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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


BEIJO SEDUTOR / Yvonne Whittal
BEIJO SEDUTOR / Yvonne Whittal

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

Resumo - A luta de uma jovem apaixonada por um homem que desconhece o amor.
Um pedido de casamento. Uma doce alegria. O sonho de Gina estava se realizando. Um sonho de adolescente, tudo que sempre desejara na vida. Jarvis Cain, o seu herói, o seu príncipe encantado que lhe povoara
os momentos de encantamento, muito em breve iria se tornar seu marido.
Mas Gina não sabia do triste destino que a vida lhe reservara. Jarvis, com aquela união, de novo mostraria seu grande egoísmo. Para conquistar seus objetivos era capaz de tudo, até mesmo destruir a alma
sensível e o coração apaixonado de uma mulher!

 

 


Capítulo 1

- É hora de achar um marido para você meu bem.
Os olhos verdes de Gina Osborne brilharam divertidos. Cruzou às pernas esguias e fitou a mulher de cabelos grisalhos, sentada sua frente. Évelyn Cain, aos setenta anos, parecia-lhe frágil e envelhecida.
Por que teria dito aqui1o? Perguntou-se Gina intrigada.
- Não estou pronta para o casamento e suas responsabilidades - Gina respondeu, com um sorriso que fizera aparecer duas covinhas em seu rosto.
- E quando é que alguém está pronto? - indagou a velha senhora levantando os olhos para o teto, como que buscando a aprovação dos céus. - Quando menos esperar aparecerá um homem que irá virar sua cabeça
e, então, você se verá casada a despeito das responsabilidades que tiver.
- Acho que tem razão - Suspirou recostando-se na poltrona para relaxar. Relanceou os olhos pela mobília antiga e objetos de rara beleza a sua volta. No entanto, seu pensamento estava longe.
Lembrava-se de Norman Thrope. Com suas maneiras suaves gentis. Ele era contador na Becketts Engenharia, a firma onde Gina trabalhava como analista de sistemas. Haviam se conhecido há dois anos, quando
ela entrara para a companhia, e desde então saíam com freqüência embora o relacionamento não passasse de beijos fraternais de boa noite. Eram apenas bons amigos e, apesar de apreciarem a companhia um do
outro, Gina sabia que jamais sentiria uma paixão arrebatadora por ele.
- Há algum homem em sua vida? - A pergunta direta de Evelyn cortou os pensamentos de Gina, que fitou confusa a madrinha.
- Sim e não! - respondeu cautelosa, observando o gesto impaciente das mãos trêmulas.
- Não seja tão evasiva menina!
- De fato, há um homem - admitiu Gina relutante, jogando uma mecha dos longos cabelos castanhos para trás. - Chama-se Norman Thrope e não passa de um bom amigo.
Os olhos acinzentados de Evelyn Cain observavam atentamente Gina com um estranho brilho de ansiedade.
- Há quanto tempo o conhece?
- Há dois anos.
- É muito tempo... Se depois de dois anos ainda permanece um bom amigo, obviamente, não é o homem certo para você. Imagine! - Evelyn suspirou exasperada. - Dois anos...
- É um relacionamento cômodo para mim - argumentou Gina suavemente.
- E quem quer comodidade? É a paixão que conta, que faz o sangue correr mais forte em nossas veias... não o conforto! Ora, isso é coisa para velhos...!
- Não me acho capaz de sentir a grande paixão de que a senhora fala - replicou Gina, corada pelo embaraço.
- Bobagem! É Claro que é! Basta encontrar o homem certo! - Os olhos acinzentados brilhavam febris, ao fitar as feições delicadas de Gina: as maçãs rosadas, o bonito arco das sobrancelhas bem delineadas,
os profundos olhos verdes e o nariz levemente arrebitado. - Por que nunca,me contou, sobre esse homem, Gina?
-Oh, não sei! - desculpou-se um tanto nervosa, mexendo-se inquieta na poltrona. -Talvez não tenha contado pôr achar que não era importante.
- Hum! - O rosto da velha senhora era uma máscara de desapontamento. - Esperava viver o suficiente para vê-la casada e segura.
- Mas é claro que você vai viver o suficiente!
- Não, Gina. - Evelyn balançou a cabeça despertando o medo em Gina - Meu coração está começando a mostrar cansaço.
- Não diga uma coisa como essa! - protestou Gina, franzindo a testa, a voz tensa de preocupação.
- Mas é preciso falar, minha querida. - A madrinha suspirou, o rosto. grave iluminado pela luz suave de um abajur de porcelana. - Sei que meu tempo é curto, e embora tenha vivido intensamente, fiz coisas
de que me arrependo muito.
A conversa foi interrompida quando uma empregada entrou trazendo uma bandeja que depositou sobre a mesa.
Passar as noites de sexta-feira com Evelyn Cain tornara-se um hábito desde que Gina viera morar e trabalhar em Joanesburgo. Apreciava sair do trabalho e dirigir calmamente pelas bonitas ruas da cidade,
até chegar à velha mansão. Uma construção imponente que inspirava a força e a segurança das edificações do início do século.
Contudo, naquela noite, havia algo no ar que diminuía sua alegria deixando-a entristecida.
- Posso servir o chá, madrinha? - Gina perguntou ansiosa por ocupar a mente com outros pensamentos.
- Por favor - concordou Evelyn, e abruptamente mudou de assunto: - Estou preocupada com meu filho.
- Jarvis? - Gina pronunciou o nome em voz baixa, mas imediatamente lembrou-se do homem alto, moreno, com frios olhos cinzentos e sorriso zombeteiro. - Ele é um homem auto-suficiente, um advogado de sucesso
- comentou enquanto entregava a xícara à madrinha.
- E já está com trinta e cinco anos e continua sozinho, embora eu já tenha perdido a conta das mulheres que assaram pela vida dele - queixou-se a mãe, sem disfarçar o desgosto. - Sua última conquista,
Lílian Ulrich, uma mulher dura, e a razão por que me preocupo é que este relacionamento já dura muito mais que os outros.
Gina não queria falar sobre Jarvis Cain, não queria pensar nele novamente, mas Evelyn não parecia disposta a esquecer o assunto.
- Mas ele a ama...
- Amá-la! - cortou Evelyn bruscamente, derramando um pouco de chá do pires. - Ele não pode amar uma mulher como aquela. Já foi casada duas vezes seu interesse, em Jarvis é puramente financeiro. Meu único
conforto é que casamento não parece estar nos planos de meu filho.
- Acha que Jarvis nunca vai se casar? - Gina perguntou, odiando-se esperar ansiosa pela resposta.
- Talvez nunca, e não por escolha dele - respondeu a velha senhora, com uma súbita tristeza escurecendo os olhos acinzentados. - E temo ser a culpada por esse atitude cínica que desenvolveu em relação
à vida e ao amor.
O rosto de Gina não escondeu a surpresa.
O que quer dizer com isso madrinha?
- É uma longa história. - Suspirou Evelyn, levando a xícara aos lábios e sorvendo lentamente o chá. - Meu marido e eu fizemos um verdadeiro inferno do nosso casamento a medida em que fomos geniosos e orgulhosos
demais para admitir nossos erros. Quando Clement insistiu na separação, eu concordei... impondo a condição de permanecer aqui em Eldorado. Fiz isso por que estava ferida, e queria me vingar. Reconheço
que hoje foi uma imposição cruel, mas, na época, não fui capaz de enxergar isso. Clement amava Eldorado com paixão, a mesma que herdara do pai e que passou para filho. Deixar Eldorado foi o mesmo que condena-lo
a morte. Separei-o da família e da casa que amava, e, quando tentei consertar meu erro, ele permaneceu irredutível e não voltou a atrás. Acho que Jarvis me culpa pela morte prematura do pai.
- Já explicou isso a ele?
- Eu tentei. Deus sabe que tentei, mas o nosso relacionamento tornou-se frio e distante, não me permitindo confessar tudo que sinto. -Havia lágrimas indisfarçáveis nos olhos de Evelyn. - Jarvis é um advogado
brilhante, às vezes rude. Herdou o temperamento orgulhoso do pai. Sinto que nunca me perdoou e se o vejo com tanta freqüência é pela única razão de ele amar profundamente esta casa, superando até mesmo
o seu ressentimento por mim.
- Oh, não acredito que isso seja verdade! - Era difícil admitir que alguém pudesse ser tão cruel.
- Eu conheço meu filho Gina. Jarvis não ergueria um dedo se eu deixasse toda minha fortuna para instituições de caridade, mas com Eldorado seria diferente. Ele quer esta casa, fará qualquer coisa para
tê-la.
Um pensamento desconcertante tomou conta de Gina.
- Você não pretende privá-lo da casa, não é?
- Oh, não, minha criança. - Evelyn sorriu, com um ar de cinismo que perturbou Gina. - Ele vai herdar Eldorado, não tenha duvida disso!
Havia algo de muito estranho no tom de voz de Evelyn e, pela primeira vez, Gina sentiu-se inquieta sob o olhar penetrante com que a velha senhora a estudava.
Quebrando o momento de tensão, o relógio anunciou nove horas. Gina ergueu-se de um salto, lembrando-se que no dia seguinte viajaria bem cedo para a fazenda.
- Já é tarde! Ainda tenho uma porção de coisas para fazer e amanhã vou pegar a estrada cedinho. - Beijou as faces pálidas e apanhou a bolsa dirigindo-se para a porta.
- Vou esperar ansiosa pela próxima sexta-feira Gina - Evelyn sorriu e acrescentou - Mande lembranças à sua família.
Gina agradeceu e saiu para a noite escura, sendo envolvida pelo ar quente de fevereiro.
Dirigia automaticamente, pensando na saúde da velha madrinha. Sabia que há tempos ela sofria de angina, mas não imaginara que fosse tão grave. Sentia-se perdida, porque em breve teria que enfrentar a vida
sem o apoio e a companhia da mulher que lhe fizera às vezes de mãe.
Mais tarde, depois de fechar a mala e já pronta para se deitar, Gina percebeu que apesar de todo cansaço sua mente se recusava à relaxar, caminhando por recessos obscuros do passado, fazendo-a pensar em
Jarvis.
Jarvis Cain. Seus traços fortes retornaram a tela de sua mente e Gina não foi capaz de afastá-los. Via-o constantemente em fotografias nos jornais, sempre com uma mulher diferente a seu lado. Mas a imagem
que mais a marcara fora do momento em que se conheceram.
Naquela época, Jarvis não passava de um nome par ela, e suas visitas à fazenda nunca coincidiam com as férias de Gina. Porém, naque1e domingo foi diferente. Gina tinha pouco mais de dezesseis anos e estava
sentada no galho de uma árvore, comendo uma maçã, quando o seu irmão Clifford gritara:
- Ei maninha! Desça e venha conhecer Jarvis!
Ela olhara para baixo, encontrando um par de olhos cinzentos, zombeteiros, e, pega de surpresa, perdera o equilíbrio e se precipitara para baixo. Jarvis movera-se com uma agilidade incrível, amparando-a
nos braços fortes que amorteceram a queda, fazendo-a tomar consciência dos músculos fortes, ê do corpo bem proporcionado. Uma vez no chão, envergonhada, fugira, vermelha como um pimentão.
O embaraço daquele instante foi algo que nunca esqueceu, assim como o som da risada caçoísta que saíra dos lábios dele.
Depois daquele incidente, Gina nunca mais o esquecera. A atitude cínica de Jarvis diante da vida, a mente aguçada e seu charme funcionaram como uma combinação poderosa que a fascinou completamente. Porém
era natural que, como um homem de trinta anos, nem se apercebesse de sua existência, mas, mesmo assim, Gina se apaixonara por ele. Durante anos, Jarvis foi seu herói e o homem de seus sonhos. Entretanto,
à custa de muito esforço conseguira superar a paixão de adolescente, percebendo, que não valia a pena amar um homem que fazia das mulheres seres descartáveis.
Com um suspiro cansado, Gina finalmente adormeceu, livrando-se da inquietante lembrança de Jarvis Cain.

O fim de semana na fazenda não conseguiu acalmar sua mente agitada. Nem mesmo os passeios com o imprevisível Júpiter seu cavalo puro-sangue, foram capazes de diminuir sua ansiedade em relação ao estado
de saúde da madrinha. Na segunda-feira Gina sentia muita dificuldade em se concentrar no trabalho, o rosto de Evelyn e as palavras que ouvira dela a atormentavam.
As semanas se seguiram. Depois daquela última conversa, Evelyn nunca mais falara de sua saúde.
Dois meses sê passaram. Numa quarta-feira de madrugada, Gina foi acordada por um telefonema. Era a empregada de Eldorado informando-lhe, que Evelyn Cain acabava de falecer. Chocada, desligou o telefone
sem saber o que fazer. Só pela manhã sentiu-se capaz de avisar a família.
Apenas seu pai compareceu ao sepultamento, realizado na sexta-feira. Seu irmão Clifford, precisava permanecer na fazenda, pois a esposa estava no último mês de gravidez.
No cemitério, Gina estava pálida, mas controlada. Jarvis encontrava-se logo a sua frente. E odiou-se por perceber o quanto aquele homem ainda a afetava emocionalmente.
Estremeceu, quando sentiu a pressão dos dedos do pai em seu braço, avisando-a de que era hora de partir. Com um último olhar de despedida, afastou-se da sepultura sentindo-se sozinha e desprotegida.
Estavam a caminho do carro, quando Jarvis aproximou-se.
- Fico contente que tenha vindo, sr. Osborne - disse ele, numa voz modulada.
- Vamos sentir falta de sua mãe - Raymond Osborne replicou, e Jarvis concordou grave:
- Eu também, senhor!
"Será mesmo?", Gina perguntou-se ao se lembrar das palavras da madrinha a respeito do filho.
- Olá, Georgina! - A voz profunda interrompeu-lhe os pensamentos e, apesar de ser alta, precisou erguer os olhos para encará-lo.
Um arrepio estranho percorreu-lhe a espinha, ao encontrar os olhos cinzentos que a fitavam intensamente. Estendeu a mão para ele.
- Olá, Jarvis - respondeu tensa, procurando não trair na voz a emoção que sentia.
Diante de si tinha o mesmo rosto determinado. A boca bem feita, com lábios cheios e sensuais, suavizava-lhe a aparente severidade. Assustou-se quando ouviu a voz do pai propondo a Jarvis:
- Apareça para passar um fim de semana conosco, na fazenda, será um prazer recebê-lo.
Gina ficou apreensiva, a espera da resposta.
- Obrigado pelo convite, devo aceitá-lo muito em breve - prometeu Jarvis.
"Essa não!", pensou Gina. "Não quero Jarvis Cain na fazenda! Não quero esse homem novamente em minha Vida!"
Antes de se afasta, Jarvis fitou-a outra vez com um brilho estranho nos olhos, deixando em Gina a impressão de que sabia o que se passava com ela.

Gina ainda sentia-se consternada pela morte da madrinha quando, numa segunda-feira, foi informada do nascimento de sua sobrihha. E apesar da tristeza que sentia, não pôde deixa de alegrar-se, numa mistura
de contentamento e melancolia.
Uma manhã, durante o trabalho, Gina surpreendeu-se ao receber pelo advogado de Evelyn a comunicação de que herdara vinte mil dólares.
Imediatamente marcou uma entrevista com ele e, ao se encontrarem, protestara, alegando que deveria haver algum engano.
- Não há nenhum engano, srta. Osborne - o advogado dissera. - Tão logo o inventário esteja terminado, vou contatá-la novamente, e se precisar de conselhos sobre como investir o dinheiro, estou ao seu dispor.
Gina voltara atordoada para o trabalho. Durante a tarde inteira sentira-se incapaz de se concentrar. Num dado momento deu-se conta de que sua assistente já, deveria estar há muito tempo se dirigindo a
ela, pois ao olhar para a garota percebeu que Mitzi estava muito irritada.
Sinto muito - desculpou-se, tentando prestar atenção à assistente. - Você estava dizendo o quê?
- Não era importante... Mas o que aconteceu? Você voltou do almoço tão distraída... Foi algo grave?
- Herdei uma pequena fortuna.
- Uma pequena fortuna? - disse Mitzi, curiosa. O e isso é tão terrível?
Seria realmente tão terrível? Não, Gina disse a si mesma. Apenas se sentia embaraçada com o dinheiro que Evelyn lhe deixara, e preocupada com o que Jarvis iria pensar.

Ao dirigir-se para a fazenda no fim de semana, trafegando pela estrada de Heidelberg, Gina sentia um friozinho de contentamento que a acompanhava sempre que retornava à casa dos pais.
Já era quase noite quando atravessou o caminho que levava ao velho casarão rodeado de árvores e por um imenso gramado.
Ao descer do carro, os últimos raios de sol refletiam sobre a cabeleira castanha. Gina não tinha consciência de como era bonita e sensual, mesmo vestida de maneira simples, num conjunto cáqui, tipo safári.
Alegre, correu para dentro, dando de cara com Susan, que ainda mostrava os sinais da gravidez recente. Usando um alegre vestido floral que combinava com seus cabelos negros, Susan sorriu-lhe feliz.
- Chegou bem na hora do jantar!
- Hum... o cheirinho está uma delícia! - Gina beijou a cunhada e saudou o pai que acabara de chegar.
- Esperávamos você há quase uma hora - resmungou ele, depois de trocarem um abraço apertado.
- O trânsito estava péssimo, por isso me atrasei. Mas pretendo ver minha sobrinha antes do jantar, posso Susan?
- É claro! - Susan riu suavemente, dirigindo-se para o corredor que levava aos quartos. Ao abrir a porta e ver a garotinha no berço, murmurou, sem esconder o orgulho: - Ela não é linda?
- Linda! - Gina concordou ao acariciar suavemente a cabecinha da recém-nascida. - Se você não tomar cuidado, Cliff e eu vamos acabar mimando-a demais... - completou com um sorriso maroto.
E quando é que você vai arranjar um rapaz simpático e ter seus próprios filhos, heim, Gina?
Gina olhou para a cunhada e protestou:
- Eu só tenho vinte e um anos, Susie.
- E eu vinte e dois, com um marido e uma filha.
- Teve sorte de encontrar o homem certo - ponderou Gina, com uma pontinha de inveja na voz.
- Se você não deixa homem algum se aproximar, como é que vai descobrir quem é o homem certo?
- Não é verdade, Susan. Norman Thrope e eu temos passado bastante tempo juntos.
- Juntos mesmo?
- O suficiente.
- Mental e fisicamente, presumo. - Susan riu, e Gina sentiu-se corar de embaraço.
- Eu não quero um relacionamento físico com Noman, nem sinto necessidade de dividir meus pensamentos mais íntimos com ele. - Virou-se agitada. - Não quero esse tipo de relacionamento com um homem.
- Quando o homem certo chegar, você vai querer estar fisicamente perto, e vai querer dividir seus pensamentos com ele. - Susan falou com convicção.
Só havia um homem com quem Gina uma vez pensará poder sentir tudo isso, mas fora há muito tempo e ele estava fora de seu alcance. Além do mais, gostava de sua liberdade e do modo como vivia.
- Espero que o jantar esteja pronto, porque estou morrendo de fome - Gina desconversou, e Susan não insistiu, acompanhando-a para fora do aposento.
Clifford, que estivera fora consertando cercas, acabara de chegar para o jantar. Seu corpo alto, grande e forte, fazia o chão de tábuas ranger sob seu peso.
- Oi George - sorriu brincalhão, apertando-a num abraço forte - Como anda sua vida amorosa?
Gina olhou para o irmão, soltando chispas pelos olhos verdes.
- Não me chame de George e cuide da própria vida!
- Educada como sempre - deu uma risada gostosa passando a mão pelos cabelos revoltos. - Vai ser preciso um homem de aço para pôr você na linha, irmãzinha, e eu não o invejo pela tarefa.
Ele herdara da mãe os olhos cor de avelã, e eles sorriam para Gina, que viu-se sorrindo também.
- Eu me pergunto por que tolero você, Cliff. - E fez uma careta para o irmão, que caiu na gargalhada.
Gina foi dormir depois de meia-noite e antes do amanhecer já estava de pé. Ao dirigir-se à cozinha, encontrou o pai e o irmão tomando café.
- Por que sé levantou tão cedo? - perguntou o pai.
- Acho que vou levar Júpiter para fazer um pouco de exercício.
- Seja cuidadosa com aquele demônio negro. Raymond avisou sério. - Faz dois dias que ele não se exercita, e certamente está muito ansioso para disparar por aí.
- Gina - deveria ter escolhido um cavalo mais manso - Clifford intrometeu-se. - Qualquer hora, ainda vai quebrar o pescoço com o Júpiter.
- Tudo bem - disse ela, num sorriso encantador, sem fazer caso dos dois. - Vejo vocês mais tarde.
O sol mal acabara de surgir no horizonte e Gina já cavalgava com o puro-sangue, pelos campos, senhora das pastagens e sentindo-se livre como um animal selvagem.
Cavalo e amazona se movimentavam em harmonia, e cerca de uma hora e meia depois resolveu voltar para casa.
Um Jaguar prata estava parado ao lado de seu carro, e um sentimento de inquietação fez seu estômago se contrair. Ela apeou, entregando as rédeas do cavalo ao empregado e subi os degraus da varanda cada
vez mais tensa, como se uma espécie de intuição, a avisasse de algum perigo.
Fechou a porta da sala e caminhou em direção à cozinha onde Susan terminava de coar café.
- Temos visita. - a cunhada disse.
- Eu percebi, quem é?
- Jarvis Cain.
- Oh, não! - balbuciou, atordoada, puxando os cabelos castanhos para trás.
Ela sabia! Algo parecia tê-la avisado que só poderia ser Jarvis Cain!

 

Capítulo 2

Gina mal podia conter a ansiedade.
- O que Jarvis Cain está fazendo aqui?
- Veio a convite de seu pai. Achei-o incrivelmente atraente - brincou Susan, mas ao notar a ansiedade de Gina, indagou: - Não gosta dele?
- Apenas não desgosto - respondeu evasiva. - Quando é que chegou?
- Há cerca de meia hora. - Susan deu uma olhada no fogão e virou-se para Gina, que parada num canto, parecia indecisa. - Por favor, Gina, avise os homens que o café está pronto e será servido na sala de
jantar.
O súbito pedido fez o estômago de Gina de novo contrair.
- Tenho mesmo de ir avisá-los?
- Por que não? Quer se esconder de Jarvis? - Sussan riu, achando graça da situação.
- Acho que está certa - concordou, fazendo de tudo para esconder o nervosismo atrás de uma aparência casual.
Jarvis ergueu-se quando Gina entrou na sala, e ela de imediato notou sua figura imponente, apesar da informalidade da calça creme e suéter marrom. O cabelo negro estava penteado para trás, e os olhos cinzentos
como aço a percorreram de alto a baixo, numa avaliação rápida e minuciosa. Mais um brilho de desafio nos olhos, verdes refrearam o olhar de Jarvis.
- Bom dia - ele cumprimentou educado.
- Olá Jarvis. - Respondeu com uma falsa calma que escondia seu tremor. Sentia a boca seca e apressou-se a dar o recado.
- Susan me pediu para avisar que o café será servido na sala de jantar.
- Então vamos para lá! - disse o pai, se levantando da cadeira.
Dirigindo-se à sala de jantar, Gina ainda sentia o olhar de Jarvis sobre seu corpo.
- Você cheira como um cavalo - Clifford brincou, provocando-a sem a menor sutileza e aumentando o embaraço da irmã, que se virou para ele indignada.
- O que você esperava se acabo de chegar de uma cavalgada? - retrucou cortante, notando o olhar de surpresa no rosto do irmão - De qualquer modo, eu não esperava uma visita tão distinta para o café da
manhã -acrescentou mordaz.
Fez-se um silêncio tenso na sala quando se sentaram em volta da mesa, e para desgosto de Gina ela se viu frente a frente com Jarvis.
- Vocês têm muitos cavalos? - perguntou Jarvis, dirigindo-se a Clifford.
- Seis - respondeu o rapaz. - Um castrado, quatro éguas e um garanhão árabe que é exclusividade de Gina.
- Você ainda monta, Jarvis? - perguntou Raymond.
- Quando tenho oportunidade, o que não é freqüente, ultimamente.
- Minha irmã monta todas as manhãs quando está em casa. - A afirmação de Clifford, fez Gina ficar tensa, pois sabia o que viria em seguida, e não havia nada que pudesse fazer para impedir. - Não gostaria
de acompanhá-la amanhã?
- Nada me agradaria mais - Jarvis replicou suavemente. Encontrando o olhar desconfiado de Gina quando a fitou.
Novamente, como no primeiro encontro, Gina teve a impressão de quê Jarvis zombava dela. Devolveu-lhe o olhar com outro cheio de ressentimento.
- Se sua irmã quiser minha companhia, eu gostaria muito.
Gina sabia que estava sendo provocada, mas conteve-se. "Dane-se!", não ia dar àquele homem o gostinho de saber que sua presença a incomodava.
- Não tenho objeções - foi a resposta dela, mas a raiva contida em sua voz não passou despercebida a Jarvis.
- Nesse caso... combinado. - E sorriu irônico.
- Aceita bacon, Jarvis? - A voz calma e tranqüila de Susan foi como uma brisa fresca na atmosfera pesada.
- Quero, sim. Obrigado.
- Gina não fez mais o menor esforço para participar da conversa. Ao terminarem o café da manhã, ela tomou um banho, mudou de roupa e resolveu fazer uma visita a uma amiga que não via há rnuito tempo. Tal
atitude fora consciente, não queria ficar perto de Jarvis.
Quando voltou todos já dormiam. Respirou aliviada e se dirigiu à cozinha para fazer um café.
Minutos depois, contudo, ficou tensa ao ver uma figura alta, apoiada no batente da porta.
Jarvis a estudava lentamente, aprovando a saia cinza justa e a blusa âmbar que usava.
- Todo mundo vai para a cama tão cedo?
- Aqui vive-se uma vida de fazenda - respondeu com ar casual. - Dorme-se cedo e acorda-se cedo.
- Isso faz um homem rico, sadio e sábio - Jarvis completou cínico. - E, se é assim, por que ainda não está na cama? A vida da cidade transformou você?
Ela indicou a cafeteira elétrica.
- Aceita um pouco de café?
- Sim, por favor.
Gina deu-le as costas, irritada pelo fato de ele ainda não ter ido para a cama. Percebia os olhos frios de Jarvis seguindo cada movimellto que fazia enquanto, pegava a cafeteira.
- Você é muito educada, Georgina - ele zombou enquanto puxava uma cadeira e sentava à mesa. - Estou começando a pensar que minha presença desagrada você.
- Você é convidado de meu pai - respondeu, escondendo as emoções sob uma aparência calma e fria.
- Gostaria de ser seu convidado também.
A mão de Gina tremeu ao terminar de servir o café, mas ela preferiu ignorar o comentário dele.
- Como prefere o café? - perguntou secamente.
- Preto e sem açucar, por favor. Você mudou bastante nesses últimos anos.
- Mesmo? - ela perguntou com uma indiferença forçada, embora seu coração disparasse dentro do peito.
- Faz cinco anos desde que nos encontramos, pela primeira vez. Você devia ter uns... quinze ou dezeseis anos não é isso? - Os olhos de Jarvis se estreitaram, estudando o rosto jovem ê perfeito à sua frente.
- Dezesseis - respondeu Gina, mexendo com vigor a colher em sua xícara, sem a menor disposição de recordar aquele primeiro encontro, mas Jarvis não parecia disposto a esquecer o assunto.
- Tenho uma lembrança vívida de uma garota sardenta e de cabelo castanho. - Ele sorriu fracamente, atento aos traços rígidos de Gina. - E devo dizer que você me assustou muito quando caiu da árvore.
Gina odiou-o naquele momento por fazê-la corar.
Será que tem de ficar me lembrando daquele incidente embaraçoso? - perguntou fria.
- Não pensei que você estivesse ficando embaraçada - ele a contradisse sério. - Tive a impressão que estava com medo.
- Cair de uma árvorê não o teria assustado? - perguntou, entre os dentes.
- Estou falando de antes da queda.
- Não diga bobagens - protestou veemente, impressionada com a percepção e memória dele, quase queimando a língua com o café quente.
- E você ainda tem medo de mim por alguma razão.
- Isso é ridículo - replicou, seca, mas não ousou olhá-lo nos olhos.
- Concordo que é ridículo - zombou Jarvis - mas é curioso. Você se tornou uma linda mulher, Georgina!
A voz, grave soava como vélúdo e parecia uma caricia na pele quente de Gina, fazendo-a estremecer. Havia algo, de felino naquele homem, algo que a ameaçava e a fazia fugir. Gina só esperava não cair na
armadilha que sentia que Jarvis preparava para ela.
- Tome seu café, antes que esfrie. Ela tentou fujir do assunto, mas Jarvis não pareceu se perturbar.
- Fale-me de você, Georgina - Ele pediu,erguendo a xícara até os lábios e tomando um gole de café - Faz muito tempo que não nos vemos e sua vida deve ter mudado. Lembro-me de minha mãe haver dito que você
trabalhava com computadores.
- Sou analista de sistemas na Becketts Engenharia.
- Isso parece impressionante...!
- Não gostei desse comentário.
- Não seja modesta quanto à suas conquistas. - Ele a repreendeu. - E o que faz quando não está com seus computadores?
- O mesmo que todo mundo: leio, ouço música, vou a lugares...
- Sozinha?
Ela evitou os olhos acinzentados e penetrantes.
- Não, acompanhada.
- Eu devia saber. - A boca sensual curvou-se num sorrisso - Você é bonita demais e deve ter um punhado de homens ao seu redor.
- Só há um homem. - confenssou sem pensar.
- Então é coisa séria?
- Eu não diria... - Ela se interrompeu, um brílho de fúria nos olhos verdes ao perceber a armadilha de Jarvis.
- Está tentando usar suas táticas de advogado, Jarvis Cain? - perguntou resentida.
- Quem sabe elas são de grande ajuda para descobrir o que se deseja.
A admissão pura e simples da verdade e a ponta de zombaria a deixaram profundamente irritada.
- Já vou dormir.
- Ainda não - Ele ergueu a mão agarrando-a pelo pulso antes que pudesse se levantar da cadeira. - Gostaria de conhecê-la melhor.
Gina sentiu o medo crescer ao fitar a mão forte de dedos longos que a mantinha cativa.
- Eu não quero...
- Além disso... - Ele a interrompeu severo - não pode me largar sozinho, sou um hospede nessa casa.
- Droga! Explodiu brava.
Jarvís inclinou-se na direção dela, os olhos semicerrados ao estudar o rosto contraido.
- Sabia que ainda tem algumas sardas no nariz?
Gina prendeu a respiração e libertou-se dele. O que diabos Jarvis estava tentando fazer? Flertar? Não! Pensou cética, homens como Jarvis Cain não flertavam com as mulheres, eles as seduziam.
- Se pretende cavalgar pela manhã, está na hora de dormirmos.
- Acho que à senhorita quer se ver livre de mim... - Ele sorriu de viés.
- Pode apostar que sim - confessou franca, empurrando a cadeira e se afastando.
Jarvis levantou-se como um raio e barrou a passagem de Gina.
- Você é tão franca que chega a ser rude, sabia?
- Sabia sim. Mas isso apenas quando há necessidade.
- Nesse caso é bom que eu saiba, para me situar. - E saindo de lado para lhe dar passagem, acrescéntou: - Por favor... Sinta-se à vontade.
Gina passou por ele apressada. A loção após barba que Jarvis usava provocou-lhe os sentidos. Maldição! Não queria sentir nada par Jarvis Cain. Nada!
Em silêncio, ele a seguiu para fora da cozinha, e quando chegaram à porta de seus quartos lançou-lhe um último olhar, sorrindo de leve.
- Boa noite, George.
Gina já ia responder malcriada, mas antes que tivesse tempo ele já havia fechado a porta. Fitou o coredor vazio, e engoliu a raiva. Como ousava chamá-la de George, se sabia que isso a aborrecia?
Gina entrou no próprio quarto e aprontou-se para dormir, mas assim que se deitou na cama seus pensamentos se valtaram para o homem que ocupava o quarto ao lado. Por que pensava nele cam tanta intensidade?
Tivera uma paixão de adalescente, coisa de criança, que já fazia parte do pasado. Entretanto, sabia que se não controlasse suas emoções tudo se complicaria. Era evidente atração que havia entre ambos,
e não podia ignorar que se tornara ainda mais forte do que antes. Se não resistisse, se apaixanaria novamente, e dessa vez sabia que a dor seria insupartável.
Gina rolou na cama, até adormecer de puro cansaço. Era madrugada ainda quando acordou. Levantou-se e vestiu-se, dessa vez escolhendo uma calça cáqui e blusa verde, jogando um suéter cinza nos ombros.
Saiu do quarto, muita quieta, no corredor escuro parou na porta do quarto de Jarvis.
- Está acordado? - perguntou vendo a porta encostada.
- Entre - ele convidou-a.
Gina abriu mais a porta, e a respiração, ficou suspensa na garganta ao vê-lo sem camisa. Jarvis tinha um corpo belíssimo: os ombros largos, os braços fortes, o peito coberto de pêlos negros que desciam
em direção ao ventre. Vestindo um jeans justo, emanava uma sensualidade toda particular, própria das pessoas que tem consciência do quanto são atraentes.
- Bom dia, Georgina - cumprimentou-a suavemente, colocando sem pressa o pulôver negro que tirara do guarda-roupa.
Gina percebeu que Jarvis, mesmo sério, parecia rir dela, e furiosa consigo mesma, deu-lhe as costas, sentindo as faces quentes pelo embaraço. Não queria, não podia se sentir assim com relação a ele.
- Espero-o no estábulo - disse finalmente, e não esperou por resposta.
As estrelas estavam desaparecendo e os primeiros traços do dia surgiam no céu quando Gina chegou ao estábulo onde Salomão a esperava com dois cavalos. Júpiter rêsfolegava impaciente e com voz calma, ela
o tranqüilizou, enquanto verificava a sela e as correias.
O som das botas de Jarvis a fez voltar à cabeça, mas rapidamente desviou o rosto, se concentrando de novo no que fazia.
- Você sempre se levanta tão sedo? - ele perguntou com o familiar traço de zombaria na voz.
- É a melhor hora para uma cavalgada - Gina respondeu, abrupta, as mãos segurando firme as rédeas do garanhão, que se agitou com a aproximação de Jarvis.
- Qual é o meu cavalo?
- Aquele. - E apontou para o belo cavalo marrom, com uma estrela branca na fronte.
- Obrigado. - Jarvis lançou um olhar preocupado para Júpiter, que impaciente cavava a terra com a pata. - Ele não é perigoso para você?
- Júpiter e eu temos um acordo - respondeu Gina, colocando a mão sob o pescoço do cavalo. - Respeito a liberdade dele, e ele tolera que eu segure as rédeas.
- Pelo jeito você entende muito de psicologia - Jarvis zombou novamente, mas Gina ignorou-o.
Observou-o montar Star com a facilidade de um homem acostumado a cavalgar e teve de admitir que ficava muito bem sobre um cavalo.
- Podemos ir? - ela perguntou.
- Quando quiser.
Gina montou no garanhão com graça e agilidade, e ele reagiu de imediato.
- Vamos lá, Júpiter!
Apesar de ser um cavalo admirável, Star não era páreo para Júpiter, e Gina não fez a menor Questão de ser acompanhada por Jarvis.
O vento assobiava em seu ouvido, jogando os cabelos castanhos para trás, harmonizando cavalo e amazona como um único corpo, fazendo-a esquecer de todo o resto. Gina quase nem se lembrava de que Jarvis
vinha atrás, mas, ao se aproximarem de sua colina favorita ele a alcançou numa súbita explosão de velocidade.
- Você sempre cavalga nesse ritmo louco? - perguntou erguendo a voz sobre barulho dos cascos. Dessa vez foi ela quem lhe respondeu com um brilho de zombaria nos olhos verdes.
- Não é emocionante? - Com um pequeno encorajamento, Júpifer mais uma vez disparou, até chegarem ao topo da colina onde ela o amarrou a uma árvore.
Jarvis chegou em seguida.
- Que gentileza a sua de parar e me dar um tempo - conmentou sarcástico, ao desmontar e amarrar Star próximo de Júpter.
Gina não respondeu, caminhou pela terra úmida apenas para descobrir fascinada que ainda estava em tempo de ver o sol nascer.
- Olhe! - Apontou em direção ao leste quando Jarvis parou a seu lado, o olhar acompanhando o dela.
Uma bola dourada se erguia no céu da madrugada. A terra úmida brilhava, cheia de vida, como se algum mágico a tivesse acordado. Pássaros começavam a cantar sobre as árvores.
- Ver o sol nascer por entre a neblina da cidade não é a mesma coisa que isto, é? - Gina suspirou feliz sem saber que o sol nascente lançava um halo ao redor de seus cabelos, sem perceber que havia um
interesse muito, muito especial, nos olhos do homem que a observava intensamente.
- Você é uma criatura da natureza, Georgina. - A voz de Jarvis se intrometeu suave na sinfonia matinal. - O que você está fazendo na cidade?
Giria sentiu o olhar dele sobre si, mas não foi capaz de encará-lo. Enfiou as mãos nos bolsos da calça, dando de ombros.
- Tinha de ganhar a vida em algum lugar e como não pode sér na fazenda, fui para a cidade.
- Se tivesse escolha, o que preferiria? - Como um ímã, o olhar de Jarvis atraiu o dela fazendo-a prisioneira. Lutando contra o fascínio que Jarvis lhe provocava forçou-se a desviar o olhar.
- Não tenho escolha, portanto, sua questão é irrelêvante, sr. Advogado - respondeu friamente, afastando-se em direção aos cavalos.
- Eu me pergunto de onde minha mãe tirou a idéia de que você é uma garota doce e de bom gênio. - Essa frase, dita ao acaso, teve o poder de fazê-la lembrâr-se da madrinha, e mais do que nunca sentiu sua
falta.
- Sua mãe era uma mulher maravilhosa, e eu a amava muito.
Um sorriso cínico curvou os lábios de Jarvis.
- Era também uma mulher que sabia o que queria e como consegui-lo.
Jarvis parecia amargo. E da maneira como falava transformava Evelyn Cain numa mulher manipuladora, por quê? Seria incapaz de esquecer e perdoar?
- Para falar a verdade, estou contente por ter esses minutos a sós - Gina falou determinada, tocando no assunto que a incomodava. - Sabe que sua mãe me deixou uma quantia em dinheiro, não?
Os olhos de Jarvis se estreitaram de um jeito que a aterrorizaram.
- Sim, eu sei.
- Acontece que me sinto culpada por receber um dinheiro que não fiz por merecer - confessou.
- Você significava muito para minha mãe, especialmente nesses últimos anos - retrucou Jarvis, com uma estranha dureza. - Acho que foi o modo que encontrou para lhe agradecer. Não tenha escrúpulos em aceitar
o que ela lhe deixou, você merece.
- Se acha que é assim... - Gina deixou a frase em suspense. Mas ainda havia algo que a incomodava e que precisava esclarecer: - Você conversou com sua mãe antes de ela morrer? Quero dizer...
- Quer dizer... se eu fiz as pazes com ela?
- Sim - concordou, olhando, de lado para o rosto tenso que os cabelos negros revoltos pelo vento não conseguiam esconder. - Fez?
- Tivemos uma longa conversa uns dias antes da sua morte, e acho que nos entendemos melhor - respondeu após um longo suspiro.
- Fico feliz com isso.
- Eu também.
Estavam a apenas um passo um do outro quando o sol coroou completamente a manhã, e algo no modo como Jarvis a olhou deixou-a inquieta.
Era hora de voltar para casa, pensou determinada e certamente Júpiter também, pensava assim, pois empurrara-a com a cabeça, jogando-a contra Jarvis. Num instante, Gina o sentiu segurá-la, mas em vez de
soltá-la de imediato, ele a puxou para junto de si.
Na tentativa de se afastar, Gina o empurrou, mas tudo que conseguiu foi tocar o peito forte e quente por sobre o suéter, numa sensação eletrizante que a deixou imóvel.
Não houve tempo para palavras de desculpas, pois a boca exigente desceu sobre a dela, numa reação imprevisível, levando-a a uma resposta que não queria nem deveria dar.
De novo Gina tentou se libertar, mas as mãos dele a prendia, segurando-a gentil, porém firme, pela nuca, enquanto a outra corria pelas suas costas, num abraço exigenrte.
Embora tensa, com a intimidade inesperada, Gina queria corresponder à carícia. Sentia a boca de Jarvis que tocava-lhe os lábios com perícia e sensualidade, fazendo-a se abrir para receber a língua ousada.
Mas de repente um instante de lucidez a fez empurrá-lo com uma força que ela não sabia possuir.
- Vá para o inferno Jarvis Cain! - explodiu, montando no garanhão e disparando colina abaixo.
Durante a louca corrida Gina tentava não pensar, apenas fugir das sensações que ele lhe provocara. Quando adolescente sonhara com um beijo de Jarvis, e, agora, como mulher, ele a fazia experimentar emoções
ainda mais fortes. Sentia sobre os lábios a força da boca firma. Doce e úmida... Como ele pudera se atrever? Como pudera tentar usá-la, mantendo um relacionamento com Lílian Ulrich?
Gina freou bruscamente Júpiter ao se aproximarem dos estábulos. O garanhão resfolegava alto quando ela deslizou da sela para o chão. Entregou as rédeas ao empregado e não se deu o trabalho de esperar por
Jarvis, que chegou logo depois.
- Georgina!
Ela ouviu as passadas fortes apressasdas atrás de si e sentiu a mão forte que a agarrava pelo braço.
- Não me toque novamente! - falou ríspida.
- Não tocarei, se é isso que quer, mas não tive a intenção de ofendê-la - Disse, conciliador, as mãos, erguidas na tentativa de acalmá-la. - A tentação de beijá-la foi irresistível. E peço desculpas se
você o quiser.
Um brilho maroto e uma ponta de desafio brincavam nos olhos acinzentados. Ele era bastante inteligente, admitiu Gina. Não era um garoto e sabia o quanto o beijo a havia afetado.
Inspirou profundamente, recuperando a calma e encarou-o:
- Acho que exagerei na minha reação!
- Minha querida, quanta condescendência de sua parte em dizer isso... -Agora Jarvis zombava dela abertarmente, na voz e no olhar.
Gina dez um grande esforço para não revidar à altura, e disse apenas:
- Vamos tomar café!
Disposta a ignorá-lo, dali para fernte, logo descobriu que não ia ser muito fácil. Mesmo longe, podia sentir-lhe a presença, e aflita percebeu que o antigo fazcínio retornara.
- Não, de novo não! - disse a si mesmo, ríspida. Não iria cair na mesma armadilha duas vezez!
Durante o dmingo o clima entre Gina e Jarvis permaneceu tenso. Quando almoçaram foram salvos pelo bom humor de Clifford, que resolveu contar sobre as travessuras que fizera na infância.
Quando por fim Jarvis anunciou que ia embora, Gina se mostrou totalmente indiferente. Houve uma troca calorosa de abraços entre ele e Raymond, Clifford e Susan.
Ela, parada á porta junto com a família, viu-o entrar no carro. De repente, jarvis sorriu e disse:
- Vejo você durante a semana, Georgina.
"Não se eu puder evitar!", teve vontade de dizer, porém apenas o encarou muito séria, e virou-se, afastando-se antes que o carro partisse.

Capítulo 3

A manhã de segunda-feira começou mal para Gina. Assim que chegou no escritório, um pacote de problemas aterrizou em sua mesa. Parecia que tudo ia dar errado, mas quando Norman Thrope ligou convidando-a
para jantar, ela sentiu-se bem melhor.
- O Diggers está anunciando um show que você vai adorar. - O rapaz sabia do gosto de Gina, por aquele tipo de diversão. - Apanho você às sete da noite amanhã.
Terminada a conversa, Gina se dirigiu à sala dos computadores. Estava sorvendo um gole de chá frio quando o telefone tocou outra vez. Foi Mitzi quem atendeu e a chamou.
- É para você. É a segunda vez que ele liga hoje.
Gina franziu a testa.
- Ele quem?
- Não sei... Não deu o nome, mas tem a voz mais sexy que eu já ouvir.
Gina sentiu uma pontada de apreensão ao atender a chamada em sua mesa.
- Aqui é Gina Osborne.
- Bom dia. - A voz grave de Jarvis veio do outro lado da linha. - Espero que tenha feito uma boa viagem de volta.
Gina sentiu o estômago contrair.
- Fiz sim, obrigada.
- Está contente em me ouvir?
- Deveria estar? - retrucou com a voz polida e fria.
- Naturalmente! Faz quase vinte e quatro horas desde última vez que nos vimos.
- Confesso que sobrevivi.
- Você é muito fria e distante ao telefone, Georgina. - Ele ficou em silêncio por alguns instantes como se estivesse ponderando sobre o próprio comentário. - O que acha de jantarmos juntos esta noite?
- É algo totalmente fora de questão - disse ela recusandoo convite abruptamente.
- Posso saber por quê?
A mente dela trabalhava rápido para encontrar uma desculpa plausível.
- Tenho uma tonelada de roupa para lavar e passar, e preciso limpar a casa.
- Não tem faxineira?
- Não.
- E amanhã à noite? - Jarvis insistiu.
Abençoado Norman! Ela pensou, quando respondeu firme.
- Vou sair para jantar com uma pessoa.
- Homem?
O traço odioso de zombaria voltava novamente, e ela se ressentiu:
- Isso surpreende você?
- De forma alguma! - Ele riu. - Você realmente mencionou que havia alguém em particular, se me lembro bem.
Gina estava cansada daquela conversa sem sentido e Mitzi começava a fitá-la curiosa.
- Olhe, estou muito ocupada e preciso des...
- Quarta à noite? - Jarvis a interrompeu, e novamente recebeu uma negativa.
- Estarei trabalhando até tarde. - explicou aliviada por ser verdade.
- Puxa, você é uma garota bastante difícil - Jarvis comentou. - Acho que talvez deva tentar minha sorte um outro dia.
A conversa foi cortada abruptamente e Gina colocou o fone no gancho.
- Quem era ou eu não devo perguntar? - Mitzi a fitou inquiridoramente.
- Era Jarvis Cain.
Os olhos de Mitzi se arregalaram.
- O filho de sua madrinha?
- O próprio.
- Suponho que a convidou para sair e você recusou.
- Acertou novamente - Gina admitiu, abrindo uma pasta e fingindo estudá-la, enquanto se acalmava.
- Por que não aceitou?
- Será que tem que fazer tantas perguntas? - Fitou a assistente com irritação.
- Desculpe. - Mitzi olhou-a sem jeito. - Ele não é tão sexy quanto parece ao telefone?
- É muito mais. Jarvis Cain é terrivelmente atraente, um verdadeiro pedaço de mau caminho, apenas não estou interessada nele.
- Você enlouqueceu?
- Acertou outra vez - assentiu Gina, fechando a pasta e empurrando-a ao longo da mesa. - E se não tem nada, mais a perguntar, poderia por favor levar esta pasta para a sala do computador?
- Trabalho, trabalho, trabalho - Mitzi murmurou reprovadoramente. - É só no que você pensa.
Gina encostou-se na cadeira com um suspiro de alivio por ficar por um momento sozinha. O telefonema de Jarvis a pertubara demais. Sentia-se trêmula e presa de uma angústia que não a abandonou o resto do
dia.
O restaurante dos Diggers não era um lugar de estirpe, mas a comida era boa e o show divertido. Justamente o que Gina precisava depois de dois dias de trabalho duro.
Normam era uma companhia agradável, nunca exigindo mais do que amizade e companheirismo, e isso a agradava. Contudo, no final da noite, ela estava exausta e tudo que queria era dormir.

Gina previa uma quarta-feira difícil no escritório, mas não imaginava que seria uma corrida contra o tempo.
A equipe da sala de computadores já estava ficando irritadiça, os temperamentos explodindo, e Gina começou a achar difícil controlar a própria irritação. Teria de reduzir a hora do almoço pela metade,
e uqndo saiu do escritório, não sentia-se com a menor disposição para conversar. Era meio-dia e já estava exausta. Na porta do edifícil, ela estancou ao ver um Jaguar parado e jarvis, que de dentro do
carro perguntou:
- Almoço? - Ele ergueu a sobrancelha quando a viu hesitar. - Você tem hora de almoço, não tem?
- Tenho meia hora - respondeu cansada, sentindo-se como se estivesse com chumbo nos pés.
- Suba. - Disse incisivo.
Por alguma estranha razão, Gina o obedeceu.
- Conheço um lugarzinho que fica praticamente a um quarteirão daqui. Sempre há vaga no estacionamento, e a comida é boa.
Gina não respondeu, estava tensa demais e tentava não demonstrar o quanto a simples presença de jarvis a pertubava. Procurava sem sucesso entender o que lhe acontecia, toda vez que ele estava por perto.
Sabia que como adolescente fora muito vulnerável a personalidade dele, mas agora era uma mulher... Por que o temia? Dizia a si mesma que não havia motivos para o medo, mas algo lhe dizia para que tivesse
muita cautela.
Jarvis entrou no estacionamento e só conseguiu uma vaga no quarto andar.
Saltou e abriu a porta para Gina. Ela não tinha menor idéia de onde estavam e se surpreendeu ao entrarem no elevador e subirem até o vígéssimo-segundo andar.
O restaurante cheirava a tinta fresca, a prataria e os cristais brilhavam como espelho, e os maitrês estavam vestidos na última moda. Virando-se para ele Gina protestou:
- Não estou vestida adequadamente para um restaurante como este.
Jarvis não respondeu de imediato, estudando a figura alta num conjunto de saia e casaco verde pálido e camisa de seda cinza.
- Parece perfeita para mim. Venha - ele disse, segurando-a firmemente pelo braço.
O toque daquele homem parecia incendiá-la, quando ele a acompanhou pelo restaurante.
Havia uma intimidade tranqüila naquele ambiente, decorado com luz suave e bom gosto.
- Você pretende mesmo trabalhar até tarde esta noite, ou é apenas uma desculpa para não jantar comigo? - Jarvis perguntou, franco, depois que o almoço foi servido.
- Estou mesmo trabalhando até tarde - confirmou, temperando a salada e esforçando-se para esquecer o aperto que sentia no peito.
- Gostou do jantar da noite passada?
Ela ergueu o rosto e encontrou dois olhos marotos fitando-a com interesse.
- Foi muito agradável.
- Parou para pensar que eu tive de jantar sozinho?
- Eu nunca penso em você - respondeu calma, fitando-o e rezando para que sua voz saíse convincente. - Tenho certeza de que, se jantou sozinho foi porque quis. Não creio que tivesse problemas em encontrar
companhia. - acrescentou indiferente.
- Você parece achar que eu tenho uma lista de nomes que consulto quando quero companhia. - Sorriu sardônico, deixando transparecer uma ponta de irritação na voz, ao perceber que Gina não dava muita importância
a ele.
- Para fatar a verdade, nunca pensei nisso. Mas sei que tem saído com uma mulher que ultimamente participa de sua vida. - Enfrentou-o, recusando-se a parecer ingênua.
- Está se referindo a Lilian Ulrich, é claro! Infelizmente, ela está viajando pela Europa.
Gina percebia o desejo de Jarvis antes que olhasse para ele, e o fez deixando transparecer todo o desprezo que sentia.
- Você tem consciência de que está passando uma imagem de alguém totalmente indigno de lealdade e confiança?
As sobrancelhas dele se ergueram num gesto de surpresa.
- É muito gentil de sua parte fazer tal juízo de mim. - Comentou cínico.
- Se você a ama, o mínimo que se espera é que lhe seja leal - Gina rebateu.
- Amá-la? - Ele riu sarcástico. - Minha querida menina, não me diga que acredita nessa história romântica.
Gina sentiu-se envolvida por uma súbita frieza e desejou fugir dali, mas se conteve. Não iria desistir.
- Não me envergonho de acreditar no amor, e sinto pena de você, por ser tão cínico.
- Não se trata de cinismo, acredito em algo que é muito mais palpável e explicável que o amor. - A voz dele se tornou um sussurro. - Para ser mais claro, estou falando de desejo. Quando se quer algo ou
alguém, se quer e pronto, não existe meio-termo.
Gina perdeu o apetite e cruzou os talheres sobre o prato. - Desejo é algo puramente físico - retrucou Gina.
- E você é contra?
Jarvis a provocava de propósito, como se não soubesse que a estava magoando. Tentanao se conter, Gina disse, tensa:
- Poderíamos mudar de assunto?
- Suponho que teve um professor inexperiente que a traumatizou - ele insistiu.
A provocação ia além do que podia suportar, e ele divertia-se com isso. Gina sentia o rosto quente, mas não lhe daria explicação, tampouco lhe diria o quanto estava enganado.
- Poderia parar com isso, Jarvis? - pediu gélida, antes que ele fizesse outro comentário.
Jarvis observou-a com olhos semicerrados, e então deu de ombros indiferente.
- se é assim que prefere...
Ele pediu a conta e Gina sentiu-se melhor quando saíram do restaurante.
- Até que horas vai trabalhar esta noite? - Jarvis perguntou, quando já deixavam o estacionamento, quebrando a silêncio.
- Nove... talves nove e meia - respondeu evasiva.
- Sempre trabalha até tão tarde?
- Não - Gina disfarçava o mau humor.
Jarvis fitou-a brevemente.
- Trabalha sozinha?
- Faço parte de uma equipe - explicou quando o carro parou em frente ao prédio de escritórios. Com a mão na maçaneta, agradeceu: - Obrigada pelo almoço.
- Não sei - ela falou cortante, esperando que Jarvis a soltasse para se afastar.
- Vou ligar - disse de repente soltando-a, mas o brilho familiar de zombaria estava em seu rosto quando a provocou: - Eu não sou desajeitado quando faço amor, Georgina.
Ela ficou com a respiração presa na garganta. Aquele homem era um demônio. Sentia-se ameaçada. Os olhos verdes brilhavam numa revolta silenciosa quando ela se afastou em silêncio.
Gina trabalhou até tarde naquela noite, e ao chegar em casa, depois das dez horas, estava completamente esgotada. Abandonou a bolsa no sofá e os sapatos de salto alto num canto da sala. Indo para o banheiro,
tomou um banho revigorante e secou os cabelos em seguida. Dirigia-se para a cozinha apenas de robe, quando a campanhia tocou. Quem poderia ser àquela hora da noite?
Abriu a porta, mantendo o trinco de segurança e quase caiu para trás ao dar com Jarvis carregando um pacote de compras.
- O que está fazendo aqui? - perguntou.
- Tenho filés e batatas do Antônio's - anunciou, batendo na embalagem com a mão.
- Você eslá louco!
- Estou é faminto - corrigiu-a. - Vai me convidar pra entrar ou tenho que ficar aqui no corredor a noite toda?
Incredulidade e surpresa fizeram com que Gina abrisse a porta, deixando-o entrar. Jarrvis passou por ela, lançando um olhar apreciativo ao robe de seda que cobria seu corpo antes de colocar os pacotes
sobre a mesa.
- Jarvis, você tem idéias de que horas são?
- Tenho sim. Agora pegue os pratos e os talheres. A comida está quentinha.
Jarvis sorriu de leve e quando ela voltou da cozinha com os pratos.
- Agora sente-se e coma, moça.
Gina obedeceu docilmente e só no momento em que deu a primeira mordida no fife, percebeu como estava faminta. Lembrou-se então que saíra de casa sem café da manha e que o almoço com Jarvis não ajudara
muito.
- Não percebi que estava com tanta fome - comentou com suavidade, quebrando o agradável silêncio que reinava entre eles durante a refeição. Recostou-se na cadeira com um suspiro de alívio. Então os olhos
deles se encontraram e Jarvis sorriu de um modo que fez o coração de Gina bater forte dentro do peito. "Não baixe qa guarda", disse a si mesma, disposta a não se deixar conquistar.
Então se levantou, reuniu os pratos e talheres usados e foi encaminhando para a cozinha. Seus pés descalços afundavam no carpete macio, e Gina deu-se conta da intimidade que se estabelecera entre os dois.
- Café? - ela ofereceu.
- Sim, obrigado, Gina.
Era a primeira vez que Jarvis a chamava assim, e Gina gostou do som de seu nome na voz macia.
Ao retomar da cozinha trazia duas xícaras de café, preparando o de Jarvis como ele lhe indicara uma vez: preto e sem açúcar. Estendeu-lhe a xícara, mas em vez de se sentar ao lado dele no sofá, preferiu
a poltrona em frente.
- Vai jantar comigo amanhã à noite?
O convite viera sem aviso e Gina pegou-se lutando com a vontade de aceitar.
- Obrigada, pelo convite... mas não.
Jarvis nitidamente ficou contrariado com a recusa, mas Gina permaneceu impassível.
- Vai me dizer por que não? - A voz soava controlada, embora num leve tom de ameaça.
- Não me sinto com vocação para ser reserva de Lilian Ulrich.
- E eu disse que a queria como reserva? - A pergunta foi feita num tom tenso.
- Não disse, mas... - De repente, ela resolveu ser franca, em vez de ficar na defensiva. Achou melhor abrir o jogo: - Por que esse súbito interesse por mim, Jarvis?
- Não é súbito, é até mesmo antigo... Você é uma mulher muito atraente e não vejo nada de estranho em querer conhecê-la melhor.
O sorriso que ele lhe lançou parecia querer hipnotizá-la, e mostrava um desejo que não fazia a mínima questão de esconder.
- Agora que nos encontramos novamente, não pretendo deixá-la escapar. Portanto, deve dizer ao seu namoradinho para ir passear em outro lugar - ele falou implacável, num timbre profundo que parecia acariciá-la
intimamente, deixando-a sem forças. - Você vai ser minha, Georgina, e não vou deixar ninguém se interpor entre nós.
Medo e indignação envolveram Gina ao ver nos olhos cinzentos uma chama de paixão e invencibilidade que a assustavam.
- Não acha que devo ser consultada a respeito? - ela perguntou - Não está sendo muito presunçoso, sr. Jarvis Cain? Você não é o meu tipo e não ia querê-lo nem numa bandeja de prata! - terminou, malcriada.
- Num futuro não muito distante, provarei que essas palavras são mentiras - ele falou imperturbável. - Boa noite, Georgina, e pense sobre isso.
No minuto em que ele saiu, Gina apressou-se em trancar a porta, mas seus dedos tremiam tanto que ela levou alguns instantes para conseguir.
Já na cama, as palavras deles ecoavam-lhe na mente. O que Jarvis estaria planejando? Ele não queria saber de casamento, então só restava... não! Definitivamente não seria amante dele!

Na manhã seguinte, Mitzi, ao notar que Gina trazia no rosto as marcas da noite mal dormida, perguntou:
- Aconteceu alguma coisa?
- Não dormi direito...
- Você leva seu trabalho muito a sério, Gina. - Mitzi ia começar um sermão, quando o telefone tocou. A assistente o atendeu. - É para você. É o homem da voz sexy.
Gina estremeceu.
- Diga-lhe que não estou no escritório.
Mitzi obedeceu, mas lançou-lhe um olhar estranho, em seguida.
- Ele disse que sabe que está aqui. O que faço agora?
- Vou atender - capitulou pegando o fone. - Alô, Jarvis.
- Que vergonha, Georgina fazer a moça mentir por você. - Censurou-a irônico. A maciez da voz grave foi como uma carícia, no corpo de Gina.
- O que você quer? - perguntou direta.
- Pensou em mim na noite passada?
- Não pensei - respondeu indignada.
- Então eu sugiro que pense Gina, porque falei sério - avisou ele de um modo que deixava claro suas intenções.
- Vá para o inferno, Jarvis! - Gina bateu o telefone na cara dele, repirando pesadamente e tentando recuperar a calma.
Um segundo depois, o telefone tocou novamente. Mitzi mais uma vez o atendêu.
- Só um momento - Mitzi virou-se para Gina. - É ele outra vez.
Gina começou a tremer de raiva.
- Diga-lhe que não quero falar com ele.
Mitii obedeceu, mas em poucos segundos olhou, para Gina, atônita.
- Sim senhor... é claro! - A garota desligou o telefone atordoada. - madou dizer que vai jantar com ele esta noite. Virá busca-la às sete em ponto!
- Oh, não! Para o inferno esse homem e esse jantar! - Gina falou furiosa, procurando na lista telefônica o número do escritório de Jarvis.
Quando o encontrou ligou para lá, mas a secretária que atendeu disse que ele já havia saído. Gina nunca se entira com tanta raiva na vida. Quando se acalmou, resolveu que era hora de dar-lhe uma lição.

Jarvis chegou ao apartamento de Gina exatamente às sete horas. Em qualquer outra ocasião, ela estaria muito mais nervosa, mas não naquela noite... preparava-se para aquele encontro. Jarvis intrometera-se
na sua vida, e pretendia dar um basta naquilo.
Abriu a porta com tranqüilidade e não pode deixar de notar o quanto ele estava bonito de terno escuro.
- você não está pronta - censurou-a, examinando as sandálias confortáveis e o vestido solto e gracioso que lhe envolviam as formas perfeitas.
- Nem deveria. Se concluiu por sua conta que íamos jantar juntos é problema seu - rebateu dura, os olhos verdes o desafiando.
Concentrada em manrer uma calma que no momento estava longe de sentir, Gina não percebeu a veia que começava a pulsar mais forte na têmpora de Jarvís, os músculos do rosto que se enrijeciam... E não estava
preparada para o que se seguiu:
Ele segurou-lhe o braço com força, puxando-a até o quarto.
- O que pensa que está fazendo? Me solte! - ela quase gritou.
- Cale a boca! - Jarvis ordenou rude, mantendo-a presa enguanto abria a porta do guarda-roupa e escolhia um vestido.
- Como se atreve a abrir meu guarda-roupa? - Era tamanha a fúria dele que Gina quase não conseguia falar.
Jarvis escolheu um vestido de seda âmbar, estudou-o por um minuto e então jogou-o sobre a cama.
- Vista!
- Não pode me forçar - ela falou perigosamente baixo.
- Não me obrigue, nem me desafie, Georgina. Senão acabarei de vez com o seu embaraço e eu mesmo a vestirei - ameaçou. De repente um pequeno sorriso assomou-lhe os lábios - Tem dez minutos.
Tirando a cheve da porta para que ela não se trancasse, Jarvis foi para a sala.
Gina não entendia por que aceitava aquela situação. Homem nenhum jamis a fizera baixar à cabeça, entretanto não encontrava forças para desafiá-lo. Por quê? Por quê?
Com um suspiro de derrota, pegou o vestido e examinou-o. Devia estar louca quando o comprara no verão anterior. Era um modelo ousado e sensual que delineava-lhe as formas, acentuando-lhe a curva dos seios
e dos quadris. Prendia-se aos ombros por duas fivelas de pérólas e o profundo decote drapeado na frente e atrás pouco deixavam para a imaginação!

Gina estava terminando de se maquiar quando Jarvis abriu a porta de repente.
- Está pronta? - perguntou sem cerimônia.
Gina inspirou profundamente e com profundo desprezo disse:
- Costuma-se bater à porta antes de entra!
Seu comentário não causou nenhuma impressão a Jatvis, mas a sua aparência sim. Ele parecia fãscinado, fitando com desejo os lábios rosados e o corpo suave.
Gina ficou imóvel como se estivesse em transe. Ao perceber que os seus mamilos haviam se enrijecido, sentiu-se envergonhada. Ele percébera, erá claro que percebera. O brilho de triunfo estava ali no olhar
dele!
- Você deveria usar mais vezes roupas como essa - ele sugeriu com malícia!
- Quando quiser sua opinião, pedirei e pagarei por ela, como todo mundo - Gina respondeu gélida, pegando um casaco e jogando-o sobre os ombros.
- Minha opinião eu dou de graça, Georgina - ele respondeu, com rispidez. - Só, cobro os meus conselhos.
Gjna fitou-o cheia de ressentimento, um medo estranho envolvendo-a, como se já não fosse mais senhora de seu destino.

Capítulo 4

0 restaurante não se parecia em nada com os que Gina costumava freqüentar. Sentia-se a elegância do Vittorio's em cada detalhe. A decoração era qe extremo bom gosto.
- Sua mesa de costume está preparada, senhor Cain o dono do restaurante comunicou gentilmente, indicando-lhes o caminho através do grosso carpete avermelhado. - Sirvo o vinho de sempre, senhor?
- Por favor, Vittório - Jarvis concordou satisfeito, enquanto o velho senhor se afastava.
Sentindo-se mais segura, Gina retirou o casaco e Jarvis ajudou a colocá-lo no espaldar da cadeira.
- Esta é uma ocasião especial - disse ele, insinuante.
"Jarvis é uma ameaça para rnim... Perto dele me sinto como um cristal completamente transparente"', Gina pensava.
A musica suave do piano predispunha à descontração. Gina, no entanto, esfava tensa, ansiosa. Incapaz de encará-lo, fingiu contentrar-se no menu.
O maitre trouxe uma garrafa de vinho que Jarvis aprovou depois de de degustá-lo. Só então a bebida foi colocada no copo de Gina.
Vittório apareceu instantes depois, perguntando se o vinho estava bom, e o rápido brilho de curiosidade que havia no olhar dele fez Gina irritar-se.
- Vittorio deve estar acostumado a vê-lo aqui com Lílian Ulrich - comentou irônica.
- Esqueça Lilian! Esta noite é nossa, e não quero ninguérn se intrometendo entre nós.
- As Pessoas não podem ser jogadas fora como se fossem roupas velhas que não servem mais.
- E você não deveria tornar-se mais bonita quando fica brava - comentou gentil, deixando-a em desvantagem. - O que quer comer?
Gina olhou sem ver o menu em suas mãos, e o fechou de maneira deisivava.
- Não estou com fome.
- Será que não? Eu escolho seu prato!
O silêncio que ficaram fez com que o ressentimento de Gina desse lugar ao medo, tornando-a cautelosa.
Jarvis voltou a falar com ela só depois de pedir o jantar
- Relaxe, meu bem. Você está linda, tentadoramente linda nesse vestido, mas não vou atacar você.
Gina sentiu uma onda de calor subir-lhe ao rosto.
- Você está perdendo tempo e charme, comigo, Jarvis.
- Você acredita mesmo no que está dizendo?
- Claro que sim. Por que não acreditaria?
- Não sei... - ele se levantou e estendeu a mão para Gina. - Vamos dançar?
Jarvis fizera um convite, mas Gina percebia a ordem por trás das palavras e não encontou forças para recusá-lo.
De mãos dadas, caminharam até a pista, Gina temia o momento em que Jarvis a tomaria nos braços. Quando isso aconteceu, ela sentiu as pernas bambas. Sei corpo todo reagiu àquela proximidade que tinha o
poder de destruir-lhe qualquer defesa.
Ela acabou errando o passo.
- Calma Georgina, relaxe! - Jarvis murmurou próximo ouvido.
Ela procurou deixar-se levar pela música, tentando esquecer nos braços de quem estava. Mas era impossível, Jarvis a apertava de encontro ao corpo e um estranho calor minava-lhe a vontade de se afastar.
Pela primeira vez provava a sensação estonteante e definitiva de saber-se finalmente em seu o lugar. E seu lugar era nos braços de Jarvis.
A musica terminou pouco depois, e ela voltou lentamente à realidade quando foi conduzida de volta à mesa.
- Então? Por que o silêncio? - perguntou encarando-a.
- Você dança muito bem. - Gina comentou.
- Eu tenho experiência.
Tinha uma sensualidade na voz grave que dava outro significado à conversa inocente, e os cantos da boca de Gina se ergueram num sorriso quando ela afirmou:
- Aposto que sim.
- Gina, vejo um brilho malicioso em seu olhar. - ele brincou, depois de tomar um gole de vinho. - poderia estar se referindo a sexo e não a dança?
Giria teve vontade de dar uma resposta à altura mas se conteve, mudando de assunto:
- Já foi morar em Eldorado?
- Não ainda. - Jarvis sorria francamente, como se tivesse lido-lhe os pensamentos - por enquanto prefiro meu apartamento na cidade.
- Eldorado não é uma casa para se deixar vazia. Precisa de vida dentro dela.
- Eldorado será habitada - assegurou, com um estranho sorriso.- E logo.
A chegada do garçon interrompeu a conversa. Jarvis havia pedido um prato com frutos do mar para si e para Gina, um filé ao molho madeira. Ao ver o apetitoso prato, Gina sentiu-se faminta.
- Estamos tendo uma noite muito agradável - disse Jarvis, erguendo o copo de vinho num brinde - Vamos beber para que continue assim.
Gina viu-se concordando e tocou o copo no dele antes de levá-lo aos lábios.
O jantar transcorreu num clima amistoso e, ao tomar o café, Gina recostou-se na cadeira sentindo uma agradável sensação de bem-estar. Seu corpo parecia letárgico e aquecido, experimentava uma estranha
euforia.
Conversaram bastante durante o café, e só muito depois Jarvis a convidou para dançar novamente. Ele a segurava apertado enquanto se moviam ao som da música. Os dedos suaves acariciavam-na lentamente, roubando-lhe
todo o desejo de resistir ao fascínio que ele lhe provocava. Ela se apoiou contra o corpo de Jarvis e descansou a cabeça no ombro forte.
Não controlndo a emoção que a invadia, Gina tropeçou.
- Que acha da idéia de eu levá-la para casa?
- Acho ótima, estou cansada - admitiu, rindo de si mesma.
Jarvis colocou o casaco sobre os ombros delicados, em seguida os envolveu com uma estranha possessividade antes de acompanhá-la, para fora do restaurante.
- Vai para a fazenda neste fim de semana? - perguntou quando o elevador deixou-os no andar em que havia estacionado o carro.
- Sim, vou...
- Que pena... - Jarvis disse num murmúrio.

Ao chegarem no apartamento de Gina, Jarvis tirou a chave das mãos dela, e abrindo a porta perguntou:
- Vai me deixar vê-La novamente?
Um sinal de alarme soou na mente de Gina. Não estava preparada para lidar com um homem como ele, sentia-se vulnerável, mas surpreendentemente viu-se dizendo:
- Se você realmente quiser...
- Eu quero! - Jarvis sorriu, traçando a curva dos lábios dela com dedos gentis.
- Quer uma xícara de café?
- Eu bem que gostaria de aceitar, mas você esta dormindo em pé - ele sorriu, de novo, tocando-lhe os lábios. - Boa noite Gina.
- Jarvis... - A voz dela não era mais do que um murmúrio. - Obrigada, pela noite deliciosa.
Uma expressão impenetrável passou pelo rosto dele, e no instante seguinte Gina viu-se de novo no lugar com que sempre sonhara: nos braços de Jarvis.
Gina inclinou-se para trás, os cabelos castanhos se espalhando, os lábios macios, rosados, entreabertos num convite mudo.
Jarvis a beijou sôfrego, tomando o que lhe fora inconscientemente oferecido, exigindo muito mais do que ela imaginara, e Gina viu-se Correspondendo com uma ânsia de amor que jamais conhecera. O
casaco e a bolsa escorregaram para o chão quanto os dedos vigorosos percorriam-lhe as costas. Gina tremia e se apoiando nele sem a menor resistência, perdida nas sensações que o toque ousado lhe provocava.
Então, foi bruscamente afastada.
- Bons sonhos, George - Jarvis disse sorrindo, passando os nós dos dedos no rosto dela.
No minuto seguinte ele se foi, deixando-a frustada e revoltada por não ter sido capaz de resistir ao fascínio de Jarvis, por não conseguir lutar conta mesma.

No dia seguinte, ao chegar ao escritório, teve uma grata surpresa.
- Não pode ser para mim! - exclamou ao ver o enorme buquê de rosas sobre sua mesa.
- É claro que são! - Mitzi riu, tirando o pequeno envelope da embalagem e entregando-o a Gina - Não vai abri-lo?
Gina hesitou um instante, e abriu o envelope: seu coração bateu apressado quando leu as palavras escritas com letra firme.
"Até segunda, JC."
- o que diz? - Mitzi perguntou curiosa.
- Você faz perguntas demais - Gina repreendeu a assistente com um sorriso nos lábios.
A resposta teve o dom de provocar em Norman uma expressão estranha. Depositou a pasta que trazia sobre a mesa de Gina e saiu sem uma palavra.

Assim que saiu do trabalho, Gina partiu para a fazenda com a esperança de que o ar puro pusesse um pouco de juízo e clareza em sua mente, mas, por mais que fizesse, não conseguia livrar-se da imagem de
Jarvis, que a perseguia como um fantasma, onde quer que estivesse. Finalmente Gina teve consciência de que o queria por perto, que sentia a falta dela.
- Isso é ridículo... - disse baixinho quando percebeu a euforia que a assaltou quando voltava à cidade domingo à noite. Mas o sentimento persistiu durante todo o trajeto e ela ansiava por vê-lo quase com
desespero.
Assim que chegou em casa, Gina tomou um longo banho e estava se preparando para fazer um café quando a campanhia soou.
- Jarvis! - balbuciou momentos depois, o coração batendo forte, enquanto abria a porta.
O perfume da loção que ele usava, penetrou-lhe nas narinas e Gina teve de se esforçar para não dizer tudo que sentia.
- Não consegui esperar até amanhã - ele explicou - Então resolvi tomar um cafezinho com você.
Vestido com uma calça bege e um suéter de lã com gola alta, sob a jaqueta de couro marrom, Jarvis estava muito bonito.
- Gostei dessa roupa, fica muito bem em você.
- E eu gostei desse vestido... Deixa você maliciosamente inocente.
- Era exatamente o que ia fazer agora: um café - falou com suavidade, tentando retornar o rumo da conversa.
- então parece que cheguei na hora certa. - e seguiu-a até a cozinha. - Sentiu minha falta?
A pergunta inesprada quase a fez revelar a verdade, mas num lampejo de consciência, repondeu evasiva:
- Deveria?
- Não seja evasiva quando tudo que eu peço é um simple sim ou não! - A voz era dura. Jarvis a segurou pelos ombros obrigando-a a encará-lo.
- Sinto-me uma testemunha no banco dos réus! - Gina brincou, para aliviar a tensão, dando um tom dramático à voz quando acrescentou: - Por favor, responda a pergunta, lembre-se de que jurou!
- Pensou em mim? Ele insistiu sem achar graça.
- Sim, pensei em você! - confesou, vendo o brilho dos olhos acinzentados avisarem que não adiantaria responder nada, além da verdade.
- Ah! - Jarvis suspirou com um ar de triunfo.
- Isso responde sua pergunta? - ela indagou com uma ponta de zombaria na voz.
- Sim, sem mais perguntas!
- Não acredito nisso! - esclamou surpresa, virando-se para a cafeteira, e momentos depois entregou-lhe a xícara. - Seu café, sr. Advogado.
- Obrigado, George.
Seus dedos se tocaram levemente quando a xícara trocou de mão, e uma corrente de vibrações percorreu o corpo de Gina.
- Não me chame de George!
- Não me chame de sr. Advogado - provocou-a, cínico.
- Temos um acordo? - seus olhos se encontraram, fazendo-a perceber que aquela conversa era feita de palavas não ditas.
- Remos - Jarvis inclinou a cabeça polidamente.
- Ótimo - a voz de Gina era calma, mas seu pulso estava disparado, enquanto tentava se livrar do feitiço que parecia sentir por ele. - Que tal tomarmos o café na sala?
Jargvis afastou o suficiente para que ela passasse, e quando se aproximaram do sofá segurou-lhe o pulso forçando-a a sentar-se perto dele. Tirou a jaqueta de couro e os contornos dos músculos se fizeram
notar sob a lã do suéter. Jarvis pediu notícias da família dela e conversaram despreocupoados.
- eu quase me esqueci - Gina disse muito tempo depois. - Obrigada pelas roas, eram lindas.
- Você é linda - disse jarvis, com a voz tão acariciante quanto os dedos que deslizaram por sobre o cabelo, acariciando-lhe a nuca.
- Jarvis não! - implorou, afastando-se.
- Não o quê? - Ele sorriu irônico. - Não devo dizer que é bonita, ou não devo tocá-la?
- Nem uma coisa nem outra.
- Ah, vai ser muito difícil... Estou acostumado a dizer o que penso, e desde que a vi no funeral de minha mãe, tenho desejado tocá-la de todos os modos possíveis.
Gina ficou vermelha, baixou os longos cílios e levantou-se, titando a escuridão lá fora. Ele estivera em seus oensamentos o tempo todo, mas aquelas palavras lhe incutiam um medo grande demais.
- Não faça jogos comigo, Jarvis - pediu, sem vorar-se para ele. - Nunca fui uma boa jogadora.
Gina não o ouvira se erguer e aproximar-se, mas sentiu as mãos quentes e firmes em seus ombros ao virá-la para ele.
- Já passei da idade dos jogos - Jarvis lhe assegurou com uma nota vibrante na voz meio rouca, fazendo-a tremar.
A boca quante tomou a dela, explorando, provocando, sorvendo-le o gosto dos lábios com uma sensualidade que a levou a uma exitação intensa. Gina viu-se fraca, no calor do corpo de Jarvis.
Sentia-se atordoada, e o beijo íntimo e provocante a levava a desejá-lo mais e mais. Gina não fez objeções quando Jarvis apertou-a contra o corpo para fazê-la perceber o quanto a desejava.
Jarvis beijou-lhe os olhos, as faces, pescoço e ela estava zonza demais para notar que ele baixara o zíper de seu vestido e tocava-lhe os seios firmes e intumescidos, num prazer inesperado que a fez emitir
um gemido de puro prazer. O medo desaparecera dando lugar apenas a uma ânsia desesperada que precisava saciar. Mas de algum lugar obsçuro de sua mente, encontrou forças para afastá-lo.
- Não, Jarvis! Acho melhor que vá embora - protestou rápida, antes que perdesse a coragem.
Havia um brilho demoníaco nos olhos dele, quando correu um dedo preguiçoso e sensual pelo rosto vermelho de Gina.
- Vai jantar comigo terça à noite?
- Gostaria muito. - O sorriso dos lábios sensuais quase a fez beijá-lo.
- Passo por aqui às sete - ele disse, beijando-a de leve na boca e se afastando depois de pegar a jaqueta. - Boa noite, minha querida.

Na terça-feira não foram novamente ao Vittorio's, Jarvis escolheu um lugar onde a atmosfera íntima e acolhedora os fazia sentir-se como as únicas pessoas ali. Foi um jantar descontraído, onde trocaram
idéias e opiniões. De repente, ele quebrou a informalidade dizendo:
- Senti sua falta, Gina! E você, sentiu a minha?
Ela lembrou-se das horas de ansiedade que passara e respondeu cautelosa:
- Esperei ansiosa por esta noite.
- Isso significa que sentiu minha falta?
- Sim, senti - admitiu antes que pudesse se conter.
- Ah! - Jarvis sorriu triunfante, recostando-se para estudá-la melhor. - Estou muito contente por ouvir isso.
- Em determinadas horas, não gosto muito de você, Essa é uma delas! - retrucou, tentando fazer-se de aborrecida mas não conseguiu. - Você consegue me fazer falar coias que eu pretendia guardar
só pra mim!
As sobrancelhas espessas se ergueram e os olhos acinzentados a fitaram acusadores:
- É tão terrível dizer a verdade?
- Não - respondeu séria - mas uma garota deve despertar a imaginação do homem, e não entregar o jogo na primeira provocação.
O sorrido dele foi desaparecendo enquanto se inclinava na direção de Gina por sobre a mesa.
- Virá comigo até Eldorado?
- Eldorado? - ela repetiu sentindo-se desconcertada. - Por que ir até lá a essa hora?
- Estou com vontade de ver minha casa - explicou - E desde que minha mãe morreu, você nunca mais esteve lá.
- Não, não estive. - os dedos de Gina tremeram quando Jarvis apertou-os entre os dele. - Não sei se suportarei ir até lá.
- Vamos até lá comigo, agora!
Gina assentiu com um gesto de cabeça, sabendo que era hora de enfrentar seus medos.
Quando chegaram, Eldorado estava envolta na escuridão, a casa se erguia sobriamente contra o céu noturno. Em silêncio, galgaram os degraus sob o pórtico. A pesada porta de madeira se abriu e jarvis acendeu
a luz do vestíbulo, enquanto Gina continuava parada, o rosto muito pálido.
Jarvis virou-se para olhá-la e sua boca se apertou ao perceber o que acontecia. Estendeu a mão para ela em silêncio e havia conforto em seu gesto gentil, quando a fez entrar.
Tudo estava como Gina se lembrava. O brilho polido da mobília, as poltronas ao redor da lareira, as cortinhas de veludo vermelho. Nada mudara, e ela quase podia sentir a presença da velha madrinha, entrando
de repente e a saudando com um sorriso caloroso.
- Quer um sherry?
A pergunta de jarvis a devolveu de volta a realidade.
- Quero. Acho que será até bom, obrigada! - com uma voz harmoniosa e cheia de calor, gina se ouviu dizendo: - Sempre amei esta velha casa. - Passou os dedos pela madeira entalhada da cadeira preferida
de sua madrinha e continuou: - Cada ambiente com uma decoração diferente e sobria... mas é uma casa que precisa de gente... e de algria.
Sabia, em seu íntimo, que isso talvez nunca viesse a acontecer, pois Jarvis parecia odiar o casamento... E, então, uma pontada súbita de dor trouxe lágrimas aos olhos verdes; mas Gina procurou se recuperar
rapidamente.
- Gostaria de viver aqui?
- Viver aqui? - Surpresa, acariciou o encosto da cadeira.
- Sim, casando-se comigo...
Estonteada, teve o ímpeto de colocar a mão no peito para acalmar as batidas do coração, mas a mente lógica a alertou que seria um erro levá-lo a sério. Então, sem expressão, ela o encarou.
- Não diga bobagens, Jarvis.
- Seria uma bobagem casar comigo? É assim que pensa? - Érgueu as sobrancelhas, contrafeito.
Giria não sabia como lidar com a situação, e não podia se arriscar a suportar a ironia que viria depois.
- Essa é uma conversa ridícula! - respondeu irritada.
Jarvis afastou-se da lareira e a encarou de frente:
- Eu falo sério, Gina!
Jarvis estava calmo e não havia o menor traço de ironia no rosto dele. Ele a fitava intensamente.
- Case-se comigo e viva aqui como minha mulher.
- Pare com isso, Jarvis! - ela ordenou brusca, tentando controlar a situação. - Sei que casamento não está em seus planos. Começo a achar que prócura outra diversão para substituir Lilian!
- Não procuro divertimento. Pedi-lhe que se casasse comigo e espero uma resposta!
O silêncio na sala era sufocante. Gina tinlha consciência de que Jarvis a observava atentamente, esperando que desse uma resposta. E ela não tinha, intenção de prolongar aquele sofrimento.
- Pare de brincar comigo, e leve-me para casa - ordenou gélida, pegando o casaco e a bolsa.
Jarvis chegou bem perto dela e arrancou-lhe a bolsa e o casaco da mão, respondendo brusco:
- Mais tarde. - Então, sem aviso algum, tomou-a nos braços, beijando-a apaixonadamente, impedindo-a de resistir.
Não havia mais nenhuma pergunta a ser respondida, a resppsta veio naturalmente quando Gina correspondeu aos beijos apaixonados. Sentia que não poderia parar nem que quisese. Seu corpo esguio se amoldou
ao corpo musculoso, entregando-se. Seus lábios se moveram contra os dele, com uma fome que a fez desejar que aquele momento jamais acabasse. A boca ávida trilhava um caminho de beijos suaves ao lado do
pescoço macio, descendo até os ombros de Gina, e ela não pôde evitar tremor de prazer que a percorreu.
- Você me ama, não é, Gina?
- Sim... oh, sim! - Respondeu sem o menor traço de vergonha ou orgulho.
Já não havia sentido em esconder a verdade de si mesma. Ela se apaixonou por Jarvis quando criança e apesar de todas as tentativas para esquecê-lo nunca deixara de amá-lô.
- Case comigo, Gina - ele murmurou, os lábios explorando os dela numa carícia sutil.
- Se realmente me quer... sim, Jarvis, vou me casar, com você!


Capítulo 5


Houve momentos, durante as três semanas que antecederam ao casamento, em que Gina se questionou se não aceitara depressa demais a proposta dele, se não estaria caminhando para algo que se arrependeria
depois. Entretanto, nunca expusera suas dúvidas a Jarvis.
O casamento foi uma cerimônia íntima onde compareceram apenas a família e poucos amigos, e após a cerimônia Jarvis ofereceu uma recepção informal em Eldorado, com muito champanhe e alegria. Gina cumprimentou
os convidados até chegar a Harold Ashton. O advogado parecia ainda mais austero que no dia em que procurara em seu escritório, mas Gina estava por demais feliz para indagar o motivo de tanta austeridade,
e após cumprimentá-lo aproximou-se de Clifford e Susan. O casal estava de mãos dadas, ao lado de Raymond Osborne, que a beijou afetuosamente. Desprendendo-se do abraço do pai, Gina virou-se e procurou
por Jarvis. Seu olhar pousou na boca cheia e sensual, e perguntou-se como pudera se apaixonar por um homem tão determinado. Sentindo o olhar de Gina, ele virou a cabeça e fitou-a, de uma maneira que a
fez sentir-se um pouco inquieta. Mas a sensação desagradável passou tão logo ele lhe sorriu.
Pouco depois Gina subiu para mudar de roupa. Viajariam para Durban e ela havia escolhido um vestido de mangas longas, com um decote largo, de um material suave que caía em pregas leves sobre o corpo esguio.
O colar de pérolas de uma volta só, presente de jarvis, completava o conjunto, os cabelos soltos caíram em mechas macias até os ombros.
Quando retornou, ansiosa por se reencontar com Jarvis, teve a surpresa de encontrar Lílian Ulrich na sala.
- Ah, que sorte a minha ter chegado a tempo de cumprimentar a noiva - Lílian falou com voz melodiosa. O vestido negro caía justo sobre o corpo escultural, acentuando a pele de alabastro e os olhos azuis.
Os lábios mostravam um sorriso onde havia uma frieza indisfarçável. - Cheguei de Madri esta manhã, e quando soube de seu casamento vim direto para a velha casa, de que Jarvis tanto me falou.
Uma súbita tensão nasceu em Gina, e um alarme de aviso soou em sua mente. Aquela mulher não era uma amiga, e não poderia se deixar afetar por sua língua ferina.
- Você viu Jarvis? - perguntou Gina, falsamente calma.
- Eu o vi antes de se fechar no escritório com Harold Ashton, mas estou contente de ter tido a oportunidade de falar com você, e dizer-lhe que cometeu um terrível engano. - O sorriso de Lílian era irônico.
- Conheço Jarvis há muito tempo, e se por acaso tem a tola ilusão de que se casou com você por que a ama, pode tirar isso da cabeça. Jarvis desconhece a palavra amor, nunca fez arte da vida dele. Jarvis
não é do tipo que se casa. Nunca foi, nem nunca será! Por isso sugiro que não se engane. - E acrescentou com um sorriso cínico: - Ele deve ter ganho alguma coisa casando com você, não tenho a menor dúvida.
- Acho que já disse tudo que tinha para dizer, e como não foi convidada, sugiro que se retire!
- Realmente já estou de saída. - Lílian sorriu de novo irônica, medindo Gina de alto a baixo. - Mas não se esqueça de que lhe avisei!
Partiu em seguida, deixando seu perfume doce permanecer no ar como uma ameaça. Gina não queria acreditar em nada do que a outra mulher lhe dizera, mas as palavras que ouvira tiveram o poder de fazer suas
dúvidas retornarem. De fato, Jarvis nunca falara de amor.
- Que mulher odiosa. Está apenas tentando causar problemas, mas não vou deixar que acabe com a minha felicidade.
Então, decidida, caminhou até a biblioteca, e entreabriu a porta, quando percebeu que Jarvis ainda falava com o advogado. Os dois discutiam e já se preparava para fechar novamente a porta, quando ficou
rígida como uma estátua ao ouvir o advogado:
- Sua mulher sabe da cláusula do testamento de sua mãe?
"Sai! Vá embora!", uma voz gritava dentro dela, como se sentisse o chão começar a faltar sobre seus pés, mas uma força maior, a obrigou a permanecer ali.
- Ainda não lhe disse - foi a resposta seca de Jarvis, deixando claro que nãa, queria tocar no assunto, mas Harold Ashton não parecia ter vontade de encerrar o diálogo:
- Acho que é uma tolice sua esconder a verdade, se me permite uma opinião.
- Não vou estragar meu futuro e arriscar Eldorado confrontando Gina com aquela cláusula ridícula do testamento! - Járvis explodiu duro. - Deus, minha mãé devia estar maluca quando estipulou que eu deveria
me casa com Gina para herdar Eldqrado. - Jarvis completou, sem saber que era ouvido.
Gina sentiu que caíra num absmo sem fundo, num vazio que parecia não tér fim, sentindo uma dor dilacerante, uma vontade imensa de grita. Mas o grito lhe ficara preso na garganta.
Oh, Deus! Então era verdade! Evelyn Cain a havia usado sabendo que o filho adorava a velha mansão, e para impedi-lo de se casar com Lílian, forjara aquele plano sórdido. E Jarvis o aceitara!
- Sua mulher tem o direito de saber Jarvis. - A voz de Harold Ashtn forçou-a a se lembrar de onde estava.
- Sei disso, droga! - explodiu Jarvis - Mas eu lhe direi quando achar que devo!
Gina não mais escutava. Após afastar-se apoiou-se contra a vidraça da janela e fitou o jardim, mas na realidade nada conseguia enxergar. Podia sentir o suor frio que transpirava de seu corpo trêmulo e
lutava contra a sensação de horror que parecia querer tragá-Ia. O único fato que parecia ter sido gravado a fogo em sua mente entorpecida pela dor era que Jarvis se casara apenas para herdar Eldorado.
Flashes de conversas, pequenos comentários, voltaram numa louca seqüência à mente de Gina. "Jarvis não se casará com ninguém por escolha própria", "Ele faria qualquer coisa para ter Eldorado." "Oh, Deus!",
Gina se encolheu no chão. "Como tia Evelyn pôde fazer isso conosco?", pensava. "Como pôde nos eredar nesse plano?"
Então uma fúria insana lhe deu forças para se reerguer. Se afastou dali e quase esbarrou com Susan que vinha em sua direção.
- Gina, você está linda! - a cunhada elogiou antes de ver nos olhos de Gina o tormento e o rosto pálido. - Você não vai ficar doente justo no dia do seu casamento, vai?
Risadas vinham da sala, e era como se estivessem rindo dela. Na verdade, tudo que Gilla queria era sumir, mas não daria a Jarvis o gosto de vê-la destruída.
- Onde está meu pai? -Ela forçou um sorriso.
- No terraço, com Clifford - Susan replicou, passando os braços afetuosamente em torno de Gina, enquanto caminhavam. - Para falar a verdade, vim avisar que já estamos indo embora.
- Já estão indo embora? - Gina perguntou ansiosa, não querendo ficar a sós com o marido.
- Sim, meu bem... Está chegando a hora de vocês irem para o aeroporto.
Gina quase não suportava mais a tensão e o desespero, quando chegou ao terraço. Atirou-se nos braços do pai, como se procurasse refúgio.
- Tudo de bom, minha pequena! - Raymond Osborne sorriu para ela.
- Obrigada, pai. - Gina tentou sorrir, mas seu rosto se transformou numa máscara de dor. - Oh, pai. - Ela escondeu o rosto no ombro amádo.
- Lágrimas não são ruins, principalmente quando são de alegria. - Raymdnd observou quando a filha por fim se controlou e enxugou os olhos.
Gina concordou sem olhar para ele. Como dizer ao pai que cometera um erro? Como explicar que havia caído numa armadilha, numa armadilha que poderia destruí-la?
- Já de saída? - perguntou Jarvis.
- Já sim - Clifford anuncioou apertando a maão do cunhado. - E já é hora de vocês partirem também.
- É verdade, senão acabaremos perdendo o vôo.

O avião decolara como um imenso pássaro de asas prateadas. Gina apertava firmemente as mãos para esconder o tremor. Seu corpo estava tenso, mas nada tinha a ver com medo de voar. Jarvis, calmo e relaxado
ao lado dela, parecia um deus grego e, por um instante, Gina desejou saber a verdade.
Conflitada, tinha ímpetos de acabar com aquele casamento antes mesmo que começasse.
Por outro lado significava uma, humilhação que não queria suportar. Jarvis tomou seu silêncio como cansaço e procurou tranqüilizá-la segurando-lhe a mão:
- Você parece cansada e tensa. Recline-se na poltrona e descanse. Temos algumas horas de vôo antes de chegar a Durban.
Gina não argumentou, nem discutiu, apenas fechou os olhos, e tentou afastar aquela história sórdida dá mente. Mas por mais que tentase, não conseguia deixar de pensar. Jarvis em nenhum momento dissera
que a amava, e a constatação de que de que fizera se apaixonar por ele e confessar esse amor, penetrou em sua mente como uma lâmina fina e destruidora. O que iria fazer agora? Deveria atirar-lhe a verdade
na cara ou esperar o momento mais oportuno? Amava-o, o seficiente pàra passar por cima de tudo e fingir que nada acontecera?
Gina virou a cabeça e fitou o marido através dos olhos semicerrados. Ele lia-um jornal, e seú perfil atraente a fez sofrer ainda mais por perceber que nem mesmo tivera uma chance de ser feliz.
Oh, como ele fora crueu! Como o odiava! Sentia a garganta apertada, as lágrimas contidas embotando-lhe a visão. Virou o rosto para a janela e manteve os olhos firmemente fechados para recuperar o controle.
Não, não poderia apenas odiá-lo, amava-o demais, e o que aumentava a sua mágoa era saber que havia sido usada por aqueles a quem amava. Primeiro a madrinha, que egoisticamente decidira o que era melhor
para o filho, e depois Jarvis, que não, tivera o menor escrúpulo em servir-se dela como um meio para atingir seu fim. Como iria lidar com aquele casamento?
Uma aeromoça aproximou-se com lanche e refrescos e embora não estivesse com fome ou séde, Gina forçou-se á tomar alguns goles de suco de laranja, para aparentar que estava tudo bem. Indagava-se em que
momento Jarvis haveria de contar tudo a ela. Talvez depois da consumação do casamento, ou talvez nem se dignasse a contar. Uma fúria muda tomou conta dela. Gina saberia mantê-lo afastado de si.
Depois de desembarcarem e passarem pela costumeira confusão de malas e bagagens, se dirigiram para o estacionamento, onde um carro alugado os esperava. Rumaram para o norte, para um hotel à beira do mar,
e um porteiro uniformizado recebeu-os na entrada.
Gina sentia-se contrafeita com a mão de Járvis em seu cotovelo. Deu uma olhada na elegância fria do saguão luxuoso, e sentiu-se feito um condenado à forca.
Quando chegaram ao quarto, abriu as cortinas, e saiu para a varanda espaçosa em busca de umpouco de ar. Ao voltarem, viu Jarvis com a sobrancelha erguida, numa zombaria já familiar.
- Essa suíte tem uma aparência virginal, não acha?
- Acho que parece própria para uma lua-de-mel - concordou seca.
Jarvis não comentou nada, ao vê-la recusar a mão que lhe estendia para que dessem uma olhada no banheiro. Aliás, Jarvis não teve de entrar, pois Gina fechou a porta na cara dele.
Dentro do banheiro Gina olhou-se no espelho sentindo-se arrasada.
- Deus, o que vou fazer?
Jarvis lançou-lhe um olhar preocupado quando ela saiu, mas nada disse. Havia tirado o paletó e afrouxar a gravata, e não foi sem surpresa que Gina o viu acender um cigarro, e fitar o océano: "Será
que á consciência o estava incomodando? Não, pensou irritada. Esse hómem não tem consciência".
Vestiram-se para o jantar, e foi Jarvis quem manteve a conversa enquanto Gina respondia com monossílabos. Ela estava confusa, dividida entre o desejo de toçá-lo, de ser amada, e o desejo de fugir, depois
de atirar-lhe no rostõ toda a verdade. Porém, nada podia fazer além de olhá-lo e deséjar que tudo tivesse sido diferente.
Finalmente tornaram a subir e Glna colocou a camisola azul e diáfana com négligé. Sua noite de núpcias! Aquelas palavras dançavam em sua mente como uma piada grosseira. Fitou Jarvis, e não pôde evitar
um estremecimento ao vê-lo de robe.
- Vamos tomar champanhe - ele disse gentil, enquanto abria a garrafa. Gina ouviu a rolha espoucar e ele servir o líquido borbulhante nas taças de cristal. - Vamos beber ao nosso futuro juntos, Gina.
Jarvis levou o copo aos lábios, os olhos acinzentados prendendo os dela. Incapaz de continuar fingindo por mais tempo, Gina colocou a taça intocada numa mesinha próxima. Sabia que a hora da verdade
chegara.
- Não posso beber ao nosso futuro, não temos futuro.
Jarvis antes de se aproximar dela, também colocou a táca sobre a mesinha.
- Qual o problema, Gina?
As mãos fortes pousaram gentis nos ombros dela, e Jarvis forçou-a a encará-lo, mãs o gesto serviu apenas para acender a chama da fúria que Gina conseguira controlar até aquele momento.
Encarou-o num misto de dor e ódio, analísando-o, fitando os pêlos escuros do peito e em seguida o queixo determinado.
- Sei por que se casou comigo Jarvis, portarlto não há mais necessidade de fingir. - A voz dela se fizera aguda pelo esforço de esconder o desespero. - Desci à sua procura, depois de me trocar, e ouvi
sua conversa conversa com Harold Ashton.
Os olhos dele se estreitaram perceptivarnente, mas a expressão no rosto moreno permaneceu inalterada, e durante o silêncio que se seguiu podia-se ouvir o barulho das ondas contra as pedras.
- Entendo - disse apenas. E Gina procurou nele algum traço de remorso. - Devo admitir que estou aliviado de ouvir isso, mas posso explicar se me deixar.
- Oh, claro que pode - disse gélida. - Você é um advogado brilhante, não tenhoi dúvidas de que já planejou sua defesa até o último detalhe, mas acho que perdeu seu tempo.
- Não seja idiota, eu...
- Não me toque! - Os olhos verdes eram dois dardos flamejantes no rosto pálido quando se afastou dele com um safanão. - Você mentiu para mim, me fez acreditar que se importava comigo, mas o tempo todo
era Eldorado que você queria. E foi uma vitória muito fácil, não foi? Experiente como é, soube de cara que eu era uma idiota perfeita. Foi fácil fazer-me apaixemar por você, aliás, há tempos eu já estava
apaixonada. Casar comigo não lhe assegurou apenas Eldorado, mas também acesso à minha cama quando estivesse cansado para procurar companhía. Não foi isso que pensou? Oh, eu aposto que foi!
- Olhe, escute...
- Você tramou muito bem, Jarvis, mas eu o desprezo por isso, e quase odeio sua mãe pelo jogo que fez - continuou sarcástica, puindo punindo muito mais a si mesma que a ele. - Pelo amor de Deus Jarvis,
por que não me informou sobre a cláusula do testamento?
- Teria se casado comigo se soubesse?
- É quase certo que não - disse ríspida, e um sorriso de satisfação demoníaca curvou os lábios dele.
- Foi exatamente por isso que não contei.
Gina estremeceu e balançou a cabeça.
- Você transformou nosso casamento numa festa embaraçosa e humilhante. Não vou continuar com isso!
- Sinto muito, mas não a deixarei desistir. O testamento exige que permaneçamos casados no mínimo um ano para que eu tenha plenos direitos sobre Eldorado. Não tenho a menor intenção de ir contra os desejos
dela, ainda que sejam ridículos.
Gina estava presa num casamento que desejava muito e que agora era insustentável. Frustração e ressentimento misturavam-se à fúria.
- Dane-se, Jarvis! Não há nada de nobre no que você fez. Portanto, não exija nada de mim.
- Uma anulação seria embaraçosa, creio que sabe disso, pois do contrário não estaria aqui, agora. Você é legalmente minha mulher, Georgina, e é assim que vai continuar pelo próximo ano.
"Legalmente minha mulher", não era só isso que importava. Queria ser mulher dele em todos os sentidos possíveis, mas via que fora um sonho que acabara antes de começar.
- Se devo continuar casada com você, será apenas no papel - falou firme.
- Você referiu-se ao nosso casamento como uma farsa. Pretende fazer dele uma comédia ainda maior?
- Se pensa qüe vou deixá-lo aproximar-se de mim, está muito enganado! - gritou.
- Veremos!
Gina virou-se e fugiu para o banheiro. O coração parecia querer saltar do peito, mas quando tentou fechar a porta, Jarvis a impediu com o ombro.
- Não faz sentido querer escapar do inievitável, minha querida Georginà. - Ele sorriu, satânico, quando finaçmente levou-a de volta ao quarto.
- Se encostar um dedo em mim, Jarvis, jamais o perdoarei.
- Eu sempre consigo o que quero - ele avisou colocando a mão no bolso do robe, fitando insolente o corp perfeito de Gina.
- Não desta vez! - ela o enfrentou.
- Quer apostar?
- Não encoste em mim! - disse furiosa, recuando até encontrar uma penteadeira, ao vê-lo tirar a mão do bolso.
Más Gina sentiu como se o prório corpo não lhe lhe pertencesse quando jarvis parou a apenas um passo dela. Confusa, desesperada, desejava-o e odiava-o, sabia que não teria forças e nem vontade se ele a
tocase de fato.
Jarvis observava-a intensamente.
- Você pode achar que me odeia agora, mas, na verdade você quer que eu toque em você.
- Não! Não é verdade.
Ele sorriu cínico.
- Seus lábios dizem não, Gina, não preciso tocá-la para saber que seu corpo diz sim.
- Pare com isso! - gritou numa fúria impotente, e ele riu triunfante.
- Sugiro que pense um pouco enquanto eu tomo um banho... E se está pensando em fugir de mim... desista. A porta está trancada!
- Seu sujo! - ela o acusou os braços apertando o corpo trêmulo, num abraço solitário. Ele se afastou rindo, e Gina se viu sozinha em pleno inferno.

Capítulo 6

O corpo de Gina se enrijeceu quando a porta do banheiro se abriu. Não queria olhar para Jarvis, mas sentia-se como se estivesse hipnotizada, ele tinha apenas uma toalha em volta da cintura estreita e o
cabelo escuro estava úmido e jogado pra trás.
- Ainda não está na cama? - Perguntou divertido.
Com a respiração apressada, Gina notou os pêlos úmidos no peito largo se esteiitando em direção ao ventre, enquanto Jarvis andava descalço pelo carpete espesso.
Gina sempre tivera consciência da aura de incrivel masculinidade que emanava de Jarvis e, naquele momento mais do que nunca, precisava resistir a ele e a si mesma. Desviou o olhar rapidamente, com medo
que fosse descoberta nos seus verdadeiros sentimentos.
- Vou dormir na poltrona. - disse desafiadora.
- Não seja ridícula! Jarvis deu uma risada curta, inclinando-se sobre ela, e seu perfume másculo e fresco a fez tremer com um desejo alucinante. Ela se afastou, afundando na poltrona.
- Fique longe de mim, Jarvis! - disse ríspida.
- E sée eu não ficar?
Quando o encarou, viu nos olhos dele as chamas do desejo. Sentiu sua determinação ser reduzida à cinzas num emaranhado de emoções conflitantes.
- Por favor Jarvis!
- Eu gosto disso...
- Você não passa dê um sádico! - Gina protestou amarga.
Jarvis ignorou o sarcasmo dela, e a olhou com uma intensidade que a assustou.
- Eu quero você, Georgina, e nada vai me fazer parar, sabendo que também me quer.
- Não!
Era um grito de desespero, de uma mulher que perdera suas defesas, e que se envergonhava da força de seu próprio desejo.
- Quer que eu acredite que está tremendo porque não me quer?
Ela descobriu que nada passava despercébido àquele homem, e o ressentimento explodiu com violência.
- Trapaceiro!
Um gesto de tédio foi tudo o que recebeu como resposta.
- Trapaqeiro! - repetiu, cheia de raiva.
- Por quê? Porque tenho à habilidade de detectar sua fraqueza? - argumentou com uma tranqüilidade irritante quanto se afastava para escovar o cabelo. Quando novamente a encarou, Gina percebeu que Jarvis
ria: ria da situação que viviam, pois ambos sabiam que o desejo que sentiam um pelo o outro era uma força presente e avassaladora.
- Isso não pode estar acontecendo comigo - ela gemeu impotente, aproximando-se da janela.
Queria parar de tremer e, mais que tudo, não sentir por Jarvis Cain nada mais que indiferença.
Jarvis se aproximou dela, e Gina pôde sentir o calor do corpo do marido contra suas costas quando ele esticou o braço e fechou a cortina. De repente, sentiu que o resto do mundo ficara lá fora e que havia
somente Jarvis e ela, além do pulsar enlouquecido de seu coração traiçoeiro.
Jarvis afastou uma grossa mecha de cabelo castanho e precionou a boca quente contra a pele macia da nuca de Gina, num carinho que a deixou alucinada. Os braços dele circundaram-lhe a cintura fina e as
mãos desfizeram o laço da négligé, afastando-o dos ombros até deslizar pelo corpo e cair no chão. Os dedos longos acariciaram-lhe os braços subindo em direção aos ombros delicadps. Imóvel, Gina lutava
entre o dêsejo e as repressões da própria memte. A alça fina da camisola de seda, foi afastada e escorregou, revelando um corpo escultural iluminado pela luz do abajur. Só havia a toalha entre ela e Jarvis,
e Gina não se importou quando as mãos dele iniciaram uma lenta exploração por seu corpo trêmulo.
"Não permita que ele faça isso!" a razão lhe gritava, mas o corpo cativo pelas sensações delirantes parecia não ouvir. As mãos posessivas trilhavam um caminho pelos quadris qrredondados e pelas coxas macias.
Subiam pelo ventre liso, deslizando pelos seios perfeitds. Gina fechou os olhos, encostando-se nele ao sentir-se envolvida pelo calor que a tomava por inteiro, enquanro as pontas dos dedos acariciavam
os mamilos intumescidos pelo prazer. Numa última tentativa quis protestar:
- Eu... eu quero qué sai... saiba, Jarvis - ela ouvia a própria voz trêmula e sem convicçã - Que eu vou odiá-lo... desprezá-lo por mil anos... por ter me.... enganado, e nunca vou perdoá-lo.
Jarvis virou-a dentro de seus braços e o calor do peito másculo contra os seios dela fez com que Gina gemesse de exitação.
- Pode me odiar e desprezar quanto quiser minha bela Gina - murmurou contra o pescoço delicado - mas não pode negar que me quer.
- Não nego - Confessou contra a vontade - mas quero que saiba que tudo que terá de mim será meu corpo.
- Não me lembro de ter pedido mais do que isso - Jarvis disse suave, mas foi como se uma faca a estivesse cortando por dentro.
- É verdade - Gina concordou amarga, erguendo os olhos para os dele, não encontrando nada além de um desejo brutal. - O erro foi meu, de acreditar que havia àlguma coisa onde não existia nada.
- Cale-se! - ele ordenou, e a beijou possessivo e exigente com uma paixão avassaladora.
Giina não queria tomar parte naquele ritual de amor, mais Jarvis minava-lhe as resistências e ela se viu correspondendo com ardor e paixão, acariciando-o, provocando-o, até senti-lo tremer contra o seu
corpo na cama desarrumada.
- Como esperei por isso. - Jarvis gemeu, os joelhos separando as coxas macias de Gina, fazendo-a ter consciência de que estava se entregando ao homem certo, pelos motiivos errados.
- Jarvis, não - pediu, tentando empurrá-lo, quando uma onda de pânico a fez querer escapar do homem amado. - Por favor não... não posso!
Estava presa sob peso do corpo vigoroso, e ele segurou-lhe as mãos acima da cabeça ao fitá-la com intensidade. Os cabelos castanhos se espalhavam na cama e os olhos tempestuosos escondiam a todo custo
a dor, sabendo que para Jarvis aquilo nunca seria mais do que um ato físico.
- Claro que você pode... - ele disse sensual.
E Jarvis estava certo, Gina entregou-se a ele com ardor e sentimento.
Apesar de possessivo, Jarvis foi gentil ao penetrá-la.
Embora a dorzinha inicial fizesse o desejo de Gina diminuir, logo ele voltou aumentado a um nível insuportável de prazer. Gina já não era capaz de pensar, podia apenas sentir, e agarrou-se a Jarvis enquanto
arqueava o corpo, pernas e braços cruzados atrás das costas dele num contato íntimo e total, que não queria que cessasse nunca.
O nome de Jarvis escapou-lhe dos lábios num suspiro cheio de amor a quando por fim aquela tensão intolerável se desfez, inundando-a numa onda de prazer que a deixou tremendo, sentindo-se completa e mulher.
Jarvis gemeu, tremendo sobre ela violentamente, e então o que restou foi a respiração ofegante de ambos, enquanto seus corações retornaram ao rítomo normal.
Estavam deitados lado a lado sem se tocar, no quarto escuro, quando a realidade se interpôs como uma barreira gelada entre ambos. Lágrimas quentes encheram os de Gina, e escorreram silenciosamente das
faces quentes para o travesseiro. Não percebera que emitira um som, mas algo alertou Jarvis de seu desespero e, no instante seguinte ele se inclunou sobre ela.
- Gina!
As mãos fortes tocaram as faces úmidas, mas Gina as afastou brusca.
- Por favor, me deixe em paz! - pediu.
- Como quiser. - Jarvis disse numa voz tão gelada que a magoou ainda mais.
As lágrimas rolavam livres e ela não se importava. Odiava Jarvis, mas odiava mais a si mesma por não ter resistido ao desejo de possuí-lo.
Seu sonho de amor se tranformava num pesadelo. Como iria sobreviver durante aquele ano, sabendo que Jarvis estava com ela apenas por Eldorado? E quando o prazo expirasse, a amndaria embora ou pediria para
que fitasse? Gina já não sabia mais o que pensar, apenas sentia que o pesadelo estava apenas começando.

Era uma manhã quente e úmida. O mar não estava calmo, e a piscina do hotel parecia um oásis no meio do calor. Jarvis descera para a piscina mais cedo, e Gina sentia-se aliviada por ter conseguido alguns
minutos só para si. Era o último dia de lua-de-mel. Haviam sido duas semanas ele autorecriminação e discórdia. Jarvis havia zombado dela, levando-a a uma fúria louca, mas em compensação ensinara-lhe a
arte de fazer amor. Amargura e ressentimento às vezes a faziam lutar como uma gata raivosa, para no fim se reder, levada peo amor e paixão, envergonhando-se depois de sua fraqueza. Não foi difícil achar
Jarvis na piscina, e enquanto o pricurava sequer percebeu os inúmeros olhares dos hóspedes, que contemplavam o minúsculo biquíni, que deixava à mostra um corpo escultural!
- Dê-me isso! - Jarvis disse a Gina, apanhando o bronzeador e enquanto ela se acomodava. Colocgu o líquido na mão e espalhou sensuálmente pelas costas macias, num toque firme e gentil, que a fez relaxar.
Fechou os olhos, sentindo uma súbita paz que logo desapareceu quando os dedos leves começaram a toçá-la de forma provocante, exigindo uma resposta que seu corpo não tardou a dar.
- Já chega - dise ríspida, tentando controlar a fúria.
- Pare de se odiar, Gina - aconselhou-a, desslizando-lhe os dedos pelas costas. - Não é crime nenhum uuma mulher querer um homem, principalmente quando esse homem é seu marido.
- Gostaria que você calasse a boca - Ela fuzilou-o com o alhar. - E não me toque!
- Todos sabem que estamos em lua-de-mel - Jarvis riu suavemente, voltando à sua espreguiçadeira - e vão estranhar esse esse distanciamento entre nós.
- Vá para o inferno - ela disse entre os dentes.
- Estou começando a gostar da sua natureza selvagem Georgina. Isso á torna ainda mais atraente e desejável.
- É mesmo? - ela perguntou sarcástica, ajustando a espreguiçadeira e deitando-se para aproveitar o sol.
- Fico pensando se minha mãe sabia que eu ia achar você irresistivel, quando colocou aquela cláusula no testamento.
- Ela não tinha o direito de tramar com a minha vida.
- Nossas vidas - Jarvis a corrigiu - Minha mãe foi uma mulher muito teimosa e capaz de conseguir tudo o que queria. Nesse aspecto, infelizmente, sou muito pàrecido com ela.
- Não aprovo o que ela fez, mas acho que posso entendê-la. - Demoraria muito para Gina perdoar a madrinha, entretanto, começava a entender os motivos dela. - Sua mãe queria vê-lo com a vida assentada e
temia que se decidisse por uma mulher inadequada a você.
- Como Lilian Ulrich? - Jarvis fez um gesto de descaso. - - Esse perigo nunca existiu. Lilian e eu tínhamos nossas regras, e nelas não havia lugar para casamento.
- Por que não disse isso à sua mãe? Teria nos poupado essa situação ridícula - comentou acusadoramente.
- Talvez você tenha razão... - Jarvis concordou os olhos semicerrados contra o sol. - Por outro lado seria uma pena... não haveria me forçado a seduzir você e teria perdido muita coisa.
Infelismente o o comentário era verdadeiro. Gina sabia que se não fosse pela mão de Jarvis, ela nunca teria entrado na vida dele... e sem dúvida teria sofrido muito menos. Será que haveria um fim
para aquele sofrimento? Ela virou a cabeça e fitou-o mais uma vez:
- Você é um canalha egoísta! Só lhe importa o lado material da vida, ainda que com isso machuque os outros.
- Eu machuquei você, Gina? - perguntou de manso num tom de voz estremamente sensual. - Eu a machuquei alguma vez nessas duas semanas?
Gina sentiu o rosto quente de vergonha e fúria.
- É típico de você reduzir tudo ao nível físico!
- Não é isso que temos feito o tempo todo? - Jarvis comentou impiedoso, e ela se encolheu como se tivesse levado um tapa.
- Sim, infelismente é - falou furiosa, agarrando os braços da espreguizadeira. - E o que me consola é que um relacionament como esse, só a nível físico, está fadado a acabar logo.
Jarvis sorriu indiferente, como se ignorasse aquele comentário.
Gina fechou os olhos procurando relaxar, mas sua mente não se aquietava.
Jarvis destruíra-lhe a vida tranqüila e o que restava fora amargura e incertezas. Mas ele continuava livre. Minutos mais tarde, vendo-o adormecido na espreguizadeira, Gina entrou na piscina e nadou por
algum tempo antes de sair e se secar. Colocava a saída de banno quando Jarvis abriu os olhos preguiçosos.
- Onde pensa que vai?
- Tomar um banho e me vestir para o almoço. Alguma objeção?
- Vou com você - anunciou, vestindo uma camiseta.
- Não preciso que segure minha mão enquento tomo banho.
- Ah, mais precisa de mim para outras coisas... - Ele sorriu zombeiro, pegando a toalha e jogando-a sobre os ombros, enquando a aompanhava.
No Elevador Gina evitou olhá-lo. Seu coração batia ansioso dentro do peito.
Quando entraram na suíte e a porta se fechou, Jarvis a abraçou. A saída de banho caiu no chão e o biquíni foi retirado sem cerimônia, enquento Gina tentava sem sucesso empurra-lo.
- Deixe-me em paz Jarvis! Tire suas mãos de cima de mim!
- Se como você disse, a atração física vai desaparecer tão rápido, é melhor aproveitarmos enquanto podemos! - E erguendo-a sem esforço, carregou-a para a cama.
Jarvis se despiu.
Gina respirava pesadamente e o encarava com ódio, mas seu corpo se rendeu, quando os dedos ousados transformaram um mamilo róseo, num botão enturmecido pelo desejo, e gemeu quando a boca úmida continuou
a carícia que os dedos haviam começado. Jarvis a acariciava de um modo tão sutiu e íntimo, que a resposta foi intensa. Gina ergueu os quadriz num convite que o incendiou.
- Como você é linda... nunca vou me cansar de você...
Ele falava numa voz baixa, e Gina não conseguia fugir das emoções que a inundavam. Estava derrotada e tomada por emoções que fugiam ao seu controle. Os corpos se fundiram num caminho sem fim, num ritmo
o pagão que os deixou exaustos mais satisfeitos.
- Você é tudo o que um homem pode desejar de uma mulher... - Jarvis murmurou rouco, muito tempo depois, ao passar a mão carinhosa pelo corpo relaxadoi de Gina.
Embora fisicamente satisfeita, sentia-se vazia por dentro. Afastou-se, levantando-se em seguida vestindo o robe.
- Posso ser tudo o que um homem como você espera, mas o sentimento terminará quando se cansar de mim.
- Você se cansará de mim, Gina? - perguntou com o ar zombador que ela conhecia bem.
Gina deu de ombros, mas ao olhar para o corpo nu de Jarvis, baixou as pálpebras para que ele não notasse o desejo que de novo lhe despertava. E respondeu à pergunta num tom frio:
- Sim! Não tenho dúvidas de que vou me cansar de você. - Gina estava movida pela amargura e pelo ressentimento, embora soubesse que não amaria senão a ele.
Procurando não pensar, deu-lhe as costas, aliviada por lembrar-se de que aquele era o último dia de sua lua-de-mel...

Capítulo 7

Gina vagava sem rumo por Eldorado, inquieta e, solitária. Jarvis avisara que não viria jantar, pois iria se encontrar com um cliente. Ela sempre amava Eldorado, a paz e tranqüilidade lhe inspiravam segurança.
Agora, entretanto, os quártos pareciam frios, os cômodos vazios, e começava a odiar a velha mansão. Eldorado era a causa de sua infelicidaqe e permanecia como uma manta secreta entre Jarvis e ela.
As semanas anteriores tinham sido infernais. Após tôrnarem da lua-de-mel, haviam passado dois fins de semana na fazenda, onde ela se vira forçada a fingir para a família, o que era intolerável. As conversas
entre ambos se transformavam em insultos e zombarias, como se a vida fosse um campo de batalha. Gian desprezava-se por não conseguir romper com Jarvis, contudo, bastava não o ter por perto para imediatamente
deseja-lo.
Nunca mais vira Norman, e suspeitava de que Jarvis estivesse vendo Lilian outra vez. Tratava-se apenas de uma suspeita, pois vira Lílian Ulrich em todos os compromissos a que ela e Jarvis haviam
comparecido, e, para reforçar a idéia, eram freqüentes as noites em que Jarvjs não jantava em casa.
Uma noite, sem ter o que fazer, Gina foi cedo para a cama. Como o sono não vinha, tentou ler, mas não conseguiu se concentrar. As perguntas afluuíam e a angustiavam. "Será que Jarvis está com um cliente?",
"'Será uma desculpa para ver Lilian?" O conflito era insuportável!
Fitava as páginas do livro com um olhar vago, quando ouviu o carro de Jarvis chegar. Sentiu-se insegura e a tensão pereceu sufocá-la.
Jarvis manifestou surpresa ao enltrar no quarto e vê-la ainda acordada. Parecia cansado, e o amor suavisou olhar de Gina que o observou desabotoar a camisa e jogar o paletó sobre uma cadeira.
Porém, minutos depois, sentiu-se encolhe ante o cinismo com que ele disse:
- Estou lisonjeaçlo por ter me esperado acordada, mas sinto desapontá-ta... Vou tomar um banho e redigir um inportante relatório, que me ocupará por umas duas horas.
- Você tem de reduzir tudo o que eu digo ou faço ao nível sexual? - ela perguntou friamente, odiando-o por fazê-la sentir-se como uma mulher insaciável. - Já lhe ocorreu que existem mais coisas na vida?
- Como ler para passar o tempo enquanto espera que o marido venha aos seus braços? - perguntou, arrancando o livro das mãos dela. - A paixão quê se pode viver nos bracós de um homem não se substitui por
nada, e você é uma mulher passional, Georgina! De fato, é a mulher mais passional que conheço.
- Você fala com a reverência de um mestre - Gina retrucou sarcástica.
- Você só tem um defeito, minha querida - Jarvis continuou ignorando o sarcasmo dela. - Gosta de sexo, mas se recusa a admitir. - Em vez de orgulhar-se do prazer que seu corpo pode dar e receber insiste
em comporta-se como se participasse de algo vergónhoso.
- Isso surpreende você? - ela perguntou. - Acha quê aprecio ter me tornado a esposa de um homem que me enganou, me usando para receber uma herança? Como acha que devo me sentir ao reconhecer que encontro
prazer em seus bráços, apesar de desprezá-lo?
As palavras dela o atingiram em cheio. Apertou os lábios e seus olhos brilharam quando se aproximou de Gina, recostada contra os travesseiros.
- Se pensa que gosto de ter minha liberdade cerceada por uma iinposição biruta de minha mãe, esta redondamente enganada. E já que não tive escolha, me pareceu lógico tirar o melhor proveito da
situação.
- Essa pode ser a sua solução para o problema, mas não é a minha!
- Ora vamos lá, Georgina, você é uma mulher inteligente e desejável. Esperava mesmo viver sob o mesmo teto sem que eu a tocasse? Isso seria desafiar as leis da natureza, não acha?
Dirigiu-se ao banheiro, fechando a porta atrás de si, deixando-a sozinha com sua raiva.
"Eu deveria ter dito o quê?" questionou-se Gina, tentando pensar racionalmente. Sabia que o que ele dissera era verdade, mas isso não diminuía a dor que experimentava por amá-lo e não ser amada.
Gina colocou o livro de lado e apagou a luz. Puxou as cobertas cobertas sobre os ombros, mas sabia que nãoconseguiria dormir. Imaginava Jarvis sob o chuveiro, a água correndo pela pele bronzeada,
e seu corpo ansiava por ele, enguanto se desesperava mais uma vez.
Quando Jarvis saiu do banheiro ela permaneceu quieta. Quando ele bateu a porta do quarto, ela ouvio os passos no corredor, e respirou aliviada. Nessa noite talvez ele tivesse paz.
Duas horas depois, quando Jarvis entrou no quarto, Gina ainda se revirava na cama acordada no escuro.
Ela sentiu o colchão ceder ao peso másculo e ficou imóvel, rígida, mal ousando respiar, mas Jarvis percebeu que Gina não dormia.
- Não finja estar dormindo quando não está - ele acusou, acendendo a luz do abajur, e apoiando-se no cotovelo para fita-la.
- Eu não estava fingindo - Ela protestou, tirando o rosto da luz para disfarçar a mentira, mas seu queix foi seguro pelos dedos firmes, que a obrigaram a encará-lo.
- Temos que conversar Gina.
Ela obsevou que Jarvis estava cansado. Tinha linhas acentuadas ao redor dos olhos acinzentados, e Gina teve vontade de acariciá-las, mas não ousou.
- Vamos fazer isso amanhã.
- Não. Ele soltou-lhe o queixo e, afastando uma mecha de cabelos castanhos que lhe caíam sobre a testa, deixou os dedos permanecerem no rosto suave num carinho casual. - Quero que saiba que não acho nada
intolerável estar casado com voce.
Gina o encarou sem descobrir, o que realimente expressavam aqueles olhos.
- Devo tomar isso como um cumprimento?
- Tome como quiser, mas quero que pare com essa agressividade que nos machuca tanto. - A mão de Jarvis brincava agora com os cabelos de Gina como se ele adorasse a textura macia. - Não posso desfazer aquela
cláusula testamentáriá, mas reconheço que você não merecia ter sido, enganada. No entanto, as circunstâncias são como são, e acho que não devemos nos massacrar por isso.
- Está tentando me dizer que um ano passa depressa...? - A boca de Gina curvou-se num traço de amargura. - De fato, dois meses já se passaram rapidamente. Se formos gentis um com o outro, os que restam
não serão tão difíceis. É isso que está querendo me dizer?
- Talvez seja. - Ele falava baixo e sério, e em seu rosto não havia nenhum traço de zombaria, o que a levou a considerar a sugestão. O desejo de criar uma atmosfera harmoniosa entre ambos passara pela
cabeça de Gina, mais o costumeiro cinismo de Jarvis impedira qualquer tentativa. Deveria ela tentar agora? Afinal, quem sabe...
- Oh, Déus... - ela gemeu, com lágrimas enchendo os seus olhos. Deveria tentar conquistar o amor do marido?
- Gina? - disse baixinho, aproximando-se sob as cobertas até que ela pudesse sentir a perturbadora proximidade do corpo dele através do fino tecido da camisola. - Vamos fazer uma trégua?
- Sim - Gina se ouviu dizendo num sussurro.
- Podemos selar nosso acordo com um beijo?
- Sim - murmurou, sem importar-se com mais nada. Ansiosa, trouxe-o para perto, até que a boca quente reclamasse a dela num beijo sensual e provocante que a inflamou, mostrando-lhe que precisava de muito
mais. - Acho que vamos selar nossa trégua com muito mais do que um beijo - ousou dizer pela primeira vez, sem ressetimentos.
- Pode apostar! - Jarvis riu, a mão percorrendo por dentro da camisola até encontrar-lhe os seios. Ela tremeu em resposta quando os dedos atrevidos começaram aperta-le ritmadamente um dos mamilos.
Como nunca até então, fizeram amor apaixonadamen! Mas, apesar do carinho de Jarvis, uma parte de Gina permanecia intocada. E quando ficaram quietos, lado a lado, fisicamente satisfeitos, nos braços um
do outro, Gina ainda ansiava pôr um amor que talvez ele nunca pudesse lhe dar. Compreendeu que teria de apreender a viver sem isso, e pela primeira vez desde que se casaram adormeceu nos braços do marido.

 

 

Capitulo 8

O Vittorio's estava quase cheio mas mesmo assim o ambiente tranqüilo e refinado era silencioso e aconchegante. Gina, contudo, preferia ter ficado em casa, mas Jarvis insistira naquele jantar e
pediu a Vittorio uma garrafa de chàmpanhe. A mesa usual deles ficava parcialinente escondida e Gjna começava a apreciar a noite quando percebeu que Lílian Ulrich jantava com um homem de cabelo grisalho
do outro lado do salão.
Sentindo o coração bater mais rápido, indagava-se se Jar'vis sabia que Lilian estaria ali naqgela noite. Mas procurou evitar os pensamentos nefastos dizendo a si mesma para não ser tola, o encontro
não deveria passar de coincidência.
Após alguns minutos, Gina sentia-se mais tranqüila, nem uma só vez ele olhara na direção da outra mulher.
Gina começava a saborear seu strogonof quando, ao erguer os colhos, se deparou com Jarvis fitando-a de uma maneira muito tensa.
- Já lhe disse que está noite você está linda? - Jarvis cobriu á mão dêla com a sua. Contemplava o brilho sedoso dos cabelos castanhos, o decote profundo do vestido de noite que deixava entrever
a sensualidade do colo... Gina sentiu um leve tremor, parecia que estava sendo acariciada por ele.
O jogo de sedução continuou quanpo Jarvis falou num sussurro:
- Quando olho para você, a única coisa que penso é na hora de voltarmos para casa e ficarmos a sós...
Mais uma vez Gina estremeceu sob o olhar quente e sensual.
- Saiba que sinto a mesma coisa. - Sorriu provocante.
- Você escolhe os piores lugares para fazer confições desse tipo...
- Você também.
- Touché - contordo Jarvis, os traços fortes se suavizando num sorriso que o fez pareçer muitos anos mais moço e mudando de tom, sugeriu: - Faz tempo que não vai para fazenda. Quer ir para lá amanhã cedo
e ficar até domingo?
- Prefiro passar o fim de semana sozinha com você, em Eldorado.
- Gosto de ouvi-la falar assim. - Jarvis comentou, com voz baixa, e Gina sentiu um súbito calor aquece-la por inteiro.
- Jarvis querido, que maravilha vê-lo aqui esta noite! - A voz musical de Lílian Ulrich soou como uma interferência desagradavel no mundo particular do casal. Gina ficou pasma quando a viu puxar uma cadeira
e sentar-se sem ser convidada.
- Já conhece Gina?
- Sim querido - Lilian respondeu, surpreendendo Jarvis. - Ela não lhe disse que nos conhecemos no dia do seu casamento e que eu tomei a liberdade de avisá-la que você sempre tira mais do que dá?
- Gina deve ter dado tão pouca importância ao fato, que se esqueceu de me contar. - Jarvis replicou seco.
- Não quer se juntar a nós? - Lilian convidou, colocando a mão posessivamente sobre o braço dele.
- Não temos a menor intenção de nos juntarmos a você em sua mesa. - Brusco, retirou a mão da loira de seu braço. - Parece que ainda não notou que está se intrometendo numa festa partlcular.
Lillian respirou audivamente e contra-atacou:
- Como sempre, vou perdoá-lo por sua franqueza, e espero que me convide para dançar mais tarde. A loira se ergueu graciosamente, e balançou o corpo sedutor enquanto se afastava em direção à própria mesa,
sob olhar dos homens que se voltavam para vê-la. Jarvis, entretanto, não lhe dirigiu um segundo olhar.
Depois dessa cena, Gina perdeu o apetite e, se Jarvis percebeu, nada comentou, mesmo quando o garçon retirou o prato praticamente intocado.
A orquestra tocava uma música de Gershwin, lenta e sensual, e Jarvis a tirou para dançar, segurando-a apertada contra si. Presa em pensamentos conflitantes, Gina sentia que a magia do momento diminuiu,
e não conseguia deixar de se perguntar se a atração entre Jarvis e Lílian teria mesmo acabado. Contudo, as palavras rudes de Jarvis indicavam que o rompimento fora definitivo.
O olhar irado de Lílian os seguia enquanfo dançavam.
- Relaxe, Gina - Jârvis ordenou, os braços apertando-a. - E pare de se comportar como se eu não estivesse aqui.
- Eu estava pensando... Você roi quase grosseiro com Lílian... bastante rude mesmo.
- É a única linguagem que ela entende. - A frieza na voz dele a fez estremecer, e Jarvis acrescentou: - Não se preocupe com aquela mulher.
Gina percebeu que Jarvis captava-lhe os pensamentos. Dançaram e flertaram sensualmente e Gina sentia-se tranqüila quando voltaram à mesa para o café.
Entretanto mais tarde, ao ir ao toalete, Gina constatou que seus aborrecimentos não haviam terminado naquela noite. Lílian também foi para lá.
Assim que seus olhos se encontraram no espelho, Gina viu a agressividade da loira. Não demorou para que a voz atrevida indagasse:
- O que fez para atrair Jarvis ao casamento? - Lílian perguntou rude, estudando Gina com um olhar insolente e um brilho vingativo. - Será que o seduziu, forçando a sitúação?
- Sua pergunta é grosseira e impertinente! - Gina falou ríspida, tentando conter a indignação:
- Eu conheço Jarvis, ele tem um jeito especial com as mulheres, e sempre consegue o que quer. Se não forçou a situação, então só posso concluir que lhe proporcionou alguma coisa de muito valor, e suspeito
que você saiba o que é.
- Sei por que Jarvis casou comigo. - Gina respondeu calma. - E isso não lhe diz respeito.
- É claro que diz - Lilian a contradisse com um sorriso venenoso. - Jarvis e eu pertencemos um ao outro, e não vou tolerar esta interrupção cruel em nossa felicidade. Descobrir a verdade é problema meu,
e quando o fizer verá o que vai acontecer.
Lilian saiu da toalete, mas seu perfume adocicado permaneceu no ar como uma ameaça. Gina fitou o rosto pálido no espelho se perguntando se teria forças para suportar a humilhação caso a outra realmente
descobrisse a verdade. Ficou lá dentro, até recuperar o controle, então retocou a maquiagem e retomou à mesa.
Jarvis ergueu-se e afastou a cadeira para ela, cmentando:
- Você está muito pálida. Não está se sentindo bem?
A percepção aguçada de Jarvis captou-lhe o estado de espírito, entrevendo o medo e a dor. Emocionada, Gina quase explodiu em lágrimas, controlando-se num esfdrço supremo e dizendo a primeira coisa
que ocorreu:
- Eu... eu acho que comi algo que não me fez bem. - E sem coragem de fitá-Io acrescentou como se pedisse desculpas: - Isso passa logo, tenho certeza.
Jarvis pareceu hesitar um momento e então disse:
- É melhor voltarmos para Eldorado.
Para felicidade de Gina não conversaram durante o trajeto, pois ela sentia a garganta apertada e o queixo tão tenso que não conseguiria falar nem que quisesse. Descontente consigo mesma, admitia
que tinha sido uma boba em permitir que uma quase estranha lhe estragasse a noite. Mas não podia evitar o que sentia; tinha medo do poder de Lilian sobre Jarvis e medo da dor que iria sentir quando o casamento
acabasse.
Cortando seus pensamentos sombrios, Jarvis perguntou, ao entrarem no quarto:
- Tem algo para tomar ou quer que eu vá até a farmácia?
- Não se incomode... Eu tenho uns antiácidos. - E dingindo-se ao banheiro fechou a porta e se trancou.
Sentia-se culpada por ter se comportado como uma garotinha assustada e decidiu que de algum modo compensaria Jarvis.
- Está se sentindo melhor? - ele perguntou, quando Gina se deitou a seu lado, na enorme cama de casal.
- Muito melhor. Desculpe, eu estraguei nossa noite.
- A noite ainda não acabou. - Jarvis sorriu. Os olhos acinzentados brilhavam quando sentou-se na cama e retirou-lhe a camisola. - A noite está apenas começando para nós.
- Estou contente. - Gina concordou.
- Jarvis começou a tocá-la de leve. A carída suave era um tormento delicioso e o gemido de prazer que escapou da boca de Gina foi silenciado pelos lábios de Jarvis. Então, passou um braço pela cintura
dela, enquanto a outra mão terminava de despi-la. Gina o queria demais, e retribúiu-lhe os afagos de maneira ousada.
- Você é tão linda e eu quero beijá-la inteira... - Jarvis falou, e Gina entregou-se sem meclo ao prazer intenso e erótico de sentir a boca morna em cada pedacinho de sua pele.
- Eu quero você, Jarvis! Eu quero você, agora! - ela implorou, movendo-se sob o corpo vigoroso com uma urgência selvagem e primitiva que era desconhecida para ela. - Por favor! Venha!
- Não ainda, minha pequena! - ele murmurou contra o pescoço macio, pulsante, as mãos deslizando possessivas pelo corpo em chamas, acalmando-a, excitando-a. - Temos a noite inteira e quero ter certeza de
que vamos aproveitar cada minuto...
Naquela noite Jarvis a amou com uma lentidão enlouquecedora, num doce tormento que a fez pensar que iria morrer de prazer, e Gina se entregou à força que emanava dele, até que um grito de paixão encheu
o ar qyando atingiu o clímax. Só muito mais tarde, quando Jarvis dormia ao seu lado, foi que Gina voltou a pensar em tudo que estava acontecendo. Havia Lílian, havia Eldorado, e havia seu amor por Jarvis.
Amava-o como jamais imaginara ser possível amar alguém e rezava para que lhe pedisse pra ficar quando aquele ano acabasse. Tinha consciência de que Jarvis a achava desejável e atraente, porém não fora
a mulher escolhida por ele. Ao contrário, se via forçado a tomá-la. Eldorado fora o preço, e Evelyn Cain acertara ao afirmar que o filho faria qualquer coisa por aquela velha mansão.

Apesar das ciscunstâncias, Gina estava feliz, e o relacionamento com Jarvis tomara uma nova dimenção, mas um acidente mudaria tudo.
Para o aniversário de Jarvis, Gina planejara uma surpresa: um jantar especial, para o qual convidara algun amigos.
Pensava nos detalhes da festa dauela noite, quando à tardinha desceu correndo a escada para verificar se tudo estava em ordem na cozinha e, ao pisar num dos degraus, tropeçou. Por um horrível instante,
Gina foi jogada no ar.
Um grito escapou pela casa silenciosa. Percebeu que estava no chão. De repente, uma dor pareceu perfurá-la. Um novo grito de agonia nasceu em sua garganta, e a escuridão se fechou sobre ela.
Algumas horas depois, Gina voltou a si num quarto estranho. A seu lado havia um casal de uniforme branco.
- Quem são vocês, e onde eu estou? - conseguiu perguntar numa voz que nem parecia a dela.
- Sou o Dr. Hirshfield e você está no hospital, sra. Cain. - O homem de óculos de aro negro respondeu com um sorriso ligeiro nos lábios. - Teve um acidente feio, lembra-se?
Um acidente? Então Gina começou a se lembrar, revivendo todas as sensações dolorosas.
- Cair da escada parece algo tão bobo! - Tentou sorrir, esquecendo a dor.
- É uma mulher de muita sorte - o médico explicou sério. - Estamos cuidando das equimoses e de uma possível concussão, mas infelizmente não pudemos fazer nada para salvar seu bebê.
Gina ficou pálida. Por um terrível momento pensou que fosse desfalecer. Um filho! Um filho de Jarvis! E ela o perdera.
- Como... quero dizer, por quê...? - Sua voz revoltada ecoou no quarto silencioso.
O médico não conseguiu disfarçar sua surpresa:
- Não sabia que estava grávida?
Gina balançou a cabeça, os olhos cheios de lágrimas:
- De quan... quanto tempo eu estava? - perguntou quando conseguiu se controlar um pouco.
- Eu diria que seis ou sete semanas - o médico explicou. - Contudo, lhe asseguro que não houve danos internos e poderá ter outros filhos.
Gina sentia a mente como um redemoinho, e foi necessário tempo para que pudesse pensar racionalmente. Assustada percebia que a ansiedade no relacionamento com Jarvis, a felicidade que estava sentido tinham
feito com que passasse por cima de pequenos sinais que agora lhe eram tão claros. O atraso na menstruação, os pequenos enjôos pela manhã... Os sinais haviam estado lá o tempo todo, mas ela não enxergara.
Oh, Deus, como aquilo podia ter acontecido? Como e quando teriam sido tão descuidados? Um filho naquele casamento teria sido a gota final... Mas perdê-lo era algo que iria lamentar pelo resto da vida!
- Meu marido sabe?
- Eu lhe disse no momento em que a tiramos da sala de operação.
- O que... ele disse? - Gina perguntou num múrmurio, ternendo a resposta.
- Ele não disse nada, mas pareceu tão atônito quanto a maioria dos maridos em ocasiões como essa. - O Dr. Hirshfield sorriu, amigável e Gina pensou que ele nunca saberia o verdadeiro motivo da
reação de Jarvis.
- Seu marido quer vê-la e vou permitir se me prometer não se cansar. Agora precisa de repouso e tranqüilidade.
Fez um gesto para a enfermeira e Gina ficou sozinha no quarto.
Jarvis surgiu e senfou-se a seu lado na cama. Gina engoliu em seco várias vezes para controlar as lágrimas que teimavam em cair.
- Desculpe. - ela sussurrou, forçando os lábios a um sorriso, quando olhou para o rosto sério do marido. - Isso não faz parte da surpresa que eu preparava para você... - ela se interrompeu em pânico, ao
se lembrar que a festa de aniversario não fora cancelada. - Oh, Deus, o que vamos fazer com todas aquelas pessoas?
- Rosie achou sua lista de convidados e avisou a todos. - Jarvis a fitava intensamente. - Mas porque não me disse que estava grávida?
-Eu não sabia. - Gina tinha os olhos cheios de lágrimas. - Eu não sábia...
Um profundo suspiro escapou dos lábios de Jarvis.
- Meu Deus, Gina, hoje você teve sorte de não ter se matado.
Havia uma acusação naquelas palavras ou estaria imaginando coisas? Será que Jarvis estava aborrecido, porque apesar de todas as precauções ela havia engravidado? Ou estava aborrecido porque perdera o bebê?
Gina estava fraca demias para pensar, sentia-se no limite da exaustão. Cenas desconexas de sua lua-de-mel, do casamneto, da vida em Eldorado, se misturavam em sua mente e ela explodiu:
- Teria sido bem melhor pata você se eu tivesse conseguido me matar. Minha morte o teria libertado.
Ela não saberia explicar o que a levava a dizer aquilo, mas era tarde demais para esquece a odiosa acusação que lhe lançara.
Jarvis ficou trêmulo, pálido. Com voz impessoal respondeu:
- Precisa de descanço. Vejo você amanhã.
As lágrimas correram livres, depois que ele saiu do quarto. A enfermeira aplicou-lhe uma injeção e Gina viu o mundo escurecer outra vez.

Jarvis voltou para visitá-la no dia seguinte, mas foi breve e educado, fazendo perguntas impessoais e não se demorou, partindo como se fosse um estranho. Na manhã seguinte, Gina teve alta e Jarvis a levou
para Eldorado, carregando-a escada acima até o quarto.
- Rosie vai trazer sua mala - disse numa voz neutra que ela aprendera a odiar. - Vou levá-la para a fazenda depois do almoço, e trarei de volta daqui a duas semanas. Uma mudança de ambiente lhe fará bem.
- Prefiro ficar aqui. - Gina protestou, temerosa de que uma separação piorasse mais a situação entre ambos.
- Já está decidido, tenho um caso difícil, e vou precisar trabalhar quase o tempo todo, durante as próximas semanas. Por enquanto, a fazenda é o melhor lugar pra você e seu pai concorda comigo.

Durante quatorze dias que passou na fazenda, Gina teve que admitir que, em Eldorado, não teria sido de grande valia para o marido. Passara a maior parte do tempo na cama, pensando angustiada no que seria
sua vida dali em diante.
Sabia que a trégua havia acabado, e ao voltar para casa que não só a escada havia recebido um novo carpete: Jarvis tabém se mudara para o quarto de hóspedes.
Uma dor insuportável se apoderou de Gina, tamanho despreso que sentia. Era óbvio que p marido se afastara dela com medo que engravidasse novamente, dificultando a separação quando o prazo estipulado no
testamento expirasse. A rotina em eldorado era sufocante, mas Gina sofria em silêncio sem reclamar. À noite mal dormia, sozinha na cama imensa, relembrando as horas de paixão e loucura que ali vivera.
E como se não bastasse, ele a tratava com uma frieza polida. Quase não parava em casa, e quando tomou coragem para perguntar o porquê, Jarvis alegou problemas de trabalho. Sozinha com sua tristeza, Gina
já não sabia mais o que fazer, quando numa manhã viu-se frente a frente com Lílian Ulrich.
- Posso entrar? - a loira perguntou-lhe.
Gina indicou-lhe a sala de estar.
- Você tem uma bela casa, porém num estilo muito antiquado.
- Com certeza você a decoraria num estilo mais moderno, não é mesmo? - Gina perguntou mantendo-se calma.
- Realmente, pretendo midificar a decoração!
- Você parece muito segura de si. - Gina retrucou friamente.
- E estou. - Lílian sorriu venenosa. - Sei recinhecer uma mulher disiludida e descontente, e você é uma.
Gina percebeu que a outra era inteligente e perspicaz. Mas estava disposta a lutar pela sua felicidade:
- Não tenho tempo a perder com sua língua ferina, srta. Ulrich.
A loira fitou-a com ódio.
- Sabe meu bem, eu só vim aqui para devolver a gravata de Jarvis. - disse triunfante, ao entregá-la a Gina. - seu marido a esqueceu lá em casa ontem, e acontece que sei que é a favorita dele. Como sei
também que muito em breve, Jarvis voltará para mim. - Lílian virou-se e saiu da casa, sem nem esperar pela resposta.
Gina olhou para a gravata e sentou-se num canto encolhida no sofá. Sentia tanta dor que não sabia se iria suportar. Como jarvis podia tê-la traído? Não esperava sequer o fim do prazo estipulado para voltar
à antiga amante! Será que ela merecia tanta humilhação?
Gina não sabia por que insistia naquela farsa, e perguntou-se o que iria fazer a respeito. Não encontrou resposta.
Jarvis chegou no início da noite, mas quase não se falaram durante o jantár e ele parecia tão absorto com os próprios problemas que parecia não notar o silêncio que os en-volvia.
- Vou tomar meu café na biblioteca - ele comentou, trazendo-a de volta ao presente quando se afastou da mesa de jantar. - Tenho um relatório lmportapte para terminar.
- Vou pedir a Rosie para levar a bandeja para lá. - Gina falou se contendo para não chorar.
Jarvis se virou e afastou-se. Gina fitou o lugar dele, vazio, à mesa.

Capitulo 9

Gina levantou-se entristecida na manhã seguinte, quase não dormira, tendando controlar a humilhação, a vergonha e o deespero. Estava saindo do quarto para tomar café quando se viu frente a frente com Jarvis.
Ele vestia um terno azul que acentuava-lhe a aparência máscula e a camisa branca estava aberta no colarinho.
- Se está procurando por sua gravata azul-marinho, de listras cinzas, ela está em minha penteaira - Gina comentou, e não foi sem uma certa satisJação que viu surpresa no olhar dele.
- Como sabe que procuro por ela, e o que está fazendo em sua penteadeira?
- É fácil saber. Você é um homem metódico que só saí do quarto completamente vestido, portanto é natural que estivesse procurando por sua gravata.
- Isso não explica o fato de ela estar em seu quarto. - insistiu com os olhos semicerrados.
Gina deu de ombros, num gesto calculado de indiferença:
- Lílian veio entregá-la pessoamente ontem pela manhã. - Gina, falava com calma e controle, apesar do desejo intenso de acusá-lo selvagemente por magoá-la tanto. - Creio que a deixou na casa dela na outra
noite.
Ela se virou para descer a escada, mas Jarvis agarrou-a pelo braço:
- Você pode fingir não perceber, mas fez uma acusação que exige uma resposta.
Gina baixou os olhos para os dedos longos que a prendiam, e a fúria lhe deu forças para não chorar.
- Eu apenas afirmei, não acusei ninguém! Portanto, não vejo necesidade de explicações - respondeu sem olhar para ele, até ter certeza de que era capaz de se controlar.
- Venha comigo! - Ele a puxou para o quarto que não mais compartilhavam. Assim que entraram trancou a porta.
- Você pode não querer dar explicações, mas imagino que espere uma explicação de minha parte, não é mesmo?
Antes que ele pudesse continuar, foi interrompido:
- Gostaria que não insultasse minha inteligência, tentando ocultar, com mentiras o fato de que ainda mantém um caso com Lílian Ulrich. - A voz dela era gelada, cheia de amargura e desgosto, e a fúria visível
nos ollios verdes. - Tenho um profundo desprezo por Lílian e mulheres de seu tipo. Ela é, como sua mãe uma vez disse, uma mulher dura cujo intertisse por você é puramente material, e se é cego para isso,
o problema é inteiramente seu. Devo, contudo, dar a ela um crédito de honestidade. Lilian nunca fez segredo de que o queria. No entanto, há um pequeno detalhe que lhe escapa: Ela não sabe que sua verdadeira
paixão é por Eldorado. Mas não se preocupe no final sua amante descobrirá a verdade, da mesma forma dolorosa e humilhante que eu descobri. - Gina respirou fundo e lutou, para se controlar antes de continuar:
- E tenho pena dela, Jarvis, mas tenho mais pena de você. Nunca soube o que é o amor e jamais conhecera a infinita alegria de dar, pois contenta-se com o breve prazer de receber. Lilian estava certa. Vocês
dois são iguais. Um merece o outro, mas ambos terão que esperar, pois não pretendo abandoná-lo antes de um ano de casamento. Eldorado será o meu presente de separação para você!
Houve um silêncio mortal quando Gina parou de falar, e ela, sentiu um calafrio percorrê-la quando observou a expressão de fúria no rosto de Jarvis.
- Já acabou? - ele perguntou, numa voz controlada, enquanto uma veia pulsava incessantem em sua têmpora.
- Sim - Gina replicou ríspida. - Já disse tudo que tinha a dizer.
- Bem, vou dizer só uma coisa Georgina - ele continuou na mesma voz perigosamente calma. - Há duas coisas que desprezo numa mulher: Ciúme e desconfiança. E você mostou que possui os dois defeitos. Posso
não saber o que é o amor, mas o sei o que significa confiar em alguém. Pense nisso!
Ele se virou, agarrou a gravata e saiu batendo a porta com uma violência assustadora.
"Confiar", Gina pensou desesperada. "Com Jarvis espera que eu confie nele depois de tudo que fez, como?"
Muito tempo depois, gina desceu em direção ao vestíbulo, sentindo a casa estranhamente vazia. Caminhou até o escritório e discou o número do escritório de Jarvis. Teria forças para lutar por aquele amor,
mesmo sabendo que ele se casara por Eldorado? Valeria a pena apostar em seu fururo e tentar faze-lo conhecer o amor?
- Escritório do sr. Cain, bom dia. - a voz da secretária a fez voltar à realidade.
- Bom dia srta. Jakson. Gostaria de falar com meu marido, por favor! - O coração de Gina batia descompassado.
- Ele não está no momento, foi almoçar com a srta. Ulrich, e acho que não voltará antes das três da tarde. Quer que eu lhe peça para ligar sra. Cain?
- Não. - Gina sentiu como se chão fugisse a seus pés. - Não será necessário. Obrigada, até logo.
Colocou o telefone, no gancho e deixou-se cair numa cadeira próxima, com medo de desmaiar. Lembrou-se das palavras de Jarvis sobre ciúme e desconfiança e teve vontade de chorar.
Como acreditar num homem que lançara mão de métodos inescrupulosos para conseguir uma herança, e que tinha a intenção de colocá-la de lado quando conseguisse seu intento, como uma camisa velha que não
servia mais?
"Oh, Deus, por favor, dê-me forças!" ela rezava silenciosamente, ao vagar sem rumo pela casa e pelo jardim.

Aquela noite Jarvis chegou às dez horas, e Gina fez tudo o que pôde para não notar-lhe a presença em Eldoado. Quando ele entrou no quarto de Gina, gotas de água escorriam dos cabelos escuros brilhantes
e ela sabia que não havia nada sob o robe atoalhado que ele vestia.
Tal constatação a deixou trêmula, uma ânsia louca e desesperada assomou-lhe os sentidos: queria satisfazer o desejo que a consumia. Lutando contra sua presença, Gina tentava, com uma fúria insana ignorar
o perfume que emanava do corpo forte, quando ele sentou-se a seu lado, na cama. Não... Não era possível! E seu orgulho, onde ficaria? Jarvis a havia ferido tanto e ainda assim continuava a querê-lo.
Mas o desejo aumentava. Após tantas semanas sem amor, sentia-se descontrolada.
- A sra. Jackson me disse que você ligou para o escritório hoje. - O olhar dele era penetrante. - Havia algo de importante que queria discutir comigo?
- Sim... não... Foi uma coisa de momento, eu acho...
Gina parou nervosa, baixando os olhos para a revista que tinhá na mao. - Esperava que estivesse livre para almoçarmos juntos e conversarmos como antigamente, sem a tensão que agora existe entre nós.
- Que bom!
- Mas não passou de um pensamento, já que você foi almoçar com Lilian e não voltou antes das três.
- Podemos conversar agora, se quiser - Jarvis sugeriu, e a maneira calma de ele falar a enfureceu.
- Não é o lugar nem a hora.
- Está dizendo que precisamos de uma mesa entre nós se quisermos conversar racionalmente?
- Não - Gina corrigiu. - Estou dizendo que o momento se perdeu e não pode ser recapturado.
- O que queria discutir comigo Gina? - Jarvis insistiu.
O robe que Jarvis usava estava aberto até a cintura, e ainda lutava contra o desejo de deslizar a mão pelos pêlos negros do peito musculoso, Jarvis estava perto demais, Gina tinha de se
afastar antes de se humilhae implorândo que ele a amasse. Gina saiu rapidamente da cama, agarrou o négligé de seda e o vestiu cobrindo a camisola.
- O que eu queria discutir com você já não é importante, mas há outra coisa que eu tenho pensado muito, ultimamente. - Gina o encarou. - Gostaria de voltar a trabalhar e há uma possibilidade de conseguir
meu antigo emprego de volta. - Fez-se um silêncio tenso antes que ele falasse.
- Pensei que tínhamos concordado que não haveria necessidade de voce trabalhar.
- Isso foi antes do nosso casamento. - Havia uma fúria amarga nos olhos verdes, quando Gina recordou os sonhos que haviam partilhado, e rapidamente balançou a cabeça afastando aqueles pensamentos. - Jarvis,
vou ficar maluca se continuar parada dentro desta casa. Sinto-me inútil aqui. Meus dias são gastos em compras bobas e minhas noites... - A garganta se apertou, e ela a tocou com as mãos num gesto inconsciente
de desespero. - Minhas noites são passadas sozinhas, jantando sem companhia e fitando paredes que estão começando a me sufocar. Jarvis se Ievatou abruptamente, e seu olhar de censura atingiu-a quando se
aproximou dela:
- Eu também estou sozinho, Gina.
- Ora, não me faça rir! - ela replicou ríspida. - Você tem seu trabalho para mantê-lo ocupado e Lilian para distraí-Io.
- Droga, por que tem que colocar Lilian nessa história?
- E por que não? - perguntou cínica, a mão agarrando o encosto da poltrona em busca de apoio.
- Que tipo de homem você pensa que eu sou? Acha que tenho tão pouca decência a ponto de ter um caso com Lilian, mesmo casado com você?
- Baseio-me nas suas ações do passado - Gina respondeu friamente. - Se comigo você foi insensível e cínico o suficiente para me enganar e me levar a um casamento falso, apenas por causa desta maldita casa,
pode me culpar por pensar que é éapaz de ter um caso com Lilian?
- Pelo amor de Deus, Gina, você...
- Estávamos discutindo minha intenção de voltar a trabalhar - ela o cortou seca, afastando-se para evitar a mão que tentava alcança-la.
- Eu não quero que volte a trabalhar.
- Porque não? Agrada seu ego saber que estarei aqui, disponível nas ocasiões em que não for conveniente para Lilian tê-lo na cama dela?
Jarvis ficou pálido.
- Meu Deus, Gina, você já está indo longe demais.
- A verdade dói? - ela perguntou, cega a todos os sinais de perigo, enquanto tentava lidar com a dor que parecia atravessá-la.
- Sua idéia de verdade machuca - Jarvis a contradisse duramente, avançando em direção a ela com uma expressão satânica no rosto moreno. - Não me julgo sem sentimentos, e talvéz possa surpreendê-la o fato
de eu ter uma consçiência, mas hoje não vou ser levado por ela.
- Você não possui uma consciência, Jarvis - rebateu totalmente descontrolada, furiosa demais para ver que havia ultrapassado todos os limites. - Não foi sua consciência que o fez mudar de quarto, mas
o medo de que eu engravidasse novamente. Não seria bom ter um filho, seria? Uma criança se tôrnaria um peso indesejável, quando você herdar legalmente Eldorado e der entrada nos papéis de divórcio.
- Pode pensar o que quiser, droga!
- Fique longe de mim! - O coração de Gina estava disparado, quando começou a suspeitar dás intenções dele. - Não se atreva a me tocar!
Gina olhou o quarto, procurando um jeito de fugir, mas a cama antiga e grande atrapalhava-lhe a saída. Gina correu, tentando passar por ela, mas Jarvis foi mais rápido, prendendo-a sob seu peso.
- Você pediu por isso, Gina, me provocou de tal maneira que vou mandar tudo para o inferno! - A voz dele era um gemido, e a fúria misturava-se ao desejo nos olhos acinzentados. - Eu a quero e vou
tê-la!
- Não! - o grito saiu da boca de Gina enquanto ela lutava para saltar-se - Recuso-me a ser usada como um brinquedo que você pega e depois coloca de lado, conforme sua conveniência.
- Cale a boca! - Jarvis ordenou, agarrando uma das mãos delae colocando-a dentro do robe até quê a palma macia tocasse o peito moreno. - Você me quer, vi isso em seus olhos quando entrei aqui, e não ouse
negar Georgina!
Jarvis a levou para a cama e a beijou. Gina acariciou-lhe os cabelos num gesto inconsciente. O beijo se intensificou, a paixão que os unia era violenta.
Depois de semanas longe um do outro, os dois se amaram tempestuosamente, até que o clímax os deixou ofegantes e exaustos.
Não havia necessidade de expressar a intensidade do desejo que os envolvia com palavras e eles se procuraram novamente com uma ânsia mútua infindável.

Gina acordou cedo no dia seguinte, sentindo-se completamente desorientada ao recordar-se do que acontecera na noite anterior. De repente, percebeu um bilhete sobre a mesinha-de-cabeceira, ao lado. Sentou-se
na cama de um salto, agarrando o papel e abrindo apressada.
"A noite passada não deveria ter acontecido, mas nem por isso vou me desculpar por ela. Contudo, é hora de conversarmos e tomarmos uma decisão que poderá ter um efeito drástico em nosso futuro."
Jarvis escrevera com letras firmes, mas não assinara. Gina estava bem acordada e leu o bilhete uma segunda vez, tentando ordenar os pensamentos. Sabia que realmente era hora de terem uma conversa definitiva.
Jarvis estaria querendo acabar com o casamento? Não! Ele nunca faria nada que pusesse em risco Eldorado... faria?
Após o café, Gina ligou para o escritório. Precisava falat com ele, precisava saber o que Jarvis estava tentando lhe dizer, mas a secretária lhe informou que ele fora para o fórum. Inquieta e agitada,
Gina entrou em seu carro e o dirigiu pela cidade. Perambulou por ruas e ruas até decidir-se ir ao Palácio da Justiça.
Caminhou pelos largos corredores do prédio até chegar à sala do julgamento. Sentou-se numa dàs últimas fileiras, sentindo o peito explodir de amor ao ver o marido vestido formalmente, atacando a testemunha,
e não pede deixar de sentir um certo receio daquele lado da personalidade de Jarvis que ela desconhecia.
Terminada a sessão Gina deixou a sala e foi esperá-lo nas escadarias. Quando o viu surgir, deu um impulsso invóluniário em direção a ele, mas estancou de repente. Lilian Ulrich aproximava-se apoiando-se
no braço de Jarvis.
Gina ficou petrificada, e foi como se uma porta se fechasse dentro dela e uma luz se apagasse no final do túne! Aquele era o fim, e ela não conseguia nem mesmo chorar!
Sentindo-se meio tonta, dirigiu-se até o carro, e daí para o escritório de Harofd Ashton, sem nem ao menos marcar hora.
- Gostaria de ver o sr. Ashton! - disse à secretária.
- A senhora tem hora marcada?
- Não, mas é urgente - ela insistiu, procurando ficar calma.
- Seu nome, por favor.
- Georgina Cain.
- Um momento que vou ver o que posso fazer.
Minutos depois, Gina entrava na sala do advogado. Harold Ashton levantou-se de sua cadeira, estudando-a curiosamente e indicou-lhe uma cadeira.
- Por favor, sente-se, e diga-me de que modo posso ajudá-la.
- Gostaria de saber as condições do testamento de Evelyn Cain. Seria antiético se lhe pedisse que o lesse para mim?
- Não tenho o testamento de sua madrinha aqui - o advogado falou sério. - Mas estou bem apar de seu conteúdo. - Ele parecia um tanto inquieto e pigarreou antes de continuar a falar: - O tetamento estipulava
que jarvis se casasse com você, logo que fosse possível, devendo, como condição herdar Eldorado, permanecer casado por doze meses. Durante esse período deveriam viver sob o mesmo teto, e, se o casamento
fosse desfeito antes desse prazo, os objetos da casa, deveriam ser vendidos e o dinheiro usado para transformar Eldorado num orfanato.
Gina sentia um nó na garganta e fazendo um esforço muito grande conseguiu dizer:
- Em outras palavras... Jarvis perderia sua herança se eu me mudasse de Eldorado.
- Exato. - Harold Ashton a olhou curioso. - Quer se mudar de Eldorado?
Gina hesitou por um momento, mas decidiu que não era hora de ser evasiva.
- Sr. Ashton, eu simplesmente não posso continuar com esse casamento, e o senhor, entre todas as pessoàs, entende o porquê. Não há uma maneira de Jarvis receber a herança sem essas condições, intoleráveis
e ridículas do testamento de sua mãe?
O advogado balançou a cabeça.
- Temo que o único meio de ele receber Eldorado seja cumprindo às determinações de Evelyn Cain.
Gina pressionou o canto dos olhos com a ponta dos dedos.
Precisava pensar, mas parecia que corpo e mente se recusavam a obedecê-la. Tinha de sair de Eldorado, mas sair como?
- Há alguma coisa que me impeça de ficar algum tempo com minha família? - ela finalmente perguntou, e um sorriso lento apareceu nos lábios de Ashton.
- Não há nada no testamento dizendo que você não pos sa tirar umas férias sozinha ou com seu marido.
Gina sentiu uma onda de alívio envolvê-la que quase a fez chorar.
- Obrigada. Muito obrigada, por ter me recebido - disse controlada.
Caminhando em direçao ao carro, Gina já sabia o que fazer e dirigiu-se imediatamente para casa, aliviada.
Chegando a Eldorado, rapidamente arrumou uma mala, deu instruções aos empregados, sentou-se à mesa de Jarvis e escreveu-lhe um bilhete.
Tinha de avisá-lo de sua partida, e sabia que precisava dizer a verdade. Pegou a caneta e com firmeza e escreveu:
"Jarvis, falei corn Harold Ashton esta manhã e tomei a decisão de voltar à casa de minha família por algumas semanas. Preciso de tempo para pensar e colocar minha vida em ordem, o que não seria possível
ficando com você em Eldorado. Deve saber tão bem quanto eu que não podemos continuar como estamos. É por isso que sugiro um tempo longe um do outro, para podermos pensar e decidir o que fazer do nosso
casamento. Perdoe-me por partir sem avisar, mas não havia outra maneira. Gina."
Ela sorriu sem alegria ao ler o bilhete. Mesmo com o coração partido dentro do peito, a letra era firme. "Não quero mais continuar lutando por uma batalha perdida; insistindo em ter um homem que
não conhece o significadp da palavra amor" pensou. Colocando os óculos escuros foi para o carro, sufocando a tristeza. Partiria para o encontro daqueles que realmente a amava.


Capítulo 10

Já na estrada, Gina observou que o sol se transformara numa brilante bola de fogo sobre o horizonte, e, quando finalmete ele desapareceu atrás das distantes colinas, um arzinho frio fez Gina estremecer
na na direção do carro. O céu cheio de nuvens escurecia rapidamente, e as estrelas já eram visíveis quando ela entrou na estrada de carvalhos que levava à fazenda.
As luzes de casa estavam acesas, brilhando, e ela sentiu-se finalmente em seu lar. Estacionou o carro e, fechando o zíper da jaqueta para afastar a brisa fria de agosto, pegou a mala e entrou.
Sua chegada causou exclamações de surpresa e alegria. Apenas Susan a estudou atentamente por alguns segundos antes de sorrir calorosamente e dizer:
- Será bom ter você em casa por algum tempo outra vez.
Ninguém fez perguntas, e embora seu silêncio, na hora do jantar, tenha parecido estranho, nada comentaram. Era uma reação típica de sua família, e Gina agradeceu-lhes imensamente, pela discrição. Sabiam
que falaria quando estivesse pronta, mas até lá, então, não perguntariam nada. Sempre fora assim entre eles.
O telefone tocou quando tomavam cafpe na sala, ao lado da lareira, que irradiava um calor gostoso. Clifford levantou-se e atendeu-o. Falou unas poucas palavras e desligou em seguida.
- Era Jarvis. Queria ter certeza de que você havia chegado bem.
"Como se ele se importasser", Gina pensou contrafeita, depois que se recobrou da surpresa. Sentia que tal atitude era uma farsa, uma falsa demonstração de seu papel de marido, e aquilo a deixou doente.
- Jarvis disse para você não se preocupar, que ele cuidará de tudo - Clifford continuou, sem se dar conta da palidez que tomou conta do rosto dé Gina quançlo acrescentou: - Disse, também pra ficar por
aqui quanto tempo desejar.
Amarga, constatou que quanto mais tempo ficasse na fazenda, mais liberdade ele teria para ver Lílian, livre das suspeitas e do ciúme dela.
Gina, confusa, já não sabia mais o que pensar. Por que Jarvis ligara para lá? Por que disserà a ela para não se preocupar? O que queria dízer com aquela história de tomar conta de tudo?
Gina tinha muitas perguntas e nenhuma resposta e, quando a família se recolheu, foi para seu antigo quarto, ansiando por um pouco de paz e esquecimento, mais ao abrir a porta sentiu toda a dor da separação,
ao ver que sua antiga cama de solteiro havia sido trocada por uma de casal.
- Droga! - explodiu, sabendo que não conseguiria dormir com tantos problemas.
Foi uma noite intranqüila e ela estava de pé antes do amanhecer. Colocou uma roupa bem quente, botas de cavalgar e desceu para a cozinha. Mais alguém já acordara antes de Gina.
- Ontem você parecia tão cansada que pensei que acordaria mais tarde - Susan comentou ao colocar duas xícaras de café sobre a mesa. - Não me diga qué está com saudades de Jarvis.
Era apenas uma brincadeira, mas Gina sentiu-se constrangida.
- Algo está errado, não é Gina? - Susan falou devagar, quebrando o silêncio que havia entre elas. Quando Gina ergueu a mão começando a protestar, a cunhada bançou a cabeça e acrescentou antes que Gina
tivesse tempo de falar: - Oh, não finja para mim! Os homens podem ser cegos demais para notar, ou muito educados para comentar, mas não sou nem uma coisa nen outra.
Os múculos do rosto de Gina ficaram tensos, e os dedos frios apertaram a xícara à procura de calor.
- Não quero falar sobre isso.
- Você é quem sabe... - Susan concordou amigavelmente - Mas posso ser uma boa ouvinte se sentir que precisa falar com alguém.
- Vou me lembrar disso - Gina respondeu, sabendo que por enquanto não queria comentar seus problemas com ninguém. Terminando o café, lavou a xícara e, virando-se para Susan, disse: - Vou sair com Júpiter.
- Gina... - os olhos azuis de Susan se mostravam preocupados, e ela hesitou. Estava claro que queria dizer alguma coisa, mas por alguma razão não o fez. - Tome cuidado.
Gina sentiu o coração apertado. Estava entre as pessoas que amava e que a amavam, mas isso não bastava para aliviar dor que sentia. Agradeçeu os cuidados da cunhada e saiu para passear com Júpiter. Gina
deixou o garanhão correr, concentrando-se totalmente em mantê-lo sob controle. Atravessaram as planícies, até atingir a sua colina preferida, onde ela assistiu o sol nascer. Fora ali que Jarvis a beijara
pela primeira vez...
Recordava-se da fúria que sentiu ao descobrir os estranhos sentimentos provocados por aquele beijo, e do olhar zombeteiro com que ele a provocara. "Dane-se Jarvis!", ela queria gritar, mas sabia que seria
um grito impotente, pois desde o começo ele adivinhara tudo o que se passava em seu ser, como se Gina fosse transparente para ele. "Jarvis foi muito inteligente! Usou meus sentimentos, descobriu minhas
fraquezas e tirou proveito delas. E eu, inocente, não passei de um fantoche nas mãos dele, uma marionete para que herdasse Eldorado. Oh, como fui imbecil!"
O nascer do sol fazia cada gota do orvalho brilhar uma na grama úmida, mas Gina não notou a magia do amanhecer, perdida em seus pensamentos, revivendo todos os acontecimentos dede que reencontrara Jarvis.
Gina só se deu conta da beleza da manhã quando Júpiter, inquieto, a retirou de seus pensamentos. A paz e tranqüilidade invadiram sua alma, mas não acalmaram a dor e o ressentimento que a machucavam.

Para evitar os próprios problemas, nos dias que se seguiram, Gina ocupava-se na fazenda, ajudando em tudo que pudesse. Porém as noites eram longas, e infernais, e rolava na cama por horas antes de conseguir
dormir.
Jarvis não telefonara novamente nem escrevera. Pela primeira vez em, todo aquele tempo, pensou que talvez viesse para o fim de semana, mas ele não apareceu.
Cansada do redemoinho dos seus pensamentos, fazia de Júpiter e das cavalgadas um alívio para seu sofrimento. Numa tarde quente o ressentimento e a fúria, já não a incomodavam, mas a mágoa e a dor da separação
pareciam aumentar o amor cada vez mais aferrado dentro de seu peito. Pela primeira vez conseguiu separar dentro de si o amor do ressentimento. E então, rápida como um raio, a resposta apareceu em sua mente,
com uma força que não foi capaz de ignqrar. Tentara se convencer de que desprezava Jarvis porque a usara, mas aquela não era a verdade maior: aamava-o apesar do fato de estarem juntos por causa da velha
mansão. Amava-o como ele era e continuaria amando-o mesmo que ele nunca viesse a querê-la.
- Oh, Deus, o que vou fazer? - gemeu, levantando o rosto para o sol e deixando a brisa afastar os cabelos castanhos do rosto atormentado. - Como vou fazer para viver sem ele?
Júpiter ergueu as orelhas ao som da voz de Gina, mas em seguida continuou pastando calmamente. Só bem mais tarde é que retornaram aos estábulos.

Susan estava na cozinha dando os últimos retoques no jantar enquanto alimentava a filha, e olhou para Gina, que bateu a porta quando entrou.
A pequena Anthea seguia todos os moviemntos da tia entre uma colherada e outra e, quando se deu por satisfeita, lambuzou o rostinho redondo com as mãos suja de comida.
Gina observou Susan intensamente antes de colocar o bebê no chiqueirinho, e uma dor conhecida contraiu-lhe o estômago. A memória do acidente ainda era vívida e sentimento de perda não diminuíra. Mais de
que nunca queria um folho, um filho de Jarvis, mas sabia que estava sonhando com o impossível. Já não havia mais futuro para eles, e uma criança apenas consolidaria o desastre do seu casamento.
Então, umedecendo os lábios, virou-se para Susan e perguntou:
- O que faria Susan, se descobrisse que Clifford se casou com você não por aor, mas por alguma razão completamente diferente, em razão de algo que só conseguiria através de casamento?
Susan virou-se, a expressão divertida tornando-se séria ao ver o rosto pálido da cunhada.
- Primeiro, acredito que me certificaria dos fatos, antes de fazer qualquer coisa da qual pudesse me arrepender pelo resto da vida,
- E se tivesse absoluta certeza? O que faria? - Gina insistiu, baixando os olhos para esconder a dor em seu olhar.
- Perguntaria a mim mesmo se o amava muito - Susan respondeu devagar, enuanto se servia de um pouco de café. - Se o meu amor por meu marido fosse o suficiente, haveria de lutar para superar a humilhação,
e o faria me amar...
Gina fitou o vazo, perguntando-se o quando amava Jarvis. Amava-o o suficiente para esquecer os objetivos ocultos que o tinham levado a se casar com ele? E Lílian Ulrich... teria forças para enfrentá-la?
- E o que faria se descobrisse que uma velha namorada voltou e que Clifford a está vendo constantemente? - Gina oerguntou, num fio de voz.
- Sempre há esperança, não importa o quanto uma situação possa parecer desesperadora. - Susan estudou com preocupação o rosto infeliz e magro de Gina. Então um sorriso travesso brilhou em seu olhar. -
Sempre se pode tentar a sedução. Você é linda, uma mulher muitíssimo atraente. O que a impede de esperar Jarvis à noite, com as camisolas mais provocantes e perfumes tentadores?
Gina tentou se imaginar naquele papel e não conseguiu. Podia ver o olhar de surpreso de Jarvis e a cena a fez rir. O olhar maroto de Susan a fez rir mais ainda até que lágrimas começassem a rolar pelo
seu rosto.
- Se não colaborei com na resolução do seu problema, pelo menos consegui faze-la rir.
- Tenho sido tão chata assim? - Gina perguntou, tirando um lenço do bolso para enxugar as lágrimas.
-Voce está muito confusa, e isso, é claro, torna tudo mais difícil. Não se pode transmitir felicidade quando se está triste.
Gina sentiu os olhos se encheram de lágrimas outra vez:
- Obrigada Susan. - beijou a cunhada no rosto, e correu para o se quarto.
Sentou-se na cama, respiràndo ofegante e assoou o nariz enquanto tomava uma decisão. De uma coisa tinha certeza: queria Jarvis com loucura! Sentia que precisava vê-lo, falar com ele, lutar por ele. De
repente, tudo tornou-se mais simples e decidiu que nada nem ningém atravessaria seu caminho. Voltaria para Eldorado na manhã seguinte!
- Quando desceu para o jantar depois de um bom banho, já amadurecera sua decisão e a comuncou a família:
- Volto para Joanesburgo amanhã, de manhã.
Por um breve momento fez-se silêncio na mesa.
- Eu também acho que já é tempo de você voltar para seu marido - Clifford quebrou o silêncio com seu comentário brincalhão.
- Sim, eu acho que é. - Gina concordou calma, encontrando o olhar compreensivo e aprovador de Susan.
- è uma pena que Jarvis não tenha vindo para cá durante esse tempo - Raymond Osborne reclamou.
- Jarvis está ocupado demais no momento pai... Talvez voltemos no mês que vem para um fim de semana.
O pai concordou sem falar, e a conversa tomou oitros rumos, Estavam saindo da mesa quando o telefone tocou, como se fosse um pressentimento, Gina sentiu um calaftio percorre-lhe a espinha.
- É para você - Susan disse entregando o fone - É Harold Ashton, de Joanesburgo.
Harold Ashton! O que ele poderia querer? Será que aconteceu algo a Jarvis enquento ela estava longe?
- Georgina Cain falando. - A voz dela soou um tanto fraca, enquanto esperava ansiosa por uma resposta.
- Lamento interromper suas férias, mas achei que deveria saber que Jarvis veio hoje até o escritório com um rêquerimento para entrar com o pedido de divórcio.
- Ele fez o quê? Os dedos de Gina ficaram brancos de tanto que ela apertava o fone.
-Jarvis quer que eu inicie o processo de divórcio...
- Sim, sim, eu ouvi - ela o interrompeu agitada. - Mas ele não pode se divor... fazer isso! Não pode!
- Pelo jeito ele desistiu de Eldorado! - O advogado de repente ficou em silêncio. Só depois de alguns segundos ele acrescentou meio sem jeito: - Talvez haja algo que possa fazer para fazê-lo mudar de idéia...
pelo bem de Eldoado e seu...
Harold Ashton não era tolo e Gina logo entendeu que o homem sabia o que se passava com ela.
- Farei o que puder. - prometeu rápido, e sentiu o corpo enregelado, ao colocar fone no gancho.
- Houve uma mudança de planos - Gina falou sem preâmbulos. - Parto para Joanesburgo imeditamente.
As expressões mostravam preocupação e curiosidade, Clifford foi o primeiro a se recuperar.
- Aconteceu alguma coisa grave?
-Não aconteceu nenhum acidente - Gina replicou com uma calma que estava longe de sentir. - Mas algo importante que precisa de minha atenção imediata, e pôr favor, não me peçam para explicar porque
não posso.
- Não gosto que viaje sozinha à noite. - O pai tentou dissuadi-la, porém Gina continuou firme.
- Preciso partir agora - insistiu - É importante... muito importante.
Clifford pretendia objetar, mas a mão de Susan em seu braço o deteve, e Raymond osborne se deu por vencido ao reconhecer o brilho determinado nos olhos da filha.
- Se é tão importante, não creio que nossas objeções façam alguma diferença. - ele falou, enchendo o cachimbo e ocupando-se de acendê-lo.
Gina não perdeu tempo. Subiu e arrumou a mala, querendo chegar o quanto antes em Eldorado.
- Telefono quando chegar - falou, despedindo-se, e poucos minutos depois já corria pela a estrada que a levava de volta para Jarvis.

Quando Gina chegou, algums horas depois, as luzes da velha casa estavam acesas. Sua mão tremia, quando colocou a chave na fechadura.
Tudo estava silencioso, e o coraçãode Gina batia tão forte que parecia querer saltar do peito.
Não podia permitir que Jarvis desfizesse da única coisa que realmente amava, e não queria nem pensar na possibilidade de seu casamento terminar. Não permitiria que Jarvis pedisse o divórcio. Mas onde estaria
ele? Ali em eldorado ou nos braços de Lilian?
Uma porta se abriu e Gina virou-se, vendo Rosie sair da cozinha com uma bandeija onde havia um prato de sanduíche e um bule de café.
A governanta estancou subitamente ao perceber Gina no hall de entrada e seu rosto se abriu num sorriso caloroso.
- Estou tão contente que estéja de volta, senhora...
- Obrigada, Rosie. - ela sorriu para a empregada. E indicandoa bandeija perguntou: - Isso é para o meu marido?
- É sim, senhora. O patrão está na biblioteca.
Gina tomou a bandeja das mãos de Rosie e agradeceu:
- Obrigada, você pode ir agora. - E, endireitando os ombros, respirou fundo e caminhou resoluta para encontrar Jarvis.
A porta da biblioteca estava fechada, e Gina hesitou um instante. Estava com medo, mas tinha de ser forte e enfrenta-lo. Suspirou profundamente e abriu a porta entrando devagar.
A biblioteca estava escura, exceto pela luz suave do fogo que crepitava na lareira.
Gina sentiu o coração disparar ao vê-lo de costas para porta. As mãos se apoiavam no parapeito feito de pedra, e os ombros largos estavam estrânhamente curvados. Gina sempre o admirara por sua força, mas
naquele momento Jarvis parecia cansado e impotente e ela quase não resistiu à vontade de abraçá-lo e confortá-lo.
- Pode déixar a bandeja na mesá, Rosie, e por hoje é só! - ele disse sem se viràr, a voz grave sem vitalidade.
Com medo de derrubar a bandeja, tamanha era a emoção que sentia, Gina fez como ele falou, antes de voltar-se e observá-lo de costas, novanente.
- Não é Rosie - ela o corrigiu, engolindo em seco várías vezes, tentando desfazer o no que se formara em sua garganta.
Um súbito choque pareceu petrificá-lo.
- Gina!
O nome dela soou como um gemido do fundo do peito, um murmúrio cheio de dor e desejo que pareceu dominar o ambiente quando os dois se encararam nos olhos e permaneceram assim por intermináveis segundos.

Capítulo 11

- Gina... - Jarvis repetiu o nome dela como se realmente estivesse tentando se convencer de que ela era real - O que está fazendo aqui?
O cabelo negro estava despenteado, e os olhos acinzentados tinham um brilho estrànho à luz bruxuleante do fogo.
Preocupação e amor envolveram Gina numa onda poderosa e ela sentiu o desejo imenso de abraçá-lo, mas não podia perder o controle... não ousava perdê-lo.
- Parece surpreso em me ver - comentou com calma, escondendo o turbilhão que crescia em seu interior enquanto ele continuava a fitá-la intensamente.
- Não tinha idéia de quànto tempo você pretendia ficar na fazenda, e como não deu notícias durante esse tempo todo, pensei...
- Você pensou que eu havia resolvido desistir do nosso casamento arranjado? - Gina completou por ele, quando viu o gesto vago das mãos fortes.
A boca de Jarvis se endureceu e, pela segunda vez desde que o conhecia, viu-o acênder um cigarro.
- Temos que conversar... - ele falou, tragando profundamente e deixando a fumaça sair pelas narinas.
- É por isso que estou aqui, Jarvis. Eu não...
- Antes que diga qualquer coisa - ele a interrompeu, brusco, os olhos se estreitando quando a viu tirar o casaco e se aproximar do fogo. - Quero que saiba que fiz exatamente aquilo que você sugeriu na
carta que me deixou. Pensei muito durante esse tempo que estivemos longe um do outro, e decidi que só há uma coisa a fazer.
- O que é? - A voz dela morreu, como se nâo quisse ouvir a resposta. Pensamentos conflitantes a angustiavam. Seria capaz de fazê-lo mudar de idéia? Ou ele insistiria naquele divórcio roubando-lhe a chance
de conquistar seu amor?
- Vou devolver-lhe a liberdade, Gina. Sei que é isso que deseja, e para falar a verdade, eu também.
- As palavras dele a envolveram como uma mortalha escura.
Racionalmente, Gina admitiu que o correto seria aceitar tal decisão sem argumentar, mas seu coração gritava-lhe para que não desistisse.
Gina tentou decifrar a expressão de Jarvis, mas ele virou-se para fitar as chamas da lareira. Parecia alguém distante e inacessível. Um estranho. Ela estremeceu com violência apesar do calor da
lareira, e definitivamente resolveu lutar.
- Percebe que se me der a libêrdade, perderá Eldorado? - ela perguntou, rápida, imaginando se deveria contar que o advogado a havia previnido das intenções dele.
- Sei milito bem que perderei Eldorado! - foi a resposta durá, e Jarvis tragou novamente o cigarro. - Falei com Harold Ashton e o instrui para entrar com os papéis do divórcio. Não deverá ser demorado,
já que as duas partes estão de acordo. Eles vão exigir nossas assinaturas e um de nós terá que ir à corte, mas é só.
Colocada dessa maneira, a situaçao parecia muito simples. Mas Gina sentiu de súbito um terror que dominou com muito esforço.
- Não quero me divorciar, Jarvis - afirmou segura, porém seu corpo tremia incontrolavelmente. - Não ainda - acrescentou rápida.
- O que você disse? - Jarvis virou-se para encará-la, incrédulo. E Gina não foi capaz qe suportar a intensidade e a força do olhar dele. - O que você disse?
- Eu disse que não quero o divórcio. Apesar de nosso casamento ter se iniciado de uma maneira errada, o que me deixou magoada e furiosa muitas vezes, não vou deixá-lo levar essa idéia adiante. Além do
mais, a casa é suficientemente grande para duas pessoas viverem nela sem se esbarrarem. Se quiser póde fingir que nem estou aqui, e poderá fazer o que lhe convier, mas eu... - A boca de Gina estava horrivelmente
seca. - Eu nunca poderia tirar de você a única coisa que realmente ama.
O silêncio tomou conta da biblioteca como uma mão podeosa e sufocante. Gina não agüentava mais a tensão e afundou-se numa poltrona com medo de que as pernas não mais a sustentassem. Ergueu
o rosto e em séus olhos parecia haver um pedido silencioso, mas ele não a enxergava, fitan do um canto escuro da sala. Finalmente, como se falasse para si mesmo, confessôu:
- Eu amava esta velha casa. Achava-a sólida e confiável, e também acreditaxa que nada nesse mundo me faria perdê-la. Mas a realidade fez com que eu mudasse de opinião.
Gina o encarava confusa, incapàz de desviar os olhos dos trsços tão amados, acentuados pelo brilho do fogo.
- Por que estã falando no passado, Jarvis?
-Porque isso é passado, Gina. Durante essas semanas de auto-análise finalmente encarei os fatos e a verdade é que Eldõrado não significa mais nada para mim sem... - Ele parou de repente, o rosto se endurecendo
numa máscara indecifrável e apontou para a abandéja. - Rosie fez sanduíches para um batalhão e há muito café também, se quiser se juntar a mim.
Como Jarvis podia ter ânimo para comer e beber num momento como aquele? Como podia ser tão frio?
- Vou aceitar o café - Gina falou, a impaciência transparrcendo em sua voz.
Jarvis encheu de café duas xícaras e entregou uma delas à Gina. O olhar dela estava turvo quando fitou as mãos longas, os dedos finos que um dia a haviam acariciado tão intensamente. Sentia que deixara
escapar alguma parte vital da conversa, mas estava tensa de mais para perceber o que era.
- E sua família? - Jarvis perguntou, quando se juntou a ela ao lado do fogo.
Gina sentiu que ele escapava por entre seus dedos e não conseguia segurá-lo...
- Estão bem... estão bem. - conseguiu falar, lembrando-se do que lhes prometera. - acabo de me lembrar que preciso ligar avisando que cheguei bem.
Foi Susan quem atendeu. As duas conversaram rapidamente, mas antes que Gina pudesse desligar, a cunhada lhe recomendou:
- lembre-se Gina, se tudo mais falfra, tente a sedução...
Vou me lembrar - Gina prometeu, a boca macia curvando-se num ligeiro sorriso quando colocou o telefone no gancho.
Sedução... Como atingir jarvis se lê erguera uma barreira intransponível e se agora se tratavam como dois estranhos educados?
- Jarvis... realmente falei sério quando disse que não queria me divorciar, permitendo que perca o direito a Eldorado...
- Se não se importa, tive um dia extremamente cansativo e gostaria de dormir um pouco. - a voz fria a fez sofrer muito. - Sugiro que deixemos essa conversa para amanhã.
- Se.. se é o que você quer - ela concordou relutante, sem saber o que fazer para ficar perto dele.
Gina pegou o casaco e precedeu-o ao sair da biblioteca. Jarvis apagou as luzes do vestíbulo e carregou a mala dela para o quarto colocando-a aos pés da cama antiga. Seus olhos se encontraram quando ele
se endireitou, e Gina tremeu em expectativa. Desejava, implorava silenciosamente que Jarvis a tocasse, mas ele permaneceu imóvel. Por um longo momento, pensou ter visto o familiar brilho de desejo nos
olhos acinzentados, mas o brilho se desfez tão rápido que Gina achou que se enganara.
- Boa noite. - a voz grave e contida trouxe-a de volta a realidade, e Gina ficou olhando imóvel para a porta que se fechou atrás dele. Ao ouvi-lo entrar no quarto de hóspedes, uma onda de desolação tomou
conta dela.
Despiu-se automaticamente, vestindo a camisola azul, mas não conseguiu dormir.
Tremia sob os cobertores, e a mente atormentada começou a repassar cada palavra da conversa na biblioteca. E novamente teve a sensação de ter deixado escapar algo de importância vital. Mas o quê? Gina
pensava e repensava, repassava as palavras, revivendo as emoções e, então, de repente, quase duas horas depois, compreendeu. Ele dissera que Elqorado já não tinha significado nenhum sem... Sem
o quê? Ou talvez quem?
Gina sentou-se na cama, apertando as cobertas nas mãos. Seria possível que durante esse período ele separação ele tenha percebido que Lilian significava mais que Eldorado? Será que ficar longe dela significava
um preço alto demais para ele? Ou será que Jarvis quisera dizer que...
Gina ficou gelada, quando o pensamento a levou por um outro caminho. Precisava saber da verdade! Será que amava mais Lilian do que Eldorado... ou era a ela, Gina, que Jarvis estava se referindo?
Gina já não se importou com as horas, nem com o frio, ou se Jarvis estaria acordado ou não. Pulou da cama, e rá pida dirigiu-se ao quarto dele.
- Jarvis? - ela o chamou num gemido cheio de agonia, ao caminhar descalça pelo carpete do quarto escuro. - Jarvis, está acordado?
- O quê? - Ele acendeu a luz do abajur e perguntou ríspido: - Pelo amor de Deus, Gina! O que você quer?
- Quero falar com você! Tellho de falar com você. Você disse quê Eldorado não significava mais nada sem... - Ela sentiu a boca seca, e umedeceu os lábios. - Sem quem, Jarvis? Lilian?
- Lilian? - As cobertas deslizaram pelo ventre atlético quando ele se sentou, apoiando-se nos travesseiros, e a fitou com um olhar de fúria incrédula. - O marido de Lílian trãnsformou-a numa viúva rica
e com um negócio para dirigir, e eu fui como advogado dela.
- Está me pedindo para... para acreditar que você nunca teve um caso com ela?
- Não estou pedindo para você acreditar em nada. Estou dizendo que meu relacionamento com ela foi puramente profissional, desde o dia em que me casei com você - replicou com voz distante. - A última vez
que a vi foi quando ela, me procurou nos corredores do Palácio da Justiça, e almoçamos juntos a meu pedido. Eu lhe pedi para procurar outro advogado e também deixei claro que a queria fora de minha vida
e da sua, em particular.
- Por que dâ minha?
- Acha que não percebi que Lilian tinha algo a ver com a misteriosa doença que a atacou quando jantámos no Vittório's? - ele perguntou zombeteiro. - Eu vi quando Lilian saiu do banheiro e depois bastou-me
olhar para você para sentir que algo de desagradável havia ocorrido. Como senão bastasse, ela a procurou para devolver minha gravata, sugerindo que estávamos tendo um caso. Quando eu a vi no Palácio da
Justiça decidi, que seria uma boa oportunidade para me livrar dela. Mas quando cheguei em casa naquela noite você tinha partido...
Gina sentiu uma ponta de esperança, mas agora era sua vez de expliçar:
- Aquele dia eu fui até o forum... Esperava que púdessemos almoçar juntos, estava ansiosa para... para convesar sobre o que você mencionara no bilhete. Mas quando vi você com Lilian... eu pensei o pior.
- Gina o fitou ansiosa, sem perceber que o frio da noite a fazia tremer. - Jarvis... sobre Eldorado. Você não estava querendo dizer que não significa nada... que não significa nada para você sem mim...
estava?
O clima de tensão era palpável no silêncio do quarto. Jarvis permanecia com uma expressão impenetrável. De repente ele se virou e pegou o robe atoalhado que costumava usar. Vista isso ou vai acabar morrendo
de pneumonia.
- Não quero me vesti, e não me importa se vou morrer! - Ela gritou desesperada, jogando o robe para o lado, sem se importar com o fato de tremer descontrolavelmente sob camisola transparente, fitando-o
com um pedido angustiado nos olhos verdes. - Jarvis, eu preciso saber!
A situação a fazia sentir-se como, se estivesse balançando a beira de um abismo. Uma eternidade pareceu se passar antes que a boca sensual se curvasse num sorriso de escárnio, como se Jarvis zombasse de
si mesmo.
- Acho que meu destino foi selado áquase seis anos, quando uma garotinha sardenta e de cabelos castanhos caiu de uma arvore em meus braços.
Uma alegria incrível, doce e alucinante, transpirou por todos os póros de Gina. Màs ainda assim, a barreira que ele havia erguido estava lá e precisava ser derrubada. Hesitante, perguntou-lhe em voz baixa:
- Por que não me disse?
- Eu mesmo não sabia, e quado comecei a supeitar. Não sube cmo ldar com o que sentia por vcê... Não sei se pecebe, mas é um choque na vida de um homem quando descobre que está se confrontando com algo
em que nunca acreditou.
- Oh, Jarvis! - Lágrimas escorriam dos olhoa verdes, fazendo brilhar os longos cílios, antes de rolarem pelas façes macias. - Passei por um inferno tentando me livrar do ressêntimento que sentia
por você... Então percebi que tinhá de voltàr e lhe dizer que eu o amo apesar de tudo, e que estava determinada a fazê-lo me amar um pouquinho. Pretendia voltar para casa amanhã de manhã, mas Harold
Ashton me telefonou e eu não quis perder um minuto que fosse. Lutaria até o fim contra Lilian, e estava determinada não deixa-lo perder o direito à Eldorado.
- Que dois bobos nós somos! - Jarvis falou baixinho, erguendo a mão para secar as lágrimas do rosto de Gina, numa terna carícia. - Quando você caiu da escada e perdeu o bebê, finalmente compreendi que
a amava o suficiente para querê-la como mãe dos mesu filhos. Entretando, eu a tratara tão mal que minha cosnciência exigiu que só me aproximasse de você qundo pudesse provar meus verdadeiros sentimentos.
Foi para isso que me medei para esse quarto. - a explicação de Jarvis respondia à pergunta que a atormentava até agora. - E tem mais Gina, foi preciso que nos separássemos para que eu percebesse de uma
vez por todas que a amo muto mais de que essa maldita casa. A tal ponto, que me proponho a desistir de Eldorado em troca de seu amor. Encaro até mesmo o divórcio, se isso a convencer do que sinto por você.
Havis tal determinação no rosto de Jarvis que Gin anão teve dúvidas de suas palavras. Sabia que seria capaz de desistir da herança para mostrar a força de seu amor por ela. Entretanto, não era o que pretendia
e, negando com um gesto de cabeça, segurou o pulso dele, beijando-lhe a palma da mão.
- Você não precisa fazer isso, meu amor!
- Venha cá - ele pediu com viz rouca, puxando o corpo trêmulo de Gina contra o seu, convidando-a para se juntar a ele sob as cobertas.
Aquele era o paraíso para Gina. Suspirou feliz quando jarvis a abraçou, esquentando-a com o prórpio corpo.
Aquele era o seu lugar e nunca mais iria embora. Gina se aconchegou a ele, inalando o perfume másculo e enterrando o rosto no ombro nu, antes de erguer os lábios sequiosos.
Foi um beijo ternio que explodiu numa fúria insana que os deixou trêmulos e ofegantes com a força de suas emoções.
- Sei que cometi muitos erros... - Jarvis murmurou contra a maciez dos cabelos castanhos no instànte que Gina entrelaçou as pernas nas deade. - Quando a vi no funeral de minha mãe, tinha certeza
de que precisava vê-la outra vez, e quando fiquei sabendo do conteúdo do testamento fiquei furioso, que quase enlouqueci. Senti que, quando adolescente, você se apaixonara por mim, e levando isso em consideração,
finalmente decidi qua a faria apaixonar-se novamlente para que se casasse comigo. Enganando-a eu herdaria Eldorado. Mas as coisas infelizmente, não saíram como planejei.
- Teria continuado com a farsa caso eu não tivesse ouviso aquela conversa no dia do nosso casamento?
- Talvez já não estivesse fingindo àquelà altura, e foi aí que meus problemas começaram... - Ele admitiu rouco, apertando com os braços o corpo esguio.
- Eu disse coisas horríveis, na noife do nosso casamento - Gina falou, estremecendo ao se lembrar do que acontecera. - Estava magoada e humilhada.
- E eu mereci cada acusação. - Jarvis sorriu, sem alegria - Na verdade eu a tratei de um jeito aominável, não deveria sequer ter tocado em você, mas algo me levou a acreditar que, usando o lado
físico de nosso casamento, poderia quebrar a barreira que se criara entre nós. Mas nada disso funcionou. Você escapou pelos meus dedos e, por fim, quando sofreu o acidente, minha consciência não me deixou
mais em paz. - A boca de Jarvis desceu sobre os olhos e as faces de Gina antes de chegar aos lábios num beijo que mais pareçia um bálsamo. - Admito que fiquei apavorado no dia que cheguei em casa e vi
seu bilhete na biblioteca. Meu primeiro impulso foi trazê-la da fazenda, se necessário à força, o que seria um ato machista e egoísta. Compreendi então que você necessitava de um tempo enquanto eu tinha
de descobitir quais eram realmente minhas prioridades. Quando finalmente admiti que você é a razão da minha vida, soube que só havia um jeito de reconquista-la: aproximando-me de você com honestidade.
Mas, antes que pudesse fazer isso, tinha de me livrar de uma barreira intolerável entre nós.
- Eldorado - ela murmurou, com um traço de amargura que não conseguiu esconder.
- Sim. Eidorado - ele repetiu sério, as mãos acariciando-a inconscientemente como se fosse para ter certeza de que ela era real, e não fruto de sua imaginação. - Devo admitir que minha mãe era uma senhora
interessante - ele acrescentou zombeiro. - acho que meentendia melhor de que imagine, e é óbivio que conecendo você como a conhecia, compreendeu que éramos feitos um para o outro.
- É possível... Mas não acha que essa cama é um tanto desconfortável para dois?
Gina sentiu o coração dele disparar dentro do peito.
- Isso é um convite, querida?
- Dificilmente poderemos dividir esta cama... E se pensa que eu vou passar a noite sozinha naquela cama emorme, está muito enganado!
Jarvis ria baixinho. Levantou-se, tomou-a nos braços, levando-a para o outro quarto.
Colocou-a na imensa cama com extrema delicadeza e gemeu de prazer quando Gina deslizou a ponta da língua pelo pescoço vigoroso.
As semanas de separação haviam aumentado o desejo que sentiam um pelo outro. A urgência incendiava-os num fogo que ameaçava consumi-los. A certeza do amor de Jarvis dava uma dimensão à paixão de Gina e
uma sensação de liberdade que nunca experimentara antes. Pela primeira vez se entregou a ele sem medo, ou embaraço, desfrutando apaixonadamente, da sensação de ser feliz.
Nunca até então haviam se amado daquela maneira, mais preocupados em dár prazer do que receber. Gina queria que aqueles momentos, aquele doce delírio, se eternizassem para todo o sempre...
As batidas incessantes do coração de ambos pareciam audíveis no silêncio do quarto, enquanto ofegantes recuperâvam as forças, sem contudo se separar.
Algum tempo depois, Jarvis apoiou-se num cotovelo e descansou a fronte úmida contra a dela.
- Meu bem...
-Sim, meu amor! - Gina fítou-o com um suspiro feliz.
- Eu amo você!
Gina sentiu uma alegria quase dolorosa. Sabia o quanto fora difícil para jarvis confessar aquelas palavras que tanto sonhara ouvir. Era algo em que ele finalmente acreditava, e Gina sabia que seria para
sempre. Como que adivinhando-lhe os pensamentos, jarvis repetiu:
- Eu te amo Gina!
- Eu sei, - ela murmurou suave, apertando-o nos braços, até que a cabeça morena decançasse em seu peito. - Eu sei que me ama e você sabe que eu te amo, também. Sempre amei e sempre amarei. Procurei a todo
custo esquece-lo, mas nunca tive sucesso. Por isso temia muito me envolver com você outra vez. E quando descobri a razão de nosso casamento.... - Gina sentiu que jarvis se aconchegava mais e ela acariciou-lhe os cabelos. - Mas agora está tudo terminado.
Jarvis móveu o rosto contra os seios dela como se não pudesse tolerar a lembrança de tudo aquilo e quando a beijou, Gina sentiu como se uma porta se fêchase sobre o passado. Sabiam que tinham um novo começo, uma dimenção única e perfeita do amor entre um homem e uma mulher.

 

 

 

 

                                                                  Yvonne Whittal

 

 

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