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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


BLACK JACK / Lora Leigh
BLACK JACK / Lora Leigh

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblio VT

 

 

 

 

O serviço secreto não podia controlá-lo. O governo britânico não era capaz de silenciá-lo. O renegado agente Travis Caine é uma bomba relógio com a qual não convém mexer, por isso seus comandantes lhe dão tempo e espaço. Seu novo quartel geral é a força top da inteligência americana, a Elite Ops. Seu novo codinome é “Black Jack” e sua missão é morrer.

Ela é esperta, sexy e brilhante - uma das agentes mais inteligentes da Elite Ops. O codinome de Lillian Belle é “Falcão Noturno” e Travis com certeza não se importaria de fazer algumas manobras noturnas com ela. Mas quando a missão se converte em um jogo perigoso, cheio de enganos e sinais contraditórios, Travis começa a se perguntar se pode confiar nela, e será que ele pode resistir a ela?

 

 

 

 

Era um aniversário infeliz. O aniversário de sua morte.

Lilly Belle, codinome Falcão Noturno, manobrou a Ninja aerodinâmica no estacionamento mal iluminado do bar onde foi ordenada a encontrar seu contato, e lutou para não refletir sobre a vida e a morte. Havia ali, um poço de problemas que era melhor não cutucar. Lá estava a loucura e preferia não convidar mais loucura em sua vida.

Não era como se sua vida anterior fosse perfeita, disse a si mesma. Havia problemas e perigos lá. Mas era tudo que conhecia de segurança e amor. Conhecia as regras, entendia a complexidade da vida dentro delas. Tinha sua mãe, seu irmão, uma sobrinha e um sobrinho, e uma vez teve um pai que a amava, que a protegeu. Uma vez, teve mais vida que sobrevivência.

No estacionamento, levantou o capacete eletronicamente avançado da cabeça e o apoiou no tanque da moto antes de desmontar. Ela olhou para o edifício, ouviu as risadas e música vindo do interior. Este era um inferno de lugar para comemorar uma ocasião tão importante como a morte. Ainda mais problemático, era o homem com quem se encontraria.

Sua fraqueza.

Sorriu ao pensar enquanto afofava seu cabelo escuro em volta do rosto, na tentativa de arrumá-lo um pouco, antes de entrar no bar. Até usou maquiagem esta noite. Algo que raramente fazia para uma missão tão simples. O último encontro com esse homem culminou num beijo. Um beijo, que quase fritou sua mente e arrepiou terminações nervosas até as solas dos seus pés. Foi um beijo que alimentou suas fantasias e sua imaginação desde então.

A lembrança daquele beijo garantia desfiar seu autocontrole quando encontrasse com ele mais uma vez. Sabia disso. Ela olhou para a frente. E esperou que esta noite fosse a noite.

 

Dois meses mais tarde

Uma chuva firme e com muito vento chicoteava em torno da cabeça coberta com o capacete escuro de Travis Caine, dançando em torno da calça de couro e da jaqueta que usava, e deslizava como uma carícia por seu rosto. Ele usava botas pesadas nos pés, protegendo-os da natureza enquanto a chuva caía e os raios iluminavam a escuridão como garfos dentados de poder.

A Harley que montava rugia pela estrada aberta, pulsando com o poder extra que ganhou ao ser customizada. Sob os guidões haviam luzes indicando velocidade, tempo e localização. Os eletrônicos embutidos no escudo de proteção do capacete de visão noturna forneciam outros dados considerados imperativos em sua linha de trabalho.

De acordo com aquelas informações, estava chegando mais perto de seu destino e de uma missão que ainda não estava certo que estava preparado para ser parte, por causa da mulher que designaram para ser sua parceira, por causa de uma noite que não deviam ter compartilhado.

Não deveria tê-la amado.

Não, não deveria ter trepado com ela, se corrigiu. E sentiu imediatamente uma pontada de desgosto por sua tentativa de fazer daquela noite algo sem emoção. Algo menos poderoso do que foi.

Era uma noite que não poderia esquecer. Nos últimos dois meses aquela noite o atormentou, rasgou, o deixou faminto por mais dela de modos que nunca desejou outra mulher antes. Era a última mulher que deveria ter tocado.

Que diabo ela estava fazendo com ele?

A Elite Dois e as mulheres que eram uma parte daquele time ficavam numa seção escondida, raramente mencionada na Elite Ops.

A Ops era mais do que o time que Jordan comandava, Travis descobriu. Por anos, ele e os outros agentes sob o comando de Jordan, acreditaram que aquela Elite era a única operação e que as mulheres que ajudaram a treinar eram apenas substitutas e nada mais.

Apenas não haviam percebido o quão boas aquelas mulheres eram.

A Elite Dois escondia os mais leves sinais de que elas eram, também, agentes. Ninguém disse à Elite Um quais eram os verdadeiros propósitos das mulheres, nem explicaram a extensão total da Elite Ops e das unidades que a incluíam, isso só ocorreu depois da missão Warbucks poucos meses antes.

Warbucks estava roubando e vendendo armas militares altamente secretas assim como a identidade de vários agentes. Conseguiu se infiltrar nas agências do governo assim como nas companhias que o pai tinha interesse em adquirir com os recursos roubados.

A Elite Dois reuniu as informações que os levaram a Warbucks por causa de seus disfarces como acompanhantes muito exclusivas e bem treinadas.

Quando a missão revelou a identidade de Warbucks, a Elite Dois também conseguiu revelar seus associados, compradores e companheiros em muitas das vendas.

Foi então quando ele e os outros agentes começaram a questionar a organização que os levou a eles, que os salvou, e criou novas vidas para eles.

O que descobriram doeu muito mais do que poderiam ter imaginado. E as missões estavam se arrastando, ligadas por uma linha de informações aqui, um suspeito lá. Travis podia senti-la seguindo em direção a um denominador único, o que fez com que começasse a questionar todas as missões que recebiam.

A mais recente fez com que questionasse a si mesmo.

Era um jogo muito perigoso que estava se preparando para participar, e pensou como havia deixado um gosto amargo na boca. Apesar de todo o bem que estava fazendo, havia horas em que a Elite Ops tinha pouco tato e menos gosto ainda. Usar uma mulher da maneira que eles estavam fazendo, fez seus dentes rangerem de raiva e uma sensação de injustiça se erguer dentro dele.

O fato de estarem usando a mulher dele, apesar de sua condição de agente, apenas o deixou ainda mais puto.

E não conseguia compreender por que isso o aborrecia tanto. Não era como se não tivesse aprendido do modo duro como uma mulher poderia facilmente trair um homem. Havia “morrido” com essa lição anos atrás, e quando renasceu, jurou a si mesmo que não se esqueceria disto.

Perdeu tudo na vida porque confiou numa mulher e essa não era uma lição que queria repetir. Era uma que jurou várias vezes que não repetiria. Mas no minuto em que soube que a Elite Ops estava forçando esta mulher a enfrentar seu passado, ficou enfurecido.

Lilly era diferente, o coração dele jurou, mas a mente lutava contra o conhecimento instintivo.

Não deveria ficar surpreso, porém. Deveria ter esperado isso em certo ponto, assim que conseguiu descobrir a antiga identidade dela. Ela era o recurso perfeito a se usar para achar o indivíduo ou indivíduos envolvidos na morte do poderoso e Influente Lorde Harold Harrington, o pai de Lilly.

Mas estavam preparados para usá-la de um modo que Travis temia que acabasse a destruindo. Devolvendo-a à sua antiga vida, para a família que deixou atrás, e isso não seria moleza para ela.

Certo, Lilly já havia sido treinada para seguir os passos do pai como uma agente do MI5 antes de sua “morte”. Mas até então, era uma Harrington e fortificada naquela vida de sangue azul. Foi criada para ser uma dama e assumir todas as responsabilidades requeridas. Porém, quando se juntou à Elite Ops, deixou tudo isso para trás e se tornou outra pessoa. Uma estranha, uma rebelde... Uma alma perdida que viu e fez coisas que os outros viam apenas em pesadelos. Como ele, ela não mais pertencia àquele mundo rarefeito. E fazê-la encarar o que foi forçada a deixar para trás era muito cruel.

Enfrentar a si mesmo não era coisa fácil. E havia um elemento doloroso para Lilly. Estavam voltando a investigar a morte do pai dela e o atentado à vida dela quando ainda era Lady Victoria Harrington. Lilly se lembrava muito pouco sobre aquela última noite de sua antiga vida. Ela se lembrava de ver o pai sobre uma poça de sangue quando entrou em seu escritório, e nada mais.

No dia seguinte o corpo de Lorde Harrington foi jogado de seu carro, que havia caído de um precipício. O tanque de combustível rachou com o choque, e em questão de minutos, o carro explodiu. O corpo de Harrington queimou além de reconhecimento. Foi necessário identificá-lo através da arcada dentária. O corpo de Lilly nunca foi achado. Acreditava-se que ela foi jogada do carro com o choque e que seu corpo foi levado para o mar no fundo do precipício.

Acreditava-se que quem quer que houvesse atirado em Lorde Harrington, tentou encobrir o crime fazendo com que parecesse que ele e a filha sofreram um horrível acidente. E porque ele era rico e com título, e porque o MI5 preferiu não olhar muito atentamente o porquê de Lorde Harrington ser morto, foi enterrado depressa e Lilly declarada morta. Infelizmente, os responsáveis ainda não haviam sido identificados.

Como agente secreto do MI5, Lorde Harrington estava investigando o roubo eletrônico de milhares de libras de capitais de confiança e companhias legítimas na Inglaterra. A situação chamou sua atenção quando lançou uma sonda em sua própria companhia quando capitais sumiram.

Esses capitais foram desviados para contas estrangeiras e transferidos novamente até que desapareceram completamente em contas de laranjas. Foi quando a Elite Ops ficou interessada no caso.

Ninguém conseguia localizar quem e como estavam fazendo isto ou quem seria atingido a seguir. Até Lorde Harrington enviar uma mensagem para o MI5 mostrando que havia percebido. Antes que a agência pudesse enviar alguém para sua propriedade para averiguar, ele apareceu morto e a filha desaparecida. Porém, dinheiro ainda estava desaparecendo, e finalmente conseguiram localizar várias contas terroristas e parecia que alguém no meio da nobreza da Inglaterra estava envolvido, o que tornava a situação delicada para o MI5. E apesar de hesitarem em investigar a crosta superior da Inglaterra, a Elite Ops não tinha tal compunção.

Entrando na recepção larga de Marriott, Travis desligou a Harley, tirou o capacete, e jogou a perna por cima dela antes de andar a passos largos pelas portas eletrônicas para a escrivaninha da recepção.

A mulher jovem cansada o olhou com um pouco de atenção demasiada para o couro molhado que estava vestindo. O reflexo de luxúria nos olhos o assegurou que se precisasse de qualquer companhia quando saísse de seu turno, apenas tinha que deixá-la saber.

Inferno, deveria ter deixado um sinal, ele pensou enquanto andava a passos largos para o elevador. E teria, se não fosse a certeza que acabaria com nojo de si mesmo. Quando um homem via o paraíso nos braços de uma mulher, então nada mais importava. E isso o assustava demais, o pensamento que nenhuma outra mulher seria como Lilly.

Correndo o cartão chave de segurança na fenda eletrônica, Travis esperou pela luz verde antes de entrar cuidadosamente no quarto, os dedos envolvendo a pistola no coldre sob a camisa.

O quarto estava vazio. A sensação de vazio o envolveu. Era pura solidão. Inferno, quase preferia um assassino.

Fechando a porta atrás de si, Travis jogou a bolsa de couro na cadeira vazia ao lado da cama e olhou fixamente em torno do quarto escurecido por longos momentos antes de se mover para a luminária e acendê-la.

Girando, parou firme com a visão que o encontrou no canto sombreado mais distante do quarto.

—Inferno, nem te senti. — Travis correu os dedos pelo cabelo enquanto Jordan se erguia da cadeira próxima à pequena mesa redonda. —Pensei que nos encontraríamos mais tarde.

Jordan era um enigma para ele, assim como para o resto do time. Até seu sobrinho, Noah Blake, admitia que o tio era muito complicado. Travis sabia que nunca trabalhou com outro homem tão perigoso nem tão glacial quanto Jordan Malone.

—Precisamos conversar antes de nos encontrarmos com os chefes da Elite Dois. Você vai acompanhá-los para a Suíça, e eu queria falar com você antes— Jordan o informou enquanto se movia para a cozinha minúscula no canto e abria a porta do frigobar.

—Eu poderia tirar um cochilo antes— Travis grunhiu.

Por que diabo a Suíça? Na última vez ouviu que iria para a Inglaterra.

Poderia usar algum tempo para pensar sobre isso.

—Quer o cochilo ou a revelação toda?— Jordan perguntou enquanto tirava duas cervejas, abria uma, e dava outra para Travis antes de retornar a sua cadeira.

Revelação toda do Comandante Durão? Isso com toda a certeza seria uma puta mudança.

Colocando a garrafa na cômoda atrás de si, Travis jogou o capacete nela antes de tirar a jaqueta molhada e dar uma encarada sombria em Jordan.

—Desde quando você revela tudo?— Ele perguntou.

Os olhos azuis claros relampejaram com uma sugestão de raiva enquanto Jordan erguia a garrafa e tomava um longo gole da cerveja. Quando a colocou na mesa, a expressão era uma vez mais fria e composta.

—Desde que estamos usando um não-combatente— Jordan declarou, a voz mais dura que o normal.

Travis o olhava cuidadosamente agora. —Falcão Noturno não é uma não-combatente, Jordan— ele o lembrou. —Ela é uma agente.

Jordan tomou um longo gole de sua cerveja, a expressão pensativa antes de dizer — Não mais.

Travis congelou. Nunca ouviu falar de uma agente da Elite Ops sendo libertada de sua função. Era uma sentença de prisão perpétua. Tentar fugir, se esconder, e até ousar pensar em revelar a verdade sobre sua vida era fatal.

—O que você quer dizer com ‘não mais’?

O único modo dela conseguir a liberdade era a morte. E não podia estar morta. Não podia.

Inclinando adiante, Jordan apoiou os cotovelos nos joelhos e olhou fixamente de volta para ele, a expressão distante, mas Travis sentiu a tensão emanando do homem.

—Acreditamos que Falcão Noturno foi comprometida— Jordan disse. —Dois meses atrás ela levou um tiro do lado de fora da sede da Elite Dois. E foi atingida na cabeça.

Dois meses atrás. Ela tinha acabado de retornar à Inglaterra. Dois meses e ele estava agora sabendo o que aconteceu a ela.

Travis sentiu gelo correr nas veias. Por um momento perpétuo, escuridão deserta pareceu atravessá-lo, fatiar a proteção endurecida que havia erguido ao redor do coração.

Falcão Noturno. Ela era minúscula demais, frágil e esbelta. Havia horas que parecia quase quebrada por dentro. Era o tipo de mulher que um homem queria proteger, envolvê-la e guardar perto do coração para sempre.

O fato que fosse uma vigia treinada com uma avaliação que outras invejariam nunca deixava de espantá-lo. Não parecia forte o suficiente para carregar o rifle que sabia ter sido customizado para ela. Com toda a certeza não parecia impiedosa o suficiente para usá-lo, mas ele sabia que ela era.

Ela era cheia de remorso, amargura. Havia uma escuridão, uma agonia subjugante que vivia em seus olhos, e uma fome que ia além da luxúria que sabia que ela sentia por ele.

E agora, havia uma chance que nunca mais a tocasse, saboreasse, nunca mais saberia a culminação de necessidade que enchia seu olhar cada vez que ela olhava para ele.

Apenas podia imaginar o dano, e os resultados horrorosos das imagens relampejando por sua mente enviando uma seta de dor por sua alma que deveria ser imune.

—Condição?— Ele mal podia forçar as palavras a passarem pelos lábios enquanto suspeitava do pior.

Jordan declarou que estava comprometida, não morta. Isso deixava esperança. Deus, precisava de esperança. Não podia imaginar que Falcão Noturno se foi para sempre, o vislumbre minúsculo de esperança que sempre havia em seus olhos extinto.

—Recuperando. Ela se moveu no último segundo, então a bala apenas a pegou de raspão. Tem uma cabeça muito dura, mas há complicações. — Não havia nenhuma emoção no tom de Jordan. Ele podia estar falando sobre o tempo em vez da vida de uma pessoa.

Travis tinha que fazer algo. Se continuasse lá, poderia acabar perdendo o apego à realidade.

Pegando a calça jeans limpa e seca de sua bolsa e ignorando Jordan, ele tirou as calças de couro antes de subir a calça jeans pelas pernas e trocá-la depressa. Tirou a jaqueta e jogou-a negligentemente no chão antes de tirar a camiseta úmida do corpo e jogá-la junto da jaqueta.

Jordan não estava falando.

Travis puxou a camiseta pela cabeça, então girou, ergueu a cerveja, e terminou-a em uma golada.

—Quais complicações?— Ele perguntou finalmente, sabendo que Jordan iria arrancar isto dele, forçá-lo a perguntar, revelar quaisquer emoções que pudesse sentir. Qualquer sentimento que pudesse comprometer a tarefa ou a habilidade de Travis de usar Falcão Noturno como Jordan tinha a intenção de usar.

Quando ele falou, foi mortalmente sério.

—Amnésia. Está completamente esquecida dos últimos seis anos. Isso inclui a morte do pai. Para todos os intentos e propósitos, se tornou uma responsabilidade, Travis.

Amnésia. Era uma vez mais a mulher que foi em vez da mulher que foi treinada para ser. Por um momento, uma sensação de alegria ameaçou inchar dentro dele, porque se lembrou da jovem que ela foi em vez da agente que foi forçada a se tornar. Ele sabia que ela sofreu pela perda da vida que deixou para trás.

—Então a operação mudou?— Ela estava viva. Viva. As palavras brincavam pela mente e coração dele, enquanto lutava para conseguir se centrar ao perceber que ela não havia sido morta, que pelo menos podia esperar pelo fato que ainda respirasse.

—O enfoque da operação ainda é o mesmo. Mas as razões por trás da missão... expandiram um pouco— Jordan o informou. —E nós ainda vamos usá-la. Você ainda vai usá-la.

Saber e ouvir eram duas coisas diferentes. Ter o conhecimento afirmado com tal confiança fria, tal falta de remorso ou clemência, tinham o poder de deixar Travis mais puto do que deveria.

—E por que essa porra não me surpreende? — Travis grunhiu, a voz áspera, a emoção deslizando além de seu controle apesar de suas tentativas de segurá-lo. —Porra, Jordan, ao longo dos anos você não parou para pensar que se transformou em nada além de uma porra de um robô do governo?

Ele conhecia a operação original que foi planejada. Seria duro o suficiente ela voltar para sua antiga vida. Fazer isto sem a memória de quem foi nos últimos seis anos seria um perigo para si mesma, para ele e para a missão, e isso não era aceitável.

—Suspeitamos que quem tentou matá-la seis anos atrás de alguma maneira a achou novamente. A Elite Ops pode estar comprometida se isto for verdade, Travis. Se a acharam, então cada agente no programa pode estar em risco agora. Temos que achar o bastardo e descobrir apenas o quanto ele sabe.

—Você a fará ser morta se tentar usá-la agora— Travis o advertiu, mal conseguindo manter o ar de despreocupação agora que o choque inicial passou. —Se está desavisada de seu treino, então está desavisada do perigo também.

Ele ficou surpreso com o aceno lento com a cabeça, do consentimento como resposta.

—Nós consideramos isto— Jordan o informou. —Eu mesmo e os chefes da Falcão Noturno apresentamos uma alternativa viável para a situação. Ela está mudada, Travis, da mesma maneira que o resto de vocês. Ela não será a mesma mulher não importa quais sejam suas memórias. Porém, você era o mais envolvido em seu treinamento e ela é mais íntima de você. Suspeitamos que confiará em você não importa a situação. Terá que guiá-la pela missão sem esclarecer a razão verdadeira de estar lá, ou sua condição prévia de agente.

—Sério?— Os lábios dele torceram cinicamente. —Isto é tudo?

Jordan deu a ele um sorriso melancólico.

—A proximidade dela comigo não ajudará— Travis disse. —Na verdade, pode machucá-la.

Jordan o olhou atentamente por longos momentos.

—Acredito que pode lidar com isto— Jordan declarou finalmente. —Especialmente considerando a noite que os dois passaram juntos.

Travis ficou mudo com o comentário. Sua noite com Lilly era entre ele e Lilly. Não tinha nada a ver com Jordan ou com a Elite Ops. —O que sabe sobre a tentativa de ataque?— Ele perguntou em vez disso.

—O cirurgião plástico listado como médico dela foi morto em um incêndio em seu escritório na véspera do atentado a bala— Jordan revelou. —E Raisa reportou que no último mês alguém estava questionando os contatos de Lilly em Berlim e no Afeganistão. Temos que descobrir se descobriram sobre a Ops também.

Arrastando os dedos pelo cabelo, Travis se sentou na extremidade da cama e olhou fixamente para seu chefe. —Quais são as chances das memórias dela retornarem?

Jordan encolheu os ombros. —Nossos médicos dizem que não há nenhuma chance. Foi um dano muito grande. Ela tem muita sorte de estar respirando sozinha.

—O comando da elite está disposto a deixá-la ir, permiti-la retornar a sua antiga vida já que suas memórias estão enterradas. Nunca estará segura enquanto seu perseguidor não for pego. Essa é a segunda tentativa contra sua vida. Temos que saber se a Elite Ops está em risco também, como ela foi encontrada, e quem Lorde Harrington suspeitava que estava roubando eletronicamente e transferindo aqueles capitais. Está tudo amarrado junto. Ache o perseguidor de Lilly e resolveremos o resto dos mistérios.

—Temos alguns suspeitos?— Travis questionou, a voz áspera.

—Uma sociedade inteira— Jordan o informou severamente. —Lady Victoria Lillian Harrington e seu pai eram incrivelmente sociais, assim como sua família ainda é. Neste momento nós não definimos quem não é, poder ser qualquer um.

—O que seu pressentimento diz?— Travis exigiu.

—O tio dela, Desmond Harrington. Ele se casou com a mãe dela no segundo após a morte de Lorde Harrington. É minha melhor suposição.

Respirando roucamente, Travis lutou para empurrar de volta a raiva que estava esgarçando seu controle. Aprendeu ao longo dos anos que raramente valia a pena ceder às emoções. O fato claro e simples era que assinou o contrato por sua boa vontade, e sabia as regras quando fez isso.

—Alguma indicação que a Elite Ops foi realmente comprometida?— Era tudo o que podia fazer para forçar as palavras a passarem pelos lábios, manter a raiva a distância pelo fato que Lilly agora estava tão vulnerável.

—Várias. — As mandíbulas de Jordan cerraram. —Houve investigações em várias agências em busca de qualquer condição encoberta que ela poderia ter com eles. No Afeganistão um dos contatos reportou e remeteu vários e-mails anônimos que recebeu solicitando quaisquer agentes conhecidos que ela pudesse ter trabalhado.

—Essa lista é longa— Travis grunhiu, a voz fria. —Lilly Belle era treinada exatamente para esse trabalho.

—E está bem documentado dentro das agências em que ela forneceu segurança assim como contato— Jordan concordou. —Acreditamos que a cobertura a protegerá.

Travis anuiu com a cabeça pensativamente. Manteve a raiva contida no momento e forçou a mente a considerar os ângulos desta nova operação, muito mais perigosa.

—Como eu me re-estabelecerei na vida dela?— Ele perguntou.

—Diretamente seria o modo mais eficaz— Jordan disse. —Sua cobertura na Elite Ops como escolta profissional estará no lugar. Se cavar esses últimos seis anos, é isso que acharão. Nós também estamos perto da verdade sobre sua associação passada com ela - que a treinou. Mas, além disto, você foi um de seus clientes mais frequentes, assim como seu amante. Isso deve te dar mais que cobertura suficiente para conseguir chegar perto dela. Ela vai querer saber sobre esses anos perdidos. Quem melhor para dizer a ela sobre eles que seu amante, Travis Caine?

Travis cerrou os dentes e conteve a vontade de advertir Jordan que isto não poderia ser tão fácil quanto ele e os outros estavam assumindo.

Conhecia Lilly. Nunca aceitaria que foi uma profissional de escolta. Ela sentiria e ele esperava que ela eventualmente se lembrasse da verdade. Lilly era muito teimosa para não lembrar.

—É como se você tivesse tudo planejado desde o início. Tudo muito certinho, não é, Jordan?— Travis meditou sarcasticamente.

—Nada nisso aqui é certinho— Jordan o informou. —Você é a pessoa que a salvou naquela noite. Se não estivesse lá, ela seria morta seis anos atrás. Pena que não fomos rápidos o suficiente para salvar Lorde Harrington ou identificar seus assassinos.

Travis lamentava isto também. E às vezes o assustava pensar que foi por mera sorte que salvou a vida de Lilly naquela noite. Ele e Noah estiveram lá desejando roubar as informações que Lorde Harrington iria enviar para o MI5.

—Então o MI5 está nisso?— Travis perguntou.

Jordan agitou a cabeça. —Estamos nisso desde o início e a situação concerne a um de nossos próprios agentes, então estão nos dando completa liberdade. Além disso, sabe que eles preferem não seguir os mais privilegiados da Inglaterra eles mesmos, e é aí exatamente onde a coisa complica.

Jordan suspirou. —E para Lilly, é a chance de ir para casa, Travis. Nós dois sabemos que ela sente falta de lá, apesar do fato de nunca mencionar isto.

—Ainda que não pertença mais lá?— Travis correu uma mão pelo cabelo.

—Sim— Jordan disse com um sorriso triste—ainda assim.

Travis compassou para a janela grande, mas não puxou a cortina de lado para olhar a noite além.

Lady Victoria Lillian Harrington.

Victoria Harrington foi quieta, cheia com riso e muito cortês. E foi toda mulher.

Se lembrou de ter dançado com ela antes de sua própria “morte”. Ele era casado no momento. E estava muito ciente das infidelidades da esposa. Ele dançou com Lilly e lutou contra a excitação enquanto via a fome muito inocente e feminina em seus olhos. Ele viu remorso, também, da mesma maneira que nitidamente sentia o próprio.

—Acha que é verdadeiramente possível que ela vá para casa depois da vida que viveu nos últimos seis anos?— Travis meditou. —Ela não é mais aquela jovem idealista e inocente, Jordan.

Era realmente possível retornar à inocência não importando as memórias perdidas?

Jordan respirou roucamente com a pergunta.

—Quem sabe?— Ele finalmente encolheu os ombros. —De qualquer modo, temos uma missão para completar e uma pessoa muito perigosa para achar. Lorde Harrington era um agente especializado e muito bem treinado. Quem o matou sabia que diabos estava fazendo.

—O MI5 se focou no novo Lorde. Desmond Harrington, meio-irmão de Harold Harrington através do segundo casamento do pai. Ele carrega o título de Harrington agora.

—Fico surpreso por Lady Harrington se casar novamente tão depressa. — Travis conhecia Angelica também. Havia poucas coisas que importavam tanto para ela quanto as aparências.

Jordan sentou de volta em sua cadeira e terminou sua cerveja antes de falar. A expressão era pensativa, suspeita.

—Se não o fizesse, o título estaria perdido para seu filho. Se Desmond Harrington se casasse e tivesse outros filhos, Jared não teria nenhuma chance de herdá-lo. — Ele olhou para Travis. —Falando em Angelica, parece que tentou fazer Lilly ser enviada para uma clínica psiquiátrica na França para curar sua obstinação.

Travis fez uma careta com as informações. —É uma ocorrência muito sórdida e comum em algumas das famílias com título— ele respondeu. —É mantido silencioso, considerado um segredo vergonhoso, mas altamente confiável para controlar as ações e decisões das gerações mais jovens.

Jordan o estava encarando como se ele fosse louco.

Travis sentou fortemente na parte inferior da cama e olhou fixamente para seu chefe em resignação. —Leu o arquivo da minha esposa?

Jordan fez uma careta. —Não havia nada lá sobre problemas ou hospitalização psiquiátrica.

—Não haveria— Travis concordou. —É mantido escondido, como eu disse. Muito escondido. Até eu estava desavisado da permanência de Patricia na França mesmo depois de sua morte. Foi o pai dela quem me informou de seus problemas psiquiátricos. O medo de voltar garantia que Patrícia mantivesse escondidas todas as atividades de seu pai ou discordava cuidadosamente.

Não que Travis permitisse que ela fosse internada novamente.

—Inferno. — Jordan agitou a cabeça em assombro. —Lilly está em risco?

Os lábios de Travis afinaram. —É possível. Se Lilly se associar com Travis Caine, Lady Harrington pode tentar. Porém, quando descobrir o passado da filha como uma escolta paga, um dia ela pode simplesmente desaparecer, e então nós encontraremos a bagunça.

A expressão de Jordan endureceu. —Um engano que Lady Harrington não vai querer cometer.

O sorriso do Travis era zombador. —Lady Harrington não comete enganos. Ela está sempre certa. Sempre perfeita. E será um grande problema para todos nós.

 

Dois meses mais tarde

Hagerstown, Maryland.

Ele estava lá de novo.

Lady Victoria Lillian Harrington deu uma olhada rápida pelo canto do olho enquanto fingia inspecionar os vestidos na vitrine da loja enquanto ela e a mãe passeavam pela calçada lotada da histórica Hagerstown, Maryland.

Podia vê-lo, em sua visão periférica, alto e perigoso, o olhar estreitado nela, observando-a com quase completa absorção.

Devia estar apavorada. Devia estar lutando contra as sombras escuras, os terrores que se erguiam dentro dela de noite e as visões que a assombravam mesmo quando estava acordada. Ele trouxe à mente a única imagem que não podia fugir mesmo quando dormia. Uma figura de pé ao lado de sua cama, olhando-a com tal intensidade e abraçando-a com tal gentileza e compaixão enquanto a agonia gritava por seu cérebro.

Era uma visão que a mãe dela jurava repetidas vezes que não poderia ser real. Era uma que ela sabia que tinha que ser real. Era muito intensa, o eco daquela dor era muito agonizante.

Ela não discutia com a mãe sobre isto, porém. Lady Angelica Harrington era muito determinada, muito certa de si mesma e de suas próprias regras para admitir que pudesse estar errada.

Lilly raramente discutia com a mãe.

Não, Lady Victoria Lillian Harrington raramente discutia com a mãe. Mas Lilly estava achando cada vez mais e mais duro se impedir de fazer isso.

—Meu bem, você está muito quieta novamente. — A mãe a alcançou, os dedos tremendo como ainda faziam sempre que tocava a filha, como se não pudesse acreditar que ela estava lá.

—Desculpe, mãe, estava pensando naquele vestido. — Ela deu uma olhada rápida para trás onde teve um vislumbre da figura indiferente de momentos antes, e sentiu lágrimas correrem por dentro.

Ele se foi. Cabelo loiro escuro, ou era castanho claro? Aqueles olhos, qual a cor? Ela se perguntava enquanto se voltava para a vitrine da loja. Castanho. Tinha que ser castanho. Misturado com verde. Com intenção e meditativo. Olhos que podiam atiçar a excitação de uma mulher e sua imaginação. Sem mencionar a confusão dela por saber isto.

—Podíamos entrar e experimentar— a mãe a persuadiu, o suave sotaque inglês atraindo olhares do casal que passou por eles. —Estou certa de ficará magnífico em você.

Ficaria?

Ela olhou além dos vestidos para as outras roupas que a loja oferecia. Calças jeans justas e camisas que fariam a mãe dela ofegar em choque, estava certa. Não porque fossem reveladoras, mas porque eram comuns. A mãe dela detestava estritamente qualquer coisa que acreditasse ser comum.

—Victoria, podíamos olhar os vestidos.

Victoria.

Ela fez uma careta para a imagem que a saudou no vidro.

Ela não via Victoria lá. Via uma imagem pouco conhecida, uma mulher com a qual estava confortável, ainda que aquelas não fossem as feições - o rosto, os olhos, ou o cabelo - da mulher que ela foi antes. Lady Victoria Lillian Harrington dos Harringtons de Londres. Ela era relacionada à realeza, embora admitidamente, a afinidade era o máximo que possuía. Ainda assim, não podia se adaptar ao fato de saber quem era, a pessoa que sabia que deveria ser.

—Victoria. — A voz da mãe dela ecoou com exasperação agora.

—Não acho que precise de outro vestido, mãe— ela declarou distraída enquanto se movia para a porta da loja. —Mas verei qualquer outra coisa que possa gostar.

Onde diabo estava seu sotaque britânico? Se lembrava de ter um. Se lembrava de um dia ter se orgulhado desse sotaque. Não havia agora, porém. A voz era suave e culta, mas não possuía qualquer sotaque, qualquer inflexão, isso poderia fazê-la ser identificada como um membro de qualquer país em particular ou indicar sua condição social.

—Victoria, está agindo de forma muito estranha. — Havia uma nota de medo na voz da mãe enquanto ela entrava na loja e se movia além dos vestidos.

Ela estava agindo de forma estranha? Estava certa que parecia muito estranha, ela pensou, antes de um breve momento de choque a abater. Cada vez mais frequentemente se achava amaldiçoando. Havia momentos em que isso era tudo que podia fazer para conter a vulgaridade na voz quando estava conversando.

—Estou bem, mãe— ela a assegurou novamente enquanto se moviam pela loja pequena.

Iria obedecer às ordens do que ela queria em vez do que a mãe consideraria aceitável. Era um desejo perigoso de seguir. Pelo menos, seis anos atrás seria.

E estavam lá. Calças jeans justas e de cintura baixa. Havia botas de salto baixo feitas de couro suave e flexível em uma prateleira ao lado. As botas pareciam sensuais e elegantes, assim como práticas e fáceis de correr. O que as tornavam uma maravilha. Do que ela correria?

—Victoria, já discutimos sobre este fetiche de jeans que parece ter adquirido— a mãe dela declarou preocupadamente enquanto se movia para mais perto e passava os dedos na calça jeans. A tensão pareceu espessar a atmosfera. —Sério, Victoria. Os vestidos são muito bons.

Lilly teve que apertar os dentes contra a irritação.

Lilly, ela pensou. Seu nome não deveria ser Victoria, sempre havia repugnado ser chamada de Victoria. Ela era Lilly. Mas não podia se recordar de uma única vez em que seus pais a houvessem chamado de Lilly.

Ela era Lilly. Lilly... alguma coisa. Ela balançou a cabeça e olhou fixamente para o tecido enquanto esfregava o bolso entre o dedo polegar e o indicador. Lilly. Não era Lady Victoria Lillian Harrington. Nem mesmo Lilly Harrington. Mas quem?

—Posso ajudá-las?— A vendedora perguntou logo atrás.

—A calça jeans— ela disse à ruiva enquanto se movia para onde estavam penduradas. —Gostaria de experimentar estas, por favor, assim como as botas. — Ela se moveu para as botas e escolheu o tamanho correto antes de ir para uma prateleira particular de blusas.

—Oh, meu Deus, você não ousaria! Victoria, Desmond teria um ataque se te pegasse vestindo uma roupa assim. — A mãe estava ultrajada, enquanto olhava fixamente a bota pecaminosa de couro preto e salto baixo indo além dos joelhos e a calça jeans apertada.

Não, não era Desmond quem tinha problema com as roupas. Era a mãe dela. Angelica Harrington exigia que certa imagem fosse apresentada a toda hora. E calça jeans não se ajustavam àquela imagem, e não eram permitidas em sua presença.

Ignorando-a, Lilly andou para a camisa mais próxima, esticou a mão e correu os dedos pelo suave e caro algodão egípcio verde-oliva.

—Desmond não vai gostar— a mãe a advertiu, a voz apertada.

Desmond era o padrasto dela agora. Nos seis anos que não podia se lembrar, ela conseguiu perder o pai e a mãe se casou com seu meio-irmão mais novo.

—Esta blusa, por favor. — A camisa de algodão verde-oliva se ajustaria perfeitamente, pegaria o contorno de seu corpo e a forma dos seios. Só não estava certa do por que de repente estava atraída pela cor.

Ela girou para a vendedora atenciosa que as estava atendendo. A mulher sorriu suavemente. O longo cabelo cor de ouro avermelhado caía sobre os ombros e um sorriso compreensivo cruzou seu rosto.

Enquanto isso Angelica reclamava sobre a calça jeans e a cor apagada da blusa.

—Victoria, francamente. Os vestidos são muito bons. — Angelica continuou enquanto a filha se movia em direção ao provador.

Ela deu uma olhada rápida para a porta. Havia um lugar exatamente entre suas omoplatas que se recusava a parar de coçar. Podia sentir olhos nela. Os olhos dele. De alguma maneira, ainda a estava observando, ainda a estava esperando. Ele ficaria tão surpreso com a calça jeans quanto a mãe dela?

Enquanto Lilly entrava no provador, soltou um suspiro de alívio e se debruçou exausta contra a parede, fechando os olhos e puxando uma respiração dura, funda.

Ela os abriu e olhou fixamente de volta para a mulher no espelho.

Ela não era mais Victoria.

Quem diabo ela era, realmente? E por que não estava confortável com o conhecimento de sua própria identidade, sua própria aparência?

O tecido suave de algodão do pequeno vestido cinza descia rapidamente por seus peitos e quadris, deixando um comprimento apenas decente logo abaixo das coxas. O tecido cinza e suave não parecia apropriado de alguma maneira. Da mesma maneira que os olhos verdes a encarando não parecia certo.

Ela um dia tivera olhos castanhos. Sempre teve olhos castanhos.

O cabelo era um vermelho escuro agora. Um dia foi um rico castanho escuro. Os médicos ficaram pasmos com o fato que de alguma maneira o olho e a cor do cabelo dela foram mudados permanentemente.

Ela estava diferente. Sua aparência estava diferente. Algo dentro dela estava diferente. Havia algo que não se encaixava com a vida que estava levando agora, e a mulher que se lembrava de ter sido.

—Querida, está bem?— A voz de Angelica veio através das finas paredes do trocador. Lilly podia ouvir a preocupação, a confusão na voz da mãe. Mas também ouvia a paciência forçada e uma pontada de irritação.

—Estou bem, mãe. Levarei apenas um minuto — Lilly disse a ela.

—Desmond ficará totalmente chateado se voltar para casa usando calça jeans. — Havia uma nota de afeto divertido na voz da mãe quando falava do marido, o que fez Lilly quase encolher em desgosto. Havia advertência também. —Ele pode até te encher de atenção, querida.

Lilly olhou fixamente para o jeans, as botas e a blusa. E olhou fixamente de volta para si mesma no espelho, e então se virou. Ela amava. Ela podia se mover nesta roupa. Ela podia correr, podia lutar... contra quem?

Flashes escuros surgiram por sua mente, imagens elétricas de fogo de artilharia, sangue e morte relampejaram como uma luz vibrante no meio de uma paisagem de meia-noite.

Às pressas tirou as roupas novas do corpo e colocou o vestido de volta, deslizou os pés nos sapatos de salto alto que sabia que não poderia nunca correr, e então juntou as roupas que havia experimentado.

Saindo do trocador, deu à mãe um sorriso cuidadoso e frio em resposta à careta no rosto. Sabia que não deveria chatear a mãe. Pelo menos, sabia disso seis anos atrás. Havia uma parte dela agora que empacava em aceitar as ordens de outros ou ameaças.

—Levarei estas. — Ela deu a roupa para a vendedora enquanto tentava ignorar a irritação nos olhos da mãe. Talvez fosse melhor que permanecesse a filha que Angelica pensava que era, mas outra parte dela exigia que fosse alguma outra coisa, algo mais, e que estivesse preparada.

Tinha que manter a ilusão, pensou. A sobrevivência dela dependida de como levasse essa vida agora. Até a presa mais esperta sabia o valor de se fingir de idiota. E um bom assassino entendia sua caça.

Lilly parou abruptamente com o pensamento. O choque deixou um gosto amargo em sua boca enquanto lutava para não afundar nas sombras e nas memórias que estavam quase ao alcance.

Ela não era uma assassina! Era uma borboleta social; uma debutantezinha tola, o pai uma vez a acusou afetuosamente. Sabia como se misturar nesta vida, aprendeu na infância. Não era uma assassina. Mas o sangue nos sonhos dela indicava o contrário.

Resistiu ao desejo de olhar para as próprias mãos, uma parte dela desesperada para se assegurar que não havia sangue as manchando.

Quem diabos ela era e por que as memórias dos últimos seis anos pareciam tão enganosas quanto os pesadelos pareciam reais?

Era realmente Victoria Harrington. O DNA provou isto. O sangue era igual ao do DNA que foi tirado da filha de Harrington uma década antes para se assegurar de que ela pudesse sempre ser identificada, não importando as circunstâncias.

Ela sabia quem era, e ainda assim se sentia como uma impostora. O que quer que aconteceu nos últimos seis anos em que ficou perdida, a mudou de modos que não podia explicar. Asseguravam que não mais se encaixava na família, aos amigos, onde um dia se misturou nesta vida sem problemas.

Tinha memórias de sua vida até a noite anterior à colisão do carro que matou seu pai e a deixou lutando para viver seis anos atrás. As memórias dos últimos seis anos a iludiam.

E por que estava procurando por um rosto na multidão e antecipação surgindo por ela com o pensamento de um vislumbre breve de um homem que não conhecia? Um homem que parecia mais familiar a ela que seu próprio rosto. O homem que pegou a observando mais cedo.

—Está agindo muito estranha, Victoria. — Angelica suspirou enquanto deixavam a loja e voltavam para a calçada sombreada de árvores e as lojas que Angelica insistiu em visitar.

Lilly podia ouvir a pontada de raiva no tom da mãe e sabia que devia ser cautelosa. Angelica Harrington ficava dura quando brava. Uma dureza que tinha força brutal. E não tinha nenhum problema em atacar um de seus filhos se sentisse necessidade.

—Estou bem, mãe. — Ela observava a multidão atentamente, com cuidado para manter o corpo da mãe protegido enquanto continuavam as compras não premeditadas que decidiram fazer naquela manhã.

Ela não podia entender por que estava fazendo isto. Por que de repente sabia como proteger a mãe, e do que a estava tentando proteger?

—Não te perguntei se estava bem— a mãe disse, exasperada. —Eu disse que está agindo estranha.

—Então, pareço estranha e me sinto estranha, também. — Lilly bufou. —E você, por favor, pode me chamar de Lilly?

As duas pararam.

Lilly tentou olhar em todos os lugares exceto para a mãe, antes de finalmente ser forçada a encontrar o olhar castanho escuro de Angelica. A raiva ainda estava lá, mas havia também uma sugestão de confusão temerosa. Lilly entendia bem. Talvez Angelica tivesse verdadeiramente perdido a filha.

—Lilly— Angelica finalmente disse suavemente então, olhando para ela como se visse mais do que Lilly poderia imaginar. —Foi o nome que sua avó te deu, sabe.

Não, ela não sabia. A avó morreu quando Lilly não era mais que uma criancinha.

Como que em um acordo mudo elas giraram e começaram a se mover pela calçada novamente. Havia um silêncio entre elas agora que não era exatamente confortável.

—Não me lembro dela me chamando de Lilly— ela disse, tentando tranquilizar a corrida do coração e aliviar a tensão.

—Você era muito novinha— a mãe disse. —Não me surpreende que quando desapareceu tenha escolhido esse nome para usar. Sua avó sempre reivindicou que você era mais Lilly que Victoria. Mas seu pai insistia com Victoria.

Ela foi Victoria seis anos antes. Foi a bela do baile. Foi poderosa por nascimento. Almoçou com a Rainha mais de uma vez, conheceu o Primeiro Ministro, dançou com muitos membros do Parlamento. Ela conspirou...

A memória fechou, assim depressa. Estava lá, e então era como se nunca tivesse existido. A frustração a corroia. As memórias estavam lá, quase ao alcance, assombrando-a, provocando-a a fazer algo que não estava bem certa do que era.

—Sabe, há uma loja pequena e adorável de antiguidades logo adiante. — A mãe mudou de assunto com entusiasmo forçado enquanto passavam por um pequeno café cujos odores tentadores flutuavam fora para ela. —Acho que seria bom ver o que eles têm. Achei vários utensílios lá na última vez que a visitei. Eram sem igual.

Café. Ela mataria por uma xícara de café quente.

Ela mataria...

Pelo mais curto segundo a visão e o odor de sangue encheram seus sentidos, e não era a primeira vez. Ela não congelou desta vez. Apenas pausou com a memória, e, assim como na primeira vez, desapareceu tão depressa quanto veio.

Ela não tropeçou, continuou a caminhar, equilibrando-se perfeitamente nos saltos altos, mesmo enquanto pensava que se tivesse que correr, levaria segundos preciosos para tirar o calçado impraticável.

—Desmond normalmente faz estas pequenas incursões comigo. — A mãe dela continuou falando. —É muito ruim ele ter aquela reunião esta tarde em Washington, ou poderia ter nos acompanhado.

Lilly deu um suspiro de alívio quando Desmond anunciou que não poderia viajar com elas. Por alguma razão, se sentia como se não pudesse confiar no tio que um dia gostou. Essa sensação a deixou fora de equilíbrio como se não pudesse confiar em mais ninguém.

Estava presa nas memórias. Todas as respostas que precisava estavam trancadas atrás do véu de sombras que eliminou os últimos seis anos de sua vida.

O que aconteceu na noite em que o carro do pai dela caiu com ela naquele precipício? Eles discutiram? Estavam em perigo? Por que deixaram a festa naquela noite sem dizer nada ou se despedirem?

Nenhuma das explicações que recebeu quando despertou no hospital quase quatro meses atrás fez sentido. Ela perdeu mais que apenas a memória. Lilly sentia que perdeu a si mesma também.

Perdeu a vida, o pai. A mãe e o tio pareciam estranhos, e onde estava o irmão que sempre tentou protegê-la? Quando foi vê-la no hospital, a chamou de mentirosa, disse que planejava roubar a identidade de sua irmã.

E talvez isso machucasse mais que tudo. Havia idolatrado Jared. Tê-la atacado partiu seu coração de um modo que temia nunca se curar.

—Você está muito quieta, Lilly. Como espera se socializar se se recusa a tentar?— A voz da mãe era dura agora, cheia de censura. —Ainda acho que precisa de tempo para se curar mais. A clínica na França...

—Mãe, sério. — Lilly sorriu suavemente, consolando. —Estou me socializando bem. Estou apenas me reassegurando aos poucos, prometo.

—E me diria se fosse o contrário?— A mãe dela questionou, preocupação suavizando a dureza no tom.

—Prometo que sim — Lilly mentiu.

—Esse vestido fica ótimo em você.

Lilly congelou com o som da voz na orelha, ligeiramente grossa, rica e escura, como o mais fino veludo negro contra os sentidos.

Conhecia a voz. Foi fundo dentro dela, acariciando as memórias sob as sombras e aliviou a sensação de medo que a perseguiu nos últimos meses.

Ela não percebeu o quão assustada esteve até que aquela parte de sua alma pareceu relaxar um pouco.

—Porém, acho que prefiro a calça jeans, as botas e os coldres na coxa que usava no Afeganistão.

Ela sentiu a bochecha dele contra seu cabelo enquanto o coração começava a correr, batendo irregularmente com antecipação feroz. O corpo dela de repente se tornou muito sensível, muito morno, como se um calor se lembrasse de como chamejar dentro dela.

—Pare. — O som fez com que ela parasse de tentar se voltar. —Fique quieta, não há necessidade de se virar ainda. — Havia uma extremidade sombria na voz enquanto ele agarrava o quadril dela com uma mão e a segurava no lugar.

Havia muitas sensações correndo pelo corpo dela agora, demais e muitos pontos de emoção que não podia dar sentido.

—Quem é você?— Ela silvou enquanto olhava ao redor desesperadamente, perguntando-se para onde a mãe dela foi, perguntando-se o que ela pensaria sobre o homem que estava tão perto de sua filha.

—Não se lembra de mim?— Havia uma nota estranha em seu tom, uma que ela não podia decifrar depressa. —Depois dos problemas que instigamos juntos? Acho que estou ofendido, Belle.

Uma sensação de vertigem a assaltou com o tom de repreensão.

—Evidente que não lembro. — Ela lutou para acalmar a corrida do coração, aliviar a aspereza da respiração.

—Ouvi que foi ferida. Os rumores da sua memória perdida são evidentemente verdade. — O tom confortante na voz dele não fez nada para acalmar as emoções alternadas que de repente a estavam rasgando. —Confie em mim, bebê, você me conhece.

Ela acreditava nisto. Sabia disto. Podia sentir esse conhecimento aquecendo seu corpo.

—Então posso olhar para você. — Ela manteve a voz baixa, como ele fazia, e continuamente olhava o interior da loja sombreada para achar quem quer que pudesse estar os observando ou escutando.

—Não ainda. Vire-se e eu não poderei me parar. Sua mãe te acharia numa posição muito comprometedora. Ela não parece ser o tipo de mulher que olharia para o outro lado ao ver a filha sendo seduzida num canto dos fundos de uma loja de antiguidades.

A mãe dela ficaria absolutamente mortificada. Furiosa.

—Você se lembra do bar Friendly’s Sports?— Ele perguntou então.

Ela agitou a cabeça lentamente, mas um fantasma de sua memória apareceu. Uma sala escura e grande, uma jukebox tocando, bolas de sinuca batendo e risos.

—Na esquina da Franklin com a Walnut— ele disse a ela.

—Nós nos encontramos lá antes?— Ela ouviu a incerteza na própria voz, a carência, a ânsia de informações. Finalmente uma frase foi respondida. Alguém que sabia quem ela era em vez de quem ela foi.

—Várias vezes— ele a assegurou. —Diga-me, Belle, o quão severa é a amnésia?

Ela não podia decifrar a emoção subjacente na voz. Parte preocupação, parte qualquer outra coisa que fez com que ela se perguntasse não quem era este homem, mas o que ele era para ela.

—Os últimos seis anos se foram— ela respondeu verdadeiramente, mas não estava certa de por que o fez. Este homem fazia com que ela ficasse com o pé atrás, mas ainda assim uma parte dela estava alcançando-o, desesperada para confiar nele. —Você me conhece bem?

As mãos dele apertaram os quadris dela. —Deixarei que decida isto. Encontre-me hoje à noite no bar, só. Sem mãe, sem motorista. Podia ir naquela pequena moto de corrida que parece pilotar tão bem. Aquela que mantém guardada aqui em Hagerstown.

Ela dirigia uma moto? Desde quando sabia dirigir uma moto?

Ela agitou a cabeça quase instintivamente, rejeitando a ideia de que iria, de que podia pilotar, mesmo enquanto se lembrava do vento nos cabelos e do poder pulsando entre as coxas.

—Estarei lá às onze. — Os dedos acariciaram os quadris dela. —Você estará lá, Lilly?

—Estarei lá. — A decisão foi tomada muito depressa, tão instintivamente, que ela quase voltou com as palavras.

—Boa menina. — Eram os lábios dele roçando contra a concha da orelha dela?

Lilly estremeceu com a sensação primorosa de calor, quase um beijo, enquanto dava uma respiração dura, chocada.

—Senti sua falta, Lilly. — Havia remorso na voz?

Lilly lutou contra o desejo opressivo de girar e encarar, exigir as respostas que estava certa que ele tinha. Não havia nenhuma dúvida que ele a conhecera durante aqueles anos perdidos. Não havia nenhuma dúvida de que ele podia tê-la conhecido intimamente.

—Quem eu sou? — As palavras deslizaram pelos lábios, a emoção indisfarçada na voz, o medo que ela lutava para manter escondido esclarecido no tom cascudo e melancólico da voz.

Atrás dela, a corpo morno a envolvendo parou por um longo momento antes de ela sentir a ondulação de suspiro mudo através de seu tórax.

—Discutiremos sobre isto hoje à noite. — Havia uma promessa na voz e, uma parte dela temia, uma advertência.

Uma advertência sobre o quê? A verdade talvez?

A verdade podia ser uma espada de dois gumes, o tio a advertiu várias vezes quando ela questionava se ele tinha investigado os últimos seis anos da vida dela assim que descobriu que ela estava viva. Claro que ele tinha, ainda assim ele se recusava a dar uma resposta direta.

A evasão a deixava louca. Talvez, desta vez, alguém desse uma resposta direta.

—E se eu não aparecer?

As mãos dele foram para longe dela lentamente enquanto o som da voz da mãe dela discutindo os méritos de um prato de porcelana em particular vinha pelo cômodo escuro.

—Talvez você não apareça— ele murmurou. —Talvez, Lilly, haja coisas sobre você mesma que realmente não queira saber.

Enquanto ela tentava entender aquele comentário, ele escapou dela, o calor de seu corpo não mais que um sonho enquanto ela girava depressa para tentar pegar um vislumbre do homem que a tocou tão intimamente.

Era ele quem a estava seguindo? Era ele quem enchia suas fantasias assim como seus pesadelos?

Porém, tudo o que viu foram as costas dele enquanto escapava pela porta e se movia depressa passando além da janela longa e estreita da loja.

Lilly começou a correr atrás dele. Esperar por hoje à noite para ter as respostas de repente parecia menos do que possível. Ela queria as respostas agora.

—Lilly, a Sra. Longstrom tem a toalha de mesa mais magnífica de renda na sala dos fundos. — A voz da mãe dela a parou enquanto dava o primeiro passo. —Você simplesmente tem que voltar lá e ver. Creio que seria perfeito para a sala de café da manhã do solar.

Lilly girou depressa de volta para a mãe, uma pergunta se formando nos lábios, uma demanda para saber se a mãe viu o homem que falou com ela. Se o conhecia.

No momento em que as palavras teriam deslizado pelos lábios, ela trincou os dentes depressa. A mãe não o viu, ou ela mesma já teria feito as perguntas para Lilly.

Angelica pausou de repente, o olhar afinando como se sentisse ou visse algo no rosto de Lilly que a preocupasse ou talvez irritasse.

—Creio que está na hora de irmos. — Angelica se moveu depressa através da sala apesar da altura dos saltos dos sapatos que usava e a calça comprida de alabastro e blusa sem manga combinando.

Lilly protestou enquanto os dedos da mãe dela enrolavam suavemente ao redor de seu braço e a persuadiam em direção à porta. —Sério, mãe, não precisamos partir.

Ela tinha que se acostumar, tinha que dar sentido às coisas que de repente estavam acontecendo. O que ela estava sentindo.

Nunca deveria sentir tal reação por um homem que não podia ver, apenas ouvir. Um homem que parecia mais familiar a ela que seu próprio corpo.

Ela seguiu a mãe pela loja de antiguidades, e voltou para a rua cheia de árvores. Pausando, Angelica Harrington fez um telefonema rápido para o chofer, informou a ele seu local, e então girou para a filha com uma careta de preocupação.

—Eu tentei fazer demais de uma vez só— Angelica disse, a desculpa na voz atacando a consciência de Lilly. —Deveria ter permitido que descansasse um pouco mais.

—Você vai ter que se acostumar a isto, mãe— Lilly informou-a firmemente enquanto deixava o olhar inspecionar a rua cheia com olhos estreitados atrás de seus óculos escuros. —Da mesma maneira que tenho que me acostumar comigo mesma.

Lilly não pegou o olhar de consternação da mãe. A mulher mais velha observava a filha como uma estranha, esperando, observando quaisquer sinais de perigo. Mas junto com a cautela havia também dor.

O sonho da mãe dela se realizou. A filha que pensou que perdeu para sempre retornou para casa. Estava viva e respirava. Ela tinha a chance que poucos pais que perdiam suas crianças recebiam. Uma chance de dizer todas as coisas que não teve tempo para dizer antes. A chance de dar um beijo de boa noite. A chance de ver seu sorriso. Ouvir seu riso.

Talvez.

Travis se perguntou se Lilly aprendeu a rir novamente. Ele sabia que as poucas vezes em que conseguiu puxar o riso dela era como ver os raios de sol pela primeira vez.

Ele se perguntou se a mãe dela via um raio de sol quando via o sorriso da filha, ou ouvia seu riso. Se perguntou se ela viu aquele sorriso ou ouviu aquele riso desde que a filha voltou para casa. Deus sabia como Lilly merecia pelo menos alguns momentos de felicidade antes de seu mundo virar de pernas para o ar novamente. E antes que a mãe possivelmente perdesse a filha de novo.

Uma coisa era certa, sob a impaciência e os flashes de irritação, o coração de Angelica Harrington também estava partido enquanto observava a jovem que informaram ser sua filha.

Não havia nenhuma dúvida que Lilly era definitivamente Victoria Lillian Harrington. O DNA provou, as arcadas dentadas provaram também, mas não havia nenhuma impressão digital para garantir. As impressões digitais dela foram removidas no dia em que ela assinou com a Elite Ops. Com sua volta, a culpa caiu na explosão do carro.

Ficando bem fora de sua linha de visão, ele a olhou atentamente, um sorriso arrastando nos lábios enquanto ela deslizava os óculos de sol e continuava a observar a rua com o que ele sabia serem olhos de águia.

Ela o pegou seguindo-a várias vezes ao longo da tarde. Cada vez parou e olhou para ele com olhos estreitados e o observava com uma familiaridade que ele sabia que não fazia nada além de confundi-la.

Ele via essa confusão. Sentia. Quase a saboreou enquanto estava de pé atrás dela e respirou seu odor.

Ela estava lutando para dar sentido ao mundo em que estava e às memórias que perdeu, mas ainda havia um jogo para lutar pelas respostas.

Ela estaria lá hoje à noite. Não havia nenhuma dúvida na mente de Travis que ela não acharia o bar a tempo de se encontrar com ele. Se perguntou se iria sozinha, ou se sua sombra, o guarda-costas que o tio contratou, conseguiria segui-la.

Lilly Belle, codinome Falcão Noturno, nunca se permitiria ser seguida para uma reunião. Ela se asseguraria de chegar só, e se não o fizesse, então asseguraria que seu perseguidor lamentasse.

Essa era sua Lilly. Podia ser impiedosa, mas mesmo sendo assim, ele assistiu, ano a ano, outro pedaço de sua alma corroer.

Aqueles ferimentos ainda estavam lá, em seus olhos, junto com a confusão, a cautela.

—O que acha?

Travis deu uma olhada rápida sobre o ombro para o russo que estava cuidadosamente escondido no edifício.

Nik Steele olhava Lilly e sua mãe, os olhos azuis glaciais a perfuravam atentamente.

—Acho que precisamos nos planejar para quando o inferno começar — Travis grunhiu enquanto uma limusine parava na frente das duas mulheres.

O chofer saltou, e Travis não pôde evitar o estremecer de riso dos lábios. Ele tinha que admitir, Wild Card fazia um ótimo papel de chofer.

—Parece muito espertinho com aquele chapeuzinho, não?— Nik disse. —Talvez nós devêssemos enviar umas fotos para a esposa dele.

Travis riu silenciosamente com o pensamento. A esposa de Wild Card era uma mulher dos infernos; ele não tinha nenhuma dúvida que ela soltaria ooh e aah pelo quão atraente ela pensava que ele estava. Era o suficiente para fazer um homem estremecer de medo. Ou inveja.

—Guarde as fotos— Travis o aconselhou. —Talvez possamos jogar dardos nelas em vez disso.

O grunhido divertido de Nik era um som áspero, quebrado, parte diversão, parte escárnio. O homem nunca ria. Raramente sorria. Mas diabos, Travis não podia se lembrar da última vez em que ele mesmo riu.

—Então o que vamos colocar em nosso relatório para Live Wire?— Nik perguntou a ele enquanto Wild Card ajudava Lilly e Angelica a entrarem no carro.

O que ele colocaria no relatório para Jordan?

—Ela é viável— ele declarou.

—Sério?— O ceticismo na voz de Nik não passou despercebido a Travis. —Não é como vejo as coisas, Black Jack.

—Você pretende reportar diferente?— Enquanto a limusine ia para longe, Travis se voltou para a montanha que agora chamavam de Renegado.

Nik era o único do time que parecia mudar de codinome como quem muda de roupa. Jordan parecia não poder se decidir quanto ao gigante loiro.

—Não eu. — Nik agitou a cabeça firmemente enquanto dava uma olhada rápida de volta para Travis. —Mas, se eu fosse você, conversaria com Wild Card. — Ele anuiu com a cabeça para a direção que a limusine tomou. —Tenha a certeza que faça o mesmo relatório. Porque aposto que ‘viável' não será a palavra que ele escolherá também.

Mas era a que ele usaria no relatório, Travis prometeu a si mesmo. Conversaria com Wild Card hoje à noite e se encontraria com Falcão Noturno. O jogo estava para começar. Isso significava que ‘viável’ tinha que ser a palavra a ser usada. Ou Falcão Noturno pagaria o preço.

Sob nenhuma circunstância a Elite Ops podia ser revelada. O dano que isso poderia fazer, o que podia representar para todos era muito alto.

Se Lilly não fosse considerada viável e um recurso para a operação, então era um risco. E todos os riscos tinham que ser eliminados.

Imediatamente.

 

Lilly pensou que não haveria nenhum modo de achar uma moto que ela nem sabia que possuía. Mas a ideia a intrigava. O pensamento de montar selvagem e livre com nada além do vento a cercando a enchia com excitação.

Achar a maldita coisa seria a parte dura. Foi o que ela pensou.

Lilly não tinha as memórias dos últimos seis anos, mas tinha uma forte intuição.

Enquanto seguia por Hagerstown no táxi alugado, olhava para as placas das ruas e os edifícios, e Lilly se achou descobrindo fragmentos de memória. Podia se lembrar de andar pela cidade na escuridão, mas não se lembrava do por que.

Um certo sinal na rua atiçou sua memória e ela fez o motorista contornar. Um edifício puxou sua memória e uma sensação de familiaridade a atingiu em uma interseção, e logo fez o motorista parar em frente de um terreno com contêineres de unidades de armazenamento.

Ela olhou fixamente para as linhas longas das unidades azuis e brancas. Um retrospecto rasgou por sua mente, fazendo uma seta súbita de dor chegar às têmporas.

Estava aqui. Sabia o número das unidades e o código da fechadura. As têmporas pulsavam com dor, mas ela sabia. A memória estava lá, um pouco nebulosa, mas presente.

Pagando o motorista, Lilly deixou o táxi e entrou no lote, caminhando depressa para a linha mais distante das unidades. Podia sentir as câmeras de segurança nela enquanto mantinha o rosto virado cuidadosamente delas.

A unidade de armazenamento para a qual se moveu tinha apenas 10 por 10 e uma fechadura com código e uma chave digital.

Lilly se curvou para a extremidade da armação da parte inferior, movendo de lado a camada espessa de pedregulho cuidadosamente até que um bloco de cimento sob a unidade ficou visível. Lá, uma pequena depressão foi cavada fora do cimento. A chave estava lá, envolta em um estojo de plástico protetor, pesado.

Dentro de segundos tinha a unidade destrancada e a chave de volta no lugar.

Abrindo a porta lentamente, Lilly esticou a mão, acendeu a luz, e entrou na unidade enquanto fechava a porta atrás de si.

Havia mais do que uma moto lá. Lilly sentiu a garganta apertar, o coração correr fora de controle. Suor brilhava na testa, e por um momento jurou que passaria mal. Em uma parede havia uma série de prateleiras. Um estojo preto largo estava no meio da estante cercado por um menor.

Andando para ele, o abriu cuidadosamente, a respiração parando à vista da arma empacotada cuidadosamente com espuma preta.

Um rifle de vigia. Estava desmontado, bem lubrificado e brilhando na luz escura. Tocando-o com dedos trêmulos, Lilly lutou contra a certeza que o usou, várias vezes.

Movendo-se para os estojos pequenos, achou armas, e soube, de alguma maneira, que eram modificadas e altamente ilegais. Havia clipes e estojos vazios de munição.

Havia roupas, mapas e arquivos que Lilly esquadrinhou enquanto o medo roubava sua respiração.

No que diabo esteve envolvida?

Tremendo, puxou uma bolsa de couro de um pequeno gabinete e roupas empacotadas, uma Glock, munição, e várias facas do lado de dentro.

Armazenando a bolsa atrás compartimento da moto, Lilly girou para o resto das roupas.

Vestiu depressa as calças de couro, a camisa e a jaqueta. As botas de couro iam acima do joelho, e achou a chave pendurada na ignição.

O medo estava mais presente que nunca, mas assim como a excitação. Batiam dentro dela, corriam por sua circulação sanguínea e enviavam adrenalina pelo corpo.

Não se lembrava de quem foi.

Não se lembrava o que foi.

Mas talvez aquelas memórias estivessem agora ficando mais fortes, movendo-se para mais perto, e quase ao alcance.

 

         O bar Friendly’s Sports ficava no local perfeito para encontros amorosos, como o que Travis marcou com sua antiga favorita colega de Elite.

Ficava em uma esquina. Do outro lado da rua havia construções de tijolos que serviam como apartamentos, casas e escritórios.

A Rua Franklin era uma área ocupada, especialmente na sexta-feira à noite, que permitia o anonimato maior, assim como bastante tráfego, tanto por veículo quanto a pé, que podia ser usado como uma distração quanto os outros agentes se posicionavam para vigiar cada quina do bar.

Queriam saber quem estava seguindo Lilly, como estava sendo seguida, e quem teriam que rastrear.

Sentado no bar, Travis pediu uma cerveja, o olhar treinado na entrada lateral do edifício no pequeno canto do bar em forma de L. No outro canto, Nik sentou lateralmente em um tamborete do bar enquanto a ruiva Tehya, uma das peritas em comunicações do time, se sentava ao lado dele e paquerava descaradamente.

Mais além estavam Clint McIntyre, um ex Navy SEAL e agora parte do time independente e substituto da Elite Ops, sentado com a esposa e tentado posar de macho bêbado enquanto sua esposa, Morganna, o cabelo escuro e longo em uma trança, fingia não estar se divertindo.

O resto do time, auxílio assim como agentes, estava posicionados fora, junto com Jordan e Santos Bahre, um dos chefes de Lilly.

—Ela não vai aparecer. — A voz de Santos veio pela minúscula escuta que fazia a comunicação entre os agentes e os chefes. —Eu adverti que ela não é previsível.

Travis deu uma olhada rápida em torno do bar.

—Ela está aqui. — Estava aqui já há algum tempo, ele suspeitava. Podia senti-la os observando, os olhos verdes estreitados nele enquanto esperava para ver o que ele faria.

—Difícil. — Reno Chavez, chefe do time substituto que estava com a Ops por anos, agora falou no link. —Macey e eu temos as entradas cobertas. Não há nenhum modo de ter entrado sem sabermos.

—Há um modo. Lilly sempre acha um modo.

Travis empurrou de volta a cerveja morna que estava bebendo e fez um gesto para se erguer quando sentiu uma mão pequena apertar entre suas omoplatas, indicando que deveria permanecer no lugar.

Sentando de volta no tamborete, girou a cabeça, contendo o sorriso, e viu quando Lilly deslizou sobre o tamborete do bar que foi desocupado ao lado dele.

—Não pensei que fosse aparecer. — Ele fez um sinal para o garçom tomar seu pedido.

Enviando o homem para longe, Lilly se voltou para ele, o olhar suspeito enquanto o olhava atentamente.

Estava usando sua calça de couro. Calça de couro, botas, uma jaqueta pequena, e uma camisa de seda preta que mostraria seu diafragma se ela apenas se movesse do jeito certo.

—Nem eu. — Os olhos verdes estavam escuros nas sombras. —Diga-me quem é e o que tem a ver comigo.

Havia algo nele que era familiar, algo que ela não sabia dizer. Deveria conhecê-lo, mas não conseguia se lembrar. Não podia se lembrar de onde o encontrou.

Mas seu corpo pareceu conhecê-lo. Cada vez que o via, esta manhã assim como hoje à noite, ele respondia com calor aquecido e aquela sensação familiar de recordação.

Este homem a tocou, beijou. Seu corpo se lembrava disso e desejava mais. Esse desejo a seguiu pelo resto do dia, a lembrança do corpo dele atrás do dela, na loja, impossível de se recuperar.

—Tive muitas coisas a ver com você. — O sorriso era libertino, os olhos castanhos cheios com conhecimento sexual. Um conhecimento sexual dela.

Lilly olhou o garçom do bar enquanto ele aparecia com uma cerveja gelada para ela.

—Bom te ver de novo, Lilly. — O garçom grisalho do bar deu um sorriso largo e uma piscada. —Vejo que o seu amigo gosta de você.

—Isso é verdade. — Ela ergueu a cerveja para os lábios e deu uma golada longa e fria.

O garçom do bar se moveu, deixando-a com o homem a observando agora. Ela nem sabia seu nome.

—Travis Caine— ele sussurrou em sua orelha como que lendo seus pensamentos. —No caso de estar se perguntando.

Estava fazendo mais que se perguntando. Tinha deixado-a louca não saber nem essa informação. —Eu sei seu nome então— ela disse tranquilamente. —Mas quem é você para mim?

—Nos conhecemos seis anos atrás— ele disse a ela. —E nos encontramos em momentos estranhos desde então.

Lilly correu os dedos de uma mão pelo cabelo.

—Viajamos junto então?— O coração dela estava correndo, os pulmões sofriam falta de oxigênio enquanto lutava para não respirar muito duro.

Ele anuiu com a cabeça e Lilly bebericou a cerveja e terminou depressa antes de batê-la com bastante força no bar e estalar os dedos para o garçom do bar para a garrafa vazia.

Ele obviamente a estava observando. Dentro de segundos havia outra garrafa na sua frente. Ela se perguntou qual gorjeta normalmente deixava para ele por tal serviço excelente.

Ela terminou metade da cerveja, colocou a garrafa no bar e então deu uma olhada rápida de volta para Travis.

—Eu luto?— Ela sussurrou de volta para ele.

—Bastante bem. — Ele deu a ele um meio sorriso estranho. Estranho, porque ela sentia que deveria saber o que aquele sorriso queria dizer.

—O que fazia quando lutava?— Ela perguntou a ele. —Eu matava?

Ela sabia que sim. Esfregou o indicador e polegar, sabendo que as suas impressões digitais não estavam mais lá e não estavam por uma razão.

—Não se lembra de nada sobre os últimos seis anos então?— Ele perguntou enquanto girava mais completamente para ela, os nós dos dedos acariciando o braço dela.

Se lembrava de qualquer coisa?

Se lembrava dos pesadelos. Eram cheios de dor, ira e medo. Se lembrava da sensação de se afogar, da água glacial fechando sobre a sua cabeça enquanto lutava para respirar. Se lembrava de um beijo, um toque e uma raiva subjacente que não faziam nenhum sentido.

Se lembrava da réplica afiada de uma arma de fogo, e então mais nada.

—Eu não me lembro de nada. — Pelo menos nada que estivesse disposta a discutir no momento. Especialmente considerando o fato de que presentemente estava sendo vigiada.

Uma virada longa e lenta do tamborete deu a ela uma visão clara do bar e dentro de segundos soube tudo que precisava saber. Um segundo mais tarde o estava enfrentando uma vez mais.

—Tem amigos com você. — Ela manteve a voz baixa o suficiente para não ser captada por qualquer dispositivo de escuta, a menos que ele mesmo estivesse usando um.

Ela se sentiu empalidecendo com o pensamento e soltou a cabeça para olhar fixamente para a cerveja. De onde essa suspeita veio? Como podia olhar apenas uma vez e ver tanto, definir quais estavam lá pela diversão e quais estavam lá para vê-la?

Quando seu olhar encontrou o dele novamente, viu uma advertência em seus olhos. Uma advertência para que ela não visse mais ou falasse mais?

—Não há ninguém comigo— ele finalmente respondeu. —Exceto você.

Sim, certo, ninguém estava lá com ele. Estava mentindo para ela e os dois sabiam disso. Mas também a estava advertindo. Para protegê-la? Que diabo estava acontecendo aqui e o que este homem queria dela?

—Por que estou aqui?— Ela perguntou a ele. —Vamos conversar ou jogar a noite toda?

—Gosto bastante de jogar com você. — Ele sorriu amplamente então.

—E estou ficando bastante impaciente. — Ela ficou de pé. —Você quer conversar, Sr. Caine, então pode vir comigo.

Lilly puxou a jaqueta apenas para ter os dedos dele ao redor de seu pulso para detê-la.

— A mesma Lilly voluntariosa que senti tanta falta— ele murmurou. —Diga-me, como sua família lida com sua teimosia? Ouvi dizer que sua mãe raramente tem paciência com qualquer outra pessoa.

Não com ninguém mais, não com ela, Lilly podia informá-lo. Mas não precisava saber.

—Eu sou filha dela. — Ela arqueou a sobrancelha. —Claro que posso fazer isso.

—Claro que pode— ele concordou. —Então me diga, Lilly, por que escapou sorrateiramente da sua casa hoje à noite em vez de informá-la que estava saindo?

—Pela mesma razão pela qual eu estou saindo daqui agora sem responder à sua pergunta— ela replicou amarga. —Preciso saber.

Com isto, girou e saiu.

Ele a seguia. Podia sentir. Movendo perto atrás dela, a excitação era tanta que uma parte dele estava ao redor dela. As coxas estavam apertadas, a boceta aquecida.

A boceta dela.

Ela pausou na porta, permitindo que o ar frio a envolvesse e possivelmente esfriasse sua libido. Ele escolheu aquele momento para se mover para mais perto, chegar perto até que estavam se tocando, a prova dura de sua ereção bem definida sob a calça de couro enquanto apertava contra as costas dela.

Lilly agarrou a maçaneta da porta e apertou-a. Queria se esfregar contra ele, queria empurrar de volta e sentir a fome que subia mais e mais rápido entre eles.

Aí mesmo, cercados por dúzias de clientes no bar e “amigos” ou talvez “não amigos” de Travis Caine.

—Diga-me onde te encontrar— ele exigiu. —Apenas nós dois.

—Deveria ser só nós dois desta vez— ela sussurrou sem ar.

Respirando fundo, Lilly andou para a calçada, tentando apagar a necessidade que corria em seu corpo, e dirigiu-se ao estacionamento. Ele ainda estava atrás dela, caminhando calado, mas podia sentir o calor de seu corpo ainda a circundando.

Movendo-se para a moto, ela jogou a perna direita sobre o banco facilmente e então pegou o capacete, o tempo todo muito ciente dele próximo a ela, como que esperando, desejando algo.

—O quê?— Ela girou para ele, franzindo o cenho, o coração correndo.

Os lábios dele ergueram. —Você se lembrou da moto afinal.

Lilly virou a cabeça, o olhar focado nas correias do capacete que estava brincando. Ela se lembrou da unidade na qual ela estava estacionada, e se lembrou de onde escondia as chaves.

Sabia coisas que não faziam sentido. Coisas que não tinham uma memória para confirmá-las, e isso a apavorava.

Como o conhecimento de que este homem podia fazê-la queimar com fome.

Ele também a havia ensinado como sobreviver em alguma hora. Estava certa disto.

Por que estava certa disto?

Essa pergunta a deixava louca. Por quê? Por que sabia? Como? Como sabia?

—Quem sou eu?— Erguendo a cabeça, tentou lutar contra a sensação de solidão e confusão que corria por ela. Se sentia perdida.

Olhando fixamente de volta para ele, viu quando as mãos dele se ergueram, os dedos jogando para trás o cabelo que caiu através do rosto dela. Enquanto ele o colocava atrás da orelha dela um pequeno sorriso erguendo um canto dos lábios.

—Você é selvagem e valente— ele disse a ela suavemente. —Durante os últimos anos eu jurei que você nos mataria.

E isso apenas a confundiu mais.

Travis viu o peso de sua expressão, o modo como os lábios diminuíram, a tristeza e a perda em seu olhar. Ele podia ler o quão perdida estava, e quanto a Lilly, isso não era algo que ele estava familiarizado. Ela não mostrava frequentemente suas emoções, não importando quais fossem. A menos que fosse paixão. Havia queimado totalmente a noite ao redor deles.

—Venha comigo, Lilly— ele a persuadiu suavemente. —Nós conversaremos, sem restrições. Eu posso te dizer quem você é.

Ele podia dizer a ela meias verdades e meias mentiras. Podia dar a ela as explicações que a agência apresentou. Não podia deixá-la saber quem era inteiramente, apenas a cobertura que a agência deu a ela. Era uma oferta muito mixuruca, mas preencheria alguns espaços em branco ao menos. Talvez enxugasse aquele olhar perdido de seu rosto, pelo menos por um pouco de tempo.

—Se queria conversar sem restrições, então não deveria ter trazido seus amigos junto com você para esta reunião.

Ela se moveu para longe dele, para colocar o capacete e partir na escuridão. Mas ele não estava pronto para deixá-la ir ainda.

Correndo os dedos pelo cabelo, agarrou de volta o pescoço dela, pegando-a de surpresa enquanto puxava a cabeça dela para trás e abaixava a dele.

Travis pegou a pequena arfada dos lábios separados e tomou vantagem cheia da abertura leve. A língua roçou nos lábios, então acariciou o lado de dentro com uma pequena punhalada provocadora que fez com a respiração de ambos prendesse quando aprofundou para algo muito mais que o assalto gentil que planejou.

Uma vez que a língua a tocou, saboreou o rastro da cerveja e o calor feminino, Travis estava perdido. Precisava de muito mais que o gosto de uma maldita provocação.

Enquanto segurava firme o pescoço, os lábios apertaram os dela, bebericando deles, levando a língua bem no fundo no intervalo afiado.

Ela ateava fogo nele; não havia nenhum outro modo de descrever isto. Ela fazia com que ele queimasse com uma necessidade e fome de possuí-la diferente de qualquer coisa que já conheceu.

Havia algo sem igual em Lilly. Sempre existiu, e tinha que se assegurar que sempre haveria.

Enquanto ele sentiu as mãos correrem sobre o couro cobrindo os braços, a necessidade rota de tê-la nua contra ele rasgou seus sentidos. Esteve muito tempo sem ela. Agora que sabia seu gosto, o prazer que achava com ela, queria mais. Se perguntou se algum dia teria o suficiente dela.

—Venha comigo— ele ordenou contra os lábios antes de beliscá-los sedutoramente. —Eu te prometo, não lamentará.

Lilly teve o pressentimento que essa seria a coisa que acabaria se lamentando mais que qualquer outra. Mas não queria resistir também. Queria ser selvagem e livre com este homem.

Não se lembrava dos últimos seis anos, mas se lembrava dos anos vividos antes. Ela viveu de acordo com as expectativas dos outros. As dos pais, amigos e associados.

O pai esperava que seguisse seus passos como fornecedora de informações para a Inteligência britânica e ela queria isto também. Foi treinada desde jovem para esse papel, da mesma maneira que a mãe começou a treinar a filha jovem para tomar seu lugar na sociedade inglesa. Eles discutiram por causa disso, ela se lembrava. A mãe não tinha nenhuma ideia do trabalho que Lilly fazia com o pai, mas sabia que o marido frequentemente aconselhava Lilly a não se casar, não se comprometer com outra pessoa.

Ela sempre faria como era esperado dela, como os outros queriam que fizesse, tanto quanto possível. Ela nunca tinha, do que se lembrava, vivido o momento. Se arriscado. Sido selvagem e livre. A mulher que Travis descreveu não era a mulher que Lilly se lembrava de ter sido. Precisava descobrir como era aquela mulher.

—Nenhum sensor?— Ela sussurrou, deslizando os lábios contra os dele novamente.

—Nenhum. — Ele exigiu outro beijo, outro moldar de lábios, remexendo o calor entre eles enquanto Lilly se rendia ao prazer.

Era incrível. Não mais que o toque dos lábios nos dela, a língua acariciando contra a dela. O coração batia forte contra os peitos — como a colocou tão perto sem que ela percebesse?—Os braços dele estavam apertados ao redor dela.

Havia algo no ato que fez com que ela pensasse se já conheceu a paixão antes dele.

Algo a advertiu que a conheceu com este homem, e somente com este homem.

Indo para trás, Travis olhou fixamente para as feições sombreadas dela e soube que o seguiria. Ele não disse nada. Em vez disso, tirou as chaves do bolso de sua jaqueta e se moveu para sua própria moto.

Escarranchando nela, empurrou a chave na ignição. As duas motos ligaram simultaneamente. Dentro de segundos estavam indo para longe do bar e seguindo pela cidade.

Malditas Elite Ops e missão. Acabaria o destruindo e possivelmente a Lilly também.

Isto era exatamente o que não queria. Ver a dor e a confusão enchendo seus olhos, rasgando-a devagar em pedaços.

Havia instinto, suspeita e o que Travis sabia ser sua segunda natureza. A lutadora que Lilly era, instintivamente. Era uma parte dela assim como respirar. Como simplesmente ser.

Com tal instinto, com tal força pura que ele sabia que Lilly possuía, as memórias não estariam muito atrás.

E agora, poderiam estar bem mais perto do que nunca.

A casa que ele possuía em Hagerstown estava localizada em uma das partes mais históricas da cidade. Era de dois andares, de tijolos, completamente remodelada por dentro, com quase quatro quilômetros de terras fortemente limitadas por uma cerca de arbustos de sempre-vivas bem alta.

Batendo o controle remoto programado no punho da moto, Travis diminuiu a velocidade para a porta da garagem, então levou a moto para o lado de dentro. Lilly parou ao lado dele, desligou o motor, e esperou.

A porta atrás deles fechou com o raspar da borracha contra o cimento.

—Bom. — Colocando o descanso no lugar, Lilly saiu do banco e tirou o capacete à medida que olhava ao redor.

Ele sabia o que ela via ao lado do Jaguar na outra baía. Travis Caine era rico, um homem que trabalhava com os homens e mulheres mais exclusivos e poderosos da Terra. Seu estilo de vida refletia isto. Ao lado do Jaguar estava um Hummer especialmente projetado e com segurança melhorada. Ao lado dele havia outra moto, conhecida por sua reputação de velocidade, poder e exclusividade. Havia menos de duzentas no mundo inteiro.

—Muito boa. — Ela não a tocou, não que Travis teria se importado. A moto pertenceu ao primeiro Travis Caine, assim como a casa, os veículos e os capitais com os quais ele vivia. Capitais que eram cuidadosamente monitorados pela agência.

Travis estava mais interessado no traseiro bem formado dela enquanto se curvava para olhar os detalhes costurados a mão.

—Gostaria de uma bebida?— Ele andou a passos largos para o bar bem provido no outro lado da garagem. Inferno, tudo que queria fazer era chegar ao quarto, e aqui estava ele, preso, enquanto ela admirava sua moto em vez de seu pau. Não era muita sorte?

—Não.

—Devemos entrar então?— Abrindo a porta que levava a casa, Travis entrou à frente dela e então na cozinha.

Degraus de mármore guiavam para o pequeno hall de entrada da garagem até a cozinha e a sala de jantar.

O maldito lugar devia ser um exercício para o primeiro Travis Caine em quanto dinheiro ele poderia gastar em uma residência mantendo o exterior tão modesto.

Abrindo a geladeira, tirou duas cervejas geladas e jogou uma garrafa através do cômodo para Lilly, observando-a atentamente.

Ela a pegou, sem pensar, então olhou fixamente para a cerveja em confusão antes de erguê-la e olhar de volta para ele. O que ele viu lá fez com que quisesse amaldiçoar. Confusão. Raiva. Medo.

—Sabia que eu a pegaria— ela sussurrou.

Abrindo a tampa com uma virada rápida, ele jogou o disco de metal no balcão antes de se inclinar contra ele casualmente.

Ele encolheu os ombros. —Você gosta de cerveja.

—Eu detesto cerveja. — Lilly olhou fixamente para a garrafa novamente, um pouco surpresa por sua boca estar enchendo de água para prová-la. Surpresa que realmente a quisesse.

—Você aprendeu a amar. — Ela o olhava. —Me disse uma vez que até ser forçada a bebê-la, não sabia o quão bom poderia ser.

—E como fui forçada a beber isto?— Lilly suspirou exausta.

Ele riu. —Nós estávamos no México. Era a minha cerveja ou a água deles. Você escolheu a minha cerveja.

Ela realmente apostava que tinha feito.

—Por que eu estava lá, Travis?— Ela perguntou, mal capaz de empurrar as palavras pelos lábios. —Por que não estava em casa?

Ninguém mais parecia disposto a responder aquela pergunta, não é?

—Tinha algo a ver com o que viu na noite em que seu pai foi morto.

Agora, a surpresa dela virou choque.

Ela não esperava que ele respondesse. Ela piscou de volta para ele, se perguntando pela expressão quieta em seu rosto enquanto ele continuava a olhá-la atentamente.

—O que aconteceu naquela noite?— Ela não lembrava. A última coisa que se lembrava era da festa.

Travis pisou na grande cozinha com tampo de mármore e a encarou com uma careta sombria. —Disse que seu pai suspeitava que alguém estivesse desviando dinheiro. Disse que ele agiu estranhamente naquela noite e então desapareceu da festa. Foi procurá-lo e quando entrou em seu escritório, já estava morto.

Lilly fechou os punhos nas laterais do corpo e lutou contra a ira e a dor. O pai dela morreu naquela noite, e ela foi incapaz de ajudá-lo. Incapaz de fazer qualquer coisa exceto fugir, aparentemente.

Sombras se mesclaram em sua cabeça. Como um vídeo sendo apressado que era rápido demais para fazer sentido, imagens corriam pela mente.

—Então eu não vi quem o matou?— Ela perguntou. —Não fiz nada para salvá-lo?

Travis agitou a cabeça. —Nós achamos que foi deixada inconsciente. E você suspeitava, mas nunca me disse de qualquer modo. Tinha problemas em confiar nas pessoas, especialmente seus segredos.

—Eu não fiz nada para provar minhas suspeitas?— Ela ouviu a própria voz encrespar, sentiu a agonia do fracasso rasgar por ela.

—Não disse isto, Lilly— ele replicou suavemente. —Você investigou. Às vezes eu te ajudei, mas sempre se chocou com um beco sem saída. Isso não significa que não tenha tentado.

Ela foi para longe dele, lutando contra as lágrimas.

—Você estava trabalhando para o MI5 antes daquela noite— ele continuou. —Não podia se arriscar a ir até eles. Não confiava em ninguém.

—Mas confiei em você o suficiente para te contar isto?— Ela virou de volta para ele, a raiva e medo a comendo agora.

—Nós éramos próximos, Lilly— ele declarou suavemente. —Houve muitas vezes em que confiou em mim. E houve muitas em que não confiou.

Pelo menos estava admitindo que houvera horas em que não confiara nele.

—Onde nos conhecemos?— A pergunta foi um sussurro, enquanto ela lutava para juntar o quebra-cabeça de sua vida.

—Nos conhecemos em Israel. Fui seu treinador durante algum tempo. — Com essa declaração ele girou, abriu uma porta do gabinete mais baixo e jogou a garrafa vazia para longe.

Ele se movia com graça predatória, uma sensação de preparo e ainda assim preguiça casual. Ela não podia definir o tipo de homem que era, ou mesmo o quão fidedigno era, e se considerava uma pessoa bastante perceptiva quando a questão eram os outros, mas não podia lê-lo bem.

Ela observou enquanto ele se movia através do cômodo para ela. Silencioso. Estava ainda mais mudo do que ela, e era muito mais pesado. Havia músculos à beça naquele corpo.

—Que tipo de treinador?— Ela perguntou sem ar enquanto ele parava mais perto, roçando contra ela, olhando-a fixamente abaixo com seu olhar aquecido.

O que ela queria? Informações ou aquele corpo tão duro e quente se movendo contra ela, sobre ela? Seu corpo estava gritando por sexo, a mente estava exigindo respostas e estava tendo dificuldade em decidir exatamente o que queria ceder primeiro.

—Combate corpo-a-corpo e armas. — A cabeça dele abaixou, os lábios deslizando contra a orelha dela. —Você era uma aluna muito boa também. — Uma mão agarrou o quadril dela e a empurrou contra a cunha de aço duro do pau sob a calça enquanto os dedos entravam no cabelo dela para puxá-la. —A queridinha do professor, na verdade. — Os lábios roçaram nos dela.

Lilly prendeu a respiração. Não era uma virgem, e se tivesse sido amante deste homem, então sabia com toda a certeza que não era sem experiência. Mas se sentia inocente, pega em uma teia de sedução e prazer que era mais sensação que lembrança, enquanto segurava a respiração, esperando pelo beijo.

—Por que está aqui, Lilly? Informações, ou isto?— Ele fez a pergunta que rasgava pela mente dela, mas não deu nenhuma chance de responder.

Os lábios apertaram contra os dela, separaram, e sorveram os dela como se a excitação fosse uma ambrosia e ele estivesse morrendo por mais.

A língua acariciou os lábios e então deslizou para o lado de dentro, acariciando a língua, lambendo, saboreando. Um zumbido de prazer a deixou enquanto sentia as mãos se movendo lentamente pelos braços duros dele. Acima dos músculos e carne, duros, invencíveis, enquanto ele a puxava para mais perto e erguia mais apertado contra ele.

A prova dura de sua ereção cutucava a boceta. Apertava contra o clitóris, esfregava o tecido da calcinha de seda e o forro de seda de sua própria calça de couro contra as dobras umedecidas entre as coxas.

Necessidade sexual, excitação e uma corrida de emoções que não faziam nenhum sentido a tomavam. A carne dela aquecia, queimava. Onde quer que a tocasse, onde quer que o calor de seu corpo a acariciasse, ativava tal corrida de prazer por ela que se sentia atordoada.

Os joelhos estavam debilitando. Isso não acontecia só nos livros e filmes? Não na vida real?

Um gemido saiu como um sussurrou dos lábios enquanto as mãos dele puxavam o cabelo, prendendo as mechas longas, sentindo a textura, o toque gostoso e dolorosamente familiar.

Tão pouco na vida dela era familiar. Isso, porém, chacoalhava seu corpo com uma consciência de que esteve aqui antes, que sentiu falta disto, precisava disto. Havia também uma garantia de que não tivera o suficiente. Não ainda. Talvez nunca.

O beijo dele era como uma magia negra, não havia nenhuma outra palavra para definir.

—Travis. — Ela sussurrou seu nome enquanto os lábios dele deslizaram para sua bochecha, a curva de sua mandíbula, o pescoço.

Nervos finais formigavam rapidamente com a sensação pura, branca, quente e intensa que lavava por seu corpo.

As pontas dos dedos calosos se moviam sob a camisa apertada que ela vestia, acariciando, envolvendo-a... Jogando a cabeça para trás, Lilly lutou para manter a razão enquanto o dedo polegar dele corria sobre seu mamilo enquanto seguia pela renda do sutiã.

Era primoroso.

Enquanto ela arqueava contra ele, as pernas separaram mais para a coxa dura apertando entre elas, erguendo-a, forçando-a a montar os contornos duros de sua coxa enquanto ela empurrava a boceta contra ele.

Ela desejava. Oh Deus, ela o desejava como se sexo fosse mais que um querer, mais como se fosse imperativo para seu ser. Uma cascata de sensações aquecidas inundava seu corpo, umedecendo seu sexo, cerrando os músculos íntimos enquanto lutava para controlar a respiração.

Fazer isso não era fácil. Cada vez que tentava, ele fazia qualquer outra coisa, algo sensual e excitante. Algo que queimava sobre a carne sensível e corria sobre os nervos finais.

Puxando a renda do sutiã para o lado, ele expôs a ponta dura do mamilo para o ar fresco da cozinha, então para o calor incrível de sua boca.

Lutando para manter os olhos abertos, Lilly olhou fixamente para ele, assistindo enquanto as bochechas fechavam em torno da ponta apertada, o modo como as pestanas sombreavam as bochechas.

Era incrivelmente sensual. Tão sensual que fez o coração dela trovejar no peito, tornando a respiração dela rasa.

A corrida da língua fez as pálpebras dela tremularem, a sensação indo diretamente para o clitóris e gritos selvagens e rotos deixaram os lábios. Quando os dedos dele se moveram para o zíper da calça, estava mais que ávida para ajudá-lo.

Os dedos abriram a calça de couro enquanto o zíper deslizava. Ela ofegou para respirar enquanto ele tomava seus lábios em um beijo, a língua se movendo enquanto os dedos deslizavam o material separado, logo mais abaixo, e enroscavam nos cachos sedosos entre suas coxas.

Lilly congelou, tentado respirar. Os olhos alargaram, olhando fixamente nos dele, e nos próximos segundos fecharam novamente enquanto os dedos dele achavam e capturavam o pequeno e apertado broto do clitóris.

As pontas dos dedos calosos circularam, esfregaram e estimularam o nó sensível de carne. Arcos de prazer rasgaram pela boceta enquanto os fluidos apressadamente cobriam as dobras inchadas além de tentar fazer os dedos dele tocarem mais embaixo, golpearem dentro dela.

—Eu sonho com isto— ele rosnou contra os lábios dela enquanto lhe dava um momento para respirar. —Tocar sua boceta novamente, senti-la tremendo sob meus dedos, sentindo seu lindo clitóris inchar com fome.

O calor corou o rosto dela com as palavras explícitas enquanto a boceta empapava mais. Ela queria os dedos dele dentro dela. Queria que a tomasse, aliviasse o nó duro de fome que apertava o útero.

Os quadris se curvaram para mais perto, forçando os dedos para mais baixo ao longo da racha estreita que ele acariciava. Erguendo a perna, ela conseguiu tê-lo um pouco mais perto.

Ele riu, um sinal masculino de fome e diversão, enquanto os dedos esfregavam sobre a entrada cerrando.

—É isto o que quer, Lilly?— Ele sussurrou contra a orelha dela enquanto um dedo deslizava apenas o suficiente para provocar, apenas o suficiente para dar um gosto do prazer que a estava agarrando. Apenas o suficiente para provocá-la e fazê-la gemer e arquear os quadris mais e mais alto.

Um tremor rasgou por ela enquanto ele esfregava os músculos apertados de sua vagina. Os dedos faziam círculos minúsculos, movendo em golpes fáceis. Os lábios recuaram para os mamilos, a língua corria e acariciava, e Lilly estava certa de que iria derreter com o prazer incrível que corria por ela e a necessidade imperativa de ter mais.

—Posso fazer isto ainda melhor, Lilly— ele sussurrou antes de beliscar a ponta sensível do seio.

—O que está te impedindo?— Ela clamou sem ar. —Faça seu melhor. Quero ver.

Ela queria que ele fizesse. Deus, queria tanto que estava à beira de implorar.

—Você quer, é?— Uma lambida rápida e aquecida no mamilo fez com que ela estremecesse de prazer como reflexo.

—Com toda a certeza— ela ofegou.

O dedo dele se moveu, retrocedeu, apenas para retornar mais espesso, mais forte, estirando o portal sensível da boceta enquanto o pescoço dela curvava e um grito baixo e roto rasgava dos lábios.

Um prazer dolorido e ígneo centrava bem no meio de seu ser, convulsionando por seu útero enquanto ela quase, quase alcançava aquele cume que estava procurando.

Estava muito perto. Logo ali.

—Sr. Caine, temos companhia. — Uma voz severa e áspera falou do outro cômodo. Soava como se tivesse vindo de uma criatura selvagem cuja habilidade vocal ainda era mais animal que homem.

Travis empurrou contra ela, o corpo duro de repente tenso e preparado para a batalha em vez de focado completamente nela.

—Quem é, Nik?— Ele grunhiu.

—Creio que seja o tio da menina — o “Nik” em questão respondeu. A voz, apesar de baixa, não era menos áspera. —Está exigindo falar com você.

Exigindo. Sim, isso soava como o tio dela, mas ele escolheu uma péssima hora para exigir qualquer coisa.

 

Olhando fixamente de volta para Travis, o corpo doendo com remorso, ela viu, sentiu a distância completa que colocava entre eles.

—Gostaria de se ajeitar antes de enfrentá-lo?— Ele perguntou, a mão gesticulando em direção a um banheiro de convidados. —Fique à vontade.

Ele ajeitou as calças e a camisa. Dentro de segundos, o único sinal externo de paixão era o rubor leve nas bochechas e o resplendor esverdeado em seus olhos castanhos.

Lilly andou para trás. Ela queria saber por que seu tio estava lá, mas tinha o pressentimento que aprenderia muito mais se os dois acreditassem que ela estava ocupada.

Lilly conhecia a fina arte de fingir dar o que era pedido. Foi uma das primeiras lições que sua mãe ensinou.

E nessa ela se tornou mestre.

 

Travis entrou na sala de visitas. A sala vinha de um pequeno hall de entrada com a porta da frente larga, com piso de mármore, a mobília menos que confortável mas graciosamente moderna. Nik pediu para o mordomo acender o fogo, que ardia com calor confortável na lareira enorme. Mas era pouco para aquecer a aparência fria da sala.

—Sr. Harrington. — Travis entrou na sala casualmente, exibindo a graça preguiçosa, quase insolente que caracterizava seu personagem.

Não estendeu a mão; um insulto, sabia, para um homem que se considerava próximo da realeza da Inglaterra. Desmond Harrington era um lorde do reino assim como um membro da Câmara dos Lordes agora que adquiriu o título de Harrington. Era uma figura poderosa, digna, apesar do fato de parecer mais com um bandido Americano.

Seu cabelo vermelho estava cortado bem rente. O bigode crescia longo indo abaixo do queixo para encontrar uma barba escassa em um cavanhaque largo. O resto da barba estava mais aparada e dava a ele uma aparência desprezível, enquanto as linhas minuciosas na sua testa e nos cantos dos olhos, junto com as covas das bochechas, mostrava determinação ferrenha.

Olhos azuis assistiam Travis com uma sugestão de raiva, o lábio inferior apertado com desaprovação enquanto se movia para o sofá em frente à cadeira que Travis havia tomado.

Atrás dele estava seu guarda-costas, e Travis quase riu quando reconheceu o homem. Surpreendente que um homem suspeito de ser ligado a terroristas e de agiotagem internacionais tivesse um guarda-costas conhecido mais por sua lealdade e honra que por sua brutalidade.

—Sr. Caine. — Desmond puxou a calça comprida com um puxão bravo das mãos antes de tomar sua cadeira com arrogância real. —Não tomarei muito o seu tempo. Traga-me minha sobrinha e partiremos.

Travis curvou a sobrancelha enquanto sentia Nik se mover para mais perto atrás dele.

O mordomo, Henry, calvo, cerca de um metro e oitenta de altura, mas mais do que capaz de fornecer qualquer auxílio que precisassem, entrou na sala e foi diretamente para o bar.

—Os cavalheiros gostariam de uma bebida?— Travis perguntou a Desmond enquanto o outro homem o encarava.

—Minha sobrinha, se não se importa. — O sotaque inglês era cortante e exigente.

—Ela está no toilet. — Travis encolheu os ombros. —Sabe quanto tempo essas coisas podem tomar. Sugiro que relaxe um pouco e poderemos conversar.

—Não tenho nada para conversar com gente como você. — Auto-importante, ele ergueu o nariz bastante pesado no ar enquanto fungava em ofensa.

Travis riu. —Ah, tenho que te dizer que está bastante errado nesse ponto— ele replicou. —Nós temos bastante para discutir. Quero minha Lilly de volta.

Era um tanto quanto engraçado fingir ser o amante de Lilly quando realmente era seu amante. Exceto que não havia nada de engraçado na situação.

—Lilly Belle não existe mais— Desmond silvou enquanto quase se erguia de sua cadeira, o rosto corando de raiva cor de tijolo. —Ela é Lady Victoria Lillian Harrington. Ponto final. Ela é ligada à realeza e sua posição não a permite ser mais seu brinquedo.

A sobrancelha de Travis curvou. —Essa é uma escolha de Lilly, não sua.

—Ela não se lembra mais de você. Nunca se lembrará daqueles anos que perdeu. Os médicos estão certos disto. Deixe-a em paz, homem. Permita a ela viver a vida para a qual nasceu — o tio dela exigiu.

—Da vida que ela fugiu?— Travis perguntou enquanto se debruçava adiante. —Ela estava quase morrendo ao viver essa vida, pelo que me lembro. Lilly saiu dela voluntariamente. Ela não mudou de ideia. Ela voltou, não porque queria, mas porque uma vez mais alguém tentou matá-la e ela se esqueceu do que estava fugindo. Então não venha me dar sermão pela vida que deveria estar vivendo ou a reputação que deveria estar cultivando.

—Victoria deve estar ao lado de sua família— Desmond retrucou. —Não importa o quanto você torça a verdade, não é nada além de um perigo para ela.

Travis riu. —Ela criou o perigo na própria vida como estou certo que seu investigador te disse. Pensa que seus inimigos não estão cientes que ela é agora Lady Victoria Lillian Harrington? Acredita honestamente que o passado não vai retornar para pegá-la?

Ele era o amante preocupado. Era o homem que conhecia seus segredos melhor que qualquer outro. Ele era o homem que a família dela teria que aceitar, quisessem ou não.

—Esqueça isso— Desmond disse de volta. —Posso cuidar de quaisquer repercussões se você der o fora.

—E que repercussões seriam essas, Tio Desmond?— Lilly entrou na sala.

Travis sabia como era Lilly Belle. Silenciosa, dissimulada, mas muito curiosa. Era conhecida por sua inabilidade de manter o nariz fora do perigo. Até dentro da Ops sua reputação era bastante sólida nessa consideração.

Ela andou pela sala, obviamente assombrando o tio com sua roupa, assim como seu comportamento.

Desmond Harrington ficou de pé e enfiou as mãos nos bolsos de sua calça.

—Vim na limusine— ele declarou, o tom firme. —Precisamos partir, Lilly.

Um suave e negligente encolher de ombros foi a primeira indicação que Travis viu da agente que um dia conheceu. Lilly franzia os lábios pensativamente enquanto escorava as mãos nos quadris e inspecionava a sala, silenciosamente, por longos momentos.

—Você me disse que não sabia nada sobre onde eu estive ou o que fiz nos últimos seis anos— ela disse ao tio. —Mentiu para mim.

Um franzir sombrio marcou a sobrancelha de Desmond. —No momento, não tinha nenhuma ideia— ele grunhiu, o tom friamente bravo agora. —Caso se lembre, te informei que contrataria investigadores. O relatório chegou semanas atrás.

—E não fui informada?— Ela debruçou um quadril bem formado contra a parte de trás do sofá que Travis estava. Um movimento que Desmond compreendeu claramente. Lilly Belle estava na sala agora mesmo.

—Podemos discutir isso em casa?— Desmond exigiu. —Com sua mãe presente, se não se importa, em vez deste cavalheiro. — Ele fez a última palavra soar como uma maldição.

—Engraçado, Tio Desmond— ela meditou então. —Seus investigadores sabem tanto agora, mas não me acharam nos seis anos em que fiquei desaparecida?

A expressão dele ficou comprimida. —Nós acreditamos que não havia nenhum modo de poder ter sobrevivido àquela explosão— ele respondeu. —Foi declarada morta quando nenhuma evidência de seu paradeiro pôde ser achada.

—E agora que meu paradeiro é conhecido— ela disse lentamente com tom frio.

—Quando a encontramos… — ele parecia desconfortável—identificar foi bastante fácil.

Travis queria atirar no bastardo.

Ele ficou lentamente de pé e se moveu para o bar. O tempo todo manteve o olhar no rosto de Lilly pelo espelho grande no outro lado da sala.

—Este cavalheiro, como o chama, parece saber mais sobre mim do que você ou minha mãe— ela o informou, o tom tranquilo e baixo enquanto se movia do sofá.

Isso não era um bom sinal. Um tom tranquilo de Lilly Belle era normalmente algo para se ficar cauteloso.

Desmond fez uma careta. —E eu sei mais sobre ele do que ele pode imaginar. Ele não é o tipo de pessoa que quer na sua vida, Lilly.

—Acho que posso tomar essa decisão sozinha, Tio Desmond — ela o lembrou, o sorriso apertado agora.

Maldição, o bom ole Tio Desmond estava realmente começando a ficar puto agora. E pareceu perceber isto. Travis estava quase se divertindo.

Travis assistiu enquanto o outro homem se controlou cuidadosamente e tentou consertar o dano.

—Lamento por não ter te dado as informações que recebi— ele declarou, e pareceu ter remorso sincero no tom. —O psicólogo que estava vendo no hospital sugeriu que poderia ser melhor se você se lembrasse de certas coisas por conta própria. No interesse da sua saúde, resolvemos esperar. — Ele deu a Travis e Nik um clarão severo. —Victoria, por favor...

—Lilly — ela o informou, o tom rápido, a voz afiada trazendo uma reação dela, assim como surpresa em Desmond. —Por favor, chame-me de Lilly.

Travis lançou ao outro homem um sorriso apertado de vitória. Ela era Lilly Belle, nada dessa palhaçada de Lady Victoria Harrington.

—Lilly. — Desmond obviamente não aprovava o nome. —Por favor, querida. Vamos voltar para casa e discutir isto. A limusine está nos esperando do lado de fora.

—Eu vim de moto. Te seguirei na volta.

Desmond fez uma careta, obviamente pego com a guarda abaixada. —Que moto?

—Minha moto— ela declarou, assistindo-o cuidadosamente agora. Travis podia sentir a tensão irradiar dela agora.

Desmond agitou a cabeça. —Você não tem tal coisa.

—Claro que tenho. — Ela andou a passos largos através da sala. —Te verei em casa. — Pausando na porta, ela se voltou para Travis. —Entrarei em contato.

—Estou certo que apreciarei a experiência— ele a provocou, lembrando-a dos poucos momentos roubados que tiveram na cozinha.

A diversão cintilava em seus olhos verdes antes dela se forçar para a porta da cozinha e, ele sabia, andar a passos largos para a garagem.

—Henry, certifique-se que a porta da garagem esteja aberta para ela— ele ordenou ao mordomo enquanto pairava calado no outro lado da sala. —E certifique-se que Lady Harrington tenha acesso a casa sempre que desejar.

—Muito bem, senhor. — Henry anuiu com a cabeça firmemente e a seguiu.

Travis se voltou para Desmond. Ele estava olhando a porta com uma sensação de diversão, como se a mulher que passou por ela fosse uma estranha em vez da sobrinha que um dia falou que amara.

—Ela não é a mulher que perdeu seis anos atrás— Travis o lembrou tranquilamente. —Tente torná-la aquela mulher e fará uma inimiga.

O tio dela se voltou para ele lentamente. —Se eu te permitir fazer como quer, ela ficará a um passo da criminalidade— ele disse insinceramente. —Ou escorregar esses meros centímetros e se perder de nós para sempre.

—Lorde Harrington, não voltei para destruir a vida de Lilly, voltei para salvá-la— Travis o informou.

Desmond grunhiu rudemente. —Suas ações passadas não falam de seu desejo de salvá-la. Treinando-a em demolições e explosivos. Artes marciais e militares na Ásia por dezoito meses enquanto seguiam pseudo aventuras em territórios mantidos por piratas. E nisso não contam as dúzias de quase prisões, quase mortes e só Deus sabe quantas armas de fogo que ela encarou enquanto bancava sua prostituta. — Quando ele terminou o rosto estava totalmente vermelho, os olhos azuis brilhando com ira, o sotaque mais cortante que o habitual.

Travis balançou a cabeça e o olhou curiosamente. Fazia tempo desde que viu um acesso de raiva tão firme.

—Talvez devesse te lembrar a razão pela qual estava aprendendo a lutar, assim como a matar, e como se proteger— Travis declarou calmamente quando o outro homem terminou. —Porque você e sua cortês e saudável sociedade inglesa, aristocracia de sangue azul, permitiu que ela quase fosse assassinada. Aceitou a morte dela, derramou muitas e boas lágrimas no enterro e seguiu sua vida sem questionar os resultados que recebia, apesar das inconsistências. Pare de ficar dando voltas, Desmond. Ela é uma mulher crescida, e já faz muito tempo, e com certeza é mulher demais para seus frescos garotos ingleses conseguirem lidar. Pode aceitar e me ajudar a protegê-la ou pode continuar no meu caminho e enterrá-la de verdade na próxima vez. — Travis girou sobre os calcanhares e seguiu para a sala de estar. —Deixe-me saber o que decidir. Antes que seja muito tarde.

Ele não se voltou para olhar o outro homem enquanto dava seu tiro de saída. Nik abriu a porta que levava ao corredor pequeno, e como tudo na casa, tão prístino, assim como friamente moderno, como a sala da recepção.

Tão frio quanto à porra da vida de Travis se tornou.

 

Lilly estacionou sua moto próxima aos degraus de cimento que levava à mansão que a família havia tomado pela primavera e o verão. Estava na casa do tio. Nenhuma surpresa aí.

Os saltos de sua bota não fizeram barulho enquanto subia os degraus, e a falta de som pareceu estranha. Sapatos deveriam fazer barulho. Até mesmo tênis faziam barulhos leves ao caminhar. Mas o dela não fazia, e não por causa dos sapatos. Mas por causa dela.

Era o modo como caminhava, o modo como se movia. Podia se mover sem fazer barulho, ou se pensasse sobre isto, como fazia agora, podia permitir o leve clicar dos saltos.

Travis a havia treinado como caminhar com tal cautela também?

A porta abriu, e o mordomo saiu do caminho enquanto Lilly pisava na entrava de madeira com tons dourados e finos.

Tirando a jaqueta de couro, ela a deu para o mordomo, então ergueu a cabeça enquanto a mãe entrava no hall. Ela carregava alguns documentos que devia estar revisando, provavelmente suas declarações financeiras mais recentes. A mãe dela havia entrado em seu primeiro casamento independentemente rica e era incrivelmente hábil em administrar suas próprias finanças.

Lady Angelica Harrington. Também era uma prima distante assim como confidente e amiga da Rainha. Se movia em círculos tão influentes que deixavam Lilly pasma. Sua vida social era sua carreira - festas, chás, almoços e eventos de caridade.

Seu filho, o irmão de Lilly, Jared James Harrington, era um solicitor com uma firma de advocacia na qual a Rainha frequentemente confiava. Foi introduzido pela esposa à Rainha e se casou com sua bênção. Se tornou tão frio e nada emotivo como a mãe dela às vezes parecia ser.

—Oh, meu Deus! O que está vestindo?— O tom de Lady Harrington não era escandalizado, era puramente horrorizado.

—Couro— Lilly respondeu suavemente, desejando poder achar um jeito de tirar o medo dos olhos da mãe. —Pensou que ao não me informar sobre meu passado, ele não voltaria para te assombrar? Ou a mim?

Ela puxou as luvas das mãos e as bateu na estante de cerejeira brilhante e escura no hall de entrada enquanto segurava o olhar da mãe.

Angelica ergueu a mão lentamente para a garganta, o olhar pálido azul chamejando com indecisão enquanto olhava a filha agora. Não estava bastante certa de como lidar com esta versão de Lilly.

Minha pobre mãe, Lilly pensou. Provavelmente sonhou que tinha a filha de volta, mas Lilly duvidava que ela imaginasse a mulher que retornou. Mesmo Lilly não a conhecia.

Lilly correu os dedos pelo cabelo, sentindo as mechas longas movendo pelos dedos e sobre os ombros enquanto uma selvageria familiar erguia dentro dela. Conhecia este sentimento, e há muito tempo. O mesmo sentimento que lutou antes de sua suposta morte seis anos antes.

—Quem sou eu?— Ela olhou fixamente de volta para a mãe, de repente temerosa, quase apavorada, apesar do desejo de resolver o mistério daqueles anos perdidos, talvez realmente não quisesse saber.

—Minha filha — Angelica sussurrou, a voz cheia de tristeza. —A filha que nunca mais quero perder.

Lilly queria bater em algo. Com o punho. Os dedos fecharam com a necessidade de socar uma parede, uma porta, uma cama, esmurrar um saco de areia... Uma memória relampejou em sua mente. Um saco de areia manchado de suor balançou diante dela, os punhos dela batendo nele, seu coração correndo, transpiração descendo pelo corpo...

Da mesma maneira rápida, se foi. Um segundo antes da memória poder se solidificar, sumiu.

—Sua filha mudou— ela disse rouca. —No que se transformou?

Quem era ela? Onde ela estava? Por que havia fugido?

—Lilly. — A mão de sua mãe soltou da garganta enquanto andava para mais perto, a seda de seu vestido flutuando suavemente ao redor dos joelhos enquanto a mais leve sugestão de cigarro flutuava até os sentidos de Lilly.

Ela piscou. Viu a mãe através de uma mira de atirador. Estava usando seu casaco de marta. Fumaça de cigarro era levada pela brisa fria. Lilly piscou novamente e a imagem sumiu.

—Lilly?— Angelica a alcançou, os dedos graciosos e frios tocando o braço de Lilly enquanto se moviam suavemente como que tentando trazê-la para mais perto. —Quero que aprecie estar com a família novamente. Aqueles anos acabaram. — Angelica piscou de volta as lágrimas que enchiam seus olhos enquanto Lilly olhava fixamente para ela abaixo. —Estava viva, ainda assim não permitiu que soubéssemos. Mudou seu lindo rosto. — A mãe esticou a mão e tocou o rosto dela. —Até a cor dos olhos é diferente. Você mudou tudo, como se sua família não importasse mais.

E essas mudanças tiveram consequências. O irmão dela saiu do hospital quando foi com a mãe e o tio ver a mulher que os médicos reivindicavam ser Lady Victoria Lillian Harrington. Jared jurou que sua irmã nunca negaria a própria família até tal extensão.

Por que ela fez isto? Por que mudou tanto a si mesma?

—Não há nenhuma resposta. — A voz da mãe dela rachou com emoção. —Desmond e eu tentamos achá-las. Tudo que podemos achar é uma mulher que viveu como se quisesse morrer. Como se tivesse perdido tudo o que era precioso. E ainda assim, estávamos aqui. — Uma lágrima deslizou pela bochecha de Angelica então. —Eu estava tão errada de esconder isso de você? Estava errada em desejar que nunca se lembrasse que estava tentando fugir de nós?

—Não foi isto!— As palavras, as emoções, voaram de seus lábios antes de ela pensar, antes de poder entender o porquê.

Houve uma memória lá, apenas por um segundo. Por apenas um momento frágil a verdade quase a tomou, apenas para desaparecer uma vez mais.

—Então o que foi?— A mãe dela clamou desesperadamente. —Diga-me, Lilly, por que não posso te chamar de Victoria como te chamava? Por que veste roupas de couro e botas que te fazem parecer uma puta? Por que as mudanças na aparência e por que as mudanças em si mesma como se estivesse tentando negar as pessoas que te amaram?— O rosto dela enrugou. —Eu quase morri quando vi que estava enterrando minha filha. Em vez disso você estava jogando fora tudo o que seu pai e eu tentamos te dar. Você deixou sua família, Victoria, para uma vida que beirava a criminalidade e um estilo de vida que era pouco melhor que a de uma terrorista.

Lilly ficou de pé muda, assistindo as emoções rasgando por sua mãe enquanto sentia algo fechar dentro de si. A mulher que sua mãe estava falando não era ela. Algo não soava direito, não parecia certo. Algo estava errado com o argumento que a mãe a estava atingindo.

Ela não foi uma terrorista. Não foi uma criminosa.

Ela olhou para as roupas que vestia e sentiu um tremor correr pelo corpo.

—Eu não teria voltado minhas costas para você— ela sussurrou enquanto uma lágrima deslizava pela bochecha. —Não assim. Eu não sei o que aconteceu. Não sei quem sou ou o que estava fazendo, mas sei que minha família era tudo para mim.

Certo, a mãe dela era difícil - para dizer o mínimo. E sim, Lilly frequentemente queria fugir de todas as expectativas e regras empilhadas em cima dela, mas nunca se imaginou dando as costas para a família, fingindo estar morta, passar por cirurgias, e seguir numa vida de crimes - ou algo perto disso - apenas para escapar de tudo.

Ela seguiu os passos do pai como informante do MI5. Trabalhou diligentemente para descobrir as evidências que a agência precisava para identificar terroristas, simpatizantes e outros elementos criminosos. E fez isto, em última instância, para proteger aqueles que amava.

Então o que aconteceu? Por que deu as costas para tudo isto?

Então a porta foi aberta, e Lilly girou e encontrou a expressão furiosa de seu tio. Não, seu padrasto. Deus, por que a mãe dela se casou com Desmond Harrington, meio-irmão e companheiro de negócios do pai dela? Sentia tanta falta do marido a ponto de se casar com seu irmão para substituí-lo?

—Victoria. — Ele parou enquanto seu guarda-costas entrava e fechava a porta. —Pelo menos chegou.

Raiva a rasgava, e não tinha nenhuma ideia do porquê. Amava o tio. Era uma parte integral de sua vida de seu nascimento até sua morte.

—Claro que cheguei. — Ela teve que lutar contra as emoções contraditórias que não sabia o que fazer. —Parece que piloto bem.

Ele correu a mão pelo rosto enquanto agitava a cabeça, obviamente cansado e tentando se controlar. Desmond Harrington era conhecido por seu temperamento, cortesia de seu cabelo vermelho, mas também era conhecido por sua compaixão e lógica.

—Uma ótima pilota— ele murmurou enquanto esfregava a testa antes de erguer a cabeça e olhar fixamente além de Lilly para a mãe dela. —Parece, minha querida, que esta criança teimosa achou um novo passatempo.

Ele tirou sua jaqueta, deu-a para o guarda-costas, Isaac, então andou a passos largos pelo hall de entrada para a sala de estar.

—Obviamente nem é um novo passatempo— ela declarou enquanto o seguia, ele e sua mãe, apenas para pausar logo dentro da porta e assistir enquanto ele andava a passos largos para o bar. —Um uísque Crown no gelo seria adorável— ela sugeriu enquanto erguia uma garrafa de bebida.

Desmond pausou antes de despejar a bebida assim como um copo com conhaque para a mãe dela.

—Crown e gelo. — A mãe dela soava furiosa agora. —Isto não é bebida adequada para uma jovem dama, Victoria.

—Eu pedi para me chamar de Lilly, mãe. — Lilly entrou na sala e aceitou a bebida de Desmond antes de andar a passos largos para o sofá e sentar. Sufocou um suspiro de esgotamento. Erguendo a bebida para os lábios, Lilly a sorveu quase fechando os olhos com o ardor aprazível em seu estômago.

Olhou enquanto Desmond dava a mãe dela a bebida e então tomava seu lugar ao lado dela no sofá. Estranho, nunca viu a mãe dela se sentar com o pai dela assim, tão perto, íntimos. Raramente se sentavam em um sofá, tinham suas próprias poltronas ao invés. Mas a distância que sempre sentiu entre os pais estava presente aqui também.

—Precisamos conversar sobre hoje à noite — Desmond disse firmemente depois de tomar um gole longo de sua bebida, como que precisando se fortificar.

—O que há para discutir?— Lilly perguntou a ele. —Eu encontrei um amigo para beber. Já tenho idade, e não tenho nenhum toque de recolher. O que precisamos discutir é o que diabos estava fazendo me seguindo a essa hora da noite.

—O que fez?— A mãe dela quase sussurrou as palavras, como que apavorada da resposta.

—Eu a achei com Travis Caine— Desmond a informou. —Ele tem uma casa aqui em Hagerstown também. Sua filha de alguma maneira conseguiu uma moto bastante vigorosa e quebrou várias leis de velocidade para encontrá-lo em um bar, e então o seguiu para sua casa.

—Caine?— Com os olhos largos, Angelica girou para Desmond. —Meu Deus. — Ela se voltou para Lilly. —Ele é suspeito de ser um terrorista, um homem conhecido por suas associações, se não parceiro nos crimes! Victoria...

—Lilly. — A determinação surgiu dentro dela. Não foi Victoria por seis anos. Ela era Lilly.

—Por que está fazendo isto? Quer ser levada de nós novamente?— A mãe dela ignorou a lembrança. —Será presa com certeza!

—Duvido que haja alguma autorização para me prender ou ao Travis— Lilly objetou.

—Há uma autorização para sua prisão na China, você nunca mais poderá entrar lá, pelo roubo de um artefato do governo, que não podem provar na América. Há uma autorização para a sua prisão e de Caine no Irã pela suspeita da morte de um militante que é relacionado ao regente atual. Há também uma autorização para você ser interrogada na Espanha pela morte de um militante espanhol suspeito de ser parte de um grupo radical extremista que protesta contra o governo.

Ela havia matado?

Ela havia. Lilly sentiu o conhecimento correr por ela, manchado-a com culpa.

Matou a sangue frio? Não podia imaginar isto. Tinha um respeito saudável por toda vida, mais pelas dos outros que pela própria. Pelo menos, era o pensamento que corria por sua cabeça.

Como saberia estas coisas? E por que de repente estava muito assustada com o pensamento de sua mãe ou seu tio sabendo a verdade toda sobre ela?

—Pelo que estou ouvindo, se matei, então não foi alguém que não merecia— ela informou a ambos com ar de despreocupação.

Estava ciente que nunca faria tal declaração seis anos atrás.

— Victoria… — Horror marcava a voz da mãe.

—Mãe. — Lilly agitou a cabeça enquanto se debruçava adiante. —Não sei o que aconteceu comigo. Não sei quem eu era, ou o que fiz. Mas sei que não sou uma criminosa.

—Tenho relatório sobre você, Victoria— o tio dela disse. —Os governos podem não ter provas, mas tenho evidência suficiente para substanciar, ao menos, uma forte suspeita que você matou.

Havia algo em seu olhar então, um pouco de compaixão, talvez? Entendimento? O que estava vendo lá, e por que a aborrecia tanto?

Lilly queria nada além de correr agora. Escapar do julgamento e da desaprovação que podia sentir vindo da mãe.

Não sabia se podia viver muito mais tempo sem de alguma maneira compreender quem ou o que ela foi e por que havia matado.

—Quero este relatório que falou. — Ela ficou de pé e olhou fixamente para a mãe e o tio. —Então, quero saber como os dois se casaram, e por que diabos o assassino do meu pai nunca foi achado.

Essa era a fonte de sua raiva. O pai dela estava morto, assassinado e seu assassino nunca foi pego. Pelo que percebeu desde que retornou, a procura pelo assassino dele foi menos que entusiástica.

Com essa última advertência andou a passos largos da sala de estar, ignorando a mãe gritando por ela e a maldição quase muda do tio.

Precisava de respostas. Precisava saber o que aconteceu e por que. E então precisava compreender por que diabos Travis Caine parecia mais um amante que um treinador, mais como um amigo que um inimigo.

 

Travis sentou na sala subterrânea que Wild Card recebeu como motorista e escutou o confronto que ocorreu na sala de estar dos Harrington.

Wild Card, ou melhor, Noah Blake, sentado na mesa pequena em frente a ele, com um fone preso à orelha, escutava também.

Travis olhava o pequeno monitor portátil enquanto Lilly marchava para seu quarto.

—Envie o arquivo para ela. — A mãe de Lilly se ergueu aos arrancos do sofá, a expressão e o tom friamente furiosos.

—Angelica, ela não precisa do arquivo ainda. — Desmond se sentou adiante, sua expressão preocupada agora. —Ela mal está curada fisicamente. O choque pode ser prejudicial.

—E o choque para a família?— Ela se voltou, o rosto pálido, furioso. —Está determinada a diminuir esta família ao mesmo nível dos últimos seis anos. Deixe-a ver o perigo que está arriscando ao continuar neste caminho.

Os lábios de Travis afinaram com o julgamento na voz da mãe de Lilly.

Desmond suspirou exausto. —Ela passou por muita coisa, Angelica.

—E você pensa que não percebo isto?— A voz de Angelica encrespou. —Meu Deus, Desmond, o pensamento daquele relatório destrói minha alma. Por quê? Por que permitiu que acreditássemos que estava morta? Por que viver como vivia em vez de retornar para nós?

—Essa é uma pergunta que só Lilly pode responder. — Desmond ficou de pé. —E os médicos temem que essa seja a única pergunta que nunca poderá nos dar.

Ele deu uma olhada rápida de volta para Angelica enquanto caminhava de volta ao bar.

—Ela sempre foi tão teimosa— Angelica declarou, lágrimas enchendo os olhos. —Tentei dizer a Harold que se não fosse tratada corretamente quando adolescente, apenas se prejudicaria.

Desmond pareceu endurecer antes de se voltar para ela.

—A clínica não era a resposta, minha querida— Desmond suspirou.

—Você é tão ineficaz quanto Harold quando a questão é ela— ela retrucou.

A voz de Desmond endureceu. —Essa não é uma discussão que terei com você hoje à noite.

—Nunca deseja discutir sobre isto— Angelica disse. —É como se quisesse nada além de enterrar a cabeça na areia e fingir que esta situação toda não existe.

Desmond a encarou friamente. —Não consigo pensar em nada melhor que enterrar este assunto para sempre.

Com isso ele bebeu tudo, bateu o copo na mesa e marchou para fora da sala.

Um grito estrangulado e furioso estourou da garganta da mãe de Lilly enquanto ela jogava o copo na porta e o via rachar em fragmentos.

Uma lágrima deslizava pela bochecha de Angelica enquanto Travis girava da cena e olhava para Noah. Um assovio sem som franziu seus lábios enquanto Angelica deixava a sala, batendo a porta atrás de si.

Travis tirou o fone do ouvido e o soltou na mesa enquanto Noah ativava as câmeras ao longo da casa, acompanhando os movimentos de Angelica.

Ela marchou para seu quarto; minutos mais tarde, um empregado bateu à porta. Angelica apareceu na porta, deu um arquivo espesso para o empregado e apontou para a suíte de Lilly.

—Que coisa horrível para uma mulher enfrentar às quatro da manhã— Noah declarou tranquilamente.

—A qualquer hora — Travis rosnou.

Ele odiava aquele maldito relatório. Inferno, nunca concordou com a cobertura que aquelas meninas receberam. Eram chamadas de escoltas de segurança. — Com treinamento militar, excepcionalmente adoráveis e muito perigosas. Eram “contratadas” por homens que exigiam beleza e cérebro em um pacote mortal.

Alugadas por legítimos homens de negócios assim como chefes criminosos e líderes de cartéis. Os serviços sexuais não eram parte do pacote, mas poucos dos homens que pagavam por seus serviços admitiam isto. Pensavam que estavam contratando discrição e proteção. Não tinham nenhuma ideia que estavam contratando operações altamente treinadas que reportavam a uma agência criada por seu segredo e eficiência.

Para o mundo, entretanto, as garotas de Santos Bahre e Rhiannon McConnelly não eram nada mais que prostitutas bem armadas.

E era isso que Lilly leria naquele arquivo.

Acreditaria nele?

—Todo mundo está agora em seus respectivos quartos— Noah reportou enquanto continuava a esquadrinhar a casa. —Nik está zanzando pelo jardim agora.

Travis ficou de pé com um aceno rápido da cabeça e se moveu para a única cama onde havia colocado sua bolsa mais cedo.

Noah saiu pela porta aberta, foi para o corredor e esperou enquanto Travis depressa empacotava o equipamento necessário nos bolsos de sua calça de missão.

Enquanto colocava a pequena sacola de ferramenta no bolso do joelho de sua calça, Nik entrou no quarto à frente de Noah.

A porta fechou silenciosamente enquanto Noah andava de volta para o lado de dentro. Nik pegou uma mochila pequena, encheu-a com o que Travis sabia ser a eletrônica necessária para terminar de colocar as escutas na casa.

Ele deu a bolsa para Noah e se moveu para a mesa onde os monitores portáteis esperavam.

Travis escapou do quarto com Noah, movendo-se silenciosamente pela casa para o escritório onde Desmond e Angelica Harrington trabalhavam.

Eles ainda tinham que colocar uma câmera ou algum áudio no escritório. Cada vez que tentaram isto, Harrington ou seu guarda-costas, normalmente ambos, estavam muito perto, se não no escritório propriamente.

Desta vez, o escritório estava vazio.

Movendo-se para a porta, ele prendeu o dispositivo de segurança na fechadura, ativou-o, e esperou enquanto o alarme era desativado.

Quando a luz verde piscou, ele girou a maçaneta e eles entraram.

Ele prendeu o dispositivo no outro lado, reativou o alarme, e então ele e Noah começaram a trabalhar. Noah começou a instalar o vídeo e o áudio enquanto Travis se movia para a escrivaninha.

Não havia tempo para verificar o computador, isso seria feito mais tarde. Pegando a fechadura da gaveta de arquivo no lado da escrivaninha, Travis começou a olhar os arquivos e documentos.

A gaveta não tinha nada de interessante. A escrivaninha estava escrupulosamente limpa. Trabalhando silenciosamente, Travis vasculhou a sala. Havia baús de negócios, arquivos, contratos, tudo chato demais. Passando por eles, Travis estava a ponto de partir quando teve o vislumbre de um envelope estreito e espesso dobrado em um arquivo relativo a imóveis na área de Washington.

Puxando o envelope, ele o abriu depressa e retirou várias fotos e um relatório de três páginas datado de um pouco mais de um ano. O relatório não estava assinado. Era manuscrito. A última linha tinha um número de conta.

Travis puxou uma pequena câmera fotográfica digital da calça e depressa tirou fotos de cada página assim como dos retratos.

Retratos de Lilly.

Cada um foi tirado em um local diferente. Se não estava enganado, parte do relatório também possuía o nome do cirurgião plástico que supostamente mudou o rosto de Lilly.

O mesmo medico que foi morto na véspera em que Lilly levou um tiro de raspão ao lado da cabeça.

Desmond Harrington sabia que Lilly estava viva muito antes de ser contatado pelo hospital. Renovando sua procura pelos arquivos, Travis achou mais dois envelopes semelhantes, registrou o conteúdo e depressa os substituiu.

Estava quase amanhecendo antes de ele e Noah terminarem. Estavam se movendo para a porta quando o som do alarme sendo desativado os fez correr para qualquer cobertura que pudessem achar.

Noah se dirigiu a um armário com cortinas enquanto Travis se escondeu no armário ao lado da escrivaninha.

Isaac Macauley entrou na sala silenciosamente, trancando a porta atrás de si antes de se mover para a escrivaninha.

Pelas fendas das dobradiças da porta, Travis olhou enquanto o guarda-costas abria uma gaveta, puxava um dispositivo da escrivaninha, e o abria.

Bem, isso era um problema. Aquele dispositivo particular era extremamente difícil de superar e poderia bloquear até mesmo as pequenas escutas eletrônicas de Noah.

Ativando o dispositivo, Isaac puxou um telefone via satélite do bolso da jaqueta e discou um número. Um número internacional se a quantidade de teclas que ele discou era alguma indicação.

—Harrington deu a ela o arquivo— Macauley declarou, a voz baixa. —Não houve nenhuma chance de adiar.

Macauley esperou pela resposta.

—Não até onde posso dizer— ele respondeu momentos mais tarde. —Ela parece menos do que estável agora que Caine apareceu.

As sobrancelhas de Travis ergueram. Ele achava que Lilly era muito estável.

—Aconselhei Harrington a lidar com o engano— ele reportou depois de outro silêncio. —Ele parece um pouco melindroso com a ideia, porém.

Estranho, a reputação de Macauley era impecável. Mas isso não soava como uma conversa inocente.

—Cuidarei disto— Macauley declarou. —Informarei quando chegarem.

O telefonema foi encerrado.

Macauley continuou mudo por longos momentos antes de guardar seu telefone e desativar o dispositivo de bloqueio que usou.

Colocando-o na escrivaninha, girou e deixou a sala, reativando a segurança atrás de si.

Travis se moveu do armário enquanto Noah o encontrava na escrivaninha.

—Deixe-me verificar isto— Noah silvou enquanto puxava o dispositivo. —Esse bastardo acabará com minha eletrônica.

—Por que aqui em vez do quarto dele?— Travis meditou, perguntando-se por que Macauley não tinha o dispositivo em um lugar em que ele não seria pego usando.

—Segurança— Noah declarou. —Harrington obviamente usa isto. Se fosse achado em seu quarto, teria que explicar. Além disso, estas coisas são muito difíceis de adquirir.

Noah o prendeu a outro dispositivo que tinha consigo.

—Você pode burlá-lo?— Travis perguntou.

—Talvez— Noah respondeu. —Vou tentar, mas parece que não teremos muito tempo.

—Então melhor nos apressarmos— Travis rosnou. —Da próxima vez, a sorte da Lilly pode faltar.

E não podia permitir que isso acontecesse.

Travis simplesmente não podia imaginar sua vida sem Lilly, o que a tornava uma fraqueza muito perigosa.

Uma fraqueza que sabia que mal podia suportar.

—Consegui. — Noah substituiu depressa o dispositivo, então armazenou o dele em um bolso da calça. —Vamos.

Eles saíram depressa e fizeram o caminho de volta para o quarto de Noah. Travis deixou a casa assim que começou a amanhecer e não pôde evitar e olhou as janelas do quarto de Lilly.

As luzes estavam acesas e ele não tinha nenhuma dúvida de que estava lendo o relatório que Harrington recebeu.

E estava só.

Não havia ninguém para suavizar o choque ou o golpe que a atingiria. Ele não estava lá para abraçá-la. Não estava lá para facilitar as coisas.

Não importa o que os médicos dissessem, ele pensou, Lilly se lembraria de tudo logo, e quando o fizesse...?

Haveria um inferno pela frente.

 

Na manhã seguinte Lilly estava sentada em sua cama, o relatório robusto dado a ela na noite anterior ainda ao seu lado, as páginas dispersas a esmo através da cama.

Ela olhou fixamente para o teto, os olhos secos, um franzir marcando a sobrancelha enquanto considerava as informações que recebeu.

Primeiro, foi suspeita da morte de seu pai porque havia desaparecido.

E segundo, de acordo com o investigador - um bastante respeitável - Lilly foi uma prostituta avaliada de alto nível disponível apenas para certa clientela. Clientela essa que exigia uma amante bem treinada em vez de uma impotente. E ela evidentemente não se importava se os seus clientes eram homens de negócios legítimos, ou aqueles considerados altamente ilegais. Criminosos, suspeitos de terrorismo ou Comitê de Satélites de Observação da Terra . Foi contratada pelos melhores deles.

Lilly foi treinada em Israel, Paquistão, China, América do Sul e México. O treinamento que recebeu, secretamente, pelo MI5, antes de sua suposta morte, empalideceu em comparação com o curso de dezoito meses que tomou para se tornar parte do grupo de Santos Bahre e Rhiannon McConnelly.

Ela e as três outras meninas que eram conhecidas por trabalhar juntas eram consideradas quatro das maiores prostitutas de elite no mundo. Uau, deveria estar impressionada consigo mesma, pensou sarcasticamente. Foi de princesinha da sociedade para garota de programa exclusiva. E não parava aí. Inferno, não, quando não estava brincando de “queridinha” para quem pagasse por seus serviços, então estava se divertindo causando problemas em outro lugar. Não era nenhuma maravilha que alguém houvesse tentado matá-la.

Esteve em mais de um lugar quente no mundo com Travis Caine, que parecia ter exigido seus serviços extensivamente. De fato, parecia que além dos “negócios” eram amantes de verdade também. Amantes que causavam problemas onde quer que estivessem. Em mais de uma vez, começaram brigas que quase os fizeram ser mortos.

Soava como se tivesse se divertido muito.

Exceto que não soava verdadeiro.

Havia retratos dela com Travis Caine assim como vários outros homens. Homens conhecidos por suas atividades bastante subversivas e criminosas. Vendas de arma, negócios de drogas, negociações terroristas, a lista continuava infinitamente. Ela e as três outras meninas tinham fama de serem não apenas altamente experimentadas sexualmente, mas também bastante entusiásticas quando a questão era criar ou limpar as bagunças em que seus amantes estavam envolvidos.

Os homens cujas identidades foram incluídas no arquivo pareciam familiares. Santos Bahre, Travis Caine, Micah Sloane, John Vincent e Nikolai Steele eram os mais familiares. Havia algo sobre seus retratos que atiçavam as memórias perdidas.

Os retratos e os locais pareciam familiares. As fotos pareciam ser tiradas de câmeras de segurança de hotéis e restaurantes. Essas teriam sido fáceis o suficiente de se conseguir. Assim que um investigador tivesse um nome, e um retrato dela, poderia ter rastreado muitos de seus movimentos, assim como suas associações.

Os retratos dos homens no arquivo fizeram os olhos dela se estreitarem, porém.

Estes homens pareciam ter com ela e as outras três mulheres uma associação maior.

John Vincent era um “corretor”. — Apesar de frequentemente fazer negócios legítimos, também era suspeito de ser um corretor de negócios não muito legítimo. Negócios que frequentemente envolviam informações e armas roubadas e altamente secretas.

Nikolai Steele era suspeito de ser um assassino. Foi questionado muitas vezes com respeito a essas atividades, mas nunca existiu prova suficiente para amarrá-lo a uma matança. Também contratava para si mesmo ocasionalmente um guarda-costas e era conhecido por trabalhar frequentemente com Travis Caine e John Vincent.

Então, havia Travis. O Facilitador, como era chamado. Juntava os produtos, serviços ou clientes. Facilitava os negócios importantes, juntando compradores, vendedores e corretores.

Ele também era suspeito de fazer o mesmo com clientes menos poderosos.

Cada homem tinha, mais de uma vez, exigido os serviços de Lilly ou uma das outras meninas.

De alguma maneira não podia ver o muito possessivo e dominante Travis Caine ficando à toa enquanto Lilly dormia como seu guarda-costas.

Então, haviam as mulheres.

Nissa Farren, Raisa McTavish e Shea Tamallen. Não podia se libertar de um sentimento de urgência quando a questão era elas. Havia algo que deveria saber sobre elas. Algo que deveria fazer e não conseguia puxar da memória.

Isso a aborrecia mais que as informações imaginárias que era nada além de uma prostituta problemática. Sabia que não. Sabia quem foi antes de desaparecer seis anos atrás, e nunca faria nada para receber dinheiro por sexo, especialmente considerando que era uma virgem em sua suposta morte.

Então, qual era a verdade?

Durante algum tempo, entreteve o pensamento de exigir as explicações de Travis, mas algo disse que não queria fazer isto. Sentia cautela sobre trazer suas suspeitas para alguém, como se soubesse instintivamente que, no momento, não podia confiar em ninguém.

Erguendo-se da cama, Lilly juntou o arquivo, enfiou-o de volta no envelope grande, então se moveu para o pequeno cofre no guarda-roupa seguro através do quarto. Fechando o relatório seguramente do lado de dentro, ela girou e se moveu para o banheiro.

O espelho grande ao lado do chuveiro de um metro refletia sua imagem, um rosto que ela ainda não estava certa, olhos que eram da cor errada. Seu queixo era ligeiramente mais fino do que foi, os olhos tinham uma inclinação menor do que se lembrava, as maçãs do rosto eram um pouco mais achatadas e seu nariz mais arredondado.

Por quê? Aquela pergunta não deixava sua mente. Por que fora até tais extremos para se esconder?

E de quem tentou fugir?

Ou havia, como os outros supostamente suspeitavam, matado o pai e tentado falsificar sua própria morte?

Ela amava o pai. O adorava. Não era possível que o houvesse prejudicado. Da mesma maneira que não era possível que pudesse ter sido alguma garota de programa de alto nível com vício em adrenalina.

Então que diabos estava acontecendo?

Andando no cubículo grande, ela depressa tomou banho enquanto considerava suas opções. Era uma lista muito pequena. Parecia que Travis era sua única escolha.

Vestindo depressa uma calça de seda cor de creme e uma camisa colorida, ela colocou sandálias elegantes e pôs as coisas que precisava em uma bolsa de couro marrom. Descendo depressa, seguiu pelo corredor estreito pelos fundos da casa até a garagem.

O Jaguar vermelho alugado para seu uso estava estacionado em sua vaga, as chaves na ignição.

Sentando no banco do motorista, apertou o controle da garagem automática, esperando que abrisse, então ligou o carro e saiu.

A mãe dela ficaria irracional. Sem dúvida Desmond faria com que alguém a seguisse. O fato a deixava muito aborrecida. Havia algo diferente sobre o modo como se sentia sobre ele agora se comparado a como se sentia por ele no passado.

Ele foi seu tio amado. Ele a mimou por toda a sua vida, mas havia uma desconfiança agora que não era capaz de apagar.

Realmente, parecia desconfiar da maioria das pessoas agora.

Ela dirigiu para a casa que Travis a levou na noite anterior.

Estava ferida. Se sentia como se suas entranhas estivessem cortadas em tiras por aquele relatório. Como se sua alma estivesse se contorcendo de vergonha.

Ele era a última pessoa para a qual deveria correr...

Mas precisava da sensação de segurança que sentiu em seus braços na noite anterior. Precisava do prazer descuidado, de alguns momentos roubados para esquecer quem ou o que foi por seis anos, que outras pessoas a viram como uma prostituta.

Cerrando os dentes, parou ao lado da calçada. Enquanto desligava a ignição, não ficou surpresa por ver Nik enquanto ele abria a porta da frente e saía para a larga varanda de pedra.

O longo cabelo loiro, quase branco, estava puxado para trás de suas feições imponentes. Olhos azuis glaciais a encaravam enquanto um pequeno sorriso curvava os lábios. Não parecia um homem com quem ela dormiria.

Familiaridade cintilava em seus olhos, assim como em sua expressão.

Apertando os dedos ao redor de sua bolsa, ela subiu no pequeno passeio para a casa e andou para a varanda.

—Ele está aqui?— Ela perguntou, a sobrancelha arqueando inquisitivamente.

—Está te esperando há horas. — Nik anuiu com a cabeça. —Mas, fico surpreso por ter escapado do seu tio tão facilmente.

Lilly encolheu os ombros com o comentário. —Não tentei escapar, apenas saí.

E estranhamente, ninguém pareceu notar. Isso era estranho em si. Desde que retornou, sua mãe esperava por ela toda manhã quando ia para o quarto. Algumas manhãs, realmente tomava o café da manhã na cama. Esta manhã, porém, a casa parecera deserta.

—Entre, Lilly. — Nik andou para trás, seu corpo grande e musculoso movendo com a graça de um animal selvagem enquanto ela passava por ele.

A sala dianteira para qual a levou era uma sala moderna e luxuosa em que se encontrou com Desmond na noite anterior. Além dessa havia outra sala de estar, da mesma maneira fria e sem atrativos. O pequeno corredor era mais morno, com piso de madeira e janelas altas em uma ponta. Virando para outra sala, Lilly estava contente em ver a mudança na decoração. Essa era uma área que não viu na noite anterior.

Este quarto era atapetado com um marrom rico, as paredes eram de um verde pálido e suave, a mobília de cerejeira era polida com grandes cadeiras estofadas, um sofá e uma poltrona estavam sob uma claraboia.

—Bom— ela comentou quando Travis se erguia do sofá para saudá-la.

Estava vestido com uma calça jeans e uma camisa branca solta. Seus pés estavam nus, seu comportamento relaxado mas parecia cansado. Parecia mais acessível que na noite anterior, e estava muito acessível então.

Ela jogou a bolsa em uma mesa enquanto passava por ela, andou a passos largos através da sala, e, muito para sua própria surpresa, se moveu para ele, se ergueu contra ele, e selou os lábios nos dele.

Era como um narcótico que precisava.

Imediatamente os braços dele estavam ao redor dela, a cabeça baixando, os lábios inclinando sobre os dela, tal era a necessidade sensual e sexual que começava a consumi-la.

Ela podia parar, se assegurou mas uma parte dela sabia que não era bem assim. Ele não era verdadeiramente vital para ela. Mas não queria parar. Ela de repente estava morta de fome pelo gosto, o toque dele. Não sentia como se uma parte de seu corpo tivesse sido rasgada quando estava em seus braços. Ela de alguma maneira parecia completa, o que não fazia o menor sentido se metade do relatório que leu na noite anterior estivesse correto.

Naquele momento o relatório era a coisa mais distante da mente. Isto não era um acordo de negócios. Seu beijo e seu toque não tinham nada a ver com dinheiro, venda ou qualquer parte dela mesma. Tinha a ver com uma necessidade que não queria rejeitar, não queria fugir.

Por quatro meses pareceu existir dentro de um vácuo. Esteve perdida, muito incerta e confusa. Até Travis provocá-la a ir até ele, não tinha nenhuma ideia de como enfrentar cada dia.

Não tinha nenhuma ideia de quem ou o que ela era.

As memórias ainda estavam escondidas, mas essa parte dela que não entendia finalmente fazia sentido. E a parte dela que doía de desejo? Era porque sentia falta de seu amante.

A parte dela que parecia inquieta e encarcerada? Era porque sentia uma liberdade que não existia dentro da vida que levou antes dos últimos seis anos.

Não era mais Lady Victoria Lillian Harrington.

Não era a pessoa naquele relatório também.

Era Lilly Belle. E Lilly esperou demais para reivindicar o homem que desejava tão desesperadamente.

Enquanto o beijo de Travis a consumia, a língua acariciando através da sua, os lábios selados nos dela, Lilly sentiu emoções surgirem dentro dela que não estava certa do que fazer.

O calor e a fome a seguravam agora. Enquanto as mãos se moviam por baixo de sua camisa fina, as palmas calosas e os dedos acariciando contra a carne, ela sabia que não poderia sobreviver mais um dia se não conseguisse mais.

Muito mais.

Ela queria estar embaixo dele. Queria senti-lo a apertando em uma cama, seu corpo a cobrindo, a possessão dele queimando por ela através de seu sexo.

Sentindo a camisa sedosa correr pelos seios, Lilly ergueu os braços, gemendo enquanto ele soltava seus lábios para puxar a seda sobre a cabeça.

Ela foi jogada negligentemente enquanto os dedos dela atacavam os botões da camisa dele, depressa a empurrando pelos ombros poderosos enquanto os lábios iam para o pescoço e o peito dele.

Ela podia sentir os músculos sob os lábios dela dobrando enquanto o prazer corria pelo corpo dele. As mãos dele estavam tão desesperadas quanto as dela enquanto acariciavam as costas, então permitiu uma palma dura envolver o seio pela renda de seu sutiã.

O prazer a apertou. Ela se ergueu mais para ele, empurrando seu seio mais firmemente em sua mão enquanto os dedos começavam a puxar o cume apertado do mamilo.

—Travis. — Ela sussurrou o nome dele implorando enquanto os lábios se moviam para o pescoço, espalhando beijos ardentes junto à carne enquanto ele a erguia de repente.

Um segundo mais tarde ela se achou com as costas no sofá. O tecido frio das almofadas acariciou os ombros enquanto ele vinha atrás dela, a coxa empurrando firme e dura entre as dela até que estava firmemente encaixada contra a boceta.

O clitóris inchou e pulsou com impaciência. Fluidos amorteceram as dobras inchadas e a seda da calcinha, a fricção fazendo-a correr seu sexo contra o músculo duro da coxa dele.

Isto era o que precisava.

O pescoço dela se curvou enquanto os lábios dele se moviam para os seios, os dedos empurrando o tecido do sutiã para o lado até que se encaixaram nos montículos inchados e os puxaram para mais perto um do outro.

Mamilos duros e apertados imploravam por seu toque, seu beijo. Desejavam o golpe da língua e a pressão da sucção da boca quente.

Ela disse a si mesma no caminho para cá que procurava respostas, mas isso não era tudo que precisava dele.

Isto era o que a havia assombrado pelas longas e solitárias noites nos últimos meses. Esta fome, esta necessidade do toque de um homem.

—Maldita— ele rosnou, apertando-a mais perto, o comprimento duro de seu pau, separado pela roupa dele, apertando a parte inferior de sua barriga enquanto uma mão agarrava seu quadril e a persuadia a chegar mais perto.

Os lábios estavam em seu seio, acariciando um mamilo, aquecendo-o com a leve lima aveludada de seus lábios enquanto Lilly estremecia sob ele. O prazer era como um golpe de calor elétrico junto aos nervos finais que corriam para o clitóris para chamejar com sensação vibrante.

—Maldita, eu?— Ela gemeu de volta para ele, os dedos afundando em seu cabelo. —Você me torturou a noite toda. Isto era tudo em que podia pensar.

Bem, a maioria da noite. Havia aquele aborrecido pequeno detalhe de que era suspeita de ser uma garota de programa, mas isso levou sua imaginação para outros caminhos. Caminhos que a levavam diretamente para os braços de Travis.

—Aquilo não foi tortura— ele respirou contra seu mamilo. —Isto é tortura. — Os lábios se abriram sobre um mamilo, chupando-o e fazendo o pulso dela correr.

A língua era como um chicote de sensação pura, lambendo, acariciando, fazendo o corpo arquear enquanto ela lutava para ficar mais perto da agonia incrível de prazer.

Não deveria ser assim, estava certa. Ela nunca ouviu suas amigas descreverem sexo de um modo que pudesse tê-la advertido que poderia ser tão bom.

Como ela se esqueceu disto? Como viveu sem ele nos últimos meses?

Não podia viver sem isto de novo. Precisava dele. Desejava. Era como uma besta voraz dentro dela, uma fome que não podia mais negar.

—Tudo bem— ela sussurrou, um gemido baixo de desejo não saciado ecoando pela voz enquanto o clitóris começava a pulsar em demanda dura.

Os fluidos derramavam da boceta, amortecendo a calcinha sob a calça, fazendo-a se esfregar mais forte, mais duro, contra a coxa musculosa apertada contra ela.

A língua rolava em torno da ponta estendida do seio, os dentes correndo contra ela, enviando uma tempestade incrível de sensações correndo pela circulação sanguínea.

Uma mão envolveu a curva inchada do seio que estava sugando enquanto a outra foi mais para baixo, para o quadril, e então para o estômago. Os dedos espertos soltaram o botão escondido na calça e então desceu o zíper lentamente.

Ela quase podia sentir o calor dos dedos movendo para a carne da boceta necessitada.

O corpo dele se moveu, a pressão dura da coxa aliviando enquanto os dedos deslizavam além do elástico da calcinha. As pontas calosas dos dedos raspando os cachos suaves entre s coxas e então com cuidado primoroso separou as curvas aquecidas e molhadas que doíam de desejo pelo toque.

—Oh, sim— ela respirou roucamente, os quadris arqueando. —Eu quero seus dedos, Travis. Por favor... — A cabeça dela afundava nas almofadas. —Por favor, me foda com seus dedos.

Um gemido duro rasgou dos lábios dele. Os dedos iam fundo na racha dela, então dois foram juntos e empurraram firmemente na abertura cerrada e apertada da boceta.

Travis estava morrendo de luxúria. A sensação da boceta, tão quente e molhada, prendendo as pontas dos seus dedos, era quase mais que o pau dele podia aguentar. Queria estar dentro dela, agora. Queria rasgar as roupas do corpo, deslizar entre as coxas e fodê-la até que ambos estivessem gritando em êxtase.

Em vez disso, estava sentindo seu sexo aquecido cerrar ao redor de seus dedos e os fluidos encontrando as punhaladas rasas.

Torcendo o pulso, Travis começou a escavar mais fundo, estirando o portal tenro, pasmo com o aperto próximo à virgindade enquanto o tecido e os músculos delicados cerravam ao redor de seus dedos. Quanto melhor seria quando finalmente conseguisse ter seu pau dentro dela?

Empurrando mais fundo, Travis se forçou a soltar o broto cativo do mamilo para retrair uma respiração dura, funda. Então, simplesmente assistiu o rosto dela ficar vivo enquanto ele começava a encher sua boceta com os dedos.

Acariciando dentro dela com punhaladas apertadas, fortes, Travis se achou encantado com as emoções que lavavam sua expressão. Ela sempre manteve tal controle no passado que era frequentemente impossível saber o que estava sentindo, fosse dor, raiva ou felicidade.

Não havia como não entender o prazer em seu rosto agora. O pescoço curvava, os olhos estavam piscando, encarando-o com prazer e agonia enquanto ele fodia o doce portal da boceta com dois dedos enquanto envolvia o broto delicado de seu clitóris com o polegar.

Ela respondia mais agora que meses atrás quando tomara sua virgindade. Ela estava arqueando sob seu toque, levando os dedos mais fundo dentro dela, os quadris dobrando, absorvendo cada punhalada que dava dentro dela.

A profundidade aquecida de seu sexo ordenhava os dedos enquanto ele acariciava o interior dela, ondulando ao redor deles. Os fluidos eram como mel doce e quente, pegajoso a cada punhalada.

Tomá-la assim era agonia e êxtase. Ele podia assistir seu rosto, ver o prazer escurecer os olhos e apertar a expressão. Mas o pau dele estava furioso, exigindo, pulsando dentro da calça jeans com um desejo voraz quase impossível de controlar.

Ele tinha pouquíssimo tempo com ela esta tarde. O primeiro teste de suas memórias que a Elite Ops estava exigindo começaria aqui, hoje. Sabiam que ela voltaria aqui quando lesse o relatório que Desmond Harrington recebeu da firma investigativa que contratou. Ela estava sendo assistida. No segundo que deixou a casa e se dirigiu em direção a dele, o plano foi posto em ação.

O que ele não esperava era que caminhasse para seus braços e tomasse o que estava na mente dele desde a noite anterior. A paixão queimava mais brilhante entre eles agora do que já havia um dia. Sempre havia chiado, queimado, mas agora incendiava com um calor quente e branco que não podia evitar. Como se Lilly houvesse decidido por si mesma o que procurava, e como iria tomar. Era uma mulher cansada de esperar, consciente ou inconscientemente, e uma parte dele percebeu que estava morto de vontade de que ela fizesse exatamente isso. Infelizmente, agora que fez, não tinha o tempo que precisava para se divertir.

—Maldição. — O gemido rasgou de sua garganta enquanto ele saía dela, correndo os dedos lentamente, tão lentamente, da profundidade incrivelmente quente de sua boceta.

O pau pulsava em objeção, as bolas estavam apertadas agonizantemente sob a seta da ereção.

—Travis. — As mãos sedosas dela agarraram os ombros dele, pequenas unhas afiadas picaram a carne. —Qual é seu problema?

Era quase cômico. Não queria nada além de fodê-la, mas com toda a certeza não faria isto na frente de um público. E a menos que tivesse errado sua suposição, estariam lá a qualquer segundo...

—Travis, você tem companhia. — Nik bateu na porta, o som fazendo-a vacilar enquanto Travis atirava um olhar assassino em direção à entrada.

Inferno, isto era apenas o que precisava agora mesmo. Sua mulher deitada quente, sedosa, molhada e disposta sob ele e havia companhia do outro lado da porta.

Fazendo uma careta, Travis ficou de pé e olhou fixamente para ela abaixo enquanto ajeitava as roupas às pressas. O rosto estava corado, os peitos erguendo; os pontos duros dos mamilos eram fáceis de perceber sob a blusa de seda fina que ela vestia.

Os lábios suaves estavam inchados, o cabelo bagunçado ao redor do rosto. Era tão bonita que ele apertou os dentes com força ao ter que se afastar dela.

—Lembre-me de verificar sua agenda na próxima vez antes de eu decidir te visitar— ela retrucou, a voz baixa. Ela parecia apresentável novamente. —Tem companhia demais nas horas mais impróprias.

Ele grunhiu, correu a mão pela nuca e então andou a passos largos para a porta e a abriu.

—Travis. — Santos Bahre, co-chefe da Elite Dois, estava do outro lado, junto com sua companheira, Rhiannon McConnelly.

Santos tinha um metro e noventa e dois de altura, o cabelo afastado firmemente do rosto, a barba nitidamente aparada e bigode, e usava um terno de seda cinza e uma camisa branca, junto com sapatos caros de couro. Era o irlandês totalmente suave e afável como no imaginário.

Ao lado dele estava sua contraparte e co-chefe, Rhiannon McConnelly. A dama alcoviteira de alta-classe. A cobertura que criaram era perfeitamente projetada para permitir às agentes que vigiavam trabalhar junto com os agentes encobertos enviados para tarefas especiais.

—Santos, Rhiannon. — Travis deu um passo para trás, desejando que houvesse um modo de advertir Lilly, guiá-la.

Se ela se lembrasse de seus chefes neste momento, então estavam fodidos. O risco para a Elite Ops era muito alto para permitir que continuasse no jogo.

—Você tem companhia. — A voz suavemente culta de Rhiannon era amigável e morna enquanto entrava na sala, o olhar indo para Lilly.

Eles sabiam que ela viu o arquivo. Sabiam que Lilly estava ciente do relatório que o investigador havia compilado.

Travis girou a tempo de ver o rosto dela empalidecer, os olhos verdes escurecerem, alargarem, enquanto ela andava para trás.

—Estou indo agora. — A voz tremia enquanto dava a ele um olhar que parecia cheio com traição. —E não voltarei.

Ótimo. Lilly pensava que estava dando de cara com seu cafetão e sua cafetina, não com os seus chefes. E estava procurando por um jeito de partir, uma saída da sala diferente da que eles bloquearam.

—Ela pensa que estamos aqui para forçá-la a voltar, Travis? — Rhiannon perguntou suavemente, o sorriso de compaixão e condolência enquanto olhava fixamente para Lilly. —O que disse para esta criança sobre nós?

—Criança?— Santos murmurou, uma sugestão leve de sotaque na voz. —Você é apenas alguns anos mais velha que ela, Rhia querida.

Lilly se voltou mais, os dedos movendo na coxa como se estivesse esperando encontrar uma arma que um dia existira lá.

Instinto ou memória? Travis se perguntou.

—Eu não falei sobre você, Rhia— Travis a assegurou enquanto assistia Lilly tranquilamente, assistia a dor e a negação que enchiam seu rosto, seus olhos.

Ele conhecia partes dela. Ao longo dos anos, aprendeu coisas que não percebera que sabia sobre ela. Uma coisa que aprendeu era que Lilly tinha orgulho. O suficiente para aborrecê-lo mais de uma vez.

Ela não podia se ver como uma garota de programa, não importava se fosse altamente paga, não importava o quão exclusivo ou seguramente treinada.

—Ele não tinha que mencionar você— Lilly cuspiu furiosamente. —Meu tio tem um arquivo cheio.

—Então deve ter um sobre você também. — Rhia entrou mais na sala enquanto colocava a bolsa vermelha que carregava em uma mesa auxiliar.

A bolsa combinava com os sapatos vermelhos de salto alto que usava e com a calça comprida de seda bem dobrada e uma blusa de algodão leve. O cabelo vermelho na altura do ombro estava escovado para trás e as franjas tocando as sobrancelhas.

Ela era de primeira classe, elegante. Quase exatamente como Travis teria imaginado que uma cafetina de sucesso pareceria.

—Estou indo. — Ela se moveu ao redor de Rhia cuidadosamente enquanto parecia olhar fixamente para a entrada onde Santos e Travis ainda estavam na frente.

—Eles apenas queriam te ver, Lilly— Travis disse a ela tranquilamente. —Você trabalhou com Santos e Rhiannon durante cinco anos. Você é amiga deles, assim como uma associada.

—Como o arquivo do Desmond diz— ela replicou sarcasticamente, enquanto Travis suspirava e se voltava para a porta.

—Fugir não ajudará, Lilly — ele disse a ela suavemente, mas desejou que pudesse ler a mensagem em seus olhos para fazer exatamente isso. Fugir. Ir para longe de lá antes que seu passado se rebelasse e ferrasse a ambos.

—Não estou fugindo— ela o informou nitidamente, havia medo e raiva em seus olhos agora. —E não estou assustada. Estou simplesmente me recusando a ser parte disso.

Ela olhou em torno do quarto, olhando-os cuidadosamente, os dedos ainda procurando instintivamente em sua coxa pela arma. Estava muito feliz que não a tivesse agora; tinha o pressentimento de que ela teria atirado em todos.

—Lilly, está fugindo — Rhia disse suavemente, o olhar dela nunca perdendo a compaixão inata enquanto olhava a mulher que ajudou a treinar por tantos anos. —Seguramente se lembra de algo sobre nós.

—Não há nada para lembrar— Lilly grunhiu. —Há apenas mentiras que fez algum investigador inventar. O que pensa que pode fazer? Você pensa que pode chantagear a mim ou a minha família?— O nariz dela ergueu com orgulho aristocrático. —Acredite em mim, madame, ninguém jamais acreditaria que Lady Victoria Harrington era uma prostituta. Está desperdiçando seu tempo.

—Creio que esteja sendo insultado— Santos disse lentamente enquanto ela se movia para além dele, olhando-o cautelosamente. —Minhas meninas nunca foram chamadas assim.

O clarão que Lilly atirou nele deveria tê-lo feito murchar. Em vez disso, com charme e confiança irlandesas, Santos deu seu sorriso malvado antes de estender a mão para a porta. —Nós apenas queríamos dizer oi, minha querida, e informar que se precisar, estamos aqui.

—Duvido que precisarei de você. — O olhar que ela deu a Travis o assegurou de que não precisaria dele também.

Ela passara pelo teste. Apenas os conhecia pelo relatório que o tio deu a ela. Não os reconhecera, não se lembrara do passado.

Ela saiu da sala. O som dos saltos batendo no chão de mármore podia ser ouvido logo antes da porta da frente bater.

Travis girou para Rhiannon, a sobrancelha arqueando.

Rhiannon olhou para ele, os olhos verdes brilhando, muito cientes, muito sabedores.

—Ela está escondendo algo, Travis. — O olhar dela endureceu. —Descubra o que é.

 

Lilly entrou na casa, sorrindo para o mordomo enquanto abria a porta para ela. O hall de entrada de mármore brilhantemente iluminado era morno e aconchegante, mas havia uma pedra de gelo dentro dela que parecia que não derretia.

Movendo-se depressa pelo hall, abriu as portas da biblioteca, pretendendo confrontar Desmond com as informações que deu a ela na noite anterior. Não esperava que tivesse companhia.

—Victoria. — Desmond ficou de pé, um sorriso preocupado no rosto. Lilly sorriu quando viu quem estava atrás dele.

—Jordan— Ela disse, avançando e o abraçando.

Jordan devolveu o abraço. —Eu queria parar para te ver enquanto estivesse na cidade. É um milagre que tenha retornado.

—É o que a minha família me diz. — Ela andou de volta e conteve a necessidade de esfregar o frio em seus braços.

—Seu tio mencionou que pode ter algumas coisas no passado que podem te trazer alguns problemas— Jordan declarou enquanto Desmond examinava cuidadosamente o bar. —Estava pensando se poderia ser de alguma ajuda.

—Ele sabia?— Ela deu uma olhada rápida para o tio, notando a respiração pesada que tomou enquanto erguia uma garrafa de vinho do bar. Ela estava dentro de segundos de pedir algo mais forte, apenas para suprimir o desejo enquanto notava o olhar afiado de Jordan nela.

—Não fique envergonhada— Jordan a persuadiu. —O pesar é horrível para a mente jovem. Desmond está bem certo que deve ter se metido em algo naquela noite, talvez até visto o assassinato do seu pai. Está preocupado que possa ter sido almejada por causa disto, ou por causa das informações que o investigador possa ter descoberto.

Lilly se sentou na cadeira ao lado dela, observando enquanto os dois homens se ajeitavam de volta em suas poltronas antes de falar.

—Isso é o consenso geral?— Ela perguntou. —Eu me tornei uma prostituta porque estava sofrendo ou fugindo de criminosos ou por minha própria culpa?

—Droga, Victoria, ninguém acredita que tenha matado seu pai— Desmond rosnou. —Pelo contrário, creio que estava se escondendo, talvez até com medo de arriscar sua mãe.

Lilly sorveu seu vinho. —Eu te pedi antes, tio, me chame de Lilly.

Desmond fez uma careta, mas não disse nada.

—O fato que permanece é que ninguém acreditaria em tal conto— Jordan declarou tranquilamente.

Você quer viver, Lady Victoria, ou morrer para sempre? A voz de Jordan. O rosto de Jordan. Mais jovem, menos selvagem. A memória relampejou por sua cabeça, pegando sua mente, e quase fez com que ela agitasse a cabeça enquanto tentava dispersar a memória.

Memória ou loucura?

—É mais fácil acreditar que eu era uma prostituta, não?— Ela perguntou, a sobrancelha arqueando curiosamente.

A cabeça de Jordan abaixava enquanto o tio desviava o olhar.

—Cavalheiros, tenho coisas para fazer hoje. — Lilly ficou de pé. A conversa havia acabado para ela. —Se me dão licença, creio que cuidarei de algumas coisas.

Ela girou e saiu da biblioteca, ignorando o protesto do tio enquanto abria as portas e se dirigia à escadaria.

O que ela tinha que fazer hoje exceto ler aquele maldito arquivo novamente? Isso e tentar entender por que Travis não a havia advertido da “companhia” chegando.

Em quem podia confiar? Ela queria tanto confiar em Travis que doía de necessidade.

Ninguém, a mente dela gritava. Não havia ninguém em que pudesse confiar, e isso a apavorava. Ela se sentia como se não tivesse nenhum lugar para ir ou achar respostas.

—Lilly. — A mãe dela saiu da sala de estar quando Lilly estava girando para o hall de entrada e se dirigindo aos degraus. —Podemos conversar um pouco?

Lilly correu os dedos pelo cabelo e lutou para conter a impaciência que a tomava. —Pode ser no meu quarto, mãe?

A sala de estar parecia muito aberta, com muitas orelhas potenciais escutando.

—Claro, querida.

Lilly podia ver o nervosismo no rosto da mãe, a sugestão de tristeza e dor que sombreava os olhos. Odiava machucar a mãe, mas havia uma parte dela mesma que não podia evitar e se continha. Havia muitos segredos que sentia que devia guardar.

Entrando no quarto, girou e esperou que a mãe entrasse. Imediatamente Angelica se moveu para a janela do quarto, abriu-a e então puxou um pacote de cigarros e um isqueiro do bolso da calça.

—Mãe, sabe que não devia fumar— ela disse, suspirando.

—Meu único prazer culpado— ela disse enquanto erguia o cilindro esbelto para os lábios e fechava os olhos com prazer.

Lilly esperou até que ela terminasse, sabendo que levaria apenas momentos. Quando Angelica terminou, foi ao banheiro, jogou o cigarro no vaso, lavou as mãos e então retornou.

—Seu irmão ligou hoje de manhã. — Ela sorriu tristemente. —Ele e as crianças vão para o Havaí neste verão.

Eles normalmente se juntavam à família em Maryland.

—Ele não quer me ver— Lilly chutou.

—Tantas mudanças. — Angelica suspirou enquanto sentava na extremidade da cama. —Jared nunca conseguiu lidar bem com mudanças. Ficou mórbido por meses quando pensamos que estava morta. Ele não podia acreditar que é você agora, porque as mudanças foram muito drásticas e não há nenhuma explicação para elas.

A mãe a olhava fixamente como se ela tivesse essas explicações.

—Sinto muito, mãe. — Lilly sentou na cadeira próxima à cama e olhou a mãe enquanto deslizava os dedos pelo cabelo castanho perfeitamente listrado de loiro escuro.

—Você leu o relatório que seu tio te deu?— Ela perguntou. —Nada ativou sua memória, Lilly? Nada?— Ela tinha tanta esperança, estava tão desesperada, que Lilly queria nada além de confiar nela.

—Nada— ela sussurrou. —Sinto muito, mãe.

As mãos de Angelica se enroscaram inquietas em seu colo enquanto olhava para elas por longos momentos.

—Você mudou drasticamente— ela disse suavemente enquanto a cabeça erguia, os olhos azuis pálidos refletindo um vislumbre de dor e lágrimas que rasgaram o coração de Lilly. —Às vezes, Lilly, é como se eu nem te conhecesse.

Lilly tragou firmemente e forçou de volta as próprias lágrimas. —Eu ainda sou eu mesma. Eu não sei o que aconteceu, ou por que mudei tão drasticamente, mas esta sou eu mesma. Eu me lembro de ter feito compras, chorando com você, lembro do meu baile de quinze anos e o meu primeiro encontro. Você chorou a cada vez. — Uma lágrima deslizou pelo rosto dela. —Apenas porque meu rosto mudou não significa que eu não seja mais sua filha.

Um soluço suave rasgou dos lábios da mãe dela então. Ela se moveu aos arrancos da cama e no segundo seguinte Lilly se achou em seus braços. Braços que a haviam abrigado, ajudado a protegê-la.

Naquele momento, fechou os olhos e queria chorar. Queria o pai. Quando chorava, os dois a abraçavam; o calor e a aceitação de seu abraço sempre foram tudo que precisou para manter o mundo em ordem.

Agora, o mundo dela estava despedaçado, confusão e medo a tomavam, fazendo com que ela abraçasse a mãe mais apertado e lutasse contra a necessidade de confiar todos esses medos a ela. Queria a relação fácil e despreocupada que um dia tiveram. Queria a relação envolvida e completa que teve com o pai. Ela foi sua confidente e companheira, foi amiga da mãe, a irmãzinha caçula do irmão. Um dia, teve uma vida totalmente feliz.

E não tinha nenhuma ideia do que aconteceu então.

—Pode conversar comigo, Lilly— a mãe dela sussurrou em pranto à medida que recuava, os dedos suaves aliviando as lágrimas das bochechas de Lilly. —Sempre estarei aqui por você. Sempre estive aqui por você.

Então por que não deixou a mãe dela saber que estava viva? Deus, o que aconteceu com ela?

—Eu sei, mãe. — Ela teve que lutar contra a necessidade de confiar, de contar a ela sobre os fragmentos de memória que tinha e implorar sua ajuda para entendê-los.

Ainda assim não podia. Não podia se permitir fazer isto.

—Prometa, que se precisar conversar, virá a mim, bebê— a mãe dela implorou, outra lágrima deslizando pela bochecha pálida. —Por favor, não se esconda mais de mim. Você está partindo meu coração.

—Eu prometo, mãe— ela mentiu.

Lilly sabia que não podia ir até a mãe para falar qualquer coisa sobre o passado. Mas até que soubesse mais sobre esse passado, não estava certa do quão perigoso era para ela.

E não havia simplesmente ninguém para recorrer.

Exceto Black Jack.

Ela quase congelou no abraço da mãe.

Indo para trás, ela respirou fortemente. —Preciso descansar um pouco, mãe. Talvez um cochilo me ajude com esta enxaqueca que está começando.

Ela esfregou as têmporas como se houvesse verdadeiramente uma enxaqueca aparecendo.

—Claro. — A mãe beijou a bochecha dela suavemente. —Descanse, querida. Eu farei a empregada te chamar para o jantar.

Lilly olhou enquanto ela deixava o quarto, o coração trovejando, a mente batendo. Black Jack. Podia confiar em Black Jack, ela pensou desesperadamente. O desejo de fazer isso estava se construindo em sua mente, martelando.

Quem era Black Jack?

Travis.

Podia vê-lo em sua mente, de pé algumas horas atrás com Santos Bahre e Rhiannon McConnelly em sua casa, um franzir em seu rosto escuro. Olhos verdes manchados de castanhos dourado estavam cheios com preocupação, e uma advertência.

Era isto.

Ela esfregou a nuca, franzindo agora enquanto deixava aqueles momentos rolarem por suas memórias novamente. Nos olhos de Travis havia uma advertência. Mas do quê? Do que a havia advertido?

Santos Bahre e Rhiannon McConnelly. Eram companheiros, de acordo com o arquivo que possuía, em negócios muito lucrativos. Negócios que incluíam fornecer mulheres para uma clientela muito seleta. De acordo com o investigador, as taxas para as acompanhantes aumentavam de acordo com o nível de perigo que enfrentariam.

Ela foi uma prostituta ou uma mercenária muito boa? Mas que porra estava acontecendo?

Uma parte dela estava gritando que devia correr até Travis, que deveria conversar com ele, confiar nele.

Black Jack. Era um codinome.

Ela lutou para aquietar a batida rápida do coração, o medo que corria por ela como uma locomotiva fora de controle. Sentiu a respiração constringir, a advertência relampejar na mente que não podia confiar em Travis mais que podia confiar em Santos Bahre, Rhiannon McConnelly ou Jordan Malone.

E ainda assim outra parte dela estava exigindo que apenas fizesse isto. Que confiasse nele, possivelmente com sua vida.

Eu estarei aqui por você, Lilly. A voz dele sussurrou pela mente dela, sedutora, atraente. Mas o que sentiu na voz era qualquer coisa exceto essas emoções.

Enquanto lutava para dar liberdade às memórias livres, uma dor afiada fatiava por suas têmporas como que por vingança.

Soltando a cabeça, Lilly apertou os dedos nas laterais da cabeça e lutou para respirar através da dor.

As enxaquecas foram comuns no primeiro mês depois que levou o tiro. As memórias que perdeu pareciam mais próximas naquela época também.

Girando, ela encarou o espelho e viu o rosto que ao mesmo tempo em que era familiar, era pouco conhecido.

Erguendo a mão, tocou o arco da sobrancelha, a linha esbelta do nariz, a curva dos lábios.

Estava ficando mais acostumada com este novo rosto, assim como uma parte dela estava finalmente aceitando as mudanças.

Selvagem, o pai sempre a chamara. Uma mulher equilibrada na extremidade do perigo. E ela sempre rira dele.

Indo ao closet, abriu a porta, entrou e se moveu para a parte de trás. Lá, ela havia escondido uma mala pequena dentro de uma maior. Achou a mala pequena no abrigo de armazenamento onde mantinha a moto.

Havia dinheiro, registros de banco e cheques, uma identidade alternativa e cartões de crédito, assim como uma Glock letal e clipes de uma dúzia de balas. Ela estivera preparada para problemas. Uma garota de programa não teria feito algo assim; apenas uma agente ou uma criminosa disfarçada se protegeria de tal modo.

Ela dobrou tudo, menos a arma e o dinheiro em um compartimento de sua mala. A arma, clipes, e dinheiro ela manteve na pequena bolsa de couro e voltou para o quarto para puxar um dos equipamentos que achou no abrigo de armazenamento da parte de trás da agência.

Ela se manteria ocupada hoje durante o dia. Almoçaria com a mãe e os amigos dela. Haveria uma reunião mais tarde para discutir sobre o baile de caridade que a mãe dela fazia todo verão.

Mas a noite iria chegar. Lilly podia sentir a inquietude surgir dentro de si assim como a necessidade de aprender mais sobre si mesma.

Hagerstown era familiar, assim como os arredores. Havia pedaços dela mesma aqui, ela podia sentir. Ela plantou partes de si mesma aqui, perto da área chamada lar em que a sua família morava por vários meses durante o ano.

Lilly precisava achar aquelas partes de si mesma. Tinha que achá-las antes que a confusão e a necessidade a deixassem louca.

 

Era meia-noite, a hora noturna preferida de Lilly. Travis aguardava na rua abaixo do portão da propriedade que Lilly e sua família estavam ficando, uma perna dobrada sobre o peito da moto, o cotovelo descansando sobre o joelho.

Ela era do tipo inquieto. As informações que recebeu na noite anterior assim como seu confronto com Santos e Rhiannon forçariam que ele começasse a buscá-la.

Rhiannon predisse que Lilly se esconderia durante algum tempo, que o seu tempo como agente faria com que sentisse que não deveria se aventurar ainda. Travis a conhecia melhor. Ele treinou Lilly. A forçou a ter paciência durante os meses em que ela sofreu as avaliações psiquiátricas. Ele a ensinou como enganar seus chefes, como esconder seu verdadeiro eu. Ela era uma agente, sabia dos perigos inerentes no tipo de trabalho que estavam fazendo.

Ele confiava em Jordan. Seu próprio chefe se provou confiável. Ele não podia dizer o mesmo de Santos e Rhiannon. Eles criaram um disfarce para seus agentes que nunca se ajustou ao senso ou bom gosto de Travis. As meninas eram delicadas, bonitas, melhor escondidas que exibidas. Mas eles as colocaram na linha de perigo para proteger os agentes que frequentemente formavam pares.

Eram um artigo para seus chefes, nada mais.

Roçando o inicio de barba no queixo, Travis considerou o melhor curso de ação a seguir.

Travis sabia que Lilly sabia mais do que estava divulgando.

Também sabia que ela perceberia que não a trairia, apesar de parecer que fez isso com Santos e Rhiannon.

Esteve chocada, furiosa, mas também viu medo em seus olhos. Medo que o relatório do investigador fosse verdade. Medo que, de alguma maneira, ela fosse a pessoa descrita naquele relatório.

Não levaria muito para juntar as informações agora, e Santos e Rhiannon sabiam disso. E isso fez com que Travis se perguntasse que porra estavam tramando.

O som dos portões abrindo fez sua cabeça girar. Lá, emergindo entre os portões que abriam lentamente, estava o cintilar da proteção dianteira preta da poderosa Ninja de Lilly.

Ele puxou o capacete da parte de trás de sua própria máquina, colocou-o e prendeu a jugular antes de ativar a comunicação com bluetooth do lado de dentro.

Este se conectava ao de Lilly, uma precaução que começaram a usar vários anos antes. Ele viu enquanto ela estacionava a moto, fechava o portão e corria de volta para a máquina para se escarranchar sobre ela.

Ela colocou o capacete preto sobre a cabeça, o cabelo para o lado de dentro, e o fechou.

Travis escolheu aquele momento para atingi-la.

—Está pronta para um passeio, Lilly?

Ela congelou. Através da distância Travis podia senti-la procurando, achando, encarando-o.

—O que quer?— Precaução enchia sua voz.

—Você— ele a respondeu. —Você me segue ou eu te sigo?

Ela não respondeu. O motor poderoso rugiu. Travis a imitou e acelerou sua moto com um estalido do pulso.

Ele estava pronto quando ela se moveu. Ela foi à frente como um foguete, uma sombra preta queimando totalmente a estrada, o corpo flexível encostado no peito da bicicleta, curvando e esticando com graça inata.

—Então vou te seguir— ele comentou pelo link.

—Se puder. — Havia um frio na voz que fez uma sugestão de preocupação erguer dentro dele.

—Calma, Lilly. — Ele manteve a voz casual, calmante. —Eu não sou uma ameaça para você.

Quantos anos trabalhou para ganhar a confiança dela? Definitivamente a Elite Um toda treinou o time dela. Um ano cheio. E durante aquele tempo ele fez a base que apenas construiu anos depois.

—Não, você não é uma ameaça para mim— ela concordou. —E eu não te deixarei se tornar uma.

Ela acelerou enquanto tomava a saída para a Interestadual 81. O tráfego estava se movendo depressa, mas Lilly estava se movendo ainda mais rápido. Travis estava logo atrás dela, a atenção na velocidade, local e o indicador no capacete que mostraria quaisquer veículos de polícia que pudessem pegá-los.

—Lilly, estamos surgindo em um radar— Travis a advertiu quando o display mostrou um radar adiante.

Ela aliviou a velocidade enquanto passavam pela policia rodoviária no outro lado. Uma vez que estava limpo, ela aumentou a velocidade e continuou a tentar Travis.

—Está sendo bom pilotar com você, Lilly— ele disse cinco minutos mais tarde enquanto ela atingia a 71 e começava a seguir em direção à fronteira do estado. —Queria conversar.

Houve silêncio por longos minutos.

—Eu tenho uma cabana. — A voz dela era baixa agora, confusa, partindo o coração dele apenas com a sugestão de lágrimas. —Eu tenho uma cabana, Travis— ela repetiu.

Ela não soou arrasada ou assustada. Soou perdida, e isso era mais duro que ouvir a voz anterior.

—Diminua a velocidade, Lilly, se quer que eu te siga.

Instinto era bom e tal, mas ela não tinha conhecimento, não ainda. Sem conhecimento da máquina poderosa que montava, instinto poderia não ser o suficiente para se manter viva.

Adiante, ela diminuiu a velocidade até que ele a alcançou. Parando ao lado dela, ele deu uma olhada rápida acima e viu nada além do negro da sombra da viseira sobre o rosto.

Ele ouviu o puxão da respiração, e sentiu as lágrimas.

Lilly não era uma chorona, ele aprendeu isto. Ela ergueria aquele pequeno queixo teimoso e conteria as lágrimas se isso significasse a morte. Ela tinha uma espinha de aço e uma determinação de ferro que o fez cerrar os dentes em frustração mais de uma vez.

Seguindo-a ao longo da estrada, atravessou o estado de Maryland para o da Pensilvânia com ela, ficando mudo enquanto seguiam até a fronteira da Virgínia Ocidental.

A ausência deles seria notada, mas foi ordenado a compreender o que ela estava escondendo. Essa era sua missão e nisso ele colocaria a culpa por seu desaparecimento. Ele apenas desejava que ela fosse esperta o suficiente para cobrir seu traseiro com a família.

Sem dúvida que sim. Ninguém poderia acusar Lilly de ser estúpida.

A voz dela era oca no link. —Eu sei onde estou. Sei onde girar. O que procurar. Sei que estive aqui antes, mas não me lembro do porquê ou quando.

—Quem eu sou, Travis?— Ela perguntou a ele então.

—Uma companheira— ele disse suavemente, o olhar treinado na estrada enquanto tomavam uma saída vazia e entravam em uma estrada de duas pistas estreitas.

A estrada pavimentada logo se transformou em uma pista inacabada, e então pedregulho. Tiveram que reduzir a velocidade drasticamente, até que estavam passando devagar sob galhos pesados que abrigavam as árvores e cercavam a pista.

Travis quase perdeu a virada para a cabana. Ele bem poderia não ter visto se não estivesse seguindo Lilly.

         Estacionaram as motos sob uma pequena garagem ao lado. Descendo da moto, ele olhou curiosamente enquanto Lilly seguia em direção à entrada do estacionamento, estendia a mão e puxava para baixo a porta da garagem antes de fixar ao solo.

Ela não falou, apenas girou e abriu a porta pesada antes de entrar.

Lilly olhou fixamente em torno da cabana de cômodo único. Um pequeno fogão a gás, que explicava o tanque de gás na garagem do lado de fora. Um fogão a lenha, uma mesa empurrada contra a parede e duas cadeiras, uma cama grande na outra parede e um banheiro.

Era uma casa segura, nada mais. Não era uma casa. Era um lugar para se fugir e esconder.

Ela girou para Travis, encarando-o calada enquanto ele removia seu capacete e o deixava na mesa ao lado da porta pequena.

—Bom. — Ele olhou ao redor antes de seu olhar voltar para ela. —Você já ficou no inverno?

Será que ela tinha?

Ela deu de ombros. —Não me lembro.

Ela estava olhando ao redor, sabendo onde tudo estava escondido. Dinheiro, munição, armas e roupas. Identidades, números de telefone, um laptop, satélite e telefones celulares desconectados.

Havia comida enlatada em um armário minúsculo e estreito perto do fogão. Havia um poço com água fresca. Havia água quente, toalhas limpas, água fresca e um pouco de segurança porque ninguém sabia sobre isso além dela. E agora Travis.

Ela tirou o capacete e olhou ao redor curiosamente. Quem era a mulher que precisava deste refúgio?

Ela girou para Travis. —Uma garota de programa de elite não teria uma casa segura, não é?

Ela o olhava, o coração pesado, enquanto ele se virava e olhava ao redor uma vez mais.

—Você não vai me dizer nada, não é? Pode me dizer uma coisa? Por que está aqui? O que faz nesta historia toda, Travis?

Ela olhou o curvar dos lábios dele. —Faz muito tempo desde que ouvi essa frase.

O pai dela a usava frequentemente.

—Isso não responde minha pergunta— ela disse a ele.

Ele agitou a cabeça antes de olhar fixamente de volta para ela, os olhos dourado escuros agora, preocupados. —Não posso responder sua pergunta.

—Quem pode então?— Ela perguntou. —De alguma maneira, não acho que meus antigos empregadores possam.

Ele bufou. —Eu não perguntaria a eles.

Ela anuiu com a cabeça devagar. —Estou em perigo então.

—Alguém tentou arrancar sua cabeça, Lilly, o que acha?— Ele perguntou tranquilamente. —Você está em perigo, não há dúvida sobre isto. Que tipo de perigo em que está envolvida é que é a pergunta.

—E não pode me fornecer nenhuma resposta?— Ela chutou.

—Não — ele disse finalmente, suspirando.

—Isso é sujeira — ela grunhiu com uma sugestão de raiva crescendo dentro dela agora. —Todo mundo está de olho em mim, ainda assim ninguém está disposto a me ajudar. Que tipo de ameaça eu represento, pelo menos?— Ela exigiu.

—A ameaça não é o problema, pelo menos não ainda. — Ele arranhou a mandíbula pensativamente enquanto a olhava.

—O assassino e a razão pela qual tentou me matar é que são o problema, correto?

Travis anuiu com a cabeça devagar. —Se lembrar, Lilly, de qualquer coisa, por nos dois, não permita a ninguém, além de mim, ficar sabendo.

—Por que você?— Lilly se moveu através do cômodo pequeno para os gabinetes acima do fogão e pegou uma garrafa de seu uísque favorito.

Girando, ela ergueu a garrafa para ele em convite. Com seu aceno com a cabeça Lilly pegou dois copos do gabinete, os enxaguou e então despejou a bebida.

—Você não me respondeu — ela o lembrou enquanto o dava um copo. —Por que deveria confiar apenas em você?

Travis olhou de volta para ela, vendo Lilly em vez de Lady Victoria enquanto ela olhava fixamente para ele, seus olhos verdes firmes e duros.

—Porque se pensar sobre isto, se lembrar ou suspeitar de qualquer coisa sobre os últimos seis anos, então saberá que não há nenhuma chance de eu te trair.

Ela sorveu o uísque, o olhar nunca deixando o dele por longos momentos enquanto considerava a resposta.

—Acha que quem matou meu pai e tentou me matar seis anos atrás conseguiu me achar?

—Faz sentido para mim. — Travis tirou a jaqueta e a jogou para uma cadeira próxima. —Na noite anterior ao seu atentado, o médico que supostamente fez sua cirurgia plástica foi morto em um incêndio que destruiu seu escritório e todos os seus registros. De alguma maneira, alguém obteve informações demais sobre você, Lilly.

Erguendo a bebida, Travis assistiu enquanto Lilly se debruçava contra o balcão, sorvia a bebida e olhava fixa e pensativamente para ele por longos momentos.

—Supostamente — ela murmurou finalmente. —Isso significa que não fez realmente a cirurgia?

Ele inclinou a cabeça de acordo. —Certos passos foram tomados para assegurar que sua identidade fosse bem escondida.

—Isto é muita dificuldade para apenas uma garota de programa — ela disse lenta e sarcasticamente.

Travis meramente tremeu os lábios em diversão. Ela sabia, como ele, que nunca venderia seu corpo.

Mas havia compartilhado seu corpo com ele, porém. Deu a ele sua inocência e formou um laço entre eles que ainda não havia entendido completamente.

Finalmente, quando não disse mais nada, Lilly agitou a cabeça antes de terminar sua bebida com uma pequena careta.

—Então preciso achar o assassino do meu pai para achar o meu também— ela declarou. —Imagino que esse assassino também seja a pessoa que tentou desviar meu pai de sua investigação há seis anos...

Travis anuiu com a cabeça. —É isso o que penso. Suspeito que o assassino esteja te acompanhando nos últimos seis anos.

Uma pequena e rápida exalação de Lilly, um som zombeteiro, quase fez Travis sorrir amplamente. Aquele som normalmente indicava uma labareda de irritação.

—Papai quase enlouqueceu buscando a pessoa responsável pelos desvios. — Ela se afastou do balcão e compassou através do cômodo, um franzir pensativo arruinando a sobrancelha. —E não tenho nenhuma dúvida que o MI5 continua a procura.

—Sem dúvida. — O olhar de Travis estava focado no traseiro dela sob a calça de couro apertada à medida que ela compassava. A visão era suficiente para roubar a respiração de um homem.

—Se minha mãe suspeitar que estou investigando o que aconteceu seis anos atrás, então ela me fará ser internada com certeza. — Ela agitou a cabeça, as mechas sedosas de cabelo escuro ondulando contra os ombros, tentando os dedos dele.

—Seu pai tinha suspeitos?— Travis perguntou, tentando voltar sua atenção ao assunto.

—Vários — ela admitiu enquanto se voltava para ele. —Ele apenas não me deu os nomes. Eu ainda estava sendo treinada. Certas informações o MI5 estava hesitante em me dar. Meu pai seguiu as ordens.

—Você tinha alguns suspeitos?— Ele perguntou.

Lilly pausou.

—Lilly, agora não é a hora de guardar qualquer coisa— ele a advertiu.

Os braços dela cruzaram sobre os seios defensivamente.

—Havia uma pessoa que aparecia em todas as contas almejadas — ela respondeu, a expressão amotinada. —Minhas suspeitas originais estavam meio perdidas por causa disto.

—E quem era? — Travis pressionou.

—Meu tio, Desmond, e o meu irmão. Diferentemente do meu pai, tinham acesso aos fundos Harrington que eram visados mas não às outras contas visadas.

—Seu irmão Jared trabalha para uma firma de advocacia muito exclusiva — ele assinalou. —Os clientes visados também estavam representados por aquela firma.

Jared Harrington assim como Desmond ainda eram suspeitos da Elite Ops.

—Sim, mas não todas. Pelo menos três outras famílias que não tinham nenhuma conexão eram visadas também — Lilly disse. —Além disso, Jared não teria feito tal coisa. Especialmente nunca teria feito papai ser morto.

—Ainda assim suspeitou dos desvios— ele assinalou. —Ele e seu pai discutiam frequentemente sobre os negócios assim como sobre o título.

—Jared não mataria papai...

—Está defendendo um homem que essencialmente deserdou você. — A raiva surgiu por Travis com a defesa dela de outro homem. —Talvez ele te quisesse morta, Lilly. Com você fora do caminho não teria que compartilhar a herança dos Harrington.

—Pare. — Ele podia ver a dor que reluzia nos olhos dela agora. —Jared não faria isto. Eu sei porque papai e eu o eliminamos junto com Tio Desmond dos suspeitos.

Os lábios de Travis afinaram. Até onde estava preocupado, Jared e Desmond Harrington ainda estavam no topo da lista.

—Pare!— Ela ergueu a mão enquanto os lábios dele se separavam para discutir mais. —Estou certa que posso facilmente provar que Jared não está envolvido. Mas para provar isto, preciso ter acesso aos dados financeiros da família. Deve ser fácil. Sei que Desmond e Jared compartilham os dados financeiros on-line. Verei o que posso achar.

Mas isso não significava que não doeria fazer isso. Travis se moveu para ela, a necessidade de confortá-la, aliviar a confusão e dor que reluziam em seus olhos o subjugando.

—Lilly. — Ele a puxou contra ele, as mãos acariciando os quadris esbeltos. —Nós eliminamos Desmond e Jared e então continuamos daí. Mas tenha certeza que não tenham nenhum contato com alguém listado naquele relatório do investigador nos últimos seis anos de sua vida.

A aposta dele ainda estava em Desmond, mas Jared também estava no páreo.

—Verifique os arquivos e relatórios financeiros que Desmond trouxe. — Ele queria que ela achasse as informações que Desmond tinha no escritório. —Olhe as contas on-line. Traga os números da conta para que eu possa verificar. Faremos juntos, amor.

Ele ergueu a mão, o polegar acariciando o lábio inferior trêmulo dela. —Sabe como fazer isto.

—Porque me treinou?— Respirando com consciência sensual agora, o som da voz ela acariciava os sentidos dele.

—Eu te treinei— ele concordou.

—Você me protegeu. — Ela lambeu o polegar dele, tentando-o.

—Eu sempre tentarei te proteger. — A cabeça dele abaixou.

Ele precisava do gosto dela. Um toque. Neste momento precisava apenas encher seus sentidos com ela.

Mas ele sabia que um momento nunca seria o suficiente.

 

Era quase um sonho.

Lilly andou para os braços de Travis, sentiu eles virem, sentiu os lábios inclinando através dos dela e o mundo ao redor entrou em chamas.

Ela não podia ter este homem, e sabia disto, mas sabia que já pertencia a ele. De alguma maneira sempre pertenceu a ele.

Erguendo-se para o beijo, Lilly deixou as mãos apertarem o cabelo dele, puxando as mechas grossas para afundar o beijo enquanto sentia uma fome furiosa começar a queimar dentro de si.

Aquela selvageria que se lembrava de ter lutado a vida toda tomou o controle, ela se tornou uma mulher que instintivamente sabia do que precisava, e precisava disso.

Nunca a excitação a tomou desse jeito.

Jogando a cabeça para trás, ela olhou fixamente para ele, a respiração pesada, áspera. —Você foi meu primeiro, não foi?— Ela sabia, sentia isto.

—Eu fui seu único— ele rosnou, possessividade furiosa no tom e preenchendo um pouco da necessidade que ela não sabia que existia dentro de si. Um conhecimento, a certeza final, de que ela não era a mulher alegada no relatório do tio.

A cabeça abaixou novamente antes que ela pudesse fazer quaisquer perguntas adicionais, os lábios tomaram os dela novamente, a língua empurrou além dos lábios, acariciando sobre os dela e fechando em uma batalha de desejo que sabia que não tinha nenhuma esperança de ser premiada. Uma batalha que não queria ganhar. Era um triunfo que queria compartilhar.

Ela era mulher apenas dele. Ela não se deu para nenhum outro homem, da mesma maneira que instintivamente sabia, mas a mulher dentro dela precisava de mais provas. Ela precisava verificar o que apenas um homem podia dar a ela.

Black Jack.

As mãos caíram do cabelo para os ombros, então para frente da camiseta. Puxando, arrastando, ela arrastou o tecido até que ele saiu da calça jeans.

Ele encolheu os ombros e tirou a jaqueta, permitindo que o couro caísse para o chão antes que suas mãos voltassem a empurrar a jaqueta jeans pelos ombros.

Ela não moveria os braços. Queria aquela camisa fora. Ela queria sentir a carne nua e quente dele contra suas palmas.

Ele rasgou a camiseta e então voltou à jaqueta, forçando os braços a abaixarem e puxou o jeans para revelar a camisa sem manga que ela estava usando por baixo.

As alças finas passaram pela cabeça enquanto ele empurrava o tecido pela cintura, para cima, correndo pelos seios, e jogou o top de lado. Ele encheu as palmas com as curvas inchadas, os dedos polegares correndo nas pontas duras dos mamilos e fazendo uma sensação crua atacar o útero e aquecer o clitóris dela.

Lilly se curvou ao toque, uma arfada passou pelos lábios enquanto as costas encontravam a parede, e a palma achatou contra a pele nua do peito.

Enrolando os dedos, Lilly os levou pelo tórax dele, apenas o suficiente para sentir o dobrar de músculos embaixo, apreciar o calor e a dureza de seu corpo definido.

Os dedos correram pela faixa da calça jeans onde ela achou o zíper e depressa o desceu.

Ela não podia tocá-lo o suficiente. Não conseguia o suficiente de seu beijo. Queria sentir todo ele contra ela de uma vez. Queria todo o prazer de uma vez. Queria se sentir viva, algo que não sentia há seis meses.

Viva. Vivendo. Uma mulher que não tinha nenhuma parte de si perdida.

Nos braços de Travis havia apenas a mulher, não havia nenhum passado, nenhum perigo e não havia nada a temer.

—Deus me ajude, senti sua falta— ele gemeu enquanto os lábios rasgavam dos dela e se moviam para a mandíbula, o pescoço. —Senti falta de te ver, te tocar.

Um gemido ecoou pelo peito enquanto o coração apertava com a realização de que ela sentiu sua falta também; embora não se lembrasse dele, sentiu sua falta, o desejou.

Ele estava compensando o tempo que haviam perdido. As mãos envolveram os seios, os ergueram. A cabeça desceu, a língua correu sobre os mamilos apertados enquanto fragmentos de sensação começavam a rasgar os nervos finais.

Era incrível. Era a fantasia que a seguia quando dormia, quando acordava com seu corpo banhado de suor.

Esse era Travis, e negá-lo era algo que não se permitiria fazer. Não este prazer. Não este calor incrível, cegante.

Os dedos acariciaram a calça jeans e ela achou a carne nua. Nada de cueca ou calção, apenas a punhalada dura e espessa do pau empurrando a mão dela. A crista larga era quente ao toque, ligeiramente úmida. O calor enviou uma corrida de prazer pela boceta enquanto sentia a mão alisar o peito e logo abaixo a barriga.

Os dedos foram para a calça jeans solta enquanto as mãos acariciavam e memorizavam a largura de ferro e o comprimento duro do pau. Quanto mais ela o tocava, mais queria.

Olhando para baixo, Lilly perdeu a respiração enquanto olhava as bochechas dele retraírem e o viu sugar a ponta dura do mamilo. Os olhos estavam estreitados, encarando-a, a faísca de verde no castanho dourado era mais intensa agora, reluzindo em seu rosto escuro.

Os joelhos dela estavam ficando fracos. Ficar de pé não era tão fácil quanto foi quando entrou pela primeira vez na cabana, ou quando o viu pela primeira vez em Hagerstown. Fez com que ela imaginasse como havia se sentido quando o viu pela primeira vez, seis anos antes.

Exatamente quando duvidou que pudesse permanecer na vertical, a cabeça dele se ergueu. Ele lambeu primeiro um mamilo, e então o outro. A expressão era apertada com fome, prazer sensual, enquanto olhava fixamente para ela, necessidade ardendo nos olhos.

Então ele se endireitou, ergueu-a nos braços, e andou com passos largos para a cama grande com colcha e travesseiros antiquados, fofos e grandes.

A cabeça dela apoiou no travesseiro enquanto a mão de Travis se movia sob as suas costas e envolvia os ombros, apertando os seios dela firmemente contra o calor e a dureza de seu peito enquanto os lábios se moviam sobre o pescoço e seios dela com beijos aquecidos.

Arqueando sob ele, Lilly sentiu seu sangue ferver enquanto prazer aquecia sua carne e a deixava trêmula. Dentro de segundos ele estava se movendo sobre seu corpo, removendo as botas dela e as dele. Ele pegou a calça jeans dela e a deslizou por suas pernas, deixando-a com nada além da calcinha de algodão suave que usava sob a calça jeans.

De pé na parte inferior da cama, ele a deixou olhá-lo totalmente. Ele ficou diante dela enquanto o olhar dela vagava por seu corpo duro e pausava no comprimento do pau dele.

Antes que pudesse ir até ela, Lilly estava de joelhos. Ela viu a surpresa no rosto dele, mas como poderia ficar verdadeiramente surpreso, ela não podia explicar. Com certeza sentiu a selvageria que se erguia dentro dela, a fome queimando-a fundo e quente, não?

Travis olhou enquanto ela ficava de joelhos como uma gatinha sensual, sexual. As costas curvadas, a cabeça erguida enquanto rastejava para ele, os olhos verdes estreitados enquanto lambia os lábios inchados, sensuais.

Era a visão mais primorosa que já viu. A coisa mais sensual que já conheceu.

A respiração dele prendeu enquanto ela parava no nível de seu pau, a língua saindo por entre os lábios, acariciando a cabeça chamejada com uma lambida quente, deliciosa.

—Porra!— Uma mão dele enterrou no cabelo dela enquanto a outra pegava a base de sua ereção dura.

Ele via isto nela agora, sentia. Ela era tão selvagem quanto o vento, a criatura sensual e sensual que sempre soube que existia dentro dela.

Segurando-a firmemente, ele conteve aquele fogo, controlou-o e o assistiu queimar mais brilhante dentro dela enquanto os lábios se abriam sobre a crista espessa e o tomava no calor em chamas de sua boca.

Cerrando os dentes, Travis mal conteve o gemido de êxtase completo enquanto a maravilha pela experiência no rosto dela mantinha-o encantado.

Apesar de ser inocente, ela sabia como deixá-lo louco. A língua acariciou em torno da cabeça muito sensível enquanto chupava seu pau famintamente. As lambidas aquecidas eram um contraponto quente para a sucção firme, para a umidade morna que ele estava cavando enquanto tomava tanto do pau dele quanto podia no interior molhado e aveludado de sua boca.

—Inferno, sim. —Não podia conter o grunhido, a lima rouca de prazer completo que rasgava de seu tórax. —Maldita, Lilly. Sua boca é prazer puro.

Era mais que prazer. Não havia nenhuma palavra que pudesse achar para a corrida de sensações primorosas em seu pau, suas bolas e espinha. Era como ficar submerso em sensação pura, êxtase puro. Não diluídos com preocupação, perigo ou missões a cumprir. Era um prazer que se construía em si mesmo, intensificava e enchia com uma necessidade de direção para nada além do calor puro de seu corpo.

As coxas dele estavam cansadas com o esforço de se conter. Ele podia sentir a transpiração se formando nas têmporas, nos ombros. O calor o cercou, queimando por ele. O esforço que levava para se conter, permitir a ela o tempo que precisava...

—Porra, sim!— A cabeça dela ergueu de seu pau, deslizou pela seta abaixo para a bolsa apertada onde a língua correu e acariciou, brincando e destruindo seu controle.

Maldição, o estava deixando louco. Pulsos de sensações como fogo corriam por seu pau, apertavam as bolas e rasgavam através de seus nervos finais enquanto lutava para apreciar por mais alguns segundos.

Apenas outra lambida. Apenas mais outro beijo daqueles lábios acetinado. Ambas as mãos foram para a cabeça dela, os dedos emaranhando por seu cabelo. Pequenos e agonizantes golpes de seu pau passaram pelos lábios dela e testaram aquele limite final de seu controle enquanto fodia aquela boca doce, lenta e facilmente.

Ele estava no limite. Conter-se de sua liberação era quase impossível mas não tinha nenhuma intenção de se permitir terminar aqui. Quando gozasse, tinha toda a intenção de gozar fundo e duro dentro da bocetinha apertada dela em vez do calor da sucção sedutora de sua boca.

Ignorando o choramingo surpreso de protesto dela, ele se forçou a remover seu pau do aperto de êxtase que ela tinha nele.

—Ainda não, raposa— ele rosnou enquanto ela agarrava as coxas dele e tentava puxar a carne endurecida de volta dos lábios afiados.

Segurando os ombros, ele tentou colocar as costas dela sobre a cama. Aquele sorriso feminino malvado que o deixava louco cruzou os lábios. Ela resistiu, recusando-se a deitar.

Os olhos de Travis estreitaram.

—Eu vou saborear essa doce boceta antes de ir além— ele a informou, o tom mais áspero do que pretendia. —Vou te foder com minha língua, chupar esse pequeno clitóris duro, e te sentir gozando na minha boca antes de eu te foder.

O olhar dela reluzia, o verde inflamado enquanto o rosto corava com excitação exaltada.

—Soa como uma ótima promessa. — Ainda de joelhos, ainda tão tentadora, tão sedutora e exigente, ela o deixava louco.

—Soa como um plano para mim. — Antes que ela pudesse evadir, ele a deitou, fingindo lutar contra ele, uma risada leve e cheia de excitação deixando os lábios enquanto ele forçava seu caminho entre as coxas dela.

Antes que ela pudesse empurrá-lo de volta, antes que pudesse distraí-lo, ele afastou mais as coxas dela, então deitou os lábios e a língua na carne mais gostosa que já conheceu.

Os fluidos eram lisos e quentes, como a calda mais gostosa, tomando os lábios e língua com o beijo que ele dava nas dobras íntimas. Ele chupou o clitóris, saboreou, banhou-o com a língua, e se perdeu no gosto intoxicante e no calor dela.

Lilly olhou fixamente o teto, ofuscada, submersa em sensações que a lavavam com a força de uma maré. Abrindo mais as coxas, ela emaranhou os dedos no cabelo dele e ergueu a cabeça, viu e ficou hipnotizada com a completa absorção sexual em seu rosto.

Isto era o paraíso. Êxtase puro. A língua ia ao redor do clitóris, sacudia o broto tenro, fazendo-a empurrar com o excesso de sensações.

—Travis. — O pequeno grito veio dos lábios espontaneamente enquanto prazer corria pelo sistema. Não era limitado à área que ele estava beijando tão intimamente. O prazer rasgava através das terminações nervosas e invadia cada célula do corpo.

Transpiração banhava a carne dele como a dela, enquanto os fluidos dela brilhavam nos lábios dele.

Ele separou as dobras inchadas com os dedos e a língua corria, deslizava, amava. Circulava a abertura cerrada da boceta, sacudia dentro apenas para retroceder enquanto os quadris dela empurravam para mais perto em um apelo mudo por mais. Sempre mais. Ela nunca conseguia ter o suficiente.

Ela arqueou sob ele, erguendo os quadris para os lábios, assistindo enquanto lentamente, tão lentamente, ele lambia o centro dolorido da boceta, tão lenta e facilmente, empurrando a língua dentro dela.

Um gemido longo e desesperado deixou os lábios dela. Os dedos apertaram no cabelo dele, tentando forçá-lo para mais perto enquanto ela sentia a língua dentro dela com lambidas rasas e rápidas que acariciavam as terminações nervosas que ela nem sabia que possuía.

Era incrível.

Calor surgiu dentro dela, cresceu ao redor. Branco e quente, um prazer cegante explodiu dentro dela com uma força que a fez arquear e apertar contra os lábios dele, a boceta dobrando ao redor da língua enquanto ela clamava o nome dele, se segurava nele, renunciava ao controle e se dava para ele.

Ela ainda estava voando. O êxtase ainda a segurava quando o sentiu se mover entre as coxas e deu uma punhalada dentro dela com um golpe feroz, duro.

O estirar forte e imediato dos músculos tenros, a dor e o prazer a rasgaram, levando-a mais para o alto. O choque alargou seus olhos, o rapto apertou seu corpo, enquanto ele a puxava de volta e começava a trabalhar dentro do aperto de sua boceta aos espasmos com golpes poderosos que a empurraram mais fundo no êxtase, lançando-a em um centro quente e branco de puras sensações pulsantes que se recusavam a soltá-la.

Travis estava morrendo. O suor gotejava por seu rosto enquanto enterrava seu pau dentro dela até o cabo na quarta estocada. O orgasmo que o segurou dentro dela era próximo de doloroso e ameaçou explodi-lo fora de controle.

Empurrando dentro dela novamente, ele parou, fez uma careta, e lutou para não gozar. Inferno, ia gozar. As bolas estavam tão apertadas que estavam doloridas, a sensibilidade no pau próxima de agonizante. Ele queria fodê-la para sempre mas sabia que se não gozasse logo, iria morrer do coração.

A boceta ondulou ao redor dele, o aperto fortíssimo dos músculos o cerrando e prendendo, sugando com pequenos tremores roubaram sua mente.

Ele estava perdido em um mundo de prazer sensual em que nada mais importava além deste momento e desta mulher. Estava destinado a ela, mais que apenas fisicamente, mais que apenas o seu pau enterrado dentro da boceta mais apertada e doce que já conheceu. Estava destinado a sua alma, e sabia que não havia nenhum modo de escapar.

Dobrando os quadris, ele se moveu, arrastando ferozmente o comprimento pulsante de sua seta de volta antes de empurrar dentro dela. Lentamente. Ele não podia ir mais rápido, não ainda. Um movimento errado e estaria perdido. Nunca conseguiria senti-la pulsando ao redor de seu pau sem liberar novamente, ele derramaria dentro dela sem pensar.

Sem pensar.

Ele agitou a cabeça. E lutou para sair de dentro dela.

Preservativo.

Havia um preservativo na mochila. Do outro lado do quarto. Logo do outro lado do quarto.

—Lilly. — Ele gemeu o nome dela enquanto as pernas dela ao redor dos quadris dele ficavam mais apertadas. —Bebê. Sem preservativo. Eu esqueci. Porra.

Ela agitou a cabeça quando ele tentou sair novamente.

Os olhos dela abriram, os olhos verdes fundos cheios com mistério, com promessa.

—Foda-me, Travis. Mais duro. Oh, Deus, eu estou tão perto... —Os quadris dela ergueram sob ele. —Estou tão perto.

E ela estava. Podia senti-la apertando sob ele novamente, sentia a boceta aquecer mais, os fluidos lisos e quentes de seu corpo inteiro pareciam fluir sob ele.

—Lilly. — O protesto era fraco, no máximo.

Ele nunca tomou uma mulher sem proteção. Nunca encheu uma mulher com seu gozo, nem mesmo a esposa que o traiu. Nunca deu tanto de si.

Lilly já o possuía todo.

Jogando a cabeça para trás, ele friccionou os dentes e deixou ir embora a última medida de controle que possuía. Fodeu-a com golpes desesperados, sentiu seu orgasmo aumentando, aquecendo, ameaçando...

Lilly explodiu embaixo dele. Um gemido longo e baixo de completude encheu a cabana enquanto ele continuava indo dentro dela, de novo e de novo, levando-a para outro orgasmo tão feroz e profundo quanto o primeiro.

A boceta dela dobrou ao redor de sua seta, acariciou-o mais apertado, agarrou, ordenhou, tomou sua liberação com tal violência que sabia que se perdeu dentro dela para sempre.

Enterrando bem fundo e duro, cedeu aos jatos ferozes, brancos e quentes de sêmen enquanto começava a ejacular dentro dela. Quanto mais ele dava, mais a boceta dela tentava ordenhar dele. Ondulava e agarrava, acariciando e sugando seu pau até que estava agitando, estremecendo, certo que nunca sobreviveria.

Quando finalmente começou a aliviar, enquanto a força vazava de seu corpo e fazia com que ele desmoronasse sobre ela, lutando apenas para respirar, Travis começou a se perguntar em que ponto exatamente perdeu seu coração para ela.

Com a cabeça enterrada próxima à dela no travesseiro, uma mão no quadril dela e a outra enterrada em seu cabelo, tentou dizer a si mesmo que podia se controlar, embora soubesse que não podia.

Ele sentiu os lábios dela em seu ombro, as respirações estremecendo por seu corpo, então finalmente a sentiu relaxar. Soube que o esgotamento do momento a levou para o sono, e a deixou completamente vulnerável em seus braços.

Ele a ensinou anos atrás que nunca deveria ficar vulnerável nos braços de um amante. Um amante poderia ser um assassino. Poderia ser o inimigo disfarçado. Não a ensinou que a amava. Não a ensinou que poderia ser seu maior inimigo.

Mas lá estava ela, dormindo, enquanto ele se afastava e se forçava a sair da cama. Um protesto murmurado deixou os lábios dela enquanto ele ia até a pia, amortecia uma toalhinha com água morna e então retornava e a limpava suavemente.

Abrindo as coxas dela, ele correu o pano morno ao longo das dobras inchadas e avermelhadas de seu sexo, limpando os fluidos e o gozo dele de sua carne tenra, pasmo com a confiança completa que dava a ele enquanto continuava a dormir.

Quanto tempo fazia desde que se sentiu segura o suficiente para dormir? Ele se perguntou. Quanto tempo fazia desde que Lilly se sentiu segura e ponto final?

Depois de se limpar, se moveu para a bolsa que deixou na porta e puxou sua arma e um clipe sobressalente do lado de dentro. Ele voltou para a cama, entrou sob a colcha, e então deslizou para o lado dela e a puxou para os seus braços depois de colocar a arma sob o travesseiro. Ela se abraçou contra ele com uma confiança inocente que estava certo que deveria falar com ela mais tarde. Afinal, não era nada mais que um lobo em pele de cordeiro. O inimigo posando como amante.

Jogando o cabelo dela para trás, deixou seus olhos fecharem e se deixou dormir. Não era um sono fundo, não aqui, não ainda. Ele não sabia se havia segurança aqui, não conhecia a área, mas conhecia Lilly e sabia que se protegia. Pela maior parte do tempo.

Assim que ambos estivessem vestidos e prontos para enfrentar o dia, então teriam que conversar sobre esta noite, e teriam que enfrentar as implicações do que ela havia forjado.

Até lá, ela dormiria em seus braços, contra seu coração. E no momento pelo menos, era totalmente dele. A Ops não importava, a missão que se danasse. No momento, ele era apenas um homem abraçando sua mulher, e queria cada momento que pudesse roubar.

 

Lilly caminhou através das portas duplas e largas da casa de sua família na tarde seguinte para enfrentar a desaprovação da mãe e do tio.

—Onde estava?— A mãe dela estava espumando de raiva novamente. Desta vez, não se preocupou em esconder isto. O cigarro estava entre os dedos enquanto encarava Lilly furiosamente. —Sabia que estava pronta para chamar o FBI ? Pelo amor de Deus, Lilly.

Culpa a tomou. Deveria ter ligado, talvez deixado uma nota. Travis passou um sermão nela por causa disso.

—Sinto muito, precisava de tempo para pensar. — Ela ergueu os ombros enquanto seu olhar se movia para Desmond.

Ele estava furioso. Os olhos azuis pálidos a encaravam enquanto cruzava os braços sobre o tórax. Os músculos sob a fina camisa de algodão incharam, atestando a raiva que inchava seu corpo.

—Onde está sua cabeça?— Angelica se virou e marchou através da sala, a cabeça no alto, o afiado odor de tabaco a seguindo.

—Sugiro que entre na sala da família— Desmond grunhiu entre dentes cerrados. —Correr não vai te trazer nada de bom desta vez.

Lilly curvou as sobrancelhas. —Tenho vinte e seis anos, tio, não seis — ela o informou.

—Então talvez devesse começar a agir de acordo com sua idade — ele replicou enquanto ele, também, girava sobre os calcanhares e seguia a mãe dela.

Ela realmente queria fazer exatamente o que ele disse para não fazer. Correr e se esconder. Enfrentar a ira da mãe nunca foi seu esporte favorito.

Soltando uma respiração dura, correu os dedos pelo cabelo antes de seguir os dois. Entrando na sala, se moveu em direção ao bar primeiro, ignorando o xingamento murmurado da mãe enquanto agarrava o uísque.

—Isto é bebida de cavalheiros — Angelica a lembrou. —Não é uma bebida para damas educadas.

—Eu não sou mais uma jovem dama educada— Lilly disse a ela.

Despejando um gole, Lilly virou o copo depressa, os olhos tremulando com a queimadura agradável que bateu no estômago. Pensando sobre isto, ela distintamente se lembrou do fato que uma taça de vinho normalmente acompanhava qualquer conversa com a mãe. Angelica era uma personalidade dominante, e não era sempre fácil se entender com ela, mesmo seus filhos.

—O mínimo que podia me mostrar de respeito era me dizer quando ficará fora nos seus jogos tolos— Angelica atirou. —Me impediria de informar ao FBI que minha filha foi sequestrada novamente.

—Sequestrada?— Lilly se voltou para sua mãe. —Eu não fui sequestrada na primeira vez, mãe.

Angelica socou o cigarro num cinzeiro próximo antes de olhar para a filha desdenhosamente. —E como sabe? Se lembrou dos últimos seis anos?

—Não, não lembrei— ela declarou claramente. —Mas acho que saberia se fosse sequestrada, mãe.

—Duvido que saberia— Angelica disse a ela, a voz fria e frágil.

Lilly deu de ombros. —De acordo com o relatório do investigador, tive bastante liberdade nos últimos seis anos. Não sei como os sequestradores permitiriam a sua vitima carregar uma arma. E não me lembro de nenhuma menção no relatório de pedido de resgate.

Lilly escorou os cotovelos no bar atrás de si e olhou fixamente de volta para o par.

—Ligarei para o Dr. Ridgemore de manhã cedo — Angelica disse entre dentes cerrados. —Claramente precisa de ajuda que não posso fornecer.

Ridgemore? Lilly olhou a mãe em choque. Ela estava bem ciente de quem e o que o Dr. Ridgemore era e fazia. Era sócio e chefe de um hospital psiquiátrico em Le Fleur, França, para onde as companheiras da mãe dela frequentemente enviavam seus filhos para avaliações quando eram considerados incontroláveis.

—Mãe, esse não é um engano que vai querer cometer— Lilly declarou suavemente. —Depois de todo este tempo separadas, não vai querer se certificar que eu nunca mais volte a esta família novamente, certo?

Le Fleur era a ruína da existência das crianças neste conjunto social em que Lilly um dia foi parte. Se desobedecessem aos seus pais, eram enviados para o hospital. Se ficassem viciados em drogas, tentassem se casar com alguém que os pais desaprovassem, tomassem qualquer decisão sozinhos, então eram enviados para lá.

Não era toda família que praticava tais decisões odiosas, mas havia mais que uns poucos. Não podiam lidar com seus filhos, então obviamente algo estava errado com a criança, não com os pais. No caso de Angelica, a ameaça e a preocupação eram muito reais. Quando um dos membros de sua família não se ajustava, algo tinha que estar errado com eles.

—Como parece determinada em conseguir se matar, parece a alternativa perfeita— Angelica respondeu furiosamente. —Leu o relatório que Desmond recebeu sobre você, Lilly. Considerou as repercussões que uma vida como essa poderia ter na sua família se viesse a público? Você ao menos se importa?

A voz da mãe dela erguia a cada sentença, fúria enchendo cada palavra enquanto seus punhos cerravam ao lado do corpo, o rosto corando em um matiz delicado, rosado.

Antigamente, Lilly teria ficado desesperada para satisfazer a mãe. Houve um tempo em que conhecia nada além do medo da ira de sua mãe. Não porque a espancaria, ou mesmo a castigaria, mas porque com os ataques vinham os silêncios de censura, a falta de mesada, as chaves do carro tomadas, amigos enviados embora na porta de casa.

O quão infantil cada um daqueles castigos parecia agora. Se não tivesse a falta de mesada para se preocupar.

—Sinto muito, mãe, posso entender o quanto aquele relatório do investigador pode afetar a família — ela declarou, resignação a enchendo.

A mãe dela nunca a deixaria esquecer aquele relatório. Não importava qual fosse a verdade eventualmente descoberta; o fato que havia a sugestão mais leve de impropriedade atada ao nome dela era o suficiente para assegurar Angelica de nunca se esquecer de acusar a filha de tal coisa. Ou que essa acusação poderia se tornar de conhecimento público.

—Duvido muito que tenha pensado na sua família um momento sequer durante os anos em que esteve fora— Angelica disse firme. —Se tivesse se importado, mesmo que um pouco, então teria pelo menos nos deixado saber que ainda estava viva.

A dor encheu a voz de Angelica então.

—Talvez estivesse tentando proteger você, mãe. — Lilly não podia imaginar qualquer outra razão. —Já considerou isto? Alguém matou meu pai e obviamente tentou me matar.

—O que apenas me diz que estava de alguma maneira envolvida em seus malditos joguinhos— Angelica começou furiosamente. —Estava, Lilly? Foi isso o que quase te matou? Por favor, Deus, diga-me que seu pai não te levou para a busca paranoica que fez na Harrington.

—Mãe— Lilly disse exausta, não querendo entrar neste assunto. Ela tinha ficado ultrajada quando o pai dela suspeitou que os próprios donos houvessem roubado parte da companhia. Os acionistas eram amigos.

—Francamente— Desmond respirou roucamente. —Suspeitamos que seu pai tenha desenvolvido um pouco de demência, talvez. Quero dizer, pensar que alguém de dentro da Harrington ou talvez um acionista, estivesse desviando capital das companhias. Ele se recusou a aceitar que quem quer que tivesse roubado o dinheiro caiu fora, ou que não estavam mais movimentando as contas.

Demência?

Lilly encarou o tio enquanto lutava para se segurar do choque. De jeito nenhum alguém poderia ter acreditado que o pai dela esteve doente.

—Meu pai não estava doente— ela declarou finalmente, o sentimento de traição a enchendo e se concentrando contra o seu tio. —Foi assim que fez minha mãe casar com você? Espalhando tais mentiras sobre meu pai?

—Lilly!— Angelica ofegou. —Como ousa dizer tal coisa.

Lilly agitou a cabeça enquanto os lábios de Desmond afinaram, o olhar estreitando para ela furiosamente.

—Evidentemente, meu pai estava lidando com muito mais que eu sabia antes de sua morte — ela os informou firmemente. —Como poderiam ter acreditado, mesmo por um momento, que meu pai estava doente?

Angelica olhou para ela por longos momentos, os seios subindo e caindo depressa enquanto tensão espessava ainda mais no ar.

—Você não tem nenhuma ideia do que está falando— Angelica sussurrou finalmente. —Não o viu como ele verdadeiramente era, Lilly. Você viu seu pai, e como uma criança, desculpou as inconsistências.

Lilly ergueu a mão para deter a próxima tirada.

—Me recuso a discutir sobre esta suposta enfermidade— ela retrucou. —Você e eu sabemos que não havia nada de errado com papai além de uma família que obviamente se recusava a acreditar nele. E eu entendo como se sentiu se foi corajosa o suficiente para questionar a sanidade dele em sua própria cara. Meu Deus, mãe, simplesmente porque ousamos nos opor a você ou porque criamos algo, não significa que sejamos de alguma forma mentalmente deficientes.

—Não, mas quando se joga fora um título, riqueza e uma casa estável pela vida que teve durante seis anos, então não há nenhuma dúvida na minha mente que estava mentalmente desequilibrada— a acusação foi forte. —Leu aquele arquivo, Lilly? O seu cérebro egoísta entendeu o que nos fez por seis anos? Você me privou da minha filha. Você se privou da sua família. Por que razão? Pelo menos me dê uma. Por que faria tal coisa?— Ela estava gritando quando terminou. A voz e expressão da mãe estavam com tal tormento e fúria que Lilly teve que lutar contra as lágrimas que encheram seus olhos.

—Eu não sei — ela sussurrou dolorosamente. —Se eu soubesse, mãe, te diria.

Diria mesmo?

Mesmo enquanto as palavras saíam de sua boca, Lilly teve o pressentimento que não diria a verdade a sua mãe. O que quer que a levou para longe de sua família era uma ameaça para eles também.

—Está muito bom, mas... — Os ombros de Desmond apertaram enquanto ele uma vez mais cruzava os braços sobre o tórax. —Isso não muda o fato que as suas ações agora são inaceitáveis, Lilly. Ficou terrivelmente selvagem desde que se conectou com Travis Caine novamente. Esta associação deve ter um fim imediato.

Lilly piscou de volta para ele. Tinha o desejo mais louco de rir na cara de ambos.

—Eu não tenho mais dezesseis anos, tio Desmond— ela disse calmamente. —Travis é uma conexão com as memórias que perdi e que me levou da minha família. Terminar esse contato não é uma ação que estou disposta a tomar neste momento.

Tinha o pressentimento que não seria uma ação que estaria disposta a tomar a qualquer hora, mas sabiamente não fez nenhuma menção a esse fato.

—Eu adverti que ela se recusaria a escutar a razão— Angelica disse. —Caine de alguma maneira conseguiu encantá-la.

—Oh, meu Deus, mãe. — Lilly riu desta vez. —Me encantar? Não estamos na Idade Média, sabe, e Travis Caine não é algum tipo de mago.

—Ele é um criminoso, isso é o que ele é— a mãe dela discutiu. —Um elemento que sempre te atraiu. Estava sempre tentando conversar com os elementos menos desejáveis que frequentavam qualquer festa que era convidada. Não importava aonde fossemos, sempre parecia ser atraída pelas sombras. Eu adverti seu pai que não teria um bom final se continuasse com esse hábito.

         Discutir com a mãe dela era infrutífero. Ela e o pai frequentemente discutiam a inabilidade da mãe dela de admitir que estava errada, e as provações de amar uma pessoa que percebia que eles tinham falhas.

         —Lilly, não está completamente curada— Desmond disse suavemente, a expressão ainda cheia com censura enquanto a olhava. —Até que esteja bem o suficiente para entender as decisões que está tomando...

—Não seja condescendente comigo, tio Desmond — ela o advertiu então. —Não sou uma criança, nem uma simplória.

—Então pare de agir como uma tola!— A mãe dela disse.

—Já chega. — Lilly girou para a porta e começou a caminhar através da sala. —Esta discussão está terminada.

—Não ouse sair assim, Victoria!— A mãe dela exigiu furiosamente. —Não aceitarei isto.

Lilly a ignorou.

Andando a passos largos da sala e subindo os degraus, Lilly não pôde evitar e se perguntou se talvez o tio dela de alguma maneira conseguiu enganar o pai dela. Ou pior, se poderia ter matado o irmão.

Coisas estranhas aconteceram, ela pensou. Desmond obviamente queria a esposa do irmão. Desmond nunca se casou. Não tinha filhos. Se dedicou ao irmão e à família dele. Ou simplesmente se dedicou à cunhada?

Isso tudo era doentio. O pensamento fez com que o estômago dela embrulhasse enquanto marchava para o quarto, batia a porta e a trancava.

Desmond poderia ter realmente matado o próprio irmão?

Deus, não poderia imaginar tal coisa. E conhecendo a obsessão completa da mãe com as aparências, simplesmente não podia imaginar Angelica aceitando algo tão horrível.

Isso não significava que não o houvesse feito, porém.

Compassando para a janela, olhou fixamente além das profundidades sombreadas e frias dos jardins abaixo e lutou para dar sentido ao que estava acontecendo ao seu redor.

Era óbvio que Travis sentia que Desmond ou Jared estavam envolvidos na morte do pai dela, e na tentativa de assassinato da vida dela também.

Agora, por que iria um “facilitador”, um homem que era não mais que um criminoso, na verdade, se importar de provar se alguém estava envolvido ou não na historia?

Ela fez uma careta com o pensamento. Essas coisas não se ajustavam à personalidade do homem conhecido como Travis Caine. Um homem que não tinha nenhum problema em matar em nome do seu chamado ‘trabalho’.

Um sorriso melancólico curvou os lábios dela com o pensamento. Ele agia mais como um agente que como um criminoso.

E fez várias observações boas. Uma era o fato do pai dela confiar a ela muito mais informações que qualquer um já havia suspeitado.

Parte dessas informações eram o login e a senha das contas financeiras da Harrington que acharam em um servidor especial no Solar Harrington.

Ela girou e olhou fixamente para o laptop em sua escrivaninha.

Não era seguro. Alguém poderia tê-lo hackeado e espiar quaisquer informações que olhasse. Precisava da habilidade de deixá-lo seguro, e precisava disso depressa.

Será que alguma coisa nesta casa era segura? Ela girou devagar, as pestanas abaixadas, o olhar indo para as áreas que possivelmente podiam esconder uma câmera fotográfica. Achar escutas seria uma coisa muito mais difícil...

Uma memória relampejou em sua mente. Guardou um laptop seguro assim como uma variedade de dispositivos para áudio e vídeo.

Ela se lembrou de envolvê-los em bolsas protetoras e colocá-los no gabinete no canto.

Sentando na cama, tirou as botas, com cuidado para manter as atitudes corriqueiras. Algo a advertia que seu quarto estava realmente vigiado de alguma maneira. Estava mais propensa a suspeitar de áudio que vídeo. Não que um vídeo a aborrecesse tanto.

Ela quase riu do pensamento. Ela visitou a Riviera francesa mais de uma vez e fez uso das praias de nudismo lá. Nunca foi particularmente tímida sobre seu corpo, apenas bastante exigente sobre compartilhá-lo.

Escaparia hoje à noite e conseguiria os artigos que precisava. Conseguiria algumas horas sem ser pega, não iria ficar a noite toda.

Estranho, não sentia nenhuma sensação de trepidação pelo fato de espiar as finanças da família. Uma parte dela estava muito determinada a achar quem havia assassinado seu pai e estava agora determinado a matá-la.

Era uma ameaça para alguém. Ameaça suficiente para não terem ficado seguros do fato de ela ter morrido naquela batida de carro. Eles a procuraram, e de alguma maneira, conseguiram achá-la.

Esse era outro engano da parte deles.

O primeiro foi matar o pai dela.

O segundo forçá-la a voltar a viver uma vida da qual obviamente partiu.

Enquanto se dirigia ao banheiro, uma batida baixa soou na porta.

—Sim?— Girando, ela viu a porta abrir devagar.

—Toalhas frescas, madame. — A empregada doméstica delicada entrou no quarto, os braços carregados com toalhas enquanto se movia para o banheiro.

Lilly andou de volta enquanto a mulher jovem se movia no banheiro. Vestida com a saia cinza habitual e blusa branca que a mãe dela insistia que os empregados usassem, ela se movia tão tranquila e discretamente quanto possível.

Os empregados eram forçados a quase andar nas pontas dos pés ao redor da mãe dela. Ela acreditava que os empregados não deveriam ser vistos ou ouvidos a menos que não existisse outra escolha.

—Obrigada. — Lilly deu um passo para trás enquanto a jovem saía do banheiro.

—De nada, madame. — Com sorriso tímido a empregada saiu correndo do quarto e fechou a porta tranquilamente atrás de si.

Lilly agitou a cabeça com a timidez da menina antes de entrar no banheiro.

Ela pegou uma toalha e roupas antes de entrar no chuveiro e ajustar a água. Tirando as roupas, as jogou no cesto antes de abrir uma gaveta e pegar um grampo para o cabelo para que não molhasse.

O pedaço de papel dobrado sobre os grampos fez com que ela pausasse e olhasse para ele suspeitosamente.

Puxando-o, o desdobrou cuidadosamente e olhou as palavras impressas lá.

 

A discrição é a parte de maior valor em qualquer jogo.

Lembre-se de quem você é, mas nunca se esqueça o que você era, porque esse será o único modo de sobreviver. Agora, por favor, seja gentil e dê um fim no papel.

 

Os olhos dela se estreitaram com a última linha antes de dar uma olhada rápida no banheiro e suspirar fortemente antes de amassar o papel em uma bola pequena e fazer o que era solicitado.

Não era como se a nota tivesse informações assombrosas. Estava bem ciente que precisava ser muito mais que sutil no jogo que estava participando - o de descobrir quem ela era e como manter sua família desavisada. Não fez um trabalho muito bom até então.

O resto que se danasse. Se lembrava bem quem foi antes dos últimos seis anos; depois disso é que era o problema. Se sua sobrevivência dependia de se lembrar de quem ela foi durante aqueles seis anos, então estava definitivamente ferrada.

Agora, se pudesse achar um jeito de forçar aquelas memórias a se libertarem, então talvez a resposta para achar quem matou o pai dela, e que estava tentando matá-la, poderiam estar lá.

Uma coisa era certa, teria que se lembrar logo, ou acabaria verdadeiramente morta, em vez de simplesmente fingindo que estava.

 

Dois dias depois.

Travis estava montado em sua Harley e se aproximava de um armazém deserto de tijolo velho e construção rachada com janelas quebradas e portas de madeira caindo.

O time estava esperando por ele. Noah, John, Micah e Nik estavam em suas motos enquanto Jordan esperava na caminhonete preta, a porta lateral do passageiro aberta enquanto observava a entrada com os olhos azuis-neon estreitados.

Sua motorista era a pequena ruiva que deixava seu chefe louco nos melhores dias. Tehya era a piadista da unidade, uma agente que não era realmente uma agente mas todavia parte integral da unidade.

Enquanto Travis parava a moto no meio do semicírculo criado em torno da caminhonete e descia, não ficou surpreso pelo ar de especulação que parecia emanar do grupo.

Os três agentes casados, Noah, Micah e John o estavam assistindo em advertência. Tentaram adverti-lo durante os últimos dias sobre o envolvimento entre ele e Lilly, mas isso não era algo que quisesse ouvir. As advertências não eram o que precisava. O que precisava era de soluções, e não havia achado nenhuma ainda.

—Tenho que voltar pela noite— ele informou Jordan enquanto abordava os homens, que estavam agora de pé ao lado da porta aberta. —Fui convidado para a propriedade dos Harringtons por Lilly para uma pequena reunião que darão.

—O embaixador francês. — Jordan anuiu com a cabeça. —É um bom amigo da família Harrington. Desmond e o falecido Harold Harrington foram colegas dele por vários anos em Eton. A festa é uma desculpa para discutir negócios com suas contrapartes Americanas em uma jogada em que as esposas também possam participar.

—Uma festa a caráter— Nik bufou.

Os russos conheciam bem o tipo de festas que os Harringtons frequentavam. Assim como Travis, já estivera em várias reuniões oferecidas pelos Harringtons ou aqueles de seu nível social antes de sua indução na Ops.

Nik foi um membro da elite política e social da Rússia. Foi um marido, pai e um homem no caminho rápido para uma posição de liderança até que deixou puto o partido político errado.

Nik e Travis pareciam ter isto em comum. Um dia foram uma parte da alta sociedade, tiveram poder, riqueza e ideais. E esses ideais foram a causa de suas “mortes”.

—Então por que estamos nos encontrando aqui em vez de na casa segura?— Travis girou para seu chefe, então deu uma olhada rápida em torno do armazém casualmente. —E noto que os chefes da Elite Dois não estão aqui.

Santos e Rhiannon tinham o potencial de se tornarem pedras no sapato, se alguém quisesse a opinião dele.

—Esta Op está sob a jurisdição da Elite Um, da mesma maneira que seu agente está — Jordan o lembrou, o tom de voz rude. —Eles são apenas permitidos em posição consultiva. E nós estamos nos encontrando aqui para assegurar que esse status permaneça incorrupto. — O sorriso apertado e impiedoso que puxava os lábios de Jordan confirmava isso.

Bem, isso não era surpreendente? Travis apostava que isso não estava nada bom com Rhiannon em particular.

—A chefe McConnelly está fazendo tempestade em copo d’água— Jordan continuou. —Ela contatou o comandante da Elite ontem à noite para reportar o que acreditava, baseada na reunião três dias atrás com Falcão Noturno, que a viabilidade da missão está em perigo. Estive numa videoconferência com eles esta manhã com meu próprio relatório.

—E seu relatório foi?— Travis perguntou, tentando conter suas suspeitas e raiva.

—Não a joguei aos lobos se é o que está perguntando. Mas mantenha Lilly sob controle, Travis— Jordan rosnou. —Você e eu sabemos que está recuperando memórias parciais. Certifique-se que ela não se torne um perigo para a Elite Ops ou a ordem para eliminá-la sairá, Travis. Ela é uma civil agora. O comando da elite não a deixará caminhar por aí com fragmentos dos nossos segredos na cabeça.

Isso era o que Travis gostava em Jordan. Era um puta chefe. Jogava pelas regras dos cabeças da Elite Ops, do Comando da Elite, e fazia o trabalho que precisava, mas também entendia as pessoas e seus homens em particular.

—Pelas aparências, tem mais que controle sobre ela, chefe— Micah, a contribuição israelita da unidade, disse. —Ela está escapando da propriedade todas as noites e seguindo para Black Jack depois que o mordomo de Travis vai para a cama, e voltando para a propriedade na manhã seguinte como se a família dela não estivesse furiosa por causa disto.

E estavam gritando com ira, Travis estava certo disto. Desmond Harrington exigiu, mais de uma vez, que Lilly terminasse sua ligação com Travis, e a cada vez, ela se recusara.

—O psicólogo do Comando da elite não crê que Lilly poderá manter essa conduta tranquila por muito mais tempo— Tehya disse naquele ponto. —Dr. Lasal tem revisado os relatórios enviados por cada um de vocês, assim como os de Jordan e da Chefe McConnelly. Ela acredita que as partes da memória de Lilly que estão reprimidas podem estar para se soltar. Não espera que as memórias retornem por completo, porém. Pedacinhos e fragmentos podem ser mais prejudiciais que não lembrar de nada, Travis.

Travis agitou a cabeça, os lábios enrolando num sorriso zombeteiro. —As intenções de Lasal são boas, mas ela se preocupa demais com coisas que podem não acontecer— ele rosnou.

—O disfarce dela foi por água abaixo, Travis— Jordan o lembrou tranquilamente. —Tivemos sorte de salvá-la. Mas o Comando da Elite e a Ops não podem se arriscar a serem descobertos. Ela é uma ligação fraca. Se houver qualquer chance dela expor a Ops, será apagada. Nenhum de nós quer isto, mas não podemos permitir que se torne um risco para a unidade também.

—Concordo com Travis. Ela era uma ótima agente— Noah assinalou então —pessoalmente, acho que se conseguir suas memórias de volta, não falará nossos segredos.

—Está disposto a apostar a vida da Bella e do pequeno Nate nisto, Noah?— Jordan perguntou, referindo-se a esposa e ao filho de Noah. —Não estou certo que estou. — Jordan era tio de Noah antes de sua entrada na Ops. Ainda retinha essa ligação de sangue com o sobrinho, e o lembrava sempre que precisava.

—É duro apostar a vida de Bella e Nate em qualquer coisa, Jordan— o outro homem declarou friamente agora. —Mas não sou o único aqui que teve que depender de Falcão Noturno para se livrar dos problemas. Nós devemos a ela mais do que suspeita e uma promessa de apagá-la assim que isto estiver terminado. Não importa o que os seus chefes queiram.

—Isso trás à tona uma pergunta ainda sem resposta— Nik disse. —Como o disfarce dela foi descoberto? Não faz sentido alguém ter como objetivo uma garota de programa, não importa o quão exclusiva seja. Mas eles sabiam onde esperar por ela, sabiam como atingi-la, e ainda assim a investigação na brecha parece ter protelado.

Os olhos de Nik estavam em Jordan enquanto falava, a acusação clara na voz.

—Ainda estou trabalhando com o Comando da Elite sob esse ângulo— Jordan os assegurou. —O senador Stanton está particularmente preocupado com o assunto. Se a Ops for comprometida, isso arriscará sua carreira, e possivelmente arriscará a vida de sua filha.

O comando da elite era formado por um grupo de figuras obscuras que eram o centro de comando e finanças da Elite Ops. O único membro daquela seção que conheciam a identidade era o Senador Stanton. Um ponto de contato, como Jordan chamava o senador. Se tudo o mais fosse para o inferno, Stanton era um homem do qual eles poderiam depender porque sua filha era casada com um integrante do time que fornecia auxílio ao time de Jordan, a Elite Um.

O genro de Stanton, Kell Krieger, era um dos antigos Navy Seal que forneceram auxílio em muitas das missões que os ops foram enviados. A descoberta revelaria sua família aos inimigos que a Elite Ops fez durante os anos. Inimigos que não tinham nem de longe nenhuma ideia de quem os havia destruído. Se descobrissem, então os Seals assim como os Ops seriam mortos com certeza. E não haveria volta.

—Então não temos nenhuma ideia de como a identidade dela vazou, ou quem tentou matá-la, ou o que podemos esperar desta operação, certo?— Frustração vazava no tom de voz de Travis, assim como seu controle. Estava no limite com Lilly, e sabia disso. Da mesma maneira que sabia que Lilly estava em um limite extremamente perigoso consigo mesma.

—Estamos esperando que a presença de Lilly com sua família tirará o assassino de sua toca — Jordan revelou enquanto seu olhar focava em Travis. —Sentiu algum movimento ou descobriu algo?

Travis agitou a cabeça. —Tudo que temos são as informações que Noah e eu descobrimos na noite em que grampeamos o escritório.

Essas informações eram incriminatórias o suficiente. Até onde Travis acreditava, Desmond estava envolvido até o ultimo fio de cabelo. Ele apenas não estava completamente certo que tivesse algo a ver com a morte de sua sobrinha.

—Não há nenhuma informação circulando entre nossos contatos também— Tehya declarou. —Estamos no escuro aqui. Nossa única esperança é Lilly agora, e que o assassino tente matá-la novamente, e logo.

—A terceira vez é a da sorte— Jordan disse e Travis o encarou.

—Lilly é a única da organização inteira da Elite Ops que foi almejada nos oito anos da organização— Tehya declarou. —Qualquer outro golpe foi ligado às operações. Esse não é o caso aqui, do contrário, alcançaria nossos contatos.

—Isso não significa que a Elite Ops não esteja em risco por causa disso— Nik disse. —Quem quer que tenha tentado matá-la, matou o cirurgião plástico que a Elite Ops usou no dossiê como falso médico dela. Apesar dessa medida de segurança, ainda assim a acharam. Essa não é uma boa coisa. Se acharam Lilly, podem nos achar também.

Nenhum deles queria isto. Deixaram suas antigas vidas para trás e não tinham nenhum desejo de tê-las ressuscitadas.

—Morganna, Kira e eu iniciamos uma investigação sobre Santos e Rhiannon também— Tehya anunciou. Morganna e Kira eram as esposas de dois membros do time substituto. —Até agora, estão surgindo como filhos da mãe, não traidores.

Jordan bufou.

—Bom, é assim como chamamos Jordan em um bom dia, também. — Noah riu.

—As responsabilidades do comando não só apenas diversão e jogos— Jordan disse lentamente. —Santos e Rhiannon têm responsabilidades com seus agentes, assim como eu. E Lilly não é a única agente deles.

—Não, ela é nossa agora— John Vincent declarou, o olhar girando para Travis.

Travis se voltou para Jordan. —Ela sempre foi nossa— ele declarou.

E isso não era nada mais que a verdade. De algum modo todas as meninas da Elite Dois eram uma parte de Elite Um. Eles as treinaram, vigiaram. A mudança de Lilly para a base Americana de operações meramente tornaria tudo oficial. E se sobrevivessem a esta missão, era um movimento que definitivamente seria feito por Lilly. Travis faria com que acontecesse.

Jordan agitou a cabeça. —Está trazendo uma bagunça para si mesmo, Travis. — Apesar de seu tom estar cheio com desgosto, Travis percebeu a menor nota de algo próximo a inveja na voz de Jordan.

—Tentarei manter a bagunça no mínimo possível— Travis prometeu.

Jordan deu a ele um olhar duro, grave. —Faça isto, Black Jack. E deixe-me saber se ela lembrar de qualquer coisa.

Travis permaneceu mudo.

—Se há qualquer coisa que preciso saber, Travis, agora é a hora de me dizer— Jordan o aconselhou. —Estou te dando o benefício da minha confiança cobrindo seu traseiro, então pelo menos me dê a cortesia de me certificar que está fazendo o mesmo tanto por nós.

Ele agitou a cabeça. —As memórias dela não estão voltando, Jordan.

—Certo— Jordan murmurou. —Vamos apenas acabar com isso e cuidar do diabo que a tem almejado o mais depressa possível. Gostaria de tirar meus chefes da minha cola se não se importa.

—Aonde vamos daqui, chefe?— Nik perguntou enquanto se debruçava contra a caminhonete e olhava fixamente de volta para Jordan. —Essa festa terá a maior parte de nossos jogadores lá. Inferno, é quase a mesma lista de convidados da festa da noite em que Lorde Harrington foi morto.

—Isto é normal. — Jordan suspirou. —Estamos observando as festas dos Harrington por anos, uma operação em que um dos times da Elite sempre esteve presente. Nós não descobrimos nada. Quem matou Lorde Harrington o fez muito tranquilamente e sem rastro. Com exceção de sua filha.

—É um puta milagre que Lilly não foi assassinada. — Nik grunhiu. —Se Travis não estivesse naquela festa, então não teria chance.

O sorriso de Jordan era vagamente zombeteiro enquanto encolhia os ombros negligentemente. —Tivemos sorte.

—E agora está em risco novamente— Micah declarou enquanto um silêncio desconfortável descia sobre eles. —O assassino estará esperando por outra oportunidade. Não há dúvida disto.

—Por que não tentou ainda?— Tehya voltou a questionar. —Teve toda oportunidade, pelo que está esperando?

—Com certeza perguntarei a ele assim que o pegarmos. — Travis bufou. —Até lá— ele verificou o relógio do pulso—tenho uma festa para me preparar. — Ele girou para Nik. —Assim como você.

Fingir ser o guarda-costas de Travis era frequentemente mais divertido para Nik que seu trabalho verdadeiro. O bastardo tinha um senso de humor mórbido e nunca falhava em fazer uso dele sempre que tinha chance.

—Vão. — Jordan anuiu com a cabeça para as portas abertas. —O time substituto vigiou sua saída, mas temos que ser cuidadosos aqui, muitas pessoas conhecem Ian e Kell. Falando deles, creio que estarão no seu pequeno baile junto com o Senador Stanton.

Exatamente o que Travis precisava - um membro do Comando da Elite fungando no seu cangote. Mas se alguém tivesse que estar lá, melhor que fosse Stanton. Ele quase podia entender os movimentos do senador. Às vezes.

 

Lilly estava esperando por ele quando parou na garagem quase uma hora mais tarde e desligou a Harley. Parada em sua própria moto, as pernas cruzadas e balançando sobre a parte de trás, ela desceu os óculos de sol até o nariz e o olhou silenciosamente enquanto ele saía de sobre a máquina com graça lenta, preguiçosa.

Maldição, era sensual demais usando couro preto. Pernas esbeltas e poderosas dobraram e abriram enquanto ele a encarava, fazendo a protuberância entre as coxas se tornar mais proeminente. Uma camiseta escura estava estirada pelo tórax sob a jaqueta de couro, e botas de montar pesadas cobriam os pés.

Ele não estava usando capacete e seu cabelo estava bagunçado pelo vento, e a barba curta e nitidamente aparada em seu rosto dava a ele uma aparência ainda mais sensual e perigosa. Os olhos se estreitaram enquanto ela continuava a olhá-lo silenciosamente, e ele cruzou os braços sobre o peito largo.

—O que está pensando, Belle?

—Iremos logo, Belle?

Ela viu o quarto de hotel, sabia onde era, viu o homem, nu e espreguiçado na cama, os olhos estreitados, a expressão sombria.

Ele era seu amante. Foi seu primeiro amante, e enquanto olhava fixamente para ele, se perguntou se foi o único homem que desejou.

—É hora de ir, Black Jack. — Ela teve que lutar contra as lágrimas. Não queria deixar a cama morna e agradável, o homem tão sexy ou a sensação de segurança que achou em seus braços. —Nada dura para sempre, não é?

Ela abriu a porta e saiu. O avião estava esperando por ela. Tinha férias pelos próximos e poucos dias, e queria ir para casa...

Foi embora. Tão depressa quanto o jogo lento da memória começou em sua cabeça, parou. Mas diferente das memórias prévias, esta ficou. Não a provocou. Não se apagou tão depressa quanto os relâmpagos em sua mente.

Mas se lembrou das emoções, as lágrimas que lutou para não derramar. Como ficou dividida entre ficar com Travis e sair por alguns poucos dias miseráveis se escondendo, olhando a família que perdeu durante as férias curtas que recebera.

—Lilly? Você está bem?— Ela ainda olhava fixamente para ele enquanto ele balançava a cabeça, o olhar tão penetrante, como se estivesse tentando ver dentro de sua mente, localizar quaisquer pensamentos que estavam cruzando pelas sombras lá.

—Eu estou bem. — Ela atirou um olhar rápido, sensual enquanto lutava para cobrir o lapso em seu controle. —Tem um hábito bastante estranho de fazer uma menina querer viver uma fantasia para sempre.

Ela tirou a jaqueta de couro que usava. Odiava montar sem ela, mas de repente, a garagem estava abafada.

Não que tirar a jaqueta ajudasse. Enquanto o couro caía no banco da moto, o olhar de Travis chamejou ao ver a camiseta que usava, sem sutiã.

Os mamilos estavam apertados e duros, as curvas cheias dos seios de repente inchadas e sensíveis. Desejavam o toque dele. Doíam por ele. Não havia uma célula no corpo dela que não estivesse clamando para senti-lo.

Como se aquela memória e a solidão dolorida que sentia por dentro precisassem ser acalmadas. Nunca mais queria se sentir assim. Nunca mais queria ficar dividida entre a necessidade de sentir os braços dele ao redor dela e a necessidade de espiar uma família da qual não podia fazer parte.

Tinha que lutar contra as lágrimas agora. A família que desejava, que sentia falta com desespero, mal falava com ela. Havia um muro entre eles. A mãe olhava para ela e não via Lilly; a mãe não via a filha, via a garota de programa que o relatório dizia que ela foi.

E o irmão dela. Ela idolatrou o irmão, Jared, mas ele deu as costas a ela no hospital e não falou com ela desde então.

Ela se moveu para mais perto de Travis, para o calor e a aceitação que sempre sentiu dele. Ele nunca pediu que fosse alguém diferente de quem era, em nenhum momento.

Aquele conhecimento estava lá enquanto o olhava, como a observava e o silêncio crescia entre eles. Não era uma memória, era simplesmente algo que sabia.

Enquanto os seios dela deslizavam contra o peito dele, as mãos dele se ergueram, acariciaram os ombros dela até os cotovelos e voltaram. Lilly não podia evitar soltar a respiração mais leve dos pulmões, ou o prazer que corria em seus braços por causa do toque dele.

—Senti sua falta— ela sussurrou enquanto debruçava a cabeça contra o peito dele, de repente com uma apreensão por emoções que não sabia como lidar. —Por que senti sua falta tão desesperadamente, Travis? Era mesmo uma parte tão constante da minha vida?

Ela fez a pergunta, mas sentia a resposta.

—Coisas entraram no caminho, Belle— ele sussurrou, afirmando o que ela sabia ser a verdade. —Há coisas que ainda permanecem no nosso caminho.

—Ainda assim está aqui, agora. — Erguendo a cabeça, ela o encarou e se perguntou se deveria esconder as emoções que a assaltavam. Ela se perguntou se fez isso antes. Tentou se esconder? Poderia ter se dado a ele mesmo enquanto mantinha uma proteção entre eles?

—Estou aqui agora. — Ele envolveu o rosto dela, a palma morna e áspera, os dedos calosos e muito fortes. —Sempre estarei aqui quando precisar de mim, Lilly.

—Preciso de você agora. — As mãos dela ergueram para as extremidades da jaqueta dele, empurraram até que ela deslizou pelos ombros e caiu no chão de cimento aos pés deles.

Correndo as mãos para a calça jeans dele, ela puxou e arrastou a camiseta até que se soltou, então a ergueu pelos contornos duros e apertados do abdômen antes dos dedos se moverem para o zíper.

Ele a estava olhando. Estaria se perguntando o que faria? Sempre foi tão ousada, tão aventureira com ele?

Deveria ser. Podia sentir uma fome que não queria tentar controlar, que não tinha nenhum poder, correndo por ela. Como uma maré, lavava os protestos no caminho e tudo menos a fome furiosa desintegrando o caminho.

Abrindo os lábios enquanto a cabeça dele abaixava, Lilly viu os olhos dele, viu as pupilas escurecerem, a fome as encher. Não estava só nesta necessidade. Estava lá dentro dele também, quase uma entidade própria e impossível de negar.

Os lábios cobriram os dela, um grunhido faminto passou por eles logo antes do primeiro segundo de contato e infundiu o calor começando a queimar dentro dela.

Os dedos deslizaram pela calça de couro aberta. A seta larga e aquecida do pau encontrou os dedos dela, encheu demais a palma da sua mão e fez as coxas cerrarem em necessidade.

A boceta ondulou em fome, enquanto se lembrava de como era sentir a seta pesada a estirando, enchendo, uma sensação incrível atingindo bem no coração de seu sexo. O clitóris dela estava inchado, os fluidos correndo espessos e quentes para cobrir as dobras íntimas inchadas.

Prazer rolava em ondas, uma logo depois da outra, enquanto o beijo dele abastecia uma fome já nua. As mãos dele não estavam paradas também. Enquanto os dedos dela deslizavam e acariciavam a seda sobre a seta de ferro do pau, os dedos ergueram a camiseta, seguraram os seios, e tocaram os mamilos como um maestro.

Era incrível. Era sempre incrível. Toda noite que ia até ele, toda noite em que a tocava de tal forma experiente, com os golpes certos das mãos, Lilly se achava se tornando cada vez mais presa nas já profundas emoções que a tomavam.

Estava se apaixonando por ele.

Não, já estava apaixonada por ele, apenas não se permitiu perceber isto, ou aceitar. Sempre houve uma ligação, um laço que irrompível entre eles.

A cabeça dela foi para trás enquanto o beijo ficava mais duro, mais faminto. A língua passou rapidamente pelos lábios dela, tocou a língua e fez os sentidos dela ficarem fora de controle.

Jogando o braço ao redor do pescoço dele, ela esperou pelo beijo que parecia chamuscar sua alma. Chamas lambiam a carne, torturavam os mamilos onde os dedos acariciavam, puxavam e apertavam as pontas firmes.

A sensação dos dedos dele nos mamilos corria diretamente para o útero. O prazer elétrico cercava o clitóris, chicoteava ao redor e fazia raios de necessidade destrutiva irem ao coração da boceta.

Os dedos dela apertaram o pau dele apenas o suficiente para arrancar um gemido estrangulado da garganta enquanto os quadris moviam e ele empurrava a carne endurecida contra o aperto dela.

A ponta espessa e pesada estava úmida com pré-sêmen, correndo contra os dedos dela, banhando a cabeça do pau dele e aquecendo os dedos dela.

Lilly jurou que nunca mais poderia viver sem dele. Havia um núcleo escuro e faminto dentro dela que consistia de nada além da necessidade dolorida pelo toque dele. As mãos dele envolviam os seios dela, os polegar e indicador puxavam os mamilos enquanto os lábios a deixavam e se moviam para o pescoço.

Pendendo a cabeça para trás, Lilly não pôde evitar um gemido baixo que saiu dela. Os lábios eram tão aquecidos, os dentes corriam contra a carne que de repente parecia muito sensível.

Os mamilos dela doíam, precisavam do toque dele desesperadamente. Estavam inchados e duros, empurrando na direção dele, a fome de sentir sua boca neles a atormentava.

—O que quer, bebê?— Ele gemeu, os lábios acariciando o vale entre os seios dela. —Diga-me, Lilly, o que quer?

—Você sabe o que quero. — Os dedos foram para o cabelo dele, agarraram e os puxaram até que os lábios dele estavam sobre o mamilo dela, tão perto que a sensação da respiração aquecida dele sobre o cume apertado enviou calafrios pela espinha dela.

A língua saiu por entre os lábios, lambeu, e então os dois congelaram.

Se moveram em sequência. O treinamento que Lilly sabia mas não lembrava, ativou instintivamente com o odor picante de explosivos incendiando atrás dela.

Ela tentou girar para confrontar os atacantes, mas se viu sendo lançada para o lado, o corpo duro de Travis cobrindo o dela, enquanto a explosão de repente rasgava pelo ar.

A moto dela explodira.

—Saia!— Travis a estava puxando, os dedos brutalmente apertados no braço dela enquanto a arrastava até a curta distância para a entrada da garagem. Uma linha de chamas estava lambendo a armação preta macia e lustrosa da moto dele.

Ajeitaram as roupas apressadamente, os corações correndo, adrenalina bombeando pelos corpos.

Não havia tempo para chegar até as motos ou parar o que estava vindo. Com os olhos selvagens, Lilly ficou de pé, sufocando com a fumaça enquanto a porta da garagem era aberta lentamente, merda, muito lentamente. Ela olhou enquanto as chamas sedentas lambiam o tanque de gasolina da moto de Travis agora, e o interior da garagem, ficando mais altas.

—Saia!— A porta de garagem estava aberta apenas o suficiente para permitir que saíssem rolando para o outro lado.

Estavam de pé, correndo para a entrada lateral da casa, quando a segunda explosão rasgou um buraco enorme no lado da garagem, catapultando escombros e chamas. Lilly cavou os pés na grama e correu para a porta.

Girando na entrada, assistiram enquanto madeira, metal e faíscas choviam. A garagem tinha pouco nela para queimar. Agradecidamente o Hummer dele estava fora para conserto e o Jaguar estava estacionado do lado de fora ou a explosão resultante tiraria parte da casa.

—Entre. — A porta abriu e Travis a estava empurrando para dentro enquanto tirava o celular do bolso. —É Travis. Porra, venham agora para cá.

Ele desconectou o telefonema e virou para ela enquanto a empurrava na cozinha.

Nik e Henry estavam vindo pelo corredor e pararam ao vê-los.

—Fique aqui, Henry— Travis ganiu. —As motos viraram cinzas. Chamei o pessoal da limpeza. — Ele girou para Nik então. —Explosivos. Saia e veja o que pode descobrir.

Nik se moveu além dela, os olhos de um azul pálido como farpas de gelo congeladas, o corpo duro e definido saiu para ação.

Ela girou para Travis, entendimento de repente correndo por ela. —O atentado número três — ela sussurrou. —Estou começando a achar que alguém não gosta de mim, Travis.

E que esse alguém esteve na casa dele, o único lugar em que a moto poderia ser acessada. O único lugar em que alguém poderia ter escondido os explosivos.

E uma vez mais foi muito sortuda. Alguém obviamente não sabia o que diabos estavam fazendo, ou ela e Travis estariam mortos.

Enquanto Lilly girava e olhava fixamente em torno da cozinha e lutava para se segurar, começou a se perguntar se já se sentiu segura, e se esta era a razão pela qual tinha abandonado sua casa, sua família e seu estilo de vida por seis longos anos.

Para viver.

 

Ataque dois.

Lilly estava de pé na cozinha de Travis, os braços cruzados através dos seios enquanto se debruçava contra o balcão, um tornozelo cruzado sobre o outro.

Ela passava o tempo à toa, ela pensou, e observava.

Ela observava especialmente o homem vestido de preto e mascarado que se movia pela garagem e a casa. Ninguém da lei estava presente. A situação estava sendo cuidadosamente contida.

E isso não a surpreendeu. Estava atrás, mastigando um talo de aipo, assistindo, esperando, pensando.

Essa era a terceira tentativa contra a vida dela. A primeira vez foi na noite em que o pai dela foi morto, então um tiro na cabeça dela e agora a moto. E não era apenas qualquer moto. Essa era o bebê dela, ainda que não pudesse se lembrar de onde a conseguiu.

Erguendo o talo de aipo para os lábios, ela mordeu outro pedaço e escutou o ruído.

—Alguém não sabe que diabos está fazendo — na escuridão uma voz ecoou ligeiramente.

Lilly girou a cabeça para olhar fixamente para a figura que entrou no cômodo. Olhos pretos, um pouco de cabelo preto por baixo da máscara. Ele era estrangeiro.

Estava se tornando um jogo ficar em pé, assistir e deixar o conhecimento entrar na mente.

Ele era Maverick. Não conseguia se lembrar do nome que usava, a identidade que usava ou a agência a qual pertencia mas sabia seu codinome.

—Isto, ou não tiveram tempo para reunir todas as informações que precisavam. — Wild Card. Olhos fundos, escuros, de um azul marinho. Ele era diferente, ela pensou, diferente dos outros de alguma maneira. Não era um assassino. Era um herói.

Mas isso fazia dos outros assassinos?

Não, não assassinos, mas eram mais duros, mais letais, por alguma razão.

Mas um dia Wild Card também foi um assassino. Agora, era um amante, um homem que voltou para casa e aproveitou cada chance que teve.

Maverick mudou ao longo dos anos também. Da mesma maneira que Heat Seeker. Ele a estava olhando agora, os olhos cinza escuros pensativos, intentos. Como se visse mais do que ela queria.

Podia ver que sabia coisas que estava ciente que não deveria saber?

—Esses meses têm sido um inferno para você, não é, Lady Harrington?— Ele perguntou, a voz baixa, escura e um pouco divertida.

—Parece que sim. — Ela colocou o último pedaço de aipo na boca e mastigou antes de sorrir firmemente.

A cabeça dele deu um pequeno aceno com a cabeça em condolência. —Que pena. O que uma mulher bonita como você poderia ter feito para deixar alguém tão puto assim?

Ela tragou, e então inalou devagar, uniformemente. —Talvez seja minha vocação — ela sugeriu com uma extremidade de escárnio. —Uma esposa ciumenta talvez? Quem imaginaria que a vida de uma prostituta de alto nível poderia ser tão perigosa?

O silêncio encheu o cômodo. Todos os homens lá pararam, giraram e nivelaram o olhar com o dela. Até mesmo Travis. Seu olhar era escuro, a mandíbula apertada enquanto ela se endireitava e se movia através da cozinha.

—Preciso de uma carona para casa — ela o informou. —Tenho uma festa para me preparar, assim como você.

Ela parou diante dele, e por um segundo, apenas um segundo, o corpo ficou sensibilizado, o coração começou a correr. Ela ficou tão próxima naquela maldita garagem. Tão perto de se perder do que jamais esteve. Estava perdendo mais de sua alma cada vez que ele a tocava. O coração já estava perdido. Pertencia a ele, mas agora, estava arriscando o resto de sua alma.

Para quem?

O que estava arriscando? O homem que a amava ou o homem que acabaria a traindo?

—Nik?— Ela falou com o guarda-costas enquanto Travis olhava para ela silenciosamente, dando um aviso.

—Sim, Lady Lilly?— Ele sempre a lembraria de seu título.

—Preciso de uma carona para casa, por favor. Parece que Travis está um pouco ocupado no momento. — A cabeça dela girou, o olhar indo infalivelmente para os olhos azuis intensos e a posição dominante da figura mascarada que estava de pé no outro lado do cômodo.

Ele não falava muito, e nunca na frente dela.

Live Wire . Seu codinome insinuava a personalidade perigosa com a qual ela poderia estar lidando.

—Leve-a para casa, Nik — Travis ordenou, mas seu olhar nunca a deixou.

Enquanto ela se voltava para ele, os olhos presos e as emoções surgiram entre eles o suficiente para deixar o peito dela apertado, o coração pesado.

—Irei cedo — ele a advertiu. —Certifique-se de achar um soldado que poderá localizar um local discreto para discutirmos isto.

Lilly encolheu os ombros. —Sem problema. Apenas terei o mordomo para te mostrar o meu quarto. Não tem nada muito mais privado do que isto, certo?

Ela andou a passos largos do cômodo, para o corredor distante e então para a entrada lateral da casa que usaram para escapar da explosão na garagem.

Ela precisava sair de perto dos olhos a observando, os pensamentos escondidos, a suspeita. Como se a estivessem olhando, esperando, prontos para castigá-la por se lembrar de qualquer coisa que tivesse esquecido.

Memórias que desejava que voltassem logo. A dupla personalidade estava começando a dar nos nervos dela.

Travis se voltou para os homens na cozinha enquanto as máscaras abaixavam e enfrentava o time que veio correndo com a primeira palavra de perigo.

Jordan, John, Noah e Micah o olhavam enquanto ele corria os dedos pelo cabelo e dava uma respiração dura.

—Essa era a Falcão Noturno — John declarou, a voz decisiva. —Sabe, pensando nisto, não vi muito da mulher que descreve como Lady Victoria Harrington, Black Jack.

Nem ele.

Um dia ele pertenceu à alta sociedade da Inglaterra. Londres era seu playground, a realeza era composta de seus pares. Ele bebeu, dançou, participou de festas e fez negócios com as maiores elites do mundo.

Ele era o último de uma linhagem incrivelmente econômica com as heranças que recebeu. Tinham construído, economizado, acumulado. Até Travis. Até que perdeu tudo por causa da decepção de uma mulher infiel.

Travis conheceu Lilly então como Lady Victoria Harrington. Dançou com ela em festas e lutou contra o que quer que o houvesse atraído nela no momento.

Era tão jovem, tão inocente. Até então achava duro acreditar que o pai dela estava permitindo que participasse de suas atividades no MI5.

—Não, ela não é mais Lady Victoria, — ele disse, enquanto os outros continuavam a olhá-lo esperançosamente. —Seis anos como uma op, vivendo uma vida dupla, ela não é mais a jovem que era.

—Santos e Rhiannon estarão na festa — Jordan o informou então. —Eu estarei lá, assim como Ian e Kira Richards, e o tio dela Jason McClane. Melhor dar um jeito nela antes dela entrar na rixa, Travis. Porque a mulher que acabei de testemunhar é um produto claro da Elite Ops. Ninguém a confundiria com uma garotinha protegida da aristocracia, nem iriam interpretá-la como uma garota de programa. Ela é muito dura.

—Ela estava cercada pelo time em que confiou por seis anos — Travis discutiu. —Mais que seu próprio time, a Elite era um lar para ela, Jordan.

—A Elite Um sempre foi um lar para todas aquelas meninas — Maverick assinalou. —Isso não muda o fato que não são parte da Elite Um, Travis. Ela é uma agente sem apoio agora, o que significa que os chefes dela só vão se preocupar em proteger os próprios rabos.

E isso era muito duro de acreditar, de Santos especialmente. O chefe foi babá daquelas meninas desde que entraram na base. Rhiannon não tanto, ela era gelo, mas sempre parecia preocupada, no mínimo.

—O comando da elite não pode arriscar se expor. Santos não pode arriscar mentir para eles, — Jordan continuou. —Se ela quebrar, então cai nos pés dele. Somos responsáveis por nossos agentes, não importa com quais chefe estejam trabalhando no momento.

—Você daria as costas para nós tão facilmente, Jordan?— Nathan perguntou, mas todos sabiam a resposta.

Jordan daria a própria vida antes de dar as costas aos homens que comandava.

Ele agitou a cabeça enquanto esfregava o pescoço exausto com um gesto apertado.

—Isto não é sobre mim, Noah. — Jordan finalmente agitou a cabeça. —É sobre Lilly e a Elite Ops. Se não segurar a cobertura e aceitar o pano de fundo que o investigador reportou, então estamos todos fodidos. Pense nisso. Lembre-se do que eu te disse mais cedo. Se a Ops cai, estamos todos mortos. — Ele olhou para Noah, Maverick e John. —Se caímos, nossas famílias caem conosco quando nossos inimigos atacarem. Acho que é um risco que não queremos correr.

E não era uma chance que Lilly se arriscaria. Ela nunca arriscaria a vida daqueles com os quais lutou, especialmente as meninas com as quais trabalhou lado a lado nos últimos seis anos.

—Seguirei para a propriedade do Harrington — Travis disse a Jordan. —Eu me encontrarei com ela e verei como as coisas ficaram depois desta pequena explosão. Minha própria opinião pessoal baseada em assisti-la durante o treinamento e ao longo dos anos em que ela lutou ao nosso lado são que Lilly está se lembrando dos instintos que não sabia que tinha. Ela não tem as memórias, Jordan, mas tem o instinto e a intuição que a ensinamos. Não podemos tomar isso dela, já está muito arraigado.

—Vá lá. — Jordan anuiu com a cabeça. —Farei a interferência. Tenho que reportar a explosão, mas acho que posso cobrir sua relação. Uma coisa é certa, não vai ajudar a situação.

Mas, novamente, não havia muito que pudesse ajudar as coisas agora. Lilly tinha um assassino atrás dela, e quem quer que fosse, era muito escorregadio. Não era experiente, isso ele sabia. Com experiência e profissionalismo, já estaria morta. Um assassino treinado a teria apagado com a bala, e mesmo que tivesse errado o tiro, não haveria nenhum modo de ter falhado na explosão da moto.

—Precisamos conseguir auxílio para protegê-la — Noah sugeriu. —Essa é a terceira tentativa, Jordan. A próxima poderá matá-la.

—Já solicitei o time substituto e fui negado — Jordan os informou, a mandíbula apertando. —O risco é muito grande. Se vai sobreviver fora da Ops, então terá que fazer isto sozinha.

—Essa não foi a decisão do Senador Stanton — Travis rosnou. —Ele não teria votado por isto.

—Todas as decisões feitas pelo Comando são unânimes — Jordan o lembrou. —Não importa o quão pessoal seja. Ou como nos sentimos. A Ops tem que ser protegida, Travis, a todo custo.

Até a custa da vida dos seus agentes.

Travis agitou a cabeça com o pensamento. Uma parte dele entendia, mas uma parte não aceitava nada dessa droga.

—Seus agentes são a Ops, Jordan. Talvez devesse lembrar o Comando disto.

Ele girou e deixou a cozinha para fazer seu caminho para o quarto. Sua roupa formal o estava esperando dentro do plástico sobre a cama king size.

Ele ergueu a sacola e jogou-a sobre o braço, verificou o conteúdo depressa para tudo que precisava e então agarrou a bolsa para a noite que estava no chão.

Saindo da casa minutos mais tarde, seguiu em direção aos fundos da propriedade e para o galpão tosco que ficava próximo à garagem. A segurança ainda estava ativa, assegurando que ninguém chegasse ao veículo. Desativando a segurança, ele ergueu a porta e entrou ao lado do Viper preto estacionado lá.

Macio, lustroso e poderoso, como a moto que havia acabado de ser explodida, o carro esporte o esperava como uma amante fiel. Correndo os dedos pela lateral, tirou as chaves do bolso e destrancou o carro, abriu a porta e então deslizou para o lado de dentro.

Três ataques. Essa era a terceira vez que alguém tentava matar Lilly, e estava perdendo a paciência. Não sabia que porra estava acontecendo, mas estava louco para descobrir.

E tinha a intenção de mostrar à família da Lilly, e seu pequeno grupo social particular, exatamente o quanto asseguraria a proteção dela.

 

Lilly soube quando ele entrou no quarto.

Ela deixou instruções com o mordomo, sabendo que a mãe não teria terminado de se vestir antes de Travis chegar. Ela e Desmond estavam em sua ala no outro lado da casa, e seus convidados estavam semelhantemente escondidos em seus quartos se preparando para um dos eventos de negócios mais importantes do ano.

Era um dos menores eventos, mas ao longo dos anos, havia se tornado um dos mais exclusivos. Negócios eram feitos ou quebrados neste evento. Os lucros da companhia podiam ser triplicados ou, com uma palavra falada, enviados para a lata do lixo.

Também era um dos eventos sociais do ano. Por dois dias as mulheres competiam para ver quem usava as melhores roupas, asseguravam convites para seus próprios eventos, ou os eventos considerados mais exclusivos entre este grupo particular.

Era festa era uma porra de uma palhaçada de merda, era isso o que era.

Lilly mantinha as costas para a porta enquanto a cortina retrocedia com o ar, sinalizando que Travis havia fechado a porta sem mais que um mero clique na fechadura.

Girando para ele lentamente, viu que ele usava as mesmas roupas da hora da explosão. A mínima sugestão de pó e fumaça chegando às narinas sensíveis dela enquanto quase sorria à vista de uma sujeira de fuligem logo acima da sobrancelha esquerda.

—O chuveiro é por ali. — Ela anuiu com a cabeça para as portas abertas para o banheiro. —Faça uso dele se quiser.

Ele soltou a bolsa para o chão e deitou as roupas para a noite cobertas de plástico sobre uma cadeira ao lado da porta, então olhou fixamente para ela silenciosamente.

A vulnerabilidade bateu nela como um soco nas entranhas. Ela podia sentir lavando por seu corpo, rasgando a confiança que sentia que nunca teve dificuldade de manter intata antes.

Os dedos dela apertaram no cinto do robe enquanto ele se aproximava, as mãos puxando a bainha da camiseta e puxando-a pela cabeça antes de jogá-la no chão.

Ele pausou então, sentou no fim da cama, e dentro de segundos havia tirado as botas pesadas dos pés.

—O mordomo ergueu o nariz para mim — ele disse lentamente em diversão genuína. —Tenho a sensação que não gostou muito das minhas roupas sujas.

—Mas chegou em um Viper. — Ela encolheu os ombros. —O carro favorito dele. Ele te perdoará por um pouco de fuligem e sujeira.

—Ahh. — Ele anuiu com a cabeça. —Então tudo o que tenho que fazer é chegar no veículo correto?

—Quase — ela concordou. —Já que eu estava com sua limusine e seu motorista, fiquei me perguntando como chegaria. Onde tinha aquela gracinha escondida?

—Um pequeno abrigo nos fundos — ele a informou à medida que se endireitava, ficando com os pés nus enquanto jogava as meias no chão ao lado das botas. —Vejo que já tomou banho.

Ela tocou o cabelo inconscientemente. —Tenho que me preparar. Cabelo, maquilagem, toda essa chatice. Leva tempo.

Ela não podia acreditar que se sentia tão vulnerável. Onde estava a mulher escorregadia e confiante que foi horas antes? Por que diabo tudo dentro dela parecia derreter quando Travis a olhava nos olhos, com aquele olhar que a assegurava que ele estava pensando em fazer algumas coisas muito maliciosas com o corpo dela?

E estava fazendo isto enquanto estava lá de pé com os pés e o tórax nus, os pelos suaves através do peito convidando os dedos dela a tocarem e explorar.

—A festa da sua família está se transformando em um grande evento — ele declarou enquanto se movia mais perto, parando a meros centímetros dela.

—Sempre é — ela respondeu, a voz muito sem ar, muito fraca para ser a dela. —E o dia final se torna uma bagunça completa, se me lembro. Há dúzias de pedidos de última hora de convidados dos convidados.

—Eles são frequentemente aceitos?— Ele perguntou enquanto enrolava os dedos ao redor de um cacho que caia junto ao pescoço dela.

—Às vezes. — Ela tragou firmemente.

Ela o queria novamente. Deus, ela o queria até que não podia pensar ou sentir qualquer coisa além dessa necessidade.

Jurou que podia sentir a lima do pelo do peito dele contra os mamilos, mas o robe dela os separava, ela podia sentir o pau dele apertado contra ela, a boceta inchando com fome.

Não dava a mínima para a festa agora mesmo.

Aquele pensamento a fez parar. Nunca tivera esse pensamento antes, pelo menos não antes da última festa que se lembrava, horas antes do pai dela morrer.

Ela não estava pensando direito e não estava agindo também. Não podia culpar a mãe e o tio por estarem tão chateados quando tinham que enfrentar a mulher que estava se tornando. A pergunta, entretanto, era: por que ela estava chateada consigo mesma?

—Falando de convidados de última hora. — Os lábios dele tremeram zombeteiramente. —Santos Bahre e Rhiannon McConnelly conseguiram obter convites.

Ela congelou então. Encarando-o calada, sem piscar, enquanto absorvia as informações.

—Que interessante. — Ela respirou duro e fundo. —E o que devo esperar quando meus antigos empregadores chegarem hoje à noite?

Não foram lágrimas que se ergueram dentro dela, não foi depressão. Ela não foi uma garota de programa, mas o mundo a veria como uma, se aquele relatório se tornasse público. De acordo com Desmond, levou uma quantia irracional de dinheiro para impedi-lo de se tornar público.

—Você se importa com o que deveria esperar?— A cabeça dele pendeu para o lado enquanto os dedos deslizavam pelo cabelo dela, segurando-a no lugar enquanto a encarava, exigindo respostas.

—Não acho que me importo, — ela respondeu apesar dos tremores correndo por sua espinha. —Isso faria algum bem para mim, Travis? Faria o relatório ser mais fácil de engolir?

Os dedos dele apertaram no cabelo dela por apenas um segundo enquanto algo duro e brutal relampejava no olhar. Um vislumbre de ira, cuidadosamente proibido mas não escondido. Ele não gostava do relatório tanto quanto ela, talvez mais.

Ele foi o primeiro amante dela, o único, mas havia uma parte dela que estava apavorada demais para confiar nele. Uma parte dela que estava desesperada para confiar nele.

Acredite em mim, Lilly. A voz dele sussurrou pela mente dela agora como nos sonhos. Não importa o que eu sei, Lilly. Confie em mim. Mas estava apavorada demais para confiar em qualquer pessoa.

—O relatório não importa — ele rosnou. —Está me ouvindo, Lilly?

—A menos que as emissoras internacionais de notícias consigam pegá-lo. — Ela sentiu os lábios tremerem e lutou para pará-los.

Não era uma chorona. O pai a ensinou a não ser uma chorona. Ela mantinha o queixo alto, um sorriso frio no rosto, arrogância cintilando nos olhos. Ela era da realeza. Bom, distante da realeza, mas realeza mesmo assim.

Ou ela foi.

Travis olhava os olhos dela, sempre a olhava nos olhos. Um dia, foram de um lindo castanho claro. Cheios de inocência e ideais. Ela foi jovem, doce e sempre mentiu facilmente quando estava brincando de gatinha curiosa.

Mas não estava mentindo agora. Podia ver a humilhação que relampejava nos olhos dela ao pensar no relatório do investigador, com o pensamento daqueles que acreditava serem seus antigos empregadores aparecendo na festa de sua família.

Não havia medo nos olhos, mas dor e confusão. E uma ânsia de algo mais que sexo.

—Eu te prometo que Santos e Rhiannon não querem que aquele relatório seja revelado tanto quanto você. — Queria contar a verdade a ela desesperadamente, ao menos sugerir que estava encenando um papel, que nunca foi uma garota de programa.

—Não é tão tranquilizante. — Ela se moveu para ir para longe dele.

Travis se recusou a soltar o cabelo dela, sabendo que a seguraria lá, manteria no lugar. Ela nunca foi embora quando ele acariciava o cabelo dela, e deixava as pontas dos dedos dela acariciarem o couro cabeludo.

Ela o encarou, mas o olhar ainda tinha aquela extremidade de aço, aquela desconfiança cínica que cintilava sob a excitação ainda presente.

—Vai ser tranquilo — ele prometeu. —Lilly, não importa o que tema, não há ninguém que queira ver seu passado se tornar um risco para sua vida agora.

Ele soltou o cabelo dela, deixou os dedos correrem pela bochecha, mandíbula, enquanto o polegar acariciava os lábios trêmulos. A mulher que conhecera como Lady Victoria Harrington era suave, gentil. Uma verdadeira dama. A mulher conhecida como Falcão Noturno havia construído uma nova vida para si. Havia treinado, aprendido. Tinha uma missão, treinamento e treinamento de novo. Nunca parava, nunca descansava.

—O passado ainda é um risco — ela o informou. —Se for verdade, então nunca estarei livre, não é, Travis?

Se fosse verdade. Ela o estava apertando, perguntando, testando.

—Nunca será livre do passado, Lilly — ele concordou.

Antes que pudesse dizer qualquer coisa mais, perguntar o que pudesse, neste momento, arriscaria a ambos, ele deixou os lábios cobrirem os dela, deixou o beijo roubar as perguntas dos lábios.

Não estavam seguros aqui. Ela foi traída por alguém de dentro desta casa.

Ele deixou a fome a subjugar por alguns momentos preciosos. Lábios com lábios, língua com língua, as mãos acariciando sob o robe, acariciando a carne acetinada, acompanhando as poucas cicatrizes de seu corpo seguro. Na coxa, quadril, ao longo do ombro. Ele as achou, acariciou e remexeu o fogo que começava a chamejar entre eles.

Estava sempre lá, logo abaixo da superfície, aguardando. Um fogo quente o suficiente para queimar pela noite mais fria e aquecer o coração mais duro.

Acariciando as mãos de volta nas coxas dela, ele deixou a palma deslizar entre elas, sentiu os cachos suaves, sedosos, a chuva de fluidos doces que banhavam as dobras rechonchudas.

Era como uma chuva de mel encontrando sua carícia. As coxas se separaram enquanto a respiração dela ficava dura, aos arrancos. Correndo na racha um orvalho rico, ele achou o broto rechonchudo e inchado do clitóris, tão sensível que ela arqueou e gemeu com fome enquanto ele acariciava ao redor em um círculo apertado.

Trazendo-a para ele, deixou os dedos acariciarem o pequeno broto apertado, roçando ao lado como sabia que ela gostava, acariciando a capinha fina acima do broto delicado, sensível.

A cabeça dela foi para trás, os quadris curvaram adiante, e Travis podia jurar que o clitóris dela inchou mais e ficou mais duro enquanto ela começava a tremer nos braços dele.

Ela estava muito perto da liberação. Era rápido e fácil, para ele. Ela respondia a ele, ela tremia em seus braços, doía de desejo só por ele.

Os lábios cobriram os dela uma vez mais, os dedos dele abrindo mais os lábios rechonchudos da boceta cerrando, a entrada aquecida que o atraía como a um imã.

Ele circulou a entrada aquecida e lisa novamente, então imergiu lentamente.

Teve que arrancar os lábios dos dela e friccionar os dentes enquanto os músculos apertados da boceta dela agarravam seu dedo, ondulando ao redor dele e tentando puxá-lo para mais fundo. Era a carne mais doce e mais quente que já conheceu na vida.

—Termine — ela gemeu, o joelho curvando, a perna erguendo junto da coxa dele, abrindo-se para ele.

Ele deslizou um segundo dedo dentro dela, sentindo o tecido tenro estirando em torno da empalação. Era a sensação mais sensual que já conheceu. Lilly não era a primeira mulher que tocava tão intimamente, mas maldita se não era a mais responsiva, a mais doce. Era ela quem fazia o sangue dele ferver nas veias, pulsar no pau. Era ela quem enchia suas noites com fantasias e que mantinha sua fome no limite dias e noites a fio.

—Travis, está me torturando — ela gemeu, um gemido baixo que deixou os músculos dele mais apertados e fez com que as bolas pulsassem com a necessidade de enfiar o pau nela.

Ela o estava deixando louco. Quando Lilly estava ao redor, até mesmo a missão ficava em segundo plano.

—Preciso de você — ela chorou. Um gemido suave que fez os dedos dele irem mais fundo dentro dela, sentindo a carne aquecida chupar os dedos enquanto a outra mão arrancava a calça.

Deus, se não a fodesse, iria morrer de necessidade. Tinha que entrar nela. Tinha que enchê-la, bombear dentro dela, sentir o prazer explodindo no nirvana completo que atingia quando gozava dentro dela.

Os dedos sedosos e espertos dela acariciavam o pau dele, segurando-o firmemente enquanto ele endurecia a uma intensidade dolorosa.

Arrastando os dedos do aperto da boceta, Travis deu um grunhido desesperado enquanto erguia a perna dela com uma mão, os quadris com o braço ao redor dos dois.

—Ponha as suas pernas ao meu redor — ele ordenou desesperadamente.

Choramingos vieram dos lábios dela quando a ergueu e fez as pernas dela envolverem os quadris enquanto guiava a cabeça do pau para o portal doce entre as coxas dela.

Era o paraíso. O êxtase puro o engolfou enquanto começava a entrar nela, tomando-a, possuindo todo aquele calor que aquecia os lugares em que a alma dele esteve fria antes de encontrá-la.

Lilly sentiu o pau branco e quente, duro como ferro, entrar nela. A cabeça dela pendeu contra o ombro, os braços e pernas apertando ao redor dele enquanto ele empurrava dentro dela, enviando metade do comprimento da ereção poderosa dentro dela com um golpe de prazer violento.

Queria gritar, mas não conseguia achar a respiração, as sensações eram muito intensas, muito ígneas.

Podia sentir o comprimento espesso do pau dele a estirando, queimando, enquanto os fluidos dela se apressavam para lubrificar e preparar os nervos finais ultra-sensitivos expostos pela penetração. Nada poderia tê-los preparado. Tinha que aprender isto. Cada vez que a tomava era o mesmo, tanto prazer que se perdia dentro dele.

Apenas podia se segurar enquanto sentia as costas encontrando a parede, os braços dele envolvendo o traseiro dela para segurá-la para ele enquanto começava a fodê-la com golpes duros, poderosos.

Cada estocada arrancava um grito dos lábios dela e enviava prazer rasgando por ela enquanto lutava para empurrar contra ele, as coxas o apertando, as mãos cerrando nos ombros dele enquanto ela deixava a sensação primorosa a comandar.

Os golpes penetrantes e fundos a estiravam e queimavam, acariciavam nervos finais nus para um precipício de sensação tão intensa que estava ofegando para respirar, pedindo, pleiteando.

Quando a explosão veio, lançou-a para o êxtase. Ela se sentia como se fosse uma criatura feita apenas de sensações. Uma massa de impulsos sensuais que explodia inúmeras vezes, deixando-a ofegante e completamente saciada nos braços dele.

 

Lilly deu os toques finais de sua maquilagem e colocou o último alfinete de safira no cabelo enquanto Travis saía do banheiro, completamente vestido em seu fraque preto. As mechas loiras escuras e castanho claras de seu cabelo que desciam pela nuca foram amarradas. O inicio de barba e bigode ainda estavam presentes, nitidamente aparados e dando ao seu rosto uma aparência escura e libertina.

Era bonito demais, e muito perigoso também. Não havia nenhuma dúvida que Travis Caine era um homem que os outros deveriam ter cuidado ao cruzar.

O que planejou para hoje à noite? Ela se perguntou. Não acreditava em coincidência e a presença de seus denominados antigos empregadores na festa, assim como Travis, era uma boa indicação que algo estava rolando.

Ou alguém estava tentando descobrir algo. Essa suspeita estava firmemente implantada na cabeça dela agora, e se recusava a ir embora. Não podia evitar e acreditava que Santos Bahre e Rhiannon McConnelly estavam rondando pela simples razão que era algum tipo de ameaça para eles.

Rhiannon McConnelly a havia assegurado que ela e Santos Bahre não estavam lá para arrastá-la de volta ao tipo de vida que viveu nos últimos seis anos. Havia uma parte de Lilly que realmente acreditava nisto. Então o que mais poderiam estar atrás?

Até que ponto podia confiar neles? Tinha o pressentimento que confiar neles era a última coisa que deveria fazer.

Então onde isso a deixava com Travis?

—Estamos chegando na hora certa, ou elegantemente tarde?— Ele perguntou enquanto surgia atrás dela no espelho e ajustava a gravata borboleta no pescoço.

Por um momento, um jato de medo a lavou, uma premonição que iria perdê-lo. Ela quase podia vê-lo indo embora, recusando-se a olhar para trás, deixando-a só. Tinha que se preparar para isto. Nada dura para sempre; ela já aprendeu essa lição. Em um piscar de olhos, ou o tiro de um assassino, tudo podia ser jogado para o alto.

—Você não me respondeu, Lilly — ele assinalou, a voz gentil. —Você está bem?

—Eu deveria estar saudando os convidados com minha mãe. — Ela respirou profundamente enquanto lutava para sair da névoa de conhecimento e memórias que podia sentir a aguardando. —É uma festa de boas-vindas também.

Uma celebração, a mãe dela havia chamado. Um tempo para celebrar com os amigos o fato que Lilly retornou, que não estava morta.

A explicação dada aos amigos e a família foram simples. Que ela fugiu, se escondeu para tentar superar o que aconteceu naquela noite em que o pai morreu.

A batida foi declarada um acidente. O pai de Lilly estava no volante e várias testemunhas oculares juraram que o viram saindo da propriedade juntos.

Não era possível. Não sabia quem estava dirigindo o carro naquela noite, mas não era o pai dela. Já estava morto. Sabia disto. Não era algo que sentia ou suspeitava, era uma das coisas que sabia sem as memórias para encobri-las e substanciada por Travis. De acordo com ele, isto era o que disse a ele também.

Quando Lilly não tinha nenhuma resposta de onde esteve ou o que fez por seis anos, a mãe procurou essas respostas. Tinha achado muito mais do que queria.

Era como se a mãe dela assumisse que ninguém mais se preocuparia em caçar a identidade que a filha usou naqueles seis anos e conduziu uma investigação nisto. E o que pensava que os jornalistas, que eram como cães de caça atrás dela depois que saiu do hospital, estavam fazendo? Parados esperando?

—Está se preocupando novamente — Travis declarou suavemente enquanto colocava as mãos nos ombros dela e a encarava através do espelho.

—Talvez tenha coisas para me preocupar — ela replicou enquanto se movia de perto dele e alisava as mãos nos quadris da saia balão cor de safira que vestia.

Checou sua aparência uma última vez, ajustou as safiras no pescoço, verificou os sapatos altos cor de safira em busca de quaisquer manchas e então se voltou para ele.

—Por que Santos Bahre e sua sócia estarão presentes hoje à noite?— Ela perguntou diretamente, sabendo que iria pelo menos ter uma ideia do por que.

—Curiosidade talvez. — Ele encolheu os ombros. —Podem desejar que uma parte de você queira retornar a sua antiga vida, ou que qualquer memória que volte lhes dê um pouco de vantagem competitiva.

As sobrancelhas dela se ergueram. —Não posso imaginar como os interesses deles em negócios podem coincidir com algum interesse da minha família.

—Você ficaria surpresa. — Os lábios dele tremeram em diversão. —Santos e Rhiannon são pessoas de negócios extremamente astutas. Têm muitos mais interesses que alguns gerentes de negócios.

—Gerentes de negócios?— Os lábios dela apertaram. —Essa é uma droga de título para dar a eles, Travis. É minha compreensão que eles são não nada além de alcoviteiros de alto nível.

Ele a surpreendeu.

Prendendo os braços dela, ele a girou e encarou furiosamente. —Estou ficando cansado de te ouvir se chamar de prostituta, Lilly. Nunca foi uma prostituta.

—De que mais chama uma garota de programa de alto nível?— Ela retrucou.

—O título que o maldito investigador usou estava longe da verdade — ele rosnou enquanto a soltava e então compassava para o fim da cama.

Quando se voltou, os olhos pareciam incendiar com raiva.

—Foi paga por serviços prestados, e esses serviços não eram necessariamente sexo. Você foi treinada para combate, operações secretas e como ser uma companhia em situações perigosas. Não era paga por sexo. Se fazia sexo com os homens com quem trabalhava, era sua escolha, não seu trabalho.

Lilly o encarou. —Diga-me, Travis, uma vez que a imprensa colocar as mãos nessa história, como pensa que verão? E conseguirão pegar.

Ele agitou a cabeça. —Aquele investigador escreveu seu relatório baseado em informações dadas por fontes menos que confiáveis — ele rosnou. —Santos e Rhiannon operam negócios legítimos. Suas ‘escoltas’ são anunciadas como uma natureza de segurança pessoal. Acredita mesmo que arriscariam suas reputações ou seus clientes por menos? Podem ter alguma sugestão da inclinação para criar problemas que você parece ter, ou os indivíduos quase intragáveis que pode ter trabalhado. Mas não há nenhum cliente que solicitasse os serviços da Escorts Etc. que reivindicasse você ou as outras meninas como prostitutas.

O queixo de Lilly ergueu, os lábios apertados. —Essa não foi a impressão que tive enquanto estava trabalhando — ela sibilou. —Não negue, Travis.

—Impressão e verdade são duas coisas diferentes — ele rosnou. —A Escorts Etc. tem clientes confiáveis e respeitáveis que jurarão que você não foi qualquer coisa exceto uma guarda-costas magnífica. Fora isto, sim, era conhecida por lidar com indivíduos menos respeitáveis. Sim, o investigador pode ter falado com um ou mais deles. Mas confie em mim, se a imprensa realmente conseguir levá-los a falar, nunca ousarão dizer que era nada menos que uma guarda-costas bonita e sociável. Essa cobertura será o suficiente, Lilly, juro a você.

—Cobertura! Faz soar como se eu fosse uma droga de agente — ela retrucou. —De ambos os lados? Não me venha com contos de fadas, Travis, porque li o relatório que Desmond está usando sobre você também. É um ‘facilitador’. Um homem que trabalha para ambos os lados para qualquer país. Não é mais patriota do que fui, evidentemente.

—Sou um homem de negócios. — A mandíbula dele apertou furiosamente.

—Você é um mentiroso!

Lilly estava chocada com as palavras que saíram dos lábios, o conhecimento que de repente tomava seu cérebro como uma tempestade, trazendo uma explosão de dor às têmporas.

Quase se dobrou por segundos breves com a agonia que irradiou por seu crânio, mas pelo brevíssimo tempo, o conhecimento permaneceu.

Ele estava mentindo. Era muito mais que um homem de negócios, e muito mais que um homem que trabalhava para ambos os lados. Mas o que ele era? A resposta permanecia enganosa como sempre.

—Lilly!— Ela o sentiu saltar em sua direção à medida que ela tropeçava, a dor reverberando pela cabeça como um ácido pelas veias.

Estrelas brilhantes explodiram diante de seus olhos, quase roubando sua consciência enquanto a luz de dor se intensificava a um nível agonizante.

—Shhh, tudo bem. Estou com você, bebê. Estou aqui. — As palavras ecoavam pela cabeça dela, enquanto as memórias ameaçavam, pelo segundo mais breve, explodir sua cabeça.

—Estou com você, Lilly — ele sussurrou novamente, sustentando o corpo dela, segurando-a verticalmente enquanto ela lutava contra a pressão brutal no cérebro.

—Sinto muito — ela ofegou enquanto os braços dele iam ao redor dela, segurando-a contra ele enquanto a dor retrocedia lentamente. —Eu não queria dizer isto.

A mão dele envolveu a nuca dela enquanto a segurava contra o ombro.

—Eu não minto para você — ele disse suavemente, os lábios contra a orelha dela. —Não tenho nenhuma razão para mentir para você, Lilly.

E isto, também, era a verdade. Como podia estar mentindo e ainda assim estar dizendo a verdade? Os instintos contraditórios dentro dela estavam deixando-a louca.

—Quero dar sentido ao que está acontecendo dentro da minha cabeça — ela sussurrou, um sussurro que sabia que apenas ele podia ouvir. —Quero dar sentido a quem sou, o que sei e por que não sei. E por que, Travis, por que não confio em ninguém além de você?

Por que estava falando tão baixo? Era apenas um sussurro coberto pelas lágrimas que se recusava a derramar enquanto Travis a segurava forte contra ele.

Ela podia sentir os tremores correndo por ela agora, quase como um choque, tremendo o corpo e deixando a voz áspera enquanto lutava para dar sentido a quem era. O que era.

—É o choque, bebê. — Ele beijou a fronte dela suavemente antes de balançá-la nos braços e sentar com ela na cama, segurando-a perto. —É apenas isso. Podia ser morta hoje. E isso está finalmente te alcançando, é só. — Havia uma extremidade de advertência na voz dele, a mesma advertência que via frequentemente em seus olhos.

O quarto dela não era seguro. Esse pensamento correu pela mente dela uma vez mais enquanto a dor aliviava completamente. Não havia nenhum modo, neste momento, de se assegurar que ninguém estava escutando.

—Apenas o choque — ela repetiu enquanto olhava por sobre o ombro dele para a luz do dia que diminuía entrando pelas portas de sacada, sabendo que era mais que apenas choque.

Ela foi para longe dele, olhando-o atentamente. A dor foi embora devagar, mas em seu lugar havia uma certeza que se não compreendesse quem estava tentando matá-la, depressa, então seria muito tarde. E talvez fosse muito tarde para os dois.

Travis segurou-a apertado, lutando contra seus próprios demônios, lutando contra as emoções que ameaçavam subjugá-lo. Quando foi introduzido na Elite Ops, foi advertido de que sua lealdade era para o time, e ninguém mais. Não tinha mais família, um país ou uma amante. A lealdade inteira dele estava no time e com nada nem ninguém mais.

Não tivera nenhum problema com isso desde então. Não queria se dividir mesmo, arriscar seu coração ou as vidas daqueles que amava, novamente.

De pé lá agora, segurando Lilly, sabia que a lealdade mudou, mudou o foco. Inferno, aconteceu seis anos atrás e não percebeu. O time estava assumindo um papel secundário para a mulher, e sabia disso.

Olhando nos olhos dela enquanto o encarava, Travis teve que lutar consigo mesmo, e se impedir de dizer a verdade. Naquele momento não havia nada mais importante que dar a ela as respostas que precisava com tal desespero.

Lilly respirou fundo para recuperar o autocontrole. Emoção e necessidade a rasgavam, medo batalhando com confusão.

Vou verificar a garagem mais tarde, Lilly disse apenas movendo a boca. Alguém tentou matá-la. A moto estava estacionada na garagem subterrânea, desacompanhada. Talvez algo tivesse sido deixado para trás.

Ele agitou a cabeça firmemente. Não iria vocalizar as palavras. Era o que ele dizia.

Eles trabalharam frequentemente juntos, ele disse. Era treinada para manobras encobertas, proteção e tática de guerrilha pessoal. Sentia isto. Eram companheiros em mais do que jogos dentro do quarto. Estava na hora dela usar algo daquele conhecimento, os instintos e compreender o que diabos estava acontecendo. Podia não ter suas memórias, mas ainda tinha seus instintos e fragmentos de conhecimento que estavam vindo aos poucos, a cada dia. Sabia apenas o suficiente para fazê-la perigosa agora. Apenas o suficiente para conseguir ser morta.

Mas não iria só.

Lilly sorriu com o pensamento.

Travis viu o sorriso. Como John declarou mais cedo, essa era Falcão Noturno pura. Essa não era Lady Victoria Lillian Harrington. Essa era a agente. A mulher que podia ser mais perigosa que a maioria dos homens podiam ter a esperança de vir a ser um dia.

Aquele brilho de teimosia enchia seus olhos, e por mais que tivesse esperado, ainda assim conseguia surpreendê-lo.

Estava se transformando bem diante dos olhos dele da dama que ela acreditava ser para a agente perigosa que foi. As partes separadas de Lilly não estavam fundidas de forma coesa, ou melhor ainda para a Ops, a personagem da agente não morreu completamente.

Não, ele fez com a boca para ela. Já tinha cuidado disso.

Ela empurrou o braço do aperto dele, um franzir na sobrancelha enquanto os lábios afinavam novamente. Não estava nada feliz com outra pessoa cuidando de qualquer coisa.

—Sei como cuidar dos meus negócios — ela o advertiu em um sussurro baixo, o leve sotaque inglês escapando para revelar o tom frio e sem sotaque da agente Lilly Belle.

Mesmo agora, sabendo quem e o que era, ele achava muito duro ver Lilly como uma agente. Inferno, ele a viu em ação mais de uma vez, e ainda era duro acreditar em tudo até a alma.

—Isso está além dos seus negócios. — Ele agarrou o braço dela, mantendo a voz a um mero sussurro. —Afaste-se, Lilly, e deixe-me cuidar disto.

—Não preciso que cuide disso para mim — ela o assegurou. —Cuidarei de tudo sozinha.

Ela iria deixá-lo louco. Se lembrasse quem era, o que foi, não ficaria tão preocupado. Mas não se lembrava, e só Deus sabia o quanto dos instintos enterrados dentro das memórias dela ainda estava escondidos.

Ela era uma perita agora, provou isso na garagem hoje. Mas não estava certo, até o fundo, de que ela retinha o suficiente de sua identidade passada para poder se proteger de forma eficaz.

—Tenho convidados para saudar — ela o lembrou enquanto relampejou um olhar duro e frio de olhos verdes cor de pedra preciosa. —E uma festa para ir. Precisamos sair agora, se não se importa.

Maldita. Travis teve que friccionar os dentes para se impedir de retrucar algo que sabia causaria um confronto. Lilly não aturava bem o que chamava de “observações masculinas espertinhas”. Não que ele se desse bem com o tipo feminino também. Por incrível que parecesse, quando a boca de Lilly liberava comentários espertinhos, o pau dele acabava ficando duro.

Estava duro agora. Enquanto a seguia para fora do quarto, ao longo do corredor aberto e ao longo da escadaria curva e elaborada, o pau dele estava pulsando com uma fome que não sabia o que fazer com ela. Especialmente no momento.

—Sr. Caine. — Desmond Harrington andou da entrada aberta do salão de baile, o olhar cauteloso enquanto a campainha tocava e Lilly tomava seu lugar ao lado da mãe.

—Lorde Harrington. Lady Harrington. — Travis pausou na parte inferior dos degraus e observou a mãe de Lilly a olhando com um vislumbre de condenação muda.

Lady Harrington não ficou muito feliz em vê-lo.

—Por que não fico surpreso em te ver por aqui, Caine?— Lorde Harrington suspirou enquanto os primeiros convidados começavam a entrar no grande hall de entrada.

A expressão de Lorde Desmond Harrington era pesada, resignada. Os sulcos fundos na testa, surpreendentemente, combinavam com seu rosto áspero. Era um homem que sobreviveu graças a sua própria genialidade e senso nos negócios, diferentemente de seu meio irmão que nasceu na alta sociedade e com uma fortuna que vinha do tempo do Cromwell .

—Não sei, Lorde Harrington, por que não ficou surpreso?— Ele perguntou ao outro homem enquanto mantinha os olhos em Lilly.

Lilly parecia fora de equilíbrio. Travis podia sentir a linha fina na qual andava, a extremidade afiada dos nervos e os conflitos que a rasgavam.

—Está zombando do meu título — o homem rosnou, mas não havia nenhum calor verdadeiro em sua voz. —É ofensivo.

Travis grunhiu com a acusação. —Talvez não entenda a versão americana de respeito.

Era realmente mais inglês que Harrington. Era um Dermont, nascido na longa linhagem de Dermonts, e havia herdado uma fortuna que vinha desde o tempo do Cromwell. Seus antepassados se casaram com herdeiras inglesas orgulhosas e construíram fortuna até o presente Lorde Dermont poder deitar e descansar nos travesseiros bons que seus antepassados criaram para ele.

—Americano, é?— O tom de Harrington era singularmente descrente. —Por que tenho a impressão que há muito mais em você que os olhos alcançam, ou o relatório do investigador?

Travis se voltou para ele, erguendo a sobrancelha. —Foi longe assim, é?— Estava um pouco divertido pelo fato.

—Não está exatamente no lado certo da lei — Harrington murmurou. —É um perigo para ela agora. Foi um perigo para ela antes.

Não, Travis não era um perigo para ela. Salvaram a vida um do outro mais de uma vez. Sua Lilly era muito mais mulher que Desmond Harrington poderia imaginar.

 

Travis girou para o tio de Lilly e o encarou com um olhar duro por longos segundos antes de dizer — Não a convencerá a me deixar ir, Harrington. Então nem tente isto.

Desmond fez uma careta. —Já percebi isso, mas é algo que a mãe dela não está feliz.

—E o irmão dela?— Travis perguntou. —Notei que não está aqui para celebrar o retorno dela à família.

Por um segundo, remorso e pesar relampejaram nos olhos azuis pálidos de Desmond. Ele se virou por um momento antes de bebericar a bebida que segurava na mão.

—Jared está tendo dificuldade em aceitar tudo — ele declarou finalmente enquanto olhava Travis através do nariz. —Mas tenho o pressentimento que está ciente disto.

Ciente não descrevia a situação completamente. Sabia muito bem que Jared Harrington deu as costas para a irmã no hospital, proclamando que a mulher inconsciente diante dele não era sua irmã.

O rosto dela mudou, mas o parentesco dela com ele, não. Ainda assim, Jared a renegou, da mesma maneira que ainda a renegava apesar do teste de DNA assegurar ao mundo que ela era realmente quem dizia ser. Mudou a aparência, o nome e o estilo de vida, ele reivindicou. Ela desonrou a família primeiro.

Travis recuou enquanto os convidados começavam a tomar o salão de baile, parando para saudar Desmond, então se movendo para o bufê e o bar.

Enquanto o Senador Stanton saudava Desmond, Travis notou que o olhar do homem foi na direção dele de forma meio que curiosa. Vários minutos depois Santos e Rhiannon fizeram seu aparecimento também, suas personagens de negócio firmemente intatas. Frios, profissionais. Apenas uma sugestão de perigo.

—Sr. Caine, é bom te ver novamente — Rhiannon o saudou, resplandecente em um longo vestido tomara-que-caia prata e preto que a dava a aparência da fada da qual tinha o nome.

—Rhiannon, Santos. — Travis anuiu com a cabeça enquanto apertavam as mãos, bem ciente do interesse de Desmond que os olhava.

—É maravilhoso ver Lilly novamente — Rhiannon comentou com um sorriso frio. —Santos e eu estávamos preocupados com ela.

—Não há necessidade de se preocupar — Desmond rosnou. —Está segura com a família, onde deve ser.

As sobrancelhas de Rhiannon curvaram. —Creio que foi assim que conhecemos Lilly em primeiro lugar — ela declarou suavemente. —A proteção duvidosa do seio de sua família amorosa. Espero que tome melhor cuidado dela desta vez, Lorde Harrington.

A mandíbula de Harrington apertou furiosamente enquanto seus olhos azuis pálidos lançavam chamas enfurecidas em Rhiannon. A resposta dela foi outro sorriso frio antes de se mover para Santos que a chamava para se juntar à festa do lado de dentro.

—Não gosto dos seus amigos — o tio de Lilly o informou enquanto girava um clarão bravo para Travis.

Travis encolheu os ombros. —Amigos e conhecidos são duas coisas diferentes, Harrington. Mas ela tem um pouco de razão.

—E qual seria? — Ele retrucou.

—A família de Lilly não a protegeu diligentemente. Um engano que não pretendo cometer.

Travis girou o olhar de volta para Lilly então, vendo-a posar de perfeita dama inglesa distinta enquanto ajudava a mãe a saudar os convidados que chegavam.

Ela era macia, lustrosa e bastante amável com apenas a sugestão mais leve de reserva enquanto falava com convidados que um dia foram amigos próximos.

Aqueles amigos se casaram nos últimos seis anos, tiveram filhos, mudaram de interesses que um dia compartilharam e aceitaram a morte da jovem que chamaram de amiga.

Agora, a encaravam novamente, e sentiam as mudanças dentro dela. Mudanças que os deixavam cautelosos e desconfortáveis.

Enquanto a fila começava a diminuir, ele pegou uma bebida da bandeja do garçom e se moveu para mais perto dela.

—Obrigada. — Havia um cintilar de desespero no olhar dela que estava certo que até a mãe dela não via enquanto sorvia o champanha. Muito refinado. Mas notou que ela consumia mais que o gole da maioria das damas na mesma situação.

—A banda está começando a tocar — ele murmurou enquanto se curvava para a orelha dela. —Devemos entrar, fazer um prato no bufê e dançar um pouco mais tarde?

—Lilly tem serviço a fazer. — Lady Harrington girou para ele com um sorriso e um cintilar gelado de ódio nos olhos. —Seja um cavalheiro agradável e se divirta em outro lugar.

Ele sentiu Lilly endurecer ao lado dele. —Já chega, mãe — ela disse suavemente. —Se me dá licença, creio que começarei a estudar a oferta de Travis. Podemos conversar mais tarde.

—Lilly. — Lady Harrington pegou o braço da filha quando ela girou para partir. —Não ande com ele em público. Já é ruim o suficiente andar em particular — ela silvou apenas para a orelha da filha.

—Eu amo você, mãe. — Ela beijou a bochecha da mãe antes de girar, aceitou o braço de Travis e se mover para longe lentamente.

Travis sentiu uma pontada de pena pela mulher. Tinha a filha de volta, mas não era a filha que lembrava, e era uma que estava tendo muita dificuldade em aceitar.

—A festa vai começar a enfraquecer ao redor da meia-noite — Lilly declarou enquanto entravam no salão de baile. —Esteja pronto para ir para a garagem comigo, ou irei só.

Ela manteve um sorriso no rosto o tempo inteiro.

—Não te aconselharia a fazer isto — ele a advertiu firmemente.

—Estou certa que não, mas realmente não importa. — Ela parou e o encarou, gelo enchendo o olhar. —Alguém tentou me matar duas vezes. Descobrirei quem foi, Travis, e quando o fizer, ele pagará.

Havia mais que raiva na voz dela agora, havia dor. A recepção gelada que recebeu dos amigos, a condenação no olhar, a curiosidade insensível, todos estavam fazendo a reunião difícil.

Podia ser uma das melhores agentes da Ops, mas também era uma das poucas que conseguiam reter seu coração, assim como sonhos.

—Travis, o Senador Stanton quer te ver. — Nik disse próximo, a voz baixa enquanto Travis via Lilly escutar um dos amigos mais próximo de Desmond alardear sobre um negócio recente que ele e Desmond haviam fechado.

A dureza no corpo dela dizia. A observação de momentos atrás estava gravada na mente de Travis enquanto notava seu desconforto.

—Quando?— Travis murmurou.

—Agora mesmo. Santos, Rhiannon, Noah, eu e você. Tem cinco minutos.

—Onde?

—Sua limusine.

Travis deu um aceno rápido com a cabeça. —Informe-me que tenho um telefonema de negócios e atenderei na limusine. — Travis ergueu a bebida para os lábios à medida que falava.

Nik pendeu a cabeça adiante para permanecer atrás de Travis, tomando sua posição como guarda-costas.

Travis continuou a se mover pelo salão de baile com Lilly, escutando, observando, enquanto ela se reconectava com os velhos amigos.

O desconforto e culpa deles quase empatava com os dela.

Não havia nenhuma dúvida na mente dele que Lilly não se encaixava mais na sociedade que foi criada. O fato que não era mais Lady Victoria estava se tornando cada vez mais aparente.

—Sr. Caine, tem um telefonema de negócios — Nik anunciou alto o suficiente apenas para permitir que aqueles estavam de pé por perto ouvir.

—Lilly, querida. — Travis se curvou para perto da orelha dela enquanto ela girava para ele. —Fique no salão de baile. Mantenha os olhos abertos. Vamos ver quem vai te abordar quando eu não estiver por perto.

Ela anuiu com a cabeça, mas seu olhar estava cheio de suspeita enquanto ele dava um beijo rápido em sua sobrancelha antes de seguir para fora do salão de baile e então da casa.

A limusine dele estava estacionada na extremidade mais distante do largo passeio circular. Abrindo a porta, Nik recuou para o lado enquanto Travis deslizava, então se juntou a ele antes de fechar a porta com firmeza.

—Senador. — Travis anuiu com a cabeça para o homem mais velho sentado em frente a ele.

—Bom te ver, Travis. — O senador Richard Stanton estendeu a mão para um aperto rápido antes de sentar de volta com um sorriso. —Jordan me disse que ficou surpreso quando soube sobre o Comando da Elite. Achou que ele suportava o fardo inteiro da Ops sozinho nos ombros?

—São largos o suficiente, senhor. — Travis sorriu amplamente. —Mas duvido que me agradeceria por dizer isso.

—Inferno, não — Stanton grunhiu uma risada. —Aquele menino é um ótimo chefe, mas política não é exatamente seu forte. Fica puto com a maior parte dos membros do Comando toda chance que tem.

—Assim como a maioria de nós quando temos a desgraça suficiente de entrar em contato com eles — Santos declarou cheio de remorso, as feições aristocráticas zombando.

—Creio que há dias em que Travis desejaria não saber quem somos. — O senador sorriu amplamente de volta para Travis.

—Estou contente por saber que homens como o senhor estão lá, se alguém tem que estar, senhor — Travis declarou.

—Puxa-saco. — Rhiannon revirou os olhos.

Apesar de toda sua herança irlandesa, ela podia ser tão rude quanto qualquer Americano.

—Algum problema, senhor?— Travis ignorou a co-comandante da Elite Dois enquanto se voltava para o senador.

—O comando da Elite soube que Jared Harrington voou para a Rússia na semana passada na tentativa de se encontrar com uma das agentes com os quais Lilly trabalhou, Nissa Farren.

As sobrancelhas de Travis arquearam. Nissa foi atribuída para trabalhar na embaixada da América na Rússia como assistente de escritório do embaixador.

—Por que a Nissa?— Travis perguntou.

—Não estamos certos, mas não há dúvida que há uma conexão com a irmã dele. Enviamos Shea Tamallen para a Inglaterra para entrar em contato com Harrington para saber como descobriu sobre Nissa e exatamente do que ele está atrás.

—Como isso afeta a nossa operação aqui?— Travis perguntou.

—Um aviso — o senador o informou. —Também para informar que se você ou Lilly se encontrarem em necessidade, estarei na cidade. Tem apenas que me contatar. O comando da elite pode ser forçado a tomar decisões que frequentemente parecem frias ou sem se importar com seus agentes de forma individual, mas ainda tentamos fazer tudo que podemos para assegurar não apenas a segurança, mas também a confiança em nós.

—Grupos das sombras que olham para o dinheiro em vez do pessoal não são sempre fáceis, Senador — Travis declarou.

—Nós entendemos — o senador suspirou. —E é exatamente isso que estamos apontando.

—Obrigado pelas informações, senhor, assim como as explicações. — Travis anuiu com a cabeça. —Acabamos?

—Sim, acabamos. — O senador anuiu com a cabeça também. —Tenho algumas coisas para discutir com Santos e Rhiannon se não se importar de usarmos sua limusine. Mas logo desocuparemos o veículo.

—Não tenha pressa — Travis ofereceu enquanto Nik abria a porta de limusine e ele saía.

Andando para a casa, Travis podia sentir uma pontada de cautela em sua nuca agora.

—Ligue para nossos contatos em Londres — ele ordenou Nik. —Descubra que porra Jared Harrington está aprontando antes que a Shea seja envolvida nessa merda também.

—Cuidarei disto na primeira oportunidade — a voz de Nik era um grunhido agora. —Ele está subindo na minha lista de suspeitos, Trav.

—Na sua e na minha — Travis quase rosnou. —Confie em mim, Nik, na sua e na minha.

 

A festa estava seguindo para seu fim, como Lilly predisse. Os casais remanescentes dormiriam nos quartos de visitas, e havia quartos suficientes para eles. As alas adicionais para a mansão de três pisos assim como as hospedarias dos fundos forneciam quartos suficientes para a multidão de convidados que frequentemente ficavam lá.

Ele observou Lilly trocar depressa seu vestido de festa pela calça jeans preta, apertada, camiseta e botas. O pau pulsou, totalmente duro, enquanto ela deslizava um punhal na lateral da bota. O cabelo foi solto depressa do penteado, e então preso num rabo-de-cavalo que caiu além dos ombros em um monte espesso, macio e lustroso.

Iria fodê-la no minuto que conseguisse levá-la de volta para o quarto, pensou. A colocaria de joelhos, puxaria seu maldito rabo-de-cavalo, e montaria nela até que ambos estivessem esgotados. Devia fazer isto agora, antes que colocasse os dois em apuros hoje à noite.

—Ainda sou totalmente contra isso — ele comentou enquanto arrancava a camiseta por cima da cabeça antes de sentar na cama e colocar as botas leves preferidas nos pés e amarrá-las.

—Tenho certeza que sim.

Ela continuou batendo levemente na coxa como se sentisse que algo estava faltando. O coldre que usava amarrado com correia naquelas coxas macias e lustrosas estava faltando. Ela nunca saía para uma missão sem estar completamente armada. A ação confirmava.

Santos e Rhiannon a observaram cuidadosamente depois de sua reunião com o senador hoje à noite, assim como Ian, Kira Richards e Jordan Malone. Todos estiveram de olho em Lilly, e todo mundo estava vendo as mudanças nela.

Para aqueles que acreditavam que estava morta, a olhavam cautelosamente agora, sentindo esse lado perigoso dela. Para aqueles que conheciam a mulher perigosa que era, sentiam o chiar de um vulcão.

—Vamos, então. — Em vez de ir para a porta do quarto, ela seguiu para as portas largas da sacada e saiu.

E claro que a seguiu. Por seis anos uma parte da vida dele foi observar Lilly se mover em missão.

—Preciso das minhas armas. — Ela jogou uma perna sobre a grade de ferro da sacada enquanto o encarava. —Nós dois sabemos o quão ilegais elas são, não é?

As duas Glocks automáticas modificadas que usava amarradas com correia nas coxas eram suas bebezinhas. Ficava além de armada e perigosa com suas bebês. Ainda assim, ela gostava demais. O pau dele ficou mais duro, se possível, apenas ao pensar nisso.

Um suspiro deslizou pelos lábios dele enquanto a seguia pela grade e descia atrás dela. Ele a deixou ir à frente desta vez, simplesmente porque amava ver o traseiro dela. Isso e o fato que a ameaça era mínima. Ninguém nunca disse que ele era um chauvinista super protetor quando a questão era uma mulher em missão.

Deslizando em torno dos fundos da casa, ficou surpreso quando ela achou a janela escondida na garagem subterrânea. Abrindo-a suave e silenciosamente, ela entrou e desapareceu na escuridão da garagem.

Travis a seguia, curvando os ombros pela abertura estreita e fazendo careta com o espaço pequeno. Mesmo usando calça comprida e camiseta preta, a abertura era apenas larga o suficiente para ele passar.

Saltando para o chão de cimento, ele aterrissou tão silenciosamente quanto ela e inspecionou a área depressa com os óculos de visão noturna que colocou antes de deixar o quarto.

—Limpo. — A voz dela veio límpida pelo pequeno receptor na orelha enquanto ele a localizava na outra ponta do estacionamento cavernoso.

A garagem não estava cheia com veículos, mas era muito apertada. Os veículos dos convidados foram pessoalmente armazenados na garagem subterrânea para sua conveniência e para manter a área de estacionamento menor livre. Cada veículo valia uma maldita fortuna, se não estava enganado. Não que ficasse surpreso, apenas mais divertido que o usual.

O Viper dele estava estacionado longe, o motorista o estacionou de forma obviamente cuidadosa, enquanto se certificava que os espaços ao lado estavam vazios.

—Quantos convidados estavam aqui na noite passada?— Travis perguntou, o tom suave enquanto puxava os óculos de visão noturna para o topo da cabeça e pegava a lanterna pequena que carregava no bolso das costas.

—Quando saí de lá esta manhã e segui para sua casa, as três hospedarias já estavam cheias e metade dos convidados esperando — ela respondeu, a voz um sussurro na orelha. —Esta garagem estava três quartos cheia.

—Muitas mãos para fazer o trabalho manual então.

Uma risada leve escapou dos lábios dela. —Isto é engraçado. Lembro de outra pessoa que costumava dizer isto.

—Duvido que diga como eu — ele grunhiu, mas esperou dizer em tom casual.

Ele teria que começar a se observar mais. Ele a conhecia antes da “morte” dele. — Não tão pessoal quanto socialmente. Como Lorde Xavier Travis Dermont, o herdeiro do legado Dermont, ele frequentou muitos dos mesmos eventos de Lilly.

—O nome dele era Travis também — Lilly declarou, e ele fez uma careta apesar de saber que não havia nenhum modo dela fazer a conexão entre Travis Dermont, do MI6, e a Elite Ops.

—Ele era um bom homem.

—Sim, era um homem muito bom.

Travis pausou, o olhar achando a sombra dela enquanto ela fixava o pequeno alarme de movimento na entrada para a garagem para alertá-los se alguém entrasse.

—Você o conhecia bem?— Ele perguntou a ela.

—Ele era casado com uma prostitutazinha infiel — ela disse, suspirando em remorso. —A cadela foi morta na explosão que armou para se livrar dele. Ela traiu a missão dele e sua cobertura para alguns criminosos sórdidos e realmente pensou que poderia sobreviver.

Ele não tinha mais que lutar contra a ira e a dor. Enterrou essa parte de si mesmo há muito tempo. A esposa o destruiu, não havia nenhum modo de lutar contra isto. Diferentemente de Lilly, não havia volta para ele. Nenhum renascimento.

—Era um amigo próximo?— O ódio na voz dela quando falou de Katy o surpreendeu. Ela era sempre sincera, amigável, apesar da ignorância de sua esposa morta sempre que estava ao redor.

Eles não foram amigos, porém, não ela e a esposa dele, nem ele e Lilly.

—Não, mas eu fazia um bom conceito dele. — A reserva nas palavras dela fez o olhar dele se estreitar então.

—Você o amava?— Ele perguntou, mal conseguindo esconder sua incredulidade. Como diabos conseguiu não perceber isto?

—‘Amar' é uma palavra forte para se usar. — Ela suspirou. —Estava incrivelmente atraída. Lembre-se, faz seis anos desde que desapareci, e ele morreu dois anos antes. Eu era muito jovem e ele era casado.

E ela nunca mostrou sua queda, nem tentou ganhar a atenção dele no momento. Travis quase agitou a cabeça com o pensamento.

—Eu dancei uma vez com você, sabe, logo antes do seu desaparecimento.

—Quando?— Ela estava indo ao longo da extremidade mais distante da garagem então, a própria lanterna no chão enquanto ele se movia para fazer o mesmo.

—A festa em que desapareceu. Eu estava lá com outro agente. Dançamos a valsa. Você estava usando um vestido de seda marrom claro com presilhas de seda minúsculas cascateando pelo cabelo.

Ele quase podia senti-la pensando. —Não me lembro de você. — A pontada de remorso na voz era mais forte que costumava aparecer na voz dela na sua identidade passada. —Há muitas coisas que não me lembro daquela noite.

—Você estava linda naquela noite, Lilly. Dançou como um sonho e seu sorriso era tão brilhante quanto o sol.

Ela ficou muda por longos momentos. Ele aprendeu ao longo dos anos que Lilly não aceitava elogios como agente quase como não aceitava quando socialite.

—Nik conseguiu descobrir quais foram os explosivos usados?— Ela perguntou, ignorando o elogio dele enquanto se movia mais perto de onde a moto foi estacionada.

—Ele sabe que foi detonada por engano — ele declarou. —A capa do metal explosivo não estava intata. Se estivesse, teria explodido enquanto estava na interestadual.

—Uau, não haveria como me salvar disso, não é?

Travis fez seu caminho até ela, correndo a luz pelo chão de cimento enquanto procurava o menor rastro de algo que pudesse ter vindo da moto ou do explosivo.

—Você tem problema em receber meus elogios ou é de qualquer um, Lilly?— Ele perguntou enquanto se inclinava e começava a procurar debaixo dos veículos que cercavam a área onde a moto estivera.

—Quase ninguém — ela respondeu amargamente, a voz emudecendo enquanto se curvava para verificar embaixo de um Lamborghini vermelho metálico, macio e lustroso.

Um dia, ela foi escorregadia, muito encantadora. Não que não pudesse ser tão encantadora quanto Lilly Belle. Ela podia, mas esse charme estava normalmente escondido sob uma capa congelada e o gelo no olhar. E frequentemente, uma daquelas malditas Glocks perigosas modificadas estavam em sua mão.

—Quem, além de Desmond, estava na casa hoje pode me querer morta?

Lilly deitou no chão de cimento para alcançar o máximo possível debaixo do Lamborghini, o que não era muito longe, e colocou a lanterna acima da área, especialmente em torno do pneu.

—Eu deveria fazer essa pergunta. Você vive aqui. — Travis deslizou sob um Hummer, sua própria luz esquadrinhando o chão completamente.

—Não faça joguinhos comigo, Travis. — Ela rolou para o próximo veículo, deslizou sob ele e procurou novamente. —Diga-me o que preciso saber.

Do que diabos ela estava se lembrando?

Travis olhou para o vislumbre de sua luz enquanto uma suspeita começava a se formar dentro dele.

—Agora não é a hora de dizer o que quer saber — ele finalmente disse a ela. —Basta dizer que tenho vários dos seus convidados sendo investigados.

—E você não me disse — ela declarou.

—Ainda não tive tempo.

As vozes dele eram altas apenas o suficiente para os dispositivos que usavam carregar o som.

—Talvez pudesse achar tempo mais tarde?— Ela sugeriu, e Travis quase sorriu.

Isso soava mais como uma ordem que uma sugestão.

—Talvez pudesse. — Os dois foram para a mesma fenda ao mesmo tempo.

A moto foi estacionada perto da entrada da casa principal. O espaço estava ocupado agora por uma caminhonete Lexus. O veículo de luxo com tração nas quatro rodas era alto o suficiente do chão para que pudessem deslizar facilmente embaixo dele, ambos com luzes cintilando no lugar pequeno onde o motor estava localizado.

—O explosivo foi colocado no cárter?— Ela esfregou os dedos contra o fluido antes de trazê-lo para o nariz e cheirar ligeiramente.

Travis fez o mesmo, então esfregou os dedos juntos para testar a sensação do fluido.

—Isto não é gasolina ou óleo — ela declarou.

—Não. Não é. — Os olhos dele estreitaram para o mesmo lugar antes de alcançar o bolso da calça jeans dianteira e tirar uma bolsa e um cotonete limpo.

Pegando o cotonete, o esfregou contra o lugar, então o enfiou na bolsa pequena e selou. Ele estava ciente de Lilly o olhando, os olhos estreitados, a postura cautelosa, antes de começar a esfregar o chão da garagem embaixo do Lexus para tentar achar qualquer coisa mais.

Ela ficou quieta, Travis fez o mesmo. Estava movendo a luz sobre o chão onde os pneus da caminhonete estavam quando a ouviu murmurar um zumbido.

—Tem outra dessas bolsas? Pinça?— Ela estava tensa, a luz treinada num vislumbre metálico enquanto ele puxava a bolsa limpa exigida e a pinça de seu bolso de trás.

—Pelo menos um de nós veio preparado — ela murmurou enquanto aceitava os artigos.

Travis olhou enquanto ela erguia o metal e o deslizava na bolsa antes de lacrá-lo e entregá-lo a ele.

—Nik ficará com isto?— Ela perguntou, anuindo a cabeça em direção à mão onde estava enfiando a bolsa no bolso.

—Ele tomará cuidado — ele a prometeu.

—Interessante. — A expressão dela, sob a luz escura, era metade confusão e metade suspeita.

—Interessante de que modo?— Travis perguntou, frequentemente intrigado pelo fato de Lilly se abrir mais agora do que nos anos em que foi agente.

Ela ainda era Falcão Noturno, mas não tão dura ou desconfiada como foi nos últimos seis anos.

—Interessante o fato que ele parece estar em tudo. — Ela encolheu os ombros. —Ainda assim, nenhuma dessas funções é a real. Diga-me, Travis, quem exatamente é Nik Steele?

Ele sorriu amplamente. —Um coringa que serve para várias funções, essencialmente. Ele é um mercenário, de fato. Tenho sorte de ter comprado o tempo dele nos últimos seis anos, mas há ocasiões em que pega outros trabalhos para quebrar a monotonia de trabalhar comigo.

Suspeita enchia o olhar dela agora. —Certo, Travis — ela murmurou finalmente. —Essa explicação não é nada boa.

Não era uma mentira, exatamente. Essa era a cobertura de Nik, e ele era muito bom em encenar sua parte.

—Lembre-me de não deixar de verificar alguns fatos adicionais que me dá da minha vida, certo? Tenho o pressentimento que a linha entre a verdade e a mentira das coisas que me diz é bem fina.

Havia horas em que concordava completamente com ela.

Ele estava numa posição péssima. Sabia a verdade, tinha as respostas que ela procurava. Se não se lembrava de quem e o que era, pelo menos suspeitava que havia muito mais sobre si mesma do que estava sendo informada.

Como poderia não se ressentir dele não dizer a verdade? Mas a verdade poderia matá-la.

—É a cápsula explosiva que estava faltando da moto?— Ela perguntou enquanto o encarava.

—Não estou tão certo. — Ele agitou a cabeça, encarando-a. — Trabalho com negociações, querida, não com explosivos.

—Tenho certeza que eu sabia disso — ela disse enquanto começava a sair de debaixo da caminhonete.

Os dois congelaram com o som baixo da buzina de alerta que Lilly programou para sinalizar quando a porta da casa abrisse.

Ele não pensou em colocar um alarme lá, mas ela sim.

O sinal provavelmente os salvou.

—A moto estava estacionada aqui — A voz com sotaque leve de Desmond comentou severamente enquanto fechava a porta. —Você trouxe a lanterna?

—Trouxe, Lorde Harrington. — A luz cintilou no chão e se moveu para mais perto enquanto Lilly e Travis rolaram depressa para debaixo da caminhonete e vários carros além.

Ambos tomaram a posição contra o pneu de um Hummer, abaixaram e escutaram atentamente.

—Quando ouviu sobre isso?— O tom de Desmond era furioso.

—Recebi o relatório uma hora atrás — o guarda-costas respondeu. —O homem que estava com ela quando deixou a casa, mas tinha a ideia de que estava seguindo para a casa de Caine. Ele chegou depois da explosão e levou um tempo até entender a razão da comoção depois que chegou.

—A polícia foi chamada?— A frustração e desgosto enchiam a voz de Harrington.

—Não, senhor — Isaac respondeu enquanto paravam próximo à caminhonete Lexus. —A polícia não foi chamada, mas um time se moveu. Furgões pretos e identidades escondidas por máscaras pretas, mas sem nenhuma identificação. Os veículos que chegaram eram registrados como alugados, presumivelmente não nos locais onde foram registrados. Não conseguimos obter nenhuma informação.

—Alguém tentou segui-los?— Harrington grunhiu.

—Sim, o investigador seguiu um enquanto seu companheiro se movia para outro. Eram profissionais, Lorde Harrington. Meus homens não conseguiram acompanhá-los.

Desmond amaldiçoou furiosamente. —Puta que pariu, que diabos aquela menina vai arrumar da próxima vez?

—Eu seria cuidadoso ao desafiar o destino ao fazer essa pergunta — o guarda-costas grunhiu.

Lilly espiou em torno do pneu, curvando-se para ver por sob o Hummer a caminhonete onde a lanterna cintilava e Isaac e Desmond encaravam o chão da garagem sob o Lexus.

—É uma pergunta lógica. — Desmond retrucou irritado.

—Parece que a menina estava envolvida em coisas demais antes de voltar — Isaac declarou. —Ela devia dar uma pausa.

Lilly revirou os olhos com o tom sentido da voz do guarda-costas.

—Há uma mancha de fluido no cimento. — Isaac não respondeu a pergunta óbvia. —Não é do Lexus também.

—Da moto?— Desmond perguntou.

—Precisarei enviar uma amostra — Isaac declarou. —Não há nada mais aqui, Lorde Harrington. — A luz continuou a correr através do cimento.

—Se alguém mexeu com aquela maldita máquina da morte dela, então essa é a única chance que teriam — Desmond rosnou.

As sobrancelhas de Lilly ergueram. Então o tio dela não estava envolvido nesta tentativa contra a vida dela? Ou talvez estivesse apenas atuando na frente de Isaac. Ele poderia ter colocado Isaac de olho nela, mas isso não significava que Isaac soubesse que estava tentando matá-la.

—Apenas descubra que fluido é esse — Desmond o ordenou. —Então veja o que seu investigador pode descobrir sobre aquele maldito Caine. Há mais nele do que temos até agora, posso sentir isto.

—O que mais pode existir?— Isaac perguntou. —Eu trabalhei com ele. Ele organiza as coisas, Lorde Harrington. Será que o aliado de negócios dele está tentando assumir seu lugar? Não quer cometer assassinato? Chame Travis Caine. Precisa formar um exército? Ligue para o Caine. Quer assumir o comando de um país pequeno...

—Sim, sim, sim, chame o maldito Caine. Entendi — Desmond grunhiu de volta enquanto Lilly girava e erguia uma sobrancelha em direção a Travis.

Um país pequeno, é?

Ele relampejou um sorriso de volta para ela. Um sorriso mau e libertino que fez o estômago dela apertar e o clitóris inchar. Ele não deveria induzir tal resposta rápida e aquecida. Havia algo que não era certo quanto a isto. Algo que a advertia que iria apenas machucá-la no fim.

Porque o amava.

Bom Deus, justo o que precisava, amar um homem que facilitava invasões de países pequenos e posse de cartéis. Não era nenhuma maravilha o tio dela não estar nada feliz com esta relação.

Ela sorriu amplamente de volta para ele. Ela acabaria com o coração partido, não havia dúvida, mas estava se divertindo muito mais agora que antes dele aparecer.

—Inferno, vamos sair daqui. — Eles ouviram os corpos se movendo. —Preciso ressegurar Angelica. Ela não está lidando nada bem com esta situação do Caine. Ela ligou para Jared hoje à noite e ele se recusou até mesmo a discutir sobre a irmã, o que apenas a incitou ainda mais.

Lilly jogou a cabeça para trás, baixou-a e preparou o coração contra a dor. Como era o truque? Estava aprendendo devagar ou simplesmente estava se lembrando lentamente? Havia um jeito de impedir de doer. Especialmente quando a questão era Jared. Havia um jeito de bloquear a dor, um lugar para guardá-la onde poderia suportar e lidar apenas quando fosse necessário. Ela não tinha que lidar com isto agora.

—Tenho que concordar com ele numa coisa. — Isaac suspirou fortemente à medida que se moviam. —Ela não é a mesma mulher que desapareceu seis anos atrás. Ela mudou.

—Mas o que criou essas mudanças?— Desmond perguntou. —É isso o que quero saber, Isaac, e quero a verdade desta vez. Aquele relatório era tão tolo que me deu nojo. Victoria não era nenhuma garota de programa. E não era nenhuma namorada de terrorista. Há algo errado nesta coisa toda e quero saber o que diabos é. E quero depressa.

Lilly parou. Ela queria saber o que a havia criado, porque havia se tornado a mulher que era agora.

A porta se fechou atrás dos dois homens e a tranca estalou no lugar.

—Jared me deu uma olhada no hospital e me esnobou — ela disse suavemente. —Disse à minha mãe, ‘essa não é minha irmã' e foi embora.

Ela se lembrava de ver as costas do irmão enquanto ele deixava o quarto do hospital e chorava. Ela havia chorado como uma criançinha porque o irmão não a amava.

Ela não choraria agora.

Endireitando-se, manteve o rosto sem olhar para Travis enquanto faziam seu caminho depressa de volta para a janela estreita e então para o quarto. Passando pelas portas da sacada, ela parou rápido e firme.

—Maldição, esta noite está só melhorando — ela declarou, notando que Travis não se movia atrás dela. Encarar a mãe dela. O covarde. Tinha o pressentimento que ele ainda estava quieto na maldita sacada.

—Por Deus, parece com seu tio-avô Marcus, vestido para roubar. — Raiva enchia o tom dela. Angelica não estava tentando soar divertida, mas Lilly não conseguiu evitar e riu.

—Não me lembro do tio-avô Marcus. — Ela cruzou os braços sobre os peitos e pendeu a cabeça para o lado. —Conte-me sobre ele.

—Era um maldito ladrão — Angelica retrucou, os olhos azuis faiscando com raiva. —Foi preso tantas vezes que a vergonha era quase insuportável para a família. Ele era da realeza. Nós somos da realeza e você está desonrando cada gota de sangue dentro do seu corpo que te liga à maior história na Terra.

—Oh, Deus, isso de novo? — Lilly bateu a mão na boca, surpresa pelas palavras realmente terem deslizado dos lábios desta vez.

O rosto da mãe estava um pouco pior que surpreso. Raiva ultrajada o enchia, escurecendo os olhos azuis e corando a pele de porcelana.

—Isso de novo?— Angelica repetiu. —Nunca, Lilly, nunca na sua vida teria falado assim comigo, com tal desrespeito.

—Sinto muito, mãe. — Ela cruzou as mãos atrás das costas e cruzou os dedos. —Estou apenas estressada. Não tenho me sentido bem.

Os olhos de Angelica estreitaram. —Bem o suficiente para se vestir de preto e deslizar pelas janelas. Andando por aí de moto como uma vadia. O que faria se um paparazzo a pegasse? Nós não precisamos do seu rosto nos jornais novamente.

—Como quando me achou?— Lilly sugeriu. —Sinto terrivelmente que meu retorno seja tal sofrimento para você, mãe.

—Sofrimento?— Angelica ofegou. —Acredita que seja um sofrimento? Não, o sofrimento vem de tentar compreender por que a vida que te foi dada não é suficiente para você. Por que em nome de Deus acha que pode jogar fora um passado que parece determinado a retornar?— Raiva frustrada enchia a voz da mãe dela, a expressão.

Angelica sempre amara sua vida, a vida de uma dama inglesa. Era considerada uma ótima anfitriã; não era apenas parente da Rainha Mãe, era também sua amiga. Tinha almoços com a mulher, pelo amor de Deus.

Claro que a mãe dela não podia entender.

—Já não foi ruim o suficiente seu pai ser morto e quase ter te matado também, e para quê, Lilly? Por Deus e pelo país? Deus pode se importar, mas deixe-me admitir um pequeno fato. Seu maldito país pode não dar a mínima de uma forma ou de outra, e às vezes, Deus tem que piscar. Da próxima vez que morrer, pode não ter a sorte de ter a opção de retornar.

Ela não teve a opção de retornar da última vez.

Lilly prendeu a respiração com o pensamento, o conhecimento. Não deveria retornar. Ela nunca deveria ter retornado.

—Não quero discutir sobre isto, mãe. — Ela sentou na cama, ergueu um pé e desamarrou um cadarço.

—Teimosa como sempre — a mãe dela retrucou, andando mais perto. —Sempre foi muito teimosa. Sempre muito determinada a fazer como quer. Te chamam apenas de Lilly. — Ela zombou. —Lilly, como se não fosse mais que uma flor, um lírio qualquer, um nome de vagabunda.

—Bom Deus. — Lilly revirou os olhos e deixou o pé cair no chão. —Mãe, você perdeu a cabeça em algum lugar? Esse é um dos nomes que a senhora me deu.

—Eu perdi minha cabeça em algum lugar?— A mãe dela explodiu. —Você entra sorrateiramente no seu quarto às três da manhã, anda com um criminoso e Deus sabe mais o quê.

—Deus sabe tudo que faço. — Lilly suspirou, perguntando-se se conseguiria continuar a conter as lágrimas. A censura no tom da mãe partiu o coração dela.

—Quero que isso pare!— Angelica exigiu. —Imediatamente. Vai parar de andar com aquele terrorista com o qual se associou. Vai parar de andar com todos que conheceu nos últimos seis anos. Será Lady Victoria Harrington, Lilly se insiste. — Os braços da mãe dela endireitaram e os ombros endureceram. —Você não envergonhará mais esta família.

Lilly tirou a primeira bota. Enquanto erguia o outro pé para o joelho, Travis entrou no quarto. Inclinado contra a armação da porta, ele deu um olhar duro e mudo para a mãe dela.

Angelica Harrington não era facilmente intimidada. Já havia encarado dois maridos, um filho, uma mãe, e, o que era mais espantoso, a Rainha Mãe uma vez.

—Estou cansada, mãe — Lilly disse suavemente enquanto soltava a bota e ignorava a batalha muda entre a mãe e seu amante. —Discutiremos isto amanhã, se não se importa.

Ela não ia chorar, se assegurou.

—Eu tentei ser compreensiva, Lilly. — Lágrimas reluziam nos olhos da mãe dela, e Lilly sentiu a própria garganta apertando. —Tentei desesperadamente ser paciente, achar um pouco da filha que perdi há seis anos. —Ela agitou a cabeça enquanto uma lágrima caía. —Talvez tenha morrido naquela noite com seu pai.

Lilly não falou. Ela olhou fixamente para o chão enquanto a mãe girava e saía do quarto, a porta batendo atrás de si.

Lilly respirou lenta e profundamente antes de retornar a atenção para a bota. Ela desamarrou o cadarço, empurrou-a do pé, e então removeu as meias.

Ficando de pé, tirou a camiseta, a calça jeans e ficou apenas de calcinha e sutiã de renda.

Ela suprimiu o calafrio que tentava correr por sua espinha e a sensação de frio, desespero e depressão. A mãe nunca falou de tal modo com ela. Tinha a fama de ser brutal com os outros, até mesmo com os amigos. Ouviu os pais discutirem por toda a vida e a mãe dela era como uma lâmina afiada de aço que fatiava tudo como se fossem nada além de manteiga derretida.

Lilly podia sentir os ferimentos agora, e iam até os ossos.

—Deve ser porque é sua mãe — Travis declarou enquanto se movia pelo quarto. —Qualquer outra e sua língua fatiaria até os ossos.

Ela girou e olhou de volta nele. —Se não pode respeitar a própria mãe, então não pode respeitar a si mesmo — ela disse tristemente. —Deveria ter mantido a boca fechada.

Por que não fez isso? Costumava fazer isso. Lilly se lembrava. As conferências eram sempre amargamente toleradas. Nunca retrucava para a mãe.

Travis agitou a cabeça, as mãos se apoiando nos ombros dela. —Ela estava errada. Lady Victoria Lillian Harrington não morreu seis anos atrás. — A cabeça dele abaixou e o gelo que se formou dentro dela começou a derreter. —Seis anos atrás ela renasceu, e conhecendo o antes e o depois, tenho que dizer que prefiro a versão agora nos meus braços.

A mão dele alisou o cabelo dela, os braços a seguraram apertado. E Lilly percebeu que naqueles meses desde que acordou depois dos seis anos que perdeu, ninguém a havia abraçado. Ninguém. E ninguém disse: — Bem-vinda de volta.

 

Ela partiria o coração dele. Travis nunca viu tal tormento no rosto de Lilly como quando a mãe dela explodira com ela.

Viu preocupação nos olhos de Angelica Harrington em outras ocasiões. Viu amor em seu rosto. Gostava da filha, mas não se tivesse que passar por cima de seu orgulho. Ou dos paparazzi.

Abraçando Lilly apertado, não podia evitar e se perguntou o que diabos aconteceu de verdade naquela noite na festa fatal em que Lilly perdera tudo que era importante para ela.

Foi por muita sorte que Noah estava do lado de fora naquela noite e viu os mascarados carregando Lorde Harrington e sua filha no carro de Harrington.

Não puderam parar os atacantes, e quando Travis e Noah puderam alcançá-los, o carro caiu no precipício e a explosão rasgou a escuridão.

Os suspeitos fugiram, e tentar salvar Lilly e o pai era mais importante que perseguir os assassinos.

A hipnose não surtiu efeito com Lilly na tentativa de fazê-la lembrar quem matou o pai. Como a mãe dela disse, era teimosa, cabeça dura. Era voluntariosa, mas uma ótima mulher e uma puta agente. Era uma mulher que se importava o suficiente com a injustiça para lutar contra ela.

—Quando era mais nova, nos vestíamos de forma igual — Lilly sussurrou contra o peito dele. —Minha mãe fazia meus vestidos para combinarem com os dela para nossas viagens de compras, almoços. A Rainha me disse uma vez que eu era a dama perfeita, e que estava orgulhosa de me conhecer.

Travis curvou a cabeça sobre a dela e segurou-a mais apertado. Havia tanta dor em sua voz.

—Jared sempre foi muito ciumento — ela disse. —Mas me amava. Ele e meu pai me levavam para caça e montaria com eles. Deixavam que eu andasse com eles nas caminhadas noturnas. Éramos uma família tão próxima. Antes do meu pai morrer. Antes de eu morrer.

Ela foi para longe dele e se moveu em direção ao banheiro. —Preciso tomar banho.

—Tenho que falar com Nik hoje à noite — ele disse a ela. —Venha comigo.

Surpreendentemente, ela agitou a cabeça. —Preciso tomar banho.

Ela precisava pensar, talvez.

Travis não queria deixá-la só. Podia ver as emoções que a rasgavam, sentia a tensão dentro dela.

—Santos e Rhiannon se encontraram com você, o Senador Stanton, Nik e Noah Blake hoje à noite, assim como Jordan Malone — ela declarou enquanto ela seguia para o banheiro. —Fiquei bastante surpresa pelo senador se associar a dois cavalheiros conhecidos como alcoviteiros de primeira linha. — Ela caminhou para o banheiro e fechou a porta atrás de si.

Inferno, como sabia daquela reunião, e quem mais sabia? A mandíbula de Travis apertou. Segundos mais tarde entrou no banheiro enquanto ela ajustava a água do chuveiro.

Lilly girou para ele, suspeita ainda rolando por ela enquanto assistia a expressão do rosto dele.

—Por que simplesmente não me diz o que preciso saber?— Ela perguntou, ouvindo o gelo na própria voz.

Ela assistiu enquanto ele se debruçava contra o armário, os olhos estreitados nela enquanto a água caía com abundância do chuveiro.

Isso chamaria a atenção de qualquer dispositivo de escuta, ela sabia. Um murmúrio de vozes poderia ser ouvido, mas não as palavras reais que estavam dizendo.

—O que precisa saber?— Ele cruzou os braços sobre o peito enquanto a assistia, o olhar chamejando sobre seu corpo.

Imitando a posição dele, ela se debruçou de volta contra o chuveiro, cruzou um tornozelo sobre o outro, então cruzou os braços sob os peitos, deliberadamente erguendo-os para ele.

—Você é inimigo ou aliado?— Ela perguntou.

Os lábios dele afinaram. —Não me faça essa pergunta, Lilly — ele a advertiu suavemente.

Lilly agitou a cabeça enquanto lágrimas finalmente inundavam seus olhos. —Em quem eu posso confiar, Travis? Diga-me em que posso confiar e farei minhas perguntas a essa pessoa.

Ela precisava de alguém, oh, Deus, alguém em que pudesse confiar e que desse as respostas que precisava. Ela se sentia como se estivesse quebrando por dentro. Como se algo essencial dela sumisse e não soubesse o que fazer sem isso.

Ele correu a mão pelo rosto enquanto respirava roucamente. —Lilly, tem que ser paciente.

—A paciência vai me matar — ela silvou furiosamente, estremecendo com o conhecimento que não tinha nenhuma ideia de como se proteger, ou do quê se proteger. —Pelo amor de Deus, Travis, alguém tentou me matar duas vezes, sem contar seis anos atrás quando desapareci. Alguém tentou me matar naquela época, e nós dois sabemos disso.

A mandíbula dele apertou em fúria. O conhecimento estava nos olhos dele. Ela podia ver.

—Você sabe o que aconteceu na noite em que meu pai morreu — ela sussurrou.

—Eu disse que eu te conhecia. Tem essa informação no relatório que seu tio comprou. Lutamos juntos várias vezes, Lilly. Você cobriu minhas costas...

—Eu salvei seu traseiro. — As lágrimas estavam entupindo a voz dela agora, lutando pra se libertarem. —Eu sei que fiz isso.

—E eu salvei o seu também — ele concordou. —Você já sabe disso.

—Por quê?— Ela apenas queria saber a verdade. Isso era tudo o que procurava, e sabia que ainda não a possuía. Tudo o que ouvia eram meias verdades e mentiras e estava cansada disso. —Por que nós nos protegemos?— A respiração dela engatou com as lágrimas. —Diga-me, Travis. Por favor, Deus, apenas me diga quem eu era.

—Você era Lilly. Ainda é. — Mas ela era mais, e sabia disso.

—Você é meu inimigo ou aliado?— Ela perguntou novamente, sentindo a dor, sentindo uma sensação de traição a rasgando. —Diga-me, Travis, o que você é?

—Quanto se lembra?

—Fragmentos — ela sussurrou. —A casa segura, o abrigo do armazém onde minha moto ficava estacionada, minhas armas escondidas. O que me lembro são fragmentos de missões que não fazem sentido ainda. As memórias estão próximas, Travis, posso senti-las.

—Por que não pode esperar que elas retornem, Lilly?— Ele suspirou fortemente. —Seria muito mais fácil para nós dois.

A mão dela ergueu e cobriu os lábios. Ela não tinha mais ideia de por quanto tempo poderia conter as lágrimas, assim como a dor.

—Meu irmão me deu as costas — ela sussurrou, sentindo os lábios tremerem. —Ele me disse que eu não era nada para ele. Eu não era sua irmã. — Ela agitou a cabeça, lutando contra a memória. —Minha mãe não me abraçou. Minhas tias não me visitaram. Pessoas que eu conhecia como amigos me encararam como se eu fosse uma aparição repugnante. — Ela esfregou os olhos, respirando roucamente. —Eu mudei meu rosto, Travis. Mudei até a cor dos meus olhos. Diga-me o porquê.

Ela não ia chorar, disse a si mesma. Não iria permitir que as lágrimas caíssem, porque se o fizesse, então poderia nunca mais parar.

—Você é meu amante. — Ela agitou a cabeça lentamente, desespero a arranhando por dentro. —Posso confiar em você?

—Você pode confiar em mim, Lilly. — Havia promessa em sua voz, sinceridade e emoções que não conseguia definir. Mas uma parte dela reconhecida uma advertência também. —Você pode me confiar sua vida.

—Então me diga o que eu era. Diga-me quem eu era — ela exigiu roucamente. —Pare de me enganar.

—Como soube onde a casa segura estava localizada?— Ele perguntou suavemente.

Ela lambeu os lábios nervosamente enquanto agitava a cabeça. —Eu sabia que a memória estava lá, como se nunca fosse perdida. — Os ombros dela ergueram enquanto sentia a confusão. —Eu não sei como sabia, Travis. Eu apenas sabia onde estava.

—Antes, sabia que suas armas estavam faltando — ele assinalou. —Como?

—Eu apenas sabia — ela retrucou. —Apenas me lembrei que deveriam estar lá.

Lilly correu os dedos pelo cabelo e apertou as mechas como se assim pudesse arrancar as informações do cérebro.

Ela queria as informações. Queria suas memórias de volta. Queria sua vida de volta. Ela queria saber quem era. Lilly ou Lady Victoria Lillian Harrington. Qual era ela e que vida deveria estar vivendo?

—O que mais só você sabe?

—Responda minha pergunta primeiro — ela clamou. —Inimigo ou aliado?

—Mas que porra está fazendo, por que me pergunta isso?— As palavras saíram dele furiosamente enquanto andava depressa para ela, agarrando os braços dela e a puxando contra ele. —Diga-me, Lilly. Por que diabos está fodendo comigo se não sabe se sou seu amigo, inimigo, amante ou assassino?

—Você é meu assassino?— A cabeça dela foi para trás como um tiro e encarou o olhar furioso dele. —Se fosse meu amante ou aliado, me daria as informações que preciso para sobreviver — ela discutiu, tão furiosa quanto ele. —Você não mentiria para mim, Travis, e eu sei que está mentindo para mim.

—Como? Se não se lembra de nada, então não tem nenhuma ideia do que é verdade ou mentira, Lilly — ele grunhiu de volta para ela. —Continue assim, droga. Neste caso, confie em mim, a ignorância é a verdadeira felicidade.

—Não... — A ignorância iria matá-la, podia sentir isto.

Ela teria discutido, mas antes que pudesse falar, ele a estava beijando novamente. Ele sempre a beijava quando havia algo com o qual não queria lidar. Estava sempre roubando os sentidos e resoluções dela ao jogá-la numa rede de prazer que não podia negar.

O prazer era tão feroz quanto sempre, mas as lágrimas caíam de qualquer maneira. Silenciosa e lentamente, Travis sentiu o calor salgado contra os lábios e o saboreou contra a língua.

Indo para trás, encarou os olhos ainda muito inocentes dela, e assistiu a dor brotar, as lágrimas banhando o rosto.

—Deus, Lilly — ele sussurrou. Os polegares correram sob os olhos frios para enxugar a umidade enquanto um soluço baixo estremecia o peito dela.

Inclinando a testa contra a dela, ele a encarou e exalou fortemente. —Não posso te dar o que quer. Não porque não queira. Porque não vou. Eu não vou te arriscar a esse ponto.

Ela não tinha nenhuma ideia do quão perigosas eram as informações que procurava. Havia uma chance, uma muito pequena na opinião dele, mas uma chance que poderia salvar a vida dela aqui.

As lágrimas caíram mais rápido enquanto ela tremia nos braços dele, dor e confusão precipitando dela com uma força que atingia a alma dele. —Eu vou morrer de qualquer maneira, Travis. Quem está determinado a me matar terá sucesso uma hora. Sem a verdade, não tenho nenhum modo de me defender.

Ela não queria morrer. Ela queria viver, rir, amar Travis. Queria esperar por ele para sempre, mas queria saber sobre a vida que viveu, os inimigos que fez.

Ela era vulnerável agora mesmo, e sabia disso. Era muito vulnerável.

—Não deixarei que nada te aconteça. — Os braços dele apertaram ao redor dela, a mão apertando a cabeça contra seu coração, onde ela queria ficar para sempre.

—Não pode parar isto. — Ela sabia. —Há tanto que não sei, Travis. Mas sei que posso me proteger. — Ela lutou contra os soluços tentando rasgar seu corpo. —Sei que posso. Da mesma maneira que sei... — Os dedos dela cravaram na carne dele enquanto lutava para se segurar nele. —Da mesma maneira que sei que vai partir.

Ela não podia esperar por ele para sempre. Agonia ressonava por ela com essa constatação. Era como um punhal, rasgando buracos em seu coração, cortando em tiras a esperança. Estava vivendo cada dia, e sabia disto, da mesma maneira que sabia que estaria vivendo um sonho de tolo se se deixasse acreditar no contrário.

—Eu não te deixarei em perigo. — Ela podia ouvir a promessa na voz dele. A sinceridade.

—A menos que seja ordenado a fazer isso!— A raiva queimava dentro dela junto com as lágrimas, rasgando-a, abrindo um desfiladeiro na alma dela e separando-a em duas.

Empurrando-o para longe, ela secou furiosa as lágrimas no rosto antes de girar para encará-lo. —Diga-me quem eu era. Diga-me o que eu era.

Deixe-me ser capaz de confiar em você. O laço de fome no estômago dela estava apenas crescendo, a necessidade de confiar em alguém, qualquer um, estava rasgando-a em duas.

As narinas dele chamejaram enquanto ela assistia a luta em seu rosto.

—Está me pedindo para assinar seu atestado de óbito— ele finalmente disse suavemente.

Lilly agitou a cabeça. —Estou te pedindo para me salvar, Travis. Não posso viver assim. Não posso andar na escuridão. Não posso viver sem confiança, sem alguém para me apoiar, e não posso viver sem compreender por que sonho com sangue, morte e a porra de um rifle nas minhas mãos que sei que usei para matar. — A cada palavra a voz dela ficava mais áspera, mais cansada, as mãos cerrando em punhos, o estômago apertando enquanto lutava para conter a agonia que ressonava por ela.

—Lilly Belle era treinada para trabalhar com Ops encobertos. — A voz de Travis era cansada agora, o olhar atormentado. —Sabe disto, Lilly, estava no relatório fornecido pelo investigador.

—De acordo com aquele relatório ela era uma garota de programa de elite treinada para se proteger e proteger o agente com o qual estava fodendo. — Ela zombou dele.

Isso doía mais. Saber que havia uma chance, não importava o que ele dissesse, que o mundo a veria como uma prostituta.

—Não minta para mim — ela sussurrou com os lábios se separando. —Eu sei que não era uma garota de programa. Sei que não estava lá para fornecer um pouco de entretenimento seguro para qualquer agente de merda que precisasse de uma foda amigável no momento. Mas é assim que o mundo me verá se aquele relatório for revelado. Pelo menos me diga a verdade, permita-me ter isso.

—Não, você não era. — Ele respirou profundamente, Travis correu os dedos pelo cabelo e deu uma olhada rápida na água que caía do chuveiro.

—Então o que eu era?— Desespero arranhava o peito dela então. Se não podia confiar em Travis, então em quem podia confiar?

Ele se moveu para mais perto. —Eu sou o único amigo que tem nesta situação — ele a advertiu, a voz tão sombria e áspera agora que ela vacilou. —Você não tem mais nenhum aliado. Você não tem ninguém mais com quem possa discutir isso, está me entendendo, Lilly? Até o fundo da sua alma, entenda isso ou morrerá. Morrerá e não haverá nenhum modo de eu poder te salvar.

Os lábios dela separaram, medo e esperança batendo nela enquanto ela o encarava, o olhar ainda nebuloso pelas lágrimas.

—Eu já sabia disto. — Ela tentou fazer os lábios pararem de tremer. —Eu sabia desde o segundo em que despertei naquele hospital seis meses atrás que cada respiração poderia ser a última.

—Apenas se foder tudo — ele rosnou. —Apenas se eu foder tudo. Lilly Belle era uma agente particular que trabalhava com um grupo seleto de agentes privados e do governo. Ela não foi treinada para foder, Lilly. Foi treinada para fornecer distração ou destruir operações. E você era uma das melhores.

—Eu matei — ela sussurrou enquanto outra lágrima caía.

O dedo polegar dele pegou a lágrima da bochecha. —Você matou, assim como eu, para salvar vidas. O rifle que usou me salvou mais vezes do que posso contar. Você me manteve vivo, Lilly. E Deus é testemunha que houve horas em que me manteve são.

—Eu não sou a verdadeira Lilly Belle, não é? Ela gostava de matar, Travis. Eu li o relatório inteiro. Ela matou por esporte.

Ele agitou a cabeça. —Você não é a verdadeira Lilly Belle real. Mas Lilly Belle era a única identidade disponível que podia ser usada no momento. Ela foi morta em Beirut seis meses depois do acidente em que foi salva. A cobertura era perfeita. Ela não era bem conhecida, não era vista frequentemente. Muitos dos trabalhos dela coincidiam com os exercícios de treinamento que o seu pai havia te mandado enquanto estava aprendendo a trabalhar com o MI5. Então foi a identidade que recebeu.

Ela agitou a cabeça lentamente então. —Você não é o verdadeiro Travis Caine também. — Os pedaços do quebra-cabeça estavam começando a se ajustar agora. As memórias estavam se movendo devagar, se revelando à medida que ele falava. Pedaços pequenos, fragmentos de memória ainda não inteiros.

Travis agitou a cabeça lentamente. —Eu não sou o verdadeiro Travis Caine.

Lilly parou. Podia sentir uma parte de si mesma inundando com esperança agora, emoções surgindo, correndo por seu corpo com esta tentativa de prova de confiança.

Se ele confiasse nela, ele a amava. Uma parte dela sabia que o que Travis havia acabado de admitir selaria sua própria morte se ela revelasse. Não apenas nas mãos de seus inimigos, mas com aqueles que trabalhava também.

Sombras se moviam agora e rasgavam seu cérebro. A dor atingiu as têmporas dela enquanto lutava para perfurar o escudo entre ela mesma e suas memórias.

Podia senti-las agora mais próximas do que qualquer momento antes. Como se esta pequena medida de confiança dele houvesse debilitado qualquer parede que fosse colocada dentro da cabeça dela para manter suas memórias a distância.

—Quem é você?— A mão dela ergueu, os dedos tremendo enquanto tocavam os lábios dele, sentindo o calor lá, lembrando-se da paixão. Ele a tocava como ela sabia que nenhum outro homem poderia tocá-la, tanto emocional quanto fisicamente.

Precisava que ele confiasse nela completamente, da mesma maneira que fez com ele.

Ela confiou seus medos, seu conhecimento; ele faria o mesmo? Daria um pedaço de si mesmo que ela sabia que não teria dado a ninguém mais?

A cabeça dele abaixou, os lábios se movendo para a orelha dela.

—Eu sou Lorde Xavier Travis Dermont — ele sussurrou. —Eu dancei com você um dia e vi seus olhos se encherem de sonhos, e naquele segundo soube que tomei a mulher errada como esposa. Eu soube, Lilly, porque foi nesse momento que me apaixonei por você.

Uma arfada passou pelos lábios dela um segundo antes de ele os cobrir. Cheios com vida, confiança e verdade, a sensação do beijo foi diretamente até a alma dela, apertando seu coração e rasgando o controle que continha as lágrimas dela.

As mãos dela agarraram o cabelo dele para segurá-lo mais perto dela. Os lábios se separaram, a língua acariciou a dele enquanto ele a sorvia, saboreava.

Pela primeira vez, estavam no mesmo nível. Como duas pessoas que se confiam, talvez duas pessoas que se amavam, ela pensou enquanto os braços dele a puxavam para mais perto e a erguiam contra ele.

Ele a protegeu com seu corpo como sempre a protegia. A sensação de algo caindo no lugar dentro dela veio enquanto se ouvia clamar e sentiu o desintegrar da parede que cercava seu coração.

—Você é minha, maldição — Travis disse enquanto a erguia e colocava o traseiro dela sobre o móvel atrás. —Você sempre foi minha.

Ela verdadeiramente sempre foi dele, porque se lembrava daquela dança. Foi no aniversário dela de dezoito anos, quando suas esperanças e sonhos eram fortes. Ela se lembrava de ter dançado com Lorde Dermont e sentido a magia que os cercou. A mesma magia que os cercava agora, que enchia o beijo enquanto os lábios dele cobriam os dela uma vez mais, uma magia que enchia cada toque enquanto ele depressa removia o resto das roupas dela com mãos desesperadas, ávidas.

Era como se as paredes que caíram entre eles soltassem algo muito maior que apenas a verdade. Soltou emoções seguras em cheque por muito tempo. Uma fome que eles foram desavisados, que foi proibida.

Quando arrancou a calça jeans, as mãos de Lilly estavam lá. Ela agarrou a seta espessa enquanto deslizava do balcão e ficava de joelhos, encarando-o, permitindo que a língua saísse da boca e corresse sobre a cabeça inchada.

—Porra. Lilly. — O som da voz dele abasteceu a fome dela. Começou a correr por ela, ferver em suas veias e fazer a boca encher d’água para sentir o gosto dele.

Encarando-o ela envolveu a cabeça pesada com a língua, chamejando a língua sobre ela, lambendo embaixo, provocando com o toque dos lábios enquanto as mãos dele enterravam no cabelo dela.

—Como é linda — ele sussurrou, o sotaque inglês aristocrático deslizando pelos lábios. Para ela. Estava dando a ela tudo de si. Neste momento, segurava partes de Travis que nenhuma outra mulher já teve e que provavelmente nunca teria.

O agente, assim como o aristocrata. Um homem que tinha, por alguns anos, ajudado a formar publicamente uma nação, assim como nas sombras. Mas agora só tinha a opção por trás dos panos.

Exceto nos braços dela. Nenhuma parte dele estava morta agora.

Enquanto os lábios dela se separaram e afundaram sobre a cabeça inchada do pau, Lilly soube que naquela hora o possuía completamente.

—Linda, minha doce Belle — ele rosnou enquanto a carne endurecida parecia espessar mais, apertar até que parecia tão dura quanto ferro. Como aço cobrindo seda, espessa o suficiente para estirar os lábios ao redor, dura o suficiente para quase sentir como se estivesse contundindo enquanto ele começava a empurrar com golpes rasos.

As mãos dela agarraram as coxas dele, sentindo a resposta de seu corpo à medida que ela chupava e lambia. Os músculos apertavam, dobravam. Um gemido pesado passou pelos lábios enquanto ela esfregava a língua contra a pele ultra-sensitiva localizada logo abaixo da cabeça.

Os dedos dele apertaram no cabelo dela enquanto ela movia uma mão da coxa até as bolas dele. Lá, os dedos tocaram provocativamente, acariciando a bolsa encrespada, envolvendo-a, dobrando os dedos ao redor.

Oh, Deus, era tão bom. A sensação do pau enchendo a boca, empurrando além dos lábios e a língua aquecida, era incrível. Ela sentia cada resposta do prazer que dava a ele. Não havia o que adivinhar. Estava lá contra os lábios e a língua, da mesma maneira que os gemidos estavam enchendo o banheiro, tanto dele quanto dela.

Travis a olhava fixamente, assistindo enquanto chupava seu pau e o banhava com a língua. Era o prazer mais incrível que já conheceu. Nada podia ser tão bom quanto isto, como assisti-la tomá-lo com tal intimidade e fome que corava o rosto e zumbia em sua garganta com gemidos desesperados. As vibrações dos sons excitados dela ecoavam na carne dura do pau e iam espiralando atacar as bolas.

Era como estar submerso em prazer. O corpo inteiro dele vibrava e ele cerrava o abdômen desesperadamente com o esforço de conter sua liberação.

Olhos fechados, rosto corado, a expressão mostrava tal prazer sensual que Travis mal podia se controlar enquanto apenas a assistia.

Os lábios sedosos, o calor molhado da boca e o chamejar da língua acetinada combinavam para cortar em tiras o pouco controle que sobrou depois de ter se comprometido completamente com ela.

Ele era dela. Tão seguramente quanto ela pertencia a ele, ele agora pertencia a ela.

Gemendo com a necessidade de se conter apenas um pouco mais, ele cerrou os dentes contra o êxtase que batia por seu corpo e percebeu que estava devagar perdendo o aperto no gatilho que o impedia firmemente de gozar.

—Deus, sim — ele gemeu. —Lilly, sua boca é tão gostosa.

         Bom demais. Ele iria gozar. Não podia segurar muito mais. Estava rasgando por ele, apertando seus músculos, crescendo até que não sabia se poderia segurar por muito mais tempo. Ele não podia se segurar por muito mais.

As bolas apertaram mais, o pau pulsou, bateu com a necessidade de gozar.

—Lilly. Não posso me segurar — ele gemeu enquanto as mãos apertavam o cabelo dela para segurá-la. —Vou gozar, amor.

Ela gemeu contra a cabeça dele, uma vibração suave de fome que fez o pau dele esporear em advertência.

Um grito soou na garganta dele, a sucção ficou mais dura, a língua lambendo, sondando, retraindo tanto do gosto quanto possível e ele perdeu sua última restrição.

Rapto o tomou. Êxtase em uma escala de destruir a alma com prazer que rasgou enquanto sentia os jatos ferozes e quentes de gozo correrem da ponta de seu pau, esporeando dentro dela. O corpo ficou tão apertado que se perguntou se quebraria. A cabeça caiu para trás, as mãos apertaram no cabelo dela enquanto tremores duros batiam em seu corpo e alimentavam as pulsações de suas bolas.

E ainda assim, ele queria mais dela.

Ainda duro, o pau tão sensível que sabia que despejaria novamente logo, Travis saiu dela e ergueu-a para o balcão uma vez mais.

—Coloque suas pernas ao meu redor. — Ele ergueu as pernas dela para seus quadris enquanto agarrava o pau e achava a entrada deliciosa e lisa da boceta.

Era como foder seda e xarope. Os músculos apertados agarraram a cabeça do pau dele enquanto ele apertava dentro dela, e a carne sedosa o envolvia como um punho íntimo e o sugou para o lado de dentro, centímetro por centímetro.

As costas de Lilly curvaram. As mãos agarraram a extremidade do balcão, as pernas prenderam ao redor dos quadris dele e ela juraria que estava voando em um mundo de sensações tão intensas que até o ar do banheiro era uma carícia contra a carne.

A ereção de Travis escavava dentro dela, estirando as paredes sensíveis de sua boceta e enviando-a para uma rede de sensações tão intensas que mal conseguia se impedir de gritar.

Com duas punhaladas duras ele estava enterrado até o cabo dentro dela, os quadris apertados duros contra ela enquanto os sons das respirações se tornavam uma sinfonia rota de prazer ao redor deles.

Ele não parou, não pausou. Uma vez que a encheu começou a se mover com golpes fundos, duros, movendo dentro dela enquanto a carne tenra e os nervos finais sensíveis começavam a zumbir em prazer.

A intensidade da sensação começou a crescer. Dedos elétricos de êxtase chiavam sobre a carne, apertando os músculos e sensibilizando o clitóris até que era nada além de uma criatura da sensualidade. Ela podia sentir o êxtase subindo, se preparando. Crescendo, queimando, correndo por cada célula até que a conflagração bateu em seu útero e explodiu dentro em uma liberação tão poderosa e profundo que ela soube que sentiria os ecos pelo resto da vida.

Ela sentiu Travis se juntando a ela. O pau pulsando e liberando dentro dela enquanto ele estremecia contra ela, os lábios em seu pescoço, os dentes ásperos contra a carne.

O nome dela era um grunhido, uma maldição, da mesma maneira que seu grito era um pedido caindo dos lábios.

Estavam amarrados um ao outro. Estavam destinados.

No momento, eram uma entidade amarrada pelo prazer, pela fome. Por algo que Lilly temia pudesse acabar matando os dois.

 

—Achamos um contato. —Nik entrou a passos largos na sala de comunicações provisória que Jordan instalou na casa pequena que haviam alugado para a operação.

As amostras de fluido que ele e Lilly acharam onde a moto foi estacionada estavam na mesa onde Jordan estava sentado aguardando a perícia de Nik em testá-la enquanto Travis examinava cuidadosamente os relatórios que chegaram dos outros agentes.

—Quem?— Travis o questionou, a voz afiada enquanto Jordan girava da tela do computador também.

—David Fallsworth. — Nik andou a passos largos para um dos outros computadores e começou a digitar alguns comandos. —Londres. Ele trabalha no distrito do armazém onde Lilly levou o tiro. — O arquivo no contato foi mostrado. Uma foto, uma folha digitada do comprimento do braço de Travis e uma história documentada de informações que forneceu para a Elite Ops em troca de imunidade em vários casos.

Travis se moveu e encarou a tela. —O que ele tem?

—O que ele tem é uma possível descrição do nosso assassino. — Nik se endireitou com um sorriso frio. —Mas está tímido nisso aqui. Não vai falar online ou no telefone. Mas está disposto a conversar com um intermediário. Prometemos que enviaríamos um em que ele pudesse confiar. — Ele sorriu amplamente de volta para Travis.

—Como saberemos se realmente tem algo?— Travis perguntou.

—Havia dois homens, na noite em que Lilly levou o tiro. Estavam perguntando ao redor sobre Lilly Belle, mostrando seu retrato. Ouviram que ela tinha um contato na área e que estava procurando por estes contatos assim como a própria Lilly. De acordo com o bom ole David, ele pode te apontar a direção de algumas pessoas com quem estes sujeitos conversaram. Mas ainda mais importante, os nomes dos contatos que receberam. — Ele atirou um olhar entre Jordan e Travis. —Ambos foram achados flutuando no rio Tames depois que ela levou o tiro. Nós não fomos notificados das mortes porque os contatos não eram os que Lilly listou.

Travis a ensinara isto. Ela tinha seus contatos oficiais, e tinha aqueles com os quais somente lidava. O fato que alguém achou os contatos que Lilly apenas lidava insinuava o fato que alguém era tão eficiente que nem a Elite Ops, nem Lilly, perceberam.

—Temos alguém o observando?— Travis perguntou enquanto começava a preparar uma lista mentalmente de coisas a resolver antes do voo.

—Temos um contato assistindo-o até que você chegue. — Nik anuiu com a cabeça.

—Terei o avião preparado e pronto para você voar. — Jordan voltou para o computador e começou a digitar. —Nik, você voará com ele e dará auxílio. Teremos tudo pronto para você testar as amostras dos fluidos quando voltar.

—E quanto a Lilly?— Travis se voltou para ele, dando voz às preocupações dentro de si. —Quem está tentando matá-la não vai parar, Jordan. Se perceberem que estou viajando, ou indisponível, podem atacá-la novamente.

—Temos Wild Card no local — Jordan o lembrou. —Ele ficará bem próximo. Farei Maverick se mudar para observar a casa no caso de problemas surgirem até você retornar.

Wild Card, mais conhecido como Noah, e Maverick, mais conhecido como Micah, assegurariam que Lilly estivesse protegida, Travis sabia. Tinham suas próprias mulheres e entendiam os medos que tomavam Travis quando a questão era a proteção de Lilly.

Era o melhor que conseguiria e Travis sabia disso. Discutiria a proteção de Lilly com Wild Card e Maverick ele mesmo.

—O jato está sendo preparado enquanto conversamos — Jordan anunciou. —Você voará em uma hora.

A mandíbula de Travis apertou. Não havia nenhuma chance de conversar com Lilly, e não podia ligar. Não podia estar certo do quanto os telefonemas eram seguros.

—Fallsworth estará te esperando na Cantina do Embarcadouro, a dois quarteirões do distrito do armazém amanhã ao meio-dia — Nik disse a eles. —Ele é normalmente muito confiável. Vamos esperar que desta vez também seja.

—Ache quem está tentando assassinar Lilly e teremos uma ótima chance de achar o assassino do pai dela, assim como a pessoa ou pessoas que estão atacando a poupança, as pensões e os fundos de gente rica e famosa — Jordan grunhiu. —E com sorte acabaremos com uma pequena e sórdida organização terrorista ao mesmo tempo.

Mas ia deixar Lilly sem uma advertência. Travis não gostava disso, mas no momento, suas escolhas eram limitadas.

—Vamos nos mandar. — Nik cutucou o braço dele enquanto passava. —Quanto mais rápido chegarmos lá, mais rápido voltaremos.

Ele não teria a chance de adverti-la que precisava partir, mas podia deixar mais proteção. Não se sentia confortável em deixá-la só. As memórias dela estavam retornando devagar, aos pedaços. Havia coisas demais que ela ainda estava lutando, muitas memórias que ainda a estavam evadindo, deixando-a vulnerável.

—Nós a temos coberta, Black Jack — Nik disse, a voz baixa. —Vamos achar os bandidos, então poderá compreender o resto.

Travis deu um sumário aceno com a cabeça antes de girar e deixar o quarto. Andando pela casa, puxou o telefone de seu coldre no cinto e depressa apertou o botão de discagem rápida.

—E aí, lindão?— Raisa, codinome Raven, atendeu ao telefone.

Uma das três agentes restantes da Elite Dois, ela e as outras estavam aguardando em Hagerstown, esperando caso Lilly precisasse delas. Estavam lá de forma não oficial; nenhum Comando da Elite nem seus chefes estavam cientes que elas fugiram de suas verdadeira missões e estavam lá para ajudar Lilly.

Eram uma unidade. Eram família. Irmãs, como se chamavam. Eram irmãs de Lilly.

—Você e as outras estão em guardas noturnas. Sejam cuidadosas, mesmo assim, porque Wild Card e Maverick também estão de guarda — ele ordenou. —Tenho que voar para Londres e encontrar um contato. Fiquem de olhos abertos e se certifiquem que ela está segura.

Um leve hmmpf veio do outro lado da linha. —Acha que não estamos fazendo isto, figurão? Você ensinou que fossemos uma família, Travis. Isso não mudou só porque ela não se lembra da gente.

Os lábios de Travis abriram em um sorriso enquanto a porta atrás dele era aberta e Nik saía.

—Cuide-se — ele disse a Raisa suavemente. —Ligarei quando aterrissar.

Desligando, enfiou o celular de volta no coldre, pegou o coldre de couro e o entregou a Nik enquanto aceitava a missão que o outro homem deu.

Quaisquer telefonemas seriam enviados para o celular via satélite. Era a opção de recepção segura.

—Vamos embora, Black Jack — Nik suspirou. —Contatarei Fallsworth e direi que está a caminho e ver se consegue terminar o mais rápido possível para voltarmos. Espero que possamos voar de volta e ter uma ordem de prisão decretada para nosso assassino como um presente para Falcão Noturno.

Travis teve o pressentimento que não seria tão fácil. Mas era um bom pensamento.

Roçando a nuca com a mão, andou a passos largos depressa para o Hummer e sentou no banco do motorista enquanto Nik abria a porta lateral do passageiro e entrava.

Travis não estava se sentindo bem por partir assim. Algo estava muito errado.

 

A batida chata da enxaqueca nas têmporas a estava deixando irritada. Lilly desceu devagar a escadaria curva da casa da mãe e do tio, bom, seu padrasto agora, e se dirigiu à cozinha.

O café poderia ter uma chance de aliviá-la. Desenvolveu gosto pela rica bebida fermentada na América do Sul durante alguns treinos.

A dor tomou as têmporas enquanto a memória lentamente filtrava pela mente dela. Não era um retrospecto, era algo que estava lá quando não esteve antes, e com ela havia a pressão pesada e a dor afiada nos lados da cabeça.

Isto podia se tornar uma distração, ela pensou enquanto pegava uma xícara do armário e se movia para a cafeteira cheia com café quente no fim da bancada.

As coisas mudaram, não só com ela, ela pensou enquanto enchia a xícara e se movia para a mesa de madeira pesada em frente à janela na área de café da cozinha.

As coisas haviam mudado com a família dela também. Seis anos não pareciam tanta coisa, exceto o fato dela ter passado por várias situações difíceis enquanto eles viviam suas vidas cotidianas.

A família dela mudou. O tio era agora seu padrasto. O irmão a desconhecia, e sem a influência do pai, a mãe estava mais neurótica que nunca.

Lilly quase sorriu amplamente com o pensamento.

O pai dela comentou muitas vezes que talvez a mãe dela precisasse de umas férias no Sul da França. O local fazia referência aos amigos da mãe que se internavam nas clínicas ou que forçavam seus filhos a ficarem lá por quaisquer transgressões que cometessem.

A mãe dela não lidava bem quando via uma ameaça à sua posição social ou a aparência de perfeição que se esforçava para projetar quando a questão era a vida dela e da família.

Lilly podia apenas imaginar os pesadelos que Angelica Harrington tinha quando imaginava o relatório do investigador sendo lançado a público ou para os paparazzi.

E então ter Lilly com a aparência selvagem e não convencional que viveu naqueles seis anos. Sem dúvida a mãe dela tentou convencer Desmond que o Sul da França era o melhor lugar para Lilly agora.

Desmond e o pai dela tinham forte antipatia pela instalação em Ridgemore, graças a Deus. Diferentemente de algumas famílias que enviavam seus filhos para uma estada lá pelas menores razões, Lorde Harrington e o irmão expressavam sua desaprovação frequentemente. Várias vezes ficaram ao lado de pais que foram forçados a lutar contra suas esposas por causa da tradição de usar a instalação como forma de castigo.

Quantas vezes a mãe dela ameaçou mandá-la para lá? Lilly sabia que foram mais vezes que queria se lembrar. Assim como estava certa que sentiu falta da família e da vida aqui, não haveria também a sensação de alívio por não ter mais que viver seguindo as diretrizes rígidas que a mãe dela fixou para a família?

Ela não teria adorado a aventura, o alívio da inquietude que sempre a encheu?

—Aí está você. — A mãe dela entrou na cozinha, movendo-se para o bule ao lado do fogão. —Gostaria de mais chá, querida?

Lilly ergueu a xícara. —É café, mãe.

Angelica fez uma careta de desgosto. —Você foi criada com chá, querida.

—Gosto de café. — Lilly sorveu a bebida morna antes de pousar a xícara na mesa e cruzar os braços sobre a mesa enquanto olhava a mãe.

—Seus modos deterioraram seriamente. — Angelica anuiu com a cabeça para os braços de Lilly cruzados sobre a mesa.

—Eu sei, mãe — Lilly concordou enquanto ajeitava os braços. Não havia ninguém de fora então não havia necessidade de se preocupar com isto.

—Você agora faz barulhos desagradáveis em público também?— O desgosto arruinou o rosto de Angelica.

—Não mesmo, mãe.

O silêncio caiu enquanto Angelica fazia seu chá e se movia para a mesa.

—Desmond e eu vamos para Washington, um jantar com amigos; gostaria de ir conosco?

Lilly agitou a cabeça. —Quero descansar um pouco. Acordei com enxaqueca.

Ela poderia aproveitar a oportunidade para bisbilhotar o escritório de Desmond um pouco. Não tivera chance antes. Parecia que Desmond ou a mãe estavam constantemente ao redor dela se deixasse o quarto.

A mãe dela terminou o chá, um silêncio desconfortável caindo entre elas.

—Lilly, precisa fazer uma escolha. — A mãe dela deixou a xícara de chá vazia no pires e a encarou friamente.

—Que tipo de escolha, mãe?— Ela perguntou enquanto debruçava as costas contra a cadeira, deitando as mãos educadamente no colo.

—Se é Lady Victoria, ou a vadia Lilly Belle. — Angelica ficou de pé, os olhos reluzindo mareados, mas a expressão estava teimosamente fixa. —As duas não podem coexistir. Deve ser uma ou outra. Decida-se depressa quem será.

—Ou o quê, mãe?

—Ou terei que tomar a decisão por você.

Com isto, Angelica saiu da cozinha, a cabeça erguida, os ombros retos.

Lilly suspirou. Parecia que a mãe dela estava talvez um pouco mais irritada com a situação do que Lilly assumia.

Cobrindo o rosto com as mãos, ela inalou devagar e lutou para controlar as próprias emoções.

Houve uma época em que lutou diariamente para agradar a mãe e ainda assim viver a vida que queria. Havia funcionado, até certo ponto, até que fez dezoito anos e a mãe a apresentou ao homem que esperava que sua filha se casasse.

Inferno, Lilly mal podia se lembrar dele. Com certeza não se lembrava do nome. Lilly apenas olhou para ele e escapou da sala com a desculpa que o pai dela a estava esperando em seu escritório.

Ela tinha, até onde a mãe a acusava, mostrado seu desprezo pela mãe nesse dia.

Lilly tinha, em sua própria ideia, mostrado à mãe que não era uma criança que precisava dos amigos dela, ou neste caso do marido que ela escolheu.

Viver com a mãe não foi fácil, mas Lilly a amava. Da mesma maneira que amava o irmão. Adorava o pai. E pelos seis anos que esteve longe deles, sentira falta deles ao ponto de, às vezes, sentir como se a dor a pudesse matar.

Os olhos dela alargaram.

Isso era uma memória.

Ela se lembrava agora.

Desejava ir para casa, brincar com a sobrinha e o sobrinho, vê-los crescer, protegê-los da neurose da mãe dela e até discutir com a mãe quando fosse necessário.

Mas não sentia falta das ameaças de ser enviada para a Clínica Ridgemore.

Quase sorriu. Bem, talvez sentisse falta das ameaças.

Enquanto ouvia Desmond e a mãe dela deixando a casa, Lilly se levantou da cadeira e caminhou para o hall de entrada e viu Isaac fechando a porta atrás deles.

A casa estava assustadoramente muda agora. Com a família fora, os empregados estavam propensos a se juntarem nos quartos dos empregados do porão e relaxarem.

Isso deixava o escritório de Desmond deserto.

E trancado.

Os olhos dela estreitaram enquanto se lembrava do estojo de couro pequeno, aparentemente inócuo que pegou do abrigo no armazém.

Indo para cima, ela depressa o tirou da bagagem na qual o escondeu.

O conjunto de ferramentas dela para abrir fechaduras.

E se lembrava de como usá-lo.

Entrar no escritório era simples. A chave de segurança eletrônica era ultrapassada e a fechadura simples para abrir e Lilly começou a trabalhar. Dentro de minutos, em vez dos segundos que costumara levar, entrou no escritório.

Uma vez lá dentro, procurou, perguntando-se a princípio onde diabos começar.

O instinto era uma coisa incrível, porém.

Ela se moveu para o computador, ligou-o e enquanto olhava para a caixa de diálogo que pedia a senha, essa memória também emergiu lentamente.

Uma vez que passou pela senha, pode começar a carregar o disco rígido e a conta que instalou naquela manhã.

Enquanto as informações passavam por atualizações, Lilly girou sua atenção para os arquivos na sala. O gabinete de arquivo continha informações principalmente financeiras que estava certa que seriam facilmente encontráveis nos arquivos eletrônicos que estava carregando. Pareciam ser impressões de informações específicas usadas para propósitos de negócios.

Desmond, como o pai dela fez antes, fazia muitos negócios durante sua viagem anual para os States.

Haviam outros arquivos dispersos em torno do escritório, porém. Passando por eles, Lilly achou algo que não imaginara. Dobrado em um envelope amarelo longo e comprido estavam retratos dela.

Aqueles não eram relatórios do investigador.

Ela encarou um, a sobrancelha franzindo enquanto tentava se lembrar.

O cabelo estava vários tons mais escuro, mas as feições eram claramente aquelas que estava ficando acostumada agora. Estava usando um vestido longo e sedoso de festa, o cabelo preso no topo da cabeça e caía numa cascata até os ombros. Era um tipo de festa, o homem velho que estava de pé com ela era reconhecível.

O líder de um cartel de droga colombiana, Diego Fuentes. A mão dele estava nas costas dela, o sorriso dela claramente coquete enquanto ria de algo que ele disse.

Os olhos dela estreitaram enquanto a dor de cabeça ficava mais forte.

Não era apenas um líder de cartel.

Era um agente duplo.

Diego Fuentes era um recurso da CIA no mundo das drogas assim como as forças terroristas a invadindo.

Ela estava em uma missão.

Havia outros retratos, mas os que mais falavam eram os que foram tiradas na área onde ela sofreu o atentado. A foto foi tirada no inverno. Havia neve no chão. Lilly estava de pé do lado de fora de um armazém falando em um telefone. No fundo podia distinguir uma pequena placa que indicava que o edifício em questão era um dos escritórios da Escorts Etc.

Esta foto foi tirada antes dela levar o tiro. Alguém a tinha observado, acompanhado seus trabalhos, acompanhado-a, até que quase foi morta.

Ela deslizou os retratos dentro do envelope, dobrou-o, então o colocou no cós da calça que estava usando.

No que o tio dela estava envolvido?

Ela se moveu depressa para o computador, verificou o progresso dos arquivos carregando, viu que tinha terminado e depressa encobriu seus caminhos e desligou o computador.

Enquanto estava se movendo em torno da escrivaninha para sair do escritório, a buzina leve do alarme que colocou do lado de fora fez com que corresse para se esconder.

Era luz do dia; atrás das cortinas não seria sábio. Logo antes de a porta ser aberta Lilly deslizou para trás do sofá junto a uma parede, apertando-se contra ela e assistiu enquanto a porta era aberta.

A mãe dela entrou no escritório e se moveu para o gabinete de arquivos.

—Não posso acreditar que esqueceu os arquivos — ela murmurou enquanto outro conjunto de pernas a seguia.

—Precisa de ajuda, Lady Harrington?— Um homem da segurança que Lilly lembrava do pai contratando quando tinha dezesseis anos perguntou suavemente.

—Já peguei, Samuel — ela suspirou. —Ele devia saber o quão importante isto é. Simplesmente porque não concorda com eles, pensa que pode simplesmente jogar fora. Há dias em que eu simplesmente não entendo aquele homem.

—Sim, madame — Samuel respondeu evasivamente.

A sobrancelha de Lilly curvou com a irritação na voz da mãe assim como o fato que estava reclamando tão alto com o que consideraria ser um empregado.

—Algo deve ser feito sobre ele. — A voz afiada de Angélica soou — é tão ruim quanto tentar lidar com Victoria e sua insistência em ser chamada de Lilly. Já ouviu tal tolice?

—Não, madame — Samuel respondeu.

Angelica suspirou fortemente de novo. —Devemos partir? Imagino que isto é outra coisa que teremos que lidar nós mesmos.

—Cuidarei disto, madame — Samuel prometeu.

Os olhos de Lilly estreitaram enquanto a mãe dela e o guarda-costas deixavam a sala, fechando a porta depois de saírem.

Saindo de trás do sofá, ela se espanou, então olhou para a porta e agitou a cabeça em surpresa. Talvez devesse ter prestado mais atenção à mãe quando era mais jovem. Passado mais tempo com ela ou algo assim. Nunca Lilly a viu falar de forma tão familiar com os empregados. Não que desaprovasse isto, mas sabia que a mãe desaprovava. E muito.

As mudanças que os seis anos fizeram foram muito grandes.

 

Dois dias depois Lilly se movia pela casa, as mãos enfiadas nos bolsos da calça de seda violeta que usava, uma careta pesada no rosto enquanto a mão agarrava o celular silencioso em seu bolso.

Ela não ouviu nada sobre Travis desde a manhã em que partiu levando o metal e as amostras de fluidos que acharam para Nik. Ela foi para a casa, apenas para achá-la muda e vazia. Até Henry, o mordomo, não estava na residência.

Não havia nenhuma mensagem de voz, nenhuma carta, nenhuma mensagem enviada para deixá-la ciente de onde estava ou o que estava acontecendo.

—Lilly, aí está você. — A mãe dela entrou vindo da sala de estar com aparência preocupada. —Estava pensando se gostaria de fazer compras.

—Não hoje, mãe. — Lilly deu um sorriso suave, desejando suavizar a rejeição, embora pudesse ver a pontada de dor e raiva na expressão da mãe.

—Está como um fantasma inquieto, perambulando pelos cômodos — a mãe dela acusou, escorando as mãos nos quadris e a encarando com uma careta. —Sério, Lilly, talvez devesse ver aquele psiquiatra que o medico recomendou.

Lilly revirou os olhos com a sugestão.

—Eu não preciso de um psiquiatra, mãe — ela a assegurou. —Eu estou bem, apenas cansada.

Angelica cruzou os braços sobre a blusa cor de creme e bronze que usava e bateu o pé enquanto encarava a filha. A saia leve misturando as cores mel e marrom com comprimento acima-do-joelho ficava perfeita nas pernas da mãe dela, combinavam tão bem quanto a blusa.

—Você não estaria tão cansada se dormisse de noite em vez de escapar toda hora — ela replicou. —Francamente, Lilly, poderia usar a porta da frente, sabe. Tem mais de vinte e um anos e não há um toque de recolher desde muitos anos antes de você desaparecer. Duvido que eu tentasse te obrigar a um agora.

—Como sabe que escapo do meu quarto de noite, mãe?— Ela perguntou.

Lilly tinha a intuição muito bem desenvolvida e sabia que não sentia olhos a espreitando. Esteve ciente do investigador do tio a espionando. Ele normalmente observava a janela da sacada. Como se esse fosse o único lugar no qual ela pudesse se mover furtivamente da casa.

—Importa como sei?— Angelica avançou mais no hall de entrada. —Estou simplesmente curiosa para saber por que sente que deve. O que está fazendo, Lilly, que sente que precisa que esconder?

—Talvez apenas precise sair — Lilly disse. —Eu não durmo bem.

—E o médico te deu algo para isto. — Angelica fez uma careta em preocupação. —Você está saindo com aquele Caine, certo? Pensa que não notei que não tem entrado no seu quarto ultimamente?

Aquele Caine, como se não importasse o suficiente para ter um primeiro nome.

—Realmente importa o que estou fazendo?— Lilly finalmente suspirou. —Como a senhora disse, mãe, sou uma garota crescida agora, e não tenho toque de recolher e sei como fazer meus próprios amigos.

—Eu costumava pensar que sabia — Angelica disse tristemente. —Não estou mais tão certa, Lilly. Nem acho que sei mais quem você é.

Isso nos deixa empatadas, Lilly pensou.

—Não quero discutir com a senhora, mãe.

—Tenho uma sugestão, querida — a mãe dela disse. —O Dr. Ridgemore sugeriu que talvez precisasse descansar mais. Sabe que ele tem uma boa instalação na França Meridional. É o lugar perfeito para relaxar. Estaria em boas mãos.

Lilly encarou-a com incredulidade. —A instalação Ridgemore é uma piada — ela começou. —A senhora não está falando sério, mãe!

O rosto de Angelica apertou. —Não está agindo bem, Lilly, e seu tio e eu estamos extremamente preocupados. Até Jared concorda que pode ser a melhor escolha. E Ridgemore não é uma piada. É uma instalação médica muito respeitada.

A mãe dela queria que fosse internada? Realmente pensava que Lilly permitiria que fizesse tal coisa?

Mas a mãe dela estava falando sério, e Lilly sabia. Angelica decidiu várias vezes, quando Lilly era mais jovem, que poderia precisar de terapia ou aconselhamento. Ambos significavam que se Lilly não fizesse como Angelica queria, poderia precisar ser internada numa clínica horripilante em Ridgemore.

Lilly ouviu rumores da clínica, e viu os poucos amigos que foram enviados para lá. Retornaram quietos demais, muito contidos. Não confiavam mais em seus amigos, e faziam escolhas que seus pais consideravam aceitáveis em vez das que eles mesmos queriam.

—Obviamente passou por um tempo muito difícil, querida. — Angelica tocou o braço dela suavemente, os olhos azuis escurecendo com remorso e tristeza. —O que quer que tenha acontecido durante os seis anos que esteve fora foi traumático o suficiente para escolher bloquear da mente. Apenas quero te ajudar a melhorar. Jared acha...

—Jared acha uma ova — ela retrucou. —Qual é o problema dele? Está assustado por ter que compartilhar a herança de Harrington ou algo assim?

—Meu Deus, Lilly, olhe o que disse!— A mãe dela ofegou. —Você soa como uma garota de rua em vez de uma dama.

Lilly correu os dedos pelo cabelo e lutou por um jeito de engolir a frustração. Não tinha nenhuma dúvida que a mãe a estava examinando antes de interná-la. Era popular entre as classes altas forçar os filhos a ficarem em asilos para viciados em droga ou álcool, ou até mesmo algo tão secundário quanto se envolver com pessoas que os pais consideraram muito comuns. O desafio era frequentemente diagnosticado como um problema mental que precisava de ajuda psiquiátrica avançada. Tal tratamento nada fazia além de criar problemas ainda maiores.

—Mãe, não há nada de errado comigo, mentalmente — ela disse enquanto encarava a mãe em descrença. —Estou perfeitamente bem, prometo.

Ela tentou passar pela mãe, colocar o máximo de distância possível entre as duas agora mesmo.

—Lilly, precisamos conversar sobre isto. — Os dedos da mãe dela apertaram no braço dela. —Esse é um assunto sério, e que deve ser tratado.

—E Tio Desmond concorda com você?— Lilly puxou o braço de volta. —Diga-me, mãe, quanto tempo tenho antes dos ‘amigáveis’ assistentes de Ridgemore chegarem para me arrastarem para o asilo?

—Como soa comum — Angelica disse. —Não é a criança que criei, Lilly. Precisa de ajuda e sabe disso. Como sempre, tem Desmond na palma da mão, assim como tinha seu pai. Nenhum deles ousava discordar de você, e Desmond não arriscaria isto agora.

Até onde Lilly estava preocupada, Desmond não estava nada na palma da mão dela. — Tão normal, a mãe dela amava exagerar.

Lilly agitou a cabeça em descrença. Não podia compreender. A mãe dela era rígida quando sentia que era necessário, e Lilly sabia que Angelica frequentemente concordava com seus amigos quando enviavam seus filhos para longe. Mas Lilly nunca acreditou, nem sequer imaginou, que a mãe consideraria tal coisa seriamente para seus próprios filhos. Fez ameaças no passado, frequentemente. Os pais de Lilly discutiam por causa disso. Mas uma parte de Lilly achava que ela nunca faria isso de verdade.

—Cometeu um engano me advertindo, mãe — Lilly a assegurou. —Confie em mim, não há nenhuma chance de eu permitir que me interne.

—Ninguém permite isto, querida — Angelica prometeu. —Pode pensar que pode tomar tais decisões desastrosas por conta própria, mas é um membro da realeza, o que significa que pode ser forçada a aderir às nossas regras.

E estava certa. Angelica podia muito bem forçar sua filha a ser internada num asilo, a menos que o tio dela impedisse. Como cabeça da família, Angelica não podia forçar Lilly a qualquer coisa sem a ajuda dele.

Teve que lutar contra os tremores que ameaçavam correr pelo seu corpo agora, o medo que a mãe fizesse algo tão horrível a rasgando. Essa era a parte da mãe dela da qual o pai sempre a protegeu.

Lilly agitou a cabeça, a descrença se opondo à fúria enquanto encarava a mãe que sempre amou.

—Meu pai nunca teria deixado você fazer isso — ela sussurrou dolorosamente. —E nunca teria considerado isso de verdade se ainda estivesse vivo.

—Oh, sério, Lilly — a mãe dela ergueu o tom. —Com certeza se lembra das brigas que eu e seu pai tivemos. E os gritos? Eram todos por sua causa. Ele te tratava mais como amante que filha.

Lilly recuou em choque e descrença. Isso não era verdade! O pai dela a amava. A ensinou como se proteger. Ele a treinou para proteger a Coroa. Confiava nela. Mas não havia nada de indecente no amor do pai por ela.

—Você é louca!— Lilly encarou a mãe em horror. —Você é a pessoa que precisa ser internada, mãe, não eu. Perdeu a cabeça se acha que pode fazer tal acusação e que eu te permitirei me internar assim. Eu me mataria primeiro.

—Era o que deveria fazer — a mãe dela zombou. —Está na extremidade da violência e incapaz de se controlar. Não deixarei que se destrua ou que suje ainda mais o nome Harrington.

—Já chega, Angelica. — Lilly girou para enfrentar o tio enquanto encarava a mãe dela, a batalha de vontades aquecendo o hall de entrada com tensão.

—Sabe que é verdade tanto quanto eu, Desmond — Angelica retrucou. —Harold a mimou completamente. Ela acredita que pode fazer o que quer agora e envergonhar sua família. Ela não é uma prostituta qualquer do interior. Ela é parente da Rainha, pelo amor de Deus.

—Estou certa que a Rainha não dá a mínima para o que estou fazendo agora mesmo — Lilly respondeu. —E sei que já ouvi o suficiente desta conversa.

Girando para o tio e a mãe, Lilly se dirigiu à escadaria sinuosa.

—O Dr. Ridgemore estará aqui amanhã para falar com você. — As palavras da mãe a pararam no caminho. —Por favor, tente parecer apresentável, se não se importa.

Lilly girou e olhou para o tio. —Vai permitir isto, Tio Desmond?

A expressão dele estava cheia de descrença enquanto olhava Angelica. —Inferno, não, claro que não permitirei isto. — Ele encarou a esposa.

—Você pensa que é o único que tem o direito de tomar decisões aqui. — A cabeça de Angelica se ergueu arrogantemente. —Jared pode predominar sobre você, Desmond, já que não é o pai legal dela, e te prometo que ele irá.

Jared. O irmão dela. Oh, Deus, o irmão que conheceu e amado por todos aqueles anos nunca permitiria que a mãe dela fizesse algo tão odioso.

—Veremos — Desmond disse. —Eu mesmo ligarei para Ridgemore, Angelica. Não tem o poder de ficar contra mim nisso.

Angelica estava quase se agitando de ira enquanto Lilly subia depressa os degraus. A voz dela se ergueu furiosamente.

—Acha que não tenho o poder? Acha que gastarei minha vida discutindo com você por causa das propensões destrutivas daquela criança? Não farei isso. Ela aprenderá a se comportar como uma dama de uma vez por todas. Nada além disso será aceitável.

Lilly sabia que tinha que sair daqui.

Foi apressada para o quarto e o grande closet. Lá, ela tirou uma mochila escondida de dentro de um das malas pesadas que armazenou e jogou-a para o lado. Puxando uma muda de roupas das prateleiras, depressa vestiu uma calça jeans, uma camiseta e calçou um par de botas. Jogou uma jaqueta de couro leve sobre a mochila, a alça no ombro e então foi depressa para a sacada.

Dentro de segundos estava sobre a grade e saindo apressada em direção à garagem. Mas em vez de entrar na área cavernosa do estacionamento, se moveu além e passou pela folhagem pesada cercando o muro de pedra e dentro de minutos estava além da calçada.

Não tinha nenhuma ideia de que diabos estava acontecendo, mas uma coisa estava certa - viu muitas de suas antigas amigas se tornarem vítimas por determinação dos pais a forçá-las a terem certo molde. Se casaram com homens que odiavam por causa da ameaça de serem deserdadas ou pior. Deram as costas para trabalho, amigos.

Hoje em dia tal confinamento deveria ser ilegal. Ainda não era. Advogados e médicos conspiravam com pais. Drogavam, reabilitavam e impiedosamente repreendiam mulheres, e às vezes homens, até que fizessem como eram ordenados. Até que se tornassem robôs não mais procurando a felicidade, mas buscando apenas ficarem longe da clínica brutal.

O medo enviou um calafrio de horror pela espinha dela com o pensamento. Tinha que cair fora. Não tinha nenhum veículo, e levaria uma eternidade para um táxi chegar.

Antes de saber o que estava fazendo, discou um número. Encarou o telefone, escutando-o tocar. Para quem estava ligando?

—Onde está?— A voz feminina e jovem era cautelosa.

Lilly deu o local depressa.

—Saia do campo de visão. Tenho um rastreador no seu celular, deixe-o ligado. Alguém estará aí logo. Desligue agora.

A linha ficou muda.

Lilly fechou o flip do celular antes de se esquivar para trás de uma cerca de pedra, usando a propriedade desocupada para cobertura. E esperou.

Ela deu uma olhada rápida no telefone e o número que discou. Não tinha nenhuma ideia de quem a mulher era, mas reconheceu a voz. Era familiar. Alguém em que podia confiar. Ela esperou.

Deus, onde estava Travis?

Tentou o numero do celular dele novamente. O número de casa. A caixa postal era a única opção que a recebeu.

—Travis. Me ajude— ela sussurrou no telefone.

Não tinha nenhuma ideia de quem estava vindo até ela ou quanto podia confiar. Tudo que sabia era que, neste momento, preferiria lutar para se livrar de terroristas a contrariar a mãe e o Dr. Ridgemore.

Cynthia Danure, a enteada de um dos amigos da mãe dela, disse anos atrás para Lilly exatamente como acabou sob os cuidados do Dr. Ridgemore. Como a mãe dela se assegurou que estava lá apenas para conversar com ela. Veio com vários assistentes e um furgão médico. Cynthia foi levada sedada e não retornou por seis meses. Nesse tempo, o jovem pelo qual estava apaixonada foi condenado por roubar e encarcerado numa prisão por dois anos.

O jovem era brilhante, com grandes sonhos e um legado para sustentá-los, mas foi desgraçado o suficiente por ser teimoso. Procurou por Cynthia, certo que sua amante simplesmente não iria embora.

Lilly não seria pega naquela armadilha. Não tinha nenhuma ideia de quão firmemente Desmond iria contra a mãe dela, ou se a mãe estava certa quando disse que Desmond não poderia pará-la. Sabia que estava sendo traída pela mãe e o irmão. O que quer que estivessem atrás, o que quer que tivessem em mente para ela, era definitivamente algo que não poderia sobreviver. Algo que não permitiria.

O telefone tocou. Na tela aparecia o número que discou quase vinte minutos antes.

—Há um Taurus branco se aproximando de você, Lilly — a voz a informou. —Entre no carro.

Ela esperou até que o Taurus chegasse mais perto, e então saiu detrás dos arbustos e correu para a porta do passageiro. O carro não parou. A porta abriu de repente, porém, e Lilly saltou para o lado de dentro, batendo a porta enquanto o veículo acelerava.

—Bem, já era hora de se lembrar de nós, cachorra. — Um sorriso brilhante, olhos castanhos escuros e afeto fácil no rosto da mulher deram a ela pelo menos um pouco de esperança que não tivesse saído do espeto e caído na brasa.

Lilly suspirou fortemente. —Vou assumir que te conheço. E assumirei que não me ferrarei por ter ligado. Mas, por favor, podia pelo menos me falar seu nome?

Os olhos largos e amendoados da mulher ficaram ainda maiores, cintilando com preocupação enquanto dava a Lilly um olhar rápido.

—Raisa McTavish — ela se apresentou. —Codinome Raven. Estávamos esperando seu telefonema. Assumi que todas as suas memórias retornaram quando contatou Shea.

Lilly agitou a cabeça antes de verificar atrás delas depressa.

—Não estamos sendo seguidas — Raisa a assegurou. —Além disso, Nissa está atrás de nós com distância segura para assegurar que ninguém tente. Então, o que te deixou desesperada o suficiente para se lembrar do número, se não lembra de nós?

Lilly apertou os dedos na testa e lutou contra a dor crescendo lá. —Não tenho nenhuma pista. Não posso contatar Travis e as coisas estavam ficando um pouco loucas na casa dos Harrington.

Raisa deu uma risada leve. —Sua mãe é uma bruxa. Nunca entendi como uma pessoa tão compassiva quanto você realmente veio dos mesmos genes.

—Talvez meu pai os tenha diluído. — A dor estava começando a aumentar. Lilly nunca viu a mãe como uma pessoa do mal até agora.

—Bem, seu pai era definitivamente bonito e gostoso — Raisa ronronou. —Pela idade, tinha uma ótima aparência. Uma pena ter morrido. Você uma vez me disse que ele te ensinou a maioria das coisas que sabia.

—Ele era um bom homem. — Nunca teria traído seus filhos. Nunca sugeriria, por um segundo sequer, que Lilly fosse internada por se opor a ele, ou por ver Travis. Ficaria com raiva, a teria ignorado, talvez deserdado. Mas algo tão cruel como colocá-la num asilo? Ele nunca faria tal coisa.

—Então, o que a bruxa do Tames anda aprontando?— Raisa continuou bem-humorada. —Imagino que queira matar alguém por causa da sua associação com Travis.

Lilly agitou a cabeça enquanto tragava contra a dor se formando na cabeça. —Ela não está furiosa. Está tentando me internar em vez disso.

O silêncio encheu o carro. Várias curvas depois Raisa soltou uma respiração dura. —Se lembra da sua prima Elizabeth? Foi internada logo após sua morte.

Lilly ergueu a cabeça e encarou a outra mulher, horrorizada. —Elizabeth era uma criança.

—Quatorze anos quando sua tia e Angelica foram contra o pai e a internaram por ter reivindicado que a esposa do irmão dela tentou tocá-la. Ela ficou no Ridgemore por mais de um mês antes de você conseguir achar um jeito de entrar para verificá-la, mas não podia tirá-la. Eles a deixaram lá por dois anos antes de ser liberada. Não era mais a mesma, você me disse uma vez. Secretamente a verificava frequentemente.

A prima Beth? A pequena Elizabeth, que foi uma criança tão gentil e doce. Uma vaga memória surgiu então. A pequena Beth, meditativa, encarando Lilly com olhos vazios. Como se desejasse que pudesse tê-la ajudado.

Lilly tragou de volta a bílis que subia pela garganta. Não devia estar tão chocada, pensou. Talvez uma parte dela sempre soubesse como a mãe era. Por isso era muito próxima do pai. Ele a protegia da ira da mãe quando era muito jovem.

Lilly queria arrancar a imagem de Beth de sua mente, mas ela se recusava a partir. Entrou sorrateiramente na clínica e tentou falar com ela. Se lembrava disto. Sentou com a menina, sussurrado seu nome, e Beth apenas olhava a parede sem ver.

Quando Lilly girou o rosto da menina para olhar em seus olhos castanhos bonitos, uma única lágrima desceu na bochecha de Beth.

Foi colocada na clínica porque a cadela com a qual o irmão dela se casou tentou molestá-la, e Lilly se lembrava que não duvidava que fosse verdade.

Lilly conheceu a mulher que o irmão de Beth se casou. Era uma piranha pervertida que se escondia por trás de sorrisos corteses e protestos inocentes. Fazia como os pais desejavam pela frente e pelas costas levava uma vida que daria ao pai um ataque cardíaco e a mãe um colapso nervoso.

Lilly ergueu a mão e esfregou a cabeça. A enxaqueca estava ficando progressivamente pior, cada nova memória, não importava o quão leve fosse, enviava fragmentos de dor rasgando por sua cabeça.

—Onde está Travis?— Ela finalmente se forçou a perguntar. —Estou ligando para o celular dele há dias.

—Travis está em missão — Raisa declarou enquanto entravam numa estrada de pedregulho sinuoso. —Ligou outro dia. Nos contatou quando partiu e estamos em estado de vigília desde então. Mas não esperávamos que nos ligasse.

—De vigília?— Lilly perguntou, agitando a cabeça. —Por que você? E quanto ao time no qual ele está?— E sabia que havia um time.

Raisa fez uma careta para ela. —Se lembra de alguma coisa?

Ela agitou a cabeça. —Pequenos fragmentos.

—Maldição. Que droga — Raisa murmurou simpaticamente. —Tudo bem. Está com as suas irmãs agora. Estamos aqui para ajudar. Estávamos observando sua casa de noite, mantendo os olhos bem abertos para quaisquer sujeitos estranhos que pudessem entrar no seu caminho e seguindo a evidência de quem explodiu aquela moto adorável que Shea envenenou para você. Ela ficou bastante chateada. Disse que castraria o bastardo que fez isso no momento que o descobrir. O time de Travis está tomando conta de você também, mas Travis sabia que queríamos ser uma parte disso.

Um rosto relampejou na mente dela. Cabelo loiro e longo, olhos azuis escuros, um rosto triste, um ar melancólico. Alguém que foi horrivelmente machucada. Ela chorou uma vez na escuridão. Sussurrou o nome de alguém inúmeras vezes. Shea. Shea Tamallen.

Lilly agitou a cabeça, fazendo careta com a dor aumentando na cabeça. Estava ficando agonizante. A dor nas têmporas estava começando a radiar pelo resto da cabeça.

—Aqui estamos. Lar, doce lar. — O Taurus parou na frente de uma casa de fazenda encantadora com dois pavimentos. Roseiras cresciam ao longo da lateral da varanda enquanto carvalhos altos abrigavam a casa em três laterais.

—Legal — ela sussurrou, forçando as palavras a passarem pelos lábios entorpecidos.

—Vamos para dentro, ver o que está acontecendo com sua mãe. — Raisa abriu a porta e saltou. —Vamos, temos algo para essa enxaqueca também. Sei que deve ser uma droga - seu rosto está quase branco.

Lilly saiu devagar do carro.

Ela sabia onde estava. Se lembrava da casa. Esteve aqui antes. Se escondeu aqui antes. Era uma casa segura, mas para quê?

—Vamos, Falcão Noturno, vamos te deixar melhor. — Raisa a firmou segurando seu cotovelo e a guiando para a casa.

Deus, precisava de Travis. Precisava saber que diabos estava acontecendo e precisava da sensação de equilíbrio. Podia confiar nele. Podia querer confiar na mulher alegre demais e de boa vontade a levando pelos degraus, mas não tinha nenhuma ideia se podia.

Ela sabia que Travis a protegeria. Agora mesmo, não tinha nenhuma chance de se proteger.

A porta da frente abriu e duas outras mulheres saíram. Tinham entre vinte e seis e talvez vinte e oito anos. A olharam com olhos muito conhecedores, muito cheios de segredos e sombras.

Eles eram suas irmãs. Não de sangue, mas de guerra. E tinham um pacto.

 

Travis saiu do avião para ver a caminhonete preta que parou na área escurecida. Quando o veículo parou, Jordan saiu do lado do motorista e olhou silenciosamente enquanto ele se movia através da distância para o veículo.

—Temos um problema. — Travis jogou suas coisas de volta no veículo e girou para Jordan.

—Que tipo de problema?— O estômago dele apertou, uma sensação de pressentimento furioso passou por ele enquanto encarava seu chefe.

— Lilly desapareceu. Deixou a casa doze horas atrás e não foi vista desde então. A família está procurando por ela, mas não chamaram a polícia ainda. Santos e Rhiannon estão gritando para o Comando mandar alguma unidade achá-la, e o Comando está se recusando a responder à convocação.

Travis congelou. —O que quer dizer com desapareceu?

—Ela saiu de casa e desapareceu. A última vez que foi vista estava discutindo com a mãe por sua causa. Wild Card estava na casa no momento e reportou que Angelica fez acordos para Lilly ser internada num asilo no Sul da França por causa de sua recusa em parar de te ver.

—Piranha maldita!— Travis circulou o veículo depressa e saltou para o lado do passageiro enquanto Jordan dava partida ao motor. —Alguma ideia?

—Tudo que sabemos é que a família dela não a achou — Jordan reportou. —As coisas estão indo de mal a pior muito rápido, Travis. Contatamos o Senador Stanton mas está se recusando a nos dar quaisquer informações sobre qualquer coisa. O comando está mudo. A única resposta que Santos e Rhiannon tiveram é que lavem sua própria roupa suja. E não gosto nada nada de como isso soa.

—Você ouviu sobre a Elite Dois?

Travis precisava de seu celular. O celular foi danificado logo após chegar à Inglaterra. Lilly o teria chamado.

—Missão em curso — Jordan respondeu. —Não podem ser achadas.

—Isto não é incomum. — Travis olhava para frente, se forçando a ser paciente até que pudesse recuperar seu celular. Lilly teria deixado uma mensagem. Sabia que o faria.

—Vamos falar claro, Travis — Jordan grunhiu. —Eu não sou Santos. Sei como essa unidade é próxima daquelas meninas. Você sabe onde elas estão, e aposto qualquer coisa que elas sabem onde Lilly está. A questão é, se ela não me contatar ou aos chefes dela logo, se não fizerem os movimentos certos, então a mãe dela terá o poder de conseguir interná-la, exatamente do jeito que quer. Ela já está fazendo os acordos necessários. E nós dois sabemos no que isso vai dar.

—Ela fará contato — Travis o informou. —Preciso de uma moto e um capacete de comunicações, assim como meu celular. Mantenha Santos e Rhiannon na escuridão até que eu descubra o que diabos aconteceu. Não quero assustar Lilly ou as meninas.

Travis agitou a cabeça. —As meninas estão de olho nela, Jordan. Se elas a tivessem, teriam nos contatado.

Jordan deu um olhar surpreso. —Está certo disso?

—Creio que sim.

Havia uma chance que ela tivesse ido para a casa segura que possuía. Ele olharia lá depois de contatar as meninas e saber o que podiam informar. Estava rezando que elas estivessem com ela.

—Wild Card não a seguiu quando partiu?— Ele perguntou.

—Ninguém sabia que ela foi até que era muito tarde. — Jordan agitou a cabeça. —Temos uma situação séria aqui, Travis. Uma Elite Op fugindo, com suas memórias comprometidas, sua habilidade de se proteger dificultada. — A voz dele ficou mais brava. —E eu não adverti aqueles malditos tolos que isso aconteceria? No minuto que Lilly saiu da linha, a mãe dela estava pronta para mandá-la para Ridgemore. Exatamente onde não podemos arriscar.

As drogas e a terapia de choque avançada que seriam usadas em Ridgemore poderiam destruir Lilly. As drogas psiquiátricas de lá eram conhecidas por serem desastrosas.

Era um problema do qual Jordan seriamente advertiu o Comando da Elite. O círculo de amigos de Angelica Harrington era conhecido por seu modo de lidar com os filhos determinados a seguirem suas próprias vidas. Era apagar os desejos deles através do encarceramento e das drogas.

Não era nenhuma maravilha que aquelas mesmas crianças estavam se tornando viciadas em drogas, e muitas, eventualmente tiravam as próprias vidas.

—Eu a acharei. — Ele a acharia, ou haveria um inferno à solta.

 

—Travis reuniu a maior parte das informações durante os últimos meses. — Raisa espalhou as cópias e mapas na longa mesa da cozinha dois dias depois que Lilly chegou.

Lilly passou a maior parte do tempo na casa da fazenda dormindo. As enxaquecas eram ruins; os remédios que Shea deu quase não faziam efeito. O médico levou mais de vinte e quatro horas para achar uma combinação de medicamentos que ajudasse.

Estava finalmente livre da enxaqueca e capaz de compreender exatamente o que estava acontecendo com ela e sua vida.

—É nisso que ele está trabalhando. — Raisa chamou a atenção dela de volta para a mesa. —Esse é o armazém onde levou o tiro seis meses atrás. —Ela apontou para o topo de um armazém em frente a outro sem marca. —Estacionou aqui. — Ela apontou para uma área de estacionamento entre os dois armazéns. —O tiro era certeiro, mas você girou no último segundo. Está tudo em vídeo, mas ainda não podemos acessar o arquivo por aqui.

—Ainda estamos incertos de quem te almejou ou porquê. — Nissa Farren, a especialista em comunicações do grupo, girou seu equipamento para olhar para o resto deles. —Travis está seguindo pistas nos últimos dias - é por isso que não está aqui. Não esperávamos que sua mãe tentasse te internar. Mas não tenha medo, Black Jack cuidará de tudo.

Black Jack. O codinome dele. Ela era Falcão Noturno. Era parte de um grupo de mulheres treinadas para fornecer auxílio e distração em missões conduzidas pelas contrapartes de um grupo encoberto de operações da elite. O nome dele a mulher ainda se recusava a informá-la.

—Parece que Black Jack pode cuidar de tudo — ela murmurou.

—Travis e os outros são nossos irmãos — Shea Tamallan disse, o sorriso sombrio enquanto olhava para Lilly. —Eles sempre nos vigiam, junto com Santos.

—E Rhiannon?— Ela perguntou. —Que tal ela?

Nissa encolheu os ombros. —Rhiannon é mais difícil de compreender. Trabalho com ela há um pouco mais de tempo que você. Nenhuma de nós a entende. Ela é muito compassiva, mas também é muito ao pé da letra. E isto torna mais duro trabalhar com ela.

—Ela nunca teria aprovado nosso desenvolvimento — Shea declarou. —Ela e Santos discutem frequentemente sobre nós e as missões que recebemos. Eles não queriam que retornasse à sua família, mas o Comando da Elite precisava de você para esta missão.

—Que bom — ela murmurou. —Mas Santos sempre nos vigia, certo?

—É duro explicar sem te dizer mais do que deveríamos — Raisa declarou sobriamente. —Temos que ser cuidadosas, Lilly. E você, especialmente, tem que ser cuidadosa. Se existir a menor suspeita de que sabe o tanto que sabe, então o Comando da Elite não terá nenhuma escolha exceto ordenar sua morte. Não podem arriscar os outros agentes.

Havia muitas informações que ainda não tinha, mas adquiriu muitas delas recentemente. Ela sabia que foi especificamente treinada para trabalhar com certo grupo de agentes. Um grupo que Travis fazia parte. A cobertura de garota de programa foi criada para mantê-las acima da suspeita de serem agentes, e as personagens problemáticas eram planejadas para permitir que se movessem livremente como precisavam e davam um ar de perigo que fazia lógico para eles estarem na companhia dos agentes que eram treinados para fornecer auxílio.

—Que informações nós temos, se alguma, na tentativa mais recente?— Lilly perguntou.

—Temos os explosivos e o fluido — Raisa disse. —Ambos foram usados na maquilagem da bomba e foram usados antes. Surpreendentemente, seu pai estava rastreando o fabricante daquela bomba antes de morrer. É a mesma bomba que foi usada numa explosão de um dos escritórios dele quatro meses antes de sua morte.

Lilly anuiu com a cabeça. —Eu me lembro disto. Aconteceu mais ou menos às quatro da manhã, então ninguém ficou machucado, graças a Deus, mas nunca descobrimos quem estava por trás disto. Não conseguimos nem compreender por que teriam desejado fazer isto. — Ela agitou a cabeça — é apenas um edifício comercial. Não havia nada para ser ganho ao explodi-lo. — Um franzir dobrou a sobrancelha dela. —Então quem explodiu o escritório do meu pai em Londres usou a mesma bomba para tentar me explodir aqui em Maryland?

Shea encolheu os ombros. —Estamos esperando que a viagem de Travis à Inglaterra nos dê alguma luz — ela disse. —Precisamos tentar juntar as peças do quebra-cabeça - na opinião de Santos e Rhiannon - antes de você se lembrar de qualquer coisa dos últimos seis anos. Eles verdadeiramente queriam que tivesse a chance de retornar à família que sentiu tanta falta, Lilly. Todos queríamos isso para você.

Porque todos tinham perdido tanto também. Família, amigos, carreiras e vidas, e continuavam a lutar por um mundo que não dava a mínima para eles.

Lilly deu as costas para a mesa e compassou para a janela. —Quando Travis vai voltar?

—Acreditamos que voou para cá antes do amanhecer. Será interrogado de sua missão, o que normalmente leva em torno de doze horas, então Jordan deverá soltá-lo. Ele virá procurando por você.

—Ele sabe onde estou?

Shea anuiu com a cabeça. —Deixei uma mensagem no celular dele. Eu pedi para me ligar para uma atualização, o que não é uma coisa comum.

Ela agarrou o telefone no bolso do moletom leve com capuz que vestia. As meninas a haviam feito desligá-lo, dizendo a ela que poderia ser localizada se ele ficasse ligado. Foi como a acharam. Sabia que estavam dizendo a verdade, mas...

Mas se Travis ligou, ela não saberia. Não seria capaz de ouvir sua voz.

Ela correu os dedos pelo cabelo e girou para a janela novamente. Esperando. Observando.

Travis não ligou para Shea ainda. Por que não ligou?

—Sabe, é tão estranho te ver sem aquelas Glocks amarradas nas coxas. — Nissa deu uma risada leve enquanto Lilly corria a mão para a coxa. —Gostaria de tê-las?

Lilly girou para ela. —Você as têm?

O sorriso dela era largo, brilhante. —Temos um pouco das suas coisas aqui. Trouxemos caso precisasse.

Nissa se ergueu da cadeira e fez um sinal com as mãos para Lilly acompanhá-la para os fundos da casa. O quarto em que entrou era o que compartilhava com Shea. As duas camas estavam em lados opostos da parede. Um lado do quarto era totalmente limpo. O outro lado, como se uma linha invisível os separasse, era um matadouro completo.

Claro que Nissa se moveu para o lado sujo do quarto.

—Aqui está. — Ela puxou uma bolsa grande de um armário próximo e a jogou na cama desfeita. —Duas mudas de roupas, suas armas, facas e bastante munição. Há também um celular não registrado, mas, por favor, não ligue para Travis ainda. Há também dinheiro, cartões de crédito, ajuda para disfarce e algumas identidades falsas. Tudo que uma garota precisa para sobreviver no mundo subterrâneo.

Tudo o que ela precisava para sobreviver, mas não para viver.

—Foi ordenada a contatar Santos e Rhiannon se eu ligasse, não foi?— Lilly se sentou na cama, empurrando os cobertores bagunçados atrás de si enquanto começava a mexer na bolsa.

—Claro. — Nissa encolheu os ombros. —Pelo menos foi isso que os chefes deles disseram para fazerem. As palavras exatas de Santos foram ‘fomos informados que devemos ordená-las a fazer isso’. — Ela riu. —Raramente prestamos atenção às ordens do Comando.

—E foi Santos mesmo quem deu a ordem?— Ela olhou a outra mulher.

Nissa encolheu os ombros novamente. —Nós a teríamos ignorado. Lilly, nós só temos umas as outras para depender. Um dia destes você poderia cobrir minhas costas de novo com aquele seu rifle. Eu não quero você puta comigo quando esse dia chegar.

—Onde está meu rifle?— Ela se lembrava dele agora. O rifle de vigia letal que usava para cobrir as costas dos agentes com os quais trabalhava. Havia outro no abrigo dela de armazenamento, mas não era seu favorito.

—Isso eu não sei. — Nissa agitou a cabeça. —Santos o recuperou da Land Rover quando você levou o tiro. Eu não o vi.

Mas... havia outra casa segura, ela pensou quando outro fragmento de memória ficou livre. E aquela casa segura estava completamente provida.

—A companhia está vindo. Movam-se!— Shea gritou da cozinha.

Lilly se moveu. Ela não parou para questionar ninguém ou pedir direções. Ela agarrou o coldre e a bolsa de clipes antes de correr para o próximo quarto e a janela que davam para a calçada.

Teve tempo de afivelar o cinto e amarrar com correia o coldre nas coxas. Verificou a Glock depressa, empurrou os clipes e estava pronta.

—Ninguém ligou e nos advertiu de uma visita. — Shea correu para o quarto e bateu um dispositivo na mão de Lilly. —Se formos atacadas, saia, vá para o bosque e se dirija a Taverna Friendly. Sabe onde é?

Lilly anuiu com a cabeça. —Sei.

—Alguém estará lá.

Shea correu do quarto enquanto Lilly colocava o dispositivo na orelha.

—Checando — ela murmurou.

—Na escuta — cada mulher respondeu antes de Nissa reportar. —Temos um furgão com vidros e cor escura se aproximando. Parece que o motorista está mascarado. Preparem-se para saltar e correr. Não lutaremos a menos que não tenhamos nenhuma outra escolha.

Lilly puxou a Glock de seu coldre.

A mandíbula dela apertou enquanto o furgão entrava lentamente no campo de visão. Ela observou, muda, olhos estreitados enquanto ele parava atrás do Taurus.

Um segundo mais tarde, o inferno veio à tona. As portas da parte de trás abriram de repente e quatro figuras escuras saíram correndo dos fundos, duas das portas e todos começaram a disparar.

O Taurus explodiu.

A casa tremeu, as janelas implodiram, e fragmentos de vidro choveram ao redor de Lilly enquanto ela saía com tudo pelo quarto para a porta dos fundos e se juntava às outras quatro mulheres.

—Fique nas árvores!— Shea a ordenou enquanto corriam ao mesmo tempo em que a porta da frente foi arrombada sob uma chuva de fogo. —Corra!

Enquanto Lilly e as outras mulheres corriam para as árvores logo adiante, Lilly viu sombras se movendo lá. Escuras, mascaradas, mas distintas das outras. Ela arrancou as armas do coldre enquanto corria, mantendo as árvores entre eles. De repente as figuras escuras saíram correndo.

—Cobertura!

Travis.

Lilly olhou, chocada, nos olhos furiosos dele enquanto ele pausava para gritar com ela. —Fique atrás com os outros! Cubra as nossas costas e tenha certeza que ninguém saia ferido.

Ele jogou um rifle para ela.

Não era o rifle dela feito sob encomenda, mas era bom o suficiente.

Lilly guardou as Glocks, agarrou o rifle e então subiu numa árvore que daria a melhor visão possível. Como se tivesse nascido para escalar, foi rápida enquanto Nissa a seguia.

—Localize — ela ordenou a outra mulher.

—Sou excelente nisso — Nissa respondeu enquanto se ajustavam em suas posições. —Tem munição para rifle na bolsa também. — Nissa anuiu com a cabeça para a bolsa que Lilly carregava jogada nos ombros.

Lilly apontou.

—Nossos garotos têm faixas cinza estreitas nos ombros — Nissa silvou. —Não os pegue. Gostamos das fantasias quentes e úmidas que temos com eles. Embora a maior parte já esteja casado.

Lilly deu um sorriso rápido, então apoiou o rifle em um tronco da árvore e mirou.

—Têm um vigia às três horas. Parece que alguém está te mirando, querida. — Nissa assinalou um leve movimento entre os galhos no ângulo das três horas.

Lilly apontou, verificou o vento, calculou a distância e disparou.

O primeiro corpo caiu. Com o segundo tiro o observador deles o seguiu.

Enquanto ela estreitava os olhos e inspecionava as árvores buscando mais alguma ameaça, o zumbir de uma bala batendo na árvore próxima à cabeça fez Lilly congelar.

Ela calculou a direção, verificou a distância e esperou.

—Onde ele está, Nissa?— Ela rosnou. —Se demorar, vai arrancar nossa cabeça.

—À direita do primeiro galho, na terceira árvore, a meio caminho do galho das sete horas. Mas vai ser difícil pegá-lo com este vento.

—Você está vendo o observador dele?

—Não vejo. Vi uma folha tremendo às nove horas, se quiser tentar...

—Estou me sentindo com sorte.

Ela achou a posição, assistiu as folhas e disparou.

O corpo caiu, mas ela não o seguiu com a vista, ela olhava o tronco às sete horas, esperou, pegou um cintilar negro e disparou um tiro. Outro corpo caiu enquanto ela depressa mudava o rifle para a batalha furiosa no jardim. De alguma maneira vigias estavam no lugar antes do ataque. Alguém havia enviado dez homens para apagar quatro mulheres. Deviam ter enviado mais.

Ela já tinha pegado os vigias enquanto o time abaixo fazia trabalho rápido contra os atacantes que seguiam depressa para a casa.

Abaixo, quatro sombras com faixas cinza estreita estavam mandando ver. Dentro de minutos havia apenas dois sobrando, deitados no chão, mãos erguidas em rendição enquanto os corpos mortos estavam sendo juntados.

Lilly assistiu enquanto o time trabalhava com precisão perfeita enquanto as quatro mulheres cobriam suas costas. Essa era uma das razões pelas quais elas existiam, foram treinadas.

Ela e Nissa procuravam vigias, enquanto as duas mulheres no chão mantinham o perímetro limpo e observavam quaisquer fugas ou surpresas.

—Temos um aviso. — A voz de Raisa veio pelo comunicador. —Repito, temos um aviso. Dois vivos no chão. Fiquem no lugar e trarei as máscaras.

Lilly e Nissa esperaram até ver Raisa sob elas. Saltando para o chão, pegaram as máscaras escuras, colocaram e amarraram os cabelos.

—Fique longe dos vivos — Raisa disse a elas. —Black Jack e Live Wire querem campo limpo, sem distrações. — Ela parecia estar se divertindo. —Live Wire acha que você pode ser uma distração para Black Jack. Agora, o que daria a ele essa impressão?

Lilly agitou a cabeça, os lábios afinando. —Eles não estavam aqui para atirar no Live Wire, estavam aqui para me matar. Acho que tenho o direito de saber o porquê.

Movendo-se depressa para a frente da casa, o rifle embalado nos braços, Lilly andou a passos largos diretamente para onde os dois homens estavam contidos sobre a grama.

Os quatro homens de pé acima deles se moveram para o lado enquanto ela se aproximava mais. Encarando os olhares escuros e furiosos, ela deu seu rifle para Travis, passou e, com um puxão rápido, revelou os rostos deles.

Desejou não ter feito isso.

Ela encarou rostos que conhecia. Viu os olhos de homens que foram contratados pelo pai dela. Homens que ela conheceu antes de sua “morte”.

—Precisamos interrogá-los?

A cabeça dela girou para Live Wire. Jordan Malone.

Deu um aceno rápido com a cabeça. Não se lembrava das regras, mas sabia que não deveria falar, não agora, não aqui. Eles a conheciam, conheciam sua voz, sabiam seu alvo. Não iria se arriscar.

Jordan empurrou a cabeça para Travis. —Saia daqui.

Ela se ergueu, ainda encarando o olhar malévolo do guarda-costas que conhecia como Ritchie. Não era um dos mais confiáveis da mãe dela, mas ainda assim fazia parte do pessoal de Harrington e foi assim por anos.

O outro, Samuel, também era bem conhecido. Foi contratado pelo pai dela e era muito confiável. Paquerou com ela várias vezes. Riu com a mãe dela, jogou pôquer com o tio dela.

—Ritchie James e Samuel Mayes — ela murmurou para Travis. —Guarda-costas que trabalham para minha mãe e o meu tio. Preciso ver os outros.

Travis anuiu com a cabeça, a expressão corporal mostrando sua fúria enquanto a levava para os outros e depressa tirava suas máscaras.

Ela os encarou friamente.

—Temos os dados deles — Travis disse tranquilamente. —Inimigos, Lilly. Todos os quatro faziam parte de um grupo mercenário particular com o qual lutamos em Berlim há três anos.

—Eu os conheço. — Ela ouvia a própria voz sem emoção nenhuma, e sentiu dentro de si. —Mas não de Berlim. Nos últimos seis meses eu os vi falando com Desmond, Isaac ou um dos outros guarda-costas. Foi um golpe planejado. Armaram contra mim.

—Nós não temos os relatórios deles — ele declarou tranquilamente. —Estamos observando a família. Não os vimos ou teríamos posto um círculo melhor de segurança ao seu redor.

Ela agitou a cabeça. —Seria fácil para eles passarem por você. Um de cada vez, entrando tranquilamente. Se encontravam dentro da casa aqui ou na Inglaterra. Eu vi este aqui. — Ela chutou o loiro calvo no ombro. —Esteve no hospital várias vezes quando o segurança de Desmond, Isaac, entrava.

Travis ergueu a mão e chamou os outros.

—Queimem os corpos — ele ordenou. —Precisamos interrogar os outros dois, mas traga um time para limpar esta bagunça. Vamos manter tudo quieto. Estou certo que Lilly não quer lidar com a preocupação da mãe tendo um ataque quando ela voltar para casa.

Lilly girou para ele em choque. —Está louco? Sabe o que ela está planejando? Eu não vou voltar para casa. Ela quer me internar, Travis, e os guarda-costas de Harrington apenas acabaram de tentar me matar.

Um sorriso duro e frio se formou nos lábios dele. —Ela sabe o que eu planejei, amor?— Ele perguntou a ela. —Confie em mim, nem ela nem Ridgemore ousarão me desafiar quando eu aparecer com você. E desta vez, confie em mim, amor, não partirei até que tudo esteja acertado e você segura.

Os lábios dela curvaram zombeteiramente. —Estranho você dizer isto. — Ela o encarava, tão feliz por vê-lo que mal podia aguentar. Tão furiosa por não ter conseguido encontrá-lo, por ele não estar lá quando precisou. —Não me disse que ia viajar.

Os olhos dele se estreitaram para ela. —Eu deixei seguranças.

—Eu não precisei da sua maldita segurança — ela silvou enquanto se movia para mais perto, encarando-o, o corpo tremendo de tanta raiva que estava sentindo dele. —Precisava saber que você não estaria. Precisava saber para eu me cuidar enquanto você não estava aqui.

—Você devia saber isto de qualquer maneira. — Ele a alcançou, agarrou os braços dela e a puxou. —Eu deixei segurança, Lilly. Nunca teria te deixado desprotegida.

—Então onde diabos estavam?— O dedo dela apunhalou o peito dele. —O que eu deveria fazer, droga? Matar a porra da minha família inteira enquanto estou esperando sua maldita segurança? Ou apenas esperar enquanto os homens de jaleco me arrastam para fora?

—Ninguém teria conseguido te tirar daquela maldita casa. Eu tinha homens lá. Se desse tempo a teriam tirado de lá, em segurança.

—Bem, desculpe-me por não ficar de braços cruzados esperando você cuidar da pequena ole que sou. — Ela tentou um pouco de sotaque do sul dos EUA, mas saiu bastante mutilado. Ela culpou sua raiva. Estava certa que já fez isso antes.

—Não me force — ele grunhiu de volta para ela. —Tem alguma ideia do inferno que passei tentando te achar? Faz ideia do quão próximo estive de não chegar aqui a tempo?

—Tem alguma ideia do quão perto eu estava de mandá-los todos para o inferno?— Ela retrucou. —Posso não me lembrar da merda toda, mas não acho que não sei o que estou fazendo. E não ache que tolerarei se desaparecer assim de novo sem nenhum aviso. Não enquanto está dormindo na porra da minha cama.

—Uau. Ele está dormindo na sua cama. Consigo os detalhes agora ou mais tarde?— Raisa riu atrás dela.

Lilly ignorou Raisa. Encarou Travis. —Ache um lugar para conversarmos. Rápido. Temos coisas a esclarecer, amor, e faremos isto depressa. Ou desejará nunca ter me visto, conhecido ou tocado. Isso eu te prometo.

Ela girou nos calcanhares e marchou para longe dele. Era tudo que podia fazer para manter as mãos longe de suas armas.

Desse modo, não atiraria nele por ser apenas um homem. Por partir. Por não avisá-la. Por fazê-la temer que nunca retornasse.

 

Em um mundo perfeito, ela sabia que havia segurança na paixão. Havia dedicação da mãe, compaixão e devoção que um dia acreditou. Lealdade na família. Em um mundo perfeito, havia o conhecimento que o amanhã traria outro dia para acrescentar memórias e amor.

Aonde o mundo perfeito dela foi parar?

Lilly sentou na cama no quarto escurecido em outra casa segura, o apartamento grande no coração de Hagerstown a apenas alguns quarteirões do bar no qual frequentemente se encontrava com Travis.

Encarava a escuridão mas via apenas as memórias. O riso do pai, sua voz gentil e lealdade. Via os passeios juntos, se lembrava das conversas. Via a mãe, sempre distante deles, sempre parecendo se divertir e aceitando o laço que tinham.

Ela estava errada.

Jared frequentemente ficava ao lado de Angelica, quieto, intenso. O irmão dela sempre foi muito intenso e estudioso, mas acreditava que ele estava sendo protetor.

Aonde a família dela foi parar?

Olhando abaixo, mal podia ver o esboço escuro dos dedos enquanto se apertavam. Um hábito nervoso que teve por toda a vida. A mãe frequentemente chamava a atenção dela por causa disto. Lilly via tais situações como amor de mãe. Mas se lembrava agora de vezes em que a mãe comentou que talvez isso indicasse um problema mais fundo. Que talvez Lilly se sentisse melhor se falasse com um médico sobre o problema.

Lilly olhou para os dedos. Talvez não fosse o problema dela que precisasse ser tratado.

Ela se lembrou, embora não quisesse lembrar antes, de uma briga horrível dos pais dela um dia. Não que ela soubesse o motivo das brigas. Tudo que se lembrava eram dos sons furiosos vindo da suíte deles.

Eles discutiam por causa dela frequentemente.

Quantas vezes a mãe dela tentou interná-la durante aqueles anos em que Lilly acreditava estar segura e certa do amor da mãe e da lealdade do irmão? Que eram apenas simples ameaças.

Ela mordiscou o lábio inferior enquanto sentia a dor se juntar na alma antes de se espalhar por seu espírito. Onde estava o mundo perfeito que acreditava que existia?

Por isso escolheu uma vida totalmente diferente quando teve a chance. Mas ainda assim, sentiu falta da família desesperadamente.

Ela se esqueceu dos monstros que existiam naquele mundo perfeito.

—Lilly. — Uma batida suave na porta indicou a chegada de Travis.

Ela enxugou as lágrimas depressa do rosto enquanto a porta era aberta, permitindo que um fino facho de luz perfurasse a escuridão.

—Você tem esse hábito ruim de desaparecer quando não quero que faça isso, Travis — ela disse tranquilamente enquanto a porta era fechada, incluindo-os uma vez mais na escuridão.

—Posso ligar a luz?— Ele perguntou.

—Preferia que não fizesse isso.

Ela assistiu enquanto ele pausou, a forma escura movendo ligeiramente antes de ele se mover para a cama como se não precisasse de nenhuma luz para enxergar.

—Quem está tentando me matar é alguém ligado ou que faz parte da minha família. Estou certa?

Ele sentou em um lado da cama. —É isso que suspeitamos.

Ela anuiu com a cabeça devagar. —Como teriam me achado depois da primeira tentativa de me matar? Um novo rosto, novo cabelo, nova cor de olhos, cirurgia plástica. — Ela esfregou as pontas dos dedos juntas. —Nenhuma impressão digital. Como me acharam?

—Não sabemos. — Ele suspirou. —Essa é uma das coisas que tenho tentado descobrir. Mas até agora, todas as evidências apontam para o Harrington.

Ela deu outro aceno lento com a cabeça. —A primeira tentativa foi durante a festa. O meu pai estava em uma reunião quando entrei no escritório. Me lembro disso. Estava investigado os desfalques em várias companhias em que os Harringtons possuíam ações. O dinheiro estava entrando em uma conta usada para financiar terrorismo. Eu estava reunindo informações por meses, mas naqueles meses finais, ele me tirou da jogada. Discutimos por causa disto.

—Ele estava tentando te proteger?— Ele perguntou.

—Acho que talvez estivesse — ela disse enquanto olhava para as mãos abaixo sem perceber que estava esfregando os dedos uma vez mais. —Acha que foi o Tio Desmond?

O pai dela e tio eram muito próximos, mas se lembrava que Desmond não sabia que o pai dela trabalhava para o MI5, e avisou Lilly que não deixasse ninguém na família saber que ela trabalhava para eles também.

Até a mãe dela não sabia o que Lilly estava fazendo.

—Vamos dizer que ele está no topo da lista — Travis respondeu. —Estamos nos focando nele.

Lilly sentiu um aperto no coração com o pensamento. —Papai confiava nele. O amava.

—Confiamos que essas pessoas são frequentemente as que traem primeiro — ele disse, suavemente. —Quem quer que seja, Lilly, qualquer que seja seu motivo, querem te ver morta. Hoje foi a quarta tentativa contra sua vida, e por profissionais.

—Como nos acharam?— Ela fez uma careta em confusão, ainda tentando entender isso. —Meu celular estava desligado. Não contatei ninguém. Como me acharam?

—Você pode ter sido seguida — ele respondeu suavemente. —Vários dos atacantes eram empregados do seu tio. Qualquer um deles poderia ter te seguido até a casa segura, e então retornado. Podia ter levado tempo para reunir os outros, planejar um ataque razoavelmente bem sucedido. Dois dias não é muito tempo para planejar o assassinato de quatro mulheres. Ainda mais sendo conhecidas por poderem se cuidar muito bem.

—Você podia ter planejado e executado tudo dentro de horas — ela assinalou.

—Mas sou melhor que eles. — Ele riu.

Lilly permitiu que um pequeno sorriso tocasse seus lábios, mas não conseguiu rir.

—São minha família — ela sussurrou. —Minha mãe e irmão, meu tio. São tudo que eu sempre conheci como amor e segurança. Que diabos aconteceu, Travis?

Ele exalou fortemente. —Enquanto fosse a criança que deveria ser, então seria bastante amada — ele disse a ela. —Talvez seja essa sociedade, geração ou apenas aquele pequeno grupo exclusivo. Estou mais propenso a acreditar que seja o grupo exclusivo que acredita que pode internar uma criança por ousar ter livre arbítrio. A maioria dos pais sofre os embaraços e decepções secundárias como parte de vida.

Ela deixou a cabeça cair contra a parede atrás de si e encarou o teto escuro.

—Minha mãe nunca me mostrou este lado dela. Não nesta extensão.

—Ou seu pai nunca te deixou ver?— Travis sugeriu. —Ele tentou te proteger.

—Talvez. — Ela se moveu para jogar as pernas para fora da cama mas ele estirou o braço através das coxas dela e a segurou no lugar.

Ela de repente teve muita consciência do robe fino que usava e sua nudez por baixo dele. O banho não aquietou a corrida de tensão nervosa que passava por ela.

Ela queria correr. Queria lutar. Queria achar um lugar para gastar a fúria dentro de si antes de ser forçada a retornar à casa que seu tio alugou pelo verão.

—Travis, agora não é uma boa hora. — Ela ainda não conseguia perdoá-lo por sua ausência.

Ele riu ligeiramente. —Besteira, Lilly. Tem toda essa energia morrendo de vontade de ficar livre e senti sua falta para cacete.

—Oh, sim, sentiu minha falta — ela o zombou. —Todos aqueles telefonemas, averiguações, sexo pelo telefone à uma da manhã. Foi tão divertido.

Ela empurrou contra o ombro dele, mas não com força suficiente para desalojá-lo. Quando a questão era Travis, dizer “não” não era uma coisa fácil a fazer.

—Sexo pelo telefone? Foi bom?— A voz dele sombria e encrespada com excitação sussurrou através dos sentidos dela como uma carícia de veludo.

—Seria se não ocorresse apenas nos meus sonhos — ela grunhiu, claramente lembrando a raiva e o medo que a tomaram quando percebeu que estava com apenas poucos dias antes de ser internada.

—Eu não permitiria que fosse tirada de mim assim, Lilly — ele disse suavemente, como se soubesse exatamente o que ela pensava, sentia.

—Não poderia ter impedido. Não estava aqui, lembra?— Ela assinalou furiosamente.

—Lilly, eu não te deixei desprotegida.

—Eu mesma me protegi. — Ela empurrou o ombro dele com mais força desta vez. —Deixe-me ir, Travis. Esta discussão está ficando chata.

—Então pare com a discussão. — A voz dele era mais dura, mas não menos sensual. —Eu não te traí, Lilly, nem te deixei na mão.

—Você não estava lá — ela retrucou furiosamente. —Nem me disse que estava partindo, Travis.

—Droga, Lilly, foi uma viagem rápida. Deveria ter voltado antes da noite seguinte. Meu celular estava com problemas ou teria ouvido sua mensagem e retornado mais rápido.

—O que é esta relação entre nós? Ou nem mesmo é uma relação? Amizade colorida? Amigos de foda? O quê, Travis? Diga-me as regras agora, assim pelo menos saberei o que esperar da próxima vez que decidir desaparecer pelo tempo que for.

—Você quer saber que diabos é esta relação? — Ele veio sobre ela, assomando como uma sombra escura de ira sensual.

—Seria bom. — A voz dela era fraca e sem ar. Soava como uma maldita gatinha querendo sexo ou algo do tipo. Inferno, estava começando a se sentir como uma.

—Esta relação é completamente monogâmica — ele rosnou enquanto a mão alisava o ombro, o braço e agarrava o quadril dela. —E sou um bastardo possessivo, Lilly. Já mencionei isto?

Ela agitou a cabeça. Não, não havia mencionado mesmo. Talvez devesse; teria se derretido muito antes.

—De forma que esta relação é bastante exclusiva, certo?— Ele empurrou a bainha do robe dela para as coxas. —Isso te faz minha, amor. Nada de amizade colorida. Nada de amigos de foda. Simples e totalmente minha.

—Ligue da próxima vez — ela retrucou.

—Certo. — A outra mão dele agarrou o pescoço dela, manteve-a quieta e a beijou com força e fome suficientes para enrolarem os dedões do pé dela.

Era assim com ele. Como um fogo ardente pela noite mais escura, apagando a ira e a dor e substituindo por desejo e sensação de segurança. Não havia nenhuma segurança verdadeira, não nas vidas deles, não na linha de trabalho deles, mas havia isto.

Beijos profundos e desesperados cheios de fome e calor marcando a brasa os lábios e os sentidos dela enquanto o prazer começava a lavá-la como ondas pesadas, aquecidas. Travis a puxou para ele e Lilly se achou sendo baixada na cama enquanto ele vinha sobre ela, as mãos rasgando o cinto do robe e as próprias roupas dele. Com o gosto intoxicante dos lábios dela a cabeça dele abaixou, a língua empurrou contra a dela, ele conseguiu se despir de suas roupas e jogar as extremidades da bata dela para o lado.

Estava totalmente nua agora. A escuridão os cercava, fome quente, branca e gemidos de necessidade se misturavam com seus próprios grunhidos de excitação. Era como ter as extremidades rotas da alma dela lentamente consertadas.

Ela não estava mais só. Travis estava aqui. A estava tocando, abraçando. Não havia nada, ninguém, que pudesse prejudicá-la, desde que tivesse o coração dele.

Os músculos definidos dos ombros dele dobravam sob ela com o toque enquanto as mãos dele envolviam os seios dela, enviando sensações pulsando e ondulando pelos mamilos onde os polegares dele os acariciavam.

Lilly podia sentir o prazer invadindo sua boceta pulsante, inchando o clitóris. Os fluidos juntaram nas dobras íntimas enquanto os mamilos inchavam, doíam e erguiam para o toque dele.

—Eu senti sua falta, minha Lilly — ele gemeu enquanto os lábios se moviam para o pescoço dela. —Sonhei com seu toque. Te saborear, ter você.

Os lábios dele se moveram para mais baixo, a língua acariciando um mamilo apertado enquanto dedos brutalmente quentes de sensações atingiam o útero dela, o clitóris. Arqueando contra a coxa dele, Lilly sentiu a fome desesperada se desvendando dentro dela. Este momento era só dela. Ela não tinha que compartilhá-lo. Ninguém podia invadi-lo. Não havia nenhum perigo aqui, apenas as sensações. Os lábios dele cobriram o mamilo para sugá-lo enquanto a língua sacudia sobre eles.

Ele puxou o broto apertado, amamentando profunda, quase roucamente, enquanto ela arqueava com a sensação incrível. Ele se moveu de um mamilo para o outro. A ponta dolorosamente sensível se revoltava com tal prazer extremo que ela não pôde se conter e um pequeno grito rasgou dos lábios.

Era incrível. A cabeça dela corria contra o travesseiro enquanto ele lambia a ponta dura, a rodeava com a língua, então sugava para dentro da boca novamente e aumentava a excitação que crescia dentro dela.

Os quadris de Lilly curvaram enquanto a coxa de Travis abria caminho entre as dela e apertava firmemente contra o montículo da boceta. O clitóris dela inchou ainda mais, pulsando com prazer. Os fluidos derramaram de sua vagina apertada, o corpo desesperado pela possessão dele, preparando-o para a intensidade do toque que precisava.

Ela queria mais do que toques gentis, e era isso o que estava conseguindo. Ela queria mais que beijos fáceis e carícias lentas. E ele daria isto.

—Minha doce Lilly — ele rosnou enquanto a puxava de volta, esticou uma mão para a mesinha de cabeceira e acendeu a luz baixa de lá.

O brilho suave lavou a carne nua e bronzeada dele. Músculos ondularam sob a pele, transpiração pontilhava a sobrancelha, os ombros.

Indo para trás, ele encarou o corpo dela abaixo.

—Toque seus seios — ele ordenou, os olhos focados nos montículos inchados enquanto ele erguia as mãos para eles. —Mostre-me, amor, o que gosta, o que quer. Deixe-me louco.

Deixá-lo louco? Oh, se era isto o que ele queria, então ela tinha muita experiência.

Ela envolveu os peitos com as mãos, os dedos cerrando os montículos de forma provocante. Com os dedos indicadores ela juntou os mamilos, ofegando com o prazer de tê-lo olhando.

—Oh, sim — ele exalou roucamente, os olhos estreitando para ela agora. —É assim que você gosta, docinho? Lento e fácil?

Um sorriso provocador enrolou os lábios dela. Com o polegar e o indicador ela comprimiu os mamilos expandidos, a respiração prendendo com o pensamento de Travis a tocando tão firmemente, com os dedos, os dentes.

Ela mordeu o lábio inferior para conter outro gemido enquanto arrastava as pontas tenras, os ombros correndo contra a cama enquanto o prazer a tomava.

—Ahh, é assim que gosta, amor — ele sussurrou. —Devo fazer isso, enquanto talvez me mostre outras coisas que poderia gostar?

Ele se moveu, sentando atrás dela enquanto a erguia diante dele. Lilly ofegou quando achou a cabeça descansando na coxa dele, a largura pesada do pau dele contra sua bochecha enquanto ele estava lá erguido orgulhoso e vermelho junto da barriga.

—Isso, amor. — A mão dele acariciou o peito dela, envolveu-o, acariciou. —Mostre-me o que mais você gosta enquanto eu brinco com os seus lindos mamilos.

Lilly podia sentir a transpiração juntando no pescoço, nos peitos. Lutando para respirar, Lilly sentiu o polegar e o indicador dele apertarem o mamilo enquanto ele colocava uma de suas mãos no diafragma dela.

—Mostre-me, Lilly, — ele rosnou. —Mostre-me o que quer, amor.

O que ela queria? Ela queria o toque dele. Queria os dedos dele acariciando-a, tocando, possuindo.

Ela olhou fixamente para ele enquanto os dedos trabalhavam o mamilo, rolando-o, bombeando e enviando chamas elétricas de sensações rasgando até o útero.

Os dedos dele deslizaram mais para baixo, arrepiando a borda dos cachos logo abaixo do abdômen. Ela podia sentir as dobras da boceta inchando, o clitóris pulsando enquanto os dedos dele passavam como pluma por cima.

—Lindo — ele exalou roucamente. —Separe essas lindas dobras, Lilly. Deixe-me ver seu pequeno clitóris. Deixe-me ver como você se dá prazer.

Abaixando a outra mão, ela separou as dobras rechonchudas da boceta enquanto usava a outra para circular o broto apertado do clitóris. O prazer estava correndo por ela, excitação chiando pelas terminações nervosas enquanto se tocava com os dedos, enquanto Travis atormentava os mamilos dela com um prazer primoroso.

Enquanto ela o olhava, o olhar preso no dele, assistiu os olhos dele estreitarem e escurecerem enquanto os dedos dela circulavam o clitóris. O prazer era incrível. Era como nada que conhecesse. Era brutalmente intenso, chicoteando pelo corpo e fazendo os nervos tremerem com prazer primoroso.

Os dedos dela acariciaram as dobras, afundaram na superfície molhada e lisa e voltaram a correr ao redor do clitóris enquanto os dedos enviavam ondas de prazer dos mamilos para a boceta, cerrando as dobras íntimas com necessidade brutal.

Os quadris dela contorciam sob o próprio toque enquanto a cabeça dela girava, ela abriu os lábios, a língua correu ao longo do pau dele que se erguia diante dela.

Precisava do gosto dele. Do toque. Ela precisava dele.

Ela moveu os dedos mais rápidos enquanto um gemido duro saia do peito dele. A cabeça dela ergueu, a língua tocou a cabeça do pau e ela a lambeu, saboreando.

Ela se sentia como se estivesse morrendo de excitação. Estava correndo por sua circulação sanguínea, pulsando no coração. Ela não podia sobreviver. Morreria com a intensidade das sensações, mas morreria feliz. Ela não morreria sem saber como o prazer poderia ser tão intenso.

Enquanto os dedos dela imergiam dentro da boceta, uma arfada de prazer atormentado passou pelos lábios. Os lábios dela se separaram e cercaram a cabeça inchada do pau de Travis e ela o sugou para a boca. Ela ordenhou duro, a carne pulsando, chupando, banhando-o com a língua.

Levando os dedos bem no fundo da profundidade quente de sua própria carne, ela se angulou mais alto contra o peito dele, manteve a cabeça dura na boca e lentamente ficou de joelhos. As coxas apertaram sozinhas a mão dela por longos segundos antes de lentamente soltá-la.

Erguendo a cabeça, ela sentiu as mãos dele apertarem por um segundo o cabelo dela antes de ele a permitir se endireitar. Lambendo os lábios, Lilly ergueu os dedos, ainda molhados com seus fluidos e molhou os lábios dele enquanto eles os separava e chupava os dois dedos dela.

A sensação dos lábios dele sugando os dedos dela que estava antes na boceta a fez ondular para um orgasmo iminente. Ela nunca ficou tão perto de gozar sem realmente ter sido penetrada antes.

—Eu precisei de você — ela sussurrou enquanto abria as coxas, olhando-o nos olhos enquanto ele soltava os dedos dela e movia as mãos para o traseiro dela.

—Nunca mais. Juro. — As expressões dele estavam marcadas com prazer atormentado enquanto ela agarrava o pau e o esfregava contra seu clitóris torturado.

—Tão bom — ela gemeu, os quadris movendo, a boceta cerrando.

—Bom para caralho — ele gemeu. —Porra, Lilly. Pare de me provocar assim.

Ela sorriu de volta para ele, movendo a cabeça cheia até que estava na entrada da boceta.

O êxtase começou a bater dentro dela então. Movendo os quadris, apertando, enquanto ela sentia o comprimento largo e pesado da ereção estirando-a mais.

A dor e o prazer a envolveram, enviando correntes aquecidas através dos nervos finais sensíveis, ela gemeu com a exaltação se formando. Não podia ficar quieta. Os quadris empurravam contra o aperto dele no traseiro dela, a necessidade dela de correr para a conclusão batendo por dentro.

—Calma, amor — ele gemeu, os dedos envolvendo o traseiro dela, separando a carne arredondada, enviando mais sensações para assaltar os nervos finais dela.

Sensações que ela nunca imaginou apreciar. A sensação dos dedos dele afundando nos fluidos que saiam da boceta dela, ao redor do pau. A sensação daqueles dedos alisando os fluidos para trás, roçando contra aquela área que um dia foi proibida, intata.

Não era mais intata porque não tinha a força de vontade para pará-lo. Inferno, não, ela não o pararia. Ela estava pressionando para baixo, fazendo o toque mais firme, mais invasivo.

Os olhos dela chamejaram abertos quando a ponta do dedo dele penetrou aquela entrada escondida. Os olhos pesados, intensos, ele a assistia com fome crescente enquanto o dedo continuava a deslizar devagar para dentro à medida que ela apertava, tomando o pau mais fundo, o dedo mais fundo.

A penetração dupla era primorosa. Os dedos dela cerraram nos ombros dele enquanto ela o montava lento e fácil, tomando o pau todo, o dedo todo, e os ordenhando enquanto sentia o prazer queimar através das terminações nervosas.

—Deus, você é linda. — A voz dele era um uísque áspero, escuro e faminto. —Tão gostosa e quente, Lilly.

Suor banhava as têmporas dele, atraindo o olhar dela enquanto sentia o dedo dele saindo de seu traseiro, juntando mais fluidos e penetrando uma vez mais.

—Travis. O que está fazendo comigo?— Os tremores de prazer a estavam rasgando enquanto sentia os músculos relaxando e dando as boas-vindas a um segundo dedo.

—Travis. — O nome era um apelo, um grito de prazer tão incrível que não sabia se era capaz de aguentar.

A mão dele soltou o quadril dela. Em vez de segurá-la, ele a deixou livre. Ela não podia ficar quieta. Ela não podia parar a necessidade de montar duro e rápido, sentir a queimadura ígnea, a subida sensual desesperada do êxtase.

Lilly sentiu a própria cabeça cair para os ombros enquanto o orgasmo começava a crescer, a apertar por ela. Ela aumentou o aperto nele, as unhas afundando, gemidos desesperados afluindo em sua garganta enquanto uma intensidade elétrica começava a radiar de ambas penetrações. O pau dele enchia-a, estirava. Os dedos fodiam o traseiro, enviando chamas atiçando as terminações nervosas previamente intatas, ativando uma chama que construía, erguia e a pegou em uma explosão tão súbita, tão ofuscante, que ela gritou o nome dele.

Ele estava empurrando duro e fundo sob ela, um braço ao redor dela, segurando-a apertado enquanto os dedos iam fundo, o pau indo mais fundo, e ele gemeu o nome dela e enrijeceu.

A liberação estourou dentro dela. Ela a sentiu pulsando e enchendo-a enquanto a boceta cerrava ao redor dele. A cabeça dela caiu para o ombro dele enquanto ela se sentia gemendo e estremecendo enquanto o prazer a rasgava inúmeras vezes.

Ela não podia se conter. Não podia lutar. Ela perdeu qualquer medida de restrição quando a questão era Travis há muito tempo. Tanto tempo atrás. Quando estava destinado a outra mulher, quando era apenas uma jovem, em uma pista de dança cercada por estranhos e deu a ele seu coração.

Ele sempre a possuiu, e ela nunca percebeu isto. Ele enchera as fantasias dela como Lorde Dermont. Então completou seus desejos mais profundos como Travis Caine.

E agora estava em todos os sonhos, cada emoção que achou que nunca seria completa. O amante que nunca acreditou que teria na vida.

Respirando fortemente, ela desmoronou contra ele, os tremores ainda correndo pelo corpo enquanto os choques de prazer continuavam a pulsar por ela. As penetrações de modo selvagem e excitantes deixaram o corpo dela exausto, a mente leve. Não podia fazer nada além de esperar por ele agora, rezar que, por este momento, ele continuasse a abraçá-la, que ele teria a força para abraçá-la enquanto ela lutava para recuperar o fôlego.

Enquanto sentia os dedos dele saírem de seu corpo, um pequeno gemido escapou dos lábios. O prazer ainda era brutal. A sensação dos dedos retrocedendo acariciou aqueles nervos finais tão sensibilizados que mal podia respirar com a carícia adicional.

—Calma, amor. — Ele disse relaxado enquanto a mão alisava as costas dela. —Dê-me um segundo aqui e te levarei para o chuveiro.

Ela teve que rir. Um som baixo, fraco, mas cheio com satisfação profunda. —Você vai me deixar cair.

—Agora, sim — ele concordou, os lábios alisando o ombro dela. —Mal consigo respirar.

Ele deu um suspiro fundo, um que a assegurou que estava tão satisfeito e saciado quanto ela.

—Tudo bem. — Ela se aconchegou para mais perto. —Gosto de estar aqui assim.

—Eu gosto de você aqui assim. — Os lábios dele apertaram contra os dela suavemente. —Aqui mesmo nos meus braços, Lilly. Onde pertence.

E era exatamente onde ela queria estar.

Ainda estava escuro e Lilly ainda estava deitada apertada contra o peito dele quando o celular de Travis tocou. Travis pegou o celular e olhou a tela. Fez uma careta quando viu “Harrington” na tela.

Ele sentou na cama, com cuidado para não perturbar Lilly. Ela virou com um murmúrio suave.

—Oi.

—Caine — Desmond disse. A voz soava horrenda. —Temos coisas para discutir. Você, eu e Lilly. Se me certificar que Angelica não esteja aqui, vocês dois me encontram na casa por volta do meio-dia? Realmente acho que os dois precisam ouvir o que tenho a dizer.

Travis ficou mudo apenas por um momento. Então olhou para Lilly e disse — Estaremos aí.

 

A limusine parou na estrada imponente sob árvores de carvalho que seguiam até a casa que a família dela usava pelo verão. Depois da parada, Nik saiu do banco do motorista, deu a volta no carro, abriu a porta traseira e saiu do caminho enquanto Travis saía da limusine.

Os olhos dele estreitaram enquanto a porta era aberta, e em vez do mordomo na entrada, viu Isaac, do pessoal de Desmond, o guarda-costas principal.

O terno de seda escura que usava quase escondia a protuberância da arma embaixo do braço, mas não o suficiente. Era uma figura formidável, se a pessoa não tivesse confiança em sua habilidade de ganhar dele.

Travis era muito confiante.

Os olhos castanhos escuros de Isaac voaram para onde Lilly estava, de pé ao lado de Travis, resplandecente com uma blusa suave azul clara e uma saia combinando. Sandálias baixas cobriam os pés. O cabelo castanho até o ombro estava preso em um rabo-de-cavalo casual e carregava uma bolsa pequena em vez de um rifle.

Ela parecia a pequena perfeita dama.

Travis ofereceu o braço a ela, e quase sorriu amplamente com o arrogante anuir com a cabeça dela enquanto pousava a mão em seu braço.

—Lady Lillian. Sr. Caine — ele os saudou enquanto subiam os degraus. —Lorde Harrington os está aguardando.

—Estou certo que está — Travis respondeu. —E Lady Harrington? Ela não está?

—Creio que Lady Harrington esteja em Washington fazendo compras — Isaac os informou enquanto ele entrava. — Lorde Harrington deve ter esquecido de avisar que a filha dela foi encontrada e estava retornando.

—A filha dela nunca esteve perdida — Lilly o informou friamente enquanto entravam no hall de entrada e esperavam que Nik entrasse antes de Isaac fechar a porta atrás deles.

—Entendo. — Ele inclinou a cabeça em aprovação. —Siga-me, Lorde Harrington está esperando no escritório.

Travis colocou a mão nas costas de Lilly enquanto seguiam o guarda-costas. Era duro de acreditar que Isaac McCauley estivesse envolvido em qualquer coisa abominável. Ele fez parte do Serviço Secreto, serviu por um pequeno período na CIA, e então foi para o lado particular. A reputação dele era acima de repreensões e suspeitas.

Isaac pausou nas portas do escritório, deu uma batida sumária e então abriu porta e deu um passo atrás enquanto eles entravam.

Desmond Harrington estava diante da lareira fria, o pé num calçado de couro escorado nela enquanto debruçava um cotovelo casualmente contra a cornija. Tirou o terno que normalmente usava. As mangas da camisa de algodão branco estavam dobradas até os cotovelos e a calça comprida de seda azul escura ainda estava perfeitamente passada.

Ao primeiro olhar era o epítome do profissionalismo, até que Travis olhou atentamente em seu rosto. Parecia um maltrapilho exausto. O cabelo vermelho muito curto e bagunçado, as linhas no rosto muito marcadas. Desmond Harrington era um homem duro, e mostrava isso em cada linha e ruga do rosto.

Com a mão livre segurava um copo pequeno com o que parecia ser uísque. Observando, ele permaneceu mudo enquanto erguia o copo e sorvia antes de anuir com a cabeça para Isaac.

—Posso oferecer uma bebida?— Isaac perguntou enquanto Travis, Lilly e Nik paravam no meio da sala, encarando Desmond.

—O de sempre, Isaac — Lilly respondeu, a voz lisa, doce e tão refinada que era duro de acreditar que podia atirar com um rifle tão facilmente quanto segurava um copo de uísque com coca.

—Vou querer uísque puro — Travis respondeu enquanto apertava a mão de Lilly de volta, persuadindo-a sentar apesar do fato de não serem convidados a sentar.

Nik andou para trás, cruzando os braços sobre o peito enquanto se debruçava contra a parede ao lado da porta e observava todos com os olhos estreitados.

O silêncio encheu a sala enquanto Isaac servia as bebidas, e então se moveu através da sala para entregar os copos de Travis e Lilly.

—Isaac, se importaria de sair agora?— Desmond perguntou.

—Importo, sim, Lorde Harrington — Isaac respondeu firmemente. —O senhor sabe que essa não é uma boa ideia no momento.

Desmond fungou desdenhosamente enquanto girava a cabeça, bebia o resto de sua bebida e fazia uma careta firme. —Há dias, Lilly, em que me pergunto o que diabos me fez pensar que poderia lidar com o legado que seu pai deixou.

Ele bateu o copo na cornija, correu os dedos pela cabeça e soltou uma respiração dura antes de encará-la firmemente.

Ele parecia cansado, ela pensou. Cansado e cheio de remorso e pesar.

O olhar dele ficou focado em Travis Caine por longos e intensos minutos.

—É muito difícil confiar em você — ele disse, suspirando.

—Sou um homem de palavra, Lorde Harrington — Travis o lembrou. —Sabe disso como ninguém.

Lilly olhou para ele surpresa. Ele soava como se o tio dela realmente o conhecesse.

Desmond agitou a cabeça enquanto girava para ela. —Seis anos atrás eu contatei o Sr. Caine para fazer um acordo entre a Harrington Translation and Dictation e uma companhia muito maior que queria assumir o comando dela. Seu pai estava enterrado em uma investigação interna no momento e concordei em lidar com a fusão. E contatei o seu Sr. Caine para ajudar nisto.

—Uma negociação legal?— Ela murmurou enquanto girava para Travis.

Ele sorriu amplamente, dando a ela olhar pelo canto do olho. —Fico dentro da lei ocasionalmente, querida.

Desmond grunhiu com o comentário. —Nós teríamos perdido a companhia se não fosse por ele. Com a morte do seu pai, e o que acreditamos sua morte, a família ficou um caos por meses.

— Para mim, a família ainda parece estar um caos — ela declarou tristemente.

O tio dela agitou a cabeça antes de abaixá-la por longos momentos. Finalmente, ele a ergueu e deu outro suspiro antes de se mover para uma cadeira de couro e sentar.

—O Sr. Caine me contatou com a informação que você foi achada — ele declarou enquanto se debruçava para trás. —Ele me disse então que sabia da sua existência por anos e que permaneceu quieto. Com suas feridas, porém, teve medo que não sobrevivesse, e queria a família perto se isso fosse verdade.

Lilly permaneceu muda. Isso não soava verdadeiro para ela; não parecia ser verdade, mas não tinha nenhuma dúvida que era isso o que disse à família dela.

—Por que estamos aqui, Lorde Harrington?— Travis finalmente perguntou. —Você enviou a mãe de Lilly para longe e queria muito esta reunião. Assumo que há uma razão para isto.

—Claro que sim. — Desmond o encarou irritado antes de se voltar para Lilly. —Retornar pode não ter sido uma boa ideia, criança. Talvez quando o Sr. Caine ligou eu deveria apenas ter ido sozinho ao hospital e te aconselhado a continuar escondida.

—Por que faria isto?— Ela perguntou, se perguntando por que sua intuição não a advertiu a se ausentar.

—Porque esta porra dessa família é mais ferrada que qualquer família Americana problemática que possa encontrar — ele declarou roucamente. —Mas o Jared me surpreendeu bastante, devo dizer. Não esperava que ele te deserdasse.

—Talvez não queira perder a herança adicional — Travis sugeriu.

Desmond agitou a cabeça.

—O dinheiro de Lilly está em confiança. Nada poderia ser feito com ele até que ela fizesse vinte e seis - se ainda estivesse viva, é claro. E com a morte de Lilly, não iria para Jared. Iria para uma instituição de caridade em nome de Lilly. A herança do seu irmão foi feita do mesmo modo.

Outra surpresa.

—Quando isso foi decidido?— Lilly perguntou. —Meu pai não me disse nada disso.

—E não diria até que tivesse idade suficiente para pegar seu capital — ele respondeu. —Infelizmente, você “morreu” antes de alcançar a idade em que poderia tocar sua herança.

—Aonde quer chegar, Tio Desmond?— Ela perguntou.

—Alguém tentou te matar seis anos atrás, e então três vezes nos últimos seis meses. É duro acreditar que não seja pessoal, não é, Lilly? E agora sabe que existe menos razão para suspeitar do seu irmão. Então não me diga que não subi na sua lista de suspeitos.

Lilly olhou para Travis, e então de volta para o tio dela. —Eu não sei o que suspeitar — ela declarou finalmente, perguntando-se que diabos estava acontecendo aqui.

—Você estava ajudando seu pai naquela investigação — Desmond disse então. —Estava trabalhando com ele e com o MI5 antes de desaparecer.

Agora, ela estava chocada. O pai dela a fez jurar que nunca revelaria nada sobre a investigação. Ela encarou Desmond silenciosamente, tentando compreender o que ele sabia, e o que simplesmente pensava que sabia.

—Ela tem uma face que pode ser muito inexpressiva. — Desmond anuiu com a cabeça na direção dela. —Sempre teve.

—O que quer, Harrington?— Travis foi adiante.

—Quero o assassino do meu irmão. E quero que a pessoa que está tentando matar a minha sobrinha seja parada — ele disse, a voz suave. —Quero que os roubos lentos das empresas Harrington parem e quero minha vida de volta.

—E eu devo facilitar isto, como?— Travis perguntou.

—Melhor ainda, por que deveria ser envolvido?— Lilly ficou de pé, bebericou a bebida e a terminou com uma golada dura antes de se mover lentamente para o bar.

Precisava de um momento para pensar, compreender o que diabos estava acontecendo aqui.

—Você discutiu com minha mãe quando parti?— Ela perguntou enquanto se movia além de Isaac para preparar outra bebida.

Desmond riu.

—Oh, sim, minha querida. Sua mãe e eu discutimos bastante ruidosamente no dia seguinte. Quando Ridgemore apareceu, discutimos ainda mais. Sabe como funciona. Ela grita até conseguir o que quer, e se não consegue, então faz da sua vida um inferno. Certo?

Lilly despejou outra bebida antes de se voltar para ele e se inclinou contra o bar. —Minha mãe nunca gritava comigo. Não quando meu pai era vivo.

A expressão dele suavizou, ficou gentil.

—Não, ela não gritava com você. Porque sempre que fazia isso, tinha que enfrentar não apenas seu pai, mas seu tio também. Nós fazíamos o nosso melhor para te proteger. Tristemente, parece que foi em vão.

Ele estava olhando para ela como se sentisse um pouco de afeto por ela. O modo como a olhava quando era criança. A mimou mais que o pai dela fez.

—Seu pai e eu esperávamos que ao combinarmos as forças, pudéssemos compelir sua mãe a permitir que tivesse seus sonhos — ele disse tranquilamente. —Você queria se juntar ao MI5. Queria ser uma aventureira. Ela queria que se casasse bem, tivesse filhos e se tornasse uma réplica dela mesma. Para ela, essa seria sua medida de sucesso. Infelizmente, ser como ela e as amigas é que mede o sucesso. Pelo quão bem podem tornar suas filhas versões mais jovens delas mesmas. Ela escolheu seu marido, o sexo dos seus filhos e os nomes deles. Já havia decidido onde você viveria, perto dela, claro, e quem seriam seus amigos. Seria do jeito dela ou de jeito nenhum.

—A faz soar como uma louca. Quero dizer, mais que o habitual. — Ela precisava de outra bebida apenas para conter a raiva que sentia por só agora estar vendo isto. E não porque ele estava dizendo a ela que era a verdade, mas porque ela mesma testemunhou isso.

—Não louca, simplesmente arrogante e certa de seu próprio poder. — Ele agitou a cabeça. —Ela é da realeza, lembra?

Estava voltando devagar, tão lentamente. Lilly sentiu o peso do conhecimento enquanto ele começava a tomar seu coração, fatiar sua alma. Queria gritar em negação, mas não podia. Ela tinha que segurá-lo de volta, ela tinha que se focar na verdade do mundo de fantasias que viveu quando criança.

Desmond correu uma mão pelo rosto enquanto Lilly mantinha um olho cuidadoso nele, assim como em Isaac também.

—Eu estava ajudando seu pai. — Ele encarou o uísque no copo por longos momentos antes de olhá-la de novo. —Deus, ele amava sua mãe. — Ele se debruçou de volta contra a cadeira e olhou o teto. —Mas te amava mais, e ela sabia disto.

Os lábios de Lilly tremeram por um breve segundo antes dela controlá-los. Em vez disso, ela encontrou o olhar de Travis, e viu compaixão e remorso.

—Como ela administrou isto?

Uma vez mais Desmond agitou a cabeça. —Eu não sei. Harold entendeu. Ele me disse naquela noite, mas não me disse que foi Angelica. Me daria os detalhes na manhã seguinte. A próxima coisa que soube foi que ambos estavam supostamente mortos. Eu apenas compreendi que foi Angelica mais ou menos seis meses atrás e venho tentando achar provas desde então.

Lilly tragou firmemente enquanto Travis se movia para o lado dela, para dar suporte e calor.

—Como ela me achou? Eu mudei tudo em mim.

—Tudo exceto seus modos — Desmond assinalou. —Você frequentou uma festa em Bangladesh alguns anos atrás com o filho mais velho da família governante. Nós estávamos lá, junto com Jared.

Lilly vacilou com a dor que atingiu sua têmpora, assim como a memória. Ela se lembrava. Claramente. Foi forçada a deixar a festa cedo porque Jared ficava continuamente dando em cima dela. Ele dançou com ela, paquerou. O próprio irmão. Foi mais do que podia aguentar.

—Sua mãe comentou várias vezes que Lilly Belle era muito semelhante a sua Victoria. — Ele deu uma risada severa. —Inferno, eu nem a compreendi.

—Os retratos achados nos arquivos de Desmond foram tirados por Samuel — Travis revelou. — Sua mãe o fez te seguir. — Ele se voltou para Desmond. —Acho que você tropeçou nas fotos dos arquivos que Angelica fez e tirou cópias.

Lilly assistiu enquanto Desmond beliscava a ponta do nariz e lutava contra a umidade nos olhos.

—Contratei Isaac por sua reputação e habilidade de manter seus empregadores vivos — ele finalmente declarou severamente. —Estamos tentando pegá-la desviando o dinheiro. Tentamos achar um modo, especialmente desde seu retorno, para conseguir a prova que precisamos.

—Ela é esperta, e tem dinheiro suficiente para contratar outros para fazer seu trabalho sujo — Travis disse friamente. —Ela mandou atacarem Lilly ontem. Acharam a casa segura em que ela estava. Dez homens chegaram para matá-la e as três jovens com as quais estava abrigada.

—Meu Deus. — Desmond se sentou adiante, tragou firmemente, e então olhou para Isaac. —Posso precisar de outra bebida.

Isaac girou para o bar no exato momento em que a janela de vidro grande da sala foi pelos ares.

Travis empurrou Lilly para o chão enquanto Isaac era lançado contra o bar pela bala que bateu em seu corpo e o jogou. Outra o acertou severamente no ombro e ele caiu inconsciente ou morto, ela não estava certa de qual opção.

As portas da biblioteca abriram com tudo e quatro atacantes entraram apressados, rifles automáticos puxados e apontados para eles enquanto Lilly olhava com horror.

Ela olhou em torno da sala depressa. Não podia ver Nik. Aonde ele foi? Ele tinha participado disso? Traiu a Ops?

Ela teve que tragar a bílis na garganta enquanto uma dor perfurava sua cabeça. As memórias estavam fervilhando agora, fazendo seu cérebro correr a uma velocidade que não podia lutar.

Era uma operação. Uma operação altamente secreta, uma que a existência dependia da agência que a salvou. Uma agência cuja sobrevivência dependida da habilidade dela nunca ser revelada.

—Bem, Desmond, parece que é tão estúpido quanto seu irmão. — Angelica entrou na confusão.

Resplandecente na calça comprida cor de creme, uma blusa de mesma cor e saltos altos claros, que, combinados com seu cabelo claro, davam a Angelica a aparência angelical que seu nome implicava.

Parecia inocente, nada ameaçadora e intocável.

Ela parou no meio da sala e seu olhar baixou para Lilly. A cabeça balançou para o lado, e por um momento, lamento relampejou lá.

Desmond sentou devagar em sua cadeira, as mãos descansando casualmente nos braços enquanto ele se debruçava para trás e obviamente lutava contra o fato que podiam ter falhado.

—Sempre foi uma cadela curiosa. — Angelica suspirou enquanto dava uma olhada rápida no corpo caído de Isaac antes de se voltar para Lilly. —Devia ter retornado como minha filha em vez de uma prostitutazinha determinada a destruir o que construí ao longo dos anos. Francamente, Lilly. Uma garota de programa?— Ela agitou a cabeça. —Só espero que o dinheiro que fez como puta valha a perda da sua vida agora.

Lilly se ajeitou até que estava sentada no chão, parcialmente protegida pelo corpo maior de Travis. —Qualquer coisa valeria a pena para escapar de você — ela disse à mãe tranquilamente. —Apenas queria me lembrar por que decidi permanecer morta para inicio de conversa. Diga-me, o que aconteceu na noite em que matou meu pai?

Angelica apenas encarou Lilly pelo que pareceram ser horas, e então suspirou. —Bem, acho que isto não importa agora, já que tudo vai acabar logo.

Lilly tragou em alívio, desejando apenas poder conseguir um pouco mais de tempo.

—Na noite da festa seu pai estava agindo muito estranho. Na verdade, estava agindo de forma estranha há vários dias. Estava muito distraído e reivindicava que era o trabalho, mas eu tinha a sensação que era muito mais que isso. Sabia que ele examinou o desfalque de capital nas nossas e em outras contas da família, e até aquele ponto não tinha a menor preocupação que localizasse qualquer coisa contra mim. Nada podia ser localizado contra mim, afinal. Quando Jared começou a trabalhar para Dunnolly & Dunnolly, consegui acesso à senha dele durante uma adorável visita de família, e foi assim que consegui acessar as contas de algumas das outras famílias. Meu contador conseguiu o resto. Fez parecer que as contas foram cortadas, e depois disto, o dinheiro era difícil de localizar, e ainda que o localizassem, nenhuma das contas era ligada a mim de qualquer forma. Se houvessem suspeitas, cairiam provavelmente sobre Jared. Suspeito que o MI5 o teve como suspeito por bastante tempo. E, além disso, quem suspeitaria que Angelica Harrington cometeria tal crime? Francamente, era perfeito.

—E estaria segura o suficiente para fazer o trabalho com apenas um pouco de ajuda — Lilly disse, os olhos estreitados. —Sempre fiquei impressionada com sua habilidade de administrar sua própria riqueza.

Angelica franziu os lábios em aborrecimento. —Seu pai conseguiu localizar uma das contas no exterior e rastrear até a minha - o idiota. — Ela parecia desdenhosa. —Assim que ele combinou esse fato com o de que outras famílias que eram almejadas eram todas representadas pela Dunnolly & Dunnolly, eventualmente começou a suspeitar de mim. Notei que não estava na festa e fui procurá-lo. Estava no escritório, ao telefone. Parecia agitado, então o escutei, tentando descobrir o que estava conversando. Aparentemente estava no telefone com seu contato no MI5 e disse a ele ou ela que sabia quem estava por trás do desfalque e que queria passar as informações. Não podia deixar isso acontecer.

—Depois dele acabar o telefonema, entrei no meu escritório na casa ao lado, peguei a arma que escondia lá e voltei para confrontá-lo. — Ela riu. —Na verdade, deveria dizer que foi ele quem me confrontou. Me perguntou se eu escutei a conversa e eu disse a ele que sim. Me pediu para eu me entregar, o que achei hilário. Sério, por que faria algo assim?

—Então o matou — Lilly disse, o tom apertado com fúria.

—Sim — Angelica disse, friamente. —Isso resolveria tudo bem. A festa ainda estava a toda e o escritório era longe o suficiente para ninguém ouvir nada. Ia chamar um dos associados aqui e mandar dar fim ao corpo quando você bateu na porta. Eu me escondi atrás da porta, e quando entrou, te dei uma pancada e deixei inconsciente.

—E seus tais associados colocaram Lilly e o pai dela no carro e os jogaram precipício abaixo — Travis disse. —Desejava que a explosão do carro disfarçasse o fato que seu marido levou um tiro.

—Tão inteligente — Angelica disse zombeteiramente. —Sim, era isso o que estava desejando. E estava certa que poderia seguir o processo depressa o suficiente para ninguém olhar o corpo de perto. Quem tentaria incomodar o lamento de Lady Harrington que acabava de perder o marido e a filha num acidente tão trágico?— Ela olhou para Lilly. —Bem, quase perdeu. Estava certa que seu corpo foi levado para o mar. — Angelica agitou a cabeça. —Bem, terei que me certificar da sua morte desta vez.

Lilly riu.

—Oh, e como fará desta vez? Aquela bala no cérebro não foi exatamente divertida, mãe.

—Você é uma cadela tão desrespeitosa — a mãe dela zombou. —Acha que não estou ciente que tem nos espionado? Nas árvores espreitando a família. Nunca se ausentou. Eventualmente teria retornado. E nós não podíamos aceitar isto. O capital em confiança que seu tio cuida tão atentamente é muito importante. Caridade. — Ela sorriu devagar. —Bem, precisam muito mais do seu dinheiro que você.

Caridade. Lilly sentiu o coração correr mais, uma sensação de entendimento inundando seus sentidos.

—Caridade é um fundo terrorista — ela sussurrou, as mãos começando a tremer enquanto a pequena arma presa nas costas começava a queimar contra a carne com a necessidade dela de usá-la.

—Claro. — A mãe dela sorriu. —As doações trimestrais fazem com que eu tenha uma provisão fixa para os homens que fazem o que precisa ser feito. O mundo está uma droga, meu bem. E precisa de disciplina.

Disciplina. O mundo precisava de disciplina.

—Lilly Belle tem esses inimigos também. — Angelica cacarejou. —Que pena. Eles entraram enquanto eu estava fazendo compras e te mataram, seu amante, seu tio e o guarda-costas dele. — Ela olhou para o corpo de Isaac. —Homem bonito. Uma pena ser tão malditamente ético.

Um movimento na sala, atrás dos homens circundando Angélica chamou a atenção de Lilly. Nik. Estava vindo devagar ao longo da extremidade de um pesado armário para avaliar a situação.

— Pobre mãe. — Lilly suspirou. —Se não pode conseguir o que quer, então mata. Mas acredita mesmo que sejamos os únicos que sabem a verdade?

Angelica riu. —Não tem nenhuma prova, meu bem. O que tem é a habilidade de me irritar e tomar o dinheiro que prometi aos meus amigos. — Ela deu uma olhada rápida para um dos homens de olhos duros ao lado dela. —Na verdade, não há nada que possa fazer. Está tudo terminado, meu bem. Morrerá de um vez, lamentarão sua morte, e eu poderei lamentar também a morte de outro marido que morreu tentando salvá-la das pessoas com as quais você se envolveu. Prostitutas como você conseguem se envolver em tais situações. É um fato.

—Você assiste televisão demais. — Lilly seguiu Travis enquanto ele ficava de pés. —Não vai ser tão fácil.

Angelica andou para mais perto, a expressão endurecendo. A mão ergueu e ela deu um tapa no rosto de Lilly. Lilly nem tentou evitar. Ela aceitou a batida. Quando a mãe dela estivesse morta ou na prisão, então Lilly não teria nenhuma dúvida na própria mente sobre as escolhas que teve que fazer.

Nik estava em posição agora. Desmond estava correndo a mão devagar na lateral de sua cadeira. Lilly rezou que estivesse se movendo para uma arma. Percebeu que Isaac estava consciente, e viu quando a mão boa dele deslizou para baixo do corpo.

Essa era a única chance que eles teriam.

—Sua arma, Sr. Caine — Angelica exigiu enquanto girava para Travis. —Sua reputação é extremamente boa. Acho que prefiro que você não a tenha.

A mão de Travis deslizou para baixo da jaqueta, lentamente.

A mão de Desmond agarrou algo ao seu lado.

Lilly, usando o corpo de Travis para cobertura, deslizou a mão para trás de si.

Aconteceu tudo depressa. Muito depressa.

Nik saiu. Travis puxou sua arma, Isaac rolou para suas costas e Lilly ficou de joelhos.

Ela atirou na mãe. Lágrimas encheram os olhos e desceram nas bochechas enquanto a bala batia no ombro de Angelica. Não era um tiro para matar, mas como todo mundo agiu de uma vez, mais duas balas saindo das armas de Desmond e Isaac a pegaram.

Nik e Travis fizeram trabalho rápido com os outros. Lilly encarou a mãe, viu o entendimento brotar no rosto da mulher.

Angelica ficou de joelhos, sangue banhando a camisa cor de creme, gotejando para a calça enquanto mantinha o olhar de Lilly. Segurando-o. O ódio o inundando, contorcendo a expressão.

— Prostituta maldita — Angelica ofegou enquanto lentamente descia para o chão, os olhos perdendo o brilho, escurecendo e lentamente ficando inanimados.

A mãe dela.

Lilly rastejou para ela, ergueu a cabeça para seu colo e lentamente tirou o cabelo dela do rosto enquanto o fogo parava e o cheiro da morte começava a invadir a sala.

Havia outros homens lá agora. A Elite Ops Um. Máscaras pretas cobriam seus rostos, mas Lilly sabia quem eram. Não se preocupou em olhar para cima. Ela assistia os dedos tocando a sobrancelha da mãe, o cabelo. Ela parecia composta e pacífica na morte.

Parecia inocente. Parecia com a mãe que Lilly se lembrava.

—Adeus, mãe — ela sussurrou enquanto as lágrimas continuavam a cair. —Eu amei você.

Ela perdeu tudo. Todos.

—Lilly. — Travis estava atrás dela e se abaixou, as mãos nos ombros dela enquanto percebia que estava soluçando. —Está acabado, amor.

Ela agitou a cabeça.

—Está tudo bem, Lilly. — Ele se sentou ao lado dela e a pegou nos braços. —Eu estou aqui, amor. Está terminado.

—Eu amo você, Travis — ela sussurrou enquanto deitava a cabeça no ombro dele. —Eu amo você.

—Eu te amo também. — Ele deitou a bochecha contra o topo da cabeça dela.

—Você terá que me deixar agora — ela sussurrou. —Eu sei.

—Shhh — ele disse suavemente enquanto sussurrava. —Mantenha as memórias do lado de dentro, amor. Não se lembra de nada. Continue assim. — Ele girou o rosto dela para ele. —Continue assim e te abraçarei para sempre.

Para sempre? Ela podia ter um para sempre de verdade agora?

Com Travis?

Ela sentiu o sorriso que tocou os próprios lábios, sentiu a dor e a perda abrandando no coração.

—Eu terei você para sempre?

—Para sempre — ele jurou.

Ela girou a cabeça para ele, os lábios tocando os dele e sussurrou. —Então não me lembrarei de porcaria nenhuma, Black Jack.

Ele sorriu contra o beijo. —É isso aí, Falcão Noturno. Agora, deixe-me te abraçar para sempre.

Os braços dele a cercaram. Lá, entre o passado dela, toda a morte e coisas que pensou que perdeu, Lilly achou o amor.

Um amor que teria para sempre.

 

 

                                                                  Lora Leigh

 

 

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