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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


BUSCA-SE UM MILIONÁRIO / Jan Hudson
BUSCA-SE UM MILIONÁRIO / Jan Hudson

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

Série Cherokee Pete I

BUSCA-SE UM MILIONÁRIO

 

-Nem o sonhe, amigo! -Irish Ellison fechou de repente a porta principal e se dirigiu com passo decidido à sala, onde suas companheiras estavam sentadas olhando a televisão-. Ditosos homens -grunhiu ao tempo que se tirava os sapatos de salto e se deixava cair no sofá, ao lado da Olivia.

-Parece que tem problemas com o ajudante do senador -disse Oliva lhe oferecendo um pacote de pipocas de milho.

-Exato -Irish colocou a mão no pacote e se levou a boca um punhado de pipocas-. É um imbecil.

-O que passou? -perguntou Kim-. Gavin parece um menino muito agradável. Acreditava que iam a sério.

-Eu também o pensava... até que lhe ocorreu me pedir um empréstimo. Podem acreditá-lo? Esse porco me leva a um par de festas importantes, convida-me para jantar grátis em sítios luxuosos, e logo se atreve a me pedir dinheiro emprestado.

-Não falará a sério? -perguntou Kim com os olhos muito abertos depois dos grossos cristais de seus óculos.

-Totalmente a sério. Pelo visto, débito não sei quanto dinheiro em conceito de pensão alimentícia.

-Não sabia que Gavin tinha estado casado -comentou Olivia.

-Nem eu -Irish colocou os pés em cima da mesinha de café-. Inteirei-me esta noite. Ao parecer, esteve casado duas vezes e tem quatro filhos. por que sempre me confusão com nomes que outras rechaçam? Você é a psicóloga, Olivia. Qual é meu problema?

Olivia, que era a maior e a mais judiciosa das três, arqueou as sobrancelhas e olhou a seu amiga. Irish possuía umas pernas esbeltas e um corpo que qualquer mulher desejaria para si, além de uma larga juba com reflexos entre loiros e acobreados.

-Ainda não estou licenciada -respondeu ao fim Olivia-. Entretanto, não creio que o problema esteja em ti, Irish. É esta cidade. Em Washington há um punhado de solteiras atrativas que competem por caçar aos homens que há disponíveis. Se está interessada em fazer amizades masculinas, escolheste um mau sítio.

-Não estou aqui por gosto. O trabalho escasseava em Nova Iorque e minha tia Katie me deixou em herança esta casa. Talvez deveríamos nos mudar a Alaska. Tenho entendido que ali os homens andam se desesperados por encontrar casal.

Olivia e Kim se guardaram de mencionar a outra razão pela qual Irish tinha deixado Nova Iorque.

-Pois não me interessa muito me jogar noivo -repôs Olivia-. Já passei por isso e sei o que é.

Irish se voltou para o televisor, em cuja tela se via a imagem imponente da Marilyn Monroe.

-Como se intitula o filme? -perguntou.

-Como casar-se com um milionário -respondeu Kim.

-Isso quisesse eu, me casar com um milionário. Minha mãe estava acostumada dizer que resulta mais fácil apaixonar-se por um rico que de um pobre -cerrou os olhos e se inclinou para frente, adotando a pose de uma jovem Lauren Bacall-. Mas, onde há milionários bonitos, solteiros e dispostos a cercar uma relação séria?

-No Texas.

Irish e Oliva olharam a Kim, quem, com seus vinte anos, era a mais jovem do grupo.

-No Texas? -perguntaram ao uníssono.

-Exato. Minha chefa é milionária e oriunda do Texas.

-Mas sua chefa é uma mulher. Deputada-a Hellen Ou'Hara, acaso te esqueceu?

-Sei, mas tem irmãos e primos jovens que estão solteiros e podres de massa.

-Seguro que são gordos, calvos e baixinhos.

Kim esboçou uma sorrisinho zombadora.

-Justamente o contrário. Os que eu tive ocasião de conhecer, ao menos, são muito bonitos. E muito altos. Querem que lhe peça emprestadas ao Hellen um par de fotografias? Trarei-lhes isso para que os dêem uma olhada.

-Não me interessa, obrigado -respondeu Olivia.

Irish se incorporou rapidamente.

-Pois a mim sim. Em fevereiro farei trinta anos. eu adoraria celebrar meu aniversário instalada comodamente em uma luxuosa mansão de Dallas. Já me fartei de vender cosméticos no Macy'S. Qual dos irmãos é o mais bonito e o mais rico?

Kim meneou a cabeça.

-Não sei. Jackson, provavelmente. Mas não vive em Dallas. Embora Hellen também tem um par de primos que...

-Não se fale mais. Como posso conhecer tal Jackson?

-Não estará falando a sério -atravessou Olivia com expressão horrorizada-. Não pode considerar a idéia de te casar com alguém te apoiando unicamente no tamanho de sua conta corrente.

-E por que não?

-Não lhe dá importância ao amor? -perguntou Kim-. À paixão?

-Creio que o amor está muito valorizado. Além disso, o dinheiro me resulta tremendamente sexy -Irish cravou o olhar na tela do televisor durante uns segundos. Logo se voltou para suas companheiras e, com um brilho travesso nos olhos, comentou-: Têm que me ajudar a riscar um plano.

 

Quando Irish Ellison viu que a grade estava fechada com uma cadeia e um cadeado, seu ânimo se afundou igual aos saltos de suas botas novas na terra branda.

"Deve cruzar a grade e avançar um quilômetro, mais ou menos", tinha-lhe explicado a secretária do Hellen Ou'Hara. Mas, como diabos ia cruzar um grade fechada com cadeado?

Completamente abatida, Irish voltou para a Mercedes que tinha alugado duas horas antes no aeroporto de Dallas. As coisas não estavam saindo como ela tinha planejado. gastou-se o dinheiro que ficava em roupa provocadora e, para pagar o bilhete de avião e o aluguel do carro, não tinha tido mais remedeio que lhe pedir um empréstimo a um amigo. A comida e o alojamento no Ninho do Crow, que assim se chamava o imóvel onde Jackson Crow estava acostumado a retirar-se a jogar golfe, seriam-lhe amavelmente oferecidos pelo irmão do Hellen.

Ou isso tinha assegurado a secretária.

O estômago começou a lhe grunhir. Já era a hora do almoço.

teria se desviado do caminho correto?

Não tinha mais remedeio que voltar sobre seus passos e procurar um telefone. Murmurando entre dentes e manobrando com esforço, enfiou pelo estreito atalho em direção à estrada principal. Não havia nenhuma só casa à vista. A paisagem aparecia dominado por amplas zonas de bosque e campos de erva salpicados de enormes máquinas que pareciam gafanhoto gigantes.

Ao chegar ao cruzamento da estrada, Irish entrou nos estacionamentos de um pitoresco edifício de madeira. Sobre a porta principal havia um rótulo que rezava: "Feitoria e Museu Índio". À esquerda do edifício se viam quatro tipis índios feitos de estuque ou cimento e pintados de cores gritões. Enrugando o nariz, Irish desembarcou do Mercedes e entrou na feitoria.

No interior não se via nem uma alma, exceção feita de quatro figuras de madeira tocadas com chapéus emplumados.

-Olá? Há alguém? -chamou.

Só lhe respondeu a voz do silêncio.

Depois de entrar uns quantos passos no escuro local, distinguiu uma série de estantes repletas de artigos e um comprido mostrador de madeira. Em um dos extremos havia duas mesas, com seus correspondentes sela, situadas perto de uma estufa de butano. O espaço restante estava ocupado por artigos de toda classe, desde cadeiras de montar a pitorescos lembranças, passando por cestas cheias de batatas frescas.

-Há alguém? -repetiu.

Durante uns segundos reinou um silêncio sepulcral, quebrado unicamente por uma espécie de estranho repico similar a um som longínquo de castanholas.

um pouco assustada, Irish saiu da feitoria e fechou a porta com supremo cuidado.

Permaneceu um momento no alpendre, perguntando-se o que devia fazer a seguir. De repente, chamou-lhe a atenção um ruído agudo. Parecia o rugido de uma motocicleta e procedia de uma cabana de madeira situada a uns quantos metros da feitoria.

dirigiu-se para ali, caminhando quase nas pontas dos pés sobre a terra branda para evitar que as botas lhe danificassem ainda mais. Quando se aproximou e apareceu interior da cabana, o coração quase lhe saiu do peito. Dentro havia um homem. Mas não se tratava de um homem qualquer. Só levava postos uns nos cubra, botas e um chapéu. Era muito alto, e os músculos de seus braços e seus ombros se flexionavam e se contraíam enquanto manipulava uma pequena serra mecânica.

Irish jamais se havia sentido tão afetada pela imagem de um homem. Exalava masculinidade por cada poro de sua pele e parecia rodeado de um aura tão potente e deslumbrante como a projetada por um pôster de néon. Irish não pôde a não ser olhá-lo, boquiaberta. Tinha o pêlo do torso salpicado de bolinhas de pó de serra, e umas reluzentes gotas de suor o umedeciam o musculoso abdômen. Incrivelmente atrativo, possuía uma mandíbula bem perfilada e um nariz perfeito.

De repente, olhou-a, e o surpreendente azul de seus olhos deixou ao Irish sem respiração.

-Maldita seja! -exclamou ao cortar uma das orelhas do enorme urso de madeira que estava esculpindo. Apagou a serra mecânica e a deixou a um lado.

-OH, Meu deus, sinto-o muito -apressou-se a dizer Irish, apurada pelo que acabava de ocorrer-. Por minha culpa danificou seu... escultura.

-Meu "escultura"? -repetiu ele com uma voz sexy e profunda.

Ela notou que as bochechas lhe ardiam.

-Refiro-me ao urso -disse assinalando com mão quase tremente a figura de madeira.

Ele esboçou um deslumbrante sorriso. Logo se colocou bem o chapéu e deu uns tapinhas na cabeça do urso.

-Tranqüila, não se preocupe -respondeu-. Poremo-lhe de nome Vince.

-Vince? -repetiu Irish quase hipnotizada.

-Sim, Vince -disse ele, olhando-a fixamente-. Do Vincent. Vincent Vão Gogh.

-Vão Gogh? -perguntou Irish desconcertada. Seu cérebro não atinava a se localizar o dado.

-Já sabe, o pintor que se cortou a orelha.

-Ah, claro -disse ela sentindo-se como uma perfeita estúpida-. Referia-se ao pintor -voltou a lhe olhar o peito. Notou que, de repente, os mamilos lhe endureciam.

Depois de tirá-los luvas, ele agarrou uma toalha que tinha pendurada na parede e começou a secá-la pele suarenta.

-O que posso fazer por você? -perguntou enquanto se limpava o pó de serra do peito e enxugava um gotinha de suor que lhe descia para o umbigo.

-Por mim? -enquanto observava seus dedos, compridos e fortes, ao Irish lhe passaram pela cabeça milhares de coisas que adoraria que aquele homem lhe fizesse.

-Posso ajudá-la em algo? -repôs ele com uma risinho sufocada.

-me ajudar? Né... pois sim. É você o dono da feitoria?

-Não. O dono é Pete, meu avô. Eu me chamo Kyle -soltou a toalha e ficou uma camisa com gestos apressados-. Kyle Rutledge.

-Eu sou Irish. Irish Ellison.

Ele esteve a ponto de dizer "sei", mas conseguiu reprimir-se. Irish tinha posado como modelo para algumas revista e Kyle recordava que, durante seu período de práticas em Califórnia, muitas mulheres lhe tinham levado uma fotografia do Irish Ellison para que as dotasse de seu nariz ou de seus maçãs do rosto perfeitos.

-Encantado de conhecê-la, senhorita Ellison -disse tocando o chapéu em sinal de cortesia-. No que posso lhe ajudar?

-Seria tão amável de me dizer se esse for o caminho que leva a Ninho do Crow? -perguntou ela assinalando para a estrada.

-Pois sim, senhorita. Esse é.

-Vá. Temia que me dissesse isso. Verá, estou agendada com o senhor Jackson Crow, mas encontrei a grade fechada.

"Maldição!", exclamou Kyle para seu si mesmo. Tinha diante a uma das mulheres mais atrativas do mundo, e sua primo já lhe tinha adiantado. Como de costume, Jackson era um bastardo com sorte.

-Jackson saiu.

-Que saiu? -disse Irish com tom alarmado. Seus enormes olhos verdes se abriram de par em par.

-Temo-me que sim.

-Mas... mas estávamos citados. Devia passar uns dias em seu imóvel para escrever um artigo sobre o estilo de vida dos milionários jovens.

-Não conhece o Jackson?

Irish negou com a cabeça.

-Não, nunca nos vimos.

Kyle pareceu relaxar-se. O sorriso voltou a aflorar a seu rosto.

-Decidiu ir-se a Dallas com seus amigões para ver a partida que disputam os Cowboys no domingo. Creio que estarão de volta na segunda-feira.

-Mas se hoje é sexta-feira.

-Sim, começaram a farra com certa antecipação.

-Deveria me haver reunido com ele faz um par de horas. Mas meu avião saiu com atraso, e logo tive problemas com a agência que me alugou o carro.

Ao ver quão decepcionada parecia Irish, Kyle sentiu umas vontades tremendas de sair em busca de sua primo com uma tocha na mão.

-Eu não me preocuparia muito -comentou ao fim-. Jackson estará de volta na segunda-feira. Se se encontrar o bastante sóbrio para viajar, naturalmente.

-Se se encontrar sóbrio? É que bebe muito?

Kyle teve que morder o lábio inferior para não rir. Sua primo tinha todas as mulheres que desejava. Mas a esta a tinha visto ele antes.

-Sim, uma barbaridade. Esse homem é um autêntico bêbado.

"Espero que me perdoe, primo", pensou .

de repente se ouviu o som ensurdecedor de um disparo e Kyle se estremeceu, temendo por um momento que o céu queria castigá-lo por ter mentido com semelhante desfarçatez.

Irish também deu um salto.

-O que foi isso? -perguntou assustada.

-Nada, meu avô. Está em cama com o quadril rota, e cada vez que necessita algo dispara com sua pistola pela janela.

-Não seria melhor que tocasse uma campainha?

Kyle sorriu.

-Você não conhece meu avô. me acompanhe à loja. Veremos o que quer. Logo nos ocuparemos de seu problema. Já quase é hora de almoçar. Tem fome?

-Estou esfomeada.

-Gosta do Chile?

-Com feijões?

-Não diga disparates, senhorita. Estamos no Texas. Só a um ianque lhe ocorreria danificar um prato do Chile lhe acrescentando feijões. É você do norte?

Irish se pôs-se a rir, e o som sensual de sua risada fez que Kyle concebesse pensamentos lascivos.

-Vivo em Washington -respondeu ela-, embora nasci em Ohio. Também passei vários anos em Nova Iorque.

-Em Nova Iorque? -perguntou Kyle com uma careta exagerada de desgosto-. E gostava de viver ali?

Irish se encolheu de ombros.

-Durante um tempo, sim. Mas ao final acabei me cansando.

-Isso mesmo aconteceu comigo em Califórnia. Com o tempo, descobri que Texas é o único sítio onde me sinto verdadeiramente a gosto.

Uma vez que tiveram entrado no armazém, Kyle convidou ao Irish a que se sentasse em uma das mesas.

-Jogarei-lhe uma olhada a meu avô. Em uns minutos estarei de volta com o Chile.

Enquanto Kyle se afastava e subia as escadas que conduziam à planta de acima, Irish se fixou em suas largas pernas. Céus, que homem. Jamais tinha conhecido a ninguém com tão atrativo sexual. E, como tinha podido comprovar pelo pouco que tinham falado, resultava um verdadeiro prazer estar a seu lado.

Deixou escapar um suspiro. Kyle possuía todo aquilo que qualquer mulher podia desejar.

Tudo... salvo dinheiro.

"Se for mais fácil apaixonar-se por um rico, mamãe, por que sempre me sinto atraída por homens que não têm onde cair mortos?"

Era uma lástima que Kyle Rutledge gostasse tanto. Sobre tudo naquelas circunstâncias precisas.

Irish voltou a suspirar. Não podia permitir o luxo de perder a cabeça por aquele homem. Tinha planos que levar a cabo. proposto-se caçar a um milionário.

E se Jackson Crow adoecia de certos defeitos..., enfim, uma mulher não podia o ter tudo na vida.

 

Umas repentinas gotas de suor lhe brotaram por cima do lábio superior. Irish procurou não pensar nisso e se introduziu na boca outra colherada do Chile. Ao fim e ao cabo, estava comendo grátis. Tendo em conta que ficavam menos de vinte dólares no moedeiro, não podia permitir o luxo de ser delicada.

-Está muito picante para seu gosto? -perguntou-lhe Kyle.

-Não, o que vai. Está muito bom -respondeu ela, e se bebeu de um puxão meio copo de chá gelado.

Depois de engolir outro par de colheradas, lhe saltaram as lágrimas. Apurou ansiosamente o copo de chá e olhou de soslaio ao Kyle, quem a contemplava com o cenho franzido.

-Não faz falta que minta por educação -disse ele-. Parece-lhe muito picante. Sinto muito. A meu avô gosta do Chile assim, e creio que eis acabado me acostumando. Mas lhe prepararei outra coisa. Gosta de perritos quentes? São minha especialidade.

Irish sorriu aliviada. Não gostava de absolutamente acabar o prato do Chile, mas seguia tendo fome.

-Os perritos quentes me voltam louca -brincou.

-Prefere-o com mostarda ou com maionese?

-Com mostarda, por favor.

-Volto em um momento.

Irish o observou enquanto tomava um pão-doce de pão e um pote de mostarda de um dos suportes. Demorou uns segundos em retornar com um estupendo sanduíche de salsicha acompanhado de rangentes batatas.

-Obrigado -disse ela-. Tem um aspecto magnífico.

-Não é uma delícia culinária, mas lhe servirá para matar a fome. Alma Jane está acostumado a ocupar-se da cozinha, mas se há posto doente. Espero que volte amanhã. Como cozinheiro deixo muito que desejar.

-me passa o mesmo -disse Irish-. Pelo general, Olivia se encarrega de fazer a comida em casa.

-Quem é Olivia?

-Uma das garotas que compartilham casa comigo em Washington.

-Vive você com outras garotas? -perguntou Kyle enquanto lhe servia mais chá.

-Assim é -entre bocado e bocado, Irish lhe falou da Kim e Olivia.

-Quanto tempo faz que é você jornalista? -inquiriu ele.

-Jornalista? Não sou jornalista. por que o pergunta?

-Disse que ia escrever um artigo sobre o Jackson e seus colegas. Pensei que seria para algum periódico.

-Céus, não. É para a revista Esprit.

-Colabora com o Esprit? O mais normal seria que alguém com seu físico trabalhasse para uma revista como modelo, e não como articulista.

-Agradeço-lhe o completo. Sim, em alguma ocasião trabalhei de modelo -esboçou um cândido sorriso-. Mas não sou colaboradora fixa da revista. O artigo é um trabalho de encargo.

Kyle assinalou o prato do Chile ao meio comer, e disse:

-Importa-lhe?

-Absolutamente -respondeu Irish. Aquele homem devia ter o aparelho digestivo revestido de chumbo. Era incrível que pudesse deglutir um segundo prato daquele comida tão forte.

-eu adoro o Chile -comentou ele-. E por que já não trabalha como modelo?

Irish titubeou um instante antes de responder.

-Já sou muito major.

-Bobagens. É você preciosa e está no melhor da vida.

-Já quase tenho trinta anos.

Ele soltou uma gargalhada e disse:

-Uma garotinha.

-Talvez a você o pareça, mas as modelos são cada vez mais jovens. Além disso... já me tinha fartado de viver em Nova Iorque.

-Agora a compreendo. As taxas de violência se dispararam nessa cidade. Aqui, em troca, o episódio criminal mais recente se produziu quando Newt Irwin se embebedou Y... Irish?

Ela deu um coice.

-Sim?

-de repente, pôs-se muito nervosa. Tenho dito algo mau?

-Não, absolutamente -mentiu Irish, procurando mostrar-se educada-. O que me contava do Luke?

-Do Newt. embebedou-se e roubou uma das cabras do Henry McKenzie.

-Para que?

-Para fazer um andaime. Mas, ao dia seguinte, a mãe do Newt encontrou à cabra atada em seu jardim. estava-se comendo as margaridas, assim que a boa mulher avisou ao xerife. Henry recuperou a cabra, mas Newt teve que passar três dias entre grades.

-por que? depois de tudo, Henry recuperou o animal. Surpreende-me que pusesse uma denúncia.

-Não foi Henry, a não ser a mãe do Newt. O xerife está casado com sua prima, e a senhora Irwin estava muito orgulhosa de suas margaridas.

Irish se pôs-se a rir. Mas se interrompeu de repente, sobressaltada, para ouvir um tiro na planta de acima.

-Outra vez o avô -disse Kyle com resignação-. Oitenta e quatro anos e ainda tem vontades de dar guerra. Em seguida volto. Enquanto, procure alguma sobremesa que goste.

Irish assim o fez. Estava jogando uma olhada ao sortido de doces e barras de chocolate, quando um carro se deteve diante da loja. Ao cabo de uns instantes entrou um casal maior vestido com chamativos chandals. Ele luzia uma calva incipiente e levava a jaqueta do moletom muito rodeada sobre a bojuda barriga. Ela, por sua parte, era magra como um aspargo. Tinha o cabelo tingido de negro e os dedos abarrotados de anéis de diamantes.

-Olhe, Edgard. Não te parece um sítio encantador? -logo, dirigindo-se ao Irish, explicou-: Dirigimo-nos para a costa. E me alegra ter escolhido este caminho. As vistas são realmente bonitas. Enfim, queríamos comprar algo para picar durante a viagem Y... Edgard! Olhe. São talhas índias. A tamanho real! Não crie que ficariam perfeitas colocadas junto à piscina de casa? E fixa lhe no preço. Se for uma ganga.

-Mmm -murmurou Edgard, sem retirar a vista das barras de chocolate que estava inspecionando.

Irish esboçou um radiante sorriso e disse:

-Sim, são umas talhas magníficas. O escultor tem um enorme talento. Viu quão animais há fora? As águias são fantásticas. E também temos um urso ao que deveriam jogar uma olhada. Chamamo-lo Vence. Se tiverem a bondade de me acompanhar, o ensinarei com muito prazer.

 

Quando Kyle baixou, depois de haver-se ocupado de seu avô, encontrou ao Irish na porta, despedindo com a mão a um carro que se afastava.

-Sinto ter demorado tanto. Meu avô necessitava sua medicina. Quem vai nesse carro?

-Corrie e Edgard.

-O que queriam? Perguntar por onde se vai a Dallas?

-Não, entraram para comprar um pouco de comida. Vendi-lhes uma caixa de garrafas de refrescos, dois pacotes de barras de chocolate, três bolsas de amendoins, um par de braços de cigano, dois índios de madeira e uma águia. Ah, e também a Vence. pagaram com cheques de viagem e lhes dei a mudança com dinheiro da caixa registradora. Espero que não te importe.

-me importar? vendeste mais em vinte minutos que eu em uma semana. Assim que se levaram a Vence?

-Sim.    

-Mas se lhe falta uma orelha.

-Isso o dota de maior atrativo. É uma talha muito original.

Kyle soltou uma risinho e meneou a cabeça.

-Espero que, ao menos, tenha-lhes feito um desconto.

-Absolutamente. Não sabia exatamente quanto valia o urso, pois não tinha o preço posto, mas lhes cobrei por ele cinqüenta dólares mais da quantidade que marcavam as etiquetas dos índios.

-Está brincando?

-Não, falo muito a sério. Mas não tem por que preocupar-se. Podem permitir-lhe Além disso, Corrie está entusiasmada com sua piscina nova e, sinceramente, creio que as talhas serão um adorno perfeito para seu jardim. Assim terão uma desculpa para dar uma festa quando voltarem de viagem. Essas figuras de madeira constituem um esplêndido tema de conversação. Expliquei-lhes como tinham sido esculpidas. Kyle teve que esforçar-se para não prorromper em gargalhadas.

-Seguro que sabe como foram esculpidas? -perguntou.

Irish fez um gesto com a mão para subtrair importância ao detalhe.

-Esculpiste-as com uma serra mecânica. Ensinei-lhes a oficina onde trabalha e improvisei como facilmente pude. Já te tenho dito que Corrie estava entusiasmada.

-E Edgard?

-Edgard não falou muito, mas pareceu fascinado com a cascavel que há no terrário. Inclusive quis comprá-la, mas imaginei que a serpente não estava à venda. De todos os modos, tampouco tivesse sabido que quantidade lhe cobrar por ela.

Kyle se pôs-se a rir.

-Me alegro de que não tenha vendido ao Sam. A meu avô tivesse dado um ataque. É uma das peças fundamentais de seu pequeno museu.

Irish se estremeceu ligeiramente.

-E me alegra não ter tido que tirar esse inseto do terrário. Por certo, ainda não tomei a sobremesa. Quer compartilhar comigo um pacote de barras de chocolate?

-Claro, será um prazer -Kyle se sentia cada vez mais cativado pelo Irish. Não só era uma mulher muito belo, mas também além disso resultava um verdadeiro prazer estar a seu lado. Seu aspecto divertido, franco e singelo era a antítese da personalidade afetada que estavam acostumados a ter as mulheres de Hollywood-. Enquanto você procura as barras de chocolate, eu me ocuparei de fazer o café. Como você gosta?

-Sozinho, por favor.

Ao cabo de poucos minutos, os dois se achavam sentados à mesa diante de caminhos taças de café.

-É instantâneo -particularizou Kyle-. Espero que não te importe.

-Parece-me perfeito.

Comeram as barras de chocolate em silêncio. Quando teve engolido o último bocado, Irish se chupou os dedos e exalou um suspiro de satisfação.

-eu adoro as guloseimas. Sobre tudo o chocolate. Tive que me privar dos doces durante anos. Não sente saudades que tenha engordado uns quantos quilogramas desde que fui de Nova Iorque.

-Pois os dissimula muito bem. Eu te vejo bastante magra.

-Obrigado -respondeu ela com um sorriso-. Gosta de outra barra de chocolate?

-Se insistir...

Sem perda de tempo, Irish tirou outro par de barras de chocolate do pacote. Deu- uma ao Kyle e devorou a outra rapidamente. depois de chupá-los dedos novamente, elevou a taça e tomou um sorvo de café. de repente, franziu o cenho e olhou ao Kyle com ar pensativo.

-Algum problema? -perguntou ele.

-Pois sim. Não posso voltar para Nova Iorque até que tenha entrevistado ao Jackson Crow. Se retornar na segunda-feira, terei que passar aqui o fim de semana. E não tenho nenhum sítio onde ficar. Tinha planejado me hospedar no Ninho do Crow, mas... -enrugou ainda mais a frente-. Esses tipis daí fora são, né, habitáveis?

Kyle deixou escapar uma risinho sufocada.

-Creio que estaria mais cômoda em algum hotel do Jacksonville ou do Tyler.

-Temo-me que não me posso permitir isso com os olhos afligidos, Irish passou a ponta da língua pelo bordo da taça. Kyle se sentia incapaz de deixar de olhá-la e, enquanto a observava, quase hipnotizado, sua imaginação se disparou-. Verá, tenho..., né, pouco dinheiro. Esperava que esses tipis fossem baratos.

-Os tipis? Baratos? Claro, são muito baratos -Kyle esteve a ponto de levantar-se e saltar de alegria. Não desejava absolutamente que Irish partisse-. É mais, a comissão que te corresponde pela venda que tem feito ao Corrie e Edgard cobrirá o preço do alojamento e a comida.

-A comissão? -perguntou ela com os olhos muito abertos.

-Claro. E se, além disso, necessita um pouco de dinheiro... Bom, fará-me falta alguém que me ajude até que Alma Jane volte.

-Qual será meu trabalho?

-Ocupará-te da loja enquanto eu trabalho com a serra. Ou, melhor ainda, o que te parece lhe ler a um velho com más pulgas? Ao Pete adora ler, mas a vista lhe cansa em seguida. Não posso te pagar muito, mas...

-Aceito. Mas só até que Jackson retorne.

-De acordo. Trato feito -Kyle não pôde dissimular o amplo sorriso que lhe cruzou o rosto. perguntou-se se poderia convencer ao Jackson para que ficasse em Dallas uns quantos dias mais.

-Estupendo -repôs Irish com evidente alívio-. Se tiver a amabilidade de me dar a chave, instalarei-me sem perda de tempo.

 

Irish estacionou o Mercedes frente à entrada do tipi número dois e descarregou a bagagem. Depois de abrir a porta, jogou uma precavida olhada ao interior.

O conjunto resultava bastante rústico. O mobiliário era feito de troncos e sobre a cama se estendia uma desbotada manta a Índia. A cômoda tinha aspecto de ter conhecido sua época de maior esplendor durante a II Guerra Mundial. Em um rincão havia uma cadeira de balanço de madeira estofada em pele de vaca e as paredes estavam adornadas com dois óleos emoldurados em tosca madeira. A gente mostrava a um chefe índio, e o outro um cavalo pintalgado em um fundo desértico de tons avermelhados.

"Lar, doce lar", pensou Irish ao tempo que exalava um suspiro e introduzia a bagagem na cabana.

Revisou a cama e as fechaduras.

Os lençóis estavam um pouco rígidos, mas cheiravam a limpo. Surpreendeu-lhe comprovar que o colchão era muito liso e confortável. Os acessórios do quarto de banho eram velhos, mas estavam imaculados. E, o mais importante de tudo, a cabana tinha fechaduras fortes e seguras.

depois de pendurar a roupa e desfazer o resto da bagagem, Irish se tirou o traje e ficou umas calças jeans, uma camiseta branca e uma jaqueta de cambraia. Seus pés doloridos agradeceram a mudança das botas de salto alto por um par de cômodas sapatilhas de esporte. Depois de se arrumar rapidamente o cabelo e retocar a maquiagem, sentiu-se preparada para conhecer ancião Pete.

Na oficina se ouviu o zumbido de uma serra, e Irish imaginou que Kyle se teria posto a trabalhar de novo em uma de suas talhas. Entrou na loja e, antes de subir as escadas, duvidou uns instantes. Talvez o ancião se achasse dormindo, em cujo caso não desejava incomodá-lo.

Ouviu o som de um televisor aceso, procedente de uma habitação situada frente ao patamar da escada. A porta estava aberta, de modo que Irish decidiu jogar uma olhada. Enquanto cruzava o corredor, fixou-se no enorme quadro que decorava a parede. Era uma cópia excelente de um Remington.

Muito mais agradável, certamente, que o índio e o pony pintalgado que adornavam sua cabana. apareceu à habitação e viu que se tratava de uma espaçosa biblioteca. À frente havia uma enorme chaminé de pedra flanqueada por duas poltronas com tapeçaria de couro. O conjunto se completava com uma mesinha de café e várias poltronas de orelhas. Várias estantes lotadas de livros ocupavam, quase em sua totalidade, o espaço disponível das paredes. Irish passeou a vista pelas volumosas prateleiras até que, de repente, viu uma cama situada no extremo mais afastado da habitação, junto a uma janela. Um par de olhos negros a observavam com soma atenção.

-Olá -disse ela com um sorriso-. Sou Irish Ellison. Posso passar?

-De todos os modos, já entrou. Aproxime-se para que a veja bem. Estes velhos olhos já não são o que eram. Há dito que se chama Irish? Um nome muito curioso...

-Minha mãe era aficionada aos nomes pitorescos -respondeu Irish enquanto cruzava a estadia.

O ancião luzia uma larga juba cinza. Tinha a pele dos maçãs do rosto muito enrugada, mas seus olhos ainda conservavam o brilho da vitalidade. Apertou um botão do mando a distância que tinha na mão e o televisor ficou sem som.

-Sou Pete Beamon, mas todos me chamam Cherokee Pete. Sou meio cherokee por parte de minha mãe. E minha esposa era irlandesa. Tinha o cabelo da cor do mel e os olhos azuis. Sim, era uma mulher muito bela, igual a você. Em novembro fará quarenta e três anos que faleceu. Era professora. De fato, ela me ensinou a ler. Começamos a colecionar todos estes livros faz quase cinqüenta anos. Venha e sinta-se -assinalou uma cadeira que havia ao lado da cama-. Me diga, o que faz uma garota bonita como você por estes arredores?

-Não quero lhe interromper... -Irish olhou para o lugar onde estava a televisão e ficou estupefata. Em lugar de um televisor, havia seis telas alinhadas na parede. Duas estavam apagadas, mas as demais mostravam o interior da loja e os terrenos circundantes-. Mas se forem...

-Monitores de vigilância, sim. A estes velhos olhos lhes escapam poucas coisas. Gosta de meu neto?

Irish se esclareceu garganta e tentou não titubear.

-Bom, é... é muito atrativo. Mas não estou interessada.

Pete soltou uma risinho rouca.

-Pois me pareceu o contrário. Eu gosto de você, Irish Ellison. Farei-lhe um proposição. Case-se com meu neto, e lhe darei um milhão de dólares.

 

Irish riu para ouvir a brincadeira do ancião.

-Não me tente. Seu neto é um homem muito bonito. Tantas vontades tem de desfazer-se dele?

-Quero ter bisnetos antes de ir ao outro bairro. Nenhum de meus netos se casou ainda. Gesso não me parece muito normal. Por certo, Kyle me há dito que você vai ler para mim.

-Se estiver de acordo...

-Pois claro que estou de acordo. Que seja velho não significa que não desfrute com a companhia de uma moça e formosa.

-O que gosta que leoa?

Pete lhe aconteceu o livro que tinha ao lado, na cama.

-Eu gostaria de ouvir o resto. Estava a ponto de acabá-lo quando me cansou a vista. Necessito uns óculos novos, mas me tenho quebrado o quadril e, de momento, não poderei ir ao oculista. Kyle me há dito que me levará dentro de um par de semanas.

Irish jogou uma olhada à volumosa novela.

-Vá, é o último do John Grisham. Gosta como escritor?

-Quando estou de humor para ler esse tipo de literatura, sim. Meus netos sabem que sou aficionado à leitura, assim que me dão de presente livros sempre que podem. A página pela que fiquei está assinalada.

Irish abriu o livro e ficou a ler os últimos capítulos.

 

Enquanto Irish lhe lia ao ancião, Kyle permaneceu na porta escutando sua preciosa voz. John Grisham jamais lhe tinha parecido tão excitante. Nem tão sexy.

Não emprestou atenção às palavras nem ao argumento, a não ser ao tom do Irish, que alagou seus sentidos como se de mel morno se tratasse. Quando chegava a algum fragmento de diálogo, a moça trocava a modulação da voz para adaptar-se ao personagem de volta. A seguir voltava a retomar o ritmo lento e cadencioso da narração.

Transcorridos uns minutos, Irish fez uma pausa e disse:

-Fim.

Pete soltou uma gargalhada de satisfação.

-um milhão de dólares! -exclamou-. Não, melhor que sejam dois.

Ela se pôs-se a rir e Kyle entrou apressadamente na habitação, temeroso de que seu avô estendesse um cheque sem pensar-lhe duas vezes. Pete era extremamente generoso com a gente que lhe caía bem.

-Vejo que têm feito bons miolos -disse.

-É claro que sim -repôs Pete-. Esta mulher é uma artista. Nem a melhor atriz de Nova Iorque lhe tivesse dado tanta vida à novela.

-Sim, eis estado escutando -disse Kyle-. Tem muito talento. Não te expuseste alguma vez te dedicar à interpretação?

-Ao princípio, sim -respondeu Irish-. Fiz dois cursos de arte dramática. Mas ao deixar a universidade me derrubei por completo na carreira de modelo.

-É modelo? -perguntou Pete-. Kyle me havia dito que te dedicava a escrever.

-Sim. Faz tempo que deixei a passarela.

-E saía nas revistas, igual a Cindy Crawford e essa tal Claudia como se chamo?

-Naturalmente, embora jamais cheguei tão alto. Como é que conhece a Cindy e a Claudia?

O ancião pestanejou e disse:

-Já te tenho dito que eu gosto de muito ler. de vez em quando olho alguma que outra revista em que aparecem garotas bonitas. Sabe? Agora que caio, creio que vi fotografias tuas em alguma parte.

-Disso fará um par de anos. Gosta de ler outra novela?

-Agora mesmo, não. Creio que dormirei a sesta. Ou talvez vejo o programa de fofocas que dão por televisão. Enquanto, Kyle e você podem lhes conhecer melhor. Já sabe a que me refiro -acrescentou ao tempo que dirigia ao Irish um eloqüente olhar.

-Será melhor que se tire essa idéia da cabeça -respondeu ela entre risadas.

Minutos mais tarde, enquanto baixavam as escadas, Kyle perguntou:

-O que é o que trama agora meu avô? Não te terá feito alguma proposição indecente, verdade?

-Não. Só estávamos brincando. Ofereceu-me um milhão de dólares em troca de que me casasse contigo.

-meu deus!

-Tranqüilo. Não me tomei isso a sério. Imagino que com o que cobra de pensão não poderia cumprir sua promessa. Embora se fosse rico talvez me tivesse exposto atentamente aceitar a oferta.

Kyle quase deu um tropeções.

-Sério?

Irish sorriu.

-Seguro que não sou a primeira mulher que te diz que é um homem muito atrativo. Com dois milhões de dólares resultaria quase irresistível.

Ele titubeou novamente.

-O dinheiro te interessa muito?

-Bom, o verde é minha cor favorita. Como já te tenho dito, é um homem atrativo em muitos aspectos, mas está a salvo de mim. Não queria te ofender, mas tenho planejado me casar com um rico.

Kyle notou que em sua cabeça se disparavam toda classe de alarmes.

-Fala a sério?

-Totalmente.

-E o que me diz do amor?

-Não me conformo com qualquer homem endinheirado, certamente. Pretendo encontrar a alguém de quem me possa apaixonar. Dormir a perna solta, sem preocupações, gera um afeto considerável no seio do casal.

Falava com um tom desenvolto e provocador, mas Kyle acreditou perceber em sua voz uma preocupação subjacente que guiava sua atitude. Estaria relacionado com as cicatrizes que tinha em um lado da cara? tratava-se de umas marcas leves, quase imperceptíveis. Só um profissional que tivesse ocasião de observar as de perto, como ele, poderia as detectar debaixo da esmerado maquiagem.

Sentiu o impulso de lhe perguntar a respeito, mas naquele momento não seria oportuno. assim, soltou uma risinho tímida e disse:

-Brindo por isso. Importa-te ficar ao cuidado do armazém um momento? Tenho que consultar algumas costure com meu avô.

-Claro, não há problema.

Kyle se voltou e subiu rapidamente as escadas.

-O que faz aqui? -perguntou-lhe Pete quando o viu entrar na habitação-. por que não está cortejando ao Irish? Essa garota eu gosto, filho. Eu gosto muitíssimo. Seria uma esposa perfeita para ti. Teriam uns filhos preciosos.

-Não crie que está precipitando as coisas?

-Absolutamente. Soube que sua avó era minha meia laranja assim que lhe pus a vista em cima.

-Mas eu não sou como você -respondeu Kyle-. Necessito algo mais de tempo. Além disso, há um problema.

-Um problema?

Kyle se sentou junto à cama e exalou um profundo suspiro.

-Parece ser que Irish deseja casar-se com um homem rico.

Pete prorrompeu em gargalhadas.

-Não vejo onde está a pega. Além dos dez que te dava, quantos milhões tinha na conta a última vez que consultou o saldo?

-Essa não é a questão. Verá, interessa-me muito Irish, mas não desejo me casar com uma mulher que me valore só por meu dinheiro.

Pete fez um gesto negativo com a cabeça.

-Compreendo-te. Assim pensa lhe mentir?

-Não. Quer dizer, sim -Kyle se tirou o chapéu e se passou os dedos pelo cabelo-. Diabos, não sei o que fazer. Mas não quero me apaixonar por uma caçado-tes. por agora, prefiro que não se inteire de que tenho dinheiro, ou de que sou...

-De que é cirurgião plástico.

-Exato. Tampouco deve saber que Jackson é teu neto e minha primo.

-E isso por que?

Kyle fez uma careta zombadora.

-me tentarei arrumar isso para que Jackson e seu grupo fiquem em Dallas um par de dias mais. Quero ver se posso ganhar o afeto do Irish antes de que esses ricachones voltem e a tentem com seu dinheiro.

-Não crie que suspeitará quando vir os poços petrolíferos que repartiu pela propriedade?

-Se mencionar o tema, direi-lhe que pertencem ao Jackson ou a algum outro magnata. Não saberá em nenhum momento que estes terrenos são teus. Fará-me o favor de guardar o segredo?

-Manterei a boca bem fechada -Pete fez uma piscada a seu neto e acrescentou-: Dá-me a sensação de que Irish te chegou muito dentro.

-Reconheço que me resulta fascinante como mulher.

O ancião deixou escapar uma sonora gargalhada.

-"Fascinante", claro. Boa forma de dizer que põe a cem! Sou velho, mas ainda recordo o que é isso. Enfim, lhe jogue um olhada ao assado que colocaste no forno e baixa de uma vez a cortejá-la.

Kyle decidiu seguir o conselho de seu avô.

Passou com o Irish o resto da tarde no armazém. Enquanto esperavam a que entrassem os clientes, conversaram de todos os temas havidos e por haver, da política a qual era a cor preferido de cada um. Apesar das diferenças que existiam entre eles, e de que Kyle preferisse o azul e não o verde, como Irish, descobriram que tinham muito em comum. De fato, ao contemplar os belos olhos verdes do Irish, Kyle começou a trocar de opinião sobre seu gosto em matéria de cores. O verde começou a lhe resultar fascinante.

Quando chegou a hora do jantar, subiram à planta superior e Kyle jogou uma olhada ao assado que tinha preparado umas horas antes sob a atenta supervisão de seu avô. Troceó a carne com um garfo e logo fez o mesmo com as cenouras, as batatas e as cebolas.

-me parece que já está bastante feito. Você o que crie?

-Não sou nenhuma perita, mas eu diria que sim.

-Muito bem. Gosta de uma salada?

-Claro. Ajudarei-te a prepará-la.

depois de trocear a verdura, Irish preparou uma bandeja com o jantar do Pete e foi levar se a ao ancião. Kyle, por sua parte, preparou a mesa da cozinha. Pensou em colocar uma vela no centro, mas em seguida desprezou a idéia. Não desejava precipitar os acontecimentos. depois de rebuscar concienzudamente pela cozinha, encontrou uma garrafa de vinho barato e outra do Chardonnay. Colocou a segunda no refrigerador.

Irish retornou justo quando estava tirando as taças do armário. Kyle lhe dirigiu um sorriso e se serve um pouco de vinho para prová-lo.

-Tendo em conta o preço, não está mau -disse-. Crie que irá bem com a comida?

-É obvio. Se houver de ser sincera, os vinhos caros me têm sabor de medicina.

Acabada o jantar, recolheram juntos a cozinha e logo deixaram ao Pete bem acomodado, vendo um filme do John Wayne.

-Creio que vai sendo hora de que me retire à cabana -disse Irish com um sorriso-. Obrigado pelo jantar.

-foi um prazer. Gosta de dar um passeio antes de ir a dormir?

-Sim, eu adoraria.

 

Apesar de que já tinha chegado outubro, a noite ainda era cálida e agradável. O ar os fazia chegar o forte aroma dos pinheiros e a suave fragrância da erva recém atalho. Em meio da crescente escuridão começaram para ouvi-los cantos dos grilos e as rãs. Irish se tinha fixado no exuberante verdor da vegetação. Nem sequer as árvores de folha caduca que se mesclavam com os pinheiros mostravam indícios da chegada do outono.

-Quando chega aqui o frio? -perguntou assombrada-. E quando perdem as árvores as folhas?

-Bom, até novembro não caem geladas. Aqui o inverno não é igual a em Nova a Inglaterra. A maioria das árvores não perdem a folha até entrado dezembro.

Não se afastaram muito do armazém, pois a escuridão que reinava além das luzes de propano era absoluta. Enquanto passeavam, Irish comentou:

-Vejo que começaste a esculpir outro urso -entrou na zona da oficina, onde o aroma de pó de serra e a madeira impregnava o ar. Passou os polegares pelas toscas orelhas de um urso de madeira tão alto como ela-. Senti-me tão mal quando por minha culpa danificou o outro, que foi um verdadeiro alívio que Corrie o comprasse.

-Não tinha por que te sentir mau. Foi um simples acidente.

-Já isto te dedicava em Califórnia? A esculpir ursos?

-Não. Fazia outra... classe de esculturas.

-Como? Com argila?

Kyle improvisou uma resposta imprecisa, e Irish compreendeu que não lhe agradava falar de sua estadia na costa oeste. Entendia-o perfeitamente. Ela tampouco se sentia muito cômoda falando do último par de anos que passou em Nova Iorque.

Kyle entrou na oficina e se colocou a seu lado. Riscou com o polegar uma trajetória ascendente ao longo da orelha do urso, a escassos centímetros da mão do Irish. De repente, o espaço pareceu diminuir-se, minguar. O aroma do Kyle se mesclou com o aroma da madeira, e sua presença pareceu ocupá-lo tudo.

Irish retirou a mão e tentou retroceder, mas se topou com o braço alargado do urso. Apanhada entre o Kyle e as garras de madeira do animal, elevou o olhar e tentou dizer algo ocorrente.

Mas as palavras lhe esfumaram da mente. Kyle titubeou um momento, e logo começou a baixar a cabeça com lentidão.

-Posso te beijar? -perguntou ao tempo que aproximava seus lábios aos dela. Quando esteve a um par de centímetros escassos, deteve-se.

Irish notou que o coração lhe pulsava desbocado no peito. Sentir o fôlego do Kyle sobre sua pele fez que se estremecesse de excitação. Parte dela queria lhe gritar que sim com toda a alma. Mas outra parte desejava lhe dar uma bofetada por havê-la posto naquela situação tão embaraçosa.

Entretanto, permaneceu muda. Nenhuma só palavra brotou de seus lábios.

Seguiram naquela posição durante o que pareceu um século. O ar em torno deles estava carregado de sensualidade.

Irish notou que lhe afrouxavam as pernas.

Sentiu uma espécie de zumbido nos ouvidos.

"Não o faça", sussurrou uma parte racional de sua mente.

"Vete ao corno", respondeu-lhe sua libido.

Finalmente, ganhou o "sim".

umedeceu-se os lábios com a língua e se dispôs a percorrer a escassa distância que a separava do Kyle, quando o som ensurdecedor de um disparo quebrou o silêncio da noite.

 

O alvoroço começou quando logo que tinha amanhecido. No exterior se ouviu o som ensurdecedor de uma buzina, e algo se chocou com a parede da cabana com tanta força que os quadros estiveram a ponto de desprender-se de seu sítio.

-Mas, que demônios...? -Irish se incorporou rapidamente na cama. Entre as brumas do sonho ouviu de novo a buzina, assim como fortes vozes.

Retirou as mantas e se aproximou da janela para jogar uma olhada. Parecia como se se produziu uma invasão de ciganos enquanto ela dormia. Por toda parte havia bancas talheres com toldos. Devia haver uns trinta ou quarenta caminhões e carros disseminados pelos terrenos colindantes com o armazém. Seus proprietários estavam descarregando todo tipo de gêneros, desde verduras a peças de mobiliário.

Um reboque de madeira que tinha pintados anúncios de algodão doce e pipocas de milho se achava pego à cabana. Ao lado, um homem gritava e fazia assinale com a mão em um intento de orientar ao condutor.

O caminhão que atirava do reboque avançou um pouco, mas não demorou para retroceder e dar-se de novo contra a parede.

Irish saiu tão rapidamente como pôde.

-Mas o que fazem? -gritou-. Querem jogar a cabana abaixo?

O homem deixou de fazer sinais e a olhou boquiaberto. Ao cabo de uns instantes, tirou-se o chapéu e agachou o olhar.

-Peço-lhe perdão, senhorita. Jason tem problemas.

-Problemas? A que se refere? -Não é capaz de estacionar o reboque onde Deus manda.

A portinhola do caminhão se abriu e por ela saiu um menino ruivo que não teria mais de treze ou quatorze anos.

-Não sou capaz, papai.

-Terá que fazê-lo. Sua mãe não veio.

-Mas, papai...

-Fecha o pico e volta a subir no caminhão antes de que te dê uma surra.

-Disso nem pensar! -exclamou Irish furiosa ao tempo que caminhava para o veículo com passo decidido-. Onde querem estacionar este traste?

Uma vez que o homem lhe teve indicado o lugar exato, Irish lhe disse ao menino:

-Sobe, Jason. Eu te ajudarei.

E Jason, com os olhos como pratos, assim o fez. Ela ocupou o assento do acompanhante e o orientou pacientemente até que o reboque ficou bem estacionado. Um largo sorriso de satisfação aflorou ao rosto do moço.

Ao baixar do caminhão, Irish viu que todos tinham interrompido seu trabalho para observar a cena. Só então se deu conta de que ia descalça e vestida unicamente com uma camisola de cetim. Uma camisola muito curta.

Mas não se acharó nem por um instante. Ao fim e ao cabo, como modelo estava acostumada a posar bastante ligerita de roupa. Com a cabeça bem alta, entrou na cabana e fechou dando uma portada.

Consultou o relógio e soltou um grunhido. Como podia haver gente que se levantasse essas horas tão inoportunas? O único que gostava de era meter-se de novo na cama, mas pensou que já não poderia conciliar o sonho, assim optou por dar uma ducha. Tinha dormido pouquíssimo. Apesar de que a cama era extremamente confortável, passou-se quase toda a noite dando voltas sem pegar olho.

E a causa de sua insônia era Kyle Rutledge. Irish logo que podia acreditar que aquele homem lhe tivesse chegado tão dentro. Se o ancião Pete não tivesse disparado sua pistola naquele momento preciso, Kyle e ela se teriam fundido em um beijo apaixonado... e só Deus sabia como tivessem terminado.

Kyle lhe resultava muito atrativo, por muito que se repetisse a si mesmo uma e outra vez que não era a partida que andava procurando. Se tivesse alternativa, abandonaria aquele lugar para afastar-se da tentação.

Porque Kyle Rutledge era a tentação personificada. Não obstante, dada sua escassez de dinheiro, Irish não tinha mais remedeio que ficar.

ficou a toda pressa umas calças jeans e um pulôver. depois de maquiar-se mínimamente, foi se tomar o café da manhã.

Se o exterior parecia um formigueiro, o interior do armazém era um autêntico caos. As duas mesas disponíveis estavam abarrotadas de clientes que tomavam café e engoliam bolos e donuts. Kyle se achava muito atarefado atrás do mostrador.

-Creio que irá bem um pouco de ajuda -disse-lhe Irish.

-E tanto. Esqueci que hoje era o terceiro sábado do mês. O dia em que fica o mercadinho, precisamente. Vem gente de toda a zona a vender, comprar e trocar mercadorias.

-O que faço?

-me ajude com a cafeteira. Ah! Também terá que trocear uma dúzia de frangos para o menu do almoço.

-Uma dúzia?

-Como mínimo. Tinham que nos haver os servidos cortados, mas chegaram inteiros. Alma Jane me prometeu que viria para fritos, mas antes terá que trocearlos. Sinceramente, creio que não tenho diseccionado um só inseto desses em minha vida.

-Faz o café. Eu me porei a cortar o frango.

-Saberá fazê-lo? Acreditava que foi um desastre como cozinheira.

-Não tenho nem idéia de cozinhar, mas meu pai era açougueiro. Estava acostumado a lhe ajudar na loja pelas tardes, ao sair do colégio -agarrou um avental branco e o pôs com gestos decididos-. Só se necessita uma faca afiada e um estômago forte. Onde tem as facas?

 

Enquanto fazia o café e atendia aos clientes, Kyle esteve observando ao Irish, que dirigia a faca como uma verdadeira profissional.

-Assombra-me a velocidade com que o faz -disse-lhe.

-Sim, a mim também. Levava anos sem praticar. Suponho que isto é como montar em bicicleta. Nunca se esquece -jogou a última parte de frango em uma das bandejas e se voltou para olhar ao Kyle-. Tachaaan! Terminado!

-Estou impressionado -disse ele entre risadas-. Céu, depois de te haver visto dirigir essa faca, eu não gostaria de nada me cruzar contigo em um beco escuro.

O sorriso do Irish se desvaneceu. De repente, ficou muito pálida. Olhou a faca que ainda tinha na mão como se se tratasse de uma serpente de cascavel. Logo o soltou como se queimasse e saiu rapidamente pela porta.

Kyle não tinha idéia do que tinha passado, mas deixou o que estava fazendo e correu atrás dela. Encontrou-a sentada no alpendre. Respirava funda e entrecortadamente, como se queria conter o pranto.

-O que te ocorre, Irish?

Ela meneou a cabeça, evitando olhá-lo à cara.

-me dê um minuto -foi tudo o que disse.

-Encontra-te mau?

-Não, não é nada. Só quero estar sozinha um momento.

-Não penso te deixar reveste nesse estado.

-Por favor. Vete, maldita seja!

Compreendendo que sua presença não fazia a não ser agitá-la ainda mais, Kyle considerou oportuno partir. Mas o comportamento do Irish o encheu de inquietação. Talvez lhe tinha revolto o estômago enquanto troceaba os frangos. Não deveu deixá-la. Maldição! sentia-se como um autêntico estúpido.

Mas não teve tempo que perder em preocupações quando retornou ao armazém. Havia uns quantos clientes esperando que lhes desse a conta.

Enquanto lhes cobrava, Alma Jane apareceu com uma enorme bandeja de salada.

-bom dia -disse assentindo levemente com a cabeça.

-bom dia, Alma Jane. Jamais me tinha alegrado tanto de ver alguém. Agradeço-te muito que tenha vindo a trabalhar hoje.

Ela voltou a fazer um gesto de assentimento e perguntou:

-Está troceado o frango?

-Sim, aí mesmo o tem.

Alma Jane ficou umas luvas de borracha e a seguir inspecionou as partes de carne.

-Caramba, bom trabalho.

-Não tem que me felicitar a mim, a não ser ao Irish.

-Quem é Irish?

-Olha-a, aí chega -respondeu Kyle olhando para a porta.

-É muito bonita.

-Sim que o é -respondeu ele com um amplo sorriso de satisfação. Irish ainda parecia um pouco decaída, mas fez um esforço por pôr boa cara ao saudar alma Jane-. Está bem? -perguntou-lhe Kyle em voz baixa.

-Sim -sua direta resposta deixava entrever claramente que não desejava falar do ocorrido-. tomou o café da manhã já Pete?

Kyle se deu uma palmada na frente.

-meu deus, estava tão ocupado que me esqueci por completo do avô. Espero que não tenha tentado baixar-se da cama. supõe-se que deve utilizar o andarilho unicamente para ir ao banho.

-Levarei-lhe café e, de passagem, verei que tal está.

Irish tomou um par de taças e se foi escada acima.

Kyle a seguiu com o olhar, visivelmente preocupado.

-Kyle Rutledge, deixa de suspirar por essa mulher e te ponha a trabalhar em seguida -disse-lhe Alma Jane.

Kyle riu e lhe deu um beijo na bochecha.

-Vamos, Alma Jane, sabe perfeitamente que você é a única que me faz suspirar.

-Deixa de tolices, fantasia de diabo lisonjeador. Não conseguirá me enganar com palabritas doces. Termina de envolver essas batatas com papel de alumínio e as coloque no forno.

-A suas ordens, senhorita.

 

Irish preparou ovos mexidos e torradas e se sentou a tomar o café da manhã com o Pete.

-Parece que esta manhã há bastante público -comentou o ancião ao tempo que lubrificava de geléia uma fatia de pão.

-Sim, bastante -respondeu Irish-. Alma Jane está fritando frango e Kyle se ocupa da caixa registradora -tomou um último bocado de ovos mexidos-. Creio que deveria baixar a lhes dar uma mão. Ou quer que lhe leia um momento?

-Não, volta para armazém. Já te avisarei se necessitar algo -com uma careta zombadora, deu uns tapinhas quase afetuosos à pistola que descansava na mesinha de noite.

-Não seria melhor que usasse uma campainha?

-Absolutamente. Não se ouviria o suficiente. Além disso, Kyle está acostumado a utilizar a serra mecânica freqüentemente, e esse traste arma muito ruído.

-Compreendo. Trarei-lhe um pouco de frango para o almoço.

Irish voltou para armazém e ficou a trabalhar. Só se tomou uma pausa para lhe levar ao Pete o almoço prometido. Quando a loja começou a esvaziar-se de público, a última hora da tarde, Kyle e ela se achavam absolutamente esgotados.

Kyle serve um par de copos de chá gelado e a convidou a que se sentasse com ele em uma das mesas.

-vamos descansar um momento -disse-. Creio que aborreci o frango frito e os sanduíches de mortadela -sentou-se e colocou os pés em cima de uma cadeira vazia.

Irish tomou um comprido gole de chá e suspirou aliviada.

-O mesmo digo. Isto foi pior que a inauguração das ofertas no departamento de cosméticos.

-O departamento de cosméticos?

-Sim, trabalho vendendo cosméticos especiais em umas lojas de departamentos de Washington.

-Especiais em que sentido?

-trata-se, sobre tudo, de maquiagem utilizada para dissimular cicatrizes e marcas. Eu o uso habitualmente, vê? -voltou ligeiramente a cabeça para lhe mostrar de perto a bochecha esquerda.

-Tem alguma marca?

-Cicatrizes. Fizeram-me isso com uma faca. Em realidade, ficam poucas. O cirurgião plástico que me operou era excelente.

Kyle permaneceu em silêncio uns instantes.

-Deve havê-lo passado muito mal. Quer falar disso?

Irish respirou fundo.

-Agora não. Olhe, entra um cliente. Não te levante. Eu o atenderei.

ficou em pé como acionada por uma mola e se dirigiu para a caixa registradora. Resultava curioso. Justo quando pensava que tinha superado aquele horrível episódio de sua vida, descobria que, em realidade, o trauma seguia muito enraizado em sua mente. Ao menos já não sofria pesadelos. Os dois anos de terapia tinham resolvido esse problema.

 

Pouco antes de que anoitecesse, quando os vendedores e comerciantes tinham rebaixado já os preços das mercadorias restantes, Irish se tomou um descanso e deu um passeio por entre as fileiras de postas e bancas. Fez um sinal com a mão ao Jason, quem se achava atarefado com a máquina do algodão doce, e o moço lhe correspondeu com um tímido gesto de saudação.

No mercadinho se ofertava toda classe de gêneros, desde geléia e sobremesas caseiras a antiguidades. Tendo em conta o pouco dinheiro de que dispunha, Irish devia contentar-se olhando e pouco mais. Não obstante, dado que na cabana não havia televisão, decidiu comprar três novelillas de segunda mão pelo módico preço de vinte e cinco centavos.

Quando acabou de fazer a compra, viu que Jason estava parado detrás dela com um cartucho de algodão doce na mão.

O ofereceu e disse:

-Tenha, senhorita. É para você.

Irish esboçou um sorriso radiante.

-Obrigado, é um céu. eu adoro o algodão doce.

O moço ficou avermelhado como um tomate. Sem pronunciar palavra, deu-se a volta e se afastou a tudo correr.

Irish ouviu que alguém ria e voltou a cabeça. Kyle estava a seu lado.

-Creio que tem outro admirador -disse.

-Outro?

-Além de mim e de todos os meninos adolescentes que há por estes contornos.

Um menino pequeno se aproximou deles dando tropeções e se abraçou à perna do Irish. Ela aconteceu com Kyle o algodão doce e tomou em braços ao pequeñín.

-Olá, precioso. É uma macacada, sabia?

O menino se levou um dedo à boca e sorriu, mostrando seus dientecillos de bebê.

-Parece ser que não só lhes rouba o coração aos adolescentes -brincou Kyle.

-Onde está sua mamãe, tesouro? -perguntou Irish ao menino.

-Mamãe -respondeu o pirralho, lhe rodeando fortemente o pescoço com seus bracitos.

Irish esteve a ponto de derreter-se como a manteiga. Nunca tinha reparado em quão adoráveis podiam chegar a ser os meninos. Deu-lhe uns tapinhas nas costas enquanto o pirralho se aferrava a ela como se fora um macaco pequeno.

-Crie que se perdeu?

-Seguro que a mãe andará perto -respondeu Kyle-. Procuremo-la. Traz, deixa que o eu leve.

Mas ao pirralho não pareceu lhe gostar da idéia. agarrou-se ao pescoço do Irish como se sua vida dependesse disso.

-Mamãe, mamãe -chiou quando Kyle tentou tomá-lo em braços.

-Seja tesouro, seja -tranqüilizou-o Irish lhe dando uns tapinhas suaves nas costas-. Será melhor que me deixe isso . Total, pesa muito pouquinho. Quem está aos cuidados da loja?

-Jenny, uma vizinha que vive ao outro lado da estrada. Está acostumado a me ajudar de vez em quando. Esta manhã foi impossível porque teve que ir ao Tyler. Pelo visto, um conhecido de sua paróquia está no hospital.

Os comerciantes já estavam começando a empacotar suas mercadorias enquanto Irish e Kyle percorriam o mercadinho perguntando a todo mundo. A ninguém lhe tinha perdido um menino.

Finalmente, retornaram ao armazém. Kyle relevou ao Jenny e fechou a caixa. À luz mortiça do crepúsculo viram, do alpendre, como os caminhões e as caravanas se foram partindo pouco a pouco. Os últimos em partir foram Jason e seu pai. Irish os despediu com a mão.

-Adeus -disse o menino em seus braços, imitando o sinal de despedida.

-Creio que temos um problema -disse Irish.

-Sei. Terá que avisar ao xerife.

-Boa idéia. Mas, antes, há fraldas na loja?

-Parece-me que sim. Dos descartáveis.

-Sabe trocar fraldas? -perguntou Irish.

-Está chupado.

Cinco minutos depois, o pirralho se achava convexo em cima de uma das mesas. Kyle tinha reunido uma caixa de fraldas, talco e toallitas descartáveis. Demorou escassos minutos em lhe tirar ao menino as gazes empapadas, limpá-lo e lhe colocar os fraldas novos.

-Estou impressionada -confessou Irish.

-Bom, estou acostumado a cuidar de meu sobrinho algumas vezes. Só tem uns poucos meses, mas o princípio é o mesmo. Terminado, tigre -disse ao tempo que voltava a lhe pôr as calças ao menino, que em seguida alargou os braços para o Irish.

Ela tomou em braços e lhe disse com voz suave:

-Não sou sua mamãe, carinho. Mas a encontraremos logo, não se preocupe.

O pirralho começou a lhe dar palmadas nas bochechas com seu prestativos gordinhas.

-Bi-bi! -balbuciou ansiosamente-. Bi-bi!

-O que quererá dizer? -perguntou Irish ao Kyle-. Tem alguma idéia?

-Talvez tem fome.

-Claro! "Bi-bi" será "mamadeira". Quer tomar sua mamadeira, tesouro?

O criou começou a saltar como louco.

-Bi-Bi! Bi-bi!

Irish olhou ao Kyle de reojo.

-Espero que também tenha mamadeiras e leite.

-Leite sim, certamente. Mas mamadeiras... Não estou seguro. Embora me parece recordar que tínhamos uma caixa de potitos por aí. E uma sillita alta. Darei- uma volta ao Pete e logo a buscarei.

Ao cabo de uns minutos, o menino estava comodamente sentado na sillita alta, com um guardanapo colocado no pescoço a modo de babador. Bebeu um pouco de leite e o resto o derramou no chão. riu e deu fortes tapinhas na bandeja da cadeira quando Irish tentou lhe dar comida feita a base de frango, ervilhas e cenouras.

-Creio que não gosta de muito as ervilhas -comentou Kyle quando o menino espurreó a terceira colherada de comida.

-Não, mas adora as cenouras. O pirralho engoliu com ânsia uma colherada de purê de cenoura e abriu a boca pedindo mais.

-Vá, tem bom apetite -disse Kyle ao tempo que lhe limpava as comissuras da boca com um guardanapo de papel-. Será melhor que chame já ao xerife.

O pirralho alargou os bracitos para o Irish com a intenção de que tomasse em braços.

-Como puderam te deixar abandonado, meu tesorito? -tomou ao pequeno e o apertou contra seu peito enquanto Kyle chamava por telefone-. Quando virá? -perguntou-lhe quando teve terminado de fazer a chamada.

-Não sei. Pelo visto, surgiu uma emergência e todo o pessoal de delegacia de polícia estará ocupado nas próximas horas.

de repente, bateram na porta. Ao abrir, Kyle se encontrou com uma mulher loira e baixa que o olhou com olhos frenéticos.

-Meu filhinho -disse a mulher entre soluços-. Me perdeu meu hiji... Joey! -gritou ao ver o pequeñín, e se dirigiu rapidamente para onde estavam Irish e o pirralho.

-Mamãe! -chiou Joey ao tempo que elevava seus bracitos.

A mulher tomou em braços e lhe posou uma dúzia de beijos na carita.

-Obrigado, Meu deus, obrigado! -exclamou-. estive a ponto de me voltar louca. Deixei-o dormindo no assento traseiro da caminhonete. Disse a seus irmãos que cuidassem dele, mas se distraíram jogando. Só me ausentei uns minutos para ir comprar verduras. Ao retornar, acreditei que seguiria dormido, assim conduzi de volta ao Wills Point, sem me dar conta de que se saiu da caminhonete. Joey, meu cielito -cobriu-lhe as bochechas gordinhas de mais beijos.

Irish e Kyle saíram ao alpendre a se despedir da mulher e ao pirralho. Enquanto os viam partir, lhe rodeou a cintura com o braço e lhe apoiou a cabeça no ombro.

-Resulta incrível o rapidamente que lhe pode tomar carinho a um pirralho -comentou Kyle.

Irish assentiu com a cabeça.

-É um garotinho adorável.

-Expuseste-te alguma vez ter filhos? -perguntou Kyle ao tempo que lhe deslizava a mão pelas costas com suavidade.

Aquela carícia fez que Irish se estremecesse. Não obstante, tratou a toda costa de manter a calma.

-Às vezes. Mas o certo é que tampouco sei muito de crios.

-Seria uma mãe estupenda -respondeu Kyle, e a seguir lhe deu um beijo na frente.

Irish sorriu e o olhou aos olhos.

-Primeiro tenho que encontrar um marido adequado.

Ele se apoiou no corrimão do alpendre e atraiu ao Irish para si.

-E o está procurando?

Os olhos do Kyle brilhavam como duas chamas azuladas à luz difusa do anoitecer. Hipnotizada por seu olhar, Irish elevou o rosto para receber o contato de seus lábios.

-Sim.

Beijou-a timidamente. Irish se deu conta de que Kyle lhe estava brindando a oportunidade de dar marcha atrás se assim o desejava. Mas seus membros pareciam ter perdido a capacidade de mover-se. O aroma masculino que desprendia Kyle, o aura viril que o rodeava... nublavam seus sentidos e empanavam sua razão.

Tinha uns lábios muito suaves. Quentes. Maravilhosos.

E muito sexys.

-Sim -sussurrou de novo. Rodeou-o com os braços e separou ansiosamente os lábios.

Quando a boca do Kyle se apoderou da sua, a terra pareceu tremer sob seus pés.

Em cada célula de seu corpo estalou uma salva de foguetes. A pele pareceu lhe chispar, como se recebesse uma descarga elétrica.

Subitamente aterrada por aquela reação tão intensa, Irish tentou retirar-se, mas os joelhos lhe tremeram. Recostou a cabeça sobre o peito dele e tentou recuperar o fôlego.

-meu deus -exclamou, aspirando entrecortadamente uma baforada de ar. Não devia permitir que aquilo seguisse adiante. Kyle não era a classe de homem que ela procurava.

-Que classe de homem procura? -perguntou ele como se lhe tivesse lido o pensamento. Percorreu-lhe as costas com a gema dos dedos até lhe acariciar meigamente os glúteos.

-Já lhe tenho isso dito. Quero me casar com um homem rico. E eu não gostaria de me atar com alguém como você. Perdoa que seja assim de direta. Não é minha intenção te ofender.

-Compreendo.

Elevou-lhe o queixo com o propósito de beijá-la de novo.

Aquele segundo beijo a alagou de um prazer quase explosivo. Não podia permitir que aquilo continuasse! Pararia-lhe os pés. Mas, antes, desfrutaria de uns segundos.

Só uns segundos.

Quando, finalmente, Kyle retirou os lábios dos seus, Irish exalou um gemido.

-meu deus -murmurou ele quase sem fôlego.

Ela também respirava como se acabasse de sofrer um ataque de asma.

-Não é meu tipo, Kyle -disse com firmeza.

-Sei -respondeu ele. E voltou a beijá-la.

 

Kyle pendurou o telefone da cozinha e amaldiçoou em voz alta. Onde demônios se teria metido Jackson? Tinha chamado várias vezes ao hotel de Dallas onde sua primo se hospedava, mas não tinha conseguido localizá-lo. Maldição!

-Algum problema?

Kyle elevou a vista e viu que Irish se encontrava de pé junto à porta. Teria ouvido algo da mensagem que lhe acabava de deixar ao Jackson?

-por que o pergunta?

Irish fez uma careta.

-ouvi como insultava à família de alguém. E, por sua voz, parecia muito irritado.

-Não, não passa nada. chamei a um amigo, mas não estava em casa. comeu-se o avô todo o café da manhã?

-Até o último bocado. Perguntei-lhe se queria que lhe lesse algo, mas preferiu seguir a missa que dão por televisão.

-Seguir a missa? Meu avô?

-Ao menos, isso me há dito. Gostam de uns gofres?

-Mas quentes, se não ser moléstia.

Irish deixou escapar uma risinho.

-Pode que seja um desastre como cozinheira, mas sei dirigir uma torradeira.

Abriu o congelador e tirou um pacote de gofres. Enquanto Irish os torrava, Kyle pôs a mesa e serve uns copos de suco de laranja.

-Formamos uma boa equipe -disse em tom animado.

Ela não respondeu nada.

-Sim, é claro que sim. Uma grande equipe. Nossa sincronização é perfeita. Não está de acordo? -perguntou enquanto retirava uma cadeira e a convidava a sentar-se.

Irish tomou assento, lubrificou os gofres com manteiga e logo os orvalhou com xarope. Titubeou um momento, como se meditasse cuidadosamente as palavras que pensava utilizar, e disse:

-Olhe, Kyle, trabalhamos muito bem juntos, mas... Bom, o beijo que nos demos ontem à noite esteve desconjurado. Nunca deveu acontecer. Creio que nos deixamos arrastar pela emoção do momento. Afetou-nos muito o do Joey e sua mãe. Quero dizer só foi uma resposta lógica e espontânea à experiência tão emotiva que acabávamos de compartilhar.

-Você crie? -Kyle se deu conta de que Irish tentava realmente convencer-se a si mesmo do que dizia. Mas não tinha ouvido nada tão falso e falto de convicção da última vez que assistiu a um comício político.

-Estou segura disso. Já te tenho dito que me resulta muito atrativo. Mas não quero que entre nós haja nada. É um homem muito simpático e eu gostaria de te ter como amigo. Mas nada mais.

-Porque desejas te casar com um homem rico?

-Exato. Talvez te pareça egoísta, mas assim são as coisas. Não quero me andar com circunlóquios. O beijo de ontem à noite foi... foi...

-Uma reação espontânea à emoção do momento? -Kyle acrescentou xarope a seu gofre sem olhá-la aos olhos em nenhum momento.

-Exato. Não significou nada -Irish cortou cuidadosamente uma parte de gofre e o meteu na boca.

-Compreendo. E se voltasse a acontecer, imagino que seria outro ato espontâneo entre amigos.

-Efetivamente -Irish elevou a cabeça de repente-. Não! Quero dizer que não voltará a acontecer.

-Porque só somos amigos.

-Exatamente.

-Amigos. E não há nenhuma pingo de química sexual entre nós.

-Não.

Ao Kyle lhe escapou uma gargalhada.

-A que vem essa risada? -perguntou ela com olhos entrecerrados.

Ele ficou sério e a olhou com ar inocente.

-Que risada?

-Sabe perfeitamente.

-Não me faça conta. Ouça, gosta de vir comigo ao Tyler esta tarde? Tenho que recolher umas quantas coisas. Jenny se ocupará da loja e jogará um olho ao avô. Podemos ficar para jantar em algum restaurante e logo ir ao cinema. Eu convido. O que te parece?

-Parece-me fantástico. A quanto está Tyler?

-A uns cinqüenta quilômetros. Seguro que passou por ali quando veio de Dallas.

Acabaram de tomar o café da manhã em silêncio, mas Kyle quase podia ouvir os pensamentos do Irish. Resultava evidente que os dois estavam pensando no mesmo. Que não havia química sexual entre eles? Que risada. O ar parecia eletrizar-se quando os dois se achavam juntos na mesma habitação. Demoraria uns quantos dias mais em convencer a de que pareciam o um para o outro.

Isso sim, antes tinha que localizar ao Jackson e atrasar como fora sua volta.

 

Irish desejou que Jackson retornasse quanto antes ao Ninho do Crow. Tinha que afastar-se do Kyle Rutledge ou acabaria cometendo alguma tolice. Enquanto ficava um pouco de perfume, disse-se que ir ao Tyler com o Kyle era como jogar com fogo. Surpreendeu-lhe muito que o nariz não lhe crescesse uns quantos centímetros quando afirmou que entre eles não existia nenhuma química sexual. Porque a mentira tinha sido descomunal.

Satisfeita com a roupa, deliberadamente singela, que tinha escolhido para a ocasião, agarrou a bolsa e saiu a reunir-se com o Kyle.

Ele a esperava no alpendre. E, pela forma em que a devorou com os olhos ao vê-la chegar, Irish compreendeu que seu esforço por resultar pouco atrativa tinha fracassado.

Kyle lhe sorriu provocativamente.

-Está muito bonito.

-Obrigado -quase teve que morder o lábio para não lhe dizer que ele não ficava atrás. Se não estava equivocada, Kyle levava uma camisa e uma calça de desenho italiano. Objetos muito caras, indubitavelmente. Com razão não tinha conseguido sair adiante em Califórnia. Deveu haver-se gasto todo o dinheiro em roupa.

-Jenny acaba de chegar, assim podemos ir quando estiver preparada.

-Já o estou.

Acompanhou-a até uma caminhonete azul que tinha estacionada em frente do armazém.

-Espero que não te importe ir no furgão do avô. Tenho que recolher umas mercadorias.

-Claro que não me importa. É mais, não recordo me haver subido nunca em um furgão.

-Me tirares o sarro.

-Absolutamente -ao ver o logotipo pintado na porta do furgão, Irish arqueou uma sobrancelha. Consistia em um círculo em cujo interior aparecia a caricatura de um índio americano, trança e plumas incluídas-. Com o devido respeito, surpreende-me que Pete leve algo assim desenhado em seu furgão.

Kyle se pôs-se a rir.

-Bom, que classe de comida gosta de tomar? Eu estou louco por tomar um bom prato chinês ou italiano.

 

De almoço tomaram massa em um luxuoso restaurante italiano, e à volta compraram comida a China para levar. Tiveram tempo para ir ao cinema antes de recolher as mercadorias para a loja.

Irish desejou poder dizer que não o tinha passado bem, mas o certo era que se divertiu muito. Talvez Kyle não lhe servisse como marido potencial, mas era uma gozado estar a seu lado. Era um cavalheiro à antigo uso e, ao mesmo tempo, um homem dos noventa. Sabia como agradar a uma mulher e fazer que se divertisse.

Kyle era considerado, grande conversador... e possuía uma espécie de magnetismo quase animal. Era tão bonito que as mulheres se voltavam para olhá-lo, embora ele nem sequer parecia dar-se conta. Estava totalmente concentrado nela, e não tinha mais que lhe roçar o braço ou lhe dirigir um daqueles olhares prolongados e sexys para que Irish desejasse com toda a alma lhe saltar em cima e comer-lhe a beijos. Era, em definitiva, um homem quase perfeito. Lástima que também fora pobre. Irish teve que recordar-se a si mesmo uma e outra vez que perseguia uma meta mais ambiciosa. Gesso foi precisamente o que disse ao Kyle aquela noite, quando tentou beijá-la... pela segunda vez. Ou tinha sido a terceira? Ao princípio a tinha pilhado com o guarda baixo, mas, transcorridos uns minutos, Irish tinha conseguido pensar com claridade e lhe tinha parado os pés.

-Me... vou amanhã-disse timidamente. -Que vai?

-Jackson Crow deveria estar de volta amanhã, não te parece? Ao fim e ao cabo, vim para conhecê-lo. Pelo da entrevista, claro está -Irish elevou bruscamente os ombros-. Não faça isso!

-O que?

-me morder o pescoço.

-Estava-te mordendo? -percorreu-lhe a orelha com a ponta da língua e lhe mordiscou o lóbulo-. Você não gosta? Acreditei que estava ofegando porque você gostava.

-Não estava ofegando!

-me pareceu que sim.

-Pois não. E me tire a língua da orelha e a mão do peito.

Lhe massageou o mamilo com o polegar. Não demorou nem um instante em ficar duro como uma pedra.

-Gesso tampouco você gosta?

-Não, eu não gosto de nada.

-Que estranho. Pois outra vez estava fazendo esse som que parece um ofego...

-Precisa te dar uma boa lavagem nos ouvidos. te aparte de mim agora mesmo!

-Não posso, carinho.

-por que não?

-Porque me tem sujeito com todas suas forças. Irish tratou de retirar os braços. Tentou-o seriamente.

-Creio que me eis ficado paralisada -sussurrou antes de elevar a cabeça para beijá-lo nos lábios. Um só beijo, disse-se. Só um.

Quando finalmente se separaram, Irish entrou na cabana, fechou a porta e se apoiou na rugosa parede de madeira. Saboreou a sensação persistente que os lábios do Kyle tinham deixado nos seus.

Lástima que fora pobre.

Jogou o ferrolho da porta e comprovou todas as janelas para certificar-se de que estavam fechadas.

 

Ao dia seguinte, Alma Jane anunciou que voltava definitivamente para trabalho. Seguia um pouco pachucha, mas, conforme disse, sua enfermidade se tornou "passível". Kyle se achava na oficina, trabalhando com a serra mecânica em um novo desenho. E Irish, por sua parte, acabava de lhe ler ao Pete um capítulo do último livro do Warren Bufê.

-Alguma vez tinha ouvido falar deste escritor -confessou-lhe ao ancião-. Não lhe aborrecem estes tratados de economia?

-Não. Eu gosto de seguir de perto a obra de Bufê. É um homem muito inteligente. dele aprendi A... -interrompeu-se de repente e tossiu um par de vezes.

-A que aprendeu?

-A investir o dinheiro de minha pensão. Não é que tenha muito, me entenda. Vá, ouve isso?

-O que?

-Né... nada, nada. Quer ficar a ver comigo O preço justo? Cai-me muito bem o apresentador -acendeu a televisão e pôs o volume ao máximo.

-Pete! Está muito alto! -Irish agarrou o mando a distância e baixou o som. Só então ouviu o ruído característico e inconfundível de uns rotores. Correu à janela para jogar uma olhada.

-É um helicóptero. Um helicóptero branco e negro. Voa tão baixo que quase roça as árvores.

-Será estúpido! vai se matar o dia menos pensado.

-Quem vai se matar?

-Pois... bom, não sei.

-Olhe! apareceu outro helicóptero! Jackson Crow deve ter retornado. Será melhor que vá fazer a bagagem.

-A fazer a bagagem? Para que? Acreditava que você gostava de estar aqui conosco. Quem me vai ler se te parte?

-OH, Pete, sinto-o muito -beijou ao ancião na frente como se fora um menino pequeno-. Deve entender que minha estadia aqui foi simplesmente temporário. Tenho que fazer certo trabalho.

-Escrever sobre essa panda de descarados? Uma perda de tempo e papel, em minha opinião.

Irish sorriu.

-Deduzo que não lhe caem bem Jackson Crow e seu clube de jovens milionários.

-Que me caiam bem ou não é o de menos. Simplesmente opino que deveriam sentar a cabeça e casar-se em lugar de andar por aí pilotando helicópteros ou jogando golfe. E Jackson mais que nenhum.

Irish soltou uma risinho de cumplicidade.

-Sabe? Penso fazer o possível para tirar da circulação a algum deles. O que lhe parece?

Pete franziu o cenho.

-A um desses? Acreditava que você gostava de Kyle.

-Seu neto é um homem muito valioso, Pete, mas meus planos não trocaram. Kyle e eu só somos amigos -Irish voltou a lhe posar um beijo na frente-. Espero que vá bem na entrevista com o médico. Virei a visitá-lo dentro de um par de dias.

Enquanto baixava as escadas do armazém, Irish notou um nó na garganta. Os olhos lhe encheram de inesperadas lágrimas.

Não se deteve na oficina para falar com o Kyle. Dizendo-se a si mesmo que não queria interrompê-lo enquanto trabalhava, correu para a cabana com a intenção de vestir-se e fazer as malas. Justo ao agarrar o pomo da porta ouviu o som de um disparo a suas costas.

 

Nesta ocasião a grade estava aberta. Irish enfiou o estreito caminho que conduzia ao Ninho do Crow.

O edifício principal tinha várias novelo e estava construído de pedra, madeira e cristal. Era enorme, pois se estendia pelo contorno da colina e chegava a entrar no bosque, onde se mesclava, em perfeita harmonia, com o conjunto de pinheiros e demais árvores de folha caduca.

Enquanto detinha o carro em frente do clube, Irish viu outras casas mais pequenas disseminadas entre as árvores e conectadas entre si por sinuosos atalhos de pedra. Frente ao edifício principal se achavam os imaculados campos verdes de um circuito de golfe, e à esquerda havia uma pista de helicópteros.

Conforme lhe tinha contado Kim, o clube também tinha pistas de tênis, piscina e estábulos.

Aquilo sim que era vida.

Vestida com seu traje novo e suas botas de salto alto, Irish desembarcou do Mercedes e transpassou com passo decidido a enorme porta principal. A estadia de dois novelo tinha um estilo rústico e suntuoso ao mesmo tempo. Uma barra americana ocupava boa parte de um dos lados, e no extremo oposto havia uma espécie de restaurante. Ambos estavam decorados com uma grande variedade de novelo e esculturas, entre as que se incluíam, conforme observou Irish, vários animais de madeira similares aos que havia no armazém do Pete.

Irish se dirigiu para o mostrador situado ao fundo.

Uma moça loira, que não contaria mais de dezoito anos, dirigiu-lhe um radiante sorriso ao vê-la chegar.

-bom dia. No que posso lhe servir? -uma placa dourada colocada sobre seu generoso peito indicava que se chamava Tami.

-Sou Irish Ellison. Estava agendada com o Jackson Crow na sexta-feira passada, mas cheguei tarde e não consegui vê-lo. Está no clube?

-Sim, naturalmente que sim. Você deve ser a jornalista do Esprit, verdade? eu adoro a revista. Não estou acostumado a me perder nem um só número -olhou ao Irish com olhos entreabridos-. Sua cara me soa. Seguro que vi alguma sua fotografia na revista. Jackson lamentou muito não havê-la recebido na sexta-feira, mas os moços estavam ansiosos por ir-se a Dallas e não teve mais remedeio que partir. Nestes momentos está falando por telefone com sua primo, mas lhe direi que chegou você. Sinta-se, por favor. Gosta de uma taça de café?

-Não, obrigado.

Irish se sentia muito nervosa para sentar-se. apoiou-se no respaldo de uma cadeira e respirou fundo várias vezes, tentando relaxar-se. O momento tinha chegado. Queria causar boa impressão ao Jackson Crow, pois disso dependia seu futuro.

Ouviu uma risinho feminina detrás dela, e logo o sussurro de uma voz masculina. voltou-se rapidamente e viu um homem alto, com o cabelo negro, que tinha ao Tami o braço jogado ao redor do pescoço. Sussurrou-lhe algo ao ouvido, e a garota voltou a soltar uma risinho tola.

Quando o homem viu o Irish, esboçou um largo sorriso e murmuro algo ao Tami, quem voltou pressurosa ao mostrador. Ele, uma autêntica pedaças vestida com calças jeans e botas negras, aproximou-se do Irish, sorrindo e calibrando-a com o olhar como se fora uma égua oferecida em um leilão. Tinha posta uma camisa engomada a raias rosas e brancas, com as mangas subidas e o pescoço aberto. O tom bolo de sua roupa não fazia a não ser potencializar sua masculinidade. Na boneca levava uma pulseira de ouro que devia pesar meio quilograma, pelo menos. "Céus, que pedaço de homem", disse-se Irish. -Ah, senhorita Ellison. Mereceria que me cortasse você a... cabeça por lhe haver ocasionado tantas moléstias -olhando-a diretamente aos olhos, tomou a mão e a beijou- Sou Jackson Crow, o desalmado que a deixou plantada na sexta-feira. Poderia lhe oferecer centenas de desculpas, mas nenhuma delas justificaria meu lamentável comportamento. Não obstante, peço-lhe perdão e lhe asseguro que procurarei compensá-la na medida de minhas possibilidades. Dou-lhe permissão para que me açoite com um látego   de   nove   caudas.   Se   não   o   fizer   você, provavelmente o fará minha irmã. Irish se pôs-se a rir.

-Não creio que seja necessário lhe açoitar em público, senhor Crow. Ao fim e ao cabo, a culpa foi minha. Cheguei tarde e você tinha convidados aos que atender. Por isso a mim respeita, o assunto não teve a maior importância.

-Rogo-te que nos tuteemos, Irish -disse Jackson tomando-a cortesmente do braço-. Bem-vinda ao Ninho do Crow. Reservei-te a melhor suíte do clube. Espero que lhe dê o visto bom. Tami, céu, avisa ao Buddy e lhe diga que leve a bagagem da senhorita Ellison a 300.

Jackson seguiu lhe dedicando palavras amáveis enquanto tomavam o elevador para subir à terceiro andar. Era um homem afável, engenhoso e incrivelmente bonito. Quase tão bonito como Kyle, mas em outro estilo.

E, o mais importante, estava podre de dinheiro. Tinha milhões de dólares para dar e dar de presente.

Alto, moreno, bonito e rico. Que mais podia pedir uma mulher?

Possivelmente bebesse mais da conta, como lhe havia dito Kyle, mas naquele momento parecia achar-se totalmente sóbrio. Ao Irish preocupava mais o comportamento do Jackson com o Tami. mostrou-se muito carinhoso com a espantosa loira. Se gostava das mulheres jovens e nubiles, Irish o deixaria bastante difícil. Era uns nove ou dez anos maior que Tami. E estava bastante pior dotada no que a peito se referia.

Quando Jackson abriu a porta da suíte 300, Irish conteve o fôlego ao ver o interior.

A habitação, que dispunha de uma chaminé de pedra e quadros de deliciosa fatura, era ao mesmo tempo rústica e opulenta. E a vista que se divisava das enormes janelas era impressionante. O campo de golfe se estendia pelas verdes colinas, flanqueado de árvores e dois pequenos lagos.

Disseminados no meio da paisagem boscoso havia pequenos claros nos que uma espécie de máquinas parecidas com gafanhoto gigantes trabalhavam sem descanso.

-O que são essas máquinas? -perguntou Irish assinalando a mais próxima ao campo de golfe. -São unidades de extração de petróleo. Ela ficou boquiaberta.

-Tuas?

Jackson se encolheu de ombros.

-Da família. Ah, Buddy, deixa a bagagem da senhorita no dormitório.

Um jovem alto e magro, da idade aproximada do Tami, assentiu obedientemente com a cabeça, e levou as malas à habitação contigüa.

-Parece-te bem a suíte? -perguntou Jackson. -eu adoro. É perfeita.

-Estupendo. Bom, deixo-te para que te instale a gosto. Se necessitar algo, não tem mais que me avisar. O almoço se servirá dentro de uma hora. Quando baixar apresentarei a outros membros do clube. Seguro que estará desejando te pôr mãos à obra.

-Mãos à obra?

-Quero dizer que quererá reunir informação para o artigo o antes possível.

-Ah, o artigo. Sim, é obvio.

-Quer fixar uma hora precisa para fazer as entrevistas, ou prefere seguir um procedimento mais informal?

-Prefiro o, né, segundo.

Jackson sorriu.

-Muito bem. Verei-te abaixo dentro de uma hora.

Assim que Jackson se partiu, Irish comprovou as fechaduras. sentiu-se aliviada ao ver que, além da fechadura normal, a porta contava com uma formidável cadeia de segurança e um sólido ferrolho. A seguir jogou uma olhada a -ás janelas. Sabia que era uma estupidez, dado que a suíte estava no terceiro andar, mas não se sentiu satisfeita até que se certificou de que as janelas estavam bem fechadas.

As portas do balcão expor mais dificuldades, mas Irish resolveu o problema colocando diante delas um sofá.

Talvez se estivesse comportando de forma paranóica, mas sua psicóloga lhe havia, assegurado que sua obsessão era perfeitamente normal dadas as circunstâncias, e que iria diminuindo conforme passasse o tempo.

 

Kyle tomou o auricular no mesmo momento em que o telefone começou a soar.

-Parece que estava sentado ao lado do telefone, primo -disse Jackson ao outro lado da linha-. Impaciente, né?

-Deixa de tolices, Jackson. E Irish?

-Já está comodamente instalada em sua suíte. É uma mulher muito belo. Não me importaria nada ter uma aventura com ela.

-Nem a toques, amigo, ou não viverá para contá-lo.

Jackson soltou uma gargalhada.

-É a primeira vez que te vejo tão coado por uma mulher. Logo que posso acreditá-lo.

-Pois acredita-o. Irish é muito especial para mim. Não lhe haverá dito que somos primos nem que Pete é seu avô, verdade?

-Não, não falamos que isso. Quer me dizer a que vem tão secreto? Devo me haver perdido algo. de repente, não quer que se saiba que somos parentes. Gesso que ultimamente não tenho feito nada que manche o nome da família.

-Não que eu saiba. Ao menos, durante o último par de horas.

Kyle deixou escapar uma risinho sardônica e logo contou ao Jackson todo o concernente ao Irish.

-Ajudará-me a levar a cabo meu plano?

-Se quiser... Mas a mim toda esta confusão parece absurdo. Poderia te economizar um montão de moléstias lhe dizendo a verdade diretamente. Os dois seriam felizes e comeriam perdizes.

-Isto é muito importante para mim, Jackson. Ajudará-me ou não?

-Já te tenho dito que sim. Darei ordens ao pessoal para que mantenham a boca fechada. Matt está em caminho. Pensa passar-se a visitar avô antes de vir. Poderá pô-lo à corrente de tudo quando chegar.

-Já chegou. Falei-lhe do tema, mas não confio muito de seu irmão. Manten vigiado, quer?

-Muito bem. Como está o avô?

-muito melhor. Esta tarde a primeira hora o levarei a ortopedista. Além disso, contratei a uma enfermeira para que o cuide durante nos próximos dias. Alma Jane e Jenny se ocuparão da loja. -Perfeito. Não esqueça que contamos contigo para o torneio de golfe que começa amanhã.

-Não o esqueci. Embora me temo que, depois de ter levado seis meses sem tocar um pau de golfe, não vou luzir me precisamente.

-A outro cão com esse osso, primo. Não me trago isso. Você e seu irmão Smith poderiam ganhar no Matt e a mim com os olhos fechados.

Kyle recordou todas as ocasiões em que os dois casais de irmãos se enfrentaram em competições de golfe e soltou uma risinho zombadora.

-É certo -admitiu-. Verei-te no Ninho do Crow esta noite.

 

depois de desfazer a bagagem e contemplar as vistas durante uns minutos, Irish começou a intranqüilizar-se. Não estava ali para admirar a paisagem. Estava ali para caçar a um milionário. E para isso tinha que fazer um pouco de investigação. retocou-se a maquiagem, agarrou uma caderneta e baixou ao vestíbulo para ver se podia tirar alguma informação ao Tami.

Resultou-lhe mais difícil do que tinha esperado em um princípio. A loira podia parecer uma miolos de mosquito, mas Irish não demorou para descobrir que depois da fachada frívola e superficial da moça se ocultava uma pessoa verdadeiramente inteligente e decidida a proteger a privacidade dos membros do clube.

Irish só pôde averiguar que naqueles momentos os únicos convidados que se hospedavam no clube eram doze milionários procedentes do Texas. Todos tinham menos de quarenta anos e estavam solteiros. Não obstante, conforme tinha comentado Tami, alguns deles estavam comprometidos ou tinham noivas formais.

-Temo-me que é quão único posso lhe dizer sobre nossos convidados -desculpou-se Tami-. Isso sim, posso lhe assegurar que todos são excelentes pessoas -acrescentou com uma risinho-. Às vezes podem parecer um pouco amalucados, mas é compreensível se se tiver em conta que vêm aqui a relaxar-se com os amigos. Se quer conhecer algum dado pessoal sobre algum deles, terá que lhe perguntar ao Jackson ou ao próprio interessado, compreende-me? -inclinou-se para frente e adicionou em voz baixa-: Sei que é você de confiar, mas se vou da língua estarei automaticamente de patinhas na rua, por muito que Jackson seja uma das pessoas mais amáveis que conheci nunca. E lhe asseguro que este trabalho eu adoro. Além disso, Jimmy, Paulie e eu necessitamos o dinheiro.

-Jimmy e Paulie?

-Meu marido e meu filho. Ensinarei-lhe uma foto deles -Tami lhe aconteceu uma foto instantânea em branco e negro-. Jimmy vai à Universidade e pelas tardes trabalha nos estábulos do clube. Minha mãe fica com o pequeno durante o dia. Paulie tinha seis meses quando se tomou essa foto. Já cumpriu nove, e quase começou a andar.

Irish deixou o mostrador sem logo que ter tirado nada em claro sobre o grupo de jovens milionários.

Enquanto caminhava, a imagem do Kyle lhe foi à mente. Fez um esforço por não pensar nele. Devia esquecer-se do Kyle e pensar no Jackson Crow.

Jackson era endiabladamente bonito.

E nadava na opulência.

Era, em definitiva, o homem perfeito. O homem que ela estava procurando.

Só lhe encontrava uma pega, e tão insignificante que nem sequer merecia se ter em conta: Jackson não tinha despertado nela um desejo sexual imediato. Mas Irish estava convencida de que, se chegava a ter uma relação com ele, esse detalhe acabaria corrigindo-se. Ao fim e ao cabo, Jackson era um homem encantador e viril. Seguro que conseguiria excitá-la com apenas lhe dar um beijo.

Iene o caso improvável de que não fora assim..., enfim, havia outros muitos milionários entre os quais escolher. De fato, Irish tinha planejado estudar ao grupo com o maior parada possível. A aquelas alturas, não descartava nenhuma possibilidade.

Foi passeando por um atalho de pedra até chegar a uma pequena ponte situada sobre um pacífico regato. deteve-se e se apoiou no corrimão para contemplar a clara correnteza que discorria pelo estreito leito.

Que tranqüilidade se respirava ali. Irish se sentiu segura e a salvo em meio dos altos pinheiros que sussurravam balançados pelo vento. Era como estar em outro mundo.

Fechou os olhos e, escutando os suaves sons que produziam os pássaros, aspirou fundo. Ao saborear o aroma do bosque pensou que sua vida anterior ficava muito longe no tempo.

-Olá, preciosa -disse a suas costas uma voz masculina-. Levo toda a vida te buscando.

Irish se deu meia volta, sobressaltada.

 

Ao princípio, Irish acreditou que era Jackson Crow quem lhe tinha falado, mas ao olhá-lo-se deu conta de que aquele era um homem mais jovem. Era alto, com o cabelo e os olhos tão negros como os do Jackson, mas tinha uns rasgos faciais mais suaves e uma marcado covinha no queixo. Também ia vestido com calças jeans e botas, mas levava uma camiseta de rugby em lugar de camisa.

-OH, olá -saudou-o Irish-. Sobressaltou-me. Não acreditava que houvesse ninguém por aqui.

-Acabo de deixar a bagagem naquela cabana dali. Espero que sejamos vizinhos.

-Vizinhos?

-aloja-se você em alguma das cabanas?

-Não -respondeu Irish-. Tenho uma habitação no edifício principal.

-Vá Por Deus! Esperava poder lhe pedir emprestada um pouco de açúcar ou alguma outra costure esta noite -dirigiu-lhe um sorriso arrebatador-. Sou Matt Crow. Quer um caramelo? -acrescentou ao tempo que lhe aproximava uma pequena bolsa amarela.

-Meu nome é Irish Ellison. Obrigado, eu adoro os caramelos -tomou um da bolsa e o meteu na boca-. Mmmm, absolutamente delicioso.

Matt voltou a lhe oferecer a bolsa.

-Os melhores caramelos do mundo, não lhe parece?

-Os mais deliciosos que provei, sim. Mas não me atrevo a tomar outro. Se começar, acabarei com a bolsa inteira.

Matt se pôs-se a rir.

-Cai-me você muito bem, Irish Ellison. Deve ser a escritora, se não me equivocar.

-Não, não se equivoca. E você deve ser irmão do Jackson.

-Temo-me que sim. Vou ao clube a almoçar. Acompanha-me? -ao ver que ela duvidava, fechou a bolsa de caramelos e a entregou-. Considere-o uma espécie de suborno -brincou.

-Por favor, não posso aceitá-los.

-Tenho muitos mais na cabana -seu sorriso de menino inocente resultava encantadora-. E, se por acaso isso fora pouco, a fábrica é minha propriedade.

-Possui você uma fábrica de caramelos?

-Sim, senhorita -ofereceu-lhe o braço e ela tomou pensar-lhe duas vezes.

Enquanto caminhavam, Irish descobriu que Matt, quem tinha começado sua caminhada profissional como advogado, tinha ações em várias fábricas de madeira e no Crow Airlines, uma companhia aérea com apóie em Dallas.

-Não viajou alguma vez em algum de nossos aviões?

-Creio que não.

-Se tivesse pirado conosco o recordaria. Nossos pilotos vão vestidos conosco cubra e chapéus de cowboy, e os azafatos levam calças jeans com peitilho. Lavramo-nos uma grande reputação. E nunca sofremos nenhum acidente.

-Alguma vez? -perguntou Irish enquanto subiam pela escada principal do clube.

-Nunca. Que nossos aviões sejam baratos não significa que sejam inseguros. Contamos com o melhor pessoal e a melhor tecnologia do mercado.

-Está você orgulhoso de sua empresa, verdade?

-Sim, senhorita. Muito orgulhoso -abriu-lhe a porta para que passasse.

No interior do vestíbulo havia dois homens. A gente era alto e enxuto. O outro era ligeiramente mais baixo e levava óculos.

-Terá que ver o bem que te dá encontrar mulheres bonitas, Matt -comentou o baixo.

Matt fez uma careta zombadora.

-Uns temos sorte na vida, Harve, e outros devem lhes conformar sonhando. Irish, apresento ao Harve Dudley e ao Bob Willis. Irish vai escrever um artigo sobre nós para... Como se chamava a revista, Irish?

-Esprit -estreitou-lhes a mão aos dois homens. Bob, que era bastante calado e tímido, dedicava-se ao negócio da terra e o gado. Harve, por sua parte, possuía vários concessionários de automóveis. -Se alguma vez necessitar um Cadillac novo, preciosa, eu sou seu homem.

-Não te entusiasme, muchachote -disse Matt-, ou Esther Ann te cortará as orelhas em menos que canta um galo -Harve se limitou a rir enquanto Matt explicava ao Irish que Esther Ann era sua noiva formal desde fazia oito anos-. A garota diz que o único motivo pelo que Harve não quer casar-se é porque teria que deixar o clube.

Durante o almoço, Irish conheceu vários milionários mais: dois chamados Jim, Carlton, Aaron, Noah, Mitch e Vernon, ao que todos chamavam Spud. Aquilo era o paraíso para qualquer mulher que se proposto caçar a um homem rico.

Alguns, naturalmente, resultaram-lhe mais interessantes que outros. Irish não deixou de tomar notas e apontamentos sobre todos e cada um deles.

-Falta um de nossos membros -explicou-lhe Matt-. Minha primo Smith se dedica à cria de gado e ao cultivo de vinhedos em Rio Grande. Por desgraça, não pôde vir. Mas, em seu lugar, convencemos A...

-Maldita seja, Matt! -exclamou Jackson ao tempo que dirigia a seu irmão um olhar de recriminação.

-Tenho dito algo mau? -perguntou Matt sentido saudades.

-Está monopolizando todo o momento a atenção desta bela senhorita. por que não procura o Harve? Creio que quer organizar uma partida de poquer -Jackson tomou ao Irish do braço e lhe dirigiu um sorriso quilométrico-. Me acompanhe. Eu gostaria de lhe ensinar a piscina e os estábulos. Monta você a cavalo?

 

Irish deveu ter mentido. Deveu haver dito ao Jackson que não entendia para nada de cavalos. Mas cometeu o engano de lhe dizer que tinha cavalgado alguma que outra vez e que estava ansiosa por aprender a montar com uma cadeira das que se utilizavam no Oeste.

assim, Jackson tinha passado horas tratando de lhe ensinar.

Montar a cavalo era um martírio.

Irish acabou com a cara interna das coxas irritada e com o traseiro feito pó. Enquanto se dirigiam de volta para o clube, teve que apertar os dentes para não gritar e fazer desonestos esforços para não perder o sorriso.

-Seguro que se encontra você bem? -perguntou-lhe Jackson.

-Sim, perfeitamente.

-Nesse caso, que lhe parece se tomamos uma taça no bar?

-Talvez mais tarde -apressou-se a responder Irish. O único que gostava de era tomar um banho de água quente. Caminhou muito erguida para o elevador, temerosa de que as pernas lhe falhassem em qualquer momento. Uma vez dentro, pulsou o botão do terceiro andar, fechou os olhos e tratou de resistir com integridade as ferroadas que lhe transmitiam suas terminações nervosas.

-Vá, que casualidade te encontrar aqui -disse uma voz masculina.

Irish abriu rapidamente os olhos.

-Kyle!

-O mesmo que viu e meia -respondeu ele com uma careta zombadora.

-O que está fazendo aqui?

-Estou subindo no elevador contigo.

-Isso já o vejo. Referia a que faz no Ninho do Crow.

-Hão-me convidado.

-Que lhe hão convidado? Quem?

A porta do elevador se abriu antes de que Kyle respondesse.

-Jackson Crow. Somos velhos conhecidos. Criamo-nos juntos, virtualmente.

-Mas só vieram os membros do clube de jovens milionários.

Kyle a convidou com um gesto a que saísse primeiro.

-Sei. Resulta que um dos membros não pôde vir e necessitam a alguém que o substitua no torneio de golfe. Jackson sabe que sou muito bom jogador, assim decidiu me convidar no último minuto. Além disso, pensei que possivelmente necessitaria minha ajuda.

-Sua ajuda?

-Exato. Já que está tão decidida a caçar a um marido rico, eu poderia te assessorar. por que coxeia, carinho? Tem-te cansado ou algo? Essas botas de salto alto são muito bonitas, mas não servem para caminhar por estes terrenos.

Irish apertou os dentes enquanto introduzia a chave na fechadura.

-Não, não me tenho cansado. Eis estado montando a cavalo e tenho o corpo um pouco dolorido. Recuperarei-me assim que me meta na banheira e tome uns três dedos de genebra. Ah, por certo, não necessito nenhum assessor, obrigado.

-Parece que iriam de pérolas os serviços de um massagista.

-Sim, de pérolas -admitiu Irish com uma careta-. Há algum no clube?

-Consultarei-o. Toma um banho enquanto isso.

-É um céu, Kyle. Obrigado.

-Não as merece. Ao fim e ao cabo, para que estão os amigos?

Irish notava cada vez mais dor nas coxas e as nádegas. Com cuidado, despojou-se da jaqueta e se dirigiu por volta do quarto de banho quase mancando. Depois de abrir do todo o grifo da banheira, sentou-se para tirá-las botas e instantaneamente chiou de dor. Teria que provar outra tática.

Kyle bateu na porta nesse preciso momento.

-Encontra-te bem, Irish?

-Não.

-Posso te ajudar em algo?

Sentiu o impulso de lhe dizer que se largasse e a deixasse em paz. Assim, ao menos, salvaria seu orgulho. Mas o certo era que necessitava sua ajuda desesperadamente. Não podia meter-se na banheira com as calças jeans e as botas. E era incapaz de tirar-lhe sozinha.

-Irish?

-O que? -perguntou ela com tom cortante.

-Necessita ajuda, carinho?

-Não me chame "carinho". E sim, necessito ajuda.

-Posso entrar? -perguntou Kyle depois de uma larga pausa.

Irish deixou escapar um suspiro de resignação.

-Que remédio. Adiante, passa -quando Kyle abriu a porta, ela o olhou com olhos ferozes e lhe disse-: Não te atreva a rir.

-Não me estou rendo. O que é o que te ocorre?

-As quatro horas que passei em cima desse maldito cavalo foram uma autêntica tortura.

-Quatro horas! E era a primeira vez que montava?

Irish negou com a cabeça.

-Embora deva confessar que não sou nenhuma perita.

-E a que estúpido lhe ocorreu levar a uma novata a cavalgar durante quatro horas seguidas?

-Ao Jackson. Mas não foi culpa dela. Disse-lhe que os cavalos me davam bastante bem. Embora certamente suspeitou que tinha exagerado um pouco quando me caí a segunda vez.

-A segunda vez?

-Sim. A primeira vez senti muita vergonha, mas Jackson comentou que era algo que podia lhe ocorrer a qualquer. O cavalo colocou a pezuña em um buraco e tropeçou. Não sei a que se deveu a segunda queda, mas Jackson disse que seria melhor que o deixássemos por hoje. Senti-me muito aliviada. Não me explico como a gente desfruta cavalgando nessas bestas.

Kyle amaldiçoou em voz baixa e fechou o grifo da banheira.

-O que posso fazer por ti?

-Não sou capaz de me tirar as botas. Por favor, não te ria.

-Não me riria de ti por nada do mundo -ajoelhou-se diante dela e lhe tirou as botas com supremo cuidado.

-Ah, que alívio -disse Irish.

-lhe poderá arrumar isso só com as calças?

-Creio que sim.

-Vejamo-lo.

Irish, que estava acostumada a vestir-se e despir-se diante de outros devido a seu trabalho, voltou-se tímida de repente.

-te volte.

Kyle pôs os olhos em branco, mas obedeceu.

Irish se desabotoou a cremalheira das calças e começou a baixar-lhe quando, de repente, sentiu uma pontada de dor. Para ouvi-la queixar-se, Kyle amaldiçoou de novo e se voltou para lhe dar uma mão.

-Kyle!

-Deixa de pudores. Se não fazermos algo, e logo, amanhã pela manhã não poderá te levantar da cama. te faça a idéia de que sou médico.

Irish não tinha mais remedeio que seguir o conselho. Deixou que lhe tirasse as calças e, sem dizer uma só palavra, colocou-se uma toalha ao redor da cintura para que Kyle pudesse despojá-la também das médias.

-Obrigado -disse lacônicamente-. O resto poderei fazê-lo eu.

-Está segura?

-Absolutamente. Obrigado.

-Poderá te colocar na banheira sem ajuda?

-Sim, arrumarei-me isso -esperava que Kyle partisse, mas não o fez. Em vez de ir-se, começou a rebuscar pelo armário do quarto de banho-. Que buscas?

-Sai, mas parece que não há. Seguro que Jack-são terá algum frasco em sua suíte. irei perguntar lhe.

-Nem te ocorra lhe dizer para que as quer, Kyle Rutledge. Pensará que sou uma parva. Kyle lhe deu um beijo no nariz.

-Tranqüila, carinho. Manterei a boca bem fechada.

-Deixa de me dizer "carinho"! Só somos amigos, não o esqueça.

-Como você diga, senhorita -teve a audácia de lhe dedicar uma sorrisinho cínica.

Irish esperou a que partisse para acabar de despir-se e meter-se na banheira. Entre lamentos e gemidos conseguiu inundar-se na água quente. reclinou-se e saboreou a maravilhosa sensação que experimentaram seus membros doloridos.

-Ahhhhhh.

-Sente-se melhor? -disse uma voz ao cabo de vários minutos, tirando-a repentinamente de seu agradável estupor.

Irish deu um coice e se cobriu o peito com os braços.

-Kyle! Que demônios faz aqui?

-Trago as sai. São muito boas para reduzir a inflamação. Ah, e não tenho dito nenhuma só palavra sobre ti.

-Obrigado. E agora, tem a bondade de partir ?Quero desfrutar de do banho a sós.

-Em seguida. Mas antes porei as sai na água. Como já te tenho dito, imagine que sou seu médico.

Mas isso não resultava tão fácil. Kyle levava uma camisa azul celeste que ressaltava a cor de seus preciosos olhos, umas calças jeans que acentuavam sua virilidade, e exibia um sorriso enviesado tremendamente sexy.

-Me... resulta-me difícil -confessou ela.

-Pois nesse caso -disse ele pestanejando-, pensa que sou um bom amigo. Porque somos amigos, não?

-Sim.

-Vamos lá -Kyle abriu o frasco de sai e as verteu na água. de repente, bateram na porta-. Tranqüila, eu irei ver quem é.

-Mas, Kyle, não devem te encontrar aqui...

-Não se preocupe. Será o botões, que traz as bebidas.

-O que bebidas? -perguntou Irish. Mas ele já tinha saído do quarto de banho.

Ao cabo de um par de minutos retornou com uma bandeja.

-Não disse que iria bem um gole de genebra?

-Sim, é claro que sim.

Kyle encheu duas taças e as colocou no bordo da banheira.

-beba-lhe isso enquanto eu o preparo tudo para a massagem.

Irish tomou um sorvo. A genebra estava geada, forte, perfeita.

-Ah, que maravilha. Assim pudeste localizar a um massagista?

-Tudo está solucionado, cari..., Irish. te relaxe e deixa-o em minhas mãos.

Irish ficou uma toalha ao redor do talhe e apareceu a cabeça pela porta do quarto de banho. Kyle estava sentado em uma cadeira de balanço, lendo uma revista. Mas na habitação não havia ninguém mais.

-Está lista para a massagem? -perguntou ele ao tempo que deixava a um lado a revista e ficava em pé.

Irish saiu e passeou a vista pelo quarto.

-Onde está o massagista?

-Tem-no diante. Já está tudo preparado -Kyle se aproximou da cama, cujas colchas tinha retirado previamente. Em cima da mesinha de noite havia um montão de toalhas e botes de azeites e loções corporais.

-Ah, não. Nem pensar-disse ela retirando-se quando viu que Kyle se aproximava.

-Mas, carinho, me dão Estupendamente as massagens. Seriamente.

Irish notou que a boca lhe secava ao pensar na possibilidade de que Kyle lhe desse uma massagem. O coração começou a lhe pulsar com força.

-Não... não creio que... estivesse bem -disse titubeando.

-por que não? Se formos amigos.

-Sim, amigos. Mas uma massagem é algo muito íntimo. Já te tenho dito que minha intenção é me casar com um milionário, Y...

-Não compreendo onde está o problema.

-Se não o compreende é que é idiota. Já sabe como nos...

-Como nos atraímos? -perguntou Kyle. Uma dos comissuras da boca lhe curvou ligeiramente para cima.

Irish se ateu ainda mais a toalha.

-Não refiro a isso! Tenho-te dito milhares de vezes que só podemos ser amigos. Tem que lhe colocar isso na cabeça.

-Não faz falta que grite, carinho. Capto perfeitamente a mensagem. Para ti não serei nunca mais que um amigo porque não tenho dinheiro. E teme que te dê uma massagem porque poderia te excitar e isso complicaria as coisas. Estou ou não estou no certo?

-Sim! Não! Isso é o que você gostaria, amigo. me dê de uma vez essa maldita massagem -foi para a cama com passo decidido e se tombou de barriga para baixo-. Imaginarei que é meu médico de cabeceira. E não volte a me chamar "carinho".

-Como quer, tesouro.

Kyle lhe retirou a toalha das costas e ela soltou um gemido. antes de que Irish pudesse protestar, colocou-lhe uma toallita quente nas nádegas.

-Começarei pelos pés -disse ao tempo que lhe levantava uma perna e lhe aplicava um pouco de loção.

Não passava nada porque lhe massageasse os pés. Poderia suportá-lo.

Mas Irish demorou muito pouco em trocar de opinião. Jamais tinha pensado que os pés fossem uma zona tão erógena.

Quando Kyle ascendeu e começou a lhe massagear as pantorrilhas, ela teve que apertar os dentes para não exalar um gemido de prazer. Com cada movimento daquelas mãos mágicas e maravilhosas, um sem-fim de imagens iam a sua mente. Imagens desenfreadas e eróticas. Kyle foi subindo cada vez mais. Estendeu-lhe um pouco de loção pela parte superior da perna e Irish esteve a ponto de cair da cama. Deus bendito, quanto tempo poderia seguir suportando aquilo?

Quando começou a lhe acariciar a cara interior das coxas, ela se pôs-se a tremer. Notou que o sexo lhe umedecia.

-te relaxe -disse Kyle.

-Já estou relaxada!

Ele soltou uma risinho rouca.

Maldita fora aquele sorriso. E malditos aqueles dedos. Finalmente, Irish começou a sentir-se relaxada. A tensão pareceu esfumar-se de seus membros intumescidos.

Mas, de repente, Kyle subiu à cama e se colocou de joelhos em cima dela.

-Mas que demônios faz?

-Chist. Assim me será mais fácil.

Sim, claro. Mais fácil. Irish se disse que teria que jogá-lo a patadas do quarto. Mas a loção e o contato suave de seus dedos nas costas lhe produziam um prazer muito grande.

À medida que os músculos se foram relaxando, Kyle começou a diminuir a intensidade da massagem, lhe acariciando a pele com movimentos lentos e sensuais. Ela se sentiu como se flutuasse em um imenso mar de esponjas.

Finalmente, quando lhe tirou a toalha das nádegas e começou a lhe tocar zonas mais íntimas, Irish se achava muito extasiada para protestar.

 

Kyle seguiu massageando brandamente ao Irish até que notou que os músculos lhe relaxavam. Desfrutou de do contato da suavidade sedosa de sua pele nos dedos, e se recreou especialmente em uma zona próxima ao ombro onde Irish tinha três preciosos lunares.

Mas a simples exploração tateante não lhe satisfazia o suficiente. Sentiu um desejo quase doloroso de posar os lábios sobre aquela pele semelhante à porcelana, de saboreá-la com a língua. Mas não se atreveu. Ao fim e ao cabo, Irish confiava nele.

-Irish -sussurrou-lhe.

Ela não se moveu. ficou-se profundamente dormida. Kyle deixou de tocá-la e contemplou atentamente seu rosto. Sem maquiagem, as cicatrizes que tinha na bochecha esquerda era perfeitamente visíveis. Pensar na dor física e emocional que Irish teria sofrido o encheu de uma cólera repentina. O que degenerado demente podia lhe haver infligido semelhante agonia?

Um sentimento entristecedor de ternura invadiu seu peito e lhe atendeu a garganta. Não podia suportar a idéia de que alguém voltasse a fazer machuco ao Irish. Inclusive se sentiu furioso com o Jackson por havê-la levado a cavalgar aquele dia. Em seu interior se desatou um profundo instinto protetor, tão capitalista que quase se podia apalpar. Kyle se imaginou a si mesmo como um campeão armado com um escudo e uma espada, disposto a matar a qualquer dragão que ameaçasse a sua dama.

Pensou em como reagiria ela se lhe falasse daqueles sentimentos, e sorriu. Provavelmente ao Irish daria um ataque. Não obstante, ditos sentimentos estavam aí e não podiam ser ignorados.

Talvez Kyle Rutledge se apaixonou pela primeira vez em sua vida. Não conseguia explicar-se por que tinha acontecido precisamente agora, mas lhe resultava impossível negar as intensas emoções que buliam em seu peito.

inclinou-se com supremo cuidado e lhe posou um suave beijo no ombro. Logo se desceu da cama e a agasalhou com o lençol. Irish precisava descansar. Mais tarde voltaria para comprovar se se encontrava bem.

depois de jogar as persianas, Kyle recolheu suas botas e saiu silenciosamente da suíte.

Justo quando acabava de sair pela porta, notou que alguém lhe punha uma mão no ombro.

-Vá, pilhei-te com as botas na mão -disse Jackson com uma risinho maliciosa-. Lhe estiveste acontecendo isso bem com essa senhorita tão encantadora?

Kyle se sentiu sacudido por uma repentina explosão de cólera.

-Bastardo! -exclamou, e quase sem dar-se conta soltou a sua primo um murro na cara.

Jackson se cambaleou e teve que apoiar-se na parede para não cair.

-A que demônios veio isso? -perguntou desconcertado.

-Tem uma mente e uma boca muito sujas. Além disso, quase matas ao Irish com esse condenado cavalo. Logo que pode andar.

-Né, tio, vamos. Sinto o que tenho dito. Era uma brincadeira, nada mais.

Kyle fez uma careta.

-Pois não me tem feito nenhuma graça. Como diabos te ocorre ter a uma novata cavalgando durante quatro horas seguidas? Deveu te haver dado conta em seguida de que não sabia montar.

-Dava-me conta, Kyle. Mas todos os tios do clube a estavam rondando. Incluído Matt. Tratei de mantê-la afastada deles o máximo tempo possível. Seriamente está muito machucada?

-Sim. Inclusive lhe custa trabalho caminhar.

-Talvez deveria avisar a um médico.

-Eu sou médico, Jackson.

-Cirurgião plástico.

-Não faz falta ser traumatólogo para tratar um traseiro machucado. Por inteligente que seja, às vezes parece mais parvo que o que vendeu o carro para comprar gasolina.

Jackson esboçou um sorriso.

-Está louco por essa mulher, verdade?

Kyle aspirou fundo e logo foi soltando o ar lentamente. colocou-se as mãos nos quadris e agachou a cabeça.

-Sim. Louco perdido. Mas está empenhada em casar-se com um milionário. E com tanto ricachón como há por aqui me parece que o deixo bastante cru.

-por que não lhe confessa que está podre de dinheiro? -disse Jackson-. Assim resolveria o problema de uma vez por todas.

-Já lhe expliquei isso. Não quero que se inteire ainda, assim mais vale que mantenha a boca bem fechada. Por certo, Irish não deseja que ninguém saiba que se machucou montando a cavalo. Não lhe diga nada que possa humilhá-la.

-Muito bem. Alguma outra ordem, doutor? Kyle se pôs-se a rir.

-Não, de momento basta com o que te tenho dito. Obrigado, Jackson. E lamento seriamente te haver golpeado. Quer que ponha uma compressa de gelo?

-Tranqüilo, sobreviverei.

-Qual é minha habitação?

-Reservei-te a suíte contigüa a do Irish -fez um gesto com o polegar em direção à porta-. Buddy acaba de deixar sua bagagem. por que não baixamos? Estão jogando uma partida de poquer e pressinto que hoje é meu dia de sorte.

 

Irish não soube com segurança o que foi o que despertou. Talvez foi a fome, ou o aroma das rosas que subia do jardim, ou possivelmente o calor provocado pelo sonho erótico que acabava de ter. Jogou uma olhada ao relógio e descobriu consternada que eram quase as oito. Com razão o estômago lhe estava dando a lata. Devia dar-se pressa ou não chegaria a tempo para jantar com outros.

Ao retirar o lençol viu que estava completamente nua. Recordou o motivo e se lamentou em voz alta. Como tinha permitido que Kyle lhe desse uma massagem, pelo amor de Deus?

Acaso havia se tornado louca? Não era de sentir saudades que tivesse tido um sonho erótico tão intenso. Temendo mover-se, consultou de novo o relógio. Foi então quando reparou no buquê amarelas que havia em cima da mesinha de noite. Estavam acompanhadas de uma nota do Kyle, na qual lhe dizia que a veria na hora do jantar.

Que doce.

Apesar de seus titânicos esforços por permanecer impassível, Irish não pôde evitar esboçar um sorriso quando imaginou ao Kyle recolhendo aquelas flores para ela.

"Não! te esqueça do Kyle. Pensa no Jackson. Ou no Jim, ou no Aaron, ou inclusive no Spud. Eles são os que têm as contas correntes substanciosas. Pensa em uma mansão em Dallas, Houston ou Santo Antonio. Pensa de carros luxuosos. Não pense no Kyle e suas flores..."

sentou-se lentamente na cama. Seguia tendo os membros rígidos e doloridos, mas começava a sentir-se melhor. Ao dirigir-se ao quarto de banho em busca da bata, comprovou aliviada que podia caminhar normalmente.

Kyle fazia milagres com sua massagem. Mas jamais lhe permitiria que voltasse a tocar a daquela forma tão íntima.

Depois de maquiar-se cuidadosamente, ficou umas médias de seda e um prendedor de cor verde pálida. Assim que teve acabado de vestir-se, saiu a toda pressa do dormitório... e ficou geada. A sala de estar da suíte estava enche flores. Eram, em sua maioria, rosas vermelhas, mas também havia um par do Ramos de rosas amarelas. Irish leu os cartões e comprovou que um dos Ramos amarelos era do Jackson, quem lhe dava a bem-vinda ao Ninho do Crow. O outro o tinha enviado Mitch Harris, o ex-jogador de futebol profissional que na atualidade se dedicava à cria de cavalos. Na nota lhe pedia cortesmente que o acompanhasse no jantar.

Os Ramos de rosas vermelhas eram do Jim, Aaron, Carlton e Spud. Todos eles lhe faziam o mesmo convite.

Em cima da mesinha de café havia uma enorme caixa envolta em papel dourado. Levava anexa uma breve nota assinada pelo Matt Crow. Irish se pôs-se a rir. Não precisava abrir o pacote para saber que estava cheio de caramelos.

A seguir viu outra caixa mais pequena envolta na mesma classe de papel. Estava colocada ao lado de uma garrafa de Dom Pérignon, nada menos. Irish abriu a caixa e em seu interior encontrou um diamante com uma preciosa cadenita de ouro. Tinha-o enviado Noah Birchfield, quem dava a bem-vinda ao Texas e lhe pedia que compartilhasse com ele o champanha depois do jantar.

Que sutil.

Lástima que Noah se estivesse ficando calvo.

Mas, no fundo, o cabelo não era imprescindível em um homem. Irish tinha ouvido comentar que os calvos eram verdadeiros peritos na cama. Decidiu incluir o Noah em sua lista de possíveis candidatos.

Enquanto ficava a cadenita, descartou mentalmente aos membros do clube que já estavam comprometidos. Todos lhe tinham enviado flores à exceção do Harve, Bob e MAC. Não estava nada mal, não senhor. Jackson seguia sendo o candidato mais idôneo. Mas se lhe falhava, poderia escolher entre outros sete milionários do Texas que se mostraram interessados nela.

Irish esboçou um amplo sorriso de satisfação. Qualquer mulher se haveria sentido adulada naquelas circunstâncias.

Quando se dispunha a sair ouviu ruídos na fechadura da porta. Alguém tinha introduzido uma chave. Irish ficou paralisada pelo medo. Tinha esquecido jogar a cadeia de segurança!

A porta se abriu lentamente e ela gritou sem poder evitá-lo.

A intrusa, uma mulher loira de média idade, levou-se a mão ao peito e retrocedeu um passo.

-meu deus, sinto-o muito. Pensei que seguiria você dormida. Deu-me um susto de morte! Sou Pat, uma empregada do clube. Passei-me as últimas horas entrando na suíte todas essas flores com o maior sigilo possível para não despertá-la. O cavalheiro chamado Kyle disse que me esfolaria se despertava -soltou uma risinho nervosa e totalmente sincera.

Irish sorriu.

-Duvido muito que fora capaz de cumprir sua ameaça, Pat.

-Sim, eu também. Mesmo assim, não queria despertá-la. Kyle disse que não se encontrava você muito bem. Mas os moços insistiram em lhe enviar todos esses presentes e flores. Menos mal que ficava papel de envolver das passados natais -ficou olhando o pacote que levava nas mãos-. Já não fica papel dourado, mas MAC insistiu em que lhe trouxesse este pacote em seguida. Imagino que não quererá que outros lhe adiantem. Tenha -disse lhe entregando o pacote.

-Obrigado. foi muito amável por sua parte tomar-se tantas moléstias.

-Não foi nenhuma moléstia. O eis feito encantada. Demorará muito em baixar para jantar? Os moços não querem começar até que você chegue, e precisam comer algo para seguir em pé depois da quantidade de uísque que estiveram bebendo.

Irish se pôs-se a rir.

-Baixarei dentro de um par de minutos.

Quando Pat se partiu, Irish abriu o pacote. Em seu interior encontrou um livro escrito pelo MAC onde se explicava como encontrar o tesouro de um galeón pirata fundo. Do mesmo modo, confessava que Irish lhe parecia mais valiosa que o mais rico dos tesouros. Entre as páginas do livro havia um reluzente dobrão de ouro.

Irish sorriu, lançou a moeda ao ar e a recolheu em pleno vôo. assim, eram oito os milionários interessados. Depois de introduzir o dobrão no prendedor para que lhe desse sorte, saiu da suíte cantarolando "Os diamantes são os melhores amigos de uma garota".

 

Kyle soube que Irish tinha entrado no comilão porque Spud se deteve de repente, deixando pela metade a piada subida de tom que estava contando. Noah, Aaron, MAC e Carlton olharam para a porta de entrada e instantaneamente ficaram em pé, gesto que em seguida emularam outros.

Ao cabo de uns segundos, todos os homens que havia na sala, à exceção do Jackson e o próprio Kyle, correram junto ao Irish, disputando-se a base de empurrões e cotoveladas um lugar preferencial ao lado da recém chegada. Kyle nunca tinha visto nada igual. Eram homens adultos com cargos importantes, e pareciam quinceañeros que brigassem pelas entradas de um concerto de rock.

Meneou a cabeça e olhou ao Jackson, quem permanecia sentado com um sorriso zombador desenhado no rosto.

-Que mosca lhes terá picado? Qualquer diria que é a primeira vez que vêem uma mulher bonita.

-Bom, terá que reconhecer que Irish é algo mais que uma mulher bonita -respondeu Jackson-. Além disso, os moços estão habituados a competir entre si. Reconheço que me sinto tentado de me unir à aposta.

-Aposta? Que aposta?

-apostaram para ver quem consegue convidá-la para jantar. O bote é de dez mil dólares.

Kyle fez um gesto de desagrado.

-Acabarão curvando-a e não jantará com nenhum. Vamos, me ajude a lhe tirar de cima a esses imbecis. Ao fim e ao cabo, são teus colegas.

Jackson se levantou, aproximou-se do grupo de homens e disse em tom tranqüilizador:

-Vamos, cavalheiros, lhe demos uma pausa à senhorita.

-lhes aparte, maldita seja -grunhiu Kyle ao tempo que tentava abrir acontecer com cotoveladas e trancos-. Não a curvem.

Irish se alegrou muito quando viu o Kyle e ao Jackson tratando de abrir acontecer com través do grupo de homens que se formavam redemoinhos a seu redor. sentiu-se adulada ao receber tantas cuidados, como se fora Escarlate Ou'Hara em uma de suas típicas e fastuosas festas. Não obstante, também começou a sentir certo medo ante tanto homem junto.

-Obrigado -disse a seus rescatadores-. Estou um pouco esmagada.

Os homens se queixaram, mas finalmente retrocederam em deferência a seu anfitrião.

-Demônios, Jackson -protestou Spud-. Devemos imaginar que tentaria algo assim. Mas recorda que nem sequer quiseste participar da aposta.

Kyle sorriu ao Irish e lhe apertou a mão em um gesto de cumplicidade.

-Todos estes cavalheiros desejam desfrutar de sua companhia no jantar. por que não lhes economiza mais apuros e escolhe a um?

Irish olhou um a um os rostos espectadores que a rodeavam. Sentiu o impulso de escolher ao Jackson, mas outros também se mostraram muito amáveis e cavalheirescos, de modo que não queria lhe fazer um feio a nenhum deles.

-Resulta-me muito difícil escolher, a verdade.

-Proponho algo -atravessou Jackson ao tempo que desprendia de um dos cabides um chapéu Stetson-. por que não metem no chapéu seus cartões? Sugiro que Irish tire três. O primeiro eleito jantará com ela, o segundo a acompanhará durante a sobremesa e o   terceiro poderá convidá-la a uma taça depois do jantar.

-E qual se leva o bote? -quis saber MAC.

-que saia eleito primeiro -respondeu Jackson-. Porei dinheiro por mim e pelo Kyle.

-De que bote falam? -perguntou- Irish ao Kyle em voz baixa.

-Fizeram uma pequena aposta para ver quem é o primeiro que consegue te convidar para jantar.

produziram-se umas quantas protestos, mas finalmente todos aceitaram a proposta do Jackson e introduziram no chapéu seus cartões. Kyle jogou mão de sua carteira para tirar a sua, mas se deteve. Não podia utilizar seu cartão porque nela figurava sua profissão, além de seu nome. assim, tomou uma do Jackson, arranhou o nome e escreveu o seu no reverso.

-por que introduz seu cartão no chapéu? -perguntou-lhe Irish.

Kyle pestanejou uns instantes e disse:

-Em caso de ganhar, virá-me bem o dinheiro.

-Vá, muito obrigado -respondeu ela em tom sarcástico-. Sinto-me como se fora um dos prêmios que revistam oferecer-se nos pacotes de bolachas.

-Não tem por que sentir-se assim, senhorita -disse Spud-. A aposta é um simples divertimento inocente. Embora perca esta noite, sentiria-me muito honrado se aceitasse jantar comigo manhã.

-E um corno -atravessou Aaron-. Tinha planejado lhe pedir que jantasse comigo.

-Igual a eu -apressou-se a dizer Mitch Harris.

-Vamos, vamos, moços -interrompeu-os Jackson-. Já resolveremos essa questão mais tarde. O primeiro é o primeiro -revolveu os cartões e aproximou o chapéu ao Irish-. Possivelmente até convençamos à senhorita para que obsequie com um beijo ao ganhador -adicionou lhe piscando os olhos o olho.

-Disso nem pensar -murmurou Kyle olhando a sua primo com cara de poucos amigos.

Irritada pela atitude do Kyle, Irish esboçou um radiante sorriso e disse:

-Faria-o com muitíssimo gosto.

Os integrantes do grupo sorriram imediatamente.

-Pois vete preparando, preciosa -disse Carlton Gramercy ao tempo que se esfregava as mãos-. Hoje me sinto afortunado.

Finalmente, Irish introduziu a mão no chapéu e removeu por última vez os cartões. A seguir fechou os olhos, pensando que talvez seu futuro dependesse do nome que estava a ponto de extrair, e respirou fundo.

Escolheu um cartão. Não, eram dois, mas pareciam estar pegas. Depois das separar, deixou uma no fundo do Stetson. Os dedos lhe tremeram conforme tirava o cartão do ganhador. "Por favor, que seja Jackson", repetiu mentalmente uma e outra vez.

-Vamos, carinho, que nos tem em velo -disse Spud-. nos diga quem foi o afortunado.

Irish deu o cartão ao Jackson.

-Prefiro que às você.

Ao ler o nome que figurava no cartão, Jackson arqueou as sobrancelhas e sorriu de brinca a orelha.

-Vá, vá, vá -limitou-se a dizer.

 

Irish abriu os olhos de par em par.

-Kyle Rutledge? Mas... mas...

-Não podemos lutar contra o destino, querida -disse Kyle soltando uma risinho.

-Mas... mas...

-Que sorte tem! -disse Carlton lhe dando ao Kyle uns tapinhas nas costas-. Né, Jackson, deixa esse chapéu aí. A senhorita ainda tem que tirar dois cartões mais.

-Está bem. Irish, escolhe acompanhante para a sobremesa e o café.

Irish colocou de novo a mão no chapéu e tirou outro cartão. Esta vez olhou o nome.

-Vernon Hall.

-Demônios, esse sou eu!

-E agora escolhe para as taças de depois do jantar.

Irish extraiu um terceiro cartão.

-Noah Birchfield.

-Então meu presente foi o apropriado -disse ele sorrindo e inclinando-se ligeiramente.

-Isso parece -disse Irish-. Embora terá que pô-lo em gelo.

-Direi ao Pat que o vigie -disse Noah.

-Não sei que é o que lhes trazem entre mãos, mas sonha a algo pecaminoso -disse Harve sorrindo-. Né, Jackson, e o que passa com outros? Quando nos toca ?

-te ande com cuidado -disse MAC-, ou terei que chamar o Esther Ann para lhe dizer que não te está levando como é devido.

-Nem te ocorra. A senhorita simplesmente deseja fazer umas quantas averiguações para seu artigo. Não é assim, senhorita Ellison?

-Assim é, senhor Dudley -disse Irish renda-se.

-Direi-lhes o que vamos fazer -atravessou Jackson-. Confeccionamos uma lista, sorteamos as papeletas e amanhã depois do café da manhã pomos os resultados no tablón de anúncios.

-Mas, quem a leva a tomar o café da manhã? -perguntou Aaron.

-Eu mesmo -disse Jackson.

-Né, tio, nem sequer o sorteaste.

-Pois me denuncie -respondeu Jackson com uma careta zombadora.

-Vamos jantar de uma vez? -perguntou- Kyle ao Irish lhe oferecendo o braço. Ela entreabriu os olhos e suspirou.

-Me dá vontade de te estrangular -murmurou enquanto se dirigiam a uma das mesas-. por que demônios teve que pôr seu cartão no chapéu?

-Já te disse que me viria bem o dinheiro. Além disso, desfruto estando contigo.

-Mas já sabe que procuro um milionário. Deixei-o bastante claro.

-Não há dúvida disso, e não o vou esquecer. Faremos uma coisa. Eu serei seu assessor e te darei informação sobre todos estes tipos. Seguro que quererá te desembaraçar de algum deles.

-Ah, sim?

-Seguro. Por exemplo, arrumado a que MAC não vai contar te que esteve no cárcere. -No cárcere?

-Sim. E se está interessada em perder de vista a algum destes tipos, vais necessitar minha ajuda.

-Está seguro de que Jackson bebe muito? Eu não o notei.

-Confia em mim. Parece um autêntico bêbado. Prefere carne ou pescado?

-Pescado. A propósito, quanto dinheiro ganhaste?

-Doze mil.                                                

-Doze mil dólares?

-Sim. O que prefere com o pescado, arroz ou batatas?

-Arroz. Quer dizer que todos puseram mil dólares?

-Sim. Salada?

-Sim. E de onde tirou você os mil dólares?

-De nenhum sítio. Jackson os pôs por mim.

-Isso vale?

-É obvio que vale. Ganhei, não? Jackson me disse que pagaria todos meus gastos se acessava a jogar golfe com eles. Veio?

-Sim, obrigado. Ainda não o vejo muito claro. Se o dinheiro era do Jackson, ele deveria ter ganho a aposta.

-Disso nem pensar. Tirou meu cartão. Assim ganhei eu. Essas eram as regras. Não pense mais nisso, Irish. Não merece a pena. Jackson está forrado.

O garçom lhes serve uns pãozinhos quentes e Kyle lhe pediu o jantar.

-Crie que Matt, seu próprio irmão, houvesse- devolvido o dinheiro ao Jackson se ele tivesse ganho? Claro que não. Pois eu tampouco. Além disso, vou necessitar o para jogar poquer.

-Ao poquer? Te vais jogar poquer essa quantidade de dinheiro? Não posso acreditá-lo.

-Você molesta que o faça?

-Se lhe pudesse permitir isso não. Todos estes homens são milionários, Kyle. Para eles cem dólares não são nada. Creio que deveria colocar esse dinheiro no banco. Possivelmente Noah pudesse te aconselhar como investi-lo. Conhece o mundo dos bancos e parece um homem muito agradável.

-Não creio que o seja tanto. Me olhe de uma maneira muito estranha. Apostaria a que é um estelionatário.

-Vamos, Kyle, não diga tolices.

-Não me surpreenderia. Investigarei por aí. E você tome cuidado com o Spud Hall. Eis ouvido dizer que os negócios não vão muito bem.

-Quer dizer que está arruinado?

-Quase. Ouvi como lhes pedia um empréstimo a dois do grupo.

-Que lástima. Mas, Kyle, se Spud estiver tão necessitado de dinheiro deveria lhe devolver seus mil dólares.

-De maneira nenhuma. É um homem muito orgulhoso, e, neste momento, para ele mil dólares são como uma gota em um cubo de água. Tem milhões. Por certo, se rumorea que Carlton Gramercy anda também em terreno movediço. Faz tempo que as companhias que fabricam materiais para as jazidas petrolíferas estão passando por dificuldades graves.

-Ah, sim?

-Sim. Esses dois terão que renunciar a seu cartão de sócios o dia menos pensado. E Mitch Harris...

-O que acontece Mitch?

-Ódio ter que falar disso. Só são rumores. Ah, já chega o vinho.

Kyle trocou de tema e se mostrou como um acompanhante encantador, entretido e atento.

Era um homem tão atrativo e tão... sexy que incitava ao pecado. Possuía o dom especial de fazê-la sentir como se fora a mulher mais bela e fascinante do mundo. Mas...

Irish emitiu um suspiro.

Kyle tinha tudo o que ela procurava salvo uma coisa. Dinheiro.

Em definitiva, não lhe convinha como marido.

Dirigiu-lhe um brilhante sorriso, retirou a cadeira e se levantou.

-O jantar estava delicioso. Agora, se me desculpar, reunirei-me com o Vernon para tomar a sobremesa e o café.

-Mas se ainda não terminamos o primeiro prato.

Irish olhou a salada que se deixou ao meio comer.

-OH -exclamou surpreendida e voltou a ocupar a cadeira, sentindo-se como uma completa estúpida.

-Acaso está nervosa? -perguntou Kyle.

-um pouco, possivelmente. Todos estes milionários são um pouco desalentadores.

-te tranqüilize -disse ele lhe apertando brandamente a mão-. Esses tipos ficam as calças colocando primeiro uma perna e logo outra, como qualquer pessoa. Embora, certamente, eu não gostaria de me encontrar a sós com nenhum deles.

-por que não? -perguntou Irish ao tempo que retirava a mão.

Kyle arqueou as sobrancelhas e se encolheu de ombros.

-Recorda que adoram competir entre si.

Não me surpreenderia que tivessem entre mãos outra aposta, Y... -encolheu-se de ombros novamente.

-Quer dizer que estão apostando em ver quem liga antes comigo?

-Bom, tampouco tenho dito isso, neném.

-Mas o insinuaste.

-Esquece que o mencionei. Estou seguro de que não tem nada que temer. Nunca ouvi que no clube se fizesse nada parecido. Ah, já chega o pescado.

Irish não pôde esquecê-lo. Tinha tal nó no estômago que logo que pôde provar bocado.

A sobremesa com o Spud foi bastante tranqüilo. Felizmente, não tentou levá-la a sua habitação nem colocá-la em nenhum dos armários onde se guardavam os trastes da limpeza. Mais que nada, falou da ponte que estava construindo e dos jeans de Dallas. Era um homem agradável, mas muito rude para ela, mesmo que não tivesse problemas financeiros.

Noah Birchfield, um dos poucos membros do clube que não dava a impressão de levar botas de vaqueiro todo o tempo, era farinha de outro costal. O banqueiro, de maneiras suaves e corteses, levou-a a uma mesa apartada situada em um alpendre contigüo. Irish viu uma garrafa de champanha esfriando-se em uma cubetera de prata. Em cima da imaculada toalha de linho havia vários pratos de queijo e morangos cheios de chocolate.

-É maravilhoso -disse Irish enquanto Noah lhe aproximava uma cadeira.

-Nem a metade de maravilhoso que você, querida. Irish sentiu como lhe subiram as cores quando ele se inclinou e lhe agarrou a mão em um elegante gesto de cortesia.

A luz das velas iluminou o couro cabeludo do Noah enquanto lhe roçava os dedos com os lábios. Enfim, disse-se Irish com resignação. Que importância tinha uma pequena calva quando a gente podia suprir a falta de cabelo com imensas quantidades de dinheiro? Além disso, na atualidade os transplantes capilares obravam milagres.

-Mas que demônios faz?

Kyle se sobressaltou para ouvir a voz do Jackson.

-Levam já três taças de champanha e se estão pondo morados de morangos.

-Esse Noah é um muito suave. Não deixa que a erva cresça sob seus pés. Não sei o que é o que tem, mas creio que as mulheres se voltam loucas com ele. Parece bastante entusiasmado com a senhorita Ellison.

-E um corno! Irish é minha!

-Possivelmente deveria dizer-lhe a ela. Parece encontrar-se muito a gosto com o Noah. A propósito, deve-me doze mil dólares e um beijo.

-De que falas? Não te devo nada. E não penso te beijar, certamente.

-Enfim, tampouco me vou morrer por isso -disse Jackson com uma sorrisinho-. Qual é o homem mais afortunado que conhece?

Kyle não teve que pensar-lhe muito. Era Jackson. Sempre o tinha sido. Inclusive quando o avô Pete deu a cada um de seus netos um milhão de dólares como presente de graduação, prometendo multiplicar a quantidade por dez se o receptor dobrava o milhão em dois anos, Jackson tinha tido um golpe de sorte. Em lugar de investir o dinheiro ou montar um negócio, como fizeram outros, Jackson comprou loteria.

E vá se ganhou. Onze milhões de dólares.

-O que tem que ver sua sorte com que eu te dê um beijo?

-Para falar a verdade, estou mais interessado em seu dinheiro. Entretanto, não me importaria que me desse nosso beijo querida senhorita Ellison.

-Que nome crie que tirou Irish desse chapéu?

-Não foi o meu?

-Não. Fiz armadilha quando ela me pediu que o lesse. Não te interessa saber aonde vão? -perguntou Jackson estirando o pescoço para olhar pela janela.

-me deixe ver -disse Kyle apartando a sua primo para poder ver melhor-. aonde foram?

-Ao lago.

-Como a toque, rompo-lhe as pernas.

-E você é médico? O que me diz de seu juramento hipocrático?

-Esse tipo não é meu paciente. Romperei-lhe as pernas.

 

Irish compreendeu muito tarde que dar um passeio com o Noah para contemplar os peixes não tinha sido, nem muito menos, uma boa idéia. Não só estava muito escuro para poder distinguir os peixes, mas também, além disso, fez-se óbvio que Noah tinha bebido muito. Obviamente teria tomado algumas monopoliza antes de reunir-se com ela. Seu comportamento tinha deixado de ser tão cortês como ao princípio.

Aquele homem estava completamente bêbado.

Quando lhe deslizou a mão pela cintura para lhe agarrar as nádegas, ela se separou dele rapidamente.

-OH, OH. Nada disso, senhor Birchfield.

-Noah, preciosa. me chame Noah -disse equilibrando-se sobre ela-. Eis estado desejando provar o sabor desses deliciosos lábios desde a primeira vez que te vi. Vamos, me dê um beijo.

Ela tratou de esquivá-lo, mas lhe plantou um úmido beijo na bochecha e começou a lhe acariciar o pescoço com os lábios. O pânico começou a apoderar-se do Irish. "te tranqüilize, te tranqüilize", disse-se. Podia dirigir a situação sem problemas. Aquele homem estava bêbado, simplesmente. Irish já tinha saído adiante em situações como aquela.

Irish se secou a bochecha e o separou de si.

-Senhor Birchfield, por favor.

-Noah.

-Noah, por favor, me deixe. bebeu muito e não sabe o que faz.

-Sei muito bem. Faço o que os dois quisemos fazer desde que te dava o primeiro morango.   .

Que estúpida tinha sido ao flertar com ele! Noah a abraçou com força e procurou de novo sua boca.

Ela sacudiu desesperadamente a cabeça de um lado a outro, tratando de evitar o contato de seus lábios.

-me deixe, por favor, me deixe. Noah lhe colocou o joelho entre as pernas e lhe introduziu a mão debaixo da blusa. O tecido se rompeu e uma corrente de lembranças horríveis foram à memória do Irish. Lançou um grito que rasgou o Silêncio da noite.

-É um porco! -gritou alguém detrás dela. De repente, Irish estava livre, mas não podia deixar de gritar.

ouviu-se um murro e alguém caiu ao lago.

Logo, outros braços a rodearam. Um aroma masculino familiar a envolveu e a confortou. -Kyle?

-Sim, carinho, sou eu. te acalme. Já aconteceu tudo.

-Kyle, eu... ele...

-Chist. Não diga nada.

-O que passou? -perguntou Jackson, que nesses momentos se aproximava correndo.

Kyle seguiu abraçando ao Irish e lhe dando tapinhas tranqüilizadores nas costas.

-Será melhor que tire o Birchfíeld do lago antes de que se afogue. Mas te asseguro que se voltar a ver esse filho de cadela sou capaz de matá-lo.

-Ao inferno com o Birchfield -respondeu Jackson-. Irish está bem?

-Fisicamente, creio que sim. Mas emocionalmente está afundada.

-Chamo um médico?

-Por Deus, Jackson!

-Ah, sim. Esqueci-o. Escuta, por que não a leva a essa cabana até que se acalme um pouco? Ninguém a ocupa e não está fechada com chave. Eu me encarregarei do Noah.

Kyle balançou ao Irish em seus braços e a conduziu à cabana. Ela lhe pendurou do pescoço como se fora uma menina e recostou a cabeça em seu peito. O corpo inteiro lhe tremia como se lhe estivesse congelando.

Kyle a levou dentro, acendeu a luz e se sentou no sofá com ela no regaço. Os dentes lhe tocaram castanholas quando tentou falar.

-Chist. Já passou tudo, carinho. Tem frio?

Irish assentiu energicamente.

-Acendo o fogo?

Irish assentiu de novo com a cabeça. Quando ele tentou deixá-la a um lado e levantar-se, ela lhe agarrou ao pescoço.

-Carinho, não posso te sustentar e acender o fogo de uma vez.

-te esqueça do fogo. me aperte muito forte e não me deixe sozinha. Tinha medo, muito medo. Noah me trouxe lembranças horríveis do homem... do homem de Nova Iorque. Entrou em meu apartamento e tentou... tentou me violar. Eu resisti e ele me fez um corte na cara. Gritei e gritei sem parar. me abrace, Kyle. me abrace e não deixe que me façam mal.

-Chist. Não permitirei que lhe façam mal. Nem te deixarei sozinha.

Durante um bom momento permaneceram abraçados, sem falar, sem mover-se. O único que se ouvia na habitação era o som da respiração de ambos e o tictac de um relógio que havia em cima da chaminé. Ao cabo de um momento, Irish deixou finalmente de tremer.

-Não me violou. Fugiu e nunca o encontraram. Um cirurgião plástico me arrumou a cara, e um psicólogo me ajudou a superá-lo. Agora estou bem.

-É obvio que o está.

-Sim, realmente me encontro bem.

-Quase.

Kyle a abraçou com mais força. Pouco a pouco a tensão que Irish tinha sentido em todo o corpo se foi dissipando. Ele notou como ela se relaxava entre seus braços.

-Deus, sinto-me como uma estúpida -disse Irish suspirando profundamente.

-Pois não tem aspecto de estúpida.

-Que aspecto tenho?

-Tem o aspecto de uma bela mulher a que um néscio insensível deu um bom susto.

-Começou sendo muito amável, mas estava bêbado.

-Não há desculpas que valham. -Não soube controlar a situação. Creio que exagerei. Começaram a me vir lembranças muito desagradáveis e tive medo.

-Mesmo assim, ouvi como dizia ao Birchfield que te soltasse, mas ele não o fez. Não trate de desculpá-lo. Nada do que ocorreu é tua culpa. Eu gostaria de castrar a esse porco com umas tesouras de podar. Eu gostaria...

-Vamos, Kyle, quem está exagerando agora? Kyle tentou seguir falando, mas as palavras lhe engasgaram. Seus olhares se encontraram e uma faísca de luz resplandeceu entre os dois. Ele morria por beijá-la, mas sabia que Irish estava muito vulnerável e de maneira nenhuma satisfaria seu desejo a costa dela.

Além disso, tal e como ele se sentia, um beijo não seria suficiente. Não, teria que deixá-lo para mais adiante.

-No que estas pensando? -murmurou ela.

-Em nada.

-É um mentiroso.

Irish elevou a cabeça e situou os lábios à altura da boca do Kyle.

-Devo-te um beijo -sussurrou.

-Ah, sim?

-Sim, por ter ganho.

Suas bocas se atraíam como se fossem ímãs.

-Irish, penso que não é boa IDE...

-Não pense em nada. Só me beije.

 

Kyle não necessitou que o dissesse duas vezes. Aproximou sua boca a do Irish e ela sentiu profundamente a intensa paixão que envolvia seus corpos. Não deveria estar fazendo aquilo, disse-se a si mesmo enquanto se apertava contra ele, mas se sentia como no muito mesmo céu.

-Irish, carinho, não está bem que façamos isto depois do que acaba de passar -disse Kyle enquanto lhe beijava o pescoço.

-Tranqüilo, não passa nada -disse ela jogando a cabeça para trás para lhe facilitar o passo-. E, por favor, não te vás fazer uma idéia equivocada. Isto não significa nada.

-Já sei, carinho -murmurou Kyle sem deixar de beijá-la.

-Só necessito que me consolem.

-Sei, céu -respondeu ele ao tempo que lhe tirava a cadeia de ouro do pescoço e a deixava em cima da mesinha.

Exalando um intenso suspiro, Irish afundou os dedos no espesso e maravilhoso cabelo do Kyle e o convidou a seguir para baixo. Ele foi desabotoando todos os botões que encontrava a seu passo. Faria tudo o que fora necessário para prolongar o prazer.

-Kyle, por favor.

-O que, meu amor?

-Tome. faça-me isso com a boca.

O lhe desabotoou o prendedor e o deixou a um lado.

-Aqui? -perguntou Kyle lhe tocando os mamilos com a ponta da língua.

-OH, sim, aí.

-Você gosta?

-Muitíssimo. Segue um pouco mais.

O seguiu, tal como lhe pedia. Ao cabo de uns minutos, ambos se encontravam nus. Não havia zona no corpo do Irish que ele não tocasse. E a pele dela se voltou mil vezes mais sensível ao sentir o contato de seus dedos, de seus lábios, de sua língua.

-Kyle, OH, Kyle -sussurrou Irish embargada pelo desejo.

-O que quer, neném?

-Quero te ter dentro de mim. Agora.

-Está segura de que o deseja, Irish?

-claro que sim!

-Já te recuperaste que os machucados que sofreu montando a cavalo?

-Que cavalo?

-O cavalo do Jackson.

-Encontro-me perfeitamente.

Kyle começou a abrir-se passo entre as pernas do Irish. Não obstante, quando estava a ponto de penetrá-la, deteve-se.

-O que passa agora?

-Necessitamos amparo.

-Não tem nada?

-Espero que sim.

Kyle agarrou as calças do chão e começou a rebuscar nos bolsos.

-Não estará tomando a pildora, por acaso?

-Não, nem levo preservativos. Não acreditei que fora a necessitá-los.

-me espere aqui. Não te mova.

-aonde vai?

-Ao banho. Espero que esta cabana esteja equipada com todo o necessário.

Estava-o. Coma de que Irish se desse conta do que ia acontecer, Kyle se encontrava de novo a seu lado, beijando-a, lhe murmurando palavras de amor, envolvendo-a em um louco frenesi.

Quando a penetrou, Irish se sentiu como se tivesse estado esperando aquele momento durante toda sua vida. aferrou-se fortemente a ele e juntos começaram a mover-se em perfeita sincronização.

Não existia outro lugar, nem outro momento. Cada segundo durava uma eternidade. Seus frenéticos movimentos os levaram a chão, mas a paixão seguiu crescendo entre suas línguas, que se buscavam, entre suas mãos, que se acariciavam com desespero. À medida que se foram aproximando do clímax, lhe repetia uma e outra vez palavras de amor provocadoras, e os gritos e os movimentos dela aumentaram de forma incontrolável.

-Sim! -exclamou Irish soluçando ao notar que uma onda de prazer estalava em seu interior.

Kyle gritou seu nome e se uniu a ela no ardente mar do prazer.

Durante um comprido momento permaneceram assim, abraçados, saboreando a sensação de bem-estar mais profunda que jamais tivessem podido imaginar.

Quando voltaram para a realidade, ela se deu conta de que estava em cima de um sapato e de que um pouco afiado lhe estava cravando nas nádegas. O corpo do Kyle se voltou de repente tremendamente pesado. Irish tentou mover-se.

Ele levantou a cabeça e lhe beijou os peitos.

-Como acabamos no chão? -perguntou.

-Não tenho nem idéia.

As mãos do Kyle começaram a explorar as zonas mais delicadas do corpo do Irish.

-Kyle!

-Você não gosta?

-Sim, mas...

Acariciou-lhe os mamilos com os lábios e ela emitiu um profundo suspiro.

-E isto? Você gosta? -voltou a perguntar ele.

-Claro que eu gosto, mas...

-Sente-se consolada?

-Consolada?

-Já vejo que terei que me esforçar um pouco mas.

Tomou entre seus braços, levou-a a habitação e passou toda a noite consolando-a.

 

Um pequeno raio de luz penetrou através das cortinas. Irish despertou sobressaltada. Sentiu o peso do braço do Kyle lhe rodeando a cintura e o sopro de sua respiração sobre os ombros.

De repente, uma grande ansiedade se apoderou dela. Deus bendito, haviam... haviam...

Sim. Tinham-no feito várias vezes.

E tinha sido fantástico.

tornou-se louca? Procurava um marido rico, e não um apaixonado queda com um tio bom que não tinha nem um duro.

Deixou escapar um suspiro. em que pese a tudo, tinha sido uma experiência intensa e maravilhosa.

Mas Kyle Rutledge não era o homem adequado para ela. Absolutamente.

Recordou vagamente que Kyle lhe havia dito que a queria. O teria sonhado? Não, tinha-o ouvido dizer aquelas palavras várias vezes ao longo da noite. Haveria-lhe dito ela o mesmo?

Não. Seguro que não.

Ela não podia amar ao Kyle. Não entrava dentro de seus planos. Mas tinha a sensação de haver dito mais de uma tolice enquanto estavam fazendo o amor.

Kyle despertou. Levantou a cabeça, sorriu e a atraiu para si.

-bom dia, carinho. Espero que não lhe aduela nada -disse-lhe beijando-a com doçura.

-Estou perfeitamente -respondeu Irish levantando-se da cama e envolvendo-se com um lençol-. Tenho que ir. Tenho de tomar o café da manhã com o Jackson.

-Poderíamos tomar o café da manhã na cama.

-Ah, não. Não vais dissuadir me de meus planos. Sabe muito bem por que estou aqui. Admito que foi uma noite muito agradável...

-Agradável?

-Sim, muito agradável. Mas isso não significa nada. No rosto do Kyle se desenhou um amplo sorriso.

-Felpa essa risinho de sua cara, Kyle Rutledge. Asseguro-te que não significou nada. Encontrava-me mau e você me consolou. Agradeço-lhe isso, de verdade, mas isso foi tudo. E se em algum momento disse algo que te pudesse fazer acreditar o contrário, foi só palavrório.

-Palavrório?

-Sim, coisas que se dizem no calor da noite, mas que à manhã seguinte não significam nada.

Entende?

-Eu sentia realmente tudo o que pinjente, carinho.

-Bom, pois eu não. Quero dizer que não recordo exatamente o que pinjente, mas te estou muito agradecida, Kyle. Sentia-me muito mal, embora Noah não chegasse a me fazer nada. Ponho-me assim algumas vezes, especialmente de noite. Meu terapeuta diz que me porei bem quando me sentir a salvo e segura.

-Entendo. E crie que uns quantos milhões lhe ajudarão?

-Exato. Com esses quantos milhões que você despreza se pode obter segurança. Grades, alarmes, cães guardiães... Tudo o que seja necessário. Mas, sobre tudo, esse dinheiro fará que me sinta segura por dentro -adicionou destacando o peito.

Ele assentiu de novo.

por que não se tampava um pouco com os lençóis? Ali estava ela, tentando lhe explicar por que não podiam estar juntos, e ele jogado na cama, totalmente nu e excitando-se de novo.

-Necessita algo mais de consolo? -disse lhe fazendo um gesto muito significativo.

-É obvio que não! É que não tem vergonha?

-Nem pingo -respondeu ele tornando-se a rir. Irish se foi para o banho.

Abriu a ducha e se meteu na banheira. Acabava de começar a esfregar-se com o sabão quando se abriu a porta e entrou Kyle.

-O que está fazendo aqui? -perguntou ela.

-Quero tomar banho -respondeu ele ao tempo que agarrava o sabão e esfregava o corpo do Irish.

-Kyle?

-Mmm?

-Não deveria fazer isso.

-Não?

-Não, e quero que pares agora mesmo -disse Irish suspirando sem poder evitá-lo.

-Sim, carinho. Agora mesmo.

-Kyle, isto não significa... nada. Pode que tenhamos tido uma excitante aventura sexual, mas eu vou A... um pouco mais acima... ahhh... fantástico... vou casar me com um milionário. Estou decidida.

-Sei, carinho. Sei.

 

Irish as arrumou para chegar até sua habitação sem que a visse ninguém. Rapidamente se trocou de roupa, ficou um pouco de maquiagem e baixou para tomar o café da manhã com o Jackson.

Chegou quinze minutos tarde, mas ele tinha tido a amabilidade de esperá-la e ficou de pé assim que a viu aproximar-se. Retirou-lhe a cadeira e fez um sinal ao garçom para que trouxesse café e suco.

-Sinto chegar tarde.

-Não se preocupe. Para falar a verdade, não me teria surpreso que não te tivesse apresentado. Lamento o que aconteceu Noah. Parece ser que bebeu muito. Em qualquer caso, os moços me ajudaram a colocá-lo em um carro e um de nossos empregados o levou a Dallas. Assim não te incomodará de novo.

-Eu também o sinto. Creio que minha presença lhes causou problemas.

-De maneira nenhuma. Nem te ocorra pensar isso. Não quero que cria que todos os homens do Texas nos comportamos igual. Gosta de comer algo?

Jackson não pôde ter sido mais amável. além de cortês e educado, era bonito, alto e moreno. Mas enquanto comiam e conversavam, Irish não deixou de pensar que seria muito mais atrativo se tivesse o cabelo loiro e os olhos azuis.

Jackson representava tudo o que uma mulher podia desejar, mas entre eles não existia essa química especial, essa sensualidade que estava acostumado a eletrificar o ambiente quando duas pessoas se atraíam.

Não obstante, aquilo poderia chegar com o tempo, disse-se Irish. uns quantos beijos daquela boca tão sexy fariam, certamente, que se sentisse transportada pelos ares.

Enquanto o observava cortar uma fatia de presunto, fixou-se em suas grandes mãos e em seus dedos largos e perfeitos.

-Não crie? -perguntou Jackson.

-Perdoa, como diz?

-Dizia que depois de sua má experiência com o Noah, talvez deveríamos esquecer a idéia de que reparta seu tempo com o resto do grupo.

-OH, não. Absolutamente. Encontro-me bem. Isso sim, não voltarei a me colocar com ninguém por atalhos escuros.

-Irish, asseguro-te que não terá mais problemas no clube. Todos sabem o ocorrido com o Noah e estão bastante desgostados. Não queremos que te leve uma má impressão dos homens do Texas por culpa de um canalha corno Noah.

-Tranqüilo, não devem lhes preocupar por isso.

Recordando que, ocorresse o que ocorresse, tinha um compromisso com a revista Esprit, Irish tirou o bloco de papel de notas da bolsa e fez ao Jackson umas quantas perguntas.

Quando tiveram terminado a entrevista e o café da manhã, Jackson tomou o chapéu com os cartões e juntos programaram os almoços, coquetéis e jantares. depois dos jantares estaria livre, coisa que a tranqüilizou. Poderia unir-se ao grupo ou passar o resto da velada com o Jackson ou com quem gostasse.

-Joga golfe? -perguntou-lhe Jackson.

-Não tenho nem a mais remota idéia de como se joga.

Jackson sorriu.

-vamos jogar um momento esta manhã. Se quiser, pode nos acompanhar ou ficar na piscina até a hora de comer.

Irish decidiu ficar na piscina.

 

Não se deu conta de que se ficou dormida na tumbona até que uma mão lhe tocou o ombro e a sacudiu brandamente. despertou sobressaltada, como estava acostumado a fazê-lo sempre.

Carlton Gramercy, vestido ainda com a roupa de golfe, estava de pé junto a ela.

-Sinto te incomodar -disse Carlton sorrindo-, mas creio que me toca almoçar contigo. Você gostaria de comer aqui, junto à piscina?

-Estupendo.

-Queria me refrescar um pouco. vou trocar me e ordenarei que nos tragam aqui o almoço. Gosta de algo em especial?

-Conformo-me com algo, obrigado.

Assim que Carlton se partiu, Irish agarrou sua bolsa e começou a arrumar a maquiagem rapidamente. Carlton não era tão bonito como Jackson, mas sem dúvida era um homem muito interessante. E embora Kyle tinha comentado que os negócios não foram muito bem, nunca se sabia. Sim, podia ser um bom candidato.

Quando logo que tinha começado a empoeirá-la cara, ouviu que alguém se mergulhava na piscina.

Girou rapidamente a cabeça e viu uma forma masculina que se aproximava mergulhando para onde ela estava. Vá, Carlton era verdadeiramente rápido. Uma cabeça loira surgiu da água. Não era Carlton, a não ser Kyle.

-Olá. Ele água está estupenda. Vamos, te coloque.

-Não, obrigado. Carlton e eu nos dispomos a almoçar e não quero me molhar o cabelo.

-Vi-te com o cabelo molhado, e creio que está muito sexy.

-Kyle! Vamos, vete.

-Creio que ficarei nadando um momento. Fazia muito calor no campo de golfe. Tenho-te dito que lancei um setenta e oito? ganhei outros dois mil e duzentos dólares.

-Isso está muito bem. E agora, vete, por favor. Carlton está a ponto de retornar.

-Se eu fosse você, esqueceria-me dele. depois de tudo, não só tem um negócio que se vai a rivalidade, mas também também dois meninos e uma amante no Lubbock.

-te largue, Kyle. Não creio nem meia palavra do que diz.

-Crie que te mentiria? -disse Kyle sorrindo-. Se mal não recordar, adverti-te que Noah Birchfield não era de confiar.

-OH, está bem. E agora, quer partir, por favor?

-Seus desejos são ordens para mim -disse Kyle. E se afastou nadando.

Carlton retornou, e a comida chegou poucos minutos depois. Com o cabelo negro, veteado de cinza nas têmporas, Carlton não estava nada mal em traje de banho. Além disso, era quase tão encantador e cavalheiresco como Jackson.

Enquanto estiveram conversando não comentou nada a respeito dos dois meninos dos que tinha falado Kyle, nem disse que seus negócios fossem mau. Irish lhe fez umas quantas perguntas para seu artigo, embora não conseguiu concentrar de tudo. Cada vez que levantava a vista via o Kyle movendo a cabeça e lhe fazendo sinais.

O jantar com o MAC foi tão desastrosa como o almoço. Não por culpa do MAC, mas sim do Kyle. Quando ela e MAC, um homem de pele curtida e de cabelo avermelhado, sentaram-se no reservado depois de jantar, Kyle se aproximou deles e, fazendo ornamento de uma desfarçatez tremenda, disse:

-Creio que este tango é nosso.

antes de que Irish tivesse ocasião de reagir, levantou-a da cadeira e a agarrou entre seus braços.

-Dança o tango, verdade?

-É obvio que o danço, mas...

-Estava seguro de que o faria. nasceste para dançar o tango.

Apertou sua bochecha contra a dela e se deslizou pela pequena pista de baile. Cada vez que ela tentava separar-se, ele a sujeitava como se fora um ioiô e se deslizava para o outro lado da pista.

-Por Deus, Kyle...

-Que sexy te põe quando dança.

-Kyle Rutledge...

-eu adoro a maneira em que pronuncia meu nome.

A canção terminou por fim. Mas quando Irish tentou retornar com o MAC, Kyle a agarrou e lhe disse:

-Espera. Escuta. É uma SAMBA. Dança a SAMBA?

-Sim, eu... Não. Não a danço.

-Muito tarde, já te tenho.

Irish tentou escapar dele.

-Escuta, Desi Arnez, se quer dançar a SAMBA, faz-o você sozinho. Estou acompanhada, recorda-o?

-Ah, sim. Com o presidiário. Falou-te que quando esteve no cárcere?

Irish retornou junto ao MAC. Este se levantou quando a viu aproximar-se da mesa.

-Sinto muito -disse Irish enquanto sustentava a cadeira.

-Eu também o sinto -acrescentou Kyle ao tempo que agarrava outra cadeira-. Morro por falar contigo um pouco mais, MAC, e te fazer algumas pergunta sobre esse galeón que encontrou na costa de Porto Rico faz dois anos.

Ao Irish entraram vontades de estrangulá-lo. Apesar de suas indiretas, Kyle permaneceu pego a eles como um ignorante na quilha de um navio velho.

Quando Irish se deu finalmente por vencida e se despediu do MAC, Kyle se levantou sorrindo.

-Acompanho-te até sua habitação, Irish -fez- uma piscada ao MAC e lhe disse-: Somos vizinhos, sabe?

Enquanto subiam no elevador, Irish teve que conter-se para não lhe gritar. Se Kyle pensava que ia passar a noite com ela, estava muito equivocado.

 

Irish abriu lentamente um olho, viu a cabeça que havia no travesseiro junto a ela e deixou escapar um grunhido. Como tinha podido deixar que ocorresse de novo?

A culpa a tinha tido o beijo.

"Um pequeno beijo de boa noite", havia-lhe dito Kyle. "Não passará nada."

E ela tinha picado como uma estúpida.

Mas não voltaria a acontecer.

-te levante, Kyle -disse lhe dando um tapinha nas nádegas-. Tem que voltar para sua habitação antes de que alguém descubra que está aqui. E foi a última vez que te coloca comigo na cama. Nem sequer devi te deixar entrar. meu deus, devo estar mal da cabeça. Não é meu tipo, compreende? Não é meu tipo absolutamente.

-Porque não estou podre de massa? -repôs Kyle-. Esse detalhe não pareceu te importar ontem à noite -acrescentou com um sorriso-. Se mal não recordar, disse-me que...

-Não deve tomar a sério o que pinjente.

-Pois me pareceu que o dizia de coração. "OH, Kyle, meu carinho -pôs voz de falsete-. É o único homem de minha vida. Nunca poderei amar a outro..."

Irish lhe sacudiu com o travesseiro.

-te cale. Não me interessa o que tenha que dizer. Por certo, a partida de golfe não começa dentro de vinte minutos?

-Que horas são? -Kyle se levantou de um salto e consultou o relógio-. Vá, tem razão. Jackson me cortará a cabeça se chegar tarde -deu-lhe um beijo e saiu rapidamente da cama. depois de ficar a toda pressa as calças, recolheu o resto da roupa e se dirigiu para a porta-. Verei-te logo, carinho.

-Não se posso evitá-lo. Mais vale que te mantenha afastado de mim hoje -disse-lhe em voz alta-. me vais danificar isso tudo.

Irish se deixou cair de novo na cama e se cobriu a cabeça com os lençóis. Como tinha cometido o engano de passar a noite com ele?

Estúpida, mais que estúpida.

Jamais tinha tido problemas para lhe dar a um homem uma negativa. Não estava acostumado a praticar o sexo esporádico e, por esse motivo, tinha tido que rechaçar a mais de um mosca azul. Mas Kyle tinha algo que a desconcertava. disse-se que teria que pôr mais força de vontade, simplesmente. Ao fim e ao cabo, como ia caçar a algum daqueles milionários nos cubra se Kyle não a deixava nem a sol nem a sombra?

Acaso deitar-se com ele era uma experiência pela que merecesse a pena renunciar à oportunidade de sua vida?

Ao evocar certos momentos vividos a noite anterior, Irish suspirou e sorriu satisfeita. Kyle era o melhor amante do mundo. Tinha uma forma de...

Não! Não devia permitir que aquele homem arruinasse seus planos. Tinha ido ao Texas a encontrar um marido rico, e isso pensava fazer.

Apartou os lençóis e se aproximou do penteadeira para consultar sua lista. Tinha que almoçar com o Aaron Golden. Aaron possuía uma cadeia de lojas de moda masculina, e levava um anel de diamantes que provavelmente custaria o que ela ganhava em dois anos.

Irish abriu o armário e inspecionou seu vestuário. Dispunha de toda a manhã para arrumar-se, e se tinha proposto deslumbrar ao bom do Aaron. Mas resultou que o bom do Aaron era um chato quase insuportável. Irish reprimiu um bocejo ao tempo que brincava com as ervilhas de seu prato, aborrecida como uma ostra. Onde estava Kyle quando o necessitava?

O coquetel com o Jim Welborn tampouco foi nenhum êxito. Por muito que o tentava, Irish não encontrava nenhum interesse em temas como o cultivo do arroz ou o armazenamento do trigo. Jim era um homem muito amável, mas também muito insípido. Extremamente insípido.

Mitch Harris era farinha de outro costal. Tinha ganho uma fortuna jogando futebol profissional e logo, depois de retirar-se, tinha-a investido em diversos negócios, entre eles a cria de cavalos. Era um homem muito atrativo, dotado de uns ombros muito largos e um sorriso deliciosamente infantil. Tinha o cabelo escuro e encaracolado, tão comprido que o recolhia em um precioso acréscimo.

Durante o jantar se mostrou brilhante, educado e entretido.

-Não sei por que, mas não consigo me levar bem com os cavalos -disse-lhe Irish-. A outra tarde saí a cavalgar com o Jackson e me caí duas vezes. Mitch fez uma careta.

-Sim, sofri várias quedas e me consta que não é agradável. Mas estou seguro de que sou melhor instrutor que Jackson. Nada me agradaria mais que lhe dar umas quantas lições. Só tem que passar-se por meu rancho.

-Onde está?

-Perto de um pueblecito chamado Brenham. Possuo várias centenas de acres de terreno. Asseguro-lhe que é precioso, sobre tudo na primavera. eu adoraria que o visitasse, de verdade. E quanto antes o faça, melhor.

-Parece-me fantástico -respondeu Irish esboçando seu melhor sorriso.

De repente, Kyle se aproximou da mesa.

-Como vai isso, meninos? Lamento te interromper, Mitch, mas lhe chamam por telefone. Pode atender a chamada no mostrador.

Depois de desculpar-se oportunamente, Mitch se foi a toda pressa e Kyle aproveitou para ocupar sua cadeira. Jogou uma olhada ao redor e logo, inclinando-se ligeiramente, sussurrou ao Irish:

-Preferiria não te dizer isto, mas creio que deve sabê-lo para que não te faça falsas esperanças.

-Do que está falando?

Kyle voltou a olhar a um e outro lado do bar.

-Mitch é gay.

-Me tirares o sarro!

-Absolutamente. É um tipo estupendo, mas é decididamente gay.

-Lhe está inventando isso, Kyle Rutledge. Não te creio. Mas se tiver sido jogador de futebol, pelo amor de Deus.

Ele se encolheu de ombros.

-Isso não tem nada que ver. Há muitos jogadores de futebol que são homossexuais. Se não me crie, lhe pergunte ao Jackson -levantou-se da cadeira e se afastou com passo tranqüilo.

Mitch retornou e seguiu mostrando-se tão galante como antes, mas Irish não conseguia tirar-se da cabeça a questão de suas preferências sexuais. Aquele hombretón de aparência tão viril não podia ser homossexual, nem pensar. Seguro que Kyle tinha mentido como um velhaco. Não obstante, as tinha arrumado para lhe danificar a velada. Irish retornou a sua habitação cedo. Depois de fechar a porta e assegurá-la com uma cadeira, meteu-se na cama. Sozinha.

 

Ao dia seguinte, depois de tomar o café da manhã, os homens partiram em turba para o campo de golfe. Irish lhes disse adeus com a mão e tomou uma segunda taça de café. Logo se aproximou do mostrador e passou uns minutos conversando com o Tami. Tinha três horas e meia livres antes de seu almoço com o Bob Willis.

Não gostava de ir nadar, nem ficar na habitação lendo ou vendo a televisão. E, certamente, não tinha nenhuma vontades de montar a cavalo.

O velho Pete.

Irish sorriu. Claro. adoraria lhe fazer uma visita ao ancião para ver como estava.

-Vá, que me crucifiquem -exclamou Pete meia hora mais tarde quando viu entrar no Irish pela porta de sua habitação-. Olhe quem veio. Pode te retirar, querida -disse à enfermeira que o atendia-. Quero conversar tranqüilamente com esta bela senhorita. Irish era modelo, como Claudia e Cindy, embora avantaje às duas em beleza, segundo minha humilde opinião.

Irish se pôs-se a rir.

-Mas que encantado é você, Pete. O que está lendo? -perguntou-lhe ao tempo que jogava uma olhada ao livro que havia na mesinha de noite-. Uma novela romântica?

-Assim é. Já te disse que me interessa ler todo tipo de livros. Embora minha enfermeira não é tão boa leitora como você. Além disso, parece-me que lhe dá vergonha ler em voz alta alguns parágrafos -Pete deu um tapinha na cama-. Quer te sentar?

-Claro. Gosta que lhe leia um momento? eu adoro as novelas românticas.

-É obvio.

Irish leu durante uma hora, aproximadamente. A história romântica tinha despertado o lado sentimental do Pete, de modo que ficou a falar de sua esposa.

-De jovem era um autêntico golfo -explicou-. Mas assim que conheci meu Molly soube que ela era a mulher de minha vida. Nunca voltei a olhar a outra.

Irish arqueou as sobrancelhas.

-Alguma vez?

-Bom, é uma forma de falar. É obvio que de vez em quando me eis recreado olhando a alguma mulher formosa, mas nada mais. Apaixonei-me perdidamente de minha esposa e só a desejei a ela. Suponho que assim se sentirão meus netos quando encontrarem à mulher de sua vida. Por certo, que tal vai ao Kyle e a ti?

Irish sorriu.

-Ainda está empenhado em fazer de casamenteiro?

-Sim. Kyle me esfolaria se se inteirasse de que tenho voltado a te fazer outra oferta, mas te aconselho que te pense bem o dos dois milhões -seus olhos negros brilharam intensamente-. Eu gostaria de te ter na família.

-É você muito amável, mas não creio que Kyle seja o homem adequado para mim.

-Está segura? Posso elevar minha oferta a dez milhões.

Irish se levantou rendo e lhe deu um beijo na bochecha.

-É você incorrigível, Pete. Vou ao armazém a procurar um pacote de barras de chocolate. Quer compartilhá-lo comigo?

-Claro. E o que me diz do Jackson? Você gosta? É um bom moço. um pouco rebelde, mas...

Nesse momento, uma mulher corpulenta entrou na habitação e disse:

-É a hora de sua terapia, senhor Beamon.

-Vá-se, mulher -respondeu o ancião-. Não me traz você mais que tortura. Além disso, não vê que tenho visita? Estamos falando de negócios sérios.

-Deixe de bobagens -respondeu a fisioterapeuta-. Isto é por seu próprio bem e você sabe.

-É uma negreira -disse Pete ao Irish-. Poderia dar lições ao Simón Legree.

-Seguro que você também -respondeu ela-. Enfim, será melhor que vá. Voltarei a lhe visitar logo.

Irish baixou ao armazém e esteve uns minutos conversando com o Jenny e Alma Jane. antes de partir comprou um pacote de barras de chocolate. Quando tirou o dinheiro para pagá-lo, deu-se conta do pouco que ficava. Teria que caçar a um daqueles milionários sem perda de tempo, ou se veria em um apuro sério. Nem sequer tinha dinheiro suficiente para encher de gasolina o carro alugado.

Em caso de apuro, sempre ficava o remédio de lhe pedir dinheiro emprestado ao Kyle para voltar para casa, mas procuraria que as coisas não chegassem a esse ponto. Estava decidida a levar a cabo seu plano. Quão único tinha que fazer era escolher a algum rico do clube.

Jackson Crow seguia lhe parecendo o melhor candidato. Tinha-o observado e não tinha visto que abusasse da bebida mais do habitual.

Mitch Harris tampouco estava nada mal. Certamente, Irish não tinha chegado a acreditar-se nem por um instante o conto de que era homossexual.

E não devia esquecer-se do Matt Crow. Matt era uma autêntica macacada, e essa noite devia jantar com ele. Talvez se compenetrassem perfeitamente como casal. Essas coisas nunca se sabiam.

 

Irish se refrescou um pouco e foi reunir se com o Bob para almoçar. Quando a porta do elevador se abriu, deu-se de bruces com o Kyle. Estava esperando-a apoiado tranqüilamente na parede do vestíbulo.

-Olá, céu -disse esboçando um deslumbrante sorriso-. Lista para almoçar?

-Sim, e faz o favor de não me chamar "céu". Se me desculpar, tenho uma entrevista com o Bob Willis.

-Né, isto... parece-me que não.

-claro que sim. Tenho-o pontudo.

-Temo-me que houve uma pequena mudança de planos.

-Como?

-Sim. Hoje almoçará comigo -ofereceu-lhe o braço.

Irish o ignorou.

-E isso por que?

-ganhei sua companhia.

-Que ganhaste minha companhia?

-Sim. Jogando golfe.

-A ver se o entendo. Bob Willis e você têm feito uma aposta...

-Sim, à fossa quatorze. É dificilísimo.

-Assim Bob esteve disposto a ceder sua entrevista comigo. E o que apostou você?

-Cinco mil dólares.

Irish abriu os olhos de par em par.

-Apostou cinco mil dólares? Mas acaso está louco?

-Sim, por ti -deu-lhe um beijo na bochecha-. Tenho uma fome de lobo. Nos vamos almoçar de uma vez? -ofereceu-lhe o braço de novo.

Irish não deixou de resmungar enquanto se dirigiam à mesa. Cinco mil dólares? Custava-lhe trabalho acreditar que Kyle tivesse cometido semelhante insensatez. Quantas mais voltas lhe dava ao assunto, mais irritada se sentia.

Kyle a olhou enquanto consultava a carta e lhe perguntou:

-O que te passa, amor?

-Nada. Tomarei salmão e sopa.

-Veio?

-Chá.

-Se não te passar nada, por que está tão séria?

-Não estou séria.

Permaneceu calada enquanto Kyle pedia o almoço. Logo, quando o garçom se retirou e de novo ficaram sozinhos, lhe disse:

-Quer me dizer o que te ocorre?

-Para te ser franco, sinto-me um pouco ferida em meu orgulho. Bob apostou seu almoço comigo sem pensar-lhe duas vezes.

-Vamos, carinho -tomou a mão com ternura e a aproximou dos lábios para beijá-la-. Não se sinta mau. Tive que lhe cravar muitas vezes para que acessasse. lhe pergunte ao Carlton ou ao Harve. Além disso, Bob não te interessa. casa-se dentro de duas semanas com uma divorciada -Kyle se inclinou para frente e, em tom quase confidencial, adicionou-: Me acredite, não lhe teria acontecido isso bem com ele. Tem um mau fôlego insuportável.

Irish soltou uma gargalhada sem poder evitá-lo. -Kyle Rutledge, é tão incorrigível como seu avô. fui a vê-lo esta manhã. Parece que se vai recuperando, embora não parece muito contente com seu fisioterapeuta.

-Isso parece. Ontem estive falando com ele. Mas a terapia lhe sinta de maravilha. Demorará uma ou duas semanas em recuperar a mobilidade. Logo, o mais difícil será evitar que se esforce muito.

-É um encanto. Estive-lhe lendo uma novela romântica e chegou a me oferecer dez milhões de dólares se me casava contigo.

Kyle esteve a ponto de derrubar o copo de água.

-Espero que não tome a sério ao avô -disse enquanto se secava a mão com um guardanapo.

-Claro que não. Disse-lhe que não foi meu tipo. Creio que agora quer me convencer de que Jackson é o candidato ideal. E talvez tenha razão.

Esta vez o copo se derrubou de tudo.

-Maldição! -exclamou Kyle levantando-se da cadeira. Tinha toda a calça empapada de água.

O garçom acudiu correndo para secar a mesa enquanto Kyle se secava as calças com um guardanapo. Jackson, que se achava na outra ponta do comilão, aproximou-se tranqüilamente e, ao ver a mancha de água que se estendia pela braguilha do Kyle, disse em tom zombador:

-Vá, eis ouvido dizer que as duchas frite revistam sortir bom efeito.

-Maldita seja, Jackson -vociferou Kyle. Irish, por sua parte, tentava conter a risada-. Não tem graça.

-Para mim sim a tem -repôs Jackson piscando os olhos o olho ao Irish-. por que não vai e te troca de calças? Eu entreterei à senhorita enquanto isso.

Kyle lhe lançou um olhar assassino.

-Não penso deixá-la só contigo.

-Mas, homem, que mosca te picou? Note, estamos rodeados de gente. Asseguro-te que Irish não corre nenhum perigo comigo. Anda, vá trocar te.

-Está bem. Volto em um minuto -Kyle deixou o guardanapo empapado na mesa e saiu pressuroso do comilão.

-Que demônios lhe passará? -disse Jackson-. Nunca o tinha visto comportar-se desse modo. Deve ser por ti -acrescentou com um sorriso de cumplicidade-. Vão a sério?

-OH, não -apressou-se a responder Irish-. Absolutamente. Kyle é um homem adorável, mas não é meu tipo.

-Ah, não? -Jackson sorriu-. E qual é seu tipo? De repente, Irish sentiu um grande acanhamento. Não obstante, fez um esforço e se animou mentalmente a si mesmo. "Adiante, neném. te atreva. Pode que esta seja a oportunidade de sua vida." passou-se a língua pelos lábios e se inclinou ligeiramente para frente, lhe dedicando um sorriso explosivo.

-Eu gosto dos homens morenos, altos e bonitos -acariciou-lhe uma perna com os dedos dos pés-. Como você.

Ao Jackson lhe caiu o copo de água que sustentava na mão. Tentou agarrá-lo em pleno ar, mas só conseguiu derrubar também o do Irish. Esta vez foi ela a que acabou empapada de água.

-Maldição! -lamentou-se Jackson, ficando rapidamente em pé para lhe secar a saia com um guardanapo.

-Que diabos está fazendo? -vociferou Kyle correndo para eles da outra ponta do comilão.

Jackson se deteve em seco. olhou-se a mão e logo ao Kyle.

-Não lhe acreditaria isso embora lhe dissesse isso -logo, dirigindo-se ao Irish, acrescentou-: Sinto-o muito. Creio que esta vez nos toca nos trocar de roupa -ofereceu-lhe o braço-. Se te parecer, Irish, creio que direi ao Curtis que nos sirva o almoço na piscina.

-Ninguém te deu vela neste enterro, Jackson -disse Kyle em tom cortante-. Irish e eu pediremos o almoço ao serviço de habitações.

Lhe deu uma cotovelada dissimulada e disse:

-Vamos, Kyle, não seja desmancha-prazeres. Podemos comer os três na piscina -obsequiou ao Jackson Crow com outro sorriso arrebatador.

E Jackson não pôde por menos que lhe corresponder.

 

Kyle e Jackson permaneceram no corredor, esperando junto à porta do Irish enquanto ela acabava de trocar-se.

Kyle olhou a sua primo e fez uma careta.

-Tem um aspecto ridículo, Jackson. A quem tráficos de impressionar com esse traje?

Jackson, que tinha posto um chapéu negro de cowboy, um traje de banho negro, botas negras e óculos de aviador, olhou-se e disse:

-Ridículo por que? Você não gosta dos jeans?

-Sabe muito bem a que me refiro. Com o chapéu, as botas e essas pernas peludas ao descoberto parece que vás fazer um numerito em um desses locais de striptease masculino.

-Vá, nunca me tinha ocorrido -Jackson sorriu zombador-. O chapéu é para me proteger a cabeça do sol. E estas são as botas que estou acostumado a me pôr para ir à piscina. Vê? Têm revestem de borracha -levantou uma bota para mostrar-lhe Quanto a minhas pernas peludas, o que quer, que me as cosmético?

Kyle se pôs-se a rir e sacudiu a cabeça.

-Nunca vais maturar, primo.

-Espero que não, e menos se maturar implica usar sapatos de yuppie. Kyle, colega, passaste muito tempo em Califórnia te acotovelando com desenhistas metidos. Sempre foi um tipo muito bem plantado, e agora... Enfim, perdoa que lhe diga isso, mas parece que sua garota se sente mais atraída por mim que por ti.

-E um corno. Deslumbrou-a sua conta bancária, simplesmente. Mas acabará abrindo os olhos. por que não te larga e nos deixa um momento a sós?

-Nem pensar. Irish me há convidado, e sempre eu gosto de agradar a minhas hóspedes. É um garota encantadora. Cai-me muito bem, sabe?

antes de que Kyle tivesse ocasião de responder, a porta da habitação se abriu e Irish saiu com expressão apurada. Estava muito belo, com um biquíni verde e uma blusa a jogo.

-Lamento ter demorado tanto -desculpou-se-, mas como faz vento decidi me recolher o cabelo em uma trança.

-Uma trança preciosa, se me permitir o galanteio -disse Jackson tirando o chapéu e fazendo uma reverência.

-Muito obrigado -Irish se fixou nas botas do Jackson e logo olhou ao Kyle, sentida saudades.

-São suas botas de piscina -explicou-lhe Kyle. Irish os tirou do braço.

-Vamos? -perguntaram os dois ao mesmo tempo.

 

Durante um momento, Irish se sentiu encantada de contar com as cuidados dê dois homens tão atrativos e viris. Mas ao cabo de uma hora, mais ou menos, começou a sentir-se como se fora uma vaca solitária e eles dois um par de touros bravos que a estivessem disputando no topo de uma colina.

Teve a sensação de que Jackson não se tomava aquela situação tão a sério como Kyle, embora, certamente, resultava duvidoso que alguém que ficasse umas botas com o traje de banho se tomasse algo a sério.

-Creio que já teríamos feito a digestão -disse Jackson ao Irish ficando em pé-. Gosta de te dar um mergulho de cabeça?

-Prefiro esperar uns minutos mais -respondeu ela. O certo era que estava acostumado a banhar-se poucas vezes. A causa da maquiagem... e das cicatrizes.

-Não te vais tirar as botas? -perguntou Kyle.

-claro que sim, homem -tirou-se trabalhosamente as botas e logo pendurou o chapéu no respaldo da cadeira. Irish não pôde deixar de olhá-lo enquanto se tirava a camiseta. Jackson tinha um torso sensacional, bronzeado e ligeiramente talher de um rastro de pêlo que se perdia no interior do traje de banho.

-Quer que ponha já a música de fundo? -brincou Kyle.

Jackson lhe sorriu e logo se dirigiu para o trampolim. Subiu pela escalerilla e, depois de piscar os olhos o olho ao Irish, fez um salto digno de um campeão.

-Magnífico! -exclamou ela aplaudindo quando Jackson saiu à superfície.

-Diabos! -Kyle se levantou de um salto, tirou-se a camiseta azul que levava e foi com passo decidido para o trampolim.

No que a físico respeitava, Kyle tampouco tinha desperdício. Seu peito, terso e musculoso, era tão atrativo e excitante como o Jackson. Talvez mais.

Jackson voltou a subir ao trampolim e fez um salto mais complicado. Kyle o igualou. Jackson se atirou de costas. Kyle fez o mesmo.

MAC se aproximou aonde estava Irish e, ao contemplar a cena, perguntou-lhe:

-O que acontece? Estão treinando para as Olimpíadas?

-O que vai. picaram-se, simplesmente.

MAC soltou uma risinho.

-Compreendo. Tenho que ir ao Tyler para assinar autógrafos em uma livraria. Gosta de me acompanhar? Só serão um par de horas. Ah, e quando acabarmos te comprarei um sorvete.

-Se for de plátano, aceito.

-Como você diga, senhorita -respondeu MAC com um sorriso.

-Concede-me dez minutos para que me troque de roupa?

-Vá. Esperava que viesse com esse biquíni verde. Assim poderia lhe dizer às pessoas que é uma sereia que me encontrei na praia.

Irish se pôs-se a rir. Logo se levantou e se dirigiu com o MAC ao vestíbulo do clube.

 

Esgotado, Kyle se agarrou ao bordo da piscina e se secou o rosto com a mão. Jackson o seguiu, sacudindo a cabeça empapada como um perrito.

-Primo, creio que estamos muito majores para fazer estas coisas -disse.

-Sim, já não somos nenhum adolescentes -Kyle olhou por cima do ombro para a mesa onde se sentavam.

Irish não estava.

Jogou uma olhada rápida pelo recinto da piscina, mas só viu o Matt Crow e ao Spud, quem conversava tranqüilamente debaixo de uma sombrinha.

-Onde estará?

Jackson se encolheu de ombros.

-Não tenho nem idéia.

-Viu ao Irish? -perguntou ao Matt em voz alta.

-Sim, foi com o MAC faz uns minutos.

-Maldição!

-Não deve preocupar-se -disse Jackson-. MAC é um bom tipo.

-Isso é precisamente o que mais me assusta. Tenho que encontrá-la -agarrou a camiseta e se foi correndo para o vestíbulo do clube. Nada mais chegar à saída viu como MAC e Irish se afastavam em um BMW branco.

-Maldita seja! -Kyle arrojou a camiseta ao chão e ficou olhando o carro até que se perdeu de vista.

Jackson se aproximou dele. De novo tinha posto seu chapéu, e tinha um puro sem acender na boca. Rodeou a sua primo com o braço e lhe disse:

-Venha, tio. vamos tomar nos um par de cervejas. E não se preocupe. Voltará.

-Não sei o que vou fazer, Jackson. Jamais tenho sentido nada parecido por uma mulher. Creio que vou voltar me louco.

-Creio que te apaixonaste, primo. Isso é tudo. Só pode fazer duas coisas: ou te pegar um tiro ou te casar com ela.

-Não me atrevo a lhe pedir que se case comigo. Estou seguro de que me rechaçaria. Já te tenho dito que quer casar-se com um milionário.

-Pois lhe diga a verdade de uma vez, maldita seja. Sou maior que você e tenho mais experiência. me faça caso.

-Diabos, Jackson, se só nos levarmos três meses e meio. Não me venha com sermões. Em qualquer caso, estou convencido de que Irish me ama. Mas quero que o reconheça antes de saber que estou tão podre de dinheiro como você.

-Bom, tão podre não creio. Quanto tem agora, Kyle?

-Isso não te incumbe. Mas tenho o bastante, sim. Vendi a consulta e a casa que tinha em Califórnia por uma boa soma.

-Que não se inteire Spud, ou quererá te arrolar em sua próxima aventura empresarial. Parece que tem encurralado a meu irmãozinho pequeno. Melhor será que demos uma mão ao Matt.

-Tem Spud apuros econômicos?

-O que vai. Está mais forrado que você e eu juntos. Mas não gosta de arriscar seu dinheiro.

-E como vai ao Carlton Gramercy?

-Fenomenal. Acaba de assinar um contrato árabes que lhe reportará uns quantos milhões.

-Caramba, espero que Irish não se inteire.

-por que?

-Disse-lhe que Carlton não tinha onde cair morto em realidade.

Jackson soltou uma risinho e sacudiu a cabeça.

-Vejo que te estiveste inventado alguma que outra história. Que mais lhe contaste?

Kyle sorriu zombador.

-Que Mitch Harris é gay.

-Gay? Mitch? -Jackson jogou a cabeça para trás e prorrompeu em sonoras gargalhadas.

 

Irish o passou Estupendamente em companhia do MAC. depois de sair da livraria, foram tomar o sorvete de plátano que lhe tinha prometido.

-Fazia anos que não tomava um sorvete -disse MAC.

-E eu. Antes vivia tão aterrada pela possibilidade de engordar, que me privava de certos pecadillos.

-por que se preocupava tanto o peso? Foi modelo ou um pouco parecido?

-Sim. Trabalhava em Nova Iorque, mas decidi me retirar faz um par de anos.

MAC ficou olhando-a fixamente.

-E por que te retirou? Segue sendo uma mulher impressionante.

-Obrigado.

Irish pensou em lhe contar uma das desculpas superficiais que estava acostumado a utilizar sempre que lhe perguntavam pelo tema, mas olhou diretamente ao MAC. Tinha os olhos mais amáveis e bondosos que tinha visto em muitíssimo tempo. De algum modo, convidavam-na a que se justificasse, a que abrisse sua alma.

Agachou a cabeça e revolveu o sorvete com a colher. Logo lhe contou o episódio do ataque que sofreu e a agonia dos meses que seguiram.

Demorou mais de uma hora em contar-lhe mas não se deixou atrás nenhum detalhe.

-Aconteceste-o muito mal, verdade? -disse ele tomando as mãos com ternura.

Ela se encolheu de ombros.

-Há quem o aconteceu pior. Ganhei bastante dinheiro e inclusive cheguei a reunir umas economias, mas o tratamento médico me deixou quase na ruína. Meus pais me ajudariam se soubessem qual é minha situação, mas não quero preocupá-los.

MAC lhe apertou a mão com suavidade.

-Até a risco de parecer machista, creio que uma mulher formosa como você deveria buscar um marido rico e viver sem preocupações. Não te interessa ninguém do grupo do Jackson?

Irish deixou escapar um suspiro.

-Me... interessa uma pessoa. Mas surgiram complicações.

-Quer que te ajude? Tenho muito mais dinheiro de que posso gastar...

-Não, MAC. É muito amável, de verdade, mas não poderia aceitar dinheiro de ti.

-Seguro que ao final irá bem com essa pessoa que tanto te interessa. É uma pessoa bela e sincera, Irish. Qualquer homem que te tivesse como esposa poderia chamar-se ditoso. Inclusive eu, se pudesse, estaria contente de te ter a meu lado.

-Está casado?

MAC sorriu.

-Não. Verá, jamais o tenho dito a nenhum membro do clube, mas sou... gay.

-Gay? Igual a Mitch Harris?

-Mitch Harris? -MAC se pôs-se a rir-. Não, Mitch não é gay.

-Está seguro?

-Muito seguro.

Irish cerrou os olhos.

-Esse canalha! Me dá vontade de matá-lo!

 

Enquanto retornavam ao Ninho do Crow, Irish tentou idear algum modo de vingar-se do Kyle, mas não lhe ocorreu nada apropriado. Finalmente, deixou estacionada a questão e subiu à suíte para arrumar-se um pouco. Estava agendada para tomar uma taça com o Harve Dudley, o vendedor do Cadillacs. Dado que estava prometido, não era um candidato viável, mas era um tipo pitoresco e quadraria bem no artigo.

Quando baixou ao vestíbulo para reunir-se com o Harve, encontrou ao Kyle no lugar de costume. Irish elevou o queixo e tentou passar de comprimento, mas ele a agarrou por braço.

-A que tanta pressa?

-Estou agendada com o Harve, embora isso não é teu assunto.

Kyle esboçou uma careta zombadora.

-Temo-me que já não está agendada com ele.

-O que quer dizer?

-Que o vou substituir.

-Outra vez tornaste a ganhar uma entrevista comigo jogando golfe? -repôs ela furiosa.

-Pois não. Esta vez ganhei a entrevista jogando poquer.

-Surpreende-me que não o tenha desafiado a um concurso de salto de trampolim.

-Está zangada por isso, carinho? Sinto muito. Jackson e eu sempre competíamos de meninos.

-Traz-me sem cuidado o que façam Jackson e você. -Vamos, céu, não te zangue. Suei tinta para ganhar a aposta ao Harve. me acompanhe a tomar uma taça.

de repente, ao Irish lhe ocorreu uma idéia perversa. voltou-se para o Kyle e lhe sorriu.

-De acordo. Faz uma noite preciosa. Vamos ao alpendre -acariciou-lhe o pescoço da camisa-. Tomarei, um daiquiri de morango. por que não vais procurar as bebidas? Esperarei-te fora.

Kyle se inclinou e a beijou na bochecha.

-Não demorarei nem um momento.

Quando saiu com as bebidas, uns quantos minutos mais tarde, Irish o estava esperando junto ao corrimão do alpendre.

-Estou aqui -disse-lhe quando viu que a buscava com o olhar.

Kyle lhe deu o daiquiri.

-Sinta-te de maravilha a luz da lua.

-Obrigado, mas isso já me hão isso dito antes.

Ele se inclinou para lhe beijar o pescoço, mas ela se retirou devagar.

-Kyle?

-Sim, carinho?

-Creio que Mitch Harris é um homem encantador. Sabe que convidou a seu rancho?

-Seriamente?

-Sim -percorreu-lhe com as gemas dos dedos o pescoço e o peitilho da camisa-. Está absolutamente seguro de que é gay?

-Sim, absolutamente seguro. Nem te ocorra visitar seu rancho. Não faria mais que perder o tempo.

Irish lhe esvaziou o daiquiri em cima das calças.

-Embusteiro! -arrojou a taça ao chão, deu-se meia volta e se foi.

 

Kyle recolheu a taça, mas pouco pôde fazer para limpar a calça. Enfim, as coisas podiam ter sido piores. Ao menos, ninguém tinha presenciado a escenita. Deus ainda fazia pequenos milagres.

Ouviu umas risinhos sufocadas no alpendre e compreendeu que tinha dada graças ao céu com excessiva antecipação. Eram Jackson e Matt.

Os irmãos se aproximaram dele e o olharam de marco em marco.

-Arrumado a que essa mistura está fria -disse Matt.

-Mas que classe de problema têm suas calças com os líquidos? -perguntou Jackson em tom zombador.

-Não digam nenhuma palavra mais, advirto-lhes isso -disse Kyle furioso.

-Já te adverti que tanta mentira acabaria te prejudicando à larga -repôs Jackson-. Será melhor que diga a verdade de uma vez por todas, ou acabará perdendo-a.

Kyle agachou a cabeça.

-Suponho que tem razão. O direi esta mesma noite.

-Se é que está disposta a te escutar.

-Escutará-me. Matt, deixa-me que vá jantar com ela em seu lugar?

-Ah, não, nem pensar.

-Maldita seja, Matt! me peça o que seja em troca!

 

Irish não podia ter pedido um acompanhante mais agradável que Matt Crow. Com seu cabelo e seus olhos negros, era tão bonito como seu irmão maior... ou talvez inclusive mais se se tinha em conta a atrativa covinha que possuía no queixo. O ar que o rodeava parecia emitir faíscas devido a sua exuberância.

-Mais vinho? -perguntou ao tempo que elevava a garrafa.

-Não, obrigado. Mas, por favor, te sirva outra taça se gostar.

-Uma taça está acostumada ser meu limite. Ou dois como máximo. Não estou acostumado a beber muito.

Irish emprestou especial atenção a aquele comentário. De modo que Matt não tinha problemas com a bebida como seu irmão Jackson. Que interessante. de repente, a situação se tornou bastante prometedora. Irish se disse que talvez não tinha emprestado ao Matt Crow a atenção que realmente merecia. Alto, moreno, bonito, rico... Possivelmente tinha encontrado por fim ao candidato idôneo.

Inclinando-se ligeiramente, recostou o queixo no dorso das mãos e lhe dirigiu um sorriso deslumbrante.

-me fale da fábrica de caramelos. Onde está situada?

Falaram de caramelos, do Texas, de suas primeiras experiências no mundo trabalhista... Irish contou anedotas divertidas que lhe tinham ocorrido enquanto vivia em Nova Iorque, e Matt lhe falou do tempo que esteve vivendo em Dallas. Fazia tempo que Irish não ria tanto. Em conjunto, o jantar foi um êxito absoluto.

Salvo por um detalhe.

Kyle permaneceu todo o momento sentado no outro extremo do comilão, olhando ao Matt com cara de poucos amigos.

Irish tratou de não lhe emprestar atenção, mas ao final se sentiu tão incômoda que sugeriu sair ao alpendre para tomar o café.

Fazia uma noite realmente preciosa. A lua resplandecia no alto, e o ar os fazia chegar a suave fragrância dos pinheiros e as rosas recém florescidas. Depois de tomar uns quantos sorvos de café, Irish deixou a taça no corrimão do alpendre e se recostou em um dos bancos. A pesar do caos emocional que tinha experiente aqueles dias, naquele momento se sentiu Estupendamente bem.

-Creio que eu gosto de Texas -disse.

-E os nos cubra? -perguntou Matt soltando também sua taça.

Ela sorriu.

-E os nos cubra. Passei-o muito bem esta noite. Eu gosto, Matt Crow.

-Diabos, você a mim também -Matt não mostrou o menor espiono de acanhamento.

-Vá -disse ela com uma risinho-. Parece um bom elemento..., no bom sentido da expressão, claro.

-E você é uma mulher extraordinária.

Irish notou que o coração lhe acelerava. Era possível que por fim tivesse encontrado ao homem perfeito? Cruzou os dedos e desejou com toda sua alma que assim fora. Logo se passou a ponta da língua pelos lábios e disse com voz aveludada:

-Matt, quer me dar um beijo?

O permaneceu calado um momento, como se o tivesse pilhado despreparado.

-Naturalmente -disse ao fim, e lhe posou um doce beijo na frente.

-Não, assim não -Irish jogou os braços ao pescoço, atraiu-o para si e o beijou apaixonadamente na boca.

Tinha esperado ouvir som de sinos e de foguetes.

Mas não sentiu absolutamente nada.

Intensificou a pressão de seus lábios e se apertou ao Matt com mais força.

Seguiu sem sentir nada.

Nem o mais leve comichão.

-Sinto muito, Matt -disse de repente, apartando-se dele-. Sinto-o seriamente -pôs-se a correr em direção ao vestíbulo.

Kyle a chamou em voz alta ao vê-la passar, mas ela não se deteve. Entrou no elevador antes de que ele pudesse alcançá-la, desejosa de refugiar-se em sua habitação.

Entrou na suíte e fechou a porta atropeladamente. Ao cabo de uns instantes Kyle estava fora, chamando-a. Mas Irish não queria vê-lo. Não queria falar com ele. O tinha quebrado tudo.

Correu para o dormitório e fechou a porta. Logo se apoiou nela e se deixou cair até que esteve sentada no chão.

Maldição! Kyle o tinha quebrado tudo!

Em vez de sentir-se cativada por algum daqueles ricachones, apaixonou-se perdidamente do Kyle Rutledge. Do Kyle Rutledge! Um pobre escultor que se dedicava a esculpir figuras de madeira com uma serra mecânica.

Como tinha podido ser tão estúpida? Depois de tirá-la roupa, meteu-se na cama e tentou conciliar o sonho.

Mas não conseguiu pegar olho. Esteve ao redor de uma hora lhe dando voltas à cabeça, tratando de decidir o que fazer. Só havia uma resposta.

Ter uma mansão em Dallas, um anel de diamantes e um carro de luxo não era, ao fim e ao cabo, tão importante para obter a felicidade. Estava apaixonada pelo Kyle Rutledge. E se se viam obrigados a viver por um tempo em uma das cabanas do Pete, poderia suportá-lo. Tinha suportado coisas muito piores.

Saiu da cama rapidamente, agarrou uma bata e correu para a porta, decidida a lhe confessar ao Kyle o que sentia por ele. Amava-o, maldita fora! Amava-o e não podia seguir negando-o!

Abriu a porta e saiu ao corredor. Kyle estava sentado no chão, com a cabeça recostada na parede. Parecia vencido, esgotado.

-Kyle?

Ele a olhou.

-Vêem a cama -disse Irish lhe tendendo a mão.

O sorriso de felicidade que se desenhou no rosto do Kyle não podia descrever-se com palavras. ficou em pé de um salto e tomou entre seus braços.

-OH, meu carinho, quero-te tanto...

-Eu também te quero.

Kyle se retirou um pouco e a olhou fixamente.

-Diga-o outra vez.

-Quero-te.

Abraçou-a com tanta força que ela soltou um grito.

-Sinto muito, carinho, mas não sabe quanto eis desejado te ouvir dizer isso. Fora da cama, claro.

-É a primeira vez que lhe digo isso! Na cama ou em qualquer sítio!

Kyle se pôs-se a rir.

-Se você o disser -tomando-a em braços, entrou na habitação e fechou a porta com o pé. Começou a beijá-la antes de chegar ao dormitório.

Esta vez, Irish sim sentiu som de sinos e de foguetes. O ar que os rodeava pareceu carregar-se de eletricidade enquanto faziam o amor.

Foi uma noite que jamais esqueceriam.

 

A luz matinal despertou ao Irish. Estava arremesso em cima de Kyle, nua e coberta por uma confusão de lençóis. Roçou-lhe o mamilo com a ponta da língua e ele abriu os olhos.

-bom dia.

-bom dia -respondeu Kyle com um sorriso de satisfação-. Diga-me isso outra vez.

Ela se pôs-se a rir.

-Mas se já lhe haverei isso dito umas cem vezes. Será melhor que te levante. Hoje acaba o torneio de golfe.

-Ao inferno o torneio de golfe. diga-me isso outra vez.

-Quero-te.

Kyle a abraçou.

-meu deus, eu adoro ouvir lhe dizer isso. Acreditei que te perderia, que acabaria indo com algum dos tipos do clube. Quando vi que beijava ao Matt deu vontade de morrer.

-Foi   então   quando   compreendi   que   te amava. Beijei-o e não senti absolutamente nada.

-Matt tem muito dinheiro.

Irish deixou escapar um suspiro.

-Sei. Enfim, suponho que não é meu destino me casar com um milionário.

Kyle lhe deu um beijo no nariz.

-Parece-me que te equivoca.

-O que quer dizer? -perguntou ela, temendo de repente que Kyle não queria casar-se com ela.

-Carinho, tenho que te confessar algumas costure. Mas antes quero que me prometa que não vais zangar te, de acordo?

-Como vou prometer te semelhante coisa? -sentou-se na cama dando um coice-. Meu deus, Kyle, não estará casado, verdade?

-Não, não se trata disso. É só que... não fui totalmente sincero contigo.

-De que falas? Kyle respirou fundo.

-Verá, Jackson e Matt são minhas primos.

-E?

-Meu avô Pete não necessita o armazém para ganhá-la vida. É rico. Nem sequer sei quantos milhões de dólares possui.

Irish ficou estupefata.

-Pete? Pete é... é...?

-Milionário, sim. Jackson e Matt são ricos porque o avô lhes entregou um milhão de dólares a cada um e prometeu lhes dar dez mais se dobravam dito milhão em um ano. E o conseguiram.

-Vá. Já também te deu dinheiro?

Kyle pigarreou para esclarecê-la garganta.

-Sim, a mim e ao Smith, meu irmão. O avô me deu o primeiro milhão quando acabei a carreira.

-O primeiro milhão? A carreira? Que carreira?

-Estudei cirurgia plástica.

Irish notou que uma onda de fúria a invadia de repente. Saltou da cama e se cobriu com um lençol.

-Mentiu-me. Fez-me acreditar que foi um escultor sem dinheiro, quando em realidade foi... foi...

-Rico -disse Kyle por ela-. Me perdoe, carinho. Mas agora pode cumprir seu sonho de te casar com um milionário. Estou podre de dinheiro -acrescentou com um sorriso.

-E quem mais estava a par de toda esta farsa? Jackson? Matt?

-Carinho...

-Assim que lhe ajudaram a tomar o cabelo! meu deus, que humilhante -sentiu-se tão envergonhada que desejou que a terra a tragasse-. Sal agora mesmo de minha habitação, descarado. Não quero voltar a verte nunca mais -teve que apertar os dentes para não romper a chorar.

-Mas, carinho, eu te quero.

-Que me quer? Você não sabe o que é o amor, Kyle Rutledge. Vete agora mesmo!

-De acordo, de acordo. Irei. Deixarei-te sozinha um momento para que te tranqüilize. Sei que coloquei a pata, e o sinto...

-Fora daqui!

-Está bem -Kyle recolheu suas coisas e partiu.

Irish rompeu a chorar desconsoladamente. sentia-se como uma autêntica estúpida.

Só ficava a opção de partir quanto antes. Não poderia voltar a olhar à cara ao Jackson ou ao Matt...

ficou rapidamente em pé e começou a tirar sua roupa do armário.

 

Justo quando Irish acabava de fechar a portinhola do Mercedes, MAC se aproximou do carro e lhe disse:

-saí a dar um passeio. Não irás partir te, verdade?

Ela se soou o nariz e tratou de sorrir.

-Sim, já vai sendo hora de que vá.

-O que te passa, Irish? estiveste chorando?

-OH, não, o que vai. Tenho descoberto que sou alérgica aos pinheiros. Que tolice, verdade?

-Perdoa, mas não te creio. Parece desgostada. Posso fazer algo para te ajudar?

-Não... -de repente, lembrou-se de que não tinha dinheiro nem para jogar gasolina-. Bom, ódio lhe pedir isso mas, empresta-me vinte dólares? Devolverei-lhe isso assim que possa.

MAC se tirou uma carteira do bolso.

-Toma cem dólares. E não faz falta que me devolva isso. Necessita algo mais?

Irish o abraçou e lhe deu um beijo na bochecha.

-Não. foste muito amável comigo. Oxalá tivéssemos tido tempo para conversar mais devagar.

Lhe entregou seu cartão.

-me chame quando tiver um oco.

Irish se despediu do MAC e se dirigiu para a auto-estrada. Conduziu a Dallas de um puxão, detendo-se só para repor gasolina. Não sabia de onde ia tirar o dinheiro para comprar o bilhete de avião para Washington. Podia haver o pedido ao MAC, mas não o tinha feito por questão de orgulho.

-Olivia -disse Irish no interior da cabine-, agora não lhe posso contar isso com detalhe. Por favor, empenha os candelabros de prata de minha tia Kate na loja do senhor Getz e ingressa o dinheiro em minha conta. Necessito-o para comprar o bilhete de avião.

depois de pendurar, Irish se sentou no terminal do aeroporto. Demoraria um bom momento em poder tirar da caixa automática o dinheiro que Olivia devia ingressar em sua conta, assim decidiu armar-se de paciência.

Não tinha tomado o café da manhã. Fez um cálculo rápido e decidiu que podia gastar-se uns quantos dólares em comida, de modo que entrou no restaurante mais próximo.

Quando estava a metade do café da manhã, elevou a vista casualmente e notou que lhe arrepiava o pêlo da nuca.

Kyle acabava de entrar no restaurante e se dirigia para ela dando grandes pernadas. Irish olhou a seu redor, procurando uma possível saída, mas não viu nenhuma. assim, decidiu ignorá-lo. Agarrou a faca e o garfo e cortou uma parte de bolo.

-Irish, carinho, quase me tenho voltado louco te buscando.

Ela se limitou a tomar um sorvo de café, sem olhá-lo em nenhum momento. Kyle se sentou em uma cadeira e tentou lhe falar, mas ela seguiu sem lhe fazer o menor caso.

-Maldita seja, Irish, me escute. Quero-te!

A gente que havia no restaurante ficou olhando.

-Kyle, por favor, não Montes uma cena. Parte.

-Não, penso partir. E não me importa que todo mundo se inteire. Quero-te! -logo, olhando às pessoas, seguiu dizendo-: Quero-a. E desejo me casar com ela. Está zangada comigo porque sou milionário. Senhores, lhes parece justo?

-Céu -disse uma ruiva de média idade-, se ela não te quiser, lhe vejam comigo.

-Marylin!

-Não me importaria nada me casar com esse tipo. É muito bonito. E rico, se por acaso isso fora pouco.

-Kyle, vete, por favor -Irish se tampou o rosto com as mãos e se concentrou em seu prato.

Ele se levantou e se foi. Ao cabo de uns minutos, retornou carregado do Ramos de rosas e cravos. Depositou as flores no chão, aos pés do Irish.

-Rogo-te que as aceite e que me perdoe -ficou de joelhos diante dela.

Irish pôs os olhos em branco e desejou que a terra a tragasse.

-Kyle, por favor. Está dando um espetáculo. Vete.

-Não até que diga que me perdoa. Irish, meu amor, quero-te com todo meu coração. Ninguém te amará nunca como eu te amo. Meu avô te adora. Minhas primos lhe adoram. Jamais na vida voltarei a te mentir. te case comigo, por favor.

A gente começou a animá-la e a lhe aconselhar que aceitasse.

Irish olhou ao Kyle aos olhos. Neles viu a chama sincera do amor.

-Perdoa-me?

-Sim -respondeu ela brandamente.

-Há dito que sim? -perguntou alguém.

-Sim -repetiu Irish em voz alta.

A gente começou a aplaudir.

-Quer te casar comigo? -perguntou-lhe Kyle.

-Sim.

Os aplausos encheram o restaurante. Qualquer houvesse dito, ao contemplar a cena, que os Cowboys acabavam de ganhar outra vez a Super Bowl.

 

Provavelmente era a primeira vez que a pequena capela alojava entre suas paredes a tantos milionários juntos.

Kyle se achava de pé frente ao altar, esperando à noiva. A seu lado estava Flint Durham, o melhor amigo do Kyle. Smith não tinha podido ser o padrinho, pois se achava no Texas com as duas pernas partidas, assim dita honra tinha recaído no Flint. Todos os membros do clube de jovens milionários assistiam como convidados.

Sentado junto aos pais do Kyle estava Pete, embelezado com um elegante smoking.

Beverly, a mãe do Irish, sorria com os olhos cheios de lágrimas. Por sorte, os Crow, os Ellison e os Rutledge se levavam Estupendamente bem. Pete incluso lhe tinha sugerido a Ao Ellison que se retirasse e se transladasse com sua esposa ao Texas.

Kyle esperava que os Ellison assim o fizessem. depois de meditá-lo muito e de falá-lo com o Irish, decidiu voltar a exercer a medicina.

A música trocou de tom e todo mundo olhou espectador quando as damas de honra apareceram pelo corredor central da igreja. Kim e Olivia estavam muito bonitos vestidas com elegantes trajes de cor rosa. Cada uma levava um ramo de orquídeas.

A seguir apareceu a noiva. Kyle pensou que o coração lhe ia sair do peito quando viu o Irish aproximar do braço de seu pai. Levava um traje delicioso, e seu rosto parecia transbordar de felicidade.

Quando Ao deixou a sua filha ao lado do noivo, Kyle jurou para seu si mesmo fazê-la feliz durante o resto de seus dias. Irish jamais voltaria a ter medo de ninguém.

Uma vez que o padre os teve declarado marido e mulher, beijaram-se tenra e apaixonadamente ao mesmo tempo.

Saíram da igreja seguidos do Eve, Flint, Olivia, Jackson, Matt e Kim.

Enquanto caminhavam detrás dos noivos, Jackson se aproximou da Olivia e lhe disse ao ouvido:

-Céu, o que te parece se nos saltamos o banquete e vamos jantar os dois sós a um sítio tranqüilo?

Olivia olhou ao Jackson de reojo e respondeu:

-Nem o sonhe, amigo. Não me interessa nada do que tenha que me oferecer. E como volta a te insinuar, denunciarei-te sem me pensar isso duas vezes.

 

                                                                                Jan Hudson 

 

 

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