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Ataque Aéreo a Ploesti
Ataque Aéreo a Ploesti

 

 

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RELATOS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Ataque Aéreo a Ploesti

 

                  

 

Ataque à refinaria da Romênia

No dia 11 de junho de 1942, ao cair da noite, 13 bombardeiros americanos B-24 (Liberator), comandados pelo Coronel Harry Halverson, levantaram vôo de bases britânicas no Egito, empreendendo viagem para o norte, através do Mediterrâneo. Seu objetivo: a grande refinaria Astro Romana, a maior de toda a Europa, situada no centro petrolífero romeno de Ploesti, com uma produção anual de 2.000.000 de metros cúbicos de combustível.

 

Se iniciou assim, com esse improvisado reide, a ofensiva de bombardeio contra Ploesti, que haveria de atingir seu momento mais dramático 14 meses mais tarde, com o segundo ataque.

 

Os aviões de Halverson haviam partido dos Estados Unidos no mês de maio de 1942, com a missão de atacar, de bases chinesas, a cidade de Tóquio. No entanto, esta incursão foi tornada sem efeito por terem sido os aeródromos chineses ocupados por forças japonesas antes da chegada dos americanos. Halverson recebeu, então, do General Arnold, chefe da Força Aérea americana, a ordem de bombardear a refinaria de Ploesti. A incursão, porém, não alcançou resultados importantes. De fato, as instalações, dado ao escasso número de aviões atacantes, receberam danos insignificantes. Além disso, o bombardeio teve também um desenrolar desfavorável para os Aliados, pois os alemães, alertados da incursão, reforçaram fortemente as suas defesas antiaéreas. O General Gerstenberg, chefe das forças alemães na Romênia, solicitou e obteve o envio de unidades de terra e ar, que, em fins de 1942, chegavam a cerca de 50.000 homens. Dessa maneira, Ploesti se converteu numa verdadeira fortaleza terrestre, defendida por centenas de canhões pesados e leves e um grande número de metralhadoras.

 

Os organismos de planejamento da aviação americana efetuavam, nesse meio tempo, minuciosos estudos sobre a importância de Ploesti para a capacidade bélica da Alemanha. Chegou-se assim à seguinte conclusão: entre todos os possíveis alvos industriais do Eixo, as refinarias de Ploesti se destacavam como o mais importante. A sua destruição reduziria radicalmente as disponibilidades de combustível da Alemanha, fato que teria conseqüências decisivas no desenvolvimento da guerra. Calculava-se que um reide em grande escala reduziria a produção de combustível a uma terça parte e encurtaria a guerra de pelo menos seis meses.

 

Baseado nestes tentadores cálculos, na conferência efetuada na Casa Branca por Churchill, Roosevelt e os principais chefes militares, resolveu-se ordenar um ataque maciço aéreo contra Ploesti. A missão foi confiada à 9a Força Aérea americana, comandada pelo General Brereton, estacionada na Líbia. O planejamento da operação, batizada com o nome chave de Tidal Wave, foi confiada a um grupo de chefes da aviação, entre os quais se destacava o Coronel Jacob Smart, do qual recorreu aos serviços do Corpo de Inteligência da RAF e a diferentes especialistas britânicos, entre os quais se contava um antigo gerente da refinaria Astra Romana em Ploesti.

 

Planeja-se o ataque

 

A operação apresentava inúmeras dificuldades. Em primeiro lugar a enorme distância que separava o alvo dos aeródromos aliados na Líbia (viagem de ida e volta = 4.200 km). Além disso, uma vez alcançado o objetivo, os bombardeiros teriam cinco grandes refinarias distribuídas em um anel de uma cinco milhas de extensão, em torno da cidade de Ploesti. Era necessário, portanto, uma grande precisão para arrasar as instalações chaves da refinaria, que se encontravam muito separadas umas das outras, prevendo incêndios ou catástrofes semelhantes. Ainda, para conseguir uma margem ampla de destruição, devia-se procurar, a todo custo, preservar o fator surpresa, coisa que à primeira vista parecia praticamente impossível. De fato, em sua profunda penetração através do território inimigo, até chegar a Ploesti, os bombardeiros, indubitavelmente, seriam detectados pelas cadeias de radares e pelos observadores, alertando assim as defesas antiaéreas com tempo suficiente para causar graves baixas aos atacantes. Ao analisar o difícil problema que a incursão representava, o Coronel Smart chegou à conclusão de que a tática que melhores perspectivas oferecia era um ataque maciço e em vôo rasante. Esse método, que se afastava radicalmente do procedimento tradicional da aviação de bombardeio americana tomaria indiscutivelmente os alemães de surpresa, acostumados aos reides efetuados sobre o norte da Europa, todos a grande altura. Ainda, ao aproximar-se, a uma altura mínima, os B-24 que seriam empregados no ataque, dificultariam muito a ação dos radares, da artilharia antiaérea e dos caças. Assim se poderia alcançar um máximo de efetividade no bombardeio.

 

Smart apresentou o seu plano aos altos chefes aliados, que se reuniram em Washington, durante a conferência celebrada por Churchill e Roosevelt em maio de 1943. O chefe do Estado-Maior da aviação britânica, Marechal Portal, manifestou suas dúvidas acerca das possibilidades de êxito do projeto e lembrou que, caso se fracassasse na tentativa de destruir de um só golpe as refinarias, dar-se-ia aos alemães a vantagem de construir defesas muito mais poderosas. O general americano Marshall, contudo classificou a operação Tidal Wave como a ação mais importante que podia ser realizada nesse momento para apoiar os soviéticos e aplainar o caminho para a invasão da Europa. Terminou a sua exposição assinalando que mesmo um meio êxito causaria um grave prejuízo ao inimigo. A realização do ataque foi aprovada, e dadas as correspondentes ordens à 9a Força Aérea americana no Mediterrâneo.

 

Os últimos preparativos

 

Uma vez conseguida a autorização dos altos chefes aliados, o Coronel Smart se transladou à Inglaterra. Ali confiou o planejamento do ataque ao Coronel Timberlake, um dos mais destacados comandantes de bombardeiros Liberators. Timberlake em conjunto com outros chefes americanos e britânicos, elaborou os detalhes finais da operação.

 

Optou-se, como via de aproximação de Ploesti, pela direção que os alemães consideravam menos provável: a noroeste. A rota mais lógica de entrada em território romeno, a partir das bases da Líbia, era o sul. Ali, o General Gerstenberg, chefe da defesa alemã, havia concentrado a maior parte dos seus efetivos.

 

Os bombardeiros Liberators, ao se aproximarem vindos do norte, teriam além disso a vantagem de contar com uma referência identificável do ar: a via ferroviária que se dirigia em linha reta desde a localidade de Floresti até o centro petrolífero de Ploesti. Desta maneira, Floresti foi designada como o ponto inicial para empreender a “corrida” de bombardeio. Ao chegar a esta localidade, as esquadrilhas aproariam para o sul e se lançariam em vôo rasante para as refinarias, situadas a uma distância de 13 milhas. Calculava-se que praticamente não haveria defesas antiaéreas nesse setor, o que facilitaria a aproximação dos bombardeiros.

 

Para realizar o ataque foram selecionados cinco grupos de bombardeiros Liberators. Dois deles já se encontravam na África do Norte (o 376o, comandado pelo Coronel Compton, e o 98o capitaneado pelo Coronel Kane); os outros três grupo (o 93o sob o comando do Coronel Baker; o 44o do Coronel Johnson, e o 389o do Coronel Woods) estavam estacionados na Inglaterra e ali mesmo iniciaram suas primeiras missões de treinamento em vôo rasante. Posteriormente, as esquadrilhas com base na Inglaterra se transladaram para a Líbia, onde encerraram a concentração nos primeiros dias de julho de 1943.

 

Paralelamente, os planejadores realizaram uma cuidadosa seleção dos alvos. As refinarias foram classificadas pela sua colocação, da esquerda para a direita em: Objetivo “Alvo 1” (refinaria Romana Americana), a ser atacada pelo Grupo 376o; Objetivo “Alvo 2” (refinaria Concórdia Vega), a ser atacada pelo Grupo 93o; Objetivo “Alvo 3” (refinaria Standart Petrol Block e Unirea Sperantza), a ser atacada por uma segunda secção do Grupo 93o; Objetivo “Alvo 4” (o mais importante: refinaria Astro Romana), a ser atacada pelo Grupo 98o; Objetivo “Alvo 5”(refinaria Colômbia Áquila), a ser atacada pelo Grupo 44o. Além disso, se efetuaria o bombardeio de outros dois centros petrolíferos, vizinhos de Ploesti: uma secção do Grupo 44o atacaria a localidade de Brazi (Objetivo “Azul”) e o Grupo de Bombardeio 389o atacaria a localidade de Campina, ao norte de Ploesti (Objetivo “Vermelho”).

 

Uma vez classificados os alvos e distribuídas as forças, se prepararam mapas especiais, com vistas oblíquas das refinarias, para facilitar a sua identificação, e películas com modelos, em escala, do alvo, para treinar os pilotos. Como todos esses elementos, o Coronel Smart, rumou para Bengasi, sede do comando do General Brereton, chefe das esquadrilhas que interviriam no ataque. Em Bengasi começou a instrução dos pilotos e tripulações que atacariam o centro petrolífero de Ploesti.

 

O total de aviões que tomariam parte no reide chegava a 177 aparelhos Liberators B-24, armados com uma carga de 311 toneladas de bombas de demolição de 1500 libras, todas elas com espoleta de ação retardada (entre 45 segundos e 6 horas); além disso, os aviões levariam 290 recipientes de bombas incendiárias britânicas e 140 “cachos” de incendiárias americanas. Os Liberators foram equipados com uma nova mira de bombardeio, especial para baixa altura, e em seus compartimentos de bombas foram instalados dois tanques suplementares que lhe deram uma capacidade de 3.100 galões de carga de combustível.

 

Na última semana de julho todos os oficiais receberam um informe completo do reide. Posteriormente, o segredo foi também revelado aos suboficiais. Os modelos em relevo do alvo forma exibidos às tripulações, transportando-as através dos diversos aeródromos.

 

Os vôos de treinamento se intensificaram e culminaram na manhã do dia anterior ao reide, 31 de julho, com um ataque simulado de todas as forças a um alvo improvisado no deserto, que reproduzia esquematicamente a conformação do objetivo. Distribuídos num arco de cinco milhas de largura, asa contra aa, os Liberators sobrevoaram o alvo em vôo rasante, a toda velocidade, lançando uma chuva de bombas de 200 libras.

 

Chegou então ao fim de uma longa preparação. Na tarde de 31, as tripulações foram reunidas e o General Brereton lhes dirigiu um emocionado discurso: “O rugido dos vossos motores no coração do território inimigo continuará ressoando nos ouvidos dos romenos e, com certeza, nos de todo o mundo, muito depois que o estampido de vossas bombas e o crepitar dos incêndios tenha se extinguido”. Em seguida, o Marechal-do-Ar Tedder despediu-se das tripulações com as seguintes palavras: “É uma missão dura e perigosa que exigirá toda a vossa coragem e habilidade... Desejo a todos a melhor sorte possível...”

 

No último momento chegou uma ordem direta de Washington, na qual o General Arnold proibia ao General Brereton e aos coronéis Smart e Timbelake de participar, tal como fora planejado, da missão; esse chefes, segundo o critério de Washington, tinham conhecimento de muitos segredos vitais aliados para correr o risco de serem capturados pelos alemães. A direção do ataque, em conseqüência, ficou nas mãos do General Ent, que voaria no avião do chefe do Grupo 376o, liderando a formação.

 

Em vôo, rumo ao objetivo

 

Poucas horas antes de decolar, as tripulações foram reunidas pelos seus chefes. Após as últimas instruções, os homens ficaram à espera do momento decisivo. As reações individuais, nos momentos prévios, foram as normais; como sempre, os capelões reuniram aos eu redor as centenas de homens, escutaram suas confissões, suas confidências, receberam suas mensagens, cartas, lembranças para os seres queridos e somas em dinheiro destinados a pagar suas dívidas... No momento que antecede ao instante supremo em que o homem se defronta com a morte, a brincadeira cede o seu lugar ao silêncio, o riso à lembrança, as conversas à rememoração dos momentos felizes passados, na pátria, junto a seus entes queridos.

 

Às duas da madrugada de 1o de agosto de 1943, nos diversos aeródromos, reinava a calma mais absoluta. Sob o céu estrelado do deserto, os Liberators estavam alinhados. Nas tendas e barracas, os homens aguardavam, alguns em silêncio, outros reunidos em pequenos grupos, a ordem final. De súbito, como obedecendo a uma chamado, dezenas de jipes e caminhões arrancaram com  estrondo, tocando as buzinas. Os oficiais, em voz alta, chamavam os homens de suas unidade e os faziam subir aos veículos. Centenas de pilotos, navegadores, metralhadores, radiotelegrafistas e bombardeiros saltaram para os carros e partiram, velozmente. À distância, as negras silhuetas dos Liberators os esperavam. Uma vez formadas as tripulações, os homens receberam dos pilotos as últimas instruções e palavras de alento. Distribuíram-se, também, equipamentos de fuga, contendo um mapa dos Bálcãs, traçado num lenço de seda, um vocabulário em romeno, búlgaro, grego, turco, moedas de ouro britânicas, dez notas de um dólar, dracmas e liras, pastilhas para purificar água, biscoitos, chocolate, uma pequena bússola e mensagens escritas pedindo ajuda e identificando o seu portador como combatente aliado.

 

Os motores se puseram em marcha. Com um ensurdecedor rugido, 712 motores fizeram vibrar as pistas, levantando gigantescas nuvens de poeira. Os Liberators, carregados ao máximo, com 3.100 galões de gasolina e 4.300 libras de bombas, começaram a se movimentar pesadamente rumo à extremidade da pista. A bordo iam 1.763 homens, dos quais somente dois não eram americanos: um era o sargento canadense Kingman e o chefe de esquadrilha inglês, Brawell, que viajava como artilheiro em um dos bombardeiros. Exatamente às 4 da madrugada foram disparadas da torre de controle as bengalas que emitiam a ordem de levantar vôo. O bombardeiro “Wingo-Wango”, avião-guia da formação, a bordo do qual viajava o navegador principal do vôo, acelerou ao máximo os seus motores e após longa corrida se elevou, perdendo-se na escuridão. Com intervalos de dois minutos, dos diversos aeródromos, os demais aparelhos foram lançados ao ar. A uma altura de 600 metros, voando em círculos, os cinco grupos foram se integrando. Ao cabo de uma hora a operação de decolagem havia terminado. Somente um dos Liberators se perdeu na manobra, ao falhar um dos motores. O Aparelho ao procurar aterrissar, chocou-se com um poste telegráfico e incendiou-se.

 

Minutos mais tarde,a poderosa frota aérea aproava para o norte, rumo à ilha de Corfu, no outro extremo do Mediterrâneo. Ali, deveria girar para o leste, internando-se através do território balcânico, até Ploesti. À frente voava o chefe do Grupo 376o, Coronel Compton, imediatamente depois do avião-guia. No aparelho de Compton viajava também o General Ent, comandante-chefe da operação.

 

O silêncio radiofônico era absoluto. Entretanto essa precaução seria inútil. O Serviço de Inteligência alemão com sede em Atenas, já havia capturado e decifrado uma curta mensagem enviada pelo comando de Bengasi a todas as unidades do ar, mar e terra do Mediterrâneo, na qual se anunciava que uma grande formação aérea havia iniciado vôo da Líbia. Imediatamente todos os serviços defensivos instalados pela Luftwaffe na Itália, Áustria e Bálcãs foram alertados. No centro de radar alemão situado em Bucareste recebeu-se uma segunda chamada, emitida da estação de Salônica, na qual se comunicava que os bombardeiros se dirigiam diretamente para o norte, sobre o Mediterrâneo, a uma altura de 600 a 700 metros.

 

Assim, enquanto os alemães já se encontravam em estado de alerta, embora sem poder precisar o rumo exato da formação, os Liberators continuavam o seu vôo.

 

Uma hora depois da partida, dez aviões tiveram que abandonar os grupos por causa de diversas avarias mecânicas. A força havia ficado assim reduzida a 167 Liberators. Outro grave contratempo entorpeceu o vôo. As formações começaram a distanciar-se entre si. Os primeiros grupos foram se separando do resto da força até perder o contato visual. Poucos minutos antes de alcançar a costa de Corfu produziu-se um novo incidente. O avião-guia “Wingo-Wango” se precipitou inesperadamente ao mar e em 30 segundos desapareceu sob as águas. O aparelho que acompanhava o “Wingo-Wango”, em que viajava o segundo navegador da rota, violando as disposições expressar de não romper a formação, perdeu altura e sobrevoou a zona onde havia se afundado o “Wingo-Wango” em busca de sobreviventes. Impossibilitado já de retomar a frente das esquadrilhas, teve que retornar à sua base, na Líbia. Um terceiro avião, o “Brewery Wagon”, tomou o posto de guia e seu navegador, um jovem tenente, ficou assim com a responsabilidade de conduzir a formação até Ploesti. A esta altura dos acontecimentos, o número de aviões era de 165.

 

A aproximação final

 

A bordo dos aviões, os pilotos e navegadores abriram seus mapas especiais enquanto se aproximavam do primeiro grande obstáculo da rota: a cadeia montanhosa de Pindo, com uma altura de 3.000 metros. Para ultrapassar as montanhas, os Liberators deveriam subir a um nível mínimo de 3.300 metros.

 

Ao se aproximarem do maciço, minutos mais tarde, os aviadores americanos comprovaram que o mesmo se encontrava coberto por grandes formações de cúmulos, o que tornava sumamente difícil o cruzamento em formação. O vôo através das nuvens, com visibilidade nula e turbulências, podia provocar colisões. Para evita-las, a força aérea americana havia preparado uma manobra denominada “penetração frontal”. O método era o seguinte: o chefe da formação começa a voar em círculos diante da massa de nuvens até que toda a força se incorporasse a essa espécie de carrossel. Uma vez concentrados assim todos os aviões, iniciava-se o cruzamento em grupos de três aparelhos. Ao chegar do outro lado da massa de nuvens se reiniciava o vôo em círculo até reagrupar todas as máquinas. Depois, imediatamente, se retornava a formação primitiva.

 

O Coronel Compton, comandante do Grupo da vanguarda, compreendeu logo que essa manobra, apesar de ser a mais acertada, exigiria uma excessiva perda de tempo e combustível, o que poderia acarretar graves conseqüências no desenvolvimento posterior do reide. Sem vacilar, tomou uma resolução: fazendo oscilar as asas do seu avião, à maneira de sinal para que os demais pilotos o seguissem, subiu em linha reta para as nuvens, em formação de batalha. Atrás dele, o segundo Grupo, guiado pelo Coronel Baker, o seguiu na manobra audaciosa. Os três Grupos restantes que avançavam atrasados, liderados pela formação do Coronel Kane, realizaram, por ordem deste a “penetração frontal”, com o clássico carrossel. Deste modo, a já ampla separação entre as duas forças, se tornou ainda maior. Ao surgir da massa de nuvens que envolvia a cordilheira, as forças lideradas por Compton e Kane estavam separadas por uma distância de quase 60 milhas. Um poderoso vento de cauda impulsionou os aviões de Compton ainda mais longe, aumentando a distância que os separava dos aviões de Kane.

 

Entrementes, os observadores e radares alemães haviam detectado a aproximação da força de bombardeiro rumo ao território romeno. As unidades de defesa entraram na primeira fase de alerta.

 

Uma vez superado o obstáculo representado pela cordilheira, os aviões de Compton, sobrevoando a planície romena, enfrentaram as últimas 150 milhas que os separavam de Ploesti, onde deveriam girar para o sul, e realizar a “corrida” final até as refinarias de Ploesti.

 

Voando a poucas dezenas de metros de altura, os gigantescos Liberatos avançaram a vertiginosa velocidade semeando a surpresa e o espanto entre os camponeses que contemplavam a sua passagem. Nos postos de radar alemães, os operadores, desorientados, comprovaram que a formação aliada desaparecera das telas (o motivo, por razões lógicas, era a baixa altura em que os aviões americanos voavam). Alarmado, o chefe do controle de caças emitiu a ordem de decolar sem perda de tempo. O rumo: setor norte de Ploesti!

 

Às 13h30, no momento em que os bombardeiros de Compton se achavam a 20 minutos do alvo, ressoaram os alarmes em Ploesti e Bucareste. Os Liberators, voando ainda mais baixo, rumaram para a linha de aproximação de Ploesti determinada pelas localidades de Pitesti e Targoviste. A identificação do terreno se fazia cada vez mais difícil. Assim foi que, ao aproximar-se de Targoviste, o Coronel Compton confundiu essa localidade com Floresti, ponto fixado de antemão para mudar o rumo via sul. Seu avião, o “Teggie Ann”, deu uma volta fechada para a direita e foi seguido pelos demais aparelhos. O erro era total! A rota tomada conduzia agora os Liberators diretamente para Bucareste, capital da Romênia.

 

Inicia-se o ataque

 

Muitos dos pilotos que seguiam Compton compreenderam imediatamente que ele errara a rota. Um deles rompendo o silêncio radiofônico, até então zelosamente mantido, abriu o microfone e gritou a todo o Grupo: “Não é aqui! É um erro!”. Porém a formação de vanguarda do Grupo 376o continuou para a frente. Poucos quilômetros depois recebeu as primeiras descargas dos canhões de 88 mm alemães. A batalha de Ploesti se iniciara. Alguns caças de modelo antiquado que defendiam Bucareste saíram ao encontro dos Liberators e mergulharam sobre eles. No “Jersey Bounce” produziu-se a primeira baixa em ação: o artilheiro da causa tombou, ceifado por uma rajada de metralhadoras.

 

Enquanto os aviões de Compton caíam sob o fogo dos caças inimigos e das baterias antiaéreas, o segundo Grupo, o 93o, comandado pelo Coronel Baker, na metade do caminho para Bucareste virou para a esquerda e se dirigiu diretamente para Ploesti.

 

Em terra, os observadores alemães assinalaram alarmados: “Atacam Bucareste e Ploesti simultaneamente”. No controle de defesa alemã, ao se receber a notícia, considerou-se a suposta incursão contra Bucareste como uma manobra de distração para afastar os caças da zona de Ploesti. Tudo, no entanto, fora fruto de um engano.

 

Aproximando-se, em formação cerrada, a seis metros do sol, os 32 Liberators de Baker se dirigiram para o alvo em meio a um vendaval de fogo antiaéreo. Dos aviões, os artilheiros respondiam disparando incessantemente as suas metralhadoras contra as posições alemães que passavam diante de suas miras a uma velocidade vertiginosa. Vários aviões já deixavam atrás de si longas esteiras de fumaça, provenientes de seus motores incendiados. No interior dos aparelhos, muitos dos tripulantes jaziam ensangüentados nos bojos repletos de cápsulas usadas. A formação, porém,  continuava o seu inexorável avanço. O “Euroclyden” foi  o primeiro avião que se precipitou ao solo, atingido pelo fogo inimigo e convertido numa gigantesca tocha. À frente da formação, o “Hell’s Wench”, pilotado pelo Coronel Baker mergulhou num inferno de balas traçadoras e recebeu um impacto direto de um projétil de 88 mm. Em rápida sucessão outros disparos o atingiram e um dos projéteis apanhou em cheio a sua cabine. Três minutos de vôo separavam o avião do alvo.

 

Baker manteve o seu avião em vôo, guiando assim a sua formação numa demonstração de heroísmo sem limites. Pouco antes de atingir o alvo, outra granada explodiu no aparelho, e este, raspando as altas chaminés da refinaria, se precipitou num campo próximo. Os demais aviões, entretanto, guiados agora pelo Coronel Brown, efetuaram o ataque em meio a um inferno de balas traçadoras, explosões de bobas e rugir de motores. Os grandes tanques de petróleo da refinaria começaram a explodir, atingidos pelas bombas dos aviões americanos. Um dos B-24 (“José Carioca”) envolto em chamas, precipitou-se ao solo, investindo contra um dos edifícios da refinaria, atravessando-o de parede a parede e deixando um rastro de gasolina incendiada na sua cega carreira.

 

Dos 34 aviões do Grupo 93o de Baker, que iniciaram a “corrida” de bombardeio, apenas 15 emergiram da massa de fumaça negra que cobria Ploesti, pelo lado oposto. Desses, apenas cinco estavam com avarias leves. Os demais, seriamente atingidos, voavam com motores parados, incendiados e com grande quantidade de mortos e feridos entre suas tripulações. Seu sacrifício, no entanto, não estava concluído. Os caças alemães que patrulhavam o norte de Ploesti se dirigiram aos eu encontro e os atacaram encarniçadamente, derrubando vários deles. Finalmente, os Messerschmitt abandonaram a perseguição para enfrentar as novas ondas de Liberators que se aproximavam do objetivo. Enquanto o Grupo de Baker desenvolvia o seu ataque, a formação de vanguarda dirigida pelo Coronel Compton continuou avançando para Bucareste, em meio aos disparos da artilharia antiaérea. Ao aproximar-se da cidade. Vislumbraram os campanários das igrejas e não as chaminés das refinarias. Comton e o General Ent, que viajava no seu avião, compreenderam o erro e viraram para o norte, rumo a Ploesti. Contudo, ao se aproximarem do alvo, defrontaram com uma cortina impenetrável de fogo antiaéreo. O General Ent, então, tomando o microfone, ordenou aos aviões que se dispersassem e golpeassem os alvos à sua escolha.

 

Um grupo de cinco aparelhos se manteve unido em redor do avião do comandante Appold, e atravessando a cortina de fogo antiaéreo, conseguiu colocar todas as suas bombas sobre a refinaria “Concórdia Vega”, causando-lhe graves danos. Os restantes aviões de Compton, lançaram suas bombas ao acaso e se retiraram roçando o solo.

 

Os aviões de Appold, entrementes, cruzaram com parte da formação de Baker, enquanto sobre eles os aviões do Grupo 98o do Coronel Kane, que acabavam de chegar ao alvo, fendiam o espaço a grande velocidade. Assim, num dado momento, o céu de Ploesti ficou coberto por três capas de Liberators que voavam em direções diferentes, num caos espantoso.

 

A artilharia alemã, enquanto isso, disparavam com todas as suas bocas, a queima-roupa.

 

Culmina o bombardeio

 

O Grupo 98o, do Coronel Kane, junto com o 44o, do Coronel Johnson, haviam chegado a Ploesti, seguindo o rumo planejado originalmente. Johnson bombardeou o alvo que lhe fora designado (a refinaria “Colômbia Aquila”) conseguindo o maior índice de destruição de todo o ataque, em troca  da perda de nove dos seus 16 aparelhos. A refinaria ficou inutilizada por 11 meses. Outros 21 Liberators do grupo 44o se dirigiram ao alvo “Azul” (refinaria “Creditul Minier”), situada na localidade de Brazi, a 10 km ao sul de Ploesti. Esta fábrica era a mais moderna de toda a Europa e produzia gasolina de aviação.

 

A formação comandada pelo Coronel Posey lançou-se sobre o alvo em quatro ondas. A descarga de um canhão de 37 mm alvejou o avião-guia, o “V for Victory”, arrancando-lhe parte da cauda e matando um artilheiro. O avião, porém, prosseguiu o vôo, vomitando fogo com todas as suas metralhadoras contra os postos da artilharia alemã. Aproximando-se do alvo, o “V of Victory” subiu a 70 metros para evitar o choque com as altas chaminés e lançou todas as suas bombas. Um avião da segunda onda acertou, com extraordinária precisão suas três bombas no edifício das caldeiras, arrasando-o por completo. Outro, saltando edifícios, chaminés e tanques, sobrevoou o alvo a um metro e meio de altura! E arrojou suas bombas com espoleta retardada, diretamente nos pontos pré-determinados.

 

Os aviões da terceira onda colocaram suas bombas, com espoletas de meia hora de retardamento, através do teto da usina elétrica e em um dos grande tanques de armazenamento. A quarta onda voltou a atingir vários pontos da usina e um dos seus aviões passou sobre os tanques de combustível segundos antes que estes voassem em pedaços. O artilheiro da popa comentaria mais tarde: “A tampa do gigantesco depósito se enroscou, com a detonação, como se fosse a tampa de uma lata de sardinhas”.

 

A formação do Comandante Posey completou assim a sua tarefa sem perder um só avião. A refinaria “Creditul Minier” ficaria inutilizada pelo resto da guerra. Posteriormente, porém, os caças alemães se lançaram sobre a esquadrilha e derrubaram dois dos Liberators de Posey.

 

O Grupo 98o, do Coronel Kane, em seis levas, mergulhou no inferno de Ploesti e arrojou suas bombas na maior das refinarias, a “Astro Romana”, causando danos que reduziram à metade a sua produção. Esse resultado se obteve, entretanto, à custa de um preço terrível: dos 46 bombardeiros que iniciaram o ataque, 22 foram derrubados pelo fogo antiaéreo e pelos caças. Dos que conseguiram escapar à destruição, apenas 12 podiam manter-se no ar.

 

O último ataque da terrível jornada foi realizado pelo Grupo 398o, os “Sky Scorpions” do Coronel Woods. Suas bombas arrasaram o objetivo “Vermelho” (refinaria “Steaua Romana”)  situada na localidade de Campina, a 18 milhas ao noroeste de Ploesti. Seis dos 29 Liberators foram abatidos, porém as instalações terminaram destroçadas em sua totalidade pelos certeiros impactos.

 

Enquanto em Ploesti continuavam explodindo as bombas de espoleta retardada, acrescentando novos incêndios à gigantesca fogueira, os Liberators se retiravam em desordem, em diferentes direções, desgarrados pelos disparos da artilharia antiaérea e transportando as suas tripulações dizimadas e pilotadas por aviadores gravemente feridos, em alguns casos. A espantosa incursão durou apenas 27 minutos. Nesse breve tempo, 41 Liberators haviam sido derrubados, dos 165 que chegaram ao alvo. Mais de 400 pilotos e tripulantes haviam perecido ou caído prisioneiros. Dos aviões que escaparam à destruição, mais da metade estava seriamente avariada. A maior parte rumou para o sudoeste, fustigada pelos caças alemães, que fizeram novas vítimas; 88 conseguiram retornar à base de onde partiram, em Bengasi, na Líbia. Outros 24 aparelhos aterrissaram em aeródromos aliados em Chipre, na Sicília e em Malta. Oito aviões se dirigiram para o leste e desceram na Turquia, onde as suas tripulações foram asiladas.

 

Assim se encerrou o grande reide que foi qualificado como o último ato de luta cavalheiresca na ofensiva de bombardeio aéreo. Com efeito, não houve, em toda a guerra, outra ação de bombardeio contra um centro povoado em que morressem, como em Ploesti, mais aviadores aliados que civis.

 

À custa de seu próprio sacrifício, as valentes tripulações dos Liberators atiraram suas bombas certeiramente sobre as refinarias que rodeavam a cidade, limitado assim a destruição à vitais instalações petrolíferas. Desta forma, conseguiram causar uma proporção maior de danos que nos ataques posteriores contra Ploesti, realizados a grande altura.

 

Anexo

 “O encouraçado terrestre”

Uma guarnição de 120.000 homens, dos quais 50.000 eram combatentes alemães pertencentes às unidades da Wehrmacht e da Luftwaffe e 70.000 prisioneiros de guerra designados a tarefas auxiliares, constituíam a massa humana que defendia, em fins de 1942, a importantíssima refinaria de petróleo de Ploesti, na Romênia.

A região, conhecida como “Fortaleza de Ploesti”e, mais exatamente, como “Encouraçado Terrestre” se estendia ao redor da cidade do mesmo nome, envolvendo-a como um gigantesco anel de 10 km de diâmetro.

As instalações das refinarias erguiam-se em torno da cidade e eram representadas por uma múltipla variedade de edifícios de todo tipo e tamanho. Depósitos, estações de bombeamento, tubulações, tanques, refinarias propriamente ditas, quartéis, instalações militares e mil outras construções se comprimiam numa sucessão ininterrupta. Ao sul da cidade, também se levantavam as instalações de outra refinaria, a de Brazi, a 10 km de Ploesti. Ao norte, paralelamente, a 35 km, erguiam-se as estruturas da refinaria de Campina.

A refinaria de Ploesti se caracterizava, principalmente, por um engenhoso sistema de segurança, especialmente prevendo ataques aéreos. Um encanamento mestre, de tamanho gigantesco, unia todas as instalações. Os canos que corriam na superfície, para facilitar a sua reparação em caso de avaria, permitiam cortar a circulação de petróleo em qualquer dos setores, isolando os demais. Ploesti, primeiro lugar do mundo onde foi refinado petróleo (1857), se encontrava a 70 km de Bucareste e contava com 100.000 habitantes. A cidade, contudo, carecia de valor militar e somente seu cinturão industrial lhe emprestava extraordinária importância.

A defesa da zona vital estava em mãos da missão militar alemã comandada pelo General Alfred Gerstenberg. No comando dos caças se encontrava o Coronel Bernhard Woldenga.

A defesa aérea dispunha de uma base de caças em Mizil a 40 km ao leste de Ploesti. Encontravam-se ali 52 aviões Messerschmit Me-109. Outros 17 Me-110 formavam o grupo destinado à caça noturna. Esquadrilhas de aviões romenos, antiquados em sua maioria, colaboravam na defesa. A artilharia antiaérea, por sua vez, era integrada por um anel formado por 40 baterias de 88 mm, reforçadas por peças de 20 mm e centenas de metralhadoras. A massa das bocas de fogo estava colocada na região sudeste de Ploesti, considerada como a via natural de entrada de uma incursão inimiga.

Uma guarnição de 500 bombeiros alemães, especialmente treinados compunham as unidades destinadas à luta contra o fogo.

O adestramento da defesa antiaérea alemã era permanente e, com freqüência, a zona era submetida a ataques simuladas por parte da aviação alemã.

A defesa de Ploesti estava, também, nas mãos dos homens que permaneciam nas bases aéreas da Itália, Creta e da Força Aérea Búlgara, que contava com 124 caças.

Barreiras de balões, cujos cabos eram providos de explosivos de contato, e uma rede de radares completavam as defesas da zona.

 

 

Ploesti, vista do ar

Inglaterra. 8a Força Aérea. O Serviço de Inteligência tem em suas mãos a solução de numerosos problemas relacionados com uma operação de grande importância que se está planejado. Os homens do grupo estudam, individualmente, e no maior segredo, detalhes desligados entre si e que não permitiriam identificar a futura operação. Alguns deles contudo, conhecem os meandros da operação. Poucos sabem o alcance total da mesma, seu desenrolar e suas possibilidades. Entre estes últimos se conta Gerald Geerlings, um arquiteto agregado à seção de mapas do Serviço de Inteligência.

Geerlings, após um estudo minucioso dos mapas que serão utilizados na incursão contra Ploesti, chega a uma conclusão simples e ao mesmo tempo desalentadora. Os pilotos, diz, não poderão identificar o alvo com suficiente clareza. Os mapas que utilizarão tem, efetivamente, marcados os relevos do terreno, mas só voando sobre eles poderão identifica-los. À distância, na etapa prévia da aproximação, os relevos não poderão ser reconhecidos. Se impõe, em conseqüência uma solução rápida e eficaz. E Geerlings a encontra. No maior segredo, o Serviço de Inteligência reúne milhares de cartões postais e fotografias tiradas por turistas em suas viagens pelo continente europeu, Estados Unidos e África. As fotos pertencem a dezenas de países e centenas de regiões dispersos nos três continentes.

Cercando a operação do maior segredo, Geerlings dedica dias e noites ao exame das fotos. E assim, uma por uma, são selecionadas dezenas de fotos da região de Ploesti. O sentido do trabalho de Geerlings é simples. Trata-se de obter fotografias das montanhas vizinhas, vistas de diferentes ângulos e, baseado nessas fotos, elaborar novos mapas, com o relevo visto de lado, tal como o verão os pilotos que se aproximam em vôo rasante da região. A tarefa deve limitar-se à ampliação das fotografias da região, dada a impossibilidade de realizar vôos de reconhecimentos, para não alertar os alemães.

Uma vez obtidos os cartões postais e fotos de turistas necessários, o arquiteto Geerlings e um pequeno grupo de peritos entregou-se à tarefa de preparar um jogo de mapas com o relevo do terreno de lado. O resultado foi uma série de onze vistas oblíquas dos principais pontos situados na rota para o objetivo.

Para completar a preparação dos pilotos, também se filmaram duas películas, utilizando modelos em escala reduzida da região. Foram elaborados no Serviço de Inteligência da RAF e mostravam os objetivos tal como seriam vistos pelos pilotos ao aproximarem-se de surpresa, em vôo rasante.

 

 

Arnold

Nova York, 1910. Um aeroplano primitivo sobrevoa a cidade. Uma multidão, contempla sua passagem, assombrada. Entre os espectadores encontra-se um jovem tenente do Exército, da Infantaria. Seu nome: Henry A Arnold.

As evoluções do avião, pilotado por Wilbur Wright, um dos irmãos que se contam entre os precursores do vôo, atraem o jovem tenente. Mais ainda, o fascinam. E Arnold decide ali mesmo o seu destino. Será aviador; 34 anos mais tarde, em 1944, em plena guerra, o General Henry Arnold será chefe das forças aéreas dos Estados Unidos e terá às suas ordens dois milhões de homens e milhares de aviões de todos os tipos. Arnold cumpriu a promessa feita no longínquo ano de 1910.

Filho de um médico de Ardmore, no Estado da Pensilvânia, Henry Arnold ingressou em 1903 na Academia Militar de West Point. Seu rosto sorridente lhe valeu o apelido que o acompanhou até seu últimos dias: Hap, diminutivo de happy (alegre).

Em 1907 graduou-se como tenente e ingressou no Exército, em serviço ativo. Paralelamente, seu interesse pela aviação começou a crescer. Arnold se encontrava na França quando Bleriot atravessou o Canal da Mancha, num vôo de 36 km, o que constituiu uma façanha sem precedentes para a época. Testemunhou também o final do vôo de Glenn Curtiss, de 196 km, o que representou outro recorde mundial. Por fim, chegou o ano de 1910 e o vôo de Wright sobre Nova York.

Nesse mesmo dia, Arnold se apresentou ao seu chefe imediato e manifestou seu desejo de ser aviador. Obteve como resposta: “É a melhor maneira de suicidar-se”, que o fez sorrir e aumentar mais ainda sua decisão de dedicar-se ao vôo mecânico.

Arnold começou seu treinamento na escola que os irmãos Wright tinham fundado. Com eles aprendeu os segredos de voar e recebeu seu brevê em 1912. Nesse mesmo ano estabeleceu um recorde de altura ao voar a 2.1221 metros acima do nível do mar. Posteriormente ganhou o troféu McKay de velocidade, voando a uma média de 69 km/hora.

Quando se iniciou a Primeira Guerra Mundial, Arnold era chefe do 7o Esquadrão Aéreo, sediado no Panamá. Imediatamente regressou aos Estados Unidos para pedir permissão de prestar serviço na força aérea que lutava na Europa; as autoridades militares, entretanto; indeferiram seu pedido, por considerarem sua experiência e conhecimentos muito valiosos para arriscá-los.

Quando se assinou o armistício, em 1918, Arnold estava na França, fazendo uma visita de inspeção. Nos anos seguintes foi chefe de vários aeródromos e centros de treinamento. Em 1934 chefiou um grupo de dez grandes aviões que voaram dos Estados Unidos ao Alasca. Num percurso de 15.000 km levantaram mapas aéreos do território do Alasca cobrindo uma extensão de 51.000 km². Por este trabalho recebeu a Cruz por Distinção em Serviço. Mais tarde atravessou o Pacífico, desde a Austrália até São Francisco, em 35 horas e 53 minutos, proeza que lhe valeu a medalha por Distinção em Serviço.

Poucos meses antes dos Estados Unidos entrarem na guerra, Arnold foi nomeado chefe do Corpo Aéreo. Era então tenente-general. Em 1943, o Presidente Roosevelt o promoveu ao posto de general supremo, o mais alto cargo militar do país.

Henry Arnold faleceu em 1950.

 

Força de ataque

Comandante-chefe: General Uzal G Ent (voou no B-24 Teggie Ann, pilotado pelo Coronel Compton do Grupo 376).

Grupo 376 (Coronel Compton), 30 aviões divididos em cinco grupo de 6 aparelhos. Alvo: refinaria Romana-Americana, em Ploesti.

Grupo 93 (Coronel Baker), 36 aviões, divididos em três grupos de 6 aparelhos, e seis de três. Alvo: refinarias Concórdia-Veja, Standard Petrol Block e Unirea-Sperantza, em Ploesti.

Grupo 98 (Coronel Kane), 46 aviões, divididos em quatro grupos de 10 aparelhos, e um de seis. Alvo: refinarias Unirea-Orion e Astro-Romana, em Ploesti.

Grupo 44 (Coronel Johnson), 36 aviões, divididos em três grupos de seis aparelhos, e três de três. Alvos: refinaria Colômbia-Aquila Romana, em Ploesti, e Creditul Minier, em Brazi.

Grupo 389 (Coronel Woods), 30 aviões, divididos em dez grupos de três aparelhos. Alvo: refinaria Steaua-Romana, em Campina.

Dos 178 aparelhos B-24 Liberator, designados, 177 decolaram das bases de Bengasi, levando um total de  311 toneladas de bombas e 1.250.000 projéteis perfurantes, traçadores e incendiários de metralhadora. (Um dos Liberators, estraçalhou-se ao levantar vôo). Durante a aproximação do objetivo, 11 bombardeiros represaram à base por dificuldades mecânicas e um precipitou-se no mar, o Wingo-Wango, avião-guia que conduzia o principal navegador da força de ataque. Alcançaram o alvo 165 Liberators.

Perdas:

Derrubados pelo inimigo: 41 aviões

Perdidos por outras causas: 4

Internados na Turquia: 8

Tripulantes mortos e desaparecidos: 446

Internados na Turquia: 79

Feridos (que voltaram à base): 54

Dos 112 aparelhos que conseguiram retornar aos aeródromos em Bengasi, malta, Sicília e Chipre, 55 estavam gravemente avariados.

 

Clandestino

As esquadrilhas destinadas à operação Ploesti estão prestes a decolar. As tripulações, caminhando lentamente se dirigem para seus aparelhos. Os mecânicos, trabalhando duro, dão os últimos retoques nos bombardeiros. Trens de bombas são rebocados por pequenos tratores. Caminhões-tanques cruzam a pista numa e outra direção. Os chefes de esquadrilha, reunidos ainda no edifício do comando, recebem as últimas instruções. Faltam alguns minutos para que o primeiro avião decole rumo ao alvo.

O Grupo 376, que viaja sob o comando do Coronel Compton, reúne 30 aviões, divididos em cinco subgrupos de seis aparelhos. Em um desses aparelhos, precisamente, ocorreu um fato curioso e pouco habitual. Pouco antes de partir, um oficial e idade avançada, o Primeio-Tenente Madden, veterano da Primeira Guerra Mundial, sobe a bordo e se apresenta ao chefe da tripulação. Este é o Tenente Myron Conn, com o mesmo posto que o outro, porém com um quarto de século menos. E são esses 25 anos que fazem Conn aceitar o pedido de Madden.

Após a incursão, o avião de Conn regressa à base. E nele, esgotado, porém exultante de alegria, o veterano Primeiro-Tenente Madden, volta “da guerra”, da verdadeira guerra. Madden, quase um ancião, até aquele momento esmagado por uma sensação insuportável de inutilidade e fracasso, encontrou-se novamente. “Sente” que pode ser útil, “sabe”que ainda pode fazer algo mais do que estar sentado diante de uma prancheta, num escritório poeirento. Madden rejuvenesceu 25 anos.

O Coronel Compton, por sua vez, comandante da formação 376, tendo conhecimento do fato, fará valer o homem sobre o soldado, a solidariedade humana sobre a fria disciplina. E, violando os regulamentos, não toma nenhuma medida contra Madden.

O velho primeiro-tenente, pouco mais tarde, retornará ao seu escritório. A guerra voltará a ser para ele uma prancheta,e uma coluna de nomes e cifras. Porém Madden já não será o mesmo. Em um pequeno e oculto rincão da sua alma de velho soldado, “saberá”que a sua pátria ainda pode contar com ele. “Saberá” que continua sendo, principalmente, um homem.

 

Ben Kuroki

Pearl Harbor, 7 de dezembro de 1941. A aviação japonesa, inesperadamente, acaba de bombardear a grande base naval dos Estados Unidos. A reação é imediata. O ataque desperta o patriotismo de milhões de americanos que se oferecem voluntariamente para lutar contra o agressor.

Num centro de recrutamento, esperando a sua vez, está um homem jovem, de físico reduzido, com inconfundíveis traços orientais. É o cidadão americano Ben Kuroki, filho de japoneses. Kuroki, patriota legítimo e sincero defensor do seu país é um dos primeiros a se apresentar voluntariamente para empunhar armas. Aguarda-o, no entanto, uma negativa categórica. Sua origem é o impedimento. E Kuroki tem que abandonar o centro de recrutamento com a infinita amargura de ver-se tratado como um possível traidor.

Kuroki, apesar da recusa inicial, insiste outras vezes. E afinal consegue o seu objetivo. É incorporado, na qualidade de simples soldado, e destinado a trabalhos administrativos. Ben Kuroki compreende que ainda continua sendo, para os EUA, um possível traidor. Tempos depois, a unidade em que ele presta serviços, um grupo de bombardeio, é transferida para a Inglaterra. O nisei (americano de origem japonesa) Kuroki deverá, contudo permanecer nos Estados Unidos. Ele insiste ante seus superiores. Dez, vintém cem vezes chega até seu comandante à procura de uma solução favorável. E por fim, após cem negativas, seus olhos cheios de lágrimas convencem o chefe, que autoriza o embarque.

A bordo do Queen Elizabeth, mais tarde, soldado Kuroki, designado para lavar a cozinha do barco, parte para a Inglaterra. Continua sendo u homem em quem ninguém confia, um possível traidor. Ao chegar à Inglaterra, a unidade dele começa o seu treinamento, de forma intensiva. O nisei continua sendo um homem indesejável. No entanto, a sua vontade de ferro volta a triunfar. Insistindo sempre, Kuroki consegue ser admitido num curso de treinamento para artilheiros. E o conclui brilhantemente. Porém aí termina o seu entusiasmo. Porque sua pele e seus traços continuam sendo um obstáculo para seu patriotismo. De fato, as tripulações dos diversos bombardeiros, várias vezes, se negaram a levar a bordo “um japonês”. Kuroki, contudo não desanima. E começa a sua peregrinação. Novamente fala com e com outro comandante, pedindo, rogando para ser incorporado à tripulação. Porém seus pedidos esbarram com uma obstinada negativa. Até que, afinal, uma noite, minutos antes de decolar para uma missão, um bombardeiro se vê privado de um de seus artilheiros. Ninguém pode substituí-lo. Em toda a base só há um homem em condições de partir no seu lugar: Ben Kuroki. E o comandante  da tripulação, posto entre a alternativa de partir com ele ou ficar em terra, prefere partir. E Kuroki, o nisei, viajará em seu avião.

Assim começa a atuação ativa de Kuroki na guerra. E torna a partir mais vezes. Só que agora o faz rodeado pelo afeto dos homens que já são seus amigos; homens que comprovaram a coragem e o espírito de renúncia que anima o nisei Kuroki.

Chega então uma missão da qual Kuroki não volta. Seu avião foi derrubado sobre a Argélia e a guarnição é dada como perdida. Porém Kuroki não é dos que caem derrotados facilmente. E o “japonês” cruzando o Mediterrâneo, Portugal e Espanha, regressa à sua base, na Inglaterra. Seu patriotismo já foi demonstrado cem vezes. Sua coragem também. E também a sua extraordinária perícia.

E esse patriotismo, coragem e perícia serão os motivos que determinarão que Ben Kuroki seja incorporado à lista do pessoal selecionado que participará na incursão contra Ploesti.

 

Inferno no ar

Testemunhos de alguns homens que intervieram no ataque rasante às refinarias de Ploesti:

“Avistei um 88 atrás de uma fileira de árvores, num cruzamento de estrada. Pude ver o clarão do disparo na boca do canhão, e o projétil vir para nós... lancei o meu avião por baixo da descarga. O projétil arrancou o aileron e o timão esquerdo do aparelho do Capitão Roper, que voava à minha direita.

“Voltei a colocar-me junto a ele. Seu avião destroçado, porém se mantinha no rumo. Pude ver Roper, na cabina, olhando fixamente para a frente, mantendo o seu avião estabilizado...

“A resistência se fazia cada vez mais violenta. Nossos metralhadores disparavam incessantemente. Nos aproximávamos do objetivo pela direção oposta à projetada, a uma velocidade de 245 milhas por hora, 65 milhas acima da usual, aplicando potência de emergência aos motores...

“Tudo o que eu queria era transpor esse inferno de traçadoras, tanques de petróleo explodindo, e aviões em chamas...”.

 

“Vi Enoch Porter receber um impacto direto na barriga do seu avião e este se converter numa massa de chamas. Duas línguas vermelhas surgiram dos lados do aparelho, envolvendo-o até a torre da cauda e projetando-se ainda para trás, no ar, num rio de fogo de 200 pés de comprimento. Porter fez sua máquina subir num desesperado esforço de ganhar altura, para que seus homens pudessem lançar-se de pára-quedas. O avião, porém, entrou em perda, balançando-se no ar como uma bola de fogo e pela porta da proa caíram no espaço os corpo de Jack Warner e Red Franks”.

 

“O avião do Coronel Baker (chefe do Grupo 93) estava já ardendo fazia três minutos... Começou então a inclinar-se sobre a asa direita. Não poso conceber como poderia haver ainda ágüem vivo na cabina, porém alguém manteve o aparelho através das chaminés da refinaria. Minutos mais tarde, o aparelho se ergueu, elevando-se a uns 300 pés, e três ou quatro homens saltaram... Depois, então, se inclinou sobre a asa direita e se lançou velozmente contra o aparelho do Coronel Brown, que escapou à investida por uma escassa diferença de seis pés de distância. O avião do Coronel Baker passou então roçando por nós, convertido numa bola de fogo que impedia que víssemos o interior da cabina, e foi espatifar-se num campo descoberto”.

 

“Procuramos algum avião dos nossos para voar em formação. Encontramos um, porém foi derrubado pouco depois. Nos unimos a outro que também foi abatido... Um caça se colocou na nossa cauda e as traçadoras começaram a sibilar por cima e ao redor da cabina. Hughes e eu tentávamos desesperadas manobras evasivas. Nosso artilheiro da cauda exclamou de repente, que o caça havia caído ao solo como uma tonelada de tijolos. A 50 pés mais abaixo distingui outro B-24 com um caça alemão aferrado à sua cauda. O B-24 desceu bruscamente e o avião inimigo se incrustou no solo. Nos ocultamos em uma nuvem e analisamos a situação: não contávamos com combustível suficiente para voltar à Líbia, nosso timão esquerdo de cauda estava um verdadeiro agulheiro, um cabo de controle praticamente seccionado e três dos artilheiro seriamente feridos... Resolvemos rumar para a Turquia”.

 

Caças ao ataque

Relatos dos pilotos alemães que enfrentaram os Liberators americanos sobre Ploesti.

“Coloquei-me bem alto, por cima da cauda de um Liberator e comecei a disparar... Não sei se eles responderam ao meu fogo. Tudo aconteceu muito rapidamente. Eder e eu voltamos a situar-nos atrás dos bombardeiros, dois minutos mais tarde. Os Liberators começavam a dispersar-se. Um dos motores do que eu perseguia estava fumegando, possivelmente como resultado da minha primeira passada. Ao lançar-me em mergulho, vi Eder completar o seu segundo ataque. Acerquei-me da minha presa e crivei de balas o corpanzil do bombardeiro. Nesse momento, os dois Liberators voavam muito baixo, tratando desesperadamente de salvar-se, apertando-se contra o terreno. Ao tornar a atirar vi Eder fazer a terceira passada sobre o seu contendor. Já não havia, nessa altura nenhum aparelho na minha frente. O B-24 ficou para trás, espatifado, na terra. O bombardeiro de Eder ardia, à distância de duas milhas...”

 

“Disparei o meu canhão e minhas metralhadoras e consegui atingir o bombardeiros na asa direita... lancei-me sobre o Liberator crivando-o de balas, da popa à proa. Suas metralhadoras procuravam atingir-me, porém os projéteis, embora passassem perto, não me alcançaram. Com o acelerador no fundo, fiz uma volta, inclinando-me para a direita, e olhei por sobre o meu ombro para verificar se era necessário outro ataque. Os dois tanques das asas estavam em chamas... O bombardeiro tratou de ganhar altura e prosseguiu voando uns 500 metros mais, antes de espatifar-se, envolto pelo fogo. Ninguém teve tempo de saltar. Aparentemente havia já lançado suas bombas, pois não houve explosão”.

 

“As metralhadoras americanas disparavam em todas as direções... Escolhi um Liberator que voava a uns 150 pés dos solo e o ataquei por trás. Desacelerei o meu Messerschmit, baixei os flaps para reduzir ainda mais a velocidade e varri o Liberator com uma descarga que o alcançou de uma asa à outra. Podia ver os projéteis traçadores, atingindo o avião, e as chamas surgirem por toda a parte. Os artilheiros do teto e da cauda disparavam contra mim. Acerquei o meu aparelho até situar-me a uns 70 pés de distância. Meu motor se incendiou e senti uma tremenda vibração. Arrastado pela velocidade deslizei por baixo do lado esquerdo do bombardeiro, que já estava fora de controle, e se aproximava rapidamente de mim, e eu sem poder dominar o meu avião... Restava-me só um segundo para decidir o que fazer. A melhor possibilidade me pareceu deixar-me expulsar do avião pelo impacto do choque, quando o Messerschmitt se espatifasse. Livrei-me das correias, e abri o teto corrediço da cabina... Não recordo o momento do impacto. Quando recuperei a consciência, encontrei-me sentado no solo, com meu uniforme destroçado e as pernas feridas. Perto, ardiam os dois aviões.

                                                                                      

 

                      

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