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ASSALTO AO CASTELO / Eloisa James
ASSALTO AO CASTELO / Eloisa James

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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O que a Srta. Phillipa Damson precisa é de um bom, cavaleiro de armadura brilhante à moda antiga. O que ela tem é um noivo que não queria e uma vontade irresistível de fugir. Mas se ela conseguir escapar, irá encontrar seu “felizes para sempre”?

 


 


Capítulo 1

Residência de Phineas Damson, Esq. Little Ha’Penny, Lancashire.

Final da pimavera.

Nem todo conto de fadas começa com um príncipe ou uma princesa. Alguns começam com um beijo que transforma um homem em um sapo, ou uma queda na estrada que transforma uma cesta de ovos em ovos mexidos. Aqui a história começa com a percepção de que o príncipe, antes alto e bonito, agora é verde e ronca.

Esta história pertence a essa categoria, Srta. Philippa Damson deu a virgindade a seu noivo, Rodney Durfey, o futuro Sir Rodney Durfey, Baronete, acreditando que ele era um príncipe até que ela percebeu exatamente o que queria da vida: Nunca estar perto de Rodney novamente.

Foi uma pena ela perceber este ponto significativo somente agora, estando no celeiro ajustando suas anáguas depois de dar a Rodney seu bem mais precioso, sua virgindade. Mas às vezes é preciso um olhar perspicaz para um homem deitado na palha para perceber como você se sente sobre ele. Um momento de fraqueza, dez minutos de desconforto, e agora ela era uma mulher. Ela sentia-se diferente.

Fraca.

—Droga, como foi bom! —disse Rodney. Não fazendo nenhuma tentativa para endireitar sua roupa. —Você é tão apertada como... —Sua imaginação aparentemente falhou com ele. ¯... muito mais apertada do que a minha mão, de qualquer maneira.

—Você não acha que deve se levantar agora? —disse Philippa torcendo o nariz.

—Eu esperei tanto tempo por isso que preciso de toda minha força de vontade para fazer isso. Não é todo dia que um homem perde a virgindade. Você sabe! —disse Rodney.

Ou uma mulher. —pensou Philippa, usando os dedos para pentear os pedaços de palha que ficaram no seu cabelo.

—Meus amigos ficam picando em todo momento quando tem oportunidade. Você não é mais inocente, então não importa se eu seja franco, eu acho. Eu me poupei para você, não queria pegar nenhuma doença.

—Obrigada. —disse Philippa. A etiqueta que sua mãe havia lhe ensinado não a preveniu para esta situação em particular.

—Se você não é a coisa mais bonita com o seu cabelo brilhando contra a luz do sol. —disse Rodney alongando seus músculos. —Eu sou capaz de fazer amor com você cerca de dez vezes mais agora, Philippa. E você sabe que eu te amei desde que te vi pela primeira vez, desde...

—Desde que me viu na igreja quando eu tinha sete anos de idade. —disse Philippa Damson.

—Você era como um anjinho, e agora você é uma moça. E seus seios foram enviados dos céus. Diabos, eu poderia fazer isso o dia todo. Devo subir até sua janela hoje à noite? Eu sei que você nunca me deixou antes, mas os proclamas já foram publicados em St. Mary, por isso parece que se... —Ele estendeu a mão para o tornozelo dela tentando agarrá-la. Philippa deu a volta bem na hora.

—Não. —Philippa afirmou. —Absolutamente não. E você... deve cobrir-se. E se um dos ajudantes dos estábulos regressa?

—Eu aposto que sou o maior homem que já viu! —disse Rodney olhando para baixo, para a coisa rosada e mole que estava envolta da sua coxa de uma forma que fez Philippa sentir-se doente.

Philippa revirou os olhos e começou a trançar seu cabelo.

—Claro que você nunca viu de qualquer outra pessoa. —acrescentou. —Eu sei disso. Você era virgem tudo bem. Claro que era. Eu tive que forçar o meu caminho, você sabe. —continuou Rodney a falar.

Ele a fez recordar, e a lembrança à fez moer seus dentes.

—Ainda que eu fiz por você também. —disse Rodney, alheio aos seus sentimentos como sempre.

—Você fez o quê? —exclamou Philippa com espanto.

—Você não notou quando eu toquei você? —perguntou. —Eu sabia exatamente onde eu deveria tocar para dar prazer nas mulheres. Eu espero fazer amor duas ou três vezes por dia no próximo ano com você. Aliás, espero não sair da cama nas próximas semanas. Nem mesmo para comer. Meu pai me fez na primeira semana de seu casamento, e eu tenho como objetivo manter a tradição.

Se Philippa já não tivesse feito a sua mente, ela o teria feito agora.

Não ia se casar com Rodney Durfey. Mesmo que ele tivesse dito a toda aldeia aos nove anos que se casaria com ela ou ninguém. Mesmo que ela tivesse passado sua infância sendo cumprimentada por aqueles que pensavam que ela era a garota mais sortuda do mundo.

Mesmo que ela tenha lhe dado sua virgindade, o que rendeu a ela, todas as intenções e propósitos de se casar com ele.

Apenas no momento, ela não tinha absolutamente nenhum problema com essa ideia.

—Estou saindo, Rodney. —disse ela.

—Você não vai me dar um beijo de despedida? —Ele disse, levantando seus olhos azuis ainda nebulosos.

—Não. —respondeu e saiu, sentindo-se, como sua babá costumava dizer, para um cão de curral. Quando ela se afastou, percebeu que não era uma sensação inteiramente nova. Ela já tinha ficado irritada com Rodney por um longo tempo.

Depois que ele fez sua famosa declaração na Igreja de St. Mary, em Little Ha'penny, nenhum outro garoto nunca olhou para ela duas vezes. Ela era a metade que faltava para Damson. Ela estava destinada a ser a próxima Lady Durfey. Além do mais, ninguém nunca perguntou o que pensava sobre Rodney, sobre seus olhos azuis pálidos, ou suas nádegas redondas, ou a maneira como ele olhou para seus seios enviados dos céus.

Sua mãe tinha morrido no verão anterior, apertando a mão de Philippa e repetindo o quão feliz ela era que sua filhinha estava sendo cuidada. Seu pai lhe havia dito repetidamente que ele era grato por ter sido poupado da despesa e do incômodo de uma temporada de apresentações onerosas ou, ainda mais, uma viagem a Londres para ser apresentada na sociedade por sua madrinha.

Os Damson e os Durfeys sempre tinham celebrado a época de Natal juntos e caminhado até a frente da igreja. Quando ambas as senhoras de suas respectivas famílias faleceram... bem, Sir George e Sr. Damson, simplesmente mantiveram a tradição que tinham antes.

O casamento de seus filhos iria colocar as terras dos Damson nas mãos do Barão Durfey, que todos, incluindo o pai de Philippa, descreviam como uma boa ideia.

—Minha terra é ao lado das terras deles. —ele tinha dito a ela uma vez, quando Philippa se queixou de que Rodney tinha roubado sua boneca e cortou-lhe a cabeça. —Vocês dois vão se casar um dia, e essa é a maneira do menino mostrar afeto. Você deve estar feliz de ver como aquele rapaz a adora.

Todo mundo sempre tinha dito a ela apenas como devia se sentir, a partir do momento que ela tinha sete anos: com sorte, especial, maravilhada e feliz.

Agora, porém, sentiu náuseas.

Ela deveria fugir. Seu pai nunca entenderia se lhe disse que tinha mudado de ideia sobre o casamento com Rodney. Não era como se pudesse dizer que Rodney era cruel, bestial, ou até mesmo desagradável.

E no momento em que seu pai descobrisse o que tinha acontecido no celeiro ele faria de tudo para entregá-la ao altar não importa quão fervorosos fossem seus protestos e só iria parar quando Rodney se casasse com ela.

Não, se quisesse escapar de Rodney, teria que fugir.

Ela respirou fundo. Por que diabos não podia ter descoberto isso ontem, em vez de depois daquele episódio desagradável no celeiro? Ela nunca tinha concedido Rodney mais do que alguns beijos até esta tarde. Em vez disso, ela tinha ido como um galho em uma corrente, não visualizando realmente sua vida com Rodney. As noites com Rodney.

Mas agora... podia haver um bebê. Ela caminhou de volta para a casa de sua família, tão diferente da monstruosidade de tijolos berrante que era Durfey Manor, para preocupar-se com essa possibilidade.

Ela adorava bebês, sempre tentou roubar as horas de chás e encontrar seu caminho para o quarto do bebê. Além do mais, tinha passado suas horas mais felizes com seu tio, um médico em Cheshire, que permitiu a ela acompanhá-lo quando ele cuidava das crianças da aldeia.

Ainda assim, essa possibilidade do bebê era seu maior dilema. Ela não era sentimental sobre a vida dos criados. Não podia condenar o filho de Rodney para uma vida de servidão, que é o que sua vida se tornaria se ela estivesse grávida e fugisse do seu destino, o casamento...

Sua mente estava girando como um turbilhão no vento. Finalmente, ela tomou uma decisão: iria ficar até saber o seu destino. Se havia um bebê, iria renunciar a si mesma. Andar pelos corredores, sorrindo e tornar-se a Lady Durfey. Ela estremeceu com esse pensamento.

Mas se não... ela iria buscar a sua liberdade.

Naquela mesma noite, descobriu que Rodney não tinha conseguido “plantar” nada, para usar a sua terminologia repulsiva.

Philippa ainda estava pensando sobre o que significava, e o que ela faria em seguida, quando percebeu que Betty, a empregada lá em cima, foi tagarelar sem parar sobre um castelo. Em outros lugares na Inglaterra, as pessoas, sem dúvida, falavam dos grandes castelos de Windsor e de Edimburgo, mas em torno a Little Ha’penny, havia apenas um castelo que valia a pena discutir: Pomeroy. Ele estava do outro lado da grande floresta, apenas mostrando suas torres altas o suficiente para ser visível em um dia claro. Durante anos, Philippa tinha olhado pela janela e sonhado com um cavaleiro de armadura brilhante que iria montar pela cidade e se apaixonar por ela, varrendo-a para a parte de trás do seu cavalo e levando—a embora.

Longe de Rodney, ela gostaria que isso se realizasse agora.

Entretanto, nenhum cavaleiro de armadura brilhante viria, na verdade, o castelo tinha estado desocupado e abandonado por anos até que um verdadeiro príncipe mudou para lá um par de anos atrás. Ele era um estrangeiro, de algum lugar na Europa.

Como em um conto de fadas real, o príncipe não tinha vivido só em Pomeroy Castelo muito tempo antes de se apaixonar e se casar com uma princesa. Ou uma herdeira, pelo menos. Ninguém sabia ao certo porque Little Ha’penny ficava longe do mundo educado. Embora Rodney estufasse o peito e se vangloriasse sobre as conexões de seu pai, o fato era que Sir George Durfey era o tipo de homem que não se expandia muito fora da casa e de suas terras. Ele até manteve a educação do seu filho em casa com um tutor, em vez de mandá-lo para Eton.

—Não é bom para o rapaz ser tão provincial. —Seu pai tinha observado, anos atrás. Phineas Damson era o único outro cavalheiro na área, embora, e verdade seja dita, ele não estivesse tão interessado em Sir George, nem em seu futuro filho. O papai gostava de investigar as batalhas. Ele passava a maior parte de seus dias em seus estudos, cercado por mapas de lugares como Espanha e Egito, meticulosamente traduzindo as batalhas gregas.

Em suma, ninguém sabia nada sobre o castelo e seus reais ocupantes, e de acordo com sua perspectiva provincial, a maioria dos bons habitantes de Little Ha'penny tinham perdido o interesse desde que o príncipe prussiano se mudou.

—Sinto muito, Betty. —Philippa disse. —Você poderia me dizer isso de novo? Sobre a princesa, eu quero dizer?

—Bem... —disse Betty importante. —Eu estava apenas dizendo o que ouvi da Sra. Pickle, que a ouviu do cocheiro do correio da manhã.

—E? —exclamou —Ela teve um bebê. A princesa, isto é, não a Sra. Pickle.

—Oh! —disse Philippa. —Muito agradável.

—Você vai ter um em breve. —Betty disse confortadoramente. —Basta só dar uma olhada nas coxas fortes do jovem amo para saber que ele é todo homem, se você sabe o que quero dizer. De qualquer forma, este bebê no castelo chora o tempo todo. Tem um par de cordas igual ao meu primo. Não me admiraria se morrer. Alguns deles não podem tomar leite, e eles simplesmente morrem.

—Só se as pessoas insistem em dar-lhes leite de vaca como um substituto. —Os lábios de Philippa apertados.

—Bem, o meu ponto é que a criança não está indo tão bem. —disse Betty. —O cocheiro disse que ele tinha enviado um lacaio para Manchester para conseguir babás e médicos.

—Eles devem estar desesperados. —disse Philippa.

—O bebê é um príncipe. Naturalmente, eles estão desesperados. Ele vai herdar o castelo algum dia, embora não se morrer.

Foi tão fácil. Philippa levou um pequeno saco com umas roupas simples embaladas. Deixou uma nota para seu pai. Em seguida, fez seu caminho por uma Rua da Vila e pagou ao velho bêbado, Fettle, que estava deitado atrás do arado, para levá-la para Bigger Ha'penny.

Lá, ela cobriu seu cabelo, que era distintamente de cor prata e, portanto, irritantemente reconhecível, e comprou um bilhete de trem para Londres. Ela parou em uma pousada na Baixa Pomeroy, razoavelmente certa de que, com todos os passageiros, ninguém notaria que não iria voltar para pegar a carruagem.

Uma hora depois, ela estava em frente ao Castle Pomeroy.


Capítulo 2


Castelo de Pomeroy, Lancashire.

 

O Sr. Jonas Berwick, conhecido por seu meio-irmão Gabriel como Wick, e por todos no castelo por Sr. Berwick, o mordomo do príncipe Gabriel Albrecht-Frederick William Von Aschenberg de Warl-Marburg-Baalsfeld, nunca ficava sem resposta. Isto é, raramente.

—O que eu vou fazer? —Gabriel exigiu novamente. Seu cabelo estava em pé, e sob seus olhos se apresentavam olheiras que pareciam contusões. —O bebê chora, e então ela chora, e... —Ele virou-se bruscamente, mas não antes de Wick ver o brilho de algo que parecia lágrimas em seus olhos.

—Afe! Inferno Gabe! —disse ele, estendendo a mão e puxando seu irmão em seus braços. —Seu filho será um príncipe. Você nomeou-o depois de mim, o que só vai dar-lhe a coragem de ir em frente.

—Ele está sofrendo. —Gabriel disse, sem rodeios. —Ele levanta suas pernas e chora tão desesperadamente, que me faz doente só de ouvi-lo chorar.

Wick sabia. Ele estava constantemente interrompendo seus deveres para correr até as escadas, caminhar até ao berçário, implorando silenciosamente, rezando para não ouvir o seu homônimo chorando naquele lamento desesperado, cheio de dor. —Como está Kate?

—Kate é Kate. —Gabriel disse, cansado. —Ela segurao, e caminha então ela chora, mas continua a andar. Eu não posso levá-la para dormir adequadamente, e tenho certeza que isso está afetando o seu leite. E ainda assim não vai permitir que ele seja nutrido por qualquer outra pessoa, e menos anda depois que tentou uma ama de leite e após mamar ele chorou durante todo o dia. Ela está convencida de que, devido a pobre mulher cheirar a alho, seu leite não era bom para o bebê.

—O que a nova babá diz sobre isso?

—Acabei de mandá-la embora. —disse Gabriel.

Wick fez uma nota mental. Ele teria que encontrar a mulher e pagar o seu salário da semana.

—Eu era descrente sobre isso. —disse Gabriel, cansado passando a mão pelo cabelo. —Eu sei que não é culpa dela. Mas ela continuou balançando a cabeça, e tem um olhar tão triste... Eu não podia suportar isso. Além disso, Kate não vai colocar Jonas no berço de qualquer maneira, a não ser que eu o pegue. Eu deveria voltar lá em cima. —Em vez disso, Gabriel caiu em uma cadeira.

—Eu vou. —disse Wick. —Eu sou o tio do garoto. Você vai ter que forçar Kate a desistir. Vou levá-lo enquanto os dois cochilam durante um par de horas. Diga isso a ela. Vou andar para cima e para baixo na galeria de retratos.

—Ela nunca vai aceitá-lo. —Gabriel olhou para ele com os olhos pesados.

—Aprume-se Gabe! —Wick falou puxando Gabriel pelos braços. —Lembre-se que você é o dono da casa, o pai de família, rei do castelo, e todo o resto do lixo. Pegue seu filho, o entregue a mim, e leve a sua pobre esposa para algum lugar para tirar um bom sono. É melhor ir para seus velhos aposentos na torre, porque lá ela não será capaz de ouvir Jonas gritar.

Quando Wick soltou o braço de Gabriel, este cambaleou meio desorientado.

—Quanto tempo se passou desde que você dormiu? —Wick exigiu saber, tomando conta do seu braço de novo e transportando-o ao longo do corredor.

—Exatamente quantos anos tem Jonas? Eu perdi o controle.

—Não tem nem quinze dias. Você precisa se controlar e colocar Kate para dormir. —disse Wick, empurrando-o pela porta do quarto do bebê. Um momento depois, ele estava segurando seu sobrinho.

—Eu vou dormir por uma hora, então vou estar de volta. —Sua cunhada, Kate, declarou. Ela era uma mulher bonita, mas no momento se parecia com uma daquelas estranhas irmãs da peça de Shakespeare. Wick não conseguia lembrar-se do que desempenhavam, mas havia três delas na produção que tinha assistido e Kate tinha a aparência de uma delas. Seus olhos estavam vermelhos, seu rosto amassado, a tristeza e o medo vibravam no ar e ao redor dela. —Ele só tomou um pouco de leite... pelo menos eu acho que ele fez.

—Mais do que há uma hora. —Gabriel disse com firmeza, puxando-a para a porta.

Ela conseguiu parar o marido na porta e voltou-se para Wick.

—Não deixe ninguém tocá-lo. —disse em tom ameaçador.

Ele assentiu.

—E faça o que você fizer, se o médico chegar não o deixo dar nada ao bebê. Estou certa de que sua indicação deixou o Jonas doente e ele quer tentar ópio. Eu sei que é uma má ideia.

—Eu já proibiria a entrada do médico no Castelo. —disse seu marido, conseguindo arrastar Kate pelo corredor.

Como o som de seus passos recuaram, Wick olhou para o bebê, e Jonas olhou para ele. Em seguida, Jonas abriu a boca tão grande que Wick poderia ver a sua interessante falta de dentes e gritou até que seu rosto ficou vermelho.

As orelhas de Wick estavam feridas. Mas algo o estava ferindo no peito também. Jonas parecia mais magro agora do que quando nasceu. Seus olhos estavam afundados, e parecia haver um pouco menos de força em seu grito. Ele parecia um homem velho enrugado, como se tivesse vivido uma vida inteira em uma semana ou duas.

Wick xingou baixinho e saiu pelo corredor, depois para baixo, para a galeria de retratos. Após ter caminhado durante cinco minutos, Jonas acalmou um pouco. Virou o rosto contra o peito de Wick e soluçou mais silenciosamente. Ele curvou o dedo ao redor do de Wick em vez de agitar os braços no ar.

—Só não morra. —Wick encontrou-se sussurrando. —Por favor, não morra.

Jonas deu um soluço exausto.

Wick andou por mais meia hora ou assim parecia. Andou na galeria de retratos, para o corredor, em torno da curvatura, de volta pelo corredor, de volta para a galeria de retratos... Por fim, Jonas dormia.

Algum tempo depois, passos soaram no corredor de pedra atrás dele.

—Sr. Berwick!... Oh Sr. Berwick! —ofegante um dos lacaios falou.

Wick se virou para ele.

—Minhas desculpas, Sr. Berwick, mas a Sra. Apple diz que a primeira das novas babás chegou, e ela gostaria que você fosse lá para a entrevista.

—Como pode ser isso? —Wick sussurrou. —Eu enviei o comunicado ontem para Manchester.

O lacaio tinha acabado de perceber melhor quem Wick segurava em seus braços. Ele começou a andar para trás em seus dedos do pé. —Não sei. —ele sussurrou de volta. —Devo dizer-lhe que você está indisponível?

Wick olhou para Jonas. O bebê estava virado contra seu peito, segurava uma dobra da camisa de Wick com sua mão pequena. —Eu não posso parar de andar. —disse ele. —Mande a mulher aqui em cima. Peça a Sra. Apple para vê-la primeiro, então eu vou.

Quinze minutos depois Wick tinha acabado de chegar ao extremo da galeria pela vigésima vez ou talvez quarenta e foi virando-se para caminhar de volta para o outro lado quando a porta se abriu e a babá entrou. Seu primeiro pensamento foi que ela era muito jovem.

Ele tinha enviado um lacaio para Manchester com instruções explícitas para encontrar babás e médicos experientes, pelo menos, dois de cada. O bebê não precisava de um seio para se aninhar contra: ele precisava de alguém que pudesse descobrir o que estava errado com ele.

Mas Wick voltou ao outro lado da sala, mantendo o mesmo passo, o mesmo com o qual tinha embalado Jonas para dormir. A menina não encontrou seus olhos; ela estava olhando para o bebê.

—Seu nome e sua experiência com as crianças? —perguntou ele bruscamente, pensando em obter as informações no máximo em dois minutos. Havia fios de cabelo brilhante que espreitam para fora da touca da cabeça da menina, e seus olhos eram de um verde musgo. Além disso, ele divisava um par de seios maravilhosos. A menina era completamente deliciosa... ela nunca serviria. Ele teria os lacaios lutando dentro de uma semana.

Ela não parecia ouvir a sua pergunta. Em vez disso, veio direto até ele e olhou para o rosto de Jonas. —Ele está querendo água, isso é certo.

—Os bebês não bebem água. —Wick disse. Ele tinha em mente isso assim como ele nunca tinha segurado um bebê antes deste. —Os bebês bebem leite. —Sua ignorância dessa verdade óbvia era outro ataque contra seu emprego.

—Se eles têm cólicas, eles precisam de água também. —retrucou ela.

—Quanta experiência você teve com crianças? —Ele podia ver a nuca enquanto ela espiou mais de perto o seu sobrinho. Era delicada, pálida e translúcida, como a mais fina porcelana. —Você é babá há quanto tempo? —Então, irritado com o fato de que ele estava olhando para o pescoço dela, acrescentou. —Você é muito jovem.

—Eu não tenho muita experiência, mas a que tenho é do tipo certo. —disse ela finalmente olhando para ele. Ele mentalmente revisou a avaliação que fez de seus olhos. Eles não eram verde musgo, afinal de contas, mas tinham um verde da cor do mar em um dia tempestuoso.

Wick sentiu um calor totalmente desconfortável na área da virilha. Ele seria condenado se fosse alinhar com os lacaios cobiçando uma de suas companheiras de trabalho.

Ele tinha aceitado há muito tempo que as senhoras não eram para ele. Na verdade, era o filho de um grande Duque, embora um grão-duque na distante Marburg. Mas tinha nascido no lado errado do cobertor. Cresceu em um castelo e era um bastardo, o que significava que não poderia se casar com alguém de nascimento respeitável. E ele era muito educado para se contentar com uma leiteira que não se importaria com sua filiação questionável.

—Que tipo de experiência é a experiência certa? —perguntou ele.

Em vez de responder ela se inclinou perto de novo e estava estudando o rosto do bebê. —Eu não gosto do aspeto dele. —disse ela, apertando os lábios. Seus lábios eram da cor de rosas.

Wick olhou dos lábios cor de rosas para Jonas. —Pelo menos está dormindo. —disse ele. —Ele chorou a noite toda.

—Isso é por causa da dor. —disse ela. —É melhor você o dar a mim. Temos que dar um pouco de água para ele, essa é a primeira coisa a fazer e então vamos cuidar do leite.

Antes que ele desse por conta do que estava acontecendo, ela deslizou as mãos em torno do bebê e levantou-o com destreza dos braços de Wick. —Aqui! Você não pode fazer isso. —disse ele, alarmado com o próprio pensamento de Gabriel ou, Deus me livre, Kate, sabendo que tinha permitido que um estranho pegasse o bebê.

—Você disse seu nome? —perguntou Wick.

Ela terminou enfiando a dobra do cobertor sob o rosto de Jonas antes de olhar para ele. —Eu não. —disse ela. —Sou Philippa Damson.

—Como a geléia? —Perguntou Wick. Ela era doce como geléia, e parte de seu nome combinava com ela. Ele gostaria de lamber... Ele arrancou sua mente longe.

—Exatamente como a geléia. —disse ela, virando-se para a porta. —Agora venha Sr. Berwick. Este bebê precisa de água imediatamente.

Wick ficou olhando para ela por um momento.

Na porta, ela olhou por cima do ombro. —Você tem que me mostrar onde fica a cozinha.

—A cozinha? —Ele repetiu, tentando descobrir como pegar Jonas de seus braços sem acordá-lo. Gabriel nunca iria perdoá-lo. Ele não queria nem pensar em como Kate reagiria. —Olha, você deve dar o bebê de volta para mim. Prometi a Sua Alteza que eu, e somente eu, iria carregar Jonas, isto é, o jovem príncipe.

—Ele precisa de água. —disse Srta. Damson. —Ou vai morrer. Ela olhou para baixo novamente. —Eu acho que há uma chance de que ele não sobreviva durante a noite, na verdade. Bebês morrem muito rapidamente se eles não bebem o suficiente.

Wick andou na frente e empurrou a porta aberta à sua frente. —Direto para o final do corredor e desça dois lances de escadas.

Quando chegaram à cozinha, nove ou dez pessoas giraram as cabeças quase em uníssono. A cozinha do castelo era um grande espaço com chão de pedra. Mesas de trabalho ficavam dispostas ao redor do salão, o fogão coberto com panelas de cobre de todos os tamanhos e formas. Estava cheia de pessoas, como sempre: a cozinheira, três empregadas de cozinha, uma leiteira, e um par de empregadas da copa que estavam trabalhando na pia.

Todas elas pararam em suas posições com a visão de Wick, exceto Madame Troisgros, a cozinheira, que se considerava sua igual, se não melhor do que ele. A hierarquia, já complexa do pessoal do castelo, ficou ainda mais complicada pelo relacionamento de Wick com o príncipe. Mesmo se Gabriel (que não mostrava essa inclinação) desejava manter o grau de parentesco com Wick em segredo, uma de suas tias idosas tinha o prazer de chocar a todos ao anunciar que preferia Wick a seu irmão Gabriel.

Por direitos, uma jovem babá iria encontrar-se bastante abaixo da cozinheira, embora certamente acima da criada de dia. No entanto, Philippa Damson entrou naquela cozinha como a dona da casa. Ela infalivelmente colocou os olhos na cozinheira, uma senhora duas vezes mais larga e quatro vezes mais feroz do que qualquer outra pessoa na sala.

—Qu'est-ce que c'est que ça? —Estalou Madame Troisgros.

Sem parar para respirar Srta. Damson invadiu o espaço e, com um francês fluente, começou a falar. Como todos podiam ver, ela estava com o pequeno príncipe nos braços. Ele precisava de água, mas devia ser uma água especial, água fervida. Ela também precisava de um pano, um pano de linho limpo, para ser fervido em um pote diferente de água, em seguida arrefecido.

Madame Troisgros tinha os olhos, pensou Wick, de uma doninha francêsa raivosa, se tal coisa existisse —pequenos e bastante dementes. Quando ela abriu a boca, sem dúvida, para recusar, Srta. Damson atravessou a cozinha para ela.

—Regardez —disse ela, recuando a cobertura que protegia o rosto do príncipe.

Confrontada com essa pequena cara, exausta, Madame Troisgros recuou e apontou com sua concha para uma cadeira. Srta. Damson obedientemente sentou-se. Poucos minutos depois, uma peça imaculada de linho foi mostrada a Srta. Damson para sua aprovação, então, cuidadosamente colocada em uma panela de água fervente.

Até mesmo mais servos começaram a se deslocar para a cozinha, embora o salão permanecesse silencioso como uma igreja como se todos se esforçassem para manter Jonas dormindo. A governanta apareceu e pairou no fundo; dois ou três homens de pé, aparentemente abandonando seus postos no corredor da frente, ficaram em silêncio contra as paredes. O menino que afiava as facas tinha parado e estava sentado em um banquinho de três pernas de boca aberta.

—Pare de ficar pairando sobre o bebê! —Srta. Damson ordenou a Wick em voz baixa. —Os bebês não gostam de influências nervosas.

—Gabriel poderá ter acordado e talvez estivesse procurando por nós na galeria. —Wick disse inteiramente esquecido de que ele geralmente se referia a seu irmão como Sua Alteza em público. Srta. Damson era esse tipo de mulher. Ela fazia um homem perder a cabeça.

—Por que não envia um lacaio, para ficar fora dos aposentos do príncipe, de modo a informá-lo da nossa localização quando acordar? Enquanto isso, você terá que pegar o bebê enquanto eu lavo minhas mãos. —disse ela, e colocou Jonas de volta para os braços de Wick com não mais barulho do que se ela estivesse transportando um pudim.

Para Wick, Jonas parecia pior do que até mesmo uma hora antes. A pele ao redor dos olhos era do azul profundo de uma contusão. Seu pequeno nariz destacava—se de seu rosto, como se a pele tivesse diminuído em torno dele. Era um bebê extremamente desinteressante, que não fez nada para amenizar a sensação de pura tristeza e pânico que Wick sentiu ao ver seu sobrinho neste estado.

—Não é tarde demais, não é? —Ele se ouviu dizendo. Todos na cozinha congelaram.

Srta. Damson tinha lavado as mãos, e agora estava torcendo o pano e mergulhando-o na panela de água fervida e arrefecida. —Absolutamente não. —disse ela com firmeza. —Sente-se.

Wick pensou um pouco aturdido sobre o fato de que nunca tomou ordens exceto do seu próprio irmão, mas ele se sentou. Ela inclinou-se e colocou o canto do pano molhado na boca do bebê. Ele chupou reflexivamente, percebendo que não era leite, e soltou um grito de dor. Rápido como podia, ela mergulhou o pano novamente, voltou aos lábios. Mais e mais e mais.

Foi um negócio sujo. Em poucos minutos o bebê estava molhado, Wick estava molhado, e vestido de Srta. Damson estava molhado com água. Mas Jonas continuava a engolir, e logo ele estava chorando apenas entre um pouco.

—Você sabe se ele teve evacuações normais? —perguntou Srta. Damson.

—Eu não tenho a menor ideia. —Wick piscou.

—Sra. Apple você poderia talvez ajudar com a minha pergunta? —Ela virou-se para a governanta.

—Lily irá saber o que você quer. —disse a Sra. Apple. Com um aceno de cabeça, ela enviou um lacaio para buscar a empregada apropriada.

—Você não pode dizer que o bebê só precisa de água. —disse Wick. —Uma das babás que esteve aqui na semana passada disse que tinha a gota ciática.

—Gota? Muito improvável. Eu acho que é a cólica. —disse Srta. Damson. —Certamente um médico viu a criança?

—Sim, mas ele não tem muitas esperanças. Ele disse que Jonas estava doente demais para cólica. Primeiro, ele pensou que o bebê tinha uma pedra de intestino, em seguida, ele sugeriu uma febre recorrente. Ontem, ele tentou um emético para limpar suas entranhas, mas isso fez Jonas vomitar, e depois a princesa ordenou que o médico fosse embora do castelo.

—Ela estava absolutamente certa. —Srta. Damson observou. —A criança precisa de mais líquidos, e não menos.

—Eu enviei um mensageiro para Manchester para buscar outros médicos. Alguém deve ter algum medicamento que pode dar-lhe. O médico planejava tentar Dalby Carmel asseguir, algo assim.

—Remédio para gases. —Srta. Damson disse com desdém óbvio. —E eu suponho que o óleo de rícino também.

—Sua mãe seria capaz de dizer com mais precisão. Eu acredito que ele também sugeriu ópio, mas Sua Alteza discordou.

—Nenhum medicamento vai funcionar. —anunciou ela, mergulhando o pano de volta na panela mais uma vez.

Houve um suspiro coletivo da equipe de cozinha. —Nenhum medicamento. —Wick repetiu seu coração acelerando. —Mas você disse...

—É cólica simples. —disse a Srta. Damson. —Eu já vi isso antes. Há algo sobre seu estômago que não gosta de leite no momento. Mas ele não vai morrer disso, a não ser que fique sem água ou sem leite por demasiado tempo.

Naquele momento, a porta da cozinha se abriu e uma aparição de olhos arregalados a percorreu.

—Como você pode Wick? —Kate gritou, correndo para Jonas.

Srta. Damson arrancou Jonas dos braços de Wick e virou-se para a princesa, parecendo como se manteiga não derreteria em sua boca. Ela colocou o bebê direto para os braços de sua mãe.

—Seu filho vai ficar bem. Entende? Ele não está chorando.

A boca de Kate era uma linha apertada, e ela olhou como se essa intrusa fizesse parte de um exército invasor. —Quem é você? —ela retrucou.

—Ela é sua nova babá. —Wick interveio. Ele já tinha decidido que a calma e a forma de comando utilizado pela Srta. Damson controlava a situação e era exatamente o que eles precisavam naquele momento. —Ela deu água a Jonas, Kate. E ele bebeu tudo. Eu acho que ele já parece melhor.

—Ele está molhado. —Kate gritou, horrorizada. —Agora ele vai pegar um resfriado. Inferno!! Inferno!! —Segurando seu bebê, ela disparou a partir da cozinha sem dizer mais nada.

Srta. Damson olhou surpresa. Ao invés de correr atrás dela a nova ama virou-se para Madame Troisgros e, em francês, agradeceu a ajuda. Em seguida, ela mudou para inglês e agradeceu a todos os outros na cozinha. E, finalmente, ela teve uma discussão detalhada com Lily, a empregada encarregada do bebê, sobre exatamente que tipo de depósitos Jonas vinha fazendo em suas fraldas.

—Eles são verdes? —Ela estava pedindo. —E como é que eles cheiram?

Ela não parecia alguém que parecia mal ter idade suficiente para ter a sua primeira posição. Wick não conseguia parar de olhar para ela, porém, a cor rosa dos lábios e a forma como o vestido, onde estava molhado, se agarrava ao seu peito. Eram uns seios muito bonitos.

Muito agradáveis.

Wick olhou ao redor da sala e descobriu que os homens que estavam de pé —para não mencionar o menino com a faca aberta —notaram o mesmo fato. Com um movimento de cabeça, mandou-os correndo para fora da cozinha.

Srta. Damson, enquanto isso estava dando instruções a Lily sobre a tomada de água fervida para o quarto do bebê três vezes por dia. Ela não parecia como qualquer babá que Wick já tinha visto não que ele tivesse visto muitas.

Talvez fosse assim como pareciam às governantas quando eram jovens. Mas essa ideia não se encaixava com qualquer aspecto de uma governanta.

Ela era uma senhora, Wick pensou de repente. Qualidade. Ele ficou surpreso por não o ter visto imediatamente, mas sabia por quê: porque ele não era inglês. Ele apostava tudo o que tinha que ela tinha uma voz de senhora, exceto que ele não era bom o suficiente com a linguagem para dizer a diferença.

Mas então ele ouviu atentamente e percebeu que poderia entender a diferença. Afinal de contas, ele e Gabriel tinham ido a Oxford quando eram jovens, antes de Gabriel assumir o castelo. Wick reconheceu o som de sua voz, o jeito que soou ao mesmo tempo doce e um pouco atrevida... o que era a voz de uma senhora e não a voz de uma babá.

Ele tinha um cuco em sua cozinha.

Em seu estado de agitação, Kate não tinha notado qualquer coisa desagradável, obviamente. E Madame Troisgros estava muito feliz em encontrar alguém que falava francês sem considerar as origens da babá. Com Lily dispensada, a cozinheira agora deliciava a Srta. Damson contando os tipos de legumes execráveis que ela foi forçada a cozinhar, tubérculos monstruosos que serviam exclusivamente para os porcos. E Srta. Damson estava balançando a cabeça compreensiva. . .

Como uma dama. Uma senhora que falava francês, que, sem dúvida, tinha sido criada para um bom casamento.

Wick tornou-se ciente de que a água corria do interior de sua panturrilha em seus sapatos. Havia algo sobre a Srta. Damson que fazia os homens mesmo de calças molhadas, famintos. Luxuria. Essas emoções que os bons servos só poderiam ter uns pelos outros, e nunca, nunca, pelas senhoras que serviam. Wick certamente nunca se permitiu esse tipo de desejo inconveniente.

Apenas assim, ele decidiu não dizer nada a Srta. Damson sobre a questão do seu nascimento. Se ela era uma senhora que estava apenas apresentando-se como uma babá por algum motivo, bem obscuro, então ela não era para ele, não para o irmão bastardo de um príncipe.

Mas talvez, se ele estivesse errado, e ela não era uma senhora. . .

Não que ele estivesse à procura de uma esposa, é claro. Mas durante o último ano, havia notado a forma como Gabriel gostava de segurar a mão de Kate, a maneira como apertava sua esposa em seus braços, a maneira como ele a beijava quando pensava que ninguém estava olhando.

Em Marburg, o rei já teria casado Wick, com uma terceira ou quarta filha de um cavalheiro, uma mulher agradecida de estar ligada de alguma forma à família real, uma mulher cujo pai estaria disposto a ignorar o nascimento ignóbil de Wick. Mas aqui na Inglaterra, ele se ofereceu para se tornar mordomo de seu irmão. Ele havia escolhido administrar o castelo, e era muito bom nisso.

Ele sabia muito bem o que essa escolha significava para o seu futuro. Como um servo, ele era um servo, não importa quão alto na hierarquia do serviço. Ele nunca iria casar com a filha de um cavalheiro. E admitiu contentar-se com uma viagem ocasional a Londres, para conhecer mulheres alegres que não eram nem senhoras nem servos, mas o prazer de partilhar uma cama por um tempo.

Contente, pelo menos, até que seu irmão se apaixonou.

Uma noite, antes que o bebê nascer, ele estava fazendo suas rondas noturnas e reconheceu a risada de Gabriel vindo do estudo. Foi em direção para descobrir a piada, ele tinha a mão na porta quando ouviu o suspiro rouco e implorante de Kate, ele percebeu, de forma desconcertante, que a risada de seu irmão fora despertada por algo bem diferente do que uma mera brincadeira.

Ele não entrou.

Mesmo assim, continuou a tentar dizer a si mesmo que não tinha nenhuma utilidade para uma esposa, já que sua esposa deveria, necessariamente, ser uma criada. Kate, afinal de contas, era a neta de um conde. Ela era uma pessoa perfeita para se casar com um príncipe. Gabriel era extraordinariamente sortudo de tê-la conhecido.

Havia poucas Kates no mundo, e ninguém que acabasse emparelhado com bastardos.

Mas ainda... enquanto seguia a figura reconhecidamente deliciosa da Srta. Damson da cozinha pensou, pela primeira vez em sua vida, que talvez pudesse se casar com uma criada, afinal.

Se a criada fosse uma senhora.


Capítulo 3


Philippa estava se sentindo descontroladamente autoconsciente quando saiu da cozinha à frente do diabolicamente belo Mr. Berwick. Na verdade, sua pele se arrepiou toda com a ideia de que ele estava logo atrás dela.

O que era ridículo. Absurdo.

Ele era um mordomo, pelo amor de Deus. Um mordomo. Sua mãe iria revirar em seu túmulo com a ideia de que ela estava observando o perfil de um mordomo, muito menos sua voz.

Na verdade, ele era o mordomo mais bonito que ela já vira. Ele não agrupava o cabelo em um pequeno saco parecido com a forma que o mordomo da família, Quirbles, fazia. Em vez disso, estava puxado para trás de seu rosto de uma forma que enfatizava a testa. Suas sobrancelhas formavam picos sobre os olhos.

E aqueles olhos... eles eram ferozes e orgulhosos, como uma águia. Não como um mordomo. Nada como um mordomo.

Não foi só ela quem viu isso também. De volta à cozinha, todos tinham instintivamente agido como se ele fosse um cavalheiro, em vez de um mordomo. Fascinante.

Sua mente voltou para o bebê. Ela esta quase certa que Jonas só tinha um muito mau caso de cólica. Ela tinha visto isso várias vezes enquanto acompanhava seu tio em suas rondas, e por si só em Little Ha’penny. Mas a questão preocupante era se o bebê poderia ter uma coisa chamada intussuscepção, se ela se lembrava do nome certo. Acontecia quando os intestinos estavam todos indo na direção errada, e não importa o que qualquer um fizesse, o bebê morreria.

Ela começou a andar um pouco mais rápido. Não havia nenhum ponto em mencionar essa possibilidade à princesa e aterrorizá-la sem uma boa razão. Se fosse intussuscepção, não havia nada a ser feito. Mas ela tinha certeza de que seu tio lhe dissera que intussuscepção era sempre acompanhada por um pulso muito lento. O pulso de Jonas parecia bastante normal, e em qualquer caso, Lily não tinha relatado ter visto qualquer sangue nas fezes, outro sinal revelador.

Ela começou assinalando em sua mente todas as coisas que tinha de fazer: tranquilizar a mãe de Jonas, em primeiro lugar. Em seguida, dar a Jonas um banho quente, com um pouco de massagem em sua barriga. Ela tinha algum bálsamo em sua bolsa que podia esfregar nele.

Seu tio tinha acreditado que a massagem não fazia bem, mas pelo menos não doía, não da maneira que os espíritos faziam, ou grandes quantidades de óleo de rícino. Seu tio sempre disse que as entranhas de alguns bebês simplesmente não estavam prontas para digerir corretamente.

—Não há nada a fazer senão esperar. —ela disse em voz alta, recordando o conselho brusco de seu tio para as novas mães.

—O que você disse? —Disse Berwick atrás dela.

Mesmo sua voz era fascinante, com seu esfumado acento estrangeiro.

Ela não se virou, mas apenas continuou marchando pelas escadas. —Eu confio que estou indo na direção certa para o quarto do bebê?

—É um pouco acima da galeria de retratos onde eu estava andando com o Jonas.

As pernas de Philippa estavam começando a doer. Tornando-se uma babá no Castelo Pomeroy com certeza iria fazê-la mais forte.

—Como você aprendeu francês? —Veio à voz por trás dela.

Seu pé hesitou no degrau, então ela disse rapidamente. —Minha tia era francesa. —Isso não era verdade, e Philippa não gostava de dizer mentiras. Ela era completamente inglesa, cuja única pretensão ao exotismo era o cabelo vermelho que surgia constantemente.

—Sua tia era francesa?

—Sim. —ela disse com firmeza.

—Mas sua mãe não era francesa?

Philippa sentiu pânico, mas conseguiu manter sua invenção no alto. —Minha tia está do lado do meu pai, isto é, ela foi criada em um convento francês, em seguida, se juntou a ele na Inglaterra algum tempo depois.

—Bastante incomum. —disse Berwick, após uma breve pausa. —Tinha a impressão de que conventos geralmente educavam jovens senhoras. Não que eu queira dizer que sua família veio de uma posição baixa, Srta. Damson.

—Oh, nós viemos. —disse Philippa furiosamente. —Terrivelmente abaixo. Eu tive que encontrar uma posição, você vê. Porque nós... porque vimos de tão baixo. —disfarçou com erros Philipp.

—Quão baixo? —perguntou o Sr. Berwick, com interesse.

Ela parou, tanto para recuperar o fôlego, como para olhar para ele. —O que você quer dizer com isso?

—Bem, você parece um pouco como uma heroína em um melodrama —ressaltou ele, pisando na frente dela para empurrar e abrir a porta.

—Você não deveria zombar de nossas dificuldades. Tem sido doloroso para a minha família! —Ela retrucou, sentindo uma onda de raiva virtuosa antes de lembrar que a família em questão não existia.

Ele olhou para ela, e ela viu algo em seus olhos que a fez piscar. —Você não deveria se sentir nem carne nem peixe.

Philippa engoliu com dificuldade. O que ela sentia era algo que nenhuma jovem deveria estar sentindo. —Precisamente. —disse ela. —Carne, peixe, quem sabe o que eu sou?

—Você é a babá de Jonas. —disse ele, com um sorriso brilhante quando abriu a porta.

Ela atravessou, pensando sobre o que ele tinha acabado de dizer: ela tinha assegurado uma posição no castelo.

E agora tinha uma posição, não era mais uma senhora. Parecia bastante peculiar. Seu pai nunca empregou muitos criados, mas é claro que havia alguns. Ela tinha crescido com Quirbles e um criado para atender a porta, o pessoal da cozinha, a empregada lá em cima e a empregada no térreo, e um menino para fazer todo o resto. E agora ela se juntou a suas fileiras. Ela era um deles, ao invés de uma senhora.

Quando chegaram à porta do quarto do bebê, instintivamente esperou por Mr. Berwick para abri-la para ela, ele empurrou-a e a precedeu. Ela piscou para suas costas largas por um momento antes de perceber que o mordomo sempre precedia uma babá.

—Kate... —ele estava dizendo —a nova babá é muito sensível. Ela sabia que Jonas precisava de água, e ela pediu para ferver a água antes de dar a ele.

Philippa saiu de trás dele. A mãe de Jonas estava sentada em uma cadeira com o bebê apertado em seus braços. A princesa tinha a mesma expressão surrada, com medo, que Philippa tinha visto nos rostos de outras mães, quando seu tio fazia suas visitas. Instintivamente, ela foi até ela e se ajoelhou ao lado da cadeira.

—Jonas vai viver. —disse ela com tanta força quanto podia. —Ele não vai morrer.

—É claro que ele não vai. —disse Sua Alteza. Mas seus olhos estavam assombrados.

—Esta é a Srta. Damson. —disse Berwick. —Nova babá de Jonas.

A princesa parecia não ouvi-lo. Ela olhou para cima, e perguntou: —Wick, quem é essa pessoa, e de onde ela veio?

—Esta é a sua nova babá, de Manchester. —disse Berwick, sem um segundo de hesitação, embora nunca tivesse perguntado a Philippa onde ela morava. —Srta. Damson veio com as mais altas referências de médicos conceituados. Eu sei que ela parece jovem, mas suas referências são de casos especiais, não crianças normais.

A princesa olhou de lado para Philippa, ainda de joelhos ao lado da cadeira. —Bebês doentes —ela respirou. —Você sabe lidar com bebês doentes. —Uma lágrima correu pelo seu rosto. —Você sabe qual é o problema com o meu filho?

—Ele tem cólicas. —disse Philippa. —Eu estou quase certa de que é apenas cólica. Não posso dar-lhe um medicamento milagroso, porque não há qualquer. Os médicos estimados com quem trabalhei em Manchester —dizem que a cólica é simplesmente algo que um bebê deve superar.

A princesa olhou para seu filho. —Você tem certeza? O médico que estava aqui disse que Jonas estava quente demais para ter cólicas. Ele parece ter uma febre de vez em quando. E então ele grita muito depois de mamar que parece que mal consegue respirar. Se você mesma tocar sua barriga depois que ele mama, ele chora e chora.

—Ele tem um caso ruim. Mas ainda é apenas cólica. Vai superar isso.

—E os médicos estão a caminho vindo de Manchester vão confirmar tudo o que ela diz. —Mr. Berwick afirmou.

Philippa sentiu um formigamento de alarme. Seu tio era pouco ortodoxo em suas ideias, e ela teve a impressão de que em Manchester os médicos eram susceptíveis de serem muito mais interessados em distribuir medicamentos. Seu tio era da firme convicção de que os medicamentos feziam mais mal do que bem, não importa o que a doença poderia ser.

—Mas o meu leite. —disse a princesa. Então ela piscou e olhou para o Sr. Berwick. —Fora —Ele desapareceu pela porta em um flash.

Foi tudo um pouco estranho. Philippa gostava muito do mordomo da sua família, assim como também seu pai. Mas ela nunca diria algo pessoal perto de Quirbles. Simplesmente não seria adequado, e poderia ofendê-lo.

—Eu estou envenenando Jonas, não é? —Disse a princesa. —É o meu leite que é o problema. Eu estou matando meu próprio bebê. —Outra lágrima rolou pelo seu rosto.

Philippa se levantou; seus joelhos começaram a doer. —Não, você não está envenenando seu filho. Ele precisa do seu leite, e, na verdade, está fazendo uma coisa excelente por cuidar dele mesmo. Você tem um dom para o dramático, Alteza.

—Na verdade, eu não. —A princesa disse cansada, inclinando a cabeça para descansá-la contra o encosto da cadeira. —Eu sou muito sensível, em meu estado normal. Mas tem sido tão terrível desde que ele nasceu. Não quero dizer que ele seja terrível —acrescentou.

Philippa inclinou-se e pegou o bebê dela. —Esta criança precisa que descanse. O seu leite vai secar se você não dormir.

—Meu leite... Sempre que eu o alimento, ele grita por isso parte meu coração. O som passa por todo o castelo. Momentos como este, quando ele está apenas dormindo e não chora, são tão preciosos. Além disso, estou com medo de que... quando ou voltar e...

—Contanto que lhe dermos água suficiente, ele não vai morrer. —Philippa disse com firmeza. —Ele vai ficar magro, mas vai sobreviver. E vai ficar melhor.

Naquele exato momento, os olhos de Jonas se abriram. Ele olhou para ela desfocadamente, e depois soltou um berro. Apesar de tudo, Philippa se encolheu.

—Foi a primeira vez que você ouviu isso? —A princesa perguntou, cansada, levantando-se da cadeira e segurando os braços.

—Ele tem uma voz forte. —disse Philippa. —Não, você se sente. Alimenteo e então eu vou mostrar-lhe como massagear sua barriga depois, o que pode ajudar com sua dor.

Duas horas mais tarde, a barriga de Jonas estava apertada como um tambor, tinha sido dada a mais suave das massagens, ele gritou até ficar azul e sem fôlego... e, finalmente, exausto, ele tinha adormecido.

Philippa o colocou cuidadosamente em seu berço, cantarolando os últimos compassos da canção que cantara para ele dormir.

—Você ainda acredita que ele vai ficar bem? —perguntou sua mãe, curvando-se para dobrar o cobertor sob o queixo do bebê.

—Você viu a sua fralda. Era perfeitamente normal, sem sangue. Ele vai ficar bem. É um lutador. Dói muito, e ainda assim ele continuou a tentar dizer-nos, para que possamos fazer a dor parar. Ele não desistiu.

—Isso é verdade —disse a princesa, iluminando um pouco, apesar de sua fadiga. Depois acrescentou. —Eu acho que nunca estive tão desgastada em minha vida.

—Você deve ir para a cama —disse Philippa. —Jonas vai dormir por algumas horas. E se ele acordar, eu vou dar-lhe um pouco de água. Ele ainda precisa de mais água.

Houve um momento de silêncio. Em seguida —O que você cantou para ele. —perguntou a princesa.

—É uma canção italiana. —disse Philippa. —Algo sobre sol e cortejar e todo esse absurdo. Minha mãe cantava para mim... —Ela parou.

—Você não é babá. —a princesa afirmou. —Você é uma dama. Você canta em italiano, sua mãe a preparou para um debute, e seu vestido é muito bom, apesar de eu pensar que tom de verde não fica muito bem com o seu cabelo, que é bonito, por sinal.

—Eu sou uma babá. —disse Philippa, sentindo o pulso em desespero. —Minha família desceu no mundo, isso é tudo.

—Se for esse o caso, por que você está usando um pingente de pérola?

—Foi um presente da minha mãe. —Philippa disse com firmeza. Sua voz não oscilou porque, pelo menos isso, era a verdade.

—Deve ser uma queda de família muito recente. Porque seus sapatos são lindos e não têm o mínimo desgaste. Eu tenho alguns apenas como eles, e são feitos de couro italiano.

Philippa olhou para seus chinelos. Não lhe ocorreu que poderia ser traída pela condição de seu calçado.

Ela olhou para cima para encontrar a princesa sorrindo para ela. —Você fugiu provavelmente de um casamento repugnante. Ou não, você é muito jovem para isso. Um pretendente repugnante. E, é claro, que fugiu para o castelo. Lamento dizer que o príncipe já está casado comigo, porque senão você poderia ter se casado com ele mesmo, o que teria sido bastante romântico.

—Sim, teria sido. —disse Philippa incerta. Depois acrescentou. —Você deve ter um bom descanso agora, Sua Alteza.

—Acho que eu poderia voltar para a torre sul. Deixei o meu marido dormindo. —Ela se inclinou sobre o berço novamente. —Você realmente acredita que Jonas vai ficar melhor? Como você ganhou todo esse conhecimento sobre bebês? A sua família realmente desceu no mundo?

—Gostaria... bem... —disse Philippa.

—Tudo o que você me disser eu não vou ficar chocada. —disse a princesa, com um sorriso tão doce que Philippa engoliu em seco. —Depois que meu pai morreu, minha madrasta me tratou abominavelmente, então ganhei todo os tipos de conhecimentos que eu não poderia ter de outra forma.

—Meu tio é um médico. —Philippa encontrou-se explicando. —Eu costumava visitá-lo, a ele e a minha tia, uma vez no mês, e sempre o acompanhei em suas rondas.

—Se você fosse um homem, você seria um médico. —disse ela, balançando a cabeça. —Às vezes eu sinto que, como mulheres, temos a vida extremamente limitada nas nossas atividades.

—Exatamente. —Philippa concordou. —Se eu fosse um homem, eu seria um médico, e ninguém poderia me dizer o que fazer. Eu escolheria... —Ela parou.

—Oh, você fugiu de alguém horrível. —disse a princesa, com prazer evidente. —Você gostaria de fervê-lo em óleo, ou é ainda pior do que isso?

Ela era tão charmosa que Philippa não poderia deixar de sorrir de volta, mas apenas em seguida, a princesa deu um enorme bocejo.

—Você realmente tem que dormir Sua Alteza. —disse Philippa. —Jonas vai chorar muito. Toda vez que ele é alimentado, de fato, e grande parte do tempo no meio, o que pode durar meses. Pelo menos, várias semanas, dada a sua idade. Devemos ter certeza de que você come e dorme o suficiente. Eu posso segurar Jonas, mas não posso alimentá-lo.

—Eu sou Kate. —disse a princesa, bocejando novamente.

—Ah, mas eu não posso... —disse Philippa.

—Claro que você pode. —disse ela. —Eu quero ouvir tudo sobre esse homem de quem você está fugindo, mas acho que vou dormir um pouco. Qual é mesmo o seu nome?

—Srta. Damson. —Philippa disse desesperadamente.

—Realmente, Srta. Damson, você e eu estamos juntas pelo meu filho. Eu sou Kate, e você é...

—Philippa. —ela disse, derrotada. —Mas isso não parece adequado.

—Absurdo. Somos todos estranhos aqui no castelo. Há Wick, é claro, e eu fui uma espécie de dama de todo-trabalho para minha madrasta por anos antes de conhecer o Gabriel que tentou me fazer de princesa.

—Tentou —perguntou Philippa, apenas parando ao assimilar o que Kate queria dizer com Há Wick, é claro. —Ao que tudo indica você é uma princesa —ressaltou.

—Não, não sou —disse Kate, com outro grande bocejo. —Princesas possuem cisnes sobre carruagens forradas de cetim. Além do mais, todo mundo sabe que quando uma princesa tem um filho, ele tem uma boca rosada e olhos azuis ensolarados. Considerando que eu dei à luz ao bebê mais feio em toda a cristandade.

—Ele não é tão feio. —disse Philippa, se sentindo defensiva em nome do pobre Jonas.

—Sim, ele é. —disse sua mãe, recostando-se sobre o berço. Ela colocou um dedo no nariz. —Um pouco de batata aqui. —Seus olhos são enormes. Sua boca. Bem, a boca não é ruim. Mas você já viu um bebê abrir a boca mais larga ou fazer um barulho tão assustador?

—Nunca. —Phillipa disse a verdade. —Você deve voltar para a cama, e eu vou lhe levar o bebê depois de seu cochilo.

—Mas e você? Você não deveria dormir na ala dos criados? Oh não, o que eu estou pensando? Você vai dormir aqui, pelo menos enquanto está fingindo ser uma babá. Eu sou muito egoísta para deixá-la ir ainda.

Philippa sorriu. —Estou feliz por ser uma babá, Alteza. Verdadeiramente, eu amo bebês.

—Kate. —Kate insistiu, endireitando-se desde o berço. —Eu acho que seria melhor se você trouxesse Jonas à sala de jantar quando ele acordar. Nós comemos às oito, e eu não acho que ele vai estar com fome novamente antes de então. Você não precisa se mudar, por sinal.

—Não vou mudar —disse Philippa, chocada. —Babás não comem na companhia dos senhores.

—Babás não me chamam de Kate, então você é, obviamente, uma exceção.

—E o bebê? —perguntou Philippa. —Eu não gostaria de deixá-lo.

—Ele estará conosco, é claro. —disse Kate. —Eu não gostaria de tê-lo fora da minha vista.

E com um último toque no nariz de Jonas, ela saiu pela porta.


Capítulo 4


Três horas mais tarde, Philippa estava reconsiderando a profissão escolhida. Parecia incrivelmente cansativo e chato. Jonas tinha acordado, chorou por uma hora ou assim, tomou um pouco de água, e voltou a dormir. Em seguida, ele acordou de novo, e gritou novamente, mas caíra adormecido apenas quando ela estava tentando decidir se ele estava com fome.

Ela retirou do seu pequeno saco as suas roupas na sala ao lado do quarto do bebê, e, durante um dos períodos tranquilos de Jonas, escovou e re-escovou seus cabelos, pensando o tempo todo sobre o Sr. Berwick. Wick, a princesa havia chamado. Ele tinha olhos belos, por vezes pensativos, como se a vida não lhe estivesse dando que ele queria.

Assim teria que ser, porque ele é um mordomo. Mesmo não se parecendo com um.

Jonas choramingou do berço, e ela rapidamente prendeu os cabelos e voltou para o quarto para acalmá-lo.

Ela pensou que seu tio estaria muito satisfeito com a forma como o bebê agora parecia. O olhar comprimido tinha ido embora, o que significava que ele tinha um pouco de água nele. O que precisava agora era mais leite. E quando ela não podia dá-lo imediatamente, ele começou a chorar novamente.

—Sinto muito... —ela murmurou para ele. —Vai prejudicar a sua barriga.

Ela envolveu-o em um cobertor sem saber o que fazer. Não tinha a menor ideia de como encontrar a sala de jantar. No momento em que abriu a porta e se dirigiu para o corredor, Jonas chorava tão veementemente que seu rosto estava roxo.

O lacaio de cabelos amarelos, alto com um rosto agradável estava esperando por ela.

—Oh, graças a Deus. Qual é o seu nome? —ela perguntou sobre os soluços de Jonas.

—William, senhorita. —disse ele. —Sr. Berwick, disse que eu deveria acompanhá-la até a sala de jantar. É muito fácil se perder neste castelo.

—É grande, não é?

—Enorme. —William disse com simpatia. —O tempo que leva apenas para trazer a roupa de cama, bem, você não iria tolerar isso.

Eles fizeram o seu caminho pelas escadas abaixo, através da galeria de retratos, descendo as escadas principais.

—Não deveríamos estar descendo pela escada de serviço? —perguntou ela.

Ele olhou para ela. —Não você, senhorita.

Philippa não sabia muito o que dizer sobre isso, então ela sacudiu Jonas contra seu ombro, o que não teve qualquer efeito sobre os seus lamentos, e seguiu William pelo vasto hall de entrada da sala de jantar.

Quando entrou na sala ficou muito aliviada ao descobrir que não era um espaço formal cavernoso, mas um pequeno quarto arrumado com uma mesa para seis. Além do mais, Kate era a única pessoa na mesma. Levantou-se no momento em que a porta se abriu e correu em direção a eles.

—Eu queria ir para o berçário, mas meu marido tolo me obrigou a esperar por você aqui em vez disso. Como ele está?

—Muito bem. —disse Philippa. —Ele está com fome, como você pode ouvir, mas acho que se sente um pouco melhor.

Kate inclinou a cabeça. —Você pode ouvir a diferença?

—Sim. —disse Philippa, embora, na realidade, ela não tinha certeza. —Ele está dizendo que está com fome, mas não com dor. —Ela disse com firmeza, a forma como seu pai diria, a costa da Inglaterra é indefesa. Um fato.

Kate estendeu os braços e pegou o bebê. —Não é meu querido. —ela balbuciou. —Eu só vou levá-lo para a minha sala de estar e alimentá-lo.

Ela saiu, e Philippa deu um longo suspiro e chegou-se a verificar o cabelo dela. O prendera na parte de trás de sua cabeça, mas era como se tudo pudesse cair pelas costas a qualquer momento.

Só então a porta se abriu, e o Sr. Berwick entrou.

—William deixou-me aqui. —disse ela, sentindo-se loucamente fora do lugar.

—Onde está Jonas? —perguntou ele.

—A princesa levou-o para sua sala de estar, a fim de alimentá-lo. Ela vai trazê-lo de volta em um momento, então eu vou voltar direto para o quarto do bebê. —ela prometeu.

—Você não vai. —disse ele, andando em volta da mesa e endireitando um guardanapo. —Você irá comer com o príncipe e a princesa esta noite.

—Eu realmente não gostaria.

—Um lugar para você já foi colocado. —disse ele, cortando-a. —Se juntará a nós a princesa Sophonisba, tia-avó do príncipe, que irá, sem dúvida aparecer em seu estado embriagado, que é apenas uma dica do que vai acontecer depois que ela tiver mais de uma bebida durante o jantar.

Outra princesa? Ela, Philippa Damson, que só raramente tinha saído de Little Ha'penny, e nunca sequer para a cidade de Londres, iria jantar com não uma princesa, mas duas?

—Eu não poderia. —ela disse, balançando a cabeça. —Eu sou apenas uma babá.

—Eu esqueci isso! —disse. Seus olhos riram dela. —Você é uma babá. Acho que não sabe como usar uma faca e um garfo.

—Você pode brincar Sr. Berwick, mas eu certamente sei como usar talheres adequadamente, como fazem todos os servos treinados. —Philippa disse desdenhosamente.

—Você está bem treinada? —Ele perguntou cordialmente. —Nós não falamos o bastante e ficou obscura essa parte da entrevista.

—Claro! —exclamou Philippa.

—Você sabe que há mil coisas que eu deveria estar fazendo neste momento? —Ele caminhou ao redor da extremidade da mesa de volta para ela.

—Eu até acredito em você. —disse ela. —Por favor, sinta-se livre para ir.

Seus olhos escuros encontraram os dela, e ele levantou uma sobrancelha zombeteira. —Eu não posso deixar os novos funcionários sozinhos em uma sala com toda essa prataria.

Philippa suprimiu o impulso de dar-lhe uma resposta, lembrando-se que ela era agora uma serviçal —apenas uma serviçal —antes de dizer, tão arrogantemente como pôde. —Não se esqueça de contar os garfos depois que eu sair da sala.

Ele veio um passo mais perto. —Você faria uma ladra sedutora. Como ficou sabendo da nossa necessidade de uma babá, a propósito? Simplesmente apareceu do nada, e o criado que enviei para Manchester ainda nem voltou.

—Eu não vim de Manchester —disse Philippa. Seus olhos a fizeram sentir um pouco quente, uma sensação que o olhar de Rodney nunca tinha despertado. Embora o próprio pensamento de Rodney fosse desanimador.

—Então, de onde você veio? —Ele deu mais um passo, e agora estava diretamente à sua frente. Mr. Berwick usava uma bela farda cor de clarete com botões brilhantes. De alguma forma sobre ele não se parecia com uma libré, mas com o uniforme dos próprios Hussardos da rainha. E, como eles, tinha ombros largos e musculosos e impecavelmente, mantidos.

—Eu cresci em uma vila não muito longe daqui. Quando ouvi sobre o bebê, pensei que poderia ser capaz de ajudar. —disse Philippa se recompondo.

—Você fez?

Talvez ele fosse mais como um mágico do que um dos Hussardos de Sua Majestade. Algo sobre seus olhos fazia sentir palpitações. —E espero ter ajudado. —afirmou confiante de que esta, pelo menos, não era um gracejo.

—Você é um mistério.

—Não há nada misterioso sobre mim. Eu sou uma menina muito comum.

—Você pode cantar em italiano...

Ela começou a explicar, mas ele levantou a mão. —Kate disse-me tudo sobre isso.

Ele não era como nenhum mordomo que ela já tinha ouvido falar. E ele sabia o que ela estava pensando justamente porque ele deu-lhe um sorriso lento, impertinente. Philippa mal impediu a boca de cair aberta. Nunca ninguém tinha lhe dado um sorriso como aquele, não para Philippa Damson, a futura noiva do futuro barão.

Exceto... ela não era uma futura noiva mais.

Sem tomar fôlego, ela levantou uma sobrancelha, exatamente da mesma maneira que a mulher do estalajadeiro em Little Ha'penny —que todos concordavam que não era melhor do que ela deveria ser. —Kate? —Ela disse, ronronando um pouco. —Que forma estranha para se referir a sua princesa.

Por um momento, ela temeu que tivesse exagerado, mas seu sorriso só aprofundou, causando um arrepio direito pelas costas.

—Ah!! Mas Kate não é minha ama. —disse ele. —Pelo menos, não no sentido mais importante da palavra.

—Você não deveria sequer sugerir algo assim! —Ela piscou, então franziu a testa para ele.

—Você é uma pomba muito jovem, não é? Uma muito, muito jovem. —ele jogou a cabeça para trás e riu.

—Eu não sou tão jovem. —disse ela com veemência.

—Quantos anos você tem, Srta. Damson?

—Vinte. Velha o bastante para todos os tipos de coisas.

—Demasiado velha para debutar. —disse ele. Mas ela era sábia para ele agora.

—Eu não sei. —disse ela. —Depois que a fortuna da minha família faliu, nós nunca consideramos tal coisa, é claro.

—Ah, a queda. —disse ele, suspirando melodramaticamente. —Desde a primeira queda, e tem sido uma descida todo o dia.

—Você está falando sobre minha família ou Eva? —Philippa perguntou mal suprimindo uma risadinha. —Porque eu sempre achei que a pobre Eva foi mais do que o pecado contra o pecado.

—Por que isso? —Ele perguntou encostado na parede ao lado dela. Foi escandalosamente casual. Um mordomo nunca, mas nunca se encosta à parede. E, no entanto, lá estava ele.

—Eva não foi responsável pela tentação pecaminosa da serpente. —Philippa disse, sentindo o coração acelerar ainda mais. —Ela simplesmente ofereceu a maçã para seu companheiro, que demonstrou boas maneiras, para não mencionar generosidade.

—Eu não acho que as boas maneiras são uma desculpa aceitável para todos os problemas que ela causou. —observou o Sr. Berwick.

—É verdade que ela provavelmente deveria ter evitado essa árvore em particular. —Philippa admitiu. —Ainda assim, ninguém parece notar que Adão comeu a maçã também. É meia culpa dele.

—Eu culpo os dois. —disse Berwick. —Só acho que, se não tivessem sido tão tolos, todos nós estaríamos vivendo no paraíso. —Ele se inclinou um pouco mais perto. —Muito quente, eu já ouvi. Nada desta chuva inglesa.

Philippa não se moveu para trás, embora ele estivesse perto o suficiente para que ela pudesse sentir o cheiro dele. Ele cheirava delicioso, a sabão de limão e algo mais, como o vento sobre a charneca.

—Eu gosto da chuva. —disse ela, incapaz de comandar sua mente para chegar a qualquer outra coisa.

—Você não faria isso. —disse Berwick —Nós dois vagando nus sem sequer uma folha de figueira para nos cobrir.

A insinuação do Sr. Berwic ficou no ar por uns bons segundos.

Em seguida, ela ouviu do corredor, um gemido fino, prolongado, um som de agonia.

—Ah, besteira! —murmurou Mr. Berwick.

Tal palavrão foi dito em tal voz aveludada e acentuada que Philippa não poderia deixar de rir.

—Você realmente não está preocupado com a sobrevivência de Jonas, não é? —Um sorriso se espalhou sobre os lábios também.

—Ele está chorando porque o leite não combina com o organismo dele. Mas não é uma condição mortal, e seu estômago acabará por se acostumar com isso. —Ela balançou a cabeça.

—Precisa chamar um médico?

—Não, mas qualquer pessoa com bom senso pode saber quando um bebé tem cólicas. —disse ela. —É sempre melhor não fazer nada em tais casos. —disse hesitante.

—O quê? —Wick exlamou.

—Eu tenho certeza que o meu tio me disse que haveria sangue em sua fralda nestes casos. —e contou a ele rapidamente sobre o medo de Jonas ter uma intussuscepção. —E não há. —concluiu ela. Os lamentos persistentes de Jonas foram se aproximando.

—Parece-me que você está certa. —disse Berwick. —Ainda assim, precisamos do seu tio para vir dar uma olhada no bebê. Onde ele está? Vou mandar uma carruagem imediatamente.

—Você não pode! —Philippa engasgou, horrorizada.

—Mas ele é o melhor médico que você conhece. Nós precisamos dele.

A porta se abriu e Kate entrou novamente, levando Jonas e seguida por um homem que era o príncipe, presumivelmente. Uma senhora idosa cambaleante agarrou seu braço. Ela usava tanta pintura facial, encimada por uma peruca difusa e bastante gasta, que se assemelhava a um cão chinês que havia passado por Little Ha’penny juntamente com uma feira itinerante.

Mas foi o príncipe que chamou a atenção de Philippa. Ela ficou presa ao chão e olhou das sobrancelhas do Sr. Berwick para o príncipe e, para seus cabelos, seus olhos, seus queixos...

—Sua Alteza, Princesa Sophonisba, e Sua Alteza, o Príncipe Gabriel Albrecht-Frederick William Von Aschenberg de Warl-Marburg-Baalsfeld. —Mr. Berwick anunciou. Virando-se para ela —Apresento-lhes a Srta. Damson.

—Muito irregular, sendo introduzida pelo mordomo. —a velha senhora disse, irritada. —Bem, quem é você, então?

—Eu sou... —Philippa começou meio atordoada.

—Ela é uma amiga minha. —Kate interrompeu. —Veio para ajudar com Jonas. —Sorriu para Philippa, e Philippa percebeu, para sua surpresa, que era verdade. Mesmo que ela conhecesse Kate por apenas uma questão de horas, já a considerava uma amiga.

—Eu não posso ouvir uma palavra sobre aquele uivo. —disse a princesa Sophonisba. —Nunca ouvi falar de uma senhora amamentando seu próprio bebê antes. Tenho certeza de que esse é o problema. —Ela nivelou um dedo fino para Kate. —O que essa criança precisa é o leite de uma camponesa resistente. O seu é provavelmente fino e azul. Embora agora que penso sobre isso, você é praticamente uma camponesa.

—Eu só vou andar com o Jonas no corredor até que ele se acalme, posso? —disse Philippa apressadamente quando seus olhos foram para Kate.

—Sim, faça isso. —disse a princesa idosa. —Ele parece ser um dos demônios, eles gostam de falar deles na igreja, do tipo que não tem nada para fazer, mas uiva. Wick, por que não está nos oferecendo algo para beber? Só porque Roma está queimando não significa que não precisamos mexer. Este guincho é terrível para os meus nervos.

Resolvida, Philippa pegou Jonas na dobra do seu braço esquerdo e acenou para o lacaio, que abriu a porta para ela.

No corredor, Jonas agitou os pequenos punhos cerrados e lamentou. Ele estava puxando para cima as pernas de novo, então seu estômago deveria estar doendo. Philippa colocou-o no ombro e acariciou suas costas suavemente enquanto andava.

Se o Sr. Berwick insistisse em convocar seu tio, tudo estaria acabado. Seu pai chegaria em poucas horas, e ela iria acabar de volta em Little Ha'penny, casada com Rodney. Jonas soltou um grande arroto.

—Você tem um monte de ar em sua barriga. —disse Philippa. Ele ainda estava chorando, mas parecia mais indiferente sobre isso. Outro grande arroto irrompeu de seu estômago.

Ela continuou andando, para cima e para baixo, se preocupando com o problema de seu tio, seu pai, Rodney, Jonas, cólica... E se ela estavivesse errada? Se fosse intussuscepção, seu tio diria que não havia nada a ser feito. Mas...

—Deus te abençoe. —Finalmente, a porta da sala de jantar se abriu e Kate surgiu. Pegou o bebê. No momento em que saiu do ombro de Philippa, ele franziu o rosto e chorou ainda mais alto.

—Silêncio docinho. —Kate sussurrou.

—Tente seu ombro. —disse Philippa. —Desta forma. —Ela ajeitou o bebê sobre o ombro de sua mãe.

—Mas sua cabeça está pendurada. Todo o sangue vai para sua cabeça. —exclamou Kate.

—Desta forma, sente-se melhor para o seu estômago. Ouça. —Com certeza, seu choro não cessou, mas os lamentos não são agora tão desesperados.

—Vá comer alguma coisa. —disse Kate, apontando para a porta. —Temos trabalhado muito com o Jonas. Gabriel está vindo para dar uma volta em meia hora e, em seguida Wick vai dar uma volta.

—E então a princesa Sophonisba, espera? —Philippa assentiu.

—Bem. —Kate piscou. Ela pegou o sorriso de Philippa e sorriu. —Vá comer!

Philippa voltou para a sala de jantar para encontrar o príncipe sentado à cabeceira da mesa, e Wick no seu pé. Ela hesitou por um momento na porta, incerta onde sentar.

—Srta. Damson. —Murmurou um lacaio dando um passo adiante puxando uma cadeira ao lado de Wick.

Dois candelabros esbeltos de prata jogavam luz sobre a toalha de seda damasco, os pratos banhados a ouro, e uma maior variedade de talheres do que ela sabia que existia. Por um momento, Philippa se sentiu tonta. Fora realmente só ontem que tinha se deitado na palha com Rodney?

Poderia ser realmente ela, sentando-se em um castelo, comendo com a realeza? Ela não se atreveu a olhar para a direita, em Wick, ou ainda mais aterrorizante, à sua esquerda, no próprio príncipe.

—Você é muito bonita, mas parece um ganso fora da lagoa. —disse a velha senhora. Em frente a ela, a princesa Sophonisba sugava vigorosamente o osso da galinha. —Você nunca esteve em um castelo antes?

—Não, eu nunca estive em um castelo, Sua Alteza. —disse ela, pegando o guardanapo e espalhá-lo em sua sesta.

—A maioria das pessoas acha que é um presente morar num castelo. —disse Sophonisba. —Na verdade, um castelo é igual ao outro.

O príncipe limpou a garganta e se inclinou para frente, dando a Philippa um sorriso encantador. Um sorriso que ela reconheceu do irmão? Eles pareciam quase idênticos, o que não poderia ser acidental.

—Você parece ter realizado milagres com Jonas. —disse ele. —Eu não sei como nós vamos ser capazes de lhe agradecer.

—Dê-lhe um cinto de castidade de ouro, eu acho. —disse a princesa Sophonisba. —Da forma como o seu irmão está olhando para ela, ela vai estar carregando um bastardo em questão de nove meses.

Então Wick era irmão do príncipe. Não admira que fossem tão parecidos.

O príncipe fechou os olhos por um momento. —Peço desculpa.

A princesa falou direito sobre Sua Alteza. —Na verdade, isso é exatamente o que precisamos por aqui. Mais bastardos. Olhe para Berwick, aqui.

Philippa não ousava olhar. Podia senti-lo sentado ao lado dela, podia sentir seu corpo grande, os olhos repousando sobre ela.

—Olhe para ele! —A princesa ordenou.

Philippa olhou.

Para seu alívio, ele estava sorrindo, seus olhos acesos com um profundo prazer que enviou pequenos choques para baixo de sua coluna vertebral.

—Um bastardo. —disse a princesa, com satisfação, lambendo os dedos. —E ainda assim ele é o melhor do lote. O meu favorito, e eu sou uma conhecedora de homens. Sempre fui desde que eu larguei meu noivo louco barulhento e decidi nunca me casar.

Philippa sentiu um sorriso brincando em seus lábios também.

—Você pode estar em um castelo, entre a realeza. —O Príncipe Gabriel observou a partir do outro lado da mesa. —Mas eu tenho medo do que você vai encontrar Srta. Damson, que tenham um comportamento inadequado, enquanto em privado.

—Fale por você. —A princesa irreprimível respondeu. —Eu não tenho nenhum desejo de saber que tipo de malandragem vocês fazem em privado. Não é um assunto adequado para a mesa de jantar. Observe as suas maneiras! —E com isso, ela enfiou uma perna de frango na boca.

Philippa sentiu risos aumentando em sua garganta. Um lacaio inclinou-se ao lado dela e colocou uma porção de carne assada.

—Se você quer sua perna de frango posso solicitar uma. —disse Wick. Sua voz era profunda e rouca, tão diferente de Rodney. Eram como vinho e água. E havia aquele sotaque encantador, que a fazia perder o fôlego.

—Não, obrigada. —Disse ela, recompondo-se. Para seu alívio, o príncipe tinha se empenhado em uma discussão com sua tia sobre o imperador Napoleão.

—Pequena quanto uma pulga. —A princesa disse com desdém. —E as sobrancelhas sobressaem como caixilhos de uma janela de loja.

—Acho que você percebeu agora que o meu nascimento não foi santificado pelo matrimônio. —Wick disse para Philippa.

—Eu... —Philippa quase engasgou com sua mordida na carne assada ao tentar dizer algo.

—Ouvi-lo a faz empalidecer? —Ele perguntou, colocando uma expressão inocente. —Temo que estamos acostumados a esta circunstância por aqui, uma vez que tem sido o caso desde o nascimento. Meu nascimento, isto é. —acrescentou.

Philippa finalmente conseguiu engolir a carne. —Nem um pouco. —Disse ela fracamente.

—Dê um pouco de frango àquela garota. —Princesa Sophonisba gritou do outro lado da mesa. —Ela parece que tem uma fraqueza pulmonar, provavelmente não vai durar uma semana.

O Príncipe Gabriel revirou os olhos para sua tia e agilmente introduziu outro tema de conversa.

—Minha tia bebe demais. —Wick observou.

Philippa largou o garfo. Ela esperava que fosse o garfo certo; com três garfos para escolher, escolhera ao acaso. —Tenho notado que faltam alguns dentes nesta idade. No entanto, a princesa Sophonisba, parece incrivelmente dotada a esse respeito.

—Sim, ela está roendo o osso como um cachorro bulldog. —disse Wick. —Bem, então. Você decidiu me dizer onde encontrar o seu tio?

—Eu não posso. —Disse ela. —Por favor, não me pergunte. —Wick tinha uma boca bonita. Ela empurrou os olhos para longe e esperava que ele não tivesse notado que ela estava impressionada com ele.

—Quanto tempo leva para chegar a sua casa? —Insistiu Wick.

—Por favor, não.

—Se Jonas continua a melhorar, não vou chamá-lo. Mas se Jonas continuar adoecendo, de repente, quanto tempo seria necessário para buscá-lo?

—Um dia. —disse ela aliviada. —Ele estaria aqui na manhã seguinte se eu enviar uma nota junto. Especialmente... —A voz dela sumiu.

—Especialmente porque esse tio deve estar procurando desesperadamente por você debaixo de toda a sebe e morro. —afirmou Wick.

Houve um momento de silêncio entre eles.

Philippa decidiu que preferia não responder. Tinha lido em algum lugar que os prisioneiros não poderiam ser forçados a incriminar-se. Então, ela deu outra mordida de carne assada.

—Você vai se arrepender do dia em que foi capturado na ratoeira do pároco. —Princesa Sophonisba disse ao príncipe Gabriel. —As crianças são o trabalho das mulheres. Seu pai teria vergonha de você.

—Ah, mas o queijo que estava na ratoeira era irresistível. —o príncipe disse educadamente. —Se você me der licença, querida tia, Srta. Damson, Wick. Acredito que a minha vez chegou. —com isso, ele saiu.

—É melhor você parar de fazer essa manobra com os olhos. —disse Princesa Sophonisba, balançando um osso de galinha para Wick. Ela não parecia esperar uma resposta, pois virou-se e começou a arengar um lacaio.

—Manobra de olhos? —Perguntou Philippa.

—Ela quer dizer olhos de veludo. —disse Wick. Seu sorriso deveria ser banido. Ele fazia suas entranhas se sentirem quentes e condescendentes.

—Olhos de veludo? —disse Philippa, recompondo-se. —Eu acho que prefiro manobra.

—Esfumados. —ele ofereceu.

Ela torceu o nariz. —Isso faz soar como um bordel, todo de veludo e fumaça.

—E o que você sabe de bordéis? —perguntou Wick com um sorriso de fazer o coração de Philippa derreter.

—Nada. —ela admitiu.

—Bem, eu posso te dizer isso. —disse ele, inclinando-se em direção a ela. —Não há dois com olhos verdes da cor do mar e nem de cabelos da cor de pérolas.

—Não é ruim. —Sophonisba latiu do outro lado da mesa.

Philippa saltou. Travada pelo tom sensual na voz de Wick, ela tinha esquecido a princesa.

—É melhor estar atenta. —disse Sophonisba a ela, usando uma perna meio comido frango como um ponteiro. —O homem é um diabo, é claro. Seu irmão era o mesmo. Você acha que a princesa teve alguma chance, uma vez que Gabriel a teve na sua mira? Não é um acaso! —Ela bufou. —Eu quase tive que desistir do meu brandy, mas ele acabou se casando com ela.

—Brandy? —Repetiu Philippa, completamente desnorteada.

—Não pergunte, —Wick murmurou.

Sophonisba aparentemente recordou-se da bebida; ela agora estava exigindo alguma para acompanhar o frango.

—Você parece notavelmente pouco escandalizada pelo conhecimento das circunstâncias inconvenientes de meu nascimento —disse Wick. —Eu ainda estou esperando por você tremer e evitar meus olhos.

—As pessoas têm tremido no passado? —Ela perguntou.

—As senhoras têm. —Havia algo inflexível em sua voz. Um pouco sombria.

—Eu já não sou uma senhora — disse ela, encolhendo os ombros. —Embora, claro, é preciso distinguir entre os bastardos.

—É preciso? —Perguntou Wick.

—Absolutamente —disse ela com firmeza. —Há aqueles que ganham a denominação, pelo seu comportamento, e aqueles que o são simplesmente dadas às circunstâncias. Além disso, eu tenho pensado muito sobre o que significa ser uma dama.

—Eu suponho que suas circunstâncias alteradas levam a tais pensamentos filosóficos — ele perguntou, seus olhos rindo novamente. —Porque verdadeiras senhoras não contemplam a questão. Então, quais são as qualidades que concluiu serem necessárias? Elegância, cultura, discernimento? Ou talvez a capacidade de viver no luxo seja o suficiente?

—Sacrifício —ela disse, sem rodeios. —E, às vezes, ele simplesmente não vale a pena.

Ela pensou que seus olhos... o que ela viu em seus olhos não podia ser respeitável, ou verdadeiro, por isso ela se dedicou a sua carne assada.


Capítulo 5


Nas semanas seguintes, a vida de Philippa assumiu um ritmo. Toda vez que Kate cuidou Jonas, ele iria chorar amargamente por horas. Philippa e Kate se revezaram andando com ele, balançando-o, massageando-o. Nenhum dos métodos realmente parecia ajudar a melhorar seu estômago.

Mas, como Philippa assinalou com orgulho um pouco modesto, ele estava engordando, sem o óleo de rícino e os eméticos que o médico havia prescrito. Na verdade, quando ela chegou ao final de sua segunda semana no castelo, a melhoria de Jonas era inegável. —Não há nada de errado com você ¯, Philippa cantarolou para ele no meio da noite depois de Kate ter alimentado o bebê e entregou-o à sua babá agora indispensável. Jonas piscou para ela. Seus olhos quase se fechando, e ele quase, quase adormeceu, mas, em seguida, outra pontada deve tê-lo acometido, porque seu rosto se contorceu em agonia, puxou para cima as pernas e gritou.

—Pobre bebê —disse Philippa, beijando seu rosto. Em seguida colocou-o por cima do ombro, em sua posição favorita. Isso significava que ficava em suas costas, como se fosse um saco de feijão. Funcionava. Até ela parar de andar, é claro.

Decidiu levá-lo para a galeria de retratos, porque tinha caminhado ao redor e ao redor do berçário no início da noite, e sentiu que mais uma volta em torno desse caminho a deixaria louca.

O castelo era quente e escuro. Ela desceu um nível e fez seu caminho para a galeria de retratos para descobrir que o luar estava fluindo nas janelas, sua cor tão pálida e fria como as flores brancas que costumava recolher quando era criança. Não parou por muito tempo ante os retratos, apenas uma pausa para examinar como luar parecia fazer aos galãs de golas de tufos como cópias desbotadas da sua imagem habitual.

Ela percebeu o momento em que Mr. Berwick ou Wick, como ele insistiu que ela o chamasse entrou no quarto. Era como se o ar mudasse de alguma forma. Ele sempre a encontrava no meio da noite. Olhava para ela e a procurava no quarto do bebê, ou na galeria, e andava com ela. Quando eles se encontravam durante o dia, geralmente no jantar, conversaram com cortesia suficiente sobre Jonas, o castelo, do que quer que fosse. . . Mas nunca de seu encontro noturno.

Toda a conversa à luz do dia era educada e seguindo as convenções, às regras dissolvia-se nos encontros noturnos e no brilho suave da lua e das velas. Era como se a obscuridade da noite mostrasse o seu verdadeiro eu. A maneira como ele olhou para ela não era nada como Rodney costumava olhar para ela. Oh! Wick a desejava. Ela podia ver uma demanda em seus olhos, uma fome que ele não poderia mascarar.

Mas, mais do que isso. . . Ele gostava dela. Ele pensava que ela era engraçada. Realmente gostava de ouvi-la. Era intoxicante, enfeitiçante, era tudo o que Rodney nunca tinha desejado e que nunca poderia.

Philippa se virou para ver Wick caminhando em direção a ela, seu passo sem pressa. Ele estava sorrindo, aquele sorriso torto que a fazia se sentir quente por toda parte.

—Como você consegue sempre parecer tão impecável? —Ela perguntou, quando ele estava próximo. —Você nunca dorme? —Ela usava uma camisola e uma bata, e seu cabelo caía pelas costas em todas as direções. Após a primeira noite ou duas, quando o bebê tinha chorado a noite toda, ela parou de se preocupar em como se parecia à noite.

—Eu não durmo com a minha farda, se é isso que você quer dizer ¯, disse Wick. —Como está nosso príncipe, leve hoje à noite? —Ele olhou para a cabecinha do bebê. Vendo que tinha um novo público, Jonas soltou um grito, mas se aquietou novamente.

—Eu acho que ele está melhor —disse Philippa, esfregando as costas do bebê. —Porém, não vai me deixar sentar, ou até mesmo parar de andar.

Nas últimas noites, eles haviam conversado sobre tudo, desde Shakespeare (ela gostava de Romeu e Julieta; ele achava Romeu uma melancolia cansativa) a advogados (ela pensava que eles deveriam doar seu tempo para viúvas pobres; ele pensava que era improvável) para dissecções (ela achava a ideia perturbadora; ele era da opinião de que era a única maneira de realmente identificar o tipo de doença de que um paciente sofria).

Agora, ele pegou sua conversa diretamente onde a tinha deixado na noite anterior.

—Eu pensei em outra razão para que a dissecção seja importante. De que outra forma nós poderemos aprender sobre os sistemas do corpo, se não os investigando completamente?

—Eu não gostaria de aprender sobre o corpo, se for necessário cortar uma pessoa. —disse ela com um estremecimento.

—Por que não? Eu acho que seria fascinante. Não gostaria de ser um cirurgião. Não gosto de causar dor. Mas, se a pessoa já tiver deixado seu corpo, por que não tentar descobrir como ele morreu, e por quê?

—Todo o sangue e tripas —disse ela. —Obviamente.

—Entranhas. —disse ele, quase sonhador. —Quando eu estava na universidade, li que há entranhas suficientes no corpo humano para esticar todo o caminho até uma rua média. Eu não posso imaginar.

—Não dê ouvidos a ele. —disse Philippa a Jonas, que tinha acordado. —Você vai se sentir enjoado e começar a chorar de novo.

Jonas arrotou e fechou os olhos mais uma vez.

—Eu vou parar de caminhar e sentar-me, Jonas. —ela disse a ele. —Só por um pouco de tempo. —Então ela afundou com cuidado no sofá que Wick tinha encomendado e colocado na galeria de retratos depois que ficou claro que era um lugar para caminhar com Jonas.

—Por que você não vai dissecar alguns cadáveres, então? —perguntou ela, tentando ignorar o fato de que Wick tinha sentado ao lado dela. Seu pulso instantaneamente acelerou. Por um lado, sua perna estava tocando a dela. Por outro lado, assim que se sentaram, pareceu como se o mundo retraisse e se tornasse tão pequeno quanto os três. Como se ela, Wick e Jonas estivessem totalmente sozinhos em todo o castelo.

—Eu? —ele pareceu assustado por um momento. —Absurdo.

—Por que absurdo? Meu tio me disse que há uma terrível escassez de médicos em Inglaterra. Você me disse outra noite que esteve em Oxford. Tomou um grau?

—Claro. —respondeu Wick.

—Um bom grau? —ela insistiu.

—Um grau em primeiro lugar. Isso é bom o suficiente para você?

—Bom. Bem, então, tudo que você tem a fazer é ir para a universidade em Edimburgo por um ano. —disse ela. —Acho que seria melhor ir um pouco mais, mas meu tio me disse que muitos médicos só participam por apenas um ano.

—Eu não poderia fazer isso.

—Por quê?

—Bem, porque Gabriel e eu, porque eu estou aqui.

—Eu posso ver que é muito bom para o seu irmão tê-lo como seu mordomo. —Reconheceu —mas se deseja curar as pessoas, eu acho que cada pessoa doente se sentiria melhor se você pedisse a dispensa do seu lugar de mordomo. —Ela ouviu sua própria voz e estremeceu de vergonha. Era algo sobre ele. Ele a fazia se sentir alegre e ligeiramente quebrada.

—Meu pai...

—Seu pai não está aqui —disse ela, interrompendo-o. —Eu sei que você é o filho de um grão-duque, Wick, mas não parece que o faça se sentir muito bem. Por que não simplesmente esquecer isso e fazer o que quiser?

—Como eu desejo. . . —Havia um tom de melancolia em sua voz. —Gostaria que meu pai nunca tivesse seduzido minha mãe apesar de que teria tido consequências infelizes para mim.

—Eu quis dizer desejos realistas —disse Philippa sentando-se reta para que pudesse balançar para frente e para trás no seu lugar, na esperança de manter Jonas dormindo.

Sua resposta veio com um sorriso triste. —Eu não posso acreditar que ele iria se surpreender ao saber quantas portas estão fechadas para bastardos. —Philippa encontrou seus olhos, e a dor neles era inconfundível.

—Essas portas são apenas para os tolos —ela disse suavemente, mas ferozmente. —Você deve ser julgado pelo homem que se tornou não pelas circunstâncias de seu nascimento.

Ele ficou em silêncio por um momento, os olhos ainda sobre os dela. A expressão em si mudou de alguma forma, e de repente seu coração batia na garganta.

—De qualquer forma —ela disse rapidamente, refugiando-se nas palavras, —ninguém aqui na Inglaterra teria a menor ideia se o seu nascimento foi irregular ou não.

—Eu tenho uma responsabilidade para com o meu irmão —disse Wick. Mas essa expressão ainda estava lá. Era quase... terna.

Philippa começou a esfregar as costas de Jonas novamente. —Se eu entendi corretamente a conversa durante o jantar na noite passada, Gabriel assumiu a responsabilidade por este castelo, juntamente com alguns membros da corte do seu irmão, embora ele tivesse preferido ser um arqueólogo em algum lugar. . . Túnis foi? Procurando por uma cidade chamada Cartago? Isso parece sugerir que um senso de responsabilidade familiar não reside apenas nos escalões inferiores.

Wick riu. —Eu fiz o meu melhor para convencê-lo a ir para Túnis, mas ele se recusou, pensando que tinha de fornecer uma renda para o castelo. Em seguida, escreveu um livro, para não mencionar casar, um herdeiro e agora está livre para ir para onde ele quiser.

—Eu espero que você tenha tentado muito duramente convencê-lo. Posso dizer que você é o mais próximo dele para fazer isso.

—Ele estava tão miserável antes de conhecer Kate —Wick explicou.

—No entanto, não pode viver sem você? Será que ele não deseja a mesma felicidade para você?

Houve outro momento de silêncio. Então, ele sorriu para ela. Philippa de repente pensou que gostaria de beijá-lo. Ela lhe daria um beijo escandaloso, do tipo que Rodney tinha exigido dela e ela não tinha permitido.

Como se tivesse lido sua mente, ele disse. —Eu quero ouvir mais sobre Rodney. —Ela nunca, nunca, deveria ter falado a Wick sobre Rodney. De alguma forma, durante esses encontros noturnos, era difícil manter segredos, e Wick já tinha adivinhado que ela estava fugindo de alguém.

—Bem... ele tem uma tendência a começar a zurrar quando está nervoso. —ela falou, sentindo um prazer perverso em trair seu noivo, seu ex-noivo.

Wick assentiu. —Conheço o tipo. Acho que vai junto com a ascendência inglêsa. Espero que ele caçe, e se deleite aos gritos absurdos de tallyho.

—Espero que sim. —disse ela. Não podia deixar de evocar uma imagem mental de Rodney sentado em seu cavalo com seu casaco de caça vermelho que fazia suas nádegas parecerem quatro vezes maiores do que realmente eram. Involuntariamente, os olhos cairam para as pernas de Wick.

Ele era todo musculo, tão diferente de Rodney como o dia e a noite.

—Você está nos comparando? —disse com sua voz baixa e rouca.

Seus nervos sacudiram novamente, mas ela balançou a cabeça. Não podia mentir para Wick por mais tempo, agora eles estavam tão perto. Amigos, ou talvez até mesmo algo mais. —Você é muito diferente.

—Talvez porque ele é filho de um barão. —Ele não disse aparentando amargura.

—Ele sempre teve tudo o que queria, mas isso não é desculpa para o seu fundo de gordura. —observou ela.

—Ele estava realmente com sete anos quando se apaixonou por você?

—Ele tinha nove anos. Eu tinha sete anos.

—Surprendente. —Wick disse, olhando para ela como se ela fosse algum tipo de exposição em uma mostra itinerante.

Philippa pegou de volta um sorriso e sacudiu a cabeça. —Você está dizendo, Mr. Berwick, que eu não era desejável aos sete anos?

—Você é tão bonita como uma princesa de conto de fadas. —Disse ele, a voz subitamente rouca. —Estou certo de que você era tão encantadora aos sete anos.

—Na verdade, eu costumava sonhar em estar em um conto de fadas. —ela admitiu.

—Vaidade, teu nome é mulher! —disse Wick, puxando uma mecha de seu cabelo.

—Não por vaidade. Eu sempre imaginei um príncipe que iria montar em um cavalo branco. Eu estaria lá, na praça da aldeia, e ele iria envolver o seu braço em volta de mim e puxar-me diante dele na sela.

A sobrancelha de Wick foi para cima. —Para isso terei que ter um pouco de habilidade. A história seria tão decepcionante se você tomasse um tombo. Estaria o príncipe vestindo armadura brilhante, por acaso?

—Naturalmente. —Philippa confirmou.

—Quase impossível. —disse Wick. —Coisas de menina. —ele se afastou e deu-lhe uma rápida inspeção da cabeça aos pés —Quem a carregaria sobre um cavalo usando uma armadura?

—Meu príncipe. —Ela disse com altivez. —Não teria tido nenhum problema com o feito. Ele me consideraria leve como uma pena. —Ela lhe deu um olhar semelhante ao que ele lhe dera. —Isso foi graças a seu físico, você entende.

Wick começou a rir e depois parou de repente quando Jonas sacudiu suas pestanas.

—Você não tem romance em sua alma. —disse Philippa. Ela encostou-se no sofá e suspirou. —Foi só muito recentemente que percebi que a história de fadas tinha mais a ver com escapando de Rodney do que ser levada por um príncipe acrobático.

Wick inclinou-se e olhou para Jonas. —Dormindo.

—Eu deveria levá-lo de volta para o quarto do bebê. Eu acho que ele dorme melhor em seu berço.

—Não, ele dorme melhor no seu colo. —Havia uma nota em sua voz que transformou um simples comentário em algo completamente diferente.

Ela podia sentir suas bochechas ficando rosa. Talvez ele fosse se inclinar sobre... talvez fosse beijá-la. Ela quase podia sentir seus lábios nos dela.

Mas não completamente.

Então ela se levantou e, juntos, na escuridão, eles fizeram o seu caminho de volta para o quarto do bebê. Wick estava ao lado dela, observando em silêncio, enquanto gentilmente colocava Jonas de volta em seu berço.

Quando ela se endireitou e se virou, ele estava lá, um pouco antes dela. Com a cabeça inclinada, lentamente, e seus lábios deslizaram ao longo de sua bochecha. Ela ficou imóvel, seu coração batendo na garganta, querendo que seus lábios tocassem os dela.

—Eu não deveria estar fazendo isso —disse ele, baixo e doce.

Ele estava olhando para ela com olhos escuros de veludo. Era demasiado bonito para ela, muito sofisticado, muito principesco...

—Sim, você deveria. —disse ela.


Capítulo 6


Desde sua primeira noite em Pomeroy Castle, Philippa tinha ficado acordada na cama imaginando os beijos de Wick. Eles não seriam como as invasões babadas de Rodney, ela havia decidido. E, no entanto, não podia imaginar o que seria. E se ele enfiasse a língua em sua boca, da forma como Rodney fizera? Qualquer língua em sua boca, que não fosse a sua própria, seria nojento. Ela sabia disso.

Mas agora Wick a beijou ligeiramente, apenas um roçar de lábios. Um empurrão de fogo foi direto para baixo de seu corpo, através de seu meio. Ela levantou os braços e enrolou-os ao redor do seu pescoço. Seus lábios eram firmes e a faziam sentir-se tão quente. Como poderia um beijo tão simples fazê-la se sentir tão necessitada?

Por alguns momentos, ela não podia deixar de se perguntar quando ele iria empurrar a língua entre os lábios, e o que ela sentiria se ele o fizesse. Mas em vez disso, ele simplesmente ficou lá no quarto escuro do bebê, a cabeça inclinada para a dela, sua boca roçando a dela, mais e mais. Aos poucos, ela esqueceu suas preocupações; além disso, sua atenção foi atraída por suas mãos, vagando sobre suas costas, deslizando mais baixo, moldando-a. Logo, não podia pensar em nada, só a sensação fascinante de seu toque. Ela estremeceu e tentou se aproximar de seu calor.

Seus lábios deslizaram ao longo da linha do queixo, para baixo, para a curva de seu pescoço, deixando um rastro de fogo em todos os lugares que tocavam.

Ele cheirava tão bem, Philippa pensou em transe. Que gosto ele tem? Impulsivamente, ela abriu a boca e provou-o, sua língua esgueirando-se para tocar a linha dura de sua mandíbula.

Um som áspero veio dos lábios de Wick, e ele virou o rosto para o dela. —Querida—disse ele, com a voz rouca no silêncio.

Philippa pressiou-se ainda mais perto, moldando seu corpo para seus músculos. Ela estava vagamente consciente de que seu cabelo tinha caído de sua fita, e ele estendeu a mão, correndo os dedos através dos fios soltos. O toque quase tão íntimo como o beijo.

Sua língua corria ao longo de seus lábios, e então ele respirou. —Beije-me de volta, Philippa. Por favor. —Ela abriu a boca. Era tão natural como respirar, como virar o rosto para cima à luz do sol. O beijo de Wick não era uma invasão. Era sobre o gosto dele, e o gosto dela, e a maneira como seus corpos tremiam uns contra os outros.

Um gemido saiu de sua garganta, então ele estava beijando-a mais duro do que Rodney tinha feito de modo implacável que ela só poderia segurar, impotente na tempestade que derrubou suas pernas.

No entanto, permaneceu consciente o suficiente para saber que não estava sozinha naquela tempestade; As grandes mãos de Wick estavam tremendo e deslizavam pelas suas costas, no seu traseiro arredondado e puxou-a para cima e contra o seu corpo. Que era diferente da anatomia pastosa de Rodney. Na verdade, ele não era nada como Rodney...

Foi Wick, que se afastou, deixando Philippa tentando recuperar o fôlego. Seu peito arfava muito, e ela podia ver a selvageria em seus olhos. Nunca tinha se sentido mais feminina, mais desejada e mais poderosa, em sua vida.

—Eu não posso me casar com você. —disse ele, baixo e feroz. —Você é uma dama. Eu não posso me casar com você.

—Eu não lhe pedi isso. —Ela replicou, capturando sua voz.

Ela teve que parar antes que ele dissesse alguma coisa, antes que ele dissesse que se arrependia de beijá-la. —Boa noite. —ela sussurrou, empurrando seu cabelo para trás de seu rosto.

Wick deu um passo à frente, com as mãos para cima tentando alcança-la, como se ele não pudesse se conter. Ela virou-se rapidamente e foi até a porta de seu quarto de dormir, parando para olhar por cima do ombro.

Ele estava olhando atrás dela, assim como ela pensava, e esperava que ele estivesse.

—Eu só quero salientar —ela disse —que não só estou a serviço de seu irmão, mas eu dei o meu bem mais precioso, a minha castidade. Como qualquer pessoa em uma sociedade civilizada confirmaria uma mulher na minha situação, nunca poderia casar com um cavalheiro.

Então, antes que ele pudesse responder, ela fechou a porta. Porque... Porque ela tinha, para todos os efeitos, apenas lhe pedido para casar com ela.

E se isso não fosse suficiente para desqualificá-la como uma senhora, ela não sabia o que o faria.


Capítulo 7


Quando Wick apareceu na galeria de retratos na noite seguinte, não disse uma palavra sobre a sua proposta implícita. Ao contrário, ele perguntou sobre os problemas de barriga de Jonas, e depois contou—lhe uma história sobre a sua grande tia Sophonisba. Philippa acenou e sorriu, mas por dentro, ela era selvagem com a frustração.

Ele não ia mencionar o que aconteceu entre eles? Ela tinha ficado acordada metade da noite à procura das palavras mágicas que iriam superar o seu comentário sobre o seu nascimento, e ele queria falar de trivialidades? Então, de repente, Jonas parou a agitação, deu um pequeno bufo, e adormeceu.

E tão rapidamente, Wick pegou o bebê de seu ombro e levou-o de volta para o quarto do bebê.

Philippa trotava atrás, o coração batendo forte. Ela estava tendo dificuldade para lembrar suas falas, assim como uma atriz prestes a entrar no palco. O que ela deveria dizer? O que ela deveria, ela deveria...

No final, ela não disse nada, porque, com o bebê em sua cama, Wick a prendeu contra a parede e beijou-a até que ela estava derretendo contra ele, e em vez de perguntas cuidadosamente elaboradas concebidas para fazê-lo perceber que deveria se casar com ela... bem, ele parecia gostar desses sons suaves que ela fez quando a beijou, o que foi bom porque a forma como ele a beijou, junto com a maneira como a tocou, foi intoxicante. Ainda mais embriagada do que o velho Fettle, quando ele estava caído na estrada cantando.

Na noite seguinte, foi o mesmo, e a noite depois disso. Durante todo o dia, ela refletia sobre maneiras de fazer Wick casar com ela. De alguma forma. Porque se ele não ia pedir-lhe em breve, bem, ela realmente tinha que escrever a seu pai. Ela tinha começado a se sentir terrivelmente culpada, certa de que ele estava preocupado como a morte sobre o que tinha acontecido com ela.

Mas quando vinham as noites e os encontros com Wick na galeria de retratos, seus olhos se encontravam, e toda essa ansiedade que sentia voava de sua mente. O mundo encolhia para caber naquela sala. Ela tremia quando se olhavam, quando seus braços se tocavam e se beijavam.

E então, quando Jonas estava em seu berço, ela iria escorregar para os braços de Wick tão naturalmente como o bebê se acomodara para dormir. Uma vez que ela estava lá, o mundo desaparecia completamente, e o único pensamento em sua mente era um desejo atordoado para saber mais dele. Wick era como o melhor presente que ela já tivesse recebido um presente embrulhado em centenas de camadas diferentes. Todas as noites ela aprendia algo novo, algo que o resto do mundo não conhecia.

Ele manteve partes vitais do próprio segredo, até mesmo de seu próprio irmão. No entanto, ela encontrou a chave mágica que libertou enorme reserva: ela o beijou e beijou. Lentamente, o rosto iria mudar mover-se de seu ânimo implacável em algo mais selvagem e feroz. Um olhar que era só para ela. Um olhar que chegou perto, muito próximo de revelar um Wick que já não estava no controle.

Mas cada vez que ela tentou persuadi-lo sobre essa barreira final, permitindo-lhe que a mão (escandalosamente) passasse por suas coxas, ou até mesmo, uma noite, se arqueando contra ele como o pior tipo de Jezebel...

Ele nunca quebrou. Podia senti-lo tremer, ouvir o gemido em sua voz, mas mantinha seu autocontrole.

E cada vez que ela tentou trazer o assunto de seu relacionamento, ele se retirava. Em um segundo o rosto mudava para o de uma pessoa calma e impessoal. Ele iria oferecer-lhe um adeus educado e sair, fechando a porta educadamente, e silenciosamente, atrás dele. E depois... ele voltava na noite seguinte, como se não pudesse ficar de fora.

Ele era puro autocontrole. A única maneira de Philippa poder imaginar mudar a mente de Wick era tentar seduzi-lo. É verdade, ela não sabia muito sobre sedução. Rodney havia se jogado na palha a seus pés, depois de tudo, e até mesmo a memória dele ajoelhado em seus tornozelos a fez estremecer.

Um dia, quando Kate pegou o bebê, Philippa flutuou em torno do castelo até que encontrou Wick inspecionando o trabalho de três homens de pé polindo alguma prata. Reunindo sua determinação, ela enfiou a cabeça e disse com toda a calma que pôde —Mr. Berwick, Sua Alteza gostaria de falar com você no quarto do bebe.

Mas quando ele saiu da porta, ela o puxou para a pequena sala de estar ao lado. Eles não disseram uma palavra, apenas veio junto com uma vertigem que fez os dois tremerem de risos silenciosos até que o brilho nos olhos de Wick tornou-se algo mais, algo mais quente e mais privado do que alegria.

Ela o beijou até que ambos estivessem tremendo, até que seu sangue correu, até que ela podia senti-lo, duro e rígido contra ela.

E, no entanto, depois de alguns minutos ele afastou—a para longe, olhando para o rosto dela com aquela expressão impenetrável que estava começando a odiar. Houve uma carranca em seus olhos.

—Você não deve fazer isso. —Ele sussurrou, esfregando o polegar sobre o lábio.

—Por que não?

—Eu não valho a pena. Eu não sou para você. Isso não pode acontecer... não podemos ficar juntos.

—Estamos juntos. —disse ela. —Eu...

Sua mão deslizou sobre dela mão. —Não diga isso. Você não deve. Eu não sou um cavalheiro.

—Eu te amo. —Disse ela, puxando a cabeça bruscamente de sua mão. —Vou dizer a meu pai. Eu vou contar a seu irmão, Kate, os lacaios, o cozinheiro.

Ela podia vê-lo engolir. —Eu não poderia suportar se você fizesse isso.

—Por que não? — Perguntou ela.

—Eu não desejaria isso ao meu pior inimigo.

—O que você não gostaria? —Ela perguntou genuinamente confusa.

—Arruinar a mulher que amo. —Disse ele.

—Eu já estou arruinada.

Ele correu um dedo pelo seu rosto, e depois deixou a mão cair. —Você não foi arruinada pelo Rodney, não importa o que pensa. Há muitas senhoras que anteciparam o leito conjugal. Mas não se engane você estaria arruinada por se casar com um servo. —Ele virou-se e retirou-se, deixando-a lá.

Wick foi direto para fora do castelo, descendo as grandes escadas de mármore, e para o lago. Andou cegamente, sem ver nada, não queria ver a decepção nos olhos de Philippa. Ele sentiu uma dor estranha no seu coração com o pensamento dela.

No entanto, o que poderia fazer? Amava-a. Deus, ele a amava de um jeito que nunca imaginou ser possível. Ele estava sentindo-se um touro furioso, mas não podia fazer o que queria. Casar com ela? Fazê-la esposa de um mordomo? Não, nunca.

Ele estava olhando para a superfície do lago, agonizante com o rumo dos acontecimentos que haviam trazido Philippa a ele, e as convenções sociais que, provavelmente, iriam mantê-los separados, quando sentiu um toque em seu ombro, virou a cabeça, e encontrou seu irmão ao seu lado. Como irmãos fazem, eles se entendiam sem uma palavra. Gabriel estava apertando os olhos para ele de uma forma que lhe transmitiu que seus beijos privados não eram mais privados.

—Condenação! —disse ele categoricamente.

—Hmmmmm. —Gabriel disse, com um sorriso contraindo o canto de sua boca. —Philippa é uma menina adorável. Kate a adora.

—Eu não posso casar com ela.

—Por que não?

Levou um momento antes de Wick poder se recompor e olhar para seu alheado irmão sem raiva em seus olhos. Ele se orgulhava de nunca mostrar nenhuma emoção. —Eu estou a seu serviço. —Disse ele, por fim. —Como um mordomo.

—Só porque você escolheu que fosse assim. —Gabriel respondeu.

—Uma vez que a escolha foi feita, a decisão era irrevogável.

—Disparate. Eu posso contratar outro mordomo em Londres. Você só assumiu porque não tínhamos dinheiro, não se lembra? Bem, agora temos a herança inesperada de Kate, para não mencionar o pagamento que recebi por meu livro sobre arqueologia grega. Na verdade, acabei de comprar a propriedade da madrasta de Kate. Poderíamos...

—Você poderia o quê? Fazer-me legítimo? Fazer-me o cônjuge adequado para Philippa? —Wick não podia evitar. Mostrava-se tão calmo e ao mesmo tempo orgulhoso de sua decisão, porém essa calma era enganosa quando sua voz amargurada derramava ácido. —Você não pode me dar o que eu mais preciso: um pai que não esteve numa cama de uma leiteira e a engravidou. Você não pode dar a minha mãe um casamento digno e nem mesmo o pedigree que Philippa merece.

Gabriel ouviu e entendia seus argumentos. —Eu não sou o marido certo para uma senhora, Gabe. —Disse ele em voz mais baixa.

—Philippa te ama. —Gabriel disse. —Até um homem cego pode ver isso. Ela não se preocupa com o seu pedigree.

A garganta de Wick estava muito apertada para responder. Ele sabia que seu irmão podia ver o desespero cru em seus olhos, porque ele o puxou para um abraço áspero. —Ela não poderia fazer melhor do que você. —Gabriel disse um momento depois, batendo-lhe nas costas.

Ele apenas balançou a cabeça. —Absurdo.

—Há apenas um aspeto em que você fica aquém dela.

Wick não via que forma, mas ele esperou Gabriel falar.

—Você é um covarde. —disse Gabril.

Neste insulto, uma onda de raiva quente, do tipo que só seu irmão poderia inspirar, subiu até o peito de Wick. —Você não ousa dizer isso para mim —disse ele com os dentes cerrados.

—Você é homem para amá-la, mas não é homem para tomá-la. —disse Gabriel. —E você quer saber por que eu sei disso?

—Não. —As mãos de Wick estavam enroladas em punhos.

—Porque eu passei por isso com a Kate. Eu estava preso, pensando que tinha que ser tão rico antes que pudesse me casar. Não é responsabilidade pela idiotice do nosso pai. Você tem medo de apenas chegar e levá-la, mesmo que ela queira.

—Não sou covarde. —Wick disse entre dentes.

Gabriel riu. —Felizmente para Philippa, ela é bonita o suficiente para que outro homem apareça e tenha a coragem de aceitar o que ela está oferecendo.

Um rugido mudo irrompeu da garganta de Wick, e ele atirou-se para o irmão. Eles caíram no chão com um baque, rolaram em uma rajada de golpes, rolaram novamente. Wick encontrou-se no topo. —Ela pode me querer agora, mas...

Sua sentença foi interrompida por um movimento hábil de Gabriel, que conseguiu virá-lo no chão e bater o vento fora dele. Não falou mais nada até que os dois estavam deitados de costas no chão, ofegantes, sentindo os nós dos dedos, quando Wick disse isso. Ele disse categoricamente, porque a examinou, noite após noite, transformando os fatos cada vez mais em sua mente, e ele sabia que era verdade. —Daqui a alguns anos, ela vai desejar um homem que poderia estar ao seu lado na sociedade.

Seu irmão levantou-se. —Como você sabe? Talvez ela só queira uma pessoa corajosa, um homem com a coragem de se levantar e dizer que ele é tão bom quanto qualquer outro homem, independentemente do nascimento.

Wick tomou a mão que seu irmão lhe estendia. —Eu não posso ser o que ela merece. —Disse ele, sentindo sua mandíbula.

Gabriel olhou para ele com desgosto e se virou. —Ela merece alguém melhor do que você e eu não estou falando sobre o seu pedigree.

Depois de Wick a abandonar na sala de estar, Philippa voltou para o quarto do bebê, totalmente consciente de que não podia continuar a pressioná-lo para que ele lhe desse o que não podia dar. Além disso, Jonas estava prosperando, ele já não chorava e nem sofria tanto ao comer, e suas pequenas bochechas estavam ficando gordinhas. Só naquele dia, ele sorriu para Kate, pela primeira vez, e, mais tarde, para o pai e, em seguida, para cada um dos lacaios.

Era hora de ir para casa.

Ela iria sofrer terrivelmente com saudades do bebê e de Kate, mas seria uma simples questão de envolver uma nova babá. Com o coração pesado, ela se sentou e escreveu uma carta a seu pai, fechou-a e deu-a a um lacaio. Veria seu pai à noite.

Deixando o castelo agora, significaria deixar seu coração para trás. Ele tinha sido roubado. Roubado por um homem com comportamento imaculado, um rosto calmo e inteligente, e beijos apaixonados. Ela, uma filha da aristocracia rural, tinha caído de amor por um mordomo.

Estava apaixonada por Wick.

Mas Wick insistiu que não poderia se casar com ela. Ela respeitava; se o amava, tinha que respeitá-lo. Mesmo que isso significasse nunca mais vê-lo novamente.

Mesmo assim.

Mas ainda... ela tinha dado tudo para Rodney e depois desprezou-o. Se podia dar tudo a um pateta, por que não dar tudo para Wick, a quem amava? Deixando de lado o fato de que ele continuava recusando-a, é claro.

Ela não era de desistir simplesmente.

Por fim, ela decidiu tentar mais uma vez, apenas uma última vez. Aquela noite.

A ideia cresceu até que seu coração disparou com convicção. Ela iria fazê-lo. Gostaria de pedir, implorar, seduzir Wick para que fizessem amor, apenas uma vez. Assim, ela poderia saber como era com ele. De modo que, durante as noites futuras jogando xadrez com seu pai, poderia pensar nestes momentos. Não era apenas o jogo do xadrez que aparecia em sua mente.

Havia Rodney. Depois daquela carta a seu pai, não haveria como escapar do Rodney.

Não haveria “felizes para sempre” para ela. A vida com Rodney seria. . . Afe!!! O que quer que fosse.

Mas se conseguisse seduzir Wick, teria memórias, pelo menos. Ainda assim, teria de ser sutil... ele tinha uma vontade de ferro, e apenas a sua sensualidade não iria quebrá-lo.

Entretanto, uma questão ética a estava incomodando. Será que tinha o direito de tentar superar sua determinação e enorme reserva já que sua adesão à honra provinha do mesmo lugar: o seu nascimento ilegítimo? E se ela conseguisse convencê-lo a fazer amor, estaria destruindo o que ele construíra?

Com um pequeno sorriso irônico, pensou sobre o cavaleiro de armadura brilhante que tinha sonhado na infância. Não havia nenhum homem mais nascido para ser um cavalheiro para uma donzela do que Wick. Ele era tudo o que era nobre, bom e verdadeiro.

No final, ela decidiu que, enquanto não prejudicasse Wick e não quebrasse seu código de honra, ela não podia fazer uma injustiça para com ele. E isso significava que ele tinha de fazer amor com ela não porque ele desejava, mas porque ela precisava dele, ou melhor, para salvá-la... para resgatá-la. Ao fazer amor com ela, ele se tornaria o instrumento da sua salvação.


Capítulo 8


Naquela noite Phillipa colocou Jonas para a cama e, em seguida, sentou-se na cadeira de balanço, de frente para a porta. Se ele não passar por aqui... pelas nove horas, iria tentar encontrá-lo. Ela ficou esperando... deu nove horas... as horas iam e vinham. Dez horas... onze... Finalmente, a porta foi aberta.

Com um olhar para o rosto de Wick, Philippa voou em seus braços como um pássaro ao seu ninho. Exceto este pássaro estava em perigo de ser comido vivo, por isso, talvez não fosse uma boa analogia. Suas mãos eram ásperas, irregulares, e urgentes, como se ele já soubesse o que ela tinha a dizer. Como se adivinhasse que seria sua última noite no castelo.

No entanto, não demorou muito para ele se afastar. Ela teria ficado com raiva se não pudesse ver a luxúria crua lutando com pesar em seus olhos. —Eu não sou nenhum Rodney, tendo uma donzela nos estábulos. —disse ele, lembrando-sea si próprio tanto quanto a ela.

Se ela fosse para executar seu plano agora era o momento.

—Eu não sou donzela. —Philippa lembrou. —E preciso de você.

Cada polegada de seu corpo estava ciente da força dele enrolando. A maneira como ele se manteve completamente imóvel, não se contraindo ou remexendo.

—Eu escrevi para o meu pai. —Disse ela.

Ele levantou uma sobrancelha.

—Eu não podia permitir que ele se preocupasse comigo por mais tempo. Foi impensado e pouco gentil para dar-lhe essa ansiedade. —Jonas fez um som fungando em seu berço, como um leitão bebê. —Meu pai vai me levar para casa, é claro.

Wick fez um movimento brusco, mas parou.

Ela engoliu em seco e olhou de volta para ele. —Ele virá para me recuperar e me levar para casa, para Rodney. Isso é o que ele deve fazer, porque eu... eu fui tola o suficiente para me deitar com o Rodney nos estábulos.

—Ah, Philippa. —Disse Wick. E então ela foi envolvida por seus braços.

—Eu sei. —Disse ela com cuidado, —que você me ajudaria se pudesse.

Ele segurou-a, quente e perto.

—Se eu tivesse... se eu tivesse dormido com outro homem, talvez Rodney se recusasse a casar comigo. —Parecia um absurdo. Ela desistiu e começou tudo de novo. —Se eu...

Ele interrompeu. —Philippa.

—Eu sei. —Ela disse miseravelmente. —Eu sei que você é muito cavalheiro para fazer o que eu estou pedindo.

—Você só está brincando de ser uma babá, Phillipa. Você vai voltar para casa e ser uma senhora novamente. Mas eu nunca tive a classificação de um cavalheiro. Servo ou bastardo... qualquer um é inelegível para casar com você. —Sua voz era feroz, feroz como um lobo no inverno. —Você pede o impossível.

—Eu sinto muito! Eu nunca deveria ter sugerido isso. —As palavras dela se misturaram a um soluço. —Não pensei que fosse assim. É só que eu pensei que você...

—Você sabe que eu a desejo e penso que poderia ajudá-la a escapar de um casamento odioso. Não posso ter essa conversa com o jovem príncipe na sala... —afirmou Wick. Ele atravessou a sala, trazendo Philippa com ele, e abriu a porta para o corredor.

Seu coração estava quebrando. Tudo tinha dado errado. Ela tinha insultado Wick. Claro, ele não podia fazer o que ela pediu. Foi tão ridícula sua ideia de que ele deveria se casar com ela. Ele era o filho de um Grão—duque. Ela era uma tola, uma tola estúpida e ingênua de uma pequena vila, e deveria ter ficado lá. Embora olhando para aquilo de outra forma, ele era um servo, e ela era uma senhora. O resultado era óbvio.

Além disso, sua ideia era ridícula, nascida do desespero. Obviamente Wick nunca, nunca, dormiria com uma lady solteira, mesmo se ela lhe implorasse.

Suas bochechas estavam em chamas, enquanto seguia Wick para o corredor e fechou a porta atrás dela.

Mas ela era forte, e não iria desabar. —Peço desculpas por lhe ter pedido para fazer algo tão ofensivo ao seu senso de honra. —Ela disse, mantendo a voz firme. E ainda conseguiu reunir um sorriso fraco. —Eu sei que você não é devasso de donzelas.

Ele não retornou o sorriso. —Meu pai era assim. Minha mãe trabalhava na lavanderia do castelo. Eu não posso, nunca, agir como ele fez.

Philippa assentiu. —Você não é como o seu pai. E não deve pensar duas vezes sobre Rodney. Vou explicar tudo para o meu pai, e eu vou fazê-lo entender —Ela não falaria a Wick a verdade, que seu pai a faria casar com Rodney de qualquer forma.

—Eu poderia matar Rodney, se desejar. Talvez devesse fazer isso se você quiser ou não.

Ela piscou e viu que seus olhos estavam inteiramente sérios. Ela soltou um riso abafado. —Não! Rodney é... Rodney não é terrível. Eu exagerei o assunto quando lhe disse sobre ele. Vou dizer ao meu pai que não desejo me casar com Rodney, e que vai ser isso.

Ela estendeu a mão. —Eu ouvi que as senhoras finas em Londres apertam as mãos.

Ele olhou para a mão dela no corredor escuro. —Você é uma senhora fina?

—Não, mas eu gostaria de ser, por sua causa.

—Então, você poderia me comprar?

Sua mão caiu. —O comprar?

—Eu sou agradável, à minha maneira. —Disse ele de forma neutra. —As senhoras me dizem que poderiam estar dispostas a apoiar-me de uma forma mais grandiosa do que Gabriel.

Por um momento ela não entendeu, em seguida, um flash de raiva passou por seu corpo. ¯Agora você me insultou tão certo como eu fiz. —Ela retrucou. —Eu acho que esta conversa foi longe o suficiente. —Ela virou-se para abrir a porta para o quarto do bebê.

A mão dele disparou, segurou a porta fechada.

—Wick. —Disse ela, olhando para a mão contra a madeira escura. —Devo entrar no quarto do bebê. Estou indo embora amanhã.

Ela não o sentiu se mover e não sentiu um lampejo de seus braços, nada... e ainda assim de repente, ela estava sendo virada e viu-se envolta em seus braços.

—Eu iria deixá-la me comprar. —Disse ele finalmente, com a voz rouca.

Ela administrou um sorriso trêmulo. Então, respirou fundo e colocou as mãos no rosto, puxando seus lábios nos dela.

—Quanto? —Ela sussurrou.

—Eu tenho dito que custo uma fortuna. —Sua voz tinha uma nota sombria.

—Eu não tenho muito dinheiro. —Sua língua saiu, correu ao longo da costura de seus lábios, provou a selvageria que ele ocultava com o seu corpo na posição vertical, com o rosto imóvel.

—Há uma taxa especial sobre... Eu estou indo para um penny. —ele sussurrou contra seus lábios.

Desta vez, ela o beijou.

Philippa não sabia quanto tempo estiveram no corredor. Com os olhos fechados, suas únicas sensações vieram da impressão do corpo poderoso de Wick, a sensação de drogar a sua boca, a forma como as mãos brincavam com ela.

Em seguida, ela se deu conta que ele estava dizendo algo. —Eu não tive a intenção de ofendê-la por falar das mulheres que se ofereceram para me comprar. —Sua voz era baixa e rouca. —Mas sou obrigado. Eu não posso lhe pedir para casar comigo. A única relação concebível entre um mordomo e uma senhora é se ela... engaja seus serviços.

Ela engoliu em seco, mordendo o lábio quando viu a dor em seus olhos. —Mas eu me casaria com você.

As palavras tinham caído de seus lábios. —Se você me perguntasse. —Ela acrescentou rapidamente.

—Eu sou um servo, com uma grande linhagem de um lado, mas nenhuma riqueza. —Wick disse friamente. —E a verdade é que eu... Eu te amo, Philippa. —Era a sua vez de tocar seu rosto com as mãos. —O que significa que não posso fazer de você uma criada. Se eu pudesse me casar com qualquer mulher, qualquer mulher no mundo, de rainha para mendiga, nunca iria escolher outra. Eu escolheria você. E quero dizer isso.

Os lábios de Philippa tremiam. —Eu também te amo. —ela sussurrou.

—Mas não posso me casar. —Wick disse, seus olhos procurando os dela, pedindo compreensão. —Se eu fosse uma pessoa diferente, e este um lugar e tempo diferente, eu teria tido um anel de casamento em seu dedo há uma semana.

—Oh, Wick. —ela sussurrou, caindo para frente contra o peito. Uma lágrima umedecia sua camisa.

—Eu daria qualquer coisa para chama-la de minha. —Sua voz era dura e verdadeira.

—Então eu terei que o comprar. —disse Philippa, afastando aquela lágrima e outra que se lhe seguiu. Ela se afastou e pegou seus olhos, porque isso era importante. —Eu não sou uma criança para ser entregue das mãos de um homem para outro.

Suas sobrancelhas se uniram. —Eu não...

—Você faz. —Ela disse isso claramente, não com raiva. —Eu te amo.

Ele engoliu em seco.

—E eu sou perfeitamente capaz de fazer a minha própria mente sobre a disposição do meu corpo.

—Eu sei.

Ela abriu a porta às suas costas. —Então venha. —Ela estendeu a mão.

Sua voz surgiu estrangulada em seu peito. —Philippa, eu não posso.

—Se você me ama, se você me respeita como uma pessoa que sou e se é dono do seu próprio corpo, não é servo e nem propriedade de ninguém...

—Um cavalheiro não iria —disse ele com voz rouca.

Ela sorriu, pegou sua mão. —Você acabou de me dizer, senhor, que não é um cavalheiro.

Ele a seguiu, através do quarto do bebê escurecido, até a porta na ponta, através da porta.

De uma cadeira ao lado do quarto, ela pegou sua bolsa, e abriu-a. —Se a única maneira que eu posso ter você é comprando-o...

Ele soltou um meio gemido, meio risada. —Philippa!

Ela estendeu a mão, pegou sua mão e passou os dedos em torno de um penny. —Então eu o possuo. E, embora você não pedisse, seu preço era muito baixo. Eu sou sua desde o seu primeiro beijo. Suponho que você poderia dizer que eu vim de graça.

A fome em seus olhos a fez se sentir mais bonita do que alguma vez em toda a sua vida.

Ainda assim, ele permaneceu imóvel, o autocontrole deste homem é infernal.

Ela deixou o silêncio crescer, então: —Eu comprei uma casa, mas não a possuí. —Ela tinha certeza de que o olhar em seus olhos rivalizava com o de qualquer mulher de rua de Londres. —E eu estou vendida, mas ainda não fui apreciada.

Houve outro momento de silêncio na sala, durante a qual o coração de Philippa martelada em sua garganta.

—Isso foi um trocadilho terrível —observou Wick. Havia algo profundo e lento em sua voz. Ela reprimiu um sorriso.

Ele colocou uma mão para a gravata perfeitamente amarrada. Philippa prendeu a respiração.

Os olhos fixos nos dela, ele lentamente, levantou uma dobra de roupa e depois outra e outra... ela viu as mãos do canto de sua visão, porque ela estava bebendo em sua expressão, o desejo tenso que moldou seu rosto.

Em seguida, ela levantou as mãos para a fita que segurava sua bata fechada. Um momento depois, ela estava vestindo apenas uma leve camisola de musselina. Um olhar para baixo em seu peito e ela sentiu-se corar com embaraço. Instintivamente, cruzou os braços sobre o peito, esperando achatar os mamilos antes de Wick os ver.

Ela não poderia dizer se ele tinha. Ele tirou o casaco pesado e colocou—o sobre uma cadeira.

—Você —disse Philippa, e limpou a garganta. —Você parece...

—Sem essa libré —Wick declarou: —Eu sou um homem, nada mais que um homem.

Alegria despertou em seu coração —Você deseja remover minha camisola?

Ele se endireitou, um sapato em uma mão. —Se você está tendo dúvidas, eu saio.

Ela engasgou não, e um sorriso torceu o canto da boca. Depois acrescentou: —Eu acho que me sentiria mais confortável com minha roupa de noite.

Wick assentiu. Ele dispensou seu outro sapato, tirou as meias, depois parou, com as mãos na cintura.

Philippa percebeu que a voz dela tinha morrido. Seu corpo era tão tenso e musculoso, como nada já tivesse visto ou imaginado. Era um sorriso malicioso que ele lançou para ela, do tipo que os sedutores usam para as donzelas... embora ela não fosse mais uma donzela.

—Eu provavelmente deveria avisá-la. —Wick disse, mas ela quase não ouviu. Ele tirou as calças, e agora suas mãos estavam em suas roupas íntimas.

—O quê? —Ela respirou.

—Pode ser que Rodney e eu não... —Suas mãos não se mexeram.

—Não o quê? —Ela disse, incapaz de imaginar onde ele queria chegar.

—Não nos assemelhemos. —Suas roupas íntimas bateram no chão, e a boca de Philippa caiu. Ela instintivamente recuou um passo, terminando contra a armação da cama de ferro forjado.

—Oh céus!! —Sua voz saiu num guincho. A memória do membro de Rodney passou pela sua mente. Pequeno membro de Rodney. Não havia comparação.

—Percebi que não nos assemelhamos—Wick disse com uma nota irônica em sua voz.

—Não —Philippa respirava. —Você não faz.


Capítulo 9


Wick não sabia, não ousara pensar sobre o que estava prestes a acontecer, e o que isso significaria para ele. Mas, quando o riso reunieu-se em seu peito ao ver a expressão nos olhos de Philippa, indefesa, desejo, o olhar chocado em seu rosto, ele soube.

Ele destinava—se a tê-la, para ter e manter, de qualquer maneira que pudesse. Quer isso significar tornar-se um mordomo em sua casa, ou um jardineiro em seus campos... Ele tinha que estar perto dela.

Esta engraçada, deliciosa e inteligente mulher tinha entrado no castelo em linha reta em seu coração e ela nunca iria deixá-lo, enquanto ele vivesse.

Mas isso era um problema a ser trabalhado amanhã. Neste momento, ele teria que erguer sua amada para fora das grades da cama.

—Querida —disse ele, andando mais perto.

Philippa desviou os olhos para o seu rosto, em seguida, recuou. A dúvida de agonia em seu rosto quase o tinha dobrado com o riso, mas ele não podia fazer isso. Em vez disso, a pegou nos braços e a deitou sobre a cama.

Ela estava no caminho do luar que entrava pela janela; fluía pelo chão, sobre a cama, derramando na janela salpicos de luz acima de seu cabelo loiro-branco, tal como se derramava sobre o travesseiro e para baixo do lado da cama. Ela parecia etérea, como uma fada e não uma inglesa, uma espécie de fabuloso espirito que ele tinha capturado e levado para sua cama na noite.

Ele se sentou ao lado dela na cama. —Por que você me perguntou se deve se despir?

—Rodney não, isto é, ele se despiu, mas não removeu minhas roupas.

—Rodney —Wick disse —é um tolo e um atrapalhão. Não creio que tenha usado uma carta francesa não é?

—Não.

—Isso irá impedir de gerar uma criança —ele disse a ela. —O nosso filho. —Houve uma pequena pontada no seu coração quando disse aquilo. Ele daria qualquer coisa para ter seu bebê crescendo dentro de Philippa, para assistir a barriga redonda, para ver seus olhos no rosto de um menino ou menina... Mas como não sabia se os obstáculos ao seu casamento poderiam ser superados, a carta francesa era necessária.

Um fantasma de um sorriso tocou seus lábios, mas ainda assim, ela parecia tensa e incerta. Ele abaixou-se lentamente até que se deitou ao seu lado, e suavemente, muito suavemente, inclinou-se para tocar seus lábios nos dela. Suas mãos emaranhadas em todo aquele cabelo lindo, deslizando por entre os dedos como seda.

Beijou-a até que ela abriu a boca e se virou para ele. Continuou a beijá-la sem se mover, deixando seu corpo a centímetros do dele, deixando as mãos dela tomarem a iniciativa, escorregando do pescoço até os ombros, pelas costas.

Seu toque o fez tremer com a necessidade feroz, mas ele se controlou. Permaneceu quieto, dizendo a si mesmo que não devia assustá-la. Philippa já tinha tido uma experiência desagradável, se ele fosse impetuoso demais, ela provavelmente ficaria assustada.

Esperou até que seus olhos se abrissem e ela disse: —Wick.

—Sim?—Ele não conseguia parar de sorrir.

—Como os senhores fazem com as prostitutas que compram?

—Que tipo de coisa você gostaria que eu fizesse?

—Você deveria saber. E pare de sorrir para mim desse jeito.

—Eu não posso evitar —disse ele, inclinando-se e beijando os lábios, a bochecha, seus cílios de penas. —Eu nunca ri na cama com uma mulher antes.

—Isso é provavelmente porque você estava mais agitado do que está agora —comentou ela, e ele mordeu o lóbulo da orelha, em seguida, sentiu o tremor que pulsava pelo corpo dela.

—Você se parece com uma fada, um espirito —disse ele, passando a mão pela longa linha de sua perna. Ela parecia ter um fascínio com o peito, estava traçando pequenos padrões neles. —Mas você está soando como uma professora. —A última palavra foi estrangulada, quando Philippa se inclinou para ele e estava traçando os mesmos padrões com a língua.

Lentamente, muito lentamente, ele deslizou a mão sob a camisola, sobre sua coxa esbelta, a curva macia de sua cintura.

—Eu só quero dizer uma coisa —disse Philippa, abandonando seu peito, muito a seu pesar.

—Mmmmm —disse ele, seus dedos deslizando sobre a pele tão suave como pétalas de margarida. Seu coração estava batendo em uma maneira que nunca tinha experimentado antes.

—Nada de conversa fiada —disse ela.

A mão de Wick estava acariciando seu generoso e exuberante peito, e não podia pensar muito claramente. A cabeça de Philippa caiu para trás contra o travesseiro quando ele passou por seu mamilo e um pequeno gemido quebrou de seus lábios, por isso, parecia que ela não estava exatamente lúcida. —Isto é conversa fiada? —Ele perguntou, esfregando o bico do seio com o polegar, parecia um doce de framboesa.

Outro gemido estrangulado, um pequeno impulso de ar, voou de sua garganta. —Não —disse ela com um suspiro. —Você não sabe o que é não é? Eu deveria ter percebido que apenas Rodney tentaria envolver-me em algo tão desagradável.

Wick descobriu que ir para a cama com a sua amada era a atividade mais agradável, engraçada e apaixonada em que ele já havia se envolvido. Ele a beijou novamente, deixando seus dedos vagar, marcando o que fazia Philippa arquear as costas, instintivamente cair em uma posição para dar e tirar.

Lentamente, muito lentamente ele avançou e levantou a camisola acima dos seios. Ela não pareceu notar até que ele substituiu uma das mãos que estava acariciando seu peito com a boca, aí sim, ela notou. E ele ficou lá, aprendendo os segredos dela, saboreando sua doçura. Saboreando-a. Cada suspiro assustado trouxe risos e desejo duplicar no seu peito.

—Adorável Philippa —ele murmurou, algum tempo depois, —isto é conversa fiada? —E só para ter certeza que ela sabia o que ele estava falando, ele se inclinou e lhe deu outro beijo no outro seio, do tipo que reivindicava, um pouco áspero e um pouco selvagem.

—Não! —Ela engasgou e, em seguida, —Oh, Wick isso é maravilhoso.

Suas mãos procuraram à cega em direção a ele. —É igual para você?

Uma vez que eles haviam estabelecido a sua satisfação que sim, era igualmente maravilhoso para ele, Wick estava deitado de costas, com Philippa deitada ao seu lado, uma de suas pernas entrelaçada com as dele.

—Philippa —disse ele, ouvindo vagamente a rouquidão em sua voz. —Posso remover a sua camisola agora?

Ela olhou para ele, com os olhos brilhando. —Se eu te beijar aqui, Wick, seu corpo inteiro empurrando em resposta. Isso não é interessante?

—Muito —ele conseguiu puxar a camisola esvoaçante sobre sua cabeça. —Você é tão bonita —ele respirou impressionado.

Philippa seguiu o olhar de Wick sobre o seu corpo. A luz da lua tinha virado seus membros para alabastro; ela tentou imaginar como ele a via. Mas preferia olhar para ele.

—Só uma coisa —disse ela tentando reunir seus pensamentos. —O que eu disse antes...

Mas suas mãos estavam em sua cintura e sua boca se fechou sobre seu peito e ela perdeu a frase, as palavras, o pensamento completamente.

—Sim? —Ele perguntou.

Todas as suas partes secretas latejantevam, o foi uma sensação tão estranha que... Ainda assim, ela precisava dizer. —É apenas uma das perversões tontas de Rodney —disse ela, puxando os ombros. —Ele a chamou de titilar, mas eu sei que você não vai fazer uma coisa dessas.

Wick mexeu-se então seu corpo estava posicionado acima dela e Deus a salve, a única coisa que ela queria era que aquele grande corpo descansasse em cima dela. Finalmente entendeu por que as mulheres desempenhavam o papel de prostitutas, e é porque tiveram um vislumbre de um homem como este.

—Wick —ela sussurrou, jogando o último de qualquer precaução virginal restante para os ventos, —venha para mim... por favor?

—Eu pensei que era conversa fiada que você não gostava —Wick disse, seus olhos brilhando com uma mistura profana de riso e luxúria. —Agora eu percebo que você também não gosta de titilar?

Philippa revirou os olhos. —Você sabe o que eu quero dizer.

A mão forte de repente fez um caminho escaldante por sua perna, passando sobre a carne interna da coxa. Philippa engasgou. —Isso é exatamente onde Rodney... você não deve!

—Eu não vou. —disse Wick com ternura, deixando cair um beijo no canto da boca. —Eu nunca vou fazer algo desajeitado como o Rodney... a não ser que você me implore, é claro.

E com isso, ele tomou sua boca em tal beijo devorador que, à primeira vez Philippa mal notou a mão acariciando-lhe as pernas, dançando perto de seu mais secreto, mas percebeu. Afastou sua boca longe, e disse: —Wick, não!

—Eu nunca faria isso —disse ele, com os olhos inocentes. —No continente, nós desdenhamos titilar. Fazemos isso em seu lugar. —E sem parar por uma resposta, ele abriu as pernas com as mãos fortes, deslizou para baixo, e antes que ela pudesse conceber tal coisa, colocou a boca lá.

Philippa nem sequer pensou em recusar. Na verdade, ela não podia pensar de todo. Sua capacidade para o pensamento racional desaparecera e não ressurgiu até depois dela se encontrar tremendo dos pés à cabeça, tentando entender como uma onda escaldante tinha estourado sobre sua cabeça arrastando—a para baixo em suas profundezas ardentes.

Wick estava lá, sorrindo para ela... cutucando ela.

Seus olhos se arregalaram. —Isso é você?

—Sim —ele disse, rouco e doce. —Tome—me, Philippa. Porque eu sou a pessoa que você ama, e porque você me ama. Me faça seu.

Ela sabia instintivamente que esse tipo de propriedade não tinha nada a ver com dinheiro ou até mesmo beijos. E quando ele estava profundamente dentro dela, os dela não eram os únicos olhos brilhando com lágrimas errantes.

—Você é meu —ela sussurrou.

Wick embalou o rosto na sua. —Dói?

—Não —ela sussurrou de volta, bastante surpresa —Doeu com o Rodney com você é diferente. Eu me sinto... —Ela mexeu um pouco. —Isso é bom.

—Ah!! —Disse ele, com tal riqueza de satisfação em sua voz que ela começou a sorrir, mas então ele se afastou, devagar, e tão lentamente, impulsionou para frente, e o sorriso voou de sua mente, junto com tudo, menos o prazer selvagem, o sentimento arrebatador que a teve se arqueando para encontrá-lo, gritando com cada curso.

Ele continuou chegando e chegando... como a maré acima na costa, indo e voltando, só que não tão suave, em seguida, pareceu como se todo o oceano veio a ela, como se uma onda de puro prazer varresse da ponta dos pés para as extremidades dos dedos.

Vagamente, ela ouviu seu gemido, em seguida, seu próprio grito.

Foi uma noite de descoberta.

Ela acordou na penumbra da madrugada ao descobrir que Jonas tinha dormido durante a noite toda pela primeira vez. Wick estava inclinado sobre ela. Ela estendeu a mão, apenas para perceber que ele estava, mais uma vez, vestido seu uniforme.

—Eu tenho que ir —, ele murmurou, escovando fios de cabelo do rosto. —E você deve voltar a ser a Srta. Philippa Damson ao invés de minha babá favorita.

Ela sorriu para ele, sonolenta, mas estava acordando, e as suas palavras fundiram¯-se em algo ameaçador. —O que você quer dizer?

—Espero que seu pai chegue esta manhã para levá-la para casa.

Philippa sentou-se, com o coração de repente batendo. —Eu não irei.

—Você deve. Jonas está muito melhor, e jovens senhoras não podem servir no quarto do bebê para sempre. Você não é uma criada, Philippa.

—Eu não quero ir —Ele parou —Se você é um criado, eu quero ser uma criada também.

—Você não deve dizer uma coisa dessas.

—Eu não quero deixá-lo.

—Você deve. —Ele disse-o suavemente, mas ela ouviu a dura verdade em sua voz. —Não há lugar para você aqui, no castelo. Pode vir como uma visitante, mas eu estarei de uniforme. —Ele hesitou. —Eu preferiria que você não viesse.

E lá estava ele.

Ela passou as pernas fora da cama e levantou-se, sentindo o frio de suas palavras espalhadas por seu corpo. —Por favor, Wick, não, não diga isso.

Ele correu os dedos pelos cabelos e puxou-a para perto. —Vou tentar vir para você —disse ele, baixo e feroz. —Vou tentar Philippa. Mas nunca poderia fazer de você uma serva ou uma mendiga ao meu lado. Espere por mim.

—Para sempre —disse ela.

—Uma semana. Se eu não for até você antes de uma semana, eu não posso controlar isso. Mas saiba disso, Philippa. —Ele olhou para o rosto dela, tão inflexível como o maior imperador que já viveu. —Se eu não for até você, não é por falta de desejo, nem por falta de amor, nem por falta de tentativas. Eu faria qualquer coisa para ser digno de você.

Sua respiração ficou presa em um soluço. —Oh, Wick...

—E eu nunca vou amar outra mulher depois de você.

O anseio profundo em seus olhos fez os seus joelhos fracos. Ela foi para ele, tentando encontrar palavras, a promessa de que iria fazê-lo entender que ela era sua para sempre. Que ela iria esperar uma vida inteira.

Mas ele se foi.


Capítulo 10


Philippa ficou acordaao até que a suave luz cinza virou amarelo pálido, e Jonas ficou agitado. Ela tinha acabado de se lavar e se vestir e vestir o Jonas quando um lacaio anunciou que seu pai pedia para falar com ela.

No momento em que entrou na sala de estar, ela se jogou nos braços abertos do pai. —Sinto muito, papai. Oh! Você estava preocupado! Eu lhe disse para não ficar.

Por um momento, seu pai simplesmente ficou de pé os braços apertados em torno dela. Depois sentou-se pesadamente, puxando-a para o joelho como se tivesse cinco anos de idade. —Você me disse para não me preocupar... e realmente acreditava que sua garantia seria suficiente?

—Eu o fiz quando fugi. Mas pensei de forma diferente nas últimas semanas —ela confessou. —Pensei que seria melhor para você se eu fosse embora, porque não queria obedecer-lhe. Mas agora sei que o amor é muito mais possessivo do que isso. —Ela se inclinou contra seu ombro, como se realmente fosse uma garotinha novamente. —Senti sua falta.

—Você foi bem tratada? Falei com o príncipe, que parece um rapaz muito ordenado e educado. Mas você foi bem tratada? —Ele olhou em volta. —Eu não posso tolerar o fato de que minha filha tenha estado a trabalhar como babá. Graças a Deus, sua mãe não está viva para vê-lo.

—O príncipe e a princesa me trataram bem e com a maior bondade, papai.

—Eu vou dar-lhes o meu agradecimento, mas então devemos partir. Negliegênciei a casa, a propriedade e tudo mais depois que você fugiu.

Philippa se levantou e ficou tão direita quanto podia. —Eu vou voltar para casa com você, papai, mas não vou casar com Rodney. Nunca, nunca vou me casar com Rodney. —Nesse momento Jonas acordou, quando ela estava desejando ter contado sobre Wick, concluiu que era melhor não informar a seu pai que ela planejava se casar com o mordomo.

—Entendi isso a partir de sua nota. —disse o pai dela, perplexo. —Mas por que ervilha doce? Você sempre amou Rodney.

—Não, papai, —Philippa interrompeu. —Você sempre amou a ideia de meu casamento com Rodney. E Rodney disse que me amava. Mas ninguém nunca me perguntou como eu me sentia sobre o casamento com aquele trazeiro-gordo...

Seu pai franziu a testa. —Rabo-gordo? Ele?

—Sim.

—Eu nunca notei. Ainda assim, você não pode tomar uma decisão desta natureza com base em algo tão sem importância como um trazeiro. É o caráter de um homem que conta. Rodney é um rapaz robusto, de caráter bom como de personalidade.

Isso podia ser verdade, mas foi ao lado do ponto.

—Será que o pode chamar de inteligente? —Perguntou ela.

Seu pai pensou sobre isso. —Bem, talvez não exatamente inteligente, mas...

—Mas?

—A cabeça é como uma casa —disse ele —Se ele está muito cheia, é confusa.

—A casa de Rodney não tem uma vara de mobiliário nela —ela disse, sem rodeios.

Os ombros de seu pai cairam. —Eu pensei que estava fazendo o melhor para você.

—Papa —ela disse —Eu não vou casar com Rodney. Nunca.

—Vamos voltar para casa —disse ele, aproximando-se de pé e tomando-a em seus braços novamente. —Basta chegarmos em casa, por favor, Philippa. Estas últimas semanas têm sido insuportáveis.

—Sinto muito —ela disse suavemente, percebendo a profundidade da sua própria maldade, porém não intencional. —Eu fui tão má como dente da serpente na Bíblia, não fui, papai?

—Não é bem assim —disse ele, cansado. —E foi Lear de Shakespeare que chamou sua filha ingrata dente de uma serpente. Mas eu não me senti tão perturbado desde que sua mãe morreu, e essa é a verdade. Vou ter que falar com Sir George. Eu lhe disse que você estava visitando meu irmão todo esse tempo, mas ele suspeita de outra coisa, é claro. Os criados falam.

—Por favor, não no primeiro dia —Philippa implorou. —Certamente, podemos ter um dia tranquilo para nós mesmos. Nós vamos jogar uma partida de xadrez em seu estudio.

Eles fizeram exatamente isso.


Capítulo 11


Mas na manhã seguinte seu pai levantou os olhos do prato e fez um sinal para o mordomo, situado em uma mesa lateral perto do fogo, pronto para fornecer torradas frescas. —É tudo, Quirbles.

Philippa colocou o garfo no prato, quando o mordomo fechou a porta silenciosamente atrás dele. —O que foi, papai?

—Você não é a mesma. —disse ele abruptamente.

Ela piscou para ele.

—Há algo diferente em você.

—Espero que não. —Ela não sabia se devia esperar que a carta francesa de Wick funcionasse ou não. Não havia nada a olho exterior que admitisse que ela tivesse sido violada e amada.

—O que aconteceu naquele castelo, Philippa? —Perguntou o pai. Sua voz era gentil, mas firme.

Ela pegou o garfo novamente e cuidadosamente empurrou seus ovos para o lado no prato. —Cuidava do pequeno príncipe. Eu já lhe disse isso, papai.

—Isso não é o que quero dizer... Seu pai não fez nada de desagradável, não é?

A boca de Philippa caiu. —Claro que não, papai! Que coisa para sugerir!

—Sua Alteza não é Inglês.

—Ele é honrado —Philippa disse em tom de reprovação. —E a princesa é perfeitamente adorável. Nós nos tornamos amigas. E pelo jeito, ela é inglesa, embora realmente, papai, você não deve fazer suposições sobre o caráter das pessoas com base de onde elas vêm. —Na verdade, ela sentia falta de Kate, o que era um absurdo porque elas tinham se conhecido há algumas semanas.

—No entanto, você mudou de alguma forma. O que aconteceu lá? —Seu pai persistia.

Com uma respiração profunda Philippa tomou a mergulhar. —Eu me apaixonei.

—Ah, eu pensei assim —disse o pai, com a satisfação que vem com sua suposição confirmada. —Você sabe, ervilha doce, quando sua mãe estava morrendo estava muito preocupado com você. Ela estava certa de que eu não iria perceber que você estava sentindo ou pensando.

—Bem, você não fez, quando se tratava de Rodney —Philippa apontou.

—Eu estou fazendo isso agora —disse ele, dando uma mordida de peixe defumado.

Ela observou-o mastigar e sorrir para si mesmo.

Mas, então, o significado daquilo bateu nele. Ele largou o garfo com um clique agudo.

—Você se apaixonou? Por quem você se apaixonar? Algum sucata a fidalgote dissoluto pendurado em torno dos joelhos do príncipe, esperando uma esmola, eu garanto. Um desses brilhantes companheiros judiciais sem mais substância ou ética do que um gato!

—Não. —Ela tomou uma mordida de seus ovos, agora frios embora não pudesse saboreá-los.

Ele franziu o cenho para ela.

—O mordomo —Philippa declarou; ao mergulhar, não havia nada a fazer senão continuar.

Nesta revelação inimaginável o sangue drenou do rosto de seu pai. —Você está brincando. —Sua voz era um sussurro.

Philippa encolheu os ombros. —O Sr. Berwick é o próprio irmão do príncipe. É filho de um Grão—duque. Ele serve como mordomo de Sua Alteza por lealdade forte e carinho.

Seu pai piscou. —Nenhum cavalheiro jamais iria servir como um mordomo, não importa o rótulo de fantasia que você dê à posição.

—Ele é um cavalheiro —Philippa retrucou, num tom que nunca antes tinha usado com o pai.

—Então há algo errado com ele... Oh, meu Deus, ele é um homem casado. —Mr. Damson baixou a cabeça em suas mãos. —Eu deveria ter casado você com Rodney no dia em que completou dezesseis anos.

Philippa levantou-se, em seguida, escorregou para a cadeira ao lado de seu pai. —Ele não é casado, papai.

Seu pai ergueu a cabeça. —Pobre como um rato de igreja, eu espero. Nenhuma propriedade.

—Nenhuma —ela admitiu.

—Ainda assim, isso não explica por que ele é o mordomo. O homem pode casar com uma herdeira, se ele é o filho de um Grão—duque. Não há necessidade de colocar farda, há muitos ricos comerciantes que gostariam de se vangloriar de um genro com esse pedigree.

Philippa mordeu o lábio.

Ele veio do lado errado do cobertor. —seu pai disse, com a boca junta com desdém.

Ela assentiu com a cabeça.

—Danação! —A palavra ecoou duramente no pequeno quarto.

—Papai —disse ela suplicante. —Wick não é...

—Wick? Wick? Como um pavio de uma vela? Macacos me mordam se a minha filha vai ter alguma coisa a ver com um homem chamado como uma necessidade do agregado familiar. —Ele ficou de pé. —Diga-me que o bastardo tocou em você, e eu vou matá-lo eu mesmo.

Philippa pulou também. —Papai, não!

Ele agarrou os braços e olhou para o rosto dela. —Não? Você ainda é virgem? —Ela não respondeu, e ele deu-lhe uma sacudida. —Será que o príncipe sabe as consequências que seu irmão bastardo pode sofrer ao deflorar uma senhora ingelsa? Ele...?

—Ele não me deflorou —ela sussurrou.

O rosto de seu pai relaxou, mas o seu aperto não. —Ah! —Em seguida, mais lentamente: —Isso explicaria por que ele não está aqui, tentando fazer o seu caminho para fora da classe servil ao se casar com você.

—Ele se recusou a casar comigo! —Ela meio que gritou a ele.

Seu pai deixou cair os braços, cambaleou, e afundou-se na cadeira. —Margaret, Margaret, por que você me deixou? —Ele gemeu.

Philippa ergueu o queixo. Ela não podia sequer imaginar o que sua mãe faria na situação. —Pedi-lhe para se casar comigo.

A única resposta de seu pai era um choro.

—E ele se recusou em razão da sua honra.

—Onde foi que eu errei? —Ele gemeu. —O que fizemos de errado, Margaret? —Ele levantou a cabeça. —Isto é tudo por causa de Rodney, não é? Você tem uma abelha em sua capota sobre Rodney, e por isso caiu pela boa aparência do servo, com um conto interessante.

—Wick é um cavalheiro e tão nobre como você é. Ele queria ser um médico, assim como o seu próprio irmão.

—Você não é a primeira —disse seu pai, desatento. —A filha do conde de Southplank, um ou dois anos atrás, fez algo parecido. Todo mundo sabe que ela fugiu com um lacaio, alguns dizem que por uma semana inteira. Mas ela está corretamente casada agora. —Ele se levantou novamente. —E é isso que você estará bem. Vou visitar Sir George esta tarde.

—Eu não vou casar com Rodney! —Uma onda anestesiante de desespero quebrou sobre sua cabeça.

—Você vai. —Seu pai bem-educado, de repente assumiu a aparência de um bulldog. —Vai fazer o que eu digo Philippa. Eu não vou deixar você arruinar sua vida, ansiando depois depor um servo que tem uma melhor compreensão do decoro do que você. Eu não sei se estou mais chocado por ter sido tola o suficiente para fazer tal coisa com o homem, ou mais grato que ele não aproveitou a chance.

—Não, papai! —Gritou Philippa. —Você não entende. Você não pode!

—Eu posso —disse ele. A pegou pelo braço e começou a puxar e subir os degraus. —E não pense que vai fugir novamente. Vou dizer ao baronete que sofreu de um ataque, de uma doença. Você vai se casar com o Rodney de trazeiro gordo pela manhã e sinta-se afortunada. O último dos banhos foi dito no domingo, mesmo quando você estava voando em torno desse castelo fazendo uma tola de si mesmo!

—Papai —disse Philippa, a voz cheia de lágrimas. —Eu amo Wick. Eu o amo mais do que...

—Você vai esquecê-lo —afirmou o pai. Eles chegaram ao topo das escadas, e ele empurrou-a diretamente em seu quarto. —Um dia você vai olhar para trás sobre este episódio como se fosse um ataque de febre. Eu sempre pensei que fosse uma garota sensível, Philippa.

—Eu sou! —Ela gritou. —Eu detesto Rodney, Papai. Eu o odeio, e não vou casar com ele.

—Você vai —ele disse, fechando a porta na cara dela. Ouviu-o através da madeira, sua voz apenas um pouco abafada. —Amanhã!

Poucas horas depois, Philippa ouviu a porta da frente se abrir, e ela sabia que seu pai havia retornara, e não esperou por Quirbles para abrir a referida porta. Ela se apressou a descer as escadas, o coração batendo. O rosto de seu pai estava brilhando de suor, sua habitual expressão bastante triste era pura raiva.

Sem uma palavra, Philippa correu para a sala de estar diante dele. —Aquele desgraçado! —O pai berrou, batendo a porta atrás de si.

Philippa caiu em uma cadeira, a julgar que o bastardo em questão não era seu amado Wick. Evidentemente, Rodney tinha revelado tudo.

—Ele se aproveitou de você, uma donzela, uma donzela gentilmente nascida. E assim o fez —Olhou para baixo, para ela. —Em um celeiro? Na palha?

Philippa engoliu, mas a honestidade a fez admitir —Eu lhe permiti fazê-lo, papai.

Raiva torceu o canto da boca de seu pai. —Isso é irrelevante. Irrelevante! Você é uma donzela gentilmente nascida, a única filha de minha casa, e foi deflorada em um celeiro! —Ele balbuciou a um impasse. —Sua mãe —acrescentou pesadamente —iria me matar por isso.

Philippa mordeu o lábio, mas não disse nada.

—Sir George jogou seu filho ao outro lado da sala, uma vez que o jovem tolo confessou —disse seu pai, sentando-se em frente a ela. Ele estendeu a mão e puxou a sua gravata como se fosse estrangulá-lo.

—Ele fez? —Philippa guinchou. —Através do quarto?

—O barão está tão chocado quanto eu —disse o pai dela, deixando cair à cabeça para trás nas altas costas de sua cadeira. —Que burro nem sequer pareceu perceber o que tinha feito. Claro que você saiu correndo da casa. Você, uma donzela, tomada sem o benefício do casamento, minha filha —em um celeiro. —Isso parece ser o pior detalhe. —Eu nunca vou me recuperar desta, nunca mais.

—Papai —Philippa começou, sem saber o que dizer.

Seu pai sacudiu a cabeça ereta. —Eu quero que você saiba querida que Sir George e eu entendemos completamente por que você fugiu. Inteiramente. Deve ter sido uma experiência terrível para você. Terrível. Como aquelas que sofrem as mulheres em tempos de guerra, não tenho dúvidas. Na guerra Egípcia, por exemplo, —Ele parou e balançou a cabeça. —Irrelevante para a situação atual.

—Tenho certeza de que não era tão terrível como isso —disse Philippa tentativamente, como seu pai nunca havia instruído sobre a situação das mulheres em tempos de guerra.

—Nenhuma senhora deveria passar por uma situação que ela instintivamente não queira, exceto nas circunstâncias mais aceitáveis.

Philippa franziu a testa, e seu pai franziu a testa de volta. —No escuro —esclareceu ele. —Em uma cama adequada, dentro da santidade do matrimônio, e com o conhecimento de que seu respectivo marido admira você, mesmo que o ato em si, a consumação do casamento, seja necessariamente desagradável para você, se não doloroso.

—Oh!!! —disse Philippa. Isso teria resumido suas relações conjugais prováveis com Rodney. Mas não tinha nenhuma relevância para as intimidades com Wick.

—Como eu disse nenhum de nós te culpa —repetiu o pai.

—Obrigada —disse Philippa.

—Sua mãe teria resolvido isso bem. —Seu pai tirou a gravata e enxugou o rosto com ela. —Eu simplesmente não posso tolerar a idiotice desse jovem. Idiota!

Philippa esperava com uma sensação de mal estar no estômago.

—Mas, seja como for... —seu pai disse. —Você fez a sua cama, embora nos estábulos. Será que confiou a esse Candlewick o que aconteceu com você?

—O nome dele é Berwick, não Candlewick. —Mas ela concordou.

Seu pai enxugou o rosto novamente e jogou a gravata para o chão. —Vou mandar ao homem uma gratificação. Cem libras. Ao recusá-la, ele mostrou a criação de sua linhagem paterna. Obviamente, percebeu que você estava um pouco quebrada por causa da experiência horrível que sofreu. E ele respondeu como uma obrigação de cavalheiro. Duas centenas de libras. —Acrescentou.

—Seja como for, você está para se casar com Rodney imediatamente —ele continuou. —Vamos esquecer esse episódio com o castelo e o mordomo. Rodney não é o homem que eu deveria ter escolhido para você. Eu vejo isso agora. E sinto muito. Mas você sabe tão bem quanto eu, minha querida, que todas as outras portas estão fechadas para você neste momento.

Para Philippa, sua voz parecia assumir um som estridente, como se alguém falasse uma língua estrangeira. —Papai — ela implorou. —Eu não posso me casar com ele. Por favor.

—Você acha que sua mãe desejava permanecer casada comigo depois de nossa noite de núpcias?

Não houve resposta possível para isso.

—Ela não queria. —Sseu pai disse pesadamente. —O ato é horrível a uma criatura delicada. Mas conseguimos, e nos amámos um ao outro, e não há ninguém no mundo que eu preferiria ter me casado.

—Ela não teve que casar com Rodney! —Philippa chorou.

—Eu quero a sua palavra de honra de que você não vai fugir de novo, Philippa.

—Wick pode vir para mim —ela deixou escapar.

Os olhos do pai amoleceram. —Oh, querida. Você não acabou de dizer que ele se recusou a casar com você?

Ela assentiu com a cabeça miseravelmente.

—Ele realmente é um cavalheiro. —Disse ele suavemente.

—Mas ele pode vir por mim —disse ela, com lágrimas escorrendo pelo rosto. —Ele... ele sabe o quanto detesto Rodney, e ele me ama.

—Ele não pode apoiá-la. —Disse o pai dela, levantando-se e puxando-a em seus braços. —Se eu fosse ele, detestaria a ideia de baixar a mulher que eu amo uma senhora, ao nível de uma serva. Ele disse alguma coisa desse tipo?

Um soluço subiu no peito de Philippa.

Seu pai segurou-a ainda mais perto. —Eu vejo que ele fez. Bem, minha querida, a verdade é que você se encontrou com dois homens jovens. Um deles é um verdadeiro cavalheiro, embora talvez seu nascimento não seja o melhor. E o outro é um cavalheiro, filho de um barão.

—P... Por favor, não me faça casar com ele —conseguiu Philippa.

—Não há escolha —disse ele, balançando-a um pouco. —Você sabe disso, Philippa. Não há escolha. Você vai esquecer seu mordomo nobre no tempo. Rodney realmente ama você. O menino é realmente um tolo. Você poderia fazer muito pior.

—Eu não posso suportar isso —disse Philippa, soluçava.

—Você não deve fugir —disse o pai. —Isso quebrou meu coração. Eu envelheci dez anos, Ervilha Doce. Eu não poderia suportar não saber onde esta novamente. Por favor.

Lágrimas silenciosas se infiltraram em seu casaco.

—E você é uma senhora —disse o pai dela, pressionando para frente, onde ele obviamente viu uma vantagem. —Você deve se casar com Rodney. —Então ele jogou sua carta mais forte.

—É o que sua mãe quereria.

Ela sabia que era a verdade.

—O coração de Margaret iria quebrar se pensasse em você, sua única filha, casada com um servo, ou terminando como uma solteirona —disse ele. —Eu prometo a você, criança, prometo que vai aprender a amar Rodney. Ele é um tolo, mas não é vicioso ou indelicado. Ele realmente a ama, de uma forma que eu raramente vejo entre os senhores, para dizer a verdade. Ele sempre vai cuidar de você, e das crianças que você terá.

O peso de suas palavras parecia como silvas pesadas, enraizando—a em Little Ha'penny, nos braços de Rodney, em Durfey Manor.

—Eu... —Ela engoliu em seco, obrigou-se a dizer. —Eu vou casar com Rodney, mas só se você me der uma semana. Se me forçar a casar com ele amanhã, papai, eu vou fugir esta noite. Vou rastejar para fora da minha janela, se eu tenho que...

Seu pai suspirou. —Esperando o mordomo?

—Ele é um cavalheiro —disse ela resolutamente. —Você reconheceu isso sozinho. Ele me ama. Ele me disse isso. Ele vai encontrar uma maneira, de alguma forma, vir a mim.

Seu pai se virou, mas não antes que ela visse simpatia crua em seus olhos. —Como quiser —disse ele. —Devo-lhe isso, pelo menos.


Capítulo 12


Hora, angustiante hora, dia a dia, a semana de suspensão temporária de Philippa foi deslizando. Ela tentou não olhar para fora da janela na direção do castelo. Wick havia prometido a ela uma semana. Ele iria tentar. Ele iria... experimentar. Ela repetia para si todas as noites, antes de dormir chorando, na possibilidade de que ele não viria.

Ou na possibilidade de que ele viria pedir a mão dela, mas um dia muito tarde, uma semana tarde demais, um ano muito tarde.

No quinto dia, no início da tarde, seu pai a encontrou, sentada em um quarto das trazeiras sem visão da estrada poeirenta que leva na direção do castelo. Ela estava cansada de saltar cada vez que ouvia o menor ruído que poderia ser uma carruagem.

—Minha querida —disse ele —Você me faria uma grande bondade e levar este livro para o vigário? Peguei emprestado há algum tempo atrás, e espero que ele queira de volta.

Ela pegou o livro de sua mão. —O Hellenica, por Xenofonte —ela leu. —O que na terra é isso?

—Um relato muito interessante de proeza militar —disse o pai. —Xenofonte era um antigo guerreiro grego.

—É claro, papai —disse ela. —Eu estou tentando terminar as bainhas antes do jantar, mas vou levá-lo na primeira oportunidade amanhã.

—Não, o vigário está aguardando o livro —seu pai disse. —Por favor, faça-o agora.

Philippa viu que a mandíbula de seu pai estava definida. Ele parecia estar vibrando com um tipo de emoção sem palavras, que ela imediatamente interpretou.

—Você está argumentando algum ponto com o vigário, não é? —Perguntou, com um suspiro. —E eu suponho que A Hellenica é a prova deste ponto.

—Exatamente —disse o pai com satisfação. —Riggs vai ficar muito surpreso.

—Devo ir neste momento?

—Você poderia... fazer o seu cabelo ¯, disse o pai, acenando vagamente para ela. —Afinal de contas, ninguém a viu desde o seu retorno.

Philippa subiu ao andar de cima, pensando nisso. Sem dúvida, os moradores falavam de tudo. Certamente por agora eles sabiam tudo sobre sua temporada como babá no castelo. A realização a fez colocar seu segundo melhor vestido, um azul pálido apanhado sob o peito com fitas azuis marinho. Ela tinha um gorro para combinar, uma coisa um pouco boba que enfatizou a cor de seu cabelo.

Uma vez em Little Ha'penny a primeira pessoa que viu foi a mulher do padeiro, entregando pãezinhos quentes ao Biscuit and Plow. —Sim, então você vai ser uma baronesa a partir de sábado —Mrs. Deasly disse confortavelmente. —Quando eu pensar em você como uma menina, vindo aqui com sua babá, eu mal posso acreditar que cresceu. Seu cabelo era como o sol, mesmo assim, e você era a mais bonita pequena coisa que eu já vi. É uma garota de sorte, Srta. Philippa!

—Sim ¯, ela disse, sorrindo para a Sra. Deasly. Mesmo se ela tivesse que casar com Rodney, tinha amado e sido amada, e isso era mais do que muitas mulheres poderiam dizer.

Quando ela se aproximou da praça da aldeia, viu o vigário na frente de sua igreja, conversando com o ferreiro. O padre Riggs era um homem encurvado, suave, tão querido para ela como um avô. Ele estava de pé debaixo de uma árvore. O sol estava se inclinando através dos ramos, e sua batina preta estava manchada, como se tivesse sido manchada com água da chuva.

—É um prazer vê-la novamente, minha querida Srta. Philippa. E vai ser a minha honra desempenhar a sua cerimônia de casamento no sábado —disse ele, balançando os calcanhares.

Philippa não conseguia gerir um sorriso, mas balançou a cabeça.

O vigário chamou um pouco mais perto e examinou seu rosto. —Minha querida, você está... —Ele parou e recomeçou. —Muitas vezes os do belo sexo se sentem um pouco relutantes em se casar, mas garanto-lhe que as recompensas de ser uma esposa obediente e amorosa são notáveis, e o realizará não apenas no céu.

Philippa assentiu distraída. Ela queria saber se um coração partido sempre marcava mais. Voltou sua atenção para o vigário, quando viu que seu rosto se tornara suave e arrependido, como se ele estivesse consignando-a a forca, em vez do altar.

Ele colocou uma mão consoladora no braço. —Vou certamente... —Mas naquele momento ela ouviu o barulho dos cascos dos cavalos nos paralelepípedos e seu coração ressaltou. Certamente era Wick, finalmente! Ela girou tão rapidamente que a mão do padre caiu de seu braço. E foi...

Era Rodney.

Assim que a viu, ele empurrou a cabeça para os dois jovens que iam com ele. Eles se retiraram para o lado oposto da praça, e Rodney girou de seu cavalo. Por um momento, simplesmente parou diante dela, seu rosto apertado, antes de, por um esforço de vontade ao que parecia para recuperar o olhar sonolento habitual.

Por fim, ele se inclinou em uma vênia. —Srta. Philippa. —No ponto mais baixo da vênia, ela viu que ele seria careca muito em breve. Calvo como um ovo, provavelmente.

Ela fez uma reverência, e estendeu a mão para ser beijada. —Sr. Durfey.

—Ah, o casal! —O padre Riggs gargalhou ao lado dela.

Eles o ignoraram.

Rodney tomou-lhe a mão, levantou-a aos lábios, e não a libertou. —Philippa... —disse ele, com um suspiro ventoso. —Ah, Philippa.

Philippa não disse nada. Em vez disso, ela olhou para Rodney como um naturalista pode examinar uma amostra, catalogar o cabelo ralo, a arrogante inclinação ainda que indolente do queixo, a verdadeira, sim, genuína afeição em seus olhos.

—Sinto muito. —Disse ele, finalmente, ainda agarrando a sua mão.

Philippa forçou a boca para curvar para cima, mas puxou os dedos para longe. —Está tudo certo.

—Eu... eu não entendi. Estava um pouco louco, eu acho. Sua beleza é inebriante.

Philippa não acreditava que ele estivesse louco. Ela pensou que ele era simplesmente lascivo, e que seria sempre lascivo. Era parte de Rodney, juntamente com as coxas carnudas e seus olhos quentes. Ela soube naquele segundo que ele não seria fiel a ela. Não Rodney, não uma vez que fosse um barão. Ele iria, alegremente deflorar virgens em celeiros, ou talvez até mesmo em pousadas.

Mas, no momento, ele era todo dela, para o bem ou para o mal. Ele pegou a mão dela novamente, e segurou-a com força. —Eu te amo —ele disse, virando seu ombro para o vigário. —Eu te amo, Philippa. Eu vou fazer o que quiser.

Ela podia ver que ele queria dizer isso. Rodney se divertiria agora e depois com uma mulher indisposta no celeiro ou de outra forma, mas à noite ele iria voltar para ela, com aquele amor brilhando em seus olhos.

Por um segundo, ela sentiu como se não conseguisse respirar, como se estivesse presa atrás de um painel de vidro, olhando para um mundo que não podia tocar. Pânico a encheu, o medo sufocante de passar o resto de sua vida sem nunca estar nos braços da pessoa que amava.

E ainda mais sufocante por estar sempre nos braços de uma pessoa que a amava.

Vagamente, Philippa tornou-se ciente de que estava balançando, seu coração se apertou com o pensamento da vida que estava à sua frente. O padre Riggs gritou alguma coisa, começou abanando-a com seu chapéu.

Rodney puxou-a para seu peito, quebrando seu nariz em seu casaco. Ela cheirava linho engomado e suor. Foi mantida ali por vários momentos, luzes jogando atrás de seus olhos fechados, como a luz do sol na batina do vigário. Seu coração batia em seus ouvidos tão alto como se um grupo de caça estivesse batendo através da floresta.

Não...

Não era o seu coração.

Ela se afastou bruscamente e se virou para ver uma grande festa, todos a cavalo, lento para uma caminhada no início da High Street. Eles estavam alegremente vestidos com bordados brilhantes e sedas de nobreza. Havia valetes de libré escarlate, e até mesmo um coche seguindo-os, sua guarnição escarlate brilhando a luz do sol.

—Senhor Todo Poderoso —Rodney murmurou ao seu lado.

Os cavalos caracoleavam na rua, seus cavaleiros sorrindo e acenando para os moradores saindo do sapateiro e da ferraria.

—É melhor do que a feira! —Ela ouviu alguém dizer estridente.

Mas os olhos de Philippa estavam fixos no cavaleiro na frente, um homem que não estava usando o bordado exuberante de seu irmão real nem o uniforme escarlate dos cavaçarços. Nem estava vestindo armadura brilhante.

Ele estava montando um cavalo branco como a neve. Seu traje era um que seu próprio pai teria escolhido: um casaco verde escuro com uma gravata da cor de neve. Não era ostensivo, mas o proclamava como um cavalheiro.

Talvez, até mesmo, um membro da pequena nobreza.

Talvez, até mesmo, ligado a uma família real, ainda que uma família real não inglesa.

Ela saiu da sombra do carvalho, o braço deslizante da mão de Rodney.

Qunado o cavalo de Wick passeou em direção a ela, Philippa nem sequer sorriu. Seu coração estava muito cheio para isso: cheio de música e risadas e o amor que iria sustentá-la até o fim de sua vida.

E Wick não sorriu também. Ele era tão grave como um rei quando trouxe seu cavalo para um trote, inclinou-se apenas no momento certo, varrendo para fora um braço, puxou-a para a sela e, em seguida, galopou em frente pela rua e para fora de Little Ha'penny.

Quando chegaram à orla da cidade, sozinhos agora, uma vez que a comitiva real tinha ficado em Little Ha'penny, melhor para deslumbrar os moradores, Wick saltou do cavalo novamente e estendeu a mão.

Ela caiu em seus braços com um soluço de pura alegria.

Wick caiu de joelhos ali, na poeira da estrada. —Srta. Philippa Damson, você me faria a grande honra de se tornar minha esposa?

—Wick, oh, Wick ¯, disse Philippa, estendendo a mão trêmula para trazê-lo de volta a seus pés.

Mas ele esperou. Se houvesse um observador de pé na vala, esse observador teria encontrado seu rosto impassível, indecifrável. Mas para Philippa, seus olhos falavam de amor profundo, uma paixão feroz, e apenas a menor quantidade de incerteza.

Ela caiu de joelhos e passou os braços em volta do seu pescoço. —Eu estava com tanto medo que você não viesse!

Seus braços estavam quentes e fortes sobre ela. Ele beijou sua orelha e sussurrou algo, mas ela estava soluçando muito difícil de compreender. Por fim, ele ternamente a pegou e levou-a para um campo de botões de ouro, bem longe da estrada. Lá ele sentou e começou a beijar cada parte de seu rosto onde podia chegar até que ela simplesmente teve que parar de chorar.

Quando chegou a sua boca, beijou-a até que sua respiração era rápida, e não com os soluços, mas com uma emoção muito diferente.

Finalmente, ele se afastou e disse: —Posso lhe perguntar de novo?

—Claro que eu vou casar com você —disse ela, virando-se para pegar sua boca novamente. —Sim Sim Sim!

—Meu nome —disse ele, algum tempo depois —É Jonas. Jonas Berwick .

—Meu marido —Philippa disse com grande prazer —é um homem chamado Jonas Berwick.

Ele balançou sua cabeça.

—Não?

—Ele será um futuro doutor chamado Jonas Berwick. E é dono de uma propriedade chamada Yarrow House, que foi o presente de seu irmão.

Philippa absorveu. —Oh, Wick.

—Jonas —disse ele. —Wick era um mordomo em um castelo era uma vez. Jonas é um cavalheiro de nascimento desconhecido que vive na Inglaterra com sua esposa inteiramente inglesa e absolutamente linda. Ele está aparentemente ligado a uma família real, mas porque eles são de um país estranho e pequeno, ninguém presta muita atenção a isso.

Lágrimas estavam novamente correndo pelo seu rosto, não de medo, mas da felicidade mais profunda.

—Eu te amo —ele sussurrou. —Eu te amo tanto, Philippa, a minha futura esposa. A impressão de que você está no meu coração e vai estar lá até o dia que eu morrer.

—Você soa como um médico, fazendo diagrama de seu corpo —ela sussurrou de volta.

—Eu acho que você não vai reclamar quando eu fizer o diagrama de seu corpo —disse ele, suave e baixo. A chama subiu entre eles instantaneamente, e quando Jonas rolou sobre sua futura esposa, afundando em uma moita de botões de ouro de modo que não podiam ser vistos da estrada, na verdade, não houve reclamações.


Epílogo


Vários meses depois


Wick olhou para a noiva com uma onda de alegria que vinha a ele toda vez que via seu rosto.

Philippa estava em deitada em sua cama. Eles haviam se retirado para o seu quarto de dormir depois do almoço, e agora ela estava com uma mancha de sol, seu rosto cor de rosa e seu peito ainda palpitante.

—Eu gosto de nossa casa —disse ele, pegando alguns fios de cabelo sedoso e enrolando—os em torno de seu dedo. —Eu gosto desta cama. Sinto estarmos partindo para Edimburgo.

—Eu não me arrependo —disse Philippa, apertando os olhos para ele. —Você está dirigindo o nosso pobre mordomo fora de sua mente. Eu sei que você foi um mordomo surpreendentemente competente, Jonas, mas você pode esperar que o pobre homem suba a seus patamares.

—Tudo o que pedi foi que a prata estivesse completamente polida regularmente.

Philippa fechou os olhos. —Eu não posso imaginar como fez tudo o que você reivindica o que um mordomo deve gerenciar em um dia, e nem pode o pobre Ribble. A este ritmo, você vai saber tudo o que há para saber sobre a medicina em seis meses, em vez de um ano.

—Você viu que seu pai enviou outra carta? —Ele perguntou.

Ela assentiu com a cabeça. —Ele se lançou em uma batalha feroz com um professor ignorante de Cambridge, que teve a ousadia de discordar de sua reconstrução da primeira campanha de Napoleão.

—Eu gosto do seu pai —disse Wick. —Ele é um modelo de perseverança.

—Ele é muito rígido —disse Philippa. —Ele nunca vai aceitar que alguem está certo, mesmo sobre os detalhes triviais.

Wick sorriu para ela. —E ainda assim... aqui estou.

—Bem, isso é verdade —disse Philippa. —Ele mudou de ideia sobre você. E eu ainda sorrio cada vez que penso sobre a insistencia dele para eu ir à aldeia apenas para devolver esse livro bobo.

—O que você deve sorrir é à minha imagem praticando esse negócio do cavalo. —disse Wick. —Eu poderia ter estado ao seu lado um total de dois dias mais cedo se não fosse pelas horas e horas que perdi, varrendo o menino das facas diante de mim na sela.

—Oh, querido —Philippa disse sonolenta. —Eu espero que você não o tenha deixado cair.

—Muitas vezes —disse Wick. —Mas ele não quebrou nada. Eu vim para você no momento em que me senti razoavelmente certo de que não iria deixá-la cair. —Ele tocou o nariz de ânimo leve. —Você é a coisa mais preciosa do mundo para mim.

Os cantos de sua boca se curvaram e ela sussurrou —Te amo —em seguida, estava dormindo.

Wick estava ao lado dela, observando como a luz do sol se deslocou através da cama, fazendo listras sobre a pele nua de sua esposa requintada. O lado médico dele catalogando a pequena ondulação em seu estômago, e o jeito como ela caia no sono a qualquer momento do dia. O lado homem dele percebeu que o peito estava ainda mais fascinante do que tinha sido quando se casaram, há três meses.

E do lado da criança... o pequeno menino lá dentro, que nunca tinha certeza de seu lugar na vida... Aquele pequeno menino havia desaparecido.

Ele pertencia aqui, ao lado de uma mulher a quem amava mais do que a própria vida.

Apesar de como isso aconteceu, ele não sabia. Na verdade, realmente não entendia a sua própria sorte até anos mais tarde, quando sua filha mais velha Clara cresceu em idade suficiente para descobrir os contos de fadas. Então, com histórias de cavaleiros, dragões, lindas donzelas, e feijões mágicos que rodam através da casa, Wick percebeu quem ele era. Não um filho ilegítimo de um grão-duque. Não o melhor médico no país. Ele era o cavalariço que ganhou a princesa.

As histórias nunca disseram muito sobre o nascimento do menino das cavalariças. Elas apenas disseram que a princesa era tão bonita como o sol e a lua.

Mas o mais importante, essas histórias todas acabam da mesma maneira.

Eles viveram felizes para sempre.

 

 

                                                   Eloisa James         

 

 

 

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