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CAPÍTULOS DA VIDA / Lobsang Rampa
CAPÍTULOS DA VIDA / Lobsang Rampa

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

 

 

 

UM FUTURO LÍDER DA HUMANIDADE

O Mato Alto e Viçoso, na borda do lote abandonado, agitou-se ligeiramente. As folhas largas e recortadas duma velha labaça oscilaram para um lado, e dois atentos olhos verdes fitaram a escuridão da rua lúgubre. Vagarosamente, e com muita cau­tela, um descarnado gato amarelo apareceu na calçada irregu­lar. Cuidadosamente, parou para farejar indícios de inimigos no ar da noite. Amigos — não os tinha, pois naquela rua os gatos viviam uma existência quase selvagem, tendo em cada homem um inimigo.

Satisfeito, por fim, que tudo estivesse sereno, ele se encaminhou para o centro da estrada e lá, sentado, começou uma toalete meticulosa. Primeiro as orelhas, e, com a pata bem umedecida, a parte de trás do pescoço. Finalmente, com a perna esquerda apontando para o alto, continuou sua cuidadosa limpeza. Detendo-se um momento para tomar ar, olhou em seu redor, observou a rua sombria.

Sujas casas de tijolos de outras eras. Cortinas esfarrapa­das nas janelas sujas de fuligem, com a pintura dos caixilhos apodrecidos a descascar. De vez em quando, ouvia-se a estridência dum rádio, cujo volume diminuía quando uma impreca­ção esganiçada atestava a desaprovação de um outro morador.

Bruxuleios amarelos emanavam dos lampiões que tinham escapado de serem destruídos pelas crianças. Grandes nesgas de sombra espalhavam-se pelas áreas das lâmpadas partidas. O gato amarelo voltou para a sua toalete, indiferente ao lixo que juncava as calçadas. De longe, da área "bem", vinha o ruído abafado do tráfego e refletia-se no céu o brilho dos muitos anúncios luminosos. Mas, aqui nesta rua, tudo era desolação, uma rua de desesperançados.

De repente, o gato amarelo estava alerta, orelhas em pé, olhos fitos na obscuridade, músculos retesados para a fuga iminente. ALGUMA COISA aguçara sua atenção. Ergueu-se de um salto, deu um silvo de aviso e mergulhou na escuridão por entre duas casas. Por um momento tudo estava normal na rua, o choro irritado de um bebê doente, um homem e uma mulher a discutirem com sobreposições tonais anatômicas ameaçadoras e o guincho distante de freios abruptamente apli­cados na próxima rua.

Finalmente, destacou-se um som débil e inusitado, passos vagarosos e arrastados não de um bêbedo, isso seria normal aqui! mas passos envelhecidos e hesitantes, passos de alguém cansado da vida, que se prendia pelo mais insignificante fio a uma existência miserável e incerta. Este arrastar aproxima­va-se, qual o lento atrito de areia sob sandálias. O negro abismo da rua lúgubre, somente aliviado pelos lampiões esparsos, di­ficultava a visão. Uma sombra indefinida movia-se, quase im­perceptível, por um trecho iluminado e era outra vez tragada pela escuridão.

O ruído de uma respiração ofegante e asmática feria os ouvidos à medida que o vulto se aproximava. De súbito, os passos pararam e chegou-lhe o som roufenho de expectoração áspera, seguido de uma sibilante e dolorosa inspiração. Um pesado suspiro, e os passos vacilantes retomaram "sua cadência cansada.

Lentamente, a sombra esbranquiçada materializou-se na semi-obscuridade da rua e parou sob um lampião bruxuleante. Um homem idoso, vestido numa suja túnica branca, sandálias em frangalhos nos pés, perscrutou com dificuldade o chão dian­te de si. Curvando-se, tateou para apanhar uma guimba atirada na sarjeta. Ao abaixar-se, o fardo que trazia refletiu à luz; numa estaca, um cartaz, com palavras grosseiramente desenha­das; Arrependa-se, Arrependa-se, porque a Segunda Vinda do Senhor se aproxima. Erguendo-se, deu mais uns passos e des­ceu penosamente os degraus de pedra que levavam a uma cave.

Não sei por que faz isso, Bert, francamente, não sei. Você com isso só consegue ser alvo de chacota das crianças. Desista!

Maudie, cada um tem uma tarefa a cumprir. Acho que eu poderia plantar uma boa semente, entende? Insistirei por mais um pouco.

E por pouco será, Bert, você já tem oitenta e um anos e já é tempo de parar, antes que caia morto na rua.

 

O velho pórtico resplandecia sob o tênue sol da tarde. O verniz recente dava nova vida à madeira envelhecida. Ao fim do caminho, a antiga igreja de pedra cinzenta de St. Mary parecia suave e confortadora. As grandes portas com tachas de ferro, estavam abertas, esperando os fiéis para o Serviço Religioso da Tarde. No alto, os sinos ressoavam sua mensa­gem eterna. "Andem, andem ou chegarão tarde". Mil anos de história estavam encerrados no adro. Grandes túmulos de pedra de outros tempos, com inscrições arcaicas, enormes anjos de pedra, as asas estendidas. Aqui e ali, colunas de mármore que­bradas, simbolizavam uma vida interrompida na sua plenitude.

Um raio de luz errante, rompendo inesperadamente as nuvens, penetrou na velha igreja, comunicando aos vitrais uma intensidade real, projetando a sombra da torre ameada sobre os túmulos dos que morreram há muito tempo.

As pessoas convergiam para a igreja, conversando animadamente, nas suas roupas domingueiras. Crianças constrangidas nas suas fatiotas e encabuladas pelos rostos recém-lavados, acompanhavam os pais. Um velho porteiro surgiu momenta­neamente, contemplou preocupado o caminho e recolheu-se ao sombrio interior da Igreja.

Uma gargalhada transpôs o muro de pedra, precedendo o Reitor e seu amigo sacerdote. Contornando as velhas sepulturas, eles seguiram o caminho privativo, que levava à sacristia. A seguir, a mulher e os filhos do Reitor dirigiram-se para a entrada principal, juntando-se à multidão que afluía.

No alto do campanário, o blém-blém, blém-blém continuava chamando os retardatários, repreendendo os incrédulos. A multidão transformou-se num filete e desapareceu, quando o porteiro, espreitando mais uma vez, fechou a porta principal.

No interior, havia um ambiente de reverência tão comum às velhas Igrejas de qualquer religião. As grandes paredes de pedra agigantavam-se para no alto cederem lugar às maciças traves. A luz do sol brilhava através dos vitrais, projetando reflexos multicores sobre os rostos pálidos dos fiéis. Da galeria do órgão, vinham os acordes melodiosos de um hino, cuja história se perdia nas brumas da antiguidade. O último repique dos sinos ainda ecoava, quando o ranger da porta denunciava a entrada dos sineiros, em busca de lugares ao fundo da nave.

Subitamente, do órgão novos acordes. Com ar de expec­tativa, as pessoas empertigaram-se e houve um movimento reprimido ao fundo da igreja. O arrastar de pés, o farfalhar de vestes, e os meninos cantores alinharam-se na nave, para tomar seus lugares no coro. Sobreveio o desassossego e o murmúrio tão comum em tais ocasiões, enquanto os fiéis se pre­paravam para o início do Serviço Religioso.

O Leitor recitava monotonamente os textos, como vinha fazendo nos últimos anos, automaticamente — sem pensar. Por trás dele, um menino de coro, entediado, dispunha-se a encon­trar diversão, com um elástico e algumas bolinhas de papel. — Ai! — exclamou a primeira vítima. Lentamente o organista-mestre de coro, virou-se na banqueta e encarou o culpado com um ar tão feroz, que ele deixou cair o elástico e esfregou os pés, apreensivamente.

O Sacerdote convidado, pronto para fazer o sermão, subiu vagarosamente os degraus do púlpito. No alto, debruçou-se sobre a sacada de madeira e fitou os fiéis complacentemente. Ele era alto, os cabelos castanhos e ondulados, e olhos daquele tom de azul que tanto agrada às solteironas. A mulher do Reitor, sentada no primeiro banco, contemplava-o, desejando que seu marido tivesse tal aspecto. Vagarosamente, o Pregador in­formou que o seu tema seria A SEGUNDA VINDA DO SENHOR.

A arenga parecia não ter fim. Num banco distante, um lavrador aposentado achou que era demais. Lentamente, mergulhou no sono. Logo seu ronco ressoava por toda a igreja. Rápido, um apontador acorreu, acordou-o às sacudidelas, conduzindo-o para fora. Finalmente, o Sacerdote visitante termi­nou seu discurso. Depois de dar a Bênção, voltou-se e desceu os degraus do púlpito.

Houve um arrastar e agitar de pés, enquanto o organista começava a tocar o hino de encerramento. Os apontadores cami­nhavam pelas naves, com as salvas de coleta, sacudindo a cabeça com reprovação, para os que não contribuíam suficientemente. Logo formavam um grupo de quatro e marchavam pela nave central, para entregar as salvas ao Reitor que os esperava. Mais tarde, na Sacristia, o Reitor, dirigindo-se ao seu convidado, comentava:

—        A coleta: dezenove libras, três shillings, onze meios-dinheiros, um tael chinês, um franco francês e dois botões de calças. O que me preocupa é o infeliz que perdeu os dois botões; esperemos que chegue à casa sem incidentes desagradáveis.

Juntos, Reitor e convidado dirigiram-se pelo estreito cami­nho entre as lápides seculares, as sombras a alongarem-se na direção do Este. Silenciosamente, atravessaram a pequena pas­sagem encaixada na parede entre o adro e o terreno da Reito­ria. O Reitor quebrou o silêncio.

Já lhe mostrei os meus canteiros de petúnias? — pergun­tou. — Eles vão bem, plantei-os eu mesmo. Não devíamos falar de negócios, mas, realmente, gostei do seu sermão.

Pareceu-me apropriado, em vista de toda essa conver­sa de que Deus está morto, — retrucou o convidado.

Vamos dar uma olhada no pomar, — comentou o Rei­tor. — Preciso mandar podar as macieiras. Você encomenda os seus sermões na mesma Agência que eu? Comecei a utilizá-la, recentemente, poupa um bocado de trabalho.

 

Bastante grande a área que tem aqui, — respondeu o convidado... — Não, não lido mais com a Agência; eles me deixaram na mão duas vezes e não vou arriscar uma terceira.

É você quem trata do jardim?

Oh! — exclamou a mulher do Reitor enquanto sabo­reavam um xerez suave, antes do jantar. — O senhor REAL­MENTE acredita numa Segunda Vinda, como disse no sermão?

Ora! Ora! Margaret! — interveio o Reitor. — Esta é uma pergunta muito capciosa. Você sabe, tão bem quanto eu, que não podemos pregar nem dizer tudo o que acreditamos ou deixamos de acreditar. Nós concordamos com os Estatutos e devemos pregar de acordo com as Regras da Igreja e os ditames do Bispo da Sé.

A mulher do Reitor suspirou e disse:

—        Se AO MENOS conhecêssemos a verdade, se AO MENOS ALGUÉM nos dissesse o que esperar, no que acre­ditar, no que ter esperança.

- Diga-me, — perguntou o convidado, voltando-se para o Reitor, — o senhor usa esterco ou fertilizante químico, nos seus canteiros de morangos?

O homem grisalho, de olhos esquivos, acercou-se, insinuante, do homem de cara magra, sentado desconfortavelmente no arruinado banco de jardim.

—        A que hora eles passam os pratos, Companheiro? — perguntou com ansiedade numa voz rouca. — Tenho de meter alguma coisa no bucho já, ou estico, "morou"? A gente tem de cantar os hinos primeiro, não é?

O homem de cara magra virou-se e bocejou longamente, enquanto examinava o outro da cabeça aos pés. Limpou com cuidado as unhas com um palito quebrado e respondeu indolente.

—        Que beleza de sotaque de Oxford você tem, meu velho! O meu é da velha Borstal, Feltham House. Então você quer COMER, não é? Eu também, eu também. Sempre! Mas não é ASSIM tão fácil; os caras nos põem pra trabalhar, sabe. Hinos, orações, depois empilhar pedras, partir ou serrar ma­deiras.

Quando eles atravessaram o pequeno parque, as sombras do crepúsculo alongavam-se, emprestando uma agradável intimidade aos casais de jovens que passeavam ansiosos entre as árvores. Há alguns minutos, as lojas haviam fechado e manequins grotescos e irreais expunham seus modelos como entes imo­bilizados, congelados. As luzes estavam acesas no quartel-general do Exército da Salvação, rua abaixo. De algum lugar distante, vinha o "bum, bum, bum" de um enorme tambor, tocado com mais vigor que habilidade. A seguir, ouviu-se o som de pés que marchavam, e o rufar do tambor tornava-se cada vez mais alto. Um grupo de homens e mulheres, vestidos de sarja azul-escura, dobrava a esquina. Os homens com bonés pontudos e as mu­lheres com antiquados chapéus de pala. Nesse momento, a ban­da, que era apenas um reflexo claro sob os lampiões da rua principal, entrou em ação. O corneteiro encheu o peito franzino e emitiu um poderoso toque. O tamborileiro atacou entusiasticamente o seu bumbo, enquanto uma das garotas do E.S., para não se deixar superar, bateu com estrondo os pratos, como se o seu lugar na Vida Eterna dependesse disso.

Em frente aos portões do parque, eles pararam e o porta-bandeira apoiou no chão a extremidade do mastro, com um suspiro de alívio. A senhora com o velho acordeão, adiantou-se e comprimiu os acordes iniciais de um hino. "La-ri-la-la, la-ri-la-la, rum rum rum", cantarolou o homem grisalho de olhos esqui­vos. A pequena banda de homens e mulheres do Exército da Salvação formou um círculo, o capitão ajeitou os óculos e aguar­dou esperançosamente que a aglomeração aumentasse. Na beira da calçada, voluntários distribuíam cópias do "Brado de Guer­ra", enquanto outras garotas do E.S., entravam numa hospeda­ria, sacudindo com energia suas caixas de coleta. Num banco do parque, os dois homens — agora acompanhados de um terceiro — observavam o movimento com interesse.

Você terá de confessar seus pecados, se quiser ração dobrada, — disse o recém-chegado.

Pecados? Num tenho nenhum — exclamou o homem, de olhos esquivos.

Num tem? Então é melhor inventar algum depressa. Bêbedo regenerado, pega bem. Esse não pode ser, é o meu. Ei, tu podia ser um espancador de mulhé, que se converteu.

Num tenho mulhé. Essa num da pé — disse o ho­mem de olhos esquivos.

—        Virge Maria, homem, — bufou o outro contrariado, — você pode INVENTAR uma mulhé, num pode? Conta como

ela fugiu, porque você ameaçou quebrar a cara dela. Mas tem que dizer BEM ALTO.

Vocês acreditam em Deus? — perguntou o homem de Old Borstalian, voltando a contemplar o grupo do Exército da Salvação.

Deus? — perguntou o homem de olhos esquivos. — Deus me livre! Nunca tive tempo pra Deus nem tampouco pra mulheres! Virou-se e cuspiu com desprezo para trás do banco.

Por que é que você está interessado em Deus? — perguntou o recém-chegado ao homem da velha Borstal. — Logo vi que você tinha pinta de crente.

A gente tem de ter fé em ALGUMA COISA — res­pondeu suavemente o homem da velha Borstal, — para manter a sanidade, tal como deve ser. Tanta gente diz hoje em dia que Deus está morto. Não sei em que acreditar.

Uma súbita explosão de música fê-los olhar na direçã dos portões do jardim. O hino tinha apenas terminado, e agora, a banda tocaya mais alto, a fim de atrair todas as atenções para o Capitão. Olhando ao redor, adiantou-se dos outros e disse alto:

Deus NÃO está morto, preparemo-nos para a Segun­da Vinda do Senhor. Preparemo-nos para a Idade do Ouro que está tão próxima de nós, mas que só nos advirá com esforço e sofrimento. Vamos conhecer a VERDADE.

Que bom para Ele — disse grosseiramente o homem de olhos esquivos. — Ele num sabe o que é fome, num tem de dormir nos portais, debaixo de bancos e vem um tira e diz: vai andando, vai andando.

Vocês me dão arrepios — disse o velho de Borstal, — Lembrem-se que nós somos CÃES DE CIRCO, precisamos fazer truques para que nos dêem comida.

Dando de ombros e acenando para os outros dois homens, p bacharel da velha Borstal cambaleou em direção aos portões do jardim. Logo estava no meio do grupo da Salvação, confessando seus pecados em voz alta, para um mundo diferente.

Uma mulher velha e gorda que observava a cena da jane­la dum apartamento de porteiro, meneou a cabeça indecisa.

—        Não sei, francamente, não sei, — murmurou para o seu gato malhado. — ESSA não parece ser a resposta; gosta­ria que ALGUÉM nos dissesse a VERDADE nisso tudo!

Nos pequenos barracos de teto de zinco da Missão, nos grupos que se concentravam para rezar ao ar livre e nas gran­des catedrais, religiosos pregavam a Segunda Vinda do Se­nhor. Muitos deles não tinham a menor idéia de que não era uma SEGUNDA VINDA, e sim, uma entre muitas.

Longe, numa terra distante, para além das areias escaldan­tes de um deserto árido e impiedoso, onde o Oeste ainda não era Leste, mas onde o Leste não se tinha ainda desembaraçado das algemas do Oeste, uma criancinha estava deitada de costas, fazendo ruídos com a garganta e chupando o dedo. Uma crian­cinha, que se iria tornar o Grande Discípulo do futuro Líder da Humanidade. E, ainda, em outra cidade onde o Leste encon­tra o Oeste, e ambos são assim contaminados, um menino de dois anos, compenetrado, manuseava as folhas amarelas de um velho livro. Observando de olhos arregalados a escrita estra­nha, talvez já então soubesse, subconscientemente, que ele tam­bém se tornaria um dos NOVOS DISCÍPULOS.

Ainda mais para Leste, um pequeno grupo de Astrólogos —como os três Reis Magos da antiguidade — consultavam as estrelas e se maravilhavam com o que viam. — Veja — disse o mais velho, apontando o dedo nodoso para uma carta: — o Sol, a Lua e Júpiter estarão em conjunção sob a estrela Pushya, que estará então sob o Signo de Câncer. Será na segunda ou terceira Lua Nova. — Entreolharam-se circunspec­tos, e curvaram-se outra vez, para conferir e reconferir seus cálculos. Tendo obtido a confirmação esperada, mandaram chamar homens responsáveis, mensageiros.

Através da história, tem havido notícia de uma Segunda Vinda. Na realidade, A Que está Por Vir, é a DÉCIMA, neste Ciclo da Existência.

Insensatamente, nas terras espalhadas deste mundo, as pessoas continuaram as suas ocupações mundanas, brigando, disputando, trapaceando, sempre tentando levar a melhor sobre o próximo, indiferentes a que, não muito longe, duas crianças —            o primeiro e o segundo, assistentes do Líder do Destino, que em breve nasceria — brincassem e cantarolassem nos seus braços.

Os Magos do Leste, bem conhecendo a imaturidade do Oeste, determinaram que os ocidentais não fossem informados das datas e locais desses Acontecimentos. Porque se tal informação se espalhasse, hordas de jornalistas enlouquecidos e fre­néticos teriam varrido o mundo nas asas dos jatos, para zombar, negar e desinformar. Articulistas ululantes, equipes indisciplinadas de televisão, teriam invadido os lugares sagrados, trazendo consternação e prejuízo onde quer que pisassem. Unicamente aqueles que têm um conhecimento especial sa­bem onde ficam esses lugares sagrados. No devido tempo, daqui a alguns anos, o mundb saberá mais sobre essas coisas e, então, os Pequeninos serão convenientemente protegidos. No devido tempo, esses Pequeninos sob a tutela de um brilhante Líder mostrarão o Caminho para a Idade Áurea ao fim deste ciclo de Kali, o da Idade da Destruição.

Muitas pessoas têm a idéia errônea de que este mundo foi povoado muito recentemente e que a história está completa. Isto está longe de ser exato.

Por milhões de anos, tem havido diferentes civilizações sobre esta Terra, que é um prédio escolar, por onde passam muitas classes. E como no caso das classes, uma pode ser excepcionalmente boa, outra pode ser excepcionalmente má. Possivelmente, a mesma coisa acontece com os vinhos, onde uma certa safra tem maior procura. No caso da colheita da Terra — entes humanos — há ciclos razoavelmente definidos. Por exemplo: os Hindus acreditam que cada período do mundo é dividido em quatro classes ou estágios, ou ainda ciclos, cada um com 864.000 anos. O primeiro ciclo de 864.000 anos foi muito bom, as pessoas se esforçavam, tinham fé umas nas outras e na essência da bondade humana. Elas tentavam ajudar-se mutuamente, não havia guerra, nem mesmo ameaça, mas a bem-aventurança total não é desejável porque as pessoas se corrompem. Um exemplo disto pode ser encontrado nas grandes civilizações da Índia, China e Egito; na verdade, essas foram grandes civilizações, mas pelo excesso de poder e falta de oposição e concorrência adequadas acabaram por degenerarem-se. Constatamos o mesmo na história da Roma antiga. O segundo ciclo é aquele em que as pessoas, ou melhor, os governantes do mundo, compreenderam que era necessário introduzir uma "serpente" no "Éden"; assim, nesse ciclo, existiram algumas dificuldades e controvérsias, para que se deter­minasse o quanto o povo podia pensar por si e superar os obstáculos.

Provavelmente, no fim do segundo ciclo, "o boletim esco­lar" dos que freqüentaram aquela classe específica não foi considerado satisfatório, e, assim, a terceira classe, ou período de 1864.000 anos que se iniciou, foi um pouco mais rigorosa. Povos marcharam para a guerra, fizeram conquistas, porém suas guerras não eram bárbaras e sádicas, como as do presente ciclo. As pessoas não eram traiçoeiras no terceiro ci­clo; certamente faziam guerras, mas como um jogo, da mesma maneira que dois garotos exercitam os punhos, tentando alterar as feições um do outro, mas sem intenção de matar. Entretanto, as guerras são infecciosas e descobriu-se que, introduzindo algumas punhaladas pelas costas e outros tipos de deslealdades, uma batalha poderia ser ganha, mesmo antes de iniciada. As coisas no terceiro ciclo iam de mal a pior e descontrolaram-se bastante. Comparam-se a um incêndio florestal que não foi reprimido em tempo. Se algum idiota deixa cair um cigarro aceso e toca fogo na vegetação rasteira, uma pessoa observadora pode, em pouco tempo, extinguir as chamas. Mas, se o fogo não for notado a tempo, ganhará terreno, tornar-se-á incontrolável, muitas vidas se perderão, muitas propriedades serão destruídas, antes que o fogo possa ser debelado. A vida é assim, se permitirmos que o mal cresça e se desenvolva, sem repressão, ele se tornará mais numeroso, cada vez mais forte e, como as ervas daninhas que estrangulam a vida de uma linda flor cultivada, o mal esmagará quaisquer bons intuitos que o homem originalmente possuísse.

Ao fim do terceiro ciclo, a situação desgovernara-se. Poderíamos dizer que os elementos desordeiros da classe, que eram os países da terra, rebelaram-se contra os mestres, injuriaram-nos e não obedeciam suas ordens. Teve início, então, o quarto ciclo, que é conhecido, no Hindu, como a Era de Kali.

A Era de Kali é aquela em que o povo sofre. Se quise­rem, podem imaginá-la como a era onde homens e mulheres são torturados nas fogueiras da guerra, de onde saem purifica­dos, preparados para uma etapa melhor; porque a vida con­tinua, as pessoas tornam-se melhores no curso natural da evo­lução, adquirem mais experiência, e se não são bem sucedidas num estágio da evolução, repetem-no, qual aluno reprovado.

Na página 109 do meu livro Você e a Eternidade, que, sem dúvida, teve boa circulação, refiro-me aos judeus. Disse: — "Os judeus são um povo que numa existência anterior foi incapaz de progredir". Esta afirmação produziu uma correspondência bastante amistosa com leitores judeus de toda parte do mundo, e, em especial, algumas senhoras eruditas de Tel Aviv pediram-me que lhes fornecesse mais detalhes sobre o assunto. Este pedido recebeu o apoio de judeus na Argentina, México, Austrália e Alemanha. Portanto, vamo-nos aprofun­dar na "questão judaica". A esta altura, gostaria de esclarecer que tenho inúmeros amigos judeus e devoto-lhes sincera ad­miração, por construírem uma raça muito antiga e possuírem um conhecimento que desperta inveja aos menos dotados.

Primeiramente, deveríamos perguntar: — O que são os judeus? A idéia generalizada é totalmente falsa, porque a palavra "judeu", na sua forma presente, é uma denominação errônea. Na realidade, é um vocábulo de uso recente.

Se perguntássemos à média das pessoas — quem foi o pai dos Judeus, sem dúvida responderiam: — Ora, Abraão, "naturalmente! Mas a história prova, conclusivamente, o contrário — na verdadeira acepção da palavra, Abraão não era judeu!

Se estudarem a história da Antiguidade, numa visita a uma biblioteca pública, ou recorrendo ao Registro Akáshico, verificarão que Abraão era natural de Ur, na Caldeia. Muitos lugares receberam outros nomes na atualidade, portanto, para facilitar, Ur também era conhecida como Ur Kasdim, na Babilônia. Isto nos leva ao ponto mais interessante: Abraão, longe de ser judeu, era babilônio e o seu verdadeiro nome nem mesmo tem correspondente em hebreu. Chamava-se Abram.

Abraão viveu em 2.300 a.C., no tempo em que nem se sonhava com a palavra "judeu"; mas uns 1.800 anos depois da sua morte, a palavra "judeu" designava um povo que vivia no Reino de Judá, ao sul da Palestina.

Aqueles que estiverem suficientemente interessados pode­rão verificar na Bíblia, livro dos Reis, versículo 11.16.6. Ali, encontrarão o que foi escrito 600 anos a.C. e a palavra judeu naquele tempo era jahudi.

Consultando, desta vez, o livro de Ester, versículo 11.5, encontrarão o termo "judeu" mencionado pela primeira vez, sem esquecer que o livro de Ester só foi escrito uns 2.400 anos depois da morte de Abraão, isto é, no primeiro século da Era Cristã. Assim, descobrimos que jahudi é o que agora chamamos de judeu.

Em cada ciclo, há doze "Salvadores" ou "Messias" ou Líderes da Humanidade. Assim, quando nos referimos à "Se­gunda Vinda", estamos bastante atrasados; podemos citar Abraão, Moisés, Buda, Cristo e muitos outros, mas a verdade é que, para cada ciclo da existência do mundo, tem de haver um Líder da Humanidade, de cada um dos diferentes Signos Zodiacais. Há doze signos no Zodíaco, e um Líder vem primeiro num signo, depois noutro, e, ainda noutro, até totaliza­rem doze Líderes. No nosso ciclo de Kali, estamos nos apro­ximando da vinda do décimo-primeiro, a que se seguirá mais um, antes que esta Era termine e possamos realmente entrar na Idade Áurea.

Naturalmente, para cada Líder da Humanidade, haverá aqueles que o seguem — os discípulos, se preferir, ou assistentes, ou ministros, chame-os como quiser. Mas tem que haver tais homens, nascidos especialmente para prestarem serviços ao Mundo.          

Nasceu em 1941 o primeiro dos discípulos, e outros têm nascido, desde então. O atual "Salvador" nascerá no início de 1985 e, nesse ínterim, os discípulos prepararão seu Caminho.

O "Salvador" ou Líder da Humanidade como o leitor preferir terá uma educação e um treinamento especiais e, no ano 2005, quando tiver vinte anos de idade, fará muitas coisas que confundirão os ateus, que não crêem em Deuses, Salvadores, etc.

Outra vez, haverá um caso de transmigração. Se os que conhecem bem a Bíblia a estudarem com o espírito aberto, en­contrarão que o corpo de Jesus foi tomado pelo "espírito de Deus o Cristo". Da mesma maneira, o corpo do novo Líder da Humanidade será tomado por um Personagem verdadeiramente muito, muito alto, e nos anos que se seguirem, haverá acontecimentos notáveis, e o mundo será conduzido por eta­pas essenciais, que o prepararão para o início de um novo ciclo.

Por uns 2.000 anos, o mundo progredirá, segundo os pre­ceitos da Igreja que será fundada pelo novo Líder, mas, no fim desses 2.000 anos, ainda um outro Líder aparecerá o décimo-segundo do ciclo, completando o destino do percurso zodiacal. As condições melhorarão e, assim, suavemente, no devido tempo, os povos serão encaminhados para uma nova era, onde terão habilidades diferentes das que agora apresentam. A vidência e a telepatia, perdidas pelo abuso da huma­nidade, ao tempo da Torre de Babel, serão restabelecidas nessa Era. Essa história é contada na Bíblia sob forma de uma lenda. Na verdade, o homem era capaz de comunicar-se com os seus semelhantes e com os animais, mas, ao atraiçoar o mundo animal, a humanidade foi privada de seu poder telepático, e houve, então, a total confusão de pessoas procurando enten­derem-se nos dialetos locais que vieram a se tornar as línguas do mundo.

Este mundo poderia agora ser comparado a um trem. O trem vinha percorrendo as diversas fases do cenário, atraves­sou terras agradavelmente ensolaradas, que correspondem ao primeiro estágio; terras nas quais havia uma paisagem maravilhosa e amistosos companheiros de viagem. Atingimos, en­tão, o segundo estágio, houve-uma troca de passageiros e esse novo grupo não era tão amistoso; tampouco era a viagem tão agradável, porque os trilhos eram irregulares, com muitos en­troncamentos barulhentos, e a jornada continuou através dum terreno sombrio e deprimente, onde a fumaça das fábricas poluía a atmosfera com imundos resíduos químicos. Os passageiros discutiam, chegando quase ao desforço físico, mas o pior estava por vir. No terceiro estágio, os passageiros troca­ram mais uma vez e um grupo de bandidos embarcou, bandi­dos que tentavam roubar os outros passageiros; houve muitas facadas, muitas demonstrações de sadismo. E, também, o trem sacudia à beira de estreitas gargantas, onde desmoronamentos tornavam a viagem precária. Durante todo o tempo, ouviam-se ruídos dissonantes, devido às discussões entre os infelizes passageiros.

Mais uma vez o trem parou, para deixar entrar novos passageiros. Desta vez, as condições eram ainda piores, os novos passageiros quase destroçaram o trem, danificando os aces­sórios, torturando, defraudando e entregando-se a todas aque­las atividades que uma pessoa decente julga abomináveis. O trem percorria uma região cada vez mais difícil, os trilhos mal assentados, com muitos desvios e obstruções. Finalmente, chegou a um túnel longo e tenebroso; o trem mergulhou e parecia não haver luzes em parte alguma. Os passageiros estavam nas trevas, como a humanidade, sem liderança. A escuridão adensou-se e o ambiente tornou-se mais lúgubre, o trem arfava e jogava na mais completa treva, como a que se encontra ao atravessar o âmago de uma montanha. Mas o nosso trem atingiu o ponto máximo da sua fase negra; já não é possível escurecer; portanto, deverá clarear. À medida que o trem progride, far-se-á cada vez mais claro, e, por fim, à proporção que uma nova era se aproxima o trem romperá a montanha e os passageiros descortinarão embaixo uma terra vasta e agradável, com águas cristalinas, manadas de gado pastando tranqüilamente. O sol brilhará, e, en­tão, o trem avança, sempre trocando de passageiros; eles verão que as condições se tornam cada vez melhores, os homens respeitando o direito do próximo, e já não haverá terrorismo, nem sadismo nem tortura. Mas muito terá de ser feito presentemente, porque haverá muito mais privações e sofrimento neste mundo, antes que chegue a Idade Áurea. As profecias serão tratadas noutro capítulo deste livro, mas não seria des­cabido adiantar alguma coisa.

De acordo com a antiquíssima arte da astrologia, muitos acontecimentos tristes terão lugar nesta terra. Por volta do ano de 1981, haverá um aumento substancial e repentino de calor no mundo, com uma redução das precipitações pluviais e a seca das colheitas; as frutas e outras plantas estiolarão, antes que se possam colher. Esta grande onda de calor poderia facilmente ser o resultado da bomba atômica, lançada pelos chineses; eles se esforçam por desenvolver uma superbomba, e os chineses de hoje são como cães raivosos, indiferentes ao resto do mundo, porque o resto do mundo os mantém virtualmente isolados. Os chineses ignoram o que se passa nos outros lugares, e é triste reconhecer que todos tememos o que desco­nhecemos. Assim, os chineses, na sua xenofobia, estão prontos a arremessarem-se contra aquilo que não compreendem.

É necessário ter em mente o quanto já era ruim, quando só os Estados Unidos tinham a bomba atômica; agora, os russos, os franceses, os chineses e, talvez, outros a tenham também. A situação atingiu um ponto perigoso.

Muito trabalho preparatório deverá ser feito, antes do advento do novo Líder. Enquanto para algumas pessoas será in­sinuado o que vai acontecer, quando e como, outras serão excluídas.

Além dos discípulos que já nasceram e são ainda crian­ças, existem pessoas mais idosas que têm um conhecimento especial e devem difundi-lo, a fim de preparar o caminho. Naturalmente, essas pessoas já não estarão vivas, na época da Nova Vinda, mas, tal como os que lhes seguirão, esses precursores terão desempenhado a sua missão, chamando a si o ódio e a suspeita que sempre acompanham os inovadores.

As pessoas temem aquilo que não podem compreender, de modo que, se alguém disser que trocou seu corpo por outro, será automaticamente alvo de perseguições. Mas, é necessário que haja incidência de troca de corpos, para que o público se conscientize e, quando vier o Novo Líder, aceite a verdade da transmigração de almas e da troca de corpos. Portanto, aqueles que sofrem o desprezo, a ridicularia e a perseguição de uma imprensa mal-informada no presente, saberão na plenitude dos tempos que o seu sofrimento e atribulação foram justificados.

Freqüentemente, dirão: — Oh, mas se essas pessoas têm tais poderes, por que vivem na miséria? Se eles fossem real­mente quem dizem ser, teriam todo o dinheiro que desejassem.

Isso é totalmente ridículo, porque uma pessoa que venha à Terra em condições diferentes é como uma farpa no corpo do mundo, e se alguém tem uma farpa no polegar, agita-se, inquieta-se, e mexe-se até que consiga, por fim, desalojá-la, não desperdiçando simpatia para com aquela farpa. Assim, as pessoas que vêm ao mundo, trocam de corpos e tentam preparar o caminho para outro, são também como uma farpa — o mundo os acha estranhos, as pessoas se sentem pouco à vontade, na sua presença. Ao invés de culparem-se de seu subdesenvolvimento, responsabilizam a outrem, dizendo: — Oh, ele é estranho — provoca uma sensação sobrenatural quando me toca.

E este velho mundo vai girando, cheio de problemas, mas como a hora mais escura precede o alvorecer, quando as coisas estiverem piores, há o consolo de que qualquer mudança só poderá ser para melhor. Este mundo e seu povo, depois da sua hora mais negra, progredirá em direção à Luz, a humanidade se tornará tolerante para consigo mesma, e os pequenos seres do mundo animal serão compreendidos em vez de temidos e, atormentados como no presente. Assim, a partir do ano 2000, o mundo terá alegria, será o alvorecer da Idade Áurea.

 

MUITAS CASAS

Ele Estava Só, só na velha casa perdida no coração da charneca. Ao fundo do imenso jardim, um regato barulhento cascateava sobre os seixos, sibilando nos estirões pedregosos. Num dia quente, costumava ficar junto ao regato balbuciante, ou empoleirar-se numa das enormes pedras que pendiam sobre a corrente turbulenta. Adiante, havia uma pequena ponte de madeira com um corrimão desconjuntado, que atravessava quando ia à povoação fazer compras ou apanhar o correio.

Fora agradável ali. Ele e sua mulher. Juntos, tentaram fazer um lar, manter corpo e alma unidos, enquanto ele pinta­va e esperava o reconhecimento do seu talento. Mas, como sempre, a imprensa não tinha compreendido sua arte nem mesmo tentado e os críticos condenaram o seu trabalho com débeis elogios; o reconhecimento continuava distante. Agora, Restava sozinho naquela casa velha, a mente e os sentimentos num turbilhão só igualado ao temporal que caía lá fora.

A tempestade zunia no urzal com fúria desenfreada, açoitando os tojos amarelos, fazendo-os dobrarem-se ao forte vento. O mar, distante, era uma massa efervescente de espuma; ondas monstruosas quebravam com estrondo na extensa costa granítica, arrastando seixos num estridor que causava aflição. Uma gaivota solitária lutava impotente nas garras da tempes­tade que a empurrava terra adentro.

A velha casa sacudia e estremecia à fúria dos elementos. Farrapos de nuvens baixas passavam céleres pelas janelas como fantasmas que buscassem abrigo. Um repentino estrondo, um ribombar metálico, e uma folha de zinco saiu rodopiando pelo jardim e bateu na ponte, cortando as velhas tábuas. Por uns instantes, as duas metades vibraram como as cordas tensas de um violino, estremeceram e rolaram para dentro do regato.

No interior da casa, esquecido do tumulto, o homem an­dava para diante e para trás, para diante e para trás. Recorda­va o momento em que voltara da povoação e descobrira que sua mulher se fora. Relia o bilhete rancoroso, em que dizia julgá-lo um fracasso e que partia. Sombriamente ao lhe ocorrer um pensamento — dirigiu-se para a velha e dilapidada escrivaninha e puxou com violência a gaveta do meio. Esgravatando o fundo, tirou a caixa de charutos em que guardava o aluguel e o dinheiro para as despesas. Mesmo antes de abri-la, tinha certeza de que estava vazia, o dinheiro, todo o seu di­nheiro, fora-se. Tateando o caminho, jogou-se numa cadeira e enterrou a cabeça entre as mãos.

—        Antes! murmurou. Antes, já me aconteceu o mesmo!

Levantando a cabeça, olhou distraído para a janela sem ver a chuva torrencial que caía, forçando a passagem pelos caixilhos frouxos e formando uma poça que se espalhava sobre o tapete.

—        Já vivi tudo isso antes! murmurou. Será que estou ficando louco? Como poderia ter conhecimento disso?

No alto, por entre as telhas, o vento uivava zombeteiro e mais uma vez sacudia e fazia estremecer a velha casa.

Junto à cerca de pedra, os pequenos pôneis amontoavam-se, as cabeças na direção do vento, angustiados, tentando encontrar proteção para os olhos doloridos. No vestíbulo, o tele­fone tocava insistente, despertando-o da sua letargia. Lenta­mente, encaminhou-se para aquele irritante instrumento que parou de tocar, quando ele esticou o braço para alcançá-lo.

—        A mesma coisa, a mesma coisa, murmurou para as paredes indiferentes. TUDO ISTO JÁ ME ACONTECEU ANTERIORMENTE!

O velho professor arrastava-se penosamente, pelo pátio quadrangular, a caminho da Sala de Conferências. Na verdade, a vida tinha sido muito dura. Nascido em ambiente humilde, fora o menino-prodígio que mourejara e conseguira atingir a universidade. Quase uma vida inteira de penosa ascensão, lutando com a oposição daqueles que se indignavam com a origem humilde. Agora, no ocaso da vida, o peso dos anos denunciava-se nos seus cabelos brancos, no rosto enrugado, no andar vacilante. À medida que cambaleava, indiferente aos cumprimentos dos estudantes, pesava as múltiplas facetas obs­curas da sua especialidade — a História da Antiguidade.

Modelo perfeito do professor distraído, tateou à procura da maçaneta de uma porta aberta e, não a encontrando, voltou-se murmurando:

— Meus Deus! Isso é muito estranho, muito estranho — havia uma porta aqui! Devo estar no prédio errado.

Um aluno compreensivo — um que aproveitara as brilhan­tes conferências do velho professor — tomou-o pelo braço e -lo voltar-se mansamente.

— Aqui, professor — disse. — Já abri a porta para o senhor. Por aqui.

Grato, o professor virou-se e balbuciou um muito obrigado. Ao entrar na Sala de Conferências, era um homem transformado: AQUI ESTAVA sua vida, aqui ele pontificava sobre História da Antiguidade.

Caminhando como um homem rejuvenescido, dirigiu-se à tribuna e sorriu complacente para os estudantes reunidos. Eles retribuíram o sorriso respeitosamente, porque, se algumas vezes faziam piadas sobre o seu esquecimento, tinham, ainda assim, grande afeição pelo conferencista, que era tão solícito em aju­dá-los em tudo que pudesse. Lembrando-se da luta que tivera, sentia prazer em auxiliar os alunos em dificuldades, em vez de reprová-los, como era freqüente no caso dos outros pro­fessores.

Passando uma vista de olhos, para ver se a classe estava completa e preparada, disse:

— Vamos continuar a nossa preleção sobre um dos maio­res enigmas da História — a civilização sumeriana. Aqui te­mos uma poderosa civilização, que parece ter surgido de ma­neira misteriosa e desaparecido também misteriosamente. Te­mos fragmentos curiosos, mas não um quadro completo. Sabe­mos, por exemplo, que três mil e quinhentos anos a.C., os sumerianos estavam preparando manuscritos maravilhosos. Temos fragmentos deles. Sempre fragmentos, nada mais. Também sabemos que os sumerianos tinham um sistema musical diferente de qualquer outro encontrado no velho ou nos novos mundos. Foi descoberta uma placa de barro, que os processos científicos indicam ter uns três mil anos de idade. Nela estão gravados símbolos musicais, que nos levam a supor tratar-se de um hino, mas que tem desafiado qualquer interpretação musical.

O velho professor fez uma pausa, seus olhos abriram-se, como se visse alguma coisa além da visão normal. Permaneceu assim por um minuto, contemplando o infinito, e então, com um gemido estrangulado, caiu no chão. Aturdida, a classe man­teve-se imóvel por um momento, dois estudantes acorreram, enquanto um outro saía em busca de socorro médico.

Uma assembléia silenciosa afastou-se respeitosamente para um lado, enquanto dois carregadores ergueram, com cuidado, o homem inconsciente, colocaram-no numa maca e levaram-no para a ambulância que o aguardava. O diretor, que tinha sido chamado, apareceu muito afobado, dispensando a classe por toda a tarde.

Já no quarto do hospital, o velho professor, recuperando a consciência, murmurava para seu médico:

— Estranho! Muito estranho! Eu tinha a perfeita impres­são que já vivi esse incidente, anteriormente, e que EU SABIA a origem dos sumerianos. Devo estar trabalhando demais. Mas EU SABIA a resposta e, agora, escapou-se-me. Estranho, estranho!

O homem de meia-idade contorceu-se desconfortavelmente no banco de madeira, cruzando primeiro uma perna, depois a outra. De tempos em tempos, levantava os olhos amedrontados para examinar em seu redor. Do fundo da sala, vinha a voz áspera e impessoal da enfermeira, que expedia as ordens mo­notonamente:

— Garland, você deve ir ver o Dr. Northey. Tome suas fichas. Leve-as para AQUELA sala, e espere até que o doutor lhe fale. Rogers, você vai para a terapia, eles querem fazer-lhe um teste. Estas são as suas fichas. Vá por aquele corredor ALI.

A voz continuava semelhante ao pregão da Bolsa de Va­lores.

O homem de meia-idade estremeceu, ante as fileiras de pessoas que o precediam. Doentes desacompanhados, doentes acompanhados de parentes, alguns com corpulentos atendentes que aguardavam próximos. As horas se arrastavam. De quando em vez, um homem ou uma mulher gritava, tomado por alguma fantasia. Perto, um homem bradava:

—        Eu tenho de fazer, e quando se tem de fazer, tem-se.

De um salto, correu pela sala, dispersando pessoas à direita e à esquerda, livrando-se com uma cotovelada de um atendente que o procurava deter e, fazendo cair um funcionário, mergulhou de cabeça por uma janela aberta. Durante a agitação que se seguiu, a voz da enfermeira arrastava-se imperturbável.

Do lado de fora, os foscos edifícios de tijolos vermelhos tremeluziam no calor crescente. As vidraças das inúmeras jane­las refletiam a luz do sol, pondo em destaque suas grades de ferro. Homens de olhar parado abaixavam-se com um arrastar de pés, esgravatando o cascalho do caminho à procura de ervas daninhas. Os atendentes deixavam-se ficar na sombra, enquanto supervisionavam o trabalho dos homens. Mais adiante, onde as encostas gramadas encontravam a estrada, filas de mulheres desleixadas entregavam-se à tarefa de apanhar detritos e pedras do gramado, para que os cortadores pudessem entrar em ação. De pé, sob uma árvore frondosa, uma mulher esquálida, numa pose de rainha, contemplava as duas atendentes, vigilantes, pre­sas de grande expectativa.

No portão principal, dois atendentes paravam os carros que entravam, orientando seus ocupantes. Um internado, fortuitamente, tentava iludir a vigilância e foi logo descoberto.

—        Ora Alf! — admoestou o atendente. — Já para dentro, nada de truques, estou ocupado.

Do outro lado do alto muro de pedra e dos portões com pesadas barras, os transeuntes espiavam curiosos, vibrando em espreitar a vida por trás daquelas muralhas.

Na recepção, o homem de meia-idade levantou-se incerto, quando o seu nome foi finalmente chamado. Pondo-se de pé, encaminhou-se até a enfermeira na mesa e disse: — Tudo isso é um engano, eu...

—        Sim, sim, eu sei, você é tão saudável quanto eu, — interrompeu a enfermeira. — Todos dizem o mesmo.           

Suspirando, apanhou uma ficha e alguns papéis e fez sinal para um dos atendentes. — É melhor você levar esse ao Dr. Hellis, — disse ela. — Ele diz que é tudo um engano e que está são. Tome conta, para que não escape.

Vamos, camarada, disse o atendente, segurando o braço do homem de meia-idade e conduzindo-o por uma peque­na porta. Juntos percorreram- um corredor cheio de portas. Através delas ouviam-se suspiros, de outras, gritos, e, de outra ainda, um som esquisito como um borbulhar, que fez o atendente saltar alarmado e, energicamente, procurar auxílio para alguém, cuja vida se esvaía, pela garganta cortada. O homem de meia-idade tremia e parecia encolher.

—        Apavorado, hem? perguntou o atendente. Tu inda num viu nada. Mas vai ver!

Finalmente, pararam diante de uma porta, o atendente bateu e uma voz distante gritou: Entre. Empurrando o ho­mem de meia-idade, entrou e colocou os papéis e a ficha sobre a escrivaninha. Outro para o senhor, Doutor, disse e retirou-se. O doutor estendeu a mão lentamente e apanhou os pa­péis, comparando-os à ficha. Então, sem prestar a menor aten­ção ao homem de meia-idade, encostou-se na cadeira giratória e começou a ler. Só depois de ter lido tudo e feito ano­tações, levantou os olhos e disse secamente: — Sente-se!

Ora!, disse o doutor ao paciente, sentando-se dian­te dele. Então, como é isso? Como pensa que pode estar em dois lugares ao mesmo tempo? — Explique-me isso. Recostando-se com um ar entre entediado e resignado, acendeu o cigarro.

Bem, doutor disse o homem de meia-idade, — há algum tempo que tenho a estranha sensação de que metade de mim está vivendo em alguma outra parte do mundo. Sin­to-me como se fosse um gêmeo, algumas vezes em completa harmonia com o outro.

O médico resmungou e bateu a cinza do cigarro. Tem irmãos ou irmãs? perguntou. O relatório não menciona nenhum, mas podia estar errado.

—        Não, doutor, nem irmãos nem irmãs, tampouco nin­guém a quem tenha uma amizade, que justifique essa sensa­ção. É como se, de vez em quando, entrasse em contato com um outro eu, algures, alguém que também estivesse consciente dessa sensação.

O médico apagou o cigarro e disse:

—        Essas ocorrências extraordinárias são freqüentes? Pode prever o início da sua manifestação?


Não, senhor, — respondeu o homem de meia-idade. — Posso estar fazendo uma coisa qualquer, sinto um formigamento no umbigo e parece que tenho duas linhas telefônicas cruzadas e como se duas pessoas estivessem recebendb o próprio chamado e o de uma outra pessoa.

Hum! — admirou-se o médico. — E isso o incomoda?

Sim, doutor, incomoda — respondeu o homem de meia-idade. — Às vezes, acontece-me falar alto e dizer as coisas mais incríveis!

O doutor suspirou e observou:

—        É o que depreendi deste relatório. Bem, teremos de mandá-lo para o pavilhão de observação, até que consigamos deslindar o caso, pois o senhor parece que está vivendo em dois mundos separados.

A um sinal do médico, o atendente entrou na sala.

—        Leve-o para o Observação B3, por favor. Eu irei vê-lo mais tarde.

O atendente voltou-se para o homem de meia-idade, e juntos retiraram-se do consultório. O médico sentou-se imóvel por um momento, empurrou os óculos para o alto da testa, coçou a nuca com vigor. Acendendo um novo cigarro, encos­tou-se na cadeira giratória e pôs os pés sobre a mesa.

"Parece-me que temos muita gente aqui, hoje em dia, — disse de si para si — que acredita estar levando vida dupla. Suponho que a seguir aparecerão outros, que dirão estar vivendo em mundos paralelos ou coisa parecida." O "trrriiii" do seu telefone trouxe-o de volta ao presente e, escorregando os pés mesa abaixo, alcançou o telefone e preparou-se para o próximo cliente.

Existem mundos paralelos, porque tudo tem a sua réplica numa forma contrária, assim como não se pode ter uma bateria que seja só positiva ou só negativa. Mas esse assunto será discutido no próximo capítulo, porque agora estamos em mun­dos paralelos.

Infelizmente, "cientistas" receosos de perder seu prestígio, ou mergulhar em assuntos que estão além da sua capacidade, confundiram a questão, por não quererem enfrentar a idéia de uma pesquisa honesta. Entretanto, na Índia, os Adeptos antigos já se referiam ao “Linga Sharira”, que quer dizer a parte do corpo que está numa dimensão diferente – para além das três dimensões deste mundo – e não pode ser percebida normalmente por uma pessoa tridimensional. Temos de lembrar que neste mundo estamos confinados às três dimensões, porque este é um mundo completamente tridimensional e, para a pessoa média, que não tenha estudado metafísica, a quarta dimensão é coisa para rir ou ler, em alguma ficção científica.

Não somente há uma quarta dimensão, mas, além do mun­do da quarta, há uma quinta, uma sexta, uma sétima, uma oitava e uma nona. Na nona, por exemplo, a pessoa alcança a realização, torna-se capaz de compreender a origem da vida, a origem da alma, qual foi o início das coisas e qual o papel que a humanidade desempenha na evolução do Cosmos. Nessa dimensão, o Homem — ainda uma marionete do Eu Superior — é capaz de conversar face a face com Ele.

Uma das maiores dificuldades é o fato lamentável de que os "cientistas" tenham estabelecido toda espécie de leis extraordinárias e arbitrárias e se alguém ousa contradizê-las, cai, realmente, no ostracismo. Um exemplo disso pode ser encon­trado na maneira em que a profissão médica foi completa­mente tolhida por centenas de anos, porque, na teoria de Aris­tóteles, era considerado um crime fazer qualquer pesquisa no corpo humano, porque ele já ensinara tudo o que devia ser sa­bido. Assim, até que a profissão médica pudesse libertar-se do domínio de Aristóteles, não foram feitas dissecações nem autópsias e, portanto, nenhuma pesquisa.

Certos astrônomos tiveram a mesma dificuldade, quando ensinaram que a Terra não era o centro da criação, porque algum maravilhoso homem da antiguidade dissera que o Sol girava em torno da Terra, e que tudo existia para o exclusivo benefício da humanidade.

Mas, continuemos com as nossas dimensões. Na terra, li­damos com aquilo que é comum ente conhecido como três dimensões. Vemos uma coisa, sentimo-la, e ela parece sólida e real para nós. Mas, suponhamos que tivéssemos de lidar com uma dimensão extra, a primeira coisa seria — bem, o que é essa dimensão extra? Possivelmente, não conseguiríamos compreendê-la muito bem. O que poderia ser uma quarta dimen­são? Ou pior, o que poderia ser uma quinta? E, assim por diante, até a nona, ou mesmo além da nona.

O melhor será tomarmos, como exemplo, um gravador, porque a maioria das pessoas ou possui ou já viu algum. Temos um gravador girando numa velocidade muito, muito lenta, a menos de uma polegada por segundo. Em tal velocidade, uma mensagem duraria uma hora. Mas, suponhamos que vol­tássemos atrás e o ouvíssemos a um pé por minuto; então a gravação tornar-se-ia completamente ininteligível; a mensa­gem não se alterou de forma alguma, as palavras continuam as mesmas, mas na verdade teríamos mudado a gravação para uma outra dimensão e, portanto, não poderíamos compreendê-la. Para que pudéssemos compreender o que foi gravado na fita eríamos de tocá-la na mesma velocidade que empregamos para gravá-la.

Incidentalmente, biólogos especializados em assuntos marinhos, usando gravadores, descobriram que os peixes de todas as espécies falam. Na realidade, há um disco onde foram gravados os sons dos peixes, falando uns com os outros, e até das lagostas e caranguejos. Se acharem isso difícil de acreditar, lembrem-se de que já gravaram uma fita da fala dos golfinhos; os golfinhos falam muitas vezes mais rápido do que os homens. Assim, a fala foi gravada, mas era completamente ininteligível para os homens, até que se diminuiu a velocidade da fita, para uma dimensão compreensível aos ouvidos humanos. Agora, os cientistas estão tentando decifrar as fitas e, enquanto estava escrevendo este livro, declararam que estão aptos a compilar um vocabulário, que lhes permitirá, por fim, comunicarem-se com os golfinhos.

Mas, voltemos aos nossos mundos paralelos. Há muitos anos atrás, quando fugi dos russos e atravessei lenta e penosasamente a Europa, para alcançar um país livre, aconteceu-me parar em Berlim, destruída pela guerra e profanada pela selvageria russa. Caminhava, pensando no que fazer, imaginando como passar o tempo até anoitecer, quando esperava obter uma carona que me levasse à fronteira francesa. Perambulava, olhando as ruínas ainda fumegantes, onde o bombardeio aliado tinha reduzido Berlim a montes de entulho. Num pedaço de­sobstruído, sob vigas de aço retorcidas, vermelhas de ferrugem, vi um palco desconjuntado, montado entre edifícios destruídos pelas bombas. Havia uma espécie de cenário, feito de pedaços de material recuperado dos destroços; algumas estacas e esti­cados entre elas pedaços de sacos que impediam tanto quanto possível a visão do palco àqueles que não tinham pago entrada.

Fiquei curioso e, examinando o interior com maior aten­ção, vi dois velhos. Diante da cortina, um deles recolhia o dinheiro. Estava esfarrapado e em desalinho, mas tinha um certo ar de dignidade. Já não me recordo quanto paguei para entrar, não deveria ter sido muito — ninguém tinha muito dinheiro na Berlim destroçada pela guerra, — mas ele pôs o dinheiro no bolso e, cortesmente, conduziu-me através da cor­tina esfarrapada e suja de lama.

Passando a cortina, vi algumas pranchas apoiadas sobre o entulho, que serviam de banco às pessoas. Sentei-me, também, e uma mão apareceu através da cortina e acenou. Um homem muito velho e magro, curvado sob o peso dos anos, arrastou-se para o centro do palco e fez um pequeno discurso em alemão, explicando o que iriam ver. Voltando-se, desapareceu pelo pano de fundo. Por um momento vimo-lo com dois pauzinhos na mão, dos quais pendiam algumas marionetes, pedaços inani­mados de madeira, toscamente esculpidos, para representar a forma humana, vestidos com trapos berrantes, feições pinta­das e uma maçaroca de cabelo colada no alto. Eles eram real­mente toscos, e pensei que tivesse desperdiçado um dinheiro que mal podia, mas estava cansado de andar, de vaguear, tentando escapar às patrulhas policiais russas e alemãs, de modo que continuei no meu incômodo assento e pensei que, se tinha des­perdiçado o dinheiro, desperdiçaria também um pouco de tempo.

O velho desapareceu atrás do seu palco desconjuntado. De alguma forma, tinha improvisado uma espécie de ilumina­ção, que diminuiu de intensidade, e apareceram as figuras na­quele arremedo de palco. Arregalei os olhos. Olhei fixamente, esfreguei-os, não eram mais marionetes, eram seres vivos, desapareceram completamente as imperfeições da madeira talha­da, borrada de tinta, encimada de crina e envolta em farrapos recolhidos nas ruínas dos bombardeiros. Ali estavam pessoas vivas, cada qual com uma personalidade própria, pessoas preo­cupadas com uma tarefa, pessoas que se moviam de acordo com a própria vontade.

Naturalmente, não havia música nem som algum, exceto o chiado asmático daquele homem muito velho, agora escondido na parte de trás. Mas o som não era necessário, qualquer complemento sonoro teria sido supérfluo, as marionetes eram VIDA, cada movimento, cada gesto era expressivo, a fala era desnecessária, porque os movimentos eram a linguagem uni­versal da imagem, — a pantomima.

Parecia haver uma aura em torno dessas marionetes, marionetes que se tornavam gente, que pareciam tomar a identi­dade e a personalidade daquilo que no momento representavam. Por mais que espreitasse, não conseguia distinguir os cordões presos na parte de trás da cabeça, que estavam completa e enge­nhosamente escondidos contra o fundo. Diante de mim, esta­vam sendo representadas cenas da vida, com absoluta fidelidade às suas réplicas humanas. Perdi-me na contemplação das ações e motivos; assistíamos ao drama humano e nossos corações disparavam, solidários com o mais fraco. Isso era excitação, era realidade, mas, finalmente, o show chegou ao fim e levantei-me como num transe. Sabia que um verdadeiro gênio controla­va aquelas marionetes, um mestre entre mestres, e então o ve­lho saiu do palco e agradeceu. Ele tremia de cansaço, seu rosto, lívido do esforço, estava coberto com um brilho suave de transpiração. Era verdadeiramente um artista, um mestre e nós não víamos o homem velho, maltratado e esfarrapado, mas o gênio que manipulava aquelas marionetes toscas e lhes dava vida.

Ao afastar-me, pensei nas coisas que aprendera no Tibe­te, do meu querido guia, o Lama Mingyar Dondup, e como ele me havia mostrado que o homem é apenas uma marionete do seu Eu Superior. Pensei, também, como este espetáculo de marionetes tinha sido uma lição maravilhosa sobre os mun­dos paralelos.

O homem é nove décimos subconsciente e um décimo consciente. Provavelmente, já devem ter lido muito sobre esse assunto, porque toda a ciência da psicologia é dedicada às vá­rias facetas e idiossincrasias do subconsciente do homem. Sa­bendo que o homem é tão pouco "consciente", não lhes ocorre que seja uma perda de tempo chocante para um Eu Superior tão poderoso, dotado de toda a espécie de faculdades e talentos, pulsando com o poder de um mundo carregado de problemas e obstáculos, e funcionar no máximo com um décimo do seu potencial? Suponho que tivessem um carro, vamos dizer, um carro de oito cilindros, porque não parece haver carros de dez cilindros, para fazer uma comparação mais exata — vamos diter, então, que tivéssemos um carro de oito cilindros, para fins de ilustração. Temos este carro de oito cilindros, mas des­cobrimos que só um está funcionando, os outros sete não con­tribuem em nada, e na realidade atrapalham ainda mais devido à inércia. O rendimento do carro é deplorável. Mas, pensem nisso em tempos de existência humana; a humanidade é como um carro de dez cilindros, onde só um funciona e os outros nove são subconscientes. É um desperdício, não é?

O Eu Superior não desperdiça energia! Ele tem um certo número de tarefas que precisam ser executadas. Supondo que tenhamos um Eu Superior evoluído, que está ansioso em progredir para outros planos da existência, que está ansioso para ascender às diferentes dimensões. Neste caso, um Eu Superior poderá dedicar um décimo do seu potencial ao seu corpo na Terra, e o restante a corpos em outros planetas, ou outros planos de existência. Ou, em vez disso, estar sem nenhum corpo-marionete em outros planos da existência, movendo-se no que poderíamos chamar de puro espírito. Mas, se um Eu Su­perior não estiver tão evoluído ou possuir um esquema dife­rente de operações, poderá fazer as coisas de outra maneira.

Suponhamos que o nosso Eu Superior seja um tanto principiante, com o que poderemos compará-lo a um aluno de es­cola secundária. O aluno precisará freqüentar um certo número de aulas, em vez de aprender somente uma disciplina, o que muitas vezes significará que terá de ir a diferentes classes ou diferentes centros, sendo isto, realmente, um desperdício de tempo e energia.

O Eu Superior está numa posição mais cômoda. É um mestre de marionetes. Neste mundo a que chamamos Terra, há um corpo-marionete que requer apenas um décimo da sua atenção. Num mundo paralelo em outra dimensão, este Eu Superior poderia ter uma outra marionete ou talvez duas, três, ou mais, e estaria em condições de manipulá-las, não obstante outras ocupações. Comparando-o de novo ao nosso estudante, poderíamos dizer que é como um aluno indiferente, que permaneceu em seu quarto particular e enviou substitutos às dife­rentes aulas, para que adquirissem toda a experiência neces­sária das diversas fontes e as coordenasse mais tarde.

Vamos presumir que o Eu Superior tivesse de apressar as coisas, a fim de ficar em dia com o ciclo da evolução. Suponha que o Eu Superior tivesse sido um pouco lento ou preguiçoso, sofrendo diversos atrasos e não quisesse ficar para trás na mesma classe ou estado, enquanto os outros progrediam, teria de fazer, com efeito, um curso intensivo, da mesma forma que uma criança ou um estudante mais velho toma aulas extras para manter-se no mesmo nível dos outros, que estão mais, adiantados e, assim, permanecer em estreito contato com eles.

 

O Eu Superior pode ter uma pessoa vivendo uma vida na Austrália, sem prejuízo de outra na África. Talvez tenha outra na América do Sul, no Canadá ou na Inglaterra; pode ter mais de três, pode ter cinco, seis ou sete. Essas pessoas poderiam não se conhecer, mas teriam grande afinidade umas com as outras, poderiam ter comunicação telepática, sem compreende­rem por que e, ocasionalmente, encontrar-se-iam no astral, como caixeiros-viajantes às vezes se encontram no escritório do gerente de vendas.

Um sobrecarregado Eu Superior com sete, oito ou nove marionetes teria realmente de esforçar-se muito para manipular todas ao mesmo tempo e evitar que as linhas se cruzassem. Esta é uma das explicações para alguns sonhos curiosos: fre­qüentemente, quando duas marionetes compatíveis dormem, os seus Cordões de Prata podem tocar-se e produzir um efeito semelhante ao de linhas telefônicas cruzadas, em que se ouve parte da conversa de outra pessoa, mas infelizmente, e com imensa pena, perdem-se sempre os trechos mais interessantes.

Mas, qual é a finalidade de tudo isso? — poderiam per­guntar. Bem, é fácil responder: tendo diversas marionetes, o Eu Superior pode adquirir uma grande experiência e viver dez vidas em uma. O Eu Superior pode experimentar a riqueza e a pobreza, ao mesmo tempo, e assim pesá-las numa balança. Uma marionete poderia ser um mendigo num país, vivendo mi­seravelmente, de fato quase não existindo, enquanto, em al­gum outro, a segunda marionete seria um príncipe, adquirindo experiência de como lidar com os homens e como formar a política de uma nação. O mendigo adquiriria experiência da miséria e do sofrimento, e quando esta fosse misturada à do príncipe-marionete, o Eu Superior conheceria o lado pior da vida e saberia que há pelo menos dois lados em cada questão.

No curso normal dos acontecimentos, uma pessoa talvez viesse primeiro como um príncipe, e esperaria a próxima vida para vir como mendigo, ou vice-versa, mas quando se tem pouco tempo, quando um dado ciclo de evolução se aproxima do fim, como no caso presente, então métodos enérgicos precisam ser adotados, a fim de que os mais vagarosos possam ainda manter-se à altura dos outros.

Estamos agora entrando na Era do Aquário, uma era em que muitas coisas acontecerão ao homem, refletindo-se num aumento da sua espiritualidade; aliás, já não era sem tempe. A faculdade psíquica do homem também aumentará. Muitas pessoas, que ora vivem na Terra, não retornarão, mas prosseguirão para diferentes estágios da evolução. Muitos dos que não aprenderam nesta vida, ou neste ciclo da existência, serão mandados de volta como meninos travessos, para recomeçarem no próximo ciclo.

Se, na escola, um menino repete o ano, fica geralmente insatisfeito e desgostoso de ter ficado para trás, e tem a tendência de bancar o difícil com os novos alunos da classe, exagerar o seu papel e mostrar que sabe mais, que é melhor, maior e tudo mais, e quase sempre os novatos têm antipatia pelo menino que foi da classe anterior. Acontece o mesmo na sala de aula da vida: uma pessoa que foi rejeitada como não suficientemente evoluída para prosseguir num novo estágio da existência tem de voltar e repetir o mesmo ciclo. Sua memória, contida nos nove décimos do subconsciente, rebela-se e ele tende a progredir de uma maneira especial.

Muitas pessoas após deixarem a Terra seguem para uma forma diferente de existência, geralmente superior, porque o homem deve sempre ascender, como na verdade todas as criaturas, e seu espírito, sendo gregário de natureza, deleita-se na companhia dos que lhe são caros. Assim é que uma ALMA se empenhará, realmente, e usará muitas marionetes para man­ter-se à altura dos seus companheiros.

Aceitemos, então, que um mundo paralelo está numa dimensão diferente, assemelha-se com a Terra, porém noutra dimensão. Se acharem difícil entender, imaginem que pudessem transportar-se para outra face do mundo, instantanea­mente, num piscar de olhos. Agora, responda: você está vi­vendo no passado? Isto é, voltou para ontem ou viajou para o amanhã? De acordo com o seu calendário, verificará que, quan­do você cruza o antemeridiano, retrocedeu ou avançou tanto quanto um dia. Teoricamente, então, é possível avançar um dia para o futuro com relação ao tempo básico, ou retroceder um dia para o passado. Concordando que isto seja assim, deverá admitir que há diversas dimensões que não podem ser expli­cadas facilmente, e, no entanto, existem, como existem mun­dos paralelos.

É sempre espantoso que as pessoas acreditem prontamen­te que o coração possa bombear dez toneladas de sangue numa hora, ou que seja 60.000 milhas de vasos capilares no corpo humano, mas uma coisa simples como mundos paralelos os faça franzir o cenho, duvidosos, pondo assim um assombroso número de músculos a trabalhar.

Os nossos subconscientes são em geral bastante difíceis de atingir, difíceis de perscrutar. Se conseguíssemos alcançar, facilmente,, os nossos subconscientes, poderíamos sempre saber o que estavam fazendo as nossas marionetes em outros mun­dos, ou em outras partes deste mundo e isso nos causaria con­fusão, alarme e desânimo consideráveis. Pense, por exemplo, que hoje fez um certo número de coisas; se pudesse penetrar no seu subconsciente e descobrir-se vivendo a vida de uma*" outra marionete que tivesse feito a mesma coisa na semana passada, ou pretendesse fazê-la na próxima semana, isto pro­vocaria uma surpreendente confusão. Esta é uma das muitas razões por que é tão difícil penetrar no subconsciente.

Às vezes, acontecem coisas que provocam uma brecha involuntária entre o consciente e o subconsciente. Isso, na ver­dade, é um assunto muito sério, tão sério que geralmente é tra­tado num hospital de doenças mentais, porque provoca toda a espécie de condições psicóticas e o pobre paciente é incapaz de determinar em que corpo deve residir.

Já ouviram falar num livro, As Três Faces de Eva? Uma mulher estava possuída por três entidades diversas. A história tem sido comentada por muitos médicos e especialistas conceituados, que presumivelmente sabem o que dizem.

Leram a história de Bridie Murphy? É um caso semelhante. Uma pessoa foi possuída por uma entidade, ou, em outras palavras, houve uma brecha no subconsciente de uma marionete para outra.

Temos, então, o caso de Joana d'Arc; Joana acreditava-se uma grande líder, que recebia mensagens de fontes superiores; Joana d'Arc, uma camponesa simples e sem instrução, tornou-se guerreira e líder de guerreiros, porque os Cordões de Prata de duas marionetes se embaraçaram e Joana recebia impulsos destinados a um homem num corpo diferente. Por uns tempos, agiu como aquele homem, como aquele líder de homens, como aquele grande guerreiro; depois, as linhas se desembaraçaram, seus poderes falharam e ela se tornou mais uma vez a simples camponesa, que teve de sofrer a punição por uma fama tempo­rária e imerecida; morreu queimada na fogueira.

No caso da vítima, no livro As Três Faces de Eva, ocorreu uma brecha múltipla, ou colapso, e a pobre mulher foi posta num contato indesejável com as outras marionetes controladas pela mesma ALMA. Essas outras marionetes ficaram numa condição semelhante, também sofreram com aquela brecha e o resultado foi um completo caos. Ë o mesmo quando se re­cebe duas ou três marionetes e se é descuidado ou inexperiente, ou se deixa a atenção desviar-se, os fios se embaraçam, puxa-se um fio que deveria controlar a marionete A, mas, por causa do emaranhado, faz-se a marionete B espernear e a marionete C inclinar a cabeça. Da mesma maneira, quando há uma bre­cha entre o consciente e o subconsciente, uma brecha incon­trolável, tem-se então uma interferência dos outros e com os outros que estão sendo controlados pelo mesmo Eu Superior.

Bridie Murphy? Sim, isto também foi verdade, houve uma brecha no subconsciente e outra vez o embaraçar de fios e uma transferência de impressões.

Joana d'Arc, como vimos, era uma simples camponesa, sem instrução alguma. Passava longos períodos sozinha, em contemplação, e num desses períodos, acidentalmente, penetrou no subconsciente! Provavelmente, ela fazia um exercício especial de respiração, sem mesmo perceber, porque isto pode ser feito deliberadamente e sob controle total. De qualquer ma­neira, ela penetrou no seu subconsciente, cruzou os fios com outra marionete e, realmente, armou uma confusão. Recebia todos os impulsos de um guerreiro, e tornou-se um guerreiro; usava armadura e andava a cavalo. Mas o que aconteceu com o pobre sujeito que deveria tornar-se um líder, será que ad­quiriu trejeitos de mulher? Bem, se especularmos sobre isso, chegaremos a toda espécie de conclusões infelizes. Mas, Joana d'Arc tornou-se um líder de homens, um guerreiro que ouvia vozes do céu. NATURALMENTE, ELA AS OUVIA! Ela es­tava captando as impressões do Cordão de Prata que é somente o nosso Cordão de marionetes. Pensem no nosso cordão de marionete. Nós temos um Cordão de Prata qüe é também mencionado na Bíblia, como estão lembrados no capítulo doze do Eclesiastes, que reza: "Ou então o Cordão de Prata pode perder-se ou a terrina de ouro partir-se, ou o vaso partir-se na fonte ou a roda partir-se na cisterna".

As pessoas escrevem sobre o tempo e a relatividade, mun­dos paralelos e tudo mais, usam palavras complicadas que elas próprias não compreendem. Mas, possivelmente, neste capítulo vocês tiveram uma idéia geral. Lembrem-se, tudo isto é verda­deiro, tudo isto é fato real, e um dia, num futuro não muito distante, a ciência ultrapassará algumas barreiras e preconcei­tos e compreenderá a verdade dos mundos paralelos.

 

MUITAS MANSÕES MAIS

— O Senhor Estragou Meu Rádio! — gritou a mulher de cara angulosa, irrompendo pela pequena loja adentro. — O se­nhor vendeu-me baterias que estragaram tudo! — continuou esganiçada, precipitando-se para o balcão e empurrando o pe­queno rádio transistor nas mãos de um jovem espantado, que olhava apreensivo, de um lado para outro. O cliente, que tivera sua vez intempestivamente tomada pela beligerante senhora, afastou-se cauteloso e, tendo alcançado a porta sem ser moles­tado, correu para a rua.

De uma sala ao fundo apareceu o gerente, lavando as mãos nervosamente, com água e sabão invisíveis. — Em que posso servi-la, Madame? — inquiriu, olhando com receio, a gorda e vermelha senhora.

SERVIR-ME? — gritou ela. — O senhor arruinou o meu rádio com as suas baterias estragadas. NÃO FUNCIONA MAIS. Quero um rádio novo, — respondeu a voz, subindo num rugido rouco, ao pensar nos seus "problemas". O jovem caixei­ro, atrás do balcão, manuseava desajeitadamente o rádio, sem saber o que fazer. Finalmente, tirou uma moeda do bolso e desaparafusou a parte de trás do rádio. Removendo a tampa, puxou lentamente as quatro baterias.

Vou testá-las, — e dirigiu-se para a extremidade do balcão, onde apanhou dois fios elétricos. — Veja! — excla­mou; cada célula indicava um volt e meio. — As baterias estão boas! — Juntando-as, colocou-as de volta, aparafusou a tampa e virou o rádio. Com uma pressão do polegar, girou o botão e a última música dos Beatles se fez ouvir.

A mulher de cara angulosa arregalou os olhos para o cai­xeiro, a boca aberta de espanto. — Bem, comigo não funcio­nava, — afirmou. — O senhor deve ter trocado as baterias, — acrescentou truculentamente.

O gerente e o caixeiro entreolharam-se e deram de om­bros exasperados. — Madame — disse o primeiro com suavi­dade. — A senhora tem certeza de que pôs as baterias corretamente?

—        Corretamente? CORRETAMENTE? O que quer dizer com isso? — perguntou a mulher, o rosto tornando-se verme­lho de raiva. — Qualquer pessoa sabe pôr baterias num rádio. É claro que as pus corretamente.

O gerente sorriu e disse:

Há uma maneira correta e uma maneira errada. Se a senhora as puser com a polaridade invertida, elas não funcionarão.

Tolices! — disse a mulher altiva. — Eles deveriam funcionar em qualquer posição — qualquer posição. Quando ligo a minha TV, não tenho que me preocupar em que posição meto a tomada. O senhor está procurando desculpas, como fazem todos os homens! — fungou expressivamente e virou-se para apanhar o rádio que ainda tocava a música barulhenta.

Um momento, madame! — exclamou o gerente. — Vou-lhe mostrar, senão teremos o mesmo problema novamen­te. Alcançando-a, tirou-lhe o rádio e rapidamente removeu a tampa da caixa da bateria. Tirando as baterias, colocou-as de volta, invertidas, e ligou-o, nenhum som, nem mesmo um mur­múrio. Virando as baterias mais uma vez, entregou o rádio que voltou a tocar. — Experimente — disse-lhe com um sor­riso.

—        Quem diria? Eu nunca imaginei! — disse a mulher num tom mais baixo. Então, apontando triunfalmente para o caixeiro: — Bem, ELE devia ter-me dito. Como poderia saber?

O gerente apanhou uma bateria numa prateleira.

—        Veja madame — disse ele. — Todas as baterias têm polaridade, uma extremidade é positiva e a outra negativa. Pa­ra fazer um rádio funcionar, uma bateria precisa ser colocada na polaridade correta. Sua TV é diferente, usa uma corrente alternada, que é modificada dentro da própria TV. TODAS AS COISAS, baterias, ímãs e outras, têm polaridade. Até os ho­mens e as mulheres têm polaridades diferentes.

— Sim! — riu a mulher com um olhar malicioso. -— Todos sabemos o que acontece, quando eles se encontram!

O telefone tocava com insistência; trrriiimmm, trrriiimmm, trrriiimmm. Do outro lado da garagem, um homem de macacão cinzento suspirou profundamente. Puxando um pedaço de esto­pa, limpou as mãos gordurosas, enquanto corria para o telefone que continuava a tocar.

Garagem Steve, Vendas e Serviço — anunciou tirando o telefone do gancho.

Oh! — exclamou uma voz feminina na outra extremi­dade. — Pensei que nunca iria atender.

Desculpe, madame, — disse o homem da garagem. — Estava ocupado com um outro cliente.

Bem, — respondeu a mulher. — Aqui fala a sra. Ellis, das Samambaias. Meu carro não quer pegar e tenho urgência em ir à cidade.

O homem da garagem suspirou de novo, as MULHERES sempre tinham problemas em dar partida nos carros, mas, pen­sou ele, era isso que rendia o dinheiro do aluguel.

Já tentou o botão, de partida? — inquiriu.

É claro que tentei, — disse a mulher indignada. — Apertei-o, apertei-o e não aconteceu nada, não funciona de maneira alguma. O senhor pode vir? — perguntou com ansiedade.

O homem da garagem pensou um momento, o marido da senhora era um bom cliente e — sim — teria de ir.

—        Sim, sra. Ellis, — disse. — Estarei aí dentro de trinta minutos.

Naquele instante, o seu mecânico-assistente chegou da cidade, onde tinha ido em busca de peças. Steve correu para o caminhão.

—        Por favor, ponha aí uma bateria sobressalente e os ca­bos de ligação direta, sim? — disse apressado. — Tenho de ir ver o carro dos Ellis, mas antes preciso limpar-me um pouco. — Rapidamente dirigiu-se ao banheiro, onde removeu a sujeira e a graxa e despiu seu macacão sujo. Escovando o cabelo para trás, encaminhou-se para o pick-up. — Tome conta, Jim, — gritou para o seu assistente e partiu estrada abaixo, na direção dos subúrbios.

A corrida de dez minutos, até a casa dos Ellis, levou-o através de um bairro recém-urbanizado, e ele olhava pensativo para as casas novas, imaginando o imenso potencial de negócios existente. Mas as pessoas metiam-se nos seus grandes carros novos e corriam para a cidade, para gastar dinheiro. Só aqueles que tinham carros velhos, ou os que não conseguiam dar partida, procuravam auxílio local, refletiu. Do contrário, afluíam para o Flash Pete, ou Honest Trader Jo, fascinados pelo brilho dos caixilhos cromados das vitrinas e das bandeirolas esvoa­çantes.

Ao se aproximar do caminho da garagem dos Ellis, viu a esguia senhora Ellis alternando os pés impaciente. Vendo o pick-up, ela desceu apressada o caminho inclinado.

—        Oh! — exclamou. — Pensei que nunca chegaria!

Só levei vinte minutos, madame — respondeu Steve mansamente. — Qual é o problema?

O senhor é quem vai descobrir! — disse a sra. Ellis acerbamente, enquanto se virava para mostrar o caminho da sua garagem de dois carros.

Steve olhou em seu redor, notando os pneus sobressalen­tes cuidadosamente presos à parede, o tambor de cinco galões de óleo com válvula e o carregador de bateria novo e reluzente, ainda ligado à tomada, a luz de aviso acesa. — Hum! — pensou. — Aquilo deveria excluir qualquer problema com a ba­teria.

Dirigindo-se ao carro quase novo, abriu a porta e deixou-se escorregar para o assento do motorista. Correu os olhos ao seu redor, experimentou a alavanca de mudança, para ter cer­teza de que o carro estava em neutro e comprimiu o botão de partida. Nada, nenhum sinal de vida. Não havia luz vermelha para indicar que a ignição estivesse ligada. Saindo, levantou o capo e viu que o motor estava limpo e toda a fiação da igni­ção era nova. Ao testar as conexões da bateria, descobriu que estavam apertadas e limpas. Por um momento, quedou perple­xo e indeciso.

—        Oh! — seja rápido, já estou atrasada, veja se faz algu­ma coisa, ou terei de chamar outra pessoa que consiga dar partida. — A sra. Ellis estava realmente agitada. — Isto é tão estúpido — disse ela. — Meu marido comprou o carregador de bateria, ontem, para que os nossos carros dessem partida


facilmente, mesmo com frio intenso, e agora o meu nem mesmo quer pegar!

Steve correu para o seu pick-up e voltou com ferramentas e o teste de bateria. Colocando os fios sobre os bornes da bateria, descobriu que estava completamente arriada.

—        Oh, impossível! — exclamou a sra. Ellis, quando ele indicou o teste. — A bateria esteve carregando a noite inteira, eu mesma a liguei.

Caminhando para o carregador de bateria, Steve exami­nou-o e descobriu, para seu espanto, que os terminais não es­tavam marcados nem pólo positivo nem pólo negativo. — Como é que a senhora sabe, qual é qual? — perguntou.

A sra. Ellis olhava, atônita:

—        Isto tem importância?

Steve suspirou e explicou:

—        Todas as baterias têm um lado negativo e um lado positivo, e se a senhora ligar errado um carregador, ele descarregará a sua bateria, em vez de carregá-la. De modo que, agora, a sua bateria está arriada e a senhora não consegue dar partida.

A sra. Ellis deixou escapar um gemido de aborrecimento.

—        Eu disse ao meu marido para não tirar as etiquetas —exclamou. — E agora, o que faremos?

Steve removia os bornes e grampos da bateria, enquanto falava. — Em dez minutos a senhora estará pronta para partir

—        disse. — Trouxe uma bateria sobressalente para empres­tar-lhe, enquanto carrego a sua corretamente.

A sra. Ellis, agora toda sorrisos, perguntou:

—        Por que é preciso haver uma coisa positiva assim como uma negativa?

—        Tem de ser assim, para que haja um fluxo de energia

—        respondeu Steve. — TODAS AS COISAS têm de ter o seu oposto em alguma parte. O homem tem a mulher, a luz tem a escuridão e de fato, — continuou com uma risada, — espero que, em alguma parte, haja um mundo com a polaridade oposta à da nossa Terra! — Entrando no carro novamente, comprimiu o botão de partida e o motor roncou, dando sinal de vida.

—        Preciso correr — gritou a sra. Ellis, — senão o meu pólo oposto ficará aborrecido se eu chegar atrasada para o al­moço. — Soltando os freios disparou, deixando Steve a colocar a bateria descarregada no seu pick-up.

Balançando a cabeça resignado, ele murmurou:

"MULHERES...! Mas eu me pergunto se realmente ha­veria um outro mundo, de antimatéria, ouvi essa história estra­nha, uma noite, no "Dragão e a Rosa". Será...!"

O rio corria, fazendo redemoinhos, borbulhando em torno dos pilares da Ponte da Paz, em Fort Erie, e contornando o promontório para em seguida banhar a ribanceira do Niagara Parkway. Suas ondulações faziam õs barcos de passeio ancorados agitarem-se e baterem contra os postes de amarração. Ao longo da praia arenosa de Grand Island, ele deslizava sibilante fazendo rolar os seixos com uma graça langorosa. Recebendo o rio Chippawa no seu seio, prosseguia, encapelando com redo­brada intensidade, à medida que cada pequeno rio, córrego ou nascente, vinha aumentar o seu volume.

Mais adiante, os borrifos das Cataratas do Niagara lança­vam-se a centenas de metros no ar, demoravam-se um instante e precipitavam-se para aumentar a torrente. Feixes de luz coloridos produziam desenhos calidoscópicos sobre o borrifo que se desprendia do salto das águas, formando arco-íris multicolo­ridos. Na estação de controle, por cima das cataratas, a água dividia-se ao capricho da mão do homem, incontáveis litros precipitavam-se nas cataratas, para encanto dos turistas, e mi­lhares de litros redemoinhando abruptamente, para entrar num túnel e desaguar com intensidade cinco milhas mais abaixo, na estação geradora de Sir Adam Beck.

O poder das águas dominadas canalizava-se e projetava-se, com força irresistível, sobre as pás da turbina, movendo-se a uma velocidade inacreditável e acionando os geradores acoplados, criando uma estupenda quantidade de eletricidade.

Fios de alta tensão do Ontário zumbiam com o fluxo de energia, para atender às necessidades da civilização. Do Canadá, enormes redes atravessavam os Estados Unidos, até à ci­dade de Nova York, levando energia canadense para as indús­trias e lares americanos. Bilhões de luzes espalhavam conforto e segurança. Em hotéis movimentados, elevadores subiam e desciam, conduzindo os hóspedes para seus quartos. Nos hos­pitais dos dois países, médicos e cirurgiões desempenhavam suas tarefas à luz da energia gerada no Canadá. Rádios berravam e as sombras tremulantes a que se chama "televisão" balançavam-se e pulavam atrás das telas de vidro.

Roncando através da terra bem iluminada, vinham aviões dé todas as partes do globo. Da Inglaterra, Austrália, Japão, América do Sul, de todos os lugares de nomes exóticos que se vêem nos anúncios das agências de viagens, convergindo em camadas ordenadas para os grandes aeroportos do Estado de Nova York. Controladores, em torres incontáveis, falavam aos pilotos, dirigindo-os, orientando-os. As luzes das pistas tornavam a cena clara como o dia. Holofotes projetavam grandes fachos de luz no céu, para serem vistos a muitas milhas de distância, por aqueles ainda envolvidos pela escuridão, muito acima do oceano, longe de divisarem terra.

Trens elétricos rugiam e zumbiam sob a terra e desloca­vam-se com estrondo pelos viadutos e pontes da superfície. No cais, grandes navios, com produtos de todo o mundo, balança­vam em suas amarras, enquanto um exército de homens, como formigas, empenhavam-se numa atividade frenética para descar­regá-los e carregá-los de novo. Os holofotes invertiam as horas, transformando a escuridão da noite na claridade do dia.

Muito distante, na estação geradora, as águas corriam sem descanso, em sua faina para que a eletricidade abastecesse os dois países. Gerando "positivo" e "negativo", para que a luta incessante de um para alcançar o outro fizesse a energia fluir, o trabalho realizar-se, garantindo o conforto do homem. Mas em algum lugar algum lugar, ocorreu um pequeno defeito. Deu-se um curto-circuito. E o que é um curto-circuito, senão um súbito encontro de positivo com o negativo? A princípio, foi um encontro em pequena escala, depois, como o influxo de uma multidão, no futebol, mais e mais eléctrons positivos precipita­ram-se sobre mais e mais eléctrons negativos.

Os relés aqueceram. O calor aumentou e, em pontos, fundiram-se. Cabos isolados tornaram-se quentes, vermelhos, e dei­xaram cair gotas de borracha derretida. Os motores roncaram e gemeram na agonia do excesso de potência e sussurrando lilenciaram em definitivo. Nos dois países, as luzes apagaram-se. Elevadores cessaram seu movimento, enguiçando com passagei­ros no seu interior e provocando aflição e medo. Ao faltar a corrente, no subsolo, os trens estremeceram, e num guinchar de freios pararam. Alegria das alegrias — os rádios estridentes e os oscilantes aparelhos de televisão foram silenciados e extin­tos. As prensas pararam num emaranhado de papel rasgado e homens a praguejar.

E tudo porque a eletricidade "positiva" quis encontrar a eletricidade "negativa", repentina e violentamente, sem primeiro ser domada e controlada, por meio de trabalho. Porque, quando os opostos se encontram, desordenadamente, TUDO pode acon­tecer. .. — e ACONTECE!

Durante séculos, os Adeptos do Oriente longínquo soube­ram que havia um mundo oposto ao nosso, um mundo a que o Leste se refere como o "Gêmeo Negro". Por muito tempo, os cientistas ocidentais têm escarnecido de tais coisas, acreditando, na sua ignorância, que somente são válidas as suas descobertas, mas, muito recentemente, um homem recebeu o Prêmio Nobel por divulgar várias coisas relacionadas com o mundo da anti­matéria.

Em 1927, um físico britânico descobriu que havia um mundo de antimatéria, mas duvidou do próprio trabalho, porque, aparentemente, não tinha fé suficiente na sua capacidade. Então, um físico americano, chamado Carl Anderson, fotografou os raios cósmicos que passavam através de uma câmara espe­cial. Encontrou vestígios de eléctrons e, pelo seu achado — que foi antecipado pelos britânicos, em 1927 — Anderson recebeu o Prêmio Nobel. Possivelmente, se o físico britânico confiasse suficientemente no seu trabalho, teria ganho o Prê­mio, em vez do outro.

Agora, tornou-se claro até para os cientistas — o que há séculos já era claro para as pessoas do Leste — que uma bomba de hidrogênio e o seu reverso antimatéria poderiam provocar uma explosão que, por comparação, faria a bomba atômica-padrão tão inofensiva quanto um buscapé umedecido. Mas vamo-nos aprofundar um pouco mais neste assunto.

Toda vida, toda existência, é movimento, fluxo, ascensão e declínio, crescimento e diminuição. Até a visão constituída de movimento, porque os bastonetes e os cones da retina meramente respondem às vibrações (movimento do objeto que dize­mos ter visto). De modo que não há nada que seja estático.

 

Veja uma montanha — parece uma estrutura sólida, mas sob um ângulo diferente, ela (a montanha) é apenas uma massa de moléculas, dançando para cima e para baixo, girando umas em torno das outras, como mosquitos numa noite de verão. Numa escala maior, poderíamos compará-la com o Cosmos, porque no Cosmos há planetas, mundos, meteoros, todos a girar, todos num movimento constante, nada está estático, não se está parado nem na morte.

Da mesma maneira que uma bateria precisa ter um pólo negativo e um pólo positivo, antes que possa haver corrente, assim acontece com os seres humanos; e em tudo mais que existe, há componentes positivos e negativos. Jamais existiu algo que fosse inteiramente positivo ou negativo; a não ser que haja uma diferença, não poderá haver fluxo de energia de um para o outro e, assim, a vida ou a existência seria impossível.

A maioria das pessoas desconhece o mundo da antima­téria, da mesma forma que os pólos negativo e positivo de uma bateria ignorariam a existência de outros pólos. O terminal positivo de uma bateria poderia atrair diretamente o negativo, ou vice-versa, mas é pouco provável que qualquer dos dois pudesse discutir a existência um do outro.

Há o mundo da matéria, mas igual e oposto, há o mundo da antimatéria, assim como há Deus e há um anti-Deus. A não ser que haja um anti-Deus, não há maneira de comparar a bondade de Deus, e a não ser que haja Deus, não há maneira de comparar a maldade do anti-Deus. Nós, que vivemos neste que na realidade é um mundo negativo ou pólo negativo, somos presentemente controlados pelo anti-Deus, ou o Demônio, ou Satanás, ou ainda o que denominamos "o poder do mal". Mas cedo o ciclo da existência mudará e seremos controlados por Deus, estaremos mais sob a Sua influência benéfica. Nós pertencemos a um sistema de corrente alternada, que muda de positivo para negativo, e de negativo para positivo, da mesma forma que o nosso reverso muda de negativo para positivo e de positivo para negativo.

Toda vida é fluxo, movimento, vibração, oscilação, muta­ção. Toda existência é fluxo e mudança. Se examinarmos o sistema de corrente alternada, veremos que cada meia-onda consiste num ciclo negativo, que se torna meio-positivo, e um ciclo meio-positivo, chie se torna meio-negativo. E assim continua sempre, mas em vez de tornar-se meio-negativo, o primeiro torna-se totalmente negativo e o segundo totalmente positivo. Na nossa corrente doméstica, comum, na Inglaterra, por exemplo, a corrente muda a sua polaridade cinqüenta vezes por segundo, de negativo para positivo e de positivo para negativo. Noutras partes do mundo, como no Canadá e nos Estados Unidos, a freqüência de mudança é sessenta vezes por segundo. Nós, na forma de existência conhecida como mundo, sistema solar, universo, temos uma sistema de ciclagem pró­prio. Aqui, nos deslocamos pela corrente do tempo, como os eléctrons o fazem na eletricidade, deslocamo-nos de acordo com a nossa concepção do tempo, até que alcancemos ou a nossa ALMA alcance uma existência superior. Se con­sultarem o livro “A Sabedoria dos Lamas”, escrito por mim, ve­rificarão que o tempo atribuído a cada ciclo é de 72.000 anos.

Mas todos e tudo na Terra têm o seu reverso de polari­dade em outra Terra, em outra galáxia, em outro sistema de tempo. Evidentemente, esse sistema não poderia estar pró­ximo de nós, do contrário haveria uma explosão tão fantástica, que toda a Terra e também muitos outros mundos seriam destruídos.

Julga-se, agora, que a grande explosão que fez tremer a Terra, ocorrida em 30 de junho de 1908, nas estepes da Sibéria, foi causada por um pedaço de antimatéria, muito menor que uma bola de futebol, que de algum modo penetrou em nossa atmosfera. Viajou a uma velocidade realmente espantosa e, ao chocar-se com a Terra, este pedaço de antimatéria, muito menor que uma bola de futebol, explodiu com um estrondo que foi ouvido a mais de 500 milhas de distância. Pessoas a 40 milhas do local foram atiradas ao chão com o deslocamento do ar e o impacto. Assim, se um pedaço maior de antimatéria aparecesse a Terra não mais existiria; da mesma forma que uma centelha pode soldar os platinados, causando um curto-circuito, e uma falha total no sistema elétrico, um pedaço maior de anti­matéria, provocaria uma falha total para nós.

Somos, portanto, o negativo no nosso ciclo e no nosso mundo presentes. Assim, temos frustrações e amarguras, já que a força predominante é a do mal. Animem-se com o fato de que este ciclo aproxima-se do fim e, nos anos vindouros, um novo se iniciará, no qual as condições se tornarão mais e mais positivas, onde já não estaremos sob o domínio do anti-Deus, onde já não haverá guerras, e tudo será bom; porque, assim como agora temos guerras uns contra os outros, no próximo ciclo, as únicas que faremos serão contra a miséria e a doença, e ; contra o próprio mal. Teremos o que poderia ser chamado de "Céu na Terra" e os Eus Superiores de toda parte enviarão suas marionetes para os mundos positivos e negativos de então.

Consideremos Alice no País das Maravilhas: pense em Alice atravessando um espelho, para um mundo onde tudo era o reverso. Imaginemos, que, de repente, você pudesse passar através do véu que separa o positivo do negativo, supondo que aqui, neste mundo, você estivesse pensando em como poderia pagar suas contas, pensando em como poderia continuar a manter-se e pensando no motivo por que seu vizinho o detestaria tanto. Então, inesperadamente, você é empurrado através do véu. Descobriria que não tinha contas, que as pessoas eram bondosas, que havia tempo para ajudar os outros, em vez de pensar somente em si próprio. Isto acontecerá, inevitavelmente, sempre acontece, e cada vez que há uma inversão do ciclo nós aprendemos um pouco mais.

É um pensamento interessante que, se pudéssemos apa­nhar um pedaço de antimatéria do tamanho aproximado de uma ervilha e protegê-lo de alguma maneira da influência da Terra, prendê-lo-íamos a uma grande nave espacial, e, então, expondo-o só um pouquinho à influência da Terra, aquele pedacinho de antimatéria, não maior do que uma ervilha, impul­sionaria a nave para o alto, para além deste mundo, para o es­paço infinito. Não haveria necessidade de foguetes ou outras formas de propulsão, porque aquela partícula de antimatéria, sob controle adequado, forneceria matéria completamente anti-gravitacional.

Não pode haver bem sem mal, porque sem isso nenhuma força existiria. Não se pode ter ímã que seja todo positivo ou todo negativo, porque não existiria força alguma. O ímã não existiria tampouco! Imaginemos que o mundo seja apenas uma forma de ímã, com campos magnéticos irradiando do Ártico; e do Antártico; mas, ligado a nós, por uma ponte invisível, há um outro mundo de polaridade oposta. Teríamos, então, como exemplo, os pólos de um ímã em forma de ferradura. Muitos cientistas, se perguntam se a antimatéria significaria que cada coisa está duplicada num outro mundo. Perguntam-se, por exemplo, se haveria antipessoas, antigatos, anticães. Os cientis­tas não sabem como poderiam ser essas pessoas, porque têm pouco ou nenhuma imaginação, precisam ter algo nas mãos, para que possam dissecá-lo ou pesá-lo. Só um ocultista pode dar informações sobre este mundo específico, porque só um ocultista competente pode sair e abandonar o corpo, deixando a Terra, e uma vez fora desta, poderá ver qual o as­pecto daquele mundo — como já o fiz, muito, muito freqüen­temente.

Antipessoas são apenas pessoas cuja direção etérica é di­ferente da nossa na terra. Como ilustração, podem ter uma aura de invólucro amarelado e azul em vez de azul e amarelo, como nós. Se acha difícil visualizar o mundo da antimatéria, considere uma fotografia — temos um negativo e um positivo — e se projetarmos uma luz através do negativo sob um papel sensibilizado e o mergulharmos em diversos compostos quími­cos, teremos, no negativo, uma mancha escura no lugar da mancha clara e uma mancha clara, no lugar da mancha escura.

Há certos objetos voadores não-identificados — chame­mo-los de discos voadores — que vêm à Terra do mundo da antimatéria. Eles não podem aproximar-se demasiado, para não explodirem, mas estão fazendo explorações da mesma maneira que mandamos um foguete à Lua, Marte ou Vênus.

As pessoas queixam-se de que se houvesse algum fundo de verdade nessa história de discos voadores, seus tripulantes aterrissariam e entrariam em contato com a gente da Terra. Toda a verdade é que não podem fazê-lo, porque, se pousarem, haverá uma explosão e nada restará do disco voador. Se considerarmos os diferentes relatórios, veremos que têm havido diversos incidentes em que um objeto voador desconhecido, visto claramente nas telas de radar, de repente explode com violência a 100 pés da superfície deste mundo, e explode tão violentamente, que não é encontrado vestígio algum. O mes­mo aconteceria se pudéssemos enviar um foguete ao mundo da antimatéria. Aborreceríamos, consideravelmente, os seus habi­tantes, talvez explodindo uma cidade do seu mundo!

Há outros aspectos desse mundo da antimatéria, que são excessivamente interessantes para aqueles que estudaram o as­sunto em profundidade. Por exemplo, há certos lugares — felizmente poucos no nosso mundo, onde as pessoas podem pas-sar-se para uma outra dimensão ou para o mundo da antima­téria. As pessoas dirigem-se para tais lugares, que oscilam li­geiramente, e se tiverem pouca sorte, podem ser completamente ¿erradicados desta Terra. Isto não é fantasia, mas um caso pro-ívado de tempos em tempos.

Muito distante, para além das Unas Shetland, num mar imuito frio, há uma ilha misteriosa, chamada Última Thule — a Última Terra. Os incidentes mais misteriosos têm ocorrido nas vizinhanças da ilha e nela própria. Há, por exemplo, um relatório do Almirantado Britânico, que data de muitos anos, em que é narrado que um grupo de marinheiros britânicos desembarcou em Última Thule e ocorreram-lhe coisas muito estranhas: apareceram pessoas, pessoas muito diferentes deles. Eventualmente, os marinheiros britânicos regressaram ao navio, por sinal um vaso de guerra, muito abalados com a enervante experiência. Em Última Thule, tripulações de navio inteiras têm desaparecido, para nunca mais serem vistas.

Há, na costa americana, um lugar conhecido como o Triângulo da Morte. É uma área do Oceano Atlântico, onde navios, e até velozes aeronaves, têm desaparecido. Gostariam de verificar algumas dessas informações?

Temos aqui um ponto de partida: no dia 2 de fevereiro de 1963, um navio-tanque chamado Marine Sulphur Queen, deixou Beaumont, no Estado do Texas. Destinava-se a Norfolk, na Virgínia.

O navio largou em 2 de fevereiro e, manteve a comunicação-rádio de rotina com as estações terrestres até 4 de feve­reiro, quando informou estar próximo de uma certa área no Golfo do México. Nada mais se soube dele.

No dia 6 de fevereiro, o navio foi considerado perdido. Aviões saíram em patrulha, barcos da Guarda-Costeira esquadrinharam a área, foi solicitado a todos os navios nas imedia­ções que informassem quaisquer sinais de naufrágio. E, assim, as buscas continuaram até 14 de fevereiro, sem notícia alguma do navio-tanque.

Nem só navios têm-se perdido: em agosto de 1963, dois grandes aviões quadrimotores de abastecimento deixaram uma base da Força Aérea, ao sul de Miami. Os onze homens a bordo deviam ocupar-se de operações de reabastecimento normais — apenas um treinamento rotineiro.

Durante o vôo, os aviões informaram suas posições a 800 milhas ao norte de Miami e 300 milhas a Oeste das Bermudas, mas esta foi a última vez que se soube deles: informaram sua posição e desapareceram para sempre.

Eram aviões com tripulações altamente treinadas. Não havia nenhuma avaria nos aviões, eles tinham acabado de in­formar suas posições e logo depois desapareceram.

Imaginem as buscas que se seguiram; aviões partiram e literalmente, pentearam a área, alguns voando alto para ter a maior visibilidade possível, outros voando baixo, na esperança de poder localizar alguma coisa dos dois aviões. Navios cruzaram o oceano e continuaram as buscas, mas nada foi encon­trado, nem aviões, nem destroços, nem corpos — nada.

Através dos anos, têm havido relatórios dos misteriosos desaparecimentos de navios — navios perdidos sem deixar ves­tígios, perdidos sem sequer deixar um palito de fósforo para indicar que tivessem existido. Mas, nunca houve, como no pre­sente, as facilidades de busca imediata por aeronaves equipa­das com radar; mas, não importa como se façam as buscas, não importa que meios utilizem, continua a não haver indicação do que tenha acontecido.

Há uma área no Atlântico, entre os litorais da Flórida e das Bermudas, onde têm desaparecido muitos navios e também aviões. Não é uma área deserta, porque toda ela é patrulhada pela Guarda-Costeira, pela Marinha e pela Força Aérea. A lista dos desaparecimentos remonta ao primeiro registro histórico.

Há muitos anos atrás, conheci uma área muito misteriosa no Pacífico, ao sul do Japão. Havia ali uma região conhecida como o Mar do Diabo, onde um navio, geralmente um junco, poderia velejar tranqüilamente na sua rota e de repente, desaparecer por completo, diante dos olhos espantados das pessoas nos juncos próximos. Numa ocasião, uma flotilha de juncos de pesca dirigiu-se para o Mar do Diabo. O junco-capitânia estava talvez a uma milha do que vinha a seguir. Continuou a navegar e, repentinamente, desapareceu sem deixar o menor vestígio. O timoneiro do segundo junco, ficou tão paralisado pelo medo, que não teve tempo ou idéia de alterar o rumo e seu junco continuou na mesma rota do primeiro e nada lhe aconteceu. Todas as tripulações contaram, mais tarde, que vi­ram um brilho estranho no ar e tiveram uma sensação de peso e pressão, como a que freqüentemente ocorre, depois de um forte tornado.

Aqui está uma coisa que os cétícos poderão verificar: em 5 de dezembro de 1945, cinco bombardeiros partiram da base naval de Fort Lauderdale, no Estado da Flórida. Era um dia calmo, ensolarado, sem nuvens, o mar estava tranqüilo, não havia tempestade, nada que pudesse fazer pensar que um gran­de mistério iria ocorrer.

Esses cinco bombardeiros partiam num vôo de rotina, du­rante o qual deveriam estar dentro do alcance visual da costa americana, ou das ilhas do Caribe mais próximas. Em tempo algum, considerando a altitude em que voavam, deveriam dei­xar de avistar terra. Cada bombardeiro, tinha sido verificado cuidadosamente, e todos os tanques de combustíveis estavam completamente cheios. Todos os setores se apresentavam nas melhores condições, como foi constatado pelos pilotos, que assinaram as folhas de verificação, antes da partida. E mais, cada avião tinha um bote salva-vidas auto-inflável, e cada ho­mem usava um colete salva-vidas, que poderia mantê-lo flu­tuando dias seguidos. Havia quatorze homens na tripulação, e cada um tinha mais de um ano de experiência de vôo.

Provavelmente, todos pensaram que iam fazer um vôo agradável de rotina no infinito azul do céu, admirando as jóias que eram as ilhas do Caribe, e observando o extenso litoral da Flórida. Alguns deles, talvez, também tivessem esperança de contemplar novamente os Everglades. Levantaram vôo e desincumbiram-se da sua missão de patrulha, que consistia em voar 160 milhas para Este e 40 milhas para o Norte, e em seguida, iniciar o regresso à base aérea, que deveriam alcançar duas horas após a decolagem.

Algum tempo depois da decolagem — aproximadamente hora e meia — a estação de Fort Lauderdale recebeu uma mensagem verdadeiramente estranha, uma mensagem de emer­gência. O comandante da esquadrilha estava agitado, amedron­tado: dizia que todos pareciam estar fora da rota e que não avistavam terra. Isto era uma ocorrência tão extraordinária, que ele achou necessário repetir: — Repito, não conseguimos avistar terra.

Como é usual em tais casos, o radiooperador de serviços na base aérea enviou uma mensagem, perguntando qual era a posição da esquadrilha. A resposta deixou os operadores da torre de controle do aeroporto abalados. Não temos certeza da nossa posição, não sabemos onde estamos. Entretanto, es­tamos voando em condições ideais, todos os homens experien­tes, com aeronaves em excelente estado. Então, mais uma men­sagem foi recebida; uma voz alarmada soou nos alto-falantes:

—        Não sabemos onde fica o Oeste. Está tudo errado, tudo esquisito, não temos certeza de nenhuma direção, até o mar tem um aspecto diferente.

Podem imaginar um homem experiente, acompanhado de outros treze homens, ser capaz de dizer que a bússola não está indicando corretamente, que não sabe onde se encontra, que não consegue avistar terra e que até o mar lhe parece diferente? E, no entanto, o Sol que brilhava sobre a estação aérea era invisível para os quatorze homens, voando num céu sem nuvens; não viam o Sol e o mar parecia-lhes estranho.

 

Aproximadamente às 16:30 horas do mesmo dia, outro comandante de esquadrilha comunicava-se pelo rádio, e dizia que não sabia onde se encontrava. Continuava: É como se estivéssemos... A mensagem terminou, não houve mais contato, nunca foram encontrados vestígios desses quatorze ho­mens, dos aviões que voavam, nem dos destroços, nada.

Em poucos minutos, um dos maiores hidroaviões da Ma­rinha Americana, com equipamento completo de sobrevivên­cia e salvamento, disparava pela água, levando uma tripulação de treze homens. O hidroavião, com quase 80 pés de comprimento e uma envergadura de 125 pés, fora construído para su­portar os pousos mais acidentados no mar. Poderíamos con­siderar um tal hidroavião invencível e invulnerável.

Durante a viagem para a posição estimada dos bombardeiros, foram enviadas as comunicações de rotina, mas, vinte minutos depois, todo o contato pelo rádio cessou, e nada mais se soube nem dos bombardeiros, nem do enorme hidroavião, especialmente equipado e tripulado, que partira em seu socorro. A Guarda-Costeira, a Marinha, a Força Aérea todos partiram à procura de destroços, de homens flutuando nos seus coletes salva-vidas ou de botes auto-infláveis, mas nada foi encontrado.

Um porta-aviões dirigiu-se para a área, e trinta aviões levantaram vôo ao amanhecer, em busca de sobreviventes. A RAF, que por acaso estava nas proximidades, enviou todos os aviões disponíveis para auxiliar na operação. Mas, outra vez, não havia o menor sinal de destroços, tornando-se claro que aqueles aviões simplesmente desapareceram.

Desapareceram? — Sim, penetraram por uma "abertura no tempo", no mundo de antimatéria, da mesma maneira que, através dos séculos, navios, homens, mulheres e também animais, desapareceram sem deixarem vestígios.

Esses incidentes não constituem fatos isolados, ocorridos recentemente, aconteceram por toda a história e, se nos aprofundarmos o suficiente, encontraremos diversas narrativas de desaparecimentos repentinos, altamente interessantes. Há, por exemplo, o bem documentado caso do menino que uma noite saiu da fazenda do seu pai. Ia apanhar água no poço, porém havia neve no chão — apenas umas poucas polegadas — e, estando ansioso por voltar para junto do fogo, partiu levando um balde em cada mão. Seus pais, e alguns amigos sentados junto à lareira, esperavam por ele, já que precisavam da água para fazer o chá.

Depois de algum tempo, a mãe ficou inquieta e pergun­tava-se o que poderia estar detendo o.menino. Mas, sabendo como os meninos fazem "cera", não se alarmou, até que se passasse quase uma hora. Apossou-se deles, uma estranha sen­sação — e, apanhando as lanternas, saíram à procura do me­nino, pensando que talvez tivesse caído no poço.

Com as lanternas projetando a luz sobre a neve, podiam acompanhar suas pegadas através do campo. Então, o pai, que ia à frente, parou tão horrorizado e perplexo, que os que o seguiam chocaram-se contra ele. Afastando-se para um lado, apontava em silêncio. Os outros olharam para a neve e viram as pegadas nítidas do menino e, depois, nada mais. O menino tinha desaparecido, como se tivesse sido repentinamente içado para o ar.

Isto é um fato real; as pegadas seguiam uma linha reta e terminavam a meio caminho. O menino nunca mais foi visto.

Aconteceu outro caso, em plena luz do dia. Um homem entrou por um capinzal, observado por sua mulher e o delegado local (nos Estados Unidos). Ia buscar alguma coisa para o delegado e, sob as vistas dos dois, simplesmente desapareceu e nunca mais foi visto!

Os leitores têm acesso ao "Reynolds News"? Se têm, tal­vez gostassem de consultar o número de 14 de agosto de 1938. Ao virarem aquelas páginas, hoje amareladas, encontrarão a narrativa de um hidroavião da RAF, que desapareceu repentinamente numa coluna de água e fumaça, enquanto sobrevoava a superfície do mar, a poucos pés de altura, próximo a Felixstowe, Inglaterra. Não houve colisão, nem impacto, o avião desapareceu e não foram encontrados vestígios.

Eis outra: no ano de 1952, no mês de março, o comandante-de-esquadrilha Baldwin, da RAF, voava com uma pa­trulha ao longo da costa da Coréia. Ele e seus companheiros pilotavam jatos novos. Ele entrou numa nuvem, seus compa­nheiros não. Eles regressaram à base, mas não o comandante Baldwin, não havia vestígios dele, nem do seu avião è nenhum dos seus companheiros sabia dizer o que lhe acontecera.

Há um grande número de casos como estes. Por exemplo, em 1947, uma superfortaleza americana desapareceu sem dei­xar vestígios nem destroços. Sobrevoava aquele triângulo, per­to das Bermudas. Essa superfortaleza, um avião enorme, simplesmente desapareceu, e apesar das buscas, realmente inten­sivas, nenhum sinal foi encontrado. Lembram-se do caso do avião da British South. American Airways — o Star Tiger! Foi em 1948, no dia 30 de janeiro. Esse enorme avião, um quadrimotor, comunicou-se pelo rádio com o aeroporto de Kindleyfield, Bermudas, a aproximadamente 400 milhas da ilha. O rádio-operador informou que o tempo estava excelente e que as condições de vôo do avião estavam exatamente dentro do previsto. Acrescentou que esperavam chegar no horário. Bem, não chegaram; os seis membros da tripulação e os doze passageiros desapareceram, e, outra vez, apesar de meticulo­sas buscas, nada foi encontrado. Cerca de cinqüenta aviões de vários tipos, sobrevoaram a área, mas nada encontraram. Em Londres, fizeram uma investigação baseada nos indícios dis­poníveis. Essas coisas são minuciosamente averiguadas, por causa dos seguros do Lloyds of London, mas o único veredicto que os investigadores puderam pronunciar foi: "Perdido, cau­sa desconhecida".

Querem outra? Dezembro de 1948 — um grande avião de carreira partia do aeroporto de San Juan, com destino à Flórida. Havia mais de trinta passageiros, e quando o rádio-operador entrou em contato com a estação, disse que tudo ia bem e que os passageiros cantavam.

Às 4,15 da manhã, o rádio-operador contatou a torre de controle de Miami, dizendo que estava a 50 milhas fora e já avistara o campo. Pedia instruções de pouso.

O avião desapareceu, os passageiros também, tudo desapareceu sem deixar vestígios. Outra vez, não houve destroços. Os investigadores confirmaram que o Comandante e sua tri­pulação eram altamente experimentados e, no entanto, a me­nos de 50 milhas do seu destino, um grande avião desapareceu sem deixar a menor pista.

Apenas mais um — temos de mencioná-lo, porque era uma réplica do Star Tiger, chamado Ariel. Também entrou em contato com Bermudas, quando passou en route para Kingston, Jamaica. Às 8:25 horas, informaram estarem a 175 mi­lhas das Bermudas. O operador confirmou que tudo ia bem e que ia mudar a freqüência para a estação de rádio de Kingston, e isto foi a última coisa que se ouviu dele.

A Marinha dos Estados Unidos estava em manobras, nas proximidades das Bermudas. Tanto a Marinha dos Estados Unidos como a Força Aérea achavam que os mistérios já eram suficientes, e envidavam todos os esforços para solucioná-los. Dois imensos porta-aviões lançaram todos os seus aviões no ar; havia ainda cruzadores de bolso, destróiers, caça-minas e toda espécie de lanchas. E embora tudo tenha sido esquadrinhado, nenhum vestígio foi encontrado, nada mesmo.

A explicação é que — há uma "abertura no tempo" — através da qual as pessoas passam — não muito freqüentemen­te — de um mundo para outro. Se imaginarem duas grandes bolas de futebol girando juntas, uma da outra, cada uma com uma pequena abertura, podem ver, se por alguma razão, as duas aberturas se aproximam, uma pulga que estivesse numa bola poderia pular diretamente para a abertura da outra bola. Talvez haja um estado de coisas semelhantes, entre este mundo e o oposto.

Se acharem isto difícil de entender, lembrem-se disso: estamos num mundo tridimensional. Imaginamos que estamos muito seguros nos nossos cubículos e nada nos pode afetar, mas, suponhamos que uma pessoa quadridimensional nos olhasse do alto — possivelmente para ele não existiriam nem tetos nem paredes — e se abaixasse para nos apanhar.

Seria uma boa idéia, se tivéssemos um capítulo dedicado às dimensões, à quarta dimensão, por exemplo. O que acham? Vamos fazê-lo. A quarta dimensão é muito útil, quando a entendemos corretamente.

 

E TAMBÉM MUITAS DIMENSÕES!

Parece Bastante Apropriado tratar da quarta dimensão no quarto capítulo, porque, quando deixarmos esta Terra, iremos todos para a quarta dimensão! Acrescentemos aqui um ponto interessante: as pessoas que freqüentam sessões espíritas muitas vezes ficam perturbadas com as mensagens truncadas que recebem daqueles que "já se foram". Elas não compreendem que a pessoa que deixou esta Terra, para outro plano da exis­tência está, como poderíamos dizer, projetada a milhares de anos-luz no futuro. Encontrarão mais adiante, neste capítulo, um interessante paralelo, quando tratarmos do rei hindu e sua filha, mas, primeiramente, o que é um mundo unidimensional? Não poderemos entender o que são quatro dimensões, a não ser que entendamos o que seja uma. Suponhamos que temos um pedaço de papel e um lápis, vamos desenhar no papel uma linha reta e imaginar que a grafite do lápis representa pessoas, de modo que essa linha reta compreenda um universo inteiro. Para essas pessoas, só existirão dois pontos de referência: um imediatamente à frente e outro atrás, e poderão deslocar-se apenas nestes dois sentidos. Supondo que se pudesse alterar aquela linha, as pessoas unidimensionais pensariam que um milagre ocorrera, ou, se vissem a ponta do seu lápis fazendo uma leve pressão no papel, pensariam que um disco voador tinha aparecido de repente.

Você, como uma criatura tridimensional, teria penetrado temporariamente num mundo unidimensional, para apoiar a ponta do seu lápis no papel, e o ente unidimensional que visse aquela ponta de lápis, estava certo de que um acontecimento fora do normal ocorrera. Sendo unidimensional, ele não poderia vê-lo, mas apenas, a ponta do lápis em contato com o papel.

Já tendo uma idéia do que seja um mundo unidimensio­nal, vamos examinar o bidimensional. Este seria uma superfície plana e as pessoas que nela vivessem seriam forçosamente figu­ras geométricas planas. Esse mundo seria semelhante ao nosso, exceto que, se traçássemos uma linha em torno delas, tornar-se-iam conscientes dessas grandes muralhas, impedindo-as de ultrapassarem aquelas linhas e julgariam que as mesmas existi­riam em outra parte, pensariam na terceira dimensão, da mesma maneira que pensamos na quarta; assim como, às vezes, temos dificuldade em compreender a quarta dimensão, também essas pessoas bidimensionais terão dificuldade em compreender a terceira, que para nós é lugar comum. Na verdade, se alguma coisa aguçasse a sua curiosidade sobre a terceira dimensão, e se fossem suficientemente tolos de comentarem com outra pessoa, é provável que fossem postos de lado como lunáticos, considerados mentirosos, impostores, charlatães ou coisa parecida.

O ente bidimensional apercebe-se de linhas, mas, por ter apenas duas dimensões, não toma conhecimento de um plano vertical.

Se ao menos os cientistas não fossem tão obstinados! Se ao menos pusessem de lado suas noções preconcebidas, e iniciassem suas pesquisas com o espírito aberto! Temos que en­carar o fato de que os "grandes nomes" influem demasiado nos assuntos quotidianos. Por exemplo: um homem teve algum sucesso numa guerra como general. Imediatamente é eleito Pre­sidente dos Estados Unidos da América do Norte. Ou temos um ator que finge ser um Don Juan na tela. Na verdade, ele é bastante irrealizado naquele setor, mas teve algum sucesso no écran; então, imediatamente, o país é inundado de fotogra­fias e comentários sobre o indivíduo, dizendo-nos como deve­mos escovar os dentes, como devemos cortar o cabelo, que espécie de barbeadores devemos usar e, possivelmente, algu­mas sugestões úteis sobre a vida amorosa que ele próprio não pode apreciar.

Aparece, então, uma das maiores dificuldades — um dos obstáculos — que nós, metafísicos, temos de enfrentar: é que o povo aceita cegamente as palavras daqueles que deviam sa­ber as coisas, mas provavelmente não sabem.

Vejam pessoas como Einstein ou Rutherford, ou outros de igual estatura. Estes homens são especialistas num campo parti­cularrnente restrito da ciência. Têm uma perspectiva científica e querem analisar tudo de acordo com conceitos mundanos e ultrapassados, e leis físicas que são diariamente contestadas. O povo toma a palavra destes cientistas como um evangelho e aceita da mesma maneira as palavras dos artistas de cinema e, infelizmente, o evangelho não pode ser questionado, nem tam­pouco alterado. Nosso problema é pesquisar a verdade que al­gumas pessoas eminentes têm ativamente procurado escamotear.

As leis fundamentais deviam ser consideradas apenas "fundamentais". Isto é, válidas somente em face dos conhecimentos atuais; mas deviam ser suficientemente flexíveis, para poderem ser alteradas, corrigidas ou mesmo rejeitadas à luz dos novos conhecimentos. Lembramo-nos do besouro. De acor­do com as leis do vôo — as leis da aerodinâmica — o besouro não deveria poder voar, porque a estrutura do pobre inseto desafia por completo todas as leis conhecidas da aerodinâmica. Assim, se acreditarmos nas leis fundamentais dos cientistas, deveremos acreditar que o besouro não pode voar.

Eles — cientistas conceituados — baseando suas afirma­ções nas leis da física, disseram que o Homem nunca viajaria a mais de 30 milhas por hora, porque seu sistema circulatório não suportaria tal esforço, seu coração estouraria, seu cérebro entraria em colapso etc. Bem, de acordo com relatórios, recen­tes, o homem pode viajar a mais de 30 milhas por hora! Tendo conseguido isto, os cientistas disseram que o homem nunca voaria — era uma impossibilidade. Com isto superado, dis­seram que o homem nunca voaria mais rápido que o som. Não importa, afirmaram destemidamente: o homem nunca se lan­çaria ao espaço. De acordo com os boatos, isto já foi feito!

Voltando um pouco atrás, digamos 1910, todos os ho­mens sábios e mestres da ciência disseram que ninguém pode­ria enviar a voz através do Adântico, mas um cavalheiro, de nome Marconi, provou que a afirmação era falsa e hoje em dia não se envia somente a voz, mas também imagens. Mas, provavelmente, isto já não é vantagem, se considerarmos o estado atual dos programas de televisão.

Tenho-lhes comunicado — razoavelmente — a idéia de que cientistas conceituados, com suas leis estereotipadas, tacanhas, inalteráveis, podem estar enganados, prossigamos. Uma das suas falácias é a afirmação de que "dois sólidos, não podem ocupar simultaneamente o mesmo espaço". Isto é absurdo e totalmente errôneo, porque, na metafísica, dois corpos PODEM ocupar o mesmo espaço, ao mesmo tempo, por um processo conhecido como interpenetração.

Os cientistas já demonstraram que tudo que existe é com­posto de átomos, com grandes vazios entre eles, da mesma forma que, quando contemplamos as estrelas numa noite clara, veremos pequenos pontos que são mundos e grandes vazios negros, que são o Espaço. Segue-se então que, se tivermos uma criatura suficientemente pequena (aqui terão de dar asas à imaginação), que contemple aquilo que para nós é um sólido, tal criatura poderá ver não um sólido, mas todas as partículas que "O" compõem. Ao olhar o nosso sólido, essa criatura verá o mesmo que nós ao contemplarmos o céu numa noite clara, — um grande espaço, com alguns pequeninos pontos lumino­sos. Mas, imaginem que exista uma criatura suficientemente grande que, olhando o nosso Universo, veja um sólido. Na outra extremidade da escala, pensem num vírus: se pudessem pegar um vírus de um tipo especial e jogá-lo numa xícara de porcelana, o infeliz atravessaria a xícara — cairia sem tocar em coisa alguma, porque é extremamente pequeno. Isto não é imaginação, é fato. Talvez saibam que uma das maiores difi­culdades para apanhar um vírus num laboratório, é que ele passa através de um filtro de cerâmica, da mesma forma que um cachorro corre desenfreado num campo aberto.

Para uma criatura suficientemente pequena, os espaços entre os átomos de um "sólido" são comparativamente tão gran­des quanto os espaços entre as estrelas do nosso universo e — assim como chuvas de meteoritos, cometas ou naves espaciais podem viajar, nos espaços vazios entre os mundos, — também outros objetos podem ocupar aquilo que consideramos "sólido".

É muito provável ter dois sólidos, ou três, ou quatro, dis­postos de modo que seus mundos não se toquem, mas um conjunto de mundos ocupe os espaços do outro. Avaliem que neste sistema poderiam existir muitos objetos aparentemente sólidos ocupando simultaneamente o mesmo espaço. É óbvio que não perceberíamos isto na vida normal, porque não temos uma gama de percepção conveniente ou adequada. Seria neces­sário aumentá-la, e como neste mundo não podemos penetrar com facilidade na quarta dimensão temos de aceitar a palavra escrita ou gravada como explicação.

Para lhes dar uma idéia grosseira, suponhamos que tenham dois garfos, garfos comuns de jardinagem, ou garfos de mesa, o que preferirem. Podem passar os dentes de um pelo espaço entre os dentes do outro. Assim, enquanto um conjunto de dentes ocupa o lugar entre os dentes do outro, as duas lâminas ocupam essencialmente o mesmo espaço, sem que uma interfira com o espaço que a outra necessita.

Primitivamente, as pessoas pensavam que os objetos ti­nham comprimento e largura. Depois, as coisas melhoraram um pouco e elas chegaram à conclusão de que havia comprimento, largura e espessura, portanto, viviam num mundo tri­dimensional, isto é, comprimento — uma dimensão, largura —          duas dimensões e espessura — três dimensões. Mas, é óbvio que vivemos num mundo tridimensional. Há outras di­mensões, tais como a quarta, quinta, etc. Para lhes dar o que pensar: um objeto tridimensional tem comprimento, largura e espessura, mas eis que surge uma quarta dimensão! Há quanto tempo existe esse objeto? Então, teremos a dimensão Tempo, que, neste caso, torna-se uma quarta dimensão.

Ilustrando: a maioria das pessoas não pode ver os raios infravermelhos sem equipamento especial. Isto vem provar, naturalmente, que há coisas que estão além da gama de percep­ção humana normal, seguindo-se que os objetos que emitam raios infravermelhos estarão um plano além do comprimento, largura e espessura e, portanto, completamente invisíveis à média das pessoas.

Podemos nos desviar por um momento e lembrar-lhes que existem sons inaudíveis aos entes humanos, mas que os cães e gatos outem nitidamente! Provavelmente, todos já ouviram falar no apito de alta freqüência para cães. Mas, se examinarem as ilustrações da Lição 6 de meu livro Você e a Eternidade, verão o que chamamos de teclado simbólico. Observarão que, depois do som, temos a visão e há alguns casos em que os sons são quase vistos, "apercebidos", seria um termo mais correto, porque sob certas condições, se a pessoa é uma boa vidente, pode ver a forma do som. Já ouviram alguém dizer

—        Oh, era um som tão redondo! Ou coisa semelhante? Do que podemos depreender que um número bastante grande de pessoas associa o som a uma forma — redondo, quadrado, longo.

Mas, voltemos ao ponto que estávamos construindo, no parágrafo anterior, antes de nos desviarmos.

Precisarão pensar no seguinte: um objeto tridimensional, como uma casa, ou uma pessoa, ou uma árvore, projeta uma sombra bidimensional, porque tem comprimento e largura, mas não espessura. Naturalmente, em outros planos da existência, deveríamos dizer que a sombra tem ainda uma dimensão, a do tempo, o tempo de sua duração. Mas, esqueçamo-nos disso por um momento e voltemos a dizer que um objeto tridimensional projeta uma sombra bidimensional. Podemos presumir que um objeto quadridimensional apresente uma sombra tridimensional, de modo que aqueles dentre os leitores que tenham visto um fantasma, podem, realmente, ter visto a sombra de uma pessoa, na quarta dimensão. Um fantasma é uma pessoa que tem uma largura, espessura e altura aparentes, mas tem uma consistên­cia algo imprecisa, na realidade tão imprecisa quanto uma som­bra. Deste modo, por que não poderia o nosso visitante quadridimensional que nos é invisível nas suas quatro dimen­sões se manifestar, no entanto, em três dimensões, ou como um fantasma que tem forma, mas não consistência?

Vejam os relatórios sobre os objetos, que a imprensa chama, tolamente, de "discos voadores". Esses objetos têm apa­recido e desaparecido à velocidades fantásticas e sem nenhum ruído. Mudam de direção numa velocidade superior à do corpo humano. Então, por que não poderíamos supor que alguns dis­cos voadores sejam a sombra de um objeto quadridimensional? Considerem a sua razão de mudança de direção, considerem segurar um espelho nas mãos e refletir os raios do sol numa parede. Conseguirão fazer aquela mancha de luz dançar e mu­dar de direção, numa razão que excede de muitas vezes àquela que qualquer mecanismo humano poderia obter.

Imaginem, ainda, uma lâmina de vidro opaco na frente de uma pessoa ou entidade que não tivesse idéia sobre o aspec­to de um ser humano. Suponhamos que o ser humano, escondido atrás da lâmina, pusesse quatro dedos e um polegar em contato com o vidro. A pessoa do outro lado, nada sabendo da forma humana, veria cinco manchas cinco borrões escuros da mesma forma que algumas pessoas têm visto manchas no céu.

Devem estar imaginando o que é que tudo isso tem a ver com a metafísica. Bem, tem muita coisa! Como vêem, vivemos num mundo tridimensional, mas a forma mais alta da Verdade só pode ser percebida por aqueles que vão além deste mundo. Temos que nos projetar, além do Tempo e do Espaço, porque Tempo é relativo. O Tempo é simplesmente uma convenção estabelecida pela humanidade, para sua própria conveniência.

Pensam que o Tempo não é relativo? Muito bem, suponha que você tenha de ir ao dentista e precise extrair um ou vários dentes. Quando está sentindo dor e sofrendo, o tempo parece ter parado. Parece que está na cadeira do dentista há uma eternidade.

Por outro lado, você tem uma experiência agradável, com uma pessoa a quem é profundamente apegado. Achará que o tempo voa. Assim, o Tempo é apenas uma coisa relativa, parece arrastar-se, ou correr vertiginosamente, de acordo com o seu estado de espírito.

Bem, continuemos com as nossas dimensões. Suponhamos que exista uma forma de pessoas que vivem num mundo bidimensional, isto é, vivem num mundo que tem apenas compri­mento e largura, mas não profundidade. Eles são como som­bras, são mais finos que a mais fina folha de papel mas, não tendo percepção de profundidade, não podem ter percepção de espaço, porque espaço é aquilo que está além do céu, e, inclu­indo o céu, estaríamos incluindo uma terceira dimensão. Assim, para eles, o espaço é inconcebível.

Os trilhos de trem são semelhantes ao mundo unidimen­sional comprimento. Um maquinista só poderia assinalar a sua posição a partir de um ponto de referência, poderia loca­lizar-se em relação à uma cidade conhecida ou uma estação ou um sinal de acidente geográfico.

Vamos mais longe, concordando que um navio no mar seja como uma pessoa habitando um mundo bidimensional, pois o navio não está limitado pelos trilhos, mas pode ir para a frente, para os lados e até para trás, mas só tem o uso do comprimento e da largura.

Um aeroplano, no entanto, tem três dimensões. Pode ir para diante, para trás, para os lados, para cima ou para baixo. Isto, perceberão, nos dá três dimensões.

Esta teoria das dimensões que para nós é, na realidade, conhecimento explicará muitas coisas que, de outra maneira, seriam consideradas um mistério: teleportação, por exemplo, na qual um objeto é transportado de um quarto para outro, sem que nenhuma pessoa visível faça a mudança. Um objeto pode ser transportado, por teleportação, de um quarto tran­cado para outro. Na realidade, é bem simples, porque somente temos de pensar no nosso ente bidimensional. Se nós, tridimen­sionais, tivéssemos uma série de caixas sem tampa, as pessoas bidimensionais que ali se encontrassem estariam completamente confinadas, completamente cercadas, porque, não tendo noção de altura, não saberiam da inexistência de teto sobre elas. E, assim, se nós, criaturas tridimensionais, nos alçássemos pelo telhado aberto e transportássemos alguma coisa de uma caixa para a outra, isto seria para as pessoas bidimensionais um completo milagre, no qual um objeto, trancado num aposento, foi deslocado para outro aposento. Lembrem-se de que as pes­soas bidimensionais não podem conceber um teto. Da mesma maneira, nós, pessoas tridimensionais, não poderíamos conce­ber uma abertura, que está bem clara na quarta dimensão, de modo que alguém poderia alcançar o quarto fechado (que só o estaria em três dimensões) e mudar o que desejasse, através daquilo que seria uma abertura óbvia para as pessoas quadridimensionais. O objeto seria retirado do mundo tridimensional e, por um momento, estaria no mundo quadridimensional, onde penetraria através do que preferimos chamar de paredes só­lidas.

Temos uma ilustração disso quando pensamos na manei­ra como as ondas de rádio e televisão podem penetrar paredes aparentemente sólidas e ainda ativar um receptor. O tempo, ao qual já nos referimos, desempenha um papel muito importante na vida do homem, mas aquilo a que cha­mamos tempo diferente de homem para homem e de animal para animal. Outra vez, sugerimos que pensem nisso sob di­ferentes condições, na sua vida quotidiana. Quando estamos atrasados para um encontro, vejam como os ponteiros do re­lógio correm. Quando se está à espera de alguém, e ele ou ela (mais freqüentemente ela) deixa-nos esperando, o tempo pa­rece ter parado.

Os animais têm uma concepção própria do tempo, que é bem diferente da dos homens. Os animais vivem numa razão diferente. Um inseto que viva por vinte e quatro horas pode ter uma vida tão cheia como um ser humano que viva setenta anos; um inseto pode cruzar, criar uma família, ver sua própria família ter famílias. Se o tempo de vida de um animal é vinte anos, esses vinte anos parecerão tal como setenta parecem a um ser humano e, dentro desse espaço de tempo concedido ao animal, ele será capaz de funcionar da mesma maneira que um homem, na sua vida de duração mais longa. Vale pensar que todas as criaturas, insetos, animais ou seres humanos, têm aproximadamente o mesmo número de batidas de coração durante vida.

Tudo isto sobre o tempo foi prontamente entendido pelos sábios de há muitos séculos. Há um livro sagrado, uma das grandes "bíblias do Oriente", chamada o Srimad Bhagavate, em que aparece o seguinte:

Uma vez um grande rei levou sua filha à casa do Criador, Brahma, que vivia numa outra dimensão. O grande rei estava muito preocupado porque sua filha tinha chegado a uma idade casadoura e ainda não tinha encontrado um pretendente acei­tável. O grande rei estava ansioso por encontrar um bom marido para sua filha. Ao chegar à casa de Brahma, teve de esperar uns momentos, antes de ser conduzido à Presença para fazer seu pedido. Para seu imenso espanto, Brahma respondeu: — Oh rei, quando voltar à Terra não verá mais nenhum dos seus amigos ou parentes, suas cidades ou seus palácios, porque apesar de parecer que chegou da Terra que conheceu há apenas alguns momentos, esses poucos momentos do nosso tempo são equivalentes a vários milhares de anos do seu tem­po. Quando regressar à Terra, encontrará uma nova Era, e sua filha, que você aqui trouxe, casará com o irmão de Lord Krishna, Balarama. Assim, ela que nasceu há milhares de anos atrás, casar-se-á com Balarama, depois de mais alguns milhares de anos, porque somente no tempo que levará para deixar a minha presença, e viajar através do Tempo para a Terra, outros milhares de anos terrenos terão passado.

E, assim, o perplexo rei e sua filha regressaram à Terra, que, de acordo com a sua estimativa do tempo, tinham deixado há poucos minutos. Encontraram o que parecia ser um novo mundo, uma nova civilização — um tipo diferente de gente, uma cultura diferente, uma religião diferente. Assim como lhe tinha sido dito, alguns milhares de anos tinham passado no tempo da Terra, embora ele e sua filha, viajando para uma dimensão diferente, tivessem visto passar apenas alguns minutos.

Esta é uma lenda, escrita nos livros sagrados da crença hindu há milhares de anos atrás. Não se pode deixar de pensar se isto não seria, provavelmente, a base de algumas coisas que o Dr. Einstein produziu, tal como a "Teoria da Relatividade".

Provavelmente, vocês não estudaram a teoria completa de Einstein, sobre a Relatividade, mas, muito, muito sumariamen­te, ele explicou o tempo, como uma quarta dimensão. Também ensinou que o tempo não é um fluxo contínuo e invariável de alguma coisa. Percebeu que um segundo batia e depois que sessenta segundos batessem, um minuto havia passado; depois de sessenta minutos bateram, uma hora havia passado. Mas isto é tempo conveniente, isto é tempo mecânico. Einstein con­siderava o tempo como um sentido, como uma forma de per­cepção. Assim como duas pessoas não vêem precisamente as mesmas cores, Einstein ensinava que duas pessoas não podiam ter exatamente o mesmo sentido de tempo.

Nós chamamos um ano a 365 dias, mas é apenas uma viagem em torno do Sol uma órbita em torno do Sol. De modo que nós, na Terra, fazemos uma órbita solar em mais ou menos 365 dias. Comparemos, porém, isso, com uma pessoa que viva em Mercúrio. Lembrem-se de que Mercúrio completa sua órbita em torno do Sol em 88 dias e, durante essa órbita, gira somente uma vez em torno do seu eixo, enquanto como sabem, nós na Terra, giramos uma vez cada vinte e quatro horas.

 

Mais alguma coisa para ser ponderada: sabem que se um relógio fizer parte de um sistema que se mova, sua velocidade diminuirá à proporção que a do sistema aumente?

Suponhamos que temos uma vara de qualquer material metal, madeira, cerâmica o que quiserem, mas uma vara de medir de tamanho definido. Se a prendermos a qualquer sistema que se mova, aparentemente encolherá na direção do movimento, de acordo com a velocidade do sistema. Todas essas coisas, como as mudanças no relógio, ou a contração da vara, nada têm a ver com a construção das coisas nem são pertinen­tes á um fenômeno mecânico. Têm a ver com a Teoria da Relatividade, de Einstein. Você pode ter o seu metro (vamos dizer que a nossa vara de metal tivesse um metro ou uma jarda de comprimento), e se ele se deslocar através do espaço, numa velocidade de 90% da da luz, encolherá para meio metro e, em teoria, se a sua velocidade aumentar, até que se mova à velocidade da luz, de acordo com a Teoria de Einstein, enco­lherá até desaparecer! E se, de alguma maneira, você pudesse amarrar um relógio de algum tipo àquele metro, sua razão de marcar o tempo variaria de modo que à medida que o metro se aproximasse da velocidade da luz, o relógio andaria mais e mais lentamente, ou pareceria andar assim, até que, à velo­cidade da luz, parasse.

Quando criticar isso dizendo oh, bem, eu já dirigi um carro, e não o vi contrair-se, — precisa lembrar-se de que essas mudanças,, só podem ser percebidas quando a velocidade do objeto que se move aproxima-se da velocidade da luz. Assim, se tiver um carro novo em folha e correr ao longo da estrada,, isto não quer dizer que o seu carro vá encurtar porque não importa que corra a 100 ou 120 milhas por hora, pois essa velocidade é ainda muito lenta para qualquer diferença mensu­rável, no comprimento do seu carro. Mas, de acordo com a Teoria de Einstein, se uma nave espacial fosse lançada e se aproximasse da velocidade da luz, então se contrairia e desa­pareceria.

Sabem o que quer dizer isso, presumindo que Einstein esteja certo? Sendo capazes de fazer viagens astrais, nós sabe­mos que Einstein está errado, da mesma maneira que aqueles cientistas que disseram que o homem não poderia exceder a velocidade do som. Einstein está errado, tão errado, quanto a pessoa que disse que o homem não poderia exceder as 30 milhas por hora, mas temos de aprender pelos erros dos outros. Poupam os nossos. Então, vejamos o que aconteceria, de acordo com a Teoria de Einstein. Digamos que temos uma nave espa­cial e que sua tripulação é composta de homens sábios, capazes de fazerem observações apuradas. A nave viaja a uma veloci­dade realmente muito alta, quase próxima à da luz. A nave dirige-se para um planeta distante, tão distante que levará dez anos para atingi-lo. Um ano-luz é o tempo; e a distância que leva a luz para atingir um certo ponto, viajando um ano in­teiro, de modo que dez anos-luz é o tempo que leva a luz para atingir aquele objeto distante.

Esta nave vai viajar aproximadamente à velocidade da luz. (Vamos esquecer tudo sobre Einstein, por um momento, e dizer que esta nave pode viajar à velocidade da luz.) Assim, suponhamos que levará dez anos-luz para atingir aquele planeta distante e, sem parar, regressará. Afinal de contas, se estamos no terreno das suposições, tudo é permitido! Assim, temos uma viagem que vai durar vinte anos: dez de ida e dez de volta. Bem, naturalmente, os pobres coitados a bordo vão ficar terri­velmente entediados, fechados por vinte anos. Não somente isto, mas, certamente, vão precisar de uma enorme pilha de comida e bebida. De qualquer forma, estamos apenas supondo.

Se acreditarmos em Einstein, não haverá essas dificulda­des; eles não precisarão de comida por vinte anos. Se a espaçonave vai viajar a uma velocidade ainda que próxima à da luz, tudo a bordo do avião vai desacelerar. Os homens terão todas as suas funções diminuídas, as batidas do coração, a respiração, suas ações físicas e mesmo seus pensamentos. Enquanto conos­co um pensamento pode levar um décimo de segundo, quando viajando à velocidade da luz — de acordo com Einstein — pode levar dez segundos para pensar na Terra, mas dez semanas será a duração do mesmo pensamento quando viajando próximo à velocidade da luz. Mas, viajar à velocidade da luz terá vanta­gens muito importantes, de acordo com Einstein. Por exemplo, vinte anos se passariam na Terra, mas para as pessoas na nave espacial seria apenas uma questão de algumas horas. Querem uma ilustração melhor?

Pois bem: em 1970, teremos feito uma nave espacial que viajará quase à velocidade da luz. A nave estará equipada e pronta para viajar além do nosso sistema solar, muito além de Marte, Vênus, Júpiter, Plutão, Saturno e todos os outros. Segue para um universo diferente. À velocidade da luz, levará vinte anos. Em 1970, então, a nave espacial parte. Viaja dez anos para um mundo distante. Contorna-o, tira algumas fotografias e regressa — outra viagem de dez anos — vinte anos ao todo.

A tripulação é jovem, um deles tem apenas vinte anos de idade quando parte para aquela viagem acidentada. É casado, e sua mulher tem a mesma idade que ele -— vinte anos. Têm um filho de um ano de idade. Quando o pobre coitado regressa, depois de viajar apenas algumas horas à velocidade da luz, terá o maior choque de sua vida. Descobrirá que sua mulher é vinte anos mais velha que ele. Enquanto ele e os outros mem­bros da tripulação envelheceram apenas algumas horas, o que ficaram na terra envelheceram de acordo com á nossa conta­gem de tempo. Isto é, vinte anos. Assim, esse rapaz de vinte anos, em algumas horas terá uma mulher de quarenta!

Vamos agora a um incidente sobre o qual os Estados Uni­dos desejarão guardar silêncio e resguardá-lo do conhecimento público. O assunto que se segue é absolutamente autêntico, ab­solutamente verdadeiro e os que estão colocados em cargos su­ficientemente elevados poderão investigá-lo nos arquivos da Marinha Americana.

Em outubro de 1943, foi feita uma tentativa para tornar um navio da Marinha Americana invisível! Isto teve resultados desastrosos porque alguns cientistas eram tacanhos, não sabiam fazer uso da imaginação, e seguiam a "receita" tal e qual. Estão lembrados de que, na Segunda Guerra Mundial, os Estados. Unt dos, assim como outros países, puseram anúncios procurando idéias para fazer superarmas. Uma das idéias resultou de uma carta do Professor Einstein ao Presidente Roosevelt, na qual expunha em algum detalhe a teoria do "campo unificado". Não há razão para entrarmos nos aspectos técnicos do "campo uni­ficado", mas diremos que ele envolve conhecimento sobre a quarta dimensão.

Um certo doutor em ciências, na verdade um homem muito esperto, usou parte dos teoremas relacionados com o "campo unificado" e trabalhando em conjunto com a Marinha dos Esta­dos Unidos, em outubro de 1943, era capaz de fazer um escudo — um tipo de raio — que podia encobrir completamente um destróier. O campo estendia-se por 300 pés do centro de origem; qualquer coisa dentro daquele espaço tornava-se completamente invisível, de maneira que, para um observador, o navio e sua tripulação teriam desaparecido. Infelizmente, quando o navio tornou-se novamente visível, muitos tripulantes tinham enlouque­cido. Parece que depois os médicos examinadores usaram o sódio-pentathol para penetrar no subconsciente dos tripulantes e descobrir, exatamente, o que acontecera.

Do nosso ponto de vista em relação à quarta dimensão, parece que em uma ocasião o navio invisível reapareceu a cente­nas de milhas de distância, na baía de Chesapeake. É uma pena que as pessoas daquela área não possam ir às bibliotecas públicas consultar os arquivos de jornais locais, ou conseguir alguns desses relatórios de livros como M.K. Jessup and the Allende Letters, compilado por Riley Crabb. Aparentemente, foi publicado um livro nos Estados Unidos, por Gray Barker, cha­mado The Strange Case of Dr. Jessup.

Essa é uma discussão muito séria, não é um embuste, nem mesmo um boato. O Governo dos Estados Unidos desdobrou-se para tentar silenciar qualquer pessoa que discutisse tais coisas e tem havido notícia de pessoas que morreram misteriosamente, quando estavam de posse de certas informações.

O Governo dos Estados Unidos, também, parece ter tido algum sucesso em silenciar a imprensa; por isso, certamente, merece o Prêmio Nobel e alguns Oscars de lambuja. Mas, isso indica que há algo mais nesse assunto do navio invisível.

Uma notícia inadvertidamente liberada dizia que o navio invisível materializara-se num porto e que alguns marinheiros, bastante aparvalhados, desembarcaram cambaleantes e pratica­mente caíram dentro de um botequim. Foram vistos por, talvez, umas trinta ou quarenta pessoas, e, no meio da conversa, quando pediam bebidas, desapareceram, desapareceram por completo. As pessoas que estiverem suficientemente interessadas deveriam ler os livros mencionados acima e, também, procurar uma ma­neira de vasculhar os jornais dos anos de 1944 e 1956. Há insinuações e, por duas vezes, uma notícia completa. É claro que se fosse possível levar subitamente um navio, Éhi uma arma especial, para a quarta dimensão e trazê-la de volta à terceira, em algum ponto previamente designado, os - chineses seriam suprimidos completamente; poderiam até dar alguns sustos nos russos! As pessoas riram-se do raio Laser, mas aquela pequena luz de rubi provou ser tudo que se dizia ser e mais alguma coisa. De modo que, se a pesquisa prosse­guisse, com as necessárias precauções, descobrir-se-ia que do­cumentos solidamente trancados num cofre de banco poderiam ser removidos por meio da quarta dimensão, porque lembrem-se: se uma coisa tem quatro paredes para nós, é porque estamos hum mundo tridimensional e, na quarta dimensão, poderia haver uma abertura pela qual se pudesse entrar.

Voltando ao assunto do navio invisível, julga-se que, se os homens tivessem sido condicionados sobre o que poderia acontecer, não teriam enlouquecido, porque o horrível choque de encontrar-se numa diferente sucessão contínua de tempo é bastante para destramelar a mente de qualquer um, a não ser que tenha sido precondicionado.

Há muitos e muitos anos atrás, ao tempo de Platão, houve uma discussão a respeito da quarta dimensão, mas, mesmo na­quela época, os cientistas não eram capazes de perceber aquilo que metaforicamente estava na ponta dos seus narizes. Platão teve um diálogo que parece aplicar-se a essa discussão sobre a quarta dimensão e, assim, é essencial para que obedeçamos ao Mandamento "Homem, conhece-te a ti mesmo", compreender a relação entre as diferentes dimensões, a primeira, a segunda, a terceira e a quarta.

Vamos, então, ter aqui, no fim deste capítulo, o Diálogo de Platão — o filósofo — e como ele procurou tornar claro para os outros, aquilo que era tão óbvio para ele:

— Contemplem! Seres humanos vivendo numa espécie de caverna subterrânea; têm estado ali desde a infância, e têm as pernas e os pescoços acorrentados — as cadeias dispostas de tal maneira que os impedem de mover a cabeça. À uma certa distância, acima e atrás deles, a luz do fogo resplandece, e entre o fogo e os prisioneiros há um caminho elevado; e verão, se olharem, um muro baixo, construído ao longo deste caminho; como a cortina que os manipuladores de marionetes têm diante deles e sobre a qual exibem suas marionetes. Imaginem, homens que passam junto ao muro carregando vasos, que aparecem por cima dele; e também figuras de homens e animais, feitas de madeira, pedra e outros materiais; e alguns dos transeuntes, como seria de esperar, conversam; outros, estão silenciosos!

Esse é um quadro estranho, — disse ele, — e estranhos são os prisioneiros.

Como nós próprios, — respondi; — e eles vêem so­mente a própria sombra, ou a sombra um do outro, que o fogo projeta na parede oposta da caverna?

Verdadeiro, — confirmou, — como poderiam ver al­guma coisa, além das sombras se nunca lhes é permitido mover as cabeças.

E dos objetos que estão sendo transportados, também só poderiam ver as sombras?

—        Sim — respondeu.

—        E, se fossem capazes de falar uns com os outros, não suporiam que estavam dando nome ao que, na realidade, estava diante deles?

—        Muito verdadeiro.

—        E, suponha, ainda, que a prisão tivesse um eco que viesse do outro lado, não estariam certos em imaginar que a voz que ouviam fosse a da sombra que passava?

—        Não há dúvida, — respondeu-me.

— Não há dúvida, — disse-lhe, — que a verdade seria para eles nada além das sombras das figuras.

—        Isto é certo.

—        E, agora, olhe outra vez, e veja como estão libertos e curados da sua loucura.

A princípio, quando qualquer um deles é liberado e de sú­bito compelido a subir e virar a cabeça, andar e olhar para a luz, sofrerá dores agudas, a claridade o afligirá, e será incapaz de ver a realidade, da qual, no seu estado anterior, só via sombras; e imagine que alguém lhe diga que o que via antes era ilusão, mas que, agora, ele se aproxima da coisa real, e tem uma visão mais verdadeira de coisas mais reais — qual será sua resposta? E pode ainda imaginar que seu instrutor esteja apontando os objetos, à medida que passam, e pedindo que ele os nomeie não terá ele dificuldade? Não imaginará que as sombras que via anteriormente, sejam mais verdadeiras que os objetos que agora lhe são mostrados?

—        Mais verdadeiro.

—        E se ele for compelido a olhar para a luz, não sentirá uma dor nos olhos que o fará voltar-se e refugiar-se no objeto da visão que pode ver e que julgará ser mais claro que as coisas que agora lhe são mostradas?

—        Verdadeiro, disse.

—        E, suponhamos, mais uma vez, que ele é relutantemen­te arrastado pela subida inclinada e acidentada, agarrado e forçado à presença do próprio Sol, não acha que ficará dolorido e irritado; e quando- se aproximasse da luz teria os olhos ofus­cados, e não seria capaz de ver nenhuma das realidades, que agora lhe afirmam ser a verdade?

—        Não tudo num momento, disse ele.

Ele terá necessidade de acostumar-se com a visão do mundo de cima. A princípio, verá melhor as sombras; depois, o reflexo dos homens e outros objetos na água e, então, os próprios objetos; em seguida, contemplará a luz da Lua e das estrelas; verá o céu e as estrelas à noite, melhor que o Sol, ou a luz do Sol de dia?

—        Certamente.

—        E, finalmente, será capaz de ver o Sol não apenas o seu reflexo na água, mas o verá no seu lugar certo e pró­prio, não em outro, e contemplará sua natureza?

—        Certamente.

E, depois disso, raciocinará que o Sol é quem dá as estações e os anos, e é o guardião de tudo que há no mundo visível, e de uma certa maneira a causa de tudo que ele e seus companheiros acostumaram-se a contemplar?

Perfeitamente, respondeu, concluiria uma coisa primeiro e esta depois.

E, quando se lembrasse da sua antiga habitação, e da sabedoria da caverna e dos seus companheiros de prisão, não supõe que se felicitasse pela mudança e se apiedasse deles?

—        Certamente o faria.

—        E se eles tivessem o hábito de conferir honras àqueles que fossem mais rápidos em observar, lembrar e prever qual das sombras passou antes, qual se seguiu, e quais estavam juntas, acha que eles se importariam com tais honrarias e gló­rias, ou invejariam seus possuidores?

Não, diria como Homero: "— É melhor ser um homem pobre e ter um dono pobre", — e suportar qualquer coisa, a pensar e viver daquela maneira?

Sim, — disse ele, — acho que preferiria sofrer qual­quer coisa a viver à maneira deles.

Imagine mais uma vez, — disse-lhe, — que tal pes­soa saísse de repente do Sol e fosse reposto na sua antiga si­tuação, não é certo que teria os olhos cheios de trevas?

—        Muito verdadeiro, — redarguiu.

—        E se houvesse um concurso, e ele tivesse de competir medindo sombras com os prisioneiros que nunca saíram da caverna, no período em que sua vista estivesse fraca, e antes que seus olhos estivessem firmes (e o tempo que seria necessário para adquirir esse novo hábito de visão, poderia ser muito longo) não seria ele ridicularizado? Os homens diriam que ele subira e descera e voltara sem olhos; e que não valeria a pena nem pensar em subir: e se alguém tentasse libertar outro e conduzi-lo para a luz em cima, nos deixariam pegar o trans­gressor no ato e o matariam.

—        Não há dúvida, — respondeu.

Esta alegoria, — disse eu, — podem agora anexar ao argumento anterior; a prisão é o mundo da visão, a luz do fogo é o Sol, a subida e a visão das coisas de cima podem ser verdadeiramente encaradas como o progresso ascendente da alma no mundo intelectual.

E entenderão que aqueles que atingem a visão beatí­fica não estão dispostos a descer aos negócios humanos; mas suas almas estão sempre acorrendo para o mundo superior, no qual desejam habitar. E há alguma coisa de surpreendente em alguém que passe da contemplação divina para as coisas humanas e se conduza mal, de maneira ridícula?

—        Não há nada de surpreendente nisso, — respondeu.

—        Qualquer pessoa que tenha bom senso, lembrar-se-á que a perplexidade dos olhos é de duas espécies e provém de duas causas, ou de sair da luz ou de vir para a luz, o que é verdadeiro para os olhos da mente, tanto quanto para os olhos do corpo; e aquele que se lembrar disto, quando vir a alma de alguém, cuja visão está perplexa e fraca, não rirá tão prontamente; primeiro, perguntar-se-á se aquela alma veio de uma vida mais brilhante e não é capaz de ver, porque desacostumou-se às trevas, ou se voltando da escuridão para o dia, está perplexa pelo excesso de claridade. E, então, ele contará um, na sua condição e estado de ser.

 

PINTANDO COM PALAVRAS

O Velho Muro Cinzento brilhava prateado sob a lua cheia, projetando sombras espessas sobre o cascalho do caminho. Era realmente velho, com a suavidade que o carinho empresta às coisas bem amadas. De uma parede voltada para a lua, um antigo brasão captava orgulhosamente o luar e devolvia-o nas cores envelhecidas pelo tempo. Das janelas com pilares góticos vinha o brilho amarelado da luz elétrica. Havia alegria no velho solar esta noite, alegria por um noivado anunciado recente­mente.

A lua deslizava serena pelo céu luminoso. As sombras deslocavam-se lentamente pelos espaços abertos, transforman­do as árvores no ébano mais escuro. Houve uma explosão de música e luz dourada quando as portas se abriram e um rapaz e uma moça saíram para o terraço. Atrás deles, as portas fe­charam-se silenciosamente. De mãos dadas, o rapaz e a moça dirigiram-se à amurada de pedra e contemplaram a cena tran­qüila. Uma brisa errante soprava um doce perfume de mimosa. Passando o braço carinhosamente pela cintura da moça, o rapaz: levou-a para a larga escadaria de mármore que dava acesso à um gramado bem aparado.

Ele era alto, usava farda com botões e insígnias que refle­tiam o luar. Os cabelos dela eram escuros e a pele cor de mar­fim, como é freqüente nesse tipo. Seu vestido de noite era longo, e quase da cor da própria lua. Lentamente andaram •pelo gramado em direção a um caminho ladeado de árvores. t!De vez em quando, paravam por um momento e entreolhavam-se. Logo chegaram a sua ponte rústica de madeira, que cruzava o regato tranqüilo. Por algum tempo, debruçaram-se sobre o corrimão da ponte, murmurando docemente um para o outro, contemplando seus reflexos nas águas serenas.

Apoiando a cabeça no ombro do rapaz, a moça apontou para uma coruja que, do alto de um grande carvalho, olhava-os fixamente. Infeliz por ser observado, o pássaro abriu suas grandes asas e alçou vôo através do jardim. Os dois empertigaram-se e continuaram o passeio pelos bem cuidados arbustos e flores adormecidas. Aqui e ali, pequenos ruídos e guinchos denunciavam que os pequenos habitantes da noite andavam a tratar dos seus interesses.

O caminho fazia uma curva e alargava-se, transformando-se numa praia bem cuidada. A luz projetava uma larga faixa branca sobre a água que ondulava docemente. Pequeninas ondas captavam a luz e transformavam-na em miríades de jóias faiscantes dançando sobre a água. A uma milha de distância um transatlântico branco sulcava majestosamente o mar, os conveses inundados de luz. Dele chegavam débeis acordes de música da orquestra a entreter os pares que dançavam. A luz vermelha de bombordo brilhava e os holofotes iluminavam o símbolo da empresa pintado nas suas chaminés. Espuma fosfo­rescente formava-se no encontro da quilha com a água, e as ondas, na sua esteira, borbulhavam e rolavam sobre a praia. O rapaz e a moça, abraçados, contemplavam o progresso im­ponente do navio. Aos poucos, foi desaparecendo e já não se ouvia mais música.

Na penumbra púrpura-aveludada de um alto pinheiro, quedavam-se juntos, dizendo um ao outro somente as coisas que os namorados dizem, quando planejam o futuro e enfrentam a Vida em si. Nenhuma sombra cruzava a face da lua, o ar estava morno e perfumado. Devagarinho, as pequenas ondas tilintavam os seixos mais redondos e brincavam com a areia mais fina.

A noite, sob a lua cheia, era feita para os namorados. Uma noite também para os poetas, porque não são os poemas a essência dos sonhos e da vida?

As areias do deserto escaldavam sob o calor abrasador do Sol de meio-dia. Até a Mãe-Nilo, correndo entre as margens esturricadas, parecia mais lenta que de costume, o vapor quente subindo do seu seio cintilante e perdendo água que uma terra árida não podia desperdiçar. Infelizmente, os "fellaheen", con­denados a trabalhar em campos sob um céu tórrido, moviam-se, uma pesada letargia, acalorados e cansados demais até para praguejar contra o dia sufocante. Um pássaro Íbis curva­va-se junto a uma moita de papiros murchos. As novas tumbas dos poderosos erguiam-se altas e brilhantes, com o calor que secava a argamassa recém-colocada nos imensos blocos e pe­dras de revestimento.

No relativo frescor da Sala de Embalsamamento, funda sob as areias ardentes, um velho encarquilhado e seu assistente, pouco mais novo, trabalhavam estufando com ervas aromáticas um corpo morto há meses.

— Parece que o Faraó está tomando medidas severas contra os sacerdotes — disse o mais velho dos dois.

—        Sim, — retrucou o outro com sombria satisfação. — Vi os guardas darem batidas em alguns templos, prendendo-os, admoestando-os e levando fardos de papiros. E pareciam muito dispostos!

—        Não sei onde o mundo vai parar — disse o ancião. — nunca aconteceu isso na minha juventude. O mundo caminha

para a ruína, isso é que é, caminha para a ruína. Suspirando resmungando, apanhou a vara de rechear e socou mais um pouco de mistura de ervas, numa abertura do corpo indiferente.

—        Por ordem do Faraó! — gritou o capitão da guarda, que, cercado de seus homens, entrava majestoso nos aposentos do Sumo Sacerdote. — O senhor é acusado de abrigar descontentes que conspiram contra Ele e tentar lançar encantamen­tos maléficos para prejudicá-LO. — Voltando-se para os homens deu uma ordem: — Revistem tudo e apreendam todos papiros.

O Sumo Sacerdote suspirou e comentou com suavidade. Sempre foi assim, os que aspiram a um maior conhecimento são perseguidos pelos ignorantes que temem a Verdade e pensam que ninguém pode saber mais do que eles. Destruindo nossos papéis de sabedoria, vocês extinguem a chama tênue do conhecimento.         

O dia tinha sido trabalhoso, com os soldados vigilantes, os guardas dando buscas e levando os suspeitos — na maioria das vezes, aqueles denunciados por vingança de um vizinho. Carretas puxadas por escravos rolavam pelas ruas carregadas com os papiros confiscados. Mas, o dia terminou, como sempre fez e sempre o fará, não importa quanto pareçam infindáveis às vítimas da opressão.

Corria uma brisa fresca que fazia as moitas de papiros farfalharem com. um ruído de atrito. Pequenas ondas salpicavam a superfície do Nilo ensombrado, ricocheteando nas margens ressequidas. Ao longo dos braços do Baixo Nilo, barqueiros sorriam com prazer ao ver suas velas enfunarem-se ao vento e levarem-nos velozes a caminho de casa. Livres do calor tór­rido do dia, pequenos animais emergiam das suas tocas nos barrancos e iniciavam sua sortida noturna, em busca de uma presa. Mas os humanos também estavam em busca de presas!

A escura abóbada do céu estava salpicada de jóias relu­zentes, as estrelas. Esta noite, a lua nasceria tarde. Débeis lampejos de luz vinham dos casebres de barro e pouco mais brilhantes das casas dos ricos. O ambiente estava cheio de ter­ror e presságios. Nenhum fanfarrão demorava-se nas ruas esta noite, nenhum casal de namorados segurava as mãos ou trocava juras nas margens do Ñilo. Esta noite, os homens do Faraó rondavam as ruas, pés pesados, semblantes grosseiros, prontos para "divertirem-se". A depuração estava em marcha, contra os professores, os sacerdotes ou qualquer outro que pudesse ameaçar o Faraó, prevendo o seu próximo desaparecimento. Estar fora esta noite, significava a Morte, à Morte nas lanças dos guardas.

Mas, nos lugares escuros da cidade, vultos silenciosos escondiam-se e corriam de uma sombra para outra, enquanto os homens do Faraó marchavam com estrondo. Gradualmente, tornou-se aparente que homens silenciosos e dispostos usavam toda a cobertura disponível para alcançar o seu destino sem serem notados. Enquanto os guardas patrulhavam ruidosamente e as estrelas eternas giravam no alto, um após outro, os vultos escuros deslizavam com facilidade através de uma porta sem marcas nem luz. Cada um deslizava para ser agarrado por aqueles que atrás da porta o mantinham seguro, até que a sua identidade fosse estabelecida. Quando o último homem se in­sinuara por aquele caminho e fora identificado, foram coloca­das grandes vigas de madeira contra a porta, bloqueando-a.

Uma voz envelhecida e quebrada vibrou:

— Sigam-me e que cada homem acompanhe em fila, colocando a mão sobre o ombro do que vai à frente. Sigam-me e não façam barulho! Porque esta noite a morte nos espreita.


Com um ruído quase imperceptível de passos, a fila de homens seguiu o seu líder, através de um alçapão dissimulado. Desceram um caminho inclinado, muito, muito comprido e, finalmente, emergiram numa velha câmara funerária, onde o ar parecia úmido e bolorento.

—        Estaremos seguros aqui, — sussurrou o velho líder. — Mas não levantemos a voz sem necessidade, senão os esbirros de Sete nos ouvirão e denunciarão a nossa reunião.

Silenciosamente enfileiraram-se e colocaram-se entre a mobília funerária. Acocorando-se, esperaram ansiosos as palavras do seu Líder. O velho observou o grupo com os olhos aperta­dos, avaliando-o, pesando-o. Finalmente, disse:

—        Vimos hoje e por muitos dias os nossos haveres mais preciosos nos serem arrebatados e queimados. Assistimos a um espetáculo abominável de homens grosseiros, dirigidos por um tirano enlouquecido pelo poder, perseguindo os nossos sábios e destruindo a sabedoria acumulada através dos séculos. Esta­mos aqui reunidos para discutir como a nossa herança de co­nhecimentos documentados poderá ser salva. — Olhou em seu redor, astutamente e prosseguiu. — Muito já está perdido. Muito pode ser salvo. Alguns de nós — sob o risco de cruéis torturas — substituímos os papiros bons por outros sem valor e os guardamos em lugar seguro. Agora, têm alguma sugestão a ser considerada?

Por algum tempo a conversa fluiu em voz baixa, enquanto os homens debatiam entre si a viabilidade disto ou daquilo. Finalmente, um jovem sacerdote do Templo do Alto Nilo levantou-se e disse num tom "diferente:

Reverendíssimo, peço a vossa indulgência para a minha temeridade em dirigir-me a vós desta maneira. Cabeças acenaram encorajando-o, e ele continuou: — Na noite passada, de serviço no Templo sonhei. Sonhei que o Deus Bubastes descia diante de mim e transmitia-me instruções irrefutáveis. Eu devia afirmar que a Erudição Antiga poderia ser ocultada pelos Escribas Letrados, destilando a sabedoria dos séculos e dissimulando-a entre os versos de poemas cuidadosamente compostos. Isto, — disse o Deus Bubastes — estaria fora da compreensão dos ignorantes, mas estaria evidente para os Iluminados. Assim, a posteridade não ficaria privada do nosso atual ou daquele mais antigo.   

Sentou-se agitado. Por uns momentos houve silêncio, enquanto os mais velhos debatiam entre si. Afinal o Mais Antigo chegou a uma decisão:

— Assim seja feito — disse. — Esconderemos a nossa erudição em versos e também prepararemos desenhos especiais do livro de Tarot. Faremos com que os desenhos se pareçam o mais possível com um jogo de cartas e na plenitude do tempo a luz do Conhecimento continuará a brilhar, restabelecida e renovada.

Assim aconteceu, como fora ordenado, e nos anos que se seguiram homens de altos propósitos, e de caráter destemido, esforçaram-se para preservar tudo que merecia ser preser­vado em versos e desenhos. E os Deuses sorriram e estavam satisfeitos.

Através dos séculos, a humanidade tem usado a palavra de forma especial, que pode ocultar e revelar ao mesmo tempo. Os versos podem ser usados para encantar o leitor ou mistificar o intruso.

Por meio de um ritmo adequado no verso, métrica, rima e tudo mais, pode-se fazer penetrar no subconsciente as mensagens que precisamos ou desejamos que se tornem parte da entidade psíquica de alguém.

Quando se olha para um poema, deve-se decidir se o poeta está fazendo um leve jogo de palavras ou se está tentando transmitir uma mensagem especial. Muitas vezes, uma mensa­gem que seria inaceitável em prosa comum e grosseira, pode ser revestida de tal maneira que só os iniciados possam alcan­çar o seu sentido. Muitos videntes escreveram suas mensagens e predições em verso não porque — como dizem os céticos — temiam pô-la em linguagem comum, mas para que os inicia­dos nessas coisas pudessem ler o significado mais profundo por trás dos versos. Freqüentemente, alguns autores ignorantes (e há muitos!) tentam ridicularizar poemas proféticos famosos. É natural que uma pessoa, que não saiba escrever nada de seu, possa sempre arranjar público servindo de instrumento aos maus instintos da humanidade e, como esta é a Era de Kali, todos procuram reduzir os outros a um denominador comum. Esta é a Idade da indiferença cínica pelo preceito elementar, de que todos os homens não são iguais; não importa que sejam iguais aos olhos de Deus, todos os homens na Terra, e prevalece hoje uma forma de esnobismo invertido que faz um homem dizer: "Oh, eu valho tanto quanto ele!" Vemos grandes líderes como Winston Churchill, Roosevelt e outros, tendo os seus no­mes e reputações arrastados pela lama, mas apenas pelos po­bres coitados que, sem nenhuma habilidade própria, têm um prazer diabólico em tentar fazer mal àqueles que a possuem.

Vamos ver um trecho de um poema e depois nos aprofundaremos para descobrir o sentido real por trás dele. Este é um poema tibetano, muitíssimo famoso; não é somente uma leitura agradável, mas tem um sentido especial que lhe corresponde.

Chama-se "Não Temo"

 

NÃO TEMO

No temor da morte construí uma casa

E minha casa é uma casa do vazio da verdade

Agora, já não temo a morte

No temor do frio comprei um abrigo

E meu abrigo é o abrigo do fogo interior

E agora já não temo o frio,

No temor da escassez, procurei riqueza

E minha riqueza é gloriosa, interminável, sete vezes maior

Agora já não temo a escassez.

No temor da fome procurei alimento

E o meu alimento é o alimento da meditação da verdade

Agora já não temo a fome.

No temor da sede procurei o que beber

E a minha bebida é o néctar do conhecimento verdadeiro

Agora já não temo a sede.

No temor do tédio, procurei um companheiro

E o meu companheiro é o perene vazio da felicidade

Agora já não temo o tédio.

No temor do erro, procurei o Caminho

E o meu caminho é o Caminho da união transcendental.

Agora já não temo o erro.

Sou um sábio que possui em plenitude

Os múltiplos tesouros do desejo, e onde quer que habite, sou feliz.

Dentro em pouco examinaremos o sentido esotérico deste poema, mas, antes, vejamos um outro, que é também tibetano, e também tem na realidade um significado especial. Vejamos o segundo poema, "Esteja contente".

 

Esteja Contente

Meu filho, como mosteiro, esteja contente com o corpo

Pois a substância corpórea é o palácio da divindade.

Como mestre, esteja contente com a mente

Pois o conhecimento da verdade é o começo da santidade. Como livro, esteja contente com as coisas exteriores

Pois seu número é um símbolo do caminho da libertação.

Como alimento, esteja contente em alimentar-se de êxtase

Pois a imobilidade é a perfeita imagem da divindade.

Como vestimenta, esteja contente em usar o fogo interior

Pois as Deusas que caminham no céu vestem o calor da felicidade.

Companheiros, estejam contentes no abandono

Porque a solidão preside a assembléia divina

Inimigos irados estejam contentes em evitar

Pois a inimizade é um viandante no caminho errado.

Com demônios esteja contente em meditar no vazio

Pois aparições mágicas são criações da mente.

Teremos, ainda, um outro poema tibetano, que foi com­posto pelo 6º. Dalai Lama, um homem realmente muito erudi­to. Era um escritor e um artista, mal compreendido por muitos, mas que marcou definitivamente a cultura oriental. Há poucos de sua espécie hoje em dia. Esta é uma tradução para o inglês; temo não saber quem fez a tradução, mas não importa quem tenha sido, não consegue fazer justiça ao original tibetano. Uma das maiores tristezas de um autor é que a tradução em outra língua raramente segue a mesma linha de pensamento que ele tentou transmitir no original. Mas, aqui está a tradução, feita por alguém desconhecido, de "Meu Amor".

 

Meu Amor

Caro amor por quem meu coração se enche de afeto

Se pudéssemos ao menos casar

Teria eu ganho a gema mais preciosa  

No recanto mais fundo do mar.

Aconteceu passar minha querida

Um dia por uma estrada

Uma turquesa do mais puro azul

Se encontrava ali jogada

No pessegueiro alto fora do alcance

Está a fruta amadurecida.

E também a donzela de nobre nascimento

Cheia de beleza e de vida.

Meu coração está longe, as noites se sucedem

Em insônia e perpétua lida

Mesmo o dia não me traz o que anseia o coração

Porque sem vida é a minha vida

Habito sozinho em Potala, um Deus na Terra sou eu

Mas na vila chefe de vadios e de foliões — o rei

Não muito longe irei.

Empreste-me suas asas minha garça branca

Não irei mais longe que Li Thang

E depois retomarei.

 

Examinemos, então o poema "Não temo", do grande Milarepa, que o escreveu para que os iniciados soubessem certas coisas. Aqui está uma alusão ao seu significado oculto:

 

No temor da morte construí uma casa

E a minha casa é a casa do vazio da verdade

Agora já não temo a morte.

 

Seu significado já foi traduzido e mal traduzido de diver­sas maneiras. Na realidade, de acordo com a crença esotérica, deve ser entendido que, mesmo nos outros planos da existência, podemos nos equilibrar numa corda bamba, deve-se avançar ou cair, progride-se ou se retrocede. É necessário ter sempre em mente que, apesar de estarmos agora na Terra, quando morrermos, renasceremos em um outro estágio da existência. Quando terminarmos com o que poderemos chamar de estágio terrestre da existência, iniciaremos uma nova etapa onde as fa­culdades e os padrões são outros. Por exemplo, neste ciclo nos foi dado um certo número de sentidos. No próximo, teremos mais sentidos, mais habilidades, etc. Progredimos sempre, po­rém, nunca retrocedemos a não ser pela nossa própria falta de energia.

No temor da morte no plano astral, construí um corpo e meu corpo tinha o vazio da verdade. Com a verdade, já não temo a morte. Em outras palavras, sabemos que, quando ter­minamos uma vida, prosseguimos noutra. Não há morte per­manente, a morte é renascimento. Quero dizer-lhes isto, com a mais absoluta sinceridade: devido a um treinamento muito especial, tive oportunidade de visitar outros planos da existência, normalmente inacessíveis aos que habitam este plano. Precau­ções especiais precisam ser tomadas pelos que nos guiam, na­turalmente, por que as nossas vibrações — e somos apenas vi­brações — não podem, sem ajuda, aumentar sua velocidade para possibilitar-nos alcançar aqueles planos mais altos. A ex­periência foi bastante dolorosa, semelhante a uma luz que cegasse a uma passagem por chamas vivas, no entanto, eu estava escudado, protegido.

Descobri que, num plano mais alto, eu tinha aproximadamente o padrão de uma lesma, comparada à inteligência hu­mana na Terra. Os nossos grandes cientistas descobririam que não eram superiores a uma lesma nos planos mais elevados. Temos de progredir sempre e, no fim de cada vida, morremos a fim de que possamos progredir mais. Pensem numa lagarta. É uma criatura que se arrasta, depois, aparentemente, morre para transformar-se numa borboleta que se move num elemen­to diverso, que se move no ar, em vez de arrastar-se na terra.

Tomemos o exemplo clássico da libélula. De um tanque estagnado arrasta-se penosamente um verme inferior, uma larva. Sobe com lentidão um junco ou um galho que se projeta. Sobe e agarra-se feroz e tenazmente. Aí pára o movimento, a criatura morre, parece apodrecer. Eventualmente a casca morta arreben­ta e abre-se. Dela emerge a libélula, fraca e suja. Estende suas asas que logo se tornam firmes e iridescentes. Então, com a luz do Sol sobre as asas, a libélula ergue-se e sai voando,

Realmente, não ocorre assim com a humanidade? O corpo humano como um verme — vocês concordarão — morre; da casca morta emerge alguma coisa que voa para uma nova vida. Isto é o que mais aprecio nas libélulas; serem uma promessa da vida eterna, uma promessa de que há algo mais que este miserável corpo. Mas, por mim, não preciso de promessas, porque experimentei a realidade.

E continuando com o "Não temo", teríamos:

 


No temor da fome procurei alimento

E meu alimento é o alimento da meditação da verdade

Já não temo a fome.

Isto, naturalmente, refere-se à fome não-física, mas espi­ritual. Se uma pessoa está em dúvida, não sabe o que fazer, aonde se dirigir, para obter conhecimento. Uma pessoa em dúvida é uma pessoa frustrada, uma pessoa infeliz. "No temor da fome espiritual, procurei a sabedoria, meditei sobre a ver­dade, e conhecendo a verdade, já não temo a fome". Digo-lhes que, mesmo nestes modestos capítulos, podem aprender muito, podem deixar penetrar a semente do conhecimento. A semente é uma coisa pequenina, mas de uma sementezinha pode nascer uma grande arvore. Estou tentando plantar uma semente, estou tentando acender uma vela na escuridão.

 

Há muitos séculos atrás, toda a humanidade possuía esse conhecimento, mas alguns elementos abusaram dele e sobreveio a Idade das Trevas, quando a chama do saber foi extinta em todo o mundo, quando o homem queimou os livros de conhecimento e mergulhou por uns tempos no abismo da igno­rância e tornou-se crivado de superstições. Mas, agora, aproximamo-nos de uma nova Era, onde o homem adquirirá mais poderes. Posso tornar-me bastante impopular, quando digo quase num murmúrio, que a precipitação atômica pode não ser tão prejudicial quanto se supõe. Vamos nos afastar da poesia por um momento e passar à realidade.

Através dos séculos, a humanidade vem-se deteriorando. Se queremos um gado premiado ou animais campeões, não os deixamos cruzar indiscriminadamente e produzir caracteres des­favoráveis. Os animais são escolhidos com cuidado e procria­dos para apresentar qualidades, provavelmente alguma quali­dade específica. Se temos árvores frutíferas, podemos tratá-las e enxertá-las, a fim de obter uma fruta maior e melhor, ou uma fruta com um sabor especial. Mas, negligenciemos esses ani­mais, deixemo-los correr desenfreados, abandonemos o nosso pomar, deixando-o reverter à natureza, então, tudo o que fi­zemos se perderá e teremos frutas e animais inferiores. Pen­sem, por exemplo, numa linda maçã cultivada, que pode voltar a ser uma maçã brava. Os seres humanos são como as maçãs bravas, procriam indiscriminadamente, e as pessoas com os caracteres menos desejáveis são geralmente as que têm mais filhos, enquanto as pessoas que têm mais conhecimentos ou caracteres, que pudessem, realmente, melhorar a qualidade da raça humana, não têm filho nenhum. Freqüentemente, isto é devido à taxação ou direitos de importação excessivos.

Assim, talvez a Velha Mãe Natureza, que deve saber al­guma coisa depois de todos esses anos, veja um caminho dife­rente para melhorar o valor da raça humana. Possivelmente, providenciou para que algumas radiações estranhas fossem liberadas, a fim de produzir mutações. Como sabem, nem todas as mutações são más. Vejamos, por exemplo, um germe, uma família de germes. São tratados com penicilina, muitos mor­rem, mas outros mudam, tornando-se-lhe imunes. Depois, não só se tornam imunes, mas vicejam com a penicilina. Como saber se não está acontecendo o mesmo com os seres humanos? Temos sempre que ascender, progredir e é minha firme crença e também a do pensamento oriental, quê todos devemos co­nhecer essas coisas, antes de passarmos a um estágio mais alto da evolução.

 

No temor do erro procurei um Caminho

E o seu caminho é o caminho da união transcendental

Agora já não temo o erro.

 

Em outras palavras — não sabia para que lado caminhar, não sabia onde estava o caminho, procurei então o conhecimento dos mundos superiores. Adquiri esse conhecimento e, agora, já não temo que esteja fazendo um erro da minha vida.

 

Sou um sábio que possui em plenitude

Os múltiplos tesouros do desejo

E onde quer que habite, sou feliz.      

Sou sábio porque obtive de outras fontes a sabedoria do que está por vir, sabendo o que é necessário. Sabendo que a vida na Terra é, no infinito da vida espiritual do homem, apenas o piscar de um olho, poderei estar contente onde quer que more. Assim, não temo.

Milarepa era um grande sábio, um homem que se retirou para uma caverna nas montanhas. As pessoas acorriam para consultá-lo e com ele estudar. Deixe-me esclarecer que aqueles que vinham estudar com ele, cuidavam das suas necessidades corporais e da sua roupa, limpavam sua caverna, preparavam sua comida, faziam recados. Pensam os ocidentais; oh, todo o conhecimento deveria ser gratuito, não se deve cobrar nada para ensinar. Naturalmente, isto é apenas ignorância, ignorân­cia estúpida e crassa. Isto é dito por pessoas de pouco conhe­cimento e o pouco conhecimento é, na realidade, uma coisa perigosa. Tudo o que valha a pena ter vale o nosso trabalho. Milarepa ensinava que se devia estar contente, estar contente com o conhecimento. Milarepa ensinava que o corpo era como um mosteiro, e os monges que o habitavam eram os diferentes poderes e faculdades do corpo e da mente.

Porque a substância corpórea é o palácio da divindade.

A substância do corpo, a carne, ou barro, ou o que quei­ram chamar, é a casa onde habita o Eu Superior, que está aqui na Terra para adquirir experiência das coisas mundanas. Nos estágios superiores da existência, não se pode encontrar aqueles que detestamos sinceramente. A resposta óbvia é vir à Terra onde encontramos todos eles, todo o tempo. Pensem, e se realmente pensarem com a mente aberta, descobrirão que detestam um espantoso número de pessoas e terão a certeza de que um número ainda maior de pessoas os detestam. Se forem honestos, concordarão que isto é verdade. Se forem tra­balhar, estarão certos de que alguém estará querendo cortá-lo do serviço, que alguém está tentando privá-lo de uma promoção, que alguém tem despeito de você. É verdade, não é?

Bem, o Eu Superior tem que descer à Terra, para passar por experiências desagradáveis. Assim, o corpo é um aparelho durável, protege a alma dos choques indevidos. Uma pessoa deve estar contente com a mente, porque dentro da mente po­demos guardar e escolher o conhecimento da verdade e, até que se saiba a verdade, não se pode conhecer a santidade, não santidade no sentido hipócrita, mas no sentido verdadeiro que reconhece que a alma é quem controla o corpo e o corpo é apenas uma marionete.

Milarepa prossegue:

Inimigos raivosos esteja contente em evitar

Porque a inimizade é um viandante no caminho errado.

O que quer dizer: que não se deve ter ódio ou inimizade por alguém, porque se você o tem, está no caminho errado. Não se pode permanecer imóvel numa corda bamba, vai-se para a frente ou para trás, porque na realidade, na nossa corda bamba espiritual, não se cai nem se é destruído. Freqüentemente, nas religiões, em todas as religiões, fala-se da perdição eterna, do eterno tormento. Não lhes acreditem, não lhes acre­ditem. Essas coisas foram ditas pelos sacerdotes de antanho, da mesma maneira que uma mãe poderá dizer ao filho: Agora fique quieto, senão contarei ao seu pai e ele lhe dará uma surra! Antigamente, as pessoas pareciam-se muito com crianças. Talvez lhes faltasse o poder de raciocinar, que se desenvolveu através dos séculos, e para ajudá-los era necessário ameaçá-los.

Se descobrirem que o Zé ou o Carlinhos não querem tomar o café, poderão dizer, se forem tolos: Coma isso já ou chamo a polícia para lhe levar! Já vi isto acontecer muitas vezes. Bem, eventualmente, o Zezinho ou o Carlinhos pensarão que todos os policiais são diabos, pensarão que a polícia estará sempre pronta a agarrá-los, metê-los na cadeia e fazer-lhes toda a sorte de coisas inomináveis para todo o sempre, e um pouquinho mais. Assim, nos dias de antanho, um padre costumava dizer: Ah! os demônios os pegarão, os demônios os espetarão em lugares incríveis e, na realidade, os farão passar um mau peda­ço. Não acreditem nisso! Existe um Deus, não importa que nome se lhe dê, existe um Deus, um Deus de Bondade e nenhu­ma pessoa será jamais chamada a sofrer além da sua capa­cidade.

Alguns de nós, no entanto, têm lembrança de outras coi­sas. Alguns de nós, como no meu caso, têm conhecimento real e não apenas lembrança, e outros, que não têm lembrança nem conhecimento, são chamados a sofrer mais do que o necessário, porque não aprenderam as lições do passado. Vivemos nesta Terra e somos nove décimos inconscientes, somente um décimo é consciente, ou pelo menos é esse o número popular. Observando as pessoas de certos continentes, duvida-se mesmo que sejam um décimo consciente! Mas, quero falar aqui sobre as outras tarefas que são desempenhadas pela ALMA.

O Eu Superior, naturalmente, é dez décimos consciente. Tem de ser, ou o subconsciente humano não poderia estar nove décimos desperto. O Eu Superior não está limitado a tratar com um só corpo, há diferentes sistemas de utilizar sua energia e vamos estudá-los esquematicamente.

Algumas pessoas vêem como membros de um grupo. Por exemplo, uma jovem pode estar na Terra, sentindo-se bastante perdida e inepta sem a companhia dos seus irmãos, irmãs e pais. Essas pessoas parecem funcionar, apenas, quando estão todos juntos. A morte deixa um vazio terrível, enquanto que no casamento, uma pessoa está sempre correndo para sua fa­mília. Essas pessoas podem ser todas marionetes controladas pelo mesmo Eu Superior.

Gêmeos ou quádruplos, freqüentemente, são também controlados pelo mesmo Eu Superior. £ como se os líderes dos outros Planos soubessem que o tempo específico desta existência está quase esgotado, e outra se iniciará e, assim, pare­cem trazer as pessoas daqui para trabalharem em grupos, sob o controle de um Eu Superior, da mesma forma que uma dita­dura comunista tem células de um certo número de pessoas controladas por um supervisor, e todos os supervisores sob o controle de um outro etc...

Vêem-se, com freqüência, bandos de pássaros, talvez uns cinqüenta, girando e virando simultaneamente, como se estives­sem sob o comando de alguém. É assim que deveria ser, por­que esses pássaros são todos controlados por uma pessoa, da mesma maneira que um formigueiro ou uma colmeia são con­trolados por um Eu Superior.

As pessoas mais esclarecidas, mais evoluídas, têm um sis­tema diferente, e isto vai fazê-lo pensar. De modo que vamos com calma e leveza, porque, na realidade, o que nos deve preocupar é como nos estamos saindo na Terra deixemos os outros mundos cuidarem de si mesmos, até que cheguemos lá.

Existem diferentes mundos como a Terra, não no mesmo "Tempo" por falta de uma palavra melhor. Talvez fosse mais apropriado usar um termo musical harmónio. Podemos ter uma nota musical, uma nota pura, e podemos harmo­nizá-la. A harmonia fundamenta-se na nota original. Da mes­ma forma, existe esta Terra, que talvez devêssemos chamar Terra D, e correspondentemente as Terras C. B. A. e E. F. G., por exemplo. Existem Terras semelhantes, mundos seme­lhantes e são chamados de universos paralelos ou mundos pa­ralelos, como preferir.

Um Eu Superior que tenha evoluído e perceba que con­trolar apenas um insignificante corpo terrestre consome tem­po, e não é suficientemente educativo, pode ter uma marionete em cada um dos diversos mundos. Assim, no mundo A, por exemplo, o pequeno Benjamim pode ser um gênio, e no mundo F, o pequeno Frederico, um retardado. Desta maneira, o Eu Superior pode ver os dois lados da moeda, ao mesmo tempo, adquirir experiência nos dois extremos da escala. O Eu Superior, realmente experiente pode ter nove diferentes marionetes, o que seria o mesmo que viver nove vidas expressando assim a evolução; mas, este assunto já foi tratado mais extensamente no capítulo dois.

Como afirmamos no início deste capítulo, a poesia, o verso ou um padrão rítmico definido é, freqüentemente, usado para fazer um assunto penetrar mais profundamente no subconsciente. Agora, teremos um exemplo do tipo de verso que os egípcios costumavam fazer. Infelizmente, perde muito do seu poder ao ser traduzido para o inglês. No original egípcio, as palavras ondulavam ritmicamente e alcançavam o propósito desejado, mas pense que se traduzirmos um trecho de poesia do inglês ou espanhol para, digamos, o alemão, os sons e o equilíbrio parecem errados, e o efeito já não é o mesmo. Na realidade, certos poemas nem podem ser traduzidos para outra língua e essa "Confissão a Maat" não pode ser tão boa quanto em egípcio.

Esta é uma confissão para ser dita na câmara de Maat, no Templo Egípcio da Iniciação. Está escrita no Livro dos Mortos e é, na realidade, uma invocação. Maat, se lembram, é uma palavra egípcia que significa "Verdade". Assim, a Câ­mara de Maat tornou-se a Câmara ou o Templo da Verdade.

Aqui, portanto, está a Confissão a Maat, que deverá ser repetida toda noite, antes de dormir. Se a repetirmos, como os Egípcios, seremos induzidos a uma vida mais pura. Experimente e verá!

 

A Confissão a Maat

Glória a Ti, ó Grande Deus, Dono de toda a Verdade, tDirijo-me a Ti, oh! Meu Deus, eis-me aqui para tornar-me consciente das Tuas Leis. Conheço-te a Ti e estou em harmonia contigo e com Tuas quarenta e duas Leis que existem Con­tigo nesta Câmara de Maat.

 

Na Verdade entro em Harmonia Contigo e trago Maat no pensamento e na Alma

Destruí a maldade por Ti.

Não fiz mal à Humanidade.

Não oprimi os membros da minha família.

Não forjei o mal no lugar do direito e da Verdade.

Não tive intimidade com homens sem valor.

Não exigi a primeira atenção.

Não decretei que trabalho excessivo fosse feito para mim,

Não apresentei meu nome para ser exaltado em honrarias.

Não defraudei os oprimidos pela Propriedade.

Não fiz nenhum homem passar fome.

Não fiz ninguém chorar.

Não fui causa da dor infligida a homem ou animal

Não defraudei o Templo das suas oblações.

Não diminuí o alqueire

Não roubei terras.

Não usurpei os campos de outrem.

Não aumentei os pesos para roubar o vendedor e não li mal o ponteiro da balança para enganar o comprador

Não neguei o leite às criancinhas.

Não prendi a água quando deveria fluir.

Não extingui o fogo quando ele deveria queimar.

Não repeli Deus na Sua Manifestação.

 

 

Afirmação

Eu sou Puro!! Eu sou Puro! Eu sou Puro Minha pureza é a pureza da Divindade do Templo Sagrado. PORTANTO, NÃO ME ADVIRÁ MAL NESTE MUNDO, PORQUE EU, MESMO EU, CONHEÇO AS LEIS DE DEUS QUE SÃO DEUS.

Como disse anteriormente, há ocasiões em que a prosa numa forma especial é usada para fazer penetrar no subcons­ciente uma certa mensagem. Aqui está uma oração que compus e que devem repetir três vezes, todas as manhãs:

Ao Meu Eu Superior Peço

Deixa-me, neste dia, vivendo minha vida dia a dia da maneira prescrita, controlando e dirigindo a minha imaginação.

Deixa-me, neste dia, e em todos os dias, manter minha imaginação e meus pensamentos firmemente dirigidos para a tarefa que deve ser cumprida, para que o sucesso daí advenha. Viverei sempre a minha vida dia a dia, controlando a imaginação e o pensamento.

Deveriam ter também uma oração, para dizer à noite, prês vezes antes de dormir. Temos aqui uma, especialmente composta (por mim), que transmitirá disciplina ao seu subconsciente à noite:

 

Uma Oração

Conserva-me livre dos maus pensamentos, conserva-me livre das trevas do desespero. No tempo de aflição, acende uma luz na escuridão que me encobre.

Que todo o meu pensamento seja bom e limpo. Que todas as minhas ações sejam para o bem do próximo. Que eu seja positivo nos meus pensamentos e que a minha mente seja com isso fortalecida.

Eu sou dono do meu destino.

Como penso hoje, assim serei amanhã. Que eu evite, então, todos os maus pensamentos. Que eu evite todos os pensamentos que causam aborrecimen­tos ao próximo. Que o meu espírito se erga dentro de mim para que eu possa desempenhar facilmente a missão que tenho à frente.

Eu sou dono do meu destino. Assim seja.

 

UM MUNDO QUE TODOS DEVEMOS VISITAR

A CHUVA Fina Caía Tamborilando e lavava de leve as telhas sujas de fuligem do velho mercado. Como as lágrimas das viú­vas recentes, caía do céu cinzento para tilintar nas latas de lixo como dedos musicais. Dançava ao suspiro suave do vento da tarde balouçando pelas estradas, batendo nas janelas e banhan­do a folhagem ressequida das árvores mirradas que ainda se erguiam, o tronco aprisionado pelas calçadas de cimento. A luz dos carros que passavam refletia na rua luzidia, os pneus sibilando na fina camada de água que empoçava devido à falta de escoamento. "Plim-plim-plim!" faziam as gotas de chuva, correndo alegres do velho telhado cinzento para a calha quebrada e indo cair nos degraus de pedra já gastos.

Os transeuntes apressavam-se, murmurando imprecações contra o tempo, virando as golas para cima e endireitando os guarda-chuvas. Os desprevenidos rapidamente improvisavam um abrigo com jornais desdobrados. Um gato cauteloso avançava muito junto às casas, pulando as poças, e sempre alerta para encontrar os lugares mais secos. Cansado do molhado, ou provavelmente tendo chegado à casa, deu um longo e cauteloso olhar em seu redor e esgueirou-se por uma janela parcialmente aberta.

Dobrando a esquina, vinha um vulto franzino e apres­sado numa capa de chuva escura e abrigado sob um pequeno guarda-chuva preto. Fazendo uma pausa momentânea sob um lampião, consultou um pedaço de papel apertado entre os dedos, Espreitando-o à luz fraca, conferiu outra vez o endereço e o número antes de prosseguir. Aqui e ali parava a sua cor­rida para esticar-se e ler os números das portas. Finalmente, com uma pequena exclamação, parou junto a uma casa de es­quina. Hesitante, contemplou-a, uma casa pequena, pobre, com a tinta da porta enrugada pelo sol. Os caixilhos das janelas rachados por falta de pintura; e o trabalho de pedra tinha visto dias melhores. Ainda assim — decidiu ela — era uma casa FELIZ.

Sem vacilar, subiu os três pequenos degraus de pedra e bateu timidamente. Logo, ouviu o som de passos no interior da casa e um ligeiro rangido da porta ao ser aberta.

—        Sra. Ryan? — perguntou a mulher no batente.

—        Sim, sou a sra. Ryan, em que posso servi-la? — res­pondeu a outra, e em seguida: — Não quer entrar para saú­da chuva?

Grata, a mulher fechou o guarda-chuva e entrou. En­quanto a sra. Ryan apanhava o seu casaco molhado, a mulher franzina observava em seu redor.

Via uma senhora idosa, magra, com uma fisionomia bran­da e mãos maltratadas pelo trabalho. Uma mulher que, como sua casa, tinha visto dias melhores, mas havia aprendido bem as duas lições da vida. A mobília era limpa, porém bastante gasta e o linóleo estava começando a puir. A mulher franzina voltou-se assustada e disse:

—        Oh, desculpe-me, estava distraída. Sou a sra. Harvey. A sra. Ellis falou-me da senhora. Preciso desesperada­mente de ajuda!

A sra. Ryan observou-a com gravidade e disse:

—        Acompanhe-me até a sala, sra. Harvey. Vamos ver qual é o seu problema. — Conduziu-a para uma sala pequena e arrumada, com frente para a rua. Indicando-lhe uma cadeira disse: — Não quer sentar-se?

Sentindo-se grata, a mulher franzina afundou-se na confortável cadeira.

—        É a respeito de Fred, — exclamou. — Ele morreu há cinco semanas e sinto imenso a sua falta!

Acorreram-lhe lembranças e ela chorou aflita de emoção. Remexendo na bolsa, tirou um lenço e enxugou de leve os olhos lacrimosos, sem nenhum resultado.

A sra. Ryan deu-lhe pancadinhas no ombro e disse:

—        Vamos, vamos, fique aí sentada e chore à vontade: vou fazer-lhe uma xícara de chá e logo se sentirá melhor. — Saindo rapidamente da sala, entrou na cozinha e ouviu-se o barulho de louça.

Tenho passado um mau pedaço! disse a sra. Har­vey, mais tarde, quando já estavam sentadas uma em frente à outra, a bandeja entre as duas.

Fred meu marido e eu, nos amávamos muito e há cinco semanas atrás morreu instantaneamente numa explo­são na fábrica. Foi horrível! E toda a noite tenho a forte impressão de que está querendo comunicar-se comigo, para me dizer alguma coisa.

Parou, torceu o lenço nervosamente, mordeu o lábio in­ferior, arrastou os pés no tapete gasto e prosseguiu: A sra. Ellis disse-me que a senhora talvez pudesse entrar em contato com Fred não sei o que cobra mas queria tanto saber notícias dele!

—        Meu bem disse a senhora idosa para a jovem e an­siosa viúva. Só podemos tentar e confiar em Deus. Às vezes consigo receber mensagens daqueles que deixaram esta vida,

tras vezes, não. Somente os Adeptos Superiores podem ser pre telepáticos e videntes. Se puder ajudá-la é porque esta a vontade de Deus; se não puder, também é a SUA vontade. Quanto ao meu preço acenou a mão abrangendo a sala não me parece que cobre demasiado e viva no luxo, parece? — Suspirou e acrescentou: Deviam construir uma máquina para que este mundo e o invisível pudessem comunicar-se como agora fazemos de um país para o outro. Mas a indústria não está interessada... fale-me do seu marido, tem algum objeto pessoal dele para que possa tentar estabelecer contato?

Muito, muito mais tarde uma sorridente e reconfortada sra. Harvey ergueu-se para sair e disse:

—        Sei agora que há médiuns e médiuns; alguns são per­feitos vigaristas e descobri isso à minha custa. Criam falsas esperanças sem terem nenhuma habilidade. A senhora a senhora é MUITO diferente. Muito obrigada, muito obrigada mesmo, sra. Ryan!

Ao fechar a porta, devagarinho, depois da partida da sra. Harvey, a magra e velha médiun murmurou: Senhor! Senhor! Se ao menos pudéssemos eliminar todos os charlatães e fazer uma pesquisa verdadeira, como seria fácil a comunicação.

Voltou para a sala e lentamente juntou as coisas do chá pensando numa sessão, que tinha uma vez assistido.

As lojas haviam fechado cedo, porque estávamos no meio da semana, quando os envelopes de pagamento ficavam vazios e as despesas quase despidas na antecipação da orgia de com­pras do dia seguinte. As lojas haviam fechado cedo e da grande cidade fluíam funcionários e contadores, datilógrafas e balconistas. Rios de gente transpunham as barreiras das estações do metrô e corriam como uma torrente caudalosa escadas abaixo varrendo os subterrâneos para parar, finalmente, numa massa compacta ao longo das plataformas. Dos túneis profundos vi­nha a repercussão do trepidar dos trens que se aproximavam e ao primeiro reflexo das suas luzes piscando na escuridão, uma onda de inquietação varria a multidão que esperava. Os mais fortes abriam caminho rudemente empurrando os fracos para os lados. Quando o trem diminuiu a marcha, parando na estação com um suspiro moribundo dos freios de ar, a mul­tidão rolou para a frente e foi engolida pelos vagões. Um ruído seco, quando as portas forradas de borracha se fecharam, e uma vibração surda dos compressores de ar bombeando pres­são para soltar os freios, e o trem deslizou, ganhando veloci­dade enquanto uma nova onda de gente, que deixava o traba­lho derramava-se pelo subterrâneo abaixo para esperar como carneiros na plataforma apenas esvaziada.

Finalmente a multidão acotovelante reduziu-se a um fio. Aos poucos os trens tornaram-se menos freqüentes, porque esta era a hora dos trabalhadores regressarem às suas casas. Mais tarde a afluência seria parcialmente invertida, quando os freqüentadores de teatros e os contempladores de vitrines regres­sassem para os prazeres da noite. As mulheres de vida fácil apareceriam para vagar pelos portais obscurecidos ou se exi­birem sob os lampiões. Os policiais rondariam as áreas comer­ciais, experimentando devagar as portas para ver se estavam trancadas, espreitando os carros estacionados, e mantendo-se discretamente alertas para o invulgar e o ilegal. Mas, não ago­ra, os trabalhadores tinham acabado de partir para casa.

Longe, nos subúrbios, as pessoas davam por finda a sua refeição noturna. Alguns vestiam-se para irem ao teatro, outros imaginavam como passar uma noite ociosa. Outros iam às Reu­niões...!

Rua abaixo, aos dois e três convergia um pequeno grupo para um casarão velho que se erguia um tanto afastado da rua, como uma pessoa idosa que procura manter-se a distância. Os arbustos que escondiam sua fachada não eram cuidados nem podados, lembrando um homem com os cabelos a lhe caírem pelo pescoço. Acima do pórtico, uma única lâmpada brilhava fracamente através da sujeira deixada pelas moscas e insetos. Momentaneamente, um rosto apareceu numa janela do andar superior e espreitou a estrada, avaliando o número de pessoas que se aproximavam e depois desapareceu no movimento de uma cortina puxada com rapidez.

Logo as pessoas aglomeravam-se à entrada, cumprimen­tando os amigos, examinando as caras novas com animosida­de. A porta abriu-se e uma mulher corpulenta, adornada de fieiras de pérolas falsas, apareceu. Lavando as mãos com água e sabão invisíveis, sorriu cheia de dentes para o grupo que a defrontava.

— Bem! Bem! — exclamou maliciosamente. — Os espí­ritos disseram-me que teríamos um número recorde esta noite. Se quiserem entrar... Afastou-se para o lado e as pessoas passaram uma a uma para o sombrio vestíbulo. — Deixem as suas oferendas de amor ali, — disse a mulher corpulenta apontando para uma enorme salva que estava num nicho. Uma nota segura por quatro meias coroas já descansava no fundo espaçoso, insinuando silenciosamente o valor da "oferenda de amor" esperada.

Sob os olhos vigilantes da mulher corpulenta a congregação remexeu nos bolsos e nas carteiras deixando cair suas oferendas na salva que se enchia com rapidez, — Isso mesmo! — dizia ela. — Não devemos deixar que os nossos Amigos Espíritos pensem que os seus esforços não são apreciados, não é? Quanto mais dermos, mais receberemos — acrescentou enfatuadamente.

O pequeno grupo de pessoas encaminhou-se para o salão, que tinha numa extremidade algo parecido com um palco. Cadeiras duras de madeira estavam colocadas em filas irregulares e foram rapidamente ocupadas pelas pessoas que empurravam os novatos nervosos para as filas do fundo.

A mulher corpulenta caminhou pesadamente para o palco e acomodou-se ao centro, brincando impaciente com seus braceletes. Outra, alta e magra, apareceu e sentou-se diante de um órgão parcialmente oculto e tocou os primeiros acordes de um hino.

—        Começaremos com alguns hinos para criar um ambien­te propício, disse a mulher corpulenta. Passaremos, então, aos assuntos. O órgão tocou por alguns minutos e as pes­soas cantaram até que a mulher corpulenta acenou a mão imperativamente e disse: Parem! Parem! Os espíritos estão à espera! As últimas notas do órgão morreram num gemido decrescente à medida que os foles se esvaziavam de ar. Seguiu-se um farfalhar e um rangido de mobília quando as pessoas se acomodaram e arrastaram os pés para ficarem à vontade. As lu­zes diminuíram, apagaram-se e foram substituídas por outras vermelhas que projetavam um brilho sobrenatural sobre todos.

Na plataforma, a mulher corpulenta espreitava e contorcia-se.

—        Oh! Rapazes! exclamou coquete. Esperem, es­perem, um de cada vez! Há muitos querendo falar esta noite, —- explicou para a assistência e estão muito impacientes. Muitos de vocês receberão mensagens, acrescentou.

Por algum tempo contorceu-se, dando risadinhas e co­çando a cabeça.

—        Agora! disse, finalmente. Eles já se divertiram. Aos assuntos. Olhando em seu redor, perguntou de súbito: Mary o nome é Mary. Alguém aqui com o nome de Mary perdeu um parente querido, recentemente?

Vacilante, uma mão ergueu-se.

—        Perdi meu padrasto há seis meses atrás, disse uma jovem nervosa. Ele estava sofrendo muito, estou certa de que foi um alívio quando partiu.

A mulher corpulenta aquiesceu e comentou: Bem, ele pede que lhe diga que está feliz agora e desculpa-se por todo o trabalho que lhe deu. A jovem nervosa concordou e cochichou com a companheira.

Smith! chamou a mulher corpulenta. Tenho uma mensagem para Smith. Pedem-me para dizer-lhe que não se preocupe, tudo vai dar certo. Compreende o que quero di­zer, não? Mal posso falar nisso numa reunião, mas você sabe do que se trata! Na frente, um rapaz assentiu.

Os rapazes estão em grande forma esta noite, disse a mulher corpulenta têm tantas mensagens para vocês. Sou apenas um telefone, sabem, transmitindo as mensagens dos entes queridos que partiram, mas ainda estão conosco em espí­rito! Esperem — esperem — o quê? Eles dizem que deveria pedir contribuições especiais para poder decorar esta sala, eles gostam de visitar lugares mal cuidados. Vocês ajudarão? Con­tribuirão para uma causa meritória? Miss Jones, quer passar a salva, por favor? Muito obrigada!

Em princípio, deixe-me afirmar que é bem possível, sob certas circunstâncias, receber mensagens daqueles que já parti­ram. No entanto, devo igualmente afirmar que as pessoas que deixaram este mundo têm uma tarefa a cumprir e não ficam sentados em grupos como um bando de meninos numa esquina à espera de uma oportunidade para falar. A maioria das men­sagens são falsas e procedem de elementais ou de médiuns sem autenticidade.

Primeiramente, vamos tratar de um ou dois maiores pe­rigos do ocultismo e da metafísica e tudo o mais que existe sob essa classificação. Naturalmente, não há nenhum perigo para a pessoa que pratique o ocultismo com intenções puras; o que tenho em mente é muito diferente.

Um dos maiores perigos que enfrentamos é aquele representado pelos excêntricos, doidos, mentalmente perturbados e os que julgam ser Cleópatra ou outra reencarnação seme­lhante. O número de Cleópatras poderia provavelmente povoar toda a cidade de Nova York e ainda haveria excedentes para o resto dos Estados Unidos.

É uma coisa lamentável que as pessoas emocionalmente instáveis convirjam para o ocultismo como as moscas para um vidro de geléia e quanto mais desequilibrados forem, maior é o perigo que representam para nós que estamos procurando fa­zer um bom trabalho.

Deixe-me esclarecer definitivamente: o ocultismo é uma coisa natural, nada tem de misterioso; é somente o emprego dos poderes que quase todos possuem, mas esqueceram como usar. Vamos colocar da seguinte maneira: temos uma pessoa normal, comum, que utilizaremos como padrão. Será o nosso indicador. Uma pessoa com o intelecto diminuído está abaixo do nosso padrão e um paciente de um hospital de doenças men­tais, ainda mais. Os subnormais — abaixo da média — não nos interessam. Em contrapartida, aqueles que possuem faculdades que não encontramos no nosso indicador estão acima do nor­mal, são para-normais, isto é, têm faculdades ocultas que não estão desenvolvidas numa pessoa média.

Um selvagem tem o sentido do olfato muito aguçado e também, freqüentemente, o da visão; percebe muito mais do que o chamado civilizado. Uma pessoa civilizada tem o mesmo potencial de visão e olfato, mas, dadas as suas condições de vida, isto constituiria uma desvantagem. Pensem numa vi­sita a alguns desses restaurantes: se o nosso olfato fosse excep­cionalmente apurado o mau cheiro nos faria cair para trás.

A pessoa com poderes ocultos não é um mágico ou qual­quer coisa no gênero, mas tão-somente alguém que desenvol­veu certos sentidos que todos possuem. Da mesma forma, todos temos músculos, mas um levantador de pesos desenvolveu os seus muito mais do que uma velhinha que esteja sentada numa cadeira o dia inteiro. Um homem que se ocupa de política de­senvolve muito mais as suas cordas vocais do que aquele que passa o dia em casa; ambos têm músculos, ambos têm cordas vocais, mas o grau de desenvolvimento desses órgãos é di­ferente.

Uma das leis mais importantes do ocultismo é aquela de que não devemos nos permitir o exibicionismo, não devemos utilizar os poderes ocultos no que possa parecer-se um número de circo.

Quantas vezes ouvimos uma senhora dizer: — Oh, conhe­ci hoje um homem maravilhoso que veio ter à minha porta, é espanhol e pela manhã vende cebolas, à tarde vende roupas de senhoras e à noite faz demonstrações de ocultismo. Ele é tão perfeitamente fantástico que pode equilibrar-se num dedo enquanto bebe uma xícara de chá de cabeça para baixo.

Ou quantas vezes ouvimos falar de algum pobre coitado, tão solitário, tão esquecido do mundo, que diz: — Ah, li um livro sobre ocultismo e agora vou me estabelecer como um grande professor e mestre. Assim, ele trabalha de dia, talvez solicitando de porta em porta, ou sendo subserviente a um patrão tirano, e à noite vai para o seu quarto de fundos, toma uns ares misteriosos, levanta e abaixa as sobrancelhas, fixa os olhos nas asas do nariz, emite suspiros e gemidos estranhos, talvez faça um ou dois truques de teatro, e diz que é capaz de viajar maravilhosamente no astral. Na realidade, ele provavelmente ceou demasiado, comeu queijo estragado ou outra coisa qualquer e teve um pesadelo. Bem, esse homenzinho é uma verdadeira praga, um verdadeiro perigo para o ocultismo e para ti mesmo. Digo-lhes que todos esses doidos que apresentam números em teatros e chamam a isso ocultismo terão de voltar a esta Terra repetidas vezes até que aprendam, e isto deveria ler uma ameaça suficientemente forte para fazê-los desistir.

Na Índia, há uma seita de homens chamados faquires. Fa­zem-se passar por homens santos, viajam por todo o país, nenhu­ma mulher atraente lhes escapa e fazem exibições e truques. Por mim, se quiser ver um show de magia, prefiro pagar en­trada para um bom teatro de variedades. Não quero ver um homenzinho sujo, acocorado no chão, tentando hipnotizar um grupo inteiro de pessoas, que isto nada prova de espiritual. Ao contrário, demonstra que a pessoa hão tem a mais elementar concepção de espiritualismo. O truque da corda indiana é uma simples questão de hipnotismo. Mas afirmo-lhes que os ver­dadeiros Mestres, que nunca se põem à prova para satisfazer caçadores de curiosidades, ociosos, podem, no entanto, realizá-lo utilizando seus poderes naturais, sem recorrerem ao hipno­tismo. Devo dizer-lhes, sinceramente, que eu e muitos outros já vimos levitação. A levitação é muito real e nada de misterio­sa. É uma questão de inverter as correntes magnéticas. Se vermos dois ímãs, de preferência em barra, e segurarmos um em cada mão, quando os aproximamos, juntam-se com um ruído alto e metálico e, com freqüência, até prendem um pe­daço de pele entre eles. Mas se invertermos a direção de apenas um — virando para o sul a extremidade que apontava para o norte — e tentarmos aproximar outra vez os dois ímãs, des­cobriremos que desenvolvem uma tremenda força de repulsão, não há mais atração magnética entre eles.

Outra: experimente ligar uma bobina a uma bateria ou à força; coloque diante dela Uma barra de ferro e deslize sobre esta um anel de alumínio. Se a corrente for ligada, o anel aparentemente desafiará a gravidade, flutuando no ar. Se duvidar da verdade desta afirmação, bem, deverá consultar alguma revista científica ou escrever aos Estados Unidos pedindo um estojo de demonstração. Mas voltemos às nossas discussões sérias.

A levitação é um método de alterar a nossa própria atra­ção magnética para nos tornarmos mais leves. Há mais ou menos sessenta anos, havia na Inglaterra um rapaz chamado Home, que fez uma demonstração real de levitação numa casa de campo inglesa. Alguns dos principais cientistas do mundo presenciaram-na, mas não fizeram um relatório imparcial por­que contradizia as leis formuladas por eles próprios. No Tibete, na China antes que os comunistas a tumultuassem e no Japão antes de ser tumultuado pelos soldados americanos — fazia-se muita levitação e coisas semelhantes, não como um número de circo, mas com o intuito científico de desenvolver o Kundalini em alunos sinceros e autênticos.

Vamos, então, ser ocultistas verdadeiros e suspeitar muito seriamente de alguém que se ofereça para fazer uma demonstração de equilíbrio sobre um dedo ou qualquer dessas malu­quices estúpidas com que uma pessoa insegura e sem poderes ocultos tenta enganar os incautos. O verdadeiro ocultista nunca dá provas das suas faculdades, a não ser que haja uma razão excepcionalmente forte para isso.

Eu incluiria nisso pessoas como Diná Molha-seca, a vi­dente de meia-tigela. Essa infeliz passa o dia todo esfregando assoalhos, carregando um balde e um esfregão. Quando termina, arrasta-se para casa (há sempre uma greve de ônibus) e se arruma de maneira mais exótica.

Veste qualquer coisa colorida, amarra uma espécie de lenço berrante em torno da cabeça, que ela imagina se pareça um turbante. Enfraquece as luzes do quarto para que os clientes não vejam a sujeira e está pronta para começar os negócios. As vezes, consegue obter em algum lugar uma bola de cristal, que guarda em lugar de evidência, exposto, à luz do Sol, para que todos vejam e pensem quão maravilhosa é a sua proprietária quando não está limpando o chão. Bem, não há nada que arruine mais completamente um cristal do que expô-lo à luz solar; ela destrói o seu poder odonético.

Diná Molha-seca conseguiu atrair um cliente para o seu "consultório". Geralmente, senta-se diante dele, olha-o de alto a baixo e o põe para falar. Muitas pessoas gostam tanto de ouvir a própria voz, que contam tudo e um pouquinho mais. De modo que Diná Molha-seca só tem que olhar para o cristal, nada mais vendo que o seu próprio reflexo, e repetir em tom sombrio algumas das coisas que o cliente contou. E, assim, consegue uma reputação de grande vidente. O cliente, em geral, não se lembra de lhe haver dito nada e separa-se do seu dinhei­ro sem uma queixa! Diná Molha-seca não pode ser vidente se o faz por dinheiro, porque perderia seus poderes, se é que tivesse algum, para começar.

Nenhum vidente normal o é todo tempo, vinte e quatro horas por dia. Uma pessoa pode ser altamente vidente na hora mais indesejável e não o ser quando precise; e, se faz isso por dinheiro, não pode dizer:

Oh, esse é um dos meus dias negativos, não me sinto apta a dizer-lhe a verdade hoje.

Então, gente como Diná Molha-seca, que faz disso profis­são, quando não consegue ver nada no cristal — o que acontece sempre — tem de inventar.

Já lhes deve ter acontecido não se sentirem em perfeita forma. Talvez digam: "— Não sei o que há comigo hoje, não consigo me concentrar". Acontece o mesmo na vidência, em­bora nela a pessoa não se concentre e faça justamente o oposto. Se estiver tensa, ou muito excitada, não conseguindo relaxar, sua faculdade de vidência diminui momentaneamente. A se­gunda regra é para o bem da sua carreira: nunca pague nada a uma cartomante ou outra profissional para que leia sua sina numa bola de cristal, porque tais pessoas não podem fazê-lo por dinheiro e se o experimentam numa base comercial terão de inventar de vez em quando; e quanto mais inventam mais depressa perdem sua faculdade de vidência, se é que a possuíam.

Outra coisa que devo esclarecer: ninguém pôde controlar o astral alheio. Às vezes, uma mulher idiota, cacarejando como uma galinha que botasse um ovo particularmente grande, diz: "— Oh, tenho poderes sobre você, encontrei-o no astral à noite passada e agora posso controlá-lo". Se algum dia estiverem com uma pessoa deste tipo, a melhor coisa a fazer é chamar aqueles assistentes de bata branca que levam os loucos para celas acolchoadas.

 

Ninguém pode ser lesado ou controlado por outro quando está no astral. A única coisa que se deve temer é ter medo. O medo é como um ácido corrosivo no mecanismo de um relógio. O medo corrói e corrompe. Enquanto não tiverem medo, nenhum mal pode lhes advir. De modo que, se algum doido diz ser capaz de controlá-lo, é melhor mandar um psiquiatra exa­miná-lo ou chamar a polícia. Aliás, já era tempo de que ela fizesse alguma coisa!

Não é possível, exceto sob certas condições e circunstân­cias, hipnotizar uma pessoa contra sua vontade. Naturalmente, aqueles que foram treinados no Tibete, e unicamente no Templo dos Mistérios Interiores, poderiam fazer tal coisa se quisessem e tivessem uma boa razão; porque todos eles foram hipnotica­mente condicionados a nunca prejudicarem ninguém, somente ajudarem, e mesmo assim, apenas em circunstâncias excep­cionais.

Se alguém começar a encará-lo e a tentar hipnotizá-lo, encare-o de volta, na ponta do nariz, entre os olhos e se ele não souber o suficiente, será hipnotizado ao invés de você. Não tem nada a temer, exceto o medo. Ocultismo é uma coisa tão comum como respirar, levantar um livro ou dar um passo. Você pode caminhar em segurança a não ser que seja desajeitado ou descuidado e então, talvez, escorregue numa casca de banana. Bem, isto será sua culpa e não de caminhar. O ocultis­mo é mais seguro do que caminhar porque nele não existem cascas de banana. A única coisa que deve temer, repito, é o medo.

Naturalmente, é muito difícil tentar ponderar com as pes­soas, é bem difícil explicar uma coisa, porque há uma lei de­finida que num conflito entre a emoção e a razão, a emoção sempre vence, não importando o tamanho do intelecto, nem o tamanho do poder de raciocínio. Se uma pessoa fica realmente exaltada e enraivecida, a emoção suplanta a razão.

Uma pessoa mora num grande edifício de apartamentos de nove andares. Esses edifícios têm uma frágil grade de ferro na beira das varandas; um forte empurrão as desmantelaria, mas a emoção nos diz que estamos a salvo pelo fato dela existir e não experimentamos nenhum medo. Mas suponhamos que fosse removida; então, teríamos um medo enorme de cair, mesmo se ficássemos precisamente na mesma posição em que estávamos quando havia uma grade.

Devemos, então, ter sempre em mente que, numa batalha entre a emoção e a razão, a emoção sempre vence, e, por isso, não nos devemos exaltar indevidamente e sim tentar chegar um passo mais próximo do Nirvana, que é o controle da emoção para que não impeça o funcionamento da razão.

Devemos nos convencer de que alguns desses pobres de espírito que leram um livro ou apenas viram-lhe o título não são necessariamente os melhores professores. A única pessoa que está qualificada para ensinar alguma coisa sobre o ocultismo é obviamente aquela que conheça o assunto, que tenha sido treinada numa instituição conceituada. Eu, por exemplo, posso e tenho apresentado provas de que cursei e tenho um diploma de médico da Universidade de Chunking e meus documentos me descrevem como um Lama do Mosteiro da Potala, em Lhasa.

Naturalmente, não se apresentam tais papéis a curiosos ou para resolver apostas como já me tem acontecido com freqüência! Os editores constataram sua veracidade e atestam-no no prefácio de um ou mais dos meus livros.

Alguém não iria a um médico charlatão que lhe desse uma cacetada na cabeça para que ficasse inconsciente e insensível à dor; iria a um médico licenciado. Da mesma forma, não deveria ir a um impostor que, de conhecimento real de ocultismo, só tenha ruídos imaginários na cabeça. Como sabem, muito freqüentemente, esses ruídos podem ser um sintoma de dese­quilíbrio mental. Vocês deveriam escolher o seu ocultista com o mesmo cuidado que escolhem o seu médico.

Quando uma pessoa deixa esta Terra, pode estar tão adian­tada que segue para planos superiores. Neste caso, só um mé­dium com poderes excepcionais pode constatá-la porque, pelos conceitos físicos normais, os que morrem foram para um fuso horário diferente e seria o mesmo que tentar telefonar da Inglaterra para a Austrália; a não ser que saiba qual o fuso horário do seu amigo, não conseguirá ligação ou talvez o chame no meio da noite. Mas no caso do nosso médium, estamos tentando entrar em contato com alguém que já se projetou alguns milhares de anos-luz no futuro! Na maioria das vezes, um médium pouco experiente será iludido por esses plausíveis conhecidos como elementais. Talvez devêssemos discuti-los para compreender melhor o assunto.

As pessoas têm idéias incríveis sobre essa ordem de entes que chamamos de elementais. Freqüentemente confundem-nos com a alma de seres humanos, mas não são nada parecidos. Imitam os humanos da mesma maneira que os macacos; um médium comum, que não seja capaz de ver o astral, será enganado por elementais simulando seres humanos.

Os elementais não são espíritos do mal tampouco, são apenas formas de pensamento geradas pela constante repetição. Por exemplo, se uma pessoa se embriaga amiúde, terá pensamentos confusos, perderá o controle sobre sua energia exce­dente, desequilibrar-se-á e talvez evoque fantasias de elefan­tes cor-de-rosa, lagartos pintados ou coisa semelhante. Isso são elementais.

Como já dissemos, cada ciclo da evolução é constituído por aqueles que o deixam e iniciam um outro. Assim, temos praticamente uma onda viva de almas, cada uma dando sua contribuição à evolução e imprimindo um padrão próprio, da maneira que um homem de Oxford empresta à civilização um cunho diferente do homem de Yale ou de Borstal. À medida que essa onda viva avança, sua lembrança permanece como uma força estática, e como são muitas as pessoas envolvidas, a força se transforma numa criatura sólida.

Essas criaturas assim formadas pela sucessivas ondas ou ciclos da evolução são sólidas, mas falta-lhes o "sopro divino", falta-lhes a inteligência; assim, apenas imitam ou reproduzem aquilo que penetra sua percepção. Se você insistir muito, poderá ensinar um papagaio a dizer algumas palavras, que ele não entende mas repete como um padrão de som. Da mesma forma, os elementáis repetem um padrão cibernético.

Para aqueles que estão realmente interessados no assunto, os elementais estão divididos em muitos grupos diferentes, da mesma maneira que entre os homens há pessoas pretas, pardas, amarelas, brancas etc. Entre os elementais há quatro grandes tipos principais ligados ao plano astral da Terra donde nos advêm algumas das '"qualidades" em Astrologia. Um astrólo­go conhecerá os Espíritos do Ar, do Fogo, da Água e da Terra, que são os quatro tipos de elementáis mais importantes.

Os feiticeiros ou os alquimistas referem-se aos mesmos como gnomos primeiro grupo, silfos segundo grupo, salamandras terceiro grupo e ondinas quarto grupo.

Se quiser estender-se além dos astrólogos e dos feiticeiros para o nível dos químicos, pode dizer que o grupo da Terra representa um sólido no qual todas as moléculas aderem. Depois do sólido, teremos o líquido (água), no qual as moléculas se movem livremente. O próximo da nossa lista é o ar, que também inclui os gases de vários tipos e nele as moléculas se repelem. Finalmente, nos nossos correspondentes químicos, há o fogo, no qual as moléculas mudam ou transmutam-se em alguma outra substância.

O termo elemental é quase sempre reservado àqueles entes que pertencem a um dos grupos mencionados, mas há outros tais como os Espíritos da Natureza, que controlam o crescimento das árvores e das plantas e ajudam na transmutação dos compostos orgânicos para que aquelas sejam fortalecidas e fer­tilizadas. Cada um desses grupos tem uma alma Chefe, ou se preferirem, uma Sobrealma conhecida pelo nome de Manu. A tribo humana tem um Manu, cada país tem um Manu, os espíritos da natureza têm um Manu, existe um Manu que controla e supervisiona o trabalho dos espíritos das árvores, assim como existe um Manu que controla os espíritos das ro­chas. No Egito, há muitos séculos atrás, sacerdotes superior­mente treinados eram capazes de entrar em contato com esses: Manus. Por exemplo, Bubastes — o Deus Gato — era o Manu dos gatos.

Assim como é necessário haver um negativo para que haja um positivo, têm de existir bons espíritos para que existam os maus ou demônios. Eles são maus para nós, mas em outro plano da existência, podem ser bons. Se você tiver alguma incli­nação para a eletricidade, esta explicação deverá agradá-lo; suponha que tem uma bateria de carro de doze volts; numa ex­tremidade está o pólo positivo e na outra o negativo. Mas suponha agora que ligasse uma outra bateria de seis ou doze volts em série com a primeira: então, o negativo desta seria igual ao positivo da segunda, e o negativo da segunda seria mais negativo que o da primeira. Resumindo, tudo é relativo e comparado entre si. Assim, o mal no nosso mundo seria um bem num mundo pior e o bem no nosso mundo não seria tão bom num mundo superior.

Afirmei que a humanidade vem experimentando diferen­tes ondas de evolução. Bem, isto é realmente assim. Por exem­plo, existiu uma raça lemuriana que agia principalmente por instintos e paixões e, evoluindo, chegou às emoções superiores. A esta, seguiu-se a raça atlântida que, tendo começado com as emoções superiores desenvolveu uma mente racional. A raça ariana foi a próxima; partindo de uma mente funcio­nal, eventualmente evoluirá para uma mente abstrata. Depois da ariana, virá a sexta raça que começando com uma mente abstrata desenvolverá uma percepção espiritual. A sétima raça partirá de uma percepção espiritual para atingir uma consciên­cia cósmica.

Aos que estiverem interessados na teoria do afastamento dos continentes; isto é, que no princípio o mundo apresentava um só continente que se desmembrou devido à rotação centrífuga, existe agora considerável evidência de que aquilo que se conhecia como Pangea separou-se, primeiramente, em dois supercontinentes — Laurasia ao norte e Gondwanalana ao sul, que, por sua vez, repartiram-se em terras e continentes. En­tretanto, isto está nos desviando do tema original.

Um médium é uma pessoa que, através de uma diferença na estrutura cerebral, é capaz de receber mensagens de um outro plano da existência, da mesma maneira que um rádio recebe aquilo que o ouvido humano não pode captar sem auxílio.    Um médium geralmente entra numa espécie de transe, leve ou pesado, dependendo dele próprio, e, durante o transe, sua consciência é suprimida para que outra entidade opere os controles e dê expressão oral a certos pensamentos.

A maioria dos médiuns tem um espírito controlador, um daqueles mantidos no Astral Inferior para um fim específico. O espírito controlador ou Guia, como muitos chamam, age como um policial e impede — em alguns casos — que um elemental pernicioso possa prejudicar o médium.

O Eu Superior do médium parte a fim de deixar o Guia livre, mas esse, sentado numa cadeira ou deitado num sofá, não se aperceberá de nada. Se você vir um médium olhando em seu redor, tomando muito interesse do que se passa, pode estar razoavelmente certo de que não é autêntico. Um médium deveria afastar completamente sua personalidade e funcionar apenas como um telefone. Afinal, se você vai receber uma men­sagem do além, não quererá a interpretação do médium, mas sim uma declaração clara e imparcial, e a única maneira de obtê-la é deixar o espírito que se comunica agir sem a inter­ferência do médium.

Deve-se lembrar ainda que, quando alguém entra em con­tato com o que poderíamos chamar os espíritos dos que parti­ram para que contem suas experiências, ouvimos apenas a narrativa dos seus sonhos no outro mundo, porque as almas real­mente evoluídas estão numa dimensão que é impossível ao médium comum alcançar. Somente quando temos um verda­deiro Mestre podemos nos projetar no tempo e enviar mensa­gens de uma alma que partiu para muito longe, e, por isso, é tão difícil obter declarações de real valor dos que tenham fa­lecido.

Vamos nos aprofundar na questão do médium comum. Digamos que uma mulher tenha alguns dons mediúnicos e possa comunicar-se com pessoas falecidas, mas lembremo-nos de que os que acabaram de falecer ainda estão no Astral Inferior, no que poderíamos chamar de purgatório, estão num estágio in­termediário, numa sala de espera, aguardando instruções sobre o que fazer e para onde ir.

Consideremo-los pacientes de um hospital, porque é certo que muitas dessas pessoas terão de se submeter a uma terapia espiritual para superar os choques de sua experiência terrena. Então, digamos que estamos em contato com alguém que está num hospital; o paciente está de cama e o seu conhecimento do ambiente limita-se à pequena área visível da sua cama; ele não pode ver o que se passa no hospital, e o único cenário é, provavelmente, aquele que descortina da sua janela.

Suponhamos que receba uma comunicação de um dos guias ou de outro espírito cuja missão seja auxiliar os que estão à morte ou já faleceram. Sua narrativa seria semelhante ao relatório de uma enfermeirinha inexperiente ou de uma servente no hospital e, mesmo que pudesse assistir a uma reunião da Junta Hospitalar, não teria uma noção global do que está ocorrendo; só poderá avaliar se sair do hospital e percorrer toda a cidade.

Quando se deixa este mundo que chamamos Terra, vai se para o Astral Inferior, que a Bíblia denomina de purgatório, e que pode, como afirmamos, ser considerado um hospital para as almas doentes, onde convalescem dos choques que suportaram e sustentaram nesta Terra tão imperfeita.

Infelizmente, seria mais exato comparar o Astral Inferior a um sanatório, no qual os pacientes são recebidos e seus casos estudados, como um psiquatra às vezes discute as coisas com um cliente, de modo que o próprio conclua quanto aos seus defeitos e males; assim, no Astral Inferior a alma recém-chegada vê seus erros na Terra e o que deve fazer para expiá-los. Então, por um curto período, descansa, recupera-se (talvez pas­seie por parques agradáveis) e recebe a meditação e o trata­mento de que necessita para prosseguir na próxima fase da existência.

Vocês gostarão de saber que as pessoas do mundo astral são absolutamente sólidas umas para as outras. Neste mundo, podemos ir de encontro a uma parede, mas um fantasma a atra­vessaria; entretanto, no astral e em outros planos as paredes são bastante sólidas para os seus ocupantes.

Disso tudo, podemos depreender que se alguém fizer um alvoroço indo de um médium para outro, de uma sessão para outra, tentando entrar em contato com alguém que morreu, estará causando um mal enorme àquela pessoa. Pense assim: um ente querido ficou doente e foi levado para um sanatório ou outro tipo de hospital; se ficar chamando e perturbando' aquela pessoa, estará impedindo seu progresso. Os médicos não poderão obter a atenção completa do paciente porque você estará se intrometendo no assunto, atrasando o tratamento e causando considerável aflição.

Quando você tenta entrar em contato com uma entidade que já passou do Astral Inferior, está interferindo com alguém que se esforça para desempenhar uma certa tarefa. As pes­soas que deixaram este mundo não estão sentadas nas nuvens, dedilhando harpas e cantando hinos, têm mais trabalho a fazer do que quando na Terra! E, se são submetidas a contínuas distrações, não podem adiantá-la.

Suponha que chame um administrador muito ocupado, ou um cientista, ou um cirurgião que esteja fazendo uma operação difícil; suponha que fique puxando a barra do seu avental; você o distrairá e ele não poderá dar atenção ao seu trabalho.

Os médiuns não deveriam nunca, nunca tentar entrar em contato com os que já partiram a não ser sob condições muito especiais e com a devida precaução. Felizmente, há uma auto-proteção: muitos médiuns de valor, que acreditam totalmente na própria sinceridade, apenas contatam elementais, que se di­vertem imenso com isso! Isto é ótimo se você sabe que está contatando elementais; mas, se sabe, para que brincar com um bando de macacos desmiolados?

 

FIM DE UM CAPÍTULO

O Cão Ganiu Desconsoladamente, as orelhas pendiam acentuando seu ar pesaroso. Ganiu e ganiu mais uma vez, a cauda caída entre as pernas. Um súbito arrepio de apreensão contraiu-lhe o corpo, fazendo-o emitir lugubremente um latido feurto e agudo. As folhas das árvores farfalharam como em solidariedade, enquanto o cão encolhia-se à porta. Por um momento, tornou-se alerta, vibrante de energia suprimida ao ouvir um som distante, e deixou-se cair desapontado no seu infortúnio. Num impulso, ergueu-se e arranhou a porta, rasgando grandes sulcos na madeira. Inclinando a cabeça para trás deixou escapar uivos como os de um lobo.

Passos macios e acolchoados soaram no canto da casa e uma voz envelhecida disse:

— Bruno, Bruno! Fique quieto, sim? Você não pode entrar, o patrão está muito doente. — E pensando melhor, acres­centou: — Aqui, venha comigo, vou amarrá-lo na estufa onde você ficará fora do caminho. — O velho jardineiro remexeu os bolsos e puxou uma correia. Passando uma extremidade pela coleira do cão, conduziu-o a um grupo de árvores, distante. Desanimado, o cão seguiu-o, cabeça baixa, ganindo.

— Que é que há, George? — perguntou uma voz fe­minina duma janela da cozinha.

— Ah! O cão sabe o que se passa, é isto que há! — retrucou George sem parar para dizer mais. A mulher voltou-se para uma companheira invisível e murmurou: — Bem, nunca pensei, isto mostra que os animais irracionais sabem o que se passa, é o que eu digo. — Fungando, deu as costas para a janela e continuou o seu trabalho.

No casarão velho tudo estava silencioso. Não havia ba­rulho de prato nem sons de faina caseira. Silêncio. Quase o silêncio de um túmulo. Como uma explosão, um telefone es­condido tocou, e tocou outra vez antes que alguém o apanhasse depressa. O chocalhar distante de uma voz e a resposta em tom grave e masculino:

—        Não, senhor, temo que não. Não há esperança. O médico está com ele agora. — Uma pausa, enquanto o choca­lhar soava outra vez, e a resposta: — Sim, senhor, transmiti­rei a ela a sua solidariedade, na primeira ocasião disponível. Até logo!

Duma porta distante veio um retinir suave, curto e compreensivo. O ruído de passos apressados e o ínfimo murmúrio de uma porta que se abria.

—        Ah, sim, padre! — disse uma voz feminina e idosa.

—        Estão à sua espera, eu o conduzirei ao andar de cima. Silenciosamente, a velha governanta e o padre passaram pelos corredores atapetados e subiram a escadaria larga. Uma suave batida na porta do quarto, e uma palavra sussurrada ao padre. A porta abriu-se em silêncio e apareceu uma jovem senhora que saiu e fechou a porta atrás de si.

—        Ele está-se extinguindo depressa — disse ela ao padre — e pediu para falar a sós com o senhor. O médico sairá quando o senhor entrar. Quer vir comigo? — Voltando-se, conduziu-o ao quarto.

O quarto era muito grande, na realidade, uma relíquia dos tempos antigos. As cortinas pesadas estavam corridas nas altas janelas vedando o som e a luz. Velhas pinturas adorna­vam as paredes, retratos de ancestrais quase esquecidos. Ao lado da enorme cama antiga a copa verde de um abajur pro­jetava uma luz incerta no quarto sombrio. Um vulto pequeno e encolhido jazia imóvel na larga cama de casal. Um homem com a pele semelhante a um pergaminho desbotado, engelhado e débil. Ao lado da cama estava sentado o médico, que se ergueu para cumprimentar o padre.

— Ele queria muito vê-lo, —         disse aquele. — Sairei e esperarei do lado de fora. Ele está muito fraco, chame-me, se precisar. Inclinando a cabeça em assentimento, contornou a cama e acompanhou a jovem senhora que saía.

Por um momento, o padre olhou em redor, colocou uma pequena caixa na mesa de cabeceira para poder tirar determinados objetos rituais. Ah! Não preciso DISSO! sussur­rou uma voz seca como a poeira. Antes, venha falar comigo, padre.

O padre contornou a cama, inclinou-se e segurou as mãos do velho moribundo. Sua alma está preparada, meu filho? perguntou.

—        Era sobre isso que queria falar-lhe — arquejou o ancião. O que irá me acontecer, o que verei no Outro Lado? Há uma vida depois desta?

Mansamente o padre falou, contando somente aquilo que a sua religião permitia, ou conhecia. A respiração do sofredor tornou-se mais curta e mais fraca. Rapidamente, o padre correu para a porta e fez sinal para o médico.

—        Devo administrar os Últimos Sacramentos? mur­murou.

O médico dirigiu-se para a cama e levantou um braço inerte. Não sentindo o pulso, colocou o estetoscópio e aus­cultou o coração do doente. Sacudiu a cabeça tristemente, co­briu-lhe o rosto com o lençol e murmurou:

—        Às vezes me pergunto, padre, o que será o outro lado da vida?

Por razões próprias, as religiões ocidentais são reticentes sobre a morte, mas, afinal, a morte é um assunto muito sério para todos nós, da mesma maneira que é o nascimento; e parece-me que a morte devesse, logicamente, seguir-se ao capí­tulo dos médiuns porque, se ninguém morresse, os médiuns não poderiam tentar entrar em contato com os mortos. De modo que vamos discutir a morte porque, não importa quem sejamos, é uma coisa que acontece a todos, da mesma forma que o nascimento. Mas sabem que a morte é, na realidade, nascimento? Vejamos como isso se passa.

Um bebê dentro da mãe morre para aquela vida interior quente e confortável e relutantemente emerge num mundo ex­terior frio e duro. As dores do nascimento são as dores da morte, morte de um estado, nascimento de outro. Uma pessoa morre na Terra e as dores da morte são as dores do nascimento num diferente estado da existência. Na maioria das vezes a morte em si é um processo bastante indolor. Na rea­lidade, à medida que a morte se aproxima, a natureza, por meio de diversas mudanças metabólicas, introduz uma espécie de anestesia no sistema do corpo, que embota as percepções enquanto permite aos reflexos fazerem certos movimentos que as pessoas pensam serem as dores da morte. As pessoas nor­malmente associam a dor à morte, porque, na maioria dos casos, os que estão gravemente enfermos morrem em dores, mas essa dor, lembrem-se, não é a dor da morte, mas da própria doença. Talvez exista um câncer, alguma coisa que esteja afetando os órgãos do corpo, atingindo as extremidades dos nervos ou devorando-os. Mas lembremo-nos de que a dor é da doença, do mal, não da morte em si.

A Morte, o verdadeiro estado de transição entre este mundo e o próximo, a separação deste corpo físico, é um pro­cesso indolor por causa das propriedades anestésicas que advêm à maioria dos corpos naquele momento. Alguns de nós sabem o que é morrer, lembrar-se de tudo e voltar ainda lem­brando. No processo da morte temos um corpo que está so­frendo, funções que se extinguem. Mas lembrem-se disto: ao se extinguirem as funções a faculdade de perceber ou compreender os impulsos dolorosos também se extingue. Sabemos que algumas pessoas às vezes dão uma impressão de dor quan­do morrem, mas isto é também uma ilusão.

O corpo que morre é geralmente um corpo que alcançou o fim das suas forças (exceto em caso de acidente), não pode continuar, seu mecanismo está falho, os processos metabólicos já não têm habilidade para renovarem os órgãos deficientes. Eventualmente, o coração pára, a respiração cessa. Clinica­mente a pessoa está morta quando a respiração não condensa num espelho seguro diante dos seus lábios; clinicamente, e legalmente, uma pessoa está morta quando não há mais pulso ou batidas do coração.

As pessoas, entretanto, não morrem num instante. De­pois de o coração cessar de bater e de os pulmões pararem de bombear, o cérebro é o próximo a morrer. Ele não pode viver sem o precioso suprimento de oxigênio, mas mesmo o cérebro não morre instantaneamente, leva minutos. Tem ocorrido casos absolutamente autênticos, de pessoas decapitadas, em que a cabeça separada do corpo foi erguida para inspeção pública. Os lábios continuaram a mover-se e uma pessoa familiarizada com a leitura labial poderia distinguir as palavras que eram formadas. Obviamente, só quem saiba ler lábios pode interpre­tar o que está sendo dito, porque não é possível haver discurso quando o pescoço foi cortado e terminou o suprimento de ar dos pulmões. E é o ar passando pelas cordas vocais que pro­duz o som.

Depois que o cérebro morre, depois que o cérebro já não é capaz de funcionar por falta de oxigênio, o resto do corpo morre lentamente. Diversos órgãos morrem em pouco mais de um dia. No fim de três dias o corpo é apenas um pedaço de protoplasma em decomposição, mas o corpo não importa e sim a alma imortal. Mas voltemos ao instante da morte clínica.

Neste caso, o corpo está deitado numa cama. A respira­ção parou. Um vidente que esteja presente poderá ver uma nuvem como uma fraca névoa formar-se acima do corpo. Flui do corpo, geralmente do umbigo, se bem que existam diferen­tes saídas para o Cordão de Prata.

Gradualmente, esta nuvem aglutina-se, adensa-se, suas moléculas tornam-se menos dispersas. Um contorno assemelha-se cada vez mais ao do corpo. Eventualmente, mais órgãos falham, a nuvem cresce e torna-se mais densa, tomando final­mente a forma exata do corpo sobre o qual flutua.

O Cordão, que chamamos de Prata, liga o corpo físico ao corpo astral, e a nuvem é na realidade o corpo astral. Gradualmente o cordão afina até que a ponta murcha, desaparece e parte-se. Só então o corpo está realmente morto, só então a pessoa verdadeira voou realmente para outra vida, para outro estágio da evolução. Uma vez que o vulto enevoado tenha partido, não importa o que aconteça ao seu invólucro de car­ne, pode ser cremado ou enterrado, é indiferente.

Talvez fosse oportuno nos desviarmos um momento para um esclarecimento que se faz necessário, porque muita gente torna a continuação da vida realmente difícil para alguém recém-morto! Quando uma pessoa morre não deve ser tocada por dois ou três dias, se possível. É positivamente danoso instalar o corpo num caixão, levá-lo para uma capela e rodeá-lo de uma porção de gente bem intencionada a murmurar toda a espécie de tributos maravilhosos que na maioria das vezes não sente.

Até que o Cordão de Prata seja cortado e que o cálice de ouro se parta, a forma astral flutuante pode assimilar os comentários que fazem sobre o seu falecimento. E, ainda, se um corpo for cremado antes de três dias, freqüentemente causa uma dor intensa no vulto astral; curiosamente, ele não sente o calor do fogo, mas um frio intenso. Assim, se você dá valor àqueles que partem — e se faz como gostaria que lhe fosse feito — sempre que possível assegurará que o morto tenha três dias completos para apartar-se e dissociar-se completa­mente do seu corpo físico.

Mas prossigamos para o estágio em que o espírito ou forma astral deixa o corpo; o espírito partiu, encontrará outros espíritos e, naturalmente, entre si, achar-se-ão tão sólidos quanto duas pessoas na Terra. Se vemos um "chamado" fantasma transparente ou semitransparente é porque está numa vibração mais alta que o ser humano; mas — não estou brin­cando com isto — dois fantasmas são tão sólidos um para o outro como dois seres humanos entre si.

Uma pessoa de uma dimensão diferente pode provavel­mente pensar que os seres humanos de carne e osso sejam fan­tasmas, porque, pense no seguinte: um objeto bidimensional projeta uma sombra unidimensional, um objeto tridimensio­nal projeta uma sombra bidimensional, mas um objeto quadridimensional (outra vez a quarta dimensão) projeta uma sombra tridimensional, e como saber se não somos apenas sombras semitransparentes para uma pessoa quadridimensional?

O espírito, então, deixou o corpo e prosseguiu; se é evo­luído e se está consciente da vida depois da morte, pode ser auxiliado na jornada para a Casa das Recordações onde são revistos todos os incidentes da vida passada e os erros são constatados e apreciados. Isto é, de acordo com algumas re­ligiões, o Dia do Juízo, ou a Casa do Juízo, mas, de acordo com a nossa, o homem é juiz de si próprio, e não há juiz mais severo do que um homem a julgar-se.

Infelizmente, acontece com freqüência que morra alguém que não creia na vida depois da morte. Neste caso, vaga por algum tempo numa espécie de escuridão, num fantástico ne­voeiro denso e negro. Vaga sentindo-se cada vez mais depri­mido até se aperceber de que afinal existe sob alguma forma; então, talvez algum ensinamento antigo venha em seu auxílio, quer tenha freqüentado a escola dominical, seja cristão, ou muçulmano, não importa, desde que tenha tido algum preparo básico, desde que tenha alguma idéia preconcebida das coisas, pode ser auxiliado.

Suponhamos que alguém tivesse sido criado em algum ramo de fé cristã, poderia pensar no Céu, nos anjos e em coisas deste teor, mas naturalmente se foi criado em alguma parte do Oriente terá uma idéia diferente de céu, no qual todos os prazeres da carne que não pôde satisfazer quando vivo — ou melhor, no seu corpo humano — serão seus se quiser. De modo que o nosso homem, que teve um conhecimen-superficial de religião, continua por um tempo num mundo imaginário povoado pelas formas de pensamento que cria formas de pensamento de anjos, ou de lindas donzelas, de­pendendo de que parte do mundo veio. Isto continua por tem­po indefinido até que comece a aperceber-se das ilusões e erros que o cercam. Ele pode, por exemplo, descobrir que as asas dos anjos estão na muda, ou, se for um oriental, que algumas das lindas donzelas não são tão completamente lin­das como pensou! O cristão pode chegar à conclusão de que não é grande coisa um céu onde se usam halos de bronze, porque ninguém poderia ficar sentado numa nuvem tocando harpa todo o tempo vestido na sua melhor camisa de dormir. Assim, as dúvidas se insinuam, dúvidas sobre as formas de pensamento, dúvidas sobre a realidade do que vê. Mas veja­mos o outro lado.

O sujeito não foi um bom homem, pensa no inferno, sen­te toda a espécie de sofrimentos e dores porque imagina o velho Satanás espicaçando-o em lugares vitais. Pensa no fogo, no enxofre e em todos os ingredientes que teriam melhor emprego num laboratório farmacêutico. Outra vez a dúvida se insinua, qual é o propósito de todo esse sofrimento, como pode ser espicaçado tão energicamente quando não há san­gue, como pode ter seus ossos partidos a cada minuto!

Gradualmente, suas dúvidas se fortalecem, gradualmente sua mente espiritual torna-se acessível ao que poderíamos cha­mar de assistentes sociais do mundo espiritual. Enfim, quando estiver receptivo, tomam-no pela mão, removem o cenário teatral que sua imaginação criou, fazem-no sentir a verdadeira realidade, deixam-no ver que o outro lado da morte é muito melhor que este (o lado da Terra).

Desviemo-nos mais uma vez — está-se tornando um há­bito — mas vamos desviar-nos. Imaginemos um homem num estúdio de rádio diante de um microfone. Ele emite um som específico — "Ah". Bem aquele "ah" deixa-o, entra no microfone como uma vibração, transforma-se numa corrente ttrica, e viaja por um caminho tortuoso. Eventualmente

atravessa muitos aparelhos e torna-se uma versão do "ah" numa freqüência muito mais alta. Da mesma forma, um corpo na terra é a vibração de uma voz baixa. O Espírito, ALMA, Atman ou como queiram chamá-la, pode ser representado como semelhante à freqüência de rádio daquele "ah".

Conseguem acompanhar o que estou dizendo? É um con­ceito bastante difícil de apresentar sem usar termos em Sânscrito ou falar na filosofia budista, mas não queremos entrar nesses assuntos por enquanto. Vamos tratar de coisas reais em termos reais. A morte é uma coisa muito corriqueira pela qual passamos diversas vezes até que estejamos livres das dores e atribulações do nascer e do morrer na Terra. Mas lem­brem-se de que, mesmo quando avançamos para planos su­periores e para formas de existência diferentes, ainda temos de enfrentar o "nascimento" e a "morte", só que, quanto mais subimos, mais indolores e agradáveis serão essas duas fases da nossa existência.

Retomemos o pobre sujeito que deixamos no mundo dos espíritos; provavelmente já está cansado de nos esperar. Lembrem-se de que o mundo dos espíritos, ou estágio astral, é uma fase intermediária. Algumas religiões o relacionam ao Paraíso; há o plano da Terra, o Paraíso, e por fim o Céu desde que a vítima não seja primeiro mandada para o Inferno.

O nosso homem está no mundo dos espíritos para ver que espécie de confusão fez da sua vida. Deixou inacabadas as coisas que devia ter feito, fez as que não devia? Se for um " ser humano normal, a resposta é sim em ambos os casos. Então, vai para a Casa das Recordações para ver o que fez nas vidas anteriores e como deixou de aprender o que devia. E vê seus erros e também seus sucessos, discute-os com guias especiais que incidentalmente não são Peles-Vermelhas, nem velhos chineses de barbas longas, mas guias muito especiais do seu próprio tipo e crenças básicas etc... pessoas que conhe­cem os problemas que o confrontam, que conhecem o que se tem passado e sabem como agiriam em circunstâncias semelhantes. São um pouco mais evoluídos, um pouco mais treina­dos, vêem o que é necessário que este homem aprenda, da mesma maneira que um Consultor de Vocações pode informar como se obter uma certa qualificação e mais tarde se candi­datar a um cargo específico.

Depois dessa reunião, são escolhidas as condições e circunstâncias em que aquela pessoa voltará à Terra no corpo de um bebê, talvez masculino, talvez feminino. É possível que alguns de vocês fiquem desconcertados, mas as pessoas vêm à Terra como homens, depois como mulheres, dependendo do que seja mais apropriado ao tipo de lição que deva aprender. Isto não significa que sendo agora um homem muito masculino, ou uma mulher muito feminina, permanecerá o mesmo na próxima vida ou na seguinte, pois você pode querer uma mudança de posição, pode querer ver o que o outro sexo tem de suportar.

Depois de alguém ter nascido repetidas vezes chega a um ponto em que já não precisa nascer neste plano da Terra; mas, quem vive sua última vida na Terra, quase sem exceções, passa um mau bocado formado de angústia, sofrimento, pobreza e incompreensão. De qualquer forma, a angústia, a in­compreensão e todo o tipo de sofrimento são, poderíamos dizer, o fermento que permite à pessoa elevar-se e tornar-sé um bom espírito em vez de um ser humano indiferente.

Uma pessoa que volta pela última vez à Terra é geral­mente considerada (na Terra) muito azarada, em vez de mui­to afortunada, por estar vivendo sua última vida aqui. Todas as suas provações têm a finalidade de purificá-la para a mudança, pagar suas dívidas etc. Como não poderá aprender através do corpo na próxima vida, recebe uma boa dose nesta. Assim, morre, e, na maioria das vezes, se chega a pensar nisso, fica muitíssimo satisfeita.

Voltando ao mundo dos espíritos, essas pessoas têm um bom descanso, certamente merecido, ficam adomecidas por alguns anos, e muitos anos pelo Tempo da Terra. São, então, reabilitados, reconstruídos, recondicionados, poderíamos dizer. Depois, recomeçam uma vez mais num caminho ascendente, sempre ascendente. Assim, um grande profeta que aprendeu tudo numa vida, ou pensa que aprendeu, vai para um outro estágio da evolução, onde há faculdades diferentes, toda es­pécie de talentos variados que ele precisa dominar. É como um menino a quem se arranja uma bicicleta: aprende a mon­tá-la e quando consegue equilibrar-se mais ou menos, sem cair, experimenta uma motocicleta; essa é um pouquinho mais complicada porque tem outros controles para manipular. Da motocicleta passa para um carro, do carro para um aeroplano, dum avião comum para um helicóptero muito mais difícil. Todo tempo está-se aprendendo um número maior e mais difícil de coisas.

Quando dormimos, bem, vamos ser mais precisos, quando aproximadamente 90% das pessoas dormem, fazem viagens astrais, vão para o mundo dos espíritos, para o mundo astral. Como disse Cristo: "Na casa de meu Pai há muitas mansões, eu venho preparar o caminho". No mundo dos espíritos, há muitos planos de existência, muitas "Mansões". O mais próximo da Terra é o plano astral e, para além deste, o que poderíamos chamar de mundo dos espíritos. As pessoas que morrem na Terra seguem para o mundo dos espíritos, mas, se quiserem, podem descer ao mundo astral para ver os que lá estão ao fim de um dia terreno. Seria como visitar pessoas numa prisão, mas será reconfortante saber que, quando estiverem no mundo dos espíritos, podem, por vezes, en­contrar aqueles com que se associaram na Terra.

Indo para um plano superior, será ainda mais reconfor­tante perceber que no mundo dos espíritos (não no astral) se encontrará aqueles que lhe são compatíveis, não poderá encontrar os que odeia ou lhe têm ódio. Terá ao seu redor as pessoas que atrai aquelas por quem sente afinidade, bondade, consideração ou amor.

Entretanto, no plano astral você encontra freqüentemen­te pessoas de quem gosta em especial; você pode detestar uma pessoa intensamente na Terra e quando ambos deixam os corpos, à noite, e vão para o plano astral, poderiam encontrar-se para discutir numa linguagem astral ou em espanhol, inglês, alemão ou outra língua, talvez decidir que tentarão reme­diar as diferenças existentes, se acharem que o atrito já se prolongou demais. Então, você e seu adversário têm discussão, ambos no plano astral, e resolvem como aparar as arestas.

Também no plano astral você freqüentemente troca impressões sobre o que fai fazer no mundo físico da Terra. No astral, poderá encontrar a tia Fanny, que mora em Adelaide, ou outro lugar longe, e ela dirá: Oh, Maria Matilde (ou qualquer nome) escrevi-lhe uma carta assim, assim, há algum tempo e com certeza vai recebê-la amanhã, quando voltar ao seu corpo terreno. Então, quando acordar na manhã seguinte terá uma idéia vaga sobre a tia Fanny, ou quem quer que seja, olhará o carteiro esperançosa, quando este se dirigir à sua caixa de correio, e não ficará muito surpreendida se receber uma carta da tia Fanny, de Adelaide, ou de qualquer outra pessoa em quem pensou.

E ainda, quando alguém está no mundo astral, pode encontrar amiúde pessoas do mundo dos espíritos que tenham, acesso a alguma informação. Esta dirá: — Agora que você já fez tudo o que podia na Terra, vai ter uma briga com um ônibus na próxima semana ou na seguinte, e o ônibus vai vencer, de modo que é melhor pôr seus negócios em ordem, porque sua missão nessa vida está prestes a terminar. Enquan­to está no Astral, o homem sente-se muito feliz em pensar que sua vida na Terra está quase finda, mas, quando volta, fica um pouco deprimido e apreensivo, conta à sua mulher — se existir — que teve um horrível pesadelo no qual em breve ela seria viúva. Ela naturalmente oculta sua satisfação em ouvir isso e quando o homem sai para o escritório ou para a loja, corre ao cofre para examinar se a gorda apólice de seguro está perfeitamente em ordem, com todos os prêmios em dia.

Outra maneira de uma pessoa mais evoluída conhecer o futuro é viajar além do plano astral para o que, por falta de um nome melhor, chamamos de mundo primário dos espíritos. Lá pode consultar o Registro Akáshico ou Registro das Pro­babilidades porque não há dificuldade em ver quais as pro­babilidades de um indivíduo ou de uma nação. Alguém não pode dizer precisamente o que irá acontecer a uma pessoa num minuto ou numa hora, mas com segurança pode afirmar o que irá acontecer a um país ou ao mundo.

Bem, certamente tratamos da morte neste capítulo, de modo que você deveria encará-la como um acontecimento muito agradável, tal como as crianças no dia em que termi­nam sua vida escolar. Consideremos por um momento a nossa preparação para a morte, porque da mesma maneira como nos preparamos para o casamento é muito mais divertido quando sabemos o que esperar.

Diversos livros são dedicados a esse assunto no Tibete; o Livro dos Mortos tibetano é um dos grandes clássicos na parte oriental do mundo e conta minuciosamente tudo o que pode acontecer à alma quando deixa o corpo e inicia sua via­gem para a próxima vida. No Tibete, um lama especialmente vidente e especialmente treinado se sentará ao lado do moribundo e por telepatia se manterá em contato com ele a fim de que, mesmo depois do astral ter deixado o físico, a conversa ainda possa ser mantida. Gostaria de declarar muito enfatica­mente que, não importa o que digam os ocidentais célicos, os orientais SABEM que é possível receber mensagens dos cha­mados "mortos". Foi escrito, em detalhe, exatamente o que acontece, exatamente o que se sente.

Os egípcios também tinham um Livro dos Mortos, mas naquela época os sacerdotes queriam manter o poder só para si, por isso inventaram uma porção de simbolismos sobre os Deuses Horus e Osíris e a pesagem da alma contra uma pena. Essa história é muito bonitinha, mas não corresponde à realidade dos fatos, exceto que os egípcios a quem ensinavam tais coisas caminhavam para a morte com a cabeça cheia de idéias preconcebidas e realmente viam o Deus Osíris, a Câmara do Juízo, viviam mentalmente todas aquelas coisas curio­sas nas quais a alma esvoaçava como um pássaro e sentiam o Deus Gato (Bubastes) e outros mais. Mas, lembram-se, isto é apenas um quadro engraçadinho que precisamos destruir antes de entrar na Realidade; é como tentar viver num mundo criado por Walt Disney, em vez do verdadeiro.

Muitas pessoas têm idéias preconcebidas originadas por alguma crença em particular ou pela falta de uma crença; não sabem o que esperar quando morrerem e são enredados em fantasias incríveis de sua própria criação, ou pior, numa escuridão, num vazio devido à falta de compreensão.

Pedirei que considerem isto com a mente aberta, quer creiam ou não, apenas mantenham a mente aberta e pensem no que lhes vou dizer, pois ser-lhes-á útil mais tarde.

Dediquem uma hora ou duas a meditar (ver capítulo sobre a meditação mais adiante) sobre a morte, estejam pre­parados para aceitar a idéia de que quando deixarem a Terra se separarão sem dor deste horrível corpo de barro que esfria e se torna desconfortável, e se reunirão numa nuvem acima do corpo inerte. Na nuvem enviarão mentalmente uma mensagem pedindo auxílio aos entes queridos que os precederam na próxima vida. Podem não saber muito sobre telepatia, não importa, quando deixarem esta para uma Vida Maior terão automaticamente faculdades telepáticas, mas, para ajudá-los agora, deixem-me dizer-lhes: tentem lembrar-se, quando esti­verem morrendo, que se visualiza quem mais se ama. Tentem realmente visualizá-la, tentem enviar um pensamento de que desejam que ela venha ao seu encontro ajudá-lo. Da mesma forma que, quando vão viajar, às vezes, mandam um tele­grama dizendo: "Chego em tal trem". Então, deixem-se des­cansar em paz, conhecerão uma sensação de leveza, uma sensação de que se libertaram de uma apertada câmara de compressão.

Mantenham a mente aberta, não caçoem, não acreditem cegamente sem raciocinar, pratiquem o que vão fazer quando estiverem morrendo, pratiquem, tentando libertar-se de um corpo moribundo para a vida. Pensem como a morte é semelhante ao nascimento, pensem como vão invocar o auxílio da pessoa que mais estimam, então, quando a hora chegar, des­cobrirão que a passagem será indolor e tudo o que seu corpo experimentar naquele momento não lhes perturbarão nem de leve.

Descobrirão que, enquanto flutuam acima do corpo, o cordão de ligação tornar-se-á cada vez mais fino e dissipará como a fumaça numa brisa. Vagarão para o alto e braços que­ridos estarão lá para recebê-los. Não lhes poderão ajudar muito enquanto o Cordão não se partir, da mesma maneira que não se pode apertar as mãos dos amigos enquanto o trem está entrando na estação.

Uma coisa que intriga muitas pessoas: por que é que o medo da morte universal, quando além está somente a paz e uma maior evolução? A resposta é muito simples: se as pessoas nesta Terra soubessem o quanto é agradável deixá-la, não ficariam aqui, haveria muitos suicídios, e isto seria realmente muito mal porque o suicídio é um erro. Assim, vimos à Terra com um medo inato da morte. Esta é uma provisão da natureza para impedir que as pessoas cometam suicídio ou tentem satisfazer seu desejo da morte.

À medida que a morte se aproxima, no entanto, todo o medo diminui. Assim, se você tem medo da morte enquanto está bem, é normal, porque temos de permanecer aqui da mesma forma que crianças na escola e as crianças que se es­quivam não são populares com os fiscais escolares!

Quando chegar a sua vez de morrer, mantenha a mente aberta, mantenha o pensamento de que há pessoas desejosas de o ajudarem no seu consciente, lembre-se de que não existe inferno, não existe condenação eterna, não existe um Deus vin­gativo desejando destruí-lo. Não acreditamos que se deva te­mer Deus. Deus é bom, Deus deve ser amado e não temido. E a morte também é boa, deve ser amada, bem-vinda e recebida de braços abertos, mas, até lá, viva de acordo com a regra "Faça como gostaria que lhe fizessem".

Se quiser dedicar um pouco de tempo, paciência e muita fé, por certo será capaz de investigar a questão da morte como um espectador seriamente interessado, mas descobrirá que isso envolve alguns sacrifícios. Por exemplo, não poderá ir a festas, nem ao cinema, nem fazer visitas para tomar drinques. Ao invés, terá de ser um eremita.

Eu sou um eremita e prefiro sê-lo porque tenho todos os poderes sobre os quais escrevo e que poderão ser seus com esforço e fé. Eu posso viajar no astral, ver o Registro Akáshico e mais adiante, neste capítulo, tratarei das profecias.

Muito pode ser alcançado pela meditação e pela concentração. Para isto, obviamente, tem-se de ser um eremita. Ere­mitas, frades, lamas, chame-os como quiser, são pessoas que se retiram do círculo social comum por sua livre escolha a fim de poderem concentrar-se, meditar e evoluir para as via­gens astrais. A viagem astral é muitíssimo real, é um fato, tão simples como respirar. O problema é que não se pode levar nenhuma bagagem, é inútil atravessar o oceano para outro país e pensar que vai passar o fim-de-semana com os amigos. A dificuldade é que seus amigos, a não ser que este­jam no mesmo estágio que você, talvez não o possam ver, o problema é que você não pode levar nem trazer nada consigo que seja material ou sólido.

Uma coisa muito interessante do astral é que se pode ver o Registro Akáshico se for um dos poucos felizardos que tenham o que se poderia chamar de permissão especial. Digo-lhe aqui e agora que muitas pessoas que fingem ir ao mundo astral consultar o seu Registro Akáshico são impostores e vigaristas. Tomam-lhe dinheiro, geralmente por volta de cinqüenta dólares, mas não têm capacidade para fazer o que di­zem. De modo que, se alguém lhe disser que vai ao astral poupe os seus cinqüenta dólares!

Felizmente nem todos podem ver o Registro Akáshico porque imaginem que arma perigosa seria nas mãos de chan­tagistas e criminosos. O uso indiscriminado do Registro Aká­shico causaria males indizíveis. Assim, somente os puros de intenção podem lhe ter acesso.

O que é Registro Akáshico? É comparável a um filme de cinema. Por exemplo, você tem um grande épico clássico e, se souber manejá-lo, pode ver determinados pedaços do filme que mais lhe agradaram, à vontade. Da mesma forma, tudo que aconteceu no passado está registrado. Encare-o da seguinte maneira — vamos imaginar algo que só seja possível no astral, que neste corpo pudéssemos viajar instantaneamente para um planeta muito distante, há milhares de anos-luz. Supondo que tivéssemos um instrumento que nos permitisse ver o que está acontecendo na Terra — naturalmente não a veria como é agora e sim como era há alguns anos atrás, por­que a luz tem uma certa velocidade, e você veria as coisas depois de ter acontecido. A velocidade da luz é muito, muito rápida, relativamente falando.

Mas, em vez disto, consideremos o som. Vê aquele ho­mem lá embaixo, à meia milha de distância? Temum macha­do na mão e está rachando lenha com grande energia. Você vê o machado atingir a madeira e, depois de um tempo apreciável, ouve-lhe o som. Um jato supersônico rasga o céu, você olha para o lado de onde parece vir o som, mas o avião já está a cinco milhas ou mais à frente do som que você está ouvindo. A velocidade do som é lenta, comparada à veloci­dade da luz, e lembre-se que a luz é quase visão.

Suponhamos que você tenha a habilidade de se projetar no espaço instantaneamente, parar num dado momento e ver com clareza a imagem luminosa que chega da Terra, proje­tar-se alguns anos, isto é, alguns anos-luz — o que diremos? — poderia ver Napoleão retirando-se de Moscou ou o Gene­ral Eisenhower jogando golfe. Distancie-se um pouco mais e veria a maior parte dos Estados Unidos coberta de mato, com tenda e índios, e talvez aqui e ali algumas das famosas carroças cobertas.

Distancie-se mais, até 1.000 ou 2.000 anos, volte às pá­ginas da história.

Descobrirá que a história é muito diferente dos livros que são escritos de acordo com a política da época, adaptados ao ânimo e às crenças do país. Uma viagem ao Registro Akáshico mostra-lhe-ia a verdade. Como ilustração, citemos Fran­cis Drake, o grande herói da Inglaterra. Que será? Sir Fran­cis Drake, o pirata, o bucaneiro, o homem que tentou arruinar o comércio da Espanha?

Veja a Inquisição espanhola. Qual é a verdade sobre ela? Eram os inquisidores santos ou semelhantes a Belsen e ou­tros campos de concentração da Alemanha? O Registro Akáshico lhe dirá.

Mas esse Registro não contém somente o que aconteceu no passado, mostra também as grandes probabilidades do fu­turo. No momento, somos como um homem sozinho numa estrada sinuosa cheia de obstáculos que nos impedem de ver adiante; mas, ponha esse homem num helicóptero e ele verá adiante, além dos obstáculos; pode ver o que o espera. Assim é o Registro Akáshico.

Isto não quer dizer que todo o futuro esteja predestinado. Os principais acontecimentos, sim, estão. Exemplificando, poderia dizer que você sabe que haverá um amanhã, um dia depois de amanhã e uma semana depois disso; pode prever isso, mas não pode prever com segurança os detalhes mínimos. Pode dizer que um ônibus partirá daqui para algum ponto distante, o horário indica-lhe a hora da partida, a hora em que chegará às estações intermediárias e que eventualmente chegará ao destino numa hora predeterminada. Você não teme que o ônibus ou o trem não chegue, em outras palavras está prevendo o que acontecerá. Está prevendo o futuro daquele ônibus.

Existe uma teoria muito complicada que é na realidade muito certa, uma teoria sobre os universos paralelos, no sen­tido de que tudo já aconteceu uma vez e que estamos vivendo numa sucessão contínua de tempo diferente. Entretanto, não entraremos no assunto e afirmaremos em vez disso que os videntes da antiguidade eram capazes de ver o futuro e também o são os videntes do presente. Vou ilustrar, contando algo que aconteceu comigo e sob meu controle total. Entrei num transe e isto foi o que vi:

Vi, primeiramente, a probabilidade de iniciar-se uma guerra. Agora, olhando para trás posso dizer que sim, isto ocorreu, foi a guerra iniciada no Vietnam depois da retirada dos franceses e da dispersão da Legião Estrangeira. Provou-se correto.

As outras coisas foram: no futuro, a Itália será conquis­tada pelo comunismo. Nessa altura, a religião cristã se per­derá, o Vaticano será fechado, cardiais e bispos serão mortos, o comunismo se infiltrará por toda a Europa. Não será o comunismo que conhecemos agora, mas algo modificado. O co­munismo originário da Rússia era de uma espécie mais dura e violenta do que é agora, mais parecido com o comunismo chinês. Como uma proteção, a Inglaterra e os Estados Uni­dos eventualmente se reunirão; e a Inglaterra ficará sob a tutela dos Estados Unidos e terá na realidade um Governador americano, o que é um pensamento divertido quando consideramos que as pessoas saíram da Inglaterra para fundar os Estados Unidos e agora os americanos voltarão para redesco­brir a Inglaterra.

Por fim, a superfície da Terra rachará. Se leram os relatórios do Ano Geofísico Internacional, sabem que existem grandes áreas de tensão sob o oceano, nas quais estão haven­do alterações. O leito dos mares tem-se elevado. Continentes perdidos, que constituem o leito do mar, emergirão formando novas terras, as presentes afundarão e o mundo por algum tempo estará mergulhado em pânico e agitação. Nova York será nivelada e finalmente submergirá nas águas do Atlântico. Los Angeles, San Francisco, Seattle e Vancouver na costa do Pacífico serão niveladas e submersas pelas águas ascendentes do Pacífico. A maior parte da costa será inundada, as terras, mudarão. Por sobre o Alaska virão foguetes com bombas da Rússia comunista, grandes devastações serão causadas nos Estados Unidos e no Canadá. Naturalmente, esses países retaliarão causando também grandes devastações na Rússia, mas no continente norte-americano um punhado de sobreviven­tes se agrupará no alto das Montanhas Rochosas, o suficiente para mais tarde repovoar o continente.

No Canadá, os Grandes Lagos, que são agora de água doce, inverterão a direção da sua corrente devido à mudança de inclinação do eixo da Terra, de modo que o mar correrá de Quebec para Montreal, de Montreal para Buffalo, de Buffalo para Detroit, e a água se acumulará em Chicago, inun­dando a cidade e as terras, abrindo um caminho de água sal­gada para o Mississippi. A avalancha de água, transformada numa torrente turbulenta pela inclinação do eixo da Terra, causará muita erosão formando assim uma nova ilha. Tudo aquilo que estiver dividido pelas águas, voltando para o ocea­no, será uma nova terra.

Na Europa, o leito do Mediterrâneo subirá tornando-se terra alta e serão descobertas muitas tumbas, a parte do Egi­to, e terras submersas anos atrás.

Todo o continente sul-americano será perturbado por terremotos. As Ilhas Falkland deixarão de ser ilhas unindo-se como terras altas com o terço inferior da Argentina. Ali parecerá uma grande fenda formando um acesso do Atlân­tico para o Pacífico e a abertura não será maior do que aquela entre o Mediterrâneo e Gibraltar. Com a redistribuição de peso, a Terra se inclinará ainda mais, as estações mudarão, os pólos derreterão e muitas terras se tornarão disponíveis nessas áreas, juntamente com minérios extraordinários e mui­tos recursos novos.

O Japão, Coréia e parte da costa chinesa submergirão nas águas, mas outras terras emergirão. Os russos lançarão grandes satélites no espaço. Logo, também, os chineses esta­rão no espaço, porque ter-se-ão apoderado de cientistas dos Estados Unidos que fugirão das inundações e da destruição. O ano 2000 verá grandes feitos espaciais, nem sempre pací­ficos, porque haverá grande rivalidade entre os ramos do comunismo, o russo e o chinês. No ano 2004 haverá uma guerra espacial fantástica entre a China e a Rússia. Na Terra, as pessoas se amontoarão em fundos abrigos e muitos se salvarão. Mais terras submergirão e outras se elevarão.

Uma parte desta profecia preocupou-me tanto que me perguntei se deveria manter-me discretamente calado e não mencioná-la, mas, o que importa, digamos, a verdade? Já que chegamos aqui, iremos um pouco mais longe.

Por volta do ano 2008 os russos e os chineses assentarão suas diferenças sob o estímulo de algo muito maior. Do es­paço longínquo, além do nosso sistema, virão seres humanos que quererão se estabelecer nesta Terra. A humanidade que está aqui ficará terrivelmente aborrecida com isto e encarará esses convidados indesejáveis com suspeita. Por algum tempo, haverá considerável exaltação, entretanto, o bom senso e a razão eventualmente prevalecerão.

O povo do espaço demonstrará intenções pacíficas, e isto é uma coisa que infelizmente falta nesta Terra. Com o tempo se estabelecerá com o povo nativo da Terra, casarão entre si, todas as raças se misturarão, de modo que, no final, haverá uma única que será conhecida como a Raça Morena porque a mistura de todas as cores (branco, preto, amarelo e verme­lho), resultarão numa agradável tonalidade morena.

Nesse estágio da evolução da Terra estaremos na Idade Áurea, a idade da paz, da tranqüilidade e do alto conhecimen­to oculto. Será uma idade em que o homem, tanto terrestre quanto extraterrestre, viverá harmoniosamente.


E o futuro, para além disso? Sim, isto também está claro, mas contentemo-nos com este primeiro episódio porque é de fato verdadeiro.

Você ri, é cínico, cético? Bem, tem direito à sua opinião e eu ao meu conhecimento. Se tivesse o meu conhecimento não estaria agora me ouvindo e não estaria rindo.

Há pouco tempo atrás, afirmava-se que o homem não conseguiria enviar uma mensagem de rádio através do Atlântico. Depois, disseram que o homem nunca atravessaria o Atlântico de avião. Declarou-se que ninguém poderia deslocar-se mais rápido do que o som porque morreria e, também, que o homem não seria capaz de lançar-se ao espaço porque o calor gerado pela velocidade o queimaria. O homem já foi ao espaço e a mulher também. Coisas que são totalmente im­possíveis hoje, são corriqueiras amanhã. Programas de televisão são retransmitidos por um satélite artificial, e retrans­mitimos mensagens de rádio da Lua, de Marte e Vênus. Como podem dizer que a minha profecia não é verdadeira?

 

É triste que as pessoas condenem aquilo que não compreendem. É triste que se alguém não pode fazer isso ou aqui­lo tenda a dizer: — Oh, mas isto é impossível, completamente impossível, tais coisas estão além do conhecimento humano. Isto naturalmente é tolice porque, quando se pode ver o Re­gistro Akáshico do passado, também se pode ver o Registro das Probabilidades.

E, se está imaginando o que é o Registro das Probabili­dades, darei uma ilustração simples. Probabilidades são as coisas que esperamos que ocorram; você espera que amanhã, depois e anos depois, os navios naveguem nos mares, os aviões voem no céu e os carros andem expelindo gases nocivos atra­vés dos campos. Você realmente espera que isto aconteça por­que é tão provável. O futuro de uma raça ou de um país pode ser previsto com um alto grau de precisão e o Registro das Probabilidades indica como tudo acontecerá. Aqui você teve uma visão do futuro, mas há outras coisas, pequenos incidentes que indicam o caminho. Querem mais?

Muito bem: nos próximos anos a Inglaterra será um Estado dos Estados Unidos da mesma maneira que o Havaí e o Alasca. Eventualmente, será controlada pelos e dos Esta­dos Unidos e subscreverá as Leis Federais desse país.

O Canadá será um dos principais países do mundo nos próximos séculos, o Canadá e o Brasil. Presentemente, o Brasil está em declínio, mas se erguerá e será talvez o segundo país do mundo, tornando-se na realidade novamente o "Grande Brasil".

A França e a Rússia se unirão no futuro para realmente esmagar a Alemanha. Ambas se sentirão ameaçadas pela Alemanha e se unirão para pôr fim à ameaça e a raça alemã se espalhará pelas outras nações da mesma maneira como aconteceu aos judeus.

Os Estados Unidos e a Rússia se juntarão para derrotar a China, a nova China, que representa um perigo para toda a civilização, e assim o Urso e a Águia unir-se-ão para der­rotar o Dragão e só depois que o Dragão esteja vencido ha­verá paz duradoura.

Aqueles que têm inclinação para a astrologia se lembra­rão que em 5 de fevereiro de 1962, 16 graus cobriam o Sol, a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno durante o eclipse que ocorreu. A próxima vez que isto ocorrer será em 5 de maio do ano 2000; pouco antes disso, em abril de 1986, o cometa de Halley retornará. Essas configurações produzirão ocorrências portentosas em todo o mundo. Será a abertura de uma nova Era, a ocasião em que a esperança florescerá outra vez como as delicadas flores de primavera que revivem e desabrocham quando as neves de inverno dão lugar aos raios do Sol, e da mesma maneira que as flores são renovadas pelas estações e o renascimento se processa todo ano, as esperanças, as aspirações espirituais do homem e o próprio homem renovar-se-ão depois do ano 2000.

Talvez fosse apropriado dizer aqui alguma coisa sobre a mudança dos climas do mundo, que tem sido observada por toda gente. O clima é também um assunto valioso para predições.

Nos próximos anos haverá muitos terremotos, terras se elevarão, terras submergirão e tornar-se-ão água. No Pacífico, há uma grande depressão que se estende por milhares de milhas. É uma fenda na superfície da Terra, e, se mais nações continuarem a explodir bombas atômicas ou piores, a fenda se alargará e se modificará provocando uma série de terremo­tos e inundações.

Por centenas de anos, tem sido mais ou menos possível predizer o tempo. Consultavam-se cartas mantidas nos departamentos de meteorologia que indicavam que a temperatura do Canadá — por exemplo — normalmente cairia entre tais e tais limites, em tais e tais épocas, enquanto para Buenos Aires havia diferentes limites de subida e descida. Era possí­vel predizer o tempo em Moscou ou Timbuctu, ou qualquer outro lugar, consultando os registros que indicavam qual era a temperatura média em outras épocas equivalentes, por mui­tos e muitos anos. Sabíamos o que aconteceria em cada esta­ção, se o verão seria mais rigoroso do que o inverno, quais seriam os limites do frio e quais seriam os limites do calor, mas tudo isso está mudando, e rapidamente, devido a um conjunto de causas, a maioria delas provocadas pelo homem.

Já notaram que recentemente tem havido notícias cres­centes de anomalias no tempo? Nos Estados Unidos ocorrem invernos anormalmente frios. Na Geórgia, o tempo está fre­qüentemente abaixo de zero. O Arizona também tem tido grande incidência de frio, às vezes 40º abaixo de zero.

Tenho recebido cartas de amigos no Canadá e nos Esta­dos Unidos em que me dão notícia de anomalias no tempo, horrivelmente frio e, uma semana depois, quase uma onda de calor. Em Niagara Falis, Canadá, o tempo estava extremamente quente, escaldante, e, a seguir, terrivelmente frio: Em Detroit, nos Estados Unidos, o tempo esteve extraordinariamen­te frio tornando-se de súbito quente.

No norte e no este dos Estados Unidos tem havido seca e realmente o mês de abril deste ano foi o mais seco jamais registrado nas estações meteorológicas do país. Não havia água para as plantas e nenhum sistema de irrigação funcionava. As plantas estiolavam no chão esturricado.

Não sei quantos de vocês estiveram nos Estados Unidos, mas em Montana, não muito longe da fronteira canadense, há um grande parque nacional e nele há uma geleira; na reali­dade, há diversas, mas algumas derreteram-se completamente e outras diminuíram muito.

Certas áreas dos Estados Unidos e do Canadá vivem dos esportes de inverno, programa que depende da neve e do gelo. Bem, não tem havido nem neve nem gelo, de modo que as pessoas que precisam dessas condições climáticas ficaram arruinadas.

No médio oeste apareceram furacões, tremendos fura­cões. O número, velocidade e fúria têm aumentando. Ultima­mente, naquela região houve mais de 800 furacões num ano.

Mas, deixemos os Estados Unidos, há outros lugares no mundo. Recebo correspondência de toda a parte e não é indis­pensável receber cartas, mas jornais para termos informações sobre o tempo. O tempo está absolutamente anômalo na In­glaterra, o maior frio registrado até hoje, as piores tempesta­des de neve, o tráfego paralisado, o gado morrendo de frio e fome.

No Mediterrâneo, o tempo tem-se apresentado completamente louco, um frio anormal com neve de um metro de profundidade na Sicília, que a propaganda diz ser ensolarada. Bem, talvez tivessem Sol, mas certamente também tiveram um frio cortante. É tudo anômalo, o clima do mundo está mu­dando. Houve gelo em Roma; houve gelo no rio Tibete, pela primeira vez em quinhentos anos. Associa-se Roma com o calor, com um clima ameno, não com gelo, no rio Tibete, que desse para patinar.

Em outra parte do mundo, no Japão, aconteceu o inverno mais rigoroso da sua história. Tempestades, colheitas perdidas, tudo mal.

Por outro lado, na Rússia, o clima parece estar se tor­nando mais ameno. A Sibéria está menos gelada e natural­mente todas essas modificações nas condições climáticas pro­vocam outras, porque se uma área de terra é aquecida o ar sobe e forma cúmulos. Pode ser que tantas bombas atômicas tenham empanado a radiação direta do Sol sobre a Terra e vice-versa e que isto tenha alterado as zonas de temperatura de todo mundo. Assim é, como foi predito, que num futuro pouco remoto as coisas iriam mudar nesta Terra.

Já pensaram nisto alguma vez? Se o gelo dos pólos Norte e Sul se derretesse, o nível das águas em todo o mundo subiria no mínimo 600 pés? Se apenas um pouco do gelo da costa da Rússia se derretesse, a enchente resultante alagaria Nova York e Montevidéu; na realidade, não seria necessária muita água para inundar o Uruguai inteiro. Mas, no caso de os uru­guaios quererem correr e apanhar nadadeiras e maios, deixem-me afirmar o seguinte: de acordo com as profecias, aquela parte do, mundo elevar-se-á em vez de ser inundada, ficará muito acima do nível das águas. Nova York submergirá nas ondas, assim foi predito; e, na parte inferior da Argentina, aparecerá uma grande fenda que a dividirá, transformando-a numa ilha e possibilitando uma passagem mais rápida para o Oceano Pacífico. Isto em si causará bastante confusão porque o Pacífico é mais salgado que o Atlântico e teremos mais ou menos um paradoxo; as águas do Pacífico ficariam mais quentes e mais pesadas, afundando-se nas águas mais frias do Atlântico, que não é tão salgado e, conseqüentemente, mais leve.

Os russos estão ocupados em alterar o clima em seu favor, mexendo na corrente do Golfo, o que faz com que a água quente, que normalmente banharia a Europa, siga ao longo da Sibéria, que está descongelando e se tornará uma extensão da Rússia. Mas, nessa alteração do equilíbrio a In­glaterra poderia entrar numa nova Idade do Gelo a qual arra­saria um bom pedaço da Europa.

Normalmente, a Terra é circundada por camadas de ar, algumas movendo-se sob a forma de correntes de ar, da mesma forma que as correntes de água. Normalmente, a quanti­dade de raios cósmicos que atinge a Terra é razoavelmente constante, mas, agora, com a intromissão de foguetes que atravessam a atmosfera superior e bombas que explodem, essas correntes de ar da atmosfera exterior foram perturbadas e desviadas. Assim há inversões de temperatura, o ar quente talvez não possa subir e terras inteiras tornem-se esturricadas pela falta de chuva e o excesso de calor. As zonas de tempe­ratura do mundo estão mudando, na sua maioria para pior, e, a não ser que a humanidade se levante para controlar aque­les que desejam a guerra, atravessaremos um período muito triste antes que as coisas melhorem. Entretanto, estamos na Era de Kali, a era da dor, do sofrimento e do desespero. Cedo virá a alvorada, quando o homem poderá outra vez ter espe­rança e saber que está progredindo na direção das coisas su­periores, de uma maior felicidade, de uma maior espirituali­dade e de uma maior fé nos seus semelhantes.

 

MEDITAÇÃO

A Grande árvore Erguia-se muito alta, os galhos como que tateando na direção da fonte da luz. Sua sombra alonga­va-se no chão, negra e comprida, tornando-se cada vez maior à medida que o Sol deslizava no céu, prosseguindo na sua viagem eterna. A árvore aquecia-se e florescia sob os raios que lhe davam a vida. Nos galhos escondidos por miríades de folhas, esvoaçavam pássaros que piavam e, ocasionalmente, voavam em busca de alimento. De um recesso oculto pela folhagem veio o grasnido agudo de um pássaro indignado, que protestava contra um macaco invasor. Os grasnidos continuaram num crescendo, quando um bando inteiro de macacos saltou de galho em galho. Subitamente, como se desligassem um interruptor, desceu um silêncio de expectativa sobre os habitantes da árvore. Seres humanos se aproximavam!

Ao longo de um caminho mal definido, através da vege­tação, um velho curvado tropeçava e abria caminho. Seguran­do um escadote na mão nodosa, arrastava-se com determina­ção. Atrás dele, dois jovens carregavam pequenas trouxas. O velho parou e apontou para a árvore. Paremos aqui! disse. Descansaremos um pouco e meditaremos durante a noite.

Juntos avançaram para uma pequena clareira, onde as raízes volumosas da árvore formavam profundos sulcos e ele­vações. Juntos, circundaram o imenso tronco, procurando a melhor posição. Logo encontraram um lugar onde uma rocha achatada emergia do solo, do lado ensolarado do tronco. Um macaco coçava-se ociosamente esparramado na sua superfície. À aproximação dos homens, deu um grito assustado e saltou o alto, desaparecendo no meio dos galhos protetores.

O mais jovem dos dois assistentes juntou cuidadosamen­te alguns galhos flexíveis de um arbusto próximo. Amarrando-os com um pedaço de cipó, fez uma espécie de vassoura e lançou-se à parte de cima da rocha, para varrer-lhe os detritos. Com carinho, o outro assistente apanhou uma pedra pontiaguda e dirigiu-se para uma extensão de musgo verde e brilhante. Ajoelhando-se, comprimiu com força a pedra alizando-a, até que completou no limo um contorno parecido com a superfície da rocha. Gentilmente, removeu a camada de limo enrolando-a como um tapete. Com a ajuda do mais jovem, transportou-a e abriu-a sobre a rocha, formando uma grossa almofada para proteger os ossos do velho da aspereza da pedra. Apertando as vestes esfarrapadas, o velho subiu com surpreendente agilidade para a superfície verdosa.

Os raios brilhantes do Sol poente projetavam cores múl­tiplas na paisagem arborizada, aqui dourando o alto de uma árvore, lá brilhando vermelho-sangue entre os galhos mais baixos. Rapidamente, o mais velho dos dois assistentes pre­parou uma refeição simples, um pouco de cevada seca, um punhado de arroz, uma pequena manga madura e a água espumenta de um regato próximo. Logo, o magro repasto estava terminado e os utensílios limpos e guardados nas pequenas trouxas.

— Vou meditar — disse o velho, sentando-se de pernas cruzadas, e aconchegando as vestes em torno do corpo. — Não me perturbem, avisarei quando estiver pronto.

Os dois assistentes acenaram em assentimento respeitoso. Voltando-se, retiraram-se e, a alguma distância da rocha, enrolaram-se nas vestes e ajeitaram-se para dormir. De repente, o Sol mergulhou abaixo do horizonte e a iridescencia púrpura, suave e perfumada das noites indianas, reinou como o Senhor da Noite, despertando os pequenos animais noturnos para dar início à sua faina. Algures, um pássaro sonolento murmurou o último Chilp-Chilp para sua companheira, antes de se alinhar e sonhar. Talvez com gordas minhocas e frutas sumarentas.

Lentamente, a noite cor-de-rosa transformou-se em prata luminosa quando a Deusa dos namorados apareceu no céu, derramando sua luz sobre o mundo adormecido. A brisa sua­ve da noite veio despertar os odores do dia, arrepiando carinhosamente as pequenas flores silvestres adormecidas e tra­zendo novos perfumes para os habitantes da noite. As horas passavam lentas. O luar desapareceu no horizonte distante e leves nuvens brilhantes deslizavam serenas sobre a Terra. O velho sentado, imóvel, empertigado, retirado, meditava.

Pequenos animais emergiam das suas tocas e coutadas, espreitavam com os olhos redondos e fixos e não vendo peri­go prosseguiam.

O velho sentado, empertigado, imóvel, meditava, quando os primeiros raios de luz coriscaram o céu. Continuava imó­vel, quando os primeiros raios alargaram-se transformando-se na claridade acinzentada do alvorecer. Algures, um macaco adormecido foi sacudido, guinchou e algaraviou numa fúria sonolenta. Rapidamente, a luz tornou-se mais intensa e um vestígio de calor passou pela terra fria de sereno.

Nas árvores, o pio e o bater de asas dos pássaros recém-acordados. Com um grito de terror, um macaquinho inexperiente soltou-se e caiu a uma dezena de pés antes que os bra­ços, paralisados pelo medo, pudessem alcançar e agarrar um galho para pôr-se a salvo. O velho continuava sentado, imóvel, quando seus assistentes ergueram-se e esfregaram o sono dos olhos.

Muito mais tarde, quando o Sol despejava suas ondas de calor, o velho frade terminou sua longa meditação e partilhou a frugal refeição matutina. Voltando-se para o mais velho dos assistentes disse: — É tempo de você aprender a arte da meditação, meu filho, porque o tenho observado muito e chegou a sua vez de instruir-se.

Mas, meditar é assim tão difícil, Mestre? Não pode qualquer um fazê-lo? — perguntou o mais novo.

Não, meu filho, — respondeu o velho. — Algumas pessoas nunca meditam porque não são merecedoras, e algu­mas que o são, não meditam porque não sabem como. A me­ditação é uma arte que precisa ser ensinada, é uma arte que pode elevar o nosso ego às alturas sublimes. — Parou pensativo por um momento, e disse ao mais novo: — Hoje você vai sozinho procurar comida. Instruirei o mais velho. Em tempo, se você merecer, sua oportunidade virá.

 

Muitas pessoas dizem que "vão meditar", mas, naturalmente, a maioria não tem a mínima idéia do significado da verdadeira meditação. Pensam que é alguma coisa mística, mas, como no caso da maioria das questões metafísicas, a medita­ção é simples, é apenas um meio para atingir um fim, um método para obter-se certos resultados.

Uma das maiores dificuldades que confronta um estu­dante médio, das questões metafísicas, é que quase todo o treinamento e pesquisa originais foram feitos no Tibete e na India, onde floresceram civilizações que antecederam de séculos às do nosso mundo ocidental.

Naturalmente, havia também a grande civilização chine­sa que, apesar de ser louvada por sua estatura religiosa, na realidade interessava-se mais pelas artes guerreiras. A civilização chinesa nos deu contribuições duvidosas como os explo­sivos; pipas que voavam alto, descarregando chuvas de flechas envenenadas, e, surpreendentemente, o chinês de alguns sé­culos foi o primeiro a empregar a guerra de foguetes. Suas "bombas atômicas" eram grandes massas de material flame­jante, transportadas nas cabeças dos foguetes, e eram lançadas contra as posições inimigas, ateando fogo aos homens e ao material, indiscriminadamente.

A China também nos legou artes e ofícios, o que naturalmente é louvável, mas adotou principalmente as religiões da índia, adaptando-as às idéias chinesas.

O Japão pode ser desconsiderado, porque até há poucos anos era uma ilha isolada, impermeável à influência dos ou­tros países e, de acordo com a sua história verdadeira, mera­mente copiaram a religião e a cultura chinesa. De onde tira­ram a crueldade demonstrada na Segunda Guerra Mundial? Sobre isto, só podemos fazer conjecturas, mas, sem dúvida, lideraram o mundo nas práticas grosseiras e cruéis, e é uma surpresa que esse povo seja agora tolerado entre as outras nações. Indubitavelmente, isto se chama comércio e não amizade.

Uma das grandes dificuldades — para voltarmos ao nos­so tema original — é que na tradução do Sânscrito, ou outra língua oriental, nem sempre é possível comunicar o seu significado exato. As línguas ocidentais lidam com coisas concretas enquanto as orientais lidam com conceitos abstratos e, assim, tantas coisas que dependem do uso exato de uma expressão idiomática, que não tenha paralelo na outra língua, induzem os tradutores ao erro e causam sérios mal-entendidos. Uma ilustração é o caso do Nirvana, um termo cuja significação realmente deveríamos compreender; portanto, mencio­narei em breve, antes de continuar com a meditação, o que é e como fazê-la.

A Índia possuía uma grande civilização, de natureza altamente espiritual. E foi, na realidade, o berço da verdadeira religião neste ciclo específico da evolução: muitas nações copiaram e alteraram as religiões hindus.

Em algumas fases da cultura da China Antiga, quando a espiritualidade e a veneração dos ancestrais era de maior importância que o Conselheiro Mao ou á guerra, as religiões floresciam e alguns chineses, assim como alguns hindus, toma­ram suas crenças muito literalmente; a religião deve ser uma tabuleta de aviso, um guia, um manual de comportamento. Os hindus e os chineses esqueceram-se disso e acontecia, fre­qüentemente, que um chinês, ou um hindu, passasse a vida sen­tado debaixo de uma árvore numa contemplação ociosa pen­sando: — Oh, vou descansar nesta vida, porque poderei re­cuperar o tempo perdido quando voltar à Terra.

Isto não é uma figura retórica, não é um exagero, é um fato, e até há pouco tempo era perfeitamente possível a um chinês endividar-se nesta vida, comprometendo-se a pagar com juros na próxima. Podem imaginar um agiota ocidental — vejo que agora se intitulam companhias financeiras de alta classe — adiantando uma quantia hoje, sob a condição de lhe pagarem na próxima encarnação? Isto, certamente, o levaria a uma contabilidade muito engraçada!

Repetindo: as línguas orientais lidam principalmente com conceitos abstratos e espirituais, enquanto que as línguas ocidentais lidam com termos de aviação, dinheiro (ou falta dele) e outros assuntos mundanos. Talvez estejam interessados em saber que até há alguns anos atrás, os japoneses não tinham ideogramas, nem forma escrita de expressão para tratar dos termos técnicos de rádio ou engenharia e, de acordo com o meu conhecimento pessoal, os técnicos japoneses só podiam discutir esses assuntos e outros conceitos científicos utilizando os termos apropriados em inglês. Não há nada de particularmente notável nisso porque, nos países ocidentais, dois médicos de nacionali­dades diferentes, que não compreendam uma única palavra das respectivas línguas, discutiam medicina e tratamentos usando o latim como linguagem comum.

Radiooperadores, incluindo os amadores, podem conversar muito bem usando abreviações e códigos altamente estili­zados para se entenderem, ainda que a língua de um seja desconhecida do outro. Provavelmente, já ouviram falar de Q.R.M. que significa ruído, estática, ou Q.T.R., que pede a uma pessoa que se cale.

Nirvana é uma palavra ou conceito que está normalmente muito além da compreensão ocidental. É, provavelmente, um dos termos orientais mais mal interpretados. Os ocidentais pensam que o bom oriental só quer sentar-se, aspirar o perfume das flores neste caso o lótus e tornar-se insignifi­cante. Pensam, muitas vezes, que Nirvana é a extinção abso­luta da vida que conduz a um estado onde nada existe, nada é, não há lembrança, nem ação, nada. O Nirvana é encarado pelos ocidentais como exemplo do vácuo perfeito e desprezam as religiões orientais, que julgam, na sua ignorância, conduzir a um estado completo e total de insignificância.

Isto é absolutamente errôneo. Nirvana não significa o paraíso nem o oposto, não significa um lugar onde nada exis­te nem mesmo um lugar! Não é possível existir num estado de insignificância, e mais, o ocidental pensa que o Adepto, Mestre, Guru, ou Iluminado, esforça-se para atingir um estado em que esquece tudo o que aprendeu e no qual já não sabe nada, já não sente nada, já não existe. Isto é ridículo! Isto é fantasticamente absurdo, e teríamos pensado que o bom senso comum indicaria que não há possibilidade de exis­tir, quando nada pode existir.

Os Adeptos, o Guru, o Mestre ou Ruminado, ou como queiram chamá-lo, busca o Nirvana. O Nirvana não é a negação de tudo, como se supõe geralmente; é a eliminação dos desejos que são maus, é a eliminação do escândalo, a elimi­nação do perjúrio, da avareza, da luxúria e de outros vícios. Os Iluminados esforçam-se para tornarem-se vazios de más emo­ções e, assim, suas almas podem elevar-se dentro deles e deixar o corpo quando quiserem.

Antes que as pessoas possam fazer viagens astrais cons­cientes, têm de purgar seus pensamentos, assegurarem-se de que não querem viajar apenas por uma curiosidade ociosa, ou para poderem bisbilhotar os assuntos particulares dos outros.

É absolutamente essencial que, antes de uma pessoa po­der viajar no astral conscientemente e sob controle total, pos­sa livrar-se da luxúria crassa e dos desejos.

No Oriente muitas pessoas podem viajar no astral conscientemente, isto é, aquelas que estão no Caminho espiritual. Mas, no Oriente, os fatos da vida são tratados diferentemente e teremos ocasião de abordar esse assunto mais tarde. No mundo ocidental é realmente raro que uma pessoa possa viajar no astral conscientemente, porquanto os pecados da carne mantêm a alma acorrentada. Uma das razões mais usuais é a conduta sexual errada. Não deveria haver vida sexual ne­nhum a não ser quando o homem e a mulher se aman; assim, uma vida sexual normal aumenta a força da corrente áurica de cada um, trazendo brilho e claridade à cor das suas auras como qualquer vidente pode atestar.

Se um homem e uma mulher se empenham numa vida sexual unicamente pelo prazer animal, então escurecem as cores das auras e enfraquecem as flutuações da corrente. Mui­tas escolas orientais de pensamento oculto previnem sempre que uma forma errada de sexo não deve ser permitida se al­guém aspira progredir. Infelizmente, as traduções ocidentais ou "destraduções" afirmam que o oriental não tem vida se­xual nenhuma nos planos espirituais. Mas uma vez estão erra­dos. O sexo está muito certo, se duas pessoas necessitam dele e se amam verdadeiramente.

Nos templos hindus e tibetanos há pinturas que os oci­dentais, na sua cegueira, julgam eróticas, obscenas e porno­gráficas. Não o são, e os orientais não se sentem de maneira alguma perturbados em contemplá-las. Vêem as pinturas pelo que representam, um lembrete do que pode ser. O ato sexual é a origem da vida, é a geração de correntes áuricas mais for­tes, e as pinturas que adornam as paredes dos templos na índia e no Tibete mostram a verdadeira vida sexual e tam­bém a falsa, a fim de que o iniciado possa compará-las; por­que, afinal de contas, como se pode saber o que está errado, a não ser que alguém nos mostre, e como se pode fazer uma coisa corretamente, a não ser que alguém também nos diga? A forma incorreta de vida sexual gera manifestações desagradáveis, frigidez, problemas nervosos e uma supressão dos me­lhores instintos do homem e da mulher, enquanto a forma correta, para aqueles que necessitam, conduz a um aumento das habilidades espirituais.

Depois de algum tempo, à medida que o iniciado pro­grida e torne-se Iluminado, pode dispensar a camaradagem dos que o cercam, pode passar sem vida sexual, e, contraria­mente ao que certas pessoas pensam, nada perde com isso. A vida sexual na Terra é uma coisa muito física, mas, à propor­ção que se progride e mais para o alto, as experiências são mais fortes, melhores, e pode surpreendê-los saber que, quan­do uma pessoa deixa a Terra para a próxima vida, é absolu­tamente necessário, obrigatório na verdade, que tenha conhe­cimento do sexo oposto, a fim de que possa obter equilíbrio!

Isto é um ponto importante a ser salientado, para que não sejamos iludidos por todas aquelas pessoas estranhas, que se dizem grandes especialistas, grandes Mestres, grande sabe-tudo, porque na realidade leram alguns livros; livros não dão experiência, uma pessoa pode lê-los e continuar sem conhecimento. É fantástico que um homem ou uma mulher procla­mem do alto dos seus telhados que são grandes Adeptos Ilu­minados porque leram um livro de fulano de tal, e isso ocorre com freqüência. Recentemente, recebi uma carta de um anal­fabeto da Austrália que dizia ser um grande professor e um grande Mestre. Assegurou-me ser um Avatar; ele sabia que o era porque sua mulher lhe havia dito, e porque lera um livro ou dois e falava muito!

A verdadeira medida é: que experiência tem a pessoa? Por exemplo, você confiaria a sua vida a um homem que ti­vesse apenas lido um livro sobre pilotagem? Você viajaria daqui para outro continente num navio comandado por um capitão e oficiais que tivessem apenas feito um curso por correspondência, sobre comando e navegação? Obviamente, não. Usando o mesmo raciocínio, você não deveria confiar seu trei­namento a alguém que tenha apenas lido alguns livros ou tenha um curso por correspondência, para vender-lhe a prestações altas e vitalícias. Antes de estudar qualquer coisa, você deve­ria conhecer a experiência da pessoa a quem vai confiar seu ensino.

Bem, é tempo de voltarmos à meditação. Muita gente desconhece o que seja meditação. O que é? Meditação é uma forma especial de concentração ou pensamento dirigido, que disciplina a mente, formando uma atitude especial. Meditação é aquela forma de pensamento dirigido que o torna capaz de perceber, através do subconsciente e outros sistemas, aquilo que seria impossível perceber por qualquer outro meio.

A meditação é de extrema importância porque desperta a mente para uma maior consciência, permitindo-lhe penetrar mais livremente no subconsciente, da mesma forma que uma pessoa que possua uma grande biblioteca recorre aos livros quando quer uma informação especial. A não ser que essa pessoa saiba onde procurar, sua biblioteca não valerá mais que um monte de papel inútil.

A disciplina da meditação é essencial para que se possa obter um progresso verdadeiro na realização espiritual. Da mesma maneira que um exército seria inútil sem disciplina e treinamento, assim a psique humana torna-se ralé sem a disciplina e o treinamento da meditação, corretamente aplicados.

É inútil tentar praticar a meditação lendo um livro que foi escrito por alguém que não saiba meditar. Vários livros sobre ocultismo não são mais do que uma coletânea indigesta de parábolas orientais mal interpretadas; livros escritos por gente que na realidade nada sabe da meditação, porque é claro que só quem sabe meditar pode ensinar aos outros como fazê-lo!

Devemos lembrar-nos de que em muitos países do mundo — não-cristãos — os atendentes meditam antes de entrar no templo, para que a mente se torne clara e receptiva ao que chamaríamos no Ocidente de jargão: à Revelação Divina e à Instrução. É inútil rezar, se estamos apenas tartamudeando orações ao nosso Deus. É inútil rezar, para se ganhar um concurso de beleza ou o Sweepstake Irlandês. O processo de rezar deveria sempre ser iniciado por um período de meditação que remove da mente o lixo do pensamento e torna a pessoa pronta para receber informações dos planos superiores. Repetindo, muitas pessoas caem de joelhos e começam a dar ordens ao seu Deus, a "fazer as entregas", e depois se queixam de que a oração não resultou em nada de bom. Bem, tentem meditar primeiramente. A meditação tem na realidade quatro partes diferentes:

  1. A primeira parte é a prática da meditação, que au­xilia o desenvolvimento da verdadeira personalidade; se al­guém é capaz de meditar e desenvolver sua personalidade, en­tão torna sua vida mais feliz e mais bem sucedida. Mais feliz nos aspectos da vida e mais bem sucedida na associação com os companheiros, isto é, no trabalho. A meditação bem rea­lizada também aumenta a capacidade mental.
  2. O segundo estágio da meditação é aquele que se se­gue quase automaticamente, ao final de uma primeira fase bem completada. O segundo traz a comunicação do corpo fí­sico com o Eu Superior e deste com o Manu da nação. Antes que se possa atingi-lo, e a outros mais latos, é essencial que se tenha uma vida pura e livre de luxúria.
  3. O próximo estágio da meditação dá-nos todos os benefícios do primeiro e do segundo, e nos torna capazes de ter total compreensão do oculto. Isto é, quando uma pessoa atinge o terceiro estágio é capaz de compreender e aperceber-se. Naturalmente, aperceber-se é diferente de perceber. Aperceber-se é a percepção da mente em si (tudo aquilo que per­mite ao Eu Superior melhorar sua própria condição mental).
  4. Finalmente, há a meditação mística, assim chamada por estar tão distante dos conceitos terrenos e além da compreensão dos que ainda não conseguiram atingir esta fase. O quarto estágio da meditação nos conduz, por intermédio do Cordão de Prata, ao nosso Eu Superior e à presença da Grande Entidade que, por falta de um termo mais adequado, chamaremos de Deus. Mas os dois primeiros estágios da meditação são os passos essenciais e você deveria concentrar-se neles primeiro.

Antes de iniciar-se na meditação, é essencial ter discipli­na porque brincar com meditação é brincar com fogo. Você não permitiria que uma criança brincasse com um barril de pólvora e uma caixa de fósforos, ou pelo menos só lhe permitiria uma vez! Da mesma maneira, você precisa ter um grande controle para praticar os estágios superiores da metafísica.

Se um fiapo de homem decide ter músculos desenvolvidos como Mr. Atlas, tem que submeter-se a certos exercícios, não pode querer de repente levantar uma barra de ferro etc..., e se treinasse vinte e quatro horas por dia teria um colapso. Do mesmo modo, é necessário que a meditação seja encarada como um exercício para a alma. Se você se apressa a praticar a meditação como um turista americano que passa rápido pelo Vaticano, só para dizer que esteve lá, então descobrirá que seu entusiasmo cedo acabará. Você precisa praticá-la de acordo com um programa preestabelecido de disciplina e muita preparação porque, — tal como nosso fiapo de homem — se praticar demais, levantar pesos a mais e fizer exercícios demais, vai descobrir que seus músculos estão tão doloridos que mal se pode mover. E você, com a meditação, pode ficar com a mente dolorida, o que seria uma situação horrível.

Apesar disso, ainda quer meditar? Quer realmente iniciá-la? Bem, vejamos se gosta do que se segue: para meditar você precisa ter absoluta tranqüilidade num período do dia, de preferência de manha cedo. Esta é uma das razões por que os padres, etc, meditam antes de comer. Não deve comer nada antes de meditar, e tampouco deve fazê-lo na cama porque, se tentar, cairá no sono. Providencie para acordar uma hora mais cedo que de costume; quando o seu despertador tocar, levan­te-se, lave-se e vista-se, isso o deixará tão desperto que não terá a tentação de voltar para a cama e dormir.

Se quiser fazer isso com seriedade, deve preparar o seu Santuário Interior num canto do quarto. Terá também um pequeno oratório que o ajudará a fixar a atenção no que está tentando fazer. Assim, para aqueles que estão verdadeiramente sérios, eis como devem proceder:

Arranje um quarto (mesmo um muito pequeno servirá para o Santuário) e mantenha-o trancado quando não estiver em uso. Ponha num canto uma pequena mesa coberta com uma toalha branca. Sobre a mesa, coloque uma imagem como a de Ho Tai, por exemplo, o símbolo do Deus Vivo (não, você não está adorando imagens! Ho Tai é apenas um sím­bolo). Arranje um queimador e um bastão grosso de incenso que você deverá acender e soprar, para que produza uma fu­maça agradável. Será conveniente cronometrar a queima do in­censo para meia hora, por exemplo, para que termine ao mesmo tempo que a meditação.

O meditador sério usará uma roupa especial porque a idéia é proteger-se das influências externas. A roupa da medi­tação deverá ser ampla, com mangas largas e longas e um capuz para cobrir a cabeça. Você pode adquirir um, de seda leve e preta, ou, se achar muito caro, de algodão leve e preto. Quando a roupa da meditação não estiver em uso, deverá ser guardada numa caixa de seda preta onde não esteja em contato com outras roupas. Pode pensar que isso seja um pouco tea­tral, mas não, é a melhor maneira de obter os resultados dese­jados, e se quiser obtê-los, proceda de acordo com as regras. Portanto, você usará sua roupa de meditação quando for me­ditar.

Agora que tem o seu quarto, sua roupa de meditação, seu Ho Tai e seu incenso, vá para o quarto e sente-se em silêncio. Não é importante a maneira de sentar-se, não precisa cruzar as pernas. Sente da maneira que achar mais confortável e o impeça de ter cãibras ou pontadas porque, nos primeiros estágios, você não conseguirá meditar se estiver desconfortável. De­pois de estar sentado por alguns momentos em contemplação silenciosa, deverá repetir a seguinte oração:

Deixai-me, neste dia, vivendo minha vida dia a dia da maneira prescrita, controlar e dirigir minha imaginação.

Deixai-me, neste dia, vivendo minha vida dia a dia da maneira prescrita, controlar meus desejos e meus pensamentos, para que seja assim purificado.

Deixai-me, neste dia, e em todos os dias, manter a minha imaginação e os meus pensamentos firmemente dirigidos para a tarefa que deve ser realizada para que daí advenha o sucesso.

Viverei sempre minha vida, dia a dia, controlando minha imaginação e meu pensamento.

Você terá providenciado para que o quarto não esteja cla­ro, mas bem ensombrado, bastante escuro na realidade, a fim de que tudo pareça cinzento em vez de preto. Assim encontrará a intensidade de sombra que mais lhe convém.

 

Se você apanhar um copo de água fria e segurá-lo entre as mãos, de modo que suas palmas de dedos o envolvam, mas não se cruzem no alto, descobrirá que está numa posição conveniente para outro exercício. Agora, deixe escorregar os dedos de uma mão de modo a que se encaixem nos espaços entre os dedos da outra, a fim de que tenha a maior parte das mãos e dos dedos em contato com o copo.

Sente em silêncio e inspire profundamente. Experimente os exercícios mencionados no meu livro "Sabedoria dos La­mas", inspire profundamente e solte o ar com um som longo, bem comprido. O som é "Rrrrrrr Aaaaaaa". Deve fazê-lo alto, mas não é necessário gritar; pode ser baixo, mas bem claro, e com seriedade, porque é uma prática séria. Repita três vezes, sente e complete por algum tempo enquanto a água odonética e magnetizada focaliza o etérico do corpo numa nuvem em torno do copo de água. Haverá uma condensação (o etérico) e você verá uma névoa pesada que lembrará a fumaça azulada de um cigarro condensado numa nuvem, ou, se preferir, a fumaça do incenso condensada numa nuvem.

Quando tiver feito isso uma ou duas semanas, ou talvez um ou dois meses, dependendo da sua seriedade, será capaz de ver a sua força de vida penetrar na água e carregá-la da mesma forma que a água de soda borbulha, mas as centelhas e a efervescência que você verá serão relâmpagos de luz, linhas e tor­velinhos de várias cores. Não se apresse porque tem muito tempo. Afinal um carvalho não se cria da noite para o dia, e quanto mais sério for mais sucesso terá, e aquele copo de água se transformará num universo em miniatura com bolinhas de fogo multicoloridas, coriscando e rodopiando, no seu interior.

Você deveria organizar sua meditação num horário defi­nido. É uma boa idéia ter um rosário para controlar seus está­gios de meditação.

Poderá obter um rosário budista ou pode fazer um com contas de diferentes tamanhos, mas, não importa qual o méto­do que use, deverá manter um horário rígido. Deve meditar no mesmo quarto, à mesma hora, usando a mesma roupa. Comece por selecionar um pensamento ou idéia e sentar tranqüilo diante do pequeno altar. Tente eliminar todos os pensamentos estranhos e centralizar a atenção para o seu interior e medite sobre a idéia que escolheu. À medida que você se concentra, sentirá um ligeiro tremor interno. Isto é normal; essa vibração indica que o sistema de meditação está funcionando. Sugestões:

Para a primeira meditação, escolha o amor. Pense com bondade em todas as criaturas que vivem. Se um número suficiente de pessoas assim pensasse, o bem, eventualmente, contagiaria outros, e se contagiássemos muitas pessoas a pensarem no bem em vez do mal, o mundo seria um lugar diferente.

Depois da primeira meditação de amor, você pode concentrar-se nos aflitos. À medida que pensa neles você real­mente "vive" suas tristezas e sofrimentos e na sua compaixão envia pensamentos — raios — de compreensão e solidariedade.

Na terceira meditação, pense na felicidade dos outros, alegre-se que finalmente tenham atingido a prosperidade e tudo aquilo que anseiam. Você projeta pensamentos de alegria para o mundo exterior.

A quarta meditação é a do mal. Nesta, deixe sua mente concentrar-se no pecado e na doença. Pense em como é estreita a margem entre a sanidade e a insanidade, a saúde e a doença. Como é passageiro o prazer do momento, e como é devorador o mal de se entregar a ele. E pense na tristeza que pode causar servindo de instrumento ao mal.

  1. A quinta meditação é aquela em que se atinge a sere­nidade e a tranqüilidade. Você se eleva do plano mundano, acima do sentimento do ódio, e plana acima do sentimento de amor terreno porque este é um pobre substituto para a coisa real. Na meditação da serenidade, você já não se aborrece com a opressão nem a teme, não quer riquezas como um fim, mas somente pelo bem que pode proporcionar a outros. Na meditação da serenidade, você encara o seu próprio futuro com tran­qüilidade, sabendo que sempre se esforçará o máximo e viverá de acordo com o seu estágio de evolução. Os que atingiram esse estado estão adiantados no caminho da evolução e podem confiar no seu conhecimento exterior e interior, para libertá-los da roda do nascimento e da morte.

Vocês devem estar imaginando o que se segue à medita­ção. Bem, segue-se o transe. Temos que usar a palavra transe, por falta de uma melhor. Na realidade, essa é uma fase da meditação em que o verdadeiro eu deixa o corpo, da mesma ma­neira que uma pessoa deixa um carro.

Mas, como descobrimos freqüentemente, à nossa custa, se estacionamos um carro, às vezes ele é roubado. Da mesma maneira, se uma pessoa medita tão profundamente que entra no que chamamos de transe sem purificar a mente da luxúria, etc, faz um convite para ser roubado por outras entidades. O estado de transe é altamente perigoso, a não ser que se pratique sob supervisão adequada.

Existem várias formas de dementais e entidades desencarnadas que estão sempre rondando para ver quantos malefí­cios podem fazer; se conseguem se apoderar do corpo de uma pessoa, ficam muitos satisfeitos em poderem se divertir como os adolescentes, às vezes, roubam carros para correr pelas es­tradas; não há dúvida de que têm intenção de devolver o carro intacto, mas freqüentemente danificam-no. Assim também o corpo é na maioria das vezes prejudicado.

Deixe-me repetir que se os seus pensamentos forem puros, se as suas intenções forem puras, se você não tem medo, não pode ser invadido, obsedado, ou tomado, não há nada a temer exceto o medo. Se você não tem medo, irradia uma aura que protege o seu corpo da mesma maneira que um alarme protege uma casa contra ladrões, e se seus pensamentos são puros, se você não tem luxúria, quando a cobiça de se apoderar do seu corpo se insinuar no seu inconsciente você imediatamente olha para o cordão de prata a ver o que se passa, da mesma maneira que um agricultor vigia o pomar para proteger suas maçãs! Você não pode ser obsedado, ou tomado ou invadido, a não ser que tenha medo. Mas, se essas coisas lhe causam temor — bem, para sua própria paz de espírito e a do seu corpo, não brinque com o estágio de transe profundo na meditação.

Oponho-me fortemente ao hipnotismo, a não ser que praticado com a maior das precauções, porque se você for posto num transe hipnótico por uma pessoa inexperiente ela pode sentir-se extremamente temerosa, imaginando se vai dar certo, se conseguirá tirá-lo do transe, etc. O transe hipnótico é um transe passivo; é causado por uma série de poderosas suges­tões, fortalecidas pela pessoa que crê poder ser hipnotizada. Na verdade, quando alguém é hipnotizado, as condições são as mesmas de uma pessoa que fique vesga, porque o duplo etérico é jogado ligeiramente fora de sincronismo, o que significa que os corpos físico e etérico já não estão em completa coincidência um com outro.

Se você arranja um mal hipnotizador, ele pode fazer um estrago tremendo, pode prejudicá-lo por muitos anos. Afinal, você não iria a um cirurgião que tivesse acabado de aprender técnica cirúrgica por um curso de correspondência, você preferiria uma pessoa que pudesse operar com segurança e com­petência. Assim, pela sua saúde e sanidade, não permita que amadores se metam consigo. Se você quer ou precisa ser hipno­tizado por alguma razão, entre em contato com a associação médica da sua área e ela indicará um hipnotizador que tenha ética, e um treinamento cuidadosamente supervisionado. Po­dem pensar que estou exagerando os perigos, mas — OH! Vocês deveriam ver algumas das cartas que recebo, sobre o prejuízo causado por hipnotizadores curiosos, criminosamente descuidados. Lembre-se de que, quando você é hipnotizado, sua alma é empurrada para fora de coincidência com os cen­tros do seu inconsciente.

No caso dos médiuns, que são geralmente pessoas que en­tram num estado de transe sonhador, um estado de hipnose sonhadora, porque consciente ou inconscientemente hipnotizam-se a si próprios, são hiper-sugestionáveis e, neste caso, podem ser utilizados como telefone pelas pessoas que estão do outro lado da vida. Mas lembrem-se do que temos dito, do que temos aprendido juntos, sobre as entidades desencarna­das. As pessoas realmente boas que morreram estão muito ocupadas para brincar de enviar mensagens nas sessões.

Naturalmente, debaixo de certas condições podemos encontrar uma pessoa altamente especializada e conscienciosa, que entre num transe físico e ainda mantenha-se alerta no astral, para supervisionar o tipo de pessoa que está enviando mensagens para um grupo de assistentes. Isto é um instru­mento muito útil, quando se está fazendo uma pesquisa mi­nuciosa, mas é imperativo assegurar que a sessão não seja interrompida por ruídos, ou pela entrada inesperada de outras pessoas.

Existe uma forma muito especial de transe oculto, a que o Adepto chama de "Sono do Templo" e este é um tipo de transe absolutamente diferente dos já mencionados, porque o Iniciado que estudou tudo isso no templo sabe o que está fazendo e pode entrar deliberadamente num estado de transe da mesma maneira que uma pessoa pode se meter num carro e arrancar; fica sob controle e não pode ser obsedado por outros. Mas, é claro, isto depende de anos de prática; até que se tenha a experiência necessária, deve-se estar sob a mais cuidadosa supervisão de alguém capacitado.

A pessoa média que brinca com os estados de transe tem um sistema protetor muito útil; tente brincar com o transe e se você é uma pessoa normal e decente descobrirá que cai no sono! Isto impede que seja invadido por entidades desencarnadas. Mas, mesmo assim, há dois pontos de sério perigo. No momento em que você está entre desperto e adormecido, será vulnerável à obsessão e da mesma maneira (nessas con­dições) quando estiver acordando. Queiram anotar que isto se refere às pessoas que brincam com hipnotismo e transes; não há perigo algum em acordar e adormecer, adormecer e acordar cotidianamente.

Conclui-se que não seria muito inteligente meter-se com estados de transe, a não ser sob supervisão cuidadosa, não é?

Em certos templos, os que estão em treinamento são supervisados por dois lamas mais antigos, que mantêm contato com tudo que o acólito está pensando, orientando-o com sua­vidade e firmeza, impedem-no de prejudicar a si mesmo ou a outros. Quando o acólito passa por certos testes, permite-se então que entre em transe profundo sozinho e, geralmente, a primeira coisa que faz é entrar num transe muito profundo a que chamamos "Transe de Visão".

E é realmente muito profundo. O Iniciado torna-se completamente imóvel, pode parecer rígido, até a carne endurece. Nesse estado específico, permanece ainda no corpo, mas se assemelha a um homem no topo de uma torre alta, munido de um telescópio poderoso que lhe permite ver com muita clareza e grandemente aumentado. O homem do telescópio pode virar para qualquer direção e ver o que está aconte­cendo com espantosa nitidez.

Não se abandona o corpo num transe de visão; espera-se e pratica-se o transe de projeção, antes de poder deixá-lo e, nesse caso, o corpo se torna inerte e flácido, como num estado catalético, por assim dizer, sob a supervisão de um zelador, toda a consciência é removida. A respiração continua num ritmo reduzido, as batidas do coração diminuem, a vida flui na realidade muito lentamente.

Primeiramente, quando se entra em transe, perguntamo-nos se o que vemos é imaginação, mas com a prática sabe-se o que é real e percebe-se facilmente o que é apenas uma pro­jeção do pensamento de outra entidade, quer encarnada ou desencarnada.

Para dar uma ilustração: você está nalgum lugar, qual­quer lugar que prefira, sentado tranqüilamente e meditando em transe profundo. Se deixar a sua consciência vagar a esmo sem controle, pode encontrar-se junto a uma pessoa que bebeu demasiado e horrorizar-se com as espécies de animais esquisitos que se retorcem em torno dela. Sim, aqueles elefantes listrados realmente existem em forma de pensamento! Ainda pior do que isto, suponhamos que se deixe vagar e se encontre junto a um homem muitíssimo mal-humorado, com homicídio no coração e no pensamento; você verá a cena como se fosse realidade, em vez de um mero pensamento, e, talvez, volte ao seu corpo com um tal sacolejão que sua cabeça doera as pró­ximas 24 horas, pensando que presenciou um assassinato ou coisa pior!

O iniciado em metafísica pode facilmente reconhecer o que é real e o que é imaginário, mas ainda uma vez aconselho que se não tiver uma forte razão para entrar em transe profundo, deixe-o em paz.         

Se quiser dar-me ouvidos, pense no seguinte: se num transe profundo ou no astral encontrar entidades horríveis fazendo-lhe caretas, ou pior, terá apenas de firmar-se no pen­samento de que não está com medo e verá que desaparecerão. Elas se alimentam do medo; se você não o tem, elas são re­pelidas.

Com amizade sincera, aconselho-os a não se deixarem hipnotizar exceto por um médico competente; a não entrarem em transe, exceto sob supervisão qualificada. A meditação comum é perfeitamente segura, nenhum mal pode advir-lhe porque está na posse completa das suas faculdades. Assim, medite e aproveite imenso. Evite o hipnotismo e o transe profundo, porque não contribuirão com uma iota para o seu de­senvolvimento.

 

PODERÁ VOCÊ VIAJAR NO ASTRAL?

A Névoa Escura da Noite tornou-se gradualmente cinzenta e com lentidão afastou-se do Sol nascente. Por algum tempo, úmidas gavinhas de nevoeiro elevavam-se da grama alta. Logo, podia-se discernir a vila antiga de Much Nattering[1], ani­nhada no fundo do vale formado pelas montanhas de Cotswold. A floresta se espalhava pelas encostas como se ameaçasse engolir o vilarejo e, pelo centro da rua principal, um pequeno regato cintilava e tilintava, carregando com ele todo o refugo de uma civilização mais antiga.

Much Nattering era uma vila tipicamente inglesa, com pequenas casas de pedra, cobertas com a palha amarela dos alagados próximos. Na extremidade da vila, estava o parque e, no seu centro, o tanque de mergulho, onde as pessoas turbulentas eram sentadas numa cadeira à extremidade de uma comprida trave e mergulhadas na água estagnada e coberta de limo. Mais adiante, perto do tanque da vila, havia uma pequena plataforma de pedra, talvez remanescente de alguma erupção antiga de basalto na encosta da montanha. Ali era costume pegar as feiticeiras e jogá-las na água, para ver se submergiam ou nadavam. Se afogavam, eram inocentes; se nadavam, julgava-se que o Demônio as apoiava e, assim, a desgraçada era jogada repetidas vezes até que, eventualmente, o braço do Demônio se cansasse e ela morresse.

O mastro ainda estava ornamentado de fitas porque ontem fora feriado e os jovens da vila tinham dançado em torno dele, comprometendo-se para casar.

À medida que a luz aumentava de intensidade e o dia avançava, filetes de fumaça filtravam-se pelas aberturas dos telhados de barro ou das pequenas chaminés, anal de que os pequenos proprietários da Inglaterra punham-se em movimen­to, para tomar o desjejum, antes de saírem ao trabalho. Cons­tava de cerveja e pão grosseiro seco, porque naqueles dias não havia chá, ou café, ou chocolate, e raramente — talvez uma vez por ano — tinham alguma carne, pois só as famílias mais ricas conheciam-lhe o gosto; o resto era aquilo que podiam produzir na localidade.

Ouviu-se alvoroço, sons de movimentação. Logo os ho­mens saíam das casas para os redis, para os estábulos ou para o campo a encilhar os cavalos. As mulheres estavam, remendando e pensando como esticar o pouco dinheiro disponível, porque muito era adquirido por troca e agora todos na vila sabiam o que o outro tinha, e já era tempo de algum vendedor aparecer, e trazer mercadoria nova.

A manhã passou, projetando brilhantes feixes de Sol ao longo da rua, refletidos vivamente pelos vidros concêntricos e verdes das janelas. Sobreveio uma agitação: a Sra. Helen Highwater saiu inesperadamente de uma casa do fim da rua e marchou pelo caminho de pedra, suas velhas botas com elástico dos lados, espreitando timidamente por debaixo das saias volumosas, que rodopiavam ligeiramente com a velocidade dos seus passos. Sob o chapéu de pala com fitas, seu rosto reluzia vermelho-vivo e estava coberto por uma camada fina de trans­piração. Para diante, continuava ela como uma escuna de velas enfunadas, correndo de uma tempestade de inverno. Toc, toc, toc, toc, toc, toc, — batiam os saltos na superfície das pedras gastas.. De vez em quando, voltava a cabeça, sem parar na sua fuga precipitada, para espiar por sobre os ombros, como se pensasse que o demônio a perseguia. Só uma espreitadela e continuava com vigor redobrado, a respiração em pequenos sopros e arfadas, que, ao atingir o fim da rua, transformara-se numa série de grunhidos sincopados.

No fim da rua calcetada, virou à direita para a farmácia em solitário esplendor, separado do resto das casas. Fez uma pausa na sua fuga precipitada, olhou em torno de si mais uma vez, e contemplou as janelas fechadas do andar superior. Espreitando à volta da casa, reparou que o cavalo do farmacêutico não estava arreado; dirigiu-se à frente, subiu os três degraus de pedra muito gastos e empurrou uma sólida porta de carvalho. "Blem, Blem, Blem, Blem" fez o sininho, quando ela forçou o caminho para uma sala escura e sombria.

Odores assediaram-na de todos os cantos, almíscar, ca­nela, limão, sândalo, pinho e outros perfumes estranhos, que suas narinas não conseguiam identificar. Ela quedou ali, arquejando e soprando, tentando recuperar o fôlego, quando de um quarto atrás da loja apareceu a mulher do farmacêutico.

Oh, Ida Shakes! disse Helen Highwater. — Via-a outra vez à noite passada, lá estava ela no céu com a lua ao fundo, nua, nua, como um gaio, montada numa grande vas­soura de bétula. Estremeceu, parecendo que estava a ponto de desmaiar, de modo que Ida Shakes apressou-se a condu­zi-la a uma cadeira, junto ao pequeno balcão.

Ora, Ora, exclamou, primeiro sente-se e con­te-me tudo. Vou-lhe dar uma medida de cerveja e logo se sentirá melhor.

Helen Highwater suspirou dramaticamente e deixou os olhos rolarem para o alto. Lá estava eu, disse, de camisola em pé, diante da janela do meu quarto, contemplan­do a glória de Deus, a lua e o céu da noite. Fez uma pausa e suspirou outra vez. De repente, continuou, olhei para a direita e um velho corujão voou pela minha janela e vi que fugia de alguma coisa. Espichei o pescoço para a direita e lá estava ELA, planando no céu, sem nem um pedaço de vestimenta sobre o corpo, e pensei "meu Deus, com todos esses homens fora na escuridão, e ciganos junto ao abrigo, o que pensariam eles se vissem a filha de Satanás passando assim no alto!"

Ida Shakes serviu mais cerveja, ambas beberam em si­lêncio por algum tempo. Então a mulher do farmacêutico disse: Vamos contar esta história ao nosso padre, Reve­rendo Doguid, ele saberá o que fazer. Agora recupere o fôle­go, enquanto ponho o meu chapéu e sairemos juntas; pedirei ao aprendiz que tome conta da loja. Com isso, volveu nos calcanhares e correu para o quarto de trás, onde Helen Highwater ouviu-a dar as ordens num tom curto e seco.

Logo as duas senhoras, tagarelando como pegas, corriam estrada abaixo, em direção ao presbitério, para uma conferência com o emérito pastor e guardador de suas almas, o Reverendo Doguid.        

À milhas de distância, numa pequena aldeia longe de Londres, o feroz Cardeal Wolsei virava-se desassossegado na cama. Fazia planos para caçar feiticeiras, para fazer e desfa­zer reis e trazer austeridade tanto a príncipes quanto aos po­bres. Retirava-se para sua vivenda de campo, na vila de Hampston, a algumas milhas da cidade de Londres. Já então planejava reconstruir a mansão e transformá-la numa verda­deira corte, que rivalizasse com a do rei. Mas, naquela altura, o Cardeal, que mal sabia que no futuro seu nome seria uma marca registrada de roupa interior, revolvia-se intranquilo, enquanto por toda a Inglaterra seus investigadores especiais ron­davam, vigilantes, na esperança de serem conduzidos às feiti­ceiras para torturá-las e queimá-las na fogueira, para glória de Deus e salvação de suas almas.

O emérito Cardeal ponderava sobre essas coisas e, recostando-se nas almofadas macias, pensou com presunçosa complacência na reorganização do Céu, quando, eventualmente, lá chegasse, embora não tivesse planos para deixar a Terra num momento em que gozava de tanto poder.

Na vila de Much Nattering, as duas senhoras ergueram-se para se despedirem do Reverendo Doguid.

Bem, senhoras, então vigiaremos a janela de que me falaram e veremos o que veremos, e tendo visto, agiremos para maior glória de Deus. Inclinou a cabeça com gravidade, e conduziu Ida Shakes e Helen Highwater pela porta do presbitério.

Durante o resto do dia, podiam observar-se pequenos grupos de senhoras a cochicharem, furtivamente, umas com as outras, espreitando na direção da floresta que se agigantava no perímetro da cidade. Viam-se muitos meneios e acenos de cabeça, muito cruzar de mãos sob os aventais. Os homens, ignorando o que se passava, olhavam aturdidos para a atitude estranha das suas mulheres, aliás, como sempre fazem, e atribuíram-na à forma de loucura que as acometia de vez em quando, na mudança da lua.

Junto ao mastro, um pequeno grupo de rapazes e moças rodopiavam, dançavam e cabriolavam, ensaiando passos para uma nova dança que em breve iriam exibir para visitantes de outra vila.

Depressa as sombras da noite se formaram, e os homens retornaram dos campos caindo de cansaço, arrastando-se pelas ruas calçadas de pedra em direção às suas casas. Na sombra do presbitério, quatro homens aguardavam silenciosos, encos­tados à parede, falando em sussurros. Quando a escuridão era profunda, apareceu um vulto na porta lateral — era o pró­prio Reverendo Doguid. À sua chegada, os quatro homens le­varam a mão à testa respeitosamente. — Sigam-me até a casa da viúva, mandei um mensageiro chamar os Inquisidores.

Dizendo isto, voltou-se, circundou a parte principal da vila e tomou o caminho da floresta. Andaram por uns vinte minutos, até atingirem as sombras dos pinheiros. Aqui o avan­ço tornava-se bastante difícil porque havia apenas a luz púr­pura do céu da noite, filtrando-se pelos galhos nus, mas, co­nhecendo o local, podiam sentir e achar o caminho; continua­ram, pois, guardando o maior silêncio possível. Finalmente, aproximaram-se de uma clareira e passaram por um monte de galhos de aveleira e restos de carvão. Viraram à esquerda e diante deles surgiram os contornos escuros de uma cabana tosca. Agora, sua precaução era extrema, moviam-se com cautela e circunspeção e, devagarinho, nas pontas dos pés, atravessaram a clareira em direção à cabana.

Em fila, aproximaram-se da janela com cortinas grossas, ligeiramente abertas, por onde passava uma réstia de luz. O padre adiantou-se e espreitou. Viu uma pequena sala, com mo­biliário escasso e tosco, feito em casa com a madeira das árvores locais. A luz provinha de um nó de pinheiro que ardia, escorrendo resina. No seu tremeluzir e estalar deixava ver uma velha sentada ao centro da sala. Apurando o ouvido, per­cebia-se que murmurava alguma coisa. Por momentos, per­maneceu à escuta, vigiando-a. Então, da escuridão projetou-se um morcego, que, num mergulho, agarrou o cabelo de um dos homens; com um grito de terror, ele saltou e caiu de cara no chão, petrificado de susto.

Enquanto o padre e os outros três olhavam estupefatos, a porta da cabana abriu-se com um rangido e apareceu a Ve­lha. O padre despertou como que eletrizado, e apontando o dedo gritou:

— Filha de Satanás, viemos buscá-la.

A velha, transida de medo, sabendo a sorte que a espe­rava, caiu de joelhos chorando. A um sinal do padre, os ou­tros três seguidos lentamente pelo quarto homem que se erguia, dirigiram-se à velha, dois seguraram seus braços às costas e dois invadiram a cabana. Revistaram tudo e não en­contrando feitiços nem sinal de instrumentos mágicos, atira­ram o nós de pinho num monte de agulhas de pinheiro, para que a cabana ardesse.

Na cave da igreja, a velha estava ajoelhada diante do padre.

—        Mandei buscar os Inquisidores trovejou ele. Você é filha de Satanás, e atravessou o céu nua em compa­nhia dele!

A pobre velha deu um grito agudo de terror, sabendo que sua casa fora destruída e ela sentenciada sem julgamento.

—        Será levada a uma cela, onde aguardará a conveniên­cia dos Investigadores de Sua Majestade disse o padre, e, voltando-se, instruiu os homens que a levassem para a prisão local, e a mantivessem trancafiada.

Tarde, na manhã seguinte, ouviu-se o barulho de cascos ao longo da estrada batida, que terminou num estrondo, quan­do os cavaleiros atingiram o calçamento de pedras da rua principal e puxaram as rédeas em frente o presbitério. Do cavalo que vinha à frente, desceu o Inquisidor de Feiticeiras de Sua Majestade, um homem rude, de cara balofa e olhos apertados, como os de um suíno. Seguiam-lhe um assistente e dois torturadores, que carinhosamente descarregaram os sacos que continham seus instrumentos de profissão. Juntos entraram no presbitério onde o padre os aguardava. Por algum tempo, discutiram animadamente e então saíram, dirigin­do-se à sala que era usada como prisão local. Entrando, agar­raram a velha, que balbuciava de terror, e arrancaram-lhe a roupa. Examinando-a minuciosamente, da cabeça aos pés, enterraram-lhe agulhas para ver se havia alguma parte do cor­po imune à dor, um dos testes-padrão para feiticeiras.

Enfiaram-lhe parafusos, e apertaram-nos até que gritasse e eles se tingissem de vermelho.

Ainda não tendo obtido uma confissão, agarraram-na pelos cabelos e arrastaram-na pela rua calcetada, até o tanque de mergulho, onde uma multidão de espectadores, ávidos e ansiosos, aglomerava-se na esperança e na certeza de ver uma bruxa afogar-se.

A velha foi posta de pé na plataforma de pedra, enquan-to os homens colocavam-se dos lados do tanque. Disse o padre:

—        Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, insis­to que faça uma confissão verdadeira, para que na miseri­córdia de Deus sua alma possa salvar-se. Confesse, antes que seja tarde. — Com isso, fez o sinal-da-cruz e pôs-se de lado. A velha estava muda de terror.

Quatro homens seguraram-na pelos braços e pelas per­nas e balançaram-na no ar. O corpo subiu e deu uma camba­lhota no ar, antes de precipitar-se de cabeça na água suja e estagnada do tanque. Por momentos, só se via uma ondula­ção na superfície; apareceram, então, o cabelo e a cabeça. A velha agitava-se selvagemente na água e parecia estar fazendo algum progresso. Um espectador atirou-lhe uma pesada pedra, que bateu no lado da cabeça. Outras pedras se seguiram. A pobre deu um grito cortante e pavoroso, um olho balançava sobre a face. Outras pedras o desalojaram, e o corpo submer­giu, tingindo a água de vermelho. Por um minuto, talvez mais, parecia ainda haver movimento sob a água e um esguicho ver­melho jorrou, formando um pequeno monte.

Um dos Investigadores comentou: — Então Satanás não a salvou; afinal talvez estivesse inocente como dizia.

O homem a quem ele se dirigia deu de ombros: — Oh, bem, e daí? Todos temos de morrer um dia e nós lhe poupa­mos uma vida de miséria!

Despercebido, isolado e só, um velho corcunda ocultava-se na sombra de um grupo de árvores. Dos seus olhos brotaram lágrimas, que corriam pelas faces sulcadas e murchas. De vez em quando, tentava enxugá-las com as costas de mão nodosa. Com atenção, espreitava por debaixo das sobrance­lhas peludas e retorcida, que o auxiliava no penoso caminhar. Pela última vez a pobre velha submergiu e na agonia da mor­te emaranhou-se nas ervas do fundo. Ele murmurou: — É triste, é triste.

Uma mulher que corria, tentando chegar antes que tudo terminasse, viu o velho encarquilhado e parou. — Que aconteceu, vovô? — perguntou numa voz aguda.

—        Assassinada! — murmurou o corcunda em tom som­brio. — Assassinada no altar da ignorância e da superstição. Ela não era feiticeira, freqüentamos juntos a escola. Era uma pura, sem maldade.

A jovem mulher franziu a testa e disse num tom ameaçador: — É melhor ter cuidado com o que diz vovô, ou vai acabar naquele tanque, do mesmo jeito; tem havido rumores perigosos sobre você, sabe? E se não fosse uma boa neta, eu mesma o denunciaria. Assim dizendo, correu para espreitar fascinada a superfície tranquila do tanque que só um borbulhar ocasional perturbava.

O corcunda contemplou-a com os sobrolhos cerrados e murmurou de si para si: Superstição, superstição, sempre o inimigo do progresso. Nós que viajamos no astral, somos presas dos malvados, dos ignorantes, dos invejosos, dos que são incapazes de fazer o mesmo e julgam mal os que podem. Preciso ter cuidado, preciso ter cuidado! Pesaroso, volveu os olhos para o tanque, os Investigadores atiravam as roupas da mulher na plataforma onde ela estivera. Solenemente, com muitas invocações religiosas, puseram pederneira e lume nos despojos esfarrapados. Abanando as primeiras fagulhas, atearam fogo às vestes e pequenas partículas do material queima­do esvoaçaram no vento errante.

O velho corcunda afastou-se com tristeza, deu de om­bros arrastando-se para a floresta protetora.

Sim, através dos séculos, aqueles que viajam no astral têm sido perseguidos e punidos pelos invejosos que não po­dem fazê-lo e que se indignam com o pensamento de que alguém faça o que não conseguem. No entanto, quase todo o mundo pode viajar no astral se as suas intenções são corretas, os pensamentos são puros e se treinarem. Vejamos o que é preciso para viajar no astral.

Em primeiro lugar, precisa-se ter pensamentos absolutamente puros porque, quando se viaja ao astral, é uma questão simples de ir a casa de alguém e vê-lo onde quer que se encontre, não importa o que esteja fazendo. É possível olhar por sobre os ombros de uma pessoa que esteja escrevendo uma carta e lê-la; é possível, mas errado, criminosamente errado. Uma pessoa direita, não pensaria nunca em intrometer-se na intimidade de outra e se o fizesse por acidente, nunca, nunca, falaria do que tinha visto. Assim, se você tem certeza e não houver menor sombra de dúvida de que esta não é sua intenção, descobrirá que é na realidade muito difícil penetrar no astral conscientemente. Quase todo mundo o faz subconscientemente, quando dorme, mas conscientemente é outro assunto.          

Recebo um grande número de cartas, pedindo-me que visite fulano, para dizer o que está havendo de errado com ele ou ela, mas, mesmo que estivesse preparado para fazer isso, só há vinte e quatro horas num dia e seria totalmente impossível ir a todos esses lugares, porque consumiria muito tempo. De qualquer forma, é moralmente errado correr para a casa de alguém e espreitar o que estão fazendo no quarto ou em outra parte. Muito freqüentemente, as pessoas pedem uma visita astral porque são preguiçosas demais para tomar as providências necessárias à sua cura, ou por simples curiosidade!

Um outro obstáculo para viajar no astral, acordado, é imposto às pessoas que desejam fazê-lo para terem assunto e mostrarem como são inteligentes. Se você faz viagens conscientes no astral, não o diz, porque é um enorme privilégio ser capaz de fazê-lo e só se deve falar quando se está tentando ajudar os outros. Se pensa que viajar no astral vai substituir uma viagem com guia ou oferecer-lhe mais entretenimento que a sua televisão — isto seria fácil! — não pense mais no assunto porque não é para você.

Um terceiro obstáculo é imposto àqueles que desejam viajar no astral para controlar a vida dos outros. Há muitas pessoas que têm a mania de fazer o bem e querem correr mundo, endireitando as coisas, sem saberem porque estariam presumivelmente erradas, quando na realidade não se deve for­çar ninguém a aceitar ajuda. Afinal, a pessoa envolvida é quem melhor conhece seus assuntos, e se alguém sai voando pelo astral e tenta espiar, intrometer-se, e dizer à vítima que isto, isso ou aquilo outro, deveria ser feito, estaria tomando uma liberdade injustificável.

Vocês devem estar imaginando o que se pode fazer com a viagem astral, se há tantas limitações. Bem, está bem, vamos ao que pode ser feito: vocês podem visitar todas as bibliotecas do mundo, podem passear em qualquer lugar do mundo, podem estudar manuscritos antigos, podem (sim, isto é bem verdade!) ver outros mundos quando tiverem progredido o suficiente. Mas se vocês querem viajar e são bem sucedidos, e cedem à tentação de espreitar a intimidade de alguém, esta­rão agindo mal e, provavelmente, não poderão mais viajar no astral.

Um dos meus interesses é apreciar as pessoas saírem de noite. Gosto de sentar-me à janela, preferivelmente de um ponto alto, bem situado, e contemplar uma cidade adormecida. Devo contar-lhes como é? Devo contar-lhes como vejo as coisas?

A noite desce sobre nós e as estrelas sem idade piscam suas luzes prateadas, azuis ou vermelhas. O ar é puro e calmo, os lampiões projetam um ligeiro brilho no céu, fazendo parecer que partículas luminosas dançam sobre as ruas.

Dos telhados da cidade vem uma névoa branca, e azula­da, semelhante a um nevoeiro impalpável. Eleva-se talvez trin­ta pés, talvez 100 pés, tornando-se cada vez mais azul. Então, sua superfície borbulha como um caldeirão de asfalto fervendo. As bolhas arrebentam-se e fios de luz pálida, azul e branca, riscam o céu da noite, tornando-se cada vez mais finos, irradiando-se em todas as direções para o Norte, para o Sul, para Oeste e para Este. Alguns sobem direitos para o infinito acima e, no entanto, curiosamente, alguns descem direitos, como se procurassem outra forma de vida no âmago da terra. As pessoas dessa cidade estão adormecidas, mas seus corpos astrais, estão viajando e, como prova disto, seus Cordões de Prata brilham na escuridão da noite. De vez em quando, um pequeno estremecimento ou ondulação percorre os Cordões de Prata, esticados para o alto, um puxão, um espasmo e o Cor­dão se contrai quando o corpo astral desce, desaparece na névoa azul e volta ao corpo. As pessoas que foram talvez per­turbadas pelo abrir de uma porta, ou pelo mal dormir do com­panheiro, acordam pela manhã com dor de cabeça ou a lem­brança de um horrível pesadelo. Quase todo o mundo viaja no astral, mas, infelizmente, devido aos ensinamentos do Oeste, ao voltar, a maioria se esquece do que aprendeu e fez; se um astral retorna ao corpo, de repente, causa pesadelos e a completa destruição de todas as lembranças de experiência real.

Já lhes deve ter acontecido receberem uma sacudidela violenta, quando estão adormecendo, e experimentarem uma subida e uma descida, a sensação de que caíram de uma árvo­re ou de um precipício. Estavam no ponto de lembrarem-se da viagem astral, mas, repito, todas as pessoas podem viajar no astral conscientemente, se guardarem as condições que mencionei anteriormente, neste capítulo.

A alguma distância, dentro do meu ângulo de visão, havia um grande edifício, uma prisão. As luzes em seu redor mantinham-se acesas durante toda a noite e ocasionalmente um poderoso holofote brilhava ao longo das paredes, mas a essa hora a maioria das celas estavam escuras e ao mesmo tem­po não estavam, por causa das luzes do Cordão de Prata — os prisioneiros tinham escapado para o astral, porque, na verdade, barras de ferro não fazem uma prisão; limitam a carne, mas não são obstáculos para o astral. Assim, tanto os julgados culpados quanto os inocentes, juntam-se para subir nas suas viagens individuais durante a noite.

Muito freqüentemente, das coberturas dos altos edifícios recebem-se pensamentos terrivelmente sórdidos e até os Cordões de Prata que saem de tais lugares são menos brilhantes e manchados. Os que servem de instrumento aos desejos da carne, não viajam para os planos superiores; são limitados ao astral inferior, onde encontram personalidades depravadas e involuídas como elas próprias.

Suponha que tenha pensado em tudo isso e que decidiu que não tem desejos, nem quer espreitar outros na intimidade de suas casas; suponha que decidiu que é uma pessoa que pode viajar conscientemente; bem, então, assim é que deve fazer.

Conduza uma experiência específica: combine com um amigo muito íntimo que irá com a permissão dele, ou dela, visitá-lo em casa de noite. Faça com que ele concorde em por alguma coisa sobre a mesa — talvez uma mensagem escrita, de maneira que você possa lê-la e repeti-la no dia seguinte, para testar seus progressos.

Quando for para a cama, assegure-se de que a hora seja razoável, isto é, cedo. Não deve fazer uma refeição pesada antes de deitar-se e tampouco beber muito, do contrário seu repouso será inevitavelmente perturbado e levantar à noite pode fazê-lo esquecer a experiência de viajar no astral.

Quando estiver deitado, assegure-se de que está em per­feito conforto, sem calor nem frio; é melhor que durma só e com a porta trancada, porque sua companheira pode causar desassossego durante a noite e você voltará ao astral com um grande choque, o que causará o esquecimento de tudo o que experimentou.

Decida para onde vai. Talvez para a casa do seu amigo, e neste caso você conhece o caminho, ou talvez para um outro país. Mas, suponhamos que você visite uma determina­da casa, ou amigo; então, visualize a casa e como a visitaria se você fosse de carro ou a pé. Afirme, solenemente, antes de adormecer, que o seu astral irá àquela casa e que ao des­pertar lembrar-se-á, perfeitamente, do que aconteceu; afirme que isso acontecerá, e que você se lembrará. Repita essa afir­mação três vezes e deixe-se cair no sono pensando nisso. Se for bem sucedido, eis o que acontecerá: sentirá o corpo tor­nar-se pesado, os olhos tornarem-se cansados, adormecerá, de maneira perfeitamente normal e comum. Mas, quando adormecer, terá uma experiência semelhante à de sair de um quarto escuro para o exterior brilhantemente iluminado. Na altura da passagem, o seu corpo físico estremecerá ligeiramente e, se isto não acordá-lo, sua consciência aumentará e se tor­nará mais clara; você experimentará um sentimento verdadei­ramente maravilhoso, verdadeiramente alegre, uma animação e uma liberdade sem limites.

Sentirá como se estivesse espumando e borbulhando de vitalidade. Depois de algum tempo, ocorrer-lhe-á pensar no significado disso e então olhará em seu redor e verá que está ligado ao seu corpo físico por um cordão branco-azulado, que brilha e pulsa como uma criança que está ligada à mãe por um cordão umbilical.

Com horror e desagrado, você olhará para o monte de barro que é o seu corpo físico em repouso, talvez dobrado numa trouxa de membros retorcidos. Você sentirá repulsa em pensar que, eventualmente, voltará para aquele corpo que o limita. Mas, ainda não é tempo. Contempla as coisas de uma perspectiva diferente. Pode subir e olhar de perto o teto e as paredes, mas, à medida que vaga pelo quarto, descobre que é aborrecido estar confinado num espaço tão pequeno e pensa numa maneira de sair dali. Bem, mal pensou e já aconteceu. Você descobre que está se projetando além do telhado sem nem lembrar-se de como o atravessou e talvez outros quartos em seu caminho; agora, está de fora, flutuando acima do telhado, na extremidade do seu cordão branco-azulado.

Por alguns momentos, flutua suavemente, como que mo­vido por correntes invisíveis. Talvez olhe para baixo e identi­fique sua casa e a dos seus amigos, talvez acompanhe algum, carro retardatário disparando pela estrada. Vê a sua cidade ou seu bairro como de um balão, mas cresce a impressão de que perde tempo, de que existe uma outra finalidade que nada lucra contemplando a cidade adormecida.

Pensa nos planos que fez, nos lugares que gostaria de visitar — qual deles será, Bulgária, Buenos Aires, Londres, Berlim? Qualquer lugar! Talvez se contente em visitar um amigo e ler uma mensagem cuidadosamente preparada, para que a repita no dia seguinte e ele a confirme. Imediatamente, pense onde vai, e imagine como chegar lá. Talvez de Dublin, na Irlanda, decida ir a Nova York. Enquanto pensa, seu cor­dão astral estica-se, e estica-se, e você se eleva cada vez mais, mais alto que os astronautas ou os cosmonautas. À medida que você se eleva vê a terra girando lentamente lá embaixo, o oceano, que, daquela altura, parece um tranqüilo tanque da vila e, finalmente, o seu destino Nova York. Aqui é mais cedo quatro horas, ninguém dorme, as luzes da sua cidade estão acesas e constituem um excelente farol. Você ajusta a vista e deixa-se cair na direção da cidade de Nova York, qua­se com a velocidade do pensamento. Ao se aproximar, a ci­dade torna-se cada vez maior, e você pode escolher onde quer ir. Talvez Manhattan, talvez queira apreciar o formigueiro de gente saindo dos teatros da Broadway, talvez queira espiar o Radio City ou flutuar acima das docas e dos grandes transa­tlânticos atracados. À medida que pensa, realiza.

Nos grandes blocos de edifícios, verá luzes brilhando, há muitos escritórios. Bem, pode olhar à sua volta, ver os faxineiros e, talvez, algum administrador que ainda esteja traba­lhando. Mas a maioria das luzes vêm dos edifícios de aparta­mentos. Um aviso aqui não se intrometa, não force sua entrada na intimidade desses apartamentos, porque não gosta­ria de ter alguém lhe espionando e rindo maliciosamente, gos­taria? Bem, respeite a intimidade dos outros e poderá conti­nuar a sua viagem astral sem impecilhos.

Durante todo o período da sua viagem, mantenha na consciência o pensamento de que se lembrará, de que se lembrará, de que se lembrará. Não o deixe escapar, mantenha-o guardado em algum canto da mente, para que o estimule a lembrar-se.

Com a prática, não terá nenhuma dificuldade em fazê-lo. A princípio, quando estiver de volta ao seu corpo, pensará que sonhou, mas se visitar o mesmo lugar na noite seguinte, perceberá que não é um sonho, mas realidade. Assim, confirmando, descobrirá que cada vez se torna mais fácil.

Mas, você está no astral contemplando do ar a cidade de Nova Iorque. A noite faz-se mais escura, lá embaixo os poli­ciais nos seus carros de patrulha, entram e saem dos becos, a cidade se torna mais silenciosa, se bem que nunca haja silên­cio em Nova Iorque. Logo sentirá uma estranha impressão de desconforto, de que está sendo chamado. Seguir-se-á um formigamento que lhe chega através do Cordão de Prata. Se for inteligente e experiente, seguirá para casa, o que quer dizer Dublin, lembra-se? Se não for experiente, será puxado sem cerimônia, qual um peixe por um pescador ansioso.

Enquanto você — se estiver entre os inteligentes — dei­xa-se regressar, sobe outra vez, poderá ver a escuridão tornar-se mais densa nos Estados Unidos, atenuando-se sobre a Europa. Descobrirá que em Dublin aparecem as primeiras nesgas de luz no horizonte, e deixa-se descer, descer, e vê o telhado da casa aproximar-se; nas primeiras vezes preparar-se-á, instintivamente, para uma aterragem dura, mas, nada acontece, você desce direto pelo telhado sem nem saber como, e encontra-se outra vez no seu quarto, flutuando sobre o seu corpo físico adormecido. Você o contemplara e estremecerá mais uma vez ao pensamento de perder a liberdade de movi­mentos. No entanto, não pode furtar-se à natureza e sentir­se-a baixar, baixar, baixar. Logo estará quase em contato com seu corpo que parece tremeluzir e vibrar, a princípio lentamente, depois cada vez mais depressa. A sua tarefa é sincronizar suas vibrações com as do corpo físico, o que é uma questão de automatismo e, então, sentir-se-á afundar no corpo físico, en­volver-se numa vestimenta fria, úmida e rígida. Ê uma sen­sação inteiramente desagradável, um sufocar e contrair-se que o fará estremecer e perguntar-se por que as pessoas terrenas precisam de corpos. Então, a resposta lhe ocorrerá — bem, naturalmente, é imprescindível para estar na Terra!

Você manterá presente o pensamento de que precisa lem­brar-se de tudo, de que precisa lembrar-se de tudo, e deixará descer o seu astral, até caber certinho no seu corpo frio e pega­joso. Quando ele encaixar, sentirá um estalo, um puxão e a impressão de que está afundando numa poeira escura e lamosa. Talvez durma por alguns momentos; a seguir, perceberá a cla­ridade do dia, de que está abrindo e esfregando os olhos e bo­cejando.

O conhecimento do que fez de noite está muito claro na sua mente. Ê a hora de escrever tudo imediatamente, usando o papel, o lápis que deixou à cabeceira. Não seja "sabido" em pensar que se lembrará de todos os detalhes, porque isto não acontecerá — de qualquer maneira, não das primeiras vezes.

Esquecerá tudo, a não ser que tome a precaução elementar de escrever antes que o dia passe. Escreva e leia na primeira meia dúzia de viagens astrais à volta do mundo.

Até agora, venho tratando das viagens astrais no plano mundano, isto é, vagar pelo mundo, ver as grandes bibliotecas, as galerias de arte importante, e as cidades famosas, Bem, tal­vez queira visitar o mundo astral que está além, e que os velhos escribas denominaram "Purgatório" e "Paraíso".

Nesse caso, lembre-se de que é muito fácil, que nas anti­gas escrituras hindus estão descrições muito vívidas das viagens do homem à Lua, ao Sol, e às estrelas porque, quando você está no astral, a diferença de temperatura e a falta de atmosfera respirável não faz diferença nem o incomoda em nada. Infeliz­mente, as pessoas hoje em dia estão apenas brincando com foguetes e outras coisas tolas, esquecendo-se de que há 10.000 anos atrás, os hindus eram capazes de viajar no espaço por projeção astral. Isto não é ficção, é um fato, e, se você conse­guir alguém que traduza as escrituras hindus, poderá verificar por si mesmo.

Se quiser visitar amigos no astral, precisará de um treinamento especial, isto é, se seus amigos forem muito evoluídos, porque, no astral nos planos superiores da consciência, uma hora ou duas do tempo terreno equivalerão a diversos milhares de anos, tudo depende da velocidade do pensamento, etc. Como ilustração grosseira, levaria um décimo de segundo para o cérebro humano emitir um pensamento e mexer o dedão do pé ou virar o pulso. Bem, nos planos astrais, poderia levar um milésimo de segundo. É uma dimensão de tempo totalmente diferente. Mas você quando fizer viagens astrais, diaria­mente ou toda noite, descobrirá que sua mente é capaz de produzir mais e mais nos planos superiores, e assim não estará limitado pelas fronteiras físicas.

Para lhe dar uma idéia de diferença nos ciclos do tempo, deixe-me dizer que nesta Terra estamos na Era de Kali; em tempo celestial ela é igual a 1.200 anos, mas em tempo humano equivale a 432.000 anos.

Mas, para além do nosso sistema da Terra, para além de todo o nosso sistema de tempo e dimensões, há o sistema do "criador do Universo", que é um tempo muito longo, e no qual 4.320.000 x 1.000 anos humanos constituem, de fato, apenas um dia do "supertempo". Assim, antes que você possa localizar uma entidade superior, terá de assegurar-se do lugar que ocupa numa determinada seqüência de tempo. O que vem tor­nar claro que um médium medíocre não tem chance!

Mas, se quer sair deste para o mundo astral, bem, decida o que vai fazer e quando for dormir determine-se que real­mente quer deixar este mundo e subir sempre até o astral, ima­gine elevar-se da Terra para o espaço e para outra dimensão.

Primeiramente, deixa seu corpo pela extremidade do Cor­dão de Prata e vai descobrir que todos os valores das cores mudaram. Aperceber-se-á de cores que antes não tinham lugar no seu conhecimento. Verá que a folhagem tem muitos matizes diferentes, mais cores do que você sabia existir. Mas, talvez, fique horrorizado ao ver criaturas que não imaginava existir, algaraviando, fazendo gestos e convites obscenos. Não fique desanimado nem amedrontado, porque você está atravessando o lixo dos elementáis, etc., assim como para entrar numa grande cidade de trem, por alguma razão inexplicável, vê-se primeiro os fundos das favelas.

Não há razão para temer, nenhum elemental ou entidade pode fazer-lhe mal, desde que você não tenha medo. Se você teme, então atrai essas pessoas. Assim, a melhor coisa é prosseguir e convencer-se de que ninguém pode perturbá-lo, a não ser que esteja amedrontado.

Decida que não vai demorar-se na área dos dementais e prossiga, para a Terra da Luz Dourada. Ali verá coisas tão belas que seria impossível descrevê-las com palavras ligadas a um mundo tridimensional; a experiência na Terra da Luz Dourada tem de ser feita pessoalmente e não através de um médium ou da palavra.

À medida que sua habilidade aumenta com a prática, você será capaz de ir a outros mundos e a outros planos, mas lembre-se de que não pode intrometer-se na intimidade dos outros nem prejudicar ninguém numa viagem astral, porque seria o crime dos crimes.

Aqui está um pensamento feliz: na Terra da Luz Dourada, você só encontrará aqueles por quem sente afinidade; na reali­dade, pode até encontrar sua "alma gêmea", porque existe tal coisa, como veremos no próximo capítulo.

 

OS TRABALHOS DO HOMEM

O Velho Engenheiro Sorriu carinhosamente para a pequena figura que descansava na banca. Endireitando-se, colocou as mãos nas costas doloridas e ergueu-se enrijecido para cumprimentar o visitante. — Foi gentil em vir ver-me — disse o Engenheiro afavelmente. — Realmente, tenho um problema. Tomando o braço do visitante, conduziu-o à banca. — Aqui está ele — disse como um pai orgulhoso. — O último modelo. Ainda experimental, é claro, e há algumas dificuldades ines­peradas. Não consigo resolvê-las, suponho que esteja muito envolvido no assunto. Carinhosamente, apanhou a pequena figura e descansou-a na palma da mão.

O visitante olhou à sua volta. — Tem ambiente de tra­balho agradável. E parece ter algumas colônias prósperas ainda que este lote seja difícil.

—        Não tão prósperas quanto pensa! — retrucou o Engenheiro sombriamente. — Venha ver. Aninhando a pequena fi­gura em suas mãos, encaminhou-se para uma pequena esfera azul-esverdeada. — Há um visor, ali, dê uma olhada — e diga-me o que pensa!

O visitante aproximou os olhos do visor e tornou alguns botões. Contemplou-o por longo período e, então, com um sus­piro, afastou-o.

—        Um grupo truculento, não? — perguntou. — Parece-me que estão LOUCOS.

O Engenheiro permaneceu em silêncio por algum tempo, manuseando distraidamente a figurinha.

— Malucos? — refletiu. — Malucos? Por quê? Sim, supo­nho que sim. Parece-me que têm um problema de controle remoto ou outro qualquer. Não respondem corretamente aos sinais transmitidos, nem devolvem informações corretas. Não sei o que fazer a respeito! Voltando-se, andou para cima e para baixo, perdido nos seus pensamentos, a cabeça curvada numa contemplação intensa da figura entre as mãos. Afinal parou abruptamente diante do visitante e perguntou brusco: O que faria VOCÊ se estivesse no meu lugar? A Junta está criando dificuldades por causa da demora em acertá-los. O que faria VOCÊ?

Sem responder, o visitante voltou-se outra vez para o visor e examinou-o com intensa concentração. Cuidadosamente, focalizou e refocalizou até ficar satisfeito e, por um longo tempo, perscrutou o instrumento. Finalmente, virou-se para o Enge­nheiro que aguardava impaciente e disse: Você devia enviar um observador. Não deve ser impossível. E é a única maneira de obter resultados. Estamos muito distantes, só podemos adi­vinhar e, até agora, temos adivinhado mal. Nada mais, porém

—        pensando melhor por que não chamar um Especialista em Eficiência?

O Engenheiro balançou a cabeça em dúvida. Não retorquiu. A Junta nunca admitiria isso, e nem creio que cooperassem com um especialista de fora!

Juntos, Engenheiro e visitante dirigiram-se para a banca e sentaram-se. — Veja disse o Engenheiro, apanhando uma figura de uma caixa, este é o modelo mais novo. Chamamo-lo HOMO SAPIENS mas parece ter perdido o "sapiens", no momento. O visitante tomou a figura e examinou-a cuidadosa­mente. Aqui está outra acrescentou o Engenheiro, tiran­do mais uma, de uma caixa do outro lado da banca. O visi­tante examinou a segunda figura, comparou-a com a primeira

—        Autoprocriadores comentou o Engenheiro. Quando atingem uma certa idade e juntam-se, reproduzem-se. Na verdade, cada um tem exatamente o mesmo equipamento que o outro, num grau maior ou menor. Denominamos um "homem" e o outro "mulher". Funcionam por controle remoto, que no momento está defeituoso sem sabermos por quê.

O visitante apontou para outra caixa. E o que são esses? perguntou.

O Engenheiro fez uma cara de pesar. Oh! ESSES são subnormais disse. Não sabem distinguir a Verdade da Inverdade; denominamo-lhes JORNALISTAS!

Sim, os seres humanos estão mesmo numa confusão. Um mecanismo intrincado, que no momento não parece estar fun­cionando tão bem quanto devia.

Temos de lembrar-nos de que, no nosso sistema solar, somos formados por compostos bem diferentes dos existentes nos outros Universos, Galáxias, etc. Aqui, tudo, tudo que exis­ta, é formado dos mesmos "tijolos". Neste sistema solar existe hidrogênio, água, hidratos, amónia, metano e vários outros ga­ses. — Somos realmente formados de "tijolos", de moléculas de carbono, aminoácidos e NUCLEÓTIDOS. Destes compostos simples são construídas todas as espécies de animais, plan­tas e minerais da Terra.

Quando isso é modelado numa forma humana, o meca­nismo resultante está sujeito a impulsos magnéticos, que cha­mamos de impulsos astrológicos, e a vários raios. Mas, vamos nos aprofundar um pouco mais no assunto, e ver o que pode­mos descobrir.

Se você apanhar uma ilustração do corpo humano e olhar a espinha e os nervos dorsais poderá acompanhar melhor. O mecanismo humano — isto é, o mecanismo de controle — é na realidade composto de nove centros. O ocultista médio menciona apenas sete, porque há apenas esse número no plano material ou mundano.

Os velhos médicos chineses imaginavam todos os órgãos do corpo como sendo controlados, supervisionados por "homenzinhos", e aqui, neste capítulo, vocês verão uma ilustração adaptada de outra, originalmente desenhada na China, há 7.000 anos atrás. Você pode vê-los ajudando a passagem da comida pela garganta, soprando ar nos pulmões, mexendo os líquidos do fígado, controlando os vários esfíncteres. Mas isso referia-se apenas à parte "animal" do corpo — a carne e os órgãos. Queremos ir mais adiante, e tratar das partes que trazem a mensagem do Eu Superior e controlam as funções do corpo.

Temos de lembrar-nos de que há muito mais no corpo do que os olhos podem ver. Se olharmos para um par de fios que passam, vamos dizer, diante da nossa janela, em postes telegráficos ou similares, não podemos dizer, só em contemplar, se há corrente; para nós, são apenas fios de cobre. Mas, com instrumentos adequados, podemos verificar se há ou não cor­rente, e também determinar a sua direção.

Da mesma maneira, podemos olhar para um corpo sem necessariamente nos apercebermos dos seus vários centros que estão ligados a porções equivalentes do Eu Superior. Como já afirmei, há sete centros "mudanos" que são chamados de "chakras". No alto da cabeça há aquele a que nos referimos como lótus de mil pétalas. Seu nome em sânscrito é Sahasrara Chakra. Este é o "relé” ou centro, que está mais próximo do espiritual, e em conseqüência, o que mais facilmente se desequilibra.

Mais abaixo (estamos contemplando um corpo de costas e vemos a cabeça, os ombros, a espinha, etc), na altura do pescoço, está o Ajna Chakra. É o segundo em importância, está, na realidade, em contato com a ALMA. É o Chakra da mente e lembre-se que a mente é apenas uma função elétrica, da mesma maneira que, quando se recebe uma chamada telefô­nica, o auscultador é apenas uma "função" do que está sen­do dito do outro lado do fio.

Mais abaixo, na espinha, temos o terceiro chakra conhe­cido como Visudha. Controla a ação da boca, de modo que, se alguém tem dificuldades em falar claramente, é possível que este chakra esteja descontrolado ou prejudicado.

Desviando-me por um momento: imagine que você está caminhando pela rua e vê um empregado da companhia telefônica mexendo num dos poços de inspeção. Apanha um grande cabo coberto e remove o isolamento; você vê milhares de pequeninos fios, a maioria deles coloridos, mas, de qualquer "forma, há milhares, e você se pergunta como alguém pode se­parar tal confusão. Bem, os nervos dentro da sua espinha são assim; alguns descem e se ramificam, de modo que, quando pensar em chakras, lembre-se do homem da telefônica com todos aqueles fios e também nos pequenos relés ou estações de retransmissão, que recebem um sinal de uma estação distante e amplificam-nos antes de o enviarem para a estação seguinte.

O nosso próximo "relé" é o Anahata Chakra, que controla a sensibilidade e tudo o que tocamos. Abaixo deste, está o Manipura Chakra ,que é conhecido como o Chakra “Princípio do Fogo”, e não há necessidade de nos aprofundarmos nele porque não nos interessa muito neste estágio.

Abaixo deste, temos o sexto chakra, desta vez o Swadhishatana chakra, que trata do “Princípio da Água".

Ainda abaixo, temos o salmo, ou chakra do "Princípio da Terra”, que é chamado em sânscrito de Booladhara. É morada do Kundalini, que é, na realidade, o controle, ou vida, ou força humana. E, como diríamos, o equivalente do fogo na caldeira que aquece a água e produz o vapor que move as turbinas para gerar a eletricidade, que vai iluminar lâmpadas, esfriar o refrigerador, etc. na nossa civilização. Uma vez que o fogo se extinga, a eletricidade é interrrompida por falta de vapor e tudo pára.           

Muitas pessoas que foram mal ensinadas ou “desensinadas", tentam aumentar a força do Kundalini por meios artificiais, porque, de fato, se aumentarmos o kundalini adequada­mente, podemos nos tornar muito mais conscientes, muito mais inteligentes. Mas, fazer isto indiscriminadamente, sem uma total pureza de pensamento, é prejudicar-se imenso e com freqüência conduz à loucura; aumentar o Kundalini sem pensar nas conseqüências, podem levar a um completo colapso físico e mental. De modo que, a não ser que você tenha um Mestre que já o tenha experimentado e conheça o assunto a fundo, não tente aumentar o seu Kundalini. Um mestre não o fará, a não ser que esteja seguro de que é para o seu bem.

Aqui, seria bom acrescentar que as pessoas que condu­zem cursos por correspondência, ou oferecem-se para fazer pequenos serviços por pouco dinheiro, não têm poder para su­pervisionar com segurança o seu desenvolvimento, ou aumentar seu Kundalini, mas podem causar-lhe grande mal.

Antes que uma entidade física do tipo humano, isto é, úma pessoa que viva neste mundo, possa atingir uma consciência cósmica é necessário que tenha certos movimentos do Kundalini, que são algo diferente daqueles para aumentá-lo! Se alguém está sexualmente superexcitado e — deixe-me dizer — sensual, pode ser mal, porque o sexo por si, isto é, sem amor verdadeiro, pode paralisar temporária ou permanentemente o fluxo da força do Kundalini. Por "permanentemente" quero dizer durante esta vida, enquanto perdurar o mau uso do sexo.

Cada parte do corpo, enquanto na terra é fortemente associado, é ligado ao seu oposto astral por meio desses chakras. Sem dúvida, já ouviram falar de pessoas que tiveram umapêrna amputada e que aparentemente ainda sentem dores, no espaço que estaria ocupado por ela. Isto é porque a perna física, que foi removida, ainda tem certa influência sobre a perna astral que, naturalmente, não foi nem pode ser cortada.

Outra vez fazendo referência à viagem astral, é imperativo que retornemos ao corpo físico, para que cada parte do corpo astral se encaixe nas suas correspondentes físicas, de modo que os órgãos astrais e os físicos estejam em completa afinidade uns com os outros. Os corpos também precisam ser corretamente sincronizados, de acordo com a direção do fluxo da corrente.

Como toda corrente, a eletricidade precisa ser ou positiva ou negativa flui numa direção e volta da direção oposta —, assim também os seres humanos têm um fluxo de corrente. Os dois fios humanos são conhecidos como Ida e Pingala. Natu­ralmente, não são fios, mas tubos. Ida está no lado esquerdo e Pingala no direito, e essas duas fontes fornecem a energia ne­cessária para o funcionamento passivo do Kundalini. Podemos encará-los como zeladores que asseguram a boa manutenção do Kundalini para que esteja pronto para o uso nesta vida, se o merecermos, ou, em caso contrário, pronto para o uso na próxima vida, porque quando o Kundalini, começa a aumentar sob tratamento e controle corretos, Ida e Pingala são dispensa­dos. Mas enquanto o Homem (e a mulher também!) depende­rem de Ida e Pingala, estarão confinados ao plano da Terra e à teoria e prática do nascimento, morte e renascimento. Somente quando o homem é capaz de aumentar o seu Kundalini e des­viar-se das fontes de energia de Ida e Pingala, pode progredir e saber que chegou o tempo de libertar-se do ciclo do nasci­mento, morte e renascimento.

É melhor encarar esses chakras como estações de retransmissão, ou se preferirem, de controle remoto. Lembrem-se, também, de que há outras partes importantes no corpo como o gânglio cervical, no pescoço, ligeiramente abaixo do nervo vago. Depois temos o plexo cardíaco, o plexo solar, e o plexo pélvico, mas esses são "subestações" e não devem nos preo­cupar indevidamente.

Na Terra, somos grandemente afetados por toda a espécie de influências externas. Há vários raios que nos afetam e dei­xe-me dizer logo que a astrologia é uma coisa muitíssimo real, da qual as pessoas não deveriam zombar; mas, somente dos praticantes que a desvirtuam porque para praticá-la com propriedade envolve tanto trabalho e tempo que não é uma pro­posição comercial. Certamente você não obtém nada que valha a pena lendo nas colunas dos jornais diários o seu "horóscopo".

Os "raios" são uma espécie de derivação dos raios cósmi­cos, e de acordo com a hora do dia, a latitude e a longitude, você está sujeito a eles. Como lhe afetam, depende da sua constituição astrológica. Há, por exemplo, o laranja, o amarelo, o verde, o azul, o índigo e outros, mas será afastarmo-nos muito, discutir o princípio dos raios num livro desta natureza. Digamos, no entanto, que, quando alguém recebe a faixa ver­melha do espectro, lida com o desenvolvimento da individualidade, que o púrpura relaciona-se com a mente de grupo, o verde dá-nos um ímpeto de aprender. O amarelo é a sabe­doria.

Um dos raios mais interessantes é o azul que, suposta­mente vem sob a denominação de Hermes. No Egito antigo e na Caldeia era conhecido como o Raio dos Magos.

De maior utilidade para nós, no momento, são os signos do Zodíaco.

Imagine que tenha um grande rolamento de esfera, numa superfície lisa e colocasse ímãs a sua volta, poderia segurá-lo numa posição e movimentando os ímãs, fazer com que o rolamento de esfera mudasse ao seu bel-prazer. Imagine os pla­netas como ímãs e você próprio como o rolamento de esfera. O nosso primeiro ímã é o Sol, que se manifesta no que chama­mos de sétimo plano da Consciência Espiritual Abstrata. O resultado da influência solar é dar vida e fazê-la florescer.

O nosso próximo ímã será Júpiter; é "jovial", benigno, bondoso. Relaciona-se com o sexto plano da Consciência Es­piritual. É um planeta benfazejo e dá um bom equilíbrio moral.

Todos sabemos que as pessoas joviais são felizes e agra­dáveis de conhecer.

O ímã seguinte é Mercúrio, que tem o quinto plano da mente abstrata. Faz as pessoas espirituosas e agitadas. Conduz aos negócios lucrativos: As pessoas compreendem perfei­tamente o que seja um "tipo mercurial". Diz-se que o Deus mensageiro controla este quinto plano, que também dá uma boa memória.

Nossa quarta posição é Saturno, que vem a ser a consci­ência sólida. As pessoas saturninas insistem nas coisas e são geralmente opostas ao temperamento jovial. São limitadas, res­tritas e sérias. Quem tem superabundância deste signo espe­cífico precisa adquirir paciência e estabilidade para progredir.

Chegamos à Vênus. O nosso "ímã" ocupando o terceiro plano das emoções abstratas. Todos sabem que Vénus é a Deusa do amor; é, também, um planeta ligeiramente bondoso. Faz com que as pessoas tenham ideais e emoções superiores e desenvolvam a personalidade e individualidade. As pessoas de Vênus podem ser lindas, a não ser que estejam estreita­mente associadas com os "maléficos".

O nosso segundo plano é Marte, e também o nosso sexto "ímã". Marte marcial, guerreiro conhecido como o que dá a energia. Pode ser um planeta ligeiramente maléfico se os seus poderes não forem usados corretamente. Marte domina o corpo físico e freqüentemente os desejos sexuais. Se corretamente utilizado, Marte aumenta a consciência, a coragem, a força, a perseverança.

E por último, a nossa sétima influência que é a Lua. Bem, todos sabemos o que faz a Lua, e sua preponderância na vida humana, provoca o fluxo e refluxo das marés, não apenas no mar, mas também no corpo humano. Pense na "maré feminina" todos os meses, pense na palavra "lunático", de lunar Lua. Ela não tem luz própria, reflete a que recebe; assim, a pessoa que sofre demais a influência da Lua não tem perso­nalidade própria, meramente espelha os pontos de vista e opi­niões daqueles que a cercam.

Provavelmente, quase todos já ouviram falar de "almas gêmeas". Isto existe, sabem, mas no plano da Terra o encontro de almas gêmeas é uma ocorrência rara. Veja: se resumir-se ào básico e considerar o mundo da antimatéria, concluirá que para ser uma. "bateria" completa tem de haver um positivo e um negativo. Assim, para você ter uma alma gêmea que forme uma entidade completa, terá de haver uma pessoa no nosso sistema astral e outra no sistema correspondente, na antimaté­ria astral, completamente afins.

O que geralmente acontece, entretanto, é que no astral existem dois Eu Superiores altamente afins; cada um envia uma marionete à Terra; ambas, por sua vez, são inteiramente compatíveis entre si, encaixam-se, e aproximam-se um do outro, têm a sensação instantânea de comunicar, de "pertencer”. Dir-se-á: Sei que já encontrei esta pessoa antes! Uma amizade realmente verdadeira pode desenvolver-se, mas, como disse an­tes, tais casos são bastante raros na Terra. Em vez disso, há freqüentemente um alto grau de compatibilidade entre duas pessoas que se completam e consideram-se almas gêmeas. Po­dem ler o pensamento um do outro, sabem exatamente o que o outro vai dizer, segundos antes que o diga.

Acontece mais ou menos a mesma coisa entre gêmeos idênticos que são naturalmente duas pessoas geradas no mesmo ovo. Esses dois terão muita afinidade um com o outro e mesmo a milhas de distância experimentarão as mesmas emo­ções e podem até casar-se ao mesmo tempo.

Um homem pode estar muito apaixonado por uma mu­lher; podem imaginar que são almas gêmeas, e se o são terão interesses semelhantes. Por exemplo, um homem não poderia ser um ateu confirmado se a mulher tem uma forte crença religiosa. A desigualdade das suas crenças causaria dissonância, desarmonia, atritos entre eles e em vez de os aproximar cada vez mais, afastaria um do outro.

O máximo que se pode esperar neste mundo é que duas pessoas altamente compatíveis possam viver juntas e, pela pureza de seus pensamentos e ações, tornarem-se mais unidos. Mas esta é uma realização muito difícil nos tempos presentes porque completo sacrifício e desprendimento. É inútil um homem ceder e dar tudo a uma mulher pensando que está agin­do certo, assim como é inútil uma mulher dar tudo a um homem è pensar que está agindo certo. Não é suficiente que, cada um dê tudo ao outro; em vez disso, deve dar exatamente o que o outro precisa, do contrário se afastarão.

Muitas pessoas pensam que encontraram a sua alma gêmea quando conhecem alguém astrologicamente compatível, e que vive sob o mesmo "raio". Eles podem viver e viverão em har­monia, mas não é uma harmonia perfeita, não é a fusão de duas almas para formarem uma entidade. Na realidade, se as pessoas fossem assim tão perfeitas já não poderiam permanecer neste mundo imperfeito tanto quanto uma pedra de gelo não pode durar quando atirada às chamas de uma caldeira. Assim, os seres humanos — Homem e Mulher — devem ten­tar conviver exercendo tolerância, paciência e desprendimento.

É grande o número de pessoas que se encontram para desenvolver ligações cármicas, e para que isso seja feito é necessário que entrem em estreito contato um com outro, para o bem ou para o mal. Se um homem e uma mulher são postos em contato através de laços cármicos, por exemplo, o homem apaixona-se pela mulher e a mulher pelo homem, formando uma grande ligação amorosa que pode ter o efeito de cancelar muitos aspectos cármicos negativos, porque, apesar do que possamos pensar, no fim prevalecerá o bem.

Se alguém ama outra pessoa e esta o detesta, ainda assim se formará um laço cármico, que será insatisfatório, mas permanecerão juntos até que o ódio seja erradicado e o amor sur­ja. Deve ficar claro que só a indiferença completa e total pode impedir a formação de uma ligação cármica. Se você gosta de alguém, forma-se um laço cármico, se você a detesta tam­bém, se lhe é indiferente então não se forma nada. Assim qualquer reação a uma pessoa, inicia uma cadeia que causa o carma. Por exemplo, pode haver uma amizade entre um pro­fessor e um aluno, neste caso forma-se um vínculo. Pode ser permanente ou temporário, que termine num instante, como um relâmpago, e ser atribuído à queima de algum elo cármico.

O pior estado é aquele em que um grande amor é interrompido pela morte. Se uma mulher perde seu marido, en­quanto ainda o ama, não tem uma vazão para esse amor e ele ficará armazenado até que eles se encontrem numa encarna­ção futura e as condições permitam sua expressão. Assim, se alguém lhe disser que encontrou uma alma gêmea, sorria com­preensivo e fique calado.

Esses nossos corpos velhos e desgraçados estão sujeitos a toda sorte de sofrimentos estranhos; como uma complicada peça de um aparelho pode desajustar-se, assim os corpos hu­manos podem fugir à sua condição perfeita. E como muitas rfessoas desejam ser curandeiros, não seria despropositado fa­lar, aqui, um pouco sobre tratamentos afinal de contas esta­mos falando dos trabalhos do homem!

Este é um mundo negativo, e segue-se que um tratamento negativo é o mais adequado; logo, justifica-se o termo que usa­mos para designar esse tratamento específico tratamento negativo.

Primeiramente, você tem de expelir todo o ar que tiver nos pulmões, realmente exalar, forçar a saída do ar e perma­necer assim, tanto quanto possa sem sentir-se muito desconfor­tável. Isto permite ao corpo atingir o que poderíamos chamar de polaridade negativa, porque fica deficiente de prana, deficiente de ar.

Então, respire levemente, apenas por alguns momentos (por assim dizer, para recuperar o fôlego!). Repita tudo, exa­lando o mais completamente possível, expelindo todo o ar dos pulmões. Permaneça com os pulmões vazios pelo tempo que puder, sem muito desconforto e sem se matar. Então, respire outra vez levemente; quando tiver recuperado um pouco do fô­lego, repita o mesmo sistema, até que tenha completado três vezes por três vezes você expirou completamente deixando o seu corpo tornar-se negativamente polarizado.

Agora, você sabe onde dói; pouse a mão sobre a pele da parte a ser tratada. Retire a mão a palma para que apenas o indicador e o polegar comprimam firmemente a pele. Mantenha-os na área a ser tratada e, outra vez, expire e pare de respirar. Enquanto tiver parado de respirar, imagine vividamente a força da vida fluindo das pontas dos seus dedos (da mão esquerda), para a parte afetada.

Logo você terá de respirar de novo, mas respire tão leve­mente quanto possível, inspirando somente a quantidade de ar necessária para mantê-lo vivo, os dedos ainda em contato com a área a ser tratada. Você deve repetir três vezes e cada vez comprimir com os dedos o local da dor, no mínimo dois minutos.

A melhor maneira de se cuidar é realmente aplicar este tratamento de hora em hora, até que se sinta bem. É muito eficaz porque você invoca forças exteriores.

Se você é sujeito a resfriado e fica com a cabeça congestionada, pode aliviar imensamente tal condição aplicando o tratamento negativo. Neste caso, você colocaria o indicador e o polegar de cada lado do nariz logo abaixo dos olhos. Man­teria presa a respiração depois de ter expirado o máximo. Imaginaria a força da vida fluindo para o nariz e matando todos os germes que estão causando o problema. Digo-lhe com toda a seriedade, que se experimentar isso, logo em seguida sentirá um estalido no nariz e a congestão se dissipará. Des­cobrirá que então será capaz de respirar pelo nariz.

A asma é um mal pouco compreendido. Toda a espécie de remédios são receitados, mas em muitos e muitos casos ela é causada por um estado nervoso, que não responderá a tais formas de tratamento. Neste caso, ponha o indicador e o polegar de cada lado da garganta logo acima do pomo de Adão. Isto é, para o tipo comum de asma, naturalmente, se você tem o tipo que causa uma respiração difícil e dolorosa, então terá de afastar os dedos umas três polegadas e colocá-los no encon­tro da garganta com o peito.

É claro que, se tem asma há muitos anos, não pode espe­rar uma cura em poucos segundos. Precisa ter paciência e bom senso, mas, se persistir no tratamento, descobrirá que ela desaparecerá definitivamente. E isto será mais rápido, se você fizer um pouco de meditação e introspecção, ponderando sobre a causa da sua perturbação nervosa. Muitos e muitos casos são causados pela preocupação nervosa e a asma atua como uma válvula de escape fornecendo-lhe uma "saída".

Deixe-me repetir que deve seguir essas instruções com exatidão, e usar sempre a mão esquerda. Não se pode obter uma cura negativa forte, usando a mão direita. Lembre-se então expire o ar dos pulmões, mantenha-os vazios por uns instantes e use sempre a mão esquerda. Descobrirá que até uma queimadura séria responde a um tratamento desta natureza; nesse caso, naturalmente, usará o indicador e o polegar, colocando-os sobre a queimadura. Compreenderão, é claro, que se tiverem uma queimadura muito grave, bem, quanto mais cedo chamarem o médico, melhor. Mas pode fazer seu próprio tratamento enquanto espera.

O Kundalini, como já disse, é a "fornalha" do corpo hu­mano e, naturalmente, ele e o cérebro podem ser considerados os pólos opostos de um ímã, se preferir a teoria do ímã à da fornalha. Mas, suponha que seja muito vidente, e que tenha um corpo nu diante de si vamos estudá-lo.

Temos uma parede forrada, de preferência, com veludo preto; tem aproximadamente quatorze pés quadrados e coloca­mos uma pequena plataforma a mais ou menos quatro pés do chão. Sobre a plataforma ergue-se o modelo nu de costas para o veludo. De pé, em frente ao modelo, e observando-o com vidência, percebemos um filete branco e brilhante que é a corren­te entre o cérebro e o Kundalini, que está, conforme já disse, na extremidade da espinha na realidade um pouquinho mais abaixo.

Vocês já viram essas luzes fluorescentes em lojas ou la­deando espelhos? Bem, suponhamos que a vidência lhe permita imaginar a força da vida parecida com um tubo daqueles. Primeiramente, vemos um tubo brilhante de luz que se estende do alto do cérebro do modelo, até algumas polegadas abaixo do fim da espinha. Você o contempla por alguns segundos, obser­vando como flutua e pulsa, a princípio como um tubo fino e depois ao ocorrer um outro pensamento ao seu modelo expandindo até se tornar uma faixa larga.

Se você é experiente neste gênero de coisa, a seguir, será capaz de ver que o corpo é contornado por uma luz azulada muito parecida com a fumaça de um cigarro. Se você acender um cigarro e deixá-lo queimar, ele solta uma fumaça azulada muito diferente da exalada por um fumante. Esta luz azulada (parece-se muito com uma fumaça luminosa) irradia-se da superfície do corpo e tem uma espessura uniforme, que depende da saúde e da força do modelo. Numa pessoa mais idosa pode ter aproximadamente meia polegada de largura e numa real­mente vigorosa pode estender-se por duas, três polegadas ou até mesmo quatro. Isto é o etérico, a "radiação animal" de um corpo.

A aura é superposta ao etérico. Estende-se além da ca­beça, e se você for suficientemente vidente, verá no centro desta um jogo de luzes que se assemelha muito a um pequeno cha­fariz borbulhando, cintilando e mudando de cor, de acordo com os pensamentos da pessoa. Bem, em torno da cabeça, verá um halo ou nimbo. Parece bem, todos sabem com que se parece um halo, mesmo se não tiverem nenhuma esperança de conse­guir um! mas talvez devêssemos descrevê-lo; parece um disco de ouro, o grau, cor ou matiz do ouro depende da espirituali­dade ou estágio de evolução da pessoa em pauta. Se é espiritual e está-se aperfeiçoando, o ouro terá uma patina esverdeada. Quanto mais espiritual mais amarelo parecerá no ouro.

Em volta do corpo há redemoinhos de cores, na realidade há muito mais do que podem ser descritas em termos terrenos, porque há cores, sombras, matizes, etc, além da gama abrangida por palavras. Elas redemoinham em volta da cabeça, dos olhos, do nariz, da boca, da garganta, dos seios, do umbigo, do sexo, e então o redemoinhar torna-se menos intenso em torno dos joelhos, se bem que haja um brilho considerável na parte de trás. A cor diminui, torna-se mais uniforme à medida que a aura desce para os tornozelos e os pés.

Como dissemos, o nosso modelo está a quatro pés do chão e, assim, a pessoa sendo normal, a parte inferior do revestimento ovóide da aura apenas tocará o chão quatro pés abaixo do modelo. A parte mais fina deste ovóide aponta para o chão. Se você esticar os braços, normalmente, tocaria seus limites.

As cores da aura fluem, rodopiam e trançam-se nas outras cores, é um tremeluzir constante; e embora seja uma ilustração insatisfatória, só posso compará-las ao brilho do petróleo derra­mado em água, assim as cores da aura brilham, mas mais in­tensamente.

 

Cada cor tem um significado, cada estria tem um signifi­cado. Não só isso, mas a direção da corrente também tem um significado. Imagine que você apanhe um ovo e embrulhe-o com toda espécie de sedas de diferentes cores, enrola para trás, para diante, para cima e para baixo, nunca usando a mesma cor duas vezes; isto lhe dará uma idéia grosseira do aspecto da aura.

Você vê a aura, vê o etérico e vê no interior a luz que brilha intensa, a da força da vida, bastante difícil de explicar, mas pode-se ver todos os três, sem que um interfira com o outro. Talvez haja uma boa maneira de ilustrar: você está sentado ao ar livre, e tem uma imensa paisagem diante de si. Seus olhos podem ver, de algumas polegadas do seu rosto até um número ilimitado de milhas. Se quiser focalizar sua mão, ergue-a ao rosto e pode ver as linhas da palma. Enquanto faz isso, pode ainda estar consciente do cenário ao fundo, mas este não interfere nem o distrai do estudo da sua mão.

Isto representa, vamos dizer, olhar para a aura e seu revestimento. Agora, vamos um passo adiante, a dez pés uma pessoa sentada numa cadeira, e você pode vê-la claramente. Está consciente da sua mão junto ao rosto e da paisagem distante, mas nem a proximidade da sua mão nem a paisagem in­terferem com o estudo da pessoa sentada a dez pés de distância. Isto seria olhar o etérico.

Agora, para olhar a força da vida brilhando tão intensa­mente entre o cérebro e o Kundalini, pode-se dizer que ergue­mos os olhos afastando-os da pessoa que está sentada na cadeira e contemplamos a paisagem, talvez o Sol poente, ou se preferir outro mais adequado a esta ilustração, o Sol nascente! Você pode aperceber-se do Sol nascente, estudar a paisagem, sem ser afetado pela pessoa sentada na cadeira, ou pela sua mão que está a poucas polegadas. Assim, está claro que você pode ver a aura, o etérico e a força Kundalini, dependendo da maneira como mova ou focalize a sua vidência.

A finalidade do fundo de veludo preto é evitar que as pes­soas se distraiam. Por exemplo, se você tem um interruptor de luz numa parede, ou um quadro, ou um espelho, sua vista é instintivamente atraída por um reflexo ou um ponto brilhante; se ela se distrai, pode distrair sua vidência, Para melhores resul­tados deveria usar um fundo fosco, sem nenhum desenho, e naturalmente precisa haver um modelo nu porque, se usa rou­pas, a sua vidência é desviada pelas emanações das cores do tecido. Da mesma maneira, se você está olhando o Sol através de uma janela, a luz sofre uma mudança aparente devido à cor das cortinas.

Outra maneira de ver: você tem uma luz elétrica acesa, sem quebra-luz; então, você vê a cor realmente emitida pela lâmpada. Agora, se você colocar uma cúpula colorida sobre a lâmpada, a cor aparente será destorcida pela mistura da cor natural da lâmpada em si e a cor do material da cúpula, e você será enganado. Temos uma coisa semelhante em fotografia: se você quer tirar uma fotografia em cores, com um filme de expo­sição diurna, mas usa-o sob luz artificial, as cores sairão todas erradas. Assim — se você estiver fazendo a experiência a sério precisa de um modelo nu; não há nada de mal nisso, somente os pensamentos das pessoas desviadas por algo de que trataremos no capítulo onze, abordando o sexo!

Os antigos chineses — depois copiados pelos japoneses — gostavam de pensar que todos os órgãos do corpo tinham homen­zinhos para cuidá-los. Bem, não estavam tão errados, sabe, por­que aqueles estão ligados ao cérebro por vários nervos e estes sabem tudo o que acontece a todas as partes de todos os órgãos. As funções de um órgão costumavam estar dentro do controle consciente do homem, mas, agora que as pessoas negligenciaram tais coisas, ele se tornou automático, na sua maior parte. Há muitos Adeptos que podem controlar conscientemente o fun­cionamento dos seus órgãos. Na Índia, os faquires, que geral­mente são Adeptos degenerados, dão demonstrações disso. Po­dem atravessar uma faca pela palma da mão e ao retirá-lo o ferimento fecha em minutos. Estas coisas são reais, mas hoje em dia o controle dos órgãos é praticamente inexistente.

A ilustração deste capítulo merece ser estudada porque ve­rão que um artista fantasioso desenhou pequenos monges e acólitos sob a supervisão de Lamas controlando as funções do cor­po. Isto é muito parecido com o "Sistema Monitor", que pre­vine o cérebro quando qualquer estrago ou mau funcionamento ocorre. Também vale a pena visualizar o seu corpo, como sen­do controlado por esses homenzinhos, porque, quando quiser meditar profundamente, pode, controlando-os, obter uma medi­tação completa. Tudo o que tem a fazer — como já foi dito em vários dos meus livros, é mandar os homenzinhos saírem e se agruparem no exterior do corpo, para que a sua consciência seja removida. Faça-os marcharem dos dedos dos pés pelas pernas acima e estes se tornarão relaxados e tranqüilos. Faça esses homenzinhos deixarem os seus rins, seus intestinos e seu baço, etc., e descobrirá que consegue um relaxamento completo e total; quando isso acontece, você é capaz de fazer a mais profunda das meditações e obter verdadeiras revelações do outro mundo. Experimente, mas, primeiro, leia tudo sobre este sistema nos meus outros livros. Não quero entrar nesse assunto aqui, ou alguém dirá que não tenho mais nada sobre o que escrever e começo a repetir-me.

 

ESCREVA ISTO!

Da África e da Índia, da Austrália e da América, de todos os países do mundo até daqueles por trás da Cortina de Ferro vêm cartas. Milhares delas. Perguntas perguntas perguntas. Como tornar-se um santo. Como usar um mantra e ga­nhar o Sweepstake Irlandês, como ter bebês, como NÃO os ter. Da Malásia e de Manchester, do Uruguai e da Iugoslávia vêm cartas. Perguntas e MAIS perguntas, que, geralmente, caem dentro de um certo padrão. Assim, neste capítulo vou responder às perguntas mais comuns. Acalmem-se, certamente não vou mencionar o nome de ninguém!

PERGUNTA: Tenho lido muitas histórias a seu respeito nos jornais, e, antes de comprar qualquer dos seus livros, pen­sei em escrever-lhe para perguntar se são verdadeiros.

RESPOSTA: Garanto-lhe, definitivamente, que todos os meus livros são verdadeiros. Tudo o que escrevo é experiência própria e posso fazer TODAS as coisas sobre as quais escrevo. Tendo dado esta garantia, deixe-me dizer algo mais! Meus livros são verdadeiros, sim, mas certamente os desconfiados não sabem distinguir a árvore da madeira. Que diferença faz QUEM seja eu, o que ESCREVO, é que é importante. Através dos anos, hordas de "experts" têm tentado provar que estou errado. E fa­lharam. Se sou um impostor, de onde extraio o conhecimento que agora outros copiam? Meus livros contêm as minhas pró­prias experiências pessoais, nada têm da chamada "escrita auto­mática", de que a imprensa tanto gosta. Não sou possesso nem obsedado, apenas uma pessoa que tenta desempenhar uma tarefa muitíssimo difícil, em face do fanatismo e do ciúme. Há gente em "postos elevados" na Índia e em outras partes que poderiamauxiliar-me, mas que prostituem sua religião na política, e assim, por razões políticas, etc., negam a verdade do que escrevo!

Meus livros muito têm contribuído para "popularizar" o Tibete e mostrar que ele é bom e espiritual, mas nada disso é levado em conta. Uma liderança mais forte teria permitido ao Tibete evitar a agressão comunista, mas nunca nenhuma guerra pôde ser ganha sentado numa cerca esperando ver "para que lado pula o gato"!

Recebo milhares de cartas de pessoas que afirmam que a verdade dos meus livros é evidente, e tenho realmente orgulho em poder afirmar que nos últimos dez anos, só recebi quatro cartas desagradáveis ou ofensivas. Voltando ao primeiro parágrafo da Resposta, deixe-me acrescentar que é mui­to divertido observar as pessoas discutirem a identidade do autor, mas não perceberem a finalidade dos seus livros. O pobre Shakespeare deve pensar que o seu Bacon[2] está no fogo quando "sintoniza" algumas pessoas muitíssimo inteli­gentes que "sabem" que Bacon escreveu Shakespeare e que este era aquele! Quem escreveu a Bíblia? Os Discípulos? Seus descendentes? Um grupo de monges brincando com as Escrituras originais? Que importa? Somente o que foi escrito, inte­ressa, não o nome ou a identidade do autor.

Assim, para responder à pergunta: sim, todos os meus livros são verdadeiros!

PERGUNTA: O que é o Nirvana? Por que os hindus só querem sentar sem fazer nada e esperar que no fim tudo - dê certo?

RESPOSTA: Os hindus não pensam isso. O Nirvana não é a extinção de tudo; é completamente impossível viver num vazio, num estado de vácuo. Para viver, precisa-se progredir e desenvolver. Considere um carro, por exemplo. Primeiramente, faz-se um protótipo que é experimentado na pista de cor­rida da fábrica e, depois, se for um carro de boa qualidade, é enviado às montanhas da Suíça para ser testado ali e talvez às florestas da América do Sul. Quando o carro é experimen­tado, aparecem certos defeitos que podem ser eliminados; a finalidade do teste é descobrir o que está errado e consertá-lo.


 

O mesmo se aplica aos seres humanos — têm de ser tes­tados para se encontrar os pontos fracos, a fim de que possam ser superados. Isto tem sido feito todo o tempo nos estágios comuns da evolução. Vocês concordarão que muitos modelos de rádios, carros ou quaisquer outros — foguetes espaciais, se preferirem — têm defeitos e os que se seguem são melhores porque as falhas foram eliminadas.

O Nirvana é o estágio em que as imperfeições dos seres humanos são eliminadas. Assim, o hindu e o oriental erudito tentam superar seus erros, tentam eliminar seus desejos e outros vícios interessantes, mas prejudiciais. Pode-se dizer, que tentam num estado vazio no que concerne o vício, que eles abandonam, buscando apenas a perfeição. Assim, em vez de procurar obter montes de nada, tenta livrar-se do vício para deixar mais espaço para o bem.

A idéia antiquada de que o Nirvana é um estado de va­zio, no qual a pessoa senta num vácuo mental e espiritual é falsa e deve-se às traduções erradas. Os ocidentais pensam que sabem muito; tentam pôr em termos concretos o que são apenas sussurros abstratos.

O Nirvana, então, é o estado em que existe o mal, onde se é como os três macacos sábios que não vêem o mal, não dizem o mal e não fazem o mal, e quando este não existe há espaço para mais bem, não é mesmo?

PERGUNTA: Igrejas, missionários, ocultistas, todos es­tão atrás do dinheiro, são todos uns aproveitadores, querem despojar-nos, nós, pobres, que temos de ganhar a vida honestamente. Agora, diga-me, por que deveria dar, por que deveria preocupar-me com esse velho sistema de dízimos? Que bene­fício me traria?

RESPOSTA: Bem, naturalmente, se é assim que pensa, não há nenhum propósito em dar, porque fazê-lo sob essas condições é o mesmo que dirigir-se ao botequim local e com­prar uma garrafa de cerveja. Dá o seu dinheiro e recebe em troca um determinado objeto concreto. O dar no sentido espi­ritual, é totalmente diferente, e você simplesmente não pode misturar as duas formas de dar da mesma maneira como se diz que não se pode misturar bebidas. Mas, vamos examinar o assunto mais de perto.

Todas as Igrejas, todas as religiões, admitem a necessi­dade de sacrifício; nos tempos primitivos do Cristianismo, a Igreja achava que dar era essencial ao "sacrifício". Nos pri­mórdios da Igreja, e mesmo agora na maioria dos países, ela exige um décimo da renda dos seus fiéis. Na Inglaterra, cha­mam-lhe "o dízimo" e sob as velhas leis inglesas — eclesiás­ticas, naturalmente — a Igreja tinha direito a um décimo dos bens e ninguém escapava, mesmo que não fosse cristão, por­que, na realidade, uma pessoa podia ser multada por não fre­qüentar a igreja. Era mais barato ouvir as "palavras de sabe­doria" e contribuir na coleta. Se alguém se esquivasse, pagava mais sob a forma de multa.

Era necessário que o povo desse um décimo dos seus ha­veres para financiar a Igreja. Havia padres de muitas espécies que precisavam ser mantidos. Alguém tinha de pagar e como a Igreja estava no poder providenciava para que o sr. e a sra. Leigos arcassem com a despesa.

E essencial que alguém dê antes que possa receber. Dar é como abrir uma porta; se não a abrimos, não podemos admi­tir as coisas boas que estão à espera. Se não estamos prepa­rados para dar, não podemos nos colocar num estado de espí­rito receptivo. Isto, na realidade, é quase um problema de mecânica.

Nas épocas anteriores aos ensinamentos cristãos, na al­vorada da história, os povos acreditavam no sacrifício porque não seguiam as palavras dos "cientistas" de araque; sabiam pela própria experiência que, era essencial, e sacrificavam aqui­lo que lhes era mais caro. Sacrificavam uma criatura de valor, tím carneiro, ou, algumas vezes, um filho. Isto não era feito por crueldade, mas com o pensamento de fazer o que consideravam ser agradável aos olhos de Deus. Pensavam que se oferecessem aquilo que para este tinha o maior valor, mostrariam a Deus o alto valor que davam ao Seu agrado.

No Oriente, é costume dar-se com largueza aos necessi­tados. Um monje com seu prato não é apenas um mendigo importuno; a governanta ou a dona da casa aguarda ansiosa que ele bata à sua porta e lhe reservará a melhor comida. Mesmo em muitos lugares da índia, onde a pobreza é extrema, as pessoas separam comida para um monge que apareça; isto envolve um considerável sacrifício e significa estarem sempre no limiar da fome. No entanto, o sacrifício é feito de boa vontade, o monge nunca tem que pedir, bate à porta, a dona de casa o verá, apanhará seu prato e o encherá de co­mida. Se ela é muito, muito pobre, porá no prato o que tiver disponível e talvez o monje vá a três ou quatro casas até que consiga o suficiente. Mas os vizinhos que não forem visitados naquele dia, considerarão isso um sinal de desagrado, porque sabem qual o mérito obtido por quem dá, particularmente quando isto significa um sacrifício.

Desviando-me outra vez (isto é um dos meus vícios que talvez elimine no Nirvana!) é deplorável que muitos se assus­tem à simples menção de dinheiro, se bem que na realidade gostem muito dele. Esperem obter o conhecimento dos séculos sem pagar um tostão por isto, que uma pessoa tenha vida longa, estude todo o tempo e transmita sua sabedoria, tudo que obteve, a troco de nada, apenas para ter um bom nome, suponho. Mas, o que aconteceria se você quisesse estudar medicina ou ser agente funerário, isto seria horrível, não?... Suponhamos que quisesse estudar alguma coisa, pagaria para obter o conhecimento necessário; mas, quando se trata de ocultismos, então, toda a gente pensa que vai obtê-lo de graça.

Esquecem-se que mesmo aqueles que têm conhecimentos ocultos precisam viver, comer, vestir-se — a não ser que quei­ram ser autuados por imoralidade; e, se estão tão ocupados em aprender e ensinar, não podem ganhar a vida. Como vão alimentar-se e vestir-se? Sacos de estopa e cinzas já caíram de moda e parece que há falta de folhas de figueira.

No Oriente, os eremitas não ganham dinheiro porque não há disponível. As pessoas não pagam pelos ensinamentos porque na maioria das vezes não podem; retribuem, portan­to, em serviço. O estudante que fornece a comida e as roupas, o professor dá os ensinamentos e assim vivem cada um conhecendo e partilhando as dificuldades do outro e fazendo concessões. Mas, no mundo ocidental, onde o comércio impera e onde uma libra esterlina ou um dólar são quase tão bons quanto Deus, isto é tudo que interessa. Se você não tiver dinheiro, então é um impostor ou um fracassado. Tive algumas experiências notáveis neste assunto; talvez apareçam em um outro livro, quando contar as minhas experiências com a imprensa e algumas pessoas invejosas da Alemanha e de ou­tras partes. Mas, agora, voltemos ao ato de dar.

É necessário dar para receber. As pessoas pedem, rezam, para obter dinheiro, saúde, não importa o que, pedem para que lhes seja dada alguma coisa, nunca dizem que querem dar, e é um fato que se alguém está sempre a pedir torna-se servil como um cão que quer apenas um afago da mão do dono.

Há uma lei oculta que diz que não se pode receber sem primeiro dispor-se a dar. Imagine que esteja num quarto com a porta e as janelas fechadas, não trancadas à chave, apenas fechadas. Se quiser, pode imaginar a porta e as janelas feitas de papel fino. Do lado de fora, empilhadas em sacos, prontas para serem levadas, estão jóias e riquezas dignas do resgate de um rei ou mais. Tudo o que você sonhou ou quis. No en­tanto, não poderia empurrar aquela porta, não poderia de ma­neira nenhuma chegar às jóias, que seriam suas se quisesse. Sem fazer o primeiro movimento simples, que seria empurrar a porta, não obterá nada.

Naturalmente isto é simbólico; o ato de abrir a porta significa o dar, e a não ser que alguém dê de boa vontade, está fechando a porta à qualquer possibilidade de obter o que deseja, não apenas fecha a porta, mas passa a chave, põe uma tranca e empurra a mobília contra ela, para que não seja aberta. Quem está sempre a pedir sem dar, é uma pessoa insatis­feita, frustrada, que não conhece o seu caminho na vida, que procura "algo", mas não com muito esforço, que está à espe­ra que outros façam tudo por ela, mas não está disposta a despender um mínimo de energia para que a coisa se resolva mais rapidamente.

É freqüente um homem ou uma mulher ir a um metafísi­co em busca da cura para alguma doença, talvez causada por seu excesso de imaginação. Bem, neste caso, a pessoa que procura auxílio deve estar disposta a dar cooperação, por exemplo! porque ninguém pode ser curado sem cooperar e estaria perdendo tempo em ir a um metafísico ou qualquer ou­tra espécie de médico. E assim, tantas pessoas dizem: Bem, duvido que me cure ou outras palavras do mesmo teor.

Você pode dizer como muitos: Bem, que tenho eu para dar? Não sou rico, como posso dar? Trabalho muito para conseguir o que tenho, não vou dá-lo a alguém que se senta e faz comentários sabidos. A resposta é: a não ser que esteja pronto a dar de boa vontade, está no caminho errado, deveria voltar, em vez de seguir em frente. Para os que estão realmente se esforçando, a resposta é: se você não tem dinheiro, pode dar sob forma de serviço, em carinho e cuidados a alguém que necessite. Se algo de bom lhe foi feito, por que não dar algo de bom a outra pessoa? Nada recebemos sem re­tribuição, só ganhamos aquilo que pagamos. Você não espe­raria receber um carro de luxo se estivesse preparado para pagar apenas por uma bicicleta.

Mas, existe muita incompreensão sobre o dar. As pes­soas pensam, — Oh, eles estão sempre pedindo, sempre que­rem isto e aquilo, não podem ser boas coisas se estão sempre a querer dinheiro. É muito fácil recostar-se e pensar: — O que é que já não quero, do que é que já cansei, de que posso me livrar para diminuir o monte de lixo? Já sei, vou dar aque­la coisa velha porque, então, estarei justificada em comprar uma melhor. Isto é inútil, uma perda de tempo, uma zomba­ria. Não adianta dar aquilo que não envolva sacrifício, que não acarrete uma perda. Algumas pessoas nasceram para o dinheiro — então deixemo-las dar alguma coisa em prol de uma boa causa, porque não importa quanto dinheiro um homem amontoe durante a vida: não poderá levar um só tostão deste mundo. Ninguém até hoje conseguiu levar um objeto material para além do que chamamos o Véu da Morte, mas todos levamos os ensinamentos que adquirimos através das nossas experiências na Terra, levamos um extrato de tudo o que absorvemos. Quanto mais aprendemos, e quanto mais aprendemos de bem, mais ricos seremos quando formos para o que é verdadeiramente a Grande Realidade, onde aqueles que só buscaram o dinheiro para sua própria exaltação nesta vida nada possuem quando já não o têm.

Se tem poder, então ajude aos outros, porque aquele só lhe é emprestado para ver como você o utiliza. O homem das multidões, o líder de um país, nem sempre é um homem bom e sim alguém a quem foram dadas condições a fim de que aprenda. Vamos lembrar, também, que aqui somos como ato­res num palco usando a roupa que nos convém no momento, da mesma maneira que usamos os pertences de um teatro para podermos viver o papel que nos é destinado.

Lembrem, também, que o príncipe de hoje é o mendigo de amanhã e o mendigo de hoje, o príncipe de amanhã. Não importa quão rico e poderoso alguém tenha sido nas vidas anteriores, quando vem pela última vez a esse tempo da existência encontra problemas, falta de conforto, privação e in­compreensão. Isto porque vem para acertar as peças e pedaços desiguais, para pagar todas as dívidas. É como uma pessoa que vai para uma casa nova e precisa limpar todos os cantos, todas as caves e sótãos da casa velha. Mas, tratemos um pouco mais do sacrifício.

Abrão, Moisés e outros, milhões e milhões de outros, praticaram sacrifícios. Sabem o que significa sacrifício? Pensem em "sacramento". Bem, que significa "sacramento"? Sa­crifício, naturalmente; somente por seu intermédio pode-se obter o auxílio dos Poderes Superiores, mas para se sacrificar você tem de privar-se de algumas coisa sua para que outro possa beneficiar-se. O sacrifício pode exigir que se desfaça de alguma coisa a que tem apego, mas que seria uma grande bênção para outros ou para ajudar alguém que não teve a mesma sorte que você.

Você é cristão? Se é, lembre-se do que diz a Bíblia: E mais abençoado dar que receber. O dar abre a fonte do nosso potencial para o bem, abre os portões para obtermos aquilo que desejamos. É inútil dar para ser conhecido como uma pessoa santa, de boas intenções. £ inútil ter as suas doa­ções de caridade publicadas nos jornais, porque isto não seria dar, mas comprar, estaria comprando publicidade para si.

Pensemos que até darmos aquilo que envolva esforço, sacrifício, perda, não poderemos receber nada que valha a pena. Assim não valerá a pena dar?

PERGUNTA: Dizem que as pessoas têm imperfeições que impedem seu progresso no caminho da ascensão. Quais são as principais falhas que retardam o progresso?

RESPOSTA: Muito bem, vamos examinar alguns desses, defeitos. Sem dúvida, podem encarar os erros com um espírito de imparcialidade científica porque todos que me lêem óu estão a caminho de eliminá-los ou já o fizeram. Precisamos examinar tanto os defeitos como as virtudes. Afinal os médicos examinam os cadáveres e os dissecam para se esclarece­rem e aprenderem com as imperfeições e a podridão que en­contram.

Um dos principais defeitos é o escândalo. O escândalo é a sabotagem da alma, não a da vítima, mas a da pessoa que origina e alimenta o escândalo. As pessoas adoram o escândalo, dizer coisas que reduzam a cinzas o bom caráter de outra; se não há verdade no que dizem, isto as faz sentirem-se ainda melhor. Sou tão bom quanto ele! Por que deveria ele escapar ileso, com certeza deve ter falhas!

Acontece em alguns países que alguém não pode ser processado por difamação ou calúnia, se estiver dizendo mentiras, mas só se estiver repetindo a verdade! Assim, as pessoas gostam de escândalo, de injuriar com palavras àqueles que não têm coragem de atacar fisicamente. O escândalo, os boa­tos mentirosos, são um ataque pérfido e malvado à alma de alguém, porque repetindo diz-que-me-disse e inventando boa­tos e mentiras, danifica suas próprias cargas elétricas, o que é o mesmo que tomar um veneno para a alma.

O perjúrio é outro vício que prejudica o autor, eventualmente, muito mais do que o injuriado. As pessoas ouvem uns boatozinhos, um pouquinho de escândalo, mas não é su­ficiente, nem bastante sujo, então, acrescentam um pouco mais para torná-lo pior, e passam-no adiante como um fato para outra pessoa que acrescenta outro tanto. Isto prejudica a alma do autor. Freqüentemente, a inveja — outro grande vício — é a causa do boato. Um homem simplesmente não pode su­portar a visão de outro, tem inveja do seu sucesso imaginário, então trabalha para pô-lo no seu lugar, começa uma campa­nha de murmurações ou o condena com falsos elogios. É fato que uma pessoa pode prejudicar outra imensamente dizendo: — Bem, suponho que ele se esforçou o máximo, afinal deve­mos dar-lhe crédito por isso. — Então, para um ouvinte des­cuidado, este indivíduo ganha uma reputação de ser um ho­mem razoável que elogia mesmo nas circunstâncias mais di­fíceis.

 

Um outro vício é a cobiça; a cobiça é análoga à inveja. O sr. X está terrivelmente invejoso do sucesso do sr. Y. O sr. X é ganancioso, faminto de dinheiro, como se diz em alguns países, e a cobiça alimenta a inveja; quanto mais invejoso se torna o sr. X, tanto mais ganancioso. Tudo isto é um veneno mortal para a alma — que é uma coisa real, como já deve­riam saber. Quando favorecemos o escândalo, o perjúrio, ou damos lugar à cobiça e à inveja, estamos fazendo uma carga contrária à nossa alma, e isto, realmente, pode nos magoar.

O Nirvana é a eliminação de coisas como a inveja e a cobiça, o escândalo etc., e a melhor maneira de progredir é lembrar-se do ditado: — Fazei com os outros como gostaria que lhe fizessem.

PERGUNTA: Compreendo que há pessoas que pegam numa pedra, numa cigarreira, ou num lenço, e podem obter impressões sobre o dono de tais objetos. Como é "feito isto?

RESPOSTA: Você está se referindo à psicometria, que é receber impressões táteis que numa parte oculta do cérebro são transformadas em imagens ou visões. Agora poderá perguntar-se como é possível apanhar impressões de um objeto inanimado, mas vamos tornar isto mais claro, dando-lhe um pequeno exemplo.

Suponhamos que alguém tenha estado segurando uma moeda, esta adquiriria o calor da mão dessa pessoa e se fosse colocada sobre uma mesa com outras moedas, você não teria dificuldade em descobrir qual a que fora segurada. Seria a que tivesse algum calor. Isto é apenas uma coisa física, mas lhe mostrará que há impressões.

Se quiser tentar a psicometria, deveria, primeiramente, retirar-se para o seu santuário ou quarto de meditação. Comece como se fosse meditar, e então, pegue um objeto cuja história deseje conhecer; segure-o na mão esquerda e deixe-o descansar de leve sobre a palma da mesma mão. Procure deixar a mente vazia ou receptiva, pode sentir que não sabe o que buscar, o que esperar, como proceder. Bem, sente-se e não faça nada. Imagine que tem um grande quadrado negro dian­te de si, e que nele aparecerão imagens.

Primeiramente, você receberá impressões e não imagens. Pode sentir que alguém está infeliz ou feliz, pode perceber lam­pejos vagos de algum ambiente específico que não é o seu. Ficará, então, inclinado a duvidar que esteja recebendo alguma coisa; mantenha o objeto enrolado quando não estiver em uso, para que outros não o toquem; e pratique. Você terá de fazer repetidas tentativas, antes que possam perceber quanto é sua imaginação e quanto é seu poder psicométrico. Faça isso diversas vezes, toda noite, durante uma semana e desco­brirá ao fim desse tempo, que tem algumas conclusões defi­nitivas sobre o objeto.

Se, depois de alguns minutos, não conseguir nenhuma impressão sobre o objeto, coloque-o sobre a têmpora esquerda ou direita. Sè não funcionar, experimente a nuca. É possível que você seja canhoto de natureza, e neste caso use a mão direita em vez da esquerda. Mas o principal é experimentar em diferentes posições — mão esquerda, mão direita, têmpo­ra esquerda, têmpora direita, nuca. Deixe a mente vazia e tente visualizar as impressões que estão sendo transmitidas pelo objeto.

Lembre-se de que quando você vê uma pedra na estrada ou um pássaro no céu, seus olhos não chegam até lá; o que você recebe são as impressões ou vibrações transmitidas por eles. Neste caso específico, embora você receba impressões, chama-as de visão. Em psicometria, onde também recebe im­pressões, você vai além da superfície e colhe suas sensações visuais na parte oculta do cérebro. É uma questão simples de prática.

A melhor maneira de praticar é arranjar uma pessoa de quem goste verdadeiramente, pedir-lhe que apanhe uma pedra na praia, lave-a cuidadosamente com água corrente, encoste-a à testa e pense com atenção numa mensagem para você como "apanhei esta pedra numa segunda-feira (ou o dia que for)". Então, que embrulhe a pedra num papel fino e lhe dê sem mais tocá-la. Se praticar com coisas assim, logo verá que a psicometria funciona.

PERGUNTA: O senhor não é cristão, não foi criado na Bíblia, o que pensa dela?

RESPOSTA: Bem, tem de lembrar-sé, para começar, que a Bíblia foi escrita muitos e muitos anos depois dos acontecimentos que são relatados. E ainda, que foi traduzida, mal tra­duzida e retraduzida muitas e muitas vezes. O grande sacer­dote fulano de tal exigiu uma nova tradução, então aparece alguém com uma, ou então o Rei James I, ou outro, decidiu que queria uma tradução autorizada. Apesar disso, ela con­tém muito de verdade, porque a verdade nunca morre, pode ser ocultada até certo ponto, mas para os que sabem discernir, está sempre lá. Na questão da Bíblia, há estranhos registros escritos nas línguas misteriosas da idade pré-histórica, mas nem sempre se pode tomá-los pelo seu valor aparente. Você não poderia tomar os manuscritos exatamente como se apresen­tam, não pode interpretá-los literalmente, teria de usar uma simbologia.

A Bíblia é um livro esotérico e, naturalmente, está ligado ao sistema simbólico dos hindus, caldeus e egípcios. Cristo foi ao Tibete e depois de passar pela Índia e estudar suas reli­giões — na realidade ELE estudou no Tibete — regressou ao mundo ocidental como uma religião basicamente oriental, mas adaptada ao ocidente. Se duvida, lembre-se de que se es­tudar os sistemas hindus encontrará os mesmos glifos e núme­ros e se ao menos esses "cientistas" desgraçados lessem a bíblia corretamente, tendo em mente a antropologia, a etno­logia, a cronologia, a fisiologia e tudo o mais, teriam uma maior compreensão da história, porque a Bíblia é um auxiliar precioso para o estudo das eras passadas. Mas, antes que se possa ler a Bíblia, é necessário saber tudo sobre os hierofantes caldaicos, pelos quais se adquire o conhecimento da Cabala.

Se estudarem cuidadosamente os primeiros cinco Livros do Velho Testamento, descobrirão que registram lendas e são uma dissertação bastante útil sobre as fases filosóficas da cosmogonia.

Todos conhecem a história de Moisés e como ele foi encontrado entre os juncos pela filha do Faraó. Bem, pode interessar-lhes saber que tudo isso aconteceu mil anos antes, porque há certos azulejos conhecidos como "Azulejos Babilônicos" que contam a história do Rei Sargãb. Ele viveu antes de Moisés, muito tempo antes, na realidade 1.000 anos antes, e a história de um menino encontrado entre os juncos era a sua história. O livro do Êxodo não foi escrito por Moisés como geralmente se acredita, mas foi coletado de várias fontes anteriores por Ezra; com relação a isso, o livro de Jó é o mais antigo do sistema hebreu e, certamente, é anterior a Moisés.

E ainda mais: qualquer das grandes histórias da Bíblia, tais como a Criação, a Queda do Homem, a Culpa da Mulher, o Dilúvio, a Torre de Babel, foram escritas muito antes da época de Moisés. Essas histórias são na realidade versões pos­teriores daquilo que os arqueólogos chamam de Manuscritos Caldaicos.

Os judeus adquiriram suas primeiras idéias sobre a Cria­ção, de Moisés, que por sua. vez as obteve dos Egípcios, e todas elas foram tiradas dos registros caldeus-acádicos e re­escritas por Ezra. Vocês encontrarão que Deus é o Logos. E que a Bíblia, na realidade, começa com uma má tradução onde sé lê: "No começo Deus criou o Céu e a Terra." Isto não se referia à Terra física, mas ao Superior e ao Inferior, ao Visível e ao Invisível.

Há muitas discrepâncias; consideremos, por exemplo, a primeira parte do Gênesis: Deus disse, "Que haja o firmamento", e um segundo Deus obedeceu e fez o firmamento. O pri­meiro Deus disse, "Que haja luz", e o segundo Deus fez a luz. De onde se depreende que Deus comanda outros Deuses que lhe deviam ser inferiores, por cumprirem suas ordens.

"Que haja luz." Isto não significa a luz do dia, a luz do sol ou a luz artificial, e sim a luz espiritual, significa elevar a alma do homem das trevas, para que ele se aperceba da gran­deza de Deus.

E ainda, Adão não foi o primeiro homem. A Bíblia nos diz isso porque em Gênesis 4.16.17, Caim foi à terra de Moab com a intenção de comprar uma esposa. Ora, se Adão foi o primeiro homem, qual a finalidade de Caim ir a Moab buscar uma esposa se não houvesse nenhuma! Na realidade Adão é composto de dez Sephiroth, e, naturalmente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são o trio superior no mundo arque­típico, enquanto o segundo Adão é uma composição esotéri­ca, que representa os sete grupos de homens — os sete gru­pos da humanidade que, assim, formaram a primeira raiz da raça humana.

Existiram atlântidas que fizeram muita pesquisa: se você ler a Bíblia, como deve, isto é, esotéricamente, descobrirá que as sete chaves que abrem os mistérios das sete grandes raízes das raças, remonta maus tempos da Atlântica. Assim, os egíp­cios obtiveram informações dos atlântidas, os judeus dos egíp­cios, alterando-as um pouco e passaram-nas aos cristãos que pegaram toda essa informação, destorceram-na consideravelmente, os tradutores para o Latim acertaram as arestas dos comentários e fizeram-na encaixar nos novos ideais e idéias cristãs, da mesma maneira que hoje em dia os políticos alteram a história para beneficiar seu próprio país. Direi mais alguma coisa sobre religião adiante neste capítulo, mas sobre a Bíblia já é suficiente.

PERGUNTA: O senhor acredita na história do Jardim do Éden? Escreva-me dizendo o que pensa ser o seu significa­do real.

RESPOSTA: Em resposta à sua pergunta acima, acabei de dizer que terminei com a Bíblia, no momento. Bem, tere­mos de reabrir a questão para responder à sua pergunta que creio referir-se à lenda sobre o Jardim do Éden, se acredito na queda de Adão e Eva, e se ela foi causada pelo interesse na diferença entre os seus corpos. Em outras palavras, ao ler a pergunta, se penso que o sexo foi a ruína da humanidade. Não, é claro que não. Acho que tudo isso é tolice. No tempo do Papa Gregório freqüentemente chamado "o grande", a vasta Biblioteca Palatina contendo muitos manuscritos foi destruída. Havia papiros que remontavam quase aos primórdios do cris­tianismo.

A Biblioteca foi destruída. O Papa achava que os homens estavam aprendendo demais; e se os homens aprendessem mais que os padres, representariam um perigo para estes, pois fariam perguntas que os padres teriam dificuldade em responder.

O Papa Gregório achou que os homens deviam recome­çar sem o benefício dos escritos de outros. Teve também uma idéia de que o momento era oportuno para reescrever a história do cristianismo e editá-la de tal maneira que o poder dos padres não ficasse diminuído. Assim, as bibliotecas foram queimadas e manuscritos inestimáveis perderam-se para a mé­dia dos homens. Alguns deles, em duplicata, foram escondidos em cavernas noutras partes do mundo, mas para os que têm acesso ao Registro Akáshico todo o conhecimento está sem­pre disponível.

No caso de Adão e Eva, devemos lembrar-nos de que o chamado pecado original não foi o sexo, não tinha nada a ver com o corpo físico, era uma coisa abstrata. O pecado original foi o orgulho, o falso orgulho; pessoas inferiores a quererem igualar-se aos Deuses. O homem e, naturalmente, a mulher julgaram-se iguais a Deus e rebelaram-se contra Ele. O Jar­dim do Éden era a jovem Terra, que então se tornava apro­priada para abrigar uma nova raça — a humana. Compreenda que já existiram muitas raças na Terra, muitas formas de vida.

Antes que o homem, como o conhecemos, aparecesse nesta Terra, havia outra raça semelhante, não macacos pelu­dos como popularmente supõe-se, mas um tipo completamente diferente, habitando continentes há muito submersos no ocea­no, para que outros pudessem aparecer e outras nações se formassem.

Esse povo era diferente. Tinham traços anatômicos algo diverso dos nossos, sobre os quais não precisamos nos estender. Sua pele era púrpura e eram maiores e mais altos que os seres humanos do presente. Eram inteligentes, talvez demasia­do inteligentes para o seu próprio bem e viviam no chamado Jardim do Éden.

De acordo com os registros antigos, a Terra era uma co­lônia, uma colônia povoada por entes vindos de muito dis­tante, de além do nosso universo. Ao tempo do Jardim do Éden, os Supervisores que eram gigantes, de acordo com a percepção humana, vieram à Terra verificar a nova raça de homens, o povo púrpura. Eram, na realidade, uma vez e meia o tamanho do povo da Terra, daí termos uma memória racial da época em que Deuses e gigantes andavam pela Terra.

Os supervisores, que, afinal de contas, eram apenas hu­manos de um tipo diferente, confraternizaram muito livremen­te com o povo púrpura da Terra e tornaram-se tão demasiado amistosos, que os terrenos inferiores começaram a ter uma noção exagerada da sua própria importância; pensaram que, se os Deuses se associavam a ele, é porque deveriam ser maravilhosos. E, assim, ficaram impressionados com as armas e aparelhos muitíssimos estranhos dos Deuses, com as caixas que mostravam imagens e produziam vozes e música vindos do éter. Conspiraram e planejaram derrubar os Deuses, os Supervisores, e obter tudo aquilo para eles próprios.

Veículos conhecidos como os Carros dos Deuses relampejavam pelo céu dia e noite. Os Deuses estavam ocupados percorrendo a nova Terra, verificando o bem-estar do povo, mas ainda tinham tempo para confraternizarem.

Idealizaram um esquema pelo qual uma jovem, que agra­dava particularmente aos Deuses, deveria tornar-se ainda mais atraente a um certo Supervisor. E o plano era que, enquanto os Deuses estivessem "ocupados", como poderíamos dizer, os homens os matariam.

Os Deuses tomaram conhecimento do plano e de que a humanidade era muito, muito falha, de que tinham pensamentos traiçoeiros, ansiavam pelo poder e tinham orgulho falso orgulho. E assim, a humanidade foi expulsa daquele lugar par­ticularmente agradável; em outras palavras, foi expulsa do Jardim do Eden pelos anjos de espadas flamejantes. Agora, pensem: suponhamos que um selvagem que nunca viu um avião a jato visse um deles passando no céu, roncando como uma tocha ardente, não seria um Carro dos Deuses? Supo­nhamos que visse uma arma sendo disparada, visse a fumaça e talvez uma chama saindo do tambor, não pensaria ser uma espada flamejante? Precisava dar-lhe um nome e não conhecia um revólver; uma espada flamejante serviria, chegou até nós através dos livros de história e tudo o mais.

No curso do tempo, a evolução natural da Terra provo­cou terremotos e tremores, fez com que continentes submergissem e emergissem. A maior parte da humanidade foi des­truída nas várias catástrofes e calamidades, mas alguns escaparam refugiando-se nas terras altas. Alguns deles, na realidade, continuaram a viver de acordo com a memória ancestral. Por exemplo, já viu alguma vez um nativo da África que não fosse preto, mas quase purpura escura? Pense nisto. Concordará que já há no mínimo três raças na Terra, a preta, a amarela e a branca. São três raças diferentes e há bastante dissensão entre elas, dissensão racial, como se cada uma considerasse a outra uma intrusa.

Assim, voltando ao Jardim do Éden, descobrimos que os Deuses quando andavam na Terra eram bons e cheios de consideração. Naturalmente, não eram Deuses, mas supervisores de fora deste Universo. A humanidade tentou aproveitar-se deles, e o pecado original não foi o sexo, que é uma função natural, mas o orgulho e a rebelião.

Ê claro que a Igreja, ao tempo do Papa Gregório, e de fato, muitas vezes na sua história, tem tido uma grande fobia ao sexo. Não contra o orgulho. E porque convinha aos seus propósitos, disseram que a queda do homem se deu através da mulher porque a mulher o tentou com o sexo, a mulher era uma pecadora, uma tentadora, sempre a transgressora.

Não há nada na Bíblia, nem na crença cristã verdadeira que corrobora a afirmação de que a queda do homem foi atra­vés do sexo. O próprio Cristo nunca se opôs às mulheres. Nunca pensou que a mulher fosse uma criatura inferior que devesse ser tratada como um cachorro ou coisa pior.

Santo Agostinho e muitos outros aproveitaram-se da reescritura da Bíblia para pregar muito e mais violentamente contra o sexo. Agostinho era um daqueles que se opunham terrivelmente ao sexo mesmo no casamento. Talvez valesse a pena incluir aqui um pensamento de que não há quem faça maior oposição à bebida do que o bêbedo regenerado, e, não há maior oponente ao vício, assim chamado, do que aquele que o deixou.

 

RELIGIÃO E CIÊNCIA

PERGUNTA: O que pensa da religião?

RESPOSTA: Pelo amor de Deus! Pensei que, por ora, já tivesse fechado a Bíblia, mas devo dizer que, naturalmente, sou "a favor" da religião. Há pouco tempo atrás, recebi uma carta de um seminarista que me censurou. Num dos seus livros, o senhor se refere à Convenção de Constantinopla no ano 60. Não encontro menção na Bíblia.

Houve uma Convenção de Constantinopla no ano 60. Não existe referência na Bíblia atual, porque as autoridades da Igreja já a reescreveram um sem-número de vezes. Mesmo agora há reuniões freqüentes em Roma para decidir o que deve ser ensinado e o que deve ser suprimido, que seita religiosa deve ser reconhecida e qual deve ser afastada. A religião está em constante reforma. É claro que os ensinamentos de 2.000 anos atrás não são necessariamente os mais adequados ao mo­mento, precisam ser atualizados para preencherem os requi­sitos modernos. O meu amigo seminarista escreveu-me algo consternado e até um tanto aborrecido dizendo que o enganei. Tive o prazer de responder-lhe afirmando que não eu, mas seus superiores o enganaram. Ele deveria consultar os livros e os papiros e tirar suas próprias conclusões.

Não estou tentando mudar a religião de ninguém. Creio em Deus e, ainda que O chame por um nome diferente daque­le usado pelos cristãos, judeus ou muçulmanos, creio em Deus e estou certo de que a religião é necessária; dá-nos disciplina mental e espiritual. Se, hoje, a religião fosse mais difundida haveria menos delinqüência juvenil.

Sou pela religião, e a favor dos sacerdotes, desde que en­sinem a verdade e reconheçam que todos têm direito à sua própria crença. Há algum tempo atrás, na Europa, atravessa­va a rua em traje budista para apanhar um táxi; um sacerdote de uma certa seita viu-me e quase desmaiou, como se defron­tasse o próprio diabo! Persignou-se diversas vezes e afastou-se rapidamente, com total falta de compostura. Contemplei-o divertido. Creio que a melhor regra seja: Fazei como gostaríeis que vos fosse feito. Não faz diferença a maneira como um homem se veste, quer seja um sacerdote católico ou um rabino; se é um homem bom, eu o respeito. Se é um impostor em vestes sacerdotais, então o desprezo ou apiedo-me de que não compreenda o mal que faz a si próprio. Porque os sacer­dotes de qualquer seita têm uma responsabilidade enorme: as pessoas que os procuram esperam ajuda e verdade.

A maior parte do que é ensinado na religião, qual­quer uma, não apenas no cristianismo, até mesmo na his­tória, é alterada para melhor adaptar-se aos poderes políticos da época ou à própria época. Consideremos mais uma vez Sir Francis Drake: na Inglaterra é um grande herói; na Espanha, um pirata desqualificado. Qual é o certo?

Falemos de algo que nos toque mais de perto: que tal o Graf Spee? Os alemães o consideravam um navio heróico, tripulado por homens também heróicos mas, para os americanos e os ingleses, era um navio pirata que pilhava pacíficos navios mercantes. Portanto, os ingleses destruíram o orgulho da Marinha alemã. Qual dos dois estava certo? Os alemães ou os ingleses?

Na Alemanha, a história foi destruída e reescrita. Na Rússia, se acreditarmos nos livros de história atuais, a maio­ria das grandes invenções do mundo são russas. Pergunto-me se Henry Ford seria chamado "Fordaki" na Rússia? Li que os russos dizem ter inventado o avião, o telefone, o automó­vel e a palavra "Não" niet. São também os autores da guerra fria. Entretanto, não estamos tratando de política e direi que o perigo não está na Rússia, mas na China.

Assim, não creia no que está impresso, mas pense por si próprio e se quiser algo mais forte que o pensamento, se não pode freqüentar as grandes bibliotecas do mundo, trate de via­jar no astral. Quando fizer isso poderá consultar o Registro Akáshico e este não pode ser alterado, não há maneira de apagá-lo nem de ocultar o verdadeiro conhecimento. Está à disposição daqueles que têm olhos para ver e orelhas para ouvir.

As religiões são realmente muito engraçadas, se esque­cermos que são apenas uma disciplina mental e espiritual. Umas dizem que não se pode comer carne de porco, outras que não se deve comer carne às sextas-feiras. Uma diz que o corpo deve estar coberto do pescoço para baixo, deixando o rosto aparecer. Outra diz que se pode andar tão nu quanto um ovo cozido, desde que o rosto esteja coberto.

Digo: Faça como gostaria que lhe fosse feito esta é a melhor religião de todas.

PERGUNTA: O senhor diz coisas desagradáveis sobre os cientistas, mas não acha. que só eles nos podem salvar?

RESPOSTA: Bem, depende do que chame de cientistas! Creio que muitos dos chamados cientistas são apenas espana­dores de assentos. Gente como Royce, da Rolls-Royce, Edson, Ford e alguns outros, realmente, o eram; não estiveram em escolas que cimentassem o seu pensamento em fundamentos de pedra; em outras palavras, nunca foram condicionados a pensar que algo era impossível; assim, saíam e faziam o impossível. Muitas universidades especializavam-se em ensinar a seus estudantes, que, salvo se o professor Corpo-de-cão ou o professor Bigodes-felinos o façam, ninguém mais o pode fazer. Tudo isto é tolice. Acho que o cientista instruído é um perigo porque é "instruído" a acreditar que nada pode, ser feito, se ele ou os seus colegas não o fizerem.

Alguns julgam que nas questões dos mundos paralelos eu deveria ter citado Einstein. Mas por que deveria fazê-lo? Posso assegurar, aos que estejam interessados, que existem livros sobre Einstein e suas teorias, e recomenda-se, a quem queira aprendê-las, que compre os livros adequados e as estude.

Einstein lidava com teorias que elaborava de acordo com os fatos disponíveis na época, mas não devemo-nos deixar desviar pelo que pareça óbvio, porque o óbvio nem sempre é tão óbvio. Por exemplo, um cientista estudava o comportamento das pulgas, e pensava que podia correlacionar seus padrões psicossomáticos com os dos seres humanos. Afinal de contas as pulgas dão-se excepcionalmente com o sangue humano, e o nosso cientista deu início, na minha opinião, ao estudo de um processo comichoso.

Com muito cuidado e gasto de tempo, treinou uma pul­ga de tamanho médio, para pular sobre uma caixa de fósforo toda vez que ordenasse: — Vá. Então, quando a pulga cap­tou a idéia, o cientista arrancou duas de suas pernas. — Vá - disse ele. A pulga pulou outra vez e conseguiu repetir o feito, se bem que não com tanto sucesso quanto anteriormen­te. O cientista rosnou satisfeito e arrancou outras duas pernas. - Vá — disse. Debilmente, a pulga obedeceu e o cientista acenou em aprovação. Apanhando a pulga, arrancou as duas últimas pernas. Infelizmente, agora que já não tinha pernas, ele podia gritar quanto quisesse porque ela não se movia. O cientista, depois de muitas tentativas, balançou a cabeça velha e sábia e escreveu no seu relatório: "A audição da pulga está localizada nas pernas. Quando perde duas, não ouve tão bem e, conseqüentemente, não pula tão alto. Quando perde todas as seis, torna-se completamente surda!"

Não queiramos estar na posição do cientista, que tentou estudar as pulgas, não permaneçamos cegos ao óbvio. Se Einstein tiver razão, nunca haverá realmente viagens espaciais; de­moraria demais, segundo o qual ele defendia, isto é, a teoria de que nada pode deslocar-se mais rápido do que a luz. Como a luz dos planetas distantes pode levar séculos e séculos para nos alcançar, se a sua teoria estivesse correta nunca pode­ríamos aspirar atingir outros planetas.

Felizmente, Einstein não está certo. Felizmente, está cer­to, apenas, se considerarmos a informação que possuía ao tempo da sua teoria.

Consideremos o mundo no ano de 18... que diremos?

—        1863, em vez de 1963. Estamos em 1863, então. Os cientistas nos dizem que o homem nunca poderá deslocar-se a mais de trinta milhas por hora, porque fazê-lo seria arrancar o ar dos pulmões. Não era possível. Logo, trinta milhas por hora é o mais rápido que alguém pode deslocar-se.

Não poderá haver aeronaves no céu, somente uns poucos balões de ar quente e para isso, presumivelmente, haverá mui­tos oradores, conferencistas, e críticos de conferencistas, e só aí teríamos uma fonte inesgotável de ar quente, suficiente para lançar muito balões.

À medida que o homem desenvolveu inclinações mais le­tais e novos instrumentos de guerra, descobriu que poderia sobreviver ao limite das trinta milhas horárias, e mesmo atingir sessenta; quando as ferrovias foram instaladas por George Stevenson, julgou-se haver atingido o máximo em matéria de velocidade. Realmente, na Inglaterra, os automóveis eram considerados veículos tão perigosos que tinham de ser precedi­dos por um homem a pé, acenando uma bandeira vermelha! Mas, acredito que os carros já tenham ultrapassado este está­gio, e andem um pouco mais rápido, quase tão rápido quanto nesta parte do mundo.

 

Há pouco tempo atrás, apareceu a teoria de que o limite absoluto da velocidade era aquele imposto pelo som. Cientistas conceituados declaram que ninguém poderia deslocar-se mais rápido que o som. Era impossível. Agora, estão sendo construídas aeronaves de passageiros que podem excedê-la. Os aviões de guerra, constantemente, deslocam-se mais rápidos que o som, deixando na sua esteira janelas quebradas e im­precações dos seus donos indignados. Felizmente, os pilotos estão além da velocidade do som e a vituperação só os alcan­ça quando desembarcam no aeroporto e encontram o seu co­mandante sapateando de raiva com as mensagens recebidas.

Descobrimos, então, que a velocidade do som não é o limite, podemos nos deslocar mais rápido. No entanto, não faz muito tempo, gente como Einstein dizia que o homem não poderia fazê-lo. Se ficou provado que estavam errados na sua presunção, por que Einstein não poderia também estar errado na sua teoria de que a luz é o limite absoluto da velocidade?

Quando as pessoas viajarem a uma velocidade maior que a da luz serão capazes de verem um ao outro e o que está diante deles. A única diferença é que as coisas apresentarão uma cor diferente, o que será bastante interessante. Creio que é o mesmo que ver o rosto artificial das mulheres sob uma luz fluorescente ou de sódio. A questão é que viajando a uma velocidade maior que a da luz, a pessoa estará se aproximan­do da clarividência e verá as coisas em quatro dimensões em vez de três.

Gostaria de citar, aqui, o que grandes cientistas disseram a respeito da Terra. Que era plana. A mitologia antiga afir­mava que a Terra era plana e estranhos demônios escondiam-se na sua periferia. A minha experiência demonstra que a maioria dos demônios vivem nesta Terra. Agora, ninguém acreditaria seriamente que a Terra seja plana. É crença geral que a Terra seja uma coisa mais ou menos redonda e já en­viamos observadores em pequenas naves para verificarem isso. Assim, podemos afirmar que a maior parte das vezes a ciência tem errado. Infelizmente, líderes religiosos considera­ram uma ofensa punível com a morte dizer que a Terra era redonda e, não faz muito tempo, as pessoas eram queimadas na fogueira por dizerem o mesmo. Mas suponho que algum dia, temos de morrer, e há sempre o consolo de que quando se está completamente rodeado pelo fogo, morre-se sufocado antes que as chamas nos alcancem — não que isto seja um grande consolo para a vítima amarrada à estaca.

Se vamos admitir como limite do que poderíamos dizer ou pensar, algumas das teorias técnicas dos cientistas, nos colocaremos na posição de uma locomotiva que está confinada aos trilhos.

As pessoas que estiverem no trem só poderão ver o que está dos lados, não podem desviar-se para estradas secundá­rias.

As pessoas que viajam de automóvel, ou mesmo a pé, podem ver e aprender mais. Os que viajam a pé são os mais vagarosos, mas aprendem mais e em detalhe e, talvez, saiam lucrando ao fim; as que viajam de avião, passam tão depres­sa e tão alto, que nada vêem. Então, vamos continuar o pas­seio, sem nos divertimos com as teorias científicas dos gran­des homens, que podem ser mavilhosas em fórmulas matemá­ticas, mas não correspondem, necessariamente, à realidade da vida no além.

A civilização ocidental equivale a menos de um décimo de segundo do tempo celestial. Se pensarem na idade da Ter­ra, descobrirão que o homem sob qualquer das formas que teve aqui, nem mesmo ocupa um minuto nas vinte e quatro horas da existência da Terra.

As pessoas que podem viajar no astral são videntes ou telepáticas, têm uma idéia mais exata do que se passa, porque sabem que o homem na Terra é apenas a manifestação de um espírito.

Tem havido outras formas de corpo, formas de existên­cia corpórea. O corpo físico da humanidade nesta Terra é apenas a experiência de uma longa série para descobrir que forma proporcionará a um espírito a melhor oportunidade de aprender o máximo, mais fácil e mais rapidamente.

A humanidade não é a forma final, não creia nisso. Nem as palavras da religião nem as teorias dos cientistas podem jamais convencer o espírito celestial de quo o corpo de verme, que ele agora ocupa, é superior à borboleta iridescente em que se transformará.          


 

Tudo isto é uma tentativa para fazê-lo pensar por si mesmo, iniciar viagens astrais e a clarividência a sério. Se as pessoas forem analisar tudo, tentar encontrar defeito em tudo, sem conhecer coisa melhor, estarão invalidando o seu próprio desenvolvimento. Devemos ter a mente aberta, estar prontos para aceitar, saber do que estamos falando e não dizer: — Oh, isto não está certo, não foi isso que Einstein disse. Einstein e gente como ele disseram que o homem nunca se deslocaria mais rápido que a velocidade do som; pois bem, alguns de nós o fazem e outros até mais rápido que a luz. As viagens ao astral são muito, muito mais rápidas. No mundo astral, quando nos movemos realmente, disparamos, mas não preciso contar-lhes isso. Se tiverem a mente aberta e em vez de criticarem destrutivamente, tentarem assimilar, construtivamente, então não terão muita dificuldade em viajar no astral.

Lembrem-se, também, que, aproximadamente cada 2.000 anos, um novo Messias, Salvador ou Líder da Humanidade aparece na Terra. Isto é um ciclo que continua através dos ciclos — sempre.

Assim, chegamos ao fim de outro livro, o décimo segundo capítulo escrito na décima segunda parte do ciclo de Kali. Que alguma coisa do que escrevi os auxilie no caminho e, para concluir os nossos comentários sobre religião, gostaria de acrescentar que podem ter fé no que escrevo, porque tudo o que escrevi em todos os meus livros é verdadeiro.

 

[1] Much Nattering significa "muito arrumadinho". (N. do T.)  

[2] Trocadilho utilizando o nome do poeta inglês Francis Bacon e o toucinho (bacon, em inglês) comido com ovos no desjejum, e aludin­do à polêmica sobre a autoria dos trabalhos de Shakespeare, recentemente atribuída a Bacon. (N. do T.)

 

                                                                                Lobsang Rampa  

 

                      

O melhor da literatura para todos os gostos e idades

 

 

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