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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


AS INFINITAS POSSIBILIDADES DO NUNCA / J. Dantas
AS INFINITAS POSSIBILIDADES DO NUNCA / J. Dantas

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

Biblio VT

 

 

 

 

Foi no meu último dia em Mystic que tudo mudou.
Eu tinha 18 anos e estava indo para Yale, a realização de um sonho. Não só meu como do meu pai também. Era algo que achei que nunca seria possível, afinal, papai era um orgulhoso proprietário de uma pequena loja de artigos para pesca, cujo lucro servia apenas para vivermos bem, mas sem nenhum luxo. E minha mãe trabalhava em uma galeria de arte da cidade. Eu não era o que podia se denominar um material para Yale.
Porém, tudo mudou quando papai contou que conseguiu um empréstimo. Fiquei preocupada, afinal, era muito dinheiro, mas meu pai estava tão feliz e orgulhoso de poder me mandar para a faculdade que deixei para lá e tratei de passar o verão mais perfeito de todos, na companhia de meus amigos, e principalmente de Leo, meu melhor amigo.
E foi justamente para ele que reservei meu último dia. Andamos de bicicleta pela praia sentindo o vento no rosto e rindo como crianças que ainda nos sentíamos às vezes.
Ele olhou para trás e sorriu. Os cabelos escuros, que precisavam urgente de um corte, e as covinhas, que lhe emprestavam um ar infantil, me faziam lembrar de que apesar de ter crescido uns trinta centímetros no último ano e adquirido alguns músculos, Leo era um ano mais novo que eu e não iria para a faculdade até o próximo ano. Sua mãe, Claire, era a melhor amiga da minha mãe e desde que me conhecia por gente nós éramos grudados como irmãos. Eu o protegia dos garotos maiores, dividia meu lanche com ele na escola e lhe ensinara matemática. E Leo dividiu sua casa da árvore comigo, me protegeu dos garotos quando ficou maior que eu e me consolou quando meus pais se divorciaram, há dez anos.
Ainda não sabia como viveria sem tê-lo ao meu lado a partir de agora.

 


 


— Ei, branquela, vamos parar por aqui. — Leo largou a bicicleta na areia e retirou a mochila das costas.

— Hum, qual a surpresa? — questionei divertida enquanto ele retirava da mochila um cobertor e o colocava sobre a areia em frente ao mar e depois me jogava a mochila.

— Vou pegar alguns gravetos para fazer uma fogueira, abra a mochila e tem nosso jantar de despedida.

Eu ri e abri a mochila. Retirei de lá dois sanduíches de manteiga de amendoim e algumas latas de refrigerante.

— Muito elegante, Senhor Flyn. — Revirei os olhos me sentando no cobertor enquanto ele fazia uma fogueira como prometido.

O crepúsculo abraçava a tarde tingindo o céu de vermelho e apreciei as ondas batendo na areia e o sol se pondo. Daqui a pouco as estrelas surgiriam. Lembrando-me que desde criança eu amava deitar com Leo na areia e contar as estrelas, me sentindo pequena sob um céu de infinitas possibilidades.

Uma pontada doeu no meu peito. Ia sentir muita falta de Mystic.

E de Leo.

E dos meus pais.

E de quem eu era ali. A garota com uma vida simples, poucos amigos e que preferia ficar em casa cercada de livros a sair e curtir como qualquer adolescente. A vida parecia perfeita para mim assim até agora e sentia que talvez não estivesse pronta para o mundo lá fora.

De repente, desejei ter sido mais ousada ali, onde todos me conheciam. Talvez aceitado transar com Jeremy Baker no carro dele quando pediu, em vez de sair correndo ofendida.

— Está quieta — Leo comentou.

— Já estou sentindo falta disso. — Sorri com tristeza.

— Você sempre quis sair de Mystic, Sarah. — Leo me encarou não sem certa censura.

E era verdade. Eu amava Mystic, mas sempre senti que o mundo era grande demais para nos fixarmos em um só lugar. Queria viajar e conhecer os lugares dos quais só tinha visto nos livros.

E de alguma maneira, sentia que havia muito mais Sarahs dentro de mim. E que elas se revelariam ao mundo, conforme o mundo se revelasse a mim.

— Acho que não tinha me dado conta de tudo que vou deixar para trás até agora.

Lamentava que Leo não tivesse a minha idade, que não pudesse ir para a faculdade também. Talvez eu estivesse com medo de enfrentar o desconhecido, sozinha.

Eu era uma garota tímida e, embora possuísse outros amigos, sempre preferi a companhia de Leo em vez de ir a festas e conhecer outros garotos. Dava para contar nos dedos quantos encontros eu tive em todos aqueles anos.

— Estou com medo — confessei focalizando meus olhos nas labaredas e abraçando meus joelhos.

Era estranho, como se fosse um ataque de pânico.

O que eu conhecia do mundo, além de Mystic e dos livros que considerava melhores companhias do que seres humanos?

E agora estava saindo da minha bolha de normalidade e indo para o desconhecido e assustador: Universidade. Deveria estar feliz e ansiosa. Ia estudar língua inglesa, especializar-me naquilo que eu gostava: literatura. Só que obviamente faculdade não era só isso.

De repente me senti a pessoa mais inexperiente e imatura do mundo.

— Qual o problema, Sarah? — Leo tocou meus ombros.

Eu podia me abrir com ele. Era meu amigo, não era?

E hoje era nossa última noite juntos.

— Esse negócio de ir para a universidade... me assusta.

— Por quê? Achei que fosse o que você queria.

— Eu quero, mas... Como é que posso me dar bem sozinha num lugar daqueles?

— É só uma faculdade, Sarah.

— Eu sei, esse é o problema.

— Todo mundo passa por isso.

— É que me sinto tão... tão... inexperiente.

— Espera aí, está falando de... garotos?

Enrubesci. Sim, estava falando de garotos também.

Dei de ombros.

— Não é só isso.

Subitamente, Leo parecia diferente.

— Porque se for o problema posso te ajudar.

— Do que está falando?

Ele desviou o olhar por um momento, ruborizando.

— Leo?

— Na verdade acho que resolveria o meu também.

— Ainda não estou entendendo.

Ele me encarou.

— Estou falando de nós dois... juntos... adquirirmos experiência... juntos.

Franzi a testa tentando entender aonde ele queria chegar com aquele papo estranho, e então entendi.

Arregalei os olhos, chocada.

— Está propondo que a gente transe?

— Sim.

— Da onde tirou isso, Leo? Está maluco?

— Não, você acabou de falar que queria ser mais experiente com sexo.

— Eu não falei isso!

— Então você já...

— Não!

— Eu também não.

Desviei o olhar. Como é que tínhamos chegado àquela conversa estranha?

— Então por que não podemos?

— Porque somos amigos.

— Por isso mesmo. Eu te conheço Sarah, se ainda é virgem...

— Qual o problema com isso?

— Está indo para a faculdade e achei que estava se referindo a isso quando disse que se sentia mal.

— Eu não disse... — Parei. Sim. Eu pensava nisso também. Muito, para falar verdade. Pelo menos ultimamente.

Só que não era em absoluto meu único “problema”. Na verdade não era um problema. Por que tinha de ser? Eu simplesmente não conhecera nenhum cara com quem quisesse fazer isso até hoje. E daí que tinha 18 anos e estava indo para a faculdade sem ter feito sexo? Ninguém precisava saber. Era total problema meu.

Quer dizer, não era um problema.

Respirei fundo encarando Leo.

— Leo, eu não vou transar com você — disse devagar.

Ainda não podia acreditar que ele estava propondo uma coisa daquelas!

Era quase como um... incesto!

Ok, talvez fosse um exagero. Leo não era meu parente, afinal.

Era meu amigo.

Sempre imaginei que minha primeira vez seria com alguém que gostasse de verdade. E eu gostava de Leo, não gostava?

Sacudi a cabeça. O que estava pensando? Estaria mesmo pensando em transar com Leo?

Devia estar maluca.

De repente o encarei diferente. Ele estava bem perto. Tanto que eu podia ver os pontos dourados em seus olhos escuros. E o jeito que ele me encarava intensamente. Senti um calor que não vinha da fogueira e desviei o olhar, chocada.

Eu estava atraída por Leo? Meu amigo Leo?

Isso era totalmente... Inadequado!

Amigos não transavam. Não se envolviam romanticamente.

Era o maior erro que alguém podia cometer. Veja o que aconteceu com meus pais. Eles eram melhores amigos, assim como eu e Leo éramos. E tinham se apaixonado. Minha mãe engravidara e eles se casaram. E foi o que bastou não só para a amizade acabar, como o casamento ser um erro, acabando anos depois de muita terapia que não serviu para nada. E hoje eles se suportavam apenas por minha causa.

Não. Eu não deixaria algo assim acontecer comigo e Leo só porque meus hormônios estavam me dizendo que talvez não fosse má ideia transarmos.

— Por que não, Sarah? Não confia em mim?

— Claro que confio. Só que nós somos amigos.

— Não estou pedindo pra casar comigo! — Ele riu. — Eu apenas andei pensando...

— Andou pensando? — Levantei a sobrancelha.

De repente aquele cobertor na areia e a fogueira na noite estrelada tomou outro significado pra mim.

Será que Leo tinha planejado tudo aquilo?

Ele ficou vermelho.

— Então, eu só pensei que... você sendo virgem e eu sendo virgem... Que podíamos fazer isso um com o outro. Uma hora a gente vai ter que fazer mesmo, e gostaria que fosse com alguém como você. E está indo pra faculdade e achei que seria...

— Oh, Leo. — Sorri. Parecia mesmo doce e plausível ele pensar assim. E tão tentador. E errado! — Não é uma boa ideia.

— Eu acho que é.

— Leo, você tem 17 anos...

— É só um ano de diferença, Sarah!

— Ainda é errado!

— Não sou criança.

— Eu sei.

— Então vamos fazer.

— Leo... — Comecei a rir. De nervoso.

Lembrei-me de como Leo me convencia a fazer alguma traquinagem com ele quando crianças, como eu era suscetível, em como ele sempre acabava me convencendo.

— Você me acha feio? Repugnante?

— Claro que não!

— Você me acha bonito então?

— Leo!

— Vamos, Sarah, é só responder.

— Ok, você é bonito — E era verdade. Ele crescera nos últimos dois anos. Ficara mais alto do que eu. E muito gato, eu percebia agora porque muitas meninas não gostavam de mim por andar com ele. — Este corte lhe caiu bem — brinquei passando os dedos pelos cabelos despenteando-os, tentando descontrair.

Ele segurou minha mão e ficou sério.

Eu quis puxar.

— Sarah, estou falando sério.

Suspirei. Será que devia deixá-lo me convencer?

Eu o encarei por uns instantes. Sim, eu me sentia atraída por ele neste momento. Eu não parava para ficar reparando nele fisicamente, mas claro que eu o achava atraente. Qualquer menina acharia.

E ele é meu melhor amigo. Haveria alguém que eu confiaria mais um dia? E se deixasse Leo me convencer, o que eu faria com alguns sonhos românticos tolos e ultrapassados?

Já sabia a resposta. Por que eu tinha que esperar por um amor verdadeiro e único que poderia nem existir?

Haveria em algum lugar do mundo e do tempo alguém destinado a mim?

Não tinha como saber. E mesmo se existisse... quando é que o conheceria? Deveria ficar esperando intocada como as donzelas do século passado enquanto um cara legal e bonito como o Leo pedia para transar comigo?

É, talvez não, mas este é Leo. Meu amigo.

E para onde iria nossa amizade depois de tudo? Ainda sobreviveria?

Não, eu não podia deixar nada entre nós, nada que desfizesse aquele laço perfeito que tínhamos. E se eu transasse com ele, tudo mudaria. Por mais que ele insistisse que não, eu sabia bem lá no fundo. Podia estragar tudo. Acabar tudo.

E eu não suportaria.

Puxei sua mão para mim e a beijei, colocando-a no meu rosto, sacudindo a cabeça negativamente.

— Não, Leo — decidi.

— Está me dando um fora, Sarah James?

Eu sorri, largando sua mão.

— Apenas sendo sensata. Sim, eu me sinto mesmo meio idiota em estar indo pra faculdade sendo tão inexperiente e, sim, talvez devesse aceitar sua proposta e acabar logo com esse assunto. Talvez você fosse o cara perfeito, afinal. Eu lhe confiaria minha vida se fosse preciso, sabe disso.

— Então ainda posso ter esperança?

— Leo...

— Vamos fazer assim: daqui a um ano terei 18. Se eu ainda for... E se você ainda for... Nós faremos juntos. Você pode estar disposta a ir virgem pra faculdade, mas eu não.

— Daqui a um ano? Duvido que não tenha arranjado uma namorada até lá!

Ele deu de ombros.

— Você também. Então acho que podemos prometer.

Ele estendeu a mão.

Hesitei. Um ano para tudo mudar. Era óbvio que mudaria, não é? Para Leo com certeza. Quando não me tivesse mais ao seu lado, ele se sentiria atraído por alguma das garotas que corriam atrás dele.

Tentei não sentir ciúme, mas quem sabe para mim também as coisas não mudariam? Eu podia conhecer o amor da minha vida, afinal.

Quase ri desse pensamento e segurei a mão de Leo.

— Combinado.


Capítulo 1

 

Eu convenci a mim mesmo de que nunca te encontraria

Quando, de repente, eu te vi

Venus

 

Yale é a terceira maior universidade mais antiga dos Estados Unidos, faz parte de um conjunto de oito universidades tradicionais chamado Ivy League. É um privilégio estudar aqui.

Gosto de repetir isso para mim mesma todos os momentos em que me sinto tão cansada que minha maior vontade é de largar tudo e simplesmente voltar aos dias preguiçosos de Mystic. Como agora. Parece que eu não durmo há uma semana.

— Para de reclamar, Sarah! — sussurro para mim mesma.

Yale era um sonho, mas eu já devia saber que seria puxado.

Além das salas de aula, passo boa parte do meu tempo nas bibliotecas. A Bass Library tem cabines individuais que são disputadas à tapa e eu fico normalmente em uma dessas cabines estudando até o horário de fechamento, 1h45 da manhã.

Hoje não é diferente e disfarço um bocejo, ao juntar meu material, saindo do prédio da biblioteca. As alamedas estão vazias àquela hora e uma garoa fina começa a cair. Apresso o passo, pegando meu celular e um sorriso se distende em meu rosto ao ver uma mensagem de Leo.

“Dois meses e contando.”

Mordo os lábios, sentindo um frio na barriga.

Eu sei o que ele está querendo dizer. Faltam dois meses para as férias de verão.

Leo me mandara um e-mail ontem e isso não saía da minha cabeça. Estava ansioso para me ver. Contava novidades dos seus amigos, de como ele iria para uma faculdade não muito longe dali e no final acrescentava um “Acho que nada mudou no último ano para mim. E mudou para você?”.

Eu sabia do que ele estava falando e gostaria muito de dizer que sim, tinha mudado, mas seria uma tremenda mentira.

Eu ainda sou tão virgem como no dia em que cheguei a New Haven.

A verdade é que me adaptar ao ritmo puxado de Yale está sendo mais difícil do que eu imaginei. E eu quero muito aproveitar aquela oportunidade. Estudar é minha prioridade máxima. Assim, eu não tive muito tempo livre para socializar e, claro, ter encontros. Ocupada com os estudos e minha adaptação à nova vida universitária, não pensei muito nas promessas que eu e Leo fizemos no último verão. Porém, agora tenho que cumprir com o prometido.

Terei que transar com Leo.

O problema é que ainda me sinto do mesmo jeito que antes. Tenho medo de estragar nosso relacionamento. E acrescente a isso uma desconfiança que se alojou em mim nos últimos tempos. Desconfio que Leo possa ter mais sentimentos por mim do que é permitido entre dois amigos. Eu vi como ele cresceu e ficou atraente. As garotas o seguiam com os olhos como abelhas em volta de açúcar, mas ele não olhava para nenhuma delas. E por quê?

E como é que tendo tanta garota de todos os tipos atrás dele, ainda é virgem? Tenho medo da resposta. Será que Leo está esperando por mim?

Meu estômago revira de medo.

Porque eu adoro Leo, de verdade. Daí a começar um relacionamento romântico com ele? Se ele fosse mesmo apaixonado por mim, não deveria estar esperando apenas sexo. E seria pior do que eu imaginava. Porque, apesar de ter me sentido atraída por ele, não saberia dizer se o amaria daquele jeito. Do jeito que eu achava que o amor devia ser.

Olho para o céu, para as estrelas acima de mim, tentando achar uma saída. E estou tão distraída que colido com alguém vindo na direção contrária, meus pés patinam sobre o piso molhado e teria ido ao chão, se uma mão surgida de repente não segurasse meu braço, me impedindo de cair.

Infelizmente meus livros não têm a mesma sorte e se espalham aos meus pés.

— Cuidado.

A voz profunda me faz levantar a cabeça e encarar meu salvador.

Deparo-me com intensos olhos verdes me estudando com preocupação.

Caramba, por um momento fico um tanto aturdida. Ele é impressionantemente bonito. Pelo menos o que consigo ver, pois usa um capuz preto sobre os cabelos que sombreiam parcialmente seu rosto.

— Oh, desculpe — murmuro.

Sentindo-me mais idiota do que me sentia habitualmente, enquanto tento manter o equilíbrio no chão escorregadio. Posso jurar que meu rosto está tingido de vermelho.

— Está tudo bem? — Ele me encara com um olhar que pode ser descrito como educadamente preocupado.

Acho que fico mais vermelha ainda, porque ele ainda não largou meu braço, certamente achando que eu posso me esparramar no chão se o fizer. O que não está longe da verdade.

— Sim, claro... — balbucio, finalmente conseguindo me equilibrar.

— Tem certeza?

— Absoluta.

E só então ele solta meu braço e se abaixa para pegar meus livros do chão.

— Acho que não molhou muito.

Eu apanho os livros de sua mão, ainda atordoada.

— É... certo... obrigada.

Continuo meu caminho tentando me manter em pé sem fazer papel ridículo de novo, enquanto apresso o passo para Old Campus.

Aqui não ficamos em dormitórios comuns, como nas outras universidades, e sim em residências, chamadas Residential Colleges. Assim que cheguei, descobri que Yale escolhe os dormitórios dos alunos com um sorteio para decidir para qual das doze residências seremos designados. Tal tradição, agora com mais de setenta anos, é provavelmente a característica mais famosa do sistema da universidade para os alunos de graduação. Esses dormitórios são: Berkeley, Brandford, Calhoun, Davenport, Ezra Stiles, Jonathan Edwards, Morse, Saybrook, Silliman, Timothy Dwight e Trumbull e Pierson. Este último é o meu.

Cada college tem sua personalidade, costumes, cultura e suas peculiaridades. Porém, alunos do primeiro ano, antes de irem para os respectivos prédios de sua residência, ficam no Old Campus.

Só volto a respirar aliviada quando finalmente consigo entrar no prédio do dormitório. Atravesso a sala que divido com mais uma garota, Chloe Mitchell, e entro no meu quarto. Observo com pesar meus livros parcialmente molhados, me certificando que o estrago não foi tão grande, como o cara que me impediu de ir ao chão tinha dito.

Levo a mão ao braço, onde ele me segurou, só agora me dando conta que está meio dolorido.

Mãos fortes e dedos gelados, me recordo.

E olhar intenso.

Pego uma toalha e minha nécessaire, indo para o banheiro no fim do corredor, que divido com mais seis pessoas do andar. Retiro as roupas molhadas e ao passar pelo espelho, como temia, noto meu braço levemente arroxeado onde fui segurada pelo estranho.

Caramba.

Tomo um banho rápido e volto para o quarto, vestindo uma roupa velha e colocando o iPod no ouvido, ao deitar. A música adentra em meus ouvidos e fecho os olhos.

Minha mente volta ao momento em que tropecei no cara bonito. Agora, analiso minhas lembranças me dando conta de detalhes que não tinha percebido naquele momento. Ele tinha um rosto pálido e embaixo dos olhos incríveis havia olheiras.

Ok, eu também tinha olheiras assim como boa parte do corpo estudantil, que se matava para estudar em todos os momentos livres, até mesmo sacrificando as horas de sono. Mas havia algo diferente naquele cara. Algo quase melancólico. Como aqueles heróis românticos dos livros da Era Vitoriana.

Rio de mim mesma. Devo estar delirando. Ou lendo romances antigos demais. Não havia nada de romântico ou triste naquele cara. Como eu podia tirar todas essas conclusões sendo que nossos olhares se prenderam apenas por alguns instantes?

E com certeza seus olhos intensos nunca teriam cruzado com os meus se eu não fosse desastrada o bastante para me perder nas estrelas e tropeçar nele, o forçando a me segurar.

Com seus dedos gelados que agora estão marcados na minha pele.


Acordo na manhã seguinte, com Chloe me sacudindo. Chloe Mitchell é um é um furacão de energia. Quem a visse com sua risada estridente e cabelos ruivos ao vento, flertando com tudo o que tivesse duas pernas, não pensaria que ela é uma das pessoas mais inteligentes daquela universidade.

A questão é que Chloe tinha passado a adolescência inteira se esforçando para se encaixar nas expectativas de pais cientistas, e quando chegara à universidade decidira que a vida era curta demais para não curtir todos os momentos possíveis. E ela vinha tentando incutir esse pensamento em mim desde o dia em que nos conhecemos, mas até agora não teve muito sucesso.

— Acorda, Bela Adormecida!

— Chloe, me deixa em paz! — Coloco a coberta sobre a cabeça, mas ela a puxa.

— Por isso mesmo! Vamos tomar café! Estou louca por waffles!

— Eu tenho que estudar...

— Me deixa, pelo amor de Deus! — Ela arranca a coberta de cima de mim e me dá um tapa no traseiro. — Vamos levanta daí!

Eu sei que não vai adiantar dizer não para Chloe de novo, porque, apesar de me deixar em paz na maioria das vezes, quando ela cisma, não tem como pular fora.

E estou mesmo com fome.

— Está bem... — Sento-me e Chloe sai do quarto, feliz, mas antes que eu consiga me levantar, meu celular toca.

O nome de Leo pisca na minha tela e eu sorrio ao atender.

— Oi, branquela.

— Oi!

É sempre ótimo ouvir a voz dele. Conhecida. Reconfortante.

— E aí?

— Por aqui tudo bem — falo com falsa animação e torço para que ele não perceba.

— Não parece animada. O que anda fazendo de bom?

— Estudando muito, o que mais?

— Poxa Sarah, toda vez você responde isso. Não tem nada de interessante para fazer nessa cidade?

— Deve ter, para quem tem tempo para vida social.

— E aquela sua amiga maluca, que veio com você no dia de Ação de Graças?

— Chloe — Eu rio. Tinha levado Chloe para jantar comigo na casa da minha mãe no dia de Ação de Graças há alguns meses, e Leo estava lá, e eles não simpatizaram um com o outro. — Você implica com ela, mas Chole é legal.

— Espero que essa Chloe seja legal mesmo. Nunca escuto você falando de ninguém legal por aí.

— Não conheci muita gente, quer dizer, tenho grupo de estudos... Acho que é só. — “Nossa, por que de repente isso parece meio patético?”.

— Então não está saindo com ninguém? Quer dizer... — Ele fala rápido e entendo o que está fazendo.

— É... ainda não sei.

Deixo a resposta no ar, mentindo deliberadamente e faço uma careta. Se Leo estivesse ali, saberia na hora que eu estou mentindo. Posso sentir a tensão através da linha.

— Está saindo com um cara, Sarah?

Eu respiro fundo. É agora. Eu posso mentir.

Só que não consigo.

— Não, Leo. Não estou.

Quase posso sentir seu alívio.

— Que bom, quer dizer... que bom que o verão está chegando. Não vejo a hora de estar aqui. Estou com saudades.

— Eu também — murmuro.

Porque é a mais pura verdade.

— Só dois meses. Estou esperando você voltar — diz baixinho.

Fecho os olhos.

Há tanta coisa imiscuída naquelas palavras. Tantas coisas que eu quero evitar, de qualquer jeito...

Sim, Leo ainda está me esperando.

E eu simplesmente não posso deixar acontecer. Não com ele.

Não com meu amigo Leo.

— Leo, preciso desligar. Tenho que me arrumar, vou tomar café com a Chole. Depois eu te ligo, ok? Tchau!


Enquanto caminho com Chloe até o Café não consigo parar de pensar em Leo. Seria justo voltar para casa e dormir com Leo, sabendo como ele pode se sentir? Não, não seria nada justo.

E eu não posso arriscar a nossa amizade por nada no mundo.

O que eu devo fazer?

Posso mentir, claro. Dizer que não sou mais virgem. Inventar alguma história, mas Leo saberia. Com certeza ele vai saber que estou mentindo.

Então só resta uma alternativa: eu tenho que perder a virgindade de verdade com outra pessoa.

Meu estômago dá uma volta e eu gemo.

— Ei, tudo bem? — Chloe me fita preocupada. — Está ficando verde, vai desmaiar?

Sacudo a cabeça.

— Não, estou bem... Só um pouco enjoada, acho que não ando comendo direito.

— Tem que comer direito. Parece que vai sumir!

Ela me puxa para dentro do Café e não insisto quando faz nosso pedido, embora não esteja com fome de verdade.

Deixo meus pensamentos voltarem para meu dilema, enquanto Chloe pega seu celular, se ocupando em fazer selfs para postar no Instagram.

Estou mesmo cogitando perder a virgindade com um desconhecido? Quer dizer, não precisa ser um desconhecido. Só não pode ser o Leo.

Merda, por que eu não tinha aceitado os avanços do Jeremy no meu último verão na escola? Nada disso estaria acontecendo agora! Leo não faria aquele pedido absurdo e eu não me veria tentada a aceitar e acabar com nossa amizade.

E agora eu tenho apenas dois meses para resolver este assunto. E sinceramente, não é grande coisa, é?

Acontecia com todo mundo a todo tempo.

Talvez se eu fosse um pouco mais sociável aceitasse ir com a Chloe nas festas que ela frequentava todo fim de semana, poderia conhecer alguém... Mas, sinceramente, não quero conhecer ninguém. Os estudos são puxados e exige muita dedicação para acompanhar. Porém, pra resolver esse... probleminha, preciso apenas de um cara. Uma única vez, não?

Arrasto o olhar ao redor, pensativa. Há muitos caras ali. De todos os tipos e tamanhos. Não seria difícil conhecer alguém.

Seria algo sem compromisso. Apenas uma noite. Apenas uma vez.

E pronto.

Posso voltar a meus estudos e quando chegar o verão, e tiver que enfrentar o Leo, eu teria argumentos para dizer que não podemos transar. E tudo continuará como antes.

Leo como meu melhor amigo. E se ele tiver algum sentimento confuso por mim, vai acabar. Porque é assim que tem que ser.

De repente olho para a porta e vislumbro o casal que acabou de entrar.

E que casal!

A moça tem os cabelos loiros compridos mais bonitos que eu já vi e um corpo curvilíneo de dar inveja. Posso jurar que todos os olhares masculinos estão sobre ela, que sabe disso, pois sacode os cabelos com um risinho, segurando a mão de um cara alto de cabelos castanhos, que não consigo ver o rosto. Porém ele é alto e quando passa por nós não posso deixar de medi-lo, notando como o jeans escuro molda suas pernas compridas e delineia um traseiro perfeito nos quadris estreito. E eu nunca tinha reparado que um cara podia ter uma bunda bonita até este momento. Não é um cara musculoso, noto, quando subo meu olhar para os ombros largos sob uma camiseta preta justa, mas definitivamente parece do tamanho perfeito.

Quando ele se vira ao chegar ao caixa para fazer seu pedido, arfo ao reconhecer o cara em quem tropecei ontem à noite.

E caramba, assim, à luz do dia, ele é ainda mais bonito.

— Ah, esse Nathan Cole... — Chloe suspira e eu finalmente desgrudo o olhar do cara gato.

— Você conhece ele?

— Todo mundo conhece.

— Eu não conheço...

— Porque vive com a cara socada nos livros! Esses são Nathan e Caroline Cole. São filhos do ex-senador Cole! Não é possível que não os conheça! Os Cole são podres de ricos!

— Espera, eles não são namorados?

— São irmãos! Gêmeos! Caroline tem um namorado, que não sei como não está com eles, Tyler. E tem mais um irmão mais novo, Brad. Gato também, mas supergay! E claro, Nathan, o mais maravilhoso espécime masculino que essa universidade já viu. Ele não é lindo? Sim, claro que você acha ele lindo. Todo mundo acha, porém não se empolgue. Ele não sai com ninguém.

— Um cara daqueles não tem namorada? — “Ou várias?”, completo mentalmente.

A garçonete nos interrompe com nosso pedido.

— Todo mundo tenta, claro, mas nunca o vi com ninguém.

Chloe ataca o waffle.

Eu estou mais ocupada em me virar, disfarçando para dar mais uma olhada em Nathan Cole.

Sim, ainda parece perfeito, mas não faz sentindo um cara daqueles não ter um harém.

De repente ele levanta a cabeça e me pega o encarando. Viro-me rápido, vermelha feito pimentão.

— Será que ele não é... você sabe — cochicho para Chloe.

Ela levanta a sobrancelha.

— Gay? Duvido muito. Eu tenho um sexto sentido pra essas coisas. O irmão dele, Brad, como eu disse, já chegou aqui fora do armário — ela ri —, uma pena, ele é bem gatinho. Claro que não tão lindo como Nathan.

Eu quero me voltar e olhar de novo, mas me contenho.

Nathan Cole não deveria ser meu foco de atenção. Eu tenho muito com o que me preocupar no momento.

Por exemplo, em como atrairia um cara para minha cama. Só de pensar meu rosto esquenta. Então, do nada um nome se forma na minha mente.

Nathan Cole.

Eu quase rio, descartando totalmente e ideia absurda. Nathan Cole não é nem de longe um candidato. Rico e bonito daquele jeito ele jamais olharia duas vezes para alguém como eu. Afinal, ele pode ficar com quem quiser. Então por que nunca tinham visto ele com ninguém?

Bem, não é da minha conta.

Talvez não gostasse de garotas mesmo, como o irmão. Ou então tem alguma namorada longe daqui. E o que Chloe sabia dos Cole? Com certeza ela não parecia ser do círculo social deles.

Enfim, melhor tirar Nathan Cole do meu pensamento e me concentrar no meu plano.

E o plano é o seguinte: eu preciso perder a virgindade e tenho apenas algumas semanas para isso. Tem que ser alguém que não seja meu amigo, definitivamente. Alguém que não precise ter nenhum laço. Nenhuma cobrança. Apenas sexo sem compromisso.

Mas quem?


Capítulo 2

 

Estou com falta de ar ficando perto de você

Estou fora de meu alcance

Heart

 

— E aí, quer ir numa festa hoje à noite?

Encaro Chloe, desviando minha atenção de Nathan e Caroline Cole que acabaram de sair do Café.

E fica todo mundo olhando e cochichando. É bem bizarro, na verdade. Okay, eles são incrivelmente bonitos e, segundo Chloe, incrivelmente ricos também. Talvez fosse por isso que eram tratados como celebridades. Devia ser horrível. Ser sempre o centro das atenções. Pelo menos eu pensaria assim. Odeio ser o centro das atenções.

— E aí? Quer ir ou não? — Chloe insiste.

— Festa?

Nunca fui a uma festa no campus. Chloe sempre me chamava, e eu sempre declinava. Não sou tão inteligente como Chloe que pode sair, beber, fumar cigarros estranhos e acordar na manhã seguinte com caras mais estranhos ainda. E mesmo assim continuar com boas notas. Se eu não me esforçar, me darei mal. E isso nunca foi problema para mim.

Agora percebo que, se quiser dar prosseguimento ao meu plano, terei que ser um pouco mais como Chloe. Pelo menos até... Conseguir o meu intuito. Pronto. Está decidido. Eu tenho uma missão.

Perder a virgindade vai ser como fiz quando decidi que precisava da maior nota possível na SAT para entrar em Yale.

Eu me esforcei. Mantive minha mente no meu objetivo e fui em frente, determinada a conseguir o que queria. E consegui. Esta sou eu. Sou determinada e centrada.

E é assim que vou conseguir perder a virgindade também. Pensar deste jeito me faz sentir bem melhor. E eu engulo o não que estava na ponta da língua quando Chloe sorri.

— Sim, uma festa. Em East Rock!

Grande parcela dos alunos de pós mora em East Rock, um bairro de sobrados ao norte do campus, cujo nome vem do East Rock Park. O campus de Yale é bem pertinho, cerca de vinte minutinhos andando.

— É uma festa da pós?

— Sim! E na casa do Tyler Reed!

— Quem diabos é Tyler Reed?

— O namorado da Caroline Cole! Vai ser incrível. Eu nunca consegui ser convidada para uma festa da pós! Nem estou acreditando. Você tem que ir comigo. É a oportunidade perfeita pra conhecer uns caras! Estou cansada de ser solteira. Louca para arranjar um namorado!

— Eu não quero um namorado!

— Por que não? Nunca saiu com ninguém, achei que fosse dessas românticas que querem ter um compromisso e tal...

— Nem pensar! Estou com a mente focada nos estudos. Não tenho tempo para um namorado.

— Que seja! O importante é se divertir.

— Certo. Eu vou com você!


Ok, parecia bem fácil na teoria. E por que seria difícil? Garotas faziam isso o tempo inteiro, não? Então por que sinto meu estômago dar voltas enquanto bato na porta do quarto de Chloe?

Ela me encara com um olhar crítico.

— Você vai assim?

Não vejo nada de errado no meu jeans e suéter.

Um dos melhores que eu tenho, afinal.

— Qual o problema?

— Está muito “simplesinha”!

— Eu sou simplesinha!

— Mas não devia. Se quiser se destacar, se quiser se dar bem, tem que colocar uma maquiagem, talvez um decote... Acho que posso te emprestar alguma coisa.

— Não, não precisa — rechaço a ideia.

Nem pensar eu ia parecendo uma perua.

Já era muito eu ir àquela festa, imagina chamar a atenção sobre mim.

Nem pensar!

— Mas, Sarah...

— É sério, não precisa. Estou me sentindo ótima assim.

Ela se dá por vencida pegando a bolsa.

— Ok, depois não diga que não avisei. Vamos?


Assim que entro na festa e olho em volta, percebo que talvez devesse ter aceitado a ideia de Chloe. O lugar está bem cheio. Fumaça de cigarro, música alta. Sons de risadas, muita bebida passando de mão em mão. E garotas vestidas para que parecessem casual, mas com certeza tinham um visual calculado para ficar sexy.

— Uau! A gente vai se divertir muito — Chloe exclama animada e eu só tenho vontade de dar meia-volta e correr para a segurança do meu quarto.

Mas Chloe me puxa pela mão para o meio das pessoas.

— Vamos circular! Estou louca pra saber quem está aqui...

Alguém passa dois copos para nossas mãos e eu pego e já vou bebendo, e fazendo uma careta ao sentir o líquido queimando minha garganta e meus olhos ardendo.

— Você bebe uísque? — Chloe me encara divertida.

— Não!

— Não se preocupe, deve ter todo tipo de bebida por aqui. Eu prefiro cerveja.

Deixo o olhar vagar ao redor enquanto circulamos.

E tento forçar minha mente a pensar racionalmente. Eu tenho um objetivo ali. Então começo a avaliar os garotos. Havia caras de todos os tipos e tamanhos. Acompanhados, desacompanhados, em grupos, ou sozinhos.

Definitivamente eu devia me aproximar dos sozinhos, mas não faço a mínima ideia do que falar!

Este é o problema. Eu sou muito inocente. Não faço a mínima ideia de como ser sedutora ou algo assim. E como é que eu vou perder a virgindade desse jeito?

— Oh. Meu. Deus! O cara que estou paquerando está aqui, me deseje sorte — Chloe diz animada. — Meu batom está ok?

— Está.

— A gente se vê por aí!

E ela se afasta.

— Ei, Chloe — eu a chamo, apavorada, mas é tarde.

Chloe já desapareceu.

Ótimo.

Cá estou eu, sozinha no meio de uma festa em que não conheço ninguém. E tudo o que quero é sumir.

E como fica meu plano? Talvez devesse ser um pouco mais corajosa. Alguém passa distribuindo mais copos de bebida. Não é uísque. Nem faço ideia do que seja, mas tomo assim mesmo, ignorando a ardência.

E no fim não parece tão ruim, é uma questão de se acostumar com o gosto. E quando passa outro copo, eu pego de novo. É bom até. Sinto minha mente girando. E o corpo leve.

E sorrio comigo mesma. É uma sensação boa. Então me viro e esbarro em alguém, derramando todo o conteúdo do meu copo.

E quando olho para cima, me surpreendo ao ver quem é.

Nathan Cole está na minha frente com a camisa toda molhada da bebida que eu derramei. Mas não diz que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar?

Então como é que de novo eu estou sendo desastrada na frente desse cara?

— Oh... Meu Deus, me desculpa, eu...

— Não, não tem problema. — Ele segura a camisa estragada longe do corpo. Com certeza deve custar uma fortuna.

Posso sentir meu rosto queimando de vergonha.

— Sinto muito mesmo, arruinei sua camisa...

— É só lavar.

— Claro... você devia... devia limpar isso, talvez manche, eu não quero mesmo que estrague sua camisa.

— Eu tenho outras.

— Com certeza — murmuro, mortificada.

— Mas tem razão, acho que vou tentar limpar isso.

Então de repente ele ri.

Uma risada rouca e linda.

E tenho certeza que pela primeira vez na vida eu estou bêbada, pois sinto como se aquele sorriso atingisse diretamente meu estômago, revirando-o. Só que de um jeito bom.

Um jeito muito bom, na verdade.

E fico ali parada, observando-o se afastar, ainda sem entender do que ele tinha rido. Olho em volta da sala, atordoada. Por que a sala está girando? Ou é minha cabeça? Percebo algumas pessoas me encarando e cochichando. Oh droga, será que tinham visto meu vexame com o Cole?

Certamente. Mortificada, forço minhas pernas bambas caminharem. Preciso me esconder. Achar um banheiro. Isso! Preciso jogar uma água no rosto. Recuperar a sanidade. E o amor próprio.

Caminho trôpega pelo corredor e abro a primeira porta que encontro, entrando e me encostando nela e solto um grito abafado ao ver que o banheiro já está ocupado.

Por Nathan Cole. Sem camisa.

Ou estou tão bêbada que comecei a delirar?

— Está me perseguindo? — Há algo de divertido em sua voz perfeita.

E fico ali, o encarando com a mente girando. Ele está mesmo sem camisa?

Sim, constato, abaixando o olhar para seu peito desnudo. Parece uma daquelas estátuas gregas. Davi? Sim, definitivamente Davi. Perfeitamente esculpido.

De algum lugar estranho dentro de mim, surge uma vontade quase compulsória de me aproximar e tocá-lo. Ver que textura tem. Se ele seria frio como o mármore. Ou quente. Se havia um coração batendo ali.

Se era humano. Ou fruto da minha imaginação. Porque ninguém na face da Terra pode ser tão perfeito.

Meus dedos chegam a formigar.

— É... eu... eu...

O que eu tinha que responder mesmo? Sacudo a cabeça para tentar pensar racionalmente.

O que ele está fazendo aqui? O que eu estou fazendo aqui?

De repente me lembro do meu plano. Do motivo de estar naquela festa. Nathan continua a me encarar. Seu olhar é divertido, quase indulgente.

Ele tem olhos bonitos. Cílios longos. E um queixo quadrado. Beijável. É a palavra que me passa pela cabeça. E tem braços bonitos também.

Ele é todo bonito.

Ele é todo... sexy.

Sim, é isso. Com aquela pele pálida de estátua grega, os cabelos castanho-claros em perfeito desalinho, o sorriso de lado e aquele peito que fazia minha mão coçar de vontade de tocá-lo.

De repente o ar tornou-se rarefeito. Arfo, subitamente sem ar. Um calor invadindo meu rosto e se espalhando por meu corpo, no mesmo ritmo em que um arrepio desce por minha espinha.

E está tudo descendo, acelerando, esquentando. Pulsando.

Desejando.

A constatação do que está acontecendo chega a meu cérebro entorpecido em poucos segundos. E antes que eu possa analisar e rechaçar o absurdo me vejo abrindo a boca e dizendo:

— Você quer transar comigo?


Capítulo 3

 

Cada minuto está sendo somado

E deixando uma marca em nós

West

 

— O quê?

Sua cara espantada me faz imediatamente querer engolir de volta o que disse e, horrorizada, tapo a boca com a mão.

Devo mesmo estar muito bêbada para ter dito aquilo. Mas, infelizmente, não tão bêbada para não me importar. Quero que um buraco se abra aos meus pés e eu caia dentro. E não tenha que ficar olhando para a expressão aturdida de Nathan Cole na minha frente.

Tenho a impressão que ele vai começar a rir da minha cara a qualquer momento.

De repente alguém bate na porta atrás de mim e eu quase dou um pulo me afastando quando a abrem.

— Ei, consegui uma camisa emprestada pra você.

Vagamente percebo um cara de cabelos escuros segurando uma camisa ao passar por mim. Ele é bem gato também. Muito bem vestido. Estiloso mesmo, na verdade. Será que ele toparia transar comigo se eu pedisse?

Sim, porque pela expressão de Nathan, com certeza ele não tinha gostado muito da minha proposta. Ou entendido. Que seja.

Oh Deus, eu estou mesmo enlouquecendo.

O cara de cabelo preto olha pra mim, surpreso e curioso.

— Oh, quem é essa aqui?

E antes que Nathan responda algo do tipo “é uma louca que acha que eu teria algum interesse em transar com ela”, balbucio alguma desculpa e passo por ele, saindo do banheiro.

A música alta e a fumaça de cigarro me atingem e me sinto mais tonta ainda. E envergonhada.

E humilhada.

E, droga, preciso sair daqui o mais rápido possível, mas onde Chloe se meteu? Percorro os corredores e salas lotadas e não a vejo em lugar nenhum. Minha cabeça ainda gira e começo a me sentir enjoada. Eu me sento num sofá e alguém passa uma garrafa para minha mão.

Não devia beber mais, mas já estou bêbada mesmo. Então levo a garrafa à boca. Aquilo parece cerveja. Não é tão ruim.

Eu só preciso me manter ocupada até Chloe aparecer.

Algumas garrafas daquela depois, as pessoas a minha volta passam como um borrão. E começo a sentir um zunido no ouvido. Encosto a cabeça no sofá e fecho os olhos, mas o mundo não para de girar.

— Você está bem?

Abro os olhos e lá estava ele.

Nathan Cole.

E veste uma camisa.

— Que pena — murmuro.

— Que pena o quê?

Eu rio fazendo um gesto com a mão para ele esquecer. Meu braço era pesado assim antes?

— Nada. — Por que minha língua está tão pesada também?

— Não parece bem. — Ele senta ao meu lado.

— Estou bêbada.

— Metade da festa está.

— Mas você não.

— Não.

— Claro que não.

O perfeito Nathan devia ser um daqueles caras que eram sofisticados demais para ficar bêbado.

Será que ele ia falar sobre o que eu disse no banheiro?

Talvez eu devesse falar. Nunca é tarde para consertar um mal-entendido. De alguma maneira não quero que Nathan Cole ache que sou louca.

— Olha, sobre o lance no banheiro... esquece, ok? Eu não devia ter dito aquilo. Mas é que... você estava lá, sem camisa, e... eu só vim nesta festa, porque precisava achar um cara e acabar logo com um probleminha aí... — falo enrolando a língua.

Nathan parece estar prestando atenção. É fácil agora. Falar.

— Para fazer sexo comigo — completo e não parece tão absurdo agora. É ótimo poder desabafar. — Por que é tão difícil? Deve ser por isso que ainda sou virgem! Aposto que ninguém nesta maldita festa é virgem! Não devia ser um problema, mas não posso voltar sem ter resolvido isso. Que inferno, quase um ano e eu não fui capaz de achar um cara legal? Mas agora cansei. Ele não precisa ser legal. Eu não preciso nem conhecer ele de verdade, até que é melhor. Apenas sexo. Sem compromisso. Achei que fosse isso que os caras quisessem, não é? — paro de falar e o encaro. — Você não acha que devia ser mais fácil?

Alguém passa por mim, com mais bebidas e eu pego uma.

— Acho que não devia beber mais... — Nathan tira o copo da minha mão e devolve.

Ele tem dedos bonitos, reparo. Longos.

— É, tem razão, não me sinto bem mesmo... — Encaro-o e me surpreendo no quanto ele está perto. Tudo gira agora. Dentro e fora de mim — Oh, droga — murmuro.

E a última coisa que me lembro é de estar vomitando.

Na camisa de Nathan Cole.


***


Minha cabeça vai explodir.

Isso se conseguir abrir os olhos. Eu já tentei algumas vezes, mas a luz difusa da manhã é como raios que ia direto ao meu cérebro.

Eu vou morrer.

Gemendo me forço a abrir as pálpebras ignorando a dor nas têmporas e me sento na cama. Este simples ato já foi um tremendo esforço.

O que diabos tinha acontecido para estar assim?

Então me lembro. A festa com Chloe, mas não tinha visto Chloe depois que entramos na casa. E eu bebi. Muito.

E derrubei bebida em Nathan Cole.

Escondo o rosto com as mãos ao me lembrar do diálogo no banheiro. E o pior não é isso. Não contente em perguntar se ele queria transar comigo, ainda despejei toda aquela conversa sobre virgindade e sexo sem compromisso em cima dele depois.

E, claro, a última coisa que me lembro é de estar vomitando em cima dele.

Nunca devia ter ido àquela festa. Nunca devia ter bebido, e o mais importante: nunca devia nem sequer ter olhado para Nathan Cole. Ou para seu peito sem camisa.

Deito-me de novo escondendo o rosto no travesseiro. Foi humilhação demais para uma noite só. Nunca mais eu ia poder olhar para a cara de Nathan Cole novamente.

Mas eu não preciso, não é? Não somos amigos. Não tínhamos nenhuma aula juntos. Com certeza ele nem se lembraria de mim.

Ou eu espero que não.

Suspirando saio da cama ignorando a dor de cabeça e a tontura e estaco. Como é que eu tinha chegado ao meu quarto? E como é que eu estava vestindo apenas calcinha e uma camiseta velha? Meu estômago dá uma volta ao imaginar Nathan tendo algo a ver com isso, mas logo descarto a ideia. Claro que ele não se daria ao trabalho. Provavelmente sobrara para Chloe me trazer pra casa. Eu teria que pedir desculpas para ela, por estragar sua noite.

Arrasto-me até o banheiro e tomo um banho. Talvez devesse voltar para a cama. E dormir até o fim do mundo. Ou até esquecer o quão humilhada me sinto. Só que hoje tenho aulas importantes e não posso ficar trancada no quarto pelo resto do semestre. Então me visto e coloco uma blusa com capuz. Apenas para o caso de precisar me camuflar se visse alguém conhecido. Mais precisamente alguém chamado Nathan Cole.

Pego meus livros e saio do quarto. A manhã ainda está cinzenta, mesmo assim a pouca luz irrita meus olhos e, soltando uma imprecação, caminho pelo campus. Quando chego ao prédio onde tenho aula de francês, respiro aliviada ao ver que não estou atrasada. Sento-me colocando os livros sobre a mesa e alguém para na minha frente.

— Olá.

A voz é desconhecida e eu levanto o olhar para me deparar com o garoto do banheiro. O que entregara a camisa para Nathan. O cara estiloso.

Oh Deus, por que diabos ele está falando comigo?

— Oh, acho que não me apresentei, meu nome é Brad Cole. — Sorri amigavelmente. — Queria saber se está se sentindo melhor.

Oh. Oh.

Então é isso. Provavelmente ele tinha visto meu vexame.

Ou será que Nathan contara? E se ele viu, quem mais fora testemunha?

Olho em volta, preocupada, e de repente a impressão que eu tenho é de que todos olhavam pra mim.

Meu rosto começa a queimar.

— É, eu... sim, estou — murmuro abaixando o olhar.

— Que bom. Não parecia nada bem ontem...

— É, olha, me desculpa, preciso sair... — Junto meus livros de qualquer jeito e me levanto.

— Mas a aula já vai começar...

— Esqueci um livro na biblioteca — minto e saio quase correndo da sala, ignorando os olhares curiosos.

Só paro quando chego ao outro corredor e encosto na parede, respirando fundo. Será que nunca mais ia esquecer a vergonha?

E o pior de tudo é que ainda me sinto supermal, com a cabeça doendo e o estômago revirando. Nunca mais vou beber na vida, decido.

Pessoas como eu deviam ser proibidas de chegar perto de qualquer bebida alcoólica. E agora, o que faço? Voltar para a aula está fora de cogitação. Ainda mais com o irmão de Nathan por lá.

O que ele estava fazendo lá? Não me lembro dele na minha aula de francês antes.

Voltar ao quarto e me esconder parece uma opção bem razoável agora, mas em vez disso faço o que falei para Brad que faria, vou para a biblioteca. Pelo menos lá poderia me esconder e aproveitar para estudar. Assim não perderia totalmente a manhã. Para meu alívio a biblioteca está vazia àquela hora.

Escolho uma mesa afastada e me sento, tentando fazer um relatório sobre “Orgulho e Preconceito”. O que deveria ser muito fácil para mim, já que era meu livro preferido, mas em vez disso me vejo a toda hora voltando à noite anterior.

Eu tinha mesmo pedido para um cara praticamente desconhecido transar comigo? Sinto meu rosto esquentar de vergonha só de relembrar. E o que se passara pela minha mente alcoolizada para achar que havia alguma chance remota de Nathan Cole querer transar comigo? Justo ele que nunca nem saía com ninguém do campus?

Eu devia estar louca. E não só por causa de Nathan. Talvez toda aquela história de sexo sem compromisso fosse absurda. Então eu iria voltar para Mystic e dormir com Leo? Rabisco desenhos sem sentido na folha à minha frente, meus pensamentos caóticos.

Volto à realidade quando ouço a porta se abrindo e fechando. Respirando fundo, solto o lápis e me levanto. Melhor ir pegar o livro, já que hoje estou sem inspiração.

Caminho por entre as estantes e fico na ponta dos pés para tentar alcançar a prateleira de cima onde está o livro, e então uma mão se materializa na minha frente, o pegando para mim.

Abaixo o olhar e lá está Nathan Cole, segurando meu livro preferido de Jane Austen.

— Oi, Sarah.

Esqueço-me de como se respira.

Ah não. Eu não posso ser tão azarada!

Tudo o que não preciso neste momento, aliás, em nenhum momento no futuro, é me deparar com Nathan Cole na minha frente, mas lá está ele. Com seu cabelo perfeito. Seus olhos incríveis. E seus dedos longos segurando “Orgulho e Preconceito”. E eu posso sentir meu rosto ir esquentando conforme vou me lembrando de novo da humilhação da noite anterior.

De repente, o simples ato de encará-lo é muito humilhante e desvio o rosto para algum ponto no chão, pegando o livro de suas mãos.

Pronto. Agora é só agradecer e me afastar de volta para meus estudos.

— Obrigada. — Viro-me.

E se eu desconfiava de que o fato de encontrar Nathan na biblioteca não é apenas uma obra do acaso, isso logo se confirma quando sinto sua presença atrás de mim.

Oh Deus, o que eu fiz para merecer aquilo?

Eu me sento, abrindo o livro em qualquer página, o ignorando, mas hoje não é meu dia de sorte. Essa palavra nem existia na minha vida ultimamente.

— Espero que esteja se sentindo melhor — ele diz se sentando na minha frente.

— Sim, estou. E se foi só o que veio perguntar, já pode ir, eu preciso estudar — respondo decidida voltando à atenção ao livro.

— Não parece nada bem.

— Não, claro que não estou bem. Deve saber por que, embora, eu prefira esquecer. — Arrisco encará-lo.

Ele dá um meio sorriso, que, inferno, é lindo. E que me faz ter vontade de sorrir de volta.

Sinto-me ridícula.

E minha cota de ridículo já tinha sido preenchida para uma vida inteira.

— Não precisa se sentir mal por isso, essas coisas acontecem.

Quero perguntar se ele recebia muita proposta indecente de garotas bêbadas, mas meu medo era ouvir que sim, afinal, ele era um dos caras mais gato da universidade. Pelo menos o que eu tinha visto. Além de rico, o que não fazia diferença nenhuma para mim, mas com certeza fazia para muita gente.

— Não, não acontecem — respondo, envergonhada. — Ou garotas bêbadas vomitam em você toda hora? — É melhor não entrar no assunto sexo e afins.

— Devo dizer que foi a primeira que vomitou na minha camisa.

— Oh... Se estraguei sua camisa, sinto muito. Aliás, duas camisas. Eu posso pagar.

— Não vim te cobrar, Sarah.

Franzo a testa.

— Como sabe meu nome?

— Você falou.

— Eu? — Deus, não me lembro disso! Do que mais eu não me lembro? — Eu absolutamente não me... Eu não me lembro de nada depois de...

— Vomitar em mim.

Eu quase gemo. Ele tinha que ficar lembrando?

— Sim. Depois disso. Espero que não tenha feito nada vergonhoso — murmuro tentando mesmo me lembrar, mas minha mente é um buraco negro.

— Acho que não.

Quero muito que ele conte exatamente o que tinha acontecido, mas não fala mais nada.

O pior é que eu tinha medo de perguntar.

Respiro fundo. O melhor a fazer é encerrar aquele assunto, encerrar aquela estranha conversa com Nathan Cole.

E esquecer para sempre as últimas vinte e quatro horas.

— Olha, sinto muito por ontem. Espero que... Esqueça o que aconteceu... e... enfim... — Eu quero que ele entenda que é pra esquecer exatamente tudo o que tinha acontecido, principalmente a minha proposta ridícula e as confissões vergonhosas que se seguiram. — Eu passei dos limites ontem, eu... estava meio fora de mim...

Ele não fala nada e então me levanto, juntando minhas coisas.

— Preciso voltar para a aula — murmuro me afastando.

Pronto. Tudo acabado.

Nathan Cole não precisa mais falar comigo. Podia voltar ao seu mundinho perfeito e esquecer que eu existia.

Porque era exatamente o que eu ia fazer.

Só que antes que eu chegue à porta, de novo aquela mão se adianta e a abre para mim.

— Sarah, espera.

Eu paro levantando o olhar, exasperada.

— Nathan, sério. Não somos amigos, não tem que ficar conversando comigo! Eu sou apenas a garota bêbada que vomitou em você e aposto que, tanto quanto eu, quer se esquecer que aquilo aconteceu e... Se queria se certificar se estou bem, hoje ainda não estou, mas aposto que vou ficar depois que a ressaca passar.

— Eu não vim aqui apenas para saber se está bem.

Fico olhando para ele, tentando entender. Porque não me vem nada à cabeça sobre o que um cara como Nathan Cole pode querer comigo.

— A resposta é sim — ele diz por fim.

— O quê?

— Sobre sua proposta no banheiro. Minha resposta é sim.

Oh. Meu. Deus!


Capítulo 4


Em certa luz, posso ver claramente

Um reflexo da magnificência

Escondido em você

Four

 

Talvez eu vomite de novo em cima dele e estrague a terceira camisa em vinte e quatro horas.

Ou desmaie. Ou saia correndo até Mystic.

Ou talvez eu nem tivesse escutado direito. Sim, provavelmente ainda há algum resquício de álcool no meu sangue, o que está fazendo com que minha mente crie situações inexistentes. Só isso explica o fato de Nathan Cole estar na minha frente dizendo que quer transar comigo.

Porque é disso que ele está falando, não é?

O tal assunto do banheiro? Ou eu havia feito alguma outra proposta que nem lembrava?

Não. Havia algo de muito errado acontecendo.

— O que disse?

— Eu disse que aceito sua proposta.

— Que proposta? — Sim, talvez eu devesse dar uma de louca.

— Transar com você.

Oh Deus.

Então é isso mesmo. Eu tenho certeza que o mundo parou de girar por alguns instantes enquanto tento assimilar como é possível que aquele cara na minha frente esteja colocando “você” e “transar” na mesma frase.

Não. Simplesmente é absurdo demais!

— Está zoando com a minha cara?

— Não, estou falando sério.

Respiro fundo o encarando em busca de algum indício que esclareça aquele engano, mas ele continua impassível.

— Você não está falando sério! — exclamo por fim.

Nada daquilo faz sentido!

Aquele é Nathan Cole, que eu, num momento de loucura que só podia ser explicado pelo alto teor de álcool no meu sangue, achara que seria legal pedir pra transar comigo.

Eu, Sarah James, de Mystic.

E agora ele está na minha frente, no alto de sua perfeição e roupas caras, dizendo que aceita a minha proposta sem noção!

— Por que não estaria?

— Não, não está falando sério! — refuto. — Simplesmente não é possível que esteja aqui dizendo que quer transar comigo!

— Por que não? Você foi bem clara ontem.

— Eu estava bêbada.

— Mas me pareceu estar falando sério, quando disse que estava procurando um cara para...

— Chega! Não continua — interrompo, mortificada. — E você simplesmente decidiu aceitar assim, sem nem me conhecer, simplesmente porque eu... — paro, sem nem saber como continuar. — Você, Nathan Cole? Só pode ser brincadeira!

— Não é brincadeira.

— Por quê? Por que iria aceitar... dormir comigo?

Ele dá de ombros.

— Precisa de um motivo? Achei que era você quem estava precisando, como foi mesmo que disse? “Achar um cara para acabar com um probleminha.”.

Minha nossa!

Sinto que meu rosto está tão vermelho que posso explodir.

— Então resolveu... “me ajudar”.

— Pode colocar assim.

— Escuta aqui, se essa é sua semana de praticar caridade, assine um cheque e dê a alguma instituição!

— Achei que estivesse desesperada.

— Ah! O que disse?

Agora eu não estou só envergonhada. Estou indignada!

— Me desculpe, me coloquei errado.

— Isso é absurdo! Dá licença! — peço, querendo sair dali e acabar logo com aquela conversa bizarra.

Mas Nathan vai atrás de mim.

— Sarah, escuta... Me desculpe se eu a ofendi, eu apenas...

Eu me viro.

— Não, tudo bem. O erro foi meu. Eu nunca devia ter bebido e nunca devia ter proposto... aquilo... a você!

— Mas propôs. E não estou brincando. Acho mesmo que podíamos...

— Quer que eu acredite que você, que pode ter qualquer garota, quer fazer sexo comigo?

— Por que não?

— Precisa dizer? Olha para mim e olha pra você! Eu sou uma garota que você nem conhece e que bebeu demais numa festa e achou que podia aceitar fazer sexo sem compromisso comigo.

— Mas eu quero. Fazer sexo sem compromisso com você.

— Ah tá! Para. Agora chega, né? Está achando que eu sou alguma idiota? Sério, o que é isso? É alguma brincadeira? Alguma pegadinha? Vai ficar rindo com seus irmãos depois de contar como me fez de idiota?

Ele abre um pequeno sorriso.

— Está vendo filmes anos 80 demais.

— Olha, vamos parar por aqui e fingir que isso nunca aconteceu! — Dou-lhe as costas indo para o refeitório do prédio.

Desta vez ele não vai atrás de mim.

Eu só volto a respirar quando sento na sala de aula de teoria literária.

Assisto às aulas daquela manhã com a cabeça nas nuvens. Tanto pela ressaca, quanto pela resposta descabida de Nathan. Ele tinha dito que queria transar comigo? Ainda é bizarro demais para acreditar! E o pior de tudo é que havia uma parte de mim que queria acreditar.

E se ele estivesse falando sério? Afinal, era apenas sexo, não era? Para um cara como ele devia ser algo corriqueiro. Talvez recebesse esse tipo de proposta todos os dias. E talvez aceitasse todas. Só que ninguém nunca tinha visto ele publicamente com nenhuma garota.

Saio da aula e sento no Café, onde tinha marcado com a Chloe de almoçar e quando ela chega me estuda divertida.

— Oi! — Chloe senta na minha frente. — E aí, como está?

Faço uma careta, minha cabeça volta a doer ao ouvir a voz estridente de Chloe.

— Oh, por favor, fale baixo. — Fecho os olhos e aperto minha testa com os dedos.

— Oh... ressaca. Nunca imaginei que você fosse dessas, Sarah!

— E não sou! Por isso mesmo fiquei bêbada. Não sou acostumada a beber.

— Acho que acredito em você.

— Obrigada por me levar em casa. Acho que estraguei sua festa.

— Ah, mas não fui eu que te levei embora.

Um alarme soa na minha cabeça.

— Não?

— Não. Foram os Cole!

Oh. Meu. Deus.

— Como assim os Cole?

— Não se lembra de nada? Mas que azar! Não é todo dia que se é carregada no colo por Nathan Cole! Mas eu também iria preferir esquecer se tivesse vomitado em cima dele!

Solto um gemido, horrorizada.

Está tudo ficando pior.

— Quer dizer que Nathan... Os Cole me levaram embora? Mas como isso aconteceu? E onde você estava?

Ela solta uma risadinha maliciosa.

— Bem, estava te procurando exatamente para dizer que ia pra casa daquele cara que te falei. Aliás, depois eu te conto tudo com detalhes. Aí quando eu chego você está praticamente desmaiada e os Cole à sua volta.

— Ai, que vergonha.

— Eu disse que era minha amiga e que ia chamar um táxi pra te levar, embora, tenho que dizer, ia estragar total a minha noite. E acho que o Nathan percebeu, porque disse que não era para me preocupar que ele te levava pra casa junto com o irmão, Brad. A última coisa que vi foi Nathan te carregando para aquele carrão dele e o irmão levando sua bolsa.

Então Nathan tinha me levado pra casa. Eu nem conseguia imaginar esta situação! Depois de todo o vexame que eu dei. Primeiro jogando bebida na sua camisa, depois invadindo o banheiro e perguntando se ele queria transar comigo! E como se ainda não bastasse, falado aquele monte de bobagem e acabado vomitando em cima dele.

E ele ainda me levara embora.

Suspiro pesadamente e deito a cabeça na mesa de novo, mortificada.

Agora este mesmo cara, que é perfeito demais para ser de verdade, tinha vindo até mim e dito que queria fazer sexo comigo. A mesma garota louca da noite passada.

— Sarah, você está bem? — Chloe indaga preocupada. — Está chateada comigo? Eu sei que deveria ter te levado, mas, mas Brad insistiu que estava tudo bem em te levar. E eu fiquei com o telefone dele e liguei depois para garantir que estava tudo bem...

— Não, não estou brava com você — murmuro, ainda com a cabeça sobre a mesa. Realmente Chloe era uma cabeça de vento e era típico dela, achar que tudo bem dois estranhos me levarem em casa, mas não estou brava com ela. Estou brava comigo mesma por te me colocado naquela situação. — Estou com vergonha, de ressaca e acho que vou morrer.

Chloe ri.

— Imagina, esse foi só seu primeiro porre! Todo mundo passa por isso. É normal.

Normal? Chloe não tem noção do que eu tinha feito. Não era nem um pouco normal. Era humilhante.

— Qual das duas é Sarah James?

Abro os olhos ao ouvir a voz estranha e há um garçom do lado da mesa.

— É ela. — Chloe aponta para mim.

O rapaz sorri e coloca um copo em cima da mesa.

— Pediram para entregar para você.

— O que é isto? — questiono levantando a cabeça.

— É para curar mal-estar causado...

— Pra quem bebeu demais? — Chloe completa, divertida.

— Sim.

Eu fico vermelha.

— Quem mandou entregar isso?

Ele aponta para o outro lado do Café.

E então eu os vejo. Nathan e seus irmãos, entretidos numa conversa animada. E como se estivesse esperando, Nathan olha para mim e me lança um daqueles seus sorrisos.

Irritantemente perfeito.

Meu pulso acelera e meu rosto esquenta. Desvio o olhar.

Na minha mente apenas as palavras ressoando como um mantra: “Eu aceito. Transar com você.”.

Não. Eu não posso estar cogitando aceitar. Mesmo sua resposta vindo de encontro ao que eu preciso no momento. Afinal, eu tinha ido naquela maldita festa justamente para isso. Para arranjar um cara para fazer sexo sem compromisso comigo.

E nada mais.

E agora Nathan Cole está me propondo exatamente o que eu preciso. Mas como é que pode ser sério?

Tomo a bebida amarga e começo a me sentir melhor, enquanto Chloe tagarela sobre sua noite com o tal paquera.

Eu me imagino fazendo a mesma coisa depois que transasse com Nathan Cole. Ei, espera. Eu não vou transar com Nathan, vou?

Contemplo de novo a sua mesa.

Ele e os irmãos estão se levantando e saindo. Como sempre todo mundo fica olhando. Como se um ímã nos puxasse em sua direção.

Perfeitos demais.

Só que ninguém é perfeito. Debaixo de todo aquele exterior deslumbrante e impecável, deve haver algo mais.

Algo não tão bonito.

E me pergunto qual será a imperfeição de Nathan Cole.


Nathan e os irmãos estão entrando em um carro preto quando saímos.

— Eles não moram aqui no campus — Chloe diz ao me ver observando —, dizem que moram num apartamento fabuloso.

— Em que ano estão? Não é obrigatório os alunos morarem aqui nos dois primeiros anos?

— Os alunos comuns sim. Agora o que sei é que desde que chegaram aqui eles moram fora. Caroline e Nathan estão no segundo ano e Brad é calouro como nós.

— Por que será que eles não moram aqui?

— Deve ser porque são ridiculamente ricos e o pai deles é um político importante. Aí conseguiram uma autorização. Vai saber? E aí, que tal fazer compras comigo?

— Ah não, preciso ir. Ainda não me sinto tão bem e tenho que estudar.

— Não estrague seus dias estudando!

— Devia fazer o mesmo!

Ela ignora meu conselho e se afasta, indo para suas compras.


Tento estudar a tarde inteira, mas é impossível.

Cansada de tentar, vou para meu quarto e me deito colocando o iPod no ouvido. E as imagens de Nathan enchem minha mente. Ele tinha dedos bonitos. Longos. E o que era aquele cheiro? Não parecia perfume, embora ninguém pudesse ter um odor tão bom, sendo natural. Provavelmente Nathan Cole usasse alguma fragrância superexclusiva e cara.

Tudo nele gritava “muito caro”.

Os cabelos perfeitamente despenteados, que pareciam pedir para meus dedos colocarem uma mecha no lugar.

Nathan Cole é perfeito. E a anos-luz de distância de uma garota como eu.

Com seu carro caro, seu rosto bonito, seus irmãos esnobes.

Definitivamente, fora de cogitação, até aquela manhã, quando ele acenara com a resposta perfeita aos meus anseios. Sexo sem compromisso.

Mas eu teria coragem de embarcar nessa?

Sim, porque na teoria tudo parecia fácil, mas a prática era outra bem diferente. Talvez aquela decisão de perder a virgindade com o primeiro que aparecesse tenha sido precipitada.

Talvez houvesse outra saída...

De repente meu telefone toca e me sento rápido, tirando os fones do ouvido para atender.

— Oi, branquela.

Um sorriso se forma em meu rosto ao ouvir a voz reconfortante de Leo.

Poxa, por que estou com medo dele? É meu amigo. Meu melhor amigo. Óbvio que não vai me obrigar a nada. É apenas questão de conversar e dizer que aquele trato feito há quase um ano não está mais valendo.

— Oi, Leo.

— E aí, tudo bem?

— Tudo sim, e você?

— Aqui tudo na mesma. E como foi a festa ontem?

— Como sabe que fui a uma festa?

— Chloe me disse.

— Como assim? Quando falou com Chloe?

— Eu liguei ontem. Ela atendeu. Acho que estava no banho ou algo assim e disse que estavam se aprontando para uma festa.

— Ah, ela não me disse.

— Mas e aí? Foi legal? Acho que é a primeira vez que escuto você dizer que foi numa festa. Se divertiu?

Eu penso na noite anterior. Penso em Nathan Cole e suas camisas arruinadas. Leo provavelmente não queria ouvir sobre isso.

— Foi legal...

— Conheceu gente nova?

Eu quase rio. Leo nem sabe disfarçar.

— Ninguém interessante.

“Mentirosa!”, minha consciência grita e eu ignoro.

— Sabe, eu te liguei por um motivo.

Algo na voz dele me faz ficar alerta.

— Fale.

— Eu quero te fazer uma visita neste fim de semana.

— O quê? Mas...

— Não diga "mas". Estou com saudades e acho que a gente podia sair e...

Eu sei muito bem o que Leo está querendo dizer.

— A gente precisa conversar, Leo...

— Eu sei. Por isso mesmo.

— Leo...

— Você não esqueceu, não é?

Fecho os olhos. O que posso dizer?

— Não, não esqueci.

— Nem eu. E eu acho que se as coisas ainda são assim... Se nem um de nós encontrou ninguém... Talvez seja pra ser, Sarah. Eu e você.

Eu posso dizer agora. Que eu tinha encontrado alguém sim.

E é a mais pura verdade. Basta ter coragem o suficiente. Ir de encontro ao desconhecido e acabar logo com aquela história. E eu posso voltar para Mystic no verão e dizer a Leo que nós dois não era para ser.

Que continuaríamos amigos.

— E então, Sarah. Eu podia ir aí...

— Não. Seria ótimo mesmo, mas... eu já tenho compromisso para este fim de semana. Me desculpe.

— Ah... — Ele parece decepcionado e me sinto culpada.

Odiava decepcionar Leo.

— Mas a gente vai se ver daqui a dois meses, esqueceu? Como todos os verões. Serão nossos.

— Bom... Tudo bem. São só dois meses, não é? O que poderia mudar em dois meses?

— Sim... nada muda — concordo baixinho.

Nós ainda falamos mais um pouco sobre outros assuntos até nos despedirmos.

Recosto-me na cama, me sentindo tensa. Leo não vai desistir.

E no fundo tenho medo de ser convencida. Lembro-me da atração que senti naquela noite na praia. De como seria fácil deixar acontecer.

Aqui, longe de Leo, não me sinto do mesmo jeito. E se quando estivesse em Mystic de novo, convivendo com Leo todos os dias, a atração voltasse? E se eu não resistisse?

Eu amava Leo. Poderia facilmente vir a confundir tudo. E isso arruinaria nossa amizade para sempre.

Não. Eu tinha que prosseguir com minha outra ideia. Aquela de perder a virgindade antes de voltar para Mystic.

A ilusão de Leo de que éramos feitos um para o outro tinha muito a ver com o fato de eu nunca ter tido sequer um namorado. Ninguém se comparava a ele na minha vida.

Se eu contasse que havia sim outra pessoa, ele entenderia que não era pra ser. E acho que agora eu estava mais perto de concretizar aquela ideia do que antes. Porque eu já encontrei o tal cara.

 

Eu praticamente não durmo naquela noite, pensando no que tenho que fazer.

E me perguntando se eu teria coragem.

De dizer sim para Nathan Cole.


Quando entro para a aula de francês na manhã seguinte, me surpreendo a ver os Cole caminhando como a realeza em volta de seus súditos, enquanto entram no prédio. Desta vez, Caroline está com um cara loiro bonitinho. Enquanto Nathan e Brad andam mais atrás.

Eu os observo se dispersar para suas respectivas aulas, até que estou seguindo apenas Nathan. E me perguntando, novamente, como é que um cara daqueles podia querer algo comigo.

— Está me seguindo?

Eu paro, quando ele se vira, em frente a uma sala.

Aperto os livros em frente ao peito como um escudo, tentando respirar normalmente e ignorar aquela sensação de frio na boca do estômago.

E não me deixar impressionar pela beleza desnorteante de Nathan Cole.

— Posso falar com você?

— Agora?

Oh. Deus. Será que ele ia me ignorar? Dizer que eu tinha imaginado aquela conversa de ontem?

Mas cheguei até aqui. E agora é tarde para recuar.

— Sim, agora.

— Eu tenho aula agora.

— Oh...

Fico sem graça. Claro que ele tem aula. E eu também tenho.

— Mas você pode entrar comigo.

— Não, eu... Preciso ir para minha aula.

Ele entra na sala. Sei que tenho que me virar e ir embora, mas não dá para continuar com aquela dúvida.

Entro na sala atrás dele. Nathan está sentado na última fileira.

Ignorando os olhares curiosos, vou até ele e sento ao seu lado. Um professor entra na sala e coloca um vídeo na tela em alemão, apagando a luz.

Nathan me fita com um olhar interrogador.

Respiro fundo e aproximo minha cadeira da dele, para que não precise falar alto.

— Por que está fazendo isso?

— Sexo sem compromisso.

Certo. É uma resposta, mas não é suficiente.

— Por que eu?

— Porque você pediu.

— Me faz parecer desesperada.

— Você que está falando.

— Sério... Não faz sentindo algum. Eu tenho um motivo.

— Quer compartilhar?

Bem, eu já estou chafurdada mesmo.

— Você ouviu ontem. Creio que não é mais novidade para você. Eu sou virgem. Tenho 19 anos e cansei de esperar.

Dou graças pela sala estar na semiescuridão e ele não ver meu rosto vermelho por estar confessando de novo tudo aquilo. E desta vez eu estou sóbria.

Ok, é só parte da verdade, porém não tem por que falar de Leo.

— Por que estava esperando antes?

Quero dizer que não estava esperando nada. E que não era da conta dele.

— Não estava bem esperando só... estou concentrada nos meus estudos e não quero perder tempo com...

— Um compromisso?

— Pode-se dizer que sim.

— Então não quer um namorado?

— Não! Eu quero apenas...

— Sexo.

Por que essa simples palavra parece tão incrível na boca dele?

— É. Eu quero apenas perder a virgindade e nada mais — respondo e estou feliz por estar sendo sincera.

— Apenas isso?

— Sim. Então, como vê, eu tenho um motivo. E quero entender os seus.

— Por que precisa entender? Achei que queria apenas um cara pra transar.

— Porque você não é qualquer cara. É Nathan Cole. Rico, bonito, podia sair com qualquer garota, ao invés disso está aceitando transar comigo. Não faz sentido.

— Eu gosto...

Ele ia falar que gostava de mim? Ai meu Deus. Prendo a respiração.

— Dessa sua ideia do sem compromisso.

Então é simples assim? Nathan Cole é adepto ao sexo sem compromisso?

Não parece tão absurdo. Embora ainda não entendesse por que eu, especificamente.

— É por isso que nunca é visto com nenhuma namorada? Você gosta de sexo sem compromisso?

— Pode-se dizer que sim.

— Então faz muito isso? Escondido ou algo assim? Porque ouvi dizer que você nunca é visto com ninguém.

— Eu não tenho... saído com ninguém — diz naturalmente.

Será que dá pra acreditar nele? Ok, eu também não saio com ninguém, mas garotos são diferentes de garotas, não?

— Por que não? Aposto que qualquer garota nessa universidade iria querer sair com você.

— Garotas são traiçoeiras. Elas dizem uma coisa e fazem outra. Elas dizem que não vão querer nada, mas sempre querem tudo.

— Está mesmo falando sério?

— Sim, por que não acredita?

— Porque é surreal demais um cara como você...

— Talvez eu também ache surreal uma garota como você ser virgem.

— O que quer dizer com uma garota como eu?

— Uma garota bonita.

— Não sou bonita. Não precisa me bajular. Acho que não precisamos disso neste momento.

— Ok. Nada de elogios. Vou tentar me lembrar no futuro.

— Por que eu? — insisto.

— Você pediu.

— Vai ficar me lembrando?

— Você não quer nenhum compromisso. Eu acredito em você.

Eu o encaro na semiescuridão.

— Você é muito esquisito, Nathan Cole.

Porque por mais que fizesse algum sentido, pra mim ainda parecia faltar alguma coisa naquele quebra-cabeça.

Nathan Cole é um completo mistério, mas eu preciso dele. E por algum motivo que foge a minha compreensão, ele acredita que, diferente das outras garotas, eu não vou cobrar nada.

Então é isto. Eu estou prestes a aceitar fazer sexo sem compromisso com Nathan Cole.

O cara mais perfeito que se tem notícia.

— Você também é esquisita, Sarah James.

E no minuto seguinte estamos rindo.

— Querem compartilhar a piada?

Afasto-me automaticamente quando o professor chama nossa atenção, voltando ao meu lugar. E nada mais é dito, até que Nathan joga um papel na minha mesa.

Está escrito apenas:

( ) sim ( ) não

E tenho vontade de rir de novo.

É engraçado colocar coisas tão sérias nesta perspectiva, mas eu tinha ido longe demais.

E assinalo a resposta jogando para ele.

Ele abre o papel e sorri, amassando-o entre os dedos longos. Eu quase suspiro me dando conta que agora não tem mais volta.

E a sensação de frio na boca do estômago se mistura com borboletas.

Ansiedade e medo se enroscando dentro de mim.

A aula termina e a luz é acesa. Junto meu material e saímos para o corredor.

E agora?

Eu já tinha perdido uma aula e não poderia perder outra. De qualquer maneira, acho que as coisas estão acertadas com Nathan Cole.

Ou eu pensava que estavam.

— Sarah, só mais uma coisa — ele me chama, eu paro o encarando.

Algo em sua voz me deixa com um calafrio.

Agora ele vai dizer que foi tudo uma piada e começará a rir da minha cara.

Ou então que é algum tipo de pervertido, ou algo esquisito assim.

Sabia que tinha que ter algo errado!

— Sim? — Prendo a respiração.

— Não será por uma noite.

— O quê?

— Até acabar as aulas.

Mas que diabos ele está falando?

— Como é que é?

— Nós devemos permanecer com nosso... acordo... até acabar o semestre.

— Você quer dizer... Não será apenas uma vez?

— Sim.

— Não.

— É isso ou nada.

— E cadê o sem compromisso?

— Não é um compromisso.

— E é o que então?

— Uma conveniência para nós dois.

— E depois dos dois meses, acabou?

Oh Deus, estou mesmo cogitando?

Como é que eu tinha me metido naquela história?

Eu queria apenas perder a virgindade e dizer para o Leo que não tínhamos mais por que ficar juntos. E agora estou fazendo acordos sexuais com Nathan Cole.

— Sim — ele responde.

— Apenas sexo?

— Sim, seremos o que chamam de amigos com benefício.

— Não.

— Não? — Ele levanta a sobrancelha.

— Não somos amigos.

— Ok. Só sexo então.

Hesito. Não preciso aceitar.

Ainda vivemos num país livre em que uma mulher pode dizer não e seguir em frente. Só que de repente me dou conta de que não quero dizer não.

Eu quero o que Nathan está oferecendo.

É, talvez ainda tenha algum álcool no meu sangue, mas sacudo a cabeça positivamente.

— Tudo bem. Dois meses. Apenas sexo. Nada mais. E depois cada um segue seu caminho — concordo rápido, como se estivesse dizendo a coisa mais natural do mundo. Enquanto aquela voz sensata dentro de mim sussurra que talvez esteja cometendo um grande erro.

Nathan sorri.

E o arrepio que desce por minha espinha basta para eu acreditar que talvez não seja um erro tão grande assim.


Capítulo 5


Como um telescópio

Eu irei te puxar para tão perto

Até que não haja nenhum espaço entre nós

Venus

 

Conseguir me concentrar nas aulas depois de saber que vou mesmo transar com Nathan Cole é uma tarefa quase impossível. Simplesmente não consigo conter o frio na barriga. Medo do desconhecido. Medo de estar me metendo numa encrenca maior do que a que me metera quando fizera aquele acordo sem noção com Leo há um ano. Mas não era o que eu queria?

Tinha decidido que precisava perder a virgindade. E voltar a Mystic com este “probleminha” resolvido. E então eu e Leo seríamos como antes. Melhores amigos. Era muito simples. O problema era que eu tinha concordado em ficar dois meses com Nathan e isso não fazia o menor sentido. Nós nem nos conhecíamos direito.

O que se passava na cabeça de Nathan Cole para me fazer aquela proposta? E pior: o que se passava na minha cabeça em aceitar? Ok, fui eu que comecei com aquela história, mas uma transa apenas era bem diferente de um caso de dois meses. Caso! A palavra parece tão inapropriada e fora de lugar! Tão adulta! Mas eu ia chamar do quê? Não era namoro, certamente. Era até ridículo pensar nisso.

Era sexo.

Sexo e nada mais. Dois meses de sexo sem compromisso. Entre mim e Nathan.

Minha nossa, sinto meu estômago revirando só de pensar.

Será que era muito tarde para voltar atrás?

E eu quero voltar atrás? Não faço ideia. Definitivamente.

Talvez houvesse algo de masoquista em mim, que quer ir até o fim para saber qual era a dele.

— E aí? — Chloe sai do provador rodopiando com um jeans novo.

— Está bonito — elogio, sem muito interesse. Eu tinha concordado em vir fazer compras com Chloe, porque precisava de distração. Parar de pensar em Nathan. E em nosso “acordo”.

Quando saí da aula naquela tarde, o procurei com o olhar e o vi entrando no carro com seu irmão, me perguntei o que poderia esperar agora. Quando é que finalmente iríamos “fazer?”.

Eu nem sei dizer se aprecio ou se odeio essa espera. Meus nervos talvez não sobrevivam a tanta tensão.

— Sarah, presta atenção! — Chloe reclama e reparo que ela já tinha trocado o jeans por um vestido de verão.

— Ah, me desculpe, estou distraída.

— Você está estranha!

Dou um sorriso amarelo.

— Apenas... pensando em uns problemas.

Chloe me lança um olhar curioso.

— Problemas, é? Algo que eu possa ajudar?

— Acho que não.

Até que eu tenho vontade de me abrir com Chloe, mas ainda não me sinto preparada para falar sobre Nathan com ninguém.

Como é que eu ia explicar algo que nem eu tinha entendido ainda?

— Tem certeza? — Ela arregala os olhos, animada. — É sobre garotos? OMG! Conta tudo!

— Não tem nada a ver com garotos! — Tento soar convincente, mas sei que estou vermelha.

— É sobre o Leo?

— Leo? De onde tirou isso?

— Ele te ligou antes da gente ir pra festa e pareceu ficar chateado com isso.

— Claro que não.

— Quando a gente esteve lá, na sua casa, achei que ele pudesse ser mais do que seu amigo.

— Está enganada. A gente é só amigo mesmo.

— Ele sabe disso?

— Claro que sabe!

— Ok, se está dizendo... Então qual o problema?

— Nada! — desconverso.

— Eu vou me trocar! Depois quero saber tudo sobre esse assunto aí que está preocupada! Não vai escapar.

Quando Chloe sai do provador, cheia de sacolas, eu a sigo para fora da loja. O dia está ensolarado e ela quer ir a mais uma loja. E eu não vou aguentar mais um pouco daquela tortura. E também não estou a fim de driblar as perguntas indiscretas de Chloe.

— Preciso ir. Tenho que passar numa livraria. Podemos nos encontrar depois?

— Você é muito chata, credo!

Eu rio.

— É, esta sou eu.

— Sarah, não me leve a mal, mas aceita um conselho. Não leve tudo tão a sério. Tem que sair mais, se divertir, arranjar um namorado talvez!

— Não quero um namorado, já falei!

— Uma trepada então, que seja. — Ela ri ao me ver vermelha.

Se ela soubesse que eu estou mais perto da “trepada” do que ela imagina!

— Apenas se deixe levar. Apenas um pouco. Vai te fazer bem.

Eu dou de ombros.

— Quem sabe?

Despedimo-nos e combinamos de nos encontrar daqui a algumas horas num Café.

Entro na primeira livraria que encontro.

Passo um tempo distraída. Escolho alguns e estou na fila do caixa tentando equilibrar os livros nas mãos, quando vejo umas revistas dispostas em prateleiras. E uma delas me chama a atenção com a chamada: “Desvende todos os segredos do sexo”. Eu nunca fui de comprar essas revistas. Também nunca precisei. Ok, eu não sou nenhuma idiota. Sei como as coisas funcionam, mas na teoria. Na prática, bem, melhor deixar para lá. Afinal, eu era aquela que bebia até vomitar na camisa de caras perfeitos e fazia propostas sexuais sem pensar nas consequências. Duvido que isso seja sexy. Definitivamente, eu não era nem um pouco sexy.

— Próxima — o caixa chama e esqueço a revista, colocando os livros no balcão. — Mais alguma coisa? — ele pergunta e de repente, sem pensar, pego a revista de novo e coloco junto com os livros.

— Esta revista também, por favor.

Vou para a cafeteria esperar Chloe e me sento numa mesa afastada, pegando a tal revista. E enquanto a folheio, me pergunto se sou muito patética. Talvez Nathan me ache patética. E se tivesse um pingo de juízo, jogaria a revista ridícula no lixo e depois ligaria para ele desfazendo todo aquele absurdo acordo.

Não vai dar certo. Como podia achar que ia dar? Eu era inocente demais. Não fazia ideia de como seduzir um cara como Nathan. Ele é lindo demais. Sexy demais. Perfeito demais.

— Oi, Sarah.

Levanto o olhar e lá está ele, a razão dos meus pensamentos. Ainda lindo. Ainda roubando minha capacidade de raciocínio.

Definitivamente, eu sou mesmo patética.

Fecho a revista rápido, rezando para que ele não tenha visto nada.

— Oh... O que faz aqui?

Ele dá de ombros.

— Meus irmãos me obrigaram a vir fazer compras com eles.

— Eu também estou aqui obrigada. Odeio compras.

Seu olhar recai na sacola do meu lado, cheia de livros.

— Não parece.

— São livros. Disso, eu gosto.

Ele apenas sorri. E eu sinto um frio na barriga. É bizarro o que apenas um sorriso de Nathan Cole faz com meus sentidos.

Isso não pode ser boa coisa.

Eu já tinha me sentido atraída por caras antes, claro, mas nunca por causa de um simples sorriso.

Eu não posso permitir que ele tenha este nível de influência sobre mim. É ridículo.

— Eu consegui me livrar dos meus irmãos... e você, conseguiu se livrar de sua carcereira?

— É apenas minha amiga Chloe.

De repente temo que Chloe entre pela porta a qualquer momento e me flagre com Nathan. E não quero que aconteça. Aquela minha situação com Nathan tem que ser segredo. Definitivamente. Já é demais que eu mesma saiba.

— E conseguiu se livrar de sua amiga?

— É, eu me livrei temporariamente. Ela está vindo se encontrar comigo.

— Tem certeza que não consegue se livrar definitivamente?

— Por quê?

— Porque eu acho que temos que conversar.

Oh. Sim, óbvio que tínhamos que conversar.

— Sim... Acho que posso ligar para ela.

Pego o celular, antes que mude de ideia e ligo para Chloe, balbuciando algumas desculpas que me soaram bem esfarrapadas, mas Chloe deve mesmo estar se divertindo em uma loja qualquer e não se importou.

— Você não vai acreditar, tenho um encontro hoje à noite! Sabe aquele cara com quem saí na festa? Ele me ligou e vamos ao cinema e...

— Chloe, preciso desligar. A gente conversa depois!

Pronto. Eu tinha me livrado de Chloe.

E todo meu tempo agora é para Nathan Cole.

— Tudo bem? — Ele me fita esperando.

— Sim, acho que podemos agora... conversar.

Ele se senta na minha frente. E sua presença parece tomar todo o lugar. Ou pelo menos desviar meu olhar do seu rosto está fora de cogitação para mim.

Incrível.

A garçonete se aproxima e fazemos um pedido. De repente eu me sinto constrangida. Como é que se acerta detalhes de uma situação inusitada daquelas? Será que tinha alguma instrução em revistas? Quase rio dos meus pensamentos.

Decido enrolar um pouco.

— O que estava fazendo no campus naquela noite?

— Naquela noite?

— Quando tropeçamos.

— Você que tropeçou em mim — ele diz divertido.

— Que seja. Não mora no campus, não é?

— Não.

— E não estava na biblioteca. Eu sei, porque fui a última a sair.

— O que acha que eu estava fazendo?

— Não sei...

— Aposto que tem algumas teorias.

— Talvez estivesse em um encontro secreto.

Ele ri.

— Não estava.

Não quero dizer que gostei daquela resposta, mas gostei.

— Talvez seja um vampiro e estivesse procurando uma vítima.

— Então teve sorte de eu não te matar.

— Que sorte a minha. Mas ok, se não acertei, diga-me você.

— Eu estava procurando estrelas.

— Quê?

Ele ri.

— Estudo astronomia. Estava no observatório, estudando.

— Ah... Agora entendo. Então é um apaixonado pelas estrelas?

— Como não ser? Somos todos feitos de poeiras de estrelas, não sabia?

A garçonete se aproxima e anota nosso pedido, interrompendo nossa conversa sobre estrelas.

Caramba. De todos os caras que eu podia conhecer fui me envolver com um que tinha uma queda pelas estrelas?

Se eu fosse dessas que acreditava em destino...

Mas eu não sou, corto meus pensamentos ridículos. Aliás, tenho que parar de ser idiota. Onde estava a garota determinada que sempre fui?

— E então... quando? — É melhor parar de jogar conversa fora e ir direto ao assunto.

Se ele se surpreende por eu ser direta, não demonstra.

— Neste fim de semana?

Oh. Meu. Deus. Fim de semana. Hoje é quarta. Eu teria... três dias. Meu estômago revira.

— Ok. Neste fim de semana, e... — Tento pensar em coisas práticas. — Onde? Eu não gostaria que fosse no meu dormitório. Tem a Chloe e...

— No meu apartamento.

— Não mora com seus irmãos? — Eu ia morrer de vergonha eternamente de transar com Nathan com os irmãos no quarto ao lado.

— Eles viajam todos os fins de semana. Para visitar meus pais em Nova York.

— E você não vai junto?

— Eu ia, mas agora acho que tenho compromisso — responde.

Certo. Compromisso. Transar comigo.

A garçonete se aproxima com nosso café e espero ela se afastar para continuar.

— E como seria essa história de... dois meses? O que pretende?

— Podemos nos encontrar nos fins de semanas.

— Certo.

Seria melhor. Isto não atrapalharia muito meus estudos. E me daria um certo... controle. De repente ele fica tenso, olhando pela janela. Acompanho seu olhar e noto Caroline e Brad cheios de sacola, atravessando a rua. Será que eles estão vindo para cá?

— Podemos ir embora? — Ele se levanta e faço o mesmo.

Nathan coloca algumas notas na mesa e não tenho tempo de refutar. Posso pagar pela droga de um café! Ele não é meu namorado nem nada para ficar pagando coisas pra mim! Mas ele segura minha sacola com uma mão e meu braço com outra, me levando para fora. Toda a situação parece com uma... fuga?

Eu só paro para pensar quando estamos dentro do carro e Nathan dá partida. Primeiro: como é que eu tinha ido parar no carro dele? E segundo: ele não queria que os irmãos nos vissem juntos?

— Estamos fugindo de seus irmãos? — questiono e Nathan ri, o olhar fixo na estrada.

— Achei que não quisesse que esse nosso... acordo, fosse público.

Certo, ele tem razão. Não quero me envolver com a família de Nathan. Não faz parte do trato. Quanto mais ficasse só entre nós, melhor. Afinal, tem prazo para terminar.

— Sim, tem razão. Mas você também não quer, não é?

Ele parece ficar tenso.

— Meus irmãos não têm nada a ver com a minha vida e com as minhas decisões.

Oh. Será que os Cole ficariam bravos com Nathan por ele estar saindo comigo? Provavelmente sim. Deviam achar que Nathan estava perdendo tempo com alguém como eu. Alguém que não era como eles.

— Esquece meus irmãos — ele diz por fim.

— Tudo bem. Olha, pode me deixar em algum lugar.

— Não. Eu te levo para casa.

Permanecemos em silêncio por um tempo e eu tento pensar se há mais alguma coisa pra falar. E me lembro de algo, de suma importância.

— Acho que devemos falar sobre... métodos anticoncepcionais. — Sinto meu rosto tingindo de vermelho — Eu não tomo nada. Óbvio. Então você vai ter que usar preservativo — falo rápido.

— Claro que sim — ele responde simplesmente e depois de alguns minutos para o carro. — Vamos comprar.

OMG! Ele quer dizer que vamos comprar preservativos?

Agora?

Ele sai do carro e dá a volta abrindo a porta para mim. Puxo meu capuz para a cabeça quando entramos na farmácia. Caminhamos por entre as prateleiras e paramos em frente a vários modelos. E tamanhos. Eu vou morrer. Nem fazia ideia que podia existir toda aquela variedade!

Certo. Não vou fazer drama. É muito comum, não é? Muito simples e normal.

— Você não deveria ter, tipo, um monte de camisinha, no bolso ou sei lá?

Ele me encara divertido enquanto pega algumas.

— Achei que todos os garotos andavam com muitas — continuo.

— Algumas garotas também. É bem saudável, na verdade, não?

— Como posso saber. Nunca fiz isso antes. — Desvio o olhar, fingindo verificar os outros tipos. E então meus olhos se arregalaram automaticamente. — Com sabor? Existe isso? Porque alguém ia precisar...

Nathan sorri, ainda pegando mais pacotes.

— Talvez para quem queira experimentar.

— Oh. — Finalmente entendo o que está querendo dizer e devolvo o pacote no lugar sentindo agora meu rosto queimando.

E enquanto ele paga, fico ali me perguntando se Nathan vai querer que eu... Bem, eu não faço ideia do que ele poderia querer. Eu nem sei o que eu posso querer!

Na verdade, não sei nada sobre Nathan. E se ele for algum tipo de pervertido maluco? Não tem como eu saber!

Quando para o carro em frente ao prédio de dormitórios, resolvo falar.

— Acho que devemos... estabelecer algumas regras. Eu não te conheço... e nem você me conhece. Acho que... precisamos falar sobre... limites.

— Como pode saber seu limite?

— Eu posso imaginar... o que eu não faria.

— O que você não faria, Sarah?

Boa pergunta.

— Nada violento — falo rápido.

— Não sou violento — garante, e então acrescenta. — A não ser que você queira.

— Eu... Claro que não!

Ele ri.

— Estou brincando...

— Não é pra rir. É sério! Você sabe tão bem quanto eu que essa situação... é fora do comum. Pelo menos pra mim — acrescento.

Eu não faço ideia se ele era adepto a arranjar acordos bizarros como aquele todo o tempo.

— Tudo bem, Sarah. Tem razão. Talvez devêssemos sair para jantar e conversar...

— Não.

— Por que não?

— Porque ia parecer um encontro!

Eu não quero que as pessoas me vejam com Nathan.

— Mas nós vamos nos encontrar.

— Não deste jeito! Vamos nos encontrar para fazer sexo. E só!

— Me faz parecer um gigolô. — Ele ri, divertido.

— Não estou te pagando!

Bem, se pagasse alguém não teria que passar por tudo aquilo!

— Ok, Sarah, tem razão. Então pode ir à minha casa.

— Com seus irmãos lá, nem pensar!

— É, não seria boa ideia.

— Bem, você pode ir ao meu dormitório. A Chloe vai sair. A gente pode... conversar. Apenas.

Resolvo deixar claro. Eu ainda não estou pronta para... concretizar o negócio.

— Tudo bem.

— Às oito horas. Não atrase — marco, saindo do carro. Adorando ser a última a dar a palavra. Faz eu me sentir no controle da situação. E eu preciso daquele controle.

Já são quase oitos horas da noite, Chloe já tinha saído. Tentei estudar e depois de algumas horas infrutíferas desisti dizendo a mim mesma que precisava manter um foco, senão iria mesmo me dar mal nos estudos deste jeito. Mas nem adianta insistir. Não hoje, quando Nathan vai aparecer aqui a qualquer momento.

Começo a cogitar se foi uma boa ideia pedir que ele viesse aqui, mas tenho que estabelecer um limite. É primordial A questão é: qual o limite? De repente uma batida na porta me assusta. Meu coração vai à boca e volta, e me obrigo a ficar calma.

Tarde demais, e me dou conta de que visto um simples moletom velho. Nada, nada sexy! Respiro fundo e abro a porta. Nathan está ali. Os cabelos despenteados pelo vento, segurando dois copos na mão.

— Acho que te devo um café.

Faço sinal para ele passar e fecho a porta. Ele passa o copo para mim.

— Obrigada, não precisava. — Fico sem graça e coloco o copo na escrivaninha. E agora? — Acho melhor conversarmos no quarto.

De repente fico com medo que Chloe retorne antes da hora e não quero que ela pegue Nathan ali.

Ele me acompanha até o quarto e fecho a porta, a trancando. Chloe é bem enxerida e ela não vai bater para entrar.

— Só no caso da Chloe voltar — explico, antes que ele possa ter alguma ideia.

— E então, vamos conversar sobre limites — ele diz.

Parece haver um humor disfarçado em sua voz. Ou é impressão minha? E como é que eu podia achar uma boa ideia chamar Nathan Cole para conversar sobre sexo aqui no meu quarto?

De repente respirar fica difícil.

Respira, Sarah!

— Por que não se senta? — Indico a ele a única cadeira do quarto que é a da minha escrivaninha.

Ele se senta. Eu sento sobre a minha cama. A tensão é tão grande que pode ser cortada por uma tesoura.

— Bem... — Limpo a garganta. — Eu não sei por onde começar — confesso por fim.

— Foi você que insistiu nisso, Sarah. — Ele parece meio impaciente agora.

— Eu sei, mas... talvez tenha razão. Como eu posso saber de meus limites se nunca...

— Até onde você foi?

— Como assim?

— Com os caras com quem já ficou.

Desvio o olhar.

Não vou confessar que minha experiência é quase nada.

— Nada demais. — Dou de ombros.

— Já namorou alguma vez?

— Não sei por que isso é relevante! Eu não estou perguntando com quantas garotas ficou antes de mim!

— Tem razão, me desculpe.

— Olha, não interessa nada além do que vai acontecer agora. Acho que é pra isso que estamos aqui, e não para ficarmos falando sobre o que aconteceu antes, o que no meu caso nem tem tanta importância mesmo, porque se tivesse algo que valesse a pena talvez eu não tivesse entrado naquele banheiro bêbada e proposto a você que...

— Ei, Sarah, respira — ele interrompe minha tagarelice descontrolada. — É que eu... só queria entender... — Ele parece um tanto desconsertado.

— Não tem que entender nada. Tem que fazer!

Oh Deus, o que eu estou falando? Ele fica me encarando em silêncio.

— Certo. Será como você quer. Então vamos falar sobre “fazer”.

E se levanta da cadeira e caminha até a cama, sentando na minha frente. Eu me assusto.

— O que está fazendo?

Ele não está querendo que a gente transe agora, não é? Meu coração dá um salto mortal no peito. Medo, ansiedade e algo totalmente diferente do que já tinha sentido até então se mesclando dentro de mim. O quarto de repente está muito quente.

— Vamos definir limites — diz com aquela voz melódica. Perfeita.

Começo a ofegar.

— Certo. Limites — repito.

Será que ele consegue ouvir as batidas do meu coração?

— Eu vou poder te beijar?

— O quê? — balbucio.

— Beijar. Sua boca.

Sinto seu olhar se dirigindo para meus lábios e sacudo a cabeça, confusa.

— Achei que fosse coisa de prostituta este negócio de não beijar.

— Está vendo filmes dos anos 90 demais. — Ele ri. — Então podemos começar por aí.

— Beijando?

Ele sacode a cabeça afirmativamente.

— Agora?

E em resposta seus dedos se movimentam para colocar uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Estremeço com o contato e me mantenho quieta, incapaz de desviar o olhar, enquanto Nathan se aproxima.

Suas mãos seguram minha cabeça, como se houvesse alguma força capaz de me mover para longe dele naquele momento. Seu olhar captura o meu e o único som que escuto é o som do meu coração batendo de um jeito que nunca bateu antes.

— São como estrelas — ele sussurra, sinto seu hálito doce e morno em minha língua.

— O quê? — Ofego.

— Seus olhos. São brilhantes como estrelas.

— Não somos todos feitos de poeira das estrelas? — repito suas palavras.

Ele sorri.

E me beija.


Capítulo 6

 

Faça a minha bagunça valer a pena

Faça esse caos ter valor

Deixe cada pedaço em mim

Quebrar alto

Jupiter

 

Seus lábios tocam os meus de forma delicada. Como se estivesse realmente testando, conhecendo. Deixo escapar um pequeno gemido, enquanto uma descarga de adrenalina faz o sangue correr mais rápido nas veias, o calor extrapolando a barreira da pele. E de repente minhas mãos estão subindo como se tivessem vontade própria para seus cabelos, torcendo-os sobre meus dedos, enquanto Nathan continua a me beijar, uma, duas, várias vezes; muitos beijos curtos que parecem desencapar cada fio do meu corpo, me deixando exposta, uma fraqueza deliciosa tomando conta dos meus membros.

E aquele calor... Que começa onde ele me beija e vai se espalhando, se concentrando em lugares estratégicos. Lugares estes que de repente eu quero muito ser tocada. Muito mesmo. Então, o beijo termina. Mas Nathan não me solta. Seus dedos estão enredados em meus cabelos e ele respira tão ofegante quanto eu, nossas bocas ainda muito próximas, como se fosse impossível agora se afastarem mais do que alguns centímetros.

— Tudo bem?

Apenas sacudo a cabeça afirmativamente, porque não confio na minha voz.

— Algum limite aqui?... — ele continua quase divertido.

Eu quase rio. Quem está pensando em limite? Eu nem conseguia lembrar porque tinha começado aquela história de limite! Na verdade, com aquela pequena parte do meu cérebro que ainda funciona, penso que não ligaria nem um pouco se ultrapassássemos todos os limites naquele momento.

— Sarah? — Nathan insiste. Por que diabos ele está falando?

— É... eu... tudo bem com... limites... acho que podemos... — Não preciso terminar, pois de repente estamos nos beijando de novo e desta vez com tudo que tem direito: lábios, dentes e língua.

É como despertar de um longo sono e descobrir que estava banhada pelo sol. E se eu me movo para cima dele, é porque simplesmente a distância é intolerável.

Porém, duas coisas acontecem ao mesmo tempo. Meu celular toca. E com certeza Nathan não está esperando ser atacado por mim, porque perdemos o equilíbrio e vamos direto ao chão.

— Droga! — murmuro vermelha enquanto o telefone continua a tocar e me desvencilho pegando o aparelho na escrivaninha.

— Alô?

— Ei, filhinha! — Ouço a voz tranquila do meu pai do outro lado da linha.

Pai?! Mas por que meu pai está ligando numa hora dessas? E de repente fico mais vermelha ainda, ali, toda descabelada pelos dedos do cara que agora se levanta do chão. O cara que eu tinha derrubado da cama. Que vergonha.

E o pior é que sinto como se meu pai também estivesse ali naquele momento vendo o que eu estava fazendo. Abaixo o olhar e tento voltar a respirar normalmente.

— Oi, pai.

— Tudo bem, Sarah? Parece estranha.

— Não! Está tudo bem — respondo rápido.

— O que está fazendo?

— Estudando — minto.

— Leo acabou de sair daqui. Disse que iria te visitar este fim de semana, mas você tinha compromisso.

Olho para Nathan, que agora parece distraído olhando meus objetos em cima da estante. Os cabelos mais bagunçados ainda, por meus dedos.

— É, mais ou menos...

— Tem algo que queira me contar?

— Não! Quer dizer, nada demais. — “Meu compromisso no fim de semana é transar com um cara lindo. Que beija muito bem. Bem demais.” — Vou sair com algumas amigas, um grupo de estudo, estas coisas — minto de novo. Posso ver o canto da boca de Nathan se movendo num sorriso.

— Ok, filha, cuide-se.

— Tchau, pai — eu me despeço e desligo.

Nathan se vira para mim.

— Acho melhor, eu ir... está tarde.

— Sim, está tarde — concordo e me apresso em abrir a porta.

— Acho que devemos trocar nosso número de telefone.

— Sim, claro.

Ele pega o celular de minha mão e digita o número dele, dando um toque para salvar em seu celular e me devolvendo.

— Tchau, Sarah.

— Tchau — murmuro e fecho a porta me encostando nela.

Eu beijei Nathan Cole. E tenho que esperar quase três dias para beijar de novo. E aí não vou só beijar.

Agora, além do medo e da ansiedade se misturando dentro de mim, ainda tenho que lidar com aquelas sensações novas e inesperadas.


***


— O que você tem? Está tão avoada! — Chloe pergunta na manhã seguinte enquanto comemos em um intervalo.

— Nada...

— Não vai comer, não?

— Estou sem fome. — Olho para meu prato praticamente intocado. Eu não conseguia colocar nada no estômago que dava voltas e voltas.

— Está doente? — Chloe insiste.

— Não, apenas... não dormi direito.

— Eu hein, você está mais esquisita hoje do que nos outros dias...

Ignoro a observação de Chloe e tento comer.

Nathan e seus irmãos entram no Café minutos depois. E não posso evitar acompanha-los com o olhar, embora nem precise me sentir culpada, pois todos no salão fazem o mesmo. Porém, meu olhar tem um alvo certo. E meu estômago, que já estava girando, dá uma volta de 360 graus, quando Nathan vira em minha direção, como se soubesse que eu o estava observando. Desvio rápido o rosto, vermelha. Não quero que Nathan pense que... sei lá... que estou obcecada por ele ou coisa assim. De maneira alguma. Só que de repente me lembro do teor dos sonhos que eu tive com ele e meu rosto fica mais vermelho ainda.

Em menos de dois dias não seria apenas sonho. Seria realidade.

— E aí, teve algum contato com o Nathan Cole depois da noite de bebedeira? — Chloe indaga maliciosa, seguindo a direção do meu olhar e volto a atenção para a minha comida, sem graça.

— Claro que não, por que teria? — minto.

Chloe é minha amiga e há uma parte de mim que quer contar a ela o que está rolando. Mas Chloe também é cheia de opiniões e não sei se estou preparada para ouvir suas críticas que sei que virão.

— Sei lá. Ele foi muito legal em 1eva-la pra casa depois de vomitar nele. Conheço alguns caras que teriam saído correndo e a amaldiçoado eternamente.

— Ele foi apenas educado, acho. E você, saiu de novo com aquele cara da festa?

Ela sorri animada e começa a contar do segundo encontro. Chloe adorava falar sobre si mesma e foi ótimo desviar o assunto sobre Nathan e eu. Infelizmente eu continuo com minha atenção voltada para a mesa dos Cole, que conversavam animadamente, embora tentasse não olhar para lá.

E me pergunto se Nathan teria contado sobre nosso “acordo” para os irmãos. Eu espero que não. Felizmente, enquanto Chloe ainda tagarela sobre seu encontro, eles se levantam e vão embora.

Não tenho mais ideia do que Chloe está falando, mas mantenho o rosto no meu prato, onde mexo a comida pra lá e pra cá, sem comer, até que a porta se feche atrás deles. Respiro aliviada.

— O que você acha? — Chloe pergunta e eu a encaro, tentando me lembrar do que ela estava falando.

— Desculpa, o que disse mesmo?

— Ah, deixa pra lá — respondeu emburrada. — Está difícil conversar com você hoje.

— Me desculpa. Estou mesmo distraída. — Eu me levanto, colocando a bolsa nos ombros. — Vou voltar para a aula. A gente se vê.

— Ei, espera. — Ela pega suas coisas e corre atrás de mim. — Vai ter uma festa sábado, vamos?

— Não posso.

— Por que não? Não vai dizer que é por causa do que aconteceu na última festa?

— Não... — Eu ia dizer que tinha um compromisso, mas me calo. Chloe é muito curiosa e ia querer saber qual compromisso. — Na verdade, Chloe, é um pouco por causa disso sim.

— Quer dizer que não vai sair nunca mais?

Eu rio.

— Não é isso, mas preciso dar um tempo. E vou aproveitar para estudar, estão chegando as provas. Provavelmente ficarei o tempo inteiro trancada na biblioteca.

— Tudo bem então. Se quiser ir, me avise.

— Pode deixar.


Entro em aula, mas não consigo me concentrar. Fico o tempo inteiro pensando quando é que Nathan vai falar comigo sobre o fim de semana.

Depois da aula, passo a tarde na biblioteca, estudando, ou tentando. E nada de Nathan entrar em contato.

No dia seguinte, quando estou passando pelo estacionamento, vejo Caroline e Brad saindo de um carro, acompanhados de Tyler, o namorado de Caroline. E Nathan não está com eles.

Passo a manhã inteira o procurando com o olhar entre as aulas e na hora do intervalo, apenas Caroline e Brad estão no Café.

Onde estaria Nathan? Hoje já é sexta-feira e oficialmente o fim de semana começa amanhã. E não faço ideia do que vai acontecer. Porque Nathan me ignorou no dia anterior e agora desapareceu. Será que ele tinha desistido?

Sinto-me apreensiva e enquanto caminho de volta para meu quarto começo a tecer várias teorias na minha cabeça. Provavelmente Nathan tinha se arrependido de aceitar aquela minha proposta sem noção e pulou fora. Só que obviamente não teve coragem o bastante de dizer na minha cara.

Chego ao meu quarto irritada e noto uma mensagem de Leo. Ele quer saber se eu ainda vou ter um compromisso.

— É, Leo, acho que levei um fora — murmuro e, enquanto penso no que responder, o telefone toca e o nome de Nathan brilha no visor. Quase dou um pulo na cadeira e estou trêmula quando atendo.

Deus, eu sou ridícula. Para que tanto nervosismo?

— Alô. — Obrigo minha voz a sair o mais casual possível.

— Oi, Sarah. É o Nathan.

— Eu sei. Estava me perguntando se tinha esquecido... — Eu ia dizer “de mim”, mas calo a tempo. — Não o vi no campus hoje.

— Tive outro compromisso — responde evasivo e de repente me sinto muito curiosa para saber o que era, mas claro que não pergunto. Nathan não me deve satisfação. — Enfim, eu te liguei para combinarmos.

Respiro fundo.

— Certo.

— Meus irmãos irão viajar amanhã à tarde, porque Brad tem uma prova. Então eu te pego à noite, tudo bem?

— Não precisa me buscar.

— Sarah... — Posso sentir a impaciência no seu tom de voz.

— Não precisa vir até aqui, me dá seu endereço e eu te encontro.

Nathan parece que vai insistir, mas acaba passando o endereço.

— Tem certeza que não quer que eu busque você?

— Não, eu sei muito bem ir sozinha.

— Tudo bem. Eu te espero então.

— Combinado.

Desligo e olho o relógio no celular. Daqui a pouco mais de 24 horas vou perder minha virgindade. Com Nathan Cole. Bom, para quem esperou quase vinte anos, esperar vinte e quatro horas não seria difícil.

Ou era o que eu imaginava, porque quanto mais as horas vão passando, mais ansiosa eu fico. E com medo.


Chloe está toda arrumada, pronta para sair no começo da noite seguinte, e ainda insiste para que vá à festa com ela.

— Não, vou para a biblioteca estudar.

Estou ficando boa nas mentiras, ao que parece.

— Como você é chata.

Eu rio.

— Você sabe que não curto essas festas como você.

— Tudo bem então. Desisto!

Corro para tomar um banho depois que ela sai e sinto-me perdida em frente ao meu guarda-roupa. O que vou vestir? Minhas roupas são tão normais, tão... enfadonhas. Inocentes. Mas agora é tarde para lamentar não ter me preparado um pouco melhor para aquela ocasião. E também, posso ser um pouco inexperiente, mas pelo o que sei não se precisa de roupa para fazer o que vou fazer, então... Visto meu habitual jeans e suéter.

Meu coração parece fora de controle quando desço do Uber em frente a um prédio elegante numa área que, mesmo à noite, parece ser muito, muito exclusiva. Nada menos para os Cole, penso intimidada. Olho para cima me perguntando se teria mesmo coragem de subir.

Ainda posso desistir. Mas quero mesmo desistir? Talvez antes... Antes de Nathan ter me beijado fosse mais fácil. Agora é tarde demais para mim. Eu cruzei a barreira do desconhecido. Provei do fruto proibido e quero mais. Muito mais.

E, embora sinta todo aquele medo e apreensão, me dou conta de que não tenho como escapar. Não quero escapar. Quero estar ali. Com Nathan Cole.

Um cara de que não sei praticamente nada, mas que terá mais acesso a mim do que qualquer outra pessoa teve até hoje.


Capítulo 7

 

Me encontrava em bilhões de pedacinhos

Até você me dar um foco

Venus

 

O porteiro não fica surpreso quando digo que vim encontrar Nathan Cole, provavelmente já tinha sido avisado da minha chegada, pois o homem me guia até o elegante elevador informando que o apartamento dos Cole é na cobertura.

Tento não parecer impressionada quando agradeço e aperto para subir.

Quando Nathan abre a porta para mim perco o fôlego por um momento. Será que um dia eu vou me acostumar com sua perfeição?

— Oi. — Sua voz ainda arrepia minha espinha e tento não soar nervosa quando respondo.

— Oi.

— Eu me perguntei se você viria mesmo.

— Eu também me fiz a mesma pergunta... inúmeras vezes — confesso.

Um arremedo de sorriso se forma em sua boca, enquanto ele faz sinal para eu entrar.

Deixo meu olhar vagar em volta e tenho vontade de dizer um “Uau”. Claro que o apartamento dos Cole não podia ser nada menos do que fabuloso. Havia vidro por todo lado da enorme sala, com móveis modernos e claros. E uma vista perfeita para a cidade.

— Decepcionada? — Nathan graceja e eu dou de ombros.

— Na verdade não. É tudo lindo... Uma casa digna de um Cole — falo meio irônica e quero morder a língua, mas é tarde.

— Nem vou tentar que me explique isso — Nathan responde divertido.

Eu fico ali, parada, sem saber para onde olhar, ou onde pôr as mãos. A tensão dentro de mim é tão grande e me pergunto se existe alguma tensão em Nathan, mas não parece ter. Ou ele não deixa transparecer.

— Vem, vou te mostrar a casa. Vamos ver se continua achando digna de um Cole. — Faz um sinal para acompanhá-lo pelo corredor.

Obviamente, tudo é muito digno. Não só de um Cole. Acho que digno de realeza seria a expressão apropriada. Ou pelo menos pessoas muito ricas. Com certeza eu nunca tinha estado num lugar como esse, contudo também nunca teria sequer sonhado em transar com um cara como este que me mostra os cômodos impecáveis.

Nathan me leva pelo corredor, apenas apontando para os quartos destinados a Caroline e Brad. O último quarto é dele, e não se limita a passar batido. Abre a porta e acende a luz. Observo tudo com curiosidade. Há uma parede toda de vidro com uma linda vista. É um quarto simples com uma estante enorme, cheia de livros, filmes e CDs. “Nathan Cole é um cara culto?”, me pergunto, meio incrédula. Não combina muito com a imagem que eu fazia dele. Homens lindos não são necessariamente inteligentes.

Talvez fossem apenas enfeite, todos aqueles livros. Minha curiosidade natural de quem ama livros quer logo se aproximar e olhar todos os títulos, mas permaneço no mesmo lugar. Pois me pergunto se ele me trouxe ao seu quarto para a gente... fechar o negócio, digamos assim. E me sinto um tanto apavorada agora.

— E então, digno de um Cole?

Eu dou de ombros.

— Diria que sim.

— Vem, ainda falta a cozinha.

Eu não sei se respiro aliviada ou frustrada enquanto o sigo pelo corredor até a cozinha.

— Você jantou?

Jantar? Como é que eu podia pensar em coisas tão triviais como comida neste momento?

— Na verdade, não, mas...

— Podemos pedir algo.

Ele pega uns panfletos numa gaveta da enorme ilha de mármore que domina o ambiente. A cozinha parece nunca ter sido usada. Tudo branco e limpo.

— Não usamos muito. Comemos fora a maior parte do tempo ou pedimos algo. — Ele adivinha meus pensamentos. — O que quer comer? Pizza, comida chinesa? Tenho certeza que tem algo sofisticado aqui. Caroline prefere a cozinha francesa e Brad a italiana...

— Nathan — interrompo —, não quero comer.

Eu não serei capaz de comer nada neste momento. E toda essa... enrolação... já está me deixando mais nervosa ainda. Ele coloca os panfletos sobre o balcão.

— Ok. Acho que eu não quero comer também.

Engulo em seco, meu coração dispara alarmantemente no peito, ameaçando sair pela boca. Nathan sai da cozinha e o sigo até a sala. Uma música baixa preenche o ambiente e eu a reconheço.

— Portishead?

— Conhece? — Ele parece impressionado.

— Sim. Minha mãe é apaixonada por música. E me fez gostar de muita banda antiga. É uma das minhas preferidas.

— Também é uma das minhas favoritas. — Ele pega um vinho e duas taças no bar, num canto.

— Vinho? Não precisa me embebedar.

— Não quero te embebedar, mas você parece tensa.

Enrubesço enquanto aceito uma taça de sua mão.

Obviamente eu não tenho idade para beber. E nem Nathan. Mas quem se importa?

— Não há motivos, Sarah — ele completa.

Eu quero rir. De puro histerismo, na verdade. Como assim eu não tenho motivos para ficar tensa?

— Acho que discordo de você — murmuro, bebendo do líquido vermelho. É gostoso. Ok, é uma boa ideia relaxar. Eu me sinto tão tensa que posso me quebrar em mil pedaços a qualquer instante.

— Por que não se senta? — sugere e sento no sofá com Nathan ao lado.

Aquela situação se parece um pouco com a da festa dos amigos de Chloe.

— Não tem medo que eu fique bêbada novamente e vomite em você?

— Não quero você bêbada. — Ele ri divertido, mas também há em sua voz uma nuance diferente, quase hipnótica.

Sinto dificuldade de respirar de repente. E me dou conta de que ele está perto. Bem perto. E meus dedos que seguram a taça com força, querem acariciar seus cabelos...

Pigarreio e desvio o olhar com muito custo e noto o piano no canto da sala.

— Quem toca piano?

— Todos nós.

— Então também sabe tocar piano? — Não tento negar que estou impressionada.

— Um pouco. Caroline é melhor que eu.

Acho que ele está mentindo neste “um pouco”. Ele deve ser perfeito tocando piano. Tenho a impressão que Nathan é perfeito em tudo o que faz. Bem, há uma coisa que não sei se ele será perfeito mesmo. Tomo o resto do vinho na taça. Talvez não fosse uma má ideia ficar um pouco bêbada, afinal. Quem sabe assim eu não fique menos tensa? Olho para Nathan e percebo que ele não está bebendo. Sua taça ainda está intocada em cima da mesa de centro. Será que ele acharia ruim se eu tomasse a dele também? Ou acharia que sou uma espécie de alcoólatra?

— Quando você fica olhando assim, parece que mil coisas estão passando por sua cabeça. É intrigante.

Ele levanta a mão e toca minha testa suavemente descendo pela lateral do meu rosto e colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha, e então seu polegar roça em meus lábios, me fazendo estremecer inteira e perder o pouco de fôlego que ainda me resta. Seus olhos estão fixos em minha boca e ele se aproxima devagar.

— Eu vou te beijar — diz, seu hálito dentro da minha boca.

Delicioso.

Eu apenas sacudo a cabeça afirmativamente, intoxicada por sua proximidade. Deixo a taça na mesa ao lado da dele e solto um gemido involuntário, enquanto seus lábios moldam-se aos meus, como se já se reconhecessem. E desta vez, é minha língua que procura a dele corajosamente. Quando Nathan geme dentro da minha boca, só este som é o suficiente para um arrepio de puro prazer descer por minha espinha, esquentando tudo por onde passa, me enfraquecendo. Nunca mais quero parar de beijá-lo. E por que eu tinha que parar?

Não há nada mais perfeito do que seus braços me envolvendo e me levando para mais perto, enquanto meus dedos castigavam seus cabelos. Sinto as mãos em minhas costas, me apertando contra o peito geometricamente perfeito e estremeço, mas não é suficiente. Eu quero mais. Nem sei bem o que é. Mas tem a ver com Nathan.

Vagamente, percebo que nos movemos e quando me dou conta estamos deitados no sofá. Nathan para de me beijar e seu olhar captura o meu. A respiração tão instável quanto a minha. E de repente me sinto nervosa novamente. Cá estou eu, Sarah James, deitada com Nathan Cole. Prestes a fazer sexo pela primeira vez.

Sinto sua mão migrando de minhas costas e puxando minha perna sobre seu quadril. Não há nenhum espaço entre nós. Nem um centímetro entre mim e seu corpo. Entre mim e a ereção de Nathan. E agora tenho certeza que não é só eu que estou excitada. E a seriedade da situação faz meu coração falhar uma batida e disparar no peito alarmantemente.

Nervosismo e ansiedade se mesclam dentro de mim.

— Está nervosa?

Eu quero dizer que não, mas sacudo a cabeça, corando.

— Estamos indo rápido demais?

— Eu não sei... eu...

Deus, sou muito idiota. Definitivamente.

— Talvez devêssemos ter tido aquela conversa... sobre limites.

— Eu não faço ideia de quais são meus limites — respondo, sentindo meu rosto queimar.

Será que é normal querer muito algo e ao mesmo tempo sentir um medo terrível?

Nathan toca meu rosto.

— Então podemos descobrir.

Sacudo a cabeça afirmativamente, confiando nele. Bem, eu tenho que confiar, não é?

Mas acho que não tenho muito sucesso porque Nathan está me fitando intrigado.

Começo a me sentir realmente constrangida.

— Sarah, até onde você foi com um cara?

— Você conta?

— Não, não conta.

— Eu nunca fiz... nada disso. Satisfeito? — falo secamente me sentindo mais idiota do que nunca.

— Não, nem um pouco satisfeito. — E então ele se afasta, se sentando.

Como assim?

— Nathan?...

— Acho melhor não fazermos isso.

— O quê? Está brincando comigo?

— Não. Eu sinto muito.

— Sente muito? — Não posso acreditar!

— Acho que não devíamos ter feito este acordo.

Eu me sento também, abraçando meu próprio corpo. Sentindo-me... Humilhada. E meus olhos ridiculamente marejados. Pisco e pigarreio para afastar aquele nó na minha garganta.

— Por que fez então? Se não queria, se...

— Eu não disse que não quero.

— Eu não te entendo. Eu sei muito bem que nunca devia ter feito esta proposta pra você! Você! Nathan Cole! E não pedi que fosse atrás de mim, aceitando! E agora diz que é tudo um grande erro!

— Não queira me entender, Sarah.

De repente é como se ele quisesse me dizer alguma coisa. E realmente sinto que ele vai falar e de alguma maneira um arrepio de medo traspassa minha espinha, mas o momento passa quando ele vira o rosto.

Respiro fundo.

Então é isso.

Eu não vou perder a virgindade, afinal. Vou sair do apartamento luxuoso dos Cole do mesmo jeito que entrei. Eu já devia saber desde o começo que Nathan Cole não era pra mim.

— Tudo bem, tem razão. Não devia estar aqui. Eu vou embora.

Tento me levantar, mas Nathan segura meu braço, me obrigando a ficar no lugar.

— Não vai.

— Vou ficar fazendo o que aqui se não vai transar comigo?

Ele ri, seus dedos acariciam meu pulso acelerado. E nem sei mais se é de excitação ou de nervoso.

— Nathan, está tudo muito confuso. Posso ser inexperiente, mas todo esse drama está meio fora do lugar, não? — Tento ser a pessoa prática e sensata que sempre fui. — A gente tinha um acordo. Um acordo bem simples e objetivo! E agora, de repente, você dá pra trás! Se não queria transar comigo, por que...

— Mas eu quero. — Ele me puxa para perto de novo.

Meu coração dispara. Droga. É difícil manter a cabeça no lugar com Nathan tão perto assim. De repente uma voz grita dentro de mim. “Vai embora, Sarah. Vai embora agora. Este cara é problema.”.

Não sei de onde vem, mas é como se algum instinto de proteção estivesse se manifestando dentro de mim.

Eu já não estava brava mais. E ele está aqui, tão perto. Ao mesmo tempo tão distante.

E percebo que não quero me afastar.

Pela primeira vez eu quero ser corajosa e destemida. Esse cara mexe comigo de um jeito tão novo e incrível que não posso simplesmente virar as costas e ir embora.

— Se você quer, por que eu estou aqui e você aí? — sussurro, audaciosa. Mas não há outra maneira de ser. Meu corpo está gritando pelo o dele.

Nathan hesita.

E espero por alguma reação dele naqueles segundos que o vejo lutando seja lá com quê.

Sua mão toca meu rosto e fecho os olhos, porque seu olhar tem uma intensidade que me desconcerta. Desestrutura-me.

— Você é muito estranha, Sarah James. De onde você saiu?

Eu meio rio meio engasgo.

— Acho que posso fazer a mesma pergunta. Você também é estranho, Nathan Cole.

— Somos dois estranhos então.

A gente ri e de repente sinto que estou no lugar certo.

Estou onde quero estar.

— Sei que talvez minha falta de experiência o assuste, mas eu realmente quero estar aqui. Eu já perdi tempo demais.

— Não precisamos fazer nada hoje.

— Nada? — Minha voz sai decepcionada.

— Talvez alguma coisa... — Ele sorri, daquele jeito que deixava minha mente girando. — A natureza não mostra seus mistérios de uma só vez.

— Isso é uma citação?...

Ele ri.

— Sim, Sêneca.

— Uau. Você é mesmo um nerd, Nathan! E eu devo ser realmente muito estranha, porque achei meio sexy.

— Eu disse.

— Ok, acho que tem razão. Temos dois meses, afinal. Se prometer que chegaremos lá em algum momento...

— Está tentando arrancar uma promessa de mim?

— Estou tentando fazer você manter sua parte no acordo.

— Eu devo ser muito estranho também porque essa sua objetividade me parece bem sexy, Sarah James.

Eu sorrio, meu rosto esquenta, porque ouvir Nathan dizer que me acha sexy é o melhor elogio que já recebi na vida.

— E aí? — sussurro, a ansiedade voltando ao meu peito. E agora não há mais tanto nervoso.

Ele segura minha mão e me faz levantar.

— Está me levando para seu quarto? — indago ansiosa e ele sorri.

— Não hoje.

E então, ele abre as portas de uma enorme varanda.

É uma espécie de jardim de inverno com confortáveis sofás e plantas.

E acima de nós o céu infinito.

— É lindo.

Nathan me leva para um dos sofás e nos sentamos lado a lado.

— É meu lugar preferido.

— Claro, o cara que ama estrelas.

— Hoje só vejo nuvens.

— Mas elas continuam lá, mesmo que não possamos ver.

— Parece uma otimista. — Seus dedos brincam com meus cabelos.

— Apenas realista. Mas por que me trouxe aqui, se não tem estrelas?

— Porque olhar o céu me acalma.

— Não parece nervoso.

— Mas você parece. Estou te emprestando meu céu.

— Que generoso. Só que prefiro um céu cheio de estrelas em vez de nuvens pesadas que trazem chuva.

— Prometo te emprestar um céu melhor da próxima vez.

Ah, próxima vez. Parece-me como música ouvir aquilo e eu sorrio, me recostando e Nathan se aproxima, fazendo meu coração disparar de novo.

— Posso tocar você? — Sua voz está dentro do meu ouvido.

— Sim — murmuro e então sinto sua mão deslizando de minhas costas para meu seio e solto um gemido de surpresa e excitação.

— Abre os olhos, Sarah.

Obedeço, seu rosto muito próximo.

— Alguém já te tocou assim?

— Não — respondo num sussurro.

— Por que não?

Mordo os lábios sem graça, abaixando o olhar.

— Eu tive poucos encontros quando estava na escola. E geralmente eu não deixava ninguém tocar em mim deste jeito. Primeiro que não me sentia à vontade, e segundo que nenhum cara antes me excitou o suficiente para que eu quisesse ultrapassar essa barreira, que sei que já deveria ter sido rompida há muito tempo. — Eu paro para respirar e encaro Nathan, esperando que ele esteja me fitando com sarcasmo. — Deve me achar uma boba.

— Não te acho boba. Eu acho... Interessante.

Sua mão de repente está embaixo da minha blusa ultrapassando a barreira do meu sutiã.

Caramba, prendo a respiração, seus dedos acariciam meu seio lentamente, apertando meu mamilo de leve. Fazendo uma dor gostosa começar onde ele toca e se conectar com algum lugar abaixo do meu ventre.

— Tudo bem aqui? — ele pergunta com um sorriso divertido no rosto e eu sacudo a cabeça, sem conseguir falar.

Então a mão desce por minha barriga e antes que eu consiga adivinhar o que vai fazer, sinto seu toque entre minhas pernas, por cima do jeans.

— E aqui? — Agora sua voz não é mais do que um sussurro rouco.

Eu luto para respirar, meu corpo inteiro pulsando, as sensações se enroscando dentro de mim, me deixando tonta e fraca e apenas consigo sacudir a cabeça negativamente, ofegando de forma constrangedora.

— Você já teve um orgasmo?

Eu engasgo.

— O quê? Nathan, eu nunca fiz...

— Sozinha?

— Não! Quer dizer... Não é como se eu nunca tivesse tentado. Eu estava curiosa para saber como era, mas... achei bem difícil chegar a algum lugar e desisti.

— Quer que eu te ensine?

Ah. Meu. Deus.

Perco o ar e a capacidade de falar.

Meu rosto está queimando e eu escondo entre as mãos.

— Isso é tão... — Engulo a vergonha e o encaro com o rosto muito vermelho. — Sim, por favor?

Em resposta ele segura meu rosto e me beija.

É um beijo diferente dos outros. É cheio de sensualidade e me faz suspirar e derreter, ansiando por mais, quando o puxo para mim, ignorando os primeiro pingos de chuva que caem sobre nós.

E Nathan não parece preocupado por um momento também, enquanto me puxa para perto, as mãos embrenhadas em meus cabelos, nossos quadris se buscando numa dança sinuosa cheia de promessa.

Até que a chuva se torna forte demais para ser ignorada e Nathan interrompe o beijo, rindo.

— O céu não está colaborando hoje.

— Então me leva para seu quarto... — sugiro quando ele me puxa do sofá e por um momento ficamos nos encarando, porque ele sabe o que eu quero dizer.

E sem falar nada, ele me puxa para dentro.


Capítulo 8

 

De início pensei que você fosse uma constelação

Eu mapeei suas estrelas, daí tive uma revelação:

Você é tão bonita quanto é infinita

Venus

 

Acho que poderá se passar mil anos que nunca me esquecerei do momento em que entro no quarto com Nathan. Apenas nós naquele quarto tão dele. E em breve eu serei dele também. O nervosismo ameaça me dominar, mas agora vai ser diferente. O tempo da hesitação ficou para trás.

— Precisa se livrar dessa roupa molhada.

Ele me leva para o banheiro, apenas escuto o suave som da música que toca na sala e o barulho da chuva fazendo um eco com nossas respirações.

— Alguém já te viu nua? — indaga suavemente e sacudo a cabeça em negativa.

Levo a mão à blusa e começo a abrir os botões. Meus dedos tremem, me atrapalhando e tenho certeza que estou muito vermelha.

— Você é adorável quando está com vergonha — Nathan comenta divertido, sinto-me constrangida, hesitando em abrir a camisa.

— Não ajuda ficar rindo de mim!

— Não estou rindo de você.

— Mas está rindo!

— Vamos fazer assim, eu tiro uma peça e você outra?

Ele se vira para o grande espelho, seu olhar captura o meu enquanto se livra da camiseta e passo a língua pelos lábios ressequidos, ao ver seu peito nu.

— Sua vez.

Respiro fundo e faço o mesmo. Viro-me para o espelho. Parece menos pessoal assim. Tiro minha blusa, deixando-a cair no chão. Agora estou só de sutiã. Então Nathan tira o sapato e eu tiro o meu. E ele tira a calça jeans, ficando apenas de cueca boxer. Respirar é algo bem difícil agora e levo meus dedos trêmulos aos botões do meu próprio jeans, o tirando. Luto para não desviar o olhar quando Nathan tira a última peça, ficando nu.

Meus olhos percorrem as formas perfeitas através do espelho. Eu nunca tinha visto um cara sem roupa, então não tenho base para comparação, mas Nathan é... Eu nem tenho palavras. Dizer que ele é perfeito já está se tornando lugar comum. E não parece o bastante.

— Sua vez — diz.

E eu mordo os lábios, tirando o sutiã. Engulo em seco hesitando em tirar a calcinha. Seria possível corar no corpo inteiro? Nathan se move, aproximando-se e ficando atrás de mim. Os dedos percorrem a lateral do meu corpo trêmulo, tocando o elástico da minha calcinha.

— Está gelada.

Sério? Como posso estar gelada quando estou queimando por dentro?

Sua pele nua está roçando na minha e eu mal consigo respirar.

— Vamos aquecer você. — Ele beija o topo da minha cabeça e se afasta, abrindo a torneira para encher a banheira.

Fico ali, tímida. E Nathan entra na banheira e estende a mão. Ainda hesito, nervosa e excitada de um jeito que acho que vou explodir.

Só que o medo não é maior do que a vontade que tenho de estar com aquele cara e então levo as mãos a minha calcinha e a tiro. Os olhos de Nathan acompanham o movimento, ávidos e atentos, me deixando ainda mais trêmula de expectativa.

Seguro sua mão e ele me puxa para baixo, me fazendo sentar na sua frente. A água morna me envolve, assim como os braços de Nathan, me levando para perto. Não há nada mais sublime como aquela sensação de estar nua de encontro a outro corpo nu. Fecho os olhos, sentindo seus lábios deslizando por meu pescoço, suave como pluma, mas me fazendo derreter.

— Toque-se — pede em meu ouvido.

E eu me viro para 1ita-lo, incrédula e excitada.

— Não queria que eu a ensinasse?

Oh. Deus.

Sem conseguir parar de encará-lo, levo a mão ao meio das minhas pernas, me acariciando e os olhos de Nathan escurecem quando sua mão cobre a minha e imprime um ritmo.

Minha nossa.

O gemido que escapa dos meus lábios é um misto de surpresa e deleite, quando um prazer quente e urgente pulsa onde ele toca e se espalha como fogo por toda minha pele, fazendo o sangue correr rápido e minha mente girar.

— Sente isso? — sussurra em meu ouvido e fecho os olhos, encostando a cabeça em seu ombro, enquanto sinto sua outra mão em meu seio.

— Sim... Sim... — Ofego, o ar tornando-se rarefeito quando a sensação em meu ventre cresce e se avoluma de um jeito quase insuportável. E levo minha outra mão acima da mão de Nathan, fazendo com que ele aumente a pressão exatamente onde preciso.

— Deixe acontecer, Sarah... — Sua voz em meu ouvido é como uma carícia e intensifica as sensações.

E não demora para tudo explodir, fazendo-me contorcer contra ele, gemendo e tremendo em meio ao caos do meu primeiro orgasmo. E Nathan está ali, me segurando, quando volto à Terra.

Não havia estrelas no céu naquela noite, mas com certeza Nathan fez estrelas surgirem dentro de mim.

— Tudo bem? — Ele sussurra depois de um tempo e eu sacudo a cabeça afirmativamente e me viro para encará-lo.

— Vamos transar.

Ele ri.

— Eu falei que não precisávamos...

— Foda-se o que você falou! — eu o corto. — Eu quero fazer isso, Nathan. Quero fazer agora mais do que nunca — insisto com convicção. E o sinto excitado. Eu sei que ele quer também e isso me deixa excitada de novo. — E quero fazer com você, por favor...

Antes que eu termine, ele está me beijando. Com força e intensamente.

Isso!

Quase não vejo quando ele me tira da banheira e me leva para o quarto, me depositando na cama. Finalmente!

Nathan se afasta e fico meio confusa me perguntando aonde vai, mas entendo quando pega um preservativo. Fico olhando, curiosa, ele o colocar. Sim, o tamanho tinha sido o certo. A vontade dentro de mim se aperta ainda mais. E então ele volta e está entre minhas pernas. Nossas respirações irregulares se misturando, assim como as batidas erráticas de nossos corações. Eu quero me misturar inteira com ele. Todo meu corpo treme, sensível, pronto.

— Acho que isso pode doer.

— Tudo bem, vai em frente.

— Por favor, se eu te machucar...

— Anda logo, Nathan! — sibilo, impaciente.

E ele vem. Devagar a princípio, o sinto entrando em mim, forçando espaço, invadindo. Pressiono meus dedos contra seu ombro com força. Dói sim, mas tenho certeza que iria doer mais se ele não fizesse. E agora ele está dentro de mim, me preenchendo totalmente, como se fosse feito para isso. Mexo os quadris contra o dele, querendo sentir como é. Nathan geme, mas parece tenso.

— Não faça isso.

— Isso o quê?

— Não se mexe... eu não quero... machucar você...

— Não está me machucando... Quer dizer, só um pouco, mas é normal, não é?

— Sim.

— Então... Pode ir em frente.

Ele me encara ainda hesitante, como se tivesse duvidando que não está me machucando, mas se move devagar, recuando, e prendo a respiração, até que ele volte de novo.

— Coloque as pernas ao meu redor — pede e obedeço.

E ele se move de novo. Sinto meus músculos internos se contraindo em volta dele, enquanto Nathan continua indo e vindo dentro de mim.

— Não estou machucando você, estou?

Abro os olhos para encontrar os dele, me fitando preocupado e o abraço em resposta e beijo seu pescoço, deslizando meus lábios por sua pele salgada de suor até o seu ouvido.

— Deixe acontecer, Nathan — repito suas palavras e ele geme roucamente, intensificando os movimentos.

E adoro vê-lo assim, subindo em mim, perdido em seu próprio prazer. Sei que a dor da primeira vez não vai deixar com que eu sinta o mesmo hoje, mas basta saber que eu fiz isso com ele.

Nathan Cole gozando dentro de mim é o ápice de tudo.


Eu não quero me mexer nunca mais. Talvez nem conseguisse me mexer nunca mais mesmo. Mas quem se importa? Está perfeito aqui, com Nathan. Suado, quente e ainda lindo dentro de mim. E eu tinha feito sexo com ele.

— Sarah? — Sua voz me chama suavemente e abro os olhos. — Tudo bem?

— Aham.

E antes que eu possa impedir, ele se afasta, saindo da cama. Eu o observo caminhar pelo quarto até o banheiro.

E agora? Eu nunca tinha ficado com ninguém daquele jeito então não sei quais são as regras. Um vento frio entra pela janela aberta e puxo uma coberta para cima de mim. De repente me sinto um pouco envergonhada, mas não é como antes. É apenas... uma sensação estranha de não saber como as coisas seriam. Fecho os olhos, sentindo uma suave letargia tomar conta do meu corpo, mas não vou dormir. Não tem a menor possibilidade de eu perder tempo dormindo, quando Nathan pode voltar a qualquer momento.

— Sarah?

— Hum? — Abro os olhos e sinto-me confusa ao ver Nathan completamente vestido ao lado da cama. — Eu dormi?

— Umas três horas.

— Oh... — Sento-me segurando a coberta contra o peito. — Desculpa, acho que peguei no sono... — Quero perguntar o que diabos ele faz vestido parado daquele jeito do lado da cama.

— Eu vou te levar embora — comunica, como se adivinhando minha pergunta.

Como é que é? Ir embora? Mas o que eu esperava? Passar a noite ali? Bem, na verdade não sei o que esperava.

— Tudo bem. — Tento soar indiferente.

— Vou te esperar na sala. — E se afasta, fechando a porta atrás de si.

Ainda fico ali, sem me mexer por um instante. Então é isso? Nathan simplesmente está me dispensando? Talvez eu estivesse sendo exageradamente sensível. O objetivo da minha presença ali era um só: sexo. E isso já tinha rolado. Mas por que não podia rolar, assim, mais vezes? Ele não falou que seria o fim de semana? Ou será que entendi errado? Devia ter perguntado antes. Agora acho que nem precisa mais. Nathan tinha deixado a situação bem clara ao dizer que ia me levar embora: o fim de semana tinha acabado. Suspirando saio da cama e vou até o banheiro. Sinto-me meio dolorida e tomo uma chuveirada rápida.

E para minha surpresa, minhas roupas estão secas esperando por mim no quarto. Nathan deve ter colocado na secadora enquanto eu dormia.

Ao chegar à sala, Nathan está de costas para mim, ao telefone, falando baixinho. Fico curiosa para saber com quem. Alguém da sua família? Amigo? Ou uma amiga? Ele se vira, desligando.

— Vamos?

O caminho até o dormitório não é longe, mas o silêncio no carro parece estranho e incômodo. Nem tento conversar. Não tinha nada para falar. E pelo visto Nathan também não. Bocejo, com sono, quando ele para o carro em frente ao prédio.

— Obrigada por me trazer — digo simplesmente e abro a porta, saltando, antes que ele possa falar alguma coisa.

Subo para meu quarto, querendo apenas dormir. Nada de pensar. Ou analisar aquela situação esquisita. Arrasto-me até a cama e tenho tempo apenas de tirar a calça e me deitar, adormecendo logo em seguida.


Capítulo 9

 

Então me mostre onde minha armadura termina

Me mostre onde minha pele começa

Pluto

 

Acordo muito tarde no dia seguinte e com dor de cabeça. E dor em outros lugares também que nem sabia que podiam doer. Meu celular está tocando e vejo que é Nathan. Lembro-me de ele me dispensando na noite passada. E me pergunto se significa que tinha desistido dos dois meses.

— Oi, Sarah.

Fecho os olhos, tentando não lembrar daquela voz dentro do meu ouvido na noite passada. Tentando não me lembrar dele dentro de mim.

— O que você quer, Nathan? — Minha voz sai áspera, irritada comigo mesma.

— Preciso querer algo para te ligar?

— Me deixa pensar... sim? Não somos amigos. — Somos amantes, quero completar, mas parecia bem estranho. Tão... adulto.

— Eu sei. Eu só queria saber se está bem.

— Por que não estaria?

Ele se cala, como se pensasse na resposta e suspiro. Estou sendo grossa e sem motivos. OK, talvez esteja um pouco chateada pela forma que ele me dispensou ontem, mas eu e Nathan não somos nada além de parceiros de sexo, não? Ele não precisa ser legal comigo.

— Eu estou bem, Nathan, apenas com dor de cabeça devido aquele vinho, eu acho.

— Era um vinho muito bom, Sarah.

— Claro. Nada menos que ótimo para um Cole.

— Você sempre fala da minha família com este tom.

— Que tom?

— De ironia.

— Ok, que tom devo usar?

— Esquece. Então... nos falamos depois.

Tenho vontade de perguntar se era para marcar nosso próximo “encontro”.

— Ok.

Desligo e fico olhando para o celular na minha mão. Por que fui tão grossa? Não parecia um comportamento maduro de uma pessoa que fazia sexo sem compromisso. Talvez não seja madura para tanto, mas tenho que aprender a ser, porque aceitei aquela situação com Nathan. E não vou voltar atrás.

Ou vou? Certamente, nada me impede. O que eu queria, que era perder a virgindade, tinha conseguido. Podia muito bem dizer para Nathan que não ia rolar mais nada. Ele não podia me obrigar. Mas eu queria que não rolasse mais nada? Acho que já sabia a resposta.


Naquela noite, quando o telefone toca enquanto estou ocupada estudando, fico preocupada que seja Leo. E não quero analisar por que estou com medo de falar com ele.

Mas não é Leo, e sim minha mãe.

— Oi, mãe — atendo animada.

— Oi, querida, e aí, como está a vida em Yale?

— Estudando muito.

— Sarah, sei que está aí para estudar, mas tem que se divertir também!

Minha mãe era uma criatura alegre e despojada. Ao contrário do meu pai, um cara sisudo e sério. Realmente não sei como é que eles foram amigos por tanto tempo antes de se envolverem e depois tudo virar uma bagunça de acusações e raiva. E mamãe sempre me criticava por eu ser tão estudiosa e quieta, como meu pai, e não muito parecida com ela, que era festeira por natureza.

De repente penso se as horas passadas na casa de Nathan ontem contam como diversão.

— Oh, oh... O que foi este silêncio? — Jocelyn indaga curiosa. O sexto sentido materno é um saco. — Anda se divertindo, é?

— Fui a uma festa com Chloe, foi bem divertido — desconverso.

— Só isto? E garotos?

— Aqui tem muitos, claro.

— Mas não está saindo com nenhum?

— Não — respondo rápido. Talvez rápido demais.

— Tem certeza?

— Ok, mãe, tem alguém, mas não é nada sério e não quero que fique se preocupando com isso. E antes que pergunte, não somos namorados.

— Uau, então está mesmo se divertindo. — Ela ri muito satisfeita. — Me fale sobre ele.

— Não quero, porque não é nada demais!

— Bem, não vou perder meu tempo dando conselhos chatos! — Ela ri. — Apenas lembre-se de se proteger...

— Tchau, mãe! — eu a interrompo. Sempre cortava quando ela vinha com este papo. — Preciso estudar.

— Tudo bem, querida. Te ligo na próxima semana.

— Ok, te amo, mãe.

— Também te amo.

Eu desligo me perguntando o que minha mãe acharia se eu contasse a ela os detalhes do meu acordo com Nathan.

Jocelyn era bem moderna, mas, sinceramente, não sei como ela lidaria com isso. Melhor deixar como está. Minha mãe não precisa saber de tudo da minha vida. Nathan Cole é um assunto meu. Só meu.


Eu estou levemente nervosa ao caminhar pelo campus na manhã seguinte. Seguro meus livros contra o peito olhando em volta à procura de um carro preto conhecido, com Chloe do meu lado.

Ela tinha ido visitar os pais no domingo e não nos encontramos.

— E aí, como foi o fim de semana?

“Nada demais, apenas dormi com o cara mais gato da faculdade. Quer dizer, dormir não é bem a palavra, porque ele me expulsou da cama dele depois que fizemos sexo.”

Dou de ombros, com vontade de rir de mim mesma.

— Nada demais... estudando.

— Que enfadonho! Eu tive que ir domingo cedo almoçar com meus pais e você já sabe, né? Todo aquele sermão...

Paro de prestar atenção em Chloe assim que avisto Nathan e Caroline passando. Ele está tão lindo como eu me lembrava e se antes eu já tinha dificuldade de parar de olhar pra ele, agora parece que ficou pior. Como é que eu nunca tinha prestado atenção nele antes? Era quase um sacrilégio.

Eu sei que tenho que parar de olhar, mas não consigo. Eles caminham em direção ao prédio de ciências e então Nathan se vira e me encara. Devo ter parado de respirar naqueles breves segundos em que nossos olhares se encontraram, até que Caroline toca seu braço, falando sobre algo e ele vira a atenção para ela.

— Sarah? — Chloe me chama.

— O quê?

— Nossa, escutou o que eu disse?

— Desculpa, não...

— Ah deixa pra lá. Agora vamos pra aula, depois eu te conto!

Tento levar a aula normalmente, embora vira e mexe meus pensamentos se voltem para Nathan. Tenho que dar um jeito nisso. Não dá para ficar com a cabeça girando em volta daquele cara vinte e quatro horas por dia. Não é normal. Nem saudável. Possivelmente ele não gastava nem um segundo pensando em mim. Essa devia ser uma rotina para ele. Sair com garotas apenas para sexo e nada mais. Eu devia agir da mesma maneira. E ponto final.

No almoço, Chloe me aborda de novo, continuando sua história sobre como seus pais não entendem que ela queira curtir a faculdade em vez de só estudar e outras coisas que não presto atenção. Os Cole sentam na mesma mesa de sempre e eu faço um esforço sobre-humano para ficar especulando se Nathan vai olhar pra mim, como uma colegial boba.

Mas ele não me lança sequer um olhar, nem mesmo quando eu e Chloe nos levantamos e saímos do salão. E pelo resto do dia, não os vejo mais pelo campus.

Nem sei se me sinto decepcionada ou aliviada. O telefone também não toca naquela tarde. E nem à noite.

No dia seguinte, não vejo Nathan e nem o irmão Brad enquanto estamos almoçando. Apenas Caroline e o namorado estão por ali. Minha curiosidade está a ponto de explodir, mas em vez de ficar pensando no que Nathan estaria fazendo, devia aproveitar para me dedicar às aulas. Não seria nem um pouco legal levar bomba em Yale.

Leo me liga naquela noite e eu adoro poder ouvir sua voz e tirar um pouco meus pensamentos de Nathan Cole. Por um momento eu cogito se devo contar o que aconteceu. Não foi para isso que eu tinha começado aquela história com Nathan, afinal?

Só que algo me impede.

— E aí, como foi o fim de semana sem mim?

— O de sempre.

— Não parece bom...

Ah Leo. Se você soubesse...

Mas ele não sabe. E não vai saber tão cedo, decido.

Acho que prefiro lidar com Leo quando estiver em Mystic nas férias.

— Mas seu próximo fim de semana pode ser melhor — ele continua.

— Ah é?

— Ainda posso te fazer uma visita.

— Leo, não é uma boa ideia, sério.

Leo já havia me visitado uma vez e foi muito divertido. Mas agora...

— Por quê? Tem outro compromisso?

— Não é isso. É que falta menos de dois meses para as férias e aqui em Yale é bem puxado, eu preciso mesmo me concentrar.

— Tudo bem. Acho que posso esperar dois meses.

Ainda conversamos mais um pouco e depois que desligo fico pensando que sinto falta do Leo. E sinto falta de quem eu sou com ele. Eu podia ser natural com Leo, e não ficar naquela tensão que Nathan causa em minhas emoções. É desgastante.

No dia seguinte decido que estou sendo ridícula. Eu tenho um acordo com Nathan e não preciso saber onde ele está todos os momentos que não está pelo campus. E nem preciso ficar com o pensamento fixo nele como se não tivesse nada melhor para fazer.

Agora vai ser assim. Nathan vai me ignorar e eu também vou ignorá-lo. Vai ser bem fácil.

E é o que tento fazer enquanto almoço sozinha naquela tarde, mas não consigo deixar de relancear meu olhar para a mesa onde Nathan e seus irmãos estão e noto uma tensão estranha entre eles.

Não parecem felizes. Estão quietos e suas bandejas de comida intocadas. Será que a bolsa de valores teve uma queda e eles perderam milhões? Ou alguma casa de moda famosa fechou as portas?

Abro o livro que estou lendo e tento me concentrar, desviando a atenção dos irmãos Cole.

— Oi.

Quase dou um pulo ao ouvir a voz do meu lado e levanto o olhar, reconhecendo Brad Cole.

— Oi — respondo, surpresa.

Ele esboça um sorriso, mas parece tenso.

— Será que você pode me emprestar suas anotações da aula de francês de ontem? Eu tive que faltar, mas já vi que você sempre anota tudo, então, se não for incômodo...

— Claro que sim. Não está aqui, deixei no meu quarto. Posso te trazer amanhã?

— Tudo bem. Valeu. — Ele se afasta, voltando à mesa silenciosa dos Cole.

Eu olho. Só uma vez. Mas Nathan não está olhando para mim. Ele olha para lugar algum. Eu me pergunto qual será o problema deles.


No dia seguinte, quando os avisto pelo campus, parecem os mesmos de sempre. Lindos e animados. Incrivelmente ricos. Pergunto-me se devia ir até lá, dar as anotações para Brad, mas não quero que Nathan pense que estou querendo me intrometer no meio de sua família.

Todavia, não preciso me preocupar, pois o próprio Brad vem até mim.

— Oi, tudo bem? — Hoje ele sorri mais naturalmente.

— Está aqui. — Eu lhe passo o caderno.

— Nossa, me salvou. Obrigado mesmo. Se precisar de alguma coisa é só me pedir.

— Ok.

— Que ótimo! Bem, eu vou indo. — Ele se afasta. Nathan e Caroline não estão mais ali.

Cansada de ficar driblando a tensão, não vou comer naquele dia, preferindo ir para a biblioteca. Estou procurando um livro na prateleira, quando alguém para do meu lado.

— Oi, Sarah.

Nathan está aqui. Alto, lindo e falando comigo. Depois de me ignorar por dias.

Eu volto a atenção para os livros.

— Agora está falando comigo? — Não consigo evitar o sarcasmo.

— Achei que não fôssemos amigos. Não foi o que disse?

Ele parece... divertido?

— Sim, isso mesmo.

— Estou apenas seguindo suas próprias regras.

O que ele está querendo dizer? Que podia ser meu amigo?

— O que quer, Nathan?

— Combinar com você sobre o fim de semana.

Quase respiro aliviada. O que é absolutamente ridículo.

— Certo. — Espero que minha voz esteja bem neutra.

— Meus irmãos vão viajar na sexta-feira. Eu posso te pegar na sexta à noite. E, você pode ficar. Se quiser.

— Você quer dizer... passar o fim de semana na sua casa?

— Se você quiser.

Ele parece... inseguro? Ou estou inventando coisas onde não existem? Nathan Cole podia ser tudo menos inseguro. E agora, o que respondo? Ainda me sinto meio brava por ter sido dispensada com tanta facilidade no outro fim de semana.

— Eu preciso ver... — minto — Talvez tenha um compromisso, ainda não sei. E também não posso ir na sexta.

— Está dizendo que não vamos nos encontrar? Achei que tínhamos combinado todos os fins de semana.

— Minha vida não gira em torno do meu... “acordo” com você, Nathan!

— Não sugeri isso — ele responde seco também.

— Certo, acho que posso confirmar sábado.

— Nos vemos no sábado então. Acho que não quer que eu te busque, não é?

— Não, não precisa.

— Então, até lá.

E ele se afasta. Parece aborrecido. E quase corro atrás dele para voltar atrás e dizer que eu podia ir sim sexta-feira. E que adoraria passar todos os minutos com ele, mas a sensatez vence.

Na sexta-feira, acordo lamentado ter mentido para Nathan. Eu tinha inventado aquele compromisso imaginário para lhe dar uma lição e para quê? Estamos disputando alguma coisa? No final das contas não era assim que eu queria? Sexo sem compromisso algum? Até mesmo amizade eu tinha dispensado.

Agora é tarde.

— E aí, quer ir comigo para a casa dos meus pais hoje à noite?

— Não posso, tenho que estudar.

— Você só estuda! Um fim de semana não vai fazer diferença! Por favor, meus pais estão piores do que nunca. Preciso de companhia.

— Ah Chloe, adoraria te acompanhar, mas realmente não vai dar.

— Certo. Eu não deveria obrigar ninguém a aguentar meus pais mesmo! O melhor que faz é ficar estudando!

— A gente pode fazer umas compras hoje à tarde então, o que acha?

— Não estou a fim.

— Ah, Sarah, da outra vez você me enrolou e foi para uma livraria, me poupe, né? Precisa mesmo de umas coisas novas, se quiser arranjar um namorado.

— Quem disse que eu quero um namorado?

— Todo mundo quer!

— Talvez eu não queira!

— Lá vem o gostoso. — Ela aponta para onde Nathan está com os irmãos e suspira. — Uma pena que Brad seja gay e Nathan não dá a mínima para ninguém... um desperdício. Vai ver que é gay também.

— Fala baixo! — comento, porque Chloe e sua voz estridente não são a coisa mais discreta do mundo.

Ela dá de ombros.

— Falo mesmo!

Eu quero dizer que não há a menor chance de Nathan ser gay, mas aí eu teria que falar como eu podia ter certeza.

E quando eles passam por nós, não consigo evitar ficar olhando.

— Olha você secando os Cole, te peguei. — Chloe ri, me cutucando e fico roxa de vergonha.

— Não estou secando ninguém.

Ela ri mais ainda.

— Pode dizer, todo mundo acha eles lindos! Diz aí, qual seu preferido? Nathan?

— Chloe, para!

— Ou tem fantasia de converter o Brad... Ou vai me dizer que prefere a Caroline? Sabe que até eu acho ela gata...

Ela continua rindo e me provocando até que nos separamos para ir à aula. Quando retorno para meu quarto à tarde, me pego pensando sobre o que a Chloe disse. Sobre comprar umas roupas novas.

Meu guarda-roupa é tão básico e sem graça... Talvez devesse mesmo comprar algo novo. Penso pedir para Chloe ir comigo, mas no fundo sei que prefiro ir sozinha. Chloe não é nem um pouco objetiva na hora de comprar roupas e isso me irrita.

Assim, algum tempo depois, caminho pelas ruas da cidade me perguntando o que comprar. Tudo parece tão exagerado. Realmente não sou boa para comprar roupa. Sempre fazia compras com minha mãe em Mystic, que adorava escolher coisas pra mim.

Paro em frente a uma loja de lingerie. Claro que nunca vou ter coragem de comprar uma coisa daquelas. Fora que deve custar muito, muito caro.

— Olá!

Eu me volto e Brad Cole está ali sorrindo para mim.

— Oi. — Fico sem graça.

— Que mundo pequeno, hein? Veio fazer umas comprinhas?

— Não, eu...

Mas Brad já se adianta e puxa meu braço.

— Que bom, vamos entrar! Adoro fazer compras com companhia!

— Mas eu... Essa loja é de lingerie feminina!

— E daí? Quem acha que escolhe as roupas de Caroline? Adoro essa loja! Tem cada coisa linda e sexy...

— Brad, eu preciso ir, eu...

— Precisa ir onde?

— Eu estava apenas olhando...

Ele pisca, acenando para as vendedoras, que pareciam conhecê-lo.

— Olhe aqui dentro, é mais divertido! Adorei esse! Olha essa cor, ficaria linda em você! — Ele ergue um corpete preto. — Experimenta.

— Não, claro que não!

Só que Brad parece não me ouvir e já chama a vendedora.

— Querida, leva a Sarah para experimentar este aqui, aposto que vai ficar lindo nela!

E então eu me vejo num provador com uma lingerie preta nas mãos. Será que Brad tem algum problema mental? Eu nem o conhecia! E certamente ele não me conhece, ou deveria saber que nunca iria usar aquele pedaço de cetim e renda em minhas mãos.

— E aí, como ficou? — pergunta do lado de fora.

— Ainda estou colocando.

Trato logo de vestir a peça, antes que Brad entre no provador e decida colocar em mim ele mesmo. Olho minha imagem no espelho minutos depois e enrubesço. Não parece eu, com aquela calcinha minúscula e um corpete preto de renda.

— Uau, ficou muito sexy!

Quase dou um pulo quando Brad abre a cortina.

— Sabia que ia ficar ótimo em você, com esse tom de pele claro e seus cabelos escuros...

— Eu não posso levar.

— Por que não? Ficou lindo!

— É muito caro para o meu orçamento.

— Ah... que pena... Mas acho que é um ótimo investimento. Seu namorado ia adorar.

— Eu não tenho namorado — respondo vermelha.

— Não tem? Quer que eu acredite? Você estava olhando a vitrine desta loja, ninguém tem interesse em comprar umas lingeries dessas pra usar sozinha!

— Bem eu... eu tenho um... um...

— Oh, eu já entendi! — Ele sorri com malícia. — Então devia comprar.

— Não, não devo.

— Tudo bem, não vou insistir. Meu irmão Nathan diz que sou o chato mais insistente do mundo!

— Você não é chato.

— Então deveria vir tomar um café comigo depois que eu escolher umas coisas para Caroline, o que acha?

— Desculpa, eu vou tirar isso e já vou embora.

— Por favor, a gente nunca teve a oportunidade de conversar.

Ainda hesito, não quero fazer amizade com um irmão do Nathan, mas acabo concordando.

Tiro a lingerie e espero Brad fora da loja. Ele sai cheio de sacolas um tempo depois e vamos a um Café próximo.

Brad é mesmo muito divertido e me conta sobre estar na aula de francês, porque sonha em ir estudar moda em Paris.

— Por que não foi ainda? Ouvi dizer que sua família tem dinheiro, não deve ser difícil — comento.

— Meu pai não foi muito com a ideia de eu me afastar agora. E tem razão, a família tem dinheiro, mas é dinheiro do meu pai. Eu ainda tenho que fazer o que ele manda.

— Seus pais são muito chatos? — Não contenho minha curiosidade.

— Nada. Eles são legais. Só existem alguns fatores que me obrigam a ficar por perto. — Ele parece com o pensamento longe por um momento, como se estive se lembrando de coisas ruins, mas em seguida sorri como se o momento anterior não tivesse acontecido — Mas me fale sobre você. Parece bem quieta.

— Eu sou. Quer dizer, preciso estudar, estou muito focada. Não quero me dar mal.

— É CDF como o Nathan e a Caroline, então.

— Não somos todos aqui em Yale? — Mordo minha língua para não pedir que fale mais de Nathan.

— Alguns de nós querem aproveitar a vida também. — Ele sorri.

— Que pena que seja gay, poderia namorar Chloe então, ela pensa como você... — De repente me dou conta do que disse e fico vermelha. — Oh me desculpe.

Brad solta uma sonora gargalhada.

— Eu já saí do armário faz tempo, Sarah. Não se preocupe.

Eu sorrio sem graça.

— Devia sorrir mais. Tem um sorriso lindo.

— Bem, se não fosse gay acharia que está dando em cima de mim.

Ele ri.

— Não daria porque sei que tem um namorado, quer dizer... tem alguém, algum cara, ou... — Ele levanta a sobrancelha. — Uma garota?

— Um garoto — confirmo e de repente receio que Brad desconfie de alguma coisa. De que o cara com quem estou transando é o irmão dele.

E não sei por que isso me faz ter medo.

— Olha, adorei tomar um café com você, mas preciso ir. — Eu me levanto.

— Tudo bem. Adorei conversar com você também. Podemos fazer mais isso. — Ele se levanta. — Tenho que correr pra casa. Eu e Caroline estamos indo visitar nossos pais em Nova York agora à tarde.

Ah, então era para lá que os irmãos de Nathan iam toda semana?


***


Naquela noite, assisto a um filme antigo na TV. Sozinha. Perguntando-me o que Nathan estaria fazendo. E o que estaríamos fazendo juntos, se eu tivesse aceitado me encontrar com ele hoje. Acabo dormindo mal. Com sonhos cheios de Nathan Cole. E passo o dia inteiro contendo a ansiedade. Não consigo sequer estudar. Na minha mente só há lugar para contar as horas para me encontrar com Nathan.

E quando finalmente a noite chega, tomo banho e tento escolher uma roupa. Por que não tinha comprado algo sexy e bonito? Qual o problema de fazer algumas dívidas? Bufando, coloco minhas velhas roupas e vou para casa de Nathan. Meu coração bate descontrolado e sinto todo meu corpo numa ansiedade febril quando paro em frente a seu apartamento.

Até respirar está difícil. Então ele abre a porta. E meu coração que já estava descontrolado, ameaça romper minhas costelas e engulo em seco, apavorada com a sensação de plenitude que toma conta de mim naquele momento em que ele está na minha frente. Ao meu alcance. E me dou conta de como sentira falta dele naquela semana, de como eu queria desesperadamente sentir suas mãos em mim de novo. Seu gosto na minha língua.

E quase abro a boca para dizer estas bobagens, mas antes que eu possa esboçar qualquer reação, sua mão está em minha nuca e me vejo puxada de encontro ao seu peito, com a boca descendo sobre a minha. Doce, possessiva, deliciosamente descontrolada. Um gemido escapa de minha garganta, meus próprios braços subindo para puxar seus cabelos, enquanto entreabro os lábios para que nossas línguas se enrosquem, uma enxurrada de calor explodindo em meu ventre. Os dedos dele migram de meus cabelos para meu corpo, fazendo um estrago por onde passam.

Vagamente ouço a porta sendo batida atrás de mim e em seguida estou encostada nela, com o corpo perfeito de Nathan grudado no meu. E quando ele rasga minha camisa fico grata por ser uma roupa velha, afinal.


Capítulo 10

 

Você me ensinou a coragem das estrelas

Saturn

 

Tudo o que eu quero é sentir suas mãos tomando posse da minha pele e quando as sinto deslizando para dentro do meu sutiã, perco qualquer senso com a realidade. Fecho os olhos, respirando por arquejos quando os lábios libertam os meus para traçar um caminho úmido por meu rosto, meu pescoço. Eu mal consigo me manter em pé, meus joelhos cedem e me agarro a seus ombros. Tudo o que escuto é o som de nossas respirações ofegantes e as batidas loucas do meu coração. Ou seria o dele? É difícil saber. Ainda mais quando, muito vagamente, percebo que Nathan está me erguendo do chão e me levando para algum lugar que eu rezo que seja o quarto. Ou qualquer lugar que tenha uma cama. Embora neste momento ache que não me importo com o lugar.

Não há espaço para hesitação ou timidez quando ele me coloca na cama e começa a desabotoar meu jeans enquanto eu mesma me ocupo em tirar o sutiã, que voa pelo quarto juntamente com minha calcinha que Nathan arranca com a mesma rapidez. Só que ele ainda está muito vestido e me apresso em abrir sua camisa, gemendo de frustração ao não conseguir abrir os botões.

— Mas que droga de camisa — xingo impaciente e Nathan afasta meus dedos.

— Deixa que eu faço isso.

E eu me deito, esperando, ansiando. Um desejo doce vai me contaminando a cada peça de roupa que Nathan tira. Oh Deus, ele é tão perfeitamente sexy que tenho vontade de experimentá-lo inteiro. E um arrepio quente trespassa meu corpo, se alojando com a força de uma pulsação úmida entre minhas pernas. Temo entrar em combustão instantânea a qualquer momento.

Com alívio, o vejo colocar um preservativo e vir para cima de mim, seu bem-vindo peso me prensando contra a cama, a boca voraz de novo sobre a minha num beijo quente, enquanto finalmente me penetra fundo. Uma. Duas. Muitas vezes, até que perco o contato com a realidade, tudo se transformando em ruídos, cheiros, texturas.

E Nathan.

Eu tinha imaginado que nada, nada, podia ser melhor do que aquela primeira vez com ele. Mas, agora, enquanto sinto as ondas de um clímax perfeito me dominar, sei que fui bem ingênua. Podia ser infinitamente melhor sim. E me desmancho em mil pedaços embaixo dele, adorando ouvir seu gemido longo e baixo em meu ouvido.

Volto à realidade com Nathan ainda largado preguiçosamente em cima de mim. A respiração voltando ao normal contra meus cabelos. E meus dedos ainda estão grudados em seus ombros. E agora? Ele vai se levantar e me deixar sozinha como da outra vez? E depois me dispensaria? Sinto certo receio me dominar. De uma maneira estranha e assustadora quero manter Nathan aqui comigo deste jeito para sempre.

Talvez a força do orgasmo tenha me deixado temporariamente louca por pensar algo assim.

Nathan levanta a cabeça. E sorri.

— Oi.

— Oi — respondo, ainda meio receosa. Ainda com medo de mim mesma e de meus estranhos pensamentos, na verdade.

— Devo pedir desculpa?

— Não... — murmuro.

— Você... vai ficar? — Sua pergunta me pega de surpresa, assim como a insegurança em sua voz.

— Era este o combinado, não? — respondo mais casualmente que consigo. Tentando conter a onda ridícula de contentamento pelo simples motivo de ele não estar me dispensando de novo.

— Sim, eu só queria me certificar — diz num tom de voz impassível antes de se levantar. — Fique aqui — ordena e sai da cama.

Eu quase gemo de frustração ao vê-lo se afastar. Sentindo um déjà-vu. Desta vez eu não vou dormir. Não vou perder um minuto desta noite. Seja lá o que ela me reserva.

Nathan retorna e antes que eu possa adivinhar o que vem a seguir, ele me pega no colo.

— O que está fazendo?

Ele ri, somente parando quando me coloca no chão do box do banheiro e abre o chuveiro quente sobre nossas cabeças.

— Nathan! — grito, e ele ri ainda mais.

Os braços a minha volta, me mantendo bem perto. Muito perto. Perco o fôlego ao abrir os olhos e encará-lo.

— Já tomou banho de chuveiro com alguém?

— Não. Acho que é óbvio — respondo e fico curiosa. — Você já?

— Não... — E então sua boca desce sobre a minha.

Eu poderia facilmente passar a vida ali, sob o chuveiro, com Nathan Cole me beijando. Bem, isso não é necessariamente um banho, mas não estou me importando nem um pouco. Ainda estou sob o efeito Nathan e acho que essa loucura temporária não vai acabar tão cedo. E nem eu quero que acabe. Não quando as mãos úmidas deslizam devagar por minhas costas, enquanto ele me beija com uma perícia preguiçosa. Não sei se é por causa da água quente ou suas carícias sobre mim, mas o fato é que a minha temperatura está aumentando gradativamente também. E minhas mãos seguem como se tivessem vida própria pelos ombros perfeitos, os músculos suaves das costas ondulando sob meus dedos, por seu peito, mas Nathan segura meu pulso e me encara ainda com aquele sorriso incrível no rosto. Causando um rebuliço dentro de mim.

— Eu quero fazer uma coisa...

E eu ia perguntar o que, mas ele me beija de novo, me empurrando gentilmente até a parede, as mãos ainda segurando meus pulsos, enquanto desliza os lábios por meu pescoço, meus ombros, até fechá-lo sobre meu seio. Gemo fracamente, tremendo de excitação. E ele fica ali, a língua em meu mamilo, um depois o outro, sugando, os dentes arranhando de leve. É quase uma dor. Mas uma dor boa. Muito boa. E ele desce mais, a boca seguindo as gotas de água por minha barriga e prendo a respiração ao antever sua intenção segundos antes de seus lábios tocarem a junção entre minhas pernas.

Arregalo os olhos surpresa, olhando para baixo, para ver Nathan sorrindo, daquele jeito que me deixa derretida por dentro.

— Alguém já te beijou assim? — E para ilustrar ele abaixa a cabeça e me beija de novo.

Ah caramba...

Ele está de brincadeira?

— Claro que não. — Consigo dizer, ofegante, ansiosa e medrosa ao mesmo tempo.

— Então temos que corrigir isso...

E ele corrige. Acho que morro por um momento, tamanha é a onda de prazer violenta que me toma. Nathan usa a língua, a boca, os dentes para causar um estrago em mim. E nem sei como não derreto e vou embora pelo ralo junto com a água, mas sinto como se isso fosse realmente possível. Meu corpo inteiro tensionado, concentrado em absorver o que Nathan me faz sentir. Eu estou me desfazendo. Desmanchando-me. É possível sentir o coração pulsando numa pequena veia na parte mais escondida do corpo? Deixo-me levar pelas sensações, até não restar nada. A não ser a vaga ideia de que nada pode ser melhor. E eu sei que Nathan ainda pode me surpreender. Eu quase rio deste pensamento. Oh, Deus, acho que estou mesmo doida. Então, ele está me abraçando de novo e me levando para debaixo do chuveiro. Abro os olhos, ainda ofegando.

— Isso foi...

Ele sorri. E mesmo sendo meio inexperiente ainda, sei que é um riso de pura satisfação masculina. Ele sabe exatamente o que faz comigo. Fico vermelha, embora seja meio ridículo nessa altura do campeonato.

— Você é tão eloquente às vezes e em outras...

— Quer um relatório? — Levanto a sobrancelha com ironia o que só o faz rir mais e me beijar, antes de desligar o chuveiro.

— Não preciso de relatórios.

Sinto uma suave letargia e certa timidez voltando enquanto nos enxugamos. Nathan me dá uma camiseta e vagamente eu me pergunto se deveria ter trazido alguma roupa para dormir. Talvez devesse pensar nisso da próxima vez.

Bocejo longamente e Nathan parece divertido. Ele veste apenas uma calça de pijama agora e não sei como consegue ainda continuar irresistível para mim.

— Está com sono? Achei que ia querer comer.

— Não achei que jantar ou qualquer coisa assim fizesse parte de nosso... acordo? — Sim. É uma pergunta.

E mesmo com sono algo naquele gesto me incomoda.

— As pessoas ainda precisam comer, Sarah. E só porque eu planejei te alimentar na varanda enquanto te fascino com meus conhecimentos de astrofísica não quer dizer que estamos saindo de nosso acordo. — Ele segura meu braço e me faz deitar. — Mas você parece que vai cair a qualquer momento.

De repente percebo que não quero dormir, na verdade. Por mais bizarro que seja quero ouvir Nathan falar sobre as estrelas, mas mal consigo ficar de olhos abertos.

— Não me deixe dormir muito — sussurro. Acho que ouço Nathan rir. É a última coisa que percebo antes de adormecer.

Não sei quanto tempo dormi, mas acordo de repente com o quarto na semiescuridão. Há um bilhete ao lado do meu travesseiro e eu já estou rindo antes mesmo de ler.

“Acorde, Sarah. Hoje o céu tem estrelas.”

Jogo as cobertas para o lado e me levanto, andando na ponta dos pés pelo apartamento silencioso dos Cole até a varanda. Olho para o céu e Nathan tem razão. Hoje o céu está tomado de estrelas.

— Sabia que não ia resistir.

Olho para trás e Nathan está deitado em uma chaise long e por um momento hesito em ir até sua mão estendida.

Como se muito mais estivesse implícito naquele gesto.

Só que essa hesitação dura apenas até Nathan sorrir e percebo que tenho um fraco por aquele sorriso.

Droga.

Sem conseguir me conter, vou a sua direção e deito ao seu lado. E enquanto nossos olhares se fixam no céu me recordo do céu de Mystic. E das pessoas que eu deixei lá.

Leo.

Sinto uma ponta de saudade ao me recordar de como deitávamos na areia da praia contando estrelas. É estranho que esteja fazendo isso agora com esse cara de quem não sei absolutamente nada. A não ser que ele ama as estrelas.

E sinto uma vontade imensa de saber mais.

Nathan é um mistério maior que o cosmo.

— Isto é esquisito — murmuro.

— O que é esquisito?

— Nós estarmos aqui sob esse céu. Desde pequena eu gosto de ficar assim, contando estrelas. — Não sei por que omito que fazia isso com Leo, mas Nathan não conhece Leo, então não faz diferença alguma.

— Desde os tempos remotos, a humanidade volta o olhar para esses pontinhos brilhantes no céu noturno. Em contraste com a escuridão do espaço, as estrelas preenchem o vazio com ordem e luz. E esses pontinhos parecem calmos e tranquilos, mas são como fornalhas gigantes em grande atividade. — Ele começa a falar todo compenetrado. — As estrelas nascem em nuvens enormes e frias, feitas de gás hidrogênio, hélio e poeira. Esses berçários estelares são conhecidos como nebulosa ou nuvens moleculares que possuem centenas de anos-luz de comprimento. No início da formação estelar a gravidade faz a nebulosa encolher e se dividir em aglomerados menores de gás, à medida que o gás se condensa nesses aglomerados, a temperatura e a pressão vão subindo até o ponto em que os astros de hidrogênio se fundem formando átomos de hélio com grande liberação de energia. Esse processo é chamado de fusão termonuclear e é ele que define uma estrela. — Ele me encara. — Desculpa. Acho que me empolguei.

— Não. Continua. Acho fascinante, na verdade.

Ele sorri.

— Esses pontinhos inocentes cintilando como brilhantes em uma joia de cristal são as unidades geradoras de toda a matéria-prima que conhecemos. A matéria-prima dos compostos de toda vida na Terra, o carbono foi e continua sendo gerado no interior das estrelas. Noventa por cento da massa do seu corpo é na verdade poeira estelar. Pois esses elementos, exceto o hidrogênio, são criados de estrela.

— Somos todos feitos de poeira de estrelas — completo e ele se vira para mim.

— Você aprende rápido.

— Sou uma CDF também, não me subestime.

— Claro, por isso ainda não está dormindo com essa minha explicação chata.

— Achei que sua intenção era me seduzir com seu grande conhecimento sobre astrofísica.

— Então funcionou?

— Muito — murmuro e pela primeira vez em nosso curto acordo eu tomo a iniciativa de beijá-lo.

E adoro sentir Nathan me levando para perto, a mão se infiltrando embaixo da camiseta e segurando meu seio que parece agora ter sido feito para estar assim, em sua mão. Engancho minha perna em seu quadril, enterrando meus dedos ansiosos em seus cabelos e gemendo dentro de sua boca, avisando de uma forma nada sutil que estou muito seduzida sim.

E Nathan parece entender o recado, pois em segundos, está em cima de mim, se imiscuindo no meio das minhas pernas e se esfregando de um jeito delicioso em mim, me fazendo sentir como ele também está seduzido.

Ainda parece incrível para mim que este cara perfeito possa estar de alguma maneira seduzido por mim. Assim, tão facilmente.

E estou totalmente derretida quando ele levanta a cabeça e seu olhar em fogo captura o meu, me fazendo engolir em seco de expectativa.

— Já disse que seus olhos brilham mais que as estrelas do céu?

— Acho que já disse algo assim.

— Agora me parece um tanto cafona? — ele franze o olhar e eu não consigo parar a risada.

— Um cara de exatas tentando fazer poesia, é realmente esquisito.

— Eu tentei. — Ele me beija de novo, dessa vez com mais intensidade, mordendo meu lábio e me fazendo gemer trêmula de excitação, me mostrando que não precisa ser bom em poesia.

Ele beija bem pra caramba e faz outras coisas bem pra caramba também. E no minuto seguinte minha camiseta desapareceu, assim como sua calça, e ele se afasta rápido apenas para colocar um preservativo.

— Você tinha muita certeza que ia me seduzir com seu papo de astronomia.

— Estrelas nunca falham. — Ele sorri e vem para cima de mim.

Para dentro de mim.

E por um momento, fico curiosa para saber se ele já usou essa tática antes e com quem.

Ou com quantas.

Mas Nathan se move dentro de mim, arrancando um suspiro da minha garganta e esqueço qualquer pensamento que não esteja relacionado com o que ele me faz sentir.

E abro os olhos para contemplar o céu infinito acima de nós enquanto Nathan faz estrelas explodirem dentro de mim.


Capítulo 11

 

Nosso mundo, um dia estéril, agora transborda vida

Com o qual podemos nos apaixonar

Sun

 

Acordo com a claridade invadindo o quarto. E estou sozinha.

Quando foi que vim para o quarto? Não faço ideia.

Sento-me, olhando em volta, confusa. Há um relógio na mesa de cabeceira e solto uma imprecação ao ver que são mais de dez horas.

— Que droga! — Não queria ter dormido tanto! E onde será que Nathan está? A pergunta é respondida no minuto seguinte, quando ele entra no quarto. E sinceramente, não é justo que alguém seja tão bonito mesmo ao acordar. Sim, porque parece que ele também tinha acabado de acordar, vestindo ainda apenas uma calça de pijama e o cabelo despenteado.

— Bom dia.

Passo a mão pelos cabelos tentando imaginar que aparência medonha devo estar.

— Não devia me deixar dormir tudo isso — reclamo.

— Não tive coragem de te acordar. Agora acho que deve estar com fome. Levante e venha comer. Pode usar minha camiseta de novo. A sua está estragada para sempre.

— Oh... — Recordo-me somente agora de que ele tinha rasgado minha camisa. — Não tem problema. Era uma camisa velha.

— Eu vou comprar outra para você.

— Não! — nego rápido. — Não precisa comprar nada pra mim.

— Talvez eu queira.

— Talvez eu não queira que me compre nada!

— Tudo bem, Sarah. Apenas coloque a camiseta e venha comer, então. E antes que reclame, tem algo na pia do banheiro para você. Eu te espero na cozinha. — E ele sai do quarto, fechando a porta atrás de si.

Depois de vestir sua camiseta, entro no banheiro intrigada e encontro uma nécessaire com escova de dente e outros itens de higiene.

Ok, parece estranho que ele tenha pensado em algo assim, mas analisando agora, acho que eu fui um pouco sem noção de não ter pensado nisso antes, se ia passar o fim de semana ali. Então eu só tinha que agradecer que Nathan tenha pensado por mim.

Escovo os dentes e penteio meus cabelos e saio do quarto. Encontro Nathan na cozinha. Ele mexe algo na frigideira. Parece ovos e bacon.

— Espero que goste de ovos.

— Eu gosto sim, mas não precisava se dar ao trabalho. — Sinto-me um tanto tímida por ele está fazendo comida para mim.

— Apenas quero me certificar que não é uma dessas garotas que vivem de regime.

— Não sou assim, não se preocupe. Há tempos desisti de ser perfeita.

— Parece perfeita pra mim.

Engulo em seco, perdendo um pouco o rumo. Era fácil perder totalmente a noção quando ele fala com aquele tom. Tão íntimo, tão... pra mim. É como se usasse aquele tom só comigo. O que deve ser mais uma bobagem da minha cabeça.

Ele se aproxima, colocando os ovos no meu prato, como se não tivesse falado nada demais.

— Não precisa ficar me elogiando... — resmungo, começando a comer.

— Devo te depreciar então?

Levanto a cabeça e ele está me encarando entre intrigado e divertido.

— Só não precisa... falar nada.

— Estamos apenas conversando, Sarah.

Estou levemente irritada agora, porque percebo que quero muito que ele me elogie. E aí eu possa dizer o que gosto nele também. E talvez possamos falar sobre o que mais ele gosta além de estrelas. Ou por que ele gosta tanto delas. E isso me assusta pra caramba, porque eu e Nathan não somos amigos.

Longe disso.

Não posso perder o foco dos motivos de estar aqui. Porque temo me perder totalmente. E só desconfio que isso não vá dar certo.

Nathan tinha me feito uma proposta bem clara: apenas sexo. Apenas dois meses. E tenho certeza que é só nisso que ele está pensando quando rasga elogios vazios para mim.

E eu deveria querer apenas isso também.

— Temos que conversar? — rebato meio petulante.

— As pessoas costumam conversar, mesmo aquelas que não são amigas e que se encontram apenas para fazer sexo. — Ele parece adivinhar meus pensamentos caóticos.

Oh. Ele está sendo sarcástico agora? Ou é impressão minha? Antes que eu possa pensar no que responder, seu celular que está em cima da mesa vibra e ele atende.

— Alô? Oi... não, tudo bem. Estou apenas tomando café.

Ele se levanta e se afasta da cozinha.

Acabo de comer meus ovos rapidamente e vou para a sala. Nathan não está lá. E eu me distraio espiando as fotos num aparador. Em todos os lugares do mundo, os três irmãos sorriem. Lindos e perfeitos. Em uma delas há muita neve e parece ser a Suíça. Ou algum lugar bem frio. A foto de um casal de meia-idade muito bonito me chama a atenção. Os pais deles possivelmente? Nathan volta para a sala naquele momento e me flagra com o porta-retratos na mão.

— Seus pais?

— Sim.

Tenho vontade de perguntar sobre eles. Mas me lembro que em nosso “relacionamento” não há lugar para este tipo de curiosidade.

— Eu preciso... fazer uma ligação, fica à vontade, ok? — diz.

Parece meio estranho. Aéreo.

— Tudo bem.

Nathan se afasta, indo para seu quarto e fecha a porta atrás dele. E escuto quando tranca a porta com a chave.

O que ele está pensando? Que vou invadir o quarto para ouvir sua conversa? E com quem será que ele tinha tanto que falar? Eu não devia ser curiosa. Não vou ser.

Sento-me no sofá, me perguntando se Nathan vai demorar e meu braço bate numa sacola, espalhando o conteúdo pelo tapete. Reconheço o logotipo da mesma loja que encontrei Brad na tarde anterior, enquanto me apresso em recolher as várias lingeries que tinham se espalhado pelo chão. E uma última me chama a atenção. É a mesma que eu havia experimentado.

— São da minha irmã.

Tomo um susto ao ouvir a voz de Nathan. Meu rosto se tinge de vermelho.

— Eu sei... quer dizer... eu encontrei Brad nesta loja ontem — confesso.

— Ah é? Não parece o tipo de loja que frequenta.

Eu fico mais vermelha ainda.

— E não é... Apenas... estava passando e... Deve saber como é seu irmão, ele me reconheceu e insistiu que eu entrasse e experimentasse isso... óbvio que eu nunca ia comprar.

— Por que não? Ficaria bem em você.

— Eu duvido.

— Coloque para eu ver.

— O quê? Claro que não! É da sua irmã!

— Ela nunca usou. — Ele ri. — Aliás, acho que ainda nem viu. Brad adora moda e usa Caroline como sua Barbie.

— Não, Nathan. Não vou usar isso!

Ele se aproxima e retira a sacola da minha mão, ficando apenas com a lingerie.

— Eu quero ver você usando. — Sua voz está cheia de uma persuasiva sedução agora que é contagiante e me vejo concordando.

— Tudo bem.

Pego a lingerie da sua mão e vou para o quarto.

Minutos depois contemplo minha imagem no espelho me sentindo... estranhamente sexy. Sim, Brad tinha razão, afinal.

É tão sexy que chega ser constrangedor.

— Você está ruborizando.

Eu quase dou um pulo de susto ao ouvir a voz de Nathan e seu reflexo se aproximando atrás de mim.

— Pronto. Não queria ver? É isso? — Oh Deus, será que eu não podia me esforçar nem um pouquinho para ser agradável? Ou melhor, para ser sexy? Ainda não sei como Nathan não está rindo da minha cara. Eu sou inocente demais ainda. É ridículo me sentir envergonhada com Nathan. Afinal, este é o cara que tinha feito sexo comigo na noite passada. Duas vezes. Sem contar o episódio do banheiro. Fico vermelha só de me lembrar.

— Sim, eu queria ver. E está realmente... sexy.

Levanto a sobrancelha, encontrando seu olhar pelo reflexo do espelho.

— Sexy? Não acho que sou sexy...

— Não gostou da palavra?

Suas mãos tocam meu ombro e eu arrepio.

— Tentadora?

Seus dedos deslizam devagar por minha pele e perco o fio da meada.

— Sedutora?

Ele afasta meus cabelos para que os lábios toquem minha nuca. Meu pulso acelera e ofego.

— Indecente... — Seu nariz desliza por minha pele até a orelha, o hálito quente pinicando, instigando. Sua voz está agora dentro do meu ouvido. — Você está definitivamente... muito sexy.

Tento me lembrar como respirar e fecho os olhos, entreabrindo os lábios ao sentir mãos rodeando minha cintura por cima do cetim e subindo, até cingir meus seios.

— Abra os olhos, Sarah.

Fixo olhar enevoado em nossa imagem no espelho, e encosto meu corpo no dele num movimento instintivo. Ouço Nathan soltar um gemido rouco, a respiração saindo com mais rapidez sobre minha pele. Seus lábios beijam meu pescoço e estremeço, querendo fechar os olhos, mas ao mesmo tempo querendo ver o que está fazendo comigo.

— Nunca mais diga que não é sexy.

— É fácil ser sexy numa roupa desta...

— Sim, é lindo. Mas você é mais.

— Nathan...

— Shi... Já falou bobagens demais, Sarah. Deixa eu te mostrar como eu acho você... sexy.

E ele desliza uma mão para dentro do corpete, apertando meus mamilos entre os polegares, enquanto a outra mão desce pela minha barriga e se infiltra dentro da calcinha preta de renda.

Solto um gemido fraco, perdida nas sensações que os dedos longos causam em mim. Aquilo sim é... indecente. O jeito como ele me olha enquanto me acaricia, abrindo caminho para dentro de mim, é enlouquecedor. E estou facilmente indo para um caminho sem volta, sentindo um frenesi me dominar.

— Deixe, Sarah...

Sua voz rouca e deliciosa sussurra no meu ouvido e basta para eu perder o resto do controle que ainda me resta, e não demora para um orgasmo romper meu corpo.

Quando abro os olhos de novo, estou na cama e ele está nu, ajoelhado na minha frente, abrindo um preservativo, e caramba, é muito sexy o jeito que ele o coloca em si mesmo.

E não consigo desviar o olhar. Fascinada.

— O que está olhando, Sarah? — Ele sorri, acariciando a si mesmo e fazendo algo pulsar entre minhas pernas.

— Acho muito... interessante o...

— Interessante...

— O jeito que coloca... coloca o... enfim... no...

— No...

— Você sabe...

— Não, quero ouvir você falar.

— Eu não quero.

— Por que não? Vamos Sarah, fala... acho que nunca ouvi uma palavra suja sair da sua boca.

— Porque nunca saiu!

— Acho que quero ouvir...

— Nathan, por favor...

— Posso muito bem passar o dia inteiro aqui te esperando, enquanto acaricio meu...

— Pau! — completo, cobrindo o rosto com a mão. — Ai meu Deus, eu não acredito que disse isso!

Nathan está rindo quando segura meu pulso, e o afasta do meu rosto muito corado.

— Muito bem, para uma primeira palavra. Podemos trabalhar outras.

— Você está se divertindo com isso! — acuso, mas não consigo parar o riso também.

— Você é muito bonitinha quando está com vergonha. Não consigo resistir. — E ele avança sem desviar o olhar e estende a mão para a minha calcinha, a puxando para baixo.

O desejo se enrosca dentro de mim de novo.

É como uma compulsão. Nunca é suficiente. Acho que vou querer sempre mais de Nathan Cole. Como uma droga.

— Isso é realmente muito bonito, mas acho que prefiro você nua. — Ele arranca o corpete também e fica olhando para meu corpo exposto.

E me sinto meio tímida assim, sendo observada à luz do dia pela primeira vez. Nathan me olha de um jeito que me faz acreditar que sou realmente linda.

Realmente sexy.

E o puxo para mim, nossas bocas se encontrando, ávidas, assim como nossos corpos, quando Nathan desliza para dentro de mim. Eu o abraço com braços e pernas trazendo-o para ainda mais perto, içando os quadris da cama, sentindo de novo aquelas mesmas sensações maravilhosas sendo construídas em meu íntimo, até que estremeço, desta vez junto com ele, num clímax perfeito.


Acordo com o quarto na penumbra e Nathan está ali, deitado ao meu lado.

— Quanto tempo dormi? — Eu me espreguiço.

— Umas duas horas.

— Que horas são?

— Deve ser umas três.

— Eu preciso ir — falo a contragosto, me sentando. Ainda tenho que estudar um pouco antes que o fim de semana acabe.

— Vou tomar um banho e levo você. — Ele me encara maliciosamente. — Quer tomar comigo?

— Eu acho que não iríamos bem tomar banho se eu entrasse lá com você. Melhor eu ir depois.

Ele se inclina e beija a ponta do meu nariz.

— É, você aprende rápido.

E eu ainda posso ouvir sua risada gostosa, mesmo depois que a porta do banheiro se fecha. Deito-me de novo, olhando o teto. Um sorriso se delineia em meus lábios. Ok, esta sou eu, Sarah James. A garota sexy que está transando com Nathan Cole.

Começo a rir de mim mesma. Sim, a loucura ainda não tinha passado.


Capítulo 12

 

Acorde, apaixone-se outra vez

Declare guerra à gravidade

Há tantas coisas pelas quais valem a pena lutar

Você verá

Nine


Estou atrasada para o almoço na segunda-feira para encontrar Chloe no Café.

Uma rápida olhada em volta é o suficiente para ver Nathan e seus irmãos por perto. Nathan nota minha presença e nossos olhares se prendem por um tempo maior do que dois estranhos educados poderiam fazer.

E por um momento sou tomada por uma vontade irresistível de ir até ele.

— Sarah, aqui! — Chloe me chama acenando de uma mesa próxima, fazendo com que eu quebre o contato com Nathan.

Estava mesmo pensando em ir falar com ele? Em um lugar público? Com Chloe e os irmãos dele por testemunha? Devo estar enlouquecendo.

— Oi — cumprimento Chloe ao me sentar.

— Que bom que apareceu, quero te contar que meu fim de semana foi péssimo!

— Podemos comer primeiro? Estou faminta.

Peço uma salada e tento a todo custo não olhar para a mesa de Nathan. E quando começamos a comer, Chloe destila reclamação sobre seus pais exigentes.

— Eles disseram que se eu tirar menos que dez, vão cortar minha mesada.

— Desde quando você tira menos que dez?

Chloe era uma das pessoas mais inteligentes que eu conhecia.

— Desde que eu parei de me importar. Eu tirei oito na prova de alemão.

— É uma nota boa.

— Não para meus pais!

Um barulho de celular tocando se sobrepôs a voz de Chloe.

— Acho que é o seu — Chloe diz.

Mexo na bolsa, procurando o aparelho. Há uma mensagem de Nathan.


“Estou te esperando aqui fora. Agora.”


Como assim está me esperando?

Arrasto o olhar para onde ele estava sentado e agora só há Caroline e Brad.

— Mensagem importante? — Chloe indaga, curiosa.

— Não, nada importante... quer dizer... — Tento bolar uma desculpa para sair. — É uma colega da aula de literatura inglesa. Precisa de ajuda. Agora. — Junto minhas coisas e me levanto.

— Agora? Mas nem terminou de comer!

— Eu como algo depois! — Afasto-me apressada, saindo do Café e me pergunto o que de tão urgente Nathan quer falar comigo.

No primeiro corredor vazio que passo, solto um grito assustado, quando mãos me puxam para um canto e antes de ter tempo de me recuperar do susto, uma boca se abaixa sobre a minha. E em segundos estou me atracando com Nathan Cole num corredor vazio da universidade.

Meu cérebro grita que está errado. Não é este o combinado, é? Só que minha boca pensa diferente e se entreabre à invasão da língua de Nathan. Um pequeno gemido sai do fundo da minha garganta. E em segundos minhas mãos também pensam diferente e sobem para se fecharem em sua nuca. Muito vagamente ouço os barulhos característicos de um prédio universitário, passos, conversas, risadas e me dou conta de onde estamos, mas não tenho a menor força para me afastar, muito pelo contrário, o quero mais perto e pressiono o corpo contra o dele, ouvindo-o gemer dentro da minha boca e os braços se prendem a minha volta ainda com mais força, nossos quadris se buscando, num movimento instintivo.

Respiro uma longa golfada de ar, tentando inutilmente pensar com racionalidade, quando seus lábios descolam dos meus.

— O que foi isto? — Consigo indagar, resfolegando.

— Acredite, estou me perguntando o mesmo — responde, tão ofegante quanto eu, sem me soltar.

Eu não estou reclamando.

— Estamos na faculdade. — Tento colocar ordem na situação.

— Sim, estamos... mas podemos sair daqui.

— Sair daqui? — Eu tinha ouvido direito? Ainda estou meio atordoada, mas...

— Sim, podemos ir para minha casa. — Sua voz contém uma urgência deliciosa. — Tem alguma aula muito importante?

— Eu... — Engulo em seco. Talvez meu cérebro ainda estivesse sem oxigênio suficiente, porque sentia como se aquela proposta de Nathan fosse a mais plausível do mundo. Quem se interessa por algo tão idiota como aulas? — Tudo bem — concordo.

Ele me solta e quase gemo em protesto.

— Te espero no carro.

— Ok.

Nathan sai caminhando pelo corredor em direção ao estacionamento e eu o observo se afastar me perguntando como é que eu tinha concordado com ele tão facilmente? Só que enquanto digito uma mensagem para Chloe, evitando voltar ao Café para escapar de suas perguntas curiosas, não me passa pela cabeça recuar.

Corro para o estacionamento e entro no carro de Nathan, olhando em volta, um tanto preocupada que alguém conhecido tenha me visto entrando em seu carro.

— O que foi? — Nathan indaga ao notar meu desconforto.

— Nada... é só que... não quero chamar a atenção.

— Não quer ser vista comigo?

— Você quer... ser visto comigo? — devolvo a pergunta.

— Não gosto de chamar a atenção tanto quanto você, mas duvido que alguém esteja se importado com a gente, Sarah.

— Bem, comigo certamente que não, mas você é meio que famoso por aqui.

Ele ri.

— Famoso?

— Sabe bem do que estou falando.

— Ninguém tem nada a ver com a minha vida.

— Nem seus irmãos?

Ele se cala.

— Eles sabem do nosso...

De repente a palavra “acordo” não me parece adequada, mas eu podia chamar do quê?

— Não, não sabem — responde meio a contragosto e relanceio o olhar para a paisagem pela janela.

Por que Nathan esconde seu envolvimento comigo dos irmãos? Será que achariam ruim ele sair com uma pessoa como eu? Certamente não sou rica como eles. E nem popular. Ou bonita.

— O que está pensando?

Eu encaro seu perfil.

— Por que quer saber?

Ele sorri meio a contragosto.

— Eu fico curioso, você às vezes é tão fácil de decifrar e outras...

— Acho que é melhor não saber o que estou pensando.

O resto do caminho nós percorremos em silêncio e tenho a ligeira impressão de que Nathan está correndo mais do que o permitido na via expressa, mas não me importo. Ele entra no estacionamento subterrâneo do prédio elegante e começo a sentir meu coração dando pulos enlouquecidos de ansiedade. Entramos no elevador e ele me encara com um pequeno sorriso. E desta vez sou eu que, ficando na ponta dos pés, o puxo pela nuca, para beijá-lo.

Eu adoro seu gosto, a textura de sua língua na minha, seu cheiro único que impregna minhas narinas. Seus braços se apossam de mim, como se tivesse mil mãos, deslizando por todos os lugares. Suspiro, excitada, roçando meu corpo no dele, cheia de uma impaciência febril, voraz. A porta se abre e ele se desgruda de mim me puxando pela mão, soltando apenas para inserir o cartão na porta. Eu me mexo impaciente e quando entramos e a porta se fecha atrás de nós, estamos de novo nos pegando, e seus dedos se infiltram embaixo da minha blusa buscando meus seios que parecem ter sido feitos para estarem em suas mãos.

— Quero tirar sua roupa. — Sua voz sibila dentro do meu ouvido, mandando ondas de arrepios por minha espinha.

— Também quero tirar as suas.

Nathan ri. Um riso rouco. Delicioso.

— É justo. — Dedos impacientes já se ocupam em tirar minhas roupas. — Não vou rasgar, Sarah — diz divertido e solta um riso nervoso.

Como se me importasse com roupas rasgadas neste momento! A única coisa que quero é que nada esteja entre mim e suas mãos, seus lábios, seus dentes...

— Obrigada por isso...

E não me importo quando caímos juntos sobre o sofá, mãos urgentes por todos os lados, passeando por meu corpo, tirando meu jeans e minha calcinha segue o mesmo caminho.

— Eu juro que queria fazer isto devagar... — ele diz se ocupando em tirar as próprias roupas enquanto me beija.

— Tudo bem. — Puxo-o para mim. Rápido e com força parece perfeito, mas desconfio que tudo será perfeito com Nathan Cole.

Sinto seu bem-vindo peso em cima de mim e de repente me lembro.

— Não... não... — Empurro-o.

— O quê? — Ele para, confuso.

— Proteção... — arquejo.

— Porra — Nathan blasfemando era algo novo pra mim — Tem razão.

E ele me pega no colo e me leva para o quarto. Espero colocar o preservativo, queimando de impaciência e me perguntando se eu deveria dizer a ele que tomo anticoncepcional desde os 16, mas não sei se seria prudente. O que eu conheço de Nathan e seu histórico sexual?

Então ele vem me deitando na cama e em pouco tempo estamos perdidos naquele vai e vem mágico. Rápido. E com força. Muitas vezes. A tensão crescendo e se espalhando até explodir. Liberando uma onda de sensações por todo meu corpo e eu gozo, meus gemidos fazendo eco com os dele, que estremece em cima de mim.

Depois de um tempo Nathan se afasta para tirar o preservativo, eu fico ali, suada e arfando, e quando ele se inclina sobre mim de novo, abro os olhos para encará-lo.

— Isso foi...

— Rápido demais?

— Perfeito demais — completo com um riso idiota nos lábios.

Levanto meus dedos e coloco uma mecha de cabelo no lugar e ele se inclina e me beija. E já estou pronta para me enroscar nele de novo, mas o barulho de um celular tocando nos interrompe.

— Me espere aqui. — Ele se afasta e eu me viro de bruços, enterrando o rosto no travesseiro e fechando os olhos de novo, aspirando o cheiro dele impregnado ali.

Pergunto-me se poderemos transar de novo. Se a gente já tinha quebrado as regras para estar ali em pleno dia da semana, poderíamos ficar a tarde inteira na cama. E quem sabe tentar uma posição nova? Não vou negar que vinha pensando muito nisso ultimamente.

De repente sinto um beijo na minha nuca e abro os olhos para ver Nathan inclinado sobre mim, os cabelos bagunçados e um sorriso preguiçoso no rosto. Sinto meu pulso acelerando.

— Não se mexa. Eu vou fazer direito agora.

E ele começa a fazer direito, os dedos percorrendo minhas costas, suaves como pluma.

— Você tem várias pintas aqui... — Percebo que seus dedos estão fazendo um caminho em minha pele, como se interligasse minhas pintas. — É quase como uma constelação.

— E qual seria a constelação?

— Não se parece com nada do que eu já tenha visto... Acho que terei que batizá-la — ele diz divertido, substituindo os dedos por seus lábios, fazendo sucessivos arrepios percorrerem minha espinha, enquanto sobe com beijos úmidos por minha pele até meu rosto — vou pensar em algo...

E então estamos nos beijando e ele me vira para descer novamente, desta vez por meus seios, a língua eriçando meus mamilos, enquanto as mãos percorrem minha pele e pousam no meio das minhas pernas, como se fosse algo dele.

Eu não estou em condição de dizer o contrário. A única coisa que posso fazer é tentar me lembrar como se respira e me mexer ansiosa sob suas mãos e lábios. E minha mente gira, numa doce inconsciência, enquanto meu corpo treme, fraco e entregue a tudo o que Nathan quisesse “fazer direito”. Seus dedos dentro de mim. Seu beijo no meu umbigo. Sua língua dentro de mim.

Depois do que parece uma eternidade, o observo pegar um preservativo.

— Posso colocar? — peço, curiosa. — Por favor.

E pego das mãos dele, sem esperar que responda.

— Senta — ordeno e ele ri.

— Você é meio impaciente não?

— Cala a boca e senta aí — Eu o empurro para a cabeceira da cama e meus dedos tremem um pouco, adorando senti-lo em minhas mãos.

Nathan geme e me puxa para si me colocando em seu colo, adivinhando meu pensamento e me fazendo deslizar em volta dele, num encaixe perfeito. Nós nos movemos juntos. Devagar, nossos olhares se encontram e se prendem e ele me beija, os dedos puxam meu cabelo e aumenta o ritmo. E eu adoro o jeito que ele se move, se enterrando dentro de mim, o jeito que eu o sinto fundo, impulsionando e recuando, cada vez mais rápido, até que de novo estou me desmanchando de prazer com ele, meu nome saindo dos seus lábios em forma de um gemido rouco, meus dedos pressionados com força em suas costas suadas. E mesmo depois de tudo terminado e só restar o som de nossas respirações ofegantes pelo quarto, ainda sinto aquela vontade insana de estar perto. E não me afastar. Nunca mais.

Oh. oh.

Abro os olhos, sentindo um frio, uma tensão na boca no estômago. Como se algo estivesse errado e me afasto, puxando o lençol para cima de mim.

— Tudo bem? — ele pergunta e eu não consigo encará-lo.

— Sim, claro...

Ele se afasta e quando retorna, eu estou um pouco mais calma, mas ainda há certo desconforto em mim.

— Acho que já está ficando tarde, não é? Seus irmãos...

— Sim, você precisa ir, meus irmãos irão chegar a qualquer momento. — Eu me levanto da cama e vou para o banheiro.

Tomo uma ducha rápida e quando saio do banheiro, procuro minha roupa e obviamente não encontro, me lembrando que estavam na sala. Corro para lá e cato tudo do chão me vestindo rapidamente. É o tempo de eu acabar de fechar meu jeans e a porta se abre. Brad surge me encarando.

Não sei quem está mais em choque. Eu ou ele.


Capítulo 13

 

Eu não consigo parar de pensar em você

West

 

Fico ali, paralisada, enquanto Brad me encara de boca aberta. E sabe Deus o que é que ele está pensando. Primeiro surpreso. Depois parece entender. Ou pelo menos desconfiar, pois sua expressão vai de choque para divertida e maliciosa.

— Oi, Sarah. — Ele recupera a voz por fim, fechando a porta.

Eu ainda não consigo me mexer. E tenho certeza que meu rosto está tingido de vermelho de tanto embaraço. Abro a boca para responder, mas não sai nenhum som.

— Brad, o que faz aqui? — Ouço a voz de Nathan soar fria na porta do corredor. Com certeza a presença de Brad é um choque para ele tanto quanto para mim.

— Vim me certificar se estava tudo bem... Sabe como é Caroline, ela ficou preocupada quando foi embora sem maiores explicações e...

— Deviam cuidar da vida de vocês.

— Ei, calma aí. Só ficamos preocupados. — E ele lança um olhar malicioso em minha direção. — Mas vejo agora que não havia motivos...

Fico mais vermelha ainda.

— Ou, posso dizer que o motivo da preocupação pode ser outro?...

— Chega — Nathan o interrompe — Pode dar o fora.

— Tá certo... Não quero mesmo... atrapalhar... — Ele sorri abertamente agora. — Quando eu contar para Caroline...

— Brad, espere — Nathan chama o irmão, o impedindo de sair e me encara. — Sarah, será que pode ir embora sozinha? Preciso conversar com Brad.

— Claro — respondo rápido. Realmente não me importo de ele não me levar. Tudo o que quero é sair daqui o mais rápido possível.

Nathan me acompanha até a porta, sob o olhar divertido de Brad.

— Me desculpe por isto... — murmura passando a mão pelos cabelos nervosamente.

— Tudo bem. Até mais. — Aceno e me afasto.

Que vergonha! Nunca mais conseguirei olhar na cara de Brad sem morrer de constrangimento.

E o que será que Nathan queria conversar com o irmão, a ponto de impedi-lo de sair? Será que ia pedir para não contar nada a Caroline? Mas por que será que Nathan fazia tanta questão de manter em segredo? Ok, eu também estava fazendo segredo, mas é diferente. Eu sou uma garota que até este momento não tive um namorado e agora estou fazendo sexo sem compromisso com um cara que mal conheço. E foi ideia minha! Imagina meu pai sabendo de uma história desta. Ou Leo. Mas Leo teria que saber, não é? Não é este o objetivo de estar com Nathan?


Quando chego ao dormitório, ainda estou com a cabeça cheia de pensamentos confusos. Eu devia ter enlouquecido de vez mesmo por ter concordado em ir pra casa dele em pleno dia de aula. Justo eu. Uma pessoa tão centrada. Mas valeu a pena. Ainda posso sentir todo meu corpo sensível em lugares escondidos. E mil borboletas no meu estômago.

Recordo-me da sensação que senti com Nathan hoje. De como muitas vezes me deixava levar e esquecia completamente os motivos que me fizeram ficar com ele, mas não é nada demais. É apenas sexo. E devia ser tão intenso porque nunca tinha feito antes. Certamente é o motivo de eu estar tão obcecada por Nathan. E com certeza é passageiro. Na verdade, já tinha até data para terminar.

Então para compensar o dia perdido de aula, me jogo nos livros e é assim que Chloe me encontra à noite.

— Olá! — Ela entra sem fazer cerimônia, sentando sobre minha cama e empurrando meus livros para um canto.

— Oi Chloe... Fica à vontade — falo com ironia.

— E aí, onde se enfiou hoje? Cabulando aula, hein?

— Estava estudando com um colega, eu te falei...

— Um colega? — Ela arregala os olhos. — Como assim? Você disse que era uma colega e agora é um garoto? Explica essa história direito, Sarah James.

Eu tento não ficar vermelha.

— Acho que me confundi...

— Ah, aí tem coisa...

— Claro que não!

— Sei... Então não era um encontro amoroso? Secreto?

— Encontro secreto? De onde tirou isso? Está lendo romance de segunda, Chloe?

Ela ri.

— Seria bom pra você! Olha, sábado descolei uma festa da pós e precisa ir comigo...

— Eu não sei...

Obviamente eu tinha um encontro, não? Um encontro por todos os fins de semana até as férias. Abro um sorriso cheio de expectativa só de pensar. Todos os fins de semana com Nathan... Todos... E talvez alguns dias da semana? Não, claro que não. Eu não vou mais cabular aula para fugir com ele até seu apartamento. Além de me ferrar na faculdade, não quero ser surpreendida de novo por algum Cole. Já imaginou se Brad tivesse chegado meia hora antes? Iria morrer de vergonha eterna.

— Está me ouvindo? — Chloe estala os dedos na minha frente.

— O quê? Desculpa, me distraí.

— Estou falando da festa!

— Chloe, está tarde... Posso confirmar depois?

— Está bem...

Chloe finalmente vai para seu quarto e eu me preparo para dormir. Meu último pensamento antes de adormecer é se Nathan me chamará para cabular aula com ele amanhã. E se eu terei forças para dizer não.


Não cruzo com Nathan e nem com seus irmãos no dia seguinte em nenhum momento. E tento não ficar decepcionada quando volto para meu quarto no fim da tarde. O que levanta um pouco meu ânimo é receber uma mensagem de Leo com uma foto nossa tirada no último verão. Eu a imprimo e a coloco no meu mural. Era um dia perfeito na praia. E nós ríamos. Parecia a anos-luz. Outro tempo. Outra Sarah. Aquela Sarah que sorria despreocupada era tão jovem, tão ingênua. A Sarah do Leo.

Será que estou diferente agora? Claro que as pessoas mudam, amadurecem, mas a essência ainda é a mesma. Então por que me sinto tão diferente? Talvez porque aquela Sarah, amiga do Leo, não ficaria o dia inteiro com a cabeça no ar, olhando um celular de cinco em cinco minutos, se perguntando onde estaria certo garoto. Irritada, desligo o celular. É melhor me concentrar nos estudos. E esquecer Nathan Cole.


Todavia, a semana inteira se passa sem que eu o veja no campus. É como se ele e os irmãos tivessem evaporado. Será que eles não estão indo a aula naquela semana, ou simplesmente não estamos nos trombando?

Só que eu não consigo ignorar que Brad tampouco aparece nas aulas de francês.

Chloe volta a perguntar se vou à festa com ela e eu não sei o que responder. Não quero ir a nenhuma festa. Quero que Nathan me ligue e confirme que vamos passar o fim de semana juntos, mas ele parece ter desaparecido da face da Terra.

Então quando o dia finda decido ligar para ele. Sinto como se tivesse quebrando alguma regra entrando em contato com ele e me recordo de que nunca falamos nada sobre eu poder ligar se quisesse.

Depois de alguns toques, uma voz feminina atende.

— Alô.

Eu não consigo responder.

— Alô? Alô? — A pessoa insiste.

Desligo, suando frio. Quem seria? Caroline? Ou outra pessoa? De repente um sentimento horrível, feroz, me domina. Algo parecido com... ciúmes?

Ah meu Deus, eu sou ridícula! Primeiro que não tinha nenhum cabimento sentir ciúmes de Nathan. Segundo que podia muito bem ser a irmã dele. Devia ter apenas perguntado por ele, seria bem simples, mas não ia ligar de novo agora.

Então me limito a passar uma mensagem perguntando de forma sucinta “Vamos nos encontrar este fim de semana?”.

Não há nenhuma resposta.

Durmo muito mal. E acordo de mau humor. O tempo está nublado e chuvoso, combinando com meu humor sombrio.

É sábado. Teoricamente dia de encontrar Nathan.

Não é a porcaria do acordo? Só que ele parece ter outras ideias. E não se importou nem um pouco em me avisar. Talvez tivesse outro compromisso. Com a garota que atendeu ao telefone, vai saber?

— Ainda vai naquela festa? — indago para Chloe à tarde depois de decidir desligar o celular.

Nathan que fosse para o inferno.

— Claro que sim.

— Vou com você.

Não vou ficar esperando Nathan feito uma idiota.

Chloe solta um gritinho!

— Que ótimo! Comprei um vestido ontem que vai ficar perfeito em você.

 

— Não devia ter deixado você me convencer a usar isso. — Tento inutilmente puxar o vestido justo e curto para baixo que Chloe me obrigou a usar quando entramos na festa naquela noite.

— Não seja boba. Está lindo em você.

Chloe pega uma bebida e coloca na minha mão.

— Acho melhor não beber.

Ainda me lembro de meu último vexame. E não é porque estava fervilhando de raiva de Nathan que vou me embebedar de novo.

— Só um pouco. Tem que aprender a beber! Não misture, que já será de grande valia. Vem, vamos circular.

Eu a acompanho pelos corredores e reparo, surpresa, que vários olhares masculinos se voltam para mim. É algo novo. E não sei dizer como me sinto em relação a isso.

— Acabei de ver uma amiga! Espere aqui! — Chloe fala alto para se fazer ouvir em cima da música alta, desaparecendo em seguida no meio das pessoas.

Tento não me sentir deslocada. O líquido no copo na minha mão, intocado, já está ficando quente e o despejo numa planta.

— Isso foi feio.

Levanto o olhar e um cara está sorrindo. Ele é alto. E bonito. Enrubesço.

— Acho que não vou embebedar a planta, nem nada disso. — Dou de ombros o fazendo rir.

— Gostei de você, vamos dançar?

— O quê? Não, eu não gosto de dançar, quer dizer...

Ele se aproxima, falando bem perto do meu ouvido.

— Então vamos sair daqui, conversar em um lugar mais calmo.

— Oh, eu não... — Engasgo nas palavras quando noto Nathan me encarando a poucos metros de distância.

Não sei quem está mais surpreso. Eu com certeza estou estupefata. O que Nathan está fazendo aqui? Numa festa? E ainda me encarando com... raiva?

— E aí, gata, vamos ou não vamos... adorei este seu vestido...

O cara do meu lado continua a falar, mas não consigo parar de olhar para Nathan. E agora ele vem em minha direção. Dou um passo atrás.

— Não, com licença.

E vou ao encontro de Nathan.

— O que está fazendo aqui?

— Acho que eu tenho que te fazer a mesma pergunta.

Como é? Ele quer saber o que estou fazendo numa festa depois de me dar um bolo?

— Oras, acho que é óbvio.

— Me pareceu óbvio que você estava com aquele cara.

— O quê? Aquele cara? Está insinuando que eu estava... estava...

Não posso acreditar que Nathan está me dizendo aquela tolice!

Ele passa a mão pelos cabelos nervosamente, respirando fundo e quando me encara parece mais contido. Ou tentando se conter.

— Acho que não devia cobrar nada de você, não? É livre pra fazer o que quiser.

— Eu não estava com aquele cara! — grito.

E algumas pessoas olham para nós. Nathan percebe e segura meu braço.

— O que está fazendo?

— Vem comigo. Precisamos conversar e tem muita gente aqui.

Ele me leva para um grande lavabo e fecha a porta, o barulho da festa fica lá fora.

— Não temos nada para conversar. — Cruzo os braços, irritada.

— Acho que temos sim!

— Ah, temos? Sinceramente, Nathan, acha que pode sumir por dias e ainda cobrar alguma coisa de mim, quando nem se deu ao trabalho de me dar alguma satisfação sobre o fim de semana que deveríamos estar... estar... — respiro fundo. — Enfim, não tem o direito de ficar me cobrando nada! Tínhamos um acordo, mas parece que não se importa muito e...

— Então resolveu sair com outro cara? É isso?

— Como é? Eu já falei... nem conhecia aquele cara, estávamos conversando, ele estava me chamando para sair daqui...

— Ia aceitar?

— E se aceitasse? Qual o problema?

— Então é assim? Desculpa se achei que era só comigo que ia transar. Ia fazer o quê? Ficar bêbada e fazer a mesma proposta a ele?

— Seu idiota! Não estou transando com mais ninguém, de onde tirou isso?

— Me desculpe. — Ele recua.

— Me desculpe? O que acha que eu sou? Fiquei te esperando ligar a semana inteira! Me perguntando onde diabos tinha se metido! E só resolvi vir nesta maldita festa com a Chloe porque achei que não estava nem aí para o nosso acordo, e acho que tinha razão!

— Você não sabe de nada...

— Nathan, você sumiu por dias...

— Me desculpe, tive uns problemas de família. Eu cheguei agora à tarde, e te liguei, muitas vezes e o celular estava desligado. Então fui ao seu dormitório e não te achei.

— E resolveu vir numa festa.

— Estou com meus irmãos. Eles insistiram. E não sabia onde você estava!

— Não tem que ficar me dando satisfação — corto a contragosto, embora estivesse sendo muito incoerente, já que estava justamente cobrando explicações dele.

— Talvez eu queira dar.

— Podia ter me ligado antes, ou enviado uma mensagem, seja lá onde estava!

— Eu sei... mas realmente não foi possível...

— Eu te liguei ontem.

— Eu sei. Caroline me falou.

Ah, então era Caroline.

— Ela sabe sobre nós?

— Não.

— Por que não me ligou de volta então?

— Porque ela só me falou hoje.

— Entendi...

Tento ordenar meus pensamentos. Ainda estou com raiva dele. De todas aquelas acusações malucas de eu estar saindo com outros caras. E toda aquela história de sumir ainda é esquisita demais.

Mas o que eu conhecia sobre a vida de gente como os Cole? Óbvio que eles deviam se considerar importantes demais para dar satisfação para o resto do mundo. E quem poderia culpá-los? Eles pareciam viver em seu próprio mundo. Eu que sou uma tonta. E que achava que podia fazer parte dele. Nem que fosse apenas nos fins de semanas roubados por um tempo determinado.

— Nathan, vamos esquecer isso, ok? Toda essa discussão... é uma bobagem.

— Sim, talvez tenha razão... Eu só queria te pedir desculpas por ter sumido. Foi realmente algo urgente.

— Não tem que me dar satisfações. Não faz parte do nosso acordo, não é?

— Acordo... — repete, pensativo. — Sarah, acho que não deixamos um ponto claro.

— Que ponto?

— Nestes dois meses... Não vamos sair com outras pessoas, não é?

— Outras pessoas? Você está falando de...

— Exclusividade. Acho que não falamos sobre isso, mas... Eu preciso saber se será só eu.

— Isso serve para você também?

— Só você. — Ele esboça um meio sorriso e dá um passo em minha direção. Aquele sorriso... É como lançar mil agulhadas em meu peito. — Para mim é só você — completa.

E de repente está muito perto. E sinto um déjà-vu. Eu e Nathan em um banheiro, enquanto uma festa rola lá fora. Mas da outra vez eu estava bêbada. E Nathan sem camisa.

— Então, Sarah. Será só eu? — insiste.

O hálito quente em meu rosto. É quase embriagador.

— Só você... Nathan — repito, como em transe.

De algum lugar dentro de mim há um questionamento se Nathan merece isso, mas já não estou me importando. Ele está aqui. Ao alcance de minhas mãos. Depois de longos dias. E sinto meus dedos formigando de vontade de tocá-lo.

— Diga de novo? — Ele pede.

Os lábios quase sobre os meus. Fico na ponta dos pés, meu corpo inteiro formiga agora, querendo desesperadamente entrar em contato com o dele.

— O quê?...

— Meu nome...

— Nathan... — murmuro fechando os olhos e oscilando em sua direção.

E basta para sentir sua boca descer sobre a minha, voraz. Saudosa. Deliciosa. E não importa mais onde estou. A única coisa que vejo, que sinto, é Nathan. O gosto de Nathan. As mãos de Nathan. A excitação de Nathan.

E gemendo seu nome me agarro a seus ombros enquanto ele me empurra em direção à parede, dedos percorrem o minivestido de Chloe, para tocar minha coxa e derreto. Os lábios deslizam por meu rosto, os dentes mordiscam meu pescoço e sei que ficarão marcas, mas não reclamo. Estou além de qualquer bom senso. Só quero que ele continue e não pare.

E também ponho minhas mãos nele, contrariada por ter tanta roupa e Nathan geme, quando toco sua ereção por cima da calça e respira ofegante contra meus lábios.

— Eu quero você aqui.

— Eu também.

Mas ele recua.

— Droga, não tem preservativo...

Eu pego minha bolsa que está jogada sobre a pia e jogo o preservativo para ele que sorri e me beija.

E no minuto seguinte, Nathan tira minha calcinha e eu abro sua calça desajeitadamente. Ele coloca um preservativo em tempo recorde e suas mãos me erguem para que se enterre em mim. Eu teria gritado, se não tivesse me beijado, enquanto se move rápido, várias vezes, nós dois contra a parede, perdidos num mundo particular. Só eu e ele. Como combinamos.

Depois, ficamos ali, respirando com dificuldade, enquanto a festa ainda acontece lá fora.

Oh. Meu. Deus. Eu tinha transado com Nathan Cole no banheiro de uma festa. E tinha gostado de cada minuto.

De repente alguém bate na porta e eu me assusto.

— Droga — Nathan murmura. — Vamos sair daqui.

Ele me solta e eu arrumo o vestido, enquanto Nathan arruma as roupas.

Felizmente é apenas uma garota bêbada na porta quando saímos.

— Ainda quer ficar na festa? — Nathan pergunta.

— Estou com uma amiga. Preciso achá-la.

— Eu vou procurar meus irmãos.

— Certo...

— Sarah, sobre esse fim de semana... Meus irmãos estão em casa.

— Tudo bem — disfarço o desapontamento. — Eu vou procurar Chloe.

— Eu te ligo, ok?

— Tudo bem.

Eu me afasto antes que fizesse alguma bobagem. Como pedir para ele ficar comigo o resto da noite. Seja onde fosse.


Capítulo 14

 

Como uma maré agitada, eu farei uma bagunça

Ou como águas calmas se for melhor para você

Two

 

Na manhã de segunda-feira não sei o que me faz sair vestida com a camisa de Nathan, aquela que eu havia pegado emprestado depois que ele rasgou a minha.

Ou talvez eu soubesse exatamente o que estava fazendo. Ou querendo, quando me deparo com Nathan no campus. E, para minha surpresa, ele não me ignora como fazia antes.

— Bonita camisa, Sarah James. — Ele me mede e eu fico vermelha.

— Sério? É emprestada. Eu preciso devolver ao dono.

— Fique com ela. Eu ainda não comprei uma para repor a que estraguei.

— Não precisa comprar nada, Nathan!

— Talvez eu precise... quem sabe quando terá mais uma camisa estragada?

Ele quer dizer que vai continuar rasgando minhas roupas? Respiro com dificuldade enquanto ele me lança aquele meio sorriso tão dele. Tão único.

— Eu preciso... ir para a aula — balbucio, sentindo meu cérebro virar gelatina.

— Tem certeza?

Oh Deus. Ele está dizendo aquilo que eu estou entendendo? Um calor insidioso e impróprio começa a se espalhar por minha pele.

— Eu tenho sim — afirmo, tentando pensar racionalmente, o que é bem difícil com Nathan me acenando com uma proposta daquelas. É tentador. E totalmente errado.

— É uma pena — ele diz.

E de repente eu quero muito, muito mesmo, esquecer onde estamos, em plena luz do dia, com vários estudantes passando por nós e beijar sua boca.

A visão de Caroline se aproximando me faz voltar à realidade.

— Ei, Nathan. — Ela para ao seu lado, mas o olhar está fixo em mim. — Vamos nos atrasar para a aula.

— Eu já estou indo.

Ela segura seu braço.

— Vamos agora — insiste e me encara. — Me desculpa... como é mesmo seu nome?

— Sarah — respondo me sentindo como um inseto prestes a ser pisado sob o olhar perscrutador de Caroline.

— Acho que terei que levar meu irmão, agora. — E ela fita Nathan. — Às vezes, preciso lembrá-lo de algumas coisinhas que ele esquece, como ser responsável, não é Nathan?

Nathan parecia bem irritado, mas assente.

— Sim, vamos embora. Tchau, Sarah.

E se afasta com a irmã loira e perfeita a tiracolo. Eu fico ali parada, observando enquanto se distanciam.

É impressão minha ou a irmã de Nathan não vai com a minha cara?

Será que ela sabe sobre nós?


***


A semana passa numa doce espera, sem mais nenhuma interação com Nathan. Ele apenas me cumprimentava de longe e sorria. Fazendo minhas expectativas aumentarem.

E eu me perguntava às vezes que mal teria se fôssemos amigos? Se pudéssemos almoçar juntos de vez em quando como colegas normais.

Sei que havia lhe dito que não queria amizade, mas era porque eu estava comparando a Leo. Só que Leo era outra história. Era meu amigo mais antigo, alguém que estaria comigo a vida inteira. Por isso tinha medo que qualquer coisa mudasse e ameaçasse isso.

Nathan é só um cara que eu conheci na faculdade. E com quem eu estava fazendo sexo. Quando fechamos aquele acordo, eu não sabia o que esperar e como ia ser. Ou como ia me sentir. Agora, sinto que fui um tanto infantil em dizer que não queria nenhum contato com ele além do sexual.

Mas será que Nathan pensava como eu? Não posso esquecer que apesar de Brad ter nos flagrado, ele nunca comentou nada comigo nas aulas que fazíamos juntos. Aliás, ele nunca mais falou comigo. Apenas me cumprimentava de longe, assim como Nathan.

Sem contar Caroline, que estava sempre com ele e tinha sido um tanto seca comigo.


Na quinta-feira, estou em uma livraria, procurando alguns livros, quando escuto uma voz inconfundível atrás de mim.

— Por que não me surpreendo de vê-la aqui?

Viro-me e lá está Nathan me encarando com aquele meio sorriso, suas roupas perfeitamente casuais e o cabelo bagunçado pelo vento. Quão ridícula eu sou por sempre perder o fôlego quando o encontro?

— Oi. O que faz aqui?

— Acho que o mesmo que você.

— Ah sim. Você tem livros.

— Eu leio, Sarah.

— Então não é só para decoração aquele monte de livros no seu quarto? — provoco.

— De todas as bobagens que você diz, acho que essa foi a maior.

— Estou brincando, mas confesso que quando vi sua estante pela primeira vez pensei que... não combinava.

— Por quê?

“Porque você já é perfeitamente lindo e não precisa ser inteligente?”.

Antes que eu responda, uma porta bate com o vento e olho para fora. Está chovendo.

— Eu preciso ir — falo rápido, indo em direção ao caixa.

— Eu te levo.

— Não, não precisa.

— Eu insisto.

— Eu posso perfeitamente pegar um ônibus, Nathan.

— Está chovendo, Sarah.

— Ok. — Acabo concordando.

E enquanto entro no carro, eu sei, bem no fundo, que o pior não é a chuva. Com isso posso lidar. Estou indo com ele, porque quero ficar mais um pouco na sua presença, nem que seja apenas para olhar seu perfil concentrado na estrada, enquanto dirige.

Tenho vontade de puxar conversa. Perguntar sobre suas aulas. Sobre o que ele gosta de fazer quando não estava concentrado nas estrelas. E essa vontade de saber tudo sobre ele me assusta um pouco. Isso não faz parte do nosso acordo.

A palavra acordo não parece legal pra mim de repente.

Não demora a chegarmos em frente ao prédio de dormitórios. O que aconteceria se eu o convidasse para subir? Chloe está em aula a tarde toda, e eu hesito, tentando criar coragem. Então um movimento além da janela chama minha atenção e quase solto um grito assustado ao ver ninguém menos que meu pai parado em frente ao prédio.

— Oh meu Deus — murmuro horrorizada.

— O que foi? — Nathan acompanha meu olhar.

— Meu pai!

— Seu pai?

— Sim, droga, meu pai está parado ali, me esperando!

— E por que está com essa cara?

— Por quê?

Sim, por que estou apavorada? Por que meu pai nunca ia me visitar sem avisar com antecedência? Por que estou com Nathan no carro? E pior, estava há poucos segundos pensando em chamar Nathan para subir e transar comigo! Não que meu pai precisasse saber disso, claro, mas tenho a impressão que está escrito na minha testa.

— É melhor eu ir. — Agora quero me livrar de Nathan antes que meu pai o veja. Não está nos meus planos dar nenhuma explicação.

— Tudo bem — Nathan concorda.

— Obrigada pela carona.

Ainda tensa, abro a porta e salto.

Meu pai, Blake James, me vê assim que saio do carro e sorri enquanto me aproximo, notando que, apesar do sorriso, sua testa está franzida.

Oh. Oh.

— Pai, o que faz aqui?

— Quem era no carro?

— Que carro?

— Ora, Sarah, o carro da onde saiu.

Olho em direção ao carro e fico mais aliviada ao ver que Nathan já tinha partido.

— Ah, aquele carro... era um amigo. Peguei uma carona por causa da chuva, mas me diz, o que faz aqui? Por que não avisou que viria? — desconverso.

Ele parece meio sem graça.

— Eu quis te fazer uma visita, saber como estava se adaptando à faculdade...

— Faz quase um ano que estou aqui e já veio me visitar antes, então não faz muito sentido...

Parece que tem alguma coisa estranha acontecendo, ou é impressão minha? Mas enfim, tirando o fato de quase ter sido pega em flagrante, estou feliz por Blake estar aqui.

— Estou feliz que tenha vindo, pai, mas podia avisar.

— Eu decidi de última hora.

— Vamos subir?

Ele me acompanha até meu quarto, olhando tudo com o olhar crítico de sempre.

— Sempre acho muito pequeno este lugar...

— Não é tão ruim.

— Essa faculdade é cara. Devia ter acomodações melhores...

— Pai, está tudo bem com relação a isso, não é? Ou temos algum problema, porque se está difícil...

— Não seja boba, Sarah. Eu posso pagar.

— Tem certeza? Não quero que fique com problemas por minha causa.

— Você merece estar aqui. Nenhum sacrifício foi grande o bastante.

— Sacrifício?

É a vez de ele revirar os olhos impacientes.

— É modo de falar.

— Pai, não está me escondendo nada, não é?

— Escondendo o quê?

— Como conseguiu o dinheiro para pagar essa faculdade?

— Eu já falei, empréstimo bancário, mas não tem que se preocupar com isso. Agora vamos, me diga como está indo tudo? Sua mãe me disse que tinha novidades...

— Espera, minha mãe? Minha mãe falou com você?

— Qual o problema?

De repente eu entendo. Agora finalmente a presença do meu pai aqui está fazendo sentido. Minha mãe linguaruda deve ter comentado com ele a nossa conversa sobre eu estar saindo com alguém. E Blake veio me checar. Eu vou matar minha mãe!

Aposto que ela tinha dito apenas para provocá-lo, porque sabe que meu pai é superprotetor e um dos inúmeros motivos de briga entre eles é o fato de meu pai achar ótimo que eu seja tímida o suficiente para quase nunca sair com garotos e minha mãe achar isso absurdo.

— E o que mais ela disse?

Ele dá de ombros.

— Nada demais.

— Sei... — Eu quero confrontá-lo, mas me calo. Se não vai dizer nada sobre o assunto é até melhor.

— E então, como são suas aulas? Conte-me tudo!

Sentamo-nos na minha cama e cruzo as pernas, começando a contar a ele sobre a faculdade e ficamos um longo tempo conversando. E me pergunto que horas vai questionar sobre o assunto que obviamente viera saber.

— E essa garota, Chloe, sai bastante com ela?

— Às vezes. Ela é legal, mas fala demais e gosta de fazer compras.

Ele sorri.

— E acho que você continua sem gostar disso.

— Você me conhece. Prefiro um bom livro.

— E garotos?

Lá está.

— Nada demais — desconverso.

Blake parece que vai perguntar mais, mas me levanto.

— Que tal sairmos para jantar? — sugiro, notando que já anoitece.

— Uma boa ideia.

— Eu vou tomar um banho, tudo bem?

— Claro.

Pego uma roupa e vou para o banheiro, tomando um banho rápido, quando volto ao quarto, Blake me encara gravemente.

E arregalo os olhos ao ver que está com minha bolsa na mão e retirando de lá um pacote de preservativo.

— Sarah, o que é isto?

— Acho que é óbvio.

— Por que anda com isso na bolsa?

— Acho que também é obvio não é, pai?

— Você está saindo com algum garoto? Era o garoto do carro? Bem que sua mãe me disse que...

— Mamãe fala demais.

— Ainda bem que ela fala, porque senão nunca eu ficaria sabendo!

— Pai, olha, não há motivos para ficar bravo.

— Você é minha filha e eu tenho todos os motivos! Está aqui para estudar e não para ficar... ficar... dormindo com rapazes.

— Rapaz. Apenas um — rebato, vermelha.

— O cara do carro.

— É, ele mesmo.

— Como pode, Sarah?

— Como pode o que, pai? Eu tenho quase vinte anos, sou adulta, posso fazer sexo sem que isso se transforme num drama.

Eu vejo o rosto de Blake se tingindo de vermelho. Não sei se é mais constrangimento ou raiva. Ele respira fundo para se acalmar.

— Sim, talvez eu esteja sendo ridículo. Pelo menos está sendo responsável. — Ele larga de volta os preservativos dentro da bolsa como se queimasse sua mão. — E então esse rapaz é seu namorado? Por que não saiu do carro para se apresentar adequadamente?

— Ele não é meu namorado — esclareço, mas devia ter ficado calada.

— Não? É o que então? Você disse que, deu a entender que... está dormindo com ele.

— Sim, estou, mas... não é meu namorado, ok?

— Sarah...

— Pai, vamos mesmo falar da minha vida sexual? Tem certeza?

— Não, acho que é melhor eu nem saber. Eu só me preocupo, filha.

— Eu sei, mas não precisa se preocupar. Eu sou responsável, pai. Pode confiar em mim.

— Em você eu confio, mas esse cara que eu nem conheço...

— Ele é um cara normal, estuda na faculdade, mora aqui com a família. Perfeitamente normal — garanto, mesmo não acreditando nessas minhas afirmações.

Nathan Cole é tudo menos normal. Com certeza havia algo nele que ainda me fugia. Eu só não sabia o quê.

— Eu podia conhecê-lo e...

— Não, isso não vai acontecer. Não insista. Por favor.

— Tudo bem. Mas se tiver algum problema...

— Não tem problema algum e nem vai ter. E vamos jantar que estou morrendo de fome.

— Certo, vamos.

Blake não insiste mais naquela questão. Nem naquela noite e nem no dia seguinte, que eu falto as aulas para passar o dia com ele.

Eu me pergunto se Nathan deu por minha falta, como eu dava pela dele quando ele sumia.

— Tem alguém que está ansioso para vê-la em Mystic — Blake me diz naquela tarde, enquanto nos despedíamos em frente ao prédio de dormitórios.

Eu sorrio.

— Leo, claro. Ele sabe que está aqui?

— Não sabe, senão teria insistido em vir junto.

Imagina se Leo estivesse com meu pai quando cheguei com Nathan. E será que ele faria as mesmas indagações de Blake? Mas não era pra isso que eu tinha transado com Nathan? Para não precisar fazer o mesmo com Leo? Uma hora ele teria que saber. Engraçado que agora eu quase nem me lembrava dos meus reais motivos de estar com Nathan.

Engraçado e meio assustador.

Jogo isso para o fundo da mente, enquanto abraço Blake.

— Dê um abraço nele e diga que estou com saudades.

— Eu direi. Com certeza Leo está contando os dias para você voltar.

— Eu também estou.

“Estou?”.

— Sabe, às vezes eu acho que aquele garoto gosta de você.

— Eu também gosto dele — falo rápido, me fazendo de desentendida.

— Você entendeu. Devo dizer a ele sobre seu namorado?

— Não tem nenhum namorado, pai, já falei!

— Ok, ok... seu amigo, ou sei lá como vocês chamam!

— Não, não diga nada.

— Tudo bem, como queira.

Eu o abraço uma última vez antes de ele entrar no carro.

— Faça uma boa viagem.

— Nos vemos em breve!

Voltando para meu quarto dou uma espiada no celular. Não há nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Nada. Provavelmente Nathan nem sentiu minha falta na faculdade, penso, tentando não ficar desapontada.

— E aí seu pai já foi? — Chloe pergunta quando a encontro na sala que dividimos.

— Sim, já foi.

— Seu pai é tão legal! Queria que o meu fosse assim como o seu — diz com um sorriso triste e eu sento ao seu lado.

— Acho que seu pai não deve ser tão ruim assim.

— Ah, você não conhece a figura. Aliás, ele e minha mãe são dois monstros!

— Credo, Chloe, que exagero.

— Não é. Agora eles cismaram que vão entrar para a política, posso aguentar isso?

— Bem, pode ser algo legal...

— Aposto que é só pra me oprimir mais!

— Devia parar de brigar com eles e tentar entendê-los. Acho que só querem o melhor para você, os pais se preocupam.

— Devia vir na minha casa na próxima vez que eu for, aí vai saber o que estou falando! Aliás, daqui a duas semanas, eles me intimaram a ir pra casa. Vai ter um jantar beneficente importante ou sei lá o que e estão exigindo que eu vá junto!

— Devia estar animada, adora uma festa.

— Está louca? Nada com meus pais é interessante! Mas sei que não vou poder dizer não desta vez. Você tem que vir comigo! Por favor.

Hesito. Chloe parece mesmo desesperada, mas ir para Nova York em uma festa com seus pais? Em um fim de semana que eu deveria estar com Nathan. Acho que não.

No entanto, apenas digo que vou pensar, o que a deixa satisfeita por enquanto.


Minha mãe me liga no fim daquela noite e eu já sei o motivo.

— Oi, mãe.

— Quer dizer que para seu pai você conta tudo e pra sua mãe nada?

— Ah, estava demorando, não é?

— Poxa, Sarah.

— Eu não contei, ele descobriu por si só! E por sua culpa.

— Minha?

— É, disse a ele sobre eu estar saindo com alguém.

— Ora, Sarah, era segredo?

— Você fez de propósito, sabia que ele ia ficar bravo!

— Seu pai vive no século passado! Ele tem que saber que você é uma mulher adulta e pode sim se divertir!

— Ele veio me checar! Fiquei me sentindo com 13 anos agora, obrigada.

— E aí, me conta tudo agora. Da outra vez que conversamos foi muito evasiva!

— Mãe...

— Seu pai disse que ele não é seu namorado, mas estão dormindo juntos.

— Sim — confirmo.

— E está se protegendo não é, Sarah?

— Claro que sim, eu te disse! Estou tomando pílulas e usando preservativos, satisfeita?

— Orgulhosa de ser tão responsável, querida.

— Certo, agora podemos mudar de assunto?

— Apenas tome cuidado, divirta-se, você é jovem. E quando for a hora, vai encontrar um garoto para chamar de seu.

Eu rio ao desligar. Um garoto para chamar de meu. É realmente engraçado. Nathan com certeza não se encaixaria nesta categoria. Mas eu nem queria isso, não é? Eu não consigo mais rir.

Já estou quase dormindo quando o celular toca de novo. Abro os olhos assustada com o barulho. Meu coração parece que vai saltar do peito ao ver que é Nathan quem está ligando.

“Menos, Sarah.”. Tento soar natural ao atender.

— Alô.

— Oi. — Sua voz chega até meus ouvidos como uma carícia.

— Quem está falando? — provoco e ele ri.

E claro, o riso dele é o melhor do mundo. Rouco e delicioso. Causa arrepios em lugares que eu nem quero pensar.

— Anda tendo conversas tarde da noite com mais alguém?

— Por que não teria?

— Está?

— Não, não estou.

— Por que não foi à aula hoje? Está tudo bem?

Ah, então ele notou. Eu sorrio.

— Meu pai está na cidade, esqueceu?

— Eu imaginei que fosse algo assim. Ele ainda está com você?

— Não, já foi embora.

— Espero não ter causado problemas com você e seu pai.

— Ah, é óbvio que ele fez perguntas, mas eu já sou bem grandinha.

— Ele sabe sobre mim?

— Não — minto. E nem sei por quê.

— Talvez eu não vá às aulas amanhã.

— Por que não? — indago automaticamente e quase mordo a língua.

— Tenho algumas coisas pra resolver.

Algumas coisas? Que tanto Nathan faz fora da faculdade? Eu quero muito perguntar, mas não tenho coragem.

— Tudo bem. Nos vemos na sexta?

— Sim.

— Certo. Eu preciso dormir — digo, embora saiba que posso ficar ouvindo a voz de Nathan a noite inteira.

— Antes de ir, levanta e abre a janela.

— Sério?

— Anda logo, Sarah.

Eu faço o que ele pede e abro a janela.

— Está vendo?

— Hoje o céu tem estrela. — Sorrio.

— Sim. Em noites assim, eu tenho a impressão que o universo foi feito apenas para ser visto por nossos olhos.

— Acho que tenho a mesma impressão — concordo baixinho, pensando em como é incrível que estejamos distante, mas contemplando o mesmo céu.

Faz parecer que tudo é possível.

— Boa noite, Sarah.

— Boa noite, Nathan.


Capítulo 15

 

E de alguma forma eu me apaixonei

Por este meio-termo ao custo de minha alma

Mercury

 

Eu acordo com febre na sexta.

Primeiro acreditei que fosse só alguma indisposição, as provas finais estavam chegando e, devido a minha mais recente obsessão por uma certa pessoa, tinha percebido que teria que me esforçar em dobro para recuperar o tempo perdido, e nos últimos dois dias tinha passado praticamente todo o meu tempo livre na biblioteca, já que o fim de semana seria de Nathan. Assim, acreditei que a dor de cabeça e no corpo e a falta de apetite fossem apenas cansaço. Porém, ao acordar mais indisposta ainda, com dor de garganta e com o nariz fungando, percebo que estou realmente gripada.

— Você está péssima — Chloe me contempla no fim de tarde, depois que tentei assistir aula o dia inteiro, sem conseguir me lembrar muito do que tinha feito.

— Parece que um caminhão passou por cima de mim.

Ela toca meu rosto.

— Está com febre, Sarah.

— Eu sei.

— Eu vou cancelar minha viagem e vou ficar com você. — Chloe já está arrumada para ir visitar os pais.

— Não, não vai me usar como desculpa.

— Tem certeza que vai ficar bem sozinha?

— É só uma maldita gripe. Vou tomar bastante líquido e algum analgésico e ficarei bem, ok?

— Me liga se sentir mal!

Ela finalmente se vai e eu arrasto meus pés até minha cama, sentindo que vou morrer. E pior. Lamentando muito que tenha que cancelar meu fim de semana com Nathan.

Mas o que eu posso fazer? Não tenho condições alguma de ir encontrá-lo assim. Então pego meu celular e digito uma mensagem cancelando nosso encontro e explicando que estou doente.

Visto um pijama, ligo a TV e me preparo para ficar mofando vendo filmes, sem coragem de sair para ir até uma farmácia e comprar algum remédio.

Porém, alguém bate na minha porta e eu solto um gemido irritado ao me levantar para abrir, me perguntando quem diabos seria e arregalo os olhos surpresa ao ver Nathan na minha frente.

— O que está fazendo aqui?

— Você parece péssima.

Rolo os olhos e faço um gesto para ele entrar, fechando a porta.

— Ainda não me respondeu o que veio fazer aqui. Não recebeu minha mensagem?

— Sim, recebi. E fiquei preocupado.

Ele dá um passo em minha direção e de repente é como se o espaço fosse menor, quando toca minha testa.

— Estou bem... é só...

— Não está nada bem, Sarah, está com febre. Tomou alguma coisa?

— Eu não tenho nada.

— Ok, eu vou sair e trazer o que precisa.

— Não, Nathan, não precisa fazer isso...

— Você certamente precisa.

E sem me dar chance de discutir ele sai pela porta e eu fico ali, mais confusa do que nunca.

Por um momento, penso que minha febre deve ter aumentado e a presença de Nathan ali é fruto da alguma alucinação causada pela alta temperatura.

Fecho os olhos, desistindo de pensar, mesmo porque estou começando a me sentir incoerente.

— Sarah? — Abro os olhos para ver Nathan inclinado sobre mim.

— Minha cabeça dói. — Consigo falar.

— Eu sei. Tome isso. — Ele estende um comprimido.

— Eu não quero. Quero dormir. — Tento virar o rosto.

— É pra se sentir melhor, por favor, Sarah — ele insiste.

Pego o copo de água de sua mão e o comprimido e depois de tomar me deito de novo, fechando os olhos. Começo a me sentir mole, a dor dando lugar à sonolência. E a última coisa que sinto são os dedos de Nathan nos meus cabelos.


Perco a noção das horas, mas sempre acordo com Nathan me obrigando a tomar mais água e comprimidos para depois dormir de novo.

Uma hora ele me acorda e diz que eu preciso comer e aparece com um caldo de alguma coisa que não tem gosto de nada.

— Não gostei...

— Precisa comer alguma coisa.

— Não tem gosto de nada.

— É porque está doente. Mas sua febre já abaixou um pouco.

— Eu quero dormir.

— Deixarei você dormir assim que se alimentar.

Obrigo-me a tomar a gororoba mesmo contra a vontade, apenas para me deitar. Nathan me cobre, deixando-me dormir de novo. E o dia passa assim, com a voz de Nathan me acordando para tomar remédios e aquele caldo sem gosto. E ele ria quando eu dizia que era horrível.

— Isto veio do restaurante francês preferido de Caroline, Sarah. Ela teria uma crise se ouvisse você falando assim.

— Sua irmã tem um gosto terrível — murmuro, fechando os olhos e adormecendo novamente, embalada pelo som da sua risada.

A noite chega e ele continua ali quando abro os olhos.

— Já está de noite, não vai embora?

Ele se aproxima e toca minha testa.

— Não está mais tão quente? Como se sente?

— Mal.

Ele ri.

— Vai melhorar.

— Devia ir embora.

— Não, não vou deixar você sozinha.

— Bem, então... Pode dormir no quarto da Chloe.

— Está dizendo que não posso dormir com você? — indaga divertido.

— Por favor, diz que não quer transar comigo agora.

— Não tenho tara por mulheres doentes, Sarah.

— Ok, pode ficar aqui então. Eu me afasto para o canto e ele deita ao meu lado.

E há algo de muito íntimo e estranho em ter Nathan deitado na minha cama de dormitório. E o mais assustador é o jeito que isso parece certo.


Na manhã seguinte, ainda acordo ligeiramente tonta, mas com menos dor e febre.

Nathan não está no quarto e me pergunto se ele finalmente foi embora. Não quero me sentir chateada, quando me levanto para ir ao banheiro, mas quando retorno, lá está ele de novo. Trocou de roupa e provavelmente foi até sua casa enquanto eu dormia.

— Finalmente acordou, como se sente?

— Ainda esquisita, mas acho que vou sobreviver.

— Trouxe seu café da manhã. — Sacode um pacote e um copo.

— Por favor, não é aquela sopa bizarra, não é?

— Não, apenas um bom café americano, chocolate quente e rosquinhas.

— Não sei se quero comer... — Sento na cama de novo.

— Mas vai. — Ele coloca o pacote na minha mão e fica me encarando enquanto eu como.

— Satisfeito?

— Agora é a hora do remédio.

— Não...

— Você é uma paciente terrível, Sarah — ele diz enquanto cedo e tomo o comprimido.

— E você um médico chato.

— Agora descanse. Ainda está pálida.

Fecho os olhos, obedecendo a suas ordens.

— Não tem nada melhor pra fazer?

— Eu tinha, mas meu compromisso adoeceu.

Eu sorrio.

— Que azar o seu.

E deslizo para o sono.


Acordo à tarde e escuto o barulho da chuva lá fora e Nathan ainda está aqui. Ele está sentado ao meu lado, enquanto lê um dos meus livros.

Seus dedos tocam para minha testa.

— Não está mais com febre.

— Eu me sinto melhor agora — murmuro.

— Estava quase a levando a um hospital se não melhorasse.

— Mas eu melhorei. Graças a você. Obrigada.

— Não precisa agradecer.

E agora? Ele está perto. Seus cabelos bagunçados quase pediam por meus dedos entre eles. E havia olheiras embaixo de seus olhos. Estendo a mão e toco a sombra escura.

— Está com olheiras... não dormiu?

Ele sorri, segurando minha mão.

— Você deu um bocado de trabalho. É uma doente horrível, Sarah.

— Me desculpe.

— Tudo bem, o importante é que está melhor agora. Quer que eu busque algo para comer?

— Acho que eu prefiro tomar um banho e tentar me sentir inteira de novo.

Eu me levanto e pego minhas coisas, indo para o banheiro.

Enquanto estou no chuveiro, consigo racionalizar sobre a presença de Nathan no meu dormitório. Tínhamos um acordo bem claro. Iríamos nos encontrar todos os fins de semana para fazer sexo. Por dois meses. Era apenas isso. Sem cobranças. Sem laços.

Mas ele passou as últimas horas praticamente sem dormir cuidando de mim, quando não tinha a menor obrigação.

Desligando o chuveiro, coloco um pijama limpo e me olho criticamente no espelho. Nada sexy. Nada mesmo.

Mas eu não preciso estar sexy, preciso? Não me sinto mais doente, ou não tão mal pelo menos, mas duvido que Nathan pense em transar comigo depois da paciente horrível que eu fui. E provavelmente ele vai dar no pé assim que perceber que eu já estou quase bem.

Quando volto para o quarto, enxugando os cabelos, Nathan ainda está na minha cama, recostado sobre meus travesseiros, zapeando com meu controle velho na mão. E agora? Será que eu peço pra ele ir embora? Eu não quero que vá. É simples assim.

— Sente-se melhor? — pergunta quando me aproximo.

— Sim. Quase humana de novo.

Ele segura minha mão e me puxa para sentar na cama ao seu lado.

Olho para TV e vejo que está passando “Orgulho e Preconceito”.

— Ah, eu adoro este filme.

— Nunca vi.

— Se quiser ficar... Vamos ver o que acha de Mister Darcy — sugiro.

— Eu li o livro, Sarah.

— Ah, para!

— É sério. Quem não leu?

— Achei que só lesse livros científicos ou algo assim.

— Você tira muitas conclusões precipitadas. Eu gosto de mais coisas do que só de astrofísica.

Tenho vontade de perguntar do que, mas me calo. Sem perguntas, penso. E estremeço sem querer. Não era só frio, era um sentimento mais gelado que eu não queria analisar.

— Está com frio? — Puxa a coberta sobre nós.

E parece natural que eu me deite sobre seu braço, enquanto Elizabeth esnoba Mr. Darcy. Será que ele percebe que está acariciando meu cabelo?

Eu percebo e aprecio. Nathan aqui, simplesmente do meu lado, vendo filme antigo na minha velha TV.

Caramba. Acho que eu não deveria gostar tanto assim na verdade.


Nós acabamos pegando no sono e acordamos com o som estridente de um celular tocando no quarto escuro.

Já é noite. Nathan se desvencilha de mim e pega o celular no seu bolso olhando o visor e então desliga sem atender. Eu acendo a luz e o fito curiosa.

— Por que não atendeu?

Ele coloca o aparelho de lado.

— Não era importante.

— Tem certeza? — Ele parece aborrecido.

Quem seria no celular?

— Tenho sim.

— Já anoiteceu... Você... precisa ir embora?

Ele sorri.

— Só se você quiser.

Eu sorrio de volta.

— Não, eu não quero.

— Então eu posso ficar. Está com fome?

— Agora que você falou estou sim. Podemos pedir uma pizza — sugiro esperançosa antes que Nathan diga que tenho que tomar a sopa de novo.

Ele sorri se levantando.

— Tudo bem.

Pego meu celular.

— Deixa que eu peço.

Nathan se ocupa em olhar meu mural de fotos, enquanto eu peço a pizza.

— Quem é este? — ele indaga assim que desligo o celular.

Eu me levanto e vou até onde ele está, perto do meu mural. Ele aponta para a foto de Leo comigo que coloquei ali há algumas semanas.

— Um amigo.

— Somente seu amigo?

— Claro que sim. Um amigo de infância.

— Ele gosta de você.

— Claro que gosta. Somos amigos.

— Não, ele está apaixonado por você.

— Como sabe?

— O jeito que ele te olha e pega em você.

— É um expert em expressão corporal agora? Me poupe, Nathan — desconverso, um tanto incomodada por seus comentários sobre o Leo.

— E essa aqui é sua mãe?

Eu sorrio, satisfeita por ele mudar de foco.

— Sim, Jocelyn.

— E este cara com ela, não parece seu pai.

— Este é Peter, o namorado dela. Meus pais se separaram quando eu era criança.

— E você gosta deste Peter?

— Eu gosto. Ele é legal. Ele é músico. Mas minha mãe não costuma ficar muito tempo com o mesmo cara, então... — Dou de ombros.

— E seu pai? Se casou de novo?

— Meu pai também tem algumas namoradas ocasionais, mas nunca mais se casou. Acho que tanto ele como minha mãe ficaram traumatizados.

— Por quê?

— O casamento foi a pior decisão que poderiam tomar, digamos assim.

— Mas você nasceu.

— Pois é, acho que foi a única coisa boa que fizeram juntos.

— Parece amarga com isso.

— Ah, deixa pra lá. — Eu faço um sinal para mudar de assunto.


A pizza chega e nós nos sentamos sobre minha cama para comer.

— Isso é engraçado.

— O que é engraçado?

— Duvido que algum Cole coma pizza deste jeito.

— Não somos a realeza, Sarah.

— Mas parece.

— Somos normais. Até comemos pizza às vezes.

— Oh claro. Mesmo porque não consigo ver nenhum de vocês cozinhando naquela cozinha que parece que nunca foi usada.

Ele ri. E fico esperando que ele continue. Que fale da sua família como eu falei da minha. Mas Nathan não falou nada.

E quando terminamos de comer, ele sai para ir ao banheiro.

Reparo que leva o celular.

Será que vai ligar para alguém? Os pais? Os irmãos? Ou outra pessoa? E o que eu tenho a ver com isso?

Tiro a pizza da cama e coloco num canto, me recostando e pegando o controle remoto, para conter a vontade ridícula de ir escutar atrás da porta. Nathan volta um tempo depois e deita ao meu lado. Seus dedos retiram uma mecha de cabelo do meu rosto. Eu desligo a TV.

— Nada mais de Mr. Darcy?

— Você dormiu assistindo! — acuso.

— Não, você dormiu antes.

— Não tem problema, porque já vi o filme mil vezes.

— Acho que acredito em você. — Ele sorri e me beija.

Sinto meu coração disparando e solto um gemido, a excitação me dominando, quando nos deitamos nossos corpos se encaixam facilmente, mas Nathan para.

— Sarah, eu não acho...

— Está tudo bem. Eu quero... — Ofego.

— Você estava doente...

— Não estou mais... quer dizer, não estou mais tanto que seja nojento transar comigo. — E eu o encaro — A não ser que tenha nojo? Meu nariz nem está mais escorrendo.

Ele solta uma risada.

— Não, não está nojenta.

— Então continua — sussurro, ondulando meus quadris contra os dele o fazendo gemer e voltar a me beijar com força.

E não demora que as roupas desapareçam e eu sinta suas mãos em mim, esquentando por onde passam.

Ele me encara ofegante.

— Tem preservativo?

Eu mordo os lábios, hesitante.

— Podemos fazer sem? — sugiro ansiosa. — Queria saber como é, eu tomo pílula, então...

— Tem certeza? — Ele beija meu pescoço e eu suspiro, me contorcendo, ao senti-lo excitado roçando em mim.

— Não preciso me preocupar com alguma doença, não é?

Ele levanta a cabeça e me encara confuso.

— O que disse?

— Sobre transarmos sem camisinha...

— Não, Sarah, não precisa se preocupar com isso. — Ele volta a mordiscar meu pescoço.

— Desculpa perguntar, mas não faço ideia do que você fez antes de me conhecer...

— Talvez eu te conte um dia.

Conta agora, eu quero pedir. Quero saber tudo sobre ele.

Por que está saindo com alguém como eu, podendo ter qualquer garota do campus, ou do mundo, que quisesse? Por que não tem uma namorada? Será que já tivera alguma? Será que tinha sido magoado por alguém? Será que é este o segredo dele?

— Me conte agora — peço.

E ele ri suavemente enquanto se encaixa entre minhas pernas.

— Eu estou ocupado agora.

E quem sou eu para discordar, quando o sinto inteiro dentro de mim? Minha curiosidade pode ficar para depois.


Mas depois eu adormeço. E quando acordo no dia seguinte, Nathan está todo vestido ao lado da cama.

— Você já vai?

— Sim, eu preciso ir.

— Tudo bem. Mais uma vez obrigada por ficar e cuidar de mim.

Então ele se aproxima e beija minha testa.

— Tchau, Sarah.

Fico vendo a porta se fechar atrás dele com um sentimento estranho no peito.

É como se tudo estivesse diferente agora.

Como se eu e Nathan fôssemos diferentes.

Porque naquele fim de semana eu tive um vislumbre do que poderíamos ser se...

Suspiro, não conseguindo completar o pensamento. Porque é assustador demais.

Maravilhoso demais.

Merda.

Estou ferrada.


Capítulo 16

 

Quando eu abro a boca

Eu quero te dizer, mas não sei como

Neptune

 

Na segunda-feira ainda estou ligeiramente confusa com minhas recentes e assustadoras aspirações em relação a Nathan e quando passo em frente ao estacionamento vejo Caroline e seu namorado. Ela me fita com cara de poucos amigos e parece soltar lasers em minha direção. Desvio o olhar, me sentindo mal. Por que a irmã de Nathan não gosta de mim? Será apenas esnobismo?

Brad não parece ter qualquer coisa contra mim, pelo menos ele pareceu muito simpático quando nos encontramos na loja e depois tomamos café. Mas depois que ele me flagrara com Nathan, nunca mais tinha falado comigo.

Quando chego à aula de francês ele está lá, sentado em uma das últimas fileiras conversando com um outro aluno e decido me aproximar.

— Oi.

Ele levanta o olhar e o sorriso que estava em seu rosto se desfaz.

Oh Oh.

— Oi.

— Será que você teria as anotações de quarta-feira passada? Eu tive que faltar e perdi.

— Ah, é isto? Eu tenho sim. — Ele remexe em seus cadernos e me passa um. — Pode me devolver quando quiser. Não tem pressa. — Ele é apenas educado. Com certeza não tem nada de natural ali.

— Obrigada — respondo me afastando.

Talvez minhas teorias estejam certas e os Cole não gostem mesmo de mim. E muito provavelmente tinha a ver com meu envolvimento com Nathan.

E quando o avisto sozinho indo em direção ao prédio de ciências naquela tarde, não hesito em me aproximar.

— Ei. — Paro a sua frente sorrindo animada. Espero que faça o mesmo. Que sorria pra mim. Que a gente se reconecte como nós fizemos no meu quarto no fim de semana, mas ele parece distante.

— Oi, Sarah.

— O que está fazendo? Ainda tem alguma aula? Podíamos tomar um café... — sugiro corajosamente.

Ele levanta a sobrancelha, um tanto surpreso e eu coro.

Droga. Será que eu tinha sido precipitada?

— Quer dizer, acho que posso te pagar um café, em pagamento por ter sido meu enfermeiro e eu uma péssima paciente.

— Não precisa. — Ele abre um pequeno sorriso, mas não é com humor.

— Um jantar, talvez? — Caramba, estou mesmo convidando Nathan para um encontro? — Quer dizer, apenas um jantar entre amigos — esclareço.

— Sarah, estou confuso. Agora somos amigos? — Ah, agora ele está sendo irônico e isso me deixa sem graça, confesso.

— Não é nada demais, Nathan. Apenas... — Respiro fundo me sentindo meio tola agora, por acreditar que ele estava tão a fim de mudar um pouco nosso acordo como eu. — Olha, deixa pra lá. Deve ter coisa melhor pra fazer! E sabe de uma coisa, eu também. Andei distraída dos estudos, preciso pegar pesado esta semana. Então... Esquece, ok?

E antes que possa me impedir saio quase correndo, sem olhar para trás.

Eu sou mesmo uma idiota. E por vários motivos. Primeiro que aquele comportamento bizarro de Nathan está começando a me exasperar. Claro que ele não está fazendo nada errado. Afinal, tínhamos combinado isso. Apenas nos encontrar aos fins de semana e nada de cobrança. Não fui eu mesma que deixei bem claro que nem amigos podíamos ser? Então como é que agora eu posso querer algo diferente?

É apenas sexo ainda.

Eu tenho que me convencer. Porque agora está claro para mim que Nathan não quer nada de mim, além disso. E por que ia querer? Eu não passo de uma conveniência. Possivelmente quando as aulas acabarem, ele vai para algum lugar muito chique com seus irmãos e arranjará outra garota para transar sem compromisso. Vai ver é disso que ele gosta.

E por que agora estou irritada? Eu criei aqueles termos e Nathan concordou com tudo. E nada tinha mudado. Pelo menos para ele. E para mim, mudou?

Eu me jogo na minha cama, olhando o teto. Morrendo de medo da resposta que sussurra dentro de mim.


Na manhã seguinte, mergulho nos estudos, disposta a esquecer de toda a confusão dentro da minha cabeça.

Decido que sou madura o suficiente para isso.

Assim, tento não ficar secando Nathan quando o vejo pelo campus. Ignorando aquela nova voz inconveniente dentro de mim, que sussurra que eu devia ir atrás dele e do mesmo jeito que pede para transar comigo ser corajosa o bastante para dizer que quero mais. “Mas eu não quero mais.”, refuto.

Difícil é convencer a mim mesma.


E quando estou saindo da biblioteca, na sexta à noite, tomo um susto ao ver Nathan parado em frente ao prédio esperando por mim.

— Nathan? — Caminho em sua direção, porque é impossível conter a onda de contentamento que sinto apenas de vê-lo ali.

Ele sorri meio contido.

— Sabia que ia encontrá-la aqui.

— Tão previsível assim? — Faço uma careta.

— É onde tem estado toda a semana.

— Está me espionando?

— Apenas é onde eu estou também. Afinal, acho que todos estamos correndo atrás do tempo perdido, não?

— Tempo perdido?

— Sim. Provas finais e tudo o mais.

— Ah, claro... E acho que estava tão ocupada que nem me dei conta de que não combinamos nada para o fim de semana.

O que é uma tremenda mentira, claro. Eu só estava esperando que ele mandasse alguma mensagem e morrendo de medo que ele desistisse do nosso acordo ou algo assim depois da minha desastrada incursão ao tema “podemos ser amigos também” do começo da semana.

— Sim. Mas eu pensei em te levar a um lugar hoje.

Arregalo os olhos surpresa.

— Lugar?

Ai meu Deus.

Ele estende a mão.

E nem hesito em segurá-la.


— Onde estamos indo?

— Você vai ver... — Sorri misterioso enquanto seguimos pelas alamedas até o prédio de astronomia e ele me puxa para dentro.

— A gente devia estar aqui? — questiono indecisa quando subimos algumas escadas.

— Claro que sim. Onde mais estaríamos para... — de repente saímos em um espaço aberto com vários telescópios — ver o céu de perto?

Deixo meu olhar vagar ao redor.

Não deveria estar surpresa por Nathan me trazer ao observatório.

— Nunca estive aqui.

— Um erro imperdoável.

Ele começa a mexer em um dos telescópios e me chama.

— Venha ver. Hoje é um dia perfeito para ver Netuno.

Faço o que ele pede e mergulho meu olhar para contemplar o céu de pertinho.

— Uau. É tão lindo.

— Está olhando para o leste, a constelação de aquário. Consegue vê-lo? Ele é este ponto azul, escuro e frio perto das estrelas.

— Pobre netuno...

Nathan ri.

— Não tão pobre assim, alguns astrônomos acreditam que têm tempestades de diamantes em Netuno.

— Nada mal então.

Afasto o olhar do telescópio para encará-lo.

— Acha que tem vida fora da Terra?

— Como diria Carl Sagan, se não existe vida fora da Terra então o universo é um grande desperdício de espaço.

— É uma boa colocação...

— Mas acho que nunca saberemos.

— Então, se não é um desses caras que acredita em vida fora da Terra, me explica o que te atraiu para estudar astronomia?

— Estudar o universo me faz entender que por mais que a vida de uma estrela seja longa, o sol tem cinco bilhões de anos, por exemplo, tudo é finito. Uma estrela nasce, vive e morre. Nada dura para sempre. Até as estrelas morrem.

— E não é triste?

Ele sorri e eu estremeço quando um vento mais frio me faz lembrar que estou sem blusa.

— Vamos embora, não quero que congele.

— Hum... Por acaso está sugerindo que vamos para sua casa? — arrisco.

— Alguma objeção?

— Longe de mim, querer criar uma polêmica desnecessária, mas estou morrendo de forme, então podíamos passar em algum lugar e comer uma pizza. — É minha versão descolada e resumida do meu convite da segunda, mas não me importo. Acho que estou mesmo ficando mais corajosa agora.

Ele sorri, quando chegamos em frente ao seu carro.

— Ok, posso te levar para comer, Sarah James.

Sorrio em resposta.

Ignorando o frio na barriga de expectativa.


“Não é um encontro Sarah. Não é.”, Digo a mim mesma quando pegamos nossos pedidos e nos sentamos para comer.

— Sabia que New Haven é conhecida por ter uma das melhores pizzas do país? — ele diz.

— É, acho que já ouvi falar.

— E então, o que vai fazer no verão?

Uau.

Isso é novo.

Sei que uma parte de mim vinha ansiando por estar mais próxima de Nathan, mas acho que estou surpresa por estarmos aqui agora, prestes a iniciar uma conversa.

Talvez nossa primeira conversa de verdade.

— Vou para minha cidade, Mystic. Conhece?

— Sim, já ouvi falar. É litoral, não é?

— Sim, é lindo.

— Vai ficar o tempo inteiro lá?

— Sim, é onde estão meus pais e... — hesito ao falar de Leo. O que é ridículo, não é?

— Seu amigo Leo. — Nathan parece adivinhar meus pensamentos.

— Sim. Leo.

— Fale-me dele.

Oi? Nathan quer que eu fale de Leo? Qual o interesse dele?

— Como assim?

— Acho que fiquei curioso, vocês parecem muito próximos.

— E somos mesmo. Nossas mães são melhores amigas.

— Então são melhores amigos também.

— Sim, acho que foi natural.

— E nunca foram mais do que isso?

— Não!

— Você parece bem enfática.

— Porque é absurdo pensar diferente. Jamais estragaria minha amizade com o Leo.

De repente quero contar a Nathan a verdade.

Quero contar que me envolvi com ele porque achava que se voltasse para Mystic virgem e deixasse Leo pensar que poderíamos ficar juntos, isso estragaria tudo.

— Por isso não queria que fôssemos amigos?

A pergunta perspicaz dele está bem perto da verdade.

Em vez disso arrisco perguntar.

— Acha que... deveríamos ser?

Ele não responde.

De repente parece perdido em seus próprios pensamentos e de novo me vejo ansiando por saber mais dele.

Ele fez perguntas para mim hoje, mas estou certa que não vai responder nada sobre si.

Tento não me sentir magoada com isso.

Não tenho direito algum.

— Podemos ir? — Ele dá a conversa por encerrada e eu finjo que não me importo quando respondo que sim.

Entramos no carro e seguimos para seu apartamento.

E eu digo a mim mesma que está tudo bem.

E quando chegamos, não precisamos falar nada quando seguimos para seu quarto e não hesito quando ele me beija.

É tudo o que importa. Ter Nathan de novo ao alcance de minhas mãos.

E estamos na cama, ocupados em tirar as roupas do caminho e me sinto mais faminta dele hoje do que todos os outros dias e não hesito em ir para cima dele. É melhor me concentrar na única coisa que Nathan pode me dar. Um pouco dele. E eu sei agora que não é o suficiente, mas é o que eu tinha no momento.

E acho que Nathan percebe o desespero com que minhas mãos se infiltram em seu cabelo, a intensidade que meus lábios devoram os seus, descem por seu peito, o marcando com meus lábios, até sua barriga plana.

— Sarah... — ele sussurra, me chamando.

— Shi... Não fala nada, Nathan. — Eu o encaro ofegante. — Eu quero fazer isso.

E não há mais palavras, quero sentir seu gosto em minha língua. Meu próprio coração batendo desesperado contra as costelas, enquanto meus lábios deslizavam por sua barriga, meus dedos descendo para tocá-lo, cingi-lo, e por fim, prová-lo.

E me sinto plena por estar fazendo isso com ele, ouvindo seus gemidos em meu ouvido, suas mãos puxando meus cabelos.

No entanto também já não é suficiente. Eu preciso dele dentro de mim e talvez tenha dito em voz alta enquanto deslizo para cima de seu corpo, sentindo-o me preencher por inteiro. É ali que ele deve estar. Nossos quadris se movimentando, buscando e dando prazer, enquanto nossos olhares se encontram e se prendem. Eu lhe pertenço totalmente naquele momento em que me movo em cima dele, deixando as sensações me percorrerem. Até que tudo fica intenso demais e fecho os olhos, jogando a cabeça para trás, perdida no meu próprio prazer, até explodir. Uma, duas, várias vezes, espasmos após espasmos percorrendo meu corpo. E tombo em seu peito, exausta.

Sinto seus dedos em meu cabelo, seus lábios em minha testa e adormeço assim, impregnada de Nathan Cole.


E quando acordo na manhã seguinte, ele ainda está ali, deitado ao meu lado.

Ah caramba.

Por que parece tão perfeito e certo?

— Bom dia — ele diz com um sorriso preguiçoso.

— Bom dia...

— Vem aqui. — Suas mãos me puxam para seus braços. Eu não reclamo. Aconchego-me contra seu corpo morno, quase ronronando feito uma gata de satisfação.

Eu podia muito bem me acostumar com isso...

Sinto um frio na espinha, mas eu tinha escolhido aquele caminho. Tinha concordado com a proposta de Nathan. Eu sempre soube que seria assim. Apenas dois meses e depois nunca mais.

E os dois meses estavam acabando bem rápido.

Só faltam duas semanas agora, me dou conta com uma dorzinha incômoda martelando em meu peito.

— Tudo bem? — ele pergunta, quando fico tensa e eu me desvencilho.

— Acho que estou com fome — minto.

Ele sorri.

— Acho melhor levantarmos e colocar alguma coisa no seu estômago.

Ele ri enquanto se levanta e coloca uma calça de pijama e joga uma camisa para mim.

— Me encontre na cozinha. — E se afasta.

Ainda fico ali, olhando o telo e pensando que não posso mais fugir dos meus sentimentos.

Eu estou muito mais envolvida com Nathan do que tinha planejado. Ainda não quero dar nome a isso, porque é assustador demais, já que tínhamos combinado algo sem compromisso e com data para acabar.

E agora que a data estava se aproximando eu me pergunto como vai ser quando tudo terminar.

Eu vou pra Mystic e ficarei lá dois meses e quando voltar Nathan ainda estará ali. E estará fora do meu alcance.

Ah Deus, como eu podia ter me metido em algo assim?

Eu fui ingênua. Não previ as consequências de Nathan em minha vida.

Agora não sei o que fazer.

“E se você sugerisse a ele que não precisa acabar.”

Sinto falta de ar só de imaginar... as possibilidades...

Oh, Deus, eu poderia almejar o impossível?

Bem, eu sou uma garota determinada e objetiva. Posso pensar com calma e decidir, mas não hoje.

Hoje eu quero curtir mais esses momentos roubados com Nathan.

Decidida, jogo as cobertas para o lado e pulo da cama, colocando a camisa e vou para o banheiro. Gemo ao ver meus cabelos desalinhados e tento dar um jeito com os dedos. Onde será que está a tal nécessaire que Nathan tinha comprado para mim? Começo a fuçar, abrindo os armários, até que tento abrir um que está trancado. Forço mais um pouco e realmente não abre.

— Não mexa aí, Sarah.

Eu quase dou um pulo ao ouvir a voz fria de Nathan na porta. Ele me encara muito sério.

— Não estou mexendo — eu me defendo, vermelha. — Quer dizer, apenas estou... procurando aquela nécessaire, sabe, nem sei se ela existe ainda. Me desculpe, não queria ser xereta.

Será que Nathan é um daqueles caras que não gosta que mexam em suas coisas? Porque, por um momento, parecia mesmo que ele estava quase bravo comigo.

— Ela deve estar em algum lugar no meu quarto, mas não precisa dela agora, vem comer. — E me puxa pela mão até a cozinha.

Parece que eu tinha inventado aquele momento esquisito no banheiro.

Nathan me serve ovos e senta na minha frente.

— Nada de sopas francesas? — brinco e ele ri.

— Agora que está sentindo o gosto das coisas, talvez até gostasse.

— Eu duvido. Nunca fui muito fã deste tipo de comida.

— Nem eu.

— Mas sua irmã gosta.

— Sim, Caroline gosta.

E como sempre ele para de falar, quando o assunto é sua família.

Nós comemos em silêncio, mas não me importo em conversar, porque seus joelhos tocam os meus por debaixo da mesa e de vez em quando ele levanta o olhar e sorri daquele jeito que me revira o estômago, mas de um jeito bom.

— Terminou?

— Sim, terminei.

Nathan se ocupa em colocar os pratos na lava-louças e de repente penso seriamente em sugerir que voltemos para a cama. E ousadamente, abraço sua cintura, depositando um beijo em suas costas.

— O que está fazendo? — Nathan ri.

— Podemos voltar para cama?

Ele se vira, cingindo seus braços em volta de mim.

— É uma ideia...

— Por que, tem outras?

— Eu tinha pensado em algo mais bucólico, como ir até East Rock Park.

Meu coração dispara.

Ah Meu Deus.

Ele está sugerindo que a gente vá passear em um parque, tipo... à luz do dia? Só nós dois... como...

Eu nem consigo continuar porque parece perfeito demais.

— Mas agora que sugeriu, posso pensar em uma ou duas coisas interessantes pra fazer na cama com você...

Meu pulso acelera.

Estou bem dividida agora. Eu quero sair com Nathan.

Mas também quero muito ficar na cama com ele.

— Bem, são duas opções interessantes...

Ele sorri e suas mãos se insinuam para dentro da minha camisa. Fico na ponta dos pés, o puxando para que chegue mais perto e Nathan me segura pela cintura, me levantando até que esteja sentada sobre a mesa, com minhas pernas a sua volta, enquanto nos beijamos, esquecidos do mundo.

Porém, como vindo de muito longe escuto um pigarrear suspeito e Nathan também escuta, porque para de me beijar olhando para onde vinha aquele som intrometido. E sigo seu olhar, gelando ao ver Brad, Caroline e seu namorado, parados nos encarando. Ah. Meu. Deus.


Capítulo 17

 

Talvez meu coração precise quebrar para ter certeza

Four

 

Solto um grito empurrando Nathan e pulando da mesa. Como se adiantasse alguma coisa agora! Tenho certeza que meu rosto está mais vermelho que um pimentão.

Eu quero morrer. Eu realmente acho que vou morrer de vergonha e mal posso encarar a plateia a minha frente.

Brad parece conter o riso. O namorado de Carolina tem o olhar preso em alguma coisa além de nós, como se não quisesse nos constranger.

E Caroline está furiosa. Oh. Meu. Deus.

Quero que o chão se abra aos meus pés e me trague para sempre.

— O que estão fazendo aqui? — Nathan recupera a voz por fim. Parece estar contendo a fúria.

— Nós moramos aqui. — É Caroline quem responde cheia de ironia.

— Mas não era para estarem aqui agora.

— Isto a gente percebeu — Brad diz. — Desculpa aí, Nathan, a gente adiantou a volta. Tyler tem um grupo de estudo e resolvemos vir junto e...

— Não tem que pedir desculpas — Caroline o interrompe levantando a voz.

— Acho melhor deixarmos essa conversa para outra hora. — Tyler puxa Caroline pela mão para fora da cozinha e Brad os segue.

— Ah meu Deus, que vergonha. — Cubro o rosto com as mãos.

Nathan solta um palavrão.

— Eu sinto muito, Sarah. Não precisa ficar assim. Eles não deveriam estar aqui, se eu soubesse...

— Eu quero ir embora — peço, mortificada.

— Sim, eu te levo. Vá se trocar.

Eu me apresso em ir para o quarto e pôr minhas roupas e quando estou passando pelo corredor, escuto os irmãos de Nathan na sala.

— Me lembre de nunca mais usar aquela mesa. — Brad ri divertido.

— Digo o mesmo! — Caroline bufa.

— Caroline, a gente também já transou naquela mesa, se não se lembra daquela vez... — Tyler comenta.

Brad faz um som de nojo.

— Vocês são nojentos! Parece que só eu não transei naquela mesa, ainda.

Eu praticamente corro para o quarto, mais mortificada ainda.

Pego minhas roupas e me tranco no banheiro, me vestindo rápido. Respiro fundo, olhando minha imagem no espelho. Se os irmãos de Nathan já não iam com a minha cara, agora devem me detestar.

— Sarah, vamos? — Nathan bate na porta e eu a abro. Ele também já está vestido.

— Não precisa me levar, se quiser ficar com seus irmãos.

— Não, eu disse que te levo.

Eu o acompanho para fora do quarto e quando estamos na porta, Caroline aparece.

— Nathan, posso falar com você?

— Estou indo levar a Sarah, depois...

— Depois não. Agora!

— Caroline, não começa!

— Tudo bem, eu vou falar agora, se não se importa de sua... sua... amiguinha ouvir.

— Já chega — ele a interrompe e me encara. — Me espere aqui, eu já volto.

Eles desaparecem pelo corredor e posso ouvir vozes alteradas, não só de Caroline e Nathan, mas de Brad também, e até mesmo Tyler. Mas não consigo distinguir o que falam. O que diabos os Cole tanto brigam? Será que é por minha causa? Tudo bem que pode ter sido uma surpresa inconveniente pegar o irmão se agarrando com uma garota em cima da mesa da cozinha, mas será que é pra tanto? Não parecem ser tão conservadores assim!

Nathan volta minutos depois, parece furioso, enquanto descemos.

— Espero não ter causado problemas para você — murmuro hesitante, quando já estamos no carro.

— O problema não é você.

— Seus irmãos pareciam bravos.

— Problema deles.

— Mas são seus irmãos.

— Esquece, Sarah.

Eu não falo mais nada, até que chegamos em frente ao prédio de dormitórios, pois Nathan parece a milhas de distância.

— Então... Obrigada pela carona — agradeço abrindo a porta.

— Sarah?

— Sim? — Eu o encaro, mas ele apenas me puxa pela nuca e me beija. E sinto meu mundo voltando a girar lentamente.

Suspiro quando o beijo termina, enquanto Nathan encosta a testa na minha, os dedos enquadrando meu rosto.

— Eu vou contar os dias para nos encontrarmos de novo.

Oh. Meu. Deus! Por que ele faz isso? Por que me deixa com vontade de pedir tudo o que eu disse um dia que não ia pedir?

— Eu faria o mesmo, mas estarei ocupada estudando para as provas finais — minto.

Apenas porque se começasse a falar sobre sentir falta, talvez não parasse nisso.

Nathan ri e me solta.

— Eu preciso... eu quero conversar um assunto com você — ele fala, agora pensativo. — No próximo fim de semana.

Eu fico curiosa. Ou melhor, fico preocupada. Pior, alarmada. O que ele quer conversar comigo? Parece que será algo sério e não faço ideia do que possa ser. Quero pedir que fale agora, mas tenho medo.

— Tchau, Sarah — ele se despede e eu salto.

Fico olhando o carro se afastar, minha mente rodando em turbilhão. Quero que as horas passem rápido, para de novo estar com Nathan. Apenas nós dois. Sozinhos. Em um lugar onde nenhum irmão intrometido iria nos achar.

Porém, do que vai adiantar se nossas horas estão contadas?

Não estou preparada para aquela pontada de dor que me abate. Pensar nisso é quase intolerável. Mas como é que pode ser diferente? Nós tínhamos combinado desde o início. Apenas dois meses. Apenas sexo. Eu não podia querer mais. Porque Nathan nunca ia querer a mesma coisa que eu. Era impossível. Mas ele disse que tinha algo importante para me falar. E se fosse... Sinto meu coração batendo rápido em esperança. Ridícula e inesperada esperança.

E se Nathan, por acaso, fosse falar exatamente sobre isso? E se ele quisesse a mesma coisa que eu? Porque eu não queria terminar. Era simples assim. Eu queria um pouco mais de tempo. Um pouco mais de Nathan. E se ele quisesse o mesmo, da forma que fosse... eu queria também.


— Está diferente. — Chloe me lança um olhar desconfiado enquanto caminhamos para a aula naquela segunda-feira.

Eu rio, dando de ombros.

— Impressão tua.

— Não... está bem alegrinha...

Rio mais ainda. Oh. Meu. Deus. Está incontrolável.

— Tem certeza que não está saindo com alguém?

Mordo os lábios, até para evitar dar gargalhadas histéricas.

— Na verdade...

— Oh meu Deus, eu sabia! — Chloe grita no meio do corredor e a belisco.

— Chloe, não grita!

— Oh, me desculpa, mas isto é... tão... bizarro.

— Bizarro por quê?

— Por que estava me escondendo isso? — De repente ela parece meio chateada.

— Não estava... — Mas a verdade está escrito no meu rosto culpado.

— Há quanto tempo esta saindo com alguém?

— Algumas semanas — confesso.

— Poxa, Sarah, achei que fôssemos amigas!

— Me desculpe, mas era só algo que eu queria guardar para mim.

— Que bobagem, se está namorando...

— Não é um namoro. — Não ainda, uma voz cheia de esperança sussurra dentro de mim. E está cada vez mais difícil de contê-la.

— Não estou entendendo.

— É só... algo sem compromisso.

— Sexo sem compromisso? — Sua voz fica alta de novo.

— Fala baixo.

— Oh meu Deus, achei que fosse virgem!

— Bem, eu era. Não sou mais — completo, vermelha.

— Ah... uau. Acho que me surpreendeu.

— Olha, não é grande coisa...

— Mas você está toda feliz... Não estava assim antes. Alguma coisa aconteceu neste fim de semana. Tem que me contar.

— Não tem nada pra contar. E nada aconteceu. — Tem uma parte de mim que quer contar tudo a Chloe. Acho que seria bom conversar sobre minha confusa relação com Nathan com alguém. Só que há algo que me impede.

— Se diz... e quem é este cara misterioso?

— Ah, não conhece... — desconverso. — Olha, tenho que ir pra aula, a gente se fala depois, ok?

Separo-me de Chloe e quando estou entrando no prédio de línguas, Nathan e seus irmãos estão fazendo o mesmo. Tenho certeza que noto uma ponta de malícia no olhar de Brad e ressentimento no olhar de Caroline. E também não me passa despercebido a troca de olhares estranhos entre os dois.

Só que minha atenção passa rapidamente para Nathan. Como sempre, ele está absolutamente incrível aos meus olhos cobiçosos e me lança um sorriso, antes de seguir, provavelmente para sua aula de alemão.

Quando entro na sala, Brad passa por mim, sentando a algumas carteiras de distância. Parece... receoso.

Na verdade, a impressão que tenho é como se quisesse falar comigo, mas algo o impedisse. Eu acho melhor assim. Ainda não tinha me recuperado do flagra no apartamento deles.


A semana passa rápido, com muitas horas de estudos, o que faz com que eu me distraia um pouco do assunto Nathan.

Porém, quando chega sexta-feira à tarde estou ansiosa de novo, esperando seu contato sobre o fim de semana.

— E aí, vai comigo amanhã para a casa dos meus pais? — Chloe pergunta ao entrar no dormitório.

— Poxa, eu tinha me esquecido...

— Ah, Sarah, por favor. Não me deixe sozinha...

Eu já ia dizer a ela que tinha um compromisso, quando meu celular vibra e eu o pego, mal contendo a empolgação, mas a mensagem que vejo definitivamente não é a que estou esperando.

“Sinto muito. Surgiu um compromisso com minha família inadiável. Terei que ir para a casa dos meus pais com meus irmãos. Nathan.”


Sinto meu coração despencando.

A alegria boba sendo substituída pela decepção e acho que não estou preparada à súbita vontade de chorar que aquela mensagem me causa.

— O que foi, más notícias? — Chloe indaga e eu pisco para afugentar a umidade traiçoeira em meus olhos.

— Só... Acho que meu compromisso foi desmarcado...

— Ah, você ia sair com seu... como você chama?

— Não importa...

— Bem, então acho que pode vir comigo agora.

— Ah, eu não sei se seria uma boa companhia.

— Deixa disso, vai ficar fazendo o que aqui se levou um fora?

Sim, levei mesmo um fora.

E Chloe tinha razão, ficar sozinha remoendo os motivos de Nathan ter desmarcado nosso encontro não ia me fazer nada bem.

— Tudo bem. Vou com você.


***


O apartamento dos pais de Chloe é enorme e muito austero, assim como os próprios pais dela que, como Chloe os descreveu são duas pessoas insipidas e sérias, que pouco tem a ver com a personalidade exuberante da filha.

— E então, Sarah, o que estuda? — George Mitchell me questiona enquanto estamos almoçando na escura sala de jantar.

— Literatura, senhor.

— Que interessante — Ruth, a mãe de Chloe, se intromete. — Acha que isso lhe garantirá um futuro financeiro rentável?

— Pelo amor de Deus, mãe — Chloe resmunga! — Nem todo mundo é igual a você!

— Querida, igual a nós como? — A mulher não perde a serenidade. — Somos apenas sensatos e precavidos! E você deveria ser assim também. Está estudando em uma das melhores universidades do país e não aproveita a oportunidade...

Chloe larga os talheres com força no prato.

Bebo um gole da minha água, pensando que queria estar em qualquer lugar menos ali no meio daquela briga familiar.

— Deus me livre ficar igual a vocês!

— Chloe, não seja impertinente — o Sr. Mitchell a repreende. — Espero que contenha esse seu humor quando estivermos no jantar de hoje à noite.

— Eu queria que me liberassem desta droga de jantar!

— Nem pense nisso! Nós concordamos até que trouxesse sua amiga para ir junto, então você irá sim!

Chloe empurra o prato, irritada.

— Então já que temos mesmo que ir, eu e Sarah vamos sair para comprar um vestido!

E antes que eu possa responder, Chloe me puxa, me fazendo levantar e segui-la para fora da sala.

— Eu disse que eles eram escrotos.

— Não fala assim, são seus pais.

Ela me lança um olhar exasperado.

— Não pode ser cega! Viu como eles são.

— Bem, eles parecem bem sérios...

— Sérios é pouco! Agora pega sua bolsa e vamos dar uma volta.

— Chloe, sério que temos que comprar vestidos? Aqui as coisas são bem caras e não sei se posso gastar esse dinheiro.

— Não se preocupe. Vamos gastar o dinheiro dos velhos! — Ela ri, mostrando o cartão de crédito.

— Eu não sei...

— Não reclama, vai ser divertido!


Chloe me leva na Bloomingdale’s, uma das lojas de departamento mais famosas de Nova York, e me faz passear por entre as araras, para escolhermos um vestido.

— Eu não faço ideia do que escolher! Nunca fui a um evento desses! — reclamo.

— Vai estar cheio de gente metida e chata! E eu só espero que a bebida seja boa! O que acha deste? — Ela pega um vestido verde.

— É bonito.

— Vai ficar bem em você.

Eu pego um preto.

— Gostei deste.

— Então pega e experimenta os dois.

Faço o que pediu e vamos para o provador. Ela também já pegou vários vestidos e mostramos uma à outra.

— Eu curti este laranja — digo para o vestido que ela usa.

— Gostou? Eu não sei... — Ela me mede. — Você tem razão este preto está um arraso. Está muito sexy!

Recordo-me da outra vez que eu fui chamada de sexy. Por Nathan. Sinto de novo aquela dorzinha no peito.

— Acha mesmo que estou bem? — Eu a encaro, insegura.

— Claro que sim! Você é tão bonita, Sarah. Devia se arrumar mais. Não porque alguém diz que precisa, mas para se sentir mais segura.

Olho de novo minha imagem no espelho. Chloe tem razão, eu sempre fui mesmo muito insegura. Mas por que tinha que continuar sendo?

Não sou aquela que está transando com um cara incrível que dizia que eu era sim muito sexy?

Estudo minha imagem, o vestido justo que valoriza meus seios, minha cintura. É, não estou nada mal. Estou bem bonita na verdade.

Será que é assim que Nathan me vê?

Será que tenho alguma chance de ele querer continuar me vendo?

Eu estava muito esperançosa antes, mas ele ter desmarcado nosso encontro de fim de semana tinha minado um pouco minha confiança.

Porem, ainda tínhamos mais um fim de semana, não?

De repente quero ser mais como Chloe. Destemida e confiante em seu poder de sedução.

— Ok, acho que já escolhi. Vou levar este. E você, já escolheu?

— É assim que fala. — Ela suspira, não tão animada.

— O que foi? Quer procurar outro?

— Não é o vestido. Estou chateada com meus pais.

— Ah, Chloe. — Toco sua mão. — Não fica assim.

— Sei que pareço não estar nem aí, mas é difícil viver brigando com eles. Às vezes eu só queria que tivessem orgulho de mim e que me apoiassem.

— Mas ainda pode ser assim.

— Não pode se eu não faço o que eles querem!

— Você pode... fazer concessões.

— Como assim?

— Não precisa mudar só porque eles querem, mas pode fazer algumas coisas para deixá-los felizes. É assim que a vida é. A gente faz alguns sacrifícios pelas pessoas que amamos.

Ela sorri.

— Vou pensar no seu caso.

— Eles são seus pais. Vai valer a pena. E se fizer algumas coisas do jeito deles, podem ficar mais flexíveis para o jeito que quer viver.

— Hum, parece bem esperto.

Eu pisco.

— Confia em mim. Que tal começar tentando ser agradável nesta festa de hoje? Em vez de ficar rolando os olhos e reclamando de tudo, seja legal. Afinal, estamos juntas aqui, podemos tentar nos divertir.

— Ok, acho que vou confiar no seu conselho.

Eu sorrio, contente por Chloe estar mais animada.


— Ai meus Deus, essa maquiagem ficou incrível!

Chloe se afasta para olhar o trabalho que tinha feito em meu rosto e eu olho minha imagem no espelho, impressionada.

— Deveria deixar eu te maquiar mais vezes.

— Vou pensar no seu caso!

— Agora vou fazer a minha!

Eu me afasto para o quarto, colocando o vestido e meu celular toca.

Sorrio ao ver que é Leo. E me recordo que já faz algum tempo que não nos falamos.

— Oi, Sarah.

— Oi, Leo — respondo animada por ouvir sua voz.

— E aí, terminando as aulas?

— Sim.

— Isso é bom! Significa que logo nos veremos de novo.

— Claro que sim...

— Estou ansioso com isso.

Engulo em seco. E meu estômago revira antecipando a hora que terei que falar para Leo que nosso acordo não existe mais. Talvez deva dizer agora?

Acho que seria o certo a fazer. Mas não quero conversar sobre isso por telefone. Eu tenho que contar pessoalmente.

— O que está fazendo? Estudando?

— Estou em Nova York, na verdade.

— Em Nova York? Como assim?

— Estou na casa da Chloe.

— Sua amiga chata.

— Não fala assim.

— E por que está aí?

— Porque ela me convidou, oras.

— Certo... estou com saudades.

— Eu também. Mas em breve a gente se vê de novo.

— Sim, não vejo a hora de estarmos juntos.

Desligo pensando naquela última afirmação. Há dois meses eu estava receosa de rever Leo, porque temia que nossa amizade fosse destruída para sempre, caso transasse com ele.

Por causa disso, eu tinha escolhido outra opção: sexo sem compromisso com um cara que até aquele momento era um estranho pra mim. Só que agora estou envolvida até os ossos com aquele cara e ao pensar que terei que dizer isso a Leo, me deixa extremamente preocupada.

— E aí, vamos? — Chloe me chama entrando no quarto.

— Claro.

Seguimos para a sala e seus pais já estão lá nos esperando.

— Hum, que vestido espalhafatoso — a mãe de Chloe comenta medindo a filha, que veste o vestido laranja.

Aperto a mão de Chloe em advertência quando a vejo respirar fundo.

— É um pouco chamativo, mas combina com os cabelos dela, não, Sra. Mitchell? Achei muito bonito.

— Hum, não sei se é adequado... — A mulher não parece querer dar o braço a torcer.

— Melhor irmos andando, o carro já está nos esperando — o Sr. Mitchell nos apressa.

Seguimos atrás do casal e eu olho pra Chloe que está emburrada.

— Lembra do que conversamos. Seja legal!

— Ok, vou tentar!

Entramos no carro e seguimos pelas avenidas de Nova York até um prédio em Upper East Side.

Um homem abre a porta e entramos no prédio, seguindo até o elevador muito elegante. Começo a me sentir levemente intimidada.

— O que é essa festa mesmo? — Chloe indaga.

— Uma festa beneficente — o Sr. Mitchell responde. — Organizada pelo ex-senador Cole.

Eu e Chloe arregalamos os olhos no mesmo tempo.

Não, não pode ser possível.

— O senhor disse Cole?

— Sim, filha, o ex-senador Cameron Cole que está organizando junto com a esposa, Natalie.

Eu e Chloe nos encaramos estupefatas e então ela começa a rir.

— E o senhor sabe se os filhos deles estarão aí?

— Acredito que sim. Eles fazem essa festa todo ano. Para arrecadar dinheiro para o Hospital do Câncer Infantil. É muito louvável da parte deles.

— E nós estamos muito interessados em sermos amigos da família Cole — a Sra. Mitchell diz, quando saímos do elevador e passamos por um vestíbulo onde um homem uniformizado confere o convite e abre a porta para passarmos.

Eu nem sei como ainda consigo andar, ainda acho que tudo é um terrível engano.

— Sim, sua mãe tem razão — o pai de Chloe endossa, quando adentramos em um hall enorme com pé direito alto e ao fundo uma vista magnífica do Central Park. — Queremos o apoio deles para nossa entrada no mundo político. Então, seria muito bom que se comportasse.

— E ouvi dizer que o filho deles, Nathan Cole estuda em Yale também — a Sra. Cole diz.

— O que quer dizer, mãe? Claro que eu conheço os filhos dos Cole. Não somos amigos porque eles são muito esnobes e não se misturam.

— Devia fazer um esforço. Namorar um rapaz como Nathan Cole seria maravilhoso para você.

Eles seguem em frente e Chloe me cutuca.

— Ouviu isso? Quem poderia imaginar que iríamos parar na casa dos Cole? E minha mãe quer que eu namore o Nathan? — Ela ri. — Pela primeira vez acho que minha mãe teve uma boa ideia.

O quê?

Sigo Chloe sem acreditar no que está acontecendo.

E então Chloe está me puxando para onde seus pais estão, cumprimentando um casal bonito de meia-idade.

Eu reconheço os pais de Nathan, da foto que vi em seu apartamento.

E logo atrás deles, se aproximando, estão Caroline, Brad e Nathan.

E quando nossos olhares se encontram noto que eles estão tão ou mais surpresos do que eu.


Capítulo 18

 

Nós fomos feitos para dizer adeus

Mesmo com nossos rostos erguidos

Isso nunca teria funcionado do jeito certo

Already Gone

 

— Estamos honrados com o convite, Sr. Cole — o pai de Chloe está dizendo quando nos aproximamos.

— Fazemos questão de nos envolver em causas assim — a Sra. Michell endossa, fazendo Chloe rolar os olhos.

— Agradecemos pela presença e pela doação. — A mãe de Nathan sorri de forma amigável.

— Estamos felizes de recebê-los em nossa casa com sua esposa e suas filhas — Cameron Cole diz olhando para mim e Chloe.

— Ah apenas Chloe é nossa filha — o Sr. Mitchell esclarece apontando para Chloe.

— É minha amiga de quarto, de Yale — Chloe diz —, Sarah James.

De repente o pai de Nathan franze os olhos de forma estranha.

— Sarah James?

— Sim, senhor — confirmo com a voz sumida, olhando de relance para Nathan e os irmãos que ainda não disseram nada.

O pai de Nathan fica me olhando de forma estranha e me pergunto se ele sabe sobre mim e Nathan.

— Ah, estudam em Yale? Nossos filhos também, será que se conhecem? — A mãe de Nathan se vira para os filhos, mas é Chloe quem responde.

— Sim, nos conhecemos. — Ela sorri acenando. — Não que sejamos amigos, mas...

— Chloe! — A mãe a fuzila com o olhar, porém Chloe continua.

— Mas quem não conhece os Cole? Aliás, a gente até trocou algumas palavras quando Nathan e o Brad levaram a Sarah pra casa depois de...

— Chloe, acho que ninguém está interessado — É a minha vez de interrompê-la. Não quero que ela grite em alto e bom som que Nathan e Brad tinham me socorrido depois de eu ficar totalmente bêbada e vomitar em cima do filho perfeito deles.

— Ah, o Senador Carter chegou — a Sra. Cole anuncia, olhando além de nós, o que é uma deixa clara para que nos afastemos para que possam receber os outros convidados e respiro aliviada. Quando os pais de Chloe seguem em frente, a puxo para ir junto, ignorando Nathan e os irmãos.

— Chloe, você foi inconveniente! — a Sra. Mitchell reclama.

— Não exagera, estava apenas dizendo a verdade...

— Já chega! — o pai a interrompe. — Por favor, se comporte. E acho que hoje é o momento para fazer amizade com os irmãos Cole.

— Olha, pode ser uma ideia. Vamos circular, Sarah.

Chloe me guia através dos convidados e ainda estou com minha cabeça girando.

Não acredito que estou na casa da família de Nathan.

Deixo meu olhar vagar em volta, impressionada com o apartamento clássico que exala riqueza. Chloe apanha uma taça de champanhe e coloca na minha mão.

— Pelo menos a bebida é boa.

— Ainda não acredito que estamos na casa dos Cole — sussurro sem conseguir me conter.

— Não é? — Chloe ri. — Por isso que eles são tão metidos, olha esse lugar e toda essa gente paparicando eles!

Volto meu olhar para onde os Cole recebem os convidados e exatamente neste momento, Nathan se vira e seu olhar captura o meu. Não faço ideia do que ele está pensando e desvio os meus, puxando Chloe para longe.

— Preciso ir ao banheiro. — Afasto-me, antes que ela queira vir comigo, porque preciso de um momento sozinha, para pensar.

Tranco-me no elegante banheiro e me sento no vazo, respirando fundo.

Estou na casa dos Cole. Acabei de conhecer os pais de Nathan e ele nem se dignou a falar comigo. Ficou lá parado junto com os irmãos, sem dizer nada.

Mas o que ele poderia dizer? Toda a situação durara um momento. Que foi dominada pela ânsia dos pais de Chloe de impressionar os Cole. Então era esse o compromisso que Nathan tinha com a família, me dou conta agora.

E o que vou fazer? Será que Nathan em algum momento virá falar comigo? Será que devo ir falar com ele? Não sei o que fazer.

Saio do banheiro, porque não posso ficar escondida lá a noite inteira e caminho por entre os convidados à procura de Chloe ainda sem saber direito como agir.

— Ei, Sarah.

Viro-me ao ouvir a voz de Brad e ele está sorrindo pra mim, mas de um jeito surpreso.

— Oi, Brad.

— Só eu estou surpreso de ver você e a garota doida de cabelo vermelho aqui?

— O nome dela é Chloe — corrijo. — E acredito que não só você esteja surpreso, seus irmãos também ficaram.

— Ah, claro que sim. — Ele coça o cabelo, com um olhar estranho. Sempre tenho a impressão que a cabeça de Brad está cheia de coisas que ele quer falar e não fala.

Por que não quer ou por que não pode?

— Eu não sabia que era um jantar na casa de vocês. — Eu me vejo explicando. — Nem eu e nem a Chloe. Ela apenas me convidou para acompanhá-la e a gente só descobriu que a festa era de vocês quando chegamos ao prédio.

— Não precisa ficar me explicando nada, Sarah.

— Mas eu quero explicar.

— Brad! — Olhamos para trás e Caroline está em uma roda de pessoas há alguns metros — Pode vir aqui?

— A rainha está chamando. — Ele rola os olhos, divertido.

— Sua irmã não gosta de mim? — Não contenho minha pergunta.

Ele franze o olhar.

— Como é?

— Entendeu o que eu perguntei. Caroline parece me detestar.

Brad faz de novo aquela expressão cautelosa de quem não sabe o que dizer.

— Brad, anda logo! — Caroline insiste.

— Vai. Esquece minha pergunta — resmungo.

— Olha... Tem coisas que nem eu sei explicar direito.

— Não sabe ou não quer?

— Não posso. — Ele sorri como desculpa e vai até a irmã.

Viro-me e afasto-me, querendo encontrar Chloe e me perguntando qual a chance da gente conseguir ir embora dali. Sei que é impossível.

E enquanto estou caminhando por entre os convidados percebo que não estou só procurando Chloe. Eu quero encontrar Nathan.

Depois de um tempo, rodando sem sucesso. Encontro Chloe conversando com um rapaz loiro.

— Sarah, onde se meteu? — Ela ri.

— Eu que tenho que fazer essa perguntar!

— Vem aqui, quero te apresentar o Marcus.

— Então essa é sua amiga Sarah. — O rapaz sorri.

Ele é bem bonito na verdade.

— Sim, essa é a Sarah. — Chloe pisca pra mim com malícia. — Marcus estuda literatura também, Sarah.

Desta vez eu me viro para o tal Marcus com interesse.

— Sério?

— Sim, em Columbia. Chloe estava me falando muito de você — diz ele. — Falou que tínhamos muito em comum. Só não contou que era tão bonita.

Olho pra Chloe e ela mexe os lábios com algo que parece “de nada”. Percebo que está claramente me jogando em cima desse cara.

— Mas me conta, Marcus, eu estava perguntando se conhece os Cole.

— Meus pais são puxa-saco deles — ele ri —, mas não somos amigos próximos.

— Como os meus!

— Insistiram que eu tinha que vir também.

— Então não conhece os irmãos Cole?

— Só superficialmente.

— Vamos sentar para conversar em algum lugar! — Chloe sugere animada me puxando e Marcus nos segue.

E quando estamos passando em frente a uma sala, nos deparamos com Nathan de cabeça encostada no sofá, de olhos fechados, e Brad está ao seu lado, mexendo no celular.

— Olha só quem encontramos aqui! — Marcus segura minha mão e me puxa para dentro.

Nathan abre os olhos e percebo sua atenção presa nas mãos de Marcus segurando a minha.

Eu puxo na mesma hora, desfazendo o contato e Chloe e eu nos entreolhamos hesitante.

Mas ela dá de ombros, rindo.

Marcus se aproxima dos irmãos e estende a mão.

— Oi, sou Marcus Fisher, acho que a gente já deve ter se trombado por aí, mas nunca tivemos a oportunidade de conversarmos.

— Acho que esse é um bom momento, Marcus. — Brad lança um olhar interessado ao recém-chegado.

Chloe acena.

— Deixa eu apresentar minhas novas amigas. — Marcus aponta para mim e Chloe.

— Não precisa, já nos conhecemos — Chloe diz e senta ao lado de Nathan. — Estudamos na mesma universidade, não é Nathan? Adorei essa surpresa de saber que a festa era na casa de vocês! Uma ótima oportunidade para nos conhecermos melhor.

Minha nossa, Chloe não podia ser mais sutil?

Nathan continua impassível, enquanto Marcus me conduz ao outro sofá.

— Isso vai ser interessante — Brad resmunga. — E aí, Marcus, de onde conhece as garotas? Estuda em Yale também? Acho que nunca te vi por lá.

— Ah não, estudo em Columbia. Conheci a Chloe e a Sarah agora. — Ele senta ao meu lado.

— Ah, é? Parecem íntimos.

Brad especula e de novo percebo que a mão de Marcus está pousada atrás de mim no sofá.

Fico vermelha.

— Acabamos de nos conhecer — murmuro.

— Bem, não teria problema algum se fossem mais do que amigos, não? Ou tem algum namorado, Sarah? — Brad continua e ele está claramente me provocando. Ou estaria provocando Nathan?

Eu não sei o que responder, quando meu olhar captura o de Nathan, não sei o que vai em sua mente, mas ele não parece contente com as provocações de Marcus.

Pergunto-me o que aconteceria se eu contasse agora a verdade.

Eu poderia me levantar e pedir para Chloe sair do lado dele, porque ali é o meu lugar. E Marcus podia guardar suas mãos cheias de dedos para outra garota, porque só tem uma mão que eu quero em mim.

Mas algo me faz recuar. Porém, me sinto um tanto incomodada por Nathan não esboçar reação alguma. Será que ele está pensado o mesmo que eu? Que poderíamos deixar de ser ridículos e contar longo que estamos juntos?

Mas a questão é. Estamos mesmo juntos?

Os irmãos dele sabem, óbvio, mas mesmo Brad com toda sua provocação não parece estar autorizado a contar.

Então eu decido por meias verdades.

— Sim, eu tenho alguém — respondo em alto e bom som. — Não posso chamá-lo de namorado, contudo. Mas eu sinto de alguma maneira que somos muito mais.

Chloe arregala os olhos.

— Uau, Sarah. Então é assim? Achei que fosse só um cara com quem estivesse transando e que por sinal te deu o bolo neste fim de semana.

— Bem, não vou dizer que não fiquei chateada, mas talvez ele tenha seus motivos — encaro Nathan.

Brad acompanha tudo interessado.

— Poxa, então eu posso ter esperança — Marcus sorri, brincando com meus cabelos.

Dessa vez eu percebo os olhos de Nathan escurecendo sutilmente.

E já estou fazendo um movimento para me afastar de Marcus, quando Caroline surge na sala.

— Ah, vocês estão aqui, o jantar está sendo servido.

Então seu olhar recai sobre nós.

Ela parece surpresa e contrariada ao mesmo tempo, mas antes que possa falar qualquer coisa, Brad já se levanta.

— Então vamos logo comer!

Nathan os segue e Chloe segura minha mão, quando ficamos para trás.

— Por que falou aquilo na frente de Marcus?

— Porque era a verdade.

— Não achei que estivesse envolvida desse jeito.

Ah Chloe, nem eu sabia.

— Depois a gente conversa, ok? Mas para de jogar o Marcus para cima de mim.

— Ah, eu achei que fariam um par ótimo! Percebeu que ele ficou interessado? Podia ficar com ele.

— Para, Chloe!

Chegamos à sala de jantar e nos sentamos com os outros convidados. Os Cole estão bem afastados de nós e quando olho em direção a Nathan e seus irmãos, noto uma garota loira sentada ao seu lado. Eles estão conversando e não posso evitar ficar com ciúme.

O quão patética estou me tornando?

Toda aquela situação na verdade é bem ridícula.

Depois do jantar, todos seguem de novo para a sala, conversando e tomado seus drinks.

Marcus não sai do meu pé, e está falando sobre a casa de praia que seus pais alugaram nos Hamptons para as férias, e Chloe dá corda na conversa. Meu olhar está vagando pela sala à procura de Nathan. Eu preciso falar com ele, aquela situação bizarra está me matando.

Mas ele não está em lugar algum.

Dou uma desculpa para Chloe de que preciso ir ao banheiro e saio a sua procura. O apartamento é mesmo enorme e toda a decoração grita riqueza, o que só me faz ficar mais intimidada e perceber o quão longe a minha realidade é da de Nathan.

E quando já estou desistindo, avisto a porta para uma sacada e a silhueta de alguém de costas, olhando o céu. Caminho em sua direção como se fosse a lua atraída pela força da gravidade da Terra.

É inevitável.

— Acho que deveria saber que estaria aqui — murmuro ao me aproximar e ficar ao seu lado. Coloco as mãos sobre o muro, ao lado das dele, olhando o céu também.

Não sei se é certo sentir do jeito que me sinto agora.

Completa, apenas porque ele está aqui. Ao meu alcance.

— Acho que foi Einstein que disse que existem duas coisas infinitas: o Universo e a tolice dos homens — diz.

— Está falando desta situação ridícula que forjamos aqui, fingindo que não nos conhecemos?

Ele ri. O som aquece meu peito.

Assim como seus dedos, que capturam os meus sobre o muro.

— Acho que todos somos tolos.

Finalmente nos encaramos e tenho vontade de dizer tanta coisa.

As palavras estão ali, dançando soltas e desconexas em minha mente, esperando a ordem para virem ao mundo.

— Eu realmente não sabia que estava vindo para sua casa — eu me vejo explicando. — Tomei um susto quando os pais de Chloe contaram.

— Eu percebi. Também tomei um susto em te ver.

— Eu não sabia... Como agir. Sei que seus irmãos sabem sobre nós, mas a Chloe não faz ideia.

— Também percebi, porque ela estava deixando bem claro seu súbito interesse em mim.

— Ah, os pais dela sugeriram, não muito sutilmente, que adorariam que ela namorasse um cara como você. Acho que eles não sabem que você não namora ninguém. — É uma deixa. Quero que ele discorde de mim.

— Por que não contou nada a Chloe?

— Eu não contei para ninguém.

— Nem para seu melhor amigo?

Caramba, por que ele está citando Leo?

— Nem para ele. — “Mas ele vai ficar sabendo em breve.”, penso.

Ficamos em silêncio. Voltamos a olhar o céu estrelado.

Meus sentimentos estão uma confusão.

Sinto que é tão certo estar assim com Nathan.

Tão certo que quero que ele segure firme minha mão e me puxe para dentro de sua casa, que mostre a todos os seus amigos e sua família que estamos juntos.

Quero que estejamos mesmo juntos.

Meu Deus, como deixei isso acontecer?

Nathan deixou bem claro suas intenções. E vendo agora sua realidade, percebo que estamos a anos-luz de distância.

— Hoje, vendo você aqui, na sua casa, com sua família e amigos... Me deu a impressão que pertence a outra galáxia — murmuro.

Ele ri suavemente e me puxa para perto. Eu vou, que outra opção eu tenho? Deixo seus braços me envolverem, aspiro seu cheiro único e tão familiar agora, e busco seus lábios até que estejam sobre os meus. E me questiono por que não pode ser sempre assim, se é tão perfeito?

Quando o beijo termina, ele não me solta e eu fico ali, meus dedos crispados em sua camisa, respirando Nathan Cole.

— Você sabia que existe outra galáxia, a Andrômeda? Um dia ela vai colidir com a via láctea.

— E o que acontecerá? Será o fim de tudo?

— Não. Elas formarão uma nova galáxia: a Lactomeda.

Eu o empurro, rindo.

— Está inventando!

— Claro que não. É sério.

Eu paro de rir.

— Só tem mais um fim de semana para as férias — externo o que vinha me atormentando.

Pergunto-me se Nathan se deu conta disso. Que nossas horas estão contadas.

Pergunto-me se ele se importa.

Ele fica sério também.

Mas não diz nada.

Porém, eu já não consigo ficar quieta.

— Na semana passada, você disse que tinha algo para me dizer quando nos encontrássemos de novo.

Ele desvia o olhar.

Tenho vontade de gritar. De sacudi-lo.

De extrair à força tudo o que ele guarda apenas para si.

— Eu já não sei se tem algo para ser dito.

Eu me irrito.

— Eu acho que tem sim.

Ele me encara.

— Sarah, você não entende...

— Realmente não entendo você, Nathan. Eu sei que estamos a anos-luz de distância, que fizemos um acordo e que esse acordo está prestes a espirar, mas eu só... — Só quero que não acabe, anseio dizer, mas me calo. Eu tinha prometido a ele que não teria nenhuma cobrança, como posso quebrar isso agora? Será que estou sendo tola? — Deixa pra lá. Vou voltar à festa, Chloe deve estar procurando por mim.

Eu dou dois passos para me afastar, mas Nathan segura minha mão.

— Não vai.

Encaro nossas mãos unidas. Capturo seu olhar no meu.

Há anseio neles.

Mas também há medo.

Do que Nathan tem medo?

— Por que eu ficaria?

E ele sabe que o que está implícito naquela pergunta é muito mais do que minha permanência aqui agora.

— Você quer ficar?

Ah Deus.

— Mais que tudo.

Pronto. Está dito.

De novo o vejo hesitar. Como se estivesse mergulhando em algum lugar dentro dele onde não posso alcançá-lo.

Quero que me leve pra lá.

E espero. Anseio.

Por favor, Nathan. Deixe-me entrar.

— Tem um lugar chamado Serendipity, na 225 East 60th Street, entre Second Avenue e Second Avenue. Me encontre lá amanhã.

E antes que eu possa falar qualquer coisa, escutamos passos e ele me solta. Caroline surge com a mesma moça que estava conversando com Nathan na mesa de jantar.

— Finalmente te achei. — Seu olhar rasteja até mim e como sempre não parece gostar do que vê.

— Oi, não te conheço. — A moça loira sorri curiosa para mim. Ela tem os cabelos cortados na altura dos ombros e olhos claros muito bonitos. É muito bonita na verdade.

— Está e Sarah James — Nathan nos apresenta. — Sarah, está e Alisson Carter. Alisson é afilhada dos meus pais.

— Muito prazer, Sarah. — A moça sorri para mim.

— Acho que sua amiga estava te procurando para irem embora — Caroline diz para mim.

— Claro, eu já vou.

E lanço um último olhar a Nathan antes de me afastar e ir à procura de Chloe.

Meu coração está batendo forte. Nathan quer encontrar comigo amanhã.

— Onde estava? — Chloe diz quando a encontro. — Te procurei em tudo quanto é lugar!

— Estava em uma sacada, admirando a vista.

— Ah, vamos logo que meus pais já estão impacientes!

Eu a sigo para fora e os pais de Chloe estão debatendo sobre todas as pessoas influentes que conheceram no jantar.

Chloe se ocupa em postar fotos no Instagram e aproveito para pegar meu celular com o intuito de mandar uma mensagem para Nathan, porque me lembro que não combinamos uma hora.

Mas não preciso me preocupar com isso, pois ele já me enviou uma mensagem.

“Amanhã te encontro as nove na Serendipity.”

Sorrio secretamente.


Quando estamos nos preparando para dormir, Chloe está falante sobre Marcus.

— Ele nos convidou para passar uns dias com ele lá em Hampton nas férias, não é o máximo? — diz quando escorrega para debaixo das cobertas.

— Eu não sei. Sabe que estarei com meus pais em Mystic.

— Mas pode vir alguns dias! Vai ser incrível!

— Parece bem interessada... — Eu deito na cama ao seu lado.

— Bem, já que não quis, quem sabe? — comenta com malícia. — Eu até tentei puxar conversa com o Nathan, mas ele é muito esquisito, credo! Acho que talvez ainda esteja apaixonado pela tal filha dos Carter.

— O quê?

— Ah, não te contei? Sabe aquela moça loira, Alisson Carter, é filha do Senador Carter e afilhada dos Cole, ao que parece. Ela e Nathan namoraram um tempão, antes de ele entrar na faculdade.

Meu coração despenca no chão.

Como assim?

Aquela garota loira bonita tinha sido namorada de Nathan?

E por que ele não disse nada?

Será que ela era o motivo de ele não querer compromisso com ninguém?

E se fosse sobre isso que queria conversar amanhã?

E eu que estava cheia de esperança que quisesse conversar sobre nós. Sobre querer o mesmo que eu.

Que nosso acordo não tivesse fim com o começo do verão.

Mas é só isso que eu quero? Apenas um acordo sexual?

Tenho medo da resposta.

Assim como estou com medo agora sobre o que o dia de amanhã me reserva.


Acordo na manhã seguinte, e escorrego para fora da cama, aproveitando que Chloe está dormindo pesado e me arrumo para sair.

Pego um táxi em frente ao prédio dos Mitchell e chego mais cedo do que o combinado na Serendipity. É um Café famoso na cidade e devido ao horário, não é difícil conseguir uma mesa. Estou tão ansiosa que mal consigo me conter. A noite de sono me fez ficar mais calma e perceber que talvez esteja sendo ridícula. Alisson é ex-namorada de Nathan. Se ele quisesse estar com ela, ainda estaria não?

E eu decido que tenho que tomar as rédeas do meu destino. Se eu quiser ficar com Nathan, tenho que dizer.

Relanceio o olhar para o celular, e percebo que já passou das nove.

Cadê o Nathan?

Começo a sentir um frio no estômago. Olho de novo o celular pensando em enviar uma mensagem. E quando levanto a cabeça me surpreendo ao ver Caroline vindo em minha direção.

— Oi, Sarah. — Ela senta a minha frente.

— O que... o que está fazendo aqui? Cadê o Nathan? — indago confusa.

— Ele não vem.

O quê?

— Como assim? Nós combinamos aqui e...

— Eu sei. E eu vim te dizer que ele não vai aparecer.

Eu sinto dificuldade de respirar. Isso não está acontecendo.

Por que Nathan não veio e em vez disso mandou a irmã no lugar?

Não faz sentido algum. Mesmo que ele tivesse que desmarcar, era só me mandar uma mensagem.

— Não estou entendendo o que está fazendo aqui.

— Olha, sinceramente. Esquece meu irmão. Sei que tinham um acordo e ele estava prestes a acabar mesmo, não? Não era isso, dois meses? — Meu Deus, ela sabe sobre nosso acordo? O que mais Nathan contava aos irmãos?

— Por que o Nathan não está aqui ele mesmo para me falar isso?

— Eu apenas vim te dar um recado. — Caroline ignora minha pergunta. — Ele não vai vir. — Ela se levanta. — E se quer um conselho? Se apaixonar pelo Nathan seria um erro terrível. Ficar pensando nele, ou tendo esperança em ter algo mais com ele do que tiveram só vai te fazer sofrer. Siga sua vida e esqueça o Nathan.

E sem mais ela me dá as costas e se afasta.

Deixando-me ali, sozinha e atordoada.


Capítulo 19

 

Fio por fio eu me desfaço

Se estar arrasado é um trabalho artístico

Com certeza essa é minha obra prima

Neptune

 

Depois que Caroline sai do Café ainda fico lá um bom tempo, me perguntando se aquele estranho diálogo tinha mesmo acontecido. Ainda não acredito que Nathan não apareceu e ainda mandou a irmã para me dar um fora.

Revoltada, saio do Café e lhe envio um monte de mensagem.


Ele nunca respondeu nenhuma.


Muito menos o vejo pelo campus na semana seguinte, quando digo a mim mesma que o melhor que posso fazer é esquecer e seguir em frente, como Caroline tinha aconselhado. Preciso me concentrar nas provas e aí eu poderei ir para Mystic e voltar a ser a Sarah que eu sempre fui.

Ainda vejo Caroline e Brad no campus um dia, eles estão almoçando em uma mesa próxima. Eu os encaro com raiva, porque é isso que sinto. Se não posso encarar Nathan, que parece ter desaparecido feito fumaça, posso descontar nos irmãos esnobes dele.

— Tudo isso é tão ridículo... — Brad cochicha, porém o suficiente para eu ouvir, enquanto se levantam para ir embora.

— Cala a boca — Caroline pede — Você pensa como eu que eu sei.

— Agora já está resolvido de uma maneira ou de outra, não é? Mas eu ainda acho...

— Chega Brad, Nathan não ia gostar nada destas suas ideias... — E então eles se afastam mais e eu escuto mais nada.

O que estava resolvido?

E onde estaria Nathan?

Não sei se ele está na faculdade e simplesmente nossos caminhos não se cruzam, ou se ele não está lá.

Tive vontade de ir até sua casa. De confrontá-lo. Mas decidi que não iria me humilhar a este ponto. Acho que estava claro que para Nathan nosso acordo tinha acabado e ponto final. Ele só não teve coragem de vir terminar na minha cara. Provavelmente me iludi, achando que o que tínhamos vivido tinha sido mais do que boas horas de sexo.

Assim, quando as provas acabam, me despeço de Chloe e volto para Mystic.

Minha mãe me recebe com um abraço reconfortante e vamos para meu quarto. Eu tinha um quarto em cada casa, me dividindo a vida inteira entre meu pai e minha mãe. Eu me sinto em casa nos dois lugares. Mas agora é diferente. E não sei o que é.

— E aí, como foram as provas?

— Fui bem, mas podia ter ido melhor — respondo sinceramente. Só é melhor meus pais não saberem do motivo que me “distraíra”.

— Tenho certeza que será melhor no próximo semestre.

— Eu me esforçarei para ser.

— Sei de alguém que está superansioso para vê-la.

Eu sorrio.

— Leo.

— Eu o convidei pra jantar lá em casa hoje com a Claire, não se importa, não é?

— Claro que não, estou ansiosa para vê-lo também. — O que não é totalmente verdade.

Com todo o drama envolvendo Nathan, eu tinha me esquecido temporariamente do meu acordo com Leo e que voltar a Mystic implicava ter que dizer a Leo o que tinha acontecido nos últimos dois meses.

— E aí, ainda está com aquele rapaz que estava saindo? — Ela indaga curiosa.

— Acabou. — Minha voz tinha tremido? Mas que droga. Espero que minha mãe não tenha percebido.

— E está tudo bem com isso?

Forço um sorriso.

— Claro que sim, eu te falei que não era nada sério, mãe.

— É, talvez seja melhor assim mesmo. É muito nova pra alguma coisa séria. Tem que curtir muito a vida ainda!

Eu não respondo.

Ela desce para fazer o jantar e me apresso em desfazer as malas. Mamãe era péssima na cozinha e provavelmente eu teria que ir salvar nosso jantar assim que terminasse as malas. Quando coloco o vestido que comprei com Chloe no guarda-roupa, sinto um peso no peito. Onde será que Nathan está agora? Será que ainda lembra que existo?

Eu tinha achado que estando em Mystic aquela dor iria passar. Mas até agora, isso não tinha acontecido.

— Oi, branquela.

Escuto a voz de Leo e me viro para vê-lo na porta do quarto.

— Leo! — Pulo em seus braços, enquanto ele me gira.

Sinto vontade de chorar e todas as lágrimas que estava contendo até agora transbordam dos meus olhos sem que eu consiga me conter e Leo me põe no chão, assustado.

— Ei, o que foi?

Eu fungo, enxugando o rosto com as costas da mão e tentando sorrir.

— Nada, só...

Ah, como quero contar tudo a Leo. Tudo o que mudou irreversivelmente naqueles dois meses, mas sei que não posso. Tenho medo que ele não entenda. Ou que se magoe com o que tenho para contar.

Mas não terei que contar alguma hora?

— Estava com saudade — confesso por fim. É parte da verdade.

E mais. Sinto falta da Sarah que podia ser com Leo.

Sem complicações, sem paixões irrefreáveis que não fazem sentido algum e só deixam um buraco no peito.

Eu quero ser aquela Sarah de novo.

Jovem, inocente e sem preocupações.

— Ei, garotos, vamos comer — mamãe chama lá embaixo e eu e Leo descemos.

É uma sensação boa de déjà-vu sentar à mesa com a minha mãe e Claire, a mãe de Leo. Conversar sobre as novidades dos amigos em comum, de com Leo ainda estava em dúvida de qual universidade escolher.

— Eu não queria escolher este ano — ele resmunga para o horror da sua mãe.

— Ele passou na Califórnia e não quer ir. Achei que quisesse estudar jornalismo, querido.

— Podia viajar um tempo. — Ele olha pra mim. — Lembra dos nossos planos?

Eu sorrio.

Quando éramos mais novos costumávamos dizer que um dia sairíamos pelo mundo sem rumo. Leo gostava de surfar e seu sonho era ir para o Havaí e todos os lugares que tivessem ondas radicais.

— Sarah está na faculdade! Essas conversas de crianças de vocês ficaram para trás!

— Bem, acho que sua mãe tem razão — endosso.

Leo fica decepcionado.

— Você podia trancar um ano! A gente sai por aí, eu juntei dinheiro.

— Leo... — Eu não sei o que responder de seus planos entusiasmados.

Claro que é tentador. Não voltar para Yale.

Não voltar a ver Nathan. Seria um alívio.

Mas também só de pensar em nunca mais vê-lo sinto aquela dor no peito se alastrando de novo.

Sem contar que meu pai tinha investido muito na minha educação. Eu jamais poderia fazer isso com ele.

— Não seja bobo, filho!

— Acho que vão passar o verão inteiro juntos e poderão discutir essa ideia — mamãe se intromete, colocando panos quentes como sempre. Aposto que ela acharia ótimo que eu largasse a faculdade só para contrariar os planos do meu pai.

— Agora eu e Claire vamos tomar um vinho e vocês, crianças, cuidem da louça.

Elas se afastam e eu e Leo recolhemos os pratos.

— Eu lavo e você seca? — ele sugere e eu sorrio. A gente sempre fazia isso.

— Tudo bem — concordo.

— Sarah? Está distraída! — Leo me belisca, quando estamos terminando e percebo que estava em silêncio, com o pensamento longe.

— Estou um pouco cansada, só isso.

— Que pena, ia falar pra gente dar uma volta...

— Ah Leo, pra outro dia, pode ser? Estou com sono.

— Tudo bem — ele concorda, mas parece um pouco decepcionado.

— Você viu meu presente?

— Presente?

— Estou vendo que não notou... — Ele segura minha mão e me guia para meu quarto e lá aponta para a parede e vejo um quadro.

É uma pintura de uma galáxia cheia de estrelas.

Meus olhos se enchem de lágrimas de novo.

— Eu vi lá na galeria e me lembrei de você. — A mãe de Leo trabalhava na mesma galeria que a minha. — Gostou?

— Claro, é lindo, muito obrigada. — Eu o abraço e quando o solto, ele me olha diferente.

Estamos sentados na minha cama agora. Tento me afastar, mas ele segura minha mão.

— Sarah, eu estive pensando muito em você e sobre o que falamos há um ano.

Ele fica sério.

— Você esqueceu?

— Não — confesso.

— Você me disse ao telefone, há dois meses que... nada tinha mudado. Pra mim também não mudou, Sarah. E eu estou feliz que vá ser com você. Eu tenho sonhado com isso há tanto tempo e finalmente...

— Leo, pare. Preciso te falar uma coisa.

Ele se cala, à espera do que tenho a dizer.

E de repente, sei que não posso.

Não ainda. Não agora.

Porque temo que, por mais que tenha feito o que fiz a princípio com medo de me afastar de Leo, pode ser que na verdade o que tenha a contar o afaste de qualquer jeito.

E não sei o que será de mim se Leo se afastar agora.

Meu coração está em pedaços pelo o que Nathan fez.

E posso estar sendo um tanto egoísta, mas preciso do meu amigo agora e não de mais uma confusão amorosa.

— Será que podemos não falar sobre isso por enquanto? Será que podemos apenas... sermos nós mesmos por um tempo? Sinto tanta falta de você, de nossas conversas, de nossas aventuras. De sermos simplesmente... amigos.

Vejo a decepção de novo em seu olhar e isso me deixa triste. Odeio decepcionar Leo.

— Tudo bem, Sarah. Acho que sinto falta disso também.

Eu sorrio, aliviada.

— Mas nós vamos voltar a este assunto antes que o verão acabe — diz com determinação.

E sei que, por mais que tenha deixado este assunto de lado, não será adiado para sempre.


***


Quando foi que Nathan Cole tinha se tornado o motivo de eu olhar o céu todas as noites?

Contemplo as estrelas de Mystic acima de mim e me pergunto se ele está fazendo o mesmo agora. Já faz quase dois meses que olhei o céu junto com ele, naquela noite no apartamento de seus pais em Nova York.

Dois meses que eu tento esquecer a humilhação que foi meu encontro com sua irmã, me dizendo que me apaixonar por ele seria um erro.

Eu não podia discordar de Caroline Cole.

Apaixonar-me por Nathan foi mesmo um erro terrível.


— O que está pensando? — Leo pergunta ao meu lado.

Estamos na praia, nossas bicicletas caídas ao nosso lado, enquanto deitamos para apreciar o céu. Como prometido Leo tinha deixado aquele assunto sobre ficarmos juntos de lado.

Por um tempo, enquanto aproveitávamos o verão como se fôssemos as mesmas pessoas de antes, acreditei que tudo ia ficar bem. Que podíamos ser felizes assim, apenas como amigos. Que Leo veria mais dia menos dia que não podíamos mudar nada. E de alguma maneira eu sentia que tinha feito certo em ter tomado aquela decisão há meses, de nunca deixar nada mudar.

Só que pra isso eu tinha me envolvido com outro cara. Um desconhecido bonito, misterioso e que amava as estrelas.

E ele tinha partido meu coração.

E agora, toda vez que olho para o céu, me lembro dele dentro de mim. Lembro de sua voz em meu ouvido, de sua risada e lamento todas as conversas que não tivemos.

Lamento não ter tido coragem de reconhecer naquela época que vivíamos algo incrível. De dizer e demonstrar que eu estava tão feliz de um jeito que nunca tinha sido antes. Não que eu não fosse feliz antes de Nathan, mas era diferente. Era uma felicidade que nascia de dividir a paixão com alguém. De deixar alguém tocar você não só física, mas emocionalmente. De abrir o coração quando nem sabíamos que estávamos fazendo isso.

E quando estava com Leo, eu me permitia ser a Sarah de antes de ter conhecido a paixão com Nathan. Mas quando ia dormir sozinha à noite, eu sentia falta de tudo o que ele me fazia sentir.

E só esperava que aquele vazio um dia se enchesse de outra coisa que não fosse lembranças.

— De como o céu é bonito — respondo a pergunta de Leo.

Às vezes eu ainda sentia vontade de contar a ele sobre Nathan, mas nossas horas eram tão preciosas que tinha medo de estragar tudo.

— Eu deitava aqui sozinho e pensava em você quando estava longe.

Sorrio tristemente.

Um pensamento passando pela minha cabeça de repente.

Por que não posso me apaixonar por Leo?

Porque não posso querer o mesmo que ele. Não ter medo de estragar tudo?

Eu tinha me envolvido com Nathan para não perder Leo. Só que sinto a cada hora que passa, e não conto isso a ele, estou o perdendo de qualquer jeito.

E já tinha perdido Nathan. Se é que um dia eu o tive.

Eu devia saber que Nathan nunca iria se apaixonar por mim.

Os dias de férias estão acabando e sei que terei que contar a Leo em breve e isso me deixa triste.

— Sarah, queria conversar algo com você. — Ele se senta e faço o mesmo.

Sinto um medo na boca do estômago, porque percebo que talvez seja a hora de dizer a verdade.

— Tenho pensado muito em nós. No que combinamos e acho que errei em te pressionar.

O quê?

Ele continua.

— Acho que você já deve saber que eu gosto de você... mais do que um amigo.

— Leo...

— Não, me deixe terminar. Enquanto a gente ia crescendo eu vi você mudando, eu fui mudando e cada vez mais percebia que não queria ficar com outra garota, porque você era perfeita. Era melhor que todas elas.

— Não sou perfeita, Leo.

— É sim. É minha melhor amiga e a pessoa que eu mais amo. E queria tanto que pudéssemos ficar juntos, mais do que amigos. E quando resolveu partir para a faculdade, tive medo que conhecesse alguém, que se apaixonasse e se esquecesse de mim.

Sinto vontade de chorar.

— Ah, Leo. Eu nunca iria me esquecer de você.

— Por isso eu quis que ficássemos juntos, por isso forcei aquele acordo quando não quis que transássemos naquele dia. Achei que ia pensar em mim de forma diferente, como eu pensava. Que iria voltar e ver que podíamos ser incríveis juntos e me dar uma chance.

Seguro sua mão.

— Leo, eu te amo. Somos melhores amigos. Por que temos que mudar isso?

— Melhores amigos podem se apaixonar.

— Os meus pais se apaixonaram e hoje se odeiam.

— Não somos seus pais, Sarah. Não pode me rejeitar apenas porque tem medo. Eu jamais te magoaria.

— Eu sei, mas...

— Escuta. Eu entendo seus medos. Acho que tenho um pouco deles também. Não gostaria que estragássemos tudo. E o que quero dizer é que eu errei em te pressionar colocando tudo como uma questão de perder a virgindade. A gente é mais do que isso. Você merece mais do que isso.

Ah Deus, desta vez eu começo a chorar de verdade.

Porque eu tinha feito um caminho tão diferente, movida por puro medo quando talvez devesse ter sido sincera e dizer exatamente o que Leo está dizendo agora.

— Não quero que transe comigo porque temos um acordo. Quero que transe comigo porque você quer.

— Ah, Leo. — Eu o abraço forte. — Você também merece mais, ok?

Ele ri se afastando e enxugando minhas lágrimas.

— Sarah, não quero te pressionar mais. Mas não posso negar que eu gosto de você e que queria que me desse uma chance. Eu prometo que vai ser do jeito que você quiser. Que se ao fim de tudo não quiser nada além da nossa amizade, eu vou aceitar.

Não sei o que dizer. Ele parece tão sincero ali, me olhando cheio de esperança, que tudo o que eu quero é dizer que sim.

Mas sei que não posso ainda.

Meu coração não está aberto a Leo, porque ainda existe outra pessoa dentro.

— Posso pensar? — pergunto baixinho e ele sorri.

— Claro que sim. Pelo menos não é um não.

Respiro aliviada.

Subimos na bicicleta e seguimos até a casa da minha mãe.

Desde que voltei, tinha passado as semanas com ela e os fins de semana com meu pai.

Quando chegamos em casa, eu me despeço de Leo e entro. Minha mãe está no sofá assistindo TV, vou até lá e deito em seu colo, começando a chorar.

— Ei, bebê, o que foi? O que aconteceu?

— Ah, mãe, sou uma pessoa horrível...

Então conto tudo o que aconteceu desde o verão passado.

Meu acordo com Leo, conhecer Nathan e nosso acordo de ficar juntos por dois meses e ter me apaixonado por ele.

— Ah, Sarah, que confusão você fez!

— Eu sei. Mas eu nunca achei que ia me apaixonar por Nathan, era apenas sexo, mas...

— O amor não pede licença, Sarah, quando duas pessoas estão predestinadas uma à outra, ele apenas acontece.

— Não estou predestinada a Nathan!

— Mas estava predestinado a acontecer. A gente não foge do destino.

— Eu teria evitado tanto sofrimento se tivesse tido coragem de dizer não ao Leo naquela noite. Nada de acordo. Acho que sou péssima em fazer acordos!

— Não adianta ficar fazendo acordos racionais quando se trata de amor e paixão! Mas não fique assim, este Nathan foi apenas seu primeiro amor. Vai amar muito ainda, Sarah.

— Leo quer uma chance. Eu disse que ia pensar. Ele disse que não deveria ter me pressionado, que podemos ir do jeito que eu quiser, mas que devemos ver no que vai dar.

— E por que não lhe dá uma chance?

— Você deu uma chance ao papai e hoje se detestam. Não posso deixar que algo assim aconteça comigo e Leo.

— Por que teria que ser igual? São pessoas completamente diferentes, filha. Não pode pautar sua vida nos erros meus e do seu pai.

— Mesmo que passe por cima desse medo, como posso ficar com Leo, sendo que estou apaixonada por Nathan?

— Você disse ao Nathan que estava apaixonada?

— Não. Do que ia adiantar? Ele sumiu. Mandou a irmã para me dar o fora!

— Mas estudam na mesma faculdade. Acho que deveria dizer a ele. Pode se surpreender.

— Nathan nunca iria se apaixonar por mim.

— O mundo é feito de infinitas possibilidades, Sarah. Nunca diga nunca para nada. Porque a vida sempre pode te surpreender quando menos espera.

— Eu vou ter que pensar muito no que fazer. Não quero mais tomar nenhuma decisão precipitada.

— Sim, vai dormir.

Subo para meu quarto e meu celular toca, sorrio ao ver que é Chloe.

— E aí, que tal irmos para os Hamptons neste fim de semana?

— Ficou louca?

— Lembra do Marcus? Então eu o encontrei esses dias e ele é um cara muito legal, Sarah. Ele reiterou o convite para ir pra casa dele e disse que eu podia convidar quem quiser! Não é legal?

— Não quero que ele fique dando em cima de mim...

— Não vai! Ele estava até com uma garota quando o encontrei. Vem, vai ser legal.

— Não posso ir. Estou passando um tempo com Leo e...

— Traz o Leu, oras! Quanto mais gente melhor!

— Eu não sei...

— Por favor, venha! A gente não se vê faz tempo e vai ser divertido!

Fico pensativa. Talvez passar um tempo com Leo em meio a outras pessoas possa ser bom.

— Eu vou falar com o Leo, ok?

— Ah, vou ficar torcendo! Beijos!

Desligo e ligo pra Leo, e achei que ele não fosse querer ir, mas aceita prontamente.

— Nossa, achei que nem gostasse da Chloe.

— Não gosto mesmo, mas você vive falando bem dela. E quero conhecer seus outros amigos.

— Tudo bem, então partimos no fim de semana.

— Vou pegar o carro da minha mãe emprestado. — Ele ri.

— Combinado então!

Desligo e vou até a janela. Olho o céu e pela primeira vez me sinto um tanto animada. Chloe era uma festeira e passar um tempo com ela seria ótimo. E colocar mais gente entre mim e Leo seria bom para que eu pudesse pensar se valeria a pena dar uma chance a ele.

E esquecer de vez Nathan Cole.


***


Chegamos à casa da praia e somos recebidas por Chloe e Marcus.

— Olha a minha garota preferida — Marcus me abraça. — E este deve ser o Leo, Chloe me falou de você. — Ele cumprimenta Leo com um abraço também.

Leo parece meio sem graça e espero que ele não fique com ciúme de Marcus. Eu tinha omitido a parte de que Marcus já tinha flertado comigo.

Chloe me abraça também e dá um soquinho no ombro de Leo, que rola os olhos.

— Ei, cara! Bombado, hein!

— Oi, Chloe.

— Por favor, não comecem a implicar um com o outro!

— Venham, vou mostrar o quarto de vocês e vamos para a praia! — Marcus diz.

Marcus leva Leo no quarto dele e Chloe entra no quarto destinado a mim e nos joga na cama.

— Estou tão feliz que esteja aqui!

— Só estão vocês aqui?

— Sim, não é legal? Os pais de Marcus não vão vir esse fim de semana! A casa é nossa!

— E Marcus não tinha uma namorada ou algo assim?

— Parece que levou um fora! Agora levanta e ponha um biquíni!

Visto o biquíni e encontramos Leo e Marcus próximo à piscina.

— É disso que estou falando! — Marcus não disfarça o olhar interessado e percebo que isso incomoda Leo.

Seguimos para a praia e lá já tem algumas pessoas que são amigos de Marcus.

Chloe aponta para uma garota morena e a apresenta como Ellie e seu namorado, Carl.

Nós nos sentamos ao lado deles e Marcus continua me secando, embora esteja conversando com Carl sobre as ondas estarem boas para surfar ou algo assim.

Leo diz que vai dar um mergulho e se afasta.

Chloe pede que eu passe bronzeador nela.

— Marcus está interessado em você — Ellie brinca e eu fico vermelha.

— A Sarah sabe disso! — Chloe comenta. — Passa direito, hein Sarah. Quero ficar bem bronzeada!

— Eu não posso tomar muito sol, fico vermelha feito pimentão.

Já tinha passado protetor solar antes de sair de casa, mas não gostava de ficar muito no sol.

Marcus muda de lugar e senta ao meu lado.

— Você e Leo têm alguma coisa?

— Não, somos amigos de infância.

— Sei... — Ele sorri mais animado. — A gente podia dar um passeio a noite, sozinhos, o que acha? Tem uma livraria no centro. Adoraria te levar lá. Tem um Café e podemos conversar sobre nossos autores preferidos.

— É, não sei se seria legal, se sairmos temos que levar a Chloe e o Leo.

— Nossa, já está ficando vermelha, acho melhor passar mais bloqueador solar — ele diz olhando para meu ombro.

— Verdade. — Pego o bloqueador e começo a passar.

Marcus toma da minha mão.

— Me deixa passar nas suas costas.

Eu quero dizer não, mas ele já se posiciona atrás de mim e começa a espalhar. Eu levanto o olhar e desta vez vejo Leo nos fuzilando, enquanto se aproxima.

— Olha, aqueles ali não são os Cole? — Chloe fala de repente e todos nós olhamos para onde ela aponta e sinto o chão fugir de meus pés.

Sim. Os Cole estão chegando à praia.


Capítulo 20

 

Eu não vim aqui para te machucar,

agora eu não consigo parar

Already Gone

 


Por um momento não consigo acreditar no que estou vendo.

Os irmãos Cole estão se aproximando, mas meus olhos só capturam um Cole em especial. Sinto meu coração batendo descompassado no peito quando Nathan me vê e percebo que ele está tão surpreso quanto eu.

Mal consigo respirar e, em meio a minha perplexidade, percebo que os olhos de Nathan estão fixos nos movimentos das mãos de Marcus em mim.

Eu me sinto culpada. O que é ridículo. Marcus está apenas passando protetor solar em mim. E mesmo se estivesse me acariciando, o que Nathan tem a ver com isso? Absolutamente nada. Mesmo assim, me afasto e pego o protetor da mão de Marcus.

— Obrigada.

— Vou chamá-los para ficar com a gente — Chloe fala.

— Chloe, não faz isso — peço alarmada.

— Deixa de ser boba. — E ela já está caminhando na direção deles. — Ei, Nathan, tudo bem?

— Oi, Chloe.

— E aí, não sabia que estavam aqui! Eu e a Sarah estamos passando uns dias na casa do Marcus.

Marcus acena.

— Chega aí. Senta com a gente.

Vejo os irmãos trocando olhares, com certeza vão declinar, imagino, mas Brad sorri e se aproxima.

— Tudo bem por mim! — Seu olhar recai em mim. — Oi, Sarah.

— Oi.

Nathan e Caroline se aproximam também.

— O que você tem? Está pálida — Ellie indaga, enquanto os Cole se sentam próximos.

— Nada não. Sol demais me irrita.

— Não gosta dos Cole. — Não é uma pergunta. — Senti uma tensão no ar.

— Impressão sua.

— Bem, sei que não é fácil gostar deles, com toda beleza e riqueza, é difícil mesmo! Eu mataria por aquele cabelo da Caroline ou aquela canga finíssima que está usando.

Eu rio e vejo Leo se aproximando.

— Não conheço você.

— Leo Fisher, sou amigo da Sarah.

Imediatamente vejo os olhos de Nathan voarem para Leo, curiosos.

— Vamos nadar! — Ellie me puxa e eu a acompanho para a água, apenas para me afastar da tensão que a chegada de Nathan causou em mim.

— Esse seu amigo Leo é uma graça, rola alguma coisa entre vocês? — ela pergunta divertida.

— Não, apenas amigos.

— Ele parece bem possessivo, do jeito que olha para você.

— Talvez da parte dele...

— Ah, entendi. Ele queria ser mais que amigo, mas você não corresponde.

— Mais ou menos isso.

— Uma pena. Fariam um casal bonitinho.

Eu jogo água nela e rimos. Quando saio da água estou um pouco mais calma.

Leo está jogando voley com Chloe e Marcus, um pouco mais afastado e eu procuro uma toalha quando alguém me estende uma.

— Pegue.

Levanto a cabeça para me deparar com Nathan.

— Obrigada — murmuro, pegando de sua mão e a colocando em minha volta. De repente estou sem graça de estar de biquíni na frente de Nathan. Como se ele já não tivesse me visto nua muitas vezes.

Apenas não quero me lembrar disto agora. Só tenho que lembrar que este é o cara que nem se dignou a ir encontrar comigo e dizer na minha cara que não queria me ver mais. E em vez disso mandou a irmã no lugar. Além de nem se dignar a responder minhas mensagens.

— Não esperava encontrá-la aqui.

— Nem eu. Que pena pra você. Com certeza deve ser um inconveniente me encontrar.

— Não sabe do que está falando.

— Acho que sei sim.

— Ah, Sarah, não sabe não.

Eu o encaro. Um erro.

Por que ele tem que ser tão bonito?

— Então por que não me conta?

E o que ele pode ter para me contar?

Que é um menino rico que não dá a mínima para sentimentos, que por isso escolhia transar sem compromisso, apenas para não se envolver com ninguém? Disso eu já sabia. E que os irmãos deviam achar o cúmulo ele estar fazendo sexo com alguém tão comum como eu? Tanto que sua irmã esnobe pediu com todas as letras que eu o esquecesse?

De repente tenho uma vontade enorme de exigir explicações. De gritar e agredi-lo talvez, por tudo o que me fez passar. Mas não farei isso.

No final, acho que Nathan não pensa no mal que me fez. Ele não faz ideia do quanto eu estava envolvida.

— Não sabia que era tão amiga do Marcus Fisher.

— Chloe que é amiga dele, na verdade. Ela que nos convidou.

— E trouxe seu Leo.

— Não fala assim, “seu Leo” — reclamo.

— Ele ainda é apaixonado por você, pelo jeito que está me fuzilando com o olhar agora, mas parece estar perdendo terreno para o tal Marcus, pelo o que percebi quando cheguei.

— Não tem nada entre mim e Marcus — falo rápido.

— Não me deve satisfação, Sarah.

De repente ele estende a mão e toca minha testa. Eu quase dou um pulo.

— Está vermelha. Devia se proteger mais.

Há censura em sua voz, mas também há certa suavidade. E seus dedos de repente não estão mais na minha testa e deslizam por meu rosto. Não consigo me mexer. Na verdade não quero me mexer. E então ele toca meus lábios que se entreabrem num quase gemido.

Oh Deus, a vontade que eu tenho de beijá-lo... é como se todo o resto desaparecesse. E só restasse ele, tão perto...

— Ei, Sarah. — De repente Leo está se aproximando e Nathan dá um passo atrás.

Eu deveria estar aliviada, mas só estou lamentando.

— Tudo bem aí? — Leo toca meu braço, protetor.

— Sim, claro — Forço um sorriso. — Este é Nathan, nós nos conhecemos de Yale — eu os apresento. — Nathan... Leo.

Os dois dão as mãos de forma educada.

Nathan acena e se afasta.

— Vamos pra casa? Estou ficando vermelha, o sol está muito forte — peço e Leo me acompanha.

— Quem é essa gente? Chloe está falando com eles como se fosse realeza! — Leo indaga curioso.

— Eles só são de uma família importante — respondo distraída.

— Estava conversando com aquele Brad e fiquei com a impressão que ele deu em cima de mim?

Eu rio.

— Provavelmente deu. Ele gosta de meninos, se não percebeu.

— Ah, entendi.

Ele fica pensativo.

— Você falando agora, parece que já ouvi este nome em algum lugar.

— Que nome?

— Cole.

— Provavelmente, o pai deles era um senador. Cameron Cole.

— Ah, lembrei! Foi seu pai.

— Meu pai? — Entramos na casa e eu me viro para Leo, sem entender.

— Sim, seu pai contou a minha mãe, quando ela perguntou como ele tinha conseguido o dinheiro para pagar sua faculdade, porque ela estava em dúvida se ia conseguir pagar minha faculdade, mas no fim eu passei uma faculdade barata, como viu. Nada de Evy League pra mim. — Ele ri.

— Não estou entendendo, Leo.

— Parece que o Senador Cameron é conhecido por ajudar estudantes financiando os estudos deles. Seu pai ficou sabendo disto e foi até Nova York pedir ao senador que pagasse sua faculdade.

Estou chocada. Então o dinheiro que vinha pagando minha faculdade era dos Cole. Era da família do Nathan.

Não consigo acreditar.

Por que meu pai nunca me contou isso?

De repente me lembro de Cameron Cole intrigado quando ouviu meu nome. Claro, ele tinha reconhecido provavelmente.

Meu Deus, será que Nathan e os irmãos sabiam disso? Será que é esse o motivo de Caroline não gostar de mim?

Será que ela acha que estou atrás de Nathan pelo dinheiro dele ou algo assim?

— Achei que soubesse — Leo comenta.

— Não, eu não fazia ideia!

Deixo Leo na sala e corro para meu quarto.

Pego o celular e ligo furiosa para meu pai.

— Quando ia me contar que o dinheiro que financia meus estudos vem do ex-senador Cameron Cole? — indago na lata.

— Sarah, se acalme, ok? Isso não é nada demais. Por que está brava?

— Acha que eu gosto de saber que estamos devendo aos Cole?

— Não estamos devendo nada. É uma doação.

— Devia ter me contado.

— Eu sei como você é e não queria que ficasse encucada com isso. O importante é que está estudando. O Senador Cole está muito contente em te ajudar.

— Como foi isso?

— Eu estava desesperado atrás de empréstimo, mas era muito dinheiro, então ouvi dizer que o senador já havia ajudado alguns estudantes e marquei uma reunião com ele. Conversamos longamente sobre você e, claro, fiquei muito orgulhoso de dizer como era inteligente e teria uma carreira incrível se pudesse estudar. Ele ficou contente em poder ajudar. Disse que os filhos dele também estudam lá.

— Inacreditável! Estou estudando às custas de Cameron Cole!

— Não seja orgulhosa, Sarah! Eu quero que você estude na melhor faculdade e pronto! Isso não está aberto à discussão! Agora me deixa ir trabalhar e vai curtir suas férias!

E ele desliga na minha cara.

Ainda continuo ali, sem conseguir acreditar que quem paga minha faculdade é o pai de Nathan.

De todos os caras com quem eu podia me envolver tinha que ter sido justo com ele?


Quando desço, Chloe e Marcus estão voltando animados e acabamos saindo para almoçar na cidade. Ellie e o namorado Carl se juntam a nós.

— Nossa, que surpresa ver os Cole aqui! — Chloe comenta.

— A casa deles é do lado da nossa, acabei de descobrir — Marcus explica.

— Caroline continua nojenta não? Por que ela parece sempre estar de mau humor?

— Os Cole são muito fechados — Marcus diz. — Não conheço ninguém que seja amigo íntimo deles.

— Parecem a máfia. — Carl ri.

— Acredito que são só reservados — Ellie diz.

— São amigos na faculdade? — Leo pergunta curioso.

Não consigo evitar ficar vermelha.

— É como o Marcus falou, eles estão sempre grudados um no outro. A Caroline então parece o cão de guarda do Nathan — Chloe diz.

— Não vi o namorado dela — comento.

— Parece que está com a família em Boston.

Depois do almoço Chloe e Ellie acham uma boa ideia ir fazer compras.

Carl chama os garotos para jogarem golfe, mas Marcus declina e diz que prefere ir fazer compra com a gente. Leo, que obviamente quer fugir da tarde perambulando pelas lojas, aceita o convite.

Entramos em uma loja, Ellie e Chloe parecem no parque de diversão.

Marcus me fita curioso.

— Não parece empolgada.

— E realmente não estou.

— Quer fugir daqui e ir a uma livraria aqui em frente?

Eu brindo Marcus com meu primeiro sorriso genuíno naquele dia e não hesito em pegar sua mão e seguirmos para fora da loja em direção à livraria em frente.

— Do que você gosta? — ele pergunta.

— Dos clássicos.

— Ah, prefiro os modernos. Geração Beat, por exemplo.

— Eu curti “On the Road” — eu o surpreendo.

— Garota, amo você depois dessa. — Ele me abraça e eu rio.

Ele me solta em seguida e pega o celular.

— Mas que merda, Carl esqueceu o celular no restaurante, Vou lá buscar e levar para ele.

— Ah tudo bem. Eu vou ficar aqui mais um pouco e aviso às meninas.

Ele se afasta e quando me viro dou de cara com Nathan.

Caramba, ele está me seguindo ou o quê?

Será que não posso sair à rua que iria encontrar com ele?

— Oi, Sarah. — Ele se aproxima e não parece feliz. — Então o Marcus ganhou?

— Do que está falando?

— Da disputa com Leo. Fiquei com a impressão que eles estavam competindo por sua atenção.

— Não há nenhuma disputa!

— Pois me pareceu o contrário. Não que eu não possa entendê-los.

— Olha, Nathan, por que está falando comigo? Por que não vai fazer sei lá o que, que veio fazer aqui com seus irmãos?

— Por que não posso conversar com você? Seu namorado tem ciúmes?

— Ele não é meu namorado! Mas nem sei por que fico dando explicações a você! Eu posso sair com quem eu quiser, Leo, Marcus, ou quem mais aparecer, não é da sua conta!

— Já transou com algum deles?

Empalideço.

— Por que está fazendo isso? — vocifero, furiosa. — Por que age como se eu devesse alguma explicação para você, sendo que não temos mais nada a ver um com o outro? Você mesmo disse lá na praia que eu não te devo nenhuma satisfação!

— Eu sei o que eu disse. E você está certa. Me desculpe — ele recua.

— Então para de ficar agindo como se... tivesse ciúmes de mim.

— Talvez eu tenha.

Meu coração falha uma batida. O que ele está dizendo? Que está com ciúmes?

— Não tem direito de ter — murmuro, ignorando as batidas erráticas do meu coração. — Ou esqueceu que mandou sua irmã ir no seu lugar me encontrar e nunca respondeu minhas mensagens ou me deu alguma satisfação?

Ele empalidece.

— O quê? Achou que eu não ia jogar isso na sua cara? O quão canalha foi comigo? — Eu mal consigo respirar enquanto despejo tudo o que vinha me engasgando. Que se dane. — Acho que eu merecia um pouco mais do que isso não, Nathan? Um pouco mais de consideração depois de eu deixar a entender que não queria que a gente terminasse e você. — Um nó fecha minha garganta, as lágrimas traiçoeiras queimam em meus olhos.

— Eu sei.

— Sabe? Sabe que eu achei que poderíamos...

— Continuar juntos? — ele completa minha frase.

— Se você não queria, porque me deixou pensar, porque...

— Eu nunca disse que não queria.

Oh Deus, por que ele está fazendo isso comigo?

Por que me encara com todo o pesar do mundo e me diz essas coisas?

Por que me enche de vontade de me agarrar a ele e implorar?

De dizer que podia me rejeitar, mas então que devolvesse meu coração para eu continuar respirando?

— Sarah, eu sinto muito. Mas... foi melhor assim.

— Melhor o quê?

— Nunca poderíamos ficar juntos.

Ouvi-lo dizer aquilo não deveria doer.

Mas doeu.

Acho que havia uma parte de mim que desejava escutá-lo dizer que havia outra explicação para o que aconteceu.

E em nenhum momento ele se desculpou por não ter ido dizer na minha cara isso o que está dizendo agora.

— Nunca? — sussurro num fio de voz. — Por quê?

Antes que ele possa responder, Caroline chama seu nome.

— Nathan, vamos embora.

— Sim, vamos.

Ele se afasta e eu me pergunto quantas vezes mais eu iria permitir que Nathan quebrasse meu coração.


Capítulo 21

 

O peso que eu carrego no meu coração

está me esmagando

Pluto

 

Na tarde seguinte ainda me sinto meio anestesiada depois da discussão com Nathan.

Eu passava minhas horas com Chloe, Leo, Marcus e seus amigos, ria quando precisava e respondia o que me perguntavam, mas minha mente estava muito longe dali.

Por dentro, eu estava gritando.

— Você não sabe da novidade! — Chloe entra na casa quando anoitece muito animada. — Brad vai dar um luau na praia e nos convidou!

Ah não.

— Sério, que legal! — Marcus fica animado.

Eu tento demonstrar a mesma animação, mas sem muito sucesso.

Não quero ter que ver Nathan de novo.

— Não sei se quero ir...

— Claro que vai — Chloe é enfática. — Agora vamos subir e nos arrumar! Amanhã a gente já vai embora e vamos terminar o fim de semana em alto estilo!

Com um suspiro conformado subo para o quarto. Estou terminando de me arrumar quando Leo entra.

— Não parece muito bem hoje. Aconteceu alguma coisa?

— Nada não — desconverso, mas ele segura minha mão.

— Andei me questionando se... Se já pensou no que eu lhe falei.

Olho para nossas mãos unidas e sinto vontade de chorar. Porque agora mais do que nunca sei que não estou preparada para dar aquele passo com Leo.

Ele merece muito mais do que uma pessoa como eu.

— Eu pensei sim e sinto muito, mas não vai rolar.

Seu rosto cai em decepção.

— Eu pensei...

— Acho que devemos continuar apenas amigos. Por favor, entenda. Sei que posso estar te magoando, mas sofreria muito mais se eu ficasse com você e depois tivesse que te contar que não te amo desse jeito.

— Você ainda está com medo.

— Não é só isso...

— É o que então? É o Marcus?

— O quê? Não! Não tenho nada com o Marcus!

— Mas ele está flertando com você.

— Isso não quer dizer que esteja interessada.

— E aí, vamos? — Chloe entra no quarto, interrompendo minha conversa com Leo.

— Sim, vamos. — Ele solta minha mão e sai do quarto, visivelmente abatido.

— Nossa, o que estava rolando aqui?

— Leo quer ficar comigo e eu não posso.

— Ah, entendi. É, já tinha percebido que ele é a fim de você. E por que não fica com ele? É bem gato.

— Você não entende. O que acontece é que antes de eu ir pra faculdade Leo pediu para transar comigo. Nós... nós dois nunca tínhamos transado e ele queria que perdêssemos a virgindade juntos. Só que eu disse não, mesmo tendo uma parte de mim que se sentia atraída por ele. Mas não podia estragar nossa amizade, aí a gente fez um acordo, que se ainda continuássemos virgens quando eu voltasse pra casa, iriamos ficar juntos.

— Nossa, que história! Mas você não estava saindo com um cara...

— Sim, eu fiquei com outro cara, mas ainda não tive coragem de contar ao Leo. E ele, meio que acabou se declarando pra mim e colocando tudo em outra perspectiva. Só que ainda continuo achando que não vai dar certo. Eu o amo como amigo. Não quero estragar tudo.

— Por que estragaria?

— Porque Leo está apaixonado por mim, ou pelo menos acha que está. E se não posso corresponder, não vou iludi-lo.

— Ainda pensa no tal cara que estava saindo?

— Chloe, não quero falar sobre isso, ok? Vamos pra praia?

Corto suas perguntas e seguimos para a praia. A noite está caindo e tem uma fogueira e algumas pessoas sentadas em volta.

Brad Cole está tocando violão e Caroline está ao lado dele.

Nathan está longe dos irmãos, por um milagre, penso.

Seu olhar se prende em mim quando passo por ele com Marcus e Leo. Chloe para e, piscando pra mim, senta ao lado de Nathan.

Tento não me chatear com isso. O que posso fazer? Se Chloe quer dar em cima de Nathan, ela é livre pra isso, porque ele também é livre se quiser ficar com ela.

Marcus nos passa uma cerveja e começo a beber, sentando ao lado dele e de Leo, que continua quieto depois da nossa conversa. E vê-lo abatido me abate também. Marcus me passa outra cerveja e eu bebo. Sei que disse que não ia beber nunca mais, mas hoje eu preciso amortecer um pouquinho tudo o que está me sufocando por dentro.

Estou fazendo um esforço supremo para não olhar para frente e ver Nathan e Chloe conversando, mas é impossível. Ainda mais que quanto mais bêbada fica, mais Chloe começa a falar alto.

— Por que não tem uma namorada? — Ela indaga, jogando o cabelo.

— Por que você não tem um namorado? — Nathan devolve a pergunta.

— Por que você nunca me deu uma chance... — Ela ri.

— Para o Nathan, você tem que oferecer sexo sem compromisso, Chloe. — Eu me vejo dizendo e todos param e olham pra mim.

Ops, eu falei alto?

Bem, que se dane. Já estou de saco cheio de ficar vendo Chloe se humilhando para chamar a atenção de Nathan e, sinceramente, ela merece coisa melhor.

— O que disse, Sarah? — Chloe continua rindo, sem se dar conta da expressão irritada de Nathan.

— Que o precioso Nathan Cole não namora ninguém! Ele gosta de transar sem se envolver, não é Nathan?

— Sarah... — Leo chama minha atenção, mas eu continuo.

— Então se quer ficar com ele, deve oferecer um acordo desses! Sexo sem cobrar nada em troca. Ah, mas fica bem esperta, porque quando ele quiser terminar com você, vai mandar a irmã no lugar!

Agora sim o silêncio é sepulcral, quando Brad para de tocar.

Todos olham de mim para Nathan.

— Acho que você já bebeu demais, não Sarah? — É Caroline quem fala, com sua voz autoritária.

— Vai se foder você! Fica defendendo seu irmão canalha e...

— Sarah, pare. — É Nathan quem diz agora, perigosamente baixo.

— Espera... Era o Nathan o cara com quem estava transando? — Chloe finalmente entende e engulo em seco, começando a me dar conta das implicações do meu desabafo.

— Sarah? — Leo toca meu braço com um olhar confuso. — O que está acontecendo?

— Ah, acho que agora entendi tudo! — Chloe se levanta furiosa. — Você estava transando o tempo inteiro com Nathan e não me contou nada! Que falsa você é, Sarah!

Ela sai correndo e eu me levanto, correndo atrás dela.

— Chloe, espera. — Seguro seu braço antes que ela entre na casa.

Ela se solta, nervosa.

— Achei que fôssemos amigas!

— Nós somos...

— Não! Você estava o tempo inteiro com Nathan Cole e não foi capaz de me dizer nada!

— Eu não queria que ninguém soubesse... tínhamos um acordo... Você não ia entender... Era algo privado, entre mim e Nathan. E no fim não era nada, era só sexo e acabou!

— Você é muito vadia isso sim! Se fazendo de santa quando estava trepando com Nathan e depois ainda me deixou pensar que podia ficar com ele e continuou se fazendo de tonta! Meu Deus, que raiva! Você é muito falsa, Sarah!

Leo entra em casa, alarmado.

— Sarah, o que diabos está rolando? Está todo mundo comentando que você está com aquele tal Nathan...

Oh Deus.

— É verdade? Você transou com aquele cara? — Leo insiste.

— Claro que é verdade! — Chloe grita. — Ela deve ter te enganado direitinho como me enganou também! Faz meses que ela está trepando com Nathan Cole! E escondeu de você, te iludiu para que achasse que ainda era virgem e você ficasse esperando por ela, como um idiota!

— Chloe, não foi assim...

— Não fala mais comigo! — Ela se afasta correndo e só resta eu e Leo.

Ele está me encarando chocado.

— É verdade?

— Sim — sussurro. — Não era para ter descoberto deste jeito...

— Porque nunca me disse... me fez pensar...

— Eu sei que devia ter contado...

— Eu achei que fosse diferente... Achei que sentisse o mesmo... Que a gente...

— Eu te falei que não me sentia assim.

— Eu fiquei te esperando, quando você estava transando com outro cara!

— Leo...

— E teve todas as oportunidades para me contar e ficou calada! Por que fez isso, Sarah?

— Eu não queria magoar você...

Não quero dizer a Leo que os motivos que me fizeram pedir a Nathan que transasse comigo foi justamente ele.

Porque agora tudo parece tão tolo e sem sentido.

Foram tantos erros para me preservar e no fim está mais horrível do que eu podia imaginar.

— Não me magoar ou a você mesma?

— Não seja injusto!

— Injusto? Eu? Você mentiu o tempo todo, parece que nem te conheço mais! Estava transando com aquele cara, me fazendo acreditar que ainda era virgem...

— Se trata disso? Não sou mais uma pessoa legal porque não sou mais virgem?

— Você deixou de ser legal quando começou a mentir e a ser egoísta! — Ele se afasta, mas ainda seguro seu braço.

— Leo, por favor...

— Não consigo olhar para você agora, Sarah.

Ele sobe as escadas, me deixando para trás.

— Sarah, tudo bem? — Marcus entra na casa.

— Me deixa em paz, Marcus... — Subo as escadas e me tranco no quarto, me jogando na cama e deixando as lágrimas inundarem o travesseiro.

Quando foi que tudo começou a ruir?

Quando não aceitei transar com Leo naquele dia na praia? Quando decidi que ia perder a virgindade com Nathan?

Quando me apaixonei por ele sem nem sentir e depois menti para Chloe e menti para Leo?

E no fim, Leo tem razão, eu menti para me preservar.

Eu não queria que ele se decepcionasse comigo. Porque no fundo eu sabia que não tinha tomado as melhores decisões.

E talvez meu castigo fosse este. Apaixonar-me por um cara que não me queria e ainda perder meus melhores amigos.

Nunca me senti tão sozinha na vida.


Devo ter adormecido de tanto chorar, pois quando acordo, a casa está em silêncio. Olho as horas no relógio e percebo que só se passou umas duas horas.

Levanto-me, me sentindo mal ainda, mas um pouco mais calma.

E me pergunto se Leo também se acalmou. Se ele aceitaria conversar comigo e ouvir o que tenho a dizer. Se tem alguma chance de ele me perdoar.

Com isso em mente, saio do quarto e bato na sua porta.

— Leo?

Como ele não responde, abro a porta e então paraliso com o que vejo.

Leo está dormindo na cama com Chloe. Eles estão nus embaixo do lençol.

E está bem claro que eles transaram.


Capítulo 22

 

Eu quero te amar, mas não sei como

Neptune

 

Devo ter feito algum barulho, pois eles despertam e olham em minha direção.

— Vocês transaram? — indago ainda em choque.

Leo, senta, atordoado.

Chloe ri.

— O que foi? Só você pode transar? Já estava na hora de o Leo parar de ser trouxa e ficar esperando você!

— Sarah... — Leo passa a mão no cabelo, parece atordoado.

— Não acredito que vocês... — Eu não sei o que pensar ou o que sentir. Imaginar Chloe e Leo juntos ainda é um baque pra mim.

— O quê? Está chocada? Por que tirei o cabaço do seu amigo?

— É disso que se trata Chloe? Estava com raiva de mim e por isso seduz Leo?

E de repente estou preocupada com Leo.

Ele é um cara legal e não sei o que o levou a transar com Chloe ou talvez eu saiba e não gosto de pensar que ficou com ela apenas porque estava com raiva de mim. Leo merece mais do que isso.

— Não pode brincar com ele, Chloe, como faz com todo mundo.

— Não sou você!

— Está sendo tão injusta!

— Sai daqui! — Chloe aponta para a porta.

Eu olho para Leo.

— Leo, acho que a gente devia conversar.

— O quê? Só você pode transar sem compromisso? Chloe tem razão, eu fiquei te esperando porque sou um idiota.

Ah, aquilo dói.

E percebo que realmente não tenho mais nada pra fazer ali.

Saio do quarto e desço as escadas, as lágrimas caindo de novo.

Corro para fora e então eu o vejo.

Nathan está parado na praia. Exatamente em frente à casa de Marcus.

Como se tivesse me esperando?

Sem pensar eu corro em sua direção e o empurro.

— É tudo culpa sua!

— Sarah, pare... — Ele tenta me segurar, mas continuo o esmurrando, enquanto deixo toda a raiva e frustração me consumir, até que não reste mais força e meus movimentos vão ficando falhos e vacilantes e Nathan finalmente consegue me segurar.

Respiro por arquejos, enquanto sinto seus braços antes tão familiares, me rodearem e sua voz sussurrando meu nome num tom calmante.

Fecho os olhos e deixo que aquele som entre em mim, como entrou tantas vezes antes e meu corpo relaxe pouco a pouco, assim como meu coração, que desacelera.

— Está tudo bem — Nathan diz em meu ouvido e eu soluço, porque não está.

A impressão que tenho é que nada mais será o mesmo.

E sem que perceba como, estamos deitados sobre a areia, contemplando o céu em silêncio.

— Leo me odeia — sussurro depois de um tempo.

— Ele não te odeia, ele ama você.

— Ele me odeia, porque eu escondi dele que fiquei com você.

— Ele vai te perdoar.

— Ele transou com a Chloe.

Nathan me encara.

— Você ficou com ciúme.

— Acho que fiquei — confesso. — Isso faz de mim uma pessoa horrível?

— Não. Apenas humana.

— Por que eu tive que complicar tudo?

— Você o ama?

Sério que Nathan está me perguntando aquilo?

Ele ainda não tinha entendido nada?

— Leo pediu para transar comigo no meu último dia em Mystic. E eu me senti atraída por ele, mas não podia arriscar nossa amizade. Acabamos fazendo um trato, que se ainda fôssemos virgens quando eu voltasse no verão, nós ficaríamos juntos. Mas enquanto o tempo ia passando e eu percebi que Leo gostava de mim mais do que um amigo podia gostar, fiquei com medo...

— Por isso aquela proposta. — Nathan finalmente entende.

— Sim. Eu decidi que ia perder a virgindade com qualquer um. — Solto um riso sem humor. — Queria que tivesse sido qualquer um — completo baixinho.

Nathan não fala nada. E eu sei que ele sabe o que eu quis dizer.

Seu olhar mergulha no meu, límpido e tão cheio de palavras não ditas.

Meu coração se inquieta no peito. Falhando, batendo, sofrendo. É tanto sentimento junto que me sinto sufocar.

Por que tinha que ser assim? Porque uma parte de mim acha muito certo eu estar com ele, aquela pequena parte insensata, que cruzou o olhar com o dele um dia e ousou pensar que podia ser ele. Que tinha que ser ele. A mesma que entrou naquele banheiro e não teve a menor vergonha de pedir algo que posso confessar agora, eu já queria. Desde que ele deixou aquelas marcas em minha pele, sob as estrelas, me impedindo de cair.

E tudo mudou irreversivelmente.

Agora não tenho mais para onde fugir. E não porque estamos na mesma cidade, mas porque ele está em mim.

Eu criei uma confusão em todo aquele tempo e podia lamentar muitas das minhas decisões. Só não conseguia mais lamentar ter conhecido Nathan e ter ficado com ele.

Sem pensar, eu me viro e o beijo sob as estrelas.

Seus dedos então se infiltrando em meu cabelo no momento seguinte, os lábios saudosos sobre os meus e sinto como se tudo tivesse voltado ao lugar de novo.

Será que ele não sente como somos perfeitos juntos?

Como ele tem o poder de fazer tudo desaparecer?

— Não pare — sussurro quando o beijo termina.

Mantenho minha mão em seu rosto, respirando sua presença.

— Eu não deveria estar aqui.

Quero perguntar por que ele parece sempre estar fugindo, se afastando, quando tudo o que eu quero é que ele esteja cada vez mais perto.

— Então por que está?

— Porque eu sinto a sua falta.

Fecho os olhos, bebendo suas palavras, deixando que elas entrem em mim como uma carícia.

— Então fica comigo...

Ele abre os olhos, e vejo hesitação. Mas também vejo anseio. E me apego a isso.

— Por favor, Nathan...

— Acho que vou me arrepender disso depois. — São suas últimas palavras antes de finalmente me beijar.

E no minuto seguinte, ele está se levantando e me puxando em direção à casa vizinha de Marcus. Eu não vejo nada a minha volta, quando sigo Nathan, até que estamos em um quarto.

E juro que quero saber por que teria que ter algum arrependimento, se é o que nós dois queremos. Se é tão certo quando suas mãos finalmente estão em mim, retirando minhas roupas, tocando minha pele, causando uma bagunça em meus sentidos.

Mas não há mais necessidade de palavras a não serem aquelas sussurradas dentro do meu ouvido, quando sinto seu bem-vindo peso sobre mim, seus lábios deslizando, explorando, sua respiração em meus seios, sua língua em meu umbigo. Fecho os olhos, perdida em sensações, o puxando para mim, querendo-o sentir por inteiro, o gosto de sua pele em minha língua, seu gemido em meu ouvido.

Deus, como senti falta do seu cheiro, da textura da sua pele, da sua voz. Como senti falta dele dentro de mim.

Por que sinto que há algo tão emocional nesta noite? O jeito que ele se move, seus olhos me sondando, seus dedos retirando delicadamente os fios de cabelo do meu rosto suado.

— Está devagar? — sussurra contra minha boca.

— Não, continua assim. — Não quero que acabe. Quero fazer aquela sensação ficar no meu corpo o maior tempo possível... Eu quero que dure para sempre.

Mas o prazer é efêmero. E cresce, fazendo redemoinhos dentro de mim, me arrastando, me engolfando até explodir num gozo perfeito e sussurro seu nome na noite escura, sentindo uma vontade imensa de chorar, meus braços o prendem forte, enquanto ele geme em seu próprio gozo.

E quando acaba não o deixo se mover.

— Não, não sai, fica. — Fica pra sempre, quero pedir, sentindo as batidas do seu coração voltando ao normal no mesmo ritmo que o meu. Eu ainda não estou preparada para vê-lo se afastar de novo.

E o pior é que não vou estar nunca.


Quando acordo no dia seguinte, me sinto confusa. Abro os olhos e me lembro dos acontecimentos da noite anterior.

O luau. Meu desabafo. A briga com Leo e Chloe. O flagra deles juntos. E Nathan.

Sento-me na cama, deixando meu olhar vagar em volta do quarto estranho, iluminado agora pela luz da manhã.

— Nathan — chamo no silêncio.

Eu me levanto e pego uma camiseta no chão, a vestindo. Vou para uma porta que deve ser o banheiro e encontro Nathan lá.

Ele está de costas, vestindo apenas uma calça de pijama, as mãos apoiadas na pia. Nossos olhares se encontram através do espelho.

Posso sentir a tensão em seus ombros.

— Nathan? — eu o chamo novamente, indo a sua direção.

Só que ele está muito sério quando chego perto e finalmente se vira.

— Vamos falar sobre o que aconteceu? — peço insegura.

Quero abraçá-lo e me certificar que a noite passada não foi fruto da minha imaginação.

— Não deveria ter acontecido.

Meu coração afundou no peito.

— Por quê? Você queria. Eu queria. A gente podia... — Começar de novo, quero dizer.

— Sarah, precisa ir embora. Nada mudou...

— E se eu não quiser ir? — eu o interrompo em um só fôlego. Que se dane o resto. Estou quase louca desde que o conheci. Eu preciso dele.

— Não sabe o que está pedindo.

— Eu te amo. — As palavras escapam dos meus lábios, sem que eu consiga contê-las e sei que elas estão ali faz tempo.

Não era só sexo, só atração.

Eu tinha me apaixonado por Nathan e não sei mais o que fazer com esse sentimento.

E fico ali, esperando sua resposta com o coração disparado no peito.

— Não era para se apaixonar por mim — ele responde por fim.

É como um murro no meu estômago. Talvez se Nathan me agredisse fisicamente não tivesse doído tanto.

— Eu sei — murmuro — Eu sei que tínhamos um acordo, eu sei que... mas ontem à noite...

— Ontem à noite não devia ter acontecido — repete.

— Então por que aconteceu? Eu não consigo te entender, Nathan. Por mais que tente, eu não sei quem você é! Eu nunca soube o que viu em mim, porque aceitou minha proposta absurda, porque insistiu que deveríamos ficar juntos dois meses...

— Você concordou. Nenhum compromisso...

— Só sexo.

— Eu sinto muito, Sarah. Eu nunca deveria ter me aproximado de você. — Sua voz vacila e ele se vira, apoiando as mãos na pia de novo.

Ele está escondendo algo. Posso sentir.

Ele está fugindo e eu não entendo por quê.

— Porque está fugindo, sendo que eu sei que sente alguma coisa...

— Eu não sinto...

— Para de mentir!

Ele fecha os olhos.

— Sarah, vai embora.

— Se eu sair por aquele porta, Nathan, acabou. Não vou mais ficar me humilhando pedindo pra você admitir que gosta de mim.

Ele não fala nada e respira fundo. Posso sentir a tensão em seus ombros.

— Ok, eu vou embora.

Eu me viro e saio do banheiro e começo a caçar minha roupa pelo quarto, mas as lágrimas me cegam.

Escuto um barulho vindo do banheiro que me assusta. Como algo caindo.

— Nathan?

Apenas o silêncio.

Caminho até lá e paro em choque ao ver Nathan caído no chão do banheiro, desmaiado.


Capítulo 23

 

Houve um terremoto.

Houve uma avalanche de mudanças.

Ficamos com tanto medo,

Choramos um furacão.

Earth

 

— Nathan. — Eu me assusto e vou até ele, ajoelhando e tocando seu rosto pálido. — Nathan!

Meus gritos devem ter alertado Caroline e Brad que surgem no banheiro e me afastam.

— O que... o que aconteceu... — murmuro atordoada, enquanto Brad segura Nathan e Carolina fala rápido ao telefone, chamando a emergência.

— Sarah, volte pra casa — Caroline diz ao desligar.

— Mas... Ele está bem? Eu estava no quarto, nós discutimos e ele caiu, eu...

— Os paramédicos estão vindo. Melhor ir embora. Nós cuidamos do Nathan.

— Eu não quero ir!

Caroline está ajoelhada ao lado de Nathan agora, e Brad se levanta e segura meu braço, me guiando para fora.

— É melhor que se acalme, Sarah.

— O que aconteceu com o Nathan? Por que ele desmaiou?

— Eu juro que converso com você depois.

Nós estamos saindo da casa e ouvimos a sirene se aproximando.

Com o barulho, Marcus, Chloe e Leo saem da casa ao lado.

— O que aconteceu? — Marcus pergunta se aproximando com Leo, que me encara preocupado.

— Sarah, você está bem?

— Fiquem com ela — Brad pede me soltando e Leo me segura.

— Você está tremendo.

Os paramédicos entram na casa e um tempo depois saem carregando Nathan em uma maca.

Meu coração se aperta.

Caroline segue na ambulância e Brad entra em um carro e sai atrás até que o silêncio volta a reinar.

Leo me leva para dentro.

Chloe coloca um copo de água na minha mão.

— O que diabos aconteceu? — Marcus pergunta.

— Eu não sei... Uma hora estávamos discutindo e na outra... ele estava desmaiado... — Começo a tremer de novo, me lembrando do susto e sinto vontade de vomitar.

Levanto-me e corro para o banheiro, vomitando.

Quando levanto a cabeça. Leo está ali, me ajudando a levantar.

Ele limpa meu rosto e me faz sentar na cama.

— Ainda está com raiva de mim?

— Eu queria estar. — Ele sorri tristemente.

Olho para nossas mãos unidas.

— Desculpa por ontem — diz. — Eu fiquei chateado por não ter me contado. Fiquei com ciúme também.

— Acho que sou eu que tenho que pedir desculpa.

— O que acha que aconteceu com o Nathan?

— Eu não sei...

— Você dormiu com ele?

— Sim — respondo simplesmente. — Estou apaixonada por ele, Leo. Acho que devia ter te contado há mais tempo. Não devia ter escondido nada de você.

— Devia ter me contado sim.

— Quer falar sobre o que aconteceu com Chloe?

— Não. Se importa?

— Tudo bem.

— Chloe disse que devemos nos arrumar para ir embora.

— Tudo bem.

Ele se afasta para arrumar as próprias coisas e eu me ocupo em fazer a minha mala.

Nós descemos e Chloe já está lá.

— O Marcus disse que o Brad acabou de entrar na casa e está arrumando as coisas deles para voltarem a Nova York. Disse que o Nathan foi transferido para lá.

— Transferido, então é algo sério que fez ele desmaiar? — Leo externa meu medo.

— Parece que sim.

— Eu vou até lá falar com ele.

Corro para a casa dos Cole e encontro Brad colocando as malas no carro.

Vagamente vejo que Chloe e Leo estão me seguindo.

— Brad?

— Este ainda é meu nome — ele diz sem humor.

— O que aconteceu com o Nathan. Ele está bem?

— Não, não está.

— O que aconteceu?

— Não sei se estou autorizado a falar.

— Para com isso, Brad! Ele caiu na frente dela e ainda está hospitalizado — Leo diz.

— É isso aí, a Sarah tem que saber o que aconteceu! — Chloe endossa.

Brad respira fundo.

— Ok, acho que tem razão. Já chega disso... quer vir comigo?

— Agora?

— Sim, estou indo para Nova York.

— Tudo bem. — Eu me viro para Leo e Chloe.

— Eu preciso ir com ele, Leo. Se quiser voltar para Mystic...

— Leo pode ir comigo para minha casa — Chloe diz. Ela ainda está séria comigo, mas pelo menos não está mais gritando. — E você pode ficar lá, se quiser, enquanto Nathan... Enfim, sei lá o que está acontecendo.

— Obrigada — murmuro, agradecida.

E entro no carro com Brad.

Seguimos em silêncio por um tempo.

— Nathan está bem? — pergunto sem me conter.

— Caroline disse que sim — ele responde, mas não parece feliz.

— Nathan disse que eu tinha que ir embora. A gente estava brigando e...

— Nunca vi o Nathan tão bem quanto quando estava com você.

Eu me surpreendo com suas palavras.

— Então por que ele me deu o fora?

— Nathan tem suas razões, mas eu sempre achei que você deveria saber e escolher.

— Saber o quê?

Brad não responde.

— Brad, por que Nathan está num hospital? — Algo começa a zunir no meu ouvido.

Brad se vira e me encara quando estaciona em frente ao prédio do hospital. Um medo terrível gela meus ossos.

— Sarah, Nathan tem leucemia.


Capítulo 24

 

Eu daria qualquer coisa para ouvir

Você dizer mais uma vez

Que o universo foi feito

Só para ser visto pelos meus olhos

Saturn

 

Eu certamente não ouvi direito. Não é possível.

— O que disse? — murmuro, meu coração para de bater esperando a resposta.

— Nathan está doente. — A voz de Brad se alquebra e me obrigo a respirar, enquanto saímos do carro.

Ele segura minha mão e me guia para dentro. Vejo tudo como um borrão, enquanto passamos pelos corredores, entramos no elevador e depois seguimos em frente.

Paramos em frente a uma porta. Hesito com medo de entrar, quando Brad abre a porta e faz sinal para eu passar.

Obrigo minhas pernas, agora fracas, a darem mais um passo e entrar.

Para ver Nathan muito pálido sobre os lençóis.

Ele está doente. Leucemia.

Fecho os olhos com força. Tentando fazer o zunido no meu ouvido passar, o mundo parar de girar. A dor no meu peito parar de sufocar, mas não estou conseguindo nem respirar direito. Tantas perguntas e dúvidas rodando minha mente.

— Há quanto tempo?... — murmuro por fim.

— Anos. Três anos.

— Não sei muito sobre essa doença horrível, mas achava que era rápida em... — Não consigo concluir o pensamento.

— Existem dois tipos de leucemia. A que... — Ele respira fundo. — A que se desenvolve rápido e precisa de quimioterapia é a aguda. Nathan tem Leucemia Crônica. A pessoa convive com a doença por anos, controlando com remédios.

— Tem cura?

— Não tem cura. Apenas se for realizado um transplante de medula.

— Então ele sempre soube que... — Não conseguia terminar.

— Sim. Ele sempre soube que podia morrer — completa num fio de voz.

Meu coração se afunda um pouco mais no peito e me aproximo da cama.

A minha mente agora voltando ao que eu sabia sobre Nathan Cole. Tudo finalmente fazendo um assustador sentido.

Chloe dizendo que Nathan nunca saía com ninguém. Era esse o motivo? Por isso que aceitou ficar comigo. Sem compromisso. Sem sentimentos. Sem envolvimento. Apenas dois meses. E depois o fim.

Agora posso entender tanta coisa. Às vezes que ele faltava na faculdade. O humor inconstante dos irmãos. A superproteção. Ele dizendo que nunca poderíamos ficar juntos... Nathan não pode me amar. Porque ele vai morrer. O nó rompe em minha garganta e aperto os lábios com força para não soluçar. Estendo a mão e seguro as suas. Estão frias.

Não sei quanto tempo fico ali. Não há mais nada dentro de mim a não ser tristeza. Nathan tinha razão. Nunca deveria ter se aproximado de mim.

No entanto, ele quis apenas alguém que garantisse que não iria cobrar nada dele depois.

Mas eu menti. Eu me apaixonei por ele.

E não tenho mais como mudar isso. Nem com o que eu sei agora.

Ele se mexe de repente e eu solto sua mão, um pouco assustada e dou um passo atrás. Nathan abre os olhos e me vê. Primeiro incrédulos, confusos e depois surpresos.

— Sarah?

Aquela voz. Perfeita. Em meus ouvidos. Era como juntar vários pedacinhos quebrados dentro de mim.

— Oi, Nathan — consigo dizer sem começar a chorar loucamente. Contendo a vontade de sacudi-lo e perguntar por que ele não me contou que estava doente.

— O que está fazendo aqui? — Sua voz está fria agora. — Não era para estar aqui.

— Nathan. — Brad se aproxima e ele o encara com raiva.

— Foi você?

— Ela tinha o direito de saber!

— Você que não tinha este direito!

— Eu quis apenas ajudar!

— Ei, não precisam brigar — peço — Nathan, sim Brad me contou. Não precisa ficar bravo com ele. Mas você desmaiou! Fiquei tão preocupada sem saber de nada e Brad me trouxe para cá.

— Não era para você saber. Eu fiz tudo para você não saber.

— Mas agora eu sei. Por que não me contou?

— Não tinha por que você saber.

Eu esboço um sorrio triste.

— Claro, era sexo, não é? Que direitos eu tinha? Mas depois tudo mudou, e poderia ter me contado...

— Eu sinto muito que tenha se envolvido nisso. Brad não tinha o direito de se intrometer e contar para você. Eu quis apenas poupá-la. Não era para estar aqui.

— Mas eu quero estar, eu...

— Acho melhor ir embora.

— Eu não quero ir.

— Sarah, eu estou pedindo que vá embora. E não volte.

Meu coração ameaça se quebrar pela segunda vez naquele dia. Nathan está me expulsando da sua vida de novo.

— Brad tinha razão de me contar. Eu tenho o direito de escolher se quero ficar ou não.

— Mas eu não quero que fique.

Mordo os lábios com força para não chorar.

— Nathan, para de ser teimoso — Brad se intromete. — Eu sei que no fundo você não está falando sério...

— O que está acontecendo aqui?

Uma médica entra no quarto e vai para perto de Nathan. Caroline está com ela.

— Sarah, essa é a Dra. Lucy Fox. Médica do Nathan. — Brad diz.

A médica verifica os sinais de Nathan.

— Acho melhor vocês irem embora. Nathan precisa descansar.

— Era o que eu estava pedindo para eles — Nathan diz, sem me encarar.

Brad dá de ombros e segura meu braço.

— Vamos, Sarah.

Eu ainda olho uma última vez para Nathan. Caroline se posiciona ao seu lado, protetoramente.

Agora eu entendo suas atitudes.

— Me desculpe — Brad fala quando já estamos no carro. — Eu achei que Nathan ia ficar aliviado de finalmente você saber.

— Tudo bem.

Eu ainda estou em choque. Nathan está doente. Uma doença incurável. E não me quer por perto. Eu não sei o que é pior.

— Onde estão seus pais?

— Eles estavam viajando, mas já estão voltando.

— Pode me levar na casa de Chloe?

— Claro, me diz o endereço.

Brad me deixa em frente ao prédio de Chloe.

— Eu vou conversar com Nathan. Acho que...

— Nathan não me quer por perto. Não quero que fique nervoso por minha culpa. Ele precisa ficar bem.

— Não concordo com o Nathan. Nunca concordei. Eu falei sério quando disse que você fazia bem a ele.

— Mas ouviu o que ele disse...

— Ele não quer que você sofra. É só isso. Nathan sempre foi assim. Sempre tentando poupar todo mundo.

— Agora entendo algumas coisas, mas não torna nada mais fácil.

— Eu sei. Mesmo assim, eu vou tentar convencê-lo.

— Obrigada, Brad. — Saio do carro depois de ele me passar seu número de telefone e corro para dentro.

Quando entro na casa de Chloe, ela e Leo estão na sala me esperando.

— Sarah, o que aconteceu? — Leo indaga.

— O Nathan tem leucemia. — Consigo dizer antes de começar a chorar.

E me surpreendo quando Leo e Chloe vêm até mim e me abraçam.


***


Eu explico o pouco que sei a Leo e Chloe e eles me fazem comer e tomar um calmante.

Quando acordo, Chloe está ali ao meu lado.

— Oi, está bem?

— Não sei. Cadê o Leo?

— Está no quarto de hóspede. Ainda está bem cedo.

— Obrigada por deixar a gente ficar aqui.

— Eu queria te pedir desculpas. — Ela dá de ombros. — Acho que fui um pouco exagerada.

— Não. Acho que tinha razão. Eu fui uma péssima amiga.

— É, foi mesmo. — Ela ri e me abraça. — Mas tinha o direito de guardar seus segredos para você. Porém, se quiser me contar agora...

— Tudo bem, eu vou contar. — E conto a ela toda a minha história com Nathan.

— O Leo sabe disso? Que se envolveu com o Nathan por causa dele?

— Não sei se quero contar isso a ele. Nem sei se faz diferença agora.

— Se eu soubesse que estava com o Nathan, jamais tinha flertado com ele.

— Eu sei.

— Espero que me perdoe por ter ficado com o Leo também.

— Acho que isso é entre vocês. Leo é apenas meu amigo. Eu só não achei legal que tenham ficado porque estavam com raiva.

— A gente estava mesmo com raiva. — Ela sorri culpada. — E eu chamei ele pra ficar bêbado, porque você sabe, o álcool ajuda a esquecer. E uma coisa levou à outra...

— Eu sei que pra você isso é normal, mas para o Leo não. Só fico com medo que ele se machuque.

— Sarah, não quero machucar ninguém! E o Leo não é criança. Ele é um cara que precisa parar de achar que você é uma santa e curtir a vida.

— Acho que fiquei com ciúme.

— Claro que ficou! Ele sempre te colocou acima de tudo.

— Tem razão. Leo precisa seguir a vida dele. Ele me chamou de egoísta e eu fui exatamente isso mesmo. No fim, fiz uma bagunça.

— E o Nathan? É mesmo muito grave?

— É sim.

— E por isso ele não quer ficar com você?

— É um direito dele, pedir que eu fique longe. Mas como eu posso simplesmente virar as costas agora? Sabendo que ele está tão doente? Foi horrível vê-lo daquele jeito. Todo o tempo que ficamos juntos eu sabia que tinha alguma errada, mas nunca imaginei que fosse algo assim. É tão injusto.

— Eu sei.


— Como você está? — Leo pergunta quando nos encontramos para tomar café.

Os pais de Chloe já saíram para trabalhar, o que é um alívio.

— Estou tentando ficar bem.

— Eu sinto muito, branquela.

— Obrigada por ter ficado comigo.

— O que mais eu podia fazer? Sempre vai poder contar comigo.

— Eu sei.

— Minha mãe quer que eu volte hoje para Mystic. Ela está organizando nossa viagem à Califórnia. Para a faculdade. Você vai comigo?

— Não. Eu quero ficar.

— Não quero deixá-la sozinha...

— Leo, tem que ir. É sua vida. Eu vou ficar bem.

— Pode ir tranquilo, Leo. A Sarah pode ficar comigo aqui em casa. E a nossa aula começa na próxima semana, podemos ir juntas.

— O que eu falo para seus pais?

— Não conta nada ainda. Eles ficarão surtados e preocupados. Deixa que assim que eu estiver melhor ligo e explico. Apenas diga que vou ficar com a Chloe essa semana.

— Tudo bem.


Leo parte naquela tarde e eu mando uma mensagem para Brad.

Ele responde que Nathan está estável, mas que ainda está irredutível em me ver.

Eu tento não ficar mal com isso. Os dias passam e vou ficando cada vez mais impaciente. Brad continua dizendo que Nathan não quer me ver.

— Pronta para voltar à faculdade?

Chloe pergunta na tarde de sexta e nós combinamos de voltar na manhã seguinte a New Haven.

— Eu quero ver Nathan — decido.

Minha última mensagem para Brad tinha sido na tarde anterior.

— Sei que ele não quer me ver, mas não me importo.

— Certo. Eu vou com você então — Chloe diz decidida.

— Não. Eu posso ir sozinha.

— Tem certeza?

— Sim, vai ser melhor.


Meu coração está apertado enquanto o elevador sobe até o quarto de Nathan. Pergunto-me se ele vai ficar bravo em me ver ou se vai concordar em me ouvir. Não quero deixá-lo irritado, mas preciso ao menos saber se está bem. As portas se abrem e caminho até o quarto onde ele está e respiro fundo ao abrir a porta.

O quarto está vazio.


Capítulo 25


Então eu remendei

Cada vazamento que eu pude

Até a culpa se tornar muito pesada

Neptune

 

Onde está Nathan? Por que o quarto está vazio? Não consigo respirar, possibilidades terríveis passando pela minha mente. Tenho que encontrar alguém e perguntar. Nathan tem que estar em algum lugar! Eu me viro e me deparo com Brad.

— Sarah!

— Onde está o Nathan?

— Em casa. Ele teve alta.

Eu respiro aliviada.

— Eu vim buscar uma receita com a médica dele.

Agora me sinto meio decepcionada. Eu não veria Nathan.

— Veio ver o Nathan, não é?

— Sim, mas... Deixa para lá. Eu estou indo para New Haven amanhã. Sei que Nathan não quer me ver, mas eu precisava muito vê-lo.

— Pode vir pra minha casa comigo. Na verdade eu tenho uma boa ideia! Hoje é aniversário de casamento dos meus pais e estamos fazendo um jantar. Você vai ser minha convidada.

— Não é uma boa ideia...

— Está preocupada com o que o Nathan vai falar? O problema é dele! É minha convidada.

Eu sei que não deveria aceitar, mas ao mesmo tempo, poderia ver Nathan de novo.

— Tudo bem, eu vou.

Brad abre um sorriso.

— Vem, vamos procurar a médica e depois vamos para casa!

— Nathan está melhor agora, não é?

— Sim, ele está. Só não sabemos até quando.


Passo um recado para Chloe dizendo que estou indo para a casa dos Cole com Brad e seguimos.

Estou muito apreensiva quando entro de novo no apartamento dos Cole.

— Finalmente. — É Tyler, o namorado de Caroline quem abre a porta assim que chegamos.— Oh... Por essa eu não esperava — ele comenta quando me vê.

— Não faça essa cara idiota, Tyler! — Brad ri. — Já conhece a Sarah, então não preciso apresentar.

— Brad chegou? — Escuto a voz de Caroline no corredor e Tyler assovia.

— Isso vai ser interessante.

Caroline entra na sala e me vê.

— O que ela está fazendo aqui?

— Ela tem nome, é Sarah James — Brad diz.

— Eu sei o nome dela. Quero saber o que ela está fazendo aqui.

— É minha convidada para o jantar, qual o problema?

— Você enlouqueceu? — Caroline parece consternada. — Sabe que o Nathan...

— Nathan não mora sozinho e eu posso convidar quem eu quiser!

— Não se faça de desentendido! Você quer confusão, não é?

— Amor, não seja exagerada. — Tyler toca o ombro de Caroline, mas ela se desvencilha.

— Ei, o que está acontecendo aqui? — Os pais de Nathan apareceram. — Por que está gritando, Caroline?

— Brad está aprontando das suas!

Os Cole notam minha presença. Eu me pergunto até onde eles sabem sobre Nathan e eu. E estou morrendo de vergonha. Não deveria ter aceitado o convite de Brad.

— Sarah James, como vai? — O Sr. Cole parece se recuperar rápido da surpresa. — Acho que lembra da minha esposa, Natalie.

A mulher sorri e se aproxima, me abraçando.

— Olá, querida. Que bom que está aqui.

— Me desculpe, eu não queria causar confusão, acho que não deveria ter vindo — murmuro envergonhada.

— Para com isso, Sarah. Eu te convidei para o jantar — Brad insiste e se volta para os pais.

— Sim, é muito bem-vinda, claro — a Sra. Cole concorda, mas não passa despercebido a mim o olhar preocupado que ela troca com o marido.

— Sr. Cole, Sra. Cole, eu...

— Por favor, nos chame de Cameron e Natalie — A mãe de Nathan diz. — Nada de formalidades aqui.

Eu fico mais vermelha ainda.

— E cadê o Nathan? — Brad indaga.

— Saiu para buscar algumas coisas que eu precisava para o jantar — Natalie falou.

— Sozinho? — Brad parece preocupado.

— Ele está bem. E precisava fazer alguma coisa sozinho, antes que nós o enlouquecêssemos — Cameron responde bem-humorado, o que me deixa mais calma. Se Nathan já estava fazendo coisas sozinho, devia está bem.

— Fique à vontade, Sarah. Quer beber alguma coisa? Acabei de fazer um chocolate quente. — Ela me guia para a cozinha, me servindo o chocolate. — Não ligue para Caroline, ela é meio temperamental.

— Talvez ela tenha razão, não quero... Causar nenhum transtorno...

— Não se preocupe com isso. Eu sei que aceitou o convite, porque está preocupada com o Nathan.

— Então vocês sabem sobre...

— Nathan e você? Sabemos sim. Nathan não queria que soubéssemos, mas Caroline nos contou, quando eu e Cameron pegamos ela e Nathan discutindo, depois da festa beneficente.

— Eu tinha marcado um encontro com Nathan. Ele não foi.

— Ele passou mal naquela noite.

— Caroline podia ter me contado. Acho que teria sido mais fácil.

— Nathan pediu que ela ligasse pra você, mas que não contasse. Eu sei que ela foi pessoalmente.

— Ela falou que era para esquecer o Nathan, porque eu iria sofrer. Acho que tinha razão. Eu só queria ter sabido antes.

— Sei que deve estar pensando que Caroline é uma intrometida, e talvez ela seja, mas... ela apenas se preocupa. Assim como nós. Temos vivido numa montanha-russa desde que descobrimos.

— Eu imagino como se sentem.

— Eu quis que Nathan te contasse. Eu tive uma longa conversa com ele quando ele disse que era melhor que você ficasse com raiva dele e o esquecesse. Eu falei que você podia saber e decidir, mas ele nunca quis. Nunca achou justo. Só que acho que o destino estava conspirando para que se encontrassem de novo.

Se Nathan tivesse me contado na época, qual seria a minha reação? Será que estaríamos juntos? Acho que nunca saberia.

— Vou levá-la de volta à sala. Eu preciso terminar o jantar.

— Achei que tivessem vários empregados. — Deixo escapar e quero morder a língua com minha indiscrição.

Mas Natalie parece não se importar.

— Nós temos eventuais empregados, claro. Mas este jantar é uma tradição apenas para a família. E eu gosto de cozinhar.

Caroline parece mais calma quando retornamos, mas ainda fria.

— Quem vai arrumar a mesa? — Natalie pergunta.

Caroline dá de ombros.

— O Brad, claro. Se eu arrumar ele vai dizer que não sei fazer direito e arrumar tudo de novo!

— Tudo eu nessa casa viu! — Brad bufa, mas está nítido que é uma implicância carinhosa entre eles.

— Eu vou acabar o jantar — Natalie anuncia. — Fique à vontade, Sarah.

— A Sarah vai me ajudar a arrumar a mesa. — E Brad me puxa pela mão até a sala de jantar. — Sempre quis que fôssemos amigos, sabe? Mas o Nathan não deixava.

— Nathan pediu que não falasse comigo? — indago surpresa. Embora não parecesse absurdo pensando no comportamento estranho deles comigo agora.

— Quando a gente descobriu que vocês estavam juntos, ele nos proibiu de chegar perto, mas eu sabia que a gente ia se dá bem.

Eu olho na direção de Tyler e Caroline que cochichavam no sofá da sala.

— Não ligue pra ela. É uma chata. — Brad segue meu olhar, enquanto me dá um bolo de guardanapos.

— Eu a entendo. Quando o Nathan me vir aqui...

— Já falei para não se preocupar com isso. Ele não pode te mandar embora! E a mamãe gostou de você. Ela não deixaria o Nathan maltratá-la.

Tento ignorar a apreensão continuando a ajudar, seguindo as instruções de Brad.

— É um jantar fino? Não sei se estou vestida para isso... — comento olhando meu jeans e suéter.

— É só a família, mas temos nossas tradições e nos vestimos a caráter sim! — Ele ri. — É divertido.

— Se é só família nem devia ter vindo.

— Devia sim. E eu vou vestir você, não se preocupe.

Quando terminamos, escutamos o som da porta abrindo e Brad segura minha mão me levando para a sala. Nathan acaba de entrar.

— Oi, finalmente voltou — Brad fala animado.

Não consigo desviar meu olhar de Nathan. Ainda pálido e com olheiras, mas ainda lindo. E não gostando nem um pouco de me ver ali, como eu suspeitava.

Caroline parece tão apreensiva quanto eu de sua posição no sofá.

— Olha quem eu encontrei! — Brad ainda finge animação. — Lembra da Sarah, não é? Ela vai jantar com a gente.

Nathan permanece mudo como uma pedra de gelo.

— Não seja mal-educado, Nathan. Fale oi para a Sarah — Brad insiste.

No silêncio tenso que se segue, mil situações passam pela minha mente. Nathan abrindo a porta e pedindo para eu sair e não mais voltar. Nathan abrindo a porta e ele mesmo desaparecendo. Ou então se aproximando de mim e me empurrando janela abaixo.

— Oi, Sarah. — Sua voz perfeita está cheia de tensão.

— Oi. — Eu quase posso sentir todo mundo ao redor voltando a respirar.

Caroline se levanta e se aproxima de Nathan, pegando de suas mãos umas das sacolas que ele carrega.

— Vem para a cozinha, Nathan. Mamãe está esperando estas coisas para o jantar e acho que ela precisa de ajuda.

Nathan a segue, possivelmente porque não tinha muita escolha. Ou preferia mesmo não estar na minha presença.

— Que tenso, hein! — Tyler ri.

Brad dá de ombros, sorrindo.

— Eu falei que ele não ia ter coragem de criar uma cena!

— Eu ainda não sei — murmuro sem me convencer que Nathan não está odiando me ver aqui.

— Está tudo bem, Sarah.

Porém, eu continuo cheia de apreensão. Esperando a todo instante que Nathan volte para a sala.

— Vem, vamos achar um roupa pra você. — Brad me puxa pela mão até o quarto de Caroline.

— Tem certeza que deveríamos estar aqui? — indago nervosa. Caroline não parecia ir com a minha cara e com certeza não ia gostar nada de me ver xeretando em seu closet.

— Claro que sim! Veste este aqui! — Brad ignora minha apreensão e me mostra um vestido verde. — Vai ficar perfeito em você.

— Não posso usar uma roupa da sua irmã!

— Para de ser boba! Sou eu quem escolho a maioria das roupas de Caroline, por que acha que ela é tão bem vestida? E esse ela nunca usou, não vai se importar!

Obviamente eu não consigo ir contra uma ideia de Brad, que se mostra uma pessoa bem persuasiva, e quando dou por mim, não só estou usando o vestido, como um sapato altíssimo e Brad me maquia e penteia.

— Eu falei que ia ficar ótimo.

— Ainda acho desnecessário.

Ele ri, ignorando meu comentário.

— E qual Caroline deve usar hoje? Este preto ou o vermelho? — Ele me mostra dois vestidos maravilhosos ainda com etiquetas no cabide.

— Os dois são bonitos... — falo sem saber mesmo qual o melhor. Os dois parecem ridiculamente caros.

— Acho que hoje ela vai ficar bem com o vermelho.

Ele está me puxando para seu quarto, quando Caroline aparece no corredor. Ela me mede e lança um olha questionador ao irmão.

— Sarah não ficou bem? — Brad apenas diz. — E eu já deixei um vermelho fabuloso em sua cama.

— Posso não querer usar vermelho — ela retruca petulante.

— Duvido. — Brad me puxa para dentro do quarto e fecha a porta. — Me espere aqui enquanto me arrumo!

Um tempo depois ele me guia pela mão para a sala novamente. E quando chegamos lá, os Cole estão na sala, perfeitamente elegantes. Uma rápida olhada, percebo que falta Caroline e Nathan.

— Olhem o meu trabalho. — Brad me faz girar, me deixando extremamente constrangida. — Sarah está muita gata — comenta me fazendo rir, sem graça. — Não é verdade, Nathan?

O sorriso morre no meu rosto, quando levanto o olhar e vejo Caroline e Nathan. Caroline está incrível usando o vestido vermelho que Brad escolheu. E Nathan, bem, eu nem vou dizer que ele está perfeito, porque será redundante. Nathan pareceria perfeito usando trapos.

E ele ainda está sério. Embora parecesse... menos tenso.

— Sim, ela está — ele diz por fim e me mede.

E quando nossos olhares se encontram, tento ver o que realmente sente por baixo de toda aquela máscara de frieza, mas ele vira o rosto muito rápido.

Eu me sinto frustrada. Quando ele me trata assim é difícil lembrar que aquele é o mesmo cara que tirou minha virgindade e depois transou comigo infindáveis vezes, que cuidou de mim quando eu estava doente, que me agarrou num corredor da faculdade, me pedindo para cabular aula com ele, apenas porque a vontade que tinha de ficar comigo parecia burlar qualquer acordo.

E me sinto triste. Queria me aproximar de Nathan e lembrar a ele tudo isso. Mas com que direito? Nathan fez suas escolhas. Deixou que eu entrasse em sua vida com um objetivo específico. E com um fim calculado.

De certa forma, foi tudo como ele esperava mesmo. Menos a parte em que eu me apaixonava por ele. E depois descobria sobre sua doença.

Agora estou com um buraco no meu peito, que só aumenta. E não sei o que fazer. A única coisa que tenho certeza é que preferia estar aqui, uma estranha no ninho dos Cole, e aguentando a frieza de Nathan, do que estar longe.

Os Cole começam uma conversa sobre amenidades. Brad tenta me incluir, e eu tento ser educada.

E quando perguntam algo a Nathan, ele responde por monossílabos. Natalie nos chama para jantar e Brad continua tentando fazer a conversa fluir. Caroline também não parece de muito bom humor. Provavelmente a impressão que eu tinha sobre ela me odiar é verdadeira.

Tento não olhar para Nathan, mas é impossível. É como se um ímã invisível me puxasse em sua direção e, às vezes, o pego olhando para mim. Olhares raivosos. Frustrados. Saudosos.

Espera, saudosos?

Talvez já esteja imaginando coisas na minha mente, mas tudo bem. O que é mais uma ilusão para uma pessoa como eu?

Eu não tenho nada. Nathan é apenas um cara na minha frente. Tão perto que eu posso estender os dedos e tocá-lo. E ao mesmo tempo tão distante e inacessível, mas pelo menos ele ainda está aqui.

Respirando. Vivo.

É o que basta. Sinto o ar me faltar só de pensar em outra possibilidade. Eu nunca, nunca vou estar preparada para outra opção. E me pergunto como é que os Cole conseguem conviver com aquela incerteza por anos.

Depois do jantar, Natalie e Cameron insistem em cuidar da louça. Nós vamos para a sala, e Brad arrasta Nathan para o piano e os dois brincam com as teclas. Fico observando de longe. Ele ri pela primeira vez na noite. Eu poderia ficar olhando ele sorrir despreocupado para sempre.

De repente sinto algo me incomodando e quando viro, flagro Caroline me encarando com um olhar estranho.

— Eu vou tomar um ar. — Ela se afasta para a sacada.

O clima parece ficar ruim de novo com a saída de Caroline. Nathan fecha o piano e vai atrás da irmã. Brad parece contrariado por um momento, mas no instante seguinte volta a tocar sozinho.

Desvio o olhar para a sacada. Dava para ver as silhuetas de Caroline e Nathan. Parecem discutir. Não dá para saber do que falam. Dali a instantes, Nathan retorna e avisa que vai para o quarto, se afastando em seguida.

Meu coração afunda. Então é isso? Eu quero gritar de frustração.

Mas nada posso fazer. Estou aqui contra sua vontade. Sou uma intrusa.

Caroline permanece na varanda e decido ir até lá.

— Por que você me odeia? — questiono ao chegar ao seu lado.

Ela se vira para me encarar. Está com os olhos vermelhos de quem tinha chorado.

— Eu não te odeio. Eu tenho pena de você.

Aquilo me surpreende.

— Sarah, Nathan é meu irmão, mas eu sei como ele é. Eu sabia que você iria se apaixonar por ele. Eu disse isso desde o começo. Não seria justo... Nathan é tão...

— Perfeito — completo e ela ri, fungando.

— Quando ele ficou doente... acho que todos nós o protegemos demais. A gente não sabia o que ia acontecer. Nathan sempre foi mais consciente do que nós, claro. Sempre tão sensato. Ele apenas... aceitou. E a nós não restou alternativa a não ser aceitar também. Talvez por isso nós nos unimos tanto, as pessoas nos acham esquisitos, inacessíveis, mas acho que foi a forma que encontramos de nos proteger.

— Acho que entendo isso.

— Nathan nunca quis se envolver com ninguém depois de ficar doente, ele dizia que não era justo. Brad caçoava dele, dizia que ele podia ficar com alguém sem compromisso algum, apenas por diversão. Que todo mundo fazia isso. Só que Nathan nunca aceitou esse conselho. Acho que eu gostava disso. E até Brad. Nathan era só nosso. Pelo tempo que lhe restasse. Fomos egoístas. — Ela suspira. — Aí veio você. Eu não sei em que momento Nathan mudou de ideia. Ele a manteve escondido, talvez porque soubesse de nossa preocupação. Eu disse a ele uma vez que essa coisa de sem compromisso não ia servir pra ele, eu o conhecia. Então de repente ele começa a agir estranho, não quer mais vir para Nova York nos fins de semana, inventa histórias. Eu desconfiei que tinha algo errado. Brad me disse que desconfiava que ele estava com alguém, mas não tínhamos certeza. Tyler nos aconselhou a não nos intrometer. Até que Brad os pegou aqui em casa e me contou. Eu briguei com Nathan, disse a ele que tinha que lhe contar a verdade. Ele disse que não porque era só um caso e terminaria em dois meses. Apenas sexo.

Ouvir aquilo da boca da irmã de Nathan dói. Como se eu não soubesse desde o início que seria assim.

— Óbvio que não acreditei por nenhum segundo — Caroline continua. — E eu odiei você porque, por mais que soubesse que eu tinha razão, que estava tudo fugindo ao controle, Nathan parecia tão feliz. Agora havia alguém que ele precisava mais do que a nós. Mas ao mesmo tempo, quando vi o jeito que o olhava... Eu sabia que estava apaixonada por ele. E tive uma pena imensa, porque não sabia onde estava se metendo. Aí de novo insisti com Nathan que te contasse tudo, que ele estava sendo egoísta. Nathan começou a nos enlouquecer. Ele às vezes ficava mal, às vezes não tomava os remédios quando estava com você... Até que naquele dia que devia te encontrar, depois da festa, ele passou muito mal. Acho que foi quando percebeu que estava tudo errado. E seria o fim.

— Por isso disse que eu ia sofrer... — Começo a entender as motivações de Caroline.

— Eu não queria me intrometer, mas achei que fosse melhor você se afastar de vez. Nathan disse que estava tudo acabado depois disso. — Ela sorri com ironia. — Mas nunca está, não é? Você está aqui. E parece tudo errado de novo.

— Eu sinto muito — murmuro. O que mais posso dizer? Com as palavras de Caroline, entendo um pouco mais a situação. Só que não torna nada mais fácil.

— Eu não posso mais me intrometer nessa história. É entre vocês dois. Mas Nathan é meu irmão e eu o amo. E tudo o que eu queria era que ele não sofresse, porque já sofre com a incerteza de saber que pode não sobreviver. — Ela respira fundo. — Mas ele sabe o que é melhor para ele. Ou não sabe, enfim... são decisões que cabe a ele. Eu já o protegi demais.

— Por que estava brigando com ele hoje então?

— Pergunte para ele. — Ela diz por fim e se afasta.

Eu ainda permaneço ali remoendo a conversa com Caroline, até que Brad aparece.

— Sarah, entre, está frio.

Eu o acompanho para dentro.

— Eu tenho que ir embora.

— Fique. Está tarde. Vem, vou leva-la até o quarto de hóspede.

Ele me leva a um quarto tão elegante quanto o resto da casa.

— Eu trouxe um pijama meu pra você usar. Não se importa de usar um pijama masculino, não é?

— Claro que não, Obrigada.

Ele parece incerto.

— Me desculpe.

— Pelo quê?

— Eu sempre quero fazer o melhor, mas acho que só pioro.

— Não se preocupe. Você faz o que pode. Obrigada.

— Boa noite então. — Ele dá dois passos, então se volta. — Acho que gostaria de saber que tem alguém que curte ficar a madrugada na sacada. Olhando as estrelas. — Ele pisca e se vai.

Coloco o pijama e penso na dica de Brad quando me deito.

Eu deveria dormir e não pensar em ir atrás de Nathan, mas não consigo dormir. E quero muito tentar conversar com ele. Nem que seja uma última vez.

Saio do quarto e o apartamento está em silêncio quando percorro o corredor e chego à sacada.

E lá está Nathan. Parado de costas contemplando o céu.


Capítulo 26

 

Com falta de ar, você explicou o infinito

Quão raro e belo é apenas o fato de existirmos

Saturn

 

Ele se vira, quando escuta meus passos.

Eu achava que já podia parar de perder o fôlego cada vez que Nathan aparece na minha frente, mas já tinha perdido a batalha. Eu o achava maravilhoso. Pra mim, ele sempre seria perfeito. Mesmo com as olheiras agora mais acentuadas, os cabelos meio bagunçados, visivelmente mais magro e vestindo um simples moletom e camiseta.

E saber que tudo aquilo está se extinguindo me deixa em pânico. É o que me faz continuar ali, enfrentando sua expressão de desagrado ao me ver.

— Me desculpe... eu queria apenas conversar com você.

Ele não diz nada.

— Nathan, sei que está odiando me ver aqui na sua casa e acho que talvez tenha razão. Sou uma intrusa no meio da sua família. Aceitei o convite de Brad, mesmo sabendo como se sente sobre isso.

— Você não tem ideia de como me sinto — ele fala pausadamente. Pesadamente.

— Você faz questão que eu não saiba. — Começo a sentir um nó de choro apertar minha garganta. Tenho que sair daqui. Foi um erro. Nathan tão perto, tão distante. Tão frio, tão ao meu alcance. Está acabando comigo.

— Tem razão, Sarah. — Sua voz agora está mais inexpressiva. — Eu falei para ir embora. Pedi que se afastasse. Sabe por que eu faço isso. Então apenas volte para seu quarto.

Sua rejeição declarada me deixa arrasada.

Eu devia odiá-lo. Devia gritar com ele, talvez agredi-lo, mas não consigo. Porque no fundo entendo pelo o que Nathan está passando. A incerteza de não saber até quando estará vivo. Desde o começo ele me escolheu, porque eu disse que não ia querer nada. Porque teve a certeza de que poderia me deixar para trás para talvez morrer.

Como é que eu posso ter raiva dele? Fui eu que quebrei a promessa. Não Nathan.

Ele se vira de novo para contemplar o céu.

E de repente me lembro quando me contou sobre o ciclo de vida das estrelas.

Até as estrelas morrem, ele disse.

Eu não tinha entendido.

— Até as estrelas morrem — repito.

— Tudo morre. Apenas alguns antes que os outros — ele diz. — Quando eu era criança e contemplava o céu, eu queria estar lá. Ser uma estrela. Se as estrelas dão origem a tudo o que é vivo, quando a gente morre pode ser que voltemos para o espaço de novo. Voltamos a ser uma estrela.

O nó na minha garganta que eu vinha tentando desfazer a noite inteira finalmente se rompe num choro silencioso ao ouvi-lo falar daquele jeito.

— Eu... Sinto muito.

— Não deveria estar aqui sentindo nada.

— Você tomou todas as decisões por mim. — Enxugo meu rosto com as mãos.

— Acho que tomei as certas.

— Me afastando?

— Nunca foi minha intenção fazer você sofrer.

— Acho que sabe que é tarde para isso. Não há nada em mim que ainda possa ser poupado, Nathan.

— Então por que está aqui?

— Você sabe por quê.

— Eu não vou mudar de ideia, Sarah.

— Eu sei. — Minha voz treme. — Talvez seja por isso que eu esteja aqui essa noite. Sabe como me sinto quando penso que pode desaparecer? É como se eu fosse desaparecer também.

— Não era para ser assim.

— Eu não posso... mudar o que eu sinto. “Garotas são traiçoeiras”, não foi o que disse uma vez? Acho que sou como todas as outras então, porque eu queria ter sido capaz de cumprir o que prometi.

— Não se culpe. Se tem um culpado nessa história sou eu. Nunca, nunca deveria ter me aproximado de você e nem deixado que fosse tão longe. E eu não posso ver você na minha frente, porque eu sei que está sofrendo; e eu nunca quis me envolver com ninguém justamente para evitar isso e agora estou vivendo um pesadelo. Ver você chorar, acaba um pouco comigo, Sarah. Eu só queria que realmente fosse embora. Realmente me deixasse para trás. Eu preciso que faça isto. Que você me esqueça.

— Eu não quero esquecer. Eu nunca vou esquecer...

— Você precisa. E eu preciso saber que ficará bem.

Ele parece tão torturado, tão amargurado. Vê-lo daquele jeito também me dilacera. Alguém como Nathan nunca devia sofrer. Conviver com a incerteza de não saber até quando ia viver já devia ser o bastante. De repente eu me sinto egoísta. E quero fazer o que ele pede. Sumir da sua vida. Pra sempre. Sem olhar para trás. Mesmo deixando meu coração com ele.

— Tudo bem. Tem razão. Eu vou embora amanhã. Eu vou... seguir em frente. — Eu tento sorrir. — Eu só queria te fazer um pedido. Posso ficar com você esta noite?

— Um pouco mais de sexo, Sarah? Acho que já estivemos nesta situação antes.

— Quer que eu fique com raiva de você falando assim? Acha que tudo se resume a isso? Não, Nathan. Eu não quero sexo. Apenas... você disse que não queria me ver sofrer. Estou pedindo que não me faça sofrer mais. Eu vou embora amanhã. E a dimensão que isso toma, sabendo que você... — Não consigo terminar. — Não quero ficar sozinha.

Eu espero, com meu coração se afundando no peito mais e mais. Sei que não deveria estar aqui mais uma vez implorando por qualquer coisa que Nathan quisesse me dar, mas eu preciso dele. Apenas ouvir sua respiração ao meu lado. Saber que ainda está vivo. Despedindo-me do seu cheiro, do seu rosto perfeito. De sua voz. Não tinha nada a ver com sexo. Tinha a ver com amor. Tinha a ver com perda.

E talvez ele me mande embora mais uma vez, mas o que seria mais uma rejeição? Já foram tantas. Eu não tenho mais nada a perder. Já estou perdendo tudo.

Então ele passa a mão pelo cabelo, parece frustrado. Parece vencido. Cansado.

— Nunca achei que ouviria mais uma de suas propostas absurdas.

Eu solto uma risada trêmula.

— Vamos dormir, Sarah James.

São as palavras mais lindas que escutei na vida.

Meu coração pode voltar a bater normalmente. Pelo menos por esta noite.

Então, ele segura minha mão e me leva para o quarto.

Eu nunca estive neste quarto, que é um pouco parecido com o outro.

Aquele outro que nós ficamos juntos tantas vezes, achando que estava apenas fazendo sexo sem compromisso, quando na verdade estava me apaixonando totalmente. Irrevogavelmente.

E me sinto nervosa agora também enquanto me deito a seu lado. Mas por motivos totalmente diferentes. A luz é apagada e no silêncio do quarto escuto apenas sua respiração. É o som mais doce do mundo.

Como seria quando eu não pudesse ouvir mais? Porque eu poderia ir embora sim, não olhar para trás, sabendo que ele estaria respirando em algum lugar do mundo.

Porém, ele poderia deixar de existir, não só pra mim.

Meu coração começa a falhar de novo, o nó se aperta dentro de mim e fecho os olhos com força, tentando não desabar, mas o choro rompe mesmo assim. Descontrolado. Afundo meu rosto no travesseiro, abafando os soluços, mas em segundos suas mãos estão em mim.

— Sarah, não chore, por favor...

Eu me viro, me agarrando a ele, ensopando sua camiseta. E Nathan apenas me abraça, enquanto eu deixo tudo se esvair.

— Eu deveria 1eixa-la embora agora. — Sua voz sai abafada contra meus cabelos e meus dedos se agarram a sua camiseta ainda com mais força.

— Não me afaste, por favor, eu não posso suportar...

— Eu quis tanto que isto não acontecesse...

Eu me surpreendo com o tom raivoso de sua voz. E o encaro.

— Eu nunca... nunca... me revoltei contra isso até você aparecer. Eu estava bem até você aparecer. Eu podia morrer até você aparecer. — Sua voz treme enquanto seus dedos seguraram meu rosto com força. — Eu nunca quis amar ninguém até você aparecer.

Meu coração para de bater. Eu não posso me mexer. Eu não posso respirar. E então ele está me beijando, como se disso dependesse sua vida.

Fecho os olhos, dolorosamente consciente de suas palavras. Deliciosamente ciente de sua boca contra a minha. E eu que achei que nunca mais o teria assim, tão próximo, com o coração batendo no mesmo ritmo que o meu, seus dedos torcendo meus cabelos. E meio suspiro, meio gemo dentro de sua boca. Uma vontade imensa de chorar. Ou de rir. É tudo ao mesmo tempo, me consumindo, me destruindo. Como posso deixa-lo quando me beija deste jeito? Quando sinto que é tão certo, tão perfeito, quando estamos juntos? Que nós precisamos estar juntos. E que no fundo, ele sabe disso. Não há escapatória. Meu coração só bate com o dele. Meu corpo só derrete em contato com o dele. Saber que ele se sente do mesmo jeito não amenizava o sofrimento. Ainda estamos sob pressão.

Não há tempo. Nunca haverá tempo suficiente.

Nossos lábios se separaram e respiro profundamente. Seu cheiro único invadindo minhas narinas. Suas mãos ainda no meu rosto, sua testa na minha.

— Eu sinto muito. — Suas palavras doem em mim. — Mas eu preciso de você.

— Eu estou aqui...

— Eu não sei até quando... eu não deveria querer...

— Não importa...

E seus lábios percorrem meu rosto, minhas pálpebras fechadas, minha garganta. Tremo, meus dedos o puxando para mais perto. Pensar é difícil. Assim como respirar. Meus sentidos todos concentrados nele. Em suas mãos que descem por meu corpo. Há roupas demais. E acho que eu digo isso em voz alta, pois no minuto seguinte, está me livrando delas. E faço o mesmo com as dele, porque não há nada que eu queira mais do que sentir sua pele em minhas mãos. Saber que ele está vivo. Comigo.

E ele me beija de novo. E de novo. Nossas respirações se misturando. Suas mãos me puxando para perto, me marcando, como fizemos tantas vezes antes. Parece que foi em outra vida. Mas o sentimento ainda é o mesmo. A necessidade ainda é igual. Imutável.

Meu corpo ainda é dele.

Abro meus olhos. Bem abertos. Eu preciso ver. Deslumbrar-me com sua perfeição. Meus próprios dedos fazem um caminho de reconhecimento por seu corpo. Meus lábios deslizam por seu rosto, meus dentes em seu pescoço. Minha voz em seu ouvido.

— Por favor, Nathan, dentro de mim...

E ele geme e faz o que eu pedi, os dedos se entrelaçando aos meus. E não há nada no mundo além de nós dois, enquanto ele está assim, se movendo dentro de mim, várias vezes, o prazer se enroscando, crescendo, me consumindo. Seus olhos tão abertos quantos os meus, me sondando, me buscando, até tudo explodir.

Depois o tempo para de existir.

E enquanto estamos aqui, seus braços a minha volta, me pergunto se foi uma despedida.

— Não vai me mandar embora, não é? Só hoje, Nathan...

Sinto seus lábios em minha testa, seus dedos em meus cabelos, seus braços me apertando um pouco mais antes de me soltar e então estamos deitados lado a lado, olhando o teto.

— Eu queria saber deixar você ir.

— Então não deixe.

— Eu preciso. Não tenho tempo, Sarah.

— Não fale assim. Pode se curar, pode...

— Não. — Sua voz está fria. — São anos, Sarah. Anos convivendo com isso. Com a incerteza. Não quero envolver você nisso.

— O mundo é feito de infinitas possibilidades — repito o que minha mãe me disse. — Nunca diga nunca para nada. Porque a vida sempre pode te surpreender quando menos espera.

Ele ri. Um riso triste. Seus dedos tocam meu rosto. Fecho os olhos.

— Você sempre foi meio esquisita, Sarah James.

Abro os olhos, memorizando sua perfeição. Não é justo que ele tenha essa doença horrível. Não alguém como Nathan.

— Quero que seja feliz, Sarah.

— Eu sou feliz quando estou com você.

— Apenas prometa que vai ficar bem.

— Isso te faz se sentir melhor?

— Eu preciso saber que vai estar bem.

— Como posso ficar bem sem você?

— Tem o Leo.

— Nathan, está querendo dizer que eu devia ter ficado com o Leo?

— Talvez sim.

— Não estaríamos aqui se fosse assim.

— Sim. Exatamente.

— Eu não mudaria nem um dia. Não mudaria nada. Eu não me arrependo de nada.

— Nem com o que sabe agora?

— Nunca.

— E a partir de agora? Se o Leo...

— Não. — Minha negativa é rápida.

— Talvez devesse considerar, Sarah.

— Para com isso! Para de me jogar para cima de outro cara. É nojento. Está tão desesperado para se livrar de mim? Foi isso que fez com a Alisson?

— Alisson?

— Ela não era sua namorada antes de ficar doente?

— Não terminei com a Alisson porque fiquei doente. Terminamos antes.

— Por quê?

— Por que as pessoas terminam? Não deu certo, éramos jovens e a vida seguiu.

— Eu fiquei com ciúmes quando a conheci. Nunca poderia pedir que ficasse com ela, como está fazendo comigo, pedindo que eu fique com o Leo...

— Acha que eu gosto disso? — Sua voz agora está tão irada quanto a minha há alguns momentos. — Acha que não tenho ciúmes? Eu só ficaria feliz em saber que está com algum cara que mereça você, que ame você.

— Do que adiantaria? Eu não amo o Leo. Não desse jeito. Você pode me mandar embora da sua vida, Nathan. Mas não vai mudar o que sinto. Não consigo mudar isso agora. Eu também sei que não é justo te pressionar. Acho que você tem o direito de escolher também. Mas o que eu quero você já sabe.

Nós ficamos em silêncio. Aquele silêncio que precede o fim.

Mesmo assim, eu me encolho perto dele. Aproveitando aqueles momentos roubados.

— Eu queria tanto que as coisas fossem diferentes, Sarah.

— Você tem medo?

— Eu não tinha. Até encontrar você.

Fecho os olhos, lutando contra o nó no meu peito. Sinto seus dedos em meus cabelos, seu hálito em meu rosto e respiro com força, me enroscando nele, até sentir seus lábios em meu cabelo, seus braços a minha volta. Não vou chorar mais. Vou apenas ficar aqui junto dele, sentindo seu coração batendo. É só o que eu preciso. E esquecer que estamos nos despedindo.


Capítulo 27

 

Embora o tempo seja implacável

Ele nos mostrou bondade no fim

Por passar devagar o suficiente

Dando uma segunda chance para se fazer as pazes

Mars

 

Nunca imaginei que voltar a Yale para o segundo ano de faculdade fosse tão difícil.

Ainda assim eu me esforço para ficar feliz por, pelo menos, ter algo para me distrair da dor de tudo o que aconteceu nos últimos dias.

Quando acordei naquela manhã passada com Nathan estava sozinha. Eu tinha me levantado e me arrumado para encontrar com Brad na sala, dizendo que ia me levar para a casa de Chloe.

— Nathan saiu com meus pais e Caroline. Foram a uma consulta médica.

— Ele poderia ter me acordado e se despedido.

— Acho que ele preferiu assim.

Ele me levou embora e eu contei tudo a Chloe.

Eu sofri um pouco mais. Chorei um pouco mais.

Voltamos para Yale naquele mesmo dia e me ocupei com a mudança para meu novo dormitório. Agora estaria sozinha, separada de Chloe.

Minha mãe me ligou no dia seguinte e eu contei tudo a ela, e tive que convencê-la a não pegar o primeiro trem e vir ficar comigo.

O tempo inteiro me perguntava como estaria Nathan.

Eu tinha perguntado a Brad se voltariam para o ano letivo e ele não soube dizer.

— Vai depender de como Nathan vai estar.

Eu rezava para que, independente do que acontecesse com nós dois, que ele ficasse bem.

Agora junto meu material, ao sair da biblioteca que está quase fechando e saio do prédio.

Mesmo com o horário, ainda tem muitos alunos circulando pelo campus e paro por um instante e contemplo as estrelas no céu, sentindo o vento cortar meu rosto. E quando abaixo a cabeça, paraliso, surpresa.

Nathan está se aproximando. Os cabelos desalinhados pelo vento, os olhos sondando o campus até se prenderem em mim. Meu coração para de bater por alguns momentos, tudo em volta desaparecendo enquanto ele se aproxima. Eu vou desmaiar. Vou cair dura no chão, sem oxigênio, mas antes que isso aconteça, seus dedos estão em mim, frios em meu rosto, contrastando com o hálito quente em minha língua, enquanto ele abaixa a cabeça e me beija.

Suspeito estar sonhando. Do contrário, Nathan não estaria aqui ao alcance dos meus dedos ansiosos, que seguram sua camisa para não cair.

E meu coração volta a bater forte, intenso. Vivo.

Minha mente explode em mil indagações. Em mil sensações. E quando finalmente ele para de me beijar, estou realmente com a cabeça rodando.

— Você está aqui... me beijando? — murmuro atordoada, e ele sorri. O sorriso mais lindo do mundo.

— Eu sempre quis fazer isso. Eu queria poder me aproximar e te beijar e segurar sua mão pra todo mundo saber que é minha.

— Sua o quê? — Sei que estou abusando da sorte, mas que se dane.

— Minha namorada.

Eu começo a rir, embora já não o enxergue direito, porque meus olhos traidores estão cheios de lágrimas. Nathan ri também, me beijando de novo. E de novo. E de novo.

E é como se as estrelas do céu estivessem brilhando apenas para nós.

Finalmente.


Depois do que parece um tempo infinito e mesmo assim muito pouco, finalmente paramos de nos beijar.

— Achei que...

— Eu também achei. — Eu não preciso completar para ele responder.

— E agora está aqui...

— Isso é ruim? — Rolo os olhos. Ele está se divertindo?

— Desculpa se é meio confuso para mim. — Eu queria bater nele. E beijá-lo.

— Está voltando para a faculdade?

— Sim, estou. Apenas pra ficar perto de você.

— Devia voltar para querer se formar.

— Pra quê?

Lanço um olhar para ele consternado.

— Não faça isso.

Ele fica sério.

— Sarah, quero ficar com você. Porque percebi que não faz sentido ficar longe. É tarde demais pra ficar longe; mas isso não mudou. Eu ainda estou doente. Eu ainda não sei até quando...

— Shi... chega. Eu não quero... — Eu mal posso aguentar aquele assunto. A mera possibilidade me deixa gelada por dentro. E Nathan percebe.

— Era por isso que eu queria ficar longe — murmura amargo.

— Não me importa. — Tento controlar meus temores. — Eu já disse mil vezes. Quero ficar com você de qualquer jeito. Estou feliz que esteja aqui.

Ele se inclina me beijando, levando o medo para longe e a batalha é perdida quando suspiro contra seus lábios.

Fico vermelha ao me dar conta de que todos parecem estar de olho em nós.

— Está todo mundo olhando — murmuro.

— Quer dizer que não posso te beijar em público?

— Hum... acho que posso conviver com isso.

Mas em vez de me beijar, ele me puxa pela mão.

— Vai ficar comigo? — indago, feliz.

— No seu dormitório?

— Não divido mais o quarto com ninguém agora. — Pisco.

— Posso ficar com você então.

Eu ri, batendo meus ombros no dele.

— Eu não deixaria você ir a lugar nenhum, sabe disso.

Abro a porta do meu quarto e entro. Posso sentir sua presença atrás de mim, suas mãos em meus ombros, seus lábios em meus cabelos.

Seus dedos se entrelaçam aos meus, me puxando para a cama. Eu praticamente flutuo em sua direção, me deitando ao seu lado. Quero falar tanta coisa e não falar nada. Quero que o tempo pare e que o mantenha sempre aqui, ao meu alcance.

— Ainda não acredito que está aqui — murmuro baixinho e ele sorri, seus braços me rodeando, me levado para mais perto, me beijando, fazendo todo meu corpo derreter.

— Eu não vou a lugar algum. — Suas palavras saem contra minha boca e eu gemo, torcendo seus cabelos, me enroscando nele.

E derreto em seu beijo. Roupas são retiradas do caminho por mãos ansiosas. Eu o puxo para mim, rodeando a língua em volta de seus lábios perfeitos, o beijando mil vezes, até que não haja mais fôlego. Sinto tudo tremendo, derretendo, queimando, enquanto suas mãos deslizam conhecedoras por todos os lugares, pousando entre minhas pernas, sentindo minha excitação contra seus dedos. Gemo baixinho, me perdendo em sensações que fazem minha mente rodar e meu corpo se contorcer.

— Por favor, Nathan — peço, imploro, quem se importa? Meus próprios dedos descem por seu peito até estar em sua ereção, e ficamos assim, acariciando um ao outro e deixando a excitação crescer, nossos olhares presos um no outro, até as sensações serem demais para segurar.

E eu o levo para dentro de mim. Ele geme contra meus lábios, os dedos se entrelaçando nos meus, enquanto arremete vezes sem fim, num ritmo perfeito para me arrastar cada vez mais fundo até não restar nenhum controle. Apenas prazer. E Nathan. Dentro de mim. Para mim. Seus lábios nos meus num sussurro quase dolorido, quando finalmente explodimos juntos.

— Eu amo você...


Capítulo 28

 

Está tudo bem se você não conseguir respirar

Você pode tirar o oxigênio direto do meu próprio peito

Two

 

— Não quero ir na aula hoje.

Minha voz sai abafada contra o peito de Nathan, e me arrepio quando o mesmo peito treme com seu riso.

— É sério, quem precisa de faculdade? — murmuro, me enroscando ainda nele, que me empurra e saiu da cama.

— Você precisa.

Ainda protesto um pouco, mas Nathan não está de brincadeira e no fundo ele tem razão. Eu ainda estou aqui para estudar.

Mas o tempo pode ser tão curto... Imediatamente paro a linha de pensamento. Não vou ficar pensando nisso. Do que adianta? Eu estou feliz. Nathan está comigo. É o que importa.

Porém, quando estamos caminhando pelo campus, encontramos Brad e Caroline. Percebo que Nathan fica tenso, mas os irmãos não se aproximam de nós.

— Fique aqui... — Nathan diz e antes que eu possa protestar, já se afasta em direção aos irmãos.

Não consigo ouvir o que dizem, mas parecem discutir por alguns minutos, até que se afastam, entrando no prédio.

— O que foi isso? Estavam brigando? — indago quando Nathan retorna para meu lado.

— Coisas de irmãos. — Sorri, mas ainda está tenso.

— Me pareceu um pouco sério.

— Nada de importante. Vamos pra aula.

— Mas...

— Esquece Brad e Caroline, Sarah. Está tudo bem.

Eu ainda queria perguntar por que eles discutiam, mas me calo. E também não quero começar uma discussão com Nathan por causa disso.

Nathan vai para o prédio de ciência e Chloe aparece atrás de mim.

— Eu te vi com Nathan, ou estou ficando louca?

— Não está não. A gente está namorando.

— Oh meu Deus, isso sim é novidade! Me conta tudo! Quero saber todos os detalhes, todos os orgasmos!

— Chloe, você é muito enxerida.

— Não, eu sou sua amiga e você me deve isso! Nos encontramos no almoço?

— Tudo bem.

— Até lá então!

Mas na hora do almoço quando estou indo encontrar Chloe, mãos me puxam no corredor e me vejo entre os braços de Nathan. E enquanto ele me beija, eu não lembro nem meu nome, quanto mais que Chloe está me esperando.

— Isto não é justo — murmuro, mas já passo os braços em volta de seu pescoço.

— Estive pensando sobre o que disse de manhã. Acho que aulas são mesmo uma bobagem às vezes.

— Ah é? — Eu levanto a sobrancelha.

— Principalmente quando fico pensando que podia estar fazendo algo mais divertido.

— Acho que estou entendendo o que está querendo dizer.

— Tem alguma aula importante ainda hoje?

— Nada mais importante que você.

— Alguma objeção em ir embora?

Meus dedos se enroscaram nos seus cabelos .

— Não, nenhuma.


***


— Você está sendo uma péssima influência — murmuro horas depois.

Nathan ri e sinto seu nariz fazendo cócegas em minha orelha, as mãos passeando preguiçosamente pelas minhas costas nuas.

— Você que é má influência. Não sou eu que entro em banheiro fazendo propostas.

Eu lhe dou um tapa no ombro e ele ri ainda mais.

— Não vai esquecer disso, não é?

— Pra quê? Nunca tinham me feito uma proposta assim.

— Eu duvido.

— Não tão direta. E nenhuma que eu quis aceitar.

Abro um sorriso, gostando de ouvir isso e o beijo, e já estou pronta para ser mal influenciada de novo quando escuto meu celular tocar, e antes que eu possa atender, Nathan estende o braço e pega o aparelho.

— Alô.

Eu peço que me passe, mas ele ri.

— Chloe? Não, a Sarah está ocupada agora... Sim... eu darei o recado.

E ele desliga.

— Por que fez isto?

Ele me puxa para cima dele.

— Você está mesmo ocupada.

— Tadinha da Chloe...

Mas Nathan me beija e Chloe está esquecida no minuto seguinte.

Realmente eu não estou me importando nem um pouco de ser má influenciada ou de ser a má influência, não quando Nathan me abstrai totalmente. Acho que nunca vou me cansar disso. Do jeito que ele se move dentro de mim, para sempre acabar no prazer mais perfeito. Mais intenso. Sua risada linda, sua voz, sua inteligência sem esforço. O jeito que me chama de esquisita às vezes. Me roubando um pouco mais de mim mesma a cada vez que dizia em meu ouvido “eu te amo”. E eu não quero mais nada. Quero apenas mantê-lo aqui comigo pra sempre. Só meu.

E mais do que tudo, não quero me lembrar que há algo que pode nos separar. Mas a realidade ainda existe e ela surge em forma de um telefonema no começo da noite. Desta vez, quando escuto o som da campainha, estendo o braço antes de Nathan.

— Deve ser a Chloe. Ela não vai me deixar em paz tão cedo... Alô?

Mas não é Chloe.

— Sarah? — A voz parece conhecida.

— Sim, sou eu.

— É Caroline.

— Oi, Caroline. — Encaro Nathan que agora está sério. — Quer falar com o Nathan?

— Não... quer dizer. Claro que sei que ele está aí, onde mais estaria? — Sua voz continha uma certa ironia. — Mas acho que ele não quer falar com ninguém, pois seu celular está desligado. Então me desculpe ligar pra você, eu só queria te pedir um favor.

— Sei...

— O Nathan precisa vir pra casa, para tomar sua medicação. Ele sabia disso, mas acho que está propenso a fingir que não sabe. Enfim, será que pode lembrá-lo? Acho que ele só virá embora se você mandar.

Claro. Então é isso. Não adianta fingirmos que a doença não existe. Ela está ali. À espreita.

— Tudo bem. Eu falo com ele.

— Obrigada, Sarah.

Eu desligo e encaro Nathan.

— Você precisa ir embora.

— O que Caroline queria?

— Que eu te lembrasse que precisa ir tomar sua medicação.

Ele passa a mão pelos cabelos, contrariado.

— Caroline se intromete onde não é chamada.

— Ela está certa, Nathan. Sabe disso. Então é melhor mesmo ir embora.

Ele se levanta e começa a se vestir. Me dá vontade de chorar. Não é justo.

— Não quero que você vá. Você pode... Pode trazer aqui, pode tomá-las aqui.

— Eu não quero — resmunga.

— Certo — concordo, tentando não ficar irritada. — Quer que eu vá com você?

Bem lá no fundo acho que sei a resposta.

— Não. — Ele se inclina e beija minha testa. — Nos vemos amanhã, ok?

— Nenhuma chance de voltar hoje?

Ele sorri.

— Acho melhor ficar em casa hoje antes que meus irmãos mandem a polícia aqui.

— Ah, entendi. Tudo bem então.

— Não queria ir embora. — Acaricia meu rosto. — Parece que todo tempo do mundo não é suficiente.

— Tem que ficar com sua família também. — E continuar seu tratamento. Mas acho que ele não gostaria de ouvir isso.

— Eles me irritam.

— É sua família. Eles se preocupam.

— A vida é minha para viver do jeito que eu quiser.

Posso sentir a frustração e a irritação na voz dele. E me deixa com o coração apertado.

— Tudo bem. Nos vemos amanhã? — Ele sorri.

— Amanhã.

— E todos os dias.

Ele pisca, se levantando e saindo.

— Pra sempre — sussurro para a porta fechada.

Então vai ser assim? Até agora não estava me importando de ficar sozinha com ele, esquecidos do mundo.

Porém, os irmãos de Nathan tinham razão de ficarem preocupados. E ele ia me manter longe de sua família?

Longe de sua vida de verdade?

Minha felicidade tem um toque amargo. O nosso pra sempre poderia ser bem breve. E eu ainda não estou preparada para pensar nisso.

Sinto-me inquieta e decido ligar para o Leo.

Ele estava na Califórnia e ainda não tínhamos nos falado.

— Ei, Leo.

— Branquela, que bom ouvir sua voz!

— Como você está? Está gostando da faculdade?

— Ainda é tudo meio esquisito. — Eu rio.

— Vai se adaptar.

— E você, como está? Chloe me disse que foi a um jantar na casa dos Cole.

— Falou com a Chloe?

— Eu te liguei na sexta-feira e não atendia. Então liguei para ela.

— Sim, eu fui. Brad insistiu, porque eu queria ver o Nathan e era aniversário dos pais dele.

— E como foi?

— Não muito bem, mas acabamos passando a noite juntos, para depois ele me dar o fora de novo. Mas a boa notícia, é que ele voltou para a faculdade e estamos juntos agora.

— Sério?

— Sim, e eu estou tão feliz, Leo.

— Tome cuidado, Sarah. Você sabe que ele está...

— Eu sei — interrompo, contrariada. Não queria lembrar. — Não importa, Leo. Eu o amo, quero ficar com ele de qualquer jeito. E se Nathan quer ficar comigo...

— Sim, você tem que viver isso. Eu só não quero que sofra mais ainda...

— Não sei se é possível...

— Então se cuida, branquela. E vê se me liga sempre.

— Vai fazer tantos amigos aí que vai até esquecer que eu existo!

— Eu duvido.


No dia seguinte caminho pelo campus ansiosa para ver Nathan, mas quem me encontra primeiro é Chloe.

— Olha só a furona!

— Chloe! — Enrubesço meio culpada.

— Nathan ao menos falou que eu te liguei ontem?

— Eu estava com ele.

— Mas claro! — Ela rola os olhos.

— Me desculpa.

— Ah tudo bem, eu te entendo. Ah queria estar apaixonada também.

— Leo me disse que falou com você...

— Ah, ele me ligou para perguntar de você. Não coloque ideias na sua cabeça.

— Não falei nada!

— Leo está na Califórnia, e mesmo ele sendo bem habilidoso para um principiante, como poderia dar certo?

Ah meu Deus, não sei se quero ouvir Chloe falando de Leo naqueles termos sexuais.

E já estou pronta para pedir para ela parar quando vejo Nathan se aproximando.

— A gente se vê depois, Chloe.

Já estou caminhando em sua direção, como se um ímã invisível nos conectasse. Faz apenas horas que não nos vemos, mas parecem anos. Ele sorri ao me ver e me recebe em seus braços, os lábios em meus cabelos. E derreto em seus braços, o lugar mais perfeito do mundo, recebendo sua boca na minha, até que estamos sem fôlego.

— Aula? — ele diz por fim e eu luto para respirar.

— Aula — concordo.

E nos separamos para nossas respectivas salas de aula.


Antes do almoço, Nathan me acompanha até a biblioteca, onde tenho que fazer um relatório, mas sua presença apenas me distrai. Sinto seus dedos deslizando para cima e pra baixo no meu braço, enquanto tento me concentrar, mas é muita distração para uma pessoa como eu. Altamente sensível a qualquer coisa que dissesse respeito a Nathan.

— Se vai ficar fazendo isso, melhor que estejamos sozinhos. — Eu o encaro.

Seu rosto muito próximo causa um frisson na minha barriga. Mas Nathan se afasta, tirando as mãos de mim.

— Longe de mim te atrapalhar.

— Quer saber? Acho que pode continuar a me distrair. — Eu o puxo pelo colarinho, para colar minha boca na dele. É muito fácil esquecer de tudo quando estamos assim. — Vamos embora? — peço quando paramos para respirar, mas Nathan me beija de leve e se afasta, desgrudando meus dedos de sua camisa.

— Se concentre nos seus estudos, Sarah.

Faço uma careta.

— Por que só eu? Também não tem que estudar não?

Ele dá de ombros.

— Acho que precisa mais do que eu.

Sinto um aperto no peito.

— Odeio quando fala assim — murmuro com os lábios trêmulos.

Nathan fica sério.

— Me desculpe. — Ele parece culpado.

Respiro fundo, afastando a raiva para longe e seguro sua mão.

— Se eu tenho que me concentrar, você também tem. Nós vamos nos formar juntos — replico com uma certeza que preciso sentir.

Ele sorri.

— Vai estar comigo até lá?

— Eu vou estar com você pra sempre. Nem pense em se livrar de mim. — Ele beija minha mão.

E naquele momento eu quero acreditar que nosso pra sempre vai durar muito tempo. Uma vida inteira.


***

Poder passar todas as horas com Nathan é perfeito.

Naquela tarde depois de almoçarmos, vamos à livraria e Nathan fica rindo do meu entusiasmo e lhe lanço um olhar exasperado.

— Sarah James, a esquisita dos livros.

— E todos aqueles livros no seu quarto?

Ele deu dá ombros.

— Acho que sou esquisito também.

— Eu acho que é só para impressionar garotas nerds como eu, quando as leva ao seu quarto.

Ele ri.

— Achei engraçado que tenha pensado que eu era apenas um rostinho bonito, Sarah — provoca.

— É muita coisa para uma pessoa só, tem de convir. Você ser incrivelmente lindo e ainda inteligente. Não é justo tanta perfeição.

— Não sou perfeito.

— Pra mim é. — E fico na ponta dos pés para beijar seu queixo. — Meu namorado perfeito. Vamos embora? — peço com um milhão de pensamentos perversos rondando minha mente e Nathan sabe disso. Ou melhor, tenho certeza que todos esses pensamentos também rondam a mente dele, pois não faz objeção e segura minha mão, me puxando para fora.

— Vamos.


Quando Nathan para o carro em frente ao apartamento que divide com os irmãos, me pergunto se vamos ficar ali, mas ele apenas pede para eu esperar e sai do carro.

Minutos depois ele volta e traz uma pequena mochila. Levanto a sobrancelha.

— Vai a algum lugar?

Ele dá partida.

— Achei que tinha me convidado pra ir pra sua casa.

As borboletas dançam no meu estômago.

— Vai ficar então?

— O convite não inclui o pernoite?

— Inclui todas as noites que quiser.

— Foi o que pensei.

— Mas você pegou seu medicamento? — indago e quero morder a língua.

— Sim, peguei — responde meio a contragosto.

Eu olho a paisagem pela janela. Isso é bom, não é? Então por que sinto aquele peso em meu peito? Mordo os lábios com força, tentando fazer o nó na minha garganta a se desfazer. Eu escolhi ficar com ele. Então tem que ser assim.

Quando chegamos ao meu quarto eu já tinha jogado para o fundo da mente aqueles pensamentos sombrios e só me lembro que parecia anos que não sentia suas mãos em mim, seu corpo no meu.

Ele ri quando fecho a porta e o ataco, o empurrando em direção à cama, e em pouco tempo estamos numa confusão de mãos tirando as roupas do caminho e beijos afoitos. Pedacinhos de felicidade explodem em minha mente, refletem em meu corpo, que treme, vibra, esquenta por onde suas mãos finalmente deslizam.

Minhas próprias mãos estão ávidas em seu corpo, meus lábios seguindo o mesmo caminho, seu gosto em minha língua. Seu cheiro me embriagando, e enevoando meus sentidos.

— Senti tanto a sua falta ontem — murmuro contra seu pescoço, meus dedos torcendo seus cabelos, enquanto sinto seu toque em meus seios, e depois sua língua no mesmo lugar. Fecho os olhos, gemendo alto, me contorcendo e o puxo para beijá-lo, meus dentes castigando seus lábios e é sua vez de gemer.

— Também senti sua falta.

E então perco o fôlego por alguns segundos, quando ele me penetra. Não tem nada mais incrível do que me unir a ele, me mover com ele, seus gemidos fazendo eco com os meus até explodir num orgasmo intenso e efêmero. E me agarro a seus ombros, enquanto os espasmos me traspassaram, me roubando o ar.

E ainda estamos ali, deitados preguiçosamente enquanto acaricio seus cabelos suados, e seus dedos deslizam por minhas costas, quando alguém bate à porta. Abro os olhos e Nathan me encara com as sobrancelhas levantadas.

— Espera alguém?

— Claro que não!

Batem na porta de novo. Eu solto uma imprecação.

— Só pode ser a Chloe!

Levanto-me e Nathan faz menção de fazer o mesmo.

— Não, fica aí, eu vou só ver o que ela quer. Ainda não terminamos! — Pisco.

Coloco a camisa de Nathan e abro a porta. Mas não é Chloe quem está ali. É meu pai.


Capítulo 29

 

Com cada batida do coração que me resta

Eu vou defender toda a sua respiração

Light

 

— Pai! — exclamo em choque.

— Oi, Sarah. — Ele me mede.

— O que está fazendo aqui?

— Ora, Sarah, que pergunta! Sei que não avisei, mas...

— Pai, pode esperar só um minuto? — Tento pensar num jeito de amenizar aquela situação. O que é bem difícil.

— O quê? O que está acontecendo? — Seus olhos se estreitaram. — Tem alguém aí com você? — Ele tenta olhar além de mim.

— Só um minuto, pai! — E fecho a porta e encaro Nathan. — Oh meu Deus, ele vai me matar.

— Provavelmente vai matar a mim — Nathan fala com um sorriso nervoso. Pego sua calça do chão e jogo para ele.

— Veste a roupa rápido.

Nathan começa a fazer o que mandei.

— Está usando minha camisa.

— Oh droga! — Tiro a camisa e jogo para ele enquanto procuro minhas próprias roupas no chão, as vestindo rapidamente.

Meu pai bate na porta.

— Sarah, está tudo bem? Quem está aí com você?

— Acho melhor abrir antes que ele arrombe. — Eu me certifico que Nathan está vestido.

Meu pai me fita entre nervoso e desconfiado quando abro a porta novamente.

— O que foi isso?

— Oi, pai, entra — peço, sem fôlego.

E quando ele entra sua desconfiança se torna certeza.

— Olá, senhor — Nathan fala educadamente. — Eu sou Nathan Cole.

— Nathan Cole? Filho do Cameron Cole? Que diabos está fazendo aqui?

— Pai, não há motivo pra ficar bravo, ok? — Tento soar calma.

— Não há motivos? — Seus olhos vão de mim para Nathan e eu imagino o que ele está vendo.

Meus cabelos desgrenhados, as roupas abotoadas de qualquer jeito e Nathan está no mesmo estado. E meu rosto se tinge de vermelho quando seu olhar vai para a cama, com os lençóis desfeitos. E então eu vejo sua expressão ir mudando entre enfurecido e constrangido.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?

— Pai, quer mesmo detalhes? — indago corajosamente, porque sei que só assim para não explodir.

E ele fica mais vermelho do que eu.

— Sr. James, sei que está surpreso de me ver aqui. — Nathan começa a falar. — Talvez Sarah ainda não tenha te contado, mas estamos namorando.

— Namorando? — Agora ele está mais surpreso ainda e me encara. — Está namorando Nathan Cole?

— Sim, pai, estamos — confirmo.

Blake fica em silêncio por alguns instantes absorvendo a informação.

— Nathan, você já ia embora, não é? — Eu o encaro significativamente. É melhor que eu trate do meu pai sozinha.

— Sim, já estou indo — ele diz, entendendo.

— Até logo, senhor. — Ele se despede e meu pai resmunga algo.

Eu lhe lanço um olhar de desculpas.

— Vai ficar tudo bem — ele diz se afastando e fecho a porta, encarando meu pai.

— Ia me contar quando essa novidade?

— Pai, é que faz pouco tempo que está rolando. Estamos namorando há poucos dias.

— E ele já está aqui no seu quarto?...

— Pai!

— Ora, Sarah!

— A gente está namorando há poucos dias, mas já temos algo faz tempo, ok?

— Há quanto tempo? Eu nem sabia que conhecia o filho do Cole! Era com ele que estava saindo quando estive aqui antes?

— Sim.

— Ah, por que não me disse?

— Porque não era da sua conta e eu nem sabia que conhecia os Cole, que foi Cameron Cole que financiou meu estudos! Por isso fique tão brava.

— Sarah, quando estive com Cameron Cole, ele me contou que o filho dele tinha uma doença crônica.

— Sim, eu sei... Por isso foi tão complicado a nossa história. Ele não queria fica comigo, não me contou que estava doente, eu descobri agora.

— Agora entendo. Você pareceu bem estranha ultimamente, não voltou para casa depois de ir visitar sua amiga. Leo disse que estava tudo bem, mas que você iria conversar com a gente depois, mas nunca ligou. Agora entendo o que está acontecendo...

— Eu sei o que estou fazendo. Eu estou... apaixonada pelo Nathan. Eu quero apenas... viver com ele enquanto a gente pode. — E então sem aviso, minha garganta se aperta e eu começo a chorar.

Meu pai se aproxima, sentando ao meu lado.

— Eu sinto muito, querida. Não queria que sofresse assim. Talvez ele tivesse razão em ficar longe de você, se nem sabe até quando...

— Para! Claro que não pode ficar longe de mim! E ele não vai morrer!

— Sarah, precisa estar preparada...

— Eu não quero estar. Eu tenho que acreditar que ele vai viver. Eu não posso nem conceber...

Blake me abraça enquanto eu chorava.

— Ah Sarah, eu não queria que passasse por isto.

— Mas eu preciso passar, porque preciso estar com ele. Não importa até quando.

Blake apenas assente.

— Certo. E então quando é que este seu namorado vai fazer as coisas direito e conversar com seu pai?

— Pai, não seja antiquado!

— Sabe de uma coisa? — ele diz, de repente. — Quando conversei com Cameron Cole, eu falei longamente sobre você. Até mostrei uma foto sua.

— Que vergonha, pai.

Ele ri.

— Ele disse que você era bonita e sabe o que mais? Que você podia fazer um belo par com o filho dele, o Nathan.

— Ele disse isto? — indago estupefata. — Por que ele diria uma coisa destas, nem me conhecia!

É muito surreal imaginar Cameron Cole falando algo assim.

— Disse sim. Claro que eu contei como você era, do que gostava e ele disse que era bem parecida com o Nathan. Eu disse que provavelmente o filho dele não seria bom o suficiente para minha filha e ele riu.

— E foi só isto?

— Sim. Acho que ele estava certo, não?

Sim, parece que Cameron Cole estava mesmo certo.


Meu pai foi embora ainda naquela noite e me fez prometer ligar para minha mãe e contar tudo.

A conversa com a minha mãe foi mais fácil. Ela ficou preocupada, mas Jocelyn era um espírito otimista e acreditava que tudo iria dar certo no final.

Na manhã seguinte, Nathan me encontra na porta do dormitório.

— E aí, cadê seu pai? — Ele me abraça.

— Foi embora.

Seus dedos enquadraram meu rosto.

— Então eu fui aprovado.

Eu sorrio.

— Foi sim. — Eu me afasto um pouco. — Nathan, nunca falamos sobre isso, mas eu não sei se sabe que foi seu pai que financiou meus estudos.

— Ele me contou depois que descobriu que estava envolvido com você.

— Não acha isso... bizarro?

— Por que seria?

— Como podíamos imaginar que eu me envolveria justamente com você?

— Talvez fosse o destino...

— Cheguei a pensar que seus irmãos não gostavam de mim por causa disso.

— Claro que não. Agora vamos pra aula?

— Vamos. — Seguro sua mão e seguimos pelo campus. — Hoje pode voltar ao meu quarto. Garanto que não seremos interrompidos!

Ele sorri.

— Mal posso esperar.


***


E naquela noite ele fica comigo no meu quarto. E na noite seguinte e em todas as outras noites que se seguem. Na verdade é difícil estarmos separados, tirando durante as aulas e algumas vezes que ele ia para sua casa. E mesmo assim sempre volta, todos os dias. Às vezes ele me surpreende à tarde enquanto eu estudo. Fica espalhado na minha cama, me observando e é impossível para mim me concentrar por muito tempo e invariavelmente eu vou parar na cama também, e lá se vai qualquer concentração em estudo assim como minhas roupas. E as dele. Mas quem se importa? Estamos juntos. E nada é mais importante.

Às vezes me pergunto o que os Cole acham disso, dele passar quase todo o tempo comigo, mas logo jogo essas perguntas para o fundo da mente. De certa forma, eu gosto assim. Nathan é só meu. Eu sinto uma necessidade possessiva de estar com ele. Talvez porque no fundo sempre estou pensando que não poderia haver tempo suficiente... E quando estes pensamentos obscuros ameaçam me dominar, tento me ater no que temos. Em como sou feliz.

E é o que importa na maior parte do tempo. Ouvir seu riso, sua voz em meu ouvido. Suas mãos em mim. Dormir ouvindo seu coração bater com o meu.

Tudo se resume a Nathan.

Ele se torna o centro do meu mundo. Então é fácil esquecer todos os problemas e o mundo lá fora. Mas, infelizmente, o mundo acaba nos encontrando. Assim como os problemas. E a paz começa a ruir quando seu telefone toca numa tarde. Estou lendo com a cabeça deitada em seu colo, enquanto suas mãos mexem nos meus cabelos e sinto seu celular vibrar. Eu me levanto enquanto ele atende.

— Oi, sim, sou eu... — Ele fica ouvindo a pessoa no telefone. — Sim, tudo bem.

E desliga, parece tenso.

— Tudo bem?

— Nada importante. — E me beija.

Eu me pergunto se tinha imaginado aquela tensão. Só que Nathan já desliza a mão por baixo da minha blusa e pensar deixa de ser prioridade. Por um longo tempo.


Na manhã seguinte, quando acordo, ele já está arrumado.

— Estou atrasada?

— Não, eu que não vou à aula hoje.

— Aonde vai?

— Preciso ir para Nova York. Tenho uma consulta.

Eu me sento.

— Oh. — Então devia ser sobre isso a ligação ontem. — Posso ir com você? — indago, ansiosa.

— Não, não pode — Ele diz muito sério pegando as chaves do carro.

— Mas eu queria mesmo ir.

— Não, Sarah. Não insiste. A Caroline vai comigo. Ela me encontrará lá.

— Se a Caroline vai...

— Sarah, não vamos discutir, ok? — Sua voz agora é tensa e eu me retraio.

— Tudo bem. Se quer assim. — Tento não soar magoada.

Ele se aproxima e beija minha testa.

— Eu volto amanhã, ok?

— Ok — murmuro, sentindo um aperto no peito ao vê-lo sair.


Não quero ficar pensando em Nathan e no que estará fazendo no hospital neste momento, mas é impossível. Queria que ele tivesse me deixado ir junto. Me deixa triste saber que não me quer por perto.

Até posso entender o que ele está fazendo. Nathan pensa que está me protegendo me mantendo de fora, mas ele não entende que é pior. Eu já estou dentro demais daquela história para ficar feliz com a ignorância. Nathan tem uma doença e isso não vai desaparecer somente porque não falamos sobre. E eu quero saber de tudo que se relacione a ele. Mesmo que doa.


Na tarde seguinte, enquanto espero a volta de Nathan, entro na internet e começo a pesquisar.

Como Nathan falou, não tem cura. O paciente convive com a doença, tomando a medicação. Em alguns casos, pode evoluir para a forma aguda, que é mais agressiva, mas também há pacientes que vivem bem por muito tempo, com toda a evolução da medicina.

Por que que justo Nathan tem que ter aquela doença e ser obrigado a viver assim? Com aquela incerteza?

Meu celular vibra, me distraindo e tem uma mensagem de Nathan, dizendo que já voltou e está a caminho.

Mais animada, corro para tomar um banho e quando retorno para o quarto, vejo sua silhueta esculpida contra a janela, no sol que se desfaz na tarde e sinto um aperto no peito. Uma mistura de amor e angústia.

— Oi.

Ele se volta. Parece muito sério.

— Oi.

— Tudo bem? — Eu me aproximo, preocupada. Minhas mãos tocam seu rosto.

Ele sorri, mas não é um sorriso feliz, enquanto segura minha mão e beija a palma.

— Sim, tudo bem.

— Você parece preocupado.

Ele se afasta. Meus olhos vão para o notebook sobre minha escrivaninha, onde a página de pesquisa ainda está aberta. Então ele tinha visto. Sento ao seu lado.

— Acho que você viu o que eu estava fazendo. Eu só estava curiosa.

Ele fica em silêncio por alguns instantes e quando fala sua voz ainda está tensa.

— Sarah, isso não é um assunto... fácil pra mim.

— Mas faz parte de você.

— Acha que eu gosto disso?

— Claro que não. Mas eu não me importo, quer dizer... É você.

Suas mãos seguraram as minhas.

— Não quero que fique pensando nisso.

— Nathan...

— É sério, Sarah. Por favor, não fique pensando. De nada vai adiantar.

— Tudo bem — concordo. Apenas porque isso parece angustiá-lo. — Deixa de assunto sério então.

Ele sorri, seus braços me enlaçam, mas minha mente continua trabalhando.

Eu não teria as respostas por Nathan. Teria que ser por outro meio.


Na manhã seguinte, eu me encontro com Brad Cole no Café.

Eu tinha lhe enviado uma mensagem e dito que queria conversar. Desde que comecei a namorar Nathan nós vivíamos numa bolha afastados do resto do mundo e até mesmo dos seus irmãos, mas acho que já estava na hora de voltarmos à vida real.

— Fiquei surpresa em querer conversar comigo. E acho que o Nathan não sabe disso, não?

— Não. Eu quero que me conte tudo sobre a doença dele.

— Ok, eu vou te contar o que sei. A leucemia linfoide crônica é uma doença de progressão lenta, diferente da aguda. Alguns paciente convivem com ela durante anos, sem necessidade de tratamento. E outros precisam de medicamentos para controlá-la. E em alguns casos pode evoluir para aguda, que necessitaria de transplante e quimio.

— Eu li que algumas pessoas vivem muito... Mesmo com a doença.

— Sim. Mas é diferente para cada pessoa. Hoje existem muito avanços no controle da leucemia crônica, principalmente a partir da identificação de quais genes estão alterados no paciente.

— Você parece saber bastante.

Ele esboça um sorriso triste.

— Foi preciso.

— E Nathan, como está?

— Ele segue com o tratamento. Claro que, às vezes, os sintomas vêm à tona e ele fica mais fraco, como aconteceu quando estávamos na praia. Ou é acometido por gripes e anginas esporádicas.

— E quais suas chances?

— Não sabemos, Sarah. Ele pode viver muito. Ou pode progredir para uma forma mais agressiva. Temos apenas que ter esperança e seguirmos em frente.

— Obrigada por ter me contado. Nathan é muito fechado em relação a isso.

— A gente tenta respeitar a vontade dele.

— Nathan está mal acostumado, isso sim. Não é porque está doente que vocês têm que fazer todas as vontades dele.

Brad ri.

— Acho que talvez tenha razão. Estou feliz que ele esteja com você. Acho que Nathan precisa de alguém assim.


***


Quando Nathan me encontra no meu quarto naquela tarde. Eu conto que estive com Brad.

— Por quê? — Ele não parece muito contente.

Levanto o queixo.

— Eu fui perguntar sobre sua doença. Você não quer me contar, então eu fui atrás de alguém que podia me ajudar.

— Eu pedi para ficar fora disso.

— Nathan, está sendo ridículo!

— Eu não quero que se meta!

— Por que não? Quer me poupar de quê? É tarde demais. Você está doente! — Agora estou gritando, mas não me importo. Se ele está bravo, eu também estou — E é horrível, mas é uma realidade! Não falarmos sobre não vai fazer a doença desaparecer. E você me manter de fora dessa parte da sua vida só me faz sofrer mais!

— Disse certo, é a minha vida. Eu escolho como quero vivê-la! E eu não quero que se intrometa nisso!

— Sabe de uma coisa, Nathan? Estou de saco cheio dessa sua atitude de menino mimado! Sua família pode te aguentar assim, mas eu não sou obrigada! Então se quer assim, quer escolher que parte da sua vida quer compartilhar comigo, pode ir embora, porque pra mim não serve!

Ele não se mexe por um instante, me encarando tão furioso como eu estou e então, se move, se afastando. Meu coração falha ao vê-lo abrir a porta.

Quero gritar para ele ficar, mas não posso.

Não dá para viver assim. Apenas do jeito que ele quer.

E o quero por inteiro. Nathan tem que entender.

Só que quando a porta se fecha atrás dele, começo a tremer. A dor me sufocando. O nó na minha garganta rompendo em um choro silencioso.

Eu me sinto uma idiota por tê-lo mandado embora, mas me sentiria mais idiota ainda em aceitar seus termos. Agora, como é que eu vou conseguir lidar com sua ausência?


Capítulo 30

 

E não importa o quê

De alguma forma, ficaremos bem

Não tenha medo

Six

 

Quando a noite cai, ainda estou tentando assimilar o que tinha feito. Quando batem a porta, me levanto esperançosa achando que seja Nathan, mas é Caroline.

— Caroline?

— Por favor, não deixe o Nathan.

— O que...

— Ele me contou que discutiram. Que ficou bravo porque conversou com Brad.

— E eu não quero deixá-lo, porém não posso tê-lo pela metade.

— Eu sei. Mas Sarah, ele sempre aceitou bem essa doença. Acho que nós ficamos mais abalados do que ele, quando descobrimos. Só que Nathan se manteve forte. Começamos o tratamento e seguíamos, um dia de cada vez. Rezando para que lhe fosse permitido viver muito ainda. Mas nunca com essa certeza. Porém, depois que se apaixonou por você, tudo mudou. Porque agora Nathan tinha uma razão para querer viver. E saber que isso pode lhe ser tirado o deixa arrasado.

— Ele não pode esconder isso de mim. Eu quero viver com ele. Do jeito que for, pelo tempo que for. Mas ele não quer permitir.

— Nathan é teimoso, mas precisa de você. Por favor, não desista dele. Insista. — Ela enxuga uma lágrima. — Depois que ele ficou com você, percebi que ele, pela primeira vez em muito tempo, queria realmente viver.

Sinto vontade de chorar também.

— Eu não quero desistir.

— Então lute.


Eu encontro Nathan exatamente onde ele deveria estar.

Com o olhar preso no céu.

Caminho pela sacada do apartamento, o lugar onde começamos a ficar juntos pela primeira vez, sentindo que estou no lugar certo.

Não posso deixar Nathan.

Não posso desistir do que podemos viver juntos.

Ele se vira e seu olhar se prende no meu.

— Você está aqui.

— Onde mais poderia estar?

— Achei que tinha te perdido.

— Jamais.

— Eu não quero... — Ele respira fundo como se doesse falar. — Ficar longe de você.

— Ah Nathan. Eu também não quero, mas você quer me manter longe quando se trata da sua doença. Insiste em me manter de fora, acha que eu me sinto melhor com isso? Só me faz sentir que você não me quer realmente...

— Sarah, eu amo você. Minha vida é você agora.

— Achei que essa vida fosse “sua” pra viver do jeito que bem entendesse!

— Queria não estar doente. Queria que fosse possível ficar com você sem isso.

— Eu escolhi ficar com você. Sabia que estava doente. Eu quero compartilhar tudo com você, o que é de bom e ruim. E se quer ficar comigo, Nathan, tem que ser assim também.

— Eu tenho sido um idiota, não é?

Eu sorrio. O alívio começando a se alastrar por meu sangue, quando me aproximo.

— Às vezes amar você é bem difícil viu, Nathan?!

— Ainda dá tempo de desistir — ele diz isso em tom de brincadeira, mas eu sei que no fundo há uma verdade.

— Nunca vou desistir. Nunca vou deixar você.

— Você faz viver valer a pena, Sarah James... E eu só quero ter tempo. Tempo com você.

— Nathan, não importa se são alguns dias, semanas, meses, anos. Eu quero ficar com você. Você faz tudo valer a pena — repito suas palavras. — Então para de ser idiota e me deixa ficar. Eu não vou a lugar algum. Estamos juntos. Até o fim.

— O que eu fiz para você me amar?

— Acho que é alguma coisa escrito nas estrelas, talvez?

Ele sorri. Tão lindo.

Tão perfeito.

Quero eternizar este momento para sempre.

E então ele fica sério de repente.

— Casa comigo?

Meu coração dá um salto no peito.

— Não — respondo suavemente. E seguro seu rosto. — Nathan, isso é apenas o começo. Nós vamos voltar para a faculdade, vamos nos formar, aí eu vou arranjar um emprego. E só então, você pode tentar me convencer a casar com você. E se tiver sorte em alguns meses posso aceitar seu anel e nós nos casaremos. Provavelmente em Mystic, porque meu pai vai querer assim e acho que você não vai querer contrariá-lo. E será lindo, o mais bonito que a cidade já viu, afinal será o casamento de um Cole e eu provavelmente ficarei bem irritada com Brad querendo arrumar tudo. Mas no fundo não vou me importar, porque a única coisa que me importará é você. E nós passaremos a lua de mel em alguma ilha com bastante sol e faremos amor o dia inteiro e de todas as maneiras e talvez eu fique grávida na lua de mel. Acho que não será um problema. Afinal eu quero ter um bebê seu um dia.

Ele sorri, seus braços me cingindo.

— Já tem tudo planejado, hein?

Eu me inclino tocando seus lábios.

— Nós vamos ficar juntos para sempre. E podemos qualquer coisa juntos, Nathan. Vencer qualquer obstáculo.

Ele olha para o céu.

— Sabia que existem explosões que modificam profundamente uma estrela? Elas chamam Supernova... — Ele volta a me encarar. — Você é minha supernova, Sarah. Se eu ainda tiver uma vida depois de tudo. Ela é sua. Para sempre.

E quando ele me beija, eu entendo o que minha mãe quis dizer.

A vida é mesmo cheia de infinitas possibilidades.

E eu quero descobri-las com Nathan.

Pelo tempo que for.

E eu realmente não sei o que o amanhã nos reserva, ou quanto tempo mais temos. Mas uma coisa é certa.

Nós ficaremos juntos.

Até o fim.


Epílogo

 

O seu coração é a sua obra-prima

E eu vou mantê-lo seguro

I'll Keep You Safe

 

Três Anos Depois

 

Caminho sozinha por entre as pessoas para receber meu diploma sentindo uma imensa satisfação.

Finalmente!

Quando me viro, com meu canudo em mãos, posso avistar meu pai sorrindo e aplaudindo orgulhoso. Leo está ao lado com Chloe e os dois assoviam.

Minha mãe e seu namorado estão mais contidos, e bem longe do meu pai, claro. Posso ver que ela está chorando.

E então os Cole estão mais atrás.

Claro que são o centro das atenções. Lindos, ricos e bem vestidos, porque Brad não podia deixar por menos.

Eu sorrio para eles, mas sinto uma pontinha de tristeza. Falta alguém ali.

Suspirando, eu volto ao meu lugar.

Sento ao seu lado e ele segura minha mão.

Seu sorriso lindo ainda me deslumbra.

— O que vamos fazer agora? — Nathan indaga, todo bonitinho vestindo sua beca.

— Qualquer coisa. Temos toda a vida para decidir. — Ele se inclina e me beija e só para quando meu pai pigarreia irritado e nos separamos rindo.

Já estamos juntos há três anos e como eu previ, ainda estamos lutando juntos.

Temos dias bons, dias ruins, mas prosseguimos.

Nathan continua controlando a doença e há um ano lhe foi apresentada a possibilidade de um novo medicamento que ainda deveria ser testado, para comprovar se ele era ou não candidato a recebê-lo. Felizmente ele era e começou o tratamento, que, até agora, continua recebendo com muito sucesso.

— Finalmente acabado — Nathan comemora enquanto caminhamos em direção ao carro.

Estamos no mesmo lugar no campus onde eu tropecei nele, tanto tempo atrás.

— Uma pena Caroline não ter participado — comento.

— Ela é tão chata que estaria reclamando de alguma coisa.

Eu rio.

— Para de implicar com sua irmã.

— Olha só quem está aqui — ele diz e sigo seu olhar vendo Caroline emergir de dentro do seu carro.

Ela carrega um bebê no colo.

— Graças a Deus acabou, eu não estava aguentando mais!

Eu rio quando Nathan me lança um olhar de “eu não te disse” enquanto Caroline coloca a criança no meu colo, que para de chorar imediatamente.

— Você que insistiu em ficar cuidando de Sky, Caroline — Nathan fala com ironia.

— Pois ela é bem difícil às vezes, acho que puxou a você! E só tem seis meses e tão temperamental! Agora que cuidem da sua filha. Vou procurar o Tyler!

Ela se afasta numa nuvem de perfume caro e cabelos loiros e Nathan abre a porta do carro, retirando nossa filha do meu colo e a colocando na cadeirinha atrás.

Pois é, nem todos meus planos ensaiados tinham dado certo.

Sky tinha atropelado todos eles ao aparecer, sem aviso algum.

E claro, eu tive que aceitar o pedido de casamento de Nathan, mesmo porque meu pai teria um troço se fosse diferente, mas pelo menos o casamento foi como previsto: Em Mystic, grandioso e com Brad dando pitaco em tudo. E nossa lua de mel foi mesmo numa ilha ensolarada.

Entramos no carro e Nathan dá partida.

— Para onde, Senhora Cole?

— Para casa.

Eu sorrio e seguro sua mão.

Ansiosa por mais infinitas possibilidades.


Como fogos de artifício nos separamos no escuro

Competimos contra as estrelas com os nossos corações

E até que a nossa luz temporária se torne em cinzas

Nós iremos afastar a escuridão até quando conseguirmos


In The Embers

Sleeping at Last


Nota da autora


“As Infinitas Possibilidades do Nunca” foi escrito originalmente em 2010, e eu tinha um carinho especial por essa estória e certo medo de lançá-la ao mundo porque sabia que precisaria fazer muitas modificações.

Porém, agora, tenho certeza que ficou ainda melhor e espero que vocês tenham apreciado a leitura, assim com eu apreciei escrever ( duas vezes!).

Algumas pessoas ajudaram imensamente para que esse livro ficasse pronto e preciso citá-las aqui.

Cinthia Pires e Carol Miranda pela leitura crítica.

A Jessica Gomes pela capa maravilhosa.

A minha amiga Lulu, que, a primeira vez que me ajudou com a pesquisa era apenas uma estudante de medicina, mas que agora é a Doutora Luciana Matoso e não hesitou em me ajudar novamente!

Agradeço também a Erika Oliveira, que betou o livro nas incontáveis madrugadas insones e as betas na primeira versão: Priscila Dias, Priscila Gonçalves, Karine Brito, Mariana Meneses, Mariana Basseto.

Sheila Mendonça, que o revisou em tempo recorde, porque, como sempre, eu me perco nos prazos.

A todos os Blogs e Igs parceiros por ajudar na divulgação!

E claro, a você leitor que deu uma chance a esse livro. Muito obrigada!

Não esqueça de deixar sua avaliação!

E se gostou da leitura, indique para todo mundo se emocionar com Nathan e Sarah.

Grande abraço e até a próxima!


Juliana


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                                                                  Juliana Dantas

 

 

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