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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


BAYWARD
BAYWARD

                                                                                                                                                  

 

 

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

 

CAPÍTULO TRINTA E QUATRO


— Flick, — eu chamei quando Layla e eu corremos pelo corredor até ao quarto dela. Nós duas rindo de emoção.

Deus, eu senti tanto a falta dela. Ela me conhecia. Ela sabia como meu cérebro funcionava. Nós entramos pela porta aberta.

Flick estava sentada em sua mesa em seu laptop, ela pulou quando entramos, fechando seu laptop. — Onde está o fogo? — Brincou ela, mas sua voz tremia nervosamente.

— Precisamos de vestidos, — Layla interrompeu antes que eu pudesse perguntar se ela estava bem. — Desculpa. Eu sou Layla. Prazer em conhecê-la.

Flick sorriu. — Eu sou Felicity. E por que vocês duas precisam de vestidos?

— Nós vamos para a festa, — eu disse a ela. Não sendo capaz de não sorrir.

Ela pareceu se animar brilhantemente. — Oh meu Deus, isso é incrível. Vamos lá, eu vou encontrar alguma coisa para vocês. — Ela correu para o armário e começou a vasculhar. — Você precisará de algo mais solto. Bray disse que era uma festa na piscina, mas eu não vejo você de biquíni.

Meu rosto estremeceu e Layla riu. — Solto é bom. Sexy também.

Flick se virou e me olhou com cuidado. — Que tal um vestido com um longo comprimento?

— Woah, woah...

— Perfeito! Sexy, de verão, feminino. — Layla me lançou um olhar penetrante. Ela sabia que eu não era o estilo feminina. — Heath vai cair em cima, com tudo isso. — Ela balançou as sobrancelhas e Flick riu baixinho.

Eu não pude evitar o rubor que se espalhou pelo meu corpo. Tanto quanto eu odiava a ideia de colocar um vestido, a ideia de Heath gostar enviou uma emoção rápida dentro de mim.

Gemendo, caí na derrota. — Bem.

— Eu acho que tenho o vestido perfeito. — Flick aplaudiu alegremente.

Flick se enfiou de volta em seu armário e as roupas começaram a voar atrás dela enquanto ela cavava mais fundo.

— Woah menina.

— Aqui está,— afirmou alegremente. Ela se virou, segurando um deslumbrante vestido branco que me tirou o fôlego. Era simples, casual, mas bonito mesmo assim. Era até o chão e esvoaçante. A parte de cima tinha um cordão nas pontas para prender no pescoço com um decote muito baixo na frente e era completamente frente única.

Então eu acho que não usaria sutiã.

Contas sutis brilhantes foram costuradas em torno das bordas e eram apenas o suficiente para mudar de um vestido branco liso para algo que poderia ser usado em uma festa.

— Eu... eu estou... — Eu gaguejei, tentando expressar o quão estranho eu me sentia em usar um vestido em qualquer lugar. Eu vivia sempre em jeans. Eu tinha a minissaia, mesmo assim sempre combinava com meias pretas ou meias rasgadas. Isso era o mais feminino que eu conseguia.

Flick se aproximou, segurando o vestido para mim. — Você vai ficar incrível nisso. Junto com seu cabelo preto. Uau.

— Eu não sei, Flick, — respondi nervosamente quando ela me entregou. Parecia macio e sedoso, e eu só podia imaginar qual seria a sensação contra a minha pele. — Eu não posso nem usar sutiã.

Ela riu. — Você não deve. Ele vai sustentar você, assim como um top de biquíni.

Eu mordi meu lábio nervosamente. — Você tem certeza disso?

Seu sorriso era suave e encorajador. — Confie em mim, Fable.

Essas palavras novamente. Elas pareciam ser um tema recorrente com as pessoas dessa família. Mas eu confio neles. Eles efetivamente salvaram minha vida. Até agora, eu não tinha razão para não fazer isso.

Ela voltou para o armário e enfiou a cabeça novamente. Quando ela saiu, ela tinha um lindo vestido estilo boneca. — Isto é para você, Layla.

Layla pareceu atordoada por um segundo. — Talvez isso não seja uma boa ideia.

Risos explodiram de mim. — Hipócrita!

Flick se adiantou, segurando o vestido contra o corpo de Layla. Ele chegava até ao joelho e era da mais bela cor verde-esmeralda.

— Braydon gosta de verde, — comentou Flick com um sorriso.

— O quê... — Layla protestou, mas Flick apenas balançou a cabeça.

— Eu estou quieta, mas isso não significa que não ouço as coisas que acontecem ao redor desta casa.

Eu ri e Layla me lançou um olhar duro que só me estimulou. Segurando o vestido contra mim, deslizou até ao chão. — Eu acho que pelo menos é longo o suficiente para esconder meus sapatos, então eles não parecerão estúpidos.

Flick arregalou os olhos em horror. — Oh não, não, não. De jeito nenhum. Você precisa de sandálias. Talvez algo no seu cabelo. Alguma maquiagem também... — sua voz sumiu quando ela desapareceu pela porta e pelo corredor.

Eu estava começando a me perguntar em que diabos me meteria.

Um pouco depois, de tudo isso Flick fez um telefonema. Aparentemente, os Carsons têm um motorista que podem chamar quando precisam. Flick disse que usa quando seus pais estão longe, e seus irmãos estão ocupados com esportes.

Ela deu ao motorista o endereço da festa e acenou para nós da porta da frente enquanto nos afastávamos.

Caminhei nervosamente e Layla se aproximou e agarrou minha mão. — Isso é estranho, — disse a ela.

— Você provavelmente deveria se acostumar com isso, porque essa vai ser a sua vida, Fable. Apenas lembre-se, você merece isso. Não há mais ninguém a quem eu deseje isso mais do que a você.

Apertei a mão dela. Ela também merecia isso. E eu ia lutar para conseguir o que ela merecia.

Foi Heath que me encheu de conforto quando eu estava me sentindo fora de lugar e desajeitada, que eu sabia que ambos eram completamente prováveis agora. Nós dirigimos até às colinas com vista para a cidade. Eu não estava nem surpresa quando as casas só ficaram mais e mais de cair o queixo e eram surpreendentes. Elas eram mansões que garotinhas sonhavam ter quando ficassem mais velhas. Sonhos que muito raramente se realizavam.

Elas nunca foram meu sonho, no entanto. Crescendo, eu desejei coisas que fossem mais realistas. Pais que me amavam, três refeições por dia, amigos que me fariam sorrir quando estivesse triste. Apenas recentemente alguns deles se tornaram realidade, e mesmo assim, eu ainda estava esperando que eles fossem arrancados de mim.

Estacionando na frente da grande mansão, eu engoli o nó na garganta, mas Layla me deu um empurrão suave e me forçou a sair do carro.

Caminhar com esse vestido longo era uma luta por conta própria. Eu não estava acostumada com isso. Em primeiro lugar, os vestidos nunca foram minha coisa, e segundo eu nunca tive nada tão legal assim, então eu estava consciente de ter certeza de que não o sujaria ou rasgaria.

Layla passou pelas portas da frente que estavam abertas e onde tinha pessoas conversando do lado de fora. Eu peguei alguns olhares surpresos, mas corri para acompanhar Lay, que parecia em uma missão.

Havia caras de sunga e garotas de biquíni, embora parecessem completamente sem sentido, pois eles combinaram com saltos altos e jóias caras. Eu me perguntei quantos deles realmente pretendiam nadar ou estavam simplesmente usando a festa como uma desculpa para se vestir de forma extravagante.

Música bombou alto quando Layla me conduziu através da casa deslumbrante para o quintal. Percebi então por que Braydon estava tão empolgado para vir.

Havia dois toboáguas enormes que começavam no alto da colina atrás da casa. Quando chegavam à parte de baixo, de repente, curvavam para cima, jogando as pessoas para o ar antes de cair na grande piscina no fundo. Eu assisti quando dois garotos subiram ao topo, gritando todo o caminho para baixo. Quando eles atingiram a rampa de subida, ambos viraram para trás antes de mergulhar os pés na água.

— Dane-se, — eu murmurei para mim mesma.

Layla riu. — Quando Heath vir você nesse vestido, simplesmente conseguirá esse desejo.

Eu não pude impedir o rubor de subir pela minha pele. — Eu te odeio, — murmurei como uma criança pequena.

— Oh, você vai me amar em breve. — Ela agarrou minha mão e nos levou através da multidão de adolescentes, que gritavam de alegria quando outra pessoa se precipitou pelo toboágua a toda a velocidade. Eu ouvi um barulho e as pessoas ao redor levantaram seus braços e óculos com um grito de alegria.

Conseguimos atravessar a multidão e Layla me empurrou, chamando minha atenção para o dedo que apontava para longe da piscina.

Enquanto a maioria da multidão parecia contente em ficar ao redor da piscina, dançando e ouvindo a música que pulsava da casa em um grande bloco de concreto, havia uma bela área gramada ao lado que era mais silenciosa e continha apenas um punhado de pessoas. O grupo deitava-se ao sol em cobertores e conversavam enquanto bebiam.

Estava tudo calmo, mais exclusivo, como as pessoas da outra parte da festa pareciam não se aproximar deles a vibração estava mais tranquila, que era mais o meu estilo e eu sabia que era mais o de Heath também.

— Vamos lá, — disse Lay, agarrando minha mão.

Eles não nos notaram quando nos aproximamos, e esse não era o estilo de Layla.

— Ei, garoto rico, — ela chamou, atraindo seus rostos para nós. — O que uma garota tem que fazer para tomar uma bebida por aqui?

Braydon e Heath levantaram do chão. Os olhos de Heath percorreram toda a extensão do meu corpo e tive a súbita vontade de dar um passo para trás, com o calor em seus olhos que eu podia sentir de longe.

Braydon, por outro lado, se iluminou com um sorriso juvenil, seus olhos totalmente em Layla. — Mostre-me seus peitos, — ele respondeu quando os irmãos se dirigiram para nós.

Layla riu. — Sonhe alto.

Braydon riu com ela, mas Heath apenas caminhou em nossa direção em silêncio. O fato era que ele poderia estar gritando comigo por tudo que eu sabia, e não teria ideia porque tudo que podia ouvir era meu coração batendo forte enquanto meus olhos observavam o jeito que ele se movia.

Ele vestia uma camisa de manga curta, mas foi deixada aberta. Um par de calça cáqui baixa pelos quadris, acentuando sua cintura fina. Cada parte dele era tonificada, sexy e bronzeada. Seus ombros e bíceps se esticavam contra o tecido de sua camisa. Eu não ficaria surpresa se ele flexionasse e rasgasse imediatamente. Eu também não me importaria. Parecia ser um crime esconder um corpo tão lindo assim. Meus dedos se contraíram, desesperados para alcançá-lo e tocá-lo. Sabendo que no segundo que eu o fizesse, o mundo ao meu redor desapareceria.

O poder de seu corpo me atraía em todas as vezes. Ele gritava segurança e proteção, e eu queria desesperadamente que me envolvesse, porque essa era a minha serenidade.

Antes que eu percebesse, ele estava na minha frente, estendendo sua mão para agarrar minha cintura e me arrastando para ele. O aperto gentil, e a maneira como sua respiração se espalhou pelo meu pescoço quando ele abaixou a cabeça me disse tudo o que eu precisava saber. Ele estava tão louco quanto eu. Nossos corpos estavam em sintonia, ele sentia esses sentimentos também, e uma onda de euforia se espalhou por mim.

— Você está linda, — ele sussurrou. Virei a cabeça ligeiramente para que meus lábios roçassem o lado do rosto dele.

Eu sorri. — É um pouco diferente, né? O vestido não tem muito a ver comigo, mas sua irmã insistiu.

— Não importa o que você veste. Não importa a sua aparência. É ver você feliz e sorridente que faz você parecer tão incrível.

Pressionei meus lábios ao lado de seu rosto, apreciando o jeito que sua pele não era macia, mas sim forte e áspera. Heath não era um adolescente. Ele era todo homem. Fisicamente e mentalmente. Era o que o fazia tão forte e tão sério. Era o que atraía as garotas e tenho certeza que até algumas mulheres. Mas seus olhos eram todos para mim.

Eu sabia agora mais do que nunca que Jay não ganharia essa luta. Eu não deixaria nada atrapalhar esse sentimento. Nunca.

 

 

 


CAPÍTULO TRINTA E CINCO


— Vamos, quero que você conheça alguém.

— Ok.

Procurei Layla, mas Bray já a tinha feito sua refém e a arrastava com promessas de sexo na praia. Eu tinha certeza que ele queria dizer a bebida, mas com Braydon você nunca poderia ter certeza.

— Cuide da minha amiga, Braydon, — eu disse atrás deles. A risada de Layla dançou no ar, mas Braydon nem sequer olhou para trás, apenas acenando para mim com um movimento de sua mão.

Heath me puxou na direção oposta, para onde seus amigos tinham voltado para suas conversas depois da entrada barulhenta de Layla.

— Payton. — chamou Heath. Uma jovem com longos cabelos loiros ondulados se virou com um largo sorriso no rosto. Ela estava vestindo um par de shorts jeans que estavam rasgados nas pontas, e o que parecia ser um maiô preto.

Ela se levantou quando nos aproximamos. — Ei, Fable, certo?

Eu sorri. — Sim, prazer em conhecê-la.

Lucas apareceu atrás dela, envolvendo o braço em volta do pescoço dela e puxando-a para trás. — Esta é minha pequena irmã pirralha.

— Oh!

Payton deu uma cotovelada em seu irmão mais velho no estômago, e ele se dobrou rindo.

— Ignore-o, eu sou adorável.

Lucas engasgou com o riso. — Você simplesmente me agride abertamente e depois tenta convencê-la de que você é adorável? Boa tentativa, mana.

Sua brincadeira sobre quem era o melhor irmão me fez rir. Eventualmente, Payton apenas empurrou-o para longe e pegou minha mão, me puxando dos braços de Heath. — Vamos, vamos tomar uma bebida.

Olhei por cima do meu ombro para Heath enquanto ela me puxava de volta para a casa, mas ele apenas sorriu e balançou a cabeça. Eu já sentia falta do contato, mas acho que isso era uma festa.

— Sem álcool, Payton, — Lucas disse atrás de nós.

Payton não olhou para trás, mas ergueu o dedo do meio por cima do ombro enquanto continuava a me arrastar para longe. Quando estávamos distantes o suficiente, ela diminuiu a velocidade e eu corri para chegar ao lado dela.

— Lucas não me deixa beber. Ele acha que eu sou muito jovem.

— Quantos anos você tem?

— Acabei de fazer dezesseis anos.

Dei de ombros. — Eu acho que irmãos mais velhos são feitos para serem protetores. — Eu seria uma hipócrita se dissesse a ela que não deveria beber. Não era como se não fizesse isso eu mesma. Eu estava realmente ansiosa para colocar um pouco de coragem líquida no meu corpo. — Como eles conseguem fazer festas assim e não se meter em problemas com a polícia?

Ela bufou. — Quando você tem muito dinheiro, pode se dar bem com qualquer coisa. Todo mundo tem o seu preço, você sabe.

Eu sabia.

Payton se aproximou do bar improvisado onde dois caras rodavam garrafas e bebidas misturadas. — Dê-me dois cosmos, — Payton pediu sobre a música que se tornava cada vez mais alta à medida que nos aproximávamos da casa. Ele assentiu e começou a misturar nossas bebidas. Não passou nem um minuto antes de um ser colocado na minha frente, o outro na frente de Payton.

Eu bebi, deixando o líquido calmante correr pela minha garganta. Não era forte e tinha um sabor incrível.

Eu observei como Payton tomou um gole do dela e ergueu seu nariz. — Não há álcool nisso, — ela exigiu, olhando para o barman.

— Lucas disse que sem álcool para você. — Ele sorriu antes de ir para o outro lado do bar.

Eu consegui sufocar minha risada com a minha mão.

— Eu vou assassiná-lo, — afirmou, pegando a bebida no bar e murmurando para si mesma enquanto caminhávamos de volta para o lado mais calmo da piscina, onde Heath, Braydon e Layla estavam sentados. — Lucas!

Ele se virou para nós com um sorriso malicioso no rosto.

— O que é essa merda? — Ela rosnou, segurando sua bebida.

— Chama-se cosmopolitan virgem. Você sabe, porque não tem álcool. — Lucas cruzou os braços sobre o peito e sorriu orgulhosamente.

Foi quando Payton sorriu de volta que eu sabia que ele não tinha ganho essa rodada.

— Obrigado por isso. Todo o conceito virgem é estranho para mim. Bom saber.

Todos riram alto quando o rosto de Lucas afundou e se transformou em uma expressão de nojo. — É melhor você estar brincando, Pay.

Ela não respondeu, mas deslizou por ele, bebericando sua bebida com um sorriso quando passou caminhando.

Rindo baixinho, eu fiz meu caminho até Heath. Havia vários cobertores grandes dispostos na grama. Sam e outro amigo dos meninos, Matt, conversavam com Heath enquanto Braydon e Layla se sentaram um pouco para trás, as cabeças mergulhadas juntas na conversa. Heath olhou para cima quando ele me viu chegando, sorrindo e batendo no chão no espaço entre suas pernas. Eles estavam de joelhos e ele descansou os braços sobre eles.

Eu fiz uma careta enquanto olhava para o local.

Heath franziu a testa para mim. — O que está errado?

Segurando minha bebida com uma mão e apontando para o vestido longo que eu estava usando com a outra, tentei explicar o problema sem que todos ao nosso redor percebessem. Eu era uma menina, eu realmente deveria saber como administrar algo assim.

— Passe-lhe a sua bebida e levante o seu vestido enquanto você se senta, — uma menina do cobertor próximo ofereceu com um sorriso suave.

Eu fiz isso, passando a Heath minha bebida e levantando a parte de baixo do meu vestido enquanto me encaixava no espaço entre suas pernas. Quando eu estava acomodada, Heath me devolveu minha bebida e me virei para a garota. — Obrigada.

Ela riu. — Sem problemas. Sentar no chão em um vestido longo pode ser uma forma de arte, mas se eu ficasse tão bem quanto você em um, poderia apostar sua bunda que eu diria dane-se e usaria um também.

Aqueceu-me ouvir suas palavras gentis. Talvez os jovens daqui estivessem começando a esquecer e seguir em frente. Talvez eu estivesse me tornando apenas mais uma jovem na escola.

Heath se deslocou para a frente, deslizando meu cabelo para a frente por cima do meu ombro e me puxando de volta contra ele. A pele nua do seu peito aqueceu minhas costas nuas. Eu me inclinei contra ele tomando minha bebida enquanto ele voltava para sua conversa com seus amigos. Eles conversavam sobre a natação e o que seus pais estavam fazendo em suas vidas ocupadas. O pai de Matt tinha uma gravadora, e os pais de Sam eram magnatas do resort e possuíam hotéis em todos os estados, incluindo alguns dos maiores e mais bem conhecidos lugares de Las Vegas.

Foi estranho, no entanto. Mesmo que eu não tivesse histórias como as deles para comparar, eu não me sentia fora de lugar ou sobrecarregada como pensava que faria. Eu não sabia se era por causa de Heath e do jeito que seus dedos gentilmente me acariciavam, ou se era porque finalmente senti que não era mais a rejeitada com a história de fundo de ser desonesta. Espiei por cima do ombro de Heath para ver Layla rindo com Bray, Payton e Lucas e sorri contente.

Eu ri enquanto Payton e Lucas continuavam a debater sobre quem era melhor, Lay e eu aplaudimos quando Braydon fez uma acrobacia épica no toboágua, e eu simpatizei com a garota gritando com seu namorado porque ela o pegou beijando outra pessoa.

O foco não estava mais em mim. Esses garotos tinham seguido em frente.

Eu era apenas uma adolescente normal. E cara, me senti bem.

Observei a multidão, olhando-a com fascínio enquanto eles dançavam e se apertavam uns contra os outros. Era incompreensível quão diferente este mundo era do meu. O maior temor dessas crianças era se elas seriam convidadas para a próxima festa ou se tropeçariam em suas Louis Vuitton's.37

O braço de Heath estava envolto firmemente em volta da minha cintura isso ajudou a me sentir à vontade. Para alguém que geralmente mantinha suas demonstrações de afeto de forma privada, ele estava estranhamente confiante hoje. Mas eu o acolhi, no entanto. Não fiquei pensando nisso, mas encontrando conforto na forma como ele não tinha medo de mostrar como se importava comigo.

Enquanto meus olhos procuravam a multidão, um olhar familiar me encarou, parando minha sondagem. Ela tinha as mãos nos quadris e os olhos estavam estreitados. Endureci minhas costas, tentando não deixar o olhar duro de Jay tirar o melhor de mim. Eu precisava deixá-la saber que não estava desistindo disso tão facilmente quanto ela pensava.

Ela queria brincar comigo, ameaçar meu futuro e minha chance de finalmente ter alguma coisa. O que ela não considerou foi o fato de que já tinha passado pelas profundezas do inferno, e Heath e sua família finalmente me deram uma razão para revidar.

A ideia de ser mandada de volta para meu pai me petrificou. Mas outra coisa me assustou ainda mais.

Perder Heath e a vida que eu comecei a criar para mim.

Eu consegui segurar seu olhar por mais de um minuto antes que ela se virasse e fosse embora, empurrando as pessoas para o lado enquanto fazia sua grande saída de volta para dentro da casa.

O barulho ao meu redor me tirou dos meus pensamentos enquanto os garotos se empurravam e se divertiam uns com os outros, tirando suas camisas como se estivessem prontos para o mergulho.

— Você não vai nadar? — Perguntei a Heath quando ficou atrás de mim e não se juntou aos outros. Seus dedos estavam acariciando o fundo do meu cabelo. Enrolando e desenrolando enquanto assistíamos os foliões dançar e beber à vontade.

Virei meu corpo para o lado, odiando não poder ver seu rosto. — Não, — ele deu de ombros. — Estou bem aqui com você.

— Heath, vá se você quiser. Eu estou bem. — Mesmo usando a minha voz mais severa, ele ainda deu um sorriso.

Payton sentou-se ao nosso lado. — Sim, vá. Eu ficarei com ela.

Bray já tinha roubado Layla, mal me permitindo cinco minutos com minha amiga antes que ele continuasse a arrastá-la, apresentando-a a qualquer um que ele podia. Layla era sagaz, assim como Braydon, e ele não podia esperar para compartilhar sua nova amizade com quem quisesse ouvir. E com Braydon, isso era todo mundo. Simplesmente porque ele era Braydon.

Heath grunhiu em resposta à oferta de Payton para me fazer companhia. — Isso não me faz sentir melhor, Pay.

— Heath, vá.

— Vamos lá, cara. Vamos nos vestir e mostrar a esses aspirantes o que realmente está acontecendo. — Lucas jogou seus calções de banho no chão ao nosso lado, e eu olhei para cima e murmurei, obrigada para ele.

Heath murmurou baixo em sua garganta e o som enviou formigamentos dentro de mim. — Claro. — Apenas quando eu pensava que tinha ganho, ele agarrou meu queixo e virou meu rosto para o dele, cobrindo meu sorriso triunfante com a boca. Por sorte, eu não tinha mais nenhuma bebida no meu copo, ele caiu sobre o cobertor quando eu derreti em seus braços. Sua mão deslizou pelo meu queixo e ao redor do meu pescoço, não me permitindo escapar, enquanto ele me devorava.

Não que quisesse isso de qualquer maneira, de repente pensando que talvez eu não quisesse que ele fosse a qualquer lugar, porque ali naquele momento estava o lugar onde poderia ter ficado felizmente por toda a vida.

— Está bem, está bem. Nós entendemos o ponto, homem das cavernas. Sua mulher, seu homem. Ela é sua. Não toque, — Payton gemeu, nos dando um empurrão suave. Os amigos ao nosso redor riram e eu não pude deixar de rir em seus lábios enquanto tentava me afastar.

Ele gemeu, mas finalmente recuou, com os olhos quentes e selvagens. Heath queria mais, eu sabia disso. Até agora ele manteve meu ritmo, nunca me empurrando mais do que me senti confortável. Mas eu sabia que depois de cada beijo, eu estava começando a querer mais também. E algum dia, teria que dar em algo.

A ideia de ter intimidade com Heath me excitou em mais maneiras do que esperava, mas eu também estava com medo.

Assustada de quão facilmente tudo poderia ser despedaçado.

 

 

 

 


CAPÍTULO TRINTA E SEIS


Os meninos foram para dentro da casa para vestir a sunga. As pessoas saíram do caminho quando os viram chegando, exceto por uma pessoa que entrou em seu espaço.

— A cadela da Jay está aqui! Oh, alegria. — Payton sorriu com falso entusiasmo.

Um sorriso desenhou na minha boca. — Suponho que você não é sua maior fã também?

— Além de seu bando de princesas, eu não acho que Jay tenha nenhum fã, — ela respondeu secamente.

Muitas pessoas pararam para ver sua interação como se toda a festa tivesse sido o show paralelo e agora elas estavam no evento principal.

Jay estava usando um biquíni dourado, sem surpresas e saltos de quinze centímetros que eu me perguntava como ela conseguia andar ao redor de uma piscina escorregadia, ainda por cima.

Eu não conseguia ver o rosto de Heath quando ele estava de costas para nós. O rosto dela era diferente. Não era presunçoso e confiante como de costume. Seu lábio inferior estava preso em um beicinho sem nenhuma característica. Ela estendeu a mão para tocar seu braço, e eu levantei minhas sobrancelhas quando ele não se afastou. Lucas deu-lhe um empurrão e Jay assentiu com tristeza enquanto os observava desaparecer.

Os olhos de Jay foram para onde estávamos procurando. E eu sabia exatamente para quê. Quando eles me encontraram, eles se iluminaram, e um sorriso presunçoso passou por mim antes dela se virar na ponta dos pés e retornar através da multidão.

Assim como para os meninos, as pessoas pularam para sair do seu caminho. Mas foi por um motivo diferente. Eles não a respeitavam como Heath e Lucas, eles a temiam. E com uma dor surda começando a se formar na parte de trás das minhas pernas, eu sabia exatamente por quê.

— Vamos tomar uma bebida enquanto os meninos estão distraídos, — disse Payton, puxando meu braço. Não tenho certeza se ela estava tentando me distrair, ou simplesmente querendo finalmente conseguir uma vitória sobre seu irmão mais velho, mas eu a deixei mais uma vez me arrastar para o bar.

O barman misturou nossas bebidas e colocou-as no bar para nós. Quando ele se virou, Payton estendeu a mão sobre o bar e pegou uma garrafa meio vazia de vodca. Eu ri quando ela enfiou debaixo do braço e se afastou.

— Fable! — Layla correu para mim. — Braydon e Heath vão descer pelo escorregador.

Ela apontou para a colina onde os dois irmãos estavam subindo. Eles testaram um ao outro com leves empurrões e risos enquanto se dirigiam ao topo.

Havia apenas amor entre os dois. Eles não eram realmente competitivos, mas eu acho que eles realmente não tinham razão para ser. Eles eram próximos, mais próximos do que muitos irmãos, saindo com a mesma galera e outras coisas, mas ambos tinham suas próprias coisas.

Braydon estava no futebol. Heath era um nadador. Ambos os esportes muito diferentes, que exigiam técnicas e treinamentos diferentes. Eles nunca competiram também pelas paqueras com as mesmas meninas. Braydon era o homem das mulheres, onde Heath era mais quieto e sutil da forma como se importava com alguém. Ambos eram apaixonados pelo certo e pelo errado, mas isso não era uma competição, era algo em que eles se uniam. Uma conexão que eles tinham por causa da forma como tinham sido criados.

As pessoas começaram a se reunir ao redor da piscina, gritando por cada um dos irmãos e gritando por quem eles apostariam que ganharia.

Braydon se virou e ergueu as mãos no ar, aumentando o barulho da multidão enquanto ele flexionava seus músculos. Heath aproveitou a oportunidade para empurrar seu irmão, rindo enquanto tropeçava, mas se conteve antes de descer a colina.

Todo mundo riu.

Payton, Sam e Lucas estavam atrás de nós. Eu olhei para trás prestando atenção quando Lucas ameaçou contar à mãe sobre a garrafa de álcool que sua irmã estava segurando.

Eu ri baixinho sabendo que Lucas realmente não queria colocá-la em problemas. Ele estava apenas tentando cuidar dela. Eu acho que ela sabia disso, e não tinha medo de retribuir tanto quanto recebia, lançando sua própria ameaça sobre contar ao pai que Lucas teve um trio de mulheres na cama de seu pai.

Eu estava prestes a me virar e me envolver na provocação quando um corpo me atingiu com força total, me jogando pelo ar. Minha perna bateu na lateral da piscina e eu gritei.

— Fable, — os gritos de Layla encheram meus ouvidos antes que meu corpo batesse na água. O ar já tinha sido forçado pelos meus pulmões e eu não tive tempo de respirar antes de meu corpo afundar.

Choque foi a primeira coisa que me atingiu quando afundei pela névoa azul. Eu não sabia onde estava ou o que estava acontecendo. Foi então que o pânico assumiu. Meu corpo percebendo que não havia ar foi quando comecei a me contorcer e me debater. O tecido do meu vestido torceu em volta das minhas pernas e a dor atravessou minha perna enquanto eu lutava para de alguma forma me empurrar para a superfície.

Eu nunca aprendi a nadar apenas me debatia e meu corpo estava confuso. Eu não sabia mais para onde ir.

Eu estava apenas lutando contra uma morte por afogamento?

Ruídos, salpicos encheram a água ao meu redor, e meus pulmões finalmente cederam, minha mente gritando para eu apenas respirar. Eu sufoquei, a água entrou pela minha boca e meu nariz.

Eu ia me afogar.

Eu mal estava ciente do que estava acontecendo quando algo me atingiu por trás, me empurrando através do líquido espesso. Alguém agarrou meus braços, me arrastando com ele.

O ar bateu no meu rosto, e meus pulmões colocaram pra fora a água da minha boca, ofegando e sufocando enquanto lutava para enchê-los de oxigênio e expelir a água que havia se infiltrado.

Meus olhos lacrimejaram enquanto tentava abri-los e entender o que estava acontecendo ao meu redor. Havia uma multidão de pessoas paradas na beira da piscina, seus rostos estavam na maior parte borrados, mas havia o olhar estranho de horror de quem eu tinha identificado agora como Lucas que me puxou para a beira da piscina.

— Respire, Fay. Respire, — a voz suave de Heath estava sem fôlego, mas ele ainda conseguiu me acalmar, e ele pressionou contra minhas costas, me forçando contra a parede da piscina e me segurando lá. Lucas se retirou antes de pegar minhas duas mãos e me arrastar até meus joelhos baterem no concreto.

Eu desmoronei no chão, meu corpo convulsionando enquanto mais líquido se forçava para fora do meu corpo. Eu vi o rosto de Layla primeiro quando deixou cair o corpo ao lado do meu e puxou meu cabelo molhado para longe do meu rosto. — Deixe sair, a água precisa sair.

Eu fiz, e ela nem sequer se afastou quando vomitei até a bile e juntei água ao lado dela.

— Boa menina.

Com meu rosto neste nível, eu podia ver Payton sentada no chão logo atrás de Layla. Lucas estava agora agachado ao lado dela, avaliando seu corpo. O sangue brotou de escoriações nos joelhos e em uma de suas mãos. Minha mente não conseguia entender o que estava acontecendo, no entanto. Por que Payton estava ferida?

Layla se moveu para o lado quando Heath caiu ao lado dela, seu cabelo molhado e seu rosto em estado de choque absoluto.

Houve outro respingo, e não demorou muito para a voz de Braydon preencher o silêncio. — Que porra aconteceu? — Eu queria dizer a ele que estava bem, mas meu corpo estava completamente esgotado, e não conseguia nem levantar a cabeça do concreto duro.

— Bray, está tudo bem. Ela está bem. — Layla disse suavemente, pondo-se de pé para interceptá-lo quando ele saiu da piscina.

— Querida, — Heath falou baixinho para mim, sua mão roçando minha bochecha. — Apenas respire. Respire comigo.

Eu assisti enquanto ele respirava profundamente, imitando o jeito que enchia seus pulmões. Eu gaguejei enquanto tentava exalar, engasgando.

Ele acariciou minha bochecha novamente, mas eu pude ver sua preocupação começar a se transformar em raiva. — O que aconteceu? — Ele retrucou seus olhos nunca deixando os meus.

— Alguém me empurrou, com muita força, — Payton respondeu quando minha mente estava muito focada em respirar e em estar viva.

— Quem? — Ele falou alto para que todos pudessem ouvir.

O único som que podia ser ouvido era a música ainda tocando no fundo.

— Eu não sei, cara. Estávamos todos observando vocês dois e então Payton voou para a frente, derrubando Fable. — Lucas tentou explicar a confusão.

— Heath, precisamos levá-la para casa. Podemos lidar com isso mais tarde, — disse Layla, a voz da razão.

Era estranho porque Heath geralmente era aquela voz. O carinha com a cabeça no lugar, aquele que sabia o que fazer em uma crise. Mas quando meus olhos encontraram os dele, tudo que pude ver foi raiva.

— Sim. — Ele enganchou as mãos sob os meus joelhos, e uma foi ao redor das minhas costas quando ele me levantou do chão. As pessoas se separaram para que nós pudéssemos passar, quando Braydon, Layla, Payton e Lucas, todos nos seguiram.

Ele me colocou no banco da frente do carro, e eu olhei pela janela para ver Braydon e Sam conversando pela porta da frente. Braydon estava falando rápido, e Sam assentiu, dando tapinhas nas costas dele quando se virou para voltar para dentro.

Heath me levou para casa depois de um curto desvio para o consultório de um médico. O médico nos atendeu e me examinou.

Ele disse que eventos iguais aos que passei podem ser perigosos, por que deveríamos ver se ainda houvesse fluido nos pulmões. Eu ainda correria o risco de me afogar, mesmo horas depois, se eles não conseguissem sair.

Depois de um check-up38, ele decidiu que os meninos conseguiram me tirar da água rapidamente e que meu corpo havia rejeitado o que não precisava de água.

Heath ficou em silêncio, sua mão descansando na minha perna enquanto nós estacionávamos na entrada da garagem. Braydon, Lucas, Layla e Payton já estavam em casa esperando por nós.

Heath saltou e correu em volta do carro para abrir a minha porta. Ele me ajudou e manteve os braços em volta de mim enquanto me levava para o meu quarto. Fui direto para o banheiro. Soltando a toalha que eu tinha enrolado em torno de mim quando Heath ligou o chuveiro. Por mais que eu sentisse que tinha visto água suficiente hoje, meu corpo estava congelado e só queria me aquecer.

— Entre, — ele murmurou, estendendo sua mão para levantar o meu vestido.

Eu pulei para trás. — Heath, tudo bem. Eu posso tomar banho sozinha. — Minha garganta estava arranhada e apertada, e ainda doía um pouco falar.

— Eu não vou deixar você aqui sozinha. Eu não sei o que pode acontecer.

Eu sabia que ele estava preocupado, mas eu não estava pronta para que visse as marcas que a primeira tentativa de Jay em me machucar tinha causado. — Por favor, Heath. Não agora. Eu não tenho energia.

Ele franziu a testa e por um minuto pensei que poderia recusar.

— Meninas! — Foram apenas alguns segundos antes de Layla aparecer na porta, ela estava com Payton no meu quarto, cuidando de seus arranhões. Infelizmente, ela era uma profissional nisso, tendo crescido com um pai como o dela. Layla olhou entre nós preocupada quando o vapor começou a encher o lugar. Foi nesse momento que Heath disse: — Ela precisa de alguém ao lado dela caso algo aconteça. Você pode trazer Payton aqui enquanto faz isso para que ela não esteja sozinha? Eu preciso ligar para a mamãe.

— Sim, claro. Provavelmente é melhor fazê-lo aqui de qualquer maneira para que eu possa lavar os joelhos dela.

Silenciosamente agradeci com meus olhos, e ele pressionou um beijo leve na minha testa antes de deslizar passando por Layla e sair pela porta. Payton entrou não muito tempo depois e fechou a porta atrás dela.

— Nós não vamos olhar. — Ela sorriu, e ambas se viraram para a porta quando eu tirei o vestido branco e entrei no chuveiro, fechando a cortina. A água estava quente e pinicou minha pele gelada.

— Eu não sabia que você não sabia nadar, — Payton disse suavemente.

— Não é algo que eu geralmente revelo quando conheço novas pessoas.

Ela limpou a garganta. — Eu teria pulado se soubesse. Eu pensei que você logo iria aparecer de novo na água.

— Payton, tudo bem. Você também se machucou. Você não poderia ter pulado.

— Heath parecia um super-herói. — Layla riu baixinho. Ouvi alguém se sentar no assento do vaso sanitário e rasgar uma embalagem de Band-Aids. — Heath me ouviu gritar e viu seu mergulho do topo do toboágua. Ele voou tão longe pelo ar que achei que poderia pousar em você.

— Lucas não sabia o que estava acontecendo, até que viu Heath disparar pelo escorregador, então ele também entrou.

— Eu gostaria de ter visto. — Recuando sob o borrifo da água, eu fechei meus olhos, e o calor correu sobre mim, e meu corpo começou a descongelar.

— Eu acho que sei quem fez isso, — Payton murmurou.

Eu tinha certeza que sabia também.

 

 

 

 

 

CAPÍTULO TRINTA E SETE


— Jay estava em pé atrás da multidão quando saímos. Ela não parecia chocada como todo mundo, ela parecia presunçosa, — Payton expressou.

Suspirei. — Sim. Nós não temos exatamente nos entendido desde que cheguei aqui.

— Ela é má, você sabe. — O comentário de Payton trouxe o frio de volta, e eu estremeci.

— Ela obviamente queria que parecesse um acidente, mas deve ter havido muita força por trás para jogar você e eu tão longe.

Aposto que ela pensou que me envergonharia, que eu ressurgiria e todo mundo riria.

— Eu não posso acreditar que Heath namorou com ela. — Só o pensamento disso me fez tremer.

— Eles nunca namoraram, — Payton respondeu parecendo confusa.

Estreitando meus olhos, olhei para onde eu sabia que ela estava sentada na borda da banheira do outro lado da cortina do chuveiro. — Alguém me disse que eles namoraram por um ano.

— Esse alguém foi ela? — Payton bufou sarcasticamente. — Eles ficaram em festas, mas nunca estiveram juntos. Talvez em sua mente, mas não na de Heath.

Talvez Liam estivesse errado. Fazia sentido, ele só os tinha visto em poucas festas aqui e ali, e acho que teria parecido a um estranho que eles eram um casal.

— Ouvi dizer que ela bateu em alguma garota porque estava andando atrás de Heath.

— Sim, eu.

Layla e eu respondemos em um único som. — O quê?

A risada de Payton foi suave. — Passei minha vida inteira saindo com Lucas e seus amigos. Ele nunca teve vergonha de me levar a lugares com ele, e seu pai estava sempre feliz em me deixar ficar lá também. Eu acho que ele sabia como era minha mãe.

Eu queria perguntar, mas ao invés disso eu fiquei quieta, deixando-a continuar, — Heath e Bray são como irmãos mais velhos, e à medida que envelhecemos, outras garotas começaram a ficar com inveja de que eu estava sempre com eles, mas que eles nunca realmente deixavam as outras garotas entrarem. Jay não parecia ter problemas com isso no começo. Heath e ela ficavam apenas nas festas e nós íamos a escolas diferentes. Mas então ela começou a me empurrar para fora do grupo.

— O que aconteceu na festa? — Layla perguntou.

Eu ouvi Payton respirar fundo, e Layla se desculpou suavemente, seguido por mais barulho de band-aid39 sendo aberto. — Nós estávamos jogando tênis de mesa, Heath e eu contra Lucas e Sam. Ela me pegou no corredor depois, me empurrou para o chão e começou a me chutar nas costelas. Heath enlouqueceu, disse para ela nunca mais se aproximar dele, de mim ou de qualquer um de nós.

A garota era louca, isso era completamente óbvio agora.

— Você não deu queixa.

Payton bufou. — Eu estava em uma festa bebendo, e seu pai é o chefe de polícia. Não havia sentido realmente. E eu sabia que Heath ter dito para ela se afastar iria absolutamente devastá-la. Isso me deu satisfação suficiente.

Minha mente girou. Jay era louca e completamente imprevisível. Eu me perguntei quantas outras garotas ela agrediu para mantê-las longe de Heath. Quão longe ela iria? Só a pergunta me fez estremecer porque sabia a resposta até onde ela precisava ir.

Ela precisava ser parada.

— Alguém precisa dizer alguma coisa. — O tom de acusação na voz de Layla não se perdeu em mim. — Se uma pessoa disser alguma coisa, talvez outras pessoas também falem. Quanto mais pessoas se levantarem, melhor nos ouvirão. Eles não podem ignorar todos.

— Milhões de minúsculos córregos, — eu sussurrei. — Um rio poderoso, — Layla terminou.

Jay continuaria a ferir as pessoas até que ela conseguisse o que queria, e eu sabia, de fato, que esse era um objetivo inacessível. Heath era muito equilibrado e inteligente para querer estar com alguém como Jay.

Ela era exatamente como meu pai, impulsionada pelo poder. E porque eles pareciam tão fortes, imbatíveis, as pessoas tinham medo de se levantar e dizer alguma coisa. Tal como eu era.

Eu estava assustada. Com medo de que ninguém acreditasse na minha palavra contra a do meu pai. E foi exatamente isso que aconteceu quando finalmente decidi que já era suficiente. O juiz me ridicularizou, e a imprensa fez parecer como se eu tivesse culpa. Ninguém me apoiou ninguém me protegeu.

Mas isso era diferente agora. Heath me protegeria.

Braydon e Flick me protegeriam. Helen e Arthur me protegeriam.

Lucas, Payton, Layla, Kyle, Lee, André todas essas pessoas me apoiariam. Eles acreditariam em mim e não tinham medo de ficar ao meu lado. Então, talvez fosse hora de parar de me esconder. Pessoas como Greg Campbell e Jay Crowler precisavam aprender que não conseguiam sobreviver apenas pisando nas pessoas mais fracas que eles. Eles precisavam aprender que suas ações teriam consequências.

Eu fechei o chuveiro. — Você pode me passar uma toalha?

— Claro.

Sua mão atravessou a cortina e eu puxei a toalha em volta de mim. — Eu estarei fora em um segundo.

— Tudo bem. Estou indo para casa para conversarmos mais tarde. Estou feliz que você esteja bem.

— Obrigada, Payton.

Eu a ouvi sair.

— Eu vou estar no seu quarto, — disse Layla antes de desaparecer também.

A porta do banheiro se abriu e fechou silenciosamente, e eu pisei no tapete no chão. Eu tomei meu tempo, me secando e enfiando a toalha em volta de mim enquanto usava outra para secar meu cabelo.

Quando saí, percebi que estava começando a escurecer do lado de fora. — Você vai passar a noite, certo? — Eu perguntei, olhando para onde Layla estava, olhando pelas grandes janelas.

— Eu acho que posso, — ela respondeu, não se virando para olhar para mim. — Eu disse a Andre para onde estava indo. Eu realmente quero voltar para eles, no entanto. Eu quero dizer-lhes o que você me disse, que há esperança vindo.

— Eles vão ficar bem por uma noite, Lay. — Eu realmente queria que ela ficasse. Claro, eu quero que os outros saibam que nem tudo está perdido e que eu não os tinha esquecido, mas eu também posso dizer que Layla tinha muito peso em seus ombros e talvez estando aqui, ela pudesse deixar um pouco disso sair de cima dela.

— Sim, eles ficarão, — ela respondeu calmamente. Ela tomou um momento antes de respirar fundo e se virar para mim. — Você vai contar a Heath sobre Jay?

Eu me encolhi e fui até minha cômoda, tirando algumas roupas frescas. — Fable, — ela rosnou.

— Sim, está bem. Eu vou dizer a ele. Apenas não agora. Tem sido um dia longo, todo mundo está pulando de adrenalina e preocupação, e eu prefiro deixar para quando puder sentar e conversar com ele direito. — As desculpas fluíram livremente. A verdade era que eu queria ganhar um pouco de tempo. Helen voltaria de sua viagem em alguns dias e eu queria que ela estivesse aqui quando explicasse o que tinha acontecido. Ela era uma das melhores advogadas do país. Ela saberia o que fazer, e seria capaz de manter Heath calmo.

Se eu fosse chamar a atenção para Jay, precisava fazer direito. Eu precisava ter certeza de que valeria a pena. Porque se eu começasse a gritar dos telhados que ela estava me machucando, as pessoas seriam menos propensas a acreditar em mim e ela teria mais tempo para criar uma desculpa.

Eu sabia que, se eu contasse a Heath, ele e Bray tomariam as coisas em suas próprias mãos, e isso também pioraria as coisas. Havia uma grande chance de que isso explodisse na minha cara e, na verdade, eu estava sendo egoísta. Eu só queria mais alguns dias com ele antes de enfrentar a possibilidade de perdê-lo.

Layla pareceu aceitar minha demora mesmo que me olhasse com cautela. — Eu acho que os garotos estão fazendo comida. Eu vou me fazer útil enquanto você se veste.

Layla já tinha pego emprestado algumas das minhas roupas e tirou o vestido que Flick havia lhe dado. Dei-lhe um sorriso gentil e ela saiu, fechando a porta.

Eu me vesti rapidamente e me dirigi para fora. Quando passei pela porta de Flick, decidi que provavelmente deveria aparecer e dizer obrigada, e também pedir desculpas por possivelmente arruinar um de seus vestidos.

Eu bati, mas não houve resposta. Franzindo a testa, eu girei a maçaneta e abri a porta bem a tempo de vê-la subindo pela janela do seu quarto.


— Flick?

Seus olhos olharam em choque quando ela puxou a perna saindo da janela. Ela apenas olhou para mim por alguns segundos antes de balbuciar: — Eu estava com um amigo, e vi que vocês estavam em casa e não queria incomodar você, então vim para cá. — Levantei minhas mãos para tentar fazê-la parar.

— Woah lá. — Eu olhei para ela, ela estava vestindo uma minissaia apertada que era estranhamente curta e uma blusa rosa suave. Eu provavelmente teria deixado tudo para lá e a deixado sozinha, se não fosse pelo fato de que estava segurando sua camisa junto com a mão, já que todos os botões pareciam estar faltando ou presos por um fio.

Eu desconsiderei totalmente o fato de que não tinha ideia de como ela tinha conseguido escalar a casa, esgueirar-se pela janela e a questionei com o óbvio. — O que aconteceu com a sua camisa?

Ela abaixou a cabeça e foi até à cama, virando o corpo para longe de mim. Eu não ia permitir isso e dei a volta, então estava na frente dela novamente.

— Ela só ficou presa em alguma coisa, — ela murmurou, puxando-a mais apertadamente.

Eu fiz uma careta. — Como na mão de alguém que tentou arrancá-la?

Ela se encolheu, e eu sabia que tinha acertado na mosca. Eu me agachei para poder ver seus olhos, ignorando a dor nas minhas pernas. Ela se moveu nervosamente e seu rosto estava vermelho. — Flick. Se alguém te machucou, você pode me dizer. Está bem.

— Não... — Ela saiu correndo, de repente parecendo chocada novamente. — Não, não foi isso. Ninguém me machucou.

— Então o que aconteceu? — Eu olhei para o resto do corpo dela, mas não havia sinais óbvios de que ela tivesse brigado. Porque essa era a única outra explicação, que poderia imaginar.

— Eu fui ver Eli, — ela sussurrou.

Rangendo os dentes, finalmente consegui perguntar: — Ele fez isso?

— Ele não queria, nós estávamos apenas... isso aconteceu no momento. Ele ficou empolgado.

— Você está dormindo com esse cara?

Ela balançou a cabeça. — Ele... ele quer, mas está sendo paciente. Esperando que eu esteja pronta.

— Não parece que ele esteja sendo paciente, — eu disse bruscamente.

Ela se levantou e rapidamente passou por mim. — Você não o conhece. Ele não é como os caras da minha idade. Ele é maduro. Ele é doce. Ele é atencioso...

— Ele está com tesão, — eu cortei secamente quando fiquei de pé. Meu corpo doía. Eu passei por muito hoje. Estava sentindo tudo isso dentro de mim, mas não ia apenas varrer isso para debaixo do tapete. Isso era importante.

Ela se virou e me acertou com um olhar. — Eu realmente me importo com ele. E ele se importa comigo.

— Então você não vai se importar se contarmos a Heath e Bray? Porque, obviamente, vocês dois estão tão firmes que nada vai separar vocês. — Seus olhos se arregalaram quando gesticulei para a porta. Neste ponto, eu estava blefando, mas tentei manter meu rosto impassível.

— Por favor, não conte a eles. Ainda não. Espere até você encontrá-lo. Você pode ver por si mesma o quanto ele se importa. Por favor, — implorou ela, com lágrimas nos olhos. — Não o julgue. Apenas o encontre primeiro.

Eu esfreguei meu nariz. Nós já tínhamos falado sobre como eu não sairia com ela amanhã. Ela ficou desapontada, mas disse que um de seus amigos iria com ela. Parte de mim queria ir ao seu encontro e ver se a sensação que eu tinha no meu estômago estava certa. Mas eu estava muito cansada. Não era um problema que eu pudesse lidar agora mesmo com a cabeça fria.

Ela estava certa, no entanto. Eu precisava dar a ele o benefício da dúvida. Algo que muitas pessoas nunca me deram. Eu não podia julgar ainda.

Respirando fundo, meu peito e pulmões doíam. — Ok. — eu murmurei, enquanto deixei isso sair lentamente pela minha boca.

— Obrigada, — ela respondeu, seus ombros cedendo em alívio. — Eu prometo. Você vai ver o quanto ele se importa.

Eu realmente esperava, porque tinha minhas dúvidas. Havia algo errado aqui, eu podia sentir isso.

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO TRINTA E OITO


— Como você está se sentindo, querida? — Helen perguntou.

Eu me aconcheguei mais perto de Heath, seus braços me segurando enquanto nos sentávamos no sofá, na sala de estar dos Carsons. — Estou bem.

— Você sabe, está tudo bem em não se sentir bem.

Suas palavras me fizeram sorrir, parecendo muito com algo que Heath havia me dito na semana passada. — Estou bem.

— Ok. —Ela suspirou. — Estou fazendo o meu melhor para conseguir um voo de volta para casa o mais rápido possível. Mas pode não ter nenhum voo até segunda-feira.

— Eu sei. Está tudo bem, Helen. Você pode ficar aí, eu estou bem. — Eu senti como se tivesse dito aquelas palavras 'estou bem' tantas vezes nas últimas horas. Eu estava começando a pensar que talvez ninguém estivesse me ouvindo porque eles continuavam perguntando.

— Tenha um fim de semana tranquilo, relaxe um pouco.

— Obrigada, Helen.

Nós duas desligamos e eu deixei o telefone de Heath no sofá ao lado dele. — Tudo bem? — Ele perguntou enquanto passava os dedos pelo meu cabelo.

Eu assenti. — Ela só queria saber se eu estava bem.

— Você está?

— Sim. Agora podemos simplesmente esquecer essa história?

Braydon foi a minha salvação quando ele atravessou a porta, Layla logo atrás dele.

— Fableee. —Braydon choramingou como uma criança pequena. — Sua amiga está sendo malvada comigo.

Layla revirou os olhos, mas eu observei a contração no canto da boca. — Aguenta, garoto rico.

— Você sabe, realmente magoa os meus sentimentos quando me chama assim.

— Talvez você pudesse comprar alguns novos.

Ele ofegou dramaticamente. — Vocês estão ouvindo isso, vocês dois?

Ele olhou para nós em busca de apoio, mas tanto Heath quanto eu rimos.

Não houve deboche nas palavras de Layla. Foi exatamente como naquele dia em que o Bray me chamou de rato de rua. Era um termo provocante que eu realmente recebera dele. E acho que ele sentia o mesmo de Layla zombando sobre as suas riquezas.

Heath e eu nos levantamos, seguindo as crianças briguentas até à cozinha. Braydon abriu o forno e o cheiro de pizza flutuou. Meu estômago fez barulho, eu estava com tanta fome. Ele puxou para fora o forno e cortou, dividindo a pizza.

Braydon passou para Layla o prato de pizza que ele colocou para ela. Ela olhou para baixo, e seus olhos se iluminaram. — Obrigada. —Ela disse baixinho, pegando o prato e se movendo para sentar no balcão.

Eu esperava uma resposta espirituosa de Bray, mas ele respondeu com um simples: — De nada.

Todos nós comemos em silêncio, ouvindo os sons da mastigação, mas não era estranho. Era bem legal, na verdade.

— Eu não tinha estado em nenhum outro lugar além da Bayward Street desde que saí do reformatório. — Layla comentou quando terminou.

— Vocês se conheceram lá, certo? — Heath perguntou, e eu não pude deixar de sorrir. — Porque você foi presa?

Layla tentou esconder o seu sorriso. — Eu roubei um carro.

— Você o quê? — Braydon levantou-se de repente. — Você roubou um carro?

Ela riu. — Não é como você pensa. Havia dinheiro no painel, cheguei para pegá-lo e alguém me viu. Eu fiquei com medo e pulei e bati o freio. Foi em uma colina por isso começou a rolar. Eu consegui puxar o freio de volta antes que colidisse com qualquer coisa.

— E eles te culparam pelo roubo do carro? — Heath riu.

— Sim. É meio engraçado agora que penso sobre isso. Mas eu estava tão assustada na hora.

— A assaltante desajeitada. — Eu ri.

Ela mostrou a língua para mim, mas logo estava rindo junto comigo. — Não foi o meu melhor momento, eu acho.

Lay suspirou enquanto eu pegava o prato de Heath e andava para empilhá-lo no lava-louças. — Vocês deveriam apenas voltar para a festa. Ainda deve estar em comemoração, aposto.

— Em comemoração? — Braydon riu.

— Você sabe o que eu quero dizer.

— Não, não há mais comemoração. Sam disse que mandou a maioria deles para casa.

Inclinando-me para a frente, olhei para Bray com tristeza. — Sinto muito. Eu sei que você teve grandes planos para dormir com uma ressaca amanhã.

Todos nós rimos.

Heath exigiu que encerrassemos a noite de qualquer maneira. Bem, para mim foi. Eu protestei, mas quando passou os braços em volta de mim e me segurou contra ele, de repente me senti exausta. Talvez fosse porque este era o meu lugar seguro. Em seus braços eu sabia que não precisava lutar, que poderia simplesmente desistir e deixá-lo assumir o controle. Enfiei o meu rosto na curva do pescoço de Heath e os meus lábios pressionaram contra a sua pele levemente. Ele puxou o rosto para trás e capturou a minha boca com a dele, num beijo suave e gentil. Ele não se apressou ou empurrou por mais, nós apenas relaxamos.

Essa era a forma de seduzir de Heath, no entanto, ele sabia exatamente o que me fazia sentir melhor. Se eu precisava gritar e expulsar as minhas frustrações, ou se eu só precisava senti-lo comigo. Ele sabia.

Eu me ofereci para mostrar a Layla onde o quarto de hóspedes ficava, mas Bray estava decidido que iria mostrar a ela. Eu tinha certeza de que não era o que ele tinha em mente, mas deixei passar.

Helen ainda tinha que discutir com Heath e eu sobre o status do nosso relacionamento, mesmo sabendo que ela estava bem ciente de quão perto nós nos tornamos. Eu não queria desrespeitá-la com Heath e eu dividindo a cama à noite como fizemos nas últimas duas noites, mas Heath não estava aceitando as minhas desculpas.

Ele me assegurou que se ela tivesse um problema, não teria medo de nos informar.

Eu me certifiquei de usar calças longas de pijama na cama, dizendo a Heath que ainda podia sentir o frio da água e só precisava estar quente. Ele não discutiu. Ele queria que me sentisse confortável, e eu adorava isso nele, mesmo que o meu argumento fosse uma mentira óbvia.

Naquela noite, quando ele se enrolou na cama comigo, em completa escuridão, ele finalmente me contou o que estava passando pela sua cabeça. — Eu estava com tanto medo. —Ele sussurrou enquanto me abraçava por trás, com um braço sob a minha cabeça, o outro descansando no meu quadril. — Ouvir Layla gritar e depois ver você cair na água... aquele deslize pareceu demorar tanto, e o tempo todo eu fiquei pensando, e se não conseguisse chegar a tempo? —Ouvir a voz de Heath tão vulnerável e suave era tão diferente do que eu estava acostumada. Eu podia ouvir a dor na sua voz, e eu sabia disso, as coisas entre nós estavam ficando mais fortes. Era mais do que uma paixão de adolescente.

Entrelaçando os meus dedos nos dele, tentei tranquilizá-lo de que tudo estava bem. — Você conseguiu chegar a tempo. Pare de pensar demais.

A sua respiração fez cócegas na pele na parte de trás do meu pescoço enquanto ele soltava um suspiro agudo. — O pensamento de perder você...

— Eu sei. — Eu sabia. Heath trouxe brilho e mudanças na maneira como eu via a vida. Não bastava apenas flutuar todos os dias sem expectativas ou aspirações. Você tinha que ter algo para lutar, um sonho, um objetivo, algo melhor. Porque estar confortável não te encherá de paixão, não te dará a emoção de aprender algo novo ou experimentar coisas que você nunca teria antes. E eu estava começando a desejar novas experiências, festas, vestir-me e, mesmo depois de hoje, nadar na piscina com ele. Eu precisava deles como a minha próxima respiração, especialmente se eles o incluíssem.

A mão de Heath se curvou ao redor do meu quadril para o meu estômago, e ele gentilmente me puxou de volta contra ele. Eu fui com ele. — Diga-me por que você começou a nadar. — A pergunta me surpreendeu também, mas eu estava curiosa para saber.

— Papai nos manteve fora da luz do público o melhor que pôde. Não importava tanto quando éramos mais jovens, mas à medida que envelhecemos, as pessoas começaram a esperar mais de nós. — Sua mão acariciou o meu rosto suavemente e, embora eu não pudesse vê-lo, eu sabia exatamente onde ele estava, que tipo de expressão estava em seu rosto, a maneira como o seu cabelo estava bagunçado. Eu podia senti-lo. — Eles queriam que fôssemos parte dos seus projetos, talvez uma atuação. Eles se aproximaram de nós quando saímos, querendo que transmitíssemos roteiros ou fotos. Nós até recebemos bolsas de estudo para escolas de Direito. As pessoas esperavam que fôssemos algo ótimo, porque os nossos pais eram muito conhecidos.

— Você não queria isso?

Ele suspirou suavemente. — Eu amo os meus pais. Eles nos criaram direito, apesar da pressão sobre a nossa família. Eles são ricos e bem-sucedidos, e sou grato todos os dias por viver o estilo de vida que eles criaram para nós. Mas me ensinaram que o trabalho duro era o caminho para chegar lá. Eu quero ser grande e fazer grandes coisas, mas quero chegar lá pelos meus próprios méritos e minhas próprias realizações.

Meu coração floresceu. Heath era um em um milhão. Ele era humilde e gracioso. Ele nunca aceitou as coisas que tinha como garantidas. Ele apreciava tudo o que tinha. E ele lutou muito pelo que queria.

— Então, por que nadar? — Perguntei, levando-o a continuar.

— Nadar diz quem sou eu. —Ele respondeu tão simples, mas tão seguro daquelas palavras. — Você nada para um time, um clube ou uma escola, mas quando está na água, não há mais ninguém a não ser você. Tudo o que eu alcanço na água está em mim. É o quanto eu trabalho. É como os meus movimentos são rápidos. É o quanto eu pratico. É tudo sobre a quantidade de trabalho que coloco, é o que determina o meu sucesso.

Meu coração pulou e eu ouvi o suficiente.

Estendi a mão, encontrando sua mandíbula forte e colocando-a entre os meus dedos. Puxando o seu rosto para o meu, nossos lábios se conectaram em uma onda de excitação e tudo ao nosso redor pareceu acender como fogos de artifício.

Nossos corpos emaranhados juntos. Ele passou a mão gentilmente pela minha perna. Puxando o meu joelho, ele puxou minha perna sobre a dele, levantando o joelho para que ficasse entre as minhas coxas. A batida forte do meu coração parecia encher a sala, e uma sensação doce começou a crescer enquanto suas mãos exploravam o meu corpo, suaves e lentas. Mas eu queria mais.

Ele me rolou de costas, o seu corpo vindo sobre o meu e me pressionando no colchão. O peso era bom, ele se segurou sobre mim com a pressão suficiente para não me esmagar. Minhas mãos correram sobre o seu peito nu, era tão forte, os músculos tão apertados e tonificados.

Heath trabalhou duro. Seu corpo não veio de graça. Ele treinou, ele levantou pesos, ele se esforçou, porque ele sabia que o trabalho duro ia ser a coisa que o ia levar até onde queria ir.

O espaço entre nós estava ficando aquecido. Era novo e excitante. — O que você quer, Fable? — Ele sussurrou, sua boca saindo dos meus lábios, vagando sob o meu queixo. Suas respirações profundas eram o único ruído na sala. — Porque eu estou lutando muito agora para não te atacar totalmente.

Uma emoção silenciosa passou por mim, me estimulando.

— Eu quero você. — Eu sussurrei sem fôlego, sem receio. — Eu quero você e não quero deixá-lo ir nunca.

Seus quadris pressionaram-se contra mim e eu ofeguei.

O meu coração batia no meu peito enquanto ele explorava o meu corpo com as mãos, deixando um rastro de pequenas saliências em minha pele. Eu não conseguia explicar o que senti naquele momento. Eu estava eletrificada, ansiosa e nervosa com o que estava por vir, mas ansiei por ver até onde essa conexão entre nós iria dar. Heath extraía emoções de mim que eu nunca soube que tinha, e se um único toque pudesse incendiar o meu corpo, então eu tinha certeza que quando nós compartilhássemos algo muito mais íntimo, não haveria volta.

— Eu sou todo seu. — Ele murmurou antes de fazer assim como ele disse que iria, atacando o meu corpo da maneira mais sensual possível.

Eu disse que queria novas experiências, e o que eu não percebi na época, foi que Heath nas últimas semanas estava me dando uma das mais belas experiências da minha vida.

Apaixonar-me.

 

 

 

CAPÍTULO TRINTA E NOVE


A luz do sol penetrou através de uma abertura nas cortinas, atingindo-me bem nos olhos. Eu gemi, tentando rolar na direção oposta, mas logo percebi que dois braços fortes me seguravam no lugar. Eu não pude diminuir o sorriso que surgiu nos meus lábios quando afundei de volta para o calor dos braços de Heath.

— Bom dia. — Sua voz estava áspera, ainda arranhada do sono.

— Sim, a luz forte brilhando nos meus olhos é uma prova irrefutável. — Eu gemi, apertando os meus olhos para fechá-los novamente.

Ele riu baixinho antes de agarrar o meu pulso e torcer o meu corpo, para que eu rolasse em direção a ele. Ele me colocou em seu peito, e minhas pernas instantaneamente foram para os lados de seus quadris.

— Heath?

— Mmm...

— O que você quer ser quando crescer?

Um sorriso cresceu em seu rosto. — Quando eu crescer? — Ele zombou de mim.

Eu revirei os meus olhos. — Sim, idiota. Quando você crescer.

Ele riu, trazendo -me contra o seu peito. — Eu não tenho certeza. Eu sei que tem que ser algo a haver com desportos. Instrutor pessoal, treinador, saúde e nutrição.

— Isso seria perfeito para você. — Eu concordei. — Nadar é a sua vida, e você é muito mandão e controlador para que o instrutor pessoal se encaixe... — Eu não consegui terminar minha frase enquanto ele me virava de costas, me prendendo e sorrindo.

— Mandão e controlador, hein. — As suas mãos fizeram cócegas na minha cintura, e eu comecei a rir.

— Você está apenas provando o meu ponto. —Eu ofeguei sobre o meu riso.

Ele me torturou até que houve uma batida forte na porta e fiquei grata pelo alívio.

— Heath, você pode me deixar na cidade?

Heath revirou os olhos e eu ri. — Sim, Flick.

Obrigada. —Ela chamou brilhantemente. Ela estava animada sobre hoje. Eu poderia dizer.

— Às vezes eu me preocupo com ela por ser tão quieta. — Heath colocou os braços atrás da cabeça, e eu puxei o lençol para me cobrir enquanto me aproximava dele. — Eu me pergunto se Bray e eu fomos muito exagerados e protetores dela. Com mamãe e papai indo e vindo muito, nós meio que assumimos esse papel, certificando-nos de que os caras ficassem longe e assim.

— Você não pode protegê-la para sempre, Heath. Haverá garotos e ela vai ter o seu coração partido.

Ele respirou fundo. — Sim, eu só espero que não seja tão cedo.

Eu queria desesperadamente contar a ele. Mas até que eu tivesse certeza do que estava acontecendo, não poderia começar algo que eu soubesse que Heath terminaria. Eu só esperava que Flick lhes contasse logo, porque se eles descobrissem por conta própria, a merda iria explodir.

— É melhor você se preparar.

Ele gemeu e se inclinou e me deu um rápido beijo na bochecha antes de se arrastar para o lado da cama e procurar por suas roupas. Com as suas costas para mim, eu rapidamente peguei as minhas calças de pijama do chão e as vesti sobre as minhas pernas. Suspirando de alívio.

A culpa se instalou mais uma vez, mas eu a afastei. Lembrando-me de que iria contar a ele. Mas mesmo depois de quase morrer, ele me deu a noite mais perfeita da minha vida, e estava ainda mais relutante em arriscar o que tínhamos.

Eu só precisava esperar por Helen. Ela saberia o que fazer.

Eu tinha esperança.

Ele riu quando me viu lutar para encontrar a minha camisa e vesti-la. Parecia estúpido agora, mesmo para mim, quando ele já me viu em muito menos. Mas por baixo, eu ainda era uma garota tímida, encontrando o seu caminho através deste processo.

— Idiota. — Eu murmurei enquanto puxava algumas roupas novas das minhas gavetas e me dirigia para o chuveiro. Isso só o fez rir mais forte, e enquanto eu queria tirar aquele sorriso lindo do seu rosto, não pude deixar de apreciar o som.


***


— O que está acontecendo com você e Bray? — Perguntei a Layla quando nos sentamos à mesa do lado de fora da piscina.

Eu peguei o pequeno sorriso, embora ela tentasse escondê-lo. — Não é nada, Fay. Ele me faz rir, ok?

Revirei os olhos para a evasão dela. — E o Andre também quando enfia o palito no nariz, mas você não o provoca ou dá apelidos para ele.

Ela veio para mais perto, entrou na água onde Heath e Braydon estavam nadando. Eu aprendi hoje que Braydon realmente nada, não como Heath, mas pelo exercício e resistência.

— Eu acho que é bom ter alguém que não dá a mínima. — Ela murmurou enquanto os observava. — Heath e ele, toda essa família, são diferentes. Eles se importam, genuinamente. Braydon olha para mim como uma pessoa e, além de você e dos outros, fazia muito tempo que alguém não olhava para mim apenas como uma pessoa.

Eu sorri. Eu sabia exatamente o que ela queria dizer. Era difícil passar todos os dias quando as pessoas viam você como um incômodo sujo e repugnante para a sociedade ou um caso de caridade para se sentirem melhor. Era raro onde vivíamos encontrar pessoas que se importassem sem obter nada para si mesmas.

— Você vai contar a Heath sobre Jay? — perguntou ela, mantendo a voz baixa, embora eu soubesse que não havia como eles nos ouvirem.

— Sim. — Eu suspirei.

— Em breve? — Ela perguntou.

— Sim, logo. Eu juro.

Eu ainda não sabia como dizer a ele. Mas eu diria. Em breve.

Nós ainda conversamos por algumas horas antes de Layla finalmente decidir voltar. O meu coração doeu.

— Fable, você precisa me deixar ir.

Eu balancei a cabeça, me agarrando a ela pela vida enquanto Braydon assistia em diversão. — Eu vou deixar você saber assim que Helen estiver de volta, e tiver mais informações sobre a casa. — Eu disse a ela, ainda me recusando a libertá-la.

Braydon finalmente enfiou a mão entre nós e começou a puxá-la para longe. Quando eu olhei para ele, ele riu. — Acalme-se, tigresa. Se não a tivermos visto no próximo fim de semana, vou buscá-la e pode passar mais uma noite conosco, ok?

Eu balancei a cabeça, mas sabia que não seria capaz de esperar tanto tempo. Só de pensar nela nas ruas me fez querer vomitar. Eu queria tirá-la e aos outros de lá e tirá-los imediatamente antes que qualquer outra coisa acontecesse.

Acenei para ela da porta, sentindo a perda da minha amiga em meus ossos quando Braydon a levou de volta para a Bayward Street. De volta ao inferno.


***


Flick estava praticamente sorrindo enquanto passava pela porta não muito tempo depois que eles saíram. Mas notei que ela não era a única.

Eu sorri, incapaz de me conter quando Heath seguiu atrás dela com um sorriso brilhante. — Por que você está tão feliz?

Ele veio até mim, passou os braços em volta da minha cintura e me girou, ainda radiante. — O meu treinador ligou. Um dos olheiros na piscina ontem tem conexões com os treinadores da equipe olímpica. Eles estão vindo na terça para me ver nadar e fazer alguns contatos.

Eu suspirei. — Oh meu Deus. Isso é incrível! — Ele riu, sua excitação era contagiante. Santo inferno!

— Isso é tão bom, Heath. — Flick se gabou antes de subir as escadas.

— Obrigado, Flick. — Seu sorriso caiu um pouco. — Eu vou ter que sair novamente, e seguir para a piscina. O treinador quer que eu treine nas próximas manhãs e noites.

Os seus olhos procuraram os meus como se procurassem uma desculpa para ficar, mas me recusei a dar-lhe uma. Este era o seu futuro. Eu estava tão feliz por ele. Orgulhosa mesmo.

— Está tudo bem. Isto é ótimo.

— Você vai ficar bem?

Eu revirei os meus olhos. — Heath, estou absolutamente bem. Nós já passamos por isto.

Ele me segurou um pouco mais apertado. — Sim, eu sei.

— Concentre-se em nadar ou você vai estar fora do campeonato. —Eu disse a ele severamente.

Ele riu. — Isso é algo que o meu treinador diria.

— Talvez você devesse me contratar.

— Você tem alguma experiência?

— Até agora, tudo o que sei fazer é afundar. — Eu ri secamente.

— Quando isto acabar, vou ensiná-la a nadar. —Disse ele com toda a seriedade.

Eu sorri. — Qualquer coisa para ver você naqueles shorts minúsculos. — Eu mexi as minhas sobrancelhas, mas ele não estava aceitando. Ele estendeu a mão e passou os dedos em volta do meu pescoço.

— Não é brincadeira. — Disse ele, olhando diretamente nos meus olhos. Eu caí dentro daquelas piscinas azuis profundas que eram a cor de seus olhos. Eles me hipnotizavam toda vez que me olhavam. — Eu não posso passar por isso novamente. Isso me assustou imenso.

Ele me puxou para mais perto, nossos lábios se roçando. — Eu sei. —Eu sussurrei. — Agora vá, você precisa praticar.

Ele pressionou a sua boca contra a minha, os seus dedos massageando suavemente no meu pescoço. Eu me levantei, sabendo onde isso levaria se eu não tivesse um pouco de autocontrole. — Vá. — Eu sussurrei.

Ele reclamou sentindo-se, infeliz, mas me soltou, pegando a sua bolsa de natação do vestíbulo antes de sair pela porta.

Tinha pensado tanto para colocar o meu plano em ação e deixá-lo saber sobre Jay.

Mas, isso teria que esperar agora, porque ele tinha muito o que pensar. Eu queria que ele alcançasse os seus objetivos e os seus sonhos, e se ele fosse escolhido pela equipe olímpica, seria exatamente o que aconteceria.

E tudo seria pelos seus próprios méritos, assim como ele queria.

Não havia como eu interferir, então tudo teria que ser colocado em segundo plano até depois da terça-feira.

Apenas mais alguns dias.

 

 

 

 

CAPÍTULO QUARENTA


Eu não vi Heath naquela noite. Ele chegou tarde a casa e saiu cedo, bem antes do amanhecer. Nós nos encontramos por um breve momento em seu armário na manhã seguinte na escola. Ele disse que a prática estava indo bem. Ele estava acertando nos tempos que precisava, mas o treinador estava pressionando para ter a melhor equipe de natação olímpica.

Ele parecia cansado, mas animado. Ele estava absorvendo tudo, trabalhando com a adrenalina que percorria o seu corpo. Quando ele desapareceu para a aula, eu caminhei pelo corredor.

Na semana passada eu consegui evitar a aula de ginástica. Mas não havia desculpa desta vez. Se fosse fazer parte desta escola, eu precisava passar em todas as minhas aulas, inclusive na academia.

Não era que eu não estivesse em forma. Eu estava. Eu simplesmente não gostava de correr. Eu estava muito viciada em meus patins. Eles me carregavam. Eles me davam velocidade e agilidade. Quando você corria, tinha que bater seus pés no chão, forçar um pé à frente do outro e empurrar para a frente. Com as rodinhas, você poderia planar, poderia pular, e elas me permitiam voar.

Ninguém prestou atenção em mim, quando deslizei para dentro dos vestiários das meninas e me tranquei em um vaso sanitário para vestir uma calça e uma camiseta.

Elas riram e conversaram até a professora tocar o seu apito nos chamando para a área da academia. Eu quase voltei para dentro quando vi quem estava ao lado da professora, segurando sua arma favorita de destruição, sorrindo maniacamente.

— Hoje temos uma das nossas melhores jogadoras de beisebol se juntando a nós. Ela vai nos informar sobre as regras do jogo, e nós vamos sair e jogar. Jay, é tudo seu. — A professora parecia empolgada quando bateu palmas e sorriu para Jay, que em grande estilo fez uma pequena reverência.

— As regras são simples, mas vou explicar um pouco, já que tenho certeza de que vocês aprenderão rápido. As jogadoras no outfield40 estão lá para pegar qualquer bola. Você precisa jogá-la para uma base e tentar marcar o corredor. Batedor, você bate a bola, depois corre para a base. E se você chegar ao pitch41, e as bases estiverem completamente carregadas... — foi nesse momento que seus olhos encontraram os meus, e se iluminaram com alegria. — ... você bate forte, e não para.

Consegui me esconder durante a maior parte do jogo, optando por sair o mais longe possível. A maioria das crianças da turma eram iniciantes. Alguns dos garotos conseguiram acertar bastante longe, mas eu apenas peguei e joguei de volta, e o meu trabalho estava pronto.

Quando o meu time foi chamado para bater era uma história totalmente diferente. Eu assisti do lado enquanto cada um dos jogadores tomava sua vez de subir ao pitch. Alguns fizeram bem. Outros com medo da bola voltar na direção deles até mesmo para dar um balanço.

Jay estava na primeira base e quando eu pisei para bater, os olhos dela me olharam como um falcão.

Eu tentei ignorá-la. Eu precisava acertar a bola com força suficiente para poder ultrapassar a primeira base e correr para a próxima.

Eu considerei sair, e depois das duas primeiras falhas, sabia que tudo o que tinha que fazer era deixar a bola voar e poderia me sentar de novo.

— Vamos lá, Fable. — Ouvi ela chamar, meu corpo enrijecendo apenas ao som e tom de sua voz. — Apenas respire fundo. Respire todo aquele ar fresco.

As palavras escuras de provocação não estavam erradas para mim. Ela sabia o que tinha feito. Ela sabia que eu poderia ter morrido, que poderia ter me afogado. A água na piscina me sufocando e cortando o oxigênio. Ela estava me atraindo novamente, mas desta vez, eu ia pegar o gancho e mastigar sua linha de merda.

O lançador se enfileirou, e quando a bola veio correndo em minha direção, eu sabia que não ia falhar. O bastão e a bola se conectaram, a vibração da colisão enviando vibrações para os meus braços e para o meu corpo. Eu estava tão admirada que não percebi até que ouvi meu time atrás de mim gritando — Corre — Foi nesse momento que soltei o bastão e corri para a primeira base.

Eu sabia que não tinha chegado tão longe, os sons das pessoas correndo e discutindo sobre quem pegaria a bola e onde a jogaria enchia o campo. Eu estava apenas a alguns metros de distância quando finalmente olhei para cima dos meus pés e a vi em pé exatamente onde eu deveria cair. Jay e eu tinhamos uma altura semelhante, mas eu sabia que o corpo dela era mais atlético do que o meu, apesar de ela ser tão magra. Ela plantou os seus pés, fazendo como se não estivesse prestes a se mover. Talvez ela tivesse pensado que eu fosse pular para cima e tentar ir ao redor dela, mas ela estava errada.

Eu deixei cair um dos meus ombros um pouco e me inclinei para o lado dela. Eu tinha mais força no meu corpo do que ela, e quando o meu ombro se chocou com o dela, fez com que ela cambaleasse para trás e caissse com um baque no chão. A força me jogou fora um pouco também, mas consegui tocar na base, e a professora gritou cuidado atrás de mim.

Ela correu até nós e ajudou a colocar Jay em pé. — Senhorita Campbell, talvez da próxima vez se concentre em onde você está indo ou alguém possa se machucar. — Ela me repreendeu suavemente.

Jay limpou a sujeira das suas calças. — Está tudo bem. Boa jogada.

As palavras soaram tão sinceras, e com um sorriso satisfeito, a professora voltou-se. — Próximo batedor?

Ela logo se foi, e o sorriso suave e esportivo de Jay sumiu em um instante. — Isso é realmente como você quer jogar, garota de rua? — Ela zombou.

— Deve ter sido todo aquele ar fresco.

O bastão e a bola se conectando atrás de mim me colocaram em ação quando mais uma vez as pessoas gritaram corre! Corre!

Eu fiz, mas com um sorriso no rosto.

Minhas pernas tremiam quando cheguei à segunda base, mas estava me sentindo ótima.

Cutucar um urso pardo nunca era uma boa ideia, mas essa era a minha mensagem para ela. Eu não ia recuar. Talvez eu não devesse ter deixado ela chegar até mim. Talvez eu devesse ter lido melhor os sinais. Mas a gratificação foi demais para deixar passar. Infelizmente, ela não gostava de perder, e minha exultação durou pouco.

Meu corpo estava drenado depois que a professora nos fez correr duas voltas do campo depois do jogo desde que perdemos. Isso eu não me importava, mas o meu corpo estava sentindo quando voltamos para os vestiários para nos vestir e ir para as nossas próximas aulas.

Eu me movi devagar, deixando as outras garotas fazerem suas coisas e sair correndo. Eu não estava com pressa, porém, com um período de estudo livre em seguida. Eu encontrei uma baia tranquila e me vesti, puxando meu cabelo para trás em um rabo de cavalo bagunçado, minha pele simplesmente muito quente para sequer lidar com isso.

Quando saí, alguém agarrou meu braço e me deixou sem equilíbrio. Elas me giraram, e eu perdi o equilíbrio, caindo no chão frio com um grito de surpresa.

Tudo estava girando, então eu nem tive tempo de me cobrir quando um pé se conectou com o meu estômago, forçando todo o ar para fora de mim com força.

A dor foi imediata e lágrimas instantaneamente surgiram em meus olhos.

Outro golpe me engasgou, meu café da manhã ameaçando sair e cair por todo o chão ao meu lado.

— Eu admiro a sua súbita necessidade de lutar contra, garota de rua. — Sua voz estava divertida como se ela estivesse sendo honesta, vendo a minha vitória no campo como admirável. — Mas aqui está a coisa. É a portas fechadas, essa é a melhor oportunidade para mostrar seu poder. Ninguém consegue ver. Ninguém mais sabe. Só você e elas.

Outro reflexo da dor que entrava pelas minhas costelas trouxe bílis para minha boca. Era ácido e nojento, mas eu forcei de volta para baixo. Eu não conseguia me mexer, a dor era excruciante.

— Isto deve ser uma lição para você. — Ela se agachou ao meu lado e baixou a voz. Você não pertence aqui. Você não pertence a Heath. Esta escola gera os fortes. Você é muito fraca, com tanto medo do passado voltando para assombrá-la que não luta pelo seu futuro. Vai para casa.

Com isso, ela se foi e eu fiquei caída no chão.

Eu não fiz um movimento para me levantar, mesmo quando a dor começou a diminuir. Eu chorei. Chorei porque ela estava certa.

Eu estava com tanto medo da história se repetindo que ainda estava deixando isso me segurar. O medo de contar a alguém o que estava acontecendo, e tê-los me desconsiderando, era tão exuberante em minha mente que não tinha percebido que a história já estava se repetindo.

Jay não era como meu pai, ela era meu pai. Mas isto não era mais apenas mental. Havia tomado outras proporções.

Eu finalmente consegui me arrastar pelo chão sujo. Levantar-me em linha reta doía tanto, mas eu queria sair de lá antes que alguém me visse, então empurrei a dor, fiz meu caminho para a área de administração antes que se tornasse demais e vomitei no cesto de lixo da mulher do escritório. Ela rapidamente fez uma ligação para Helen, que acabara de aterrissar no aeroporto e estava correndo para a escola para me pegar.

Foram uns bons quarenta e cinco minutos antes de ela chegar, aparecendo na porta da enfermaria com um olhar preocupado no rosto. — Oh querida. Não é a sua semana, não é?

Tentei dar-lhe um sorriso, mas acho que pareceu mais uma careta.

Eu disse à enfermeira que achava que era um problema estomacal. Ela me colocou todas as perguntas, o que eu tinha comido no dia anterior? O que tínhamos na nossa pizza? Havia algum frango?

Eu apenas balancei a cabeça, mesmo que fosse tudo besteira, mas ela me deu toda a lição de como o frango deve ser cozido, e chegou à conclusão de que provavelmente não era um inseto, mas mais provável intoxicação alimentar. Não fazia sentido e estava completamente errada, mas eu concordei com ela.

Helen deu um tapinha na minha perna quando voltamos para casa. Ela estava convencida de que deveríamos consultar um médico no caso de o vômito ter algo a ver com o incidente da piscina da véspera, mas eu simplesmente disse que não.

Eles saberiam.

Ela me ajudou a entrar e a sentar no sofá, apressando-se na cozinha para me pegar um copo de água.

— Você quer que eu te ajude a ir para a cama? — Ela perguntou, se ajoelhando na minha frente.

Os dois lindos olhos que brilhavam de volta para mim me surpreenderam por um segundo. Ela estava preocupada, aflita. Eu senti como se ela estivesse quase sentindo a dor que eu estava passando, e estava disposta a fazer qualquer coisa possível para tirá-la.

Esse tipo de cuidado era especial. Era do tipo que apenas pessoas fortes e de bom coração tinham. Eu entrei na vida dela como uma garota da rua. Heath viu algo dentro de mim, algo que nos conectou. Ela nunca questionou, só pulou em todas as chances que tinha em que pensou estar fazendo o certo por mim e tornar minha vida melhor.

Ela não precisava fazer nada, mas fizera tudo. E agora eu precisava ouvir aquelas palavras que ela e Heath haviam falado em várias ocasiões.

Confie em mim.

— Não. E-eu preciso te dizer uma coisa.

Minha garganta entupiu, engasgada com emoção. Apertando com o pensamento do que eu estava prestes a fazer.

A voz de Jay soou na minha cabeça.

Você é muito fraca, com tanto medo do passado voltando para assombrar que não luta pelo seu futuro.

Você vai dizer, a Heath? Vai chamar a polícia? Porque o registro de alguém acreditando em sua merda já é nulo.

Estou disposta a fazer o que tenho que fazer para garantir meu futuro. Podes dizer o mesmo?

— O que há de errado, querida? — Helen perguntou, colocando a mão sobre a minha.

— Eu preciso de ajuda.

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO QUARENTA E UM


Lágrimas brilhavam em seus olhos enquanto ela olhava para mim. Eu contei tudo a ela.

Cada pequeno detalhe.

As notas, as ameaças, o abuso emocional e físico. Mesmo porque eu me mantive quieta. Tudo saiu em um fluxo de emoções, e no final, nós duas estávamos chorando, com lágrimas escorrendo por nossas bochechas.

Eu chorei pela dor que sofri nas mãos dos outros, não apenas com Jay, mas durante toda a minha vida. Eu chorei pela mãe que nunca me protegeu, e o pai que saiu com os jogos que torturavam a minha mente. Eu chorei pelos meus amigos, no frio, ainda lutando todos os dias. E chorei pela menininha lá dentro, que acabara de descobrir o que era o amor verdadeiro.

— Oh, Fable. — Ela estendeu a mão e tocou minha bochecha, suas mãos macias e suaves. As mãos amorosas de uma mãe, que sentiu como se tivesse falhado com seu filho. Um sentimento que nunca conheci até aquele momento. — Nós vamos fazer isso direito.

— Estou tão assustada. — Eu inalei, meu corpo contraindo.

Nem uma vez ela disse “você deveria ter me dito” ou me repreendeu por manter algo tão grande para mim. Ela entendeu o porquê. E agora que tudo estava dito e feito, ela iria consertar isso.

— Precisamos ir para a delegacia. — Disse ela uma vez que ela reuniu seus pensamentos e inteligência. — Vamos dar queixa e obter uma ordem de restrição dela se aproximar de você.

Eu apenas assenti. Eu estava exausta, mas de alguma forma me senti muito mais leve. Livre. A verdade estava fora agora. Saiu dos meus ombros.

— Precisamos contar a Heath. — E lá estava de volta o problema.

— Eu ia contar a ele, mas então essa coisa com o técnico olímpico surgiu, e não queria distraí-lo. Ele precisa se concentrar nisso, não nessa outra situação. — Eu tentei explicar para ela, mas parecia que não estava entendendo. Ela continuava balançando a cabeça, como se eu tivesse tudo errado.

— Fable, Heath se importa com você. Você é tão importante para ele, posso dizer pelo jeito que ele olha para você. Ele precisa saber.

— Como ele olha para mim?

Ela sorriu, era quase caprichoso. — Ele olha para você da mesma forma que o pai dele olha para mim.

Mesmo nunca tendo visto Helen e Arthur juntos, só poderia imaginar o amor que ele sentia por ela. Você poderia dizer o quão grande era o coração dele pelo jeito que ele fala com seus filhos, e pelo jeito que abriu os braços para mim como se eu sempre tivesse sido parte da sua família. Ele me acolheu, assim como Helen fez. Sem perguntas. Sem dúvidas. Não se importando com o meu passado. Apenas querendo compartilhar seu amor comigo.

— Eu não quero atrapalhar o futuro dele.

— A única coisa que vai prejudicar o futuro dele é se você não estiver nele. Então, precisamos resolver isso o mais rápido possível para que não aconteça.

Suspirei e uma dor aguda atravessou meu estômago. — Vamos. Hospital e então delegacia de polícia.

Ela me ajudou a voltar para o carro, assim que entrou, seu celular tocou. Ela passou a mão pela tela antes de segurá-lo no ouvido.

— Docinho. Sim, ela está aqui. Ela não está se sentindo bem, então eu a trouxe para casa. Ok. — Ela segurou o telefone para mim, e eu coloquei no meu ouvido. Helen ligou o carro e entrou na via.

— Ei. — eu disse.

— Você está bem? — Ele perguntou, sua voz rouca, mas preocupada.

Eu engoli em seco, olhando para Helen, que me deu um sorriso tranquilizador. — Sim, vou ficar bem.

— Deixe a minha mãe cuidar de você. Vejo você depois da escola.

— Você tem treino, eu vou te ver depois disso.

Eu praticamente podia vê-lo franzindo a testa. — Fable...

— Heath... — Eu respondi antes que ele pudesse continuar. — Eu vou ficar bem. Vejo você depois do treino.

Houve silêncio por alguns segundos. — Alguém já te disse que você é teimosa?

— Sim, mas aparentemente linda também.

Ele riu e meu corpo relaxou. — Vejo você depois do treinamento.

— Sim.

Enfiei o celular de Helen no suporte que ela havia colocado no painel e me sentei contra o assento.

Em vez do hospital, Helen me levou a um médico particular. Eles me verificaram imediatamente e determinaram que não havia nenhum dano sério nas minhas costelas ou no meu estômago, mais do que provável apenas contusões. O médico nos descreveu um relatório sobre o que ele encontrou e nós saímos novamente, indo para a delegacia.

Nós nos sentamos no carro por um longo tempo antes que eu percebesse para onde estávamos indo. Ela estava me levando de volta para a delegacia onde fui presa. Eu levantei uma sobrancelha quando chegamos e ela sorriu. — Nós vamos conversar com Lena. Eu acho que ela já conhece sua história, então vai nos dar a melhor ideia de como fazer isso.

Na verdade, me fez sentir um pouco melhor. Eu gostei de Lena. Ela me fez sentir segura. Ela me protegeu quando meu pai apareceu para me pegar, e estava esperando que ela fizesse o mesmo agora.

Fomos para a receção e pedimos para falar com Lena. O policial nos disse para esperar enquanto eles descobriam onde ela estava.

Era apenas alguns minutos antes dela sair do elevador e nos ver na sala de espera. — Oi, eu não estava esperando ver você aqui.

Eu tentei sorrir, mas mesmo isso foi uma luta. Lena franziu a testa e olhou para Helen.

Nós precisamos de uma ordem de restrição, e de registrar acusações de agressão e assédio. — Lena pareceu surpresa, seus olhos passaram rapidamente entre nós duas. Ela abriu sua boca, mas pareceu pensar melhor e balançou a cabeça. — Vamos. Eu vou pegar outro oficial e nós podemos fazer um relatório. — Ela gesticulou com a mão para nós seguirmos. Eu coloquei meu braço contra o meu estômago enquanto subíamos no elevador.

Lena me olhou com cautela. — Adivinho que as coisas não ficaram muito melhores desde que te vi na semana passada.

— Pioraram.

Seu rosto entristeceu. — Nós vamos resolver isso. Não se preocupe.

Lena nos colocou em um quarto muito parecido com o que eles tinham me entrevistado quando estive aqui anteriormente, retornando com outro oficial.

— Helen Carson e Fable Campbell, este é o oficial Keller. Ele vai ouvir suas declarações e qualquer outra coisa que possamos precisar.

O oficial Keller apertou nossas mãos. Ele era um homem mais velho, mas sua voz era gentil quando me pediu para explicar o que estava acontecendo. Ele tomou notas e mais uma vez eu contei sobre tudo. Ele fez perguntas aqui e ali, mas na maioria das vezes, ele apenas ouviu e senti-me bem contando para alguém o que vinha acontecendo comigo. Era muito bom ter alguém apenas para me ouvir, como se realmente me ouvisse.

Você se importaria se tirassemos fotos das contusões? — Ele perguntou, apontando para as minhas pernas.

— Eu deixo. Se isso ajudar.

Ele assentiu. — Contusões desaparecem. É bom que tenhamos algum tipo de evidência de que elas estavam lá. Vou tentar ser o mais rápido possível.

Eu balancei a cabeça, e ele enfiou a mão no estojo que trouxera e puxou uma câmara. Levantei-me e virei-me para a parede. Fiquei aliviada quando Lena se aproximou de mim e apertou minha mão, me tranquilizando.

Acabou muito rápido, ele tirou algumas fotos e nós terminamos.

— Então o que acontece agora? — Helen perguntou. Eu tinha certeza de que ela só estava fazendo isso para o meu benefício, pois era bem entendida em qualquer tipo de processo relacionado à lei.

— Nós emitiremos a Jay a ordem de restrição. Vai ser difícil com vocês duas frequentando a escola juntas, então vou recomendar para o resto da semana que você tire uma curta ausência e faça o seu estudo e trabalho em casa, até que possamos arrumar algumas coisas— O oficial Keller explicou. — Eu vou falar com a escola, ver se conseguimos algum tipo de filmagem de segurança para tentar fazer o backup42.

Helen assentiu e olhou para mim. — É um processo.

— Sim, mas vamos fazer isso o mais rápido e sem dor possível. — Ele confirmou.

Lena o acompanhou até à porta antes de voltar e sentar-se à mesa. — Você fez a coisa certa, Fable.

Eu não disse nada. Em vez disso, sentei-me afundado no assento. Era como se cada grama de energia e luta tivesse drenado do meu corpo. Eu estava acabada. — Eu só quero ir para casa.

— Eu sei, querida. — Disse Helen, colocando a mão nas minhas costas. — Vamos para casa.

Lena me surpreendeu quando chegamos às portas da frente da estação, puxando-me para um abraço. Minhas costelas doíam quando passei meus braços em volta de sua cintura fina, mas era esse o contato que eu precisava. — Você é corajosa e é forte. Você é uma sobrevivente e eu espero que outras pessoas possam aprender com você no futuro, e saiba que não há problema em ficar de pé e pedir ajuda. — Ela sussurrou em meu ouvido.

Suas palavras me atingiram no coração. Isso se tornou mais do que apenas enfrentar meus medos. Estava mostrando aos outros que não havia problema em ficar de pé e falar quando havia algo errado.

— Obrigada. —Murmurei de volta, minha voz emocionada e sofrida.

Fiquei feliz que quando chegamos a casa, os meninos estavam treinando, e Flick estava na casa de um amigo trabalhando em um projeto da escola porque eu não estava pronta para enfrentá-los ainda. Foi um longo dia e minha mente estava acelerada. Eu só queria dormir. Eu queria me enrolar e não me mexer. Eu finalmente fiz isso, falei mesmo com tudo dentro de mim gritando contra.

Todos ao meu redor pareciam confiantes de que eu conseguiria passar por isso e sair ilesa ao outro lado, mas não tinha muita certeza. Quando você passava tanto tempo acreditando que sua palavra não valia merda nenhuma, era difícil acreditar que não era verdade.

Eu sabia que isso não era o fim. Jay não ia se acusar e admitir que ela fizera algo errado. Não era o estilo dela. Ela negaria tudo, e eu estava com medo de que, independentemente da evidência de que tivesse que provar que estavam errados, ela ainda tivesse muito poder.

Eu tinha que me lembrar, porém, que não podia deixar alguém como ela crescer pensando que eles estavam acima de tudo. Se ela não fosse parada agora, e se safasse com tudo o que tinha feito, isso a levaria mais longe, alimentando sua atitude de rainha do mundo e as coisas só piorariam.

Se não fosse eu, seria outra pessoa.

Fiquei imaginando quantas pessoas meu pai havia pisado antes que ele finalmente encontrasse a confiança necessária para infligir tanta dor nas pessoas que deveria amar e se importar mais. Quantas vezes ele deixou alguém de joelhos?

Quantas vezes ele tinha se safado? Havia alguém que pudesse tê-lo parado?

Havia alguém como eu que poderia ter se levantado e dito não, não está tudo bem?

Eles poderiam ter mudado minha vida, a vida de minha mãe. Mas eles estavam com muito medo. Como eu estava.

Meu coração bateu com mais força no meu peito e, por um segundo, até me senti sorrindo. Não importa o que aconteça, se seguir adiante mudasse o rumo da vida de alguém para melhor, e impedisse Jay de destruí-los, então toda essa porcaria, tudo pelo que passei, todo dia que passei nesse inferno que me levou a esse momento, teria valido a pena.

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO QUARENTA E DOIS


Estava começando a escurecer quando decidi finalmente descer e encarar o pessoal. Heath logo estaria em casa e Braydon também, e Helen deixara claro que tinham que saber o que estava acontecendo. Ela disse que ajudaria a compartilhar a carga, sentir que tudo não estava nos meus ombros. E depois de compartilhar com ela, Lena e o oficial Keller, eu já sentia que ela estava certa.

Outras pessoas sabiam agora. Não era para eu lidar sozinha. Eles poderiam ajudar, resolver alguns dos problemas e trabalharmos juntos para chegarmos a uma solução. Eu ainda estava com medo do que Heath diria. Amanhã as pessoas da equipe olímpica estavam vindo para vê-lo nadar. Eu sabia que isso iria afetá-lo, mas neste momento eu não tinha certeza do quanto, mas pensando que poderia destruir suas perspetivas futuras porque escolhi esconder meus problemas, agitava meu estômago já dolorido.

Quando cheguei mais perto, pude ouvir vozes elevadas. Elas ecoavam até ao patamar. Eu não conseguia entender o que eles estavam dizendo enquanto estava no topo da escada, mas eu podia perceber o tom baixo da voz de Heath e o muito mais alto de Helen.

Havia outra voz também. Uma muito mais profunda, mais suave. Demorei um minuto para descobrir quem era.

Arthur estava em casa.

De repente, a porta bateu com passos largos e pesados no duro piso de madeira. Ele parou no final da escada e olhou para mim, seus olhos brilharam quando ele segurou o corrimão com força em sua mão. As profundezas do azul que eu amava estavam muito mais escuras.

— Volte lá em cima e ponha um maiô. — Ele ordenou, seus olhos nunca se desviando dos meus.

— Heath...

— Agora, Fable. Encontre-me na piscina. — Ele se virou para ir embora.

— Por quê? — Eu perguntei suavemente, sabendo que ele ainda podia me ouvir no espaço aberto.

Ele congelou, mas não se virou. — Porque você está prestes a ter sua primeira aula de natação. — E ele se foi.

Minha garganta se apertou, e eu me perguntei se deveria voltar para o meu quarto e me arrastar sob as cobertas da minha cama. Mas de qualquer forma, ele me encontraria. Nós teríamos que conversar e evitar o problema só pioraria as coisas. Eu odiava ver Heath tão chateado, tão desapontado e sabendo que tinha feito isso para ele.

Suspirando, voltei para o meu quarto e encontrei o maiô que Helen tinha me dado no primeiro dia em que viemos para cá depois do funeral de Eazy. Eu o coloquei e enrolei uma toalha na minha cintura, descendo as escadas.

A casa estava quieta, mas pude ver Helen em pé nas grandes janelas que davam para a piscina, com a xícara de café em suas mãos. Arthur deu um passo atrás dela, envolvendo um braço em volta da cintura dela e dando um beijo suave em sua bochecha.

— Ele está com raiva. — Eu murmurei, chamando a atenção deles.

— Ele está frustrado. — Disse ela, e se virou nos braços do marido. Ela sorriu para mim. — Ele nada quando está...

— Estressado. — Eu terminei. — Eu sei.

— Como você está se sentindo? — Arthur perguntou. Ele estendeu a mão e tocou meu braço com um toque suave.

— Ok, eu acho. Um pouco dolorida. Eu não achei que você voltaria por um tempo. — Seu sorriso brilhou sob sua barba.

— O resto do mundo pode esperar quando um dos meus filhos está em apuros. — ele disse.

Eu lutei contra o nó na garganta. Suas palavras significam mais para mim do que ele poderia imaginar. Levou dezessete anos, mas finalmente tive duas pessoas, dois pais que estavam dispostos a me colocar em primeiro lugar e lutar por mim. Não importava se eles eram ricos, isso nunca foi algo que eu sonhei. Tudo que eu sempre quis foi que alguém se importasse. E agora eu não tinha apenas alguém, tinha família.

Limpei a garganta e passei ao redor deles, abrindo a porta de correr e saindo para o ar frio da noite. As luzes ao redor da piscina brilhavam na água enquanto eu observava Heath se mover abaixo da superfície.

Andei devagar até à borda da piscina, deixando cair a toalha em uma cadeira enquanto saía. Deixando meus pés pairarem sobre a borda, a água estava fria mas refrescante, depois de um longo dia de drama e autodescoberta. A semana passada aqui tinha sido uma montanha russa de emoções e lições sobre a vida que eu nunca esperei. Eu encontrei dor e amizade, e até mesmo uma parte de mim que eu não sabia que existia.

Mas foi ao encontrar Heath que me salvei.

Meus pés balançaram para a frente e para trás, a água empurrando de volta contra eles. Ele fez sua volta no final da piscina, seus pés empurraram a parede, e ele nadou até onde eu estava sentada. Ele apareceu ao lado dos meus pés, tirando os óculos e limpando o rosto com a mão. A água chegava logo abaixo do peito, que subia e descia rapidamente, enquanto seus pulmões reuniam o ar que haviam buscado.

— Entre. — Ele disse, sua voz agora mais calma.

Eu virei meu corpo e deslizei para fora da borda, segurando firme enquanto me abaixei na água até meus pés tocarem o fundo. Uma olhada por cima do meu ombro, para o seu rosto me disse que ele tinha visto a destruição que Jay tinha me feito, e seu rosto rapidamente endureceu novamente. Mas quando ele baixou o corpo ainda mais na água, a tensão nele pareceu se soltar.

Eu sabia agora porque ele me chamou para aqui. Era o lugar dele e, quando estava na água, encontrava a paz.

Ele se aproximou das minhas costas e colocou as mãos nos meus quadris, me afastando da segurança da borda da piscina. Eu poderia tocar no fundo, mas eu ainda não gostava disso, sabendo que se ficasse por baixo, isso me sufocaria.

— Eu estou bem aqui. — Ele disse baixinho, lendo meu receio. Eu flutuei suavemente, a água levantou meu corpo para o topo por alguns breves momentos antes de afundar novamente. — Lição um, flutuar.

Uma leve risada me escapou. — Bem, parece que já estou falhando. — Não importa o quanto eu empurrava, meu corpo ainda afundava de volta ao fundo.

— Deite-se. — Ele ordenou. Uma de suas mãos subiu para a parte de trás do meu pescoço, e eu me forcei a inclinar para trás. O conforto do seu toque retornando. A outra mão empurrou minha parte inferior das costas, forçando meus pés a subir e meu corpo a cair para trás.

Eu entrei em pânico. Agitando-me contra ele e a água até meus pés estarem firmemente de volta ao chão. Minha respiração ficou mais rápida, mais dificil.

— Fable... — Seu corpo veio contra o meu, sua boca no meu ouvido e seus braços se movendo ao meu redor para me segurar perto dele. — Você está assustada?

Aquelas palavras. As mesmas que ele usou quando estávamos aqui pela primeira vez. Quando ele me segurou, usando sua própria força para nos manter à tona.

Eu respondi da mesma maneira que eu tive então.

— Não realmente. — Eu me pressionei contra ele, virando a cabeça e aconchegando a mandíbula dele.

— Por que não?

A resposta ainda era a mesma. — Porque eu confio em você.

Ele me permitiu alguns momentos antes de se afastar, suas mãos voltando aos lugares que estavam antes. Ele guiou meus quadris mais uma vez, empurrando-os para a superfície enquanto ele segurava meu pescoço.

— Quando você está na água, você afunda porque seu corpo está em linha reta para cima e para baixo como uma vara. — explicou ele enquanto eu lentamente comecei a levantar até ao topo, minha cabeça para trás, olhando para o céu. — Quando você se deita de costas, a superfície do seu corpo fica mais aberta, então você flutua para a superfície em vez de ser puxada para o fundo.

A água espirrou suavemente nas minhas bochechas e meus pés finalmente romperam a superfície. As mãos de Heath lentamente saíram do meu corpo e logo ele não estava me tocando. Ele ficou ao meu lado e, enquanto sorria, eu também sorri.

Eu estava flutuando.

Podia não ser muito, mas era alguma coisa.

Sua lição foi aprendida, e depois de um minuto ele ajudou a baixar meus pés de volta ao chão da piscina. Ele usou a mão para afastar os fios molhados que estavam presos no meu rosto. — Isso não era tudo sobre uma aula de natação, era?

Sua mão segurou meu rosto. — Você tem que ser capaz de se espalhar se não quiser que a água a arraste para baixo. Quando você está sozinha, é difícil não afundar. São seus amigos e sua família que você confia para ajudá-la a cobrir mais a superfície e mantê-la à tona.

— Eu não sei se isso é incrivelmente brega, ou seriamente incrível.

Ele chegou mais perto, inclinando a cabeça para que seus lábios tocassem os meus. Ele me beijou. Era suave e lento e exatamente o que eu precisava agora. Minha mente estava em todo lugar hoje. Eu estava começando a me perguntar como consegui me manter calma por tanto tempo.

Eu acho que não consegui realmente. Eu chorei muito.

Mas com Heath, parecia que nada disso importava agora. Ele estava aqui.

Ele nos moveu ao redor da piscina, balançando suavemente contra a água, nossas testas mergulhadas juntas.

— Eu gostaria que você tivesse me dito. Eu gostaria de ter parado antes que ficasse tão ruim. — Ele admitiu. Eu podia ouvir a tensão em sua voz. Como se machucasse ele pensar em mim passando por tanta coisa sozinha.

— Eu sei. Eu sinto muito. — eu disse.

Acho que ele sabia que não precisava dizer mais nada. O que aconteceu, aconteceu, e agora que as pessoas sabiam e eu estava compartilhando a carga, eu só esperava que nada pudesse me derrubar.

Foi quando Braydon saiu pelas portas da casa momentos depois que soube que Heath não era o único a quem eu devia uma desculpa. Braydon gostava de rir. Ele era como uma bola de energia que às vezes parecia impossível parar de pular. Então você sabia que quando o rosto dele não tinha um sorriso, a merda era grave.

— Oi Bray. — eu pronunciei suavemente, virando nos braços de Heath, então ele estava em minhas costas.

— Eu não sei se estou com raiva ou aliviado. — Ele comentou, chegando para a borda.

Heath bufou. — Junte-se à festa.

— Você está bem? — Ele perguntou seriamente.

Eu assenti. — Eu estou agora.

— Bom, porque eu tenho uma bandeja de ovos na geladeira que iria usar para fazer omeletes. Mas, em vez disso, digo que vamos atirar ovos à casa dela. — Ele sorriu e, de repente, o Braydon que eu conhecia estava de volta.

Ele se importava. Todos eles se importavam. E isso significava não estarem chateados por eu mentir, mas sim estarem felizes por que eu estava bem.

 

 

 

 

CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS


Heath teve sua sessão com os treinadores olímpicos na tarde seguinte. Ele arrasou e fiquei tão aliviada. Arthur estava em casa e foi com ele. Todos discutiram seu potencial e disseram que entrariam em contato muito em breve. Ele teve que sair no dia seguinte para voltar ao trabalho, mas eu apreciei o que ele tinha feito para voltar e me apoiar, e ao Heath.

Heath tentou fazer parecer que não era nada, mas isto era tudo para ele, era o seu futuro. Um futuro que ele fez por conta própria através do seu trabalho duro e persistência.

Eu estava orgulhosa dele.

Heath e Bray disseram que Jay não estava na escola. Havia rumores sobre o que estava acontecendo. Eu acho que as pessoas não eram tão alheias à tensão entre nós duas como eu pensava. E com nós duas ausentes, a fábrica de boatos estava correndo solta, mas até agora não havia ocorrido nenhum acontecimento.

Apesar de ela aparentemente estar como AWOL43, tirei a semana inteira de folga, fazendo o trabalho da escola por meio de e-mails de professores e com as anotações basicamente ilegíveis de Braydon.

Com a chegada da noite de sexta eu estava animada. Braydon havia prometido ir buscar Layla no sábado e trazê-la aqui para o fim de semana. Eu me senti horrível por não a ter visto, mas com tudo o que estava acontecendo com Jay, Helen disse que era melhor se ela viesse até nós, em vez de correr o risco de ir até lá e possivelmente dar algum tipo de defesa a Jay.

Eu sabia que Layla entenderia e, se algo estivesse errado, ela me encontraria.

Meu telefone, que os meninos e Helen exigiram que eu tivesse comigo, zumbiu debaixo do meu travesseiro. Eu bati nele, desejando que calasse a boca. O corpo quente de Heath estava bem contra minhas costas nuas, o sentimento reconfortante me embalando de volta ao sono.

Quando o telefone começou a zumbir de novo, eu o tirei, pronto para jogá-lo contra a parede para calar a maldita coisa. Mas quando vi a foto de Flick iluminando a tela, eu rapidamente cliquei atender.

— Espera. — Eu sussurrei, lentamente me soltando dos braços de Heath e me arrastando para fora da cama. Eu me virei e verifiquei que ele ainda estava dormindo antes de entrar no banheiro na ponta dos pés e fechar a porta.

— Flick? — Eu perguntei baixinho.

— Fable... — Os soluços dela me fizeram ficar mais ereta. — ...eu preciso de você.

— Onde você está? — Eu perguntei com urgência, minha mente já correndo. Ela foi para a cama mais cedo, onde diabos poderia estar, e como eu poderia chegar lá.

— Eu estou naquela festa que Heath e Bray estavam falando. — Ela fungou um pouco mais alto, e eu ouvi alguém sussurrando baixinho para ela: — Você pode vir me pegar, por favor? Não conte aos rapazes.

Houve uma grande festa planejada esta noite, mas nem Heath nem Braydon tiveram vontade de ir. Eles disseram que a pessoa que possuía a casa não era alguém com quem se davam bem, e se eles fossem, seria apenas para criar problemas. Problemas que nenhum de nós precisava agora.

— Felicity, eles disseram que haveria problemas. O que diabos você estava pensando? — Um soluço alto ecoou dentro do telefone, e eu imediatamente me arrependi de ter gritado com ela. — Ok, querida, me desculpe. Eu estou indo, ok?

Ela me deu o endereço e desligou.

Eu sabia que não precisaria disso, porque, por mais que ela quisesse que mantivesse isso escondido de Heath e Bray, eu não estava disposta a fazê-lo. Eu aprendi minha lição sobre esconder coisas. Isso só piorou os problemas. Infelizmente para Flick, ela estava prestes a aprender da maneira mais difícil, assim como eu fiz.

Eu mantive sua coisa secreta por tempo suficiente, e só porque parecia que as coisas tinham acabado. Mas eu estava começando a me perguntar se talvez não tivesse feito isso, se ela não queria me lembrar de seu pequeno segredo significaria que não havia acabado. Acendi a lâmpada ao lado da cama e sacudi Heath. Levou um minuto, mas logo ele estava esfregando os olhos e olhando para mim.

— O que está errado?

Eu puxei meu moletom sobre a minha cabeça. — Sua irmã foi para aquela maldita festa e acabou de me ligar em lágrimas. Precisamos ir buscá-la agora mesmo.

Ele estava fora da cama antes de eu terminar a minha frase, puxando sua calça jeans. — Precisamos pegar o Bray.

— Por quê? — Eu perguntei, seguindo-o enquanto ele caminhava pelo corredor.

Ele parou na porta de Braydon. — Porque essa era a festa de Eli Sampson. Nós não temos exatamente o melhor relacionamento com ele, e suas festas são notórias por ficarem fora de controle.

Ele chegou e ligou a luz de Braydon. Eu o ouvi resmungar um irritado: — Que porra, cara?

— Flick está em apuros. Levante-se. — gritou Heath

Eu gemi baixinho. — Eu acho que este é um momento ruim para mencionar que Flick está namorando um cara chamado Eli?

O olhar no rosto de Heath era uma mistura de choque e raiva. — Ela tem feito o quê?

— Ela está se esgueirando por aí. — Eu esfreguei o meu rosto. — Eu não sabia por que era tão importante esconder esse cara, mas agora eu entendo.

Heath tinha os punhos cerrados quando Braydon apareceu na porta, vestindo uma camiseta. — O que está acontecendo?

— Nossa irmãzinha aparentemente está namorando Eli. — Heath gritou com seus olhos não parando de me observar. Eu me contorci sob o olhar dele.

Braydon riu. — Sim, tudo bem. Isso é uma piada de mau gosto. — Ele olhou para mim, mas eu apenas balancei a cabeça negativamente.

— Você pode explicar no caminho. — Disse Heath rudemente, agarrando minha mão enquanto corríamos para seu carro. Nós retiramos o carro, e ele olhou para mim. — Não é longe, então você precisa falar rápido.

Suspirei. — Eu pensei que era inocente. Ela estava mandando mensagens para um cara. Eu percebi que era uma paixão. Eu peguei ela voltando para casa no sábado depois de vê-lo. E no domingo ela foi e se encontrou com ele.

Eu poderia dizer que Heath estava lutando para manter tudo com calma. Ele estava com raiva. Não, furioso.

— Eu sinto muito. Eu deveria ter te contado, mas não sabia quem ele era, e prometi a ela que não o julgaria até o conhecer. Isso é algo que as pessoas nunca me deram, então eu estava dando a ela o benefício da dúvida de que sabia o que estava fazendo. — Fiquei quieta pensando em minhas palavras. Por mais que eu quisesse agora, deveria ter dito a ele o que estava acontecendo. Eu fiz o que senti ser a coisa certa.

— Não importa agora. — Disse Braydon do banco de trás. — Espero que você esteja preparada para esta tempestade de merda.

— Qual é o negócio de vocês? Por que vocês o odeiam tanto? — gritei dentro do carro.

— Porque ele é o cara que deixou Anton viciado em medicamentos prescritos. — Me respondeu Heath.

De repente as palavras que Heath disse sugaram o ar dos meus pulmões.

— O quê? — Eu senti que não podia respirar. — Como você... — Eu podia ver o rosto de Eazy em minha mente, observando-o tão quebrado, tão abatido. Ele tinha feito suas próprias escolhas, e ele pagou as consequências de uma maneira que não merecia. Eu tentei me concentrar, mas meu coração estava acelerado.

— Eli costumava ir a Diamond Cross. Nós estávamos na equipe de natação juntos. Ele costumava ficar bem, um pouco louco, mas isso não me incomodava tanto. — Explicou Heath enquanto ele navegava o carro pelas ruas. — Eu peguei ele usando e disse ao nosso treinador. Eles encontraram comprimidos em seu armário e ele foi expulso.

— E agora ele está usando Flick para se vingar de você.

As peças finalmente se encaixaram, e meu pequeno ataque de pânico se transformou em algo muito mais. Fúria.

— Não por muito mais tempo, porque eu vou matá-lo. — Gritou Heath.

— Não se eu chegar lá primeiro. — Eu respondi mentalmente.

As ruas estavam cheias de carros, e eu podia sentir o barulho alto da música através das janelas quando Heath parou na mesma rua.

— Encontre Flick e nos encontraremos com você no carro. —Ordenou Heath enquanto descíamos e corriamos em direção à casa.

— Heath. Você precisa ser esperto, não faça nada estúpido. — Eu tentei raciocinar. Braydon estava quieto, mas o olhar de determinação no rosto dele me disse que os dois estavam indo à procura de problemas.

— Encontre Flick. — Ele disse novamente quando eles foram para a casa, desaparecendo pelas portas da frente.

Eu parei na frente da casa, a brisa fresca refrescando minha pele enquanto examinava a enorme varanda da frente e os degraus. A casa seria bonita se não fosse pelos adolescentes espalhados por toda a parte e garrafas e outros itens diversos espalhados pelo gramado.

O gramado estava destruído.

— Fable! — Um corpo veio até mim das sombras, e quando chegou mais perto, eu passei meus braços ao redor dela com força percebendo que era Flick e a puxei. Ela chorou agarrada em minha camiseta, segurando o material em seus dedos. Uma das suas amigas que eu reconheci da escola se aproximou por trás dela, seus olhos estavam olhando ao redor cautelosamente. Ela parecia assustada.

Minhas mãos esfregaram as costas de Flick para cima e para baixo, e eu tentei dar à outra jovem um sorriso tranquilizador. — Está tudo bem.

— Eu quero ir para casa. — Ela fungou.

Colocando minhas mãos em seus ombros, empurrei-a para trás, ela resistiu, mas eu precisava dar uma boa olhada nela. Quando ela finalmente me soltou, sua cabeça baixou e ela recuou. O vestido que ela usava estava rasgado no ombro, a correia fina pendendo para baixo. Seu cabelo estava uma bagunça, seu rabo de cavalo não mais apertado, mas pendurado no lado como se tivesse sido puxado.

A raiva começou a se construir novamente. — Diga-me o que aconteceu. — Eu exigi.

Ela desviou o olhar. — Eu só quero ir para casa.

— Fable?

Uma voz que reconheci me chamou da escada. Eu olhei contra as luzes brilhantes da varanda, era Payton que deu um passo à frente, correndo até nós pelo passeio. — Acabei de ligar para o Lucas para vir me buscar. Este lugar é maluco. Heath disse que eu deveria pedir a Lucas para levar vocês para casa?

Um estrondo alto de vozes animadas aumentou de dentro da casa, seguido por outro estrondo que soou terrivelmente como uma janela sendo quebrada. — O que diabos está acontecendo lá?

— Você trouxe Heath com você? — Os olhos de Flick se arregalaram. — Eu lhe disse para não os trazer.

— A maioria dessas crianças é da East Street. — Explicou Payton. — As coisas estão sendo destruídas, e eu vou adivinhar que não vai demorar muito até que a polícia apareça. — Explicou ela, olhando por cima de Flick com uma expressão preocupada.

— Isso foi Eli, Flick? — Eu apontei para seu vestido e seu cabelo desarrumado.

— Por que você os trouxe? — Sua voz soou magoada.

— Isso foi por causa de Eli? — Eu exigi, minha voz severa e meu corpo tenso. Ela apertou os lábios, recusando-se a responder-me.

— Ele tentou levá-la para cima. — Sua amiga explicou suavemente. Ela olhou para Flick com olhos tristes. — Quando ela disse não, ele rasgou o vestido e agarrou-a pelos cabelos. Eu a puxei para longe, mas ele jogou nós duas no chão.

Flick estremeceu, mas ainda não falou. Eu estava furiosa agora. Desde que eu era pequena, vendo meu pai vir para atacar a minha mãe com uma mão pesada, sempre me fez jurar que nunca me deixaria ser tratada dessa maneira. Nem eu deixaria que, alguém com quem me importasse, ficasse sujeito a isso. Eli não tinha o direito de tocá-la como tinha feito, e eu ia me certificar de que ele sabia disso.

— Payton, você pode ficar com elas até Lucas chegar aqui? — Eu perguntei

— Fable, não acho que seja uma boa ideia entrar lá. — Ela respondeu nervosamente. Nós duas olhamos para a casa quando ouvimos outro eco estrondoso responder de dentro da casa. — Heath disse que você precisava ir para casa com a gente.

Eu não dava a mínima, porém, Flick se tornou minha família. Onde meu próprio sangue falhou em me proteger, eu não estava prestes a falhar com ela.

— Fable, por favor. — Implorou Flick, agarrando meu braço.

— Fique com Payton. — Eu pedi, puxando meu braço de seu aperto firme e indo em direção à casa. Eu podia ouvi-la chamando atrás de mim, mas não me importei. Esse imbecil estava prestes a perceber que nem toda garota iria se deitar e pegar sua besteira misógina44. E talvez, apenas talvez, possa fazê-lo pensar duas vezes na próxima vez que pensar em colocar a mão em uma garota indefesa.

Eu esperava que Bray e Heath não o tivessem encontrado ainda, porque tinha contas para acertar, por Flick, por Eazy e por mim.

 

 

 

 

 

 

 


CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO


Havia pessoas em todos os lugares quando entrei na casa, algumas bebendo e rindo, algumas discutindo no corredor. Duas garotas dançavam na mesa da sala de jantar, os pés amassando e arranhando a madeira lindamente envernizada.

Era uma casa que não duvidei ser impressionante, antes de quem morava nela convidar quase duzentos adolescentes para destruí-la.

Saindo para a grande área de entretenimento do lado de fora, eu olhei para o espaço ao meu redor. Era um longo deck de madeira que percorria toda a extensão da casa. Havia várias mesas montadas, todas com pessoas sentadas ao redor e garrafas sendo empilhadas até ao topo. Dois aquecedores altos de pátio estavam em cada lado das portas bi-dobráveis , aquecendo o ar um pouco frio com chamas suaves.

Eu não tinha ideia de quem estava procurando, nunca encontrei Eli ou vi uma foto, então fiquei aliviada quando vi um rosto familiar ao pé de uma escada que levava a um vasto quintal. O lugar estava lotado.

— Liam. — Eu chamei, buscando ter sua atenção para longe do grupo de caras com quem ele conversava. Ele pareceu surpreso ao me ver e se desculpou, correndo pelas escadas.

— Fable, não esperava ver você aqui.

— Foi uma coisa de última hora. — Eu respondi. — Eu preciso que você me mostre a direção em que Eli se encontra.

— Sampson? — Ele perguntou. — Por quê?

— Porque ele machucou as pessoas que me importam.

Liam esfregou o rosto. — Eu disse a ele para não mexer com Felicity.

Eu congelei. — Você sabia?

Ele pareceu se afundar um pouco. — Sim. Eli é um amigo. Eu não aprovo toda a merda que faz, mas me ajudou algumas vezes, e eu devo muito a ele.

Minha boca ficou seca e tentei engolir. Limpando minha garganta, finalmente consegui perguntar: — Você sabia que foi ele quem deu a Anton as pílulas? — Me senti estranha em usar o nome verdadeiro de Eazy, mas não tive tempo de explicar a merda. Eu só queria saber e queria saber agora.

Ele abriu a boca para falar, mas foi interrompido por outra voz. — Claro, ele sabia. Ele era o único que estava fornecendo para Eli. — A voz de Heath me gelou quando se aproximou de mim e colocou a mão no meu quadril. Eu olhei para a mão dele. Ela estava danificada e inchada, então entendi que era tarde demais para ter um pedaço de Eli. Heath me arrastou de volta para que meu corpo estivesse nivelado com o dele. Eu não tinha certeza se era uma manobra protetora ou possessiva. Mas no momento, minha mente não se importava.

Meu coração tomou conta e doeu.

Os olhos de Liam olharam por cima da minha cabeça para Heath, depois para o lado onde Braydon apareceu. Liam ficou quieto, nem confirmando nem negando a acusação. Mas eu não estava prestes a deixá-lo escapar com isso.

— Isso é verdade? — gritei.

Ele não olhou para mim, mas assentiu. — Sim. Mas eu não faço essa merda agora.

Meu corpo reagiu. Eu tentei seguir em frente, mas Heath me segurou contra ele.

— Ele foi expulso de casa por causa dessas drogas. Ele morreu. Ele morreu tentando me proteger. — Eu gritei enquanto lutava contra o aperto da mão de Heath.

— Eu não sabia que Eli estava dando para ele. Não pretendia ir tão longe. — Ele se defendeu, parecendo magoado, como se a culpa do que havia acontecido com Eazy pesasse sobre seus ombros. Bom. Eu queria que doesse. Eu queria que ele sentisse a dor do que suas ações causaram.

Eu ouvi mais um vidro sendo quebrando de dentro da casa. As pessoas gritavam, mas meu foco permaneceu em Liam.

— Eu pensei que nós éramos parecidos. Eu pensei que você me entendia. Mas nós não somos nada parecidos. Eu nunca...

— Machucaria alguém? — O som de sua voz fez meu corpo tremer. — Isso é coisa de rico, considerando que a única razão pela qual você está aqui é porque você esfaqueou seu próprio pai. — Jay parecia se materializar para fora da escuridão, com uma grande garrafa de vodka em suas mãos.

Incrível, acho que esta festa estava prestes a começar.

As pessoas pararam suas conversas. Eles estavam se aproximando da nossa interação, tentando ouvir o que estava acontecendo sobre o som alto da música.

— Dê o fora daqui, Jay. — Heath gritou. — Você e eu vamos ter uma conversa, mas estou guardando isso para outro dia... outra hora.

— Por quê? Para protegê-la? — Ela também gritou. Cambaleou em seus pés, e eu sabia que estava completamente bebada. — Você se importava comigo. Nós tínhamos algo, um futuro, e você jogou tudo fora pulando na cama com uma garotinha assustada.

— Isso é o suficiente. — ele espondeu secamente. Suas mãos segurando-me, mantendo-me presa a ele. — Eu não dei a mínima para você. Isso foi tudo na sua cabeça. Você trouxe isso para si mesma. E agora você não é mais do que uma valentona e uma pirralha mimada.

— Isso é uma mentira. — Ela gritou, pegando a garrafa de vodka pelo pescoço e jogando-a na parede. Infelizmente a garrafa atingiu o aquecedor externo e uma bola de fogo explodiu. Houve um grito que parecia único vindo da multidão quando o fogo engolfou a decoração de madeira. As pessoas correram para escapar das chamas, passando pelo aquecedor do pátio. Ele balançou para a frente e para trás e começou a cair.

Heath me empurrou para a frente. Liam conseguiu me pegar antes que eu caísse no chão e começou a me arrastar. As pessoas ainda estavam gritando. Então aconteceu um barulho alto, e senti uma explosão de calor queimar na parte de trás do meu corpo.

— O que está acontecendo? — Eu perguntei freneticamente quando Liam me ajudou a ficar de pé. Eu tentei entender o caos que estava acontecendo ao nosso redor quando as pessoas começaram a correr.

— Está pegando fogo, precisamos ir. — Liam chamou por cima da confusão. Sua voz era nervosa quando ele puxou meu braço.

Eu me virei, procurando por Heath e Braydon. Mas ele estava certo, a superfície de madeira já estava em chamas.

— Heath! — Eu gritei.

— Fable, saia. — Eu o ouvi chamar de volta, mas eu não podia vê-lo através da grande quantidade de pessoas e do incêndio que estava rapidamente começando a se espalhar.

— Vá! — Liam me empurrou, e nós conseguimos entrar pela porta, as chamas do primeiro fogo já rastejando ao longo do topo do quadro. Meu corpo foi empurrado e machucado quando duzentos adolescentes tentaram escapar das chamas passando por nós. A mão de Liam escorregou da minha e fui empurrada para o chão. Eu podia ouvi-lo chamando por mim, mas ele estava sendo empurrado para fora. Ele não podia lutar. Alguém mais me agarrou e me arrastou por um corredor, eu tentei ficar de pé, mas a pessoa continuou puxando, o carpete do chão estava arranhando minhas costas enquanto a minha camisa subia.

— Nós temos que sair. — Eu gritei. Mas quando virei a cabeça para ver quem estava me puxando, as madeixas descoloradas me disseram que eu estava com mais problemas do que pensava. Ela me puxou para um pequeno escritório, jogando meu corpo no chão e batendo a porta atrás de mim e trancando a fechadura.

— Nós não terminamos. — Ela gritou quando se virou para mim, suas feições contorcidas em uma espécie de fúria que eu nunca tinha visto antes.

— Nós vamos morrer! — Eu gritei de volta, tentando me forçar a ficar de pé. Havia apenas uma pequena janela no escritório, uma retangular que ficava no alto.

— Você não pode simplesmente entrar aqui e tirar tudo de mim. — Ela gritava.

Eu gemi quando me levantei, puxando minha roupa de volta ao lugar. — Eu não peguei nada.

— Você fez. Você levou Heath. Minha mãe e meu pai se separaram seis meses atrás. Minha mãe está sempre viajando, então tive que viver com meu pai. — Sua respiração era pesada e dura. — Meu pai não ganha muito dinheiro, então tivemos que arrumar uma casa bem menor. Tudo mudou e a única coisa que me restou foi Heath.

Tantas coisas faziam sentido agora, incluindo seu desespero para mantê-lo.

O salário do chefe de polícia não podia competir com a de uma supermodelo, por isso seu estilo de vida havia mudado dramaticamente. Percebi que todo esse esforço era sua última tentativa de manter as coisas do mesmo jeito. Ela queria segurar Heath porque isso significava que ela ainda seria considerada como tendo uma certa quantidade de status em um mundo que estava perdendo lentamente. Não era uma desculpa, mas fazia sentido.

Eu podia ouvir as sirenes agora, e o disparo de alarmes dentro da casa por causa da fumaça.

— Jay, me desculpe, sinto muito pela sua mãe e o que está acontecendo, mas não podemos fazer isso aqui. A casa está em chamas. Nós vamos morrer se ficarmos aqui. — Eu estava nervosa, mas tentar argumentar com uma pessoa louca não é exatamente fácil, especialmente quando o tempo não está do seu lado.

Lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. — Eu quero minha vida de volta. Eu quero minha mãe de volta. Eu quero a minha casa de volta. Eu quero Heath de volta.

Houve um forte estrondo e nós duas caímos no chão, gritando. Ela estava caída, chorando e soluçando no chão.

— Você pode ter sua vida de volta. Você só tem que lutar por isso. E agora, isso significa tentar sair dessa casa antes que nós duas percamos nossas vidas para sempre. — Eu pulei e corri até à pequena janela. Era muito alta, então comecei a olhar em volta. Eu precisava de algo em que pudéssemos ficar.

— A mesa. — Disse Jay, empurrando-se do chão. — Podemos empurrá-la para baixo da janela e subir nela para pularmos.

Corremos até à grande mesa do escritório. Tinha um computador e estava coberta de papéis e arquivos, mas nós jogamos tudo de cima para o chão, sem nos importar quando a tela quebrou.

De pé em uma extremidade, nós duas empurramos. Era pesada, mas lentamente começou a se mover.

Eu engasguei e gaguejei. Estávamos respirando pesadamente enquanto nos esforçávamos para mover o grande móvel de madeira. A fumaça estava enchendo a sala mais rápido, e com a gente em pé e nos esforçando estávamos tomando mais e mais em nossos pulmões daquela fumaça.

Eu estava lutando para respirar.

Eles sempre diziam para você se abaixar do fogo porque a fumaça subia para o telhado, mas com a nossa única opção para escapar de uma janela alta, tínhamos que nos arriscar a sufocar se quiséssemos ser livres.

Conseguindo pegar a mesa parcialmente abaixo da janela, nós duas subimos nela. A fumaça queimou meus olhos, eles picaram e começaram a regar. Nós duas estávamos tossindo, tentando cobrir nossas bocas com nossas camisas enquanto lutávamos com as fechaduras.

A pequena janela não se abria muito, mas seríamos capazes de passar por uma de cada vez. Eu coloquei minha cabeça para fora. Eu podia ouvir as pessoas e ver luzes piscando preenchendo a escuridão.

— Ajuda. — Eu gritei no topo da minha voz. Não houve resposta. — Socorro!

Nós estávamos muito longe e havia muita coisa acontecendo. Ninguém podia me ouvir.

O chão não estava muito longe, então teríamos que arriscar. Um braço quebrado era melhor do que sufocar até à morte.

— Vamos!

Jay não falou duas vezes. Era uma janela comprida, por isso era fácil passar de lado e esperávamos que pudéssemos segurar-nos com as nossas mãos e cair no chão. Jay colocou sua perna primeiro, depois um braço e metade do corpo dela. Quando ela levantou a outra perna, ela empurrou de volta.

A fumaça estava em meus olhos e afetando todos os meus sentidos. Minha mente não conseguia descobrir o que estava acontecendo até que seu pé se conectou com o meu corpo e me derrubou. Já me sentindo tonta e desorientada, caí de costas.

O vento foi derrubado dos meus pulmões quando meu corpo atingiu o chão. Eu suspirei.

Tentando freneticamente preenchê-los novamente.

Eu estava caída na água novamente e estava me afogando.

Eu a ouvi falando enquanto subia pela janela. Sua voz arranhada da fumaça. Ela parecia tão longe. — Você está certa. Eu preciso lutar pela vida que eu quero, pela vida que tive antes. E nessa vida você não existia.

Mais uma vez, eu a subestimei. Ela era louca. Ela perdeu a cabeça. Ela não se importava com quem machucava no caminho para o topo. E ela faria o que fosse necessário para chegar onde queria.

Incluindo deixar-me nesta sala para morrer.

 

CAPÍTULO QUARENTA E CINCO


Eu não conseguia me mexer. Olhei para o tecto enquanto a fumaça enchia a sala e começava a descer.

Estava demasiado quente. Eu estava suando profundamente enquanto meu corpo lutava para se manter calmo. Era uma batalha perdida. O fogo estava chegando, e minha única esperança agora era que desmaiasse diante da quantidade de fumaça que estava inalando, bem antes que a chama me queimasse.

Eu mal estava ciente da dor que estava passando pelas minhas costas. Talvez tenham sido quebradas.

Eu só sabia que me sentia pesada. Meu cérebro não conseguia descobrir como se levantar. Estava nebuloso e confuso.

Antes das últimas semanas, eu provavelmente teria apenas ficado aqui. Contente com o fato de que minha luta na vida foi feita. Eu fui torturada, espancada, manipulada e intimidada. Eu tinha passado pelo inferno e voltado em mais de uma ocasião. Eu teria ficado bem em desistir, não ter que viver outro dia seria quase um presente porque, na minha cabeça, as coisas nunca iam melhorar.

Mas elas melhoraram.

Eu encontrei Heath.

Eu encontrei dois pais que me acolheram e me trataram como se fosse deles.

Eu encontrei uma família que estava disposta a fazer o que fosse necessário para tornar minha vida melhor.

Eu encontrei meus amigos, um lugar que eles poderiam ir para chamar de lar. Então eles não teriam que lutar mais.

Eu encontrei o amor.

Amor incondicional e verdadeiro.

Eu encontrei o meu melhor.

E agora que eu podia ver e sentir, não podia desistir.

Às vezes você tem que saber que há algo melhor lá fora para você lutar por isso.

Lágrimas escorriam pelas minhas bochechas.

Tentei dizer a mim mesma que tinha lutado muito para perder tudo agora. Eu precisava ficar acordada e respirar o máximo de ar possível.

— Ajuda! — Eu gritei, sufocando, enquanto meus apelos desesperados enchiam o quarto. O gosto da fumaça na minha boca me fez querer vomitar.

Eu ouvi um barulho de dentro da casa. Talvez estivesse desmoronando. Eu tentei de novo. — Ajuda!

Tentei me mover e consegui rolar para o lado, mas todo o meu corpo gritou de dor.

Eu estava ficando tonta e as coisas estavam começando a desaparecer.

— Ajuda!

— Fable. — A voz de Heath limpou a escuridão na minha cabeça. Ou talvez a escuridão tivesse assumido, e eu acabei de ouvir o que queria ouvir. — Fable, eu estou indo. — Sua voz estava vindo de fora da janela. Ela era real. Ele estava lá.

Eu sabia que ele nunca seria capaz de passar por aquela janela. — A janela é muito pequena. — Eu gritei.

Eu podia ouvir outras vozes. — Ela está no escritório. Podemos passar pela porta lateral para a cozinha.

Era a voz de Liam.

— Crianças, se afastem da casa. — Uma voz profunda explodiu.

— Vá. — Liam gritou.

Parecia haver muita atividade agora. Pessoas gritando ordens, passos pesados na lateral da casa. Passaram alguns segundos e houve pancadas na porta.

— Fable desbloquea a porta. — Heath chamando através da madeira.

— Eu não posso me mover. — Eu gritei de volta. Eu podia sentir minhas pernas agora, mas meu corpo inteiro ainda se recusava a mover-se. — Eu não posso ficar de pé.

Houve tosse e vozes.

— Nós temos que quebrar isto.

— Com o quê? — Braydon.

— Heath, não faça isso! — Alguém gritou.

De repente houve um estrondo alto. A porta se abriu, batendo contra a parede, e Heath voou pelo espaço. Seu corpo estava curvado e ele estava segurando o ombro.

— Filho da puta. — Ele amaldiçoou. Seu braço pendia frouxamente ao seu lado. Ele usou isso para romper. Seus olhos finalmente encontraram os meus e ele caiu de joelhos. Braydon e Liam correram atrás dele, cobrindo a boca com as camisas e tentando se abaixar até o chão.

— Vamos. — Exclamou Braydon.

— Meu braço está machucado. — Disse Heath.

— Eu vou levá-la. — Liam correu e passou seus braços debaixo do meu corpo, continuei gemendo quando ele me levantou do chão. — Vamos.

Braydon foi em frente e Heath correu atrás de nós. Quando saímos do corredor, percebi o quão perto eu estava de me queimar. O fogo praticamente lambeu nossa pele enquanto engolia as paredes do corredor. Nós viramos na direção oposta, porém, deslizando por outra porta que levava a uma lavanderia e depois para a cozinha.

Dois bombeiros ficaram do lado de dentro da porta, eles nos orientaram quando entramos correndo pela porta da cozinha e saímos em um caminho que levava para o lado da casa e para o jardim da frente.

O ar fresco fazia cócegas na minha garganta e nos meus pulmões, eu lutava para conseguir o máximo de ar possível, mas isso só me fez tossir ainda mais.

— Leve-a para a ambulância. — Uma voz profunda gritou por trás de mim.

Eu avistei a casa. Ela iluminou o céu noturno com um brilho laranja brilhante. Bombeiros correram para todos os lugares, alguns seguravam grandes mangueiras, fazendo o que podiam para acalmar o fogo. Havia pessoas espalhadas por toda a parte. Alguns deitados na grama, longe da casa, outros sentados no passeio, segurando máscaras de oxigênio em seus rostos. Houve gritos e choros e devastação em todos os lugares.

Liam me levou correndo para uma das muitas ambulâncias e um paramédico rapidamente limpou a maca.

— Ela estava presa dentro da casa. — Explicou Heath, chegando ao meu lado, ainda segurando o braço em seu corpo. — Ela disse que não podia se mexer, estava deitada no chão.

O paramédico se moveu ao meu redor rapidamente, falando comigo, me fazendo perguntas e estabilizando meu corpo. Duas outras enfermeiras se juntaram a ele e imobilizaram meu corpo e meu pescoço. Eles colocaram um colarinho grosso em volta do meu pescoço e me disseram para não me mexer.

Em seguida veio a máscara de oxigênio.

Heath, Bray e Liam ficaram ao meu lado o tempo todo, me tranquilizando com palavras suaves e me lembrando que eu estava bem.

— Ok, estamos prontos para ir. — O EMT45 anunciou. Ele olhou para Heath. — Entre. Você vai precisar que alguém veja esse ombro, mas precisamos levar Fable para o hospital.

— Nós vamos encontrá-los lá. — Disse Bray, inclinando-se para me dar um beijo na bochecha antes que ele e Liam fossem embora.

Heath assentiu, segurando minha mão enquanto me empurravam para dentro da ambulância e fechavam as portas. As luzes e as sirenes se acenderam e saímos. O suave brilho laranja do fogo desapareceu na distância.

Heath falou comigo todo o caminho para o hospital.

— Eu pensei que tinha te perdido... de novo.

— Nós não conseguíamos encontrar você.

— Liam disse que viu Jay levando você pelo corredor.

— Eu não posso te perder, Fable.

Suas palavras começaram a se distorcer, mas o zumbido suave de sua voz relaxou meu corpo. Ele estava aqui. Estava tudo bem. Eu consegui.

A viagem para o hospital parecia quase pacífica quando finalmente deixei meu corpo descansar. Eu não precisava mais lutar. Heath estava aqui. Braydon estaria no hospital. Helen estava chegando em breve. Eles estavam todos lá. Eles lutariam por mim. Eles ajudariam a me segurar se começasse a afundar. Eu poderia confiar neles para estar lá.

Fechei meus olhos e soltei.

Quando entramos no departamento de emergência, o caos recomeçou. Médicos e enfermeiros se apressaram ao meu redor. O paramédico que me trouxera relatou tudo o que sabia sobre a situação.

Inalação de fumaça.

Dormência.

Possível lesão medular.

Eu assisti Heath o tempo todo enquanto estava na minha cabeça. Ele era minha âncora. Seus olhos se arregalaram e ele olhou para mim com horror enquanto falavam.

— Espero que vocês estejam preparados, há muito mais vindo. Não tão ruim como isto. Possíveis vítimas mortais também. — O paramédico explicou enquanto nos seguia pelo corredor. Eles me empurraram para uma sala e imediatamente começaram a me ligar às máquinas. O cara olhou para mim. — Você está em boas mãos agora, querida. — Ele sorriu suavemente antes de correr de volta para a porta. Sem dúvida, ele estaria fazendo mais algumas idas e vindas da festa.

— Senhor, que tal verificarmos o braço? — Perguntou uma enfermeira baixinho. Eu podia ouvi-la se aproximando de Heath, mas com o meu pescoço no suporte eu só conseguia mover meus olhos.

— Eu não vou deixá-la. — Ele respondeu com firmeza.

Ela entrou no campo da minha visão quando chegou mais perto, e então a enfermeira aproximando-se de Heath com as mãos no ar disse. — Tudo bem, podemos fazer isso aqui, se você quiser. — Ela apontou para a cadeira que estava ao lado da cama. Ele pareceu olhar entre mim e a cadeira por um minuto.

— Heath... — O som da minha voz estava abafado sob a máscara de oxigênio... — ...deixe-a olhar.

Ele franziu a testa. Ele soltou a minha mão e agarrou a cadeira com o braço bom, puxando-a ao lado da cama e colocando a mão de volta na minha.

A enfermeira olhou para mim e sorriu. — Vou pegar a tipóia e uma faixa para que possamos deixá-lo um pouco mais confortável.

As horas seguintes passaram em um borrão. Os médicos vieram e foram. Enfermeiros me ligaram a todos os tipos de máquinas. Eles me mandaram para uma sala com um grande túnel para fazer um raio-X. Eles testaram meus reflexos e sentidos em diferentes partes do meu corpo. Heath foi levado para ser examinado adequadamente, e Braydon tomou o seu lugar, me contando tudo sobre como tinha conseguido um dos números de telefone das estudantes de medicina. Helen entrou com confiança maternal, e eu chorei quando ela limpou um pouco da fuligem preta que se havia acumulado na minha pele. Todos tentaram me assegurar que eu ficaria bem. As segundas opiniões foram pedidas, mas depois de horas e horas, a mesma conclusão veio no final.

Apenas danos nos nervos.

Eu sentia as minhas pernas e pés, mas minhas costas doíam com uma dor infernal.

— Força bruta pode sacudir o corpo e causar paralisia temporária. Você é muito sortuda. — Explicou o médico. Um suspiro coletivo de alívio pareceu cair sobre a sala. — Vou recomendar alguns medicamentos para a dor. E eu gostaria de mantê-la por alguns dias apenas para monitorar o inchaço ou qualquer problema que possa surgir.

— Ok. — Eu respondi em voz baixa.

— Eu não acho que a fumaça tenha causado muito dano, mas também precisamos ficar de olho em qualquer sinal de que você tenha envenenamento por monóxido de carbono. Então, se por algum motivo perceber que está respirando de maneira diferente, ou se estiver com dificuldades, conte a alguém imediatamente.

Ele disse isso e se virou para ir embora.

— E quanto a Heath? — Eu disse asperamente. Minha voz estava rouca e crua.

— Eu não posso discutir...

— Eu sou sua mãe, então sim, você pode discutir. — Helen retrucou. Heath exigiu que ela ficasse comigo enquanto eles o levaram para os raios X. Mas ele tinha estado fora por mais de uma hora e meia agora.

O médico parecia inseguro, mas acabou cedendo ao olhar de uma mãe determinada. — Heath tem um ombro deslocado. Estou prestes a ir colocá-lo de volta.

Helen correu atrás dele quando saiu pela porta.

— Dane-se. — Braydon gemeu, sentando-se ao meu lado e abaixando a cabeça.

— O quê? — Eu perguntei. — Isso é solucionável, certo?

Braydon assentiu. — Sim, mas isso é semanas e semanas de reabilitação.

Minha garganta ficou tensa. — Ele não será capaz de nadar?

Ele olhou para mim com olhos tristes. — Ele não será capaz de nadar.

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO QUARENTA E SEIS


Eu não gostei da quietude do quarto do hospital.

Eu odiava que não pudesse me levantar e andar por aí ou até mesmo ir ao banheiro sem alguém comigo. Foi frustrante não poder fazer nada por mim mesma.

Mas o que foi ainda mais frustrante, era ainda não ter visto Heath. Helen tinha ido buscar um pouco de comida e Braydon também tinha ido embora.

Eu queria vê-lo tanto que doía, me sentia culpada, e esse sentimento estava me pesando.

Eu só precisava saber que ele ficaria bem.

Ouvindo uma voz clara, e como se ele tivesse ouvido meus pedidos mentalmente mais uma vez, ele estava parado na porta. Ele parecia bem e forte, mas foi a tipóia em volta do pescoço segurando o braço no lugar, que trouxe lágrimas aos meus olhos.

— Oi. — eu murmurei, tentando não ser atingida pelas emoções.

Ele entrou e fechou a porta atrás dele. — Como você está se sentindo? — Ele perguntou quando se aproximou.

Os médicos finalmente haviam retirado o irritante colar de pescoço, mas ainda estavam exigindo que eu ficasse o mais imóvel possível por agora, e não fizesse nada que pudesse prejudicar minha recuperação ainda mais. Isso significava ter que ficar deitada na cama enquanto se aproximava, apesar do quanto eu queria me levantar e me enterrar contra o corpo dele. Era ali que me sentia em paz e confortável. Seus braços eram onde eu me sentia em casa.

Ele puxou a cadeira para o lado da cama e sentou-se imediatamente, pegando a minha mão. — Desculpa por demorar tanto. A polícia está lá embaixo e queria uma declaração. Acredito que eles provavelmente estejam vindo para cá em breve, mas mamãe está tentando segurá-los, dizendo que você precisa descansar.

Eu sorri suavemente. Helen era uma mulher forte, mas quando se tratava de seus filhos, ela era como uma mamãe urso protegendo seus filhotes. Nada estava prestes a passar por ela. — Como está o seu braço?

— Dolorido. — ele respondeu casualmente como se fosse apenas uma contusão ou um pequeno arranhão.

— Heath... — eu murmurei.

— Não. — ele disse severamente. — Eu posso ver dentro da sua cabeça. Você não se sinta culpada por isso. Não foi sua culpa.

Eu tive muito tempo para me sentar aqui sozinha e pensar sobre o que tinha acontecido. Isso estava me deixando louca. — Eu poderia tê-la interrompido mais cedo se tivesse lhe contado o que estava acontecendo desde o começo. Eu poderia ter pedido ajuda. Eu poderia ter contado sobre a pequena paixão de Flick e talvez ela não tivesse escapado para ir àquela festa idiota...

— Você poderia ter morrido, Fay. — interrompeu ele. — Não dou a mínima para o que aconteceu antes disso. Não importa. Você está bem, estou bem.

— Mas você não está bem, — exclamei. — Seu braço levará semanas e semanas para se curar. E mesmo assim pode não ser bem o que era antes. E se você deixar de ser escolhido para a equipe olímpica? E se o seu futuro...

— Você é meu futuro. — ele gritou. — Se eu não tivesse derrubado aquela porta, poderíamos ter perdido você. Eu poderia ter te perdido. Nadar ou não nadar, um futuro sem você seria sem sentido de qualquer maneira.

Lágrimas caíram do meu rosto enquanto eu olhava para os olhos azuis pelos quais tinha me apaixonado. Alguns podem chamar isso de paixão adolescente ou amor juvenil, mas eles estariam errados.

Isso era mais que amor.

Isso era encontrar a única pessoa em todo o mundo que viu você por quem você é. É sobre não se importar se o mundo desabou ao seu redor, porque você ficaria no último pedaço de entulho com ele e sorriria. Porque nada ao seu redor importa se ele está lá.

Senti dor, mas quando olhei nos olhos dele, tudo que vi foi céu azul. E eu estava voando.

Abri a boca para dizer-lhe como me sentia, mas não consegui.

— Oi, pássaros do amor. — Braydon anunciou sua presença enquanto abria a porta e entrava.

Eu balancei a cabeça e ri baixinho enquanto Heath apenas revirou os olhos, mas nem ele conseguia esconder seu sorriso.

— Onde você esteve? — Perguntou Heath ao irmão.

Era agora por volta das 7:00 da manhã e acho que a adrenalina da noite passada estava começando a se desgastar. Nenhum de nós tinha dormido mais do que algumas horas antes que eu recebesse o telefonema de Flick.

Flick, que eu ainda não tinha visto.

Helen disse que Lucas levou as meninas para casa e ficou com elas, enquanto ela veio para o hospital.

Braydon se ergueu no final da minha cama. — Eu tive que fazer algumas coisas. — Ele deu de ombros. — Você já disse a ela sobre Jay?

Eu olhei de volta para Heath, cujos olhos se viraram para encontrar os meus ao mesmo tempo. — E quanto a Jay?

— Ela foi presa. — disse ele.

— O quê? — eu gritei.

— Sim, aparentemente algumas garotas se adiantaram e disseram que estavam no vestiário e viram Jay bater em você. — explicou Braydon. — Elas estavam com muito medo de se apresentar até ouvirem que você estava fazendo acusações e Jay havia sido suspensa.

— Elas se chegaram à frente? — Eu disse, não tenho certeza se tinha ouvido direito.

— Payton vai contar à polícia o que Jay fez com ela também. E vamos apoiá-la duma vez que a vimos. — disse Heath, apertando minha mão. — Eles têm muito mais provas de que todas as coisas que aconteceram foram por causa dela. Ela vai ter o que merece. — Sua voz era fria e indiferente. Eu queria me sentir mal por ela. Depois que ela me contou sobre sua mãe saindo e ela e seu pai terem que se mudar, eu quase entendi por que estava tão desesperada para segurar em alguma coisa. Mas então me lembrei.

— Ela me arrastou para o quarto e trancou a porta. — eu disse baixinho, percebendo o modo que os dois corpos dos irmãos ficaram tensos. — Eu vi a janela e empurramos a mesa para subir. Ela subiu, mas me chutou antes que ela conseguisse sair.

Heath apertou a mandíbula.

— Nós a vimos saindo de trás da casa. — explicou Braydon, percebendo que seu irmão estava zangado demais para sequer falar. — Liam veio e perguntou onde você estava. Nós não sabíamos e então ele disse que tinha visto Jay puxá-la pelo corredor antes que ele fosse empurrado para fora. Havia polícia lá e não deixaria ninguém entrar.

— Nós achamos que ela veio da parte de trás da casa, então estávamos indo para lá. — Heath disse, levantando minha mão para que seus lábios roçassem contra ela. — Então ouvi você gritando.

— Nós teríamos passado direto pela janela. — disse Braydon, olhando para Heath. — Nós não teríamos sido capazes de encontrar você.

Lágrimas mais uma vez começaram a cair das minhas bochechas. Eu estendi minha mão para Bray. Ele colocou sua mão na minha e eu apertei com força.

— Sua família me fez sentir tantas emoções diferentes nas últimas semanas. Se não fosse por vocês, eu teria ficado no chão e deixado o fogo me consumir. Porque eu realmente não tinha mais nada. — Eu chorei. — Vocês me deram uma razão para não desistir, e por causa disso, eu ainda estou aqui.

Eu olhei entre os meninos. Eles significavam mais para mim do que a vida poderia descrever. Os olhos de ambos brilharam.

— Aww, cara. — gemeu Braydon. — Eu vou parecer um covarde agora. — Ele tentou limpar a garganta e se levantou da cama.

— Eu não vou contar a ninguém. — Eu ri.

Ele gemeu. — Sim, mas esses caras provavelmente vão.

Ele empurrou a porta, e entrou um grupo de pessoas que me fez querer saltar da cama e me jogar nelas.

Layla correu para mim e se jogou em cima de mim, nem mesmo se importando que as minhas e as mãos de Heath ainda estivessem juntas embaixo dela.

Lee seguiu, Andre, Coop e Phee se aglomerando em torno da minha cama. Eu ri histericamente. — Puta merda! — Todos eles sorriram para mim. — O que vocês estão fazendo aqui?

Layla finalmente me soltou e recuou. — O menino rico veio e nos disse o que estava acontecendo. — Ela sorriu por cima do ombro com carinho.

— De nada. — Braydon sorriu quando ele se afastou e deixou meus amigos me cercarem. — Eu só pensei... ei... o que Fable...

— Ele disse que era ideia de Heath. — interrompeu Layla. Heath riu.

Braydon cruzou os braços sobre o peito e franziu a testa. — Você não podia evitar, você podia? Só tive que fazer a minha parte.

Layla revirou os olhos. — Eu vou te lembrar mais tarde.

Os olhos de Braydon brilharam e o canto de sua boca se transformou em um sorriso. — Ok, então de quem é a bunda que estaremos batendo? — Phee perguntou, com um brilho travesso no olhar. — Porque eu agarrei meus espanadores de junta46 antes de sairmos. Estou pronta para ir.

— Eu também, — Lee concordou. — Minha mão de cafetão está se sentindo muito forte hoje.

Então trouxe a mão para trás e balançou a palma da mão aberta. Deu um tapa na bunda de Layla e ela gritou.

Todo mundo riu.

Eu comecei a tossir através de todas as risadas. Meus pulmões ainda doendo de toda a fumaça.

Heath se levantou da cadeira e se aproximou da minha cabeça. Sua mão afastou o cabelo do meu rosto até que finalmente senti que podia respirar de novo.

— Sério. — Layla disse, seu rosto agora completamente sério. — Onde ela está?

— Na cadeia. — Braydon respondeu, levantando e colocando uma mão em torno de seu pulso.

— Tudo bem, Xena Princesa Guerreira . Jay está fora para a contagem.

Layla pareceu relaxar, e notei que ela não se livrou do aperto da mão de Braydon.

Aproveitei o momento para perguntar sobre o clima que estava na sala, mas que ninguém ainda tinha que mencionar. — Onde está Kyle?

— Rehab47— Lee respondeu com tristeza.

— O quê? — eu perguntei.

Layla suspirou. — Quando Bray me levou de volta para Bayward Street na semana passada, eu disse a todos sobre esta casa e que nós finalmente estaríamos saindo daquele lugar. — explicou ela com um sorriso. — Kyle perdeu o controle.

Lee abaixou a cabeça e eu estendi a mão e peguei sua mão na minha. — Braydon teve algumas palavras com ele. Acontece que não estava apenas bebendo, ele estava roubando também. Ele estava roubando álcool do clube e trocando por drogas.

Meu coração doeu. Essa pessoa que havia me ajudado por tanto tempo estava quebrada e eu não estava lá para ajudá-lo.

— Heath e eu conversamos com mamãe. Oferecemos a ele a chance de ficar sóbrio e, se o fizesse, poderia ter um lugar na casa.

Lee tinha lágrimas escorrendo pelo rosto. Eu só podia imaginar o que ele estava sentindo. Ele e Kyle nunca estavam separados. Eles tinham um laço que era inquebrável. Mas ele teve que assistir seu gêmeo rasgar a pouca vida que já tinha em pedaços e seguir um caminho de destruição.

Os Carsons não precisavam ajudar. Eles poderiam ter virado as costas e simplesmente terem dito que não. Mas eles não o fizeram. Porque o amor que eles têm pela sua família e pelos outros é tão puro. Não é um truque. Não é algo que eles estão fazendo para serem notados na imprensa. Eles fazem isso porque se importam.

— Tudo bem, você está muito exausta. — Helen gritou enquanto entrava. — Hora de deixar a menina descansar.

Todos gemeram, mas se despediram e cada um deles se arrastou porta afora. Helen os conduziu como gado antes de me lançar um sorriso por cima do ombro.

Heath não se mexeu.

— Você não está saindo? — Helen perguntou.

Ele baixou a cabeça e apertou os lábios contra os meus. — Não. Em nenhum outro lugar eu quero estar.

Eu sorri. — Eu poderia pensar em alguns lugares que você gostaria de estar e que seriam diferentes do hospital.

— Não se você não estiver lá.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAPÍTULO QUARENTA E SETE


Seis semanas depois


— Você não deveria estar se preparando?

Eu sentei na beira da piscina, meus pés balançando na água. Isso se tornou um dos meus lugares favoritos. Sentindo meus pés balançarem na água enquanto Heath nadava. Eu lia um livro ou fazia trabalhos de escola, mas hoje só fiquei observando-o.

Seu ombro estava começando a se curar. Ainda era apenas cinquenta por cento da força do que era antes do fogo, mas ele estava sendo inteligente e se recuperando lentamente.

Seu técnico havia chamado os oficiais da equipe olímpica e contou a eles a situação. Eles ficaram desapontados pois tinham visto muito potencial em Heath. Ele foi convidado para os testes de natação olímpicos em julho em Nebraska, mas com isso a apenas dois meses de distância, era altamente duvidoso que seu braço voltasse à força normal até então.

A vantagem era que os batedores disseram que ele ainda tinha uma grande chance de se juntar à equipe do USA National Swim no próximo ano, e quando as próximas Olimpíadas aparecessem, ele ainda teria apenas 21 anos, o que era a idade média dos nadadores masculinos.

Seu futuro não acabou. Foi um revés. Mesmo assim ainda me sentia culpada de vez em quando, mas eu sabia que com a quantidade de paixão e determinação que ele detinha, só iria empurrá-lo para fazer melhor.

— Terra para Fable. — Água espirrou sobre mim, e eu ofeguei. Heath riu. — Eu disse que você não deveria estar se preparando?

Chutei meu pé e enviei uma onda de água sobre sua cabeça, mas ele não se abalou, apenas limpando-o. — Sim, eu deveria estar, mas sua mãe e Flick não vão me dar nenhuma pista sobre o vestido que escolheram para mim. Elas acabaram de ir buscá-lo.

Esta noite nós íamos ao baile de formação.

Geralmente era apenas para juniores e seniores, mas Heath estava me levando como sua acompanhante.

E Braydon convenceram alguma menina júnior a levá-lo. Não há surpresas lá.

Eu assisti todos esses vídeos on-line sobre o quão incrível e exagerado alguns caras eram quando eles pediam que as meninas fossem ao baile com eles. A Diamond Cross não era exceção, exceto que sua versão de cima do topo não significava que seus amigos cantassem uma canção de amor enquanto o cara segurava um cartaz.

Não. Eles deram um passo adiante.

Havia helicópteros pousando no campo da escola e celebridades fazendo serenatas para garotas em salas de aula.

Era outro nível de formatura.

Heath me pediu para ir com ele, mas não houve nenhum grande gesto. Tinha sido ele e eu, sozinhos, bem aqui no lugar que ele mais amava - a piscina. E isso significava mais para mim do que qualquer proposta de formatura cara poderia ser.

— Fable. — Flick gritou quando veio correndo pela porta e para o pátio. — Vamos! Você precisa se preparar agora.

— Sim, Fable. — Heath zombou.

— Idiota. — eu murmurei, jogando água nele enquanto me levantava. Ele riu antes de mergulhar na água e voltar para o final da piscina para fazer mais exercicios.

— Como é que ele não tem que se preparar? — Eu resmunguei, seguindo Flick no andar de cima.

— Tudo o que ele tem que fazer é colocar um terno. — disse ela revirando os olhos. — Você tem cabelo, maquiagem e então temos que colocar você no vestido e nos sapatos.

— O que você quer dizer... — Eu congelei quando entrei no meu quarto e vi Helen orgulhosamente segurando o vestido que tinham escolhido para mim. — Puta merda.

— Eu sei que você não é realmente ligada em toda essa coisa de colocar um vestido, mas para o baile, eu não negocio sobre isso. — Helen riu. — Eu senti que isso pode ser um pouco mais seu estilo.

Eu respirei fundo enquanto o pegava.

Era como o estilo de uma camisa de botão, mas em um vestido. Havia mangas que chegavam perto do cotovelo, e os botões estavam baixos na frente. Havia um belo cinto de fivela de ouro que apertava a cintura, onde os botões continuavam até bem acima do meio da coxa. Então eles se separaram e caíram para trás, então o vestido era curto na frente, mas tocava o chão nas costas.

— E estes se encaixam perfeitamente no estilo de rua inteiro, com aquele visual diferente que você gosta — explicou Flick, segurando um par de botas pretas até ao joelho que amarravam à frente. Elas só tinham um salto pequeno, e era grosso, então eu não sentiria como se fosse cair.

— É perfeito. — eu sussurrei. Elas acertaram nisso tão bem que fiquei surpresa. Eu não era realmente feminina. Eu não usava vestidos, babados ou renda. Eu tinha um estilo específico. Preto. Jeans. Camisolas de alças ou camisas de menino. Era uma coisa que mesmo estando aqui nunca havia mudado.

Mas eu não senti que precisava. Eu gostei do que vi.

E esse vestido era eu enquanto ainda era bonita, elegante e promissora.

Eu sorri. — Vamos fazer isso.

Helen e Flick se prepararam e cutucaram e me transformaram. Eu me senti surpreendentemente bonita, e estava confiante.

— Ok, seu parceiro estará aqui em breve, então vamos fazer essas fotos. — Helen exclamou, saltando animadamente.

Fiz meu caminho atrás delas, desci as escadas e voltei para a piscina, onde Braydon e sua acompanhante estavam conversando com Heath.

Eu reconheci a garota. Era a mesma garota que me explicara como se sentar com um vestido longo na festa da piscina de Sam. Ela me viu antes dos meninos, seu vestido era longo e requintado. Um roxo profundo. Ele abraçava seu corpo em todos os lugares certos.

— Você está incrível. — disse ela com um sorriso brilhante, fazendo com que os irmãos olhassem para cima.

Eu sorri de volta. — Obrigada, você está linda.

Corei quando meus olhos se conectaram com os de Heath. Havia aquele olhar aquecido que sempre me congelava.

— Porra do inferno. — Braydon murmurou olhando para mim com admiração.

— Braydon! — Sua mãe advertiu.

Heath caminhou em minha direção, cada passo que ele dava aumentando a excitação em meu corpo um pouco mais do que o anterior. Quando ele finalmente chegou a mim e pegou minha mão na sua, eu me senti como um fogo de artifício, explodindo em luzes brilhantes sobre um céu escuro da noite.

Ele não falou. Mas ele não precisava. Ele segurou meu rosto com a outra mão e puxou minha boca para a dele. Eu segui. Eu sempre segui sua liderança porque, com Heath, eu tinha absoluta e total confiança de que ele iria cuidar de mim. Dar-me a ele era fácil.

Porque confiava nele. Eu sempre confiei e iria confiar.

Eu sei disso sem sombra de dúvida.

Seus lábios roçaram os meus e eu suspirei, meus olhos se fecharam.

— Não. — Flick chamou atrás de mim, acalmando seu avanço. — O batom dela está perfeito. Fotos primeiro, então você pode beijá-la depois.

Ele riu contra a minha boca, mergulhando a testa na minha. — Mais tarde. — Eu balancei a cabeça levemente.

Helen nos colocou em posições diferentes, algumas com apenas eu e Heath, Heath e Bray e então Sarah e eu – Sarah sendo o encontro de Braydon.

Depois de trinta minutos de 'coloque o braço aqui' e 'vire dessa maneira', eu superei isso. Mas então Helen pediu mais uma foto.

— Vamos, Flick. Entre, preciso de uma foto dos meus queridos filhos para a parede. — Meu coração se aqueceu, e Heath me puxou para perto de seu corpo. Flick se encaixou entre Bray e eu, e eu passei meu braço ao redor de sua cintura.

Esta era minha casa, minha família. Helen nos fez rir quando ela fotografou e fotografou. E quando tudo acabou, ela nos levou correndo pela porta da frente para onde havia dois lindos carros esportivos cintilantes.

— Sim. — Braydon cantou enquanto dançava em torno deles, ansioso para entrar no lado do motorista.

— Você vai deixá-lo dirigir? — Eu perguntei com horror.

Helen franziu a testa para o filho mais novo. — Ele vai dirigir devagar. — As palavras em si eram lentas e pronunciadas, mas muito altas.

— Sim, sim! — Braydon acenou para ela. — Lamborghinis! Heath... Lamborghinis!

Esta família pode não ser toda sobre mostrando o dinheiro que eles tinham, mas mesmo eu sabia que havia momentos e lugares onde você só precisava dizer dane-se, ser grande ou ir para casa.


***


A noite estava cheia de risos e danças, e para Heath e eu, só o tempo sentados sozinhos enquanto as pessoas se movimentavam e se misturavam ao nosso redor. Heath me puxou para o seu colo quando sentamos em uma das cadeiras de uma mesa. Eu fiz um esforço corajoso para manter minhas botas nos meus pés, mas depois de duas horas elas estavam me apertando, e eu as deixei de lado.

— Divertindo-se? — Ele perguntou enquanto segurava minhas costas e enfiava o rosto no meu queixo.

— Eu nunca pensei que teria isso. — eu respondi honestamente. — É surreal pensar que apenas dois meses atrás eu estava em algum lugar tão completamente oposto, pensando que provavelmente nunca saberia o que era ser uma adolescente normal.

— A única coisa que você precisa se preocupar agora é tirar boas notas e descobrir para qual faculdade quer ir.

Ele estava certo. Lena tinha vindo me visitar algumas semanas depois do incêndio e disse que Jay estaria enfrentando algumas acusações muito sérias. Nós ainda não sabíamos o que aconteceria com ela, mas havia uma data de audiência para a corte chegando, e todos nós estávamos sendo solicitados a testemunhar.

A outra notícia que Lena tinha era que meu pai havia sido preso. O advogado e juiz que foram acusados de suborno fizeram acordos e indicaram Greg Campbell e um punhado de outros em uma lista de pessoas de quem haviam recebido dinheiro para obter o veredicto que queriam.

Não havia mais chance de eu voltar lá, não importa o que acontecesse. Helen e Arthur foram nomeados guardiões permanentes. E mesmo que eu não os chamasse de pai e mãe, eles ainda eram meus pais em todos os sentidos das palavras.

— Você acha que encontrou seu lugar agora?

A pergunta me surpreendeu, mas a resposta foi simples. — Sim.

Seus dedos brincavam com meu cabelo. — Você sabe, que me disse uma vez que quando finalmente encontrasse onde deveria estar, que você fecharia o livro de Fable e voltaria a ser Keira.

A música e o riso brincaram ao nosso redor enquanto eu considerava suas palavras. Virei meu corpo para poder ver seu rosto, e uma das mãos dele deslizou sob a bainha do meu vestido, seus dedos suavemente acariciando a parte externa da minha coxa.

— Eu não sou mais Keira. — eu disse a ele em voz baixa. — Eu acho que nunca percebi, mas era o livro dela que precisava ser fechado. A história de Fable foi de luta e perda, mas foi em sua história que descobri força. E foi em sua história que eu te encontrei. — Eu mergulhei minha cabeça e encostei meus lábios contra os dele, os olhos de Heath se fecharam enquanto ele respirava profundamente. — Meu feliz para sempre.

Nós nos beijamos suavemente.

Era leve, um toque suave. Mas eu nunca deixei de me surpreender com a forma como um simples toque de Heath poderia me consumir.

— Eu te amo, Fable. — ele sussurrou, sua respiração se espalhando contra os meus lábios.

Nada poderia me preparar para o quanto essas três palavras me atingiram. Eu parei rapidamente, meus olhos encontrando os dele, enquanto eu tentava piscar as lágrimas para não estragar minha maquiagem. Ele esperou, seus olhos me observando intensamente.

Como ele estava esperando. — Eu também te amo.

Sua mão enganchou no meu pescoço e eu fechei meus olhos, soltando um suspiro lento e suave. Ele não me puxou para um beijo íntimo para selar a declaração. Ele não precisava. Isso foi tudo.

Quando eu abri meus olhos para vê-lo ainda me observando, um sorriso silencioso puxou o canto de sua boca enquanto nós dois flutuávamos de volta à realidade. — Você percebe que é como um conto de fadas que sempre terminam felizes depois. As fábulas são mais como lições morais e geralmente incluem animais que falam.

Eu estreitei meus olhos para ele. — Maneira de arruinar o momento, idiota. — Heath riu baixinho.

— Vamos lá, vamos lá! — Braydon apareceu ao nosso lado, pulando e gesticulando em direção à pista de dança. — Vamos! — Ele mal conseguia se conter, atirando-se na multidão novamente.

Eu gemi. — Se fôssemos animais, Braydon seria como um esquilo.

— Concordo, ele pensa muito sobre suas nozes. — Heath respondeu e eu ri. Havia apenas uma coisa faltando do que parecia perfeição.

— Eu penso que eles poderiam estar aqui. — eu disse a Heath, recuando para olhá-lo nos olhos. Ele sabia exatamente quem eu queria dizer, e seu rosto suavizou.

Layla, Andre, Coop, Lee e Phee estavam morando na nova casa há quatro semanas. Eles estavam de volta à escola, eles estavam aprendendo e desenvolvendo e abraçando as novas oportunidades que estavam sendo oferecidas. Eu os via algumas vezes por semana, e eles sempre saíam com a gente quando íamos a festas ou apenas saíamos com amigos.

Eu tinha ido da menina com dois pais que não se importavam com ela, lutando para sobreviver, para a garota com mais família do que podia contar e vivendo a vida ao máximo.

Heath me beijou brevemente antes de me levantar do colo e me direcionar para o palco.

— Já não dançamos o suficiente? — Eu gemi quando ele nos fez entrar para dançar, twerking48 e moer os alunos. A música que estava tocando chegou ao fim e foi quando eu a ouvi.

A guitarra.

Eu olhei para cima e vi Layla em pé no palco em frente à cabine do DJ com um microfone na frente dela, sorrindo de volta para mim enquanto dedilhava seu violão.

Meus olhos se iluminaram quando ela começou a cantar “Wild Things”, de Alessia Cara. Eu comecei a rir.

Era uma música sobre ser quem você é, e para as pessoas que sentem que não têm um lugar para se encaixar, se unindo e criando um lugar para elas mesmas. Ela nos representava e quem éramos e o que havíamos superado para encontrar nosso lugar no mundo. Nós não desistiríamos um do outro, e seríamos mais fortes por causa das pessoas ao nosso redor que nos levantaram.

Heath passou os braços em volta de mim por trás, e nós balançamos quando ouvimos a voz suave de Layla encher o ginásio da escola. As pessoas pararam e assistiram, sorrindo e cantando junto. E eu soube então que talvez não fosse a única que procurava um lugar para se encaixar.

Todo mundo lutou às vezes. Todos nós tivemos que lutar pelo nosso lugar no mundo. Nem sempre foi fácil, mas contanto que você estivesse procurando algo, era tudo o que importava.

Minha luta não acabou. Estava longe de terminar.

Eu tinha toda a minha vida à minha frente. E eu sabia que no futuro haveria obstáculos, mas não deixaria que eles me impedissem de lutar pelo que queria. Eu tinha sonhos agora, metas a alcançar. Eu estava acabando de andar na vida, apenas sendo confortável, contente em apenas estar viva.

Os lábios de Heath pressionaram contra o meu pescoço e eu me inclinei em seu abraço.

A vida não era apenas estar vivo, existindo dia a dia.

A vida era sobreviver.

E eu estava pronta para viver.

 

                                                                  Addison Jane

 

 

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