele me deixou em frente à faculdade. Eu ainda precisaria ligar para Johnny e pedir para ele me buscar.
Fui até a secretaria para solicitar o diploma, o que levou quase uma hora do meu dia, por causa da uma nota que ainda não estava no sistema. Aguardava pacientemente quando encontrei quem menos desejava: a professora Anita.
Com seus saltos absurdamente altos, uma calça jeans colada ao corpo deixando-o escultural, e uma camisa que nada condizia com a sua posição profissional, já que era de costas nuas e deixava os seios, siliconados, com toda certeza, soltos no tecido pendurado a frente.
Uma vaca!
– Rafaela, avise, por favor, a Susana que estou com todas as notas liberadas no sistema – ela me olhou rapidamente, virou em direção à secretária e se voltou para mim com cara de desgosto. – Charlotte Middleton!
– Como vai, Anita?
– Pensei que não a veria mais por aqui.
– Ainda faltam algumas burocracias antes da formatura.
– Isso se você se formar, não é? – como assim? O que ela queria dizer com aquilo?
– Seria impossível isso acontecer, já que as minhas notas são magníficas – estremeci com o sorriso diabólico que ela me lançou. Anita se aproximou de mim.
– Alex não te contou? O conselho está avaliando a sua situação. Você sabe, um envolvimento entre aluna e professor não pode ser ignorado – respirei fundo sem saber como reagir.
– O conselho não pode me reprovar. As minhas notas...
– Alex aprovou o seu projeto, quer dizer... antes de passar a responsabilidade para João Pedro, o que pode ser facilmente comprovado. Sem contar que por serem cunhados, a atitude do professor João torna-se suspeita. Os dois tinham interesse em aprová-la.
– O conselho vai ler o meu projeto e perceber que em nada fui favorecida por Alex ou qualquer outro professor.
– Será? – ela sorriu outra vez e se afastou.
Vaca, invejosa, maldita, mal-amada, puta siliconada dos infernos!
Afastei-me sem querer continuar no mesmo ambiente que aquela vadia, sem pensar duas vezes, peguei o celular e liguei para Alex.
– Oi! – sua voz não estava muito boa, provavelmente seria um dia cheio para ele também.
– Oi! Você nem vai acreditar no que aquela maluca da Anita me disse – Alex suspirou.
– Um minuto, Charlotte – ouvi barulhos do outro lado, passos e som de porta batendo. Arrependi-me imediatamente de ter ligado para enchê-lo logo cedo com os meus problemas. – Pronto, pode falar.
– Deixa para lá! Estou esperando concluir o meu pedido para o diploma, aqui na faculdade.
– O que aconteceu?
– Nada demais. Outra hora eu te conto. Acredita que meu carro quebrou? Johnny disse que só vai conseguir acompanhar o conserto amanhã.
– E como você foi para a faculdade?
– Meu pai me deu uma carona e provavelmente Johnny vem me buscar.
– Eu vou te buscar. Preciso mesmo conversar com você.
– Mas não vai te atrapalhar?
– Não – foi categórico.
O que havia acontecido? Alex não estava diferente do habitual. Ele não foi grosseiro, de maneira alguma! Mas foi frio e estranho. Algo estava muito errado.
– Tudo bem. Eu preciso pegar um trabalho na sala com o professor e depois disso acredito que estarei livre.
– Quanto tempo?
– Quarenta minutos, eu acho.
– Vejo você em breve.
– Ok!
Ele desligou sem dizer mais nada. Nada, nem um “eu te amo”, nem “beijo”, nada!
Com um suspiro me voltei para a secretaria, percebendo que Anita não estava mais ali. A secretária me aguardava com um papel na mão. Aproximei-me, notando o seu olhar que indicava que ela estava sem jeito para me falar o que quer que fosse.
– Tudo resolvido?
– Ah, Charlotte. Eu recebi uma ordem para te passasse este documento. É um pedido provisório, até que resolvam sobre o seu projeto.
– O meu projeto já foi aprovado!
– Desculpe, querida! Esta foi a ordem que recebi.
Merda! Mas ela nada poderia fazer. Eu tinha apenas que agendar um encontro com o reitor, exigir os meus direitos e tudo estaria resolvido. Puta que pariu! Mais e mais problemas.
– Posso solicitar um horário com o reitor? – ela me olhou surpresa e piscou muitas vezes.
– Sim, claro. Um instante.
Resolvido temporariamente o problema com o meu projeto, subi as escadas para encontrar a turma que receberia de volta o trabalho final com as observações do professor. Eu já esperava pelo que encontraria, por isso não demorei nem quinze minutos para me despedir da turma e do professor, levando comigo a nota máxima que apenas comprovava a minha capacidade.
Eu esfregaria na cara daquela Anita a minha aprovação. Faria ela, a vaca siliconada, comer o meu diploma.
Desci as escadas apressadamente, ciente de que ainda faltava muito para Alex chegar, contudo, já que sofreria uma avaliação acadêmica a respeito da minha capacidade como aluna, manter meu relacionamento em segredo, mesmo que temporariamente, poderia ser uma boa forma de me defender.
Além disso, eu precisava comprar uma Coca-Cola, o que ocuparia o meu tempo ocioso. Parei na lanchonete, fiz o meu pedido, aproveitando para conferir minhas mensagens, quando fui abordada outra vez.
– Charlotte!
A voz do Henrique quase me fez revirar os olhos. Por que ele sempre precisava demonstrar tanto entusiasmo quando me via? Será que aquele encanto nunca passaria? Que ele nunca desistiria?
– Oi, Henrique! Matando a saudade da faculdade? – peguei a Coca e comecei a me retirar do local sem a menor intenção de que ele me seguisse.
– Vim dar entrada em meu diploma, e você?
Droga!
– Vim fazer a mesma coisa. Eu tenho que ir agora...
– Já sabe o que vai fazer daqui para frente?
Ele continuou me acompanhando sem perceber que eu não tinha a menor vontade de tê-lo como companhia. Até porque Alex chegaria a qualquer momento e seria uma situação bastante embaraçosa.
– Não quero pensar nisso agora.
Eu já tinha muito no que pensar: casamento; me formar... ou não; se sim, baile de formatura; lua de mel... lua de mel, céus!
– Eu vou fazer uma especialização. Ficarei quatro meses em Chicago.
– Chicago? Que fantástico! Bom, neste caso...
– Por isso andei pensando em...
Paramos no estacionamento próximo à entrada da faculdade e a despedida seria inevitável. Não que eu quisesse me livrar do coitado, apesar de desejar que ele fosse logo embora. Henrique era uma boa pessoa, meio atrapalhado, isso lhe dava até um charme à parte. O problema era Alex, o seu ciúme e a bobagem de pensar que ele não era adequado para mim.
– Henrique, eu tenho mesmo que ir. Meu pai vai aparecer a qualquer momento para me buscar e...
– Desculpe, Charlotte, não temos mais muito tempo e eu não vejo como fazer isso de outra forma.
– O que...
Ele simplesmente avançou sobre mim e me beijou. Henrique me beijou com tanto ímpeto que eu não tive reação a não ser paralisar. Senti minhas costas se chocando contra um carro e o corpo do meu colega me imprensar, forçando o beijo.
Puta que pariu!
Com as mãos empurrei Henrique o máximo que pude, porém, meu corpo não correspondia adequadamente. Quanto tentei avisá-lo de que eu não queria aquele beijo, sua língua entrou em minha boca tornando tudo mais íntimo. Porra! Fechei os olhos e empurrei Henrique com toda a minha força. Foi quando ele se afastou.
Demorei poucos segundos para entender que o seu afastamento súbito não foi por causa da minha força arrasadora e sim a de Alex. Puta que pariu um milhão de vezes! A cena toda parecia coisa de filme de Hollywood. Alex segurando Henrique pela camisa e chocando-o contra o carro, os olhos arregalados do meu colega que não tinha ainda entendido o que estava acontecendo, olhares curiosos em nossa direção e...
Caralho!
Alex viu aquele beijo. Ele viu o Henrique me beijando e como a minha sorte do dia não me ajudaria de forma alguma, com certeza meu noivo devia ter imaginado que eu estava correspondendo. Ah, ele acreditaria nisso. Que merda!
– Alex! Alex!
Meu noivo socaria Henrique até que não restasse mais nada do garoto. Em seu olhar havia apenas fúria e até eu fiquei com medo de me aproximar.
– Alex, pelo amor de Deus! Está todo mundo olhando. Não bata nele. Pelo amor de Deus!
Minhas súplicas surtiram efeito, pois meu professor largou Henrique, claro que não de forma gentil. Ele simplesmente empurrou o garoto com toda força contra o carro e se afastou apenas o suficiente para evitar os olhares curiosos. Contudo sua postura felina permaneceu e ele encarava meu colega com uma fúria assassina.
– O que estava fazendo, seu idiota?
– Professor Frankli, eu... – Henrique olhava para mim e olhava para Alex sem entender por que ele agia assim. Senti meu rosto esquentar à medida que a acusação surgia em seus olhos.
– Alex, Henrique não sabia... – meu noivo me olhou com tanta raiva que me fez recuar. – Ele não sabia.
– Vai defendê-lo? Vai tentar me convencer de que tudo não passou de um engano. Que esse nerd filho de uma puta não estava te beijando? – gritou fazendo-me estremecer.
– Ele estava me beijando – pensei que conseguiria amenizar a situação se encarasse os fatos de frente, mas a fúria de Alex apenas aumentou. Mais uma vez ele agarrou Henrique pela camisa fazendo-me ficar entre eles para conseguir separá-los.
– Sai do caminho, Charlotte – ameaçou sem se importar com a pequena plateia.
– Professor Frankli, eu não estou entendendo – Henrique, coitado, estava tão assustado que parecia querer chorar.
– Não está entendendo o quê, seu filho de uma puta?
– Alex, não...
– Então eu vou acabar com você para que aprenda a não sair por aí beijando a mulher dos outros – ele realmente socaria Henrique, graças a Deus Johnny conseguiu segurar sua mão a tempo.
– Vamos acalmar os ânimos por aqui – ele afastou Alex conseguindo o seu objetivo com alguma dificuldade.
– Eu vou matar este babaca – Alex rosnou, mas se deixou levar.
– Ninguém vai matar ninguém hoje, professor – Johnny enfatizou o “professor” para que Alex entendesse a situação.
Meu noivo se soltou e, com passos rápidos, afastou-se para que toda aquela loucura não provocasse danos maiores.
– Charlotte – Henrique me chamou e Alex me olhou reprovando.
– Desculpe, Henrique!
Caminhei até o meu noivo, sentindo todo o peso da sua acusação em cima de mim. Eu não tinha culpa, mas Alex não sabia disso e até conseguir dissipar toda aquela raiva e fazê-lo entender como tudo aconteceu, eu teria muito trabalho.
– Entre no carro.
O tom baixo, ameaçador e completamente raivoso deixava claro que não seria fácil. Mesmo assim, obedeci. O que mais eu poderia fazer? Precisava explicar a Alex o que realmente aconteceu, e, para tanto, eu teria que primeiro vencer a tempestade.
CAPÍTULO 29
“O amor é suspiros e lágrimas... fé e fervidão... fantasia, paixões e desejos; adoração, aceitação e reverência; pureza, aflição e obediência.”
William Shakespeare
ALEX
Eu não conseguia pensar em mais nada. O simples ato de dirigir estava no automático, e eu nem fazia ideia de para onde estávamos indo. Tantas coisas se passavam em minha cabeça, a porra da despedida de solteira, o filho da... aquela merda de beijo que eu tive o desprazer de presenciar. Uma veia pulsava em minha cabeça fazendo tudo doer.
Mesmo assim minhas mãos estavam fixas no volante e meu pé se afundava cada vez mais no acelerador. Aquela menina, a maldita garota que fez meu mundo virar uma loucura, permanecia calada. Eu podia sentir seus olhos em mim, pelo canto dos meus podia ver suas mãos presas ao banco, o medo da velocidade e do que eu poderia fazer com nós dois.
E eu poderia matá-la. Sim, eu poderia matar Charlotte Middleton. Poderia enforcá-la até que não restasse nem mais um pingo de vida em seu corpo. A mínima ideia me deixava alarmado. A maldita tinha me dominado a tal ponto que eu não conseguia conceber uma vida sem olhá-la, sem senti-la, sem tocá-la.
Porra!
– Alex?
– Fique calada, Charlotte, pelo amor de Deus!
Eu não queria a sua voz de sereia me cercando, dominando meus pensamentos e atitudes. Eu queria a raiva que estava sentindo para poder extravasá-la quando chegasse a hora.
– Mas, Alex...
– Porra, Charlotte, fique calada!
Tinha certeza de que minhas palavras a assustariam. Que meu tom de voz conseguiria feri-la tanto quanto aquele beijo dos infernos havia me ferido.
– Mas...
Freei o carro imediatamente me dando conta da distância que tínhamos percorrido. A estrada vazia me favoreceu, já que uma parada tão brusca resultaria em um desastre. Charlotte gritou e segurou no painel com força. Sua respiração acelerada chegou aos meus ouvidos.
– Você quer falar? Então comece me explicando o motivo de ter beijado aquele garoto.
– Eu não beijei o Henrique, ele me beijou – o olhar que lancei a ela deixava claro que não funcionaria. – Alex, o Henrique não sabia que nós dois estávamos juntos.
– E por isso você o beijou.
– Não!
– Meu Deus, Charlotte! Tem ideia da vontade que eu estou de te matar?
– Vou fingir que não ouvi isso
– Pois não deveria – Charlotte se remexeu inconformada.
– Não vou deixar que me intimide com ameaças, Alex. Eu entendo a sua raiva, entendo a sua dúvida, aconteceria o mesmo se fosse eu a encontrá-lo beijando outra mulher.
– Não tente me dizer que não é o que eu estou pensando.
– Mas não é o que você está pensando. Lembra no seu aniversário quando eu cheguei e encontrei Tiffany saindo da sua casa? Eu vi quando ela te beijou, lembra disso?
Recuei. Eu lembrava daquele inferno que passei para tentar convencê-la de que não foi nada do que ela tinha visto. Pelo menos não para mim.
– Henrique sempre demonstrou interesse por mim, e você sabe. Porém eu nunca dei esperanças, nunca alimentei nenhum sentimento. Foi inesperado. Ele surgiu e me acompanhou, como sempre fez, e quando eu comecei a me esquivar, justamente para evitar este encontro, ele me agarrou.
– E você retribuiu.
– Não! Eu jamais beijaria o Henrique – estreitei os olhos para aquela afirmação. – Jamais beijaria qualquer outro homem, satisfeito? Se você não estivesse tão furioso, teria visto que eu tentava impedi-lo. Eu estava empurrando ele.
– Merda, Charlotte! – joguei a cabeça para trás, fechei os olhos e cobri o rosto com as mãos. – Eu vi – comecei com raiva. – A língua daquele desgraçado na sua boca – era impossível falar sobre o assunto sem parecer uma fera.
– Deus! – ela suspirou se encostando também e deixando as mãos sobre o colo. – O que eu posso te dizer?
– Quanto mais tenta dizer alguma coisa, mais aumenta a minha raiva – revelei cansado demais para continuar brigando.
– E o que quer que eu faça? Eu não tive como evitar, fui pega de surpresa, não esperava que o Henrique tivesse tamanha ousadia...
– Você sempre arranja um jeito de foder com a minha cabeça.
Charlotte arfou. Ela não esperava que a minha fúria fosse capaz de atingi-la tão profundamente. Para mim era inevitável. Foram tantos problemas, tantos medos, tantas dúvidas, que me controlar estava fora de cogitação. Eu estava ofendido, magoado, humilhado, mesmo sabendo, lá no fundo, que ela não tinha beijado o Henrique. Pelo menos não de livre e espontânea vontade.
O que eu esperava menos ainda foi a reação dela. De olhos fechados não vi quando Charlotte abriu a porta do carro e saiu.
– Charlotte?
Ela caminhou pela estrada vazia, sem olhar para trás. Os passos decididos revelavam que eu tinha ido longe demais e que ela não voltaria a entrar no carro. Eu não poderia deixá-la ali sozinha. Estávamos longe demais de casa e a probabilidade de Charlotte arrumar mais problemas chegava a ser maior do que a de qualquer outro ser humano na face da Terra.
Liguei o carro manobrando para tirá-lo do meio da estrada. Ela continuou andando, sem se dar ao trabalho de olhar para trás. Desci e corri até ela.
– Quer parar de me causar mais problemas? – gritei antes de alcançá-la. – Entre no carro, Charlotte!
– Graças a Deus você percebeu a tempo – ela riu sem vontade. A voz esganiçada de quem segurava o choro. – Não vamos precisar de todo o processo cansativo e desgastante do divórcio.
– Do que você está falando?
– Não quero mais foder a sua cabeça, Alex. Foi um erro! Já passamos por isso antes, então já sabemos que não vai funcionar.
– Você arruma o problema e agora quer se fazer de vítima? – estourei.
– Eu não arrumei um problema, aquele imbecil me agarrou e me beijou. Se você não quer entender isso, não é mais problema meu. Aprenda a conviver com a ideia.
Porra! Por que ela tinha que ser tão cabeça-dura?
– Eu estou puto da vida, Charlotte! Você nem imagina o que é descobrir por um amigo que você concordou com uma despedida de solteira em uma casa onde homens tiram a roupa e depois, quando chega para tentar conversar sobre o assunto, encontrar a noiva beijando outro cara.
– Eu passei por isso, esqueceu?
– Não. Como também não esqueci o quanto você me massacrou aquela noite. Nem o quanto me cobrou no dia seguinte. Não foi fácil para você, então não é fácil para mim também.
– Pelo visto você resolveu se vingar me ofendendo. Deixando claro o quanto eu sou ruim para você. Olha, Alex, ainda dá tempo. Vamos terminar tudo por aqui. Você com certeza vai encontrar alguma mulher que não lhe cause problemas. Que não precise te tirar do trabalho no meio do expediente, para provocá-lo beijando um colega que ela já poderia ter beijado há muito tempo, mas que nunca teve vontade de fazer.
– Você está louca? Nós vamos nos casar em oito dias.
– Já vi casamentos acabarem no altar – ela me deu as costas e continuou andando. Senti uma fúria capaz de destruir o mundo. Segurei Charlotte pelo braço disposto a fazê-la engolir cada palavra.
– Eu não sou um idiota, Charlotte Middleton, para aceitar que você termine comigo quando o erro é todo seu e depois me dê as costas como se a nossa história não tivesse valor nenhum.
– Pelo visto não tem, já que você está se agarrando ao que não foi verdade para justificar toda a sua raiva.
– Porque você está sempre arrumando uma forma de me enlouquecer! – gritei. Charlotte se debateu para se livrar de minhas mãos.
– Vá se foder, Alex Frankli!
– O quê?
O que aquela fedelha estava me dizendo? Como ela podia agir de forma tão infantil, tão desrespeitosa? Como ela podia falar daquela maneira comigo?
– Vá. Se. Foder! – repetiu com raiva.
– Eu vou te mostrar o que acontece com garotinhas da boca suja, como você – meus dedos se fecharam em seus braços com mais força do que pretendia.
– O que vai fazer? Vai me colocar no colo e me dar umas palmadas? – ela sorriu em desafio tomada pela mesma raiva que eu.
– Seria mais do que justo.
– E eu te jogaria na cadeia, professor – cuspiu as palavras, como se eu fosse realmente capaz de lhe fazer algum mal.
Encarei Charlotte por um tempo. O que estava acontecendo? Onde acabaríamos com aquilo tudo? Eu não fazia a menor ideia, só tinha uma certeza: havíamos passado de todos os limites.
Com este pensamento larguei os braços de Charlotte, que imediatamente deixou as lágrimas caírem. Ela as enxugou com raiva, provavelmente se recriminando por chorar. Afastei-me o suficiente para me conter. Não valia a pena continuar brigando.
– Vou levá-la para casa.
– Não preciso de você – dei um passo em sua direção e ela recuou assustada.
– Não me provoque mais, Charlotte, ou eu juro por tudo que é sagrado que vou preferir passar alguns dias na cadeia, pois vou te amarrar e jogar na mala, mas vou te entregar a seu pai, seja esta a sua vontade ou não.
– Você não faria isso – e havia mais medo do que desafio em sua voz.
– Tente me dar as costas novamente – ameacei.
Ela me olhou com raiva e, de queixo em pé, caminhou até o carro. Não me dei ao trabalho de ser educado, abrindo a porta para que ela pudesse entrar. Não. A minha raiva ainda estava forte, então apenas parei aguardando que ela entrasse e, assim que o fez, entrei e dei partida.
Nada mais conversamos.
CHARLOTTE
Alex não voltou a falar comigo durante o caminho de casa. Nem para me comunicar se havíamos realmente terminado ou não. Ficou tudo suspenso no ar. E já fazia mais de vinte e quatro horas desde que tudo aconteceu.
Nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nenhum recado enviado pela irmã. Nada. Ele simplesmente desapareceu.
Eu sei que não era o melhor momento para ser orgulhosa, mas eu fui. Passei cada segundo conferindo o celular para saber se ele se redimiria e sofri amargamente todas as vezes que confirmei a sua indiferença.
Não tive coragem de comentar com ninguém sobre o ocorrido. Lógico que Johnny contou a Miranda sobre a briga e eu menti que estava tudo bem. Eu simplesmente não queria admitir que acabou, que Alex aceitou a minha ideia de que era melhor terminar antes de casar, assim teríamos menos trabalho.
Então menti. Menti para não precisar passar pela prova do vestido e encarar Lana, usei como justificativa a cólica, que nem existia mais. Menti para não precisar encontrar Dana na escolha dos doces que seriam servidos, incumbi minha mãe desta missão. Menti para Miranda, fingindo estar em um surto literário, o que me mantinha a maior parte do tempo trancada no quarto. E menti para meu pai, mas deste eu fugi o máximo que pude, pois bastaria me olhar para saber que não estava tudo bem.
Foi no fim do dia que chegou a mensagem. No primeiro instante, não acreditei. A mensagem dizia: “Precisamos conversar. Desça, estou te aguardando no fim da rua”. Meu coração acelerou e meu olhos ficaram úmidos. Alex tinha finalmente rompido com aquela distância. Logo em seguida, meu cérebro me mostrou que não estava tudo bem.
Primeiro: a mensagem era um convite para conversarmos, o que não queria dizer que ele estava disposto a esquecer aquela briga terrível e dar continuidade ao nosso relacionamento. Lógico que eu não esperava que ele chegasse todo amoroso, com saudade e disposto a esquecer, porém, pensar que a conversa poderia ser um ponto final me deixou arrasada.
Segundo: ele não foi até o meu apartamento, o que demonstrava que não queria encontrar meus pais nem meus amigos. Ele me esperava no fim da rua, um lugar onde poderia me dizer o que pensava e ir embora sem precisar se justificar com ninguém.
Era o fim.
Merda!
Sentei em minha cama sentindo o corpo todo tremer. Realmente havíamos passado do limite com aquela briga. Onde eu estava com a cabeça? Por que não fiquei calada e apenas tentei explicar que foi tudo um mal-entendido? Por que eu tinha que desafiá-lo e levá-lo ao limite?
Não me controlei e chorei. Era melhor que eu chorasse no quarto do que na frente dele. Pelo menos eu teria um pouco de dignidade naquele fim de relacionamento.
Troquei de roupa, lavei o rosto, constatando a vermelhidão na ponta do nariz e nos olhos, preferi deixar os cabelos soltos, assim disfarçaria a minha cara de choro, peguei o celular, a chave de casa e saí tão silenciosamente que ninguém notou.
– Boa tarde, Srta. Charlotte – Vitor me abordou na entrada do prédio. – Quer que mande buscar o seu carro?
– Boa tarde, Vitor. Não. Meu carro está na oficina – ele fez uma cara de quem lamentava.
– Deseja um táxi?
– Não. Eu vou caminhar um pouco – ele me avaliou, certo de que algo estava errado.
– Não é perigoso, senhorita? O Rio anda impraticável ultimamente.
– Não vou muito longe. Pode ficar tranquilo. Obrigada!
Desci a rua sentindo que a cada passo eu ficava mais covarde. Não estava pronta para aquela conversa e não queria chorar na frente de Alex, como se ele fosse o responsável pelo nosso fracasso.
O carro dele estava estacionado logo depois do semáforo, quase virando a outra rua. Alex estava do lado de fora, com roupas de trabalho. Mantinha o paletó e a gravata, o que me deixava ainda mais apreensiva. Não seria uma conversa demorada.
Assim que me viu, afastou-se do carro e tirou as mãos dos bolsos. Os óculos escuros me impediam de saber como ele reagia à minha presença, o que me colocava na defensiva. Desacelerei meus passos pensando se não seria melhor correr e voltar para casa. Droga! Eu não queria que acabasse.
– Oi! – ele disse educadamente. Tive que pigarrear para conseguir fazer a voz sair.
– Oi – não consegui colocar nenhuma emoção na voz.
Ele ficou calado e parecia estar me avaliando, o que era impossível de confirmar com aqueles óculos escuros. Abaixei a cabeça e aguardei pelo que viria.
– Desculpe demorar tanto para te procurar – ele se encostou outra vez no carro e voltou a colocar as mãos nos bolsos. – Lana me disse que você não estava cumprindo seus compromissos, que alegou não estar se sentindo bem.
Mordi o lábio sem saber o que responder. O que eu poderia dizer? Que deixei as pessoas acreditarem que o casamento aconteceria? Que eu não tinha pensado bem quando sugeri o fim do relacionamento?
– Ainda com cólica? – neguei com a cabeça e ele umedeceu o lábio inferior. Nossa! Por que eu conseguia pensar naqueles lábios quando o cara estava ali pronto para me dar um fora? – Você está bem? – outra vez não soube como responder, então dei de ombros.
Alex passou a mão pelos cabelos, retirou os óculos escuros e me encarou. Acanhada e perdida sobre o que dizer ou fazer, arrumei meus óculos e depois alisei meu cabelo colocando todo o volume sobre um ombro.
– Está legal, Charlotte! Vamos ter esta conversa logo de uma vez – puxou o ar com força ao mesmo passo que eu sentia as lágrimas se formarem. Merda! Eu não queria chorar! – Você tem alguma coisa para me dizer?
Durante um segundo nossos olhos se encontraram. Alex estava ansioso, como se estar ali comigo fosse um sacrifício. Meu coração afundou imediatamente e, sem conseguir me controlar, chorei. E me odiei por chorar.
– Deus, Charlotte!
Ele disse desarmado e me puxou para os seus braços. Não consegui abraçá-lo. Não consegui falar, nem fazer nada. Apenas chorei toda a tristeza e angústia que aquelas horas de apreensão tinham me custado. Eu apenas chorei.
Seus dedos adentraram meus cabelos, acariciando meu couro cabeludo. Chorei ainda mais e já não sabia mais o motivo do meu choro. Eram tantos!
– Ei, calma! – ele sussurrou, as palavras se perdendo no barulho do trânsito.
– Eu não beijei o Henrique – eu me vi falando, a voz fanhosa, o nariz entupido e as lágrimas me sufocando. – Não beijei – minhas mãos se fecharam com força na camisa dele.
– Tudo bem, Charlotte – ele disse com cuidado.
– Não! Não está tudo bem! Você pensou que eu estava beijando o idiota do Henrique e simplesmente falou um monte de merda. Eu também falei, porque estava com raiva e magoada, mas eu não queria... eu não queria que chegasse a este ponto.
– Eu sei – Alex continuava calmo, seus dedos massageando minha cabeça e a voz cheia de resignação.
– E agora eu estou perdendo você e não sei o que fazer, porque também falei tanta merda que você tem todo o direito de ir embora – ele riu baixinho e me abraçou com força.
– Senti falta desta sua mente confusa – brincou levantando meu rosto para me olhar. – Senti falta de você.
Deus! E quanta falta eu senti dele! Aqueles olhos intensos me deixaram rendida. Alex retirou meus óculos e limpou minhas lágrimas com devoção.
– Me perdoe por ontem – ele falou com um sorriso sem graça. – Eu não sei o que me deu. Eu fiquei tão puto que... – respirou fundo e acariciou meu rosto. – Perco a cabeça com você, Charlotte. Senti tanto ódio quando vi aquele... nerd te beijando.
– Você não deveria falar dos nerds com tanto desprezo – funguei sem nenhuma educação. – Eles estão na moda.
– Ah, cala a boca, Charlotte! – rosnou com raiva e me puxou em direção aos seus lábios.
Havia muito naquele beijo. Saudade, amor, raiva, posse, mágoa... O salgado das lágrimas se misturava com o doce dos nossos lábios. Minha mão se afundou em seus cabelos, fechando os dedos na textura macia dos seus fios prendendo sua boca na minha para recepcionar a sua língua. A outra acariciou seu peitoral, apossando-se daquele corpo que era só meu. Nossos corpos se colaram instintivamente, o fogo percorrendo cada centímetro nosso.
Alex gemeu espalmando suas mãos em minhas costas e me puxando pela cintura, para que não restasse mais nenhum espaço entre nós dois. Senti suas palmas quentes escorrendo pelas laterais do meu corpo, alcançando a barra do meu vestido e se aventurando em minhas coxas. Outro gemido dele e eu sabia que a umidade no centro entre as minhas pernas não era apenas pelo meu período menstrual.
– Que saudade de você!
Ronronou em meus lábios, escorrendo-os pelo meu rosto até alcançar meu pescoço. As mãos subiram outra vez para a minha cintura e o tecido fino do vestido me permitia sentir o seu calor.
– Prometa que não vamos mais brigar – implorei e ele riu.
– No que se refere a você, Charlotte, esta é uma missão impossível – fiz muxoxo e ele riu um pouco mais. – Eu não quero brigar. Não sou de brigas, mas você realmente parece ter alguma coisa que ativa isso em mim.
– O que não é nada bom – resmunguei. Não era um elogio saber que ele ficava com tanta raiva a ponto de agir de forma tão irracional.
– Vai ficar tudo bem – ele ficou sério, como se minhas palavras o levassem a entender o quão ruim era aquela situação. – Nós vamos encontrar um equilíbrio – encostei em seu peito, deixando-o me abraçar.
– Ainda está menstruada? – fiz que sim com a cabeça, sem coragem para encará-lo. Eu não devia, mas fiquei envergonhada. Alex estalou a língua e me prendeu em seus braços com força.
– Então vamos subir e jantar.
– Hum!
– Eu também, amor – ri sentindo meu mundo voltar ao eixo.
ALEX
E mais uma vez Charlotte Middleton conseguiu me desarmar.
Eu fiquei tão rendido que, em pouco tempo, toda a mágoa e tristeza desapareceram, dando lugar à saudade miserável que eu sentia dela. E como eu senti!
Estacionei na vaga livre do seu apartamento, já que seu carro estava na oficina, e subimos como um casal apaixonado. Mais até do que isso. Eu estava ávido por aquela menina.
– Para, Alex! As câmeras – ela me alertou quando, embalado pelo beijo, subi minhas mãos em suas coxas roliças.
– Vamos alegrar a noite do pessoal – provoquei aprofundando o nosso beijo, só não me atrevi a continuar com a mão boba. Charlotte riu, corando significativamente.
– Seu bobo!
– É o que você faz de mim – ela passou as mãos em meus cabelos, uma segurou a franja que já descia atrapalhando a minha visão, e a outra parou em meu pescoço. Charlotte me olhou com um amor profundo e sólido.
– Amo seus olhos –encarou-me. – São lindos!
Fiquei sem palavras para aquela demonstração tão clara de amor. Meus olhos chamavam atenção, e eu não era mais nenhum menino para fingir não saber disso, no entanto havia algo a mais na forma como Charlotte falou, como se ela me venerasse.
O tempo inteiro acreditei que aquele amor velado, aquela devoção, pertencia apenas a mim. Que eu lhe tinha uma adoração que me faria permanecer a seu lado independentemente dos pecados que aquela menina fosse capaz de cometer. E então ela estava ali, olhando-me com simplicidade, com carinho, e com um amor tão puro que me impediu de articular qualquer palavra.
A porta do elevador abriu e nossa bolha foi rompida.
– Eu amo você, menina – sussurrei beijando mais uma vez seus lábios. – Vamos!
Assim que entramos, demos de cara com Peter e Mary na sala. Eles estavam sentados, uma música romântica tocava ao fundo, e, pela posição que estavam, percebi que ali estava um casal de apaixonados. Olhei para Charlotte ciente de que aquela era a forma como as pessoas nos viam, e sorri.
– Alex! Charlotte, não a vi saindo – Peter se levantou para apertar a minha mão.
– Mary – beijei a mão da minha futura sogra.
– Fui buscar Alex lá embaixo – Charlotte respondeu baixinho, mantendo os olhos baixos.
– Esteve chorando? – Peter se aproximou levantando o rosto da filha. – Sim, você estava chorando. O que houve? – a pergunta foi feita diretamente para mim.
– Eu não estava...
– Ela estava chorando, sim – interrompi Charlotte antes que ela inventasse uma mentira absurda. Qualquer idiota saberia que aquele nariz e olhos vermelhos não poderiam ser por outro motivo.
– Filha, o que houve? – Charlotte me olhou receosa do que poderia contar.
– Eu estive muito ocupado ontem e hoje e Charlotte pensou que eu estava desistindo do casamento – abracei minha noiva, rindo e beijando o alto da sua cabeça. Senti seus dedos se fechando em meus braços.
– Que bobagem – Peter riu afagando as costas da filha.
– Foi o que eu disse a ela.
– Oh, filha! Por que não me procurou? Eu conseguiria tirar esta ideia da sua cabeça em dois tempos – Mary brincou mimando Charlotte.
– E eu mandaria quebrar as duas pernas dele – minha noiva encarou o pai, surpresa com aquela afirmação. – Caso ele realmente tivesse desistido, claro!
– Pai! – Peter riu e me deu um tapinha no braço.
– Vai ficar para o jantar?
– Vou sim.
– Eu vou avisar a Odete que temos mais um à mesa – Mary se levantou, e, como a incrível dama que era, assumiu as tarefas da sua casa.
– O que quer beber? Vinho, uísque...
– Nada. Trabalhei muito, estou casado, misturar bebida e desgaste não vai me ajudar a chegar em casa.
– Você está certo. Por falar em trabalho... tenho algumas coisas para resolver. Volto logo.
Peter saiu e a porta da casa se abriu, revelando uma Miranda desconfiada. Ela tentou ser silenciosa, e, assim que percebeu a nossa presença, ficou tão sem graça que me fez estranhar.
– Ah... oi!
– Você saiu? Que horas que eu não vi? – Charlotte a acusou sem nenhum receio.
– Eu fui dar uma volta, tomar uma água de coco em Copacabana – e era claro que ela mentia, mas por quê?
– Sozinha? – Charlotte continuou. Ela também desconfiava.
– Sim!
A resposta chegou alta demais e rápida demais, o que só me fez ter certeza de que Miranda estava mentindo. O que ela estava aprontando?
– Vou tomar um banho e já desço para o jantar.
– Você parece limpa demais para quem estava caminhando em Copacabana. E com esses saltos?
– Charlotte!
Apertei a cintura da minha noiva. Um pedido de trégua, pelo menos enquanto eu estivesse por ali. Era nítido que Miranda não queria que eu soubesse o que ela estava aprontando, e eu também não queria participar de nada a respeito daquela garota.
– Eu estava em um bar... climatizado. Vou tomar banho, com licença.
Miranda subiu rapidamente as escadas e Charlotte se afastou de mim enquanto analisava a amiga.
– Não é estranho?
– Não.
– Claro que é estranho – ela começou, mas eu não queria entrar naquela conversa.
– Eu queria conversar sobre outro assunto com você – segurei a mão da minha noiva e a levei até o sofá.
– O que eu fiz desta vez? – Ri.
– Nada. Você ainda não fez nada.
– Ainda?
– Exatamente – ela mordeu o lábio, apreensiva. – Eu não quero ter que dizer a Lana que não estou de acordo com o clube das mulheres – fui direto ao assunto.
– Ah!
– Também não quero te forçar a nada. A ideia de uma despedida de solteira não me deixa confortável. A imagem do Henrique te beijando ainda é um pesadelo para mim, então não quero ter que povoar minha mente com outros rostos.
– Mas Lana estará lá.
Sim, e ela não acharia ruim a minha noiva colocar dinheiro na cueca de um monte de marmanjos, depois de eles terem se esfregado nelas e rebolado seus... acessórios, na sua frente.
– Eu disse a João que não queria uma despedida de solteiro. No máximo beber um pouco com ele e o Paty, quem sabe o Johnny, mas nada de mulheres, dançarinas, prostitutas... – deixei a sugestão no ar e vi o rosto de Charlotte mudar de tom.
– Ele quer contratar dançarinas? Prostitutas? – concordei sem nada dizer e suas feições endureceram. – Lana, sabe disso?
– Bom... para todo caso eu estarei lá, e o Patrício também.
– E você quer isso? – Charlotte levantou o queixo em desafio. Sorri acariciando seu rosto.
– Não. Prefiro ficar com você – beijei seu rosto. – Mas se você vai sair para se divertir com as meninas, que mal há em eu aceitar a oferta do meu amigo?
– Ai! – Charlotte acertou um tapa em meu braço. Ri da sua cara de brava. – O que foi que conversamos sobre equilíbrio, menina? Você não pode me bater todas as vezes que ficar nervosa – provoquei e recebi outro tapa no braço.
– Eu vou contar a Lana sobre a brilhante ideia do João Pedro. Quero só ver a cara dele depois que ela pegar ele de jeito.
– Ele sabe dos planos dela, então eu acredito que ela também saiba dos dele. Quer dizer... talvez não exatamente de tudo o que ele planeja para a nossa noite – recebi outro tapa.
– Não terá “nossa noite”, Alex Frankli – ameaçou e eu a agarrei com força fazendo-a sentar em meu colo.
– Pare de me bater, menina levada – acertei um tapa em sua bunda e Charlotte soltou um gritinho.
– Alex!
– Se bater outra vez vai levar um bem mais forte – passei minha mão por dentro do vestido e acariciei o local do tapa.
– Puta merda! – Charlotte gemeu baixinho e fechou os olhos.
– Vem cá!
Colei nossos lábios em um beijo cheio de luxúria. Eu queria muito mais do que alisar aquela bunda deliciosa, ou senti-la sentada sobre o meu pau duro e ter ciência de que apenas alguns pedaços de pano nos separavam. Porra, depois de uma briga como a nossa, de horas infernais em que eu questionei tudo o que vivi até ali, meu único desejo era me afundar em sua bocetinha até ela gritar meu nome. Mostrando para o mundo a quem pertencia.
Porra, era isso o que eu queria!
Charlotte lentamente rebolou em meu colo, sentindo e testando a minha ereção. Apertei sua bunda com força, fazendo-a parar.
– Se continuar rebolando assim, vamos ter um sério problema em explicar a Peter a imensa mancha em minha calça – seu sorrisinho infantil e inocente era apenas mais um estímulo.
– Mais um dia e essa tortura acaba – sussurrou saindo do meu colo.
– Coloca tortura nisso – reclamei, sentindo o aperto em minha virilha.
– Vou conversar com Lana. Acho que não precisamos de uma despedida de solteira.
– Boa menina – acariciei seu rosto e arrumei seu cabelo atrás da orelha.
– Você também não vai ter uma despedida de solteiro – desafiou-me.
– Vou ter sim, senhora – provoquei. Charlotte levantou a mão para me acertar um tapa, mas desistiu com um sorriso travesso. – Eu estava ansioso por este tapa, Charlotte.
– Eu sei, por isso vou guardá-lo para outro momento – piscou, fazendo uma parte de mim corresponder diretamente. Era realmente uma grande tortura. – Então... nada de despedida de solteiro, professor Frankli.
– Eu vou ter uma memorável – ela me olhou com indignação. – Com você – beijei seu pescoço. – Nossa última trepada de solteiros – sussurrei em seus lábios, deixando uma Charlotte deliciosamente desarmada.
CAPÍTULO 30
“Os botões fragrantes às vezes dão abrigo a lagartas; o amor devorador, de igual maneira, demora nos espíritos sublimes.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Faltavam cinco dias para o casamento e não havia mais nada que eu tivesse que fazer que não fosse experimentar o vestido dois dias antes, quando finalmente partiríamos para o rancho.
Alex havia prometido que teríamos a nossa despedida de solteiro, porém não marcou nada, nem deu a entender que aconteceria em breve, e nós tínhamos somente cinco dias para ter nossa última trepada de solteiros.
Lana não gostou muito da ideia de desistirmos do clube das mulheres, mas aceitou cancelar o evento tão logo soube que João Pedro pretendia dar alguns “presentes” a Alex. Canceladas as duas despedidas, minha futura cunhada marcou um jantar em sua casa, uma coisa íntima, para poucos, para “celebrarmos o amor”. Eu sabia que Johnny e Miranda foram convidados, com um acréscimo de qualquer garota que meu amigo quisesse levar e que, com certeza, Patrício estaria presente, e quem mais? Seria uma situação um pouco constrangedora.
Miranda se recusou a aceitar a carona do Alex, preferindo a do Johnny e de quem quer que fosse a sua acompanhante. Se é que ele teria a cara de pau de levar alguém. Alex me pegou antes do horário combinado, alegando que o meu endereço primeiro e depois a sua casa ajudaria a evitar um trânsito infernal.
Imaginei que ali começaria a nossa despedida. Eu me enganei.
– Vamos nos atrasar – resmungou ainda com as mãos dentro do meu vestido, acariciando minha bunda e confirmando a ausência de um absorvente. Seus lábios não deixavam meu colo, demorando-se em meu decote. – Você está tão cheirosa!
– Gostou? – eu estava tão quente que parecia estar com febre.
– Muito! Ficou ótimo em sua pele – levantou o rosto beijando meus lábios de leve.
– Em toda a sua extensão – sussurrei provocando-o.
– É? – Alex entendeu o meu recado. – Acho que vou precisar conferir de perto.
– Estou à sua inteira disposição.
– Charlotte! Eles estão nos esperando – mas ele não deixava de me alisar e beijar... que inferno!
– Você está me agarrando desde a hora em que saiu do banho, professor – passei minha mão em sua bunda e Alex riu.
– Eu mandei você me esperar lá embaixo, aluna. E esse vestido é provocante demais. Nunca mais deite em minha cama usando-o – mordeu meu pescoço.
– Então devo tirá-lo? – Alex gemeu, esfregando-se em mim e me deixando sentir a sua ereção.
– Não. Eu quero você com ele a noite toda – e se afastou indo em direção ao closet.
– Nós poderíamos aproveitar... – provoquei parando na porta do closet para observá-lo colocar a cueca, sem conseguir esconder a ereção fabulosa.
– E nós vamos aproveitar, amor. Teremos a noite inteirinha.
– Você acha mesmo que eu vou conseguir entrar naquele apartamento, conversar animadamente com todos, enquanto não penso em outra coisa que não seja ser comida pelo meu noivo? – Alex riu. – Isso é sacanagem.
– Não. Não é. Como diz João Pedro: sacanagem são duas minhocas de pau duro – ri daquele absurdo, quebrando todo o clima entre a gente. – E sacanagem é o que eu bem sei que você quer, Charlotte.
Alex se aproximou usando apenas a camisa social preta, ainda aberta, e a cueca branca. O peitoral exposto era de dar água na boca. Ele se encaixou em mim, prendendo-me à parede e me devorou com um beijo de tirar o fôlego. Suspendeu uma coxa minha e roçou em meu sexo sem nenhuma decência. Caralho!
– Eu quero fazer muitas sacanagens com você esta noite – rosnou ao me largar e procurar pela calça jeans.
Encostei na parede resignada. Eu conhecia aquele jogo. Alex me provocaria e me deixaria até que não restasse mais nada de mim além de desejo e um tesão avassalador. Aí, sim, eu faria qualquer coisa que ele me pedisse.
E foi exatamente o que aconteceu. Durantes muitos momentos, eu fui levada ao limite pelo meu noivo. Carícias infindáveis, provocações que atormentavam, uma necessidade que apenas crescia, prometendo estourar em um festival de luzes. Eu implorei, briguei, ameacei, fiz o que estava a meu alcance, mas Alex não cedeu, nem mesmo quando estávamos na reserva, em meio àquela escuridão da estrada e eu sugeri que ele parasse o carro.
Quando chegamos ao prédio de Lana, na Barra da Tijuca, eu já não tinha mais esperança. Qualquer coisa que fosse acontecer seria depois daquele jantar. E eu teria que sorrir, ser agradável e disfarçar a minha calcinha molhada incomodando o meu sexo.
Passamos pelo porteiro e Alex o cumprimentou, sem precisar ser anunciado. Entramos no elevador e o máximo que tive dele foram seus dedos brincando com as minhas costas, mesmo assim me senti quente outra vez. Suspirei resignada quando o elevador parou e Alex me arrastou para fora dele.
O som do apartamento nos alcançava do lado de fora. Muitas conversas, músicas e pessoas rindo. Provavelmente Lana convidou alguns amigos que eu nem fazia ideia de quem eram, o que me desanimou completamente.
– Por aqui – Alex me puxou para uma porta pesada de ferro, contendo a placa de saída de emergência e o aviso para mantê-la fechada.
– Mas... Alex... – ele colocou um dedo em meus lábios, calando-me.
– Aqui não tem câmera de segurança. Uma deliciosa falha deles.
O local estava escuro e silencioso. Era para ter medo, no entanto, involuntariamente senti meus músculos vaginais se contraírem com a expectativa. Porra, o que Alex estava fazendo comigo?
– Alex, alguém pode nos pegar aqui – mais uma vez ele me calou, desta vez com a própria boca.
Foi um beijo com direito a tudo, mãos, lábios, língua, corpo, roçadas... Alex tinha atingido o seu objetivo. Tinha me provocado e me deixado sem escapatória, atiçado-me a tal ponto que meu corpo passou a agir por vontade própria. Eu precisava de alívio, precisava dele e não importava se seria naquela escada escura ou em sua cama, eu o queria.
– Vamos começar aqui a nossa despedida de solteiro, amor. Eu vou me despedir de todas as loucuras que já fiz por tesão e você vai se despedir do medo de arriscar – sua mão foi para o meio das minhas pernas, acariciando meu sexo molhado. Gemi sem conseguir me conter.
– Alex!
– Ah, Charlotte! Eu queria você assim. Tão ávida por meu pau que vai fazer desta a rapidinha mais gostosa que já dei em toda a minha vida – ele sussurrava em um tom feroz, cheio de segurança e completamente excitado. – Vai ter que ser rápido, meu bem.
– Oh, Deus! Eu vou ser rápida – ele riu baixinho, afundando um dedo em mim. Mordi o lábio sufocando o gemido.
– Você vai, meu amor. Eu tenho certeza disso.
Sua mão subiu ao meu colo e puxou as alças do vestido até que meus seios estivessem de fora. Sem deixar de me masturbar com dedos hábeis, Alex apalpou e chupou meus seios com sofreguidão e eu pensei que gozaria assim, tamanha a minha necessidade.
Mas ele não queria que fosse desta forma. Alex se afastou apenas para libertar seu membro rígido, afastando as roupas minimamente e puxando a minha calcinha para o lado. Em um movimento rápido, ele se enfiou em mim, todo, de uma vez só, preenchendo-me com tanta propriedade que me fez morder o seu ombro para não gemer alto demais.
Ele também gemeu, parado dentro de mim, saboreando aqueles segundos mínimos do encontro entre as nossas carnes, recebendo o calor que emanava de mim e o envolvia totalmente. Suas mãos firmes seguraram minha bunda e levantaram minhas pernas, para que eu ficasse em sua cintura, as pernas abertas para recebê-lo sem demora.
E então Alex começou a se movimentar. Seu sexo tocava todos os meus pontos, preenchendo cada milímetro dentro de mim e me fazendo senti-lo por completo, grande, grosso e maravilhoso. Sim, aquele pênis era fabuloso, acariciando meu interior como se tivesse um mapa de cada ponto de prazer.
Ele se empurrava para o fundo, entrando e saindo em estocadas rápidas. Nossos gemidos podiam ser ouvidos, mas quem estava se importando? Eu me sentia alcançando as estrelas, recebendo-o entre as minhas pernas, sentindo os seus avanços enquanto sua boca beijava e chupava meus seios, distribuindo beijos quentes em meu torso, arrepiando toda a minha pele.
Podíamos ouvir também o som dos nossos corpos se chocando, das suas estocadas certeiras e rápidas, do meu sexo recebendo-o sem hesitar. Nossa! Eu podia ouvir o som do meu corpo correspondendo, do crepitar do fogo que se espalhava em minhas veias, do calor que corria tão rápido, acionando tudo dentro de mim e então...
– Oh, Alex!
– Assim. Assim, amor!
Sua voz urgente me levou ao delírio e eu gozei recepcionando um Alex entregue, que se espremia em mim com gemidos deliciosos, enquanto também gozava entre as minhas pernas.
Permanecemos assim, diminuindo o movimento, respirando com dificuldade, roçando um no outro de maneira a sentir cada espasmo ofertado, até que ele sentou em um degrau e me levou junto, sentada em seu colo com seu membro ainda dentro de mim.
Nossos olhos já estavam acostumados com a escuridão, então podíamos reconhecer nossos corpos, o meu parcialmente exposto, o rosto dele sustentando um sorriso sem tamanho. Nós nos encaramos e começamos a rir, beijando-nos e nos permitindo um pouco mais.
ALEX
Conseguimos sobreviver ao jantar.
Lana estava eufórica por poder reunir os amigos e havia explicado que faríamos uma cerimônia íntima, por isso preferimos nos reunir ali, como se estivéssemos celebrando o casamento.
Charlotte, apesar de não conhecer boa parte dos convidados, que eram poucos, não ficou tão retraída, como eu achei que ficaria, e, muitas vezes, participou de conversas animadas, sem precisar do apoio dos amigos, que estavam dispostos a salvá-la de qualquer situação mais embaraçosa.
Miranda e Patrício foram uma preocupação à parte. Meu irmão, às vezes, empolgava-se em uma ou outra conversa com uma de nossas amigas, aí bastava Miranda passar perto para que ele se ouriçasse e deixasse a conversa de lado. Da mesma forma acontecia com a melhor amiga da minha noiva. Miranda era uma morena bonita e ousada. Sabia o corpo que tinha e abusava dele, sem ser brega ou oferecida, pelo menos aparentemente. Muitos colegas nossos se interessaram por ela, cercando-a constantemente. Mas bastava um olhar mais duro do Paty para que ela desfizesse qualquer conversa mais animada.
Contudo, em nenhum instante, eles se aproximaram ou conversaram. Uma situação um tanto estranha, não?
No final da noite eu estava animado, ansioso para dar prosseguimento ao meu plano. Charlotte parecia cansada quando deixamos o apartamento da minha irmã, porém logo seu interesse em nossa noite se apresentou.
Estacionei o carro em minha garagem. Estava escuro, favorecendo meus planos. Charlotte pegou a bolsa e intencionou sair, lancei minha mão em sua coxa, pressionando-a com cuidado.
– Lembra quando demos uns amassos aqui no carro? – ela sorriu delicadamente, deixando o olhar cair, como sempre fazia. Deixei meus dedos vagarem adentrando suas coxas. – Lembra o quanto você queria que eu finalizasse tudo aqui mesmo.
– E você não fez – disse baixinho.
– Não. Mas posso fazer agora – afundei minha mão procurando a sua calcinha para retirá-la, e não a encontrei. – Charlotte...
– Precisei tirá-la, Alex. Eu estava mais do que constrangida com aquela calcinha completamente molhada.
– E achou melhor tirá-la e passar a noite com este vestido curto, sem calcinha? – meu sangue começou a ferver.
– Você gozou dentro de mim, ou seja, minha calcinha ficou inutilizável.
– Porra, Charlotte! – levei a mão ao rosto controlando a minha fúria. – E eu fiquei te puxando para todos os lados. Se eu soubesse... – ela riu, fazendo-me olhá-la sem acreditar que ela estava mesmo rindo.
– Deu tudo certo, Alex – Charlotte movimentou-se e sentou-se em meu colo. – Ninguém percebeu que eu estava sem a calcinha e agora ganhamos um bônus.
– Que bônus? – ela se abaixou e sussurrou em meu ouvido.
– Não vamos ter nada entre nós.
– Você é louca, menina!
Sim, ela era louca e realmente fodia com o meu juízo, porque naquele momento eu só conseguia pensar em abrir minha calça e fazê-la gritar de prazer.
– Não faça mais isso – rosnei forçando-a a me olhar.
– Prometo. Vou andar com uma calcinha reserva na bolsa – lentamente, beijou-me com safadeza. – Agora... – começou a abrir minha camisa – ... vamos fazer amor.
Rosnei sentindo meu pau vibrar. Beijei sua boca deixando minha língua se apossar daquela menina. Puxei seu vestido para baixo, libertando seus seios maravilhosos e imediatamente brinquei com eles em minhas mãos. Charlotte gemeu e rebolou em meu pau ainda dentro da calça, deixando-se ser acariciada.
Suas mãos afastaram o tecido da minha camisa e suas unhas roçaram meu peito. Porra, eu adorava aquilo! Segurei Charlotte pela cintura, descendo uma mão até a sua bunda, subindo a saia até que estivéssemos pele com pele. Apalpei sua carne puxando-a para que roçasse com mais firmeza em meu pau. Ela atendeu ao meu desejo, rebolando mais gostoso.
Senti suas mãos afoitas descerem até meu cinto, atrapalhando-se no processo. Não seria Charlotte se fosse diferente. Decidi ajudá-la. Sabe Deus os perigos que poderiam envolver Charlotte, uma braguilha e um pau duro.
Abri a calça deixando o trabalho mais fácil para ela. Abaixei um pouco o jeans, apenas para que a cueca aparecesse e para que tivéssemos mais liberdade de movimento. Ela acariciou meu pau enquanto eu beijava seus seios já durinhos. Eu queria que fosse uma foda rápida, aliás, era importante que fosse, afinal de contas estávamos dentro do carro, em uma área relativamente aberta, apesar de escuro, então, quanto antes terminássemos, mais seguros estaríamos.
Meu pau já estava melado, liberando um pré-gozo, estimulado pela fantasia e pela delícia que era ver Charlotte parcialmente vestida, pronta para me receber, disposta a qualquer coisa para conseguir aquele orgasmo.
– Coloque-me dentro de você – pedi sem deixar de estimulá-la.
Charlotte obedeceu, segurando meu pau sem qualquer resquício de inexperiência, levantou o corpo e me posicionou em sua entrada. Depois, fechando os olhos, começou a descer. Senti a cabeça do meu pau vencendo sua carne aos poucos. Ela se agarrou a mim, deixando-me de frente para seus seios, que foram devidamente atacados.
Seu sexo quente e apertado cedia ao meu corpo duro e ansioso, enquanto ela testava, subindo e descendo, rebolando lentamente para me receber por completo. Porra, se Charlotte havia se excitado com aquela porcaria de filme pornô, ficaria deslumbrada se pudesse assistir àquela cena da forma como eu podia assistir.
Ela era tão sensual, tão entregue! Perdia completamente a decência quando eu estava dentro dela. Charlotte simplesmente se permitia e desfrutava. E foi assim que ela conseguiu me colocar completamente para dentro, com um gemido de satisfação e orgulho que quase me fez gozar.
Eu estava no ponto. Prontinho para ela. Minha noiva recomeçou as reboladas, subindo e descendo, sugando-me com sua vagina úmida, que se arrastava em minha pele me dando o máximo de prazer, mas ela ainda não estava pronta e eu não queria cometer a gafe de gozar antes dela.
Pensando em acelerar as coisas, segurei sua bunda e fiz com que Charlotte se curvasse sobre mim. Esta posição faria com que seus movimentos fossem mais curtos e a fricção do seu clitóris aceleraria o processo. O que antes eram estocadas se transformou em roçadas com pequenas e rápidas penetradas, todas controladas por ela e completamente aprovadas por mim.
Mais uma vez nos beijamos e eu percebi que aquela posição realmente havia surtido o efeito desejado para a minha noiva, pois seus beijos se tornaram menos técnicos e ela passou a se deixar ser fodida pelos meus lábios. Eram coisas completamente diferentes. Uma coisa era beijar, juntar os lábios e deixar as línguas se encontrarem, outra era quando ela ficava tão entregue que simplesmente me sentia, seus lábios se demoravam mais nos meus, sem movimentos mecânicos, como se estivéssemos nos degustando, como se cada junção fosse a própria junção dos nossos sexos.
Os gemidos eram ainda mais intensos. Sem o medo de sermos descobertos ela se permitiu sentir, conduzindo-me, mostrando-me o que era bom e o que era maravilhoso para o seu corpo. Tal quando deixei meu dedo brincar em sua bunda. Charlotte foi acometida por um espasmo no instante em que meu dedo tocou o seu ânus.
Porra, eu confesso que fiquei por um fio! Só de imaginar tudo o que poderíamos fazer apenas com aquela possibilidade já me fazia não querer mais nada da vida. Completamente entregue, segurei Charlotte pela nuca e rocei meus dentes em seu pescoço e, sem nenhum pudor, afundei meu dedo nela.
– Alex! – ela gemeu alto e as estocadas ficaram mais intensas. Eu quase gritei de prazer, entregue, satisfeito demais para parar.
Vi Charlotte jogar a cabeça para trás e, de olhos fechados, movimentar a bunda em direção ao meu dedo, deixando-me penetrá-la e depois recuar afundando meu pau em sua outra entrada. E assim, em poucos segundos, ela gozou.
Fiz o maior esforço para assisti-la sem me libertar também, contudo perdia a batalha no último segundo, quando senti suas duas entradas se fechando em mim com espasmos de gozo. Foi demais para um pobre homem como eu.
Então gozei me afundando nela, nos dois pontos, e tendo a certeza de que não haveria jamais outra mulher para mim.
CHARLOTTE
Eu queria dormir na casa dele, mas Alex não deixou. Porém, assim como eu, meu noivo também não queria me deixar partir.
Depois de nossa peripécia no carro, entramos e fomos direto para o banho. Alex estava todo atencioso, prendeu meu cabelo, alegando ser importante para não chamar atenção de Peter. Bom, depois de tudo o que fizemos aquela noite, eu não contestaria nenhuma vírgula do que ele determinasse.
Tive meu corpo ensaboado e hidratado, mesmo sendo a porcaria do sabonete de morango e hidratante da mesma fragrância, que um dia nos levou a uma briga com um final delicioso. Rimos ao nos lembrarmos deste episódio.
– Vou comprar um com outra fragrância para você, amor – beijou meu pescoço, fechando o roupão em meu corpo.
– Não precisa, vou trazer o meu em poucos dias.
– Bem lembrado – deu-me um beijo delicado nos lábios. – Já arrumou tudo? – fiz uma careta.
– Não. Não tive tempo e nem tenho pressa – Alex suspirou, de costas para mim, enquanto colocava o seu desodorante. – Tem cheiro de homem.
– Por que será?
– Bobo!
– Linda!
Terminamos na cama. Alex disse que depois de tantas aventuras, como as que tivemos naquela noite, era imprescindível fazermos amor, lentamente, sem pressa alguma, para não esquecermos nunca o que nos unia. Eu achei que era apenas mais uma desculpa para transar comigo, mas é claro que aceitei de bom grado a sua oferta, sem nada dizer para desestimulá-lo.
Quando penso naquela noite, nós dois em sua cama, ele sobre mim, parcialmente cobertos por um fino lençol, suas entradas lentas, seus beijos carinhosos, seus toques que eram pura devoção, a forma como ele me olhava, como dizia que me amava, como me buscava e me sentia, fazendo-me senti-lo com a mesma intensidade, eu não consigo ter outra definição de amor.
Deitada em sua cama, com ele entre as minhas pernas, o tronco suspenso não só para não me sufocar com o seu peso, como também para que ele pudesse ter uma visão melhor do que fazíamos, seus movimentos calculados, todos com a finalidade de me dar prazer e de se proporcionar prazer, um vaivém delicado, calmo e que, aos poucos e sem pressa, levou-nos ao êxtase.
Com direito a tê-lo deitado em meu busto enquanto eu acariciava seu cabelo e apenas me permitia sentir. Alex, depois de um tempo em silêncio, levantou o rosto e distribuiu beijos por minha pele, demorando longamente em meus seios. Espreguicei percebendo as consequências de noites como aquela.
– Preciso te levar para casa – sussurrou quebrando o nosso encanto.
– Eu gosto de fazer amor quando acordo – provoquei.
– Eu também – ele levantou deixando a coberta revelar seu corpo. – Mas seu pai ainda quer acreditar que a filha é virgem.
– Só se ele for muito idiota – ele riu e saiu da cama.
– Vamos. Está bem tarde e eu vou trabalhar amanhã cedo.
– Não vai surfar?
– Não. Eu ia correr, mas, pelo visto, vou mesmo é aproveitar até o último minuto para descansar – espreguiçou-se bocejando. – Vamos, Charlotte, ou seu pai manda quebrar as minhas pernas.
– Droga!
Ele me deixou em casa pouco tempo depois. Durante o trajeto senti o quanto eu estava cansada e o sono quase me pegou. Na porta, Alex me beijou delicadamente, com amor, e foi embora. Eu estava tão feliz que adormeci no mesmo instante em que deitei em minha cama.
Na manhã seguinte, acordei bem tarde e já havia uma mensagem dele me aguardando no celular. Alex me desejava bom dia e me lembrava que eu só tinha três dias para ter tudo pronto para a mudança. Olhei para o meu quarto sem ânimo para começar a arrumar nada. Bom... eu poderia fazer isso aos poucos, conforme fosse a minha adaptação, ou a minha necessidade.
Já havia passado da hora do café quando desci faminta. Minha mãe estava ao telefone e, pela conversa, percebi ser com Dana e era sobre o casamento. Fui até a cozinha, surpreendendo Odete.
– Qualquer coisa que mate a minha a fome, Odete – ela fez uma bandeja com ovos, pão quentinho, suco de umbu e uma xícara de café. Voltei à sala e comecei a devorar tudo.
Johnny chegou quando eu estava terminando de comer. Ele beijou minha mãe no rosto e sentou ao meu lado.
– Preparada?
– Não – rimos, mas eu senti o quanto a proximidade me deixava apreensiva.
– E Miranda? A maluca sumiu ontem e só enviou uma mensagem avisando que tinha conseguido uma carona.
– Miranda anda muito estranha ultimamente.
– Nem me fale – ele roubou umas migalhas do meu prato sem se dar conta do que estava fazendo. – Eu vim lhe entregar a sua carruagem. Opa! Carroça – colocou a chave do meu carro sobre a mesa. Acertei um soco em seu braço.
– Ai!
– Não fale assim do meu carro. Ele é um senhor de idade.
– É bom pensar assim mesmo. O Pedro falou que da próxima vez vai ser complicado salvá-lo. Até agora ninguém conseguiu a peça de um milhão de dólares.
– Idiota!
– É sério, Charlotte! Sem a peça não há mais nada que possa ser feito. Por que você não compra outro carro da mesma marca e pega a peça – acertei outro soco em seu braço.
– Quer deixar de ser idiota?
– Já sei. Podemos mandar roubarem um do mesmo modelo e ano, ficamos com a peça e abandonamos o carro... Não me bata. Não me bata – começou a rir quando ameacei socá-lo mais uma vez.
– Mané!
– Onde está o padrinho? – dei de ombros. – O professor João Pedro me ligou. Disse que ele e Patrício vão tomar umas na casa do Alex hoje, já que amanhã vamos todos para o rancho. Disse que Alex fez questão que eu estivesse presente, acho que é para garantir a você que não vai ter nada de mais.
– Uma reunião?
– Uma despedida, Charlotte, só que sem as mulheres.
– Acho bom mesmo que seja assim.
Ele riu e minha mãe chegou contando que as flores tinham chegado e que estariam no rancho no horário combinado. Mostrou as fotos que Dana tinha enviado e comentou sobre a felicidade de conseguir uma festa tão linda em tão pouco tempo. Ela estava mais animada do que eu.
Evitei qualquer pensamento que me levasse à pequena reunião do Alex naquela noite. No dia seguinte, partiríamos em direção ao rancho, o meu lugar naquele mundo, e eu seria inteiramente do homem com quem escolhi viver.
CAPÍTULO 31
“No entanto, para dizer a verdade, hoje em dia a razão e o amor quase não andam juntos.”
William Shakespeare
ALEX
Conseguir dar conta de tudo era quase impossível. A sorte era que não sairíamos em lua de mel logo em seguida, o que me daria mais alguns dias até conseguir fazer Lana caminhar sozinha como editora-chefe. Lógico que ela poderia contar comigo e eu faria questão de acompanhar tudo de perto, mas era importante deixá-la à frente, fazê-la ganhar confiança até que minha presença não fosse mais tão necessária.
Cedo recebi uma ligação do professor Carvalho, reitor da faculdade, informando que Charlotte tinha agendado um encontro e que ele precisava mesmo conversar comigo para resolvermos a questão da minha aluna. Por ora estávamos aguardando uma posição do grupo de professores que estava avaliando o material dela.
Combinamos que nos encontraríamos logo após o casamento, mas esta informação eu não forneceria à minha noiva, pelo menos não enquanto não tivesse passado boa parte dos problemas que ela estava enfrentando.
Também cedo João apareceu na minha sala me informando que, eu querendo ou não, ele e Patrício passariam em minha casa à noite para uma reunião entre amigos, regada a algumas bebidas. Eu tinha certeza de que eles aprontariam alguma coisa, então tive a genial ideia de convidar Johnny, assim Charlotte se sentiria segura e eu teria alguém que impediria aqueles dois de fazerem alguma bobagem.
No final da tarde, liguei para ela. Até então tínhamos trocado algumas mensagens, todas com brincadeiras de duplo sentido, que nos remetia à noite anterior e todas as coisas gostosas que fizemos. Charlotte sabia como entreter um homem.
– Charlotte! – minha voz saiu como um alívio em poder falar com a minha noiva.
– Professor Alex – e eu sabia muito bem o que aquela entonação significava. – Como vai?
– Ansioso... e cansado. E você?
– Ansiosa, mas não tão cansada. Lana implicou que eu precisava relaxar então hoje não tive nenhuma atividade referente ao casamento.
– E o que fez?
– Escrevi.
– Hum!
Era sempre assim, nós transávamos e ela escrevia. Realmente eu tinha acertado no diagnóstico daquela menina.
– E você? Muitos contratos novos?
– Não. Já fechamos a agenda, mas tivemos dois pedidos de material por duas editoras importantes na Alemanha.
– Uau! Deixe-me adivinhar: Tiffany – ela desdenhou o nome da autora.
– Não. Mas eu devo dizer que Tiffany já possui contrato com uma grande editora de lá.
– E bem que eles poderiam levá-la para uma longa temporada.
– Não sei por que você ainda a vê como uma ameaça, Charlotte.
– Eu também não sei. Alguma coisa me faz querer ela bem longe de nós dois – ri. Até nisso minha noiva era absurda.
– Certo, vamos esquecer Tiffany.
– Vamos esquecer Tiffany, por ora.
– Combinado – meu sorriso estava imenso. Eu adorava conversar com Charlotte e ter que lidar com toda a sua teimosia e infantilidade. – João Pedro quer passar lá em casa hoje, junto com Patrício. Eu convidei Johnny, não sei se ele já te contou.
– Ele contou que João avisou que você mandou convidar.
– Isso.
– Vai ser uma reunião entre amigos?
– Vai ser uma forma de satisfazer o ego do João Pedro.
– Sei.
Quando uma mulher diz “sei”, ela quer dizer muito mais do que isso. Juntei os pedaços: o tom irônico e desconfiado com que Charlotte estava me tratando desde o começo, o “sei” que mais parecia um “mentiroso”, e concluí que ela não estava nada satisfeita com aquela reunião.
– Você pode comparecer. Vamos ser apenas nós quatro... eu acho.
– Acha?
– Sim, provavelmente seja isso mesmo. Mas você pode ir, amor. É só aparecer.
– Em uma reunião só de rapazes?
– Garanto que com você vai ser bem mais interessante – ela riu e eu senti que havia relaxado um pouco mais.
– Não. Eu vou deixá-los com o clube do Bolinha.
– Tem certeza?
– Tenho sim. Vou ver com Miranda se ela quer assistir algum filme ou bater perna no shopping.
– Tudo bem. Vejo você amanhã?
– Eu não perco nossa ida ao rancho por nada neste mundo.
– Saudades do chalé?
– Saudades de você, eu e o chalé.
– Vou ver o que posso fazer.
– Combinado. Bom encontro, comporte-se, amo você – falou tudo de uma vez só.
– Também amo você.
Desliguei e me dediquei ao trabalho até não restar mais nada para resolver. João passou em minha sala no final da tarde. Ele queria a chave reserva da minha casa, alegando que queria deixar o barril de chope pronto para quando eu chegasse. Também disse que passaria na delicatessen próxima para providenciar alguns petiscos.
Só consegui sair da editora bem tarde, depois de receber muitas mensagens do Patrício e do João me perguntando se eu não apareceria. Ainda deixei alguns assuntos pendentes que eu poderia tratar no dia seguinte com Lana, lá no rancho.
Peguei o caminho livre, por causa do horário. Eu estava bastante cansado, ansioso para sentar, tomar um chope gelado e jogar conversa fora até tarde da noite. Em dois dias, eu estaria casado e feliz, sem nada nem ninguém que pudesse arrancar Charlotte dos meus braços.
Foi com este pensamento que entrei em meu condomínio e tudo o que estava em minha mente sumiu no momento em que encostei o carro em frente à minha casa. Meu. Deus.
Aquilo não era uma simples reunião entre amigos. Aquilo era uma festa. Uma imensa festa.
Todas as luzes estavam acesas, inclusive as do jardim, que eu raramente utilizava. Os portões, a garagem e a porta de casa estavam abertos. Do lado de fora, muitas pessoas conversavam, a maioria mulheres em roupas provocantes. Do lado de dentro, com certeza, havia muito mais. Desliguei o carro sem me importar em estacioná-lo da forma correta e desci disposto a matar João Pedro.
– Alex!
Olhei para o lado e fui abraçado por uma mulher muito animada. Só quando ela me largou, eu pude identificá-la. Era Marcela, uma garota com quem eu saí algumas vezes. Ela usava um vestido justo, prata e com um decote generoso. Porra!
– Quer dizer então que o gato mais cobiçado da cidade vai se casar? Quase entrei em depressão quando o Patrício me ligou. Pelo menos teremos uma noite de despedida – e me segurou pelo pescoço colando os lábios aos meus.
Puta que pariu!
– Hum! Marcela... – afastei a garota mantendo-a longe. – Desculpe, sabe me dizer onde o João Pedro está?
– João Pedro? Seu cunhado, não é isso? Ele estava logo na entrada, mas...
– Com licença.
Saí de perto dela e limpei os lábios discretamente com a mão. Identifiquei várias garotas que conheci nas noites cariocas, além de alguns amigos do futebol, conhecidos de balada, colegas de longo tempo. Porra, Charlotte me mataria.
João estava realmente na entrada, usando roupas casuais e um colar de neon, verde limão, enquanto segurava um coquetel com direito a guarda-chuva e duas cores na bebida. Eu o pegaria pelo braço, o faria tirar todas aquelas pessoas da casa o quanto antes e depois o mataria. Ah, eu o mataria. Antes que eu pudesse alcançá-lo, Patrício apareceu com duas mulheres, uma de cada lado, abraçadas a ele, chamou-me tão alto que alertou nosso amigo.
– Alex! Finalmente apareceu a margarida. Venha, esta é Letícia e esta Lorena.
Olhei as garotas, gêmeas, lindas, seios firmes em um decote solto, barriga de fora extremamente trabalhada, pele bronzeada, saia curta e solta que dava mais o que pensar do que censurar. As duas morenas eram idênticas, maravilhosas. O que ele estava aprontando?
– Alex! – João se aproximou colocando a bebida em minha mão. – Tire este paletó, cara! Vai estragar o clima da festa. E beba.
– João, eu...
– Não vai dizer um oi para as meninas? – Patrício me interrompeu outra vez. Evitei olhar diretamente para as garotas. Era melhor prevenir do que remediar.
– Oi, meninas. Com licença! – rosnei segurando João pelo braço e levando-o para dentro.
– Ei, ei, calma aí – ele se soltou rindo para algumas garotas que estavam no corredor. – Garotas, o Alex chegou.
Os gritinhos quase me tiraram do sério. Porra, João acabaria com a minha vida.
– É melhor você conversar comigo ou vou te estrangular aqui na frente de todo mundo.
– Você está muito estressado, Alex. Por que não relaxa? – começamos a caminhar em direção à cozinha.
– O que significa isso tudo?
– A sua despedida de solteiro, cara!
– Porra, João, eu falei...
– Porque é um mariquinhas. Vai se casar em dois dias com uma garota que ainda está aprendendo o que é sexo, então precisa de algo que o faça ter paciência para aguardar até Charlotte pegar o jeito.
– Vá se foder! Não fale de Charlotte assim.
– Calma Alex! Não sabe brincar, então não desça para o play – e riu como se aquilo fosse mesmo divertido.
– Vou acabar com essa festa agora mesmo.
– Você é um maricas, Alex! – Patrício nos alcançou. – É só uma festa. Ninguém está colocando uma mulher em sua cama. Apenas relaxe e se divirta.
– Eu disse que não queria esta festa.
– São nossos amigos e eles não foram convidados para o casamento porque a sua noiva não quer estranhos na cerimônia. Como acha que eles se sentiram?
– Eu não estou vendo apenas os nossos amigos aqui, Paty.
– Paty é a puta que te pariu – revidou com raiva. – E eu não tenho culpa se você é gay e só conhece homens. Eu tenho muito mais amigas do que amigos em minha lista telefônica.
– E você deve ter bastante consciência de que Charlotte vai descobrir o que está acontecendo aqui, então Miranda também vai ter este conhecimento, não é?
Patrício recuou e João riu.
– Miranda? Mas vocês não...
– Acha mesmo que sou tão idiota assim, Patrício? Charlotte não sacou o que está acontecendo, mas eu já entendi que você voltou atrás e agora está se desdobrando para fazer Miranda te aceitar de volta.
– Isso é um assunto só meu.
– Claro. Mas pode ter certeza de que esta festa é o seu tiro de misericórdia – ele ficou sem reação por um tempo, João começou a fazer gracinhas, então ele deu de ombros.
– Que assim seja – levantou a garrafa de cerveja que segurava em um brinde e virou o conteúdo todo de uma vez, para logo em seguida dar um grito animado. – Vamos farrear que a festa é para os solteiros.
– Puta que pariu! – rosnei sem saber como desfazer toda aquela confusão.
– Alex, seu cretino – vi Roberto antes que ele acertasse um soco em meu braço. – Vai se amarrar e não contou nada para ninguém? Filho da puta! Deu sorte que fez esta festa incrível, do contrário nunca te perdoaria.
– Onde está Milena? – perguntei pela esposa dele. Eles eram recém-casados e o natural era que Roberto levasse a esposa para todos os lugares.
– Milena? Hoje a noite é dos solteiros, meu amigo.
Mais um idiota no mundo. Onde aquelas pessoas haviam deixado as suas cabeças?
– Curta, Alex – João indicou o copo em minha mão.
– Eu mandei Charlotte vir – ele arregalou os olhos e depois começou a rir.
– Vai se foder então! – e gargalhou. – Que idiota! Como pode ter sugerido que ela aparecesse? Era uma noite entre amigos.
– Porque ela ficou cismada e eu não queria problemas, agora... – olhei a festa repleta de mulheres, o som alto, corpos balançando para todos os lados, pessoas se pegando sem nenhum pudor. Era o meu fim. – Vou ligar para Charlotte e explicar esta bagunça – peguei o celular, mas ele foi retirado rapidamente das minhas mãos.
– Epa, epa, epa – João escondeu o celular atrás do corpo. – Artigo proibido nesta festa. Sinto muito, Alex, mas a regra vale para todos.
– João eu... – pensei que mataria o meu amigo quando Johnny surgiu do nada e segurou meu braço.
– Sei como é isso, Alex – ele me puxou para trás. – Também fui pego de surpresa e tive o meu celular apreendido.
– Porra, Johnny! Faça alguma coisa. Você sabe como a Charlotte é e ela não vai procurar saber o que de fato aconteceu – ele sorriu largamente. – Merda! Eu vou casar em dois dias – e quando dei por mim João já havia desaparecido com o meu celular.
– Tenha calma. Primeiro de tudo: Charlotte não vai aparecer. Eu estava com ela há pouco tempo e sei que Miranda a arrastou para o cinema e depois vão sair para jantar.
– Mesmo assim.
– Segundo: eu estou aqui e Charlotte vai levar em conta o que eu disser, pode acreditar nisso.
– E você está de acordo com tudo isso?
– Não! Quer dizer... a festa está maneira, mas você terá que ficar na linha e eu estarei aqui para garantir que seja assim – respirei fundo.
– Você nem precisava estar aqui para garantir isso. Eu não vou trair a Charlotte.
– Eu sei que não. Me dê isso aqui – ele pegou o copo da minha mão, foi até um freezer que de alguma forma João conseguiu colocar em minha cozinha e pegou uma cerveja de lá. – Beba isso. Vai garantir que esteja de pé até o final. Agora vamos relaxar e ver algumas garotas tirarem a roupa.
Sem saída, acompanhei Johnny até a sala. Aquilo estava realmente fugindo do controle. João conversava com dois amigos nossos, todos casados, mas, pelo menos, não estava com nenhuma garota, ou eu seria forçado a realmente bater nele. Já Patrício... bom, esse já tinha tomado a sua decisão, então que continuasse se divertindo com as gêmeas.
Eu e Johnny ficamos em silêncio, bebendo nossas cervejas e observando as pessoas que pareciam enlouquecidas. Algumas situações eram tão constrangedoras que eu preferia desviar o olhar, como quando bolinhas de sabão saíram não sei de onde, aumentando o nível de empolgação dos participantes da festa e uma garota, que eu não fazia ideia de quem era, subiu na mesinha de centro, porra ela estragaria o móvel com aquele salto fino, e começou a tirar a roupa.
Foi demais para a minha cabeça.
– Deus ajude que Charlotte realmente não apareça – resmunguei e Johnny riu tirando a cerveja da minha mão e colocando outra logo em seguida.
Algumas garçonetes, vestidas apenas com biquínis quase inexistentes, diga-se de passagem, espremiam-se entre os convidados com variados tipos de bebidas. Aquela seria a festa dos sonhos de qualquer homem, por incrível que pareça, era o meu inferno. Impossível não olhar para a bunda de algumas delas, mesmo com a minha consciência me dizendo que melhor seria se eu ficasse cego.
– Você está muito desanimado para um homem que vai casar com a mulher que ama – aquela voz me fez estremecer.
Olhei para trás e vi Tiffany. Pisquei algumas vezes sem acreditar. O que João Pedro tinha na cabeça quando convidou a Tiffany? Provavelmente estava ansioso para me jogar no inferno.
– Surpreso?
Ela estava linda, com uma maquiagem que valorizava a sua beleza, deixando-a mais sexy. Conferi o resto. Claro que eu faria isso, afinal de contas nunca fui um santo, e... Caralho! Tiffany estava com um vestido colado ao corpo, destacando todas as suas curvas. Era preto e brilhava e o cabelo loiro em um penteado mais rebelde a deixava realmente desejável.
– Estou – foi só o que consegui dizer.
– E com a minha presença?
Anita apareceu do outro lado. Pensei em correr. Sério! Se eu conseguisse sair dali correndo, talvez, muito provavelmente, conseguisse me livrar dos problemas que aquelas duas me trariam. Anita estava mais bonita ainda, de uma maneira mais provocante do que Tiffany, que era mais clássica, menos atirada. Se eu prestasse mais atenção ao vestido dela, conseguiria constatar a ausência da calcinha.
– Com toda certeza. Nunca imaginei que João seria capaz de convidar vocês duas – e eu precisava sair dali o quanto antes.
– Ora, Alex! E quem disse que fomos convidadas? – Anita provocou. – Pelo que parece é uma festa aberta. Não tem ninguém impedindo as pessoas de entrarem.
E eu seria condenado por aquilo.
– Já que não fomos convidadas para o casamento – Tiffany sorriu sem nenhuma amargura. – Resolvemos aparecer para lhe desejar sorte.
– Charlotte preferiria morrer a ter vocês duas em nossa festa – revelei sem medo. Elas precisavam entender que não podiam agir como queriam.
– Ah, sim! Charlotte é mesmo uma menina cheia de vontades – Anita pegou minha cerveja e entornou. – Precisamos de algo mais forte – colocou a garrafa em uma bandeja que uma das garçonetes inclinou em sua direção e retirou de lá três copos de bebidas coloridas e enfeitadas.
– E Alex é o tipo de cara disposto a atender a todas as vontades da sua menininha – Tiffany continuou e aceitou a bebida que a prima lhe oferecia.
– Alex é o tipo de homem disposto a atender as necessidades de qualquer mulher – Anita brincou e me entregou um dos copos.
– Está enganada – tentei argumentar quando Tiffany me interrompeu.
– Ele está apaixonado, Anita. Agora só existe Charlotte.
– Exatamente – sem querer continuar a conversa, bebi um longo gole da bebida que elas me deram, constatando o quanto era forte. O que tinha ali, vodca, tequila, cachaça? Não consegui identificar, pois o leite condensado atrapalhava o sabor.
– Não parece. Olha só esta festa – Anita indicou a garota seminua que ainda dançava sobre a mesa de centro.
– Coisas do João Pedro.
– Você deve estar bem incomodado, não – Tiffany colocou a mão em meu ombro. Olhei para Johnny, que acompanhava tudo afastado.
– Bastante. Por falar nisso. Vou trocar esta roupa. Aqui está quente demais. Aproveitem a festa. Com licença.
– Pode deixar. Vamos aproveitar bastante a festa – o sorriso de Anita me fez estremecer, mas ignorei.
Saí de perto delas e, ainda bebendo aquela porcaria de coquetel, segui até as escadas, decidido a me trancar no quarto por um bom tempo. Charlotte não saía da minha cabeça, mas também toda a tentação das mulheres gostosas dispostas a tudo naquela noite. Eu era mesmo um filho da puta!
Fechei a porta, tirei a roupa e segui para o chuveiro. O coquetel me deixou um pouco mais disperso. Era muito forte e eu tinha bebido cerveja o tempo todo, então a mistura não tinha sido uma boa ideia.
Depois do banho frio, segui para o closet e assim que coloquei a cueca ouvi a porta do quarto se fechando. Estranhei, apesar de saber que uma festa tão liberal como aquela daria às pessoas o direito de acharem que poderiam usar os quartos também. Uma grande merda.
Saí do closet decidido a acabar com aquela palhaçada, mas estanquei quando vi as duas mulheres que estavam ali. Tiffany e Anita. A primeira só de calcinha e meias sete oitavos. A segunda sem nada, só com os saltos altos. Puta que pariu! Puta que pariu! Puta que pariu!
– Despedida de solteiro, Alex! – Anita anunciou. – Somos o seu presente.
Eu estava só de cueca e tenho que confessar, não foi fácil impedir meu pau de subir. Primeiro porque eu realmente gostava da ideia de duas mulheres em minha cama, apesar de ter a certeza de que nunca sugeriria a Charlotte algo como aquilo. Não, eu nunca dividiria Charlotte com mais ninguém, mesmo que fosse uma mulher. Segundo porque Anita e Tiffany eram o que existia de mais perfeito no mercado, apesar dos seios artificiais de Anita, e que agora eu podia comprovar esta verdade. Elas eram lindas e estavam dispostas a tudo aquela noite.
Fiquei surpreso em ver Tiffany topar algo daquele tipo. Ela era muito clássica, apesar de nunca se negar a nada na cama. Já Anita... eu nunca conseguiria saber o que esperar dela.
Desviei os olhos das duas pensando se deveria ou não buscar alguma roupa para vestir.
– Não sei o que vocês pretendem, mas já adianto que para evitarmos confusão...
– De que tipo de confusão está falando? – Anita se aproximou, tocando meu peito. Afastei-me imediatamente. Ela era louca. Só podia ser.
– Anita, é melhor... – dei um passo para trás quando Tiffany também se aproximou e senti a borda da cama na dobra dos meus joelhos.
– Calma, Alex! Ninguém sabe que estamos aqui. E ninguém precisa saber – disse já passando a mão em mim.
Puta merda!
– Tiffany, você sempre foi a mais sensata, então...
– Ela é a sensata e eu sou o quê? – Anita riu e me empurrou sobre a cama.
Nem tive tempo de reagir, pois as malucas subiram em mim. Tentei afastá-las, ainda abismado por tamanha ousadia e não consegui ser rápido, ou forte o suficiente para evitar que elas prendessem meus punhos com algemas na cabeceira da cama.
Era surreal demais para ser verdade. Aquilo parecia cena de um filme. Como eu não consegui impedi-las de me prender? Como deixei que elas estivessem sobre mim naquele momento, alisando meu corpo como se eu fosse um brinquedo?
– Vocês estão loucas! – gritei enfurecido. – Vou dar parte na polícia das duas, entendeu?
– Com uma festa como esta, Alex? Acha mesmo que alguém vai pensar que um homem como você foi forçado a fazer sexo com duas mulheres enlouquecidas?
– Pare com isso agora, Anita! Tiffany, por favor, pense bem no que está fazendo, pense em sua carreira.
– Ora, Alex! Se você não quisesse isso, não estaria tão animadinho – e ela segurou meu pau com vontade. Claro que ele estava duro. Que cacete de homem não ficaria de pau duro em uma situação como aquela? Mas eu não queria. Não queria e ponto final.
– Porra! – debati-me, dificultando o trabalho delas.
– Se continuar gritando, vamos te amordaçar – Anita ameaçou e Tiffany riu histericamente. Ela não estava em seu estado normal. – Feche os olhos e aproveite, Alex – passou a mão pelo meu peitoral e, afastando Tiffany, subiu no meu corpo, rebolando em meu pau, ainda dentro da cueca e beijando meu abdome.
Eu não queria. Não queria! Só não conseguia fazer meu pau deixar de querer. Que inferno! Pensei em Charlotte, em nosso casamento, em como me sentiria um merda se alguma coisa acontecesse ali.
– Johnny! – gritei o mais alto que pude, ciente de que o som estava alto demais para que alguém me escutasse. – Seu filho da puta, onde está quando preciso de você – elas riram.
Anita levantou, sem descolar nossos sexos e rebolou para que eu pudesse ver, além de sentir, o quanto ela entendia do assunto. Porra, eu não podia deixar aquilo acontecer. Então, Tiffany se aproximou e beijou a prima. Um beijo carnal, puramente sexual, o que se comprovou quando elas começaram a se tocar.
Não, não, não!
Anita se afastou, mas Tiffany continuou tocando o corpo da prima, enquanto a maluca descia os lábios até a borda da minha cueca. Deus, por favor, não!
– Eu sempre quis saber como era você, Alex – disse ao puxar minha cueca e liberar a minha ereção.
– Anita, eu juro que te mato se...
Então a porta abriu e o que eu vi me fez desejar que o mundo explodisse.
Charlotte estava lá.
CHARLOTTE
O que eu vi estava fora de qualquer fantasia sugestionada por minha mente astuta. Eu havia passado uma noite estranha, inquieta, como se realmente estivesse avisada de alguma forma, que eu precisava estar com ele.
Tentei me entreter, no entanto Miranda estava tão introspectiva quanto eu e, em alguns momentos, perguntei-me se ela ainda sofria por Patrício, já que nunca mais tivemos tempo para uma conversa entre amigas. Jantamos como se estivéssemos pisando em ovos, com conversas que nunca nos direcionavam a Alex, Patrício, casamento ou qualquer outra coisa do tipo. Estranhamente, falávamos sobre o filme que assistiríamos, o fim da faculdade, os planos profissionais, os possíveis cursos e todas as viagens que fingíamos que ainda faríamos juntas, como se eu não estivesse prestes a me casar.
Definitivamente, foi uma noite estranha.
Provavelmente por causa disso eu não tenha conseguido me concentrar nem um segundo no filme. Estava agindo tão mecanicamente que me peguei pensando em como mesmo tínhamos chegado ali e escolhido a sessão.
Então, com a trama já avançada, Miranda, de uma forma inexplicável, virou-se para mim e disse:
– Acha mesmo que eles estão apenas conversando e tomando algumas cervejas?
No escuro do cinema, encarei minha amiga tendo consciência de cada palavra implícita naquela frase. Levei algum tempo, que eu não conseguiria nunca estimar, para tomar a decisão e responder.
– Não.
Levantamos sem precisar explicar a decisão e saímos prontas para acabar de uma vez por todas com aquelas dúvidas. Entramos no carro em silêncio e a única frase dita foi exatamente o incentivo de que eu precisava, proferida por minha amiga.
– Você é a noiva dele, tem o direito de aparecer quando e como quiser.
E por isso segui decidida até o condomínio onde Alex morava. Por alguns minutos, perguntei a mim mesma se era o certo a ser feito. Não que eu não quisesse exterminar de vez a minha insegurança e aquela angústia que me consumia desde o momento em que meu noivo desligou o telefone.
Pensei em passar por lá para averiguar se estava tudo bem. Não precisava entrar nem deixá-lo saber da minha presença, apenas chegar perto o suficiente para me certificar de que eu era mesmo louca e infantil.
Só que eu não era nem louca, nem infantil. Eu era uma garota com sexto sentido aguçado. Tive esta certeza quando não consegui sequer estacionar próximo a casa. O som alto e as luzes chamativas chegaram até mim antes mesmo que eu conseguisse ver a frente da casa. Pessoas bebiam e conversavam no jardim, mulheres de todos os tipos, vestidas como se aquela fosse a sua única chance de conquistar um cara como Alex. E era mesmo.
“Respire, Charlotte!” Eu pensava. “Apenas respire! ”
– Que merda é essa? – Miranda esbravejou passando por mim com passos decididos e me levando para dentro pela mão.
Por um mísero segundo pensei no quanto eu estava mal vestida, com meu jeans justo e batinha de renda, enquanto as outras mulheres estavam incrivelmente bem maquiadas e com vestidos arrasadores, mas meus pensamentos se dissiparam quando vi Johnny conversando com uma ruiva de tirar o fôlego.
Ele estava todo derretido, cheio de charme para a garota, que parecia se divertir com o universitário metido a garanhão. Nós nos aproximamos dele sem que percebesse.
– Cai fora! – Miranda gritou para que não restassem dúvidas de que a garota não tinha mais nada a fazer ali.
– Ei! Charlotte! O que faz aqui? – o rosto assustado do meu amigo tirou o meu chão.
– Você sabia desta merda toda? – Miranda continuou, seus olhos percorrendo todo o espaço a nosso redor.
– Não, eu... o que vocês fazem aqui?
– Onde está Alex? – perguntei já desesperada. Johnny olhou para mim apreensivo.
– Eu acho que ele foi trocar de roupa. Charlotte, Alex não...
Dei as costas decidida a acabar de uma vez por todas com aquela agonia. Passei pela sala onde vi uma garota com os seios de fora, bêbada, dançando sobre a mesa de centro. Os saltos finos, com certeza, estragariam o móvel. Aquilo era o mínimo que Alex merecia. Subi correndo as escadas, deparando-me com a porta do quarto fechada.
– Charlotte, espere... – Johnny estava logo atrás de mim.
– Abra logo a merda da porta – Miranda gritou praticamente me forçando a entrar.
Então eu abri, e... porra!
– Alex! – o nome dele saiu dos meus lábios sem que eu tivesse a intenção.
Perdi o meu chão, o ar, a coragem e capacidade de agir. Eu apenas fiquei ali, vendo Alex na cama com duas mulheres nuas. E eu não queria acreditar no que via. Não podia acreditar.
– O que... – Miranda entrou daquele jeito só dela. – Ah, não! – gemeu revoltada.
– Porra! – Johnny entrou logo em seguida e parou bem atrás de mim.
E eu? Bom, eu podia fazer um monte de coisas naquele momento. Eu podia gritar e me atirar contra aquele trio até que não restasse mais nada de humanidade em mim. Eu poderia enxugar as lágrimas que estavam prestes a cair e demonstrar maturidade para não sofrer por um filho da puta como Alex, ou eu podia simplesmente chorar e deixar tudo para trás.
Mas eu não consegui fazer nada. Meus olhos presos aos de Alex apenas me faziam repetir incontáveis vezes em minha mente que aquilo tudo era um pesadelo e que eu acordaria em breve, com minha vida toda nos trilhos, prestes a me casar e ser feliz. Sim, era apenas um pesadelo.
– Charlotte, não... merda! Alguém me tire daqui – Alex se debateu. Ele estava assustado demais, mas as duas mulheres...
Deus!
Eu estava tão assustada com o que vi que minha mente me traía me fazendo não reconhecer aquelas duas. Como? Por quê?
Senti o sangue fervendo, a humilhação me atingindo com um tapa forte no rosto, a raiva me consumindo mais rápido do que eu poderia imaginar. Desviei os olhos daquela cena horripilante e dei as costas para deixá-los. Alex poderia ter feito aquilo com qualquer outra mulher, nunca com aquelas duas. Nunca.
– Charlotte! – ele gritou.
– Ah, não! Você não vai sair assim – ouvi Miranda gritar e me puxar pelos braços, mantendo-me dentro do quarto. – Não antes de tirar estas duas vacas de cima do seu homem.
E minha amiga partiu para cima daquelas duas como se estivesse se atirando em uma guerra.
CAPÍTULO 32
“Contudo, o amor é cego, e os namorados nunca veem as tolices impagáveis que eles próprios praticam, porque, se vissem, até mesmo o amor ficaria enrubescido.”
William Shakespeare
ALEX
Eu vi tudo em câmera lenta. Charlotte indo embora, Anita sorrindo vitoriosa, Tiffany se encolhendo assustada com o flagrante, como se estivesse acordando de um transe e Miranda furiosa avançando para a cama.
Puta que pariu!
A amiga da minha noiva agarrou Anita pelos cabelos sem lhe dar chance de revidar, talvez porque Anita era segura demais para acreditar que alguém como Miranda seria capaz de fazê-la recuar, ou talvez porque estivesse tão louca que não tinha nenhuma noção do perigo.
O fato é que Miranda tirou Anita de cima de mim tão rápido que até eu fiquei atordoado. Com um movimento certeiro a arremessou no chão, para segurá-la em seguida pelos cabelos e por um braço até conseguir jogá-la para fora do quarto.
– Uma vadia a menos – ela gritou enquanto Charlotte, assustada, estava em um canto, assistindo tudo como se não conseguisse assimilar nada.
Tiffany estava encolhida, escondendo o corpo e com a mão estendida, como um pedido de clemência. Eu podia ver em seu rosto a vergonha sentida e o quanto ela estava confusa com aquilo tudo. Era a segunda vez que eu via Tiffany recuar como se estivesse acordando de um ataque de sonambulismo.
Miranda parou diante dela, que se abaixou buscando o lençol que estava debaixo de mim, sem conseguir sucesso. Eu estava preso, não apenas pelas algemas, mas também pelo desespero, pelas consequências que aquela merda traria para minha vida.
– Saia rastejando, sua cadela no cio – rosnou uma Miranda furiosa. Tiffany, nitidamente aterrorizada, saiu do quarto o mais rápido que pôde. – E acho bom as duas estarem bem longe daqui em alguns segundos ou não serei tão generosa.
Antes que Tiffany conseguisse passar pela porta, eu vi Charlotte olhá-la com tanto desprezo que temi pelo que faria. Ela se aproximou, fazendo Tiffany recuar, mediu-a de cima a baixo e simplesmente cuspiu nela. Sim, Charlotte cuspiu em Tiffany e depois lhe deu as costas, como se lhe causasse nojo olhá-la.
Voltei minha atenção para Miranda, que me olhou com raiva, não sem antes dar uma bela conferida em meu corpo e deixar um sorriso perverso escapar. Remexi-me incomodado. Não era para ela me olhar daquela maneira. Não enquanto meu pau estivesse exposto.
– Alguém solte este idiota, por favor! – rosnou com maldade. – Venha, Charlotte, vamos acabar com esta maldita festa.
Sem aguardar por mim, segurou minha noiva pelo braço e a arrastou porta afora. Fiquei desesperado.
– Charlotte! – debati-me sentindo as algemas machucarem meus punhos. Ela não se virou, nem hesitou. Simplesmente me deu as costas e partiu. – Faça alguma coisa, Johnny. Não a deixe ir embora – debati-me desesperado.
– Antes eu tenho que te tirar desta cama – ele fez uma careta, puxando o lençol embaixo de mim e jogando a parte puxada sobre meu corpo. – Pelo amor de Deus! Ninguém precisa terminar a noite com uma visão horrenda como esta – brincou enquanto olhava pelo quarto para descobrir como fazer para me soltar. – Onde elas enfiaram a chave?
– Aquelas duas apareceram aqui e eu nem vi como conseguiram me prender – ele me olhou e sorriu, como se não estivesse acreditando em mim. – É verdade. Solte logo minhas mãos porque eu preciso fazer com que Charlotte...
– Ela vai entender.
– Porra, ela não vai! Ela não vai Johnny! Você conhece Charlotte.
– Conheço, mas Miranda é muito mais racional do que ela e tenho certeza de que conseguiu entender toda a ação aqui em cima, mais rápido até mesmo do que você foi capaz de entender. Vamos nos concentrar em encontrar alguma coisa que possa te libertar.
O som alto parou como mágica e gritinhos de insatisfação puderam ser ouvidos. Miranda estava cumprindo com o que tinha dito.
CHARLOTTE
Eu estava tão em choque que apenas ouvia Miranda gritando sem me dar conta do que ela de fato fazia. A movimentação em massa, as vaias que se afastavam aos poucos, as reclamações confusas e então minha amiga outra vez em meu foco.
– É isso mesmo. Vão ciscar em outro galinheiro. A festa acabou. Todos fora ou chamo a polícia, aí eu quero ver só a cara desses palhaços quando as esposas descobrirem o que eles estavam fazendo aqui. Graças a Deus, filmei tudinho.
Ela gritava enquanto João Pedro, um pouco mais afastado, conduzia as pessoas e pedia desculpas. Eu ainda lembrava da cara dele quando me viu descendo as escadas e do sangue que praticamente fugiu do seu rosto ao empalidecer assustado.
– Vadias, par de jarro também não são bem-vindas – gritou para as gêmeas que encontramos em uma situação um tanto quanto escandalosa com Patrício.
– Miranda... – ele ainda tentava fazê-la parar para ouvi-lo, sem sucesso.
– Não toque em mim – esbravejou minha amiga, afastando-se rapidamente para continuar mandando as pessoas embora como quem conduzia um gado.
Quando a última pessoa saiu, sentei no sofá e escondi o rosto entre as mãos. Eu me sentia exausta, como se tudo o que tinha visto tivesse exaurido todas as minhas forças. Deus, como eu conseguiria conviver com aquilo tudo?
– Charlotte, eu não... merda! Olha, foi tudo ideia minha. – João começou a se explicar. A raiva que eu senti foi tão grande que levantei como uma bala.
– Vamos embora – disparei em direção à porta. – Eu não tenho mais nada para fazer aqui.
– Charlotte, pare e pense – Miranda me segurou me impedindo de fugir.
Foi quando ouvimos passos rápidos nas escadas. Meu sangue gelou e comecei a me sentir realmente mal. Eu não queria passar por aquilo. Não precisava. Alex não tinha o que me explicar, nada poderia ser perdoado e não havia forma de me fazer entender.
– Charlotte! – ele andou rápido em minha direção. Pensei em socá-lo, pois seria uma bela resposta, porém só consegui evitar que ele me pegasse.
– Fique longe de mim – e como eu era uma perfeita pateta, meus olhos se encheram de lágrimas, tornando-me mais fraca.
– Não foi o que você está pensando – ele tentou se explicar e eu ri sem vontade.
– Ah, claro que não! Claro que não!
– Porra, o que aconteceu? – João ficou entre nós dois, olhando diretamente para Alex.
– Charlotte, por favor! Apenas me escute. Johnny estava aqui o tempo todo ele sabe que eu não fiz nada.
– O que aconteceu? – Patrício ficou atento, aproveitando a situação para se aproximar de Miranda.
– Charlotte pegou Alex na cama com Tiffany e Anita – minha amiga explicou sem muita paciência.
– Porra! – João gritou.
– Puta que pariu! – Patrício também se expressou, porém parecia estar se divertindo.
– Não foi assim. Aquelas duas...
– Eu não quero ouvir! – tapei os ouvidos. – Eu quero ir embora!
– Lottie, calma! – Johnny se aproximou me tomando nos braços. Foi o suficiente para me fazer desabar.
Abraçada a meu amigo, eu me permiti chorar todas as dores que me assolavam. Eu estava tão fraca, tão triste, quebrada ao meio e pisoteada como se não tivesse nenhum valor. Não conseguia entender por que Alex permitiu que acontecesse. Onde estava o amor que dizia sentir por mim?
– Charlotte – Alex se aproximou. – Por favor, me escute!
Porra, eu não podia ficar ali ouvindo-o tentar me fazer acreditar que não estava naquela cama com aquelas duas vacas, como Miranda tinha acertadamente chamado, nuas, Anita quase enfiando o seu... quase com a boca... merda! Ela estava quase lá. Quase. Só não foi porque eu cheguei. Não. Ele jamais poderia me convencer de que eu não tinha visto aquilo.
– Não toque em mim – gritei enfurecida me atirando contra ele e batendo até que minhas mãos não aguentassem mais. – Seu cretino! Seu cretino! – eu falava e batia sem parar.
A imagem de Anita com a boca perto do... Céus! Eu jamais poderia esquecer daquilo.
– Charlotte! – Johnny tentava me impedir de continuar socando Alex. Ouvi a risada cínica de Patrício e o tapa estalado que Miranda acertou nele, então fui contida pelo próprio Alex, que me segurou com força, mantendo-me presa em seus braços.
– Merda, Charlotte! Eu não transei com elas.
– Não! Eu vi que não. Porque eu cheguei, não foi? Eu atrapalhei a sua festinha!
– Não. Elas me prenderam lá. Eu não queria – ele continuou tentando se justificar.
– Não tente me convencer que não queria, seu filho da puta! Eu vi o quanto você queria.
– Oh, sim! Ela viu. Todos vimos – Miranda foi cínica. O que me deixou ainda mais possessa.
– Calma, calma! – Johnny me tirou de Alex e me colocou do outro lado da sala. – Vamos conversar civilizadamente, ok? Patrício, João e Alex, é melhor vocês ficarem aqui. Nada do que disserem vai ajudar agora. Miranda, venha comigo. Nós dois precisamos conversar com Charlotte.
Miranda concordou com Johnny e, contra a minha vontade, levaram-me até o escritório de Alex, trancando-nos lá. Olhei para a mesa onde ele costumava trabalhar quando estava em casa. Eram tantas lembranças! A certeza que tivemos de que não podíamos mais brincar com a situação, a vontade de ficarmos juntos, mesmo que fosse apenas pelo sexo, e a interrupção de Anita. Merda, eu lembrava muito bem de como ela chegou naquele dia, cheia de intimidade, oferecida, será que... não. Eu não podia acreditar que ele mentia para mim desde aquele tempo.
Chorei ainda mais com as lembranças e a ideia que me machucava. Johnny e Miranda permaneceram em silêncio, aguardando que eu estivesse mais calma, enquanto eu acreditava que esta era uma missão impossível. Quando os soluços cessaram e apenas as lágrimas desciam, Johnny começou.
– Lottie, eu sei que agora vai ser difícil acreditar em todos os fatos que podemos trazer para você, mas tente manter a cabeça aberta, por favor!
– Não tente me convencer do contrário, Johnny. Vocês viram o que estava acontecendo lá no quarto.
– Você está na defensiva e eu entendo – ele continuou. – Mas seu choque não está permitindo que enxergue as coisas como elas realmente são.
– Pelo amor de Deus, Johnny! O que poderia ser diferente do que vimos?
– Eu cheguei aqui primeiro que Alex, e, assim como ele, fui surpreendido por esta festa que o João armou com o Patrício. Não sei se a intenção deles era fazer com que Alex se rendesse à ideia de uma despedida de solteiro, quero acreditar que não. Eles queriam apenas comemorar, se divertir.
– Espero que Lana esteja ciente do que o marido dela é capaz – Miranda esbravejou, impaciente. – Patrício é um babaca mesmo, não poderíamos esperar nada diferente dele.
– Eu posso dizer que, até onde pude observar, João Pedro não fez nada além de conversar com alguns amigos – Johnny tentou defender os outros.
– Ah, claro! Isso antes ou depois de você ficar todo encantado com aquela ruiva tingida? Acorda, Johnny, você não tem como dar conta de tanta informação.
– Eu sei, mas eu estava aqui quando Alex chegou. Vi o seu espanto e o desespero que tomaram conta dele quando entendeu o que era a festa. Ele tentou te ligar, Charlotte, no entanto, foi impedido por João, que determinou que nenhum celular poderia circular na festa.
– Provavelmente para que ninguém tivesse provas do que estavam fazendo – Miranda rebateu ofendida. Johnny deu de ombros.
– Charlotte, eu prometi a Alex que ficaria de olho nele e que seria a sua testemunha quando ele precisasse te contar sobre a festa, e era o que estávamos fazendo. Bebemos e observamos tudo o que aconteceu nesta casa durante boa parte da noite. Foi quando Tiffany e Anita chegaram.
– Deus! – sentia-me exausta. Eu não queria mais pensar naquele assunto.
– Lottie, confie em mim – Johnny pediu se abaixando à minha frente e capturando meus olhos. – Miranda está com raiva, mas vai confirmar tudo o que estou dizendo – minha amiga riu sarcástica. – Elas não foram convidadas, eu ouvi quando Anita revelou a Alex e ele ficou aborrecido com a presença delas. Alex as evitou o quanto pôde, até que resolveu se trancar no quarto para se livrar daquela confusão.
– Claro, no quarto não teria você como testemunha – rebati rebelde.
– Fiquei de olho nelas durante um tempo, até que deduzi que não fariam nada – ele continuou.
– Então a ruiva falsa chegou e você logo se esqueceu delas – Miranda cruzou os braços na frente do peito, desafiando-o.
– Não... quer dizer... elas estavam conversando com outros caras, não parecia que aprontariam alguma coisa, então...
– Se você já me disse tudo o que sabe, então me deixe ir embora – levantei ansiosa para sair e nunca mais voltar.
– Eu te disse o que sei, agora Miranda vai dizer o que sabe – ele parou em minha frente sem me deixar passar.
– Eu? – minha amiga parecia surpresa. Johnny a olhou de uma forma que a fez recuar. – Johnny está certo, Charlotte. Elas armaram para o Alex, só não sei se a intenção era que alguém aparecesse e de alguma forma você ficasse sabendo, ou era apenas dar a ele uma despedida de fato.
– O quê? Miranda, você...
– Olha, não me agrada nada descobrir esta porcaria desta festa e ter presenciado aquela cena ridícula lá no quarto. Também não gosto de estar aqui em defesa do Alex, mas tenho que ser justa. Você nunca conseguiria ver o que eu vi porque estava muito abalada. Tudo naquele quarto indicava que elas armaram para Alex.
– Como assim? Você viu que ele estava excitado – rosnei me sentindo humilhada com esta parte. Miranda olhou para o chão, como se tal ponto a deixasse sem graça.
– Pare e pense. Se Alex tivesse levado aquelas duas para o quarto, como você imaginou, então por que não havia roupas espalhadas pelo chão? Quer dizer... é natural que no calor da safadeza eles tivessem se despido, deixando provas para todos os lados, mas o que vimos foi Alex de cueca, preso a cama, com duas mulheres praticamente nuas. Onde estavam as roupas?
– No banheiro, no closet, sei lá! Isso não quer dizer nada – e eu não perdoaria Alex só por causa deste detalhe.
– Certo. Eu coloquei aquelas duas putas para correr, nuas como estavam. Anita eu não posso duvidar de que fosse capaz de realmente descer nua, sem nenhum pudor, já Tiffany... – ela balançou a cabeça negando. – Esta tentaria recuperar suas roupas, eu posso apostar nisso.
– Isso não prova nada – rebati me sentindo menos estimulada a atacar.
– Temos também o fato de Alex, e apenas ele, estar com o cabelo molhado.
– O quê? – aquilo estava ficando confuso demais. Como Miranda conseguiu ver tanto em tão pouco tempo?
– Se eles tivessem se divertido um pouco enquanto Johnny se deixava levar pelos encantos da ruiva, elas também deveriam estar com um aspecto mais limpo. Alex tinha realmente tomado um banho, mas elas estavam com os rostos impecavelmente maquiados, os cabelos não pareciam de duas mulheres prestes a transar a três. Sem contar que os corpos levemente suados correspondiam a corpos que estavam no ambiente de baixo um pouco antes e não de pessoas protegidas pelo frio do ar-condicionado.
– Suposições demais, Miranda – e minha voz não continha mais a certeza de antes.
– Ok! O próximo ponto é o fato de Alex estar algemado, enquanto as duas o atacavam.
– E daí?
– Não me parece ser típico dele se deixar ser conduzido – ela me encarou, e eu lembrei da vez em que eu fui algemada naquela cama e, quando quis fazer o mesmo, ele não permitiu. Não, eu não podia me render a argumentos tão frágeis. – Você sabe que Alex temia aquelas duas. Que ele sabia que, se cedesse, teria que ser muito bem feito. Jamais permitiria que elas o deixassem tão vulnerável.
– Céus pare com isso! Pare de tentar me convencer do contrário. Nós vimos que ele estava excitado.
– Se fosse o idiota do Patrício, eu até acreditaria que ele tinha sido cretino a ponto de se deixar levar pela situação, Charlotte, mas... merda! Eu tenho que admitir que Alex jamais faria isso. Ele não faria algo desse tipo se não tivesse a certeza de que você jamais descobriria.
– Ela tem razão – Johnny voltou a falar. – Sem contar que ele estava desesperado quando chegamos.
– Eu o havia flagrado. O que vocês acham que ele faria?
– Charlotte, eu sei que é uma merda passar por isso, mas Alex tem mais chances de ser inocente do que culpado – Miranda falou com segurança, fazendo-me fraquejar.
Eu queria acreditar naquilo? Claro que queria. Nada mais no mundo me deixaria mais satisfeita do que saber que eu poderia acordar daquele pesadelo. Só não poderia ser assim, apenas me enganando, alimentando falsas esperanças.
– Deixe ele te contar o que aconteceu – Johnny sugeriu calmamente, ciente de como meu corpo estava reagindo àquilo tudo. – Cada um aqui tem um pouco para te contar.
Concordei. Não sabia ao certo como reagir à presença de Alex depois de tudo o que Miranda conseguiu incutir em minha mente. Johnny abriu a porta e saiu. Miranda caminhou pelo escritório, sem conseguir se manter quieta.
– Charlotte, homens são assim – suspirei sentindo as lágrimas voltarem. – Alex não queria aquilo, eu pude ver, mesmo estando... você sabe. O corpo reage mesmo quando a mente diz não.
– Isso é absurdo, Miranda.
– Sim, é. Mas nós também ficamos excitadas com algumas situações embaraçosas ou erradas. A nossa sorte é que nosso corpo não muda de maneira perceptível, já os homens...
– Não posso aceitar este detalhe como um ponto positivo.
– Eu sei que você jamais vai aceitar, só tente entender, Alex ama você e isso não é mentira.
– Você perdoaria uma traição por causa do amor que sente? – ela me encarou confusa e minha pergunta pareceu magoá-la.
– Não! Alex não te traiu, ele foi lançado na fogueira por aquelas duas vadias. Não sei onde estava com a cabeça que não arranquei os olhos delas – e eu não sabia mais sobre quais vadias ela falava, se as de Alex ou as que estavam com Patrício.
Neste momento Johnny voltou, acompanhado por Alex, Patrício e João Pedro, que parecia mais constrangido do que todos os outros. Não tive condições de encarar Alex. Eu não podia. Por isso mantive os olhos baixos, concentrada em apenas ouvir.
ALEX
– Você não merece a minha consideração, João – esbravejei com o meu amigo que se mantinha nervoso.
– Lana vai me matar, cara! E eu não fiz nada. Todo mundo viu. Você viu, não viu, Patrício?
– Eu não vi nada – meu irmão rebateu indiferente. Ele não deixava de olhar para a porta do escritório.
– E amanhã eu ainda terei que dar conta de um milhão de aparelhos celular. Eu estou fodido, e divorciado – andou de um lado para o outro. – E a partir de amanhã vou dormir na casinha do cachorro.
– Você não tem cachorro – lembrei a ele sem me comover com o seu drama.
– Que seja! E você, Paty, também é culpado. Você convidou toda essa gente, era para ser algo mais discreto.
– Eu não convidei. Um falou para o outro e, quando eu vi, a casa estava lotada. E se me chamar de Paty outra vez eu vou agora mesmo contar a Lana o que você aprontou.
– Cara, Lana vai me matar!
– O que será ótimo! – eu sentia tanta raiva que poderia matá-lo. – Puta que pariu!
– O que você fazia lá em cima? – João perguntou nervoso. – Era para você ficar aqui, sob a nossa supervisão.
– Eu fui... – a porta do escritório se abriu e Johnny saiu de lá sozinho. – E aí? Eu quero falar com Charlotte – ele concordou, pegando-me pelo ombro, fazendo-me voltar dois passos.
– Ela está muito nervosa. Eu e Miranda tentamos fazê-la enxergar o que não conseguiu ver. Você deve o seu casamento a Miranda, ela foi brilhante. Charlotte está bem balançada.
– Graças a Deus! – eu já estava me voltando para a direção do escritório quando Johnny me segurou novamente.
– Eu preciso te perguntar, Alex. Você estava pretendendo...
– Não!
Não permiti que ele completasse. Eu sabia que não pretendia transar com elas, que meu coração estava seguro disso, assim com a minha mente. Para minha desgraça, meu corpo não reagiu como eu esperava e, se eles não tivessem entrado naquela hora, só Deus poderia saber o que teria acontecido.
– Então é sua vez de convencê-la disso. E vocês terão que ajudar. Cada um vai dizer o que sabe para ajudar a deixar Charlotte mais segura, certo?
Eles concordaram, então entramos no escritório. Charlotte estava próxima à cadeira. Tive vontade de abraçá-la e implorar para que acreditasse em mim e senti raiva por ser tão fraco e ter reagido daquela forma às duas mulheres que invadiram o meu quarto.
Ela mantinha os olhos baixos, sem me deixar saber a melhor maneira de abordá-la. Enquanto pensava por onde começar a falar, João me interrompeu.
– Charlotte, eu sou o culpado. Foi tudo minha culpa – João começou. – Eu quis dar a Alex uma despedida como a que ele me deu e não obedeci quando ele me disse que não poderia ser desta forma. Se tem alguém aqui que deve pagar pelo que aconteceu, sou eu.
– E você vai, João. Lana vai fazer você pagar muito caro – Miranda falou e eu tive que me lembrar o quanto ela tinha sido decisiva no esclarecimento da minha situação. Por causa disso, não rebati o seu comentário.
– Miranda – Johnny a advertiu, fazendo-a calar.
– Eu combinei a festa com o Patrício. Deveria ser para poucas pessoas, porém tudo saiu do nosso controle. Alex não sabia de nada e não ficou nem um pouco satisfeito quando chegou. Como nós estávamos nos divertindo e Johnny estava aqui para garantir que nada aconteceria... – vi minha noiva respirar fundo, incomodada com os argumentos do meu amigo.
– Mesmo que ele não estivesse – eu falei tentando salvar o meu lado –, eu jamais permitiria... – ela limpou o rosto e se moveu, inquieta.
– Claro que ele não faria – João continuou. – Mas você acreditaria no Johnny e não no Alex. Nós não convidamos Tiffany e Anita. Podemos até ter sido escrotos por organizar a festa, mas jamais a este ponto. Eu sei que elas te aborrecem, então nunca admitiria a presença delas. Mesmo assim, não sei como, elas ficaram sabendo, e apareceram – ele deu um passo inseguro em direção a Charlotte, e me olhou com cautela. – Eu não vi quando elas chegaram e não tenho como descrever a reação do Alex, só posso dizer que, um pouco antes de toda a confusão começar, fui abordado por Anita, e fiquei surpreso com a presença dela, apesar de não ter nem tempo de questionar. Ela me perguntou sobre o banheiro, disse que o de baixo estava entupido, o que me deixou bastante aborrecido, pois eu sabia que Alex me mataria por qualquer dano na casa, então disse a ela que tinha um social no andar de cima e fui para o outro pensando em resolver a situação sem precisar alertar ninguém.
– Puta merda, João! Você a mandou subir? – rosnei me controlando para não matar o marido da minha irmã.
– Como eu ia saber que você estava lá em cima?
– Isso confirma o meu argumento – Miranda disse para Charlotte. – Elas não tomaram banho com ele. Não daria tempo – vi minha noiva suspirar e balançar a cabeça.
– E eu acho que é tarde demais para tentar manter Lana longe disso tudo, não? – João falou aturdido, quase como se estivesse implorando. Charlotte o encarou.
– Ela vai saber, você é maduro o suficiente para entender que precisa arcar com o peso e as consequências das suas decisões – Charlotte falou, e João não se defendeu, apenas se encostou a parede e ficou pensativo.
– Eu também sou culpado, Charlotte – Patrício começou a falar. – Alex tentou me dissuadir de continuar com a festa, ele argumentou bastante, eu não concordei com seus argumentos. Se você quer achar um culpado, o filho da puta...
– Esse alguém é você, Patrício – Miranda o interrompeu, e meu irmão recuou imediatamente. Que patético! Se ele queria tanto a garota, então por que fazia uma merda atrás da outra? – Nós já sabemos disso.
– Miranda, você sabe que...
– Eu não sabia o que eles haviam aprontado – interrompi os dois antes que perdêssemos o foco da conversa. Charlotte virou o rosto, evitando me encarar. – Isso já ficou comprovado. Todos sabem como fiquei contrariado com a festa e Johnny viu como reagi à presença de Tiffany e Anita. Eu fui para o quarto, Charlotte, porque queria ficar longe de toda confusão, queria dar um tempo para a minha cabeça e aguardar até que todos fossem embora para poder ter um pouco de paz.
– Você estava de cueca, ou quase, deitado na cama com as duas.
– Eu estava – não tentei me defender. Não adiantaria de nada. – Tinha acabado de sair do banho, fui ao closet para me vestir quando ouvi a porta do quarto. Jamais poderia imaginar que elas seriam capazes de ser tão ousadas. Pensei que era um casal ansioso demais por privacidade.
– Que merda! – ela resmungou e balançou a cabeça, como se quisesse ajustar os pensamentos.
– Você tem razão. Foi tudo uma grande merda, mas o que você acha que pode esperar desse tipo de festa? Justamente por isso eu não quis que acontecesse, nem para mim nem para você, Charlotte. Foi por isso que fui para o meu quarto, mas elas foram lá e não me deram chance de reagir.
– Ah, você reagiu – ela afirmou ofendida. – Eu vi a sua “grande” reação – fiquei furioso. Claro que ela viu minha ereção, afinal de contas era o que Anita tinha nas mãos.
– Charlote... – comecei com fúria, depois parei me dando conta de que aquela conversa deveria ser entre nós dois apenas. – Vocês poderiam nos dar licença?
– Eu não vou ficar sozinha com você – ela rebateu alterada.
– Vai sim. Você vai ficar porque sabe que isso tudo foi armação, e que precisamos ter esta conversa.
E com isso eu sabia que Charlotte não se atreveria a sair daquele escritório. Os demais se olharam e aos poucos foram se retirando. Mantive os olhos fixos nela, sem querer perder a conexão entre nós dois. Quando Johnny saiu e bateu a porta, eu tomei coragem e fui em sua direção.
– Não! – ela deu um passo para trás e eu parei, sem deixar de olhá-la.
– Você sabe que aquilo não aconteceu. Pelo menos não como imagina.
– Eu vi.
– Você viu, Charlotte, nem por isso deixou de ser armação. Elas avançaram em mim, as duas, sem que eu pudesse impedi-las, então prenderam minhas mãos na cabeceira da cama.
– E você gostou disso – afirmou me desafiando.
– Claro que eu não gostei. Eu fiquei furioso. Ameacei-as de todas as formas, gritei por ajuda, o som alto impediu que alguém ouvisse.
– Que conveniente, não? – nós nos encaramos sem trégua.
– Porra, amor! Eu não sei o que posso te dizer. Você já sabe de tudo, sabe que foi uma puta sacanagem que aprontaram comigo. O que mais eu posso dizer? Eu te amo, Charlotte! Já provei o meu amor de inúmeras formas. Vamos nos casar em dois dias e você não tem dúvida a respeito da minha ansiedade.
Ela ficou calada me encarando, eu via a tensão na veia do seu pescoço, as lágrimas que marcaram seu rosto e as que ainda ameaçavam cair. Por que nada entre nós dois poderia ser simples e tranquilo? Por que sempre tinha que haver uma confusão?
– Charlotte, você sabe exatamente o que aconteceu, por que não confia em mim?
– Você estava excitado – jogou a verdade em minha cara deixando-me extremamente envergonhado. Engoli com força e não consegui manter meus olhos nos dela. – Você estava gostando, Alex. Como quer que eu releve e conviva com isso? – suspirei me afastando um pouco e limpei o suor da testa.
– É difícil de explicar – admiti com a voz baixa e ouvi o seu soluço. Merda! Eu me odiava! – Você não vai entender porque nossos corpos funcionam de forma diferente.
– Por favor, não faça isso! – ela disse chorando. – Não me diga que faz parte do instinto do homem. Não faça isso comigo, Alex.
– Droga, e o que eu posso te dizer? Se pensa que vou confirmar que senti tesão por aquelas duas, pode desistir porque não é verdade – um nó rasgava minhas palavras ainda em minha garganta. Charlotte não merecia aquele sofrimento. – Existe uma diferença entre seu pau reagir a um estímulo visual e você sentir tesão por alguém. Você pode achar absurdo, mas isso é instinto sim, não apenas do homem, é do corpo, Charlotte! Homens são visuais, nós olhamos e cobiçamos, não é como vocês que podem fechar os olhos e imaginar. Foi uma reação indesejada, que eu não consegui evitar, e sim, eu sou um canalha por causa disso, mas, se minhas mãos estivessem livres, elas nunca conseguiriam chegar tão perto, porque eu não tenho dúvida do que sinto, nem de quem eu quero – ela chorou mais. – Quer saber o que acontecia naquele momento? Eu tinha duas mulheres lindas em minha cama, decididas a fazerem o que quisessem comigo, e sim, meu pau ficou duro, ou você pensa que outro homem reagiria diferente? Pode ser assustador para você se imaginar presa por dois homens decididos a... Puta merda! – passei a mão pelo cabelo. – Para mim não é – revelei sem medo. – Para nenhum homem seria, Charlotte. Mesmo assim, naquele momento eu só pensava em você. Eu estava desesperado porque sabia que elas conseguiriam, eu tinha certeza de que elas conseguiriam, e eu não queria... – dei um passo em sua direção. – Você estava na minha frente o tempo todo, exatamente assim, os olhos marejados, o sofrimento estampado... Juro que pedi para que qualquer merda acontecesse que pudesse impedir que elas continuassem.
Charlotte limpou o rosto e fungou. Depois se afastou, dando a volta na mesa, deixando-a entre nós. Meu coração acelerou. Era hora do meu veredito.
– É justo você querer que eu aceite este argumento?
– Não – e não era, então eu não poderia mentir.
– Então o que acha que eu deveria fazer?
Ela já tinha tomado uma decisão. Eu sabia. Podia ver em seus olhos decididos. Droga!
– Não aconteceu, Charlotte. Eu... eu não sei mais o que posso te dizer. Quer saber o que eu acho que deveria fazer, mas como eu posso te dizer se estou desesperado? Eu não quero te perder, não quero que tudo acabe agora, e... droga! Eu não tive culpa.
– Você sente tesão por elas?
– Não!
– Nunca? Em momento algum desde que estamos juntos, você se sentiu tentado a ficar com elas?
– Nunca. Você sabe quantas oportunidades eu tive. Anita chegou a fazer uma proposta, eu nunca aceitei. Deus! Eu não sei que tipo de monstro eu seria se tivesse te convidado para estar aqui esta noite e, mesmo assim, me permitisse transar com elas – vi que Charlotte se surpreendeu com a minha colocação. – Eu te convidei, lembra? Eu disse que você poderia aparecer. Você acredita que eu seria tão idiota a ponto de transar com as duas com a porta destrancada, mesmo sabendo que você poderia aparecer? Acha mesmo que, depois de todo trabalho que tive para que você concordasse com o casamento, eu estragaria tudo dois dias antes? Charlotte, você precisa me dar um voto de confiança. É só olhar tudo o que aconteceu até chegarmos aqui.
Ela mordeu o lábio, abaixou a cabeça e outra lágrima escorreu.
– Amor...
– Eu vou para casa – anunciou. – Por favor, me deixe ir!
– E nós dois?
– Não me peça nada agora, Alex. Eu não estou em condições de decidir nada.
– Mas nós vamos viajar amanhã... é o nosso casamento.
– Por favor! – seus olhos suplicantes me alertaram que Charlotte estava no limite. Eu teria que ceder.
– Tudo bem – ela relaxou os ombros e começou a dar a volta na mesa para sair quando a interceptei. – Charlotte... – levantei a mão para tocá-la e minha noiva desviou.
– Não. Eu não vou suportar. Por favor!
Merda!
– Eu vou para o rancho amanhã – anunciei sentindo meu coração afundar. – Eu estarei lá, Charlotte. Aguardarei por você – ela apenas concordou e, mantendo-se afastada de mim, saiu.
Porra! Eu estava fodido! Respirei fundo tentando afugentar da minha mente as mil formas de matar aquelas duas desgraçadas. Seria uma longa noite.
CAPÍTULO 33
“Pois mesmo na torrente, tempestade, eu diria até no torvelinho da paixão, é preciso conceber e exprimir sobriedade – o que engrandece a ação.”
William Shakespeare
ALEX
Estacionei o carro reconhecendo os do meu pai, Lana e Patrício. Nenhum indício da família da minha noiva. Respirei fundo me convencendo de que ela apareceria. Não poderia ser diferente.
Eu havia retardado o máximo que pude a minha saída, na esperança de que ela me procurasse, ou que mandasse alguma mensagem, qualquer coisa que me dissesse o que se passava na sua cabeça, até mesmo uma ligação do Peter, revoltado com o que havia acontecido, ou desesperado com o fato de a filha negar a se casar. Qualquer coisa.
Nenhuma palavra. Nada. Do lado dela havia apenas silêncio.
E eu, covarde, fiquei com tudo pronto no carro sem conseguir dar a partida. A limpeza da casa fora providenciada para que, quando voltássemos, nada mais restasse daquela fatídica noite. Se é que voltaríamos. Quem poderia saber?
Cansado de esperar e já bastante atrasado, liguei o carro e comecei a sair da garagem quando a vi parada na entrada. Tiffany estava lá. Desliguei rapidamente o motor e saí com muita raiva.
– Saia imediatamente daqui – rosnei enfurecido. – Eu vou processar você por assédio, Tiffany. Vou destruir a sua carreira. Vou conseguir na justiça que você não possa chegar perto de mim ou de Charlotte pelo resto das nossas vidas.
Ela retirou os óculos escuros, mostrando olhos vermelhos e inchados. As lágrimas caíam sem esforço. O que eu via em seu rosto era puro pavor.
– Alex, por favor, eu preciso só de um minuto para...
– Não! Saia da minha frente. Estou farto de você e da maluca da sua prima tentando acabar com a minha vida. Por que não entende de uma vez por todas que eu não quero nenhuma das duas, que eu amo Charlotte e não você, droga! – ela estremeceu, encolhendo-se levemente com o meu grito.
– Não sei o que me deu ontem, eu... Oh, Deus, Alex! Eu não sabia o que estava fazendo e então... Charlotte estava no quarto, você estava preso à cama e eu... Meu Deus! Não sei o que dizer, não sei!
Chorou copiosamente, irritando-me ainda mais.
– É melhor sair do meu caminho ou vou passar o carro por cima de você.
Voltei para meu carro, dei partida, e juro que dei a ré mais rápida da minha vida. Tiffany saiu da frente, assustada. Acionei o portão da garagem e aguardei que se fechasse, observando se aquela maluca aprontaria alguma coisa. Com a casa toda fechada, fui embora sem olhar para trás.
Peguei a estrada. Seria uma viagem longa, cansativa e silenciosa. Apenas eu, meus pensamentos, meus medos e todos os conflitos que minha mente podia produzir.
Droga!
Parado na garagem da casa do rancho, eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse o que tinha acontecido no nosso encontro anterior. A confusão que Charlotte criou fazendo-a fugir, a tempestade, o meu desespero, o resgate e como tudo acabou bem.
Porra! Eu precisava que tudo acabasse bem novamente. Precisava de Charlotte, daquele casamento, da nossa vida... Eu precisava dela.
– Por que nas últimas vezes que esteve aqui, tem preferido passar um tempo admirando as paredes desta garagem velha?
Lana abriu a porta do carona me pegando de surpresa e entrou. Nossos olhos se encontraram. Ela não precisava me dizer muita coisa, boa parte estava estampada em seu rosto, na borda vermelha dos olhos, indicando o choro excessivo, nas olheiras e no tom abatido. Lamara sabia o que João havia aprontado. Peguei em sua mão com cuidado.
– Você está bem? – os lábios da minha irmã formaram uma linha fina e ela fez um esforço para sorrir.
– Vou ficar.
– Ajuda dizer que ele não fez nada? Que não teve a intenção de magoar ninguém?
– Não sei como você ainda consegue defendê-lo, Alex – cobriu minha mão com a dela. – João quase arruinou o seu casamento.
– Eu sei. Ele não seria o João Pedro que conhecemos se não fizesse alguma merda – ela sorriu e foi verdadeiro.
– Tem razão.
– Como ele está?
– Arrasado. Disse que, se Charlotte não estiver naquele altar amanhã, ele mesmo se daria uma surra.
– Merecida.
– Sim, merecida.
Voltamos a nos olhar em silêncio. Lana me observava com atenção, eu sabia que ela procurava uma forma melhor de me dizer a verdade.
– Ela não veio, não foi? – minha irmã suspirou pesadamente e meu coração acelerou. O que eu faria? – Droga!
– Ela está aqui – pego de surpresa, fiquei embasbacado com o que acabara de ouvir.
– Charlotte está aqui?
– Sim – Lana continuava cautelosa. – recusou-se a fazer a última prova do vestido. Está trancada no quarto desde que chegou e não quer receber ninguém.
– Merda! E Peter?
– Ele ainda não chegou. Parece que aconteceu algum imprevisto, por isso pediu para o motorista trazer Charlotte.
– Ela não veio dirigindo?
– Não. Alex, ela está arrasada. Eu não consigo acreditar que Tiffany teve tanta audácia.
– Tiffany está com problemas, Lana. É a segunda vez que ela age assim comigo e depois fica envergonhada, é como se estivesse possuída, sei lá. Já Anita... eu sempre soube que ela me daria trabalho.
– Você deveria dar queixa delas na polícia.
– E ver a situação se voltar contra mim? – encostei no banco do motorista. Eu tinha dormido pouco, estava cansado demais. – Prefiro usar isso contra elas para mantê-las bem afastadas.
– Se você acha que vai conseguir... – deu de ombros. – Bom, você tem um longo trabalho pela frente. Charlotte pode ter vindo, mas não creio que o perdoou. Pode ser que não tenha coragem de enfrentar o pai faltando um dia para o casamento.
– Eu sei. Vou tentar resolver. Obrigado!
CHARLOTTE
Alguns fatores me fizeram prosseguir com o casamento. O primeiro e mais importante foi a mensagem de Tiffany logo cedo, contando que elas realmente forçaram a barra e que Alex em nenhum instante deu a entender que queria ficar com elas. Dentre tantas coisas ditas, estavam as desculpas e a demonstração de arrependimento, assim como a confusão mental em que ela se encontrava.
O que não deixava de classificá-la como uma vaca em altíssimo grau.
O segundo era o fato de eu não saber como dizer aos meus pais que precisava de mais um tempo para digerir esta confusão. Eu estava triste, magoada e ofendida, porque, por mais que eu soubesse que ele não estava ali por livre e espontânea vontade, eu vi que Alex estava excitado, e não havia santo que me fizesse acreditar que era apenas uma reação do corpo ou qualquer outra baboseira que tenha tentado enfiar em minha cabeça.
Terceiro fator: a conversa que eu tive com Johnny, que dormiu comigo, em meu quarto, abrindo mão do conforto da sua cama, para me acalmar. Meu amigo era verdadeiro demais para tentar me iludir com falsos conceitos em torno da masculinidade. Ele me disse que o que Alex falou pode ser verdade, também que ele não acreditava que um homem ficasse muito tempo excitado tendo em mente o problema que se meteria. Não que Alex estivesse mentindo quando disse que pensava em mim, mas, de acordo com o meu amigo, talvez nem Alex soubesse o quanto a sensualidade de Tiffany e Anita o afetava, e lógico que seria muito difícil para ele admitir tal fraqueza.
Pensei mil vezes em desistir ao ouvir de meu amigo que meu noivo poderia sim se sentir atraído por aquelas duas. No meu coração, e na minha mente, não havia espaço para certezas como aquela, mas então ele falou uma coisa que me fez repensar. Ele disse:
“– Lottie, todo mundo está susceptível a isso. Você pode ter fantasias com um artista, um vizinho, pode se sentir encantada ou até mesmo sexualmente atraída por alguém, o que não muda o seu sentimento por Alex. Claro que existem limites. Alex não poderia achar que transar com elas era justificável, por isso ele não transou. Antes de ele decidir ficar com você, teve que fazer um balanço da vida, do que queria e o que pretendia, no final de tudo, viu que os sentimentos por você iam muito além do desejo, era algo muito mais forte. Uma coisa não elimina a outra. Veja só: Alex já transou com Tiffany e ele pode ter boas lembranças de como era a relação sexual deles, não? Acontece que ter alguém que te satisfaça na cama não é o suficiente, e Tiffany falhou nos outros quesitos. Já Anita... ele teve todas as chances, mas preferiu nem arriscar, então não há por que ter medo. Talvez você não entenda por ser muito nova e sem experiência de vida. Nunca se permitiu gostar de alguém ou se sentiu atraída por outro homem, porém nunca é tarde para acontecer. Você vai amadurecer, vai conhecer novas pessoas e vai ter momentos em sua vida que alguém vai ser mais do que interessante e verá que, no final das contas, o seu amor por Alex vai falar mais alto.”
E foi nisso que eu amanheci pensando e o que me levou a pegar a mala e entrar no carro designado por meu pai. Ele teve um imprevisto e precisou sair logo cedo com a minha mãe. Agradeci, pelo menos eu teria mais tempo comigo mesma para organizar a minha mente, sem precisar me justificar com mais ninguém.
E, desde então, eu estava trancada naquele quarto, olhando as paredes e o mundo lá fora pela janela. Vi flores sendo entregues, jardim sendo cuidado, aos poucos a movimentação da casa mudar e nem assim eu tive ânimo para reagir.
Lana sabia o que tinha acontecido. Lógico que João Pedro não deixaria que ela soubesse por outras pessoas, então ela entendia o meu lado, por isso eu estava conseguindo ficar sozinha, apesar de Miranda entrar e sair a cada meia hora apenas para verificar se estava tudo bem.
Uma batida na porta fez com que eu me afastasse da janela. Eu precisava fingir que era somente cansaço, no caso de serem os meus futuros sogros ou qualquer outra pessoa que não estivesse envolvida naquela confusão.
Era Alex e eu senti meu mundo girar.
– Posso entrar? – sua voz mansa deixava claro que ele não estava ali para me cobrar nada, só para se certificar de que estava tudo bem. Concordei e ele entrou, fechando a porta. – Você está bem? – soltei o ar preso nos pulmões.
– Não. Como poderia estar? – andei até a cama e sentei, colocando o rosto entre as mãos e apoiando os cotovelos nos joelhos. O movimento do meu lado me mostrou que ele também havia sentado.
– Mas você está aqui – ri sarcástica.
– E o que você esperava, que eu dissesse a meu pai que não teria mais casamento?
– Conhecendo você como eu conheço, sim, era o que eu esperava – nós nos olhamos e vi que havia muita determinação em seu olhar. – Você pode enganar as pessoas com esse falso tom submisso, Charlotte, mas eu sei muito bem que nunca faz nada contra a sua vontade.
Parei boquiaberta. Eu deveria dar uma resposta rebelde, não deixá-lo tão seguro quanto à minha aceitação, porém Alex estava tão certo que foi impossível rebater.
– Tiffany mandou uma mensagem contando a verdade – Alex ficou surpreso, mas nada disse. – O que não muda em nada o fato de você ter ficado excitado.
– Charlotte...
– Eu não quero mais falar sobre esse assunto, Alex – levantei não lhe dando a chance de me tocar. – Quanto mais eu penso mais magoada fico.
– Então não pense – ele levantou também, respeitando a minha distância. – O que eu sinto por você não conta? – aguardou pela resposta que não chegou. Eu não seria capaz de responder. – Tudo bem, o que quer que eu faça? Diga! Qualquer coisa, Charlotte, é só dizer. Precisamos colocar uma pedra sobre esta história. Você sabe que eu fui vítima daquelas duas, então vamos apenas tentar deixar passar.
Deixar passar.
Era o que eu queria? Simplesmente esquecer o assunto e fingir que nada aconteceu? Eu queria mentir para mim mesma todos os dias sobre o tesão do meu futuro marido por outras mulheres?
Merda!
Só que eu sabia que era algo incontrolável. Alex poderia nunca mais chegar perto daquelas duas, o que não significava que outras mulheres sexualmente atraentes não surgiriam na vida dele. Bastaria apenas que ele nunca me contasse e nunca me traísse e estaria tudo certo, não?
Eu não sabia.
– Amor... – ele se aproximou, ficando em minhas costas. Nossos corpos quase colados, centímetros nos separando. – Isso não importa. Eu te amo e estou aqui, louco para poder te abraçar, te beijar e sentir que você é minha outra vez.
Fechei os olhos e mordi o lábio. Eu também sentia saudade, especialmente depois de tantos problemas. Alex me tocou e um calafrio percorreu a minha espinha. Um choque que misturava desejo, amor e medo.
– Diga o que eu posso fazer, Charlotte. Estou disposto a qualquer coisa.
– Eu não sei o que você pode fazer – admiti. – Eu quero ficar bem, infelizmente não consigo. Simplesmente não consigo – senti Alex respirar fundo, prender a respiração e depois soltá-la.
– Tiffany era o tipo de mulher que me atraía fisicamente – fiquei tensa imediatamente e suas mãos foram para os meus ombros. – Meu relacionamento com ela foi baseado apenas em sexo, apesar de mantermos uma amizade saudável. Eu não conseguia me ver em uma relação mais séria com ela, porque, ao mesmo tempo que me atraía fisicamente, repelia-me quando o assunto eram os nossos princípios e ideais, então eu sempre soube que nunca passaria de sexo. Eu tive muitas mulheres, Charlotte. O fato de não ter escolhido nenhuma delas para compartilhar a minha vida não impediu que eu as escolhesse para compartilhar a minha cama. Não me sinto atraído por Tiffany, pelo contrário. Apesar de ter boas lembranças do que éramos sexualmente, eu não me vejo vivendo outra vez nada disso com ela, e eu tive muitas chances, mesmo antes de você entrar em minha vida, antes de eu me sentir tão perdidamente apaixonado e decidido a ter você para mim. Então não existe motivo para ter medo da reação física que eu tive ontem. Não foi por Tiffany.
– Foi por Anita então?
Minha voz embargada demonstrava o quanto aquele assunto mexia comigo. E, apesar de me sentir triste, as palavras de Alex aliviaram um pouco mais a minha dor. Ele não desejava Tiffany. Pelo menos não conscientemente.
– Não. Anita, apesar de ser linda fisicamente, nunca foi o tipo de mulher que eu admitiria em minha vida, mesmo que fosse só sexualmente, nem por uma noite, nem por uma trepada rápida, nada. Ela sempre me fez repudiar a ideia, apesar de, volto a falar, ela ter um corpo lindo, que chama a atenção de qualquer homem e enaltece o ego.
– Tudo é corpo? – comentei magoada. Tiffany e Anita eram bem diferentes de mim.
– No primeiro instante, sim. É a primeira coisa que te atrai, que agrada seus olhos. Você se sentiu atraída por mim, mesmo tendo me achado um cara insuportável que descartaria o seu projeto. E tudo porque te encontrei na praia, ou acha que não notei como ficou mexida quando me viu só de calção? Infelizmente é isso, Charlotte! Você vê e cobiça, no entanto, basta uma palavra, um gesto menos conveniente para a atração esmaecer. Aos poucos, conhecendo a pessoa, a atração vai mudando de foco. Você, por exemplo, adorava o fato de eu ser mais maduro e de conversar diretamente sobre assuntos que a deixavam desconfortável. Eu, por outro lado, detestei de cara a forma como Anita falava e se exibia, e amei a maneira como você corava e olhava para as mãos. É assim que funciona.
– Eu não sou fisicamente parecida com elas – sussurrei envergonhada pelo meu comentário.
– É isso o que está te incomodando?
– Talvez.
– Hoje eu me sinto muito mais atraído pelo seu corpo do que pelo que me atraía antes. Amo a sua desenvoltura, a sua coragem, o fato de ser tão destemida e de saber o que quer quando o assunto é sexo. Você não espera que eu te guie, apesar de sempre dar esta ideia. Você simplesmente faz aquilo que não consegue evitar. Não se retrai, não se intimida, e eu adoro isso tudo em você. É muito mais do que o que eu tive com Tiffany e mais do que Anita seria capaz de me oferecer. Não se sinta tão diminuída, Charlotte. É você quem eu quero e isso não vai mudar se não estiver naquele altar amanhã. Eu vou continuar não querendo nada com aquelas duas.
Ele me virou lentamente. Mantive os olhos baixos com medo de me perder e não conseguir mais me encontrar. Fazia todo sentido o que ele me dizia. Eu não tinha parâmetros, não tinha como saber se comigo aconteceria assim. Se eu já tivesse me envolvido com alguém, se tivesse mais conhecimento sobre relacionamentos, talvez assim tivesse uma ideia melhor do que ele me dizia. Talvez assim eu conseguisse entender.
Se eu não sabia, se eu não tinha nenhuma noção, se era apenas uma garota assustada, inexperiente, que conhecia livros e sonhos, eu poderia dizer que ele estava errado? Se ele me dizia que era assim que funcionava, eu poderia afirmar que acontecia apenas com ele e ninguém mais? Que era apenas uma tentativa de se justificar e me ludibriar?
Não, eu não podia. E não tinha mais nada que eu pudesse fazer, porque sabia, no fundo do meu coração que era no que eu queria acreditar.
Alex levantou o meu rosto sem encontrar resistência da minha parte. Fui tragada pela sinceridade que seus olhos me passavam e não tive outra saída. Ele me beijou e eu aceitei ser beijada.
Foi rápido. Apenas um juntar de lábios, uma pequena demonstração do amor que sentíamos, então Alex interrompeu o beijo e me abraçou. Um abraçado que expressava o alívio que ele sentia por estarmos voltando à nossa bolha.
– Lana falou que você não quer fazer a última prova do vestido – disse sem me cobrar uma posição.
– Eu precisava de um tempo.
– E ainda precisa? – concordei com a cabeça. – De mim também? – neguei. Depois de tanto questionar eu não estava preparada para deixá-lo. – Quer dar uma volta?
– E Lana? E tudo o que precisamos fazer?
– Tudo pode esperar – beijou minha testa com carinho. – Nós não.
Alex me puxou para fora do quarto e, sem pressa, caminhou abraçado comigo até sairmos da casa. O sol já estava alto, o que me fez conferir as horas, verificando que já passava do meio-dia.
– Não vão almoçar? – Dana nos chamou pela janela. Alex me puxou para mais perto.
– Vamos dar uma volta – disse com voz firme.
Foi quando o carro do meu pai entrou na propriedade. Vi que Alex ficou tenso imediatamente e imaginei que fosse por causa da confusão do dia anterior. Ele tinha razão em ter medo de que meu pai ficasse sabendo, mas, pelo bem de todos e pela paz mundial, eu tinha evitado que ele soubesse.
Logo em seguida, Johnny entrou em sua moto recém-adquirida e pela qual ele nutria um grande amor. Lógico que ele não deixaria de pegar a estrada em cima daquele monstro barulhento. O que me surpreendia era meu pai ter permitido.
– Peter... – ele falou baixinho.
– Não sabe de nada – senti seus ombros relaxarem.
– Que bom – eu nada respondi.
Minha mãe desceu antes de meu pai levar o carro para a garagem. Ela parecia abatida, mas sorria quando Miranda a encontrou e a abraçou, para depois auxiliá-la com a bolsa. Ela estava pálida e naquele instante me dei conta do quanto estava magra.
– Minha mãe deveria desistir da dieta – comentei e Alex ficou calado, mas percebi que voltou a ficar tenso.
– Alegria encontrar o casal mais bonito do ano logo na minha chegada – ela falou com a jovialidade de sempre. – Deixe-me abraçá-los – ela nos envolveu em seus braços frágeis e nós retribuímos o abraço. – Vocês estão me fazendo a mulher mais feliz do mundo todo.
E, naquele momento, eu entendi que tinha tomado a decisão certa.
***
Minha mãe segurava a minha mão e sorria com uma alegria impossível de ser mensurada. Ela estava linda, apesar de mais magra do que eu gostava, depois de absorver o sol daquele fim de dia, sua cor estava muito melhor.
Tínhamos passado o dia juntas. Depois que ela chegou, eu me senti à vontade para encarar o casamento e tudo o que eu ainda precisava fazer, mesmo que sua chegada tenha frustrado os meus planos com Alex de passarmos um tempo juntos para consolidar a nossa relação.
Alex circulou de um lado para o outro, fazendo tudo o que Lana tinha designado para ele, sem se aproximar muito. Eu sentia sua falta e temia tê-lo magoado demais e causado seu afastamento, apesar de saber que ele foi a causa de tudo o que aconteceu.
Meu pai também estava estranho. Ele chegou carrancudo alegando que teve alguns problemas no trabalho. Só que ficou assim o dia inteiro, mesmo com Adriano tentando entretê-lo. Naquela tarde, ele me pareceu especialmente aborrecido, enquanto minha mãe continuava ao meu lado e sorria sempre que notava a apatia dos nossos amores.
Lana se aproximou quando a tarde estava chegando ao fim. Ela e Dana estavam compartilhando da mesma sensação agradável e preguiçosa que era receber os raios de sol após dias longos de frio. Ambas pareciam satisfeitas com o corpo que a festa ganhava, apesar de sabermos que o grosso só seria feito no dia seguinte.
– Alex está armando alguma coisa – Lana deu um gole em sua vodca com Coca-Cola e gelo e olhou na direção da saída da casa.
Acompanhei o seu olhar e vi meu namorado indo em direção à garagem com uma pequena sacola de viagem na mão. Fiquei intrigada. Ele não passaria a noite ali? Para onde iria?
– Não coloque minhocas na cabeça dela, Lana – Dana ralhou. Ela, que estava conversando com minha mãe sobre as lindas rosas que conseguiu plantar, também tinha notado o filho passando e em atitude suspeita.
– Tudo bem – sorri voltando a fechar os olhos para aproveitar o calor do sol em meu corpo.
– Vamos pensar na foto que colocaremos na orelha do livro. Sair um pouco da tensão do casamento e adiantar o meu trabalho.
Lana tagarelava falando sem parar sobre a edição do livro. Em alguma parte daquela conversa, eu voltei a abrir os olhos e me perdi na visão do meu professor andando em minha direção. Ele sorria, porém eu percebi que seu sorriso não chegava aos olhos.
Alex caminhou lentamente. À medida que se aproximava, eu tinha a impressão de que seus passos não eram tão seguros quanto costumavam ser e que seu semblante exibia uma confusão que me deixou imediatamente em estado de alerta.
– Posso roubar minha noiva? – ele olhou para a minha mãe e sorriu com carinho, depois para sua mãe e irmã. Elas se entreolharam com sorrisos conspiratórios.
Levantei limpando os restos de grama que pinicavam a minha perna. Alex, sem nenhum aviso prévio, tomou-me em seus braços para um abraço apertado e cheio de saudades. Fiquei sem entender, nem reagir, também não tive tempo de pensar sobre o assunto, pois, assim que ele afrouxou o abraço, seus lábios se juntaram aos meus e meu mundo saiu do eixo.
Foi um beijo que tirou o meu chão. Havia um pouco de tudo nele. Amor, paixão, desejo, desespero, urgência... urgência! O que estava acontecendo com o meu noivo? Não havíamos conversado e resolvido aquele problema? Não estávamos caminhando para restaurar a nossa bolha?
– Crianças! – Dana riu interrompendo o nosso momento.
Alex me largou. Meu corpo inteiro protestou. Merda! O que mais eu poderia fazer além de esperar até o casamento?
– Vamos dar uma volta? – seus olhos brilharam.
Puta que pariu! Por que eu me senti totalmente quente com seu pedido? Por que minha mente registrou um milhão de promessas naquelas palavras? E como podia pensar em sexo com o meu eterno professor depois de uma noite terrível, cheia de imagens horrorosas?
– Claro! – eu ainda estava presa naquele olhar que me transportava direto para o céu ou me atirava ao inferno.
– Com licença, senhoras – Alex fez uma reverência digna dos filmes de época. As mulheres sorriram encantadas com o gesto. Ele segurou a minha mão e me puxou na direção da garagem.
– Aonde vamos? – ele continuou andando sem olhar para trás, parou só para abrir a porta do carona. Não me atrevi a entrar. O encarei interrogativamente. Alex soltou o ar de maneira teatral.
– Posso sequestrar a minha noiva?
– Sequestrar?
– Bom... não sei se uma fuga com o consentimento do pai dela pode ser classificada como sequestro, mas...
– Com o consentimento do... – ele me interrompeu com um beijo que selou meus lábios.
– Entre – ordenou dando as costas.
Obedeci prontamente. Rapidamente meu noivo estava ao meu lado, colocando a chave na ignição e, antes de dar a partida, parou para me olhar. De novo, eu percebi que havia alguma coisa errada.
– O que foi?
– Nada. Só... – seus olhos varreram meu rosto demorando-se em meus lábios. Alex abandonou o volante e segurou meu rosto com as mãos. – Eu amo tanto você! Por que não percebi isso antes? – não era uma brincadeira ou um momento romântico do meu professor e sim um pouco mais do seu embate interno. O mesmo que o estava deixando estranho.
– Porque você é um idiota cabeça-dura – ele sorriu e beijou meus lábios com carinho e cuidado. – Vai me dizer o que está acontecendo? – murmurei sem ter certeza de que queria realmente saber.
Alex me olhou por breves segundos, confirmando a minha suspeita, mas não respondeu. Deu partida e saímos da garagem rumo a “sabe Deus onde”. Meu coração estava apertado.
– Para onde vamos? – repeti a pergunta ao perceber que nos distanciávamos da casa.
– Para a cabana – sorriu maliciosamente e toda a região abaixo da minha cintura começou a formigar.
ALEX
Juro que quando Peter me chamou para conversar, acompanhado do meu pai, e ambos estavam com péssimas caras, eu pensei que Johnny tinha estragado tudo e contato a merda da noite anterior. Estremeci só de imaginar o sermão que aqueles dois me passariam, e isso seria o mínimo, ainda havia a possibilidade de cancelarem aquele casamento.
Mas o que ouvi me deixou muito mais atordoado do que se tivesse que me explicar para eles dois. Peter estava irritado porque Mary deveria passar a noite no hospital e ele não foi capaz de convencê-la a aceitar. Ela queria estar com Charlotte naquele momento.
Ver meu futuro sogro tão nervoso me deixou compadecido. Por alguns instantes, minhas incertezas e inseguranças em relação a Charlotte e tudo o que havia nos afastado nas últimas horas foram esquecidos.
– O que posso fazer, Peter? No que está pensando?
Confesso que acreditei que ele me pediria para cancelar o casamento, para inventar uma desculpa, qualquer que fosse, para que a cerimônia não acontecesse, e só a ideia me deixou apavorado. Meu pai me olhou com cautela, tomando fôlego para assumir a conversa.
– Conseguimos trazer a medicação e a equipe médica para Petrópolis. Eles estão instalados no hospital próximo daqui.
– Vocês querem que eu distraia Charlotte? E Mary? Não estou entendendo.
– Nós queremos que você tire Charlotte daqui – meu pai disse. – Passem a noite fora.
– O quê? – olhei para Peter, que estava vermelho e ansioso.
– Mary só vai aceitar passar a noite no hospital se Charlotte não estiver aqui. Se entender que ela está em um momento... – meu futuro sogro engoliu com dificuldade – ... um momento só dela.
– A ideia é que você a leve para a cabana – meu pai assumiu outra vez, tirando de Peter o peso daquela decisão. – Então Mary vai para o hospital e Charlotte não vai desconfiar de nada.
– Vou mentir outra vez para Charlotte? Droga!
Não era nada confortável a minha posição, infelizmente não havia outra saída. Eu não podia contar à minha noiva, na véspera do nosso casamento, que a mãe dela estava morrendo e precisaria passar a noite no hospital. O casamento seria cancelado imediatamente.
– Tá, tudo bem! Eu só... preciso organizar as coisas para que a cabana esteja pronta para recebê-la.
– Nós já cuidamos de tudo, filho – meu pai revelou e, outra vez, o clima estranho e desconfortável dominou o escritório. – A Cabana está pronta.
– Certo – olhei para Peter, que evitava me olhar diretamente. – Vai ficar tudo bem, Peter – ele concordou com um movimento impaciente. – Vou buscar Charlotte.
Saí do escritório meio atordoado com tudo o que tinha acabado de acontecer. Respirei fundo. Realmente Mary não estava nada bem e eu precisava me preparar para consolar Charlotte quando ela descobrisse a verdade. Seria triste e doloroso.
Mesmo assim eu iria até o fim. Mentiria uma vez mais com o único intuito de fazê-la feliz, enquanto ainda podia ser.
CHARLOTTE
Alex estava muito estranho. Ele parecia pensativo, ficava sério encarando o nada e sempre que me flagrava olhando-o, simplesmente sorria e fingia que faltava fazer mais alguma coisa na cabana.
Eu estava perdida entre sonhos e fantasias. Olhar aquela cabana outra vez fazia as lembranças dançarem na minha frente. Eu estava completamente envolvida na atmosfera daquelas imagens, no amor que sentia e no desejo que nos assolou naquela noite.
Oh, Deus! Alex tinha dito que me amava, tinha feito amor comigo e foi maravilhoso! Tentei me concentrar no que acontecia ao nosso redor, a casa toda preparada, como se estivesse nos aguardando, Alex conferindo a lareira e nem estava frio, o sofá... Ah, aquele sofá!
Céus, Charlotte! Pense em qualquer coisa que não seja ceder tão fácil ao homem que na noite anterior estava algemado na cama com duas mulheres.
Só que eu não conseguia mais pensar neste assunto. Para mim, em meu coração, tudo o que tive de argumento e justificativa foi o suficiente para enterrar de uma vez por todas a minha dor. Alex não estaria com as duas vacas se não fosse forçado a isso e, sinceramente, é preciso muita falta de amor próprio para algemar um homem na cama e forçá-lo a transar.
Senti até pena delas.
– No que está pensando? – meu noivo se aproximou cautelosamente, os olhos escrutinando meu rosto. Eu pude ver em suas feições que ele temia que Tiffany e Anita ainda fossem motivos para eu me afastar.
– Não vamos voltar hoje, não é? – seus olhos se abriram surpresos e sua mão vagou pelos cabelos lisos e negros como a noite.
– Não. Precisamos de um tempo só nosso, então pensei em...
– Está louco? Meu pai vai nos matar antes de estarmos oficialmente casados – afastei-me tentando encontrar algum indício de que ele brincava, Alex ficou sério e mordeu o lábio.
– Na verdade... Peter não achou a ideia ruim.
– O quê? – não acreditei no que ele me dizia.
– Eu disse, Charlotte. O segredo estava no casamento. Peter relaxou e se conformou.
– Espere um pouco... – fiquei confusa. – Você disse ao meu pai que passaríamos a noite aqui, juntos, sabendo que ele conseguiria supor o que faríamos, e mesmo assim ele aceitou?
– Vamos nos casar amanhã.
– E daí? Estamos falando de Peter Middleton e não de qualquer outro pai normal da face da Terra.
Não sei dizer o que mais me atormentava, se a possibilidade de termos uma noite só nossa sem a pressão do casamento, ou a facilidade de Alex em conduzir o meu pai.
– Ele caiu, bateu a cabeça... sei lá, qualquer coisa que justifique este fato? – Alex riu e me abraçou.
– Eu disse a Peter que tivemos problemas ontem, que você estava bem aborrecida comigo e que, por causa dos compromissos com o casamento, não tivemos a chance de conversar, então deixei ele imaginar que você poderia desistir e não comparecer amanhã. Talvez, quem sabe, até fugisse no meio da noite. Sugeri que passássemos algum tempo sozinhos, para que eu te convencesse a não desistir.
– E ele acreditou?
– Tratando-se de você, Charlotte, qualquer coisa é possível – vi a frustração em seus olhos e entendi que Alex acreditava mesmo naquela asneira toda.
– Eu não fugiria – garanti. Ele entortou a boca e fez uma careta. – Alex, eu não vou desistir do casamento.
– Assim eu espero – disse por fim, levantando a mão para acariciar o meu rosto.
– Mas você não está tão certo de que será assim – mais uma careta e ele se afastou, indo sentar no sofá.
– Porque você é muito imprevisível. E depois de ontem eu não sei mais o que esperar da vida. É melhor que passemos a noite juntos, para garantir que nenhuma merda aconteça.
Suspirei e caminhei em sua direção, parando diante dele. Alex levantou os olhos e me encarou, aguardando pelo que eu faria. Passei os dedos pelos seus cabelos, adorando a textura dos seus fios. Ele fechou os olhos, aproveitando o carinho. Sem que minha mão o abandonasse, ajoelhei, ficando entre as suas pernas, e, inclinando o corpo para frente, beijei-o.
Alex correspondeu no mesmo instante. Seus lábios quentes se movimentavam nos meus, num ritmo calmo, aproveitando cada sensação gostosa que surgia em nossos corpos à medida que o beijo se aprofundava. Suas mãos se apossaram de mim, puxando-me pelas costas, levando-me para mais perto, meus seios colados ao seu peitoral, separados pelas roupas, mas ansiosos pelo contato. A língua atrevida assumiu o controle e eu me vi rendida.
Como eu o queria!
Mãos quentes e possessivas me tomavam, apalpando meu corpo, acariciando as laterais das minhas pernas, dominando minha bunda e subindo pelas minhas costas para fazerem de mim o que bem quisessem. Gemi deliciada e levantei para sentar em seu colo.
Alex se encostou no sofá, recebendo-me em seu colo, ficando entre as minhas pernas. Apesar do jeans grosso, senti a sua ereção, um corpo desperto e pronto para mim. Afundei os dedos em seus cabelos e rebolei lentamente em seu sexo, deleitando-me com a fricção fabulosa.
– Não, amor! – sussurrou em meus lábios, mas me puxou para o lado deitando-se sobre mim.
Intensificamos o beijo. Abri minhas pernas recebendo-o no meio delas. Alex apertou minha cintura com força e se movimentou roçando seu sexo no meu. Passei minha língua em seus lábios, de maneira insinuante. Meu noivo, quase marido, esfregou-se em mim com mais intensidade, desviando os lábios dos meus para beijar meu pescoço.
– Linda, hoje não – e se afastou com um sorriso debochado.
– Não? – perguntei atordoada, sem entender o que ele queria dizer.
– Não. Vamos nos casar amanhã, quero manter a tradição.
– O quê? – quase gritei em resposta. Alex riu. – É brincadeira, não é?
– Não. Não é – levantou-se do sofá. – Tenho que alimentar a lareira ou vamos congelar.
– Está quente até demais aqui – sentei no sofá vendo Alex se movimentar sem esconder seu pau firme e duro, seguro pelo jeans.
– Mas vai esfriar e eu não quero que você fique doente no dia do nosso casamento. Comporte-se e tudo vai terminar bem – minha mente estava uma confusão só. Como assim ele não queria transar? E como assim manter a tradição? Que diabo de tradição ainda existia no século vinte e um?
– E aquele papo de não querer perder nem um segundo? De não deixar nada para depois, de viver o agora? Foi somente para me convencer a aceitar este casamento a jato?
– Vamos fazer assim. Você quer namorar, então vamos namorar pelo tempo que ainda tem como solteira. Amanhã estaremos casados e o sexo passará a ser uma obrigação do matrimônio. Podemos esperar – ele sorria como se estivesse aprontando alguma travessura.
– Obrigação? Que absurdo! – joguei o corpo no encosto do sofá, fazendo ruído. Todas as minhas células gritavam em protesto.
– Claro que sim. Você será “minha esposa” e por este pequeno fato, terá obrigações a cumprir, Sra. Frankli – passei a mão no rosto me negando a acreditar naquela conversa.
– Inacreditável!
– Vou alimentar a lareira – e disparou porta afora.
Fiquei paralisada no sofá, incapaz de reagir. Alex com certeza tentava me distrair para que eu não desistisse do casamento. Droga! Não seria tão fácil. Levantei decidida a ir a seu encontro quando ele voltou com toras nos braços.
– Pode parar com isso, professor Alex Frankli! – ele olhou em minha direção e sorriu. – Estou falando sério. Volte agora mesmo para aquele sofá e cumpra com sua obrigação de professor particular – ele deu uma risada alta e gostosa enquanto jogava a madeira no fogo.
Eu me sentia como aquelas toras, queimando e sendo consumida pelas chamas. Toda aquela história de morte, de desejos realizados e amores perdidos, de mulheres nuas algemando meu noivo a uma cama, de ele deixar claro que desejava o meu tipo físico e não o delas, tinha me deixado tensa. Precisava, ou melhor, necessitava de Alex para voltar a me sentir segura.
– Em menos de vinte e quatro horas, Charlotte – caminhou em minha direção tomando-me em seus braços. – Agora seja uma boa garota e curta um pouco do seu namorado, e à noite seremos marido e mulher.
– Ah, claro! Isso se eu não entrar em combustão até lá.
– Eu amo esta sua... disposição.
– Disposição? Sei! – cruzei os braços e saí batendo os pés até o sofá. – Se não vamos fazer nada, podemos voltar para casa – empinei o nariz e encarei meu namorado. Ele ainda sorria lindamente.
– Claro que vamos fazer alguma coisa – sentou do meu lado virando-se para mim. – Vamos conversar... – beijou o canto dos meus lábios. – Vamos namorar bastante... – roçou os lábios em meu pescoço puxando o ar com força. – E vamos dormir abraçados como um casal apaixonado – passou a ponta do nariz por minha clavícula. – Você está especialmente cheirosa hoje, Charlotte.
– Eu já te disse antes: isso se chama banho, professor Frankli.
Ele riu e eu não consegui ficar séria, apesar de continuar ansiosa, quente e nervosa. Não era justo não ter direito a uma despedida de solteira.
– Vai ficar resmungando a noite toda ou vamos desfrutar do nosso tempo? – Alex estava carinhoso, cheio de charme, tentando me enlouquecer de uma vez por todas.
– Antes tivéssemos a nossa despedida de solteiros, quer dizer... sem Tiffany, Anita e todas aquelas mulheres exibidas que só o seu irmão é capaz de conhecer – ele riu, mas ficou tenso com a minha menção à noite anterior. – Seria melhor do que ficarmos aqui brincando de casinha – um sorriso torto se projetou em seus lábios me fazendo perder o foco. Ah, como eu amava aquele sorriso!
– Eu não preciso de uma despedida de solteiro. Já tenho tudo o que quero. Estou ansioso para me tornar um homem casado e ter a mulher da minha vida como esposa. Não tenho motivos para me despedir com pesar da minha solteirice – passou os dedos em meus cabelos colocando uma mecha atrás da orelha.
– Eu gostaria de ter uma despedida de solteira – revelei e ri quando ele soltou o ar com força. – Qualquer coisa que conseguisse bater naquela sua festa horrorosa.
– Amor...
– Qualquer coisa que me desse o direito de pagar na mesma moeda.
– Charlotte...
– Ao menos de ter um chá-bar ou algo parecido.
– Cala a boca – puxou-me em sua direção.
Alex me beijou com ternura, depois o beijo evoluiu para o carinho entre dois adolescentes e, logo em seguida, éramos um casal fogoso e apaixonado. Não sei bem em que parte eu sentei em seu colo, nem quando suas mãos começaram a acariciar minhas costas por dentro da camisa, ou até mesmo quando foi que eu decidi que poderia desabotoar a calça dele, só sei que exatamente nesta hora ele acabou com o meu divertimento.
– Nada disso, mocinha. Seja uma menina comportada e aguarde até a hora do sim – afastou-me com as mãos, tentando me tirar do seu colo. Fui mais agressiva. Forcei o meu corpo contra o dele, roçando seu membro tentando atiçá-lo. – Charlotte! Não faça isso – sua voz era puro desejo.
– Alex, não faça isso! – repeti suas palavras como uma súplica.
– Não, amor! – segurou em meu punho com força para me deter exatamente quando eu alcançava seu sexo.
– Por favor! – gemi esfregando-me nele, implorando para que ele desistisse daquela loucura.
– Não!
– Que droga! – explodi. – Eu tenho que concordar com um casamento feito às pressas, para atender aos seus anseios – levantei-me de seu colo sem lhe dar a chance de me impedir. – Nem bem comecei uma vida sexual de solteira e já tenho que me acostumar com a de casada e, para piorar, você ainda quer que eu espere até depois do casamento... E as minhas necessidades?
– Deixe de ser criança, Charlotte. É apenas uma noite. Se você esperar, nós teremos uma noite de núpcias inesquecível.
– Eu posso desistir, Alex. Posso me negar a aparecer naquele altar amanhã.
Encaramo-nos mantendo o clima tenso que se instalou. Merda! Eu só queria um pouco de sexo com o homem que eu amava. Se eu tinha concordado com tudo o que ele sonhava, então por que ele não podia fazer o mesmo comigo? Principalmente depois de ter me feito sofrer tanto, de me deixar insegura e tão necessitada dos seus carinhos, da confirmação do seu amor.
– É o que você quer?
Alex me olhava com temor. Pensei em Lana e toda a sua empolgação. No vestido que ela tinha conseguido, no bolo de casamento, em minha mãe plena como se não houvesse mais problemas no mundo, no sorriso bobo do meu namorado quando eu disse sim, na possibilidade de uma vida a dois repleta de realizações... Em Alex... apenas em Alex. Claro que eu não desistiria.
– Não. Mas não pense que vou ficar me agarrando com você a noite toda deixando meu corpo queimar sem fazer nada para aplacar o fogo – o alívio expresso em seus olhos era quase palpável.
– Ah, não? – sorriu daquela forma que tirava o meu juízo.
– Não! – cruzei os braços e o encarei como uma criança. O sorriso de Alex ficou ainda maior.
– E o que pretende fazer? – arqueou uma sobrancelha. Arqueei a minha também como resposta. – Nada disso, Charlotte Middleton. Você não vai furar o meu cerco. Nenhum alívio sexual até eu ouvir o sim.
– Sim – disse um pouco mais alto. Alex riu. – Então é isso? Você está me comprando com sexo, ou a falta dele, para que eu não desista? Tudo isso apenas para que eu não fuja antes de chegar ao altar? – pela forma como ele me olhou, eu tive a confirmação de seu plano absurdo. – Prometo que caso. Juro! Assino os documentos antes...
– Nem pensar. Só voltarei a tocar em você quando for minha esposa. É pegar ou largar.
– Merda!
Diante de tal situação, minha única opção era dormir. Saí batendo os pés em direção ao quarto.
Se ele queria assim, tudo bem. Mas eu também tinha um plano. Estava começando a esfriar realmente, sobretudo no quarto, mais distante da lareira. Apesar do frio, tirei toda a roupa e deitei de bruços sem me cobrir. Alex demorou a aparecer, mas eu senti no mesmo instante que surgiu. Seu suspiro foi audível e o meu sorriso imenso.
– Charlotte? Vai fazer frio. Seria melhor você vestir alguma coisa.
– Vou sabotar a sua lua de mel – não me dei ao trabalho de abrir os olhos para responder à sua passividade. Alex riu baixinho.
– Duvido muito.
– Eu não. Pode esperar. Você só vai conseguir transar comigo depois de um mês – apesar de meus olhos fechados, eu senti que ele hesitava.
– Não. Não vai conseguir me convencer, Charlotte. Desista!
– Tudo bem. É o senhor quem sabe, professor Frankli – virei sensualmente fornecendo ao meu futuro marido uma visão mais ampla da minha bunda. – Boa noite!
Ele não se deitou imediatamente, depois de algum tempo senti a cama afundando, o lençol em minha pele e seu corpo colado ao meu. Alex correu os dedos em minhas costas, causando um calafrio em minha espinha. Toda a minha pele arrepiou.
– Durma bem, meu amor.
Abri os olhos e encontrei os dele. Havia muito amor naquele olhar. Tão grande, tão puro e verdadeiro que me senti em paz. Naquele momento, mais uma vez, tive certeza de que havia feito a escolha certa. Casar-me com Alex seria a minha felicidade, o meu caminho. Aconcheguei-me a ele, e, embora ainda sentisse o calor do desejo, adormeci ouvindo as batidas do seu coração.
CAPÍTULO 34
“Porque todos os amantes se comportam como eu: Inconstantes e volúveis em todos os sentimentos. Menos na imagem fixa de criatura que amam.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
O barulhinho dos pássaros me despertou. Por alguns segundos fiquei meio perdida sem saber ao certo onde estava, o que estava acontecendo ou até mesmo quem eu era. Então reconheci o braço forte de Alex segurando-me pela cintura, colando meu corpo ao seu. A temperatura estava meio fria e ele superquente. Excitado.
Hum!
Rocei minha bunda em sua ereção. Era a fórmula certa para persuadir meu professor a desistir daquela ideia estúpida de não transar antes do casamento. Onde já se viu uma coisa destas? Que absurdo! Falta de consideração.
Ele reagiu instantaneamente. Empurrei minha bunda contra ele, que se esfregou em mim, sonolento, ainda acordando, sem se dar conta de que aos poucos cedia ao meu desejo.
Sua mão grande e quente acariciou meus quadris, prendendo-me enquanto desfrutava de mim. Fiquei mais do que excitada. Alex gemeu manhosamente e alcançou meu pescoço com os lábios. O friozinho da manhã nos forçando a ficar ainda mais colados e o calor da nossa excitação nos impelindo a ir mais longe.
– Bom dia, futura esposa! – sussurrou com a voz rouca, típica de quem acaba de acordar e certa para quem está explodindo de tesão.
– Hum! – ronronei deixando que ele desfrutasse mais um pouco do meu corpo nu.
– Preparada para o sim?
– Sim! – ele riu e mordeu meu pescoço com a pressão certa para me fazer umedecer completamente. – Alex? – gemi.
– Hum! – sua língua percorreu minha orelha onde seu hálito quente fez minha pele arrepiar.
– Podemos pular para a lua de mel? – pedi rebolando minha bunda em sua ereção já totalmente acentuada. Ele riu e se afastou.
– Nem pensar, Charlotte Middleton! – mordeu minha orelha e levantou-se da cama. – Vamos logo, Lana vai me matar se não te levar para o seu dia da noiva.
– O quê?
Ah, não! Eu já havia concordado com aquela maluquice toda, mas deixar Lana passar o dia tagarelando em meu ouvido, pintando-me, melecando-me e me massageando... Nunca!
– Vou ficar aqui. Mande alguém me buscar na hora do sim. Ou melhor, ligue para mim quando chegar a hora, eu digo ao padre que aceito, e tudo estará resolvido.
– Não me obrigue a tirá-la da cama, Charlotte. Seja uma boa menina que eu prometo recompensá-la depois.
– Quero antes. Muito antes. Você é muito mau. Nem acredito que vou casar com um homem tão malvado – ele riu inclinando-se sobre mim. Claro que meu corpo inteiro reagiu. – Estou com saudades – eu disse manhosamente. Alex me deu um beijo leve nos lábios.
– Muita? – desceu o nariz até a minha clavícula.
– Muita mesmo! – gemi dengosa.
Alex passou o braço por baixo de mim e, sem que eu esperasse, puxou-me com força, levantando-me presa a seu corpo. Gritei, rindo da situação e entrelacei minhas pernas nele. Então meu futuro marido acariciou minhas costas, alcançando minha bunda no mesmo instante em que me beijava intensamente.
– Hummmm! – gemi em seus lábios. – Faça amor comigo, Alex! – supliquei.
Ele caminhou em direção ao banheiro, sem interromper as carícias. Sorri vitoriosa, meus lábios ainda nos dele. Alex, sem me deixar perceber o que fazia, abriu o chuveiro nos enfiando debaixo dele. Gritei ao sentir a água gelada.
– O que você está fazendo? – ele gargalhava enquanto me segurava embaixo da água sem se importar em molhar suas roupas.
– Nada como um banho gelado para acalmar os ânimos, amor.
Bati em seu peito e o empurrei o máximo que pude. Ele continuava rindo, mantendo-me firme junto dele embaixo do chuveiro. Gritei o máximo que pude, tentando machucar meu noivo, então sua boca alcançou a minha e seu beijo foi forte e intenso. Apesar da raiva, foi impossível ficar indiferente a esse conjunto tão perfeito: Alex, lábios, língua e mãos. Tudo ao mesmo tempo e em todos os lugares. Arfei.
– Calma, menina fogosa. Agora falta pouco – roçou seus dentes em meu pescoço. A água estava muito fria e logo comecei a tremer.
– Eu odeio você! – esbravejei já completamente rendida. Ele riu.
– Mas vai casar comigo mesmo assim. Venha, não quero que fique doente logo na nossa lua de mel – desligou o chuveiro e me colocou no chão enquanto procurava pela toalha.
– Tomara que eu morra antes, aí você vai passar o resto da vida se lamentando por não ter me comido.
– Que termos horríveis, Srta. Middleton!
– Vá a merda! – Ele riu, passando a toalha sobre meus ombros e me abraçando com força.
– Quando chegarmos em casa, vou lavar sua boca com água sanitária – puxou meu cabelo inclinando minha cabeça em sua direção e beijou meus lábios.
– Você será meu marido, não meu pai. Nunca se esqueça disso! – arqueei uma sobrancelha.
– Não vou esquecer. Ser seu marido já está de muito bom tamanho – abriu um sorriso enorme. Ah, como eu gostava de ver Alex feliz daquele jeito, mesmo depois de um banho gelado.
ALEX
Quando chegamos à casa, Lana nos esperava do lado de fora, tínhamos ignorado suas trocentas ligações, já que ela ficaria com Charlotte até a hora do casamento, então aproveitei ao máximo o tempo que ainda me restava com a minha noiva. Só de pensar que no final daquele dia estaríamos casados, meu coração acelerava.
Tudo bem que não era mais nenhum garotinho, mas, para mim, casamento sempre foi um passo muito importante e casar com a mulher que eu amava, mesmo que sob pressão, era tudo o que eu poderia desejar. Depois daquela tarde não haveria mais Peter, editora nem faculdade que me impedissem de tocar minha linda esposa.
– Este sorriso está espetacular. Merece uma foto – brincou quando estávamos estacionando o carro. Imediatamente, ouvi o barulhinho do celular indicando que uma foto havia sido tirada.
– Para com isso! – fiquei sem graça instantaneamente.
Charlotte nunca havia me fotografado antes. Para dizer a verdade, eu também nunca havia feito isso com ela. Precisava mudar algumas coisas em minha vida. Nunca fotografava as mulheres com quem eu saía, nem permitia que me fotografassem. Uma parte por causa da minha vida profissional. Não queria ser o editor que estava sempre acompanhado de mulheres diferentes, a outra pelo fato de não querer vínculos com ninguém e uma foto no celular significava muita coisa e só piorava quando ia parar nas redes sociais. Porém com Charlotte me fotografando, senti-me especialmente satisfeito. Era um vínculo, uma ligação.
– Você é lindo, professor! Deveria ser sempre fotografado.
– Ok! – saquei o meu celular e posicionei para tirar uma foto dela. – Sorria, futura esposa! – Charlotte fez careta, ficando zarolha e esticando a boca. Ri alto. Meu humor estava excelente. – Sério, amor! Uma lembrança que ficará guardada eternamente – ela sorriu daquela sua maneira única. Meio sem jeito, corando um pouco e com os olhos baixos. Aproveitei o momento. Ficou perfeita!
– Agora nós dois – jogou-se para cima de mim levantando o aparelho. Juntamos os rostos e ela clicou. – Agora com um beijo – disse carinhosamente. Sorri e a puxei para mim, posicionando o meu celular para foto.
– Agora separados – Lana abriu a porta com cara de poucos amigos. – Chega de brincadeiras, estamos atrasadas.
– Atrasadas? O casamento será no final do dia – Charlotte, meio tensa, repreendeu a Lana.
– Pois é e já estamos atrasadas – minha irmã puxou minha noiva pelo braço sem lhe dar chance de escapar. – Sabia que temos hora com uma maquiadora e um cabeleireiro? E ainda vamos cuidar de uma série de coisas antes de eles poderem colocar as mãos em você.
– Vejo você depois? – ela me olhou com olhinhos de súplica. Quase a arranquei dos braços da minha irmã, infelizmente sabia que era melhor não comprar aquela briga.
– Acho que sim. No fim do dia. No altar. Isso se você não desistir – brinquei, mas ela fez uma careta deixando-me inseguro. – Vejo você depois? – Devolvi a pergunta.
– Vou ver o que posso fazer – e Lana levou Charlotte.
Respirei fundo tentando me convencer de que não deveria me preocupar. Charlotte estaria lá e diria sim. E se ela desistisse? Droga! Seria melhor tê-la devolvido só depois do meio dia. Estava muito cedo ainda, haveria tempo de sobra para ela pensar. Mas que merda, Alex! Pare de ser infantil, inseguro e babaca. Ela vai estar. Não é nem louca de desistir. Se bem que Charlotte é louca para qualquer tipo de situação.
– Pelo visto deu tudo certo – Peter se materializou ao meu lado fazendo-me estremecer de susto. – Algum problema? – Olhei para meu futuro sogro em dúvida se ele seria a melhor pessoa para desabafar.
– Como está Mary? Conseguiu convencê-la?
– Sim e ela está ótima hoje. O casamento da filha tem sido o seu melhor remédio – havia uma tristeza em seu olhar que me comovia. – Você é que está muito tenso, Alex.
– Não é o que se espera de alguém que vai casar em algumas horas?
– Eu me senti assim também... no dia do meu casamento. Mary era tão imprevisível! – seus olhos se perderam na casa e em sua movimentação. – Mas ela estava lá, linda e sorridente, como se aquele fosse o dia mais feliz da sua vida.
– E não foi? – começava a me sentir melhor, mesmo sabendo do sofrimento que Peter tentava esconder.
– Graças a Deus, não – riu sozinho. – O casamento deve ser construído um passo a cada dia. Não é fácil, também não é tão complicado. Houve vários “o dia mais feliz da sua vida”. Eu fiz questão de proporcionar isso a ela. Mary é a mulher que eu amo, sempre amei e sempre vou amar, não teria como ser diferente.
– Eu vou fazer Charlotte feliz – foi fácil fazer aquela promessa. Peter, mesmo sofrendo tanto, conseguia me mostrar que era possível e que no final tudo valeria a pena.
– Não tenho dúvidas disso, rapaz. Charlotte já te dominou, basta olhar para vocês para saber. E ela te ama, então... – deu de ombros. – Vamos. Temos muitas coisas para fazer ainda.
– É? E o que seria? – Lana com certeza havia contratado todos os tipos de profissionais para cuidar de tudo. Então o que poderia estar reservado para mim?
– Sua despedida de solteiro – riu batendo em meu ombro.
CHARLOTTE
– Odeio máscara de proteína, vitamina, qualquer coisa terminada com “ina” – fiz uma careta enquanto Lana mexia na pasta que insistia em colocar no meu rosto.
– Deixe de besteira. Não pode estar com a pele ressecada em sua lua de mel. Já imaginou o que Alex vai pensar? Você tem que chegar arrasando e fazer com que ele se lembre desta noite como a melhor da sua vida – dei risada.
– Não consigo ficar calada, nem sem olhar para as pessoas ou me mexer. Essa gosma é muito nojenta, vou acabar vomitando.
– Meu Deus! Que noiva mais mala! – Miranda entrou no quarto da minha cunhada já demonstrando o quanto estava contrariada. Eu só não sabia o motivo daquela cara fechada.
– E que madrinha mais ranzinza – rebati. Miranda sorriu sentando do meu lado.
– Já fez a depilação?
– O quê? Não. Nada disso. Esse troço dói pra diabos! Deus me livre! – Lana me olhou como se quisesse dizer “fica calada que eu vou fazer e pronto”. Meu coração disparou.
– Vai querer abrir as pernas cheia de pelos?
– Que coisa horrível para se dizer no dia do meu casamento – reclamei cruzando os braços.
– Calada, Charlotte, vou aplicar a máscara – não aguardou pela minha permissão e já foi passando aquele troço nojento e melequento em meu rosto. – Quietinha, ou ficará cheia de rugas.
Pela risada de Miranda eu entendi que era só para me amedrontar, preferi não arriscar.
– Eles já foram? – ouvi Lana perguntando a Miranda.
– Já! – pelo tom da minha amiga, o que quer que estivesse acontecendo não a agradava.
– Conseguiu alguma pista? – pista? Do que elas estavam falando?
– Nada. Ninguém quis dizer nada.
– Isso não vai prestar.
– É. Mas eu já avisei que se desconfiar de algo... Qualquer coisa, um fio de cabelo, uma marca de batom, um perfume vagabundo e acabo com ele... quer dizer... nós mulheres não vamos aceitar isso – Lana riu.
– E você quer esconder de quem que você e o Paty estavam na garagem no maior amasso.
– O quê? – falei imediatamente.
– Calada, Charlotte! – Lana esbravejou.
– Eu não estava agarrada com ele. O seu irmão que estava tentando me agarrar.
– Não sei qual foi o problema entre vocês dois, mas seja qual for é melhor definirem logo essa situação, ou Peter vai começar a se intrometer.
– Patrício não me merece e ponto final – Lana riu. – Depois de tudo o que aconteceu na casa do Alex, ele ainda acredita que pode me convencer do contrário.
– Ele é um idiota – falei sem conseguir me controlar.
– E eu vou colar a sua boca com fita crepe – Lana me deu um tapa de leve no braço. – João não é nem louco de aparecer com alguma novidade – ameaçou.
– Do que vocês estão falando? – não aguentei a curiosidade, abri os olhos e estraguei a máscara.
– Charlotte! Pelo amor de Deus! Será que não posso confiar em você? Fique calada! – Lana colocou mais uma camada daquela porcaria com cheiro de folhas molhadas na minha cara. – Agora fique bem quietinha.
– Eu não estou gostando nada disso – Miranda continuou, deixando-me intrigada. O que Patrício e João haviam aprontado para deixá-las tão aborrecidas? Além dos problemas óbvios.
– Eu também não, mas Peter vai junto, o que me deixa mais tranquila.
– Meu pai? – não resisti.
– Não é possível! – Lana esbravejou. Rapidamente voltei a deitar a cabeça no encosto da cadeira e petrifiquei o tosto. Confesso que minha vontade era de rir muito.
– Como estamos indo? – ouvi minha mãe em algum lugar atrás de mim. Não me atrevi a virar nem a falar nada. – Uau! O que é isso? – ela estava mais próxima agora.
– É para deixar a pele da nossa noivinha perfeita. Quer um pouco? – Lana voltou ao seu estado de empolgação.
– Não. Tenho que ajudar Dana com as flores – senti sua mão macia na minha. – Tudo bem com você? – balancei a cabeça indicando que sim e minha mãe riu. – Já vi que está seguindo as ordens da Lana. Muito bem. Quero você divina naquele altar.
– Pode deixar – respondi de maneira involuntária e me arrependi logo em seguida.
– CHARLOTTE MIDDLETON!
ALEX
– Era para ser divertido, parece que o noivo não está achando muita graça – encolhi-me em meu casaco enquanto João reclamava.
– Despedida de solteiro com meu pai e meu sogro. Era tudo o de que eu precisava – resmunguei lavando as mãos.
Estávamos no banheiro do bar mais badalado da região, exceto àquela hora da manhã. Era só o que me faltava. Uma despedida de solteiro em um bar vazio, acompanhado do meu pai e do meu futuro sogro. O que João tinha na cabeça?
– Lana nos colocou para fora de casa. A esta hora da manhã não há muito o que fazer por aqui. É a nossa primeira parada, mais tarde vamos caçar. E eu precisava me redimir de alguma forma, com você e com ela, então... – deu de ombros.
Revirei os olhos. Eu preferia estar na casa, vigiando Charlotte de perto para impedi-la de fugir. Era melhor não me torturar mais com aqueles pensamentos.
– Anime-se! Hoje à noite você vai poder comer sua esposa sem nenhum mala para atrapalhar ou interromper – riu sozinho.
– Dá para falar com mais respeito da minha vida sexual?
– Daria, se eu não soubesse que a sua futura esposa é tão ninfomaníaca ou pior do que a minha – foi a minha vez de rir.
– Charlotte me assusta.
– Sei bem o que é isso – nós nos olhamos pelo espelho. Pela primeira vez na vida me solidarizei com meu cunhado e amigo.
– Não é ruim, é só... assustador – ele sorriu amplamente.
– Claro que não é ruim. É sexo, e com a mulher que você ama.
– É amor, João!
– Sim, sim. É amor, que é diretamente ligado ao sexo – balancei a cabeça sem acreditar naquela comparação.
– O que tem de errado com essas mulheres? Eu sempre li que com o tempo elas perdem o interesse, ou que nem sempre estão com vontade, que os hormônios não ajudam muito... Charlotte está sempre tão disposta. Não que eu esteja reclamando, mas... Ontem ela ficou louca porque eu disse que iríamos esperar até o casamento. Era só uma maneira de tornar tudo mais interessante. Ela se revoltou e exigiu que transássemos. Foi divertido vê-la tão irritada, só que ao mesmo tempo fiquei imaginando que se alguma coisa acontecesse de que forma ela reagiria.
– Alguma coisa? Como assim?
– Sei lá. Um dia que eu estiver muito cansado, ou que... não sei... Essas coisas acontecem... – João gargalhou.
– Você está com medo de broxar? – falou mais alto fazendo com que me arrependesse de ter começado aquela conversa.
– Não! Mas pode acontecer, não é?
– Claro que pode! Principalmente para um homem como você, já com a idade avançada, cansado e sem gás – ele ria sem parar.
– Vá se foder, João!
– Sério! Você está casando com uma menina cheia de energia e que, como num passe de mágica, por sugestão sua, descobriu que adora uma boa trepada. É, amigo, acho que você está em maus lençóis.
Será que eu estava mesmo?
CHARLOTTE
– Pelo amor de Deus, Lana, não puxe – meu grito agudo preencheu o quarto.
Ela tinha me ameaçado de todas as formas até que eu cedesse à depilação. De verdade, aquilo não foi criado por Deus. Primeiro ela colocava a cera quente, quente mesmo, aquela história de que era só um leve ardor era pura mentira. A porcaria queimava. Minha pele muito branca começou a ficar rosa, com certeza nunca mais eu teria sensibilidade naquela região.
Lógico que eu já fazia depilação, mas nas pernas e nas axilas, o que era até suportável. Ou quase. Ok! Doía muito também, mas nada se comparava àquela cera quente como o inferno na minha... bom, lá no lugar mais importante para a lua de mel.
– Estou acabada – choraminguei. – Não vou aguentar a minha própria lua de mel. Você acabou comigo, Lana. Nada que Alex fizer vai conseguir amenizar a ardência. Sem contar que nunca vou ter coragem de deixá-lo ver tudo tão... sem nada, e vermelho desse jeito – Miranda riu e Lana me encarou com certa piedade.
– É, Charlotte, pelo visto alguém deveria ter se encarregado da sua educação sexual – Miranda explodiu em risos e eu fiquei mais vermelha do que minha... Bom, do que aquele pequeno espaço superimportante do meu corpo.
– Alguém deveria me proteger de você, sua bruxa malvada!
– Larga de ser boba e vira logo essa bunda. Estamos perdendo tempo.
– O quê? Para que você quer que eu te mostre a minha bunda. Ela não tem pelos – Miranda não parava de rir.
– Claro, claro! Na bunda não, mas num lugarzinho bem no meio dela, com certeza tem – fez cara de poucos amigos. Eu já temia as loucuras de Lana e ali, naquele momento, eu demonstrei o quanto. – Anda logo com isso, Charlotte. A cera vai esfriar e aí você vai ver o que é dor.
Muito lentamente virei de costas, completamente apavorada. Não acreditava que estava fazendo aquilo, não naquele lugar. E para que inferno precisaria depilar o... o ponto proibido.
– Amiga, quando você ficar de quatro e Alex tiver a visão desta bunda lisinha, pode acreditar, vai ficar superagradecido – Miranda passou as mãos em minhas costas me confortando.
No meio daquela loucura toda, enquanto Lana me tocava daquela maneira tão embaraçosa e absurda, vasculhando o melhor ângulo para colocar a massa criada no inferno em meu... meu lugar que até pouco tempo era intocável e intocado, permiti-me imaginar o que seria eu, de quatro, com Alex. Puta merda! Imaginei a cara dele ao ver minha bunda empinada. Oh, droga! Imaginei ele me segurando pelos cabelos e arremetendo em mim sem piedade e...
– PUTA QUE PARIU! – Fui incapaz de me controlar. Aquela maldita meleca quente queimou minha pele para logo em seguida Lana puxá-la sem dó nem piedade. – NÃO TOQUE MAIS EM MIM! – Virei rapidamente impedindo que ela continuasse.
– Só falta mais um pedacinho, Charlotte – ela me encarava incrédula enquanto Miranda ria como se estivesse em um circo.
E realmente estava.
ALEX
– Já estamos andando há quase duas horas e nenhum animal apareceu. Nem mesmo um rato. Quem inventou esta maldita caçada? – Patrício reclamava a cada cinco minutos.
Meu pai, Johnny e Peter estavam concentrados. Eles adoravam caçar! João trocava mensagens pelo celular, Patrício não via graça em nada que o podia oferecer e eu estava com a cabeça em Charlotte.
Talvez tenha exagerado ao me negar a transar. Minha noiva só queria uma noite de amor, um pouco de prazer e carinho, mas eu fiquei firme e não concordei. Fui um idiota. Como a desejei a noite toda. Aquele corpo pequeno, quente, macio... Droga! Eu devia ter cedido. Minha cabeça fervilhava com imagens terríveis. Ela fugindo, recusando-se a casar, atacando-me após o casamento e, no fim, eu não conseguindo uma ereção por causa da ansiedade, ou estragando tudo com um orgasmo prematuro. Merda!
– Pare de pensar nisso. Eu estava só brincando – João parou do meu lado, murmurando para não chamar a atenção dos outros.
– Não estou pensando em nada – estava decidido a não conversar mais com meu amigo sobre aquele assunto.
– Claro que está! Fique frio cara. Você vai conseguir.
– Quer calar a merda da sua boca? – meu pai e Peter pigarrearam. Uma indicação clara de que deveríamos manter silêncio. Não sei qual de nós, já que Patrício se mexia o tempo todo e reclamava sem parar.
– Só estou tentando ajudar – ele sussurrou. – Já aconteceu antes?
– João, me deixe em paz! – Peter olhou para trás carrancudo. Suspirei e levantei, afastando-me do grupo. Meu cunhado não se deu por vencido e me seguiu. Seria o dia mais torturante da minha vida.
– Alex, pode se abrir comigo. Isso pode acontecer com qualquer um. É normal.
– Comigo nunca aconteceu – ele riu.
– Pelo amor de Deus, vamos arrumar alguma coisa mais legal para fazer – Patrício se juntou a nós sem perceber o quanto eu estava de saco cheio. – Vamos contratar umas dançarinas, dar umas roçadas em algumas garotas. Isso sim é uma despedida de solteiro, merda!
– Como se não bastasse a merda da outra noite – resmunguei.
– E Miranda te mata. Aliás, você estava tentando agarrá-la na garagem hoje cedo? – João falou voltando a sua atenção para Patrício.
– Eu não! – ele me olhou de soslaio. João riu e então Paty deu as costas, fingindo desinteresse. – Miranda está roubando o meu juízo.
– Porque você é um idiota – rebati despejando minha frustração no meu irmão.
– Porque não vou cair nessa armadinha de casamento, Mané! Este é o plano perfeito para você, nunca para mim.
– E quem disse que ela quer se casar com você? – vi o olhar do meu irmão mudar.
– Por que não? O que Charlotte te disse?
– Nada – respondi sarcasticamente, e cruzei os braços para encará-lo. Patrício ficou me encarando até que desistiu.
– O que vocês estavam cochichando aqui?
– Nada que seja da sua conta – fui rude e João riu, voltando sua atenção para mim.
– Pode assumir, Alex, ninguém aqui vai crucificar você por isso – revirei os olhos.
– Do que vocês estão falando? – Patrício se interessou pela conversa.
– De nada! João está maluco.
– Ah, qual é, Alex! Confesse cara. Você está entre amigos.
– Qual é o assunto? – Patrício insistiu.
– Nunca aconteceu. Eu já disse. Que porra!
– Alex está com medo de broxar – João largou a bomba.
– Eu não... – não deu tempo de desfazer a situação.
– Sério? – – Patrício riu alto chamando a atenção de todos. Que droga! Minha vida se tornaria um inferno.
– Não! João está inventando e, se insistir em continuar, vai acabar perdendo todo os dentes – ameacei.
– Vem tentar – ele riu colocando-se em posição de luta. Minha paciência estava no limite. Sem pensar, peguei um punhado de terra molhada e atirei em meu amigo que me encarou assustado.
Patrício gritou, provocando João e rindo da minha reação. Pelo canto do olho pude ver meu pai, Johnny e Peter levantarem assustados vindo em nossa direção. João ainda me encarava aturdido, sem acreditar. Ele se abaixou. Pensei que avançaria em mim, então pegou mais terra e arremessou em minha direção e, em seguida, arremessou outra quantidade contra Patrício.
A terra atingiu meu pescoço. Ardeu um pouco pela força do arremesso, nada que pudesse me machucar. Patrício riu, abaixou e pegou terra com as duas mãos fazendo cara de malvado. Imediatamente começamos a correr.
Passamos por meu pai e Peter. Ainda consegui ouvir Johnny protestar pelo tanto de terra que tinha recebido no peito. Ele não perdeu muito tempo reclamando. Simplesmente pegou um tanto de terra e correu atrás de nós, entrando na guerra.
Ao final, estávamos completamente sujos, com exceção de meu pai e Peter, que permaneciam intocados e limpos, sem contar que nos olhavam espantados pela brincadeira infantil, apesar de incrivelmente engraçada.
CHARLOTTE
– Aí você pega o gelo, coloca na boca, espera um pouco para que ele deixe seus lábios e as paredes frias e depois...
– Posso entrar? – minha mãe interrompeu a conversa justamente na hora em que Lana revelaria o ponto crucial da brincadeira. Nem preciso dizer que fiquei incrivelmente vermelha.
Conversar sobre sexo com minhas amigas era um tanto quanto fácil, na presença da minha mãe era uma missão impossível. Ela entrou e sentou ao meu lado na cama. Eu estava deitada, de bruços, claro! Meu... minha região incrivelmente delicada não me permitia sentar ainda. Muito menos colocar uma calcinha. Graças a Deus Lana tinha um roupão prontinho para mim.
– Seu pai ainda não chegou. Dana quer estar à frente de tudo e eu estou muito cansada, então, vim te dar um beijinho e avisar que vou me deitar um pouco.
– Faça isso, Mary. Descanse e mantenha sua pele linda desse jeito – Lana não parava um só segundo. – Depois que o cabeleireiro arrumar os cabelos da Charlotte, vai ser a sua vez, depois Miranda. Eu e minha mãe vamos antes da noiva, que é para garantir que alguém da família esteja no salão quando os convidados chegarem. Está lembrada do penteado que sugeri, não é?
Minha mãe olhou para Lana com olhos arregalados e concordou. É. Eu bem sabia o que era contrariar aquela coisinha minúscula. Coitada da minha mãe. Será que ela também teve que depilar o... deixa pra lá. Melhor nem saber.
– Espera – segurei minha mãe pelo braço assim que ela ameaçou levantar. – Onde está o papai?
– Ora, Charlotte! Na despedida de solteiro do Alex – respondeu com naturalidade. Meu coração quase parou.
ALEX
Não dava para voltar para casa daquele jeito. Estávamos imundos! Decidimos que um banho de rio ajudaria. Pelo menos Lana não ficaria louca com nossas pegadas pela casa. Assim que chegamos, Patrício, que nunca tinha vergonha de nada, entrou no rio e começou a tirar suas roupas.
– Tem que tirar toda a terra e depois colocar para secar. Podemos pendurar em alguma árvore e enquanto seca aproveitamos a água.
– Eu estou com fome – João reclamou, mas não deixou de entrar no rio atrás do meu irmão.
– Bom... já que não pode lutar contra, junte-se a eles – Peter, que não estava sujo, tirou a roupa e entrou de cueca.
Pouco tempo depois estávamos todos lá, dentro do rio, apenas de cueca, observando nossas roupas penduradas nas árvores e jogando conversa fora.
– Nem consigo acreditar que estou dentro de um rio, com cinco homens de cueca, na despedida de solteiro do meu irmão – Patrício provocava e eu rezava para que ele não falasse nenhuma besteira na frente de Peter.
– Essa é a despedida de solteiro mais ridícula que tenho notícia – comentou Johnny. – Não tem nem umas garotas gostosas para animar.
– E você acha mesmo que, se estivéssemos com algumas garotas, nossas mulheres permitiriam que voltássemos para casa?
Peter me pegou de surpresa. Eu esperava que ele esbravejasse ou dissesse que jamais permitiria porque eu era noivo da filha dele, mas não. Ele apenas comentou que tinha medo da reação das nossas mulheres.
– É por isso que não vou casar. E, se Alex estivesse em seu perfeito juízo, fugiria agora mesmo – Johnny brincou e Peter jogou um punhado de água em seu afilhado.
– Vou contar a Charlotte sobre sua sugestão – brincou. Nunca tinha visto Peter tão à vontade. Ele estava completamente relaxado e se divertindo. – E Alex acaba de ganhar na loteria. Minha filha é um tesouro.
– Concordo com você, Peter. Nada me faria desistir. Charlotte é tudo o que eu procurava.
– Ah, claro! Uma garota insistente, que não aceita um não como resposta, capaz de obrigar todo mundo a fazer as suas vontades e que consegue destruir os planos de qualquer pessoa. Com certeza foi a sua melhor pedida – Johnny revirou os olhos e recebeu de mim uma grande quantidade de água.
– É exatamente por isso que amo tanto a Charlotte. Ela nunca me deixou dizer não – todos riram e foi neste momento que ouvimos o barulho de pneus se aproximando. Ficamos em estado de alerta imediatamente.
Um jipe amarelo surgiu e, por mais incrível que pareça, havia cinco garotas nele. Peter olhou para meu pai, que olhou para Patrício, que levantou as mãos e olhou para João que sorriu e olhou sugestivamente para Johnny que sorria largamente olhando para mim.
Puta que pariu!
CAPÍTULO 35
“Em um minuto há muitos dias.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
– Charlotte, pare com isso! Charlotte? – Lana gritava do lado de fora.
Após saber que Alex, o filho de uma... não, Dana não merecia ser chamada assim só porque Alex resolveu ser um... escroto! Isso. Era o que ele era. Um escroto, sacana, miserável que se recusou a transar comigo, mas não tinha sequer questionado uma despedida de solteiro. Outra! Outra despedida de solteiro.
Depois daquela noite, eu não sobreviveria a mais esta.
– Charlotte, é sério! Você precisa fazer a maquiagem e colocar seu vestido.
– Não vou mais casar. Não insista, Lana! – enxuguei as lágrimas que insistiam em cair. Por que Alex era tão babaca?
– Pelo amor de Deus, Charlotte! Não invente uma merda dessas agora.
– Não caso! – gritei me encolhendo ainda mais no piso do banheiro do quarto de Lana.
Assim que minha mãe saiu do quarto, corri e me tranquei no banheiro, sem dar a Miranda e Lana a chance de me impedir. Não casaria. Não olharia mais na cara de Alex. Nunca mais.
– Charlotte, abra já esta porta! – Lana continuava nervosa do lado de fora. Nada nem ninguém me faria abrir aquela porta, a não ser que fosse para fugir.
– Vão embora! Deixem-me em paz! – puxei o roupão que cobria o meu corpo, sentia um frio incompreensível.
– Charlotte, por favor! – Miranda entrou na conversa, mais calma do que o normal. – Deixe ao menos eu entrar para conversar com você. Estou preocupada.
– Como você pôde concordar? Como pode deixar Patrício fazer parte desse... desse plano obsceno – ouvi o risinho da minha amiga do outro lado da porta e não fiquei nada satisfeita.
– Eu não tenho como controlar o irmão do seu noivo. Acredite, estou tão puta da vida quanto você.
– E eu também! – Lana gritou corroborando.
– Depois do que João fez... depois do que Patrício foi capaz de fazer... depois de eu flagrá-lo na cama com aquelas duas... Não acredito que Alex fez isso comigo. Não acredito que fui tola o suficiente para aceitar os seus argumentos – solucei sentindo-me uma imbecil.
– Deus, Lottie! – Miranda falou sentida. – Você sabe que eu acho o Alex um babaca, mas você não pode mais usar aquela noite como justificativa. Foi uma armação e você sabe disso.
– Mesmo assim. Ele sabia como eu estava me sentindo. Sabia o quanto aquilo tudo tinha me ferido e mesmo assim concordou com outra despedida de solteiro. OUTRA! – deixei o choro me dominar. – E ele se recusou a transar comigo ontem à noite – elas riram fazendo-me sentir uma idiota.
– Abra a porta, Lottie! – Miranda insistiu.
Fiquei calada. O que Alex estava pensando quando concordou com a despedida de solteiro? Que poderia sair e transar com qualquer vagabunda e depois voltar feliz e saltitante? Ah, não! Aquele imbecil conseguiu me convencer a casar, privou-me do prazer e agora estava se divertindo com alguma piranha?
Ele não perdia por esperar.
ALEX
Minha primeira reação foi tentar descobrir quem havia armado aquilo. A segunda foi assegurar a Peter que eu não tinha nada a ver com aquele absurdo. João, o filho da puta que se dizia “o cara”, deu alguns passos para trás assim que as garotas desceram do jipe, escondendo-se completamente atrás do Patrício.
Sim, ele estava em uma grande enrascada.
– Que porra é essa? – eu estava completamente inseguro em relação ao que poderia acontecer.
– Oh, cara! Lana vai me matar se descobrir uma merda dessas – meu cunhado continuava tentando se esconder.
– Elas devem estar procurando um pouco de diversão – Johnny sorria largamente, satisfeito com a nova vizinhança.
– Acho bom providenciarmos nossa volta para casa – meu pai, sensato como sempre, articulava uma maneira de contornar o problema. Enquanto isso as garotas caminhavam em nossa direção.
– Oi! – Johnny não desistiria facilmente.
– Johnny! – Peter o advertiu.
– Sou o único solteiro da turma, padrinho. Tenho o direito de me divertir um pouco.
– Oi!
Todas responderam ao mesmo tempo, cada uma em seu tom mais insinuante. Arrisquei um olhar na direção delas apenas para constatar que eram lindas. Lindas mesmo! Droga, Charlotte! Por que não concordei em transar enquanto ainda tinha tempo? Com certeza estaria bem mais confortável nesse momento.
– Dia lindo para um banho no rio, não é? – Johnny puxou conversa enquanto todos os outros aguardavam tensos.
– Com certeza. Podemos entrar?
A mais alta delas, uma morena que nem tive coragem de olhar por mais de um segundo, e também a que parecia mais ousada, deu um passo à frente.
– Melhor não, moça – meu pai interrompeu os avanços do Johnny. – Na verdade estamos bastante à vontade e não seria muito apropriado...
– Você é o médico da propriedade ao lado, não é? – a loirinha, de short curto e top, sorriu largamente para o meu pai. Droga! Eu teria problemas com minha mãe também.
– Sim. Esses são meus filhos e amigos. Já estamos saindo.
– Estamos de cueca – Peter alertou num murmúrio. Foi quando meu pai se deu conta.
– Já de saída? Que pena!
Uma outra loira, de pernas longas e torneadas passou as mãos nos cabelos. Patrício soltou um palavrão, visivelmente abalado pela presença das garotas.
– Meninas, nós queremos sair da água e não dá para fazer isso com vocês olhando, então, se não for muito incômodo, vocês poderiam ir embora? – Peter se adiantou, porém, as garotas não pareceram muito satisfeitas.
– O rio não está na propriedade de vocês. Também temos direito a ele – a morena falou. Baixei a mão na água, capturando-a um pouco e joguei sobre meus cabelos. Era bom pensar em alguma coisa para escapar daquela loucura.
– Garotas, por favor, não vamos brigar. Com certeza há espaço para todo mundo. Estamos fazendo hora até o casamento do meu irmão aqui, por isso não podemos nos juntar a vocês, o que é uma grande pena.
Peter olhou para Patrício com repreensão. Bom... ele teria problemas com Miranda e com Peter. Eu só queria voltar para casa, pegar minha futura esposa nos braços e levá-la para a cama.
– Despedida de solteiro? – elas se animaram. Que merda!
– Não se empolguem. Nós não estamos interessados – Peter foi curto e grosso e elas o olharam com raiva.
Não quero ser machista, mas... o que estava acontecendo com as mulheres? Estavam todas doidas? A revolução sexual estava atingindo o discernimento delas? De repente, todas levantavam a bandeira da liberdade sexual, ficando mais atiradas... Tudo bem que era até interessante. Nunca gostei de mulher retraída, no entanto, algumas como aquelas passavam do limite.
– Será? – uma das loiras desafiou. João riu um pouco animado, imediatamente se retraiu quando meu pai pigarreou. Bom... O problema dele não seria o sogro e sim Lana.
– Ok, meninas! Vocês são lindas e maravilhosas, mas estamos de saída. Quem sabe num outro momento... – Johnny tentou argumentar, mas a merda já havia sido feita.
– Quero só ver o que a noivinha vai dizer quando descobrir que o noivo voltou para casa apenas de cueca – elas correram.
Não deu tempo de reagir. Três pegaram nossas roupas enquanto duas pularam no jipe e deram partida. Ainda conseguimos sair da água, de cueca, é claro! Mas não conseguimos recuperar as peças. Então elas partiram levando tudo. Inclusive a minha paciência.
CHARLOTTE
– Eles chegaram – ouvi Miranda entrar no quarto. Seu tom de voz não era nada amistoso.
Lana continuava na porta do banheiro, usando todos os argumentos disponíveis para me convencer a casar. Lógico que nenhum funcionou. Não era justo ser forçada a aceitar um casamento às pressas, apenas para satisfazer o ego daquele... Idiota! E ainda aceitar uma despedida de solteiro? Não, duas! Ah, não! Alex não me conhecia. Nada me faria mudar de ideia.
– E por que você está com tanta raiva? – ela perguntou a Miranda. Agucei meus ouvidos. Não queria perder nenhum detalhe.
– Porque aqueles... aqueles... nem sei como chamá-los. Mas você precisava ver a cena, todos, todos mesmo, somente de cueca. Apenas isso. Saíram vestidos, afirmando que era só um momento entre amigos e voltam sujos e só de cuecas. Não quero mais ver a cara do Patrício. Aliás, eu quero, porque vou parti-la ao meio.
– Droga, Miranda! Você não está ajudando em nada.
– Não deixem ele vir até aqui, porque vou abrir esta porta e matar o seu irmão, Lana – gritei enfurecida.
Filho da puta, miserável, covarde, cretino... merda! Só de cueca? Como ele pôde? As lágrimas recomeçaram a cair. Meus olhos já estavam inchados e vermelhos. Nenhuma maquiagem seria capaz de disfarçar aquele desastre. Também quem estava pensando nisso? Eu não permitiria que ninguém me convencesse a aceitá-lo como marido.
– Eu vou te ajudar a fazer isso, antes saia daí e vamos conversar – ela tentava em vão me convencer a abrir a porta, eu não abriria.
– Não!
– Aqueles... babacas disseram que foram assaltados. Deve ter sido pelas mulheres com quem foram se divertir.
– Miranda, pelo amor de Deus, fique calada! Você sabe o trabalho que deu organizar este casamento? – Lana estava mais do que nervosa e eu explodiria a qualquer momento.
– Para quê? Para que ele saísse atrás de vagabundas? – Miranda rebateu completamente irritada com a situação. Pelo menos a minha amiga estava do meu lado, dividindo a raiva comigo.
– Já chega! Fora do quarto. Deixa que eu resolvo essa merda – ouvi pés batendo forte no chão e deduzi que Miranda havia ido embora.
Tomara que ela acabe com a cara do Patrício!
– Charlotte, por favor! Vamos ser adultas e pensar de maneira sensata. Miranda falou que eles foram assaltados. Vamos ouvir o que Alex tem a dizer...
– Não quero ouvi-lo. Não quero nem ver a cara dele – sentei novamente no chão o mais distante possível da porta.
– Ok! Eu vou atrás do João para saber o que aconteceu. Quando se sentir melhor me procure.
Então o silêncio do quarto foi sepulcral. Pela primeira vez naquele dia, eu me senti completamente sozinha, e era sufocante.
ALEX
Voltar para casa foi humilhante! Eu não queria tocar no assunto. Queria esquecer o começo daquele dia e me concentrar no final dele, quando Charlotte seria minha esposa e todos os acontecimentos ficariam para trás. João, Patrício e Johnny estavam achando tudo muito divertido. Finalmente alguma coisa para animar a minha despedida de solteiro. Eu queria poder socá-los pelos seus entusiasmos.
– Vamos dar um jeito de entrar sem chamar a atenção de ninguém – meu pai falou antes de entrar no seu carro. Ele e Peter foram juntos, enquanto eu e os outros rapazes fomos no jipe do Patrício, o que piorava tudo, pois era aberto e nos deixava expostos.
– Duvido muito que você consiga, pai. A casa deve estar repleta de funcionários.
Ele suspirou sabendo que o que eu dizia era verdade. Meu pai e meu futuro sogro se olharam e depois riram. Por que só eu não conseguia achar graça naquela merda?
– O jeito vai ser encarar – comentou e entrou em seu carro.
– É, fale isso para Charlotte – resmunguei.
Os rapazes fizeram piadas de todos os tipos e não se preocuparam por chegar daquela forma tão... descabida. Eu estava com fome, com frio e nervoso. Completamente tenso.
– O que aconteceu? – minha mãe correu em nossa direção assim que nos viu chegar daquele jeito. Meu pai e Peter permaneceram dentro do carro, provavelmente sem querer envergonhar um ao outro.
– É uma longa história, mãe! Dá para trazer umas toalhas?
– Claro! – ela foi em direção à casa. – Miranda, preciso de você.
Tá! Estremeci só de imaginar qualquer mulher daquela casa me trazendo a toalha e Charlotte vendo a cena. Por outro lado, eu precisava entrar, não poderia recusar a ajuda de quem fosse. Poucos minutos depois, Miranda e minha mãe voltaram com roupões e toalhas. Fiquei muito sem graça com o olhar da melhor amiga da minha noiva sobre mim. Olhou-me de forma tão intensa que juro que tive medo de ela me agarrar naquele momento e naquele local. O que estava acontecendo com as mulheres?
– Obrigado – desviei o olhar e rapidamente vesti o roupão escondendo a minha quase nudez.
– O que significa isso? – Miranda não esperou para cobrar uma explicação do Patrício. Como ela podia me dar um olhar daquele e depois tirar satisfações com meu irmão?
– Você não vai nem acreditar – Patrício riu, mas levou um tapa no braço. Miranda não estava achando nada divertido vê-lo chegar só de cueca.
– Ai! – ele se encolheu teatralmente. Um tapa daqueles não o machucaria. – Miranda, o que...
– Cale a boca, Patrício! – repreendeu-o com voz chorosa. – Não quero ouvir a sua voz, e... deixe-me em paz! – e saiu em disparada para dentro da casa.
Eu, João e Johnny rimos da cara do Patrício, mesmo sabendo que em breve seria a nossa vez. Meu irmão correu atrás dela, enquanto Johnny levava toalhas para meu pai e Peter. Minha mãe nos olhava sem entender nada.
– Fomos assaltados – comecei as minhas desculpas para minha mãe, quando uma funcionária se aproximou com mais algumas toalhas. Elas pareceram não acreditar. – Paramos para tomar banho no rio e umas... levaram as nossas roupas.
– Assim, sem mais nem menos? E vocês não perceberam? – a funcionária perguntou, recebendo um olhar fulminante da minha mãe, o que a fez se encolher.
– Não. Não foi sem mais nem menos, agora não posso me explicar. Preciso comer alguma coisa, mãe – desviei minha atenção e fiz com que minha mãe voltasse a dela para mim.
– Eu também, sogra – João passou os braços pelos ombros dela fazendo-a voltar para a casa. – Pode acreditar que nada de ruim aconteceu com seu genro favorito, nem com seu marido. Estamos todos inteiros e famintos, só o Alex está um tanto quanto... – olhou para mim com ironia. – Tenso, inseguro e temeroso – riu.
Eu vou matar o João!
Mal consegui andar direito pela casa. Eu tinha dito a Lana que seria uma cerimônia simples, mas ela, como sempre, burlou todas as minhas regras e transformou a casa em um verdadeiro salão de festas. Minha mãe foi logo avisando que eu não poderia ver Charlotte, que minha irmã me mataria se eu tentasse e que o melhor a fazer era descansar um pouco em meu quarto. Obedeci já mais do que frustrado com tudo.
Comi a comida que minha mãe fez questão de levar ao meu quarto, tomei um banho quente e demorado, fiz a barba, cortei as unhas... Quando não havia mais nada para fazer, deitei tentando desligar meu cérebro. Era impossível! Pelo menos eu estava em casa, e Charlotte em algum lugar se preparando para ser minha esposa. Respirei aliviado.
Foi quando Lana irrompeu quarto adentro como um furacão.
– Charlotte desistiu do casamento.
– O quê?
CHARLOTTE
Deitei no chão e encarei o teto. Eu estava sendo muito infantil? Não. Ele que foi muito cafajeste isso sim! Mas e se foram realmente assaltados? E se Alex estivesse ferido? Claro que não! Se alguma coisa tivesse acontecido, com certeza, alguém já teria me avisado.
Então era isso? Eu tinha conseguido todas as minhas experiências, realizado alguns sonhos e agora voltaria para a realidade, sem Alex, sem casamento, sem... a dor em meu peito foi dilacerante. Deus! Eu o amava tanto! Como conseguiria simplesmente desistir desse amor?
Também não poderia começar um relacionamento aceitando uma traição. Não mesmo! Alex tinha obrigação de me respeitar. Afinal de contas, não fui eu que fiquei desesperada para casar. Aquele idiota, cretino... estragou o meu conto de fadas.
Um soluço me fez estremecer.
“Mas eu ainda o amo!”, eu pensava. Estava com raiva, muita raiva, ferida, sofrendo de amor e...
– Charlotte? – Alex me chamou. Sua voz estava calma e muito próxima da porta. Meu coração acelerou.
Como eu deveria reagir? Quem sabe bater nele. Não. Seria demais para as nossas famílias. Eu poderia esbofeteá-lo. Claro que poderia, ele havia me traído. No entanto, não era o que eu queria. Ouvir a sua voz, doce, tranquila e cheia de carinho me fazia apenas querer chorar. Foi o que fiz.
– Cubra este vestido rápido. Ele não pode ver antes da hora – Lana também estava lá, e provavelmente todos os outros.
“Que se dane o vestido, que se dane o casamento”, pensei com amargura.
– Charlotte, abra a porta. Vamos conversar – ele pedia, meu coração implorava, meu gênio me impedia.
– Vá embora, Alex. Não quero mais te ver – tentei manter a compostura, mas meu nariz escorria e as lágrimas não paravam, sem contar os soluços que me impediam de falar corretamente.
– Amor, abra a porta. Por favor!
Droga! Por que ele tinha aquela capacidade de fazer tudo mudar dentro de mim? A raiva começava a ser substituída pela vontade de atender a seus apelos.
– Não! Por que você não vai conversar com aquelas galinhas com quem foi fazer sua despedida de solteiro? – ele riu baixinho.
– Não sei do que você está falando – que ódio! Alex achava mesmo que eu era uma idiota. – Abra a porta, Charlotte.
– Volte para suas amiguinhas e me deixe em paz, Alex – eu já estava parada em frente à porta, com a testa encostada nela e ansiosa para vê-lo.
– Não existe nenhuma “amiguinha”, amor. Eu posso te explicar tudo, antes preciso que você saia.
– Não vou sair, não vou me casar e não quero ver a sua cara. Vá embora! – bati o pé no chão como uma criança mimada.
– Charlotte, eu não vou deixar você desistir. Abra a porta e converse comigo, ou vou arrombá-la, pegar você à força, enfiar naquele vestido e obrigá-la a assinar aqueles papéis.
– Quero só ver, Alex! – ri com ironia, afastando-me da porta. Se ele acreditava que poderia me forçar a fazer a sua vontade, estava completamente enganado. – Já que quer tanto se casar, por que não escolheu uma daquelas vacas?
– Porque eu amo você, droga! Minha manhã foi péssima e a única coisa que eu desejava era poder voltar e finalmente ter você como minha esposa, pelo visto, o mundo inteiro está conspirando contra o meu final feliz – ele explodiu fazendo-me recuar.
– Calma, Alex! – Dana falou, e eu corei. Merda! Por que todo mundo tinha que estar lá para assistir ao espetáculo?
– Afaste-se da porta porque vou arrombá-la – ameaçou. – Estou avisando, Charlotte. Um... Dois...
Corri para a porta destrancando-a. Seria demais deixá-lo destruir a casa por causa da nossa briga. Além do mais, Dana estava lá e eu não queria que pensasse que o filho estava se casando com uma garotinha mimada. Alex, percebendo o que eu havia feito, segurou a maçaneta girando-a. A porta se abriu, revelando o grupo do lado de fora. Cruzei os braços e aguardei.
ALEX
Charlotte estava parada, com os braços cruzados e os olhos vermelhos fixos em mim. Droga! Ela havia chorado, aparentemente muito. Tudo por causa das loucuras da vida. Quem poderia imaginar que aquilo tudo fosse acontecer? Bom... eu não.
Dei um passo na sua direção e ela recuou. Logo me dei conta de que havia gente demais naquele quarto, então entrei no banheiro, fechei a porta atrás de mim e a encarei. Era preciso calma. Minha noiva parecia um bichinho assustado e eu tive medo de forçar demais a barra. Mantendo uma distância segura, cruzei os braços, na mesma posição que ela, e aguardei.
Ela permaneceu calada.
– Eu não estava em uma despedida de solteiro. Não da maneira que você está pensando.
– Não existe forma diferente de pensar numa despedida de solteiro – rosnou, mantendo os braços presos no peito. Suspirei pesadamente. Aquela seria uma longa conversa.
– Não sei o que contaram a você, a verdade é que não poderia existir uma despedida de solteiro como você pensa quando o seu pai e o meu se juntaram ao grupo. Eu até entenderia o seu aborrecimento se fossemos só eu e os rapazes, mas, francamente, Charlotte... Você se superou, conseguiu ir ainda mais longe do que eu poderia imaginar.
Ela recuou. De forma rude, eu conseguia desarmá-la. Charlotte descruzou os braços e andou até a pia encostando-se nela. Continuei encarando-a, com cara de quem não acreditava no que estava vendo. Ela começou a corar e toda a minha raiva foi sumindo. Céus! Como ela ficava linda tímida, envergonhada. Tudo o que eu mais queria em uma mulher. E na cama era tão... única!
– Meu pai pode muito bem acobertar suas traições. Homens são assim – ri. Charlotte sabia ser bem absurda quando queria.
Andei em sua direção, sem tocá-la. Ainda era cedo para considerar o jogo ganho. Parei diante dela, colocando uma mão em cada lado do seu corpo, apoiado à pia e a olhei fixamente.
– Você sabe que isso é impossível. Qual é o problema?
– Você... vocês chegaram de cueca, Alex. Que... vergonhoso, absurdo...
– Charlotte! Nós fomos roubados. Umas... – consegui evitar aquela informação a tempo. Não queria esconder a verdade dela, porém aquele não era o momento para dizer que algumas garotas apareceram e ficaram ofendidas com nossa recusa e por isso decidiram levar nossas roupas – ... pessoas, não sei ao certo... Estávamos no rio e, quando vimos, nossas roupas haviam desaparecido – ela estreitou os olhos como se soubesse que eu mentia. – Pode perguntar para o seu pai. Ele vai confirmar que eu nada fiz de errado – ela se remexeu inquieta. – Qual é o problema, Charlotte?
– Você!
– Eu?
– Sim! Você me jogou nesta loucura e me largou sozinha o dia inteiro para curtir sua despedida de solteiro. Não quis transar comigo, recusou-se terminantemente e aí vem esta notícia de vocês chegando de cueca e... e... eu sofri tanto, Alex! Lana me torturou de todas as formas. Ela me depilou completamente, você acredita nisso? – eu queria rir, mas preferi morder os lábios e ouvir seu desabafo. Charlotte era incrível! – Aquilo não é uma coisa que devemos fazer com os outros. Você tem noção da dor? E...
– Charlotte? Foco, amor! Você está confusa, eu te entendo. É muita pressão.
– Não! Você não entende. Eu te disse. Não sei fazer isso. Não estou preparada. Eu vou cair, vou rasgar o vestido, vou me machucar, vou te machucar! Eu vou ser uma péssima esposa, Alex! – as lágrimas rolaram por seus olhos. Charlotte estava em pânico. Eu sabia como resolver aquela situação.
– Amor, vem cá! – levantei seu corpo pequeno e a sentei sobre o mármore da pia. Abri suas pernas e me coloquei entre elas.
– O que você está fazendo?
– Estou aproveitando meus últimos momentos como solteiro – puxei Charlotte alcançando seus lábios. Ela não me recusou.
Era isso o que estava faltando. Sexo. Charlotte precisava relaxar e eu fui um idiota não percebendo que minha recusa a deixaria estressada num momento tão importante quanto aquele.
Corri minhas mãos por suas costas, puxando-a para mim e aproveitando o tecido delicioso em sua pele macia. Charlotte gemeu em meus lábios e eu amava quando ela fazia aquilo. Ficava louco para arrancar mais e mais gemidos dela. Procurei pelo nó do roupão e ela me interrompeu.
– Alex, aqui não! Todo mundo está lá fora.
Sorri sabendo que não seríamos capazes de frear nossos impulsos. Inclinei a cabeça desci em direção ao seu pescoço. Charlotte tinha um cheiro delicioso
– Alex! Não!
– Quero uma despedida de solteiro com o que tenho direito e nada melhor do que fazer isso com a mulher mais gostosa que já conheci – ela sorriu baixando seu olhar de maneira encantadora. Aproveitei e abocanhei sua orelha. Charlotte ofegou. Era exatamente o que eu queria.
– Eles vão ouvir – sussurrou se encolhendo com o meu contato.
– É só você continuar falando deste jeitinho delicioso – disse baixinho em seu ouvido. Ela estremeceu. – Você quer ser a personagem principal da minha despedida de solteiro? Quer fazer com que ela seja inesquecível? – Charlotte sorriu timidamente, fechou a mão em minha camisa e balançou a cabeça aceitando a minha proposta. – Depois subiremos naquele altar e consagraremos a nossa união, ok? – novamente ela concordou.
Corri meus dedos em seu pescoço, roçando sua pele clara e sedosa. Charlotte fechou os olhos se entregando. Ela mordia os lábios e eu queria desesperadamente estar dentro dela. Desci os dedos pela fenda do decote do roupão, afastando-o para que eu tivesse livre acesso a seus seios pequenos e rijos.
Circulei o bico suavemente. Charlotte se encostou no espelho, inclinando o corpo na direção da minha mão. Aproveitei e desatei o nó que prendia a peça. Enquanto isso desci minha outra mão, afastando o tecido e percorrendo sua pele até o umbigo.
Dei um beijo leve em minha noiva e depois fui até seu pescoço, deixando que meus lábios acariciassem aquele corpo perfeito. Logo minha boca estava em seus seios, onde eu brinquei com os dentes, a língua e os lábios, primeiro um, depois o outro. Suguei e beijei aquela parte sua que eu tanto admirava. Charlotte continuava inclinada, olhos fechados e lábios travados, evitando emitir qualquer som. Eu queria ouvi-la. Nada como os gemidos da mulher que eu amava para me dar mais prazer.
Cuidadosamente desci com a ponta da língua até alcançar seu umbigo. Charlotte correu as mãos por meus cabelos, emaranhando seus dedos entre eles. Mordisquei a ponta da sua barriga. Minha noiva se movimentou em direção aos meus lábios. Eu sabia o que ela queria e eu satisfaria o seu desejo.
Tirei o tecido que cobria o restante do seu corpo, correndo os dedos pelo meio de suas pernas, acariciando aquelas coxas maravilhosas. Ao mesmo tempo, desci roçando minha língua do seu umbigo até quase alcançar o seu sexo. Olhei para aquela parte tão íntima da minha noiva e... puta que pariu! Ela estava toda depilada. Todinha mesmo. E só para mim.
Nunca havia sentido tanta vontade de colocar a minha boca em uma mulher quanto senti naquele momento. Charlotte é tão linda! Tudo do tamanho certo e no seu devido lugar. Parecia uma fruta, doce e suculenta, pronta para ser degustada.
Passei minha mão por debaixo de seus quadris e puxei-a para mim. No mesmo instante, meus lábios alcançaram a feminilidade da minha noiva, que ofegou, levantando o corpo em minha direção. Ela gemeu sensualmente, mantendo o tom baixo. “Isso, Charlotte! Geme para mim”, beijei aquela parte com desejo e intensidade. Deixei meus lábios massagearem o sexo da mulher que eu tanto amava e brinquei com os dentes em seus pontos mais sensíveis.
Não deixei de invadi-la com minha língua. Charlotte tinha um sabor sem igual. Era toda feita na medida certa para mim. Da forma como eu queria, desejava. E receber seu rebolado, suas mãos me puxando para perto enquanto trabalhava com os lábios nela, era sensacional. Principalmente ao perceber seus gemidos ficando cada vez mais intensos e descontrolados, apesar de ela estar lutando contra eles. Puta merda! Eu me acabava com aquela mulher.
Pela forma como rebolava, forçando seu sexo em minha boca, eu soube que logo gozaria, então a penetrei com meus dedos, tocando-a com cuidado, porém da maneira correta e completei sugando seu clitóris com meus lábios. Charlotte gemeu mais alto, sorri, pressionando a ponta da língua e depois fechando os lábios para sugá-la com mais força.
Ela arqueou o corpo, rebolou em minha boca e estremeceu. Em seguida senti o líquido delicioso do seu gozo na minha língua. Suguei uma última vez seu ponto de prazer, ainda com os dedos massageando-a e ela deu um último espasmo. Missão devidamente cumprida.
Suas pernas, antes dobradas para me receber melhor, relaxaram um pouco, entregues à saciedade. Sem perder tempo, segurei Charlotte com força fazendo-a descer. Nossos olhos se encontraram, os dela sem entender o que eu pretendia, os meus cheios de desejo e tesão.
Não dava para ficar só nas preliminares. Eu tinha adorado a depilação da minha noiva e, conhecendo Lana como conhecia, com certeza, estaria impecável. Eu precisava conferir.
Girei Charlotte, deixando-a de costas para mim. Assim que ela virou aquela bunda deliciosa em minha direção, abri minhas calças deixando-a cair aos meus pés. Charlotte olhou para trás, seu rosto corado pelo esforço, sua pele levemente suada. Seus olhos foram direto para a minha ereção, o que me deixou ainda mais excitado.
– Mãos no espelho! – ordenei. Ela prontamente obedeceu, olhando sempre para trás, conferindo todos os meus movimentos. “Ok, Charlotte! Você quer me ver te comendo, então curta o espetáculo”.
Segurei forte em sua perna e, sem aviso, levantei uma delas apoiando-a no mármore da pia. Ah! A visão era perfeita, maravilhosa! Exatamente como eu queria. Estava tudo lisinho, como eu desejava. Puta que pariu!
– Alex! – ela murmurou assustada com a posição.
– Quero uma visão ampla da sua bunda, gostosa!
Segurei com uma mão a sua cintura e com a outra enrolei seus cabelos, puxando sua cabeça em minha direção. Antes de penetrá-la, mordi seu pescoço e Charlotte gemeu entregue. Como eu adorava a sua capacidade de recuperação.
Nem tive tempo de pensar em começar devagar. Eu a queria, firme e forte, sem muito cuidado. Queria a minha despedida de solteiro como ela deveria ser.
– Empine a bunda, Charlotte! Mostre para mim o quanto você é deliciosa – forcei seu corpo para frente, fazendo-a quase deitar sobre o mármore frio. Com isso sua bunda ficou no ângulo certo. E então a penetrei de uma vez só. Ela gemeu alto, esquecendo-se de qualquer pudor, ou da plateia lá fora.
Assim que cheguei ao seu limite, voltei e recomecei várias vezes. Charlotte gemia e empinava a bunda para mim. Espalmei minha mão em suas costas, mantendo-a naquela posição. Daquele jeito eu podia vê-la, comê-la e apreciá-la sem pudor e sem limites.
Era impossível não sentir uma enorme atração por aquele ponto ainda não explorado. O limite das barreiras dela. Todo lisinho, sem nada que me impedisse de tocá-lo. E foi o que eu fiz. Enquanto entrava e saía, passei minhas mãos em sua bunda, massageando sua carne e, muito levemente, como se não houvesse planejado nada, deixei que meu dedo roçasse aquela entrada tão desejada.
Charlotte arqueou o corpo, pronta para me impedir, mas se deteve. Atento à sua reação, entrei com mais força, rebolando para tocá-la completamente, roçando suas paredes úmidas e quentes e, quando ela estava mais relaxada, deixei que meu dedo roçasse aquela região novamente, não me intimidei com a sua reação. Eu sabia que ela gostava.
Todas as mulheres se recusam a admitir o sexo anal, mas elas sabem que a sensação é deliciosa, pelo menos as que eu já havia experimentado rapidamente se renderam a esta prática, absorvendo o máximo que podiam. Era prazeroso para ambas as partes. Simplesmente uma questão de ceder, relaxar e se permitir.
Novamente a acariciei, dessa vez com mais segurança, deixando claro que era o que eu queria. Então Charlotte relaxou. De uma maneira que só ela era capaz de fazer, deitou o corpo e se permitiu ser tocada. Aquele foi o meu limite. Acariciei seu ânus com o polegar, sem deixar de estocá-la com força enquanto a assistia se entregar ao prazer. Então empurrei um pouco o dedo, a carne cedendo e me sugando.
Minha noiva gemeu, estremeceu e gozou.
– Puta que pariu! – acompanhei-a em seguida, colado ao seu corpo e me contorcendo de prazer.
CHARLOTTE
Alex saiu com os olhos brilhantes. Confesso que me senti muito envergonhada pelo ocorrido. Do lado de fora estavam Miranda, Dana, minha mãe e Lana, que batia o pé no chão, impaciente. Ele me beijou na testa e saiu sem dar nenhuma explicação.
– Puta que pariu! – Lana exclamou tão logo Alex bateu a porta. – Não podia esperar pela lua de mel?
– Lana!
Dana a repreendeu, mas a merda já estava feita. Eu fiquei mais vermelha do que tomate maduro. Miranda deu risada e minha mãe apenas sorriu, evitando entrar no clima delas.
– É verdade! Nem eu obriguei João a transar comigo, ameaçando desistir do casamento. Que absurdo!
– Lana, querida! – Dana levantou segurando a filha. – Charlotte não precisa destes pormenores. Faça apenas a sua parte, nós vamos nos arrumar. Vou mandar o pessoal entrar. Temos um casamento para assistir e eu não quero perdê-lo por nada.
Miranda acompanhou Dana, prometendo voltar logo para substituir Lana, enquanto esta se arrumava. Ficamos eu, minha cunhada e minha mãe, que acompanhava tudo de perto.
– Agora estamos todas atrasadas – ela me levou até a cadeira.
– O importante é que deu tudo certo. E ninguém precisa saber dos detalhes – minha mãe piscou para Lana, que segurou meu cabelo puxando-o para trás.
– É. Ainda bem que eu me viro bem com meu corpo espetacular – elas riram e eu ainda me sentia envergonhada, sem conseguir olhar diretamente para minha mãe. Esta, vendo como eu me sentia, segurou em minha mão e começou a falar.
– Quando eu e seu pai decidimos que queríamos passar o resto da vida juntos, éramos muito jovens ainda. Ele tinha acabado de entrar na faculdade de Medicina, já estava no exército e precisou ser transferido. Nós não queríamos nos separar e eu não poderia ir com ele, precisava completar meus estudos. Um dia, ele bateu em minha janela, estava muito ansioso e falando sobre sua necessidade de garantir que estaríamos sempre juntos. Então me pediu em casamento. Eu achei uma loucura, mas, olhando em seus olhos, não tive como negar. Nós fugimos juntos naquela noite, procuramos o padre da igreja que ele frequentava e pedimos a bênção de Deus para o nosso amor. Não foi um casamento de verdade, afinal de contas não assinamos nenhum papel, porém, para nós dois, foi a certeza de que pertencíamos um ao outro e que, se Deus assim quis, nada poderia nos separar. Nem o tempo, nem a distância... Naquela noite, eu e seu pai tivemos nossa primeira noite de amor. Uma primeira lua de mel. E, no dia seguinte, ele foi embora. Eu nunca me arrependi do que fiz, mesmo que ele nunca tivesse voltado.
Ela estendeu a mão e capturou uma lágrima que descia em meu rosto. Eu nem havia percebido que chorava. Lana, às minhas costas, enrolava meus cabelos em cachos e prendia-os no alto da minha cabeça, testando penteados. Ela acompanhava em silêncio a linda história de amor dos meus pais.
– Eu sou muito feliz, filha. Seu pai me deu uma vida mágica. Nunca, nem por um minuto, eu repensei sobre nosso casamento e hoje, vendo você prestes a se casar, só consigo desejar que você tenha a mesma sorte – mordi os lábios reprimindo um soluço. – Alex é um bom homem, vai cuidar de você, fazê-la feliz. Seja mais flexível com ele. Ouça primeiro. Procure entendê-lo. Vocês formam um lindo casal e eu tenho orgulho de ter conseguido chegar até aqui.
– Ah, mãe! – ela me abraçou com força, transmitindo tanto amor que quase sufoquei. Minha mãe era uma pessoa incrível.
– Agora eu preciso ir – disse ao me soltar. – Tenho que me arrumar também, afinal de contas, a mãe da noiva é uma peça muito importante no casamento.
– A mais importante – eu disse entre lágrimas.
– Nada mais de choro. Teremos um trabalho árduo para disfarçar esta cara inchada – Lana esbravejou, mas ela também havia ficado emocionada com o relato que ouvimos.
– Vejo você mais tarde – minha mãe saiu no mesmo instante em que a equipe de maquiagem e cabeleireiro entraram. Voltei a fechar os olhos, relaxar e aguardar pela hora do sim.
CAPÍTULO 36
“O amor é fumaça formada pelos vapores dos suspiros. Purificado, é um fogo chispeante nos olhos dos amantes. Contrariado, um mar alimentado pelas lágrimas dos amantes. Que mais ainda? Loucura prudentíssima, fel que nos abafa, doçura que nos salva.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
– Respire fundo.
Repeti para mim inúmeras vezes de olhos fechados. Eu estava sozinha no quarto aguardando a chegada do meu pai. Lana finalmente tinha me deixado só para terminar a sua própria produção. Miranda provavelmente estava infernizando a vida do Patrício por causa da malfadada despedida de solteiro. Bom... eu entendia a minha amiga. Não era fácil engolir aquela história absurda, porém... eu precisava confiar em Alex, afinal de contas, estava prestes a me casar...
Puta que pariu! Eu ia me casar.
– Respire fundo, Charlotte. Você consegue!
Minhas pernas tremiam, as mãos suavam, a cabeça latejava e meu único pensamento era fugir.
– Puta que pariu! Puta que pariu! Eu não vou conseguir.
– O que você não vai conseguir?
Abri os olhos e vi meu pai parado diante de mim. Nossa! Ele estava incrivelmente lindo. Seus olhos, repletos de rugas de expressão que o deixavam mais adorável, brilhavam, e seu sorriso... ah, o sorriso do meu pai era de plenitude! Meu coração inflou e se iluminou.
– Estou com medo, pai – admiti.
– Ele é o homem que você ama – suas mãos para trás e sua postura completamente ereta denunciavam que também estava com medo.
– Eu o amo, apesar disso... Não é o medo de me casar com ele. É o medo de me casar! Medo de tudo estar acontecendo rápido demais, de eu estragar as coisas. Alex já é um homem. Viveu sozinho por muito tempo. E se ele não gostar de dividir sua vida, uma casa comigo? E se eu acabar atrapalhando mais do que ajudando? E se eu não gostar de ser esposa? Pai...
– Charlotte, eu compreendo todas as suas dúvidas, meu anjo! E não tenho como responder a tantos questionamentos. Só posso dizer que ser casado tem muitas vantagens. Eu gosto mais deste estado civil do que o de solteiro – e ele sorriu mais. Meu pai parecia brilhar quando falava do seu amor por minha mãe. Ela era tudo para ele.
– Como o quê, por exemplo?
– Como não ter um pai chato determinando a hora de voltar para casa – deu de ombros e eu ri.
– Não tenho problema em continuar enfrentando o senhor até que consiga entender que eu cresci.
– Dormir todos os dias com a pessoa que você ama. Esta é a maior vantagem de todas – piscou confidente. – Eu posso falar também da segurança que é voltar para casa e encontrar conforto em alguém em quem confiamos. A certeza de que, independentemente de qual seja a situação, ele estará lá sempre ao seu lado. A vontade de fazer coisas que surpreendam e satisfaçam, muitas vezes um gesto simples, como fazer a comida preferida.
– Eu nem sei qual é a comida preferida dele ou como gosta que a casa seja arrumada...
– Você terá tempo para descobrir.
– Pai, Alex só quer casar porque ele pensa que pode me perder de uma hora para a outra, eu não o entendo. Eu sei que o amor que eu sinto nunca vai acabar, eu nunca vou abandoná-lo. Não preciso casar para provar isso.
– Então você está no caminho certo. O casamento é uma mera formalidade, filha, o que conta é a sua vontade de unir sua alma a dele. Para você isso é o bastante, no entanto para ele é importante o “sim”, os papéis, e admito que para mim também – olhou-me com alegria e foi impossível não sorrir. – Alex a ama e precisa ter você ao alcance das mãos para se sentir seguro. Este é um pequeno gesto que você fará para deixar claro o seu amor, dando a ele o que ele precisa e ele retribuirá de maneira única, porque será verdadeira.
Meu pai tinha razão. Por que eu sentia medo? Eu estava simplesmente dizendo a Alex que o queria para a vida inteira, aliás, para a eternidade, o meu amor nunca teria fim. Andar aqueles poucos metros, dizer “sim”, assinar os papéis, apesar de mera formalidade era importante para dar segurança ao homem que eu amava. Eu precisava apenas que ele segurasse em minha mão, para mim era mais do que suficiente. Meu pai tinha razão. Se Alex precisava disso e, se não era nada que poderia me machucar ou me fazer infeliz, por que não?
– Está pronta?
Olhei minha imagem no espelho. O vestido branco gelo, repleto de renda, envolvendo meus ombros, descia por meu corpo, alargando-se um pouco abaixo dos quadris como uma tulipa invertida. Uma fileira de pérolas fechava a renda que revestia minhas costas, sem revelar muito, mas insinuando bastante. Meu rosto estava levemente corado, não só pela maquiagem, também pelo calor que sentia e a ansiedade que quase me dominava.
ALEX
Charlotte estava demorando demais. Meus olhos de tempos em tempos encontravam os de Lana e os dela refletiam a minha angústia. Charlotte desistiu. Droga! Eu não devia tê-la deixado sozinha. Droga! Johnny se aproximou e tocou meu ombro.
– Ela virá. Toda noiva atrasa. Com Charlotte não seria diferente. Fico me perguntando onde ela conseguiu esta veia artística para gostar tanto de dramas – olhei para o amigo da minha noiva, o mesmo que muitas vezes me despertou raiva e ciúmes, e ele sorriu. – Ela precisa chamar atenção – dei risada. Era engraçado e, apesar de ser injusto com Charlotte, um pouco verdadeiro. Tudo era um drama na vida dela. – Não se preocupe, ela te ama. Não vai perder a oportunidade de te amarrar para sempre.
– Tomara mesmo que isso seja verdade.
– Com certeza é – ele estreitou os olhos com desprezo. – Eu só não entendo o motivo de você querer tanto casar. Passar o resto da vida amarrado a alguém. Em breve, ela começará a ter filhos – sua expressão mudou para nojo. – Nunca mais vai ser a mesma. Vai começar a cobrar demais. As crianças vão chorar, vão bagunçar a casa, você não poderá sair com os amigos porque quando voltar para casa ela vai falar, falar e... – sorri largamente.
– Você vai entender quando encontrar alguém que ocupe todos os seus pensamentos. Que você deseje mais do que o próprio ar. Quando nada mais fizer sentido se ela não estiver com você. Ainda não se apaixonou, Johnny. Quando acontecer, não vai conseguir aguardar nem um segundo.
– Tomara que você esteja certo do que quer.
– Por quê?
– Porque ela acabou de chegar. É, meu amigo, agora é para valer – ele deu um tapa em meu ombro, e meu coração disparou varrendo o pequeno espaço da piscina a procura dela.
CHARLOTTE
Todos os nossos poucos convidados estavam lá, de costas para mim, sem perceberem que eu havia chegado para dar o passo mais importante da minha vida. O momento em que me uniria a Alex de corpo e alma. O momento em que Deus me diria que nada foi em vão. Que a loucura daquela proposta, que agora parecia ter sido há muito tempo, a insegurança, o medo, a descoberta do amor... Nada foi em vão. Lá estava eu, pronta para dizer “sim” e para pertencer a ele por toda a minha existência.
Foi naquele momento que Johnny capturou o meu olhar e sorriu. Meu amigo, com aquele simples gesto, abençoava a minha decisão. Ele tocou no ombro de Alex, e meu namorado, noivo... O homem da minha vida, e eu não tinha mais nenhuma dúvida sobre isso, olhou-me. Foi como se o tempo parasse.
O olhar de Alex me invadiu com uma força impossível de ser mensurada. Capaz de derreter qualquer geleira, acabar com qualquer guerra... Uma força que me envolvia e afugentava todos os medos e receios, deixando apenas certezas. O nome desta força é amor. Naquele instante apenas o amor seria capaz de guiar os meus passos e, ao mesmo tempo, desorganizar todo meu interior. Era o amor que me dizia naquela hora que nada poderia ter sido diferente. Eu passei a pertencer a Alex no momento em que aceitei ser sua aluna.
Não. Não foi em vão.
Um dos músicos detectou a minha presença e levantou dando a primeira nota para, em seguida, ser acompanhado dos outros quatro. Uma linda melodia preencheu o ambiente, e meus amigos se levantaram virando-se para me olhar. Eu não tinha como olhá-los. Não queria desviar os meus olhos da figura no centro do altar improvisado. Ele era perfeito demais para ser verdade e me amava como se eu fosse o ser mais incrível e maravilhoso do planeta.
Durante anos, eu apenas vivi. Nunca fui a garota que despertava paixões. Eu era tímida, solitária. Escondia-me atrás dos outros, deixava que todos brilhassem a meu redor tentando nunca ser o centro das atenções. Fingia satisfação em ser apenas a garota inteligente que sorria e ajudava os amigos, que era motivo de orgulho para os pais e se conformava com o pouco que vinha a suas mãos. No fundo, nunca fui feliz. Não completamente. Eu me sentia vazia. Sozinha demais em um mundo cheio demais. Incapaz de fazer nada para modificar as coisas, deixando-me levar e aceitando o curso da vida. Apenas eu sabia o que realmente existia dentro de mim.
O jeito que encontrei de mudar qualquer coisa foi escrevendo. Como escritora, eu podia ser o que quisesse, onde quisesse e da maneira que quisesse. Simplesmente escrevia sobre as milhares de vidas que gostaria de ter, os milhares de amores que poderia vivenciar e que nunca permitia que me alcançassem. Desenvolvi os mais diversos conflitos, as mais desvairadas paixões, o desejo mais intenso e carnal. Escrevia, não vivia. Por causa disso, nunca fui uma pessoa completa.
Aí, Alex, como em um conto de fadas moderno, chegou e derrubou todas as minhas barreiras, virou meu mundo de cabeça para baixo. Ele não foi apenas o meu professor, o homem que me sacudiu e me fez acordar. Foi o meu príncipe encantado. Tudo bem que chegou em uma prancha de surf ao invés de um cavalo branco, e, que ironia, o dragão que precisou enfrentar e derrotar, por mais incrível que pareça, era a própria princesa que precisava resgatar.
Alex me fez escrever a minha própria história, fez-me ver que era possível, que o amor ia muito além do prazer e do desejo. Que sexo... sexo será sempre bom se você souber como desfrutá-lo. No entanto, o que é o sexo sem um amor verdadeiro? O que é o desejo sem o olhar de admiração? O que é o orgasmo sem a confiança da entrega? Nada! Eu nunca mais seria vazia. Nunca mais estaria sozinha, sempre teria Alex para segurar a minha mão e me dar a certeza de que eu jamais cairia ou, se porventura isso acontecesse, ele estaria lá para me levantar.
Meu pai avançava comigo, eu mal conseguia sentir os meus passos. Aquela foi a escolha mais certa da minha vida. Ao constatar tal verdade, passei a ansiar pelo momento em que nada mais nos separaria. Eu queria chegar lá e dizer sim bem alto, que eu aceitava e que seria, sem medos ou dúvidas, a esposa do professor Frankli.
Paramos a um passo um do outro. Um único passo me impedia de tocá-lo. De declarar a ele meu amor. De confirmar a minha vontade. Um único passo para enfim ser uma pessoa completa. Nossos olhos não se desgrudavam. Os dele repletos de amor e felicidade.
“Sim, Alex, eu estou aqui. Onde mais poderia estar? Eu te amo! Não posso fugir de um sentimento tão forte, puro e verdadeiro” minha mente gritou, embora meus lábios permanecessem calados. Meu pai segurou minha mão, que estava enlaçada ao seu braço e a levou até a mão de Alex.
Aquele toque... Ah, aquele toque capaz de me fazer mudar qualquer coisa. Sem conseguir controlar deixei cair uma lágrima. Alex comprimiu os lábios e eu entendi que também segurava as suas, em nenhum momento deixamos de nos olhar. Éramos fortes assim, seguros um no outro. Eu chorava de felicidade e ele externava a dele com um sorriso sincero.
– Cuide bem dela – a voz do meu pai quebrou o nosso silêncio. Estava embargada pela emoção.
Este foi o momento em que me vi impelida a desviar minha atenção do homem que eu seguiria pela eternidade, para agradecer ao que havia me guiado até ali. Olhei para meu pai. Aquele homem forte que intimidava a todos segurando sua emoção como podia.
– Com a minha própria vida, Peter.
Alex enlaçou os dedos nos meus conectando-nos. Cada célula do meu corpo sabia que naquele momento nos uniríamos para sempre e nada seria capaz de quebrar nossa aliança.
– Eu te amo, princesa.
Era como ele me chamava quando eu ainda era uma criança. Quando ainda brincava em meu pequeno castelo de madeira, e ele era o meu cavaleiro fiel, o que lutava para proteger o reinado. Foi a forma que encontrou de me mostrar que finalmente havia entendido. A sua filhinha, a pequena princesa que precisava dele para proteger o reino, crescera e começava a andar com suas próprias pernas. Dominada pela emoção, joguei-me sobre ele e o abracei com força.
– Eu te amo, papai! – e solucei, agradecendo internamente por ter usado maquiagem à prova d’água. Ele riu e meus amigos também.
– Eu sei. Eu sei. Mas agora precisamos realizar um casamento.
Soltei meu pai e voltei a entrelaçar meus dedos nos de Alex.
Padre Messias, que me olhava com carinho, começou o tradicional sermão utilizado em todas as cerimônias de casamento. Ele falava do amor, da importância da fidelidade e da construção da família em Deus. De vez em quando, eu olhava para Alex, que acariciava meus dedos com seu polegar. Quando nossos olhos se encontravam o resto do mundo deixava de existir. Padre Messias era apenas uma voz distante, um ponto solto naquele universo que eram os olhos de Alex. Até que fomos forçados a dizer os votos.
Oh, droga! Os votos. Eu havia dito a Lana que tinha tudo pronto, mesmo com a implicância dela e todas as ameaças, consegui me esquivar de deixá-la ler. Na verdade, eu não escrevi nada. Contida pelo medo e incerteza, fui incapaz de escrever uma linha sequer. O que eu poderia dizer?
– Charlotte Middleton... Charlotte – ele sorriu, e o dia pareceu ficar mais claro, como se um raio de sol abençoasse as suas palavras e iluminasse o altar, especialmente para nós dois. – Votos são apenas promessas que, muitas vezes, não sabemos como nem se poderemos cumprir. Prometer qualquer coisa é ser injusto com o nosso amor. Você merece muito mais do que promessas. Eu quero apenas que saiba que, antes de você, eu não sabia o que era ser feliz. Mesmo quando tudo parecia uma imensa loucura, quando pensei que estava destruindo tudo o que havia lutado para construir, eu tinha a certeza de que valia a pena, porque era com você, e por você. Não posso dizer que não tive medo ou que não fiquei inseguro, mas quando você chegava e eu a olhava, tão decidida a mudar o curso da sua história, a realizar os seus sonhos... Você era muito mais do que a garota inocente que frequentava as aulas, era, e é, a mulher mais forte que já conheci. A mais decidida e determinada. E enxergá-la mudou o eixo do meu universo, deixei de ser o centro, de ser a estrada mais importante e passei a ser apenas um satélite em sua órbita. Incapaz de sair de perto de você, de não atender às suas vontades, disposto a tudo para agradá-la. Passei a ser o seu súdito e confesso que nunca fui tão feliz – mais uma vez, ele sorriu, e meu coração quase parou. Era tão lindo! – Case-se comigo hoje e também me deixe renovar estes votos todos os dias, horas, minutos e segundos. Porque eu nunca me cansarei de dizer o quanto te amo e de lutar para que sua vida seja muito mais do que um romance, um conto de fadas.
As lágrimas não paravam de cair enquanto ele falava, e meu coração martelava com a emoção. Alex havia encontrado as palavras perfeitas, enquanto eu não sabia o que dizer. Todos fizeram silêncio me aguardando.
– Não sei se é correto, sendo eu uma aspirante a escritora, falar que não sei o que dizer.
Todos riram e Alex me olhou com admiração. Ele me conhecia e compreendia como ninguém em toda a minha vida. Eu sabia que mesmo que encerrássemos ali, que nenhuma palavra fosse dita, ele se sentiria feliz e realizado. Mas... Droga! Eu tinha tanto a dizer.
– Quando uma pessoa é apenas mais uma no universo, ela não é especial. Quando se alimenta apenas de sonhos, ela não vive. Quando o sol toca a sua pele e ela é incapaz de sentir mais do que uma leve ardência, ela não é feliz. Quando o dia vai embora e ela não consegue se emocionar com os seus últimos raios, ela não ama, nem é amada – o silêncio fazia com que minha voz ecoasse. – Alex Frankli... Professor Frankli – ele sorriu largamente. – Meu namorado, meu noivo, meu marido... minha vida... obrigada por, assim como nos contos de fadas, com um beijo, me fazer acordar – ele riu e eu sorri presa em seu olhar. – Com a sua capacidade de me entender e apoiar, me deu a mão e me fez ver que eu era única, mesmo que fosse apenas em seu universo. Você me fez compreender que sonhos são fundamentais, mas vivê-los é essencial e você foi o meu melhor sonho e a minha mais perfeita realidade. Você me trouxe muito mais do que o sol para esquentar o meu corpo, trouxe a felicidade a uma alma gelada, que sofria e ansiava pela sua chegada. Sempre foi você e sempre seria independentemente de quanto tempo eu precisasse esperar. Obrigada por me proporcionar os melhores finais de dia que uma garota poderia desejar, pelo simples fato de você me amar. Enxergou muito além do meu desespero para escrever o livro perfeito, enxergou a minha alma e, com isso, despertou em mim o que existia de melhor e me fez entender que você é a minha melhor história, a que eu posso e quero escrever a cada dia mais uma parte. Obrigada por ser você e me ajudar a ser eu mesma. Eu te amo!
Uma lágrima escorreu em seu rosto, ele sorriu e mordeu os lábios. Um menino lutando contra o homem que aparentava ser. Aquele era o meu Alex. O meu marido.
– Eu te amo! – ele me puxou para seus braços.
ALEX
Ela chorava enquanto falava e meu coração parecia querer explodir de tanto amor. Toda a minha vida passou diante de mim como um filme, mostrando-me o quanto, apesar de feliz, foi vazia. Charlotte era o meu sol. O que faltava para que eu me sentisse pleno. E ela estava lá, como havia prometido, dizendo que me amava também, comprometendo-se com uma vida ao meu lado. Eu estava feliz, orgulhoso e completo.
Beijamo-nos com paixão e emoção. Cheios de um amor sem tamanho, impossível de ser descrito. Um amor que eu nunca acreditei existir fora dos romances. No entanto, era real e eu o estava vivendo. Era impossível não chorar.
– Ninguém ouviu o tradicional “pode beijar a noiva” – Lana provocou e todos riram. Charlotte se afastou completamente vermelha. Como eu amava a maneira como ela corava.
– Bom... – o padre continuou rindo de nossa incapacidade de tirar as mãos um do outro. – As alianças.
Patrício se aproximou conduzindo Escuridão, meu cavalo, com uma almofada em seu lombo. Eu ri de uma piada apenas minha. Meu cavalo, que eu amava muito, tinha ciúmes da minha esposa e a derrubara na noite da tempestade. Charlotte olhou para mim e estreitou os olhos. Dei de ombros, afinal de contas, eu não planejei nada do casamento. Todos pareciam se divertir.
Assim que Escuridão chegou próximo da gente, Charlotte deu um passo para trás. Ri, passando à frente e desatando o laço da almofada que continha as alianças. Patrício piscou para Charlotte e saiu levando meu cavalo. Voltei a atenção para minha esposa. Entreguei em sua mão uma aliança e segurei a dela.
– Charlotte Middleton, com esta aliança eu te faço minha esposa. Prometo honrá-la, amá-la e respeitá-la. Ser seu amigo, marido e amante – ela sorriu e corou. – Sua felicidade será a minha felicidade e a sua vida a minha vida – a aliança deslizou em seu dedo. Charlotte tremia, não poderia ser diferente.
– Alex Frankli, com esta aliança eu te faço meu esposo. Prometo honrá-lo, amá-lo e respeitá-lo. Ser sua amiga, mulher e... – mordeu os lábios – ... amante – um risinho fraco preencheu a plateia e o meu sorriso foi gigantesco. – Sua felicidade será a minha felicidade e a sua vida a minha vida.
– Agora sim, pode beijar a noiva – todos riram novamente.
Aproximei-me de Charlotte buscando por seus lábios, ela me segurou e beijou com entusiasmo. Claro que correspondi com ímpeto, nada que desrespeitasse a minha esposa. Todos riram e aplaudiram. Segurei Charlotte pela cintura e girei-a, deitando-a em meus braços como em uma cena de filme.
– Minha esposa! – ela me olhou com brilhos nos olhos.
– Meu marido! – e sorriu com orgulho. – Podemos ir direto para a lua de mel? – ri cheio de felicidade. Aquela sim era a minha Charlotte.
– Quanto a isso... – cocei a cabeça enquanto ela fazia cara de espanto.
– Não vamos ter lua de mel?
– Vamos. Claro que vamos! Você tem uma formatura para comparecer em alguns dias e eu tenho uma coisinha para resolver. Por isso adiaremos nossa viagem.
– E o que vamos fazer?
– Muitas coisas – sussurrei em seu ouvido. – Em nossa casa, por enquanto – e beijei um pontinho atrás da sua orelha vislumbrando sua pele arrepiada.
– O que precisa resolver que nos impede de viajar? – droga! Charlotte não deixava nada para depois.
– Tenho que comparecer à faculdade e resolver os trâmites da minha saída – ela me avaliou. Merda! Porra de mulher difícil de esconder alguma coisa. Tentei parecer tranquilo. Ela não acreditou.
– O que está me escondendo? – seus olhos esquadrinharam meu rosto.
– Charlotte, vamos curtir no nosso casamento. Podemos conversar sobre qualquer coisa depois...
– Não. Eu quero saber agora. O que está acontecendo?
Eu precisava mudar o rumo daquela conversa ou ela ficaria muito irritada e tudo o que eu realmente não precisava era vê-la nervosa por mais um problema causado pelo nosso envolvimento.
Anita tinha prometido me prejudicar e, aparentemente, era o que estava fazendo. Quando o professor Carvalho ligou avisando que precisávamos conversar e que Anita havia feito uma denúncia séria, eu tive a certeza de que seria um momento difícil. Tudo que Charlotte não precisava era começar a se preocupar com essa merda na nossa festa de casamento. Eu resolveria tudo depois.
– E eu estou louco para tirar este vestido de você – ela sorriu, relaxando e se entregando ao momento.
– Podemos abraçar os noivos?
Minha mãe apareceu por trás da minha mulher, tirando-a dos meus braços. Logo em seguida, meu pai me abraçou e nós fomos passando por diversos braços. Foi ótimo para ganhar tempo e fazer Charlotte esquecer aquele detalhe ruim.
Enquanto dois amigos do meu pai me cumprimentavam com tapinhas nas costas e abraçavam a minha esposa, senti meu celular vibrando. Por instinto, peguei o aparelho e, sem reconhecer o número, atendi.
– Alex? – era Tiffany. Sua voz frágil me fez ficar em alerta. – Por favor, não desligue.
– O que você quer? – tentei manter a calma para não alertar Charlotte. Afastei-me um pouco do grupo.
– Você foi até o final.
– Eu disse que iria.
– Você disse – ficou um pouco em silêncio. – Mas eu tinha esperança... você sabe...
– Tiffany...
– Eu estou feliz por você, Alex. De verdade. Posso não ser a melhor pessoa, porém não sou um monstro. Eu amo você! – sua voz indicava um sorriso, uma emoção que não conseguiu disfarçar. – Amo você e, por meu sentimento ser verdadeiro, sou obrigada a aceitar a sua escolha. Você ama Charlotte – depois de uma pequena pausa ela continuou. – Apesar de eu não conseguir entender bem o porquê... é ela quem você ama.
– É sim. Sinto muito.
– Não sinta – ouvi um riso amargurado. – Não sinta. Você deveria escolher alguém mais forte para ficar ao seu lado.
– Ela é forte...
– Até quando? Você acredita mesmo que essa garota não vai desabar quando souber o que Anita aprontou? Será que ela vai ser tão forte assim quando descobrir que o trabalho ao qual dedicou sua vida foi cancelado porque ela insistiu nesta loucura? – Engoli em seco.
– Ela não precisa saber agora – fiquei alerta. Não deixaria Tiffany destruir os sonhos de Charlotte. Não tão fácil nem tão cedo.
– E eu não vou contar – sua voz demonstrou amargura por eu ter pensado que ela poderia. – Mas ela vai saber. Eu espero que você consiga contornar mais este obstáculo. Eu te avisei, Alex.
– Nós vamos recorrer. Vamos lutar com todas as nossas forças...
– E quando as forças acabarem? O amor não pode tudo. Nem tudo o amor entende ou vence. Sinto muito. Por mais que este casamento me cause dor, eu não desejava isso para vocês, principalmente para ela – ela soluçou, mas se controlou. – Eu vou embora agora. Desejo-lhe felicidades. Adeus!
Ela desligou. Apesar de tudo, eu me sentia triste pelo amor que ela nutria por mim e desejei de verdade que ela fosse feliz.
– Tiffany? – Lana me segurou pelo braço entregando-me uma taça de champanhe.
– Sim.
– Acho que perdemos uma grande escritora.
– Deixe-a ir, Lana. Tiffany nunca será feliz se continuar esperando por mim. Quem sabe indo para outra editora ela encontre a paz de que necessita.
– Você tem razão – ela levantou a taça e brindou comigo.
– Um brinde? Posso saber o motivo? – Charlotte se juntou a nós dois com olhos curiosos.
– À nossa mais nova superescritora – Lana virou-se rapidamente capturando uma taça de champanhe que o garçom levava e a entregou a Charlotte. – E ao casamento mais bonito a que já tive o prazer de assistir. Com a minha superprodução é claro – piscou para minha esposa que sorriu e aceitou o brinde.
CAPÍTULO 37
“Se não fosse por meu amor, o dia seria noite.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Alex tentava me fazer esquecer o que sem querer tinha deixado escapar. Eu fingia que ele havia conseguido me enganar, embora por dentro estivesse temerosa. O que diabos teria acontecido? O que Anita conseguira fazer de tão ruim para obrigá-lo a adiar nossa lua de mel? E a minha formatura? Será que ela conseguira invalidar o meu projeto? Merda! Dei um longo gole em meu champanhe e gostei do sabor.
O melhor a fazer, por ora, era tentar esquecer. Afinal de contas, era o meu casamento e seria a minha primeira noite com meu marido. Só de imaginar meu ventre começava a formigar.
– Precisamos começar a trabalhar nos detalhes do seu livro. Já conversei com a Paula hoje e ela vai iniciar a revisão. Precisamos de tudo pronto o mais rápido possível.
– Depois da lua de mel, Lana. Charlotte só vai pensar nisso quando voltarmos – Alex bebia tranquilamente sorrindo como um homem feliz.
– Vai demorar muito! Vocês nem escolheram para onde vão! Nada disso. Vou aproveitar esta semana que vocês ficarão em casa e vou iniciar o trabalho de marketing. Vamos fazer algumas fotos, gravar um teaser... O que acha? – bebi mais um longo gole.
– Acho que não sei fazer nada disso.
– Nem precisa. Só precisa ser diva, o resto pode deixar conosco que contamos com os melhores profissionais para fazê-la brilhar.
– Pensaremos nisso depois. Agora eu quero cortar o bolo e levar a minha esposa para casa – Oh, merda! Um milhão de borboletas levantaram voo no meu interior.
– Nada disso. Vocês ainda vão tirar fotos. O que seria de um casamento se não existissem fotos? E a dança dos noivos? Não, não. Vamos seguir o ritual completo.
Tomei mais um gole, terminando a bebida e olhei para os lados à procura de um garçom. Seria ótimo me desligar um pouco das aflições. Tiffany e Anita não estavam em nenhum lugar, o que me deixava muito tranquila. Depois do que aprontaram, confesso que tive medo de elas aparecerem para estragar a festa, graças a Deus não fizeram isso e eu me senti aliviada.
Alex me escondia um segredo. Lana queria que eu virasse uma diva da literatura, justo eu que não conseguia nem coordenar direito meus passos, tive que apelar por aulas particulares de sexo com o meu professor para conseguir descrever corretamente uma cena de sexo. Puta que pariu! Eu precisava de mais uma dose.
– O que está procurando? – Alex se aproximou me abraçando pelas costas e encostando o rosto na curva do meu pescoço.
– O garçom – encolhi-me ao sentir seus lábios em minha pele.
– Nada de ficar bêbada, Sra. Frankli. Quero a minha esposa completamente sóbria.
– Vai demorar muito ainda para chegarmos em casa – protestei e me deixei afundar em seus braços.
– Uma eternidade levando-se em consideração a minha vontade de descobrir o que tem por baixo deste vestido.
– Alex! Lana...
– Lana foi chamar o fotógrafo. Vamos começar logo para acabar rápido.
– Para que você possa descobrir o que tem por baixo do meu vestido? – virei para o meu marido e o encontrei com um sorriso imenso, repleto de felicidade.
– Exatamente.
– Isso é interessante – afastei-me dele e sorri captando pela minha visão periférica Lana e o fotógrafo se aproximando. – Considerando que não estou usando nada por baixo – e fiz minha melhor cara de inocente.
Alex abriu a boca para responder, mas se deu conta de que Lana estava muito próxima. Seus olhos chamuscaram e meu corpo inteiro ficou quente com aquela pequena mentira. Claro que eu estava usando um lindo conjunto de lingerie cheio de detalhes que só Lana seria capaz de me fazer comprar.
Fazer as fotos foi supertranquilo. Alex estava com as mãos em mim e eu resolvi virar uma taça de uma vez por todas para criar mais coragem. Assim, aceitei fazer a foto de nós dois cortando e depois comendo o bolo, e até me atrevi a pegar um pouco da cobertura e passar no rosto dele quando ele pensava que eu a colocaria em sua boca. Foi engraçado. A cara dele foi impagável. Também fiz a que brincava de obrigá-lo a casar e adorei fazer as tradicionais e artísticas. Ficaria tudo lindo!
– Foi tudo perfeito! – minha mãe se aproximou de mim quando eu pegava a minha terceira ou quarta taça de champanhe. Sorri com uma alegria exagerada, provavelmente causada pelo álcool. – E você está radiante! – ela me envolveu com seus braços que me transmitiam muita segurança.
– Eu estou muito feliz, mãe! Tive medo de aceitar, mas Alex... – olhei para onde ele estava, conversando alegremente com o irmão, Johnny e o cunhado. Eles riam. – Ele é tão lindo! – minha mãe riu e eu fiquei sem graça ao perceber que estava suspirando pelo meu marido na frente da minha mãe.
– Sim, ele é lindo – passou a mão em meu rosto. Fechei os olhos absorvendo o máximo possível daquele carinho. – Obrigada! – abri os olhos sem entender o motivo de ela estar me agradecendo.
– Pelo que exatamente? – seus olhos encontraram os meus e então percebi que estavam cheios de lágrimas. – Mãe! – e as lágrimas caíram.
– Por ter aceitado se casar, oras! – ela riu e limpou o rosto, ironizando a própria fragilidade. – Você é minha única filha e assistir a seu casamento foi incrível, apesar de me sentir velha.
– Mãe! Se eu esperasse mais dez anos, você ainda estaria aqui – seu olhar foi estranho. Droga! O que estava errado? – Não estaria?
– Charlotte... – ela gaguejou e meu coração perdeu uma batida. – Claro que sim, querida! Eu não perderia por nada – e sorriu com mais lágrimas caindo.
– Mãe, o que está acontecendo? – ela me encarou por breves segundos.
– Você cresceu e de repente me dei conta de que a vida está passando. Você vai se sentir assim quando estiver no casamento dos seus filhos – riu e levantou sua taça que, com certeza, não era de champanhe. – E quando estiver bebendo um pouco – piscou tentando me enrolar.
– Isso é refrigerante.
– Não dietético. Você nem imagina o que o açúcar é capaz de fazer no corpo de uma mãe emocionada.
– Ah, mãe! Eu te amo!
– Podemos ir? – Alex apareceu e o simples som da sua voz me fez perder o foco.
– Já? Vocês... – minha mãe tentou protestar, Alex me enlaçou pelos ombros puxando-me para perto.
– Eu pretendo te dar netos, Mary – ela sorriu largamente e eu fiquei incrivelmente vermelha. – Para isso preciso... – bati no ombro dele fazendo-o rir.
– Pare com isso! Ela é minha mãe! – protestei, eles riram.
– Eu ia dizer que preciso...
– Nem uma palavra, Alex! – minha mãe gargalhou chamando a atenção de todos.
ALEX
Charlotte estava sentada ao meu lado, olhando pela janela do carro. Estávamos na estrada há menos de meia hora e ela, apesar de sorrir de tempos em tempos, nada dizia. Aquele silêncio começava a me incomodar.
– Como quer fazer? Podemos passar em sua casa antes para pegar algumas de suas coisas ou simplesmente seguimos para a nossa casa e deixamos esta parte para depois.
– Não acredito que eu vá precisar muito de roupas nos próximos dias – ela sorriu e continuou olhando para fora. A paisagem verde, gélida e molhada deixava o clima ainda mais estranho.
– A senhora só pensa em sexo Sra. Frankli?
– Aprendi com um professor tarado que eu tive na faculdade.
Finalmente, ela me olhou com aqueles olhos claros maravilhosos que esquentavam a minha alma. Eu sabia que Charlotte estava preocupada com alguma coisa, muito provavelmente com o problema da faculdade, porém não queria que ela começasse a se desesperar muito cedo.
– Seu professor não era tarado até te conhecer, ou até você fazer aquela proposta indecorosa.
– Que o senhor adorou, Professor Frankli. Não venha com esta desculpa. Aposto que sua vida sempre foi cheia de propostas indecorosas, não apenas recebidas, também as feitas por você mesmo, Alex. Pela experiência que tem, posso até imaginar a quantidade de loucuras que já fez – sua boca fez uma careta de reprovação.
– Não podemos conversar sobre a minha vida sexual passada. Eu nem tinha ideia de que a encontraria, nem que teríamos um relacionamento, muito menos que estaríamos casados e felizes – ela cruzou os braços no colo e voltou a olhar pela janela. O silêncio que se fez me deixou inquieto. – Qual é o problema, Charlotte? – tentei manter meu tom de voz baixo e calmo. Não queria intimidá-la, apenas confortá-la pelo que a estava incomodando.
– Você já transou com duas mulheres? – porra! Que merda de conversa era aquela? O que importava?
– Charlotte...
– Só responda, Alex. Eu quero saber mais sobre a vida sexual do meu marido.
– Para quê? No que vai mudar?
– Eu quero saber – desta vez, ela fez birra, bateu o pé e cruzou os braços. Merda! Não dava para simplesmente deixar que ela estragasse a nossa lua de mel, e mentir não era a melhor estratégia no que diz respeito a Charlotte Middleton.
– Sim. Satisfeita?
– Você transou com duas mulheres?! – seu tom de reprovação me deixou assustado.
– Charlotte, vamos parar por aqui, ok? Pelo visto esta conversa não será nada agradável. É a nossa lua de mel e esta não é a melhor forma de começar nosso casamento.
– Quem eram elas?
– Ah, eu não vou te contar. Pode parar por aí. Eu não sou nenhum moleque para ficar dando detalhes e nomes. Eu respeito as mulheres com quem fui para cama.
– As mulheres! Centenas delas, não é? – droga! Droga! Droga! Apertei as mãos no volante e acelerei o carro. Era melhor chegarmos logo em casa. – E você gostou? Foi algo que te agradou muito?
– Foi. Eu gostei. Na época, foi a realização de um sonho. Você como escritora de romances eróticos deve saber que todo homem tem este tipo de fantasia. Eu realizei a minha. Teve um começo, um meio e um fim. Nada que mereça maior atenção. Podemos mudar de assunto?
– O que você nunca fez?
– Muitas coisas, Charlotte. Nunca fui ao Japão, por exemplo – sorri ciente de que estava fugindo da pergunta. Charlotte me deu um tapa no braço, revoltada com a minha resposta. – Ai! Pare com isso!
– Eu quero saber, Alex!
– Ok. Eu nunca transei com um homem. Tá aí uma coisa que nunca fiz e pretendo nunca fazer – ri novamente e recebi outro tapa. – Charlotte! Que merda! Tá legal! Vamos conversar sobre isso, antes me diga o motivo real desta curiosidade súbita.
– Porque sou sua esposa e sou inexperiente, acabei de me casar com você mesmo sem entender o motivo da pressa, e não sei como me comportar como mulher no casamento. E o que eu sei sobre sexo além do que você me ensinou? Além disso, transamos poucas vezes, e eu estou com a sensação ruim de nunca ter sido a primeira em nada para você. Eu não sou uma novidade. É isso!
Respirei fundo, diminuí a velocidade, entrei em uma estradinha de terra que não levava a lugar nenhum e desliguei o motor. Charlotte ficou parada, encarando-me sem entender o que eu estava fazendo. Tirei o cinto de segurança e virei de frente para a minha esposa.
– Certo. Para começar, você foi a minha primeira vez em um monte de coisas. Foi a primeira aluna com quem eu me relacionei. Foi a primeira pessoa para quem eu precisei ensinar, na prática, o que é sexo. Foi a primeira mulher de quem eu tirei a virgindade, este detalhe para mim foi incrível e inesquecível – sorri e ela corou. – Foi a primeira mulher que eu amei e a primeira com quem eu quis me casar, aliás, com quem eu fiquei desesperado para casar. Não seja tão insegura, eu te amo! Nada do que aconteceu em meu passado importa mais. É você quem eu quero, Charlotte!
– Eu só queria ser a primeira em alguma coisa – olhei para a minha esposa, ainda usando aquele lindo vestido de noiva, que ela lutou contra todos para não precisar tirá-lo, o que me agradou muito, e tive uma ideia.
– Bom... Eu nunca transei dentro do carro, em uma estrada deserta, com uma linda mulher vestida de noiva... – passei meus dedos por seu rosto e ela sorriu envergonhada.
– Aqui dentro do carro? E meu vestido?
– Daremos um jeito nele.
– E se aparecer alguém?
– Não vai. Se aparecer... deixarei o sensor ligado, seremos avisados se qualquer coisa chegar perto do carro. Além disso, estamos em um carro blindado, com vidros escurecidos até o limite, está chovendo, então é uma missão quase impossível alguém chegar até nós dois – Charlotte mordeu o lábio inferior e baixou os olhos. Ela ficava perfeita quando envergonhada. Eu a amava! Idolatrava! – Vem cá!
Puxei Charlotte para meu colo e imediatamente empurrei o banco para trás. Enquanto ela aguardava sem saber o que fazer, inclinei um pouco o assento para ficarmos mais confortáveis. Quando achei que estava bom, voltei minha atenção para a linda mulher diante de mim. Maravilhosamente corada e ofegante com a expectativa. Charlotte podia ser tímida, inexperiente, mas era fogosa e só imaginar o que poderíamos fazer dentro daquele carro a deixava excitada.
Segurei a saia do vestido puxando-a para cima, correndo os dedos por suas pernas, sentindo a meia fina. Charlotte fechou os olhos e pendeu a cabeça para o lado, já entregue ao prazer. Beijei seus lábios quentes e enfiei minha mão por seus cabelos, segurando na parte presa para ter mais firmeza. Com isso ela projetou o corpo mais para frente. Os seios arfantes escondidos pelo tecido do vestido de noiva me fazendo desejá-los em minha boca.
– Passe uma perna para o outro lado – imediatamente Charlotte sentou deixando-me entre suas pernas. O vestido impedia o contato entre nossos sexos. – Assim, Charlotte! – ela se encaixou sobre mim, aguardando meu próximo passo.
Puxei-a e mordi seu pescoço, arranhando sua pele. Charlotte gemeu baixinho. Subi a mão por sua coxa. Meias três oitavos! Ah, como eu gostava daquelas meias! A cinta segurando ao lado e minha imaginação trabalhando ferozmente. Por baixo do pano, subi um pouco mais em sua pele, indo de encontro a sua bunda quando encontrei a barreira que imaginava não estar lá. A calcinha.
– Acabo de descobrir que minha esposa mentiu – Charlotte sorriu e mordeu os lábios.
– Apenas brinquei com a sua imaginação. A ideia era tirar antes de você descobrir que eu havia mentido.
– É? Eu acho que isto merece uma punição – e dei um tapa em sua bunda. Charlotte gritou com o susto.
– Alex! – seus olhos imensos me encararam enquanto um misto de temor e desejo passava por seu rosto. Dei outro tapa fazendo-a gritar e depois rir. – Pare com isso!
– Você é uma garotinha muito má, Charlotte – puxei seu cabelo para trás fazendo seus seios empinarem. Na mesma hora meus dedos entraram em sua calcinha roçando levemente seu sexo já úmido. Inclinei a cabeça e mordi seu busto arfante. Charlotte gemeu descaradamente. Ela gostava daquilo e eu fiquei louco ao constatar. – Bom, agora você vai ter que me agradar. Muito! – ressaltei.
– Eu gosto de te agradar – ela me desafiou com um brilho nos olhos que eu conhecia muito bem. Charlotte estava excitada e permitia que o tesão assumisse o controle.
– Gosta, é? – rocei os dedos com mais firmeza e assisti a minha esposa fechar os olhos de prazer, empinando a bunda ansiando por maior contato. Retirei a mão e dei outro tapa em sua bunda, com um pouco mais de força. – Então rebole, meu bem. Rebole para mim.
Desabotoei minhas calças, querendo me livrar logo do que me impedia de penetrá-la, Charlotte segurou minha mão, detendo-me. Ela sorriu e colocou a mão por dentro da minha cueca, encontrando meu pau enrijecido. Com malícia nos lábios, ela sorriu e o acariciou, subindo e descendo com seus dedos frágeis em uma masturbação lenta. Gemi involuntariamente.
Devo confessar que Charlotte conseguia me enlouquecer quando agia impulsivamente. Nada controlado demais ou seguindo um script, era muito legal quando o assunto era sexo. Deixei que ela brincasse, sentindo o calor de sua mão me manipular com prazer.
Aproveitei e puxei seu vestido para baixo. O tecido cedeu um pouco, mas quem estava preocupado com este detalhe? Eu queria colocar minha boca em seus seios. Assim que vi aqueles mamilos rosados e intumescidos apontando para mim, disparei em sua direção. Suguei-os avidamente. Charlotte gemeu alto e rebolou em meu colo, intensificando seu aperto em meu pau, subindo e descendo sua mão com mais velocidade.
Mordi um bico e passei a língua umedecendo-o enquanto brincava com meus dedos no outro, apalpando e sentindo o quanto aqueles seios pequenos e durinhos eram perfeitos. Segurando um seio com a boca, o outro com uma mão, desci a outra até colocá-la por baixo do tecido sedoso e novamente alcancei sua bunda, ultrapassando a calcinha e esfregando os dedos em seu sexo molhado até chegar ao clitóris. Minha mão inteira acariciava a intimidade dela, esfregando a palma nos lábios e forçando as pontas dos dedos em seus pontos de prazer. Charlotte rebolou deixando-me extasiado.
Masturbávamos um ao outro de uma maneira tão íntima que logo o mundo foi esquecido. Eu sentia sua mão em mim, proporcionando-me prazer e queria tocá-la de maneira a arrancar dela todos os seus gemidos.
– Quero você dentro de mim, Alex – ela gemeu delirante em seu momento.
Levantei um pouco o corpo, forçando minha calça mais para baixo liberando meu membro extremamente duro, ainda em sua mão. Voltei minhas mãos para dentro do seu vestido. Uma pela frente e a outra por trás, puxando sua calcinha para o lado.
– Coloque-me dentro de você, meu amor.
– Eu por cima? – ela pareceu espantada.
– E como seria? – Charlotte corou, mas se movimentou e puxou meu pênis em direção ao seu sexo.
Descendo devagar me encaixou em sua entrada, firmando-me no meio de suas pernas. Seu sexo quente já recepcionava o início do meu corpo, deixando-me ansioso para estar totalmente dentro dela.
– Alex eu... – Charlotte gaguejou insegura.
– O show é todo seu, amor. Aproveite! – puxei-a para um beijo apaixonado, sentindo sua língua macia me recepcionar. Seus lábios se moviam com desejo esquentando ainda mais o nosso momento. Segurei em sua cintura forçando-a para baixo, iniciando a penetração.
Meu pau abria espaço em sua carne molhada e apertada, proporcionando-me um êxtase inimaginável. Ela também gemeu e se permitiu ser preenchida por completo, lentamente. Quando eu já estava enterrado nela, Charlotte abriu os olhos e aguardou. Sorri e novamente dei um tapa forte em sua bunda.
– Rebole minha esposa! – ordenei com tom de brincadeira.
– Sim senhor, meu marido!
E ela subiu, testando a nossa posição e em seguida desceu colocando-me inteiro dentro dela. A sensação era deliciosa. A chuva batendo no para-brisa do carro, uma de minhas mãos em sua bunda, a outra em seus cabelos, seus seios arfantes saltitando conforme nos movimentávamos, seus lábios entreabertos absorvendo o prazer... Perfeito!
Charlotte subiu de novo e quando desceu empinou a bunda um pouco para trás. Ah! Eu amava aquela bunda e aquele delicioso pontinho de prazer recém-descoberto. Sem pensar duas vezes, levei meu dedo até lá e a acariciei timidamente. Ela gemeu e rebolou em meu dedo, recebendo o prazer de duas formas. Charlotte era incrível!
CHARLOTTE
Alex me tocou outra vez daquela maneira íntima que me dava tanto prazer. Eu não saberia responder se sexo anal estava em minha lista de desejos, porém, com certeza, ser tocada ali enquanto ele me possuía deixava um rastro de prazer e luxúria em meu corpo que eu não conseguia controlar.
Sem contar que seu sexo quente, duro e pulsante, dentro de mim, já era o suficiente para me enlouquecer, mais ainda quando ele me dava liberdade para comandar a situação. Com Alex entre minhas pernas, eu podia fazer como quisesse e na hora que desejasse.
O poder é algo realmente perigoso.
Espalmei minhas mãos em seu peitoral e comecei a subir, descer e rebolar, como ele havia pedido. O sabor especial estava no momento em que eu descia sentindo-o forçar passagem, roçando pontos que distribuíam choques por todo o meu corpo, com isso acabava empinando a bunda, acho que propositalmente, permitindo que ele tivesse maior acesso ao meu... bom, àquele lugar ainda inexplorado, capaz de proporcionar grande prazer.
Com a mão firme em meus cabelos, ele me conduzia, nada que tirasse de mim o poder de comandar o momento. Aquele homem incrível, maravilhoso, era meu, e gemia contemplando meus seios e se deleitando com as minhas investidas. Puta que pariu! Era prazeroso demais.
Senti a familiar movimentação das borboletas em meu estômago e o início de uma leve dormência. Era muito cedo. Eu queria que demorasse. Queria uma eternidade de prazer, sexo e luxúria. Queria um orgasmo que durasse horas, ou a capacidade de gozar várias vezes sem cessar. Eu queria Alex. Todo. Em mim e só para mim.
– Alex! – gemi manhosa enquanto meu marido se movimentava embaixo de mim, entrando em meu corpo e fechando os olhos para desfrutar do seu prazer. – Eu estou... eu não...
Ele avançou, levantando o corpo e me prendendo ainda mais junto de si, uma mão espalmou em minhas costas segurando-me e a outra, de uma forma extremamente ousada, permitiu que seu dedo do meio invadisse aquela parte do meu corpo até então proibida em minha mente. Não tive tempo de pensar no assunto. Alex aproveitou o momento em que eu rebolava sentindo seu membro rígido penetrar meu corpo até o limite, já pronta para receber o orgasmo que eu sabia logo me dominaria e introduziu seu dedo lá... naquele lugar que não tenho coragem de proferir o nome por ser constrangedor e difícil de admitir, mas... Puta que pariu! Bastou isso. Uma leve pressão e um pouco mais do seu membro, para eu explodir de prazer.
Foi ousado, estranho, embaraçoso, maravilhoso. Nunca imaginei... Aliás, acredito que cheguei a imaginar, tendo em vista que muitas mulheres assumem gostar, mas... Puta que pariu um milhão de vezes! O que aconteceu? Ele colocou apenas a ponta do dedo e um dispositivo mágico foi acionado, levando-me ao espaço, desintegrando meu corpo por completo, criando imagens perfeitas de um céu estrelado onde tudo acontecia em câmera lenta. E eu gozei como nunca havia gozado.
ALEX
Puta merda! Charlotte me fazia perder o foco. Eu pensei que ela recuaria se fosse mais ousado e introduzisse o dedo mais profundamente nela, no entanto, ela simplesmente gemeu alto e gozou, estremecendo em meus braços. A ideia era fazer com que ficasse mais tensa e adiasse um pouco o orgasmo. Nós mal tínhamos começado a brincadeira.
No entanto, Charlotte... Ah, Charlotte! Ela era incrível! E me surpreendia de maneira inacreditável. Porra! Eu fiquei tão louco com aquilo tudo que minha vontade era forçar a barra e comer de uma vez aquela bunda incrivelmente empinada. Não podia. Não era a hora. Além do mais, ela tinha gozado. O encanto e o desejo desenfreado que a faziam permitir tudo haviam passado.
Eu ainda estava duro dentro dela. Latejando de desejo e disposto a fazer muito mais. Charlotte arfava em meu colo, parada, usufruindo o máximo do seu momento.
– Puta merda! O que foi isso? – ela falou com os cabelos desgrenhados descendo em seu rosto e escondendo parcialmente seu rubor. Eu podia comê-la de mil maneiras. Amava a minha esposa e a desejava como nunca desejei ninguém.
– Isso é seu fogo, Sra. Frankli. Vem! – puxei minha esposa para cima. Ela estava manhosa, entregue ao seu momento, porém não protestou e obedeceu aos meus comandos.
Com a mão em suas pernas, girei-a deixando-a de costas para mim. Levantei seu vestido até conseguir uma visão ampla da sua bunda perfeita. Ah, era impossível resistir àquela bunda, infelizmente eu precisava de tempo para acostumá-la com a ideia. Se bem que, no que diz respeito a Charlotte, tudo era imprevisível.
– Apoie-se no volante, amor. Incline o corpo sobre ele – eu estava ansioso demais, louco para me enterrar nela e receber o meu alívio.
Charlotte obedeceu e sua bunda empinou em minha direção. Sem perder tempo, segurei meu pau e o coloquei em sua entrada. Puxei minha esposa para trás e gemi alto sentindo-a molhada, fazendo-me escorregar em sua carne. Ela gemeu também.
– Agora rebole, meu bem – encostei-me no banco do carro e curtindo a visão dela rebolando, subindo e descendo em meu pau como ninguém era capaz de fazer. – Isso, amor! Assim mesmo – merda! Ela era incrível e eu estava doido para gozar.
Levei minhas mãos para a frente do seu corpo, com uma agarrei firme em um dos seus seios enquanto a outra acariciava seu clitóris. O prazer não podia ser apenas meu. Charlotte gemeu mais alto e aumentou a intensidade de suas reboladas fantásticas.
Ah! Eu podia passar a eternidade assistindo-a movimentar-se daquele jeito. Vendo meu sexo desaparecer naquele corpo alvo, sentindo a textura de sua carne me engolindo, apertando e depois me deixando. Joguei a cabeça para trás sem conseguir conter o gozo que já me tirava da realidade.
Gritei enterrando-me nela com força e encontrando o alívio. Minhas mãos não saíram dela, mantendo-a firme enquanto eu sentia o seu limite.
– Oh, Alex! – Charlotte gemeu manhosa. Puta que pariu! Ela precisava de mais. Abri os olhos e me inclinei para beijar suas costas.
– Você vai gozar, amor? – ela sinalizou que sim, com o rosto apoiando no volante do carro.
Puxei-a para mim deitando seu corpo sobre o meu. Ainda dentro dela acariciei seu seio, apertando-o com prazer e voltei a manipular fortemente o clitóris da minha esposa. Beijei seu pescoço, enquanto Charlotte ia se desmanchando, rebolando em meus dedos e se entregando ao prazer. Então ela arqueou o corpo para frente, eu apertei seu clitóris entre dois dedos, mordi seu pescoço, apertei seu seio em minha mão e ela gozou. Radiante! Linda! Perfeita!
– Alex! – ela dizia sem parar se entregando ao nosso mundo, onde só existia o nosso amor e o nosso prazer.
– Charlotte! Você ainda vai me matar com esse seu fogo – beijei seu pescoço com carinho enquanto ela ofegava em meus braços. Ela sorriu.
– A culpa é sua, professor. Tudo o que sei, aprendi com o senhor.
– E é uma ótima aluna. A melhor – ela riu e se virou para me beijar.
Segurei seu rosto suado, tirei os cabelos da frente e beijei seus lábios perfeitos. Foi um beijo leve, cheio de amor, cumplicidade, carinho...
– Obrigada! – ela sorriu e me beijou novamente.
– Pelo quê?
– Pela noite de núpcias mais inusitada que uma garota poderia ter – ri saboreando o sorriso lindo que ela exibia.
– Certo. Foi uma delícia, mas estou aflito para ter você em nossa cama, então vamos para casa, Sra. Frankli, não vejo a hora de tirar este seu vestido.
– Eu gosto dele – ela riu e sentou em seu banco colocando o cinto de segurança. – Posso listar diversas fantasias com ele.
– Tenho certeza de que sim. Você entende de culinária? – liguei o carro, manobrando rapidamente para voltar à estrada.
– Um pouco, por quê?
– Com tanto fogo vou precisar mudar a minha alimentação ou então vou pegar uma fraqueza – ela estreitou os olhos e cruzou os braços na frente do peito.
– Mal iniciamos nossa vida sexual e o senhor já está reclamando, professor?
– Não estou reclamando – gargalhei. – Só constatando fatos. Além disso – coloquei o carro na estrada e acelerei – ... adoro a ideia de poder comer você quando bem entender.
Charlotte corou, abriu a boca, mas nada disse. Seguimos rumo à nossa casa. Eu ansioso por ela e ela quase incendiando por mim.
A vida era mesmo perfeita.
AGRADECIMENTOS
Cheguei na parte mais difícil.
Lembrar-me de todos aqueles que estiveram ao meu lado até que eu conseguisse fechar mais este livro é uma aventura à parte. Escrever nunca depende só do escritor. Existe um mundo de profissionais e incentivadores que se tornam 80% da construção da obra, desta forma, eu devo tudo o que sou a estes amigos.
Vou começar agradecendo as minhas Maritacas, as melhores amigas que uma escritora iniciante poderia encontrar. Desde a primeira letra, elas estiveram comigo, fizeram o coro mais alto e forte que puderam e me mantiveram forte na estrada. Com este livro não foi diferente. Obrigada, mais uma vez, por aceitarem a minha ausência, por entenderem o meu momento e por continuarem comigo até aqui. Amo vocês.
Sou eternamente grata a Mariza Miranda e Janaina Rico, não apenas pelo esforço profissional que é betar um livro meu, e eu não sei realmente o que seria se meus textos não tivessem um dedinho de vocês, mas também pela amizade verdadeira. Vocês escrevem, sofrem, sorriem e choram comigo durante todo o processo, e sem desistir em nenhum momento. Este livro é nosso.
À minha família. Eu jamais poderia pedir pessoas melhores em minha vida. Deus foi muito bom comigo ao me escalar para esta vida ao lado de almas tão incríveis. Obrigada por sempre entenderem os meus sonhos, mesmo quando este era o de ser atriz, ou jogadora de vôlei, ou até mesmo advogada. Vocês nunca me disseram que eu não podia e é só por isso que hoje estou aqui.
Aos meus filhos, crianças lindas que entendem a mamãe e sempre dizem “você não tem nada para escrever hoje não?”. Amo vocês!
A toda equipe Pandorga, especialmente Silvia Vasconcelos e Petunia. Pela paciência sem fim. Por aguentar todas as minhas inseguranças e “chatices”, mas principalmente por acreditarem em mim e apostarem neste sonho. O trabalho de vocês deixa o meu mais bonito. Obrigada!
E, como não podia faltar, e por ser a parte mais importante de toda esta jornada, a vocês, meus leitores fiéis, que me acompanham curtindo comigo cada pedacinho dos livros, e que sempre fazem a parte mais brilhante deste mundo mágico que é o literário: vocês dão corpo, alma e vida a cada personagem. Obrigada por cada página lida, cada suspiro, cada lágrima, cada risada e cada “quando sai o próximo?”.
Obrigada! Obrigada! Obrigada!
O Professor – Livro III
Charlotte não quis passar na casa dela, ou na casa em que vivia antes de casarmos. Segundo ela, seu corpo implorava por um banho. Eu bem podia imaginar do que aquele corpo delicioso precisava para implorar tanto.
No entanto, para minha completa surpresa, ela insistiu em tomar aquele banho sozinha. Cacete! Eu fiz aquela viagem imaginando muitas coisas que gostaria de fazer com a minha esposa e agradecendo pelo seu fogo sempre crescente e... merda! Eu adorava tomar banho com aquela mulher. Fizemos isso até antes de transarmos realmente, então era meio que um padrão, ou uma necessidade do meu corpo. Mas ela simplesmente me colocou para fora do banheiro e se trancou lá dentro.
Passei um bom tempo encarando a porta do meu banheiro. Quer dizer... do nosso banheiro. Era melhor começar a me acostumar com a ideia. Quanto antes eu entendesse que tudo ali dentro, a partir daquele dia, seria nosso, mais rápido Charlotte ficaria à vontade.
Desisti de aguardar por ela. No fundo, eu queria acreditar que minha esposa abriria a porta dando risada, dizendo que estava brincando, e nós dois tomaríamos aquele banho tão desejado. Isso não aconteceu e eu acabei tomando um banho sozinho no quarto de hóspedes.
Quando saí, Charlotte continuava trancada lá dentro. Não havia nenhum som. Fiquei um pouco constrangido por estar encostado à porta, afinal de contas, não era porque éramos casados que eu tinha o direito de invadir a sua privacidade, mas eu estava encucado. O que tanto ela fazia?
O jeito foi começar a ajeitar as coisas no closet. Era importante arrumar minhas roupas de forma a ceder espaço para as da minha esposa. Eu nem sabia se Charlotte era o tipo de mulher que colecionava sapatos e roupas, se precisava de muito espaço. Droga! Eu ainda tinha tanta coisa para conhecer daquela mulher.
Consegui liberar uma parte consideravelmente grande, empurrando minhas roupas de uma forma não muito organizada. Talvez se eu eliminasse a parede que separava os dois quartos e tomasse uma parte do outro closet... Por que Charlotte ainda estava no banho?
Voltei para o quarto e fui até a porta do banheiro. Nada. Pensei um milhão de vezes em chamar. Sabe-se lá o que pode acontecer dentro de um banheiro. E o silêncio total só fazia minha nuca pinicar com um monte de pensamentos tenebrosos.
Bati de leve na porta. Nada. Resolvi ser mais incisivo batendo um pouco mais forte. Silêncio absoluto. Meu coração acelerou tirando todo o meu controle. Decidi que chamar por ela não seria algo tão inadequado, afinal de contas Charlotte estava lá há mais de uma hora. Pensando bem, quase duas horas. Estava tarde e nós nem tínhamos jantado.
– Charlotte! – tentei não parecer desesperado, mas a verdade era que eu estava, e muito. Que coisa mais estranha!
Ela não respondeu. Aproximei-me colando o ouvido na porta. Silêncio. Merda!
– Charlotte? Está tudo bem? – mais silêncio. Bom eu arrombaria a porta se fosse o caso. – Meu amor, eu estou ficando preocupado. Dá para você...
Sem querer, e na ânsia de encontrar uma resposta, meu braço esbarrou na maçaneta e a porta abriu. Que imbecil eu era. Por que não testei a porcaria da maçaneta? Fiquei ainda alguns segundos olhando sem saber se deveria ou não entrar e acabar de uma vez por todas com aquela angústia. No entanto a minha boa educação me impedia de avançar.
– Lottie? – chamei carinhosamente. – Posso entrar? – Ela não respondeu, então achei que era melhor encarar o problema de frente. Eu havia feito a minha parte. Se Charlotte não estivesse com problemas, teria me ouvido.
Entrei com o coração acelerado. O que poderia ter acontecido? O primeiro lugar que meus olhos buscaram foi o boxe. Como eu havia pensado, ela não estava lá. Claro, o chuveiro nem estava ligado. O vaso também, lógico! Então corri meus olhos pelo ambiente e enxerguei apenas sua mão caída para fora da banheira.
Um segundo pareceu uma eternidade. Foi o suficiente para que meu coração parasse e acelerasse um milhão de vezes. Muitas teorias foram traçadas e desenhadas. Todas as tragédias possíveis desfilaram em minha mente. Minhas pernas vacilaram, meu corpo tremeu e meus pulmões buscaram pelo ar.
Dei um passo inseguro em direção à banheira que estava cheia, mas com pouca espuma, somente a água esbranquiçada que cobria o corpo pequeno da minha esposa, revelando apenas uma parte do seu joelho. Charlotte estava deitada, a cabeça apoiada no descanso, os olhos fechados, cabelos molhados e penteados para trás, a boca semiaberta e os lábios roxos.
Puta que pariu!
CAPÍTULO 22
“Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém... Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim... E ter paciência para que a vida faça o resto...”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Muitos fiéis já estavam do lado de fora da igreja. Eu tinha ido até a imagem de Nossa Senhora, fiz ali uma oração sincera, pedindo pelo meu relacionamento, atestando a veracidade dos meus sentimentos e confessando meus medos e infantilidades. Não me confessaria. Ainda não tinha coragem para mentir diante de um padre, mas não seria ridícula a ponto de negar qualquer pecado diante da mãe de Jesus, afinal de contas, se for como eles ensinam, Deus já sabia de tudo mesmo, não?
Meu coração estava apertado e pequeno. Antes de sairmos para a missa dominical, tradição familiar que meu pai fazia questão de manter, eu tive uma conversa com Miranda. Precisava entender como ela estava se sentindo. Ardilosamente minha amiga inverteu nossos papéis e acabou sendo ela a me dar conselhos e a se preocupar com o meu relacionamento com Alex.
“– Case logo de uma vez. Que mal há? Vocês nasceram um para o outro, Charlotte, e eu sei que o casamento vai te fazer bem. Além do mais, nenhum homem aguenta esta pressão por tanto tempo. Todo mundo cansa um dia e Alex não me parece ser o tipo de homem que tem toda a paciência do mundo. Pense nisso. Ele quer se casar? Então aproveite. Poucos caras querem tanto um casamento.”
Ela disse antes de sermos interrompidas e forçadas a fingir que tudo estava maravilhosamente bem. Meu pai não aceitava mau humor, ou má vontade quando o assunto era a nossa missa dominical. Eu não entendia muito bem como aquilo funcionava na cabeça dele. Peter era anglicano desde que nasceu, assim como os seus ancestrais, mas no Brasil, ele era católico. Lógico que como uma derivava da outra, as diferenças eram poucas, e ele não seguia tudo o que a igreja católica determinava, era mais como um substituto, ou uma forma de estar na presença de Deus, como ele mesmo dizia.
Eu agradecia por isso. Era muito melhor ter um pai católico. Se ele já tinha uma obsessão pela minha virgindade sendo católico, imagine como seria se ele escolhesse ser evangélico, por exemplo? Não. Católico estava de bom tamanho.
Respirei fundo finalizando minha oração e só então me dei conta da presença de Alex do meu lado. Ele tinha chegado cedo à missa, o que agradou muito a meu pai e me deu vontade de revirar os olhos. Trocamos poucas palavras, apesar do seu carinho presente em cada toque discreto.
Alex me olhou e sorriu. Seus olhos estavam cheios de admiração e amor. Eles percorreram meu rosto, atentos e perscrutadores. Atentos até demais, para o meu gosto, o que me deixou envergonhada.
– O que foi? – desviei o olhar, encarando o chão enquanto escondia as mãos na saia cintada e cheia de pregas.
– Você fica muito misteriosa quando está na igreja – havia certo divertimento em suas palavras.
– Misteriosa? Eu fico silenciosa, isso se chama respeito. A igreja não é lugar para bate-papo – seu sorriso se ampliou.
– Em que estava pensando quando foi comungar? – engoli em seco e fingi não entender do que ele falava. – Vamos, Charlotte! Você ficou torcendo as mãos, mordendo o lábio e suas bochechas estavam com um rosado maravilhoso. Em que estava pensando?
– Em como não era nada louvável ter pensamentos impuros durante a missa e depois aceitar o corpo de Cristo como se eu não fosse uma grande pecadora – meu rosto esquentou significativamente.
– Eu deveria imaginar – ele riu discretamente.
– E pensei se seria verdade uma história que contavam na escola dominical. Eles diziam que, quando o pecador comungava, a hóstia virava sangue no contato com a língua – ele riu ainda mais alto, chamando a atenção dos meus pais, que estavam afastados, aguardando pelo padre Messias.
– Confirmou? – revirei os olhos e ele voltou a rir.
– Posso perguntar quais pensamentos seriam estes que poderiam fazer a hóstia virar sangue?
– Não – afastei-me um pouco evitando que meus pais prestassem atenção em nós dois. – É melhor não entrarmos neste assunto outra vez. Você não vai gostar.
Ele acariciou meu rosto, demorando-se em minha bochecha, sem perder o brilho dos olhos, nem deixar aquele amor latente se desfazer.
– Eu não me importo, pode falar – sua voz baixa e segura era um incentivo.
– Pensei no quanto eu realmente gostaria de conhecer um motel.
Ao invés de se mostrar aborrecido, ele sorriu. Aquele sorriso torto que virava o meu mundo de cabeça para baixo. Mas ele não disse nada, apenas continuou acariciando meu rosto e me mantendo presa àqueles olhos incríveis.
– Você também estava muito pensativo, apesar de ter participado ativamente.
O que foi uma grande surpresa. Alex conhecia a hora certa e o que falar em cada parte da missa, ganhando assim a admiração do meu pai. Eu nunca imaginei meu namorado um católico praticante, nem um religioso ativo.
– Eu já fui a algumas missas, casamentos, batizados, missas de sétimo dia – riu divertido. – Fui batizado – deu de ombros enquanto eu estreitava os olhos. – Eu realmente fiquei muito pensativo.
– E eu posso saber no que tanto pensava, professor? – ele umedeceu o lábio inferior e sorriu sem graça.
– No quanto seria lindo ver você entrando em uma igreja como esta, usando um vestido branco, segurando flores e caminhando em minha direção – seus olhos se fixaram em mim, cheios de súplicas.
Sem perceber, dei um passo em sua direção, diminuindo a distância entre nós. A promessa dos seus olhos quase me fez aceitar todas as suas condições.
– Eu não me vejo casando em uma igreja – seu sorriso se desfez enquanto ele ainda me encarava. – Quero casar em um lugar aberto – e voltou a se abrir, deixando-me ainda mais deslumbrada. – Quero um casamento todo branco.
– Todo branco? – eu podia sentir a emoção em suas palavras.
– Deixo a cor por conta das flores e do verde da grama, das árvores – seus olhos brilharam com mais intensidade. – Se eu pudesse, faria com que seus olhos fossem o destaque.
– Meus olhos?
– Sim – toquei seu rosto e sorri. – Amo o azul dos seus olhos – Alex inclinou o rosto na direção da minha mão, aproveitando o carinho.
– Fale mais sobre como quer o nosso casamento – sentindo o amor transbordar diminuí ainda mais a distância entre nós e sua mão quente envolveu a minha cintura.
– Quero uma cerimônia pequena, discreta – e eu sabia que jamais conseguiria que fosse assim. – Quero poder curtir a festa sem ficar presa a ela.
– Poucos convidados?
– Você se importaria? – Alex deu de ombros. – Eu entenderia.
– Claro que eu teria muitas pessoas para convidar por obrigação, no entanto não me sinto em dívida com nenhum deles e posso muito bem ter um casamento apenas com as pessoas que amo.
– Seria ótimo.
– Seria sim – seus olhos brilhavam de emoção e expectativa. – Vai ser tudo como você quiser, Charlotte. – Ele acariciou meu rosto com a mesma devoção de antes.
– Quero uma lua de mel em uma praia, dessas de surfista, para que eu possa ficar na areia olhando o meu marido exibir suas habilidades.
– Vamos ter que providenciar um arsenal de protetor solar, guarda-sol, chapéu... tudo para que você não tenha queimaduras que me impeçam de colocar minhas mãos em seu corpo.
– Eu gostei desta parte.
– E eu de saber que você pensa em nosso casamento – era a hora de recuar. Uma boa estratégia para não causar o problema do dia anterior.
– Ontem você não fez a sua proposta.
– Ah sim. Eu vou fazer, na hora certa.
– Mas...
– Charlotte, Alex? – papai, para variar, interrompeu-nos, deixando-me enfurecida.
Olhei para o grupo que se aproximava. Meu pai, minha mãe, padre Messias e Dona Carmelita, uma carola que achava que trabalhava para a igreja e tomava conta da vida de todo mundo.
– Alex, este é Padre Messias, ele cuida de Charlotte desde a nossa vinda para o Brasil, com pulso forte para mantê-la no caminho certo – todos me olhavam como se eu fosse uma criança. Que raiva! – Padre Messias, este é Alex Frankli, noivo de Charlotte. Ele fez questão de estar aqui hoje para conhecê-lo, já que deixamos clara nossa escolha do senhor para celebrar o casamento.
– Oh, que maravilha! A menina Charlotte é uma garota especial – o velhinho gordo, com cabelos alvos e rosto completamente enrugado, sorria com uma jovialidade invejável. – Apesar de não a ver mais por aqui, não é mesmo, Lottie?
– Final de faculdade, acabou consumindo todo o meu tempo – dei a minha desculpa sentindo meu rosto esquentar consideravelmente. Se ele soubesse o que eu andava fazendo...
– Para Deus sempre devemos ter tempo – advertiu padre Messias, com os olhos bem atentos em mim.
– Eu e Dandara, mãe do Alex, vamos procurar uma data para nos reunirmos e ajustar os detalhes desta união – minha mãe disse com orgulho, como se estivessem fazendo um grande investimento.
– Tenho certeza de que será uma festa linda. Dessas de passar mais de um mês sendo assunto em todas as revistas – Dona Carmelita se intrometeu deixando-me incomodada.
– Na verdade, não conversamos sobre o assunto ainda – revelei tentando me safar daquela conversa constrangedora. – Ainda teremos tempo.
– Não decidiram a data? – Padre Messias fez uma careta, como se fosse um sacrilégio não termos escolhido a data para o casamento.
– Ainda temos tempo – salientei reforçando a minha opinião.
– Claro que a nossa igreja é uma das mais solicitadas por todas as jovens moças da alta sociedade. Temos uma acústica perfeita, espaço considerável, decoração inspiradora – Dona Carmelita continuou tagarelando e eu só queria fugir dali. Droga! Eles conseguiam estragar todo o momento. – Estamos com a agenda lotada, mas lógico que conseguiremos uma brecha entre tantas datas, não é mesmo, Padre Messias? – O bom velhinho concordou com a cabeça sem deixar de avaliar Alex. – Temos quase um mês inteiro, deixe-me ver – ela sacou uma agenda da sua bolsa. – Claro! Vamos ficar sem grandes celebrações durante o próximo mês por causa de uma pequena reforma, não seria nada de mais se não tivéssemos poucos recursos, o que só atrasa a obra, porém se vocês querem tempo, deixa eu verificar aqui... hum! Não, realmente só teremos um ou outro fim de semana do próximo ano, mais para o final, entre outubro e novembro. Sim, é isso o que temos.
E eu podia imaginar o quanto uma igreja daquele porte, repleta de fiéis do mais alto nível, conseguia arrecadar de doações, sem contar que padre Messias era muito bem relacionado, era o bom pastor de grandes empresários, então custear uma obra, por maior que fosse, jamais deveria ser um problema financeiro.
Bom, eu não pretendia casar na igreja, então a falta de espaço em sua agenda pouco me importava. O problema seria a falta de disponibilidade do padre Messias, isso sim irritaria meu pai.
– Uma reforma demanda tempo – a mulher salientou olhando indiscretamente para o meu pai.
– De quanto estamos falando? Acredito que uma doação poderia adiantar qualquer obra, abrindo espaço para uma data mais próxima.
Lógico que Dona Carmelita olharia para a minha barriga, e ela não fez nenhuma cerimônia em me olhar com bastante atenção. Tal atitude não passou despercebida pela minha mãe, que ficou nitidamente irritada.
– Bom, eu não sabia que havia certa urgência então... vamos ver como poderíamos fazer. Uma doação vinda de um Middleton é sempre uma glória, não é mesmo padre Messias? Sim, claro que é.
Ela mesma respondeu, não dando a chance do pobre velhinho responder. Se bem que ele também olhou, de maneira mais discreta, é verdade, seus olhos foram da minha barriga para meu rosto, com uma expressão de pena, e depois se voltaram para Alex, com uma cobrança tão concreta que me assustou.
– Poderemos sim organizar uma data mais próxima, uma que atenda à necessidade de vocês – padre Messias falou finalmente.
Se ser vista como uma patricinha, adolescente, rica e infantil já era ruim, passar a ser a patricinha, adolescente, rica, infantil e que engravidou antes do casamento era muito pior.
– Como eu disse: não estamos com pressa. Eu e Alex concordamos que poderemos esperar um ano ou mais.
– Ou mais? – meu pai esqueceu a postura e me encarou como se quisesse me fuzilar.
– Ou menos – Alex rebateu apertando meus dedos como uma advertência.
– Que seja. Acontece que não pensamos ainda em uma data. Assim que decidirmos, começamos a organizar o evento – tentei encerrar a confusão.
– De qualquer forma, padre Messias, fazemos questão que a cerimônia seja realizada pelo senhor – minha mãe, assumindo uma postura superior, ignorou a outra mulher e tratou diretamente com o padre. – Quanto à data, Charlotte logo decidirá, eu tenho certeza disso. Caso seja em um ano, ou mais – ela me olhou e sorriu –, ou menos – falou para Alex também sorrindo –, não importa. A festa será linda de qualquer jeito.
Porra, eu amo a minha mãe!
– Com licença – ela me pegou pelo braço e saiu caminhando comigo pela igreja como se estivéssemos em um passeio turístico.
ALEX
Charlotte se afastou com a mãe, enquanto Peter finalizava a conversa com o Padre e a beata indiscreta. Aguardei um tanto ansioso. Charlotte parecia mais disposta a ceder e isso me trazia um grande alívio. Depois do que aconteceu um dia antes, quando Mary teve um mal-estar que a levou para o hospital, eu constatei que não poderia falhar naquela missão.
Seria insuportável saber que permiti que a mulher que eu amo não tivesse a mãe dela em seu casamento. Eu sabia, tinha certeza, de que Charlotte sofreria, então por que não lutar? Por que não fazer dar certo?
– Aguardarei o seu retorno, Alex – Padre Messias disse me olhando com atenção. – Existem muitos pontos que cabem apenas ao noivo e eu estarei à sua disposição.
– Grato. Com certeza participarei de todos os processos. Logo definiremos uma data.
– Assim eu espero – seu olhar severo me fez prender a respiração. Mais uma pressão. – Vejo vocês no próximo domingo, Peter?
– Se for a vontade de Deus – e havia mais verdade naquelas palavras do meu futuro sogro do que o pobre padre poderia imaginar.
– E então. Você foi embora cedo ontem. Charlotte não parecia muito satisfeita – Peter disse quando ficamos sozinhos.
– Eu tinha trabalho para fazer, ela não aceitou muito bem a minha desculpa – ele sorriu sabendo muito bem como a filha dele ficava quando contrariada. – E Mary?
– Bem melhor agora. Parece que estar em casa, ao lado das crianças, faz bem a ela.
Crianças? Peter realmente não via a realidade ao seu redor.
– Vi o xadrez sobre a mesa, vocês jogaram?
– Um pouco. Ensinei as regras a Charlotte, ela desistiu depois de eu ter vencido três partidas seguidas – meu futuro sogro fez uma careta, encarando-me com curiosidade.
– Ensinou as regras a Charlotte? E ainda conseguiu vencer três partidas seguidas?
– Sim, ela não parecia estar realmente interessada.
– Só se o motivo for realmente esse – fiquei intrigado. O que Peter estava querendo dizer?
– Como assim?
– Charlotte é uma ótima jogadora de xadrez. É uma estrategista. Ganha de todos que eu já vi jogar com ela. Muito me espanta te ouvir dizer que lhe ensinou as regras, e mais ainda que venceu três partidas, seguidas.
Olhei para minha noiva sem conseguir associar o que Peter me dizia. Em nada batia com a garota que sentou diante de mim no dia anterior e se deixou ensinar a jogar. E ela era péssima estrategista.
– Charlotte te pregou uma peça – Peter riu, parecendo orgulhoso da filha. – Minha garota é inacreditável!
– Você nem imagina o quanto – rosnei tentando conter a minha indignação.
Charlotte estava do lado de fora, conversando com Miranda. Johnny não estava em nenhum lugar, o que me levava a acreditar que tinha dado um jeito de escapar. Realmente não parecia muito a cara dele passar as manhãs de domingo em uma igreja. O que ele não fazia para agradar o padrinho?!
Mary conversava com mais duas mulheres, alguns degraus abaixo das meninas. Ela parecia frágil, o corpo mais magro do que quando a conheci, e fazia bem pouco tempo. Estremeci imaginando o quão rápido seu quadro evoluía e por quanto tempo a teríamos. Peter seguiu em direção à esposa, enquanto eu parei ao lado de Charlotte. Miranda se calou imediatamente, sem me olhar daquela forma acusadora, como vinha fazendo sempre que podia.
– Vocês vão à praia? – Miranda perguntou diretamente a mim.
– Agora? – fiquei confuso. Ela nunca falava comigo se não fosse para me agredir com suas palavras de duplo sentido.
– Hum, sim. Você não é surfista? Um dia como o de hoje é um convite para a praia.
– Na verdade não gosto de surfar em horários muito movimentados, pensei em fazer isso no final da tarde. Por quê? – ela ficou vermelha e desviou o olhar.
Miranda constrangida, incapaz de me encarar e visivelmente escondendo alguma coisa era algo novo. Custei a acreditar.
– Por nada. Eu vou encontrar duas amigas que estão me aguardando, então pensei que vocês tivessem planos – olhei para Charlotte, que negou com a cabeça.
– Nós vamos no fim da tarde.
Primeiro: ela estava nos convidando para passar o domingo ao seu lado ou sondando o que pretendíamos fazer para estar bem distante disso? Segundo: eu ainda tinha minhas restrições em relação a Miranda, e passar qualquer punhado de horas ao seu lado era um sacrifício. Graças a Deus Charlotte não tinha gostado da ideia.
– Vejo vocês depois – ela desceu as escadas, parando um pouco para falar com os padrinhos, depois se despediu saindo em direção à rua, provavelmente para pegar um táxi.
– Miranda não tem carro?
– Ela não gosta de dirigir – Charlotte virou em minha direção demonstrando falta de interesse na amiga. – O que vamos fazer hoje? Jogar xadrez, damas, cartas... o que vai ser?
Estreitei os olhos sem acreditar que ela conseguia fazer aquela cara de anjo inocente enquanto continuava tentando me enganar. Eu poderia bolar uma boa forma de fazê-la se arrepender, ou até mesmo colocá-la sobre os joelhos e lhe aplicar um belo corretivo, mas no momento eu queria apenas deixar claro que sabia a verdade e que estava aborrecido.
– Por que não me contou que sabia jogar?
Mantive os olhos bem atentos a sua reação. Charlotte corou, a vermelhidão descendo até o pescoço e alcançando as orelhas. Ela engoliu em seco e olhou para o pai, imaginando que ele a havia dedurado.
– Eu estava aborrecida e não queria continuar conversando sobre aquele assunto – revelou baixinho, não parecia nem um pouco arrependida de ter brincado comigo.
– Aí escolheu mentir para mim? Me fazer de idiota?
– Não – seus olhos alcançaram os meus e eles eram francos, tão transparentes quanto uma fonte pura de água. – Eu... – fez um gesto vago com as mãos – ... eu não sabia o que poderia fazer para acabar com aquele incômodo, e ganhar de você no xadrez não pareceu muito honesto, já que eu estava com raiva e com vontade de te socar, então preferi deixar você falar sobre as regras, as jogadas e tudo o que eu já conhecia. Pelo menos eu ficaria calada e você falaria até que todo o desconforto deixasse de existir.
– Permitindo que eu ganhasse?
– Ganhar foi uma consequência. Eu não conseguia me concentrar em mais nada, nem sabia o que estava fazendo quando mexia as peças.
– Por quê? – Charlotte mordeu o lábio inferior e rodou um pé, como uma criança insegura.
– Por um segundo eu desejei que você voltasse a ser o meu professor. Que fosse aquele homem que eu conheci e que apenas me guiava, mostrando-me o que eu podia ou não fazer.
– Charlotte!
– Deus! Eu sinto tanto falta disso, Alex! Sinto falta de poder passar as tardes com você, de sentir o seu desejo, de só ter um único medo, o de não ser aprovada. As coisas ficaram meio loucas entre a gente e eu sinto que estamos deixando escapar o que realmente somos, o que queríamos para nós dois.
– Isso porque você está baseando o nosso atual relacionamento no que tínhamos de sexo – falei mais baixinho, para que ninguém conseguisse nos ouvir.
– Era tudo o que tínhamos. Ficamos horas juntos em um mundo só nosso e era mágico – seus olhos ficaram úmidos e meu coração apertado.
– Você ouviu o que acabou de falar? – ela recuou como um gatinho assustado. – Sexo, o que fazíamos como preparação para o sexo, era tudo o que tínhamos. Eu quero mais, Charlotte! Quero muito mais do que horas de prazer. Quero mais do que o medo de sermos descobertos, mais do que sermos constantemente interrompidos, que sermos vigiados a cada segundo, que viver angustiado por não querer fazer nada errado e mesmo assim saber que está errando a cada passo. Eu não quero que sexo seja tudo o que nós temos. Foi o que nos uniu, mas agora precisa se expandir e se tornar muito mais do que isso. É o que eu quero, porém talvez não seja o que você quer.
– Não, Alex – implorou chorosa, com medo de qualquer decisão minha.
No entanto, eu já estava decidido. Eu entendia e aceitava os motivos de Peter. Eram nobres. Por outro lado, não dava para forçar tanto uma menina que nunca tinha vivido nada, que estava cheia de vida e ânsia para viver, a simplesmente esquecer os seus temores e se tornar a minha mulher.
Não dava para forçá-la. Eu não a forçaria. Não mais.
– Nós não vamos mais casar – afirmei sentindo meu coração partir. – Peter vai ter que entender, e... – droga! Aquilo seria o inferno – ... ele terá que aceitar, assim como eu terei que aceitar. Vamos adiar por tempo indeterminado.
– Não! – ela continuou em seu desespero juvenil, que eu sabia ser apenas medo de desafiar o pai.
– Charlotte! – segurei suas mãos quando ela tentou me abraçar. – Você não está pronta. Vamos zerar esta história e começar de novo. Vamos dar um passo de cada vez, está bom assim?
– Merda, Alex! – duas lágrimas caíram e muitas outras cairiam. Eu precisava dar um jeito de impedi-las ou então seria uma confusão dos infernos.
– Não chore. Vamos sair daqui. Vamos conversar em algum lugar. Eu vou falar com Peter.
– Ele não vai deixar – soluçou enquanto limpava as lágrimas, sem conseguir impedir que mais duas descessem.
– Eu já volto. Tente se recompor.
Saí de perto dela chegando rapidamente ao local em que Peter estava. Ele e Mary conversavam sozinhos e pareciam aguardar por nós dois. Seu olhar questionador deixava claro que sabia que algo estava errado.
– Nós vamos dar uma volta, tudo bem para você? – fui direto. Eu estava tão confuso e cansado quanto Charlotte, ou qualquer outro envolvido naquela história.
– Algum problema?
– Apenas precisamos conversar e definir alguns pontos – ele concordou com a cabeça. – Deixo ela em casa assim que terminarmos.
– Tudo bem – Peter apertou minha mão com força.
– Até mais tarde, querido – Mary se despediu me dando um beijo no rosto. Ambos acenaram para Charlotte, que preferiu ficar distante.
– Vamos.
Com a mão na cintura da minha noiva, ou ex-noiva, eu já não sabia mais, eu a conduzi até onde o meu carro estava. Ela, de cabeça baixa, as mãos unidas diante do corpo e com os cabelos escondendo as lágrimas que continuavam caindo, apenas caminhou e entrou no carro tão logo lhe dei passagem.
– Para onde vamos? – sua voz abatida e estrangulada pelo choro fez eu me odiar.
– Para a minha casa, Charlotte.
Ela me olhou surpresa, sem nada acrescentar e eu dirigi pensando na melhor maneira de fazer aquilo sem precisar esmagar o meu coração.
CHARLOTTE
Minha cabeça estava tão confusa que eu não conseguia organizar as ideias. Alex estava terminando comigo ou apenas não queria mais casar? Ele havia cansado? O que pretendia me levando para a sua casa?
Assim que entramos, eu tive dois pensamentos: a casa estava extremamente limpa e organizada, ou seja, ele havia mentido, provavelmente para evitar toda aquela conversa sobre sexo, ou falta de sexo; e, Deus, eu senti tanta falta daquele lugar!
Ele, segurando em minha mão, conduziu-me até a cozinha, alojou-me em um dos bancos altos, deu a volta, pegou duas taças em um dos armários, da adega retirou um vinho branco e serviu as taças levando-as para o balcão. Uma delas foi deixada diante de mim, assim como a garrafa, que ficou de lado sem nenhuma cerimônia.
Alex me encarou com uma expressão estranha e depois virou todo o conteúdo da taça em um só gole. Merda! Aquilo não era nada bom. Nada bom. Voltou a encher a taça e aguardou por mim. Dei um pequeno gole, sendo a covarde que naturalmente eu era. Ele terminaria comigo.
Droga! Droga! Droga!
Bebi outro gole, um pouco maior, procurando coragem para aquela conversa. O silêncio era aterrorizante! Angustiava e me sufocava.
– Você está terminando comigo?
Tomei coragem e falei logo de uma vez. Não dava para ficar aguardando Alex se embebedar para conseguir falar o que já estava nítido. Ele deu um sorriso triste e balançou a cabeça, negando as minhas palavras, em seguida bebeu um grande gole do vinho e voltou a me encarar.
– Não – disse por fim. – Mas estou dando a você a chance de fazer isso.
O quê? Como assim?
– Vai jogar a responsabilidade para mim? – meus olhos arderam e novas lágrimas se formaram. – O que... o que pretende com essa atitude? É por causa do meu pai? Não sabe como dizer a ele, então ser chutado será mais fácil do que chutar?
– Não seja infantil, Charlotte.
– Pelo visto é só o que eu sei ser. Só como você e todos os outros me veem – minha voz falhou. O desespero era tão grande que escondi minhas mãos embaixo do balcão para não revelar o quanto eu tremia.
– Você não quer ser minha namorada. Não quer viver o tipo de namoro que seus pais suportam aceitar. Não quer casar... – ele me encarou com amargura e recuou quando entendeu que exigia demais de mim. – Você quer o que tínhamos antes.
– Alex...
O choro me impedia de falar. Era tão ridículo e humilhante chorar daquele jeito na frente de uma pessoa que estava me dispensando! Era injusto. Não porque eu não devesse chorar, era impossível evitar, e sim porque seria muito mais digno se eu pudesse chorar em minha casa, longe do seu olhar piedoso. Seria muito mais digno se eu não estivesse a ponto de implorar, se conseguisse achar forças para ir embora quando meu único pensamento era o de que eu não poderia perder aquele homem.
– Você quer o que tínhamos antes, Charlotte. Sem compromisso, sem segurança, sem qualquer responsabilidade um pelo outro. Eram apenas algumas brincadeiras, claro que, por causa das atuais circunstâncias, vamos ter uma evolução daquele quadro. Vamos transar de verdade. Para valer. Não é o que você quer?
Não consegui responder. Alex estava tão magoado, tão cheio de raiva, mesmo tentando bravamente esconder seus sentimentos de mim. Suas palavras eram agressivas e, mesmo assim, dava para perceber o quanto ele lutava contra elas para não me magoar.
Alex levantou, deixando a taça sobre o balcão e deu a volta. Eu o encarava sem conseguir me movimentar. O que ele faria? Para onde iria? O que pretendia?
– Para onde você...
Ele me tomou em seus braços, impedindo-me de falar. Seus lábios se apossaram dos meus, sua língua pedindo passagem, suas mãos me mantendo presa, cativa, submissa. Estremeci. Eu conhecia aquela urgência, aquele pedido silencioso, aquela ânsia. Estranhamente, temi tudo aquilo.
Mesmo assim retribuí. Eu não tinha força para impedir o seu beijo, muito menos vontade. Era como se Alex fosse o controle, ele dizia como e eu apenas o seguia, completamente entregue. Havia dentro de mim um desconforto com a ideia e ao mesmo tempo, o desejo latente que me impulsionava a continuar.
Ele me levantou do banco, mantendo-me colada ao seu corpo, cheio de posse e fome. Minhas costas colidiram com a parede, enquanto nossos lábios não se desgrudaram. Suas mãos me exploraram, uma adentrando minha saia e se apossando da minha bunda, ousada o suficiente para ultrapassar minha calcinha e me tocar sem nenhum pudor. Gememos juntos.
A outra subiu pela lateral do meu corpo, buscando meus seios, apertando e afastando como podia a camisa para que o contato fosse mais legítimo. Ao mesmo tempo, seu corpo se esfregava no meu, buscando alívio e prazer, mostrando o que queria e me prometendo o mundo.
Deus, eu o queria! Eu queria tanto Alex que o sentimento parecia que explodiria dentro de mim a qualquer instante. Porém o desespero em suas atitudes ecoava com o do meu coração. Alex estava ultrapassando seus limites, abrindo mão do seu desejo e se sacrificando para me dar o que eu queria.
De repente eu já não sabia mais o que eu queria.
Senti meu coração acelerar à medida que suas investidas aumentavam. Um sentimento amargo me impedia de tocá-lo, de participar, e, aos poucos, meu corpo foi parando. Havia o desejo, evidente que havia, mas não daquela forma, não quando eu sabia que se aceitasse estaria permitindo que tudo mudasse, que nosso amor ficaria em segundo plano, que deixaria Alex acreditar que era apenas sexo o que eu queria dele.
– Alex, pare – tentei dizer, mas ele parecia não me ouvir.
Suas mãos insistentes continuavam me buscando, apertando lugares que me faziam estremecer e que repercutiam no centro entre as minhas pernas. Porra! Eu estava ávida de tesão. Louca para ser tomada e possuída por aquele homem que eu tanto amava.
Isso! Eu o amava. Eu. O. Amava. E justamente por isso não poderia ceder.
– Alex, chega. Pare!
Empurrei meu noivo que resistiu, afastando-se apenas alguns centímetros. Ele respirava com dificuldade. Uma mão apoiou o peso do corpo na parede e a outra foi para o meu pescoço, mantendo-me ali. Fechei os olhos com medo do que poderia encontrar quando os abrisse.
– Porra, Charlotte! O que você quer, pelo amor de Deus!
As palavras estranguladas não demonstravam raiva, apenas frustração e confusão. Abri os olhos e encontrei os dele fechados. O maxilar trincado impedia que mais palavras escapassem, as veias alteradas deixavam claro o esforço que fazia, apesar disso seus dedos em meu pescoço eram delicados, acariciando minha nuca e me tranquilizando.
Ele abriu os olhos, sorvendo minha alma para si. Alex era tão lindo! Mesmo triste como estava, mesmo com raiva, mesmo quando lutava contra o tesão que o impelia a continuar com o que fazíamos. Ele era lindo! E incrível!
– O que você quer?
O que eu queria? Meu Deus, o que eu queria?
Eu queria tudo. Queria uma vida em que eu não precisasse dizer adeus ao único homem que eu quis. Queria liberdade para amá-lo da minha forma. Queria estar em seus braços sem medo de que ele pensasse que sexo era a única coisa que importava naquele relacionamento. Eu sabia o que queria.
– Eu quero me casar com você.
Ele me encarou inexpressivo. Nenhum músculo respondeu aos meus temores, apenas o ar suspenso e a tensão da sua falta de resposta zumbiam em meu ouvido acompanhando o martelar do meu coração. E eu nunca tive tanta certeza das minhas palavras como tive das que tinha acabado de dizer.
CAPÍTULO 23
“E nesse momento de saudade, quando penso em você, quando tudo está machucando o meu coração e acho que não tenho mais forças para continuar; eis que surge tua doce presença, com o esplendor de um anjo; e me envolvendo como uma suave brisa aconchegante... tudo isso acontece porque amo e penso em você...”
William Shakespeare
ALEX
Não sei por que meu coração insistia em bater descompassado.
Estávamos deitados no sofá. A porta que dava para o jardim estava aberta, deixando uma brisa nos alcançar. Charlotte estava em silêncio, deitada em meu peito. O único indicador de que não dormia era o roçar suave dos seus dedos em minha camisa.
Eu recordava cada palavra trocada, cada estupidez dita e que no final serviu apenas para que fizesse tudo dar certo. Então por que eu estava com tanto medo?
A quem eu queria enganar? Não ia ser menos humilhante tentar esconder de mim mesmo o motivo do meu temor. Eu não tinha mais certeza se Charlotte queria mesmo casar ou se tinha aceitado as minhas condições por não conseguir me perder. Mas ela me perderia?
Não. Isso nunca passou pela minha cabeça. Eu queria apenas transar de uma vez com aquela garota e acabar com aquele plano ridículo de tentar convencê-la. Eu queria dar a ela o que tanto queria e me pedia. Faria migalhas do meu coração, mas voltaria a ser apenas o professor que divertia a aluna durante algumas horas, que no final do dia voltava para uma casa vazia, tentando sufocar o seu sentimento.
Era isso o que eu faria.
No entanto, Charlotte confundia tudo. Ela virava o mundo de cabeça pra baixo e, quando você começava a se acostumar com o que seria, ela voltava e girava tudo outra vez. Era como se eu fosse um globo nas mãos de uma menina curiosa. E era frustrante. Suspirei pesadamente.
Ela levantou o rosto e me encarou. Seus olhos azuis, claros como a tarde do lado de fora, estavam levemente vermelhos, por causa do choro, assim como a ponta do seu nariz. Não resisti e toquei aquela região, brincando com a pequena bolinha rubra que entregava a sua tristeza.
– Por que está tão calado? – sua voz estava fraca, temerosa.
Droga! Era horrível saber que ambos estávamos pisando em ovos. Respirei fundo e estreitei meus braços em sua volta.
Eu fiquei feliz ao ouvir que ela concordava com o casamento. Que faria como eu tanto queria. E, ao mesmo tempo, senti-me péssimo por ter alcançado meu objetivo depois de fazê-la temer me perder. Independentemente de mim, quando Charlotte disse sim, meu corpo reagiu por vontade própria e eu quis continuar de onde paramos.
Que todo o plano que tracei fosse para o inferno. Era muita infantilidade não transar com a mulher com quem eu ansiava casar. Mas ela recuou e me impediu. E isso me deixou ainda mais fodido.
Como entender o que Charlotte queria se quando eu estava disposto a lhe dar ela recuava? A história parecia se repetir a cada capítulo vencido.
“Eu não quero agora.” Ela disse quando questionei a sua recusa. Eu entendi, mas meu corpo não. Minha mente gritava que eu tinha estragado tudo e que agora ela seria infeliz para me fazer feliz. Como conviver com isso?
– Alex?
– Estou pensando no quanto tudo é confuso – evitei seus olhos, mesmo sabendo que seria a única maneira de conseguir resposta para todas as minhas dúvidas. – Não quero que você case por sentir medo, Charlotte – confessei. – Eu quero que seja feliz e se viver o que vivíamos é a sua vontade, a sua ideia de felicidade, de mágica, como você disse, então é o que vou lhe dar.
– Eu entendi – disse baixinho, voltando a deitar a cabeça em meu peito.
– Eu não estava terminando com você – meus dedos se afundaram em seus cabelos, acariciando seu couro cabeludo. – Estava te dizendo que tudo bem.
– Eu não quero apenas sexo, Alex. Eu quero mais. É tolice bater o pé como uma criança birrenta e não aceitar o óbvio: nós só vamos ter paz quando casarmos. Meu pai já deixou bem claro.
– Eu não quero mais seguir as regras do seu pai. Não quando elas te fazem infeliz.
– E eu não quero que o laço que você conseguiu criar com ele seja desfeito apenas por causa da minha insistência em desafiá-lo.
Voltei a ficar em silêncio. Não era um “sim, eu não vejo a hora de dividir a minha vida com você”, mas, porra! O que eu esperava? Há quanto tempo estávamos juntos? Quanto tempo era necessário para adquirir confiança e certezas? A única coisa que sabíamos era que nos amávamos e estávamos apostando todas as nossas fichas nisso.
Eu era maduro e experiente. Conhecia meus sentimentos de maneira firme e consciente, sem dúvidas, mas não para não temer, podia compreender o quanto era difícil para Charlotte. Apesar disso, almejava, com todas as minhas forças, que pudéssemos sair dali direto para a igreja, e depois voltaríamos para casa para darmos início àquela nova vida que eu tanto ansiava.
Eu era um filho da puta egoísta e podia estar jogando Charlotte em seu maior inferno.
O que eu estava fazendo?
– Você não acredita mais em mim, não é? – eu sabia que naquele instante Charlotte sofria tanto quanto eu, e me amaldiçoava por isso. Beijei o topo da sua cabeça e acariciei seu braço.
– Eu não acredito que seja esta realmente a sua vontade – ela me abraçou forte e depois levantou o rosto para me olhar.
– Eu tenho medo, Alex, por outro lado, sinceramente, quando eu não terei? Quando vai ser possível, para alguém como eu, sentir-se segura em um relacionamento com alguém como você.
– Isso porque você me supervaloriza.
– Na verdade não, eu simplesmente enxergo quem você é e, por mais que eu tente me fazer de burra, sei muito bem quem eu sou.
– Realmente você se faz de burra – ela sorriu sem ser realmente um sorriso de felicidade. – Eu posso ser tudo o que você acredita, ou posso não ser, mas o que vai contar em uma situação como esta é o que sentimos e o que queremos. Você precisa ter certeza.
– Eu nunca tive dúvidas, Alex. Não hesitei nem por um segundo quando você me pediu em casamento. Não existe outra pessoa com quem eu queira dividir a vida. Você é tudo o que eu sempre quis, mesmo quando eu não fazia ideia do que desejava. Eu só não entendo o porquê da urgência.
E eu entendia os motivos dela. Charlotte deveria ter o direito de saber. Ela sim deveria ter o direito de decidir. O problema era: como fazer isso sem criar um pânico capaz de paralisá-la? Como contar toda a verdade à minha noiva sem que ela se desesperasse a ponto de se perder?
Para ser honesto, eu não conseguia enxergar uma outra saída. Havia uma enorme chance de Charlotte parar sua própria vida, esquecer-se de si mesma e simplesmente perder o interesse por nossos planos.
Era um problema que eu não tinha ideia de como resolver. Por mais cruel que fosse, eu ainda acreditava que desviar sua atenção para o casamento, a formatura, ou qualquer evento importante era o melhor a fazer para evitar que ela paralisasse sua vida e deixasse de viver seus sonhos.
A ideia surgiu sem que eu tivesse a chance de pensar sobre ela ou descartá-la e, de repente, era o mais correto a ser feito.
– Tudo bem – tive o cuidado de não interromper o carinho em seu braço. – Eu vou te dar um motivo, só não vai ser agora.
– Ultimamente você anda protelando demais o que tem para me dizer – não entendi e o meu silêncio a fez continuar. – A proposta. Você ainda não fez.
– Ah! Sinto dizer que eu vou precisar desta proposta para fundamentar o meu motivo principal.
– Isso é chato – ela voltou a se deitar, mantendo seus braços em mim, segurando-me com força. – Por que não agora?
– Porque nós precisamos almoçar – ela fez um muxoxo, voltando a ser a Charlotte que eu conhecia. – E também porque acabei de me lembrar que Lana pediu que você fosse até a editora amanhã pela manhã.
– Amanhã? O que ela quer? E por que não me ligou?
– Porque eu quis te dar esta notícia, mas acabei esquecendo por causa dos últimos acontecimentos.
– Que notícia? Não vá me dizer que não pode falar agora também – ri sentindo que meus pés tocavam outra vez o chão.
– Amanhã você assinará o contrato.
Ela levantou a cabeça para me encarar e finalmente eu vi aquele brilho ansioso de volta aos seus olhos e um sorriso genuíno. Sim, estávamos voltando ao nosso eixo.
CHARLOTTE
Olhei uma última vez para o espelho, conferindo meu vestido cinza, nem tão justo nem tão largo, um pouco mais para executivo do que para estudante recém-formada. O cabelo estava preso em um coque, insistência de minha mãe, e a maquiagem era discreta e bem feita, cortesia de Miranda, que por sinal estava com um ótimo humor.
Os óculos... Bom, era ainda a mesma armação, que combinou perfeitamente bem com o restante da produção. E o conjunto, no geral, estava perfeito. Eu até parecia mais velha! Pensando bem, para que parecer mais velha? Passei a mão no cabelo desfazendo o coque e deixando os fios lisos descerem até moldarem meu rosto.
Minha mãe não ficaria nada satisfeita. Nada mesmo.
– Pronta?
Meu pai surgiu na porta do quarto olhando para dentro. Ele tinha insistido em me levar à editora. Queria verificar o contrato, certificar-se de que era algo realmente vantajoso. Eu suspeitava que, depois de eu ter sumido durante a tarde inteirinha e início da noite do dia anterior, ele estivesse disposto a me vigiar mais de perto.
Principalmente porque, segundo ele, eu havia voltado com atitudes estranhas, o que na verdade se tratava de um cansaço extremo e um enorme desgaste psicológico, fruto de toda a apreensão por causa da minha briga com Alex.
Alex!
Era impossível não suspirar quando pensava nos acontecimentos das últimas horas. Foi estranho, doloroso, desesperador, mas no fim, e por fim, acabou me fazendo entender que ele tinha razão e que eu poderia sentir medo, era natural, também era preciso sentir as certezas e colocar os pés no chão.
Não importava se tínhamos um dia, um ano, um século... nada disso era importante, apenas o que sentíamos e o que queríamos. Porque eu estava certa de que queria me casar e dividir a minha vida com ele, não faria diferença se o casamento acontecesse em dois dias ou dois anos.
– Lottie? Está pronta?
Saí do meu devaneio e encarei o meu pai. Ele queria tanto aquele casamento que, às vezes, dava vontade de rir. Por que era tão importante me ver casada?
– Prontíssima!
– Vamos? – ele me ofereceu o braço e eu aceitei, voltando a me sentir a garotinha do papai.
Fizemos o percurso até a editora em um agradável silêncio. Eu não me permitia pensar muito em tudo o que havia acontecido, ou minha mente daria um nó, então procurei focar no contrato e na felicidade que era o fato daquele meu sonho estar se concretizando, tornando-se algo real, e o mais gratificante, por meus próprios méritos.
Sim, meus próprios méritos. Seria muito fácil conseguir que qualquer editora me publicasse, sendo eu filha de quem era, tendo uma renda capaz de abrir qualquer porta. Obviamente eu não queria que fosse assim. Eu queria ser reconhecida como escritora, que lessem o meu texto e gostassem, e foi o que Alex fez. Ele acreditou em mim, mesmo quando me fez acreditar que tudo estava perdido.
Senti a emoção umedecer meus olhos quando estacionamos em frente ao prédio já familiar. Eu tinha ótimas lembranças daquele lugar, daquela sala, daquele sofá... ah, Alex! Eu queria tanto que pudéssemos viver aquela liberdade.
Pensar assim me fez recordar o dia anterior, quando Alex pensou que o que importava para mim era apenas sexo. Que tolo! Ele não entendia que eu sentia falta de estarmos juntos livremente, já que ele mesmo colocava meu pai entre a gente, até quando Peter não estava presente.
– E agora?
– Vamos até a recepção. Alguém deve estar nos aguardando.
– E Alex? – dei de ombros.
– Não tenho ideia de como funciona, mas acredito que ele deva aparecer em algum momento – sorri confiante.
– Então vamos.
Conferi novamente meu cabelo e a maquiagem. Depois, passei as mãos no vestido, desfazendo as pregas amassadas por causa da posição no carro. Os saltos não eram tão agradáveis, mas eu gostava de me sentir vestida apropriadamente para eventuais olhares desagradáveis, como o da garota da recepção.
Sim, eu não havia esquecido.
Fabiana era o seu nome. Ela era loira, não natural, obviamente, e não era tão magra nem tão elegante. Era uma figura que, sem maquiagem ou o elegante vestido que servia de uniforme, seria apenas mais uma à espera do metrô. Ok! Eu sou má! Talvez ela fosse mais magra do que eu me permitia admitir e muito provavelmente ficaria atraente em um jeans e salto alto. Isso eu nunca admitiria em voz alta.
– Bom dia! – cumprimentou sorridente, mas suas feições mudaram assim que me reconheceu.
– Charlotte Middleton, Alex Frankli está me aguardando – ela piscou se afastando da tela do computador. – Sou a noiva dele.
Nossa! Eu podia me abraçar. Os olhos da mulher ficaram imensos e ela apenas se deu ao trabalho de interfonar avisando a minha chegada.
– A noiva do Sr. Frankli encontra-se aqui e... ah! Claro. Sim. Agora mesmo.
Lógico que a forma irônica como ela anunciou a “noiva” do chefe a colocou em uma situação constrangedora, e certamente confirmou a minha posição. Mais um ponto para mim. Fabiana seria apenas uma garota do meu passado.
– A sra. Lamara irá aguardá-los na saída do elevador.
– Obrigada – sorri educadamente me sentindo tão bem que poderia até mandar um beijo para a garota.
– O local é bom – meu pai falou com admiração ao entrarmos no imenso elevador.
– Estamos na melhor e maior editora do Brasil, pai – eu me orgulhava de ser noiva do homem que construiu tudo aquilo.
Assim que as portas se abriram, demos de cara com João Pedro. Ele sorria, estava com o cabelo molhado e a pele bronzeada, como se tivesse acabado de chegar da praia. Talvez tivesse mesmo, quem sabe com Alex... droga! Só de imaginar Alex e aquele corpo maravilhoso, equilibrando-se sobre uma prancha, a pele bronzeada coberta por gotículas, o cabelo molhado descendo em seu rosto, aqueles olhos azuis que se confundiam com o mar...
– E Lana pediu para que eu apresentasse a editora a vocês enquanto ela e Alex finalizam uma reunião.
Pisquei algumas vezes me dando conta de que divaguei perdendo os cumprimentos e parte do que era do meu interesse naquela história. Por isso apenas concordei e deixei que João nos guiasse na direção contrária à da sala do meu noivo.
– Então vamos assinar, Charlotte? Que bom! Lana não fala de outra coisa. Ela realmente gostou do seu livro, disse que será um sucesso de vendas. Pelo que fiquei sabendo todos os três avaliadores deram parecer positivo.
– Que bom – respondi meio sem graça. Receber elogios em público, mesmo sendo este bem reduzido, sempre foi um embaraço para mim.
– Uma pena Alex estar deixando o cargo agora. Lana vai precisar de um bom tempo para se adaptar à carga de trabalho de um editor-chefe, se bem que ela está otimista.
– Alex não precisava abandonar o cargo – meu pai disse com aquela postura superior, como se entendesse de todo e qualquer assunto, para ser sincera, ele era bastante convincente. – Charlotte está começando, então não há razão para temer tanto uma repercussão negativa.
– Ele tem outros projetos em mente, vai precisar de maior disponibilidade de tempo. Além do mais, apesar de Alex ser realmente um puta profissional... – ele olhou de soslaio para meu pai, fazendo uma careta por ter usado um palavrão. Acabei rindo baixinho – Apesar de ser um excelente editor-chefe – corrigiu-se rapidamente –, já fazia um tempo que pensava em mudanças. Alex não nasceu para ficar trancado em um escritório.
– Qualquer pessoa em seu perfeito juízo não teria problemas em estar trancado em um escritório que lhe pertence. É assim que tem que ser. O homem precisa trabalhar, proporcionar um porto seguro à família... – blábláblá. Meu pai e todo o seu discurso machista.
João Pedro riu, colocando a mão no ombro de meu pai com muita intimidade.
– Peter, um homem como Alex pode dar conta das suas finanças trabalhando na praia. Ele tem capacidade para isso, só que, assim como eu, não gosta da rotina, das obrigações de uma gravata – e folgou a própria como se estivesse sufocando. – Ele realmente vai render muito mais se estiver em um computador na sua varanda, tomando uma cerveja gelada e colocando para fora tudo o que aquela mente brilhante é capaz de criar. Alex é um filho da puta de sorte – outra careta que me fez rir novamente. – Desculpe, mas é o que ele é. Ele tem o dedo de ouro, sabe? Se disser que um original tem potencial, com certeza ele tem, e vai vender. Você vai ver só se não vai ser assim com o livro da Charlotte. Foi assim com a Tiffany, ele recebeu o material e apostou. Foi o primeiro a dizer que ela seria campeã de vendas, e não foi o que ela se tornou? Alex sabe o que faz.
Quando trouxe o nome da Tiffany para dentro da conversa, todo o brilho do momento se perdeu. Eu não entendia como ela ainda conseguia ser o meu calcanhar de Aquiles. Quantas vezes Alex já havia me dado provas de que Tiffany nada mais era do que uma autora de sucesso com a qual ele era obrigado a conviver? E quantas vezes ele já havia provado o que sentia por mim? Então por que só ouvir o nome daquela mulher já me fazia tremer e sentir raiva? Eu não sabia dizer, mas era exatamente o que acontecia.
– Aqui fica a nossa equipe de edição – ele abriu a porta revelando cinco pessoas em frente aos seus respectivos computadores, todos com trabalhos em andamento. – Oi, pessoal! Essa é Charlotte Middleton, nossa mais nova autora e este é o seu pai, Peter Middleton.
Todos me cumprimentaram e ao meu pai. Pareciam satisfeitos, apesar de eu ter notado um ou outro com expressões mais cansadas.
– Eu estou mostrando a editora, então finjam que estão trabalhando para que ela não desista de publicar com a gente – eles riram e fizeram brincadeiras com João, que pelo visto era muito querido ali. – Vamos, quero mostrar onde a sua capa será feita.
Menos de quatro passos e estávamos em frente a outra porta. João a abriu, revelando uma sala um pouco menor com apenas duas pessoas. Um som pesado, mas baixo, criava um clima especial para o ambiente. Dois homens, com aparência estranha, devo revelar, pois um tinha uma trança longa no lugar da barba e o outro estava com metade do cabelo pintada de roxo. Eles sorriram assim que João entrou e também foram amáveis.
Ainda conhecemos o setor de publicidade e marketing, que era imenso e com muitas mulheres trabalhando, e vários outros que se confundiram em minha cabeça e eu já não sabia mais quem era quem e o que faziam. A editora era bem grande, com muitos funcionários, havia uma área na qual João disse gostar de ficar, onde os funcionários podiam jogar, relaxar, divertir-se, assistir à televisão, dentre outras coisas. Também uma lanchonete grande e uma biblioteca. Resumindo: era um lugar bom de trabalhar.
Encontramos alguns autores caminhando pelos corredores. Eles estavam acompanhando o processo dos respectivos livros, segundo informação do João, que frisou não achar isso muito saudável e completou dizendo que tirava um pouco a concentração do seu pessoal.
Passamos em frente à sala do Patrício, que estava abarrotada de papéis, e ele, vestido como um executivo, falava ao telefone, nervoso, como se alguma coisa tivesse dado errado. João acenou e Patrício ficou sem graça quando nos viu.
– Peter, Charlotte, como vão? – apertou a mão do meu pai enquanto eu tentava ignorá-lo sem chamar a atenção de Peter.
– Nunca mais vimos você – papai falou sem desfazer o aperto de mão.
– Bom... – Patrício pareceu enrubescer e me olhou rapidamente, provavelmente com medo do que eu poderia dizer. – Como está vendo, o trabalho tem consumido o que pode de mim.
– É o que podemos ver – não escondi a má vontade.
– Então, hoje você vai assinar o contrato? – ele desconversou, tentando ser gentil. Estreitei os olhos sem acreditar que aquele imbecil tentava puxar conversa comigo depois de tudo.
– É o que parece – Patrício recuou percebendo que eu não estava para muita conversa. – Será que Alex já terminou a reunião? – perguntei para João, virando de costas para o meu futuro cunhado.
– Hum! – João olhou de mim para Patrício e deu para perceber que ele sabia que eu não queria estar ali. – Vamos voltar para verificar. Vejo você no almoço, Paty? – Patrício ia responder, porém mordeu os lábios, furioso.
– Claro, Joãozinho! Por que não? – João sorriu cinicamente e abriu a porta para que passássemos.
– Vejo você em breve? – meu pai perguntou para Patrício que ficou ainda mais vermelho e engoliu com dificuldade.
– É provável.
Filho da puta! Por que não tinha coragem de dizer que tinha partido o coração da minha amiga? Por que não assumia que caiu fora porque era um covarde, idiota, imbecil...
– Vamos – João me pegou pelo cotovelo, levando-me em direção à porta e só então percebi que olhava para Patrício de uma forma assassina.
Caminhávamos em um silêncio desconfortável quando meu pai resolveu ser o inconveniente da vez.
– Não se incomoda que a sua esposa trabalhe mais do que você? – soltou para João assim que entramos outra vez no elevador. – Por que se ela vai assumir tudo isso certamente não poderá te acompanhar à praia, ou cuidar da casa, como deveria, ou até mesmo te dar filhos...
– Pai! – eu mal conseguia acreditar no que ele tinha acabado de falar. Olhei para João, desculpando-me quando vi que ele ria.
– Lamara nunca gostou de me acompanhar à praia. Eu trabalho fora da editora também e para fazer filhos só precisamos de alguns minutos – piscou para meu pai que ficou mudo imediatamente. Quase abracei João. – Lana gosta dessa vida, trabalhar até a exaustão, saber que produz, e eu fico feliz por ela poder se realizar seja da forma que for.
Saímos do elevador e voltamos para o andar onde ficava a sala do meu noivo.
– Eu sei que os tempos mudaram, as mulheres conseguiram o seu espaço no mundo e tudo mais que a modernidade nos trouxe, porém continuo acreditando que alguns pontos não podem ser negligenciados.
– Pai, ninguém mais pensa desta forma no mundo. Hoje você planeja ter filhos, planeja seu casamento, sua carreira, nada mais é feito apenas seguindo o curso da vida.
– Tudo bem, Charlotte – ele abriu um sorriso encantador. – Se vocês crianças gostam de pensar assim, então que seja. Só posso afirmar uma coisa, você segue o curso da vida, querendo ou não. Porque quando ela quer, não há como fazê-la alterar nada, acredite em mim.
– Eu acredito – João falou divertido, então tudo perdeu a importância para mim.
Ao fundo do corredor, um pouco à frente da sala que eu sabia ser do meu noivo, uma porta se abriu e revelou aquele homem espetacular. Alex estava maravilhoso, usando uma camisa social, gravata e calça. Sua pele bronzeada contrastava com a camisa branca, enquanto a gravata azul realçava seus olhos.
E foram seus olhos que me fizeram esquecer o mundo ao redor. Quando Alex me olhou, nada mais tinha importância. Havia tanto sentimento naquele olhar que eu senti o ar escapar de mim. Ele sorriu. Um sorriso largo, que começou no canto da sua boca, expandindo-se completamente, atraindo todo o meu foco.
Alex se adiantou, despedindo-se rapidamente dos três homens com quem estava reunido. Lana ainda não tinha saído da sala, mas o meu noivo já estava caminhando em minha direção.
Ele se deteve quando já estava perto o suficiente para fazer com que todo o meu corpo reagisse. Então parou, com o mesmo brilho no olhar, o mesmo sorriso largo e a ansiedade que não conseguia esconder, no entanto, não me tocou.
– Peter – ofereceu a mão a meu pai, o que me frustrou, apesar de saber da sua imensa necessidade de agradar. – Charlotte – e me deu um beijo no rosto.
No rosto?
Puta merda!
Eu queria ser tocada, sentir aqueles lábios quentes e sedentos nos meus. Sentir cada músculo do seu corpo encostado ao meu... Respirei fundo incapaz de esconder a minha decepção. Alex, obviamente, notou, porém nada disse, apenas bateu com alguns papéis no braço do João, que riu se esquivando.
– O contrato já está em minha mesa. Lana está em uma ligação, ela logo se unirá a nós – ele disse de maneira formal. – Conheceram a editora?
– Sim. É uma ótima empresa. Muito bem estruturada – meu pai bajulou meu noivo e eu me limitei a concordar, pois a comichão ainda me incomodava por ter recebido apenas um beijo no rosto.
– Conheceram a gráfica? – Alex parecia animado.
– Não. Charlotte estava muito ansiosa – João revelou.
– Vocês têm uma gráfica aqui no prédio? – fiquei curiosa. Não sabia que era vantajoso para as editoras terem a sua própria gráfica.
– Na verdade não é nossa. É uma parceria. Instalamos uma pequena parte da gráfica com quem trabalhamos aqui para atender às nossas necessidades. Como nossa demanda é grande, precisávamos de um atendimento mais personalizado, então propusemos que se instalassem em nosso prédio, o que reduziu um pouco os nossos gastos, além de ser vantajoso para eles também. Assim ficou muito mais fácil garantir os prazos.
– Brilhante! – Peter falou enchendo Alex de orgulho. – A ideia foi sua? – meu noivo sorriu sem graça.
– Não. A ideia, assim como todo o projeto, partiu de Lamara, e João foi um dos responsáveis pela viabilização.
– Hum! – meu pai olhou desconfiado para João Pedro. – Muito bom!
– Obrigado! – João fez uma reverência bem-humorada. – Eu cumpro as ordens da minha querida esposa.
– Ele sabe com quem está mexendo – Lana se juntou ao grupo, pendurando-se no ombro do marido. – Aqui eu mando e ele executa.
– Com o maior prazer, chefinha – João gracejou e Lana sorriu apaixonada.
Se Lana e João podiam agir assim, por que eu teria que me contentar com apenas um beijo no rosto? Que droga!
– Vamos? O contrato já está prontinho. Foi revisado pelo nosso setor jurídico e aprovado por Alex – Lana desatou a falar, conduzindo-nos para a sala do meu futuro marido. – Acredito que você veio conferir no que a sua filha está se metendo, não, Peter? – papai sorriu com satisfação para Lana.
– Sim. Não que eu não confie em vocês, mas um olhar de fora pode ajudar.
– Sempre – ela rebateu, acenando para a secretária impecável de Alex.
Entramos e minha mente rapidamente se encheu de lembranças. Ah, aquela sala! Se eu fechasse os olhos poderia até sentir as emoções daquele dia. Eu estava com tanto medo e tão decidida a seguir em frente com o plano. E Alex? Porra, ele foi incrível! Aquele homem tinha o dom de me ensandecer, levando-me a cometer as maiores loucuras.
Olhei para o sofá com saudade. Eu podia determinar o exato lugar onde estávamos e até podia visualizar a cena toda. O que eu não daria para ter apenas mais uma oportunidade?
– O que quer beber? Café, chá, refrigerante, água... – Lana continuava exercendo seu papel de boa anfitriã, enquanto eu ainda olhava para o sofá com ternura.
– Água, por favor – Peter respondeu.
Desviei os olhos do sofá e encontrei os de Alex, atentos a tudo o que eu fazia. Claro que meu rosto esquentou consideravelmente. Ele sabia o que eu estava pensando. Podia imaginar o meu nível de envolvimento e o quanto aquilo tudo me deixava excitada. E a forma como ele estava me olhando... Santo Deus! Alex parecia estar tão saudoso e excitado quanto eu.
Ele poderia facilmente me convencer a tirar a roupa se continuasse me olhando daquele jeito.
– Charlotte? – Lana falou do meu lado, fazendo-me estremecer. – Não sei como você consegue ficar tão aérea – e riu puxando-me pela cintura para sentar em uma das poltronas de frente para o sofá. – O que quer beber? – pensei em pedir uma tequila, mas desisti.
– Nada no momento, obrigada!
– Eu vou embora – João anunciou. – Tenho alguns assuntos para resolver e esse lance aqui não é muito a minha praia. Vejo você mais tarde, Lana – eles trocaram um olhar apaixonado e João, após se despedir de todos os presentes, saiu deixando a reunião um pouco mais séria.
– Vamos ao que importa – disse Lana ao entregar um copo com água ao meu pai. – Aqui está uma cópia, Charlotte. Peter pode analisar a nossa enquanto você fica ciente de como vai funcionar. O contrato é o padrão. Alex não queria te favorecer em nada – Lana foi firme ao falar, como se aquela fosse a sua vontade também.
– Acho justo – afirmei sentindo-me estranha.
Não seria agradável receber favorecimentos porque sou noiva do editor-chefe. Seria vergonhoso. Meu pai me deu um olhar de aprovação e continuou analisando o contrato. Ajustei os óculos, ainda incomodada com o sentimento, e procurei me ater ao que dizia o papel em minha mão.
– Certamente foi impossível não conceder alguns benefícios descritos em seu contrato, embora tudo o que foi colocado esteja diretamente ligado à qualidade e importância do seu material, Charlotte – Alex falou usando o seu tom profissional, sem tirar os olhos de mim. – Apesar de ser uma autora iniciante, nós tivemos ótimas avaliações e, como já havia dito, estamos apostando em seu livro.
– Livros – completou Lana sorridente. – Afinal, será uma trilogia – Alex também sorriu orgulhoso. – E, por falar nisso... – ela se levantou dando a volta no sofá e parando para se apoiar logo atrás de onde meu pai estava – ... trate de trabalhar. Nós temos prazos estabelecidos para a entrega do próximo volume.
– Farei o possível.
A conversa seguiu em torno do contrato e de como eles pretendiam fazer a divulgação. Eu prestei bastante atenção, afinal de contas era do meu interesse tudo o que aconteceria ali. No entanto, existia uma parte de mim que ainda se perguntava por que mereci apenas um beijo no rosto. E outra bastante significativa que insistia em repassar as imagens de tudo o que eu já havia feito naquela sala com o meu futuro marido.
Inferno!
Se já não era bom ficar excitada tendo Alex fugindo de mim como o diabo foge da cruz, ficar excitada sabendo que seria rejeitada, e ainda precisar fazer cara de filha santinha para o meu pai, era o fim do mundo.
ALEX
Por fim, Peter aprovou o contrato, todo sorridente com o charme que só Lamara conseguia lançar sobre seus clientes para conseguir o que desejava. Ela tinha este dom. Simplesmente encantava as pessoas que, instantaneamente, passavam a fazer tudo o que ela queria. Não fora o que aconteceu comigo e Patrício? Não era desta forma que ela mantinha João Pedro sob o seu comando? E por que seria diferente com qualquer outra pessoa?
Charlotte permaneceu calada, não demonstrando o menor entusiasmo, o que para mim era estranho, já que se tornar uma escritora de sucesso era o seu maior objetivo de vida, capaz de fazê-la cometer todas as loucuras possíveis.
Mordi o lábio evitando o sorriso que insistia em se expandir. Eu bem sabia tudo o que aquela menina fora capaz de fazer e a maneira astuta como me envolveu em seu plano diabólico.
Ah, Charlotte! E você nem faz ideia do quanto eu venero esta sua determinação!
Por fim, ela assinou e, no final de tudo, eu pude até notar um brilho especial em seus olhos e a maneira deliciosa como ela corou ao me olhar, provavelmente ecoando os meus pensamentos. Porque naquela hora eu apenas pensava: valeu a pena cada aula.
E se valeu!
– Agora um agrado especial – Lana disse com animação. – Eu, como nova editora-chefe desta casa, tomei a liberdade de providenciar a nossa comemoração – ela abriu a porta e falou alguma coisa com a minha secretária, depois voltou de lá com uma bandeja contendo algumas taças e um balde com gelo e champanhe. – Um brinde todo especial à minha futura cunhada.
Lana me passou a garrafa, dando-me a honra de estourá-la, o que fiz sem poupar floreios. Charlotte voltou a sorrir e seu sorriso me fez ganhar o dia. Ela era linda! Servi as taças e, após entregar cada uma delas, fizemos um brinde.
– À Charlotte – falei tomando a liberdade de fazer aquele discurso. – Pela menina insistente e determinada – ela sorriu com doçura. – E principalmente pela mulher incrível, inteligente, criativa – sorri, fazendo-a entender que eu também lembrava. – À nossa mais nova escritora best-seller.
– Posso colocar uma pontinha de discurso de pai? – Peter me interrompeu gracejando. – À filha mais teimosa e decidida que um pai antiquado poderia ter. Que o seu sonho se torne realidade, Lottie, e que as suas escolhas revelem sempre um caminho de felicidade e satisfação. Não foi o que eu planejei, no entanto, eu não poderia estar mais orgulhoso.
Até eu fiquei emocionado. Peter fazia o tipo figurão, o pai durão que jogava duro e de acordo com as suas regras. No fundo, ele era um homem com medo de perder o controle, de errar com as crianças que foram deixadas sob seus cuidados e que as amava acima de tudo, até dele mesmo. Ele era um bom pai e disso Charlotte não tinha dúvida.
E Charlotte? Ela olhou para cima, para os lados, respirou um pouco mais rápido e até mordeu o lábio inferior, tudo para tentar disfarçar a emoção que por pouco não escorreu pela sua face. A mania de ajeitar a armação dos óculos sob o nariz serviu apenas para me certificar do esforço que ela fazia para não chorar e, quando bebeu metade do conteúdo de sua taça de uma vez, usou como desculpa para os olhos úmidos.
Essa era a minha garota!
– Não vamos atrapalhá-los mais – Peter começou depositando a taça sobre a minha mesa. Disfarcei, circulando a sala, e acenei para Lana, que rapidamente entendeu o que eu queria. – Eu ainda tenho que trabalhar e Mary vai precisar de companhia para um jantar de arrecadação de fundos para uma de suas causas – sorriu como um bobo apaixonado. – Ela parece querer salvar o mundo.
– É sempre bom estarmos engajados em campanhas como as que Mary tanto se compromete – Lana cruzou o braço com o de Peter, levando-o para fora da sala. Eu e Charlotte saímos atrás dos dois.
– Sim, sim. E eu confesso que adoro saber que casei com uma mulher tão generosa. Mary sempre foi assim... – eles continuaram a conversa enquanto Charlotte atrasou mais um passo.
– Feliz? – ela me olhou como se eu tivesse falado a maior besteira do ano.
– Por que me deu só um beijo no rosto?
O quê? Precisei parar para pensar no que ela tinha acabado de dizer. Eu realmente ficava muito confuso com as maluquices da minha noiva. Havia imaginado um milhão de sentimentos partindo daquela garota, menos aquele, nunca. Nunca mesmo! Poderia até jurar que naquele momento Charlotte estaria leve como uma pluma. Realizada.
– Do que você está falando? – retardei mais um pouco os nossos passos, sem deixar que Peter percebesse.
– Você! – ela parou um pouco mais exaltada. – Por que me deu um beijo no rosto?
Olhei para Charlotte sem acreditar, então dei risada. Ela conseguia ser adulta e infantil ao extremo e com segundos de diferença.
– Amor, aqui é o meu trabalho – continuei sorrindo.
Tenho que admitir, eu ficava louco da vida com as infantilidades da minha noiva, porém amava cada uma delas. Era como se, de repente, Charlotte se transformasse em uma garota perdida, confusa e sem rumo.
– Lana e João Pedro não se preocuparam com isso – o vermelho suave que estava em suas bochechas ganhou um tom mais forte. – E você já fez muito mais do que me beijar naquela sala, Alex Frankli – falou baixinho me encarando com olhar desafiador.
Mordi o lábio olhando rapidamente para os dois que seguiam, Lana fazendo de tudo para que Peter se esquecesse de nós dois. Voltei a olhar Charlotte, o nariz empinado, o queixo projetado para cima, os olhos estreitos e aquele vermelho... Eu podia fazê-lo se expandir ainda mais.
Aproximei-me cuidadosamente, saboreando a reação dela, que aos poucos foi perdendo a postura desafiadora e assumindo uma de expectativa, mais submissa do que rebelde. Porra, eu amava aquela menina! Sem precisar pensar duas vezes, segurei em seu rosto e colei meus lábios aos dela. O sabor cítrico do champanhe, misturado ao doce do seu batom tornou o beijo mais prazeroso.
Ela abriu os lábios, permitindo que minha língua brincasse com a dela. Uma delícia. Mas eu precisava ser breve, até porque eu tinha planos e nada do que eu havia imaginado poderia acontecer ali.
Desfiz o beijo, ainda segurando o seu rosto e rocei a ponta do nariz até sua orelha. Antes, olhei para Peter, certificando-me de que estávamos seguros, então me voltei outra vez para Charlotte.
– Quer passar a tarde comigo? – vi quando os pelos do seu braço se eriçaram. Não resisti e deslizei meus lábios até seu pescoço e desci minha mão para sua pele arrepiada.
– Aqui? – aquela voz doce e fraca, carregada de tesão me deixou louco.
– Em um motel – sussurrei em sua pele, rezando para que apenas Charlotte fosse capaz de ouvir a minha proposta.
Ela se afastou me encarando com os olhos arregalados. O rosto afogueado, a respiração acelerada. Charlotte estava excitada, e eu estava adorando.
– Tenho uma proposta para te fazer.
CAPÍTULO 24
“O amor é dos suspiros a fumaça; puro, é fogo que os olhos ameaça; revolto, um mar de lágrimas de amantes... que mais será? Loucura temperada, fel ingrato, doçura refinada.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Ainda atônita, vi Alex se afastar, indo em direção ao meu pai. O que ele faria? O que diria? Porra, claro que Alex jamais pediria permissão a meu pai para me levar a um motel. Lógico que ele não teria coragem!
E o que eu faria? Ora, eu o acompanharia a qualquer lugar que ele quisesse me levar. Eu sempre seguiria Alex Frankli. Sempre.
Meu coração acelerado não dava trégua e eu assistia em câmera lenta Alex se aproximar do meu pai ao mesmo tempo que sentia cada partícula do meu corpo guerreando entre si, minhas células, alucinadas e em alvoroço, ansiosas demais pelo próximo passo.
Ainda existia uma parte de mim que tinha outro tipo de preocupação: a calcinha. Quando Alex me perguntou se eu queria passar o dia no motel com ele, minha cabeça deu um nó, e a minha calcinha tornou-se um problema inesperado.
Era mesmo uma merda que eu estivesse sempre preparada para ele, que desde quando surgiu a possibilidade de transarmos eu tivesse pensado em calcinhas, sutiãs, depilação e tudo o que uma garota normal precisa cuidar para estar sempre apresentável. Para meu azar naquele dia, talvez por ter a certeza de que nada aconteceria, ou pela frequente recusa de Alex, eu tenha pensado em uma calcinha mais confortável, que não marcasse o vestido, deixando o lado de fora mais apresentável do que o de dentro.
Merda!
Eu estava com uma calcinha imensa, daquelas que cobrem todo o bumbum e sobem quase até o umbigo. E para agravar o problema, ela era bege. Bege! Dá para acreditar?
E, como se a minha mente fosse realmente algo complicado demais para ser entendido, eu ainda conseguia me questionar sobre a razão para aquilo tudo. Não era possível ignorar a reação do meu namorado quando eu lhe fiz a mesma proposta. Ele havia sido categórico ao afirmar que não se sentiria à vontade em um lugar como aquele comigo.
Então, o que mudou? E o que me levar a um motel tinha a ver com a proposta que ele tanto insistia em fazer?
Eu não conseguia entender. Não conseguia. Mesmo assim, faria o que fosse possível para que Alex não voltasse atrás.
– Peter, eu gostaria que Charlotte ficasse – ele me olhou rapidamente mantendo uma postura tranquila. – Passasse a tarde aqui comigo.
– Aqui? – meu pai olhou de um para o outro com desconfiança. – No seu trabalho?
– Sim – Alex deu de ombros, colocando as mãos nos bolsos. – Eu não tenho mais nenhuma reunião agendada para hoje, apenas alguns assuntos para resolver.
– Ela não vai te atrapalhar?
– Pai! – quase gritei exasperada. – Não sou mais nenhuma criança, está legal?! Não preciso de autorização para passar a tarde com o meu noivo, nem de recomendações para não atrapalhar o trabalho dele. Que droga!
– Mocinha! – ele me ameaçou com o olhar, mas eu não senti medo.
– Ela não vai me atrapalhar, Peter – Alex afirmou divertido, puxando pela cintura para perto dele. – E eu quero conversar com ela sobre o casamento. Definir algumas coisas – sorriu confiante.
Não sei por quê, mas Alex conseguiu fazer meu pai recuar. Como se a palavra “casamento” fosse mágica e abrisse todas as portas. Pelo menos para mim. Não dava para acreditar que meu pai estava cedendo porque queria me ver casada com Alex. O que estava acontecendo com aquela família? Quer dizer que, se eu aceitasse casar sob os termos dele, estava liberada para transar?
Inacreditável!
Obviamente não rebati, nem argumentei. Era muito mais importante ir ao motel com Alex do que entrar em uma discussão com o meu pai sobre o meu “em breve”, ou não, casamento.
– Tudo bem – meu pai disse por fim. – Se não vai te atrapalhar... – ele me deu um olhar cheio de significados, o mais importante era: eu sei o que você vai fazer e não estou nada satisfeito. Então, por que aceitou, oras?
Revirei os olhos e cruzei os braços. Alex estreitou o braço em minha cintura como um alerta para que eu ficasse calada.
– Vejo você mais tarde.
– Combinado – Alex estendeu a mão para apertar a do meu pai. Aquele aperto demorou mais do que o necessário. – Ah, Alex? Charlotte está sem carro. Você deve levá-la para casa. Nada de táxi. O mundo está muito louco.
– O quê? – quis argumentar, mas Alex praticamente me jogou para trás me impedindo de falar.
– Claro, Peter! Até mais tarde.
E assim meu pai entrou no elevador nos olhando com desconfiança até a porta se fechar.
ALEX
Pronto. Estava feito. Tudo arrumado conforme o planejado e não havia mais como voltar atrás. Eu não voltaria, já Charlotte...
– Ok! Agora comece a se explicar – minha noiva, de braços cruzados, encarou-me aguardando por respostas.
– Eu acabei de dizer a seu pai que você não me daria nenhum trabalho – brinquei vendo-a ficar ainda mais irritada.
– Eu vou embora, tá? – Lana falou, ganhando a nossa atenção. Ela já estava afastada de nós. – Espero que o que quer que esteja passando pela cabeça de vocês dois, não aconteça no corredor – ela nos olhou séria e depois riu dando mais alguns passos para trás. – Ao trabalho, Alex. Ainda há muita coisa para fazer por aqui.
Lana se afastou, indo em direção às escadas, só que eu ainda precisava da minha irmã.
– Lana! – corri para encontrá-la. – Preciso que faça algo por mim.
– Agora?
– Hum! Não, mas em alguns minutos. Primeiro eu tenho que responder alguns e-mails e assinar alguns documentos, depois disso... – passei a mão no cabelo retirando os fios longos que caíam pela testa. Estava na hora de cortá-los – ... preciso de um tempo com Charlotte – e fiquei constrangido por conversar sobre esse assunto com a minha irmã, se bem que não era a primeira vez que ela me ajudava a conseguir algumas horas com a minha noiva.
– Você precisa começar a aprender a se virar sozinho, irmãozinho. Não me lembro de ter a sua ajuda quando precisei de tempo e espaço com o João.
– É completamente diferente.
– Ah, é?
– E eu fazia vista grossa quando você passava do horário. Dava um tempo ouvindo música no carro quando você fingia ter se perdido da gente nos shows, só para que Patrício não enlouquecesse te vendo entrar sozinha em casa.
– Droga! Você sabe mesmo como chantagear uma irmã caçula.
– É. Eu sei.
– O que quer que eu faça?
***
Ela ainda me encarava, sentada na cadeira em frente à minha. Eu fingia trabalhar, mas não havia como me concentrar no que eu precisava fazer. Lana cuidaria de tudo. No momento, eu precisava de duas coisas: resolver o problema e ter Charlotte em meus braços.
– Então? – Charlotte tentou mais uma vez.
– Então o que, amor?
– Não vai me dizer o que o fez mudar de ideia?
– Fora o fato de estar morto de saudade de você? – ela estreitou os olhos e sua boca se abriu um pouco, deixando-a ainda mais bonita. – Eu vou te dizer. Vou dizer tudo o que você quer ouvir, mas não aqui.
– A proposta.
– Isso. A proposta.
– Vamos logo então – esbravejou e eu ri.
– Preciso resolver algumas coisas – tentei voltar minha atenção para uma avaliação que Lana tinha me enviado há mais de uma semana e que eu ainda não havia conseguido verificar.
– Isso é uma droga – cruzou os braços novamente e se encostou na cadeira. – Só falta você me dizer que antes vamos almoçar – ri. Charlotte parecia uma criança fazendo birra.
– Assim eu vou me sentir culpado por levar uma garotinha birrenta a um motel – ela me mostrou a língua e depois começou a rir.
– Você é um idiota.
– Que falta de respeito.
Desliguei o computador sem voltar a olhar para ela. Depois levantei, organizei os papéis sobre a mesa, peguei minha carteira e a chave do carro, coloquei a cadeira no lugar e peguei meu paletó. Charlotte me observava com atenção.
– Já vamos?
– Não é o que você queria?
– E você não? – abracei minha noiva pela cintura e beijei seu pescoço, desarmando-a por completo.
– Não vejo a hora de tirar este vestido – revelei me dando conta do quanto eu realmente queria aquilo.
Charlotte me deu um sorriso sem graça e se afastou, torcendo os dedos uns nos outros. Eu, de verdade, não entendia aquela garota. Uma hora, ela me seduzia e me implorava para comê-la e, na outra, ficava envergonhada ao extremo porque eu disse que queria tirar a sua roupa.
Vá entender!
– Vamos antes que você desista – segurei em sua mão e a conduzi para fora.
– E o almoço? – corou timidamente.
– Pensei que estivesse com pressa – ela corou mais uma vez e baixou os olhos. – Eles servem almoço lá. Eu já estou com tudo pronto – puxei Charlotte de encontro a mim, deixando que ela sentisse a minha ereção. – Tudo pronto – sussurrei em seu ouvido fazendo-a estremecer.
CHARLOTTE
Tudo bem, eu poderia me livrar da calcinha em dois tempos, mas o que diria a Alex quando ele percebesse que eu estava sem ela? Uma coisa era eu tirar a calcinha para impressioná-lo antes de uma aula, outra era sair para assinar um contrato, sem nenhuma promessa feita, e me apresentar sem calcinha.
Para piorar tudo, Alex constantemente tentava me tocar. Não tocar de uma maneira normal, mas ele estava dirigindo, com uma mão em meu joelho que subia entre as minhas coxas tentando chegar ao local proibido.
Não consegui. Eu queria, porém não conseguia deixá-lo me tocar, não enquanto estivesse usando aquela calcinha horrorosa que provavelmente o faria rir de mim e perder metade do desejo que demonstrava sentir.
Não. Eu teria que dar um jeito. Qualquer coisa que impedisse Alex de me ver com aquela coisa ridícula que eu inventei de usar naquela manhã.
Ele estava achando divertido me atiçar enquanto dirigia. Talvez este fosse o fetiche de muitos homens, sentir o controle da máquina enquanto controlava o próprio corpo apenas estimulando, dando doses homeopáticas do que viria a seguir. É... este poderia ser um desejo dele. Um que eu teria o maior prazer em satisfazer, no entanto, não ali e, definitivamente, não com aquela calcinha.
Alex entrou em uma rua mais tranquila, com pouco movimento de carros, o que me deixou mais relaxada, porém nada menos apreensiva. Ele parou em frente a um portão que impedia que enxergássemos qualquer coisa além dele. Ao seu lado, uma cabine com vidros fumê e um microfone direcionado para o motorista.
Atrás daquele vidro havia uma pessoa. Provavelmente um homem, e ele, com certeza, estava naquele momento enxergando as minhas pernas, por causa da altura da cabine em relação ao carro, e sorria ironicamente pensando um monte de sacanagem. Claro que ele pensava assim, afinal de contas, todos os clientes daquele local estavam ali com a mesma finalidade: transar. E transar de todas as formas sacanas possíveis.
Merda! Por que eu tinha aqueles pensamentos? A pessoa que estava atrás do vidro poderia ser uma senhora, uma mãe de família, uma religiosa... não, aí seria demais. Mas poderia ser uma pessoa comum em um trabalho comum, que pouco se importava se a dona daquelas pernas iria abri-las de tal ou tal maneira. Ela podia simplesmente não se importar, ou estar ocupada com um problema de família, ou até mesmo finalizando um trabalho de faculdade, quem poderia saber?
A voz feminina que nos cumprimentou me deu um pouco mais de alívio. Não que eu quisesse continuar pensando que um homem certamente estaria sorrindo com pensamentos impróprios, o fato de saber que outra mulher estava do outro lado me deixava mais à vontade. Só um pouco.
– Fiz uma reserva. Suíte presidencial. Está em nome de Alex Frankli.
– Você deu o seu nome de verdade? – sussurrei sentindo meu rosto esquentar e meu coração acelerar.
Meu Deus! Qualquer pessoa poderia conseguir uma cópia daquela reserva e vender a informação. No dia seguinte, estaríamos estampados em todas as revistas de fofoca sob o título “O editor Alex Frankli passou uma tarde agradável até demais ao lado de uma garota misteriosa”. Puta merda! Meu pai me mataria. Eu tinha certeza! Alex riu e me encarou com diversão enquanto a mulher solicitava a identidade da acompanhante.
A minha identidade. Não, não, não.
– Charlotte? – ele estava com a mão estendida, aguardando o meu documento.
– Não vou entregar a minha identidade – segurei a minha bolsa com força.
– O quê?
– Você enlouqueceu? Ela pode vender esta informação para qualquer revista de fofoca. Não preciso do meu nome estampado embaixo de uma foto do seu carro entrando em um motel – tentei manter a voz baixa, mas o meu desespero era perceptível.
Alex me encarou sem acreditar em minhas palavras. Sua boca levemente aberta parecia querer dizer muitas coisas, mas ele apenas balançou a cabeça, passou a mão pelo cabelo, respirou fundo e voltou a me olhar.
– Amor, existem muitos pontos para serem explicados, mas não podemos discutir este assunto aqui, na portaria. Apenas me entregue a identidade e conversaremos lá dentro.
– Para quê? Por que ela precisa da minha identidade?
– Porque menores não podem entrar em motéis, Charlotte – havia certo divertimento em seu tom de voz, o que me irritava um pouco.
– Eu não sou menor de idade – rosnei mantendo a voz baixa.
– Ela não sabe disso – e me encarou com a confiança de um vencedor.
– E se ela vender a informação? E se algum paparazzi idiota oferecer dinheiro para saber com quem você entrou no motel? E se...
– Charlotte! – disse com a voz firme. – A identidade – e voltou a estender a mão. – Ou desistimos da nossa tarde.
Muito cautelosamente abri a bolsa e procurei pelo documento. Respirei fundo, fiz uma oração internamente e entreguei a Alex a minha vida, porque certamente eu a perderia se meu pai descobrisse onde passei a tarde.
Ele retirou o documento da minha mão e o passou por uma pequena fenda logo abaixo do vidro, quase imperceptível. Depois me olhou como se estivesse procurando alguma coisa em meu rosto, e começou a rir.
– Qual a graça?
– Você é... inacreditável.
– Sou?
– É sim.
Com a mão ele acariciou meu rosto, contornando minha bochecha com o polegar e depois os meus lábios. O tempo inteiro me manteve cativa dos seus olhos, azuis brilhantes, escuros e profundos. Uma perdição. Então a mulher anunciou que a suíte estava pronta e que poderíamos seguir para a cabine dezoito, logo em seguida devolveu o meu documento, e o portão começou a se abrir.
Alex ainda sorria do que quer que fosse que ele tivesse achado graça naquela situação e eu voltei a me preocupar com meus outros temores. A maldita calcinha que parecia pertencer à minha avó.
Pela forma como ele dirigia, percebi que aquele era um local familiar para Alex, e logicamente, senti raiva. Era frustrante ele ter uma vida sexual antes de mim enquanto, até pouco tempo, eu não sabia nem como me masturbar.
Assim que encontrou a cabine dezoito, um pouco mais afastada das outras, e também maior, ali cabiam três carros sem problemas... por que três carros? Oh, merda! Meu rosto esquentou e depois esquentou mais ainda quando imaginei se Alex já tinha feito algo desse tipo.
– Você já esteve aqui – afirmei para não lhe dar a chance de mentir.
– Ah... não neste quarto – desligou o carro e aguardou.
Continuei encarando o meu noivo ciente de que ter um ataque de ciúmes naquele momento não seria nada conveniente, afinal de contas, eu sabia que ele tinha um passado, assim como ele sabia que eu nunca havia estado em um local como aquele, nem em nada parecido acompanhada de um homem... Bom, sempre é bom frisar que nem de mulher.
– Isso é um problema para você? – senti a cautela em sua voz e me perguntei se eu tinha sido sempre um problema quando o assunto era as mulheres com quem ele já havia transado.
– O quê? O fato de você ter comido metade da cidade antes de me conhecer? – dei de ombros tentando parecer indiferente. – Não.
– Metade da cidade? – ele riu balançando a cabeça. – Nunca tive todo este tempo disponível, Charlotte.
– Ok! Você disse que tinha uma proposta – Alex parou de rir, e o clima mudou automaticamente.
– Direto ao assunto – resmungou apreensivo.
Se ele não queria fazer a tal proposta então por que ficou me tentando com a ideia durante tanto tempo?
– Nós podemos conversar sobre a possibilidade de amanhã estarmos em apuros, por causa da informação que, com certeza, aquela mulher vai vender ao primeiro que aparecer, ou quem sabe podemos passar uma boa parte desta tarde discutindo sobre o fato de eu ter sido recebida com um beijo no rosto para logo em seguida ser convidada para passar o dia em um motel, ou até mesmo sobre as mulheres que você trouxe aqui, em um passado não tão remoto.
Ele riu, mantendo um pouco do seu nervosismo e batucou no volante do carro.
– Prefiro passar o mínimo do nosso tempo conversando e o máximo te comendo.
Porra!
Engoli com dificuldade, sem conseguir me concentrar em mais nada. Por mim acabávamos a parte da conversa e partíamos para a segunda etapa. Aliás... sim, eu daria um jeito naquela calcinha.
– Imagino que seja algo ligado ao nosso casamento – arrisquei já sentindo o familiar desconforto que o assunto me causava e eu ainda não conseguia entender o motivo.
– Exatamente.
– Não podemos conversar lá dentro? Tem que ser aqui, no carro?
Alex se ajeitou no banco, virando-se em minha direção. Suas mãos caíram, juntas, dedos cruzados entre as pernas. Ele respirou fundo, tomando coragem para começar. Eu bem sabia o que viria, então me preparei para não pôr tudo a perder. Nós não precisávamos de mais mágoas, e eu já tinha aceitado diminuir aquele prazo, então...
– Eu quero lhe fazer uma proposta – ele começou. Concordei sem nada dizer, para que ele continuasse sem perder tempo. – Você sabe como eu me sinto estando em um motel com você – eu queria responder, no entanto Alex levantou uma mão me impedindo. – Eu amo você, Charlotte. Morro de tesão por você. Mas estar em um motel me faz pensar que isso tudo que construímos não tem valor. Eu sei que é uma babaquice e que vários casais costumam quebrar a rotina em lugares como este, porém, durante toda a minha vida sexual, eu utilizei estes lugares para estar com mulheres que acreditava não merecerem estar em minha casa, em minha cama. Era pura e unicamente satisfação física, nada mais que isso. Nunca estive em um quarto de motel com alguém por quem eu tivesse sequer um carinho especial. Isso pode ser uma questão de ponto de vista e, como não sou muito de sustentar uma idiotice como esta, resolvi que valia a pena tentar. Para mim, estar com você é sempre especial, mesmo achando não ser este um lugar para ficarmos juntos – sorriu sem graça.
– Você tem razão, isso tudo é uma bobagem, embora eu esteja muito feliz que tenha decidido me dar mais esta experiência.
– Mesmo você achando que alguém pode colocar nos jornais? – aquele sorriso foi realmente muito escroto. Alex estava desdenhando de mim?
– Isso pode acontecer.
– Não pode. E eu acredito que realmente não exista ninguém interessado em minhas idas ao motel.
– Idas?
– Você entendeu. Voltando ao assunto... – ele ficou sério de novo. – Eu quero realmente ter mais esta experiência com você, só quero que você saiba que, mais uma vez, estou passando por cima de algo em que acredito para satisfazer a uma vontade sua. Não que seja um sacrifício, não é. Preciso frisar que estou cedendo mais uma vez, Charlotte. Eu estou sempre cedendo – e me encarou com uma intensidade que me constrangeu.
Era verdade o que Alex dizia, e eu seria muito injusta se resolvesse ser a mimada da vez para desafiá-lo. Alex não apenas cedia, ele era sempre compreensivo e disposto a satisfazer as minhas vontades. Ele era o homem perfeito.
– Isso tudo tem um preço, não é mesmo? – vi quando ele recuou um pouco. Seus dedos se fecharam e abriram e seus olhos se desviaram dos meus. – É uma troca?
– Eu quero... eu preciso, Charlotte, que você acabe de uma vez por todas com esta angústia que me apavora todos os dias.
Meu coração acelerou. Eu não queria que Alex vivesse atormentado. Não queria que sofresse.
– E o que posso fazer?
Tive medo de perguntar, apesar de saber que não havia mais como fugir. A decisão precisava ser tomada. Mesmo assim minhas mãos tremeram e eu senti frio, apesar de o local estar relativamente quente. Por que era tão difícil dar aquele passo?
– Você sabe o que eu quero, Charlotte.
– Pensei que eu já tivesse concordado em revermos o prazo.
– Eu não quero somente rever o prazo. Eu quero casar o mais rápido possível – engoli em seco.
– E quando seria isso? – mais uma vez Alex puxou o ar com força e voltou a colocar as mãos no volante.
– A minha proposta é: eu fico aqui com você, passo por cima dos meus princípios, enfrento as regras do seu pai, faço mais uma vez a sua vontade e, em troca, você deixa que eu escolha a data do nosso casamento – sorri. Que importância tinha ele ou eu escolher uma data? Dei de ombros.
– Escolha a data então – Alex umedeceu os lábios. Ele estava nervoso. Muito nervoso! Seus dedos se fecharam no volante, deixando as juntas brancas. Havia muito mais do que uma simples escolha de data.
– Tem ideia do que está dizendo?
Pensei em tudo o que ele tinha dito até aquele momento. Era muito além do que eu poderia imaginar. Não dava para evitar o tremor do meu corpo, nem o incômodo em meu estômago. Levei a mão aos óculos e os retirei para limpar a lente no tecido do vestido.
– Não dá mais para esperar, Charlotte. Eu tentei de todas as formas aceitar as suas condições, tentei ser forte para as regras do seu pai, e realmente entendo o fato de ele ser assim, mas existe muito mais em jogo do que o seu medo de assumir algo mais sério comigo.
– Você tentou terminar e agora está me dando um ultimato? – Alex rosnou baixinho encostando-se no banco do carro.
– Não posso mais esperar. Eu te amo! Não quero precisar pedir permissão a seu pai sempre que quiser te tocar. Estou me consumindo em angústia e desespero.
– Alex! – parei a conversa antes que ficasse pior. – Por que não me diz o que está acontecendo? Por que não me conta o motivo real disso tudo? Você me disse que tinha um motivo, então qual é?
Ele me avaliou com olhos sofridos. Realmente ali na minha frente estava um homem consumido em angústia, e eu sabia como acabar com tudo aquilo.
– Vamos conversar lá dentro.
Alex desceu do carro sem aguardar por mim. Eu fiz o mesmo, saindo e observando cada passo dele. Droga! Era para ser um dia maravilhoso envoltos em lençóis e sem a calcinha da minha avó para atrapalhar. Como aquele se transformou no menor dos meus problemas de uma hora para outra?
Ele abriu a porta que dava passagem para o quarto, mas parou me permitindo entrar primeiro, como um perfeito cavalheiro. Eu estava confusa. Não sabia o que pensar diante da situação. Tínhamos conversado e ele parecia ter compreendido a minha posição em relação ao casamento precipitado. Agora estávamos ali, com a permissão do meu pai, o que era muito estranho, e Alex tentando a qualquer custo me convencer a casar o mais rápido possível.
Lógico que eu preferia esperar e, com o tempo, exorcizar todos os meus demônios tornando-me mais segura e confiante, sabendo ao certo como agir para não acabar estragando tudo, além de conhecer melhor o meu futuro marido. Por outro lado, ao ouvir os argumentos de Alex, era impossível não me sentir ansiosa. Eu o amava e gostaria de atender a todos os seus desejos, realizar os seus sonhos, como ele tinha dito que faria por mim. Será que essa seria a decisão correta?
Sem dizer nada, meu namorado começou a acender as luzes, revelando um espaço amplo, muito maior do que eu poderia imaginar. Logo ao lado da porta havia um sofá longo, daqueles que acolhe uma família inteira e mais alguns amigos. Meu pensamento voltou aos três carros que cabiam na garagem e em quantas vezes aquele mesmo quarto teria recebido grupos de pessoas para uma brincadeira mais ousada.
Nossa! Eu entendia por que Alex relutou tanto em me levar a um motel.
Por outro lado, eu nunca havia visto nada tão extraordinário e estimulante quanto aquele quarto. Tudo ali era apropriado. Apesar de dar uma ideia de ambiente normal, como a imensa porta que abria para os dois lados ao mesmo tempo girando sobre o próprio eixo e revelando um quarto grande com uma cama imensa, digna de grandes filmes de amor. Até então era uma mistura de moderno e clean.
Alex retornou e nas suas mãos, duas taças contendo o que deduzi ser vinho. Levantei imediatamente, recebendo a que ele estendeu em minha direção. Meu noivo ainda estava nervoso, eu podia jurar.
– Quer conhecer o restante do quarto? – concordei, aceitando a sua mão.
Passamos direto sem entrar no reservado para a cama. De frente para a parede que nos separava do quarto, estavam duas poltronas bem confortáveis e largas e na outra parede um telão. Notei óculos 3D sobre a mesa de centro e imaginei se alguém realmente ocuparia aquele quarto para ver filmes. Bom, alguns filmes talvez sim. E em 3D...
– Aqui.
Alex me fez continuar andando até darmos de cara com uma piscina maravilhosa. O teto solar permitia que o ambiente ficasse claro com a luz do dia e reservado como o ambiente pedia. O ar-condicionado mantinha a temperatura agradável. Uma pequena escada revelava um andar superior.
– O que tem lá em cima?
Alex se postou às minhas costas e alisou meus braços. Estremeci. O gelado da sua taça roçando um dos meus braços ajudava a me deixar naquele estado. Aquilo tudo só para nós dois era estimulante demais. Conseguia até se sobrepor à angústia que eu sentia por causa da conversa.
– Um balanço.
– Balanço? – ele riu.
– Um balanço erótico – e beijou meu ombro fazendo minha pele ficar arrepiada. – Um jardim de ambiente fechado – outro beijo e mais firmeza dos seus dedos em meus braços. – Um divã. Você gosta de divãs?
– Hum! – gemi ao sentir seus lábios subindo pelo meu pescoço. – Não sei dizer, mas posso descobrir.
– Tenho certeza de que sim. Também tem uma sala para refeições, um chuveiro grande e uma hidro.
– Legal – sussurrei.
– Tudo isso para apenas um dia?
– Normalmente, uma noite inteira, mas nós só temos algumas horas – ele se afastou um pouco, fazendo-me virar em sua direção. – Pensou na minha proposta?
– Isso é chantagem – tentei brincar sentindo o clima começar a se modificar. Alex levou uma mão a boca e apertou o lábio inferior. – Precisamos realmente voltar hoje?
– Não se esta for a sua vontade, Charlotte.
– A minha vontade não tem valido muita coisa nos últimos dias – rebati.
Certo! Fui infantil. Não era muito justo confrontar o homem que eu amava, especialmente quando estava implorando para que me casasse com ele. Tudo bem que este fato apenas me deixava ainda mais insegura, também não podia deixar de pensar que a maioria das mulheres gostaria de ter um homem como Alex em sua vida.
– A sua vontade é tudo o que está prevalecendo até agora – ele voltou a se aproximar, desta vez me encarando firmemente. – Aliás, a sua vontade é só o que tenho feito desde que tive a ideia maluca de ameaçar o seu projeto.
Engoli em seco. Alex estava com raiva? Será que o que eu mais temia tinha vindo ao meu encontro? Porque, desde que me permiti amar aquele homem, sabia que chegaria o momento em que ele me acharia infantil demais, jovem demais, inexperiente demais. Deixaria de curtir a ideia das aulas particulares ou qualquer coisa do tipo. Só não imaginava que seria tão cedo.
– Desculpe! – passou a mão pela testa tentando recuperar o controle. – O que você quer fazer? Quer voltar?
– É o que você quer? – encolhi-me com medo da sua resposta.
– Por que acha que eu viria até aqui com você para voltar logo em seguida?
– Não sei – dei de ombros temerosa. Ele tinha dito que me amava, então por que meu coração não parava de acelerar? – Pensei que você não quisesse desafiar o meu pai – arrisquei.
– Não estou desafiando. Você sabe que Peter imagina onde estamos.
– É. Eu sei. O que eu não consigo entender até agora é o que você fez para que ele concordasse tão prontamente com isso tudo, porque é inacreditável que uma pessoa com tantas regras e controle não faça vista grossa para o fato de que eu possa passar o dia no motel com o meu namorado. Isso não é estranho?
– Disse que casaríamos em quinze dias... – não desfez o nosso olhar, nem mesmo quando viu a minha cara de espanto. – Que eu conseguiria convencê-la – acrescentou sem demonstrar nenhum abalo.
– O quê? – as palavras quase não saíram. O ar estava preso em meu peito.
– Posso ligar para ele agora mesmo e falar que você não está de acordo. Neste caso, acredito que vai nos mandar retornar imediatamente. Volto a afirmar que a sua vontade prevalecerá.
Ele estava sério e me encarava com bastante segurança. Porém não demonstrava muita paciência, ou dava qualquer indício de que estava brincando. Minha cabeça girou e meus pulmões queimaram. Não percebi que lágrimas caíram. O que Alex tinha feito?
– Não precisa encarar isso como um pesadelo, Charlotte. Eu posso desfazer tudo com apenas uma ligação, basta me dizer o que deseja.
– Por que está fazendo isso comigo? – foi só o que consegui dizer.
Alex continuou parado onde estava. Ele não conseguia entender a minha reação e se dividia entre perder a paciência com a minha infantilidade e ceder mais uma vez e tentar me consolar.
– Ok! Vou ligar para Peter e dizer que estamos voltando.
– Não! – o desespero prestes a me dominar poderia estragar tudo.
– Charlotte, esqueça isso, certo? Vou encontrar uma maneira de convivermos com as nossas diferenças. Vamos embora.
Sem conseguir me conter me joguei em seus braços. Alex ficou imóvel, surpreso demais para me acolher, ou cansado demais para continuar? Eu não sabia. A cada segundo que ele demorava para reagir, meu peito afundava entregando-se a uma dor insuportável.
– Calma! – finalmente ele fechou os braços em volta de mim me abraçando com força, como se quisesse apaziguar os meus conflitos. – Está tudo bem, amor! Desculpe! – chorei copiosamente, permitindo que todos os meus temores saíssem em forma de lágrimas.
Alex me carregou em seus braços, levando-me para o quarto reservado. Com o rosto afundado em sua camisa, eu não prestei atenção em nada que havia lá dentro, até que ele me deitou na cama, com cuidado e carinho, sentando-se ao meu lado, acariciou meu rosto.
– Não chore mais – sussurrou. Eu estava estranha, encarava o homem que eu amava sentindo meu corpo inteiro tremer.
– Você está de saco cheio de mim, não é? – ele sorriu, mas havia tristeza em seu sorriso. Eu não aguentava mais vê-lo tão triste.
– Não. Eu te entendo. Você é mulher, consegue formular um milhão de teorias, sem nunca conseguir chegar à resposta mais correta, quando na realidade ela é sempre a mais fácil, simples e, naturalmente, a mais óbvia.
– Que absurdo! – tentei compactuar com sua brincadeira, porém as lágrimas ainda caíam e meu coração continuava oprimido, necessitando dele para voltar ao normal. – Então por que isso tudo? Por que este desespero, esta pressão?
– Vou precisar explicar novamente?
– Alex! Quinze dias? Isso é loucura! Casar em seis meses já seria estranho, imagine em quinze dias!
– Estranho para quem?
– Meu pai não pode ter concordado com essa loucura. Ele quer uma cerimônia inesquecível, cheia de pompa e circunstância... Ninguém vai conseguir fazer algo assim em tão pouco tempo. Sem contar que existem as fuxiqueiras que certamente vão dizer que eu estou grávida. Claro que todos vão achar isso. Você lembra como aquela mulher detestável lá na igreja reagiu quando entendeu que nosso casamento seria o mais breve possível?
– Charlotte, calma! Primeiro: o que seu pai quer não importa. É o nosso casamento e vai ser como você quiser. Pompa, pessoas importantes, câmeras para todos os lados, não é o que você quer. E quanto a acharem que você está grávida, quem está se importando?
– Eu estou – rebati sentindo um pavor absurdo se instalar em meu peito.
Merda! Eu estragaria tudo. Eu sabia que aquela era a minha última chance. Seria a última vez que Alex tentaria e depois disso, depois da minha recusa, eu o perderia. Não teria mais volta.
– Você tem certeza?
– Nunca estive tão certa em toda a minha vida – mordi os lábios sem saber o que responder.
Corria um sério risco de perder Alex caso recusasse, ou de ter um problema imenso com meu pai, esta parte era a que menos me preocupava. Como simplesmente concordar e receber imediatamente tudo o que combinamos que teríamos em um ano? Se não me sentia preparada nem para o plano anterior, imagine para o que ele estava me apresentando agora?
– Aparentemente você não está, então acho que devo colocar um freio em meus planos e aguardar até que você decida me fazer o homem mais feliz deste mundo.
Seus olhos estavam tristes, eu pressentia que Alex continuava tentando esconder seus reais sentimentos. Como colocar meus medos à frente dos sonhos do homem que eu amava? Como dizer não diante de tal apelo?
– Eu só queria entender. Não consigo assimilar o que está por trás de tudo. Nós conversamos e você aceitou que esperaríamos um ano. Concordamos que faríamos tudo conforme o figurino. Aí meu pai faz um escândalo, tem uma conversa suspeita com a minha mãe, você fica todo estranho, cheio de regras e desculpas, some e, quando aparece, resolve passar o dia em um motel comigo, com a permissão do meu pai e me informa que pretende antecipar o casamento para quinze dias. Quinze dias! Alex, eu estou com medo!
– Certo. Deixa eu tentar melhorar as coisas para você – ele levantou e passou as mãos pelos cabelos. Respirou fundo e me encarou. – Eu sei de todos os seus medos e já lhe disse que não têm o menor fundamento. Eu te amo e você pode ficar chata, insuportável, mais louca do que já é, gorda, neurótica...
– Gorda? – ele sorriu daquela maneira única.
– Sim. Gorda. Muito gorda.
– E se eu resolver ficar careca?
– Tudo bem, Charlotte!
– E se eu achar que devo fazer mestrado na China? Se eu cismar com isso e ninguém conseguir me convencer do contrário?
– Eu adoro comida chinesa.
– E se eu for para o Alasca?
– Bom... Eu duvido que você vá para o Alasca – seu sorriso se abriu ainda mais.
– Por quê?
– Porque você não gosta de frio – emudeci sem ter como argumentar. Como ele descobriu que eu não gosto de frio? – De qualquer forma eu iria com você até para Marte se fosse necessário. Pare de arranjar desculpas, Charlotte! Eu te amo e isso nunca vai mudar.
– Como pode estar tão certo? Casamentos terminam, e o amor se transforma em mágoas.
– Por vários motivos. Meus pais se amam até hoje. Os seus também. Eles são alguns exemplos. Eu não tenho como transformar em palavras a intensidade do meu amor, apenas posso te mostrar a cada dia o quanto desejo estar ao seu lado até o último segundo da minha vida. Não é assim para você?
Eu o amava. Tanto que doía. Deixava-me insegura. Desfazia qualquer plano. Não havia mais certeza. Aliás, havia. Porque eu seguiria Alex até a China, apesar de não ser muito fã de comida chinesa. E suportaria o frio do Alasca. Enfrentaria Tiffany, Anita e qualquer outra mulher. Enfrentaria meu pai, como enfrentei. Abriria mão da minha formatura, de publicar o meu livro... Eu deixaria tudo apenas para segui-lo. Meu Deus! Eu não tinha mais dúvidas.
– Funciona. Funciona exatamente assim, ou talvez de maneira ainda mais intensa.
– Então por que esperar? – seus olhos assumiram um brilho que o devolviam à vida. Oh, Deus! Ele me amava e só estava me pedindo em casamento e não para eu matar alguém. – Nos últimos dias, eu vivi as mais inusitadas experiências. Senti medo de perder você, precisei passar por cima dos meus desejos, voltei a ser um adolescente imaturo e inseguro, além disso, ouvi uma história que me tirou o chão. Minha alma está mortalmente ferida, Charlotte – toquei seu rosto desejando desfazer a sua dor. – Durante anos eu quis apenas ser um homem correto, seguro e independente. Investi tudo o que eu tinha para conseguir estabilidade para mim e minha família. Dediquei todo o meu tempo para garantir que nada saísse dos trilhos. Hoje eu vi que não posso mais agir assim. Um amigo...
Parou e fechou os olhos. Engoliu com dificuldade provavelmente procurando a melhor maneira de me contar o que realmente se passava em sua cabeça. Quando os abriu, eu percebi que estavam úmidos.
– Eu encontrei um amigo. Eu o julgava a pessoa mais complicada e difícil que já tinha conhecido... – fez uma pausa breve. – Por muitos motivos que não pretendo justificar agora – concordei com a cabeça para que ele pudesse continuar –, ele me contou que a esposa, a mulher que ele ama e amou a vida inteira, com quem sonhou ter filhos e embalar os netos, está morrendo sem que ele nada possa fazer para evitar. – Alex me olhou de uma maneira estranha, como se buscasse em mim uma resposta. – Eles escolheram viver seus últimos momentos da melhor maneira possível. Optaram por continuar suas vidas e tornar cada dia melhor do que o outro. Ele está tentando de todas as formas fazer com que ela possa ter um pouco de tudo, porque não quer que ela se vá antes de ter realizado todos os seus sonhos. Está tentando fazer com que ela não perca nada. Infelizmente o tempo deles é curto demais.
– Por que você está me contando tudo isso? – não sei dizer ao certo o porquê, mas eu me sentia especialmente envolvida com aquela história.
– Porque ela me fez perceber o quanto a vida é curta. É apenas um sopro. Uma brisa. Você fecha os olhos e, quando os abre novamente, tudo pode ter mudado. As pessoas morrem todos os dias, pelos mais diversos motivos, e esta é a nossa única certeza. Apesar disso, continuamos adiando as coisas. Adiamos o perdão, o amor, as alegrias, os prazeres... tudo. Eu não quero acordar um dia e descobrir que te perdi. Você pode virar uma esquina e não voltar mais.
– Alex!
Involuntariamente uma lágrima rolou pelo meu rosto em resposta a que descia pelo canto dos olhos do meu namorado. Dava para sentir todo o seu medo, porque naquele momento era o meu também.
– Eu sei que não posso impedir a morte, mas posso aproveitar o que ainda temos de vida. É por causa disso que quero me casar o quanto antes. Casaria hoje, se fosse possível, porque é com você que eu quero passar o resto dos meus dias. E quero poder realizar nossos sonhos enquanto ainda estamos aqui. Não quero mais seguir uma linha, um plano. Quero poder tirar os pés do chão, aventurar-me, arriscar tudo o que tenho... Quero fugir do padrão, ir contra todas as expectativas. Quero me casar com você apesar dos meus medos e inseguranças. Quero caminhar de mãos dadas sem medo de quem vamos encontrar. Quero poder ter apresentar como minha esposa. Quero ter nossa primeira briga por causa de um móvel fora do lugar, ou da minha mania de deixar as roupas espalhadas, ou por não respeitar seu espaço na prateleira do banheiro, quero poder te conhecer, te descobrir. Não quero ter medo, Charlotte. Nem pensar demais.
– Eu aceito – ele parou me olhando como se não entendesse o que eu havia acabado de dizer. Então sorriu. E aquele sorriso tirou o meu chão.
Sim, eu também queria aquilo tudo. Por que esperar? Por que desperdiçar nosso tempo juntos? A vida é fugaz. Alex tinha razão. Não precisávamos de mais nada se tínhamos um ao outro. Eu seria a sua esposa. Em quinze dias ou naquele mesmo instante.
Eu não tinha mais medo.
CAPÍTULO 25
“Quando fala o amor, a voz de todos os deuses deixa o céu embriagado de harmonia.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Curvando-se em minha direção, ele beijou meus lábios. Meus dedos percorreram seus cabelos sedosos. A sensação era maravilhosa. Sua língua pediu passagem, e minha boca imediatamente a recebeu. O seu sabor não poderia ser comparado a nada.
Alex acariciou meus ombros, deixando que seus dedos brincassem em meu pescoço. Com a outra mão, desceu até a curva dos meus seios, onde apenas os tocou levemente, deixando que um gemido baixinho escapasse dos seus lábios. Era incrível a forma como meu ventre se contorcia ao ouvir seus gemidos.
Puxei-o mais para mim sem quebrar o nosso beijo. Alex gemeu novamente, como se estivesse protestando, não como se aprovasse a minha atitude.
Tive medo do que ele faria. Na verdade, tive medo de tudo. Depois que eu finalmente disse sim, que finalmente aceitei e encarei aquela loucura, porque lógico, casar em quinze dias é uma loucura, eu não conseguia mais me ver longe de tudo aquilo. Passei a ansiar pelo casamento, pelos momentos em que poderíamos ficar juntos, apenas nós dois, sem regras, sem ninguém para nos interromper, fazendo apenas o que tínhamos vontade, vivendo uma vida a dois, nós dois... Meu bom Deus, eu queria tanto aquilo que doía. Então eu temi.
– Charlotte? – ele gemeu ainda em meus lábios.
Segurei em seu pescoço e o impedi de continuar. Naquele instante, eu queria apenas que Alex cumprisse com a sua promessa, que me levasse de volta para a nossa bolha, que esquecesse as diferenças dos últimos dias, as minhas infantilidades, a minha recusa... Eu queria que ele me fizesse a sua mulher, que me tomasse de maneira possessiva, que me dominasse e arrancasse de mim qualquer necessidade de escolha ou de decisão.
– Espere.
Tentou mais uma vez se afastar. Sem contar conversa e decidida a terminar de uma vez por todas com aquele assunto, afinal de contas eu disse “sim”, então era assunto encerrado, sentei em seu colo, enlaçando seu tronco com minhas pernas e me prendendo completamente a ele.
– Charlotte, calma! – Alex me segurou com força e me afastou de maneira a conseguir olhar em meus olhos.
– Alex! – protestei.
Meu corpo inteiro ardia e se contorcia pela urgência em ser dele e apenas dele. Eu precisava senti-lo, não somente me tocando, mas dentro de mim, alcançando o mais longe possível, atingindo não unicamente a minha carne, mas a minha alma. Só assim, só naquele momento, eu teria certeza de que todos os medos acabariam e que não havia um caminho onde eu quisesse mais estar.
– Charlotte, eu preciso... – escrutinou meu rosto procurando por sinais. – É o que você quer? Quer dizer... Eu quero me casar com você o quanto antes, hoje se for possível, mas não posso e não quero te forçar a nada – havia um sofrimento em seu olhar que me entristeceu. – Eu sei. Eu sei! Estou fazendo isso e fiz desde que entendi que não podia mais ficar sem você, mas por mais que eu queira e que seja egoísta para tentar me convencer de que é o que você quer também, eu preciso... eu só preciso...
– É o que eu quero. Eu não sabia disso até quinze minutos atrás, mas agora que sei, não há nada que eu queira mais nesta vida.
Ele acariciou meu rosto, deixando que um sorriso lindo se abrisse, alcançando os olhos. Seus dedos longos, capazes dos toques mais delicados com que uma garota podia sonhar, enroscaram-se na mecha de cabelo que insistia em escorrer para o meu rosto, e a puxou para trás, acomodando os fios em minhas costas. Em nenhum momento seus olhos deixaram os meus.
– Às vezes, eu fico me perguntando por que demorei tanto para entender que te amava – ele falava em um tom baixo, em confidência. – Se eu amo tudo em você. Desde o primeiro momento, quando coloquei meus olhos em você pela primeira vez, eu me vi pensando em como aquela garota era linda e singular e no quanto a sua timidez a valorizava. E, quando finalmente tomou coragem e me olhou nos olhos, eu fiquei confuso e admirado com a beleza deles. Existia uma personalidade forte, muito bem escondida por trás da máscara de uma boa menina de igreja – riu baixinho. – Eu te amei no primeiro encontro, Charlotte, mas não sabia disso.
Eu tentei segurar a emoção e ouvi-lo se confessar daquela maneira, em um momento tão apropriado, porém era impossível conter as lágrimas. O amor de Alex não deveria mais ser uma novidade para mim, mas ainda era. Cada vez que ele revelava um pouco como se sentia em relação a mim, eu me perguntava como poderia merecer um amor como aquele e o quanto Deus era bom e misericordioso comigo, porque um homem como Alex jamais teria a paciência de que eu precisava para entender a vida, no entanto ele tinha, até mais do que eu poderia esperar, e eu era tão grata por poder me sentir confusa, por ter o seu respeito pelos meus momentos, por saber que ele entendia as minhas inseguranças e que permanecia forte ao meu lado enquanto eu digeria os meus conflitos.
Sim, ele me amava. Provavelmente muito mais do que tinha se dado conta e eu tinha que fazer por merecer aquele amor.
– Alex? – sussurrei limpando as lágrimas e evitando fungar para não estragar o clima. – Faça amor comigo.
Supliquei e, como resposta, vi seus olhos ficarem mais escuros, sua boca abrir um pouco dando passagem para o ar, sua respiração ficar mais intensa e tudo em Alex ficar mais felino.
Sentada em seu colo, com as pernas cruzadas em seus quadris, eu poderia ser facilmente a pessoa que conduziria aquele momento. Mas não havia forma de superar toda a força de Alex em mim quando ele me olhava daquele jeito. Eu simplesmente aguardava e correspondia aos seus comandos, e me sentia incrivelmente livre assim.
Ele alinhou a coluna e, no instante em que suas mãos tocaram as minhas costas, eu já estava entregue. Senti seus dedos me buscando com posse, com a segurança dos grandes mestres. Ele me cercou, puxando-me para perto. Perto o suficiente para que nossos lábios estivessem separados pelo mínimo de espaço possível. Eu sentia a expectativa do beijo, a ansiedade que crescia e se avolumava em meu ventre e a necessidade que latejava entre as minhas pernas.
Uma mão subiu até minha nuca, prendendo-me para o seu bel prazer, mas Alex não me beijava. Ele respirava bem pertinho, eu sentia o seu hálito quente e cheio de promessas, enquanto ele roçava minimamente os lábios contornando os meus. Céus, eu tinha uma urgência que não se conformava com aquela brincadeira, e ao mesmo tempo, dentro de mim, a expectativa era o que alimentava o fogo que queimava as minhas veias e lambia minha pele em uma dança luxuriosa.
Eu estava ávida de desejo.
Sentada em seu colo, era certa a percepção do seu membro rígido entre as minhas pernas, provocando-me sem grandes atitudes de fato que pudessem me enlouquecer, era apenas a promessa do que seria e as lembranças.
Com uma mão pressionando a base da minha coluna, na junção com os quadris, e a outra na minha nuca, eu ficava presa, sem capacidade para me movimentar, roçar nem que fosse minimamente o meu corpo ao dele, e assim Alex me torturava, tornando um segundo a mesma extensão que uma hora, enquanto minhas células guerrilhavam, chocando-se umas contra as outras, meu sangue borbulhava, minha mente entrava em colapso, minha boca secava... Eu só tinha um único pensamento: me beije, me beije!
Seus grandes olhos azul turquesa, donos de um brilho inigualável e possuidor de uma força magnética capaz de atrair e dominar até os mais fortes dos seres, analisou com aprovação todo o meu rosto, para que, por fim, seus lábios finalmente colassem aos meus.
Porra! Eu estava tão ansiosa para beijá-lo que, no instante em que sua boca encostou na minha e sua língua tocou meus lábios, pensei que seria atingida por um orgasmo, tamanho o prazer que senti com o contato. Foi delicioso!
E não foi apenas o beijo. Como se tudo em mim estivesse apenas aguardando pelo comando inicial, uma sucessão de fatores atingiu meu corpo me fazendo estremecer. No mesmo instante em que Alex me tomou com seus lábios, suas mãos iniciaram os movimentos certos para me enlouquecer, puxando-me para perto, apertando e explorando o que encontravam.
E foi apenas isso? Claro que não! Alex nunca seria tão simplório. Seu quadril iniciou uma dança sensual em conjunto com as mãos, roçando-se em mim e me deixando roçar nele todas as vezes que suas mãos me puxavam. Senti seus dedos se fechando em meus cabelos, tornando tudo mais urgente.
Eu não sabia o que queria primeiro, se era acompanhar a sua língua, dando-lhe conforme me era solicitado, ou me apertar em seu corpo até que meu desejo encontrasse o alívio que tanto implorava, ou até mesmo se arrancava as nossas roupas e o forçava a me tomar sem nenhuma prévia. Eu queria tanto e tudo ao mesmo tempo que não conseguia fazer nada direito.
Ao perceber que ele começava a abandonar minhas costas para iniciar sua exploração pelas minhas pernas eu lembrei do que havia me feito temer aquele encontro: a maldita calcinha bege e imensa que eu tinha feito a loucura de usar.
Merda! Estava tão gostoso, tão perfeito! Doía só de pensar que teria que parar e encontrar logo uma solução para aquela peça. Logo mesmo, ou eu teria que simplesmente aceitar que Alex me veria, no dia em que finalmente aceitei casar o mais breve possível, e que era para ser o mais especial, sensual e romântico, usando a calcinha da minha avó.
– Espera – segurei suas mãos, ambas, que teimavam em tentar subir o meu vestido. Alex forçou avançando em minha boca para tentar me persuadir. – Alex, espere!
– O que foi?
Porra, eu amava aquela voz rouca, cheia de necessidade, tão instinto que contorcia o meu ventre!
– Eu tenho que...
“Pensa, Charlotte! Pensa!”. Minha mente gritava enquanto meus olhos corriam o quarto procurando uma solução. Puta merda! Não dava para esperar tanto.
– O que foi, amor? – ele desceu os lábios para o meu pescoço me fazendo perder o foco.
Ai, Deus! Eu amava aquela boca em mim.
– Eu... – fiquei confusa. Meu sexo latejava, castigado por dias de espera e de saudade. – Eu...
– Eu o quê? – brincou se divertindo com a minha confusão. – Venha, vou ajustar a sua cabeça – sua língua entrou em minha boca fazendo-me sucumbir ao desejo.
O que eu queria mesmo? Por que sentir a mão de Alex acariciando minha bunda por cima do tecido do vestido estava me deixando apreensiva? Merda! Não!
– Alex! – quase gritei me afastando o quanto pude. – Calma!
Respirar era quase impossível quando eu sentia meu corpo inteiro protestar por mais um pouco. Mas eu precisava. Nem havíamos casado e eu já começava a estragar tudo usando peças íntimas nada sensuais. Porra, isso é importante, não é? Não dava para encarar um relacionamento tão recente como o nosso, com uma calcinha como aquela. Para falar bem a verdade, eu não sabia se, mesmo depois de anos de casado, eu acharia normal estar tão pouco apresentável.
– Charlotte, você vai me enlouquecer com tantos “para”, “calma”, “espere” – ele se afastou contrariado retirando a gravata e abrindo alguns botões da camisa enquanto me observava.
Olhei para o peitoral bronzeado daquele homem que conseguia mexer comigo de todas as formas. Como eu amava tocá-lo, sentir seus músculos bem definidos, seus braços trabalhados, sua pele quente e deliciosa quando ficava sobre mim e...
– Charlotte? – pisquei confusa voltando ao meu dilema.
– É que eu...
– O quê? Você está tão vermelha que estou até com medo de saber o que está te incomodando tanto assim – e riu brincando com a alça do meu vestido. – É alguma coisa que quer que eu faça? – aproximou-se beijando meu ombro, a pele quente da sua mão tocando fogo na minha já fervente. – Ou algo que queira fazer?
– Ah, Alex! – gemi querendo que minha calcinha fosse abduzida e acabasse com aquele incômodo.
Sem conseguir me conter, deixei que minhas mãos desfizessem os outros botões da camisa dele e a puxei até que estivesse presa em seu punho. Alex se afastou levantando as mãos para que eu finalizasse o serviço. Assim que o vi sem a camisa, corri meus dedos pelo seu peitoral. A pele estava quente e o coração acelerado, tanto quanto o meu. E ele ficou arrepiado com o contato.
Porra, como resistir quando um homem como Alex estremece com o seu toque e se entrega ao ponto de deixar a pele ficar toda arrepiada? E eu só fiz deixar que meus dedos deslumbrados idolatrassem aquele corpo.
Ele chupou meu pescoço com mais força. Eu sabia que ficaria vermelho, que provavelmente deixaria uma marca que me faria ficar de cabelos soltos por mais de uma semana, porém não protestei, a pressão da sua boca vibrou em meu ponto mais sensível, deixando-me rapidamente lubrificada.
Depois ele roçou os dentes, descendo até o ombro e levando a alça para baixo, pronto para revelar meus seios. Seria um caminho sem volta. Não!
– Pare! – ele gemeu em protesto.
– É algum tipo de joguinho? – resmungou dando beijos leves em meu busto e cercando meu seio com a mão ainda por cima do vestido. Oh, Deus!
– Ah! – gemi e mordi os lábios para me impedir de me entregar. – Deus, Alex! Eu não posso...
– Não pode? – ele se afastou de mim para me olhar. – O que não pode?
– É que... – merda! – Eu estou com calor – ele estreitou os olhos se me encarou com divertimento.
– Vamos tirar sua roupa, amor.
– Não – impedi que Alex alcançasse a barra do meu vestido.
– Vou diminuir a temperatura, deixa só eu ver onde fica o comando e...
– Um banho – falei rápido demais.
Nossa, eu era um gênio!
– Eu preciso de um banho.
Alex deixou que aquele sorriso preguiçoso e indecente se puxasse em seus lábios. Eu tinha vontade de ter um orgasmo todas as vezes que ele sorria daquela maneira para mim. Seria fantástico! Ele sorria e eu gozava vendo o quanto ele ficava maravilhoso assim.
Foco, Charlotte!
– Um banho de banheira... – voltou a percorrer meu corpo com as mãos e a me beijar de leve. – De chuveiro, ou... – droga! Como ele conseguia tirar as minhas forças quando eu mais precisava delas? – Naquela piscina deliciosa lá fora?
Lá fora. Era tudo o de que eu precisava.
– Piscina – sussurrei presa aos encantos daquelas palavras que me prendiam a promessa de prazer que eu tanto sonhava.
– Então, vamos!
Rapidamente Alex me tirou do seu colo, colocando-me de pé, e, logo em seguida, já estava todo preso a mim, explorando-me e buscando-me de todas as formas que podia. Seus passos começaram a me conduzir para fora do quarto, mas eu ainda não havia conseguido me livrar daquela calcinha medonha.
– Não – desfiz o beijo e o afastei mantendo uma distância segura.
– O que foi, Charlotte?
Alex passou a mão pelo cabelo em uma atitude um pouco sem paciência. Pudera. Pela potência da sua ereção, eu podia entender o que tanto o angustiava. Seu peito subia e descia em uma respiração acelerada. E então ele tirou os sapatos e desafivelou o cinto. Meus olhos acompanharam quando ele desfez o botão da calça, revelando pelos baixinhos e escuros que eu sabia muito bem aonde poderiam me levar.
E como eu queria chegar lá!
– Qual é o problema, amor? – ele voltou a sorrir ao entender a minha cobiça.
– É que... – desviei os olhos daquele maldito botão que estava quase me fazendo cair de joelhos. – Eu preciso... – mordi os lábios. O que eu poderia dizer? Preciso tirar a calcinha antes porque ela é absurdamente mata tesão? Não. Eu não poderia dizer aquilo.
– Ah, tá! – ele me encarou com divertimento. – Você precisa de um pouco de privacidade?
Alex estava com uma expressão divertida e ao mesmo tempo sem graça. Como se ele estivesse invadindo um espaço que deveria ser só meu. Mesmo agradecendo por conseguir finalmente a desculpa perfeita para me livrar a peça, eu não conseguia me sentir confortável.
– Hum... sim!
– Tá! Tudo bem. Eu te espero na... – seu rosto ficou levemente vermelho, um tom quase imperceptível – ... piscina.
– Ok!
– Ah, é... o banheiro é ali.
Oh, droga!
Alex estava pensando que eu estava com dor de barriga? O que poderia ser pior, ser vista com uma calcinha que o faria broxar ou deixar que ele acreditasse que eu precisava fazer... hum... o número dois?
Isso sim era broxante! Porra! Quando você possui intimidade com o seu companheiro para situações como esta, eu acredito que seja desagradável estar em um motel e precisar usar o banheiro para essa finalidade, imagine quando você não possui a intimidade correta e ainda por cima acabou de aceitar casar-se em quinze dias. Meu rosto esquentou, e depois pegou fogo.
Merda, merda, merda!
– Eu preciso fazer xixi – falei bem rápido e isso deixou Alex ainda mais constrangido. – Apenas isso. Eu vou... Em dois minutos. Menos do que isso. Quem leva dois minutos para fazer xixi? – e ri nervosa deixando a situação ainda mais embaraçosa.
– Tudo bem – ele riu sem graça. – Espero você em dois minutos. Menos do que dois minutos – corrigiu-se rapidamente e saiu fechando a porta.
Puta merda!
ALEX
Certo.
Andei até a piscina, mas quando cheguei lá não sabia o que deveria fazer. Era irritante ser um cara experiente, ser o maduro da relação e me sentir tão perdido e confuso quanto como eu estava naquele momento. Isso tudo porque Charlotte me deixava louco. Em qualquer situação, ele sempre conseguia me deixar louco.
Eu não queria insinuar nada, não queria dizer que ela estava com dor de barriga, apenas quis deixá-la confortável para o que estivesse precisando fazer. Até porque aquele esquenta e esfria que ela estava me conduzindo era de deixar qualquer um alucinado. E se eu não podia tirar a sua roupa ou fazer amor com ela como a própria Charlotte tinha me pedido, então havia um motivo real.
E este podia ser ou não uma dor de barriga.
Caralho! Eu estava com vontade de rir da cara de Charlotte quando entendeu o meu embaraço. Ela ficou tão vermelha que seu rosto parecia um tomate. Ri baixinho sentando em uma das espreguiçadeiras, mas levantei rapidamente. Eu precisava fazer alguma coisa que não fosse esperar por ela, ou então a situação ficaria cada vez mais embaraçosa.
Retirei as meias e levei alguns segundos me perguntando se deveria ou não tirar a calça também. Não sei se Charlotte encararia numa boa eu já estar completamente à vontade, ou talvez estar completamente à vontade a deixasse da mesma forma.
Que merda! Eu parecia um adolescente que nunca tinha estado em um motel antes. Ali dentro só existia uma finalidade e esta foi a mesma que nos moveu para lá, independente se desta vez eu amava ou não a garota. O objetivo era único.
Tirei a calça, deixando-a sobre a espreguiçadeira, mas conservei a cueca. Respirei fundo sentindo raiva daquele nervosismo todo. Droga, era Charlotte! A mulher que eu amava e com quem eu queria passar o resto da minha vida, e que estava me deixando com um puta tesão, então por que não conseguia relaxar?
Caminhei até o bar e me servi de uma dose dupla de uísque, a qual entornei de uma vez só. Depois de algumas horas de atividade física, o álcool deixaria de fazer efeito e eu poderia dirigir sem me sentir culpado por isso. Ri sozinho. Até pouco tempo atrás esta era a menor das minhas preocupações.
Servi outra dose, decidido a voltar para a piscina, ligar a TV que ficava em frente, escolher um canal de música, porque eu nunca escolheria um canal de sacanagem para assistir com a minha noiva, e aguardar por ela para iniciarmos a nossa tarde.
Mas assim que cheguei, encontrei Charlotte dentro da piscina, a água cobrindo seus seios e os cabelos molhados. Ela estava apoiada em uma das bases e olhava fixamente para a TV, sem se dar conta de que eu tinha chegado. Seus olhos às vezes se estreitavam e ela entortava um pouco a cabeça, observando com atenção o que via, e parecia intrigada.
Aproximei-me devagar para saber o que tanto roubava a sua atenção e... puta que pariu! Charlotte estava assistindo um daqueles filmes que eu nunca me imaginei assistir com ela. Não sei explicar a razão, mas eu fiquei sem graça, como se fosse eu o inexperiente ali.
Bebi um longo gole do uísque, ainda sem tirar os olhos da TV. Uma mulher loira, dona de um corpo incrível, com algumas tatuagens, estava de quatro, gemendo de maneira muito artificial, mas que mesmo assim mexia com a imaginação dos homens, enquanto um homem grande a comia por trás sem nenhum cuidado.
Não havia nenhum tipo de envolvimento nesses filmes, apenas duas pessoas cumprindo com uma finalidade, que normalmente era fazer o homem gozar. No geral, eram filmes que davam tesão, uma vez que relações nada pessoais com o único objetivo de conseguir o prazer desejado foi a minha realidade por muito tempo. No entanto, filmes pornôs nunca conseguiram representar a realidade, pelo menos nunca a minha.
Eu nunca havia conhecido uma mulher que chegasse sem calcinha em minha sala e sem mais nem menos se abria para mim com toda a facilidade do mundo. Conheci sim, garotas que foram fáceis, que não me custaram nada além de um ou dois drinks e alguns amassos no carro, mas nada se comparava a aquilo. A mulher se deixava usar com o único intuito de satisfazer.
– Você gosta?
A voz de Charlotte me tirou do meu devaneio e então me dei conta de que estava encarando a tela com muita atenção, enquanto o homem continuava fazendo o que bem queria da garota. Fiquei outra vez sem graça, até porque eu estava com tesão. Não apenas pelas imagens, mas pelo fato de Charlotte estar nua, em uma piscina, aguardando por mim e pronta para ser minha. O filme era só um aperitivo, mesmo assim, não estava em meus planos.
Não soube o que responder. Sim, eu gostava de filmes pornográficos. Homens eram atiçados mais pelo visual do que pelos outros sentidos, não precisávamos de estímulos constantes para alcançar um orgasmo, já as mulheres... Lógico que um ato de sexo explícito me fazia sentir tesão. O que me afligia era confessar a Charlotte que eu sentia tesão vendo uma mulher ser fodida incontáveis vezes sem que isso a deixasse desconfortável ou segura.
Desviei meus olhos da TV e caminhei até a espreguiçadeira, ciente de que ela me observava com atenção. Bebi o resto do uísque de uma só vez, sentindo-o queimar minha garganta e depois deixei o copo sobre a mesinha pequena ao lado. Tirei a cueca, mesmo com uma puta ereção, estimulada também pelas imagens que tinha acabado de ver, e, sem parecer incomodado por isso, mesmo estando, desci os degraus da piscina para encontrá-la.
Charlotte me olhou, depois desceu seus lindos olhos até encontrar o meu pau. Vi quando ela corou e engoliu com certa dificuldade para logo em seguida voltar a olhar a TV. O que tanto a deixava curiosa naquela porcaria de filme? Percebi que aquilo estava me deixado mais inquieto do que deveria. Eu nunca me preocupei com o interesse ou falta de interesse das garotas por aqueles filmes, contudo saber que Charlotte preferiu olhar para a tela, enquanto o cara exibia seu pau, roçando-o na bunda da mulher antes de voltar a comê-la, deixava-me frustrado.
Será que todas as mulheres com quem eu já tinha ido para a cama se sentiam assim quando eu me interessava por estes filmes?
Merda! Eu não disse que Charlotte me enlouquecia, independentemente da situação?
Fui até ela abraçando-a pelas costas. Confesso que roçar meu pau em sua bunda, deixando-a sentir toda a minha ereção, foi uma forma de roubá-la só para mim, e também de ter logo buscado seus seios, fechando-os em minhas mãos, foi uma tentativa de colaborar com o meu plano.
Charlotte gemeu, jogou a cabeça um pouco para o lado, fechou os olhos aproveitando a sensação, mas logo em seguida os abriu, voltando a prestar atenção no filme. Droga!
– Vai ficar assistindo? – sussurrei em seu ouvido, deixando meus lábios roçarem em sua orelha. Eu sabia o quanto ela gostava daquilo.
– Você não gosta?
– Gosto mais de você – porque eu não poderia mentir afirmando não gostar. Ela riu.
– Tenho certeza disso.
– Mas você parece gostar mais do filme – arrisquei brincando com a sua atenção exagerada, porém Charlotte não se abalou e continuou encarando a TV.
– Esses filmes são curiosos – e se calou encostando o queixo nos braços para se acomodar melhor para assistir ao espetáculo.
Enquanto isso os gemidos da mulher ecoavam pelo cômodo, fazendo a minha imaginação brincar comigo. Deixei seus seios e desci minhas mãos pela sua cintura, acariciando sua pele arrepiada por dentro d’água. Toquei seu quadril, contornei sua bunda e deixei, propositalmente, que minha ereção se encaixasse entre as suas pernas. O movimento causava uma fricção gostosa.
– Você gosta? – repeti a sua pergunta para desviar um pouco a sua atenção. Charlotte ficou em silêncio por um tempo. Parecia debater sobre o que poderia responder.
– Eles são todos iguais – ela disse por fim.
A voz baixa e rouca revelava a sua excitação e eu não sabia se isso me deixava bem ou não. Mesmo assim ela empinou a bunda e contribuiu com a minha brincadeira, deixando-me preso entre as suas pernas, roçando em sua entrada sem conseguir alcançá-la.
Porra, eu lembrava da minha adolescência, quando as garotas ainda virgens não permitiam nada além de uma boa gozada entre as suas coxas. Charlotte lembrava aquelas garotas. Ela ainda parecia uma menina, o corpo frágil, apesar das curvas aparentes, os seios pequenos e duros, atitudes inocentes e excitada o suficiente para se deixar levar pelo carinha mais esperto e cheio de malícia. Ainda bem que aquele cara era eu, do contrário...
Era melhor não pensar mais sobre isso.
– Mas este...
Roubou a minha atenção com esta última frase. O que havia de especial naquele filme além de um homem exibindo um pau que nem era esse espetáculo todo. Eu era muito mais eu. Parei de roçar nela e esperei pelo que viria.
– Assisti alguns filmes para me ajudar com o livro. Você sabe, eu não tinha nenhuma experiência concreta para escrever sobre sexo e precisava entender. Poucas vezes um filme deste tipo me ajudou com o que eu precisava.
– Porque eles são apenas sexo e geralmente para a satisfação dos homens. Os seus livros pedem muito mais do que isso – e eu estava mesmo incomodado com aquela conversa.
Charlotte, percebendo que eu havia parado, levantou o corpo da borda e colou as costas em meu peito. Suas pernas se fecharam ainda mais, prendendo-me de uma maneira deliciosa. Involuntariamente minha mão correu pelo seu ventre, forçando-a para trás e meus quadris reiniciaram o movimento.
Subi uma mão até seu seio, brincando com o bico rígido e o apartei com vontade. Ela gemeu se entregando, ao mesmo tempo em que desci a outra até seu sexo e sem delicadeza apertei seu clitóris exigindo que ela fosse toda minha e apenas minha. Mais uma vez seu gemido, genuíno, superou o da mulher do filme.
– A vida real é muito mais gostosa – falei enquanto lambia seu pescoço.
– Eu gosto do filme – ela soltou sem perceber que aquilo me tiraria do eixo. Eu estava pronto para protestar, para me rebelar e desligar a TV quando ela disse: – Gosto de observar e saber que somos bem melhores. Aquele homem... – gemeu um pouco mais sentindo meu dedo procurar a sua entrada – ... aquele homem jamais conseguiria ser como você.
– E mesmo assim você está excitada vendo eles dois – e eu não sabia se começava a me sentir assim também pela revelação dela, ou se sentia raiva por não conseguir fazer Charlotte esquecer aquele filme de uma vez.
– Estou – revelou mordendo os lábios.
– Ah, Charlotte! – rosnei mordendo seu ombro. – Por quê?
– Porque fiquei aqui assistindo enquanto você não chegava e me vi querendo ser fodida enquanto observo eles dois.
Porra!
Um milésimo de segundo se passou antes que eu reagisse, contudo foi o suficiente para que eu sentisse toda a resposta do meu corpo. O que significava aquilo? Charlotte gostava de observar casais transando? Na vida real ou apenas em filmes? E eu? Eu gostava da ideia? Puta que pariu! Eu gostava sim! Desde que não estivesse expondo a minha mulher, desde que não fossemos nós a sermos os observados, eu gostava da ideia, apenas nunca tinha me imaginado em uma situação como aquela com a minha noiva.
Caralho! Charlotte era a mulher com quem eu me casaria e ela era pura, inocente, desprovida de experiências mais fortes e significativas, mas, mesmo assim, ela foi capaz de me pedir para gozar em sua boca quando ainda nem tínhamos transado, foi decidida o suficiente para me dizer que queria me tocar e me ver gozando, e me pediu inúmeras vezes para comê-la.
Sim, Charlotte era aquela mulher, mesmo sendo uma casca de menina inocente, de garota nova demais. Se ela não hesitou quando a pedi para se masturbar para mim, e nós nem tínhamos intimidade para isso, por que ela esconderia aquela vontade? E não era o que eu queria fazer por ela? Satisfazer todas as suas vontades?
Era só um filme e nós dois e... porra! Eu estava fodido de tesão por aquela pirralha cheia de vontades e coragem. Charlotte era incrível.
Sem esperar por mais nada, e mesmo sabendo que sexo na água dificultava a lubrificação das mulheres, abri as pernas de Charlotte e me enterrei nela com vontade.
E por alguns segundos eu não conseguia pensar em mais nada. Fechei os olhos segurando minha noiva com força e fiquei parado apenas sentindo o prazer em estar dentro dela mais uma vez. O calor da sua carne, o pulsar involuntário, o aperto já esperado, tudo isso ecoado pelo seu gemido de prazer e o acelerar da sua respiração me fez esquecer o restante do mundo.
Charlotte esperou por mim. Ela se apoiava na borda da piscina, mantendo o corpo firme. Abri os olhos encontrando seu ombro com algumas pintinhas que me faziam ter vontade de beijá-las. E então voltei a ouvir os gemidos da atriz e o som oco da batida das enterradas do cara. Olhei para a tela e vi a mulher com as mãos espalmadas na parede, ainda de quatro, a bunda completamente empinada e uma das pernas segurada pelo homem que se enterrava nela com força.
Percebi que Charlotte prestava atenção no filme e aguardava por qualquer atitude minha. E aquilo me deixou louco.
Testei nossos corpos e a sua elasticidade estando dentro de uma piscina. Entrei e sai com cuidado, sentindo seu corpo me puxar de volta para o conforto do seu sexo. As paredes apertadas ofereciam resistência, o que só aumentava o meu prazer. Entrei todo de uma vez e ela gemeu tão gostoso que precisei morder os lábios para não perder o foco.
– Ah, Alex!
Porra! Charlotte gemendo era mesmo algo que me fazia perder o juízo, mas Charlotte falando o meu nome enquanto sentia prazer era o acionar de todas as minhas válvulas. Eu estava tão excitado que não conseguiria esperar tanto.
Nos meus planos, eu faria amor com ela, como havia me pedido. Teria calma e aproveitaria cada segundo, mas pelo visto nada sai como planejado com aquela garota. Eu estava naquela piscina, observando um casal foder com vontade, sabendo que aquilo a excitava e ficando cada vez mais excitado com tudo o que estava acontecendo.
Eu poderia fazer amor com ela depois daquilo, afinal de contas, tínhamos a tarde toda.
Então dei um passo mínimo para trás e dois para o lado, puxando Charlotte para que ela ficasse inclinada o suficiente para me receber e fora da água o suficiente para que eu pudesse ver toda a nossa ação. A tela da TV continuava à nossa frente, ela era imensa, e isso facilitaria a imaginação da minha noiva e conduziria a minha.
Passei a mão em seus cabelos, ajustando-os para trás e juntando-os em uma única mão, onde segurei forte, prendendo-a igual a como estava a cena do filme. Ela gemeu, claro! Era o que Charlotte queria. Testei mais uma vez nossos corpos, entrando e saindo devagar, sem forçar muito a barra, mas segurando-a pelos cabelos com uma mão, o que a mantinha inclinada para mim, e em seu quadril com a outra, para facilitar os meus movimentos.
E estava muito, muito gostoso!
Charlotte não tirava os olhos da tela, ela via e sentia e eu, por incrível que pareça, comecei a gostar muito da situação. Era estimulante, olhar a minha noiva na posição em que estava, vendo meu pau entrar e sair dela enquanto lutava contra suas paredes apertadas, e, ao mesmo tempo, poder assistir ao filme que nada era além de ilustrativo. Um homem fodendo uma mulher sem nenhum constrangimento, explícito e carnal.
E eu podia ver tudo. Podia ver a bunda deliciosa de Charlotte, a água ultrapassando suas coxas, meu pau entrando e saindo conforme fosse a minha vontade, suas costas com gotículas escorrendo e a cabeça inclinada para trás, enquanto isso, outra bunda, só que bronzeada, com uma marca indecente de biquíni fio-dental, completamente depilada, e este era um ponto que eu realmente gostava, toda aberta sendo penetrada por trás, era exibida na tela da TV.
Tenho que admitir que foi excitante. Duplamente excitante.
Sem conseguir desgrudar os olhos das imagens à minha frente, soltei os cabelos de Charlotte e meus dedos se espalharam em seu pescoço, como uma coleira, segurando-a com firmeza a fiz se encaixar em mim com mais vontade e aumentei o ritmo das minhas estocadas. Ela gemeu com força, seus dedos se firmando sobre a borda, os braços absorvendo o impacto.
Os gemidos de Charlotte se misturavam aos da atriz, ao passo que os meus foram impossíveis de serem sufocados. Como eu sentia falta de estar dentro dela, de me sentir livre para brincar com aquele corpo que eu tanto amava, para tocá-la sem medo, com gosto.
Movido pela urgência dos nossos corpos, passei um braço por baixo da perna de Charlotte, levantando-a, como acontecia no filme, e esta posição quase me fez gozar de imediato. Eu consegui ir tão fundo e foi tão apertado que grunhi palavras desconexas, porque eu queria dizer muito e pouco conseguia sair pelos meus lábios naquele momento.
Ela deu um gritinho de satisfação que me fez estreitar meus dedos em seu pescoço e me curvar sobre seu corpo, tornando as estocadas menos longas, porém infinitamente mais gostosa.
Charlotte estava com os olhos semicerrados, dividida entre acompanhar o vídeo ou se entregar ao prazer que eu lhe proporcionava. E eu simplesmente me perdia naquele corpo maravilhoso, quente, pronto para mim, pulsando a cada entrada e me prendendo a cada saída.
– Alex! – ela gemeu forte me causando comichão. Eu me enterrei fundo em Charlotte fazendo-a gritar e parei dentro dela, aproveitando o pulsar forte da sua vagina.
– É assim que você quer?
– Oh, Deus! – ela levantou a cabeça e olhou para a tela. A mesma posição, o mesmo embalo. – Sim, é assim que eu quero – sussurrou com a voz fraca e carregada de tesão.
– Comigo ou com ele – provoquei saindo e entrando com mais força ainda.
– Porra! – ela gritou enquanto eu a levantava pelo rosto para trazê-la para mim.
– Esse tesão todo é por mim? – estendi sua perna até que o joelho estivesse sobre a borda, libertando o meu braço. Rapidamente minha mão foi para o seu sexo, todos os dedos roçando seu clitóris.
– Ah! – grunhiu com força deixando-me ansioso. – Por você. Sempre por você. Só você.
Caralho! Eu adorei ouvir aquilo.
– E você? – ela disse determinada. – É por mim ou por ela?
Beijei seu ombro e apertei seu sexo sentindo sua perna tremer quando reiniciei as estocadas, cada vez mais forte.
– Não existe boceta como a sua, Charlotte!
Nunca me imaginei sendo tão pouco romântico ou ousado com a mulher que eu amava, mas aquela ocasião pedia. João tinha razão, eu era um falso puritano de merda, eu me reprimia para não a assustar, ou, sendo mais idiota ainda, tinha medo de apresentá-la à vulgaridade, ao lado mais pesado do sexo, aos instintos mais animais. Simplesmente porque a amava e queria dar a Charlotte o que ela escrevia em seus contos de fadas. Eu queria ser o seu príncipe em um cavalo branco.
– Porra! – gemi me perdendo nela. – Vem cá, menina.
Saí de dentro da minha noiva virando-a com determinação para mim. Charlotte me encarou assustada, sem entender o que havia me feito parar e mudar o roteiro. Simples: não podia haver um roteiro para nós dois.
– Eu amo você!
Falei com fúria, com a certeza de que aquele filme era nosso e não de dois atores que nada sentiam um pelo outro. Nem tesão. Encostei Charlotte no azulejo molhado, imprensando-me nela com vontade e explorando o seu corpo com uma necessidade absurda, incapaz de ser controlada ou saciada.
O bico do seu seio provocava a palma da minha mão enquanto eu a apalpava e analisava as suas reações. Charlotte estava rendida.
– Olhe para mim –enterrei-me nela quando seus olhos encontraram os meus. Ela gemeu baixinho, fechando outra vez os olhos em prazer. – Abra os olhos, Charlotte – fui atendido prontamente. – Não há outra mulher que eu queira nesta vida – a necessidade só crescia e eu me afundava naquele corpo como se ele fosse a minha religião. – Não há outro corpo em que eu queria me enterrar, então não importa qual merda de filme eu esteja vendo, é sempre você quem eu vou querer comer, entendeu?
Charlotte acenou rapidamente com a cabeça.
– Então me tome para você – puxando o ar com força ela me enlaçou pelo pescoço e cruzou as pernas em minha cintura, abrindo-se para mim em uma oferta irrecusável. Minhas mãos correram soltas pelo seu corpo, eu me enfiava nela com tanta vontade que estava prestes a explodir.
Segurei seu seio e o beijei, chupando a pele saborosa e curtindo cada gemido que ela emitia. Seu sexo pulsou com mais força quando mordisquei o mamilo rosado. Ela se movimentava ao meu encontro, chocando nossos sexos. Porra, não existia filme mais sexy do que aquele que fazíamos.
O movimento da água revelava o acelerar dos nossos corpos, eu estava pronto para gozar. Fechei minha mão no cabelo de Charlotte, puxando-o para trás para que ela me encarasse.
– Eu vou gozar – revelei já no limite. – E quero que você goze assim, me olhando, me entregando o seu prazer – acelerei sem acreditar que seria possível. – Por mim, Charlotte, e para mim.
Ela gritou naquele instante, e como uma aluna fiel, não fechou os olhos nem por um segundo, gozando abertamente. Seu sexo pulsou e se contraiu, e foi forte, pois eu vi estrelas nos olhos da minha noiva, ou elas estavam nos meus? Não sei. Mas posso dizer que gozei de uma maneira esplendorosa, como há muitos dias eu precisava fazer.
Charlotte me abraçou, sem descruzar as pernas dos meus quadris e buscou pelos meus lábios em um beijo cheio de entrega e amor. Eu correspondi, porque não havia maneira melhor de expressar o quanto eu havia gostado e estava grato pela sua entrega.
CAPÍTULO 26
“Oh amor poderoso! Que às vezes faz de uma besta um homem, e outras, de um homem uma besta.”
William Shakespeare
ALEX
Estávamos nus, deitados na espreguiçadeira, abraçados e namorando sem nada dizer, apenas deixando que os lábios aproveitassem o momento e nossas mãos fizessem o reconhecimento dos corpos.
Charlotte deitou a cabeça em meu corpo e, em silêncio, brincou com meus pelos com as pontas dos dedos. Acariciei seus cabelos molhados, ainda absorto em pensamentos que me intrigavam e, ao mesmo tempo, deixavam-me bem. Foi uma novidade tudo o que vivi com Charlotte, mas foi uma deliciosa novidade, que deixava a porta aberta para muito mais.
No entanto, era importante pegar leve, até porque nem eu mesmo sabia até onde queria chegar com ela, o que me excitaria estando com Charlotte e o que deixaria de ser bom por estar justamente com ela. Era melhor esperar, tínhamos tempo para alcançar todos os passos.
– Nosso almoço deve chegar a qualquer momento – falei me dando conta de que eu estava faminto. Charlotte levantou o rosto para mim, mas nada disse – Com fome? – ela negou com a cabeça, sem sorrir ou me olhar com aquela habitual devoção. – O que foi?
– Nada – respondeu baixinho e deixou o olhar cair.
– Está aborrecida? Eu fiz alguma coisa? – Charlotte voltou a me olhar e sorriu.
– Não. Eu só estava aqui intrigada com uma coisa – acariciei seu rosto com a ponta dos dedos e enrolei uma mecha do seu cabelo no indicador.
– Ultimamente você anda sempre intrigada com alguma coisa.
– É? – concordei com um aceno de cabeça. – Eu não havia percebido.
– Eu posso dizer que só nas duas últimas horas isso aconteceu três vezes.
– Sério?
– Sério. O que está te intrigando agora? – seu rosto começou a ganhar um tom rosado adorável. Sorri satisfeito.
– Eu estava pensando se eles esvaziam, limpam e tornam a encher a piscina sempre que o cliente sai e um novo entra – fiz uma careta. Eu sabia muito bem aonde ela queria chegar. – Mas pensando bem no assunto, é impraticável, não? – mordi o lábio evitando o riso e o nojo por chegarmos àquele ponto, mas voltei a concordar com a cabeça. – Então, se outros casais transaram sem camisinha, como nós dois...
– Exatamente por isso que eu relutei tanto em te trazer para um lugar como este, amor – foi a vez dela de fazer uma careta e eu ri.
– Mas eles limpam os móveis? Quer dizer...
– Eu acredito que sim – ri da careta que ela fazia. – Por um preço como o que estou pagando, seria mais do que justo – Charlotte levantou o corpo olhando tudo com mais atenção. – Não pensar sobre isso ajuda.
– Eu acho que não. Eles trocam os lençóis?
– Claro que sim – não conseguia parar de rir.
– Graças a Deus! Pelo menos isso.
– Banheiras e piscinas de motel não são muito recomendáveis – revelei.
– Então por que... – ela parou no meio, detendo-se e estreitando os olhos sem terminar a frase.
– Vamos falar sobre os seus dois outros momentos – mudei rapidamente de assunto.
– Que momentos? – sentada ao meu lado, com o corpo virado em minha direção e os seios à mostra, Charlotte era o desenho perfeito da luxúria. Ainda mais me olhando de maneira tão desafiadora.
– Hum! O filme – mais uma vez ela corou me deleitando.
– Qual o problema com o filme? Mulheres não podem gostar?
– Podem sim, mas você... – levantei o corpo ficando apoiado em uma das mãos. – Você parecia estar mais do que gostando.
– Alex, às vezes você não tem vontade de deixar ser apenas só sexo? Não te excita a ideia de algo casual, apenas pelo prazer, mesmo que seja uma fantasia com a mulher com quem você vai casar?
Sentei me acomodando melhor para aquela conversa. A forma como Charlotte colocou o assunto me deixou intrigado e constrangido por ser exatamente o que eu fazia antes dela.
– Você tem esta vontade? – acariciei seu cabelo para que ela não pensasse que eu a estava intimidando. – Sexo casual, sem envolvimento...
– Bom, eu acho que é assim que tudo começa. Nós dois, por exemplo, eram apenas aulas, sem envolvimento, não?
– Muito diferente, Charlotte.
– Para você sempre é – rebateu sentando sobre os joelhos. – Mas foi exatamente o que fizemos.
– Ok, vamos pular esta parte. Eu já disse que te amava, só não sabia – ela riu baixinho. – Mas eu não penso em sexo casual desde que te conheci. Tudo se tornou diferente, então alguns costumes de antes ficaram estranhos agora.
– Como assistir filmes pornográficos.
– Ou ir a um motel – completei. – E é onde estamos – ela fez aquela cara de intrigada novamente, por isso resolvi me explicar de uma vez. – São conceitos ultrapassados e machistas, Charlotte. Eu já percebi isso e estou tentando me habituar, aceitando a mudança.
– Não foi bom lá na piscina? Nós... – desviou os olhos deixando o rosto voltar a ficar corado.
– Foi ótimo! Nunca imaginei que seria, apesar de preferir você prestando atenção em mim – ela mordeu o lábio inferior, colocando uma mecha atrás da orelha.
– Mas eu estava.
– Tudo bem. Próximo tópico. Você estava estranha lá no quarto, aliás, desde o carro, quando eu tentava te tocar e eu sei que não foi a sua extrema vontade de fazer xixi em menos de dois minutos.
Desta vez Charlotte corou pra valer. Ela respirou fundo, abaixou a cabeça e olhava para qualquer lado que não fosse para mim. Vi sua mão ir para o rosto, um gesto impensado, como se quisesse ajustar os óculos que não estavam lá. Uma demonstração típica de nervosismo.
– Não quer me dizer? Assim eu vou imaginar um monte de coisas.
– Certo. Eu vou dizer, mas você vai jurar que não vai rir de mim.
– Eu juro.
E esta era uma batalha perdida, pois eu já sabia que, com certeza, riria dela.
CHERLOTTE
Não seria muito legal depois de tudo o que fizemos eu deixar Alex imaginar que eu estava mesmo com dor de barriga, ou que eu estava suja ou qualquer outra coisa nojenta que um homem pode pensar de uma mulher que se recusa a deixá-lo tocá-la mesmo quando ela já está mortinha de desejo.
Então eu contaria sobre a calcinha da minha avó e enterraria aquele assunto com os outros três. Pronto. Problema resolvido.
– É... bom... eu...
Ele riu sem me deixar falar.
– Você prometeu.
– Mas você está engraçada gaguejando desta forma – e continuou rindo. Cruzei os braços e aguardei até que ele parasse, ou se esforçasse para falar. – Desculpe!
– Todos os dias eu me vestia e me preparava para um possível momento mais íntimo com você, mas nunca acontecia, pela sua insistência em manter as regras do meu pai – Alex fez uma cara engraçada, mas não riu. – Hoje, por ser um dia em que estaríamos na sua empresa, e por eu ter certeza de que meu pai me acompanharia até mesmo ao banheiro, não me preocupei em estar sexualmente apresentável para você e sim em estar vestida adequadamente para o momento.
– Ainda não consegui chegar no ponto do problema – revirei os olhos. Lógico que ele não entenderia, ele era homem!
– Eu estava com uma calcinha imensa, daquelas que usamos para não deixar marca no vestido – Alex me encarou, as sobrancelhas franzidas, sem entender o motivo da minha apreensão. – Bege – completei e ele entortou a boca. – Era imensa e bege, parecendo com as que minha avó usava, Alex! Você broxaria se me visse usando aquilo.
Meu noivo então explodiu em uma gargalhada que ecoou por todo imenso apartamento. Eu fiquei sem graça e depois com raiva. Droga! Nunca deveria ter revelado a existência daquela calcinha. Todas as vezes que Alex lembrasse da nossa primeira vez em um motel lembraria dela e isso seria um motivo de constrangimento eterno.
Ele continuou rindo e eu me enfurecendo cada vez mais, até que não aguentei e acertei um tapa em seu braço, e depois outro e outro até que o senti se agarrar a mim, ainda rindo, sem me deixar continuar de extravasar toda a minha frustração.
– Calma, amor! – Ficou com a voz cansada de tanto rir. – Calma! Não me bata – foi se deixando acalmar, mas ainda havia divertimento em sua voz. – Foi engraçado, Charlotte, admita.
– Não. Foi aterrorizante – ele riu mais um pouco e eu tive vontade de acertá-lo com mais uns tapas.
– Amor, tem noção de como a situação ficou engraçada para mim? Você estava toda entregue em meus braços e em seguida se retraía, e depois voltava atrás só para depois ficar tensa outra vez, e tudo isso por causa de uma calcinha?
– De uma calçola. E pare de rir.
– Está bem! Por causa de uma calcinha grande, fica melhor assim? – não ficava, mas eu concordei apenas para não alimentar a ideia. – Eu dava tudo para ver esta calcinha, Charlotte!
– Não! – meus olhos quase saltaram da órbita e meu coração acelerou.
– Você não pode ficar sem calcinha o dia todo – provocou.
– Eu vou vesti-la assim que você pagar a conta e não tiver mais chance de tentar tirar a minha roupa.
– Isso está ficando instigante – provocou me puxando para si e me mordiscando no ombro.
– Para, Alex!
– Quero te ver com aquela calcinha. Só eu posso dizer se ela é ou não broxante.
– Jamais. Eu toco fogo na peça antes que seus olhos consigam repousar sobre ela.
– Vamos fazer um acordo então – colocou um dos braços atrás da cabeça, revelando músculos perfeitos e um corpo muito bem definido. – Eu faço alguma coisa que você queira muito e você veste a calcinha para mim.
– Você já fez o que eu queria muito. Sem barganhas – acariciei seu braço com a ponta dos dedos, admirando o meu noivo. – E eu já fiz concessões demais por hoje – ele piscou e ficou sério, me encarando.
– Tem razão – e se acomodou melhor na espreguiçadeira. – Por falar nisso... – Alex levantou, nu, o corpo bronzeado e completamente hipnótico, uma bunda linda...– Você cobiça demais, Charlotte. Isso é pecado – brincou sem se dar ao trabalho de me olhar, saindo da área da piscina, mas ainda gritou do lado de fora. – Talvez uma conversa com o padre Messias resolva o seu problema.
– Eu não tenho problemas – resmunguei baixinho, sentindo-me uma idiota por isso.
Pouco tempo depois voltou com o celular na mão e usava um roupão branco com o nome do motel bordado em bordô, logo acima do peito. Levava outro na mão livre, que logo deduzi ser para mim.
– Vista. Logo alguém aparece com o almoço. Vou ligar para Lana. Ela tem que começar a organizar este casamento.
– Um cerimonial não seria mais adequado?
– Seria, e vamos ter um, mas esta parte vai ficar com você, sua mãe, a minha e Lana, claro!
– E Miranda – ele revirou os olhos.
– Sim, e Miranda.
– Eu não entendo. O que você tem contra ela?
– Nada – ele me olhou decidido a encerrar o assunto e se sentou ao meu lado. – Só não acredito que Miranda se empolgue muito com a organização de um casamento. E Lana jamais vai admitir que outra pessoa organize o meu casamento. Tem que ser tudo com a supervisão dela – eu me remexi incomodada. Não gostava da forma como Alex falava da minha melhor amiga.
– Quinze dias é pouco tempo, até mesmo para alguém como Lana. Sem contar que agora ela está mais do que ocupada com a transição dentro da editora. Não me parece muito justo.
– Ela jamais me perdoaria se não fosse assim. E não te perdoaria também, acredite em mim.
Alex começou a buscar o número da irmã e eu me acomodei na espreguiçadeira pensando em como seria aquele casamento. Eu sabia que queria e que Alex era o homem da minha vida, e nem estava mais incomodada com a brevidade dos fatos, só não conseguia me imaginar entrando em uma igreja lotada, em um cortejo enorme, sendo observada e parabenizada por pessoas que eu não tinha nenhuma familiaridade e depois ainda aguentar uma superfesta, que com certeza Lana não deixaria passar, sendo agradável com um monte de bajuladores.
Definitivamente não era o que eu queria.
Enquanto Alex aguardava Lana atender a ligação, brincou com os meu cabelos e meu rosto, fazendo carícias que provocavam cócegas. Ri colocando minhas pernas por cima do seu colo e ele imediatamente iniciou uma massagem deliciosa em meus pés.
Ah, as vantagens de se ter um homem apaixonado e apaixonante!
– Lana? – Alex tirou rapidamente o celular da orelha, com cara de espanto fazendo uma careta. Ainda consegui ouvir o grito da minha cunhada do outro lado da linha. – Ok. Ok. Dá para parar? – ele mantinha o aparelho afastado. Comecei a rir. – Certo... mesmo? Hummmmm! Ok! Pode ser. É? – Olhou para mim rapidamente e sorriu. – Seria ótimo! Claro, claro... – revirou os olhos. – Não, Lana! Eu disse que Charlotte precisa estar presente para aprovar qualquer detalhe... Sim, eu tenho certeza. Está aqui ansiosa para falar com você. Só um minuto.
Olhei para meu noivo sem acreditar que ele tinha feito aquilo. Quem disse que eu estava disposta a aguentar o entusiasmo da minha futura cunhada? Ele passou o telefone para mim fazendo cara de cansaço. Realmente, enfrentar a euforia de Lana era um trabalho árduo. Alex parecia satisfeito em poder me passar o aparelho e se livrar logo da irmã.
– Oi, Lana...
– Charlotteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! – gritou fazendo-me pular. O que era tudo aquilo? – Não se preocupe, estou com tudo organizado. Não sei se consigo fazer tudo o que tenho pensado desde que vocês apareceram com a ideia do casamento, mas vai dar tudo certo e você vai amar...
– Mas...
– Já sei onde encomendar as flores. Eu sei que o cerimonial vai oferecer a floricultura deles, mas não podemos aceitar, eu sei onde encontrar as flores perfeitas para vocês... Já tenho uma ideia de onde poderemos fazer a cerimônia. Tem ideia de quantos convidados serão? Bom, acho que Mary e Peter vão precisar fazer uma lista... Pode deixar que eu resolvo esta parte. Agora o bolo. Precisamos decidir o bolo, sim, porque não é fácil encontrar um bolo bonito e gostoso, já que ele será servido, lógico que será, mas as encomendas nunca são aceitas em tão pouco tempo, então...
– Bolo?
– Não existe casamento sem bolo de casamento – riu sozinha. – Eu achei um perfeito, mas vai dar trabalho conseguir alguém, e...
– Lana...
– Estamos aguardando por Paulo, o advogado da família, ele vai providenciar toda a papelada. Não seria fácil, se não tivéssemos o seu sobrenome contando, e toda a influência do seu pai. O padre não é problema, Alex me disse que será o da sua família.
– Lana, eu...
– Seu vestido tem que ser lindo! Épico! Acho que vou começar a ligar para alguns estilistas e... claro que amanhã bem cedo as costureiras estarão em sua casa, afinal de contas cada segundo conta, mas ele será simplesmente maravilhoso. Lógico que não será nenhum...
– Mas, Lana...
– Miranda ficou de pesquisar o modelo ideal para cada madrinha. Tem ideia de quantas serão?
– Lana, por favor...
– Não se preocupe. O modelo não vai ofuscar o seu. Será o casamento do ano, mas você ainda será a noiva do século... Ai, meu Deus! Nem acredito que vamos fazer isso tudo em quinze dias...
– LANA! – tentei impedir minha cunhada de continuar.
– Oi! Caramba, precisa gritar assim? Era só falar. Vou te contar, você e Alex formam um casal perfeito...
– Preciso de sua ajuda, Lana. Dá para me ouvir?
– Claro! Do que você precisa?
Olhei para meu noivo meio apreensiva. Como dizer a Lana que eu precisava de um conjunto de lingerie supersexy para a minha noite de núpcias? Ele sorriu, acariciando meus cabelos. Virei um pouco o rosto para o lado, como se assim pudesse evitar que ele me ouvisse.
– Eu preciso que você me ajude com... Bem... – Alex me fitava atentamente. Droga! Será que eu não podia ter um pouco da minha intimidade preservada? – O casamento é em quinze dias e... você sabe... tem coisas que não posso contar com minha mãe... – ele riu entendendo a minha apreensão.
– Não precisa de nada cobrindo este lindo corpinho para o que eu pretendo fazer com você – sussurrou em meu ouvido me fazendo corar completamente, além, é óbvio, de ficar excitada.
– Entendi – Lana riu do outro lado da linha, desviando minha atenção. – Pode deixar comigo vou providenciar tudo. Alex nunca mais vai esquecer esta data. Conheço a loja perfeita e você nem precisa ir lá. Podemos marcar um dia em minha casa e a personal vai comparecer para nos mostrar o que tem de melhor para a noite de núpcias – e riu de maneira infantil.
Não era para ser, porém o fato de termos aquela conversa tão íntima, mesmo sendo quase nada, deixou-me incrivelmente envergonhada.
– Ok, Lana! Obrigada! Falo com você depois – devolvi o celular a Alex que desligou imediatamente.
– Preocupada em agradar o marido?
– Sempre.
ALEX
Mais um espasmo e eu jorrei para dentro dela todo o meu prazer.
Charlotte estava linda, deitada naquela cama imensa, os cabelos espalhados pelo travesseiro com fronhas brancas, o rosto naturalmente corado, cheios de pintinhas, os olhos fechados e a boca levemente aberta, enquanto gemidos dengosos escapavam de seus lábios.
E ela estava embaixo de mim, recebendo-me entre as suas pernas, os seios subiam e desciam conforme o nosso movimento, as mãos em minhas costas, puxando-me cada vez mais ao seu encontro, enquanto eu me afundava em sua carne, idolatrando seu calor.
Porra! Eu adorava transar com Charlotte, amava a sua ousadia, delirava com as loucuras que ela aceitava fazer, mas nada se igualava ao prazer que eu sentia quando fazíamos amor. Nada como ter a mulher que você ama em seus braços, entregue, sem grandes malabarismos, apenas se entregando, namorando, curtindo um ao outro.
Era maravilhoso!
Mas precisávamos ir embora. Eu estava esgotado e Charlotte também. Havíamos passado a tarde inteira naquele quarto de motel e a noite já cobria o céu do Rio de Janeiro. Segundo Lana, todos se reuniriam na casa da minha noiva naquela noite para discutir e festejar o noivado. Eu ainda não tinha tomado coragem para contar a ela o que a aguardava.
– Hum!
Ela se espreguiçou ainda embaixo de mim, estirando as pernas e os braços. Encarei seu colo cheio de pintinhas, soltei um pouco do meu peso sobre ela e acariciei uma vez mais as suas curvas, enquanto ainda podia sentir o calor da sua intimidade úmida em um último momento de prazer.
Depois puxei seu rosto para mim e beijei seus lábios, fechando aquele dia com chave de ouro. Fora uma grande e deliciosa ideia ceder à vontade dela de conhecer um motel. Nada como não ser atrapalhado e poder se aventurar em tudo o que quiser.
– Acho que esta é a hora de eu te ver com aquela calcinha – ela riu me deixando sair do meio das suas pernas e rolar para o seu lado. – Hora de ir para casa, amor.
– Já? – ri acolhendo seu corpo quente em meus braços.
– Não podemos brincar com a paciência do Peter.
– Nós vamos nos casar em quinze dias, como ele queria, então mereço qualquer concessão.
– Você merece tudo – beijei seus lábios com carinho e acariciei seu rosto. – Mas Peter não vai aceitar, então...
– Merda! – ela se soltou dos meus braços, enrolando o lençol no corpo. – Sinto falta de passar uma noite inteira com você.
– Em quinze dias vamos passar todas as noites juntos.
Por um segundo eu pensei que Charlotte estivesse passando mal. Ela ficou pálida, seus olhos perderam o foco e não houve nenhuma expressão de humor ou de satisfação pelo que eu havia dito.
– É verdade – e desviou o olhar se preparando para levantar.
– Espere – segurei em seu braço, ainda sem saber como reagir àquilo tudo. – O que foi? – Charlotte não voltou a olhar para mim. – A ideia do casamento ainda te atormenta?
– Não a ideia de casar, mas do que será um casamento – seus olhos fixos demonstravam que ela ainda debatia internamente sobre o assunto. – Mas eu acho que toda noiva deve se sentir assim, não? – e como num passe de mágica tudo voltou ao normal. Ainda demorei um pouco para reagir à sua mudança súbita e ao sorriso encantador que ela me lançou. Por fim, sem querer me aprofundar no assunto, acariciei seu rosto e concordei.
– Deve ser assim mesmo.
– Bom... acho que vou procurar por aquela calcinha – inclinou-se rapidamente e acertou um beijo em minha boca antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Depois levantou indo em direção ao banheiro.
Levantei, fui buscar minhas roupas na área da piscina, vesti a cueca, a calça, as meias e peguei o celular. Muitas mensagens. Cinco apenas de Lana e duas de Patrício. Como bem conhecia a minha irmã, abri primeiro as do meu irmão.
“Mano, então é verdade mesmo? Quinze dias? Tem certeza disso?”
Revirei os olhos decidindo se deveria ou não ignorar a outra mensagem. Mas preferi saber logo de uma vez o que ele queria.
“Porra, Alex! Você é um filho da puta corajoso! Dei valor. Queria eu ter metade desta determinação.”
Respirei fundo e escrevi:
“Eu amo a Charlotte! Infelizmente, ou felizmente, você ainda não se deu conta de que ama a Miranda também.”
E me perguntei mil vezes se deveria mesmo ter escrito aquilo. Eu queria que Miranda e Patrício ficassem juntos? Não, claro que não. Miranda era dor de cabeça na certa. Mas contava a minha vontade ou tudo o que eu sabia da garota? Bom, deveria contar, uma vez que Patrício é meu irmão, mas, porra, se eu não queria revelar o que sabia então não podia exigir nada dele. E talvez, por um milagre da vida, Miranda tenha criado juízo. Sem contar que ela gostava mesmo do meu irmão.
Tomei coragem para conferir as mensagens de Lana. Duas perguntando onde estavam os documentos que ela precisava para dar seguimento aos nossos assuntos profissionais, uma para dizer que já tinha encontrado e que eu era um filho da puta imprestável, ri sozinho, mais uma para confirmar o jantar na casa de Charlotte, o que ainda era um problema, e a última para dizer que todos já tinham chegado menos nós dois. Porra!
Voltei para o quarto e Charlotte ainda estava no banheiro. O barulho do chuveiro chegou a ser estimulante. Um banho seria ótimo, mas eu não podia entrar naquele banheiro com a minha noiva ou nos atrasaríamos ainda mais.
– Charlotte, precisamos ir – falei aproximo à porta e voltei para ligar avisando que poderiam fechar a conta.
A porta se abriu e ela apareceu só de toalha. O corpo e cabelo molhados deixando uma poça sob seus pés, mas Charlotte não se importou. Ela me olhou e sorriu mordendo o lábio inferior. Muito sabiamente, porque minha noiva sabia o que fazer para me seduzir, deixou o olhar cair para os seus pés.
– Não vai entrar? – pensei duas vezes, com o interfone ainda na mão.
– Pois não? – a voz da atendente chamou a minha atenção. Voltei a olhar para Charlotte e outra vez para o interfone, então decidi.
– Poderia fechar a conta em trinta minutos, por favor? – Charlotte sorriu e voltou para dentro do banheiro. – Obrigado! – e desliguei antes que pudesse ouvir a resposta deles.
CHARLOTTE
Só quando deixamos o motel que eu percebi o quanto estava tarde. Peguei meu celular esperando um mundo de ligações perdidas e mensagens, apenas para me dar conta de que estava sem bateria. Merda! Como explicar ao meu pai?
– Como está se sentindo? – Alex segurou minha mão e a levou aos lábios.
– Ótima! – não entendi muito bem o porquê da pergunta. Ele sorriu de maneira cafajeste e aquilo mexia realmente comigo.
– Não abusei de você?
A voz cheia de orgulho indicava o motivo daquela demonstração de ego. Revirei os olhos, mas sorri sentindo o leve ardor em meu sexo, indicando o quanto ele de fato havia abusado de mim.
Meu Deus! Desde que tínhamos iniciados as nossas aulas de sexo nunca havíamos ficado tanto tempo nos dedicando apenas a isso. Tivemos a nossa primeira noite e esta também foi, como podemos dizer... abusiva, porém nada como aquele dia, horas inteiras de prazer em que Alex tinha demonstrado o quanto era capaz de me fazer enlouquecer. E eu enlouqueci, inúmeras vezes.
– Se você chegar em casa com este sorrisinho no rosto todo mundo vai entender o que aconteceu – provocou.
– E eu estou pouco me importando. Tenho vinte e um anos, sou independente, logo em breve serei uma mulher casada, tenho direito de transar quando e quantas vezes quiser – ele me olhou rapidamente e sorriu. Lindo! – Além do mais, é melhor para os meus pais saberem que você me satisfaz sexualmente do que passarem anos imaginando se eu não sou feliz no casamento.
– Existe muito mais em um casamento pleno do que a satisfação sexual –repreendeu-me fazendo uma careta de desagrado. – E você faz parecer que tudo gira em torno do sexo.
– Alex, acabei de descobrir o quanto sexo é bom, então me deixe curtir enquanto ainda tenho energia para isso. Terei muito tempo para descobri todos os outros sabores de uma vida a dois – ele voltou a sorrir e mais uma vez segurou minha mão, acariciando meus dedos com o polegar.
– É justo – e seu sorriso ficou imenso. – Por falar em sabores de uma vida a dois... – soltou minha mão e segurou com força no volante. – Por favor não faça disso um problema.
– O que, os sabores de uma vida a dois?
– Não. O que uma futura vida em conjunto exige.
– Mal aceitei o casamento e já vou ter que conviver com regras – resmunguei para diverti-lo, mas Alex ficou sério. – Manda.
– Nossas famílias estão reunidas em sua casa. Eles querem definir o casamento e organizar o quanto antes, então...
Alex me olhou e eu não consegui esconder minha boca aberta, os olhos imensos, assustados, a cor pálida... Droga!
– Você conhece meus pais, meus irmãos, por que isso é um problema? – engoli em seco tentando não ser mais infantil do que já tinha conseguido ser.
– Não é – respondi baixinho. – É só que...
– Charlotte!
– Pensei que conseguiria pelo menos esta noite para me adaptar a ideia. Também não pensei que enfrentaria todos de uma só vez e... meu Deus, Alex! – suspirei derrotada. – Não sei o que pensar. Não sei nem o que dizer.
– O que está te afligindo?
– A ideia... todos eles juntos, definindo tudo, falando e falando e...
– Calma!
Ele me calou segurando em minha mão e apertando-a. Olhei nossos dedos entrelaçados. Não. Eu não estava com medo do casamento, apenas da ideia de uma festa imensa, cheia de pompas e acontecimentos. Não. Eu não tinha dúvidas quanto a entregar a minha vida àquele homem.
– Tenha em mente que é o nosso casamento. Eles querem ajudar e vão, mas será como a gente quiser. Não tenha medo. Eu estarei lá e vou apoiar toda e qualquer decisão sua.
– Jura? – porra, eu amava aquele homem!
– Juro! – ele sorriu. – Tem que ser como você sonha. Eu quero que seja exatamente assim.
– Certo.
Ele não soltou mais a minha mão e eu não voltei a sentir medo.
CAPÍTULO 27
“Amor é um marco eterno, dominante, que encara a tempestade com bravura. É astro que norteia a vela errante, cujo valor se ignora lá na altura.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Antes de abrirmos a porta eu já podia ouvir a conversa do lado de dentro. Aquilo não era uma reunião para discutirmos os detalhes do casamento, era simplesmente um acontecimento. Ao fundo, pude ouvir o som de um dos clássicos do meu pai, Frank Sinatra, misturado a risadas e vozes animadas.
Céus!
Alex, ciente do meu desconforto, colocou as mãos em meus ombros, apertando-os levemente. Sorri tentando ser corajosa. Só que eu não era.
Ao colocar a chave no segredo da porta suspirei lentamente. Não precisava mais afirmar para mim mesma que era o que eu queria, porque era realmente o que eu queria, mas será que era mesmo?
Definitivamente não.
Quando em minha vida eu poderia decidir qualquer que fosse o evento que dissesse respeito apenas a mim? Era difícil para quem estava de fora compreender, só quem teve a vida controlada, detalhada, esmiuçada e desenhada, como eu tive, compreenderia o meu desânimo por ter a minha festa de casamento definida e decidida por outras pessoas.
Lógico que eu poderia dizer não a tudo, que poderia simplesmente me negar a discutir as minhas vontades. Era o meu casamento, oras! Contudo, quando se tem pais como os meus, ver a decepção em seus olhos por causa de um capricho poderia ser sufocante.
E como eu me sentia? Bom, eu me sentia partida ao meio. Uma parte me dizia para aceitar, afinal de contas era apenas uma festa e, se Deus quisesse, aquele seria o meu único casamento, então por que não agradar a todos e abdicar da minha vontade mais uma vez? A outra parte, a rebelde, dizia que eu deveria gritar, ignorar os olhares reprovadores, subir ao meu quarto, fazer um planejamento de como deveria ser e depois simplesmente comunicar a todos.
– Não vai abrir? – Alex apertou mais uma vez meus ombros.
– Alex?
– Sim?
– Como você quer que seja?
– O casamento? – sacudi a cabeça para que ele entendesse a minha intenção. Não tive coragem de me virar para encará-lo.
– Bom... – suas mãos deixaram meus ombros. Mordi os lábios em expectativa. – Eu não sei, Charlotte. Nunca me imaginei casando e, para ser franco, nunca acreditei que este seria um papel meu. Digo, pensar nos pormenores. Eu quero me casar com você e como vai ser, não importa.
Foi o suficiente para mim. Girei a chave e abri a porta, mas voltei para olhá-lo antes de encarar os demais. Sorri para o meu futuro marido, deixando claro que estava satisfeita. Ele sorriu de volta, cheio de uma expectativa e alegria que eu não sabia se conseguiria corresponder, eu tentaria com afinco.
– Finalmente! – Lana gritou de dentro do apartamento. – Não sabíamos mais o que fazer.
– Vocês demoraram – meu pai deu um passo à frente, uma mão no bolso da calça e outra segurando um copo. Seu olhar era pura acusação, o que me deixou imediatamente corada.
Olhei para a sala, todos estavam lá: Lana, João Pedro, meu pai, minha mãe, Dana, Adriano, Johnny, Miranda e... Patrício? Mas o que ele fazia lá? Senti a mão de Alex na minha. Claro! Ele era irmão do meu noivo e eu teria que me acostumar com aquilo. Voltei a olhar para a minha amiga, sentada distante dele, no sofá menor, fingindo indiferença.
– Fomos almoçar – Alex disse meio inseguro. – E saímos para conversar sobre o casamento.
– E fomos ao cinema – completei como a covarde que sempre seria. Eu não precisava de um pouco mais daquele olhar acusador. Além do mais, já havia concordado em casar tão rápido quanto a fofoca corre na língua dos desocupados.
– Ao cinema?
Ele olhou para Alex cobrando uma resposta. Lógico que meu pai duvidaria de qualquer coisa que eu dissesse. Ele desconfiava onde estávamos e imaginava o que fazíamos. Meu rosto esquentou significativamente e tive medo de que Alex negasse.
– Foram ao cinema? Não me diga que você assistiu “Quando acabar”! – Miranda falou alto, ganhando a atenção do meu pai. – Charlotte?! Nós tínhamos combinado de assistir juntas.
Porra, eu amava a minha amiga! Tínhamos assistido ao filme alguns dias antes, quando ela estava curtindo a fossa por causa do fora do Patrício. Miranda foi espetacular em pensar naquele filme, assim eu teria o que contar a respeito dele, caso a curiosidade do meu pai, ou de qualquer outro, falasse mais alto.
– Desculpa! – sorri envergonhada. – Nós queríamos fazer um programa de namorados, então convenci Alex a entrar no cinema. Podemos marcar outro dia, eu não me importo em assistir de novo, você sabe.
– Deus me livre! Você comenta sobre o que vai acontecer e isso mata a expectativa. Vou arrumar uma colega para ir comigo.
Naquele momento notei o olhar do Patrício em direção à minha amiga. Ele fingia não se importar, não prestar atenção nela, mas falhava, como naquele momento, quando ela mencionou “a colega” e deu para notar que ele pensou que seria “um colega”. Tive vontade de rir.
– Venha, Charlotte – minha mãe chamou estendendo uma mão para mim. – Sente-se aqui. Estávamos pensando no local ideal para a festa. Lana nos trouxe algumas opções interessantes – caminhei lentamente ao lado da minha mãe sem saber o que esperar, nem como começar a dizer o que eu pensava.
– Temos primeiro que definir o número de convidados. Posso ter uma vaga ideia de quantos serão da nossa parte da família. Conheço todos os amigos do Alex, as pessoas que são do interesse dos nossos pais, só precisamos resolver do lado profissional, quais são os que ele deseja que compareçam.
– Nossa lista é longa, apesar de não termos familiares no país – meu pai se aproximou introduzindo-se na conversa.
– Temos a sua tia – disse minha mãe.
– Tia-avó, como vocês dizem aqui. Sim, temos alguns poucos parentes distantes. Vamos enviar os convites, porém não acredito na presença deles.
– Thomas pode querer comparecer. Ele e Charlotte eram muito ligados – minha mãe sorriu com inocência e Alex imediatamente se interessou.
– Thomas?
– Ele é um dos primos distantes. Quando crianças, eles não se desgrudavam quando estávamos na Inglaterra. E ainda se divertem bastante quando Charlotte resolve aparecer. Ela não gosta muito de voltar às origens – minha mãe falou para Dana, que sorriu gentilmente.
– Thomas é um ótimo rapaz – colaborou meu pai. – Inteligente, assumiu o negócio da família quando ainda fazia faculdade. Dizem que ele é promissor, que vai ainda mais longe que o pai e eu acredito nisso. Um garoto de punho forte.
Alex estava incomodado com o assunto, apesar de não demonstrar. Só que eu o conhecia o suficiente para saber que qualquer conversa sobre um homem promissor, interessante e que vivia grudado em mim, o tiraria do sério.
O que ele não sabia era que Thomas nunca passou de um garoto idiota, cheio de si, completamente engomado, que vivia tentando me impressionar, sem nunca conseguir. Eu o aceitava, até porque Johnny gostava do cara, e em uma vida onde os homens não são bem-vindos, conseguir a permissão para ter um amigo era algo realmente revigorante. Às vezes, eu me divertia com as conversas dele, as bobagens que valorizava e me lembravam o tempo todo de que aquele era o tipo de pessoa com quem eu não queria me casar.
– Eu penso em poucos convidados – comecei e ninguém pareceu se importar comigo.
– A igreja tem um bom tamanho – Lana continuou. – Também temos a opção de fazer a cerimônia para um grupo restrito e a festa para os demais convidados.
– Não deveria ser o contrário? – João brincou se servindo de mais bebida.
– Deveria ser uma coisa só – Dana buscou a aprovação da minha mãe, que concordou.
– Neste caso, teremos uma lista reduzida. Quantas pessoas cabem naquela igreja? Trezentas, quatrocentas...
– Podemos obter esta informação – minha mãe disse sem se preocupar com a minha opinião.
– Ótimo! Vamos ao buffet – Lana trocou de assunto com ânimo. – Eu tenho uma sugestão. É o melhor que temos no Rio de Janeiro, mas é claro que se vocês já trabalham com algum podemos ficar com o que escolherem.
– A “Motivo” é um excelente buffet, Lana – Dana acrescentou assegurando minha mãe de que elas tinham o melhor.
– Não fazemos muitas festas pessoais aqui no Brasil, porém a “Motivo” é a empresa responsável por todos os eventos dos hospitais, não é mesmo, Peter? – meu pai deu de ombros.
– Não costumo me inteirar destes detalhes, querida – Dr. Frankli concordou com meu pai, sem nada acrescentar.
– Podemos verificar a disponibilidade deles – Dana deu continuidade ao assunto.
– Já verifiquei e, sendo um casamento de uma família tão especial, eles aceitam o desafio – Lana disse orgulhosa de si mesma.
– Ótimo! Então precisamos marcar uma reunião... – minha mãe tentou falar e mais uma vez Lana falou cheia de si.
– Amanhã pela manhã. Teremos um dia cheio. Graças a Deus ainda não assumi o cargo do Alex. Não ficaria nada contente se não pudesse acompanhar este casamento de perto.
– Quanta eficiência – Miranda disse admirada e também para fingir não estar atenta a Patrício.
– Eu sempre perguntei se ela não estava no ramo errado – Adriano brincou, fazendo Dana rir.
– Lana seria ótima em qualquer profissão que escolhesse – disse uma mãe coruja, que ganhou um sorriso carinhoso da filha.
Olhei para Alex pela primeira vez desde que sentei naquele sofá ao lado da minha mãe. Ele estava próximo do meu pai, segurava um copo de uísque e me encarava sem se manifestar. Ele estava atento ao que eu faria e parecia me pedir para interferir, para que eu não deixasse que decidissem tudo sem sequer me consultar.
– A lua de mel será um presente nosso, querida – Dana falou pegando em minha mão. – Adriano e eu fazemos questão. Vocês só precisam definir o roteiro.
– Paris – Lana quase gritou eufórica.
– Algo mais pitoresco. Quem sabe um tour pela África? – Miranda falou entrando no clima da conversa. – Charlotte já conhece a Europa toda e as praias da África são as mais bonitas.
– Se fosse o meu casamento, eu escolheria Las Vegas – Johnny falou sem vontade e me olhou como se quisesse me socorrer. – Ou Caribe.
– Tão original – Miranda debochou. – Não poderíamos esperar mais nada desta cabecinha.
– Então por que vocês não perguntam a Charlotte o que ela quer? – meu amigo replicou.
Todos se calaram e olharam para mim. Senti o ar preso nos pulmões. Uma reação normal para alguém que até um segundo atrás era invisível. Olhei para Alex e ele me lançou um olhar cheio de confiança, um incentivo para que eu fizesse como havia dito que queria.
– É o meu casamento, e... – olhei para meus pais, mas voltei a atenção para Alex – ... espero que seja o único – ele sorriu aprovando o que eu dizia. Ouvi o risinho baixo de Lana e senti a mão da minha mãe na minha. – Eu quero um casamento simples, muito íntimo, sem convidados por conveniência – olhei diretamente para o meu pai. – Eu sei o quanto vocês estão felizes, mas eu gostaria de fazer do meu jeito, como eu sou e como o Alex é.
– E como seria este casamento? – a voz doce da minha mãe me incentivou a continuar. Olhei para a minha futura sogra e continuei.
– Uma vez você me perguntou como eu sonhava que seria o meu casamento e eu respondi que não sonhava com isso. Mas, desde que Alex apareceu com a ideia e, quando finalmente aceitei que poderia ser o mais breve possível, tudo se arrumou em minha cabeça – Dana sorriu entendendo as minhas palavras. – Não existe outro lugar que fale tanto de mim e do Alex quanto Petrópolis.
– O lugar onde ele te pediu em casamento – Miranda falou com voz apaixonada.
– O lugar onde descobrimos que não dava mais para esperar o tempo confirmar o que sentíamos – Alex completou e a emoção em sua voz aqueceu o meu coração.
– Se não for incômodo para vocês, eu gostaria de casar no rancho – houve um momento de silêncio que me deixou constrangida.
– Ficaremos bastante limitados – Dana começou a falar. – Não temos espaço para tantos carros e a área aberta não comporta muito mais do que setenta pessoas, então...
– Não quero convidados – eu disse rápido com medo do que eles diriam. – Não quero convidados, por favor! – encarei minha mãe, segurando sua mão em súplica.
– Mas, Charlotte... – ela começou a falar.
– Mãe, eu não quero um grande acontecimento. Todas as pessoas que eu amo estão aqui nesta sala, não preciso de mais ninguém para compartilhar a minha felicidade. Eu sei o que a senhora está pensando, no entanto, um casamento pode ser lindo e perfeito apenas com a presença de nossos familiares, e ele será. Eu deveria ter casado naquele feriado, só que fui pega de surpresa e tive medo. Agora não tenho mais. Eu sei o que quero mãe. Para que seja uma festa perfeita, uma em que eu realmente me sinta feliz e realizada, tem que ser assim. Apenas com todos que estavam lá quando tomamos a decisão.
– Tiffany e Anita também? – Patrício perguntou com voz debochada.
Meu sangue ferveu na veia. Ele nunca tinha nada de interessante para falar? Olhei para Alex que sorria amplamente, divertindo-se com o comentário infeliz do irmão. Claro que ele se divertiria.
– Sem Anita e, principalmente, sem Tiffany.
– Anotado – Lana fingiu tomar nota da minha exigência.
– E então... – olhei para meu pai que me encarava sem acreditar em minhas palavras. – Alguns dias depois teremos a formatura. Aí vocês poderão fazer a festa da forma como quiserem, eu não vou me importar. Juro! – ele suspirou e colocou o copo sobre a mesa.
– A festa de formatura será à fantasia, Charlotte – eu sabia que não era como ele sonhava, no entanto o que deveria contar mais, o que eu queria como festa de casamento ou o que ele desejava?
– Eu gostei da ideia – minha mãe falou saindo em minha defesa. – Uma festa íntima, o que não será nem um pouco menos importante ou sem o brilho que um casamento exige. E o rancho é realmente maravilhoso, será tão romântico. Tenho certeza de que Lana conseguirá organizar a festa perfeita – e havia tanta emoção em seus olhos, um brilho que me impulsionava a desejar abraçá-la.
– Obrigada, Mãe!
– Que seja! – ouvi meu pai reclamar. – Ela sempre consegue tudo do jeito que quer mesmo. Eu estou te falando, Alex, não será nada fácil.
– Vai ser uma festa incrível – meu noivo respondeu alegremente.
– Certo – Dana falou chamando a nossa atenção. – O rancho é um lindo lugar e uma festa para poucos convidados pode ser até mesmo uma desculpa romântica, só acho que alguns convidados sejam inevitáveis.
– Um número reduzido – Lana completou. – Juro que será um número bastante reduzido, Charlotte. Apenas alguns amigos mais próximos que se sentirão ofendidos caso não sejam convidados.
– Tudo bem – tive que ser complacente, não dava para ser tudo como eu queria.
– Neste caso... – meu pai voltou a se interessar. – Acredito que também teremos direito a alguns convidados.
– Uma lista bem reduzida, Peter – minha mãe rebateu com voz firme. – Bem. Reduzida – eu tinha certeza de que ele havia entendido o recado.
– Vou repensar o vestido. Quer ver os modelos?
Lana se aproximou com um tablet e toda a noite girou apenas em torno do meu casamento perfeito.
ALEX
Foram os dias mais felizes e tranquilos da minha vida. Depois que finalmente Charlotte disse sim, que conseguiu encontrar um equilíbrio para a cerimônia do casamento, que convenceu nossas famílias a fazerem como ela desejava, minha vida tinha assumido uma calmaria deliciosa.
Em cinco dias, conseguimos avanços que até então nem acreditávamos. Charlotte resolveu caminhar com Miranda todas as manhãs e, às vezes, nós nos encontrávamos na praia. Todas as noites jantávamos juntos, na casa dela, sob a supervisão de Peter, que estava tão satisfeito com o nosso progresso que fazia vistas grossas.
Namorávamos no sofá, fazíamos planos, conversávamos e resolvíamos juntos qualquer problema.
Lana não dava sossego à minha noiva durante o dia inteiro. Era prova do vestido, escolha da comida, das flores, das músicas... Enquanto eu precisava resolver todas as pendências para conseguir me ausentar por alguns dias.
Tínhamos decidido que chegaríamos um dia antes ao rancho, para organizar tudo a tempo, e a família ficaria lá até um dia após o casamento, Charlotte e eu voltaríamos logo após a cerimônia e só viajaríamos em lua de mel depois da formatura.
Ainda havia o problema da faculdade. Tínhamos uma reunião agendada para dois dias após o meu casamento, em que ficaria decidido o futuro da minha noiva. Este era o ponto que mais me atormentava.
Naquela noite, cinco dias após termos passado uma tarde deliciosa no motel, Charlotte resolveu que era hora de termos um pouco mais de privacidade, e decidiu jantar em minha casa. Só nós dois. Um sonho para qualquer casal que só conseguiu alguns amassos nos últimos dias.
Ela havia ligado pela manhã para me avisar e disse que eu não precisaria me preocupar com Peter. Bom, eu realmente não me preocupei. Lana me fez passar parte da manhã experimentando smoking, em minha sala, entre uma papelada e outra. Descartei de imediato o azul e ela ficou indecisa entre o creme e o preto. Eu ficaria com o preto, mas era melhor deixar a decisão para a minha irmã caçula, ou não teria paz até o dia do casamento.
No período da tarde, após ela enfrentar duas reuniões, avisou-me que precisava ir para casa pois era necessário tratar de alguns detalhes do casamento com Charlotte. Para tanto, levou alguns documentos para analisar no período da noite.
Eu trabalhei o quanto pude, mas no horário apropriado para não me atrasar para o jantar, deixei a editora e enfrentei o congestionamento até chegar em casa. Ainda tive tempo de escolher o que comeríamos, retirar do congelador, decidir um vinho e tomar um banho. Quando desci de volta para a cozinha, ouvi o barulho do carro dela.
Eu ainda não entendia como Charlotte preferia andar com aquela coisa tendo dinheiro para comprar o carro mais caro e mais moderno fabricado no país, ou até fora dele. Deixei a vasilha sobre a bancada e larguei o pano de prato decidido a receber a minha noiva no meu melhor estilo.
Abri a porta quando ela bateu a do carro. Assim que Charlotte deu a volta e caminhou em direção à casa, eu notei que alguma coisa estava errada. Primeiro, ela estava apática, não sorriu, como costumava fazer. Segundo, a expressão de cansaço e dor a cada passada me deixou seriamente preocupado, a ponto de me adiantar alguns passos para pegar a bolsa da sua mão e auxiliá-la. Terceiro, assim que me aproximei percebi o quanto estava pálida, os lábios, sem batom, exibiam um tom levemente arroxeado, dispensando o rosa convidativo que sempre esteve lá.
– O que houve? – fui incisivo, mas ela apenas gemeu e se deixou abraçar. – Charlotte, o que aconteceu? Você está pálida.
– Eu estou bem – forçou os passos para que entrássemos em casa.
– Por que não me ligou para buscá-la? Por que dirigiu até aqui não se sentindo bem?
– Eu estou bem, Alex. Só preciso sentar.
Caminhamos para dentro de casa, no entanto eu não conseguia deixar de ficar inquieto. Charlotte sentou no sofá e encostou a cabeça, fechando os olhos.
– O que está sentindo?
– Cólica – revelou por fim. Levei um longo segundo para compreender o sentido total daquela palavra.
– Ah! – foi só o que consegui dizer.
Eu ainda estava preocupado. Claro que estava! Não gostava da aparência doentia que ela exibia, nem da falta de cor do seu rosto, mas tenho que ser honesto, cólica era algo que poderia ser resolvido com um comprimido, assim o que passou a ocupar minha mente era a frustração da nossa noite, que não aconteceria, óbvio!
– Desculpe! Eu fiquei menstruada no início da noite – revelou abrindo os olhos. Eu tive que sorrir. Por que ela se desculpava por menstruar? Tudo bem que tínhamos planos e eu estava mesmo frustrado. Fazer o quê... era a natureza.
– Tudo bem. Está tão ruim assim? Por que não ficou em casa, Charlotte? – vi quando seu olhar endureceu e ela tentou disfarçar. Ok, foi uma bola fora. – Eu iria até lá, ficar com você – contornei a tempo. – Não foi nada inteligente dirigir até aqui sentindo dor.
– Eu não sabia que ficaria menstruada hoje. Chegou adiantada. Acho que toda esta loucura de casamento em tão pouco tempo me deixou mais tensa do que eu imaginei e esta foi a consequência – suspirou se movendo no sofá para melhor se acomodar. – Eu não estava esperando. Então quando consegui sair da casa da Lana e tomar um banho para vir te encontrar, percebi que tinha menstruado. Eu estava com pressa, não queria pegar trânsito ruim, assim, acredito, acabei ignorando os sintomas, que se agravaram no caminho.
– O que quer tomar? – levantei para pegar um pouco de água.
– Preciso de leite, por favor. Não gosto de tomar comprimido com água – ela abriu a bolsa procurando provavelmente pelo remédio.
– Nem todos os comprimidos podem ser ingeridos com leite, Charlotte. Não sei como você consegue ser tão desatenta tendo um pai como Peter – ri sentindo meu corpo relaxar.
– Eu só tomo com leite – rebateu com teimosia e sem um pingo de divertimento. TPM. Só podia ser.
– Eu vou buscar.
Saí da sala pensando no quanto eu precisaria ser cuidadoso naquela noite. Era melhor não brincar quando Charlotte estava aborrecida, piorava quando ela estava de TPM. Quando voltei, ela segurava o comprimido em uma das mãos e permanecia de olhos fechados, com a cabeça apoiada no sofá.
– Por que não descansa um pouco? – sugeri ao lhe entregar o copo com leite. Charlotte ingeriu o remédio imediatamente. – Quantos comprimidos engoliu?
– Dois.
– Dois? Meu Deus, Charlotte! Por que não entendo logo de uma vez que preciso fiscalizar os seus atos?
– Porque eu não tenho dois anos. Sei o que estou fazendo – olhei para ela percebendo o quanto aquela situação a aborrecia.
– É sempre assim? – Charlotte me lançou um olhar fulminante. – Essa cólica, a dor, o mal-estar... Todos os meses você passa por isso?
– Oh, sim. E agora ainda terei que conviver com a angústia de tomar uma injeção todos os meses bem nesta época – mais uma vez me peguei pensando sobre o que ela estava falando, até que entendi, e gostei. Mordi o lábio, sentando-me ao seu lado. Segurei os pés de Charlotte para retirar suas sapatilhas.
– O que está fazendo?
– Cuidando de você – fiz com que ela deitasse e seus pés estivessem sobre meus joelhos. Charlotte me encarava com os olhos bem abertos, como se eu estivesse fazendo algo de errado.
– Não está aborrecido?
– Por quê?
– Porque eu fiquei menstruada – ri baixinho.
– Não. Só fico preocupado com esta reação todos os meses.
– Não se preocupe. Normalmente eu tomo remédios e durmo durante quase três dias inteiros.
– Que péssimo, Charlotte! Por que não faz algo a respeito?
– Porque até então eu não podia tomar anticoncepcional. Meu pai morreria do coração só de imaginar.
– Que absurdo!
– E eu nunca fiquei muito à vontade na presença de uma agulha.
– Não precisa ser assim. Existem outros métodos. Um DIU, um implante, por exemplo.
– Implante?
– Nunca ouviu falar? – massageei seus pés com carinho. – Bom, é um implante na parte interna do braço, aqui – levantei o braço mostrando o bíceps, ela sorriu de leve. Sempre Charlotte! – Um dispositivo pequeno e fininho que coloca embaixo da pele e que dispara a quantidade certa de hormônio para te proteger de engravidar e não permite que a mulher menstrue por até dois anos.
– Que sonho! – voltei a massagear os pés dela. – Mas se eu tiver que perder essa massagem todos os meses, prefiro arriscar a sentir dor – beijei seus pés e levantei.
– Eu tinha escolhido um lombo para o jantar, nas circunstâncias atuais acho melhor trocarmos por uma sopa, o que acha? – Charlotte fez cara de desagrado.
– Não quero comer.
– Mas precisa e a sopa é a melhor pedida.
Saí para trocar os pratos, deixando-a no sofá. Vasculhei o congelador encontrando uma sopa de abóbora com carne seca que era perfeita. Coloquei o lombo de volta e liguei o micro-ondas para aquecer o jantar.
Voltei para sala e encontrei Charlotte quase adormecida. Linda, apesar da palidez. A calça jeans colada ao corpo me fez imaginar se não estaria apertando o seu corpo a ponto de aumentar a cólica.
– Alex? – ela me pegou de surpresa observando o seu corpo.
– Não prefere tirá-la? – Charlotte fez cara de surpresa, sem acreditar em minha proposta. – Não está apertando?
– Não – sua voz fraca entregava o quanto aquela pergunta mexeu com ela. – Pelo contrário. Eu me sinto mais... – desviou o olhar, um leve rubor alcançando sua face e me deixando maravilhado – ... segura.
– Segura? – ri sem graça. – Segura em relação a mim?
– Não! – o rubor se intensificou. – Em relação a mim – ela se movimentou para sentar, mas desistiu e se acomodou no sofá.
– E o que você pode temer?
– Deus, Alex! Não vê que é um assunto constrangedor? – não entendi o que ela dizia. – Céus! – Charlotte cobriu o rosto com um braço. – Tenho medo que o absorvente não seja suficiente para conter o fluxo, caso a calcinha não consiga mantê-lo no lugar, então as roupas mais justas ajudam um pouco.
– Ah! – foi a minha vez de ficar sem graça. – Não gosta de absorventes internos?
– Jesus Cristo! Você é mesmo bem entendido dessas coisas, não? – ela me encarou com reprovação. Dei de ombros.
– Vou olhar a sopa – saí da sala voltando à cozinha no momento em que ouvi o apito do micro-ondas.
Retirei a vasilha, despejei o líquido, ainda gelado, na panela e levei ao fogo, mexendo aos poucos para não grudar no fundo. Enquanto cuidava do jantar, tentei ouvir qualquer movimento na sala, mas o silêncio era soberano. Charlotte com certeza estava sonolenta e poderia facilmente ter pegado no sono.
Servi dois pratos, coloquei-os em uma bandeja grande, acrescentei dois copos com água, uma pequena vasilha com torradas e equilibrei tudo até a sala. Charlotte estava com os olhos fechados, os abriu lentamente quando me ouviu chegar. Coloquei a bandeja sobre a mesinha, enquanto ela sentava no sofá.
– É abóbora?
– Sim. Gosta?
– Gosto – ajustou os óculos. – Estou mesmo sem fome, Alex.
– Tome pelo menos um pouco. O calor vai ajudar com a cólica.
Ela me lançou um olhar estranho, como se eu tivesse falando algo indevido. Mesmo assim, estendeu um guardanapo nos joelhos e segurou o seu prato, levando uma colher à boca. Fiz o mesmo observando tudo o que ela fazia.
– Eu estava aqui pensando... – começou e eu não consegui conter o girar dos meus olhos.
– Eu deveria imaginar – ri e ela outra vez ficou de cara fechada. – Fale, amor. – Charlotte engoliu um pouco mais da sopa, e desviou o olhar.
– Isso é um problema para você? – eu me perguntei se o vermelho em seu rosto era por causa da quentura da sopa ou do que ela estava pensando.
– Isso o quê?
– A mulher estar... – brincou com a colher no prato. – Você sabe... quando a mulher está menstruada... você...
– Se eu me importo em transar? – o vermelho se expandiu até suas orelhas. Sorri largamente. – Nunca aconteceu. Normalmente eu respeito o momento. As mulheres se sentem incomodadas, então esta é uma experiência que eu ainda não tive.
Ela me observava sem se mover um centímetro. Seus olhos não deixaram os meus, e sua boca estava levemente aberta. Quando terminei de falar, ela engoliu com dificuldade e voltou a brincar com a colher.
– E você...
– Charlotte, eu... – pensei no que poderia dizer a ela sem aborrecê-la ainda mais. – Eu nunca pensei no assunto, mas, para ser sincero, não consigo enxergar uma situação em que eu não queira transar com você. Imagino que com você neste estado não seja nada confortável, se não fosse a dor... sei lá. Talvez se estivéssemos no banho – ela mordeu levemente o lábio inferior, o que reverberou em minha virilha. – Não que eu me importe com a cama – um sorrisinho brincou em seus lábios. – E você só pensa em sexo, meu Deus! – Charlotte riu. Foi a primeira vez naquela noite e significou muito para mim. – Eu transaria com você até mesmo se estivesse em coma.
– Porra! – ela gargalhou e eu ganhei a noite. – Seu doente!
– Você é a minha doença – ela continuou rindo e voltou a tomar a sopa, desta vez com mais vontade.
– Como aprendeu tanto sobre essas coisas? – ela mudou o tom de voz, voltando a ficar mais dura. – São muitos detalhes para uma pessoa que não menstrua.
Olhei fixamente para a minha noiva. Eu não estava disposto a perder aquela noite e uma briga não poderia ter espaço entre nós dois.
– Andei pesquisando – continuei com o olhar fixo no dela. Charlotte estreitou os olhos, sem acreditar. – Você começou a usar anticoncepcional então achei que poderia ajudar me informando sobre o assunto – ela continuou não acreditando. – E ter uma irmã caçula ajuda um pouco – ela riu balançando a cabeça e colocou o prato quase vazio sobre a mesa, depois voltou a se deitar.
– Você é um grande mentiroso, Alex – suspirou fechando os olhos. A voz ainda era divertida e com um leve tom de cansaço.
– É. Às vezes, eu sou. Mas só um pouquinho – fui cauteloso. Ela ficou em silêncio por tempo demais. Quase acreditei que estava dormindo quando ela suspirou forte e falou.
– Alex? – a voz carregada de sono me surpreendeu.
– Sim.
– Eu não queria que você mentisse. Nunca.
Fiquei gelado. O que eu poderia dizer?
– Mentir é algo relativo, Charlotte – mantive a voz baixa. – Às vezes, é por uma causa nobre, outras é por necessidade e pode também ser essencial – ouvi sua respiração baixa. Coloquei o prato sobre a mesa e me aproximei dela. Charlotte dormia.
Encostei-me no sofá e fiquei incontáveis minutos pensando no quanto aquela mentira poderia me prejudicar. Era a segunda vez que ela me dizia que não queria que eu mentisse. Eu mentia? Não. Eu queria aquele casamento tanto quanto os pais dela. Era por amor e este motivo deveria ser o único a contar.
Voltei a olhar para Charlotte. Eu não queria acordá-la, nem deixá-la aquela noite, por isso tomei a decisão. Peguei o celular e liguei para Peter, que atendeu no segundo toque.
– Alex, aconteceu alguma coisa?
– Não – levantei me afastando para não acordá-la. – Na verdade, estou ligando para avisar que Charlotte pegou no sono. Eu poderia colocá-la no carro e levá-la para casa, mas prefiro deixá-la dormir – ele ficou em silêncio, depois soltou o ar com força.
– Você sabe que eu tenho vontade de socá-lo todas as vezes que me faz uma proposta como esta, não sabe? – recuei me afastando do telefone e olhando para o visor.
– Bom, ajudaria se eu te dissesse que ela apagou porque precisou tomar um remédio forte para cólica? Cólica menstrual – acrescentei rapidamente.
“Eles vão se casar em alguns dias, Peter!”
A voz de Mary chegou aos meus ouvidos, o que facilitava um pouco as coisas.
– Hum! – ele pareceu pensar no assunto. – Não é o que eu gostaria, neste caso, vou abrir uma exceção tendo conhecimento de como é este período para Charlotte, eu estou de acordo, mas quero minha filha em casa amanhã cedo.
– Pode deixar, Peter. Boa noite.
– Boa noite.
Ele desligou deixando-me surpreso. Voltei à sala, levei os pratos de volta para a cozinha, deixando tudo na máquina de lavar pratos e voltei para pegar minha noiva nos braços e levá-la ao nosso quarto.
Enquanto subia os degraus no escuro, peguei-me pensando no quanto estar ali com ela me agradava, mesmo que não fosse para fins sexuais.
CAPÍTULO 28
“Se ele é tolo ao amar o olhar dela. Ao amá-lo, eu caí numa esparrela. Às coisas vis, que não têm qualidade. O amor empresta forma e dignidade. Porque não vê com os olhos nem com a mente. Cupido é alado e cego, à nossa frente. Amor não tem nem gosto nem razão, asas sem olhos dão sofreguidão. Se cupido é criança, a causa é certa...”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Encontrei o pequeno pacote na poltrona que ficava ao lado da cama. Quando acordei nem imaginei onde estava, o que tinha acontecido. Precisei me mover na cama espaçosa para perceber que estava sem a calça, o sutiã e os sapatos, usava apenas a camiseta que havia escolhido para o jantar com Alex.
O incômodo logo me lembrou do motivo para que eu não tivesse lembranças do que aconteceu depois do jantar, e a sensação molhada me fez ter vontade de tomar banho o quanto antes.
Foi por isso que o pacotinho chamou tanto a minha atenção. Levantei, certificando-me de que a cama continuava incólume, caminhei até o embrulho onde havia um cartão escrito “Charlotte”. Peguei-o e desfiz o laço. Dentro da caixa havia uma calcinha, bege, relativamente grande, com aparência de confortável e adequada. Sorri largamente.
“Acredito que esteja sentindo falta da calcinha da sua avó.” Estava escrito no cartão de dentro. Alex era incrível!
Minha bolsa estava no mesmo local, então procurei o pacote de absorventes que eu havia colocado lá quando saí de casa e fui para o banheiro. Era delicioso poder me sentir limpa e pronta para o mundo.
Após o banho desci as escadas, sem ouvir qualquer indício da presença do meu noivo pela casa. Fui até a cozinha, onde encontrei outro cartão, sobre a bancada. “Tem suco na geladeira e bolo. Os pães e as cápsulas de café estão no armário. Espero que consiga achar tudo. Fui surfar. Te amo! Alex”. Lindo! Dava para ser menos apaixonante?
Abri a geladeira e retirei de lá a jarra de suco de laranja e o bolo. Escolhi o sabor do café e preparei a cafeteira. Sentei no balcão, reli o bilhete enquanto comia o bolo delicioso de milho, depois desfrutei de uma xícara fervente de café forte. Eu estava pronta para qualquer batalha.
Foi quando Alex chegou. Ele entrou sem a prancha, a roupa colada ao corpo e molhada indicava que ele realmente esteve surfando. Levava uma caixa nas mãos que parecia ter sido entregue pelos correios. Deixou a sandália ao lado da porta e me procurou com os olhos, encontrando-me sentada em um dos bancos altos, no balcão da cozinha.
Alex sorriu. Não um sorriso qualquer. Foi aquele sacana, cheio de promessas e expectativas, aquele que roubava despudoradamente todo o meu raciocínio, a minha decência. Era aquele sorriso que me despia sem sequer me tocar e me deixava úmida sem precisar de uma palavra.
E então, sentindo meu útero se contrair em espasmos nada agradáveis, dei-me conta de que nenhuma daquelas promessas poderia ser concretizada e, por alguns segundos, odiei a natureza feminina. Era tão desnecessário menstruar quando se tinha um noivo, futuro marido, lindo, dono de um corpo perfeito e totalmente disposto a realizar todas as suas fantasias sexuais!
Talvez eu pensasse mais seriamente sobre o implante.
Ele caminhou na minha direção, o corpo felino com movimentos decididos, transpirando sensualidade, a pele molhada e, com certeza, salgada, os músculos tonificados pelo esforço do surf, os olhos azuis que me sugavam para um mundo só nosso, o sorriso perfeito, safado, descarado, esticado para um dos lados do seu rosto... Menstruação, como eu te odeio!
– Bom dia! – inclinou-se beijando meus lábios e depois meu pescoço. Porra!
– Bom dia!
– Chegou isso para você – deixou a caixa sobre o balcão.
– Para mim? – Alex manteve o sorriso, deu a volta buscando por um copo ao lado da pia e voltou para se servir de suco de laranja. – O que poderia chegar na sua casa para mim?
– É só abrir, amor – sentou-se e me observou. Dei de ombros e comecei a abrir a caixa.
Ela era amarela, típica dos correios e constava o nome de uma empresa que eu não consegui identificar. Dentro dela um saco preto, sem nenhuma identificação. Olhei para Alex, que bebia o seu suco e me observava com divertimento.
– O que será? – ele riu baixinho.
– Pelo visto nunca viu nada parecido, não é mesmo?
Tentei entender o motivo daquele comentário, pois ele estava se divertindo enquanto eu não fazia ideia do que se tratava. Forcei o saco preto. Era forte e resistente, difícil de rasgar.
– Vou precisar de ajuda.
– Um minuto – ele levantou, abriu uma gaveta, retirou de lá uma tesoura e a colocou sobre o balcão. Depois me olhou, sugerindo que eu desse continuidade ao processo.
Retirei o saco de dentro da caixa. Ele era grande e relativamente pesado. Testei o meu tato, tentando identificar o que havia dentro dele. Eram vários objetos. Alex riu outra vez, o que me deixou irritada. Peguei a tesoura e abri pela ponta. Alex me assustou tamborilando no balcão como se estive rufando os tambores para acentuar a expectativa.
Revirei os olhos e meti a mão no saco para pegar qualquer um dos objetos que estava lá dentro e o que retirei de lá me deixou tão constrangida que senti a pele do meu rosto queimando.
– Isso é... – Alex riu alto e eu não tive coragem de olhá-lo nos olhos.
Bom... em minhas mãos estava uma embalagem quase anatômica, contendo o que parecia ser um pênis, só que moderno e rosa, sem contar que a inclinação não era muito adequada, além do pequeno gancho do lado. Rapidamente me lembrei da tarde em que Alex me fez escolher produtos em um site de artigos para adultos, e lembrei exatamente da sua sugestão sobre eu ter um vibrador.
Porra, eu tinha em mãos um vibrador. Um que foi escolhido pelo meu noivo, sugerido por ele e que além de me deixar ainda mais envergonhada, conseguia me deixar excitada.
– Uma pena não ser o período adequado – ele disse como se estivesse me falando sobre as ondas do mar naquela manhã. Engoli em seco. – Eu realmente gosto quando você cora deste jeito, Charlotte. Isso me leva a pensar se você está se recriminado ou fantasiando. Eu aposto no fantasiando.
– Você me conhece muito bem – falei baixinho, deixando um sorriso inocente se estender em meus lábios. Alex ficou sério e, por Deus, suas pupilas começaram a se dilatar. – Refresque a minha memória, professor – mantendo os cílios baixos, consegui olhar para ele, afastando a minha timidez. – Eu devo usar este acessório sozinha ou o senhor vai querer me ensinar?
Ele respirou fundo, afastou a cadeira e levantou-se, contornando o balcão. Alex me abraçou pelas costas, a pele quente dos braços aquecendo a minha. Seus lábios foram para o meu pescoço.
– Faço questão de te guiar, Charlotte – sussurrou rouco em minha orelha. – Vamos ver o que temos aqui.
Ele enfiou a mão no saco e retirou de lá um saquinho com um objeto de borracha, de um azul forte, em formato oval e com um furo no meio. Parecia um anel. Um anel peniano.
– Você vai gostar disso. Esta parte aqui de cima vibra, bem aqui – sua mão foi para o meio da minha perna, pressionando o meu centro de prazer.
– Alex! – gemi um misto de susto e desejo.
– E esta parte aqui vai fazer pressão bem aqui.
Porra! A outra mão de Alex se enfiou por baixo da cadeira, cercando-se da minha bunda e pressionando bem no meio, lá, naquele lugar tão proibido. Porra, um milhão de vezes. Sim, eu ainda lembrava do quase beijo, e de tudo o que eu senti apenas com a insinuação de que poderia acontecer.
Para piorar a minha situação, ele pressionou os dois dedos, nos dois pontos. Mesmo por cima do absorvente eu senti o que aqueles dois lugares estimulados ao mesmo tempo poderia fazer com o meu equilíbrio mental.
Então suas mãos deixaram meu corpo, não sem que Alex fizesse questão de se aproximar ainda mais, deixando seu sexo duro se esfregar em minha bunda, apenas para atiçar a minha imaginação. Eu nem vi quando ele retirou uma caixa de dentro do saco, apenas notei o seu gemido.
– Hum! Isso aqui eu realmente estava ansioso para experimentar.
Reconheci o vibrador que ele havia insistido para comprarmos, afirmando que estimularia nós dois ao mesmo tempo durante o ato sexual. O objeto me deixou insegura. Se eu era mesmo apertada como Alex afirmava todas as vezes que se enfiava em mim, como caberia aquilo e o seu... o seu membro, de uma vez só?
– Vai ser gostoso, amor – beijou meu ombro, segurando minha barriga para puxar-me ainda mais de encontro ao seu pau. – Pena que este vai esperar até depois do casamento.
– Como assim? – ele riu, abafando o som em minha pele.
– O melhor vem depois. Deixa eu ver o que mais temos aqui – ele pegou o saco e o virou de encontro ao balcão, deixando mais algumas caixinhas caírem. – Isso! Esse aqui também vai ser muito bem-vindo.
– O que é isso?
Peguei a embalagem da mão dele e virei a caixinha para todos os lados tentando entender. Era uma circunferência, parecendo-se com o anel peniano e que me fez deduzir que ele ficaria realmente no sexo do meu noivo, só não entendi por que acoplado a ele tinha um pênis de borracha, pequeno, um pouco longo, e fino.
– Pelo que tenho percebido este acessório vai ser interessante – outra vez sua mão me puxou de encontro ao seu sexo e seus lábios alcançaram meu pescoço. Mordi o lábio.
– Para que serve isso? Eu não consigo... – revirei a caixa outra vez na mão tentando encontrar o ângulo certo.
– É assim – ele abriu retirando o objeto lá de dentro. – Aqui – indicou o buraco –, eu entro.
– Você entra? E isso aqui? – segurei o pequeno pênis percebendo como ele era maleável.
– Isso... entra em você.
Puta merda!
– Em... mim? – minha voz quase não saiu.
– Sim.
– Co-co-como? – ele riu retirando meu cabelo do ombro.
– Eu estarei aqui em você – outra vez desceu a mão até o meio da minha perna. – E ao mesmo tempo ele vai...
– Ai, meu Deus!
– Você vai gostar – abraçou-me com força. – E eu também.
– Puta merda, Alex!
– Você vai gostar, amor!
– Eu sei – puxei o ar com força. – Eu sei.
– Então?
– Eu só quero entender... isso...
– Hum? – começou a deixar um rastro de beijos em meus ombros, pescoço, e tudo em mim acendeu.
– Alex?
– Diga, amor.
– Isso aqui vai entrar em meu... em minha... – ele riu.
– Vai.
– Enquanto você vai estar em minha...
– Exatamente.
– E a ideia é?
– Te proporcionar mais prazer.
– Apenas isso?
– Te deixar mais à vontade com a situação.
– Ah!
– Te mostrar que não tem por que temer. Que vai ser bom.
– Oh, droga!
Gemi sem saber se de medo ou de ansiedade. Claro que a ideia me atraía, afinal de contas, eu já tinha tido algumas demonstrações e em todas tive a certeza de que não recusaria um pedido dele. No entanto, pensar no assunto sem estar no ato de fato, era muito mais aterrorizante.
Porra, aquilo devia doer, ser desconfortável... sei lá! Deveria ser um monte de coisas, e mesmo assim, eu sabia que não conseguiria me negar.
– Deixa acontecer. Na hora, você decide.
– Você fala assim porque sabe que quando está com as mãos em mim, trabalhando junto com os lábios, em completa harmonia com a língua e todos eles juntos estão em perfeita sincronia com seu pau, eu não consigo ter um pensamento coerente.
Alex gargalhou.
– Vou tomar um banho e sair em vinte minutos. Você precisa voltar para casa ou seu pai me mata antes do casamento.
– Meu pai. Merda! O que você falou para ele? Merda!
– Eu falei que você se sentiu mal com cólica menstrual e acabou apagando por causa do remédio – foi inevitável sorrir. Meu pai conhecia o meu estado quando eu menstruava e saber que ele conhecia o fato me ajudaria a entrar em casa sem precisar responder a um questionário.
– Perfeito! Bom, vou andando – levantei-me afastando-me de Alex para não me sentir mais tentada.
– Vejo você à noite? – ele diminuiu a distância entre nós dois, atordoando-me.
– Hum! Claro! Vamos passar mais uma noite em que eu apago no sofá.
– Falta pouco agora.
– Nove dias – seu olhar se tornou tão intenso que me hipnotizou.
– Nove extensos dias – seus dedos longos tocaram meu rosto esquentando minha pele como fogo. Então ele se curvou e me beijou.
Ah, Deus! Eu adorava os beijos de Alex. Eram tão quentes, saborosos, apaixonados, intensos... e tudo aquilo era o que Alex era e ponto final.
Senti que estava perdendo a batalha contra o equilíbrio, quando minhas mãos agarraram a camisa úmida e colada ao corpo, subiram explorando cada músculo bem talhado, quando minhas pernas diminuíram a distância entre nós dois e fazendo meu corpo colar ao dele, aprofundando o beijo.
Santo Deus, o que eu não daria para estar na cama daquele homem naquele momento, sendo amada por ele?
– É melhor não nos empolgarmos, Charlotte – ele disse se afastando e mantendo a um braço de distância.
– Merda! – Alex riu.
– Uma grande merda!
ALEX
– Não!
Abri a porta da sala procurando Simone, mas ela não estava, então deixei a papelada sobre a mesa com um bilhete avisando para entregar ao pessoal da diagramação. Voltei para a sala encontrando um João Pedro ansioso.
– Lana vai matar você – avisei antes de voltar a sentar para conferir o arquivo que tinha acabado de receber.
– Lana não precisa saber dos detalhes. Só se você for muito filho da puta para contar.
– Você é um filho da puta por estar me fazendo esta proposta. Lana é minha irmã.
– Todos os homens merecem uma despedida de solteiro, Alex. Você está todo relutante porque só tem poucos dias com a menina. Vou esperar passar dez anos para ouvir a sua lamentação por ter recusado uma última trepada com estilo.
– Por que você é tão idiota? Aliás, como conseguiu me convencer a deixá-lo casar-se com a minha irmã? – Desisti do arquivo. João não me deixaria trabalhar mesmo.
– Porra, Alex! Só você vai foder nesta noite. Quer dizer, Patrício agora é solteiro e tal... mas eu prometo que não vou encostar um dedo em nenhuma das garotas. Juro! Se isso acontecer pode contar para a Lana.
– João, se eu vou estar trepando, quem vai ficar de olho em você? – ele me encarou sem saber o que responder, depois riu.
– Sabe o que está acontecendo? Você está dominado. Sua recusa é nada menos do que medo. Está morrendo de medo que Charlotte descubra e te abandone. Você é um cretino, Alex!
Ri. João era muito sem noção. Completamente sem noção.
– Existem dois pontos neste problema, João: primeiro, eu realmente não penso em transar com nenhuma outra mulher – ele ia protestar e eu o impedi. – Por mais gostosa que ela seja e, mesmo sendo apenas para fazer uma farra de despedida, uma última trepada antes do casamento. Não! Eu não quero nenhuma outra mulher. É uma pena perceber que para você funciona de forma diferente. Segundo, sim, eu estou com medo de Charlotte. Na sua despedida você quase surtou quando a garota sentou nua em seu colo e Patrício tirou uma foto.
– Patrício é um filho da puta de último escalão. Porra, ele ameaçou contar a Lana. Ele me mostrou a merda da foto no altar. Sabe o que é isso? Tem noção de como eu fiquei?
– Tenho. Eu estava lá para ver você quase se cagar todo no altar de tanto medo – comecei a rir lembrando-me daquele dia.
Claro que Patrício nunca mostraria a foto a Lana, por dois motivos: ele havia organizado a despedida de solteiro de João Pedro e, apesar de ter prometido que seriam somente alguns amigos, muita bebida e nada de mulheres, conseguiu fazer com que várias garotas que conhecia, todas lindas, é bem verdade, estivessem presentes. Aquela noite foi uma loucura, e era exatamente por isso que eu não podia permitir que o mesmo acontecesse comigo. Até hoje ninguém conseguiu descobrir se João transou ou não com a garota, de tão bêbados que ficamos.
Eu só sei que acordei nu, com três garotas nuas ao meu lado, e João agarrado às costas de uma delas, completamente desprovido de roupas. Um pouco mais distante estava Patrício, da forma como veio ao mundo, sentado na poltrona com duas garotas dormindo sentadas no chão e as cabeças nas pernas dele.
O motivo para isso era que Patrício preferia que João comesse qualquer outra garota a Lana. Pelo menos não antes do casamento. E como nossa irmã casaria virgem, ele ofereceu uma última noite de farra ao homem que se comprometeria a ter apenas a nossa irmã pelo resto da vida.
Eu não precisava de uma despedida de solteiro.
– Vamos lá, Alex! Ninguém precisa saber o que vamos fazer. Podemos dizer que vamos apenas nos reunir e beber. O local que fomos daquela vez seria perfeito. Ninguém descobriria.
– Não vou passar meus últimos momentos de solteiro na cama com uma puta, João. Charlotte não merece isso.
– Tudo bem então, nada de putas. Quem precisa de putas quando existem várias gostosas loucas para tirarem a roupa para você, hum? Vamos a um bar, usamos a técnica de sempre e depois terminamos em um hotel discreto, em uma farra particular.
– Eu tenho quase certeza de que comi a sua bunda na sua despedida de solteiro.
– Vá de foder! – ri e ele ficou irritado.
Eu e Patrício nos aproveitamos da amnésia do nosso amigo durante muito tempo, fazendo piadas sobre a virgindade anal dele, e de lembranças que fingíamos ter. João normalmente ficava desesperado, apesar de fingir saber que brincávamos.
– Não combinem nada, está legal? Nada! Não quero uma despedida de solteiro e, conhecendo Charlotte como conheço, isso vai virar um inferno se ela descobrir.
– Ok, idiota! Mas fique logo sabendo que Lana já fechou com um “clube das mulheres”. Ela vai oferecer a despedida de solteira da sua noiva, e eu espero mesmo que Charlotte encontre um dançarino bem-dotado em quem ela possa colocar uma nota de cem reais.
– Lana o quê?
CHARLOTTE
Era muito ruim ficar menstruada, piorava quando vinha acompanhada por cólicas, e fica ainda pior quando eu precisava sair de casa. Dois dias depois de ter passado a noite na casa de Alex, eu ainda penava com a minha situação. O fluxo havia diminuído, as dores não eram tão degradantes, no entanto o incômodo continuava.
Eu precisei passar na faculdade para confirmar as minhas notas e dar entrada no pedido do diploma. Miranda só poderia ir pela tarde, como eu tinha mais uma prova do vestido de noiva, precisei fazer pela manhã.
Naquele dia, em especial, eu estava muito irritada. Não apenas por estar menstruada, ou por ainda sofrer com as cólicas, nem mesmo por este fato me impedir de ter qualquer momento mais íntimo com o meu noivo, ou por não conseguir nenhuma hora livre do meu dia que não fosse para resolver coisas do casamento ou da formatura. Eu estava especialmente irritada por meu carro ter se recusado a pegar naquela manhã.
Tudo bem que ele era velho e que já vinha apresentando problemas há algum tempo, mas eu não o deixava se acabar, fazia de tudo para mantê-lo funcionando, cuidando das revisões, trocando sempre as peças por originais, mesmo quando eram absurdamente caras por serem difíceis de se encontrar. Não havia motivo para ele ter me deixado na mão.
– Eu não entendo como você prefere andar por aí com essa lata velha quando eu já lhe presenteei duas vezes com carros novos, muito mais adequados à sua posição – meu pai falou quando precisei lhe pedir carona.
Revirei os olhos segurando a língua para não fazer o meu discurso habitual. Ele não entendia.
De fato, quando eu fiz dezoito anos, fui presenteada com um carro lindo, que deixou Miranda e Johnny boquiabertos, mas eu já tinha metade do dinheiro para comprar meu carro e não queria ceder a mais aquela investida do meu pai. Então o carro ficou na garagem até que ele se irritasse e o vendesse.
Quando fiz vinte anos, ele tentou a mesma abordagem. E o resultado foi o mesmo. Há quase dois anos ele não trazia de volta o assunto, o que era um grande alívio para mim.
– Graças ao meu carro velho eu nunca fui assaltada nem sofri uma tentativa de sequestro – ele riu.
– Com certeza, não é graças ao seu carro velho.
E a antiga desconfiança de que eu era seguida por seguranças veio à tona. Um saco! Além de me deixar apreensiva, afinal de contas, eu havia me encontrado com Alex diversas vezes para aulas nada decorosas. Céus!
E foi com este pensamento que ele me deixou em frente à faculdade. Eu ainda precisaria ligar para Johnny e pedir para ele me buscar.
Fui até a secretaria para solicitar o diploma, o que levou quase uma hora do meu dia, por causa da uma nota que ainda não estava no sistema. Aguardava pacientemente quando encontrei quem menos desejava: a professora Anita.
Com seus saltos absurdamente altos, uma calça jeans colada ao corpo deixando-o escultural, e uma camisa que nada condizia com a sua posição profissional, já que era de costas nuas e deixava os seios, siliconados, com toda certeza, soltos no tecido pendurado a frente.
Uma vaca!
– Rafaela, avise, por favor, a Susana que estou com todas as notas liberadas no sistema – ela me olhou rapidamente, virou em direção à secretária e se voltou para mim com cara de desgosto. – Charlotte Middleton!
– Como vai, Anita?
– Pensei que não a veria mais por aqui.
– Ainda faltam algumas burocracias antes da formatura.
– Isso se você se formar, não é? – como assim? O que ela queria dizer com aquilo?
– Seria impossível isso acontecer, já que as minhas notas são magníficas – estremeci com o sorriso diabólico que ela me lançou. Anita se aproximou de mim.
– Alex não te contou? O conselho está avaliando a sua situação. Você sabe, um envolvimento entre aluna e professor não pode ser ignorado – respirei fundo sem saber como reagir.
– O conselho não pode me reprovar. As minhas notas...
– Alex aprovou o seu projeto, quer dizer... antes de passar a responsabilidade para João Pedro, o que pode ser facilmente comprovado. Sem contar que por serem cunhados, a atitude do professor João torna-se suspeita. Os dois tinham interesse em aprová-la.
– O conselho vai ler o meu projeto e perceber que em nada fui favorecida por Alex ou qualquer outro professor.
– Será? – ela sorriu outra vez e se afastou.
Vaca, invejosa, maldita, mal-amada, puta siliconada dos infernos!
Afastei-me sem querer continuar no mesmo ambiente que aquela vadia, sem pensar duas vezes, peguei o celular e liguei para Alex.
– Oi! – sua voz não estava muito boa, provavelmente seria um dia cheio para ele também.
– Oi! Você nem vai acreditar no que aquela maluca da Anita me disse – Alex suspirou.
– Um minuto, Charlotte – ouvi barulhos do outro lado, passos e som de porta batendo. Arrependi-me imediatamente de ter ligado para enchê-lo logo cedo com os meus problemas. – Pronto, pode falar.
– Deixa para lá! Estou esperando concluir o meu pedido para o diploma, aqui na faculdade.
– O que aconteceu?
– Nada demais. Outra hora eu te conto. Acredita que meu carro quebrou? Johnny disse que só vai conseguir acompanhar o conserto amanhã.
– E como você foi para a faculdade?
– Meu pai me deu uma carona e provavelmente Johnny vem me buscar.
– Eu vou te buscar. Preciso mesmo conversar com você.
– Mas não vai te atrapalhar?
– Não – foi categórico.
O que havia acontecido? Alex não estava diferente do habitual. Ele não foi grosseiro, de maneira alguma! Mas foi frio e estranho. Algo estava muito errado.
– Tudo bem. Eu preciso pegar um trabalho na sala com o professor e depois disso acredito que estarei livre.
– Quanto tempo?
– Quarenta minutos, eu acho.
– Vejo você em breve.
– Ok!
Ele desligou sem dizer mais nada. Nada, nem um “eu te amo”, nem “beijo”, nada!
Com um suspiro me voltei para a secretaria, percebendo que Anita não estava mais ali. A secretária me aguardava com um papel na mão. Aproximei-me, notando o seu olhar que indicava que ela estava sem jeito para me falar o que quer que fosse.
– Tudo resolvido?
– Ah, Charlotte. Eu recebi uma ordem para te passasse este documento. É um pedido provisório, até que resolvam sobre o seu projeto.
– O meu projeto já foi aprovado!
– Desculpe, querida! Esta foi a ordem que recebi.
Merda! Mas ela nada poderia fazer. Eu tinha apenas que agendar um encontro com o reitor, exigir os meus direitos e tudo estaria resolvido. Puta que pariu! Mais e mais problemas.
– Posso solicitar um horário com o reitor? – ela me olhou surpresa e piscou muitas vezes.
– Sim, claro. Um instante.
Resolvido temporariamente o problema com o meu projeto, subi as escadas para encontrar a turma que receberia de volta o trabalho final com as observações do professor. Eu já esperava pelo que encontraria, por isso não demorei nem quinze minutos para me despedir da turma e do professor, levando comigo a nota máxima que apenas comprovava a minha capacidade.
Eu esfregaria na cara daquela Anita a minha aprovação. Faria ela, a vaca siliconada, comer o meu diploma.
Desci as escadas apressadamente, ciente de que ainda faltava muito para Alex chegar, contudo, já que sofreria uma avaliação acadêmica a respeito da minha capacidade como aluna, manter meu relacionamento em segredo, mesmo que temporariamente, poderia ser uma boa forma de me defender.
Além disso, eu precisava comprar uma Coca-Cola, o que ocuparia o meu tempo ocioso. Parei na lanchonete, fiz o meu pedido, aproveitando para conferir minhas mensagens, quando fui abordada outra vez.
– Charlotte!
A voz do Henrique quase me fez revirar os olhos. Por que ele sempre precisava demonstrar tanto entusiasmo quando me via? Será que aquele encanto nunca passaria? Que ele nunca desistiria?
– Oi, Henrique! Matando a saudade da faculdade? – peguei a Coca e comecei a me retirar do local sem a menor intenção de que ele me seguisse.
– Vim dar entrada em meu diploma, e você?
Droga!
– Vim fazer a mesma coisa. Eu tenho que ir agora...
– Já sabe o que vai fazer daqui para frente?
Ele continuou me acompanhando sem perceber que eu não tinha a menor vontade de tê-lo como companhia. Até porque Alex chegaria a qualquer momento e seria uma situação bastante embaraçosa.
– Não quero pensar nisso agora.
Eu já tinha muito no que pensar: casamento; me formar... ou não; se sim, baile de formatura; lua de mel... lua de mel, céus!
– Eu vou fazer uma especialização. Ficarei quatro meses em Chicago.
– Chicago? Que fantástico! Bom, neste caso...
– Por isso andei pensando em...
Paramos no estacionamento próximo à entrada da faculdade e a despedida seria inevitável. Não que eu quisesse me livrar do coitado, apesar de desejar que ele fosse logo embora. Henrique era uma boa pessoa, meio atrapalhado, isso lhe dava até um charme à parte. O problema era Alex, o seu ciúme e a bobagem de pensar que ele não era adequado para mim.
– Henrique, eu tenho mesmo que ir. Meu pai vai aparecer a qualquer momento para me buscar e...
– Desculpe, Charlotte, não temos mais muito tempo e eu não vejo como fazer isso de outra forma.
– O que...
Ele simplesmente avançou sobre mim e me beijou. Henrique me beijou com tanto ímpeto que eu não tive reação a não ser paralisar. Senti minhas costas se chocando contra um carro e o corpo do meu colega me imprensar, forçando o beijo.
Puta que pariu!
Com as mãos empurrei Henrique o máximo que pude, porém, meu corpo não correspondia adequadamente. Quanto tentei avisá-lo de que eu não queria aquele beijo, sua língua entrou em minha boca tornando tudo mais íntimo. Porra! Fechei os olhos e empurrei Henrique com toda a minha força. Foi quando ele se afastou.
Demorei poucos segundos para entender que o seu afastamento súbito não foi por causa da minha força arrasadora e sim a de Alex. Puta que pariu um milhão de vezes! A cena toda parecia coisa de filme de Hollywood. Alex segurando Henrique pela camisa e chocando-o contra o carro, os olhos arregalados do meu colega que não tinha ainda entendido o que estava acontecendo, olhares curiosos em nossa direção e...
Caralho!
Alex viu aquele beijo. Ele viu o Henrique me beijando e como a minha sorte do dia não me ajudaria de forma alguma, com certeza meu noivo devia ter imaginado que eu estava correspondendo. Ah, ele acreditaria nisso. Que merda!
– Alex! Alex!
Meu noivo socaria Henrique até que não restasse mais nada do garoto. Em seu olhar havia apenas fúria e até eu fiquei com medo de me aproximar.
– Alex, pelo amor de Deus! Está todo mundo olhando. Não bata nele. Pelo amor de Deus!
Minhas súplicas surtiram efeito, pois meu professor largou Henrique, claro que não de forma gentil. Ele simplesmente empurrou o garoto com toda força contra o carro e se afastou apenas o suficiente para evitar os olhares curiosos. Contudo sua postura felina permaneceu e ele encarava meu colega com uma fúria assassina.
– O que estava fazendo, seu idiota?
– Professor Frankli, eu... – Henrique olhava para mim e olhava para Alex sem entender por que ele agia assim. Senti meu rosto esquentar à medida que a acusação surgia em seus olhos.
– Alex, Henrique não sabia... – meu noivo me olhou com tanta raiva que me fez recuar. – Ele não sabia.
– Vai defendê-lo? Vai tentar me convencer de que tudo não passou de um engano. Que esse nerd filho de uma puta não estava te beijando? – gritou fazendo-me estremecer.
– Ele estava me beijando – pensei que conseguiria amenizar a situação se encarasse os fatos de frente, mas a fúria de Alex apenas aumentou. Mais uma vez ele agarrou Henrique pela camisa fazendo-me ficar entre eles para conseguir separá-los.
– Sai do caminho, Charlotte – ameaçou sem se importar com a pequena plateia.
– Professor Frankli, eu não estou entendendo – Henrique, coitado, estava tão assustado que parecia querer chorar.
– Não está entendendo o quê, seu filho de uma puta?
– Alex, não...
– Então eu vou acabar com você para que aprenda a não sair por aí beijando a mulher dos outros – ele realmente socaria Henrique, graças a Deus Johnny conseguiu segurar sua mão a tempo.
– Vamos acalmar os ânimos por aqui – ele afastou Alex conseguindo o seu objetivo com alguma dificuldade.
– Eu vou matar este babaca – Alex rosnou, mas se deixou levar.
– Ninguém vai matar ninguém hoje, professor – Johnny enfatizou o “professor” para que Alex entendesse a situação.
Meu noivo se soltou e, com passos rápidos, afastou-se para que toda aquela loucura não provocasse danos maiores.
– Charlotte – Henrique me chamou e Alex me olhou reprovando.
– Desculpe, Henrique!
Caminhei até o meu noivo, sentindo todo o peso da sua acusação em cima de mim. Eu não tinha culpa, mas Alex não sabia disso e até conseguir dissipar toda aquela raiva e fazê-lo entender como tudo aconteceu, eu teria muito trabalho.
– Entre no carro.
O tom baixo, ameaçador e completamente raivoso deixava claro que não seria fácil. Mesmo assim, obedeci. O que mais eu poderia fazer? Precisava explicar a Alex o que realmente aconteceu, e, para tanto, eu teria que primeiro vencer a tempestade.
CAPÍTULO 29
“O amor é suspiros e lágrimas... fé e fervidão... fantasia, paixões e desejos; adoração, aceitação e reverência; pureza, aflição e obediência.”
William Shakespeare
ALEX
Eu não conseguia pensar em mais nada. O simples ato de dirigir estava no automático, e eu nem fazia ideia de para onde estávamos indo. Tantas coisas se passavam em minha cabeça, a porra da despedida de solteira, o filho da... aquela merda de beijo que eu tive o desprazer de presenciar. Uma veia pulsava em minha cabeça fazendo tudo doer.
Mesmo assim minhas mãos estavam fixas no volante e meu pé se afundava cada vez mais no acelerador. Aquela menina, a maldita garota que fez meu mundo virar uma loucura, permanecia calada. Eu podia sentir seus olhos em mim, pelo canto dos meus podia ver suas mãos presas ao banco, o medo da velocidade e do que eu poderia fazer com nós dois.
E eu poderia matá-la. Sim, eu poderia matar Charlotte Middleton. Poderia enforcá-la até que não restasse nem mais um pingo de vida em seu corpo. A mínima ideia me deixava alarmado. A maldita tinha me dominado a tal ponto que eu não conseguia conceber uma vida sem olhá-la, sem senti-la, sem tocá-la.
Porra!
– Alex?
– Fique calada, Charlotte, pelo amor de Deus!
Eu não queria a sua voz de sereia me cercando, dominando meus pensamentos e atitudes. Eu queria a raiva que estava sentindo para poder extravasá-la quando chegasse a hora.
– Mas, Alex...
– Porra, Charlotte, fique calada!
Tinha certeza de que minhas palavras a assustariam. Que meu tom de voz conseguiria feri-la tanto quanto aquele beijo dos infernos havia me ferido.
– Mas...
Freei o carro imediatamente me dando conta da distância que tínhamos percorrido. A estrada vazia me favoreceu, já que uma parada tão brusca resultaria em um desastre. Charlotte gritou e segurou no painel com força. Sua respiração acelerada chegou aos meus ouvidos.
– Você quer falar? Então comece me explicando o motivo de ter beijado aquele garoto.
– Eu não beijei o Henrique, ele me beijou – o olhar que lancei a ela deixava claro que não funcionaria. – Alex, o Henrique não sabia que nós dois estávamos juntos.
– E por isso você o beijou.
– Não!
– Meu Deus, Charlotte! Tem ideia da vontade que eu estou de te matar?
– Vou fingir que não ouvi isso
– Pois não deveria – Charlotte se remexeu inconformada.
– Não vou deixar que me intimide com ameaças, Alex. Eu entendo a sua raiva, entendo a sua dúvida, aconteceria o mesmo se fosse eu a encontrá-lo beijando outra mulher.
– Não tente me dizer que não é o que eu estou pensando.
– Mas não é o que você está pensando. Lembra no seu aniversário quando eu cheguei e encontrei Tiffany saindo da sua casa? Eu vi quando ela te beijou, lembra disso?
Recuei. Eu lembrava daquele inferno que passei para tentar convencê-la de que não foi nada do que ela tinha visto. Pelo menos não para mim.
– Henrique sempre demonstrou interesse por mim, e você sabe. Porém eu nunca dei esperanças, nunca alimentei nenhum sentimento. Foi inesperado. Ele surgiu e me acompanhou, como sempre fez, e quando eu comecei a me esquivar, justamente para evitar este encontro, ele me agarrou.
– E você retribuiu.
– Não! Eu jamais beijaria o Henrique – estreitei os olhos para aquela afirmação. – Jamais beijaria qualquer outro homem, satisfeito? Se você não estivesse tão furioso, teria visto que eu tentava impedi-lo. Eu estava empurrando ele.
– Merda, Charlotte! – joguei a cabeça para trás, fechei os olhos e cobri o rosto com as mãos. – Eu vi – comecei com raiva. – A língua daquele desgraçado na sua boca – era impossível falar sobre o assunto sem parecer uma fera.
– Deus! – ela suspirou se encostando também e deixando as mãos sobre o colo. – O que eu posso te dizer?
– Quanto mais tenta dizer alguma coisa, mais aumenta a minha raiva – revelei cansado demais para continuar brigando.
– E o que quer que eu faça? Eu não tive como evitar, fui pega de surpresa, não esperava que o Henrique tivesse tamanha ousadia...
– Você sempre arranja um jeito de foder com a minha cabeça.
Charlotte arfou. Ela não esperava que a minha fúria fosse capaz de atingi-la tão profundamente. Para mim era inevitável. Foram tantos problemas, tantos medos, tantas dúvidas, que me controlar estava fora de cogitação. Eu estava ofendido, magoado, humilhado, mesmo sabendo, lá no fundo, que ela não tinha beijado o Henrique. Pelo menos não de livre e espontânea vontade.
O que eu esperava menos ainda foi a reação dela. De olhos fechados não vi quando Charlotte abriu a porta do carro e saiu.
– Charlotte?
Ela caminhou pela estrada vazia, sem olhar para trás. Os passos decididos revelavam que eu tinha ido longe demais e que ela não voltaria a entrar no carro. Eu não poderia deixá-la ali sozinha. Estávamos longe demais de casa e a probabilidade de Charlotte arrumar mais problemas chegava a ser maior do que a de qualquer outro ser humano na face da Terra.
Liguei o carro manobrando para tirá-lo do meio da estrada. Ela continuou andando, sem se dar ao trabalho de olhar para trás. Desci e corri até ela.
– Quer parar de me causar mais problemas? – gritei antes de alcançá-la. – Entre no carro, Charlotte!
– Graças a Deus você percebeu a tempo – ela riu sem vontade. A voz esganiçada de quem segurava o choro. – Não vamos precisar de todo o processo cansativo e desgastante do divórcio.
– Do que você está falando?
– Não quero mais foder a sua cabeça, Alex. Foi um erro! Já passamos por isso antes, então já sabemos que não vai funcionar.
– Você arruma o problema e agora quer se fazer de vítima? – estourei.
– Eu não arrumei um problema, aquele imbecil me agarrou e me beijou. Se você não quer entender isso, não é mais problema meu. Aprenda a conviver com a ideia.
Porra! Por que ela tinha que ser tão cabeça-dura?
– Eu estou puto da vida, Charlotte! Você nem imagina o que é descobrir por um amigo que você concordou com uma despedida de solteira em uma casa onde homens tiram a roupa e depois, quando chega para tentar conversar sobre o assunto, encontrar a noiva beijando outro cara.
– Eu passei por isso, esqueceu?
– Não. Como também não esqueci o quanto você me massacrou aquela noite. Nem o quanto me cobrou no dia seguinte. Não foi fácil para você, então não é fácil para mim também.
– Pelo visto você resolveu se vingar me ofendendo. Deixando claro o quanto eu sou ruim para você. Olha, Alex, ainda dá tempo. Vamos terminar tudo por aqui. Você com certeza vai encontrar alguma mulher que não lhe cause problemas. Que não precise te tirar do trabalho no meio do expediente, para provocá-lo beijando um colega que ela já poderia ter beijado há muito tempo, mas que nunca teve vontade de fazer.
– Você está louca? Nós vamos nos casar em oito dias.
– Já vi casamentos acabarem no altar – ela me deu as costas e continuou andando. Senti uma fúria capaz de destruir o mundo. Segurei Charlotte pelo braço disposto a fazê-la engolir cada palavra.
– Eu não sou um idiota, Charlotte Middleton, para aceitar que você termine comigo quando o erro é todo seu e depois me dê as costas como se a nossa história não tivesse valor nenhum.
– Pelo visto não tem, já que você está se agarrando ao que não foi verdade para justificar toda a sua raiva.
– Porque você está sempre arrumando uma forma de me enlouquecer! – gritei. Charlotte se debateu para se livrar de minhas mãos.
– Vá se foder, Alex Frankli!
– O quê?
O que aquela fedelha estava me dizendo? Como ela podia agir de forma tão infantil, tão desrespeitosa? Como ela podia falar daquela maneira comigo?
– Vá. Se. Foder! – repetiu com raiva.
– Eu vou te mostrar o que acontece com garotinhas da boca suja, como você – meus dedos se fecharam em seus braços com mais força do que pretendia.
– O que vai fazer? Vai me colocar no colo e me dar umas palmadas? – ela sorriu em desafio tomada pela mesma raiva que eu.
– Seria mais do que justo.
– E eu te jogaria na cadeia, professor – cuspiu as palavras, como se eu fosse realmente capaz de lhe fazer algum mal.
Encarei Charlotte por um tempo. O que estava acontecendo? Onde acabaríamos com aquilo tudo? Eu não fazia a menor ideia, só tinha uma certeza: havíamos passado de todos os limites.
Com este pensamento larguei os braços de Charlotte, que imediatamente deixou as lágrimas caírem. Ela as enxugou com raiva, provavelmente se recriminando por chorar. Afastei-me o suficiente para me conter. Não valia a pena continuar brigando.
– Vou levá-la para casa.
– Não preciso de você – dei um passo em sua direção e ela recuou assustada.
– Não me provoque mais, Charlotte, ou eu juro por tudo que é sagrado que vou preferir passar alguns dias na cadeia, pois vou te amarrar e jogar na mala, mas vou te entregar a seu pai, seja esta a sua vontade ou não.
– Você não faria isso – e havia mais medo do que desafio em sua voz.
– Tente me dar as costas novamente – ameacei.
Ela me olhou com raiva e, de queixo em pé, caminhou até o carro. Não me dei ao trabalho de ser educado, abrindo a porta para que ela pudesse entrar. Não. A minha raiva ainda estava forte, então apenas parei aguardando que ela entrasse e, assim que o fez, entrei e dei partida.
Nada mais conversamos.
CHARLOTTE
Alex não voltou a falar comigo durante o caminho de casa. Nem para me comunicar se havíamos realmente terminado ou não. Ficou tudo suspenso no ar. E já fazia mais de vinte e quatro horas desde que tudo aconteceu.
Nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nenhum recado enviado pela irmã. Nada. Ele simplesmente desapareceu.
Eu sei que não era o melhor momento para ser orgulhosa, mas eu fui. Passei cada segundo conferindo o celular para saber se ele se redimiria e sofri amargamente todas as vezes que confirmei a sua indiferença.
Não tive coragem de comentar com ninguém sobre o ocorrido. Lógico que Johnny contou a Miranda sobre a briga e eu menti que estava tudo bem. Eu simplesmente não queria admitir que acabou, que Alex aceitou a minha ideia de que era melhor terminar antes de casar, assim teríamos menos trabalho.
Então menti. Menti para não precisar passar pela prova do vestido e encarar Lana, usei como justificativa a cólica, que nem existia mais. Menti para não precisar encontrar Dana na escolha dos doces que seriam servidos, incumbi minha mãe desta missão. Menti para Miranda, fingindo estar em um surto literário, o que me mantinha a maior parte do tempo trancada no quarto. E menti para meu pai, mas deste eu fugi o máximo que pude, pois bastaria me olhar para saber que não estava tudo bem.
Foi no fim do dia que chegou a mensagem. No primeiro instante, não acreditei. A mensagem dizia: “Precisamos conversar. Desça, estou te aguardando no fim da rua”. Meu coração acelerou e meu olhos ficaram úmidos. Alex tinha finalmente rompido com aquela distância. Logo em seguida, meu cérebro me mostrou que não estava tudo bem.
Primeiro: a mensagem era um convite para conversarmos, o que não queria dizer que ele estava disposto a esquecer aquela briga terrível e dar continuidade ao nosso relacionamento. Lógico que eu não esperava que ele chegasse todo amoroso, com saudade e disposto a esquecer, porém, pensar que a conversa poderia ser um ponto final me deixou arrasada.
Segundo: ele não foi até o meu apartamento, o que demonstrava que não queria encontrar meus pais nem meus amigos. Ele me esperava no fim da rua, um lugar onde poderia me dizer o que pensava e ir embora sem precisar se justificar com ninguém.
Era o fim.
Merda!
Sentei em minha cama sentindo o corpo todo tremer. Realmente havíamos passado do limite com aquela briga. Onde eu estava com a cabeça? Por que não fiquei calada e apenas tentei explicar que foi tudo um mal-entendido? Por que eu tinha que desafiá-lo e levá-lo ao limite?
Não me controlei e chorei. Era melhor que eu chorasse no quarto do que na frente dele. Pelo menos eu teria um pouco de dignidade naquele fim de relacionamento.
Troquei de roupa, lavei o rosto, constatando a vermelhidão na ponta do nariz e nos olhos, preferi deixar os cabelos soltos, assim disfarçaria a minha cara de choro, peguei o celular, a chave de casa e saí tão silenciosamente que ninguém notou.
– Boa tarde, Srta. Charlotte – Vitor me abordou na entrada do prédio. – Quer que mande buscar o seu carro?
– Boa tarde, Vitor. Não. Meu carro está na oficina – ele fez uma cara de quem lamentava.
– Deseja um táxi?
– Não. Eu vou caminhar um pouco – ele me avaliou, certo de que algo estava errado.
– Não é perigoso, senhorita? O Rio anda impraticável ultimamente.
– Não vou muito longe. Pode ficar tranquilo. Obrigada!
Desci a rua sentindo que a cada passo eu ficava mais covarde. Não estava pronta para aquela conversa e não queria chorar na frente de Alex, como se ele fosse o responsável pelo nosso fracasso.
O carro dele estava estacionado logo depois do semáforo, quase virando a outra rua. Alex estava do lado de fora, com roupas de trabalho. Mantinha o paletó e a gravata, o que me deixava ainda mais apreensiva. Não seria uma conversa demorada.
Assim que me viu, afastou-se do carro e tirou as mãos dos bolsos. Os óculos escuros me impediam de saber como ele reagia à minha presença, o que me colocava na defensiva. Desacelerei meus passos pensando se não seria melhor correr e voltar para casa. Droga! Eu não queria que acabasse.
– Oi! – ele disse educadamente. Tive que pigarrear para conseguir fazer a voz sair.
– Oi – não consegui colocar nenhuma emoção na voz.
Ele ficou calado e parecia estar me avaliando, o que era impossível de confirmar com aqueles óculos escuros. Abaixei a cabeça e aguardei pelo que viria.
– Desculpe demorar tanto para te procurar – ele se encostou outra vez no carro e voltou a colocar as mãos nos bolsos. – Lana me disse que você não estava cumprindo seus compromissos, que alegou não estar se sentindo bem.
Mordi o lábio sem saber o que responder. O que eu poderia dizer? Que deixei as pessoas acreditarem que o casamento aconteceria? Que eu não tinha pensado bem quando sugeri o fim do relacionamento?
– Ainda com cólica? – neguei com a cabeça e ele umedeceu o lábio inferior. Nossa! Por que eu conseguia pensar naqueles lábios quando o cara estava ali pronto para me dar um fora? – Você está bem? – outra vez não soube como responder, então dei de ombros.
Alex passou a mão pelos cabelos, retirou os óculos escuros e me encarou. Acanhada e perdida sobre o que dizer ou fazer, arrumei meus óculos e depois alisei meu cabelo colocando todo o volume sobre um ombro.
– Está legal, Charlotte! Vamos ter esta conversa logo de uma vez – puxou o ar com força ao mesmo passo que eu sentia as lágrimas se formarem. Merda! Eu não queria chorar! – Você tem alguma coisa para me dizer?
Durante um segundo nossos olhos se encontraram. Alex estava ansioso, como se estar ali comigo fosse um sacrifício. Meu coração afundou imediatamente e, sem conseguir me controlar, chorei. E me odiei por chorar.
– Deus, Charlotte!
Ele disse desarmado e me puxou para os seus braços. Não consegui abraçá-lo. Não consegui falar, nem fazer nada. Apenas chorei toda a tristeza e angústia que aquelas horas de apreensão tinham me custado. Eu apenas chorei.
Seus dedos adentraram meus cabelos, acariciando meu couro cabeludo. Chorei ainda mais e já não sabia mais o motivo do meu choro. Eram tantos!
– Ei, calma! – ele sussurrou, as palavras se perdendo no barulho do trânsito.
– Eu não beijei o Henrique – eu me vi falando, a voz fanhosa, o nariz entupido e as lágrimas me sufocando. – Não beijei – minhas mãos se fecharam com força na camisa dele.
– Tudo bem, Charlotte – ele disse com cuidado.
– Não! Não está tudo bem! Você pensou que eu estava beijando o idiota do Henrique e simplesmente falou um monte de merda. Eu também falei, porque estava com raiva e magoada, mas eu não queria... eu não queria que chegasse a este ponto.
– Eu sei – Alex continuava calmo, seus dedos massageando minha cabeça e a voz cheia de resignação.
– E agora eu estou perdendo você e não sei o que fazer, porque também falei tanta merda que você tem todo o direito de ir embora – ele riu baixinho e me abraçou com força.
– Senti falta desta sua mente confusa – brincou levantando meu rosto para me olhar. – Senti falta de você.
Deus! E quanta falta eu senti dele! Aqueles olhos intensos me deixaram rendida. Alex retirou meus óculos e limpou minhas lágrimas com devoção.
– Me perdoe por ontem – ele falou com um sorriso sem graça. – Eu não sei o que me deu. Eu fiquei tão puto que... – respirou fundo e acariciou meu rosto. – Perco a cabeça com você, Charlotte. Senti tanto ódio quando vi aquele... nerd te beijando.
– Você não deveria falar dos nerds com tanto desprezo – funguei sem nenhuma educação. – Eles estão na moda.
– Ah, cala a boca, Charlotte! – rosnou com raiva e me puxou em direção aos seus lábios.
Havia muito naquele beijo. Saudade, amor, raiva, posse, mágoa... O salgado das lágrimas se misturava com o doce dos nossos lábios. Minha mão se afundou em seus cabelos, fechando os dedos na textura macia dos seus fios prendendo sua boca na minha para recepcionar a sua língua. A outra acariciou seu peitoral, apossando-se daquele corpo que era só meu. Nossos corpos se colaram instintivamente, o fogo percorrendo cada centímetro nosso.
Alex gemeu espalmando suas mãos em minhas costas e me puxando pela cintura, para que não restasse mais nenhum espaço entre nós dois. Senti suas palmas quentes escorrendo pelas laterais do meu corpo, alcançando a barra do meu vestido e se aventurando em minhas coxas. Outro gemido dele e eu sabia que a umidade no centro entre as minhas pernas não era apenas pelo meu período menstrual.
– Que saudade de você!
Ronronou em meus lábios, escorrendo-os pelo meu rosto até alcançar meu pescoço. As mãos subiram outra vez para a minha cintura e o tecido fino do vestido me permitia sentir o seu calor.
– Prometa que não vamos mais brigar – implorei e ele riu.
– No que se refere a você, Charlotte, esta é uma missão impossível – fiz muxoxo e ele riu um pouco mais. – Eu não quero brigar. Não sou de brigas, mas você realmente parece ter alguma coisa que ativa isso em mim.
– O que não é nada bom – resmunguei. Não era um elogio saber que ele ficava com tanta raiva a ponto de agir de forma tão irracional.
– Vai ficar tudo bem – ele ficou sério, como se minhas palavras o levassem a entender o quão ruim era aquela situação. – Nós vamos encontrar um equilíbrio – encostei em seu peito, deixando-o me abraçar.
– Ainda está menstruada? – fiz que sim com a cabeça, sem coragem para encará-lo. Eu não devia, mas fiquei envergonhada. Alex estalou a língua e me prendeu em seus braços com força.
– Então vamos subir e jantar.
– Hum!
– Eu também, amor – ri sentindo meu mundo voltar ao eixo.
ALEX
E mais uma vez Charlotte Middleton conseguiu me desarmar.
Eu fiquei tão rendido que, em pouco tempo, toda a mágoa e tristeza desapareceram, dando lugar à saudade miserável que eu sentia dela. E como eu senti!
Estacionei na vaga livre do seu apartamento, já que seu carro estava na oficina, e subimos como um casal apaixonado. Mais até do que isso. Eu estava ávido por aquela menina.
– Para, Alex! As câmeras – ela me alertou quando, embalado pelo beijo, subi minhas mãos em suas coxas roliças.
– Vamos alegrar a noite do pessoal – provoquei aprofundando o nosso beijo, só não me atrevi a continuar com a mão boba. Charlotte riu, corando significativamente.
– Seu bobo!
– É o que você faz de mim – ela passou as mãos em meus cabelos, uma segurou a franja que já descia atrapalhando a minha visão, e a outra parou em meu pescoço. Charlotte me olhou com um amor profundo e sólido.
– Amo seus olhos –encarou-me. – São lindos!
Fiquei sem palavras para aquela demonstração tão clara de amor. Meus olhos chamavam atenção, e eu não era mais nenhum menino para fingir não saber disso, no entanto havia algo a mais na forma como Charlotte falou, como se ela me venerasse.
O tempo inteiro acreditei que aquele amor velado, aquela devoção, pertencia apenas a mim. Que eu lhe tinha uma adoração que me faria permanecer a seu lado independentemente dos pecados que aquela menina fosse capaz de cometer. E então ela estava ali, olhando-me com simplicidade, com carinho, e com um amor tão puro que me impediu de articular qualquer palavra.
A porta do elevador abriu e nossa bolha foi rompida.
– Eu amo você, menina – sussurrei beijando mais uma vez seus lábios. – Vamos!
Assim que entramos, demos de cara com Peter e Mary na sala. Eles estavam sentados, uma música romântica tocava ao fundo, e, pela posição que estavam, percebi que ali estava um casal de apaixonados. Olhei para Charlotte ciente de que aquela era a forma como as pessoas nos viam, e sorri.
– Alex! Charlotte, não a vi saindo – Peter se levantou para apertar a minha mão.
– Mary – beijei a mão da minha futura sogra.
– Fui buscar Alex lá embaixo – Charlotte respondeu baixinho, mantendo os olhos baixos.
– Esteve chorando? – Peter se aproximou levantando o rosto da filha. – Sim, você estava chorando. O que houve? – a pergunta foi feita diretamente para mim.
– Eu não estava...
– Ela estava chorando, sim – interrompi Charlotte antes que ela inventasse uma mentira absurda. Qualquer idiota saberia que aquele nariz e olhos vermelhos não poderiam ser por outro motivo.
– Filha, o que houve? – Charlotte me olhou receosa do que poderia contar.
– Eu estive muito ocupado ontem e hoje e Charlotte pensou que eu estava desistindo do casamento – abracei minha noiva, rindo e beijando o alto da sua cabeça. Senti seus dedos se fechando em meus braços.
– Que bobagem – Peter riu afagando as costas da filha.
– Foi o que eu disse a ela.
– Oh, filha! Por que não me procurou? Eu conseguiria tirar esta ideia da sua cabeça em dois tempos – Mary brincou mimando Charlotte.
– E eu mandaria quebrar as duas pernas dele – minha noiva encarou o pai, surpresa com aquela afirmação. – Caso ele realmente tivesse desistido, claro!
– Pai! – Peter riu e me deu um tapinha no braço.
– Vai ficar para o jantar?
– Vou sim.
– Eu vou avisar a Odete que temos mais um à mesa – Mary se levantou, e, como a incrível dama que era, assumiu as tarefas da sua casa.
– O que quer beber? Vinho, uísque...
– Nada. Trabalhei muito, estou casado, misturar bebida e desgaste não vai me ajudar a chegar em casa.
– Você está certo. Por falar em trabalho... tenho algumas coisas para resolver. Volto logo.
Peter saiu e a porta da casa se abriu, revelando uma Miranda desconfiada. Ela tentou ser silenciosa, e, assim que percebeu a nossa presença, ficou tão sem graça que me fez estranhar.
– Ah... oi!
– Você saiu? Que horas que eu não vi? – Charlotte a acusou sem nenhum receio.
– Eu fui dar uma volta, tomar uma água de coco em Copacabana – e era claro que ela mentia, mas por quê?
– Sozinha? – Charlotte continuou. Ela também desconfiava.
– Sim!
A resposta chegou alta demais e rápida demais, o que só me fez ter certeza de que Miranda estava mentindo. O que ela estava aprontando?
– Vou tomar um banho e já desço para o jantar.
– Você parece limpa demais para quem estava caminhando em Copacabana. E com esses saltos?
– Charlotte!
Apertei a cintura da minha noiva. Um pedido de trégua, pelo menos enquanto eu estivesse por ali. Era nítido que Miranda não queria que eu soubesse o que ela estava aprontando, e eu também não queria participar de nada a respeito daquela garota.
– Eu estava em um bar... climatizado. Vou tomar banho, com licença.
Miranda subiu rapidamente as escadas e Charlotte se afastou de mim enquanto analisava a amiga.
– Não é estranho?
– Não.
– Claro que é estranho – ela começou, mas eu não queria entrar naquela conversa.
– Eu queria conversar sobre outro assunto com você – segurei a mão da minha noiva e a levei até o sofá.
– O que eu fiz desta vez? – Ri.
– Nada. Você ainda não fez nada.
– Ainda?
– Exatamente – ela mordeu o lábio, apreensiva. – Eu não quero ter que dizer a Lana que não estou de acordo com o clube das mulheres – fui direto ao assunto.
– Ah!
– Também não quero te forçar a nada. A ideia de uma despedida de solteira não me deixa confortável. A imagem do Henrique te beijando ainda é um pesadelo para mim, então não quero ter que povoar minha mente com outros rostos.
– Mas Lana estará lá.
Sim, e ela não acharia ruim a minha noiva colocar dinheiro na cueca de um monte de marmanjos, depois de eles terem se esfregado nelas e rebolado seus... acessórios, na sua frente.
– Eu disse a João que não queria uma despedida de solteiro. No máximo beber um pouco com ele e o Paty, quem sabe o Johnny, mas nada de mulheres, dançarinas, prostitutas... – deixei a sugestão no ar e vi o rosto de Charlotte mudar de tom.
– Ele quer contratar dançarinas? Prostitutas? – concordei sem nada dizer e suas feições endureceram. – Lana, sabe disso?
– Bom... para todo caso eu estarei lá, e o Patrício também.
– E você quer isso? – Charlotte levantou o queixo em desafio. Sorri acariciando seu rosto.
– Não. Prefiro ficar com você – beijei seu rosto. – Mas se você vai sair para se divertir com as meninas, que mal há em eu aceitar a oferta do meu amigo?
– Ai! – Charlotte acertou um tapa em meu braço. Ri da sua cara de brava. – O que foi que conversamos sobre equilíbrio, menina? Você não pode me bater todas as vezes que ficar nervosa – provoquei e recebi outro tapa no braço.
– Eu vou contar a Lana sobre a brilhante ideia do João Pedro. Quero só ver a cara dele depois que ela pegar ele de jeito.
– Ele sabe dos planos dela, então eu acredito que ela também saiba dos dele. Quer dizer... talvez não exatamente de tudo o que ele planeja para a nossa noite – recebi outro tapa.
– Não terá “nossa noite”, Alex Frankli – ameaçou e eu a agarrei com força fazendo-a sentar em meu colo.
– Pare de me bater, menina levada – acertei um tapa em sua bunda e Charlotte soltou um gritinho.
– Alex!
– Se bater outra vez vai levar um bem mais forte – passei minha mão por dentro do vestido e acariciei o local do tapa.
– Puta merda! – Charlotte gemeu baixinho e fechou os olhos.
– Vem cá!
Colei nossos lábios em um beijo cheio de luxúria. Eu queria muito mais do que alisar aquela bunda deliciosa, ou senti-la sentada sobre o meu pau duro e ter ciência de que apenas alguns pedaços de pano nos separavam. Porra, depois de uma briga como a nossa, de horas infernais em que eu questionei tudo o que vivi até ali, meu único desejo era me afundar em sua bocetinha até ela gritar meu nome. Mostrando para o mundo a quem pertencia.
Porra, era isso o que eu queria!
Charlotte lentamente rebolou em meu colo, sentindo e testando a minha ereção. Apertei sua bunda com força, fazendo-a parar.
– Se continuar rebolando assim, vamos ter um sério problema em explicar a Peter a imensa mancha em minha calça – seu sorrisinho infantil e inocente era apenas mais um estímulo.
– Mais um dia e essa tortura acaba – sussurrou saindo do meu colo.
– Coloca tortura nisso – reclamei, sentindo o aperto em minha virilha.
– Vou conversar com Lana. Acho que não precisamos de uma despedida de solteira.
– Boa menina – acariciei seu rosto e arrumei seu cabelo atrás da orelha.
– Você também não vai ter uma despedida de solteiro – desafiou-me.
– Vou ter sim, senhora – provoquei. Charlotte levantou a mão para me acertar um tapa, mas desistiu com um sorriso travesso. – Eu estava ansioso por este tapa, Charlotte.
– Eu sei, por isso vou guardá-lo para outro momento – piscou, fazendo uma parte de mim corresponder diretamente. Era realmente uma grande tortura. – Então... nada de despedida de solteiro, professor Frankli.
– Eu vou ter uma memorável – ela me olhou com indignação. – Com você – beijei seu pescoço. – Nossa última trepada de solteiros – sussurrei em seus lábios, deixando uma Charlotte deliciosamente desarmada.
CAPÍTULO 30
“Os botões fragrantes às vezes dão abrigo a lagartas; o amor devorador, de igual maneira, demora nos espíritos sublimes.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Faltavam cinco dias para o casamento e não havia mais nada que eu tivesse que fazer que não fosse experimentar o vestido dois dias antes, quando finalmente partiríamos para o rancho.
Alex havia prometido que teríamos a nossa despedida de solteiro, porém não marcou nada, nem deu a entender que aconteceria em breve, e nós tínhamos somente cinco dias para ter nossa última trepada de solteiros.
Lana não gostou muito da ideia de desistirmos do clube das mulheres, mas aceitou cancelar o evento tão logo soube que João Pedro pretendia dar alguns “presentes” a Alex. Canceladas as duas despedidas, minha futura cunhada marcou um jantar em sua casa, uma coisa íntima, para poucos, para “celebrarmos o amor”. Eu sabia que Johnny e Miranda foram convidados, com um acréscimo de qualquer garota que meu amigo quisesse levar e que, com certeza, Patrício estaria presente, e quem mais? Seria uma situação um pouco constrangedora.
Miranda se recusou a aceitar a carona do Alex, preferindo a do Johnny e de quem quer que fosse a sua acompanhante. Se é que ele teria a cara de pau de levar alguém. Alex me pegou antes do horário combinado, alegando que o meu endereço primeiro e depois a sua casa ajudaria a evitar um trânsito infernal.
Imaginei que ali começaria a nossa despedida. Eu me enganei.
– Vamos nos atrasar – resmungou ainda com as mãos dentro do meu vestido, acariciando minha bunda e confirmando a ausência de um absorvente. Seus lábios não deixavam meu colo, demorando-se em meu decote. – Você está tão cheirosa!
– Gostou? – eu estava tão quente que parecia estar com febre.
– Muito! Ficou ótimo em sua pele – levantou o rosto beijando meus lábios de leve.
– Em toda a sua extensão – sussurrei provocando-o.
– É? – Alex entendeu o meu recado. – Acho que vou precisar conferir de perto.
– Estou à sua inteira disposição.
– Charlotte! Eles estão nos esperando – mas ele não deixava de me alisar e beijar... que inferno!
– Você está me agarrando desde a hora em que saiu do banho, professor – passei minha mão em sua bunda e Alex riu.
– Eu mandei você me esperar lá embaixo, aluna. E esse vestido é provocante demais. Nunca mais deite em minha cama usando-o – mordeu meu pescoço.
– Então devo tirá-lo? – Alex gemeu, esfregando-se em mim e me deixando sentir a sua ereção.
– Não. Eu quero você com ele a noite toda – e se afastou indo em direção ao closet.
– Nós poderíamos aproveitar... – provoquei parando na porta do closet para observá-lo colocar a cueca, sem conseguir esconder a ereção fabulosa.
– E nós vamos aproveitar, amor. Teremos a noite inteirinha.
– Você acha mesmo que eu vou conseguir entrar naquele apartamento, conversar animadamente com todos, enquanto não penso em outra coisa que não seja ser comida pelo meu noivo? – Alex riu. – Isso é sacanagem.
– Não. Não é. Como diz João Pedro: sacanagem são duas minhocas de pau duro – ri daquele absurdo, quebrando todo o clima entre a gente. – E sacanagem é o que eu bem sei que você quer, Charlotte.
Alex se aproximou usando apenas a camisa social preta, ainda aberta, e a cueca branca. O peitoral exposto era de dar água na boca. Ele se encaixou em mim, prendendo-me à parede e me devorou com um beijo de tirar o fôlego. Suspendeu uma coxa minha e roçou em meu sexo sem nenhuma decência. Caralho!
– Eu quero fazer muitas sacanagens com você esta noite – rosnou ao me largar e procurar pela calça jeans.
Encostei na parede resignada. Eu conhecia aquele jogo. Alex me provocaria e me deixaria até que não restasse mais nada de mim além de desejo e um tesão avassalador. Aí, sim, eu faria qualquer coisa que ele me pedisse.
E foi exatamente o que aconteceu. Durantes muitos momentos, eu fui levada ao limite pelo meu noivo. Carícias infindáveis, provocações que atormentavam, uma necessidade que apenas crescia, prometendo estourar em um festival de luzes. Eu implorei, briguei, ameacei, fiz o que estava a meu alcance, mas Alex não cedeu, nem mesmo quando estávamos na reserva, em meio àquela escuridão da estrada e eu sugeri que ele parasse o carro.
Quando chegamos ao prédio de Lana, na Barra da Tijuca, eu já não tinha mais esperança. Qualquer coisa que fosse acontecer seria depois daquele jantar. E eu teria que sorrir, ser agradável e disfarçar a minha calcinha molhada incomodando o meu sexo.
Passamos pelo porteiro e Alex o cumprimentou, sem precisar ser anunciado. Entramos no elevador e o máximo que tive dele foram seus dedos brincando com as minhas costas, mesmo assim me senti quente outra vez. Suspirei resignada quando o elevador parou e Alex me arrastou para fora dele.
O som do apartamento nos alcançava do lado de fora. Muitas conversas, músicas e pessoas rindo. Provavelmente Lana convidou alguns amigos que eu nem fazia ideia de quem eram, o que me desanimou completamente.
– Por aqui – Alex me puxou para uma porta pesada de ferro, contendo a placa de saída de emergência e o aviso para mantê-la fechada.
– Mas... Alex... – ele colocou um dedo em meus lábios, calando-me.
– Aqui não tem câmera de segurança. Uma deliciosa falha deles.
O local estava escuro e silencioso. Era para ter medo, no entanto, involuntariamente senti meus músculos vaginais se contraírem com a expectativa. Porra, o que Alex estava fazendo comigo?
– Alex, alguém pode nos pegar aqui – mais uma vez ele me calou, desta vez com a própria boca.
Foi um beijo com direito a tudo, mãos, lábios, língua, corpo, roçadas... Alex tinha atingido o seu objetivo. Tinha me provocado e me deixado sem escapatória, atiçado-me a tal ponto que meu corpo passou a agir por vontade própria. Eu precisava de alívio, precisava dele e não importava se seria naquela escada escura ou em sua cama, eu o queria.
– Vamos começar aqui a nossa despedida de solteiro, amor. Eu vou me despedir de todas as loucuras que já fiz por tesão e você vai se despedir do medo de arriscar – sua mão foi para o meio das minhas pernas, acariciando meu sexo molhado. Gemi sem conseguir me conter.
– Alex!
– Ah, Charlotte! Eu queria você assim. Tão ávida por meu pau que vai fazer desta a rapidinha mais gostosa que já dei em toda a minha vida – ele sussurrava em um tom feroz, cheio de segurança e completamente excitado. – Vai ter que ser rápido, meu bem.
– Oh, Deus! Eu vou ser rápida – ele riu baixinho, afundando um dedo em mim. Mordi o lábio sufocando o gemido.
– Você vai, meu amor. Eu tenho certeza disso.
Sua mão subiu ao meu colo e puxou as alças do vestido até que meus seios estivessem de fora. Sem deixar de me masturbar com dedos hábeis, Alex apalpou e chupou meus seios com sofreguidão e eu pensei que gozaria assim, tamanha a minha necessidade.
Mas ele não queria que fosse desta forma. Alex se afastou apenas para libertar seu membro rígido, afastando as roupas minimamente e puxando a minha calcinha para o lado. Em um movimento rápido, ele se enfiou em mim, todo, de uma vez só, preenchendo-me com tanta propriedade que me fez morder o seu ombro para não gemer alto demais.
Ele também gemeu, parado dentro de mim, saboreando aqueles segundos mínimos do encontro entre as nossas carnes, recebendo o calor que emanava de mim e o envolvia totalmente. Suas mãos firmes seguraram minha bunda e levantaram minhas pernas, para que eu ficasse em sua cintura, as pernas abertas para recebê-lo sem demora.
E então Alex começou a se movimentar. Seu sexo tocava todos os meus pontos, preenchendo cada milímetro dentro de mim e me fazendo senti-lo por completo, grande, grosso e maravilhoso. Sim, aquele pênis era fabuloso, acariciando meu interior como se tivesse um mapa de cada ponto de prazer.
Ele se empurrava para o fundo, entrando e saindo em estocadas rápidas. Nossos gemidos podiam ser ouvidos, mas quem estava se importando? Eu me sentia alcançando as estrelas, recebendo-o entre as minhas pernas, sentindo os seus avanços enquanto sua boca beijava e chupava meus seios, distribuindo beijos quentes em meu torso, arrepiando toda a minha pele.
Podíamos ouvir também o som dos nossos corpos se chocando, das suas estocadas certeiras e rápidas, do meu sexo recebendo-o sem hesitar. Nossa! Eu podia ouvir o som do meu corpo correspondendo, do crepitar do fogo que se espalhava em minhas veias, do calor que corria tão rápido, acionando tudo dentro de mim e então...
– Oh, Alex!
– Assim. Assim, amor!
Sua voz urgente me levou ao delírio e eu gozei recepcionando um Alex entregue, que se espremia em mim com gemidos deliciosos, enquanto também gozava entre as minhas pernas.
Permanecemos assim, diminuindo o movimento, respirando com dificuldade, roçando um no outro de maneira a sentir cada espasmo ofertado, até que ele sentou em um degrau e me levou junto, sentada em seu colo com seu membro ainda dentro de mim.
Nossos olhos já estavam acostumados com a escuridão, então podíamos reconhecer nossos corpos, o meu parcialmente exposto, o rosto dele sustentando um sorriso sem tamanho. Nós nos encaramos e começamos a rir, beijando-nos e nos permitindo um pouco mais.
ALEX
Conseguimos sobreviver ao jantar.
Lana estava eufórica por poder reunir os amigos e havia explicado que faríamos uma cerimônia íntima, por isso preferimos nos reunir ali, como se estivéssemos celebrando o casamento.
Charlotte, apesar de não conhecer boa parte dos convidados, que eram poucos, não ficou tão retraída, como eu achei que ficaria, e, muitas vezes, participou de conversas animadas, sem precisar do apoio dos amigos, que estavam dispostos a salvá-la de qualquer situação mais embaraçosa.
Miranda e Patrício foram uma preocupação à parte. Meu irmão, às vezes, empolgava-se em uma ou outra conversa com uma de nossas amigas, aí bastava Miranda passar perto para que ele se ouriçasse e deixasse a conversa de lado. Da mesma forma acontecia com a melhor amiga da minha noiva. Miranda era uma morena bonita e ousada. Sabia o corpo que tinha e abusava dele, sem ser brega ou oferecida, pelo menos aparentemente. Muitos colegas nossos se interessaram por ela, cercando-a constantemente. Mas bastava um olhar mais duro do Paty para que ela desfizesse qualquer conversa mais animada.
Contudo, em nenhum instante, eles se aproximaram ou conversaram. Uma situação um tanto estranha, não?
No final da noite eu estava animado, ansioso para dar prosseguimento ao meu plano. Charlotte parecia cansada quando deixamos o apartamento da minha irmã, porém logo seu interesse em nossa noite se apresentou.
Estacionei o carro em minha garagem. Estava escuro, favorecendo meus planos. Charlotte pegou a bolsa e intencionou sair, lancei minha mão em sua coxa, pressionando-a com cuidado.
– Lembra quando demos uns amassos aqui no carro? – ela sorriu delicadamente, deixando o olhar cair, como sempre fazia. Deixei meus dedos vagarem adentrando suas coxas. – Lembra o quanto você queria que eu finalizasse tudo aqui mesmo.
– E você não fez – disse baixinho.
– Não. Mas posso fazer agora – afundei minha mão procurando a sua calcinha para retirá-la, e não a encontrei. – Charlotte...
– Precisei tirá-la, Alex. Eu estava mais do que constrangida com aquela calcinha completamente molhada.
– E achou melhor tirá-la e passar a noite com este vestido curto, sem calcinha? – meu sangue começou a ferver.
– Você gozou dentro de mim, ou seja, minha calcinha ficou inutilizável.
– Porra, Charlotte! – levei a mão ao rosto controlando a minha fúria. – E eu fiquei te puxando para todos os lados. Se eu soubesse... – ela riu, fazendo-me olhá-la sem acreditar que ela estava mesmo rindo.
– Deu tudo certo, Alex – Charlotte movimentou-se e sentou-se em meu colo. – Ninguém percebeu que eu estava sem a calcinha e agora ganhamos um bônus.
– Que bônus? – ela se abaixou e sussurrou em meu ouvido.
– Não vamos ter nada entre nós.
– Você é louca, menina!
Sim, ela era louca e realmente fodia com o meu juízo, porque naquele momento eu só conseguia pensar em abrir minha calça e fazê-la gritar de prazer.
– Não faça mais isso – rosnei forçando-a a me olhar.
– Prometo. Vou andar com uma calcinha reserva na bolsa – lentamente, beijou-me com safadeza. – Agora... – começou a abrir minha camisa – ... vamos fazer amor.
Rosnei sentindo meu pau vibrar. Beijei sua boca deixando minha língua se apossar daquela menina. Puxei seu vestido para baixo, libertando seus seios maravilhosos e imediatamente brinquei com eles em minhas mãos. Charlotte gemeu e rebolou em meu pau ainda dentro da calça, deixando-se ser acariciada.
Suas mãos afastaram o tecido da minha camisa e suas unhas roçaram meu peito. Porra, eu adorava aquilo! Segurei Charlotte pela cintura, descendo uma mão até a sua bunda, subindo a saia até que estivéssemos pele com pele. Apalpei sua carne puxando-a para que roçasse com mais firmeza em meu pau. Ela atendeu ao meu desejo, rebolando mais gostoso.
Senti suas mãos afoitas descerem até meu cinto, atrapalhando-se no processo. Não seria Charlotte se fosse diferente. Decidi ajudá-la. Sabe Deus os perigos que poderiam envolver Charlotte, uma braguilha e um pau duro.
Abri a calça deixando o trabalho mais fácil para ela. Abaixei um pouco o jeans, apenas para que a cueca aparecesse e para que tivéssemos mais liberdade de movimento. Ela acariciou meu pau enquanto eu beijava seus seios já durinhos. Eu queria que fosse uma foda rápida, aliás, era importante que fosse, afinal de contas estávamos dentro do carro, em uma área relativamente aberta, apesar de escuro, então, quanto antes terminássemos, mais seguros estaríamos.
Meu pau já estava melado, liberando um pré-gozo, estimulado pela fantasia e pela delícia que era ver Charlotte parcialmente vestida, pronta para me receber, disposta a qualquer coisa para conseguir aquele orgasmo.
– Coloque-me dentro de você – pedi sem deixar de estimulá-la.
Charlotte obedeceu, segurando meu pau sem qualquer resquício de inexperiência, levantou o corpo e me posicionou em sua entrada. Depois, fechando os olhos, começou a descer. Senti a cabeça do meu pau vencendo sua carne aos poucos. Ela se agarrou a mim, deixando-me de frente para seus seios, que foram devidamente atacados.
Seu sexo quente e apertado cedia ao meu corpo duro e ansioso, enquanto ela testava, subindo e descendo, rebolando lentamente para me receber por completo. Porra, se Charlotte havia se excitado com aquela porcaria de filme pornô, ficaria deslumbrada se pudesse assistir àquela cena da forma como eu podia assistir.
Ela era tão sensual, tão entregue! Perdia completamente a decência quando eu estava dentro dela. Charlotte simplesmente se permitia e desfrutava. E foi assim que ela conseguiu me colocar completamente para dentro, com um gemido de satisfação e orgulho que quase me fez gozar.
Eu estava no ponto. Prontinho para ela. Minha noiva recomeçou as reboladas, subindo e descendo, sugando-me com sua vagina úmida, que se arrastava em minha pele me dando o máximo de prazer, mas ela ainda não estava pronta e eu não queria cometer a gafe de gozar antes dela.
Pensando em acelerar as coisas, segurei sua bunda e fiz com que Charlotte se curvasse sobre mim. Esta posição faria com que seus movimentos fossem mais curtos e a fricção do seu clitóris aceleraria o processo. O que antes eram estocadas se transformou em roçadas com pequenas e rápidas penetradas, todas controladas por ela e completamente aprovadas por mim.
Mais uma vez nos beijamos e eu percebi que aquela posição realmente havia surtido o efeito desejado para a minha noiva, pois seus beijos se tornaram menos técnicos e ela passou a se deixar ser fodida pelos meus lábios. Eram coisas completamente diferentes. Uma coisa era beijar, juntar os lábios e deixar as línguas se encontrarem, outra era quando ela ficava tão entregue que simplesmente me sentia, seus lábios se demoravam mais nos meus, sem movimentos mecânicos, como se estivéssemos nos degustando, como se cada junção fosse a própria junção dos nossos sexos.
Os gemidos eram ainda mais intensos. Sem o medo de sermos descobertos ela se permitiu sentir, conduzindo-me, mostrando-me o que era bom e o que era maravilhoso para o seu corpo. Tal quando deixei meu dedo brincar em sua bunda. Charlotte foi acometida por um espasmo no instante em que meu dedo tocou o seu ânus.
Porra, eu confesso que fiquei por um fio! Só de imaginar tudo o que poderíamos fazer apenas com aquela possibilidade já me fazia não querer mais nada da vida. Completamente entregue, segurei Charlotte pela nuca e rocei meus dentes em seu pescoço e, sem nenhum pudor, afundei meu dedo nela.
– Alex! – ela gemeu alto e as estocadas ficaram mais intensas. Eu quase gritei de prazer, entregue, satisfeito demais para parar.
Vi Charlotte jogar a cabeça para trás e, de olhos fechados, movimentar a bunda em direção ao meu dedo, deixando-me penetrá-la e depois recuar afundando meu pau em sua outra entrada. E assim, em poucos segundos, ela gozou.
Fiz o maior esforço para assisti-la sem me libertar também, contudo perdia a batalha no último segundo, quando senti suas duas entradas se fechando em mim com espasmos de gozo. Foi demais para um pobre homem como eu.
Então gozei me afundando nela, nos dois pontos, e tendo a certeza de que não haveria jamais outra mulher para mim.
CHARLOTTE
Eu queria dormir na casa dele, mas Alex não deixou. Porém, assim como eu, meu noivo também não queria me deixar partir.
Depois de nossa peripécia no carro, entramos e fomos direto para o banho. Alex estava todo atencioso, prendeu meu cabelo, alegando ser importante para não chamar atenção de Peter. Bom, depois de tudo o que fizemos aquela noite, eu não contestaria nenhuma vírgula do que ele determinasse.
Tive meu corpo ensaboado e hidratado, mesmo sendo a porcaria do sabonete de morango e hidratante da mesma fragrância, que um dia nos levou a uma briga com um final delicioso. Rimos ao nos lembrarmos deste episódio.
– Vou comprar um com outra fragrância para você, amor – beijou meu pescoço, fechando o roupão em meu corpo.
– Não precisa, vou trazer o meu em poucos dias.
– Bem lembrado – deu-me um beijo delicado nos lábios. – Já arrumou tudo? – fiz uma careta.
– Não. Não tive tempo e nem tenho pressa – Alex suspirou, de costas para mim, enquanto colocava o seu desodorante. – Tem cheiro de homem.
– Por que será?
– Bobo!
– Linda!
Terminamos na cama. Alex disse que depois de tantas aventuras, como as que tivemos naquela noite, era imprescindível fazermos amor, lentamente, sem pressa alguma, para não esquecermos nunca o que nos unia. Eu achei que era apenas mais uma desculpa para transar comigo, mas é claro que aceitei de bom grado a sua oferta, sem nada dizer para desestimulá-lo.
Quando penso naquela noite, nós dois em sua cama, ele sobre mim, parcialmente cobertos por um fino lençol, suas entradas lentas, seus beijos carinhosos, seus toques que eram pura devoção, a forma como ele me olhava, como dizia que me amava, como me buscava e me sentia, fazendo-me senti-lo com a mesma intensidade, eu não consigo ter outra definição de amor.
Deitada em sua cama, com ele entre as minhas pernas, o tronco suspenso não só para não me sufocar com o seu peso, como também para que ele pudesse ter uma visão melhor do que fazíamos, seus movimentos calculados, todos com a finalidade de me dar prazer e de se proporcionar prazer, um vaivém delicado, calmo e que, aos poucos e sem pressa, levou-nos ao êxtase.
Com direito a tê-lo deitado em meu busto enquanto eu acariciava seu cabelo e apenas me permitia sentir. Alex, depois de um tempo em silêncio, levantou o rosto e distribuiu beijos por minha pele, demorando longamente em meus seios. Espreguicei percebendo as consequências de noites como aquela.
– Preciso te levar para casa – sussurrou quebrando o nosso encanto.
– Eu gosto de fazer amor quando acordo – provoquei.
– Eu também – ele levantou deixando a coberta revelar seu corpo. – Mas seu pai ainda quer acreditar que a filha é virgem.
– Só se ele for muito idiota – ele riu e saiu da cama.
– Vamos. Está bem tarde e eu vou trabalhar amanhã cedo.
– Não vai surfar?
– Não. Eu ia correr, mas, pelo visto, vou mesmo é aproveitar até o último minuto para descansar – espreguiçou-se bocejando. – Vamos, Charlotte, ou seu pai manda quebrar as minhas pernas.
– Droga!
Ele me deixou em casa pouco tempo depois. Durante o trajeto senti o quanto eu estava cansada e o sono quase me pegou. Na porta, Alex me beijou delicadamente, com amor, e foi embora. Eu estava tão feliz que adormeci no mesmo instante em que deitei em minha cama.
Na manhã seguinte, acordei bem tarde e já havia uma mensagem dele me aguardando no celular. Alex me desejava bom dia e me lembrava que eu só tinha três dias para ter tudo pronto para a mudança. Olhei para o meu quarto sem ânimo para começar a arrumar nada. Bom... eu poderia fazer isso aos poucos, conforme fosse a minha adaptação, ou a minha necessidade.
Já havia passado da hora do café quando desci faminta. Minha mãe estava ao telefone e, pela conversa, percebi ser com Dana e era sobre o casamento. Fui até a cozinha, surpreendendo Odete.
– Qualquer coisa que mate a minha a fome, Odete – ela fez uma bandeja com ovos, pão quentinho, suco de umbu e uma xícara de café. Voltei à sala e comecei a devorar tudo.
Johnny chegou quando eu estava terminando de comer. Ele beijou minha mãe no rosto e sentou ao meu lado.
– Preparada?
– Não – rimos, mas eu senti o quanto a proximidade me deixava apreensiva.
– E Miranda? A maluca sumiu ontem e só enviou uma mensagem avisando que tinha conseguido uma carona.
– Miranda anda muito estranha ultimamente.
– Nem me fale – ele roubou umas migalhas do meu prato sem se dar conta do que estava fazendo. – Eu vim lhe entregar a sua carruagem. Opa! Carroça – colocou a chave do meu carro sobre a mesa. Acertei um soco em seu braço.
– Ai!
– Não fale assim do meu carro. Ele é um senhor de idade.
– É bom pensar assim mesmo. O Pedro falou que da próxima vez vai ser complicado salvá-lo. Até agora ninguém conseguiu a peça de um milhão de dólares.
– Idiota!
– É sério, Charlotte! Sem a peça não há mais nada que possa ser feito. Por que você não compra outro carro da mesma marca e pega a peça – acertei outro soco em seu braço.
– Quer deixar de ser idiota?
– Já sei. Podemos mandar roubarem um do mesmo modelo e ano, ficamos com a peça e abandonamos o carro... Não me bata. Não me bata – começou a rir quando ameacei socá-lo mais uma vez.
– Mané!
– Onde está o padrinho? – dei de ombros. – O professor João Pedro me ligou. Disse que ele e Patrício vão tomar umas na casa do Alex hoje, já que amanhã vamos todos para o rancho. Disse que Alex fez questão que eu estivesse presente, acho que é para garantir a você que não vai ter nada de mais.
– Uma reunião?
– Uma despedida, Charlotte, só que sem as mulheres.
– Acho bom mesmo que seja assim.
Ele riu e minha mãe chegou contando que as flores tinham chegado e que estariam no rancho no horário combinado. Mostrou as fotos que Dana tinha enviado e comentou sobre a felicidade de conseguir uma festa tão linda em tão pouco tempo. Ela estava mais animada do que eu.
Evitei qualquer pensamento que me levasse à pequena reunião do Alex naquela noite. No dia seguinte, partiríamos em direção ao rancho, o meu lugar naquele mundo, e eu seria inteiramente do homem com quem escolhi viver.
CAPÍTULO 31
“No entanto, para dizer a verdade, hoje em dia a razão e o amor quase não andam juntos.”
William Shakespeare
ALEX
Conseguir dar conta de tudo era quase impossível. A sorte era que não sairíamos em lua de mel logo em seguida, o que me daria mais alguns dias até conseguir fazer Lana caminhar sozinha como editora-chefe. Lógico que ela poderia contar comigo e eu faria questão de acompanhar tudo de perto, mas era importante deixá-la à frente, fazê-la ganhar confiança até que minha presença não fosse mais tão necessária.
Cedo recebi uma ligação do professor Carvalho, reitor da faculdade, informando que Charlotte tinha agendado um encontro e que ele precisava mesmo conversar comigo para resolvermos a questão da minha aluna. Por ora estávamos aguardando uma posição do grupo de professores que estava avaliando o material dela.
Combinamos que nos encontraríamos logo após o casamento, mas esta informação eu não forneceria à minha noiva, pelo menos não enquanto não tivesse passado boa parte dos problemas que ela estava enfrentando.
Também cedo João apareceu na minha sala me informando que, eu querendo ou não, ele e Patrício passariam em minha casa à noite para uma reunião entre amigos, regada a algumas bebidas. Eu tinha certeza de que eles aprontariam alguma coisa, então tive a genial ideia de convidar Johnny, assim Charlotte se sentiria segura e eu teria alguém que impediria aqueles dois de fazerem alguma bobagem.
No final da tarde, liguei para ela. Até então tínhamos trocado algumas mensagens, todas com brincadeiras de duplo sentido, que nos remetia à noite anterior e todas as coisas gostosas que fizemos. Charlotte sabia como entreter um homem.
– Charlotte! – minha voz saiu como um alívio em poder falar com a minha noiva.
– Professor Alex – e eu sabia muito bem o que aquela entonação significava. – Como vai?
– Ansioso... e cansado. E você?
– Ansiosa, mas não tão cansada. Lana implicou que eu precisava relaxar então hoje não tive nenhuma atividade referente ao casamento.
– E o que fez?
– Escrevi.
– Hum!
Era sempre assim, nós transávamos e ela escrevia. Realmente eu tinha acertado no diagnóstico daquela menina.
– E você? Muitos contratos novos?
– Não. Já fechamos a agenda, mas tivemos dois pedidos de material por duas editoras importantes na Alemanha.
– Uau! Deixe-me adivinhar: Tiffany – ela desdenhou o nome da autora.
– Não. Mas eu devo dizer que Tiffany já possui contrato com uma grande editora de lá.
– E bem que eles poderiam levá-la para uma longa temporada.
– Não sei por que você ainda a vê como uma ameaça, Charlotte.
– Eu também não sei. Alguma coisa me faz querer ela bem longe de nós dois – ri. Até nisso minha noiva era absurda.
– Certo, vamos esquecer Tiffany.
– Vamos esquecer Tiffany, por ora.
– Combinado – meu sorriso estava imenso. Eu adorava conversar com Charlotte e ter que lidar com toda a sua teimosia e infantilidade. – João Pedro quer passar lá em casa hoje, junto com Patrício. Eu convidei Johnny, não sei se ele já te contou.
– Ele contou que João avisou que você mandou convidar.
– Isso.
– Vai ser uma reunião entre amigos?
– Vai ser uma forma de satisfazer o ego do João Pedro.
– Sei.
Quando uma mulher diz “sei”, ela quer dizer muito mais do que isso. Juntei os pedaços: o tom irônico e desconfiado com que Charlotte estava me tratando desde o começo, o “sei” que mais parecia um “mentiroso”, e concluí que ela não estava nada satisfeita com aquela reunião.
– Você pode comparecer. Vamos ser apenas nós quatro... eu acho.
– Acha?
– Sim, provavelmente seja isso mesmo. Mas você pode ir, amor. É só aparecer.
– Em uma reunião só de rapazes?
– Garanto que com você vai ser bem mais interessante – ela riu e eu senti que havia relaxado um pouco mais.
– Não. Eu vou deixá-los com o clube do Bolinha.
– Tem certeza?
– Tenho sim. Vou ver com Miranda se ela quer assistir algum filme ou bater perna no shopping.
– Tudo bem. Vejo você amanhã?
– Eu não perco nossa ida ao rancho por nada neste mundo.
– Saudades do chalé?
– Saudades de você, eu e o chalé.
– Vou ver o que posso fazer.
– Combinado. Bom encontro, comporte-se, amo você – falou tudo de uma vez só.
– Também amo você.
Desliguei e me dediquei ao trabalho até não restar mais nada para resolver. João passou em minha sala no final da tarde. Ele queria a chave reserva da minha casa, alegando que queria deixar o barril de chope pronto para quando eu chegasse. Também disse que passaria na delicatessen próxima para providenciar alguns petiscos.
Só consegui sair da editora bem tarde, depois de receber muitas mensagens do Patrício e do João me perguntando se eu não apareceria. Ainda deixei alguns assuntos pendentes que eu poderia tratar no dia seguinte com Lana, lá no rancho.
Peguei o caminho livre, por causa do horário. Eu estava bastante cansado, ansioso para sentar, tomar um chope gelado e jogar conversa fora até tarde da noite. Em dois dias, eu estaria casado e feliz, sem nada nem ninguém que pudesse arrancar Charlotte dos meus braços.
Foi com este pensamento que entrei em meu condomínio e tudo o que estava em minha mente sumiu no momento em que encostei o carro em frente à minha casa. Meu. Deus.
Aquilo não era uma simples reunião entre amigos. Aquilo era uma festa. Uma imensa festa.
Todas as luzes estavam acesas, inclusive as do jardim, que eu raramente utilizava. Os portões, a garagem e a porta de casa estavam abertos. Do lado de fora, muitas pessoas conversavam, a maioria mulheres em roupas provocantes. Do lado de dentro, com certeza, havia muito mais. Desliguei o carro sem me importar em estacioná-lo da forma correta e desci disposto a matar João Pedro.
– Alex!
Olhei para o lado e fui abraçado por uma mulher muito animada. Só quando ela me largou, eu pude identificá-la. Era Marcela, uma garota com quem eu saí algumas vezes. Ela usava um vestido justo, prata e com um decote generoso. Porra!
– Quer dizer então que o gato mais cobiçado da cidade vai se casar? Quase entrei em depressão quando o Patrício me ligou. Pelo menos teremos uma noite de despedida – e me segurou pelo pescoço colando os lábios aos meus.
Puta que pariu!
– Hum! Marcela... – afastei a garota mantendo-a longe. – Desculpe, sabe me dizer onde o João Pedro está?
– João Pedro? Seu cunhado, não é isso? Ele estava logo na entrada, mas...
– Com licença.
Saí de perto dela e limpei os lábios discretamente com a mão. Identifiquei várias garotas que conheci nas noites cariocas, além de alguns amigos do futebol, conhecidos de balada, colegas de longo tempo. Porra, Charlotte me mataria.
João estava realmente na entrada, usando roupas casuais e um colar de neon, verde limão, enquanto segurava um coquetel com direito a guarda-chuva e duas cores na bebida. Eu o pegaria pelo braço, o faria tirar todas aquelas pessoas da casa o quanto antes e depois o mataria. Ah, eu o mataria. Antes que eu pudesse alcançá-lo, Patrício apareceu com duas mulheres, uma de cada lado, abraçadas a ele, chamou-me tão alto que alertou nosso amigo.
– Alex! Finalmente apareceu a margarida. Venha, esta é Letícia e esta Lorena.
Olhei as garotas, gêmeas, lindas, seios firmes em um decote solto, barriga de fora extremamente trabalhada, pele bronzeada, saia curta e solta que dava mais o que pensar do que censurar. As duas morenas eram idênticas, maravilhosas. O que ele estava aprontando?
– Alex! – João se aproximou colocando a bebida em minha mão. – Tire este paletó, cara! Vai estragar o clima da festa. E beba.
– João, eu...
– Não vai dizer um oi para as meninas? – Patrício me interrompeu outra vez. Evitei olhar diretamente para as garotas. Era melhor prevenir do que remediar.
– Oi, meninas. Com licença! – rosnei segurando João pelo braço e levando-o para dentro.
– Ei, ei, calma aí – ele se soltou rindo para algumas garotas que estavam no corredor. – Garotas, o Alex chegou.
Os gritinhos quase me tiraram do sério. Porra, João acabaria com a minha vida.
– É melhor você conversar comigo ou vou te estrangular aqui na frente de todo mundo.
– Você está muito estressado, Alex. Por que não relaxa? – começamos a caminhar em direção à cozinha.
– O que significa isso tudo?
– A sua despedida de solteiro, cara!
– Porra, João, eu falei...
– Porque é um mariquinhas. Vai se casar em dois dias com uma garota que ainda está aprendendo o que é sexo, então precisa de algo que o faça ter paciência para aguardar até Charlotte pegar o jeito.
– Vá se foder! Não fale de Charlotte assim.
– Calma Alex! Não sabe brincar, então não desça para o play – e riu como se aquilo fosse mesmo divertido.
– Vou acabar com essa festa agora mesmo.
– Você é um maricas, Alex! – Patrício nos alcançou. – É só uma festa. Ninguém está colocando uma mulher em sua cama. Apenas relaxe e se divirta.
– Eu disse que não queria esta festa.
– São nossos amigos e eles não foram convidados para o casamento porque a sua noiva não quer estranhos na cerimônia. Como acha que eles se sentiram?
– Eu não estou vendo apenas os nossos amigos aqui, Paty.
– Paty é a puta que te pariu – revidou com raiva. – E eu não tenho culpa se você é gay e só conhece homens. Eu tenho muito mais amigas do que amigos em minha lista telefônica.
– E você deve ter bastante consciência de que Charlotte vai descobrir o que está acontecendo aqui, então Miranda também vai ter este conhecimento, não é?
Patrício recuou e João riu.
– Miranda? Mas vocês não...
– Acha mesmo que sou tão idiota assim, Patrício? Charlotte não sacou o que está acontecendo, mas eu já entendi que você voltou atrás e agora está se desdobrando para fazer Miranda te aceitar de volta.
– Isso é um assunto só meu.
– Claro. Mas pode ter certeza de que esta festa é o seu tiro de misericórdia – ele ficou sem reação por um tempo, João começou a fazer gracinhas, então ele deu de ombros.
– Que assim seja – levantou a garrafa de cerveja que segurava em um brinde e virou o conteúdo todo de uma vez, para logo em seguida dar um grito animado. – Vamos farrear que a festa é para os solteiros.
– Puta que pariu! – rosnei sem saber como desfazer toda aquela confusão.
– Alex, seu cretino – vi Roberto antes que ele acertasse um soco em meu braço. – Vai se amarrar e não contou nada para ninguém? Filho da puta! Deu sorte que fez esta festa incrível, do contrário nunca te perdoaria.
– Onde está Milena? – perguntei pela esposa dele. Eles eram recém-casados e o natural era que Roberto levasse a esposa para todos os lugares.
– Milena? Hoje a noite é dos solteiros, meu amigo.
Mais um idiota no mundo. Onde aquelas pessoas haviam deixado as suas cabeças?
– Curta, Alex – João indicou o copo em minha mão.
– Eu mandei Charlotte vir – ele arregalou os olhos e depois começou a rir.
– Vai se foder então! – e gargalhou. – Que idiota! Como pode ter sugerido que ela aparecesse? Era uma noite entre amigos.
– Porque ela ficou cismada e eu não queria problemas, agora... – olhei a festa repleta de mulheres, o som alto, corpos balançando para todos os lados, pessoas se pegando sem nenhum pudor. Era o meu fim. – Vou ligar para Charlotte e explicar esta bagunça – peguei o celular, mas ele foi retirado rapidamente das minhas mãos.
– Epa, epa, epa – João escondeu o celular atrás do corpo. – Artigo proibido nesta festa. Sinto muito, Alex, mas a regra vale para todos.
– João eu... – pensei que mataria o meu amigo quando Johnny surgiu do nada e segurou meu braço.
– Sei como é isso, Alex – ele me puxou para trás. – Também fui pego de surpresa e tive o meu celular apreendido.
– Porra, Johnny! Faça alguma coisa. Você sabe como a Charlotte é e ela não vai procurar saber o que de fato aconteceu – ele sorriu largamente. – Merda! Eu vou casar em dois dias – e quando dei por mim João já havia desaparecido com o meu celular.
– Tenha calma. Primeiro de tudo: Charlotte não vai aparecer. Eu estava com ela há pouco tempo e sei que Miranda a arrastou para o cinema e depois vão sair para jantar.
– Mesmo assim.
– Segundo: eu estou aqui e Charlotte vai levar em conta o que eu disser, pode acreditar nisso.
– E você está de acordo com tudo isso?
– Não! Quer dizer... a festa está maneira, mas você terá que ficar na linha e eu estarei aqui para garantir que seja assim – respirei fundo.
– Você nem precisava estar aqui para garantir isso. Eu não vou trair a Charlotte.
– Eu sei que não. Me dê isso aqui – ele pegou o copo da minha mão, foi até um freezer que de alguma forma João conseguiu colocar em minha cozinha e pegou uma cerveja de lá. – Beba isso. Vai garantir que esteja de pé até o final. Agora vamos relaxar e ver algumas garotas tirarem a roupa.
Sem saída, acompanhei Johnny até a sala. Aquilo estava realmente fugindo do controle. João conversava com dois amigos nossos, todos casados, mas, pelo menos, não estava com nenhuma garota, ou eu seria forçado a realmente bater nele. Já Patrício... bom, esse já tinha tomado a sua decisão, então que continuasse se divertindo com as gêmeas.
Eu e Johnny ficamos em silêncio, bebendo nossas cervejas e observando as pessoas que pareciam enlouquecidas. Algumas situações eram tão constrangedoras que eu preferia desviar o olhar, como quando bolinhas de sabão saíram não sei de onde, aumentando o nível de empolgação dos participantes da festa e uma garota, que eu não fazia ideia de quem era, subiu na mesinha de centro, porra ela estragaria o móvel com aquele salto fino, e começou a tirar a roupa.
Foi demais para a minha cabeça.
– Deus ajude que Charlotte realmente não apareça – resmunguei e Johnny riu tirando a cerveja da minha mão e colocando outra logo em seguida.
Algumas garçonetes, vestidas apenas com biquínis quase inexistentes, diga-se de passagem, espremiam-se entre os convidados com variados tipos de bebidas. Aquela seria a festa dos sonhos de qualquer homem, por incrível que pareça, era o meu inferno. Impossível não olhar para a bunda de algumas delas, mesmo com a minha consciência me dizendo que melhor seria se eu ficasse cego.
– Você está muito desanimado para um homem que vai casar com a mulher que ama – aquela voz me fez estremecer.
Olhei para trás e vi Tiffany. Pisquei algumas vezes sem acreditar. O que João Pedro tinha na cabeça quando convidou a Tiffany? Provavelmente estava ansioso para me jogar no inferno.
– Surpreso?
Ela estava linda, com uma maquiagem que valorizava a sua beleza, deixando-a mais sexy. Conferi o resto. Claro que eu faria isso, afinal de contas nunca fui um santo, e... Caralho! Tiffany estava com um vestido colado ao corpo, destacando todas as suas curvas. Era preto e brilhava e o cabelo loiro em um penteado mais rebelde a deixava realmente desejável.
– Estou – foi só o que consegui dizer.
– E com a minha presença?
Anita apareceu do outro lado. Pensei em correr. Sério! Se eu conseguisse sair dali correndo, talvez, muito provavelmente, conseguisse me livrar dos problemas que aquelas duas me trariam. Anita estava mais bonita ainda, de uma maneira mais provocante do que Tiffany, que era mais clássica, menos atirada. Se eu prestasse mais atenção ao vestido dela, conseguiria constatar a ausência da calcinha.
– Com toda certeza. Nunca imaginei que João seria capaz de convidar vocês duas – e eu precisava sair dali o quanto antes.
– Ora, Alex! E quem disse que fomos convidadas? – Anita provocou. – Pelo que parece é uma festa aberta. Não tem ninguém impedindo as pessoas de entrarem.
E eu seria condenado por aquilo.
– Já que não fomos convidadas para o casamento – Tiffany sorriu sem nenhuma amargura. – Resolvemos aparecer para lhe desejar sorte.
– Charlotte preferiria morrer a ter vocês duas em nossa festa – revelei sem medo. Elas precisavam entender que não podiam agir como queriam.
– Ah, sim! Charlotte é mesmo uma menina cheia de vontades – Anita pegou minha cerveja e entornou. – Precisamos de algo mais forte – colocou a garrafa em uma bandeja que uma das garçonetes inclinou em sua direção e retirou de lá três copos de bebidas coloridas e enfeitadas.
– E Alex é o tipo de cara disposto a atender a todas as vontades da sua menininha – Tiffany continuou e aceitou a bebida que a prima lhe oferecia.
– Alex é o tipo de homem disposto a atender as necessidades de qualquer mulher – Anita brincou e me entregou um dos copos.
– Está enganada – tentei argumentar quando Tiffany me interrompeu.
– Ele está apaixonado, Anita. Agora só existe Charlotte.
– Exatamente – sem querer continuar a conversa, bebi um longo gole da bebida que elas me deram, constatando o quanto era forte. O que tinha ali, vodca, tequila, cachaça? Não consegui identificar, pois o leite condensado atrapalhava o sabor.
– Não parece. Olha só esta festa – Anita indicou a garota seminua que ainda dançava sobre a mesa de centro.
– Coisas do João Pedro.
– Você deve estar bem incomodado, não – Tiffany colocou a mão em meu ombro. Olhei para Johnny, que acompanhava tudo afastado.
– Bastante. Por falar nisso. Vou trocar esta roupa. Aqui está quente demais. Aproveitem a festa. Com licença.
– Pode deixar. Vamos aproveitar bastante a festa – o sorriso de Anita me fez estremecer, mas ignorei.
Saí de perto delas e, ainda bebendo aquela porcaria de coquetel, segui até as escadas, decidido a me trancar no quarto por um bom tempo. Charlotte não saía da minha cabeça, mas também toda a tentação das mulheres gostosas dispostas a tudo naquela noite. Eu era mesmo um filho da puta!
Fechei a porta, tirei a roupa e segui para o chuveiro. O coquetel me deixou um pouco mais disperso. Era muito forte e eu tinha bebido cerveja o tempo todo, então a mistura não tinha sido uma boa ideia.
Depois do banho frio, segui para o closet e assim que coloquei a cueca ouvi a porta do quarto se fechando. Estranhei, apesar de saber que uma festa tão liberal como aquela daria às pessoas o direito de acharem que poderiam usar os quartos também. Uma grande merda.
Saí do closet decidido a acabar com aquela palhaçada, mas estanquei quando vi as duas mulheres que estavam ali. Tiffany e Anita. A primeira só de calcinha e meias sete oitavos. A segunda sem nada, só com os saltos altos. Puta que pariu! Puta que pariu! Puta que pariu!
– Despedida de solteiro, Alex! – Anita anunciou. – Somos o seu presente.
Eu estava só de cueca e tenho que confessar, não foi fácil impedir meu pau de subir. Primeiro porque eu realmente gostava da ideia de duas mulheres em minha cama, apesar de ter a certeza de que nunca sugeriria a Charlotte algo como aquilo. Não, eu nunca dividiria Charlotte com mais ninguém, mesmo que fosse uma mulher. Segundo porque Anita e Tiffany eram o que existia de mais perfeito no mercado, apesar dos seios artificiais de Anita, e que agora eu podia comprovar esta verdade. Elas eram lindas e estavam dispostas a tudo aquela noite.
Fiquei surpreso em ver Tiffany topar algo daquele tipo. Ela era muito clássica, apesar de nunca se negar a nada na cama. Já Anita... eu nunca conseguiria saber o que esperar dela.
Desviei os olhos das duas pensando se deveria ou não buscar alguma roupa para vestir.
– Não sei o que vocês pretendem, mas já adianto que para evitarmos confusão...
– De que tipo de confusão está falando? – Anita se aproximou, tocando meu peito. Afastei-me imediatamente. Ela era louca. Só podia ser.
– Anita, é melhor... – dei um passo para trás quando Tiffany também se aproximou e senti a borda da cama na dobra dos meus joelhos.
– Calma, Alex! Ninguém sabe que estamos aqui. E ninguém precisa saber – disse já passando a mão em mim.
Puta merda!
– Tiffany, você sempre foi a mais sensata, então...
– Ela é a sensata e eu sou o quê? – Anita riu e me empurrou sobre a cama.
Nem tive tempo de reagir, pois as malucas subiram em mim. Tentei afastá-las, ainda abismado por tamanha ousadia e não consegui ser rápido, ou forte o suficiente para evitar que elas prendessem meus punhos com algemas na cabeceira da cama.
Era surreal demais para ser verdade. Aquilo parecia cena de um filme. Como eu não consegui impedi-las de me prender? Como deixei que elas estivessem sobre mim naquele momento, alisando meu corpo como se eu fosse um brinquedo?
– Vocês estão loucas! – gritei enfurecido. – Vou dar parte na polícia das duas, entendeu?
– Com uma festa como esta, Alex? Acha mesmo que alguém vai pensar que um homem como você foi forçado a fazer sexo com duas mulheres enlouquecidas?
– Pare com isso agora, Anita! Tiffany, por favor, pense bem no que está fazendo, pense em sua carreira.
– Ora, Alex! Se você não quisesse isso, não estaria tão animadinho – e ela segurou meu pau com vontade. Claro que ele estava duro. Que cacete de homem não ficaria de pau duro em uma situação como aquela? Mas eu não queria. Não queria e ponto final.
– Porra! – debati-me, dificultando o trabalho delas.
– Se continuar gritando, vamos te amordaçar – Anita ameaçou e Tiffany riu histericamente. Ela não estava em seu estado normal. – Feche os olhos e aproveite, Alex – passou a mão pelo meu peitoral e, afastando Tiffany, subiu no meu corpo, rebolando em meu pau, ainda dentro da cueca e beijando meu abdome.
Eu não queria. Não queria! Só não conseguia fazer meu pau deixar de querer. Que inferno! Pensei em Charlotte, em nosso casamento, em como me sentiria um merda se alguma coisa acontecesse ali.
– Johnny! – gritei o mais alto que pude, ciente de que o som estava alto demais para que alguém me escutasse. – Seu filho da puta, onde está quando preciso de você – elas riram.
Anita levantou, sem descolar nossos sexos e rebolou para que eu pudesse ver, além de sentir, o quanto ela entendia do assunto. Porra, eu não podia deixar aquilo acontecer. Então, Tiffany se aproximou e beijou a prima. Um beijo carnal, puramente sexual, o que se comprovou quando elas começaram a se tocar.
Não, não, não!
Anita se afastou, mas Tiffany continuou tocando o corpo da prima, enquanto a maluca descia os lábios até a borda da minha cueca. Deus, por favor, não!
– Eu sempre quis saber como era você, Alex – disse ao puxar minha cueca e liberar a minha ereção.
– Anita, eu juro que te mato se...
Então a porta abriu e o que eu vi me fez desejar que o mundo explodisse.
Charlotte estava lá.
CHARLOTTE
O que eu vi estava fora de qualquer fantasia sugestionada por minha mente astuta. Eu havia passado uma noite estranha, inquieta, como se realmente estivesse avisada de alguma forma, que eu precisava estar com ele.
Tentei me entreter, no entanto Miranda estava tão introspectiva quanto eu e, em alguns momentos, perguntei-me se ela ainda sofria por Patrício, já que nunca mais tivemos tempo para uma conversa entre amigas. Jantamos como se estivéssemos pisando em ovos, com conversas que nunca nos direcionavam a Alex, Patrício, casamento ou qualquer outra coisa do tipo. Estranhamente, falávamos sobre o filme que assistiríamos, o fim da faculdade, os planos profissionais, os possíveis cursos e todas as viagens que fingíamos que ainda faríamos juntas, como se eu não estivesse prestes a me casar.
Definitivamente, foi uma noite estranha.
Provavelmente por causa disso eu não tenha conseguido me concentrar nem um segundo no filme. Estava agindo tão mecanicamente que me peguei pensando em como mesmo tínhamos chegado ali e escolhido a sessão.
Então, com a trama já avançada, Miranda, de uma forma inexplicável, virou-se para mim e disse:
– Acha mesmo que eles estão apenas conversando e tomando algumas cervejas?
No escuro do cinema, encarei minha amiga tendo consciência de cada palavra implícita naquela frase. Levei algum tempo, que eu não conseguiria nunca estimar, para tomar a decisão e responder.
– Não.
Levantamos sem precisar explicar a decisão e saímos prontas para acabar de uma vez por todas com aquelas dúvidas. Entramos no carro em silêncio e a única frase dita foi exatamente o incentivo de que eu precisava, proferida por minha amiga.
– Você é a noiva dele, tem o direito de aparecer quando e como quiser.
E por isso segui decidida até o condomínio onde Alex morava. Por alguns minutos, perguntei a mim mesma se era o certo a ser feito. Não que eu não quisesse exterminar de vez a minha insegurança e aquela angústia que me consumia desde o momento em que meu noivo desligou o telefone.
Pensei em passar por lá para averiguar se estava tudo bem. Não precisava entrar nem deixá-lo saber da minha presença, apenas chegar perto o suficiente para me certificar de que eu era mesmo louca e infantil.
Só que eu não era nem louca, nem infantil. Eu era uma garota com sexto sentido aguçado. Tive esta certeza quando não consegui sequer estacionar próximo a casa. O som alto e as luzes chamativas chegaram até mim antes mesmo que eu conseguisse ver a frente da casa. Pessoas bebiam e conversavam no jardim, mulheres de todos os tipos, vestidas como se aquela fosse a sua única chance de conquistar um cara como Alex. E era mesmo.
“Respire, Charlotte!” Eu pensava. “Apenas respire! ”
– Que merda é essa? – Miranda esbravejou passando por mim com passos decididos e me levando para dentro pela mão.
Por um mísero segundo pensei no quanto eu estava mal vestida, com meu jeans justo e batinha de renda, enquanto as outras mulheres estavam incrivelmente bem maquiadas e com vestidos arrasadores, mas meus pensamentos se dissiparam quando vi Johnny conversando com uma ruiva de tirar o fôlego.
Ele estava todo derretido, cheio de charme para a garota, que parecia se divertir com o universitário metido a garanhão. Nós nos aproximamos dele sem que percebesse.
– Cai fora! – Miranda gritou para que não restassem dúvidas de que a garota não tinha mais nada a fazer ali.
– Ei! Charlotte! O que faz aqui? – o rosto assustado do meu amigo tirou o meu chão.
– Você sabia desta merda toda? – Miranda continuou, seus olhos percorrendo todo o espaço a nosso redor.
– Não, eu... o que vocês fazem aqui?
– Onde está Alex? – perguntei já desesperada. Johnny olhou para mim apreensivo.
– Eu acho que ele foi trocar de roupa. Charlotte, Alex não...
Dei as costas decidida a acabar de uma vez por todas com aquela agonia. Passei pela sala onde vi uma garota com os seios de fora, bêbada, dançando sobre a mesa de centro. Os saltos finos, com certeza, estragariam o móvel. Aquilo era o mínimo que Alex merecia. Subi correndo as escadas, deparando-me com a porta do quarto fechada.
– Charlotte, espere... – Johnny estava logo atrás de mim.
– Abra logo a merda da porta – Miranda gritou praticamente me forçando a entrar.
Então eu abri, e... porra!
– Alex! – o nome dele saiu dos meus lábios sem que eu tivesse a intenção.
Perdi o meu chão, o ar, a coragem e capacidade de agir. Eu apenas fiquei ali, vendo Alex na cama com duas mulheres nuas. E eu não queria acreditar no que via. Não podia acreditar.
– O que... – Miranda entrou daquele jeito só dela. – Ah, não! – gemeu revoltada.
– Porra! – Johnny entrou logo em seguida e parou bem atrás de mim.
E eu? Bom, eu podia fazer um monte de coisas naquele momento. Eu podia gritar e me atirar contra aquele trio até que não restasse mais nada de humanidade em mim. Eu poderia enxugar as lágrimas que estavam prestes a cair e demonstrar maturidade para não sofrer por um filho da puta como Alex, ou eu podia simplesmente chorar e deixar tudo para trás.
Mas eu não consegui fazer nada. Meus olhos presos aos de Alex apenas me faziam repetir incontáveis vezes em minha mente que aquilo tudo era um pesadelo e que eu acordaria em breve, com minha vida toda nos trilhos, prestes a me casar e ser feliz. Sim, era apenas um pesadelo.
– Charlotte, não... merda! Alguém me tire daqui – Alex se debateu. Ele estava assustado demais, mas as duas mulheres...
Deus!
Eu estava tão assustada com o que vi que minha mente me traía me fazendo não reconhecer aquelas duas. Como? Por quê?
Senti o sangue fervendo, a humilhação me atingindo com um tapa forte no rosto, a raiva me consumindo mais rápido do que eu poderia imaginar. Desviei os olhos daquela cena horripilante e dei as costas para deixá-los. Alex poderia ter feito aquilo com qualquer outra mulher, nunca com aquelas duas. Nunca.
– Charlotte! – ele gritou.
– Ah, não! Você não vai sair assim – ouvi Miranda gritar e me puxar pelos braços, mantendo-me dentro do quarto. – Não antes de tirar estas duas vacas de cima do seu homem.
E minha amiga partiu para cima daquelas duas como se estivesse se atirando em uma guerra.
CAPÍTULO 32
“Contudo, o amor é cego, e os namorados nunca veem as tolices impagáveis que eles próprios praticam, porque, se vissem, até mesmo o amor ficaria enrubescido.”
William Shakespeare
ALEX
Eu vi tudo em câmera lenta. Charlotte indo embora, Anita sorrindo vitoriosa, Tiffany se encolhendo assustada com o flagrante, como se estivesse acordando de um transe e Miranda furiosa avançando para a cama.
Puta que pariu!
A amiga da minha noiva agarrou Anita pelos cabelos sem lhe dar chance de revidar, talvez porque Anita era segura demais para acreditar que alguém como Miranda seria capaz de fazê-la recuar, ou talvez porque estivesse tão louca que não tinha nenhuma noção do perigo.
O fato é que Miranda tirou Anita de cima de mim tão rápido que até eu fiquei atordoado. Com um movimento certeiro a arremessou no chão, para segurá-la em seguida pelos cabelos e por um braço até conseguir jogá-la para fora do quarto.
– Uma vadia a menos – ela gritou enquanto Charlotte, assustada, estava em um canto, assistindo tudo como se não conseguisse assimilar nada.
Tiffany estava encolhida, escondendo o corpo e com a mão estendida, como um pedido de clemência. Eu podia ver em seu rosto a vergonha sentida e o quanto ela estava confusa com aquilo tudo. Era a segunda vez que eu via Tiffany recuar como se estivesse acordando de um ataque de sonambulismo.
Miranda parou diante dela, que se abaixou buscando o lençol que estava debaixo de mim, sem conseguir sucesso. Eu estava preso, não apenas pelas algemas, mas também pelo desespero, pelas consequências que aquela merda traria para minha vida.
– Saia rastejando, sua cadela no cio – rosnou uma Miranda furiosa. Tiffany, nitidamente aterrorizada, saiu do quarto o mais rápido que pôde. – E acho bom as duas estarem bem longe daqui em alguns segundos ou não serei tão generosa.
Antes que Tiffany conseguisse passar pela porta, eu vi Charlotte olhá-la com tanto desprezo que temi pelo que faria. Ela se aproximou, fazendo Tiffany recuar, mediu-a de cima a baixo e simplesmente cuspiu nela. Sim, Charlotte cuspiu em Tiffany e depois lhe deu as costas, como se lhe causasse nojo olhá-la.
Voltei minha atenção para Miranda, que me olhou com raiva, não sem antes dar uma bela conferida em meu corpo e deixar um sorriso perverso escapar. Remexi-me incomodado. Não era para ela me olhar daquela maneira. Não enquanto meu pau estivesse exposto.
– Alguém solte este idiota, por favor! – rosnou com maldade. – Venha, Charlotte, vamos acabar com esta maldita festa.
Sem aguardar por mim, segurou minha noiva pelo braço e a arrastou porta afora. Fiquei desesperado.
– Charlotte! – debati-me sentindo as algemas machucarem meus punhos. Ela não se virou, nem hesitou. Simplesmente me deu as costas e partiu. – Faça alguma coisa, Johnny. Não a deixe ir embora – debati-me desesperado.
– Antes eu tenho que te tirar desta cama – ele fez uma careta, puxando o lençol embaixo de mim e jogando a parte puxada sobre meu corpo. – Pelo amor de Deus! Ninguém precisa terminar a noite com uma visão horrenda como esta – brincou enquanto olhava pelo quarto para descobrir como fazer para me soltar. – Onde elas enfiaram a chave?
– Aquelas duas apareceram aqui e eu nem vi como conseguiram me prender – ele me olhou e sorriu, como se não estivesse acreditando em mim. – É verdade. Solte logo minhas mãos porque eu preciso fazer com que Charlotte...
– Ela vai entender.
– Porra, ela não vai! Ela não vai Johnny! Você conhece Charlotte.
– Conheço, mas Miranda é muito mais racional do que ela e tenho certeza de que conseguiu entender toda a ação aqui em cima, mais rápido até mesmo do que você foi capaz de entender. Vamos nos concentrar em encontrar alguma coisa que possa te libertar.
O som alto parou como mágica e gritinhos de insatisfação puderam ser ouvidos. Miranda estava cumprindo com o que tinha dito.
CHARLOTTE
Eu estava tão em choque que apenas ouvia Miranda gritando sem me dar conta do que ela de fato fazia. A movimentação em massa, as vaias que se afastavam aos poucos, as reclamações confusas e então minha amiga outra vez em meu foco.
– É isso mesmo. Vão ciscar em outro galinheiro. A festa acabou. Todos fora ou chamo a polícia, aí eu quero ver só a cara desses palhaços quando as esposas descobrirem o que eles estavam fazendo aqui. Graças a Deus, filmei tudinho.
Ela gritava enquanto João Pedro, um pouco mais afastado, conduzia as pessoas e pedia desculpas. Eu ainda lembrava da cara dele quando me viu descendo as escadas e do sangue que praticamente fugiu do seu rosto ao empalidecer assustado.
– Vadias, par de jarro também não são bem-vindas – gritou para as gêmeas que encontramos em uma situação um tanto quanto escandalosa com Patrício.
– Miranda... – ele ainda tentava fazê-la parar para ouvi-lo, sem sucesso.
– Não toque em mim – esbravejou minha amiga, afastando-se rapidamente para continuar mandando as pessoas embora como quem conduzia um gado.
Quando a última pessoa saiu, sentei no sofá e escondi o rosto entre as mãos. Eu me sentia exausta, como se tudo o que tinha visto tivesse exaurido todas as minhas forças. Deus, como eu conseguiria conviver com aquilo tudo?
– Charlotte, eu não... merda! Olha, foi tudo ideia minha. – João começou a se explicar. A raiva que eu senti foi tão grande que levantei como uma bala.
– Vamos embora – disparei em direção à porta. – Eu não tenho mais nada para fazer aqui.
– Charlotte, pare e pense – Miranda me segurou me impedindo de fugir.
Foi quando ouvimos passos rápidos nas escadas. Meu sangue gelou e comecei a me sentir realmente mal. Eu não queria passar por aquilo. Não precisava. Alex não tinha o que me explicar, nada poderia ser perdoado e não havia forma de me fazer entender.
– Charlotte! – ele andou rápido em minha direção. Pensei em socá-lo, pois seria uma bela resposta, porém só consegui evitar que ele me pegasse.
– Fique longe de mim – e como eu era uma perfeita pateta, meus olhos se encheram de lágrimas, tornando-me mais fraca.
– Não foi o que você está pensando – ele tentou se explicar e eu ri sem vontade.
– Ah, claro que não! Claro que não!
– Porra, o que aconteceu? – João ficou entre nós dois, olhando diretamente para Alex.
– Charlotte, por favor! Apenas me escute. Johnny estava aqui o tempo todo ele sabe que eu não fiz nada.
– O que aconteceu? – Patrício ficou atento, aproveitando a situação para se aproximar de Miranda.
– Charlotte pegou Alex na cama com Tiffany e Anita – minha amiga explicou sem muita paciência.
– Porra! – João gritou.
– Puta que pariu! – Patrício também se expressou, porém parecia estar se divertindo.
– Não foi assim. Aquelas duas...
– Eu não quero ouvir! – tapei os ouvidos. – Eu quero ir embora!
– Lottie, calma! – Johnny se aproximou me tomando nos braços. Foi o suficiente para me fazer desabar.
Abraçada a meu amigo, eu me permiti chorar todas as dores que me assolavam. Eu estava tão fraca, tão triste, quebrada ao meio e pisoteada como se não tivesse nenhum valor. Não conseguia entender por que Alex permitiu que acontecesse. Onde estava o amor que dizia sentir por mim?
– Charlotte – Alex se aproximou. – Por favor, me escute!
Porra, eu não podia ficar ali ouvindo-o tentar me fazer acreditar que não estava naquela cama com aquelas duas vacas, como Miranda tinha acertadamente chamado, nuas, Anita quase enfiando o seu... quase com a boca... merda! Ela estava quase lá. Quase. Só não foi porque eu cheguei. Não. Ele jamais poderia me convencer de que eu não tinha visto aquilo.
– Não toque em mim – gritei enfurecida me atirando contra ele e batendo até que minhas mãos não aguentassem mais. – Seu cretino! Seu cretino! – eu falava e batia sem parar.
A imagem de Anita com a boca perto do... Céus! Eu jamais poderia esquecer daquilo.
– Charlotte! – Johnny tentava me impedir de continuar socando Alex. Ouvi a risada cínica de Patrício e o tapa estalado que Miranda acertou nele, então fui contida pelo próprio Alex, que me segurou com força, mantendo-me presa em seus braços.
– Merda, Charlotte! Eu não transei com elas.
– Não! Eu vi que não. Porque eu cheguei, não foi? Eu atrapalhei a sua festinha!
– Não. Elas me prenderam lá. Eu não queria – ele continuou tentando se justificar.
– Não tente me convencer que não queria, seu filho da puta! Eu vi o quanto você queria.
– Oh, sim! Ela viu. Todos vimos – Miranda foi cínica. O que me deixou ainda mais possessa.
– Calma, calma! – Johnny me tirou de Alex e me colocou do outro lado da sala. – Vamos conversar civilizadamente, ok? Patrício, João e Alex, é melhor vocês ficarem aqui. Nada do que disserem vai ajudar agora. Miranda, venha comigo. Nós dois precisamos conversar com Charlotte.
Miranda concordou com Johnny e, contra a minha vontade, levaram-me até o escritório de Alex, trancando-nos lá. Olhei para a mesa onde ele costumava trabalhar quando estava em casa. Eram tantas lembranças! A certeza que tivemos de que não podíamos mais brincar com a situação, a vontade de ficarmos juntos, mesmo que fosse apenas pelo sexo, e a interrupção de Anita. Merda, eu lembrava muito bem de como ela chegou naquele dia, cheia de intimidade, oferecida, será que... não. Eu não podia acreditar que ele mentia para mim desde aquele tempo.
Chorei ainda mais com as lembranças e a ideia que me machucava. Johnny e Miranda permaneceram em silêncio, aguardando que eu estivesse mais calma, enquanto eu acreditava que esta era uma missão impossível. Quando os soluços cessaram e apenas as lágrimas desciam, Johnny começou.
– Lottie, eu sei que agora vai ser difícil acreditar em todos os fatos que podemos trazer para você, mas tente manter a cabeça aberta, por favor!
– Não tente me convencer do contrário, Johnny. Vocês viram o que estava acontecendo lá no quarto.
– Você está na defensiva e eu entendo – ele continuou. – Mas seu choque não está permitindo que enxergue as coisas como elas realmente são.
– Pelo amor de Deus, Johnny! O que poderia ser diferente do que vimos?
– Eu cheguei aqui primeiro que Alex, e, assim como ele, fui surpreendido por esta festa que o João armou com o Patrício. Não sei se a intenção deles era fazer com que Alex se rendesse à ideia de uma despedida de solteiro, quero acreditar que não. Eles queriam apenas comemorar, se divertir.
– Espero que Lana esteja ciente do que o marido dela é capaz – Miranda esbravejou, impaciente. – Patrício é um babaca mesmo, não poderíamos esperar nada diferente dele.
– Eu posso dizer que, até onde pude observar, João Pedro não fez nada além de conversar com alguns amigos – Johnny tentou defender os outros.
– Ah, claro! Isso antes ou depois de você ficar todo encantado com aquela ruiva tingida? Acorda, Johnny, você não tem como dar conta de tanta informação.
– Eu sei, mas eu estava aqui quando Alex chegou. Vi o seu espanto e o desespero que tomaram conta dele quando entendeu o que era a festa. Ele tentou te ligar, Charlotte, no entanto, foi impedido por João, que determinou que nenhum celular poderia circular na festa.
– Provavelmente para que ninguém tivesse provas do que estavam fazendo – Miranda rebateu ofendida. Johnny deu de ombros.
– Charlotte, eu prometi a Alex que ficaria de olho nele e que seria a sua testemunha quando ele precisasse te contar sobre a festa, e era o que estávamos fazendo. Bebemos e observamos tudo o que aconteceu nesta casa durante boa parte da noite. Foi quando Tiffany e Anita chegaram.
– Deus! – sentia-me exausta. Eu não queria mais pensar naquele assunto.
– Lottie, confie em mim – Johnny pediu se abaixando à minha frente e capturando meus olhos. – Miranda está com raiva, mas vai confirmar tudo o que estou dizendo – minha amiga riu sarcástica. – Elas não foram convidadas, eu ouvi quando Anita revelou a Alex e ele ficou aborrecido com a presença delas. Alex as evitou o quanto pôde, até que resolveu se trancar no quarto para se livrar daquela confusão.
– Claro, no quarto não teria você como testemunha – rebati rebelde.
– Fiquei de olho nelas durante um tempo, até que deduzi que não fariam nada – ele continuou.
– Então a ruiva falsa chegou e você logo se esqueceu delas – Miranda cruzou os braços na frente do peito, desafiando-o.
– Não... quer dizer... elas estavam conversando com outros caras, não parecia que aprontariam alguma coisa, então...
– Se você já me disse tudo o que sabe, então me deixe ir embora – levantei ansiosa para sair e nunca mais voltar.
– Eu te disse o que sei, agora Miranda vai dizer o que sabe – ele parou em minha frente sem me deixar passar.
– Eu? – minha amiga parecia surpresa. Johnny a olhou de uma forma que a fez recuar. – Johnny está certo, Charlotte. Elas armaram para o Alex, só não sei se a intenção era que alguém aparecesse e de alguma forma você ficasse sabendo, ou era apenas dar a ele uma despedida de fato.
– O quê? Miranda, você...
– Olha, não me agrada nada descobrir esta porcaria desta festa e ter presenciado aquela cena ridícula lá no quarto. Também não gosto de estar aqui em defesa do Alex, mas tenho que ser justa. Você nunca conseguiria ver o que eu vi porque estava muito abalada. Tudo naquele quarto indicava que elas armaram para Alex.
– Como assim? Você viu que ele estava excitado – rosnei me sentindo humilhada com esta parte. Miranda olhou para o chão, como se tal ponto a deixasse sem graça.
– Pare e pense. Se Alex tivesse levado aquelas duas para o quarto, como você imaginou, então por que não havia roupas espalhadas pelo chão? Quer dizer... é natural que no calor da safadeza eles tivessem se despido, deixando provas para todos os lados, mas o que vimos foi Alex de cueca, preso a cama, com duas mulheres praticamente nuas. Onde estavam as roupas?
– No banheiro, no closet, sei lá! Isso não quer dizer nada – e eu não perdoaria Alex só por causa deste detalhe.
– Certo. Eu coloquei aquelas duas putas para correr, nuas como estavam. Anita eu não posso duvidar de que fosse capaz de realmente descer nua, sem nenhum pudor, já Tiffany... – ela balançou a cabeça negando. – Esta tentaria recuperar suas roupas, eu posso apostar nisso.
– Isso não prova nada – rebati me sentindo menos estimulada a atacar.
– Temos também o fato de Alex, e apenas ele, estar com o cabelo molhado.
– O quê? – aquilo estava ficando confuso demais. Como Miranda conseguiu ver tanto em tão pouco tempo?
– Se eles tivessem se divertido um pouco enquanto Johnny se deixava levar pelos encantos da ruiva, elas também deveriam estar com um aspecto mais limpo. Alex tinha realmente tomado um banho, mas elas estavam com os rostos impecavelmente maquiados, os cabelos não pareciam de duas mulheres prestes a transar a três. Sem contar que os corpos levemente suados correspondiam a corpos que estavam no ambiente de baixo um pouco antes e não de pessoas protegidas pelo frio do ar-condicionado.
– Suposições demais, Miranda – e minha voz não continha mais a certeza de antes.
– Ok! O próximo ponto é o fato de Alex estar algemado, enquanto as duas o atacavam.
– E daí?
– Não me parece ser típico dele se deixar ser conduzido – ela me encarou, e eu lembrei da vez em que eu fui algemada naquela cama e, quando quis fazer o mesmo, ele não permitiu. Não, eu não podia me render a argumentos tão frágeis. – Você sabe que Alex temia aquelas duas. Que ele sabia que, se cedesse, teria que ser muito bem feito. Jamais permitiria que elas o deixassem tão vulnerável.
– Céus pare com isso! Pare de tentar me convencer do contrário. Nós vimos que ele estava excitado.
– Se fosse o idiota do Patrício, eu até acreditaria que ele tinha sido cretino a ponto de se deixar levar pela situação, Charlotte, mas... merda! Eu tenho que admitir que Alex jamais faria isso. Ele não faria algo desse tipo se não tivesse a certeza de que você jamais descobriria.
– Ela tem razão – Johnny voltou a falar. – Sem contar que ele estava desesperado quando chegamos.
– Eu o havia flagrado. O que vocês acham que ele faria?
– Charlotte, eu sei que é uma merda passar por isso, mas Alex tem mais chances de ser inocente do que culpado – Miranda falou com segurança, fazendo-me fraquejar.
Eu queria acreditar naquilo? Claro que queria. Nada mais no mundo me deixaria mais satisfeita do que saber que eu poderia acordar daquele pesadelo. Só não poderia ser assim, apenas me enganando, alimentando falsas esperanças.
– Deixe ele te contar o que aconteceu – Johnny sugeriu calmamente, ciente de como meu corpo estava reagindo àquilo tudo. – Cada um aqui tem um pouco para te contar.
Concordei. Não sabia ao certo como reagir à presença de Alex depois de tudo o que Miranda conseguiu incutir em minha mente. Johnny abriu a porta e saiu. Miranda caminhou pelo escritório, sem conseguir se manter quieta.
– Charlotte, homens são assim – suspirei sentindo as lágrimas voltarem. – Alex não queria aquilo, eu pude ver, mesmo estando... você sabe. O corpo reage mesmo quando a mente diz não.
– Isso é absurdo, Miranda.
– Sim, é. Mas nós também ficamos excitadas com algumas situações embaraçosas ou erradas. A nossa sorte é que nosso corpo não muda de maneira perceptível, já os homens...
– Não posso aceitar este detalhe como um ponto positivo.
– Eu sei que você jamais vai aceitar, só tente entender, Alex ama você e isso não é mentira.
– Você perdoaria uma traição por causa do amor que sente? – ela me encarou confusa e minha pergunta pareceu magoá-la.
– Não! Alex não te traiu, ele foi lançado na fogueira por aquelas duas vadias. Não sei onde estava com a cabeça que não arranquei os olhos delas – e eu não sabia mais sobre quais vadias ela falava, se as de Alex ou as que estavam com Patrício.
Neste momento Johnny voltou, acompanhado por Alex, Patrício e João Pedro, que parecia mais constrangido do que todos os outros. Não tive condições de encarar Alex. Eu não podia. Por isso mantive os olhos baixos, concentrada em apenas ouvir.
ALEX
– Você não merece a minha consideração, João – esbravejei com o meu amigo que se mantinha nervoso.
– Lana vai me matar, cara! E eu não fiz nada. Todo mundo viu. Você viu, não viu, Patrício?
– Eu não vi nada – meu irmão rebateu indiferente. Ele não deixava de olhar para a porta do escritório.
– E amanhã eu ainda terei que dar conta de um milhão de aparelhos celular. Eu estou fodido, e divorciado – andou de um lado para o outro. – E a partir de amanhã vou dormir na casinha do cachorro.
– Você não tem cachorro – lembrei a ele sem me comover com o seu drama.
– Que seja! E você, Paty, também é culpado. Você convidou toda essa gente, era para ser algo mais discreto.
– Eu não convidei. Um falou para o outro e, quando eu vi, a casa estava lotada. E se me chamar de Paty outra vez eu vou agora mesmo contar a Lana o que você aprontou.
– Cara, Lana vai me matar!
– O que será ótimo! – eu sentia tanta raiva que poderia matá-lo. – Puta que pariu!
– O que você fazia lá em cima? – João perguntou nervoso. – Era para você ficar aqui, sob a nossa supervisão.
– Eu fui... – a porta do escritório se abriu e Johnny saiu de lá sozinho. – E aí? Eu quero falar com Charlotte – ele concordou, pegando-me pelo ombro, fazendo-me voltar dois passos.
– Ela está muito nervosa. Eu e Miranda tentamos fazê-la enxergar o que não conseguiu ver. Você deve o seu casamento a Miranda, ela foi brilhante. Charlotte está bem balançada.
– Graças a Deus! – eu já estava me voltando para a direção do escritório quando Johnny me segurou novamente.
– Eu preciso te perguntar, Alex. Você estava pretendendo...
– Não!
Não permiti que ele completasse. Eu sabia que não pretendia transar com elas, que meu coração estava seguro disso, assim com a minha mente. Para minha desgraça, meu corpo não reagiu como eu esperava e, se eles não tivessem entrado naquela hora, só Deus poderia saber o que teria acontecido.
– Então é sua vez de convencê-la disso. E vocês terão que ajudar. Cada um vai dizer o que sabe para ajudar a deixar Charlotte mais segura, certo?
Eles concordaram, então entramos no escritório. Charlotte estava próxima à cadeira. Tive vontade de abraçá-la e implorar para que acreditasse em mim e senti raiva por ser tão fraco e ter reagido daquela forma às duas mulheres que invadiram o meu quarto.
Ela mantinha os olhos baixos, sem me deixar saber a melhor maneira de abordá-la. Enquanto pensava por onde começar a falar, João me interrompeu.
– Charlotte, eu sou o culpado. Foi tudo minha culpa – João começou. – Eu quis dar a Alex uma despedida como a que ele me deu e não obedeci quando ele me disse que não poderia ser desta forma. Se tem alguém aqui que deve pagar pelo que aconteceu, sou eu.
– E você vai, João. Lana vai fazer você pagar muito caro – Miranda falou e eu tive que me lembrar o quanto ela tinha sido decisiva no esclarecimento da minha situação. Por causa disso, não rebati o seu comentário.
– Miranda – Johnny a advertiu, fazendo-a calar.
– Eu combinei a festa com o Patrício. Deveria ser para poucas pessoas, porém tudo saiu do nosso controle. Alex não sabia de nada e não ficou nem um pouco satisfeito quando chegou. Como nós estávamos nos divertindo e Johnny estava aqui para garantir que nada aconteceria... – vi minha noiva respirar fundo, incomodada com os argumentos do meu amigo.
– Mesmo que ele não estivesse – eu falei tentando salvar o meu lado –, eu jamais permitiria... – ela limpou o rosto e se moveu, inquieta.
– Claro que ele não faria – João continuou. – Mas você acreditaria no Johnny e não no Alex. Nós não convidamos Tiffany e Anita. Podemos até ter sido escrotos por organizar a festa, mas jamais a este ponto. Eu sei que elas te aborrecem, então nunca admitiria a presença delas. Mesmo assim, não sei como, elas ficaram sabendo, e apareceram – ele deu um passo inseguro em direção a Charlotte, e me olhou com cautela. – Eu não vi quando elas chegaram e não tenho como descrever a reação do Alex, só posso dizer que, um pouco antes de toda a confusão começar, fui abordado por Anita, e fiquei surpreso com a presença dela, apesar de não ter nem tempo de questionar. Ela me perguntou sobre o banheiro, disse que o de baixo estava entupido, o que me deixou bastante aborrecido, pois eu sabia que Alex me mataria por qualquer dano na casa, então disse a ela que tinha um social no andar de cima e fui para o outro pensando em resolver a situação sem precisar alertar ninguém.
– Puta merda, João! Você a mandou subir? – rosnei me controlando para não matar o marido da minha irmã.
– Como eu ia saber que você estava lá em cima?
– Isso confirma o meu argumento – Miranda disse para Charlotte. – Elas não tomaram banho com ele. Não daria tempo – vi minha noiva suspirar e balançar a cabeça.
– E eu acho que é tarde demais para tentar manter Lana longe disso tudo, não? – João falou aturdido, quase como se estivesse implorando. Charlotte o encarou.
– Ela vai saber, você é maduro o suficiente para entender que precisa arcar com o peso e as consequências das suas decisões – Charlotte falou, e João não se defendeu, apenas se encostou a parede e ficou pensativo.
– Eu também sou culpado, Charlotte – Patrício começou a falar. – Alex tentou me dissuadir de continuar com a festa, ele argumentou bastante, eu não concordei com seus argumentos. Se você quer achar um culpado, o filho da puta...
– Esse alguém é você, Patrício – Miranda o interrompeu, e meu irmão recuou imediatamente. Que patético! Se ele queria tanto a garota, então por que fazia uma merda atrás da outra? – Nós já sabemos disso.
– Miranda, você sabe que...
– Eu não sabia o que eles haviam aprontado – interrompi os dois antes que perdêssemos o foco da conversa. Charlotte virou o rosto, evitando me encarar. – Isso já ficou comprovado. Todos sabem como fiquei contrariado com a festa e Johnny viu como reagi à presença de Tiffany e Anita. Eu fui para o quarto, Charlotte, porque queria ficar longe de toda confusão, queria dar um tempo para a minha cabeça e aguardar até que todos fossem embora para poder ter um pouco de paz.
– Você estava de cueca, ou quase, deitado na cama com as duas.
– Eu estava – não tentei me defender. Não adiantaria de nada. – Tinha acabado de sair do banho, fui ao closet para me vestir quando ouvi a porta do quarto. Jamais poderia imaginar que elas seriam capazes de ser tão ousadas. Pensei que era um casal ansioso demais por privacidade.
– Que merda! – ela resmungou e balançou a cabeça, como se quisesse ajustar os pensamentos.
– Você tem razão. Foi tudo uma grande merda, mas o que você acha que pode esperar desse tipo de festa? Justamente por isso eu não quis que acontecesse, nem para mim nem para você, Charlotte. Foi por isso que fui para o meu quarto, mas elas foram lá e não me deram chance de reagir.
– Ah, você reagiu – ela afirmou ofendida. – Eu vi a sua “grande” reação – fiquei furioso. Claro que ela viu minha ereção, afinal de contas era o que Anita tinha nas mãos.
– Charlote... – comecei com fúria, depois parei me dando conta de que aquela conversa deveria ser entre nós dois apenas. – Vocês poderiam nos dar licença?
– Eu não vou ficar sozinha com você – ela rebateu alterada.
– Vai sim. Você vai ficar porque sabe que isso tudo foi armação, e que precisamos ter esta conversa.
E com isso eu sabia que Charlotte não se atreveria a sair daquele escritório. Os demais se olharam e aos poucos foram se retirando. Mantive os olhos fixos nela, sem querer perder a conexão entre nós dois. Quando Johnny saiu e bateu a porta, eu tomei coragem e fui em sua direção.
– Não! – ela deu um passo para trás e eu parei, sem deixar de olhá-la.
– Você sabe que aquilo não aconteceu. Pelo menos não como imagina.
– Eu vi.
– Você viu, Charlotte, nem por isso deixou de ser armação. Elas avançaram em mim, as duas, sem que eu pudesse impedi-las, então prenderam minhas mãos na cabeceira da cama.
– E você gostou disso – afirmou me desafiando.
– Claro que eu não gostei. Eu fiquei furioso. Ameacei-as de todas as formas, gritei por ajuda, o som alto impediu que alguém ouvisse.
– Que conveniente, não? – nós nos encaramos sem trégua.
– Porra, amor! Eu não sei o que posso te dizer. Você já sabe de tudo, sabe que foi uma puta sacanagem que aprontaram comigo. O que mais eu posso dizer? Eu te amo, Charlotte! Já provei o meu amor de inúmeras formas. Vamos nos casar em dois dias e você não tem dúvida a respeito da minha ansiedade.
Ela ficou calada me encarando, eu via a tensão na veia do seu pescoço, as lágrimas que marcaram seu rosto e as que ainda ameaçavam cair. Por que nada entre nós dois poderia ser simples e tranquilo? Por que sempre tinha que haver uma confusão?
– Charlotte, você sabe exatamente o que aconteceu, por que não confia em mim?
– Você estava excitado – jogou a verdade em minha cara deixando-me extremamente envergonhado. Engoli com força e não consegui manter meus olhos nos dela. – Você estava gostando, Alex. Como quer que eu releve e conviva com isso? – suspirei me afastando um pouco e limpei o suor da testa.
– É difícil de explicar – admiti com a voz baixa e ouvi o seu soluço. Merda! Eu me odiava! – Você não vai entender porque nossos corpos funcionam de forma diferente.
– Por favor, não faça isso! – ela disse chorando. – Não me diga que faz parte do instinto do homem. Não faça isso comigo, Alex.
– Droga, e o que eu posso te dizer? Se pensa que vou confirmar que senti tesão por aquelas duas, pode desistir porque não é verdade – um nó rasgava minhas palavras ainda em minha garganta. Charlotte não merecia aquele sofrimento. – Existe uma diferença entre seu pau reagir a um estímulo visual e você sentir tesão por alguém. Você pode achar absurdo, mas isso é instinto sim, não apenas do homem, é do corpo, Charlotte! Homens são visuais, nós olhamos e cobiçamos, não é como vocês que podem fechar os olhos e imaginar. Foi uma reação indesejada, que eu não consegui evitar, e sim, eu sou um canalha por causa disso, mas, se minhas mãos estivessem livres, elas nunca conseguiriam chegar tão perto, porque eu não tenho dúvida do que sinto, nem de quem eu quero – ela chorou mais. – Quer saber o que acontecia naquele momento? Eu tinha duas mulheres lindas em minha cama, decididas a fazerem o que quisessem comigo, e sim, meu pau ficou duro, ou você pensa que outro homem reagiria diferente? Pode ser assustador para você se imaginar presa por dois homens decididos a... Puta merda! – passei a mão pelo cabelo. – Para mim não é – revelei sem medo. – Para nenhum homem seria, Charlotte. Mesmo assim, naquele momento eu só pensava em você. Eu estava desesperado porque sabia que elas conseguiriam, eu tinha certeza de que elas conseguiriam, e eu não queria... – dei um passo em sua direção. – Você estava na minha frente o tempo todo, exatamente assim, os olhos marejados, o sofrimento estampado... Juro que pedi para que qualquer merda acontecesse que pudesse impedir que elas continuassem.
Charlotte limpou o rosto e fungou. Depois se afastou, dando a volta na mesa, deixando-a entre nós. Meu coração acelerou. Era hora do meu veredito.
– É justo você querer que eu aceite este argumento?
– Não – e não era, então eu não poderia mentir.
– Então o que acha que eu deveria fazer?
Ela já tinha tomado uma decisão. Eu sabia. Podia ver em seus olhos decididos. Droga!
– Não aconteceu, Charlotte. Eu... eu não sei mais o que posso te dizer. Quer saber o que eu acho que deveria fazer, mas como eu posso te dizer se estou desesperado? Eu não quero te perder, não quero que tudo acabe agora, e... droga! Eu não tive culpa.
– Você sente tesão por elas?
– Não!
– Nunca? Em momento algum desde que estamos juntos, você se sentiu tentado a ficar com elas?
– Nunca. Você sabe quantas oportunidades eu tive. Anita chegou a fazer uma proposta, eu nunca aceitei. Deus! Eu não sei que tipo de monstro eu seria se tivesse te convidado para estar aqui esta noite e, mesmo assim, me permitisse transar com elas – vi que Charlotte se surpreendeu com a minha colocação. – Eu te convidei, lembra? Eu disse que você poderia aparecer. Você acredita que eu seria tão idiota a ponto de transar com as duas com a porta destrancada, mesmo sabendo que você poderia aparecer? Acha mesmo que, depois de todo trabalho que tive para que você concordasse com o casamento, eu estragaria tudo dois dias antes? Charlotte, você precisa me dar um voto de confiança. É só olhar tudo o que aconteceu até chegarmos aqui.
Ela mordeu o lábio, abaixou a cabeça e outra lágrima escorreu.
– Amor...
– Eu vou para casa – anunciou. – Por favor, me deixe ir!
– E nós dois?
– Não me peça nada agora, Alex. Eu não estou em condições de decidir nada.
– Mas nós vamos viajar amanhã... é o nosso casamento.
– Por favor! – seus olhos suplicantes me alertaram que Charlotte estava no limite. Eu teria que ceder.
– Tudo bem – ela relaxou os ombros e começou a dar a volta na mesa para sair quando a interceptei. – Charlotte... – levantei a mão para tocá-la e minha noiva desviou.
– Não. Eu não vou suportar. Por favor!
Merda!
– Eu vou para o rancho amanhã – anunciei sentindo meu coração afundar. – Eu estarei lá, Charlotte. Aguardarei por você – ela apenas concordou e, mantendo-se afastada de mim, saiu.
Porra! Eu estava fodido! Respirei fundo tentando afugentar da minha mente as mil formas de matar aquelas duas desgraçadas. Seria uma longa noite.
CAPÍTULO 33
“Pois mesmo na torrente, tempestade, eu diria até no torvelinho da paixão, é preciso conceber e exprimir sobriedade – o que engrandece a ação.”
William Shakespeare
ALEX
Estacionei o carro reconhecendo os do meu pai, Lana e Patrício. Nenhum indício da família da minha noiva. Respirei fundo me convencendo de que ela apareceria. Não poderia ser diferente.
Eu havia retardado o máximo que pude a minha saída, na esperança de que ela me procurasse, ou que mandasse alguma mensagem, qualquer coisa que me dissesse o que se passava na sua cabeça, até mesmo uma ligação do Peter, revoltado com o que havia acontecido, ou desesperado com o fato de a filha negar a se casar. Qualquer coisa.
Nenhuma palavra. Nada. Do lado dela havia apenas silêncio.
E eu, covarde, fiquei com tudo pronto no carro sem conseguir dar a partida. A limpeza da casa fora providenciada para que, quando voltássemos, nada mais restasse daquela fatídica noite. Se é que voltaríamos. Quem poderia saber?
Cansado de esperar e já bastante atrasado, liguei o carro e comecei a sair da garagem quando a vi parada na entrada. Tiffany estava lá. Desliguei rapidamente o motor e saí com muita raiva.
– Saia imediatamente daqui – rosnei enfurecido. – Eu vou processar você por assédio, Tiffany. Vou destruir a sua carreira. Vou conseguir na justiça que você não possa chegar perto de mim ou de Charlotte pelo resto das nossas vidas.
Ela retirou os óculos escuros, mostrando olhos vermelhos e inchados. As lágrimas caíam sem esforço. O que eu via em seu rosto era puro pavor.
– Alex, por favor, eu preciso só de um minuto para...
– Não! Saia da minha frente. Estou farto de você e da maluca da sua prima tentando acabar com a minha vida. Por que não entende de uma vez por todas que eu não quero nenhuma das duas, que eu amo Charlotte e não você, droga! – ela estremeceu, encolhendo-se levemente com o meu grito.
– Não sei o que me deu ontem, eu... Oh, Deus, Alex! Eu não sabia o que estava fazendo e então... Charlotte estava no quarto, você estava preso à cama e eu... Meu Deus! Não sei o que dizer, não sei!
Chorou copiosamente, irritando-me ainda mais.
– É melhor sair do meu caminho ou vou passar o carro por cima de você.
Voltei para meu carro, dei partida, e juro que dei a ré mais rápida da minha vida. Tiffany saiu da frente, assustada. Acionei o portão da garagem e aguardei que se fechasse, observando se aquela maluca aprontaria alguma coisa. Com a casa toda fechada, fui embora sem olhar para trás.
Peguei a estrada. Seria uma viagem longa, cansativa e silenciosa. Apenas eu, meus pensamentos, meus medos e todos os conflitos que minha mente podia produzir.
Droga!
Parado na garagem da casa do rancho, eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse o que tinha acontecido no nosso encontro anterior. A confusão que Charlotte criou fazendo-a fugir, a tempestade, o meu desespero, o resgate e como tudo acabou bem.
Porra! Eu precisava que tudo acabasse bem novamente. Precisava de Charlotte, daquele casamento, da nossa vida... Eu precisava dela.
– Por que nas últimas vezes que esteve aqui, tem preferido passar um tempo admirando as paredes desta garagem velha?
Lana abriu a porta do carona me pegando de surpresa e entrou. Nossos olhos se encontraram. Ela não precisava me dizer muita coisa, boa parte estava estampada em seu rosto, na borda vermelha dos olhos, indicando o choro excessivo, nas olheiras e no tom abatido. Lamara sabia o que João havia aprontado. Peguei em sua mão com cuidado.
– Você está bem? – os lábios da minha irmã formaram uma linha fina e ela fez um esforço para sorrir.
– Vou ficar.
– Ajuda dizer que ele não fez nada? Que não teve a intenção de magoar ninguém?
– Não sei como você ainda consegue defendê-lo, Alex – cobriu minha mão com a dela. – João quase arruinou o seu casamento.
– Eu sei. Ele não seria o João Pedro que conhecemos se não fizesse alguma merda – ela sorriu e foi verdadeiro.
– Tem razão.
– Como ele está?
– Arrasado. Disse que, se Charlotte não estiver naquele altar amanhã, ele mesmo se daria uma surra.
– Merecida.
– Sim, merecida.
Voltamos a nos olhar em silêncio. Lana me observava com atenção, eu sabia que ela procurava uma forma melhor de me dizer a verdade.
– Ela não veio, não foi? – minha irmã suspirou pesadamente e meu coração acelerou. O que eu faria? – Droga!
– Ela está aqui – pego de surpresa, fiquei embasbacado com o que acabara de ouvir.
– Charlotte está aqui?
– Sim – Lana continuava cautelosa. – recusou-se a fazer a última prova do vestido. Está trancada no quarto desde que chegou e não quer receber ninguém.
– Merda! E Peter?
– Ele ainda não chegou. Parece que aconteceu algum imprevisto, por isso pediu para o motorista trazer Charlotte.
– Ela não veio dirigindo?
– Não. Alex, ela está arrasada. Eu não consigo acreditar que Tiffany teve tanta audácia.
– Tiffany está com problemas, Lana. É a segunda vez que ela age assim comigo e depois fica envergonhada, é como se estivesse possuída, sei lá. Já Anita... eu sempre soube que ela me daria trabalho.
– Você deveria dar queixa delas na polícia.
– E ver a situação se voltar contra mim? – encostei no banco do motorista. Eu tinha dormido pouco, estava cansado demais. – Prefiro usar isso contra elas para mantê-las bem afastadas.
– Se você acha que vai conseguir... – deu de ombros. – Bom, você tem um longo trabalho pela frente. Charlotte pode ter vindo, mas não creio que o perdoou. Pode ser que não tenha coragem de enfrentar o pai faltando um dia para o casamento.
– Eu sei. Vou tentar resolver. Obrigado!
CHARLOTTE
Alguns fatores me fizeram prosseguir com o casamento. O primeiro e mais importante foi a mensagem de Tiffany logo cedo, contando que elas realmente forçaram a barra e que Alex em nenhum instante deu a entender que queria ficar com elas. Dentre tantas coisas ditas, estavam as desculpas e a demonstração de arrependimento, assim como a confusão mental em que ela se encontrava.
O que não deixava de classificá-la como uma vaca em altíssimo grau.
O segundo era o fato de eu não saber como dizer aos meus pais que precisava de mais um tempo para digerir esta confusão. Eu estava triste, magoada e ofendida, porque, por mais que eu soubesse que ele não estava ali por livre e espontânea vontade, eu vi que Alex estava excitado, e não havia santo que me fizesse acreditar que era apenas uma reação do corpo ou qualquer outra baboseira que tenha tentado enfiar em minha cabeça.
Terceiro fator: a conversa que eu tive com Johnny, que dormiu comigo, em meu quarto, abrindo mão do conforto da sua cama, para me acalmar. Meu amigo era verdadeiro demais para tentar me iludir com falsos conceitos em torno da masculinidade. Ele me disse que o que Alex falou pode ser verdade, também que ele não acreditava que um homem ficasse muito tempo excitado tendo em mente o problema que se meteria. Não que Alex estivesse mentindo quando disse que pensava em mim, mas, de acordo com o meu amigo, talvez nem Alex soubesse o quanto a sensualidade de Tiffany e Anita o afetava, e lógico que seria muito difícil para ele admitir tal fraqueza.
Pensei mil vezes em desistir ao ouvir de meu amigo que meu noivo poderia sim se sentir atraído por aquelas duas. No meu coração, e na minha mente, não havia espaço para certezas como aquela, mas então ele falou uma coisa que me fez repensar. Ele disse:
“– Lottie, todo mundo está susceptível a isso. Você pode ter fantasias com um artista, um vizinho, pode se sentir encantada ou até mesmo sexualmente atraída por alguém, o que não muda o seu sentimento por Alex. Claro que existem limites. Alex não poderia achar que transar com elas era justificável, por isso ele não transou. Antes de ele decidir ficar com você, teve que fazer um balanço da vida, do que queria e o que pretendia, no final de tudo, viu que os sentimentos por você iam muito além do desejo, era algo muito mais forte. Uma coisa não elimina a outra. Veja só: Alex já transou com Tiffany e ele pode ter boas lembranças de como era a relação sexual deles, não? Acontece que ter alguém que te satisfaça na cama não é o suficiente, e Tiffany falhou nos outros quesitos. Já Anita... ele teve todas as chances, mas preferiu nem arriscar, então não há por que ter medo. Talvez você não entenda por ser muito nova e sem experiência de vida. Nunca se permitiu gostar de alguém ou se sentiu atraída por outro homem, porém nunca é tarde para acontecer. Você vai amadurecer, vai conhecer novas pessoas e vai ter momentos em sua vida que alguém vai ser mais do que interessante e verá que, no final das contas, o seu amor por Alex vai falar mais alto.”
E foi nisso que eu amanheci pensando e o que me levou a pegar a mala e entrar no carro designado por meu pai. Ele teve um imprevisto e precisou sair logo cedo com a minha mãe. Agradeci, pelo menos eu teria mais tempo comigo mesma para organizar a minha mente, sem precisar me justificar com mais ninguém.
E, desde então, eu estava trancada naquele quarto, olhando as paredes e o mundo lá fora pela janela. Vi flores sendo entregues, jardim sendo cuidado, aos poucos a movimentação da casa mudar e nem assim eu tive ânimo para reagir.
Lana sabia o que tinha acontecido. Lógico que João Pedro não deixaria que ela soubesse por outras pessoas, então ela entendia o meu lado, por isso eu estava conseguindo ficar sozinha, apesar de Miranda entrar e sair a cada meia hora apenas para verificar se estava tudo bem.
Uma batida na porta fez com que eu me afastasse da janela. Eu precisava fingir que era somente cansaço, no caso de serem os meus futuros sogros ou qualquer outra pessoa que não estivesse envolvida naquela confusão.
Era Alex e eu senti meu mundo girar.
– Posso entrar? – sua voz mansa deixava claro que ele não estava ali para me cobrar nada, só para se certificar de que estava tudo bem. Concordei e ele entrou, fechando a porta. – Você está bem? – soltei o ar preso nos pulmões.
– Não. Como poderia estar? – andei até a cama e sentei, colocando o rosto entre as mãos e apoiando os cotovelos nos joelhos. O movimento do meu lado me mostrou que ele também havia sentado.
– Mas você está aqui – ri sarcástica.
– E o que você esperava, que eu dissesse a meu pai que não teria mais casamento?
– Conhecendo você como eu conheço, sim, era o que eu esperava – nós nos olhamos e vi que havia muita determinação em seu olhar. – Você pode enganar as pessoas com esse falso tom submisso, Charlotte, mas eu sei muito bem que nunca faz nada contra a sua vontade.
Parei boquiaberta. Eu deveria dar uma resposta rebelde, não deixá-lo tão seguro quanto à minha aceitação, porém Alex estava tão certo que foi impossível rebater.
– Tiffany mandou uma mensagem contando a verdade – Alex ficou surpreso, mas nada disse. – O que não muda em nada o fato de você ter ficado excitado.
– Charlotte...
– Eu não quero mais falar sobre esse assunto, Alex – levantei não lhe dando a chance de me tocar. – Quanto mais eu penso mais magoada fico.
– Então não pense – ele levantou também, respeitando a minha distância. – O que eu sinto por você não conta? – aguardou pela resposta que não chegou. Eu não seria capaz de responder. – Tudo bem, o que quer que eu faça? Diga! Qualquer coisa, Charlotte, é só dizer. Precisamos colocar uma pedra sobre esta história. Você sabe que eu fui vítima daquelas duas, então vamos apenas tentar deixar passar.
Deixar passar.
Era o que eu queria? Simplesmente esquecer o assunto e fingir que nada aconteceu? Eu queria mentir para mim mesma todos os dias sobre o tesão do meu futuro marido por outras mulheres?
Merda!
Só que eu sabia que era algo incontrolável. Alex poderia nunca mais chegar perto daquelas duas, o que não significava que outras mulheres sexualmente atraentes não surgiriam na vida dele. Bastaria apenas que ele nunca me contasse e nunca me traísse e estaria tudo certo, não?
Eu não sabia.
– Amor... – ele se aproximou, ficando em minhas costas. Nossos corpos quase colados, centímetros nos separando. – Isso não importa. Eu te amo e estou aqui, louco para poder te abraçar, te beijar e sentir que você é minha outra vez.
Fechei os olhos e mordi o lábio. Eu também sentia saudade, especialmente depois de tantos problemas. Alex me tocou e um calafrio percorreu a minha espinha. Um choque que misturava desejo, amor e medo.
– Diga o que eu posso fazer, Charlotte. Estou disposto a qualquer coisa.
– Eu não sei o que você pode fazer – admiti. – Eu quero ficar bem, infelizmente não consigo. Simplesmente não consigo – senti Alex respirar fundo, prender a respiração e depois soltá-la.
– Tiffany era o tipo de mulher que me atraía fisicamente – fiquei tensa imediatamente e suas mãos foram para os meus ombros. – Meu relacionamento com ela foi baseado apenas em sexo, apesar de mantermos uma amizade saudável. Eu não conseguia me ver em uma relação mais séria com ela, porque, ao mesmo tempo que me atraía fisicamente, repelia-me quando o assunto eram os nossos princípios e ideais, então eu sempre soube que nunca passaria de sexo. Eu tive muitas mulheres, Charlotte. O fato de não ter escolhido nenhuma delas para compartilhar a minha vida não impediu que eu as escolhesse para compartilhar a minha cama. Não me sinto atraído por Tiffany, pelo contrário. Apesar de ter boas lembranças do que éramos sexualmente, eu não me vejo vivendo outra vez nada disso com ela, e eu tive muitas chances, mesmo antes de você entrar em minha vida, antes de eu me sentir tão perdidamente apaixonado e decidido a ter você para mim. Então não existe motivo para ter medo da reação física que eu tive ontem. Não foi por Tiffany.
– Foi por Anita então?
Minha voz embargada demonstrava o quanto aquele assunto mexia comigo. E, apesar de me sentir triste, as palavras de Alex aliviaram um pouco mais a minha dor. Ele não desejava Tiffany. Pelo menos não conscientemente.
– Não. Anita, apesar de ser linda fisicamente, nunca foi o tipo de mulher que eu admitiria em minha vida, mesmo que fosse só sexualmente, nem por uma noite, nem por uma trepada rápida, nada. Ela sempre me fez repudiar a ideia, apesar de, volto a falar, ela ter um corpo lindo, que chama a atenção de qualquer homem e enaltece o ego.
– Tudo é corpo? – comentei magoada. Tiffany e Anita eram bem diferentes de mim.
– No primeiro instante, sim. É a primeira coisa que te atrai, que agrada seus olhos. Você se sentiu atraída por mim, mesmo tendo me achado um cara insuportável que descartaria o seu projeto. E tudo porque te encontrei na praia, ou acha que não notei como ficou mexida quando me viu só de calção? Infelizmente é isso, Charlotte! Você vê e cobiça, no entanto, basta uma palavra, um gesto menos conveniente para a atração esmaecer. Aos poucos, conhecendo a pessoa, a atração vai mudando de foco. Você, por exemplo, adorava o fato de eu ser mais maduro e de conversar diretamente sobre assuntos que a deixavam desconfortável. Eu, por outro lado, detestei de cara a forma como Anita falava e se exibia, e amei a maneira como você corava e olhava para as mãos. É assim que funciona.
– Eu não sou fisicamente parecida com elas – sussurrei envergonhada pelo meu comentário.
– É isso o que está te incomodando?
– Talvez.
– Hoje eu me sinto muito mais atraído pelo seu corpo do que pelo que me atraía antes. Amo a sua desenvoltura, a sua coragem, o fato de ser tão destemida e de saber o que quer quando o assunto é sexo. Você não espera que eu te guie, apesar de sempre dar esta ideia. Você simplesmente faz aquilo que não consegue evitar. Não se retrai, não se intimida, e eu adoro isso tudo em você. É muito mais do que o que eu tive com Tiffany e mais do que Anita seria capaz de me oferecer. Não se sinta tão diminuída, Charlotte. É você quem eu quero e isso não vai mudar se não estiver naquele altar amanhã. Eu vou continuar não querendo nada com aquelas duas.
Ele me virou lentamente. Mantive os olhos baixos com medo de me perder e não conseguir mais me encontrar. Fazia todo sentido o que ele me dizia. Eu não tinha parâmetros, não tinha como saber se comigo aconteceria assim. Se eu já tivesse me envolvido com alguém, se tivesse mais conhecimento sobre relacionamentos, talvez assim tivesse uma ideia melhor do que ele me dizia. Talvez assim eu conseguisse entender.
Se eu não sabia, se eu não tinha nenhuma noção, se era apenas uma garota assustada, inexperiente, que conhecia livros e sonhos, eu poderia dizer que ele estava errado? Se ele me dizia que era assim que funcionava, eu poderia afirmar que acontecia apenas com ele e ninguém mais? Que era apenas uma tentativa de se justificar e me ludibriar?
Não, eu não podia. E não tinha mais nada que eu pudesse fazer, porque sabia, no fundo do meu coração que era no que eu queria acreditar.
Alex levantou o meu rosto sem encontrar resistência da minha parte. Fui tragada pela sinceridade que seus olhos me passavam e não tive outra saída. Ele me beijou e eu aceitei ser beijada.
Foi rápido. Apenas um juntar de lábios, uma pequena demonstração do amor que sentíamos, então Alex interrompeu o beijo e me abraçou. Um abraçado que expressava o alívio que ele sentia por estarmos voltando à nossa bolha.
– Lana falou que você não quer fazer a última prova do vestido – disse sem me cobrar uma posição.
– Eu precisava de um tempo.
– E ainda precisa? – concordei com a cabeça. – De mim também? – neguei. Depois de tanto questionar eu não estava preparada para deixá-lo. – Quer dar uma volta?
– E Lana? E tudo o que precisamos fazer?
– Tudo pode esperar – beijou minha testa com carinho. – Nós não.
Alex me puxou para fora do quarto e, sem pressa, caminhou abraçado comigo até sairmos da casa. O sol já estava alto, o que me fez conferir as horas, verificando que já passava do meio-dia.
– Não vão almoçar? – Dana nos chamou pela janela. Alex me puxou para mais perto.
– Vamos dar uma volta – disse com voz firme.
Foi quando o carro do meu pai entrou na propriedade. Vi que Alex ficou tenso imediatamente e imaginei que fosse por causa da confusão do dia anterior. Ele tinha razão em ter medo de que meu pai ficasse sabendo, mas, pelo bem de todos e pela paz mundial, eu tinha evitado que ele soubesse.
Logo em seguida, Johnny entrou em sua moto recém-adquirida e pela qual ele nutria um grande amor. Lógico que ele não deixaria de pegar a estrada em cima daquele monstro barulhento. O que me surpreendia era meu pai ter permitido.
– Peter... – ele falou baixinho.
– Não sabe de nada – senti seus ombros relaxarem.
– Que bom – eu nada respondi.
Minha mãe desceu antes de meu pai levar o carro para a garagem. Ela parecia abatida, mas sorria quando Miranda a encontrou e a abraçou, para depois auxiliá-la com a bolsa. Ela estava pálida e naquele instante me dei conta do quanto estava magra.
– Minha mãe deveria desistir da dieta – comentei e Alex ficou calado, mas percebi que voltou a ficar tenso.
– Alegria encontrar o casal mais bonito do ano logo na minha chegada – ela falou com a jovialidade de sempre. – Deixe-me abraçá-los – ela nos envolveu em seus braços frágeis e nós retribuímos o abraço. – Vocês estão me fazendo a mulher mais feliz do mundo todo.
E, naquele momento, eu entendi que tinha tomado a decisão certa.
***
Minha mãe segurava a minha mão e sorria com uma alegria impossível de ser mensurada. Ela estava linda, apesar de mais magra do que eu gostava, depois de absorver o sol daquele fim de dia, sua cor estava muito melhor.
Tínhamos passado o dia juntas. Depois que ela chegou, eu me senti à vontade para encarar o casamento e tudo o que eu ainda precisava fazer, mesmo que sua chegada tenha frustrado os meus planos com Alex de passarmos um tempo juntos para consolidar a nossa relação.
Alex circulou de um lado para o outro, fazendo tudo o que Lana tinha designado para ele, sem se aproximar muito. Eu sentia sua falta e temia tê-lo magoado demais e causado seu afastamento, apesar de saber que ele foi a causa de tudo o que aconteceu.
Meu pai também estava estranho. Ele chegou carrancudo alegando que teve alguns problemas no trabalho. Só que ficou assim o dia inteiro, mesmo com Adriano tentando entretê-lo. Naquela tarde, ele me pareceu especialmente aborrecido, enquanto minha mãe continuava ao meu lado e sorria sempre que notava a apatia dos nossos amores.
Lana se aproximou quando a tarde estava chegando ao fim. Ela e Dana estavam compartilhando da mesma sensação agradável e preguiçosa que era receber os raios de sol após dias longos de frio. Ambas pareciam satisfeitas com o corpo que a festa ganhava, apesar de sabermos que o grosso só seria feito no dia seguinte.
– Alex está armando alguma coisa – Lana deu um gole em sua vodca com Coca-Cola e gelo e olhou na direção da saída da casa.
Acompanhei o seu olhar e vi meu namorado indo em direção à garagem com uma pequena sacola de viagem na mão. Fiquei intrigada. Ele não passaria a noite ali? Para onde iria?
– Não coloque minhocas na cabeça dela, Lana – Dana ralhou. Ela, que estava conversando com minha mãe sobre as lindas rosas que conseguiu plantar, também tinha notado o filho passando e em atitude suspeita.
– Tudo bem – sorri voltando a fechar os olhos para aproveitar o calor do sol em meu corpo.
– Vamos pensar na foto que colocaremos na orelha do livro. Sair um pouco da tensão do casamento e adiantar o meu trabalho.
Lana tagarelava falando sem parar sobre a edição do livro. Em alguma parte daquela conversa, eu voltei a abrir os olhos e me perdi na visão do meu professor andando em minha direção. Ele sorria, porém eu percebi que seu sorriso não chegava aos olhos.
Alex caminhou lentamente. À medida que se aproximava, eu tinha a impressão de que seus passos não eram tão seguros quanto costumavam ser e que seu semblante exibia uma confusão que me deixou imediatamente em estado de alerta.
– Posso roubar minha noiva? – ele olhou para a minha mãe e sorriu com carinho, depois para sua mãe e irmã. Elas se entreolharam com sorrisos conspiratórios.
Levantei limpando os restos de grama que pinicavam a minha perna. Alex, sem nenhum aviso prévio, tomou-me em seus braços para um abraço apertado e cheio de saudades. Fiquei sem entender, nem reagir, também não tive tempo de pensar sobre o assunto, pois, assim que ele afrouxou o abraço, seus lábios se juntaram aos meus e meu mundo saiu do eixo.
Foi um beijo que tirou o meu chão. Havia um pouco de tudo nele. Amor, paixão, desejo, desespero, urgência... urgência! O que estava acontecendo com o meu noivo? Não havíamos conversado e resolvido aquele problema? Não estávamos caminhando para restaurar a nossa bolha?
– Crianças! – Dana riu interrompendo o nosso momento.
Alex me largou. Meu corpo inteiro protestou. Merda! O que mais eu poderia fazer além de esperar até o casamento?
– Vamos dar uma volta? – seus olhos brilharam.
Puta que pariu! Por que eu me senti totalmente quente com seu pedido? Por que minha mente registrou um milhão de promessas naquelas palavras? E como podia pensar em sexo com o meu eterno professor depois de uma noite terrível, cheia de imagens horrorosas?
– Claro! – eu ainda estava presa naquele olhar que me transportava direto para o céu ou me atirava ao inferno.
– Com licença, senhoras – Alex fez uma reverência digna dos filmes de época. As mulheres sorriram encantadas com o gesto. Ele segurou a minha mão e me puxou na direção da garagem.
– Aonde vamos? – ele continuou andando sem olhar para trás, parou só para abrir a porta do carona. Não me atrevi a entrar. O encarei interrogativamente. Alex soltou o ar de maneira teatral.
– Posso sequestrar a minha noiva?
– Sequestrar?
– Bom... não sei se uma fuga com o consentimento do pai dela pode ser classificada como sequestro, mas...
– Com o consentimento do... – ele me interrompeu com um beijo que selou meus lábios.
– Entre – ordenou dando as costas.
Obedeci prontamente. Rapidamente meu noivo estava ao meu lado, colocando a chave na ignição e, antes de dar a partida, parou para me olhar. De novo, eu percebi que havia alguma coisa errada.
– O que foi?
– Nada. Só... – seus olhos varreram meu rosto demorando-se em meus lábios. Alex abandonou o volante e segurou meu rosto com as mãos. – Eu amo tanto você! Por que não percebi isso antes? – não era uma brincadeira ou um momento romântico do meu professor e sim um pouco mais do seu embate interno. O mesmo que o estava deixando estranho.
– Porque você é um idiota cabeça-dura – ele sorriu e beijou meus lábios com carinho e cuidado. – Vai me dizer o que está acontecendo? – murmurei sem ter certeza de que queria realmente saber.
Alex me olhou por breves segundos, confirmando a minha suspeita, mas não respondeu. Deu partida e saímos da garagem rumo a “sabe Deus onde”. Meu coração estava apertado.
– Para onde vamos? – repeti a pergunta ao perceber que nos distanciávamos da casa.
– Para a cabana – sorriu maliciosamente e toda a região abaixo da minha cintura começou a formigar.
ALEX
Juro que quando Peter me chamou para conversar, acompanhado do meu pai, e ambos estavam com péssimas caras, eu pensei que Johnny tinha estragado tudo e contato a merda da noite anterior. Estremeci só de imaginar o sermão que aqueles dois me passariam, e isso seria o mínimo, ainda havia a possibilidade de cancelarem aquele casamento.
Mas o que ouvi me deixou muito mais atordoado do que se tivesse que me explicar para eles dois. Peter estava irritado porque Mary deveria passar a noite no hospital e ele não foi capaz de convencê-la a aceitar. Ela queria estar com Charlotte naquele momento.
Ver meu futuro sogro tão nervoso me deixou compadecido. Por alguns instantes, minhas incertezas e inseguranças em relação a Charlotte e tudo o que havia nos afastado nas últimas horas foram esquecidos.
– O que posso fazer, Peter? No que está pensando?
Confesso que acreditei que ele me pediria para cancelar o casamento, para inventar uma desculpa, qualquer que fosse, para que a cerimônia não acontecesse, e só a ideia me deixou apavorado. Meu pai me olhou com cautela, tomando fôlego para assumir a conversa.
– Conseguimos trazer a medicação e a equipe médica para Petrópolis. Eles estão instalados no hospital próximo daqui.
– Vocês querem que eu distraia Charlotte? E Mary? Não estou entendendo.
– Nós queremos que você tire Charlotte daqui – meu pai disse. – Passem a noite fora.
– O quê? – olhei para Peter, que estava vermelho e ansioso.
– Mary só vai aceitar passar a noite no hospital se Charlotte não estiver aqui. Se entender que ela está em um momento... – meu futuro sogro engoliu com dificuldade – ... um momento só dela.
– A ideia é que você a leve para a cabana – meu pai assumiu outra vez, tirando de Peter o peso daquela decisão. – Então Mary vai para o hospital e Charlotte não vai desconfiar de nada.
– Vou mentir outra vez para Charlotte? Droga!
Não era nada confortável a minha posição, infelizmente não havia outra saída. Eu não podia contar à minha noiva, na véspera do nosso casamento, que a mãe dela estava morrendo e precisaria passar a noite no hospital. O casamento seria cancelado imediatamente.
– Tá, tudo bem! Eu só... preciso organizar as coisas para que a cabana esteja pronta para recebê-la.
– Nós já cuidamos de tudo, filho – meu pai revelou e, outra vez, o clima estranho e desconfortável dominou o escritório. – A Cabana está pronta.
– Certo – olhei para Peter, que evitava me olhar diretamente. – Vai ficar tudo bem, Peter – ele concordou com um movimento impaciente. – Vou buscar Charlotte.
Saí do escritório meio atordoado com tudo o que tinha acabado de acontecer. Respirei fundo. Realmente Mary não estava nada bem e eu precisava me preparar para consolar Charlotte quando ela descobrisse a verdade. Seria triste e doloroso.
Mesmo assim eu iria até o fim. Mentiria uma vez mais com o único intuito de fazê-la feliz, enquanto ainda podia ser.
CHARLOTTE
Alex estava muito estranho. Ele parecia pensativo, ficava sério encarando o nada e sempre que me flagrava olhando-o, simplesmente sorria e fingia que faltava fazer mais alguma coisa na cabana.
Eu estava perdida entre sonhos e fantasias. Olhar aquela cabana outra vez fazia as lembranças dançarem na minha frente. Eu estava completamente envolvida na atmosfera daquelas imagens, no amor que sentia e no desejo que nos assolou naquela noite.
Oh, Deus! Alex tinha dito que me amava, tinha feito amor comigo e foi maravilhoso! Tentei me concentrar no que acontecia ao nosso redor, a casa toda preparada, como se estivesse nos aguardando, Alex conferindo a lareira e nem estava frio, o sofá... Ah, aquele sofá!
Céus, Charlotte! Pense em qualquer coisa que não seja ceder tão fácil ao homem que na noite anterior estava algemado na cama com duas mulheres.
Só que eu não conseguia mais pensar neste assunto. Para mim, em meu coração, tudo o que tive de argumento e justificativa foi o suficiente para enterrar de uma vez por todas a minha dor. Alex não estaria com as duas vacas se não fosse forçado a isso e, sinceramente, é preciso muita falta de amor próprio para algemar um homem na cama e forçá-lo a transar.
Senti até pena delas.
– No que está pensando? – meu noivo se aproximou cautelosamente, os olhos escrutinando meu rosto. Eu pude ver em suas feições que ele temia que Tiffany e Anita ainda fossem motivos para eu me afastar.
– Não vamos voltar hoje, não é? – seus olhos se abriram surpresos e sua mão vagou pelos cabelos lisos e negros como a noite.
– Não. Precisamos de um tempo só nosso, então pensei em...
– Está louco? Meu pai vai nos matar antes de estarmos oficialmente casados – afastei-me tentando encontrar algum indício de que ele brincava, Alex ficou sério e mordeu o lábio.
– Na verdade... Peter não achou a ideia ruim.
– O quê? – não acreditei no que ele me dizia.
– Eu disse, Charlotte. O segredo estava no casamento. Peter relaxou e se conformou.
– Espere um pouco... – fiquei confusa. – Você disse ao meu pai que passaríamos a noite aqui, juntos, sabendo que ele conseguiria supor o que faríamos, e mesmo assim ele aceitou?
– Vamos nos casar amanhã.
– E daí? Estamos falando de Peter Middleton e não de qualquer outro pai normal da face da Terra.
Não sei dizer o que mais me atormentava, se a possibilidade de termos uma noite só nossa sem a pressão do casamento, ou a facilidade de Alex em conduzir o meu pai.
– Ele caiu, bateu a cabeça... sei lá, qualquer coisa que justifique este fato? – Alex riu e me abraçou.
– Eu disse a Peter que tivemos problemas ontem, que você estava bem aborrecida comigo e que, por causa dos compromissos com o casamento, não tivemos a chance de conversar, então deixei ele imaginar que você poderia desistir e não comparecer amanhã. Talvez, quem sabe, até fugisse no meio da noite. Sugeri que passássemos algum tempo sozinhos, para que eu te convencesse a não desistir.
– E ele acreditou?
– Tratando-se de você, Charlotte, qualquer coisa é possível – vi a frustração em seus olhos e entendi que Alex acreditava mesmo naquela asneira toda.
– Eu não fugiria – garanti. Ele entortou a boca e fez uma careta. – Alex, eu não vou desistir do casamento.
– Assim eu espero – disse por fim, levantando a mão para acariciar o meu rosto.
– Mas você não está tão certo de que será assim – mais uma careta e ele se afastou, indo sentar no sofá.
– Porque você é muito imprevisível. E depois de ontem eu não sei mais o que esperar da vida. É melhor que passemos a noite juntos, para garantir que nenhuma merda aconteça.
Suspirei e caminhei em sua direção, parando diante dele. Alex levantou os olhos e me encarou, aguardando pelo que eu faria. Passei os dedos pelos seus cabelos, adorando a textura dos seus fios. Ele fechou os olhos, aproveitando o carinho. Sem que minha mão o abandonasse, ajoelhei, ficando entre as suas pernas, e, inclinando o corpo para frente, beijei-o.
Alex correspondeu no mesmo instante. Seus lábios quentes se movimentavam nos meus, num ritmo calmo, aproveitando cada sensação gostosa que surgia em nossos corpos à medida que o beijo se aprofundava. Suas mãos se apossaram de mim, puxando-me pelas costas, levando-me para mais perto, meus seios colados ao seu peitoral, separados pelas roupas, mas ansiosos pelo contato. A língua atrevida assumiu o controle e eu me vi rendida.
Como eu o queria!
Mãos quentes e possessivas me tomavam, apalpando meu corpo, acariciando as laterais das minhas pernas, dominando minha bunda e subindo pelas minhas costas para fazerem de mim o que bem quisessem. Gemi deliciada e levantei para sentar em seu colo.
Alex se encostou no sofá, recebendo-me em seu colo, ficando entre as minhas pernas. Apesar do jeans grosso, senti a sua ereção, um corpo desperto e pronto para mim. Afundei os dedos em seus cabelos e rebolei lentamente em seu sexo, deleitando-me com a fricção fabulosa.
– Não, amor! – sussurrou em meus lábios, mas me puxou para o lado deitando-se sobre mim.
Intensificamos o beijo. Abri minhas pernas recebendo-o no meio delas. Alex apertou minha cintura com força e se movimentou roçando seu sexo no meu. Passei minha língua em seus lábios, de maneira insinuante. Meu noivo, quase marido, esfregou-se em mim com mais intensidade, desviando os lábios dos meus para beijar meu pescoço.
– Linda, hoje não – e se afastou com um sorriso debochado.
– Não? – perguntei atordoada, sem entender o que ele queria dizer.
– Não. Vamos nos casar amanhã, quero manter a tradição.
– O quê? – quase gritei em resposta. Alex riu. – É brincadeira, não é?
– Não. Não é – levantou-se do sofá. – Tenho que alimentar a lareira ou vamos congelar.
– Está quente até demais aqui – sentei no sofá vendo Alex se movimentar sem esconder seu pau firme e duro, seguro pelo jeans.
– Mas vai esfriar e eu não quero que você fique doente no dia do nosso casamento. Comporte-se e tudo vai terminar bem – minha mente estava uma confusão só. Como assim ele não queria transar? E como assim manter a tradição? Que diabo de tradição ainda existia no século vinte e um?
– E aquele papo de não querer perder nem um segundo? De não deixar nada para depois, de viver o agora? Foi somente para me convencer a aceitar este casamento a jato?
– Vamos fazer assim. Você quer namorar, então vamos namorar pelo tempo que ainda tem como solteira. Amanhã estaremos casados e o sexo passará a ser uma obrigação do matrimônio. Podemos esperar – ele sorria como se estivesse aprontando alguma travessura.
– Obrigação? Que absurdo! – joguei o corpo no encosto do sofá, fazendo ruído. Todas as minhas células gritavam em protesto.
– Claro que sim. Você será “minha esposa” e por este pequeno fato, terá obrigações a cumprir, Sra. Frankli – passei a mão no rosto me negando a acreditar naquela conversa.
– Inacreditável!
– Vou alimentar a lareira – e disparou porta afora.
Fiquei paralisada no sofá, incapaz de reagir. Alex com certeza tentava me distrair para que eu não desistisse do casamento. Droga! Não seria tão fácil. Levantei decidida a ir a seu encontro quando ele voltou com toras nos braços.
– Pode parar com isso, professor Alex Frankli! – ele olhou em minha direção e sorriu. – Estou falando sério. Volte agora mesmo para aquele sofá e cumpra com sua obrigação de professor particular – ele deu uma risada alta e gostosa enquanto jogava a madeira no fogo.
Eu me sentia como aquelas toras, queimando e sendo consumida pelas chamas. Toda aquela história de morte, de desejos realizados e amores perdidos, de mulheres nuas algemando meu noivo a uma cama, de ele deixar claro que desejava o meu tipo físico e não o delas, tinha me deixado tensa. Precisava, ou melhor, necessitava de Alex para voltar a me sentir segura.
– Em menos de vinte e quatro horas, Charlotte – caminhou em minha direção tomando-me em seus braços. – Agora seja uma boa garota e curta um pouco do seu namorado, e à noite seremos marido e mulher.
– Ah, claro! Isso se eu não entrar em combustão até lá.
– Eu amo esta sua... disposição.
– Disposição? Sei! – cruzei os braços e saí batendo os pés até o sofá. – Se não vamos fazer nada, podemos voltar para casa – empinei o nariz e encarei meu namorado. Ele ainda sorria lindamente.
– Claro que vamos fazer alguma coisa – sentou do meu lado virando-se para mim. – Vamos conversar... – beijou o canto dos meus lábios. – Vamos namorar bastante... – roçou os lábios em meu pescoço puxando o ar com força. – E vamos dormir abraçados como um casal apaixonado – passou a ponta do nariz por minha clavícula. – Você está especialmente cheirosa hoje, Charlotte.
– Eu já te disse antes: isso se chama banho, professor Frankli.
Ele riu e eu não consegui ficar séria, apesar de continuar ansiosa, quente e nervosa. Não era justo não ter direito a uma despedida de solteira.
– Vai ficar resmungando a noite toda ou vamos desfrutar do nosso tempo? – Alex estava carinhoso, cheio de charme, tentando me enlouquecer de uma vez por todas.
– Antes tivéssemos a nossa despedida de solteiros, quer dizer... sem Tiffany, Anita e todas aquelas mulheres exibidas que só o seu irmão é capaz de conhecer – ele riu, mas ficou tenso com a minha menção à noite anterior. – Seria melhor do que ficarmos aqui brincando de casinha – um sorriso torto se projetou em seus lábios me fazendo perder o foco. Ah, como eu amava aquele sorriso!
– Eu não preciso de uma despedida de solteiro. Já tenho tudo o que quero. Estou ansioso para me tornar um homem casado e ter a mulher da minha vida como esposa. Não tenho motivos para me despedir com pesar da minha solteirice – passou os dedos em meus cabelos colocando uma mecha atrás da orelha.
– Eu gostaria de ter uma despedida de solteira – revelei e ri quando ele soltou o ar com força. – Qualquer coisa que conseguisse bater naquela sua festa horrorosa.
– Amor...
– Qualquer coisa que me desse o direito de pagar na mesma moeda.
– Charlotte...
– Ao menos de ter um chá-bar ou algo parecido.
– Cala a boca – puxou-me em sua direção.
Alex me beijou com ternura, depois o beijo evoluiu para o carinho entre dois adolescentes e, logo em seguida, éramos um casal fogoso e apaixonado. Não sei bem em que parte eu sentei em seu colo, nem quando suas mãos começaram a acariciar minhas costas por dentro da camisa, ou até mesmo quando foi que eu decidi que poderia desabotoar a calça dele, só sei que exatamente nesta hora ele acabou com o meu divertimento.
– Nada disso, mocinha. Seja uma menina comportada e aguarde até a hora do sim – afastou-me com as mãos, tentando me tirar do seu colo. Fui mais agressiva. Forcei o meu corpo contra o dele, roçando seu membro tentando atiçá-lo. – Charlotte! Não faça isso – sua voz era puro desejo.
– Alex, não faça isso! – repeti suas palavras como uma súplica.
– Não, amor! – segurou em meu punho com força para me deter exatamente quando eu alcançava seu sexo.
– Por favor! – gemi esfregando-me nele, implorando para que ele desistisse daquela loucura.
– Não!
– Que droga! – explodi. – Eu tenho que concordar com um casamento feito às pressas, para atender aos seus anseios – levantei-me de seu colo sem lhe dar a chance de me impedir. – Nem bem comecei uma vida sexual de solteira e já tenho que me acostumar com a de casada e, para piorar, você ainda quer que eu espere até depois do casamento... E as minhas necessidades?
– Deixe de ser criança, Charlotte. É apenas uma noite. Se você esperar, nós teremos uma noite de núpcias inesquecível.
– Eu posso desistir, Alex. Posso me negar a aparecer naquele altar amanhã.
Encaramo-nos mantendo o clima tenso que se instalou. Merda! Eu só queria um pouco de sexo com o homem que eu amava. Se eu tinha concordado com tudo o que ele sonhava, então por que ele não podia fazer o mesmo comigo? Principalmente depois de ter me feito sofrer tanto, de me deixar insegura e tão necessitada dos seus carinhos, da confirmação do seu amor.
– É o que você quer?
Alex me olhava com temor. Pensei em Lana e toda a sua empolgação. No vestido que ela tinha conseguido, no bolo de casamento, em minha mãe plena como se não houvesse mais problemas no mundo, no sorriso bobo do meu namorado quando eu disse sim, na possibilidade de uma vida a dois repleta de realizações... Em Alex... apenas em Alex. Claro que eu não desistiria.
– Não. Mas não pense que vou ficar me agarrando com você a noite toda deixando meu corpo queimar sem fazer nada para aplacar o fogo – o alívio expresso em seus olhos era quase palpável.
– Ah, não? – sorriu daquela forma que tirava o meu juízo.
– Não! – cruzei os braços e o encarei como uma criança. O sorriso de Alex ficou ainda maior.
– E o que pretende fazer? – arqueou uma sobrancelha. Arqueei a minha também como resposta. – Nada disso, Charlotte Middleton. Você não vai furar o meu cerco. Nenhum alívio sexual até eu ouvir o sim.
– Sim – disse um pouco mais alto. Alex riu. – Então é isso? Você está me comprando com sexo, ou a falta dele, para que eu não desista? Tudo isso apenas para que eu não fuja antes de chegar ao altar? – pela forma como ele me olhou, eu tive a confirmação de seu plano absurdo. – Prometo que caso. Juro! Assino os documentos antes...
– Nem pensar. Só voltarei a tocar em você quando for minha esposa. É pegar ou largar.
– Merda!
Diante de tal situação, minha única opção era dormir. Saí batendo os pés em direção ao quarto.
Se ele queria assim, tudo bem. Mas eu também tinha um plano. Estava começando a esfriar realmente, sobretudo no quarto, mais distante da lareira. Apesar do frio, tirei toda a roupa e deitei de bruços sem me cobrir. Alex demorou a aparecer, mas eu senti no mesmo instante que surgiu. Seu suspiro foi audível e o meu sorriso imenso.
– Charlotte? Vai fazer frio. Seria melhor você vestir alguma coisa.
– Vou sabotar a sua lua de mel – não me dei ao trabalho de abrir os olhos para responder à sua passividade. Alex riu baixinho.
– Duvido muito.
– Eu não. Pode esperar. Você só vai conseguir transar comigo depois de um mês – apesar de meus olhos fechados, eu senti que ele hesitava.
– Não. Não vai conseguir me convencer, Charlotte. Desista!
– Tudo bem. É o senhor quem sabe, professor Frankli – virei sensualmente fornecendo ao meu futuro marido uma visão mais ampla da minha bunda. – Boa noite!
Ele não se deitou imediatamente, depois de algum tempo senti a cama afundando, o lençol em minha pele e seu corpo colado ao meu. Alex correu os dedos em minhas costas, causando um calafrio em minha espinha. Toda a minha pele arrepiou.
– Durma bem, meu amor.
Abri os olhos e encontrei os dele. Havia muito amor naquele olhar. Tão grande, tão puro e verdadeiro que me senti em paz. Naquele momento, mais uma vez, tive certeza de que havia feito a escolha certa. Casar-me com Alex seria a minha felicidade, o meu caminho. Aconcheguei-me a ele, e, embora ainda sentisse o calor do desejo, adormeci ouvindo as batidas do seu coração.
CAPÍTULO 34
“Porque todos os amantes se comportam como eu: Inconstantes e volúveis em todos os sentimentos. Menos na imagem fixa de criatura que amam.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
O barulhinho dos pássaros me despertou. Por alguns segundos fiquei meio perdida sem saber ao certo onde estava, o que estava acontecendo ou até mesmo quem eu era. Então reconheci o braço forte de Alex segurando-me pela cintura, colando meu corpo ao seu. A temperatura estava meio fria e ele superquente. Excitado.
Hum!
Rocei minha bunda em sua ereção. Era a fórmula certa para persuadir meu professor a desistir daquela ideia estúpida de não transar antes do casamento. Onde já se viu uma coisa destas? Que absurdo! Falta de consideração.
Ele reagiu instantaneamente. Empurrei minha bunda contra ele, que se esfregou em mim, sonolento, ainda acordando, sem se dar conta de que aos poucos cedia ao meu desejo.
Sua mão grande e quente acariciou meus quadris, prendendo-me enquanto desfrutava de mim. Fiquei mais do que excitada. Alex gemeu manhosamente e alcançou meu pescoço com os lábios. O friozinho da manhã nos forçando a ficar ainda mais colados e o calor da nossa excitação nos impelindo a ir mais longe.
– Bom dia, futura esposa! – sussurrou com a voz rouca, típica de quem acaba de acordar e certa para quem está explodindo de tesão.
– Hum! – ronronei deixando que ele desfrutasse mais um pouco do meu corpo nu.
– Preparada para o sim?
– Sim! – ele riu e mordeu meu pescoço com a pressão certa para me fazer umedecer completamente. – Alex? – gemi.
– Hum! – sua língua percorreu minha orelha onde seu hálito quente fez minha pele arrepiar.
– Podemos pular para a lua de mel? – pedi rebolando minha bunda em sua ereção já totalmente acentuada. Ele riu e se afastou.
– Nem pensar, Charlotte Middleton! – mordeu minha orelha e levantou-se da cama. – Vamos logo, Lana vai me matar se não te levar para o seu dia da noiva.
– O quê?
Ah, não! Eu já havia concordado com aquela maluquice toda, mas deixar Lana passar o dia tagarelando em meu ouvido, pintando-me, melecando-me e me massageando... Nunca!
– Vou ficar aqui. Mande alguém me buscar na hora do sim. Ou melhor, ligue para mim quando chegar a hora, eu digo ao padre que aceito, e tudo estará resolvido.
– Não me obrigue a tirá-la da cama, Charlotte. Seja uma boa menina que eu prometo recompensá-la depois.
– Quero antes. Muito antes. Você é muito mau. Nem acredito que vou casar com um homem tão malvado – ele riu inclinando-se sobre mim. Claro que meu corpo inteiro reagiu. – Estou com saudades – eu disse manhosamente. Alex me deu um beijo leve nos lábios.
– Muita? – desceu o nariz até a minha clavícula.
– Muita mesmo! – gemi dengosa.
Alex passou o braço por baixo de mim e, sem que eu esperasse, puxou-me com força, levantando-me presa a seu corpo. Gritei, rindo da situação e entrelacei minhas pernas nele. Então meu futuro marido acariciou minhas costas, alcançando minha bunda no mesmo instante em que me beijava intensamente.
– Hummmm! – gemi em seus lábios. – Faça amor comigo, Alex! – supliquei.
Ele caminhou em direção ao banheiro, sem interromper as carícias. Sorri vitoriosa, meus lábios ainda nos dele. Alex, sem me deixar perceber o que fazia, abriu o chuveiro nos enfiando debaixo dele. Gritei ao sentir a água gelada.
– O que você está fazendo? – ele gargalhava enquanto me segurava embaixo da água sem se importar em molhar suas roupas.
– Nada como um banho gelado para acalmar os ânimos, amor.
Bati em seu peito e o empurrei o máximo que pude. Ele continuava rindo, mantendo-me firme junto dele embaixo do chuveiro. Gritei o máximo que pude, tentando machucar meu noivo, então sua boca alcançou a minha e seu beijo foi forte e intenso. Apesar da raiva, foi impossível ficar indiferente a esse conjunto tão perfeito: Alex, lábios, língua e mãos. Tudo ao mesmo tempo e em todos os lugares. Arfei.
– Calma, menina fogosa. Agora falta pouco – roçou seus dentes em meu pescoço. A água estava muito fria e logo comecei a tremer.
– Eu odeio você! – esbravejei já completamente rendida. Ele riu.
– Mas vai casar comigo mesmo assim. Venha, não quero que fique doente logo na nossa lua de mel – desligou o chuveiro e me colocou no chão enquanto procurava pela toalha.
– Tomara que eu morra antes, aí você vai passar o resto da vida se lamentando por não ter me comido.
– Que termos horríveis, Srta. Middleton!
– Vá a merda! – Ele riu, passando a toalha sobre meus ombros e me abraçando com força.
– Quando chegarmos em casa, vou lavar sua boca com água sanitária – puxou meu cabelo inclinando minha cabeça em sua direção e beijou meus lábios.
– Você será meu marido, não meu pai. Nunca se esqueça disso! – arqueei uma sobrancelha.
– Não vou esquecer. Ser seu marido já está de muito bom tamanho – abriu um sorriso enorme. Ah, como eu gostava de ver Alex feliz daquele jeito, mesmo depois de um banho gelado.
ALEX
Quando chegamos à casa, Lana nos esperava do lado de fora, tínhamos ignorado suas trocentas ligações, já que ela ficaria com Charlotte até a hora do casamento, então aproveitei ao máximo o tempo que ainda me restava com a minha noiva. Só de pensar que no final daquele dia estaríamos casados, meu coração acelerava.
Tudo bem que não era mais nenhum garotinho, mas, para mim, casamento sempre foi um passo muito importante e casar com a mulher que eu amava, mesmo que sob pressão, era tudo o que eu poderia desejar. Depois daquela tarde não haveria mais Peter, editora nem faculdade que me impedissem de tocar minha linda esposa.
– Este sorriso está espetacular. Merece uma foto – brincou quando estávamos estacionando o carro. Imediatamente, ouvi o barulhinho do celular indicando que uma foto havia sido tirada.
– Para com isso! – fiquei sem graça instantaneamente.
Charlotte nunca havia me fotografado antes. Para dizer a verdade, eu também nunca havia feito isso com ela. Precisava mudar algumas coisas em minha vida. Nunca fotografava as mulheres com quem eu saía, nem permitia que me fotografassem. Uma parte por causa da minha vida profissional. Não queria ser o editor que estava sempre acompanhado de mulheres diferentes, a outra pelo fato de não querer vínculos com ninguém e uma foto no celular significava muita coisa e só piorava quando ia parar nas redes sociais. Porém com Charlotte me fotografando, senti-me especialmente satisfeito. Era um vínculo, uma ligação.
– Você é lindo, professor! Deveria ser sempre fotografado.
– Ok! – saquei o meu celular e posicionei para tirar uma foto dela. – Sorria, futura esposa! – Charlotte fez careta, ficando zarolha e esticando a boca. Ri alto. Meu humor estava excelente. – Sério, amor! Uma lembrança que ficará guardada eternamente – ela sorriu daquela sua maneira única. Meio sem jeito, corando um pouco e com os olhos baixos. Aproveitei o momento. Ficou perfeita!
– Agora nós dois – jogou-se para cima de mim levantando o aparelho. Juntamos os rostos e ela clicou. – Agora com um beijo – disse carinhosamente. Sorri e a puxei para mim, posicionando o meu celular para foto.
– Agora separados – Lana abriu a porta com cara de poucos amigos. – Chega de brincadeiras, estamos atrasadas.
– Atrasadas? O casamento será no final do dia – Charlotte, meio tensa, repreendeu a Lana.
– Pois é e já estamos atrasadas – minha irmã puxou minha noiva pelo braço sem lhe dar chance de escapar. – Sabia que temos hora com uma maquiadora e um cabeleireiro? E ainda vamos cuidar de uma série de coisas antes de eles poderem colocar as mãos em você.
– Vejo você depois? – ela me olhou com olhinhos de súplica. Quase a arranquei dos braços da minha irmã, infelizmente sabia que era melhor não comprar aquela briga.
– Acho que sim. No fim do dia. No altar. Isso se você não desistir – brinquei, mas ela fez uma careta deixando-me inseguro. – Vejo você depois? – Devolvi a pergunta.
– Vou ver o que posso fazer – e Lana levou Charlotte.
Respirei fundo tentando me convencer de que não deveria me preocupar. Charlotte estaria lá e diria sim. E se ela desistisse? Droga! Seria melhor tê-la devolvido só depois do meio dia. Estava muito cedo ainda, haveria tempo de sobra para ela pensar. Mas que merda, Alex! Pare de ser infantil, inseguro e babaca. Ela vai estar. Não é nem louca de desistir. Se bem que Charlotte é louca para qualquer tipo de situação.
– Pelo visto deu tudo certo – Peter se materializou ao meu lado fazendo-me estremecer de susto. – Algum problema? – Olhei para meu futuro sogro em dúvida se ele seria a melhor pessoa para desabafar.
– Como está Mary? Conseguiu convencê-la?
– Sim e ela está ótima hoje. O casamento da filha tem sido o seu melhor remédio – havia uma tristeza em seu olhar que me comovia. – Você é que está muito tenso, Alex.
– Não é o que se espera de alguém que vai casar em algumas horas?
– Eu me senti assim também... no dia do meu casamento. Mary era tão imprevisível! – seus olhos se perderam na casa e em sua movimentação. – Mas ela estava lá, linda e sorridente, como se aquele fosse o dia mais feliz da sua vida.
– E não foi? – começava a me sentir melhor, mesmo sabendo do sofrimento que Peter tentava esconder.
– Graças a Deus, não – riu sozinho. – O casamento deve ser construído um passo a cada dia. Não é fácil, também não é tão complicado. Houve vários “o dia mais feliz da sua vida”. Eu fiz questão de proporcionar isso a ela. Mary é a mulher que eu amo, sempre amei e sempre vou amar, não teria como ser diferente.
– Eu vou fazer Charlotte feliz – foi fácil fazer aquela promessa. Peter, mesmo sofrendo tanto, conseguia me mostrar que era possível e que no final tudo valeria a pena.
– Não tenho dúvidas disso, rapaz. Charlotte já te dominou, basta olhar para vocês para saber. E ela te ama, então... – deu de ombros. – Vamos. Temos muitas coisas para fazer ainda.
– É? E o que seria? – Lana com certeza havia contratado todos os tipos de profissionais para cuidar de tudo. Então o que poderia estar reservado para mim?
– Sua despedida de solteiro – riu batendo em meu ombro.
CHARLOTTE
– Odeio máscara de proteína, vitamina, qualquer coisa terminada com “ina” – fiz uma careta enquanto Lana mexia na pasta que insistia em colocar no meu rosto.
– Deixe de besteira. Não pode estar com a pele ressecada em sua lua de mel. Já imaginou o que Alex vai pensar? Você tem que chegar arrasando e fazer com que ele se lembre desta noite como a melhor da sua vida – dei risada.
– Não consigo ficar calada, nem sem olhar para as pessoas ou me mexer. Essa gosma é muito nojenta, vou acabar vomitando.
– Meu Deus! Que noiva mais mala! – Miranda entrou no quarto da minha cunhada já demonstrando o quanto estava contrariada. Eu só não sabia o motivo daquela cara fechada.
– E que madrinha mais ranzinza – rebati. Miranda sorriu sentando do meu lado.
– Já fez a depilação?
– O quê? Não. Nada disso. Esse troço dói pra diabos! Deus me livre! – Lana me olhou como se quisesse dizer “fica calada que eu vou fazer e pronto”. Meu coração disparou.
– Vai querer abrir as pernas cheia de pelos?
– Que coisa horrível para se dizer no dia do meu casamento – reclamei cruzando os braços.
– Calada, Charlotte, vou aplicar a máscara – não aguardou pela minha permissão e já foi passando aquele troço nojento e melequento em meu rosto. – Quietinha, ou ficará cheia de rugas.
Pela risada de Miranda eu entendi que era só para me amedrontar, preferi não arriscar.
– Eles já foram? – ouvi Lana perguntando a Miranda.
– Já! – pelo tom da minha amiga, o que quer que estivesse acontecendo não a agradava.
– Conseguiu alguma pista? – pista? Do que elas estavam falando?
– Nada. Ninguém quis dizer nada.
– Isso não vai prestar.
– É. Mas eu já avisei que se desconfiar de algo... Qualquer coisa, um fio de cabelo, uma marca de batom, um perfume vagabundo e acabo com ele... quer dizer... nós mulheres não vamos aceitar isso – Lana riu.
– E você quer esconder de quem que você e o Paty estavam na garagem no maior amasso.
– O quê? – falei imediatamente.
– Calada, Charlotte! – Lana esbravejou.
– Eu não estava agarrada com ele. O seu irmão que estava tentando me agarrar.
– Não sei qual foi o problema entre vocês dois, mas seja qual for é melhor definirem logo essa situação, ou Peter vai começar a se intrometer.
– Patrício não me merece e ponto final – Lana riu. – Depois de tudo o que aconteceu na casa do Alex, ele ainda acredita que pode me convencer do contrário.
– Ele é um idiota – falei sem conseguir me controlar.
– E eu vou colar a sua boca com fita crepe – Lana me deu um tapa de leve no braço. – João não é nem louco de aparecer com alguma novidade – ameaçou.
– Do que vocês estão falando? – não aguentei a curiosidade, abri os olhos e estraguei a máscara.
– Charlotte! Pelo amor de Deus! Será que não posso confiar em você? Fique calada! – Lana colocou mais uma camada daquela porcaria com cheiro de folhas molhadas na minha cara. – Agora fique bem quietinha.
– Eu não estou gostando nada disso – Miranda continuou, deixando-me intrigada. O que Patrício e João haviam aprontado para deixá-las tão aborrecidas? Além dos problemas óbvios.
– Eu também não, mas Peter vai junto, o que me deixa mais tranquila.
– Meu pai? – não resisti.
– Não é possível! – Lana esbravejou. Rapidamente voltei a deitar a cabeça no encosto da cadeira e petrifiquei o tosto. Confesso que minha vontade era de rir muito.
– Como estamos indo? – ouvi minha mãe em algum lugar atrás de mim. Não me atrevi a virar nem a falar nada. – Uau! O que é isso? – ela estava mais próxima agora.
– É para deixar a pele da nossa noivinha perfeita. Quer um pouco? – Lana voltou ao seu estado de empolgação.
– Não. Tenho que ajudar Dana com as flores – senti sua mão macia na minha. – Tudo bem com você? – balancei a cabeça indicando que sim e minha mãe riu. – Já vi que está seguindo as ordens da Lana. Muito bem. Quero você divina naquele altar.
– Pode deixar – respondi de maneira involuntária e me arrependi logo em seguida.
– CHARLOTTE MIDDLETON!
ALEX
– Era para ser divertido, parece que o noivo não está achando muita graça – encolhi-me em meu casaco enquanto João reclamava.
– Despedida de solteiro com meu pai e meu sogro. Era tudo o de que eu precisava – resmunguei lavando as mãos.
Estávamos no banheiro do bar mais badalado da região, exceto àquela hora da manhã. Era só o que me faltava. Uma despedida de solteiro em um bar vazio, acompanhado do meu pai e do meu futuro sogro. O que João tinha na cabeça?
– Lana nos colocou para fora de casa. A esta hora da manhã não há muito o que fazer por aqui. É a nossa primeira parada, mais tarde vamos caçar. E eu precisava me redimir de alguma forma, com você e com ela, então... – deu de ombros.
Revirei os olhos. Eu preferia estar na casa, vigiando Charlotte de perto para impedi-la de fugir. Era melhor não me torturar mais com aqueles pensamentos.
– Anime-se! Hoje à noite você vai poder comer sua esposa sem nenhum mala para atrapalhar ou interromper – riu sozinho.
– Dá para falar com mais respeito da minha vida sexual?
– Daria, se eu não soubesse que a sua futura esposa é tão ninfomaníaca ou pior do que a minha – foi a minha vez de rir.
– Charlotte me assusta.
– Sei bem o que é isso – nós nos olhamos pelo espelho. Pela primeira vez na vida me solidarizei com meu cunhado e amigo.
– Não é ruim, é só... assustador – ele sorriu amplamente.
– Claro que não é ruim. É sexo, e com a mulher que você ama.
– É amor, João!
– Sim, sim. É amor, que é diretamente ligado ao sexo – balancei a cabeça sem acreditar naquela comparação.
– O que tem de errado com essas mulheres? Eu sempre li que com o tempo elas perdem o interesse, ou que nem sempre estão com vontade, que os hormônios não ajudam muito... Charlotte está sempre tão disposta. Não que eu esteja reclamando, mas... Ontem ela ficou louca porque eu disse que iríamos esperar até o casamento. Era só uma maneira de tornar tudo mais interessante. Ela se revoltou e exigiu que transássemos. Foi divertido vê-la tão irritada, só que ao mesmo tempo fiquei imaginando que se alguma coisa acontecesse de que forma ela reagiria.
– Alguma coisa? Como assim?
– Sei lá. Um dia que eu estiver muito cansado, ou que... não sei... Essas coisas acontecem... – João gargalhou.
– Você está com medo de broxar? – falou mais alto fazendo com que me arrependesse de ter começado aquela conversa.
– Não! Mas pode acontecer, não é?
– Claro que pode! Principalmente para um homem como você, já com a idade avançada, cansado e sem gás – ele ria sem parar.
– Vá se foder, João!
– Sério! Você está casando com uma menina cheia de energia e que, como num passe de mágica, por sugestão sua, descobriu que adora uma boa trepada. É, amigo, acho que você está em maus lençóis.
Será que eu estava mesmo?
CHARLOTTE
– Pelo amor de Deus, Lana, não puxe – meu grito agudo preencheu o quarto.
Ela tinha me ameaçado de todas as formas até que eu cedesse à depilação. De verdade, aquilo não foi criado por Deus. Primeiro ela colocava a cera quente, quente mesmo, aquela história de que era só um leve ardor era pura mentira. A porcaria queimava. Minha pele muito branca começou a ficar rosa, com certeza nunca mais eu teria sensibilidade naquela região.
Lógico que eu já fazia depilação, mas nas pernas e nas axilas, o que era até suportável. Ou quase. Ok! Doía muito também, mas nada se comparava àquela cera quente como o inferno na minha... bom, lá no lugar mais importante para a lua de mel.
– Estou acabada – choraminguei. – Não vou aguentar a minha própria lua de mel. Você acabou comigo, Lana. Nada que Alex fizer vai conseguir amenizar a ardência. Sem contar que nunca vou ter coragem de deixá-lo ver tudo tão... sem nada, e vermelho desse jeito – Miranda riu e Lana me encarou com certa piedade.
– É, Charlotte, pelo visto alguém deveria ter se encarregado da sua educação sexual – Miranda explodiu em risos e eu fiquei mais vermelha do que minha... Bom, do que aquele pequeno espaço superimportante do meu corpo.
– Alguém deveria me proteger de você, sua bruxa malvada!
– Larga de ser boba e vira logo essa bunda. Estamos perdendo tempo.
– O quê? Para que você quer que eu te mostre a minha bunda. Ela não tem pelos – Miranda não parava de rir.
– Claro, claro! Na bunda não, mas num lugarzinho bem no meio dela, com certeza tem – fez cara de poucos amigos. Eu já temia as loucuras de Lana e ali, naquele momento, eu demonstrei o quanto. – Anda logo com isso, Charlotte. A cera vai esfriar e aí você vai ver o que é dor.
Muito lentamente virei de costas, completamente apavorada. Não acreditava que estava fazendo aquilo, não naquele lugar. E para que inferno precisaria depilar o... o ponto proibido.
– Amiga, quando você ficar de quatro e Alex tiver a visão desta bunda lisinha, pode acreditar, vai ficar superagradecido – Miranda passou as mãos em minhas costas me confortando.
No meio daquela loucura toda, enquanto Lana me tocava daquela maneira tão embaraçosa e absurda, vasculhando o melhor ângulo para colocar a massa criada no inferno em meu... meu lugar que até pouco tempo era intocável e intocado, permiti-me imaginar o que seria eu, de quatro, com Alex. Puta merda! Imaginei a cara dele ao ver minha bunda empinada. Oh, droga! Imaginei ele me segurando pelos cabelos e arremetendo em mim sem piedade e...
– PUTA QUE PARIU! – Fui incapaz de me controlar. Aquela maldita meleca quente queimou minha pele para logo em seguida Lana puxá-la sem dó nem piedade. – NÃO TOQUE MAIS EM MIM! – Virei rapidamente impedindo que ela continuasse.
– Só falta mais um pedacinho, Charlotte – ela me encarava incrédula enquanto Miranda ria como se estivesse em um circo.
E realmente estava.
ALEX
– Já estamos andando há quase duas horas e nenhum animal apareceu. Nem mesmo um rato. Quem inventou esta maldita caçada? – Patrício reclamava a cada cinco minutos.
Meu pai, Johnny e Peter estavam concentrados. Eles adoravam caçar! João trocava mensagens pelo celular, Patrício não via graça em nada que o podia oferecer e eu estava com a cabeça em Charlotte.
Talvez tenha exagerado ao me negar a transar. Minha noiva só queria uma noite de amor, um pouco de prazer e carinho, mas eu fiquei firme e não concordei. Fui um idiota. Como a desejei a noite toda. Aquele corpo pequeno, quente, macio... Droga! Eu devia ter cedido. Minha cabeça fervilhava com imagens terríveis. Ela fugindo, recusando-se a casar, atacando-me após o casamento e, no fim, eu não conseguindo uma ereção por causa da ansiedade, ou estragando tudo com um orgasmo prematuro. Merda!
– Pare de pensar nisso. Eu estava só brincando – João parou do meu lado, murmurando para não chamar a atenção dos outros.
– Não estou pensando em nada – estava decidido a não conversar mais com meu amigo sobre aquele assunto.
– Claro que está! Fique frio cara. Você vai conseguir.
– Quer calar a merda da sua boca? – meu pai e Peter pigarrearam. Uma indicação clara de que deveríamos manter silêncio. Não sei qual de nós, já que Patrício se mexia o tempo todo e reclamava sem parar.
– Só estou tentando ajudar – ele sussurrou. – Já aconteceu antes?
– João, me deixe em paz! – Peter olhou para trás carrancudo. Suspirei e levantei, afastando-me do grupo. Meu cunhado não se deu por vencido e me seguiu. Seria o dia mais torturante da minha vida.
– Alex, pode se abrir comigo. Isso pode acontecer com qualquer um. É normal.
– Comigo nunca aconteceu – ele riu.
– Pelo amor de Deus, vamos arrumar alguma coisa mais legal para fazer – Patrício se juntou a nós sem perceber o quanto eu estava de saco cheio. – Vamos contratar umas dançarinas, dar umas roçadas em algumas garotas. Isso sim é uma despedida de solteiro, merda!
– Como se não bastasse a merda da outra noite – resmunguei.
– E Miranda te mata. Aliás, você estava tentando agarrá-la na garagem hoje cedo? – João falou voltando a sua atenção para Patrício.
– Eu não! – ele me olhou de soslaio. João riu e então Paty deu as costas, fingindo desinteresse. – Miranda está roubando o meu juízo.
– Porque você é um idiota – rebati despejando minha frustração no meu irmão.
– Porque não vou cair nessa armadinha de casamento, Mané! Este é o plano perfeito para você, nunca para mim.
– E quem disse que ela quer se casar com você? – vi o olhar do meu irmão mudar.
– Por que não? O que Charlotte te disse?
– Nada – respondi sarcasticamente, e cruzei os braços para encará-lo. Patrício ficou me encarando até que desistiu.
– O que vocês estavam cochichando aqui?
– Nada que seja da sua conta – fui rude e João riu, voltando sua atenção para mim.
– Pode assumir, Alex, ninguém aqui vai crucificar você por isso – revirei os olhos.
– Do que vocês estão falando? – Patrício se interessou pela conversa.
– De nada! João está maluco.
– Ah, qual é, Alex! Confesse cara. Você está entre amigos.
– Qual é o assunto? – Patrício insistiu.
– Nunca aconteceu. Eu já disse. Que porra!
– Alex está com medo de broxar – João largou a bomba.
– Eu não... – não deu tempo de desfazer a situação.
– Sério? – – Patrício riu alto chamando a atenção de todos. Que droga! Minha vida se tornaria um inferno.
– Não! João está inventando e, se insistir em continuar, vai acabar perdendo todo os dentes – ameacei.
– Vem tentar – ele riu colocando-se em posição de luta. Minha paciência estava no limite. Sem pensar, peguei um punhado de terra molhada e atirei em meu amigo que me encarou assustado.
Patrício gritou, provocando João e rindo da minha reação. Pelo canto do olho pude ver meu pai, Johnny e Peter levantarem assustados vindo em nossa direção. João ainda me encarava aturdido, sem acreditar. Ele se abaixou. Pensei que avançaria em mim, então pegou mais terra e arremessou em minha direção e, em seguida, arremessou outra quantidade contra Patrício.
A terra atingiu meu pescoço. Ardeu um pouco pela força do arremesso, nada que pudesse me machucar. Patrício riu, abaixou e pegou terra com as duas mãos fazendo cara de malvado. Imediatamente começamos a correr.
Passamos por meu pai e Peter. Ainda consegui ouvir Johnny protestar pelo tanto de terra que tinha recebido no peito. Ele não perdeu muito tempo reclamando. Simplesmente pegou um tanto de terra e correu atrás de nós, entrando na guerra.
Ao final, estávamos completamente sujos, com exceção de meu pai e Peter, que permaneciam intocados e limpos, sem contar que nos olhavam espantados pela brincadeira infantil, apesar de incrivelmente engraçada.
CHARLOTTE
– Aí você pega o gelo, coloca na boca, espera um pouco para que ele deixe seus lábios e as paredes frias e depois...
– Posso entrar? – minha mãe interrompeu a conversa justamente na hora em que Lana revelaria o ponto crucial da brincadeira. Nem preciso dizer que fiquei incrivelmente vermelha.
Conversar sobre sexo com minhas amigas era um tanto quanto fácil, na presença da minha mãe era uma missão impossível. Ela entrou e sentou ao meu lado na cama. Eu estava deitada, de bruços, claro! Meu... minha região incrivelmente delicada não me permitia sentar ainda. Muito menos colocar uma calcinha. Graças a Deus Lana tinha um roupão prontinho para mim.
– Seu pai ainda não chegou. Dana quer estar à frente de tudo e eu estou muito cansada, então, vim te dar um beijinho e avisar que vou me deitar um pouco.
– Faça isso, Mary. Descanse e mantenha sua pele linda desse jeito – Lana não parava um só segundo. – Depois que o cabeleireiro arrumar os cabelos da Charlotte, vai ser a sua vez, depois Miranda. Eu e minha mãe vamos antes da noiva, que é para garantir que alguém da família esteja no salão quando os convidados chegarem. Está lembrada do penteado que sugeri, não é?
Minha mãe olhou para Lana com olhos arregalados e concordou. É. Eu bem sabia o que era contrariar aquela coisinha minúscula. Coitada da minha mãe. Será que ela também teve que depilar o... deixa pra lá. Melhor nem saber.
– Espera – segurei minha mãe pelo braço assim que ela ameaçou levantar. – Onde está o papai?
– Ora, Charlotte! Na despedida de solteiro do Alex – respondeu com naturalidade. Meu coração quase parou.
ALEX
Não dava para voltar para casa daquele jeito. Estávamos imundos! Decidimos que um banho de rio ajudaria. Pelo menos Lana não ficaria louca com nossas pegadas pela casa. Assim que chegamos, Patrício, que nunca tinha vergonha de nada, entrou no rio e começou a tirar suas roupas.
– Tem que tirar toda a terra e depois colocar para secar. Podemos pendurar em alguma árvore e enquanto seca aproveitamos a água.
– Eu estou com fome – João reclamou, mas não deixou de entrar no rio atrás do meu irmão.
– Bom... já que não pode lutar contra, junte-se a eles – Peter, que não estava sujo, tirou a roupa e entrou de cueca.
Pouco tempo depois estávamos todos lá, dentro do rio, apenas de cueca, observando nossas roupas penduradas nas árvores e jogando conversa fora.
– Nem consigo acreditar que estou dentro de um rio, com cinco homens de cueca, na despedida de solteiro do meu irmão – Patrício provocava e eu rezava para que ele não falasse nenhuma besteira na frente de Peter.
– Essa é a despedida de solteiro mais ridícula que tenho notícia – comentou Johnny. – Não tem nem umas garotas gostosas para animar.
– E você acha mesmo que, se estivéssemos com algumas garotas, nossas mulheres permitiriam que voltássemos para casa?
Peter me pegou de surpresa. Eu esperava que ele esbravejasse ou dissesse que jamais permitiria porque eu era noivo da filha dele, mas não. Ele apenas comentou que tinha medo da reação das nossas mulheres.
– É por isso que não vou casar. E, se Alex estivesse em seu perfeito juízo, fugiria agora mesmo – Johnny brincou e Peter jogou um punhado de água em seu afilhado.
– Vou contar a Charlotte sobre sua sugestão – brincou. Nunca tinha visto Peter tão à vontade. Ele estava completamente relaxado e se divertindo. – E Alex acaba de ganhar na loteria. Minha filha é um tesouro.
– Concordo com você, Peter. Nada me faria desistir. Charlotte é tudo o que eu procurava.
– Ah, claro! Uma garota insistente, que não aceita um não como resposta, capaz de obrigar todo mundo a fazer as suas vontades e que consegue destruir os planos de qualquer pessoa. Com certeza foi a sua melhor pedida – Johnny revirou os olhos e recebeu de mim uma grande quantidade de água.
– É exatamente por isso que amo tanto a Charlotte. Ela nunca me deixou dizer não – todos riram e foi neste momento que ouvimos o barulho de pneus se aproximando. Ficamos em estado de alerta imediatamente.
Um jipe amarelo surgiu e, por mais incrível que pareça, havia cinco garotas nele. Peter olhou para meu pai, que olhou para Patrício, que levantou as mãos e olhou para João que sorriu e olhou sugestivamente para Johnny que sorria largamente olhando para mim.
Puta que pariu!
CAPÍTULO 35
“Em um minuto há muitos dias.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
– Charlotte, pare com isso! Charlotte? – Lana gritava do lado de fora.
Após saber que Alex, o filho de uma... não, Dana não merecia ser chamada assim só porque Alex resolveu ser um... escroto! Isso. Era o que ele era. Um escroto, sacana, miserável que se recusou a transar comigo, mas não tinha sequer questionado uma despedida de solteiro. Outra! Outra despedida de solteiro.
Depois daquela noite, eu não sobreviveria a mais esta.
– Charlotte, é sério! Você precisa fazer a maquiagem e colocar seu vestido.
– Não vou mais casar. Não insista, Lana! – enxuguei as lágrimas que insistiam em cair. Por que Alex era tão babaca?
– Pelo amor de Deus, Charlotte! Não invente uma merda dessas agora.
– Não caso! – gritei me encolhendo ainda mais no piso do banheiro do quarto de Lana.
Assim que minha mãe saiu do quarto, corri e me tranquei no banheiro, sem dar a Miranda e Lana a chance de me impedir. Não casaria. Não olharia mais na cara de Alex. Nunca mais.
– Charlotte, abra já esta porta! – Lana continuava nervosa do lado de fora. Nada nem ninguém me faria abrir aquela porta, a não ser que fosse para fugir.
– Vão embora! Deixem-me em paz! – puxei o roupão que cobria o meu corpo, sentia um frio incompreensível.
– Charlotte, por favor! – Miranda entrou na conversa, mais calma do que o normal. – Deixe ao menos eu entrar para conversar com você. Estou preocupada.
– Como você pôde concordar? Como pode deixar Patrício fazer parte desse... desse plano obsceno – ouvi o risinho da minha amiga do outro lado da porta e não fiquei nada satisfeita.
– Eu não tenho como controlar o irmão do seu noivo. Acredite, estou tão puta da vida quanto você.
– E eu também! – Lana gritou corroborando.
– Depois do que João fez... depois do que Patrício foi capaz de fazer... depois de eu flagrá-lo na cama com aquelas duas... Não acredito que Alex fez isso comigo. Não acredito que fui tola o suficiente para aceitar os seus argumentos – solucei sentindo-me uma imbecil.
– Deus, Lottie! – Miranda falou sentida. – Você sabe que eu acho o Alex um babaca, mas você não pode mais usar aquela noite como justificativa. Foi uma armação e você sabe disso.
– Mesmo assim. Ele sabia como eu estava me sentindo. Sabia o quanto aquilo tudo tinha me ferido e mesmo assim concordou com outra despedida de solteiro. OUTRA! – deixei o choro me dominar. – E ele se recusou a transar comigo ontem à noite – elas riram fazendo-me sentir uma idiota.
– Abra a porta, Lottie! – Miranda insistiu.
Fiquei calada. O que Alex estava pensando quando concordou com a despedida de solteiro? Que poderia sair e transar com qualquer vagabunda e depois voltar feliz e saltitante? Ah, não! Aquele imbecil conseguiu me convencer a casar, privou-me do prazer e agora estava se divertindo com alguma piranha?
Ele não perdia por esperar.
ALEX
Minha primeira reação foi tentar descobrir quem havia armado aquilo. A segunda foi assegurar a Peter que eu não tinha nada a ver com aquele absurdo. João, o filho da puta que se dizia “o cara”, deu alguns passos para trás assim que as garotas desceram do jipe, escondendo-se completamente atrás do Patrício.
Sim, ele estava em uma grande enrascada.
– Que porra é essa? – eu estava completamente inseguro em relação ao que poderia acontecer.
– Oh, cara! Lana vai me matar se descobrir uma merda dessas – meu cunhado continuava tentando se esconder.
– Elas devem estar procurando um pouco de diversão – Johnny sorria largamente, satisfeito com a nova vizinhança.
– Acho bom providenciarmos nossa volta para casa – meu pai, sensato como sempre, articulava uma maneira de contornar o problema. Enquanto isso as garotas caminhavam em nossa direção.
– Oi! – Johnny não desistiria facilmente.
– Johnny! – Peter o advertiu.
– Sou o único solteiro da turma, padrinho. Tenho o direito de me divertir um pouco.
– Oi!
Todas responderam ao mesmo tempo, cada uma em seu tom mais insinuante. Arrisquei um olhar na direção delas apenas para constatar que eram lindas. Lindas mesmo! Droga, Charlotte! Por que não concordei em transar enquanto ainda tinha tempo? Com certeza estaria bem mais confortável nesse momento.
– Dia lindo para um banho no rio, não é? – Johnny puxou conversa enquanto todos os outros aguardavam tensos.
– Com certeza. Podemos entrar?
A mais alta delas, uma morena que nem tive coragem de olhar por mais de um segundo, e também a que parecia mais ousada, deu um passo à frente.
– Melhor não, moça – meu pai interrompeu os avanços do Johnny. – Na verdade estamos bastante à vontade e não seria muito apropriado...
– Você é o médico da propriedade ao lado, não é? – a loirinha, de short curto e top, sorriu largamente para o meu pai. Droga! Eu teria problemas com minha mãe também.
– Sim. Esses são meus filhos e amigos. Já estamos saindo.
– Estamos de cueca – Peter alertou num murmúrio. Foi quando meu pai se deu conta.
– Já de saída? Que pena!
Uma outra loira, de pernas longas e torneadas passou as mãos nos cabelos. Patrício soltou um palavrão, visivelmente abalado pela presença das garotas.
– Meninas, nós queremos sair da água e não dá para fazer isso com vocês olhando, então, se não for muito incômodo, vocês poderiam ir embora? – Peter se adiantou, porém, as garotas não pareceram muito satisfeitas.
– O rio não está na propriedade de vocês. Também temos direito a ele – a morena falou. Baixei a mão na água, capturando-a um pouco e joguei sobre meus cabelos. Era bom pensar em alguma coisa para escapar daquela loucura.
– Garotas, por favor, não vamos brigar. Com certeza há espaço para todo mundo. Estamos fazendo hora até o casamento do meu irmão aqui, por isso não podemos nos juntar a vocês, o que é uma grande pena.
Peter olhou para Patrício com repreensão. Bom... ele teria problemas com Miranda e com Peter. Eu só queria voltar para casa, pegar minha futura esposa nos braços e levá-la para a cama.
– Despedida de solteiro? – elas se animaram. Que merda!
– Não se empolguem. Nós não estamos interessados – Peter foi curto e grosso e elas o olharam com raiva.
Não quero ser machista, mas... o que estava acontecendo com as mulheres? Estavam todas doidas? A revolução sexual estava atingindo o discernimento delas? De repente, todas levantavam a bandeira da liberdade sexual, ficando mais atiradas... Tudo bem que era até interessante. Nunca gostei de mulher retraída, no entanto, algumas como aquelas passavam do limite.
– Será? – uma das loiras desafiou. João riu um pouco animado, imediatamente se retraiu quando meu pai pigarreou. Bom... O problema dele não seria o sogro e sim Lana.
– Ok, meninas! Vocês são lindas e maravilhosas, mas estamos de saída. Quem sabe num outro momento... – Johnny tentou argumentar, mas a merda já havia sido feita.
– Quero só ver o que a noivinha vai dizer quando descobrir que o noivo voltou para casa apenas de cueca – elas correram.
Não deu tempo de reagir. Três pegaram nossas roupas enquanto duas pularam no jipe e deram partida. Ainda conseguimos sair da água, de cueca, é claro! Mas não conseguimos recuperar as peças. Então elas partiram levando tudo. Inclusive a minha paciência.
CHARLOTTE
– Eles chegaram – ouvi Miranda entrar no quarto. Seu tom de voz não era nada amistoso.
Lana continuava na porta do banheiro, usando todos os argumentos disponíveis para me convencer a casar. Lógico que nenhum funcionou. Não era justo ser forçada a aceitar um casamento às pressas, apenas para satisfazer o ego daquele... Idiota! E ainda aceitar uma despedida de solteiro? Não, duas! Ah, não! Alex não me conhecia. Nada me faria mudar de ideia.
– E por que você está com tanta raiva? – ela perguntou a Miranda. Agucei meus ouvidos. Não queria perder nenhum detalhe.
– Porque aqueles... aqueles... nem sei como chamá-los. Mas você precisava ver a cena, todos, todos mesmo, somente de cueca. Apenas isso. Saíram vestidos, afirmando que era só um momento entre amigos e voltam sujos e só de cuecas. Não quero mais ver a cara do Patrício. Aliás, eu quero, porque vou parti-la ao meio.
– Droga, Miranda! Você não está ajudando em nada.
– Não deixem ele vir até aqui, porque vou abrir esta porta e matar o seu irmão, Lana – gritei enfurecida.
Filho da puta, miserável, covarde, cretino... merda! Só de cueca? Como ele pôde? As lágrimas recomeçaram a cair. Meus olhos já estavam inchados e vermelhos. Nenhuma maquiagem seria capaz de disfarçar aquele desastre. Também quem estava pensando nisso? Eu não permitiria que ninguém me convencesse a aceitá-lo como marido.
– Eu vou te ajudar a fazer isso, antes saia daí e vamos conversar – ela tentava em vão me convencer a abrir a porta, eu não abriria.
– Não!
– Aqueles... babacas disseram que foram assaltados. Deve ter sido pelas mulheres com quem foram se divertir.
– Miranda, pelo amor de Deus, fique calada! Você sabe o trabalho que deu organizar este casamento? – Lana estava mais do que nervosa e eu explodiria a qualquer momento.
– Para quê? Para que ele saísse atrás de vagabundas? – Miranda rebateu completamente irritada com a situação. Pelo menos a minha amiga estava do meu lado, dividindo a raiva comigo.
– Já chega! Fora do quarto. Deixa que eu resolvo essa merda – ouvi pés batendo forte no chão e deduzi que Miranda havia ido embora.
Tomara que ela acabe com a cara do Patrício!
– Charlotte, por favor! Vamos ser adultas e pensar de maneira sensata. Miranda falou que eles foram assaltados. Vamos ouvir o que Alex tem a dizer...
– Não quero ouvi-lo. Não quero nem ver a cara dele – sentei novamente no chão o mais distante possível da porta.
– Ok! Eu vou atrás do João para saber o que aconteceu. Quando se sentir melhor me procure.
Então o silêncio do quarto foi sepulcral. Pela primeira vez naquele dia, eu me senti completamente sozinha, e era sufocante.
ALEX
Voltar para casa foi humilhante! Eu não queria tocar no assunto. Queria esquecer o começo daquele dia e me concentrar no final dele, quando Charlotte seria minha esposa e todos os acontecimentos ficariam para trás. João, Patrício e Johnny estavam achando tudo muito divertido. Finalmente alguma coisa para animar a minha despedida de solteiro. Eu queria poder socá-los pelos seus entusiasmos.
– Vamos dar um jeito de entrar sem chamar a atenção de ninguém – meu pai falou antes de entrar no seu carro. Ele e Peter foram juntos, enquanto eu e os outros rapazes fomos no jipe do Patrício, o que piorava tudo, pois era aberto e nos deixava expostos.
– Duvido muito que você consiga, pai. A casa deve estar repleta de funcionários.
Ele suspirou sabendo que o que eu dizia era verdade. Meu pai e meu futuro sogro se olharam e depois riram. Por que só eu não conseguia achar graça naquela merda?
– O jeito vai ser encarar – comentou e entrou em seu carro.
– É, fale isso para Charlotte – resmunguei.
Os rapazes fizeram piadas de todos os tipos e não se preocuparam por chegar daquela forma tão... descabida. Eu estava com fome, com frio e nervoso. Completamente tenso.
– O que aconteceu? – minha mãe correu em nossa direção assim que nos viu chegar daquele jeito. Meu pai e Peter permaneceram dentro do carro, provavelmente sem querer envergonhar um ao outro.
– É uma longa história, mãe! Dá para trazer umas toalhas?
– Claro! – ela foi em direção à casa. – Miranda, preciso de você.
Tá! Estremeci só de imaginar qualquer mulher daquela casa me trazendo a toalha e Charlotte vendo a cena. Por outro lado, eu precisava entrar, não poderia recusar a ajuda de quem fosse. Poucos minutos depois, Miranda e minha mãe voltaram com roupões e toalhas. Fiquei muito sem graça com o olhar da melhor amiga da minha noiva sobre mim. Olhou-me de forma tão intensa que juro que tive medo de ela me agarrar naquele momento e naquele local. O que estava acontecendo com as mulheres?
– Obrigado – desviei o olhar e rapidamente vesti o roupão escondendo a minha quase nudez.
– O que significa isso? – Miranda não esperou para cobrar uma explicação do Patrício. Como ela podia me dar um olhar daquele e depois tirar satisfações com meu irmão?
– Você não vai nem acreditar – Patrício riu, mas levou um tapa no braço. Miranda não estava achando nada divertido vê-lo chegar só de cueca.
– Ai! – ele se encolheu teatralmente. Um tapa daqueles não o machucaria. – Miranda, o que...
– Cale a boca, Patrício! – repreendeu-o com voz chorosa. – Não quero ouvir a sua voz, e... deixe-me em paz! – e saiu em disparada para dentro da casa.
Eu, João e Johnny rimos da cara do Patrício, mesmo sabendo que em breve seria a nossa vez. Meu irmão correu atrás dela, enquanto Johnny levava toalhas para meu pai e Peter. Minha mãe nos olhava sem entender nada.
– Fomos assaltados – comecei as minhas desculpas para minha mãe, quando uma funcionária se aproximou com mais algumas toalhas. Elas pareceram não acreditar. – Paramos para tomar banho no rio e umas... levaram as nossas roupas.
– Assim, sem mais nem menos? E vocês não perceberam? – a funcionária perguntou, recebendo um olhar fulminante da minha mãe, o que a fez se encolher.
– Não. Não foi sem mais nem menos, agora não posso me explicar. Preciso comer alguma coisa, mãe – desviei minha atenção e fiz com que minha mãe voltasse a dela para mim.
– Eu também, sogra – João passou os braços pelos ombros dela fazendo-a voltar para a casa. – Pode acreditar que nada de ruim aconteceu com seu genro favorito, nem com seu marido. Estamos todos inteiros e famintos, só o Alex está um tanto quanto... – olhou para mim com ironia. – Tenso, inseguro e temeroso – riu.
Eu vou matar o João!
Mal consegui andar direito pela casa. Eu tinha dito a Lana que seria uma cerimônia simples, mas ela, como sempre, burlou todas as minhas regras e transformou a casa em um verdadeiro salão de festas. Minha mãe foi logo avisando que eu não poderia ver Charlotte, que minha irmã me mataria se eu tentasse e que o melhor a fazer era descansar um pouco em meu quarto. Obedeci já mais do que frustrado com tudo.
Comi a comida que minha mãe fez questão de levar ao meu quarto, tomei um banho quente e demorado, fiz a barba, cortei as unhas... Quando não havia mais nada para fazer, deitei tentando desligar meu cérebro. Era impossível! Pelo menos eu estava em casa, e Charlotte em algum lugar se preparando para ser minha esposa. Respirei aliviado.
Foi quando Lana irrompeu quarto adentro como um furacão.
– Charlotte desistiu do casamento.
– O quê?
CHARLOTTE
Deitei no chão e encarei o teto. Eu estava sendo muito infantil? Não. Ele que foi muito cafajeste isso sim! Mas e se foram realmente assaltados? E se Alex estivesse ferido? Claro que não! Se alguma coisa tivesse acontecido, com certeza, alguém já teria me avisado.
Então era isso? Eu tinha conseguido todas as minhas experiências, realizado alguns sonhos e agora voltaria para a realidade, sem Alex, sem casamento, sem... a dor em meu peito foi dilacerante. Deus! Eu o amava tanto! Como conseguiria simplesmente desistir desse amor?
Também não poderia começar um relacionamento aceitando uma traição. Não mesmo! Alex tinha obrigação de me respeitar. Afinal de contas, não fui eu que fiquei desesperada para casar. Aquele idiota, cretino... estragou o meu conto de fadas.
Um soluço me fez estremecer.
“Mas eu ainda o amo!”, eu pensava. Estava com raiva, muita raiva, ferida, sofrendo de amor e...
– Charlotte? – Alex me chamou. Sua voz estava calma e muito próxima da porta. Meu coração acelerou.
Como eu deveria reagir? Quem sabe bater nele. Não. Seria demais para as nossas famílias. Eu poderia esbofeteá-lo. Claro que poderia, ele havia me traído. No entanto, não era o que eu queria. Ouvir a sua voz, doce, tranquila e cheia de carinho me fazia apenas querer chorar. Foi o que fiz.
– Cubra este vestido rápido. Ele não pode ver antes da hora – Lana também estava lá, e provavelmente todos os outros.
“Que se dane o vestido, que se dane o casamento”, pensei com amargura.
– Charlotte, abra a porta. Vamos conversar – ele pedia, meu coração implorava, meu gênio me impedia.
– Vá embora, Alex. Não quero mais te ver – tentei manter a compostura, mas meu nariz escorria e as lágrimas não paravam, sem contar os soluços que me impediam de falar corretamente.
– Amor, abra a porta. Por favor!
Droga! Por que ele tinha aquela capacidade de fazer tudo mudar dentro de mim? A raiva começava a ser substituída pela vontade de atender a seus apelos.
– Não! Por que você não vai conversar com aquelas galinhas com quem foi fazer sua despedida de solteiro? – ele riu baixinho.
– Não sei do que você está falando – que ódio! Alex achava mesmo que eu era uma idiota. – Abra a porta, Charlotte.
– Volte para suas amiguinhas e me deixe em paz, Alex – eu já estava parada em frente à porta, com a testa encostada nela e ansiosa para vê-lo.
– Não existe nenhuma “amiguinha”, amor. Eu posso te explicar tudo, antes preciso que você saia.
– Não vou sair, não vou me casar e não quero ver a sua cara. Vá embora! – bati o pé no chão como uma criança mimada.
– Charlotte, eu não vou deixar você desistir. Abra a porta e converse comigo, ou vou arrombá-la, pegar você à força, enfiar naquele vestido e obrigá-la a assinar aqueles papéis.
– Quero só ver, Alex! – ri com ironia, afastando-me da porta. Se ele acreditava que poderia me forçar a fazer a sua vontade, estava completamente enganado. – Já que quer tanto se casar, por que não escolheu uma daquelas vacas?
– Porque eu amo você, droga! Minha manhã foi péssima e a única coisa que eu desejava era poder voltar e finalmente ter você como minha esposa, pelo visto, o mundo inteiro está conspirando contra o meu final feliz – ele explodiu fazendo-me recuar.
– Calma, Alex! – Dana falou, e eu corei. Merda! Por que todo mundo tinha que estar lá para assistir ao espetáculo?
– Afaste-se da porta porque vou arrombá-la – ameaçou. – Estou avisando, Charlotte. Um... Dois...
Corri para a porta destrancando-a. Seria demais deixá-lo destruir a casa por causa da nossa briga. Além do mais, Dana estava lá e eu não queria que pensasse que o filho estava se casando com uma garotinha mimada. Alex, percebendo o que eu havia feito, segurou a maçaneta girando-a. A porta se abriu, revelando o grupo do lado de fora. Cruzei os braços e aguardei.
ALEX
Charlotte estava parada, com os braços cruzados e os olhos vermelhos fixos em mim. Droga! Ela havia chorado, aparentemente muito. Tudo por causa das loucuras da vida. Quem poderia imaginar que aquilo tudo fosse acontecer? Bom... eu não.
Dei um passo na sua direção e ela recuou. Logo me dei conta de que havia gente demais naquele quarto, então entrei no banheiro, fechei a porta atrás de mim e a encarei. Era preciso calma. Minha noiva parecia um bichinho assustado e eu tive medo de forçar demais a barra. Mantendo uma distância segura, cruzei os braços, na mesma posição que ela, e aguardei.
Ela permaneceu calada.
– Eu não estava em uma despedida de solteiro. Não da maneira que você está pensando.
– Não existe forma diferente de pensar numa despedida de solteiro – rosnou, mantendo os braços presos no peito. Suspirei pesadamente. Aquela seria uma longa conversa.
– Não sei o que contaram a você, a verdade é que não poderia existir uma despedida de solteiro como você pensa quando o seu pai e o meu se juntaram ao grupo. Eu até entenderia o seu aborrecimento se fossemos só eu e os rapazes, mas, francamente, Charlotte... Você se superou, conseguiu ir ainda mais longe do que eu poderia imaginar.
Ela recuou. De forma rude, eu conseguia desarmá-la. Charlotte descruzou os braços e andou até a pia encostando-se nela. Continuei encarando-a, com cara de quem não acreditava no que estava vendo. Ela começou a corar e toda a minha raiva foi sumindo. Céus! Como ela ficava linda tímida, envergonhada. Tudo o que eu mais queria em uma mulher. E na cama era tão... única!
– Meu pai pode muito bem acobertar suas traições. Homens são assim – ri. Charlotte sabia ser bem absurda quando queria.
Andei em sua direção, sem tocá-la. Ainda era cedo para considerar o jogo ganho. Parei diante dela, colocando uma mão em cada lado do seu corpo, apoiado à pia e a olhei fixamente.
– Você sabe que isso é impossível. Qual é o problema?
– Você... vocês chegaram de cueca, Alex. Que... vergonhoso, absurdo...
– Charlotte! Nós fomos roubados. Umas... – consegui evitar aquela informação a tempo. Não queria esconder a verdade dela, porém aquele não era o momento para dizer que algumas garotas apareceram e ficaram ofendidas com nossa recusa e por isso decidiram levar nossas roupas – ... pessoas, não sei ao certo... Estávamos no rio e, quando vimos, nossas roupas haviam desaparecido – ela estreitou os olhos como se soubesse que eu mentia. – Pode perguntar para o seu pai. Ele vai confirmar que eu nada fiz de errado – ela se remexeu inquieta. – Qual é o problema, Charlotte?
– Você!
– Eu?
– Sim! Você me jogou nesta loucura e me largou sozinha o dia inteiro para curtir sua despedida de solteiro. Não quis transar comigo, recusou-se terminantemente e aí vem esta notícia de vocês chegando de cueca e... e... eu sofri tanto, Alex! Lana me torturou de todas as formas. Ela me depilou completamente, você acredita nisso? – eu queria rir, mas preferi morder os lábios e ouvir seu desabafo. Charlotte era incrível! – Aquilo não é uma coisa que devemos fazer com os outros. Você tem noção da dor? E...
– Charlotte? Foco, amor! Você está confusa, eu te entendo. É muita pressão.
– Não! Você não entende. Eu te disse. Não sei fazer isso. Não estou preparada. Eu vou cair, vou rasgar o vestido, vou me machucar, vou te machucar! Eu vou ser uma péssima esposa, Alex! – as lágrimas rolaram por seus olhos. Charlotte estava em pânico. Eu sabia como resolver aquela situação.
– Amor, vem cá! – levantei seu corpo pequeno e a sentei sobre o mármore da pia. Abri suas pernas e me coloquei entre elas.
– O que você está fazendo?
– Estou aproveitando meus últimos momentos como solteiro – puxei Charlotte alcançando seus lábios. Ela não me recusou.
Era isso o que estava faltando. Sexo. Charlotte precisava relaxar e eu fui um idiota não percebendo que minha recusa a deixaria estressada num momento tão importante quanto aquele.
Corri minhas mãos por suas costas, puxando-a para mim e aproveitando o tecido delicioso em sua pele macia. Charlotte gemeu em meus lábios e eu amava quando ela fazia aquilo. Ficava louco para arrancar mais e mais gemidos dela. Procurei pelo nó do roupão e ela me interrompeu.
– Alex, aqui não! Todo mundo está lá fora.
Sorri sabendo que não seríamos capazes de frear nossos impulsos. Inclinei a cabeça desci em direção ao seu pescoço. Charlotte tinha um cheiro delicioso
– Alex! Não!
– Quero uma despedida de solteiro com o que tenho direito e nada melhor do que fazer isso com a mulher mais gostosa que já conheci – ela sorriu baixando seu olhar de maneira encantadora. Aproveitei e abocanhei sua orelha. Charlotte ofegou. Era exatamente o que eu queria.
– Eles vão ouvir – sussurrou se encolhendo com o meu contato.
– É só você continuar falando deste jeitinho delicioso – disse baixinho em seu ouvido. Ela estremeceu. – Você quer ser a personagem principal da minha despedida de solteiro? Quer fazer com que ela seja inesquecível? – Charlotte sorriu timidamente, fechou a mão em minha camisa e balançou a cabeça aceitando a minha proposta. – Depois subiremos naquele altar e consagraremos a nossa união, ok? – novamente ela concordou.
Corri meus dedos em seu pescoço, roçando sua pele clara e sedosa. Charlotte fechou os olhos se entregando. Ela mordia os lábios e eu queria desesperadamente estar dentro dela. Desci os dedos pela fenda do decote do roupão, afastando-o para que eu tivesse livre acesso a seus seios pequenos e rijos.
Circulei o bico suavemente. Charlotte se encostou no espelho, inclinando o corpo na direção da minha mão. Aproveitei e desatei o nó que prendia a peça. Enquanto isso desci minha outra mão, afastando o tecido e percorrendo sua pele até o umbigo.
Dei um beijo leve em minha noiva e depois fui até seu pescoço, deixando que meus lábios acariciassem aquele corpo perfeito. Logo minha boca estava em seus seios, onde eu brinquei com os dentes, a língua e os lábios, primeiro um, depois o outro. Suguei e beijei aquela parte sua que eu tanto admirava. Charlotte continuava inclinada, olhos fechados e lábios travados, evitando emitir qualquer som. Eu queria ouvi-la. Nada como os gemidos da mulher que eu amava para me dar mais prazer.
Cuidadosamente desci com a ponta da língua até alcançar seu umbigo. Charlotte correu as mãos por meus cabelos, emaranhando seus dedos entre eles. Mordisquei a ponta da sua barriga. Minha noiva se movimentou em direção aos meus lábios. Eu sabia o que ela queria e eu satisfaria o seu desejo.
Tirei o tecido que cobria o restante do seu corpo, correndo os dedos pelo meio de suas pernas, acariciando aquelas coxas maravilhosas. Ao mesmo tempo, desci roçando minha língua do seu umbigo até quase alcançar o seu sexo. Olhei para aquela parte tão íntima da minha noiva e... puta que pariu! Ela estava toda depilada. Todinha mesmo. E só para mim.
Nunca havia sentido tanta vontade de colocar a minha boca em uma mulher quanto senti naquele momento. Charlotte é tão linda! Tudo do tamanho certo e no seu devido lugar. Parecia uma fruta, doce e suculenta, pronta para ser degustada.
Passei minha mão por debaixo de seus quadris e puxei-a para mim. No mesmo instante, meus lábios alcançaram a feminilidade da minha noiva, que ofegou, levantando o corpo em minha direção. Ela gemeu sensualmente, mantendo o tom baixo. “Isso, Charlotte! Geme para mim”, beijei aquela parte com desejo e intensidade. Deixei meus lábios massagearem o sexo da mulher que eu tanto amava e brinquei com os dentes em seus pontos mais sensíveis.
Não deixei de invadi-la com minha língua. Charlotte tinha um sabor sem igual. Era toda feita na medida certa para mim. Da forma como eu queria, desejava. E receber seu rebolado, suas mãos me puxando para perto enquanto trabalhava com os lábios nela, era sensacional. Principalmente ao perceber seus gemidos ficando cada vez mais intensos e descontrolados, apesar de ela estar lutando contra eles. Puta merda! Eu me acabava com aquela mulher.
Pela forma como rebolava, forçando seu sexo em minha boca, eu soube que logo gozaria, então a penetrei com meus dedos, tocando-a com cuidado, porém da maneira correta e completei sugando seu clitóris com meus lábios. Charlotte gemeu mais alto, sorri, pressionando a ponta da língua e depois fechando os lábios para sugá-la com mais força.
Ela arqueou o corpo, rebolou em minha boca e estremeceu. Em seguida senti o líquido delicioso do seu gozo na minha língua. Suguei uma última vez seu ponto de prazer, ainda com os dedos massageando-a e ela deu um último espasmo. Missão devidamente cumprida.
Suas pernas, antes dobradas para me receber melhor, relaxaram um pouco, entregues à saciedade. Sem perder tempo, segurei Charlotte com força fazendo-a descer. Nossos olhos se encontraram, os dela sem entender o que eu pretendia, os meus cheios de desejo e tesão.
Não dava para ficar só nas preliminares. Eu tinha adorado a depilação da minha noiva e, conhecendo Lana como conhecia, com certeza, estaria impecável. Eu precisava conferir.
Girei Charlotte, deixando-a de costas para mim. Assim que ela virou aquela bunda deliciosa em minha direção, abri minhas calças deixando-a cair aos meus pés. Charlotte olhou para trás, seu rosto corado pelo esforço, sua pele levemente suada. Seus olhos foram direto para a minha ereção, o que me deixou ainda mais excitado.
– Mãos no espelho! – ordenei. Ela prontamente obedeceu, olhando sempre para trás, conferindo todos os meus movimentos. “Ok, Charlotte! Você quer me ver te comendo, então curta o espetáculo”.
Segurei forte em sua perna e, sem aviso, levantei uma delas apoiando-a no mármore da pia. Ah! A visão era perfeita, maravilhosa! Exatamente como eu queria. Estava tudo lisinho, como eu desejava. Puta que pariu!
– Alex! – ela murmurou assustada com a posição.
– Quero uma visão ampla da sua bunda, gostosa!
Segurei com uma mão a sua cintura e com a outra enrolei seus cabelos, puxando sua cabeça em minha direção. Antes de penetrá-la, mordi seu pescoço e Charlotte gemeu entregue. Como eu adorava a sua capacidade de recuperação.
Nem tive tempo de pensar em começar devagar. Eu a queria, firme e forte, sem muito cuidado. Queria a minha despedida de solteiro como ela deveria ser.
– Empine a bunda, Charlotte! Mostre para mim o quanto você é deliciosa – forcei seu corpo para frente, fazendo-a quase deitar sobre o mármore frio. Com isso sua bunda ficou no ângulo certo. E então a penetrei de uma vez só. Ela gemeu alto, esquecendo-se de qualquer pudor, ou da plateia lá fora.
Assim que cheguei ao seu limite, voltei e recomecei várias vezes. Charlotte gemia e empinava a bunda para mim. Espalmei minha mão em suas costas, mantendo-a naquela posição. Daquele jeito eu podia vê-la, comê-la e apreciá-la sem pudor e sem limites.
Era impossível não sentir uma enorme atração por aquele ponto ainda não explorado. O limite das barreiras dela. Todo lisinho, sem nada que me impedisse de tocá-lo. E foi o que eu fiz. Enquanto entrava e saía, passei minhas mãos em sua bunda, massageando sua carne e, muito levemente, como se não houvesse planejado nada, deixei que meu dedo roçasse aquela entrada tão desejada.
Charlotte arqueou o corpo, pronta para me impedir, mas se deteve. Atento à sua reação, entrei com mais força, rebolando para tocá-la completamente, roçando suas paredes úmidas e quentes e, quando ela estava mais relaxada, deixei que meu dedo roçasse aquela região novamente, não me intimidei com a sua reação. Eu sabia que ela gostava.
Todas as mulheres se recusam a admitir o sexo anal, mas elas sabem que a sensação é deliciosa, pelo menos as que eu já havia experimentado rapidamente se renderam a esta prática, absorvendo o máximo que podiam. Era prazeroso para ambas as partes. Simplesmente uma questão de ceder, relaxar e se permitir.
Novamente a acariciei, dessa vez com mais segurança, deixando claro que era o que eu queria. Então Charlotte relaxou. De uma maneira que só ela era capaz de fazer, deitou o corpo e se permitiu ser tocada. Aquele foi o meu limite. Acariciei seu ânus com o polegar, sem deixar de estocá-la com força enquanto a assistia se entregar ao prazer. Então empurrei um pouco o dedo, a carne cedendo e me sugando.
Minha noiva gemeu, estremeceu e gozou.
– Puta que pariu! – acompanhei-a em seguida, colado ao seu corpo e me contorcendo de prazer.
CHARLOTTE
Alex saiu com os olhos brilhantes. Confesso que me senti muito envergonhada pelo ocorrido. Do lado de fora estavam Miranda, Dana, minha mãe e Lana, que batia o pé no chão, impaciente. Ele me beijou na testa e saiu sem dar nenhuma explicação.
– Puta que pariu! – Lana exclamou tão logo Alex bateu a porta. – Não podia esperar pela lua de mel?
– Lana!
Dana a repreendeu, mas a merda já estava feita. Eu fiquei mais vermelha do que tomate maduro. Miranda deu risada e minha mãe apenas sorriu, evitando entrar no clima delas.
– É verdade! Nem eu obriguei João a transar comigo, ameaçando desistir do casamento. Que absurdo!
– Lana, querida! – Dana levantou segurando a filha. – Charlotte não precisa destes pormenores. Faça apenas a sua parte, nós vamos nos arrumar. Vou mandar o pessoal entrar. Temos um casamento para assistir e eu não quero perdê-lo por nada.
Miranda acompanhou Dana, prometendo voltar logo para substituir Lana, enquanto esta se arrumava. Ficamos eu, minha cunhada e minha mãe, que acompanhava tudo de perto.
– Agora estamos todas atrasadas – ela me levou até a cadeira.
– O importante é que deu tudo certo. E ninguém precisa saber dos detalhes – minha mãe piscou para Lana, que segurou meu cabelo puxando-o para trás.
– É. Ainda bem que eu me viro bem com meu corpo espetacular – elas riram e eu ainda me sentia envergonhada, sem conseguir olhar diretamente para minha mãe. Esta, vendo como eu me sentia, segurou em minha mão e começou a falar.
– Quando eu e seu pai decidimos que queríamos passar o resto da vida juntos, éramos muito jovens ainda. Ele tinha acabado de entrar na faculdade de Medicina, já estava no exército e precisou ser transferido. Nós não queríamos nos separar e eu não poderia ir com ele, precisava completar meus estudos. Um dia, ele bateu em minha janela, estava muito ansioso e falando sobre sua necessidade de garantir que estaríamos sempre juntos. Então me pediu em casamento. Eu achei uma loucura, mas, olhando em seus olhos, não tive como negar. Nós fugimos juntos naquela noite, procuramos o padre da igreja que ele frequentava e pedimos a bênção de Deus para o nosso amor. Não foi um casamento de verdade, afinal de contas não assinamos nenhum papel, porém, para nós dois, foi a certeza de que pertencíamos um ao outro e que, se Deus assim quis, nada poderia nos separar. Nem o tempo, nem a distância... Naquela noite, eu e seu pai tivemos nossa primeira noite de amor. Uma primeira lua de mel. E, no dia seguinte, ele foi embora. Eu nunca me arrependi do que fiz, mesmo que ele nunca tivesse voltado.
Ela estendeu a mão e capturou uma lágrima que descia em meu rosto. Eu nem havia percebido que chorava. Lana, às minhas costas, enrolava meus cabelos em cachos e prendia-os no alto da minha cabeça, testando penteados. Ela acompanhava em silêncio a linda história de amor dos meus pais.
– Eu sou muito feliz, filha. Seu pai me deu uma vida mágica. Nunca, nem por um minuto, eu repensei sobre nosso casamento e hoje, vendo você prestes a se casar, só consigo desejar que você tenha a mesma sorte – mordi os lábios reprimindo um soluço. – Alex é um bom homem, vai cuidar de você, fazê-la feliz. Seja mais flexível com ele. Ouça primeiro. Procure entendê-lo. Vocês formam um lindo casal e eu tenho orgulho de ter conseguido chegar até aqui.
– Ah, mãe! – ela me abraçou com força, transmitindo tanto amor que quase sufoquei. Minha mãe era uma pessoa incrível.
– Agora eu preciso ir – disse ao me soltar. – Tenho que me arrumar também, afinal de contas, a mãe da noiva é uma peça muito importante no casamento.
– A mais importante – eu disse entre lágrimas.
– Nada mais de choro. Teremos um trabalho árduo para disfarçar esta cara inchada – Lana esbravejou, mas ela também havia ficado emocionada com o relato que ouvimos.
– Vejo você mais tarde – minha mãe saiu no mesmo instante em que a equipe de maquiagem e cabeleireiro entraram. Voltei a fechar os olhos, relaxar e aguardar pela hora do sim.
CAPÍTULO 36
“O amor é fumaça formada pelos vapores dos suspiros. Purificado, é um fogo chispeante nos olhos dos amantes. Contrariado, um mar alimentado pelas lágrimas dos amantes. Que mais ainda? Loucura prudentíssima, fel que nos abafa, doçura que nos salva.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
– Respire fundo.
Repeti para mim inúmeras vezes de olhos fechados. Eu estava sozinha no quarto aguardando a chegada do meu pai. Lana finalmente tinha me deixado só para terminar a sua própria produção. Miranda provavelmente estava infernizando a vida do Patrício por causa da malfadada despedida de solteiro. Bom... eu entendia a minha amiga. Não era fácil engolir aquela história absurda, porém... eu precisava confiar em Alex, afinal de contas, estava prestes a me casar...
Puta que pariu! Eu ia me casar.
– Respire fundo, Charlotte. Você consegue!
Minhas pernas tremiam, as mãos suavam, a cabeça latejava e meu único pensamento era fugir.
– Puta que pariu! Puta que pariu! Eu não vou conseguir.
– O que você não vai conseguir?
Abri os olhos e vi meu pai parado diante de mim. Nossa! Ele estava incrivelmente lindo. Seus olhos, repletos de rugas de expressão que o deixavam mais adorável, brilhavam, e seu sorriso... ah, o sorriso do meu pai era de plenitude! Meu coração inflou e se iluminou.
– Estou com medo, pai – admiti.
– Ele é o homem que você ama – suas mãos para trás e sua postura completamente ereta denunciavam que também estava com medo.
– Eu o amo, apesar disso... Não é o medo de me casar com ele. É o medo de me casar! Medo de tudo estar acontecendo rápido demais, de eu estragar as coisas. Alex já é um homem. Viveu sozinho por muito tempo. E se ele não gostar de dividir sua vida, uma casa comigo? E se eu acabar atrapalhando mais do que ajudando? E se eu não gostar de ser esposa? Pai...
– Charlotte, eu compreendo todas as suas dúvidas, meu anjo! E não tenho como responder a tantos questionamentos. Só posso dizer que ser casado tem muitas vantagens. Eu gosto mais deste estado civil do que o de solteiro – e ele sorriu mais. Meu pai parecia brilhar quando falava do seu amor por minha mãe. Ela era tudo para ele.
– Como o quê, por exemplo?
– Como não ter um pai chato determinando a hora de voltar para casa – deu de ombros e eu ri.
– Não tenho problema em continuar enfrentando o senhor até que consiga entender que eu cresci.
– Dormir todos os dias com a pessoa que você ama. Esta é a maior vantagem de todas – piscou confidente. – Eu posso falar também da segurança que é voltar para casa e encontrar conforto em alguém em quem confiamos. A certeza de que, independentemente de qual seja a situação, ele estará lá sempre ao seu lado. A vontade de fazer coisas que surpreendam e satisfaçam, muitas vezes um gesto simples, como fazer a comida preferida.
– Eu nem sei qual é a comida preferida dele ou como gosta que a casa seja arrumada...
– Você terá tempo para descobrir.
– Pai, Alex só quer casar porque ele pensa que pode me perder de uma hora para a outra, eu não o entendo. Eu sei que o amor que eu sinto nunca vai acabar, eu nunca vou abandoná-lo. Não preciso casar para provar isso.
– Então você está no caminho certo. O casamento é uma mera formalidade, filha, o que conta é a sua vontade de unir sua alma a dele. Para você isso é o bastante, no entanto para ele é importante o “sim”, os papéis, e admito que para mim também – olhou-me com alegria e foi impossível não sorrir. – Alex a ama e precisa ter você ao alcance das mãos para se sentir seguro. Este é um pequeno gesto que você fará para deixar claro o seu amor, dando a ele o que ele precisa e ele retribuirá de maneira única, porque será verdadeira.
Meu pai tinha razão. Por que eu sentia medo? Eu estava simplesmente dizendo a Alex que o queria para a vida inteira, aliás, para a eternidade, o meu amor nunca teria fim. Andar aqueles poucos metros, dizer “sim”, assinar os papéis, apesar de mera formalidade era importante para dar segurança ao homem que eu amava. Eu precisava apenas que ele segurasse em minha mão, para mim era mais do que suficiente. Meu pai tinha razão. Se Alex precisava disso e, se não era nada que poderia me machucar ou me fazer infeliz, por que não?
– Está pronta?
Olhei minha imagem no espelho. O vestido branco gelo, repleto de renda, envolvendo meus ombros, descia por meu corpo, alargando-se um pouco abaixo dos quadris como uma tulipa invertida. Uma fileira de pérolas fechava a renda que revestia minhas costas, sem revelar muito, mas insinuando bastante. Meu rosto estava levemente corado, não só pela maquiagem, também pelo calor que sentia e a ansiedade que quase me dominava.
ALEX
Charlotte estava demorando demais. Meus olhos de tempos em tempos encontravam os de Lana e os dela refletiam a minha angústia. Charlotte desistiu. Droga! Eu não devia tê-la deixado sozinha. Droga! Johnny se aproximou e tocou meu ombro.
– Ela virá. Toda noiva atrasa. Com Charlotte não seria diferente. Fico me perguntando onde ela conseguiu esta veia artística para gostar tanto de dramas – olhei para o amigo da minha noiva, o mesmo que muitas vezes me despertou raiva e ciúmes, e ele sorriu. – Ela precisa chamar atenção – dei risada. Era engraçado e, apesar de ser injusto com Charlotte, um pouco verdadeiro. Tudo era um drama na vida dela. – Não se preocupe, ela te ama. Não vai perder a oportunidade de te amarrar para sempre.
– Tomara mesmo que isso seja verdade.
– Com certeza é – ele estreitou os olhos com desprezo. – Eu só não entendo o motivo de você querer tanto casar. Passar o resto da vida amarrado a alguém. Em breve, ela começará a ter filhos – sua expressão mudou para nojo. – Nunca mais vai ser a mesma. Vai começar a cobrar demais. As crianças vão chorar, vão bagunçar a casa, você não poderá sair com os amigos porque quando voltar para casa ela vai falar, falar e... – sorri largamente.
– Você vai entender quando encontrar alguém que ocupe todos os seus pensamentos. Que você deseje mais do que o próprio ar. Quando nada mais fizer sentido se ela não estiver com você. Ainda não se apaixonou, Johnny. Quando acontecer, não vai conseguir aguardar nem um segundo.
– Tomara que você esteja certo do que quer.
– Por quê?
– Porque ela acabou de chegar. É, meu amigo, agora é para valer – ele deu um tapa em meu ombro, e meu coração disparou varrendo o pequeno espaço da piscina a procura dela.
CHARLOTTE
Todos os nossos poucos convidados estavam lá, de costas para mim, sem perceberem que eu havia chegado para dar o passo mais importante da minha vida. O momento em que me uniria a Alex de corpo e alma. O momento em que Deus me diria que nada foi em vão. Que a loucura daquela proposta, que agora parecia ter sido há muito tempo, a insegurança, o medo, a descoberta do amor... Nada foi em vão. Lá estava eu, pronta para dizer “sim” e para pertencer a ele por toda a minha existência.
Foi naquele momento que Johnny capturou o meu olhar e sorriu. Meu amigo, com aquele simples gesto, abençoava a minha decisão. Ele tocou no ombro de Alex, e meu namorado, noivo... O homem da minha vida, e eu não tinha mais nenhuma dúvida sobre isso, olhou-me. Foi como se o tempo parasse.
O olhar de Alex me invadiu com uma força impossível de ser mensurada. Capaz de derreter qualquer geleira, acabar com qualquer guerra... Uma força que me envolvia e afugentava todos os medos e receios, deixando apenas certezas. O nome desta força é amor. Naquele instante apenas o amor seria capaz de guiar os meus passos e, ao mesmo tempo, desorganizar todo meu interior. Era o amor que me dizia naquela hora que nada poderia ter sido diferente. Eu passei a pertencer a Alex no momento em que aceitei ser sua aluna.
Não. Não foi em vão.
Um dos músicos detectou a minha presença e levantou dando a primeira nota para, em seguida, ser acompanhado dos outros quatro. Uma linda melodia preencheu o ambiente, e meus amigos se levantaram virando-se para me olhar. Eu não tinha como olhá-los. Não queria desviar os meus olhos da figura no centro do altar improvisado. Ele era perfeito demais para ser verdade e me amava como se eu fosse o ser mais incrível e maravilhoso do planeta.
Durante anos, eu apenas vivi. Nunca fui a garota que despertava paixões. Eu era tímida, solitária. Escondia-me atrás dos outros, deixava que todos brilhassem a meu redor tentando nunca ser o centro das atenções. Fingia satisfação em ser apenas a garota inteligente que sorria e ajudava os amigos, que era motivo de orgulho para os pais e se conformava com o pouco que vinha a suas mãos. No fundo, nunca fui feliz. Não completamente. Eu me sentia vazia. Sozinha demais em um mundo cheio demais. Incapaz de fazer nada para modificar as coisas, deixando-me levar e aceitando o curso da vida. Apenas eu sabia o que realmente existia dentro de mim.
O jeito que encontrei de mudar qualquer coisa foi escrevendo. Como escritora, eu podia ser o que quisesse, onde quisesse e da maneira que quisesse. Simplesmente escrevia sobre as milhares de vidas que gostaria de ter, os milhares de amores que poderia vivenciar e que nunca permitia que me alcançassem. Desenvolvi os mais diversos conflitos, as mais desvairadas paixões, o desejo mais intenso e carnal. Escrevia, não vivia. Por causa disso, nunca fui uma pessoa completa.
Aí, Alex, como em um conto de fadas moderno, chegou e derrubou todas as minhas barreiras, virou meu mundo de cabeça para baixo. Ele não foi apenas o meu professor, o homem que me sacudiu e me fez acordar. Foi o meu príncipe encantado. Tudo bem que chegou em uma prancha de surf ao invés de um cavalo branco, e, que ironia, o dragão que precisou enfrentar e derrotar, por mais incrível que pareça, era a própria princesa que precisava resgatar.
Alex me fez escrever a minha própria história, fez-me ver que era possível, que o amor ia muito além do prazer e do desejo. Que sexo... sexo será sempre bom se você souber como desfrutá-lo. No entanto, o que é o sexo sem um amor verdadeiro? O que é o desejo sem o olhar de admiração? O que é o orgasmo sem a confiança da entrega? Nada! Eu nunca mais seria vazia. Nunca mais estaria sozinha, sempre teria Alex para segurar a minha mão e me dar a certeza de que eu jamais cairia ou, se porventura isso acontecesse, ele estaria lá para me levantar.
Meu pai avançava comigo, eu mal conseguia sentir os meus passos. Aquela foi a escolha mais certa da minha vida. Ao constatar tal verdade, passei a ansiar pelo momento em que nada mais nos separaria. Eu queria chegar lá e dizer sim bem alto, que eu aceitava e que seria, sem medos ou dúvidas, a esposa do professor Frankli.
Paramos a um passo um do outro. Um único passo me impedia de tocá-lo. De declarar a ele meu amor. De confirmar a minha vontade. Um único passo para enfim ser uma pessoa completa. Nossos olhos não se desgrudavam. Os dele repletos de amor e felicidade.
“Sim, Alex, eu estou aqui. Onde mais poderia estar? Eu te amo! Não posso fugir de um sentimento tão forte, puro e verdadeiro” minha mente gritou, embora meus lábios permanecessem calados. Meu pai segurou minha mão, que estava enlaçada ao seu braço e a levou até a mão de Alex.
Aquele toque... Ah, aquele toque capaz de me fazer mudar qualquer coisa. Sem conseguir controlar deixei cair uma lágrima. Alex comprimiu os lábios e eu entendi que também segurava as suas, em nenhum momento deixamos de nos olhar. Éramos fortes assim, seguros um no outro. Eu chorava de felicidade e ele externava a dele com um sorriso sincero.
– Cuide bem dela – a voz do meu pai quebrou o nosso silêncio. Estava embargada pela emoção.
Este foi o momento em que me vi impelida a desviar minha atenção do homem que eu seguiria pela eternidade, para agradecer ao que havia me guiado até ali. Olhei para meu pai. Aquele homem forte que intimidava a todos segurando sua emoção como podia.
– Com a minha própria vida, Peter.
Alex enlaçou os dedos nos meus conectando-nos. Cada célula do meu corpo sabia que naquele momento nos uniríamos para sempre e nada seria capaz de quebrar nossa aliança.
– Eu te amo, princesa.
Era como ele me chamava quando eu ainda era uma criança. Quando ainda brincava em meu pequeno castelo de madeira, e ele era o meu cavaleiro fiel, o que lutava para proteger o reinado. Foi a forma que encontrou de me mostrar que finalmente havia entendido. A sua filhinha, a pequena princesa que precisava dele para proteger o reino, crescera e começava a andar com suas próprias pernas. Dominada pela emoção, joguei-me sobre ele e o abracei com força.
– Eu te amo, papai! – e solucei, agradecendo internamente por ter usado maquiagem à prova d’água. Ele riu e meus amigos também.
– Eu sei. Eu sei. Mas agora precisamos realizar um casamento.
Soltei meu pai e voltei a entrelaçar meus dedos nos de Alex.
Padre Messias, que me olhava com carinho, começou o tradicional sermão utilizado em todas as cerimônias de casamento. Ele falava do amor, da importância da fidelidade e da construção da família em Deus. De vez em quando, eu olhava para Alex, que acariciava meus dedos com seu polegar. Quando nossos olhos se encontravam o resto do mundo deixava de existir. Padre Messias era apenas uma voz distante, um ponto solto naquele universo que eram os olhos de Alex. Até que fomos forçados a dizer os votos.
Oh, droga! Os votos. Eu havia dito a Lana que tinha tudo pronto, mesmo com a implicância dela e todas as ameaças, consegui me esquivar de deixá-la ler. Na verdade, eu não escrevi nada. Contida pelo medo e incerteza, fui incapaz de escrever uma linha sequer. O que eu poderia dizer?
– Charlotte Middleton... Charlotte – ele sorriu, e o dia pareceu ficar mais claro, como se um raio de sol abençoasse as suas palavras e iluminasse o altar, especialmente para nós dois. – Votos são apenas promessas que, muitas vezes, não sabemos como nem se poderemos cumprir. Prometer qualquer coisa é ser injusto com o nosso amor. Você merece muito mais do que promessas. Eu quero apenas que saiba que, antes de você, eu não sabia o que era ser feliz. Mesmo quando tudo parecia uma imensa loucura, quando pensei que estava destruindo tudo o que havia lutado para construir, eu tinha a certeza de que valia a pena, porque era com você, e por você. Não posso dizer que não tive medo ou que não fiquei inseguro, mas quando você chegava e eu a olhava, tão decidida a mudar o curso da sua história, a realizar os seus sonhos... Você era muito mais do que a garota inocente que frequentava as aulas, era, e é, a mulher mais forte que já conheci. A mais decidida e determinada. E enxergá-la mudou o eixo do meu universo, deixei de ser o centro, de ser a estrada mais importante e passei a ser apenas um satélite em sua órbita. Incapaz de sair de perto de você, de não atender às suas vontades, disposto a tudo para agradá-la. Passei a ser o seu súdito e confesso que nunca fui tão feliz – mais uma vez, ele sorriu, e meu coração quase parou. Era tão lindo! – Case-se comigo hoje e também me deixe renovar estes votos todos os dias, horas, minutos e segundos. Porque eu nunca me cansarei de dizer o quanto te amo e de lutar para que sua vida seja muito mais do que um romance, um conto de fadas.
As lágrimas não paravam de cair enquanto ele falava, e meu coração martelava com a emoção. Alex havia encontrado as palavras perfeitas, enquanto eu não sabia o que dizer. Todos fizeram silêncio me aguardando.
– Não sei se é correto, sendo eu uma aspirante a escritora, falar que não sei o que dizer.
Todos riram e Alex me olhou com admiração. Ele me conhecia e compreendia como ninguém em toda a minha vida. Eu sabia que mesmo que encerrássemos ali, que nenhuma palavra fosse dita, ele se sentiria feliz e realizado. Mas... Droga! Eu tinha tanto a dizer.
– Quando uma pessoa é apenas mais uma no universo, ela não é especial. Quando se alimenta apenas de sonhos, ela não vive. Quando o sol toca a sua pele e ela é incapaz de sentir mais do que uma leve ardência, ela não é feliz. Quando o dia vai embora e ela não consegue se emocionar com os seus últimos raios, ela não ama, nem é amada – o silêncio fazia com que minha voz ecoasse. – Alex Frankli... Professor Frankli – ele sorriu largamente. – Meu namorado, meu noivo, meu marido... minha vida... obrigada por, assim como nos contos de fadas, com um beijo, me fazer acordar – ele riu e eu sorri presa em seu olhar. – Com a sua capacidade de me entender e apoiar, me deu a mão e me fez ver que eu era única, mesmo que fosse apenas em seu universo. Você me fez compreender que sonhos são fundamentais, mas vivê-los é essencial e você foi o meu melhor sonho e a minha mais perfeita realidade. Você me trouxe muito mais do que o sol para esquentar o meu corpo, trouxe a felicidade a uma alma gelada, que sofria e ansiava pela sua chegada. Sempre foi você e sempre seria independentemente de quanto tempo eu precisasse esperar. Obrigada por me proporcionar os melhores finais de dia que uma garota poderia desejar, pelo simples fato de você me amar. Enxergou muito além do meu desespero para escrever o livro perfeito, enxergou a minha alma e, com isso, despertou em mim o que existia de melhor e me fez entender que você é a minha melhor história, a que eu posso e quero escrever a cada dia mais uma parte. Obrigada por ser você e me ajudar a ser eu mesma. Eu te amo!
Uma lágrima escorreu em seu rosto, ele sorriu e mordeu os lábios. Um menino lutando contra o homem que aparentava ser. Aquele era o meu Alex. O meu marido.
– Eu te amo! – ele me puxou para seus braços.
ALEX
Ela chorava enquanto falava e meu coração parecia querer explodir de tanto amor. Toda a minha vida passou diante de mim como um filme, mostrando-me o quanto, apesar de feliz, foi vazia. Charlotte era o meu sol. O que faltava para que eu me sentisse pleno. E ela estava lá, como havia prometido, dizendo que me amava também, comprometendo-se com uma vida ao meu lado. Eu estava feliz, orgulhoso e completo.
Beijamo-nos com paixão e emoção. Cheios de um amor sem tamanho, impossível de ser descrito. Um amor que eu nunca acreditei existir fora dos romances. No entanto, era real e eu o estava vivendo. Era impossível não chorar.
– Ninguém ouviu o tradicional “pode beijar a noiva” – Lana provocou e todos riram. Charlotte se afastou completamente vermelha. Como eu amava a maneira como ela corava.
– Bom... – o padre continuou rindo de nossa incapacidade de tirar as mãos um do outro. – As alianças.
Patrício se aproximou conduzindo Escuridão, meu cavalo, com uma almofada em seu lombo. Eu ri de uma piada apenas minha. Meu cavalo, que eu amava muito, tinha ciúmes da minha esposa e a derrubara na noite da tempestade. Charlotte olhou para mim e estreitou os olhos. Dei de ombros, afinal de contas, eu não planejei nada do casamento. Todos pareciam se divertir.
Assim que Escuridão chegou próximo da gente, Charlotte deu um passo para trás. Ri, passando à frente e desatando o laço da almofada que continha as alianças. Patrício piscou para Charlotte e saiu levando meu cavalo. Voltei a atenção para minha esposa. Entreguei em sua mão uma aliança e segurei a dela.
– Charlotte Middleton, com esta aliança eu te faço minha esposa. Prometo honrá-la, amá-la e respeitá-la. Ser seu amigo, marido e amante – ela sorriu e corou. – Sua felicidade será a minha felicidade e a sua vida a minha vida – a aliança deslizou em seu dedo. Charlotte tremia, não poderia ser diferente.
– Alex Frankli, com esta aliança eu te faço meu esposo. Prometo honrá-lo, amá-lo e respeitá-lo. Ser sua amiga, mulher e... – mordeu os lábios – ... amante – um risinho fraco preencheu a plateia e o meu sorriso foi gigantesco. – Sua felicidade será a minha felicidade e a sua vida a minha vida.
– Agora sim, pode beijar a noiva – todos riram novamente.
Aproximei-me de Charlotte buscando por seus lábios, ela me segurou e beijou com entusiasmo. Claro que correspondi com ímpeto, nada que desrespeitasse a minha esposa. Todos riram e aplaudiram. Segurei Charlotte pela cintura e girei-a, deitando-a em meus braços como em uma cena de filme.
– Minha esposa! – ela me olhou com brilhos nos olhos.
– Meu marido! – e sorriu com orgulho. – Podemos ir direto para a lua de mel? – ri cheio de felicidade. Aquela sim era a minha Charlotte.
– Quanto a isso... – cocei a cabeça enquanto ela fazia cara de espanto.
– Não vamos ter lua de mel?
– Vamos. Claro que vamos! Você tem uma formatura para comparecer em alguns dias e eu tenho uma coisinha para resolver. Por isso adiaremos nossa viagem.
– E o que vamos fazer?
– Muitas coisas – sussurrei em seu ouvido. – Em nossa casa, por enquanto – e beijei um pontinho atrás da sua orelha vislumbrando sua pele arrepiada.
– O que precisa resolver que nos impede de viajar? – droga! Charlotte não deixava nada para depois.
– Tenho que comparecer à faculdade e resolver os trâmites da minha saída – ela me avaliou. Merda! Porra de mulher difícil de esconder alguma coisa. Tentei parecer tranquilo. Ela não acreditou.
– O que está me escondendo? – seus olhos esquadrinharam meu rosto.
– Charlotte, vamos curtir no nosso casamento. Podemos conversar sobre qualquer coisa depois...
– Não. Eu quero saber agora. O que está acontecendo?
Eu precisava mudar o rumo daquela conversa ou ela ficaria muito irritada e tudo o que eu realmente não precisava era vê-la nervosa por mais um problema causado pelo nosso envolvimento.
Anita tinha prometido me prejudicar e, aparentemente, era o que estava fazendo. Quando o professor Carvalho ligou avisando que precisávamos conversar e que Anita havia feito uma denúncia séria, eu tive a certeza de que seria um momento difícil. Tudo que Charlotte não precisava era começar a se preocupar com essa merda na nossa festa de casamento. Eu resolveria tudo depois.
– E eu estou louco para tirar este vestido de você – ela sorriu, relaxando e se entregando ao momento.
– Podemos abraçar os noivos?
Minha mãe apareceu por trás da minha mulher, tirando-a dos meus braços. Logo em seguida, meu pai me abraçou e nós fomos passando por diversos braços. Foi ótimo para ganhar tempo e fazer Charlotte esquecer aquele detalhe ruim.
Enquanto dois amigos do meu pai me cumprimentavam com tapinhas nas costas e abraçavam a minha esposa, senti meu celular vibrando. Por instinto, peguei o aparelho e, sem reconhecer o número, atendi.
– Alex? – era Tiffany. Sua voz frágil me fez ficar em alerta. – Por favor, não desligue.
– O que você quer? – tentei manter a calma para não alertar Charlotte. Afastei-me um pouco do grupo.
– Você foi até o final.
– Eu disse que iria.
– Você disse – ficou um pouco em silêncio. – Mas eu tinha esperança... você sabe...
– Tiffany...
– Eu estou feliz por você, Alex. De verdade. Posso não ser a melhor pessoa, porém não sou um monstro. Eu amo você! – sua voz indicava um sorriso, uma emoção que não conseguiu disfarçar. – Amo você e, por meu sentimento ser verdadeiro, sou obrigada a aceitar a sua escolha. Você ama Charlotte – depois de uma pequena pausa ela continuou. – Apesar de eu não conseguir entender bem o porquê... é ela quem você ama.
– É sim. Sinto muito.
– Não sinta – ouvi um riso amargurado. – Não sinta. Você deveria escolher alguém mais forte para ficar ao seu lado.
– Ela é forte...
– Até quando? Você acredita mesmo que essa garota não vai desabar quando souber o que Anita aprontou? Será que ela vai ser tão forte assim quando descobrir que o trabalho ao qual dedicou sua vida foi cancelado porque ela insistiu nesta loucura? – Engoli em seco.
– Ela não precisa saber agora – fiquei alerta. Não deixaria Tiffany destruir os sonhos de Charlotte. Não tão fácil nem tão cedo.
– E eu não vou contar – sua voz demonstrou amargura por eu ter pensado que ela poderia. – Mas ela vai saber. Eu espero que você consiga contornar mais este obstáculo. Eu te avisei, Alex.
– Nós vamos recorrer. Vamos lutar com todas as nossas forças...
– E quando as forças acabarem? O amor não pode tudo. Nem tudo o amor entende ou vence. Sinto muito. Por mais que este casamento me cause dor, eu não desejava isso para vocês, principalmente para ela – ela soluçou, mas se controlou. – Eu vou embora agora. Desejo-lhe felicidades. Adeus!
Ela desligou. Apesar de tudo, eu me sentia triste pelo amor que ela nutria por mim e desejei de verdade que ela fosse feliz.
– Tiffany? – Lana me segurou pelo braço entregando-me uma taça de champanhe.
– Sim.
– Acho que perdemos uma grande escritora.
– Deixe-a ir, Lana. Tiffany nunca será feliz se continuar esperando por mim. Quem sabe indo para outra editora ela encontre a paz de que necessita.
– Você tem razão – ela levantou a taça e brindou comigo.
– Um brinde? Posso saber o motivo? – Charlotte se juntou a nós dois com olhos curiosos.
– À nossa mais nova superescritora – Lana virou-se rapidamente capturando uma taça de champanhe que o garçom levava e a entregou a Charlotte. – E ao casamento mais bonito a que já tive o prazer de assistir. Com a minha superprodução é claro – piscou para minha esposa que sorriu e aceitou o brinde.
CAPÍTULO 37
“Se não fosse por meu amor, o dia seria noite.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Alex tentava me fazer esquecer o que sem querer tinha deixado escapar. Eu fingia que ele havia conseguido me enganar, embora por dentro estivesse temerosa. O que diabos teria acontecido? O que Anita conseguira fazer de tão ruim para obrigá-lo a adiar nossa lua de mel? E a minha formatura? Será que ela conseguira invalidar o meu projeto? Merda! Dei um longo gole em meu champanhe e gostei do sabor.
O melhor a fazer, por ora, era tentar esquecer. Afinal de contas, era o meu casamento e seria a minha primeira noite com meu marido. Só de imaginar meu ventre começava a formigar.
– Precisamos começar a trabalhar nos detalhes do seu livro. Já conversei com a Paula hoje e ela vai iniciar a revisão. Precisamos de tudo pronto o mais rápido possível.
– Depois da lua de mel, Lana. Charlotte só vai pensar nisso quando voltarmos – Alex bebia tranquilamente sorrindo como um homem feliz.
– Vai demorar muito! Vocês nem escolheram para onde vão! Nada disso. Vou aproveitar esta semana que vocês ficarão em casa e vou iniciar o trabalho de marketing. Vamos fazer algumas fotos, gravar um teaser... O que acha? – bebi mais um longo gole.
– Acho que não sei fazer nada disso.
– Nem precisa. Só precisa ser diva, o resto pode deixar conosco que contamos com os melhores profissionais para fazê-la brilhar.
– Pensaremos nisso depois. Agora eu quero cortar o bolo e levar a minha esposa para casa – Oh, merda! Um milhão de borboletas levantaram voo no meu interior.
– Nada disso. Vocês ainda vão tirar fotos. O que seria de um casamento se não existissem fotos? E a dança dos noivos? Não, não. Vamos seguir o ritual completo.
Tomei mais um gole, terminando a bebida e olhei para os lados à procura de um garçom. Seria ótimo me desligar um pouco das aflições. Tiffany e Anita não estavam em nenhum lugar, o que me deixava muito tranquila. Depois do que aprontaram, confesso que tive medo de elas aparecerem para estragar a festa, graças a Deus não fizeram isso e eu me senti aliviada.
Alex me escondia um segredo. Lana queria que eu virasse uma diva da literatura, justo eu que não conseguia nem coordenar direito meus passos, tive que apelar por aulas particulares de sexo com o meu professor para conseguir descrever corretamente uma cena de sexo. Puta que pariu! Eu precisava de mais uma dose.
– O que está procurando? – Alex se aproximou me abraçando pelas costas e encostando o rosto na curva do meu pescoço.
– O garçom – encolhi-me ao sentir seus lábios em minha pele.
– Nada de ficar bêbada, Sra. Frankli. Quero a minha esposa completamente sóbria.
– Vai demorar muito ainda para chegarmos em casa – protestei e me deixei afundar em seus braços.
– Uma eternidade levando-se em consideração a minha vontade de descobrir o que tem por baixo deste vestido.
– Alex! Lana...
– Lana foi chamar o fotógrafo. Vamos começar logo para acabar rápido.
– Para que você possa descobrir o que tem por baixo do meu vestido? – virei para o meu marido e o encontrei com um sorriso imenso, repleto de felicidade.
– Exatamente.
– Isso é interessante – afastei-me dele e sorri captando pela minha visão periférica Lana e o fotógrafo se aproximando. – Considerando que não estou usando nada por baixo – e fiz minha melhor cara de inocente.
Alex abriu a boca para responder, mas se deu conta de que Lana estava muito próxima. Seus olhos chamuscaram e meu corpo inteiro ficou quente com aquela pequena mentira. Claro que eu estava usando um lindo conjunto de lingerie cheio de detalhes que só Lana seria capaz de me fazer comprar.
Fazer as fotos foi supertranquilo. Alex estava com as mãos em mim e eu resolvi virar uma taça de uma vez por todas para criar mais coragem. Assim, aceitei fazer a foto de nós dois cortando e depois comendo o bolo, e até me atrevi a pegar um pouco da cobertura e passar no rosto dele quando ele pensava que eu a colocaria em sua boca. Foi engraçado. A cara dele foi impagável. Também fiz a que brincava de obrigá-lo a casar e adorei fazer as tradicionais e artísticas. Ficaria tudo lindo!
– Foi tudo perfeito! – minha mãe se aproximou de mim quando eu pegava a minha terceira ou quarta taça de champanhe. Sorri com uma alegria exagerada, provavelmente causada pelo álcool. – E você está radiante! – ela me envolveu com seus braços que me transmitiam muita segurança.
– Eu estou muito feliz, mãe! Tive medo de aceitar, mas Alex... – olhei para onde ele estava, conversando alegremente com o irmão, Johnny e o cunhado. Eles riam. – Ele é tão lindo! – minha mãe riu e eu fiquei sem graça ao perceber que estava suspirando pelo meu marido na frente da minha mãe.
– Sim, ele é lindo – passou a mão em meu rosto. Fechei os olhos absorvendo o máximo possível daquele carinho. – Obrigada! – abri os olhos sem entender o motivo de ela estar me agradecendo.
– Pelo que exatamente? – seus olhos encontraram os meus e então percebi que estavam cheios de lágrimas. – Mãe! – e as lágrimas caíram.
– Por ter aceitado se casar, oras! – ela riu e limpou o rosto, ironizando a própria fragilidade. – Você é minha única filha e assistir a seu casamento foi incrível, apesar de me sentir velha.
– Mãe! Se eu esperasse mais dez anos, você ainda estaria aqui – seu olhar foi estranho. Droga! O que estava errado? – Não estaria?
– Charlotte... – ela gaguejou e meu coração perdeu uma batida. – Claro que sim, querida! Eu não perderia por nada – e sorriu com mais lágrimas caindo.
– Mãe, o que está acontecendo? – ela me encarou por breves segundos.
– Você cresceu e de repente me dei conta de que a vida está passando. Você vai se sentir assim quando estiver no casamento dos seus filhos – riu e levantou sua taça que, com certeza, não era de champanhe. – E quando estiver bebendo um pouco – piscou tentando me enrolar.
– Isso é refrigerante.
– Não dietético. Você nem imagina o que o açúcar é capaz de fazer no corpo de uma mãe emocionada.
– Ah, mãe! Eu te amo!
– Podemos ir? – Alex apareceu e o simples som da sua voz me fez perder o foco.
– Já? Vocês... – minha mãe tentou protestar, Alex me enlaçou pelos ombros puxando-me para perto.
– Eu pretendo te dar netos, Mary – ela sorriu largamente e eu fiquei incrivelmente vermelha. – Para isso preciso... – bati no ombro dele fazendo-o rir.
– Pare com isso! Ela é minha mãe! – protestei, eles riram.
– Eu ia dizer que preciso...
– Nem uma palavra, Alex! – minha mãe gargalhou chamando a atenção de todos.
ALEX
Charlotte estava sentada ao meu lado, olhando pela janela do carro. Estávamos na estrada há menos de meia hora e ela, apesar de sorrir de tempos em tempos, nada dizia. Aquele silêncio começava a me incomodar.
– Como quer fazer? Podemos passar em sua casa antes para pegar algumas de suas coisas ou simplesmente seguimos para a nossa casa e deixamos esta parte para depois.
– Não acredito que eu vá precisar muito de roupas nos próximos dias – ela sorriu e continuou olhando para fora. A paisagem verde, gélida e molhada deixava o clima ainda mais estranho.
– A senhora só pensa em sexo Sra. Frankli?
– Aprendi com um professor tarado que eu tive na faculdade.
Finalmente, ela me olhou com aqueles olhos claros maravilhosos que esquentavam a minha alma. Eu sabia que Charlotte estava preocupada com alguma coisa, muito provavelmente com o problema da faculdade, porém não queria que ela começasse a se desesperar muito cedo.
– Seu professor não era tarado até te conhecer, ou até você fazer aquela proposta indecorosa.
– Que o senhor adorou, Professor Frankli. Não venha com esta desculpa. Aposto que sua vida sempre foi cheia de propostas indecorosas, não apenas recebidas, também as feitas por você mesmo, Alex. Pela experiência que tem, posso até imaginar a quantidade de loucuras que já fez – sua boca fez uma careta de reprovação.
– Não podemos conversar sobre a minha vida sexual passada. Eu nem tinha ideia de que a encontraria, nem que teríamos um relacionamento, muito menos que estaríamos casados e felizes – ela cruzou os braços no colo e voltou a olhar pela janela. O silêncio que se fez me deixou inquieto. – Qual é o problema, Charlotte? – tentei manter meu tom de voz baixo e calmo. Não queria intimidá-la, apenas confortá-la pelo que a estava incomodando.
– Você já transou com duas mulheres? – porra! Que merda de conversa era aquela? O que importava?
– Charlotte...
– Só responda, Alex. Eu quero saber mais sobre a vida sexual do meu marido.
– Para quê? No que vai mudar?
– Eu quero saber – desta vez, ela fez birra, bateu o pé e cruzou os braços. Merda! Não dava para simplesmente deixar que ela estragasse a nossa lua de mel, e mentir não era a melhor estratégia no que diz respeito a Charlotte Middleton.
– Sim. Satisfeita?
– Você transou com duas mulheres?! – seu tom de reprovação me deixou assustado.
– Charlotte, vamos parar por aqui, ok? Pelo visto esta conversa não será nada agradável. É a nossa lua de mel e esta não é a melhor forma de começar nosso casamento.
– Quem eram elas?
– Ah, eu não vou te contar. Pode parar por aí. Eu não sou nenhum moleque para ficar dando detalhes e nomes. Eu respeito as mulheres com quem fui para cama.
– As mulheres! Centenas delas, não é? – droga! Droga! Droga! Apertei as mãos no volante e acelerei o carro. Era melhor chegarmos logo em casa. – E você gostou? Foi algo que te agradou muito?
– Foi. Eu gostei. Na época, foi a realização de um sonho. Você como escritora de romances eróticos deve saber que todo homem tem este tipo de fantasia. Eu realizei a minha. Teve um começo, um meio e um fim. Nada que mereça maior atenção. Podemos mudar de assunto?
– O que você nunca fez?
– Muitas coisas, Charlotte. Nunca fui ao Japão, por exemplo – sorri ciente de que estava fugindo da pergunta. Charlotte me deu um tapa no braço, revoltada com a minha resposta. – Ai! Pare com isso!
– Eu quero saber, Alex!
– Ok. Eu nunca transei com um homem. Tá aí uma coisa que nunca fiz e pretendo nunca fazer – ri novamente e recebi outro tapa. – Charlotte! Que merda! Tá legal! Vamos conversar sobre isso, antes me diga o motivo real desta curiosidade súbita.
– Porque sou sua esposa e sou inexperiente, acabei de me casar com você mesmo sem entender o motivo da pressa, e não sei como me comportar como mulher no casamento. E o que eu sei sobre sexo além do que você me ensinou? Além disso, transamos poucas vezes, e eu estou com a sensação ruim de nunca ter sido a primeira em nada para você. Eu não sou uma novidade. É isso!
Respirei fundo, diminuí a velocidade, entrei em uma estradinha de terra que não levava a lugar nenhum e desliguei o motor. Charlotte ficou parada, encarando-me sem entender o que eu estava fazendo. Tirei o cinto de segurança e virei de frente para a minha esposa.
– Certo. Para começar, você foi a minha primeira vez em um monte de coisas. Foi a primeira aluna com quem eu me relacionei. Foi a primeira pessoa para quem eu precisei ensinar, na prática, o que é sexo. Foi a primeira mulher de quem eu tirei a virgindade, este detalhe para mim foi incrível e inesquecível – sorri e ela corou. – Foi a primeira mulher que eu amei e a primeira com quem eu quis me casar, aliás, com quem eu fiquei desesperado para casar. Não seja tão insegura, eu te amo! Nada do que aconteceu em meu passado importa mais. É você quem eu quero, Charlotte!
– Eu só queria ser a primeira em alguma coisa – olhei para a minha esposa, ainda usando aquele lindo vestido de noiva, que ela lutou contra todos para não precisar tirá-lo, o que me agradou muito, e tive uma ideia.
– Bom... Eu nunca transei dentro do carro, em uma estrada deserta, com uma linda mulher vestida de noiva... – passei meus dedos por seu rosto e ela sorriu envergonhada.
– Aqui dentro do carro? E meu vestido?
– Daremos um jeito nele.
– E se aparecer alguém?
– Não vai. Se aparecer... deixarei o sensor ligado, seremos avisados se qualquer coisa chegar perto do carro. Além disso, estamos em um carro blindado, com vidros escurecidos até o limite, está chovendo, então é uma missão quase impossível alguém chegar até nós dois – Charlotte mordeu o lábio inferior e baixou os olhos. Ela ficava perfeita quando envergonhada. Eu a amava! Idolatrava! – Vem cá!
Puxei Charlotte para meu colo e imediatamente empurrei o banco para trás. Enquanto ela aguardava sem saber o que fazer, inclinei um pouco o assento para ficarmos mais confortáveis. Quando achei que estava bom, voltei minha atenção para a linda mulher diante de mim. Maravilhosamente corada e ofegante com a expectativa. Charlotte podia ser tímida, inexperiente, mas era fogosa e só imaginar o que poderíamos fazer dentro daquele carro a deixava excitada.
Segurei a saia do vestido puxando-a para cima, correndo os dedos por suas pernas, sentindo a meia fina. Charlotte fechou os olhos e pendeu a cabeça para o lado, já entregue ao prazer. Beijei seus lábios quentes e enfiei minha mão por seus cabelos, segurando na parte presa para ter mais firmeza. Com isso ela projetou o corpo mais para frente. Os seios arfantes escondidos pelo tecido do vestido de noiva me fazendo desejá-los em minha boca.
– Passe uma perna para o outro lado – imediatamente Charlotte sentou deixando-me entre suas pernas. O vestido impedia o contato entre nossos sexos. – Assim, Charlotte! – ela se encaixou sobre mim, aguardando meu próximo passo.
Puxei-a e mordi seu pescoço, arranhando sua pele. Charlotte gemeu baixinho. Subi a mão por sua coxa. Meias três oitavos! Ah, como eu gostava daquelas meias! A cinta segurando ao lado e minha imaginação trabalhando ferozmente. Por baixo do pano, subi um pouco mais em sua pele, indo de encontro a sua bunda quando encontrei a barreira que imaginava não estar lá. A calcinha.
– Acabo de descobrir que minha esposa mentiu – Charlotte sorriu e mordeu os lábios.
– Apenas brinquei com a sua imaginação. A ideia era tirar antes de você descobrir que eu havia mentido.
– É? Eu acho que isto merece uma punição – e dei um tapa em sua bunda. Charlotte gritou com o susto.
– Alex! – seus olhos imensos me encararam enquanto um misto de temor e desejo passava por seu rosto. Dei outro tapa fazendo-a gritar e depois rir. – Pare com isso!
– Você é uma garotinha muito má, Charlotte – puxei seu cabelo para trás fazendo seus seios empinarem. Na mesma hora meus dedos entraram em sua calcinha roçando levemente seu sexo já úmido. Inclinei a cabeça e mordi seu busto arfante. Charlotte gemeu descaradamente. Ela gostava daquilo e eu fiquei louco ao constatar. – Bom, agora você vai ter que me agradar. Muito! – ressaltei.
– Eu gosto de te agradar – ela me desafiou com um brilho nos olhos que eu conhecia muito bem. Charlotte estava excitada e permitia que o tesão assumisse o controle.
– Gosta, é? – rocei os dedos com mais firmeza e assisti a minha esposa fechar os olhos de prazer, empinando a bunda ansiando por maior contato. Retirei a mão e dei outro tapa em sua bunda, com um pouco mais de força. – Então rebole, meu bem. Rebole para mim.
Desabotoei minhas calças, querendo me livrar logo do que me impedia de penetrá-la, Charlotte segurou minha mão, detendo-me. Ela sorriu e colocou a mão por dentro da minha cueca, encontrando meu pau enrijecido. Com malícia nos lábios, ela sorriu e o acariciou, subindo e descendo com seus dedos frágeis em uma masturbação lenta. Gemi involuntariamente.
Devo confessar que Charlotte conseguia me enlouquecer quando agia impulsivamente. Nada controlado demais ou seguindo um script, era muito legal quando o assunto era sexo. Deixei que ela brincasse, sentindo o calor de sua mão me manipular com prazer.
Aproveitei e puxei seu vestido para baixo. O tecido cedeu um pouco, mas quem estava preocupado com este detalhe? Eu queria colocar minha boca em seus seios. Assim que vi aqueles mamilos rosados e intumescidos apontando para mim, disparei em sua direção. Suguei-os avidamente. Charlotte gemeu alto e rebolou em meu colo, intensificando seu aperto em meu pau, subindo e descendo sua mão com mais velocidade.
Mordi um bico e passei a língua umedecendo-o enquanto brincava com meus dedos no outro, apalpando e sentindo o quanto aqueles seios pequenos e durinhos eram perfeitos. Segurando um seio com a boca, o outro com uma mão, desci a outra até colocá-la por baixo do tecido sedoso e novamente alcancei sua bunda, ultrapassando a calcinha e esfregando os dedos em seu sexo molhado até chegar ao clitóris. Minha mão inteira acariciava a intimidade dela, esfregando a palma nos lábios e forçando as pontas dos dedos em seus pontos de prazer. Charlotte rebolou deixando-me extasiado.
Masturbávamos um ao outro de uma maneira tão íntima que logo o mundo foi esquecido. Eu sentia sua mão em mim, proporcionando-me prazer e queria tocá-la de maneira a arrancar dela todos os seus gemidos.
– Quero você dentro de mim, Alex – ela gemeu delirante em seu momento.
Levantei um pouco o corpo, forçando minha calça mais para baixo liberando meu membro extremamente duro, ainda em sua mão. Voltei minhas mãos para dentro do seu vestido. Uma pela frente e a outra por trás, puxando sua calcinha para o lado.
– Coloque-me dentro de você, meu amor.
– Eu por cima? – ela pareceu espantada.
– E como seria? – Charlotte corou, mas se movimentou e puxou meu pênis em direção ao seu sexo.
Descendo devagar me encaixou em sua entrada, firmando-me no meio de suas pernas. Seu sexo quente já recepcionava o início do meu corpo, deixando-me ansioso para estar totalmente dentro dela.
– Alex eu... – Charlotte gaguejou insegura.
– O show é todo seu, amor. Aproveite! – puxei-a para um beijo apaixonado, sentindo sua língua macia me recepcionar. Seus lábios se moviam com desejo esquentando ainda mais o nosso momento. Segurei em sua cintura forçando-a para baixo, iniciando a penetração.
Meu pau abria espaço em sua carne molhada e apertada, proporcionando-me um êxtase inimaginável. Ela também gemeu e se permitiu ser preenchida por completo, lentamente. Quando eu já estava enterrado nela, Charlotte abriu os olhos e aguardou. Sorri e novamente dei um tapa forte em sua bunda.
– Rebole minha esposa! – ordenei com tom de brincadeira.
– Sim senhor, meu marido!
E ela subiu, testando a nossa posição e em seguida desceu colocando-me inteiro dentro dela. A sensação era deliciosa. A chuva batendo no para-brisa do carro, uma de minhas mãos em sua bunda, a outra em seus cabelos, seus seios arfantes saltitando conforme nos movimentávamos, seus lábios entreabertos absorvendo o prazer... Perfeito!
Charlotte subiu de novo e quando desceu empinou a bunda um pouco para trás. Ah! Eu amava aquela bunda e aquele delicioso pontinho de prazer recém-descoberto. Sem pensar duas vezes, levei meu dedo até lá e a acariciei timidamente. Ela gemeu e rebolou em meu dedo, recebendo o prazer de duas formas. Charlotte era incrível!
CHARLOTTE
Alex me tocou outra vez daquela maneira íntima que me dava tanto prazer. Eu não saberia responder se sexo anal estava em minha lista de desejos, porém, com certeza, ser tocada ali enquanto ele me possuía deixava um rastro de prazer e luxúria em meu corpo que eu não conseguia controlar.
Sem contar que seu sexo quente, duro e pulsante, dentro de mim, já era o suficiente para me enlouquecer, mais ainda quando ele me dava liberdade para comandar a situação. Com Alex entre minhas pernas, eu podia fazer como quisesse e na hora que desejasse.
O poder é algo realmente perigoso.
Espalmei minhas mãos em seu peitoral e comecei a subir, descer e rebolar, como ele havia pedido. O sabor especial estava no momento em que eu descia sentindo-o forçar passagem, roçando pontos que distribuíam choques por todo o meu corpo, com isso acabava empinando a bunda, acho que propositalmente, permitindo que ele tivesse maior acesso ao meu... bom, àquele lugar ainda inexplorado, capaz de proporcionar grande prazer.
Com a mão firme em meus cabelos, ele me conduzia, nada que tirasse de mim o poder de comandar o momento. Aquele homem incrível, maravilhoso, era meu, e gemia contemplando meus seios e se deleitando com as minhas investidas. Puta que pariu! Era prazeroso demais.
Senti a familiar movimentação das borboletas em meu estômago e o início de uma leve dormência. Era muito cedo. Eu queria que demorasse. Queria uma eternidade de prazer, sexo e luxúria. Queria um orgasmo que durasse horas, ou a capacidade de gozar várias vezes sem cessar. Eu queria Alex. Todo. Em mim e só para mim.
– Alex! – gemi manhosa enquanto meu marido se movimentava embaixo de mim, entrando em meu corpo e fechando os olhos para desfrutar do seu prazer. – Eu estou... eu não...
Ele avançou, levantando o corpo e me prendendo ainda mais junto de si, uma mão espalmou em minhas costas segurando-me e a outra, de uma forma extremamente ousada, permitiu que seu dedo do meio invadisse aquela parte do meu corpo até então proibida em minha mente. Não tive tempo de pensar no assunto. Alex aproveitou o momento em que eu rebolava sentindo seu membro rígido penetrar meu corpo até o limite, já pronta para receber o orgasmo que eu sabia logo me dominaria e introduziu seu dedo lá... naquele lugar que não tenho coragem de proferir o nome por ser constrangedor e difícil de admitir, mas... Puta que pariu! Bastou isso. Uma leve pressão e um pouco mais do seu membro, para eu explodir de prazer.
Foi ousado, estranho, embaraçoso, maravilhoso. Nunca imaginei... Aliás, acredito que cheguei a imaginar, tendo em vista que muitas mulheres assumem gostar, mas... Puta que pariu um milhão de vezes! O que aconteceu? Ele colocou apenas a ponta do dedo e um dispositivo mágico foi acionado, levando-me ao espaço, desintegrando meu corpo por completo, criando imagens perfeitas de um céu estrelado onde tudo acontecia em câmera lenta. E eu gozei como nunca havia gozado.
ALEX
Puta merda! Charlotte me fazia perder o foco. Eu pensei que ela recuaria se fosse mais ousado e introduzisse o dedo mais profundamente nela, no entanto, ela simplesmente gemeu alto e gozou, estremecendo em meus braços. A ideia era fazer com que ficasse mais tensa e adiasse um pouco o orgasmo. Nós mal tínhamos começado a brincadeira.
No entanto, Charlotte... Ah, Charlotte! Ela era incrível! E me surpreendia de maneira inacreditável. Porra! Eu fiquei tão louco com aquilo tudo que minha vontade era forçar a barra e comer de uma vez aquela bunda incrivelmente empinada. Não podia. Não era a hora. Além do mais, ela tinha gozado. O encanto e o desejo desenfreado que a faziam permitir tudo haviam passado.
Eu ainda estava duro dentro dela. Latejando de desejo e disposto a fazer muito mais. Charlotte arfava em meu colo, parada, usufruindo o máximo do seu momento.
– Puta merda! O que foi isso? – ela falou com os cabelos desgrenhados descendo em seu rosto e escondendo parcialmente seu rubor. Eu podia comê-la de mil maneiras. Amava a minha esposa e a desejava como nunca desejei ninguém.
– Isso é seu fogo, Sra. Frankli. Vem! – puxei minha esposa para cima. Ela estava manhosa, entregue ao seu momento, porém não protestou e obedeceu aos meus comandos.
Com a mão em suas pernas, girei-a deixando-a de costas para mim. Levantei seu vestido até conseguir uma visão ampla da sua bunda perfeita. Ah, era impossível resistir àquela bunda, infelizmente eu precisava de tempo para acostumá-la com a ideia. Se bem que, no que diz respeito a Charlotte, tudo era imprevisível.
– Apoie-se no volante, amor. Incline o corpo sobre ele – eu estava ansioso demais, louco para me enterrar nela e receber o meu alívio.
Charlotte obedeceu e sua bunda empinou em minha direção. Sem perder tempo, segurei meu pau e o coloquei em sua entrada. Puxei minha esposa para trás e gemi alto sentindo-a molhada, fazendo-me escorregar em sua carne. Ela gemeu também.
– Agora rebole, meu bem – encostei-me no banco do carro e curtindo a visão dela rebolando, subindo e descendo em meu pau como ninguém era capaz de fazer. – Isso, amor! Assim mesmo – merda! Ela era incrível e eu estava doido para gozar.
Levei minhas mãos para a frente do seu corpo, com uma agarrei firme em um dos seus seios enquanto a outra acariciava seu clitóris. O prazer não podia ser apenas meu. Charlotte gemeu mais alto e aumentou a intensidade de suas reboladas fantásticas.
Ah! Eu podia passar a eternidade assistindo-a movimentar-se daquele jeito. Vendo meu sexo desaparecer naquele corpo alvo, sentindo a textura de sua carne me engolindo, apertando e depois me deixando. Joguei a cabeça para trás sem conseguir conter o gozo que já me tirava da realidade.
Gritei enterrando-me nela com força e encontrando o alívio. Minhas mãos não saíram dela, mantendo-a firme enquanto eu sentia o seu limite.
– Oh, Alex! – Charlotte gemeu manhosa. Puta que pariu! Ela precisava de mais. Abri os olhos e me inclinei para beijar suas costas.
– Você vai gozar, amor? – ela sinalizou que sim, com o rosto apoiando no volante do carro.
Puxei-a para mim deitando seu corpo sobre o meu. Ainda dentro dela acariciei seu seio, apertando-o com prazer e voltei a manipular fortemente o clitóris da minha esposa. Beijei seu pescoço, enquanto Charlotte ia se desmanchando, rebolando em meus dedos e se entregando ao prazer. Então ela arqueou o corpo para frente, eu apertei seu clitóris entre dois dedos, mordi seu pescoço, apertei seu seio em minha mão e ela gozou. Radiante! Linda! Perfeita!
– Alex! – ela dizia sem parar se entregando ao nosso mundo, onde só existia o nosso amor e o nosso prazer.
– Charlotte! Você ainda vai me matar com esse seu fogo – beijei seu pescoço com carinho enquanto ela ofegava em meus braços. Ela sorriu.
– A culpa é sua, professor. Tudo o que sei, aprendi com o senhor.
– E é uma ótima aluna. A melhor – ela riu e se virou para me beijar.
Segurei seu rosto suado, tirei os cabelos da frente e beijei seus lábios perfeitos. Foi um beijo leve, cheio de amor, cumplicidade, carinho...
– Obrigada! – ela sorriu e me beijou novamente.
– Pelo quê?
– Pela noite de núpcias mais inusitada que uma garota poderia ter – ri saboreando o sorriso lindo que ela exibia.
– Certo. Foi uma delícia, mas estou aflito para ter você em nossa cama, então vamos para casa, Sra. Frankli, não vejo a hora de tirar este seu vestido.
– Eu gosto dele – ela riu e sentou em seu banco colocando o cinto de segurança. – Posso listar diversas fantasias com ele.
– Tenho certeza de que sim. Você entende de culinária? – liguei o carro, manobrando rapidamente para voltar à estrada.
– Um pouco, por quê?
– Com tanto fogo vou precisar mudar a minha alimentação ou então vou pegar uma fraqueza – ela estreitou os olhos e cruzou os braços na frente do peito.
– Mal iniciamos nossa vida sexual e o senhor já está reclamando, professor?
– Não estou reclamando – gargalhei. – Só constatando fatos. Além disso – coloquei o carro na estrada e acelerei – ... adoro a ideia de poder comer você quando bem entender.
Charlotte corou, abriu a boca, mas nada disse. Seguimos rumo à nossa casa. Eu ansioso por ela e ela quase incendiando por mim.
A vida era mesmo perfeita.
AGRADECIMENTOS
Cheguei na parte mais difícil.
Lembrar-me de todos aqueles que estiveram ao meu lado até que eu conseguisse fechar mais este livro é uma aventura à parte. Escrever nunca depende só do escritor. Existe um mundo de profissionais e incentivadores que se tornam 80% da construção da obra, desta forma, eu devo tudo o que sou a estes amigos.
Vou começar agradecendo as minhas Maritacas, as melhores amigas que uma escritora iniciante poderia encontrar. Desde a primeira letra, elas estiveram comigo, fizeram o coro mais alto e forte que puderam e me mantiveram forte na estrada. Com este livro não foi diferente. Obrigada, mais uma vez, por aceitarem a minha ausência, por entenderem o meu momento e por continuarem comigo até aqui. Amo vocês.
Sou eternamente grata a Mariza Miranda e Janaina Rico, não apenas pelo esforço profissional que é betar um livro meu, e eu não sei realmente o que seria se meus textos não tivessem um dedinho de vocês, mas também pela amizade verdadeira. Vocês escrevem, sofrem, sorriem e choram comigo durante todo o processo, e sem desistir em nenhum momento. Este livro é nosso.
À minha família. Eu jamais poderia pedir pessoas melhores em minha vida. Deus foi muito bom comigo ao me escalar para esta vida ao lado de almas tão incríveis. Obrigada por sempre entenderem os meus sonhos, mesmo quando este era o de ser atriz, ou jogadora de vôlei, ou até mesmo advogada. Vocês nunca me disseram que eu não podia e é só por isso que hoje estou aqui.
Aos meus filhos, crianças lindas que entendem a mamãe e sempre dizem “você não tem nada para escrever hoje não?”. Amo vocês!
A toda equipe Pandorga, especialmente Silvia Vasconcelos e Petunia. Pela paciência sem fim. Por aguentar todas as minhas inseguranças e “chatices”, mas principalmente por acreditarem em mim e apostarem neste sonho. O trabalho de vocês deixa o meu mais bonito. Obrigada!
E, como não podia faltar, e por ser a parte mais importante de toda esta jornada, a vocês, meus leitores fiéis, que me acompanham curtindo comigo cada pedacinho dos livros, e que sempre fazem a parte mais brilhante deste mundo mágico que é o literário: vocês dão corpo, alma e vida a cada personagem. Obrigada por cada página lida, cada suspiro, cada lágrima, cada risada e cada “quando sai o próximo?”.
Obrigada! Obrigada! Obrigada!
O Professor – Livro III
Charlotte não quis passar na casa dela, ou na casa em que vivia antes de casarmos. Segundo ela, seu corpo implorava por um banho. Eu bem podia imaginar do que aquele corpo delicioso precisava para implorar tanto.
No entanto, para minha completa surpresa, ela insistiu em tomar aquele banho sozinha. Cacete! Eu fiz aquela viagem imaginando muitas coisas que gostaria de fazer com a minha esposa e agradecendo pelo seu fogo sempre crescente e... merda! Eu adorava tomar banho com aquela mulher. Fizemos isso até antes de transarmos realmente, então era meio que um padrão, ou uma necessidade do meu corpo. Mas ela simplesmente me colocou para fora do banheiro e se trancou lá dentro.
Passei um bom tempo encarando a porta do meu banheiro. Quer dizer... do nosso banheiro. Era melhor começar a me acostumar com a ideia. Quanto antes eu entendesse que tudo ali dentro, a partir daquele dia, seria nosso, mais rápido Charlotte ficaria à vontade.
Desisti de aguardar por ela. No fundo, eu queria acreditar que minha esposa abriria a porta dando risada, dizendo que estava brincando, e nós dois tomaríamos aquele banho tão desejado. Isso não aconteceu e eu acabei tomando um banho sozinho no quarto de hóspedes.
Quando saí, Charlotte continuava trancada lá dentro. Não havia nenhum som. Fiquei um pouco constrangido por estar encostado à porta, afinal de contas, não era porque éramos casados que eu tinha o direito de invadir a sua privacidade, mas eu estava encucado. O que tanto ela fazia?
O jeito foi começar a ajeitar as coisas no closet. Era importante arrumar minhas roupas de forma a ceder espaço para as da minha esposa. Eu nem sabia se Charlotte era o tipo de mulher que colecionava sapatos e roupas, se precisava de muito espaço. Droga! Eu ainda tinha tanta coisa para conhecer daquela mulher.
Consegui liberar uma parte consideravelmente grande, empurrando minhas roupas de uma forma não muito organizada. Talvez se eu eliminasse a parede que separava os dois quartos e tomasse uma parte do outro closet... Por que Charlotte ainda estava no banho?
Voltei para o quarto e fui até a porta do banheiro. Nada. Pensei um milhão de vezes em chamar. Sabe-se lá o que pode acontecer dentro de um banheiro. E o silêncio total só fazia minha nuca pinicar com um monte de pensamentos tenebrosos.
Bati de leve na porta. Nada. Resolvi ser mais incisivo batendo um pouco mais forte. Silêncio absoluto. Meu coração acelerou tirando todo o meu controle. Decidi que chamar por ela não seria algo tão inadequado, afinal de contas Charlotte estava lá há mais de uma hora. Pensando bem, quase duas horas. Estava tarde e nós nem tínhamos jantado.
– Charlotte! – tentei não parecer desesperado, mas a verdade era que eu estava, e muito. Que coisa mais estranha!
Ela não respondeu. Aproximei-me colando o ouvido na porta. Silêncio. Merda!
– Charlotte? Está tudo bem? – mais silêncio. Bom eu arrombaria a porta se fosse o caso. – Meu amor, eu estou ficando preocupado. Dá para você...
Sem querer, e na ânsia de encontrar uma resposta, meu braço esbarrou na maçaneta e a porta abriu. Que imbecil eu era. Por que não testei a porcaria da maçaneta? Fiquei ainda alguns segundos olhando sem saber se deveria ou não entrar e acabar de uma vez por todas com aquela angústia. No entanto a minha boa educação me impedia de avançar.
– Lottie? – chamei carinhosamente. – Posso entrar? – Ela não respondeu, então achei que era melhor encarar o problema de frente. Eu havia feito a minha parte. Se Charlotte não estivesse com problemas, teria me ouvido.
Entrei com o coração acelerado. O que poderia ter acontecido? O primeiro lugar que meus olhos buscaram foi o boxe. Como eu havia pensado, ela não estava lá. Claro, o chuveiro nem estava ligado. O vaso também, lógico! Então corri meus olhos pelo ambiente e enxerguei apenas sua mão caída para fora da banheira.
Um segundo pareceu uma eternidade. Foi o suficiente para que meu coração parasse e acelerasse um milhão de vezes. Muitas teorias foram traçadas e desenhadas. Todas as tragédias possíveis desfilaram em minha mente. Minhas pernas vacilaram, meu corpo tremeu e meus pulmões buscaram pelo ar.
Dei um passo inseguro em direção à banheira que estava cheia, mas com pouca espuma, somente a água esbranquiçada que cobria o corpo pequeno da minha esposa, revelando apenas uma parte do seu joelho. Charlotte estava deitada, a cabeça apoiada no descanso, os olhos fechados, cabelos molhados e penteados para trás, a boca semiaberta e os lábios roxos.
Puta que pariu!
CAPÍTULO 22
“Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém... Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim... E ter paciência para que a vida faça o resto...”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Muitos fiéis já estavam do lado de fora da igreja. Eu tinha ido até a imagem de Nossa Senhora, fiz ali uma oração sincera, pedindo pelo meu relacionamento, atestando a veracidade dos meus sentimentos e confessando meus medos e infantilidades. Não me confessaria. Ainda não tinha coragem para mentir diante de um padre, mas não seria ridícula a ponto de negar qualquer pecado diante da mãe de Jesus, afinal de contas, se for como eles ensinam, Deus já sabia de tudo mesmo, não?
Meu coração estava apertado e pequeno. Antes de sairmos para a missa dominical, tradição familiar que meu pai fazia questão de manter, eu tive uma conversa com Miranda. Precisava entender como ela estava se sentindo. Ardilosamente minha amiga inverteu nossos papéis e acabou sendo ela a me dar conselhos e a se preocupar com o meu relacionamento com Alex.
“– Case logo de uma vez. Que mal há? Vocês nasceram um para o outro, Charlotte, e eu sei que o casamento vai te fazer bem. Além do mais, nenhum homem aguenta esta pressão por tanto tempo. Todo mundo cansa um dia e Alex não me parece ser o tipo de homem que tem toda a paciência do mundo. Pense nisso. Ele quer se casar? Então aproveite. Poucos caras querem tanto um casamento.”
Ela disse antes de sermos interrompidas e forçadas a fingir que tudo estava maravilhosamente bem. Meu pai não aceitava mau humor, ou má vontade quando o assunto era a nossa missa dominical. Eu não entendia muito bem como aquilo funcionava na cabeça dele. Peter era anglicano desde que nasceu, assim como os seus ancestrais, mas no Brasil, ele era católico. Lógico que como uma derivava da outra, as diferenças eram poucas, e ele não seguia tudo o que a igreja católica determinava, era mais como um substituto, ou uma forma de estar na presença de Deus, como ele mesmo dizia.
Eu agradecia por isso. Era muito melhor ter um pai católico. Se ele já tinha uma obsessão pela minha virgindade sendo católico, imagine como seria se ele escolhesse ser evangélico, por exemplo? Não. Católico estava de bom tamanho.
Respirei fundo finalizando minha oração e só então me dei conta da presença de Alex do meu lado. Ele tinha chegado cedo à missa, o que agradou muito a meu pai e me deu vontade de revirar os olhos. Trocamos poucas palavras, apesar do seu carinho presente em cada toque discreto.
Alex me olhou e sorriu. Seus olhos estavam cheios de admiração e amor. Eles percorreram meu rosto, atentos e perscrutadores. Atentos até demais, para o meu gosto, o que me deixou envergonhada.
– O que foi? – desviei o olhar, encarando o chão enquanto escondia as mãos na saia cintada e cheia de pregas.
– Você fica muito misteriosa quando está na igreja – havia certo divertimento em suas palavras.
– Misteriosa? Eu fico silenciosa, isso se chama respeito. A igreja não é lugar para bate-papo – seu sorriso se ampliou.
– Em que estava pensando quando foi comungar? – engoli em seco e fingi não entender do que ele falava. – Vamos, Charlotte! Você ficou torcendo as mãos, mordendo o lábio e suas bochechas estavam com um rosado maravilhoso. Em que estava pensando?
– Em como não era nada louvável ter pensamentos impuros durante a missa e depois aceitar o corpo de Cristo como se eu não fosse uma grande pecadora – meu rosto esquentou significativamente.
– Eu deveria imaginar – ele riu discretamente.
– E pensei se seria verdade uma história que contavam na escola dominical. Eles diziam que, quando o pecador comungava, a hóstia virava sangue no contato com a língua – ele riu ainda mais alto, chamando a atenção dos meus pais, que estavam afastados, aguardando pelo padre Messias.
– Confirmou? – revirei os olhos e ele voltou a rir.
– Posso perguntar quais pensamentos seriam estes que poderiam fazer a hóstia virar sangue?
– Não – afastei-me um pouco evitando que meus pais prestassem atenção em nós dois. – É melhor não entrarmos neste assunto outra vez. Você não vai gostar.
Ele acariciou meu rosto, demorando-se em minha bochecha, sem perder o brilho dos olhos, nem deixar aquele amor latente se desfazer.
– Eu não me importo, pode falar – sua voz baixa e segura era um incentivo.
– Pensei no quanto eu realmente gostaria de conhecer um motel.
Ao invés de se mostrar aborrecido, ele sorriu. Aquele sorriso torto que virava o meu mundo de cabeça para baixo. Mas ele não disse nada, apenas continuou acariciando meu rosto e me mantendo presa àqueles olhos incríveis.
– Você também estava muito pensativo, apesar de ter participado ativamente.
O que foi uma grande surpresa. Alex conhecia a hora certa e o que falar em cada parte da missa, ganhando assim a admiração do meu pai. Eu nunca imaginei meu namorado um católico praticante, nem um religioso ativo.
– Eu já fui a algumas missas, casamentos, batizados, missas de sétimo dia – riu divertido. – Fui batizado – deu de ombros enquanto eu estreitava os olhos. – Eu realmente fiquei muito pensativo.
– E eu posso saber no que tanto pensava, professor? – ele umedeceu o lábio inferior e sorriu sem graça.
– No quanto seria lindo ver você entrando em uma igreja como esta, usando um vestido branco, segurando flores e caminhando em minha direção – seus olhos se fixaram em mim, cheios de súplicas.
Sem perceber, dei um passo em sua direção, diminuindo a distância entre nós. A promessa dos seus olhos quase me fez aceitar todas as suas condições.
– Eu não me vejo casando em uma igreja – seu sorriso se desfez enquanto ele ainda me encarava. – Quero casar em um lugar aberto – e voltou a se abrir, deixando-me ainda mais deslumbrada. – Quero um casamento todo branco.
– Todo branco? – eu podia sentir a emoção em suas palavras.
– Deixo a cor por conta das flores e do verde da grama, das árvores – seus olhos brilharam com mais intensidade. – Se eu pudesse, faria com que seus olhos fossem o destaque.
– Meus olhos?
– Sim – toquei seu rosto e sorri. – Amo o azul dos seus olhos – Alex inclinou o rosto na direção da minha mão, aproveitando o carinho.
– Fale mais sobre como quer o nosso casamento – sentindo o amor transbordar diminuí ainda mais a distância entre nós e sua mão quente envolveu a minha cintura.
– Quero uma cerimônia pequena, discreta – e eu sabia que jamais conseguiria que fosse assim. – Quero poder curtir a festa sem ficar presa a ela.
– Poucos convidados?
– Você se importaria? – Alex deu de ombros. – Eu entenderia.
– Claro que eu teria muitas pessoas para convidar por obrigação, no entanto não me sinto em dívida com nenhum deles e posso muito bem ter um casamento apenas com as pessoas que amo.
– Seria ótimo.
– Seria sim – seus olhos brilhavam de emoção e expectativa. – Vai ser tudo como você quiser, Charlotte. – Ele acariciou meu rosto com a mesma devoção de antes.
– Quero uma lua de mel em uma praia, dessas de surfista, para que eu possa ficar na areia olhando o meu marido exibir suas habilidades.
– Vamos ter que providenciar um arsenal de protetor solar, guarda-sol, chapéu... tudo para que você não tenha queimaduras que me impeçam de colocar minhas mãos em seu corpo.
– Eu gostei desta parte.
– E eu de saber que você pensa em nosso casamento – era a hora de recuar. Uma boa estratégia para não causar o problema do dia anterior.
– Ontem você não fez a sua proposta.
– Ah sim. Eu vou fazer, na hora certa.
– Mas...
– Charlotte, Alex? – papai, para variar, interrompeu-nos, deixando-me enfurecida.
Olhei para o grupo que se aproximava. Meu pai, minha mãe, padre Messias e Dona Carmelita, uma carola que achava que trabalhava para a igreja e tomava conta da vida de todo mundo.
– Alex, este é Padre Messias, ele cuida de Charlotte desde a nossa vinda para o Brasil, com pulso forte para mantê-la no caminho certo – todos me olhavam como se eu fosse uma criança. Que raiva! – Padre Messias, este é Alex Frankli, noivo de Charlotte. Ele fez questão de estar aqui hoje para conhecê-lo, já que deixamos clara nossa escolha do senhor para celebrar o casamento.
– Oh, que maravilha! A menina Charlotte é uma garota especial – o velhinho gordo, com cabelos alvos e rosto completamente enrugado, sorria com uma jovialidade invejável. – Apesar de não a ver mais por aqui, não é mesmo, Lottie?
– Final de faculdade, acabou consumindo todo o meu tempo – dei a minha desculpa sentindo meu rosto esquentar consideravelmente. Se ele soubesse o que eu andava fazendo...
– Para Deus sempre devemos ter tempo – advertiu padre Messias, com os olhos bem atentos em mim.
– Eu e Dandara, mãe do Alex, vamos procurar uma data para nos reunirmos e ajustar os detalhes desta união – minha mãe disse com orgulho, como se estivessem fazendo um grande investimento.
– Tenho certeza de que será uma festa linda. Dessas de passar mais de um mês sendo assunto em todas as revistas – Dona Carmelita se intrometeu deixando-me incomodada.
– Na verdade, não conversamos sobre o assunto ainda – revelei tentando me safar daquela conversa constrangedora. – Ainda teremos tempo.
– Não decidiram a data? – Padre Messias fez uma careta, como se fosse um sacrilégio não termos escolhido a data para o casamento.
– Ainda temos tempo – salientei reforçando a minha opinião.
– Claro que a nossa igreja é uma das mais solicitadas por todas as jovens moças da alta sociedade. Temos uma acústica perfeita, espaço considerável, decoração inspiradora – Dona Carmelita continuou tagarelando e eu só queria fugir dali. Droga! Eles conseguiam estragar todo o momento. – Estamos com a agenda lotada, mas lógico que conseguiremos uma brecha entre tantas datas, não é mesmo, Padre Messias? – O bom velhinho concordou com a cabeça sem deixar de avaliar Alex. – Temos quase um mês inteiro, deixe-me ver – ela sacou uma agenda da sua bolsa. – Claro! Vamos ficar sem grandes celebrações durante o próximo mês por causa de uma pequena reforma, não seria nada de mais se não tivéssemos poucos recursos, o que só atrasa a obra, porém se vocês querem tempo, deixa eu verificar aqui... hum! Não, realmente só teremos um ou outro fim de semana do próximo ano, mais para o final, entre outubro e novembro. Sim, é isso o que temos.
E eu podia imaginar o quanto uma igreja daquele porte, repleta de fiéis do mais alto nível, conseguia arrecadar de doações, sem contar que padre Messias era muito bem relacionado, era o bom pastor de grandes empresários, então custear uma obra, por maior que fosse, jamais deveria ser um problema financeiro.
Bom, eu não pretendia casar na igreja, então a falta de espaço em sua agenda pouco me importava. O problema seria a falta de disponibilidade do padre Messias, isso sim irritaria meu pai.
– Uma reforma demanda tempo – a mulher salientou olhando indiscretamente para o meu pai.
– De quanto estamos falando? Acredito que uma doação poderia adiantar qualquer obra, abrindo espaço para uma data mais próxima.
Lógico que Dona Carmelita olharia para a minha barriga, e ela não fez nenhuma cerimônia em me olhar com bastante atenção. Tal atitude não passou despercebida pela minha mãe, que ficou nitidamente irritada.
– Bom, eu não sabia que havia certa urgência então... vamos ver como poderíamos fazer. Uma doação vinda de um Middleton é sempre uma glória, não é mesmo padre Messias? Sim, claro que é.
Ela mesma respondeu, não dando a chance do pobre velhinho responder. Se bem que ele também olhou, de maneira mais discreta, é verdade, seus olhos foram da minha barriga para meu rosto, com uma expressão de pena, e depois se voltaram para Alex, com uma cobrança tão concreta que me assustou.
– Poderemos sim organizar uma data mais próxima, uma que atenda à necessidade de vocês – padre Messias falou finalmente.
Se ser vista como uma patricinha, adolescente, rica e infantil já era ruim, passar a ser a patricinha, adolescente, rica, infantil e que engravidou antes do casamento era muito pior.
– Como eu disse: não estamos com pressa. Eu e Alex concordamos que poderemos esperar um ano ou mais.
– Ou mais? – meu pai esqueceu a postura e me encarou como se quisesse me fuzilar.
– Ou menos – Alex rebateu apertando meus dedos como uma advertência.
– Que seja. Acontece que não pensamos ainda em uma data. Assim que decidirmos, começamos a organizar o evento – tentei encerrar a confusão.
– De qualquer forma, padre Messias, fazemos questão que a cerimônia seja realizada pelo senhor – minha mãe, assumindo uma postura superior, ignorou a outra mulher e tratou diretamente com o padre. – Quanto à data, Charlotte logo decidirá, eu tenho certeza disso. Caso seja em um ano, ou mais – ela me olhou e sorriu –, ou menos – falou para Alex também sorrindo –, não importa. A festa será linda de qualquer jeito.
Porra, eu amo a minha mãe!
– Com licença – ela me pegou pelo braço e saiu caminhando comigo pela igreja como se estivéssemos em um passeio turístico.
ALEX
Charlotte se afastou com a mãe, enquanto Peter finalizava a conversa com o Padre e a beata indiscreta. Aguardei um tanto ansioso. Charlotte parecia mais disposta a ceder e isso me trazia um grande alívio. Depois do que aconteceu um dia antes, quando Mary teve um mal-estar que a levou para o hospital, eu constatei que não poderia falhar naquela missão.
Seria insuportável saber que permiti que a mulher que eu amo não tivesse a mãe dela em seu casamento. Eu sabia, tinha certeza, de que Charlotte sofreria, então por que não lutar? Por que não fazer dar certo?
– Aguardarei o seu retorno, Alex – Padre Messias disse me olhando com atenção. – Existem muitos pontos que cabem apenas ao noivo e eu estarei à sua disposição.
– Grato. Com certeza participarei de todos os processos. Logo definiremos uma data.
– Assim eu espero – seu olhar severo me fez prender a respiração. Mais uma pressão. – Vejo vocês no próximo domingo, Peter?
– Se for a vontade de Deus – e havia mais verdade naquelas palavras do meu futuro sogro do que o pobre padre poderia imaginar.
– E então. Você foi embora cedo ontem. Charlotte não parecia muito satisfeita – Peter disse quando ficamos sozinhos.
– Eu tinha trabalho para fazer, ela não aceitou muito bem a minha desculpa – ele sorriu sabendo muito bem como a filha dele ficava quando contrariada. – E Mary?
– Bem melhor agora. Parece que estar em casa, ao lado das crianças, faz bem a ela.
Crianças? Peter realmente não via a realidade ao seu redor.
– Vi o xadrez sobre a mesa, vocês jogaram?
– Um pouco. Ensinei as regras a Charlotte, ela desistiu depois de eu ter vencido três partidas seguidas – meu futuro sogro fez uma careta, encarando-me com curiosidade.
– Ensinou as regras a Charlotte? E ainda conseguiu vencer três partidas seguidas?
– Sim, ela não parecia estar realmente interessada.
– Só se o motivo for realmente esse – fiquei intrigado. O que Peter estava querendo dizer?
– Como assim?
– Charlotte é uma ótima jogadora de xadrez. É uma estrategista. Ganha de todos que eu já vi jogar com ela. Muito me espanta te ouvir dizer que lhe ensinou as regras, e mais ainda que venceu três partidas, seguidas.
Olhei para minha noiva sem conseguir associar o que Peter me dizia. Em nada batia com a garota que sentou diante de mim no dia anterior e se deixou ensinar a jogar. E ela era péssima estrategista.
– Charlotte te pregou uma peça – Peter riu, parecendo orgulhoso da filha. – Minha garota é inacreditável!
– Você nem imagina o quanto – rosnei tentando conter a minha indignação.
Charlotte estava do lado de fora, conversando com Miranda. Johnny não estava em nenhum lugar, o que me levava a acreditar que tinha dado um jeito de escapar. Realmente não parecia muito a cara dele passar as manhãs de domingo em uma igreja. O que ele não fazia para agradar o padrinho?!
Mary conversava com mais duas mulheres, alguns degraus abaixo das meninas. Ela parecia frágil, o corpo mais magro do que quando a conheci, e fazia bem pouco tempo. Estremeci imaginando o quão rápido seu quadro evoluía e por quanto tempo a teríamos. Peter seguiu em direção à esposa, enquanto eu parei ao lado de Charlotte. Miranda se calou imediatamente, sem me olhar daquela forma acusadora, como vinha fazendo sempre que podia.
– Vocês vão à praia? – Miranda perguntou diretamente a mim.
– Agora? – fiquei confuso. Ela nunca falava comigo se não fosse para me agredir com suas palavras de duplo sentido.
– Hum, sim. Você não é surfista? Um dia como o de hoje é um convite para a praia.
– Na verdade não gosto de surfar em horários muito movimentados, pensei em fazer isso no final da tarde. Por quê? – ela ficou vermelha e desviou o olhar.
Miranda constrangida, incapaz de me encarar e visivelmente escondendo alguma coisa era algo novo. Custei a acreditar.
– Por nada. Eu vou encontrar duas amigas que estão me aguardando, então pensei que vocês tivessem planos – olhei para Charlotte, que negou com a cabeça.
– Nós vamos no fim da tarde.
Primeiro: ela estava nos convidando para passar o domingo ao seu lado ou sondando o que pretendíamos fazer para estar bem distante disso? Segundo: eu ainda tinha minhas restrições em relação a Miranda, e passar qualquer punhado de horas ao seu lado era um sacrifício. Graças a Deus Charlotte não tinha gostado da ideia.
– Vejo vocês depois – ela desceu as escadas, parando um pouco para falar com os padrinhos, depois se despediu saindo em direção à rua, provavelmente para pegar um táxi.
– Miranda não tem carro?
– Ela não gosta de dirigir – Charlotte virou em minha direção demonstrando falta de interesse na amiga. – O que vamos fazer hoje? Jogar xadrez, damas, cartas... o que vai ser?
Estreitei os olhos sem acreditar que ela conseguia fazer aquela cara de anjo inocente enquanto continuava tentando me enganar. Eu poderia bolar uma boa forma de fazê-la se arrepender, ou até mesmo colocá-la sobre os joelhos e lhe aplicar um belo corretivo, mas no momento eu queria apenas deixar claro que sabia a verdade e que estava aborrecido.
– Por que não me contou que sabia jogar?
Mantive os olhos bem atentos a sua reação. Charlotte corou, a vermelhidão descendo até o pescoço e alcançando as orelhas. Ela engoliu em seco e olhou para o pai, imaginando que ele a havia dedurado.
– Eu estava aborrecida e não queria continuar conversando sobre aquele assunto – revelou baixinho, não parecia nem um pouco arrependida de ter brincado comigo.
– Aí escolheu mentir para mim? Me fazer de idiota?
– Não – seus olhos alcançaram os meus e eles eram francos, tão transparentes quanto uma fonte pura de água. – Eu... – fez um gesto vago com as mãos – ... eu não sabia o que poderia fazer para acabar com aquele incômodo, e ganhar de você no xadrez não pareceu muito honesto, já que eu estava com raiva e com vontade de te socar, então preferi deixar você falar sobre as regras, as jogadas e tudo o que eu já conhecia. Pelo menos eu ficaria calada e você falaria até que todo o desconforto deixasse de existir.
– Permitindo que eu ganhasse?
– Ganhar foi uma consequência. Eu não conseguia me concentrar em mais nada, nem sabia o que estava fazendo quando mexia as peças.
– Por quê? – Charlotte mordeu o lábio inferior e rodou um pé, como uma criança insegura.
– Por um segundo eu desejei que você voltasse a ser o meu professor. Que fosse aquele homem que eu conheci e que apenas me guiava, mostrando-me o que eu podia ou não fazer.
– Charlotte!
– Deus! Eu sinto tanto falta disso, Alex! Sinto falta de poder passar as tardes com você, de sentir o seu desejo, de só ter um único medo, o de não ser aprovada. As coisas ficaram meio loucas entre a gente e eu sinto que estamos deixando escapar o que realmente somos, o que queríamos para nós dois.
– Isso porque você está baseando o nosso atual relacionamento no que tínhamos de sexo – falei mais baixinho, para que ninguém conseguisse nos ouvir.
– Era tudo o que tínhamos. Ficamos horas juntos em um mundo só nosso e era mágico – seus olhos ficaram úmidos e meu coração apertado.
– Você ouviu o que acabou de falar? – ela recuou como um gatinho assustado. – Sexo, o que fazíamos como preparação para o sexo, era tudo o que tínhamos. Eu quero mais, Charlotte! Quero muito mais do que horas de prazer. Quero mais do que o medo de sermos descobertos, mais do que sermos constantemente interrompidos, que sermos vigiados a cada segundo, que viver angustiado por não querer fazer nada errado e mesmo assim saber que está errando a cada passo. Eu não quero que sexo seja tudo o que nós temos. Foi o que nos uniu, mas agora precisa se expandir e se tornar muito mais do que isso. É o que eu quero, porém talvez não seja o que você quer.
– Não, Alex – implorou chorosa, com medo de qualquer decisão minha.
No entanto, eu já estava decidido. Eu entendia e aceitava os motivos de Peter. Eram nobres. Por outro lado, não dava para forçar tanto uma menina que nunca tinha vivido nada, que estava cheia de vida e ânsia para viver, a simplesmente esquecer os seus temores e se tornar a minha mulher.
Não dava para forçá-la. Eu não a forçaria. Não mais.
– Nós não vamos mais casar – afirmei sentindo meu coração partir. – Peter vai ter que entender, e... – droga! Aquilo seria o inferno – ... ele terá que aceitar, assim como eu terei que aceitar. Vamos adiar por tempo indeterminado.
– Não! – ela continuou em seu desespero juvenil, que eu sabia ser apenas medo de desafiar o pai.
– Charlotte! – segurei suas mãos quando ela tentou me abraçar. – Você não está pronta. Vamos zerar esta história e começar de novo. Vamos dar um passo de cada vez, está bom assim?
– Merda, Alex! – duas lágrimas caíram e muitas outras cairiam. Eu precisava dar um jeito de impedi-las ou então seria uma confusão dos infernos.
– Não chore. Vamos sair daqui. Vamos conversar em algum lugar. Eu vou falar com Peter.
– Ele não vai deixar – soluçou enquanto limpava as lágrimas, sem conseguir impedir que mais duas descessem.
– Eu já volto. Tente se recompor.
Saí de perto dela chegando rapidamente ao local em que Peter estava. Ele e Mary conversavam sozinhos e pareciam aguardar por nós dois. Seu olhar questionador deixava claro que sabia que algo estava errado.
– Nós vamos dar uma volta, tudo bem para você? – fui direto. Eu estava tão confuso e cansado quanto Charlotte, ou qualquer outro envolvido naquela história.
– Algum problema?
– Apenas precisamos conversar e definir alguns pontos – ele concordou com a cabeça. – Deixo ela em casa assim que terminarmos.
– Tudo bem – Peter apertou minha mão com força.
– Até mais tarde, querido – Mary se despediu me dando um beijo no rosto. Ambos acenaram para Charlotte, que preferiu ficar distante.
– Vamos.
Com a mão na cintura da minha noiva, ou ex-noiva, eu já não sabia mais, eu a conduzi até onde o meu carro estava. Ela, de cabeça baixa, as mãos unidas diante do corpo e com os cabelos escondendo as lágrimas que continuavam caindo, apenas caminhou e entrou no carro tão logo lhe dei passagem.
– Para onde vamos? – sua voz abatida e estrangulada pelo choro fez eu me odiar.
– Para a minha casa, Charlotte.
Ela me olhou surpresa, sem nada acrescentar e eu dirigi pensando na melhor maneira de fazer aquilo sem precisar esmagar o meu coração.
CHARLOTTE
Minha cabeça estava tão confusa que eu não conseguia organizar as ideias. Alex estava terminando comigo ou apenas não queria mais casar? Ele havia cansado? O que pretendia me levando para a sua casa?
Assim que entramos, eu tive dois pensamentos: a casa estava extremamente limpa e organizada, ou seja, ele havia mentido, provavelmente para evitar toda aquela conversa sobre sexo, ou falta de sexo; e, Deus, eu senti tanta falta daquele lugar!
Ele, segurando em minha mão, conduziu-me até a cozinha, alojou-me em um dos bancos altos, deu a volta, pegou duas taças em um dos armários, da adega retirou um vinho branco e serviu as taças levando-as para o balcão. Uma delas foi deixada diante de mim, assim como a garrafa, que ficou de lado sem nenhuma cerimônia.
Alex me encarou com uma expressão estranha e depois virou todo o conteúdo da taça em um só gole. Merda! Aquilo não era nada bom. Nada bom. Voltou a encher a taça e aguardou por mim. Dei um pequeno gole, sendo a covarde que naturalmente eu era. Ele terminaria comigo.
Droga! Droga! Droga!
Bebi outro gole, um pouco maior, procurando coragem para aquela conversa. O silêncio era aterrorizante! Angustiava e me sufocava.
– Você está terminando comigo?
Tomei coragem e falei logo de uma vez. Não dava para ficar aguardando Alex se embebedar para conseguir falar o que já estava nítido. Ele deu um sorriso triste e balançou a cabeça, negando as minhas palavras, em seguida bebeu um grande gole do vinho e voltou a me encarar.
– Não – disse por fim. – Mas estou dando a você a chance de fazer isso.
O quê? Como assim?
– Vai jogar a responsabilidade para mim? – meus olhos arderam e novas lágrimas se formaram. – O que... o que pretende com essa atitude? É por causa do meu pai? Não sabe como dizer a ele, então ser chutado será mais fácil do que chutar?
– Não seja infantil, Charlotte.
– Pelo visto é só o que eu sei ser. Só como você e todos os outros me veem – minha voz falhou. O desespero era tão grande que escondi minhas mãos embaixo do balcão para não revelar o quanto eu tremia.
– Você não quer ser minha namorada. Não quer viver o tipo de namoro que seus pais suportam aceitar. Não quer casar... – ele me encarou com amargura e recuou quando entendeu que exigia demais de mim. – Você quer o que tínhamos antes.
– Alex...
O choro me impedia de falar. Era tão ridículo e humilhante chorar daquele jeito na frente de uma pessoa que estava me dispensando! Era injusto. Não porque eu não devesse chorar, era impossível evitar, e sim porque seria muito mais digno se eu pudesse chorar em minha casa, longe do seu olhar piedoso. Seria muito mais digno se eu não estivesse a ponto de implorar, se conseguisse achar forças para ir embora quando meu único pensamento era o de que eu não poderia perder aquele homem.
– Você quer o que tínhamos antes, Charlotte. Sem compromisso, sem segurança, sem qualquer responsabilidade um pelo outro. Eram apenas algumas brincadeiras, claro que, por causa das atuais circunstâncias, vamos ter uma evolução daquele quadro. Vamos transar de verdade. Para valer. Não é o que você quer?
Não consegui responder. Alex estava tão magoado, tão cheio de raiva, mesmo tentando bravamente esconder seus sentimentos de mim. Suas palavras eram agressivas e, mesmo assim, dava para perceber o quanto ele lutava contra elas para não me magoar.
Alex levantou, deixando a taça sobre o balcão e deu a volta. Eu o encarava sem conseguir me movimentar. O que ele faria? Para onde iria? O que pretendia?
– Para onde você...
Ele me tomou em seus braços, impedindo-me de falar. Seus lábios se apossaram dos meus, sua língua pedindo passagem, suas mãos me mantendo presa, cativa, submissa. Estremeci. Eu conhecia aquela urgência, aquele pedido silencioso, aquela ânsia. Estranhamente, temi tudo aquilo.
Mesmo assim retribuí. Eu não tinha força para impedir o seu beijo, muito menos vontade. Era como se Alex fosse o controle, ele dizia como e eu apenas o seguia, completamente entregue. Havia dentro de mim um desconforto com a ideia e ao mesmo tempo, o desejo latente que me impulsionava a continuar.
Ele me levantou do banco, mantendo-me colada ao seu corpo, cheio de posse e fome. Minhas costas colidiram com a parede, enquanto nossos lábios não se desgrudaram. Suas mãos me exploraram, uma adentrando minha saia e se apossando da minha bunda, ousada o suficiente para ultrapassar minha calcinha e me tocar sem nenhum pudor. Gememos juntos.
A outra subiu pela lateral do meu corpo, buscando meus seios, apertando e afastando como podia a camisa para que o contato fosse mais legítimo. Ao mesmo tempo, seu corpo se esfregava no meu, buscando alívio e prazer, mostrando o que queria e me prometendo o mundo.
Deus, eu o queria! Eu queria tanto Alex que o sentimento parecia que explodiria dentro de mim a qualquer instante. Porém o desespero em suas atitudes ecoava com o do meu coração. Alex estava ultrapassando seus limites, abrindo mão do seu desejo e se sacrificando para me dar o que eu queria.
De repente eu já não sabia mais o que eu queria.
Senti meu coração acelerar à medida que suas investidas aumentavam. Um sentimento amargo me impedia de tocá-lo, de participar, e, aos poucos, meu corpo foi parando. Havia o desejo, evidente que havia, mas não daquela forma, não quando eu sabia que se aceitasse estaria permitindo que tudo mudasse, que nosso amor ficaria em segundo plano, que deixaria Alex acreditar que era apenas sexo o que eu queria dele.
– Alex, pare – tentei dizer, mas ele parecia não me ouvir.
Suas mãos insistentes continuavam me buscando, apertando lugares que me faziam estremecer e que repercutiam no centro entre as minhas pernas. Porra! Eu estava ávida de tesão. Louca para ser tomada e possuída por aquele homem que eu tanto amava.
Isso! Eu o amava. Eu. O. Amava. E justamente por isso não poderia ceder.
– Alex, chega. Pare!
Empurrei meu noivo que resistiu, afastando-se apenas alguns centímetros. Ele respirava com dificuldade. Uma mão apoiou o peso do corpo na parede e a outra foi para o meu pescoço, mantendo-me ali. Fechei os olhos com medo do que poderia encontrar quando os abrisse.
– Porra, Charlotte! O que você quer, pelo amor de Deus!
As palavras estranguladas não demonstravam raiva, apenas frustração e confusão. Abri os olhos e encontrei os dele fechados. O maxilar trincado impedia que mais palavras escapassem, as veias alteradas deixavam claro o esforço que fazia, apesar disso seus dedos em meu pescoço eram delicados, acariciando minha nuca e me tranquilizando.
Ele abriu os olhos, sorvendo minha alma para si. Alex era tão lindo! Mesmo triste como estava, mesmo com raiva, mesmo quando lutava contra o tesão que o impelia a continuar com o que fazíamos. Ele era lindo! E incrível!
– O que você quer?
O que eu queria? Meu Deus, o que eu queria?
Eu queria tudo. Queria uma vida em que eu não precisasse dizer adeus ao único homem que eu quis. Queria liberdade para amá-lo da minha forma. Queria estar em seus braços sem medo de que ele pensasse que sexo era a única coisa que importava naquele relacionamento. Eu sabia o que queria.
– Eu quero me casar com você.
Ele me encarou inexpressivo. Nenhum músculo respondeu aos meus temores, apenas o ar suspenso e a tensão da sua falta de resposta zumbiam em meu ouvido acompanhando o martelar do meu coração. E eu nunca tive tanta certeza das minhas palavras como tive das que tinha acabado de dizer.
CAPÍTULO 23
“E nesse momento de saudade, quando penso em você, quando tudo está machucando o meu coração e acho que não tenho mais forças para continuar; eis que surge tua doce presença, com o esplendor de um anjo; e me envolvendo como uma suave brisa aconchegante... tudo isso acontece porque amo e penso em você...”
William Shakespeare
ALEX
Não sei por que meu coração insistia em bater descompassado.
Estávamos deitados no sofá. A porta que dava para o jardim estava aberta, deixando uma brisa nos alcançar. Charlotte estava em silêncio, deitada em meu peito. O único indicador de que não dormia era o roçar suave dos seus dedos em minha camisa.
Eu recordava cada palavra trocada, cada estupidez dita e que no final serviu apenas para que fizesse tudo dar certo. Então por que eu estava com tanto medo?
A quem eu queria enganar? Não ia ser menos humilhante tentar esconder de mim mesmo o motivo do meu temor. Eu não tinha mais certeza se Charlotte queria mesmo casar ou se tinha aceitado as minhas condições por não conseguir me perder. Mas ela me perderia?
Não. Isso nunca passou pela minha cabeça. Eu queria apenas transar de uma vez com aquela garota e acabar com aquele plano ridículo de tentar convencê-la. Eu queria dar a ela o que tanto queria e me pedia. Faria migalhas do meu coração, mas voltaria a ser apenas o professor que divertia a aluna durante algumas horas, que no final do dia voltava para uma casa vazia, tentando sufocar o seu sentimento.
Era isso o que eu faria.
No entanto, Charlotte confundia tudo. Ela virava o mundo de cabeça pra baixo e, quando você começava a se acostumar com o que seria, ela voltava e girava tudo outra vez. Era como se eu fosse um globo nas mãos de uma menina curiosa. E era frustrante. Suspirei pesadamente.
Ela levantou o rosto e me encarou. Seus olhos azuis, claros como a tarde do lado de fora, estavam levemente vermelhos, por causa do choro, assim como a ponta do seu nariz. Não resisti e toquei aquela região, brincando com a pequena bolinha rubra que entregava a sua tristeza.
– Por que está tão calado? – sua voz estava fraca, temerosa.
Droga! Era horrível saber que ambos estávamos pisando em ovos. Respirei fundo e estreitei meus braços em sua volta.
Eu fiquei feliz ao ouvir que ela concordava com o casamento. Que faria como eu tanto queria. E, ao mesmo tempo, senti-me péssimo por ter alcançado meu objetivo depois de fazê-la temer me perder. Independentemente de mim, quando Charlotte disse sim, meu corpo reagiu por vontade própria e eu quis continuar de onde paramos.
Que todo o plano que tracei fosse para o inferno. Era muita infantilidade não transar com a mulher com quem eu ansiava casar. Mas ela recuou e me impediu. E isso me deixou ainda mais fodido.
Como entender o que Charlotte queria se quando eu estava disposto a lhe dar ela recuava? A história parecia se repetir a cada capítulo vencido.
“Eu não quero agora.” Ela disse quando questionei a sua recusa. Eu entendi, mas meu corpo não. Minha mente gritava que eu tinha estragado tudo e que agora ela seria infeliz para me fazer feliz. Como conviver com isso?
– Alex?
– Estou pensando no quanto tudo é confuso – evitei seus olhos, mesmo sabendo que seria a única maneira de conseguir resposta para todas as minhas dúvidas. – Não quero que você case por sentir medo, Charlotte – confessei. – Eu quero que seja feliz e se viver o que vivíamos é a sua vontade, a sua ideia de felicidade, de mágica, como você disse, então é o que vou lhe dar.
– Eu entendi – disse baixinho, voltando a deitar a cabeça em meu peito.
– Eu não estava terminando com você – meus dedos se afundaram em seus cabelos, acariciando seu couro cabeludo. – Estava te dizendo que tudo bem.
– Eu não quero apenas sexo, Alex. Eu quero mais. É tolice bater o pé como uma criança birrenta e não aceitar o óbvio: nós só vamos ter paz quando casarmos. Meu pai já deixou bem claro.
– Eu não quero mais seguir as regras do seu pai. Não quando elas te fazem infeliz.
– E eu não quero que o laço que você conseguiu criar com ele seja desfeito apenas por causa da minha insistência em desafiá-lo.
Voltei a ficar em silêncio. Não era um “sim, eu não vejo a hora de dividir a minha vida com você”, mas, porra! O que eu esperava? Há quanto tempo estávamos juntos? Quanto tempo era necessário para adquirir confiança e certezas? A única coisa que sabíamos era que nos amávamos e estávamos apostando todas as nossas fichas nisso.
Eu era maduro e experiente. Conhecia meus sentimentos de maneira firme e consciente, sem dúvidas, mas não para não temer, podia compreender o quanto era difícil para Charlotte. Apesar disso, almejava, com todas as minhas forças, que pudéssemos sair dali direto para a igreja, e depois voltaríamos para casa para darmos início àquela nova vida que eu tanto ansiava.
Eu era um filho da puta egoísta e podia estar jogando Charlotte em seu maior inferno.
O que eu estava fazendo?
– Você não acredita mais em mim, não é? – eu sabia que naquele instante Charlotte sofria tanto quanto eu, e me amaldiçoava por isso. Beijei o topo da sua cabeça e acariciei seu braço.
– Eu não acredito que seja esta realmente a sua vontade – ela me abraçou forte e depois levantou o rosto para me olhar.
– Eu tenho medo, Alex, por outro lado, sinceramente, quando eu não terei? Quando vai ser possível, para alguém como eu, sentir-se segura em um relacionamento com alguém como você.
– Isso porque você me supervaloriza.
– Na verdade não, eu simplesmente enxergo quem você é e, por mais que eu tente me fazer de burra, sei muito bem quem eu sou.
– Realmente você se faz de burra – ela sorriu sem ser realmente um sorriso de felicidade. – Eu posso ser tudo o que você acredita, ou posso não ser, mas o que vai contar em uma situação como esta é o que sentimos e o que queremos. Você precisa ter certeza.
– Eu nunca tive dúvidas, Alex. Não hesitei nem por um segundo quando você me pediu em casamento. Não existe outra pessoa com quem eu queira dividir a vida. Você é tudo o que eu sempre quis, mesmo quando eu não fazia ideia do que desejava. Eu só não entendo o porquê da urgência.
E eu entendia os motivos dela. Charlotte deveria ter o direito de saber. Ela sim deveria ter o direito de decidir. O problema era: como fazer isso sem criar um pânico capaz de paralisá-la? Como contar toda a verdade à minha noiva sem que ela se desesperasse a ponto de se perder?
Para ser honesto, eu não conseguia enxergar uma outra saída. Havia uma enorme chance de Charlotte parar sua própria vida, esquecer-se de si mesma e simplesmente perder o interesse por nossos planos.
Era um problema que eu não tinha ideia de como resolver. Por mais cruel que fosse, eu ainda acreditava que desviar sua atenção para o casamento, a formatura, ou qualquer evento importante era o melhor a fazer para evitar que ela paralisasse sua vida e deixasse de viver seus sonhos.
A ideia surgiu sem que eu tivesse a chance de pensar sobre ela ou descartá-la e, de repente, era o mais correto a ser feito.
– Tudo bem – tive o cuidado de não interromper o carinho em seu braço. – Eu vou te dar um motivo, só não vai ser agora.
– Ultimamente você anda protelando demais o que tem para me dizer – não entendi e o meu silêncio a fez continuar. – A proposta. Você ainda não fez.
– Ah! Sinto dizer que eu vou precisar desta proposta para fundamentar o meu motivo principal.
– Isso é chato – ela voltou a se deitar, mantendo seus braços em mim, segurando-me com força. – Por que não agora?
– Porque nós precisamos almoçar – ela fez um muxoxo, voltando a ser a Charlotte que eu conhecia. – E também porque acabei de me lembrar que Lana pediu que você fosse até a editora amanhã pela manhã.
– Amanhã? O que ela quer? E por que não me ligou?
– Porque eu quis te dar esta notícia, mas acabei esquecendo por causa dos últimos acontecimentos.
– Que notícia? Não vá me dizer que não pode falar agora também – ri sentindo que meus pés tocavam outra vez o chão.
– Amanhã você assinará o contrato.
Ela levantou a cabeça para me encarar e finalmente eu vi aquele brilho ansioso de volta aos seus olhos e um sorriso genuíno. Sim, estávamos voltando ao nosso eixo.
CHARLOTTE
Olhei uma última vez para o espelho, conferindo meu vestido cinza, nem tão justo nem tão largo, um pouco mais para executivo do que para estudante recém-formada. O cabelo estava preso em um coque, insistência de minha mãe, e a maquiagem era discreta e bem feita, cortesia de Miranda, que por sinal estava com um ótimo humor.
Os óculos... Bom, era ainda a mesma armação, que combinou perfeitamente bem com o restante da produção. E o conjunto, no geral, estava perfeito. Eu até parecia mais velha! Pensando bem, para que parecer mais velha? Passei a mão no cabelo desfazendo o coque e deixando os fios lisos descerem até moldarem meu rosto.
Minha mãe não ficaria nada satisfeita. Nada mesmo.
– Pronta?
Meu pai surgiu na porta do quarto olhando para dentro. Ele tinha insistido em me levar à editora. Queria verificar o contrato, certificar-se de que era algo realmente vantajoso. Eu suspeitava que, depois de eu ter sumido durante a tarde inteirinha e início da noite do dia anterior, ele estivesse disposto a me vigiar mais de perto.
Principalmente porque, segundo ele, eu havia voltado com atitudes estranhas, o que na verdade se tratava de um cansaço extremo e um enorme desgaste psicológico, fruto de toda a apreensão por causa da minha briga com Alex.
Alex!
Era impossível não suspirar quando pensava nos acontecimentos das últimas horas. Foi estranho, doloroso, desesperador, mas no fim, e por fim, acabou me fazendo entender que ele tinha razão e que eu poderia sentir medo, era natural, também era preciso sentir as certezas e colocar os pés no chão.
Não importava se tínhamos um dia, um ano, um século... nada disso era importante, apenas o que sentíamos e o que queríamos. Porque eu estava certa de que queria me casar e dividir a minha vida com ele, não faria diferença se o casamento acontecesse em dois dias ou dois anos.
– Lottie? Está pronta?
Saí do meu devaneio e encarei o meu pai. Ele queria tanto aquele casamento que, às vezes, dava vontade de rir. Por que era tão importante me ver casada?
– Prontíssima!
– Vamos? – ele me ofereceu o braço e eu aceitei, voltando a me sentir a garotinha do papai.
Fizemos o percurso até a editora em um agradável silêncio. Eu não me permitia pensar muito em tudo o que havia acontecido, ou minha mente daria um nó, então procurei focar no contrato e na felicidade que era o fato daquele meu sonho estar se concretizando, tornando-se algo real, e o mais gratificante, por meus próprios méritos.
Sim, meus próprios méritos. Seria muito fácil conseguir que qualquer editora me publicasse, sendo eu filha de quem era, tendo uma renda capaz de abrir qualquer porta. Obviamente eu não queria que fosse assim. Eu queria ser reconhecida como escritora, que lessem o meu texto e gostassem, e foi o que Alex fez. Ele acreditou em mim, mesmo quando me fez acreditar que tudo estava perdido.
Senti a emoção umedecer meus olhos quando estacionamos em frente ao prédio já familiar. Eu tinha ótimas lembranças daquele lugar, daquela sala, daquele sofá... ah, Alex! Eu queria tanto que pudéssemos viver aquela liberdade.
Pensar assim me fez recordar o dia anterior, quando Alex pensou que o que importava para mim era apenas sexo. Que tolo! Ele não entendia que eu sentia falta de estarmos juntos livremente, já que ele mesmo colocava meu pai entre a gente, até quando Peter não estava presente.
– E agora?
– Vamos até a recepção. Alguém deve estar nos aguardando.
– E Alex? – dei de ombros.
– Não tenho ideia de como funciona, mas acredito que ele deva aparecer em algum momento – sorri confiante.
– Então vamos.
Conferi novamente meu cabelo e a maquiagem. Depois, passei as mãos no vestido, desfazendo as pregas amassadas por causa da posição no carro. Os saltos não eram tão agradáveis, mas eu gostava de me sentir vestida apropriadamente para eventuais olhares desagradáveis, como o da garota da recepção.
Sim, eu não havia esquecido.
Fabiana era o seu nome. Ela era loira, não natural, obviamente, e não era tão magra nem tão elegante. Era uma figura que, sem maquiagem ou o elegante vestido que servia de uniforme, seria apenas mais uma à espera do metrô. Ok! Eu sou má! Talvez ela fosse mais magra do que eu me permitia admitir e muito provavelmente ficaria atraente em um jeans e salto alto. Isso eu nunca admitiria em voz alta.
– Bom dia! – cumprimentou sorridente, mas suas feições mudaram assim que me reconheceu.
– Charlotte Middleton, Alex Frankli está me aguardando – ela piscou se afastando da tela do computador. – Sou a noiva dele.
Nossa! Eu podia me abraçar. Os olhos da mulher ficaram imensos e ela apenas se deu ao trabalho de interfonar avisando a minha chegada.
– A noiva do Sr. Frankli encontra-se aqui e... ah! Claro. Sim. Agora mesmo.
Lógico que a forma irônica como ela anunciou a “noiva” do chefe a colocou em uma situação constrangedora, e certamente confirmou a minha posição. Mais um ponto para mim. Fabiana seria apenas uma garota do meu passado.
– A sra. Lamara irá aguardá-los na saída do elevador.
– Obrigada – sorri educadamente me sentindo tão bem que poderia até mandar um beijo para a garota.
– O local é bom – meu pai falou com admiração ao entrarmos no imenso elevador.
– Estamos na melhor e maior editora do Brasil, pai – eu me orgulhava de ser noiva do homem que construiu tudo aquilo.
Assim que as portas se abriram, demos de cara com João Pedro. Ele sorria, estava com o cabelo molhado e a pele bronzeada, como se tivesse acabado de chegar da praia. Talvez tivesse mesmo, quem sabe com Alex... droga! Só de imaginar Alex e aquele corpo maravilhoso, equilibrando-se sobre uma prancha, a pele bronzeada coberta por gotículas, o cabelo molhado descendo em seu rosto, aqueles olhos azuis que se confundiam com o mar...
– E Lana pediu para que eu apresentasse a editora a vocês enquanto ela e Alex finalizam uma reunião.
Pisquei algumas vezes me dando conta de que divaguei perdendo os cumprimentos e parte do que era do meu interesse naquela história. Por isso apenas concordei e deixei que João nos guiasse na direção contrária à da sala do meu noivo.
– Então vamos assinar, Charlotte? Que bom! Lana não fala de outra coisa. Ela realmente gostou do seu livro, disse que será um sucesso de vendas. Pelo que fiquei sabendo todos os três avaliadores deram parecer positivo.
– Que bom – respondi meio sem graça. Receber elogios em público, mesmo sendo este bem reduzido, sempre foi um embaraço para mim.
– Uma pena Alex estar deixando o cargo agora. Lana vai precisar de um bom tempo para se adaptar à carga de trabalho de um editor-chefe, se bem que ela está otimista.
– Alex não precisava abandonar o cargo – meu pai disse com aquela postura superior, como se entendesse de todo e qualquer assunto, para ser sincera, ele era bastante convincente. – Charlotte está começando, então não há razão para temer tanto uma repercussão negativa.
– Ele tem outros projetos em mente, vai precisar de maior disponibilidade de tempo. Além do mais, apesar de Alex ser realmente um puta profissional... – ele olhou de soslaio para meu pai, fazendo uma careta por ter usado um palavrão. Acabei rindo baixinho – Apesar de ser um excelente editor-chefe – corrigiu-se rapidamente –, já fazia um tempo que pensava em mudanças. Alex não nasceu para ficar trancado em um escritório.
– Qualquer pessoa em seu perfeito juízo não teria problemas em estar trancado em um escritório que lhe pertence. É assim que tem que ser. O homem precisa trabalhar, proporcionar um porto seguro à família... – blábláblá. Meu pai e todo o seu discurso machista.
João Pedro riu, colocando a mão no ombro de meu pai com muita intimidade.
– Peter, um homem como Alex pode dar conta das suas finanças trabalhando na praia. Ele tem capacidade para isso, só que, assim como eu, não gosta da rotina, das obrigações de uma gravata – e folgou a própria como se estivesse sufocando. – Ele realmente vai render muito mais se estiver em um computador na sua varanda, tomando uma cerveja gelada e colocando para fora tudo o que aquela mente brilhante é capaz de criar. Alex é um filho da puta de sorte – outra careta que me fez rir novamente. – Desculpe, mas é o que ele é. Ele tem o dedo de ouro, sabe? Se disser que um original tem potencial, com certeza ele tem, e vai vender. Você vai ver só se não vai ser assim com o livro da Charlotte. Foi assim com a Tiffany, ele recebeu o material e apostou. Foi o primeiro a dizer que ela seria campeã de vendas, e não foi o que ela se tornou? Alex sabe o que faz.
Quando trouxe o nome da Tiffany para dentro da conversa, todo o brilho do momento se perdeu. Eu não entendia como ela ainda conseguia ser o meu calcanhar de Aquiles. Quantas vezes Alex já havia me dado provas de que Tiffany nada mais era do que uma autora de sucesso com a qual ele era obrigado a conviver? E quantas vezes ele já havia provado o que sentia por mim? Então por que só ouvir o nome daquela mulher já me fazia tremer e sentir raiva? Eu não sabia dizer, mas era exatamente o que acontecia.
– Aqui fica a nossa equipe de edição – ele abriu a porta revelando cinco pessoas em frente aos seus respectivos computadores, todos com trabalhos em andamento. – Oi, pessoal! Essa é Charlotte Middleton, nossa mais nova autora e este é o seu pai, Peter Middleton.
Todos me cumprimentaram e ao meu pai. Pareciam satisfeitos, apesar de eu ter notado um ou outro com expressões mais cansadas.
– Eu estou mostrando a editora, então finjam que estão trabalhando para que ela não desista de publicar com a gente – eles riram e fizeram brincadeiras com João, que pelo visto era muito querido ali. – Vamos, quero mostrar onde a sua capa será feita.
Menos de quatro passos e estávamos em frente a outra porta. João a abriu, revelando uma sala um pouco menor com apenas duas pessoas. Um som pesado, mas baixo, criava um clima especial para o ambiente. Dois homens, com aparência estranha, devo revelar, pois um tinha uma trança longa no lugar da barba e o outro estava com metade do cabelo pintada de roxo. Eles sorriram assim que João entrou e também foram amáveis.
Ainda conhecemos o setor de publicidade e marketing, que era imenso e com muitas mulheres trabalhando, e vários outros que se confundiram em minha cabeça e eu já não sabia mais quem era quem e o que faziam. A editora era bem grande, com muitos funcionários, havia uma área na qual João disse gostar de ficar, onde os funcionários podiam jogar, relaxar, divertir-se, assistir à televisão, dentre outras coisas. Também uma lanchonete grande e uma biblioteca. Resumindo: era um lugar bom de trabalhar.
Encontramos alguns autores caminhando pelos corredores. Eles estavam acompanhando o processo dos respectivos livros, segundo informação do João, que frisou não achar isso muito saudável e completou dizendo que tirava um pouco a concentração do seu pessoal.
Passamos em frente à sala do Patrício, que estava abarrotada de papéis, e ele, vestido como um executivo, falava ao telefone, nervoso, como se alguma coisa tivesse dado errado. João acenou e Patrício ficou sem graça quando nos viu.
– Peter, Charlotte, como vão? – apertou a mão do meu pai enquanto eu tentava ignorá-lo sem chamar a atenção de Peter.
– Nunca mais vimos você – papai falou sem desfazer o aperto de mão.
– Bom... – Patrício pareceu enrubescer e me olhou rapidamente, provavelmente com medo do que eu poderia dizer. – Como está vendo, o trabalho tem consumido o que pode de mim.
– É o que podemos ver – não escondi a má vontade.
– Então, hoje você vai assinar o contrato? – ele desconversou, tentando ser gentil. Estreitei os olhos sem acreditar que aquele imbecil tentava puxar conversa comigo depois de tudo.
– É o que parece – Patrício recuou percebendo que eu não estava para muita conversa. – Será que Alex já terminou a reunião? – perguntei para João, virando de costas para o meu futuro cunhado.
– Hum! – João olhou de mim para Patrício e deu para perceber que ele sabia que eu não queria estar ali. – Vamos voltar para verificar. Vejo você no almoço, Paty? – Patrício ia responder, porém mordeu os lábios, furioso.
– Claro, Joãozinho! Por que não? – João sorriu cinicamente e abriu a porta para que passássemos.
– Vejo você em breve? – meu pai perguntou para Patrício que ficou ainda mais vermelho e engoliu com dificuldade.
– É provável.
Filho da puta! Por que não tinha coragem de dizer que tinha partido o coração da minha amiga? Por que não assumia que caiu fora porque era um covarde, idiota, imbecil...
– Vamos – João me pegou pelo cotovelo, levando-me em direção à porta e só então percebi que olhava para Patrício de uma forma assassina.
Caminhávamos em um silêncio desconfortável quando meu pai resolveu ser o inconveniente da vez.
– Não se incomoda que a sua esposa trabalhe mais do que você? – soltou para João assim que entramos outra vez no elevador. – Por que se ela vai assumir tudo isso certamente não poderá te acompanhar à praia, ou cuidar da casa, como deveria, ou até mesmo te dar filhos...
– Pai! – eu mal conseguia acreditar no que ele tinha acabado de falar. Olhei para João, desculpando-me quando vi que ele ria.
– Lamara nunca gostou de me acompanhar à praia. Eu trabalho fora da editora também e para fazer filhos só precisamos de alguns minutos – piscou para meu pai que ficou mudo imediatamente. Quase abracei João. – Lana gosta dessa vida, trabalhar até a exaustão, saber que produz, e eu fico feliz por ela poder se realizar seja da forma que for.
Saímos do elevador e voltamos para o andar onde ficava a sala do meu noivo.
– Eu sei que os tempos mudaram, as mulheres conseguiram o seu espaço no mundo e tudo mais que a modernidade nos trouxe, porém continuo acreditando que alguns pontos não podem ser negligenciados.
– Pai, ninguém mais pensa desta forma no mundo. Hoje você planeja ter filhos, planeja seu casamento, sua carreira, nada mais é feito apenas seguindo o curso da vida.
– Tudo bem, Charlotte – ele abriu um sorriso encantador. – Se vocês crianças gostam de pensar assim, então que seja. Só posso afirmar uma coisa, você segue o curso da vida, querendo ou não. Porque quando ela quer, não há como fazê-la alterar nada, acredite em mim.
– Eu acredito – João falou divertido, então tudo perdeu a importância para mim.
Ao fundo do corredor, um pouco à frente da sala que eu sabia ser do meu noivo, uma porta se abriu e revelou aquele homem espetacular. Alex estava maravilhoso, usando uma camisa social, gravata e calça. Sua pele bronzeada contrastava com a camisa branca, enquanto a gravata azul realçava seus olhos.
E foram seus olhos que me fizeram esquecer o mundo ao redor. Quando Alex me olhou, nada mais tinha importância. Havia tanto sentimento naquele olhar que eu senti o ar escapar de mim. Ele sorriu. Um sorriso largo, que começou no canto da sua boca, expandindo-se completamente, atraindo todo o meu foco.
Alex se adiantou, despedindo-se rapidamente dos três homens com quem estava reunido. Lana ainda não tinha saído da sala, mas o meu noivo já estava caminhando em minha direção.
Ele se deteve quando já estava perto o suficiente para fazer com que todo o meu corpo reagisse. Então parou, com o mesmo brilho no olhar, o mesmo sorriso largo e a ansiedade que não conseguia esconder, no entanto, não me tocou.
– Peter – ofereceu a mão a meu pai, o que me frustrou, apesar de saber da sua imensa necessidade de agradar. – Charlotte – e me deu um beijo no rosto.
No rosto?
Puta merda!
Eu queria ser tocada, sentir aqueles lábios quentes e sedentos nos meus. Sentir cada músculo do seu corpo encostado ao meu... Respirei fundo incapaz de esconder a minha decepção. Alex, obviamente, notou, porém nada disse, apenas bateu com alguns papéis no braço do João, que riu se esquivando.
– O contrato já está em minha mesa. Lana está em uma ligação, ela logo se unirá a nós – ele disse de maneira formal. – Conheceram a editora?
– Sim. É uma ótima empresa. Muito bem estruturada – meu pai bajulou meu noivo e eu me limitei a concordar, pois a comichão ainda me incomodava por ter recebido apenas um beijo no rosto.
– Conheceram a gráfica? – Alex parecia animado.
– Não. Charlotte estava muito ansiosa – João revelou.
– Vocês têm uma gráfica aqui no prédio? – fiquei curiosa. Não sabia que era vantajoso para as editoras terem a sua própria gráfica.
– Na verdade não é nossa. É uma parceria. Instalamos uma pequena parte da gráfica com quem trabalhamos aqui para atender às nossas necessidades. Como nossa demanda é grande, precisávamos de um atendimento mais personalizado, então propusemos que se instalassem em nosso prédio, o que reduziu um pouco os nossos gastos, além de ser vantajoso para eles também. Assim ficou muito mais fácil garantir os prazos.
– Brilhante! – Peter falou enchendo Alex de orgulho. – A ideia foi sua? – meu noivo sorriu sem graça.
– Não. A ideia, assim como todo o projeto, partiu de Lamara, e João foi um dos responsáveis pela viabilização.
– Hum! – meu pai olhou desconfiado para João Pedro. – Muito bom!
– Obrigado! – João fez uma reverência bem-humorada. – Eu cumpro as ordens da minha querida esposa.
– Ele sabe com quem está mexendo – Lana se juntou ao grupo, pendurando-se no ombro do marido. – Aqui eu mando e ele executa.
– Com o maior prazer, chefinha – João gracejou e Lana sorriu apaixonada.
Se Lana e João podiam agir assim, por que eu teria que me contentar com apenas um beijo no rosto? Que droga!
– Vamos? O contrato já está prontinho. Foi revisado pelo nosso setor jurídico e aprovado por Alex – Lana desatou a falar, conduzindo-nos para a sala do meu futuro marido. – Acredito que você veio conferir no que a sua filha está se metendo, não, Peter? – papai sorriu com satisfação para Lana.
– Sim. Não que eu não confie em vocês, mas um olhar de fora pode ajudar.
– Sempre – ela rebateu, acenando para a secretária impecável de Alex.
Entramos e minha mente rapidamente se encheu de lembranças. Ah, aquela sala! Se eu fechasse os olhos poderia até sentir as emoções daquele dia. Eu estava com tanto medo e tão decidida a seguir em frente com o plano. E Alex? Porra, ele foi incrível! Aquele homem tinha o dom de me ensandecer, levando-me a cometer as maiores loucuras.
Olhei para o sofá com saudade. Eu podia determinar o exato lugar onde estávamos e até podia visualizar a cena toda. O que eu não daria para ter apenas mais uma oportunidade?
– O que quer beber? Café, chá, refrigerante, água... – Lana continuava exercendo seu papel de boa anfitriã, enquanto eu ainda olhava para o sofá com ternura.
– Água, por favor – Peter respondeu.
Desviei os olhos do sofá e encontrei os de Alex, atentos a tudo o que eu fazia. Claro que meu rosto esquentou consideravelmente. Ele sabia o que eu estava pensando. Podia imaginar o meu nível de envolvimento e o quanto aquilo tudo me deixava excitada. E a forma como ele estava me olhando... Santo Deus! Alex parecia estar tão saudoso e excitado quanto eu.
Ele poderia facilmente me convencer a tirar a roupa se continuasse me olhando daquele jeito.
– Charlotte? – Lana falou do meu lado, fazendo-me estremecer. – Não sei como você consegue ficar tão aérea – e riu puxando-me pela cintura para sentar em uma das poltronas de frente para o sofá. – O que quer beber? – pensei em pedir uma tequila, mas desisti.
– Nada no momento, obrigada!
– Eu vou embora – João anunciou. – Tenho alguns assuntos para resolver e esse lance aqui não é muito a minha praia. Vejo você mais tarde, Lana – eles trocaram um olhar apaixonado e João, após se despedir de todos os presentes, saiu deixando a reunião um pouco mais séria.
– Vamos ao que importa – disse Lana ao entregar um copo com água ao meu pai. – Aqui está uma cópia, Charlotte. Peter pode analisar a nossa enquanto você fica ciente de como vai funcionar. O contrato é o padrão. Alex não queria te favorecer em nada – Lana foi firme ao falar, como se aquela fosse a sua vontade também.
– Acho justo – afirmei sentindo-me estranha.
Não seria agradável receber favorecimentos porque sou noiva do editor-chefe. Seria vergonhoso. Meu pai me deu um olhar de aprovação e continuou analisando o contrato. Ajustei os óculos, ainda incomodada com o sentimento, e procurei me ater ao que dizia o papel em minha mão.
– Certamente foi impossível não conceder alguns benefícios descritos em seu contrato, embora tudo o que foi colocado esteja diretamente ligado à qualidade e importância do seu material, Charlotte – Alex falou usando o seu tom profissional, sem tirar os olhos de mim. – Apesar de ser uma autora iniciante, nós tivemos ótimas avaliações e, como já havia dito, estamos apostando em seu livro.
– Livros – completou Lana sorridente. – Afinal, será uma trilogia – Alex também sorriu orgulhoso. – E, por falar nisso... – ela se levantou dando a volta no sofá e parando para se apoiar logo atrás de onde meu pai estava – ... trate de trabalhar. Nós temos prazos estabelecidos para a entrega do próximo volume.
– Farei o possível.
A conversa seguiu em torno do contrato e de como eles pretendiam fazer a divulgação. Eu prestei bastante atenção, afinal de contas era do meu interesse tudo o que aconteceria ali. No entanto, existia uma parte de mim que ainda se perguntava por que mereci apenas um beijo no rosto. E outra bastante significativa que insistia em repassar as imagens de tudo o que eu já havia feito naquela sala com o meu futuro marido.
Inferno!
Se já não era bom ficar excitada tendo Alex fugindo de mim como o diabo foge da cruz, ficar excitada sabendo que seria rejeitada, e ainda precisar fazer cara de filha santinha para o meu pai, era o fim do mundo.
ALEX
Por fim, Peter aprovou o contrato, todo sorridente com o charme que só Lamara conseguia lançar sobre seus clientes para conseguir o que desejava. Ela tinha este dom. Simplesmente encantava as pessoas que, instantaneamente, passavam a fazer tudo o que ela queria. Não fora o que aconteceu comigo e Patrício? Não era desta forma que ela mantinha João Pedro sob o seu comando? E por que seria diferente com qualquer outra pessoa?
Charlotte permaneceu calada, não demonstrando o menor entusiasmo, o que para mim era estranho, já que se tornar uma escritora de sucesso era o seu maior objetivo de vida, capaz de fazê-la cometer todas as loucuras possíveis.
Mordi o lábio evitando o sorriso que insistia em se expandir. Eu bem sabia tudo o que aquela menina fora capaz de fazer e a maneira astuta como me envolveu em seu plano diabólico.
Ah, Charlotte! E você nem faz ideia do quanto eu venero esta sua determinação!
Por fim, ela assinou e, no final de tudo, eu pude até notar um brilho especial em seus olhos e a maneira deliciosa como ela corou ao me olhar, provavelmente ecoando os meus pensamentos. Porque naquela hora eu apenas pensava: valeu a pena cada aula.
E se valeu!
– Agora um agrado especial – Lana disse com animação. – Eu, como nova editora-chefe desta casa, tomei a liberdade de providenciar a nossa comemoração – ela abriu a porta e falou alguma coisa com a minha secretária, depois voltou de lá com uma bandeja contendo algumas taças e um balde com gelo e champanhe. – Um brinde todo especial à minha futura cunhada.
Lana me passou a garrafa, dando-me a honra de estourá-la, o que fiz sem poupar floreios. Charlotte voltou a sorrir e seu sorriso me fez ganhar o dia. Ela era linda! Servi as taças e, após entregar cada uma delas, fizemos um brinde.
– À Charlotte – falei tomando a liberdade de fazer aquele discurso. – Pela menina insistente e determinada – ela sorriu com doçura. – E principalmente pela mulher incrível, inteligente, criativa – sorri, fazendo-a entender que eu também lembrava. – À nossa mais nova escritora best-seller.
– Posso colocar uma pontinha de discurso de pai? – Peter me interrompeu gracejando. – À filha mais teimosa e decidida que um pai antiquado poderia ter. Que o seu sonho se torne realidade, Lottie, e que as suas escolhas revelem sempre um caminho de felicidade e satisfação. Não foi o que eu planejei, no entanto, eu não poderia estar mais orgulhoso.
Até eu fiquei emocionado. Peter fazia o tipo figurão, o pai durão que jogava duro e de acordo com as suas regras. No fundo, ele era um homem com medo de perder o controle, de errar com as crianças que foram deixadas sob seus cuidados e que as amava acima de tudo, até dele mesmo. Ele era um bom pai e disso Charlotte não tinha dúvida.
E Charlotte? Ela olhou para cima, para os lados, respirou um pouco mais rápido e até mordeu o lábio inferior, tudo para tentar disfarçar a emoção que por pouco não escorreu pela sua face. A mania de ajeitar a armação dos óculos sob o nariz serviu apenas para me certificar do esforço que ela fazia para não chorar e, quando bebeu metade do conteúdo de sua taça de uma vez, usou como desculpa para os olhos úmidos.
Essa era a minha garota!
– Não vamos atrapalhá-los mais – Peter começou depositando a taça sobre a minha mesa. Disfarcei, circulando a sala, e acenei para Lana, que rapidamente entendeu o que eu queria. – Eu ainda tenho que trabalhar e Mary vai precisar de companhia para um jantar de arrecadação de fundos para uma de suas causas – sorriu como um bobo apaixonado. – Ela parece querer salvar o mundo.
– É sempre bom estarmos engajados em campanhas como as que Mary tanto se compromete – Lana cruzou o braço com o de Peter, levando-o para fora da sala. Eu e Charlotte saímos atrás dos dois.
– Sim, sim. E eu confesso que adoro saber que casei com uma mulher tão generosa. Mary sempre foi assim... – eles continuaram a conversa enquanto Charlotte atrasou mais um passo.
– Feliz? – ela me olhou como se eu tivesse falado a maior besteira do ano.
– Por que me deu só um beijo no rosto?
O quê? Precisei parar para pensar no que ela tinha acabado de dizer. Eu realmente ficava muito confuso com as maluquices da minha noiva. Havia imaginado um milhão de sentimentos partindo daquela garota, menos aquele, nunca. Nunca mesmo! Poderia até jurar que naquele momento Charlotte estaria leve como uma pluma. Realizada.
– Do que você está falando? – retardei mais um pouco os nossos passos, sem deixar que Peter percebesse.
– Você! – ela parou um pouco mais exaltada. – Por que me deu um beijo no rosto?
Olhei para Charlotte sem acreditar, então dei risada. Ela conseguia ser adulta e infantil ao extremo e com segundos de diferença.
– Amor, aqui é o meu trabalho – continuei sorrindo.
Tenho que admitir, eu ficava louco da vida com as infantilidades da minha noiva, porém amava cada uma delas. Era como se, de repente, Charlotte se transformasse em uma garota perdida, confusa e sem rumo.
– Lana e João Pedro não se preocuparam com isso – o vermelho suave que estava em suas bochechas ganhou um tom mais forte. – E você já fez muito mais do que me beijar naquela sala, Alex Frankli – falou baixinho me encarando com olhar desafiador.
Mordi o lábio olhando rapidamente para os dois que seguiam, Lana fazendo de tudo para que Peter se esquecesse de nós dois. Voltei a olhar Charlotte, o nariz empinado, o queixo projetado para cima, os olhos estreitos e aquele vermelho... Eu podia fazê-lo se expandir ainda mais.
Aproximei-me cuidadosamente, saboreando a reação dela, que aos poucos foi perdendo a postura desafiadora e assumindo uma de expectativa, mais submissa do que rebelde. Porra, eu amava aquela menina! Sem precisar pensar duas vezes, segurei em seu rosto e colei meus lábios aos dela. O sabor cítrico do champanhe, misturado ao doce do seu batom tornou o beijo mais prazeroso.
Ela abriu os lábios, permitindo que minha língua brincasse com a dela. Uma delícia. Mas eu precisava ser breve, até porque eu tinha planos e nada do que eu havia imaginado poderia acontecer ali.
Desfiz o beijo, ainda segurando o seu rosto e rocei a ponta do nariz até sua orelha. Antes, olhei para Peter, certificando-me de que estávamos seguros, então me voltei outra vez para Charlotte.
– Quer passar a tarde comigo? – vi quando os pelos do seu braço se eriçaram. Não resisti e deslizei meus lábios até seu pescoço e desci minha mão para sua pele arrepiada.
– Aqui? – aquela voz doce e fraca, carregada de tesão me deixou louco.
– Em um motel – sussurrei em sua pele, rezando para que apenas Charlotte fosse capaz de ouvir a minha proposta.
Ela se afastou me encarando com os olhos arregalados. O rosto afogueado, a respiração acelerada. Charlotte estava excitada, e eu estava adorando.
– Tenho uma proposta para te fazer.
CAPÍTULO 24
“O amor é dos suspiros a fumaça; puro, é fogo que os olhos ameaça; revolto, um mar de lágrimas de amantes... que mais será? Loucura temperada, fel ingrato, doçura refinada.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Ainda atônita, vi Alex se afastar, indo em direção ao meu pai. O que ele faria? O que diria? Porra, claro que Alex jamais pediria permissão a meu pai para me levar a um motel. Lógico que ele não teria coragem!
E o que eu faria? Ora, eu o acompanharia a qualquer lugar que ele quisesse me levar. Eu sempre seguiria Alex Frankli. Sempre.
Meu coração acelerado não dava trégua e eu assistia em câmera lenta Alex se aproximar do meu pai ao mesmo tempo que sentia cada partícula do meu corpo guerreando entre si, minhas células, alucinadas e em alvoroço, ansiosas demais pelo próximo passo.
Ainda existia uma parte de mim que tinha outro tipo de preocupação: a calcinha. Quando Alex me perguntou se eu queria passar o dia no motel com ele, minha cabeça deu um nó, e a minha calcinha tornou-se um problema inesperado.
Era mesmo uma merda que eu estivesse sempre preparada para ele, que desde quando surgiu a possibilidade de transarmos eu tivesse pensado em calcinhas, sutiãs, depilação e tudo o que uma garota normal precisa cuidar para estar sempre apresentável. Para meu azar naquele dia, talvez por ter a certeza de que nada aconteceria, ou pela frequente recusa de Alex, eu tenha pensado em uma calcinha mais confortável, que não marcasse o vestido, deixando o lado de fora mais apresentável do que o de dentro.
Merda!
Eu estava com uma calcinha imensa, daquelas que cobrem todo o bumbum e sobem quase até o umbigo. E para agravar o problema, ela era bege. Bege! Dá para acreditar?
E, como se a minha mente fosse realmente algo complicado demais para ser entendido, eu ainda conseguia me questionar sobre a razão para aquilo tudo. Não era possível ignorar a reação do meu namorado quando eu lhe fiz a mesma proposta. Ele havia sido categórico ao afirmar que não se sentiria à vontade em um lugar como aquele comigo.
Então, o que mudou? E o que me levar a um motel tinha a ver com a proposta que ele tanto insistia em fazer?
Eu não conseguia entender. Não conseguia. Mesmo assim, faria o que fosse possível para que Alex não voltasse atrás.
– Peter, eu gostaria que Charlotte ficasse – ele me olhou rapidamente mantendo uma postura tranquila. – Passasse a tarde aqui comigo.
– Aqui? – meu pai olhou de um para o outro com desconfiança. – No seu trabalho?
– Sim – Alex deu de ombros, colocando as mãos nos bolsos. – Eu não tenho mais nenhuma reunião agendada para hoje, apenas alguns assuntos para resolver.
– Ela não vai te atrapalhar?
– Pai! – quase gritei exasperada. – Não sou mais nenhuma criança, está legal?! Não preciso de autorização para passar a tarde com o meu noivo, nem de recomendações para não atrapalhar o trabalho dele. Que droga!
– Mocinha! – ele me ameaçou com o olhar, mas eu não senti medo.
– Ela não vai me atrapalhar, Peter – Alex afirmou divertido, puxando pela cintura para perto dele. – E eu quero conversar com ela sobre o casamento. Definir algumas coisas – sorriu confiante.
Não sei por quê, mas Alex conseguiu fazer meu pai recuar. Como se a palavra “casamento” fosse mágica e abrisse todas as portas. Pelo menos para mim. Não dava para acreditar que meu pai estava cedendo porque queria me ver casada com Alex. O que estava acontecendo com aquela família? Quer dizer que, se eu aceitasse casar sob os termos dele, estava liberada para transar?
Inacreditável!
Obviamente não rebati, nem argumentei. Era muito mais importante ir ao motel com Alex do que entrar em uma discussão com o meu pai sobre o meu “em breve”, ou não, casamento.
– Tudo bem – meu pai disse por fim. – Se não vai te atrapalhar... – ele me deu um olhar cheio de significados, o mais importante era: eu sei o que você vai fazer e não estou nada satisfeito. Então, por que aceitou, oras?
Revirei os olhos e cruzei os braços. Alex estreitou o braço em minha cintura como um alerta para que eu ficasse calada.
– Vejo você mais tarde.
– Combinado – Alex estendeu a mão para apertar a do meu pai. Aquele aperto demorou mais do que o necessário. – Ah, Alex? Charlotte está sem carro. Você deve levá-la para casa. Nada de táxi. O mundo está muito louco.
– O quê? – quis argumentar, mas Alex praticamente me jogou para trás me impedindo de falar.
– Claro, Peter! Até mais tarde.
E assim meu pai entrou no elevador nos olhando com desconfiança até a porta se fechar.
ALEX
Pronto. Estava feito. Tudo arrumado conforme o planejado e não havia mais como voltar atrás. Eu não voltaria, já Charlotte...
– Ok! Agora comece a se explicar – minha noiva, de braços cruzados, encarou-me aguardando por respostas.
– Eu acabei de dizer a seu pai que você não me daria nenhum trabalho – brinquei vendo-a ficar ainda mais irritada.
– Eu vou embora, tá? – Lana falou, ganhando a nossa atenção. Ela já estava afastada de nós. – Espero que o que quer que esteja passando pela cabeça de vocês dois, não aconteça no corredor – ela nos olhou séria e depois riu dando mais alguns passos para trás. – Ao trabalho, Alex. Ainda há muita coisa para fazer por aqui.
Lana se afastou, indo em direção às escadas, só que eu ainda precisava da minha irmã.
– Lana! – corri para encontrá-la. – Preciso que faça algo por mim.
– Agora?
– Hum! Não, mas em alguns minutos. Primeiro eu tenho que responder alguns e-mails e assinar alguns documentos, depois disso... – passei a mão no cabelo retirando os fios longos que caíam pela testa. Estava na hora de cortá-los – ... preciso de um tempo com Charlotte – e fiquei constrangido por conversar sobre esse assunto com a minha irmã, se bem que não era a primeira vez que ela me ajudava a conseguir algumas horas com a minha noiva.
– Você precisa começar a aprender a se virar sozinho, irmãozinho. Não me lembro de ter a sua ajuda quando precisei de tempo e espaço com o João.
– É completamente diferente.
– Ah, é?
– E eu fazia vista grossa quando você passava do horário. Dava um tempo ouvindo música no carro quando você fingia ter se perdido da gente nos shows, só para que Patrício não enlouquecesse te vendo entrar sozinha em casa.
– Droga! Você sabe mesmo como chantagear uma irmã caçula.
– É. Eu sei.
– O que quer que eu faça?
***
Ela ainda me encarava, sentada na cadeira em frente à minha. Eu fingia trabalhar, mas não havia como me concentrar no que eu precisava fazer. Lana cuidaria de tudo. No momento, eu precisava de duas coisas: resolver o problema e ter Charlotte em meus braços.
– Então? – Charlotte tentou mais uma vez.
– Então o que, amor?
– Não vai me dizer o que o fez mudar de ideia?
– Fora o fato de estar morto de saudade de você? – ela estreitou os olhos e sua boca se abriu um pouco, deixando-a ainda mais bonita. – Eu vou te dizer. Vou dizer tudo o que você quer ouvir, mas não aqui.
– A proposta.
– Isso. A proposta.
– Vamos logo então – esbravejou e eu ri.
– Preciso resolver algumas coisas – tentei voltar minha atenção para uma avaliação que Lana tinha me enviado há mais de uma semana e que eu ainda não havia conseguido verificar.
– Isso é uma droga – cruzou os braços novamente e se encostou na cadeira. – Só falta você me dizer que antes vamos almoçar – ri. Charlotte parecia uma criança fazendo birra.
– Assim eu vou me sentir culpado por levar uma garotinha birrenta a um motel – ela me mostrou a língua e depois começou a rir.
– Você é um idiota.
– Que falta de respeito.
Desliguei o computador sem voltar a olhar para ela. Depois levantei, organizei os papéis sobre a mesa, peguei minha carteira e a chave do carro, coloquei a cadeira no lugar e peguei meu paletó. Charlotte me observava com atenção.
– Já vamos?
– Não é o que você queria?
– E você não? – abracei minha noiva pela cintura e beijei seu pescoço, desarmando-a por completo.
– Não vejo a hora de tirar este vestido – revelei me dando conta do quanto eu realmente queria aquilo.
Charlotte me deu um sorriso sem graça e se afastou, torcendo os dedos uns nos outros. Eu, de verdade, não entendia aquela garota. Uma hora, ela me seduzia e me implorava para comê-la e, na outra, ficava envergonhada ao extremo porque eu disse que queria tirar a sua roupa.
Vá entender!
– Vamos antes que você desista – segurei em sua mão e a conduzi para fora.
– E o almoço? – corou timidamente.
– Pensei que estivesse com pressa – ela corou mais uma vez e baixou os olhos. – Eles servem almoço lá. Eu já estou com tudo pronto – puxei Charlotte de encontro a mim, deixando que ela sentisse a minha ereção. – Tudo pronto – sussurrei em seu ouvido fazendo-a estremecer.
CHARLOTTE
Tudo bem, eu poderia me livrar da calcinha em dois tempos, mas o que diria a Alex quando ele percebesse que eu estava sem ela? Uma coisa era eu tirar a calcinha para impressioná-lo antes de uma aula, outra era sair para assinar um contrato, sem nenhuma promessa feita, e me apresentar sem calcinha.
Para piorar tudo, Alex constantemente tentava me tocar. Não tocar de uma maneira normal, mas ele estava dirigindo, com uma mão em meu joelho que subia entre as minhas coxas tentando chegar ao local proibido.
Não consegui. Eu queria, porém não conseguia deixá-lo me tocar, não enquanto estivesse usando aquela calcinha horrorosa que provavelmente o faria rir de mim e perder metade do desejo que demonstrava sentir.
Não. Eu teria que dar um jeito. Qualquer coisa que impedisse Alex de me ver com aquela coisa ridícula que eu inventei de usar naquela manhã.
Ele estava achando divertido me atiçar enquanto dirigia. Talvez este fosse o fetiche de muitos homens, sentir o controle da máquina enquanto controlava o próprio corpo apenas estimulando, dando doses homeopáticas do que viria a seguir. É... este poderia ser um desejo dele. Um que eu teria o maior prazer em satisfazer, no entanto, não ali e, definitivamente, não com aquela calcinha.
Alex entrou em uma rua mais tranquila, com pouco movimento de carros, o que me deixou mais relaxada, porém nada menos apreensiva. Ele parou em frente a um portão que impedia que enxergássemos qualquer coisa além dele. Ao seu lado, uma cabine com vidros fumê e um microfone direcionado para o motorista.
Atrás daquele vidro havia uma pessoa. Provavelmente um homem, e ele, com certeza, estava naquele momento enxergando as minhas pernas, por causa da altura da cabine em relação ao carro, e sorria ironicamente pensando um monte de sacanagem. Claro que ele pensava assim, afinal de contas, todos os clientes daquele local estavam ali com a mesma finalidade: transar. E transar de todas as formas sacanas possíveis.
Merda! Por que eu tinha aqueles pensamentos? A pessoa que estava atrás do vidro poderia ser uma senhora, uma mãe de família, uma religiosa... não, aí seria demais. Mas poderia ser uma pessoa comum em um trabalho comum, que pouco se importava se a dona daquelas pernas iria abri-las de tal ou tal maneira. Ela podia simplesmente não se importar, ou estar ocupada com um problema de família, ou até mesmo finalizando um trabalho de faculdade, quem poderia saber?
A voz feminina que nos cumprimentou me deu um pouco mais de alívio. Não que eu quisesse continuar pensando que um homem certamente estaria sorrindo com pensamentos impróprios, o fato de saber que outra mulher estava do outro lado me deixava mais à vontade. Só um pouco.
– Fiz uma reserva. Suíte presidencial. Está em nome de Alex Frankli.
– Você deu o seu nome de verdade? – sussurrei sentindo meu rosto esquentar e meu coração acelerar.
Meu Deus! Qualquer pessoa poderia conseguir uma cópia daquela reserva e vender a informação. No dia seguinte, estaríamos estampados em todas as revistas de fofoca sob o título “O editor Alex Frankli passou uma tarde agradável até demais ao lado de uma garota misteriosa”. Puta merda! Meu pai me mataria. Eu tinha certeza! Alex riu e me encarou com diversão enquanto a mulher solicitava a identidade da acompanhante.
A minha identidade. Não, não, não.
– Charlotte? – ele estava com a mão estendida, aguardando o meu documento.
– Não vou entregar a minha identidade – segurei a minha bolsa com força.
– O quê?
– Você enlouqueceu? Ela pode vender esta informação para qualquer revista de fofoca. Não preciso do meu nome estampado embaixo de uma foto do seu carro entrando em um motel – tentei manter a voz baixa, mas o meu desespero era perceptível.
Alex me encarou sem acreditar em minhas palavras. Sua boca levemente aberta parecia querer dizer muitas coisas, mas ele apenas balançou a cabeça, passou a mão pelo cabelo, respirou fundo e voltou a me olhar.
– Amor, existem muitos pontos para serem explicados, mas não podemos discutir este assunto aqui, na portaria. Apenas me entregue a identidade e conversaremos lá dentro.
– Para quê? Por que ela precisa da minha identidade?
– Porque menores não podem entrar em motéis, Charlotte – havia certo divertimento em seu tom de voz, o que me irritava um pouco.
– Eu não sou menor de idade – rosnei mantendo a voz baixa.
– Ela não sabe disso – e me encarou com a confiança de um vencedor.
– E se ela vender a informação? E se algum paparazzi idiota oferecer dinheiro para saber com quem você entrou no motel? E se...
– Charlotte! – disse com a voz firme. – A identidade – e voltou a estender a mão. – Ou desistimos da nossa tarde.
Muito cautelosamente abri a bolsa e procurei pelo documento. Respirei fundo, fiz uma oração internamente e entreguei a Alex a minha vida, porque certamente eu a perderia se meu pai descobrisse onde passei a tarde.
Ele retirou o documento da minha mão e o passou por uma pequena fenda logo abaixo do vidro, quase imperceptível. Depois me olhou como se estivesse procurando alguma coisa em meu rosto, e começou a rir.
– Qual a graça?
– Você é... inacreditável.
– Sou?
– É sim.
Com a mão ele acariciou meu rosto, contornando minha bochecha com o polegar e depois os meus lábios. O tempo inteiro me manteve cativa dos seus olhos, azuis brilhantes, escuros e profundos. Uma perdição. Então a mulher anunciou que a suíte estava pronta e que poderíamos seguir para a cabine dezoito, logo em seguida devolveu o meu documento, e o portão começou a se abrir.
Alex ainda sorria do que quer que fosse que ele tivesse achado graça naquela situação e eu voltei a me preocupar com meus outros temores. A maldita calcinha que parecia pertencer à minha avó.
Pela forma como ele dirigia, percebi que aquele era um local familiar para Alex, e logicamente, senti raiva. Era frustrante ele ter uma vida sexual antes de mim enquanto, até pouco tempo, eu não sabia nem como me masturbar.
Assim que encontrou a cabine dezoito, um pouco mais afastada das outras, e também maior, ali cabiam três carros sem problemas... por que três carros? Oh, merda! Meu rosto esquentou e depois esquentou mais ainda quando imaginei se Alex já tinha feito algo desse tipo.
– Você já esteve aqui – afirmei para não lhe dar a chance de mentir.
– Ah... não neste quarto – desligou o carro e aguardou.
Continuei encarando o meu noivo ciente de que ter um ataque de ciúmes naquele momento não seria nada conveniente, afinal de contas, eu sabia que ele tinha um passado, assim como ele sabia que eu nunca havia estado em um local como aquele, nem em nada parecido acompanhada de um homem... Bom, sempre é bom frisar que nem de mulher.
– Isso é um problema para você? – senti a cautela em sua voz e me perguntei se eu tinha sido sempre um problema quando o assunto era as mulheres com quem ele já havia transado.
– O quê? O fato de você ter comido metade da cidade antes de me conhecer? – dei de ombros tentando parecer indiferente. – Não.
– Metade da cidade? – ele riu balançando a cabeça. – Nunca tive todo este tempo disponível, Charlotte.
– Ok! Você disse que tinha uma proposta – Alex parou de rir, e o clima mudou automaticamente.
– Direto ao assunto – resmungou apreensivo.
Se ele não queria fazer a tal proposta então por que ficou me tentando com a ideia durante tanto tempo?
– Nós podemos conversar sobre a possibilidade de amanhã estarmos em apuros, por causa da informação que, com certeza, aquela mulher vai vender ao primeiro que aparecer, ou quem sabe podemos passar uma boa parte desta tarde discutindo sobre o fato de eu ter sido recebida com um beijo no rosto para logo em seguida ser convidada para passar o dia em um motel, ou até mesmo sobre as mulheres que você trouxe aqui, em um passado não tão remoto.
Ele riu, mantendo um pouco do seu nervosismo e batucou no volante do carro.
– Prefiro passar o mínimo do nosso tempo conversando e o máximo te comendo.
Porra!
Engoli com dificuldade, sem conseguir me concentrar em mais nada. Por mim acabávamos a parte da conversa e partíamos para a segunda etapa. Aliás... sim, eu daria um jeito naquela calcinha.
– Imagino que seja algo ligado ao nosso casamento – arrisquei já sentindo o familiar desconforto que o assunto me causava e eu ainda não conseguia entender o motivo.
– Exatamente.
– Não podemos conversar lá dentro? Tem que ser aqui, no carro?
Alex se ajeitou no banco, virando-se em minha direção. Suas mãos caíram, juntas, dedos cruzados entre as pernas. Ele respirou fundo, tomando coragem para começar. Eu bem sabia o que viria, então me preparei para não pôr tudo a perder. Nós não precisávamos de mais mágoas, e eu já tinha aceitado diminuir aquele prazo, então...
– Eu quero lhe fazer uma proposta – ele começou. Concordei sem nada dizer, para que ele continuasse sem perder tempo. – Você sabe como eu me sinto estando em um motel com você – eu queria responder, no entanto Alex levantou uma mão me impedindo. – Eu amo você, Charlotte. Morro de tesão por você. Mas estar em um motel me faz pensar que isso tudo que construímos não tem valor. Eu sei que é uma babaquice e que vários casais costumam quebrar a rotina em lugares como este, porém, durante toda a minha vida sexual, eu utilizei estes lugares para estar com mulheres que acreditava não merecerem estar em minha casa, em minha cama. Era pura e unicamente satisfação física, nada mais que isso. Nunca estive em um quarto de motel com alguém por quem eu tivesse sequer um carinho especial. Isso pode ser uma questão de ponto de vista e, como não sou muito de sustentar uma idiotice como esta, resolvi que valia a pena tentar. Para mim, estar com você é sempre especial, mesmo achando não ser este um lugar para ficarmos juntos – sorriu sem graça.
– Você tem razão, isso tudo é uma bobagem, embora eu esteja muito feliz que tenha decidido me dar mais esta experiência.
– Mesmo você achando que alguém pode colocar nos jornais? – aquele sorriso foi realmente muito escroto. Alex estava desdenhando de mim?
– Isso pode acontecer.
– Não pode. E eu acredito que realmente não exista ninguém interessado em minhas idas ao motel.
– Idas?
– Você entendeu. Voltando ao assunto... – ele ficou sério de novo. – Eu quero realmente ter mais esta experiência com você, só quero que você saiba que, mais uma vez, estou passando por cima de algo em que acredito para satisfazer a uma vontade sua. Não que seja um sacrifício, não é. Preciso frisar que estou cedendo mais uma vez, Charlotte. Eu estou sempre cedendo – e me encarou com uma intensidade que me constrangeu.
Era verdade o que Alex dizia, e eu seria muito injusta se resolvesse ser a mimada da vez para desafiá-lo. Alex não apenas cedia, ele era sempre compreensivo e disposto a satisfazer as minhas vontades. Ele era o homem perfeito.
– Isso tudo tem um preço, não é mesmo? – vi quando ele recuou um pouco. Seus dedos se fecharam e abriram e seus olhos se desviaram dos meus. – É uma troca?
– Eu quero... eu preciso, Charlotte, que você acabe de uma vez por todas com esta angústia que me apavora todos os dias.
Meu coração acelerou. Eu não queria que Alex vivesse atormentado. Não queria que sofresse.
– E o que posso fazer?
Tive medo de perguntar, apesar de saber que não havia mais como fugir. A decisão precisava ser tomada. Mesmo assim minhas mãos tremeram e eu senti frio, apesar de o local estar relativamente quente. Por que era tão difícil dar aquele passo?
– Você sabe o que eu quero, Charlotte.
– Pensei que eu já tivesse concordado em revermos o prazo.
– Eu não quero somente rever o prazo. Eu quero casar o mais rápido possível – engoli em seco.
– E quando seria isso? – mais uma vez Alex puxou o ar com força e voltou a colocar as mãos no volante.
– A minha proposta é: eu fico aqui com você, passo por cima dos meus princípios, enfrento as regras do seu pai, faço mais uma vez a sua vontade e, em troca, você deixa que eu escolha a data do nosso casamento – sorri. Que importância tinha ele ou eu escolher uma data? Dei de ombros.
– Escolha a data então – Alex umedeceu os lábios. Ele estava nervoso. Muito nervoso! Seus dedos se fecharam no volante, deixando as juntas brancas. Havia muito mais do que uma simples escolha de data.
– Tem ideia do que está dizendo?
Pensei em tudo o que ele tinha dito até aquele momento. Era muito além do que eu poderia imaginar. Não dava para evitar o tremor do meu corpo, nem o incômodo em meu estômago. Levei a mão aos óculos e os retirei para limpar a lente no tecido do vestido.
– Não dá mais para esperar, Charlotte. Eu tentei de todas as formas aceitar as suas condições, tentei ser forte para as regras do seu pai, e realmente entendo o fato de ele ser assim, mas existe muito mais em jogo do que o seu medo de assumir algo mais sério comigo.
– Você tentou terminar e agora está me dando um ultimato? – Alex rosnou baixinho encostando-se no banco do carro.
– Não posso mais esperar. Eu te amo! Não quero precisar pedir permissão a seu pai sempre que quiser te tocar. Estou me consumindo em angústia e desespero.
– Alex! – parei a conversa antes que ficasse pior. – Por que não me diz o que está acontecendo? Por que não me conta o motivo real disso tudo? Você me disse que tinha um motivo, então qual é?
Ele me avaliou com olhos sofridos. Realmente ali na minha frente estava um homem consumido em angústia, e eu sabia como acabar com tudo aquilo.
– Vamos conversar lá dentro.
Alex desceu do carro sem aguardar por mim. Eu fiz o mesmo, saindo e observando cada passo dele. Droga! Era para ser um dia maravilhoso envoltos em lençóis e sem a calcinha da minha avó para atrapalhar. Como aquele se transformou no menor dos meus problemas de uma hora para outra?
Ele abriu a porta que dava passagem para o quarto, mas parou me permitindo entrar primeiro, como um perfeito cavalheiro. Eu estava confusa. Não sabia o que pensar diante da situação. Tínhamos conversado e ele parecia ter compreendido a minha posição em relação ao casamento precipitado. Agora estávamos ali, com a permissão do meu pai, o que era muito estranho, e Alex tentando a qualquer custo me convencer a casar o mais rápido possível.
Lógico que eu preferia esperar e, com o tempo, exorcizar todos os meus demônios tornando-me mais segura e confiante, sabendo ao certo como agir para não acabar estragando tudo, além de conhecer melhor o meu futuro marido. Por outro lado, ao ouvir os argumentos de Alex, era impossível não me sentir ansiosa. Eu o amava e gostaria de atender a todos os seus desejos, realizar os seus sonhos, como ele tinha dito que faria por mim. Será que essa seria a decisão correta?
Sem dizer nada, meu namorado começou a acender as luzes, revelando um espaço amplo, muito maior do que eu poderia imaginar. Logo ao lado da porta havia um sofá longo, daqueles que acolhe uma família inteira e mais alguns amigos. Meu pensamento voltou aos três carros que cabiam na garagem e em quantas vezes aquele mesmo quarto teria recebido grupos de pessoas para uma brincadeira mais ousada.
Nossa! Eu entendia por que Alex relutou tanto em me levar a um motel.
Por outro lado, eu nunca havia visto nada tão extraordinário e estimulante quanto aquele quarto. Tudo ali era apropriado. Apesar de dar uma ideia de ambiente normal, como a imensa porta que abria para os dois lados ao mesmo tempo girando sobre o próprio eixo e revelando um quarto grande com uma cama imensa, digna de grandes filmes de amor. Até então era uma mistura de moderno e clean.
Alex retornou e nas suas mãos, duas taças contendo o que deduzi ser vinho. Levantei imediatamente, recebendo a que ele estendeu em minha direção. Meu noivo ainda estava nervoso, eu podia jurar.
– Quer conhecer o restante do quarto? – concordei, aceitando a sua mão.
Passamos direto sem entrar no reservado para a cama. De frente para a parede que nos separava do quarto, estavam duas poltronas bem confortáveis e largas e na outra parede um telão. Notei óculos 3D sobre a mesa de centro e imaginei se alguém realmente ocuparia aquele quarto para ver filmes. Bom, alguns filmes talvez sim. E em 3D...
– Aqui.
Alex me fez continuar andando até darmos de cara com uma piscina maravilhosa. O teto solar permitia que o ambiente ficasse claro com a luz do dia e reservado como o ambiente pedia. O ar-condicionado mantinha a temperatura agradável. Uma pequena escada revelava um andar superior.
– O que tem lá em cima?
Alex se postou às minhas costas e alisou meus braços. Estremeci. O gelado da sua taça roçando um dos meus braços ajudava a me deixar naquele estado. Aquilo tudo só para nós dois era estimulante demais. Conseguia até se sobrepor à angústia que eu sentia por causa da conversa.
– Um balanço.
– Balanço? – ele riu.
– Um balanço erótico – e beijou meu ombro fazendo minha pele ficar arrepiada. – Um jardim de ambiente fechado – outro beijo e mais firmeza dos seus dedos em meus braços. – Um divã. Você gosta de divãs?
– Hum! – gemi ao sentir seus lábios subindo pelo meu pescoço. – Não sei dizer, mas posso descobrir.
– Tenho certeza de que sim. Também tem uma sala para refeições, um chuveiro grande e uma hidro.
– Legal – sussurrei.
– Tudo isso para apenas um dia?
– Normalmente, uma noite inteira, mas nós só temos algumas horas – ele se afastou um pouco, fazendo-me virar em sua direção. – Pensou na minha proposta?
– Isso é chantagem – tentei brincar sentindo o clima começar a se modificar. Alex levou uma mão a boca e apertou o lábio inferior. – Precisamos realmente voltar hoje?
– Não se esta for a sua vontade, Charlotte.
– A minha vontade não tem valido muita coisa nos últimos dias – rebati.
Certo! Fui infantil. Não era muito justo confrontar o homem que eu amava, especialmente quando estava implorando para que me casasse com ele. Tudo bem que este fato apenas me deixava ainda mais insegura, também não podia deixar de pensar que a maioria das mulheres gostaria de ter um homem como Alex em sua vida.
– A sua vontade é tudo o que está prevalecendo até agora – ele voltou a se aproximar, desta vez me encarando firmemente. – Aliás, a sua vontade é só o que tenho feito desde que tive a ideia maluca de ameaçar o seu projeto.
Engoli em seco. Alex estava com raiva? Será que o que eu mais temia tinha vindo ao meu encontro? Porque, desde que me permiti amar aquele homem, sabia que chegaria o momento em que ele me acharia infantil demais, jovem demais, inexperiente demais. Deixaria de curtir a ideia das aulas particulares ou qualquer coisa do tipo. Só não imaginava que seria tão cedo.
– Desculpe! – passou a mão pela testa tentando recuperar o controle. – O que você quer fazer? Quer voltar?
– É o que você quer? – encolhi-me com medo da sua resposta.
– Por que acha que eu viria até aqui com você para voltar logo em seguida?
– Não sei – dei de ombros temerosa. Ele tinha dito que me amava, então por que meu coração não parava de acelerar? – Pensei que você não quisesse desafiar o meu pai – arrisquei.
– Não estou desafiando. Você sabe que Peter imagina onde estamos.
– É. Eu sei. O que eu não consigo entender até agora é o que você fez para que ele concordasse tão prontamente com isso tudo, porque é inacreditável que uma pessoa com tantas regras e controle não faça vista grossa para o fato de que eu possa passar o dia no motel com o meu namorado. Isso não é estranho?
– Disse que casaríamos em quinze dias... – não desfez o nosso olhar, nem mesmo quando viu a minha cara de espanto. – Que eu conseguiria convencê-la – acrescentou sem demonstrar nenhum abalo.
– O quê? – as palavras quase não saíram. O ar estava preso em meu peito.
– Posso ligar para ele agora mesmo e falar que você não está de acordo. Neste caso, acredito que vai nos mandar retornar imediatamente. Volto a afirmar que a sua vontade prevalecerá.
Ele estava sério e me encarava com bastante segurança. Porém não demonstrava muita paciência, ou dava qualquer indício de que estava brincando. Minha cabeça girou e meus pulmões queimaram. Não percebi que lágrimas caíram. O que Alex tinha feito?
– Não precisa encarar isso como um pesadelo, Charlotte. Eu posso desfazer tudo com apenas uma ligação, basta me dizer o que deseja.
– Por que está fazendo isso comigo? – foi só o que consegui dizer.
Alex continuou parado onde estava. Ele não conseguia entender a minha reação e se dividia entre perder a paciência com a minha infantilidade e ceder mais uma vez e tentar me consolar.
– Ok! Vou ligar para Peter e dizer que estamos voltando.
– Não! – o desespero prestes a me dominar poderia estragar tudo.
– Charlotte, esqueça isso, certo? Vou encontrar uma maneira de convivermos com as nossas diferenças. Vamos embora.
Sem conseguir me conter me joguei em seus braços. Alex ficou imóvel, surpreso demais para me acolher, ou cansado demais para continuar? Eu não sabia. A cada segundo que ele demorava para reagir, meu peito afundava entregando-se a uma dor insuportável.
– Calma! – finalmente ele fechou os braços em volta de mim me abraçando com força, como se quisesse apaziguar os meus conflitos. – Está tudo bem, amor! Desculpe! – chorei copiosamente, permitindo que todos os meus temores saíssem em forma de lágrimas.
Alex me carregou em seus braços, levando-me para o quarto reservado. Com o rosto afundado em sua camisa, eu não prestei atenção em nada que havia lá dentro, até que ele me deitou na cama, com cuidado e carinho, sentando-se ao meu lado, acariciou meu rosto.
– Não chore mais – sussurrou. Eu estava estranha, encarava o homem que eu amava sentindo meu corpo inteiro tremer.
– Você está de saco cheio de mim, não é? – ele sorriu, mas havia tristeza em seu sorriso. Eu não aguentava mais vê-lo tão triste.
– Não. Eu te entendo. Você é mulher, consegue formular um milhão de teorias, sem nunca conseguir chegar à resposta mais correta, quando na realidade ela é sempre a mais fácil, simples e, naturalmente, a mais óbvia.
– Que absurdo! – tentei compactuar com sua brincadeira, porém as lágrimas ainda caíam e meu coração continuava oprimido, necessitando dele para voltar ao normal. – Então por que isso tudo? Por que este desespero, esta pressão?
– Vou precisar explicar novamente?
– Alex! Quinze dias? Isso é loucura! Casar em seis meses já seria estranho, imagine em quinze dias!
– Estranho para quem?
– Meu pai não pode ter concordado com essa loucura. Ele quer uma cerimônia inesquecível, cheia de pompa e circunstância... Ninguém vai conseguir fazer algo assim em tão pouco tempo. Sem contar que existem as fuxiqueiras que certamente vão dizer que eu estou grávida. Claro que todos vão achar isso. Você lembra como aquela mulher detestável lá na igreja reagiu quando entendeu que nosso casamento seria o mais breve possível?
– Charlotte, calma! Primeiro: o que seu pai quer não importa. É o nosso casamento e vai ser como você quiser. Pompa, pessoas importantes, câmeras para todos os lados, não é o que você quer. E quanto a acharem que você está grávida, quem está se importando?
– Eu estou – rebati sentindo um pavor absurdo se instalar em meu peito.
Merda! Eu estragaria tudo. Eu sabia que aquela era a minha última chance. Seria a última vez que Alex tentaria e depois disso, depois da minha recusa, eu o perderia. Não teria mais volta.
– Você tem certeza?
– Nunca estive tão certa em toda a minha vida – mordi os lábios sem saber o que responder.
Corria um sério risco de perder Alex caso recusasse, ou de ter um problema imenso com meu pai, esta parte era a que menos me preocupava. Como simplesmente concordar e receber imediatamente tudo o que combinamos que teríamos em um ano? Se não me sentia preparada nem para o plano anterior, imagine para o que ele estava me apresentando agora?
– Aparentemente você não está, então acho que devo colocar um freio em meus planos e aguardar até que você decida me fazer o homem mais feliz deste mundo.
Seus olhos estavam tristes, eu pressentia que Alex continuava tentando esconder seus reais sentimentos. Como colocar meus medos à frente dos sonhos do homem que eu amava? Como dizer não diante de tal apelo?
– Eu só queria entender. Não consigo assimilar o que está por trás de tudo. Nós conversamos e você aceitou que esperaríamos um ano. Concordamos que faríamos tudo conforme o figurino. Aí meu pai faz um escândalo, tem uma conversa suspeita com a minha mãe, você fica todo estranho, cheio de regras e desculpas, some e, quando aparece, resolve passar o dia em um motel comigo, com a permissão do meu pai e me informa que pretende antecipar o casamento para quinze dias. Quinze dias! Alex, eu estou com medo!
– Certo. Deixa eu tentar melhorar as coisas para você – ele levantou e passou as mãos pelos cabelos. Respirou fundo e me encarou. – Eu sei de todos os seus medos e já lhe disse que não têm o menor fundamento. Eu te amo e você pode ficar chata, insuportável, mais louca do que já é, gorda, neurótica...
– Gorda? – ele sorriu daquela maneira única.
– Sim. Gorda. Muito gorda.
– E se eu resolver ficar careca?
– Tudo bem, Charlotte!
– E se eu achar que devo fazer mestrado na China? Se eu cismar com isso e ninguém conseguir me convencer do contrário?
– Eu adoro comida chinesa.
– E se eu for para o Alasca?
– Bom... Eu duvido que você vá para o Alasca – seu sorriso se abriu ainda mais.
– Por quê?
– Porque você não gosta de frio – emudeci sem ter como argumentar. Como ele descobriu que eu não gosto de frio? – De qualquer forma eu iria com você até para Marte se fosse necessário. Pare de arranjar desculpas, Charlotte! Eu te amo e isso nunca vai mudar.
– Como pode estar tão certo? Casamentos terminam, e o amor se transforma em mágoas.
– Por vários motivos. Meus pais se amam até hoje. Os seus também. Eles são alguns exemplos. Eu não tenho como transformar em palavras a intensidade do meu amor, apenas posso te mostrar a cada dia o quanto desejo estar ao seu lado até o último segundo da minha vida. Não é assim para você?
Eu o amava. Tanto que doía. Deixava-me insegura. Desfazia qualquer plano. Não havia mais certeza. Aliás, havia. Porque eu seguiria Alex até a China, apesar de não ser muito fã de comida chinesa. E suportaria o frio do Alasca. Enfrentaria Tiffany, Anita e qualquer outra mulher. Enfrentaria meu pai, como enfrentei. Abriria mão da minha formatura, de publicar o meu livro... Eu deixaria tudo apenas para segui-lo. Meu Deus! Eu não tinha mais dúvidas.
– Funciona. Funciona exatamente assim, ou talvez de maneira ainda mais intensa.
– Então por que esperar? – seus olhos assumiram um brilho que o devolviam à vida. Oh, Deus! Ele me amava e só estava me pedindo em casamento e não para eu matar alguém. – Nos últimos dias, eu vivi as mais inusitadas experiências. Senti medo de perder você, precisei passar por cima dos meus desejos, voltei a ser um adolescente imaturo e inseguro, além disso, ouvi uma história que me tirou o chão. Minha alma está mortalmente ferida, Charlotte – toquei seu rosto desejando desfazer a sua dor. – Durante anos eu quis apenas ser um homem correto, seguro e independente. Investi tudo o que eu tinha para conseguir estabilidade para mim e minha família. Dediquei todo o meu tempo para garantir que nada saísse dos trilhos. Hoje eu vi que não posso mais agir assim. Um amigo...
Parou e fechou os olhos. Engoliu com dificuldade provavelmente procurando a melhor maneira de me contar o que realmente se passava em sua cabeça. Quando os abriu, eu percebi que estavam úmidos.
– Eu encontrei um amigo. Eu o julgava a pessoa mais complicada e difícil que já tinha conhecido... – fez uma pausa breve. – Por muitos motivos que não pretendo justificar agora – concordei com a cabeça para que ele pudesse continuar –, ele me contou que a esposa, a mulher que ele ama e amou a vida inteira, com quem sonhou ter filhos e embalar os netos, está morrendo sem que ele nada possa fazer para evitar. – Alex me olhou de uma maneira estranha, como se buscasse em mim uma resposta. – Eles escolheram viver seus últimos momentos da melhor maneira possível. Optaram por continuar suas vidas e tornar cada dia melhor do que o outro. Ele está tentando de todas as formas fazer com que ela possa ter um pouco de tudo, porque não quer que ela se vá antes de ter realizado todos os seus sonhos. Está tentando fazer com que ela não perca nada. Infelizmente o tempo deles é curto demais.
– Por que você está me contando tudo isso? – não sei dizer ao certo o porquê, mas eu me sentia especialmente envolvida com aquela história.
– Porque ela me fez perceber o quanto a vida é curta. É apenas um sopro. Uma brisa. Você fecha os olhos e, quando os abre novamente, tudo pode ter mudado. As pessoas morrem todos os dias, pelos mais diversos motivos, e esta é a nossa única certeza. Apesar disso, continuamos adiando as coisas. Adiamos o perdão, o amor, as alegrias, os prazeres... tudo. Eu não quero acordar um dia e descobrir que te perdi. Você pode virar uma esquina e não voltar mais.
– Alex!
Involuntariamente uma lágrima rolou pelo meu rosto em resposta a que descia pelo canto dos olhos do meu namorado. Dava para sentir todo o seu medo, porque naquele momento era o meu também.
– Eu sei que não posso impedir a morte, mas posso aproveitar o que ainda temos de vida. É por causa disso que quero me casar o quanto antes. Casaria hoje, se fosse possível, porque é com você que eu quero passar o resto dos meus dias. E quero poder realizar nossos sonhos enquanto ainda estamos aqui. Não quero mais seguir uma linha, um plano. Quero poder tirar os pés do chão, aventurar-me, arriscar tudo o que tenho... Quero fugir do padrão, ir contra todas as expectativas. Quero me casar com você apesar dos meus medos e inseguranças. Quero caminhar de mãos dadas sem medo de quem vamos encontrar. Quero poder ter apresentar como minha esposa. Quero ter nossa primeira briga por causa de um móvel fora do lugar, ou da minha mania de deixar as roupas espalhadas, ou por não respeitar seu espaço na prateleira do banheiro, quero poder te conhecer, te descobrir. Não quero ter medo, Charlotte. Nem pensar demais.
– Eu aceito – ele parou me olhando como se não entendesse o que eu havia acabado de dizer. Então sorriu. E aquele sorriso tirou o meu chão.
Sim, eu também queria aquilo tudo. Por que esperar? Por que desperdiçar nosso tempo juntos? A vida é fugaz. Alex tinha razão. Não precisávamos de mais nada se tínhamos um ao outro. Eu seria a sua esposa. Em quinze dias ou naquele mesmo instante.
Eu não tinha mais medo.
CAPÍTULO 25
“Quando fala o amor, a voz de todos os deuses deixa o céu embriagado de harmonia.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Curvando-se em minha direção, ele beijou meus lábios. Meus dedos percorreram seus cabelos sedosos. A sensação era maravilhosa. Sua língua pediu passagem, e minha boca imediatamente a recebeu. O seu sabor não poderia ser comparado a nada.
Alex acariciou meus ombros, deixando que seus dedos brincassem em meu pescoço. Com a outra mão, desceu até a curva dos meus seios, onde apenas os tocou levemente, deixando que um gemido baixinho escapasse dos seus lábios. Era incrível a forma como meu ventre se contorcia ao ouvir seus gemidos.
Puxei-o mais para mim sem quebrar o nosso beijo. Alex gemeu novamente, como se estivesse protestando, não como se aprovasse a minha atitude.
Tive medo do que ele faria. Na verdade, tive medo de tudo. Depois que eu finalmente disse sim, que finalmente aceitei e encarei aquela loucura, porque lógico, casar em quinze dias é uma loucura, eu não conseguia mais me ver longe de tudo aquilo. Passei a ansiar pelo casamento, pelos momentos em que poderíamos ficar juntos, apenas nós dois, sem regras, sem ninguém para nos interromper, fazendo apenas o que tínhamos vontade, vivendo uma vida a dois, nós dois... Meu bom Deus, eu queria tanto aquilo que doía. Então eu temi.
– Charlotte? – ele gemeu ainda em meus lábios.
Segurei em seu pescoço e o impedi de continuar. Naquele instante, eu queria apenas que Alex cumprisse com a sua promessa, que me levasse de volta para a nossa bolha, que esquecesse as diferenças dos últimos dias, as minhas infantilidades, a minha recusa... Eu queria que ele me fizesse a sua mulher, que me tomasse de maneira possessiva, que me dominasse e arrancasse de mim qualquer necessidade de escolha ou de decisão.
– Espere.
Tentou mais uma vez se afastar. Sem contar conversa e decidida a terminar de uma vez por todas com aquele assunto, afinal de contas eu disse “sim”, então era assunto encerrado, sentei em seu colo, enlaçando seu tronco com minhas pernas e me prendendo completamente a ele.
– Charlotte, calma! – Alex me segurou com força e me afastou de maneira a conseguir olhar em meus olhos.
– Alex! – protestei.
Meu corpo inteiro ardia e se contorcia pela urgência em ser dele e apenas dele. Eu precisava senti-lo, não somente me tocando, mas dentro de mim, alcançando o mais longe possível, atingindo não unicamente a minha carne, mas a minha alma. Só assim, só naquele momento, eu teria certeza de que todos os medos acabariam e que não havia um caminho onde eu quisesse mais estar.
– Charlotte, eu preciso... – escrutinou meu rosto procurando por sinais. – É o que você quer? Quer dizer... Eu quero me casar com você o quanto antes, hoje se for possível, mas não posso e não quero te forçar a nada – havia um sofrimento em seu olhar que me entristeceu. – Eu sei. Eu sei! Estou fazendo isso e fiz desde que entendi que não podia mais ficar sem você, mas por mais que eu queira e que seja egoísta para tentar me convencer de que é o que você quer também, eu preciso... eu só preciso...
– É o que eu quero. Eu não sabia disso até quinze minutos atrás, mas agora que sei, não há nada que eu queira mais nesta vida.
Ele acariciou meu rosto, deixando que um sorriso lindo se abrisse, alcançando os olhos. Seus dedos longos, capazes dos toques mais delicados com que uma garota podia sonhar, enroscaram-se na mecha de cabelo que insistia em escorrer para o meu rosto, e a puxou para trás, acomodando os fios em minhas costas. Em nenhum momento seus olhos deixaram os meus.
– Às vezes, eu fico me perguntando por que demorei tanto para entender que te amava – ele falava em um tom baixo, em confidência. – Se eu amo tudo em você. Desde o primeiro momento, quando coloquei meus olhos em você pela primeira vez, eu me vi pensando em como aquela garota era linda e singular e no quanto a sua timidez a valorizava. E, quando finalmente tomou coragem e me olhou nos olhos, eu fiquei confuso e admirado com a beleza deles. Existia uma personalidade forte, muito bem escondida por trás da máscara de uma boa menina de igreja – riu baixinho. – Eu te amei no primeiro encontro, Charlotte, mas não sabia disso.
Eu tentei segurar a emoção e ouvi-lo se confessar daquela maneira, em um momento tão apropriado, porém era impossível conter as lágrimas. O amor de Alex não deveria mais ser uma novidade para mim, mas ainda era. Cada vez que ele revelava um pouco como se sentia em relação a mim, eu me perguntava como poderia merecer um amor como aquele e o quanto Deus era bom e misericordioso comigo, porque um homem como Alex jamais teria a paciência de que eu precisava para entender a vida, no entanto ele tinha, até mais do que eu poderia esperar, e eu era tão grata por poder me sentir confusa, por ter o seu respeito pelos meus momentos, por saber que ele entendia as minhas inseguranças e que permanecia forte ao meu lado enquanto eu digeria os meus conflitos.
Sim, ele me amava. Provavelmente muito mais do que tinha se dado conta e eu tinha que fazer por merecer aquele amor.
– Alex? – sussurrei limpando as lágrimas e evitando fungar para não estragar o clima. – Faça amor comigo.
Supliquei e, como resposta, vi seus olhos ficarem mais escuros, sua boca abrir um pouco dando passagem para o ar, sua respiração ficar mais intensa e tudo em Alex ficar mais felino.
Sentada em seu colo, com as pernas cruzadas em seus quadris, eu poderia ser facilmente a pessoa que conduziria aquele momento. Mas não havia forma de superar toda a força de Alex em mim quando ele me olhava daquele jeito. Eu simplesmente aguardava e correspondia aos seus comandos, e me sentia incrivelmente livre assim.
Ele alinhou a coluna e, no instante em que suas mãos tocaram as minhas costas, eu já estava entregue. Senti seus dedos me buscando com posse, com a segurança dos grandes mestres. Ele me cercou, puxando-me para perto. Perto o suficiente para que nossos lábios estivessem separados pelo mínimo de espaço possível. Eu sentia a expectativa do beijo, a ansiedade que crescia e se avolumava em meu ventre e a necessidade que latejava entre as minhas pernas.
Uma mão subiu até minha nuca, prendendo-me para o seu bel prazer, mas Alex não me beijava. Ele respirava bem pertinho, eu sentia o seu hálito quente e cheio de promessas, enquanto ele roçava minimamente os lábios contornando os meus. Céus, eu tinha uma urgência que não se conformava com aquela brincadeira, e ao mesmo tempo, dentro de mim, a expectativa era o que alimentava o fogo que queimava as minhas veias e lambia minha pele em uma dança luxuriosa.
Eu estava ávida de desejo.
Sentada em seu colo, era certa a percepção do seu membro rígido entre as minhas pernas, provocando-me sem grandes atitudes de fato que pudessem me enlouquecer, era apenas a promessa do que seria e as lembranças.
Com uma mão pressionando a base da minha coluna, na junção com os quadris, e a outra na minha nuca, eu ficava presa, sem capacidade para me movimentar, roçar nem que fosse minimamente o meu corpo ao dele, e assim Alex me torturava, tornando um segundo a mesma extensão que uma hora, enquanto minhas células guerrilhavam, chocando-se umas contra as outras, meu sangue borbulhava, minha mente entrava em colapso, minha boca secava... Eu só tinha um único pensamento: me beije, me beije!
Seus grandes olhos azul turquesa, donos de um brilho inigualável e possuidor de uma força magnética capaz de atrair e dominar até os mais fortes dos seres, analisou com aprovação todo o meu rosto, para que, por fim, seus lábios finalmente colassem aos meus.
Porra! Eu estava tão ansiosa para beijá-lo que, no instante em que sua boca encostou na minha e sua língua tocou meus lábios, pensei que seria atingida por um orgasmo, tamanho o prazer que senti com o contato. Foi delicioso!
E não foi apenas o beijo. Como se tudo em mim estivesse apenas aguardando pelo comando inicial, uma sucessão de fatores atingiu meu corpo me fazendo estremecer. No mesmo instante em que Alex me tomou com seus lábios, suas mãos iniciaram os movimentos certos para me enlouquecer, puxando-me para perto, apertando e explorando o que encontravam.
E foi apenas isso? Claro que não! Alex nunca seria tão simplório. Seu quadril iniciou uma dança sensual em conjunto com as mãos, roçando-se em mim e me deixando roçar nele todas as vezes que suas mãos me puxavam. Senti seus dedos se fechando em meus cabelos, tornando tudo mais urgente.
Eu não sabia o que queria primeiro, se era acompanhar a sua língua, dando-lhe conforme me era solicitado, ou me apertar em seu corpo até que meu desejo encontrasse o alívio que tanto implorava, ou até mesmo se arrancava as nossas roupas e o forçava a me tomar sem nenhuma prévia. Eu queria tanto e tudo ao mesmo tempo que não conseguia fazer nada direito.
Ao perceber que ele começava a abandonar minhas costas para iniciar sua exploração pelas minhas pernas eu lembrei do que havia me feito temer aquele encontro: a maldita calcinha bege e imensa que eu tinha feito a loucura de usar.
Merda! Estava tão gostoso, tão perfeito! Doía só de pensar que teria que parar e encontrar logo uma solução para aquela peça. Logo mesmo, ou eu teria que simplesmente aceitar que Alex me veria, no dia em que finalmente aceitei casar o mais breve possível, e que era para ser o mais especial, sensual e romântico, usando a calcinha da minha avó.
– Espera – segurei suas mãos, ambas, que teimavam em tentar subir o meu vestido. Alex forçou avançando em minha boca para tentar me persuadir. – Alex, espere!
– O que foi?
Porra, eu amava aquela voz rouca, cheia de necessidade, tão instinto que contorcia o meu ventre!
– Eu tenho que...
“Pensa, Charlotte! Pensa!”. Minha mente gritava enquanto meus olhos corriam o quarto procurando uma solução. Puta merda! Não dava para esperar tanto.
– O que foi, amor? – ele desceu os lábios para o meu pescoço me fazendo perder o foco.
Ai, Deus! Eu amava aquela boca em mim.
– Eu... – fiquei confusa. Meu sexo latejava, castigado por dias de espera e de saudade. – Eu...
– Eu o quê? – brincou se divertindo com a minha confusão. – Venha, vou ajustar a sua cabeça – sua língua entrou em minha boca fazendo-me sucumbir ao desejo.
O que eu queria mesmo? Por que sentir a mão de Alex acariciando minha bunda por cima do tecido do vestido estava me deixando apreensiva? Merda! Não!
– Alex! – quase gritei me afastando o quanto pude. – Calma!
Respirar era quase impossível quando eu sentia meu corpo inteiro protestar por mais um pouco. Mas eu precisava. Nem havíamos casado e eu já começava a estragar tudo usando peças íntimas nada sensuais. Porra, isso é importante, não é? Não dava para encarar um relacionamento tão recente como o nosso, com uma calcinha como aquela. Para falar bem a verdade, eu não sabia se, mesmo depois de anos de casado, eu acharia normal estar tão pouco apresentável.
– Charlotte, você vai me enlouquecer com tantos “para”, “calma”, “espere” – ele se afastou contrariado retirando a gravata e abrindo alguns botões da camisa enquanto me observava.
Olhei para o peitoral bronzeado daquele homem que conseguia mexer comigo de todas as formas. Como eu amava tocá-lo, sentir seus músculos bem definidos, seus braços trabalhados, sua pele quente e deliciosa quando ficava sobre mim e...
– Charlotte? – pisquei confusa voltando ao meu dilema.
– É que eu...
– O quê? Você está tão vermelha que estou até com medo de saber o que está te incomodando tanto assim – e riu brincando com a alça do meu vestido. – É alguma coisa que quer que eu faça? – aproximou-se beijando meu ombro, a pele quente da sua mão tocando fogo na minha já fervente. – Ou algo que queira fazer?
– Ah, Alex! – gemi querendo que minha calcinha fosse abduzida e acabasse com aquele incômodo.
Sem conseguir me conter, deixei que minhas mãos desfizessem os outros botões da camisa dele e a puxei até que estivesse presa em seu punho. Alex se afastou levantando as mãos para que eu finalizasse o serviço. Assim que o vi sem a camisa, corri meus dedos pelo seu peitoral. A pele estava quente e o coração acelerado, tanto quanto o meu. E ele ficou arrepiado com o contato.
Porra, como resistir quando um homem como Alex estremece com o seu toque e se entrega ao ponto de deixar a pele ficar toda arrepiada? E eu só fiz deixar que meus dedos deslumbrados idolatrassem aquele corpo.
Ele chupou meu pescoço com mais força. Eu sabia que ficaria vermelho, que provavelmente deixaria uma marca que me faria ficar de cabelos soltos por mais de uma semana, porém não protestei, a pressão da sua boca vibrou em meu ponto mais sensível, deixando-me rapidamente lubrificada.
Depois ele roçou os dentes, descendo até o ombro e levando a alça para baixo, pronto para revelar meus seios. Seria um caminho sem volta. Não!
– Pare! – ele gemeu em protesto.
– É algum tipo de joguinho? – resmungou dando beijos leves em meu busto e cercando meu seio com a mão ainda por cima do vestido. Oh, Deus!
– Ah! – gemi e mordi os lábios para me impedir de me entregar. – Deus, Alex! Eu não posso...
– Não pode? – ele se afastou de mim para me olhar. – O que não pode?
– É que... – merda! – Eu estou com calor – ele estreitou os olhos se me encarou com divertimento.
– Vamos tirar sua roupa, amor.
– Não – impedi que Alex alcançasse a barra do meu vestido.
– Vou diminuir a temperatura, deixa só eu ver onde fica o comando e...
– Um banho – falei rápido demais.
Nossa, eu era um gênio!
– Eu preciso de um banho.
Alex deixou que aquele sorriso preguiçoso e indecente se puxasse em seus lábios. Eu tinha vontade de ter um orgasmo todas as vezes que ele sorria daquela maneira para mim. Seria fantástico! Ele sorria e eu gozava vendo o quanto ele ficava maravilhoso assim.
Foco, Charlotte!
– Um banho de banheira... – voltou a percorrer meu corpo com as mãos e a me beijar de leve. – De chuveiro, ou... – droga! Como ele conseguia tirar as minhas forças quando eu mais precisava delas? – Naquela piscina deliciosa lá fora?
Lá fora. Era tudo o de que eu precisava.
– Piscina – sussurrei presa aos encantos daquelas palavras que me prendiam a promessa de prazer que eu tanto sonhava.
– Então, vamos!
Rapidamente Alex me tirou do seu colo, colocando-me de pé, e, logo em seguida, já estava todo preso a mim, explorando-me e buscando-me de todas as formas que podia. Seus passos começaram a me conduzir para fora do quarto, mas eu ainda não havia conseguido me livrar daquela calcinha medonha.
– Não – desfiz o beijo e o afastei mantendo uma distância segura.
– O que foi, Charlotte?
Alex passou a mão pelo cabelo em uma atitude um pouco sem paciência. Pudera. Pela potência da sua ereção, eu podia entender o que tanto o angustiava. Seu peito subia e descia em uma respiração acelerada. E então ele tirou os sapatos e desafivelou o cinto. Meus olhos acompanharam quando ele desfez o botão da calça, revelando pelos baixinhos e escuros que eu sabia muito bem aonde poderiam me levar.
E como eu queria chegar lá!
– Qual é o problema, amor? – ele voltou a sorrir ao entender a minha cobiça.
– É que... – desviei os olhos daquele maldito botão que estava quase me fazendo cair de joelhos. – Eu preciso... – mordi os lábios. O que eu poderia dizer? Preciso tirar a calcinha antes porque ela é absurdamente mata tesão? Não. Eu não poderia dizer aquilo.
– Ah, tá! – ele me encarou com divertimento. – Você precisa de um pouco de privacidade?
Alex estava com uma expressão divertida e ao mesmo tempo sem graça. Como se ele estivesse invadindo um espaço que deveria ser só meu. Mesmo agradecendo por conseguir finalmente a desculpa perfeita para me livrar a peça, eu não conseguia me sentir confortável.
– Hum... sim!
– Tá! Tudo bem. Eu te espero na... – seu rosto ficou levemente vermelho, um tom quase imperceptível – ... piscina.
– Ok!
– Ah, é... o banheiro é ali.
Oh, droga!
Alex estava pensando que eu estava com dor de barriga? O que poderia ser pior, ser vista com uma calcinha que o faria broxar ou deixar que ele acreditasse que eu precisava fazer... hum... o número dois?
Isso sim era broxante! Porra! Quando você possui intimidade com o seu companheiro para situações como esta, eu acredito que seja desagradável estar em um motel e precisar usar o banheiro para essa finalidade, imagine quando você não possui a intimidade correta e ainda por cima acabou de aceitar casar-se em quinze dias. Meu rosto esquentou, e depois pegou fogo.
Merda, merda, merda!
– Eu preciso fazer xixi – falei bem rápido e isso deixou Alex ainda mais constrangido. – Apenas isso. Eu vou... Em dois minutos. Menos do que isso. Quem leva dois minutos para fazer xixi? – e ri nervosa deixando a situação ainda mais embaraçosa.
– Tudo bem – ele riu sem graça. – Espero você em dois minutos. Menos do que dois minutos – corrigiu-se rapidamente e saiu fechando a porta.
Puta merda!
ALEX
Certo.
Andei até a piscina, mas quando cheguei lá não sabia o que deveria fazer. Era irritante ser um cara experiente, ser o maduro da relação e me sentir tão perdido e confuso quanto como eu estava naquele momento. Isso tudo porque Charlotte me deixava louco. Em qualquer situação, ele sempre conseguia me deixar louco.
Eu não queria insinuar nada, não queria dizer que ela estava com dor de barriga, apenas quis deixá-la confortável para o que estivesse precisando fazer. Até porque aquele esquenta e esfria que ela estava me conduzindo era de deixar qualquer um alucinado. E se eu não podia tirar a sua roupa ou fazer amor com ela como a própria Charlotte tinha me pedido, então havia um motivo real.
E este podia ser ou não uma dor de barriga.
Caralho! Eu estava com vontade de rir da cara de Charlotte quando entendeu o meu embaraço. Ela ficou tão vermelha que seu rosto parecia um tomate. Ri baixinho sentando em uma das espreguiçadeiras, mas levantei rapidamente. Eu precisava fazer alguma coisa que não fosse esperar por ela, ou então a situação ficaria cada vez mais embaraçosa.
Retirei as meias e levei alguns segundos me perguntando se deveria ou não tirar a calça também. Não sei se Charlotte encararia numa boa eu já estar completamente à vontade, ou talvez estar completamente à vontade a deixasse da mesma forma.
Que merda! Eu parecia um adolescente que nunca tinha estado em um motel antes. Ali dentro só existia uma finalidade e esta foi a mesma que nos moveu para lá, independente se desta vez eu amava ou não a garota. O objetivo era único.
Tirei a calça, deixando-a sobre a espreguiçadeira, mas conservei a cueca. Respirei fundo sentindo raiva daquele nervosismo todo. Droga, era Charlotte! A mulher que eu amava e com quem eu queria passar o resto da minha vida, e que estava me deixando com um puta tesão, então por que não conseguia relaxar?
Caminhei até o bar e me servi de uma dose dupla de uísque, a qual entornei de uma vez só. Depois de algumas horas de atividade física, o álcool deixaria de fazer efeito e eu poderia dirigir sem me sentir culpado por isso. Ri sozinho. Até pouco tempo atrás esta era a menor das minhas preocupações.
Servi outra dose, decidido a voltar para a piscina, ligar a TV que ficava em frente, escolher um canal de música, porque eu nunca escolheria um canal de sacanagem para assistir com a minha noiva, e aguardar por ela para iniciarmos a nossa tarde.
Mas assim que cheguei, encontrei Charlotte dentro da piscina, a água cobrindo seus seios e os cabelos molhados. Ela estava apoiada em uma das bases e olhava fixamente para a TV, sem se dar conta de que eu tinha chegado. Seus olhos às vezes se estreitavam e ela entortava um pouco a cabeça, observando com atenção o que via, e parecia intrigada.
Aproximei-me devagar para saber o que tanto roubava a sua atenção e... puta que pariu! Charlotte estava assistindo um daqueles filmes que eu nunca me imaginei assistir com ela. Não sei explicar a razão, mas eu fiquei sem graça, como se fosse eu o inexperiente ali.
Bebi um longo gole do uísque, ainda sem tirar os olhos da TV. Uma mulher loira, dona de um corpo incrível, com algumas tatuagens, estava de quatro, gemendo de maneira muito artificial, mas que mesmo assim mexia com a imaginação dos homens, enquanto um homem grande a comia por trás sem nenhum cuidado.
Não havia nenhum tipo de envolvimento nesses filmes, apenas duas pessoas cumprindo com uma finalidade, que normalmente era fazer o homem gozar. No geral, eram filmes que davam tesão, uma vez que relações nada pessoais com o único objetivo de conseguir o prazer desejado foi a minha realidade por muito tempo. No entanto, filmes pornôs nunca conseguiram representar a realidade, pelo menos nunca a minha.
Eu nunca havia conhecido uma mulher que chegasse sem calcinha em minha sala e sem mais nem menos se abria para mim com toda a facilidade do mundo. Conheci sim, garotas que foram fáceis, que não me custaram nada além de um ou dois drinks e alguns amassos no carro, mas nada se comparava a aquilo. A mulher se deixava usar com o único intuito de satisfazer.
– Você gosta?
A voz de Charlotte me tirou do meu devaneio e então me dei conta de que estava encarando a tela com muita atenção, enquanto o homem continuava fazendo o que bem queria da garota. Fiquei outra vez sem graça, até porque eu estava com tesão. Não apenas pelas imagens, mas pelo fato de Charlotte estar nua, em uma piscina, aguardando por mim e pronta para ser minha. O filme era só um aperitivo, mesmo assim, não estava em meus planos.
Não soube o que responder. Sim, eu gostava de filmes pornográficos. Homens eram atiçados mais pelo visual do que pelos outros sentidos, não precisávamos de estímulos constantes para alcançar um orgasmo, já as mulheres... Lógico que um ato de sexo explícito me fazia sentir tesão. O que me afligia era confessar a Charlotte que eu sentia tesão vendo uma mulher ser fodida incontáveis vezes sem que isso a deixasse desconfortável ou segura.
Desviei meus olhos da TV e caminhei até a espreguiçadeira, ciente de que ela me observava com atenção. Bebi o resto do uísque de uma só vez, sentindo-o queimar minha garganta e depois deixei o copo sobre a mesinha pequena ao lado. Tirei a cueca, mesmo com uma puta ereção, estimulada também pelas imagens que tinha acabado de ver, e, sem parecer incomodado por isso, mesmo estando, desci os degraus da piscina para encontrá-la.
Charlotte me olhou, depois desceu seus lindos olhos até encontrar o meu pau. Vi quando ela corou e engoliu com certa dificuldade para logo em seguida voltar a olhar a TV. O que tanto a deixava curiosa naquela porcaria de filme? Percebi que aquilo estava me deixado mais inquieto do que deveria. Eu nunca me preocupei com o interesse ou falta de interesse das garotas por aqueles filmes, contudo saber que Charlotte preferiu olhar para a tela, enquanto o cara exibia seu pau, roçando-o na bunda da mulher antes de voltar a comê-la, deixava-me frustrado.
Será que todas as mulheres com quem eu já tinha ido para a cama se sentiam assim quando eu me interessava por estes filmes?
Merda! Eu não disse que Charlotte me enlouquecia, independentemente da situação?
Fui até ela abraçando-a pelas costas. Confesso que roçar meu pau em sua bunda, deixando-a sentir toda a minha ereção, foi uma forma de roubá-la só para mim, e também de ter logo buscado seus seios, fechando-os em minhas mãos, foi uma tentativa de colaborar com o meu plano.
Charlotte gemeu, jogou a cabeça um pouco para o lado, fechou os olhos aproveitando a sensação, mas logo em seguida os abriu, voltando a prestar atenção no filme. Droga!
– Vai ficar assistindo? – sussurrei em seu ouvido, deixando meus lábios roçarem em sua orelha. Eu sabia o quanto ela gostava daquilo.
– Você não gosta?
– Gosto mais de você – porque eu não poderia mentir afirmando não gostar. Ela riu.
– Tenho certeza disso.
– Mas você parece gostar mais do filme – arrisquei brincando com a sua atenção exagerada, porém Charlotte não se abalou e continuou encarando a TV.
– Esses filmes são curiosos – e se calou encostando o queixo nos braços para se acomodar melhor para assistir ao espetáculo.
Enquanto isso os gemidos da mulher ecoavam pelo cômodo, fazendo a minha imaginação brincar comigo. Deixei seus seios e desci minhas mãos pela sua cintura, acariciando sua pele arrepiada por dentro d’água. Toquei seu quadril, contornei sua bunda e deixei, propositalmente, que minha ereção se encaixasse entre as suas pernas. O movimento causava uma fricção gostosa.
– Você gosta? – repeti a sua pergunta para desviar um pouco a sua atenção. Charlotte ficou em silêncio por um tempo. Parecia debater sobre o que poderia responder.
– Eles são todos iguais – ela disse por fim.
A voz baixa e rouca revelava a sua excitação e eu não sabia se isso me deixava bem ou não. Mesmo assim ela empinou a bunda e contribuiu com a minha brincadeira, deixando-me preso entre as suas pernas, roçando em sua entrada sem conseguir alcançá-la.
Porra, eu lembrava da minha adolescência, quando as garotas ainda virgens não permitiam nada além de uma boa gozada entre as suas coxas. Charlotte lembrava aquelas garotas. Ela ainda parecia uma menina, o corpo frágil, apesar das curvas aparentes, os seios pequenos e duros, atitudes inocentes e excitada o suficiente para se deixar levar pelo carinha mais esperto e cheio de malícia. Ainda bem que aquele cara era eu, do contrário...
Era melhor não pensar mais sobre isso.
– Mas este...
Roubou a minha atenção com esta última frase. O que havia de especial naquele filme além de um homem exibindo um pau que nem era esse espetáculo todo. Eu era muito mais eu. Parei de roçar nela e esperei pelo que viria.
– Assisti alguns filmes para me ajudar com o livro. Você sabe, eu não tinha nenhuma experiência concreta para escrever sobre sexo e precisava entender. Poucas vezes um filme deste tipo me ajudou com o que eu precisava.
– Porque eles são apenas sexo e geralmente para a satisfação dos homens. Os seus livros pedem muito mais do que isso – e eu estava mesmo incomodado com aquela conversa.
Charlotte, percebendo que eu havia parado, levantou o corpo da borda e colou as costas em meu peito. Suas pernas se fecharam ainda mais, prendendo-me de uma maneira deliciosa. Involuntariamente minha mão correu pelo seu ventre, forçando-a para trás e meus quadris reiniciaram o movimento.
Subi uma mão até seu seio, brincando com o bico rígido e o apartei com vontade. Ela gemeu se entregando, ao mesmo tempo em que desci a outra até seu sexo e sem delicadeza apertei seu clitóris exigindo que ela fosse toda minha e apenas minha. Mais uma vez seu gemido, genuíno, superou o da mulher do filme.
– A vida real é muito mais gostosa – falei enquanto lambia seu pescoço.
– Eu gosto do filme – ela soltou sem perceber que aquilo me tiraria do eixo. Eu estava pronto para protestar, para me rebelar e desligar a TV quando ela disse: – Gosto de observar e saber que somos bem melhores. Aquele homem... – gemeu um pouco mais sentindo meu dedo procurar a sua entrada – ... aquele homem jamais conseguiria ser como você.
– E mesmo assim você está excitada vendo eles dois – e eu não sabia se começava a me sentir assim também pela revelação dela, ou se sentia raiva por não conseguir fazer Charlotte esquecer aquele filme de uma vez.
– Estou – revelou mordendo os lábios.
– Ah, Charlotte! – rosnei mordendo seu ombro. – Por quê?
– Porque fiquei aqui assistindo enquanto você não chegava e me vi querendo ser fodida enquanto observo eles dois.
Porra!
Um milésimo de segundo se passou antes que eu reagisse, contudo foi o suficiente para que eu sentisse toda a resposta do meu corpo. O que significava aquilo? Charlotte gostava de observar casais transando? Na vida real ou apenas em filmes? E eu? Eu gostava da ideia? Puta que pariu! Eu gostava sim! Desde que não estivesse expondo a minha mulher, desde que não fossemos nós a sermos os observados, eu gostava da ideia, apenas nunca tinha me imaginado em uma situação como aquela com a minha noiva.
Caralho! Charlotte era a mulher com quem eu me casaria e ela era pura, inocente, desprovida de experiências mais fortes e significativas, mas, mesmo assim, ela foi capaz de me pedir para gozar em sua boca quando ainda nem tínhamos transado, foi decidida o suficiente para me dizer que queria me tocar e me ver gozando, e me pediu inúmeras vezes para comê-la.
Sim, Charlotte era aquela mulher, mesmo sendo uma casca de menina inocente, de garota nova demais. Se ela não hesitou quando a pedi para se masturbar para mim, e nós nem tínhamos intimidade para isso, por que ela esconderia aquela vontade? E não era o que eu queria fazer por ela? Satisfazer todas as suas vontades?
Era só um filme e nós dois e... porra! Eu estava fodido de tesão por aquela pirralha cheia de vontades e coragem. Charlotte era incrível.
Sem esperar por mais nada, e mesmo sabendo que sexo na água dificultava a lubrificação das mulheres, abri as pernas de Charlotte e me enterrei nela com vontade.
E por alguns segundos eu não conseguia pensar em mais nada. Fechei os olhos segurando minha noiva com força e fiquei parado apenas sentindo o prazer em estar dentro dela mais uma vez. O calor da sua carne, o pulsar involuntário, o aperto já esperado, tudo isso ecoado pelo seu gemido de prazer e o acelerar da sua respiração me fez esquecer o restante do mundo.
Charlotte esperou por mim. Ela se apoiava na borda da piscina, mantendo o corpo firme. Abri os olhos encontrando seu ombro com algumas pintinhas que me faziam ter vontade de beijá-las. E então voltei a ouvir os gemidos da atriz e o som oco da batida das enterradas do cara. Olhei para a tela e vi a mulher com as mãos espalmadas na parede, ainda de quatro, a bunda completamente empinada e uma das pernas segurada pelo homem que se enterrava nela com força.
Percebi que Charlotte prestava atenção no filme e aguardava por qualquer atitude minha. E aquilo me deixou louco.
Testei nossos corpos e a sua elasticidade estando dentro de uma piscina. Entrei e sai com cuidado, sentindo seu corpo me puxar de volta para o conforto do seu sexo. As paredes apertadas ofereciam resistência, o que só aumentava o meu prazer. Entrei todo de uma vez e ela gemeu tão gostoso que precisei morder os lábios para não perder o foco.
– Ah, Alex!
Porra! Charlotte gemendo era mesmo algo que me fazia perder o juízo, mas Charlotte falando o meu nome enquanto sentia prazer era o acionar de todas as minhas válvulas. Eu estava tão excitado que não conseguiria esperar tanto.
Nos meus planos, eu faria amor com ela, como havia me pedido. Teria calma e aproveitaria cada segundo, mas pelo visto nada sai como planejado com aquela garota. Eu estava naquela piscina, observando um casal foder com vontade, sabendo que aquilo a excitava e ficando cada vez mais excitado com tudo o que estava acontecendo.
Eu poderia fazer amor com ela depois daquilo, afinal de contas, tínhamos a tarde toda.
Então dei um passo mínimo para trás e dois para o lado, puxando Charlotte para que ela ficasse inclinada o suficiente para me receber e fora da água o suficiente para que eu pudesse ver toda a nossa ação. A tela da TV continuava à nossa frente, ela era imensa, e isso facilitaria a imaginação da minha noiva e conduziria a minha.
Passei a mão em seus cabelos, ajustando-os para trás e juntando-os em uma única mão, onde segurei forte, prendendo-a igual a como estava a cena do filme. Ela gemeu, claro! Era o que Charlotte queria. Testei mais uma vez nossos corpos, entrando e saindo devagar, sem forçar muito a barra, mas segurando-a pelos cabelos com uma mão, o que a mantinha inclinada para mim, e em seu quadril com a outra, para facilitar os meus movimentos.
E estava muito, muito gostoso!
Charlotte não tirava os olhos da tela, ela via e sentia e eu, por incrível que pareça, comecei a gostar muito da situação. Era estimulante, olhar a minha noiva na posição em que estava, vendo meu pau entrar e sair dela enquanto lutava contra suas paredes apertadas, e, ao mesmo tempo, poder assistir ao filme que nada era além de ilustrativo. Um homem fodendo uma mulher sem nenhum constrangimento, explícito e carnal.
E eu podia ver tudo. Podia ver a bunda deliciosa de Charlotte, a água ultrapassando suas coxas, meu pau entrando e saindo conforme fosse a minha vontade, suas costas com gotículas escorrendo e a cabeça inclinada para trás, enquanto isso, outra bunda, só que bronzeada, com uma marca indecente de biquíni fio-dental, completamente depilada, e este era um ponto que eu realmente gostava, toda aberta sendo penetrada por trás, era exibida na tela da TV.
Tenho que admitir que foi excitante. Duplamente excitante.
Sem conseguir desgrudar os olhos das imagens à minha frente, soltei os cabelos de Charlotte e meus dedos se espalharam em seu pescoço, como uma coleira, segurando-a com firmeza a fiz se encaixar em mim com mais vontade e aumentei o ritmo das minhas estocadas. Ela gemeu com força, seus dedos se firmando sobre a borda, os braços absorvendo o impacto.
Os gemidos de Charlotte se misturavam aos da atriz, ao passo que os meus foram impossíveis de serem sufocados. Como eu sentia falta de estar dentro dela, de me sentir livre para brincar com aquele corpo que eu tanto amava, para tocá-la sem medo, com gosto.
Movido pela urgência dos nossos corpos, passei um braço por baixo da perna de Charlotte, levantando-a, como acontecia no filme, e esta posição quase me fez gozar de imediato. Eu consegui ir tão fundo e foi tão apertado que grunhi palavras desconexas, porque eu queria dizer muito e pouco conseguia sair pelos meus lábios naquele momento.
Ela deu um gritinho de satisfação que me fez estreitar meus dedos em seu pescoço e me curvar sobre seu corpo, tornando as estocadas menos longas, porém infinitamente mais gostosa.
Charlotte estava com os olhos semicerrados, dividida entre acompanhar o vídeo ou se entregar ao prazer que eu lhe proporcionava. E eu simplesmente me perdia naquele corpo maravilhoso, quente, pronto para mim, pulsando a cada entrada e me prendendo a cada saída.
– Alex! – ela gemeu forte me causando comichão. Eu me enterrei fundo em Charlotte fazendo-a gritar e parei dentro dela, aproveitando o pulsar forte da sua vagina.
– É assim que você quer?
– Oh, Deus! – ela levantou a cabeça e olhou para a tela. A mesma posição, o mesmo embalo. – Sim, é assim que eu quero – sussurrou com a voz fraca e carregada de tesão.
– Comigo ou com ele – provoquei saindo e entrando com mais força ainda.
– Porra! – ela gritou enquanto eu a levantava pelo rosto para trazê-la para mim.
– Esse tesão todo é por mim? – estendi sua perna até que o joelho estivesse sobre a borda, libertando o meu braço. Rapidamente minha mão foi para o seu sexo, todos os dedos roçando seu clitóris.
– Ah! – grunhiu com força deixando-me ansioso. – Por você. Sempre por você. Só você.
Caralho! Eu adorei ouvir aquilo.
– E você? – ela disse determinada. – É por mim ou por ela?
Beijei seu ombro e apertei seu sexo sentindo sua perna tremer quando reiniciei as estocadas, cada vez mais forte.
– Não existe boceta como a sua, Charlotte!
Nunca me imaginei sendo tão pouco romântico ou ousado com a mulher que eu amava, mas aquela ocasião pedia. João tinha razão, eu era um falso puritano de merda, eu me reprimia para não a assustar, ou, sendo mais idiota ainda, tinha medo de apresentá-la à vulgaridade, ao lado mais pesado do sexo, aos instintos mais animais. Simplesmente porque a amava e queria dar a Charlotte o que ela escrevia em seus contos de fadas. Eu queria ser o seu príncipe em um cavalo branco.
– Porra! – gemi me perdendo nela. – Vem cá, menina.
Saí de dentro da minha noiva virando-a com determinação para mim. Charlotte me encarou assustada, sem entender o que havia me feito parar e mudar o roteiro. Simples: não podia haver um roteiro para nós dois.
– Eu amo você!
Falei com fúria, com a certeza de que aquele filme era nosso e não de dois atores que nada sentiam um pelo outro. Nem tesão. Encostei Charlotte no azulejo molhado, imprensando-me nela com vontade e explorando o seu corpo com uma necessidade absurda, incapaz de ser controlada ou saciada.
O bico do seu seio provocava a palma da minha mão enquanto eu a apalpava e analisava as suas reações. Charlotte estava rendida.
– Olhe para mim –enterrei-me nela quando seus olhos encontraram os meus. Ela gemeu baixinho, fechando outra vez os olhos em prazer. – Abra os olhos, Charlotte – fui atendido prontamente. – Não há outra mulher que eu queira nesta vida – a necessidade só crescia e eu me afundava naquele corpo como se ele fosse a minha religião. – Não há outro corpo em que eu queria me enterrar, então não importa qual merda de filme eu esteja vendo, é sempre você quem eu vou querer comer, entendeu?
Charlotte acenou rapidamente com a cabeça.
– Então me tome para você – puxando o ar com força ela me enlaçou pelo pescoço e cruzou as pernas em minha cintura, abrindo-se para mim em uma oferta irrecusável. Minhas mãos correram soltas pelo seu corpo, eu me enfiava nela com tanta vontade que estava prestes a explodir.
Segurei seu seio e o beijei, chupando a pele saborosa e curtindo cada gemido que ela emitia. Seu sexo pulsou com mais força quando mordisquei o mamilo rosado. Ela se movimentava ao meu encontro, chocando nossos sexos. Porra, não existia filme mais sexy do que aquele que fazíamos.
O movimento da água revelava o acelerar dos nossos corpos, eu estava pronto para gozar. Fechei minha mão no cabelo de Charlotte, puxando-o para trás para que ela me encarasse.
– Eu vou gozar – revelei já no limite. – E quero que você goze assim, me olhando, me entregando o seu prazer – acelerei sem acreditar que seria possível. – Por mim, Charlotte, e para mim.
Ela gritou naquele instante, e como uma aluna fiel, não fechou os olhos nem por um segundo, gozando abertamente. Seu sexo pulsou e se contraiu, e foi forte, pois eu vi estrelas nos olhos da minha noiva, ou elas estavam nos meus? Não sei. Mas posso dizer que gozei de uma maneira esplendorosa, como há muitos dias eu precisava fazer.
Charlotte me abraçou, sem descruzar as pernas dos meus quadris e buscou pelos meus lábios em um beijo cheio de entrega e amor. Eu correspondi, porque não havia maneira melhor de expressar o quanto eu havia gostado e estava grato pela sua entrega.
CAPÍTULO 26
“Oh amor poderoso! Que às vezes faz de uma besta um homem, e outras, de um homem uma besta.”
William Shakespeare
ALEX
Estávamos nus, deitados na espreguiçadeira, abraçados e namorando sem nada dizer, apenas deixando que os lábios aproveitassem o momento e nossas mãos fizessem o reconhecimento dos corpos.
Charlotte deitou a cabeça em meu corpo e, em silêncio, brincou com meus pelos com as pontas dos dedos. Acariciei seus cabelos molhados, ainda absorto em pensamentos que me intrigavam e, ao mesmo tempo, deixavam-me bem. Foi uma novidade tudo o que vivi com Charlotte, mas foi uma deliciosa novidade, que deixava a porta aberta para muito mais.
No entanto, era importante pegar leve, até porque nem eu mesmo sabia até onde queria chegar com ela, o que me excitaria estando com Charlotte e o que deixaria de ser bom por estar justamente com ela. Era melhor esperar, tínhamos tempo para alcançar todos os passos.
– Nosso almoço deve chegar a qualquer momento – falei me dando conta de que eu estava faminto. Charlotte levantou o rosto para mim, mas nada disse – Com fome? – ela negou com a cabeça, sem sorrir ou me olhar com aquela habitual devoção. – O que foi?
– Nada – respondeu baixinho e deixou o olhar cair.
– Está aborrecida? Eu fiz alguma coisa? – Charlotte voltou a me olhar e sorriu.
– Não. Eu só estava aqui intrigada com uma coisa – acariciei seu rosto com a ponta dos dedos e enrolei uma mecha do seu cabelo no indicador.
– Ultimamente você anda sempre intrigada com alguma coisa.
– É? – concordei com um aceno de cabeça. – Eu não havia percebido.
– Eu posso dizer que só nas duas últimas horas isso aconteceu três vezes.
– Sério?
– Sério. O que está te intrigando agora? – seu rosto começou a ganhar um tom rosado adorável. Sorri satisfeito.
– Eu estava pensando se eles esvaziam, limpam e tornam a encher a piscina sempre que o cliente sai e um novo entra – fiz uma careta. Eu sabia muito bem aonde ela queria chegar. – Mas pensando bem no assunto, é impraticável, não? – mordi o lábio evitando o riso e o nojo por chegarmos àquele ponto, mas voltei a concordar com a cabeça. – Então, se outros casais transaram sem camisinha, como nós dois...
– Exatamente por isso que eu relutei tanto em te trazer para um lugar como este, amor – foi a vez dela de fazer uma careta e eu ri.
– Mas eles limpam os móveis? Quer dizer...
– Eu acredito que sim – ri da careta que ela fazia. – Por um preço como o que estou pagando, seria mais do que justo – Charlotte levantou o corpo olhando tudo com mais atenção. – Não pensar sobre isso ajuda.
– Eu acho que não. Eles trocam os lençóis?
– Claro que sim – não conseguia parar de rir.
– Graças a Deus! Pelo menos isso.
– Banheiras e piscinas de motel não são muito recomendáveis – revelei.
– Então por que... – ela parou no meio, detendo-se e estreitando os olhos sem terminar a frase.
– Vamos falar sobre os seus dois outros momentos – mudei rapidamente de assunto.
– Que momentos? – sentada ao meu lado, com o corpo virado em minha direção e os seios à mostra, Charlotte era o desenho perfeito da luxúria. Ainda mais me olhando de maneira tão desafiadora.
– Hum! O filme – mais uma vez ela corou me deleitando.
– Qual o problema com o filme? Mulheres não podem gostar?
– Podem sim, mas você... – levantei o corpo ficando apoiado em uma das mãos. – Você parecia estar mais do que gostando.
– Alex, às vezes você não tem vontade de deixar ser apenas só sexo? Não te excita a ideia de algo casual, apenas pelo prazer, mesmo que seja uma fantasia com a mulher com quem você vai casar?
Sentei me acomodando melhor para aquela conversa. A forma como Charlotte colocou o assunto me deixou intrigado e constrangido por ser exatamente o que eu fazia antes dela.
– Você tem esta vontade? – acariciei seu cabelo para que ela não pensasse que eu a estava intimidando. – Sexo casual, sem envolvimento...
– Bom, eu acho que é assim que tudo começa. Nós dois, por exemplo, eram apenas aulas, sem envolvimento, não?
– Muito diferente, Charlotte.
– Para você sempre é – rebateu sentando sobre os joelhos. – Mas foi exatamente o que fizemos.
– Ok, vamos pular esta parte. Eu já disse que te amava, só não sabia – ela riu baixinho. – Mas eu não penso em sexo casual desde que te conheci. Tudo se tornou diferente, então alguns costumes de antes ficaram estranhos agora.
– Como assistir filmes pornográficos.
– Ou ir a um motel – completei. – E é onde estamos – ela fez aquela cara de intrigada novamente, por isso resolvi me explicar de uma vez. – São conceitos ultrapassados e machistas, Charlotte. Eu já percebi isso e estou tentando me habituar, aceitando a mudança.
– Não foi bom lá na piscina? Nós... – desviou os olhos deixando o rosto voltar a ficar corado.
– Foi ótimo! Nunca imaginei que seria, apesar de preferir você prestando atenção em mim – ela mordeu o lábio inferior, colocando uma mecha atrás da orelha.
– Mas eu estava.
– Tudo bem. Próximo tópico. Você estava estranha lá no quarto, aliás, desde o carro, quando eu tentava te tocar e eu sei que não foi a sua extrema vontade de fazer xixi em menos de dois minutos.
Desta vez Charlotte corou pra valer. Ela respirou fundo, abaixou a cabeça e olhava para qualquer lado que não fosse para mim. Vi sua mão ir para o rosto, um gesto impensado, como se quisesse ajustar os óculos que não estavam lá. Uma demonstração típica de nervosismo.
– Não quer me dizer? Assim eu vou imaginar um monte de coisas.
– Certo. Eu vou dizer, mas você vai jurar que não vai rir de mim.
– Eu juro.
E esta era uma batalha perdida, pois eu já sabia que, com certeza, riria dela.
CHERLOTTE
Não seria muito legal depois de tudo o que fizemos eu deixar Alex imaginar que eu estava mesmo com dor de barriga, ou que eu estava suja ou qualquer outra coisa nojenta que um homem pode pensar de uma mulher que se recusa a deixá-lo tocá-la mesmo quando ela já está mortinha de desejo.
Então eu contaria sobre a calcinha da minha avó e enterraria aquele assunto com os outros três. Pronto. Problema resolvido.
– É... bom... eu...
Ele riu sem me deixar falar.
– Você prometeu.
– Mas você está engraçada gaguejando desta forma – e continuou rindo. Cruzei os braços e aguardei até que ele parasse, ou se esforçasse para falar. – Desculpe!
– Todos os dias eu me vestia e me preparava para um possível momento mais íntimo com você, mas nunca acontecia, pela sua insistência em manter as regras do meu pai – Alex fez uma cara engraçada, mas não riu. – Hoje, por ser um dia em que estaríamos na sua empresa, e por eu ter certeza de que meu pai me acompanharia até mesmo ao banheiro, não me preocupei em estar sexualmente apresentável para você e sim em estar vestida adequadamente para o momento.
– Ainda não consegui chegar no ponto do problema – revirei os olhos. Lógico que ele não entenderia, ele era homem!
– Eu estava com uma calcinha imensa, daquelas que usamos para não deixar marca no vestido – Alex me encarou, as sobrancelhas franzidas, sem entender o motivo da minha apreensão. – Bege – completei e ele entortou a boca. – Era imensa e bege, parecendo com as que minha avó usava, Alex! Você broxaria se me visse usando aquilo.
Meu noivo então explodiu em uma gargalhada que ecoou por todo imenso apartamento. Eu fiquei sem graça e depois com raiva. Droga! Nunca deveria ter revelado a existência daquela calcinha. Todas as vezes que Alex lembrasse da nossa primeira vez em um motel lembraria dela e isso seria um motivo de constrangimento eterno.
Ele continuou rindo e eu me enfurecendo cada vez mais, até que não aguentei e acertei um tapa em seu braço, e depois outro e outro até que o senti se agarrar a mim, ainda rindo, sem me deixar continuar de extravasar toda a minha frustração.
– Calma, amor! – Ficou com a voz cansada de tanto rir. – Calma! Não me bata – foi se deixando acalmar, mas ainda havia divertimento em sua voz. – Foi engraçado, Charlotte, admita.
– Não. Foi aterrorizante – ele riu mais um pouco e eu tive vontade de acertá-lo com mais uns tapas.
– Amor, tem noção de como a situação ficou engraçada para mim? Você estava toda entregue em meus braços e em seguida se retraía, e depois voltava atrás só para depois ficar tensa outra vez, e tudo isso por causa de uma calcinha?
– De uma calçola. E pare de rir.
– Está bem! Por causa de uma calcinha grande, fica melhor assim? – não ficava, mas eu concordei apenas para não alimentar a ideia. – Eu dava tudo para ver esta calcinha, Charlotte!
– Não! – meus olhos quase saltaram da órbita e meu coração acelerou.
– Você não pode ficar sem calcinha o dia todo – provocou.
– Eu vou vesti-la assim que você pagar a conta e não tiver mais chance de tentar tirar a minha roupa.
– Isso está ficando instigante – provocou me puxando para si e me mordiscando no ombro.
– Para, Alex!
– Quero te ver com aquela calcinha. Só eu posso dizer se ela é ou não broxante.
– Jamais. Eu toco fogo na peça antes que seus olhos consigam repousar sobre ela.
– Vamos fazer um acordo então – colocou um dos braços atrás da cabeça, revelando músculos perfeitos e um corpo muito bem definido. – Eu faço alguma coisa que você queira muito e você veste a calcinha para mim.
– Você já fez o que eu queria muito. Sem barganhas – acariciei seu braço com a ponta dos dedos, admirando o meu noivo. – E eu já fiz concessões demais por hoje – ele piscou e ficou sério, me encarando.
– Tem razão – e se acomodou melhor na espreguiçadeira. – Por falar nisso... – Alex levantou, nu, o corpo bronzeado e completamente hipnótico, uma bunda linda...– Você cobiça demais, Charlotte. Isso é pecado – brincou sem se dar ao trabalho de me olhar, saindo da área da piscina, mas ainda gritou do lado de fora. – Talvez uma conversa com o padre Messias resolva o seu problema.
– Eu não tenho problemas – resmunguei baixinho, sentindo-me uma idiota por isso.
Pouco tempo depois voltou com o celular na mão e usava um roupão branco com o nome do motel bordado em bordô, logo acima do peito. Levava outro na mão livre, que logo deduzi ser para mim.
– Vista. Logo alguém aparece com o almoço. Vou ligar para Lana. Ela tem que começar a organizar este casamento.
– Um cerimonial não seria mais adequado?
– Seria, e vamos ter um, mas esta parte vai ficar com você, sua mãe, a minha e Lana, claro!
– E Miranda – ele revirou os olhos.
– Sim, e Miranda.
– Eu não entendo. O que você tem contra ela?
– Nada – ele me olhou decidido a encerrar o assunto e se sentou ao meu lado. – Só não acredito que Miranda se empolgue muito com a organização de um casamento. E Lana jamais vai admitir que outra pessoa organize o meu casamento. Tem que ser tudo com a supervisão dela – eu me remexi incomodada. Não gostava da forma como Alex falava da minha melhor amiga.
– Quinze dias é pouco tempo, até mesmo para alguém como Lana. Sem contar que agora ela está mais do que ocupada com a transição dentro da editora. Não me parece muito justo.
– Ela jamais me perdoaria se não fosse assim. E não te perdoaria também, acredite em mim.
Alex começou a buscar o número da irmã e eu me acomodei na espreguiçadeira pensando em como seria aquele casamento. Eu sabia que queria e que Alex era o homem da minha vida, e nem estava mais incomodada com a brevidade dos fatos, só não conseguia me imaginar entrando em uma igreja lotada, em um cortejo enorme, sendo observada e parabenizada por pessoas que eu não tinha nenhuma familiaridade e depois ainda aguentar uma superfesta, que com certeza Lana não deixaria passar, sendo agradável com um monte de bajuladores.
Definitivamente não era o que eu queria.
Enquanto Alex aguardava Lana atender a ligação, brincou com os meu cabelos e meu rosto, fazendo carícias que provocavam cócegas. Ri colocando minhas pernas por cima do seu colo e ele imediatamente iniciou uma massagem deliciosa em meus pés.
Ah, as vantagens de se ter um homem apaixonado e apaixonante!
– Lana? – Alex tirou rapidamente o celular da orelha, com cara de espanto fazendo uma careta. Ainda consegui ouvir o grito da minha cunhada do outro lado da linha. – Ok. Ok. Dá para parar? – ele mantinha o aparelho afastado. Comecei a rir. – Certo... mesmo? Hummmmm! Ok! Pode ser. É? – Olhou para mim rapidamente e sorriu. – Seria ótimo! Claro, claro... – revirou os olhos. – Não, Lana! Eu disse que Charlotte precisa estar presente para aprovar qualquer detalhe... Sim, eu tenho certeza. Está aqui ansiosa para falar com você. Só um minuto.
Olhei para meu noivo sem acreditar que ele tinha feito aquilo. Quem disse que eu estava disposta a aguentar o entusiasmo da minha futura cunhada? Ele passou o telefone para mim fazendo cara de cansaço. Realmente, enfrentar a euforia de Lana era um trabalho árduo. Alex parecia satisfeito em poder me passar o aparelho e se livrar logo da irmã.
– Oi, Lana...
– Charlotteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee! – gritou fazendo-me pular. O que era tudo aquilo? – Não se preocupe, estou com tudo organizado. Não sei se consigo fazer tudo o que tenho pensado desde que vocês apareceram com a ideia do casamento, mas vai dar tudo certo e você vai amar...
– Mas...
– Já sei onde encomendar as flores. Eu sei que o cerimonial vai oferecer a floricultura deles, mas não podemos aceitar, eu sei onde encontrar as flores perfeitas para vocês... Já tenho uma ideia de onde poderemos fazer a cerimônia. Tem ideia de quantos convidados serão? Bom, acho que Mary e Peter vão precisar fazer uma lista... Pode deixar que eu resolvo esta parte. Agora o bolo. Precisamos decidir o bolo, sim, porque não é fácil encontrar um bolo bonito e gostoso, já que ele será servido, lógico que será, mas as encomendas nunca são aceitas em tão pouco tempo, então...
– Bolo?
– Não existe casamento sem bolo de casamento – riu sozinha. – Eu achei um perfeito, mas vai dar trabalho conseguir alguém, e...
– Lana...
– Estamos aguardando por Paulo, o advogado da família, ele vai providenciar toda a papelada. Não seria fácil, se não tivéssemos o seu sobrenome contando, e toda a influência do seu pai. O padre não é problema, Alex me disse que será o da sua família.
– Lana, eu...
– Seu vestido tem que ser lindo! Épico! Acho que vou começar a ligar para alguns estilistas e... claro que amanhã bem cedo as costureiras estarão em sua casa, afinal de contas cada segundo conta, mas ele será simplesmente maravilhoso. Lógico que não será nenhum...
– Mas, Lana...
– Miranda ficou de pesquisar o modelo ideal para cada madrinha. Tem ideia de quantas serão?
– Lana, por favor...
– Não se preocupe. O modelo não vai ofuscar o seu. Será o casamento do ano, mas você ainda será a noiva do século... Ai, meu Deus! Nem acredito que vamos fazer isso tudo em quinze dias...
– LANA! – tentei impedir minha cunhada de continuar.
– Oi! Caramba, precisa gritar assim? Era só falar. Vou te contar, você e Alex formam um casal perfeito...
– Preciso de sua ajuda, Lana. Dá para me ouvir?
– Claro! Do que você precisa?
Olhei para meu noivo meio apreensiva. Como dizer a Lana que eu precisava de um conjunto de lingerie supersexy para a minha noite de núpcias? Ele sorriu, acariciando meus cabelos. Virei um pouco o rosto para o lado, como se assim pudesse evitar que ele me ouvisse.
– Eu preciso que você me ajude com... Bem... – Alex me fitava atentamente. Droga! Será que eu não podia ter um pouco da minha intimidade preservada? – O casamento é em quinze dias e... você sabe... tem coisas que não posso contar com minha mãe... – ele riu entendendo a minha apreensão.
– Não precisa de nada cobrindo este lindo corpinho para o que eu pretendo fazer com você – sussurrou em meu ouvido me fazendo corar completamente, além, é óbvio, de ficar excitada.
– Entendi – Lana riu do outro lado da linha, desviando minha atenção. – Pode deixar comigo vou providenciar tudo. Alex nunca mais vai esquecer esta data. Conheço a loja perfeita e você nem precisa ir lá. Podemos marcar um dia em minha casa e a personal vai comparecer para nos mostrar o que tem de melhor para a noite de núpcias – e riu de maneira infantil.
Não era para ser, porém o fato de termos aquela conversa tão íntima, mesmo sendo quase nada, deixou-me incrivelmente envergonhada.
– Ok, Lana! Obrigada! Falo com você depois – devolvi o celular a Alex que desligou imediatamente.
– Preocupada em agradar o marido?
– Sempre.
ALEX
Mais um espasmo e eu jorrei para dentro dela todo o meu prazer.
Charlotte estava linda, deitada naquela cama imensa, os cabelos espalhados pelo travesseiro com fronhas brancas, o rosto naturalmente corado, cheios de pintinhas, os olhos fechados e a boca levemente aberta, enquanto gemidos dengosos escapavam de seus lábios.
E ela estava embaixo de mim, recebendo-me entre as suas pernas, os seios subiam e desciam conforme o nosso movimento, as mãos em minhas costas, puxando-me cada vez mais ao seu encontro, enquanto eu me afundava em sua carne, idolatrando seu calor.
Porra! Eu adorava transar com Charlotte, amava a sua ousadia, delirava com as loucuras que ela aceitava fazer, mas nada se igualava ao prazer que eu sentia quando fazíamos amor. Nada como ter a mulher que você ama em seus braços, entregue, sem grandes malabarismos, apenas se entregando, namorando, curtindo um ao outro.
Era maravilhoso!
Mas precisávamos ir embora. Eu estava esgotado e Charlotte também. Havíamos passado a tarde inteira naquele quarto de motel e a noite já cobria o céu do Rio de Janeiro. Segundo Lana, todos se reuniriam na casa da minha noiva naquela noite para discutir e festejar o noivado. Eu ainda não tinha tomado coragem para contar a ela o que a aguardava.
– Hum!
Ela se espreguiçou ainda embaixo de mim, estirando as pernas e os braços. Encarei seu colo cheio de pintinhas, soltei um pouco do meu peso sobre ela e acariciei uma vez mais as suas curvas, enquanto ainda podia sentir o calor da sua intimidade úmida em um último momento de prazer.
Depois puxei seu rosto para mim e beijei seus lábios, fechando aquele dia com chave de ouro. Fora uma grande e deliciosa ideia ceder à vontade dela de conhecer um motel. Nada como não ser atrapalhado e poder se aventurar em tudo o que quiser.
– Acho que esta é a hora de eu te ver com aquela calcinha – ela riu me deixando sair do meio das suas pernas e rolar para o seu lado. – Hora de ir para casa, amor.
– Já? – ri acolhendo seu corpo quente em meus braços.
– Não podemos brincar com a paciência do Peter.
– Nós vamos nos casar em quinze dias, como ele queria, então mereço qualquer concessão.
– Você merece tudo – beijei seus lábios com carinho e acariciei seu rosto. – Mas Peter não vai aceitar, então...
– Merda! – ela se soltou dos meus braços, enrolando o lençol no corpo. – Sinto falta de passar uma noite inteira com você.
– Em quinze dias vamos passar todas as noites juntos.
Por um segundo eu pensei que Charlotte estivesse passando mal. Ela ficou pálida, seus olhos perderam o foco e não houve nenhuma expressão de humor ou de satisfação pelo que eu havia dito.
– É verdade – e desviou o olhar se preparando para levantar.
– Espere – segurei em seu braço, ainda sem saber como reagir àquilo tudo. – O que foi? – Charlotte não voltou a olhar para mim. – A ideia do casamento ainda te atormenta?
– Não a ideia de casar, mas do que será um casamento – seus olhos fixos demonstravam que ela ainda debatia internamente sobre o assunto. – Mas eu acho que toda noiva deve se sentir assim, não? – e como num passe de mágica tudo voltou ao normal. Ainda demorei um pouco para reagir à sua mudança súbita e ao sorriso encantador que ela me lançou. Por fim, sem querer me aprofundar no assunto, acariciei seu rosto e concordei.
– Deve ser assim mesmo.
– Bom... acho que vou procurar por aquela calcinha – inclinou-se rapidamente e acertou um beijo em minha boca antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Depois levantou indo em direção ao banheiro.
Levantei, fui buscar minhas roupas na área da piscina, vesti a cueca, a calça, as meias e peguei o celular. Muitas mensagens. Cinco apenas de Lana e duas de Patrício. Como bem conhecia a minha irmã, abri primeiro as do meu irmão.
“Mano, então é verdade mesmo? Quinze dias? Tem certeza disso?”
Revirei os olhos decidindo se deveria ou não ignorar a outra mensagem. Mas preferi saber logo de uma vez o que ele queria.
“Porra, Alex! Você é um filho da puta corajoso! Dei valor. Queria eu ter metade desta determinação.”
Respirei fundo e escrevi:
“Eu amo a Charlotte! Infelizmente, ou felizmente, você ainda não se deu conta de que ama a Miranda também.”
E me perguntei mil vezes se deveria mesmo ter escrito aquilo. Eu queria que Miranda e Patrício ficassem juntos? Não, claro que não. Miranda era dor de cabeça na certa. Mas contava a minha vontade ou tudo o que eu sabia da garota? Bom, deveria contar, uma vez que Patrício é meu irmão, mas, porra, se eu não queria revelar o que sabia então não podia exigir nada dele. E talvez, por um milagre da vida, Miranda tenha criado juízo. Sem contar que ela gostava mesmo do meu irmão.
Tomei coragem para conferir as mensagens de Lana. Duas perguntando onde estavam os documentos que ela precisava para dar seguimento aos nossos assuntos profissionais, uma para dizer que já tinha encontrado e que eu era um filho da puta imprestável, ri sozinho, mais uma para confirmar o jantar na casa de Charlotte, o que ainda era um problema, e a última para dizer que todos já tinham chegado menos nós dois. Porra!
Voltei para o quarto e Charlotte ainda estava no banheiro. O barulho do chuveiro chegou a ser estimulante. Um banho seria ótimo, mas eu não podia entrar naquele banheiro com a minha noiva ou nos atrasaríamos ainda mais.
– Charlotte, precisamos ir – falei aproximo à porta e voltei para ligar avisando que poderiam fechar a conta.
A porta se abriu e ela apareceu só de toalha. O corpo e cabelo molhados deixando uma poça sob seus pés, mas Charlotte não se importou. Ela me olhou e sorriu mordendo o lábio inferior. Muito sabiamente, porque minha noiva sabia o que fazer para me seduzir, deixou o olhar cair para os seus pés.
– Não vai entrar? – pensei duas vezes, com o interfone ainda na mão.
– Pois não? – a voz da atendente chamou a minha atenção. Voltei a olhar para Charlotte e outra vez para o interfone, então decidi.
– Poderia fechar a conta em trinta minutos, por favor? – Charlotte sorriu e voltou para dentro do banheiro. – Obrigado! – e desliguei antes que pudesse ouvir a resposta deles.
CHARLOTTE
Só quando deixamos o motel que eu percebi o quanto estava tarde. Peguei meu celular esperando um mundo de ligações perdidas e mensagens, apenas para me dar conta de que estava sem bateria. Merda! Como explicar ao meu pai?
– Como está se sentindo? – Alex segurou minha mão e a levou aos lábios.
– Ótima! – não entendi muito bem o porquê da pergunta. Ele sorriu de maneira cafajeste e aquilo mexia realmente comigo.
– Não abusei de você?
A voz cheia de orgulho indicava o motivo daquela demonstração de ego. Revirei os olhos, mas sorri sentindo o leve ardor em meu sexo, indicando o quanto ele de fato havia abusado de mim.
Meu Deus! Desde que tínhamos iniciados as nossas aulas de sexo nunca havíamos ficado tanto tempo nos dedicando apenas a isso. Tivemos a nossa primeira noite e esta também foi, como podemos dizer... abusiva, porém nada como aquele dia, horas inteiras de prazer em que Alex tinha demonstrado o quanto era capaz de me fazer enlouquecer. E eu enlouqueci, inúmeras vezes.
– Se você chegar em casa com este sorrisinho no rosto todo mundo vai entender o que aconteceu – provocou.
– E eu estou pouco me importando. Tenho vinte e um anos, sou independente, logo em breve serei uma mulher casada, tenho direito de transar quando e quantas vezes quiser – ele me olhou rapidamente e sorriu. Lindo! – Além do mais, é melhor para os meus pais saberem que você me satisfaz sexualmente do que passarem anos imaginando se eu não sou feliz no casamento.
– Existe muito mais em um casamento pleno do que a satisfação sexual –repreendeu-me fazendo uma careta de desagrado. – E você faz parecer que tudo gira em torno do sexo.
– Alex, acabei de descobrir o quanto sexo é bom, então me deixe curtir enquanto ainda tenho energia para isso. Terei muito tempo para descobri todos os outros sabores de uma vida a dois – ele voltou a sorrir e mais uma vez segurou minha mão, acariciando meus dedos com o polegar.
– É justo – e seu sorriso ficou imenso. – Por falar em sabores de uma vida a dois... – soltou minha mão e segurou com força no volante. – Por favor não faça disso um problema.
– O que, os sabores de uma vida a dois?
– Não. O que uma futura vida em conjunto exige.
– Mal aceitei o casamento e já vou ter que conviver com regras – resmunguei para diverti-lo, mas Alex ficou sério. – Manda.
– Nossas famílias estão reunidas em sua casa. Eles querem definir o casamento e organizar o quanto antes, então...
Alex me olhou e eu não consegui esconder minha boca aberta, os olhos imensos, assustados, a cor pálida... Droga!
– Você conhece meus pais, meus irmãos, por que isso é um problema? – engoli em seco tentando não ser mais infantil do que já tinha conseguido ser.
– Não é – respondi baixinho. – É só que...
– Charlotte!
– Pensei que conseguiria pelo menos esta noite para me adaptar a ideia. Também não pensei que enfrentaria todos de uma só vez e... meu Deus, Alex! – suspirei derrotada. – Não sei o que pensar. Não sei nem o que dizer.
– O que está te afligindo?
– A ideia... todos eles juntos, definindo tudo, falando e falando e...
– Calma!
Ele me calou segurando em minha mão e apertando-a. Olhei nossos dedos entrelaçados. Não. Eu não estava com medo do casamento, apenas da ideia de uma festa imensa, cheia de pompas e acontecimentos. Não. Eu não tinha dúvidas quanto a entregar a minha vida àquele homem.
– Tenha em mente que é o nosso casamento. Eles querem ajudar e vão, mas será como a gente quiser. Não tenha medo. Eu estarei lá e vou apoiar toda e qualquer decisão sua.
– Jura? – porra, eu amava aquele homem!
– Juro! – ele sorriu. – Tem que ser como você sonha. Eu quero que seja exatamente assim.
– Certo.
Ele não soltou mais a minha mão e eu não voltei a sentir medo.
CAPÍTULO 27
“Amor é um marco eterno, dominante, que encara a tempestade com bravura. É astro que norteia a vela errante, cujo valor se ignora lá na altura.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Antes de abrirmos a porta eu já podia ouvir a conversa do lado de dentro. Aquilo não era uma reunião para discutirmos os detalhes do casamento, era simplesmente um acontecimento. Ao fundo, pude ouvir o som de um dos clássicos do meu pai, Frank Sinatra, misturado a risadas e vozes animadas.
Céus!
Alex, ciente do meu desconforto, colocou as mãos em meus ombros, apertando-os levemente. Sorri tentando ser corajosa. Só que eu não era.
Ao colocar a chave no segredo da porta suspirei lentamente. Não precisava mais afirmar para mim mesma que era o que eu queria, porque era realmente o que eu queria, mas será que era mesmo?
Definitivamente não.
Quando em minha vida eu poderia decidir qualquer que fosse o evento que dissesse respeito apenas a mim? Era difícil para quem estava de fora compreender, só quem teve a vida controlada, detalhada, esmiuçada e desenhada, como eu tive, compreenderia o meu desânimo por ter a minha festa de casamento definida e decidida por outras pessoas.
Lógico que eu poderia dizer não a tudo, que poderia simplesmente me negar a discutir as minhas vontades. Era o meu casamento, oras! Contudo, quando se tem pais como os meus, ver a decepção em seus olhos por causa de um capricho poderia ser sufocante.
E como eu me sentia? Bom, eu me sentia partida ao meio. Uma parte me dizia para aceitar, afinal de contas era apenas uma festa e, se Deus quisesse, aquele seria o meu único casamento, então por que não agradar a todos e abdicar da minha vontade mais uma vez? A outra parte, a rebelde, dizia que eu deveria gritar, ignorar os olhares reprovadores, subir ao meu quarto, fazer um planejamento de como deveria ser e depois simplesmente comunicar a todos.
– Não vai abrir? – Alex apertou mais uma vez meus ombros.
– Alex?
– Sim?
– Como você quer que seja?
– O casamento? – sacudi a cabeça para que ele entendesse a minha intenção. Não tive coragem de me virar para encará-lo.
– Bom... – suas mãos deixaram meus ombros. Mordi os lábios em expectativa. – Eu não sei, Charlotte. Nunca me imaginei casando e, para ser franco, nunca acreditei que este seria um papel meu. Digo, pensar nos pormenores. Eu quero me casar com você e como vai ser, não importa.
Foi o suficiente para mim. Girei a chave e abri a porta, mas voltei para olhá-lo antes de encarar os demais. Sorri para o meu futuro marido, deixando claro que estava satisfeita. Ele sorriu de volta, cheio de uma expectativa e alegria que eu não sabia se conseguiria corresponder, eu tentaria com afinco.
– Finalmente! – Lana gritou de dentro do apartamento. – Não sabíamos mais o que fazer.
– Vocês demoraram – meu pai deu um passo à frente, uma mão no bolso da calça e outra segurando um copo. Seu olhar era pura acusação, o que me deixou imediatamente corada.
Olhei para a sala, todos estavam lá: Lana, João Pedro, meu pai, minha mãe, Dana, Adriano, Johnny, Miranda e... Patrício? Mas o que ele fazia lá? Senti a mão de Alex na minha. Claro! Ele era irmão do meu noivo e eu teria que me acostumar com aquilo. Voltei a olhar para a minha amiga, sentada distante dele, no sofá menor, fingindo indiferença.
– Fomos almoçar – Alex disse meio inseguro. – E saímos para conversar sobre o casamento.
– E fomos ao cinema – completei como a covarde que sempre seria. Eu não precisava de um pouco mais daquele olhar acusador. Além do mais, já havia concordado em casar tão rápido quanto a fofoca corre na língua dos desocupados.
– Ao cinema?
Ele olhou para Alex cobrando uma resposta. Lógico que meu pai duvidaria de qualquer coisa que eu dissesse. Ele desconfiava onde estávamos e imaginava o que fazíamos. Meu rosto esquentou significativamente e tive medo de que Alex negasse.
– Foram ao cinema? Não me diga que você assistiu “Quando acabar”! – Miranda falou alto, ganhando a atenção do meu pai. – Charlotte?! Nós tínhamos combinado de assistir juntas.
Porra, eu amava a minha amiga! Tínhamos assistido ao filme alguns dias antes, quando ela estava curtindo a fossa por causa do fora do Patrício. Miranda foi espetacular em pensar naquele filme, assim eu teria o que contar a respeito dele, caso a curiosidade do meu pai, ou de qualquer outro, falasse mais alto.
– Desculpa! – sorri envergonhada. – Nós queríamos fazer um programa de namorados, então convenci Alex a entrar no cinema. Podemos marcar outro dia, eu não me importo em assistir de novo, você sabe.
– Deus me livre! Você comenta sobre o que vai acontecer e isso mata a expectativa. Vou arrumar uma colega para ir comigo.
Naquele momento notei o olhar do Patrício em direção à minha amiga. Ele fingia não se importar, não prestar atenção nela, mas falhava, como naquele momento, quando ela mencionou “a colega” e deu para notar que ele pensou que seria “um colega”. Tive vontade de rir.
– Venha, Charlotte – minha mãe chamou estendendo uma mão para mim. – Sente-se aqui. Estávamos pensando no local ideal para a festa. Lana nos trouxe algumas opções interessantes – caminhei lentamente ao lado da minha mãe sem saber o que esperar, nem como começar a dizer o que eu pensava.
– Temos primeiro que definir o número de convidados. Posso ter uma vaga ideia de quantos serão da nossa parte da família. Conheço todos os amigos do Alex, as pessoas que são do interesse dos nossos pais, só precisamos resolver do lado profissional, quais são os que ele deseja que compareçam.
– Nossa lista é longa, apesar de não termos familiares no país – meu pai se aproximou introduzindo-se na conversa.
– Temos a sua tia – disse minha mãe.
– Tia-avó, como vocês dizem aqui. Sim, temos alguns poucos parentes distantes. Vamos enviar os convites, porém não acredito na presença deles.
– Thomas pode querer comparecer. Ele e Charlotte eram muito ligados – minha mãe sorriu com inocência e Alex imediatamente se interessou.
– Thomas?
– Ele é um dos primos distantes. Quando crianças, eles não se desgrudavam quando estávamos na Inglaterra. E ainda se divertem bastante quando Charlotte resolve aparecer. Ela não gosta muito de voltar às origens – minha mãe falou para Dana, que sorriu gentilmente.
– Thomas é um ótimo rapaz – colaborou meu pai. – Inteligente, assumiu o negócio da família quando ainda fazia faculdade. Dizem que ele é promissor, que vai ainda mais longe que o pai e eu acredito nisso. Um garoto de punho forte.
Alex estava incomodado com o assunto, apesar de não demonstrar. Só que eu o conhecia o suficiente para saber que qualquer conversa sobre um homem promissor, interessante e que vivia grudado em mim, o tiraria do sério.
O que ele não sabia era que Thomas nunca passou de um garoto idiota, cheio de si, completamente engomado, que vivia tentando me impressionar, sem nunca conseguir. Eu o aceitava, até porque Johnny gostava do cara, e em uma vida onde os homens não são bem-vindos, conseguir a permissão para ter um amigo era algo realmente revigorante. Às vezes, eu me divertia com as conversas dele, as bobagens que valorizava e me lembravam o tempo todo de que aquele era o tipo de pessoa com quem eu não queria me casar.
– Eu penso em poucos convidados – comecei e ninguém pareceu se importar comigo.
– A igreja tem um bom tamanho – Lana continuou. – Também temos a opção de fazer a cerimônia para um grupo restrito e a festa para os demais convidados.
– Não deveria ser o contrário? – João brincou se servindo de mais bebida.
– Deveria ser uma coisa só – Dana buscou a aprovação da minha mãe, que concordou.
– Neste caso, teremos uma lista reduzida. Quantas pessoas cabem naquela igreja? Trezentas, quatrocentas...
– Podemos obter esta informação – minha mãe disse sem se preocupar com a minha opinião.
– Ótimo! Vamos ao buffet – Lana trocou de assunto com ânimo. – Eu tenho uma sugestão. É o melhor que temos no Rio de Janeiro, mas é claro que se vocês já trabalham com algum podemos ficar com o que escolherem.
– A “Motivo” é um excelente buffet, Lana – Dana acrescentou assegurando minha mãe de que elas tinham o melhor.
– Não fazemos muitas festas pessoais aqui no Brasil, porém a “Motivo” é a empresa responsável por todos os eventos dos hospitais, não é mesmo, Peter? – meu pai deu de ombros.
– Não costumo me inteirar destes detalhes, querida – Dr. Frankli concordou com meu pai, sem nada acrescentar.
– Podemos verificar a disponibilidade deles – Dana deu continuidade ao assunto.
– Já verifiquei e, sendo um casamento de uma família tão especial, eles aceitam o desafio – Lana disse orgulhosa de si mesma.
– Ótimo! Então precisamos marcar uma reunião... – minha mãe tentou falar e mais uma vez Lana falou cheia de si.
– Amanhã pela manhã. Teremos um dia cheio. Graças a Deus ainda não assumi o cargo do Alex. Não ficaria nada contente se não pudesse acompanhar este casamento de perto.
– Quanta eficiência – Miranda disse admirada e também para fingir não estar atenta a Patrício.
– Eu sempre perguntei se ela não estava no ramo errado – Adriano brincou, fazendo Dana rir.
– Lana seria ótima em qualquer profissão que escolhesse – disse uma mãe coruja, que ganhou um sorriso carinhoso da filha.
Olhei para Alex pela primeira vez desde que sentei naquele sofá ao lado da minha mãe. Ele estava próximo do meu pai, segurava um copo de uísque e me encarava sem se manifestar. Ele estava atento ao que eu faria e parecia me pedir para interferir, para que eu não deixasse que decidissem tudo sem sequer me consultar.
– A lua de mel será um presente nosso, querida – Dana falou pegando em minha mão. – Adriano e eu fazemos questão. Vocês só precisam definir o roteiro.
– Paris – Lana quase gritou eufórica.
– Algo mais pitoresco. Quem sabe um tour pela África? – Miranda falou entrando no clima da conversa. – Charlotte já conhece a Europa toda e as praias da África são as mais bonitas.
– Se fosse o meu casamento, eu escolheria Las Vegas – Johnny falou sem vontade e me olhou como se quisesse me socorrer. – Ou Caribe.
– Tão original – Miranda debochou. – Não poderíamos esperar mais nada desta cabecinha.
– Então por que vocês não perguntam a Charlotte o que ela quer? – meu amigo replicou.
Todos se calaram e olharam para mim. Senti o ar preso nos pulmões. Uma reação normal para alguém que até um segundo atrás era invisível. Olhei para Alex e ele me lançou um olhar cheio de confiança, um incentivo para que eu fizesse como havia dito que queria.
– É o meu casamento, e... – olhei para meus pais, mas voltei a atenção para Alex – ... espero que seja o único – ele sorriu aprovando o que eu dizia. Ouvi o risinho baixo de Lana e senti a mão da minha mãe na minha. – Eu quero um casamento simples, muito íntimo, sem convidados por conveniência – olhei diretamente para o meu pai. – Eu sei o quanto vocês estão felizes, mas eu gostaria de fazer do meu jeito, como eu sou e como o Alex é.
– E como seria este casamento? – a voz doce da minha mãe me incentivou a continuar. Olhei para a minha futura sogra e continuei.
– Uma vez você me perguntou como eu sonhava que seria o meu casamento e eu respondi que não sonhava com isso. Mas, desde que Alex apareceu com a ideia e, quando finalmente aceitei que poderia ser o mais breve possível, tudo se arrumou em minha cabeça – Dana sorriu entendendo as minhas palavras. – Não existe outro lugar que fale tanto de mim e do Alex quanto Petrópolis.
– O lugar onde ele te pediu em casamento – Miranda falou com voz apaixonada.
– O lugar onde descobrimos que não dava mais para esperar o tempo confirmar o que sentíamos – Alex completou e a emoção em sua voz aqueceu o meu coração.
– Se não for incômodo para vocês, eu gostaria de casar no rancho – houve um momento de silêncio que me deixou constrangida.
– Ficaremos bastante limitados – Dana começou a falar. – Não temos espaço para tantos carros e a área aberta não comporta muito mais do que setenta pessoas, então...
– Não quero convidados – eu disse rápido com medo do que eles diriam. – Não quero convidados, por favor! – encarei minha mãe, segurando sua mão em súplica.
– Mas, Charlotte... – ela começou a falar.
– Mãe, eu não quero um grande acontecimento. Todas as pessoas que eu amo estão aqui nesta sala, não preciso de mais ninguém para compartilhar a minha felicidade. Eu sei o que a senhora está pensando, no entanto, um casamento pode ser lindo e perfeito apenas com a presença de nossos familiares, e ele será. Eu deveria ter casado naquele feriado, só que fui pega de surpresa e tive medo. Agora não tenho mais. Eu sei o que quero mãe. Para que seja uma festa perfeita, uma em que eu realmente me sinta feliz e realizada, tem que ser assim. Apenas com todos que estavam lá quando tomamos a decisão.
– Tiffany e Anita também? – Patrício perguntou com voz debochada.
Meu sangue ferveu na veia. Ele nunca tinha nada de interessante para falar? Olhei para Alex que sorria amplamente, divertindo-se com o comentário infeliz do irmão. Claro que ele se divertiria.
– Sem Anita e, principalmente, sem Tiffany.
– Anotado – Lana fingiu tomar nota da minha exigência.
– E então... – olhei para meu pai que me encarava sem acreditar em minhas palavras. – Alguns dias depois teremos a formatura. Aí vocês poderão fazer a festa da forma como quiserem, eu não vou me importar. Juro! – ele suspirou e colocou o copo sobre a mesa.
– A festa de formatura será à fantasia, Charlotte – eu sabia que não era como ele sonhava, no entanto o que deveria contar mais, o que eu queria como festa de casamento ou o que ele desejava?
– Eu gostei da ideia – minha mãe falou saindo em minha defesa. – Uma festa íntima, o que não será nem um pouco menos importante ou sem o brilho que um casamento exige. E o rancho é realmente maravilhoso, será tão romântico. Tenho certeza de que Lana conseguirá organizar a festa perfeita – e havia tanta emoção em seus olhos, um brilho que me impulsionava a desejar abraçá-la.
– Obrigada, Mãe!
– Que seja! – ouvi meu pai reclamar. – Ela sempre consegue tudo do jeito que quer mesmo. Eu estou te falando, Alex, não será nada fácil.
– Vai ser uma festa incrível – meu noivo respondeu alegremente.
– Certo – Dana falou chamando a nossa atenção. – O rancho é um lindo lugar e uma festa para poucos convidados pode ser até mesmo uma desculpa romântica, só acho que alguns convidados sejam inevitáveis.
– Um número reduzido – Lana completou. – Juro que será um número bastante reduzido, Charlotte. Apenas alguns amigos mais próximos que se sentirão ofendidos caso não sejam convidados.
– Tudo bem – tive que ser complacente, não dava para ser tudo como eu queria.
– Neste caso... – meu pai voltou a se interessar. – Acredito que também teremos direito a alguns convidados.
– Uma lista bem reduzida, Peter – minha mãe rebateu com voz firme. – Bem. Reduzida – eu tinha certeza de que ele havia entendido o recado.
– Vou repensar o vestido. Quer ver os modelos?
Lana se aproximou com um tablet e toda a noite girou apenas em torno do meu casamento perfeito.
ALEX
Foram os dias mais felizes e tranquilos da minha vida. Depois que finalmente Charlotte disse sim, que conseguiu encontrar um equilíbrio para a cerimônia do casamento, que convenceu nossas famílias a fazerem como ela desejava, minha vida tinha assumido uma calmaria deliciosa.
Em cinco dias, conseguimos avanços que até então nem acreditávamos. Charlotte resolveu caminhar com Miranda todas as manhãs e, às vezes, nós nos encontrávamos na praia. Todas as noites jantávamos juntos, na casa dela, sob a supervisão de Peter, que estava tão satisfeito com o nosso progresso que fazia vistas grossas.
Namorávamos no sofá, fazíamos planos, conversávamos e resolvíamos juntos qualquer problema.
Lana não dava sossego à minha noiva durante o dia inteiro. Era prova do vestido, escolha da comida, das flores, das músicas... Enquanto eu precisava resolver todas as pendências para conseguir me ausentar por alguns dias.
Tínhamos decidido que chegaríamos um dia antes ao rancho, para organizar tudo a tempo, e a família ficaria lá até um dia após o casamento, Charlotte e eu voltaríamos logo após a cerimônia e só viajaríamos em lua de mel depois da formatura.
Ainda havia o problema da faculdade. Tínhamos uma reunião agendada para dois dias após o meu casamento, em que ficaria decidido o futuro da minha noiva. Este era o ponto que mais me atormentava.
Naquela noite, cinco dias após termos passado uma tarde deliciosa no motel, Charlotte resolveu que era hora de termos um pouco mais de privacidade, e decidiu jantar em minha casa. Só nós dois. Um sonho para qualquer casal que só conseguiu alguns amassos nos últimos dias.
Ela havia ligado pela manhã para me avisar e disse que eu não precisaria me preocupar com Peter. Bom, eu realmente não me preocupei. Lana me fez passar parte da manhã experimentando smoking, em minha sala, entre uma papelada e outra. Descartei de imediato o azul e ela ficou indecisa entre o creme e o preto. Eu ficaria com o preto, mas era melhor deixar a decisão para a minha irmã caçula, ou não teria paz até o dia do casamento.
No período da tarde, após ela enfrentar duas reuniões, avisou-me que precisava ir para casa pois era necessário tratar de alguns detalhes do casamento com Charlotte. Para tanto, levou alguns documentos para analisar no período da noite.
Eu trabalhei o quanto pude, mas no horário apropriado para não me atrasar para o jantar, deixei a editora e enfrentei o congestionamento até chegar em casa. Ainda tive tempo de escolher o que comeríamos, retirar do congelador, decidir um vinho e tomar um banho. Quando desci de volta para a cozinha, ouvi o barulho do carro dela.
Eu ainda não entendia como Charlotte preferia andar com aquela coisa tendo dinheiro para comprar o carro mais caro e mais moderno fabricado no país, ou até fora dele. Deixei a vasilha sobre a bancada e larguei o pano de prato decidido a receber a minha noiva no meu melhor estilo.
Abri a porta quando ela bateu a do carro. Assim que Charlotte deu a volta e caminhou em direção à casa, eu notei que alguma coisa estava errada. Primeiro, ela estava apática, não sorriu, como costumava fazer. Segundo, a expressão de cansaço e dor a cada passada me deixou seriamente preocupado, a ponto de me adiantar alguns passos para pegar a bolsa da sua mão e auxiliá-la. Terceiro, assim que me aproximei percebi o quanto estava pálida, os lábios, sem batom, exibiam um tom levemente arroxeado, dispensando o rosa convidativo que sempre esteve lá.
– O que houve? – fui incisivo, mas ela apenas gemeu e se deixou abraçar. – Charlotte, o que aconteceu? Você está pálida.
– Eu estou bem – forçou os passos para que entrássemos em casa.
– Por que não me ligou para buscá-la? Por que dirigiu até aqui não se sentindo bem?
– Eu estou bem, Alex. Só preciso sentar.
Caminhamos para dentro de casa, no entanto eu não conseguia deixar de ficar inquieto. Charlotte sentou no sofá e encostou a cabeça, fechando os olhos.
– O que está sentindo?
– Cólica – revelou por fim. Levei um longo segundo para compreender o sentido total daquela palavra.
– Ah! – foi só o que consegui dizer.
Eu ainda estava preocupado. Claro que estava! Não gostava da aparência doentia que ela exibia, nem da falta de cor do seu rosto, mas tenho que ser honesto, cólica era algo que poderia ser resolvido com um comprimido, assim o que passou a ocupar minha mente era a frustração da nossa noite, que não aconteceria, óbvio!
– Desculpe! Eu fiquei menstruada no início da noite – revelou abrindo os olhos. Eu tive que sorrir. Por que ela se desculpava por menstruar? Tudo bem que tínhamos planos e eu estava mesmo frustrado. Fazer o quê... era a natureza.
– Tudo bem. Está tão ruim assim? Por que não ficou em casa, Charlotte? – vi quando seu olhar endureceu e ela tentou disfarçar. Ok, foi uma bola fora. – Eu iria até lá, ficar com você – contornei a tempo. – Não foi nada inteligente dirigir até aqui sentindo dor.
– Eu não sabia que ficaria menstruada hoje. Chegou adiantada. Acho que toda esta loucura de casamento em tão pouco tempo me deixou mais tensa do que eu imaginei e esta foi a consequência – suspirou se movendo no sofá para melhor se acomodar. – Eu não estava esperando. Então quando consegui sair da casa da Lana e tomar um banho para vir te encontrar, percebi que tinha menstruado. Eu estava com pressa, não queria pegar trânsito ruim, assim, acredito, acabei ignorando os sintomas, que se agravaram no caminho.
– O que quer tomar? – levantei para pegar um pouco de água.
– Preciso de leite, por favor. Não gosto de tomar comprimido com água – ela abriu a bolsa procurando provavelmente pelo remédio.
– Nem todos os comprimidos podem ser ingeridos com leite, Charlotte. Não sei como você consegue ser tão desatenta tendo um pai como Peter – ri sentindo meu corpo relaxar.
– Eu só tomo com leite – rebateu com teimosia e sem um pingo de divertimento. TPM. Só podia ser.
– Eu vou buscar.
Saí da sala pensando no quanto eu precisaria ser cuidadoso naquela noite. Era melhor não brincar quando Charlotte estava aborrecida, piorava quando ela estava de TPM. Quando voltei, ela segurava o comprimido em uma das mãos e permanecia de olhos fechados, com a cabeça apoiada no sofá.
– Por que não descansa um pouco? – sugeri ao lhe entregar o copo com leite. Charlotte ingeriu o remédio imediatamente. – Quantos comprimidos engoliu?
– Dois.
– Dois? Meu Deus, Charlotte! Por que não entendo logo de uma vez que preciso fiscalizar os seus atos?
– Porque eu não tenho dois anos. Sei o que estou fazendo – olhei para ela percebendo o quanto aquela situação a aborrecia.
– É sempre assim? – Charlotte me lançou um olhar fulminante. – Essa cólica, a dor, o mal-estar... Todos os meses você passa por isso?
– Oh, sim. E agora ainda terei que conviver com a angústia de tomar uma injeção todos os meses bem nesta época – mais uma vez me peguei pensando sobre o que ela estava falando, até que entendi, e gostei. Mordi o lábio, sentando-me ao seu lado. Segurei os pés de Charlotte para retirar suas sapatilhas.
– O que está fazendo?
– Cuidando de você – fiz com que ela deitasse e seus pés estivessem sobre meus joelhos. Charlotte me encarava com os olhos bem abertos, como se eu estivesse fazendo algo de errado.
– Não está aborrecido?
– Por quê?
– Porque eu fiquei menstruada – ri baixinho.
– Não. Só fico preocupado com esta reação todos os meses.
– Não se preocupe. Normalmente eu tomo remédios e durmo durante quase três dias inteiros.
– Que péssimo, Charlotte! Por que não faz algo a respeito?
– Porque até então eu não podia tomar anticoncepcional. Meu pai morreria do coração só de imaginar.
– Que absurdo!
– E eu nunca fiquei muito à vontade na presença de uma agulha.
– Não precisa ser assim. Existem outros métodos. Um DIU, um implante, por exemplo.
– Implante?
– Nunca ouviu falar? – massageei seus pés com carinho. – Bom, é um implante na parte interna do braço, aqui – levantei o braço mostrando o bíceps, ela sorriu de leve. Sempre Charlotte! – Um dispositivo pequeno e fininho que coloca embaixo da pele e que dispara a quantidade certa de hormônio para te proteger de engravidar e não permite que a mulher menstrue por até dois anos.
– Que sonho! – voltei a massagear os pés dela. – Mas se eu tiver que perder essa massagem todos os meses, prefiro arriscar a sentir dor – beijei seus pés e levantei.
– Eu tinha escolhido um lombo para o jantar, nas circunstâncias atuais acho melhor trocarmos por uma sopa, o que acha? – Charlotte fez cara de desagrado.
– Não quero comer.
– Mas precisa e a sopa é a melhor pedida.
Saí para trocar os pratos, deixando-a no sofá. Vasculhei o congelador encontrando uma sopa de abóbora com carne seca que era perfeita. Coloquei o lombo de volta e liguei o micro-ondas para aquecer o jantar.
Voltei para sala e encontrei Charlotte quase adormecida. Linda, apesar da palidez. A calça jeans colada ao corpo me fez imaginar se não estaria apertando o seu corpo a ponto de aumentar a cólica.
– Alex? – ela me pegou de surpresa observando o seu corpo.
– Não prefere tirá-la? – Charlotte fez cara de surpresa, sem acreditar em minha proposta. – Não está apertando?
– Não – sua voz fraca entregava o quanto aquela pergunta mexeu com ela. – Pelo contrário. Eu me sinto mais... – desviou o olhar, um leve rubor alcançando sua face e me deixando maravilhado – ... segura.
– Segura? – ri sem graça. – Segura em relação a mim?
– Não! – o rubor se intensificou. – Em relação a mim – ela se movimentou para sentar, mas desistiu e se acomodou no sofá.
– E o que você pode temer?
– Deus, Alex! Não vê que é um assunto constrangedor? – não entendi o que ela dizia. – Céus! – Charlotte cobriu o rosto com um braço. – Tenho medo que o absorvente não seja suficiente para conter o fluxo, caso a calcinha não consiga mantê-lo no lugar, então as roupas mais justas ajudam um pouco.
– Ah! – foi a minha vez de ficar sem graça. – Não gosta de absorventes internos?
– Jesus Cristo! Você é mesmo bem entendido dessas coisas, não? – ela me encarou com reprovação. Dei de ombros.
– Vou olhar a sopa – saí da sala voltando à cozinha no momento em que ouvi o apito do micro-ondas.
Retirei a vasilha, despejei o líquido, ainda gelado, na panela e levei ao fogo, mexendo aos poucos para não grudar no fundo. Enquanto cuidava do jantar, tentei ouvir qualquer movimento na sala, mas o silêncio era soberano. Charlotte com certeza estava sonolenta e poderia facilmente ter pegado no sono.
Servi dois pratos, coloquei-os em uma bandeja grande, acrescentei dois copos com água, uma pequena vasilha com torradas e equilibrei tudo até a sala. Charlotte estava com os olhos fechados, os abriu lentamente quando me ouviu chegar. Coloquei a bandeja sobre a mesinha, enquanto ela sentava no sofá.
– É abóbora?
– Sim. Gosta?
– Gosto – ajustou os óculos. – Estou mesmo sem fome, Alex.
– Tome pelo menos um pouco. O calor vai ajudar com a cólica.
Ela me lançou um olhar estranho, como se eu tivesse falando algo indevido. Mesmo assim, estendeu um guardanapo nos joelhos e segurou o seu prato, levando uma colher à boca. Fiz o mesmo observando tudo o que ela fazia.
– Eu estava aqui pensando... – começou e eu não consegui conter o girar dos meus olhos.
– Eu deveria imaginar – ri e ela outra vez ficou de cara fechada. – Fale, amor. – Charlotte engoliu um pouco mais da sopa, e desviou o olhar.
– Isso é um problema para você? – eu me perguntei se o vermelho em seu rosto era por causa da quentura da sopa ou do que ela estava pensando.
– Isso o quê?
– A mulher estar... – brincou com a colher no prato. – Você sabe... quando a mulher está menstruada... você...
– Se eu me importo em transar? – o vermelho se expandiu até suas orelhas. Sorri largamente. – Nunca aconteceu. Normalmente eu respeito o momento. As mulheres se sentem incomodadas, então esta é uma experiência que eu ainda não tive.
Ela me observava sem se mover um centímetro. Seus olhos não deixaram os meus, e sua boca estava levemente aberta. Quando terminei de falar, ela engoliu com dificuldade e voltou a brincar com a colher.
– E você...
– Charlotte, eu... – pensei no que poderia dizer a ela sem aborrecê-la ainda mais. – Eu nunca pensei no assunto, mas, para ser sincero, não consigo enxergar uma situação em que eu não queira transar com você. Imagino que com você neste estado não seja nada confortável, se não fosse a dor... sei lá. Talvez se estivéssemos no banho – ela mordeu levemente o lábio inferior, o que reverberou em minha virilha. – Não que eu me importe com a cama – um sorrisinho brincou em seus lábios. – E você só pensa em sexo, meu Deus! – Charlotte riu. Foi a primeira vez naquela noite e significou muito para mim. – Eu transaria com você até mesmo se estivesse em coma.
– Porra! – ela gargalhou e eu ganhei a noite. – Seu doente!
– Você é a minha doença – ela continuou rindo e voltou a tomar a sopa, desta vez com mais vontade.
– Como aprendeu tanto sobre essas coisas? – ela mudou o tom de voz, voltando a ficar mais dura. – São muitos detalhes para uma pessoa que não menstrua.
Olhei fixamente para a minha noiva. Eu não estava disposto a perder aquela noite e uma briga não poderia ter espaço entre nós dois.
– Andei pesquisando – continuei com o olhar fixo no dela. Charlotte estreitou os olhos, sem acreditar. – Você começou a usar anticoncepcional então achei que poderia ajudar me informando sobre o assunto – ela continuou não acreditando. – E ter uma irmã caçula ajuda um pouco – ela riu balançando a cabeça e colocou o prato quase vazio sobre a mesa, depois voltou a se deitar.
– Você é um grande mentiroso, Alex – suspirou fechando os olhos. A voz ainda era divertida e com um leve tom de cansaço.
– É. Às vezes, eu sou. Mas só um pouquinho – fui cauteloso. Ela ficou em silêncio por tempo demais. Quase acreditei que estava dormindo quando ela suspirou forte e falou.
– Alex? – a voz carregada de sono me surpreendeu.
– Sim.
– Eu não queria que você mentisse. Nunca.
Fiquei gelado. O que eu poderia dizer?
– Mentir é algo relativo, Charlotte – mantive a voz baixa. – Às vezes, é por uma causa nobre, outras é por necessidade e pode também ser essencial – ouvi sua respiração baixa. Coloquei o prato sobre a mesa e me aproximei dela. Charlotte dormia.
Encostei-me no sofá e fiquei incontáveis minutos pensando no quanto aquela mentira poderia me prejudicar. Era a segunda vez que ela me dizia que não queria que eu mentisse. Eu mentia? Não. Eu queria aquele casamento tanto quanto os pais dela. Era por amor e este motivo deveria ser o único a contar.
Voltei a olhar para Charlotte. Eu não queria acordá-la, nem deixá-la aquela noite, por isso tomei a decisão. Peguei o celular e liguei para Peter, que atendeu no segundo toque.
– Alex, aconteceu alguma coisa?
– Não – levantei me afastando para não acordá-la. – Na verdade, estou ligando para avisar que Charlotte pegou no sono. Eu poderia colocá-la no carro e levá-la para casa, mas prefiro deixá-la dormir – ele ficou em silêncio, depois soltou o ar com força.
– Você sabe que eu tenho vontade de socá-lo todas as vezes que me faz uma proposta como esta, não sabe? – recuei me afastando do telefone e olhando para o visor.
– Bom, ajudaria se eu te dissesse que ela apagou porque precisou tomar um remédio forte para cólica? Cólica menstrual – acrescentei rapidamente.
“Eles vão se casar em alguns dias, Peter!”
A voz de Mary chegou aos meus ouvidos, o que facilitava um pouco as coisas.
– Hum! – ele pareceu pensar no assunto. – Não é o que eu gostaria, neste caso, vou abrir uma exceção tendo conhecimento de como é este período para Charlotte, eu estou de acordo, mas quero minha filha em casa amanhã cedo.
– Pode deixar, Peter. Boa noite.
– Boa noite.
Ele desligou deixando-me surpreso. Voltei à sala, levei os pratos de volta para a cozinha, deixando tudo na máquina de lavar pratos e voltei para pegar minha noiva nos braços e levá-la ao nosso quarto.
Enquanto subia os degraus no escuro, peguei-me pensando no quanto estar ali com ela me agradava, mesmo que não fosse para fins sexuais.
CAPÍTULO 28
“Se ele é tolo ao amar o olhar dela. Ao amá-lo, eu caí numa esparrela. Às coisas vis, que não têm qualidade. O amor empresta forma e dignidade. Porque não vê com os olhos nem com a mente. Cupido é alado e cego, à nossa frente. Amor não tem nem gosto nem razão, asas sem olhos dão sofreguidão. Se cupido é criança, a causa é certa...”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Encontrei o pequeno pacote na poltrona que ficava ao lado da cama. Quando acordei nem imaginei onde estava, o que tinha acontecido. Precisei me mover na cama espaçosa para perceber que estava sem a calça, o sutiã e os sapatos, usava apenas a camiseta que havia escolhido para o jantar com Alex.
O incômodo logo me lembrou do motivo para que eu não tivesse lembranças do que aconteceu depois do jantar, e a sensação molhada me fez ter vontade de tomar banho o quanto antes.
Foi por isso que o pacotinho chamou tanto a minha atenção. Levantei, certificando-me de que a cama continuava incólume, caminhei até o embrulho onde havia um cartão escrito “Charlotte”. Peguei-o e desfiz o laço. Dentro da caixa havia uma calcinha, bege, relativamente grande, com aparência de confortável e adequada. Sorri largamente.
“Acredito que esteja sentindo falta da calcinha da sua avó.” Estava escrito no cartão de dentro. Alex era incrível!
Minha bolsa estava no mesmo local, então procurei o pacote de absorventes que eu havia colocado lá quando saí de casa e fui para o banheiro. Era delicioso poder me sentir limpa e pronta para o mundo.
Após o banho desci as escadas, sem ouvir qualquer indício da presença do meu noivo pela casa. Fui até a cozinha, onde encontrei outro cartão, sobre a bancada. “Tem suco na geladeira e bolo. Os pães e as cápsulas de café estão no armário. Espero que consiga achar tudo. Fui surfar. Te amo! Alex”. Lindo! Dava para ser menos apaixonante?
Abri a geladeira e retirei de lá a jarra de suco de laranja e o bolo. Escolhi o sabor do café e preparei a cafeteira. Sentei no balcão, reli o bilhete enquanto comia o bolo delicioso de milho, depois desfrutei de uma xícara fervente de café forte. Eu estava pronta para qualquer batalha.
Foi quando Alex chegou. Ele entrou sem a prancha, a roupa colada ao corpo e molhada indicava que ele realmente esteve surfando. Levava uma caixa nas mãos que parecia ter sido entregue pelos correios. Deixou a sandália ao lado da porta e me procurou com os olhos, encontrando-me sentada em um dos bancos altos, no balcão da cozinha.
Alex sorriu. Não um sorriso qualquer. Foi aquele sacana, cheio de promessas e expectativas, aquele que roubava despudoradamente todo o meu raciocínio, a minha decência. Era aquele sorriso que me despia sem sequer me tocar e me deixava úmida sem precisar de uma palavra.
E então, sentindo meu útero se contrair em espasmos nada agradáveis, dei-me conta de que nenhuma daquelas promessas poderia ser concretizada e, por alguns segundos, odiei a natureza feminina. Era tão desnecessário menstruar quando se tinha um noivo, futuro marido, lindo, dono de um corpo perfeito e totalmente disposto a realizar todas as suas fantasias sexuais!
Talvez eu pensasse mais seriamente sobre o implante.
Ele caminhou na minha direção, o corpo felino com movimentos decididos, transpirando sensualidade, a pele molhada e, com certeza, salgada, os músculos tonificados pelo esforço do surf, os olhos azuis que me sugavam para um mundo só nosso, o sorriso perfeito, safado, descarado, esticado para um dos lados do seu rosto... Menstruação, como eu te odeio!
– Bom dia! – inclinou-se beijando meus lábios e depois meu pescoço. Porra!
– Bom dia!
– Chegou isso para você – deixou a caixa sobre o balcão.
– Para mim? – Alex manteve o sorriso, deu a volta buscando por um copo ao lado da pia e voltou para se servir de suco de laranja. – O que poderia chegar na sua casa para mim?
– É só abrir, amor – sentou-se e me observou. Dei de ombros e comecei a abrir a caixa.
Ela era amarela, típica dos correios e constava o nome de uma empresa que eu não consegui identificar. Dentro dela um saco preto, sem nenhuma identificação. Olhei para Alex, que bebia o seu suco e me observava com divertimento.
– O que será? – ele riu baixinho.
– Pelo visto nunca viu nada parecido, não é mesmo?
Tentei entender o motivo daquele comentário, pois ele estava se divertindo enquanto eu não fazia ideia do que se tratava. Forcei o saco preto. Era forte e resistente, difícil de rasgar.
– Vou precisar de ajuda.
– Um minuto – ele levantou, abriu uma gaveta, retirou de lá uma tesoura e a colocou sobre o balcão. Depois me olhou, sugerindo que eu desse continuidade ao processo.
Retirei o saco de dentro da caixa. Ele era grande e relativamente pesado. Testei o meu tato, tentando identificar o que havia dentro dele. Eram vários objetos. Alex riu outra vez, o que me deixou irritada. Peguei a tesoura e abri pela ponta. Alex me assustou tamborilando no balcão como se estive rufando os tambores para acentuar a expectativa.
Revirei os olhos e meti a mão no saco para pegar qualquer um dos objetos que estava lá dentro e o que retirei de lá me deixou tão constrangida que senti a pele do meu rosto queimando.
– Isso é... – Alex riu alto e eu não tive coragem de olhá-lo nos olhos.
Bom... em minhas mãos estava uma embalagem quase anatômica, contendo o que parecia ser um pênis, só que moderno e rosa, sem contar que a inclinação não era muito adequada, além do pequeno gancho do lado. Rapidamente me lembrei da tarde em que Alex me fez escolher produtos em um site de artigos para adultos, e lembrei exatamente da sua sugestão sobre eu ter um vibrador.
Porra, eu tinha em mãos um vibrador. Um que foi escolhido pelo meu noivo, sugerido por ele e que além de me deixar ainda mais envergonhada, conseguia me deixar excitada.
– Uma pena não ser o período adequado – ele disse como se estivesse me falando sobre as ondas do mar naquela manhã. Engoli em seco. – Eu realmente gosto quando você cora deste jeito, Charlotte. Isso me leva a pensar se você está se recriminado ou fantasiando. Eu aposto no fantasiando.
– Você me conhece muito bem – falei baixinho, deixando um sorriso inocente se estender em meus lábios. Alex ficou sério e, por Deus, suas pupilas começaram a se dilatar. – Refresque a minha memória, professor – mantendo os cílios baixos, consegui olhar para ele, afastando a minha timidez. – Eu devo usar este acessório sozinha ou o senhor vai querer me ensinar?
Ele respirou fundo, afastou a cadeira e levantou-se, contornando o balcão. Alex me abraçou pelas costas, a pele quente dos braços aquecendo a minha. Seus lábios foram para o meu pescoço.
– Faço questão de te guiar, Charlotte – sussurrou rouco em minha orelha. – Vamos ver o que temos aqui.
Ele enfiou a mão no saco e retirou de lá um saquinho com um objeto de borracha, de um azul forte, em formato oval e com um furo no meio. Parecia um anel. Um anel peniano.
– Você vai gostar disso. Esta parte aqui de cima vibra, bem aqui – sua mão foi para o meio da minha perna, pressionando o meu centro de prazer.
– Alex! – gemi um misto de susto e desejo.
– E esta parte aqui vai fazer pressão bem aqui.
Porra! A outra mão de Alex se enfiou por baixo da cadeira, cercando-se da minha bunda e pressionando bem no meio, lá, naquele lugar tão proibido. Porra, um milhão de vezes. Sim, eu ainda lembrava do quase beijo, e de tudo o que eu senti apenas com a insinuação de que poderia acontecer.
Para piorar a minha situação, ele pressionou os dois dedos, nos dois pontos. Mesmo por cima do absorvente eu senti o que aqueles dois lugares estimulados ao mesmo tempo poderia fazer com o meu equilíbrio mental.
Então suas mãos deixaram meu corpo, não sem que Alex fizesse questão de se aproximar ainda mais, deixando seu sexo duro se esfregar em minha bunda, apenas para atiçar a minha imaginação. Eu nem vi quando ele retirou uma caixa de dentro do saco, apenas notei o seu gemido.
– Hum! Isso aqui eu realmente estava ansioso para experimentar.
Reconheci o vibrador que ele havia insistido para comprarmos, afirmando que estimularia nós dois ao mesmo tempo durante o ato sexual. O objeto me deixou insegura. Se eu era mesmo apertada como Alex afirmava todas as vezes que se enfiava em mim, como caberia aquilo e o seu... o seu membro, de uma vez só?
– Vai ser gostoso, amor – beijou meu ombro, segurando minha barriga para puxar-me ainda mais de encontro ao seu pau. – Pena que este vai esperar até depois do casamento.
– Como assim? – ele riu, abafando o som em minha pele.
– O melhor vem depois. Deixa eu ver o que mais temos aqui – ele pegou o saco e o virou de encontro ao balcão, deixando mais algumas caixinhas caírem. – Isso! Esse aqui também vai ser muito bem-vindo.
– O que é isso?
Peguei a embalagem da mão dele e virei a caixinha para todos os lados tentando entender. Era uma circunferência, parecendo-se com o anel peniano e que me fez deduzir que ele ficaria realmente no sexo do meu noivo, só não entendi por que acoplado a ele tinha um pênis de borracha, pequeno, um pouco longo, e fino.
– Pelo que tenho percebido este acessório vai ser interessante – outra vez sua mão me puxou de encontro ao seu sexo e seus lábios alcançaram meu pescoço. Mordi o lábio.
– Para que serve isso? Eu não consigo... – revirei a caixa outra vez na mão tentando encontrar o ângulo certo.
– É assim – ele abriu retirando o objeto lá de dentro. – Aqui – indicou o buraco –, eu entro.
– Você entra? E isso aqui? – segurei o pequeno pênis percebendo como ele era maleável.
– Isso... entra em você.
Puta merda!
– Em... mim? – minha voz quase não saiu.
– Sim.
– Co-co-como? – ele riu retirando meu cabelo do ombro.
– Eu estarei aqui em você – outra vez desceu a mão até o meio da minha perna. – E ao mesmo tempo ele vai...
– Ai, meu Deus!
– Você vai gostar – abraçou-me com força. – E eu também.
– Puta merda, Alex!
– Você vai gostar, amor!
– Eu sei – puxei o ar com força. – Eu sei.
– Então?
– Eu só quero entender... isso...
– Hum? – começou a deixar um rastro de beijos em meus ombros, pescoço, e tudo em mim acendeu.
– Alex?
– Diga, amor.
– Isso aqui vai entrar em meu... em minha... – ele riu.
– Vai.
– Enquanto você vai estar em minha...
– Exatamente.
– E a ideia é?
– Te proporcionar mais prazer.
– Apenas isso?
– Te deixar mais à vontade com a situação.
– Ah!
– Te mostrar que não tem por que temer. Que vai ser bom.
– Oh, droga!
Gemi sem saber se de medo ou de ansiedade. Claro que a ideia me atraía, afinal de contas, eu já tinha tido algumas demonstrações e em todas tive a certeza de que não recusaria um pedido dele. No entanto, pensar no assunto sem estar no ato de fato, era muito mais aterrorizante.
Porra, aquilo devia doer, ser desconfortável... sei lá! Deveria ser um monte de coisas, e mesmo assim, eu sabia que não conseguiria me negar.
– Deixa acontecer. Na hora, você decide.
– Você fala assim porque sabe que quando está com as mãos em mim, trabalhando junto com os lábios, em completa harmonia com a língua e todos eles juntos estão em perfeita sincronia com seu pau, eu não consigo ter um pensamento coerente.
Alex gargalhou.
– Vou tomar um banho e sair em vinte minutos. Você precisa voltar para casa ou seu pai me mata antes do casamento.
– Meu pai. Merda! O que você falou para ele? Merda!
– Eu falei que você se sentiu mal com cólica menstrual e acabou apagando por causa do remédio – foi inevitável sorrir. Meu pai conhecia o meu estado quando eu menstruava e saber que ele conhecia o fato me ajudaria a entrar em casa sem precisar responder a um questionário.
– Perfeito! Bom, vou andando – levantei-me afastando-me de Alex para não me sentir mais tentada.
– Vejo você à noite? – ele diminuiu a distância entre nós dois, atordoando-me.
– Hum! Claro! Vamos passar mais uma noite em que eu apago no sofá.
– Falta pouco agora.
– Nove dias – seu olhar se tornou tão intenso que me hipnotizou.
– Nove extensos dias – seus dedos longos tocaram meu rosto esquentando minha pele como fogo. Então ele se curvou e me beijou.
Ah, Deus! Eu adorava os beijos de Alex. Eram tão quentes, saborosos, apaixonados, intensos... e tudo aquilo era o que Alex era e ponto final.
Senti que estava perdendo a batalha contra o equilíbrio, quando minhas mãos agarraram a camisa úmida e colada ao corpo, subiram explorando cada músculo bem talhado, quando minhas pernas diminuíram a distância entre nós dois e fazendo meu corpo colar ao dele, aprofundando o beijo.
Santo Deus, o que eu não daria para estar na cama daquele homem naquele momento, sendo amada por ele?
– É melhor não nos empolgarmos, Charlotte – ele disse se afastando e mantendo a um braço de distância.
– Merda! – Alex riu.
– Uma grande merda!
ALEX
– Não!
Abri a porta da sala procurando Simone, mas ela não estava, então deixei a papelada sobre a mesa com um bilhete avisando para entregar ao pessoal da diagramação. Voltei para a sala encontrando um João Pedro ansioso.
– Lana vai matar você – avisei antes de voltar a sentar para conferir o arquivo que tinha acabado de receber.
– Lana não precisa saber dos detalhes. Só se você for muito filho da puta para contar.
– Você é um filho da puta por estar me fazendo esta proposta. Lana é minha irmã.
– Todos os homens merecem uma despedida de solteiro, Alex. Você está todo relutante porque só tem poucos dias com a menina. Vou esperar passar dez anos para ouvir a sua lamentação por ter recusado uma última trepada com estilo.
– Por que você é tão idiota? Aliás, como conseguiu me convencer a deixá-lo casar-se com a minha irmã? – Desisti do arquivo. João não me deixaria trabalhar mesmo.
– Porra, Alex! Só você vai foder nesta noite. Quer dizer, Patrício agora é solteiro e tal... mas eu prometo que não vou encostar um dedo em nenhuma das garotas. Juro! Se isso acontecer pode contar para a Lana.
– João, se eu vou estar trepando, quem vai ficar de olho em você? – ele me encarou sem saber o que responder, depois riu.
– Sabe o que está acontecendo? Você está dominado. Sua recusa é nada menos do que medo. Está morrendo de medo que Charlotte descubra e te abandone. Você é um cretino, Alex!
Ri. João era muito sem noção. Completamente sem noção.
– Existem dois pontos neste problema, João: primeiro, eu realmente não penso em transar com nenhuma outra mulher – ele ia protestar e eu o impedi. – Por mais gostosa que ela seja e, mesmo sendo apenas para fazer uma farra de despedida, uma última trepada antes do casamento. Não! Eu não quero nenhuma outra mulher. É uma pena perceber que para você funciona de forma diferente. Segundo, sim, eu estou com medo de Charlotte. Na sua despedida você quase surtou quando a garota sentou nua em seu colo e Patrício tirou uma foto.
– Patrício é um filho da puta de último escalão. Porra, ele ameaçou contar a Lana. Ele me mostrou a merda da foto no altar. Sabe o que é isso? Tem noção de como eu fiquei?
– Tenho. Eu estava lá para ver você quase se cagar todo no altar de tanto medo – comecei a rir lembrando-me daquele dia.
Claro que Patrício nunca mostraria a foto a Lana, por dois motivos: ele havia organizado a despedida de solteiro de João Pedro e, apesar de ter prometido que seriam somente alguns amigos, muita bebida e nada de mulheres, conseguiu fazer com que várias garotas que conhecia, todas lindas, é bem verdade, estivessem presentes. Aquela noite foi uma loucura, e era exatamente por isso que eu não podia permitir que o mesmo acontecesse comigo. Até hoje ninguém conseguiu descobrir se João transou ou não com a garota, de tão bêbados que ficamos.
Eu só sei que acordei nu, com três garotas nuas ao meu lado, e João agarrado às costas de uma delas, completamente desprovido de roupas. Um pouco mais distante estava Patrício, da forma como veio ao mundo, sentado na poltrona com duas garotas dormindo sentadas no chão e as cabeças nas pernas dele.
O motivo para isso era que Patrício preferia que João comesse qualquer outra garota a Lana. Pelo menos não antes do casamento. E como nossa irmã casaria virgem, ele ofereceu uma última noite de farra ao homem que se comprometeria a ter apenas a nossa irmã pelo resto da vida.
Eu não precisava de uma despedida de solteiro.
– Vamos lá, Alex! Ninguém precisa saber o que vamos fazer. Podemos dizer que vamos apenas nos reunir e beber. O local que fomos daquela vez seria perfeito. Ninguém descobriria.
– Não vou passar meus últimos momentos de solteiro na cama com uma puta, João. Charlotte não merece isso.
– Tudo bem então, nada de putas. Quem precisa de putas quando existem várias gostosas loucas para tirarem a roupa para você, hum? Vamos a um bar, usamos a técnica de sempre e depois terminamos em um hotel discreto, em uma farra particular.
– Eu tenho quase certeza de que comi a sua bunda na sua despedida de solteiro.
– Vá de foder! – ri e ele ficou irritado.
Eu e Patrício nos aproveitamos da amnésia do nosso amigo durante muito tempo, fazendo piadas sobre a virgindade anal dele, e de lembranças que fingíamos ter. João normalmente ficava desesperado, apesar de fingir saber que brincávamos.
– Não combinem nada, está legal? Nada! Não quero uma despedida de solteiro e, conhecendo Charlotte como conheço, isso vai virar um inferno se ela descobrir.
– Ok, idiota! Mas fique logo sabendo que Lana já fechou com um “clube das mulheres”. Ela vai oferecer a despedida de solteira da sua noiva, e eu espero mesmo que Charlotte encontre um dançarino bem-dotado em quem ela possa colocar uma nota de cem reais.
– Lana o quê?
CHARLOTTE
Era muito ruim ficar menstruada, piorava quando vinha acompanhada por cólicas, e fica ainda pior quando eu precisava sair de casa. Dois dias depois de ter passado a noite na casa de Alex, eu ainda penava com a minha situação. O fluxo havia diminuído, as dores não eram tão degradantes, no entanto o incômodo continuava.
Eu precisei passar na faculdade para confirmar as minhas notas e dar entrada no pedido do diploma. Miranda só poderia ir pela tarde, como eu tinha mais uma prova do vestido de noiva, precisei fazer pela manhã.
Naquele dia, em especial, eu estava muito irritada. Não apenas por estar menstruada, ou por ainda sofrer com as cólicas, nem mesmo por este fato me impedir de ter qualquer momento mais íntimo com o meu noivo, ou por não conseguir nenhuma hora livre do meu dia que não fosse para resolver coisas do casamento ou da formatura. Eu estava especialmente irritada por meu carro ter se recusado a pegar naquela manhã.
Tudo bem que ele era velho e que já vinha apresentando problemas há algum tempo, mas eu não o deixava se acabar, fazia de tudo para mantê-lo funcionando, cuidando das revisões, trocando sempre as peças por originais, mesmo quando eram absurdamente caras por serem difíceis de se encontrar. Não havia motivo para ele ter me deixado na mão.
– Eu não entendo como você prefere andar por aí com essa lata velha quando eu já lhe presenteei duas vezes com carros novos, muito mais adequados à sua posição – meu pai falou quando precisei lhe pedir carona.
Revirei os olhos segurando a língua para não fazer o meu discurso habitual. Ele não entendia.
De fato, quando eu fiz dezoito anos, fui presenteada com um carro lindo, que deixou Miranda e Johnny boquiabertos, mas eu já tinha metade do dinheiro para comprar meu carro e não queria ceder a mais aquela investida do meu pai. Então o carro ficou na garagem até que ele se irritasse e o vendesse.
Quando fiz vinte anos, ele tentou a mesma abordagem. E o resultado foi o mesmo. Há quase dois anos ele não trazia de volta o assunto, o que era um grande alívio para mim.
– Graças ao meu carro velho eu nunca fui assaltada nem sofri uma tentativa de sequestro – ele riu.
– Com certeza, não é graças ao seu carro velho.
E a antiga desconfiança de que eu era seguida por seguranças veio à tona. Um saco! Além de me deixar apreensiva, afinal de contas, eu havia me encontrado com Alex diversas vezes para aulas nada decorosas. Céus!
E foi com este pensamento que ele me deixou em frente à faculdade. Eu ainda precisaria ligar para Johnny e pedir para ele me buscar.
Fui até a secretaria para solicitar o diploma, o que levou quase uma hora do meu dia, por causa da uma nota que ainda não estava no sistema. Aguardava pacientemente quando encontrei quem menos desejava: a professora Anita.
Com seus saltos absurdamente altos, uma calça jeans colada ao corpo deixando-o escultural, e uma camisa que nada condizia com a sua posição profissional, já que era de costas nuas e deixava os seios, siliconados, com toda certeza, soltos no tecido pendurado a frente.
Uma vaca!
– Rafaela, avise, por favor, a Susana que estou com todas as notas liberadas no sistema – ela me olhou rapidamente, virou em direção à secretária e se voltou para mim com cara de desgosto. – Charlotte Middleton!
– Como vai, Anita?
– Pensei que não a veria mais por aqui.
– Ainda faltam algumas burocracias antes da formatura.
– Isso se você se formar, não é? – como assim? O que ela queria dizer com aquilo?
– Seria impossível isso acontecer, já que as minhas notas são magníficas – estremeci com o sorriso diabólico que ela me lançou. Anita se aproximou de mim.
– Alex não te contou? O conselho está avaliando a sua situação. Você sabe, um envolvimento entre aluna e professor não pode ser ignorado – respirei fundo sem saber como reagir.
– O conselho não pode me reprovar. As minhas notas...
– Alex aprovou o seu projeto, quer dizer... antes de passar a responsabilidade para João Pedro, o que pode ser facilmente comprovado. Sem contar que por serem cunhados, a atitude do professor João torna-se suspeita. Os dois tinham interesse em aprová-la.
– O conselho vai ler o meu projeto e perceber que em nada fui favorecida por Alex ou qualquer outro professor.
– Será? – ela sorriu outra vez e se afastou.
Vaca, invejosa, maldita, mal-amada, puta siliconada dos infernos!
Afastei-me sem querer continuar no mesmo ambiente que aquela vadia, sem pensar duas vezes, peguei o celular e liguei para Alex.
– Oi! – sua voz não estava muito boa, provavelmente seria um dia cheio para ele também.
– Oi! Você nem vai acreditar no que aquela maluca da Anita me disse – Alex suspirou.
– Um minuto, Charlotte – ouvi barulhos do outro lado, passos e som de porta batendo. Arrependi-me imediatamente de ter ligado para enchê-lo logo cedo com os meus problemas. – Pronto, pode falar.
– Deixa para lá! Estou esperando concluir o meu pedido para o diploma, aqui na faculdade.
– O que aconteceu?
– Nada demais. Outra hora eu te conto. Acredita que meu carro quebrou? Johnny disse que só vai conseguir acompanhar o conserto amanhã.
– E como você foi para a faculdade?
– Meu pai me deu uma carona e provavelmente Johnny vem me buscar.
– Eu vou te buscar. Preciso mesmo conversar com você.
– Mas não vai te atrapalhar?
– Não – foi categórico.
O que havia acontecido? Alex não estava diferente do habitual. Ele não foi grosseiro, de maneira alguma! Mas foi frio e estranho. Algo estava muito errado.
– Tudo bem. Eu preciso pegar um trabalho na sala com o professor e depois disso acredito que estarei livre.
– Quanto tempo?
– Quarenta minutos, eu acho.
– Vejo você em breve.
– Ok!
Ele desligou sem dizer mais nada. Nada, nem um “eu te amo”, nem “beijo”, nada!
Com um suspiro me voltei para a secretaria, percebendo que Anita não estava mais ali. A secretária me aguardava com um papel na mão. Aproximei-me, notando o seu olhar que indicava que ela estava sem jeito para me falar o que quer que fosse.
– Tudo resolvido?
– Ah, Charlotte. Eu recebi uma ordem para te passasse este documento. É um pedido provisório, até que resolvam sobre o seu projeto.
– O meu projeto já foi aprovado!
– Desculpe, querida! Esta foi a ordem que recebi.
Merda! Mas ela nada poderia fazer. Eu tinha apenas que agendar um encontro com o reitor, exigir os meus direitos e tudo estaria resolvido. Puta que pariu! Mais e mais problemas.
– Posso solicitar um horário com o reitor? – ela me olhou surpresa e piscou muitas vezes.
– Sim, claro. Um instante.
Resolvido temporariamente o problema com o meu projeto, subi as escadas para encontrar a turma que receberia de volta o trabalho final com as observações do professor. Eu já esperava pelo que encontraria, por isso não demorei nem quinze minutos para me despedir da turma e do professor, levando comigo a nota máxima que apenas comprovava a minha capacidade.
Eu esfregaria na cara daquela Anita a minha aprovação. Faria ela, a vaca siliconada, comer o meu diploma.
Desci as escadas apressadamente, ciente de que ainda faltava muito para Alex chegar, contudo, já que sofreria uma avaliação acadêmica a respeito da minha capacidade como aluna, manter meu relacionamento em segredo, mesmo que temporariamente, poderia ser uma boa forma de me defender.
Além disso, eu precisava comprar uma Coca-Cola, o que ocuparia o meu tempo ocioso. Parei na lanchonete, fiz o meu pedido, aproveitando para conferir minhas mensagens, quando fui abordada outra vez.
– Charlotte!
A voz do Henrique quase me fez revirar os olhos. Por que ele sempre precisava demonstrar tanto entusiasmo quando me via? Será que aquele encanto nunca passaria? Que ele nunca desistiria?
– Oi, Henrique! Matando a saudade da faculdade? – peguei a Coca e comecei a me retirar do local sem a menor intenção de que ele me seguisse.
– Vim dar entrada em meu diploma, e você?
Droga!
– Vim fazer a mesma coisa. Eu tenho que ir agora...
– Já sabe o que vai fazer daqui para frente?
Ele continuou me acompanhando sem perceber que eu não tinha a menor vontade de tê-lo como companhia. Até porque Alex chegaria a qualquer momento e seria uma situação bastante embaraçosa.
– Não quero pensar nisso agora.
Eu já tinha muito no que pensar: casamento; me formar... ou não; se sim, baile de formatura; lua de mel... lua de mel, céus!
– Eu vou fazer uma especialização. Ficarei quatro meses em Chicago.
– Chicago? Que fantástico! Bom, neste caso...
– Por isso andei pensando em...
Paramos no estacionamento próximo à entrada da faculdade e a despedida seria inevitável. Não que eu quisesse me livrar do coitado, apesar de desejar que ele fosse logo embora. Henrique era uma boa pessoa, meio atrapalhado, isso lhe dava até um charme à parte. O problema era Alex, o seu ciúme e a bobagem de pensar que ele não era adequado para mim.
– Henrique, eu tenho mesmo que ir. Meu pai vai aparecer a qualquer momento para me buscar e...
– Desculpe, Charlotte, não temos mais muito tempo e eu não vejo como fazer isso de outra forma.
– O que...
Ele simplesmente avançou sobre mim e me beijou. Henrique me beijou com tanto ímpeto que eu não tive reação a não ser paralisar. Senti minhas costas se chocando contra um carro e o corpo do meu colega me imprensar, forçando o beijo.
Puta que pariu!
Com as mãos empurrei Henrique o máximo que pude, porém, meu corpo não correspondia adequadamente. Quanto tentei avisá-lo de que eu não queria aquele beijo, sua língua entrou em minha boca tornando tudo mais íntimo. Porra! Fechei os olhos e empurrei Henrique com toda a minha força. Foi quando ele se afastou.
Demorei poucos segundos para entender que o seu afastamento súbito não foi por causa da minha força arrasadora e sim a de Alex. Puta que pariu um milhão de vezes! A cena toda parecia coisa de filme de Hollywood. Alex segurando Henrique pela camisa e chocando-o contra o carro, os olhos arregalados do meu colega que não tinha ainda entendido o que estava acontecendo, olhares curiosos em nossa direção e...
Caralho!
Alex viu aquele beijo. Ele viu o Henrique me beijando e como a minha sorte do dia não me ajudaria de forma alguma, com certeza meu noivo devia ter imaginado que eu estava correspondendo. Ah, ele acreditaria nisso. Que merda!
– Alex! Alex!
Meu noivo socaria Henrique até que não restasse mais nada do garoto. Em seu olhar havia apenas fúria e até eu fiquei com medo de me aproximar.
– Alex, pelo amor de Deus! Está todo mundo olhando. Não bata nele. Pelo amor de Deus!
Minhas súplicas surtiram efeito, pois meu professor largou Henrique, claro que não de forma gentil. Ele simplesmente empurrou o garoto com toda força contra o carro e se afastou apenas o suficiente para evitar os olhares curiosos. Contudo sua postura felina permaneceu e ele encarava meu colega com uma fúria assassina.
– O que estava fazendo, seu idiota?
– Professor Frankli, eu... – Henrique olhava para mim e olhava para Alex sem entender por que ele agia assim. Senti meu rosto esquentar à medida que a acusação surgia em seus olhos.
– Alex, Henrique não sabia... – meu noivo me olhou com tanta raiva que me fez recuar. – Ele não sabia.
– Vai defendê-lo? Vai tentar me convencer de que tudo não passou de um engano. Que esse nerd filho de uma puta não estava te beijando? – gritou fazendo-me estremecer.
– Ele estava me beijando – pensei que conseguiria amenizar a situação se encarasse os fatos de frente, mas a fúria de Alex apenas aumentou. Mais uma vez ele agarrou Henrique pela camisa fazendo-me ficar entre eles para conseguir separá-los.
– Sai do caminho, Charlotte – ameaçou sem se importar com a pequena plateia.
– Professor Frankli, eu não estou entendendo – Henrique, coitado, estava tão assustado que parecia querer chorar.
– Não está entendendo o quê, seu filho de uma puta?
– Alex, não...
– Então eu vou acabar com você para que aprenda a não sair por aí beijando a mulher dos outros – ele realmente socaria Henrique, graças a Deus Johnny conseguiu segurar sua mão a tempo.
– Vamos acalmar os ânimos por aqui – ele afastou Alex conseguindo o seu objetivo com alguma dificuldade.
– Eu vou matar este babaca – Alex rosnou, mas se deixou levar.
– Ninguém vai matar ninguém hoje, professor – Johnny enfatizou o “professor” para que Alex entendesse a situação.
Meu noivo se soltou e, com passos rápidos, afastou-se para que toda aquela loucura não provocasse danos maiores.
– Charlotte – Henrique me chamou e Alex me olhou reprovando.
– Desculpe, Henrique!
Caminhei até o meu noivo, sentindo todo o peso da sua acusação em cima de mim. Eu não tinha culpa, mas Alex não sabia disso e até conseguir dissipar toda aquela raiva e fazê-lo entender como tudo aconteceu, eu teria muito trabalho.
– Entre no carro.
O tom baixo, ameaçador e completamente raivoso deixava claro que não seria fácil. Mesmo assim, obedeci. O que mais eu poderia fazer? Precisava explicar a Alex o que realmente aconteceu, e, para tanto, eu teria que primeiro vencer a tempestade.
CAPÍTULO 29
“O amor é suspiros e lágrimas... fé e fervidão... fantasia, paixões e desejos; adoração, aceitação e reverência; pureza, aflição e obediência.”
William Shakespeare
ALEX
Eu não conseguia pensar em mais nada. O simples ato de dirigir estava no automático, e eu nem fazia ideia de para onde estávamos indo. Tantas coisas se passavam em minha cabeça, a porra da despedida de solteira, o filho da... aquela merda de beijo que eu tive o desprazer de presenciar. Uma veia pulsava em minha cabeça fazendo tudo doer.
Mesmo assim minhas mãos estavam fixas no volante e meu pé se afundava cada vez mais no acelerador. Aquela menina, a maldita garota que fez meu mundo virar uma loucura, permanecia calada. Eu podia sentir seus olhos em mim, pelo canto dos meus podia ver suas mãos presas ao banco, o medo da velocidade e do que eu poderia fazer com nós dois.
E eu poderia matá-la. Sim, eu poderia matar Charlotte Middleton. Poderia enforcá-la até que não restasse nem mais um pingo de vida em seu corpo. A mínima ideia me deixava alarmado. A maldita tinha me dominado a tal ponto que eu não conseguia conceber uma vida sem olhá-la, sem senti-la, sem tocá-la.
Porra!
– Alex?
– Fique calada, Charlotte, pelo amor de Deus!
Eu não queria a sua voz de sereia me cercando, dominando meus pensamentos e atitudes. Eu queria a raiva que estava sentindo para poder extravasá-la quando chegasse a hora.
– Mas, Alex...
– Porra, Charlotte, fique calada!
Tinha certeza de que minhas palavras a assustariam. Que meu tom de voz conseguiria feri-la tanto quanto aquele beijo dos infernos havia me ferido.
– Mas...
Freei o carro imediatamente me dando conta da distância que tínhamos percorrido. A estrada vazia me favoreceu, já que uma parada tão brusca resultaria em um desastre. Charlotte gritou e segurou no painel com força. Sua respiração acelerada chegou aos meus ouvidos.
– Você quer falar? Então comece me explicando o motivo de ter beijado aquele garoto.
– Eu não beijei o Henrique, ele me beijou – o olhar que lancei a ela deixava claro que não funcionaria. – Alex, o Henrique não sabia que nós dois estávamos juntos.
– E por isso você o beijou.
– Não!
– Meu Deus, Charlotte! Tem ideia da vontade que eu estou de te matar?
– Vou fingir que não ouvi isso
– Pois não deveria – Charlotte se remexeu inconformada.
– Não vou deixar que me intimide com ameaças, Alex. Eu entendo a sua raiva, entendo a sua dúvida, aconteceria o mesmo se fosse eu a encontrá-lo beijando outra mulher.
– Não tente me dizer que não é o que eu estou pensando.
– Mas não é o que você está pensando. Lembra no seu aniversário quando eu cheguei e encontrei Tiffany saindo da sua casa? Eu vi quando ela te beijou, lembra disso?
Recuei. Eu lembrava daquele inferno que passei para tentar convencê-la de que não foi nada do que ela tinha visto. Pelo menos não para mim.
– Henrique sempre demonstrou interesse por mim, e você sabe. Porém eu nunca dei esperanças, nunca alimentei nenhum sentimento. Foi inesperado. Ele surgiu e me acompanhou, como sempre fez, e quando eu comecei a me esquivar, justamente para evitar este encontro, ele me agarrou.
– E você retribuiu.
– Não! Eu jamais beijaria o Henrique – estreitei os olhos para aquela afirmação. – Jamais beijaria qualquer outro homem, satisfeito? Se você não estivesse tão furioso, teria visto que eu tentava impedi-lo. Eu estava empurrando ele.
– Merda, Charlotte! – joguei a cabeça para trás, fechei os olhos e cobri o rosto com as mãos. – Eu vi – comecei com raiva. – A língua daquele desgraçado na sua boca – era impossível falar sobre o assunto sem parecer uma fera.
– Deus! – ela suspirou se encostando também e deixando as mãos sobre o colo. – O que eu posso te dizer?
– Quanto mais tenta dizer alguma coisa, mais aumenta a minha raiva – revelei cansado demais para continuar brigando.
– E o que quer que eu faça? Eu não tive como evitar, fui pega de surpresa, não esperava que o Henrique tivesse tamanha ousadia...
– Você sempre arranja um jeito de foder com a minha cabeça.
Charlotte arfou. Ela não esperava que a minha fúria fosse capaz de atingi-la tão profundamente. Para mim era inevitável. Foram tantos problemas, tantos medos, tantas dúvidas, que me controlar estava fora de cogitação. Eu estava ofendido, magoado, humilhado, mesmo sabendo, lá no fundo, que ela não tinha beijado o Henrique. Pelo menos não de livre e espontânea vontade.
O que eu esperava menos ainda foi a reação dela. De olhos fechados não vi quando Charlotte abriu a porta do carro e saiu.
– Charlotte?
Ela caminhou pela estrada vazia, sem olhar para trás. Os passos decididos revelavam que eu tinha ido longe demais e que ela não voltaria a entrar no carro. Eu não poderia deixá-la ali sozinha. Estávamos longe demais de casa e a probabilidade de Charlotte arrumar mais problemas chegava a ser maior do que a de qualquer outro ser humano na face da Terra.
Liguei o carro manobrando para tirá-lo do meio da estrada. Ela continuou andando, sem se dar ao trabalho de olhar para trás. Desci e corri até ela.
– Quer parar de me causar mais problemas? – gritei antes de alcançá-la. – Entre no carro, Charlotte!
– Graças a Deus você percebeu a tempo – ela riu sem vontade. A voz esganiçada de quem segurava o choro. – Não vamos precisar de todo o processo cansativo e desgastante do divórcio.
– Do que você está falando?
– Não quero mais foder a sua cabeça, Alex. Foi um erro! Já passamos por isso antes, então já sabemos que não vai funcionar.
– Você arruma o problema e agora quer se fazer de vítima? – estourei.
– Eu não arrumei um problema, aquele imbecil me agarrou e me beijou. Se você não quer entender isso, não é mais problema meu. Aprenda a conviver com a ideia.
Porra! Por que ela tinha que ser tão cabeça-dura?
– Eu estou puto da vida, Charlotte! Você nem imagina o que é descobrir por um amigo que você concordou com uma despedida de solteira em uma casa onde homens tiram a roupa e depois, quando chega para tentar conversar sobre o assunto, encontrar a noiva beijando outro cara.
– Eu passei por isso, esqueceu?
– Não. Como também não esqueci o quanto você me massacrou aquela noite. Nem o quanto me cobrou no dia seguinte. Não foi fácil para você, então não é fácil para mim também.
– Pelo visto você resolveu se vingar me ofendendo. Deixando claro o quanto eu sou ruim para você. Olha, Alex, ainda dá tempo. Vamos terminar tudo por aqui. Você com certeza vai encontrar alguma mulher que não lhe cause problemas. Que não precise te tirar do trabalho no meio do expediente, para provocá-lo beijando um colega que ela já poderia ter beijado há muito tempo, mas que nunca teve vontade de fazer.
– Você está louca? Nós vamos nos casar em oito dias.
– Já vi casamentos acabarem no altar – ela me deu as costas e continuou andando. Senti uma fúria capaz de destruir o mundo. Segurei Charlotte pelo braço disposto a fazê-la engolir cada palavra.
– Eu não sou um idiota, Charlotte Middleton, para aceitar que você termine comigo quando o erro é todo seu e depois me dê as costas como se a nossa história não tivesse valor nenhum.
– Pelo visto não tem, já que você está se agarrando ao que não foi verdade para justificar toda a sua raiva.
– Porque você está sempre arrumando uma forma de me enlouquecer! – gritei. Charlotte se debateu para se livrar de minhas mãos.
– Vá se foder, Alex Frankli!
– O quê?
O que aquela fedelha estava me dizendo? Como ela podia agir de forma tão infantil, tão desrespeitosa? Como ela podia falar daquela maneira comigo?
– Vá. Se. Foder! – repetiu com raiva.
– Eu vou te mostrar o que acontece com garotinhas da boca suja, como você – meus dedos se fecharam em seus braços com mais força do que pretendia.
– O que vai fazer? Vai me colocar no colo e me dar umas palmadas? – ela sorriu em desafio tomada pela mesma raiva que eu.
– Seria mais do que justo.
– E eu te jogaria na cadeia, professor – cuspiu as palavras, como se eu fosse realmente capaz de lhe fazer algum mal.
Encarei Charlotte por um tempo. O que estava acontecendo? Onde acabaríamos com aquilo tudo? Eu não fazia a menor ideia, só tinha uma certeza: havíamos passado de todos os limites.
Com este pensamento larguei os braços de Charlotte, que imediatamente deixou as lágrimas caírem. Ela as enxugou com raiva, provavelmente se recriminando por chorar. Afastei-me o suficiente para me conter. Não valia a pena continuar brigando.
– Vou levá-la para casa.
– Não preciso de você – dei um passo em sua direção e ela recuou assustada.
– Não me provoque mais, Charlotte, ou eu juro por tudo que é sagrado que vou preferir passar alguns dias na cadeia, pois vou te amarrar e jogar na mala, mas vou te entregar a seu pai, seja esta a sua vontade ou não.
– Você não faria isso – e havia mais medo do que desafio em sua voz.
– Tente me dar as costas novamente – ameacei.
Ela me olhou com raiva e, de queixo em pé, caminhou até o carro. Não me dei ao trabalho de ser educado, abrindo a porta para que ela pudesse entrar. Não. A minha raiva ainda estava forte, então apenas parei aguardando que ela entrasse e, assim que o fez, entrei e dei partida.
Nada mais conversamos.
CHARLOTTE
Alex não voltou a falar comigo durante o caminho de casa. Nem para me comunicar se havíamos realmente terminado ou não. Ficou tudo suspenso no ar. E já fazia mais de vinte e quatro horas desde que tudo aconteceu.
Nenhuma mensagem, nenhuma ligação, nenhum recado enviado pela irmã. Nada. Ele simplesmente desapareceu.
Eu sei que não era o melhor momento para ser orgulhosa, mas eu fui. Passei cada segundo conferindo o celular para saber se ele se redimiria e sofri amargamente todas as vezes que confirmei a sua indiferença.
Não tive coragem de comentar com ninguém sobre o ocorrido. Lógico que Johnny contou a Miranda sobre a briga e eu menti que estava tudo bem. Eu simplesmente não queria admitir que acabou, que Alex aceitou a minha ideia de que era melhor terminar antes de casar, assim teríamos menos trabalho.
Então menti. Menti para não precisar passar pela prova do vestido e encarar Lana, usei como justificativa a cólica, que nem existia mais. Menti para não precisar encontrar Dana na escolha dos doces que seriam servidos, incumbi minha mãe desta missão. Menti para Miranda, fingindo estar em um surto literário, o que me mantinha a maior parte do tempo trancada no quarto. E menti para meu pai, mas deste eu fugi o máximo que pude, pois bastaria me olhar para saber que não estava tudo bem.
Foi no fim do dia que chegou a mensagem. No primeiro instante, não acreditei. A mensagem dizia: “Precisamos conversar. Desça, estou te aguardando no fim da rua”. Meu coração acelerou e meu olhos ficaram úmidos. Alex tinha finalmente rompido com aquela distância. Logo em seguida, meu cérebro me mostrou que não estava tudo bem.
Primeiro: a mensagem era um convite para conversarmos, o que não queria dizer que ele estava disposto a esquecer aquela briga terrível e dar continuidade ao nosso relacionamento. Lógico que eu não esperava que ele chegasse todo amoroso, com saudade e disposto a esquecer, porém, pensar que a conversa poderia ser um ponto final me deixou arrasada.
Segundo: ele não foi até o meu apartamento, o que demonstrava que não queria encontrar meus pais nem meus amigos. Ele me esperava no fim da rua, um lugar onde poderia me dizer o que pensava e ir embora sem precisar se justificar com ninguém.
Era o fim.
Merda!
Sentei em minha cama sentindo o corpo todo tremer. Realmente havíamos passado do limite com aquela briga. Onde eu estava com a cabeça? Por que não fiquei calada e apenas tentei explicar que foi tudo um mal-entendido? Por que eu tinha que desafiá-lo e levá-lo ao limite?
Não me controlei e chorei. Era melhor que eu chorasse no quarto do que na frente dele. Pelo menos eu teria um pouco de dignidade naquele fim de relacionamento.
Troquei de roupa, lavei o rosto, constatando a vermelhidão na ponta do nariz e nos olhos, preferi deixar os cabelos soltos, assim disfarçaria a minha cara de choro, peguei o celular, a chave de casa e saí tão silenciosamente que ninguém notou.
– Boa tarde, Srta. Charlotte – Vitor me abordou na entrada do prédio. – Quer que mande buscar o seu carro?
– Boa tarde, Vitor. Não. Meu carro está na oficina – ele fez uma cara de quem lamentava.
– Deseja um táxi?
– Não. Eu vou caminhar um pouco – ele me avaliou, certo de que algo estava errado.
– Não é perigoso, senhorita? O Rio anda impraticável ultimamente.
– Não vou muito longe. Pode ficar tranquilo. Obrigada!
Desci a rua sentindo que a cada passo eu ficava mais covarde. Não estava pronta para aquela conversa e não queria chorar na frente de Alex, como se ele fosse o responsável pelo nosso fracasso.
O carro dele estava estacionado logo depois do semáforo, quase virando a outra rua. Alex estava do lado de fora, com roupas de trabalho. Mantinha o paletó e a gravata, o que me deixava ainda mais apreensiva. Não seria uma conversa demorada.
Assim que me viu, afastou-se do carro e tirou as mãos dos bolsos. Os óculos escuros me impediam de saber como ele reagia à minha presença, o que me colocava na defensiva. Desacelerei meus passos pensando se não seria melhor correr e voltar para casa. Droga! Eu não queria que acabasse.
– Oi! – ele disse educadamente. Tive que pigarrear para conseguir fazer a voz sair.
– Oi – não consegui colocar nenhuma emoção na voz.
Ele ficou calado e parecia estar me avaliando, o que era impossível de confirmar com aqueles óculos escuros. Abaixei a cabeça e aguardei pelo que viria.
– Desculpe demorar tanto para te procurar – ele se encostou outra vez no carro e voltou a colocar as mãos nos bolsos. – Lana me disse que você não estava cumprindo seus compromissos, que alegou não estar se sentindo bem.
Mordi o lábio sem saber o que responder. O que eu poderia dizer? Que deixei as pessoas acreditarem que o casamento aconteceria? Que eu não tinha pensado bem quando sugeri o fim do relacionamento?
– Ainda com cólica? – neguei com a cabeça e ele umedeceu o lábio inferior. Nossa! Por que eu conseguia pensar naqueles lábios quando o cara estava ali pronto para me dar um fora? – Você está bem? – outra vez não soube como responder, então dei de ombros.
Alex passou a mão pelos cabelos, retirou os óculos escuros e me encarou. Acanhada e perdida sobre o que dizer ou fazer, arrumei meus óculos e depois alisei meu cabelo colocando todo o volume sobre um ombro.
– Está legal, Charlotte! Vamos ter esta conversa logo de uma vez – puxou o ar com força ao mesmo passo que eu sentia as lágrimas se formarem. Merda! Eu não queria chorar! – Você tem alguma coisa para me dizer?
Durante um segundo nossos olhos se encontraram. Alex estava ansioso, como se estar ali comigo fosse um sacrifício. Meu coração afundou imediatamente e, sem conseguir me controlar, chorei. E me odiei por chorar.
– Deus, Charlotte!
Ele disse desarmado e me puxou para os seus braços. Não consegui abraçá-lo. Não consegui falar, nem fazer nada. Apenas chorei toda a tristeza e angústia que aquelas horas de apreensão tinham me custado. Eu apenas chorei.
Seus dedos adentraram meus cabelos, acariciando meu couro cabeludo. Chorei ainda mais e já não sabia mais o motivo do meu choro. Eram tantos!
– Ei, calma! – ele sussurrou, as palavras se perdendo no barulho do trânsito.
– Eu não beijei o Henrique – eu me vi falando, a voz fanhosa, o nariz entupido e as lágrimas me sufocando. – Não beijei – minhas mãos se fecharam com força na camisa dele.
– Tudo bem, Charlotte – ele disse com cuidado.
– Não! Não está tudo bem! Você pensou que eu estava beijando o idiota do Henrique e simplesmente falou um monte de merda. Eu também falei, porque estava com raiva e magoada, mas eu não queria... eu não queria que chegasse a este ponto.
– Eu sei – Alex continuava calmo, seus dedos massageando minha cabeça e a voz cheia de resignação.
– E agora eu estou perdendo você e não sei o que fazer, porque também falei tanta merda que você tem todo o direito de ir embora – ele riu baixinho e me abraçou com força.
– Senti falta desta sua mente confusa – brincou levantando meu rosto para me olhar. – Senti falta de você.
Deus! E quanta falta eu senti dele! Aqueles olhos intensos me deixaram rendida. Alex retirou meus óculos e limpou minhas lágrimas com devoção.
– Me perdoe por ontem – ele falou com um sorriso sem graça. – Eu não sei o que me deu. Eu fiquei tão puto que... – respirou fundo e acariciou meu rosto. – Perco a cabeça com você, Charlotte. Senti tanto ódio quando vi aquele... nerd te beijando.
– Você não deveria falar dos nerds com tanto desprezo – funguei sem nenhuma educação. – Eles estão na moda.
– Ah, cala a boca, Charlotte! – rosnou com raiva e me puxou em direção aos seus lábios.
Havia muito naquele beijo. Saudade, amor, raiva, posse, mágoa... O salgado das lágrimas se misturava com o doce dos nossos lábios. Minha mão se afundou em seus cabelos, fechando os dedos na textura macia dos seus fios prendendo sua boca na minha para recepcionar a sua língua. A outra acariciou seu peitoral, apossando-se daquele corpo que era só meu. Nossos corpos se colaram instintivamente, o fogo percorrendo cada centímetro nosso.
Alex gemeu espalmando suas mãos em minhas costas e me puxando pela cintura, para que não restasse mais nenhum espaço entre nós dois. Senti suas palmas quentes escorrendo pelas laterais do meu corpo, alcançando a barra do meu vestido e se aventurando em minhas coxas. Outro gemido dele e eu sabia que a umidade no centro entre as minhas pernas não era apenas pelo meu período menstrual.
– Que saudade de você!
Ronronou em meus lábios, escorrendo-os pelo meu rosto até alcançar meu pescoço. As mãos subiram outra vez para a minha cintura e o tecido fino do vestido me permitia sentir o seu calor.
– Prometa que não vamos mais brigar – implorei e ele riu.
– No que se refere a você, Charlotte, esta é uma missão impossível – fiz muxoxo e ele riu um pouco mais. – Eu não quero brigar. Não sou de brigas, mas você realmente parece ter alguma coisa que ativa isso em mim.
– O que não é nada bom – resmunguei. Não era um elogio saber que ele ficava com tanta raiva a ponto de agir de forma tão irracional.
– Vai ficar tudo bem – ele ficou sério, como se minhas palavras o levassem a entender o quão ruim era aquela situação. – Nós vamos encontrar um equilíbrio – encostei em seu peito, deixando-o me abraçar.
– Ainda está menstruada? – fiz que sim com a cabeça, sem coragem para encará-lo. Eu não devia, mas fiquei envergonhada. Alex estalou a língua e me prendeu em seus braços com força.
– Então vamos subir e jantar.
– Hum!
– Eu também, amor – ri sentindo meu mundo voltar ao eixo.
ALEX
E mais uma vez Charlotte Middleton conseguiu me desarmar.
Eu fiquei tão rendido que, em pouco tempo, toda a mágoa e tristeza desapareceram, dando lugar à saudade miserável que eu sentia dela. E como eu senti!
Estacionei na vaga livre do seu apartamento, já que seu carro estava na oficina, e subimos como um casal apaixonado. Mais até do que isso. Eu estava ávido por aquela menina.
– Para, Alex! As câmeras – ela me alertou quando, embalado pelo beijo, subi minhas mãos em suas coxas roliças.
– Vamos alegrar a noite do pessoal – provoquei aprofundando o nosso beijo, só não me atrevi a continuar com a mão boba. Charlotte riu, corando significativamente.
– Seu bobo!
– É o que você faz de mim – ela passou as mãos em meus cabelos, uma segurou a franja que já descia atrapalhando a minha visão, e a outra parou em meu pescoço. Charlotte me olhou com um amor profundo e sólido.
– Amo seus olhos –encarou-me. – São lindos!
Fiquei sem palavras para aquela demonstração tão clara de amor. Meus olhos chamavam atenção, e eu não era mais nenhum menino para fingir não saber disso, no entanto havia algo a mais na forma como Charlotte falou, como se ela me venerasse.
O tempo inteiro acreditei que aquele amor velado, aquela devoção, pertencia apenas a mim. Que eu lhe tinha uma adoração que me faria permanecer a seu lado independentemente dos pecados que aquela menina fosse capaz de cometer. E então ela estava ali, olhando-me com simplicidade, com carinho, e com um amor tão puro que me impediu de articular qualquer palavra.
A porta do elevador abriu e nossa bolha foi rompida.
– Eu amo você, menina – sussurrei beijando mais uma vez seus lábios. – Vamos!
Assim que entramos, demos de cara com Peter e Mary na sala. Eles estavam sentados, uma música romântica tocava ao fundo, e, pela posição que estavam, percebi que ali estava um casal de apaixonados. Olhei para Charlotte ciente de que aquela era a forma como as pessoas nos viam, e sorri.
– Alex! Charlotte, não a vi saindo – Peter se levantou para apertar a minha mão.
– Mary – beijei a mão da minha futura sogra.
– Fui buscar Alex lá embaixo – Charlotte respondeu baixinho, mantendo os olhos baixos.
– Esteve chorando? – Peter se aproximou levantando o rosto da filha. – Sim, você estava chorando. O que houve? – a pergunta foi feita diretamente para mim.
– Eu não estava...
– Ela estava chorando, sim – interrompi Charlotte antes que ela inventasse uma mentira absurda. Qualquer idiota saberia que aquele nariz e olhos vermelhos não poderiam ser por outro motivo.
– Filha, o que houve? – Charlotte me olhou receosa do que poderia contar.
– Eu estive muito ocupado ontem e hoje e Charlotte pensou que eu estava desistindo do casamento – abracei minha noiva, rindo e beijando o alto da sua cabeça. Senti seus dedos se fechando em meus braços.
– Que bobagem – Peter riu afagando as costas da filha.
– Foi o que eu disse a ela.
– Oh, filha! Por que não me procurou? Eu conseguiria tirar esta ideia da sua cabeça em dois tempos – Mary brincou mimando Charlotte.
– E eu mandaria quebrar as duas pernas dele – minha noiva encarou o pai, surpresa com aquela afirmação. – Caso ele realmente tivesse desistido, claro!
– Pai! – Peter riu e me deu um tapinha no braço.
– Vai ficar para o jantar?
– Vou sim.
– Eu vou avisar a Odete que temos mais um à mesa – Mary se levantou, e, como a incrível dama que era, assumiu as tarefas da sua casa.
– O que quer beber? Vinho, uísque...
– Nada. Trabalhei muito, estou casado, misturar bebida e desgaste não vai me ajudar a chegar em casa.
– Você está certo. Por falar em trabalho... tenho algumas coisas para resolver. Volto logo.
Peter saiu e a porta da casa se abriu, revelando uma Miranda desconfiada. Ela tentou ser silenciosa, e, assim que percebeu a nossa presença, ficou tão sem graça que me fez estranhar.
– Ah... oi!
– Você saiu? Que horas que eu não vi? – Charlotte a acusou sem nenhum receio.
– Eu fui dar uma volta, tomar uma água de coco em Copacabana – e era claro que ela mentia, mas por quê?
– Sozinha? – Charlotte continuou. Ela também desconfiava.
– Sim!
A resposta chegou alta demais e rápida demais, o que só me fez ter certeza de que Miranda estava mentindo. O que ela estava aprontando?
– Vou tomar um banho e já desço para o jantar.
– Você parece limpa demais para quem estava caminhando em Copacabana. E com esses saltos?
– Charlotte!
Apertei a cintura da minha noiva. Um pedido de trégua, pelo menos enquanto eu estivesse por ali. Era nítido que Miranda não queria que eu soubesse o que ela estava aprontando, e eu também não queria participar de nada a respeito daquela garota.
– Eu estava em um bar... climatizado. Vou tomar banho, com licença.
Miranda subiu rapidamente as escadas e Charlotte se afastou de mim enquanto analisava a amiga.
– Não é estranho?
– Não.
– Claro que é estranho – ela começou, mas eu não queria entrar naquela conversa.
– Eu queria conversar sobre outro assunto com você – segurei a mão da minha noiva e a levei até o sofá.
– O que eu fiz desta vez? – Ri.
– Nada. Você ainda não fez nada.
– Ainda?
– Exatamente – ela mordeu o lábio, apreensiva. – Eu não quero ter que dizer a Lana que não estou de acordo com o clube das mulheres – fui direto ao assunto.
– Ah!
– Também não quero te forçar a nada. A ideia de uma despedida de solteira não me deixa confortável. A imagem do Henrique te beijando ainda é um pesadelo para mim, então não quero ter que povoar minha mente com outros rostos.
– Mas Lana estará lá.
Sim, e ela não acharia ruim a minha noiva colocar dinheiro na cueca de um monte de marmanjos, depois de eles terem se esfregado nelas e rebolado seus... acessórios, na sua frente.
– Eu disse a João que não queria uma despedida de solteiro. No máximo beber um pouco com ele e o Paty, quem sabe o Johnny, mas nada de mulheres, dançarinas, prostitutas... – deixei a sugestão no ar e vi o rosto de Charlotte mudar de tom.
– Ele quer contratar dançarinas? Prostitutas? – concordei sem nada dizer e suas feições endureceram. – Lana, sabe disso?
– Bom... para todo caso eu estarei lá, e o Patrício também.
– E você quer isso? – Charlotte levantou o queixo em desafio. Sorri acariciando seu rosto.
– Não. Prefiro ficar com você – beijei seu rosto. – Mas se você vai sair para se divertir com as meninas, que mal há em eu aceitar a oferta do meu amigo?
– Ai! – Charlotte acertou um tapa em meu braço. Ri da sua cara de brava. – O que foi que conversamos sobre equilíbrio, menina? Você não pode me bater todas as vezes que ficar nervosa – provoquei e recebi outro tapa no braço.
– Eu vou contar a Lana sobre a brilhante ideia do João Pedro. Quero só ver a cara dele depois que ela pegar ele de jeito.
– Ele sabe dos planos dela, então eu acredito que ela também saiba dos dele. Quer dizer... talvez não exatamente de tudo o que ele planeja para a nossa noite – recebi outro tapa.
– Não terá “nossa noite”, Alex Frankli – ameaçou e eu a agarrei com força fazendo-a sentar em meu colo.
– Pare de me bater, menina levada – acertei um tapa em sua bunda e Charlotte soltou um gritinho.
– Alex!
– Se bater outra vez vai levar um bem mais forte – passei minha mão por dentro do vestido e acariciei o local do tapa.
– Puta merda! – Charlotte gemeu baixinho e fechou os olhos.
– Vem cá!
Colei nossos lábios em um beijo cheio de luxúria. Eu queria muito mais do que alisar aquela bunda deliciosa, ou senti-la sentada sobre o meu pau duro e ter ciência de que apenas alguns pedaços de pano nos separavam. Porra, depois de uma briga como a nossa, de horas infernais em que eu questionei tudo o que vivi até ali, meu único desejo era me afundar em sua bocetinha até ela gritar meu nome. Mostrando para o mundo a quem pertencia.
Porra, era isso o que eu queria!
Charlotte lentamente rebolou em meu colo, sentindo e testando a minha ereção. Apertei sua bunda com força, fazendo-a parar.
– Se continuar rebolando assim, vamos ter um sério problema em explicar a Peter a imensa mancha em minha calça – seu sorrisinho infantil e inocente era apenas mais um estímulo.
– Mais um dia e essa tortura acaba – sussurrou saindo do meu colo.
– Coloca tortura nisso – reclamei, sentindo o aperto em minha virilha.
– Vou conversar com Lana. Acho que não precisamos de uma despedida de solteira.
– Boa menina – acariciei seu rosto e arrumei seu cabelo atrás da orelha.
– Você também não vai ter uma despedida de solteiro – desafiou-me.
– Vou ter sim, senhora – provoquei. Charlotte levantou a mão para me acertar um tapa, mas desistiu com um sorriso travesso. – Eu estava ansioso por este tapa, Charlotte.
– Eu sei, por isso vou guardá-lo para outro momento – piscou, fazendo uma parte de mim corresponder diretamente. Era realmente uma grande tortura. – Então... nada de despedida de solteiro, professor Frankli.
– Eu vou ter uma memorável – ela me olhou com indignação. – Com você – beijei seu pescoço. – Nossa última trepada de solteiros – sussurrei em seus lábios, deixando uma Charlotte deliciosamente desarmada.
CAPÍTULO 30
“Os botões fragrantes às vezes dão abrigo a lagartas; o amor devorador, de igual maneira, demora nos espíritos sublimes.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Faltavam cinco dias para o casamento e não havia mais nada que eu tivesse que fazer que não fosse experimentar o vestido dois dias antes, quando finalmente partiríamos para o rancho.
Alex havia prometido que teríamos a nossa despedida de solteiro, porém não marcou nada, nem deu a entender que aconteceria em breve, e nós tínhamos somente cinco dias para ter nossa última trepada de solteiros.
Lana não gostou muito da ideia de desistirmos do clube das mulheres, mas aceitou cancelar o evento tão logo soube que João Pedro pretendia dar alguns “presentes” a Alex. Canceladas as duas despedidas, minha futura cunhada marcou um jantar em sua casa, uma coisa íntima, para poucos, para “celebrarmos o amor”. Eu sabia que Johnny e Miranda foram convidados, com um acréscimo de qualquer garota que meu amigo quisesse levar e que, com certeza, Patrício estaria presente, e quem mais? Seria uma situação um pouco constrangedora.
Miranda se recusou a aceitar a carona do Alex, preferindo a do Johnny e de quem quer que fosse a sua acompanhante. Se é que ele teria a cara de pau de levar alguém. Alex me pegou antes do horário combinado, alegando que o meu endereço primeiro e depois a sua casa ajudaria a evitar um trânsito infernal.
Imaginei que ali começaria a nossa despedida. Eu me enganei.
– Vamos nos atrasar – resmungou ainda com as mãos dentro do meu vestido, acariciando minha bunda e confirmando a ausência de um absorvente. Seus lábios não deixavam meu colo, demorando-se em meu decote. – Você está tão cheirosa!
– Gostou? – eu estava tão quente que parecia estar com febre.
– Muito! Ficou ótimo em sua pele – levantou o rosto beijando meus lábios de leve.
– Em toda a sua extensão – sussurrei provocando-o.
– É? – Alex entendeu o meu recado. – Acho que vou precisar conferir de perto.
– Estou à sua inteira disposição.
– Charlotte! Eles estão nos esperando – mas ele não deixava de me alisar e beijar... que inferno!
– Você está me agarrando desde a hora em que saiu do banho, professor – passei minha mão em sua bunda e Alex riu.
– Eu mandei você me esperar lá embaixo, aluna. E esse vestido é provocante demais. Nunca mais deite em minha cama usando-o – mordeu meu pescoço.
– Então devo tirá-lo? – Alex gemeu, esfregando-se em mim e me deixando sentir a sua ereção.
– Não. Eu quero você com ele a noite toda – e se afastou indo em direção ao closet.
– Nós poderíamos aproveitar... – provoquei parando na porta do closet para observá-lo colocar a cueca, sem conseguir esconder a ereção fabulosa.
– E nós vamos aproveitar, amor. Teremos a noite inteirinha.
– Você acha mesmo que eu vou conseguir entrar naquele apartamento, conversar animadamente com todos, enquanto não penso em outra coisa que não seja ser comida pelo meu noivo? – Alex riu. – Isso é sacanagem.
– Não. Não é. Como diz João Pedro: sacanagem são duas minhocas de pau duro – ri daquele absurdo, quebrando todo o clima entre a gente. – E sacanagem é o que eu bem sei que você quer, Charlotte.
Alex se aproximou usando apenas a camisa social preta, ainda aberta, e a cueca branca. O peitoral exposto era de dar água na boca. Ele se encaixou em mim, prendendo-me à parede e me devorou com um beijo de tirar o fôlego. Suspendeu uma coxa minha e roçou em meu sexo sem nenhuma decência. Caralho!
– Eu quero fazer muitas sacanagens com você esta noite – rosnou ao me largar e procurar pela calça jeans.
Encostei na parede resignada. Eu conhecia aquele jogo. Alex me provocaria e me deixaria até que não restasse mais nada de mim além de desejo e um tesão avassalador. Aí, sim, eu faria qualquer coisa que ele me pedisse.
E foi exatamente o que aconteceu. Durantes muitos momentos, eu fui levada ao limite pelo meu noivo. Carícias infindáveis, provocações que atormentavam, uma necessidade que apenas crescia, prometendo estourar em um festival de luzes. Eu implorei, briguei, ameacei, fiz o que estava a meu alcance, mas Alex não cedeu, nem mesmo quando estávamos na reserva, em meio àquela escuridão da estrada e eu sugeri que ele parasse o carro.
Quando chegamos ao prédio de Lana, na Barra da Tijuca, eu já não tinha mais esperança. Qualquer coisa que fosse acontecer seria depois daquele jantar. E eu teria que sorrir, ser agradável e disfarçar a minha calcinha molhada incomodando o meu sexo.
Passamos pelo porteiro e Alex o cumprimentou, sem precisar ser anunciado. Entramos no elevador e o máximo que tive dele foram seus dedos brincando com as minhas costas, mesmo assim me senti quente outra vez. Suspirei resignada quando o elevador parou e Alex me arrastou para fora dele.
O som do apartamento nos alcançava do lado de fora. Muitas conversas, músicas e pessoas rindo. Provavelmente Lana convidou alguns amigos que eu nem fazia ideia de quem eram, o que me desanimou completamente.
– Por aqui – Alex me puxou para uma porta pesada de ferro, contendo a placa de saída de emergência e o aviso para mantê-la fechada.
– Mas... Alex... – ele colocou um dedo em meus lábios, calando-me.
– Aqui não tem câmera de segurança. Uma deliciosa falha deles.
O local estava escuro e silencioso. Era para ter medo, no entanto, involuntariamente senti meus músculos vaginais se contraírem com a expectativa. Porra, o que Alex estava fazendo comigo?
– Alex, alguém pode nos pegar aqui – mais uma vez ele me calou, desta vez com a própria boca.
Foi um beijo com direito a tudo, mãos, lábios, língua, corpo, roçadas... Alex tinha atingido o seu objetivo. Tinha me provocado e me deixado sem escapatória, atiçado-me a tal ponto que meu corpo passou a agir por vontade própria. Eu precisava de alívio, precisava dele e não importava se seria naquela escada escura ou em sua cama, eu o queria.
– Vamos começar aqui a nossa despedida de solteiro, amor. Eu vou me despedir de todas as loucuras que já fiz por tesão e você vai se despedir do medo de arriscar – sua mão foi para o meio das minhas pernas, acariciando meu sexo molhado. Gemi sem conseguir me conter.
– Alex!
– Ah, Charlotte! Eu queria você assim. Tão ávida por meu pau que vai fazer desta a rapidinha mais gostosa que já dei em toda a minha vida – ele sussurrava em um tom feroz, cheio de segurança e completamente excitado. – Vai ter que ser rápido, meu bem.
– Oh, Deus! Eu vou ser rápida – ele riu baixinho, afundando um dedo em mim. Mordi o lábio sufocando o gemido.
– Você vai, meu amor. Eu tenho certeza disso.
Sua mão subiu ao meu colo e puxou as alças do vestido até que meus seios estivessem de fora. Sem deixar de me masturbar com dedos hábeis, Alex apalpou e chupou meus seios com sofreguidão e eu pensei que gozaria assim, tamanha a minha necessidade.
Mas ele não queria que fosse desta forma. Alex se afastou apenas para libertar seu membro rígido, afastando as roupas minimamente e puxando a minha calcinha para o lado. Em um movimento rápido, ele se enfiou em mim, todo, de uma vez só, preenchendo-me com tanta propriedade que me fez morder o seu ombro para não gemer alto demais.
Ele também gemeu, parado dentro de mim, saboreando aqueles segundos mínimos do encontro entre as nossas carnes, recebendo o calor que emanava de mim e o envolvia totalmente. Suas mãos firmes seguraram minha bunda e levantaram minhas pernas, para que eu ficasse em sua cintura, as pernas abertas para recebê-lo sem demora.
E então Alex começou a se movimentar. Seu sexo tocava todos os meus pontos, preenchendo cada milímetro dentro de mim e me fazendo senti-lo por completo, grande, grosso e maravilhoso. Sim, aquele pênis era fabuloso, acariciando meu interior como se tivesse um mapa de cada ponto de prazer.
Ele se empurrava para o fundo, entrando e saindo em estocadas rápidas. Nossos gemidos podiam ser ouvidos, mas quem estava se importando? Eu me sentia alcançando as estrelas, recebendo-o entre as minhas pernas, sentindo os seus avanços enquanto sua boca beijava e chupava meus seios, distribuindo beijos quentes em meu torso, arrepiando toda a minha pele.
Podíamos ouvir também o som dos nossos corpos se chocando, das suas estocadas certeiras e rápidas, do meu sexo recebendo-o sem hesitar. Nossa! Eu podia ouvir o som do meu corpo correspondendo, do crepitar do fogo que se espalhava em minhas veias, do calor que corria tão rápido, acionando tudo dentro de mim e então...
– Oh, Alex!
– Assim. Assim, amor!
Sua voz urgente me levou ao delírio e eu gozei recepcionando um Alex entregue, que se espremia em mim com gemidos deliciosos, enquanto também gozava entre as minhas pernas.
Permanecemos assim, diminuindo o movimento, respirando com dificuldade, roçando um no outro de maneira a sentir cada espasmo ofertado, até que ele sentou em um degrau e me levou junto, sentada em seu colo com seu membro ainda dentro de mim.
Nossos olhos já estavam acostumados com a escuridão, então podíamos reconhecer nossos corpos, o meu parcialmente exposto, o rosto dele sustentando um sorriso sem tamanho. Nós nos encaramos e começamos a rir, beijando-nos e nos permitindo um pouco mais.
ALEX
Conseguimos sobreviver ao jantar.
Lana estava eufórica por poder reunir os amigos e havia explicado que faríamos uma cerimônia íntima, por isso preferimos nos reunir ali, como se estivéssemos celebrando o casamento.
Charlotte, apesar de não conhecer boa parte dos convidados, que eram poucos, não ficou tão retraída, como eu achei que ficaria, e, muitas vezes, participou de conversas animadas, sem precisar do apoio dos amigos, que estavam dispostos a salvá-la de qualquer situação mais embaraçosa.
Miranda e Patrício foram uma preocupação à parte. Meu irmão, às vezes, empolgava-se em uma ou outra conversa com uma de nossas amigas, aí bastava Miranda passar perto para que ele se ouriçasse e deixasse a conversa de lado. Da mesma forma acontecia com a melhor amiga da minha noiva. Miranda era uma morena bonita e ousada. Sabia o corpo que tinha e abusava dele, sem ser brega ou oferecida, pelo menos aparentemente. Muitos colegas nossos se interessaram por ela, cercando-a constantemente. Mas bastava um olhar mais duro do Paty para que ela desfizesse qualquer conversa mais animada.
Contudo, em nenhum instante, eles se aproximaram ou conversaram. Uma situação um tanto estranha, não?
No final da noite eu estava animado, ansioso para dar prosseguimento ao meu plano. Charlotte parecia cansada quando deixamos o apartamento da minha irmã, porém logo seu interesse em nossa noite se apresentou.
Estacionei o carro em minha garagem. Estava escuro, favorecendo meus planos. Charlotte pegou a bolsa e intencionou sair, lancei minha mão em sua coxa, pressionando-a com cuidado.
– Lembra quando demos uns amassos aqui no carro? – ela sorriu delicadamente, deixando o olhar cair, como sempre fazia. Deixei meus dedos vagarem adentrando suas coxas. – Lembra o quanto você queria que eu finalizasse tudo aqui mesmo.
– E você não fez – disse baixinho.
– Não. Mas posso fazer agora – afundei minha mão procurando a sua calcinha para retirá-la, e não a encontrei. – Charlotte...
– Precisei tirá-la, Alex. Eu estava mais do que constrangida com aquela calcinha completamente molhada.
– E achou melhor tirá-la e passar a noite com este vestido curto, sem calcinha? – meu sangue começou a ferver.
– Você gozou dentro de mim, ou seja, minha calcinha ficou inutilizável.
– Porra, Charlotte! – levei a mão ao rosto controlando a minha fúria. – E eu fiquei te puxando para todos os lados. Se eu soubesse... – ela riu, fazendo-me olhá-la sem acreditar que ela estava mesmo rindo.
– Deu tudo certo, Alex – Charlotte movimentou-se e sentou-se em meu colo. – Ninguém percebeu que eu estava sem a calcinha e agora ganhamos um bônus.
– Que bônus? – ela se abaixou e sussurrou em meu ouvido.
– Não vamos ter nada entre nós.
– Você é louca, menina!
Sim, ela era louca e realmente fodia com o meu juízo, porque naquele momento eu só conseguia pensar em abrir minha calça e fazê-la gritar de prazer.
– Não faça mais isso – rosnei forçando-a a me olhar.
– Prometo. Vou andar com uma calcinha reserva na bolsa – lentamente, beijou-me com safadeza. – Agora... – começou a abrir minha camisa – ... vamos fazer amor.
Rosnei sentindo meu pau vibrar. Beijei sua boca deixando minha língua se apossar daquela menina. Puxei seu vestido para baixo, libertando seus seios maravilhosos e imediatamente brinquei com eles em minhas mãos. Charlotte gemeu e rebolou em meu pau ainda dentro da calça, deixando-se ser acariciada.
Suas mãos afastaram o tecido da minha camisa e suas unhas roçaram meu peito. Porra, eu adorava aquilo! Segurei Charlotte pela cintura, descendo uma mão até a sua bunda, subindo a saia até que estivéssemos pele com pele. Apalpei sua carne puxando-a para que roçasse com mais firmeza em meu pau. Ela atendeu ao meu desejo, rebolando mais gostoso.
Senti suas mãos afoitas descerem até meu cinto, atrapalhando-se no processo. Não seria Charlotte se fosse diferente. Decidi ajudá-la. Sabe Deus os perigos que poderiam envolver Charlotte, uma braguilha e um pau duro.
Abri a calça deixando o trabalho mais fácil para ela. Abaixei um pouco o jeans, apenas para que a cueca aparecesse e para que tivéssemos mais liberdade de movimento. Ela acariciou meu pau enquanto eu beijava seus seios já durinhos. Eu queria que fosse uma foda rápida, aliás, era importante que fosse, afinal de contas estávamos dentro do carro, em uma área relativamente aberta, apesar de escuro, então, quanto antes terminássemos, mais seguros estaríamos.
Meu pau já estava melado, liberando um pré-gozo, estimulado pela fantasia e pela delícia que era ver Charlotte parcialmente vestida, pronta para me receber, disposta a qualquer coisa para conseguir aquele orgasmo.
– Coloque-me dentro de você – pedi sem deixar de estimulá-la.
Charlotte obedeceu, segurando meu pau sem qualquer resquício de inexperiência, levantou o corpo e me posicionou em sua entrada. Depois, fechando os olhos, começou a descer. Senti a cabeça do meu pau vencendo sua carne aos poucos. Ela se agarrou a mim, deixando-me de frente para seus seios, que foram devidamente atacados.
Seu sexo quente e apertado cedia ao meu corpo duro e ansioso, enquanto ela testava, subindo e descendo, rebolando lentamente para me receber por completo. Porra, se Charlotte havia se excitado com aquela porcaria de filme pornô, ficaria deslumbrada se pudesse assistir àquela cena da forma como eu podia assistir.
Ela era tão sensual, tão entregue! Perdia completamente a decência quando eu estava dentro dela. Charlotte simplesmente se permitia e desfrutava. E foi assim que ela conseguiu me colocar completamente para dentro, com um gemido de satisfação e orgulho que quase me fez gozar.
Eu estava no ponto. Prontinho para ela. Minha noiva recomeçou as reboladas, subindo e descendo, sugando-me com sua vagina úmida, que se arrastava em minha pele me dando o máximo de prazer, mas ela ainda não estava pronta e eu não queria cometer a gafe de gozar antes dela.
Pensando em acelerar as coisas, segurei sua bunda e fiz com que Charlotte se curvasse sobre mim. Esta posição faria com que seus movimentos fossem mais curtos e a fricção do seu clitóris aceleraria o processo. O que antes eram estocadas se transformou em roçadas com pequenas e rápidas penetradas, todas controladas por ela e completamente aprovadas por mim.
Mais uma vez nos beijamos e eu percebi que aquela posição realmente havia surtido o efeito desejado para a minha noiva, pois seus beijos se tornaram menos técnicos e ela passou a se deixar ser fodida pelos meus lábios. Eram coisas completamente diferentes. Uma coisa era beijar, juntar os lábios e deixar as línguas se encontrarem, outra era quando ela ficava tão entregue que simplesmente me sentia, seus lábios se demoravam mais nos meus, sem movimentos mecânicos, como se estivéssemos nos degustando, como se cada junção fosse a própria junção dos nossos sexos.
Os gemidos eram ainda mais intensos. Sem o medo de sermos descobertos ela se permitiu sentir, conduzindo-me, mostrando-me o que era bom e o que era maravilhoso para o seu corpo. Tal quando deixei meu dedo brincar em sua bunda. Charlotte foi acometida por um espasmo no instante em que meu dedo tocou o seu ânus.
Porra, eu confesso que fiquei por um fio! Só de imaginar tudo o que poderíamos fazer apenas com aquela possibilidade já me fazia não querer mais nada da vida. Completamente entregue, segurei Charlotte pela nuca e rocei meus dentes em seu pescoço e, sem nenhum pudor, afundei meu dedo nela.
– Alex! – ela gemeu alto e as estocadas ficaram mais intensas. Eu quase gritei de prazer, entregue, satisfeito demais para parar.
Vi Charlotte jogar a cabeça para trás e, de olhos fechados, movimentar a bunda em direção ao meu dedo, deixando-me penetrá-la e depois recuar afundando meu pau em sua outra entrada. E assim, em poucos segundos, ela gozou.
Fiz o maior esforço para assisti-la sem me libertar também, contudo perdia a batalha no último segundo, quando senti suas duas entradas se fechando em mim com espasmos de gozo. Foi demais para um pobre homem como eu.
Então gozei me afundando nela, nos dois pontos, e tendo a certeza de que não haveria jamais outra mulher para mim.
CHARLOTTE
Eu queria dormir na casa dele, mas Alex não deixou. Porém, assim como eu, meu noivo também não queria me deixar partir.
Depois de nossa peripécia no carro, entramos e fomos direto para o banho. Alex estava todo atencioso, prendeu meu cabelo, alegando ser importante para não chamar atenção de Peter. Bom, depois de tudo o que fizemos aquela noite, eu não contestaria nenhuma vírgula do que ele determinasse.
Tive meu corpo ensaboado e hidratado, mesmo sendo a porcaria do sabonete de morango e hidratante da mesma fragrância, que um dia nos levou a uma briga com um final delicioso. Rimos ao nos lembrarmos deste episódio.
– Vou comprar um com outra fragrância para você, amor – beijou meu pescoço, fechando o roupão em meu corpo.
– Não precisa, vou trazer o meu em poucos dias.
– Bem lembrado – deu-me um beijo delicado nos lábios. – Já arrumou tudo? – fiz uma careta.
– Não. Não tive tempo e nem tenho pressa – Alex suspirou, de costas para mim, enquanto colocava o seu desodorante. – Tem cheiro de homem.
– Por que será?
– Bobo!
– Linda!
Terminamos na cama. Alex disse que depois de tantas aventuras, como as que tivemos naquela noite, era imprescindível fazermos amor, lentamente, sem pressa alguma, para não esquecermos nunca o que nos unia. Eu achei que era apenas mais uma desculpa para transar comigo, mas é claro que aceitei de bom grado a sua oferta, sem nada dizer para desestimulá-lo.
Quando penso naquela noite, nós dois em sua cama, ele sobre mim, parcialmente cobertos por um fino lençol, suas entradas lentas, seus beijos carinhosos, seus toques que eram pura devoção, a forma como ele me olhava, como dizia que me amava, como me buscava e me sentia, fazendo-me senti-lo com a mesma intensidade, eu não consigo ter outra definição de amor.
Deitada em sua cama, com ele entre as minhas pernas, o tronco suspenso não só para não me sufocar com o seu peso, como também para que ele pudesse ter uma visão melhor do que fazíamos, seus movimentos calculados, todos com a finalidade de me dar prazer e de se proporcionar prazer, um vaivém delicado, calmo e que, aos poucos e sem pressa, levou-nos ao êxtase.
Com direito a tê-lo deitado em meu busto enquanto eu acariciava seu cabelo e apenas me permitia sentir. Alex, depois de um tempo em silêncio, levantou o rosto e distribuiu beijos por minha pele, demorando longamente em meus seios. Espreguicei percebendo as consequências de noites como aquela.
– Preciso te levar para casa – sussurrou quebrando o nosso encanto.
– Eu gosto de fazer amor quando acordo – provoquei.
– Eu também – ele levantou deixando a coberta revelar seu corpo. – Mas seu pai ainda quer acreditar que a filha é virgem.
– Só se ele for muito idiota – ele riu e saiu da cama.
– Vamos. Está bem tarde e eu vou trabalhar amanhã cedo.
– Não vai surfar?
– Não. Eu ia correr, mas, pelo visto, vou mesmo é aproveitar até o último minuto para descansar – espreguiçou-se bocejando. – Vamos, Charlotte, ou seu pai manda quebrar as minhas pernas.
– Droga!
Ele me deixou em casa pouco tempo depois. Durante o trajeto senti o quanto eu estava cansada e o sono quase me pegou. Na porta, Alex me beijou delicadamente, com amor, e foi embora. Eu estava tão feliz que adormeci no mesmo instante em que deitei em minha cama.
Na manhã seguinte, acordei bem tarde e já havia uma mensagem dele me aguardando no celular. Alex me desejava bom dia e me lembrava que eu só tinha três dias para ter tudo pronto para a mudança. Olhei para o meu quarto sem ânimo para começar a arrumar nada. Bom... eu poderia fazer isso aos poucos, conforme fosse a minha adaptação, ou a minha necessidade.
Já havia passado da hora do café quando desci faminta. Minha mãe estava ao telefone e, pela conversa, percebi ser com Dana e era sobre o casamento. Fui até a cozinha, surpreendendo Odete.
– Qualquer coisa que mate a minha a fome, Odete – ela fez uma bandeja com ovos, pão quentinho, suco de umbu e uma xícara de café. Voltei à sala e comecei a devorar tudo.
Johnny chegou quando eu estava terminando de comer. Ele beijou minha mãe no rosto e sentou ao meu lado.
– Preparada?
– Não – rimos, mas eu senti o quanto a proximidade me deixava apreensiva.
– E Miranda? A maluca sumiu ontem e só enviou uma mensagem avisando que tinha conseguido uma carona.
– Miranda anda muito estranha ultimamente.
– Nem me fale – ele roubou umas migalhas do meu prato sem se dar conta do que estava fazendo. – Eu vim lhe entregar a sua carruagem. Opa! Carroça – colocou a chave do meu carro sobre a mesa. Acertei um soco em seu braço.
– Ai!
– Não fale assim do meu carro. Ele é um senhor de idade.
– É bom pensar assim mesmo. O Pedro falou que da próxima vez vai ser complicado salvá-lo. Até agora ninguém conseguiu a peça de um milhão de dólares.
– Idiota!
– É sério, Charlotte! Sem a peça não há mais nada que possa ser feito. Por que você não compra outro carro da mesma marca e pega a peça – acertei outro soco em seu braço.
– Quer deixar de ser idiota?
– Já sei. Podemos mandar roubarem um do mesmo modelo e ano, ficamos com a peça e abandonamos o carro... Não me bata. Não me bata – começou a rir quando ameacei socá-lo mais uma vez.
– Mané!
– Onde está o padrinho? – dei de ombros. – O professor João Pedro me ligou. Disse que ele e Patrício vão tomar umas na casa do Alex hoje, já que amanhã vamos todos para o rancho. Disse que Alex fez questão que eu estivesse presente, acho que é para garantir a você que não vai ter nada de mais.
– Uma reunião?
– Uma despedida, Charlotte, só que sem as mulheres.
– Acho bom mesmo que seja assim.
Ele riu e minha mãe chegou contando que as flores tinham chegado e que estariam no rancho no horário combinado. Mostrou as fotos que Dana tinha enviado e comentou sobre a felicidade de conseguir uma festa tão linda em tão pouco tempo. Ela estava mais animada do que eu.
Evitei qualquer pensamento que me levasse à pequena reunião do Alex naquela noite. No dia seguinte, partiríamos em direção ao rancho, o meu lugar naquele mundo, e eu seria inteiramente do homem com quem escolhi viver.
CAPÍTULO 31
“No entanto, para dizer a verdade, hoje em dia a razão e o amor quase não andam juntos.”
William Shakespeare
ALEX
Conseguir dar conta de tudo era quase impossível. A sorte era que não sairíamos em lua de mel logo em seguida, o que me daria mais alguns dias até conseguir fazer Lana caminhar sozinha como editora-chefe. Lógico que ela poderia contar comigo e eu faria questão de acompanhar tudo de perto, mas era importante deixá-la à frente, fazê-la ganhar confiança até que minha presença não fosse mais tão necessária.
Cedo recebi uma ligação do professor Carvalho, reitor da faculdade, informando que Charlotte tinha agendado um encontro e que ele precisava mesmo conversar comigo para resolvermos a questão da minha aluna. Por ora estávamos aguardando uma posição do grupo de professores que estava avaliando o material dela.
Combinamos que nos encontraríamos logo após o casamento, mas esta informação eu não forneceria à minha noiva, pelo menos não enquanto não tivesse passado boa parte dos problemas que ela estava enfrentando.
Também cedo João apareceu na minha sala me informando que, eu querendo ou não, ele e Patrício passariam em minha casa à noite para uma reunião entre amigos, regada a algumas bebidas. Eu tinha certeza de que eles aprontariam alguma coisa, então tive a genial ideia de convidar Johnny, assim Charlotte se sentiria segura e eu teria alguém que impediria aqueles dois de fazerem alguma bobagem.
No final da tarde, liguei para ela. Até então tínhamos trocado algumas mensagens, todas com brincadeiras de duplo sentido, que nos remetia à noite anterior e todas as coisas gostosas que fizemos. Charlotte sabia como entreter um homem.
– Charlotte! – minha voz saiu como um alívio em poder falar com a minha noiva.
– Professor Alex – e eu sabia muito bem o que aquela entonação significava. – Como vai?
– Ansioso... e cansado. E você?
– Ansiosa, mas não tão cansada. Lana implicou que eu precisava relaxar então hoje não tive nenhuma atividade referente ao casamento.
– E o que fez?
– Escrevi.
– Hum!
Era sempre assim, nós transávamos e ela escrevia. Realmente eu tinha acertado no diagnóstico daquela menina.
– E você? Muitos contratos novos?
– Não. Já fechamos a agenda, mas tivemos dois pedidos de material por duas editoras importantes na Alemanha.
– Uau! Deixe-me adivinhar: Tiffany – ela desdenhou o nome da autora.
– Não. Mas eu devo dizer que Tiffany já possui contrato com uma grande editora de lá.
– E bem que eles poderiam levá-la para uma longa temporada.
– Não sei por que você ainda a vê como uma ameaça, Charlotte.
– Eu também não sei. Alguma coisa me faz querer ela bem longe de nós dois – ri. Até nisso minha noiva era absurda.
– Certo, vamos esquecer Tiffany.
– Vamos esquecer Tiffany, por ora.
– Combinado – meu sorriso estava imenso. Eu adorava conversar com Charlotte e ter que lidar com toda a sua teimosia e infantilidade. – João Pedro quer passar lá em casa hoje, junto com Patrício. Eu convidei Johnny, não sei se ele já te contou.
– Ele contou que João avisou que você mandou convidar.
– Isso.
– Vai ser uma reunião entre amigos?
– Vai ser uma forma de satisfazer o ego do João Pedro.
– Sei.
Quando uma mulher diz “sei”, ela quer dizer muito mais do que isso. Juntei os pedaços: o tom irônico e desconfiado com que Charlotte estava me tratando desde o começo, o “sei” que mais parecia um “mentiroso”, e concluí que ela não estava nada satisfeita com aquela reunião.
– Você pode comparecer. Vamos ser apenas nós quatro... eu acho.
– Acha?
– Sim, provavelmente seja isso mesmo. Mas você pode ir, amor. É só aparecer.
– Em uma reunião só de rapazes?
– Garanto que com você vai ser bem mais interessante – ela riu e eu senti que havia relaxado um pouco mais.
– Não. Eu vou deixá-los com o clube do Bolinha.
– Tem certeza?
– Tenho sim. Vou ver com Miranda se ela quer assistir algum filme ou bater perna no shopping.
– Tudo bem. Vejo você amanhã?
– Eu não perco nossa ida ao rancho por nada neste mundo.
– Saudades do chalé?
– Saudades de você, eu e o chalé.
– Vou ver o que posso fazer.
– Combinado. Bom encontro, comporte-se, amo você – falou tudo de uma vez só.
– Também amo você.
Desliguei e me dediquei ao trabalho até não restar mais nada para resolver. João passou em minha sala no final da tarde. Ele queria a chave reserva da minha casa, alegando que queria deixar o barril de chope pronto para quando eu chegasse. Também disse que passaria na delicatessen próxima para providenciar alguns petiscos.
Só consegui sair da editora bem tarde, depois de receber muitas mensagens do Patrício e do João me perguntando se eu não apareceria. Ainda deixei alguns assuntos pendentes que eu poderia tratar no dia seguinte com Lana, lá no rancho.
Peguei o caminho livre, por causa do horário. Eu estava bastante cansado, ansioso para sentar, tomar um chope gelado e jogar conversa fora até tarde da noite. Em dois dias, eu estaria casado e feliz, sem nada nem ninguém que pudesse arrancar Charlotte dos meus braços.
Foi com este pensamento que entrei em meu condomínio e tudo o que estava em minha mente sumiu no momento em que encostei o carro em frente à minha casa. Meu. Deus.
Aquilo não era uma simples reunião entre amigos. Aquilo era uma festa. Uma imensa festa.
Todas as luzes estavam acesas, inclusive as do jardim, que eu raramente utilizava. Os portões, a garagem e a porta de casa estavam abertos. Do lado de fora, muitas pessoas conversavam, a maioria mulheres em roupas provocantes. Do lado de dentro, com certeza, havia muito mais. Desliguei o carro sem me importar em estacioná-lo da forma correta e desci disposto a matar João Pedro.
– Alex!
Olhei para o lado e fui abraçado por uma mulher muito animada. Só quando ela me largou, eu pude identificá-la. Era Marcela, uma garota com quem eu saí algumas vezes. Ela usava um vestido justo, prata e com um decote generoso. Porra!
– Quer dizer então que o gato mais cobiçado da cidade vai se casar? Quase entrei em depressão quando o Patrício me ligou. Pelo menos teremos uma noite de despedida – e me segurou pelo pescoço colando os lábios aos meus.
Puta que pariu!
– Hum! Marcela... – afastei a garota mantendo-a longe. – Desculpe, sabe me dizer onde o João Pedro está?
– João Pedro? Seu cunhado, não é isso? Ele estava logo na entrada, mas...
– Com licença.
Saí de perto dela e limpei os lábios discretamente com a mão. Identifiquei várias garotas que conheci nas noites cariocas, além de alguns amigos do futebol, conhecidos de balada, colegas de longo tempo. Porra, Charlotte me mataria.
João estava realmente na entrada, usando roupas casuais e um colar de neon, verde limão, enquanto segurava um coquetel com direito a guarda-chuva e duas cores na bebida. Eu o pegaria pelo braço, o faria tirar todas aquelas pessoas da casa o quanto antes e depois o mataria. Ah, eu o mataria. Antes que eu pudesse alcançá-lo, Patrício apareceu com duas mulheres, uma de cada lado, abraçadas a ele, chamou-me tão alto que alertou nosso amigo.
– Alex! Finalmente apareceu a margarida. Venha, esta é Letícia e esta Lorena.
Olhei as garotas, gêmeas, lindas, seios firmes em um decote solto, barriga de fora extremamente trabalhada, pele bronzeada, saia curta e solta que dava mais o que pensar do que censurar. As duas morenas eram idênticas, maravilhosas. O que ele estava aprontando?
– Alex! – João se aproximou colocando a bebida em minha mão. – Tire este paletó, cara! Vai estragar o clima da festa. E beba.
– João, eu...
– Não vai dizer um oi para as meninas? – Patrício me interrompeu outra vez. Evitei olhar diretamente para as garotas. Era melhor prevenir do que remediar.
– Oi, meninas. Com licença! – rosnei segurando João pelo braço e levando-o para dentro.
– Ei, ei, calma aí – ele se soltou rindo para algumas garotas que estavam no corredor. – Garotas, o Alex chegou.
Os gritinhos quase me tiraram do sério. Porra, João acabaria com a minha vida.
– É melhor você conversar comigo ou vou te estrangular aqui na frente de todo mundo.
– Você está muito estressado, Alex. Por que não relaxa? – começamos a caminhar em direção à cozinha.
– O que significa isso tudo?
– A sua despedida de solteiro, cara!
– Porra, João, eu falei...
– Porque é um mariquinhas. Vai se casar em dois dias com uma garota que ainda está aprendendo o que é sexo, então precisa de algo que o faça ter paciência para aguardar até Charlotte pegar o jeito.
– Vá se foder! Não fale de Charlotte assim.
– Calma Alex! Não sabe brincar, então não desça para o play – e riu como se aquilo fosse mesmo divertido.
– Vou acabar com essa festa agora mesmo.
– Você é um maricas, Alex! – Patrício nos alcançou. – É só uma festa. Ninguém está colocando uma mulher em sua cama. Apenas relaxe e se divirta.
– Eu disse que não queria esta festa.
– São nossos amigos e eles não foram convidados para o casamento porque a sua noiva não quer estranhos na cerimônia. Como acha que eles se sentiram?
– Eu não estou vendo apenas os nossos amigos aqui, Paty.
– Paty é a puta que te pariu – revidou com raiva. – E eu não tenho culpa se você é gay e só conhece homens. Eu tenho muito mais amigas do que amigos em minha lista telefônica.
– E você deve ter bastante consciência de que Charlotte vai descobrir o que está acontecendo aqui, então Miranda também vai ter este conhecimento, não é?
Patrício recuou e João riu.
– Miranda? Mas vocês não...
– Acha mesmo que sou tão idiota assim, Patrício? Charlotte não sacou o que está acontecendo, mas eu já entendi que você voltou atrás e agora está se desdobrando para fazer Miranda te aceitar de volta.
– Isso é um assunto só meu.
– Claro. Mas pode ter certeza de que esta festa é o seu tiro de misericórdia – ele ficou sem reação por um tempo, João começou a fazer gracinhas, então ele deu de ombros.
– Que assim seja – levantou a garrafa de cerveja que segurava em um brinde e virou o conteúdo todo de uma vez, para logo em seguida dar um grito animado. – Vamos farrear que a festa é para os solteiros.
– Puta que pariu! – rosnei sem saber como desfazer toda aquela confusão.
– Alex, seu cretino – vi Roberto antes que ele acertasse um soco em meu braço. – Vai se amarrar e não contou nada para ninguém? Filho da puta! Deu sorte que fez esta festa incrível, do contrário nunca te perdoaria.
– Onde está Milena? – perguntei pela esposa dele. Eles eram recém-casados e o natural era que Roberto levasse a esposa para todos os lugares.
– Milena? Hoje a noite é dos solteiros, meu amigo.
Mais um idiota no mundo. Onde aquelas pessoas haviam deixado as suas cabeças?
– Curta, Alex – João indicou o copo em minha mão.
– Eu mandei Charlotte vir – ele arregalou os olhos e depois começou a rir.
– Vai se foder então! – e gargalhou. – Que idiota! Como pode ter sugerido que ela aparecesse? Era uma noite entre amigos.
– Porque ela ficou cismada e eu não queria problemas, agora... – olhei a festa repleta de mulheres, o som alto, corpos balançando para todos os lados, pessoas se pegando sem nenhum pudor. Era o meu fim. – Vou ligar para Charlotte e explicar esta bagunça – peguei o celular, mas ele foi retirado rapidamente das minhas mãos.
– Epa, epa, epa – João escondeu o celular atrás do corpo. – Artigo proibido nesta festa. Sinto muito, Alex, mas a regra vale para todos.
– João eu... – pensei que mataria o meu amigo quando Johnny surgiu do nada e segurou meu braço.
– Sei como é isso, Alex – ele me puxou para trás. – Também fui pego de surpresa e tive o meu celular apreendido.
– Porra, Johnny! Faça alguma coisa. Você sabe como a Charlotte é e ela não vai procurar saber o que de fato aconteceu – ele sorriu largamente. – Merda! Eu vou casar em dois dias – e quando dei por mim João já havia desaparecido com o meu celular.
– Tenha calma. Primeiro de tudo: Charlotte não vai aparecer. Eu estava com ela há pouco tempo e sei que Miranda a arrastou para o cinema e depois vão sair para jantar.
– Mesmo assim.
– Segundo: eu estou aqui e Charlotte vai levar em conta o que eu disser, pode acreditar nisso.
– E você está de acordo com tudo isso?
– Não! Quer dizer... a festa está maneira, mas você terá que ficar na linha e eu estarei aqui para garantir que seja assim – respirei fundo.
– Você nem precisava estar aqui para garantir isso. Eu não vou trair a Charlotte.
– Eu sei que não. Me dê isso aqui – ele pegou o copo da minha mão, foi até um freezer que de alguma forma João conseguiu colocar em minha cozinha e pegou uma cerveja de lá. – Beba isso. Vai garantir que esteja de pé até o final. Agora vamos relaxar e ver algumas garotas tirarem a roupa.
Sem saída, acompanhei Johnny até a sala. Aquilo estava realmente fugindo do controle. João conversava com dois amigos nossos, todos casados, mas, pelo menos, não estava com nenhuma garota, ou eu seria forçado a realmente bater nele. Já Patrício... bom, esse já tinha tomado a sua decisão, então que continuasse se divertindo com as gêmeas.
Eu e Johnny ficamos em silêncio, bebendo nossas cervejas e observando as pessoas que pareciam enlouquecidas. Algumas situações eram tão constrangedoras que eu preferia desviar o olhar, como quando bolinhas de sabão saíram não sei de onde, aumentando o nível de empolgação dos participantes da festa e uma garota, que eu não fazia ideia de quem era, subiu na mesinha de centro, porra ela estragaria o móvel com aquele salto fino, e começou a tirar a roupa.
Foi demais para a minha cabeça.
– Deus ajude que Charlotte realmente não apareça – resmunguei e Johnny riu tirando a cerveja da minha mão e colocando outra logo em seguida.
Algumas garçonetes, vestidas apenas com biquínis quase inexistentes, diga-se de passagem, espremiam-se entre os convidados com variados tipos de bebidas. Aquela seria a festa dos sonhos de qualquer homem, por incrível que pareça, era o meu inferno. Impossível não olhar para a bunda de algumas delas, mesmo com a minha consciência me dizendo que melhor seria se eu ficasse cego.
– Você está muito desanimado para um homem que vai casar com a mulher que ama – aquela voz me fez estremecer.
Olhei para trás e vi Tiffany. Pisquei algumas vezes sem acreditar. O que João Pedro tinha na cabeça quando convidou a Tiffany? Provavelmente estava ansioso para me jogar no inferno.
– Surpreso?
Ela estava linda, com uma maquiagem que valorizava a sua beleza, deixando-a mais sexy. Conferi o resto. Claro que eu faria isso, afinal de contas nunca fui um santo, e... Caralho! Tiffany estava com um vestido colado ao corpo, destacando todas as suas curvas. Era preto e brilhava e o cabelo loiro em um penteado mais rebelde a deixava realmente desejável.
– Estou – foi só o que consegui dizer.
– E com a minha presença?
Anita apareceu do outro lado. Pensei em correr. Sério! Se eu conseguisse sair dali correndo, talvez, muito provavelmente, conseguisse me livrar dos problemas que aquelas duas me trariam. Anita estava mais bonita ainda, de uma maneira mais provocante do que Tiffany, que era mais clássica, menos atirada. Se eu prestasse mais atenção ao vestido dela, conseguiria constatar a ausência da calcinha.
– Com toda certeza. Nunca imaginei que João seria capaz de convidar vocês duas – e eu precisava sair dali o quanto antes.
– Ora, Alex! E quem disse que fomos convidadas? – Anita provocou. – Pelo que parece é uma festa aberta. Não tem ninguém impedindo as pessoas de entrarem.
E eu seria condenado por aquilo.
– Já que não fomos convidadas para o casamento – Tiffany sorriu sem nenhuma amargura. – Resolvemos aparecer para lhe desejar sorte.
– Charlotte preferiria morrer a ter vocês duas em nossa festa – revelei sem medo. Elas precisavam entender que não podiam agir como queriam.
– Ah, sim! Charlotte é mesmo uma menina cheia de vontades – Anita pegou minha cerveja e entornou. – Precisamos de algo mais forte – colocou a garrafa em uma bandeja que uma das garçonetes inclinou em sua direção e retirou de lá três copos de bebidas coloridas e enfeitadas.
– E Alex é o tipo de cara disposto a atender a todas as vontades da sua menininha – Tiffany continuou e aceitou a bebida que a prima lhe oferecia.
– Alex é o tipo de homem disposto a atender as necessidades de qualquer mulher – Anita brincou e me entregou um dos copos.
– Está enganada – tentei argumentar quando Tiffany me interrompeu.
– Ele está apaixonado, Anita. Agora só existe Charlotte.
– Exatamente – sem querer continuar a conversa, bebi um longo gole da bebida que elas me deram, constatando o quanto era forte. O que tinha ali, vodca, tequila, cachaça? Não consegui identificar, pois o leite condensado atrapalhava o sabor.
– Não parece. Olha só esta festa – Anita indicou a garota seminua que ainda dançava sobre a mesa de centro.
– Coisas do João Pedro.
– Você deve estar bem incomodado, não – Tiffany colocou a mão em meu ombro. Olhei para Johnny, que acompanhava tudo afastado.
– Bastante. Por falar nisso. Vou trocar esta roupa. Aqui está quente demais. Aproveitem a festa. Com licença.
– Pode deixar. Vamos aproveitar bastante a festa – o sorriso de Anita me fez estremecer, mas ignorei.
Saí de perto delas e, ainda bebendo aquela porcaria de coquetel, segui até as escadas, decidido a me trancar no quarto por um bom tempo. Charlotte não saía da minha cabeça, mas também toda a tentação das mulheres gostosas dispostas a tudo naquela noite. Eu era mesmo um filho da puta!
Fechei a porta, tirei a roupa e segui para o chuveiro. O coquetel me deixou um pouco mais disperso. Era muito forte e eu tinha bebido cerveja o tempo todo, então a mistura não tinha sido uma boa ideia.
Depois do banho frio, segui para o closet e assim que coloquei a cueca ouvi a porta do quarto se fechando. Estranhei, apesar de saber que uma festa tão liberal como aquela daria às pessoas o direito de acharem que poderiam usar os quartos também. Uma grande merda.
Saí do closet decidido a acabar com aquela palhaçada, mas estanquei quando vi as duas mulheres que estavam ali. Tiffany e Anita. A primeira só de calcinha e meias sete oitavos. A segunda sem nada, só com os saltos altos. Puta que pariu! Puta que pariu! Puta que pariu!
– Despedida de solteiro, Alex! – Anita anunciou. – Somos o seu presente.
Eu estava só de cueca e tenho que confessar, não foi fácil impedir meu pau de subir. Primeiro porque eu realmente gostava da ideia de duas mulheres em minha cama, apesar de ter a certeza de que nunca sugeriria a Charlotte algo como aquilo. Não, eu nunca dividiria Charlotte com mais ninguém, mesmo que fosse uma mulher. Segundo porque Anita e Tiffany eram o que existia de mais perfeito no mercado, apesar dos seios artificiais de Anita, e que agora eu podia comprovar esta verdade. Elas eram lindas e estavam dispostas a tudo aquela noite.
Fiquei surpreso em ver Tiffany topar algo daquele tipo. Ela era muito clássica, apesar de nunca se negar a nada na cama. Já Anita... eu nunca conseguiria saber o que esperar dela.
Desviei os olhos das duas pensando se deveria ou não buscar alguma roupa para vestir.
– Não sei o que vocês pretendem, mas já adianto que para evitarmos confusão...
– De que tipo de confusão está falando? – Anita se aproximou, tocando meu peito. Afastei-me imediatamente. Ela era louca. Só podia ser.
– Anita, é melhor... – dei um passo para trás quando Tiffany também se aproximou e senti a borda da cama na dobra dos meus joelhos.
– Calma, Alex! Ninguém sabe que estamos aqui. E ninguém precisa saber – disse já passando a mão em mim.
Puta merda!
– Tiffany, você sempre foi a mais sensata, então...
– Ela é a sensata e eu sou o quê? – Anita riu e me empurrou sobre a cama.
Nem tive tempo de reagir, pois as malucas subiram em mim. Tentei afastá-las, ainda abismado por tamanha ousadia e não consegui ser rápido, ou forte o suficiente para evitar que elas prendessem meus punhos com algemas na cabeceira da cama.
Era surreal demais para ser verdade. Aquilo parecia cena de um filme. Como eu não consegui impedi-las de me prender? Como deixei que elas estivessem sobre mim naquele momento, alisando meu corpo como se eu fosse um brinquedo?
– Vocês estão loucas! – gritei enfurecido. – Vou dar parte na polícia das duas, entendeu?
– Com uma festa como esta, Alex? Acha mesmo que alguém vai pensar que um homem como você foi forçado a fazer sexo com duas mulheres enlouquecidas?
– Pare com isso agora, Anita! Tiffany, por favor, pense bem no que está fazendo, pense em sua carreira.
– Ora, Alex! Se você não quisesse isso, não estaria tão animadinho – e ela segurou meu pau com vontade. Claro que ele estava duro. Que cacete de homem não ficaria de pau duro em uma situação como aquela? Mas eu não queria. Não queria e ponto final.
– Porra! – debati-me, dificultando o trabalho delas.
– Se continuar gritando, vamos te amordaçar – Anita ameaçou e Tiffany riu histericamente. Ela não estava em seu estado normal. – Feche os olhos e aproveite, Alex – passou a mão pelo meu peitoral e, afastando Tiffany, subiu no meu corpo, rebolando em meu pau, ainda dentro da cueca e beijando meu abdome.
Eu não queria. Não queria! Só não conseguia fazer meu pau deixar de querer. Que inferno! Pensei em Charlotte, em nosso casamento, em como me sentiria um merda se alguma coisa acontecesse ali.
– Johnny! – gritei o mais alto que pude, ciente de que o som estava alto demais para que alguém me escutasse. – Seu filho da puta, onde está quando preciso de você – elas riram.
Anita levantou, sem descolar nossos sexos e rebolou para que eu pudesse ver, além de sentir, o quanto ela entendia do assunto. Porra, eu não podia deixar aquilo acontecer. Então, Tiffany se aproximou e beijou a prima. Um beijo carnal, puramente sexual, o que se comprovou quando elas começaram a se tocar.
Não, não, não!
Anita se afastou, mas Tiffany continuou tocando o corpo da prima, enquanto a maluca descia os lábios até a borda da minha cueca. Deus, por favor, não!
– Eu sempre quis saber como era você, Alex – disse ao puxar minha cueca e liberar a minha ereção.
– Anita, eu juro que te mato se...
Então a porta abriu e o que eu vi me fez desejar que o mundo explodisse.
Charlotte estava lá.
CHARLOTTE
O que eu vi estava fora de qualquer fantasia sugestionada por minha mente astuta. Eu havia passado uma noite estranha, inquieta, como se realmente estivesse avisada de alguma forma, que eu precisava estar com ele.
Tentei me entreter, no entanto Miranda estava tão introspectiva quanto eu e, em alguns momentos, perguntei-me se ela ainda sofria por Patrício, já que nunca mais tivemos tempo para uma conversa entre amigas. Jantamos como se estivéssemos pisando em ovos, com conversas que nunca nos direcionavam a Alex, Patrício, casamento ou qualquer outra coisa do tipo. Estranhamente, falávamos sobre o filme que assistiríamos, o fim da faculdade, os planos profissionais, os possíveis cursos e todas as viagens que fingíamos que ainda faríamos juntas, como se eu não estivesse prestes a me casar.
Definitivamente, foi uma noite estranha.
Provavelmente por causa disso eu não tenha conseguido me concentrar nem um segundo no filme. Estava agindo tão mecanicamente que me peguei pensando em como mesmo tínhamos chegado ali e escolhido a sessão.
Então, com a trama já avançada, Miranda, de uma forma inexplicável, virou-se para mim e disse:
– Acha mesmo que eles estão apenas conversando e tomando algumas cervejas?
No escuro do cinema, encarei minha amiga tendo consciência de cada palavra implícita naquela frase. Levei algum tempo, que eu não conseguiria nunca estimar, para tomar a decisão e responder.
– Não.
Levantamos sem precisar explicar a decisão e saímos prontas para acabar de uma vez por todas com aquelas dúvidas. Entramos no carro em silêncio e a única frase dita foi exatamente o incentivo de que eu precisava, proferida por minha amiga.
– Você é a noiva dele, tem o direito de aparecer quando e como quiser.
E por isso segui decidida até o condomínio onde Alex morava. Por alguns minutos, perguntei a mim mesma se era o certo a ser feito. Não que eu não quisesse exterminar de vez a minha insegurança e aquela angústia que me consumia desde o momento em que meu noivo desligou o telefone.
Pensei em passar por lá para averiguar se estava tudo bem. Não precisava entrar nem deixá-lo saber da minha presença, apenas chegar perto o suficiente para me certificar de que eu era mesmo louca e infantil.
Só que eu não era nem louca, nem infantil. Eu era uma garota com sexto sentido aguçado. Tive esta certeza quando não consegui sequer estacionar próximo a casa. O som alto e as luzes chamativas chegaram até mim antes mesmo que eu conseguisse ver a frente da casa. Pessoas bebiam e conversavam no jardim, mulheres de todos os tipos, vestidas como se aquela fosse a sua única chance de conquistar um cara como Alex. E era mesmo.
“Respire, Charlotte!” Eu pensava. “Apenas respire! ”
– Que merda é essa? – Miranda esbravejou passando por mim com passos decididos e me levando para dentro pela mão.
Por um mísero segundo pensei no quanto eu estava mal vestida, com meu jeans justo e batinha de renda, enquanto as outras mulheres estavam incrivelmente bem maquiadas e com vestidos arrasadores, mas meus pensamentos se dissiparam quando vi Johnny conversando com uma ruiva de tirar o fôlego.
Ele estava todo derretido, cheio de charme para a garota, que parecia se divertir com o universitário metido a garanhão. Nós nos aproximamos dele sem que percebesse.
– Cai fora! – Miranda gritou para que não restassem dúvidas de que a garota não tinha mais nada a fazer ali.
– Ei! Charlotte! O que faz aqui? – o rosto assustado do meu amigo tirou o meu chão.
– Você sabia desta merda toda? – Miranda continuou, seus olhos percorrendo todo o espaço a nosso redor.
– Não, eu... o que vocês fazem aqui?
– Onde está Alex? – perguntei já desesperada. Johnny olhou para mim apreensivo.
– Eu acho que ele foi trocar de roupa. Charlotte, Alex não...
Dei as costas decidida a acabar de uma vez por todas com aquela agonia. Passei pela sala onde vi uma garota com os seios de fora, bêbada, dançando sobre a mesa de centro. Os saltos finos, com certeza, estragariam o móvel. Aquilo era o mínimo que Alex merecia. Subi correndo as escadas, deparando-me com a porta do quarto fechada.
– Charlotte, espere... – Johnny estava logo atrás de mim.
– Abra logo a merda da porta – Miranda gritou praticamente me forçando a entrar.
Então eu abri, e... porra!
– Alex! – o nome dele saiu dos meus lábios sem que eu tivesse a intenção.
Perdi o meu chão, o ar, a coragem e capacidade de agir. Eu apenas fiquei ali, vendo Alex na cama com duas mulheres nuas. E eu não queria acreditar no que via. Não podia acreditar.
– O que... – Miranda entrou daquele jeito só dela. – Ah, não! – gemeu revoltada.
– Porra! – Johnny entrou logo em seguida e parou bem atrás de mim.
E eu? Bom, eu podia fazer um monte de coisas naquele momento. Eu podia gritar e me atirar contra aquele trio até que não restasse mais nada de humanidade em mim. Eu poderia enxugar as lágrimas que estavam prestes a cair e demonstrar maturidade para não sofrer por um filho da puta como Alex, ou eu podia simplesmente chorar e deixar tudo para trás.
Mas eu não consegui fazer nada. Meus olhos presos aos de Alex apenas me faziam repetir incontáveis vezes em minha mente que aquilo tudo era um pesadelo e que eu acordaria em breve, com minha vida toda nos trilhos, prestes a me casar e ser feliz. Sim, era apenas um pesadelo.
– Charlotte, não... merda! Alguém me tire daqui – Alex se debateu. Ele estava assustado demais, mas as duas mulheres...
Deus!
Eu estava tão assustada com o que vi que minha mente me traía me fazendo não reconhecer aquelas duas. Como? Por quê?
Senti o sangue fervendo, a humilhação me atingindo com um tapa forte no rosto, a raiva me consumindo mais rápido do que eu poderia imaginar. Desviei os olhos daquela cena horripilante e dei as costas para deixá-los. Alex poderia ter feito aquilo com qualquer outra mulher, nunca com aquelas duas. Nunca.
– Charlotte! – ele gritou.
– Ah, não! Você não vai sair assim – ouvi Miranda gritar e me puxar pelos braços, mantendo-me dentro do quarto. – Não antes de tirar estas duas vacas de cima do seu homem.
E minha amiga partiu para cima daquelas duas como se estivesse se atirando em uma guerra.
CAPÍTULO 32
“Contudo, o amor é cego, e os namorados nunca veem as tolices impagáveis que eles próprios praticam, porque, se vissem, até mesmo o amor ficaria enrubescido.”
William Shakespeare
ALEX
Eu vi tudo em câmera lenta. Charlotte indo embora, Anita sorrindo vitoriosa, Tiffany se encolhendo assustada com o flagrante, como se estivesse acordando de um transe e Miranda furiosa avançando para a cama.
Puta que pariu!
A amiga da minha noiva agarrou Anita pelos cabelos sem lhe dar chance de revidar, talvez porque Anita era segura demais para acreditar que alguém como Miranda seria capaz de fazê-la recuar, ou talvez porque estivesse tão louca que não tinha nenhuma noção do perigo.
O fato é que Miranda tirou Anita de cima de mim tão rápido que até eu fiquei atordoado. Com um movimento certeiro a arremessou no chão, para segurá-la em seguida pelos cabelos e por um braço até conseguir jogá-la para fora do quarto.
– Uma vadia a menos – ela gritou enquanto Charlotte, assustada, estava em um canto, assistindo tudo como se não conseguisse assimilar nada.
Tiffany estava encolhida, escondendo o corpo e com a mão estendida, como um pedido de clemência. Eu podia ver em seu rosto a vergonha sentida e o quanto ela estava confusa com aquilo tudo. Era a segunda vez que eu via Tiffany recuar como se estivesse acordando de um ataque de sonambulismo.
Miranda parou diante dela, que se abaixou buscando o lençol que estava debaixo de mim, sem conseguir sucesso. Eu estava preso, não apenas pelas algemas, mas também pelo desespero, pelas consequências que aquela merda traria para minha vida.
– Saia rastejando, sua cadela no cio – rosnou uma Miranda furiosa. Tiffany, nitidamente aterrorizada, saiu do quarto o mais rápido que pôde. – E acho bom as duas estarem bem longe daqui em alguns segundos ou não serei tão generosa.
Antes que Tiffany conseguisse passar pela porta, eu vi Charlotte olhá-la com tanto desprezo que temi pelo que faria. Ela se aproximou, fazendo Tiffany recuar, mediu-a de cima a baixo e simplesmente cuspiu nela. Sim, Charlotte cuspiu em Tiffany e depois lhe deu as costas, como se lhe causasse nojo olhá-la.
Voltei minha atenção para Miranda, que me olhou com raiva, não sem antes dar uma bela conferida em meu corpo e deixar um sorriso perverso escapar. Remexi-me incomodado. Não era para ela me olhar daquela maneira. Não enquanto meu pau estivesse exposto.
– Alguém solte este idiota, por favor! – rosnou com maldade. – Venha, Charlotte, vamos acabar com esta maldita festa.
Sem aguardar por mim, segurou minha noiva pelo braço e a arrastou porta afora. Fiquei desesperado.
– Charlotte! – debati-me sentindo as algemas machucarem meus punhos. Ela não se virou, nem hesitou. Simplesmente me deu as costas e partiu. – Faça alguma coisa, Johnny. Não a deixe ir embora – debati-me desesperado.
– Antes eu tenho que te tirar desta cama – ele fez uma careta, puxando o lençol embaixo de mim e jogando a parte puxada sobre meu corpo. – Pelo amor de Deus! Ninguém precisa terminar a noite com uma visão horrenda como esta – brincou enquanto olhava pelo quarto para descobrir como fazer para me soltar. – Onde elas enfiaram a chave?
– Aquelas duas apareceram aqui e eu nem vi como conseguiram me prender – ele me olhou e sorriu, como se não estivesse acreditando em mim. – É verdade. Solte logo minhas mãos porque eu preciso fazer com que Charlotte...
– Ela vai entender.
– Porra, ela não vai! Ela não vai Johnny! Você conhece Charlotte.
– Conheço, mas Miranda é muito mais racional do que ela e tenho certeza de que conseguiu entender toda a ação aqui em cima, mais rápido até mesmo do que você foi capaz de entender. Vamos nos concentrar em encontrar alguma coisa que possa te libertar.
O som alto parou como mágica e gritinhos de insatisfação puderam ser ouvidos. Miranda estava cumprindo com o que tinha dito.
CHARLOTTE
Eu estava tão em choque que apenas ouvia Miranda gritando sem me dar conta do que ela de fato fazia. A movimentação em massa, as vaias que se afastavam aos poucos, as reclamações confusas e então minha amiga outra vez em meu foco.
– É isso mesmo. Vão ciscar em outro galinheiro. A festa acabou. Todos fora ou chamo a polícia, aí eu quero ver só a cara desses palhaços quando as esposas descobrirem o que eles estavam fazendo aqui. Graças a Deus, filmei tudinho.
Ela gritava enquanto João Pedro, um pouco mais afastado, conduzia as pessoas e pedia desculpas. Eu ainda lembrava da cara dele quando me viu descendo as escadas e do sangue que praticamente fugiu do seu rosto ao empalidecer assustado.
– Vadias, par de jarro também não são bem-vindas – gritou para as gêmeas que encontramos em uma situação um tanto quanto escandalosa com Patrício.
– Miranda... – ele ainda tentava fazê-la parar para ouvi-lo, sem sucesso.
– Não toque em mim – esbravejou minha amiga, afastando-se rapidamente para continuar mandando as pessoas embora como quem conduzia um gado.
Quando a última pessoa saiu, sentei no sofá e escondi o rosto entre as mãos. Eu me sentia exausta, como se tudo o que tinha visto tivesse exaurido todas as minhas forças. Deus, como eu conseguiria conviver com aquilo tudo?
– Charlotte, eu não... merda! Olha, foi tudo ideia minha. – João começou a se explicar. A raiva que eu senti foi tão grande que levantei como uma bala.
– Vamos embora – disparei em direção à porta. – Eu não tenho mais nada para fazer aqui.
– Charlotte, pare e pense – Miranda me segurou me impedindo de fugir.
Foi quando ouvimos passos rápidos nas escadas. Meu sangue gelou e comecei a me sentir realmente mal. Eu não queria passar por aquilo. Não precisava. Alex não tinha o que me explicar, nada poderia ser perdoado e não havia forma de me fazer entender.
– Charlotte! – ele andou rápido em minha direção. Pensei em socá-lo, pois seria uma bela resposta, porém só consegui evitar que ele me pegasse.
– Fique longe de mim – e como eu era uma perfeita pateta, meus olhos se encheram de lágrimas, tornando-me mais fraca.
– Não foi o que você está pensando – ele tentou se explicar e eu ri sem vontade.
– Ah, claro que não! Claro que não!
– Porra, o que aconteceu? – João ficou entre nós dois, olhando diretamente para Alex.
– Charlotte, por favor! Apenas me escute. Johnny estava aqui o tempo todo ele sabe que eu não fiz nada.
– O que aconteceu? – Patrício ficou atento, aproveitando a situação para se aproximar de Miranda.
– Charlotte pegou Alex na cama com Tiffany e Anita – minha amiga explicou sem muita paciência.
– Porra! – João gritou.
– Puta que pariu! – Patrício também se expressou, porém parecia estar se divertindo.
– Não foi assim. Aquelas duas...
– Eu não quero ouvir! – tapei os ouvidos. – Eu quero ir embora!
– Lottie, calma! – Johnny se aproximou me tomando nos braços. Foi o suficiente para me fazer desabar.
Abraçada a meu amigo, eu me permiti chorar todas as dores que me assolavam. Eu estava tão fraca, tão triste, quebrada ao meio e pisoteada como se não tivesse nenhum valor. Não conseguia entender por que Alex permitiu que acontecesse. Onde estava o amor que dizia sentir por mim?
– Charlotte – Alex se aproximou. – Por favor, me escute!
Porra, eu não podia ficar ali ouvindo-o tentar me fazer acreditar que não estava naquela cama com aquelas duas vacas, como Miranda tinha acertadamente chamado, nuas, Anita quase enfiando o seu... quase com a boca... merda! Ela estava quase lá. Quase. Só não foi porque eu cheguei. Não. Ele jamais poderia me convencer de que eu não tinha visto aquilo.
– Não toque em mim – gritei enfurecida me atirando contra ele e batendo até que minhas mãos não aguentassem mais. – Seu cretino! Seu cretino! – eu falava e batia sem parar.
A imagem de Anita com a boca perto do... Céus! Eu jamais poderia esquecer daquilo.
– Charlotte! – Johnny tentava me impedir de continuar socando Alex. Ouvi a risada cínica de Patrício e o tapa estalado que Miranda acertou nele, então fui contida pelo próprio Alex, que me segurou com força, mantendo-me presa em seus braços.
– Merda, Charlotte! Eu não transei com elas.
– Não! Eu vi que não. Porque eu cheguei, não foi? Eu atrapalhei a sua festinha!
– Não. Elas me prenderam lá. Eu não queria – ele continuou tentando se justificar.
– Não tente me convencer que não queria, seu filho da puta! Eu vi o quanto você queria.
– Oh, sim! Ela viu. Todos vimos – Miranda foi cínica. O que me deixou ainda mais possessa.
– Calma, calma! – Johnny me tirou de Alex e me colocou do outro lado da sala. – Vamos conversar civilizadamente, ok? Patrício, João e Alex, é melhor vocês ficarem aqui. Nada do que disserem vai ajudar agora. Miranda, venha comigo. Nós dois precisamos conversar com Charlotte.
Miranda concordou com Johnny e, contra a minha vontade, levaram-me até o escritório de Alex, trancando-nos lá. Olhei para a mesa onde ele costumava trabalhar quando estava em casa. Eram tantas lembranças! A certeza que tivemos de que não podíamos mais brincar com a situação, a vontade de ficarmos juntos, mesmo que fosse apenas pelo sexo, e a interrupção de Anita. Merda, eu lembrava muito bem de como ela chegou naquele dia, cheia de intimidade, oferecida, será que... não. Eu não podia acreditar que ele mentia para mim desde aquele tempo.
Chorei ainda mais com as lembranças e a ideia que me machucava. Johnny e Miranda permaneceram em silêncio, aguardando que eu estivesse mais calma, enquanto eu acreditava que esta era uma missão impossível. Quando os soluços cessaram e apenas as lágrimas desciam, Johnny começou.
– Lottie, eu sei que agora vai ser difícil acreditar em todos os fatos que podemos trazer para você, mas tente manter a cabeça aberta, por favor!
– Não tente me convencer do contrário, Johnny. Vocês viram o que estava acontecendo lá no quarto.
– Você está na defensiva e eu entendo – ele continuou. – Mas seu choque não está permitindo que enxergue as coisas como elas realmente são.
– Pelo amor de Deus, Johnny! O que poderia ser diferente do que vimos?
– Eu cheguei aqui primeiro que Alex, e, assim como ele, fui surpreendido por esta festa que o João armou com o Patrício. Não sei se a intenção deles era fazer com que Alex se rendesse à ideia de uma despedida de solteiro, quero acreditar que não. Eles queriam apenas comemorar, se divertir.
– Espero que Lana esteja ciente do que o marido dela é capaz – Miranda esbravejou, impaciente. – Patrício é um babaca mesmo, não poderíamos esperar nada diferente dele.
– Eu posso dizer que, até onde pude observar, João Pedro não fez nada além de conversar com alguns amigos – Johnny tentou defender os outros.
– Ah, claro! Isso antes ou depois de você ficar todo encantado com aquela ruiva tingida? Acorda, Johnny, você não tem como dar conta de tanta informação.
– Eu sei, mas eu estava aqui quando Alex chegou. Vi o seu espanto e o desespero que tomaram conta dele quando entendeu o que era a festa. Ele tentou te ligar, Charlotte, no entanto, foi impedido por João, que determinou que nenhum celular poderia circular na festa.
– Provavelmente para que ninguém tivesse provas do que estavam fazendo – Miranda rebateu ofendida. Johnny deu de ombros.
– Charlotte, eu prometi a Alex que ficaria de olho nele e que seria a sua testemunha quando ele precisasse te contar sobre a festa, e era o que estávamos fazendo. Bebemos e observamos tudo o que aconteceu nesta casa durante boa parte da noite. Foi quando Tiffany e Anita chegaram.
– Deus! – sentia-me exausta. Eu não queria mais pensar naquele assunto.
– Lottie, confie em mim – Johnny pediu se abaixando à minha frente e capturando meus olhos. – Miranda está com raiva, mas vai confirmar tudo o que estou dizendo – minha amiga riu sarcástica. – Elas não foram convidadas, eu ouvi quando Anita revelou a Alex e ele ficou aborrecido com a presença delas. Alex as evitou o quanto pôde, até que resolveu se trancar no quarto para se livrar daquela confusão.
– Claro, no quarto não teria você como testemunha – rebati rebelde.
– Fiquei de olho nelas durante um tempo, até que deduzi que não fariam nada – ele continuou.
– Então a ruiva falsa chegou e você logo se esqueceu delas – Miranda cruzou os braços na frente do peito, desafiando-o.
– Não... quer dizer... elas estavam conversando com outros caras, não parecia que aprontariam alguma coisa, então...
– Se você já me disse tudo o que sabe, então me deixe ir embora – levantei ansiosa para sair e nunca mais voltar.
– Eu te disse o que sei, agora Miranda vai dizer o que sabe – ele parou em minha frente sem me deixar passar.
– Eu? – minha amiga parecia surpresa. Johnny a olhou de uma forma que a fez recuar. – Johnny está certo, Charlotte. Elas armaram para o Alex, só não sei se a intenção era que alguém aparecesse e de alguma forma você ficasse sabendo, ou era apenas dar a ele uma despedida de fato.
– O quê? Miranda, você...
– Olha, não me agrada nada descobrir esta porcaria desta festa e ter presenciado aquela cena ridícula lá no quarto. Também não gosto de estar aqui em defesa do Alex, mas tenho que ser justa. Você nunca conseguiria ver o que eu vi porque estava muito abalada. Tudo naquele quarto indicava que elas armaram para Alex.
– Como assim? Você viu que ele estava excitado – rosnei me sentindo humilhada com esta parte. Miranda olhou para o chão, como se tal ponto a deixasse sem graça.
– Pare e pense. Se Alex tivesse levado aquelas duas para o quarto, como você imaginou, então por que não havia roupas espalhadas pelo chão? Quer dizer... é natural que no calor da safadeza eles tivessem se despido, deixando provas para todos os lados, mas o que vimos foi Alex de cueca, preso a cama, com duas mulheres praticamente nuas. Onde estavam as roupas?
– No banheiro, no closet, sei lá! Isso não quer dizer nada – e eu não perdoaria Alex só por causa deste detalhe.
– Certo. Eu coloquei aquelas duas putas para correr, nuas como estavam. Anita eu não posso duvidar de que fosse capaz de realmente descer nua, sem nenhum pudor, já Tiffany... – ela balançou a cabeça negando. – Esta tentaria recuperar suas roupas, eu posso apostar nisso.
– Isso não prova nada – rebati me sentindo menos estimulada a atacar.
– Temos também o fato de Alex, e apenas ele, estar com o cabelo molhado.
– O quê? – aquilo estava ficando confuso demais. Como Miranda conseguiu ver tanto em tão pouco tempo?
– Se eles tivessem se divertido um pouco enquanto Johnny se deixava levar pelos encantos da ruiva, elas também deveriam estar com um aspecto mais limpo. Alex tinha realmente tomado um banho, mas elas estavam com os rostos impecavelmente maquiados, os cabelos não pareciam de duas mulheres prestes a transar a três. Sem contar que os corpos levemente suados correspondiam a corpos que estavam no ambiente de baixo um pouco antes e não de pessoas protegidas pelo frio do ar-condicionado.
– Suposições demais, Miranda – e minha voz não continha mais a certeza de antes.
– Ok! O próximo ponto é o fato de Alex estar algemado, enquanto as duas o atacavam.
– E daí?
– Não me parece ser típico dele se deixar ser conduzido – ela me encarou, e eu lembrei da vez em que eu fui algemada naquela cama e, quando quis fazer o mesmo, ele não permitiu. Não, eu não podia me render a argumentos tão frágeis. – Você sabe que Alex temia aquelas duas. Que ele sabia que, se cedesse, teria que ser muito bem feito. Jamais permitiria que elas o deixassem tão vulnerável.
– Céus pare com isso! Pare de tentar me convencer do contrário. Nós vimos que ele estava excitado.
– Se fosse o idiota do Patrício, eu até acreditaria que ele tinha sido cretino a ponto de se deixar levar pela situação, Charlotte, mas... merda! Eu tenho que admitir que Alex jamais faria isso. Ele não faria algo desse tipo se não tivesse a certeza de que você jamais descobriria.
– Ela tem razão – Johnny voltou a falar. – Sem contar que ele estava desesperado quando chegamos.
– Eu o havia flagrado. O que vocês acham que ele faria?
– Charlotte, eu sei que é uma merda passar por isso, mas Alex tem mais chances de ser inocente do que culpado – Miranda falou com segurança, fazendo-me fraquejar.
Eu queria acreditar naquilo? Claro que queria. Nada mais no mundo me deixaria mais satisfeita do que saber que eu poderia acordar daquele pesadelo. Só não poderia ser assim, apenas me enganando, alimentando falsas esperanças.
– Deixe ele te contar o que aconteceu – Johnny sugeriu calmamente, ciente de como meu corpo estava reagindo àquilo tudo. – Cada um aqui tem um pouco para te contar.
Concordei. Não sabia ao certo como reagir à presença de Alex depois de tudo o que Miranda conseguiu incutir em minha mente. Johnny abriu a porta e saiu. Miranda caminhou pelo escritório, sem conseguir se manter quieta.
– Charlotte, homens são assim – suspirei sentindo as lágrimas voltarem. – Alex não queria aquilo, eu pude ver, mesmo estando... você sabe. O corpo reage mesmo quando a mente diz não.
– Isso é absurdo, Miranda.
– Sim, é. Mas nós também ficamos excitadas com algumas situações embaraçosas ou erradas. A nossa sorte é que nosso corpo não muda de maneira perceptível, já os homens...
– Não posso aceitar este detalhe como um ponto positivo.
– Eu sei que você jamais vai aceitar, só tente entender, Alex ama você e isso não é mentira.
– Você perdoaria uma traição por causa do amor que sente? – ela me encarou confusa e minha pergunta pareceu magoá-la.
– Não! Alex não te traiu, ele foi lançado na fogueira por aquelas duas vadias. Não sei onde estava com a cabeça que não arranquei os olhos delas – e eu não sabia mais sobre quais vadias ela falava, se as de Alex ou as que estavam com Patrício.
Neste momento Johnny voltou, acompanhado por Alex, Patrício e João Pedro, que parecia mais constrangido do que todos os outros. Não tive condições de encarar Alex. Eu não podia. Por isso mantive os olhos baixos, concentrada em apenas ouvir.
ALEX
– Você não merece a minha consideração, João – esbravejei com o meu amigo que se mantinha nervoso.
– Lana vai me matar, cara! E eu não fiz nada. Todo mundo viu. Você viu, não viu, Patrício?
– Eu não vi nada – meu irmão rebateu indiferente. Ele não deixava de olhar para a porta do escritório.
– E amanhã eu ainda terei que dar conta de um milhão de aparelhos celular. Eu estou fodido, e divorciado – andou de um lado para o outro. – E a partir de amanhã vou dormir na casinha do cachorro.
– Você não tem cachorro – lembrei a ele sem me comover com o seu drama.
– Que seja! E você, Paty, também é culpado. Você convidou toda essa gente, era para ser algo mais discreto.
– Eu não convidei. Um falou para o outro e, quando eu vi, a casa estava lotada. E se me chamar de Paty outra vez eu vou agora mesmo contar a Lana o que você aprontou.
– Cara, Lana vai me matar!
– O que será ótimo! – eu sentia tanta raiva que poderia matá-lo. – Puta que pariu!
– O que você fazia lá em cima? – João perguntou nervoso. – Era para você ficar aqui, sob a nossa supervisão.
– Eu fui... – a porta do escritório se abriu e Johnny saiu de lá sozinho. – E aí? Eu quero falar com Charlotte – ele concordou, pegando-me pelo ombro, fazendo-me voltar dois passos.
– Ela está muito nervosa. Eu e Miranda tentamos fazê-la enxergar o que não conseguiu ver. Você deve o seu casamento a Miranda, ela foi brilhante. Charlotte está bem balançada.
– Graças a Deus! – eu já estava me voltando para a direção do escritório quando Johnny me segurou novamente.
– Eu preciso te perguntar, Alex. Você estava pretendendo...
– Não!
Não permiti que ele completasse. Eu sabia que não pretendia transar com elas, que meu coração estava seguro disso, assim com a minha mente. Para minha desgraça, meu corpo não reagiu como eu esperava e, se eles não tivessem entrado naquela hora, só Deus poderia saber o que teria acontecido.
– Então é sua vez de convencê-la disso. E vocês terão que ajudar. Cada um vai dizer o que sabe para ajudar a deixar Charlotte mais segura, certo?
Eles concordaram, então entramos no escritório. Charlotte estava próxima à cadeira. Tive vontade de abraçá-la e implorar para que acreditasse em mim e senti raiva por ser tão fraco e ter reagido daquela forma às duas mulheres que invadiram o meu quarto.
Ela mantinha os olhos baixos, sem me deixar saber a melhor maneira de abordá-la. Enquanto pensava por onde começar a falar, João me interrompeu.
– Charlotte, eu sou o culpado. Foi tudo minha culpa – João começou. – Eu quis dar a Alex uma despedida como a que ele me deu e não obedeci quando ele me disse que não poderia ser desta forma. Se tem alguém aqui que deve pagar pelo que aconteceu, sou eu.
– E você vai, João. Lana vai fazer você pagar muito caro – Miranda falou e eu tive que me lembrar o quanto ela tinha sido decisiva no esclarecimento da minha situação. Por causa disso, não rebati o seu comentário.
– Miranda – Johnny a advertiu, fazendo-a calar.
– Eu combinei a festa com o Patrício. Deveria ser para poucas pessoas, porém tudo saiu do nosso controle. Alex não sabia de nada e não ficou nem um pouco satisfeito quando chegou. Como nós estávamos nos divertindo e Johnny estava aqui para garantir que nada aconteceria... – vi minha noiva respirar fundo, incomodada com os argumentos do meu amigo.
– Mesmo que ele não estivesse – eu falei tentando salvar o meu lado –, eu jamais permitiria... – ela limpou o rosto e se moveu, inquieta.
– Claro que ele não faria – João continuou. – Mas você acreditaria no Johnny e não no Alex. Nós não convidamos Tiffany e Anita. Podemos até ter sido escrotos por organizar a festa, mas jamais a este ponto. Eu sei que elas te aborrecem, então nunca admitiria a presença delas. Mesmo assim, não sei como, elas ficaram sabendo, e apareceram – ele deu um passo inseguro em direção a Charlotte, e me olhou com cautela. – Eu não vi quando elas chegaram e não tenho como descrever a reação do Alex, só posso dizer que, um pouco antes de toda a confusão começar, fui abordado por Anita, e fiquei surpreso com a presença dela, apesar de não ter nem tempo de questionar. Ela me perguntou sobre o banheiro, disse que o de baixo estava entupido, o que me deixou bastante aborrecido, pois eu sabia que Alex me mataria por qualquer dano na casa, então disse a ela que tinha um social no andar de cima e fui para o outro pensando em resolver a situação sem precisar alertar ninguém.
– Puta merda, João! Você a mandou subir? – rosnei me controlando para não matar o marido da minha irmã.
– Como eu ia saber que você estava lá em cima?
– Isso confirma o meu argumento – Miranda disse para Charlotte. – Elas não tomaram banho com ele. Não daria tempo – vi minha noiva suspirar e balançar a cabeça.
– E eu acho que é tarde demais para tentar manter Lana longe disso tudo, não? – João falou aturdido, quase como se estivesse implorando. Charlotte o encarou.
– Ela vai saber, você é maduro o suficiente para entender que precisa arcar com o peso e as consequências das suas decisões – Charlotte falou, e João não se defendeu, apenas se encostou a parede e ficou pensativo.
– Eu também sou culpado, Charlotte – Patrício começou a falar. – Alex tentou me dissuadir de continuar com a festa, ele argumentou bastante, eu não concordei com seus argumentos. Se você quer achar um culpado, o filho da puta...
– Esse alguém é você, Patrício – Miranda o interrompeu, e meu irmão recuou imediatamente. Que patético! Se ele queria tanto a garota, então por que fazia uma merda atrás da outra? – Nós já sabemos disso.
– Miranda, você sabe que...
– Eu não sabia o que eles haviam aprontado – interrompi os dois antes que perdêssemos o foco da conversa. Charlotte virou o rosto, evitando me encarar. – Isso já ficou comprovado. Todos sabem como fiquei contrariado com a festa e Johnny viu como reagi à presença de Tiffany e Anita. Eu fui para o quarto, Charlotte, porque queria ficar longe de toda confusão, queria dar um tempo para a minha cabeça e aguardar até que todos fossem embora para poder ter um pouco de paz.
– Você estava de cueca, ou quase, deitado na cama com as duas.
– Eu estava – não tentei me defender. Não adiantaria de nada. – Tinha acabado de sair do banho, fui ao closet para me vestir quando ouvi a porta do quarto. Jamais poderia imaginar que elas seriam capazes de ser tão ousadas. Pensei que era um casal ansioso demais por privacidade.
– Que merda! – ela resmungou e balançou a cabeça, como se quisesse ajustar os pensamentos.
– Você tem razão. Foi tudo uma grande merda, mas o que você acha que pode esperar desse tipo de festa? Justamente por isso eu não quis que acontecesse, nem para mim nem para você, Charlotte. Foi por isso que fui para o meu quarto, mas elas foram lá e não me deram chance de reagir.
– Ah, você reagiu – ela afirmou ofendida. – Eu vi a sua “grande” reação – fiquei furioso. Claro que ela viu minha ereção, afinal de contas era o que Anita tinha nas mãos.
– Charlote... – comecei com fúria, depois parei me dando conta de que aquela conversa deveria ser entre nós dois apenas. – Vocês poderiam nos dar licença?
– Eu não vou ficar sozinha com você – ela rebateu alterada.
– Vai sim. Você vai ficar porque sabe que isso tudo foi armação, e que precisamos ter esta conversa.
E com isso eu sabia que Charlotte não se atreveria a sair daquele escritório. Os demais se olharam e aos poucos foram se retirando. Mantive os olhos fixos nela, sem querer perder a conexão entre nós dois. Quando Johnny saiu e bateu a porta, eu tomei coragem e fui em sua direção.
– Não! – ela deu um passo para trás e eu parei, sem deixar de olhá-la.
– Você sabe que aquilo não aconteceu. Pelo menos não como imagina.
– Eu vi.
– Você viu, Charlotte, nem por isso deixou de ser armação. Elas avançaram em mim, as duas, sem que eu pudesse impedi-las, então prenderam minhas mãos na cabeceira da cama.
– E você gostou disso – afirmou me desafiando.
– Claro que eu não gostei. Eu fiquei furioso. Ameacei-as de todas as formas, gritei por ajuda, o som alto impediu que alguém ouvisse.
– Que conveniente, não? – nós nos encaramos sem trégua.
– Porra, amor! Eu não sei o que posso te dizer. Você já sabe de tudo, sabe que foi uma puta sacanagem que aprontaram comigo. O que mais eu posso dizer? Eu te amo, Charlotte! Já provei o meu amor de inúmeras formas. Vamos nos casar em dois dias e você não tem dúvida a respeito da minha ansiedade.
Ela ficou calada me encarando, eu via a tensão na veia do seu pescoço, as lágrimas que marcaram seu rosto e as que ainda ameaçavam cair. Por que nada entre nós dois poderia ser simples e tranquilo? Por que sempre tinha que haver uma confusão?
– Charlotte, você sabe exatamente o que aconteceu, por que não confia em mim?
– Você estava excitado – jogou a verdade em minha cara deixando-me extremamente envergonhado. Engoli com força e não consegui manter meus olhos nos dela. – Você estava gostando, Alex. Como quer que eu releve e conviva com isso? – suspirei me afastando um pouco e limpei o suor da testa.
– É difícil de explicar – admiti com a voz baixa e ouvi o seu soluço. Merda! Eu me odiava! – Você não vai entender porque nossos corpos funcionam de forma diferente.
– Por favor, não faça isso! – ela disse chorando. – Não me diga que faz parte do instinto do homem. Não faça isso comigo, Alex.
– Droga, e o que eu posso te dizer? Se pensa que vou confirmar que senti tesão por aquelas duas, pode desistir porque não é verdade – um nó rasgava minhas palavras ainda em minha garganta. Charlotte não merecia aquele sofrimento. – Existe uma diferença entre seu pau reagir a um estímulo visual e você sentir tesão por alguém. Você pode achar absurdo, mas isso é instinto sim, não apenas do homem, é do corpo, Charlotte! Homens são visuais, nós olhamos e cobiçamos, não é como vocês que podem fechar os olhos e imaginar. Foi uma reação indesejada, que eu não consegui evitar, e sim, eu sou um canalha por causa disso, mas, se minhas mãos estivessem livres, elas nunca conseguiriam chegar tão perto, porque eu não tenho dúvida do que sinto, nem de quem eu quero – ela chorou mais. – Quer saber o que acontecia naquele momento? Eu tinha duas mulheres lindas em minha cama, decididas a fazerem o que quisessem comigo, e sim, meu pau ficou duro, ou você pensa que outro homem reagiria diferente? Pode ser assustador para você se imaginar presa por dois homens decididos a... Puta merda! – passei a mão pelo cabelo. – Para mim não é – revelei sem medo. – Para nenhum homem seria, Charlotte. Mesmo assim, naquele momento eu só pensava em você. Eu estava desesperado porque sabia que elas conseguiriam, eu tinha certeza de que elas conseguiriam, e eu não queria... – dei um passo em sua direção. – Você estava na minha frente o tempo todo, exatamente assim, os olhos marejados, o sofrimento estampado... Juro que pedi para que qualquer merda acontecesse que pudesse impedir que elas continuassem.
Charlotte limpou o rosto e fungou. Depois se afastou, dando a volta na mesa, deixando-a entre nós. Meu coração acelerou. Era hora do meu veredito.
– É justo você querer que eu aceite este argumento?
– Não – e não era, então eu não poderia mentir.
– Então o que acha que eu deveria fazer?
Ela já tinha tomado uma decisão. Eu sabia. Podia ver em seus olhos decididos. Droga!
– Não aconteceu, Charlotte. Eu... eu não sei mais o que posso te dizer. Quer saber o que eu acho que deveria fazer, mas como eu posso te dizer se estou desesperado? Eu não quero te perder, não quero que tudo acabe agora, e... droga! Eu não tive culpa.
– Você sente tesão por elas?
– Não!
– Nunca? Em momento algum desde que estamos juntos, você se sentiu tentado a ficar com elas?
– Nunca. Você sabe quantas oportunidades eu tive. Anita chegou a fazer uma proposta, eu nunca aceitei. Deus! Eu não sei que tipo de monstro eu seria se tivesse te convidado para estar aqui esta noite e, mesmo assim, me permitisse transar com elas – vi que Charlotte se surpreendeu com a minha colocação. – Eu te convidei, lembra? Eu disse que você poderia aparecer. Você acredita que eu seria tão idiota a ponto de transar com as duas com a porta destrancada, mesmo sabendo que você poderia aparecer? Acha mesmo que, depois de todo trabalho que tive para que você concordasse com o casamento, eu estragaria tudo dois dias antes? Charlotte, você precisa me dar um voto de confiança. É só olhar tudo o que aconteceu até chegarmos aqui.
Ela mordeu o lábio, abaixou a cabeça e outra lágrima escorreu.
– Amor...
– Eu vou para casa – anunciou. – Por favor, me deixe ir!
– E nós dois?
– Não me peça nada agora, Alex. Eu não estou em condições de decidir nada.
– Mas nós vamos viajar amanhã... é o nosso casamento.
– Por favor! – seus olhos suplicantes me alertaram que Charlotte estava no limite. Eu teria que ceder.
– Tudo bem – ela relaxou os ombros e começou a dar a volta na mesa para sair quando a interceptei. – Charlotte... – levantei a mão para tocá-la e minha noiva desviou.
– Não. Eu não vou suportar. Por favor!
Merda!
– Eu vou para o rancho amanhã – anunciei sentindo meu coração afundar. – Eu estarei lá, Charlotte. Aguardarei por você – ela apenas concordou e, mantendo-se afastada de mim, saiu.
Porra! Eu estava fodido! Respirei fundo tentando afugentar da minha mente as mil formas de matar aquelas duas desgraçadas. Seria uma longa noite.
CAPÍTULO 33
“Pois mesmo na torrente, tempestade, eu diria até no torvelinho da paixão, é preciso conceber e exprimir sobriedade – o que engrandece a ação.”
William Shakespeare
ALEX
Estacionei o carro reconhecendo os do meu pai, Lana e Patrício. Nenhum indício da família da minha noiva. Respirei fundo me convencendo de que ela apareceria. Não poderia ser diferente.
Eu havia retardado o máximo que pude a minha saída, na esperança de que ela me procurasse, ou que mandasse alguma mensagem, qualquer coisa que me dissesse o que se passava na sua cabeça, até mesmo uma ligação do Peter, revoltado com o que havia acontecido, ou desesperado com o fato de a filha negar a se casar. Qualquer coisa.
Nenhuma palavra. Nada. Do lado dela havia apenas silêncio.
E eu, covarde, fiquei com tudo pronto no carro sem conseguir dar a partida. A limpeza da casa fora providenciada para que, quando voltássemos, nada mais restasse daquela fatídica noite. Se é que voltaríamos. Quem poderia saber?
Cansado de esperar e já bastante atrasado, liguei o carro e comecei a sair da garagem quando a vi parada na entrada. Tiffany estava lá. Desliguei rapidamente o motor e saí com muita raiva.
– Saia imediatamente daqui – rosnei enfurecido. – Eu vou processar você por assédio, Tiffany. Vou destruir a sua carreira. Vou conseguir na justiça que você não possa chegar perto de mim ou de Charlotte pelo resto das nossas vidas.
Ela retirou os óculos escuros, mostrando olhos vermelhos e inchados. As lágrimas caíam sem esforço. O que eu via em seu rosto era puro pavor.
– Alex, por favor, eu preciso só de um minuto para...
– Não! Saia da minha frente. Estou farto de você e da maluca da sua prima tentando acabar com a minha vida. Por que não entende de uma vez por todas que eu não quero nenhuma das duas, que eu amo Charlotte e não você, droga! – ela estremeceu, encolhendo-se levemente com o meu grito.
– Não sei o que me deu ontem, eu... Oh, Deus, Alex! Eu não sabia o que estava fazendo e então... Charlotte estava no quarto, você estava preso à cama e eu... Meu Deus! Não sei o que dizer, não sei!
Chorou copiosamente, irritando-me ainda mais.
– É melhor sair do meu caminho ou vou passar o carro por cima de você.
Voltei para meu carro, dei partida, e juro que dei a ré mais rápida da minha vida. Tiffany saiu da frente, assustada. Acionei o portão da garagem e aguardei que se fechasse, observando se aquela maluca aprontaria alguma coisa. Com a casa toda fechada, fui embora sem olhar para trás.
Peguei a estrada. Seria uma viagem longa, cansativa e silenciosa. Apenas eu, meus pensamentos, meus medos e todos os conflitos que minha mente podia produzir.
Droga!
Parado na garagem da casa do rancho, eu não conseguia pensar em outra coisa que não fosse o que tinha acontecido no nosso encontro anterior. A confusão que Charlotte criou fazendo-a fugir, a tempestade, o meu desespero, o resgate e como tudo acabou bem.
Porra! Eu precisava que tudo acabasse bem novamente. Precisava de Charlotte, daquele casamento, da nossa vida... Eu precisava dela.
– Por que nas últimas vezes que esteve aqui, tem preferido passar um tempo admirando as paredes desta garagem velha?
Lana abriu a porta do carona me pegando de surpresa e entrou. Nossos olhos se encontraram. Ela não precisava me dizer muita coisa, boa parte estava estampada em seu rosto, na borda vermelha dos olhos, indicando o choro excessivo, nas olheiras e no tom abatido. Lamara sabia o que João havia aprontado. Peguei em sua mão com cuidado.
– Você está bem? – os lábios da minha irmã formaram uma linha fina e ela fez um esforço para sorrir.
– Vou ficar.
– Ajuda dizer que ele não fez nada? Que não teve a intenção de magoar ninguém?
– Não sei como você ainda consegue defendê-lo, Alex – cobriu minha mão com a dela. – João quase arruinou o seu casamento.
– Eu sei. Ele não seria o João Pedro que conhecemos se não fizesse alguma merda – ela sorriu e foi verdadeiro.
– Tem razão.
– Como ele está?
– Arrasado. Disse que, se Charlotte não estiver naquele altar amanhã, ele mesmo se daria uma surra.
– Merecida.
– Sim, merecida.
Voltamos a nos olhar em silêncio. Lana me observava com atenção, eu sabia que ela procurava uma forma melhor de me dizer a verdade.
– Ela não veio, não foi? – minha irmã suspirou pesadamente e meu coração acelerou. O que eu faria? – Droga!
– Ela está aqui – pego de surpresa, fiquei embasbacado com o que acabara de ouvir.
– Charlotte está aqui?
– Sim – Lana continuava cautelosa. – recusou-se a fazer a última prova do vestido. Está trancada no quarto desde que chegou e não quer receber ninguém.
– Merda! E Peter?
– Ele ainda não chegou. Parece que aconteceu algum imprevisto, por isso pediu para o motorista trazer Charlotte.
– Ela não veio dirigindo?
– Não. Alex, ela está arrasada. Eu não consigo acreditar que Tiffany teve tanta audácia.
– Tiffany está com problemas, Lana. É a segunda vez que ela age assim comigo e depois fica envergonhada, é como se estivesse possuída, sei lá. Já Anita... eu sempre soube que ela me daria trabalho.
– Você deveria dar queixa delas na polícia.
– E ver a situação se voltar contra mim? – encostei no banco do motorista. Eu tinha dormido pouco, estava cansado demais. – Prefiro usar isso contra elas para mantê-las bem afastadas.
– Se você acha que vai conseguir... – deu de ombros. – Bom, você tem um longo trabalho pela frente. Charlotte pode ter vindo, mas não creio que o perdoou. Pode ser que não tenha coragem de enfrentar o pai faltando um dia para o casamento.
– Eu sei. Vou tentar resolver. Obrigado!
CHARLOTTE
Alguns fatores me fizeram prosseguir com o casamento. O primeiro e mais importante foi a mensagem de Tiffany logo cedo, contando que elas realmente forçaram a barra e que Alex em nenhum instante deu a entender que queria ficar com elas. Dentre tantas coisas ditas, estavam as desculpas e a demonstração de arrependimento, assim como a confusão mental em que ela se encontrava.
O que não deixava de classificá-la como uma vaca em altíssimo grau.
O segundo era o fato de eu não saber como dizer aos meus pais que precisava de mais um tempo para digerir esta confusão. Eu estava triste, magoada e ofendida, porque, por mais que eu soubesse que ele não estava ali por livre e espontânea vontade, eu vi que Alex estava excitado, e não havia santo que me fizesse acreditar que era apenas uma reação do corpo ou qualquer outra baboseira que tenha tentado enfiar em minha cabeça.
Terceiro fator: a conversa que eu tive com Johnny, que dormiu comigo, em meu quarto, abrindo mão do conforto da sua cama, para me acalmar. Meu amigo era verdadeiro demais para tentar me iludir com falsos conceitos em torno da masculinidade. Ele me disse que o que Alex falou pode ser verdade, também que ele não acreditava que um homem ficasse muito tempo excitado tendo em mente o problema que se meteria. Não que Alex estivesse mentindo quando disse que pensava em mim, mas, de acordo com o meu amigo, talvez nem Alex soubesse o quanto a sensualidade de Tiffany e Anita o afetava, e lógico que seria muito difícil para ele admitir tal fraqueza.
Pensei mil vezes em desistir ao ouvir de meu amigo que meu noivo poderia sim se sentir atraído por aquelas duas. No meu coração, e na minha mente, não havia espaço para certezas como aquela, mas então ele falou uma coisa que me fez repensar. Ele disse:
“– Lottie, todo mundo está susceptível a isso. Você pode ter fantasias com um artista, um vizinho, pode se sentir encantada ou até mesmo sexualmente atraída por alguém, o que não muda o seu sentimento por Alex. Claro que existem limites. Alex não poderia achar que transar com elas era justificável, por isso ele não transou. Antes de ele decidir ficar com você, teve que fazer um balanço da vida, do que queria e o que pretendia, no final de tudo, viu que os sentimentos por você iam muito além do desejo, era algo muito mais forte. Uma coisa não elimina a outra. Veja só: Alex já transou com Tiffany e ele pode ter boas lembranças de como era a relação sexual deles, não? Acontece que ter alguém que te satisfaça na cama não é o suficiente, e Tiffany falhou nos outros quesitos. Já Anita... ele teve todas as chances, mas preferiu nem arriscar, então não há por que ter medo. Talvez você não entenda por ser muito nova e sem experiência de vida. Nunca se permitiu gostar de alguém ou se sentiu atraída por outro homem, porém nunca é tarde para acontecer. Você vai amadurecer, vai conhecer novas pessoas e vai ter momentos em sua vida que alguém vai ser mais do que interessante e verá que, no final das contas, o seu amor por Alex vai falar mais alto.”
E foi nisso que eu amanheci pensando e o que me levou a pegar a mala e entrar no carro designado por meu pai. Ele teve um imprevisto e precisou sair logo cedo com a minha mãe. Agradeci, pelo menos eu teria mais tempo comigo mesma para organizar a minha mente, sem precisar me justificar com mais ninguém.
E, desde então, eu estava trancada naquele quarto, olhando as paredes e o mundo lá fora pela janela. Vi flores sendo entregues, jardim sendo cuidado, aos poucos a movimentação da casa mudar e nem assim eu tive ânimo para reagir.
Lana sabia o que tinha acontecido. Lógico que João Pedro não deixaria que ela soubesse por outras pessoas, então ela entendia o meu lado, por isso eu estava conseguindo ficar sozinha, apesar de Miranda entrar e sair a cada meia hora apenas para verificar se estava tudo bem.
Uma batida na porta fez com que eu me afastasse da janela. Eu precisava fingir que era somente cansaço, no caso de serem os meus futuros sogros ou qualquer outra pessoa que não estivesse envolvida naquela confusão.
Era Alex e eu senti meu mundo girar.
– Posso entrar? – sua voz mansa deixava claro que ele não estava ali para me cobrar nada, só para se certificar de que estava tudo bem. Concordei e ele entrou, fechando a porta. – Você está bem? – soltei o ar preso nos pulmões.
– Não. Como poderia estar? – andei até a cama e sentei, colocando o rosto entre as mãos e apoiando os cotovelos nos joelhos. O movimento do meu lado me mostrou que ele também havia sentado.
– Mas você está aqui – ri sarcástica.
– E o que você esperava, que eu dissesse a meu pai que não teria mais casamento?
– Conhecendo você como eu conheço, sim, era o que eu esperava – nós nos olhamos e vi que havia muita determinação em seu olhar. – Você pode enganar as pessoas com esse falso tom submisso, Charlotte, mas eu sei muito bem que nunca faz nada contra a sua vontade.
Parei boquiaberta. Eu deveria dar uma resposta rebelde, não deixá-lo tão seguro quanto à minha aceitação, porém Alex estava tão certo que foi impossível rebater.
– Tiffany mandou uma mensagem contando a verdade – Alex ficou surpreso, mas nada disse. – O que não muda em nada o fato de você ter ficado excitado.
– Charlotte...
– Eu não quero mais falar sobre esse assunto, Alex – levantei não lhe dando a chance de me tocar. – Quanto mais eu penso mais magoada fico.
– Então não pense – ele levantou também, respeitando a minha distância. – O que eu sinto por você não conta? – aguardou pela resposta que não chegou. Eu não seria capaz de responder. – Tudo bem, o que quer que eu faça? Diga! Qualquer coisa, Charlotte, é só dizer. Precisamos colocar uma pedra sobre esta história. Você sabe que eu fui vítima daquelas duas, então vamos apenas tentar deixar passar.
Deixar passar.
Era o que eu queria? Simplesmente esquecer o assunto e fingir que nada aconteceu? Eu queria mentir para mim mesma todos os dias sobre o tesão do meu futuro marido por outras mulheres?
Merda!
Só que eu sabia que era algo incontrolável. Alex poderia nunca mais chegar perto daquelas duas, o que não significava que outras mulheres sexualmente atraentes não surgiriam na vida dele. Bastaria apenas que ele nunca me contasse e nunca me traísse e estaria tudo certo, não?
Eu não sabia.
– Amor... – ele se aproximou, ficando em minhas costas. Nossos corpos quase colados, centímetros nos separando. – Isso não importa. Eu te amo e estou aqui, louco para poder te abraçar, te beijar e sentir que você é minha outra vez.
Fechei os olhos e mordi o lábio. Eu também sentia saudade, especialmente depois de tantos problemas. Alex me tocou e um calafrio percorreu a minha espinha. Um choque que misturava desejo, amor e medo.
– Diga o que eu posso fazer, Charlotte. Estou disposto a qualquer coisa.
– Eu não sei o que você pode fazer – admiti. – Eu quero ficar bem, infelizmente não consigo. Simplesmente não consigo – senti Alex respirar fundo, prender a respiração e depois soltá-la.
– Tiffany era o tipo de mulher que me atraía fisicamente – fiquei tensa imediatamente e suas mãos foram para os meus ombros. – Meu relacionamento com ela foi baseado apenas em sexo, apesar de mantermos uma amizade saudável. Eu não conseguia me ver em uma relação mais séria com ela, porque, ao mesmo tempo que me atraía fisicamente, repelia-me quando o assunto eram os nossos princípios e ideais, então eu sempre soube que nunca passaria de sexo. Eu tive muitas mulheres, Charlotte. O fato de não ter escolhido nenhuma delas para compartilhar a minha vida não impediu que eu as escolhesse para compartilhar a minha cama. Não me sinto atraído por Tiffany, pelo contrário. Apesar de ter boas lembranças do que éramos sexualmente, eu não me vejo vivendo outra vez nada disso com ela, e eu tive muitas chances, mesmo antes de você entrar em minha vida, antes de eu me sentir tão perdidamente apaixonado e decidido a ter você para mim. Então não existe motivo para ter medo da reação física que eu tive ontem. Não foi por Tiffany.
– Foi por Anita então?
Minha voz embargada demonstrava o quanto aquele assunto mexia comigo. E, apesar de me sentir triste, as palavras de Alex aliviaram um pouco mais a minha dor. Ele não desejava Tiffany. Pelo menos não conscientemente.
– Não. Anita, apesar de ser linda fisicamente, nunca foi o tipo de mulher que eu admitiria em minha vida, mesmo que fosse só sexualmente, nem por uma noite, nem por uma trepada rápida, nada. Ela sempre me fez repudiar a ideia, apesar de, volto a falar, ela ter um corpo lindo, que chama a atenção de qualquer homem e enaltece o ego.
– Tudo é corpo? – comentei magoada. Tiffany e Anita eram bem diferentes de mim.
– No primeiro instante, sim. É a primeira coisa que te atrai, que agrada seus olhos. Você se sentiu atraída por mim, mesmo tendo me achado um cara insuportável que descartaria o seu projeto. E tudo porque te encontrei na praia, ou acha que não notei como ficou mexida quando me viu só de calção? Infelizmente é isso, Charlotte! Você vê e cobiça, no entanto, basta uma palavra, um gesto menos conveniente para a atração esmaecer. Aos poucos, conhecendo a pessoa, a atração vai mudando de foco. Você, por exemplo, adorava o fato de eu ser mais maduro e de conversar diretamente sobre assuntos que a deixavam desconfortável. Eu, por outro lado, detestei de cara a forma como Anita falava e se exibia, e amei a maneira como você corava e olhava para as mãos. É assim que funciona.
– Eu não sou fisicamente parecida com elas – sussurrei envergonhada pelo meu comentário.
– É isso o que está te incomodando?
– Talvez.
– Hoje eu me sinto muito mais atraído pelo seu corpo do que pelo que me atraía antes. Amo a sua desenvoltura, a sua coragem, o fato de ser tão destemida e de saber o que quer quando o assunto é sexo. Você não espera que eu te guie, apesar de sempre dar esta ideia. Você simplesmente faz aquilo que não consegue evitar. Não se retrai, não se intimida, e eu adoro isso tudo em você. É muito mais do que o que eu tive com Tiffany e mais do que Anita seria capaz de me oferecer. Não se sinta tão diminuída, Charlotte. É você quem eu quero e isso não vai mudar se não estiver naquele altar amanhã. Eu vou continuar não querendo nada com aquelas duas.
Ele me virou lentamente. Mantive os olhos baixos com medo de me perder e não conseguir mais me encontrar. Fazia todo sentido o que ele me dizia. Eu não tinha parâmetros, não tinha como saber se comigo aconteceria assim. Se eu já tivesse me envolvido com alguém, se tivesse mais conhecimento sobre relacionamentos, talvez assim tivesse uma ideia melhor do que ele me dizia. Talvez assim eu conseguisse entender.
Se eu não sabia, se eu não tinha nenhuma noção, se era apenas uma garota assustada, inexperiente, que conhecia livros e sonhos, eu poderia dizer que ele estava errado? Se ele me dizia que era assim que funcionava, eu poderia afirmar que acontecia apenas com ele e ninguém mais? Que era apenas uma tentativa de se justificar e me ludibriar?
Não, eu não podia. E não tinha mais nada que eu pudesse fazer, porque sabia, no fundo do meu coração que era no que eu queria acreditar.
Alex levantou o meu rosto sem encontrar resistência da minha parte. Fui tragada pela sinceridade que seus olhos me passavam e não tive outra saída. Ele me beijou e eu aceitei ser beijada.
Foi rápido. Apenas um juntar de lábios, uma pequena demonstração do amor que sentíamos, então Alex interrompeu o beijo e me abraçou. Um abraçado que expressava o alívio que ele sentia por estarmos voltando à nossa bolha.
– Lana falou que você não quer fazer a última prova do vestido – disse sem me cobrar uma posição.
– Eu precisava de um tempo.
– E ainda precisa? – concordei com a cabeça. – De mim também? – neguei. Depois de tanto questionar eu não estava preparada para deixá-lo. – Quer dar uma volta?
– E Lana? E tudo o que precisamos fazer?
– Tudo pode esperar – beijou minha testa com carinho. – Nós não.
Alex me puxou para fora do quarto e, sem pressa, caminhou abraçado comigo até sairmos da casa. O sol já estava alto, o que me fez conferir as horas, verificando que já passava do meio-dia.
– Não vão almoçar? – Dana nos chamou pela janela. Alex me puxou para mais perto.
– Vamos dar uma volta – disse com voz firme.
Foi quando o carro do meu pai entrou na propriedade. Vi que Alex ficou tenso imediatamente e imaginei que fosse por causa da confusão do dia anterior. Ele tinha razão em ter medo de que meu pai ficasse sabendo, mas, pelo bem de todos e pela paz mundial, eu tinha evitado que ele soubesse.
Logo em seguida, Johnny entrou em sua moto recém-adquirida e pela qual ele nutria um grande amor. Lógico que ele não deixaria de pegar a estrada em cima daquele monstro barulhento. O que me surpreendia era meu pai ter permitido.
– Peter... – ele falou baixinho.
– Não sabe de nada – senti seus ombros relaxarem.
– Que bom – eu nada respondi.
Minha mãe desceu antes de meu pai levar o carro para a garagem. Ela parecia abatida, mas sorria quando Miranda a encontrou e a abraçou, para depois auxiliá-la com a bolsa. Ela estava pálida e naquele instante me dei conta do quanto estava magra.
– Minha mãe deveria desistir da dieta – comentei e Alex ficou calado, mas percebi que voltou a ficar tenso.
– Alegria encontrar o casal mais bonito do ano logo na minha chegada – ela falou com a jovialidade de sempre. – Deixe-me abraçá-los – ela nos envolveu em seus braços frágeis e nós retribuímos o abraço. – Vocês estão me fazendo a mulher mais feliz do mundo todo.
E, naquele momento, eu entendi que tinha tomado a decisão certa.
***
Minha mãe segurava a minha mão e sorria com uma alegria impossível de ser mensurada. Ela estava linda, apesar de mais magra do que eu gostava, depois de absorver o sol daquele fim de dia, sua cor estava muito melhor.
Tínhamos passado o dia juntas. Depois que ela chegou, eu me senti à vontade para encarar o casamento e tudo o que eu ainda precisava fazer, mesmo que sua chegada tenha frustrado os meus planos com Alex de passarmos um tempo juntos para consolidar a nossa relação.
Alex circulou de um lado para o outro, fazendo tudo o que Lana tinha designado para ele, sem se aproximar muito. Eu sentia sua falta e temia tê-lo magoado demais e causado seu afastamento, apesar de saber que ele foi a causa de tudo o que aconteceu.
Meu pai também estava estranho. Ele chegou carrancudo alegando que teve alguns problemas no trabalho. Só que ficou assim o dia inteiro, mesmo com Adriano tentando entretê-lo. Naquela tarde, ele me pareceu especialmente aborrecido, enquanto minha mãe continuava ao meu lado e sorria sempre que notava a apatia dos nossos amores.
Lana se aproximou quando a tarde estava chegando ao fim. Ela e Dana estavam compartilhando da mesma sensação agradável e preguiçosa que era receber os raios de sol após dias longos de frio. Ambas pareciam satisfeitas com o corpo que a festa ganhava, apesar de sabermos que o grosso só seria feito no dia seguinte.
– Alex está armando alguma coisa – Lana deu um gole em sua vodca com Coca-Cola e gelo e olhou na direção da saída da casa.
Acompanhei o seu olhar e vi meu namorado indo em direção à garagem com uma pequena sacola de viagem na mão. Fiquei intrigada. Ele não passaria a noite ali? Para onde iria?
– Não coloque minhocas na cabeça dela, Lana – Dana ralhou. Ela, que estava conversando com minha mãe sobre as lindas rosas que conseguiu plantar, também tinha notado o filho passando e em atitude suspeita.
– Tudo bem – sorri voltando a fechar os olhos para aproveitar o calor do sol em meu corpo.
– Vamos pensar na foto que colocaremos na orelha do livro. Sair um pouco da tensão do casamento e adiantar o meu trabalho.
Lana tagarelava falando sem parar sobre a edição do livro. Em alguma parte daquela conversa, eu voltei a abrir os olhos e me perdi na visão do meu professor andando em minha direção. Ele sorria, porém eu percebi que seu sorriso não chegava aos olhos.
Alex caminhou lentamente. À medida que se aproximava, eu tinha a impressão de que seus passos não eram tão seguros quanto costumavam ser e que seu semblante exibia uma confusão que me deixou imediatamente em estado de alerta.
– Posso roubar minha noiva? – ele olhou para a minha mãe e sorriu com carinho, depois para sua mãe e irmã. Elas se entreolharam com sorrisos conspiratórios.
Levantei limpando os restos de grama que pinicavam a minha perna. Alex, sem nenhum aviso prévio, tomou-me em seus braços para um abraço apertado e cheio de saudades. Fiquei sem entender, nem reagir, também não tive tempo de pensar sobre o assunto, pois, assim que ele afrouxou o abraço, seus lábios se juntaram aos meus e meu mundo saiu do eixo.
Foi um beijo que tirou o meu chão. Havia um pouco de tudo nele. Amor, paixão, desejo, desespero, urgência... urgência! O que estava acontecendo com o meu noivo? Não havíamos conversado e resolvido aquele problema? Não estávamos caminhando para restaurar a nossa bolha?
– Crianças! – Dana riu interrompendo o nosso momento.
Alex me largou. Meu corpo inteiro protestou. Merda! O que mais eu poderia fazer além de esperar até o casamento?
– Vamos dar uma volta? – seus olhos brilharam.
Puta que pariu! Por que eu me senti totalmente quente com seu pedido? Por que minha mente registrou um milhão de promessas naquelas palavras? E como podia pensar em sexo com o meu eterno professor depois de uma noite terrível, cheia de imagens horrorosas?
– Claro! – eu ainda estava presa naquele olhar que me transportava direto para o céu ou me atirava ao inferno.
– Com licença, senhoras – Alex fez uma reverência digna dos filmes de época. As mulheres sorriram encantadas com o gesto. Ele segurou a minha mão e me puxou na direção da garagem.
– Aonde vamos? – ele continuou andando sem olhar para trás, parou só para abrir a porta do carona. Não me atrevi a entrar. O encarei interrogativamente. Alex soltou o ar de maneira teatral.
– Posso sequestrar a minha noiva?
– Sequestrar?
– Bom... não sei se uma fuga com o consentimento do pai dela pode ser classificada como sequestro, mas...
– Com o consentimento do... – ele me interrompeu com um beijo que selou meus lábios.
– Entre – ordenou dando as costas.
Obedeci prontamente. Rapidamente meu noivo estava ao meu lado, colocando a chave na ignição e, antes de dar a partida, parou para me olhar. De novo, eu percebi que havia alguma coisa errada.
– O que foi?
– Nada. Só... – seus olhos varreram meu rosto demorando-se em meus lábios. Alex abandonou o volante e segurou meu rosto com as mãos. – Eu amo tanto você! Por que não percebi isso antes? – não era uma brincadeira ou um momento romântico do meu professor e sim um pouco mais do seu embate interno. O mesmo que o estava deixando estranho.
– Porque você é um idiota cabeça-dura – ele sorriu e beijou meus lábios com carinho e cuidado. – Vai me dizer o que está acontecendo? – murmurei sem ter certeza de que queria realmente saber.
Alex me olhou por breves segundos, confirmando a minha suspeita, mas não respondeu. Deu partida e saímos da garagem rumo a “sabe Deus onde”. Meu coração estava apertado.
– Para onde vamos? – repeti a pergunta ao perceber que nos distanciávamos da casa.
– Para a cabana – sorriu maliciosamente e toda a região abaixo da minha cintura começou a formigar.
ALEX
Juro que quando Peter me chamou para conversar, acompanhado do meu pai, e ambos estavam com péssimas caras, eu pensei que Johnny tinha estragado tudo e contato a merda da noite anterior. Estremeci só de imaginar o sermão que aqueles dois me passariam, e isso seria o mínimo, ainda havia a possibilidade de cancelarem aquele casamento.
Mas o que ouvi me deixou muito mais atordoado do que se tivesse que me explicar para eles dois. Peter estava irritado porque Mary deveria passar a noite no hospital e ele não foi capaz de convencê-la a aceitar. Ela queria estar com Charlotte naquele momento.
Ver meu futuro sogro tão nervoso me deixou compadecido. Por alguns instantes, minhas incertezas e inseguranças em relação a Charlotte e tudo o que havia nos afastado nas últimas horas foram esquecidos.
– O que posso fazer, Peter? No que está pensando?
Confesso que acreditei que ele me pediria para cancelar o casamento, para inventar uma desculpa, qualquer que fosse, para que a cerimônia não acontecesse, e só a ideia me deixou apavorado. Meu pai me olhou com cautela, tomando fôlego para assumir a conversa.
– Conseguimos trazer a medicação e a equipe médica para Petrópolis. Eles estão instalados no hospital próximo daqui.
– Vocês querem que eu distraia Charlotte? E Mary? Não estou entendendo.
– Nós queremos que você tire Charlotte daqui – meu pai disse. – Passem a noite fora.
– O quê? – olhei para Peter, que estava vermelho e ansioso.
– Mary só vai aceitar passar a noite no hospital se Charlotte não estiver aqui. Se entender que ela está em um momento... – meu futuro sogro engoliu com dificuldade – ... um momento só dela.
– A ideia é que você a leve para a cabana – meu pai assumiu outra vez, tirando de Peter o peso daquela decisão. – Então Mary vai para o hospital e Charlotte não vai desconfiar de nada.
– Vou mentir outra vez para Charlotte? Droga!
Não era nada confortável a minha posição, infelizmente não havia outra saída. Eu não podia contar à minha noiva, na véspera do nosso casamento, que a mãe dela estava morrendo e precisaria passar a noite no hospital. O casamento seria cancelado imediatamente.
– Tá, tudo bem! Eu só... preciso organizar as coisas para que a cabana esteja pronta para recebê-la.
– Nós já cuidamos de tudo, filho – meu pai revelou e, outra vez, o clima estranho e desconfortável dominou o escritório. – A Cabana está pronta.
– Certo – olhei para Peter, que evitava me olhar diretamente. – Vai ficar tudo bem, Peter – ele concordou com um movimento impaciente. – Vou buscar Charlotte.
Saí do escritório meio atordoado com tudo o que tinha acabado de acontecer. Respirei fundo. Realmente Mary não estava nada bem e eu precisava me preparar para consolar Charlotte quando ela descobrisse a verdade. Seria triste e doloroso.
Mesmo assim eu iria até o fim. Mentiria uma vez mais com o único intuito de fazê-la feliz, enquanto ainda podia ser.
CHARLOTTE
Alex estava muito estranho. Ele parecia pensativo, ficava sério encarando o nada e sempre que me flagrava olhando-o, simplesmente sorria e fingia que faltava fazer mais alguma coisa na cabana.
Eu estava perdida entre sonhos e fantasias. Olhar aquela cabana outra vez fazia as lembranças dançarem na minha frente. Eu estava completamente envolvida na atmosfera daquelas imagens, no amor que sentia e no desejo que nos assolou naquela noite.
Oh, Deus! Alex tinha dito que me amava, tinha feito amor comigo e foi maravilhoso! Tentei me concentrar no que acontecia ao nosso redor, a casa toda preparada, como se estivesse nos aguardando, Alex conferindo a lareira e nem estava frio, o sofá... Ah, aquele sofá!
Céus, Charlotte! Pense em qualquer coisa que não seja ceder tão fácil ao homem que na noite anterior estava algemado na cama com duas mulheres.
Só que eu não conseguia mais pensar neste assunto. Para mim, em meu coração, tudo o que tive de argumento e justificativa foi o suficiente para enterrar de uma vez por todas a minha dor. Alex não estaria com as duas vacas se não fosse forçado a isso e, sinceramente, é preciso muita falta de amor próprio para algemar um homem na cama e forçá-lo a transar.
Senti até pena delas.
– No que está pensando? – meu noivo se aproximou cautelosamente, os olhos escrutinando meu rosto. Eu pude ver em suas feições que ele temia que Tiffany e Anita ainda fossem motivos para eu me afastar.
– Não vamos voltar hoje, não é? – seus olhos se abriram surpresos e sua mão vagou pelos cabelos lisos e negros como a noite.
– Não. Precisamos de um tempo só nosso, então pensei em...
– Está louco? Meu pai vai nos matar antes de estarmos oficialmente casados – afastei-me tentando encontrar algum indício de que ele brincava, Alex ficou sério e mordeu o lábio.
– Na verdade... Peter não achou a ideia ruim.
– O quê? – não acreditei no que ele me dizia.
– Eu disse, Charlotte. O segredo estava no casamento. Peter relaxou e se conformou.
– Espere um pouco... – fiquei confusa. – Você disse ao meu pai que passaríamos a noite aqui, juntos, sabendo que ele conseguiria supor o que faríamos, e mesmo assim ele aceitou?
– Vamos nos casar amanhã.
– E daí? Estamos falando de Peter Middleton e não de qualquer outro pai normal da face da Terra.
Não sei dizer o que mais me atormentava, se a possibilidade de termos uma noite só nossa sem a pressão do casamento, ou a facilidade de Alex em conduzir o meu pai.
– Ele caiu, bateu a cabeça... sei lá, qualquer coisa que justifique este fato? – Alex riu e me abraçou.
– Eu disse a Peter que tivemos problemas ontem, que você estava bem aborrecida comigo e que, por causa dos compromissos com o casamento, não tivemos a chance de conversar, então deixei ele imaginar que você poderia desistir e não comparecer amanhã. Talvez, quem sabe, até fugisse no meio da noite. Sugeri que passássemos algum tempo sozinhos, para que eu te convencesse a não desistir.
– E ele acreditou?
– Tratando-se de você, Charlotte, qualquer coisa é possível – vi a frustração em seus olhos e entendi que Alex acreditava mesmo naquela asneira toda.
– Eu não fugiria – garanti. Ele entortou a boca e fez uma careta. – Alex, eu não vou desistir do casamento.
– Assim eu espero – disse por fim, levantando a mão para acariciar o meu rosto.
– Mas você não está tão certo de que será assim – mais uma careta e ele se afastou, indo sentar no sofá.
– Porque você é muito imprevisível. E depois de ontem eu não sei mais o que esperar da vida. É melhor que passemos a noite juntos, para garantir que nenhuma merda aconteça.
Suspirei e caminhei em sua direção, parando diante dele. Alex levantou os olhos e me encarou, aguardando pelo que eu faria. Passei os dedos pelos seus cabelos, adorando a textura dos seus fios. Ele fechou os olhos, aproveitando o carinho. Sem que minha mão o abandonasse, ajoelhei, ficando entre as suas pernas, e, inclinando o corpo para frente, beijei-o.
Alex correspondeu no mesmo instante. Seus lábios quentes se movimentavam nos meus, num ritmo calmo, aproveitando cada sensação gostosa que surgia em nossos corpos à medida que o beijo se aprofundava. Suas mãos se apossaram de mim, puxando-me pelas costas, levando-me para mais perto, meus seios colados ao seu peitoral, separados pelas roupas, mas ansiosos pelo contato. A língua atrevida assumiu o controle e eu me vi rendida.
Como eu o queria!
Mãos quentes e possessivas me tomavam, apalpando meu corpo, acariciando as laterais das minhas pernas, dominando minha bunda e subindo pelas minhas costas para fazerem de mim o que bem quisessem. Gemi deliciada e levantei para sentar em seu colo.
Alex se encostou no sofá, recebendo-me em seu colo, ficando entre as minhas pernas. Apesar do jeans grosso, senti a sua ereção, um corpo desperto e pronto para mim. Afundei os dedos em seus cabelos e rebolei lentamente em seu sexo, deleitando-me com a fricção fabulosa.
– Não, amor! – sussurrou em meus lábios, mas me puxou para o lado deitando-se sobre mim.
Intensificamos o beijo. Abri minhas pernas recebendo-o no meio delas. Alex apertou minha cintura com força e se movimentou roçando seu sexo no meu. Passei minha língua em seus lábios, de maneira insinuante. Meu noivo, quase marido, esfregou-se em mim com mais intensidade, desviando os lábios dos meus para beijar meu pescoço.
– Linda, hoje não – e se afastou com um sorriso debochado.
– Não? – perguntei atordoada, sem entender o que ele queria dizer.
– Não. Vamos nos casar amanhã, quero manter a tradição.
– O quê? – quase gritei em resposta. Alex riu. – É brincadeira, não é?
– Não. Não é – levantou-se do sofá. – Tenho que alimentar a lareira ou vamos congelar.
– Está quente até demais aqui – sentei no sofá vendo Alex se movimentar sem esconder seu pau firme e duro, seguro pelo jeans.
– Mas vai esfriar e eu não quero que você fique doente no dia do nosso casamento. Comporte-se e tudo vai terminar bem – minha mente estava uma confusão só. Como assim ele não queria transar? E como assim manter a tradição? Que diabo de tradição ainda existia no século vinte e um?
– E aquele papo de não querer perder nem um segundo? De não deixar nada para depois, de viver o agora? Foi somente para me convencer a aceitar este casamento a jato?
– Vamos fazer assim. Você quer namorar, então vamos namorar pelo tempo que ainda tem como solteira. Amanhã estaremos casados e o sexo passará a ser uma obrigação do matrimônio. Podemos esperar – ele sorria como se estivesse aprontando alguma travessura.
– Obrigação? Que absurdo! – joguei o corpo no encosto do sofá, fazendo ruído. Todas as minhas células gritavam em protesto.
– Claro que sim. Você será “minha esposa” e por este pequeno fato, terá obrigações a cumprir, Sra. Frankli – passei a mão no rosto me negando a acreditar naquela conversa.
– Inacreditável!
– Vou alimentar a lareira – e disparou porta afora.
Fiquei paralisada no sofá, incapaz de reagir. Alex com certeza tentava me distrair para que eu não desistisse do casamento. Droga! Não seria tão fácil. Levantei decidida a ir a seu encontro quando ele voltou com toras nos braços.
– Pode parar com isso, professor Alex Frankli! – ele olhou em minha direção e sorriu. – Estou falando sério. Volte agora mesmo para aquele sofá e cumpra com sua obrigação de professor particular – ele deu uma risada alta e gostosa enquanto jogava a madeira no fogo.
Eu me sentia como aquelas toras, queimando e sendo consumida pelas chamas. Toda aquela história de morte, de desejos realizados e amores perdidos, de mulheres nuas algemando meu noivo a uma cama, de ele deixar claro que desejava o meu tipo físico e não o delas, tinha me deixado tensa. Precisava, ou melhor, necessitava de Alex para voltar a me sentir segura.
– Em menos de vinte e quatro horas, Charlotte – caminhou em minha direção tomando-me em seus braços. – Agora seja uma boa garota e curta um pouco do seu namorado, e à noite seremos marido e mulher.
– Ah, claro! Isso se eu não entrar em combustão até lá.
– Eu amo esta sua... disposição.
– Disposição? Sei! – cruzei os braços e saí batendo os pés até o sofá. – Se não vamos fazer nada, podemos voltar para casa – empinei o nariz e encarei meu namorado. Ele ainda sorria lindamente.
– Claro que vamos fazer alguma coisa – sentou do meu lado virando-se para mim. – Vamos conversar... – beijou o canto dos meus lábios. – Vamos namorar bastante... – roçou os lábios em meu pescoço puxando o ar com força. – E vamos dormir abraçados como um casal apaixonado – passou a ponta do nariz por minha clavícula. – Você está especialmente cheirosa hoje, Charlotte.
– Eu já te disse antes: isso se chama banho, professor Frankli.
Ele riu e eu não consegui ficar séria, apesar de continuar ansiosa, quente e nervosa. Não era justo não ter direito a uma despedida de solteira.
– Vai ficar resmungando a noite toda ou vamos desfrutar do nosso tempo? – Alex estava carinhoso, cheio de charme, tentando me enlouquecer de uma vez por todas.
– Antes tivéssemos a nossa despedida de solteiros, quer dizer... sem Tiffany, Anita e todas aquelas mulheres exibidas que só o seu irmão é capaz de conhecer – ele riu, mas ficou tenso com a minha menção à noite anterior. – Seria melhor do que ficarmos aqui brincando de casinha – um sorriso torto se projetou em seus lábios me fazendo perder o foco. Ah, como eu amava aquele sorriso!
– Eu não preciso de uma despedida de solteiro. Já tenho tudo o que quero. Estou ansioso para me tornar um homem casado e ter a mulher da minha vida como esposa. Não tenho motivos para me despedir com pesar da minha solteirice – passou os dedos em meus cabelos colocando uma mecha atrás da orelha.
– Eu gostaria de ter uma despedida de solteira – revelei e ri quando ele soltou o ar com força. – Qualquer coisa que conseguisse bater naquela sua festa horrorosa.
– Amor...
– Qualquer coisa que me desse o direito de pagar na mesma moeda.
– Charlotte...
– Ao menos de ter um chá-bar ou algo parecido.
– Cala a boca – puxou-me em sua direção.
Alex me beijou com ternura, depois o beijo evoluiu para o carinho entre dois adolescentes e, logo em seguida, éramos um casal fogoso e apaixonado. Não sei bem em que parte eu sentei em seu colo, nem quando suas mãos começaram a acariciar minhas costas por dentro da camisa, ou até mesmo quando foi que eu decidi que poderia desabotoar a calça dele, só sei que exatamente nesta hora ele acabou com o meu divertimento.
– Nada disso, mocinha. Seja uma menina comportada e aguarde até a hora do sim – afastou-me com as mãos, tentando me tirar do seu colo. Fui mais agressiva. Forcei o meu corpo contra o dele, roçando seu membro tentando atiçá-lo. – Charlotte! Não faça isso – sua voz era puro desejo.
– Alex, não faça isso! – repeti suas palavras como uma súplica.
– Não, amor! – segurou em meu punho com força para me deter exatamente quando eu alcançava seu sexo.
– Por favor! – gemi esfregando-me nele, implorando para que ele desistisse daquela loucura.
– Não!
– Que droga! – explodi. – Eu tenho que concordar com um casamento feito às pressas, para atender aos seus anseios – levantei-me de seu colo sem lhe dar a chance de me impedir. – Nem bem comecei uma vida sexual de solteira e já tenho que me acostumar com a de casada e, para piorar, você ainda quer que eu espere até depois do casamento... E as minhas necessidades?
– Deixe de ser criança, Charlotte. É apenas uma noite. Se você esperar, nós teremos uma noite de núpcias inesquecível.
– Eu posso desistir, Alex. Posso me negar a aparecer naquele altar amanhã.
Encaramo-nos mantendo o clima tenso que se instalou. Merda! Eu só queria um pouco de sexo com o homem que eu amava. Se eu tinha concordado com tudo o que ele sonhava, então por que ele não podia fazer o mesmo comigo? Principalmente depois de ter me feito sofrer tanto, de me deixar insegura e tão necessitada dos seus carinhos, da confirmação do seu amor.
– É o que você quer?
Alex me olhava com temor. Pensei em Lana e toda a sua empolgação. No vestido que ela tinha conseguido, no bolo de casamento, em minha mãe plena como se não houvesse mais problemas no mundo, no sorriso bobo do meu namorado quando eu disse sim, na possibilidade de uma vida a dois repleta de realizações... Em Alex... apenas em Alex. Claro que eu não desistiria.
– Não. Mas não pense que vou ficar me agarrando com você a noite toda deixando meu corpo queimar sem fazer nada para aplacar o fogo – o alívio expresso em seus olhos era quase palpável.
– Ah, não? – sorriu daquela forma que tirava o meu juízo.
– Não! – cruzei os braços e o encarei como uma criança. O sorriso de Alex ficou ainda maior.
– E o que pretende fazer? – arqueou uma sobrancelha. Arqueei a minha também como resposta. – Nada disso, Charlotte Middleton. Você não vai furar o meu cerco. Nenhum alívio sexual até eu ouvir o sim.
– Sim – disse um pouco mais alto. Alex riu. – Então é isso? Você está me comprando com sexo, ou a falta dele, para que eu não desista? Tudo isso apenas para que eu não fuja antes de chegar ao altar? – pela forma como ele me olhou, eu tive a confirmação de seu plano absurdo. – Prometo que caso. Juro! Assino os documentos antes...
– Nem pensar. Só voltarei a tocar em você quando for minha esposa. É pegar ou largar.
– Merda!
Diante de tal situação, minha única opção era dormir. Saí batendo os pés em direção ao quarto.
Se ele queria assim, tudo bem. Mas eu também tinha um plano. Estava começando a esfriar realmente, sobretudo no quarto, mais distante da lareira. Apesar do frio, tirei toda a roupa e deitei de bruços sem me cobrir. Alex demorou a aparecer, mas eu senti no mesmo instante que surgiu. Seu suspiro foi audível e o meu sorriso imenso.
– Charlotte? Vai fazer frio. Seria melhor você vestir alguma coisa.
– Vou sabotar a sua lua de mel – não me dei ao trabalho de abrir os olhos para responder à sua passividade. Alex riu baixinho.
– Duvido muito.
– Eu não. Pode esperar. Você só vai conseguir transar comigo depois de um mês – apesar de meus olhos fechados, eu senti que ele hesitava.
– Não. Não vai conseguir me convencer, Charlotte. Desista!
– Tudo bem. É o senhor quem sabe, professor Frankli – virei sensualmente fornecendo ao meu futuro marido uma visão mais ampla da minha bunda. – Boa noite!
Ele não se deitou imediatamente, depois de algum tempo senti a cama afundando, o lençol em minha pele e seu corpo colado ao meu. Alex correu os dedos em minhas costas, causando um calafrio em minha espinha. Toda a minha pele arrepiou.
– Durma bem, meu amor.
Abri os olhos e encontrei os dele. Havia muito amor naquele olhar. Tão grande, tão puro e verdadeiro que me senti em paz. Naquele momento, mais uma vez, tive certeza de que havia feito a escolha certa. Casar-me com Alex seria a minha felicidade, o meu caminho. Aconcheguei-me a ele, e, embora ainda sentisse o calor do desejo, adormeci ouvindo as batidas do seu coração.
CAPÍTULO 34
“Porque todos os amantes se comportam como eu: Inconstantes e volúveis em todos os sentimentos. Menos na imagem fixa de criatura que amam.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
O barulhinho dos pássaros me despertou. Por alguns segundos fiquei meio perdida sem saber ao certo onde estava, o que estava acontecendo ou até mesmo quem eu era. Então reconheci o braço forte de Alex segurando-me pela cintura, colando meu corpo ao seu. A temperatura estava meio fria e ele superquente. Excitado.
Hum!
Rocei minha bunda em sua ereção. Era a fórmula certa para persuadir meu professor a desistir daquela ideia estúpida de não transar antes do casamento. Onde já se viu uma coisa destas? Que absurdo! Falta de consideração.
Ele reagiu instantaneamente. Empurrei minha bunda contra ele, que se esfregou em mim, sonolento, ainda acordando, sem se dar conta de que aos poucos cedia ao meu desejo.
Sua mão grande e quente acariciou meus quadris, prendendo-me enquanto desfrutava de mim. Fiquei mais do que excitada. Alex gemeu manhosamente e alcançou meu pescoço com os lábios. O friozinho da manhã nos forçando a ficar ainda mais colados e o calor da nossa excitação nos impelindo a ir mais longe.
– Bom dia, futura esposa! – sussurrou com a voz rouca, típica de quem acaba de acordar e certa para quem está explodindo de tesão.
– Hum! – ronronei deixando que ele desfrutasse mais um pouco do meu corpo nu.
– Preparada para o sim?
– Sim! – ele riu e mordeu meu pescoço com a pressão certa para me fazer umedecer completamente. – Alex? – gemi.
– Hum! – sua língua percorreu minha orelha onde seu hálito quente fez minha pele arrepiar.
– Podemos pular para a lua de mel? – pedi rebolando minha bunda em sua ereção já totalmente acentuada. Ele riu e se afastou.
– Nem pensar, Charlotte Middleton! – mordeu minha orelha e levantou-se da cama. – Vamos logo, Lana vai me matar se não te levar para o seu dia da noiva.
– O quê?
Ah, não! Eu já havia concordado com aquela maluquice toda, mas deixar Lana passar o dia tagarelando em meu ouvido, pintando-me, melecando-me e me massageando... Nunca!
– Vou ficar aqui. Mande alguém me buscar na hora do sim. Ou melhor, ligue para mim quando chegar a hora, eu digo ao padre que aceito, e tudo estará resolvido.
– Não me obrigue a tirá-la da cama, Charlotte. Seja uma boa menina que eu prometo recompensá-la depois.
– Quero antes. Muito antes. Você é muito mau. Nem acredito que vou casar com um homem tão malvado – ele riu inclinando-se sobre mim. Claro que meu corpo inteiro reagiu. – Estou com saudades – eu disse manhosamente. Alex me deu um beijo leve nos lábios.
– Muita? – desceu o nariz até a minha clavícula.
– Muita mesmo! – gemi dengosa.
Alex passou o braço por baixo de mim e, sem que eu esperasse, puxou-me com força, levantando-me presa a seu corpo. Gritei, rindo da situação e entrelacei minhas pernas nele. Então meu futuro marido acariciou minhas costas, alcançando minha bunda no mesmo instante em que me beijava intensamente.
– Hummmm! – gemi em seus lábios. – Faça amor comigo, Alex! – supliquei.
Ele caminhou em direção ao banheiro, sem interromper as carícias. Sorri vitoriosa, meus lábios ainda nos dele. Alex, sem me deixar perceber o que fazia, abriu o chuveiro nos enfiando debaixo dele. Gritei ao sentir a água gelada.
– O que você está fazendo? – ele gargalhava enquanto me segurava embaixo da água sem se importar em molhar suas roupas.
– Nada como um banho gelado para acalmar os ânimos, amor.
Bati em seu peito e o empurrei o máximo que pude. Ele continuava rindo, mantendo-me firme junto dele embaixo do chuveiro. Gritei o máximo que pude, tentando machucar meu noivo, então sua boca alcançou a minha e seu beijo foi forte e intenso. Apesar da raiva, foi impossível ficar indiferente a esse conjunto tão perfeito: Alex, lábios, língua e mãos. Tudo ao mesmo tempo e em todos os lugares. Arfei.
– Calma, menina fogosa. Agora falta pouco – roçou seus dentes em meu pescoço. A água estava muito fria e logo comecei a tremer.
– Eu odeio você! – esbravejei já completamente rendida. Ele riu.
– Mas vai casar comigo mesmo assim. Venha, não quero que fique doente logo na nossa lua de mel – desligou o chuveiro e me colocou no chão enquanto procurava pela toalha.
– Tomara que eu morra antes, aí você vai passar o resto da vida se lamentando por não ter me comido.
– Que termos horríveis, Srta. Middleton!
– Vá a merda! – Ele riu, passando a toalha sobre meus ombros e me abraçando com força.
– Quando chegarmos em casa, vou lavar sua boca com água sanitária – puxou meu cabelo inclinando minha cabeça em sua direção e beijou meus lábios.
– Você será meu marido, não meu pai. Nunca se esqueça disso! – arqueei uma sobrancelha.
– Não vou esquecer. Ser seu marido já está de muito bom tamanho – abriu um sorriso enorme. Ah, como eu gostava de ver Alex feliz daquele jeito, mesmo depois de um banho gelado.
ALEX
Quando chegamos à casa, Lana nos esperava do lado de fora, tínhamos ignorado suas trocentas ligações, já que ela ficaria com Charlotte até a hora do casamento, então aproveitei ao máximo o tempo que ainda me restava com a minha noiva. Só de pensar que no final daquele dia estaríamos casados, meu coração acelerava.
Tudo bem que não era mais nenhum garotinho, mas, para mim, casamento sempre foi um passo muito importante e casar com a mulher que eu amava, mesmo que sob pressão, era tudo o que eu poderia desejar. Depois daquela tarde não haveria mais Peter, editora nem faculdade que me impedissem de tocar minha linda esposa.
– Este sorriso está espetacular. Merece uma foto – brincou quando estávamos estacionando o carro. Imediatamente, ouvi o barulhinho do celular indicando que uma foto havia sido tirada.
– Para com isso! – fiquei sem graça instantaneamente.
Charlotte nunca havia me fotografado antes. Para dizer a verdade, eu também nunca havia feito isso com ela. Precisava mudar algumas coisas em minha vida. Nunca fotografava as mulheres com quem eu saía, nem permitia que me fotografassem. Uma parte por causa da minha vida profissional. Não queria ser o editor que estava sempre acompanhado de mulheres diferentes, a outra pelo fato de não querer vínculos com ninguém e uma foto no celular significava muita coisa e só piorava quando ia parar nas redes sociais. Porém com Charlotte me fotografando, senti-me especialmente satisfeito. Era um vínculo, uma ligação.
– Você é lindo, professor! Deveria ser sempre fotografado.
– Ok! – saquei o meu celular e posicionei para tirar uma foto dela. – Sorria, futura esposa! – Charlotte fez careta, ficando zarolha e esticando a boca. Ri alto. Meu humor estava excelente. – Sério, amor! Uma lembrança que ficará guardada eternamente – ela sorriu daquela sua maneira única. Meio sem jeito, corando um pouco e com os olhos baixos. Aproveitei o momento. Ficou perfeita!
– Agora nós dois – jogou-se para cima de mim levantando o aparelho. Juntamos os rostos e ela clicou. – Agora com um beijo – disse carinhosamente. Sorri e a puxei para mim, posicionando o meu celular para foto.
– Agora separados – Lana abriu a porta com cara de poucos amigos. – Chega de brincadeiras, estamos atrasadas.
– Atrasadas? O casamento será no final do dia – Charlotte, meio tensa, repreendeu a Lana.
– Pois é e já estamos atrasadas – minha irmã puxou minha noiva pelo braço sem lhe dar chance de escapar. – Sabia que temos hora com uma maquiadora e um cabeleireiro? E ainda vamos cuidar de uma série de coisas antes de eles poderem colocar as mãos em você.
– Vejo você depois? – ela me olhou com olhinhos de súplica. Quase a arranquei dos braços da minha irmã, infelizmente sabia que era melhor não comprar aquela briga.
– Acho que sim. No fim do dia. No altar. Isso se você não desistir – brinquei, mas ela fez uma careta deixando-me inseguro. – Vejo você depois? – Devolvi a pergunta.
– Vou ver o que posso fazer – e Lana levou Charlotte.
Respirei fundo tentando me convencer de que não deveria me preocupar. Charlotte estaria lá e diria sim. E se ela desistisse? Droga! Seria melhor tê-la devolvido só depois do meio dia. Estava muito cedo ainda, haveria tempo de sobra para ela pensar. Mas que merda, Alex! Pare de ser infantil, inseguro e babaca. Ela vai estar. Não é nem louca de desistir. Se bem que Charlotte é louca para qualquer tipo de situação.
– Pelo visto deu tudo certo – Peter se materializou ao meu lado fazendo-me estremecer de susto. – Algum problema? – Olhei para meu futuro sogro em dúvida se ele seria a melhor pessoa para desabafar.
– Como está Mary? Conseguiu convencê-la?
– Sim e ela está ótima hoje. O casamento da filha tem sido o seu melhor remédio – havia uma tristeza em seu olhar que me comovia. – Você é que está muito tenso, Alex.
– Não é o que se espera de alguém que vai casar em algumas horas?
– Eu me senti assim também... no dia do meu casamento. Mary era tão imprevisível! – seus olhos se perderam na casa e em sua movimentação. – Mas ela estava lá, linda e sorridente, como se aquele fosse o dia mais feliz da sua vida.
– E não foi? – começava a me sentir melhor, mesmo sabendo do sofrimento que Peter tentava esconder.
– Graças a Deus, não – riu sozinho. – O casamento deve ser construído um passo a cada dia. Não é fácil, também não é tão complicado. Houve vários “o dia mais feliz da sua vida”. Eu fiz questão de proporcionar isso a ela. Mary é a mulher que eu amo, sempre amei e sempre vou amar, não teria como ser diferente.
– Eu vou fazer Charlotte feliz – foi fácil fazer aquela promessa. Peter, mesmo sofrendo tanto, conseguia me mostrar que era possível e que no final tudo valeria a pena.
– Não tenho dúvidas disso, rapaz. Charlotte já te dominou, basta olhar para vocês para saber. E ela te ama, então... – deu de ombros. – Vamos. Temos muitas coisas para fazer ainda.
– É? E o que seria? – Lana com certeza havia contratado todos os tipos de profissionais para cuidar de tudo. Então o que poderia estar reservado para mim?
– Sua despedida de solteiro – riu batendo em meu ombro.
CHARLOTTE
– Odeio máscara de proteína, vitamina, qualquer coisa terminada com “ina” – fiz uma careta enquanto Lana mexia na pasta que insistia em colocar no meu rosto.
– Deixe de besteira. Não pode estar com a pele ressecada em sua lua de mel. Já imaginou o que Alex vai pensar? Você tem que chegar arrasando e fazer com que ele se lembre desta noite como a melhor da sua vida – dei risada.
– Não consigo ficar calada, nem sem olhar para as pessoas ou me mexer. Essa gosma é muito nojenta, vou acabar vomitando.
– Meu Deus! Que noiva mais mala! – Miranda entrou no quarto da minha cunhada já demonstrando o quanto estava contrariada. Eu só não sabia o motivo daquela cara fechada.
– E que madrinha mais ranzinza – rebati. Miranda sorriu sentando do meu lado.
– Já fez a depilação?
– O quê? Não. Nada disso. Esse troço dói pra diabos! Deus me livre! – Lana me olhou como se quisesse dizer “fica calada que eu vou fazer e pronto”. Meu coração disparou.
– Vai querer abrir as pernas cheia de pelos?
– Que coisa horrível para se dizer no dia do meu casamento – reclamei cruzando os braços.
– Calada, Charlotte, vou aplicar a máscara – não aguardou pela minha permissão e já foi passando aquele troço nojento e melequento em meu rosto. – Quietinha, ou ficará cheia de rugas.
Pela risada de Miranda eu entendi que era só para me amedrontar, preferi não arriscar.
– Eles já foram? – ouvi Lana perguntando a Miranda.
– Já! – pelo tom da minha amiga, o que quer que estivesse acontecendo não a agradava.
– Conseguiu alguma pista? – pista? Do que elas estavam falando?
– Nada. Ninguém quis dizer nada.
– Isso não vai prestar.
– É. Mas eu já avisei que se desconfiar de algo... Qualquer coisa, um fio de cabelo, uma marca de batom, um perfume vagabundo e acabo com ele... quer dizer... nós mulheres não vamos aceitar isso – Lana riu.
– E você quer esconder de quem que você e o Paty estavam na garagem no maior amasso.
– O quê? – falei imediatamente.
– Calada, Charlotte! – Lana esbravejou.
– Eu não estava agarrada com ele. O seu irmão que estava tentando me agarrar.
– Não sei qual foi o problema entre vocês dois, mas seja qual for é melhor definirem logo essa situação, ou Peter vai começar a se intrometer.
– Patrício não me merece e ponto final – Lana riu. – Depois de tudo o que aconteceu na casa do Alex, ele ainda acredita que pode me convencer do contrário.
– Ele é um idiota – falei sem conseguir me controlar.
– E eu vou colar a sua boca com fita crepe – Lana me deu um tapa de leve no braço. – João não é nem louco de aparecer com alguma novidade – ameaçou.
– Do que vocês estão falando? – não aguentei a curiosidade, abri os olhos e estraguei a máscara.
– Charlotte! Pelo amor de Deus! Será que não posso confiar em você? Fique calada! – Lana colocou mais uma camada daquela porcaria com cheiro de folhas molhadas na minha cara. – Agora fique bem quietinha.
– Eu não estou gostando nada disso – Miranda continuou, deixando-me intrigada. O que Patrício e João haviam aprontado para deixá-las tão aborrecidas? Além dos problemas óbvios.
– Eu também não, mas Peter vai junto, o que me deixa mais tranquila.
– Meu pai? – não resisti.
– Não é possível! – Lana esbravejou. Rapidamente voltei a deitar a cabeça no encosto da cadeira e petrifiquei o tosto. Confesso que minha vontade era de rir muito.
– Como estamos indo? – ouvi minha mãe em algum lugar atrás de mim. Não me atrevi a virar nem a falar nada. – Uau! O que é isso? – ela estava mais próxima agora.
– É para deixar a pele da nossa noivinha perfeita. Quer um pouco? – Lana voltou ao seu estado de empolgação.
– Não. Tenho que ajudar Dana com as flores – senti sua mão macia na minha. – Tudo bem com você? – balancei a cabeça indicando que sim e minha mãe riu. – Já vi que está seguindo as ordens da Lana. Muito bem. Quero você divina naquele altar.
– Pode deixar – respondi de maneira involuntária e me arrependi logo em seguida.
– CHARLOTTE MIDDLETON!
ALEX
– Era para ser divertido, parece que o noivo não está achando muita graça – encolhi-me em meu casaco enquanto João reclamava.
– Despedida de solteiro com meu pai e meu sogro. Era tudo o de que eu precisava – resmunguei lavando as mãos.
Estávamos no banheiro do bar mais badalado da região, exceto àquela hora da manhã. Era só o que me faltava. Uma despedida de solteiro em um bar vazio, acompanhado do meu pai e do meu futuro sogro. O que João tinha na cabeça?
– Lana nos colocou para fora de casa. A esta hora da manhã não há muito o que fazer por aqui. É a nossa primeira parada, mais tarde vamos caçar. E eu precisava me redimir de alguma forma, com você e com ela, então... – deu de ombros.
Revirei os olhos. Eu preferia estar na casa, vigiando Charlotte de perto para impedi-la de fugir. Era melhor não me torturar mais com aqueles pensamentos.
– Anime-se! Hoje à noite você vai poder comer sua esposa sem nenhum mala para atrapalhar ou interromper – riu sozinho.
– Dá para falar com mais respeito da minha vida sexual?
– Daria, se eu não soubesse que a sua futura esposa é tão ninfomaníaca ou pior do que a minha – foi a minha vez de rir.
– Charlotte me assusta.
– Sei bem o que é isso – nós nos olhamos pelo espelho. Pela primeira vez na vida me solidarizei com meu cunhado e amigo.
– Não é ruim, é só... assustador – ele sorriu amplamente.
– Claro que não é ruim. É sexo, e com a mulher que você ama.
– É amor, João!
– Sim, sim. É amor, que é diretamente ligado ao sexo – balancei a cabeça sem acreditar naquela comparação.
– O que tem de errado com essas mulheres? Eu sempre li que com o tempo elas perdem o interesse, ou que nem sempre estão com vontade, que os hormônios não ajudam muito... Charlotte está sempre tão disposta. Não que eu esteja reclamando, mas... Ontem ela ficou louca porque eu disse que iríamos esperar até o casamento. Era só uma maneira de tornar tudo mais interessante. Ela se revoltou e exigiu que transássemos. Foi divertido vê-la tão irritada, só que ao mesmo tempo fiquei imaginando que se alguma coisa acontecesse de que forma ela reagiria.
– Alguma coisa? Como assim?
– Sei lá. Um dia que eu estiver muito cansado, ou que... não sei... Essas coisas acontecem... – João gargalhou.
– Você está com medo de broxar? – falou mais alto fazendo com que me arrependesse de ter começado aquela conversa.
– Não! Mas pode acontecer, não é?
– Claro que pode! Principalmente para um homem como você, já com a idade avançada, cansado e sem gás – ele ria sem parar.
– Vá se foder, João!
– Sério! Você está casando com uma menina cheia de energia e que, como num passe de mágica, por sugestão sua, descobriu que adora uma boa trepada. É, amigo, acho que você está em maus lençóis.
Será que eu estava mesmo?
CHARLOTTE
– Pelo amor de Deus, Lana, não puxe – meu grito agudo preencheu o quarto.
Ela tinha me ameaçado de todas as formas até que eu cedesse à depilação. De verdade, aquilo não foi criado por Deus. Primeiro ela colocava a cera quente, quente mesmo, aquela história de que era só um leve ardor era pura mentira. A porcaria queimava. Minha pele muito branca começou a ficar rosa, com certeza nunca mais eu teria sensibilidade naquela região.
Lógico que eu já fazia depilação, mas nas pernas e nas axilas, o que era até suportável. Ou quase. Ok! Doía muito também, mas nada se comparava àquela cera quente como o inferno na minha... bom, lá no lugar mais importante para a lua de mel.
– Estou acabada – choraminguei. – Não vou aguentar a minha própria lua de mel. Você acabou comigo, Lana. Nada que Alex fizer vai conseguir amenizar a ardência. Sem contar que nunca vou ter coragem de deixá-lo ver tudo tão... sem nada, e vermelho desse jeito – Miranda riu e Lana me encarou com certa piedade.
– É, Charlotte, pelo visto alguém deveria ter se encarregado da sua educação sexual – Miranda explodiu em risos e eu fiquei mais vermelha do que minha... Bom, do que aquele pequeno espaço superimportante do meu corpo.
– Alguém deveria me proteger de você, sua bruxa malvada!
– Larga de ser boba e vira logo essa bunda. Estamos perdendo tempo.
– O quê? Para que você quer que eu te mostre a minha bunda. Ela não tem pelos – Miranda não parava de rir.
– Claro, claro! Na bunda não, mas num lugarzinho bem no meio dela, com certeza tem – fez cara de poucos amigos. Eu já temia as loucuras de Lana e ali, naquele momento, eu demonstrei o quanto. – Anda logo com isso, Charlotte. A cera vai esfriar e aí você vai ver o que é dor.
Muito lentamente virei de costas, completamente apavorada. Não acreditava que estava fazendo aquilo, não naquele lugar. E para que inferno precisaria depilar o... o ponto proibido.
– Amiga, quando você ficar de quatro e Alex tiver a visão desta bunda lisinha, pode acreditar, vai ficar superagradecido – Miranda passou as mãos em minhas costas me confortando.
No meio daquela loucura toda, enquanto Lana me tocava daquela maneira tão embaraçosa e absurda, vasculhando o melhor ângulo para colocar a massa criada no inferno em meu... meu lugar que até pouco tempo era intocável e intocado, permiti-me imaginar o que seria eu, de quatro, com Alex. Puta merda! Imaginei a cara dele ao ver minha bunda empinada. Oh, droga! Imaginei ele me segurando pelos cabelos e arremetendo em mim sem piedade e...
– PUTA QUE PARIU! – Fui incapaz de me controlar. Aquela maldita meleca quente queimou minha pele para logo em seguida Lana puxá-la sem dó nem piedade. – NÃO TOQUE MAIS EM MIM! – Virei rapidamente impedindo que ela continuasse.
– Só falta mais um pedacinho, Charlotte – ela me encarava incrédula enquanto Miranda ria como se estivesse em um circo.
E realmente estava.
ALEX
– Já estamos andando há quase duas horas e nenhum animal apareceu. Nem mesmo um rato. Quem inventou esta maldita caçada? – Patrício reclamava a cada cinco minutos.
Meu pai, Johnny e Peter estavam concentrados. Eles adoravam caçar! João trocava mensagens pelo celular, Patrício não via graça em nada que o podia oferecer e eu estava com a cabeça em Charlotte.
Talvez tenha exagerado ao me negar a transar. Minha noiva só queria uma noite de amor, um pouco de prazer e carinho, mas eu fiquei firme e não concordei. Fui um idiota. Como a desejei a noite toda. Aquele corpo pequeno, quente, macio... Droga! Eu devia ter cedido. Minha cabeça fervilhava com imagens terríveis. Ela fugindo, recusando-se a casar, atacando-me após o casamento e, no fim, eu não conseguindo uma ereção por causa da ansiedade, ou estragando tudo com um orgasmo prematuro. Merda!
– Pare de pensar nisso. Eu estava só brincando – João parou do meu lado, murmurando para não chamar a atenção dos outros.
– Não estou pensando em nada – estava decidido a não conversar mais com meu amigo sobre aquele assunto.
– Claro que está! Fique frio cara. Você vai conseguir.
– Quer calar a merda da sua boca? – meu pai e Peter pigarrearam. Uma indicação clara de que deveríamos manter silêncio. Não sei qual de nós, já que Patrício se mexia o tempo todo e reclamava sem parar.
– Só estou tentando ajudar – ele sussurrou. – Já aconteceu antes?
– João, me deixe em paz! – Peter olhou para trás carrancudo. Suspirei e levantei, afastando-me do grupo. Meu cunhado não se deu por vencido e me seguiu. Seria o dia mais torturante da minha vida.
– Alex, pode se abrir comigo. Isso pode acontecer com qualquer um. É normal.
– Comigo nunca aconteceu – ele riu.
– Pelo amor de Deus, vamos arrumar alguma coisa mais legal para fazer – Patrício se juntou a nós sem perceber o quanto eu estava de saco cheio. – Vamos contratar umas dançarinas, dar umas roçadas em algumas garotas. Isso sim é uma despedida de solteiro, merda!
– Como se não bastasse a merda da outra noite – resmunguei.
– E Miranda te mata. Aliás, você estava tentando agarrá-la na garagem hoje cedo? – João falou voltando a sua atenção para Patrício.
– Eu não! – ele me olhou de soslaio. João riu e então Paty deu as costas, fingindo desinteresse. – Miranda está roubando o meu juízo.
– Porque você é um idiota – rebati despejando minha frustração no meu irmão.
– Porque não vou cair nessa armadinha de casamento, Mané! Este é o plano perfeito para você, nunca para mim.
– E quem disse que ela quer se casar com você? – vi o olhar do meu irmão mudar.
– Por que não? O que Charlotte te disse?
– Nada – respondi sarcasticamente, e cruzei os braços para encará-lo. Patrício ficou me encarando até que desistiu.
– O que vocês estavam cochichando aqui?
– Nada que seja da sua conta – fui rude e João riu, voltando sua atenção para mim.
– Pode assumir, Alex, ninguém aqui vai crucificar você por isso – revirei os olhos.
– Do que vocês estão falando? – Patrício se interessou pela conversa.
– De nada! João está maluco.
– Ah, qual é, Alex! Confesse cara. Você está entre amigos.
– Qual é o assunto? – Patrício insistiu.
– Nunca aconteceu. Eu já disse. Que porra!
– Alex está com medo de broxar – João largou a bomba.
– Eu não... – não deu tempo de desfazer a situação.
– Sério? – – Patrício riu alto chamando a atenção de todos. Que droga! Minha vida se tornaria um inferno.
– Não! João está inventando e, se insistir em continuar, vai acabar perdendo todo os dentes – ameacei.
– Vem tentar – ele riu colocando-se em posição de luta. Minha paciência estava no limite. Sem pensar, peguei um punhado de terra molhada e atirei em meu amigo que me encarou assustado.
Patrício gritou, provocando João e rindo da minha reação. Pelo canto do olho pude ver meu pai, Johnny e Peter levantarem assustados vindo em nossa direção. João ainda me encarava aturdido, sem acreditar. Ele se abaixou. Pensei que avançaria em mim, então pegou mais terra e arremessou em minha direção e, em seguida, arremessou outra quantidade contra Patrício.
A terra atingiu meu pescoço. Ardeu um pouco pela força do arremesso, nada que pudesse me machucar. Patrício riu, abaixou e pegou terra com as duas mãos fazendo cara de malvado. Imediatamente começamos a correr.
Passamos por meu pai e Peter. Ainda consegui ouvir Johnny protestar pelo tanto de terra que tinha recebido no peito. Ele não perdeu muito tempo reclamando. Simplesmente pegou um tanto de terra e correu atrás de nós, entrando na guerra.
Ao final, estávamos completamente sujos, com exceção de meu pai e Peter, que permaneciam intocados e limpos, sem contar que nos olhavam espantados pela brincadeira infantil, apesar de incrivelmente engraçada.
CHARLOTTE
– Aí você pega o gelo, coloca na boca, espera um pouco para que ele deixe seus lábios e as paredes frias e depois...
– Posso entrar? – minha mãe interrompeu a conversa justamente na hora em que Lana revelaria o ponto crucial da brincadeira. Nem preciso dizer que fiquei incrivelmente vermelha.
Conversar sobre sexo com minhas amigas era um tanto quanto fácil, na presença da minha mãe era uma missão impossível. Ela entrou e sentou ao meu lado na cama. Eu estava deitada, de bruços, claro! Meu... minha região incrivelmente delicada não me permitia sentar ainda. Muito menos colocar uma calcinha. Graças a Deus Lana tinha um roupão prontinho para mim.
– Seu pai ainda não chegou. Dana quer estar à frente de tudo e eu estou muito cansada, então, vim te dar um beijinho e avisar que vou me deitar um pouco.
– Faça isso, Mary. Descanse e mantenha sua pele linda desse jeito – Lana não parava um só segundo. – Depois que o cabeleireiro arrumar os cabelos da Charlotte, vai ser a sua vez, depois Miranda. Eu e minha mãe vamos antes da noiva, que é para garantir que alguém da família esteja no salão quando os convidados chegarem. Está lembrada do penteado que sugeri, não é?
Minha mãe olhou para Lana com olhos arregalados e concordou. É. Eu bem sabia o que era contrariar aquela coisinha minúscula. Coitada da minha mãe. Será que ela também teve que depilar o... deixa pra lá. Melhor nem saber.
– Espera – segurei minha mãe pelo braço assim que ela ameaçou levantar. – Onde está o papai?
– Ora, Charlotte! Na despedida de solteiro do Alex – respondeu com naturalidade. Meu coração quase parou.
ALEX
Não dava para voltar para casa daquele jeito. Estávamos imundos! Decidimos que um banho de rio ajudaria. Pelo menos Lana não ficaria louca com nossas pegadas pela casa. Assim que chegamos, Patrício, que nunca tinha vergonha de nada, entrou no rio e começou a tirar suas roupas.
– Tem que tirar toda a terra e depois colocar para secar. Podemos pendurar em alguma árvore e enquanto seca aproveitamos a água.
– Eu estou com fome – João reclamou, mas não deixou de entrar no rio atrás do meu irmão.
– Bom... já que não pode lutar contra, junte-se a eles – Peter, que não estava sujo, tirou a roupa e entrou de cueca.
Pouco tempo depois estávamos todos lá, dentro do rio, apenas de cueca, observando nossas roupas penduradas nas árvores e jogando conversa fora.
– Nem consigo acreditar que estou dentro de um rio, com cinco homens de cueca, na despedida de solteiro do meu irmão – Patrício provocava e eu rezava para que ele não falasse nenhuma besteira na frente de Peter.
– Essa é a despedida de solteiro mais ridícula que tenho notícia – comentou Johnny. – Não tem nem umas garotas gostosas para animar.
– E você acha mesmo que, se estivéssemos com algumas garotas, nossas mulheres permitiriam que voltássemos para casa?
Peter me pegou de surpresa. Eu esperava que ele esbravejasse ou dissesse que jamais permitiria porque eu era noivo da filha dele, mas não. Ele apenas comentou que tinha medo da reação das nossas mulheres.
– É por isso que não vou casar. E, se Alex estivesse em seu perfeito juízo, fugiria agora mesmo – Johnny brincou e Peter jogou um punhado de água em seu afilhado.
– Vou contar a Charlotte sobre sua sugestão – brincou. Nunca tinha visto Peter tão à vontade. Ele estava completamente relaxado e se divertindo. – E Alex acaba de ganhar na loteria. Minha filha é um tesouro.
– Concordo com você, Peter. Nada me faria desistir. Charlotte é tudo o que eu procurava.
– Ah, claro! Uma garota insistente, que não aceita um não como resposta, capaz de obrigar todo mundo a fazer as suas vontades e que consegue destruir os planos de qualquer pessoa. Com certeza foi a sua melhor pedida – Johnny revirou os olhos e recebeu de mim uma grande quantidade de água.
– É exatamente por isso que amo tanto a Charlotte. Ela nunca me deixou dizer não – todos riram e foi neste momento que ouvimos o barulho de pneus se aproximando. Ficamos em estado de alerta imediatamente.
Um jipe amarelo surgiu e, por mais incrível que pareça, havia cinco garotas nele. Peter olhou para meu pai, que olhou para Patrício, que levantou as mãos e olhou para João que sorriu e olhou sugestivamente para Johnny que sorria largamente olhando para mim.
Puta que pariu!
CAPÍTULO 35
“Em um minuto há muitos dias.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
– Charlotte, pare com isso! Charlotte? – Lana gritava do lado de fora.
Após saber que Alex, o filho de uma... não, Dana não merecia ser chamada assim só porque Alex resolveu ser um... escroto! Isso. Era o que ele era. Um escroto, sacana, miserável que se recusou a transar comigo, mas não tinha sequer questionado uma despedida de solteiro. Outra! Outra despedida de solteiro.
Depois daquela noite, eu não sobreviveria a mais esta.
– Charlotte, é sério! Você precisa fazer a maquiagem e colocar seu vestido.
– Não vou mais casar. Não insista, Lana! – enxuguei as lágrimas que insistiam em cair. Por que Alex era tão babaca?
– Pelo amor de Deus, Charlotte! Não invente uma merda dessas agora.
– Não caso! – gritei me encolhendo ainda mais no piso do banheiro do quarto de Lana.
Assim que minha mãe saiu do quarto, corri e me tranquei no banheiro, sem dar a Miranda e Lana a chance de me impedir. Não casaria. Não olharia mais na cara de Alex. Nunca mais.
– Charlotte, abra já esta porta! – Lana continuava nervosa do lado de fora. Nada nem ninguém me faria abrir aquela porta, a não ser que fosse para fugir.
– Vão embora! Deixem-me em paz! – puxei o roupão que cobria o meu corpo, sentia um frio incompreensível.
– Charlotte, por favor! – Miranda entrou na conversa, mais calma do que o normal. – Deixe ao menos eu entrar para conversar com você. Estou preocupada.
– Como você pôde concordar? Como pode deixar Patrício fazer parte desse... desse plano obsceno – ouvi o risinho da minha amiga do outro lado da porta e não fiquei nada satisfeita.
– Eu não tenho como controlar o irmão do seu noivo. Acredite, estou tão puta da vida quanto você.
– E eu também! – Lana gritou corroborando.
– Depois do que João fez... depois do que Patrício foi capaz de fazer... depois de eu flagrá-lo na cama com aquelas duas... Não acredito que Alex fez isso comigo. Não acredito que fui tola o suficiente para aceitar os seus argumentos – solucei sentindo-me uma imbecil.
– Deus, Lottie! – Miranda falou sentida. – Você sabe que eu acho o Alex um babaca, mas você não pode mais usar aquela noite como justificativa. Foi uma armação e você sabe disso.
– Mesmo assim. Ele sabia como eu estava me sentindo. Sabia o quanto aquilo tudo tinha me ferido e mesmo assim concordou com outra despedida de solteiro. OUTRA! – deixei o choro me dominar. – E ele se recusou a transar comigo ontem à noite – elas riram fazendo-me sentir uma idiota.
– Abra a porta, Lottie! – Miranda insistiu.
Fiquei calada. O que Alex estava pensando quando concordou com a despedida de solteiro? Que poderia sair e transar com qualquer vagabunda e depois voltar feliz e saltitante? Ah, não! Aquele imbecil conseguiu me convencer a casar, privou-me do prazer e agora estava se divertindo com alguma piranha?
Ele não perdia por esperar.
ALEX
Minha primeira reação foi tentar descobrir quem havia armado aquilo. A segunda foi assegurar a Peter que eu não tinha nada a ver com aquele absurdo. João, o filho da puta que se dizia “o cara”, deu alguns passos para trás assim que as garotas desceram do jipe, escondendo-se completamente atrás do Patrício.
Sim, ele estava em uma grande enrascada.
– Que porra é essa? – eu estava completamente inseguro em relação ao que poderia acontecer.
– Oh, cara! Lana vai me matar se descobrir uma merda dessas – meu cunhado continuava tentando se esconder.
– Elas devem estar procurando um pouco de diversão – Johnny sorria largamente, satisfeito com a nova vizinhança.
– Acho bom providenciarmos nossa volta para casa – meu pai, sensato como sempre, articulava uma maneira de contornar o problema. Enquanto isso as garotas caminhavam em nossa direção.
– Oi! – Johnny não desistiria facilmente.
– Johnny! – Peter o advertiu.
– Sou o único solteiro da turma, padrinho. Tenho o direito de me divertir um pouco.
– Oi!
Todas responderam ao mesmo tempo, cada uma em seu tom mais insinuante. Arrisquei um olhar na direção delas apenas para constatar que eram lindas. Lindas mesmo! Droga, Charlotte! Por que não concordei em transar enquanto ainda tinha tempo? Com certeza estaria bem mais confortável nesse momento.
– Dia lindo para um banho no rio, não é? – Johnny puxou conversa enquanto todos os outros aguardavam tensos.
– Com certeza. Podemos entrar?
A mais alta delas, uma morena que nem tive coragem de olhar por mais de um segundo, e também a que parecia mais ousada, deu um passo à frente.
– Melhor não, moça – meu pai interrompeu os avanços do Johnny. – Na verdade estamos bastante à vontade e não seria muito apropriado...
– Você é o médico da propriedade ao lado, não é? – a loirinha, de short curto e top, sorriu largamente para o meu pai. Droga! Eu teria problemas com minha mãe também.
– Sim. Esses são meus filhos e amigos. Já estamos saindo.
– Estamos de cueca – Peter alertou num murmúrio. Foi quando meu pai se deu conta.
– Já de saída? Que pena!
Uma outra loira, de pernas longas e torneadas passou as mãos nos cabelos. Patrício soltou um palavrão, visivelmente abalado pela presença das garotas.
– Meninas, nós queremos sair da água e não dá para fazer isso com vocês olhando, então, se não for muito incômodo, vocês poderiam ir embora? – Peter se adiantou, porém, as garotas não pareceram muito satisfeitas.
– O rio não está na propriedade de vocês. Também temos direito a ele – a morena falou. Baixei a mão na água, capturando-a um pouco e joguei sobre meus cabelos. Era bom pensar em alguma coisa para escapar daquela loucura.
– Garotas, por favor, não vamos brigar. Com certeza há espaço para todo mundo. Estamos fazendo hora até o casamento do meu irmão aqui, por isso não podemos nos juntar a vocês, o que é uma grande pena.
Peter olhou para Patrício com repreensão. Bom... ele teria problemas com Miranda e com Peter. Eu só queria voltar para casa, pegar minha futura esposa nos braços e levá-la para a cama.
– Despedida de solteiro? – elas se animaram. Que merda!
– Não se empolguem. Nós não estamos interessados – Peter foi curto e grosso e elas o olharam com raiva.
Não quero ser machista, mas... o que estava acontecendo com as mulheres? Estavam todas doidas? A revolução sexual estava atingindo o discernimento delas? De repente, todas levantavam a bandeira da liberdade sexual, ficando mais atiradas... Tudo bem que era até interessante. Nunca gostei de mulher retraída, no entanto, algumas como aquelas passavam do limite.
– Será? – uma das loiras desafiou. João riu um pouco animado, imediatamente se retraiu quando meu pai pigarreou. Bom... O problema dele não seria o sogro e sim Lana.
– Ok, meninas! Vocês são lindas e maravilhosas, mas estamos de saída. Quem sabe num outro momento... – Johnny tentou argumentar, mas a merda já havia sido feita.
– Quero só ver o que a noivinha vai dizer quando descobrir que o noivo voltou para casa apenas de cueca – elas correram.
Não deu tempo de reagir. Três pegaram nossas roupas enquanto duas pularam no jipe e deram partida. Ainda conseguimos sair da água, de cueca, é claro! Mas não conseguimos recuperar as peças. Então elas partiram levando tudo. Inclusive a minha paciência.
CHARLOTTE
– Eles chegaram – ouvi Miranda entrar no quarto. Seu tom de voz não era nada amistoso.
Lana continuava na porta do banheiro, usando todos os argumentos disponíveis para me convencer a casar. Lógico que nenhum funcionou. Não era justo ser forçada a aceitar um casamento às pressas, apenas para satisfazer o ego daquele... Idiota! E ainda aceitar uma despedida de solteiro? Não, duas! Ah, não! Alex não me conhecia. Nada me faria mudar de ideia.
– E por que você está com tanta raiva? – ela perguntou a Miranda. Agucei meus ouvidos. Não queria perder nenhum detalhe.
– Porque aqueles... aqueles... nem sei como chamá-los. Mas você precisava ver a cena, todos, todos mesmo, somente de cueca. Apenas isso. Saíram vestidos, afirmando que era só um momento entre amigos e voltam sujos e só de cuecas. Não quero mais ver a cara do Patrício. Aliás, eu quero, porque vou parti-la ao meio.
– Droga, Miranda! Você não está ajudando em nada.
– Não deixem ele vir até aqui, porque vou abrir esta porta e matar o seu irmão, Lana – gritei enfurecida.
Filho da puta, miserável, covarde, cretino... merda! Só de cueca? Como ele pôde? As lágrimas recomeçaram a cair. Meus olhos já estavam inchados e vermelhos. Nenhuma maquiagem seria capaz de disfarçar aquele desastre. Também quem estava pensando nisso? Eu não permitiria que ninguém me convencesse a aceitá-lo como marido.
– Eu vou te ajudar a fazer isso, antes saia daí e vamos conversar – ela tentava em vão me convencer a abrir a porta, eu não abriria.
– Não!
– Aqueles... babacas disseram que foram assaltados. Deve ter sido pelas mulheres com quem foram se divertir.
– Miranda, pelo amor de Deus, fique calada! Você sabe o trabalho que deu organizar este casamento? – Lana estava mais do que nervosa e eu explodiria a qualquer momento.
– Para quê? Para que ele saísse atrás de vagabundas? – Miranda rebateu completamente irritada com a situação. Pelo menos a minha amiga estava do meu lado, dividindo a raiva comigo.
– Já chega! Fora do quarto. Deixa que eu resolvo essa merda – ouvi pés batendo forte no chão e deduzi que Miranda havia ido embora.
Tomara que ela acabe com a cara do Patrício!
– Charlotte, por favor! Vamos ser adultas e pensar de maneira sensata. Miranda falou que eles foram assaltados. Vamos ouvir o que Alex tem a dizer...
– Não quero ouvi-lo. Não quero nem ver a cara dele – sentei novamente no chão o mais distante possível da porta.
– Ok! Eu vou atrás do João para saber o que aconteceu. Quando se sentir melhor me procure.
Então o silêncio do quarto foi sepulcral. Pela primeira vez naquele dia, eu me senti completamente sozinha, e era sufocante.
ALEX
Voltar para casa foi humilhante! Eu não queria tocar no assunto. Queria esquecer o começo daquele dia e me concentrar no final dele, quando Charlotte seria minha esposa e todos os acontecimentos ficariam para trás. João, Patrício e Johnny estavam achando tudo muito divertido. Finalmente alguma coisa para animar a minha despedida de solteiro. Eu queria poder socá-los pelos seus entusiasmos.
– Vamos dar um jeito de entrar sem chamar a atenção de ninguém – meu pai falou antes de entrar no seu carro. Ele e Peter foram juntos, enquanto eu e os outros rapazes fomos no jipe do Patrício, o que piorava tudo, pois era aberto e nos deixava expostos.
– Duvido muito que você consiga, pai. A casa deve estar repleta de funcionários.
Ele suspirou sabendo que o que eu dizia era verdade. Meu pai e meu futuro sogro se olharam e depois riram. Por que só eu não conseguia achar graça naquela merda?
– O jeito vai ser encarar – comentou e entrou em seu carro.
– É, fale isso para Charlotte – resmunguei.
Os rapazes fizeram piadas de todos os tipos e não se preocuparam por chegar daquela forma tão... descabida. Eu estava com fome, com frio e nervoso. Completamente tenso.
– O que aconteceu? – minha mãe correu em nossa direção assim que nos viu chegar daquele jeito. Meu pai e Peter permaneceram dentro do carro, provavelmente sem querer envergonhar um ao outro.
– É uma longa história, mãe! Dá para trazer umas toalhas?
– Claro! – ela foi em direção à casa. – Miranda, preciso de você.
Tá! Estremeci só de imaginar qualquer mulher daquela casa me trazendo a toalha e Charlotte vendo a cena. Por outro lado, eu precisava entrar, não poderia recusar a ajuda de quem fosse. Poucos minutos depois, Miranda e minha mãe voltaram com roupões e toalhas. Fiquei muito sem graça com o olhar da melhor amiga da minha noiva sobre mim. Olhou-me de forma tão intensa que juro que tive medo de ela me agarrar naquele momento e naquele local. O que estava acontecendo com as mulheres?
– Obrigado – desviei o olhar e rapidamente vesti o roupão escondendo a minha quase nudez.
– O que significa isso? – Miranda não esperou para cobrar uma explicação do Patrício. Como ela podia me dar um olhar daquele e depois tirar satisfações com meu irmão?
– Você não vai nem acreditar – Patrício riu, mas levou um tapa no braço. Miranda não estava achando nada divertido vê-lo chegar só de cueca.
– Ai! – ele se encolheu teatralmente. Um tapa daqueles não o machucaria. – Miranda, o que...
– Cale a boca, Patrício! – repreendeu-o com voz chorosa. – Não quero ouvir a sua voz, e... deixe-me em paz! – e saiu em disparada para dentro da casa.
Eu, João e Johnny rimos da cara do Patrício, mesmo sabendo que em breve seria a nossa vez. Meu irmão correu atrás dela, enquanto Johnny levava toalhas para meu pai e Peter. Minha mãe nos olhava sem entender nada.
– Fomos assaltados – comecei as minhas desculpas para minha mãe, quando uma funcionária se aproximou com mais algumas toalhas. Elas pareceram não acreditar. – Paramos para tomar banho no rio e umas... levaram as nossas roupas.
– Assim, sem mais nem menos? E vocês não perceberam? – a funcionária perguntou, recebendo um olhar fulminante da minha mãe, o que a fez se encolher.
– Não. Não foi sem mais nem menos, agora não posso me explicar. Preciso comer alguma coisa, mãe – desviei minha atenção e fiz com que minha mãe voltasse a dela para mim.
– Eu também, sogra – João passou os braços pelos ombros dela fazendo-a voltar para a casa. – Pode acreditar que nada de ruim aconteceu com seu genro favorito, nem com seu marido. Estamos todos inteiros e famintos, só o Alex está um tanto quanto... – olhou para mim com ironia. – Tenso, inseguro e temeroso – riu.
Eu vou matar o João!
Mal consegui andar direito pela casa. Eu tinha dito a Lana que seria uma cerimônia simples, mas ela, como sempre, burlou todas as minhas regras e transformou a casa em um verdadeiro salão de festas. Minha mãe foi logo avisando que eu não poderia ver Charlotte, que minha irmã me mataria se eu tentasse e que o melhor a fazer era descansar um pouco em meu quarto. Obedeci já mais do que frustrado com tudo.
Comi a comida que minha mãe fez questão de levar ao meu quarto, tomei um banho quente e demorado, fiz a barba, cortei as unhas... Quando não havia mais nada para fazer, deitei tentando desligar meu cérebro. Era impossível! Pelo menos eu estava em casa, e Charlotte em algum lugar se preparando para ser minha esposa. Respirei aliviado.
Foi quando Lana irrompeu quarto adentro como um furacão.
– Charlotte desistiu do casamento.
– O quê?
CHARLOTTE
Deitei no chão e encarei o teto. Eu estava sendo muito infantil? Não. Ele que foi muito cafajeste isso sim! Mas e se foram realmente assaltados? E se Alex estivesse ferido? Claro que não! Se alguma coisa tivesse acontecido, com certeza, alguém já teria me avisado.
Então era isso? Eu tinha conseguido todas as minhas experiências, realizado alguns sonhos e agora voltaria para a realidade, sem Alex, sem casamento, sem... a dor em meu peito foi dilacerante. Deus! Eu o amava tanto! Como conseguiria simplesmente desistir desse amor?
Também não poderia começar um relacionamento aceitando uma traição. Não mesmo! Alex tinha obrigação de me respeitar. Afinal de contas, não fui eu que fiquei desesperada para casar. Aquele idiota, cretino... estragou o meu conto de fadas.
Um soluço me fez estremecer.
“Mas eu ainda o amo!”, eu pensava. Estava com raiva, muita raiva, ferida, sofrendo de amor e...
– Charlotte? – Alex me chamou. Sua voz estava calma e muito próxima da porta. Meu coração acelerou.
Como eu deveria reagir? Quem sabe bater nele. Não. Seria demais para as nossas famílias. Eu poderia esbofeteá-lo. Claro que poderia, ele havia me traído. No entanto, não era o que eu queria. Ouvir a sua voz, doce, tranquila e cheia de carinho me fazia apenas querer chorar. Foi o que fiz.
– Cubra este vestido rápido. Ele não pode ver antes da hora – Lana também estava lá, e provavelmente todos os outros.
“Que se dane o vestido, que se dane o casamento”, pensei com amargura.
– Charlotte, abra a porta. Vamos conversar – ele pedia, meu coração implorava, meu gênio me impedia.
– Vá embora, Alex. Não quero mais te ver – tentei manter a compostura, mas meu nariz escorria e as lágrimas não paravam, sem contar os soluços que me impediam de falar corretamente.
– Amor, abra a porta. Por favor!
Droga! Por que ele tinha aquela capacidade de fazer tudo mudar dentro de mim? A raiva começava a ser substituída pela vontade de atender a seus apelos.
– Não! Por que você não vai conversar com aquelas galinhas com quem foi fazer sua despedida de solteiro? – ele riu baixinho.
– Não sei do que você está falando – que ódio! Alex achava mesmo que eu era uma idiota. – Abra a porta, Charlotte.
– Volte para suas amiguinhas e me deixe em paz, Alex – eu já estava parada em frente à porta, com a testa encostada nela e ansiosa para vê-lo.
– Não existe nenhuma “amiguinha”, amor. Eu posso te explicar tudo, antes preciso que você saia.
– Não vou sair, não vou me casar e não quero ver a sua cara. Vá embora! – bati o pé no chão como uma criança mimada.
– Charlotte, eu não vou deixar você desistir. Abra a porta e converse comigo, ou vou arrombá-la, pegar você à força, enfiar naquele vestido e obrigá-la a assinar aqueles papéis.
– Quero só ver, Alex! – ri com ironia, afastando-me da porta. Se ele acreditava que poderia me forçar a fazer a sua vontade, estava completamente enganado. – Já que quer tanto se casar, por que não escolheu uma daquelas vacas?
– Porque eu amo você, droga! Minha manhã foi péssima e a única coisa que eu desejava era poder voltar e finalmente ter você como minha esposa, pelo visto, o mundo inteiro está conspirando contra o meu final feliz – ele explodiu fazendo-me recuar.
– Calma, Alex! – Dana falou, e eu corei. Merda! Por que todo mundo tinha que estar lá para assistir ao espetáculo?
– Afaste-se da porta porque vou arrombá-la – ameaçou. – Estou avisando, Charlotte. Um... Dois...
Corri para a porta destrancando-a. Seria demais deixá-lo destruir a casa por causa da nossa briga. Além do mais, Dana estava lá e eu não queria que pensasse que o filho estava se casando com uma garotinha mimada. Alex, percebendo o que eu havia feito, segurou a maçaneta girando-a. A porta se abriu, revelando o grupo do lado de fora. Cruzei os braços e aguardei.
ALEX
Charlotte estava parada, com os braços cruzados e os olhos vermelhos fixos em mim. Droga! Ela havia chorado, aparentemente muito. Tudo por causa das loucuras da vida. Quem poderia imaginar que aquilo tudo fosse acontecer? Bom... eu não.
Dei um passo na sua direção e ela recuou. Logo me dei conta de que havia gente demais naquele quarto, então entrei no banheiro, fechei a porta atrás de mim e a encarei. Era preciso calma. Minha noiva parecia um bichinho assustado e eu tive medo de forçar demais a barra. Mantendo uma distância segura, cruzei os braços, na mesma posição que ela, e aguardei.
Ela permaneceu calada.
– Eu não estava em uma despedida de solteiro. Não da maneira que você está pensando.
– Não existe forma diferente de pensar numa despedida de solteiro – rosnou, mantendo os braços presos no peito. Suspirei pesadamente. Aquela seria uma longa conversa.
– Não sei o que contaram a você, a verdade é que não poderia existir uma despedida de solteiro como você pensa quando o seu pai e o meu se juntaram ao grupo. Eu até entenderia o seu aborrecimento se fossemos só eu e os rapazes, mas, francamente, Charlotte... Você se superou, conseguiu ir ainda mais longe do que eu poderia imaginar.
Ela recuou. De forma rude, eu conseguia desarmá-la. Charlotte descruzou os braços e andou até a pia encostando-se nela. Continuei encarando-a, com cara de quem não acreditava no que estava vendo. Ela começou a corar e toda a minha raiva foi sumindo. Céus! Como ela ficava linda tímida, envergonhada. Tudo o que eu mais queria em uma mulher. E na cama era tão... única!
– Meu pai pode muito bem acobertar suas traições. Homens são assim – ri. Charlotte sabia ser bem absurda quando queria.
Andei em sua direção, sem tocá-la. Ainda era cedo para considerar o jogo ganho. Parei diante dela, colocando uma mão em cada lado do seu corpo, apoiado à pia e a olhei fixamente.
– Você sabe que isso é impossível. Qual é o problema?
– Você... vocês chegaram de cueca, Alex. Que... vergonhoso, absurdo...
– Charlotte! Nós fomos roubados. Umas... – consegui evitar aquela informação a tempo. Não queria esconder a verdade dela, porém aquele não era o momento para dizer que algumas garotas apareceram e ficaram ofendidas com nossa recusa e por isso decidiram levar nossas roupas – ... pessoas, não sei ao certo... Estávamos no rio e, quando vimos, nossas roupas haviam desaparecido – ela estreitou os olhos como se soubesse que eu mentia. – Pode perguntar para o seu pai. Ele vai confirmar que eu nada fiz de errado – ela se remexeu inquieta. – Qual é o problema, Charlotte?
– Você!
– Eu?
– Sim! Você me jogou nesta loucura e me largou sozinha o dia inteiro para curtir sua despedida de solteiro. Não quis transar comigo, recusou-se terminantemente e aí vem esta notícia de vocês chegando de cueca e... e... eu sofri tanto, Alex! Lana me torturou de todas as formas. Ela me depilou completamente, você acredita nisso? – eu queria rir, mas preferi morder os lábios e ouvir seu desabafo. Charlotte era incrível! – Aquilo não é uma coisa que devemos fazer com os outros. Você tem noção da dor? E...
– Charlotte? Foco, amor! Você está confusa, eu te entendo. É muita pressão.
– Não! Você não entende. Eu te disse. Não sei fazer isso. Não estou preparada. Eu vou cair, vou rasgar o vestido, vou me machucar, vou te machucar! Eu vou ser uma péssima esposa, Alex! – as lágrimas rolaram por seus olhos. Charlotte estava em pânico. Eu sabia como resolver aquela situação.
– Amor, vem cá! – levantei seu corpo pequeno e a sentei sobre o mármore da pia. Abri suas pernas e me coloquei entre elas.
– O que você está fazendo?
– Estou aproveitando meus últimos momentos como solteiro – puxei Charlotte alcançando seus lábios. Ela não me recusou.
Era isso o que estava faltando. Sexo. Charlotte precisava relaxar e eu fui um idiota não percebendo que minha recusa a deixaria estressada num momento tão importante quanto aquele.
Corri minhas mãos por suas costas, puxando-a para mim e aproveitando o tecido delicioso em sua pele macia. Charlotte gemeu em meus lábios e eu amava quando ela fazia aquilo. Ficava louco para arrancar mais e mais gemidos dela. Procurei pelo nó do roupão e ela me interrompeu.
– Alex, aqui não! Todo mundo está lá fora.
Sorri sabendo que não seríamos capazes de frear nossos impulsos. Inclinei a cabeça desci em direção ao seu pescoço. Charlotte tinha um cheiro delicioso
– Alex! Não!
– Quero uma despedida de solteiro com o que tenho direito e nada melhor do que fazer isso com a mulher mais gostosa que já conheci – ela sorriu baixando seu olhar de maneira encantadora. Aproveitei e abocanhei sua orelha. Charlotte ofegou. Era exatamente o que eu queria.
– Eles vão ouvir – sussurrou se encolhendo com o meu contato.
– É só você continuar falando deste jeitinho delicioso – disse baixinho em seu ouvido. Ela estremeceu. – Você quer ser a personagem principal da minha despedida de solteiro? Quer fazer com que ela seja inesquecível? – Charlotte sorriu timidamente, fechou a mão em minha camisa e balançou a cabeça aceitando a minha proposta. – Depois subiremos naquele altar e consagraremos a nossa união, ok? – novamente ela concordou.
Corri meus dedos em seu pescoço, roçando sua pele clara e sedosa. Charlotte fechou os olhos se entregando. Ela mordia os lábios e eu queria desesperadamente estar dentro dela. Desci os dedos pela fenda do decote do roupão, afastando-o para que eu tivesse livre acesso a seus seios pequenos e rijos.
Circulei o bico suavemente. Charlotte se encostou no espelho, inclinando o corpo na direção da minha mão. Aproveitei e desatei o nó que prendia a peça. Enquanto isso desci minha outra mão, afastando o tecido e percorrendo sua pele até o umbigo.
Dei um beijo leve em minha noiva e depois fui até seu pescoço, deixando que meus lábios acariciassem aquele corpo perfeito. Logo minha boca estava em seus seios, onde eu brinquei com os dentes, a língua e os lábios, primeiro um, depois o outro. Suguei e beijei aquela parte sua que eu tanto admirava. Charlotte continuava inclinada, olhos fechados e lábios travados, evitando emitir qualquer som. Eu queria ouvi-la. Nada como os gemidos da mulher que eu amava para me dar mais prazer.
Cuidadosamente desci com a ponta da língua até alcançar seu umbigo. Charlotte correu as mãos por meus cabelos, emaranhando seus dedos entre eles. Mordisquei a ponta da sua barriga. Minha noiva se movimentou em direção aos meus lábios. Eu sabia o que ela queria e eu satisfaria o seu desejo.
Tirei o tecido que cobria o restante do seu corpo, correndo os dedos pelo meio de suas pernas, acariciando aquelas coxas maravilhosas. Ao mesmo tempo, desci roçando minha língua do seu umbigo até quase alcançar o seu sexo. Olhei para aquela parte tão íntima da minha noiva e... puta que pariu! Ela estava toda depilada. Todinha mesmo. E só para mim.
Nunca havia sentido tanta vontade de colocar a minha boca em uma mulher quanto senti naquele momento. Charlotte é tão linda! Tudo do tamanho certo e no seu devido lugar. Parecia uma fruta, doce e suculenta, pronta para ser degustada.
Passei minha mão por debaixo de seus quadris e puxei-a para mim. No mesmo instante, meus lábios alcançaram a feminilidade da minha noiva, que ofegou, levantando o corpo em minha direção. Ela gemeu sensualmente, mantendo o tom baixo. “Isso, Charlotte! Geme para mim”, beijei aquela parte com desejo e intensidade. Deixei meus lábios massagearem o sexo da mulher que eu tanto amava e brinquei com os dentes em seus pontos mais sensíveis.
Não deixei de invadi-la com minha língua. Charlotte tinha um sabor sem igual. Era toda feita na medida certa para mim. Da forma como eu queria, desejava. E receber seu rebolado, suas mãos me puxando para perto enquanto trabalhava com os lábios nela, era sensacional. Principalmente ao perceber seus gemidos ficando cada vez mais intensos e descontrolados, apesar de ela estar lutando contra eles. Puta merda! Eu me acabava com aquela mulher.
Pela forma como rebolava, forçando seu sexo em minha boca, eu soube que logo gozaria, então a penetrei com meus dedos, tocando-a com cuidado, porém da maneira correta e completei sugando seu clitóris com meus lábios. Charlotte gemeu mais alto, sorri, pressionando a ponta da língua e depois fechando os lábios para sugá-la com mais força.
Ela arqueou o corpo, rebolou em minha boca e estremeceu. Em seguida senti o líquido delicioso do seu gozo na minha língua. Suguei uma última vez seu ponto de prazer, ainda com os dedos massageando-a e ela deu um último espasmo. Missão devidamente cumprida.
Suas pernas, antes dobradas para me receber melhor, relaxaram um pouco, entregues à saciedade. Sem perder tempo, segurei Charlotte com força fazendo-a descer. Nossos olhos se encontraram, os dela sem entender o que eu pretendia, os meus cheios de desejo e tesão.
Não dava para ficar só nas preliminares. Eu tinha adorado a depilação da minha noiva e, conhecendo Lana como conhecia, com certeza, estaria impecável. Eu precisava conferir.
Girei Charlotte, deixando-a de costas para mim. Assim que ela virou aquela bunda deliciosa em minha direção, abri minhas calças deixando-a cair aos meus pés. Charlotte olhou para trás, seu rosto corado pelo esforço, sua pele levemente suada. Seus olhos foram direto para a minha ereção, o que me deixou ainda mais excitado.
– Mãos no espelho! – ordenei. Ela prontamente obedeceu, olhando sempre para trás, conferindo todos os meus movimentos. “Ok, Charlotte! Você quer me ver te comendo, então curta o espetáculo”.
Segurei forte em sua perna e, sem aviso, levantei uma delas apoiando-a no mármore da pia. Ah! A visão era perfeita, maravilhosa! Exatamente como eu queria. Estava tudo lisinho, como eu desejava. Puta que pariu!
– Alex! – ela murmurou assustada com a posição.
– Quero uma visão ampla da sua bunda, gostosa!
Segurei com uma mão a sua cintura e com a outra enrolei seus cabelos, puxando sua cabeça em minha direção. Antes de penetrá-la, mordi seu pescoço e Charlotte gemeu entregue. Como eu adorava a sua capacidade de recuperação.
Nem tive tempo de pensar em começar devagar. Eu a queria, firme e forte, sem muito cuidado. Queria a minha despedida de solteiro como ela deveria ser.
– Empine a bunda, Charlotte! Mostre para mim o quanto você é deliciosa – forcei seu corpo para frente, fazendo-a quase deitar sobre o mármore frio. Com isso sua bunda ficou no ângulo certo. E então a penetrei de uma vez só. Ela gemeu alto, esquecendo-se de qualquer pudor, ou da plateia lá fora.
Assim que cheguei ao seu limite, voltei e recomecei várias vezes. Charlotte gemia e empinava a bunda para mim. Espalmei minha mão em suas costas, mantendo-a naquela posição. Daquele jeito eu podia vê-la, comê-la e apreciá-la sem pudor e sem limites.
Era impossível não sentir uma enorme atração por aquele ponto ainda não explorado. O limite das barreiras dela. Todo lisinho, sem nada que me impedisse de tocá-lo. E foi o que eu fiz. Enquanto entrava e saía, passei minhas mãos em sua bunda, massageando sua carne e, muito levemente, como se não houvesse planejado nada, deixei que meu dedo roçasse aquela entrada tão desejada.
Charlotte arqueou o corpo, pronta para me impedir, mas se deteve. Atento à sua reação, entrei com mais força, rebolando para tocá-la completamente, roçando suas paredes úmidas e quentes e, quando ela estava mais relaxada, deixei que meu dedo roçasse aquela região novamente, não me intimidei com a sua reação. Eu sabia que ela gostava.
Todas as mulheres se recusam a admitir o sexo anal, mas elas sabem que a sensação é deliciosa, pelo menos as que eu já havia experimentado rapidamente se renderam a esta prática, absorvendo o máximo que podiam. Era prazeroso para ambas as partes. Simplesmente uma questão de ceder, relaxar e se permitir.
Novamente a acariciei, dessa vez com mais segurança, deixando claro que era o que eu queria. Então Charlotte relaxou. De uma maneira que só ela era capaz de fazer, deitou o corpo e se permitiu ser tocada. Aquele foi o meu limite. Acariciei seu ânus com o polegar, sem deixar de estocá-la com força enquanto a assistia se entregar ao prazer. Então empurrei um pouco o dedo, a carne cedendo e me sugando.
Minha noiva gemeu, estremeceu e gozou.
– Puta que pariu! – acompanhei-a em seguida, colado ao seu corpo e me contorcendo de prazer.
CHARLOTTE
Alex saiu com os olhos brilhantes. Confesso que me senti muito envergonhada pelo ocorrido. Do lado de fora estavam Miranda, Dana, minha mãe e Lana, que batia o pé no chão, impaciente. Ele me beijou na testa e saiu sem dar nenhuma explicação.
– Puta que pariu! – Lana exclamou tão logo Alex bateu a porta. – Não podia esperar pela lua de mel?
– Lana!
Dana a repreendeu, mas a merda já estava feita. Eu fiquei mais vermelha do que tomate maduro. Miranda deu risada e minha mãe apenas sorriu, evitando entrar no clima delas.
– É verdade! Nem eu obriguei João a transar comigo, ameaçando desistir do casamento. Que absurdo!
– Lana, querida! – Dana levantou segurando a filha. – Charlotte não precisa destes pormenores. Faça apenas a sua parte, nós vamos nos arrumar. Vou mandar o pessoal entrar. Temos um casamento para assistir e eu não quero perdê-lo por nada.
Miranda acompanhou Dana, prometendo voltar logo para substituir Lana, enquanto esta se arrumava. Ficamos eu, minha cunhada e minha mãe, que acompanhava tudo de perto.
– Agora estamos todas atrasadas – ela me levou até a cadeira.
– O importante é que deu tudo certo. E ninguém precisa saber dos detalhes – minha mãe piscou para Lana, que segurou meu cabelo puxando-o para trás.
– É. Ainda bem que eu me viro bem com meu corpo espetacular – elas riram e eu ainda me sentia envergonhada, sem conseguir olhar diretamente para minha mãe. Esta, vendo como eu me sentia, segurou em minha mão e começou a falar.
– Quando eu e seu pai decidimos que queríamos passar o resto da vida juntos, éramos muito jovens ainda. Ele tinha acabado de entrar na faculdade de Medicina, já estava no exército e precisou ser transferido. Nós não queríamos nos separar e eu não poderia ir com ele, precisava completar meus estudos. Um dia, ele bateu em minha janela, estava muito ansioso e falando sobre sua necessidade de garantir que estaríamos sempre juntos. Então me pediu em casamento. Eu achei uma loucura, mas, olhando em seus olhos, não tive como negar. Nós fugimos juntos naquela noite, procuramos o padre da igreja que ele frequentava e pedimos a bênção de Deus para o nosso amor. Não foi um casamento de verdade, afinal de contas não assinamos nenhum papel, porém, para nós dois, foi a certeza de que pertencíamos um ao outro e que, se Deus assim quis, nada poderia nos separar. Nem o tempo, nem a distância... Naquela noite, eu e seu pai tivemos nossa primeira noite de amor. Uma primeira lua de mel. E, no dia seguinte, ele foi embora. Eu nunca me arrependi do que fiz, mesmo que ele nunca tivesse voltado.
Ela estendeu a mão e capturou uma lágrima que descia em meu rosto. Eu nem havia percebido que chorava. Lana, às minhas costas, enrolava meus cabelos em cachos e prendia-os no alto da minha cabeça, testando penteados. Ela acompanhava em silêncio a linda história de amor dos meus pais.
– Eu sou muito feliz, filha. Seu pai me deu uma vida mágica. Nunca, nem por um minuto, eu repensei sobre nosso casamento e hoje, vendo você prestes a se casar, só consigo desejar que você tenha a mesma sorte – mordi os lábios reprimindo um soluço. – Alex é um bom homem, vai cuidar de você, fazê-la feliz. Seja mais flexível com ele. Ouça primeiro. Procure entendê-lo. Vocês formam um lindo casal e eu tenho orgulho de ter conseguido chegar até aqui.
– Ah, mãe! – ela me abraçou com força, transmitindo tanto amor que quase sufoquei. Minha mãe era uma pessoa incrível.
– Agora eu preciso ir – disse ao me soltar. – Tenho que me arrumar também, afinal de contas, a mãe da noiva é uma peça muito importante no casamento.
– A mais importante – eu disse entre lágrimas.
– Nada mais de choro. Teremos um trabalho árduo para disfarçar esta cara inchada – Lana esbravejou, mas ela também havia ficado emocionada com o relato que ouvimos.
– Vejo você mais tarde – minha mãe saiu no mesmo instante em que a equipe de maquiagem e cabeleireiro entraram. Voltei a fechar os olhos, relaxar e aguardar pela hora do sim.
CAPÍTULO 36
“O amor é fumaça formada pelos vapores dos suspiros. Purificado, é um fogo chispeante nos olhos dos amantes. Contrariado, um mar alimentado pelas lágrimas dos amantes. Que mais ainda? Loucura prudentíssima, fel que nos abafa, doçura que nos salva.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
– Respire fundo.
Repeti para mim inúmeras vezes de olhos fechados. Eu estava sozinha no quarto aguardando a chegada do meu pai. Lana finalmente tinha me deixado só para terminar a sua própria produção. Miranda provavelmente estava infernizando a vida do Patrício por causa da malfadada despedida de solteiro. Bom... eu entendia a minha amiga. Não era fácil engolir aquela história absurda, porém... eu precisava confiar em Alex, afinal de contas, estava prestes a me casar...
Puta que pariu! Eu ia me casar.
– Respire fundo, Charlotte. Você consegue!
Minhas pernas tremiam, as mãos suavam, a cabeça latejava e meu único pensamento era fugir.
– Puta que pariu! Puta que pariu! Eu não vou conseguir.
– O que você não vai conseguir?
Abri os olhos e vi meu pai parado diante de mim. Nossa! Ele estava incrivelmente lindo. Seus olhos, repletos de rugas de expressão que o deixavam mais adorável, brilhavam, e seu sorriso... ah, o sorriso do meu pai era de plenitude! Meu coração inflou e se iluminou.
– Estou com medo, pai – admiti.
– Ele é o homem que você ama – suas mãos para trás e sua postura completamente ereta denunciavam que também estava com medo.
– Eu o amo, apesar disso... Não é o medo de me casar com ele. É o medo de me casar! Medo de tudo estar acontecendo rápido demais, de eu estragar as coisas. Alex já é um homem. Viveu sozinho por muito tempo. E se ele não gostar de dividir sua vida, uma casa comigo? E se eu acabar atrapalhando mais do que ajudando? E se eu não gostar de ser esposa? Pai...
– Charlotte, eu compreendo todas as suas dúvidas, meu anjo! E não tenho como responder a tantos questionamentos. Só posso dizer que ser casado tem muitas vantagens. Eu gosto mais deste estado civil do que o de solteiro – e ele sorriu mais. Meu pai parecia brilhar quando falava do seu amor por minha mãe. Ela era tudo para ele.
– Como o quê, por exemplo?
– Como não ter um pai chato determinando a hora de voltar para casa – deu de ombros e eu ri.
– Não tenho problema em continuar enfrentando o senhor até que consiga entender que eu cresci.
– Dormir todos os dias com a pessoa que você ama. Esta é a maior vantagem de todas – piscou confidente. – Eu posso falar também da segurança que é voltar para casa e encontrar conforto em alguém em quem confiamos. A certeza de que, independentemente de qual seja a situação, ele estará lá sempre ao seu lado. A vontade de fazer coisas que surpreendam e satisfaçam, muitas vezes um gesto simples, como fazer a comida preferida.
– Eu nem sei qual é a comida preferida dele ou como gosta que a casa seja arrumada...
– Você terá tempo para descobrir.
– Pai, Alex só quer casar porque ele pensa que pode me perder de uma hora para a outra, eu não o entendo. Eu sei que o amor que eu sinto nunca vai acabar, eu nunca vou abandoná-lo. Não preciso casar para provar isso.
– Então você está no caminho certo. O casamento é uma mera formalidade, filha, o que conta é a sua vontade de unir sua alma a dele. Para você isso é o bastante, no entanto para ele é importante o “sim”, os papéis, e admito que para mim também – olhou-me com alegria e foi impossível não sorrir. – Alex a ama e precisa ter você ao alcance das mãos para se sentir seguro. Este é um pequeno gesto que você fará para deixar claro o seu amor, dando a ele o que ele precisa e ele retribuirá de maneira única, porque será verdadeira.
Meu pai tinha razão. Por que eu sentia medo? Eu estava simplesmente dizendo a Alex que o queria para a vida inteira, aliás, para a eternidade, o meu amor nunca teria fim. Andar aqueles poucos metros, dizer “sim”, assinar os papéis, apesar de mera formalidade era importante para dar segurança ao homem que eu amava. Eu precisava apenas que ele segurasse em minha mão, para mim era mais do que suficiente. Meu pai tinha razão. Se Alex precisava disso e, se não era nada que poderia me machucar ou me fazer infeliz, por que não?
– Está pronta?
Olhei minha imagem no espelho. O vestido branco gelo, repleto de renda, envolvendo meus ombros, descia por meu corpo, alargando-se um pouco abaixo dos quadris como uma tulipa invertida. Uma fileira de pérolas fechava a renda que revestia minhas costas, sem revelar muito, mas insinuando bastante. Meu rosto estava levemente corado, não só pela maquiagem, também pelo calor que sentia e a ansiedade que quase me dominava.
ALEX
Charlotte estava demorando demais. Meus olhos de tempos em tempos encontravam os de Lana e os dela refletiam a minha angústia. Charlotte desistiu. Droga! Eu não devia tê-la deixado sozinha. Droga! Johnny se aproximou e tocou meu ombro.
– Ela virá. Toda noiva atrasa. Com Charlotte não seria diferente. Fico me perguntando onde ela conseguiu esta veia artística para gostar tanto de dramas – olhei para o amigo da minha noiva, o mesmo que muitas vezes me despertou raiva e ciúmes, e ele sorriu. – Ela precisa chamar atenção – dei risada. Era engraçado e, apesar de ser injusto com Charlotte, um pouco verdadeiro. Tudo era um drama na vida dela. – Não se preocupe, ela te ama. Não vai perder a oportunidade de te amarrar para sempre.
– Tomara mesmo que isso seja verdade.
– Com certeza é – ele estreitou os olhos com desprezo. – Eu só não entendo o motivo de você querer tanto casar. Passar o resto da vida amarrado a alguém. Em breve, ela começará a ter filhos – sua expressão mudou para nojo. – Nunca mais vai ser a mesma. Vai começar a cobrar demais. As crianças vão chorar, vão bagunçar a casa, você não poderá sair com os amigos porque quando voltar para casa ela vai falar, falar e... – sorri largamente.
– Você vai entender quando encontrar alguém que ocupe todos os seus pensamentos. Que você deseje mais do que o próprio ar. Quando nada mais fizer sentido se ela não estiver com você. Ainda não se apaixonou, Johnny. Quando acontecer, não vai conseguir aguardar nem um segundo.
– Tomara que você esteja certo do que quer.
– Por quê?
– Porque ela acabou de chegar. É, meu amigo, agora é para valer – ele deu um tapa em meu ombro, e meu coração disparou varrendo o pequeno espaço da piscina a procura dela.
CHARLOTTE
Todos os nossos poucos convidados estavam lá, de costas para mim, sem perceberem que eu havia chegado para dar o passo mais importante da minha vida. O momento em que me uniria a Alex de corpo e alma. O momento em que Deus me diria que nada foi em vão. Que a loucura daquela proposta, que agora parecia ter sido há muito tempo, a insegurança, o medo, a descoberta do amor... Nada foi em vão. Lá estava eu, pronta para dizer “sim” e para pertencer a ele por toda a minha existência.
Foi naquele momento que Johnny capturou o meu olhar e sorriu. Meu amigo, com aquele simples gesto, abençoava a minha decisão. Ele tocou no ombro de Alex, e meu namorado, noivo... O homem da minha vida, e eu não tinha mais nenhuma dúvida sobre isso, olhou-me. Foi como se o tempo parasse.
O olhar de Alex me invadiu com uma força impossível de ser mensurada. Capaz de derreter qualquer geleira, acabar com qualquer guerra... Uma força que me envolvia e afugentava todos os medos e receios, deixando apenas certezas. O nome desta força é amor. Naquele instante apenas o amor seria capaz de guiar os meus passos e, ao mesmo tempo, desorganizar todo meu interior. Era o amor que me dizia naquela hora que nada poderia ter sido diferente. Eu passei a pertencer a Alex no momento em que aceitei ser sua aluna.
Não. Não foi em vão.
Um dos músicos detectou a minha presença e levantou dando a primeira nota para, em seguida, ser acompanhado dos outros quatro. Uma linda melodia preencheu o ambiente, e meus amigos se levantaram virando-se para me olhar. Eu não tinha como olhá-los. Não queria desviar os meus olhos da figura no centro do altar improvisado. Ele era perfeito demais para ser verdade e me amava como se eu fosse o ser mais incrível e maravilhoso do planeta.
Durante anos, eu apenas vivi. Nunca fui a garota que despertava paixões. Eu era tímida, solitária. Escondia-me atrás dos outros, deixava que todos brilhassem a meu redor tentando nunca ser o centro das atenções. Fingia satisfação em ser apenas a garota inteligente que sorria e ajudava os amigos, que era motivo de orgulho para os pais e se conformava com o pouco que vinha a suas mãos. No fundo, nunca fui feliz. Não completamente. Eu me sentia vazia. Sozinha demais em um mundo cheio demais. Incapaz de fazer nada para modificar as coisas, deixando-me levar e aceitando o curso da vida. Apenas eu sabia o que realmente existia dentro de mim.
O jeito que encontrei de mudar qualquer coisa foi escrevendo. Como escritora, eu podia ser o que quisesse, onde quisesse e da maneira que quisesse. Simplesmente escrevia sobre as milhares de vidas que gostaria de ter, os milhares de amores que poderia vivenciar e que nunca permitia que me alcançassem. Desenvolvi os mais diversos conflitos, as mais desvairadas paixões, o desejo mais intenso e carnal. Escrevia, não vivia. Por causa disso, nunca fui uma pessoa completa.
Aí, Alex, como em um conto de fadas moderno, chegou e derrubou todas as minhas barreiras, virou meu mundo de cabeça para baixo. Ele não foi apenas o meu professor, o homem que me sacudiu e me fez acordar. Foi o meu príncipe encantado. Tudo bem que chegou em uma prancha de surf ao invés de um cavalo branco, e, que ironia, o dragão que precisou enfrentar e derrotar, por mais incrível que pareça, era a própria princesa que precisava resgatar.
Alex me fez escrever a minha própria história, fez-me ver que era possível, que o amor ia muito além do prazer e do desejo. Que sexo... sexo será sempre bom se você souber como desfrutá-lo. No entanto, o que é o sexo sem um amor verdadeiro? O que é o desejo sem o olhar de admiração? O que é o orgasmo sem a confiança da entrega? Nada! Eu nunca mais seria vazia. Nunca mais estaria sozinha, sempre teria Alex para segurar a minha mão e me dar a certeza de que eu jamais cairia ou, se porventura isso acontecesse, ele estaria lá para me levantar.
Meu pai avançava comigo, eu mal conseguia sentir os meus passos. Aquela foi a escolha mais certa da minha vida. Ao constatar tal verdade, passei a ansiar pelo momento em que nada mais nos separaria. Eu queria chegar lá e dizer sim bem alto, que eu aceitava e que seria, sem medos ou dúvidas, a esposa do professor Frankli.
Paramos a um passo um do outro. Um único passo me impedia de tocá-lo. De declarar a ele meu amor. De confirmar a minha vontade. Um único passo para enfim ser uma pessoa completa. Nossos olhos não se desgrudavam. Os dele repletos de amor e felicidade.
“Sim, Alex, eu estou aqui. Onde mais poderia estar? Eu te amo! Não posso fugir de um sentimento tão forte, puro e verdadeiro” minha mente gritou, embora meus lábios permanecessem calados. Meu pai segurou minha mão, que estava enlaçada ao seu braço e a levou até a mão de Alex.
Aquele toque... Ah, aquele toque capaz de me fazer mudar qualquer coisa. Sem conseguir controlar deixei cair uma lágrima. Alex comprimiu os lábios e eu entendi que também segurava as suas, em nenhum momento deixamos de nos olhar. Éramos fortes assim, seguros um no outro. Eu chorava de felicidade e ele externava a dele com um sorriso sincero.
– Cuide bem dela – a voz do meu pai quebrou o nosso silêncio. Estava embargada pela emoção.
Este foi o momento em que me vi impelida a desviar minha atenção do homem que eu seguiria pela eternidade, para agradecer ao que havia me guiado até ali. Olhei para meu pai. Aquele homem forte que intimidava a todos segurando sua emoção como podia.
– Com a minha própria vida, Peter.
Alex enlaçou os dedos nos meus conectando-nos. Cada célula do meu corpo sabia que naquele momento nos uniríamos para sempre e nada seria capaz de quebrar nossa aliança.
– Eu te amo, princesa.
Era como ele me chamava quando eu ainda era uma criança. Quando ainda brincava em meu pequeno castelo de madeira, e ele era o meu cavaleiro fiel, o que lutava para proteger o reinado. Foi a forma que encontrou de me mostrar que finalmente havia entendido. A sua filhinha, a pequena princesa que precisava dele para proteger o reino, crescera e começava a andar com suas próprias pernas. Dominada pela emoção, joguei-me sobre ele e o abracei com força.
– Eu te amo, papai! – e solucei, agradecendo internamente por ter usado maquiagem à prova d’água. Ele riu e meus amigos também.
– Eu sei. Eu sei. Mas agora precisamos realizar um casamento.
Soltei meu pai e voltei a entrelaçar meus dedos nos de Alex.
Padre Messias, que me olhava com carinho, começou o tradicional sermão utilizado em todas as cerimônias de casamento. Ele falava do amor, da importância da fidelidade e da construção da família em Deus. De vez em quando, eu olhava para Alex, que acariciava meus dedos com seu polegar. Quando nossos olhos se encontravam o resto do mundo deixava de existir. Padre Messias era apenas uma voz distante, um ponto solto naquele universo que eram os olhos de Alex. Até que fomos forçados a dizer os votos.
Oh, droga! Os votos. Eu havia dito a Lana que tinha tudo pronto, mesmo com a implicância dela e todas as ameaças, consegui me esquivar de deixá-la ler. Na verdade, eu não escrevi nada. Contida pelo medo e incerteza, fui incapaz de escrever uma linha sequer. O que eu poderia dizer?
– Charlotte Middleton... Charlotte – ele sorriu, e o dia pareceu ficar mais claro, como se um raio de sol abençoasse as suas palavras e iluminasse o altar, especialmente para nós dois. – Votos são apenas promessas que, muitas vezes, não sabemos como nem se poderemos cumprir. Prometer qualquer coisa é ser injusto com o nosso amor. Você merece muito mais do que promessas. Eu quero apenas que saiba que, antes de você, eu não sabia o que era ser feliz. Mesmo quando tudo parecia uma imensa loucura, quando pensei que estava destruindo tudo o que havia lutado para construir, eu tinha a certeza de que valia a pena, porque era com você, e por você. Não posso dizer que não tive medo ou que não fiquei inseguro, mas quando você chegava e eu a olhava, tão decidida a mudar o curso da sua história, a realizar os seus sonhos... Você era muito mais do que a garota inocente que frequentava as aulas, era, e é, a mulher mais forte que já conheci. A mais decidida e determinada. E enxergá-la mudou o eixo do meu universo, deixei de ser o centro, de ser a estrada mais importante e passei a ser apenas um satélite em sua órbita. Incapaz de sair de perto de você, de não atender às suas vontades, disposto a tudo para agradá-la. Passei a ser o seu súdito e confesso que nunca fui tão feliz – mais uma vez, ele sorriu, e meu coração quase parou. Era tão lindo! – Case-se comigo hoje e também me deixe renovar estes votos todos os dias, horas, minutos e segundos. Porque eu nunca me cansarei de dizer o quanto te amo e de lutar para que sua vida seja muito mais do que um romance, um conto de fadas.
As lágrimas não paravam de cair enquanto ele falava, e meu coração martelava com a emoção. Alex havia encontrado as palavras perfeitas, enquanto eu não sabia o que dizer. Todos fizeram silêncio me aguardando.
– Não sei se é correto, sendo eu uma aspirante a escritora, falar que não sei o que dizer.
Todos riram e Alex me olhou com admiração. Ele me conhecia e compreendia como ninguém em toda a minha vida. Eu sabia que mesmo que encerrássemos ali, que nenhuma palavra fosse dita, ele se sentiria feliz e realizado. Mas... Droga! Eu tinha tanto a dizer.
– Quando uma pessoa é apenas mais uma no universo, ela não é especial. Quando se alimenta apenas de sonhos, ela não vive. Quando o sol toca a sua pele e ela é incapaz de sentir mais do que uma leve ardência, ela não é feliz. Quando o dia vai embora e ela não consegue se emocionar com os seus últimos raios, ela não ama, nem é amada – o silêncio fazia com que minha voz ecoasse. – Alex Frankli... Professor Frankli – ele sorriu largamente. – Meu namorado, meu noivo, meu marido... minha vida... obrigada por, assim como nos contos de fadas, com um beijo, me fazer acordar – ele riu e eu sorri presa em seu olhar. – Com a sua capacidade de me entender e apoiar, me deu a mão e me fez ver que eu era única, mesmo que fosse apenas em seu universo. Você me fez compreender que sonhos são fundamentais, mas vivê-los é essencial e você foi o meu melhor sonho e a minha mais perfeita realidade. Você me trouxe muito mais do que o sol para esquentar o meu corpo, trouxe a felicidade a uma alma gelada, que sofria e ansiava pela sua chegada. Sempre foi você e sempre seria independentemente de quanto tempo eu precisasse esperar. Obrigada por me proporcionar os melhores finais de dia que uma garota poderia desejar, pelo simples fato de você me amar. Enxergou muito além do meu desespero para escrever o livro perfeito, enxergou a minha alma e, com isso, despertou em mim o que existia de melhor e me fez entender que você é a minha melhor história, a que eu posso e quero escrever a cada dia mais uma parte. Obrigada por ser você e me ajudar a ser eu mesma. Eu te amo!
Uma lágrima escorreu em seu rosto, ele sorriu e mordeu os lábios. Um menino lutando contra o homem que aparentava ser. Aquele era o meu Alex. O meu marido.
– Eu te amo! – ele me puxou para seus braços.
ALEX
Ela chorava enquanto falava e meu coração parecia querer explodir de tanto amor. Toda a minha vida passou diante de mim como um filme, mostrando-me o quanto, apesar de feliz, foi vazia. Charlotte era o meu sol. O que faltava para que eu me sentisse pleno. E ela estava lá, como havia prometido, dizendo que me amava também, comprometendo-se com uma vida ao meu lado. Eu estava feliz, orgulhoso e completo.
Beijamo-nos com paixão e emoção. Cheios de um amor sem tamanho, impossível de ser descrito. Um amor que eu nunca acreditei existir fora dos romances. No entanto, era real e eu o estava vivendo. Era impossível não chorar.
– Ninguém ouviu o tradicional “pode beijar a noiva” – Lana provocou e todos riram. Charlotte se afastou completamente vermelha. Como eu amava a maneira como ela corava.
– Bom... – o padre continuou rindo de nossa incapacidade de tirar as mãos um do outro. – As alianças.
Patrício se aproximou conduzindo Escuridão, meu cavalo, com uma almofada em seu lombo. Eu ri de uma piada apenas minha. Meu cavalo, que eu amava muito, tinha ciúmes da minha esposa e a derrubara na noite da tempestade. Charlotte olhou para mim e estreitou os olhos. Dei de ombros, afinal de contas, eu não planejei nada do casamento. Todos pareciam se divertir.
Assim que Escuridão chegou próximo da gente, Charlotte deu um passo para trás. Ri, passando à frente e desatando o laço da almofada que continha as alianças. Patrício piscou para Charlotte e saiu levando meu cavalo. Voltei a atenção para minha esposa. Entreguei em sua mão uma aliança e segurei a dela.
– Charlotte Middleton, com esta aliança eu te faço minha esposa. Prometo honrá-la, amá-la e respeitá-la. Ser seu amigo, marido e amante – ela sorriu e corou. – Sua felicidade será a minha felicidade e a sua vida a minha vida – a aliança deslizou em seu dedo. Charlotte tremia, não poderia ser diferente.
– Alex Frankli, com esta aliança eu te faço meu esposo. Prometo honrá-lo, amá-lo e respeitá-lo. Ser sua amiga, mulher e... – mordeu os lábios – ... amante – um risinho fraco preencheu a plateia e o meu sorriso foi gigantesco. – Sua felicidade será a minha felicidade e a sua vida a minha vida.
– Agora sim, pode beijar a noiva – todos riram novamente.
Aproximei-me de Charlotte buscando por seus lábios, ela me segurou e beijou com entusiasmo. Claro que correspondi com ímpeto, nada que desrespeitasse a minha esposa. Todos riram e aplaudiram. Segurei Charlotte pela cintura e girei-a, deitando-a em meus braços como em uma cena de filme.
– Minha esposa! – ela me olhou com brilhos nos olhos.
– Meu marido! – e sorriu com orgulho. – Podemos ir direto para a lua de mel? – ri cheio de felicidade. Aquela sim era a minha Charlotte.
– Quanto a isso... – cocei a cabeça enquanto ela fazia cara de espanto.
– Não vamos ter lua de mel?
– Vamos. Claro que vamos! Você tem uma formatura para comparecer em alguns dias e eu tenho uma coisinha para resolver. Por isso adiaremos nossa viagem.
– E o que vamos fazer?
– Muitas coisas – sussurrei em seu ouvido. – Em nossa casa, por enquanto – e beijei um pontinho atrás da sua orelha vislumbrando sua pele arrepiada.
– O que precisa resolver que nos impede de viajar? – droga! Charlotte não deixava nada para depois.
– Tenho que comparecer à faculdade e resolver os trâmites da minha saída – ela me avaliou. Merda! Porra de mulher difícil de esconder alguma coisa. Tentei parecer tranquilo. Ela não acreditou.
– O que está me escondendo? – seus olhos esquadrinharam meu rosto.
– Charlotte, vamos curtir no nosso casamento. Podemos conversar sobre qualquer coisa depois...
– Não. Eu quero saber agora. O que está acontecendo?
Eu precisava mudar o rumo daquela conversa ou ela ficaria muito irritada e tudo o que eu realmente não precisava era vê-la nervosa por mais um problema causado pelo nosso envolvimento.
Anita tinha prometido me prejudicar e, aparentemente, era o que estava fazendo. Quando o professor Carvalho ligou avisando que precisávamos conversar e que Anita havia feito uma denúncia séria, eu tive a certeza de que seria um momento difícil. Tudo que Charlotte não precisava era começar a se preocupar com essa merda na nossa festa de casamento. Eu resolveria tudo depois.
– E eu estou louco para tirar este vestido de você – ela sorriu, relaxando e se entregando ao momento.
– Podemos abraçar os noivos?
Minha mãe apareceu por trás da minha mulher, tirando-a dos meus braços. Logo em seguida, meu pai me abraçou e nós fomos passando por diversos braços. Foi ótimo para ganhar tempo e fazer Charlotte esquecer aquele detalhe ruim.
Enquanto dois amigos do meu pai me cumprimentavam com tapinhas nas costas e abraçavam a minha esposa, senti meu celular vibrando. Por instinto, peguei o aparelho e, sem reconhecer o número, atendi.
– Alex? – era Tiffany. Sua voz frágil me fez ficar em alerta. – Por favor, não desligue.
– O que você quer? – tentei manter a calma para não alertar Charlotte. Afastei-me um pouco do grupo.
– Você foi até o final.
– Eu disse que iria.
– Você disse – ficou um pouco em silêncio. – Mas eu tinha esperança... você sabe...
– Tiffany...
– Eu estou feliz por você, Alex. De verdade. Posso não ser a melhor pessoa, porém não sou um monstro. Eu amo você! – sua voz indicava um sorriso, uma emoção que não conseguiu disfarçar. – Amo você e, por meu sentimento ser verdadeiro, sou obrigada a aceitar a sua escolha. Você ama Charlotte – depois de uma pequena pausa ela continuou. – Apesar de eu não conseguir entender bem o porquê... é ela quem você ama.
– É sim. Sinto muito.
– Não sinta – ouvi um riso amargurado. – Não sinta. Você deveria escolher alguém mais forte para ficar ao seu lado.
– Ela é forte...
– Até quando? Você acredita mesmo que essa garota não vai desabar quando souber o que Anita aprontou? Será que ela vai ser tão forte assim quando descobrir que o trabalho ao qual dedicou sua vida foi cancelado porque ela insistiu nesta loucura? – Engoli em seco.
– Ela não precisa saber agora – fiquei alerta. Não deixaria Tiffany destruir os sonhos de Charlotte. Não tão fácil nem tão cedo.
– E eu não vou contar – sua voz demonstrou amargura por eu ter pensado que ela poderia. – Mas ela vai saber. Eu espero que você consiga contornar mais este obstáculo. Eu te avisei, Alex.
– Nós vamos recorrer. Vamos lutar com todas as nossas forças...
– E quando as forças acabarem? O amor não pode tudo. Nem tudo o amor entende ou vence. Sinto muito. Por mais que este casamento me cause dor, eu não desejava isso para vocês, principalmente para ela – ela soluçou, mas se controlou. – Eu vou embora agora. Desejo-lhe felicidades. Adeus!
Ela desligou. Apesar de tudo, eu me sentia triste pelo amor que ela nutria por mim e desejei de verdade que ela fosse feliz.
– Tiffany? – Lana me segurou pelo braço entregando-me uma taça de champanhe.
– Sim.
– Acho que perdemos uma grande escritora.
– Deixe-a ir, Lana. Tiffany nunca será feliz se continuar esperando por mim. Quem sabe indo para outra editora ela encontre a paz de que necessita.
– Você tem razão – ela levantou a taça e brindou comigo.
– Um brinde? Posso saber o motivo? – Charlotte se juntou a nós dois com olhos curiosos.
– À nossa mais nova superescritora – Lana virou-se rapidamente capturando uma taça de champanhe que o garçom levava e a entregou a Charlotte. – E ao casamento mais bonito a que já tive o prazer de assistir. Com a minha superprodução é claro – piscou para minha esposa que sorriu e aceitou o brinde.
CAPÍTULO 37
“Se não fosse por meu amor, o dia seria noite.”
William Shakespeare
CHARLOTTE
Alex tentava me fazer esquecer o que sem querer tinha deixado escapar. Eu fingia que ele havia conseguido me enganar, embora por dentro estivesse temerosa. O que diabos teria acontecido? O que Anita conseguira fazer de tão ruim para obrigá-lo a adiar nossa lua de mel? E a minha formatura? Será que ela conseguira invalidar o meu projeto? Merda! Dei um longo gole em meu champanhe e gostei do sabor.
O melhor a fazer, por ora, era tentar esquecer. Afinal de contas, era o meu casamento e seria a minha primeira noite com meu marido. Só de imaginar meu ventre começava a formigar.
– Precisamos começar a trabalhar nos detalhes do seu livro. Já conversei com a Paula hoje e ela vai iniciar a revisão. Precisamos de tudo pronto o mais rápido possível.
– Depois da lua de mel, Lana. Charlotte só vai pensar nisso quando voltarmos – Alex bebia tranquilamente sorrindo como um homem feliz.
– Vai demorar muito! Vocês nem escolheram para onde vão! Nada disso. Vou aproveitar esta semana que vocês ficarão em casa e vou iniciar o trabalho de marketing. Vamos fazer algumas fotos, gravar um teaser... O que acha? – bebi mais um longo gole.
– Acho que não sei fazer nada disso.
– Nem precisa. Só precisa ser diva, o resto pode deixar conosco que contamos com os melhores profissionais para fazê-la brilhar.
– Pensaremos nisso depois. Agora eu quero cortar o bolo e levar a minha esposa para casa – Oh, merda! Um milhão de borboletas levantaram voo no meu interior.
– Nada disso. Vocês ainda vão tirar fotos. O que seria de um casamento se não existissem fotos? E a dança dos noivos? Não, não. Vamos seguir o ritual completo.
Tomei mais um gole, terminando a bebida e olhei para os lados à procura de um garçom. Seria ótimo me desligar um pouco das aflições. Tiffany e Anita não estavam em nenhum lugar, o que me deixava muito tranquila. Depois do que aprontaram, confesso que tive medo de elas aparecerem para estragar a festa, graças a Deus não fizeram isso e eu me senti aliviada.
Alex me escondia um segredo. Lana queria que eu virasse uma diva da literatura, justo eu que não conseguia nem coordenar direito meus passos, tive que apelar por aulas particulares de sexo com o meu professor para conseguir descrever corretamente uma cena de sexo. Puta que pariu! Eu precisava de mais uma dose.
– O que está procurando? – Alex se aproximou me abraçando pelas costas e encostando o rosto na curva do meu pescoço.
– O garçom – encolhi-me ao sentir seus lábios em minha pele.
– Nada de ficar bêbada, Sra. Frankli. Quero a minha esposa completamente sóbria.
– Vai demorar muito ainda para chegarmos em casa – protestei e me deixei afundar em seus braços.
– Uma eternidade levando-se em consideração a minha vontade de descobrir o que tem por baixo deste vestido.
– Alex! Lana...
– Lana foi chamar o fotógrafo. Vamos começar logo para acabar rápido.
– Para que você possa descobrir o que tem por baixo do meu vestido? – virei para o meu marido e o encontrei com um sorriso imenso, repleto de felicidade.
– Exatamente.
– Isso é interessante – afastei-me dele e sorri captando pela minha visão periférica Lana e o fotógrafo se aproximando. – Considerando que não estou usando nada por baixo – e fiz minha melhor cara de inocente.
Alex abriu a boca para responder, mas se deu conta de que Lana estava muito próxima. Seus olhos chamuscaram e meu corpo inteiro ficou quente com aquela pequena mentira. Claro que eu estava usando um lindo conjunto de lingerie cheio de detalhes que só Lana seria capaz de me fazer comprar.
Fazer as fotos foi supertranquilo. Alex estava com as mãos em mim e eu resolvi virar uma taça de uma vez por todas para criar mais coragem. Assim, aceitei fazer a foto de nós dois cortando e depois comendo o bolo, e até me atrevi a pegar um pouco da cobertura e passar no rosto dele quando ele pensava que eu a colocaria em sua boca. Foi engraçado. A cara dele foi impagável. Também fiz a que brincava de obrigá-lo a casar e adorei fazer as tradicionais e artísticas. Ficaria tudo lindo!
– Foi tudo perfeito! – minha mãe se aproximou de mim quando eu pegava a minha terceira ou quarta taça de champanhe. Sorri com uma alegria exagerada, provavelmente causada pelo álcool. – E você está radiante! – ela me envolveu com seus braços que me transmitiam muita segurança.
– Eu estou muito feliz, mãe! Tive medo de aceitar, mas Alex... – olhei para onde ele estava, conversando alegremente com o irmão, Johnny e o cunhado. Eles riam. – Ele é tão lindo! – minha mãe riu e eu fiquei sem graça ao perceber que estava suspirando pelo meu marido na frente da minha mãe.
– Sim, ele é lindo – passou a mão em meu rosto. Fechei os olhos absorvendo o máximo possível daquele carinho. – Obrigada! – abri os olhos sem entender o motivo de ela estar me agradecendo.
– Pelo que exatamente? – seus olhos encontraram os meus e então percebi que estavam cheios de lágrimas. – Mãe! – e as lágrimas caíram.
– Por ter aceitado se casar, oras! – ela riu e limpou o rosto, ironizando a própria fragilidade. – Você é minha única filha e assistir a seu casamento foi incrível, apesar de me sentir velha.
– Mãe! Se eu esperasse mais dez anos, você ainda estaria aqui – seu olhar foi estranho. Droga! O que estava errado? – Não estaria?
– Charlotte... – ela gaguejou e meu coração perdeu uma batida. – Claro que sim, querida! Eu não perderia por nada – e sorriu com mais lágrimas caindo.
– Mãe, o que está acontecendo? – ela me encarou por breves segundos.
– Você cresceu e de repente me dei conta de que a vida está passando. Você vai se sentir assim quando estiver no casamento dos seus filhos – riu e levantou sua taça que, com certeza, não era de champanhe. – E quando estiver bebendo um pouco – piscou tentando me enrolar.
– Isso é refrigerante.
– Não dietético. Você nem imagina o que o açúcar é capaz de fazer no corpo de uma mãe emocionada.
– Ah, mãe! Eu te amo!
– Podemos ir? – Alex apareceu e o simples som da sua voz me fez perder o foco.
– Já? Vocês... – minha mãe tentou protestar, Alex me enlaçou pelos ombros puxando-me para perto.
– Eu pretendo te dar netos, Mary – ela sorriu largamente e eu fiquei incrivelmente vermelha. – Para isso preciso... – bati no ombro dele fazendo-o rir.
– Pare com isso! Ela é minha mãe! – protestei, eles riram.
– Eu ia dizer que preciso...
– Nem uma palavra, Alex! – minha mãe gargalhou chamando a atenção de todos.
ALEX
Charlotte estava sentada ao meu lado, olhando pela janela do carro. Estávamos na estrada há menos de meia hora e ela, apesar de sorrir de tempos em tempos, nada dizia. Aquele silêncio começava a me incomodar.
– Como quer fazer? Podemos passar em sua casa antes para pegar algumas de suas coisas ou simplesmente seguimos para a nossa casa e deixamos esta parte para depois.
– Não acredito que eu vá precisar muito de roupas nos próximos dias – ela sorriu e continuou olhando para fora. A paisagem verde, gélida e molhada deixava o clima ainda mais estranho.
– A senhora só pensa em sexo Sra. Frankli?
– Aprendi com um professor tarado que eu tive na faculdade.
Finalmente, ela me olhou com aqueles olhos claros maravilhosos que esquentavam a minha alma. Eu sabia que Charlotte estava preocupada com alguma coisa, muito provavelmente com o problema da faculdade, porém não queria que ela começasse a se desesperar muito cedo.
– Seu professor não era tarado até te conhecer, ou até você fazer aquela proposta indecorosa.
– Que o senhor adorou, Professor Frankli. Não venha com esta desculpa. Aposto que sua vida sempre foi cheia de propostas indecorosas, não apenas recebidas, também as feitas por você mesmo, Alex. Pela experiência que tem, posso até imaginar a quantidade de loucuras que já fez – sua boca fez uma careta de reprovação.
– Não podemos conversar sobre a minha vida sexual passada. Eu nem tinha ideia de que a encontraria, nem que teríamos um relacionamento, muito menos que estaríamos casados e felizes – ela cruzou os braços no colo e voltou a olhar pela janela. O silêncio que se fez me deixou inquieto. – Qual é o problema, Charlotte? – tentei manter meu tom de voz baixo e calmo. Não queria intimidá-la, apenas confortá-la pelo que a estava incomodando.
– Você já transou com duas mulheres? – porra! Que merda de conversa era aquela? O que importava?
– Charlotte...
– Só responda, Alex. Eu quero saber mais sobre a vida sexual do meu marido.
– Para quê? No que vai mudar?
– Eu quero saber – desta vez, ela fez birra, bateu o pé e cruzou os braços. Merda! Não dava para simplesmente deixar que ela estragasse a nossa lua de mel, e mentir não era a melhor estratégia no que diz respeito a Charlotte Middleton.
– Sim. Satisfeita?
– Você transou com duas mulheres?! – seu tom de reprovação me deixou assustado.
– Charlotte, vamos parar por aqui, ok? Pelo visto esta conversa não será nada agradável. É a nossa lua de mel e esta não é a melhor forma de começar nosso casamento.
– Quem eram elas?
– Ah, eu não vou te contar. Pode parar por aí. Eu não sou nenhum moleque para ficar dando detalhes e nomes. Eu respeito as mulheres com quem fui para cama.
– As mulheres! Centenas delas, não é? – droga! Droga! Droga! Apertei as mãos no volante e acelerei o carro. Era melhor chegarmos logo em casa. – E você gostou? Foi algo que te agradou muito?
– Foi. Eu gostei. Na época, foi a realização de um sonho. Você como escritora de romances eróticos deve saber que todo homem tem este tipo de fantasia. Eu realizei a minha. Teve um começo, um meio e um fim. Nada que mereça maior atenção. Podemos mudar de assunto?
– O que você nunca fez?
– Muitas coisas, Charlotte. Nunca fui ao Japão, por exemplo – sorri ciente de que estava fugindo da pergunta. Charlotte me deu um tapa no braço, revoltada com a minha resposta. – Ai! Pare com isso!
– Eu quero saber, Alex!
– Ok. Eu nunca transei com um homem. Tá aí uma coisa que nunca fiz e pretendo nunca fazer – ri novamente e recebi outro tapa. – Charlotte! Que merda! Tá legal! Vamos conversar sobre isso, antes me diga o motivo real desta curiosidade súbita.
– Porque sou sua esposa e sou inexperiente, acabei de me casar com você mesmo sem entender o motivo da pressa, e não sei como me comportar como mulher no casamento. E o que eu sei sobre sexo além do que você me ensinou? Além disso, transamos poucas vezes, e eu estou com a sensação ruim de nunca ter sido a primeira em nada para você. Eu não sou uma novidade. É isso!
Respirei fundo, diminuí a velocidade, entrei em uma estradinha de terra que não levava a lugar nenhum e desliguei o motor. Charlotte ficou parada, encarando-me sem entender o que eu estava fazendo. Tirei o cinto de segurança e virei de frente para a minha esposa.
– Certo. Para começar, você foi a minha primeira vez em um monte de coisas. Foi a primeira aluna com quem eu me relacionei. Foi a primeira pessoa para quem eu precisei ensinar, na prática, o que é sexo. Foi a primeira mulher de quem eu tirei a virgindade, este detalhe para mim foi incrível e inesquecível – sorri e ela corou. – Foi a primeira mulher que eu amei e a primeira com quem eu quis me casar, aliás, com quem eu fiquei desesperado para casar. Não seja tão insegura, eu te amo! Nada do que aconteceu em meu passado importa mais. É você quem eu quero, Charlotte!
– Eu só queria ser a primeira em alguma coisa – olhei para a minha esposa, ainda usando aquele lindo vestido de noiva, que ela lutou contra todos para não precisar tirá-lo, o que me agradou muito, e tive uma ideia.
– Bom... Eu nunca transei dentro do carro, em uma estrada deserta, com uma linda mulher vestida de noiva... – passei meus dedos por seu rosto e ela sorriu envergonhada.
– Aqui dentro do carro? E meu vestido?
– Daremos um jeito nele.
– E se aparecer alguém?
– Não vai. Se aparecer... deixarei o sensor ligado, seremos avisados se qualquer coisa chegar perto do carro. Além disso, estamos em um carro blindado, com vidros escurecidos até o limite, está chovendo, então é uma missão quase impossível alguém chegar até nós dois – Charlotte mordeu o lábio inferior e baixou os olhos. Ela ficava perfeita quando envergonhada. Eu a amava! Idolatrava! – Vem cá!
Puxei Charlotte para meu colo e imediatamente empurrei o banco para trás. Enquanto ela aguardava sem saber o que fazer, inclinei um pouco o assento para ficarmos mais confortáveis. Quando achei que estava bom, voltei minha atenção para a linda mulher diante de mim. Maravilhosamente corada e ofegante com a expectativa. Charlotte podia ser tímida, inexperiente, mas era fogosa e só imaginar o que poderíamos fazer dentro daquele carro a deixava excitada.
Segurei a saia do vestido puxando-a para cima, correndo os dedos por suas pernas, sentindo a meia fina. Charlotte fechou os olhos e pendeu a cabeça para o lado, já entregue ao prazer. Beijei seus lábios quentes e enfiei minha mão por seus cabelos, segurando na parte presa para ter mais firmeza. Com isso ela projetou o corpo mais para frente. Os seios arfantes escondidos pelo tecido do vestido de noiva me fazendo desejá-los em minha boca.
– Passe uma perna para o outro lado – imediatamente Charlotte sentou deixando-me entre suas pernas. O vestido impedia o contato entre nossos sexos. – Assim, Charlotte! – ela se encaixou sobre mim, aguardando meu próximo passo.
Puxei-a e mordi seu pescoço, arranhando sua pele. Charlotte gemeu baixinho. Subi a mão por sua coxa. Meias três oitavos! Ah, como eu gostava daquelas meias! A cinta segurando ao lado e minha imaginação trabalhando ferozmente. Por baixo do pano, subi um pouco mais em sua pele, indo de encontro a sua bunda quando encontrei a barreira que imaginava não estar lá. A calcinha.
– Acabo de descobrir que minha esposa mentiu – Charlotte sorriu e mordeu os lábios.
– Apenas brinquei com a sua imaginação. A ideia era tirar antes de você descobrir que eu havia mentido.
– É? Eu acho que isto merece uma punição – e dei um tapa em sua bunda. Charlotte gritou com o susto.
– Alex! – seus olhos imensos me encararam enquanto um misto de temor e desejo passava por seu rosto. Dei outro tapa fazendo-a gritar e depois rir. – Pare com isso!
– Você é uma garotinha muito má, Charlotte – puxei seu cabelo para trás fazendo seus seios empinarem. Na mesma hora meus dedos entraram em sua calcinha roçando levemente seu sexo já úmido. Inclinei a cabeça e mordi seu busto arfante. Charlotte gemeu descaradamente. Ela gostava daquilo e eu fiquei louco ao constatar. – Bom, agora você vai ter que me agradar. Muito! – ressaltei.
– Eu gosto de te agradar – ela me desafiou com um brilho nos olhos que eu conhecia muito bem. Charlotte estava excitada e permitia que o tesão assumisse o controle.
– Gosta, é? – rocei os dedos com mais firmeza e assisti a minha esposa fechar os olhos de prazer, empinando a bunda ansiando por maior contato. Retirei a mão e dei outro tapa em sua bunda, com um pouco mais de força. – Então rebole, meu bem. Rebole para mim.
Desabotoei minhas calças, querendo me livrar logo do que me impedia de penetrá-la, Charlotte segurou minha mão, detendo-me. Ela sorriu e colocou a mão por dentro da minha cueca, encontrando meu pau enrijecido. Com malícia nos lábios, ela sorriu e o acariciou, subindo e descendo com seus dedos frágeis em uma masturbação lenta. Gemi involuntariamente.
Devo confessar que Charlotte conseguia me enlouquecer quando agia impulsivamente. Nada controlado demais ou seguindo um script, era muito legal quando o assunto era sexo. Deixei que ela brincasse, sentindo o calor de sua mão me manipular com prazer.
Aproveitei e puxei seu vestido para baixo. O tecido cedeu um pouco, mas quem estava preocupado com este detalhe? Eu queria colocar minha boca em seus seios. Assim que vi aqueles mamilos rosados e intumescidos apontando para mim, disparei em sua direção. Suguei-os avidamente. Charlotte gemeu alto e rebolou em meu colo, intensificando seu aperto em meu pau, subindo e descendo sua mão com mais velocidade.
Mordi um bico e passei a língua umedecendo-o enquanto brincava com meus dedos no outro, apalpando e sentindo o quanto aqueles seios pequenos e durinhos eram perfeitos. Segurando um seio com a boca, o outro com uma mão, desci a outra até colocá-la por baixo do tecido sedoso e novamente alcancei sua bunda, ultrapassando a calcinha e esfregando os dedos em seu sexo molhado até chegar ao clitóris. Minha mão inteira acariciava a intimidade dela, esfregando a palma nos lábios e forçando as pontas dos dedos em seus pontos de prazer. Charlotte rebolou deixando-me extasiado.
Masturbávamos um ao outro de uma maneira tão íntima que logo o mundo foi esquecido. Eu sentia sua mão em mim, proporcionando-me prazer e queria tocá-la de maneira a arrancar dela todos os seus gemidos.
– Quero você dentro de mim, Alex – ela gemeu delirante em seu momento.
Levantei um pouco o corpo, forçando minha calça mais para baixo liberando meu membro extremamente duro, ainda em sua mão. Voltei minhas mãos para dentro do seu vestido. Uma pela frente e a outra por trás, puxando sua calcinha para o lado.
– Coloque-me dentro de você, meu amor.
– Eu por cima? – ela pareceu espantada.
– E como seria? – Charlotte corou, mas se movimentou e puxou meu pênis em direção ao seu sexo.
Descendo devagar me encaixou em sua entrada, firmando-me no meio de suas pernas. Seu sexo quente já recepcionava o início do meu corpo, deixando-me ansioso para estar totalmente dentro dela.
– Alex eu... – Charlotte gaguejou insegura.
– O show é todo seu, amor. Aproveite! – puxei-a para um beijo apaixonado, sentindo sua língua macia me recepcionar. Seus lábios se moviam com desejo esquentando ainda mais o nosso momento. Segurei em sua cintura forçando-a para baixo, iniciando a penetração.
Meu pau abria espaço em sua carne molhada e apertada, proporcionando-me um êxtase inimaginável. Ela também gemeu e se permitiu ser preenchida por completo, lentamente. Quando eu já estava enterrado nela, Charlotte abriu os olhos e aguardou. Sorri e novamente dei um tapa forte em sua bunda.
– Rebole minha esposa! – ordenei com tom de brincadeira.
– Sim senhor, meu marido!
E ela subiu, testando a nossa posição e em seguida desceu colocando-me inteiro dentro dela. A sensação era deliciosa. A chuva batendo no para-brisa do carro, uma de minhas mãos em sua bunda, a outra em seus cabelos, seus seios arfantes saltitando conforme nos movimentávamos, seus lábios entreabertos absorvendo o prazer... Perfeito!
Charlotte subiu de novo e quando desceu empinou a bunda um pouco para trás. Ah! Eu amava aquela bunda e aquele delicioso pontinho de prazer recém-descoberto. Sem pensar duas vezes, levei meu dedo até lá e a acariciei timidamente. Ela gemeu e rebolou em meu dedo, recebendo o prazer de duas formas. Charlotte era incrível!
CHARLOTTE
Alex me tocou outra vez daquela maneira íntima que me dava tanto prazer. Eu não saberia responder se sexo anal estava em minha lista de desejos, porém, com certeza, ser tocada ali enquanto ele me possuía deixava um rastro de prazer e luxúria em meu corpo que eu não conseguia controlar.
Sem contar que seu sexo quente, duro e pulsante, dentro de mim, já era o suficiente para me enlouquecer, mais ainda quando ele me dava liberdade para comandar a situação. Com Alex entre minhas pernas, eu podia fazer como quisesse e na hora que desejasse.
O poder é algo realmente perigoso.
Espalmei minhas mãos em seu peitoral e comecei a subir, descer e rebolar, como ele havia pedido. O sabor especial estava no momento em que eu descia sentindo-o forçar passagem, roçando pontos que distribuíam choques por todo o meu corpo, com isso acabava empinando a bunda, acho que propositalmente, permitindo que ele tivesse maior acesso ao meu... bom, àquele lugar ainda inexplorado, capaz de proporcionar grande prazer.
Com a mão firme em meus cabelos, ele me conduzia, nada que tirasse de mim o poder de comandar o momento. Aquele homem incrível, maravilhoso, era meu, e gemia contemplando meus seios e se deleitando com as minhas investidas. Puta que pariu! Era prazeroso demais.
Senti a familiar movimentação das borboletas em meu estômago e o início de uma leve dormência. Era muito cedo. Eu queria que demorasse. Queria uma eternidade de prazer, sexo e luxúria. Queria um orgasmo que durasse horas, ou a capacidade de gozar várias vezes sem cessar. Eu queria Alex. Todo. Em mim e só para mim.
– Alex! – gemi manhosa enquanto meu marido se movimentava embaixo de mim, entrando em meu corpo e fechando os olhos para desfrutar do seu prazer. – Eu estou... eu não...
Ele avançou, levantando o corpo e me prendendo ainda mais junto de si, uma mão espalmou em minhas costas segurando-me e a outra, de uma forma extremamente ousada, permitiu que seu dedo do meio invadisse aquela parte do meu corpo até então proibida em minha mente. Não tive tempo de pensar no assunto. Alex aproveitou o momento em que eu rebolava sentindo seu membro rígido penetrar meu corpo até o limite, já pronta para receber o orgasmo que eu sabia logo me dominaria e introduziu seu dedo lá... naquele lugar que não tenho coragem de proferir o nome por ser constrangedor e difícil de admitir, mas... Puta que pariu! Bastou isso. Uma leve pressão e um pouco mais do seu membro, para eu explodir de prazer.
Foi ousado, estranho, embaraçoso, maravilhoso. Nunca imaginei... Aliás, acredito que cheguei a imaginar, tendo em vista que muitas mulheres assumem gostar, mas... Puta que pariu um milhão de vezes! O que aconteceu? Ele colocou apenas a ponta do dedo e um dispositivo mágico foi acionado, levando-me ao espaço, desintegrando meu corpo por completo, criando imagens perfeitas de um céu estrelado onde tudo acontecia em câmera lenta. E eu gozei como nunca havia gozado.
ALEX
Puta merda! Charlotte me fazia perder o foco. Eu pensei que ela recuaria se fosse mais ousado e introduzisse o dedo mais profundamente nela, no entanto, ela simplesmente gemeu alto e gozou, estremecendo em meus braços. A ideia era fazer com que ficasse mais tensa e adiasse um pouco o orgasmo. Nós mal tínhamos começado a brincadeira.
No entanto, Charlotte... Ah, Charlotte! Ela era incrível! E me surpreendia de maneira inacreditável. Porra! Eu fiquei tão louco com aquilo tudo que minha vontade era forçar a barra e comer de uma vez aquela bunda incrivelmente empinada. Não podia. Não era a hora. Além do mais, ela tinha gozado. O encanto e o desejo desenfreado que a faziam permitir tudo haviam passado.
Eu ainda estava duro dentro dela. Latejando de desejo e disposto a fazer muito mais. Charlotte arfava em meu colo, parada, usufruindo o máximo do seu momento.
– Puta merda! O que foi isso? – ela falou com os cabelos desgrenhados descendo em seu rosto e escondendo parcialmente seu rubor. Eu podia comê-la de mil maneiras. Amava a minha esposa e a desejava como nunca desejei ninguém.
– Isso é seu fogo, Sra. Frankli. Vem! – puxei minha esposa para cima. Ela estava manhosa, entregue ao seu momento, porém não protestou e obedeceu aos meus comandos.
Com a mão em suas pernas, girei-a deixando-a de costas para mim. Levantei seu vestido até conseguir uma visão ampla da sua bunda perfeita. Ah, era impossível resistir àquela bunda, infelizmente eu precisava de tempo para acostumá-la com a ideia. Se bem que, no que diz respeito a Charlotte, tudo era imprevisível.
– Apoie-se no volante, amor. Incline o corpo sobre ele – eu estava ansioso demais, louco para me enterrar nela e receber o meu alívio.
Charlotte obedeceu e sua bunda empinou em minha direção. Sem perder tempo, segurei meu pau e o coloquei em sua entrada. Puxei minha esposa para trás e gemi alto sentindo-a molhada, fazendo-me escorregar em sua carne. Ela gemeu também.
– Agora rebole, meu bem – encostei-me no banco do carro e curtindo a visão dela rebolando, subindo e descendo em meu pau como ninguém era capaz de fazer. – Isso, amor! Assim mesmo – merda! Ela era incrível e eu estava doido para gozar.
Levei minhas mãos para a frente do seu corpo, com uma agarrei firme em um dos seus seios enquanto a outra acariciava seu clitóris. O prazer não podia ser apenas meu. Charlotte gemeu mais alto e aumentou a intensidade de suas reboladas fantásticas.
Ah! Eu podia passar a eternidade assistindo-a movimentar-se daquele jeito. Vendo meu sexo desaparecer naquele corpo alvo, sentindo a textura de sua carne me engolindo, apertando e depois me deixando. Joguei a cabeça para trás sem conseguir conter o gozo que já me tirava da realidade.
Gritei enterrando-me nela com força e encontrando o alívio. Minhas mãos não saíram dela, mantendo-a firme enquanto eu sentia o seu limite.
– Oh, Alex! – Charlotte gemeu manhosa. Puta que pariu! Ela precisava de mais. Abri os olhos e me inclinei para beijar suas costas.
– Você vai gozar, amor? – ela sinalizou que sim, com o rosto apoiando no volante do carro.
Puxei-a para mim deitando seu corpo sobre o meu. Ainda dentro dela acariciei seu seio, apertando-o com prazer e voltei a manipular fortemente o clitóris da minha esposa. Beijei seu pescoço, enquanto Charlotte ia se desmanchando, rebolando em meus dedos e se entregando ao prazer. Então ela arqueou o corpo para frente, eu apertei seu clitóris entre dois dedos, mordi seu pescoço, apertei seu seio em minha mão e ela gozou. Radiante! Linda! Perfeita!
– Alex! – ela dizia sem parar se entregando ao nosso mundo, onde só existia o nosso amor e o nosso prazer.
– Charlotte! Você ainda vai me matar com esse seu fogo – beijei seu pescoço com carinho enquanto ela ofegava em meus braços. Ela sorriu.
– A culpa é sua, professor. Tudo o que sei, aprendi com o senhor.
– E é uma ótima aluna. A melhor – ela riu e se virou para me beijar.
Segurei seu rosto suado, tirei os cabelos da frente e beijei seus lábios perfeitos. Foi um beijo leve, cheio de amor, cumplicidade, carinho...
– Obrigada! – ela sorriu e me beijou novamente.
– Pelo quê?
– Pela noite de núpcias mais inusitada que uma garota poderia ter – ri saboreando o sorriso lindo que ela exibia.
– Certo. Foi uma delícia, mas estou aflito para ter você em nossa cama, então vamos para casa, Sra. Frankli, não vejo a hora de tirar este seu vestido.
– Eu gosto dele – ela riu e sentou em seu banco colocando o cinto de segurança. – Posso listar diversas fantasias com ele.
– Tenho certeza de que sim. Você entende de culinária? – liguei o carro, manobrando rapidamente para voltar à estrada.
– Um pouco, por quê?
– Com tanto fogo vou precisar mudar a minha alimentação ou então vou pegar uma fraqueza – ela estreitou os olhos e cruzou os braços na frente do peito.
– Mal iniciamos nossa vida sexual e o senhor já está reclamando, professor?
– Não estou reclamando – gargalhei. – Só constatando fatos. Além disso – coloquei o carro na estrada e acelerei – ... adoro a ideia de poder comer você quando bem entender.
Charlotte corou, abriu a boca, mas nada disse. Seguimos rumo à nossa casa. Eu ansioso por ela e ela quase incendiando por mim.
A vida era mesmo perfeita.
AGRADECIMENTOS
Cheguei na parte mais difícil.
Lembrar-me de todos aqueles que estiveram ao meu lado até que eu conseguisse fechar mais este livro é uma aventura à parte. Escrever nunca depende só do escritor. Existe um mundo de profissionais e incentivadores que se tornam 80% da construção da obra, desta forma, eu devo tudo o que sou a estes amigos.
Vou começar agradecendo as minhas Maritacas, as melhores amigas que uma escritora iniciante poderia encontrar. Desde a primeira letra, elas estiveram comigo, fizeram o coro mais alto e forte que puderam e me mantiveram forte na estrada. Com este livro não foi diferente. Obrigada, mais uma vez, por aceitarem a minha ausência, por entenderem o meu momento e por continuarem comigo até aqui. Amo vocês.
Sou eternamente grata a Mariza Miranda e Janaina Rico, não apenas pelo esforço profissional que é betar um livro meu, e eu não sei realmente o que seria se meus textos não tivessem um dedinho de vocês, mas também pela amizade verdadeira. Vocês escrevem, sofrem, sorriem e choram comigo durante todo o processo, e sem desistir em nenhum momento. Este livro é nosso.
À minha família. Eu jamais poderia pedir pessoas melhores em minha vida. Deus foi muito bom comigo ao me escalar para esta vida ao lado de almas tão incríveis. Obrigada por sempre entenderem os meus sonhos, mesmo quando este era o de ser atriz, ou jogadora de vôlei, ou até mesmo advogada. Vocês nunca me disseram que eu não podia e é só por isso que hoje estou aqui.
Aos meus filhos, crianças lindas que entendem a mamãe e sempre dizem “você não tem nada para escrever hoje não?”. Amo vocês!
A toda equipe Pandorga, especialmente Silvia Vasconcelos e Petunia. Pela paciência sem fim. Por aguentar todas as minhas inseguranças e “chatices”, mas principalmente por acreditarem em mim e apostarem neste sonho. O trabalho de vocês deixa o meu mais bonito. Obrigada!
E, como não podia faltar, e por ser a parte mais importante de toda esta jornada, a vocês, meus leitores fiéis, que me acompanham curtindo comigo cada pedacinho dos livros, e que sempre fazem a parte mais brilhante deste mundo mágico que é o literário: vocês dão corpo, alma e vida a cada personagem. Obrigada por cada página lida, cada suspiro, cada lágrima, cada risada e cada “quando sai o próximo?”.
Obrigada! Obrigada! Obrigada!
O Professor – Livro III
Charlotte não quis passar na casa dela, ou na casa em que vivia antes de casarmos. Segundo ela, seu corpo implorava por um banho. Eu bem podia imaginar do que aquele corpo delicioso precisava para implorar tanto.
No entanto, para minha completa surpresa, ela insistiu em tomar aquele banho sozinha. Cacete! Eu fiz aquela viagem imaginando muitas coisas que gostaria de fazer com a minha esposa e agradecendo pelo seu fogo sempre crescente e... merda! Eu adorava tomar banho com aquela mulher. Fizemos isso até antes de transarmos realmente, então era meio que um padrão, ou uma necessidade do meu corpo. Mas ela simplesmente me colocou para fora do banheiro e se trancou lá dentro.
Passei um bom tempo encarando a porta do meu banheiro. Quer dizer... do nosso banheiro. Era melhor começar a me acostumar com a ideia. Quanto antes eu entendesse que tudo ali dentro, a partir daquele dia, seria nosso, mais rápido Charlotte ficaria à vontade.
Desisti de aguardar por ela. No fundo, eu queria acreditar que minha esposa abriria a porta dando risada, dizendo que estava brincando, e nós dois tomaríamos aquele banho tão desejado. Isso não aconteceu e eu acabei tomando um banho sozinho no quarto de hóspedes.
Quando saí, Charlotte continuava trancada lá dentro. Não havia nenhum som. Fiquei um pouco constrangido por estar encostado à porta, afinal de contas, não era porque éramos casados que eu tinha o direito de invadir a sua privacidade, mas eu estava encucado. O que tanto ela fazia?
O jeito foi começar a ajeitar as coisas no closet. Era importante arrumar minhas roupas de forma a ceder espaço para as da minha esposa. Eu nem sabia se Charlotte era o tipo de mulher que colecionava sapatos e roupas, se precisava de muito espaço. Droga! Eu ainda tinha tanta coisa para conhecer daquela mulher.
Consegui liberar uma parte consideravelmente grande, empurrando minhas roupas de uma forma não muito organizada. Talvez se eu eliminasse a parede que separava os dois quartos e tomasse uma parte do outro closet... Por que Charlotte ainda estava no banho?
Voltei para o quarto e fui até a porta do banheiro. Nada. Pensei um milhão de vezes em chamar. Sabe-se lá o que pode acontecer dentro de um banheiro. E o silêncio total só fazia minha nuca pinicar com um monte de pensamentos tenebrosos.
Bati de leve na porta. Nada. Resolvi ser mais incisivo batendo um pouco mais forte. Silêncio absoluto. Meu coração acelerou tirando todo o meu controle. Decidi que chamar por ela não seria algo tão inadequado, afinal de contas Charlotte estava lá há mais de uma hora. Pensando bem, quase duas horas. Estava tarde e nós nem tínhamos jantado.
– Charlotte! – tentei não parecer desesperado, mas a verdade era que eu estava, e muito. Que coisa mais estranha!
Ela não respondeu. Aproximei-me colando o ouvido na porta. Silêncio. Merda!
– Charlotte? Está tudo bem? – mais silêncio. Bom eu arrombaria a porta se fosse o caso. – Meu amor, eu estou ficando preocupado. Dá para você...
Sem querer, e na ânsia de encontrar uma resposta, meu braço esbarrou na maçaneta e a porta abriu. Que imbecil eu era. Por que não testei a porcaria da maçaneta? Fiquei ainda alguns segundos olhando sem saber se deveria ou não entrar e acabar de uma vez por todas com aquela angústia. No entanto a minha boa educação me impedia de avançar.
– Lottie? – chamei carinhosamente. – Posso entrar? – Ela não respondeu, então achei que era melhor encarar o problema de frente. Eu havia feito a minha parte. Se Charlotte não estivesse com problemas, teria me ouvido.
Entrei com o coração acelerado. O que poderia ter acontecido? O primeiro lugar que meus olhos buscaram foi o boxe. Como eu havia pensado, ela não estava lá. Claro, o chuveiro nem estava ligado. O vaso também, lógico! Então corri meus olhos pelo ambiente e enxerguei apenas sua mão caída para fora da banheira.
Um segundo pareceu uma eternidade. Foi o suficiente para que meu coração parasse e acelerasse um milhão de vezes. Muitas teorias foram traçadas e desenhadas. Todas as tragédias possíveis desfilaram em minha mente. Minhas pernas vacilaram, meu corpo tremeu e meus pulmões buscaram pelo ar.
Dei um passo inseguro em direção à banheira que estava cheia, mas com pouca espuma, somente a água esbranquiçada que cobria o corpo pequeno da minha esposa, revelando apenas uma parte do seu joelho. Charlotte estava deitada, a cabeça apoiada no descanso, os olhos fechados, cabelos molhados e penteados para trás, a boca semiaberta e os lábios roxos.
Puta que pariu!
Tatiana Amaral
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